Geografia Geral e do Brasil - Espaço Geográfico e Globalização - 2 [3 ed.]
 9788526299153, 9788526299160

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João Carlos Moreira Eustáquio de Sene

Geografia Geral e do Brasil Espaço geográfico e globalização

Manual do Professor

2 Geografia - Ensino Médio



João Carlos Moreira Eustáquio de Sene

Geografia Geral e do Brasil Espaço geográfico e globalização

Manual do Professor João Carlos Moreira

Bacharel em Geografia pela Universidade de São Paulo Mestre em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo Professor de Geografia das redes pública e privada de ensino por quinze anos Advogado (OAB/SP)

Eustáquio de Sene

Bacharel e licenciado em Geografia pela Universidade de São Paulo Doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo Professor de Geografia das redes pública e privada de Ensino Médio por quinze anos Professor de Metodologia do Ensino de Geografia na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo por cinco anos

3ª edição São Paulo • 2016

2 Geografia - Ensino Médio

Diretoria editorial Lidiane Vivaldini Olo Gerência editorial Luiz Tonolli Editoria de Ciências Humanas Heloisa Pimentel Edição Fabíola Nunes, Lucas Abrami, Mariana Renó Faria e Thamirys Genova da Silva (estagiárias) Gerência de produção editorial Ricardo de Gan Braga Arte Andréa Dellamagna (coord. de criação), Erik TS (progr. visual de capa e miolo), Claudio Faustino (coord.), Yong Lee Kim (edição), Luiza Massucato (assist.) e Lima Estúdio Gráfico (diagram.) Revisão Hélia de Jesus Gonsaga (ger.), Rosângela Muricy (coord.), Ana Curci, Heloísa Schiavo, Paula Teixeira de Jesus, Patrícia Travanca, Vanessa de Paula Santos, Brenda Morais e Gabriela Miragaia (estagiárias)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Moreira, João Carlos Geografia geral e do Brasil : espaço geográfico e globalização : ensino médio / João Carlos Moreira, Eustáquio de Sene. -- 3. ed. -São Paulo : Scipione, 2016.

Iconografia Sílvio Kligin (superv.), Denise Durand Kremer (coord.), Carlos Luvizari e Evelyn Torrecilla (pesquisa), Cesar Wolf e Fernanda Crevin (tratamento de imagem) Ilustrações Allmaps, A. Robson, Cassiano Röda, Douglas Galindo e Filipe Rocha

Obra em 3 v. 1. Geografia (Ensino médio) I. Sene, Eustáquio de. II. Título.

Cartografia Alexandre Bueno, Eric Fuzii, Julio Dian, Loide Edelweiss Iizuka, Marcelo Seiji Hirata e Portal de Mapas Foto da capa: Prédios comerciais do distrito Chaoyang, em Pequim, China. fototrav/Getty Images Protótipos Magali Prado Direitos desta edição cedidos à Editora Scipione S.A. Avenida das Nações Unidas, 7221, 1o andar, Setor D Pinheiros – São Paulo – SP – CEP 05425-902 Tel.: 4003-3061 www.scipione.com.br / [email protected] 2016 ISBN 978 85 262 9915 3 (AL) ISBN 978 85 262 9916 0 (PR) Cód. da obra CL 713371 CAE 566 763 (AL) / 566 764 (PR) 3a edição 1a impressão Impressão e acabamento

2

16-02098

CDD-910.712

Índices para catálogo sistemático: 1. Geografia : Ensino médio

910.712

APrESENTAçãO

O

s meios de comunicação estão cada vez mais presentes em nosso dia a dia. Com isso, recebemos diariamente uma enorme quantidade de informações via internet, televisão, rádio, jornais e revistas: crises políticas e econômicas, catástrofes naturais, problemas socioambientais, desigualdades sociais, guerras, migrações, novas tecnologias, entre muitos outros temas. O processo de globalização tem seus alicerces ancorados na revolução técnico-científica e na modernização dos sistemas de transportes e telecomunicações, que “encurtam” as distâncias e tornam o tempo cada vez mais “acelerado”. Dessa forma, as informações surgem e desaparecem de repente. Quando começamos a compreender determinado acontecimento, ele é esquecido – como se deixasse de existir –, e outro logo ganha destaque. Tal é a instantaneidade dos eventos que parece não existir passado nem continuidade histórica. Por isso, muitas vezes, sentimo-nos impotentes diante da dificuldade de compreender o que acontece no Brasil e no mundo. Para ajudá-lo a encarar esse desafio, criamos esta coleção. Ela foi elaborada com base no volume único da obra, que já está no mercado desde 1998 e passou por diversas reformulações e atualizações. O volume 1 apresenta um pouco de teoria e método da Geografia, seus conceitos mais importantes e um breve histórico da disciplina. Nele são abordados também os fundamentos da Cartografia, imprescindível para ler e interpretar mapas, cartas, plantas e gráficos. São ainda estudados os temas da Geografia física, com destaque para a dinâmica da natureza, sua relação com a sociedade e os crescentes desequilíbrios ecológicos. Esse volume é concluído com o estudo da legislação ambiental e das conferências internacionais sobre meio ambiente. No volume 2 são estudadas as diversas fases do capitalismo até a atual etapa informacional, marcada pela globalização em suas várias dimensões; as diferenças entre os países quanto ao desenvolvimento humano; a ordem geopolítica e econômica internacional, assim como a inserção do Brasil nela; e os principais conflitos armados da atualidade. São também abordados os processos de industrialização dos países desenvolvidos e emergentes mais importantes; e, na última Unidade, o comércio e os serviços no mundo. Fechando a coleção, o volume 3 apresenta como principais temas o processo de industrialização, a estrutura das atividades terciárias e a evolução da política econômica no Brasil. São apresentadas também a produção, a distribuição e o consumo de energias renováveis e não renováveis no mundo e no Brasil, associando-as às condições ambientais; as características, os movimentos migratórios e a estrutura da população mundial e brasileira. O volume é concluído com a abordagem dos aspectos mais importantes da urbanização e da produção agropecuária no mundo e em nosso país. Esperamos ajudá-lo a compreender melhor o frenético mundo em que vivemos e auxiliá-lo a acompanhar as transformações que o moldam e o tornam diferente a cada dia, para que você possa nele atuar como pessoa e cidadão consciente. Os Autores

3

Sumário Unidade 1: Mundo contemporâneo: economia, geopolítica e sociedade CAPÍTULO 1: O desenvolvimento

do capitalismo

.. ... .. ... .. .. .. .. ... . ... . ... . ... . ... . ... .. 7

1. Capitalismo comercial . .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . ... . ... . .... .. 9 Síntese histórica: Evolução do capitalismo . . . . . ... 10 O mercantilismo, 12

2. Capitalismo industrial . .. .. . ... . ... . ... . ... . ... . ... . ... .. 13 O trabalho assalariado, 14 • A expansão da indústria, 15 O liberalismo, 15

3. Capitalismo financeiro . .. .. .. .. .. .. .. .. .. . ... . ... . ... ... 16 As expansões imperialistas, 17 • O mercado de capitais, 18 O keynesianismo, 19 • A descolonização, 20

4. Capitalismo informacional . .. .. .. .. .. . ... . ... . ... . .... 22 A globalização, 22 • O neoliberalismo, 24 A crise financeira, 25 • Desglobalização?, 27

Atividades . . . . . . . . . .. . ... . ... . ... . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . 30

CAPÍTULO 2: A globalização

e seus fluxos

. ... .. ... .. .. .. .. .. ... . ... . ... . ... . ... . ..... 31

1. Globalização . . .. . ... . ... . ... . ... . ... . ... . ... . ... . ... . . . . .. 33 A atual expansão capitalista, 34

2. Fluxo de capitais especulativos e produtivos .. . .. 36 A expansão das transnacionais, 38

3. Fluxo de informações .. .. . ... . ... . ... . ... . ... . ... . ... . .. 43 Infográfico: Internet .. . ... . ... . ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 4. Fluxo de turistas . .. . ... . ... . ... . ... . ... . ... . ... . ... . .... . 46 5. Mundialização da sociedade de consumo . .. .. .. .. 49 Atividades . . . . . . . . . . ... . ... . ... . ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 52

CAPÍTULO 3: O desenvolvimento

humano

. . .. . . . ... . ... . ... . ... . ... . ... . ... . ... . ............. 53

1. Heterogeneidade dos países em desenvolvimento .. .. .. .. .. .. .. .. .. . ... . ... . ... . ... . 55 Pensando no Enem . . ... . ... . ... . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 58 Diferenças socioeconômicas, 59

2. Índice de Desenvolvimento Humano . .. .. .. .. .. .. .. 63

3. Percepção da corrupção e "Estados frágeis" .. ..... 66 Infográfico: Corrupção ... ..... ... ... . ... . ... . ... . ... . . 68 A violência nos "Estados frágeis", 70

Infográfico: Objetivos de Desenvolvimento do Milênio: informe de 2015 .. ... .... . ... . ... . ... . ... . ... . . 72 Atividades ... .. ..... ... ..... ... ..... . ... . ... . ... . ... . ... . ... . .. 74

CAPÍTULO 4:

A ordem internacional

......... 75

1. Ordem geopolítica .. .... ... ..... ... ..... ... ..... ... ..... . 77 As alianças militares, 78 • A ONU e a crise de legitimidade, 82 • A representatividade do CSNU, 83 A cooperação Sul-Sul, 84

2. Ordem econômica .. ..... ... ..... ... ..... ... ..... ... ..... 86 Do G-6 ao G-20, 88

3. Nova ordem internacional ... .... ... ..... ... ..... ... ... 90 A ordem unipolar, 90 • A ordem multipolar, 91

Infográfico: Brics . ... ..... ... ..... .. ... . ... . ... . ... . ... . 92 Pensando no Enem ... ..... ... ..... . ... . ... . ... . ... . ... . 94 Atividades ... ... .... ... ..... ... ..... .. ... . ... . ... . ... . ... . ... . .. 95

CAPÍTULO 5: Conflitos armados

no mundo

. ... ..... ... ..... ... ............................. 96

1. Conflitos armados: uma visão geral .. .... ... ..... ... 98 2. Guerrilha, terrorismo e terrorismo de Estado . .... 99 O terrorismo da Al-Qaeda e a guerra no Afeganistão, 103 O terrorismo do Estado Islâmico e as guerras no Iraque e na Síria, 106

Infográfico: "Primavera Árabe" .. . ... . ... . ... . ... . . 108 3. Guerras étnico-religiosas e nacionalistas . ..... ... . 111 O separatismo nas antigas União Soviética e Iugoslávia, 112 • Os conflitos étnico-religiosos na África subsaariana, 116

Pensando no Enem ... ..... ... ..... . ... . ... . ... . ... . ... 118 Os conflitos entre árabes e judeus e a Questão Palestina, 119

Atividades . .. ... ... ..... ... ..... ... .... . ... . ... . ... . ... . ... . ... 124

Vestibulares de Norte a Sul ................... Caiu no Enem .. ..... ... ..... ...........................

125 132

Unidade 2: Indústria no mundo CAPÍTULO 6: A geografia

das indústrias

. .. .. ... ... . ... . ... . ... . ... . ... . ... . ... .. 135

1. Importância da indústria . .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . ... . ... 137 Categorias industriais, 139

Dialogando com as disciplinas: A relatividade dos números . ... .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 140 4

Infográfico: Classificação das indústrias . ... . ... . 142 2. Distribuição das indústrias .... .... ... ..... ... ..... ... 144 Os fatores locacionais, 144 • Desconcentração da atividade industrial, 146 • Os parques tecnológicos, 149

3. Organização da produção industrial .... .... .... .... 151 A produção fordista, 151 • A produção flexível, 152

Pensando no Enem ... ..... ... ..... . ... . ... . ... . ... . ... 154

4. Exploração do trabalho e da natureza . .. .. .. .. . ... 155 Atividades . .. .. . . .. . ... . ... . ... . ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . 157

CAPÍTULO 7: Economias desenvolvidas:

a industrialização precursora ..............

2. China . .... .... .... .... .... ... ..... ... ..... ... ... . ... . ... . . 202 158

1. Reino Unido . .. .. .. .. .. .. .. .. .. . ... . ... . ... . ... . ... . . . . ... 160 Os fatores de industrialização, 160

Pensando no Enem ... . ... . ... . ... . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . 162 Setores industriais e sua distribuição, 163 A potência pioneira perde poder, 165

Síntese histórica: Formação da China comunista . .. 202 Os fatores da industrialização, 204 A "fábrica do mundo" e suas contradições, 206

Pensando no Enem ... ..... ... ..... . ... . ... . ... . ... . ... 211 Setores industriais e sua distribuição, 212

Atividades .. .... ... ..... ... ..... ... ... . ... . ... . ... . ... . ... . .. 214

2. Estados Unidos . .. .. .. .. .. .. .. .. .. . ... . ... . ... . ... . ... ... 166 Síntese histórica: Independência e formação do território ... . ... . ... . ... . ... . ... . .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 166

CAPÍTULO 9: Economias emergentes:

a industrialização recente . ..... ..... .... .... ..

215

1. América Latina ... .... .... .... .... ... ..... ... ..... ... .... 217

Os fatores da industrialização, 167 Setores industriais e sua distribuição, 171

3. Alemanha . . . .. .. .. . ... . ... . ... . ... . ... . ... . ... . .. . . . . . . .. 176 Síntese histórica: Questão territorial . .. .. .. .. .. .. . 176 Setores industriais e sua distribuição, 178

4. Japão . . . . . . . . . . .. . ... . ... . ... . ... . ... . ... . ... .. .. .. .. .. .. .. 182 Limitações geográficas, 182 • Os fatores da industrialização, 183 • Setores industriais e sua distribuição, 187 • Crises econômicas e perda de espaço na economia mundial, 190

Atividades . .. .. . . .. . ... . ... . ... . ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . 191

CAPÍTULO 8: Economias em transição: a industrialização planificada ..............

O fim da União Soviética e o ressurgimento da Rússia, 196 Os fatores da industrialização, 198 • Setores industriais e sua distribuição, 199

192

1. Rússia . . . . . . . . . .. . ... . ... . ... . ... . ... . ... . ... . . . . . . . . . . . . ... 194 Síntese histórica: Origem e colapso da economia planificada .. . ... . ... . .. . . . . . . . . . . . . . . . . ... 194

Os fatores da industrialização, 217 Crises financeiras, 220

2. Tigres Asiáticos ... ..... ... ..... ... ..... ... ..... ... ..... . 224 A origem dos Tigres, 224 Os fatores da industrialização, 226

3. Países do Fórum Ibas . .... .... .... .... .... ... ..... ... ... 231 África do Sul, 232

Dialogando com as disciplinas: Sujeitos históricos e sujeitos "sem história" ... 234 Índia .... .... .... ... ..... ... ..... ... ..... ... ... . ... . ... . ... . 236 Atividades . ... ..... ... ..... ... ..... .. ... . ... . ... . ... . ... . ... 239

Vestibulares de Norte a Sul .................. Caiu no Enem ... ... ..... ... ...........................

240 244

Unidade 3: Comércio e serviços no mundo CAPÍTULO 10: O comércio internacional

e os blocos regionais

.. .. ... .. ... . ... . ... . ... . ... 247

1. Comércio internacional . .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . ... . ... . 249 Principais polos comerciais, 249 • A OMC e os acordos comerciais, 250 • A expansão do comércio mundial, 252

Dialogando com as disciplinas: O comércio nas diferentes fases do capitalismo ...................... 254 Pensando no Enem ... . ... . ... . ... . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . 256 2. Blocos econômicos regionais .. .. .. . ... . ... . ... . .... . 257 Tipos de bloco, 257 • União Europeia, 258 • Nafta, 261 Mercosul, 262 • Asean, 265 • SADC, 266

Atividades . .. .. . . .. . ... . ... . ... . ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 268

CAPÍTULO 11: Os serviços

internacionais

. .. ... .. ... . ... . ... . ... . ... . ... . ... . ... . 269

1. Serviços e comércio de serviços . ... ..... ... ..... ... . 271 A classificação dos serviços, 273

Infográfico: Classificação dos setores de serviços, segundo a OMC ..... ... ..... ... .... . ... . ... . ... . ... . . 274 A classificação do comércio de serviços, 276

2. Intercâmbio internacional de serviços .... .... .... . 277 Atividades .. .... ... ..... ... ..... ... ... . ... . ... . ... . ... . ... . .. 278

Vestibulares de Norte a Sul .................. Caiu no Enem .. ..... ... ..... ..........................

279 282

Sugestões de leitura, filmes e sites .................................................................. 283 Bibliografia ..................................................... 287 5

UNIDADE

1

Mundo contemporâneo: economia, geopolítica e sociedade O capitalismo é um sistema econômico antigo. Você já parou para pensar que ele nem sempre funcionou como atualmente? Algumas de suas características mais importantes vêm de seus primórdios; outras são de seu momento atual. Quais características permaneceram e quais são novas? Por exemplo, imagine as viagens transoceânicas de transporte de pessoas ou mercadorias no início do capitalismo comercial, época da Expansão Marítima (século XVI): como será que era ficar entre quarenta e cinquenta dias dentro de um navio em viagem de Portugal ao Brasil, trecho que hoje é percorrido de avião em oito ou nove horas? Só isso já dá uma boa pista sobre a principal diferença entre o capitalismo do passado e o do presente, não é mesmo? 6

CAPÍTULO

1

O desenvolvimento do capitalismo

Brendan McDermid/Reuters/ Latinstock

Alamy/Latinstock

Bolsa de Valores de Nova York – New York Stock Exchange (NYSE), nos Estados Unidos, em 1950 e 2015. Observe a evolução tecnológica e a redução do número de operadores.

7

O mundo está quase todo parcelado, e o que dele resta está sendo dividido, conquistado, colonizado. Pense nas estrelas que vemos à noite, esses vastos mundos que jamais poderemos atingir. Eu anexaria os planetas se pudesse; penso sempre nisso.”

Regis Bossu/Sygma/Corbis/Latinstock

Cecil Rhodes (1853-1902), empresário inglês, fundou em 1888 a empresa de diamantes De Beers, que existe até hoje; era defensor e colaborador do imperialismo britânico.

O

capitalismo é um sistema econômico que, desde sua origem, se expandiu econômica e territorialmente: primeiro foi o colonialismo, depois o imperialismo (leia ao lado uma frase de um representante desse período) e, nos dias atuais, a globalização. Esse sistema econômico apresentou dinamismo ao longo da História e se transformou à medida que os desafios à sua expansão surgiram. Com o tempo, sobrepôs-se a outros sistemas econômicos, até se tornar hegemônico, predominando em quase todos os países. Considerando seu processo de desenvolvimento, costuma-se dividir o capitalismo em quatro etapas: comercial, industrial, financeira e informacional. Quais são as características mais importantes de cada uma das etapas do desenvolvimento do capitalismo? O que diferencia a etapa atual das anteriores? Como as mudanças ocorridas nesse sistema econômico promovem transformações socioespaciais? Essas e outras questões serão abordadas ao longo deste capítulo.

A queda do Muro de Berlim, na foto de 1989 (Alemanha), e o fim da União Soviética (URSS), em 1991, marcaram o colapso do socialismo. Na China, embora o Partido Comunista continue no poder, o Estado tenha forte capacidade planejadora e seja proprietário de muitas empresas, o sistema econômico funciona seguindo a lógica da economia de mercado. Em escala bem menor, ocorre o mesmo no Vietnã. Restaram como países socialistas apenas Laos e Coreia do Norte, economias pequenas e bastante isoladas no cenário mundial, além de Cuba, que, com a retomada das relações diplomáticas com os Estados Unidos em 2015, deve começar um processo de abertura política e econômica.

8

1

Dialogando com HISTÓRIA

Capitalismo comercial

Navegações e das conquistas territoriais, além da escravização e do genocídio de milhões de nativos da América e da África. Os países europeus que comandaram esse processo colonizaram as terras recém-conquistadas por meio de projetos de exploração agrícola e mineral. Observe, abaixo, as principais expedições marítimas dessa época.

A primeira etapa do capitalismo estendeu-se do fim do século XV até o século XVIII e foi caracterizada pela expansão marítima das potências econômicas da Europa ocidental daquela época (Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Países Baixos1), que buscavam novas rotas de comércio, sobretudo para as Índias. Veja a seção Síntese histórica nas páginas 10 e 11. Essas potências econômicas tinham como objetivo acabar com a hegemonia de Gênova e de Veneza, que, antes da unificação que deu origem à Italia (entre 1848 e 1870), constituíam cidades-Estados independentes e principais controladoras do comércio com o Oriente via mar Mediterrâneo. Trata-se do período das Grandes

Genocídio: do grego génos, ‘tronco, família’ e do latim cidium, ‘ação de quem mata ou o seu resultado’. Extermínio físico de um grupo nacional, étnico ou religioso.



Primeira viagem de Colombo (1492-1493)

AMÉRICA DO NORTE

OCEANO PACÍFICO

CHINA

Eq r do ua

OCEANO PACÍFICO

Expedições espanholas

JAPÃO

Polo Norte

Mapas: Banco de imagens/Arquivo da editora

As grandes expedições – séculos XV e XVI

Vespúcio (1499) Magalhães (1519-1521) El Cano (1522)

ÁSIA ESPANHA

OCEANIA

PORTUGAL

Regiões controladas pela Espanha em 1600 Regiões controladas por Portugal em 1600 Regiões desconhecidas pelos europeus em 1600

AMÉRICA DO SUL

ÁFRICA OCEANO ÍNDICO

Expedições portuguesas Primeiras expedições Vasco da Gama (1497-1498)

ANTÁRTIDA

OCEANO ATLÂNTICO

Cabral (1500) (sem escala)

Cabo da Boa Esperança

Albuquerque (1503-1515)

0° Polo Norte

Expedições francesas

AMÉRICA DO NORTE Eq r do ua

OCEANO PACÍFICO

Cartier (1534 e 1541) OCEANO PACÍFICO INGLATERRA

PROTETORADOS RUSSOS

PAÍSES BAIXOS FRANÇA

Expedições britânicas Raleigh

ÁSIA OCEANIA

Cabot (1497) Drake (1577-1580)

AMÉRICA DO SUL

Expedições holandesas

ÁFRICA

Barents (1594 e 1596) OCEANO ÍNDICO

ANTÁRTIDA

Expedições russas

OCEANO ATLÂNTICO

Yermak (1581-1584) Cabo da Boa Esperança

(sem escala)

Adaptado de: DUBY, Georges. Atlas histórico mundial. Barcelona: Larousse, 2007. p. 40-41.

1

Os Países Baixos são um Estado nacional constituído de doze províncias. Duas delas, a Holanda do Norte e a Holanda do Sul, tiveram papel fundamental na formação desse Estado, que, por isso, também é conhecido como Holanda. Os Países Baixos integram o Reino dos Países Baixos, formado em 1648, do qual também fazem parte Aruba, Curaçao e Saint Martin, como Estados autônomos, e Bonaire, Saba e Santo Eustáquio, como municipalidades, todos ilhas do Caribe. O desenvolvimento do capitalismo

9

Para saber mais, consulte os livros O que é capital?, O que é capitalismo? e História da riqueza do homem. Veja indicações na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

LIBERALISMO

Surgiu com os Estados nacionais absolutistas e vigorou durante o capitalismo comercial. Os adeptos dessa doutrina defendiam o protecionismo e a intervenção do Estado na economia. Seus objetivos principais eram fortalecer o Estado e aumentar a riqueza nacional por meio do acúmulo de metais preciosos (ouro e prata) e da obtenção de superavits comerciais. Seus teóricos defendiam que a riqueza era proveniente do comércio (circulação).

Os adeptos dessa doutrina criticavam o absolutismo e o mercantilismo; no plano político, defendiam a democracia representativa, a independência dos três poderes e a liberdade do indivíduo; e, no econômico, o direito à propriedade, a livre-iniciativa e a concorrência. Eram contrários à intervenção do Estado na economia e favoráveis à livre ação das forças do mercado. Para seus teóricos, a riqueza era gerada pela indústria (produção).

Adam Smith (1723-1790) Economista escocês, um dos mais importantes teóricos do liberalismo clássico e um de seus fundadores.

David Ricardo (1772-1823) Economista inglês, tido como sucessor de Smith, contribuiu ativamente para a formulação da teoria econômica.

Erich Lessing/Album/Latinstock

Jean-Baptiste Colbert (1619-1683) Ministro das Finanças de Luís XIV, responsável pela aplicação das políticas mercantilistas na França.

Bandeiras: Shutterstock/Glow Images

1494 Tratado de Tordesilhas

1776

Grandes Navegações (expansão marítima europeia)

Ocupação da África: interiorização

Colonialismo: partilha e exploração da América; comércio com Ásia e África 1500

1600

1700

Auge da Revolução Comercial Mundialização 1498 do comércio Viagem de Vasco da Gama às Índias Utilização do trabalho via Atlântico escravo na América Acumulação primitiva de capitais na Europa

Tim

10

Início do processo de Independência independência das dos Estados colônias americanas Unidos

in

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Ha

o s/C

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tins

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s rbi

1688 Revolução Gloriosa (Inglaterra)

1750

1800 Primeira Revolução Industrial

1765-1785 Aperfeiçoamento da máquina a vapor por James Watt (Inglaterra)

Utilização do carvão mineral Indústrias inovadoras: têxtil, siderúrgica e naval Disseminação do trabalho assalariado

akg-images/Latinstock

Processos/ fatos marcantes

Potências

Thomas Mun (1571-1641) Economista inglês, um dos principais teóricos da doutrina mercantilista.

The Granger Collection/Other Images

MERCANTILISMO

Album/Latinstock

INDUSTRIAL

Tiaggo Gomes/Arquivo da editora

COMERCIAL

Teóricos

Doutrinas

Etapas

SÍNTESE HISTÓRICA Evolu•‹o do capitalismo

KEYNESIANISMO

NEOLIBERALISMO

Os adeptos dessa doutrina criticavam o pensamento econômico clássico e o princípio da “mão invisível”, do suposto equilíbrio espontâneo do mercado; por isso, defendiam a intervenção do Estado na economia para evitar crises de superprodução, como a de 1929. Propunham o aumento dos gastos públicos como mecanismo para estimular o crescimento econômico e a geração de empregos.

Os adeptos dessa doutrina buscam aplicar os princípios do liberalismo clássico ao capitalismo atual. Diferentemente dos anteriores, os teóricos neoliberais não creem na regulação espontânea do sistema. Visando disciplinar a economia de mercado, aceitam uma intervenção mínima do Estado para assegurar a estabilidade monetária e a livre concorrência. Também defendem a abertura econômica/financeira e a privatização de empresas estatais.

Reprodução/Arquivo da editora

Oronoz/Album/Latinstock

John Keynes (1883-1946) Economista inglês. O mais importante até meados do século XX, influenciou as políticas de recuperação da crise de 1929.

Alex Wong/Agência France-Presse/ Getty Images

INFORMACIONAL

Reprodução/Enciclopédia Britânica

FINANCEIRO

Joan Robinson (1903-1983) Economista inglesa, seguiu as propostas keynesianas e aperfeiçoou algumas delas.

Alexander Rüstow (1885-1963) Economista alemão, crítico do liberalismo clássico e criador do termo neoliberalismo (1938).

Milton Friedman (1912-2006) Economista americano, Nobel de Economia (1976) e um dos continuadores das propostas neoliberais; assessorou os governos Reagan (1911-2004) e Thatcher (1925-2013).

Bandeiras: Shutterstock/Glow Images

1822 Independência do Brasil

1884-1885 Congresso de Berlim: partilha da África entre as potências europeias

Pós-Segunda Guerra 1990-2000 Independência das colônias Emergência da China como e surgimento dos países em potência e surgimento das desenvolvimento economias emergentes

Imperialismo: partilha e exploração das colônias africanas e asiáticas 1850

1900

Monopólios e oligopólios

1886 Construção do primeiro carro com motor a gasolina por Gottlieb Daimler (Alemanha)

Crescentes investimentos em P&D e agregação de valor aos produtos

1929 Crise econômica mundial

1980-1990 Crises financeiras em diversos países

Ampliação do meio técnico-científico informacional

1939-1945 Segunda Guerra Mundial

ck

Expansão mundial do processo de industrialização

1914-1918 Primeira Guerra Mundial

Corbis/Latinsto

Indústrias inovadoras: petroquímica, elétrica e automobilística

2000

Terceira Revolução Industrial ou Revolução Técnico-Científica

Segunda Revolução Industrial Utilização do petróleo e da eletricidade

Globalização: expansão de capitais produtivos e especulativos

1950

Indústrias inovadoras: informática, robótica, telecomunicações e biotecnologia Industrialização de países em desenvolvimento e expansão das transnacionais** 1946 Construção do Eniac*, primeiro computador, desenvolvido pela Electronic Control Company (Estados Unidos)

1999 Criação do G-20

2008-2015 Crise financeira atinge gradativamente o mundo: Estados Unidos → União Europeia → países emergentes Neoliberalismo em xeque Desglobalização?

Bob Krist/Corbis/Latinstock

11

* Electrical Numerical Integrator and Computer. ** Adotaremos o termo transnacional, conforme proposto pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), para definir as empresas que têm sede em um país e filiais em diversos outros. Muitas vezes essas empresas também são chamadas de multinacionais.

Organizado pelos autores.

Sistema econômico que se desenvolveu na Europa com a crise do feudalismo e se expandiu econômica e territorialmente a partir do século XVI. Desde então, passou por diversas etapas com características específicas de relações de produção e trabalho, de tecnologias empregadas e de doutrinas que orientam seu funcionamento. É também chamado de economia de mercado.

O mercantilismo

nos quais o poder político estava centralizado nas mãos dos monarcas. Nesse período, a riqueza e o poder de um país eram medidos pela quantidade de metais preciosos acumulados. Durante o mercantilismo, o acúmulo de riquezas nos países europeus, principalmente na Inglaterra, que emergiu como principal potência no fim desse período, foi fundamental para a eclosão da Revolução Industrial. Esse fato marcou o começo de uma nova etapa do capitalismo. Veja o mapa abaixo, que mostra as principais rotas de comércio entre Europa, África e América.

Na época das Grandes Navegações, o comércio proporcionou alta concentração de capitais no interior dos Estados europeus que comandavam esse processo expansionista. Por isso, a primeira etapa desse sistema econômico é chamada capitalismo comercial. A economia funcionava de acordo com a doutrina mercantilista (veja a seção Síntese histórica nas páginas anteriores), cujos teóricos defendiam a intervenção do governo nas relações comerciais, a fim de gerar a prosperidade nacional e aumentar a força dos Estados,

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Dialogando com HISTÓRIA

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Banco de imagens/Arquivo da editora

Colônias de potências europeias – fins do século XVII

NT

Territórios

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Ingleses

O comércio triangular

Espanhóis

Produtos europeus para a África Transporte de africanos escravizados para o mundo colonial Produtos tropicais para a Europa

Franceses Holandeses (sem escala)

Portugueses

O mapa mostra as regiões colonizadas nos primórdios da expansão marítima e o chamado “comércio triangular”: produtos europeus para a África, africanos escravizados para as colônias americanas e produtos tropicais destas para a Europa.

Nova Orleans transformou-se em importante centro portuário e comercial por causa de sua estratégica localização: no golfo do México e na foz do rio Mississípi (sul dos Estados Unidos). Desde a época do mercantilismo a cidade faz comércio com a Europa, a África e o restante da América. A litogravura mostra parte do porto de Nova Orleans em 1884.

12

Capítulo 1

The Granger Collection/Glow Images/Coleção particular

Adaptado de: LEBRUN, François (Dir.). Atlas historique. Paris: Hachette, 2000. p. 28.

Nas primeiras décadas do século XVIII, o Reino Unido da Grã-Bretanha comandou uma grande transformação no sistema de produção de mercadorias, na organização das cidades e do campo e nas condições de trabalho, o que caracterizou a Revolução Industrial. Um de seus aspectos mais importantes foi o aumento da capacidade de transformação dos recursos naturais, por meio da utilização de máquinas hidráulicas e a vapor, que intensificou a produção de bens e possibilitou ampliar o mercado consumidor em escala mundial. Esse período também foi marcado pela aceleração da circulação de pessoas e mercadorias, em virtude da expansão das redes de transporte terrestre, como o trem (a locomotiva a vapor foi criada em 1804), e marítimo, como o barco a vapor (inventado também nessa época). Observe nos mapas abaixo a expansão das ferrovias na Europa. O comércio não era mais a atividade central do sistema, embora continuasse importante para fechar o ciclo produção-consumo. Nessa nova fase, o lucro decorria sobretudo da produção de mercadorias realizada por trabalhadores assalariados. Isso valia para os países industrializados, porque na periferia do sistema ainda predominava o trabalho escravo. Mas como era possível lucrar com a produção de diversos bens utilizando trabalhadores assalariados?

akg-images/Latinstock

2 Capitalismo industrial

Máquina a vapor produzida por James Watt em 1788 e, atualmente, em exposição no Museu Victoria e Albert, em Londres (Reino Unido). Seu motor a vapor era movido a carvão mineral e foi um marco da Revolução Industrial. No início, era usado para retirar água das minas de carvão e fabricar tecidos, depois passou a ser utilizado em outras indústrias e nos transportes, até ser substituído por motores a combustão interna (movidos a derivados de petróleo) e elétricos.



1840



1880

Estocolmo Estoco Mar do Norte

Liverpool

Manchester

Londres

Berlim Lille Bruxelas Paris

OCEANO ATLÂNTICO

Viena

Bordéus 40º N

M

Manchester

Hamburgo Bruxelas Colônia Berlim Varsóvia Lille Frankfurt OCEANO Rouen Paris Praga ATLÂNTICO Stuttgart Viena Basileia Budapeste Bordéus Lyon Milão Veneza Londres

40º N

Marselha

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Liverpool

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Glasgow Mar do Norte

Marselha Madri

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São Petersburgo

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Adaptado de: LEBRUN, François (Dir.). Atlas historique. Paris: Hachette, 2000. p. 38.

O trem a vapor foi o meio de transporte típico do capitalismo industrial. A rápida expansão das ferrovias, principalmente na Europa ocidental, impulsionou sua utilização e possibilitou a interligação de diversos lugares. O desenvolvimento do capitalismo

13

Banco de imagens/Arquivo da editora

Europa: expansão das ferrovias

O trabalho assalariado Por uma jornada, em geral mensal, o trabalhador passou a receber uma remuneração que garantia sua sobrevivência. No entanto, produzia um valor maior do que aquele que recebia como salário. Esse trabalho não pago permanecia em poder dos capitalistas, ou seja, permitia que os proprietários das fábricas, fazendas, minas, lojas e outros empreendimentos obtivessem lucro, acumulassem e concentrassem capital.

O regime assalariado é, portanto, a relação de trabalho característica do capitalismo e se disseminou à medida que o capital se acumulava nas mãos dos capitalistas, criando a necessidade de expansão dos mercados consumidores. Ao mesmo tempo, o trabalhador assalariado, além de apresentar maior produtividade do que o escravizado, tem renda disponível para o consumo. Por isso, o trabalho assalariado passou a predominar e a escravidão entrou em decadência, embora ela ainda exista no mundo e mesmo no Brasil, como indica o texto a seguir.

DANIA: IDA C

Outras leituras

CRAVIDÃO ES

MBATE À CO

A escravidão no Brasil Em 2008, a Lei da Abolição completou 120 anos. Essa lei, que se resumia a um único parágrafo, dizia estar extinta a escravidão no Brasil e revogava qualquer disposição em contrário. Entretanto, mais de cem anos depois, o Ministério do Trabalho divulgou, em 2003, o “Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo”, no qual afirmava (tendo por base os dados da Comissão Pastoral da Terra) que o Brasil possuía 25 mil pessoas trabalhando em situação análoga à escravidão. Afirma também que, no Brasil, “[...] a escravidão contemporânea manifesta-se na clandestinidade e é marcada pelo autoritarismo, corrupção, segregação social, racismo, clientelismo e desrespeito aos direitos humanos”. A existência atual da escravidão remete diretamente ao nosso passado escravista, pois, nos quase quatro séculos em que a escravidão no Brasil foi um negócio legal, base do nosso sistema social e econômico, ela definiu espaços sociais que hoje tentamos desconstruir, como o racismo, a cultura da violência, a má distribuição de renda e o desrespeito à cidadania. [...]

Luiz Carlos Murauskas/Folhapress

AMARAL, Sharyse Piroupo do. História do negro no Brasil. Brasília: Ministério da Educação; Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais, 2011. p. 10.

Protesto contra o trabalho escravo organizado pelo Sindicato dos Comerciários de São Paulo, em 12 de março de 2014. Segundo o Ministério do Trabalho, uma semana antes desse ato, 17 trabalhadores peruanos foram encontrados em situação análoga à de escravidão em uma confecção no bairro Cangaíba, em São Paulo (SP).

14

Capítulo 1

A expansão da indústria

Prússia (Alemanha), o Piemonte-Lombardia (Itália) e os

Após se consolidar no Reino Unido da Grã-Bretanha, no século XIX, a industrialização se expandiu pela Europa, América e Ásia. Primeiro, atingiu a França, a

mais tarde, no século XX, aos atuais países emergentes.

Estados Unidos. Depois, chegou ao Japão, à Rússia e, Observe o esquema a seguir.

Países selecionados: etapas do crescimento econômico – 1780-1959 1800

1820

1840

1860

1880

1900

1920

1940

1959 Reino Unido França

Estados Unidos

Alemanha Jap Japão ão

Banco de imagens/Arquivo da editora

1780

Rússia ússia

Início da industrialização

Argentina

Maturidade industrial

México México

Sociedade de consumo

China Índia

O Reino Unido foi o primeiro país a se industrializar, mas foram os Estados Unidos que constituíram a primeira sociedade de consumo da História. O Brasil iniciou seu processo de industrialização na mesma época de Argentina e México.

Adaptado de: ROSTOW, W. W. Etapas do desenvolvimento econômico. econômico. 6. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. p. 12.

O liberalismo Ao contrário da época mercantilista, na etapa industrial a economia passou a funcionar de acordo com a lógica do mercado, na qual o Estado interferia cada vez menos na produção e no comércio. A partir de então, caberia ao Estado:

• nos limites de seu território, garantir a livre-iniciativa e a concorrência entre as empresas, além do direito à propriedade privada;

• no comércio internacional, apoiar as empresas nacionais

na concorrência com as de outros países e protegê-las no mercado interno contra a concorrência desleal. Consolidou-se, assim, uma nova doutrina econômica: o liberalismo (veja a seção Síntese histórica nas páginas 10 e 11). Essa nova visão foi sintetizada pelos representantes da economia política clássica, principalmente pelo economista britânico Adam Smith. Em seu livro mais célebre, A riqueza das nações (1776), defendia o indivíduo contra o poder do Estado e acreditava que cada um, ao buscar seu próprio interesse econômico, contribuiria para o bem coletivo de modo mais eficiente. Por isso era contrário à intervenção do Estado na economia e defendia a “mão invisível” do mercado. Os princípios liberais aplicados ao comércio internacional defendiam a redução, e até abolição, das bar-

reiras tarifárias para a livre circulação de mercadorias. Assim, o livre-comércio convinha especialmente aos Estados cuja industrialização já estava bastante consolidada, como o Reino Unido, país interessado em abrir mercado para seus produtos no mundo todo. Entretanto, era comum a prática de medidas protecionistas à indústria nascente. Mesmo os Estados Unidos, país de forte tradição liberal, só passaram a defender o liberalismo no comércio internacional quando já tinham estruturado uma indústria competitiva. No fim do século XIX, mudanças importantes estavam acontecendo nas fábricas: a produtividade e a capacidade de produção aumentavam rapidamente, em razão da introdução de novas máquinas e fontes de energia mais eficientes, como o petróleo e a eletricidade; aprofundava-se a especialização do trabalhador em uma única etapa da produção; e intensificava-se a fabricação em série. Era o início da Segunda Revolu•‹o Industrial, momento em que o capitalismo ingressou em sua etapa financeira e monopolista, marcada pela origem de muitas das atuais grandes corporações e pela expansão imperialista. Consulte dicionários de economia on-line nos sites do Grupo de Disciplinas de Planejamento da FAU-USP e do Economia Net. Veja orientações na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

O desenvolvimento do capitalismo

15

3 Capitalismo financeiro

A apresentação das corporações na tabela e dos produtos na iconografia desta página tem finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir seu consumo. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do tema abordado.

Uma das características mais importantes do crescimento acelerado da economia capitalista na segunda metade do século XIX foi a formação de grandes empresas industriais e comerciais, além do aumento do número de bancos e outras empresas financeiras. A concorrência acirrada favoreceu as grandes empresas, acarretando

Oligopólio: conjunto de empresas que domina determinado setor da economia. Em geral, impõe preços abusivos e elimina a concorrência, mediante aquisição de pequenas empresas. A tendência à oligopolização ocorre principalmente nos setores que exigem grandes investimentos, como os da indústria petrolífera, químico-farmacêutica, de equipamentos eletroeletrônicos, etc.

Grandes corporações industriais e financeiras da atualidade e ano de fundação Empresa

País-sede

Fundação

Siemens

Alemanha

1847

Nestlé

Suíça

1866

Deutsche Bank

Alemanha

1879

Mitsubishi Bank

Japão

1880

AT&T

Estados Unidos

1885

Coca-Cola

Estados Unidos

1886

Royal Dutch/Shell

Reino Unido/Países Baixos

1890

General Electric

Estados Unidos

1892

Fiat

Itália

1899

Estados Unidos

1916

General Motors

Nesse período, foram introduzidas novas tecnologias no processo produtivo e criados os primeiros laboratórios de pesquisa das atuais grandes corporações industriais. Os Estados Unidos e a Alemanha foram os pioneiros, e a ciência passou a ser cada vez mais apropriada pelo capital, ou seja, posta a serviço das empresas para o desenvolvimento de novos produtos e para a melhoria dos já existentes. A siderurgia avançou significativamente, assim como a indústria mecânica, em razão do aperfeiçoamento da fabricação Hulton Archive/Getty Images do aço. Na indústria química, a descoberta de noAvião Voisin Delagrange vos elementos e materiais (1909). Nessa época, aviões e carros permitiu ampliar as possibitransmitiam às pessoas lidades para novos setores, as sensações de como o petroquímico. modernidade e liberdade. Você já parou para pensar A descoberta da eletriciem como a tecnologia dade beneficiou as indúsevoluiu rapidamente trias e a sociedade como um nesse período? 16

Capítulo 1

Adaptado de: LOWE, Janet. O império secreto. Rio de Janeiro: Berkeley, 1993. p. 38-39.

todo ao possibilitar o aumento da produtividade e a melhora das condições de vida. O desenvolvimento do motor a combustão interna e a consequente utilização de combustíveis derivados de petróleo trouxeram novas perspectivas para as indústrias automobilísticas e aeronáuticas, promovendo sua expansão e a dinamização dos transportes. O crescente aumento da produção e a industrialização, já presente em diversos países, acirraram a concorrência entre as empresas. Era cada vez mais necessário garantir novos mercados consumidores e melhores oportunidades de investimentos, além de acesso a fontes de energia e de matérias-primas.

Hulton Archive/Getty Images

Monopólio: situação em que uma única empresa domina a oferta de determinado produto ou serviço. Os preços são fixados por uma empresa monopolista, e não pelas leis de mercado, garantindo-lhe superlucros. A maioria dos países criou leis para impedir a formação de monopólios.

fusões e incorporações que resultaram na formação de monopólios ou oligopólios em muitos setores da economia. É bom lembrar que, por ser intrínseco à economia capitalista, esse processo continua acontecendo, e grandes corporações da atualidade foram fundadas nessa época, como é possível observar na tabela abaixo.

Automóvel Ford T (por volta de 1920).

As expansões imperialistas

África: imperialismo europeu – fim do século XIX 0º

EUROPA

Foi nesse momento do capitalismo que ocorreu a expansão imperialista europeia na África e na Ásia. Como ilustra a epígrafe deste capítulo, em texto de Cecil Rhodes, as potências imperialistas buscavam ampliar seus territórios, e os empresários, seus lucros (em razão da influência de Rhodes, parte do território colonial britânico no sul da África recebeu o nome de Rodésia; localize-o no mapa ao lado). Desde sua origem na Europa, o capitalismo foi ampliando sua área de atuação no planeta. Na Conferência de Berlim (1884-1885), as potências industriais da Europa partilharam o continente africano entre elas. Na mesma época, extensas áreas do continente asiático também foram ocupadas. Observe os mapas desta página.

IMPÉRIO OTOMANO TUNÍSIA

Mar

MARROCOS

Medit errâneo

Trópico de Câncer

ÁSIA

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SENEGAL

EGITO

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Meridiano de Greenwich

LÍBIA (IMPÉRIO OTOMANO)

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RIO DE OURO

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ERITREIA

NÍGER

TOGO LIBÉRIA COSTA DO OURO

ETIÓPIA

CAMARÕES ÁFRICA ORIENTAL INGLESA

0º ESTADO LIVRE DO CONGO

OCEANO ATLÂNTICO

Estados independentes em 1900

ÁFRICA ORIENTAL ALEMÃ

SOMÁLIA Equador

OCEANO ÍNDICO

ANGOLA MOÇAMBIQUE

Territórios sob autoridade 1871 1890 1900

RODÉSIA

Francesa Britânica Portuguesa Alemã

ÁFRICA DO SUDOESTE

MADAGASCAR Trópico de Capricórnio

TRANSVAAL ORANGE

Italiana Espanhola Belga

COLÔNIA DO CABO

0

845

1 690

km

Adaptado de: BONIFACE, Pascal. Atlas des relations internationales. Paris: Hatier, 2003. p. 16.

Banco de imagens/Arquivo da editora

Ásia: imperialismo europeu e japonês – fim do século XIX

EUROPA IMPÉRIO RUSSO

IMPÉRIO OTOMANO

MANCHÚRIA

JAPÃO

A conquista e a exploração do continente africano pelos países europeus não foram pacíficas. Vários povos ofereceram resistência. O Reino da Etiópia, por exemplo, resistiu à dominação italiana e conseguiu manter sua soberania. Em muitos casos, no entanto, houve total desestruturação social, com o consequente desaparecimento de importantes reinos.

TURCOMENISTÃO COREIA

IMPÉRIO PERSA AFEGANISTÃO

IMPÉRIO CHINÊS

TIBETE

ARÁBIA Trópico de Câ

ncer

IMPÉRIO DAS ÍNDIAS

FORMOSA

TONKIN BIRMÂNIA

LAOS

FILIPINAS ANNAM

0

830

1 660

km Territórios sob autoridade 1875 1900 Francesa Britânica Japonesa Russa

CAMBOJA

OCEANO ÍNDICO 0º

Colônia Equador Holandesa

BORNEO SUMATRA

Espanhola até 1898 JAVA 100º L

O grande crescimento demográfico da China no século XIX atraiu as potências imperialistas que buscavam mercado consumidor, mas a maior ocupação territorial britânica na Ásia ocorreu na Índia. Os entrepostos comerciais estabelecidos nas principais cidades de seu litoral destruíram a importante indústria têxtil local e arrasaram sua economia.

Adaptado de: BONIFACE, Pascal. Atlas des relations internationales. Paris: Hatier, 2003. p. 16.

O desenvolvimento do capitalismo

17

Banco de imagens/Arquivo da editora

ARGÉLIA

Alessandro Di Ciommo/NurPhoto/Corbis/Latinstock

A partilha imperialista estabelecida pelas potências industriais consolidou a divisão internacional do trabalho, na qual as colônias, sobretudo as africanas, especializaram-se em fornecer matérias-primas – principalmente minérios como o de ferro e cobre, além de produtos de origem agrícola, como algodão e café – aos países que então se industrializavam. Essa divisão, inicialmente delineada no capitalismo comercial, consolidou-se na etapa do capitalismo industrial. Assim, estruturou-se nas colônias uma economia complementar e subordinada à das potências imperialistas. Como vimos no esquema da página 15, no fim do século XIX também emergiram potências industriais fora da Europa, com destaque para o Japão, na Ásia, e principalmente os Estados Unidos, na América. A expansão imperialista japonesa, como a europeia, foi marcada pela ocupação e anexação de territórios. Iniciou-se com a tomada de Formosa, na China, após a vitória na Guerra Sino-Japonesa (1894-1895), seguida pela ocupação da península da Coreia, entre outros territórios (observe o segundo mapa da página anterior). O imperialismo dos Estados Unidos sobre a América Latina foi um pouco diferente. Enquanto nas colônias africanas e asiáticas as potências imperialistas europeias mantinham controle político e militar direto, os norte-americanos exerciam controle indireto. Os Estados Unidos patrocinaram golpes de Estado, principalmente na América Central e no Caribe, e apoiaram a ascensão de ditadores nacionais alinhados com os interesses do governo norte-americano. As intervenções militares eram localizadas e temporárias, como o controle exercido sobre Cuba (1899-1902) após a vitória na Guerra Hispano-Americana, à qual se seguiram intervenções em diversos países da região.

O mercado de capitais Nessa etapa do capitalismo, os bancos assumiram um papel mais importante, como financiadores da produção. Muitos compraram indústrias para ampliar seus investimentos e, ao mesmo tempo, muitas indústrias incorporaram ou criaram bancos para lhes dar suporte financeiro. Por esse motivo, tornou-se cada vez mais difícil distinguir o capital industrial (também o agrícola, o comercial e o de serviços) do capital bancário. Uma melhor denominação passou a ser, então, capital financeiro. Nessa época, foi se consolidando, particularmente nos Estados Unidos, um vigoroso mercado de capitais. As empresas deixaram de ser familiares e tornaram-se sociedades anônimas de capital aberto, isto é, empresas que negociam suas ações em Bolsas de Valores. Isso permitiu a formação das grandes corporações da atualidade, cujas ações estão distribuídas entre muitos acionistas. Em geral, essas grandes empresas têm um acionista majoritário, que pode ser uma pessoa, uma família, uma fundação, um banco ou uma holding, e o restante das ações é negociado em Bolsas de Valores. Ação: documento que representa uma parcela do patrimônio de determinada empresa. Assim, o detentor (pessoa física ou jurídica) de um conjunto de ações é dono de uma fração da empresa que emitiu esses títulos de propriedade. O controlador da empresa é aquele que possui a maior parte de suas ações. Holding: conjunto de empresas dominadas por uma empresa principal que detém a maioria ou parte significativa das ações de suas subsidiárias e geralmente atua em vários setores da economia, formando um conglomerado. Simboliza o estágio mais avançado do processo capitalista de concentração de capitais.

A expansão do mercado de capitais é uma das marcas do capitalismo financeiro. É nas Bolsas de Valores que se negociam as ações de empresas de capital aberto. Na foto, painel eletrônico mostra o valor das ações das empresas listadas na Bolsa de Valores de Tóquio, em 4 de janeiro de 2016.

18

Capítulo 1

O keynesianismo O mercado passou a ser cada vez mais dominado por grandes empresas. Portanto, o liberalismo permanecia mais como ideologia capitalista, porque, na prática, a livre concorrência, característica da etapa industrial do capitalismo, era bastante limitada. O Estado, por sua vez, passou a intervir na economia como agente produtor ou empresário, mas, sobretudo, como planejador e coordenador. Essa atuação se intensificou após a crise econômica de 1929. Observe no gráfico que, no início dessa crise, tanto o comércio internacional como a produção industrial

sofreram quedas significativas, levando à elevação do desemprego. Porém, o “fundo do poço” ocorreu somente em 1932. Em 1933, Franklin Roosevelt, então presidente dos Estados Unidos, pôs em prática um plano de combate à crise que se estendeu até 1939. Chamado New Deal (em inglês, ‘novo acordo’), foi um clássico exemplo da intervenção do Estado na economia. Com base em um audacioso plano de construção de obras públicas e de estímulos à produção, o New Deal foi fundamental para a recuperação da economia norte-americana e, posteriormente, do restante do mundo, como mostra o gráfico.

120

50

110

40

100

30

90

Valor do comércio internacional Índice de produção industrial no mundo (1927 = 100%)

0

Porcentagem de desemprego no mundo

19 4

8 19 3

6 19 3

19 3

19 3

19 3

4

70

2

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0

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19 2

6

19 2

19 2

4

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20

Cassiano Röda/Arquivo da editora

60

Produção industrial (%)

130

Desemprego (%)

70

1

Comércio internacional (bilhões de dólares-ouro)

Mundo: flutuações das atividades econômicas – 1921-1940

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Adaptado de: ARRUDA, J. J. Nova História moderna e contemporânea. Bauru: Edusc, 2004. p. 104.

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A política de intervenção estatal em uma economia oligopolizada ficou conhecida como keynesianismo, em homenagem ao economista John Keynes, seu principal teórico e defensor (reveja a seção Síntese histórica nas páginas 10 e 11). Esse período representou uma contraposição ao liberalismo clássico, que até então permanecia como ideologia capitalista dominante. Keynes sistematizou essa política econômica em sua obra principal, A teoria geral do emprego, do juro e da moeda, livro escrito durante a depressão que sucedeu a crise de 1929 e publicado em 1936.

Botão de propaganda pólitica do New Deal com a imagem do presidente Franklin Roosevelt sob a frase “para um novo acordo”. O desenvolvimento do capitalismo

19

colonizados e por divisões internas nas sociedades que lutavam pela libertação. A Índia colonial, por exemplo, foi dividida em três nações por causa das diferenças religiosas: Índia (seguidora do hinduísmo), Paquistão e Bangladesh (seguidores do islamismo). O desfecho da Segunda Guerra Mundial agravou o processo de decadência das antigas potências europeias, que já vinha ocorrendo desde o fim da Primeira Guerra Mundial. Aos poucos, elas foram perdendo seus domínios coloniais na Ásia e na África (observe o mapa abaixo). Além disso, com a destruição provocada pela guerra, o centro de poder mundial foi deslocado para as duas superpotências – Estados Unidos e União Soviética –, as grandes vencedoras desse conflito bélico. Do ponto de vista econômico, o pós-Segunda Guerra foi marcado por uma acentuada mundialização da economia capitalista, sob o comando das transnacionais. Foi nessa época que se originaram as profundas transformações econômicas observadas, sobretudo a partir do fim dos anos 1970, com a Terceira Revolução Industrial e o processo de globalização da economia.

Superada a crise, com a retomada do crescimento da economia, principalmente após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), começaram a se consolidar os grandes conglomerados. As empresas foram crescendo, diversificando os setores e os mercados de atuação e transformaram-se em conglomerados, hoje mais conhecidos como corporações. Dessa forma, expandiram-se pelo mundo e transformaram-se em empresas transnacionais. Oriundas da tendência expansionista do capitalismo, essas corporações se caracterizam por desenvolver uma estratégia de atuação internacional partindo de uma base nacional, onde se localiza a sede da qual controlam as filiais espalhadas por outros países (você estudará a expansão das transnacionais no próximo capítulo). O filme Tucker: um homem e seu sonho aborda o capitalismo monopolista e mostra como funciona um cartel. Veja a indicação na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

A descoloniza•‹o A independência dos países da África e da Ásia foi marcada por violentos conflitos entre colonizadores e

África e Ásia: descolonização – após a Segunda Guerra Mundial Banco de imagens/Arquivo da editora



Círculo Polar Ártico RÚSSIA

Metrópoles coloniais Europa e Rússia (URSS) Estados independentes antes de 1945 (não colonizados ou antigas colônias)

MONGÓLIA

TURQUIA

Trópico de Câncer

SAARA OCIDENTAL* 1975

ARGÉLIA 1962

IRAQUE

LÍBIA 1961

EGITO

IRÃ

JORDÂNIA 1946

PAQUISTÃO 1947

3 240

km

Meridiano de Greenwich

1 620

NEPAL ÍNDIA 1947

ARÁBIA SAUDITA

OMÃ MAURITÂNIA MALI 1970 1960 NÍGER 1960 SENEGAL CHADE 1960 ERITREIA IÊMEN DO SUL**** 1960 SUDÃO BURKINA GÂMBIA 1960 1993 1967 1958 FASSO 1965 GUINÉ 1960 NIGÉRIA DJIBUTI 1958 GUINÉ-BISSAU REPÚBLICA 1960 1977 1958 CENTRO-AFRICANA MALDIVAS ETIÓPIA GANA SERRA LEOA 1965 1957 CAMARÕES 1960 SOMÁLIA 1961 1960 TOGO/BENIN 1960 UGANDA QUÊNIA LIBÉRIA Equador 1963 1960 CONGO 1966 1960 RUANDA/BURUNDI COSTA DO MARFIM SÃO TOMÉ 1962 1975 ZAIRE SEYCHELLES 1960 1960 1976 GUINÉ TANZÂNIA EQUATORIAL 1964 AMÉRICA COMORES 1968 ANGOLA 1975 MALAUÍ OCEANO GABÃO 1975 ZÂMBIA 1964 1960 MOÇAMBIQUE 1964 ATLÂNTICO 1975 MAURÍCIO ZIMBÁBUE 1968 NAMÍBIA 1979 MADAGASCAR 1990 Trópico de Capricórnio 1960 BOTSUANA 1966 ÁFRICA DO SUL

Descolonização após a Segunda Guerra Mundial

BIRMÂNIA*** 1948 BUTÃO LAOS 1954

BANGLADESH 1947 TAILÂNDIA CAMBOJA 1954

1945-1954

TAIWAN (China) 1945

VIETNÃ 1954

1955-1959 1960-1969

FILIPINAS 1946

depois de 1970

BRUNEI 1963 SRI LANKA 1948

1963

MALÁSIA 1957

OCEANO ÍNDICO

Guerras de independência Ano de independência 0º

INDONÉSIA 1949

OCEANO PACÍFICO

TIMOR** 1975

OCEANIA

SUAZILÂNDIA/LESOTO 1966

*Atualmente o Saara Ocidental está sob controle do Marrocos. **Atual Timor-Leste, independente desde 2002, ex-colônia portuguesa. ***Atual Mianmar. ****O mapa apresenta as fronteiras atuais, com exceção do Iêmen.

JAPÃO

AFEGANISTÃO

CABO VERDE 1975

0

COREIA 1945-1948

CHINA

TUNÍSIA 1956

MARROCOS 1956

Descolonização do Oriente Médio Iraque 1930 Síria 1945 Líbano 1945 Israel 1948 Chipre 1960

Kuwait 1960 Omã 1970 Catar 1971 Emirados Árabes Unidos 1971

Adaptado de: CHALIAND, Gerard; RAGEAU, Jean-Pierre. Atlas du millénaire: la mort des empires 1900-2015. Paris: Hachette Lettératures, 1998. p. 163.

20

Capítulo 1

Para saber mais Trustes, cartéis, conglomerados

Donatas Dabravolskas/Shutterstock

Desde o fim do século XIX, em cada setor da economia – principalmente na indústria –, passaram a predominar algumas grandes empresas, que ficaram conhecidas como trustes (do inglês trust, ‘confiança’). Os trustes resultam de fusões e incorporações ocorridas em determinado setor de atividade, como aconteceu, sobretudo, com empresas petrolíferas, siderúrgicas e automobilísticas, que se tornaram gigantescas. Muitos deles, como as empresas petrolíferas, controlam todas as etapas da produção, desde a extração da matéria-prima da natureza, passando por sua transformação industrial até a distribuição do produto final. O cartel é consequência de acordos entre empresas independentes, em geral grandes, com o objetivo de compartilhar determinados setores da economia, controlar os preços dos produtos no mercado e combinar preços em licitações públicas. Esses acordos abusivos entre empresas inibem a competição no setor em que ocorrem – elevando o preço dos produtos e prejudicando os consumidores – e distorcem as concorrências públicas, aumentando o preço das obras e prejudicando os contribuintes. Isso ocorreu, por exemplo, na relação da Petrobras com um cartel de empreiteiras e fornecedores.

A apresentação dos conglomerados presente nesta página tem finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir seu consumo. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do tema abordado.

Nesse escândalo de corrupção, descoberto em 2014 pela Operação Lava Jato da Polícia Federal, os preços de obras e equipamentos eram superfaturados para o pagamento de propina a funcionários da empresa, e parte desse dinheiro era repassada a políticos de diversos partidos. Na maioria dos países, foram criadas leis que proíbem a cartelização. No Brasil, a Lei n. 12 529, de 30 de novembro de 2011, sobretudo em seu artigo 116, define esse abuso de poder das empresas como crime contra a ordem econômica. Muitos trustes constituídos no fim do século XIX e início do século XX transformaram-se em conglomerados, que resultaram de um ampliado processo de concentração de capitais e de uma crescente diversificação dos negócios. Os conglomerados, também chamados grupos ou corporações, visam dominar a oferta de determinados produtos e serviços no mercado e são o exemplo mais bem-acabado de empresas do capitalismo monopolista. Controlados por uma holding, atuam em diferentes setores da economia. Seu objetivo é garantir uma lucratividade média, já que pode haver rentabilidades diferentes em cada setor e, consequentemente, em cada empresa do grupo. Por exemplo, o grupo General Electric, sediado nos Estados Unidos, atua em diversos ramos industriais. Fabrica uma grande variedade de produtos – lâmpadas elétricas, fogões, geladeiras, equipamentos médicos, motores de avião, locomotivas, turbinas para hidrelétricas, etc. Os países desenvolvidos sediam diversos conglomerados que atuam em variados setores da economia, como Daimler (Alemanha), Sony (Japão), Fiat (Itália), Nestlé (Suíça) e Unilever (Reino Unido/Países Baixos). E nos principais países emergentes também já existem importantes conglomerados: Sinopec (China), Hyundai (Coreia do Sul), Tata (Índia), Pemex (México), etc. No Brasil, alguns exemplos são: Petrobras, Itaú Unibanco Holding, Bradesco, Vale, Ultrapar Holdings, entre outros.

A Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras) foi criada em 1953 no governo Getúlio Vargas. A empresa é uma Sociedade Anônima (S.A.), isto é, seu capital é aberto e suas ações são negociadas na Bolsa de Valores. Em 2015 o governo federal era proprietário de 50,3% das ações ordinárias (com direito a voto) e detinha 28,7% do capital social – somas das ações ordinárias e preferenciais (sem direito a voto). O grupo Petrobras atua no setor energético, incluindo a exploração, a produção, o refino e a comercialização de petróleo, e na distribuição de derivados, gás natural, biocombustíveis e energia elétrica. Na foto de 2015, seu edifício-sede, localizado no centro do Rio de Janeiro (RJ).

O desenvolvimento do capitalismo

21

4 Capitalismo informacional Com o início da Terceira Revolução Industrial, também conhecida como Revolução Técnico-Científica ou Informacional, o capitalismo, como propõe o sociólogo espanhol Manuel Castells (1942-), atingiu seu período informacional. Essa nova etapa começou a se desenvolver logo após a Segunda Guerra, mas

se intensificou a partir dos anos 1970 e 1980, quando diversas tecnologias contribuíram para aumentar a produtividade econômica e acelerar os fluxos materiais e imateriais – de capitais, mercadorias, informações e pessoas. Observe o esquema a seguir.

Capitalismo e Revolução Informacio

Capitalismo e Revolução Informacional

Capitalismo informacional Capitalismo informacional

Avanços tecnológicos Avanços tecnológicos impulsionaram a produção impulsionaram a produção industrial e o sistema industrial e o sistema financeiro financeiro.

Novas tecnologias empregadas na indústria, a exemplo da robótica, permitiram grande aumento da produtividade e da diversificação das mercadorias.

Avanços tecnológicos na informática permitiram que os fluxos de capitais ocorressem sem a necessidade física do dinheiro, possibilitando um enorme crescimento do setor financeiro globalizado.

Característica Característicadessa fundamental fundamental etapa dessa etapa do do desenvolvimento desenvolvimento capitalista capitalista a crescentedo é a crescenteéimportância importância do conhecimento conhecimento.

Produtos e serviços têm um conjunto cada vez maior de conhecimentos agregados a eles, valorizando-os.

Conhecimento, segundo o sociólogo Daniel Bell (1919-2011), é “um conjunto de exposições ordenadas de fatos e ideias que apresentam um juízo racional ou um resultado experimental, que se transmite a outros por meio de algum meio de comunicação de forma sistemática”. Acrescenta que “o conhecimento é o que se conhece objetivamente, uma propriedade intelectual, ligado a um nome ou a um grupo de nomes e certificado por um copyright ou por alguma outra forma de reconhecimento social (por exemplo, a publicação)”. Entretanto, não é apenas o conhecimento científico ou o reconhecido e certificado que pode ser assim considerado. O conhecimento tácito ou senso comum, que faz parte de nosso cotidiano e assegura nossa percepção de realidade, também deve sê-lo. Como diz o sociólogo Allan G. Johnson (1946-): “Conhecimento é aquilo que consideramos como real e verdadeiro. Pode ser tão simples e banal como dar o laço nos sapatos ou tão abstrato e complexo como a física de partículas”.

A globalização Produtos e serviços têm uma nova característica – o crescente teor informacional. Mas o conhecimento também se incorpora ao território, constituindo o que o geógrafo Milton Santos (1926-2001) chamou de meio 22

Capítulo 1

técnico-científico informacional, que aparece predominantemente nos países desenvolvidos e nas regiões mais modernas dos países emergentes, e é a base para os fluxos da globalização.

Os países na vanguarda da Revolução Informacional são aqueles que lideram a Pesquisa e Desenvolvimento, com destaque para os Estados Unidos. Esse é o país que mais investe em P&D em números absolutos (faça a conta: 2,8% de um PIB de 17,4 trilhões de dólares, em 2014), que apresenta o maior número de pesquisadores (cerca de 1,3 milhão de cientistas), que mais publica artigos técnicos e científicos em revistas especializadas e que obtém as maiores receitas de royalties e taxas de licenciamento sobre novas tecnologias de produtos e serviços. Observe a tabela abaixo. Em 2014, foi investido um montante de 484 bilhões de dólares em P&D nos Estados Unidos (no Brasil foram 27 bilhões de dólares). Esse investimento foi feito por órgãos do governo, como a Nasa e o Departamento de

Defesa, por universidades e outras instituições de pesquisa e por empresas privadas. Por exemplo, a Intel, fabricante de chips com sede em Santa Clara, cidade do Vale do Silício, norte da Califórnia, foi a empresa norte-americana que mais investiu em pesquisa, com um montante de 10,6 bilhões de dólares. Ou seja, nos Estados Unidos apenas uma empresa gastou em P&D o correspondente a 39% de tudo o que foi investido no Brasil. Royalty: compensação financeira (taxa de licenciamento) ou parte do lucro paga ao detentor de uma propriedade intelectual ou um direito qualquer. Por exemplo, pagam-se royalties para o licenciamento de uso de uma tecnologia (máquina, remédio, desenho industrial, etc.) desenvolvida por uma pessoa, empresa ou instituição e protegida por uma patente, ou para explorar petróleo em um território, entre muitas outras situações.

Países selecionados: pesquisa e desenvolvimento (P&D) Receita com royalties e licenças (milhões de dólares) 2014

País*

Investimento em P&D (% do PIB) 2005-2014**

Pesquisadores (por milhão de hab.) 2005-2014**

Artigos publicados em revistas científicas 2011

Estados Unidos

2,81

4 019

208 601

130 361

Japão

3,47

5 201

47 106

36 833

Reino Unido

1,63

4 055

46 035

20 003

Alemanha

2,85

4 472

46 259

13 797

Coreia do Sul

4,15

6 457

25 593

5 151

China

2,01

1 089

89 894

887

Rússia

1,13

3 073

14 151

666

Índia

0,82

157

22 481

659

Brasil

1,15

698

13 148

375

Argentina

0,58

1 226

3 863

130

África do Sul

0,73

405

3 125

116

México

0,50

383

4 128

96

Adaptado de: THE WORLD BANK. World Development Indicators 2015. Washington D.C., 2015. Disponível em: . Acesso em: 23 dez. 2015. * Posição segundo as receitas com royalties e licenças. ** Dados do ano mais recente disponível no período para cada país.

As duas revoluções industriais anteriores foram impulsionadas pelo desenvolvimento de novas fontes de energia – a primeira, por carvão mineral, e a segunda, por petróleo e eletricidade. A revolução ora em curso é impulsionada pelo conhecimento, embora, evidentemente, a energia continue sendo fator crucial, já que um computador de última geração não funciona sem energia elétrica ou bateria e os automóveis ainda são movidos predominantemente por combustíveis derivados de petróleo, por exemplo.

Desde os primórdios da espécie humana, as sociedades produzem conhecimentos diversos. Por exemplo, uma ferramenta, como um arado puxado por um animal, que gerou avanços na agricultura, implicou algum conhecimento para fabricá-lo e utilizá-lo. O que mudou hoje, então? Atualmente, o conhecimento é o principal responsável pelo desenvolvimento, pela produção e pela utilização de bens e serviços. Por isso, quanto mais avançados eles forem, mais incorporam conhecimentos, que são a base da atual Revolução Técnico-Científica. O desenvolvimento do capitalismo

23

Brooks Kraft/Corbis/Latinstock

As primeiras indústrias da era das chaminés desenvolveram-se em torno das bacias carboníferas. Atualmente, as empresas da era informacional estão próximas a universidades e outras instituições de pesquisa, onde se desenvolvem os parques tecnológicos, ou tecnopolos. Nesses novos centros industriais, concentram-se as empresas de informática (hardware e software), internet, robótica, biotecnologia, entre outras de alta tecnologia. Na foto, sede do Google, em Mountain View, no Vale do Silício, Califórnia (Estados Unidos), em 2015.

Da década de 1970 em diante ocorreu uma revolução nas unidades de produção, nos serviços e nas residências. Grande parte dessa revolução devese ao chip, uma pequena peça de silício que possibilitou a construção de computadores cada vez menores, mais rápidos e baratos. O desenvolvimento de satélites, modems e cabos de fibra óptica, entre outras tecnologias, tem permitido obter grandes avanços nas telecomunicações. Essas tecnologias têm facilitado o gerenciamento de dados e acelerado a circulação de informações em escala mundial. Os bens e os serviços têm cada vez maior valor agregado pela incorporação de tecnologias resultantes de elevados investimentos em P&D e, por isso, exigem crescentes somas de dinheiro para ser desenvolvidos. Não apenas bens sofisticados, como programas de computadores, que são produtos virtuais e podem ser baixados da internet, mas também produtos materiais mais simples, como aparelhos de barbear. Todas essas mudanças têm provocado uma aceleração na circulação de bens, serviços, capitais e informações, e, evidentemente, de pessoas, especialmente daquelas que comandam esse processo ao redor do mundo. Com essa aceleração contemporânea, o capitalismo atingiu o estágio planetário, a atual fase de globalização. Estrutura-se um mundo cada vez mais integrado por modernos meios de transporte e telecomunicações. Por isso, podemos dizer que vivemos em um capitalismo informacional-global. Entre24

Capítulo 1

tanto, como você estudará no próximo capítulo, a globalização e seus fluxos abarcam o espaço geográfico de forma bastante desigual, pois alguns países e regiões estão mais integrados do que outros, e os “comandantes” desse processo estão concentrados em poucos lugares.

O neoliberalismo O neoliberalismo (reveja a seção Síntese histórica nas páginas 10 e 11) é uma doutrina econômica que se desenvolveu desde o final dos anos 1930, mas só foi praticada nos Estados Unidos sob a presidência de Ronald Reagan (1981-1989), e no Reino Unido com o governo da primeira-ministra Margaret Thatcher (1979-1990). Especialmente na década de 1990, as políticas neoliberais se disseminaram por meio de organismos controlados por esses países, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, e atingiram os países em desenvolvimento. Ao assumir a presidência dos Estados Unidos, Ronald Reagan (Partido Republicano), em seu discurso de posse proferido em 20 de janeiro de 1981, afirmou: “Na atual crise, o governo não é a solução de nossos problemas; o governo é o problema”. Ele se referia à crise capitalista dos anos 1970, que evidenciava certo esgotamento das políticas keynesianas e era agravada pelos choques do petróleo (elevação dos preços do barril em 1973 e 1979). O governo Reagan foi marcado por redução do papel regulador do Estado na economia, por cortes de impostos – que beneficiavam especialmente os mais

ricos –, supostamente para estimular o investimento e a produção, e por imposição da doutrina neoliberal aos países em desenvolvimento. O neoliberalismo, no plano internacional, tinha o objetivo de reduzir as barreiras dos fluxos globais de mercadorias e capitais (abertura econômica e financeira), o que beneficiou principalmente os países desenvolvidos e suas corporações transnacionais. Entretanto, alguns países emergentes, como a Índia, os chamados Tigres Asiáticos, o México, o Brasil e, sobretudo, a China, também se beneficiaram ao receber muitos investimentos produtivos e ampliar sua participação no comércio mundial.

A crise financeira A ampliação dos fluxos de capitais, principalmente o financeiro, e a falta de controle governamental sobre o mercado acarretaram uma grave crise econômica. Nos Estados Unidos, a crise teve seu auge em setembro de 2008, com a falência do Lehman Brothers, centenário banco de investimento. A mais grave crise desde 1929 originou-se no sistema financeiro norte-americano e em pouco tempo se espalhou pelo mundo, atingindo a economia de diversos países. Dessa forma, o neoliberalismo foi posto em xeque, como fica evidente no discurso de posse do primeiro mandato do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama (1961-), do Partido Democrata, proferido no dia 20 de janeiro de 2009: “Tampouco a pergunta diante de nós é se o mercado é uma força do bem ou do mal. Seu poder para gerar riqueza e expandir a liberdade não tem igual, mas esta crise nos fez lembrar que, sem um olhar atento, o mercado pode sair do controle – e que uma nação não pode prosperar por muito tempo se favorece apenas os prósperos”. Trata-se de um discurso muito diferente do feito por Ronald Reagan 28 anos antes. Como Obama admitiu na ocasião, o principal desencadeador da crise econômica foi a fiscalização deficiente do mercado, principalmente financeiro, por parte do Estado. Com o propósito de corrigir essa falha, em junho de 2009 o governo dos Estados Unidos lançou um plano de regulação, considerado a maior intervenção estatal na economia desde os anos 1930. Entre outras medidas, esse plano assegurou extensos poderes ao Federal Reserve (ou Fed, o Banco Central dos Estados Unidos) para regular todo o sistema financeiro do país. Para isso foi criada uma agência para supervisionar os

bancos. Agora, o governo pode intervir em empresas “grandes demais para quebrar”, evitando, assim, que contaminem o mercado. Também foi criada a Agência de Proteção dos Consumidores, cujo objetivo é coibir práticas abusivas do setor financeiro, como ocorreu no caso das hipotecas. Em um país de forte tradição liberal, é natural que esse plano sofresse resistência da oposição, do Partido Republicano e, principalmente, das empresas financeiras, que não teriam mais total liberdade de atuação no mercado. Um dia antes do lançamento do plano, Obama já alertava para esse fato: “Vamos ouvir muita conversa de que não precisamos de mais regulação e de que não queremos as mãos do governo sobre o mercado. Mas não podemos esquecer o desastre em que nos metemos exatamente pela falta dessa regulamentação mais rigorosa, o que levou a um comportamento irresponsável de alguns”. Para entender melhor a origem da crise econômico-financeira iniciada no mercado imobiliário subprime dos Estados Unidos, leia o texto das páginas 28 e 29, do economista Ladislau Dowbor (1941-). A partir de 2010, a crise financeira foi amenizada nos Estados Unidos, mas atingiu mais fortemente a Europa, sobretudo as economias menores e mais endividadas da zona do euro. Muitos governos aumentaram demasiadamente sua dívida pública, às vezes muito além do tamanho do PIB. Na Grécia, por exemplo, a dívida cresceu tanto que se tornou impagável: em 2011, chegou a 355 bilhões de euros, o que correspondia a 171% do PIB. Essa situação obrigou o governo a recorrer à ajuda da chamada Troika – Banco Central Europeu, FMI e União Europeia – para honrar seus compromissos, o que provocou uma pequena queda do endividamento. Porém, como mostra a tabela da próxima página, com o agravamento da crise em 2014, a dívida atingiu 177% do PIB, levando o país a novamente recorrer à ajuda da Troika. Hipoteca: contrato por meio do qual um imóvel é dado como garantia de pagamento de uma dívida contraída. Se a dívida não for paga, o credor pode executar a hipoteca e assumir a propriedade total do imóvel. Subprime: (do inglês subprime mortgage, ‘hipotecas de segunda linha’, ou subprime loan, ‘empréstimos de segunda linha’). Crédito de alto risco concedido a um tomador que não oferece garantias suficientes para obter taxas de juros mais próximas da prime rate, taxa oferecida pelo Tesouro dos Estados Unidos quando vende seus bônus, títulos de primeira linha considerados de risco zero. Quanto menor o risco do empréstimo, mais próxima é sua taxa de juros da prime rate; quanto maior o risco, mais distante. O subprime, portanto, é um empréstimo ou hipoteca cujo risco de inadimplência é alto, por isso a taxa de juros cobrada é elevada. O desenvolvimento do capitalismo

25

Kostas Koutsaftikis/Shutterstock

Em contrapartida aos empréstimos, esses organismos impuseram uma série de cortes de despesas públicas e gastos sociais, como redução no valor das aposentadorias, o que provocou manifestações populares, como mostra a foto ao lado. Observe na tabela abaixo que em praticamente todos os países listados houve, em maior ou menor grau, um aumento do endividamento público. Isso ocorreu por causa do:

• salvamento de bancos e outras empresas financeiras, como nos Estados Unidos;

• aumento dos juros cobrados pelos credores para a rolagem da dívida, como nos países do Mediterrâneo;

• estímulo à recuperação da economia, em quase todos os países, incluindo o Brasil.

A crise financeira provocou redução no crescimento do PIB de alguns países e recessão em outros, com o consequente aumento do desemprego, isto é, transformou-se em uma crise econômica mais ampla, como se pode constatar pelos dados das tabelas da próxima página. Embora tenha se iniciado no mercado financeiro, é a sociedade como um todo que acaba sofrendo as consequências, sobretudo as pessoas mais pobres, com aumento da carga de impostos, corte de benefícios sociais, redução da renda familiar (decorrente do desemprego) e piora nas condições de vida.

A Grécia foi o país europeu mais atingido pela crise econômica a partir de 2009 por causa de seus graves desequilíbrios macroeconômicos. Diversos setores sociais passaram a organizar protestos contra a austeridade da política econômica implantada na tentativa de superar a crise. Na foto, manifestação em frente ao parlamento grego em Atenas, em 2015. O cartaz diz: "Pare Merkel, comece a democracia!". Angela Merkel, chefe de governo da Alemanha, país mais poderoso da União Europeia, simboliza para os gregos a imposição da austeridade econômica.

Países selecionados: dívida pública 2008 País* (moeda)

Dívida absoluta (bilhões)

2011

Dívida relativa (% do PIB)

Dívida absoluta (bilhões)

2014

Dívida relativa (% do PIB)

Dívida absoluta (bilhões)

Dívida relativa (% do PIB)

Grécia (euro)

263

109

355

171

317

177

Itália (euro)

1 671

102

1 908

116

2 135

132

Portugal (euro)

128

72

196

111

225

130

10 720

73

15 379

99

18 250

105

Espanha (euro)

440

39

744

69

1 034

98

Alemanha (euro)

1 660

65

2 096

78

2 123

73

Brasil (real)

1 924

62

2 679

61

3 601

65

Índia (rúpia)

41 964

75

60 143

68

82 198

65

604

47

827

36

2 131

49

10 005

32

17 236

36

26 181

41

Estados Unidos (dólar)

Argentina (peso) China (yuan)

Adaptado de: INTERNATIONAL MONETARY FUND. World Economic Outlook Database. April 2015 Edition. Disponível em: . Acesso em: 23 dez. 2015. * Posição segundo a dívida relativa em 2014.

26

Capítulo 1

Desglobalização? Como estudaremos no Capítulo 2, a crise iniciada em 2008 provocou a diminuição do fluxo de capitais pelo mundo, inclusive um encolhimento de muitos bancos dos Estados Unidos, da Europa e do Japão, que são os mais globalizados, e o crescimento de bancos da China, com atuação mais concentrada em seu território. No Capítulo 10 veremos que o comércio mundial está crescendo mais lentamente do que sua média histórica.

Esse cenário de baixo crescimento econômico, de aumento do desemprego na maioria dos países, como mostram os dados das tabelas a seguir, e da consequente redução do consumo de bens e serviços, tem levado a uma reversão da integração mundial. Isso tem aprofundado a tendência de maior controle do fluxo de capitais e de pessoas, além do crescente protecionismo comercial. Esses fatos têm levado muitos analistas a mencionar a existência de um processo de “desglobalização”.

Países selecionados: crescimento do PIB (%) 2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

China

14,2

9,6

9,2

10,4

9,3

7,8

7,8

7,4

Índia

9,8

3,9

8,5

10,3

6,6

5,1

6,9

7,2

Argentina

8,0

3,1

0,1

9,5

8,4

0,8

2,9

0,5

Brasil

6,0

5,0

‒0,2

7,6

3,9

1,8

2,7

0,1

Alemanha

3,4

0,8

‒5,5

3,9

3,7

0,6

0,2

1,6

Estados Unidos

1,8

‒0,3

‒2,8

2,5

1,6

2,3

2,2

2,4

Portugal

2,5

0,2

‒3,0

1,9

‒1,8

‒4,0

‒1,6

0,9

Itália

1,5

‒1,1

‒5,5

1,7

0,6

‒2,8

‒1,7

‒0,4

Espanha

3,8

1,1

‒3,6

0,0

‒0,6

‒2,1

‒1,2

1,4

Grécia

3,5

‒0,4

‒4,4

‒5,4

‒8,9

‒6,6

‒3,9

0,8

Adaptado de: INTERNATIONAL MONETARY FUND. World Economic Outlook Database. April 2015 Edition. Disponível em: . Acesso em: 23 dez. 2015.

cha/A e Ro Filip

* Posição segundo a taxa de crescimento do PIB em 2010.

Países selecionados: desemprego (%) País*

ra edito

2007

o da rquiv

País*

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

Espanha

8,3

11,3

17,9

19,9

Grécia

8,4

7,8

9,6

12,7

Portugal

8,0

7,6

9,4

10,8

2014

21,4

24,8

26,1

24,5

17,9

24,4

27,5

26,5

12,7

15,5

16,2

13,9

Estados Unidos

4,6

5,8

9,3

9,6

8,9

8,1

7,4

6,2

Itália

6,1

6,8

7,8

8,4

8,4

10,6

12,2

12,8

Argentina

8,5

7,9

8,7

7,8

7,2

7,2

7,1

7,3

Alemanha

8,6

7,4

7,7

6,9

5,9

5,4

5,2

5,0

Brasil

9,3

7,9

8,1

6,8

6,0

5,5

5,4

4,8

China

4,0

4,2

4,3

4,1

4,1

4,1

4,1

4,1

Adaptado de: INTERNATIONAL MONETARY FUND. World Economic Outlook Database. April 2015 Edition. Disponível em: . Acesso em: 23 dez. 2015. * Posição segundo a taxa de desemprego em 2010. Não há dados disponíveis para a Índia.

A questão é: a tendência de “desglobalização” veio para ficar ou é transitória? A maioria dos analistas concorda que se trata de uma situação passageira. Assim que a crise for superada, a expansão econômica e a integração mundial devem ser retomadas. Além disso, as bases tecnológicas da globalização, estabelecidas pela revolução técnico-científica, estão aí e, embora em ritmo mais lento, continuam a se expandir.

Para saber mais sobre a crise econômica, consulte o livro O abc da crise. Veja indicações na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

O desenvolvimento do capitalismo

27

Outras leituras A crise financeira sem mistérios

2

Na realidade, o acrônimo Ninja vem de “no income, no jobs or assets”, ou seja, define pessoas “sem renda, sem emprego ou patrimônio”. (Nota dos autores)

3

Do inglês security, indica o ato de transformar uma dívida com determinado credor em dívida com compradores de títulos no mesmo valor. (Nota dos autores)

28

Capítulo 1

chamada “bolha”, o sistema funciona, permitindo o seu alastramento, pois um vizinho conta a outro quanto a sua aposentadoria já valorizou. Para entender a crise atual [2008-2009], não muito diferente no seu rumo geral do caso da Enron, basta fazer o caminho inverso. Frente a um excesso de pessoas sem recurso algum para pagar os compromissos assumidos, as agências bancárias nos EUA são levadas a executar a hipoteca, ou seja, apropriam-se das casas. Um banco não vê muita utilidade em acumular casas, a não ser para vendê-las e recuperar dinheiro. Com numerosas agências bancárias colocando casas à venda, os preços começam a baixar fortemente. Com isso, o Ninja que esperava ganhar os 80 mil para ir financiando a sua compra irresponsável vê que a sua casa não apenas não valorizou, mas perdeu valor. O mercado de imóveis fica saturado, os preços caem mais ainda, pois cada agência ou particular procura vender rapidamente antes que os preços caiam mais ainda. A bolha estourou. O sueco que foi o último elo e que ficou com os papéis – agora já qualificados de “papéis tóxicos” – é informado pelo gerente da sua conta que lamentavelmente o seu fundo de aposentadoria tornou-se muito pequeno. “O que se pode fazer, o senhor sabe, o mercado é sempre um risco.” O sueco perde a aposentadoria, o Ninja volta para a rua, alguém tinha de perder. Este alguém, naturalmente, não seria o intermediário financeiro. Os fundos de pensão são o alvo predileto, como o foram no caso da Enron.

Jessica Rinaldi/Reuters/Latinstock

O estopim da crise financeira de 2008 foi o mercado imobiliário norte-americano. Abriu-se crédito para a compra de imóveis por parte de pessoas qualificadas pelos profissionais do mercado de Ninjas (No Income, no Jobs, no Savings2). Empurra-se uma casa de 300 mil dólares para uma pessoa, digamos assim, pouco capitalizada. Não tem problema, diz o corretor: as casas estão se valorizando, em um ano a sua casa valerá 380 mil, o que representa um ganho seu de 80 mil, que o senhor poderá usar para saldar uma parte dos atrasados e refinanciar o resto. O corretor repassa este contrato – simpaticamente qualificado de “subprime”, pois não é totalmente de primeira linha, é apenas subprimeira linha – para um banco, e os dois racham a perspectiva suculenta dos 80 mil dólares que serão ganhos e pagos em forma de reembolso e juros. O banco, ao ver o volume de “subprime” na sua carteira, decide repassar uma parte do que internamente qualifica de “junk” (aproximadamente lixo), para quem irá “securitizar”3 a operação, ou seja, assegurar certas garantias em caso de inadimplência total, em troca evidentemente de uma taxa. Mais um pequeno ganho sobre os futuros 80 mil, que evidentemente ainda são hipotéticos. Hipotéticos mas prováveis, pois a massa de crédito jogada no mercado imobiliário dinamiza as compras, e a tendência é os preços subirem. As empresas financeiras que juntam desta forma uma grande massa de “junk” assinados pelos chamados “ninjas” começam a ficar preocupadas, e empurram os papéis mais adiante. No caso, o ideal é um poupador sueco, por exemplo, a quem uma agência local oferece um “ótimo negócio” para a sua aposentadoria, pois é um “subprime”, ou seja, um tanto arriscado, mas que paga bons juros. Para tornar o negócio mais apetitoso, o lixo foi ele mesmo dividido em AAA, BBB, e assim por diante, permitindo ao poupador, ou a algum fundo de aposentadoria menos cauteloso, adquirir lixo qualificado. O nome do lixo passa a ser designado como SIV, ou Structured Investment Vehicle, o que é bastante mais respeitável. Os papéis vão assim se espalhando e enquanto o valor dos imóveis nos EUA sobe, formando a

Casa à venda por preço reduzido em Dallas (Estados Unidos) em 2009. Milhares de imóveis à venda no país não obtiveram compradores, o que provocou uma queda acentuada em seus preços e precipitou a crise financeira no mercado subprime.

Orjan F. Ellingvag/Dagens Naringsliv/Corbis/Latinstock

Veja a indicação do documentário Enron: os mais espertos da sala, que desvenda o escândalo contábil da empresa, na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

A Enron atuava no setor energético e sua sede ficava nesse arranha-céu todo envidraçado em Houston (Estados Unidos; foto de 2002). Segundo a revista Fortune, em 2000 a empresa era a sétima do país e a décima sexta entre as 500 maiores do mundo. Após apresentar balanço contábil fraudado para insuflar lucros e esconder prejuízos, faliu em 2001, lesando milhares de acionistas, funcionários e pensionistas (muitos fundos de pensão, incluindo o dos trabalhadores da empresa, investiam em ações da Enron).

Onde a agência bancária encontrou tanto dinheiro para emprestar de forma irresponsável? Porque afinal tinha de entregar ao Ninja um cheque de 300 mil para efetuar a compra. O mecanismo, aqui também, é rigorosamente simples. Ao Ninja não se entrega dinheiro, mas um cheque. Este cheque vai para a mão de quem vendeu a casa, e será depositado no mesmo banco ou em outro banco. No primeiro caso, voltou para casa, e o banco dará conselho ao novo depositante sobre como aplicar o valor do cheque na própria agência. No segundo caso, como diversos bancos emitem cheques de forma razoavelmente equilibrada, o mecanismo de compensação à noite permite que nas trocas todos fiquem mais ou menos na mesma situação. O banco, portanto, precisa apenas de um pouco de dinheiro para cobrir desequilíbrios momentâneos. A relação entre o dinheiro que empresta – na prática o cheque que emite corresponde a uma emissão monetária – e o dinheiro que precisa ter em caixa para não ficar “descoberto” chama-se alavancagem.

A alavancagem, descoberta ou pelo menos generalizada já na renascença pelos banqueiros de Veneza, é uma maravilha. Permite ao banco emprestar dinheiro que não tem. Em acordos internacionais (acordos de cavalheiros, ninguém terá a má educação de verificar) no quadro do BIS (Bank for International Settlements [Banco de Compensações Internacionais]) de Basileia, na Suíça, recomenda-se, por exemplo, que os bancos não emprestem mais de nove vezes o que têm em caixa, e que mantenham um mínimo de coerência entre os prazos de empréstimos e os prazos de restituições, para não ficarem “descobertos” no curto prazo, mesmo que tenham dinheiro a receber em longo prazo. Para se ter uma ideia da importância das recomendações de Basileia, basta dizer que os bancos americanos que quebraram tinham uma alavancagem da ordem de 1 para 40. [...] DOWBOR, Ladislau. A crise financeira sem mistérios. Le Monde Diplomatique Brasil. São Paulo, 29 jan. 2009. Disponível em: . Acesso em: 10 ago. 2015.

Hiroko Masuike/Getty Images

Veja a indicação do filme Grande demais para quebrar, que aborda os bastidores da crise financeira americana e a quebra do banco Lehman Brothers, na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

O Banco Lehman Brothers, fundado em 1850, era o quarto maior dos Estados Unidos pouco antes de falir em 15 de setembro de 2008. Na foto, seu edifício-sede, em Nova York, poucos meses antes de sua quebra. O banco estava muito envolvido no mercado subprime e, segundo a revista Business Week, sua alavancagem era de 1 para 31. Com o início da crise, não teve dinheiro para honrar seus compromissos, e suas ações despencaram 95% (de 82 para 4 dólares), obrigando-o a pedir falência.

O desenvolvimento do capitalismo

29

Atividades

atenção! Não escreva no seu livro!

Compreendendo conteúdos 1. Com base no que foi estudado ao longo do capítulo e na observação da seção Síntese histórica das páginas 10 e 11, monte um quadro-resumo que contemple os seguintes itens: a) As etapas do desenvolvimento capitalista: embaixo de cada uma delas, descreva em poucas palavras os motivos do nome que as designa. b) As doutrinas econômicas associadas a cada etapa: liste suas características essenciais. c) As potências econômicas mais importantes de cada período.

2. Estabeleça uma breve comparação entre as três Revoluções Industriais, mostrando: a) os novos ramos industriais de cada uma delas; b) as fontes de energia mais importantes; c) as novas tecnologias desenvolvidas.

3. Relacione a expansão das potências imperialistas no século XIX com as necessidades do capitalismo industrial.

Desenvolvendo habilidades 4. Releia o texto “A crise financeira sem mistérios”, nas páginas 28 e 29. Em seguida, analise a opinião de dois economistas – Moisés Naím, ex-diretor do Banco Mundial e editor-chefe da revista Foreing Policy, e Joseph Stiglitz, ex-economista-chefe do Banco Mundial e professor da Universidade de Colúmbia. Em seguida, responda às questões propostas.

Que lições podemos tirar desta crise? De que forma ela vai mudar o capitalismo? Moisés Naím: O senso comum diz que a crise vai brecar ou desacelerar a globalização. E que também o capitalismo será drasticamente afetado pela crise e que ele seria substituído por alguma forma de socialismo. Essas visões estão erradas. A globalização vai prosseguir e até mesmo florescer – isso só não vai acontecer para quem pensa que a globalização é um fenômeno restrito ao comércio e a investimentos internacionais. Não há dúvida de que o capitalismo financeiro – na forma em que ele é regulado – vai mudar. De agora em diante, os bancos e as instituições financeiras terão de operar com controles muito maiores. Mas experimente dizer a milhões de indianos ou chineses, que mal começaram a produzir, a vender e a comprar, que o capitalismo é ruim. Joseph Stiglitz: A principal lição é entender que o sistema financeiro precisa de supervisão, como defende o governo americano – mas isso não é o bastante. Nós não queremos apenas saber que os bancos estão com problemas, precisamos interromper o processo antes que seja tarde demais. E isso significa mais regulação. Os bancos têm assumido riscos inadmissíveis de forma repetida. Essa não é a primeira crise: precisamos nos lembrar de que os bancos americanos já foram resgatados na Coreia do Sul, Argentina, Tailândia, Indonésia e Rússia. E o fato é que nós continuamos a resgatá-los. Se essa fosse a primeira vez, você poderia dizer: “Bem, isso foi um acidente”. Mas acontece que esse é um padrão de mau comportamento. As regras do jogo têm de mudar. EXAME. São Paulo, ano 43, ed. 942, n. 8, 6 maio 2009, p. 30.

a) Explique sucintamente a origem da crise financeira que atingiu vários países a partir de 2008. b) As análises dos economistas são concordantes ou conflitantes entre si? E com o trecho do discurso de posse de Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, em 2009 (página 25)? c) Você concorda com as avaliações de Naím e Stiglitz? Produza um texto argumentativo defendendo seu ponto de vista.

5. Analise as tabelas que mostram o endividamento de países da zona do euro e de outros países selecionados (na página 26), assim como suas respectivas taxas de crescimento do PIB e de desemprego (na página 27). Reflita sobre a crise econômica iniciada em 2008 com base nas questões a seguir. a) Avalie se todos os países: • aumentaram sua dívida pública; • entraram em recessão; • tiveram aumento nas taxas de desemprego. b) A crise econômica atingiu igualmente todos os países? Justifique sua resposta. 30

Capítulo 1

CAPÍTULO

2

A globalização e seus fluxos Steve Proehl/Proehl Studios/Corbis/Latinstock

Vista aérea do Aeroporto Internacional de Los Angeles (LAX), nos Estados Unidos, um dos mais movimentados do mundo. Foto de 2014.

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Neste capítulo aparecem fotos de sedes de empresas, de restaurantes, de fábricas, de produtos e de linhas de produção. Só mencionamos o nome da empresa/marca/ produto com fins didáticos, quando é estritamente necessário para a compreensão do tema tratado, porém com o devido cuidado de não recomendar qualquer tipo de produto ou marca. Nos casos em que a informação não é relevante não mencionamos o nome da empresa/marca, para não caracterizar publicidade.

Umar Shariff/Shutterstock

Dubai (Emirados Árabes Unidos) é um dos lugares onde o meio técnico-científico informacional mais se desenvolveu. Na foto de 2016, edifícios modernos da cidade com destaque para o Burj Khalifa, o mais alto do mundo, com 828 metros de altura e 160 andares.

32

Capítulo 2

Pelo fato de ser técnico-científico informacional, o meio geográfico tende a ser universal. Mesmo onde se manifesta pontualmente, ele assegura o funcionamento dos processos encadeados a que se está chamando de globalização.” Milton Santos (1926-2001), geógrafo, professor/pesquisador do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo e ganhador do prêmio Internacional Vautrin Lud em 1994.

A

atual fase de expansão do capitalismo ficou conhecida como globalização. Como já estudamos, ela é consequência do avanço tecnológico nos três setores da economia, sobretudo da modernização dos sistemas de transportes e telecomunicações, responsáveis pela aceleração dos fluxos de pessoas, mercadorias, capitais e informações. A globalização é fruto da atual revolução técnico-científica e seria inviável sem um meio geográfico preparado para lhe dar suporte. Porém, como você verá a seguir, os fluxos da globalização não abarcam o espaço geográfico mundial como um todo. Os lugares que receberam e recebem mais investimentos em infraestrutura, caracterizando o que Milton Santos chamou de meio técnico-científico informacional, são os mais atingidos. Então, cabe indagar: Por que isso ocorre? O que diferencia a atual expansão capitalista das etapas anteriores? A crise está provocando uma “desglobalização”? É o que estudaremos a seguir.

1 Globaliza•‹o A palavra “globalização” começou a ser empregada nos anos 1980 por consultores de administração das principais universidades norte-americanas (deriva do inglês globalization). Inicialmente, servia para definir estratégias de expansão global para empresas transnacionais. A partir dos anos 1990, esse termo foi amplamente divulgado pela mídia e passou a fazer parte do dia a dia de países, empresas, instituições multilaterais, trabalhadores e da população em geral, embora fosse um conceito um tanto incompreendido. A globalização, apesar de ter suas origens mais imediatas na expansão econômica ocorrida após a Segunda Guerra Mundial e na Revolução Técnico-Científica iniciada nos anos 1970, é a continuidade de um longo processo histórico que remonta aos primórdios do capitalismo. Assim, globalização é o nome do momento atual da expansão capitalista: ela está para o atual período informacional assim como o colonialismo esteve para a etapa comercial e o imperialismo para a industrial e financeira. quando a mundialização capitalista teve início, com as Grandes Navegações, o planeta era composto de vários “mundos” – europeu ocidental, russo, chinês, árabe, asteca, tupi, zulu, aborígine, etc. –, e, muitas vezes, os habitantes de um “mundo” não sabiam da

Darren Soh/Bloomberg/ Getty Images

existência dos de outros. Nessa época, começaram os processos de integração e de interdependência planetária. Ao atingir o atual período informacional, o capitalismo integrou países e regiões do planeta em um sistema único, formando o chamado sistema-mundo. Mundo e planeta tornaram-se sinônimos, que, por sua vez, são sinônimos de globo, palavra da qual se originou o vocábulo “globalização” (os franceses preferem mundialização; em português empregamos as duas expressões, com uma predileção pela primeira). A globalização é um fenômeno que apresenta várias dimensões: econômica, mais evidente e perceptível, social, cultural e política, entre outras. Contudo, todas elas se materializam no espaço geográfico em suas diversas escalas: mundial, nacional, regional e local. Os lugares estão conectados a uma rede de fluxos, controlada por poucos centros de poder econômico e político. No entanto, não são todos os lugares que estão integrados ao sistema-mundo. Os fluxos da globalização se dão em rede, mas seus nós mais importantes são os lugares que dispõem dos maiores mercados consumidores e das melhores infraestruturas – hotéis, bancos, Bolsas de Valores, sistemas de telecomunicação, estações rodoferroviárias, terminais portuários, aeroportos (como mostra o cartograma da próxima página), etc. Os nós mais importantes dos fluxos da globalização estão nas cidades globais e na rede urbana por elas polarizada. Essas cidades estão localizadas predominantemente nos países desenvolvidos e em alguns países emergentes: Nova York, Londres, Tóquio, Paris, Hong Kong, Cingapura, Xangai, Sydney, Mumbai, São Paulo, Cidade do México, Johannesburgo, etc. Ao lado dos parques tecnológicos, elas são os principais exemplos de meio técnico-científico informacional. Na foto de 2015, hotel luxuoso (à esquerda) e edifícios comerciais do distrito financeiro de Cingapura (ao fundo).

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David Kossowsky/BioDiaspora

Mundo: rede aérea – 2013

Sem escala.

KOSSOWSKY, David. 2013 Global Flight Network. In: Esri Map Book Volume 29. Redlands, California: Esri Press, 2014. p. 12-13.

Esse cartograma, feito com o software ArcGIS 10.1, reproduz as rotas aéreas que conectam diferentes aeroportos no mundo. Além das linhas (rotas), a imagem mostra também os nós (principais aeroportos), formando uma rede aérea global. Observe que os principais aeroportos estão concentrados nos Estados Unidos, na Europa e no leste da Ásia.

Por meio da internet, ONGs organizaram em 2011 o movimento Ocupe Wall Street, assim como suas variantes regionais em diversas cidades do mundo. O desenvolvimento de uma opinião pública mundial também resulta da revolução informacional e da globalização. Na foto, ativistas se reúnem em 2015, marcando o quarto aniversário do Occupy Wall Street, em Nova York (Estados Unidos), onde esse movimento teve início.

ONG: sigla para Organização Não Governamental, sociedade civil sem fins lucrativos, em geral, sem vínculos com governos, partidos políticos, religiões ou nacionalidades, que se empenha em defender alguma causa relevante em escala local, nacional ou global. Por exemplo: direitos humanos (Anistia Internacional, Human Rights Watch), saúde pública (Cruz Vermelha, Médicos Sem Fronteiras), meio ambiente (Greenpeace, SOS Mata Atlântica), entre outros.

Mark Apollo/Pacific Press/LightRocket/Getty Images

A atual expans‹o capitalista Hoje em dia, ao contrário do que ocorreu nas demais etapas do capitalismo, a expansão desse sistema econômico não se dá predominantemente pela invasão e ocupação territorial. Por exemplo, durante o colonialismo e o imperialismo, era fundamental controlar o território onde os recursos naturais seriam explorados, daí as ocupações. A maioria dos conflitos regionais contemporâneos tem um caráter mais étnico-nacionalista, como você verá no Capítulo 5. 34

Capítulo 2

Entretanto, conflitos que geram ocupação ainda acontecem: a invasão do Iraque pelos Estados Unidos em 2003, por exemplo, foi movida por interesses geopolíticos e econômicos no Oriente Médio, relacionados, sobretudo, ao controle do petróleo. O Iraque dispõe da quarta reserva mundial desse recurso. A invasão militar, contudo, foi muito criticada, principalmente porque não foi aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU. Em diversos países ocorreram manifestações contrárias a essa ação bélica, até mesmo no interior dos Estados Unidos.

Vários movimentos populares antiglobalização vêm ocorrendo no mundo: um dos primeiros foi realizado em Seattle (Estados Unidos), em 1999, seguido por movimentos pacifistas contra a invasão do Iraque, em 2003. Durante a crise econômica, eclodiram diversos movimentos contra o capitalismo, a ganância do sistema financeiro, a corrupção e a desigualdade social, como o Ocupe Wall Street – que você conheceu na página anterior – e os Indignados – que reuniu milhares de manifestantes em diversas cidades da Espanha, no mesmo ano. Com uma ou outra exceção, na era da globalização, a expansão capitalista é silenciosa, sutil e ainda mais eficaz. Trata-se de uma “invasão” de mercadorias, capitais, serviços, informações e pessoas. As novas “armas” são a sedução pelo consumo de bens e serviços, além da agilidade e eficiência das telecomunicações, dos transportes e do processamento de informações,

graças aos satélites de comunicação, à informática, à internet, aos telefones (fixos e celulares), aos aviões, aos supernavios petroleiros e graneleiros e aos trens de alta velocidade. A “guerra” acontece nas Bolsas de Valores, de mercadorias e de futuros em todos os mercados do mundo e em todos os setores da economia. As estratégias e táticas são estabelecidas nas sedes das corporações transnacionais, dos bancos globais, das corretoras de valores e de outras instituições, e influenciam quase todos os países. Entretanto, muitas vezes, essas estratégias e táticas dos dirigentes das grandes empresas, principalmente do setor financeiro, mostraram-se arriscadas, gananciosas e/ou fraudulentas. Isso ficou bastante evidente na crise do mercado imobiliário/ financeiro nos Estados Unidos em 2008, como você leu no artigo “A crise financeira sem mistérios”, no Omitimos o nome das empresas e produtos, capítulo anterior. pois não é imprescindível para o entendimento do assunto estudado.

Divulgação/Arquivo da editora

Avião a jato, 2013.

Trem de alta velocidade, na estação de Tóquio (Japão), em 2015.

Julian Assange, fundador do Wikileaks, participa por videoconferência da reunião do Partido Verde da França, em 2015.

Vincent St. Thomas/Shutterstock Andrey Rudakov/Bloomberg/Getty Images

Smartphone (‘telefone inteligente’, do inglês) é um celular com várias funções: comunicação, navegação na internet, acesso às redes sociais, etc.

Philippe Huguen/Agência France-Presse

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Representação sem escala.

Robôs industriais na fábrica de automóveis em São Petersburgo (Rússia), em 2015. A globalização e seus fluxos

35

1. I n

36

Capítulo 2

2. C

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l& C Ba omm n hin k of ercia C l aC on hina str uct 3. A i o gri B n cul tur ank al B a of Ch nk 4. B ina an ko fC 5. H hin SB a (Re C Ho ino ldin Un gs & C 6. JP ido M o. ) (Es org tad an 7. B Ch os NP Un ase ido Pa rib s) as Fin (Fr 8 an .M an ça) cia l G itsub rou ish i p 9. B (Ja UFJ pã a o) (Es nk of tad A os mer 10. Un ica Cré ido s) Gr dit A ou gri p ( 11. Fra cole De uts nça) c (Al he B em an an k 1 h (Re 2. Ba a) ino rcla Un ys ido (Es 13. ) tad Citi g os Un roup 14. ido (Es We s) tad lls F os Un argo 15. ido Jap s) an Po st B an k

A “invasão” mais típica da globalização é a dos Capitais especulativos: são aqueles alocados nos mercados de capitais especulativos, pois se movimentam com títulos financeiros, ações, moedas ou mesmo de mercadorias, com o objetivo de obter lucros rápidos e elevados. Na fase atual grande rapidez pelo sistema financeiro mundial conecdo capitalismo, é possível rastrear todos os mercados do mundo tado on-line. Os avanços tecnológicos na informática em busca dos títulos que oferecem as maiores taxas de juros, e nas telecomunicações tornaram o dinheiro virtual, das ações com maior potencial de valorização, das moedas mais desvalorizadas, das mercadorias mais baratas, etc. Esses capitais isto é, dados numéricos transformados em bites exibisão de curto prazo, isto é, entram na economia nacional e saem dos nas telas dos computadores, o que aumentou exdela em curtos intervalos de tempo. Bit: contração do inglês binary digit (dígito binário), define a menor ponencialmente sua velocidade de circulação. unidade de informação digital armazenada ou transmitida. É desconhecida a quantia de capitais especulativos Títulos da dívida pública: títulos emitidos e garantidos pelo que circula pelo sistema financeiro mundial por causa governo de um país, estado ou município, para obter recursos no mercado, com o objetivo de financiar o deficit orçamentário de sua alta fluidez e do baixo controle exercido por muiou para obter receita para investimentos em infraestrutura, tos governos. No entanto, ao acompanhar o patrimônio educação, saúde, etc. Podem ser comprados por investidores do próprio país ou por estrangeiros. dos maiores bancos do mundo, é possível inferir que se trata de muito dinheiro, na casa dos trilhões de dólares realizando o lucro financeiro. Pode-se também especu(observe o gráfico a seguir). Parte desses recursos perlar com mercadorias e moedas. tence a milhões de pequenos poupadores espalhados, Os capitais especulativos prejudicam as economias à sobretudo pelos países desenvolvidos, que guardam seu medida que, quando algum mercado se torna instável ou dinheiro num banco ou investem num fundo de pensão, menos atraente, os investidores transferem seus recursos para garantir suas aposentadorias. Essa vultosa soma é rapidamente, e os países onde o dinheiro estava aplicado transferida de um mercado para outro, de um país para entram em crise financeira ou são atingidos pelo aprofunoutro, sempre em busca das mais altas taxas de juros damento dela. Isso aconteceu, por exemplo, com o México dos títulos da dívida pública ou da maior rentabilida(1994), os países do Sudeste Asiático (1997), a Rússia (1998), de das ações, das moedas, etc. Os administradores deso Brasil (1999), a Argentina (2001) e a Grécia (2010-2015). Grande parte dos capitais especulativos, assim coses capitais – como bancos de investimento e corretoras mo uma parcela dos produtivos, direciona-se para as de valores – em geral não estão interessados em invesBolsas de Valores e de mercadorias espalhadas pelo tir na produção, cujo retorno é demorado, mas em esmundo (na tabela da próxima página estão listadas as pecular, isto é, realizar investimentos de curto prazo nos maiores), investindo em ações ou mercadorias. mercados mais rentáveis. Os grandes conglomerados fiMundo: maiores bancos (por patrimônio) – 2015 nanceiros possuem empresas coliTrilhões de dólares gadas que atuam em todos os seto3,45 3,5 res das finanças – investimentos, 3,0 2,82 2,72 empréstimos, seguros, câmbio, cor2,58 2,57 2,45 2,40 2,32 2,5 retagem de valores, etc. – e são for2,15 1,91 1,90 1,88 1,83 2,0 1,72 1,70 temente globalizados: estão pre1,5 sentes nas principais economias do 1,0 mundo. Observe o gráfico ao lado. 0,5 Pode-se investir em ações de 0,0 forma produtiva, esperando que a empresa obtenha lucros para receber dividendos pela valorização; ou investir de forma especulativa, comprando ações na baixa e venPosição/banco dendo-as assim que houver valoAdaptado de: BANKS AROUND THE WORLD. Top Banks in the World. 30 jun. 2015. rização, embolsando a diferença e Disponível em: . Acesso em: 23 dez. 2015. A apresentação dos bancos que ocorre no gráfico desta página tem finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir seu consumo. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do tema abordado.

A. Robson/Arquivo da editora

2 Fluxo de capitais especulativos e produtivos

O valor de mercado de uma Bolsa de Valores é dado pela soma de todas as ações das empresas nela listadas. Com a crise financeira de 2008/2009, as ações negociadas nas Bolsas mundiais se desvalorizaram drasticamente. Como mostra a tabela abaixo, depois de atingir o pico de valorização em maio de 2008, as Bolsas sofreram fortes quedas, sobretudo a partir de outubro,

quando a crise se agravou, reduzindo seus respectivos valores de mercado. Depois de chegarem ao “fundo do poço” em fevereiro de 2009, começaram a se recuperar. No final de 2011, sofreram novas quedas, em razão do agravamento da crise na Europa; em dezembro de 2014, quase todas tinham recuperado o patamar pré-crise.

As dez maiores Bolsas de Valores e a BM&FBovespa – 2014 Ranking (dez. 2014)

Valor de mercado (bilhões de dólares) Maio 2008

Out. 2008

Fev. 2009

Dez. 2010

Dez. 2011

Dez. 2014

1. NYSE Euronext* (Estados Unidos)

15 071

10 313

8 701

13 394

11 796

19 351

2. Nasdaq OMX (Estados Unidos)

4 205

2 454

1 959

3 889

3 845

6 979

3. Tóquio SE (Japão)

4 329

2 884

2 563

3 828

3 325

4 378

4. Londres SE (Reino Unido)

3 556

2 042

2 000

3 613

3 266

4 013

5. Xangai SE (China)

2 611

1 341

1 632

2 716

2 357

3 933

6. NYSE Euronext*

3 910

2 084

1 677

2 930

2 447

3 319

7. Hong Kong SE (China)

2 355

1 228

1 197

2 711

2 258

3 233

8. TMX Group (Canadá)

2 102

1 111

917

2 170

1 912

2 094

9. Shenzen SE (China)

628

1 341

420

1 311

1 055

2 072

10. Deutsche Borse (Alemanha)

2 007

1 097

818

1 430

1 185

1 739

19. BM&FBovespa** (Brasil)

1 577

646

596

1 546

1 229

844

56 654

33 372

29 109

54 891

47 353

63 530

Total WFE

Adaptado de: WORLD FEDERATION OF EXCHANGES. Monthly Reports. Domestic Market Capitalization. Disponível em: . Acesso em: 23 dez. 2015.

A circulação dos capitais produtivos é mais lenta porque são investimentos de longo prazo, por isso menos suscetíveis às oscilações repentinas do mercado. Sendo investidos diretamente na produção de bens e serviços ou em infraestrutura, esses capitais são aplicados em determinado território e possuem uma base física (fábrica, usina hiCapitais produtivos: didrelétrica, rede de lojas, nheiro investido na produetc.). Estão em busca de ção de bens ou serviços ou lucros, que podem resultar em infraestrutura. O investimento pode ser realide custos de produção mezado diretamente, na fornores em relação ao país de ma de abertura de uma origem, proximidade dos nova empresa ou filial de alguma já constituída, ou mercados consumidores e indiretamente, via aplicafacilidades em driblar barção de capital em ações reiras protecionistas. nas Bolsas de Valores.

Alf Ribeiro/Pulsar Imagens

* Resultante da fusão entre a Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) e a Euronext, que é composta das Bolsas de Valores de Paris, Amsterdã, Bruxelas e Lisboa. ** Resultante da fusão entre a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) e a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).

À esquerda, sede da BM&FBovespa, em São Paulo (SP), em 2014. Nesse ano, a Bolsa brasileira era uma das poucas que ainda não tinham conseguido recuperar o patamar pré-crise, por isso perdeu terreno entre as maiores Bolsas de Valores do mundo: em maio de 2008, era a 10ª colocada em valor de mercado. A globalização e seus fluxos

37

Bilhões de dólares 1500 129

1 228

120

1200 103 92 900

90

72

68 62

60

696 54

600

52 34

30

30

532

300

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País

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0

Adaptado de: UNITED NATIONS CONFERENCE ON TRADE AND DEVELOPMENT. World Investment Report 2015. New York/Geneva: United Nations, 2015. t. A3-A6.

A expansão das transnacionais As transnacionais, ou multinacionais, são empresas que desenvolvem uma estratégia de atuação internacional a partir de seu país-sede. O governo do país de origem dessas empresas em geral lhes dá suporte econômico e político na concorrência internacional. Isso porque, embora grande parte das operações se dê fora do país-sede, as decisões estratégicas, o controle acionário e mesmo a maior parte dos gastos em P&D permanecem no território onde está sua base. Além disso, a maior parte dos lucros obtidos pelas filiais do exterior é enviada ao país-sede, contribuindo para seu enriquecimento. 38

Capítulo 2

Mundo: investimentos produtivos (por grupos de países) – 1995-2014 Trilhões de dólares 2,5

2,0

1,5

Economias desenvolvidas

Total do mundo

Economias em desenvolvimento Economias em transição

1,0

0,5

0

19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 0 20 1 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14

A partir de 2003, os investimentos produtivos mundiais voltaram a crescer, até atingir o recorde histórico de quase 2 trilhões de dólares em 2007. Contudo, com a crise financeira, iniciada em 2008, caíram acentuadamente, atingindo 1,2 trilhão de dólares em 2009. A partir daí houve uma breve recuperação dos investimentos estrangeiros diretos, mas, com o agravamento da crise em vários países da Europa, voltaram a cair. Como se pode verificar, os países em desenvolvimento, com destaque para a China, vêm aumentando sua participação no fluxo mundial de investimentos produtivos em detrimento dos países desenvolvidos, onde a crise tem sido mais prolongada.

O gráfico abaixo mostra que desde meados dos anos 1990 os investimentos produtivos no mundo aumentaram, até atingir o pico de 1,4 trilhão de dólares em 2000. Em 2001, houve uma queda acentuada, principalmente nos Estados Unidos, por causa dos ataques terroristas de 11 de setembro e dos escândalos na Bolsa de Valores de Nova York. Como você já estudou no capítulo anterior, a crise de confiança no mercado acionário resultou da divulgação de balanços fraudulentos por algumas corporações de grande porte, como a Enron, na tentativa de esconder prejuízos e manter o valor das ações artificialmente elevado.

Adaptado de: UNITED NATIONS CONFERENCE ON TRADE AND DEVELOPMENT. World Investment Report 2015. New York/Geneva: United Nations, 2015. p. 2.

Segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), em 1990, o patrimônio das filiais de todas as transnacionais espalhadas pelo mundo era de 4,6 trilhões de dólares; em 2012, esse valor tinha subido para 86,6 trilhões de dólares. No mesmo período, o valor das vendas dessas empresas no exterior passou de 5,1 trilhões de dólares para 26 trilhões de dólares, e o número de empregados fora do país-sede aumentou de 21,5 milhões para 71,7 milhões de pessoas. Esses números revelam uma grande expansão das empresas transnacionais no período marcado pela globalização da economia.

A. Robson/Arquivo da editora

150

A. Robson/Arquivo da editora

Os principais países receptores de investimentos produtivos (bilhões de dólares) – 2014

A apresentação das transnacionais que ocorre nesta tabela, além daquela que aparece na foto, tem finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir seu consumo. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do tema abordado.

Para saber mais

A Unctad A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad, sigla em inglês) é uma agência da ONU sediada em Genebra (Suíça). Foi criada em 1964 com o objetivo de estimular o crescimento econômico dos países em desenvolvimento e o intercâmbio comercial destes com os países desenvolvidos. De quatro em quatro anos, realiza uma conferência que reúne todos os seus

De acordo com a Unctad, em 2012 a General Electric (GE) era a maior transnacional do mundo, considerando o valor do seu patrimônio no exterior, e também uma das mais internacionalizadas. O conglomerado possui filiais em mais de 150 países. Observe ao lado a lista das maiores transnacionais do mundo, segundo seu patrimônio no exterior, e, na próxima página, o gráfico com as maiores corporações mundiais, considerando o faturamento.

Adaptado de: UNITED NATIONS CONFERENCE ON TRADE AND DEVELOPMENT. World Investment Report 2013: Annex Tables. The World’s Top 100 Non-Financial TNCs, Ranked by Foreign Assets, 2012. Disponível em: . Acesso em: 18 set. 2015. * As informações mais recentes disponíveis são do relatório 2013 da Unctad; o World Investment Report 2015 não apresentou esses dados. ** Entre as 100 empresas da lista da Unctad aparece apenas uma sediada no Brasil, a Vale. *** O índice de transnacionalidade, expresso em porcentagem, é a média de três índices: porcentagem do patrimônio no exterior sobre o patrimônio total, das vendas no exterior sobre as vendas totais e dos empregados no exterior sobre o total de empregados. quanto maior o índice de transnacionalidade, mais internacionalizada é a empresa.

países-membros para debater temas econômicos internacionais. A Unctad XIII ocorreu em 2012, em Doha (Catar), e defendeu um “desenvolvimento centrado na globalização”, no qual as finanças devem dar suporte à economia real e ao desenvolvimento sustentável para a geração de empregos e a redução da pobreza. A Unctad XIV foi realizada em Lima (Peru), em 2016.

As seis maiores transnacionais e outras selecionadas (segundo o patrimônio no exterior) – 2012* Patrimônio no exterior (bilhões de dólares)

Patrimônio total (bilhões de dólares)

Índice de transnacionalidade (%)***

1. General Electric (Estados Unidos)

338

685

52,5

2. Royal Dutch Shell (Países Baixos)

308

360

76,6

3. BP (Reino Unido)

270

300

83,8

4. Toyota Motor (Japão)

233

377

54,7

5. Total (França)

215

227

78,5

6. Exxon Mobil (Estados Unidos)

214

334

65,4

10. Volkswagen (Alemanha)

158

409

58,2

12. Nestlé (Suíça)

133

138

97,1

36. CITIC Group (China)

72

515

18,4

39. General Motors (Estados Unidos)

70

149

46,9

61. Vale (Brasil)

46

131

44,5

Posição/empresa/ país-sede**

O Grupo Nestlé, fundado em 1866, está sediado em Vevey (Suíça). Foto de 2015, ano em que o conglomerado empregava 339 mil trabalhadores (apenas 10 mil no país-sede) e possuía 461 fábricas distribuídas por 83 países.

Fabrice Coffrini/Agência France-Presse

39

As seis maiores corporações e outras selecionadas (segundo o faturamento) – 2015

A apresentação das transnacionais que ocorre nesta página tem finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir seu consumo. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do tema abordado.

500

A. Robson/Arquivo da editora

Faturamento (bilhões de dólares) 486 447

431

429 383

400

359

300

269

248

212

200

156

148

144 100

100

55

43

38

1. W (E a st l-M ad a os rt U Sto 2. Si nid re no o s pe s) 3. c G Ro y (Ch rou (P al D ina p aí u ) s t 4 es ch Pe . C Ba Sh h i tr in x ell ol a os eu N ) m at i (E 5. (Ch ona st Ex in l ad x a on ) o 6. s BP Un Mo (R ido bil ei s no ) U 8. Vo nid o) (A lks le w m ag 9. a To nh en yo a) ta 11 (J Mo . T ap to ot al ão) r 21 (F . ra (E Ge nç st ne a) ad ra l o s M 24 U ot .G n o id rs (E e o st ne ad ra s) os l E U lec ni tr 28 do ic . P s) et 70 . N ( rob es Bra ras tlé si l 18 (S ) 6. uí ça CI TI ) C G 25 (C ro hi up 4. Ta na ta ) M 31 ( ot 2. Índ ors Va ia le ) (B ra si l)

0

Posição/empresa/país-sede

Adaptado de: FORTUNE. Global 500 2015. Disponível em: . Acesso em: 11 jan. 2016.

Segundo a Unctad, a empresa mais internacionalizada do mundo é a indústria alimentícia suíça Nestlé: em 2012, seu índice de transnacionalidade era de 97,1%. Ela também é uma das maiores corporações do mundo por faturamento, segundo a revista Fortune. A maioria das empresas transnacionais está sediada nos países desenvolvidos, principalmente nos Estados

Unidos. Entre elas estão evidentemente as maiores corporações, como mostra a Global 500, pesquisa anual da revista Fortune que lista as quinhentas maiores empresas do mundo por faturamento. Entretanto, já há muitas transnacionais sediadas em países emergentes, dentre as quais algumas constam da lista das 500 maiores. Observe a anamorfose abaixo.

NORUEGA (1)

IRLANDA (2) REINO UNIDO* Accenture (28) (374)

CANADÁ (11) Manulife Financial (212)

BP (6)

Statoil (75)

PAÍSES BAIXOS* (13) Royal Dutch Shell (3)

BÉLGICA (2)

SUÉCIA (3)

RÚSSIA (5)

Volvo (268)

Gazprom (26)

DINAMARCA (1) A.P. Møller-Mærsk Group (208)

ALEMANHA (28)

AB InBev (226)

Volkswagen (8)

ESTADOS UNIDOS (128)

LUXEMBURGO (1)

FRANÇA (31)

SUÍÇA (12)

Wal-Mart (1)

ArcelorMittal (108)

Total S.A. (11)

Glencore (10)

ESPANHA (8) Banco Santander (67)

MÉXICO (3) Pemex (47)

JAPÃO (54) POLÔNIA (1)

Ecopetrol (346)

VENEZUELA (1) PDVSA (39)

CHILE (1) AntarChile (497)

BRASIL (7) Petrobras (28)

Samsung Electronics (13)

Sinopec Group (2)

ÁUSTRIA (1)

ITÁLIA (9) EXOR Group (19)

ÍNDIA (7)

TURQUIA (1)

Indian Oil (119)

Koç Holding (381)

ARÁBIA SAUDITA (1)

EMIRADOS ÁRABES UNIDOS (1) IPIC (219)

TAILÂNDIA (1)

Hon Hai Precision Industry (31)

PTT (93)

MALÁSIA (1) Petronas (68)

CINGAPURA (2) Wilmar International (252)

10 1

Toyota Motor (9)

TAIWAN (8)

OMV Group (223)

SABIC (209)

COLÔMBIA (1)

CHINA (98)

PKN Orlen Group (353)

COREIA DO SUL (17)

Peso proporcional das empresas do país no total das 500 maiores

(128) Número de empresas do país na lista da Fortune Global 500 (1) Classificação da maior empresa do país no ranking das 500 maiores

INDONÉSIA (2) Pertamina (130)

AUSTRÁLIA (8) BHP Billiton (139)

*A Unilever é uma empresa binacional (Reino Unido e Países Baixos) e ocupa a 153a posição na lista da Fortune Global 500.

Adaptado de: FORTUNE. Global 500 2015. Disponível em: . Acesso em: 11 jan. 2016.

Em 2015, o Brasil tinha sete empresas entre as quinhentas maiores do mundo. Além da Petrobras, constavam da lista, por ordem de faturamento: Itaú Unibanco Holdings, Banco do Brasil, Bradesco, JBS, Vale e Ultrapar Holdings.

40

Capítulo 2

Banco de imagens/Arquivo da editora

Mundo: 500 maiores corporações – 2015

Algumas transnacionais cresceram tanto que possuem um faturamento maior do que o PIB da maioria dos países do mundo, o que lhes assegura muito poder econômico e político. Poder econômico para controlar e manipular mercados visando ao aumento de seus lucros; poder político para influenciar governos em benefício de seus interesses. Embora as transnacionais gerem empregos, renda e impostos nos Estados em que se instalam, muitas vezes algumas delas desrespeitam as leis que lhes são desfavoráveis e não demonstram preocupação com a saúde pública, a preservação do ambiente e as condições de trabalho de seus empregados. O texto da página 42, de Joseph Stiglitz (1943-), prêmio Nobel de Economia em 2001, refere-se aos aspectos contraditórios dessas grandes empresas. Como você viu na anamorfose da página anterior, atualmente há grandes corporações também nos países emergentes, especialmente na China. Portanto, a expansão dos capitais produtivos pelo mundo não é feita apenas por empresas dos países desenvolvidos. Os dirigentes das transnacionais têm várias possibilidades para expandir sua atuação global.

Consulte o website da escola de negócios Fundação Dom Cabral (FDC) e assista ao filme A corporação. Veja orientações na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

de suas fronteiras. Por exemplo, a mineradora Vale (privatizada em 1997, permaneceu em controle de sócios brasileiros), em seu processo de expansão mundial, comprou em 2007 a canadense Inco, maior produtora mundial de níquel, e atua em 38 países (veja outro exemplo de transnacional brasileira na foto abaixo). O país emergente que mais está se expandindo pelo mundo, seja comprando empresas nacionais, seja montando novos negócios, é a China. Dirigentes de companhias controladas pelo governo chinês estão comprando empresas privadas pelo mundo todo. A maioria das corporações chinesas não se pauta apenas pelo interesse econômico imediato – a busca de lucros e a remuneração dos acionistas –, como uma companhia privada qualquer, mas também por interesses estratégicos de longo prazo. Muitas delas buscam garantir o fornecimento de energia e matérias-primas ao país, um dos maiores importadores de produtos primários do mundo. Isso explica o apoio do governo chinês à expansão de suas empresas, especialmente na África, na Ásia e na América Latina, onde há países com grandes reservas de recursos naturais. Portanto, a tendência é que cada vez mais empresas transnacionais de países emergentes, sejam privadas, sejam estatais, ganhem espaço no mundo globalizado.

pliar as já existentes: isso ocorreu, por exemplo, quando a segunda maior montadora de automóveis do mundo, a japonesa Toyota, construiu novas fábricas no Brasil (em 1998 instalou uma unidade em Indaiatuba-SP e, em 2012, concluiu a instalação de uma segunda fábrica em Sorocaba-SP).

• Adquirir empresas estatais em processos de privati-

zação: isso foi muito comum nos anos 1990, fase áurea do neoliberalismo. A espanhola Telefónica, por exemplo, comprou a Telecomunicações de São Paulo S.A. (Telesp), então a maior empresa do grupo Telebras, privatizada na gestão de Fernando Henrique (1931-), que presidiu o Brasil de 1995 a 2003.

Diego Giudice/Bloomberg/Getty Images

• Construir novas unidades (filiais) no exterior ou am-

• Adquirir empresas privadas no exterior: por exem-

plo, em 1997, a italiana Magnetti Marelli, do Grupo Fiat, comprou a Cofap, uma empresa privada brasileira de autopeças, e ampliou seus negócios no Brasil. Em 2009, expandindo-se ainda mais, os italianos da Fiat compraram parte da montadora americana Chrysler, que estava à beira da falência, e em 2013 arremataram o restante da empresa. Tanto empresas de países desenvolvidos como as de países emergentes têm ampliado os negócios além

O frigorífico JBS, fundado em 1953, em Anápolis (GO), após se consolidar no mercado interno, iniciou seu processo de internacionalização. Em 2007, ao comprar o frigorífico Swift & Company, dos Estados Unidos, tornou-se a maior empresa de carne bovina do mundo. Segundo o relatório 2015 da Fundação Dom Cabral, era uma das empresas brasileiras mais internacionalizadas: seu índice de transnacionalidade era de 49,9%, com filiais em 16 países. Na foto, unidade de processamento da Swift, em Rosário (Argentina), em 2011.

A apresentação das transnacionais que ocorre nesta página tem finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir seu consumo. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do tema abordado. A globalização e seus fluxos

41

Outras leituras

A apresentação das transnacionais que ocorre no texto de Joseph E. Stiglitz tem finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir seu consumo. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do tema abordado.

A empresa multinacional A esquerda (e a nem tão esquerda assim) costuma falar mal das grandes empresas, retratando-as em documentários como A corporação e Wal-Mart: The High Cost of Low Prices [Wal-Mart: o alto custo dos preços baixos] como entidades gananciosas e impiedosas que colocam o lucro acima de tudo. Muitos exemplos de mau procedimento das grandes empresas se tornaram, com razão, famosos e lendários: a campanha da Nestlé para persuadir as mães do Terceiro Mundo a usar seus produtos em vez de amamentar os filhos; a tentativa de Bechtel de privatizar a água da Bolívia (documentada no filme Thirst [Sede]); a conspiração de meio século das companhias americanas de cigarros para persuadir as pessoas de que não havia provas científicas de que fumar faz mal para a saúde, ainda que suas próprias pesquisas confirmassem isso (maravilhosamente dramatizada no filme O informante); o desenvolvimento pela Monsanto de sementes que produziam plantas que, por sua vez, produziam sementes que não podiam ser replantadas, forçando, assim, os agricultores a comprar novas sementes todos os anos; o enorme vazamento de óleo do superpetroleiro Valdez, a serviço da Exxon, e as tentativas subsequentes da empresa de evitar o pagamento da indenização. Para muita gente, as grandes empresas multinacionais passaram a simbolizar o que há de errado na globalização; muitos diriam que elas são a principal causa de seus problemas. Essas companhias são mais ricas do que a maioria dos países em desenvolvimento. [...] Essas empresas não são apenas ricas, mas também politicamente poderosas. Se um governo decide tributá-las ou regulamentá-las de uma maneira que não lhes agrada, elas ameaçam mudar-se para outro lugar. Há sempre outro país disposto a receber suas receitas tributárias, seus empregos e seus investimentos. As empresas buscam o lucro e isso significa que ganhar dinheiro é a prioridade máxima delas. As companhias sobrevivem diminuindo, dentro da legalidade, seus custos ao máximo. Elas evitam pagar impostos sempre que possível; algumas economizam no seguro-saúde de seus empregados; muitas tentam limitar os gastos com o saneamento da poluição que provocam. Com frequência, a conta é assumida pelos governos dos países em que atuam. Veja a indicação do filme O informante, na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

42

Capítulo 2

No entanto, as grandes empresas têm levado os benefícios da globalização aos países em desenvolvimento, ajudando-os a elevar o padrão de vida em grande parte do mundo. Elas possibilitaram que os produtos desses países chegassem aos mercados dos países industriais avançados; a capacidade das empresas modernas de fazer com que os produtores saibam quase instantaneamente o que os consumidores internacionais querem tem sido muito benéfica para ambos. Elas têm sido os agentes da transferência de tecnologia dos países industriais avançados para os países em desenvolvimento, ajudando a diminuir a diferença de conhecimento entre os dois grupos. Os quase 200 bilhões de dólares que elas investem anualmente nos países em desenvolvimento diminuíram a diferença de recursos. As grandes empresas levaram empregos e crescimento econômico às nações em desenvolvimento e mercadorias baratas de qualidade cada vez melhor para as desenvolvidas, baixando o custo de vida e contribuindo, assim, para uma era de inflação pequena e taxas de juros baixas. Com as grandes empresas no centro da globalização, elas podem ser acusadas de muitos de seus males, bem como receber crédito por muitos de seus sucessos. Assim como a questão não é se a globalização em si mesma é boa ou ruim, mas como podemos reformá-la para que funcione melhor, a questão em relação às empresas deveria ser: o que pode ser feito para minimizar seus danos e maximizar sua contribuição para a sociedade? [...] As empresas são frequentemente acusadas pelo materialismo que é endêmico nas sociedades desenvolvidas. Na maior parte do tempo, elas simplesmente respondem às demandas das pessoas – por exemplo, a necessidade de ir de um lugar para o outro, que os carros e as motos tornam mais fácil; se automóveis e motocicletas são maiores ou mais extravagantes do que precisavam ser é principalmente porque os consumidores gostam de veículos desse tipo e os compram. Ainda assim, é preciso admitir que as empresas se empenham algumas vezes em moldar esses desejos de maneira a aumentar seus lucros, e pelo menos alguns excessos materialistas podem ser atribuídos a esses esforços. Se a propaganda não estimulasse o desejo, elas não gastariam bilhões de dólares por ano em publicidade. STIGLITZ, Joseph E. Globalização: como dar certo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 302-304.

3 Fluxo de informações As informações podem ser divulgadas em numerosos veículos de comunicação: jornais, revistas, rádio, televisão, internet, entre outros. Alguns deles são muito antigos, como os jornais, que gradativamente se difundiram a partir do século XV, quando Johannes Gutenberg (c. 1398-1468) inventou a prensa tipográfica. Nos primórdios da comunicação de massa, a difusão das informações era apenas local, mas, com o passar do tempo e principalmente com os avanços tecnológicos, Um mundo conectado

sua área de abrangência foi se ampliando até atingir a escala planetária. Na atualidade, quase o mundo todo está interligado por cabos de fibras ópticas, como mostra o mapa a seguir, e os satélites de comunicação permitem conectar pessoas de qualquer lugar que tenha uma antena parabólica para captar ondas de rádio, televisão e telefonia celular. Como se observa, o mundo está cada vez mais conectado, mas há claramente um centro principal de controle das informações: os Estados Unidos.

Os dados do mapa desta página não possuem data na publicação original.

Banco de imagens/Arquivo da editora



OCEANO GLACIAL ÁRTICO Círculo Polar Ártico

OCEANO ATLÂNTICO

Trópico de Câncer

OCEANO PACÍFICO

Equador



OCEANO ÍNDICO

Meridiano de Greenwich

Trópico de Capricórnio

0

OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO

2 230

4 460

km Círculo Polar Antártico

Número de data centers (centros de dados) 1 000

Adaptado de: LE MONDE DIPLOMATIqUE. L’Atlas 2013. Paris: Vuibert, 2012. p. 71.

150 50 20 1 Cabos de fibras ópticas

Atualmente, o veículo de difusão de informações e conhecimentos que mais tem crescido é a internet, um dos principais símbolos da atual Revolução Informacional. Veja o infográfico na próxima página. A globalização e seus fluxos

43

infográfico

Internet

Aumentaram as possibilidades de acesso a diversos serviços – troca de mensagens, pesquisas em bancos de dados, compra e venda de produtos, etc. – e informações.

d Repro

ução/


Mudaram as concepções de tempo e espaço.

ce s rg>. A w.un.o : .Acesso Acessoem: em:30 30 dez. dez. 2015. 2015. Disponível em: .

INDÚSTRIAS DE BENS DE CONSUMO

João Prudente/Pulsar Imagens

Também chamadas de indústrias leves, são as mais dispersas espacialmente: estão localizadas em grandes, médios e pequenos centros urbanos ou mesmo na zona rural de diversos países. Porém, concentram-se preferencialmente em regiões urbano-industriais, onde há maior disponibilidade de mão de obra e mais facilidade de acesso ao mercado consumidor.

MERCADO CONSUMIDOR Com os avanços tecnológicos nos transportes e o barateamento dos fretes, o mercado consumidor se globalizou e está no mundo todo. Entretanto, ainda é maior onde a população possui renda mais elevada: nos países desenvolvidos e nas regiões mais modernas dos países emergentes.

Ana Macedo/Futura Press

Primário

Indústria de confecção de roupas de bebê em Amparo (SP), em 2015.

Indústria de confecção de roupas de bebê em Amparo (SP), em 2015.

• Não duráveis: alimentos, bebidas, remédios, etc. • Semiduráveis: vestuário, acessórios, calçados, etc. • Duráveis: móveis, eletrodomésticos, automóveis, etc.

Loja de eletrodomésticos em Salvador (BA), em 2014.

• Lojas de roupas, sapatos, eletrodomésticos, automóveis, etc.

• Depósitos de materiais de construção • Supermercados • Farmácias, etc. 143

2 Distribui•‹o das indœstrias Os fatores locacionais Fatores locacionais são diversas características de determinado lugar que favorecem a instalação de indústrias. No momento de optar por uma localidade para situar uma indústria, os empresários consideram quais fatores são mais importantes para aumentar a taxa de lucro de seu investimento. Os principais fatores locacionais para indústrias, de modo geral, são:

• fontes de matéria-prima: minerais, agropecuárias, etc.; • fontes de energia: petróleo, gás natural, eletricidade, etc.; • disponibilidade de mão de obra: pouco qualificada

(de baixa remuneração) ou muito qualificada (de alta remuneração);

• pesquisa e desenvolvimento (P&D): parques tecno-

lógicos, incubadoras, universidades, centros de P&D;

• mercado consumidor: relacionado à quantidade de pessoas e ao poder aquisitivo;

• logística: disponibilida-

de e custos competitivos de transporte e armazenagem;

• rede

de telecomunicações: telefonia fixa e móvel, internet, etc.;

• complementaridade industrial: proximidade de indústrias afins;

• incentivos fiscais: redu-

Logística: o termo tem origem militar e envolve aspectos táticos e estratégicos das operações das Forças Armadas no campo de batalha. Atualmente é utilizado na economia para definir o planejamento, a execução e o controle do fluxo de mercadorias e serviços, assim como das informações relativas a eles e a infraestrutura de transportes e armazenagem, buscando melhorar a circulação e reduzir custos.

ção ou isenção de impostos concedida pelo Estado nas três esferas de poder.

Durante a Primeira Revolução Industrial (fim do século XVIII a meados do século XIX), como o carvão mineral era a principal fonte de energia, usada para movimentar as máquinas, e a precariedade dos meios de transporte dificultava seu deslocamento por longas distâncias, as jazidas carboníferas eram um dos fatores locacionais mais importantes para as fábricas. Isso explica a industrialização em torno das jazidas de carvão britânicas, alemãs e americanas. Durante a Segunda Revolução Industrial (final do século XIX), com a crescente utilização de outras fontes de energia e a modernização dos meios de transporte de carga e de passageiros, as jazidas de carvão perderam importância como fator locacional. O petróleo, além de fonte de energia, é matéria-prima essencial na fabricação de diversos produtos, como plásticos, borrachas, tecidos sintéticos, fertilizantes, tintas, etc. Um dos setores que mais cresceu após sua descoberta foi o da indústria petroquímica. Nas primeiras décadas do século XX, quando começaram a ser implantadas, as petroquímicas se concentravam perto das reservas de petróleo, mas a construção de oleodutos e de grandes navios petroleiros levou à sua dispersão espacial. Hoje a maioria das refinarias de petróleo se localiza nas proximidades dos grandes centros consumidores, porque é mais barato transportar o petróleo bruto do que seus derivados – gasolina, nafta, querosene e outros. Em contrapartida, a proximidade das jazidas de minérios, como ferro, manganês e outros, constitui um dos principais fatores para a localização das indústrias siderúrgicas, como as do Quadrilátero Ferrífero (Minas Gerais), porque é mais barato transportar as chapas de aço do que o minério bruto.

Ricardo Moraes/Reuters/Latinstock

Mina de ferro no município de Mariana, na região do Quadrilátero Ferrífero (MG). Apesar do rompimento da barragem de Fundão, que lançou milhões de toneladas de rejeitos de mineração no rio Doce e provocou uma tragédia socioambiental, minas vizinhas, como a desta foto (de 10 nov. 2015, cinco dias após o vazamento), continuavam em operação.

144

Nas últimas décadas, um fator determinante para a localização de qualquer tipo de indústria é a existência de uma boa logística que possibilite o recebimento de matérias-primas e o escoamento das mercadorias. Por isso, muitos centros industriais importantes desenvolveram-se próximos a portos marítimos ou fluviais ou ainda em entroncamentos rodoviários ou ferroviários. Centros industriais mais modernos – que produzem bens de alto valor agregado, como os da área de

tecnologia da informação – tendem a se localizar perto de aeroportos. Com a mobilidade do capital e das mercadorias pelo mundo, a logística ganha importância determinante na alocação dos investimentos produtivos no espaço geográfico e torna-se um dos principais fatores de competitividade. Observe, no gráfico a seguir, o índice de desempenho em logística de alguns países selecionados entre os 160 que constam no documento do Banco Mundial.

Os cinco países com melhor Índice de Desempenho em Logística* e outros selecionados – 2014 A. Robson/Arquivo da editora

Índice de desempenho em logística 4,5 4,12

4,05

4,04

4,01

4,0

4,00

3,92

3,91 3,67

3,53

3,5

3,43 3,15

3,0 2,5

3,13

3,08

2,99

2,94

2,81

2,69 2,27 1,88

2,0

1,77

1,5 1,0 0,5

5.

Un ino

Re

Posição/país

9.

4.

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0,0

Adaptado de: THE WORLD BANK. Logistics Performance Index. Global Ranking 2014. Disponível em: . Acesso em: 14 set. 2015. * Média dos índices de seis dimensões do comércio internacional: eficiência alfandegária, qualidade da infraestrutura de transporte, embarque a preços competitivos, qualidade dos serviços de logística, capacidade de controlar/rastrear remessas e pontualidade na entrega. Quanto mais próximo de 5, melhor é a logística do país; quanto mais perto de 0, pior.

Com o desenvolvimento tecnológico e o consequente barateamento dos transportes, as indústrias, mesmo as que utilizam muita matéria-prima, já não precisam se localizar perto das reservas. O Japão, por exemplo, grande produtor de aço, importa todo o minério de ferro e o carvão utilizados em suas indústrias. As siderúrgicas japonesas localizam-se em áreas onde os navios carregados de minérios podem atracar. Muitas vezes, a instalação de uma fábrica ou de um distrito industrial estimula o crescimento das cidades em seu entorno. Em outros casos, as cidades atraem as indústrias, que por sua vez promovem seu crescimento e as transformam em polos de atração de novos estabelecimentos fabris. Isso ocorreu principalmente até meados do século XX, no entanto, as indústrias têm saído das grandes cidades, como veremos a seguir. Além desses fatores, há outro que vem ganhando importância na escolha de onde implantar uma nova

fábrica: os incentivos fiscais. Estados e municípios concedem isenções de impostos às empresas que pretendem se instalar em seus territórios. Em geral, fazem essas concessões às indústrias com capacidade multiplicadora, isto é, que atraem outras fábricas. Estas, no entanto, não obtêm incentivos, e isso acaba compensando o que foi concedido à empresa principal. Por exemplo, o governo da Bahia concedeu incentivos fiscais para levar uma fábrica da Ford para o município de Camaçari, que atraiu várias indústrias de autopeças para seu entorno. Porém, esses incentivos, isoladamente, não atraem indústrias. É comum também a oferta de terrenos para a instalação de unidades produtivas, muitas vezes com a infraestrutura básica já implantada. Os governos fazem essas concessões para aumentar a geração de empregos e a arrecadação de impostos, entre muitos outros benefícios. A geografia das indústrias

145

Desconcentração da atividade industrial

altos lucros. Veja no gráfico a seguir a composição de preço de um celular da Apple. Quem se beneficia com os iPhones? Ð 2011 % do preço de venda do iPhone

Lucros da Apple

Custo dos fatores de produção: mão de obra não chinesa

3,5

Custo dos fatores de produção: mão de obra chinesa

1,8

58,3

Custo dos fatores de produção: materiais

21,9 Lucros não identificados

5,8 Lucros da Coreia do Sul

4,7

Lucros do Japão

0,5 Lucros dos Estados Unidos que não da Apple

2,4

Lucros da União Europeia

1,1

Adaptado de: PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. Relatório de Desenvolvimento Humano 2014. Nova York: Pnud, 2014. p. 115.

“Os dados disponíveis a partir de 2010 mostram que a Apple é, de longe, o maior beneficiário da produção do iPhone. A mão de obra chinesa, embora se beneficie do acesso ao emprego, aufere menos de 2 por cento do valor final da venda.” (Pnud, 2014). Compreende-se por que essa empresa era a 5ª dos Estados Unidos e a 15ª do mundo na lista da Fortune Global 500 2015.

Imaginechina/Corbis/Latinstock

Operários trabalham na linha de produção da Foxconn, na fábrica de Guiyang (China), em 2014. Nesta e em mais outras onze fábricas que possui na China, a empresa produz diversos aparelhos eletrônicos, entre os quais smartphones, tablets e computadores.

Sede da Apple em Cupertino, Califórnia (Estados Unidos), em 2014. Aí ficam a administração mundial da empresa, o centro de P&D e o departamento de marketing. Já a fabricação dos produtos é terceirizada, feita na China pela Foxconn. Katherine Welles/Shutterstock

146

Capítulo 6

A. Robson/Arquivo da editora

Com a globalização e a Revolução Técnico-Científica, os avanços nos transportes e nas telecomunicações fizeram as indústrias não mais precisarem se instalar próximas ao mercado consumidor: para as grandes corporações, o mercado consumidor é o mundo todo. A Nike, por exemplo, produtora de material esportivo, está sediada nos Estados Unidos, mas contrata empresas terceirizadas para produzir seus tênis, bolas, agasalhos, entre outros itens, em países de mão de obra barata, sobretudo da Ásia, de onde seus produtos são exportados para o mundo inteiro. Do mesmo modo, isso vale para empresas que produzem bens mais sofisticados tecnologicamente, como a também americana Apple, que terceiriza sua produção de celulares, tablets e computadores para a taiwanesa Foxconn, que, por sua vez, produz a maior parte desses equipamentos na China, aproveitando-se dos baixos custos de produção. O maior patrimônio da Apple, da Nike e de outras empresas globais é sua respectiva marca, que vai estampada em seus produtos. No capitalismo informacional, a marca, o produto simbólico, é mais importante que o produto material. É ela que assegura o mercado para as grandes empresas na competição globalizada, mas é a terceirização que lhes assegura

A apresentação das empresas que ocorre nesta página tem finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir seu consumo. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do tema abordado.

Nos últimos anos, muitas indústrias de calçados do Rio Grande do Sul fecharam fábricas no estado e transferiram a produção para a China, de onde exportam para outros países, incluindo o Brasil. O custo de transporte é compensado porque a mão de obra chinesa é mais barata e produtiva do que a brasileira, como se pode observar no gráfico da página 155. Esses exemplos evidenciam que, para as indústrias trabalho-intensivas, a mão de obra barata é um fator fundamental, mais importante do que a proximidade do mercado consumidor. O crescimento econômico e populacional das grandes cidades tem aumentado os custos de produção em razão da alta no preço dos imóveis, dos impostos e da mão de obra, além dos crescentes congestionamentos de trânsito. Por causa disso, nas últimas décadas, a distribuição das indústrias no espaço geográfico tem se reorganizado, nas escalas nacional e mundial. A desconcentração industrial resulta da necessidade de buscar custos menores e foi viabilizada

pela modernização dos sistemas de transportes, de telecomunicações e dos métodos de gestão. Com a globalização, uma indústria automobilística japonesa pode conceber um projeto em um centro de P&D localizado no Japão ou nos Estados Unidos, desenvolvê-lo em um desses países, na Europa ou na China, realizar a produção das diversas peças em uma dúzia de países, de acordo com as vantagens que ofereçam, escolher alguns deles para realizar a montagem final e garantir suas vendas em escala mundial. Observe o mapa a seguir. Globaliza-se, assim, não só o mercado como também a produção. Essa dinâmica atual permite maior especialização da atividade industrial nos mais diversos países e a consequente intensificação das trocas comerciais em escala planetária. O que não é produzido num país é procurado em outro. Da mesma forma, o aumento da produção necessita da ampliação do mercado, que de nacional passa a mundial.

Produção, venda e centros de P&D da Toyota – 2009 Banco de imagens/Arquivo da editora

180º

OCEANO GLACIAL ÁRTICO Círculo Polar Ártico

338

574

EUROPA

REINO UNIDO

886

FRANÇA

América do Norte 2 442

REP. TCHECA

0 24

CHINA

TURQUIA PAQUISTÃO Oriente Médio 482

Trópico de Câncer

ÁSIA 1534

ÍNDIA

TAIWAN VIETNÃ FILIPINAS

JAPÃO 1 375

TAILÂNDIA Equador

ESTADOS UNIDOS

Toyota City

7 12

CANADÁ

OCEANO ATLÂNTICO

MÉXICO

OCEANO PACÍFICO

VENEZUELA

ÁFRICA

201 Trópico de Capricórnio ÁFRICA DO SUL

OCEANO ÍNDICO



INDONÉSIA

61

4 14

OCEANO ATLÂNTICO

67

MALÁSIA América Latina 294 BRASIL

OCEANIA 231

AUSTRÁLIA

Produção e vendas por região (mil veículos – 2009)

0

2 400

4 800

km

Produção 1 040 435 100 20 1a5 Vendas

Exportação do Japão Centros de P&D

ARGENTINA

Círculo Polar Antártico

OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO Adaptado de: DURAND, Marie-Françoise et al. Atlas de la mondialisation: comprendre l’espace mondial contemporain. 6. ed. Paris: Sciences Po, 2012. p. 52.

Apesar da desconcentração em curso, o fenômeno industrial ainda está distribuído de maneira bastante desigual, predominando em algumas poucas regiões do espaço geográfico mundial: em 2013, 81% do valor da produção industrial do mundo concentrava-se em apenas 17 países. Como mostram o mapa que observamos na A geografia das indústrias

147

George Osodi/Bloomberg/Getty Images

introdução deste capítulo e o gráfico abaixo, as maiores aglomerações industriais ocorrem principalmente nos países desenvolvidos (que têm perdido participação) e nas principais economias emergentes (que têm ganhado participação, com destaque para a China). A desconcentração continua ocorrendo, mas em um mapa-múndi, que apresenta escala muito pequena e por isso não permite a visualização de detalhes do espaço geográfico, não aparecem as concentrações industriais menores. Por exemplo, em diversos países da África, como Angola, Botsuana e Nigéria, há investimentos estrangeiros em indústrias extrativas minerais (sobretudo petrolífera), em agroindústrias e em outros setores. Entretanto, no mapa da página 136 só estão cartografadas as regiões industriais maiores, localizadas na África do Sul, no Egito, na Tunísia e no Marrocos. O mesmo ocorre na América do Sul, onde só foram representadas as principais regiões industriais do Brasil e da Argentina, e não aparecem as concentrações menores na Venezuela, na Colômbia, no Peru, entre outros. Mesmo em nosso país, observe que não aparece, por exemplo, o polo industrial da Zona Franca de Manaus (AM).

Trabalhador caminha em frente a uma refinaria de petróleo em Port Harcourt (Nigéria), em 2015. A Nigéria é um dos países que mais recebe investimentos estrangeiros em indústrias extrativas. Omitimos o nome da empresa representada na iconografia desta página, pois não é imprescindível para o entendimento do assunto.

Mundo: países mais industrializados* – 2005/2013

A. Robson/Arquivo da editora

100,0 83,18

100,0

80,95

19,39

2005

17,55 16,75

2013

Os 17 mais industrializados

11,02 9,82

ai

w

an

si a

1,45 1,17

17 ºT

on é nd

ur q 16 ºI

ús

1,02 1,29 0,89 1,25

ui a

a

1,53

15 ºT

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1,01

si

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o pã Ja 4º

1,62 1,82 1,69 1,68 1,93 1,60 1,55 1,54

ad

2,25 1,38

13 ºE

2,54

l

3,05

an

2,57

si

3,38

ra

2,87 2,81

12 ºC

3,92 2,81



Mundo

7,02

11 ºB

6,40

1º Es U tad ni o do s s 2º Ch in a

Participação no valor da produção industrial mundial (%)

25,56

Posição em 2013/país Adaptado de: UNITED NATIONS INDUSTRIAL DEVELOPMENT ORGANIZATION. Industrial Development Report 2011. Vienna: Unido, 2011. p. 192-198; UNITED NATIONS INDUSTRIAL DEVELOPMENT ORGANIZATION. Industrial Development Report 2016. Vienna: Unido, 2015. p. 224-227. * Foram listados os países com participação superior a 1%.

148

Capítulo 6

Os parques tecnológicos Atualmente, um fator importante para a escolha da localização industrial é a existência de mão de obra com elevado nível de qualificação, principalmente para as indústrias de alta tecnologia. Não por acaso, as empresas de semicondutores (microchips), informática (equipamentos, programas e

sistemas), telecomunicações, novos materiais, biotecnologia, entre outras, se concentram nos parques tecnológicos ou parques científicos (também chamados de tecnopolos).

Utilizaremos esses termos indistintamente ao longo dos próximos capítulos, embora no Brasil a

expressão parque tecnológico seja mais usual. Leia a definição a seguir.

Outras leituras O que é um parque científico ou tecnológico?

Consulte o site da Associação Internacional de Parques Científicos (Iasp). Veja orientações na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

De acordo com a Associação de Parques Científicos do Reino Unido (UksPA), um parque científico é um apoio a empresas e uma iniciativa de transferência de tecnologia que: ű Incentiva e apoia a criação e a incubação de empresas inovadoras, de alto crescimento e de base tecnológica. ű Oferece um ambiente em que grandes empresas transnacionais podem desenvolver interações estreitas e específicas com um centro local de produção de conhecimentos, trazendo benefícios mútuos. ű Possui ligações formais e operacionais com centros de produção de conhecimentos, tais como universidades, institutos de ensino superior e centros de pesquisa. UNESCO – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. Science Policy and Capacity-Building. Concept and Definition. Disponível em: . Acesso em: 14 set. 2015. (Traduzido pelos autores).

Vista do Vale do Silício em Mountain View e Palo Alto, na Califórnia (Estados Unidos), em 2015. Neste vale foi construído o primeiro, o maior e o mais inovador parque tecnológico do mundo, que serve de modelo para muitos outros (vamos estudá-lo no Capítulo 7). David Pu'u/Corbis/Latinstock

A geografia das indústrias

149

Os parques tecnológicos são o exemplo mais acabado da geografia industrial do capitalismo informacional. Esses novos centros industriais e de serviços se relacionam à Terceira Revolução Industrial, assim como as bacias carboníferas se relacionavam à Primeira ou as jazidas petrolíferas, à Segunda. Os tecnopolos constituem os pontos de interconexão da rede mundial de produção de conhecimentos e os principais centros irradiadores das inovações que caracterizam a revolução tecnológica iniciada nas últimas décadas do século XX. Muitas das empresas inovadoras existentes atualmente se desenvolveram em uma incubadora , no interior de um parque tecnológico. Observe no mapa a seguir os principais parques existentes no mundo.

Os tecnopolos concentram-se principalmente nos Estados Unidos, em países da União Europeia e no Japão. Existem também, em menor quantidade e extensão, em outros países desenvolvidos e em alguns emergentes: no Brics (com destaque para a China), na Coreia do Sul, em Taiwan, no México, etc. Analisaremos os parques tecnológicos mais importantes ao longo dos próximos capítulos. No mapa abaixo, cada tecnopolo recebe pontos de 1 a 4 para os itens listados, conforme sua disponibilidade quantitativa e qualitativa de:

• universidades e centros de pesquisa que formam trabalhadores qualificados e geram desenvolvimento tecnológico;

• empresas que oferecem competência técnica e estabilidade econômica;

• empresas empreendedoras; • capital de risco.

Incubadora de empresas: estrutura destinada à criação e ao desenvolvimento de empresas, sobretudo micro e pequenas, do setor industrial ou de serviços, com o objetivo de reduzir o insucesso do novo negócio e estimular a inovação. Em geral, a incubadora dispõe de instalações para abrigar temporariamente a empresa selecionada. No Brasil, cerca de 90% das incubadoras estão vinculadas a uma universidade ou centro de pesquisa, muitas das quais funcionando no próprio campus universitário.

A pontuação máxima foi atingida pelo Vale do Silício (16 pontos, veja a foto na página anterior), e a mínima, por Gauteng, África do Sul (4). Entre esses extremos, estão 42 tecnopolos, entre os quais: Boston, Estados Unidos (15); Bangalore, Índia (13); Cambridge, Reino Unido (12); Tóquio, Japão (11); São Paulo, Brasil (9); Inchon, Coreia do Sul (8).

Mundo: principais parques tecnológicos

Os dados do mapa desta página não possuem data na publicação original. OCEANO GLACIAL ÁRTICO

Banco de imagens/Arquivo da editora



Círculo Polar Ártico

OCEANO PACÍFICO Trópico de Câncer OCEANO ATLÂNTICO

Equador

OCEANO PACÍFICO Trópico de Capricórnio

Meridiano de Greenwich

0º OCEANO ÍNDICO

16 4

0

2 370 km

4 740

Principais polos de inovação tecnológica (de acordo com escala de “importância”, que varia de 4 a 16)

OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO

Adaptado de: CHARLIER, Jacques (Dir.). Atlas du 21e siècle édition 2012. Groningen: Wolters-Noordhoff; Paris: Éditions Nathan, 2011. p. 196.

150

Capítulo 6

3 Organização da produção industrial A produção fordista Existe uma regra para o industrial: fazer produtos da melhor qualidade possível, ao menor custo possível, pagando os maiores salários possíveis.” Henry Ford (1863-1947), fundador da Ford Motor Company.

Hulton Archive/Getty Images

Em 1911, o engenheiro Frederick Taylor (1856-1915) publicou o livro Os princípios da administração científica, no qual defendia o estabelecimento de um sistema de organização científica do trabalho. Esse sistema consistia em controlar os tempos e os movimentos dos trabalhadores e fracionar as etapas do processo produtivo, de forma que cada operário desenvolvesse tarefas ultraespecializadas e repetitivas, com o objetivo de aumentar a produtividade no interior das fábricas. Esses novos procedimentos organizacionais aplicados à indústria ficaram conhecidos como taylorismo. O industrial Henry Ford inovou os métodos de produção conhecidos em sua época ao pôr o taylorismo em prática em sua empresa, a Ford Motor, fundada em 1903, no estado de Michigan (Estados Unidos). Em 1913, desenvolveu seu próprio método de racionalização da produção ao introduzir esteiras rolantes nas linhas de montagem: as peças chegavam até os operários, que executavam sempre as mesmas tarefas referentes à produção de cada parte do carro fabricado. O fordismo distingue-se do taylorismo por apresentar uma visão abrangente da economia, não ficando restrito

A apresentação das empresas que ocorre nesta página tem finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir seu consumo. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do tema abordado.

a mudanças organizacionais no interior das fábricas. Ford percebeu que a produção em grande escala exigia consumo em massa, o que pressupunha a fabricação de produtos mais baratos, porém de boa qualidade, e salários mais elevados aos trabalhadores (leia ao lado a frase em que ele defende isso). O fordismo/taylorismo provocou uma revolução nos métodos de produção que levaram ao desenvolvimento da sociedade de consumo. Para viabilizar a produção fordista, era fundamental criar um novo arranjo socioeconômico a fim de garantir a expansão capitalista. A solução encontrada foi a intervenção do Estado na economia, nos moldes do keynesianismo (reveja a seção Síntese Histórica, nas páginas 10 e 11). Esse novo arranjo assentava-se no combate ao desemprego e no constante aumento dos salários. Recebendo salários melhores, os trabalhadores podiam consumir cada vez mais. Dessa forma, os empresários obtinham maiores lucros, pois os aumentos salariais eram compensados pelo crescimento da produtividade e do consumo. O Estado, por sua vez, arrecadava mais impostos com a expansão econômica, tendo mais recursos para investir. Estavam criadas as condições para a melhoria do padrão de vida dos trabalhadores e o desenvolvimento da sociedade de consumo. A elevação das receitas do Estado permitiu que diversos governos instituíssem uma ampla rede de proteção social. A partir dos anos 1950, consolidou-se em vários países da Europa ocidental, mas também nos Estados Unidos, no Canadá, no Japão e na Austrália, em maior ou menor grau, o Estado de bem-estar. Assim, o modelo fordista-keynesiano criou as condições para o crescimento contínuo das economias capitalistas no pós-Segunda Guerra, principalmente nos países desenvolvidos. Estado de bem-estar: (do inglês, Welfare state) arranjo político-econômico baseado na empresa privada e na livre-iniciativa, mas com forte participação do Estado na concessão de benefícios sociais. Instituído sobretudo na Europa ocidental após a Segunda Guerra por governos de partidos social-democratas, socialistas e trabalhistas, visava garantir um padrão de vida adequado – saúde, educação, moradia, previdência social, etc. – ao conjunto da sociedade, evitando conflitos sociais.

A padronização das peças e a fabricação de um único produto em grande quantidade são alguns dos princípios fundamentais do fordismo. Na foto, final da linha de produção do Ford T, provavelmente em 1914. Produzido entre 1908 e 1926, o Ford T foi um dos primeiros carros fabricados em série. A geografia das indústrias

151

O crescimento econômico nos países desenvolvidos foi interrompido em meados dos anos 1970. A produtividade já não crescia em ritmo suficiente para atender à pressão dos sindicatos por aumentos salariais e à elevação dos custos sociais do Estado de bem-estar. Os governos passaram a emitir moeda para financiar a elevação de seus gastos, e as empresas, a repassar aos preços o aumento dos custos de produção. O resultado foi a elevação da inflação: em 1975, chegou perto de 10% ao ano nos Estados Unidos e a cerca de 13% nos países da Europa ocidental. Essa crise se agravou com a brusca elevação dos preços do barril do petróleo em 1973 e em 1979. A partir do fim daquela década, os governos dos países industrializados passaram a adotar políticas de contenção da inflação. Elevaram as taxas de juros, o que levou muitas pessoas e empresas a deixar seu capital aplicado nos bancos, em vez de investir na produção. Em consequência disso, os índices de crescimento econômico baixaram. Com as crises da década de 1970, houve uma tendência de redução dos lucros das empresas, e o modelo fordista-keynesiano passou a ser questionado. Para superar essa situação, os governos começaram a introduzir novas políticas macroeconômicas, e as empresas, a promover transformações tecnológicas e organizacionais, as quais ficaram conhecidas como produção flexível, que veremos a seguir.

A produção flexível Como resposta à crise do modelo de produção fordista, as empresas passaram a introduzir máquinas e equipamentos tecnologicamente mais avançados, como os robôs, e novos métodos de organização da produção. Essas inovações, particularmente nos países desenvolvidos, ficaram conhecidas como produção flexível, em contraposição à rigidez do fordismo. Muitos também chamam essas inovações de toyotismo, porque começaram a ser desenvolvidas após a Segunda Guerra na fábrica da Toyota Motor, em Toyota City (Japão), e a partir dos anos 1970 atingiram outros países e diversos setores industriais. Entretanto, enquanto o toyotismo esteve mais associado aos métodos organizacionais no interior das fábricas, a produção flexível corresponde ao contexto mais amplo no qual se inserem as relações de trabalho e as políticas econômicas. Ela está associada ao neoliberalismo, enquanto a produção fordista estava associada ao keynesianismo. O desenvolvimento dessa nova organização da produção gerou relações de trabalho diferentes, outros processos de fabricação e novos produtos. A palavra de ordem passou a ser competitividade e, para aumentá-la, as indústrias buscaram racionalizar a produção, cortando custos e introduzindo processos produtivos tecnologicamente mais avançados. A mesma busca de elevação da produtividade se verificou nos serviços e na agropecuária. Tudo isso visando aumentar os lucros das empresas.

Tony Watson/Alamy/Latinstock

Veja a indicação dos filmes Tempos modernos e No Amor, na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

Sede da central sindical britânica Trades Union Congress (TUC), em Londres (Reino Unido), em 2015. Fundada em 1868, contava em 2015 com 52 sindicatos filiados e representava cerca de 6 milhões de trabalhadores. A escultura de bronze na entrada do edifício é do escultor inglês Bernard Meadows (1915-2005) e representa o espírito do sindicalismo, no qual o mais forte ajuda o mais fraco.

152

A economia de escala, desenvolvida no interior de grandes fábricas com sistemas de produção rígidos, tem sido complementada pela economia de escopo, desenvolvida em fábricas menores e mais flexíveis. Nesta, a produção pode se descentralizar mais facilmente nacional e mundialmente. Ao mesmo tempo, disseminou-se a prática da terceirização, que consiste em repassar para outras empresas atividades de suporte e serviços, como limpeza, manutenção, alimentação e, muitas vezes, a própria produção, como vimos no caso da Nike e da Apple.

Essas inovações reduziram significativamente os defeitos de fabricação, pois o controle passou a ser feito pela própria equipe de trabalho ao longo do processo de produção, e não apenas no fim, como no fordismo. Além disso, foram introduzidas máquinas cada vez mais sofisticadas e, finalmente, os robôs. No início, eles desempenhavam as tarefas repetitivas ou mais perigosas e insalubres, mas, com o passar do tempo, foram substituindo mais e mais operários. Com a crescente automação das fábricas, muitos operários passaram a trabalhar em outros setores, particularmente nas atividades terciárias; outros perderam seus postos de trabalho, que desapareceram definitivamente, caracterizando o desemprego estrutural. Com essas mudanças, o mercado de trabalho tem exigido trabalhadores mais qualificados e versáteis. Outros métodos de organização da produção desenvolvidos por Taiichi Ohno têm-se disseminado na indústria, como o just-in-time, que busca estabelecer uma sintonia fina entre a fábrica, os fornecedores e os consumidores. A organização da produção pressupõe um abastecimento contínuo dos insumos (peças e matérias-primas) necessários para a fabricação de determinado produto. Dessa forma, eliminam-se ou reduzem-se drasticamente os estoques. O escoamento da produção para o mercado também é planejado, pelo mesmo motivo, para ocorrer “no momento certo”.

Economia de escala: típica da época fordista; mercadorias sem grande variedade de modelos ou cores eram feitas em grande quantidade com o objetivo de baixar custos de produção. Os ganhos de produtividade vinham da grande escala de produção e da fragmentação do trabalho. Economia de escopo: típica da época toyotista; as mercadorias apresentam grande variedade de modelos e cores e são feitas no sistema de produção flexível, como o just-in-time (do inglês, significa ‘no momento certo’). Os ganhos de produtividade decorrem dessa flexibilidade.

Margaret Bourke-White/Time & Life Pictures/Getty Images

O responsável pelo desenvolvimento do toyotismo foi o engenheiro mecânico Taiichi Ohno. Em 1943 ele entrou na Toyota determinado a implantar mudanças no interior da fábrica, com o objetivo de reduzir desperdícios (aposentou-se como vice-presidente da empresa).

Para saber mais sobre as mudanças no mundo do trabalho, consulte o livro O trabalho na economia global. Veja indicação na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

Taiichi Ohno, engenheiro responsável pelo desenvolvimento do toyotismo.

Kazuhiro Nogi/Agência France-Presse

Nos anos 1950, Taiichi Ohno (1912-1990) começou a introduzir inovações na Toyota (a foto mostra a linha de produção da empresa em 1952). A linha de produção foi substituída por equipes de trabalho ou células de produção.

Quanto mais estoques uma empresa tem, é menos provável que tenha o que necessita.”

Linha de produção do Prius, carro híbrido que possui um motor a gasolina e outro elétrico, produzido pela Toyota em Toyota City (Japão), em 2014.

A apresentação das empresas que ocorre nesta página tem finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir seu consumo. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do tema abordado. A geografia das indústrias

153

Ilustrações: Douglas Galindo/Arquivo da editora

Pensando no Enem Modelo 1

Fornecedor

Estoque

Produção

Estoque

Cliente

Modelo 2

Requisição

Requisição

Entrega

Entrega

Cliente

Produção

Fornecedor

Disponível em: . Acesso em: 11 maio 2013 (adaptado).

Na imagem, estão representados dois modelos de produção. A possibilidade de uma crise de superprodução é distinta entre eles em função do seguinte fator:

a) b) c) d) e)

Origem da matéria-prima. Qualificação da mão de obra. Velocidade de processamento. Necessidade de armazenamento. Amplitude do mercado consumidor.

Resolução O modelo 1 representa a produção fordista e o modelo 2, a produção flexível. O que caracteriza esse modelo de produção, orientado pelo just-in-time, é a inexistência de estoques, tanto de matérias-primas e peças, como de produtos acabados a serem vendidos no mercado consumidor. Por isso, esse modelo é menos suscetível a uma crise de superprodução. Portanto, a resposta correta é a alternativa D.

atenção! Não escreva no seu livro!

154

Capítulo 6

A questão contempla a Competência de área 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social e suas habilidades correspondentes – com destaque para H16 – Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.

4 Exploração do trabalho e da natureza

Str/Agência France-Presse

Paralelamente ao toyotismo, estão se difundindo novas relações de trabalho, caracterizadas pelos salários mais baixos e direitos trabalhistas mais restritos ou inexistentes. A maioria desses empregos tem sido criada nos países em desenvolvimento, onde ainda em grande parte se mantém o método de produção fordista, baseado na superexploração dos trabalhadores.

Omitimos o nome da empresa representada na iconografia desta página, pois não é imprescindível para o entendimento do assunto.

por causa dos baixos custos de sua mão de obra (veja o gráfico abaixo). Segundo o Banco Mundial, o número de chineses que viviam na pobreza extrema caiu de 756 milhões (67% da população total), em 1990, para 150 milhões (11% da população), em 2010. Em menor escala, isso também ocorreu no Brasil, no México, na Índia e em outros países.

65,86

Noruega

63,23

Suíça

48,98

Alemanha

36,34

Estados Unidos

31,00

Reino Unido

29,13

Japão

23,95

Cingapura

21,96

Coreia do Sul Argentina

19,97

Grécia

18,96 10,69

Brasil

Alguns princípios do fordismo, como a ultraespecialização do trabalhador, ainda são mantidos em países da periferia do capitalismo. No entanto, os salários são baixos e os direitos trabalhistas não são plenamente respeitados. Algumas empresas que necessitam de muita mão de obra, como indústrias de vestuário e calçado, vêm se instalando em países em desenvolvimento. Na foto, operárias em fábrica de roupas em Huaibei (China), em 2015.

Também em diversos países desenvolvidos a flexibilização da legislação trabalhista, com a redução dos salários e dos benefícios sociais e previdenciários, tem levado ao enfraquecimento do movimento sindical. Vários fatores contribuem para tal situação: a competição das novas tecnologias e dos novos processos produtivos, a desconcentração da produção industrial e a concorrência dos trabalhadores mal remunerados, numerosos nos países em desenvolvimento. Entretanto, para milhões de trabalhadores da periferia do sistema capitalista, que estavam fora do processo de produção, as condições de vida melhoraram. Mesmo vivendo em ambiente poluído e ganhando menos, trabalhando em piores condições e sem as mesmas garantias que seus pares dos países centrais, a vida na cidade em geral é melhor do que a vida na zona rural. Isso é particularmente verdadeiro na China, cuja economia atraiu grande volume de investimentos estrangeiros

Taiwan

9,37

Polônia

9,25 6,82

México

3,07

China**

1,59

Índia**

0

20

40

60 Dólares por hora

Adaptado de: THE CONFERENCE BOARD. International Comparisons Hourly Compensation Costs in Manufacturing, 2013. Disponível em: . Acesso em: 14 set. 2015. * Inclui o salário recebido pelo trabalhador, benefícios sociais – previdência social, assistência médica, auxílio refeição, etc. – e impostos. ** O dado da China é de 2012; o da Índia, de 2011.

Durante muito tempo, a legislação ambiental dos países em desenvolvimento era, em sua maior parte, frágil. Esse fato permitia produzir a custos menores e contribuía para atrair indústrias poluidoras. Embora isso ainda aconteça na atualidade, a crescente preocupação mundial com o desenvolvimento sustentável tem pressionado os dirigentes das fábricas a desenvolver métodos de produção que causem menos impactos ambientais. Como mostra o texto a seguir, vem se firmando a ideia de que o desenvolvimento sustentável pode contribuir para aumentar a produtividade das empresas e, consequentemente, a competitividade e os lucros, além de reforçar a imagem positiva de “empresa verde”. A geografia das indústrias

155

A. Robson/Arquivo da editora

Países selecionados: custos* dos trabalhadores industriais – 2013

Outras leituras

Veja a indicação do vídeo A história das coisas, na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

As questões relacionadas à competitividade e ao meio ambiente ganharam importância crescente no final dos anos 1980. Com a intensificação do processo de globalização financeira e produtiva da economia mundial, e o consequente aumento dos fluxos de comércio internacional, as barreiras tarifárias [impostos de importação] foram paulatinamente substituídas por barreiras não tarifárias. Os países desenvolvidos passam a impor barreiras não tarifárias ambientais – “barreiras verdes” –, alegando que os países em desenvolvimento possuem leis ambientais menos rigorosas que as suas, o que resultaria em custos mais baixos – também chamados de dumping ecológico – e, consequentemente, menores preços praticados no mercado internacional. [...] A maneira pela qual a imposição de normas ambientais afeta a competitividade das empresas e setores industriais é percebida de forma distinta. Por um lado, a imposição de normas ambientais restritivas pelos países desenvolvidos pode ser uma forma camuflada de protecionismo de determinados setores industriais nacionais, que concorrem diretamente com as exportações dos países em desenvolvimento. Por outro lado, essas mesmas normas estariam prejudicando a competitividade das empresas nacionais, pois implicariam custos adicionais ao processo produtivo, elevando os preços dos produtos e resultando na possível perda de competitividade no mercado internacional. A relação entre competitividade e preservação do meio ambiente passou a ser objeto de intenso debate, que se polarizou em duas vertentes de análise: a primeira acredita na existência de um trade-off, no qual estariam, de um lado, os benefícios sociais relativos a uma maior preservação ambiental, resultante de padrões e regulamentações mais rígidos; de outro lado, tais regulamentações levariam a um aumento dos custos privados do setor industrial, elevando preços e reduzindo a competitividade das empresas. As regulamentações são necessárias para melhorar a qualidade ambiental, mas são igualmente responsáveis pela elevação de custos e perda de competitividade da indústria. Opondo-se a essa visão, a segunda vertente de análise vislumbra sinergias entre competitividade e preservação do meio ambiente. Chamada pela literatura de hipótese de Porter – baseada nos artigos de Michael Porter e Class van der Linde –, o argumento é que a imposição de padrões ambientais adequados pode estimular as empresas a adotarem inovações que reduzem os custos totais de um produto ou aumentam seu valor, melhorando a competitividade das empresas e, consequentemente, do país. Assim, quando as empresas são capazes de ver as regulamentações ambientais como um desafio, passam a desenvolver soluções inovadoras e, portanto, melhoram a sua competitividade. Ou seja, além das melhorias ambientais, as regulamentações ambientais também reforçariam as condições de competitividade iniciais das empresas ou setores industriais. YOUNG, Carlos E. F.; LUSTOSA, Maria C. J. Meio ambiente e competitividade na indústria brasileira. Grupo de Pesquisa em Economia do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Instituto de Economia, UFRJ. Disponível em: . Acesso em: 14 set. 2015.

Exemplos de organizações não governamentais que emitem selos verdes: o FSC – Forest Stewardship Council (Conselho de Manejo Florestal), sediado em Bonn (Alemanha), certifica madeira produzida com método de manejo sustentável; o Green Seal (Selo Verde), sediado em Washington, D.C. (Estados Unidos), concede certificação a produtos e serviços ecologicamente sustentáveis; o Instituto Chico Mendes, sediado em Quatro Barras (PR), fornece selo verde para produtos social e ambientalmente responsáveis; o IBD Certificações, sediado em Botucatu (SP), certifica alimentos orgânicos.

156

Capítulo 6

1) FSC Forest S Stewardship tew wa d Council, A. C. / 2) Instituto Chico Mendes 2012 / 3) Green Seal 2012 012 / 4) Reprodução/IBD R

Produção industrial, meio ambiente e competitividade

Atividades

atenção! Não escreva no seu livro!

Compreendendo conteúdos 1. O que é indústria? Como as indústrias são comumente classificadas? 2. O que são fatores locacionais? Eles têm a mesma importância para todo tipo de indústria? Justifique. 3. Explique como acontece atualmente o processo de desconcentração industrial no espaço geográfico nacional e no mundial.

4. Defina parque tecnológico e apresente os fatores locacionais mais importantes que explicam seu desenvolvimento em determinado lugar do território.

5. Explique as diferenças mais importantes entre a produção fordista e a toyotista.

Desenvolvendo habilidades 6. Para uma reflexão sobre a relação entre produção e consumo, meio ambiente e sociedade, faça os procedimentos propostos abaixo: a) Leia o texto a seguir para saber o que é rótulo ecológico e releia o artigo “Produção industrial, meio ambiente e competitividade”, na página anterior. b) Pesquise por outros selos verdes e explique a diferença entre o selo da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e a maioria dos existentes no mercado. Para isso, navegue em sites como os indicados abaixo ou de ONGs ambientalistas. Anote no caderno as informações encontradas. c) Elabore um texto sucinto dissertando sobre o significado do “selo verde” e a importância da rotulagem ecológica para consumidores, empresas e meio ambiente. Relacione isso com a possível imposição de “barreiras verdes” no comércio internacional. Reprodução/Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)

O que é Rótulo Ecológico? O Rótulo Ecológico ABNT é um programa de rotulagem ambiental (ecolabelling), que é uma metodologia voluntária de certificação e rotulagem de desempenho ambiental de produtos ou serviços que vem sendo praticada ao redor do mundo. É um importante mecanismo de implementação de políticas ambientais dirigido aos consumidores, auxiliando-os na escolha de produtos menos agressivos ao meio ambiente. É também um instrumento de marketing para as organizações que investem nesta área e querem oferecer produtos diferenciados no mercado. A atribuição do Rótulo Ecológico (Selo Verde) é similar a uma premiação, uma vez que os critérios são elaborados visando à excelência ambiental para a promoção e melhoria dos produtos e processos de forma a atender às preferências dos consumidores. Em contraste com outros símbolos “verdes” ou declarações feitas por fabricantes ou fornecedores de serviços, um rótulo ambiental é concedido por uma entidade de terceira parte, de forma imparcial, para determinados produtos ou serviços que são avaliados com base em critérios múltiplos previamente definidos. ABNT. Rótulo Ecológico ABNT. Disponível em: . Acesso em: 13 jan. 2016.

Você pode consultar os sites da ABNT, do IBD, do FSC Brasil e do Instituto Chico Mendes. Veja orientações na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

A geografia das indústrias

157

CAPÍTULO

7

Economias desenvolvidas: a industrialização precursora Pete Saloutos/Corbis/Latinstock

Para alimentar seu gigantesco parque industrial, movimentar seu sistema de transportes e gerar energia termelétrica, os Estados Unidos tornaram-se o maior produtor e consumidor mundial de derivados de petróleo. Na foto de 2015, refinaria de petróleo em Los Angeles (Califórnia).

158

O

Reino Unido, a França e os Estados Unidos foram os primeiros países a se industrializar, no final do século XVIII e início do XIX. Logo foram seguidos por Alemanha, Itália e Japão, que se industrializaram na segunda metade do mesmo século. Neste capítulo, estudaremos: o Reino Unido, o precursor, hoje quinta economia mundial; os Estados Unidos, a maior potência econômica da atualidade; o Japão e a Alemanha, respectivamente, terceira e quarta economias mundiais. O Reino Unido, apesar de ter sido o berço da Revolução Industrial, teve sua economia ultrapassada por países que se industrializaram posteriormente. Por que o país não conseguiu acompanhar o ritmo de crescimento econômico de seus concorrentes? Os Estados Unidos se industrializaram pouco depois de sua ex-metrópole e atualmente são a maior potência mundial, não só do ponto de vista econômico como também do científico-tecnológico e geopolítico-militar. Como começou a supremacia norte-americana, que, apesar da perda relativa de poder, ainda se mantém neste século XXI? A história da Alemanha é marcada pelo envolvimento em guerras, por destruições e reconstruções. Mesmo derrotada na Primeira e na Segunda guerras, recuperou-se e, em pouco tempo, emergiu novamente como potência econômica, dotada de uma indústria moderna e competitiva. Por que esse país se industrializou só depois do Reino Unido e da França? O que explica sua rápida recuperação econômica no pós-Guerra? O Japão, primeira potência industrial a se desenvolver na Ásia, também foi arrasado na Segunda Guerra, do mesmo modo que a Alemanha, com a qual se aliou. Em menos de três décadas tornou-se a segunda economia mundial. Entretanto, desde os anos 1990, reduziu drasticamente o ritmo de crescimento e acabou superado pela China. O que mudou para interromper seu ciclo de crescimento anterior? Para responder a essas perguntas, é necessário analisar o processo de industrialização desses países. É o que faremos neste capítulo.

Neste capítulo aparecem fotos de sedes de empresas, de fábricas e de linhas de produção. Só mencionamos o nome da empresa/indústria/marca com fins didáticos, quando é estritamente necessário para a compreensão do tema tratado, porém com o devido cuidado de não recomendar qualquer tipo de produto ou marca. Nos casos em que a informação não é relevante, não mencionamos o nome da empresa/indústria/marca, para não caracterizar publicidade.

A Alemanha é o maior fabricante de automóveis da Europa (quarto do mundo) e esse produto é um dos mais importantes em sua pauta de exportações. Na foto de 2015, indústria automobilística em Wolfsburg (Baixa Saxônia).

Jochen Eckel/dpa/Corbis/Latinstock

Economias desenvolvidas: a industrialização precursora

159

1 Reino Unido representada e podia participar das decisões políticas do país. A Inglaterra tornou-se a primeira monarquia parlamentar do mundo, fator político que foi essencial para a eclosão da Revolução Industrial, quase um século mais tarde.

Os fatores de industrializa•‹o O Reino Unido, muitas vezes chamado de Grã-Bretanha (leia o texto a seguir para entender a diferença), foi o primeiro país a reunir as condições necessárias para o início do processo de industrialização. Trata-se de um dos países que mais acumulou riqueza durante o período do capitalismo comercial. Foi na Inglaterra que ocorreu a primeira revolução burguesa da História, chamada Revolução Gloriosa (1688). A assinatura da Declaração dos Direitos (1689) limitava o poder político da monarquia, transferindo-o para o Parlamento – no qual a burguesia estava

Parlamento: nos países regidos por uma Constituição é o conjunto das assembleias ou câmaras legislativas (no caso do Brasil, o parlamento é composto de Senado Federal e Câmara dos Deputados), nas quais se reúnem os representantes eleitos pelo povo para criar leis em âmbito nacional e fiscalizar o Poder Executivo federal ou local.

Para saber mais As origens do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte Das quatro unidades políticas que compõem o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, a maior, mais populosa e mais industrializada é a Inglaterra; por isso, muitas vezes esse território é confundido com a Grã-Bretanha e até mesmo com o Reino Unido (observe o mapa). Veja, a seguir, uma sucinta cronologia da formação desse Estado. 1707 – Com a unificação dos parlamentos da Inglaterra e da Escócia, foi criado o Reino Unido da Grã-Bretanha.

Reino Unido

Os dados do mapa desta página não possuem data na publicação original. 0º

Banco de imagens/Arquivo da editora



Ilhas Shetland

ich

Cidade importante Limites internos

ESCÓCIA

OCEANO ATLÂNTICO

Glasgow Edimburgo

=

Newcastle

Belfast

1921 – O Reino Unido concedeu independência à Irlanda, com exceção de seis condados de maioria protestante, localizados no norte dessa ilha; assim, foi criado o Reino Unido da Grã -Bretanha e Irlanda do Norte.

IRLANDA

Manchester

PAÍS DE GALES Cardiff

120 km

160

Capítulo 7

INGLATERRA Rio Tâm is a

C an

= 0

Bandeiras: Shutterstock/Glow Images

Birmingham

Londres

50º N

+

Ilha de Man Liverpool

an ch a



Mar do Norte

IRLANDA DO NORTE

M

+

de Greenw

Capital

1801 – Após uma rebelião nacionalista na Irlanda, em 1798, os ingleses dissolveram o Parlamento irlandês e criaram o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda.

Meridiano



=

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+

al BÉLGICA

240 FRANÇA

Adaptado de: OXFORD. Essential World Atlas. 6th ed. New York: Oxford University Press, 2011. p. 14.

Esses migrantes converteram-se em mão de obra barata e superexplorada da indústria britânica. A partir de então, começou de fato a se estabelecer uma relação capitalista de produção baseada no trabalho assalariado, o que proporcionou lucros crescentes aos industriais. Reino Unido: carvão

NIA: Com DA

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de Greenw

ich

Banco de imagens/Arquivo da editora



Lowlands

Mar do Norte

Belfast Leeds

Lancashire

IRLANDA

Manchester Birmingham País de Gales

0

135

270

50º N

Yorkshire

Liverpool Sheffield Midlands

Oxford Cambridge Bristol

ch a

OCEANO ATLÂNTICO

km

No mapa estão representadas as reservas originais de carvão mineral (ou hulha). Atualmente esse combustível fóssil está praticamente esgotado no Reino Unido.

Os dados do mapa desta página não possuem data na publicação original.

Meridiano

Ancorado em medidas protecionistas e em sua poderosa frota naval, o Reino Unido se tornou a maior potência mercantil do mundo na fase final do capitalismo comercial. Os capitais acumulados nesse período foram gradativamente investidos na ampliação da rede de ferrovias e hidrovias, na extração de carvão e na instalação de indústrias. Esses fatores propiciaram grandes avanços técnicos nas indústrias têxteis, siderúrgicas e navais, ramos mais tradicionais e importantes da Primeira Revolução Industrial. Os industriais do Reino Unido tinham ainda a vantagem de dispor de grandes reservas de carvão mineral (veja no mapa ao lado), fonte de energia das máquinas a vapor. As principais condições econômicas e políticas favoráveis à Revolução Industrial no Reino Unido foram sendo criadas ao longo da História: acúmulo de capitais, disponibilidade de matérias-primas e de energia, avanços técnicos e o controle do Estado pela burguesia. Faltava a força de trabalho, que foi suprida pelos camponeses que migraram para as cidades.

Londres

an aM l d BÉLGICA a an

Southampton

Lowlands Regiões carboníferas

Carvão

C

FRANÇA

Adaptado de: CHARLIER, Jacques (Dir.). Atlas du 21e siècle édition 2012. Groningen: Wolters-Noordhoff; Paris: Éditions Nathan, 2011. p. 67.

Il CIDA Nt

The Bridgeman Art Library/Keystone

Para saber mais Trabalho de crianças e adolescentes Nos primórdios da Revolução Industrial, o capital reproduzia-se à custa da superexploração dos trabalhadores e não havia leis que os protegessem, principalmente os menores de idade, os mais vulneráveis. Nessa época, era comum encontrar crianças e adolescentes trabalhando em fábricas insalubres, de modo a comprometer seu desenvolvimento físico e intelectual. Desde 1973, a Convenção 138 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) definiu uma idade mínima de admissão ao emprego, a fim de combater o trabalho infantil. A maioria dos governos dos países criou legislações específicas para regular esse tema (no Brasil: Decreto 4.134 de 15/2/2002). Assim, menores de 16 anos não podem trabalhar e, a partir dessa idade, o trabalho não pode trazer riscos à saúde, à segurança e à moralidade dos adolescentes. Além disso, eles devem ter formação adequada Consulte o site do Programa e específica no raInternacional para a Eliminação mo em que vão ser do Trabalho Infantil (Ipec) da OIT. Veja orientações na seção empregados.

Na foto, crianças e adolescentes em uma fábrica de chapéus em Bedworth (Reino Unido), em 1900.

Sugestões de leitura, filmes e sites.

Economias desenvolvidas: a industrialização precursora

161

Pensando no Enem A Inglaterra pedia lucros e recebia lucros. Tudo se transformava em lucro. As cidades tinham sua sujeira lucrativa, suas favelas lucrativas, sua fumaça lucrativa, seu desespero lucrativo. As novas fábricas e os novos altos-fornos eram como as Pirâmides, mostrando mais a escravização do homem que seu poder. DEANE, P. A Revolução Industrial. Rio de Janeiro: Zahar, 1979 (adaptado).

Qual relação é estabelecida no texto entre os avanços tecnológicos ocorridos no contexto da Revolução Industrial Inglesa e as características das cidades industriais no início do século XIX?

arquitetura do período, transformando as cidades em locais de experimentação estética e artística. e) O alto nível de exploração dos trabalhadores industriais ocasionava o surgimento de aglomerados urbanos marcados por péssimas condições de moradia, saúde e higiene.

Resolu•‹o No início da industrialização britânica (a questão do Enem se refere à Inglaterra, mas esse processo ocorreu também na Escócia e em Gales, embora em menor escala), muitos camponeses migraram para as cidades, onde se converteram em mão de obra assalariada superexplorada. A combinação de baixos salários com o crescimento desordenado das cidades explica as péssimas condições de moradia, saúde e higiene, mencionadas na alternativa E. A questão contempla a Competência de área 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social – e suas habilidades correspondentes, com destaque para H18 – Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações socioespaciais.

Bridgeman/Keystone

a) A facilidade em se estabelecer relações lucrativas transformava as cidades em espaços privilegiados para a livre iniciativa, característica da nova sociedade capitalista. b) O desenvolvimento de métodos de planejamento urbano aumentava a eficiência do trabalho industrial. c) A construção de núcleos urbanos integrados por meios de transporte facilitava o deslocamento dos trabalhadores das periferias até as fábricas. d) A grandiosidade dos prédios onde se localizavam as fábricas revelava os avanços da engenharia e da

atenção! Não escreva no seu livro!

Filhos de famílias de trabalhadores que viviam em cortiços em Londres (Reino Unido), no século XIX. Essa foto denuncia as más condições de moradia e higiene nas cidades britânicas durante a Revolução Industrial, tema cobrado no Enem.

162

Capítulo 7

Sean Sexton Collection/Corbis/Latinstock

No centro da Grã-Bretanha, em torno de minas de carvão, foram construídas usinas siderúrgicas e indústrias têxteis. As siderúrgicas viabilizaram a produção de locomotivas e de navios a vapor, que, por sua vez, atraiu as indústrias de material ferroviário e naval. Isso explica o grande dinamismo das regiões carboníferas britânicas durante a Primeira Revolução Industrial. Porém, as mudanças futuras no padrão tecnológico e energético levaram essas regiões e suas indústrias pioneiras à decadência. Outro fator essencial de atração das indústrias foi a existência de portos marítimos e fluviais. Muitas cidades portuárias desenvolveram um importante parque industrial, como Liverpool e principalmente Londres. A capital foi um dos maiores centros industriais do Reino Unido em razão de seu poder de polarização sobre o território britânico (nacional e colonial). Abrigou indústrias menos dependentes de matérias-primas e apresentava a seu favor a disponibilidade de mão de

Hanley, cidade industrial situada no centro da Grã-Betanha, sem data. Essa foto evidencia nitidamente o motivo da origem da expressão “regiões negras”, para se referir às áreas industriais britânicas dos séculos XVIII e XIX. A paisagem era escurecida pela fumaça das chaminés.

obra, de mercado consumidor e de rede de transportes. Durante a Primeira Revolução Industrial, a cidade tornou-se também o maior entroncamento ferroviário, aumentando sua capacidade de polarização. Posteriormente, na Segunda Revolução, muitas indústrias que não dependiam do carvão – automobilísticas, aeronáuticas, químico-farmacêuticas, etc. – foram se instalando em torno da metrópole. A partir daí, essa região metropolitana se converteu no maior entroncamento rodoviário do país e em uma das maiores confluências de rotas aéreas do mundo. Como aconteceu em outras grandes cidades, muitos industriais transferiram seus estabelecimentos da região metropolitana de Londres, no intuito de baixar os custos de produção. Mas, ela manteve sua condição de principal centro comercial e financeiro do Reino Unido e um dos mais importantes do planeta, reforçando seu papel de comando na economia nacional e mundial. Com isso, a capital britânica se transformou em uma das mais importantes cidades globais da atualidade. No contexto da atual revolução tecnológica, a reorganização das indústrias britânicas atinge o país de forma bastante desigual setorial e regionalmente. Há setores que entraram em decadência, como a indústria têxtil, a siderúrgica e a naval. Há outros, entretanto, bastante dinâmicos, como o aeronáutico, o automobilístico, o químico-farmacêutico e o de biotecnologia. Essas novas e modernas indústrias em geral se situam nas pequenas cidades do centro-sul da Inglaterra, onde se destaca o importante parque tecnológico de Cambridge, com suas empresas de alta tecnologia. Londres (Reino Unido), em 2015. Como se observa na foto, na capital britânica convivem o moderno, como os prédios do distrito financeiro (ao fundo), e o antigo, como o castelo à beira do rio Tâmisa.

lucarista/Shutterstock

Setores industriais e sua distribuição

163

Reino Unido: indústria

Os dados do mapa não possuem data na publicação original.

Meridiano

Banco de imagens/Arquivo da editora

de Greenw

ich



Lowlands

OCEANO ATLÂNTICO

Clydeside

Mar do Norte

Tyneside

Belfast

Indústria Aeronáutica Alta tecnologia Automobilística Eletrônica Naval Química Siderúrgica Têxtil

Teesside Lancashire

IRLANDA

Região industrial 50º N Lowlands Nome das 0 regiões industriais

Leeds

Yorkshire

Merseyside

Humberside

Sheffield Manchester Birmingham País de Gales

Severnside

Midlands

Cambridge Oxford Bristol

Londres

Southampton

120

Thamesside

240

km

FRANÇA

Adaptado de: CHARLIER, Jacques (Dir.). Atlas du 21e siècle édition 2012. Groningen: Wolters-Noordhoff; Paris: Éditions Nathan, 2011. p. 67.

Veja indicação do filme Ou tudo ou nada, que trata da questão da desindustrialização do centro da Grã-Bretanha, na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

Política neoliberal: política econômica inspirada no liberalismo clássico, mas adaptada para a atual etapa do capitalismo. Consiste na adoção de medidas para reduzir o papel do Estado na economia, como a privatização e a instituição de normas de desregulação. Essa política começou a ser adotada no início dos anos 1980 nos governos de Margaret Thatcher, no Reino Unido, e de Ronald Reagan, nos Estados Unidos.

Nas regiões carboníferas britânicas houve um acentuado processo de desindustrialização. A Forgemasters foi uma das poucas siderúrgicas do país que conseguiu se renovar e enfrentar a concorrência asiática. Sede da empresa na cidade de Sheffield (Reino Unido), em 2013.

164

Capítulo 7

A produção de carvão no Reino Unido declinou (a maioria das minas se esgotou) e seu consumo foi substituído por gás natural, petróleo e eletricidade. Embora seja produtor de petróleo, sua produção (857 mil barris/dia em 2013, 24º produtor mundial) é insuficiente para abastecer o consumo interno, havendo necessidade de importação, sobretudo da Noruega. O Reino Unido também é importador de gás natural, cujo consumo foi o que mais aumentou, principalmente para a produção de eletricidade em termelétricas. O país perdeu competitividade diante do aumento da concorrência em um mundo globalizado. A economia britânica enfrentou, de um lado, a concorrência de economias mais competitivas, com sistemas de produção flexível, como a japonesa e a coreana, e, de outro, economias emergentes, com base em mão de obra barata, como a chinesa e a indiana. A gestão da primeira-ministra Margaret Thatcher (1979-1990), do Partido Conservador, foi marcada por políticas neoliberais que visavam reduzir o papel do Estado na economia e aumentar a competitividade das empresas britânicas. Nesse processo, muitas empresas estatais foram privatizadas, entre as quais a petrolífera British Petroleum (BP). Essas privatizações reduziram a contribuição das estatais para o PIB britânico de 9%, em 1979, para 3,5%, em 1990. A BP é a maior corporação do Reino Unido e a sexta do mundo, de acordo com a Fortune Global 500 2015. Entre as grandes corporações britânicas, ainda se destacam a Vodafone (telecomunicações), Rio Tinto (mineração), a GlaxoSmithKline (farmacêutica) e a BAE Systems (aeroespacial e material bélico), todas entre as quinhentas maiores empresas do mundo. A apresentação da empresa que ocorre na iconografia desta página foi utilizada com finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir seu consumo. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do tema abordado.

Jason Alden/Bloomberg/Getty Images

Em torno da Universidade de Cambridge começou a ser instalado, na década de 1970, um parque tecnológico concentrando empresas de setores típicos da Terceira Revolução Industrial. A cidade contou com fatores muito semelhantes aos do Vale do Silício (Estados Unidos): centros de pesquisa de renome, mão de obra com alto nível de qualificação, disponibilidade de capitais de risco e desenvolvimento de empresas inovadoras. Há outros polos de alta tecnologia no Reino Unido, como na região oeste de Londres, conhecida como Corredor Oeste ou Corredor M4. Observe no mapa a distribuição das principais indústrias no Reino Unido.

A potência pioneira perde poder

Observe no gráfico abaixo o crescimento do PIB do Reino Unido no pós-Segunda Guerra e compare-o com o

Embora o Reino Unido tenha crescido economicamente após a Segunda Guerra Mundial, não acompanhou o ritmo de desenvolvimento de outras potências econômicas, como Estados Unidos, Japão e Alemanha. Consequentemente, foi perdendo posições no cenário internacional.

dos demais países. Perceba que até o final dos anos 1980 ele cresceu bem menos do que os de seus competidores.

No período 1990-2014, o país superou o Japão, a Ale-

manha e a França, mas ficou atrás dos Estados Unidos e da China.

A. Robson/Arquivo da editora

Seis maiores economias do mundo: crescimento do PIB 10,5

Crescimento do PIB (%), média anual

8,3

1947-1987 1990-2014 5,1

4,9

3,3 2,6 2,7 2,1 1,6

1,4 0,9

5

o

A

6

o

Ja p

ão

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3

Posição/país

2

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1

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*

Adaptado de: THE ECONOMIST: One Hundred Years of Economic Statistics. In: FRIEDMAN, George; LEBARD, Meredith. EUA × Japão: guerra à vista. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. p. 130; THE WORLD BANK. World Development Indicators 2015. Washington, D.C., 2015. Disponível em: . Acesso em: 21 set. 2015. * Sem dados.

Assim, o Reino Unido, que já foi a maior potência industrial do planeta, foi perdendo posições e, em 2014, era o quinto PIB mundial, bem atrás das duas maiores potências econômicas, principalmente da maior delas, sua ex-colônia. Veja indicadores comparativos das seis maiores economias mundiais.

Para saber mais sobre as potências mundiais consulte o livro Compreender o mundo. Veja indicação na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

Seis maiores economias do mundo: indicadores econômicos – 2014 Crescimento médio anual do PIB (%) 2000-2014

Número de empresas na Fortune Global 500 2015

55 200

1,7

128

10 360

7 400

10,3

98

3. Japão

4 602

42 000

0,7

54

4. Alemanha

3 868

47 640

1,1

28

5. Reino Unido

2 989

43 430

1,4

28

6. França

2 829

42 960

1,1

31

Posição segundo o PIB/país

PIB

PIB per capita

(bilhões de dólares)

(dólares)

1. Estados Unidos

17 419

2. China

Adaptado de: THE WORLD BANK. World Development Indicators 2015. Washington, D.C., 2015. Disponível em: ; FORTUNE. Global 500 2015. Disponível em: . Acessos em: 15 jan. 2016.

Economias desenvolvidas: a industrialização precursora

165

2 Estados Unidos

Não inserimos escala e orientação nos mapas do Alasca e do Havaí por falta de espaço. A orientação é a mesma do mapa dos Estados Unidos. As escalas são: Alasca – 1 : 108 000 000, Havaí – 1 : 60 000 000.

SínteSe hiStórica Independência e formação do território

Dialogando com hIstórIA

O

território que pertence aos Estados Unidos foi colonizado por britânicos, franceses e espanhóis (observe o mapa); no entanto, foram os britânicos que mais influenciaram a formação da sociedade norte-americana. A primeira colônia inglesa foi fundada em 1607 na Virgínia e, ao longo do século XVII, várias outras foram instituídas, totalizando treze colônias, o núcleo inicial do atual território. O Alasca fica no extrem o norte da América; entre esse estado e o território principal dos Estados Unidos, localiza-se o Canadá. O estado do Havaí fica em um arquipélago no oceano Pacífico.

Banco de imagens/Arquivo da editora

Estados Unidos: expansão territorial 100º O

Lo

ur

en

ço

CANADÁ

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sso

Ri

MASSACHUSETTS

S

NOVA YORK

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LOUISIANA

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NEW HAMPSHIRE MASSACHUSETTS RHODE ISLAND CONNECTICUT

40º N

PENSILVÂNIA NOVA JERSEY DELAWARE MARYLAND

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CALIFÓRNIA

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TEXAS

CAROLINA DO SUL GEÓRGIA

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MÉXICO

Tomado do México, dando início à guerra entre esse país e os Estados Unidos (1845)

Golfo do México

Obtido por tratado com o Reino Unido (1846)

CANADÁ

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Golfo do Alasca

OCEANO PACÍFICO

HAVAÍ

0

450

900

CUBA

km

Adaptado de: CHALIAND, Gerard; RAGEAU, Jean-Pierre. Atlas du millénaire: la mort des empires 1900-2015. Paris: Hachette Littératures, 1998. p. 85; ENCICLOPÉDIA do estudante: História geral. São Paulo: Moderna, 2008. v. 4. p. 202.

Em 4 de julho de 1776, representantes de todas as colônias originais promulgaram a Declaração de Independência, documento fundador dos Estados Unidos (leia o trecho abaixo). Após a independência, teve início a expansão para o oeste, marcada por guerras contra os mexicanos e os povos indígenas, até chegar à configuração do território atual.

Terras obtidas como resultado da vitória na guerra contra o México (1848) Comprado do México por 10 milhões de dólares (1853) Comprado da Rússia por 7 milhões de dólares (1867) Anexado após disputa com o Japão (1898)

Federação: arranjo político-territorial no qual as unidades internas, geralmente chamadas de estados, têm autonomia relativa, devendo reportar-se a órgãos centrais de decisão política, como é o caso dos Estados Unidos da América, da República Federativa do Brasil, da República Federal da Alemanha, da Federação Russa, dos Estados Unidos do México, entre outros.

Lee Prin

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Comprado da Espanha por 5 milhões de dólares (1819) Obtido por tratado com o Reino Unido (1842)

rÁ C ír c u l o P o l a

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Obtido por tratado com o Reino Unido (1818) OCEANO ATLÂNTICO

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Comprado da França por 15 milhões de dólares (1803)

FLÓRIDA

RÚSSIA

Mar de Bering

Território original das treze colônias (1776) Conquistado do Reino Unido após vitória na guerra de Independência (1783)

CAROLINA DO NORTE

R i o Missi ssí pi

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A bandeira dos Estados Unidos é composta de treze faixas horizontais, que simbolizam as primeiras colônias, e cinquenta estrelas no retângulo do canto superior esquerdo, que representam os estados da federação (a capital fica no Distrito de Colúmbia, por isso, é comum aparecer Washington, D.C.). Foto de Washington, D.C. (Estados Unidos), 2013.

166

Capítulo 7

[...] Nós, Representantes dos Estados Unidos da América, reunidos em Congresso Geral, apelando ao Juiz Supremo do mundo pela retidão de nossas intenções, em nome e por autoridade do povo destas colônias, publicamos e declaramos solenemente: que estas Colônias Unidas são e por direito devem ser Estados livres e independentes, que estão desoneradas de qualquer fidelidade à Coroa Britânica, e que qualquer vínculo político entre elas e a Grã-Bretanha está e deve ficar totalmente dissolvido [...]. Trecho da Declaração de Independência dos Estados Unidos, cuja primeira versão foi redigida por Thomas Jefferson (1743-1826), assinada no Congresso de 4 de julho de 1776, na Filadélfia.

Os fatores da industrialização

Consulte o site do Poder Executivo dos Estados Unidos. Veja orientações na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

Bettman/Corbis/Latinstock

Quando ainda era colônia britânica, os Estados Unidos receberam um grande fluxo de imigrantes, principalmente nas colônias do Norte. Esses imigrantes foram se fixando na faixa litorânea. Nessa região, conhecida como Nova Inglaterra, desenvolviam

uma agricultura diversificada (policultura) em pequenas propriedades, nas quais predominava o trabalho familiar.

A independência dos Estados Unidos, pioneira no Novo Mundo, favoreceu a industrialização e o desenvolvimento capitalista, sob o comando da burguesia nortista. Esse quadro do pintor John Trumbull, exposto na Rotunda do Capitólio (área central do prédio onde funciona o Poder Legislativo dos Estados Unidos), retrata a assinatura da Declaração de Independência.

Cidades como Nova York, Boston e Filadélfia começavam a crescer em ritmo acelerado e teve início uma atividade manufatureira. Gradativamente, foi se estruturando um mercado interno, com o predomínio do trabalho familiar no campo e do trabalho assalariado nas cidades. Esse fator criou condições para a crescente expansão das manufaturas, das casas de comércio e dos bancos. Nas colônias do Norte, organizou-se uma colonização de povoamento, enquanto nas do Sul imperava a colonização de exploração, estruturada sobre uma sociedade estratificada e sobre a exploração do trabalho escravizado. A economia sulista baseava-se em plantations: grandes propriedades monocultoras nas quais se cultivava principalmente o algodão para exportação e utilizava o trabalho de africanos escravizados. A riqueza estava concentrada nas mãos dos

fazendeiros escravagistas e dos comerciantes britânicos e o mercado interno era limitado. Já nas colônias do Norte, os negócios se expandiam com rapidez e os capitais se concentravam nas mãos da burguesia nascente. Com o tempo, os capitalistas e outros setores da sociedade nortista desenvolveram interesses próprios. O resultado desse conflito de interesses levou a uma guerra entre a colônia e a metrópole e à independência política.

Manufatureira: que se refere à manufatura, estágio intermediário entre o artesanato e a indústria moderna, que se desenvolveu na Europa a partir do século XVI. Nas manufaturas, há a divisão do trabalho, ou seja, o processo produtivo é dividido em etapas complementares, com a utilização de máquinas rústicas, movidas à base de energia muscular.

Economias desenvolvidas: a industrialização precursora

167

Por que o Reino Unido não manteve um controle mais rígido sobre as treze colônias, região onde surgiram o separatismo e a industrialização?

O jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015) deu uma boa resposta a essa questão. Leia o texto a seguir.

Outras leituras A importância de não nascer importante As treze colônias do Norte tiveram, pode-se bem dizer, a dita da desgraça. Sua experiência histórica mostrou a tremenda importância de não nascer importante. Porque no norte da América não tinha ouro, nem prata, nem civilizações indígenas com densas concentrações de população já organizada para o trabalho, nem solos tropicais de fertilidade fabulosa na faixa costeira que os peregrinos ingleses colonizaram. A natureza tinha-se mostrado avara, e também a História: faltavam metais e mão de obra escrava para arrancá-los do ventre da terra. Foi uma sorte. No resto, desde Maryland até Nova Escócia, passando pela Nova Inglaterra, as colônias do Norte produziam, em virtude do clima e pelas características dos solos, exatamente o mesmo que a agricultura britânica, ou seja, não ofereciam à metrópole uma produção complementar. Muito diferente era a situação das Antilhas e das colônias ibéricas de terra firme. Das terras tropicais brotavam o açúcar, o algodão, o anil, a terebintina; uma pequena ilha do Caribe era mais importante para a Inglaterra, do ponto de vista econômico, do que as 13 colônias matrizes dos Estados Unidos. Essas circunstâncias explicam a ascensão e a consolidação dos Estados Unidos como um sistema economicamente autônomo, que não drenava para fora a riqueza gerada em seu seio. Eram muito frouxos os laços que atavam a colônia à metrópole; em Barbados ou Jamaica, em compensação, só se reinvestiam os capitais indispensáveis para repor os escravos na medida em que se iam gastando. Não foram fatores raciais, como se vê, os que decidiram o desenvolvimento de uns e o subdesenvolvimento de outros; as ilhas britânicas das Antilhas não tinham nada de espanholas nem portuguesas. A verdade é que a insignificância econômica das 13 colônias permitiu a precoce diversificação de suas manufaturas. A industrialização norte-americana contou, desde antes da independência, com estímulos e proteções oficiais. A Inglaterra mostrava-se tolerante, ao mesmo tempo em que proibia estritamente que suas ilhas antilhanas fabricassem até mesmo um alfinete. GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. p. 146.

A maioria dos primeiros imigrantes era de origem britânica, seguidores de religiões cristãs protestantes, principalmente puritanos (como eram chamados os calvinistas, os seguidores de João Calvino, na Grã-Bretanha), que haviam rompido com a Igreja católica a partir da Reforma Protestante (século XVI). As religiões protestantes favoreciam o desenvolvimento capitalista, uma vez que não condenavam moralmente a riqueza, porque esta era fruto do trabalho, de uma vida austera. Fatores de ordem natural também foram fundamentais no processo de industrialização dos Estados Unidos. Há grandes reservas de carvão nas bacias sedimentares próximas aos Apalaches, nos estados da Pensilvânia e de Ohio, e importantes jazidas de minério de ferro nos escudos próximos ao lago Superior, nos estados de Minnesota e de Wisconsin. O país apresenta grandes e diversificadas reservas minerais e energéticas, como mostram a tabela ao lado e o mapa da próxima página. 168

Capítulo 7

Estados Unidos: produção energética – 2013 Energia

Produção

Posição no mundo

Gás natural

688 bilhões de m³

1a

Petróleo

11 milhões de barris/dia

2a

Carvão mineral

904 milhões de toneladas

2a

Eletricidade

4 trilhões kW/h*

2a

Adaptado de: CENTRAL INTELLIGENCE AGENCY. The World Factbook 2015. Disponível em: ; INTERNATIONAL ENERGY AGENCY. Key World Energy Statistics 2014. Disponível em: . Acessos em: 22 set. 2015. * Dado de 2012.

A farta e bem distribuída rede hidrográfica foi outra característica natural que favoreceu o desenvolvimento dos Estados Unidos. A existência, no nordeste do país, dos Grandes Lagos, com desníveis consideráveis, possibilitou construir grandes barragens e usinas hidrelétricas para gerar energia.

Estados Unidos: mineração e energia Banco de imagens/Arquivo da editora

100º O

WASHINGTON

CANADÁ NEW HAMPSHIRE MASSACHUSETTS CONNECTICUT VERMONT

DAKOTA DO NORTE

MONTANA

M IC

MINNESOTA

Os dados dos mapas desta página não possuem data na publicação original.

IDAHO

DAKOTA DO SUL

WYOMING

WISCONSIN

Bacia carbonífera Campo petrolífero Jazida de gás natural Cobre Minério de ferro Urânio Refinaria de petróleo Hidrelétrica Usina nuclear

COLORADO

NOVA PENSILVÂNIA JERSEY INDIANA DELAWARE OHIO VIRGÍNIA ILLINOIS MARYLAND OCIDENTAL Washington VIRGÍNIA MISSOURI KENTUCKY CAROLINA TENNESSEE DO NORTE OCEANO

KANSAS

ARIZONA

NOVA YORK

IOWA

NEBRASKA NEVADA UTAH CALIFÓRNIA

CAROLINA ATLÂNTICO DO SUL

OKLAHOMA ARKANSAS

NOVO MÉXICO

RHODE ISLAND

H

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OREGON

40º N

MAINE

GEÓRGIA TEXAS

MÉXICO OCEANO PACÍFICO

0

FLÓRIDA

ALABAMA MISSISSÍPI

380

760

LOUISIANA

km

Adaptado de: CHARLIER, Jacques (Dir.). Atlas du 21e siècle édition 2012. Groningen: Wolters-Noordhoff; Paris: Éditions Nathan, 2011. p. 140.

Hidrovia dos Grandes Lagos-São Lourenço 90º O ço en

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ESTADOS UNIDOS

Lago Huron Lago Michigan

Milwaukee

Toronto

Lago Ontário

Ca

Lago Erie

Rio Hudson

Ottawa

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Buffalo

OCEANO

Detroit Cleveland

Nova York ATLÂNTICO

Chicago

0

Pittsburgh

185 km

Canal do Sault

Rio St. Clair

177 m

175 m Lago Erie

Lago Superior

Após a independência, as diferenças entre a sociedade nortista, das colônias de povoamento, e a sociedade sulista, das colônias de exploração, vieram à tona e acabaram desencadeando um conflito armado. As elites aristocráticas do Sul, na tentativa de manter o poder e a escravidão, declararam sua separação (secessão) da federação americana e criaram os Estados Confederados da América. Essa atitude provocou a Guerra de Secessão, ou Guerra Civil Americana (1861-1865).

75 m

46 m

Lago Ontário

Nível do mar

Arrancada industrial

Canal Welland

Lago Huron Lago Michigan

Eclusas para a navegação

370

Banco de imagens/Arquivo da editora

Montreal M 46º N

Rio Sã

Quebec

Lago Superior

altitude: 183 m

Adaptado de: CHARLIER, Jacques (Dir.). Atlas du 21e siècle édition 2012. Groningen: Wolters-Noordhoff; Paris: Éditions Nathan, 2011. p. 143.

Bacia de carvão (hulha) Transporte de carvão Transporte de minério de ferro Minério de ferro Produção de ferro e aço (siderurgia) Refinarias de petróleo

CANADÁ

6m Rio São Lourenço

{

Ao lado das turbinas hidráulicas, construíram-se eclusas e canais artificiais que permitiram a ligação do interior do continente com o oceano Atlântico pelos rios São Lourenço, no Canadá, e Hudson, nos Estados Unidos. Observe ao lado o mapa da hidrovia dos Grandes Lagos.

Via marítima do São Lourenço

A vitória da burguesia do Norte garantiu a unidade territorial do país, que já se estendia do Atlântico ao Pacífico. Interessada em ocupar os territórios tomados dos povos nativos (à custa de um grande genocídio) e aumentar o mercado consumidor para os bens produzidos por suas indústrias, a elite nortista estimulou a imigração. Em 1862, foi elaborada a Lei Lincoln (Homestead Act), segundo a qual as famílias que migrassem para o oeste do país receberiam 65 hectares de terra para se fixar. Economias desenvolvidas: a industrialização precursora

169

Estados Unidos: imigração – 1850-2010 Número de pessoas que obtiveram a condição legal de residente permanente (milhões)*

A. Robson/Arquivo da editora

Veja indicação do filme Um sonho distante, que aborda a imigração, na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

11 896 682

12

10 642 890

10 492 582

10 299 430 9 772 398

10

7 990 705

8 6

5 713 017

4 895 815 4 Adaptado de: U. S. DEPARTMENT OF HOMELAND SECURITY. Yearbook of Immigration Statistics: 2010. Disponível em: . Acesso em: 22 set. 2015. * No período 1850-1989 o intervalo é de vinte anos, a partir de 1990, é de dez.

1 555 983

2

1 042 625

0

69

8 0-1

5 18

9

88

0-1

7 18

9

90

0-1

9 18

9

94

0-1

3 19

9

96

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9

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9

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9 19

9

00

0-2

0 20

20

10

Porém, o fluxo imigratório voltou a aumentar após a guerra e atingiu seu pico nos anos 2000. Entre 1850 e 2010, os Estados Unidos foram o país que mais recebeu imigrantes no mundo, cerca de 74 milhões de pessoas se fixaram em seu território. Outra medida que ampliou o mercado consumidor interno foi a abolição da escravidão em 1863. A partir de então, o trabalho assalariado disseminou-se e, pouco a pouco, foi se estruturando uma sociedade de consumo, que se consolidou após a Primeira Guerra Mundial. Album/akg-images/Latinstock

Embora essa lei tenha garantido a ocupação das terras do oeste, o que mais contribuiu para atrair imigrantes e ampliar o mercado interno do país foi a aceleração de seu processo de industrialização. Entre 1890 e 1929, mais de 22 milhões de imigrantes, predominantemente europeus, se fixaram no país. Observe o gráfico acima. A crise de 1929, a depress‹o dos anos 1930 e a Segunda Guerra Mundial reduziram drasticamente a entrada de pessoas no país.

9

92

0-1

1 19

Depress‹o (econômica): em uma crise econômica os indicadores de atividade em diversos setores se reduzem e pioram: queda da produção industrial, agrícola e dos serviços, elevação do desemprego, diminuição dos lucros e aumento das falências. Quando a crise se arrasta por poucos meses, diz-se que a economia está em recessão, mas, quando se prolonga por alguns anos, caracteriza uma depressão.

Xilogravura do alemão Ernst von Hesse-Wartegg (1851-1918) que retrata o interior do Castle Garden, em 1885. Localizado em Manhattan, Nova York, abrigou o primeiro centro oficial de imigração dos Estados Unidos. Entre 1855 e 1890 passaram por lá mais de 8 milhões de imigrantes europeus. Atualmente, o prédio é um monumento nacional e se chama Castle Clinton, em homenagem a Dewitt Clinton, governador do estado de Nova York (1817-1822).

170

Capítulo 7

Setores industriais e sua distribuição Nordeste: pioneirismo e decadência

É ainda a que mais abriga indústrias no país, apesar da desconcentração recente. Observe o mapa.

O Nordeste dos Estados Unidos foi a primeira região a se industrializar.

Os dados do mapa desta página não possuem data na publicação original. 100º O

CANADÁ Seattle Portland Minneapolis-St. Paul

Syracuse

40º N

Boston

Buffalo Milwaukee

São Francisco Albuquerque

Pueblo

Filadélfia

Pittsburgh Baltimore Indianápolis Cincinnati Huntington St. Louis Norfolk

Kansas City Wichita Tulsa

Chattanooga

Los Angeles

Memphis San Diego

Phoenix

Little Rock Fort Worth

OCEANO PACÍFICO

Huntsville Birmingham

Savannah Columbus Jacksonville

Dallas

Austin Houston

340

680

Baton Rouge

MÉXICO

Greensboro

Greenville Marietta Atlanta

OCEANO ATLÂNTICO

Indústria Aeronáutica Alta tecnologia Automobilística Eletrônica Madeireira e de papel Metalúrgica

Orlando

New Orleans

San Antonio

0

Nova York

Chicago

Denver

Vale do Silício

Detroit Cleveland

Salt Lake City

Tampa

Golfo do México

Naval Química

Miami

km

Siderúrgica Têxtil

e

As grandes siderúrgicas, como a United States Steel, a maior do país, sediada em Pittsburgh, concentraram-se no estado da Pensilvânia em razão da disponibilidade de carvão, da facilidade de recepção do minério de ferro e da proximidade dos centros consumidores. Apesar do fechamento de fábricas e da transferência de usinas para outros lugares, Pittsburgh ainda é conhecida como a “capital do aço” (localize-a no mapa acima). A região metropolitana de Detroit, no estado de Michigan, foi o grande centro da indústria automobilística. Sua localização em posição central facilitou a recepção de matérias-primas e de peças e a distribuição dos produtos acabados (localize-a no mapa acima). Abrigando fábricas das “três grandes” – General Motors (GM), Ford e Chrysler – e diversas fábricas de autopeças, a cidade tornou-se a “capital do automóvel”. Atualmente, no entanto, enfrenta a falência de algumas indústrias e a saída de outras em busca de menores custos de produção. As grandes montadoras americanas perderam competitividade, principalmente frente aos concorrentes asiáticos, situação agravada pela crise financeira de 2008/2009.

Região industrial

Alamy/Other Images

Adaptado de: CHARLIER, Jacques (Dir.). Atlas du 21 siècle édition 2012. Groningen: Wolters-Noordhoff; Paris: Éditions Nathan, 2011. p. 141.

Siderúrgica da United States Steel, em Pittsburgh (Estados Unidos). Em 2014, segundo a World Steel Association, a empresa produziu 20 milhões de toneladas de aço (15a posição no mundo). Todas as quatorze primeiras eram asiáticas, com destaque para a ArcelorMittal, com produção de 98 milhões de toneladas (sua sede fica em Luxemburgo, mas seu maior acionista é indiano).

A apresentação das empresas que ocorre nesta página foi utilizada com finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir seu consumo. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do tema abordado.

Economias desenvolvidas: a industrialização precursora

171

Banco de imagens/Arquivo da editora

Estados Unidos: indústria

A GM, que por décadas foi a maior montadora do mundo, pediu concordata em 2009. Para não falir, foi estatizada pelo governo, que injetou 50 bilhões de dólares na empresa e passou a controlar 61% de suas ações. Em 2015, o Tesouro dos Estados Unidos tinha vendido toda sua participação na GM. Ainda em 2009, a Chrysler vendeu 60% de suas ações ao Grupo Fiat para evitar a falência. Em 2013, a empresa italiana comprou o restante das ações e se tornou a única proprietária da Chrysler. A Ford, sediada em Dearborn (Michigan), não enfrentou os mesmos problemas de suas concorrentes nacionais. Detroit já não é mais a “capital do automóvel” porque muitas de suas antigas fábricas de carros e autopeças faliram ou se mudaram. A cidade e sua região metropolitana vêm enfrentando o desemprego crescente, o empobrecimento da população e a deterioração urbana. No entanto, não foram apenas as indústrias automobilísticas que enfrentaram problemas de competividade. Como vimos na tabela da página 165, em 2015 os Estados Unidos tinham 128 corporações na lista da revista Fortune, o que correspondia a 25,6% das quinhentas maiores do mundo. Mas, em 2001 chegou a ter 197 empresas nessa lista, 39,4% do total, um recorde. De lá para cá, empresas de países emergentes, sobretudo da China, têm ocupado esse espaço. Diversos outros ramos industriais estão espalhados por inúmeras cidades do Nordeste dos Estados Unidos, a região de maior concentração urbano-industrial do

planeta. Ali, a História mos- Veja indicação do filme trou ser verdadeira a frase: Tucker: um homem e seu sonho, que aborda a “Indústria atrai indústria”. indústria automobilística, Surgiu, assim, um grande na seção Sugestões de leitura, filmes e sites. cinturão industrial, o manufacturing belt, que se estende por várias cidades às margens dos Grandes Lagos, na região dos Apalaches e na costa leste (observe o mapa da página 171). Em virtude da crise de diversos setores presentes no manufacturing belt e da decadência industrial, muitos têm chamado essa região de rust belt (‘cinturão da ferrugem’, em inglês). Vimos no Capítulo 6 que há algumas décadas está ocorrendo nos Estados Unidos um processo de desconcentração industrial. O manufacturing belt chegou a concentrar, no início do século XX, mais de 75% da produção industrial do país, mas hoje ela é inferior a 50%. Uma das causas do aumento do custo da produção na região é o crescimento das cidades do Nordeste, que se agruparam em gigantescas megalópoles, como a Boswash, que se estende de Boston a Washington, passando por Nova York. Novos centros industriais foram construídos no sul e no oeste do país, e centros mais antigos nessas mesmas regiões se expandiram, acarretando uma dispersão industrial. Algumas das cidades norte-americanas que mais têm crescido estão nessas regiões novas. Reveja no mapa das indústrias (página 171) as regiões de expansão industrial ao sul e a oeste do território, detalhadas no texto a seguir.

Bill Pugliano/Getty Images

A apresentação das empresas que ocorre nesta página foi utilizada com finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir seu consumo. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do tema abordado.

Concordata: acordo que uma empresa devedora faz com seus credores para obter prazos maiores para o pagamento de dívidas, evitando assim sua falência.

Sede da GM, um dos maiores símbolos do capitalismo americano, em Detroit, Michigan, em 2015. Fundada em 1908, cresceu incorporando empresas como Cadillac, Pontiac e Chevrolet, até se transformar na maior montadora do mundo; em 2015 tinha sido superada pela Toyota (Japão), Volkswagen e Daimler (Alemanha).

172

Capítulo 7

Megalópole: aglomeração urbana formada pela integração de duas ou mais metrópoles. Ela se forma quando os fluxos de pessoas, capitais, mercadorias, informações e serviços entre duas ou mais metrópoles estão integrados por modernas redes de transporte e de telecomunicação. Pode haver espaços agrícolas entre elas, portanto, não é necessário que todas as cidades estejam conurbadas, fenômeno mais comum nas metrópoles.

Sul: petróleo e corrida espacial

meados do século XIX, quando a exploração desse metal na Serra Nevada (Califórnia) atraiu muita gente;

A industrialização do Sul ganhou impulso no início do século XX, após a descoberta de enormes lençóis petrolíferos na região, principalmente no Texas. Durante a Guerra Fria, o desenvolvimento do programa espacial e de defesa favoreceu a expansão industrial. Foi construída uma fábrica de aviões em Marietta (Geórgia), onde hoje se localiza uma das maiores unidades da Lockheed Martin, empresa do setor aeroespacial. Em Huntsville (Alabama), foi construído um dos centros da Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, e uma fábrica de aviões militares e mísseis da Boeing, a maior indústria aeronáutica do mundo. No Texas, localiza-se o importante Centro Espacial de Houston, sede da Nasa. Na Flórida, em Cabo Canaveral, localiza-se o Centro Espacial John F. Kennedy, base de lançamento de foguetes. No Texas, há também importantes indústrias aeronáuticas, em Fort Worth e San Antonio, e grandes indústrias petrolíferas em Houston, onde se destaca a Exxon Mobil, maior petroleira do país.

• existência de outros minérios, como ferro e cobre,

nas Montanhas Rochosas e na Serra Nevada, e de petróleo e gás natural na bacia da Califórnia;

Eddie Seal/Bloomberg/Getty Images

• disponibilidade de elevado potencial hidrelétrico,

principalmente nos rios Colúmbia e Colorado. Em Seattle, estado de Washington, há uma importante concentração da indústria aeronáutica (sede da Boeing); em Portland, Oregon, de indústrias metalúrgicas, como a de alumínio, entre outras. Mas o estado mais importante do Oeste é a Califórnia, com um parque industrial bastante diversificado, localizado principalmente no eixo São Francisco-Los Angeles-San Diego, a segunda megalópole do país, a San-San (observe o mapa abaixo e reveja o da página 171). No Oeste há setores tradicionais, mas, pelo fato de ter ocorrido uma industrialização relativamente recente, ligada a importantes universidades e centros de pesquisa, é onde se localiza a maioria das indústrias de alta tecnologia dos Estados Unidos, principalmente no tecnopolo do Vale do Silício. Os dados do mapa desta página não possuem data na publicação original.

A megalópole San-San Reno Yuba City Santa Rosa

Banco de imagens/Arquivo da editora

Sacramento Vallejo Stockton

Oakland

São Francisco

Modesto NEVADA

San José Merced Santa Cruz Salinas

Fresno CALIFÓRNIA

Aglomerado de

Visalia San Luís Obispo

5 milhões de habitantes ou mais

Bakersfield

35º N

Santa Bárbara

Refinaria de petróleo no Texas (Estados Unidos), 2016. Omitimos o nome da empresa, pois não é imprescindível para o entendimento do assunto.

Oeste: inovação tecnológica A última região dos Estados Unidos a se industrializar foi o Oeste. Conheça alguns dos fatores que contribuíram para a instalação de indústrias nessa região:

• disponibilidade de mão de obra, que foi se estabe-

lecendo desde a época da “Corrida do Ouro”, em

Los Angeles

Mar de Salton

1 a 5 milhões de habitantes

OCEANO PACÍFICO

500 mil a 1 milhão de habitantes

San Diego Tijuana

250 a 500 mil habitantes

0

100

Tecate

200 Ensenada

km 100 a 250 mil habitantes

MÉXICO

120º O

Adaptado de: CHARLIER, Jacques (Dir.). Atlas du 21e siècle édition 2012. Groningen: Wolters-Noordhoff; Paris: Éditions Nathan, 2011. p. 144.

Economias desenvolvidas: a industrialização precursora

173

A apresentação das empresas que ocorre nesta página tem finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir seu consumo. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do tema abordado.

Principais parques tecnológicos

de obra qualificada e na produção de pesquisa avançada, entre as quais a Universidade da Califórnia em Berkeley O Vale do Silício (Silicon Valley), no norte da Califóre em São Francisco. nia, foi o primeiro parque tecnológico implantado no Graças aos professores dessas universidades, o Vale mundo. Ainda é o mais importante e serve de modelo do Silício tornou-se o principal centro de alta tecnologia para muitos dos que surgiram posteriormente em dido mundo. Também contribuiu para isso a existência de versos países. Abrange as cidades de Palo Alto, San José empreendedores, de capitais de risco para bancar proe Cupertino, entre outras localizadas em torno da Baía jetos inovadores e de um ambiente favorável aos invesde São Francisco. Essa região é chamada de Vale do Silítimentos e à geração de novas empresas. cio porque se baseou nas indústrias de semicondutores, Muitas empresas dos setores de microeletrônica que produzem microchips (ou microprocessadores), cuja e informática, que atualmente estão entre as maiores matéria-prima mais importante é o silício, e na indústria do mundo, foram criadas na região. Por exemplo, Intel de informática, tanto de computadores e periféricos e AMD (semicondutores); Apple e HP (computadores); (hardware) como de sistemas e programas (software). Oracle e Adobe (programas e sistemas), entre outras A Guerra Fria deu um grande impulso para o desenmenos conhecidas. Grandes empresas do setor que volvimento da região em razão da corrida armamentista têm sede em outros lugares dos Estados Unidos, como e aeroespacial. Foram as indústrias eletrônicas do Vale a Microsoft, em Redmond (estado de Washington), do Silício que, por exemplo, forneceram circuitos integrae a IBM, em Nova York (estado de Nova York), também dos para os computadores que guiaram as naves Apollo, têm filiais nessa região. Mesmo corporações cuja série 11 atingiu a Lua. O governo dos Estados Unidos, Shutterstock can/ r e B asiáticas e europeias mantêm cendu além de subsidiar as pesquisas nos laboratórios de Ra tros de pesquisa no local. universidades e empresas, garantia mercado para a produção regional, comprando parte do que era produzido. A criação, em 1951, do Stanford Industrial Park, no campus da universidade de mesmo nome (observe a foto abaixo), teve importante papel no desenvolvimento desse parque tecnológico, pois atraiu indústrias de alta tecnologia. Outras universidades da região tiveram papel crucial na formação de mão

jejim/Shutterstock

A Universidade Stanford, fundada em 1891, é uma das mais importantes dos Estados Unidos, localizada em Palo Alto, Califórnia. Na foto de 2015, vista da Torre Hoover, inaugurada no aniversário de 50 anos da universidade.

174

Chip é uma placa de silício de alta pureza (concentração acima de 99%), na qual são impressos microcircuitos; é o “cérebro” do computador, responsável pelo processamento de dados. É crescente também a incorporação de chips em diversos produtos: automóveis, geladeiras, telefones, etc. Na foto, microprocessador fabricado em 2015.

Reprodução/www.siliconmaps.com

Apesar da diversificação posterior, sobretudo com a biotecnologia, ainda predomina a participação dos setores pioneiros. Importantes empresas que se desenvolveram recentemente em razão da expansão da internet, como Google e Facebook, também têm sede no Vale do Silício. Observe no mapa pictórico.

Observe o mapa Principais empresas do Vale do Silício (Google Maps). Veja indicação na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

A apresentação das empresas e marcas que ocorre nesta página tem finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir seu consumo. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do tema abordado.

Calendário 2015 da Silicon Valley Map.

Como mostra o mapa da página 150, além do Vale do Silício, há diversos outros tecnopolos nos Estados Unidos, com destaque para a região metropolitana de Boston (Massachusetts). Esse parque tecnológico se desenvolveu a partir dos anos 1960 ao longo da Rota 128, autoestrada que contorna a metrópole. Como o Vale do Silício, também está vinculado à indústria bélica e ao setor de informática. Mais recentemente, têm se desenvolvido novos setores de alta tecnologia na região, especialmente em Cambridge e arredores, com destaque para os de biotecnologia (novos remédios e terapias) e de equipamentos médicos. A região de Boston passou por um processo de reconversão industrial: os modernos prédios dos setores ligados à nova economia informacional, muitas

vezes, foram erguidos no lugar de antigas fábricas da era industrial. Diferentemente de outras cidades do Nordeste que passaram a fazer parte do rust belt, a região de Boston transformou-se em tecnopolo porque dispõe do fator mais importante da Revolução Informacional: conhecimento científico-tecnológico avançado. Isso porque conta com a participação de professores e pesquisadores da Universidade de Harvard e do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), duas das instituições de ensino e pesquisa mais conceituadas do mundo. Para saber mais sobre a situação dos Estados Unidos no mundo, consulte o livro Colosso: ascensão e queda do império americano. Veja indicação na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

Economias desenvolvidas: a industrialização precursora

175

3 Alemanha SínteSe hiStórica Quest‹o territorial

Dialogando com hIstórIA

Formação do Estado

-territorial, sob o comando da Prússia, marcado por guerras contra seus vizinhos. 1871 – Final da Guerra Franco-Prussiana: unificação da Alemanha. • Unificação política: torna-se um único Estado e um único mercado. • Integração econômica: instituição de uma moeda única, padronização das leis e criação de um amplo mercado interno, possibilitando a industrialização.



10º L

DINAMARCA DI

Mar do Norte

SUÉCIA

Mar Báltico

HANNOVER

Berlim

PAÍSES BAIXOS

Varsóvia

IMPÉRIO RUSSO

BRANDEBURGO

BÉLGICA Frankfurt 50º N

FRANÇA

IMPÉRIO AUSTRO-HÚNGARO

BAVIERA

Industrialização nos séculos XIX e XX

Viena

• Fim do século XIX: com a economia mais forte

SUÍÇA

Budapeste

do que a do Reino Unido, liderava, com os Estados Prússia em 1861 Estados integrados à Alemanha do Norte em 1867 Unidos, os avanços tecnológicos da Segunda ReEstados integrados ao Império Alemão em 1871 Alsácia e Lorena: territórios franceses integrados ao Império volução Industrial. em 1871 0 140 280 Energia e transporte: jazidas de carvão e transporLimites do Império Alemão proclamado em 1871 ao final da Guerra Franco-Prussiana km te hidroviário possibilitaram às indústrias se conAdaptado de: DUBY, Georges. Atlas histórico mundial. Barcelona: Larousse, 2007. p. 237; centrar na confluência dos rios Ruhr e Reno. LEBRUN, François. Atlas historique. Paris: Hachette, 2000. p. 42. Capitais: uma das principais rotas do comércio desde o fim da Idade Média, concentrou capitais nas mãos de comerMundialização do conflito (1941): os Estados Unidos e a ciantes e banqueiros. União Soviética entraram na guerra contra a Alemanha. Mão de obra: parte da população migrou do campo para Nova derrota militar: o país sofreu perdas humanas e teras cidades e empregou-se como trabalhadora assalariada ritoriais, destruição material e fragmentação política. contribuindo para a ampliação do mercado consumidor.

• •

• •



Divisão político-territorial

Imperialismo tardio e guerras

• •

Unificação tardia: perdeu a corrida colonial e se apropriou de poucos territórios coloniais na África. Expansão imperialista: levou a Alemanha a um enfrentamento com o Reino Unido e a França resultando na Primeira Guerra, da qual saiu derrotada. Os vitoriosos impuseram diversas sanções no Tratado de Versalhes: indenizações financeiras, restrições militares e perdas territoriais. Ascensão nazista: as sanções do Tratado de Versalhes e a Crise de 1929 criaram as condições políticas para a ascensão de Adolf Hitler (1889-1945). Nova expansão territorial: inspirados nas ideias de Ratzel, a Alemanha nazista lançou-se à conquista de seu espaço vital. Início da Segunda Guerra (1939): após anexar a Áustria e a Tchecoslováquia, tropas alemãs invadiram a Polônia, levando o Reino Unido e a França a lhe declarar guerra.

• • • •

176

Capítulo 7

• Tratado de Potsdam (1945): a Alemanha foi partilhada pe-

los países vitoriosos em quatro zonas de ocupação e perdeu territórios para a Polônia e a União Soviética. Divisão político-territorial (1949): criação da República Federal da Alemanha (RFA) e da República Democrática Alemã (RDA).



Confederação: arranjo político-territorial que mantém a independência política das unidades confederadas, mas estabelece uma assembleia composta de representantes de cada uma delas, com o intuito de tomar decisões de interesse comum. Nazista: seguidor do nazismo, movimento político nacionalista, ditatorial, expansionista e racista. Transformou-se em programa do governo alemão em 1933, quando Hitler assumiu o poder. Espaço vital: conceito geopolítico desenvolvido no século XIX pelo geógrafo alemão Friedrich Ratzel (1844-1904), segundo o qual uma sociedade, para manter o equilíbrio entre sua população e os recursos naturais, precisa controlar um território de determinado tamanho que garanta a reprodução de seus habitantes.

Banco de imagens/Arquivo da editora

Alemanha: unificação – 1861-1871

• 1815-1871 – Confederação com 39 unidades políticas. • 1861 – Início do processo de unificação político-

Europa – 1937

Meri dia Gree no de nwic h

a Pol ulo Círc

ISLÂNDIA

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ico Árt

ISLÂNDIA

SUÉCIA

NORUEGA



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FINLÂNDIA SUÉCIA

NORUEGA

RÚSSIA

ALEMANHA

OCEANO ATLÂNTICO LIECHTENSTEIN

LUXEMBURGO SUÍÇA

ar

MONTENEGRO ROMÊNIA



SUÍÇA

sp

io

PORTUGAL ANDORRA

0

ALBÂNIA

ÁFRICA



ÁUSTRIA

1 470

km

UNIÃO SOVIÉTICA

M

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ROMÊNIA IUGOSLÁVIA

ANDORRA

Mar Negro BULGÁRIA

ESPANHA

735

GRÉCIA

Mar Medit errâ neo

1 470

km

Chipre (RUN)

SÉRVIA

735

HUNGRIA

ITÁLIA

IMPÉRIO OTOMANO

GRÉCIA

Mar Medit errâ neo

FRANÇA

PORTUGAL

Mar Negro TURQUIA EUROPEIA BULGÁRIA

POLÔNIA

TC HEC OSLOVÁQUIA LIECHTENSTEIN

LUXEMBURGO

M

ÁUSTRIA-HUNGRIA

ITÁLIA

LITUÂNIA

ALEMANHA

ALEMANHA

BÉLGICA

0

LETÔNIA

M

PAÍSES BAIXOS

BÉLGICA

FRANÇA

Mar do Norte

IRLANDA

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DINAMARCA

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DINAMARCA PAÍSES BAIXOS

OCEANO ATLÂNTICO

REINO UNIDO

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Mar do Norte

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ESTÔNIA

REINO UNIDO

ESPANHA

a Pol ulo Círc

Meri dia Gree no de nwic h



Mapas: Banco de imagens/Arquivo da editora

Europa – 1914

ALBÂNIA

ÁFRICA

TURQUIA

ÁSIA

Rodes Chipre (ITA) (RUN)

Adaptados de: CHARLIER, Jacques (Dir.). Atlas du 21e siècle édition 2012. Groningen: Wolters-Noordhoff; Paris: Éditions Nathan, 2011. p. 49.

Observe nos mapas que a França avançou sobre a fronteira alemã após a Primeira Guerra – esse território compreende Alsácia e Lorena; perceba também que a Alemanha ficou dividida pelo “corredor polonês”.

Alemanha após a Segunda Guerra Mundial 10º L

BERLIM

SUÉCIA URSS

Muro de Berlim (1961)

DINAMARCA Mar Báltico

Bremen Hannover

REPÚBLICA

Britânica Americana

DA

Dresden

POLÔNIA

Saarbrücken

Francesa

Wroclau (Breslau)

Soviética Aeroportos de Berlim Ocidental

Frankfurt Nuremberg

TCHECOSLOVÁQUIA Stuttgart

Limites da Alemanha em 1937 Limite entre as duas Alemanhas Corredores aéreos

ÁUSTRIA

Munique

SUÍÇA

0

145

Territórios sob administração polonesa a partir de 1945

290

LIECHTENSTEIN

km

Território sob administração soviética a partir de 1945 Território do Ruhr sob controle internacional (1949-1952)

Adaptado de: DUBY, Georges. Atlas histórico mundial. Barcelona: Larousse, 2007. p. 299.

• RFA: criada nas zonas americana, britânica e fran-

cesa, com capital em Bonn (Berlim Ocidental, também controlada pelos três países, tornou-se território da RFA). RDA: como resposta, os soviéticos criaram esse novo país em sua zona de ocupação, com capital em Berlim Oriental.



Conflito leste-oeste Alemanha Ocidental: Implantou uma economia de mercado, assentada na propriedade privada, na livre iniciativa e na concorrência, e uma democracia pluripartidária. A Guerra Fria (recebeu 1,4 bilhão de dólares do Plano Marshall) e a entrada na Comunidade Econômica Europeia (atual União Europeia) contribuíram para sua rápida reconstrução.

• •

n Archive

FRANÇA

Zonas de ocupação (1945-1954)

Alemanha Oriental: Implantou uma economia planificada, na qual os meios de produção eram controlados pelo Estado, e uma ditadura de partido único, o Partido Socialista Unificado. Como havia um monopólio econômico por parte do Estado, a produtividade cresceu lentamente e o parque industrial aos poucos se defasou tecnologicamente.

ages/Hulto

LUXEMBURGO

18 km

Berlim

Potsdam

ALEMANHA 50º N

Tempelhof

0

Os corredores aéreos entre Berlim Ocidental e a República Federal da Alemanha foram criados para abastecer a cidade, ult rapassando o bloqueio terrestre imposto pelos soviéticos.

ge/Getty Im

Bonn

Rostock

REPÚBLICA Szczecin zecin DEMOCRÁTICA (Stetin) ALEMÃ

Magdeburgo

Düsseldorf FEDERAL

BÉLGICA Colônia

Berlim Ocidental Gatow

Gdansk (Dantzig)

Berlim Oriental

Fred Rama

PAÍSES BAIXOS

Tegel

Kaliningrado o (Königsberg (Königsberg) g)

Mar do Norte

Kiel Lübeck Hamburgo

Não inserimos escala e orientação nos mapas da Islândia por falta de espaço. A orientação é a mesma do mapa da Europa. A escala é 1 : 72 000 000

• •

Alemanha reunificada:

• Em 1990, as Alemanhas Ocidental

e Oriental se reunificaram política e territorialmente e o novo país seguiu o modelo ocidental.

A foto, de 1o de julho de 1945, mostra Berlim destru ída pela guerra e sob a ocupaç ão soviética. Civis carregando seu s pertences passam em frente a prédio em ruínas e placas de rua s escritas em russo.

Economias desenvolvidas: a industrialização precursora

177

Setores industriais e sua distribuição

Capital

Mar Báltico

Limite interno

SCHLESWIG-HOLSTEIN

Mar do Norte

MECKLEMBURGO-POMERÂNIA

HAMBURGO BREMEN BAIXA-SAXÔNIA

Berlim BRANDEBURGO

PAÍSES BAIXOS

SAXÔNIA-ANHALT

RENÂNIA DO NORTE-VESTFÁLIA

SAXÔNIA

BÉLGICA

TURÍNGIA

HESSEN

50º N LUXEMBURGO

REPÚBLICA TCHECA

RENÂNIA-PALATINADO

SARRE BAVIERA BADEN-WÜRTTEMBERG

FRANÇA

0

85

170

SUÍÇA

km

ÁUSTRIA

10º L

Adaptado de: CHARLIER, Jacques (Dir.). Atlas du 21e siècle édition 2012. Groningen: Wolters-Noordhoff; Paris: Éditions Nathan, 2011. p. 73.

Alemanha: mineração, energia e indústria Mar Báltico Mar do Norte

Bremen

Hamburgo Rio Elb a

POLÔNIA

Hannover

Berlim Brunswick

PAÍSES BAIXOS

Essen Düsseldorf

Dortmund Rio Ruh

Magdeburgo

Leipzig

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Chemnitz

BÉLGICA

Frankfurt

REPÚBLICA TCHECA

o

en

50º N LUXEMBURGO

Nuremberg Mannheim

Saarbrücken Karlsruhe FRANÇA

0

85

Adaptado de: CHARLIER, Jacques (Dir.). Atlas du 21e siècle édition 2012. Groningen: Wolters-Noordhoff; Paris: Éditions Nathan, 2011. p. 73.

178

Capítulo 7

Mineração

Indústrias

Stuttgart D Rio

ú an

bio

Munique

170

km

Os dados dos mapas desta página não possuem data na publicação original.

Dresden

Colônia oR

Para saber mais sobre as transformações político-territoriais consulte o livro Alemanha: da divisão à reunificação e assista ao filme Adeus, Lenin!, que trata das mudanças provocadas na Alemanha Oriental após a queda do Muro de Berlim. Veja orientações na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

POLÔNIA

BERLIM

Ri

As indústrias alemãs foram reconstruídas, em sua maioria, nos mesmos lugares que ocupavam antes da Segunda Guerra. A região de maior concentração continuou sendo a confluência dos rios Ruhr e Reno, pelas mesmas razões do passado: reservas de carvão, rede de transporte, mão de obra e mercado consumidor. Porém, após a guerra, o parque industrial se modernizou rapidamente e houve ganhos significativos de produtividade em relação ao parque industrial britânico e francês. Além disso, antes da guerra, a Alemanha já dispunha de mão de obra qualificada, e maiores investimentos em educação contribuíram para elevar ainda mais a produtividade dos trabalhadores. Como vimos no Capítulo 6, segundo o Índice de desempenho em logística 2014, do Banco Mundial, a logística alemã é a melhor do mundo (reveja o gráfico na página 145). Uma densa e moderna rede de transportes (hidroviários, ferroviários e rodoviários), armazéns e centros de distribuição interliga os principais polos industriais aos maiores portos do país – Hamburgo e Bremen – e ao porto de Roterdã, nos Países Baixos (o segundo mais bem posicionado nesse índice). A produção industrial alemã, apesar de ter havido certa dispersão, ainda está fortemente concentrada no estado da Renânia do NorteVestfália (observe os mapas ao lado). Conforme se pode observar, cidades renanas como Colônia, Essen, Düsseldorf e Dortmund, entre outras, formam uma das maiores concentrações urbano-industriais do mundo.

10º L

Naval

SUÍÇA

Carvão

Aeronáutica

Química

Gás natural

Alta tecnologia

Refinaria de petróleo

Linhito

Automobilística

Siderúrgica

Petróleo

Eletrônica

Têxtil

Potássio

Metalúrgica

Região industrial

ÁUSTRIA

Mapas: Banco de imagens/Arquivo da editora

Alemanha: estados

• Stuttgart (Baden-Württemberg): apresenta impor-

tante concentração de indústrias mecânicas, principalmente automobilística; nessa cidade está também sediado o Grupo Daimler, segunda maior corporação da Alemanha;

• Hamburgo (Hamburgo): localizada na foz do rio Elba,

é o maior porto da Alemanha e concentra, entre outras, importantes indústrias navais, como a ThyssenKrupp Marine Systems, e companhias de navegação, como a Hamburg Süd;

• Wolfsburg (Baixa Saxônia): localizada próxima à an-

tiga fronteira com a ex-Alemanha Oriental, a cidade abriga a sede do Grupo Volkswagen, a maior corporação alemã (8a da lista da Fortune Global 500 2015) e a maior produtora mundial de automóveis (superou a japonesa Toyota). Como a Alemanha é um país que está na vanguarda tecnológica em diversos setores, há muitos tecnopolos em seu território. A seguir veremos os mais importantes.

Em 1886, Gottlieb Daimler (1834-1900), fundador do grupo que leva seu sobrenome, e Wilhelm Maybach (1846-1929) construíram o primeiro automóvel do mundo ao adaptarem um motor de combustão interna, movido a gasolina, a uma carruagem. Na foto de 1887, Daimler, com seu filho ao volante, passeia pelas ruas de Stuttgart nesse carro pioneiro. Compare-o com um modelo Mercedes-Benz lançado em 2015 e perceba a evolução da indústria automobilística. A apresentação das empresas e marcas que ocorre nesta página tem finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir seu consumo. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do tema abordado.

sippakorn/Shutterstock

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É possível perceber que existem praticamente todos os ramos industriais na região do Ruhr, mas alguns merecem destaque, como o siderúrgico, o químico e o eletroeletrônico. A reconstrução e a diversificação dos konzern (trustes), constituídos desde o fim do século XIX, possibilitaram a formação dos grandes conglomerados que atuam em vários setores. Por exemplo, o grupo ThyssenKrupp, com sede em Düsseldorf, atua nos setores siderúrgico, metalúrgico, mecânico, naval, de construção civil, entre outros, produzindo aço, máquinas industriais, elevadores, autopeças, submarinos, etc. Embora haja maior concentração nas cidades do estado da Renânia do Norte-Vestfália, o parque industrial alemão está espalhado pelo território, e algumas cidades de outros estados merecem atenção especial. Observe os mapas da página anterior e leia, a seguir, a descrição dos principais polos industriais.

Economias desenvolvidas: a industrialização precursora

179

Principais parques tecnológicos

Indústrias do leste

Munique (Baviera) é um centro industrial antigo que, com o tempo, se transformou no mais importante parque tecnológico da Alemanha, onde se concentram empresas dos setores eletrônico, automobilístico, biotecnológico e aeroespacial. Implantado a partir dos anos 1970, abriga doze importantes universidades, como a Universidade Técnica de Munique, e renomados centros de pesquisa, entre os quais treze institutos dos oitenta controlados pela Sociedade Max Planck, principal instituição de investigação científica da Alemanha. Aí também se localizam as principais indústrias alemãs do setor eletrônico, como a Siemens e a Robert Bosch, além de filiais de grandes empresas de outros países. Outro importante tecnopolo alemão é o Chempark (parque químico) de Leverkusen, no estado da Renânia do Norte-Vestfália. Nele se concentram mais de setenta empresas do setor químico-farmacêutico que empregam cerca de 30 mil trabalhadores e fabricam mais de 5 mil diferentes produtos. Elas atuam em pesquisa e desenvolvimento, produção industrial e prestação de serviços, entre as quais se destaca a Bayer, um dos maiores conglomerados mundiais desse ramo.

As indústrias da antiga Alemanha Oriental estão localizadas principalmente em torno das cidades de Leipzig, Dresden e da antiga Berlim Oriental. Elas passaram por uma profunda crise após a reunificação política e muitas faliram porque não conseguiram concorrer com as indústrias ocidentais. O símbolo mais emblemático da defasagem tecnológica e da baixa competitividade das indústrias do leste é o Trabant, carro que era fabricado na antiga RDA. Após a abertura da fronteira, muitos alemães orientais viajaram com seus Trabants à RFA, território dos Mercedes-Benz, BMW e Audi, entre os mais conceituados carros do mundo. Resultado: muitos Trabants foram abandonados por seus proprietários, que já não queriam os produtos tecnologicamente defasados que eles mesmos fabricavam. Na economia planificada da Alemanha Oriental havia pleno emprego, porque o Estado era o único empregador e as empresas, estatais, não se baseavam na concorrência. Após a reunificação, muitas delas foram compradas por empresas ocidentais. Seus novos administradores, para enxugar o quadro de funcionários, demitiram trabalhadores, o que elevou os índices de desemprego e agravou os problemas sociais.

Navio cargueiro trafega no rio Reno, próximo a outro importante parque tecnológico, o Chempark de Krefeld-Uerdingen, no estado da Renânia do Norte-Vestfália (Alemanha), em 2015. No país há outros dois parques tecnológicos especializados no setor químico, ambos também localizados nesse estado.

Patrik Stollarz/Agência France-Presse

180

Peter Turnley/Corbis/Latinstock

Após a reunificação, para impedir que se agravassem as desigualdades socioeconômicas, o governo despendeu vultosos recursos para modernizar a infraestrutura da ex-RDA.

Ulrich Baumgarten/Getty Images

Na foto, um Trabant circulando por Berlim Oriental pouco antes da queda do Muro, em 1989. Na atualidade esses carros são cultuados como símbolo da era comunista.

Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2008 a Alemanha exportou 1,462 trilhão de dólares, mas em 2010 o volume das exportações caiu para 1,269 trilhão de dólares (o principal mercado dos produtos alemães são os países da União Europeia, onde então a crise era mais grave). Naquele ano, o país perdeu para a China a posição de maior exportador do mundo. Em 2014 a Alemanha recuperou um pouco suas exportações, que atingiram 1,508 trilhão de dólares, mas perdeu a segunda posição mundial para os Estados Unidos (veja a tabela dos maiores exportadores na página 253). Na pauta de exportações alemãs, predominam produtos industriais de alto valor agregado, portanto, muito valorizados. De acordo com o Relatório de desenvolvimento industrial 2016, da Unido, em 2013, 88% das exportações do país eram de bens industrializados, dos quais 73%, produtos de média e alta tecnologia. Quando a crise for superada e o crescimento econômico for retomado na União Europeia, a Alemanha deverá ampliar suas exportações.

07_F041_2GGB18S Pesquisar foto recente de produção de medicamento em laboratório da Bayer na Alemanha.

Entre os setores de alta tecnologia nos quais a Alemanha se destaca está a indústria químico-farmacêutica. Na foto de 2014, fábrica de remédios, em Darmstadt (Alemanha). Omitimos o nome da empresa, pois não é imprescindível para o entendimento do assunto estudado. Economias desenvolvidas: a industrialização precursora

181

4 Japão

Os dados do mapa desta página não possuem data na publicação original.

Limitações geográficas Japão: terremotos e vulcões

O

140º L

RÚSSIA R Placa Norte-Americana Ilha Hokkaido

CHINA

86

COREIA DO NORTE 40º N

Xogunato: regime militar que vigorou no Japão a partir do século XII no qual o poder estava nas mãos dos xoguns (‘comandantes militares’, em japonês). Essa forma de organização do poder durou até 1867, quando entrou em colapso e deu lugar ao império, restaurado no ano seguinte. O Japão é um país parlamentarista e o imperador é o chefe de Estado e símbolo da unidade nacional.

Placa Euro-Asiática

Mar do Leste

Ilha Honshu 96

COREIA DO SUL Tóquio

Ilha Shikoku

OCEANO PACÍFICO Placa do Pacífico

Ilha Kyushu 42

Os europeus e, particularmente, os britânicos, que estenderam seu império à Índia e à China, não forçaram a abertura do Japão e sua entrada no país. Até então, o Japão tinha muito pouco a oferecer às potências imperialistas, por isso não despertou o interesse dos europeus.

Entenda por quê O Japão é um país pequeno, formado por montanhas e estreitas planícies, com poucas terras agricultáveis, a maioria situada na zona temperada, portanto, não oferecia condições para o cultivo dos produtos tropicais. Localizado no Círculo de Fogo do Pacífico, numa zona de contato de três placas tectônicas, sua estrutura geológica é formada por uma combinação de dobramentos e vulcanismo. Isso explica sua grande instabilidade tectônica (veja o mapa acima, à direita), além de um subsolo muito pobre em minérios e combustíveis fósseis. No fim do século XIX, quando os Estados Unidos emergiram como potência e se lançaram em busca de pontos estratégicos no oceano Pacífico, o Japão se tornou um país interessante. Para não ficarem dependentes, os japoneses empenharam-se em seu processo de industrialização, por meio da intervenção do Estado na economia e do militarismo. Para isso era fundamental dominarem territórios na Ásia que pudessem viabilizar sua expansão econômica; o Japão também buscava seu “espaço vital”. 182

Placa das Filipinas 55

0

235

470

km

42

Epicentros de tremores graves (iguais ou superiores ao grau 6 da escala Richter)

Limite das placas tectônicas Deslocamento das placas, em milímetros por ano Vulcão Região de tremores frequentes (inferiores ao grau 6 da escala Richter)

Anterior a 1600 1600 a 1925 Após 1925

Adaptado de: CHARLIER, Jacques (Dir.). Atlas du 21e siècle édition 2012. Groningen: Wolters-Noordhoff; Paris: Éditions Nathan, 2011. p. 119.

A área do território japonês é de 378 mil quilômetros quadrados, isso corresponde aos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina somados.

As montanhas limitam as possibilidades de ocupação do território japonês. Na foto de 2015, cidade de Fujiyoshida com o monte Fuji ao fundo.

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Banco de imagens/Arquivo da editora

primeiro contato entre japoneses e europeus ocorreu no início do século XVI, com a chegada dos portugueses, mas, com a ascensão do xogunato Tokugawa (1603) os estrangeiros foram proibidos de entrar e os nacionais, de sair. Em 1853, quando uma esquadra da marinha americana aportou no Japão, fato que marcou o fim desse período de isolamento, encontrou um país defasado econômica e tecnologicamente.

Os fatores da industrialização

Como consequência dessa política modernizante, o Japão passou por um acelerado processo de industrialização. No entanto, o país enfrentava problemas estruturais graves: escassez crônica de matérias-primas e de energia e limitação do mercado interno, o que levou o império japonês a se militarizar e se aventurar em busca de territórios na Ásia e no Pacífico. A expansão territorial iniciou-se com a vitória na Guerra Sino-Japonesa (1894-1895), que garantiu a ocupação de Taiwan. Em 1910 o Japão anexou a Coreia e, em 1931, ocupou a Manchúria, onde instituiu Manchukuo, um Estado fantoche sob o governo do último imperador chinês, Pu Yi. Com o objetivo de conquistar novos territórios, em 1937 o Japão iniciou um conflito com a China, que se estendeu até a Segunda Guerra. Como mostra o mapa a seguir, essa conflagração mundial marcou a fase de maior expansão territorial nipônica, quando ocupou parte do Sudeste Asiático e diversas ilhas do Pacífico. Tal política expansionista, porém, levou o país a ser derrotado na guerra e à sua quase total destruição. Em 1941, os japoneses realizaram um ataque-surpresa à base naval de Pearl Harbor, Havaí (Estados Unidos). Esse ato precipitou a entrada dos americanos na guerra, o que acabou levando os japoneses à derrota. Após os Estados Unidos lançarem bombas atômicas sobre Hiroxima e Nagasáqui, em 6 e 9 de agosto de 1945, respectivamente, o Japão foi forçado a se render.

O processo de industrialização e de modernização do Japão teve início a partir de 1868, ano que marcou o fim do xogunato Tokugawa e a restauração do império, com a ascensão do imperador Mitsuhito. Esse novo reinado, conhecido como Era Meiji (do japonês, ‘governo ilustrado’), estendeu-se até 1912 e se caracterizou por políticas modernizantes: construção de infraestrutura; investimentos em educação, que foi universalizada e voltada à qualificação de mão de obra; abertura à tecnologia e aos produtos estrangeiros. A Constituição de 1889 estabeleceu o imperador como chefe “sagrado e inviolável” do Estado e também a Dieta Nacional (Parlamento). O xintoísmo (do japonês shinto, ‘caminho dos deuses’) foi declarado religião oficial do Estado e teve um papel cultural fundamental na vida dos japoneses. O governo também estimulou o desenvolvimento de grandes conglomerados, conhecidos como zaibatsus (em japonês: zai, ‘riqueza’; batsu, ‘grupo’). Esses grupos econômicos surgiram de tradicionais e poderosos clãs de comerciantes e proprietários de terras, como Mitsubishi, Mitsui, Sumitomo e Yasuda, entre outros menores. Com o tempo, esses grupos passaram a atuar em praticamente todos os ramos industriais, além do comércio e das finanças. Foram incorporando empresas menores e dominando cada vez mais a economia do país (os “quatro grandes” zaibatsus chegaram a controlar metade de alguns setores industriais).

Império japonês em 1930 Ilha Sacalina

URSS MANCHUKUO

Pequim

40º N

Ocupado ou controlado em agosto de 1942 Estado-satélite (1932)

Mar do

OCEANO PACÍFICO

Arquipélago Nanquim de Okinawa Xangai Mar da Fuzhou China Oriental Amoy Iwo Jima Cantão FORMOSA

ata qu ea

Hong Kong (Taiwan) Hanói Ilha Hainan Rangun

FILIPINAS Ilha Guam

nahin a l

SIÃO INDOCHINA FRANCESA

Sião: aliado do Japão, ocupado em dezembro de 1941

Tóquio

Mar Amarelo

BIRMÂNIA

Bangcoc

Ocupado ou controlado em agosto de 1940

Attu Kiska

COREIA Japão JAPÃO

MONGÓLIA CHINA

as Ilh ilas r Ku

Expansão japonesa

Ilhasas Aleut

Extensão máxima do Japão em agosto de 1942

Pea rl

Harb o

Pearl Harbor

r

Ilhas Havaí (EUA)

Mandato japonês a partir de 1920 Ilhas Marshall Ilhas Carolinas

Mar das Filipinas C da o M a r eri di Mar de M Ilha Célebes Cingapura Célebes Ilha Ilhas Molucas (atual Bornéu Ilha Sulawesi) Sumatra Índ ias H olandes Ilha as Ilha Java Nova Guiné

Ilhas Gilbert

Ilhas Salomão

0

OCEANO ÍNDICO

Guadalcanal

AUSTRÁLIA

140º L

Banco de imagens/Arquivo da editora

Japão: expansão – 1930-1942

915 km

Ilhas Fiji

1 830

Adaptado de: CHALIAND, Gerard; RAGEAU, Jean-Pierre. Atlas du millénaire: la mort des empires 1900-2015. Paris: Hachette, 1998. p. 149.

Economias desenvolvidas: a industrialização precursora

183

Reconstrução após a Segunda Guerra

Veja indicação do filme Bem-vindo, Mr. MacDonald, que critica a influência cultural norte-americana no Japão, na seção Sugestões de leitura, filmes e sites. Keystone/Getty Images

Durante a ocupação norte-americana (1945-1952) foram impostas reformas ao país com o objetivo de modernizá-lo do ponto de vista político e econômico. Em 1947, foi aprovada uma lei antitruste, o que levou à dissolução dos zaibatsus. Com isso, os americanos pretendiam enfraquecer o poder dos grandes grupos e estimular a concorrência na economia japonesa. A Constituição, redigida e imposta pelos ocupantes em 1947, encerrou sua fase militarista ao proibir a intervenção externa do exército japonês, que foi transformado em força de autodefesa. A proteção do território nipônico, até mesmo de ataques nucleares, ficou a cargo das forças armadas dos Estados Unidos, com o qual o Japão assinou um tratado de defesa mútua. A Constituição também garantiu a liberdade de culto e estabeleceu a separação entre Estado e religião: o xintoísmo deixou de ser a religião oficial e o ensino público passou a ser laico.

A independência política e a soberania foram restabelecidas em 1952, mas o imperador deixou de ser considerado divindade e passou a colaborar com as reformas. O imperador Hiroito permaneceu no poder de 1926 até sua morte, em 1989 – período denominado Era Showa (do japonês, 'paz brilhante') –, quando foi substituído por seu filho Akihito, atual imperador do Japão (em 2015). A recuperação econômica japonesa após a Segunda Guerra foi rápida (reveja o gráfico na página 165). Na década de 1960, o país já tinha conquistado o terceiro lugar na economia mundial e atingiu o segundo na década de 1980 (posição que só perdeu para a China em 2010). Como se pode observar no gráfico da página 165, até o fim dos anos 1980 o Japão foi a economia que mais cresceu; entretanto, desde a década de 1990 vem apresentando um crescimento muito baixo. Que fatores explicam as altas taxas de crescimento iniciais e, mais recentemente, as baixas?

Vista aérea de uma área industrial de Tóquio em 13 de setembro de 1945. Essa imagem da capital japonesa, destruída na Segunda Guerra, dá a exata medida da impressionante recuperação do país. O Japão moderno e competitivo emergiu literalmente dos escombros da guerra.

184

Capítulo 7

Além das intervenções modernizantes, os Estados Unidos elegeram o Japão como o principal ponto de apoio asiático na luta contra o comunismo sino-soviético, estratégia que se fortaleceu, sobretudo, após a Revolução Chinesa de 1949. Assim, o Japão passou a se beneficiar da ajuda financeira dos Estados Unidos, fundamental para a recuperação de sua economia. Diversos outros fatores foram importantes para a rápida recuperação econômica do país e seus crescentes ganhos de produtividade. Veja o esquema a seguir.

Kaizen: preceito japonês (kai, ‘mudar’; zen, ‘para melhor’) que orienta a busca permanente de melhoria na vida em geral; aplicado ao sistema produtivo, persegue o aperfeiçoamento contínuo. af8images/Shutterstock

Japão: fatores que possibilitaram a recuperação econômica e a retomada da produtividade 2 1

Disponibilidade de mão de obra relativamente barata, disciplinada e qualificada.

Elevados investimentos estatais em educação, que melhoraram a qualificação da mão de obra e, junto à iniciativa privada, em pesquisa e desenvolvimento tecnológico.

3

Aumento da competitividade das empresas como resultado da reconstrução da infraestrutura e dos conglomerados em bases mais modernas.

4

Introdução de novos métodos organizacionais nas empresas, como o toyotismo, orientado pelo lema kaizen: “Hoje melhor do que ontem, amanhã melhor do que hoje.”

5

Desmilitarização do país e de seu parque industrial, que permitiu investimentos nas indústrias civis de bens intermediários e de capital.

Trem-bala atravessa Tóquio (Japão), em 2015.

Após a Segunda Guerra, em substituição aos zaibatsus, que tinham uma holding que controlava todas as empresas do grupo (ou seja, possuíam uma “cabeça”), as companhias japonesas reorganizaram-se formando os keiretsus (do japonês, ‘união sem cabeça’). Essa palavra define bem as redes de empresas integradas que dominam a economia japonesa. As empresas que as formam são independentes, embora muitas vezes uma possua parte das ações da outra e vice-versa. Um keiretsu geralmente se articula em torno de algum grande banco que dá suporte financeiro às empresas da rede. Atualmente os grandes grupos japoneses – muitos deles antigos zaibatsus, como Mitsubishi, Mitsui e Sumitomo – se organizam como keiretsu.

É importante destacar que até os anos 1970 a principal vantagem apresentada pelo Japão sobre os concorrentes da Europa ocidental e da América do Norte era o custo baixo da mão de obra (observe a tabela a seguir). A competitividade até então esteve assentada em grande medida na superexploração da força de trabalho. Porém, com o passar do tempo, os salários foram aumentando em decorrência da elevação da produtividade resultante dos avanços tecnológicos (robotização) e organizacionais (toyotismo) incorporados ao processo de produção. Na década de 1990, os trabalhadores japoneses alcançaram rendimentos entre os mais altos do mundo, mas desde então o baixo crescimento econômico manteve os salários estagnados. Economias desenvolvidas: a industrialização precursora

185

Jorge Rosenberg/Arquivo da editora

Consulte o Atlas do Japão (eletrônico). Veja orientações na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

O “milagre japonês” estendeu-se do fim da Segunda Guerra até os anos 1980, quando o país atingiu a segunda posição entre as maiores economias do mundo. Um dos fatores que mais contribuiu para isso foi a importância dada pelos japoneses à educação de suas crianças e adolescentes. Na foto, estudantes caminham em rua de Tóquio em 1988.

Principais potências econômicas: custos* da mão de obra industrial – 1975-2013 (dólares por hora) País

1975

1985

1995

2005

2013

Alemanha

5,16

7,85

26,17

38,17

48,98

França

4,72

7,85

20,02

32,67

42,85

Estados Unidos

6,19

12,76

17,24

30,13

36,34

Reino Unido

3,25

6,05

13,39

29,69

31,00

Japão

2,95

6,24

23,34

25,23

29,13

Adaptado de: U. S. DEPARTMENT OF LABOR. Bureau of Labor Statistics. International Comparisons Hourly Compensation Costs in Manufacturing, 1975-2009. Disponível em: ; THE CONFERENCE BOARD. International Comparisons Hourly Compensation Costs in Manufacturing, 1996-2013. Disponível em: . Acessos em: 23 set. 2015.

* Inclui o salário recebido pelo trabalhador, benefícios sociais – previdência social, assistência médica, auxílio-refeição, etc. – e impostos. Não há dados para a China.

Apesar da escassez de matérias-primas e de fontes de energia, o Japão se transformou em uma potência industrial. Seu território contém pouquíssimas jazidas de minérios e as reservas de combustíveis fósseis são irrelevantes. Com isso, o país se tornou um dos maiores importadores de recursos naturais do mundo. Observe o gráfico ao lado. Segundo o BP Statistical Review of World Energy, em 2014 o Japão produziu 700 mil toneladas de carvão mineral para um consumo de 127 milhões de toneladas. Sua produção equivale a apenas 0,5% do consumo, obrigando-o a importar praticamente 100% do carvão que necessita, principalmente para a siderurgia. Conforme dados do The World Factbook, em 2013 o país produziu 18 mil barris de petróleo diários (76o produtor mundial) para um consumo de 4,5 milhões de barris/dia (3o consumidor mundial). Sua produção equivale a apenas 0,4% do consumo interno, tornando-o o terceiro maior importador mundial de petróleo. O Japão importa 100% do ferro que consome e o mesmo ocorre com diversos outros minérios. No entanto, 186

Capítulo 7

destaca-se como produtor e exportador de aço. De acordo com a World Steel Association, em 2014 o país foi o segundo produtor mundial de aço, com 111 milhões de toneladas (o primeiro foi a China, com 823 milhões de toneladas). Observe no mapa da página a seguir a origem de seus fornecedores. Japão: composição das importações – 2014 Produtos industrializados

Combustíveis fósseis

31,9%

50,0%

Alimentos

8,4%

Minérios

Outros Total das Importações: 822 bilhões de dólares

7,1%

1,3%

Matérias-primas agrícolas

1,3%

Adaptado de: THE WORLD BANK. World Development Indicators 2015. Washington, D.C., 2015. Disponível em: . Acesso em: 26 nov. 2015.

A. Robson/Arquivo da editora

Carência de recursos naturais

Os dados do mapa desta página não possuem data na publicação original. OCEANO GLACIAL ÁRTICO



Banco de imagens/Arquivo da editora

Mundo: fluxo de petróleo, carvão e minério de ferro

Círculo Polar Ártico RÚSSIA

ESTADOS UNIDOS

JAPÃO

CHINA IRAQUE KUWAIT IRÃ EMIRADOS EGITO CATAR ÁRABES UNIDOS OMÃ ÍNDIA ARÁBIA SAUDITA

Trópico de Câncer

OCEANO PACÍFICO

MALÁSIA

Equador OCEANO PACÍFICO

BRASIL

OCEANO ATLÂNTICO



INDONÉSIA

OCEANO ÍNDICO

Trópico de Capricórnio AUSTRÁLIA

CHILE ÁFRICA DO SUL

Petróleo Círculo Polar Antártico Carvão

OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO 0

Ferro

2 140

4 280

km

Adaptado de: CHARLIER, Jacques (Dir.). Atlas du 21e siècle édition 2012. Groningen: Wolters-Noordhoff; Paris: Éditions Nathan, 2011. p. 193-194.

Setores industriais e sua distribuição O Japão é um país muito industrializado e produtor de uma enorme variedade de bens. Os bens intermediários, de capital e especialmente os de consumo de maior valor agregado, como os que aparecem nas fotos a seguir, são predominantes em suas vendas ao exterior. De acordo com o Relatório de desenvolvimento industrial 2016, em 2013, 92% de sua pauta de exportações era composta de bens industrializados, dos quais 78% eram produtos de média e alta tecnologia. Especialmente a partir dos anos 1980, os produtos “made in Japan” ganharam credibilidade em razão do preço competitivo e da qualidade. A distribuição das indústrias no território japonês foi condicionada, também pela dependência em relação ao exterior, tanto para exportar como para importar, somada ao fato de o país ser insular e montanhoso. A insularidade e a dependência de produtos primários importados favoreceram

a indústria naval, uma das mais importantes e estratégicas do país. O governo incentivou o seu desenvolvimento protegendo o mercado interno e assegurando encomendas para mantê-la funcionando. Com o tempo, os investimentos em tecnologia transformaram a indústria naval japonesa na maior e mais competitiva do mundo: em meados dos anos 1980, ela chegou a responder por quase 60% das encomendas internacionais.

Simon Dawson /Bloomberg/ Getty Images

Darren Brode/Shutterstock

Omitimos o nome das empresas e das marcas presentes na iconografia desta página, pois não é imprescindível para o entendimento do assunto estudado.

Bens de alto valor agregado, como tablets, automóveis, motocicletas e videogames, produzidos por empresas japonesas estão espalhados por todos os cantos do mundo.

Tofud e

vil/Sh

utters

tock

charnsitr/S

hutterstoc k

Economias desenvolvidas: a industrialização precursora

187

No sudeste da ilha Honshu, se situa a segunda aglomeração urbano-industrial do mundo e, no eixo Tóquio-Osaka, o trecho mais importante da megalópole japonesa. Esse cinturão industrial concentra cerca de 80% da produção do país, e as regiões de Tóquio e Osaka, sozinhas, são responsáveis por cerca da metade desse total. Japão: indústria

Os dados dos mapas desta página não possuem data na publicação original. 140º L

RÚSSIA RÚ

Ilha Hokkaido Sapporo CHINA Muroran

GongTo/Shutterstock

COREIA DO NORTE

Banco de imagens/Arquivo da editora

Com o crescimento da concorrência, o Japão perdeu terreno para seus vizinhos, que têm custos de produção mais baixos. Segundo a Associação de Construtores Navais do Japão, em 2014 a China foi responsável por 39% das encomendas mundiais de novos navios, a Coreia do Sul, por 30%, e o Japão, por 23%. A maior parte do parque industrial japonês situa-se próximo aos grandes portos, nas estreitas planícies litorâneas, onde, além da facilidade de transporte, historicamente a população se concentrou em razão da possibilidade de praticar a agricultura. Com a industrialização, a população foi se instalando em torno dessas cidades portuárias, principalmente na costa do Pacífico, onde hoje se localizam as maiores concentrações urbano-industriais do país, como mostra o mapa ao lado.

40º N

Ilha Honshu

Mar do Leste

Sendai Niigata COREIA DO SUL

Fukui

Hitachi

Toyama

Cidade da Ciência

Tóquio de Tsukuba Kobe Kyoto Nagoya Yokohama Okayama Hiroxima Osaka Kitakyushu Cidade da Ciência

de Kansai

Omuta

Ilha Shikoku

Oita

OCEANO PACÍFICO

Ilha Kyushu Região industrial

0

Indústrias de alta tecnologia

A capital japonesa é a maior aglomeração urbana do mundo e importante cidade global. Na foto, distrito de Shibuya, Tóquio, em 2015.

215

430

km

Adaptado de: CHARLIER, Jacques (Dir.). Atlas du 21e siècle édition 2012. Groningen: Wolters-Noordhoff; Paris: Éditions Nathan, 2011. p. 120.

Megalópole japonesa: transporte e indústria Nikko

Trem de alta velocidade Outras ferrovias Autoestradas Aeroportos internacionais Principais portos

Centro de indústria pesada (siderurgia, tratamento de metais, química de base) Centro de indústria diferenciada (metalurgia, construções mecânicas, produtos químicos) Centro de indústria leve

Toyama Nagano

Kamioka Fukui

Região industrial

35º N

Mar do Leste

Lago Biwa

Fukuchiyama

Hiroxima

Mihara

Yamaguchi Hofu

to de trei Es

Oita

Saganoseki

Uwajima

Tsu

Matsusaka

Ba ía

Tse

Tokushima

Península de Kii

Hitachi

Kiryu

Ashikaga

Mito Oyama

Kumagaya Kawagoe Tóquio

Nakatsugawa

Seto Nagoya Toyota Handa Okazaki

Kashima

Hachioji Kofu

Sagamihara Yokohama

Chiba

Choshi

Kisarazu

Fujisawa Numazu Baía de Fuji Shimizu Sagomi Shizuoka Baía de

Surugo Hamamatsu Hamaoka

d’I s

e

Wakayama

Kii

SHIKOKU Kochi

Ikata

Nara

Baía de Osaka

o de

Mar de Suo

Bu n

KYUSHU

Nithama

Kyoto O Osaka aka Sakai

Takamatsu

Mar Interior

Matsuyama

Ube

Beppu

Fukayama Sakaide

Otsu Yokkaichi

t Estrei

Iwakuni Imabari Shimonoseki

Mar de Mizushima Mizu Harima

Seki Nagahama Gifu

Obama

goku Chu Tsuyama de Himeji ula s n ní Pe Okayama Kurashiki Kakogawa

Matsumoto Okaya

HONSHU Tsuruga

Mihama Maizuru

Tottori

Yonago

Utsunomiya Ueda Maebashi Takasaki

Takayama

Baía de Wakasa

Matsue

Omachi

Kanazawa Komatsu

OCEANO PACÍFICO Owase

Gobo Tanabe

Shingu

Baía de Tosa

Nakamura

0

50

100

go

km

Adaptado de: CHARLIER, Jacques (Dir.). Atlas du 21e siècle édition 2012. Groningen: Wolters-Noordhoff; Paris: Éditions Nathan, 2011. p. 121.

188

Capítulo 7

Banco de imagens/Arquivo da editora

Joban

135º L

Transporte

Indústria

Yoshikazu

Tsu no /AF

P

O Japão, ao lado dos Estados Unidos e dos principais países da União Europeia, é o líder em novas tecnologias na atual Revolução Informacional. O país abriga diversos centros de pesquisa e inúmeras indústrias de alta tecnologia, concentrados principalmente nas duas mais importantes cidades da ciência, como os japoneses denominam seus parques tecnológicos: Tsukuba e Kansai. A Cidade da Ciência de Tsukuba é o principal tecnopolo do país e um dos mais importantes do mundo. Sua implantação começou em 1963, cinco anos depois foi concluído o primeiro instituto de pesquisa, em 1973, foi criada a Universidade de Tsukuba e ao longo dos anos recebeu diversas instituições científicas. Em 2015 funcionavam nesse parque tecnológico mais de 300 instituições de pesquisa, entre públicas e privadas, universidades e laboratórios de empresas, nos quais trabalhavam mais de 20 mil pesquisadores. A Universidade de Tsukuba, a Agência de Exploração Aeroespacial do Japão e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Industrial Avançada são as instituições que se destacam.

Ropits (Robot for personal intelligent transport system) é testado na Cidade da Ciência de Tsukuba (Japão), em 2014. Esse meio de transporte individual pode ser controlado por joystick.

A Cidade da Ciência de Kansai abrange os municípios de Kyoto, Osaka e Nara. Trata-se da segunda região mais industrializada do Japão, e sua implantação teve início nos anos 1980. Porém, diferentemente de Tsukuba, que desde o início foi um empreendimento majoritariamente estatal, em Kansai predominam laboratórios de empresas privadas, como a Panasonic e a Canon. Há também importantes universidades e centros de pesquisa públicos e privados geradores de tecnologias inovadoras: Universidade de Osaka, Instituto de Ciência e Tecnologia de Nara, Instituto Internacional de Pesquisas Avançadas em Telecomunicações em Kyoto, entre outros.

Um dos mais importantes setores de alta tecnologia em que o Japão é líder mundial, e que pressupõe o domínio da microeletrônica e da mecânica, é a robótica. A utilização de robôs, sobretudo na indústria automobilística, foi um dos principais fatores que permitiram aumentar a produtividade e a competitividade do parque industrial japonês. Em 2015, havia dezenas de empresas produzindo robôs industriais, tanto para o mercado interno como para exportação. Apesar de o Japão manter a liderança da produção e utilização de robôs industriais, a crise de 2008/2009 atingiu fortemente sua economia e levou a uma diminuição dos estoques em operação. Em 2008, 34% dos robôs industriais em funcionamento no mundo operavam em fábricas japonesas, mas em 2014 esse percentual se reduziu para 21%.

Mundo: maiores estoques de robôs industriais em operação (mil unidades) País/região

2008

2010

2012

2014

Japão

355,6

307,7

310,5

306,7

América do Norte*

168,5

173,2

198,0

237,4

China

31,8

52,3

96,9

182,3

Coreia do Sul

76,9

101,1

138,9

175,6

Alemanha

144,8

148,3

162,0

175,2

1 035,7

1 059,2

1 235,4

1 467,9

Mundo

Adaptado de: IFR STATISTICAL DEPARTMENT. World Robotics 2012. Disponível em: . Acesso em: 28 out. 2012; IFR STATISTICAL DEPARTMENT. World Robotics 2014. Disponível em: . Acesso em: 23 set. 2015. * Estados Unidos, Canadá e México.

Os robôs não são instalados apenas na indústria, estão cada vez mais sendo usados nos serviços e em residências. Robô humanoide faz demonstração da linguagem dos sinais em feira de equipamentos eletrônicos em Tóquio (Japão), em 2014. Yoshikazu Tsuno/Agência France-Presse

Principais parques tecnológicos

189

Crises econômicas e perda de espaço na economia mundial O grande sucesso econômico do Japão resultou de uma eficiente combinação de livre mercado com planejamento estatal. Entretanto, no início dos anos 1990, a economia japonesa desacelerou e entrou em um período de estagnação. O grande acúmulo de riquezas no país levou os agentes econômicos a uma crescente especulação com ações, o que provocou uma enorme alta na Bolsa de Valores de Tóquio. Os bancos japoneses, que na época chegaram a ocupar oito das dez primeiras posições entre os maiores grupos financeiros do mundo, em 2014 emplacaram apenas um entre os dez maiores: o Mitsubishi UFJ Financial Group (reveja o gráfico na página 36). A concessão de grandes empréstimos sem critério, principalmente para o mercado imobiliário, gerou grande especulação nesse setor. Essa bolha especulativa – financeira e imobiliária – estourou no início dos anos 1990.

Os valores das ações e dos imóveis despencaram, provocando o fechamento de empresas e o aumento do desemprego, levando o país à estagnação econômica. Segundo o Banco Mundial, na última década do século passado a economia japonesa cresceu 1% na média anual e neste século foi pior ainda, cresceu anualmente apenas 0,7% no período 2000-2014 (no auge da crise, em 2009, seu PIB encolheu 5,5%). Apesar do baixo crescimento desde os anos 1990 e de ter sido um dos países mais atingidos pela crise financeira, o Japão permanece com o terceiro PIB e continua sendo uma das principais potências industriais do mundo. O país possui 54 corporações na lista da Fortune Global 500 2015. No entanto, em 1995 chegou a ter 149 empresas entre as 500 maiores, o que mostra sua perda de espaço na economia mundial, principalmente para a China (reveja o gráfico e a tabela na página 165). A apresentação das empresas e marcas que ocorre nesta página tem

Yuriko Nakao/Bloomberg/Getty Images

A foto mostra a sede mundial da Toyota, a maior empresa japonesa, finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir seu consumo. Ela está contextualizada e sua omissão pode em Toyota City, 2015. Nesse ano, ela faturou 248 bilhões de dólares comprometer o entendimento do tema abordado. empregando 344 mil trabalhadores em fábricas no Japão e em diversos países, entre os quais o Brasil.

190

Capítulo 7

atenção! Não escreva no seu livro!

Atividades Compreendendo conteúdos

1. Que fatores determinaram o pioneirismo do Reino Unido no processo de industrialização mundial? Ele mantém essa posição de destaque atualmente?

2. Enumere os principais fatores que colaboraram para a industrialização dos Estados Unidos. 3. Onde se localizam as maiores concentrações industriais dos Estados Unidos? Por que, após a Segunda Guerra Mundial, ocorreu uma desconcentração do parque industrial?

4. Por que a grande arrancada industrial da Alemanha aconteceu a partir da unificação político-territorial de 1871? 5. Quais as principais causas da rápida recuperação econômica japonesa após a Segunda Guerra? 6. Como se explica a crise econômica japonesa a partir do início dos anos 1990? O país também foi atingido pela crise de 2008/2009?

Desenvolvendo habilidades

Dialogando com hIstórIA

7. Releia, na página 168, o texto “A importância de não nascer importante”, de Eduardo Galeano. Relacione os argumentos do texto do jornalista uruguaio com o trecho do livro A ética protestante e o espírito do capitalismo, do sociólogo alemão Max Weber (1864-1920): É verdade que a utilidade de uma vocação, e sua consequente aprovação por Deus, é orientada primeiramente por critérios morais e depois pela escala de importância dos bens produzidos para a coletividade, colocando-se, porém, logo em seguida, um outro, e, do ponto de vista prático, mais importante critério: a “lucratividade” individual. Com efeito, quando Deus, em cujas disposições o puritano via todos os acontecimentos da vida, aponta, para um de Seus eleitos, uma oportunidade de lucro, este deve aproveitá-la com um propósito, e, consequentemente, o cristão autêntico deve atender a esse chamado, aproveitando a oportunidade que lhe é apresentada. [...] Deveis trabalhar para serdes ricos para Deus, e, evidentemente, não para a carne ou para o pecado. WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 2. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. p. 89.

Com base nas ideias de Galeano e de Weber, elabore um texto sucinto dissertando sobre a importância desses fatores histórico-culturais para o desenvolvimento capitalista dos Estados Unidos.

8. Leia o trecho a seguir, retirado do ensaio Antropogeografia, do geógrafo alemão Friedrich Ratzel, publicado originalmente em 1882. Que território seja necessário à existência do Estado é coisa óbvia. [...] Quando se trata de um povo em via de incremento, a importância do solo pode talvez parecer menos evidente; mas pensemos, ao contrário, em um povo em processo de decadência e verificar-se-á que esta não poderá absolutamente ser compreendida, nem mesmo no seu início, se não se levar em conta o território. Um povo decai quando sofre perdas territoriais. Ele pode decrescer em número, mas ainda assim manter o território no qual se concentram seus recursos; mas se começa a perder uma parte do território, esse é sem dúvida o princípio de sua decadência futura. RATZEL, Friedrich. Geografia do homem (Antropogeografia). In: MORAES, Antonio Carlos Robert (Org.). Ratzel. São Paulo: Ática, 1990. p. 73-74.

Com base na análise da geografia política e econômica do mundo contemporâneo e considerando o desenvolvimento da própria Alemanha e do Japão após a Segunda Guerra, elabore argumentos para confirmar ou refutar a afirmação de Ratzel. Economias desenvolvidas: a industrialização precursora

191

CAPÍTULO

8

Economias em transi•‹o: a industrialização planificada Popova Valeriya/Shutterstock

Os arranha-céus do Centro Internacional de Negócios de Moscou simbolizam o novo capitalismo russo. Foto de 2015.

192

E

mbora as primeiras fábricas da Rússia tenham sido construídas no século XIX, ainda na época do Império Czarista, seu processo de industrialização só se acelerou após a Revolução de 1917, que deu origem à União Soviética. Na China, a industrialização ocorreu somente depois da Revolução de 1949, inicialmente com apoio soviético. Nos dois países, após as mencionadas revoluções socialistas, foram instauradas economias planificadas, com base na propriedade estatal dos meios de produção e no planejamento centralizado. Com o colapso do socialismo, em 1991, a União Soviética fragmentou-se em 15 países independentes, sendo a Rússia o maior e o mais importante deles. Depois de passar por profunda crise nos anos 1990, o país gradativamente ressurgiu como potência geopolítica, porém agora na condição de economia emergente, segundo classificação do mercado. A ONU classifica a Rússia como “economia em transição” – do socialismo ao capitalismo. O que levou a União Soviética à decadência e ao colapso econômico e político-territorial? Que fatores explicam a retomada do crescimento econômico da Rússia e seu gradativo retorno à condição de potência? A China foi a economia que mais cresceu desde os anos 1980, a taxas médias de 10% ao ano, o que o líder Deng Xiaoping (1904-1997) chamou de “segunda revolução”, esta, de cunho capitalista. Isso transformou o país na segunda economia do mundo. Como explicar as aceleradas transformações pelas quais a China vem passando? Como compreender seu rápido salto à condição de potência mundial? Essas e outras questões sobre a Rússia e a China serão tratadas neste capítulo.

Neste capítulo aparecem fotos de sedes de empresas, de fábricas e de linhas de produção. Só mencionamos o nome da empresa/indústria/ marca com fins didáticos, quando é estritamente necessário para a compreensão do tema tratado, porém com o devido cuidado de não recomendar qualquer tipo de produto ou marca. Nos casos em que a informação não era relevante não mencionamos o nome da empresa/indústria/marca para não caracterizar publicidade.

Arranha-céus no centro financeiro de Pudong, em Xangai, um dos símbolos da pujança econômica da China. Foto de 2015.

JoeyPhoto/Shutterstock

Economias em transição: a industrialização planificada

193

1 Rœssia SínteSe hiStórica Origem e colapso da economia planificada Dialogando com história

União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS)

• Origem: formada em 1922 após a Revolução Russa de 1917, liderada por Vladimir Lenin (1870-1924).

• Consolidação: sob o governo de Josef Stalin (1878-1953), que se estendeu de 1924 a 1953, sucedendo o de Lenin. Ditadura de partido único: governada pelo Partido Comunista da União Soviética (PCUS). Poder: o cargo máximo era o de secretário-geral do PCUS. Sede do governo: Kremlin, Moscou (Rússia).

• • •

Países selecionados: índices anuais de produção manufatureira – 1913-1938 Ano

URSS

Estados Unidos

Japão

Alemanha

Reino Unido

1913

100,0

100,0

100,0

100,0

100,0

1920

12,8

122,2

176,0

59,0

92,6

1925

70,2

148,0

221,8

94,9

86,3

1929

181,4

180,8

324,0

117,3

100,3

1932

326,1

93,7

309,1

70,2

82,5

1938

857,3

143,0

552,0

149,3

117,6

O processo de estatização e planificação da economia

• Meios de produção: fábricas, fazendas, etc., além do co-

mércio e dos serviços, foram estatizados e passaram a ser controlados pelo governo. Planos quinquenais: as metas de produção industrial, mineral e agrícola passaram a ser definidas pelo Comitê Estatal de Planejamento. Produção industrial: no início teve grande avanço (veja a tabela), mas as metas de produtividade não consideravam a qualidade dos produtos.

A Adaptado de: KENNEDY, Paul. Ascenção e queda das grandes potências: ttransformação econômica e conflito militar de 1500 a 2000. 2. ed. Rio de m JJaneiro: Campus, 1989. p. 290.

• A economia planificada foi bem-sucedida enquanto o

mundo funcionou segundo os padrões tecnológicos da Segunda Revolução Industrial.

Prioridade à indústria de base e infraestrutura



• Desde o primeiro plano quinquenal a infraestrutura e as





telo', em russo) é um O Kremlin ('cidadela' ou 'cas tro de Moscou (Rússia). cen conjunto de edificações no , após a Revolução de 1917 Foi sede do governo czarista S, soviético e, com o fim da URS tornou-se o centro do poder 5. 201 de Foto o. russ o passou a sediar o govern

indústrias intermediárias e de bens de capital foram priorizadas com o objetivo de garantir autonomia ao país. O Estado construiu ferrovias, rodovias, portos, hidrelétricas, redes de energia, entre outros equipamentos. Indústrias como siderúrgica, petrolífera, bélica e de máquinas e equipamentos tiveram enorme crescimento.



andreevarf/ Shutterstock

194

• 1957: lançou ao espaço o primeiro satélite artificial (Sputnik). • 1961: colocou o primeiro astronauta (Yuri Gagarin) em órbita da Terra.

Shepard Sherbell/Corbis/Latinstock

Terceira Revolução Industrial: no início a URSS chegou a liderar alguns setores

Defasagem tecnológica

• Quando a Revolução Técnico-Científica se acelerou nos

Estados Unidos e em outros países capitalistas desenvolvidos, a União Soviética não conseguiu acompanhá-los. Uma fatia crescente do orçamento era comprometida com a indústria bélica e aeroespacial, setores em que o país se mantinha competitivo por causa da corrida armamentista. Ao contrário do que acontecia nos Estados Unidos e na Europa ocidental, na União Soviética as inovações tecnológicas desses setores não migraram para as indústrias civis. As indústrias em geral e as de bens de consumo em particular apresentavam baixa produtividade, não sendo capazes de abastecer a população. Ronald Reagan, ao ser eleito presidente dos Estados Unidos em 1981, triplicou o orçamento para a defesa, levando a União Soviética a frear a corrida armamentista e a propor acordos de paz. Mikhail Gorbachev (1931-), ao ascender ao cargo de secretário-geral do PCUS em 1985, enfrentou o desafio de recolocar o país no mesmo patamar tecnológico do mundo ocidental e aumentar a oferta de bens de consumo para a população.

• • • • •

Reformas propostas por Gorbachev

• A perestroika ('reestruturação', em russo) tinha como

Peter Turnley/Corbis/Latinstock

objetivos: – atrair investimentos estrangeiros e facilitar a formação de empresas mistas; – assegurar o acesso a novas tecnologias da Terceira Revolução Industrial; – introduzir processos produtivos e métodos de controle de qualidade inovadores nas empresas estatais; – aumentar a produtividade da economia e a oferta de bens de consumo.

As filas nas lojas do Estado eram o retrato mais emblemático da falência da economia burocratizada da União Soviética. Na foto, pessoas esperam para comprar peixe, que não era vendido havia duas semanas, em São Petersburgo (Rússia), em 1991.

• A glasnost ('transparência política', em russo) tinha como

objetivos: – iniciar a abertura política na União Soviética; – desmontar o aparelho repressor herdado da “Era Stalin”; – assegurar a liberdade de imprensa e os direitos democráticos mínimos; – fazer concessões aos separatistas com o intuito de manter a federação.

Movimentos nacionalistas

• O incipiente desmonte do aparelho repressor liberou forças

nacionalistas de várias repúblicas da União, que passaram a reivindicar autonomia. Durante a existência da URSS, muitas minorias étnicas foram oprimidas pelos russos, a etnia majoritária e que detinha o poder. As repúblicas bálticas (Estônia, Letônia e Lituânia), anexadas após a Segunda Guerra, foram pioneiras na declaração de independência. O separatismo ganhou força nas demais regiões do país, levando à completa fragmentação política da URSS.

• • •

Para saber mais consulte o livro O fim da URSS: origens e fracasso da perestroika. Veja indicação na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

O sucateamento das indústrias na União Soviética era cada vez mais acentuado, aumentando sua defasagem tecnológica em relação às potências capitalistas. As fábricas eram muito poluentes, seus produtos eram de pior qualidade e sua produtividade, menor. Na foto, de 1991, indústria metalúrgica em Chelyabinsk, nas proximidades dos Montes Urais (Rússia).

195

O fim da União Soviética e o ressurgimento da Rússia da Rússia (antes da fragmentação política esse cargo equivalia ao de governador no Brasil). Após o golpe fracassado, Mikhail Gorbachev foi reconduzido ao cargo de presidente da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. No entanto, o poder soviético se enfraquecera, porque as repúblicas, uma a uma, proclamaram a independência política. Fortalecido com a crise, Ieltsin iniciou o gradativo desmonte das instituições da União Soviética, como a proibição de funcionamento do PCUS na Rússia e o confisco de seus bens, contribuindo para o esvaziamento do poder de Gorbachev. No início de dezembro de 1991, a própria Rússia, principal sustentáculo da União Soviética, proclamou sua independência política, em golpe velado de Ieltsin contra Gorbachev.

Golpe de Estado: ação súbita por meio da qual o governo de um Estado é substituído por outro quase sempre de forma não constitucional. Essa ação é realizada por órgãos do próprio Estado, invariavelmente, pelas Forças Armadas, sendo o golpe militar o tipo mais frequente. Nesse caso, geralmente assume o poder um representante das Forças Armadas. Peter Turnley/Corbis/Latinstock

Como você já viu, quando chegou ao poder, em 1985, Mikhail Gorbachev tinha a difícil missão de tirar a União Soviética da crise política e econômica (reveja a seção Síntese histórica nas páginas anteriores). Buscando manter a coesão territorial do país, tentou firmar um novo Tratado da União, estabelecendo um acordo com as repúblicas e concedendo-lhes maior autonomia no âmbito de uma federação renovada. Isso, porém, era inaceitável para os comunistas ortodoxos russos e, ao mesmo tempo, não contentava os separatistas mais radicais. Um dia antes de entrar em vigor o acordo firmado entre Gorbachev e os representantes das repúblicas, os comunistas ortodoxos e setores conservadores das forças armadas arquitetaram um golpe de Estado e mantiveram Gorbachev em prisão domiciliar. O golpe, que durou de 18 a 20 de agosto de 1991, fracassou por falta de apoio popular, por divisões no Partido Comunista da União Soviética e nas Forças Armadas e por causa da resistência liderada pelo reformista Boris Ieltsin (1931-2007), recém-eleito presidente da República

Manifestação popular ocorrida em 1989 na cidade de Kaunas (Lituânia), pela independência do país em relação à União Soviética. Os comunistas ortodoxos sabiam que, no momento em que alguma república conseguisse sua independência, seria o início do fim da potência socialista.

196

Capítulo 8

A CEI e a liderança russa

Po lar Árti co

100º L

rcu lo

O CE A NO GL AC I A L Á RT I C O



Mar de Barents

o

Banco de imagens/Arquivo da editora

A Rœssia e a CEI Ð 1991

ic ált M ar B Riga Tallin LITUÂNIA Vilnius

EUROPA

Minsk BELARUS

ESTÔNIA LETÔNIA

Mar de Okhotsk

Moscou

MOLDÁVIA Kiev Chisinau

Veja a indicação do filme Salada russa em Paris, que retrata o período do governo Ieltsin, na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

RÚSSIA

UCRÂNIA M ar N ro eg

GEÓRGIA Ierevan ARMÊNIA

Tbilisi Mar Cáspio AZERBAIJÃO

Astana CASAQUISTÃO

0

720

ÁSIA

Mar de Aral

Baku USBEQUISTÃO Ashgabat Bishkek Taskent QUIRGUISTÃO TURCOMENISTÃO Dusanbe

1440

km Comunidade de Estados Independentes Estados que não aderiram à CEI Antigo limite da URSS

TAJIQUISTÃO

Adaptado de: SOLONEL, M. (Dir.). Grand atlas d’aujourd’hui. Paris: Hachette, 2000. p. 56.

A antiga URSS era composta de 15 repúblicas e se estendia por uma área de cerca de 22 milhões de quilômetros quadrados. A sua fragmentação deu origem a 15 novos Estados independentes, e o maior deles, a Federação Russa, continua sendo o país mais extenso do mundo, com 17 milhões de quilômetros quadrados (25% desse território fica na Europa e 75%, na Ásia).

permanente no Conselho de Segurança da ONU. No entanto, perdeu poder no mundo, mesmo onde influenciava diretamente, o Leste Europeu. Nessa região, vários de seus antigos satélites ingressaram na Otan e na União Europeia. O fracasso da perestroika e a conturbada transição para a economia de mercado lançaram o país em profunda recessão. Segundo o Banco Mundial e o FMI, nos anos 1990, o PIB russo encolheu 4,7% na média anual (o recorde foi em 1994, quando caiu 12,7%). Nos anos 2000, a economia russa ingressou em período de crescimento elevado (média de 5,4% ao ano), só interrompido em 2009 pela crise financeira mundial. Passada a crise, a economia voltou a crescer, mas com taxas menores. Observe os dados da tabela.

Com o fim da União Soviética, foi criada a Comunidade de Estados Independentes (CEI), em 21 de dezembro de 1991. Tinha como objetivo gerir a interdependência econômica das repúblicas da ex-potência socialista, que continuou existindo mesmo após se tornarem países independentes (observe o mapa acima). Em 25 de dezembro, com seu poder completamente esvaziado, Gorbachev renunciou ao seu cargo. No dia seguinte, a bandeira vermelha com a foice e o martelo, da União Soviética, foi arriada do Kremlin e em seu lugar foi hasteada a bandeira branca, azul e vermelha, da Federação Russa. A Rússia ocupou o espaço da antiga União Soviética no cenário internacional, assim como o assento

Rússia: indicadores econômicos – 1993-2014 Indicadores

1993

1994

1998

2000

2008

2009

2012

2014

PIB (bilhões de dólares)

184

277

271

260

1 661

1 223

2 015

1 857

Crescimento anual do PIB (%)

– 8,7

–12,7

– 5,3

10,0

5,2

– 7,8

3,4

0,6

PIB per capita (dólares)

1 239

1 865

1 838

1 775

11 639

8 562

14 062

12 926

Taxa de inflação (%)

874,6

307,6

27,7

21,5

14,1

11,7

5,1

7,8

5,3

7,2

11,9

10,6

6,2

8,2

5,5

5,1

Desemprego (%)

Adaptado de: FMI. World Economic Outlook Database, abr. 2015. Disponível em: . Acesso em: 28 set. 2015.

Economias em transição: a industrialização planificada

197

Os fatores da industrialização Recursos naturais A Rússia, em razão de sua enorme extensão territorial e da diversidade de sua estrutura geológica, é um dos países mais ricos em recursos minerais. Em seu território, há extensas áreas de bacias sedimentares, ricas em combustíveis fósseis, e de escudos cristalinos, ricos em minerais metálicos, além do imenso potencial hidrelétrico, que possibilitou a construção de grandes usinas nos trechos planálticos dos rios. Como mostra o primeiro mapa da próxima página, a Rússia dispõe de importantes reservas de fontes de energia, com destaque para o petróleo e o gás natural. De acordo a publicação Key World Energy Statistics 2014, o país é o segundo produtor e exportador mundial de petróleo, perdendo apenas para a Arábia Saudita. Em 2013, foram extraídos 525 milhões de toneladas e exportados 45% desse total. As maiores produções se localizam na bacia do Volga-Ural, na Sibéria ocidental e na oriental. Além disso, a Rússia é o segundo produtor mundial de gás natural, atrás apenas dos Estados Unidos, e o maior exportador. No mesmo ano, foram extraídos 671 bilhões de metros cúbicos e exportados 30% desse total, sendo o principal fornecedor de vários países da Europa ocidental. As principais regiões produtoras são Pechora (extremo norte da Rússia europeia) e Sibéria ocidental, mas há importantes reservas também na Sibéria oriental. A Rússia é também um importante produtor de carvão mineral: em 2013, foram extraídos 347 milhões de toneladas, posicionando o país como sexto produtor mundial. A extração se concentra nas bacias de Pechora e Donets (fronteira com a Ucrânia), na porção europeia, e nas bacias da Sibéria ocidental (principalmente na região do Kuzbass). Na parte asiática, estão mais de 80% das reservas e, portanto, as maiores possibilidades de ampliação da produção. Tanques de armazenagem de petróleo na Sibéria ocidental (Rússia), em 2013. Nessa região se encontram as maiores reservas de petróleo e gás natural da Rússia. Observe sua localização no mapa a seguir.

198

Como gerador de eletricidade, o país também merece destaque: é o terceiro produtor mundial em usinas termonucleares e o quinto em usinas hidrelétricas. Observe no primeiro mapa da próxima página as reservas de energia e as principais usinas russas. A Rússia dispõe de grandes reservas de minérios extraídos dos escudos cristalinos dos Montes Urais e outras no planalto central siberiano. Destaca-se como grande produtor de platina, diamante industrial, níquel, entre outros, como mostra a tabela. Também é importante produtor de urânio, extraído de jazidas da Sibéria ocidental.

Rússia: produção mineral – 2014 Minério

% da produção mundial

Posição no mundo

Platina

15 , 5



Alumínio

7, 1



Magnésio

5,7



Diamante industrial

23 , 1



Níquel

10 ,8



Ouro

8 ,6



Ferro

3 ,3



Urânio

5 ,3



Adaptado de: U. S. GEOLOGICAL SURVEY. Commodity Statistics and Information. Disponível em: ; WORLD NUCLEAR ASSOCIATION. Uranium Production Figures 2004-2014. Disponível em: . Acessos em: 29 set. 2015.

A riqueza do subsolo russo, especialmente o petróleo e o gás natural, tem sido fator fundamental para recuperar a produção industrial e o crescimento econômico do país, mas o grande mercado interno de consumo também é muito importante. Com a recuperação econômica, após anos de recessão, surgiu uma significativa classe média, o que estimulou o crescimento das indústrias de bens de consumo: automóveis, eletroeletrônicos, vestuário, entre outros, setores que não foram priorizados durante a vigência do controle estatal da economia. Omitimos o nome da empresa, pois não é imprescindível para o entendimento do assunto estudado.

Oliver Bunic/Bloomberg/Getty Images

Rússia: energia

rc ulo

OCEANO GLACIAL ÁRTICO

O C E AN O PAC Í F I C O

co



Mar de Barents ált

i

o

Ri

Mar de Okhotsk

Rio O b

ar B EUROPA M

MONTES URAIS

Moscou

Rio

lga Vo

Sibéria ocidental

Sibéria oriental

nga R io A

ro eg

Rio

Ur al

ra

ei iss Ien

M ar N

Banco de imagens/Arquivo da editora

Po lar Árti co

100º L

Mar Cáspio

ÁSIA

Mar do Japão

Mar de Aral

Carvão

Petróleo

Oleoduto

Central termelétrica

Gás natural

Gasoduto

Reservas de petróleo e gás natural

Central hidrelétrica Central nuclear

0

720

1440

km

Refinaria de petróleo

Adaptado de: CHARLIER, Jacques (Dir.). Atlas du 21e siècle édition 2012. Groningen: Wolters-Noordhoff; Paris: Éditions Nathan, 2011. p. 93.

Setores industriais e sua distribui•‹o As duas principais concentrações industriais na Rússia são a região dos Montes Urais e a de Moscou, mas há concentrações menores na Sibéria ocidental. Observe o mapa a seguir. Nas proximidades dos Urais, predominam indústrias de bens intermediários, como as de mineração e as siderúrgicas, em razão da disponibilidade do minério de ferro e de carvão mineral. As duas maiores empresas

russas desses setores – a Severstal e a Evraz – possuem minas de ferro e carvão e usinas siderúrgicas em diversos lugares do país e do exterior. Há também indústrias de bens de capital, como a de máquinas e equipamentos. As principais refinarias e petroquímicas do país estão próximas aos grandes lençóis petrolíferos, principalmente na bacia do Volga-Ural, situada entre Moscou e os Urais.

Rússia: indústria

rc ulo

OCEANO GLACIAL ÁRTICO

O C E AN O PAC Í F I C O

co



Mar de Barents ar B EUROPA M

á

lti

São Petersburgo Mar de Okhotsk

Moscou

Banco de imagens/Arquivo da editora

Po lar Árti co

100º L

Os dados dos mapas desta página não possuem data na publicação original.

Ural

M ar N ro eg

Kuzbass-Novosibirsk Irkutsk-Ceremkhovo Mar Cáspio Mar do Japão

ÁSIA

Mar de Aral

Indœstrias Siderúrgica

Construção metálica (máquinas, veículos, eletrotécnica, etc.)

Metalúrgica não ferrosa Química

Têxtil Madeireira e de papel Região industrial

0

720 km

1440

Adaptado de: CHARLIER, Jacques (Dir.). Atlas du 21e siècle édition 2012. Groningen: Wolters-Noordhoff; Paris: Éditions Nathan, 2011. p. 93.

Economias em transição: a industrialização planificada

199

Em torno da capital, predominam indústrias de bens de consumo e de bens de capital em razão da localização do mercado consumidor e da boa infraestrutura de transportes e telecomunicações. Na Sibéria ocidental, a grande disponibilidade de recursos minerais explica a concentração de indústrias pesadas, como siderúrgicas e metalúrgicas, principalmente na região do Kuzbass. Com o fim do socialismo, iniciou-se um processo de privatização e de adoção de mecanismos da economia de mercado nas ex-repúblicas soviéticas, além da instauração de um processo de modernização da economia. Na Rússia, durante o governo de Boris Ieltsin, de 1991 a 1999, uma parte das antigas empresas estatais foi privatizada. Dessas, algumas foram compradas por corporações estrangeiras ou por fundos de investimento, outras tiveram suas ações distribuídas entre os empregados, mas muitas delas acabaram caindo nas mãos de políticos e empresários influentes. Entretanto, como veremos, ainda há muitas empresas controladas, total ou parcialmente, pelo Estado russo. Depois de um período de profunda crise, com a retomada do crescimento econômico, surgiram grandes corporações de capital aberto, isto é, com ações cotadas na Bolsa de Valores de Moscou. É o caso da Gazprom (maior empresa russa e 26a colocada na lista da Fortune Global 500 2015), da Lukoil (43a posição) e da Rosneft Oil (51a). Essas três empresas são responsáveis por extrair petróleo e gás natural em diversos pontos

do território russo e também no exterior. Não é por acaso que as maiores empresas russas sejam do setor energético: o petróleo e o gás são duas das maiores riquezas naturais do país. Apesar do avanço do processo de privatização, diversas empresas, principalmente desses setores estratégicos, continuam pertencendo, em parte, ao Estado. Em 2014, a Gazprom, maior produtora de gás natural do planeta, tinha 50,2% de suas ações sob o controle do Estado russo. Na Rosneft Oil, maior produtora de petróleo da Rússia, a participação era mais elevada: 69,5% de suas ações pertenciam ao Estado. A Lukoil foi privatizada nos anos 1990. O presidente Vladimir Putin, ao assumir seu primeiro mandato em 2000, projetava dobrar o PIB do país até o fim daquela década. Como mostra o gráfico da próxima página, a economia russa vinha crescendo com taxas elevadas, até que a crise financeira a atingiu, provocando profunda recessão em 2009. Em 2010, o crescimento foi retomado e, apesar desse percalço, o valor do PIB russo quintuplicou ao longo da década. Com o sucesso econômico, Putin foi reeleito em 2004. Em 2008, não pôde se candidatar a um terceiro mandato consecutivo e foi substituído por Dmitri Medvedev (1965-), eleito com seu apoio. Em retribuição, foi por ele indicado ao cargo de primeiro-ministro. Em 2012, Putin foi eleito presidente para um novo mandato de quatro anos e, mantendo o rodízio de poder com Medvedev, indicou-o ao cargo de primeiro-ministro. Sergei Butorin/Shutterstock

Vista aérea da zona industrial de Tyumen (Rússia), no outono de 2015. Há residências em torno das indústrias e ao fundo vê-se uma usina termelétrica que produz energia para abastecer a cidade.

200

investimentos externos em 2009. Quando a economia russa estava se recuperando, passou a sofrer as consequências do boicote imposto pelos Estados Unidos e pela União Europeia em resposta à anexação da Crimeia e ao apoio aos separatistas na Ucrânia. Observe, na tabela abaixo, que, em 2014, houve uma redução acentuada no fluxo de investimentos estrangeiros e, no gráfico, uma queda no crescimento do PIB.

O rápido crescimento econômico nos anos 2000 contribuiu para o aumento do fluxo de investimentos estrangeiros no país, que atingiu 75 bilhões de dólares em 2008. De acordo com a Unctad, os capitais estrangeiros têm sido atraídos pelo crescimento do mercado interno e pela possibilidade de exploração dos recursos naturais, especialmente no setor energético. No entanto, a crise financeira mundial provocou uma queda dos

Brics e Estados Unidos: investimentos externos diretos (bilhões de dólares) País

2001

2008

2009

2010

2013

2014

China

46,8

108,3

95,0

114,7

123,9

128,5

Estados Unidos

124,4

306,4

143,6

198,0

230,8

92,4

Brasil

22,5

45,1

25,9

48,5

64,0

62,5

Índia

3,4

47,1

35,6

27,4

28,2

34,4

Rússia

2,5

74,8

36,6

43,2

69,2

21,0

Rússia: crescimento do PIB (%) – 2000-2015 10,0 8,2 7,3

A. Robson/Arquivo da editora

Adaptado de: UNITED NATIONS CONFERENCE ON TRADE AND DEVELOPMENT. World Investment Report 2002. New York and Geneva, 2002. p. 303-305; UNITED NATIONS CONFERENCE ON TRADE AND DEVELOPMENT. World Investment Report 2013. New York and Geneva, 2013. p. 213-216; UNITED NATIONS CONFERENCE ON TRADE AND DEVELOPMENT. World Investment Report 2015. New York and Geneva, 2015. Annex tables. p. A3-A6.

8,5

7,2 6,4

5,1

4,7

5,2

4,5

4,3 3,4 1,3

Adaptado de: FMI. World Economic Outlook Database. Apr. 2015. Disponível em: . Acesso em: 29 set. 2015.

2009 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

0,6

2015

2010 2011 2012 2013 2014

Navios de guerra da frota russa do mar Negro ancorados na base de Sebastopol (Crimeia), em 2015. Como vimos no Capítulo 5, essa base é estratégica, e antes mesmo de ocupar toda Crimeia, a Rússia já a controlava.

–3,8

Maximov Denis/Shutterstock

–7,8

Economias em transição: a industrialização planificada

201

2 China SínteSe hiStórica Formação da China comunista

Dialogando com história

De Império à República

• Ao longo de séculos, a China alternou períodos de maior ou menor produção econômica,

tecnológica e cultural, mas, no fim do século XIX, sob o Império Manchu, estava decadente e dominada. No início do século XX, sob a liderança de Sun Yat-sen (1866-1925), foi organizado um movimento republicano e nacionalista hostil à dinastia Manchu e à dominação estrangeira. Em 1912, a vitória desse movimento deu origem à República da China, que passou a ser governada pelo Partido Nacionalista, o Kuomintang, criado por Sun Yat-sen. Com a chegada de investidores estrangeiros interessados em aproveitar a mão de obra barata e a disponibilidade de matérias-primas, fábricas começaram a ser instaladas nas principais cidades do país, sobretudo em Xangai.

• •

Ullstein Bild/The Granger Collection/Other Images



Veja a indicação do filme O último imperador, que retrata a história da China durante a vida de Pu Yi, na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

Comício do Kuomintang realizado em 1927, em Pequim (China), durante a guerra civil que opunha s. nacionalistas e comunista

Nacionalistas ⊗ comunistas

• 1921 – criação do Partido Comunista Chinês (PCC): à influência da Revolução Russa, juntou-

-se o sentimento nacionalista e anticolonial, dando origem ao PCC; entre seus fundadores estava Mao Tsé-tung (1893-1976). 1928 – mudança no Partido Nacionalista: com a morte de Sun Yat-sen, o Kuomintang foi controlado por Chiang Kai-shek (1887-1975), que passou a liderar o Governo Nacional da China. 1927-1949 – Industrialização interrompida: o incipiente processo de industrialização foi interrompido durante a ocupação japonesa e pela guerra civil. – Nacionalistas 3 comunistas: após curta convivência pacífica, o governo nacionalista colocou o PCC na ilegalidade, iniciando uma guerra civil que se estendeu até o fim da década de 1940.

• •

202

Capítulo 8

• 1934 – criação de Manchukuo (‘Estado da Manchúria’, em

Zhao jian kan g/Shuttersto ck

japonês): os japoneses instituíram na Manchúria um país formalmente independente, cujo governante – fantoche – era Pu Yi (1906-1967), o último imperador chinês. 1949 – Vitória comunista: depois de 22 anos de guerra civil, os comunistas do Exército de Libertação Popular – formado por voluntários e liderado por Mao Tsé-tung – saíram vitoriosos. – Proclamação da República Popular da China: o território continental do país foi unificado sob o controle dos comunistas, comandados por Mao, então secretário-geral do PCC. – Criação de Taiwan: também chamada de República da China, foi fundada por membros do Kuomintang, comandados por Chiang Kai-shek, que fugiram para a ilha de Formosa.



O Palácio Imperial da China, mais conhecido como Cidade Proibida, é um conjunto de edifícios cercado por muros e situado no centro de Pequim (Beijing), capital do país. Foto de 2015. Do século XIII ao início do XX, foi a sede do poder da China Imperial. Na Cidade Proibida vivia o imperador, sua família e corte, e a entrada do povo não era permitida, daí seu nome. Atualmente, o Palácio Imperial é um museu aberto ao público.

Revolução socialista

• Modelo soviético: no início a China seguiu o modelo político-econômico da União

Soviética, que enviou muitos técnicos e assessores para ajudar no desenvolvimento da economia chinesa. Partido único: instituiu-se um regime político centralizado sob o controle do Partido Comunista Chinês, cujo líder máximo era o secretário-geral (cargo ocupado por Mao Tsé-tung até 1976). Economia estatizada: as terras foram coletivizadas e o Estado passou a controlar as poucas fábricas existentes, além da exploração dos recursos naturais. A Revolução Chinesa foi camponesa: nessa época havia no país em torno de 3,2 milhões de operários, o que equivalia a apenas 0,6% da população de cerca de 540 milhões de habitantes.

• •

Brian Kinney/Shutterstock



Mesmo com todas as mudanças econômicas , culturais e administrativas instituídas sob a lideran ça de Deng Xiaoping, a figura de Ma o Tsé-tung permanece central na his tória chinesa. Na foto de 2015, Memorial do Presidente Mao, mais conhecido como Mauso léu de Mao porque aí se encontra seu corpo embalsamado, na praça Tian’anmen, centro de Peq uim.

203

Em 1957, Mao Tsé-tung lançou um ambicioso plano econômico, conhecido como o Grande Salto para Frente, que se estendeu até 1961. Esse plano pretendia acelerar a consolidação do socialismo mediante a criação de um parque industrial amplo e diversificado. Para tanto, a China passou a priorizar investimentos na indústria de base e em obras de infraestrutura que sustentassem o processo de industrialização. Apesar de dispor de numerosa mão de obra e de abundantes recursos naturais, a industrialização chinesa teve idas e vindas. Em razão da burocracia e da má gestão, o Grande Salto para Frente desarticulou completamente a incipiente economia industrial do país. Além disso, a industrialização chinesa inicialmente padeceu dos mesmos males do modelo soviético no qual se inspirou: baixa produtividade, produção insuficiente, má qualidade dos produtos, concentração de capitais no setor armamentista e burocratização. Burocracia: administração dos serviços públicos. A morosidade da administração pública e a existência de diversos níveis burocráticos complicam os processos em andamento e atrasam a tomada de decisões, a obtenção de informações, a regulamentação de pedidos e a tramitação de papéis.

Com a morte de Mao Tsé-tung, em 1976, após um período de disputa interna pelo poder, Deng Xiaoping foi indicado ao cargo de secretário-geral do PCC, posição em que permaneceu por 14 anos. Nesse período, introduziu diversas medidas que caracterizaram a reforma econômica, a “segunda revolução”, como ele dizia, responsável pela completa transformação do país. Mao foi responsável pela primeira revolução chinesa, a socialista, Deng, pela segunda, a “socialista de mercado”. Mas o que significa isso? Os estudantes reivindicavam democracia, por isso foram tachados de contrarrevolucionários, inimigos da pátria e subversivos, e seu movimento foi duramente reprimido pelo regime. A cena registrada na foto de 1989 ficou famosa: estudante solitário impede a passagem de uma coluna de tanques que, ironicamente, entrava pela rua da Paz Eterna para reprimir os manifestantes na praça da Paz Celestial.

204

Capítulo 8

A reforma é a segunda revolução da China.” Deng Xiaoping, secretário do Partido Comunista Chinês de 1978 a 1992.

A “economia socialista de mercado” e as reformas A China, depois de viver décadas em estado de letargia, começou a se modernizar. Deng Xiaoping iniciou, em 1978, um processo de reforma econômica no campo e na cidade, paralelamente à abertura da economia ao exterior. Com isso, buscou-se conciliar o processo de abertura econômica e a adoção de mecanismos da economia de mercado (aceitação da propriedade privada e do trabalho assalariado, estímulo à iniciativa privada e ao capital estrangeiro) com a manutenção, no plano político, da ditadura de partido único. O objetivo era perpetuar a hegemonia do PCC, apoiando-se, porém, em uma economia em crescimento e em moldes capitalistas. A evidência mais forte de que os dirigentes chineses não estavam (e até hoje não estão) planejando uma abertura também no plano político foi a dura repressão aos manifestantes na praça da Paz Celestial. Ocorrido em 1989, o movimento, liderado por estudantes, reivindicava a abertura política, além da econômica, que já estava em curso. Bettmann/Corbis/Latinstock

Os fatores da industrialização

Até hoje não há eleições diretas na China. Em 2012, Xi Jinping (1953-) foi indicado pelo Comitê Central do PCC para o cargo de secretário-geral, sucedendo Hu Jintao (1942-), que ficara no poder de 2002 a 2012. Em 2013, assumiu o cargo de presidente da República (também em substituição a Hu). Xi demonstrou intenção de continuar com a reforma/abertura na economia e, embora tenha criticado a corrupção reinante no partido e seu divórcio do povo, a reforma/abertura política não está em sua agenda. O processo de abertura econômica no setor industrial teve início a partir de 1982. Empresas estatais tiveram de se enquadrar à realidade mundial e foram incentivadas a se adequar aos novos tempos, melhorando a qualidade de seus produtos, baixando seus preços e ficando atentas às demandas do mercado. Além disso, o governo permitiu o surgimento de pequenas empresas e autorizou a criação de empresas mistas, visando atrair o capital estrangeiro. A grande virada, porém, veio com a abertura das chamadas zonas econômicas especiais, já no início

dos anos 1980 – as primeiras foram as de Zhuhai, Shenzhen, Shantou, Xiamen e Hainan. Com o tempo foram instituídos portos abertos, cidades abertas, entre outras modalidades de abertura ao exterior (observe o mapa a seguir). O objetivo dessas diversas áreas abertas, espécies de enclaves capitalistas dentro do território chinês, era atrair empresas estrangeiras, as quais levaram, além de capitais, tecnologia e experiência de gestão empresarial. Em um esforço para ampliar as exportações, a China concedeu aos investidores estrangeiros liberdade de atuação nessas novas regiões industriais, especialmente nas zonas econômicas especiais. Consequentemente, desde os anos 1990, o país tem ocupado quase sempre a posição de segundo maior receptor de investimentos produtivos do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Quase todas as transnacionais com atuação global têm filiais na China, mas para se instalar em seu território precisam criar parcerias com empresas nacionais, o que implica transferência tecnológica.

100º L RÚSSIA Heihe

CASAQUISTÃO

Manzhouli Tongliang Harbin

MONGÓLIA

Changchun Yining

Urumchi

Suifenhe

Erenhot

Bole

Shenyang

QUIRGUISTÃO

Banco de imagens/Arquivo da editora

Os dados do mapa desta página não possuem data na publicação original.

China: áreas abertas ao exterior

Hunchun

Hohhot Pequim

TAJIQUISTÃO Taiyuan

Yingkou Qinhuangdao COREIA Dalian DO NORTE Tientsin Yantai Weihai Shijlazhuang COREIA Qingdao

DO SUL

CHINA

Mar da China Oriental

Chengzhou

Sian

PAQUISTÃO

ÍNDIA

Xangai Ningbo

Chungking Lhasa

0

395

790

km

NEPAL

Wenzhou

BUTÃO Wanding

Zona econômica especial

Ruili

Cidade aberta do golfo de Bohai

Beihai Nanning Cantão Shantou

Pingxiang

MIANMAR

LAOS

Dongxing Hainan

Cidade fronteiriça aberta Porto fluvial aberto Capital provincial aberta

TAILÂNDIA

OCEANO PACÍFICO

Fuzhou

Kunming

Cidade litorânea aberta Delta aberto

JAPÃO

Lianyungang

Xiamen

Shenzhen Zhuhai Zhanjiang

r Trópico de Cânce

TAIWAN

Mar da China Meridional

VIETNÃ

FILIPINAS

Adaptado de: CHARLIER, Jacques (Dir.). Atlas du 21e siècle édition 2012. Groningen: Wolters-Noordhoff; Paris: Éditions Nathan, 2011. p. 117.

Essas áreas abertas diferem apenas em extensão, mas todas foram planejadas para atrair empresas estrangeiras, impulsionar o desenvolvimento industrial e tecnológico, além de expandir as exportações. Economias em transição: a industrialização planificada

205

A menção ao nome da empresa no esquema desta página foi utilizada com finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir seu consumo. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do tema abordado.

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tanto o mercado externo como o crescente mercado interno. Veja o esquema explicativo.

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Trabalhadores inspecionam suportes para células fotovoltaicas na linha de produção da Trina Solar Ltd., em Guangzhou (China), em 2015. Esta empresa é a maior produtora mundial de células fotovoltaicas para produção de energia solar. Esse é um exemplo de que a China vem investindo em setores de maior conteúdo tecnológico.

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As empresas estrangeiras são atraídas por um conjunto de fatores favoráveis à produção para abastecer

Baixos salários e mão de obra razoavelmente qualificada, pois a população é numerosa, escolarizada e os sindicatos são proibidos.

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As políticas cambial e tributária do governo chinês favorecem as exportações: • a cotação do yuan é mantida artificialmente baixa, o que torna os produtos chineses baratos no mercado internacional. • há redução ou isenção de impostos sobre produtos industrializados, barateando-os.

Disponibilidade de moderna infraestrutra nas zonas econômicas especiais, já que o governo tem investido alto em portos, ferrovias, rodovias, telecomunicações, etc.

tinstock

de imensas Apesar da ocorrência naturais, o os urs rec de as erv res rtador de país é um grande impo de energia. tes fon e as im -pr ias matér

Há permissividade com relação à poluição e à degradação ambiental, mas como veremos no texto da página 210, essa política está mudando.

Avião cargueiro no Aeroporto Internacional de Hong Kong (província especial da China), em 2014. Esse terminal de cargas é um dos mais movimentados do mundo e dá suporte para muitas indústrias chinesas exportarem produtos de baixo peso e alto valor unitário, sobretudo do setor eletrônico.

anos, houve Nos últimos mento e grande cresci to do mercado en fortalecim a renda da interno, pois . tá se elevando es população

A “fábrica do mundo” e suas contradições Desde o início da década de 1980, a China tem sido a economia que mais cresce no mundo, a uma taxa média superior a 10% ao ano. Em 1980 seu PIB era de 202 bilhões de dólares, em 2014, tinha atingido 10,4 trilhões de dólares (reveja os indicadores econômicos das seis maiores potências na página 165). Além da liberalização econômica, dos impostos baixos e do yuan desvalorizado, outro fator fundamental que vem atraindo vultosos capitais para a China é 206

Capítulo 8

o baixíssimo custo de uma mão de obra muito disciplinada e relativamente qualificada. Esse ainda é o principal fator de competitividade de sua indústria. Na China, paga-se cerca de 3 dólares por hora trabalhada, muito menos do que ganham os trabalhadores industriais em países desenvolvidos, como o Japão e os Estados Unidos, e mesmo em países emergentes, como o Brasil e o México (observe o gráfico da página 155 e compare os valores).

Entretanto, o rápido crescimento econômico e a constante elevação do consumo interno têm levado a China a importar cada vez mais recursos minerais (e também agrícolas). Segundo o Banco Mundial, em 2014, do valor de 2 trilhões de dólares que o país importou, 38% eram matérias-primas agrícolas, minérios e combustíveis fósseis. Segundo a publicação Key World Energy Statistics 2014, a China foi o segundo maior comprador de petróleo do mundo, responsável por 13% das importações mundiais (os maiores foram os Estados Unidos, com 22%). O país também tem investido na construção de enormes usinas hidrelétricas, como a de Três Gargantas, a maior do mundo, e em energias alternativas, como a eólica. Em 2014, a China era o maior produtor mundial de energia eólica, com 31% % da produção mundial Posição no mundo de toda a capacidade de 70,3 1o aerogeradores instalada 47,3 1o no planeta.

O governo também tem procurado atrair de volta ao país parte dos chineses que vivem no exterior, sobretudo nos Estados Unidos. Quer de volta empresários, engenheiros e cientistas com experiência em empresas ocidentais. Vale lembrar que as populações de Taiwan, Hong Kong e Cingapura são compostas predominantemente de chineses, o que favorece o fluxo de capitais, informações e pessoas, além da presença de uma “cultura capitalista” na região. Outro fator que contribuiu muito para o desenvolvimento chinês foram as enormes reservas de minérios e de combustíveis fósseis em seu subsolo (observe a tabela a seguir e o mapa na página 212).

China: produção mineral – 2014 Mineral/combustível fóssil Magnésio Alumínio Ferro

46,6

1o

Carvão mineral*

45,5

1o

Estanho

42,2

1o

Zinco

37,6

1o

Ouro

15,7

1o

Manganês

17,8

2o

Cobre

8,7

2o

Petróleo*

5,1

4o

Adaptado de: U. S. GEOLOGICAL SURVEY. Commodity Statistics and Information. Disponível em: ; INTERNATIONAL ENERGY AGENCY. Key World Energy Statistics 2015. Disponível em: . Acessos em: 29 set. 2015.

Apesar de ser o maior produtor mundial de minério de ferro, como mostra a tabela, a China é também o maior importador. A foto mostra guindastes descarregando minério de ferro de navio ancorado no porto de Rizhao, na província de Shandong (China), em 2014.

Li Xiaolong/Imaginechina/AFP

* Dados de 2013.

207

Diferentemente dos países imperialistas europeus, a China não pretende colonizar a África. Diversamente da ação dos Estados Unidos e da União Soviética durante a Guerra Fria, não busca impor sua ideologia política nem seu sistema econômico. Os chineses afirmam querer apenas fazer negócios e garantir o acesso a recursos naturais, assegurando seu crescimento econômico sustentado e contribuindo para o crescimento dos outros países.

Parker Song/POOL/AFP

Para garantir acesso a esses recursos, o China Investment Corp, fundo soberano do governo chinês, e grandes empresas do país têm feito altos investimentos em nações em desenvolvimento, especialmente da África subsaariana. Isso fez com que alguns analistas estabelecessem uma correlação entre a expansão econômica da China atual e o imperialismo europeu do século XIX. Porém, os líderes chineses sempre esclareceram que essa expansão é movida pelo que chamam de “desenvolvimento pacífico”.

A China tem investido em diversos países africanos e isso tem contribuído para o rápido crescimento econômico de alguns deles. Por exemplo, segundo o Banco Mundial, no período entre 2000 e 2014, Angola cresceu em média 10,6% ao ano e Nigéria, 8,2%. Na foto, Xi Jinping, presidente chinês, aperta a mão de Hage Geingob (1941-), primeiro-ministro da Namíbia, antes de reunião em Pequim (China), em 2014.

Os baixos custos de produção têm levado os produtos industrializados made in China a conquistar cada vez mais mercados no mundo. De acordo com dados da OMC, em 1980, no início das reformas econômicas, as exportações chinesas somavam 18 bilhões de dólares e o país estava em 25o lugar na lista dos maiores exportadores. Trinta e quatro anos depois, o país vendeu mercadorias no valor de 2,3 trilhões de dólares, ocupando a primeira posição entre os maiores exportadores. Observe a tabela a seguir e compare os números da China com os dos outros países. Para ter uma ideia do explosivo crescimento das exportações chinesas, basta compará-lo com o Brasil. Em 1980, nosso país exportou mercadorias no valor de 20 bilhões de dólares (19o lugar na lista) e, em 2014, 225 bilhões de dólares (25o lugar). As exportações brasileiras cresceram 1 125% no período, mas o país perdeu posições no ranking. Enquanto isso, as exportações chinesas cresceram 13 000%! 208

Capítulo 8

© Chris Madden/

Máquina exportadora

Disponível em: . Acesso em: 24 maio 2014.

A apresentação das empresas e marcas que ocorre na iconografia desta página foi utilizada com finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir seu consumo. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do tema abordado.

Cinco maiores exportadores mundiais: exportações e crescimento – 1980/2014 Posição/ país 1. China

Exportações

Exportações

(bilhões de dólares)

(bilhões de dólares)

1980

2014

Crescimento (%)

1980-2014

18

2 342

13 011

2. Estados Unidos

226

1 621

717

3. Alemanha

193

1 508

781

4. Japão

130

684

526

5. Países Baixos

74

672

908

Adaptado de: RELATÓRIO sobre o desenvolvimento mundial 1996. Washington, D.C.: Banco Mundial, 1996. p. 234; WORLD TRADE ORGANIZATION. International Trade Statistics 2015. Disponível em: . Acesso em: 4 dez. 2015.

Imaginechina/AP Images/Glow Images

Desde 1980, o governo chinês se esforça para aumentar a quantidade de produtos industrializados na pauta de exportação do país. Naquele ano, 48% das exportações chinesas eram compostas de produtos industrializados; em 2013, esse índice subiu para 97%, de acordo com o Relatório de desenvolvimento industrial 2016, da Unido. O governo também procura aumentar os produtos de maior valor agregado na pauta de exportações. Para isso, desde meados da década de 1980, vem criando tecnopolos, as chamadas zonas de desenvolvimento econômico e tecnológico, que buscam atrair indústrias de alta tecnologia. Como

resultado, em 2013, do total das exportações de produtos industrializados, 58% eram bens de alto e médio valor agregado. Grande parte desses produtos é fabricada nas mais de cinquenta zonas de desenvolvimento econômico e tecnológico situadas predominantemente na costa leste, tais como Xangai, Cantão, Fuzhou, Xiamen e Hainan. A entrada da China na OMC, em 2001, foi um dos principais acontecimentos da economia internacional no início deste século e reforça sua posição mundial como grande país comerciante. Ao se adequar às regras dessa organização, o país ampliou as possibilidades de negócios para suas empresas exportadoras e também para as empresas estrangeiras que exportam para seu mercado interno. O rápido crescimento econômico concentrado principalmente nas cidades costeiras intensificou as migrações internas, apesar das restrições do governo central. Por exemplo, a população da cidade de Shenzhen, localizada na província de Guangdong, próxima a Hong Kong, aumentou de 58 mil habitantes, em 1980, para 10,7 milhões, em 2015. De acordo com a ONU, foi a cidade que mais cresceu no mundo nas últimas três décadas. O governo tem procurado interiorizar a economia, estimulando o desenvolvimento de novos centros industriais, mas é na faixa litorânea que ainda estão as melhores oportunidades de trabalho.

A China tem buscado cada vez mais ancorar seu crescimento econômico no aumento do mercado interno. Na foto de 2016, fábrica da GM Shangai Cadillac, em Xangai (China), construída em parceria com a chinesa Saic Motor com o objetivo de abastecer a crescente demanda interna por carros de luxo. Economias em transição: a industrialização planificada

209

Outro aspecto desse crescimento acelerado foram os graves impactos ambientais provocados pelo rápido e insustentável crescimento econômico. Até os anos 1990, não havia nenhuma preocupação com a questão ecológica por parte do regime chinês, pois a ordem era crescer a qualquer custo e gerar urgentemente empregos, lucros, saldos comerciais e impostos. Como consequência dessa política, as agressões ambientais cresceram vertiginosamente: as cidades chinesas estão entre as mais poluídas do mundo, assim como seus cursos de água, o que tem

causado diversas doenças à população, e muitos de seus recursos naturais estão à beira do esgotamento. A Agência de Proteção Ambiental Nacional (Nepa, na sigla em inglês) foi criada em 1984, mas nessa época a prioridade era o crescimento econômico. Somente a partir dos anos 1990 a China começou a ter consciência de que o crescimento precisa ser sustentável, não apenas do ponto de vista econômico e social, mas também do ponto de vista ambiental, como se percebe no texto a seguir.

Outras leituras Políticas ambientais na China [...] Em 1998, o Nepa foi promovido de subministério a ministério: a Administração de Proteção Ambiental do Estado (Sepa). Em 2008, a Sepa foi rebatizada como Ministério da Proteção Ambiental (MEP) e elevada a ministério pleno sob o Conselho Estatal. Essa mudança foi considerada um sinal do desejo do governo chinês em realizar sérios esforços para melhorar o meio ambiente. O MEP é o principal órgão de formulação e execução de políticas ambientais. [...]. Além disso, a China tem as leis que tratam de questões específicas e setores específicos, tais como o ambiente marinho, o ar, a água, e assim por diante. Além das leis nacionais há muitas leis regionais e locais que abordam o meio ambiente. [...] Outro interesse ambiental importante na China diz respeito à energia. As plantas termoelétricas de carvão prevalecem no país, o que é, indiscutivelmente, o maior contribuinte às mudanças climáticas no mundo. O carvão responde por mais de 70% do consumo total de energia, e as emissões da combustão do carvão são as principais contribuições antropogênicas à poluição atmosférica no país. [...] A população urbana na China deverá crescer nas próximas décadas. Consequentemente, as fontes de energia renováveis, tais como a eólica e solar, ganharam importância e investimentos de modo a sustentar mudanças significativas no padrão de consumo de energia. Há iniciativas relevantes nos dois tipos de captação de energia pelo país. Por exemplo, de acordo com Oliveira (2011), a China dobrou sua capacidade de energia eólica desde 2005 e está a ponto de alcançar os EUA como maior mercado mundial para as turbinas correspondentes. Seis grandes projetos de energia eólica estão em construção em várias partes do território chinês, cada um com capacidade de 16 termoelétricas a carvão. Além disso, a maior central energética solar do mundo será construída até 2019, na Mongólia, com tamanho aproximadamente trinta vezes maior do que as centrais energéticas solares da Europa.

Cidade de Handan, província de Hebei, norte da China, uma das regiões mais poluídas do país. Mal dava para ver os carros circulando devido a forte poluição do ar no dia 24 de janeiro de 2013.

210

Capítulo 8

Imaginechina/Glow Images

FERREIRA, L. C.; BARBI, F. Questões ambientais e prioridades políticas na China. ComCiência – revista eletrônica de jornalismo científico, n. 137, Campinas: Labjor-Unicamp/SBPC, 10 abr. 2012. Disponível em: . Acesso em: 30 set. 2015.

Pensando no Enem Os chineses não atrelam nenhuma condição para efetuar investimentos nos países africanos. Outro ponto interessante é a venda e compra de grandes somas de áreas, posteriormente cercadas. Por se tratar de países instáveis e com governos ainda não consolidados, teme-se que algumas nações da África tornem-se literalmente protetorados. BRANCOLI, F. China e os novos investimentos na África: neocolonialismo ou mudanças na arquitetura global? Disponível em: . Acesso em: 29 abr. 2010. (Adaptado).

A presença econômica da China em vastas áreas do globo é uma realidade do século XXI. A partir do texto, como é possível caracterizar a relação econômica da China com o continente africano? a) Pela presença de órgãos econômicos internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, que restringem os investimentos chineses, uma vez que estes não se preocupam com a preservação do meio ambiente. b) Pela ação de ONGs (Organizações Não Governamentais), que limitam os investimentos estatais chineses, uma vez que estes se mostram desinteressados em relação aos problemas sociais africanos. c) Pela aliança com os capitais e investimentos diretos realizados pelos países ocidentais, promovendo o crescimento econômico de algumas regiões desse continente.

atenção! Não escreva no seu livro!

d) Pela presença cada vez maior de investimentos diretos, o que pode representar uma ameaça à soberania dos países africanos ou manipulação das ações destes governos em favor dos grandes projetos. e) Pela presença de um número cada vez maior de diplomatas, o que pode levar à formação de um Mercado Comum Sino-Africano, ameaçando os interesses ocidentais.

Resolu•‹o Embora a China esteja contribuindo para o crescimento econômico de diversos países africanos, como muitos deles são economias pequenas e frágeis, com governos politicamente instáveis, alguns dos quais ditatoriais, a grande presença de capitais chineses, sobretudo na exploração de recursos naturais, pode ameaçar a soberania desses países, gerando uma interferência indevida em sua política interna, como indica a alternativa D. Essa questão contempla a Competência de área 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de poder – e suas habilidades correspondentes, com destaque para H7 – Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.

Engenheiro da China Road and Bridge Corporation (CRBC) orienta trabalhador local na obra da ferrovia de cerca de 500 quilômetros que ligará Nairóbi, capital do Quênia, a Mombasa, cidade portuária do oceano Índico. Essa foto, feita em 2015, exemplifica a presença chinesa na África, tema tratado na questão do Enem. Noor Khamis/Reuters/Latinstock

Economias em transição: a industrialização planificada

211

• elétrico, State Grid (3ª do país e 7ª do mundo), China

Setores industriais e sua distribuição

Southern Power Grid;

• ferroviário e construção, China Railway Engineering, China Railway Construction;

A China apresenta atualmente um parque fabril muito diversificado e já existem grandes corporações chinesas, de diversos setores, entre as maiores do mundo. Em 2015, como mostra o primeiro gráfico da próxima página, havia 98 empresas chinesas, a maioria estatal, na lista das quinhentas maiores do mundo. Entre elas, destacam-se, nos setores:

• automobilístico, SAIC Motor, China FAW Group; • aeroespacial e defesa, China North Industries, Aviation Industry Corporation of China;

• siderúrgico, China Minmetals, Baosteel; • informática e telecomunicações, Lenovo Group, Huawei.

Observe que as empresas chinesas foram as que mais ganharam terreno no mercado mundial, resultado do acelerado crescimento econômico do país, e as japonesas, as que mais perderam.



petrolífero e petroquímico, Sinopec Group (maior do país e segunda na lista da Fortune Global 500 2015), China Nacional Petroleum (2ª do país e 4ª do mundo);

Os dados do mapa desta página não possuem data na publicação original.

China: indústria, mineração, energia e transporte

RÚSSIA

Heihe Manzhouli Oiqihai

CASAQUISTÃO

Tongliang

MONGÓLIA

Harbin Changchun

Suifenhe

Shenyang QUIRGUISTÃO

Baotou COREIA DO NORTE

Pequim

Kashi TAJIQUISTÃO

n T Taiyuan

AFG.

Golmo

PAQUISTÃO

Tientsin Shijiazhuang COREIA DO SUL

Lanzhou JAPÃO CHINA

ÍNDIA

Sian

Chengzhou Nanjing

Chengdou

Lhasa

Chungking

NE PAL

0

320

BUTÃO

Usina Hidrelétrica de Três Gargantas

Changsha

640

Ruili

BANGLADESH Indústria e energia Central nuclear

MIANMAR

Central hidrelétrica Mineração

Campos petrolíferos Bacias de hulha Região industrial

Pingxiang

Xiamen Shantou TAIWAN Shenzhen Hong Kong

â Trópico de C

ncer

LAOS

Refinaria de petróleo

Urânio

OCEANO PACÍFICO

Fuzhou

km

Alta tecnologia

Mar da China Oriental Xangai

Transportes

Minério de ferro

Rodovias

Cobre

Ferrovias

Bauxita

Oleodutos

Níquel

Gasodutos

Carvão

VIETNÃ

TAILÂNDIA

Mar da China Meridional

FILIPINAS

CAMBOJA

Adaptado de: CHARLIER, Jacques (Dir.). Atlas du 21e siècle édition 2012. Groningen: Wolters-Noordhoff; Paris: Éditions Nathan, 2011. p. 117.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho, em 2013, a indústria empregava 30,1% da população ativa da China. Como se vê, apesar de muito industrializada, a maioria dos trabalhadores chineses está empregada no comércio e serviços (38,5%), seguido pela agricultura (31,4%).

212

Capítulo 8

Banco de imagens/Arquivo da editora

100º L

Seis países com maior número de empresas na Fortune Global 500 2015 – 1993/2000/2015 A. Robson/Arquivo da editora

Número de empresas 185

1993 159

2000 135

128

2015 104

98

54 32 34

41

37 28

33

31

26

28

12

do

ça U

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5.

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a in Ch 2.

3.

1.

Es U tad ni o do s s

0

Posição/país Adaptado de: FORTUNE. Global 500. v. 130, n. 2. New York: Time Inc. 25 jul. 1994. p. 84-88; FORTUNE. Global 500. v. 144, n. 2. New York: Time Inc. 23 jul. 2001. p. 26-36; FORTUNE. Global 500 2015. Disponível em: . Acesso em: 30 set. 2015.

Porém, nem só de grandes empresas vive a economia chinesa. A maioria dos empregados e grande parte da produção para a exportação, principalmente das mercadorias de baixo valor agregado, concentram-se em milhões de pequenos empreendimentos espalhados pelo país. Em muitos setores industriais, principalmente nos estratégicos, as empresas chinesas são controladas predominantemente pelo Estado.

Entretanto, o setor privado está em crescimento constante e, se considerarmos a economia como um todo, em número de empresas, em empregos oferecidos e em patrimônio, já superou o setor estatal. O acelerado crescimento econômico da China e sua transformação em “fábrica do mundo” modificou radicalmente as paisagens do país, especialmente as urbanas. As cidades cresceram exponencialmente, fábricas foram erguidas por todos os lados e a poluição atingiu índices alarmantes. Ao mesmo tempo, esse processo tirou milhões de pessoas da pobreza e gerou uma classe média numerosa. Em 1981, segundo o Banco Mundial, 98% da população chinesa vivia na pobreza, com menos de 2 dólares PPC por dia; em 2010, o percentual de pobres tinha caído para 27%, desta vez, vivendo com menos de 3,10 dólares PPC por dia, já que o Banco Mundial atualizou o limite internacional da pobreza. A expansão da classe média, com crescente poder de compra, ampliou significativamente o mercado consumidor interno. Entretanto, esse crescimento acelerado vem concentrando renda nos estratos mais ricos da sociedade e contribuindo para ampliar as desigualdades sociais, como mostram os gráficos abaixo. De acordo com a publicação Hurun Global Rich List 2015, na China vivem 430 pessoas/famílias com uma fortuna igual ou superior a 1 bilhão de dólares; só perde para os Estados Unidos, com 537 bilionários (nesses dois países estão 46,3% dos super-ricos do mundo).

Aos 20% mais pobres

Aos 60% intermediários

6,2%

Aos 20% mais ricos

4,7%

1992

Para obter mais informações consulte o livro China: o renascimento do império e acesse o portal Gov.cn. Veja orientações na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

48,2%

49,9% 43,9%

A. Robson/Arquivo da editora

China: distribuição de renda (% sobre o total da renda nacional) – 1992/2011

47,1%

2011 Adaptado de: BANCO MUNDIAL. Relatório sobre o desenvolvimento mundial 1996. Washington, D.C., 1996. p. 214; THE WORLD BANK. World Development Indicators 2015. Washington, D.C., 2015. Disponível em: . Acesso em: 30 set. 2015.

Economias em transição: a industrialização planificada

213

atenção! Não escreva no seu livro!

Atividades Compreendendo conteúdos

1. Onde se localizam as principais concentrações industriais na Rússia? Relacione com os principais fatores locacionais. 2. Em que setores da economia estão as maiores empresas da Rússia? Por quê? 3. Por que a China é a economia que mais cresce no mundo desde 1980? 4. Liste algumas consequências para o país – sociais, econômicas e ambientais – desse rápido crescimento.

Desenvolvendo habilidades DaNia: va Da

o

Ci

ta. No entanto, é preciso considerar seu nível de qualificação, daí a importância do sistema educacional. Quanto a isso, o economista Welinton dos Santos, em um artigo sobre o Brics, publicado em 2012 no jornal russo Pravda, afirmou: “A arma secreta do desenvolvimento da China é a educação”.

rização lo

eDuCaçã Da

5. É comum atribuir o rápido desenvolvimento econômico chinês à enorme oferta de mão de obra bara-

Leia os trechos a seguir e produza um texto argumentativo estabelecendo uma comparação entre a situação chinesa e a brasileira, considerando a educação como fator de desenvolvimento. O que significa dizer que “a arma secreta” do desenvolvimento da China é a educação? Você concorda com isso? E o Brasil, também a utiliza?

Texto 1 Por mais turbulentos que tenham sido os primeiros trinta anos da Revolução Comunista na China, os reformistas do começo dos anos 1980 herdaram do período sob Mao Tsé-tung um país com uma oferta abundante de mão de obra de qualidade do ponto de vista educacional e de saúde pública, ao menos na comparação com outros países em desenvolvimento, o que serviu de base para a rápida decolagem da economia chinesa. No caso da educação, a prioridade atribuída ao tema já pôde ser percebida nos primeiros anos da Revolução Comunista: a proporção de crianças matriculadas em escolas primárias passou de 25% para cerca de 50% no período de 1953 a 1957, segundo dados oficiais. Mesmo com toda a desvalorização do ensino durante a Revolução Cultural, a taxa de escolarização das crianças chinesas chegou a 96% em 1976, ano da morte de Mao1. A taxa de alfabetização entre adultos chineses havia chegado a 66% em 1977, quase o dobro dos 36% da Índia no mesmo ano. LYRIO, Mauricio Carvalho. A ascensão da China como potência: fundamentos políticos internos. Brasília: Fundação Alexandre Gusmão, 2010. p. 38-39.

Texto 2 Em alguns setores da indústria, o Brasil já vive “um apagão de mão de obra”, com falta de profissionais qualificados capazes de executar tarefas essenciais ao crescimento do país. Segundo o mais recente levantamento feito pela consultoria Manpower com 41 países ao redor do mundo, o Brasil ocupa a 2ª posição entre as nações com maior dificuldade em encontrar profissionais qualificados, atrás apenas do Japão. Entre os empresários brasileiros entrevistados para a pesquisa, 71% afirmaram não ter conseguido achar no mercado pessoas adequadas para o trabalho. Para efeitos de comparação, na Argentina o índice é de 45%, no México, de 43% e na China, de apenas 23%. “Se no Japão o maior entrave é o envelhecimento da população, o problema no Brasil é a falta de qualificação profissional”, afirmou à BBC Brasil Márcia Almström, diretora de Recursos Humanos da filial brasileira da Manpower. BARRUCHO, Luís Guilherme. Conheça os cinco vilões do crescimento do Brasil. BBC Brasil, São Paulo, 22 ago. 2012. Disponível em: . Acesso em: 15 jan. 2016.

1

Segundo o IBGE, no Brasil a taxa de escolarização de crianças era de 80% em 1980 e só em 1998 atingiu 95%, indicador próximo ao que a China atingira vinte anos antes. A taxa de alfabetização entre os adultos brasileiros (pessoas com mais de 15 anos) era de 75% em 1980 e atingiu 90% em 2009. Segundo o Banco Mundial, na mesma época, a taxa da China era de 94% e a da Índia, 63%.

214

Capítulo 8

CAPÍTULO

9

Economias emergentes: a industrialização recente Danish Siddiqui/Reuters/Latinstock

Monotrilho atravessa uma zona industrial no subúrbio de Mumbai (Índia). Foto de 2014.

215

Neste capítulo aparecem fotos de sedes de empresas, de fábricas e de linhas de produção. Só mencionamos o nome da empresa/indústria/marca com fins didáticos, quando é estritamente necessário para a compreensão do tema tratado, porém com o devido cuidado de não recomendar qualquer tipo de produto ou marca. Nos casos em que a informação não é relevante não mencionamos o nome da empresa/indústria/ marca, para não caracterizar publicidade.

T

endo como referência a industrialização ao longo da História, as economias emergentes são consideradas recém-industrializadas porque nelas esse processo teve início cerca de um século e meio depois de ter iniciado nos países precursores. No entanto, o crescimento fabril foi muito rápido em algumas delas. Neste capítulo analisaremos algumas das economias emergentes mais industrializadas entre os países em desenvolvimento. Classificamos os países analisados em três grupos distintos: os latino-americanos, que implantaram o modelo de industrialização por substituição de importações; os Tigres Asiáticos, que estabeleceram o modelo de plataformas de exportações; e os pertencentes ao Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul (Ibas), com características semelhantes às dos países da América Latina. Vamos estudar detalhadamente os países com produção mais relevante de cada um desses grupos, respectivamente: Brasil, México e Argentina; Coreia do Sul, Taiwan e Cingapura; Índia e África do Sul. O que há em comum e o que há de diferente no processo de industrialização desses três grupos de países? Qual modelo foi o mais bem-sucedido? Entretanto, vale lembrar que atualmente o processo de industrialização se expandiu para outros países emergentes asiáticos, latino-americanos e africanos, e tem atingido países de outras regiões do mundo, como o Leste Europeu e o Oriente Médio, com destaque para a Turquia. Os gráficos a seguir mostram a evolução da participação das economias emergentes mais industrializadas no valor total da produção industrial dos países em desenvolvimento. Em 2014, apenas as cinco principais concentravam 71% do valor da produção industrial desse grupo (contra 50% em 1990), com grande destaque para a China.

China

50,2%

China

Outros

15,8%

Outros

China

Outros

32,1%

38,2%

51,3%

29,3%

Índia

5,7% México

1990

10,9%

2000

6,2%

Brasil

Turquia

12,2%

3,6%

Turquia

5,2%

2014

Índia

Turquia

4,8%

México Brasil

8,5%

10,2%

Brasil

4,4%

México

5,0%

Índia

6,4%

Adaptado de: UNITED NATIONS INDUSTRIAL DEVELOPMENT ORGANIZATION. Industrial Development Report 2016. Vienna: Unido, 2015. p. 177.

A China, muitas vezes, é classificada como economia emergente, mas, por sua peculiaridade demográfica, econômica e geopolítica e em razão da industrialização planificada, foi estudada à parte, no capítulo anterior. A Coreia do Sul não aparece no gráfico porque a Unctad passou a classificá-la como país desenvolvido, e, por causa de seu modelo de industrialização, vamos analisá-la neste capítulo.

216

Capítulo 9

A. Robson/Arquivo da editora

Principais economias emergentes: participação no valor da produção industrial dos países em desenvolvimento – 1990-2014

1 AmŽrica Latina Os fatores da industrializa•‹o Brasil, México e Argentina são as maiores, mais industrializadas e diversificadas economias da América Latina, por isso vamos analisá-las com mais profundidade neste capítulo. No entanto, o processo de industrialização vem atingindo outros países da região, como Venezuela, Colômbia, Chile e Peru. Observe na tabela os indicadores das principais economias da América Latina. Esses três países se tornaram independentes no início do século XIX e, no fim dele, iniciaram seu processo de industrialização. Até então, eram basicamente exportadores de produtos minerais e agropecuários para os países já industrializados. Com a crise de 1929 e a depressão econômica decorrente, esses países passaram a importar menos, o que levou o Brasil, o México e a Argentina a terem suas exportações drasticamente reduzidas. Esse fato dificultou a importação de diversos bens industrializados. Essa queda no ingresso de mercadorias importadas acelerou a construção de fábricas internamente, voltadas a produzir muitos bens de consumo, em especial aqueles oriundos da Europa. Isso deu origem ao modelo de industrialização que ficou conhecido por substituição de importações.

A aristocracia latifundiária, que havia acumulado capital com as exportações de produtos agropecuários, passou a investi-lo na indústria, no comércio e no sistema financeiro. Os estancieros argentinos (donos de grandes propriedades rurais) ganharam dinheiro exportando carne e trigo; no Brasil, destacavam-se os cafeicultores, conhecidos como barões do café; e, no México, os proprietários das haciendas (fazendas). Parte do dinheiro dos fazendeiros ficava depositada em bancos e era emprestada para financiar a instalação de indústrias, muitas das quais fundadas por imigrantes europeus. Outro agente importante no início da industrialização foi o Estado, que passou a investir em indústrias de bens intermediários (mineração e siderurgia, petrolífera e petroquímica, etc.) e em infraestrutura (transportes, telecomunicações, energia elétrica, etc.). Na América Latina, os maiores símbolos desse modelo foram as estatais petrolíferas: Petrobras (fundada em 1954), Pemex (Petróleos Mexicanos, 1934), PDVSA (Petróleos de Venezuela S.A., 1975) e a argentina YPF (Yacimientos Petrolíferos Fiscales, 1922). Em 2015, continuavam controladas total ou parcialmente pelo Estado; eram tanto as maiores empresas nos respectivos países como, com exceção da YPF, as primeiras colocadas da América Latina na lista Fortune Global 500.

Maiores economias da América Latina: indicadores socioeconômicos – 2014 Posição no mundo segundo o PIB/país

População (milhões de habitantes)

PIB (bilhões de dólares)

PIB per capita* (dólares)

Empresas na Fortune Global 500 2015

7. Brasil

206

2 346

11 530

7

15. México

125

1 283

9 860

3

24. Argentina

43

540

14 160

0

27. Venezuela

31

510

12 890

1

32. Colômbia

48

378

7 970

1

43. Chile

18

258

14 910

1

53. Peru

31

203

6 370

0

Adaptado de: THE WORLD BANK. World Development Indicators 2015. Washington, D.C., 2015. Disponível em: ; FORTUNE. Global 500 2015. Disponível em: . Acessos em: 2 out. 2015. *O PIB per capita é a divisão do PIB do país por sua população, no entanto, com os arredondamentos dos números da tabela o resultado pode não bater com o dado oficial.

Após a Segunda Guerra Mundial, a industrialização por substituição de importações mostrou suas limitações: carência de maiores volumes de capitais que permitissem continuar o processo, inexistência de setores

industriais importantes, como a indústria de bens de capital, e defasagem tecnológica. Foi nessa época que teve início a entrada de capitais estrangeiros. Economias emergentes: a industrialização recente

217

As filiais de empresas transnacionais promoveram expansão de muitos setores industriais nesses países: automobilístico, químico-farmacêutico, eletroeletrônico, de máquinas e equipamentos e outros, que até então tinham uma produção limitada ou inexistente. Nos setores tradicionais, também entraram grandes empresas alimentícias e têxteis, juntando-se às nacionais já existentes e, em muitos casos, incorporando-as. Assim, houve um grande avanço no processo de industrialização de Brasil, México e Argentina, o qual passou a se assentar no tripé capital estatal, nacional e estrangeiro. A entrada das corporações transnacionais contribuiu para o surgimento de novas empresas nacionais em diversos setores, muitas delas complementares às estrangeiras. Por exemplo, a entrada das empresas automobilísticas estimulou o desenvolvimento de muitas indústrias nacionais de autopeças. Esse modelo vigorou também em outros países latino-americanos, como Venezuela, Colômbia, Chile e Peru, que, embora tenham menor grau de industrialização, vêm apresentando rápido crescimento econômico neste século, maior até do que o de duas das maiores economias da região. Observe o gráfico abaixo.

Com o tempo, a indústria tornou-se um setor muito importante na economia de Brasil, México e Argentina, com uma significativa participação nos respectivos PIB, como mostra o gráfico abaixo.

Brasil 6%

Terciário

71%

México

6,0

6

5,0

5

4,6 4,1

4

3,8

Secundário

34%

Primário

3%

Terciário

63%

Argentina Primário

8%

A. Robson/Arquivo da editora

7

23%

Primário

Países selecionados: taxa de crescimento do PIB – 2000-2014 Média anual (%)

Secundário

Secundário

29%

Terciário

63%

Adaptado de: THE WORLD BANK. World Development Indicators 2015. Washington, D.C., 2015. Disponível em: . Acesso em: 2 out. 2015.

3,6

3

1

o éx ic

l M

as i Br

a ne

zu

el

ile Ve

lô m Co

Ch

a bi

a en tin A

rg

Pe

ru

0

Adaptado de: THE WORLD BANK. World Development Indicators 2015. Washington, D.C., 2015. Disponível em: . Acesso em: 2 out. 2015.

Susana Gonzalez/Bloomberg/Getty Images

2,3 2

09_F004_2GGB18S Pesquisar foto recente de plataforma de petróleo da Pemex no México.

A criação das empresas estatais de petróleo foi um marco da atuação do Estado na economia de vários países latino-americanos. Na foto, plataforma de extração de petróleo da gigante estatal Pemex, no golfo do México, a 70 quilômetros do continente, em 2014. Considerando o faturamento, em 2015, essa empresa era a maior do México, a 3a da América Latina (a Petrobras era a 1a e a PDVSA, a 2ª) e a 47a do mundo na lista da Fortune Global 500 2015.

218

Capítulo 9

A apresentação da empresa que ocorre nesta página tem finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir os alunos a consumi-los. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do tema abordado.

A. Robson/Arquivo da editora

Brasil, México e Argentina: participação das atividades econômicas no PIB – 2014

Omar Torres/Agência France-Presse

Os mais importantes complexos industriais estão concentrados nas maiores regiões metropolitanas: no triângulo São Paulo-Rio de Janeiro-Belo Horizonte (Brasil), no eixo Buenos Aires-Rosário (Argentina) e no eixo Cidade do México-Guadalajara e em Monterrey (México). Mas há concentrações industriais também na região de Caracas (Venezuela), Bogotá (Colômbia) e Santiago (Chile), como mostra o mapa abaixo. Esses países, embora menos importantes do ponto de vista industrial, também são classificados como emergentes. O modelo de substituição de importações incentivou a produção interna de muitos bens de consumo, que deixaram de ser adquiridos no exterior, como roupas, calçados, eletrodomésticos, carros, entre outros. Ao mesmo tempo, requeria a importação de outros bens que não eram produzidos internamente, como máquinas e equipamentos, e exigia a implantação de uma infraestrutura de transportes, energia e telecomunicações, demandando cada vez mais investimentos. Como a poupança interna era limitada, esse modelo de industrialização dependeu excessivamente de capital estrangeiro, e os recursos externos entravam nesses países como investimento produtivo, por meio da instalação de filiais de transnacionais ou por empréstimos contraídos pelos governos e por empresas

A industrialização promoveu transformações na economia e nas paisagens dos países emergentes. Um dos pilares desse processo foi o capital estrangeiro, com o ingresso de numerosas empresas transnacionais que, a partir da década de 1950, construíram filiais em diversos países da América Latina; estas são disputadas por estados, províncias e municípios. A foto de 2014 mostra um cartaz na entrada de Celaya (México), que anuncia: “Celaya é uma boa escolha. Bem-vinda, Honda.”. Nesse ano a empresa japonesa inaugurou uma nova fábrica de automóveis nesse município do estado de Guanajuato .

privadas nacionais. A riqueza mineral também foi um fator importante para a industrialização de muitos países latino-americanos, com destaque para os combustíveis fósseis, como o petróleo, sobretudo no México e na Venezuela, e para os minérios metálicos, principalmente no Brasil e no Chile. Observe o mapa. A apresentação da empresa que ocorre na iconografia desta página tem finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir os alunos a consumi-los. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do tema abordado.

Banco de imagens/Arquivo da editora

América Latina: mineração, energia e indústria 50º O

América Anglo-Saxônica

nce Câ de co i p Tró

r

Monterrey MÉXICO

Guadalajara Cidade do México

JAMAICA Caracas

COLÔMBIA

Equador

VENEZUELA GUIANA SURINAME

Bogotá

Indústria

Quito

Alta tecnologia

EQUADOR OCEANO PACÍFICO

PERU

Mineração e energia BOLÍVIA La Paz

Lima

BRASIL Salvador Belo Horizonte

o apricórni

São Paulo Rio de Janeiro Ros‡rio Valparaíso Santiago CHILE

0

1 140 km

2 280

Porto Alegre URUGUAI Buenos Aires

ARGENTINA

Bauxita Carvão Chumbo e zinco

PARAGUAI de C Trópico



Região industrial

Cobre Estanho Gás natural Manganês Minério de ferro

OCEANO ATLÂNTICO

Nitratos Ouro Petróleo Prata

Os dados do mapa desta página não possuem data na publicação original.

Observe que a escala do mapa não permite mostrar regiões industriais menores no Brasil, como a serra Gaúcha (RS), Camaçari (BA) e Zona Franca de Manaus (AM), e em outros países, como Mendoza (Argentina) e Lima (Peru), entre outras.

Adaptado de: CHARLIER, Jacques (Dir.). Atlas du 21e siècle édition 2012. Groningen: Wolters-Noordhoff; Paris: Éditions Nathan, 2011. p. 154.

Economias emergentes: a industrialização recente

219

Crises financeiras

A. Robson/Arquivo da editora

A partir desse período, os países em desenvolvimento, sobretudo os latino-americanos, endividaram-se pesadamente. Por exemplo, segundo o Banco CenAnos 1980 tral do Brasil, nosso país tinha uma dívida externa de No pós-Segunda Guerra, o crescimento econômico 8 bilhões de dólares em 1971, que saltou para 25 bilhões de Brasil, México e Argentina foi bastante elevado, esem 1975 (acompanhe os valores subsequentes no setendendo-se até o início dos anos 1980. Como vimos, o gundo gráfico). O problema é que os juros não foram desenvolvimento desses países foi, em grande parte, fixados nesse patamar e as taxas para a amortização financiado por empréstimos estrangeiros, que a partir futura da dívida eram flutuantes, isto é, oscilavam de dos anos 1970 ficaram mais disponíveis no mercado acordo com o mercado internacional. Depois do primeifinanceiro internacional. Isso aconteceu porque, nessa ro aumento das taxas de juros, provocado pela crise do época, os países exportadores de petróleo ganharam petróleo de 1973, houve uma segunda elevação bem muito dinheiro com a elevação do preço do barril. Entre mais forte, com a crise petrolífera de 1979 (reveja o 1974 e 1981, os países da Organização dos Países Exporprimeiro gráfico abaixo). No fim da década de 1970, em tadores de Petróleo (Opep) acumularam em torno de consequência da manutenção de altas taxas de juros 360 bilhões de dólares, e cerca de metade desses recurpara conter a inflação, atrair investimentos e financiar sos foi depositada em bancos de países desenvolvidos. seu deficit orçamentário e comercial, os Estados Unidos A grande oferta de dinheiro no mercado financeiro fez converteram-se no principal receptor de dinheiro no as taxas de juros internacionais caírem após 1973, atinmundo. Assim, além de sobrarem poucos recursos pagindo o ponto mais baixo entre 1975 e 1977. Observe o ra os países em desenvolvimento, ainda houve uma gráfico a seguir. elevação de suas dívidas como resultado da alta dos juros no mercado internacional. Taxa de juros internacionais* – 1974-1995 Como consequência disso, houve % uma explosão do endividamento 21 dos países latino-americanos, coNorte-americana: United States 19 Prime Rate (Prime) mo mostra o gráfico abaixo. 17 Britânica: London Interbank Offered Rate (Libor)

15 13 11 9

Amortiza•‹o: pagamento de uma dívida aos poucos ou em prestações.

7 5

19

74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95

3

Adaptado de: LANZANA, A. E. T. O setor externo da economia brasileira. In: PINHO, D. B.; VASCONCELLOS, M. A. S. (Org.). Manual de Economia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 507. * Final do período.

Bilhões de dólares (valores arredondados) 400 350

353

Brasil México

300

Argentina

280 257

250

236

200

168 159

150 Adaptado de: CEPAL. Anuario Estadístico de América Latina y el Caribe. Santiago: Naciones Unidas, 2011. Disponível em: ; CEPAL. Estudio Económico de América Latina y el Caribe. Santiago: Naciones Unidas, 2015. Disponível em: . Acessos em: 2 out. 2015.

220

Capítulo 9

123

105

100 50

155

64 51 27

149 117

100

169

194 148

125

131

114

101

62 49

0 1980

1985

1990

1995

2000

2005

2010

2014

A. Robson/Arquivo da editora

Brasil, México e Argentina: dívida externa bruta – 1980-2014

Reprodução/Correios

O primeiro sinal da crise de endividamento foi dado em 1982, quando o México decretou a moratória de sua dívida externa. Daquele momento em diante, aprofundou-se nesses três países a política do “exportar é o que importa”, visando à obtenção de moeda forte, sobretudo dólares, para o pagamento dos juros da dívida. Ao mesmo tempo, os governos mantinham uma política de contenção de importação de produtos industrializados. Tal medida provocou o sucateamento dos parques produtivos, dada a dificuldade de comprar máquinas e equipamentos necessários à modernização. A crise da dívida atingiu os países em desenvolvimento em geral, mas em particular os latino-americanos,

Moratória: situação em que um devedor – pessoa, empresa ou país – suspende o pagamento de suas dívidas por impossibilidade de pagá-las e abre negociações com os credores para a prorrogação do prazo de vencimento e, às vezes, também para a redução da taxa de juros.

os mais endividados. Assim, para esses países, os anos 1980 ficaram conhecidos como a “década perdida”: suas economias sofreram com baixo crescimento e elevada inflação, como mostra a tabela a seguir.

Brasil, México e Argentina: taxa média anual de crescimento do PIB e da inflação (%) 1980-1990

1990-2000

2000-2010

País PIB

Inflação

PIB

Inflação

PIB

Inflação

Brasil

2,7

284,5

2,7

199,5*

3,7

6,6

México

1,0

70,4

3,1

19,5

2,1

4,5

–0,3

389,1

4,3

8,9

5,6

9,8

Argentina

Adaptado de: BANCO MUNDIAL. Relatório sobre o desenvolvimento mundial 1996. Washington, D.C., 1996. p. 226-227; THE WORLD BANK. World Development Indicators 2012. Washington, D.C., 2012. p. 214-215. * A média brasileira na década é elevada porque a inflação chegou a atingir a taxa anual de 2 489% em 1993 (INPC – Índice Nacional de Preços ao Consumidor, IBGE). Em 1994, ano em que foi introduzido o Plano Real, ainda foi de 929%, mas em 1995 caiu para 22% e, em 1996, para 9%.

Esse modelo econômico provocou forte concentração de renda, sobretudo no Brasil, porque se baseava em baixos salários pagos aos trabalhadores, o que restringiu a expansão do mercado interno e, como consequência, o próprio processo de industrialização. Segundo o Banco Mundial, em 1989, os 10% mais ricos da população brasileira se apropriavam de 51,3% da renda nacional, enquanto os 10% mais pobres detinham apenas 0,7%. Paradoxalmente, o modelo que visava substituir importações, isto é, ter autonomia para suprir o mercado interno, acabou limitando-o.

Anos 1990 A década de 1990 se caracterizou pela estabilização das economias dos países latino-americanos. A redução da inflação foi atingida após a introdução de medidas como o controle dos gastos públicos, a privatização de empresas estatais e a abertura econômica para produtos e capitais estrangeiros. Essas medidas mudaram a modalidade de endividamento externo e melhoraram o desempenho da economia; entretanto, as crises continuaram ocorrendo, agora no contexto da globalização financeira. Com os avanços tecnológicos na informática e nas telecomunicações, ampliaram-se as possibilidades de investimentos no mercado mundial.

Como vimos no Capítulo 2, há diversas modalidades de investimentos de capitais no sistema financeiro globalizado, destacando-se as ações, os títulos da dívida pública e as moedas estrangeiras. Além do mercado acionário, que cresceu de forma significativa, uma das modalidades de investimento especulativo mais difundida na atual globalização financeira é a compra e a venda de títulos da dívida pública. A emissão desses títulos pelos governos é uma forma de os países tomarem dinheiro emprestado. Ao comprá-los, os investidores – em geral, bancos ou corretoras, que fazem a intermediação entre pessoas e empresas que aplicam no mercado financeiro – emprestam dinheiro ao Estado, que terá de pagar juros. O problema do capital especulativo é sua volatilidade: transfere-se rapidamente de um país para outro e por isso gera poucos empregos. Além disso, tende a fragilizar as economias dos países porque os operadores das empresas financeiras muitas vezes retiram o dinheiro no momento em que aqueles mais precisam de capital. Essa foi a origem das crises financeiras de diversos países emergentes ao longo da década de 1990, entre os quais o México. Economias emergentes: a industrialização recente

221

Para saber mais A crise mexicana de 1994/1995 O México havia sido o primeiro país a sofrer com a crise da dívida na década de 1980 e foi novamente o primeiro a sucumbir à globalização financeira da década seguinte. Essa nova crise deveu-se à saída de capitais especulativos, o que reduziu rapidamente as reservas de dólares do país. Um dos problemas mais graves da economia mexicana era o desequilíbrio crescente em sua balança comercial: em 1992, o deficit no comércio exterior foi

de 20 bilhões de dólares (a tabela abaixo mostra os números de 1993 a 1995). Para fechar seu balanço de pagamentos, o governo mexicano passou a recorrer a capitais especulativos por meio do aumento da taxa de juros de seus títulos públicos, o que elevou a dívida externa do país. Até 1993 entraram dólares no México, mas nos dois anos seguintes começou a haver evasão de capitais, como mostra a tabela.

México: indicadores econômicos – 1993-1995 Indicadores

1993

1994

1995

Crescimento do PIB (%)

1,9

4,6

–6,6

Inflação (%)

8,0

7,1

52,1

Dívida externa (bilhões de dólares)

130,5

139,8

165,8

Transferência de recursos (bilhões de dólares)*

18,4

–1,8

–2,1

–19,5

–18,5

7,1

Balança comercial (bilhões de dólares)

Adaptado de: CEPAL. Balance preliminar de las economías de América Latina y el Caribe 1997. Disponível em: . Acesso em: 2 out. 2015. * Os valores positivos indicam entrada de recursos estrangeiros no país; os negativos, transferências ao exterior.

Anos 2000

países em 2009. Atingiu mais fortemente os desenvol-

Como vimos no Capítulo 1, a crise financeira iniciada nos Estados Unidos em 2008 se espalhou para diversos

vidos, mas também teve consequências nos países emergentes. Observe os dados da tabela abaixo.

Países selecionados: crescimento do PIB (%) – 2008-2014 Países

2008

2009

2010

2014

China

9,6

9,2

10,4

7,4

Índia

3,9

8,5

10,3

7,2

Coreia do Sul

2,8

0,7

6,5

3,3

Argentina

3,1

0,1

9,5

0,5

Brasil

5,0

–0,2

7,6

0,1

África do Sul

3,2

–1,5

3,0

1,5

–0,3

–2,8

2,5

2,4

México

1,4

–4,7

5,1

2,1

Japão

–1,0

–5,5

4,7

–0,1

Alemanha

0,8

–5,6

3,9

1,6

(posição segundo o desempenho em 2009)

Estados Unidos

Adaptado de: FMI. World Economic Outlook Database. Apr. 2015. Disponível em: . Acesso em: 2 out. 2015.

222

Capítulo 9

Dos três principais países emergentes da América Latina, o México foi outra vez o mais atingido por essa nova crise financeira, em razão de sua forte dependência econômica dos Estados Unidos. Desde a criação do Tratado Norte-Americano de Livre-Comércio (Nafta, em inglês), em 1994, cresceu a participação do mercado americano nas exportações mexicanas, atingindo cerca de 80%. Com a crise, os deficit comerciais do México, que já vinham se acumulando, aumentaram significativamente. Observe a tabela abaixo.

Brasil, México e Argentina: saldo da balança comercial (bilhões de dólares) – 2006-2009 País

2006

2007

2008

2009

Brasil

42,0

34,0

15,6

19,3

México

–13,5

–18,4

–27,0

–11,9

12,4

11,1

12,6

16,9

Argentina

Adaptado de: WORLD TRADE ORGANIZATION. International Trade Statistics 2010. Disponível em: . Acesso em: 2 out. 2015.

O Brasil foi um dos países da América Latina menos atingidos pela crise de 2008/2009, em razão dos saldos comerciais favoráveis, como vimos na tabela anterior, e do grande acúmulo de reservas internacionais ao longo dos anos 2000, como mostra a tabela abaixo. Pela primeira vez em uma crise financeira mundial, não houve fuga maciça de capitais do Brasil.

Brasil, México e Argentina: reservas internacionais (bilhões de dólares) – 2000-2014 País

2000

2008

2009

2014

Brasil

43,4

305,6

238,3

363,6

México

46,4

149,3

95,7

195,7

Argentina

32,9

72,1

47,8

31,4

Adaptado de: CEPAL. Anuario Estadístico de América Latina y el Caribe. Santiago: Naciones Unidas, 2013. Disponível em: ; CEPAL. Estudio Económico de América Latina y el Caribe. Santiago: Naciones Unidas, 2015. Disponível em: . Acessos em: 2 out. 2015.

Consulte o site da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). Veja orientações na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

Guillermo Avila/Notimex/Agência France-Presse

Uma das consequências mais graves da nova crise foi a elevação do desemprego no México: segundo o FMI, subiu de 3,6% da população economicamente ativa, em 2007, para 5,3% em 2009. Na foto, de 2009, dezenas de pessoas esperavam na fila para candidatar-se a uma das 80 vagas de trabalho temporário oferecidas na Subsecretaria de Obras Públicas do Estado de Coahuila. Economias emergentes: a industrialização recente

223

2 Tigres Asiáticos A origem dos Tigres Coreia do Sul, Taiwan e Cingapura não eram muito diferentes da maioria de seus vizinhos asiáticos até a Segunda Guerra Mundial. Os dois primeiros, de maior extensão territorial, eram países predominantemente agrícolas, cuja maioria da população vivia no campo e praticava uma agricultura arcaica. Todos tinham população pouco numerosa e majoritariamente analfabeta, assim como território reduzido, sem nenhuma reserva importante de recursos minerais ou combustíveis fósseis. O futuro econômico não lhes parecia muito promissor, no entanto, atualmente, apresentam algumas das economias mais dinâmicas e modernas do mundo. Como isso aconteceu? O modelo econômico bem-sucedido dos primeiros Tigres Asiáticos vem sendo adotado em outros países do sudeste da Ásia, que, por isso, são chamados de Novos Tigres. Observe na tabela abaixo alguns indicadores desses países e localize-os no mapa ao lado.

Banco de imagens/Arquivo da editora

Os Tigres Asiáticos e os Novos Tigres – 2015 140º L

RÚSSIA

JAPÃO Seul COREIA DO SUL Mar da China Oriental

CHINA

OCEANO PACÍFICO

Taipé

Trópico

d

TAIWAN

cer e Câ n

Hong Kong (China)

MIANMAR

Mar da China Meridional

LAOS TAILÂNDIA

Tigres Novos Tigres FILIPINAS

VIETNÃ Bangcoc CAMBOJA BRUNEI

Kuala Lumpur M A L Á S I A CINGAPURA Cingapura

Países selecionados: indicadores socioeconômicos – 2014 Posição no mundo segundo o PIB/país

Empresas PIB per na Fortune (milhões de (bilhões de capita Global 500 habitantes) dólares) (dólares) 2015

População

PIB

13. Coreia do Sul

50

1 410

27 090

17

16. Indonésia

254

889

3 630

2

26. Taiwan*

23

530

22 598

8

33. Tailândia

68

374

5 370

1

36. Malásia

30

327

10 760

1

37. Cingapura

6

308

55 150

2

Adaptado de: THE WORLD BANK. World Development Indicators 2015. Washington, D.C., 2015. Disponível em: ; FMI. World Economic Outlook Database. Apr. 2015. Disponível em: ; FORTUNE. Global 500 2015. Disponível em: . Acessos em: 2 out. 2015. * Taiwan não é reconhecida pela ONU, por isso suas agências e o Banco Mundial não apresentam informações sobre o país; assim, os dados de população e PIB são do Fundo Monetário Internacional.

224

Capítulo 9

I

N

D

Jacarta

O

N

É

I

S 0

TIMOR-LESTE

A

645

1 290

km

Organizado pelos autores.

Durante a Segunda Guerra, todos esses territórios estiveram ocupados pelos japoneses. Após o conflito mundial, passaram por um acelerado processo de industrialização, favorecido pela lógica da Guerra Fria: fizeram parte de um arco de alianças liderado pelos Estados Unidos e receberam apoio financeiro desse país. Nas décadas de 1980 e 1990, apresentaram alguns dos maiores índices de crescimento econômico do mundo e, desde essa época, estão entre os que mais têm incorporado novas tecnologias ao processo produtivo. Como resultado da implantação do modelo plataforma de exportações houve um enorme crescimento econômico dos Tigres e um aumento igualmente expressivo de sua participação no comércio internacional. Em 1965, no início do processo de industrialização, eles detinham uma participação de 1,5% no comércio mundial; em 2013, segundo a OMC, essa participação atingiu 12% (ou 8,4%, se excluirmos Hong Kong).

tock Shutters Panya K/

Bobby Yip/Reuters/Latins

pério britânico em corporado ao im Hong Kong foi in ina. Além de ser foi devolvido à Ch , 97 19 em e, 42 18 dustrial é , sua produção in o território chinês dial); por isso, nã un m l 05% do tota cial pe es o giã re insignificante (0, sa neste capítulo. Es vamos analisá-la anceiros pelos serviços fin ca sta de chinesa se ) e portuários do valores do mun de a lsa bo r aio m (7 planeta). ovimentado do (4 o porto mais m

A península da Coreia foi ocupada pelo Japão desde o fim da Guerra Sino-Japonesa (1894-1895) até o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Foi dividida após o conflito, dando origem a dois países: a Coreia do Norte, socialista, e a Coreia do Sul, capitalista. Ao fim da guerra entre ambos (1950-1953), a península continuou dividida. Hoje, a Coreia do Norte é um dos países mais isolados do mundo e a Coreia do Sul é a maior economia dos Tigres e a quarta da Ásia. d

tock

Quem são?

ul), reia do S Seul (Co m o e , ic s g to ló n o tecn e eve o avanço posições ral, de ex imboliza s u , lt u 14 c 0 2 o Centr rado em . Inaugu em 2015 ano. sul-core

Taipé (Taiwan), em 2015. O edifício Taipei 101, o quinto mais alto do mundo, se destaca na paisagem, com 508 metros de altura e 101 andares.

Suhaimi Abdulla

mpanhia mercial da Co entreposto co um se a Es . er a 24 ur 18 Cingap ais desde Índias Ocident ao Império Britânica das de pertencer is po de o, ag él ip Malásia, e qu ar da o o çã pequen grar a Federa te in a em 1965, ou ss orreu apenas Britânico, pa a definitiva oc ci ura. ên ap nd ng pe Ci de sua in pública de nstituída a Re te centro an rt po quando foi co im de-Estado é um Hoje, essa cida rio. ceiro e portuá an industrial, fin

h/Getty Images

g (China), em 2014. Bolsa de Valores de Hong Kon sa de Tóquio (Japão) e de Bol da Na Ásia, ela só fica atrás Xangai (China).

Área central de Ci ngapura, em 2015. Na foto se destaca hotel, um dos ícone um luxuoso s da cidade-Estado .

Taiwan (ou República da China), cuja capital é Taipé, constituiu-se como Estado com a chegada dos membros do Partido Nacionalista (Kuomintang), fugidos da China Comunista após a Revolução de 1949. A ONU não reconhece Taiwan, e boa parte dos países, para não criar atrito com a República Popular da China, não mantém relações diplomáticas com os taiwaneses, embora mantenha relações econômicas com eles.

tristan tan/Shutterstock

225

Os fatores da industrialização

A aceleração da industrialização nos Tigres Asiáticos se deve a um conjunto de fatores: elevadas poupanças internas, ajuda financeira recebida dos Estados Unidos, no contexto da Guerra Fria, e empréstimos contraídos em bancos no exterior a taxas de juros fixas. No início desse processo, a mão de obra nesses países era muito barata (observe na tabela a seguir) e relativamente qualificada e produtiva. Esse baixo custo, associado às medidas governamentais, como os subsídios às exportações e o controle da política cambial, tornava os produtos dos Tigres muito baratos. Isso lhes garantiu alta competitividade no mercado mundial e, portanto, elevados saldos comerciais.

Após a Segunda Guerra Mundial, foram instituídos regimes políticos centralizadores nos Tigres Asiáticos, e seus dois países mais importantes – Coreia do Sul e Cingapura – eram governados por ditaduras militares. Nessa época, o Estado teve papel fundamental no planejamento estratégico para estimular a industrialização e as exportações. Entre outras medidas:

• concedeu incentivos às exportações, como redução de impostos;

• manteve uma política de desvalorização cambial; • adotou medidas protecionistas (como a elevação

de tarifas de importação) contra os concorrentes estrangeiros;

Países selecionados: custos* dos trabalhadores industriais (dólares por hora) – 1975-2013

• investiu intensamente em educação e concedeu bolsas de estudos no exterior;

• impôs restrições ao funcionamento dos sindicatos; • promoveu grandes investimentos em infraestrutura de transporte, energia, etc.;



restringiu o consumo para elevar o nível de poupança interna via medidas fiscais (elevação de impostos) e controle das importações.

A. Robson/Arquivo da editora

Países selecionados: poupança interna bruta* (% do PIB) – 1980-1994 60

1980

51 50

1994

40

1975

1985

1997

2013

Alemanha

5,16

7,85

29,18

48,98

Estados Unidos

6,19

12,76

23,04

36,34

Japão

2,95

6,24

22,00

29,13

Cingapura

0,84

2,57

12,16

23,95

Coreia do Sul

0,33

1,28

9,24

21,96

Brasil

**

**

7,03

10,69

Taiwan

0,39

1,50

7,07

9,37

México

1,80

1,95

3,47

6,82

Adaptado de: U. S. DEPARTMENT OF LABOR. Bureau of Labor Statistics. International Comparisons Hourly Compensation Costs in Manufacturing, 1975-2009. Disponível em: ; THE CONFERENCE BOARD. Bureau of Labor Statistics. International Comparisons Hourly Compensation Costs in Manufacturing, 2013. Disponível em: . Acessos em: 2 out. 2015. * Inclui o salário recebido pelo trabalhador, benefícios sociais – previdência social, assistência médica, auxílio refeição, etc. – e impostos. Não há dados para a China.

39

38

País

** Não há dados disponíveis. 30

25

25 21

24

22

20

18

18

10

A rg

en

tin

a

ic o M éx

l si Br a

Su l do ei a

Co r

Ci ng a

pu ra

0

Adaptado de: BANCO MUNDIAL. Relatório sobre o desenvolvimento mundial 1996. Washington, D.C., 1996. p. 230-231. * Segundo o Banco Mundial: “A poupança interna bruta é calculada deduzindo-se do PIB o consumo total”.

226

Capítulo 9

Desde os primórdios de seu processo de industrialização, as sociedades dos Tigres Asiáticos perceberam a importância de investir em educação, principalmente no nível básico, como condição fundamental para formar e capacitar trabalhadores e pesquisadores, gerar novas tecnologias e aumentar a produtividade. Principalmente a Coreia do Sul, a maior e mais moderna economia dos Tigres, desde o Política cambial: instrumento utiliinício deu muito vazado pelos países para adaptar suas relações comerciais e financeiras no lor à educação básimercado externo às suas necessidaca e a tomou como des internas. Por exemplo, se o governo desvalorizar a sua moeda, fasuporte para seu vorecerá o setor de exportação e, ao desenvolvimento mesmo tempo, tornará as importações mais caras. socioeconômico.

Brasil, Coreia do Sul e Argentina: analfabetismo – 1970-2013

32

A. Robson/Arquivo da editora

Pessoas com 15 anos de idade ou mais (%) 31,8

Brasil

28

Coreia do Sul

24,5

Argentina

24

Jung Yeon-Je/Agência France-Presse

Observe no gráfico as taxas de analfabetismo da Coreia do Sul comparadas com as do Brasil e da Argentina.

19,1

20

15,1

16 13,2

12

10,0 7,1

8 7,0

4

5,6

4,3 4,1

3,3 2,4

0

1970

1980

1990

8,5

1999

2,0

2,0

0,0

0,0

Como vimos, a Unctad classifica a Coreia do Sul como país desenvolvido e, nesse processo de transformação socioeconômica, os investimentos em educação, especialmente em formação e valorização dos professores, tiveram papel central. Sala de aula em Seul, em 2015.

2010 2013

Adaptado de: PISA 2000. Relatório Nacional. Brasília: Inep, 2001. p. 27; RELATÓRIO de desenvolvimento humano 2009. Nova York: Pnud; Coimbra: Almedina, 2009. p. 171-172; THE WORLD BANK. World Development Indicators 2015. Washington, D.C., 2015. Disponível em: . Acesso em: 11 dez. 2015.

Durante muito tempo, esses países foram conhecidos como exportadores de produtos de baixa qualidade e de tecnologia simples, mas hoje estão vendendo produtos sofisticados de alto valor agregado, como navios, automóveis, semicondutores, computadores, tablets, smartphones, entre outros. Mais recentemente, o aumento da renda per capita, como mostra a tabela a seguir, e a elevação salarial, como vimos na tabela da página anterior, resultantes do crescimento da produtividade, ocasionaram uma expansão quantitativa e qualitativa dos mercados internos, sobretudo na Coreia do Sul, o mais populoso deles.

Deve-se destacar que a elevação dos custos da mão de obra e a valorização de suas moedas têm estimulado esses países, novamente seguindo os passos do Japão, a aprimorar suas indústrias. Os Tigres têm investido em novos setores industriais, mais avançados tecnologicamente, transferindo indústrias tradicionais e intensivas em mão de obra para outros países da região, onde o custo da força de trabalho é menor. Assim como investidores japoneses, norte-americanos e europeus, os empresários dos Tigres têm construído filiais na Tailândia, na Malásia e na Indonésia, que também cresceram aceleradamente, conforme se pode constatar pelos dados da tabela a seguir. Há ainda muitos investimentos sendo feitos na China, sobretudo por empresários de origem chinesa com empresas sediadas em Taiwan e Cingapura.

Países selecionados: renda per capita (dólares)

Países selecionados: taxa de crescimento do PIB

País

1980

1990

2000

2010

2014

Cingapura

5 004

12 766 23 793

46 569 56 319

Coreia do Sul

1 704

6 516

11 948

22 151

28 101

Taiwan

2 368

8 172

14 877

19 262

22 598

Argentina

9 013

5 237

9 460

11 508

12 873

Brasil

1 283

3 241

3 789

11 301

11 604

México

3 297

3 423

6 776

9 197

10 715

Adaptado de: FMI. World Economic Outlook Database. Apr. 2015. Disponível em: . Acesso em: 2 out. 2015.

(média anual, %) País

1980-1990

1990-2000

2000-2014

Cingapura

6,4

7,2

6,0

Indonésia

6,1

4,2

5,5

Malásia

5,2

7,0

4,9

Coreia do Sul

9,4

6,2

4,0

Tailândia

7,6

4,2

3,9

Adaptado de: BANCO MUNDIAL. Relatório sobre o desenvolvimento mundial 1996. Washington, D.C., 1996. p. 226-227; THE WORLD BANK. World Development Indicators 2015. Washington, D.C., 2015. Disponível em: . Acesso em: 2 out. 2015.

Economias emergentes: a industrialização recente

227

dos maiores do mundo (observe o gráfico na página seguinte). Essa localização favorece a entrada de matérias-primas agrícolas, minerais e fósseis, com presença significativa na pauta de importações, segundo relatório do Banco Mundial, 48,5% em 2014. Favorece também a saída de produtos industrializados, majoritários na pauta de exportações. De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Industrial 2016, da Unido, em 2013, 97% das exportações do país eram de produtos industrializados, dos quais 72% eram bens de alta e média tecnologia. Taiwan sedia oito empresas da lista da Fortune Global 500 2015; a maior delas é a Hon Hai Precision Industry (a 31ª do mundo). Essa empresa é detentora da marca Foxconn, que produz motherboards (placas-mãe), notebooks, tablets e smartphones para diversas marcas ocidentais. Estão sediadas no país mais quatro empresas do setor microeletrônico que figuram entre as quinhentas maiores do mundo. A especialização das empresas taiwanesas lhes permite agilidade e flexibilidade para se adaptarem às inovações tecnológicas, assegurando-lhes maior competitividade no mercado global.

Apesar de muitos pontos em comum, principalmente quanto ao processo de industrialização, há grandes diferenças entre esses países, em particular quanto à estrutura industrial. A economia da Coreia do Sul é controlada por redes de grandes empresas, denominadas chaebols, a exemplo dos keiretsus japoneses, sendo que 17 delas estão entre as maiores do mundo (reveja a tabela na página 224). Esses conglomerados fabricam uma enorme diversidade de produtos, desde aço e navios até artigos eletrônicos e automóveis, além de também atuarem nos setores financeiro, de comércio e de serviços. Os chaebols sul-coreanos cada vez mais vendem seus produtos no mercado internacional e já são responsáveis por importantes inovações tecnológicas. Entre as 17 corporações sul-coreanas que estão na lista da Fortune Global 500 2015 destacam-se a Samsung Electronics (a maior empresa do país e 13a do mundo), a SK Holdings, a Hyundai Motor, a LG Electronics, a Hyundai Heavy Industries e a Kia Motors. Observe no mapa abaixo a distribuição das indústrias no território da Coreia do Sul. Perceba que há uma forte concentração no litoral, nas proximidades de portos, como Busan, o maior do país e um

Coreia do Sul: minera•‹o, energia e indœstria Os dados do mapa desta página não possuem data na publicação original.

COREIA DO NORTE

Indústria Alta tecnologia Centro de indústrias diferenciadas (metalurgia, construção mecânica, produtos químicos, papel)

Seul Seongnam Womju Suwon

Incheon

Centro de indústria leve (mecânica de precisão, têxtil, agroalimentar)

Samcheok

Mar do Japão

Andong

Cheongju

Centro de indústrias pesadas (siderurgia, tratamento de metais, química de base) Porto principal

38º N

Gangneung Chuncheon

Daejeon Gimcheon Pohang Gunsan

Jeonju

Refinaria de petróleo

Daegu Ulsan

Região industrial Jinju Masan

Mineração e energia Carvão

Gwangju

Busan

Mokpo

Central hidrelétrica

Yosu

Central nuclear Central termelétrica

ito tre Es

reia Co da

Chumbo e zinco Minério de ferro Ouro Tungstênio

Cheju Ilha Cheju

0

75 km

150

JAPÃO 130º L

Adaptado de: CHARLIER, Jacques (Dir.). Atlas du 21e siècle édition 2012. Groningen: Wolters-Noordhoff; Paris: Éditions Nathan, 2011. p. 118.

228

Capítulo 9

Banco de imagens/Arquivo da editora

A apresentação das empresas e das marcas que ocorre nesta página tem finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir seu consumo. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do tema abordado.

Mar Amarelo

SeongJoon Cho/Bloomberg/Getty Images

Kim Min-hee/Kyodo News/Pool/Reuters/Latinstock

Em um anúncio na revista Time, a Hyundai propagandeava que seus produtos iam de chips de computadores a navios (no inglês forma um trocadilho: from chips to ships). Nas fotos de 2015, fábrica de chips da SK Hynix (antiga Hyundai Electronics), em Incheon, e estaleiro naval da Hyundai Heavy Industries, em Ulsan (ambas na Coreia do Sul).

Cingapura transformou-se em um dos maiores entrepostos comerciais do mundo e importante centro financeiro asiático. Em 2014, o país apresentava o melhor índice de desempenho em logística da Ásia e o quinto do mundo, como vimos no Capítulo 6, e possuía o segundo

porto mais movimentado do planeta (observe o gráfico a seguir). Além disso, tem procurado investir em indústrias de alto valor agregado, como a naval e a eletrônica. Está sediada no país a Flextronics International, uma das maiores fabricantes mundiais de componentes eletrônicos.

Mundo: portos mais movimentados Ð 2013 1 º Xangai (China) 2 º Cingapura (Cingapura)

A. Robson/Arquivo da editora

A apresentação das empresas e das marcas que ocorre nesta página tem finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir seu consumo. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do 33,6 tema abordado. 32,6

3 º Shenzen (China)

23,3

4 º Hong Kong (China)

22,4

5 º Busan (Coreia do Sul)

17,7

6 º Ningbo (China)

17,3

7 º Qingdao (China)

15,5

8 º Guangzhou (China)

15,3

9 º Dubai (Emirados Árabes Unidos)

13,6

10 º Tianjin (China)

13,0

11 º Roterdã (Países Baixos)

11,6

12 º Dalian (China)

10,9 0

5

10

15

20

25

30

35

Milhões de TEUs*

Adaptado de: WORLD SHIPPING COUNCIL. Top 50 World Container Ports 2015. Disponível em: . Acesso em: 3 out. 2015.

* Sigla em inglês para twenty-foot equivalent units (unidades equivalentes a vinte pés), o tamanho padrão internacional dos contêineres (peso máximo de 24 toneladas). Delpixel/Shutterstock

Navio cargueiro carregado de contêineres em Cingapura, em 2015. Como se pode inferir dos dados do gráfico, a atividade portuária é um serviço muito importante na economia desse país. Muitas das mercadorias embarcadas nesse porto são produzidas em países vizinhos.

229

Para saber mais

DANIA: b IDA

C

“A diferença entre o modelo asiático, se se pode chamar assim, e o modelo latino-americano, é que o modelo asiático é construído sobre poupança interna e mercado externo, enquanto o modelo latino-americano é construído sobre poupança externa e mercado interno.” Essa frase de Celso Amorim, ex-Ministro das Relações Exteriores do Brasil, sintetiza bem as diferenças estruturais entre o modelo econômico baseado em substituição de importações e o modelo que se apoiou em exportações. Entretanto, não revela que o modelo asiático, ao investir em educação e garantir melhor distribuição de renda, possibilitou, mais do que o latino-americano, criar um amplo mercado interno. A exclusão social foi uma das piores decorrências do modelo econômico instituído na América Latina. Outra diferença marcante é que o modelo asiático, ao apoiar o desenvolvimento em poupança interna e

s

Diferenças entre o modelo asiático e o latino-americano

públICA As

s polítIC oA

construir um Estado eficiente, mantendo as contas públicas controladas, permitiu, bem antes dos países da América Latina, maior crescimento econômico com a inflação controlada. A inflação alta foi durante muito tempo um perverso mecanismo de concentração de renda nos países da América Latina, mesmo quando a economia cresceu. Como vimos, o modelo asiático, em comparação com o latino-americano, propiciou maiores taxas de crescimento econômico e maior elevação da renda per capita (caso queira relembrar, reveja as tabelas na página 227). Esses indicadores, acompanhados de uma distribuição de renda mais equilibrada e de políticas públicas mais eficientes, especialmente em educação e saúde, asseguraram maior alta do índice de desenvolvimento humano. Observe as tabelas a seguir.

Países selecionados: distribuição de renda % sobre o total do rendimento nacional País* (ano da pesquisa)

Índice de Gini 10% mais pobres

10% mais ricos

Coreia do Sul (1998)

2,9

22,5

31,6

Cingapura (1998)

1,9

32,8

42,5

Argentina (2013)

1,6

30,6

42,3

México (2012)

1,9

38,9

48,1

Brasil (2013)

1,0

41,8

52,9

Adaptado de: THE WORLD BANK. World Development Indicators 2012. Washington, D.C., 2012. p. 74-76; THE WORLD BANK. World Development Indicators 2015. Washington, D.C., 2015. Disponível em: . Acesso em: 12 dez. 2015. * Não há dados para Taiwan nos relatórios do Banco Mundial e os dados de Coreia do Sul e Cingapura são do relatório de 2012.

Países selecionados: Índice de Desenvolvimento Humano – 2014 Posição/país*

IDH

Expectativa de vida ao nascer (anos)

Escolaridade média/ escolaridade esperada

Rendimento nacional bruto per capita

(anos)

(dólar PPC de 2011)

Desenvolvimento humano muito elevado 11. Cingapura

0,912

83,0

10,6 / 15,4

76 628

17. Coreia do Sul

0,898

81,9

11,9 / 16,9

33 890

40. Argentina

0,836

76,3

9,8 / 17,9

22 050

Desenvolvimento humano elevado 74. México

0,756

76,8

8,5 / 13,1

16 056

75. Brasil

0,755

74,5

7,7 / 15,2

15 175

Adaptado de: UNDP. Human Development Report 2015. New York: United Nations Development Programme, 2015. p. 208-211. * Não há dados para Taiwan nos relatórios da ONU e de suas agências.

230

Capítulo 9

3 Países do Fórum Ibas próprio Fórum, “Índia, Brasil e África do Sul procuram, principalmente a partir da década de 1990, elevar seu perfil internacional a partir de atributos cuja semelhança, por si só, justifica a maior aproximação entre os três países: são potências intermediárias, com forte influência em suas respectivas regiões, democracias consolidadas e economias em ascensão e que, dadas as evidentes desigualdades internas, confrontam desafios comuns de desenvolvimento”. Observe abaixo alguns indicadores socioeconômicos dos membros do Ibas.

Reprodução/

O Fórum de Diálogo Ibas (ou IBSA, da sigla em inglês) é uma cooperação trilateral firmada em 2003 entre três importantes países emergentes: Índia, Brasil e África do Sul. Como vimos no Capítulo 4, seu objetivo é aprofundar a cooperação Sul-Sul no âmbito econômico, científico e cultural, além de aumentar o poder de negociação com os países desenvolvidos nos organismos internacionais, como a ONU e a OMC. Apesar de se localizarem em continentes diferentes, esses países apresentam muitas semelhanças e, por isso, buscam maior aproximação. Segundo o

Consulte o site Fórum de Diálogo Ibas. Veja orientações na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

I India-Brazil-South Africa Dialogue Forum. Disponível em: D . < Acesso em: 11 dez. 2015. A

Ibas: indicadores socioeconômicos – 2014 Posição no mundo segundo o PIB/país

População (milhões de habitantes)

PIB

PIB per capita

(bilhões de dólares)

(dólares)

Empresas na Fortune Global 500 2015

7. Brasil

206

2 346

11 530

7

9. Índia

1 295

2 067

1 570

7

54

350

6 800

0

33. África do Sul

Adaptado de: THE WORLD BANK. World Development Indicators 2015. Washington, D.C., 2015. Disponível em: ; FORTUNE. Global 500 2015. Disponível em: . Acessos em: 3 out. 2015.

Como já estudamos o Brasil no contexto do grupo dos países latino-americanos, vamos agora estudar o processo de industrialização dos outros dois membros do Fórum Ibas: África do Sul e Índia.

O modelo de industrialização desses dois países emergentes se aproxima do vigente no Brasil: ambos priorizaram a substituição de importações e tiveram (e ainda têm) forte presença do Estado na economia. Economias emergentes: a industrialização recente

231

África do Sul O processo de industrialização da África do Sul foi intensificado depois da independência política do Reino Unido, em 1961. Contou com uma forte participação de capitais estrangeiros, predominantemente britânicos e norte-americanos, distribuídos por vários setores, com destaque para a indústria extrativa. Os capitais estatais concentraram-se na indústria de bens intermediários e em obras de infraestrutura. Na atualidade, o parque industrial sul-africano é diversificado, como mostra o mapa abaixo.

20º L ZIMBÁBUE

BOTSUANA

MOÇAMBIQUE

África do Sul: mineração e energia

Trópico de Capricórnio Tró

20º L Tshwane

ZIMBÁBUE BOTSUANA

NAMÍBIA Johannesburgo

MOÇAMBIQUE

Trópico de Capricórnio Tró

SUAZILÂNDIA Richard’s Bay

Tshwane

LESOTO Pietermaritzburgo Durban

Johannesburgo

NAMÍBIA

OCEANO ÍNDICO

Saldanha Bay

SUAZILÂNDIA

Bloemfontein LESOTO

Cidade do Cabo

Porto Elizabeth

OCEANO ÍNDICO

Indústria Alta tecnologia

OCEANO ATLÂNTICO

Alumínio Automobilística Metalúrgica Petróleo sintético

OCEANO ATLÂNTICO Cidade do Cabo

0

Química

220

440

km

Refinaria de ouro Refinaria de petróleo

0

230

460

km

Siderúrgica Região industrial

Adaptado de: CHARLIER, Jacques (Dir.). Atlas du 21e siècle édition 2012. Groningen: Wolters-Noordhoff; Paris: Éditions Nathan, 2011. p. 169.

Minérios

Energia

Amianto

Platina

Carvão

Cobre

Titânio

Chumbo e zinco

Vanádio

Central hidrelétrica

Cromo

Zircônio

Diamante

Bacia de Witwatersrand (maior depósito de ouro do mundo)

Ferro Fosfatos

Embora a África do Sul seja a segunda maior economia do continente africano, a mais diversificada e possua importantes empresas nacionais estatais e privadas, nenhuma delas consta na lista das 500 maiores do mundo da revista Fortune. Tampouco há empresas de outro país da África nessa lista. Isso indica baixa concentração de capitais nas empresas e limitação do mercado interno dos países desse continente. Em 2014, o PIB da África do Sul, apesar de corresponder a 20% do produto interno bruto de toda a África subsaariana, 232

Capítulo 9

Manganês Níquel Ouro

Complexo vulcânico de Bushveld (depósito rico em platina)

Central nuclear Central termelétrica Gás natural Urânio

Adaptado de: CHARLIER, Jacques (Dir.). Atlas du 21e siècle édition 2012. Groningen: Wolters-Noordhoff; Paris: Éditions Nathan, 2011. p. 169.

No início do processo, esses fatores serviram para atrair investimentos estrangeiros, mas com o aumento da pressão internacional contra o apartheid, principalmente a partir dos anos 1980, muitas empresas transnacionais deixaram de investir no país.

Banco de imagens/Arquivo da editora

Banco de imagens/Arquivo da editora

África do Sul: indústria

Os dados dos mapas desta página não possuem data na publicação original.

equivalia a somente 15% do PIB brasileiro. A Nigéria, a maior economia do continente, tinha um PIB de 568 bilhões de dólares, o que correspondia a 33% do produto interno total da África subsaariana. No entanto, sua economia está muito concentrada na atividade petrolífera e não apresenta a diversificação da economia sul-africana. Apenas essas Veja a indicação do duas economias detêm mefilme Invictus na tade do PIB da região subseção Sugestões de leitura, filmes e sites. saariana, que é composta de 47 países. Entre os fatores que contribuíram para a industrialização da África do Sul destacam-se a disponibilidade de mão de obra barata – os trabalhadores negros eram superexplorados – e as enormes reservas minerais e energéticas. Observe no mapa abaixo.

Além das pressões externas, muitos líderes sul-africanos lutaram contra o regime segregacionista, entre os quais o mais conhecido é Nelson Mandela (1918-2013). Ele foi o maior líder do Congresso Nacional Africano (ANC, sigla em inglês), como é chamado o mais antigo grupo antiapartheid, fundado em 1912, e também o partido político atualmente no poder. Com a introdução do voto secreto e universal em 1994, Mandela, recém-saído da prisão, foi eleito o primeiro presidente negro do país. Apesar da extinção do regime do apartheid, a desigualdade socioeconômica permanece. A África do Sul é um dos países com distribuição de renda mais desigual no mundo: de acordo com o World Development Indicators 2015, os 10% mais ricos se apropriam de 51,3% da renda nacional, e os 10% mais pobres, de apenas 0,9%. Segundo o mesmo relatório do Banco Mundial, 34,7% da população vive na pobreza, com menos de 3,10 dólares PPC por dia, e 16,6%, na extrema pobreza, com menos de 1,90 PPC dólar por dia. A maioria da população pobre é composta de negros; por isso, como vimos no Capítulo 5, políticas de ação afirmativa têm sido instituídas por sucessivos governos desde o fim do apartheid para compensar essa desigualdade. E os investimentos em educação, como mencionado pelo próprio Mandela, são fundamentais nesse processo.

A educação é a arma mais poderosa que se pode usar para mudar o mundo.” Nelson Mandela, preso político de 1964 a 1990, e presidente da África do Sul de 1994 a 1999.

A concentração da renda nacional e a população relativamente pequena (quatro vezes menor do que a brasileira e 24 vezes menor do que a indiana) restringem o mercado interno e inibem uma expansão mais acelerada do PIB sul-africano. Embora nos anos 2000 sua taxa de crescimento econômico tenha aumentado em relação à década anterior, na qual o país estava saindo do apartheid, não chegou a apresentar um desempenho tão elevado como o da Índia. Segundo o Banco Mundial, na década de 1990, o PIB da África do Sul cresceu em média 2,1% ao ano, e, no período de 2000 a 2014, 3,3%. Para saber mais sobre a situação dos países africanos e asiáticos, consulte o livro As relações internacionais da Ásia e da África e acesse o site do Banco Mundial. Veja orientações na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

Na África do Sul, desde a extinção do apartheid, todos os presidentes eleitos são negros e filiados ao ANC: Nelson Mandela (1994-1999), Thabo Mbeki (1999-2008), Kgalema Motlanthe (2008-2009, assumiu após renúncia de Mbeki) e Jacob Zuma (2009-2014). Na foto, cartazes pregando o voto no presidente Jacob Zuma no pleito de 7 de maio de 2014, no qual foi reeleito para governar mais cinco anos.

Rogan Ward/Reuters/Latinstock

Superação do Apartheid

Economias emergentes: a industrialização recente

233

Dialogando com as disciplinas

Nesta seção a Geografia dialoga com a História e a Sociologia.

CIDADANI

AtIvAs rm

Ações AfI A:

Sujeitos históricos e sujeitos “sem história”

A

o longo da história da humanidade observamos a ascensão e a marginalização de diversos grupos. Os “vencedores” de disputas e processos sociais recebem um papel de destaque nas páginas da História; já os vencidos, dominados e oprimidos são excluídos, marginalizados. A análise histórica pela ótica dos grupos vencidos é o que o sociólogo alemão Walter Benjamin (1892-1940) chamou de “história a contrapelo”, ou seja, uma história que segue na direção contrária à da historiografia tradicional, visando escrever sobre aqueles sujeitos que antes não recebiam a devida atenção, que não tinham destaque no processo histórico. Considerando a realidade descrita e o que você observa em seu cotidiano, leia as reportagens a seguir e responda às questões propostas.

Marcelo Camargo/Abr/Radiobr‡s

Dilma sanciona lei que regulamenta as cotas nas universidades federais A lei que obriga as universidades federais a oferecer metade de suas vagas para alunos de escolas públicas, assim como para negros e índios, foi publicada nesta segunda-feira [15 out. 2012] no “Diário Oficial da União”. “Esta lei contribui para saldar uma dívida histórica do Brasil com nossos jovens mais pobres”, afirmou hoje a presidente Dilma Rousseff no programa de rádio “Café com a presidenta”. As 59 universidades federais do país terão que aplicar a lei imediatamente para a seleção dos alunos para os cursos do próximo ano [2013], destacou a presidente. A lei estabeEstudantes realizam ato em favor das cotas nas lece que 12,5% das matrículas universitárias serão reservadas universidades públicas em frente à Reitoria da Universidade de São Paulo (USP), no campus do Butantã, para cotistas em 2013. Esse percentual terá que ser elevado nos anos seguintes até chegar a 50% em 2016. […] “Nosso São Paulo (SP), em 2012. objetivo, com essa lei, é ampliar o acesso às nossas universidades e aos nossos institutos federais para os jovens das escolas públicas, para os negros e para os índios. Essas universidades e os institutos estão entre os melhores do país e, muitas vezes, as pessoas vindas das escolas públicas têm dificuldade de ter acesso à universidade pública”, afirmou a presidente. A lei também prevê que entre os estudantes de escolas públicas admitidos nas universidades, selecionados segundo suas notas, serão oferecidas cotas específicas para aqueles que se declararem negros, mulatos, índios ou procedentes de famílias de baixa renda. Dessa forma, metade das cotas será oferecida para os estudantes com as melhores notas que comprovarem uma renda familiar inferior a um salário mínimo e meio por mês independente da etnia, e a outra metade aos que alegarem critérios étnicos, de forma proporcional à distribuição das etnias em cada estado do país. […] As políticas de cotas foram declaradas constitucionais neste ano pelo Supremo Tribunal Federal em um julgamento no qual se pronunciou sobre uma reivindicação do partido Democratas (DEM) contra o sistema por considerá-lo sem sentido em uma sociedade etnicamente diversa como a brasileira. AGêNCIA EFE. Dilma sanciona lei que regulamenta as cotas nas universidades federais. R7 NOTÍCIAS, 15 out. 2012. Disponível em: . Acesso em: 28 jan. 2016.

234

Capítulo 9

Sul-africano defende expansão de ações afirmativas no Brasil Após o fim do apartheid na África do Sul, há 13 anos, as ações afirmativas implementadas no país foram o principal instrumento no processo de inclusão social dos negros, segundo Shadrack Gutto, professor para estudos africanos da Universidade da África do Sul, entrevistado com exclusividade pela Folha Online em São Paulo. Até então, os brancos —10% da população do país — detinham 87% das terras, enquanto os negros, que representavam 90% da população, tinham 13% delas. A exclusão repetia-se na política, na educação e na economia. […] Folha Online: Como o senhor avalia a eficácia das ações afirmativas na inclusão social dos negros na África do Sul? Shadrack Gutto: A segregação na África do Sul já existia desde a era colonial. Depois, como todos sabem, o país tornou-se o centro de um racismo sistêmico e muito organizado durante o apartheid. Quando esse regime foi derrotado, graças aos esforços da comunidade internacional e do próprio povo sul-africano, foi preciso corrigir os erros históricos. Para isso, as ações afirmativas tiveram um papel imperativo, e já havia uma visão sobre sua eficiência. Em 1993, o partido Congresso Nacional Africano, que hoje governa o país, formulou o Programa de Reconstrução e Desenvolvimento. Quando chegou ao poder, em 1994, por meio das primeiras eleições democráticas, implementou diversas reformas para dar poder aos negros, que estavam excluídos da economia, da política, da educação. Houve então uma série de ações, incluindo reforma agrária, reforma nos serviços públicos e sociais e reforma na área educacional. […] Folha Online: Como são trabalhadas as ações afirmativas na área da educação? Gutto: Na África do Sul, havia universidades para brancos e para negros. As brancas ficavam com praticamente todos os recursos. Assim, as pessoas tinham uma educação e potencial desiguais em termos de conhecimento e aplicação desse conhecimento. As universidades para os negros eram apenas para ensino. Não para pesquisa. Hoje, os negros estão se tornando maioria dos estudantes da graduação. Mas os brancos são mais numerosos na área de pesquisa acadêmica. Por isso, em algumas universidades, os professores brancos ainda são 80% ou 90%. E isso é um problema. Você não pode só ter brancos ensinando negros. É preciso também ter negros ensinando negros. […] ARAÚJO, Paulo de. Sul-africano defende expansão de ações afirmativas no Brasil. Folha de S.Paulo, 1o dez. 2007. Disponível em: . Acesso em: 28 jan. 2016.

1. A fala da presidente Dilma Rousseff e a do professor Shadrack Gutto destacam um débito histórico com a população negra do Brasil e da África do Sul. A que se refere esse débito?

2. Como os governos têm procurado sanar esse débito histórico com a população negra da África do Sul e do Brasil? 3. Relacione as ações afirmativas à “história a contrapelo”. De que forma ambas agem com o objetivo de resgatar os grupos sociais menos favorecidos da situação marginalizada à qual foram submetidos?

4. Em sua opinião, as cotas étnicas e socioeconômicas para acesso à universidade contribuem positivamente para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária? Justifique sua resposta.

Economias emergentes: a industrialização recente

235

Índia

o petroquímico e o militar. O Estado investiu principalmente na indústria de bens intermediários, na indústria bélica e em obras de infraestrutura. As grandes reservas de minérios, como cromo (terceiro produtor mundial, em 2014), de ferro (quarto) e manganês (sexto), contribuíram para o processo de industrialização. Assim como as reservas de combustíveis fósseis, principalmente de carvão mineral (terceiro produtor mundial, em 2013) e de petróleo (25o). Em 2013, foram extraídos 613 milhões de toneladas de carvão mineral, sua principal fonte de energia, e 759 mil barris de petróleo por dia. Como o consumo diário de petróleo é cerca de cinco vezes maior do que a produção interna, o restante é importado, fazendo do país o terceiro importador mundial desse combustível fóssil. O mapa abaixo mostra as reservas dos principais recursos minerais e energéticos da Índia. Como se pode observar no mapa, as maiores concentrações industriais do país estão no nordeste do território, em torno de cidades como Jamshedpur e Kolkata (Calcutá), com destaque para indústrias pesadas, como siderúrgicas, mecânicas, carboquímicas e petroquímicas. Isso se deve à existência de reservas de recursos minerais e energéticos. Mas há concentrações industriais em outras regiões, incluindo as de alta tecnologia, como em Bangalore, no sul do país.

A Índia é um dos mais importantes países emergentes. Com base em seu gigantesco mercado consumidor (é a segunda população do planeta, superada apenas pela da China), apresenta uma das economias que mais crescem no mundo. Segundo o Banco Mundial, o país cresceu em média 7,6% ao ano no período de 2000 a 2014. Entretanto, iniciou seu processo de industrialização tardiamente, somente após a Segunda Guerra Mundial, quando se libertou do domínio do Reino Unido. Em 1947, depois de longa campanha liderada por Mohandas Gandhi (1869-1948), mais conhecido como Mahatma ('grande alma', em sânscrito), o país obteve sua independência política. O partido Congresso Nacional Indiano (INC, sigla em inglês), de maioria hindu, assumiu o poder, tendo como primeiro-ministro outro importante líder do movimento de independência, Jawaharlal Nehru (1889-1964), que governou até sua morte. Seu partido, porém, permaneceu no poder até 1996, quando o Partido do Povo Indiano (BJP, sigla em hindi) venceu as eleições. Desde então esses dois partidos se alternam no poder. O país é uma república parlamentarista, e os indianos gabam-se de ser um grande regime democrático, como aparece no próprio slogan do INC: “O maior partido democrático do mundo”. Na Índia, sob o governo de Nehru, Índia: minera•‹o, energia e indœstria o Estado teve forte participação no processo de industrialização, embora também houvesse investimentos AFEGANISTÃO britânicos e americanos. Como se tratava de um governo do grupo CHINA dos países não alinhados, ainda PAQUISTÃO contou com a assistência técnica Délhi NEPAL soviética em diversos setores, como Kanpur Os dados do mapa desta página não possuem data na publicação original.

Banco de imagens/Arquivo da editora

90º L

BUTÃO

Asansol BANGLADESH Trópico de Ahmadabad Câncer

Raurkela

Baroda Surat

Mar Arábico

Mumbai

Jamshedpur Kolkata

MIANMAR

Golfo de Bengala

Hyderabad

Vishakhapatnam

Indústria

Mineração e energia

Alta tecnologia

Bauxita

Refinaria de petróleo

Carvão

Região industrial

Cromo

OCEANO ÍNDICO

Bangalore

Chennai

Gás natural Dutos Gasoduto Oleoduto

Manganês

Cochin

Madurai

Minério de ferro Petróleo

OCEANO ÍNDICO

SRI LANKA

0

370

740

km

Adaptado de: CHARLIER, Jacques (Dir.). Atlas du 21e siècle édition 2012. Groningen: Wolters-Noordhoff; Paris: Éditions Nathan, 2011. p. 109.

236

Capítulo 9

Shailesh Andrade/Reuters/Latinstock

A apresentação da empresa que ocorre nesta página tem finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir seu consumo. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do tema abordado.

A Índia possui um parque fabril diversificado, com praticamente todos os setores industriais, e também já abriga algumas empresas entre as maiores do mundo, com destaque para a Indian Oil (maior do país e 119a do mundo na lista da Fortune Global 500 2015). A empresa atua em extração, transporte e refino de petróleo e também no setor petroquímico. A Indian Oil simboliza a intervenção estatal no processo de industrialização da Índia (como a Petrobras, no Brasil) e até hoje é controlada pelo governo central, que em junho de 2015 detinha 68,5% das ações da empresa. Duas grandes empresas indianas são a Tata Motors, maior indústria automobilística do país, e a Tata Steel, ambas pertencentes ao Grupo Tata, cujo controle acionário está nas mãos do bilionário Ratan Tata. Esse gigantesco conglomerado é composto de 94 empresas que atuam em mais de cem países nos mais diversos setores industriais (siderúrgico, químico, automobilístico, aeroespacial, de informática, entre outros), nos serviços e nas finanças.

A Tata Motors (254a posição na lista da Fortune Global 500 2015), ganhou notoriedade em 2008 por ter lançado o carro mais barato do mundo. Na foto, o presidente da empresa mostra o novo modelo, lançado em Mumbai (Índia), em 19 de maio de 2015, ao preço de 199 mil rúpias (9 440 reais ao câmbio desse dia).

País de contrastes Apesar da modernização em curso, a Índia ainda é um país rural e agrícola. Segundo o relatório 2015 do Banco Mundial, 68% de sua população vive no campo e as atividades primárias ocupam a maior parte dos trabalhadores. Apesar de possuir um parque industrial diversificado, esse é o setor que menos emprega. As atividades terciárias ainda ocupam relativamente

pouca mão de obra, mas são as que mais crescem, sobretudo os serviços, e já contribuem com mais da metade do PIB. Observe os gráficos abaixo.

60

60

Masculina 50

Feminina

43

40

A. Robson/Arquivo da editora

M‹o de obra (%)

Índia: participação das atividades econômicas no PIB – 2014 A. Robson/Arquivo da editora

Índia: distribuição da PEA* por atividades econômicas – 2012

Secundárias Primárias

30%

17%

31

30

26 20

20

20

Terciárias

10

53%

0 Primárias

Secundárias

Terciárias Atividades

Adaptado de: THE WORLD BANK. World Development Indicators 2015. Washington, D.C., 2015. Disponível em: . Acesso em: 12 dez. 2015.

Adaptado de: THE WORLD BANK. World Development Indicators 2015. Washington, D.C., 2015. Disponível em: . Acesso em: 12 dez. 2015.

*População economicamente ativa. Economias emergentes: a industrialização recente

237

mundiais que atuam nesses setores, concentradas sobretudo no parque tecnológico de Bangalore (localize -o no mapa da página 236). Muitas corporações dos Estados Unidos e do Reino Unido têm terceirizado seus serviços de atendimento ao consumidor, via telefone e internet (conctact centers) e de vendas de produtos e serviços (telemarketing), para empresas indianas. A mão de obra barata compensa o custo da conexão à internet e da ligação telefônica internacional, que tem caído com os avanços tecnológicos. Bangalore é um dos mais importantes parques tecnológicos do mundo. A cidade abriga diversas universidades e centros de pesquisa, a maioria do governo indiano, entre os quais se destacam: Universidade de Bangalore, Instituto Indiano de Ciência e Instituto Internacional de Tecnologia da Informação. Em torno deles se desenvolveram diversas empresas nacionais (estatais e privadas) de alta tecnologia – Industan Aeronautics (aeronaves), Infosys (softwares), Tata Technologies (softwares), Wipro Technologies (TI), entre muitas outras – e, ao mesmo tempo, se instalaram na região filiais de praticamente todas as maiores e mais conhecidas corporações transnacionais desses setores. Somando as nacionais e as estrangeiras, há mais de trezentas empresas dos setores de informática e de TI instaladas em Bangalore, que por isso ficou conhecida como o “Vale do Silício” da Índia. Veja a indicação do filme Quem quer ser um milionário? na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

Aijaz Rahi/AP Photo/Glow Images

Ultimamente, com a abertura ao capital estrangeiro aliado a uma política de desregulamentação e de privatização, a Índia tem atraído muitos investimentos externos, principalmente capitais norte-americanos e britânicos. Um dos fatores que mais têm contribuído para isso, além da mão de obra barata e cada vez mais qualificada, é o mercado interno em crescimento. Apenas um pequeno percentual da população indiana é de fato consumidora, já que a maior parte dela sobrevive abaixo da linha internacional de pobreza. Segundo o World Development Indicators 2015, 58,0% dos indianos viviam na pobreza, com menos de 3,10 dólares PPC por dia, e 21,3% na extrema pobreza, com menos de 1,90 dólar PPC por dia. Porém, mesmo que somente um quarto dos indianos tenha efetivamente capacidade de consumo, em 2014 isso correspondia a mais de 300 milhões de pessoas, o que equivalia a uma vez e meia a população brasileira. Com a modernização e o rápido crescimento econômico, a parcela da população pertencente à classe média vem se ampliando. Na Índia, o moderno e o arcaico, a opulência e a miséria convivem lado a lado, como você pode observar nas imagens abaixo. Enquanto é imensa a legião de pobres, sua economia é uma das que mais crescem no mundo desde a década de 1990 e abriga indústrias e serviços de alta tecnologia, como informática (software e hardware), tecnologias da informação (TI) e biotecnologia. O país é um dos maiores exportadores mundiais de softwares e de produtos da área de TI. Além disso, possui algumas das mais importantes empresas Frank Bienewald/LightRocket/Getty Images

Mesmo em Bangalore (Índia), município que abriga o principal parque tecnológico do país, são visíveis os profundos contrastes socioeconômicos e as diferenças de infraestrutura. Nas fotos de 2014, prédios modernos do International Tech Park, tecnopolo de empresas de TI; e ocupação urbana, com esgoto a céu aberto na periferia da cidade.

238

Capítulo 9

atenção! Não escreva no seu livro!

Atividades Compreendendo conteúdos 1. Sobre os países emergentes de industrialização recente:

a) relacione as principais economias que fazem parte do grupo; b) classifique-as de acordo com o tamanho do PIB. Qual é a maior delas? Qual é a posição do Brasil?

2. Esclareça os principais fatores que favoreceram a industrialização: a) das três maiores economias da América Latina; b) dos três maiores Tigres Asiáticos.

3. Explique sinteticamente as bases do processo de industrialização: a) da Índia;

b) da África do Sul.

4. Quais são os setores que mais vêm se destacando na economia indiana? Por quê?

Desenvolvendo habilidades 5. Orientados pelo(a) professor(a), organizem-se em grupos para desenvolver a atividade a seguir. a) Nos grupos, cada membro deve: reler o texto “Diferenças entre o modelo asiático e o latino-americano”, na página 230; analisar comparativamente os dados das tabelas apresentadas e anotar as conclusões no caderno; elaborar um texto sobre as diferenças econômicas e sociais entre os dois modelos de desenvolvimento. b) Discutam entre vocês: qual modelo foi o mais bem-sucedido? Por quê? c) Por fim, apresentem as conclusões do grupo aos demais colegas.

6. Levando em consideração a industrialização dos países emergentes ao longo do tempo, faça os procedimentos. a) Releia os gráficos “Principais economias emergentes: participação no valor da produção industrial dos países em desenvolvimento – 1990-2014”, da página 216. b) Elabore um texto descritivo que contemple as seguintes questões: O que mudou na participação das principais economias emergentes no valor da produção industrial dos países em desenvolvimento de 1990 a 2014? Qual país mais ganhou participação e qual mais perdeu? Por quê? Vista aérea da Cidade do Cabo (África do Sul), Como foi o desempenho da Índia e do México? em 2015. Sua região metropolitana abriga refinarias de petróleo, indústrias químicas, automobilísticas, entre outras. Claudia Paulussen/Westend61/Corbis/Latinstock

239

Vestibulares de Norte a Sul Testes 1. S (PUC-RS) Resolver a questão com base nas informações a seguir, que tratam da atividade industrial. Os fatores locais variam ao longo do tempo e em função do tipo de indústria que se quer implantar. Atualmente podemos dizer que ocorre uma descentralização industrial em escala mundial, mas também em escala nacional e local, graças ao desenvolvimento dos setores de transportes, telecomunicações e informações. Como outros fatores a considerar na atividade industrial, citam-se: 1. fontes de energia 2. mercado consumidor 3. matérias-primas 4. mão de obra Estão corretamente identificados os fatores a) b) c) d) e)

1 e 3, apenas. 2 e 4, apenas. 1, 2 e 4, apenas. 2, 3 e 4, apenas. 1, 2, 3 e 4.

2. NE (UPE) Assinale a alternativa que completa CORRETAMENTE a frase transcrita a seguir: “Durante muito tempo, o predominou na produção. A inflexibilidade deste modelo, no qual cada operário deve entrar no ritmo repetitivo e na rotina da esteira de montagem, acarretou problemas como defeitos em alguns produtos, obrigando a serem despendidas enormes somas com fiscalização e controle de qualidade.”

a) b) c) d) e)

Modelo de Capitais Voláteis Modelo Neoliberal Modelo Fordista Modelo Socialista Modelo do Estado Mínimo

3. CO (UFG-GO) Leia as informações a seguir. Em meados do século XVIII, James Watt patenteou na Inglaterra seu invento, sobre o qual escreveu a seu pai: “O negócio a que me dedico agora se tornou um grande sucesso. A máquina de fogo que eu inventei está funcionando e obtendo uma resposta muito melhor do que qualquer outra que tenha sido inventada até agora”. Disponível em: . Acesso em: 29 out. 2012. (Adaptado.)

A revolução histórica relacionada ao texto, a fonte primária de energia utilizada em tal máquina e a consequência ambiental de seu uso são, respectivamente,

240

Unidade 2

a) puritana, gás natural e aumento na ocorrência de inversão térmica. b) gloriosa, petróleo e destruição da camada de ozônio. c) gloriosa, carvão mineral e aumento do processo de desgelo das calotas polares. d) industrial, gás natural e redução da umidade atmosférica. e) industrial, carvão mineral e aumento da poluição atmosférica.

4. NE (IFCE) São as principais características do Vale do Silício, nos Estados Unidos: a) localizado no oeste dos Estados Unidos, próximo a importantes centros de pesquisa, forma um complexo industrial com destaque para os ramos típicos da Terceira Revolução Industrial. b) também conhecido por cinturão (belt), constitui-se na principal área produtora de cereais dos Estados Unidos, sobretudo de milho e trigo, além de pecuária intensiva. c) formado por erosão glacial, constitui-se numa área de preservação permanente, onde se destacam as faias, as sequoias e as bétulas, espécies típicas da floresta boreal. d) localizado no nordeste dos Estados Unidos, constitui-se numa área de antiga concentração industrial, destacando-se as indústrias de bens de produção pela abundância de matérias-primas, energia e mão de obra e pela facilidade de transporte. e) é uma das principais áreas de extração mineral, sobretudo de silício, cobre e ferro, altamente prejudicada pela degradação do meio ambiente.

5. S (UFRGS-RS) O colapso da União Soviética, reconhecido oficialmente em dezembro de 1991, foi o resultado da introdução de medidas reformistas que visavam modernizar o socialismo soviético. A respeito dessas medidas reformistas, considere as afirmações abaixo.

I. Resultaram no surgimento de novas repúblicas, outrora submetidas a Moscou, que exigiam autonomia política e territorial. II. Decorreram da ascensão de Mikhail Gorbachev, que instaurou as ações conhecidas como perestroika e glasnost. III. Tinham um nítido caráter conservador, e foram gestadas por pressão de setores populares insatisfeitos com o rumo do país. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas III.

d) Apenas I e II. e) Apenas II e III.

atenção! Não escreva no seu livro!

Soviética passou por uma série de transformações que levaram ao fim do socialismo. Essas mudanças foram marcadas por:

a) acordos de eliminação de mísseis entre as superpotências, interrompidos com a entrada soviética no Afeganistão em 1988. b) políticas que levaram a uma abertura política e econômica, conhecidas como glasnost e perestroika. c) aprofundamento do processo de distensão e fortalecimento do Pacto de Varsóvia. d) fim do monopólio do Partido Comunista, implantação do unipartidarismo e instauração de eleições diretas em 1989. e) restabelecimento dos Kolkoses e Sovekoses nos campos, abertura do país a empresas estrangeiras e intensificação das alianças geopolíticas bipolares.

7. NE (UPE) A China é um país comandado por um partido único, o Partido Comunista, porém vem assumindo um perfil de desenvolvimento típico de sistema capitalista e desempenhando um estratégico papel na economia mundial. Com relação a esse assunto, analise as proposições a seguir: 1. Nas últimas décadas, o conjunto de reformas desencadeadas na China transformou esse país numa das grandes potências mundiais com um modelo de crescimento que executa políticas estratégicas nacionais de industrialização ajustadas ao movimento de expansão da economia global. 2. As Zonas de Proteção às Exportações, áreas com economia mais voltada para o socialismo, ainda são áreas de pouco desenvolvimento na China. São regiões agrícolas localizadas na porção Nordeste e habitadas por população de maioria tibetana. 3. O estabelecimento de Zonas Econômicas Especiais na China, inicialmente nas zonas litorâneas, permitiu a abertura para os investimentos de capitais estrangeiros, elevando a produção global desse país mediante uma política efetiva de incentivos fiscais. 4. As migrações em massa de camponeses das zonas litorâneas, na porção leste, para os centros urbanos do interior da China, onde se concentram as indústrias têxtil, de calçados e de brinquedos, revelam as disparidades sociais e regionais ainda presentes nesse país.

Estão CORRETAS a) 1 e 2. b) 3 e 4. c) 1 e 3.

d) 2 e 4. e) 1, 2, 3 e 4.

8. SE (Fuvest-SP) Observe os gráficos. Distribuição do investimento externo direto (IED) da China na África (2000-2009) Comércio 4,0%

Pesquisa Agricultura científica 3,1% Outros 3,2% 3,4%

Gráficos: Allmaps/Arquivo da editora

6. SE (Aman-RJ) Nas décadas finais do séc. XX, a União

Indústria mineradora 29,2%

Serviços 5,4% Finanças 13,9%

Construção 15,8%

Manufaturados 22,0%

Comércio China-África Em bilhões de US$

China exporta para a África China importa da África

800 600 400 200 0

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Disponível em: . Acesso em: 29 jul. 2014.

Com base nos gráficos e em seus conhecimentos, assinale a alternativa correta. a) O comércio bilateral entre China e África cresceu timidamente no período e envolveu, principalmente, bens de capital africanos e bens de consumo chineses. b) As exportações chinesas para a África restringem-se a bens de consumo e produtos primários destinados a atender ao pequeno e estagnado mercado consumidor africano. c) A implantação de grandes obras de engenharia, com destaque para rodovias transcontinentais, ferrovias e hidrovias, associa-se ao investimento chinês no setor da construção civil na África. d) O agronegócio foi o principal investimento da China na África em função do exponencial crescimento da população chinesa e de sua grande demanda por alimentos. e) O investimento chinês no setor minerador, na África, associa-se ao crescimento industrial da China e sua consequente demanda por petróleo e outros minérios.

9. NE (Uespi-PI) A partir da década de 1950, verificou-se uma intensificação no processo de industrialização em diversas regiões do planeta. No caso de países latino-americanos, como, por exemplo, o Brasil, a Argentina e o México, em que se baseou, fundamentalmente, a industrialização?

Indústria no mundo

241

atenção! Não escreva no seu livro!

Quest›es 12. SE (Unesp-SP) As figuras ilustram dois modelos de organização da produção industrial que revolucionaram o mundo do trabalho durante o século XX. Identifique esses modelos e discorra sobre duas características de cada um deles. Modelo 1 Tincho Sstero. www.behance.net. Adaptado.

a) Nos recursos minerais e no crescimento populacional. b) Na farta mão de obra barata e na baixa taxa de crescimento vegetativo. c) Na internacionalização dos mercados, primeiramente, e nas elevadas taxas de reserva cambial. d) Nas diversidades regionais e na renda per capita da população. e) Na substituição das importações e, posteriormente, na internacionalização dos mercados.

10. SE (Unifesp) A industrialização do Sudeste Asiático ocorreu em duas etapas. Na primeira, surgiram os chamados Tigres de primeira geração, que receberam capital do Japão. Na segunda, eles investiram nos Tigres da segunda geração. Assinale a alternativa que lista corretamente os Tigres Asiáticos de primeira e de segunda geração.

a) Primeira geração: Coreia do Sul, Taiwan e Cingapura. Segunda geração: Indonésia, Malásia e Tailândia. b) Primeira geração: Coreia do Sul, Malásia e Taiwan. Segunda geração: Cingapura, Indonésia e Tailândia. c) Primeira geração: Taiwan, Tailândia e Malásia. Segunda geração: Coreia do Sul, Cingapura e Indonésia. d) Primeira geração: Coreia do Sul, Cingapura e Indonésia. Segunda geração: Malásia, Tailândia e Taiwan. e) Primeira geração: Cingapura, Indonésia e Tailândia. Segunda geração: Coreia do Sul, Malásia e Taiwan.

Modelo 2

11. SE (Fuvest-SP) A economia da Índia tem crescido em torno de 8% ao ano, taxa que, se mantida, poderá dobrar a riqueza do país em uma década. Empresas indianas estão superando suas rivais ocidentais. Profissionais indianos estão voltando do estrangeiro para seu país, vendo uma grande chance de sucesso empresarial. Adaptado de: Beckett et al., 2007. Disponível em: . Acesso em: 29 jul. 2014.

O significativo crescimento econômico da Índia, nos últimos anos, apoiou-se em vantagens competitivas, como a existência de

a) diversas zonas de livre-comércio distribuídas pelo território nacional. b) expressiva mão de obra qualificada e não qualificada. c) extenso e moderno parque industrial de bens de capital, no noroeste do país. d) importantes “cinturões” agrícolas, com intenso uso de tecnologia, produtores de commodities. e) plena autonomia energética propiciada por hidrelétricas de grande porte.

242

Unidade 2

13. S (UFPR) Comparando os dois textos a seguir, aborde as implicações dos conceitos de flexibilidade, internacionalização e terceirização.

Texto 1 A Inditex, um dos maiores grupos de distribuição de moda em nível mundial, conta com mais de 5 000 lojas em 77 países na Europa, América, Ásia e África. Para além da Zara, a maior das suas cadeias comerciais, a Inditex conta com outros formatos: Pull&Bear, Massimo Dutti, Bershka, Stradivarius, Oysho, Zara Home e Uterque. O seu singular

modelo de gestão, baseado na inovação e na flexibilidade, e a sua forma de entender a moda [...] permitiram-lhe uma expansão internacional rápida e uma excelente aceitação dos seus diferentes conceitos comerciais. Disponível em: . Acesso em: 29 jul. 2014.

Texto 2 Fiscais do Ministério do Trabalho flagraram fornecedores da marca de roupas Zara explorando bolivianos em condições análogas à escravidão em três confecções no Estado de São Paulo. De acordo com a SRTE/SP (Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo), três fornecedoras foram alvo da investigação – duas na capital paulista e uma em Americana (127 km de SP). As duas oficinas da capital – de propriedade de bolivianos, mas que, segundo a SRTE, eram de responsabilidade da Zara – tinham, ao todo, 15 funcionários e foram fechadas pela SRTE. Os 15 trabalhadores receberam uma indenização conjunta no valor de R$ 140 mil. Em uma das oficinas, os fiscais chegaram a encontrar uma adolescente de 14 anos trabalhando. Ela só podia sair da oficina, que também servia como moradia, após autorização da chefia do local. Disponível em: . Acesso em: 29 jul. 2014.

14. SE (UFSCar-SP) A industrialização norte-americana começou no nordeste do país e se espalhou pela região dos Grandes Lagos, com setores como o siderúrgico, o naval e o automobilístico. Esse foi, durante muito tempo, o padrão espacial predominante nos Estados Unidos. Contudo, com a Revolução Técnico-científica e Informacional, novos padrões de distribuição industrial foram produzidos, gerando um processo de descentralização e de reorganização territorial da atividade produtiva. Considerando o processo descrito, responda: a) Quais tipos de indústrias caracterizam o novo padrão industrial americano? b) Onde se localizam essas indústrias e quais fatores justificam tal localização?

15. SE (PUC-SP) A partir da perestroika, presenciamos um processo de abertura no Leste Europeu que vem modificar uma divisão de poderes entre as grandes potências, estabelecida desde o final da Segunda Guerra Mundial. A reunificação das duas Alemanhas é parte importante dessas transformações, pois modifica um regime de equilíbrio vigente há quase 50 anos.

a) Em que condições históricas a Alemanha foi dividida? b) Quais as consequências, para a política mundial, dessa divisão do mundo em dois blocos de poder?

16. SE (UFRJ) Nestes tempos de globalização econômica, a China chama a atenção do mundo em função do seu imenso mercado consumidor e de um sistema político-

-econômico peculiar, denominado por alguns estudiosos “socialismo de mercado”. Apresente duas razões que justifiquem a utilização do termo “socialismo de mercado” para definir a situação chinesa.

17. SE (UFMG) Há expectativas quanto ao desempenho atípico dos países emergentes na situação de crise que a economia mundial vem enfrentando. Esse fato, por si, já se constitui em novidade, pois essa categoria de países – os emergentes – nem sequer foi contemplada quando, ao final da Guerra Fria, se propôs a substituição da divisão do mundo em países de Primeiro, Segundo e Terceiro mundos pela divisão em países Centrais, Semiperiféricos e Periféricos. As características demográficas das populações dos países denominados emergentes já foram interpretadas como obstáculos ao desenvolvimento de suas economias. Hoje, essas características demográficas são consideradas vantagens em relação aos países desenvolvidos da Europa mais duramente atingidos pela queda do poder de compra do mercado internacional. Considerando essas informações,

a) CITE dois países que, como o Brasil, compõem o grupo dos emergentes. IDENTIFIQUE o continente em que cada um deles está localizado. b) RESPONDA: Em que categoria de países se incluem os emergentes: Centrais, Semiperiféricos ou Periféricos? APRESENTE duas razões que justificam sua resposta. c) CITE uma característica demográfica de populações dos países emergentes que esteja se constituindo em vantagem para os mesmos. EXPLIQUE como se dá o impacto dessa característica sobre a economia.

18. S (UFPR) Com a globalização, ampliaram-se os horizontes geográficos e os incentivos das multinacionais para segmentar suas cadeias produtivas e redistribuir a localização de suas fábricas em diversos países. As etapas de produção que agregam menos valor a um produto podem ser transferidas para países onde os salários são mais baixos, enquanto as etapas que agregam mais valor permanecem em países com níveis salariais mais altos. O Brasil, porém, não tem se beneficiado dessa tendência. Enfrentamos, ao contrário, uma ameaça concreta de desindustrialização. Adaptado de: GUEDES, P. Olho nos banqueiros e nos políticos! Revista Época, 9 abr. 2012.

Caracterize o que é globalização, indique dois países que, nas últimas décadas, vêm se destacando como destino de investimentos industriais e, por fim, explique por que a ascensão desses países põe o Brasil sob o risco de uma desindustrialização.

Indústria no mundo

243

Caiu no Enem

atenção! Não escreva no seu livro!

1. A evolução do processo de transformação de matérias-

I. A primeira ampliou a capacidade de ação dos braços, provocando mudanças na forma de organização social e na utilização de fontes de alimentação. II. A segunda tornou mais eficiente o sistema de transporte, ampliando possibilidades de locomoção e provocando mudanças na visão de espaço e de tempo. III. A terceira possibilitou um novo tipo de lazer que, envolvendo apenas participação passiva do ser humano, não provocou mudanças na sua forma de conceber o mundo.

-primas em produtos acabados ocorreu em três estágios: artesanato, manufatura e maquinofatura. Um desses estágios foi o artesanato, em que se:

a) trabalhava conforme o ritmo das máquinas e de maneira padronizada. b) trabalhava geralmente sem o uso de máquinas e de modo diferente do modelo de produção em série. c) empregavam fontes de energia abundantes para o funcionamento das máquinas. d) realizava parte da produção por cada operário, com uso de máquinas e trabalho assalariado. e) faziam interferências do processo produtivo por técnicos e gerentes com vistas a determinar o ritmo de produção. Outro importante método de racionalização do trabalho industrial foi concebido graças aos estudos desenvolvidos pelo engenheiro norte-americano Frederick Winslow Taylor. Uma de suas preocupações fundamentais era conceber meios para que a capacidade produtiva dos homens e das máquinas atingisse seu patamar máximo. Para tanto, ele acreditava que estudos científicos minuciosos deveriam combater os problemas que impediam o incremento da produção.

a) b) c) d) e)

I, apenas. I e II, apenas. I e III, apenas. II e III, apenas. I, II e III.

4. TopFoto/Keystone

2.

Está correto o que se afirma em:

TayIorismo e Fordismo. Disponível em: www.brasilescola.com. Acesso em: 28 fev. 2012.

O Taylorismo apresentou-se como um importante modelo produtivo ainda no início do século XX, produzindo transformações na organização da produção e, também, na organização da vida social. A inovação técnica trazida pelo seu método foi a a) utilização de estoques mínimos em plantas industriais de pequeno porte. b) cronometragem e controle rigoroso do trabalho para evitar desperdícios. c) produção orientada pela demanda enxuta atendendo a específicos nichos de mercado. d) flexibilização da hierarquia no interior da fábrica para estreitar a relação entre os empregados. e) polivalência dos trabalhadores que passaram a realizar funções diversificadas numa mesma jornada.

3. Considere o papel da técnica no desenvolvimento da constituição de sociedades e três invenções tecnológicas que marcaram esse processo: invenção do arco e flecha nas civilizações primitivas, locomotiva nas civilizações do século XIX e televisão nas civilizações modernas.

A respeito dessas invenções são feitas as seguintes afirmações:

244

Unidade 2

Disponível em: http://primeira-serie.blogspot.com.br. Acesso em: 7 dez. 2011 (adaptado).

Na imagem do início do século XX, identifica-se um modelo produtivo cuja forma de organização fabril baseava-se na a) b) c) d) e)

autonomia do produtor direto. adoção da divisão sexual do trabalho. exploração do trabalho repetitivo. utilização de empregados qualificados. incentivo à criatividade dos funcionários.

5.

Comparada à organização do trabalho característica do taylorismo e do fordismo, a concepção de tempo analisada no texto pressupõe que

Uma mesma empresa pode ter sua sede administrativa onde os impostos são menores, as unidades de produção onde os salários são os mais baixos, os capitais onde os juros são os mais altos e seus executivos vivendo onde a qualidade de vida é mais elevada.

a) as tecnologias de informação sejam usadas para democratizar as relações laborais. b) as estruturas burocráticas sejam transferidas da empresa para o espaço doméstico. c) os procedimentos de terceirização sejam aprimorados pela qualificação profissional. d) as organizações sindicais sejam fortalecidas com a valorização da especialização funcional. e) os mecanismos de controle sejam deslocados dos processos para os resultados do trabalho.

SEVCENKO, N. A corrida para o século XXI: no loop da montanha-russa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001 (adaptado).

No texto estão apresentadas estratégias empresariais no contexto da globalização. Uma consequência social derivada dessas estratégias tem sido: a) b) c) d)

o crescimento da carga tributária. o aumento da mobilidade ocupacional. a redução da competitividade entre as empresas. o direcionamento das vendas para os mercados regionais. e) a ampliação do poder de planejamento dos Estados nacionais.

6.

8.

Na produção social que os homens realizam, eles entram em determinadas relações indispensáveis e independentes de sua vontade; tais relações de produção correspondem a um estágio definido de desenvolvimento das suas forças materiais de produção. A totalidade dessas relações constitui a estrutura econômica da sociedade – fundamento real sobre o qual se erguem as superestruturas política e jurídica, e ao qual correspondem determinadas formas de consciência social.

Desmond Tutu, no encerramento da Comissão da Verdade na África do Sul. Disponível em: http://td.camara.leg.br. Acesso em: 17 dez. 2012 (adaptado).

No texto relaciona-se a consolidação da democracia na África do Sul à superação de um legado

a) populista, que favorecia a cooptação de dissidentes políticos. b) totalitarista, que bloqueava o diálogo com os movimentos sociais. c) segregacionista, que impedia a universalização da cidadania. d) estagnacionista, que disseminava a pauperização social. e) fundamentalista, que engendrava conflitos religiosos.

MARX, K. Prefácio à Crítica da economia política. In: Marx, K; ENGELS, F. Textos 3. São Paulo: Edições Sociais, 1977 (adaptado).

Para o autor, a relação entre economia e política estabelecida no sistema capitalista faz com que a) o proletariado seja contemplado pelo processo de mais-valia. b) o trabalho se constitua como o fundamento real da produção material. c) a consolidação das forças produtivas seja compatível com o progresso humano. d) a autonomia da sociedade civil seja proporcional ao desenvolvimento econômico. e) a burguesia revolucione o processo social de formação da consciência de classe.

7.

Um trabalhador em tempo flexível controla o local do trabalho, mas não adquire maior controle sobre o processo em si. A essa altura, vários estudos sugerem que a supervisão do trabalho é muitas vezes maior para os ausentes do escritório do que para os presentes. O trabalho é fisicamente descentralizado e o poder sobre o trabalhador, mais direto. SENNETT, R. A corrosão do caráter: consequências pessoais do novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 1999 (adaptado).

Tendo encarado a besta do passado olho no olho, tendo pedido e recebido perdão e tendo feito correções, viremos agora a página – não para esquecê-lo, mas para não deixá -lo aprisionar-nos para sempre. Avancemos em direção a um futuro glorioso de uma nova sociedade sul-africana, em que as pessoas valham não em razão de irrelevâncias biológicas ou de outros estranhos atributos, mas porque são pessoas de valor infinito criadas à imagem de Deus.

9.

O fechamento de seis unidades de uma empresa calçadista na Bahia deve resultar na demissão de 1 800 funcionários. Enquanto demite no Brasil, a empresa abre uma fábrica na Índia. Nas seis unidades fechadas na Bahia eram produzidos cabedais de calçados esportivos que serão fabricados também na Índia. O Globo. 17 dez. 2011 (adaptado).

A estratégia produtiva adotada pela empresa, que explica o processo econômico descrito, está indicada na: a) b) c) d) e)

Redução dos custos logísticos. Expansão dos benefícios sociais. Planificação da produção industrial. Modificação da estrutura societária. Ampliação da qualificação profissional.

Indústria no mundo

245

UNIDADE

3

Comércio e serviços no mundo

As atividades terciárias da economia são compostas de comércio e serviços e ambos não existiriam sem as atividades primárias e as secundárias. A indústria produz bens a serem comercializados em lojas de diversos tipos e fornece equipamentos a agropecuaristas, comerciantes e prestadores de serviços. Já a agropecuária e o extrativismo produzem matérias-primas para indústrias, abastecem feiras, açougues e supermercados com alimentos e outros produtos que serão consumidos pela população. Na maioria dos países as atividades terciárias são as que mais empregam trabalhadores e as que mais contribuem com a formação do PIB. Além disso, como veremos, assim como existe um comércio internacional de mercadorias, há também um intercâmbio crescente de serviços entre as nações. É por causa da importância do comércio e dos serviços no mundo que vamos estudá-los nesta Unidade. 246

CAPÍTULO

10

O comércio internacional e os blocos regionais Thomas Frey/dpa/Corbis/Latinstock

Avião cargueiro sendo carregado com mercadorias no aeroporto de Lautzenhausen (Alemanha), com destino ao aeroporto de Zhengzhou (China), em 2014.

247

C

irisphoto1/Shutterstock

om o fim da Segunda Guerra Mundial, exceto em um ano ou outro, o comércio internacional de mercadorias cresceu mais do que o produto mundial bruto. Logo após o conflito, foi constituído o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT, sigla em inglês), atual Organização Mundial do Comércio (OMC), cujo objetivo era ampliar as trocas entre os países. Desde então, muitos blocos comerciais foram criados e, ao longo deste capítulo, estudaremos os mais importantes. Mas será que todos os países são favorecidos igualmente pela ampliação do comércio internacional? A criação de normas para aumentar o número de nações beneficiadas pelos fluxos comerciais melhoraria as condições de vida da população dos países em desenvolvimento? Essas questões têm sido muito presentes nos fóruns internacionais.

Desembarque de automóveis de um navio cargueiro no porto de Eilat (Israel), 2015.

248

Capítulo 10

1 Comércio internacional : tos Fo

Principais polos comerciais

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Todos os anos, milhares de caminhões, trens, navios e aviões circulam entre países transportando toneladas de mercadorias – produtos industrializados, minerais e agrícolas. Em 2014, as exportações de mercadorias de todos os países somaram 19 trilhões de dólares. O mapa a seguir mostra os principais polos comerciais e os fluxos de mercadorias no mundo. Perceba que há uma preponderância dos fluxos de comércio nos países da Europa ocidental, sobretudo da União Europeia; no Leste Asiático, com destaque para a China e o Japão; e na América do Norte, principalmente para os Estados Unidos. O Gatt, atual OMC, teve papel muito importante na expansão do comércio internacional, assim como os tratados comerciais firmados entre os países, tanto no âmbito dessas organizações como bilateralmente.

Cr ev in

AMÉRICA DO NORTE 1 965

Banco de imagens/Arquivo da editora

Mundo: comércio de mercadorias – 2010

48,7%

0¼ Polo Norte

CEI 588

ÁSIA 4 686

18,6%

r do ua Eq

52,6%

AMÉRICA DO SUL E CENTRAL 577

EUROPA OCIDENTAL 5 632

71%

10%

ORIENTE MÉDIO 895

25,6%

Fluxo comercial Intrarregional Inter-regional

ÁFRICA 508

(bilhões de dólares) 12,3%

A espessura das flechas é proporcional à importância do comércio 50 100 200

Comércio de mercadorias (bilhões de dólares) 5 500

400 2 500 1 500 1 000 500 300 100

800

(sem escala)

(somente os valores superiores a 25 bilhões de dólares foram representados)

Adaptado de: LE MONDE DIPLOMATIQUE. L’Atlas 2013. Paris: Vuibert, 2012. p. 55.

O comércio internacional e os blocos regionais

249

A OMC e os acordos comerciais Nas relações internacionais, quando dois países estabelecem algum tipo de cooperação, considera-se que fizeram um acordo bilateral; quando três ou mais procuram cooperar conjuntamente em algum tema, o acordo é multilateral. Isso ocorre em diversos setores, mas é mais comum no comércio de mercadorias e na prestação de serviços, e pode envolver desde poucas até quase todas as nações do mundo. Assim, o multilateralismo comercial abrange negociações entre vários países sobre temas ligados à circulação internacional de bens e serviços. Sua gênese está ligada à criação do GATT em 1947, na Conferência de Havana (Cuba), e foi fundamental para a expansão do comércio após a Segunda Guerra Mundial. Esse acordo de tarifas começou a ser instituído em 1948, e dois princípios fundamentais regem a relação entre os signatários. São eles:

• Princípio da Nação mais favorecida – proíbe a discri-

minação entre os signatários; assim, toda vantagem, favor ou privilégio envolvendo tarifas aduaneiras concedidos bilateralmente devem ser estendidos ao comércio com os demais países.

• Princípio do tratamento nacional – um produto es-

trangeiro, ao entrar no território do país importador, deve receber o mesmo tratamento concedido ao produto nacional. Desde a criação do GATT foram realizadas sete rodadas de negociações para estimular o comércio entre os Estados-membros, e a Rodada Uruguai foi a mais abrangente, como mostra a tabela a seguir. Além de ter como meta diminuir as barreiras tarifárias e não tarifárias, pretendia incorporar às regras do GATT setores como o agrícola, o têxtil e o de serviços. Nestes, o protecionismo se mantinha preservado por regras especiais que dificultavam a expansão das trocas.

Gatt: rodadas comerciais – 1947-1994 ano

Nome da rodada/cidade onde foi lançada

temas cobertos

Quantidade de países

1947

Genebra (Suíça)

Tarifas (impostos cobrados sobre produtos importados)

23

1949

Annecy (França)

Tarifas

13

1951

Torquay (Reino Unido)

Tarifas

38

1956

Genebra (Suíça)

Tarifas

26

1960-1961

Dillon*/Genebra (Suíça)

Tarifas

26

1964-1967

Kennedy**/Genebra (Suíça)

Tarifas e medidas antidumping (restrição imposta a produtos importados que tenham preços abaixo dos praticados no mercado)

62

1973-1979

Tóquio (Japão)

Tarifas e medidas não tarifárias (restrição imposta aos importados com base em requisitos técnicos: sanitários, ambientais, trabalhistas, etc.)

102

1986-1994

Uruguai/Punta del Este (Uruguai)

Tarifas, medidas não tarifárias, regras, serviços, propriedade intelectual, solução de controvérsias, criação da OMC, etc.

123

Antidumping: dumping é o nome que se dá à prática de vender produtos a preços muito baixos, às vezes inferiores ao custo de produção, com o objetivo de eliminar concorrentes e/ou ampliar mercados. A OMC autoriza a adoção de tarifas especiais ou sobretaxas para coibir essa prática no comércio internacional.

250

Capítulo 10

Adaptado de: WORLD TRADE ORGANIZATION. Understanding the WTO: basics. The GATT Years: from Havana to Marrakesh. Disponível em: . Acesso em: 30 jul. 2015. * A rodada tem esse nome porque Clarence Douglas Dillon (1909-2003), Secretário de Estado norte-americano de 1959 a 1961, propôs essa negociação. ** Homenagem a John F. Kennedy (1917-1963), presidente dos Estados Unidos de 1961 a 1963, morto um ano antes do início das negociações.

desenvolvidos e em desenvolvimento. O tema da liberalização voltou a ser discutido na Conferência de Doha (Catar), em 2001. Após essa reunião, teve início uma nova rodada de negociações, a Rodada Doha. Naquela ocasião, mais uma vez não houve acordo, em razão da intransigência dos países desenvolvidos. De qualquer forma, a entrada da China em 2001 aumentou a legitimidade da organização. Em 2003, na Conferência de Cancún (México), liderada pelos países do Ibas (Índia, Brasil e África do Sul), foi organizado um bloco de vinte países em desenvolvimento, batizado de G-20 (comercial). Seu objetivo é pressionar os países desenvolvidos a reverem suas medidas protecionistas no setor agrícola. Vale lembrar que esse grupo é diferente daquele G-20 (financeiro) que vimos no Capítulo 4, o qual as potências emergentes querem consolidar no lugar do G-8. O G-20 comercial concentra-se na agricultura, o tema central da Rodada Doha, e aumentou de tamanho. Em 2015 era composto de 23 países em desenvolvimento (observe o mapa na página a seguir), entre eles, quatro países do Brics (China, Brasil, Índia e África do Sul, sendo os três últimos também membros do Ibas), além de outros importantes países emergentes, como México, Argentina, Egito e Indonésia. Em 2014, representavam cerca de um quinto da produção agrícola e um quarto das exportações primárias do mundo. Jay Directo/Agência France-Presse

Prevista para durar quatro anos, a Rodada Uruguai extrapolou esse prazo por causa dos empecilhos impostos pelos países desenvolvidos, sobretudo da União Europeia, cujos representantes relutavam em abrir mão dos subsídios concedidos a seus agricultores. Somente no interior do bloco citado, esses subsídios foram de 43 bilhões de euros (média anual no período de 2007 a 2013). Essa política tem prejudicado a economia dos países em desenvolvimento, principalmente a dos mais pobres. Essa “ajuda” faz com que os produtos agrícolas das nações ricas fiquem mais baratos no mercado internacional, o que restringe as exportações dos países em desenvolvimento e dificulta a superação da pobreza. As negociações da Rodada Uruguai foram conduzidas até abril de 1994, quando foi assinada, no Marrocos, a Declaração de Marrakesh, documento que a concluiu e criou a OMC em substituição ao GATT, que era apenas um acordo. Com isso, a OMC passou a ter mais força para fiscalizar o comércio mundial e fortalecer o multilateralismo. Desde janeiro de 1995, representantes da organização vêm supervisionando os tratados comerciais e mediando disputas entre os países signatários. Em 1999, foi realizada a Conferência da OMC em Seattle (Estados Unidos), com o objetivo de iniciar a Rodada do Milênio, que deveria levar à total liberalização do comércio internacional. Entretanto, essa rodada fracassou por causa das divergências entre países

Em diversos países houve manifestações contra a OMC durante sua 10a Conferência Ministerial, realizada em Nairóbi (Quênia), em dezembro de 2015. Nessa reunião, a primeira ocorrida em um país africano, foi aprovado o “Pacote de Nairóbi”. Entre outras decisões, os subsídios às exportações de produtos agrícolas devem ser eliminados – imediatamente para os países desenvolvidos e a partir de 2018 para os países em desenvolvimento. Porém, permaneceram os subsídios para a produção voltada ao mercado interno, mantendo a proteção à agricultura dos países ricos. Na foto, protesto contra a OMC em Manila (Filipinas). O comércio internacional e os blocos regionais

251

Banco de imagens/Arquivo da editora

Meridiano de Greenwich

A Rodada Doha estava prevista para ser concluída em 2005. Entretanto, apesar da articulação dos membros do G-20, a intransigência dos países desenvolvidos na questão dos subsídios agrícolas impediu a efetivação de um acordo. As nações deG-20 (comercial) Ð 2015 senvolvidas exigem dos países em desenvolvi0º OCEANO GLACIAL ÁRTICO mento uma abertura de Círculo Polar Ártico seus mercados para bens não agrícolas – produtos industriais e serviços – CHINA OCEANO OCEANO PAQUISTÃO PACÍFICO ATLÂNTICO Trópico de Câncer EGITO desproporcional às conCUBA MÉXICO ÍNDIA TAILÂNDIA FILIPINAS GUATEMALA cessões que se dispõem a VENEZUELA NIGÉRIA 0º fazer no setor agrícola. Equador EQUADOR OCEANO INDONÉSIA TANZÂNIA PERU BRASIL OCEANO PACÍFICO Com isso, as negociações ÍNDICO BOLÍVIA ZIMBÁBUE PARAGUAI da Rodada Doha chega- Trópico de Capricórnio CHILE ÁFRICA URUGUAI ram a um impasse, e a DO SUL ARGENTINA eclosão da crise econômiOCEANO GLACIAL ANTÁRTICO Círculo Polar Antártico ca em 2008 só acarretou mais dificuldades aos possíveis acordos. 0 3 100 6 200 km

Adaptado de: WORLD TRADE ORGANIZATION. Map of Negotiating Groups in the Doha Negotiations. Disponível em: . Acesso em: 30 jul. 2015.

A expansão do comércio mundial

Mundo: crescimento das exportações e do PIB mundial – 2005-2014

O impasse da Rodada Doha não anula o 2,5 2014 2,5 PIB fato de que os acordos multilaterais da OMC 2,4 2013 3,0 e os arranjos intrablocos ou interblocos têm Exporta•‹o 2,2 2012 2,5 contribuído para o crescimento do comércio 2,8 2011 internacional num ritmo mais rápido do que 5,5 4,1 o do produto mundial bruto (a soma do PIB 2010 14,0 -2,1 de todos os países). Segundo a OMC, as tro2009 -12,0 cas comerciais aumentaram em média 6,2% 1,5 2008 2,0 ao ano no período 1950-2007, ao passo que 3,9 2007 6,5 o PIB mundial cresceu, no mesmo período, 4,1 2006 8,5 3,8% ao ano. No gráfico ao lado, pode-se 3,6 2005 observar que essa tendência só foi quebra6,5 da em momentos de crise econômica, como -14 -12 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 Crescimento anual (%) a que atingiu o mundo em 2009. Grande parte da expansão do comércio Adaptado de: WORLD TRADE ORGANIZATION. International Trade Statistics 2015. Disponível em: . Acesso em: 28 dez. 2015. na segunda metade do século XX ocorreu graças aos avanços tecnológicos na área de logística, que permitiram melhorar a infraestrutura de transportes e de armazenagem. Com a modernização de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias, além de silos, depósitos e armazéns, a capacidade de carga foi ampliada e o tempo de deslocamento, reduzido. Hoje em dia, há supernavios que levam milhares de toneladas de mercadorias a granel ou em contêineres, como mostra a foto da página seguinte. 252

Capítulo 10

A. Robson/Arquivo da editora

Consulte o site da OMC. Veja orientações na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

Os aviões, meio de transporte mais rápido existente, continuam sendo usados principalmente para o deslocamento de passageiros, mas também carregam mercadorias leves e de alto valor unitário, como produtos eletrônicos, além de perecíveis, como flores e frutas. A rede de transportes terrestres também foi ampliada e modernizada.

Assim como a produção e a tecnologia, o comércio também está muito concentrado nos países desenvolvidos e em alguns emergentes. A tabela abaixo mostra que, em 2014, os dez principais países exportadores de mercadorias foram responsáveis por metade do comércio internacional.

Os dez principais exportadores de mercadorias e outros selecionados – 2014 Posição/país 1. China

Exportações

Exportações

Importações

(bilhões de dólares)

(% do total mundial)

(bilhões de dólares)

Importações (% do total mundial)

2 342

12,3

1 959

10,3

2. Estados Unidos

1 621

8,5

2 413

12,6

3. Alemanha

1 508

7,9

1 216

6,4

4. Japão

684

3,6

822

4,3

5. Países Baixos

672

3,5

588

3,1

6. França

583

3,1

678

3,5

7. Coreia do Sul

573

3,0

526

2,8

8. Itália

529

2,8

472

2,5

9. Hong Kong (China)

524

2,8

601

3,1

10. Reino Unido

506

2,7

684

3,6

11. Rússia

498

2,6

308

1,6

14. Cingapura

410

2,2

366

1,9

15. México

398

2,1

412

2,2

18. Espanha

325

1,7

358

1,9

19. Índia

322

1,7

463

2,4

25. Brasil

225

1,2

239

1,3

40. África do Sul

91

0,5

122

0,6

48. Argentina

72

0,4

65

0,3

Os 10 mais

9 542

50,2

9 959

52,2

Mundo

19 002

100,0

19 091

100,0

Adaptado de: WORLD TRADE ORGANIZATION. International Trade Statistics 2015. Disponível em: . Acesso em: 28 dez. 2015.

O uso de contêineres é crescente porque torna mais seguro, rápido e barato o embarque e desembarque de mercadorias. Na foto, o navio MSC Oscar chegando ao porto de Roterdã (Países Baixos), em 2015. Essa embarcação tem capacidade de transportar mais de 19 mil contêineres, o que faz dela a maior desse tipo no mundo.

A apresentação do nome da embarcação que ocorre na foto desta página tem finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir seu consumo. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do tema abordado.

Jerry Lampen/Agência France-Presse

253

Dialogando com as disciplinas

Nesta seção a Geografia dialoga com a História e a Sociologia.

O comércio nas diferentes fases do capitalismo

C

apital, lucro, comércio, protecionismo: essas são palavras que ouvimos cotidianamente. Num primeiro momento, elas podem passar despercebidas; no entanto, por estarem intrinsecamente relacionadas ao sistema econômico capitalista ao longo da História, carregam consigo todo o significado das relações estabelecidas entre as nações em cada uma das etapas de seu desenvolvimento. Analise os textos a seguir e depois responda às questões.

Ouro, grandeza e glória O que é que faz rico um país? O leitor tem alguma sugestão? Faça uma lista desses elementos e veja se correspondem ao que pensavam os homens inteligentes dos séculos XVII e XVIII. [...] Os países poderiam aumentar sua reserva de ouro dedicando-se ao comércio exterior – diziam os mercantilistas – tendo sempre a cautela de vender aos outros mais do que deles compravam. A diferença no valor de suas exportações, em relação às importações, teria de ser paga em metal. A Companhia Inglesa das Índias Orientais tinha em seus estatutos uma cláusula que lhe dava o direito de exportar ouro. Quando no século XVII muitos panfletários atacaram-na por enviar riquezas para fora da Inglaterra, Thomas Mun, um dos diretores, defendeu a Companhia num livro famoso, intitulado England’s Treasure by Foreign Trade. O título indica a essência da defesa. Mun argumentava que embora a Companhia realmente enviasse ouro e prata ao Oriente para a aquisição de mercadorias, essas mercadorias eram reexportadas da Inglaterra para outros países, ou nelas trabalhadas e mais tarde revendidas além-mar. Em ambos os casos, mais dinheiro voltava à Inglaterra, o que justificava a exportação dos metais preciosos. Argumentava ainda que o modo realmente importante de aumentar a riqueza do Estado era vender aos países estrangeiros mais do que deles se comprava, mantendo uma balança de comércio favorável. “O recurso comum, portanto, para aumentar nossa riqueza e tesouro é pelo comércio exterior, no qual devemos observar esta regra: vender mais aos estrangeiros, anualmente, do que consumimos de seus artigos... porque a parte de nosso estoque que não nos for devolvida em mercadorias deverá necessariamente ser paga em dinheiro... Qualquer medida que tomemos para obter a entrada de dinheiro neste Reino, este só permanecerá conosco se ganharmos na balança de comércio”. O negócio, portanto, era exportar mercadorias de valor, e importar apenas o que fosse necessário, recebendo o saldo em dinheiro sonante. Isso significa estimular a indústria por todos os meios possíveis, porque seus produtos valiam mais que os da agricultura, e portanto obteriam mais dinheiro nos mercados estrangeiros. E o que era também importante, ter indústria produzindo as coisas de que o povo necessitava significava não ser necessário comprá-las do estrangeiro. Era um passo na direção da balança de comércio favorável, bem como no sentido de tornar o país autossuficiente, independente de outros países. HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. 18. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1982. p. 129-133.

254

Capítulo 10

atenção! Não escreva no seu livro!

A China é imperialista? A China, que se autoclassifica como “país em via de desenvolvimento”, promete às nações do Sul que não reproduzirá os mesmos comportamentos predadores das antigas potências coloniais. [...] Essa declaração faz parte de certo protocolo e do exercício do estilo diplomático da China para com as nações africanas, mas carrega implícita a memória das humilhações sofridas por esses países quando estavam submetidos às potências europeias e ao Japão. Contudo, os dirigentes estão diante de um dilema: para manter e aumentar o atual crescimento econômico (sua prioridade), precisam obter de seus fornecedores estrangeiros mais matérias-primas, das quais a China se tornou muito dependente após sua guinada econômica, na década de 1980. [...] No início do século XX, para assegurar o controle sobre países ricos em petróleo, carvão, borracha e diversos minerais e para facilitar a extração desses recursos naturais, as grandes potências imperiais criaram ou franquearam empresas gigantes de direito público ou privado. [...] “À primeira vista, o apetite chinês pelas riquezas naturais figura como um benefício à África”, considera um relatório comandado pela Comissão de Desenvolvimento do Parlamento Europeu. Pequim teria, de fato, contribuído para o crescimento econômico do continente africano. Uma análise mais profunda revela, contudo, uma imagem mais contraditória. Em 2005, catorze países, todos produtores de petróleo e minerais, apresentavam uma balança comercial positiva – baseada principalmente na exportação de matérias-primas – com a China. Por outro lado, trinta países apresentavam uma balança comercial deficitária com o gigante asiático, com seus mercados inundados de tecidos chineses e outros bens de consumo muito baratos – e prejudiciais aos produtores locais. Nessas trocas entre China e África, o fosso entre os países que ganham e os que perdem aumentou consideravelmente, provocando ressentimentos. Se a China continuar a colocar o acesso a matérias-primas acima de tudo, cada vez mais se comportará como as antigas potências coloniais ao aproximar-se de “governos rentistas” de países dotados de riquezas naturais abundantes sem fazer esforços para fomentar o desenvolvimento local. [...] KLARE, Michael. A China é imperialista? Le monde diplomatique Brasil, São Paulo, 2 set. 2012. Disponível em: . Acesso em: 16 jan. 2016.

1. A qual etapa do capitalismo, tal como vimos no Capítulo 1, o texto 1 se refere? Justifique sua resposta listando os objetivos dessa etapa que são descritos por Huberman.

2. Ao questionar se a China é imperialista atualmente, com que etapa anterior do capitalismo, estudada no Capítulo 1, o texto 2 compara esse país? Que característica da economia chinesa citada por Klare permite essa comparação?

3. Que continentes desempenhavam, em relação à Inglaterra no século XVII, um papel semelhante ao da África em relação à China atual (tal como descrito no texto 2)? Por que é possível fazer essa comparação?

4. Comparando os dois textos, que características presentes no mercantilismo do século XV ao XVIII continuam sendo importantes para a economia dos países? Justifique sua resposta.

O comércio internacional e os blocos regionais

255

atenção! Não escreva no seu livro!

Pensando no Enem Disneylândia Multinacionais japonesas instalam empresas em Hong Kong E produzem com matéria-prima brasileira Para competir no mercado americano [...] Pilhas americanas alimentam eletrodomésticos ingleses na Nova Guiné Gasolina árabe alimenta automóveis americanos na África do Sul [...] Crianças iraquianas fugidas da guerra Não têm visto no consulado americano do Egito Para entrarem na Disneylândia ANTUNES, A. Disponível em: . Acesso em: 3 fev. 2013 (fragmento).

Na canção, ressalta-se a coexistência, no contexto internacional atual, das seguintes situações:

Resolução Uma das características da globalização é a intensificação dos fluxos de mercadorias pelo espaço geográfico mundial. Como vimos, a expansão do comércio internacional decorre da expansão dos mercados e da modernização dos sistemas de transporte, além da adoção de acordos multilaterais e da constituição de blocos econômicos regionais. Entretanto, como vimos no Capítulo 2, o fluxo de pessoas ainda sofre muitas restrições, como sugere a canção de Arnaldo Antunes (veja a letra inteira em ), especialmente por parte dos países desenvolvidos. Assim, a resposta correta é a alternativa B. Essa questão contempla a Competência de área 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de poder – e a Habilidade 8 – analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.

Siphiwe Sibeko/Reuters/Latinstock

a) Acirramento do controle alfandegário e estímulo ao capital especulativo. b) Ampliação das trocas econômicas e seletiva dos fluxos populacionais.

c) Intensificação do controle informacional e adoção de barreiras fitossanitárias. d) Aumento da circulação mercantil e desregulamentação do sistema financeiro. e) Expansão do protecionismo comercial e descaracterização de identidades nacionais.

Carro da polícia estacionado em frente a hospital em Pretória (África do Sul), onde Nelson Mandela ficou três meses internado em 2013. Corroborando o que afirma a canção utilizada na questão do Enem, esse automóvel da polícia sul-africana foi produzido por uma montadora norte-americana.

256

Capítulo 10

A apresentação da marca do automóvel que ocorre na foto desta página tem finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir seu consumo. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do tema abordado.

2 Blocos econômicos regionais Tipos de bloco

2015

2010

2005

2000

1995

1990

1985

1980

1975

1970

1965

1960

1955

1950

1948

A. Robson/Arquivo da editora

No mercado comum, como a União Europeia, a integração é mais ambiciosa. Busca-se padronizar a leMuitos países estão abdicando de parte de sua sogislação econômica, fiscal, trabalhista, ambiental, etc. berania para compor blocos econômicos regionais. Por entre os países que o compõem. Os resultados são a que isso vem acontecendo? Como vimos, desde o fim eliminação das barreiras alfandegárias internas, a unida Segunda Guerra Mundial, muitos países têm procuformização das tarifas de comércio exterior e a liberarado diminuir as barreiras impostas pelas fronteiras lização da circulação de capitais, mercadorias, serviços nacionais aos fluxos de mercadorias, capitais, serviços e pessoas no interior do bloco. e até mesmo de mão de obra, na tentativa de aumenNo caso da União Europeia, o auge da integração tar o lucro das empresas, o emprego dos trabalhadores ocorreu com a instituição da moeda única, o que exigiu e os respectivos PIBs. a criação do Banco Central Europeu e a convergência Os países podem se organizar em diferentes tipos das políticas macroeconômicas. Assim, o bloco atingiu de blocos: zonas de livre-comércio, uniões aduaneiras, a condição de união econômica e monetária, único mercados comuns e uniões econômicas e monetárias. exemplo no mundo até o ano de 2015, embora continue Em uma zona de livre-comércio, como o Tratado também funcionando como mercado comum e o esNorte-Americano de Livre-Comércio (Nafta), que reúne tágio mais avançado não englobe todos os paísesos três países da América do Norte, o objetivo não é membros, como veremos a seguir. muito ambicioso. Busca-se apenas a gradativa liberaParalelamente à constituição de blocos econômicos, lização do fluxo de mercadorias e de capitais dentro como os mencionados, têm sido estabelecidos acordos dos limites do bloco. bilaterais de livre-comércio que integram países isoladaNa união aduaneira, eliminam-se as tarifas alfanmente ou que pertencem a algum bloco. Até 7 de abril de degárias nas relações comerciais no interior do bloco e 2015, a OMC recebeu a notificação de 612 tratados de livre define-se uma Tarifa Externa Comum, que é aplicada circulação de mercadorias e serviços, incluindo a formação aos países de fora da união. Assim, quando os integrande blocos econômicos regionais e arranjos bilaterais, dos tes do bloco negociam com outros países, embora haquais 406 permaneciam em vigor naquela data. Observe ja exceções, utilizam uma tarifa de importação padroque a partir dos anos 1990, coincidindo com a expansão nizada, igual para todos. O Mercosul é um exemplo de do processo de globalização, houve uma intensificação da assinatura de tratados regionais de comércio. união aduaneira, ainda que imperfeita. Após a Segunda Mundo: tratados regionais de comércio – 1948-2015 Guerra Mundial, como vimos, o comércio interNúmero de acordos Número acumulado nacional se expandiu; no 612 90 600 entanto, os limites terriNotificações de acordos comerciais regionais toriais entre os países, 80 em vigor inativos 500 com suas normas e imNotificações acumuladas de acordos comerciais regionais 70 em vigor e inativos em vigor postos aduaneiros, ainda 406 60 400 impõem muitas barreiras 50 à circulação de mercado300 40 rias, principalmente de produtos agrícolas. 30 200 A busca por reduzi20 100 -las de forma multilateral 10 vem desde a criação do 0 0 Gatt, mas ainda esbarra em muitos conflitos de Adaptado de WORLD TRADE ORGANIZATION. Regional Trade Agreements: Facts and Figures. interesses. Disponível em: . Acesso em: 4 ago. 2015. O comércio internacional e os blocos regionais

257

Os acordos regionais também não resolvem plenamente o problema, porque, embora reduzam as barreiras no interior de um bloco, ainda mantêm muitas delas para os países que são de fora. Apesar

disso, os blocos regionais de comércio se expandiram consideravelmente. Observe alguns deles no mapa e, em seguida, analisaremos os mais importantes em cada continente.

Mundo: principais blocos regionais de comércio – 2015 0º

Banco de imagens/Arquivo da editora

OCEANO GLACIAL ÁRTICO

Círculo Polar Ártico

AMÉRICA DO NORTE

EUROPA ÁSIA OCEANO PACÍFICO

OCEANO ATLÂNTICO

Trópico de Câncer

ÁFRICA AMÉRICA CENTRAL OCEANO PACÍFICO

0º Meridiano de Greenwich

Equador

AMÉRICA DO SUL

Trópico de Capricórnio

OCEANO ÍNDICO

OCEANIA

0

Círculo Polar Antártico

2 410

Apec – Cooperação Econômica Ásia-Pacífico

Ecowas – Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental

Asean – Associação das Nações do Sudeste Asiático Apec & Asean

4 820

km

OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO

Nafta – Acordo Norte-americano de Livre Comércio

UE – União Europeia

SADC – Comunidade de Desenvolvimento da África Austral

Mercosul – Mercado Comum do Sul

Sapta – Acordo Comercial Preferencial do Sul da Ásia Comunidade Andina

Adaptado de: WORLD TRADE ORGANIZATION. International Trade and Market Access Data. Disponível em: . Acesso em: 4 ago. 2015.

258

Capítulo 10

rtico

OCEANO ATLÂNTICO

B ál ar

DINAMARCA REINO UNIDO

M







M ar



ÁUSTRIA HUNGRIA ESLOVÊNIA€ ROMÊNIA





ITÁLIA

ESPANHA

M a r

LETÔNIA

LITUÂNIA

REPÚBLICA TCHECA ESLOVÁQUIA

LUXEMBURGO

PORTUGAL

€ ESTÔNIA

POLÔNIA

€ € BÉLGICA € ALEMANHA €





PAÍSES BAIXOS

FRANÇA

Data de entrada dos países-membros na UE 1995 1958 2004 1973 2007 1981 2013 1986 € Países que adotam o euro

€ ti c o

Mar do Norte IRLANDA

FINLÂNDIA

SUÉCIA

M e d i t e

ÁFRICA

CROÁCIA

r r â n e o MALTA €

Cá sp

Mar Negro BULGÁRIA

GRÉCIA

ÁSIA



CHIPRE



0

575

1 150

km

Adaptado de: UNIÃO EUROPEIA. Países da UE. Disponível em: ; EUROPEAN CENTRAL BANK. Euro Area. Disponível em: . Acessos em: 28 dez. 2015.

Banco de imagens/Arquivo da editora

0º Cír cu l oP olar Á

io

A União Europeia (UE) foi criada pelo Tratado de Roma, assinado em 25 de março de 1957, e passou a vigorar em 1º de janeiro de 1958, com o nome de Comunidade Econômica Europeia (CEE). O nome atual só foi adotado no início da década de 1990. Os primeiros países integrantes foram França, Alemanha Ocidental, Itália, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo – grupo chamado “Europa dos Seis”. Desde então, o bloco não parou de se expandir, como mostra o mapa ao lado. Em 2015, além dos 28 membros, havia cinco países candidatos: Albânia, Antiga República Iugoslava da Macedônia, Montenegro, Sérvia e Turquia. Os objetivos iniciais da CEE eram recuperar os países-membros, enfraquecidos

União Europeia: países-membros e zona do euro – 2015

Mer idia Gree no de nwic h

União Europeia

o a/C dp er/

k toc ns

A proposta de integração europeia foi apresentada pela primeira vez pelo ministro dos Negócios Estrangeiros da França, Robert Schuman (1886-1963), em discurso proferido em 9 de maio de 1950. Anualmente, em 9 de maio, celebra-se o Dia da Europa. Na foto de 2015, o edifício Berlaymont, sede da Comissão Europeia, o poder executivo da UE, em Bruxelas (Bélgica).

259

es

Da

al k lK nie

ti La is/ rb

moedas nacionais, e os oito restantes ainda não tinham preenchido as condições jurídicas e econômicas exigidas. A União Europeia é o maior bloco comercial do planeta: em seus domínios estão cinco países da lista dos dez principais países exportadores S h utt er s to ck/ Gl ow Im – Alemanha, Países Baixos, França, Itália e Reino Unido –, mas há também pequenas economias com um comércio externo reduzido, como Chipre e Malta. Em 2014, segundo a OMC, as exportações do conjunto dos países da UE atingiram 6,2 trilhões de dólares. Entretanto, 63% desse comércio foi intrabloco. Desde a assinatura do Tratado de Maastricht, o Parlamento europeu se fortaleceu gradativamente. Esse órgão, sediado em Estrasburgo (França), representa os cidadãos dos Estados-membros: seus parlamentares são eleitos diretamente e tomam decisões que afetam toda a UE. O número de representantes é proporcional à população de cada país. Em 2015, de um total de 751 deputados, a Alemanha, o país mais populoso da UE, com 81 milhões de habitantes, possuía 96 parlamentares; no outro extremo, Malta, o menos populoso, com 400 mil moradores, possuía seis. A UE também dispõe de um poder executivo, a Comissão Europeia, que representa o interesse comum do bloco e tem como principal função pôr em prática as decisões do Conselho e do Parlamento. Sua sede fica em Bruxelas (Bélgica), considerada a capital da UE. O Conselho da União Europeia representa cada um dos Estados-membros e é o principal órgão de tomada de decisões no âmbito do bloco.

ag

econômica e politicamente após a Segunda Guerra Mundial, conter a ameaça do comunismo e, ao mesmo tempo, deter a crescente influência norte-americana. Esses objetivos foram atingidos gradativamente. Somente em 1986, com a assinatura do Ato Único, acordo que complementou o Tratado de Roma, começou a instauração do mercado comum. Esse documento definiu objetivos precisos para a integração e estabeleceu o ano de 1993 para o fim de todas as barreiras à livre circulação de mercadorias, serviços, capitais e pessoas. Naquele ano, começou a funcionar plenamente o Mercado Comum Europeu, e os três primeiros objetivos foram postos em prática. A livre circulação de pessoas começou a valer em 1995, quando entrou em vigor a Convenção de Schengen, acordo assinado nessa cidade luxemburguesa que prevê a supressão de controle fronteiriço entre os países signatários. Em 1991, os países-membros do Mercado Comum Europeu assinaram o Tratado de Maastricht, nome da cidade dos Países Baixos onde se realizou o encontro, por meio do qual foram definidas as etapas seguintes da integração e mudada a denominação do bloco para União Europeia. Nesse mesmo tratado, os integrantes do bloco também decidiram adotar uma moeda única, o euro, que começou a circular em 1o de janeiro de 2002. Assim, a UE tornou-se uma união econômica e monetária cuja moeda passou a ser controlada pelo Banco Central Europeu, sediado em Frankfurt (Alemanha). Porém, como mostra o mapa da página anterior, não são todos os países-membros que fazem parte da chamada zona do euro. Em 2015, dezoito países da UE adotavam ad t vam a moeda m e a única; ún a dos dez e que ue não faziam parte d da união monetária, dois – Reino Unido e Dinamarca – optaram por manter suas

Vejamos agora os indicadores da União Europeia.

União Europeia: indicadores socioeconômicos – 2014 População

PIB

Exportações

Importações

Membros

(milhões de habitantes)

(bilhões de dólares)

(bilhões de dólares)

(bilhões de dólares)

28

508

18 433

6 162

6 132

Como estudamos no Capítulo 1, a crise financeira iniciada em 2008 nos Estados Unidos atingiu a União Europeia a partir de 2010, e, em 2014, os países dessa região, especialmente os do Mediterrâneo, ainda sofriam suas consequências. A situação mais grave era a da Grécia, cuja dívida pública atingiu 177% do PIB em 2014. A dívida grega extrapolou quase três vezes o limite estabelecido em 1992 pelos Critérios de Maastricht, acordo de convergência dos indicadores econômicos para a adoção da moeda única, quando foi definido que o endividamento público dos países-membros não poderia ultrapassar 60% do PIB. A maioria dos países da UE ultrapassou esse limite, e, como se observa pelos dados da tabela a seguir, justamente os mais endividados são os mais vulneráveis. A crise também fez os governos gastarem mais do que arrecadaram, elevando o deficit público. Segundo os Critérios de Maastricht, o deficit público não poderia ultrapassar 3% do PIB, mas, em 2010, na maioria dos países os gastos governamentais excederam esse limite. Para tentar solucionar o problema do deficit público e do excessivo endividamento, os governos têm cortado investimentos e despesas (redução de gastos

com infraestrutura, benefícios sociais e aposentadorias) e elevado impostos e tarifas públicas. Essas medidas acabam limitando o consumo de bens e serviços por parte da população, dificultando a retomada do crescimento econômico e a recuperação dos empregos. Isso fez com que, em 2012, a crise atingisse mais intensamente a economia real. Vários países do bloco entraram em recessão, o que levou a um forte aumento do desemprego, sobretudo nos países do Mediterrâneo, os mais atingidos pela crise na Europa. Eric Cabanis/Agência France-Presse

A crise econômica na UE

Adaptado de: THE WORLD BANK. World Development Indicators 2015. Washington, D.C., 2015. Disponível em: ; WORLD TRADE ORGANIZATION. International Trade Statistics 2015. Genebra, 2015. Disponível em: . Acessos em: 28 dez. 2015.

Filiados de vários sindicatos se manifestam em Toulouse (França), em 2016. Segundo a faixa: “Contra a austeridade, por emprego, salários e serviços públicos locais”.

Países selecionados: indicadores econômicos

260

País

Dívida pública bruta (% do PIB) 2014

Deficit público (% do PIB) 2010

taxa de crescimento do PIB (%) 2012

taxa de desemprego (% da PEA) 2014

Grécia

177,2

211,1

26,6

26,5

Itália

132,1

24,2

22,8

12,8

Portugal

130,2

211,2

24,0

13,9

Espanha

97,7

29,4

22,1

24,5

França

95,1

26,8

10,3

10,2

Reino Unido

89,5

29,7

10,7

6,2

Alemanha

73,1

24,0

10,6

5,0

Finlândia

59,6

22,5

21,4

8,6

Capítulo 10

Para saber mais sobre a União Europeia, consulte o livro A experiência europeia fracassou? Debate sobre a União Europeia e suas perspectivas e acesse o portal oficial do bloco. Veja orientações na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

Adaptado de: INTERNATIONAL MONETARY FUND. World Economic Outlook Database. April 2015 Edition. Disponível em: . Acesso em: 4 ago. 2015.

Nafta

Livre-Comércio das américas (Alca), envolvendo todos os países americanos, com exceção de Cuba, foi o principal projeto integracionista defendido pelo governo de Bill Clinton (1946-), presidente de 1992 a 2000. Porém, as negociações da Alca foram paralisadas durante o mandato de George W. Bush (1946-), que se encerrou em 2008. Em 2009, com a eleição de Barack Obama, a situação não mudou. A resistência do Brasil e dos demais países-membros do Mercosul ao modelo de integração proposto e o envolvimento do governo Bush nas guerras do Afeganistão (2001) e do Iraque (2003) puseram fim às negociações. A partir de então, os Estados Unidos passaram a firmar acordos com diversos países da América, como o Chile, e de outros continentes, como a Austrália. Como veremos no texto da página 266, em 2015 os Estados Unidos firmaram um tratado de livre-comércio com onze países da bacia do Pacífico. O Nafta é um gigantesco mercado consumidor: em 2014 seu PIB era de 20 trilhões de dólares (maior do que o da UE, com 28 países-membros). Segundo a OMC, em 2014, as exportações conjuntas dos três países do bloco somaram 2,5 trilhões de dólares, e as importações, 3,3 trilhões. Esse enorme deficit comercial é quase todo responsabilidade dos Estados Unidos, que apresentaram naquele ano uma balança comercial desfavorável no valor de 792 bilhões de dólares. Desde a criação do Nafta, com a gradativa redução das barreiras alfandegárias entre os três países-membros, o comércio intrabloco cresceu intensamente, o que desviou fluxos de mercadorias de outras regiões, sobretudo da União Europeia. A criação do Nafta acentuou a dependência do Canadá e do México em relação aos Estados Unidos, cuja economia, em 2014, correspondia a 85% do produto interno do bloco. Em 1986, alguns anos antes da criação da zona de livre-comércio, 78% das exportações do Canadá e 66% das do México se destinavam aos Estados Unidos; em 2005 esses números subiram para, respectivamente, 84% e 80%.

O tratado Norte-americano de Livre-Comércio (Nafta, sigla em inglês) foi assinado em 1992 por Estados Unidos, Canadá e México e entrou em vigor em 1o de janeiro de 1994. Cada um dos três países-membros abriga uma Secretaria do Nafta, respectivamente em Washington, D.C., Ottawa e Cidade do México.

Banco de imagens/Arquivo da editora

Nafta: países-membros – 2015

Po l

ar

Ár tic

o

ÁSIA

ALASCA

o ul rc Cí

(EUA)

EUROPA OCEANO PACÍFICO CANADÁ

OCEANO ATLÂNTICO ESTADOS UNIDOS

Países-membros do Nafta e co d Trópi

MÉXICO 0

1 250

2 500

km

100º O

Cân

cer

AMÉRICA CENTRAL Organizado pelos autores.

Historicamente, os Estados Unidos sempre estimularam o multilateralismo e viam com reserva a formação de blocos comerciais por considerá-los uma forma de limitar seus mercados no mundo. O país só concordou com a criação da Comunidade Econômica Europeia, em 1957, porque isso judaria a consolidar o capitalismo na Europa ocidental e a conter o avanço do comunismo soviético. No atual mundo globalizado, com o aumento da concorrência e a consolidação da tendência de formação de blocos, os Estados Unidos viram no regionalismo comercial um meio de expandir seus interesses econômicos em toda a América. Depois do Nafta, a Área de

Nafta: indicadores socioeconômicos – 2014 Membros 3

População

PIB

Exportações

Importações

(milhões de habitantes)

(bilhões de dólares)

(bilhões de dólares)

(bilhões de dólares)

478

20 488

2 494

3 300

Adaptado de: THE WORLD BANK. World Development Indicators 2015. Washington, D.C., 2015. Disponível em: ; WORLD TRADE ORGANIZATION. International Trade Statistics 2015. Genebra, 2015. Disponível em: . Acessos em: 28 dez. 2015.

O comércio internacional e os blocos regionais

261

Mercosul

Najah Feanny/Corbis/Latinstock

Com a crise financeira originada nos Estados Unidos em 2008, essa dependência econômica foi muito prejudicial aos outros dois países. Segundo o FMI, em 2009, o PIB mexicano encolheu 4,7%, e o canadense, 2,7%. Esse fato fez com que buscassem uma diversificação de seus mercados de exportação, o que reduziu um pouco o peso do grande vizinho no comércio exterior de ambos. Veja na tabela os números do Canadá.

Mesmo nos Estados Unidos, muitos setores da sociedade eram contrários ao Nafta, como o sindicato dos trabalhadores da indústria automobilística (United Auto Workers – UAW). Na foto, manifestação em 1993, perto da fábrica da General Motors, em Nova Jersey. Os cartazes dizem “Não ao Nafta” e “Não mande meu emprego para o México”.

Canadá: principais destinos das exportações (% do total exportado) – 2005/2014 País, região ou continente

2005

2014

América do Norte

84,6

77,6

Estados Unidos

83,8

76,5

Europa

6,5

8,3

União Europeia

5,7

7,3

Ásia

6,6

10,1

China

1,7

3,7

Outros continentes

2,3

4,0

O Mercado Comum do Sul (Mercosul) começou a se formar em 1985, nos governos de Raúl Alfonsín (1927-2009), da Argentina, e José Sarney (1930-), do Brasil. Para viabilizar o projeto de integração, os dois países tiveram de deixar de lado sua tradicional rivalidade e seus projetos hegemônicos na América do Sul, vigentes na época em que eram governados por ditaduras militares. Várias reuniões foram realizadas entre representantes dos dois governos ao longo dos anos seguintes até que incorporassem o Paraguai e o Uruguai nas negociações e os quatro assinassem o tratado de assunção em 1991. O objetivo inicial do Mercosul era estabelecer uma zona de livre-comércio entre os países-membros por meio da eliminação gradativa de tarifas alfandegárias e restrições não tarifárias, liberando a circulação da maioria das mercadorias. Alcançada essa meta, em 1994 foi assinado o Protocolo de Ouro Preto e fixou-se uma política comercial conjunta dos países-membros em relação a nações não integrantes do bloco, medida que definiu a tarifa Externa Comum (tEC) e transformou o Mercosul em união aduaneira. A TEC serve para que todos cobrem um imposto de importação comum, para evitar que algum membro dê tratamento diferenciado a determinado setor e se torne porta de entrada de produtos que depois possam circular livremente dentro do bloco. Entretanto, como há uma lista grande de exceções, isto é, de produtos que não se enquadram na TEC, considera-se que o Mercosul é uma união aduaneira imperfeita. O Protocolo de Ouro Preto também permitiu criar uma estrutura institucional – composta do Conselho do Mercado Comum e da Comissão de Comércio do Mercosul, entre outros órgãos – para que a integração se aprofunde, chegando ao estágio de mercado comum, terceira e mais avançada etapa do processo de integração.

O Mercosul foi formado em 26 de março de 1991 com a assinatura do Tratado de Assunção, e seu secretariado está sediado em Montevidéu (Uruguai). Na foto, os presidentes Andrés Rodríguez (1923-1997), do Paraguai, Carlos Menem (1930-), da Argentina, Fernando Collor (1949-), do Brasil, e Luis Alberto Lacalle (1941-), do Uruguai, após reunião do Mercosul no Palácio da Alvorada, em Brasília, em 17 de dezembro de 1991.

262

Capítulo 10

José Varell/Agência Estado

Adaptado de: WORLD TRADE ORGANIZATION. International Trade Statistics 2015. Genebra, 2015. Disponível em: . Acesso em: 28 dez. 2015.

Em 2006, foi assinado o protocolo de adesão da Venezuela como membro do Mercosul, mas para que isso ocorresse foi necessário que o Parlamento de cada um dos países-membros aprovasse o ingresso. Os Parlamentos da Argentina e do Uruguai aprovaram com certa rapidez, mas houve relutância por parte do brasileiro e do paraguaio, que resistiram com o argumento de que o governo de Hugo Chávez (1999-2013) era antidemocrático. O Parlamento paraguaio chegou a frear o processo de adesão venezuelano. Nos acordos do Mercosul, há uma cláusula que afirma que, se um país candidato não respeitar as regras da democracia constitucional, não pode ser aceito no bloco e, se um país-membro desrespeitá-la, é passível de suspensão e até de expulsão do bloco. Em junho de 2012, o Congresso paraguaio votou o impeachment (impedimento) do presidente Fernando Lugo (1951-), que estava politicamente enfraquecido, em rito sumário consumado em menos de 24 horas, praticamente sem lhe garantir o direito de defesa. Como retaliação pelo que foi considerado uma ruptura da ordem democrática, em encontro de presidentes do Mercosul realizado no mesmo mês em Mendoza (Argentina), o Paraguai foi temporariamente suspenso do bloco até a realização de novas eleições, ocorridas em abril de 2013 e vencidas por Horacio Cartes (1956-). Aproveitando-se dessa suspensão, os outros três membros do Mercosul, em reunião extraordinária realizada em Brasília (DF), aprovaram o ingresso da Venezuela, o que ocorreu em julho de 2012. Em julho de 2015, em Brasília (DF), a Bolívia assinou o protocolo de adesão como o mais novo membro do Mercosul. Como já ocorrera com a Venezuela, para isso se concretizar é necessário que o Congresso de cada um dos cinco países-membros ratifique a adesão. Em agosto de 2015, os Parlamentos de Argentina, Uruguai e Venezuela já tinham aprovado e só faltava a ratificação do Congresso do Brasil e do Paraguai.

Apesar da expansão do Mercosul, conflitos comerciais entre o Brasil e a Argentina têm mostrado que deve ser longo o caminho para a instituição do mercado comum. A crise financeira que eclodiu em 2008 provocou uma queda acentuada do comércio intrarregional em 2009, mas no ano seguinte as trocas comerciais foram retomadas entre os países do bloco e atingiram o pico em 2011. Sobretudo, aumentaram as exportações brasileiras para a Argentina, o que levou esse país, que mais uma vez enfrentava dificuldades econômicas, a impor barreiras a muitos produtos brasileiros, reduzindo o fluxo de comércio e criando atritos em suas relações. Em 2014, a Argentina representava 70% das exportações brasileiras para o Mercosul e, embora seja nosso terceiro maior comprador, absorveu somente 6% do total de nossas vendas ao exterior (o maior parceiro comercial do Brasil é a China, que ficou com 18% de nossas exportações, seguida pelos Estados Unidos, com 12%).

Brasil: comércio exterior com Mercosul e argentina (bilhões de dólares) – 1991-2014 ano

Exportações para

Importações de

Mercosul

argentina

Mercosul

argentina

1991

2,3

1,5

2,2

1,6

2000

7,7

6,2

7,8

6,8

2008

21,7

17,6

14,9

13,3

2009

15,8

12,8

13,1

11,3

2011

27,9

22,7

19,4

16,9

2014

20,4

14,3

17,3

14,1

Adaptado de: MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR. Balança comercial: Mercosul. Dez. 2014. Disponível em: . Acesso em: 5 ago. 2015.

Giu

lia

Terminal de contêineres do Porto de Paranaguá (PR), o maior do sul do Brasil, em 2014. O Paraguai também utiliza esse porto para exportar e importar mercadorias.

no

Go

me s/

Fo lh

263

ap

res

s

Como mostra a tabela a seguir, em 2014 o bloco tinha um PIB de 3,5 trilhões de dólares. Sua população era equivalente a pouco mais da metade daquela da União Europeia e do Nafta, mas seu PIB era cerca de cinco vezes menor. Em relação ao comércio, o peso proporcional do Mercosul é ainda menor. De acordo com a OMC, em 2014 os países do bloco exportaram

mercadorias no valor de 396 bilhões de dólares. Desse total, o Brasil foi responsável por exportações no valor de 225 bilhões de dólares, ou seja, nosso país é responsável por 57% do comércio exterior do Mercosul. Veja os indicadores desse bloco e compare-os com os da UE e do Nafta.

Mercosul: indicadores socioeconômicos – 2014 Membros

População (milhões de habitantes)

PIB (bilhões de dólares)

Exportações (bilhões de dólares)

Importações (bilhões de dólares)

5

285

3 575

396

372

Para saber mais sobre o principal acordo comercial sul-americano, consulte a página brasileira do Mercosul. Veja orientações na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

Adaptado de: THE WORLD BANK. World Development Indicators 2015. Washington, D.C., 2015. Disponível em: ; WORLD TRADE ORGANIZATION. International Trade Statistics 2015. Genebra, 2015. Disponível em: . Acessos em: 28 dez. 2015.

América do Sul: acordos regionais – 2015

VENEZUELA COLÔMBIA

Para saber mais

GUIANA SURINAME Guiana Francesa (FRA)

Equador



EQUADOR

PERU

BRASIL

OCEANO PACÍFICO

BOLÍVIA PARAGUAI

rnio Trópico de Capricó

CHILE

OCEANO ATLÂNTICO

ARGENTINA

URUGUAI

0

Países-membros do/da

Para obter mais informações sobre a Unasul, consulte seu site oficial. Veja orientações na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

60º O

AMÉRICA CENTRAL

Banco de imagens/Arquivo da editora

O Mercosul é o tratado de livre-comércio mais importante da América Latina, mas há também a Comunidade andina (fundada em 1969), o Mercado Comum Centro-americano (fundado em 1961) e a aliança do Pacífico, o mais recente acordo de livre-comércio criado na região. A Aliança do Pacífico foi estabelecida por meio da Declaração de Lima, assinada em 2011, na capital peruana. Nasceu como zona de livre-comércio (92% dos produtos já circulam com tarifa zero), mas com projeção de se tornar um mercado comum. Para o México é uma alternativa ao Nafta, no qual a economia dos Estados Unidos é preponderante, e para Chile, Peru e Colômbia, uma alternativa ao Mercosul, bloco em que a economia do Brasil se sobressai. Ao mesmo tempo, essa aliança é uma ponte para a Ásia-Pacífico, a região economicamente mais dinâmica do mundo. Em 2015, a Costa Rica e o Panamá eram candidatos a membros.

790

1 580

km

Mercosul Comunidade Andina Unasul

Organizado pelos autores.

Unasul A União das Nações Sul-americanas (Unasul ou Unasur, em espanhol) foi criada em encontro entre chefes de Estado e de governo dos doze países sul-americanos, realizado em Brasília (DF), em 2008. Sua sede fica em Quito (Equador). A Unasul tem pretensões que vão além de um acordo de livre-comércio. Segundo o Tratado Constitutivo da organização, seu objetivo é “construir uma identidade e cidadania sul-americanas e desenvolver um espaço regional integrado no âmbito político, econômico, social, cultural, ambiental, energético e de infraestrutura”. Esse Tratado entrou em vigor em 2011. Para que esse espaço regional seja integrado na prática é necessário adotar diversas medidas conjuntas, como a integração das infraestruturas – transportes, energia, telecomunicações, etc. 264

Capítulo 10

Asean 130º L JAPÃO COREIA DO SUL

Países-membros da Asean

CHINA

OCEANO PACÍFICO ÍNDIA

MIANMAR

Mar da China Meridional

LAOS TAILÂNDIA

FILIPINAS

VIETNÃ

CAMBOJA

u Eq BRUNEI

OCEANO ÍNDICO

M A L Á S I A CINGAPURA

0

N

I



680

D

O

N

É

S

I

or ad

A

OCEANIA

1 360

km

Adaptado de: ASEAN. Member States. Disponível em: . Acesso em: 5 ago. 2015.

asean: indicadores socioeconômicos – 2014 Membros 10

População

PIB

Exportações

Importações

(milhões de habitantes)

(bilhões de dólares)

(bilhões de dólares)

(bilhões de dólares)

623

2 478

1 295

1 235

Adaptado de: THE WORLD BANK. World Development Indicators 2015. Washington, D.C., 2015. Disponível em: ; WORLD TRADE ORGANIZATION. International Trade Statistics 2015. Genebra, 2015. Disponível em: . Acessos em: 28 dez. 2015.

Mohd Rasfan/Agência France-Presse

Foto oficial da 26ª Cúpula da Asean com os chefes de Estado e de governo dos dez países-membros, alguns dos quais com suas esposas, em Kuala Lumpur (Malásia), em 2015. O comércio internacional e os blocos regionais

265

Banco de imagens/Arquivo da editora

Asean: países-membros – 2015

Há mais de três décadas, a Ásia vem apresentando os maiores índices de crescimento econômico do mundo, e seu comércio intrarregional tem aumentado mais do que as trocas com outros continentes. Apesar dessa crescente interdependência econômica, é o continente no qual menos avançou o processo de formação de blocos regionais de comércio. As rivalidades e desconfianças históricas entre os países asiáticos, sobretudo entre Japão, China, Índia e Coreia do Sul, as maiores economias, têm dificultado uma integração regional mais profunda. Nenhum desses países faz parte do mais antigo bloco comercial do continente, a associação das Nações do Sudeste asiático (Asean, sigla em inglês). Integram a apec, mas esse fórum, como mostra o Para saber mais da página 266, ainda não constitui uma zona de livre-comércio. A Asean foi criada com o objetivo de desenvolver o Sudeste Asiático e aumentar a estabilidade política e econômica da região. Foi fundada em 1967 por Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura e Tailândia. Como mostra o mapa ao lado, em 2015 possuía dez países-membros. Sua sede fica em Jacarta (Indonésia). Como mostram os indicadores da tabela a seguir, a Asean possui um mercado consumidor importante e, sobretudo, uma grande participação no comércio mundial.

Para saber mais Apec e TPP

6 620

ZELÂNDIA

km

Países-membros da Apec

Na África, os processos de integração regional são prejudicados pelo grave quadro de desagregação vigente em muitos países do continente: dependência econômica, carência de infraestrutura básica, industrialização incipiente, pobreza, fome, epidemias e guerras civis. Os blocos econômicos africanos são muito frágeis, refletindo a economia dos países que os compõem. O mais importante acordo regional de comércio do continente é a Comunidade de Desenvolvimento da África austral (SADC, sigla em inglês). Esse bloco foi criado em 1992 para assegurar a cooperação e o desenvolmento na região austral do continente africano e em 2015 era composto de quinze países. Em 2008 foi lançada a Área de Livre-Comércio da SADC, e desde então vem se ampliando a lista de produtos que circulam com tarifa zero. Capítulo 10

3 310

OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO

Círculo Polar Antártico

SADC

266

0

Organizado pelos autores.

SADC: países-membros – 2015 0º

Equador



REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO

OCEANO ÍNDICO TANZÂNIA

ANGOLA A ZÂMBIA

SEYCHELLES MALAUÍ MOÇAMBIQUE

ZIMBÁBUE

MADAGASCAR NAMÍBIA BOTSUANA SUAZILÂNDIA OCEANO MAURÍCIO ATLÂNTICO LESOTO ÁFRICA Países-membros DO SUL 0 1 080 2 160 da SADC km

Trópico de Capricórnio

Organizado pelos autores.

Banco de imagens/Arquivo da editora

Observe que no fórum Apec há países de diversos tratados de livre-comércio já existentes: os três do Nafta, três da Aliança do Pacífico e sete da Asean.

Meridiano de Greenwich

Em 5 de outubro de 2015, doze países que fazem parte O Fórum Econômico da Ásia-Pacífico (Apec, sigla em inglês) foi criado em 1989. Com sede em Cingapura, é comda Apec – Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Cingapura, Estaposto de vinte países da bacia do Pacífico e por Hong Kong dos Unidos, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru e Vietnã – assinaram um tratado de livre-comércio batizado (região administrativa especial chinesa). Atualmente é apede Parceria Trans-Pacífica (TPP, sigla em inglês). No entannas um fórum, mas com o tempo pretende instituir uma zona de livre-comércio entre seus membros. Em 2014 coto, para entrar em vigor a TPP precisa ser aprovada pelo meçaram as conversações para a futura criação da Área de Congresso de cada um dos países signatários. Ainda é cedo Livre-Comércio da Ásia-Pacífico. Entretanto, para que isso para saber as consequências econômicas e geopolíticas aconteça, eles terão de superar divergências históricas e dessa nova zona de livre-comércio. Porém, uma coisa é cerprofundas disparidades econômicas. Como se observa no ta: trata-se de uma tentativa nipo-americana de conter o mapa, fazem parte do fórum grandes potências, como os crescente poder econômico-comercial da China na região Estados Unidos, a China e o Japão, que têm rivalidades do Pacífico. Com isso, a transformação da Apec em zona de geopolíticas e econômicas, além de países pobres, como o livre-comércio provavelmente nem aconteça. Vietnã e Papua-Nova Guiné. Apec – 2015 Se a Apec se constituísse como um Banco de imagens/Arquivo da editora 0º OCEANO GLACIAL ÁRTICO bloco econômico, seria o maior do mundo, Círculo Polar Ártico superando a União Europeia e o Nafta. Em RÚSSIA CANADÁ 2014, segundo dados da Apec Statistics, sua CHINA ESTADOS JAPÃO OCEANO população era de 2,8 bilhões (39% dos haCOREIA UNIDOS OCEANO DO SUL ATLÂNTICO Trópico de Câncer TAIWAN PACÍFICO bitantes do planeta), seu PIB conjunto era HONG KONG MÉXICO TAILÂNDIA FILIPINAS VIETNÃ BRUNEI de 43,8 trilhões de dólares (56% da produMALÁSIA Equador 0º CINGAPURA INDONÉSIA PAPUA-NOVA OCEANO ção bruta mundial) e suas exportações GUINÉ PERU PACÍFICO OCEANO ÍNDICO eram de 9,1 trilhões de dólares (48% do Trópico de Capricórnio AUSTRÁLIA CHILE comércio internacional). NOVA

Monirul Bhuiyan/Agência France-Presse

Em razão da criação SaDC: indicadores socioeconômicos – 2014 da SADC houve uma amPopulação PIB Exportações Importações pliação significativa do Membros (milhões de (bilhões de (bilhões de (bilhões de comércio intrabloco, mas habitantes) dólares) dólares) dólares) isso se deve também a 15 302 684 205 224 uma grande valorização das matérias-primas no Adaptado de: THE WORLD BANK. World Development Indicators 2015. Washington, D.C., 2015. Disponível em: ; WORLD TRADE ORGANIZATION. International Trade Statistics 2015. Genebra, 2015. Disponível em: mercado internacional. . Acessos em: 28 dez. 2015. As vendas ao exterior dos mas gerou um PIB de 571 bilhões de dólares e exportou países desse bloco quadruplicaram nos últimos anos. Segundo a OMC, em 2001 as exportações conjuntas mercadorias no valor de 164 bilhões de dólares. dos países da SADC eram de 49 bilhões de dólares. Essas informações evidenciam que os fluxos de merVeja na tabela acima o valor para 2014. cadorias não são distribuídos igualmente no espaço geográfico mundial e, com isso, os blocos são muito diferentes em relação a tamanho econômico e capacidade comercial. Apesar de ser o principal acordo regional de comércio da África, a SADC é muito pequena em termos econômicos quando comparada aos principais blocos do mundo. Desde o fim do século XX, os países africanos em geral e, principalmente, as maiores economias da SADC têm se beneficiado do aumento da demanda mundial, principalmente a chinesa, por matérias-primas agrícolas e minerais. A China tem investido alto em vários projetos de infraestrutura (energia, transportes, etc.), produção agrícola e extração mineral em muitos países africanos, o que tem garantido elevadas taxas de crescimento econômico em muitos deles, como mostram os dados da O presidente de Botsuana, Ian Khama, discursa em 2015 durante a 35ª Cúpula da SADC, após ser indicado à presidência do bloco. tabela a seguir. A crise econômica atingiu os países desEsse encontro reuniu os chefes de Estado e de governo dos 15 se bloco, mas não com a mesma gravidade dos países países-membros em sua sede em Gaborone (Botsuana). desenvolvidos e de alguns emergentes, pois seu principal mercado de exportações na atualidade é a China, que Observe os indicadores econômicos da SADC e compare-os com os da Suécia, uma economia de tamacontinua crescendo. Além disso, nos principais países nho médio na União Europeia. Em 2014, esse país tinha africanos tem havido um aumento da classe média e, uma população de apenas 10 milhões de habitantes, portanto, da capacidade de consumo da população.

Maiores economias do SaDC: taxa de crescimento do PIB (%) – 2000-2013 País

2000

2007

2008

2009

2010

2013

África do Sul

4,2

5,4

3,2

–1,5

3,0

2,2

Angola

3,0

22,6

13,8

2,4

3,4

6,8

Tanzânia

4,9

8,8

5,6

5,4

6,4

7,3

Zâmbia

3,6

8,4

7,8

9,2

10,3

6,7

Botsuana

5,9

8,7

3,9

–7,8

8,6

5,9

–6,9

6,3

6,2

2,9

7,1

8,5

1,5

7,4

5,8

6,5

7,1

7,4

República Democrática do Congo Moçambique

Adaptado de: INTERNATIONAL MONETARY FUND. World Economic Outlook Database. April 2015 Edition. Disponível em: . Acesso em: 7 ago. 2015.

O comércio internacional e os blocos regionais

267

atenção! Não escreva no seu livro!

Atividades Compreendendo conteúdos

1. De acordo com o que foi visto ao longo do capítulo, o comércio internacional é concentrado em poucos países ou distribuído igualmente pelo mundo?

2. Explique o que é o G-20 comercial e discuta sua importância no âmbito da OMC. 3. Explique a transformação do GATT em OMC. O que mudou? 4. Sobre a União Europeia, o Nafta, o Mercosul e a SADC, responda: a) Qual é a diferença entre esses blocos regionais de comércio? b) Compare-os, considerando o tamanho da economia e o potencial de comércio.

Desenvolvendo habilidades

Nenhuma nação jamais foi arruinada pelo comércio.” Benjamin Franklin (1706-1790), cientista e político norte-americano.

5. Desde o início da Revolução Industrial, o livre-comércio tem sido defendido por economistas influentes, entre os quais o britânico Adam Smith (1723-1790), e também por políticos importantes como Benjamin Franklin, cuja frase acima é elucidativa. Entretanto, quase sempre o intercâmbio mundial de mercadorias sofre algum tipo de restrição com a imposição de barreiras tarifárias e não tarifárias. Ou seja, o comércio internacional não é totalmente livre, daí, como vimos, as diversas rodadas de negociação no âmbito da OMC. Leia os argumentos a favor e contra o livre-comércio. Em seguida, organizem-se em grupos para responder às questões.

Quais são os argumentos a favor e contra o livre-comércio? Como principais argumentos a favor do livre-comércio, citam-se: – o aumento da quantidade e da variedade de bens disponíveis para consumo; – a possibilidade de o país exportar os produtos nos quais é mais eficiente que seus parceiros comerciais; – a redução dos custos para a aquisição de insumos produtivos não disponíveis ou de alto custo no país, o que permite à indústria instalada ganhar em produtividade e tornar-se mais competitiva; – os ganhos de competitividade e a geração de empregos nos setores domésticos capacitados a competir nos mercados mundiais; – a livre alocação dos insumos entre as indústrias; – a identificação dos setores e insumos mais competitivos; – a eliminação da distorção em preços relativos; – o maior acesso a linhas externas de investimento; – a correção de eventual viés antiexportação que tenha se consolidado na estrutura da economia. Por outro lado, os argumentos clássicos que têm sido levantados contra o livre-comércio são: – a proteção à “indústria nascente” (A. Hamilton, F. List); – a preservação do emprego; – a defesa frente ao comércio desleal; – a promoção da segurança nacional; – a manutenção de poder de barganha em futuras negociações internacionais; – a alegada existência de setores estratégicos; e, – o controle do nível de importações como meio de promover algum equilíbrio do balanço de pagamentos. INSTITUTO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO E NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS (Icone). Economia e Comércio Internacional. Disponível em: . Acesso em: 7 ago. 2015.

a) Com quais argumentos vocês concordam? b) Há algum outro argumento favorável ou contrário que poderia ser mencionado? c) Pesquisem na internet e descubram exemplos de restrição ao livre-comércio que o Brasil enfrenta em suas exportações e que também impõe a algum produto importado. Por fim, procurem relacioná-los com os argumentos anteriores. 268

Capítulo 10

CAPÍTULO

11

Os serviços internacionais f11photo/Shutterstock

Crianças brincam no Centennial Olympic Park, em Atlanta (Estados Unidos), em 2014.

269

A

pesar de o comércio de mercadorias ter maior peso nas trocas internacionais, é cada vez mais intenso o intercâmbio de serviços entre os países. E, assim como a circulação internacional de mercadorias cresceu significativamente, estimulada pela criação do Gatt, o intercâmbio de serviços vem sendo ampliado, incitado pelo acordo Geral sobre Comércio de Serviços (GatS, sigla em inglês). Mas será que todos os países e suas respectivas populações são igualmente beneficiados pela ampliação do intercâmbio internacional de serviços? Ou este também é fortemente concentrado, como nas trocas de mercadorias?

Vin cen t St

. Th

om a

s/S

hutt

ers

tock

Passageiros embarcam em avião no Aeroporto Internacional de Pequim (China), em 2014.

270

Capítulo 11

1 Serviços e comércio de serviços O comércio, como vimos no capítulo anterior, é uma atividade econômica que lida com a troca de bens materiais tangíveis, como minérios, petróleo, cereais, vestuário, automóveis e eletrodomésticos. Esses bens podem ser extraídos da natureza, produzidos pela agropecuária ou transformados pela indústria. Para deslocá-los no espaço geográfico é essencial a utilização de meios de transporte, como caminhões, trens, aviões e navios, e muitas vezes tais produtos são estocados antes de ser comercializados. Já os serviços contemplam uma enorme diversidade de atividades econômicas terciárias, muitas das quais

Omitimos o nome das empresas e marcas representadas na iconografia deste esquema, pois não é imprescindível para o entendimento do assunto estudado.

imateriais e intangíveis, isto é, que você não pode pegar e, às vezes, nem ver. É por isso que a revista britânica The Economist define de forma simplificada “serviços” como “produtos da atividade econômica que não se podem derrubar nos próprios pés, que vão de cabeleireiro a website”, passando por educação, assistência médica, segurança pública, telecomunicações, serviços financeiros, turismo, etc. Os serviços relacionam-se com os outros setores da economia, como comércio, indústria, agropecuária e extrativismo. A ilustração a seguir mostra a inter-relação dessas atividades econômicas.

Qilai Shen/Bloomberg/Getty Images

Imaginechina/Corbis/Latinstock

Organizado pelos autores.

Inter-relação das atividades econômicas

2 Indústria

1

Fábrica de celulares em Dongguan (China), 2015.

Dean Hutton/Bloomberg/ Getty Images

(produção de bens)

3

Comércio

(consumo de bens)

Serviço

(transporte de bens)

Embarque de celulares em avião cargueiro no Aeroporto Internacional de Zhengzhou (China), 2014.

Loja de celulares em Johannesburgo (África do Sul), 2015.

Serviço

4

Stefano Carnevali/Shutterstock

jack_photo/Shutterstock

(telecomunicação)

Antena de telefonia celular em Sattahip (Tailândia), 2015.

Usuário (consumo de serviço)

Pessoa usando celular em Milão (Itália), 2015.

5 Os serviços internacionais

271



fluxo – sua prestação ocorre num fluxo contínuo e só tem início quando solicitada pelo usuário; assim, não há estoque de serviços – como ocorre com mercadorias –, mas, sim, disponibilidade;



variedade – comporta uma enorme diversidade de técnicas de prestação e de qualidade dos serviços oferecidos, assim como de tipos e tamanhos das empresas prestadoras;

• uso intensivo de recursos humanos – por comportar

muitas atividades interativas, nas quais o prestador e o usuário se relacionam, os serviços, em geral, utilizam grandes contingentes de mão de obra.

Os serviços em geral empregam muita mão de obra, mas em alguns setores, como o bancário, é crescente a automação. Clientes usando caixas eletrônicos em Porto Alegre (RS), em 2016.

Os serviços podem ser classificados em:

• intermediários – são os serviços produtivos, aqueles

que dão suporte às demais atividades econômicas, como indústria, comércio e agropecuária.

• finais – são os serviços de consumo, voltados às ativi-

dades individuais, como as domésticas e de entretenimento, e às coletivas, como as de educação e de saúde. Ainda podem ser classificados como públicos quando os serviços são prestados pelo Estado, em suas três esferas, ou por empresas privadas sob concessão estatal. São exemplos de serviços públicos a segurança, o transporte, a educação e a saúde. No entanto, os serviços são, em sua maioria, privados, prestados por indivíduos ou empresas de diversos tamanhos. O policiamento é um exemplo de serviço de segurança pública prestado pelo Estado, enquanto a segurança em bancos, shoppings e eventos privados é prestada por empresas especializadas. Nas fotos, ambas de 2015, policiais fazem ronda na praça Rio Branco, em Recife (PE) (foto à esquerda), e segurança privado observa as pessoas no Encontro Internacional de Motociclistas, em São Miguel do Oeste (SC) (foto à direita). Cesar Diniz/Pulsar Imagens

Hans Von Manteuffel/ Pulsar Imagens

Itamar Aguiar/Agência Freelancer/Folhapress

Quando o consumidor vai a uma loja e compra um aparelho celular, está adquirindo uma mercadoria fabricada por alguma indústria eletrônica. Para que esse celular funcione, contudo, é necessário que o usuário contrate o plano de alguma operadora de telefonia. O celular é um produto material, tangível, que podemos pegar na mão e, eventualmente, “derrubar no pé”. A conexão dele, no entanto, depende de um serviço prestado pela operadora de telefonia, que é imaterial, intangível. Do mesmo modo, um celular não funciona sem uma antena, que também é produzida por uma indústria, bastante comum na paisagem das cidades e das estradas. O centro de operações da empresa de telefonia também se materializa na paisagem, mas ocorre no interior de prédios comerciais. Já as ondas de rádio, que entram e saem do aparelho celular, levando e trazendo voz, textos e imagens, não são vistas. Os serviços se distinguem das outras atividades da economia por três características básicas:

272

Como vimos no capítulo anterior, as atividades terciárias incluem o comércio e os serviços, e a contas nacionais dos países agregam os dois setores num único dado numérico. Muitas vezes, como no relatório do Banco Mundial, esse dado aparece como “serviços”,

mas inclui também o comércio. Na maioria dos países são as atividades terciárias as que mais contribuem para a formação do PIB, e, no caso brasileiro, essa contribuição vem aumentando. Observe os dados da tabela e do gráfico.

Países selecionados: participação das atividades econômicas no PIB – 2014 País

Atividades terciárias (%)

Atividades secundárias (%)

Atividades primárias (%)

França

79

19

2

Estados Unidos

78

21

1

Reino Unido

78

21

1

Japão

73

26

1

Brasil

71

23

6

Alemanha

69

30

1

África do Sul

68

29

2

Argentina

63

29

8

México

62

34

3

Rússia

60

36

4

Coreia do Sul

59

38

2

Índia

52

30

18

China

48

43

9

República Centro-Africana

30

12

58

Serra Leoa

28

16

56

Adaptado de: THE WORLD BANK. World Development Indicators 2015. Washington, D.C., 2015. Disponível em: . Acesso em: 30 dez. 2015.

Brasil: participação das atividades terciárias no PIB – 2004-2013 A. Robson/Arquivo da editora

% 70 68 66 64 62 60

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

A classificação dos serviços A OMC fez uma extensa lista com 12 setores e 155

subsetores que contemplam praticamente a totalidade dos serviços prestados no mundo. Veja a seguir uma

2011

2012

2013

Adaptado de: MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR. Contas Nacionais Trimestrais/IBGE. In: Importância do setor terciário. Mar. 2014. Disponível em: . Acesso em: 30 dez. 2015.

lista com os setores e os principais subsetores. A lista completa é bem mais detalhada. Por exemplo, no subsetor 1.A., há outra subdivisão com 10 serviços profissionais: jurídicos, médicos e odontológicos, de engenharia, de arquitetura, de planejamento urbano, entre outros. Os serviços internacionais

273

InfOgráfICO

A apresentação do nome dos estabelecimentos que ocorre neste infográfico tem finalidade didática, sem intenção de recomendar produtos ou induzir seu consumo. Ela está contextualizada e sua omissão pode comprometer o entendimento do tema abordado.

Classificação dos setores de serviços, segundo a OMC 2. Serviços

presas 1. Serviços de em

de comunic ação

A . postais B . correio C . telecomu nicações D. audiovisu ais

Cesar Diniz/Pulsar

Renato Soares/Pulsar Imagens

Imagens

A . profissionais conexos B. informática e senvolvimento C. pesquisa e de D. imobiliários

Enfermeira atende no Posto de Saúd e kayapó da aldeia moykarakô, em São Félix do Xingu (PA), 2015.

Agência dos Corre

ios em Oeiras (PI),

2014.

4. Serviços de distribuição

A. construção de edificação B. construção de Engenharia Civil C. instalação e montagem D. conclusão e acabamento de edificação

A. agentes comissionados B. comercial de atacado C. varejista D. franqueado

Marcos André/Opção Brasil Imagens

3. Serviços de construção e serviços relacionados à Engenharia

5. Serviços e ducacionais

A . Ensino Pri mário B . Ensino Secu ndário C . Ensino Sup erior D. Ensino de Adultos

Escola Estadual Manuel Fulgêncio em Araçuaí (MG), 2015.

274

7. Serviços fi n

anceiro

e 6. Serviços d

nte meio ambie

A . esgoto de resíduos B . disposição to e similares C . saneamen

s A . seguros e se rviços relacionados com seguros B . bancários e outros serv iços financeiros

João Prudente/Pulsar Imagens

saúde e 8. Serviços de os médicos, sociais (exceto terinários) dentários e ve

Consulte a lista completa dos setores e dos subsetores de serviços pelos sites da Organização Mundial do Comércio e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Veja orientações na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

A . hospitalares os de saúde B. outros serviç C . sociais

9. Serviços de turismo e relacionados

rbis/Latinstock

Santa Casa de Misericórdia em Castelo (ES), 2014.

A. hotéis e restaurantes B. agências de viagens e operadoras de turismo C. guias de turismo

A. entretenimento (incluindo apresentações de teatro, circo e de grupos musicais) B. agências de notícias C. bibliotecas, arquivos, museus e outros serviços culturais D. desportivos e outros serviços de diversão (exceto serviços audiovisuais)

Lou Avers/dpa/Co

10. Serviços de lazer, cultura e esportes

Guia mostra o Panta nal a turistas alemã es em Poconé (MT), 2014.

rstock Frazão/Shutte

11. Serviços de tr ansporte

Filipe Matos

A . marítimo B. por vias de na vegação interiore s C. aéreo D. espacial E. ferroviário F. rodoviário

12. Outros serviços não incluídos anteriormente o Paulo, rnacional de Sã Aeroporto Inte P), 2014. (S os lh ru de Gua no município

ís, o maior do pa Adaptado de: WORLD TRADE ORGANIZATION. Services sectors. Disponível em: . Acesso em: 6 out. 2015.

275

A classificação do comércio de serviços

Muitas empresas, principalmente dos Estados Unidos e do Reino Unido, instalaram seus centros de teleatendimento ao consumidor na Índia, onde os custos de mão de obra e de telecomunicação são mais baixos e muitas pessoas falam inglês. Esse contact center, que funciona em Mumbai, emprega pessoas com deficiência física. Foto de 2014. Subhash Sharma/ZUMA Press/Corbis/Latinstock

Diante do crescimento e da diversidade do comércio de serviços entre os países, o GATS, acordo negociado no contexto da Rodada Uruguai, estabeleceu uma classificação do intercâmbio de serviços no mundo. Para isso, agrupou-os em quatro modos. Modo 1 – Atividade transfronteiriça É o serviço prestado para outros países a partir do território de um país, como telecomunicações, contact center, ensino a distância, entre outros.

Modo 2 – Consumo no exterior Serviço prestado no território de um país para consumidores oriundos de outros países. Todas as atividades que envolvem o turismo internacional, como hotéis, restaurantes, aluguel de carros, guias, museus, podem ser classificadas nesse grupo.

Modo 4 – Movimento de pessoas Há, ainda, os serviços prestados no território de um país por profissionais oriundos de outros países, como médicos, professores, consultores de negócios, entre outros tantos profissionais.

Ana Paula Hirano/Acervo da fot—grafa

Modo 3 – Presença comercial São serviços prestados no território de um país por filiais de empresas de outros países. As subsidiárias de bancos, de corretoras ou representantes de construtoras de certos países em territórios estrangeiros são exemplos.

Em muitas universidades dos Estados Unidos há professores estrangeiros, inclusive brasileiros, dando aulas e desenvolvendo pesquisas. Na foto de 2016, a professora Viviane Gontijo, que leciona Língua Portuguesa na Universidade de Harvard, em Cambridge (Estados Unidos).

276

Capítulo 11

2 Intercâmbio internacional de serviços Como já tínhamos observado com relação ao comércio de mercadorias, o intercâmbio de serviços também é fortemente concentrado em poucos países. Os dez maiores exportadores mundiais de serviços detêm pouco mais da metade do total mundial. Mundo: exportação de serviços – 2014 Serviços pessoais, culturais e recreativos

Viagens internacionais

Transportes

19,0%

24,7%

9,1% Serviços financeiros

1,0%

8,3%

Serviços governamentais

Royalties e licenças

1,5% Outros serviços comerciais

22,5%

Telecomunicações, computação e informação

6,0% Construção

2,1%

Seguro e pensão

Produtos relacionados com serviços

2,6%

3,2%

Total mundial: 5 017 bilhões de dólares

Adaptado de: UNITED NATIONS CONFERENCE ON TRADE AND DEVELOPMENT. Unctadstat. Service: Import and Export by Service-Category, 2005-2014. Disponível em: . Acesso em: 30 dez. 2015.

Os dez principais exportadores de serviços e outros selecionados – 2014 Posição/país

Exportações

Exportações

Importações

Importações

(bilhões de dólares)

(% do total mundial)

(bilhões de dólares)

(% do total mundial)

1. Estados Unidos

688

13,9

452

9,4

2. Reino Unido

337

6,8

197

4,1

3. França

267

5,4

248

5,2

4. Alemanha

266

5,4

326

6,8

5. China

232

4,7

382

8,0

6. Países Baixos

187

3,8

156

3,3

7. Japão

158

3,2

190

4,0

8. Índia

156

3,2

147

3,1

9. Cingapura

140

2,8

141

3,0

10. Espanha

134

2,7

70

1,5

13. Itália

116

2,3

113

2,4

15. Hong Kong (China)

106

2,1

76

1,6

16. Coreia do Sul

106

2,1

114

2,4

22. Rússia

65

1,3

119

2,5

32. Brasil

39

0,8

86

1,8

40. México

21

0,4

32

0,7

43. África do Sul

16

0,3

17

0,4

47. Argentina

14

0,3

16

0,4

Os 10 mais

2 565

51,9

2 381

49,8

Mundo

4 940

100,0

4 780

100,0

Adaptado de: WORLD TRADE ORGANIZATION. International Trade Statistics 2015. Disponível em: . Acesso em: 30 dez. 2015.

Os serviços internacionais

277

A. Robson/Arquivo da editora

O intercâmbio mundial de serviços também é orientado pelos princípios da Nação mais favorecida e do Tratamento nacional, que, como vimos no capítulo anterior, regem o comércio internacional de mercadorias. De acordo com o princípio da Nação mais favorecida o tratamento concedido a serviços ou a prestadores de serviços de um país deve ser estendido imediatamente aos demais países. Conforme o princípio do Tratamento nacional, um prestador de serviços estrangeiro deve receber o mesmo tratamento recebido pelos prestadores do país onde ele vai atuar. O avanço tecnológico nas telecomunicações e na informática contribuiu muito para a expansão dos serviços pelo mundo ao facilitar a troca de informações, as viagens de turismo, de negócios e os serviços financeiros internacionais. Em 2014, as exportações mundiais de serviços atingiram 5 trilhões de dólares, com destaque para as viagens internacionais e os transportes. Veja o gráfico ao lado.

atenção! Não escreva no seu livro!

Atividades Compreendendo conteúdos

1. O que você entende por serviços? Estabeleça comparações entre a prestação de serviços e o comércio de mercadorias. 2. Observe o infográfico da página 271 e explique a relação de serviços com comércio e indústria.

Desenvolvendo habilidades 3. Observe os dez principais exportadores mundiais de serviços na tabela da página anterior e compare-os com os dez principais exportadores mundiais de mercadorias, na tabela da página 253. Há coincidências entre os países que compõem cada uma delas? Explique a situação da Índia e da Coreia do Sul.

4. Analise o gráfico e a tabela a seguir. Depois, produza um texto que: a) b) c) d)

descreva a importância dos serviços nas economias da China e da Índia; mencione a mudança no papel desses países nas exportações mundiais de serviços; compare a relevância das exportações desses países com a relevância das exportações dos Estados Unidos; por fim, descreva a situação do Brasil. Países selecionados: crescimento anual dos serviços – 2001-2012 A. Robson/Arquivo da editora

% 10,9 10

9,0

8 6

5,4 3,6

4

2,1

2

2,1

1,4

1,2

Adaptado de: THE HINDU. India Has Second Fastest Growing Services Sector. New Delhi, 9 jul. 2014. Disponível em: . Acesso em: 31 dez. 2015.

0,6

0 China

Índia

Rússia

Brasil

Estados Unidos

Reino Unido

França Alemanha

Japão

Os oito principais exportadores mundiais de serviços e o Brasil (bilhões de dólares) – 2000-2014

Adaptado de: WORLD TRADE ORGANIZATION. International Trade Statistics 2001; International Trade Statistics 2015. Disponível em: . Acesso em: 31 dez. 2015.

278

Capítulo 11

Posição/país

2000

2014

1. Estados Unidos

275

688

2. Reino Unido

100

337

3. França

81

267

4. Alemanha

80

266

5. China

30

232

6. Países Baixos

52

187

7. Japão

68

158

8. Índia

18

156

32. Brasil

9

39

1 435

4 940

Total mundial

Vestibulares de Norte a Sul Com base na charge e em seus conhecimentos, avalie as afirmações:

Testes 1. NE (UFPE) As alternativas a seguir se referem aos aspectos do processo de integração nas diferentes fases de formação de um bloco econômico. Analise-as [e marque V ou F].

A Zona de Livre-Comércio corresponde à fase em que as tarifas alfandegárias são reduzidas (ou eliminadas) e as mercadorias produzidas nos países que compõem essa Zona circulam livremente de um país para outro e para o exterior. Na fase da União Aduaneira, além das mercadorias produzidas no âmbito do bloco circularem livremente de um país para outro, é estabelecida uma tarifa externa comum (TEC), para o comércio com os países que não formam o bloco. Essa fase é caracterizada, também, pela livre circulação de pessoas. No Mercado Comum, além do livre-comércio de mercadorias entre os países-membros do bloco e da existência de uma TEC para o comércio com países de fora, há a livre circulação de pessoas, de serviços e de capitais. Na fase da União Monetária, o bloco tem características da fase de Mercado Comum, somando-se a estas a unificação institucional do controle do fluxo monetário e o estabelecimento de uma moeda única. A União Política representa a fase em que o bloco, além de apresentar definições legais da União Monetária, tem unificada as políticas de relações internacionais, defesa, segurança interna e externa.

Petar Pismestrovic/Acervo do cartunista

2. SE (Fuvest-SP) Observe a charge.

I. O rápido e intenso crescimento econômico chinês se deu às custas da exploração de recursos florestais da União Europeia. II. A despeito da distinta condição econômica da União Europeia e da China na atualidade, essas economias permanecem interligadas. III. A dependência econômica da China em relação à União Europeia assenta-se no consumo do etanol europeu. IV. Enquanto parte da União Europeia vive uma crise econômica, a economia chinesa cresce. Está correto apenas o que se afirma em a) I e II. b) I, II e III. c) III e IV.

d) I, III e IV. e) II e IV.

3. S (UFRGS-RS) Considere as seguintes afirmações sobre as transformações recentes no Mercosul. I. A integração da Venezuela ao Mercosul contou com apoio dos governos do Uruguai, da Argentina e do Brasil. II. A suspensão provisória do Paraguai do Mercosul ocorreu em virtude do processo político que levou ao impeachment o então presidente paraguaio Fernando Lugo, em junho de 2012. III. O Brasil tem interesse na entrada do Chile como membro permanente do Mercosul, uma vez que a economia daquele país é centralizada em petróleo.

Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e II.

d) Apenas II e III. e) I, II e III.

4. S (UEM-PR) O terciário é o setor mais representativo da Revolução Técnico-Científico Informacional e apresentou uma forte expansão no decorrer do século XX e início do século XXI, em função dos avanços da microeletrônica, promovendo o incremento de atividades de telecomunicações, transportes e serviços financeiros. Fonte: TERRA, L.; ARAUJO, R.; GUIMARÃES, R. B. Geografia Conexões Estudos de Geografia do Brasil. São Paulo: Moderna, 2010.

Sobre o setor terciário é correto afirmar que:

Petar Pismestrovic. www.contextoshistoricos.blogspot.com.br. Acessado em 15/06/2014. Adaptado.

01) O desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação gerou uma tendência de transformação de setores inteiros de prestação de serviços, de atendimento ou mesmo de pesquisa, com consequências positivas para países em desenvolvimento, onde mesmo a mão de obra mais qualificada é remunerada com salários mais baixos.

Comércio e serviços no mundo

279

atenção! Não escreva no seu livro!

02) Nos países centrais, o setor de serviços que mais cresce está ligado à propaganda e ao marketing, e é resultante das estratégias de inovação tecnológica que buscam alcançar maior competitividade, preços melhores e integração com padrões internacionais de qualidade dos produtos. 04) No Brasil, o crescimento do consumo tem levado grandes empresas transnacionais a investirem pesadamente na aquisição ou na formação de redes de comércio varejista. Grandes redes de hipermercados vêm se instalando no país, que é parte do fluxo de investimentos ligados ao consumo de bens duráveis e não duráveis. 08) No mundo das redes digitais, das teleconferências e da transmissão quase ilimitada de dados, os mercados locais perdem sua razão de ser, pois não existem mais motivos para a concentração geográfica das atividades comerciais. 16) Os fluxos da informação têm repercussão na vida social e na organização do espaço geográfico. As atividades geradas neste contexto oferecem oportunidades de negócios inovadores, contudo, como dependem de tecnologias cada vez mais sofisticadas, essas atividades produzem novas singularidades espaciais, recriam aglomerações e reproduzem as desigualdades sociais.

Reprodução/Vestibular UEPA 2014

5. N (Uepa)

consumidor, tal relação ocorre pelo funcionamento da sequência invariável entre produção, circulação, distribuição e consumo, pois a comunicação é o vetor que antecipa o consumo, alcançando diversos pontos do planeta. No contexto da citação anterior, é correto afirmar que:

a) a comunicação é o trunfo primordial do capitalismo, pois é a responsável pela disseminação das ideias e valores dos países centrais em direção à periferia, havendo intensa aceitação de consumo na América Latina dos produtos europeus, estadunidenses e japoneses. b) há pouca interferência direta da comunicação no consumo pois, no capitalismo, uma significativa população absoluta é suficiente para constituir um grande mercado consumidor nos países periféricos, tornando-os aptos a adquirir os produtos dos países centrais. c) a comunicação antecede o consumo, ao massificar a necessidade de práticas consumistas, pois, geralmente, os produtos mais sofisticados são inicialmente produzidos e consumidos nas nações ricas para depois serem comercializados nos demais mercados mundiais. d) a comunicação instantânea, induzida pela atual revolução técnico-científica informacional, proporciona possíveis realizações de consumo, em várias dimensões, nos diversos lugares do mundo, excluindo a camada mais pobre dos países periféricos de práticas consumistas. e) a comunicação se prevaleceu da telecomunicação no processo histórico de desenvolvimento pós-industrial, pois antigamente o produto antecipava a comunicação e atualmente o produto não depende de informações, sejam nacionais ou internacionais.

6. SE (PUC-RJ) Agentes econômicos e Estados têm a clara tendência em afirmar que “turismo é sinônimo de setor econômico” e utilizam, de maneira abusiva, a expressão “indústria do turismo”. Fonte: Traduzido de http://goncalotcoe.files.wordpress.com/2011/12/ keefem20090327.jpg. Acesso em 13/09/2013.

Esta visão é bastante limitante do fenômeno do turismo, pois:

Ao longo da história, as sociedades criaram diferentes formas de se comunicar, as quais foram se intensificando e modernizando de acordo com os avanços da ciência, das técnicas e do domínio do homem sobre a natureza, em seu processo de apropriação, organização e representação do espaço geográfico, dando origem ao atual período técnico-científico informacional.

a) sobrevaloriza o seu aspecto econômico em detrimento da sua força social. b) reduz essa dinâmica à sua capacidade de organizar o deslocamento de grupos. c) considera o desenvolvimento do comércio e serviços pouco importante. d) desconhece que seus setores indiretos hoje são os que mais produzem empregos indiretos. e) desqualifica as atividades industriais como geradoras de emprego.

O modo capitalista de produção tem como principais fundamentos a relação indissociável entre produtor e

280

Unidade 3

Questões 7. SE (UFTM-MG) Analise o mapa ao lado.

a) descreva o comércio internacional segundo os dados apresentados. b) identifique e caracterize duas áreas de menor expressão em termos de comércio intrarregional.

Banco de imagens/Arquivo da editora

De acordo com o mapa e conhecimentos geográficos:

Um comércio tripolar

80

756

352 92 América do Sul e Central 122

América do Norte 951

131

24 84

151

80

Ásia 1890

287

458 Europa 4 244

92

80

60 103 189

328

81

715

União Europeia 3622

434 150

50

106

108

153

148 167

397

Oriente Médio 93

27 91 27

Adaptado de: Marie-Françoise Durand et al. Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial contemporâneo, 2009.

África 40

Comércio de mercadorias (em bilhões de dólares) Intrarregional (superfície dos círculos) Inter-regional (espessura das setas)

8. S (UFPR) Uma das características geopolíticas e econômicas do mundo atual é a existência de um grande número de associações regionais de países, a exemplo da União Europeia e do Mercosul. Caracterize esses dois blocos, evidenciando as diferenças entre eles.

9. SE (PUC-RJ) Apesar da crise econômica da última década, principalmente em alguns países centrais, o turismo, apesar da retração, continua a dar sustentação às economias de diversas sociedades.

a) Indique duas condições estruturais dos países melhor ranqueados para que o turismo, mesmo diante da crise mundial, continue em alta. b) Selecione duas condições sociais que reduzem as chances de sucesso desse setor nos países não ranqueados do cartograma.

Ranking de competitividade no setor de turismo em 2012 Banco de imagens/Arquivo da editora

Observando o ranking de competitividade nesse setor, faça o que se pede.

1 Suíça 16

2 Alemanha

17

3 Áustria 9

4 Espanha 5 Reino Unido

8

19

5

6 Estados Unidos 7 França 8 Canadá 9 Suécia

13 2 18 7

6 20

1

3 14

4 15

10 Cingapura 11 Austrália 12 Nova Zelândia

10

13 Holanda 14 Japão

11

15 Hong Kong 16 Islândia

12

17 Finlândia 18 Bélgica 19 Irlanda 20 Portugal

Disponível em: . Acesso em: 24 jul. 2013. Adaptado.

Comércio e serviços no mundo

281

Caiu no no Enem Enem Caiu

Há mais gente vivendo dentro iv desse c’rculo ulo do d que fora dele.

a) Consolidação da interdependência econômica – aproximação comercial entre os países. b) Conjugação de políticas governamentais – enrijecimento do controle migratório. c) Criação de inter-relações sociais – articulação de políticas nacionais. d) Composição de estratégias de comércio exterior – homogeneização das políticas cambiais. e) Reconfiguração de fronteiras internacionais – padronização das tarifas externas.

3. Perfil do comércio Brasil-China em 2010 Vendas do Brasil para a China

Disponível em: http://twistedsifter.com. Acesso em: 5 nov. 2013 (adaptado).

TEXTO II

Básicos

Semimanufaturados

83,7%

A Índia deu um passo alto no setor de teleatendimento para países mais desenvolvidos, como os Estados Unidos e as nações europeias. Atualmente mais de 245 mil indianos realizam ligações para todas as partes do mundo a fim de oferecer cartões de créditos ou telefones celulares ou cobrar contas em atraso.

11,8%

US$ 30,785 bilhões 4,5% Manufaturados

Disponível em: . Acesso em: 12 nov. 2013. (adaptado).

Ao relacionar os textos, a explicação para o processo de territorialização descrito está no(a) a) b) c) d) e)

2.

aceitação das diferenças culturais. adequação da posição geográfica. incremento do ensino superior. qualidade da rede logística. custo da mão de obra local.

Na União Europeia, buscava-se coordenar políticas domésticas, primeiro no plano do carvão e do aço, e, em seguida, em várias áreas, inclusive infraestrutura e políticas sociais. E essa coordenação de ações estatais cresceu de tal maneira, que as políticas sociais e as macropolíticas passaram a ser coordenadas, para, finalmente, a própria política monetária vir a ser também objeto de coordenação com vistas à adoção de uma moeda única. No Mercosul, em vez de haver legislações e instituições comuns e coordenação de políticas domésticas, adotam-se regras claras e confiáveis para garantir o relacionamento econômico entre esses países. ALBUQUERQUE. J. A. G. Relações Internacionais contemporâneas: a ordem mundial depois da Guerra Fria. Petrópolis: Vozes, 2007 (adaptado).

Os aspectos destacados no texto que diferenciam os estágios dos processos de integração da União Europeia e do Mercosul são, respectivamente:

282

Unidade 3

Vendas da China para o Brasil Manufaturados

Básicos

97,5%

2,1%

US$ 25,593 bilhões

0,4% Semimanufaturados Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. ALVARENGA, D. Disponível em: http://g1.globo.com. Acesso em: 1 dez. 2012 (fragmento).

Nas últimas décadas, tem se observado um incremento no comércio entre o Brasil e a China. A comparação entre os gráficos demonstra a

a) posição do Brasil como grande exportador de commodities. b) falta de complementaridade produtiva entre os dois países. c) vantagem competitiva da China no setor de produção agrícola. d) proporcionalidade entre as trocas de bens de alto valor agregado. e) restrita participação de bens de alta tecnologia no comércio bilateral.

A. Robson/Arquivo da editora

Banco de imagens/Arquivo da editora

1. TEXTO I

atenção! Não escreva no seu livro!

Sugestões de leitura, filmes e sites Livros r

A experiência europeia fracassou? Debate sobre a União Europeia e suas perspectivas

Josef Joffe et al. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 2012. Tentando responder à pergunta do título, foram reunidos quatros debatedores para analisar a crise pela qual passa a União Europeia e traçar seus possíveis desdobramentos. r

A globalização em xeque: incertezas para o século XXI

Bernardo de Andrade Carvalho. 5. ed. São Paulo: Atual, 2005. O autor analisa o papel das multinacionais, a crescente importância dos mercados financeiros, a crise dos países emergentes, entre outros aspectos da globalização. r

Alemanha: da divisão à reunificação

Serge Cosseron. 3. ed. São Paulo: Ática, 2001. Cosseron analisa a divisão da Alemanha no pós-guerra, sua situação geopolítica ao longo da Guerra Fria até sua reunificação em 1990, um dos marcos do fim desse período histórico. r

As relações internacionais da Ásia e da África

Paulo Fagundes Vizentini. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. O colonialismo e a descolonização na Ásia e na África, assim como os problemas atuais, são discutidos na obra. Analisa-se também a recente ascensão da Ásia como polo de poder. r

China: o renascimento do império

Cláudia Trevisan. São Paulo: Planeta do Brasil, 2006. A jornalista Cláudia Trevisan, correspondente da Folha de S.Paulo em Pequim, em 2004, fez um mapeamento panorâmico da China contemporânea do ponto de vista social, econômico e político. r

Colosso: ascensão e queda do império americano

Niall Ferguson. São Paulo: Planeta do Brasil, 2011. O historiador britânico Niall Ferguson analisa as origens do império americano e faz algumas projeções sobre seu futuro em um mundo multipolar. r

Compreender o mundo

Pascal Boniface. São Paulo: Editora Senac, 2011. Na parte I, analisam-se questões como a globalização, o poder e as instituições internacionais; na parte II, discutem-se a situação das potências mundiais e regionais; e na III, alguns dos desafios do mundo atual são abordados. r

Diversidade étnica, conflitos regionais e direitos humanos

Tulio Vigevani et al. São Paulo: Ed. da Unesp, 2008. Na obra os autores discutem os significados de etnia, nação e Estado e analisam alguns dos conflitos regionais mais significativos e sua ligação com a questão dos direitos humanos. r

Globalização a olho nu: o mundo conectado

Clóvis Brigagão; Gilberto Rodrigues. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2004. Os autores abordam a globalização sob vários pontos de vista: econômico, social, político, cultural e ambiental.

r

História da riqueza do homem: do feudalismo ao século XXI

Leo Huberman. 22. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2011. Numa linguagem clara e acessível, esse clássico da história econômica analisa a transição do feudalismo ao capitalismo e a evolução desse sistema econômico até o presente. r

O abc da crise

Sérgio Sister (Org.). São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2009. Coletânea de vinte textos (artigos ou entrevistas) que procuram explicar de uma perspectiva não liberal as causas da crise financeira mundial que teve origem nos Estados Unidos. r

O fim da URSS: origens e fracasso da perestroika

Jacob Gorender. 11. ed. São Paulo: Atual, 2003. Reconstituindo a história da União Soviética, Gorender mostra as contradições políticas e econômicas do socialismo real, que levaram ao colapso desse sistema e ao fim da antiga superpotência. r

O que é capital

Ladislau Dowbor. 10. ed. São Paulo: Brasiliense, 2003. Na obra, são analisadas as seguintes questões: as formas que o capital assume, quem o cria, quem dele se apropria e com que finalidade. Versão expandida no site: . r

O que é capitalismo

Afrânio Mendes Catani. 35. ed. São Paulo: Brasiliense, 2011. Didaticamente, esse livro traz o que é o capitalismo com base nas obras clássicas de Karl Marx e Max Weber e em estudos mais recentes, e analisa a evolução histórica e as crises desse sistema. r

O que são relações internacionais

Gilberto Marcos Antonio Rodrigues. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2009. Rodrigues analisa a importância da disciplina Relações Internacionais na compreensão dos acontecimentos geopolíticos, econômicos e culturais do mundo. r

Os Brics e a ordem global

Andrew Hurrel (Org.). São Paulo: FGV, 2009. (FGV de bolso). Os artigos dessa coletânea analisam a política externa dos países do grupo Brics, suas estratégias de atuação, sobretudo na relação com os Estados Unidos. O trabalho na economia global Paulo Sérgio do Carmo. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2004. Discutem-se as mudanças tecnológicas e socioeconômicas que vêm ocorrendo como resultado da Revolução Técnico-Científica e os impactos delas no mundo do trabalho.

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Filmes A corporação Direção: Mark Achbar e Jennifer Abbott, Canadá, 2004. O filme mostra como atuam as grandes corporações, desvendando o poder que detêm no mundo globalizado. Seus maiores objetivos são o compromisso com os acionistas e a busca de lucros, eventualmente em detrimento da ética, do ambiente e da saúde das pessoas.

r

Sugestões de leitura, filmes e sites

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Adeus, Lenin! Direção: Wolfgang Becker, Alemanha, 2003. Um pouco antes da queda do Muro de Berlim, em 1989, a senhora Kerner sofre uma parada cardíaca e fica em coma. Quando desperta, Alexander, seu filho, resolve esconder dela as mudanças políticas resultantes da queda do Muro e da reunificação alemã.

r

r

A história das coisas

Direção: Louis Fox, Estados Unidos, 2005. Disponível em: . (legendas em português) Visão crítica de como funciona a sociedade de consumo, desde a extração de recursos naturais, passando pela produção de bens, o consumo de mercadorias, até o descarte dos resíduos. Veja também A história dos eletrônicos. r

A língua das armas

Direção: Talks TED, Estados Unidos, 2007. Disponível em: . (legendas em português) Palestra de Corneille Ewango proferida na sede da TED (Technology, Entertainment, Design) em Nova York, na qual relata os problemas enfrentados durante a guerra civil congolesa e critica a indústria armamentista, responsável por alimentar diversas guerras na África. r

Bem-vindo, Mr. McDonald

Direção: Koki Mitani, Japão, 1997. O filme retrata a gravação de um programa de rádio na qual há uma briga de egos entre os atores. Inusitada comédia japonesa cujo ponto alto e mais engraçado é a crítica à influência cultural norte-americana. r

Encontro com Milton Santos ou O mundo global visto do lado de cá

Direção: Silvio Tendler, Brasil, 2006. Feito com base no pensamento de Milton Santos, esse documentário é uma leitura do mundo em tempos de globalização. Há entrevistas concedidas pelo geógrafo, que acreditava na possibilidade de uma globalização não excludente, como defendeu em seu livro Por uma outra globalização. r

Enron: os mais espertos da sala

Direção: Alex Gibney, Estados Unidos, 2005. O filme mostra como a Enron, empresa do setor de energia, então uma das maiores dos Estados Unidos, manipulou balanços para enganar investidores, o que acabou provocando sua falência em 2001. r

Grande demais para quebrar

Direção: Curtis Hanson, Estados Unidos, 2011. O filme mostra os bastidores das decisões tomadas por Hank Paulson (secretário do Tesouro dos Estados Unidos), Ben Bernake (presidente do Federal Reserve) e Tim Geithner (presidente do Federal Reserve de Nova York) durante a crise de 2008. r

Hotel Ruanda

Direção: Terry George, Estados Unidos/Reino Unido/Itália/ África do Sul, 2004. Baseado na história real de Paul Rusesabagina, gerente de um hotel em Kigali, capital de Ruanda. Em 1994, durante o conflito entre hutus e tútsis, Rusesabagina, que era hutu, salvou a vida de mais de 1 200 pessoas da etnia tútsi, abrigando-as no hotel em que trabalhava.

284

Sugestões de leitura, filmes e sites

r

Invictus

Direção: Clint Eastwood, Estados Unidos, 2009. Em 1995, Nelson Mandela aproveitou a realização do campeonato mundial de rugby para unir o país. Por meio do apoio à seleção nacional, na qual havia apenas um jogador negro, buscou fortalecer o ideal de uma nação composta de brancos e negros de diversas etnias. r

No amor

Direção: Nelson Nadotti, Brasil, 1999 (Série histórias da cidade). Jovens hippies são aliciados para o trabalho em sítio próximo a Porto Alegre por empresário oportunista. Aborda questões como a divisão do trabalho e a exploração capitalista. r

O dia seguinte

Direção: Nicholas Meyer, Estados Unidos, 1983. O filme retrata as consequências nefastas de uma guerra nuclear, provavelmente muito aquém do que seria na realidade. Representa bem o cenário sugerido pela famosa frase de Albert Einstein, que você leu na página 77. r

O informante

Direção: Michael Mann, Estados Unidos, 1999. Narração da trajetória de Lowel Bergman, produtor da rede de televisão CBS, que convenceu Jeffrey Wigand, ex-funcionário de uma indústria de tabaco, a denunciar a adição de substâncias viciantes ao cigarro e os males que esse produto causa à saúde. r

O último imperador

Direção: Bernardo Bertolucci, Estados Unidos/Itália/Inglaterra, 1987. Tendo como pano de fundo a história da China no século XX, conta a história de Pu Yi, o último imperador chinês, desde o momento em que foi deposto, ainda criança, e mantido preso na Cidade Proibida, até as humilhações impostas pelo regime comunista. r

Ou tudo ou nada

Direção: Peter Cattaneo, Reino Unido, 1997. Operário desempregado, necessitando pagar a pensão do filho, tem a ideia de fazer striptease para ganhar algum dinheiro. O filme mostra o aumento do desemprego e o empobrecimento na cidade de Sheffield (Reino Unido) como resultado do fechamento de indústrias metalúrgicas. r

Promessas de um novo mundo

Direção: Justine Shapiro, Carlos Bolado, B. Z. Goldberg, Israel/ Palestina/Estados Unidos, 2001. Retrato da vida e das ideias de sete crianças israelenses e palestinas moradoras de Jerusalém e arredores. Embora morem na mesma cidade, vivem em mundos distintos, separadas por diferenças religiosas, ressentimentos e um muro de 8 metros de altura. r

Quem quer ser um milionário?

Direção: Danny Boyle, Estados Unidos/Reino Unido, 2008. Jovem pobre, que trabalha em uma empresa de telemarketing, inscreve-se para participar de programa de TV. O filme mostra as contradições da sociedade indiana: apesar do crescimento econômico e da modernização, há milhões vivendo em favelas ou mesmo nas ruas.

r

Salada russa em Paris

Direção: Youri Mamine, França/Rússia, 1995. Comédia em que músicos russos descobrem na pensão na qual moram, em Moscou (Rússia), uma janela que os conduz diretamente a Paris. Filme da Era Iéltsin que critica todos os regimes políticos que desrespeitam a liberdade. r

Super size me: a dieta do palhaço

Direção: Morgan Spurlock, Estados Unidos, 2004. Spurlock registra as transformações físicas que seu corpo sofreu e as transformações psicológicas ocorridas durante o mês em que se alimentou no McDonald’s. Ao fazer as três refeições diárias em restaurantes dessa rede de fast-food, depois de 30 dias engordou 11 quilos. r

Tempos modernos

Direção: Charles Chaplin, Estados Unidos, 1936. O filme retrata o cotidiano de um operário no interior de uma fábrica nos Estados Unidos, nas décadas de 1920-1930, durante a depressão econômica. Este clássico do cinema mostra como era uma indústria na época da Segunda Revolução Industrial. r

Um sonho distante

Direção: Ron Howard, Estados Unidos, 1992. O filme mostra a saga de um casal de imigrantes irlandeses durante a colonização das últimas terras disponíveis no oeste dos Estados Unidos no fim do século XIX. Evidencia como era difícil a vida desses pioneiros, apesar da disponibilidade de terras.

Sites r

ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas)

; Saiba como atua a ABNT e qual a sua importância para as empresas e a sociedade. Consulte também o site sobre a rotulagem ecológica de produtos e serviços. r

Ações das Nações Unidas contra o terrorismo

Para saber como a ONU tem agido para combater o terrorismo, visite o site Acciones de las Naciones Unidas contra el terrorismo (em espanhol). r

Amarribo Brasil – coalizão brasileira contra a corrupção

Essa Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) é pioneira no combate à corrupção no Brasil. r

Atlas do Japão

No Japan Atlas (em inglês) há diversas informações sobre natureza, cultura, economia e tecnologia do país.

BM (Banco Mundial) e FMI (Fundo Monetário Internacional)

; ;

Para consultar relatórios e obter informações econômicas dos países emergentes e dos desenvolvidos, acesse os sites (em inglês, espanhol e português). r

Brics – Ministério das Relações Exteriores

Para saber mais sobre a VI Cúpula do Brics, realizada em Fortaleza em 2014, acesse o portal do Ministério das Relações Exteriores e clique em Mecanismos Inter-Regionais. r

Centro de Estudos e Pesquisas Brics (Brics Policy Center)

Iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Nesse site há diversas informações sobre o grupo Brics. r

Tucker: um homem e seu sonho

Direção: Francis Ford Coppola, Estados Unidos, 1988. Baseado na história de Preston Tucker, o filme critica o capitalismo dominado por cartéis que inibem a concorrência. Em 1948, Tucker construiu um carro melhor que o das “três grandes” – GM, Ford e Chrysler –, levando-as a tramar nos bastidores para levá-lo à falência. r

r

Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe)

Acesse para obter informações (em espanhol, português e inglês) sobre os países da América Latina e do Caribe. r

Economia Net

Disponibiliza on-line dicionários com verbetes econômicos e financeiros. Há diversas outras informações sobre a crise financeira, a globalização, o regionalismo econômico, etc. r

Forças de Manutenção da Paz das Nações Unidas

Para obter informações sobre as dezesseis missões de paz da ONU, acesse o site da United Nations Peacekeeping (em inglês, espanhol e francês). r

FSC Brasil

Saiba mais sobre a certificação de madeira proveniente de florestas manejadas de forma sustentável acessando o site do Conselho Brasileiro de Manejo Florestal. r

Fundação Dom Cabral

No website desta instituição de ensino e pesquisa na área de administração de empresas, está disponível a publicação anual Ranking FDC das multinacionais brasileiras. r

Glossário de termos de economia industrial (PUC-SP)

Para obter mais informações sobre conceitos da economia industrial úteis na compreensão do Capítulo 6, consulte este dicionário. r

Iasp (Associação Internacional de Parques Científicos)

Para saber sobre parques tecnológicos, incluindo os brasileiros associados à entidade. Sugestões de leitura, filmes e sites

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r

Ibas (Fórum Índia, Brasil e África do Sul)

; Para obter informações sobre este Fórum, acesse o site oficial (em inglês) e o portal do Ministério das Relações Exteriores (clique em Mecanismos Inter-Regionais). r

IBD Certificações

Saiba mais sobre a certificação de alimentos produzidos de forma orgânica acessando o site. r

Instituto Internacional Socioambiental Chico Mendes

Saiba mais sobre o uso do selo verde e a certificação socioambiental Chico Mendes acessando o site do Instituto. r

Ipec (Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil)/OIT (Organização Mundial do Trabalho)

Para obter mais informações sobre a Convenção 138 e o Ipec, acesse o site da OIT – Escritório do Brasil. r

Iris (Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas)

No site há informações sobre a geopolítica mundial e os conflitos regionais (em francês e inglês). r

MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior)

Veja a lista completa com os setores e subsetores dos serviços (em português). r

Mercosul (Mercado Comum do Sul)

Página brasileira do Mercosul que, entre outras informações, disponibiliza textos que tratam de alguns dos principais temas da agenda do grupo e acervo atualizado das normas adotadas. r

MPF (Ministério Público Federal) – Combate à Corrupção

Para saber como os tipos de corrupção são classificados em lei e conhecer detalhes da atuação do Ministério Público em diversos casos de corrupção no país, acesse o site do MPF. r

OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico)

Para mais informações sobre esse organismo e seus países-membros, acesse o site (em inglês e francês). r

OMC (Organização Mundial do Comércio)

Site que informa sobre o comércio internacional e as rodadas de negociações. Veja a lista completa com os setores e subsetores dos serviços (em inglês) no link disponível em: . r

ONU (Organização das Nações Unidas)

Para saber mais sobre a ONU, instâncias de poder e suas agências, acesse o site principal (em inglês, espanhol e outras línguas).

286

Sugestões de leitura, filmes e sites

r

Pnud

Para obter informações socioeconômicas de diversos países, acesse o site do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (em inglês, espanhol e francês). r

Poder Executivo dos Estados Unidos (Casa Branca)

Para obter mais informações – política interna e externa, economia, etc. – sobre o país (em inglês e espanhol). Há links para os vários departamentos que compõem o governo. r

Portal oficial do governo chinês

Para obter informações sobre a República Popular da China (geografia, economia, indústria, educação, cultura, política, etc.), acesse o site (em inglês). r

Principais empresas do Vale do Silício

No Google Maps estão marcadas as principais empresas e instituições de pesquisa do Vale do Silício. r

Público

Para saber mais sobre o Estado Islâmico, acesse “O que é o Estado Islâmico?”, no site do jornal Público, de Portugal. r

Unasul (União de Nações Sul-Americanas)

Para obter mais informações sobre a Unasul, acesse a página oficial da organização (em espanhol). r

União Europeia

Para obter diversas informações sobre a União Europeia, acesse a página oficial do bloco (em português). r

Unido (Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial)

Para obter mais informações sobre indústrias no mundo, consulte o Relatório de Desenvolvimento Industrial (em inglês). r

Veja

Para saber mais sobre o problema enfrentado pelos palestinos, acesse “A Questão Palestina em profundidade”, no site da revista Veja on-line. r

Verbetes de economia política e urbanismo

O Grupo de Disciplinas de Planejamento da FAU-USP disponibiliza um dicionário on-line no qual podem ser pesquisados diversos verbetes sobre o assunto tratado no Capítulo 1. Acessos em: 4 mar. 2016.

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Bibliografia

Manual do Professor

Geografia VoluMe 2

Sumário Caros Professores ............................................................................................................................................................... 291

Apresentação da obra ........................................................................................................................................ 292 1. A coleção........................................................................................................................................................................... 292 Estrutura da coleção ...................................................................................................................................................... 292 Fundamentação teórico‑metodológica ...................................................................................................................... 293 Estrutura deste Manual do Professor.......................................................................................................................... 294

2. Ensinar e aprender Geografia .................................................................................................................................. 294 3. Referenciais curriculares para o Ensino Médio ................................................................................................... 296 4. Formas de avaliação.................................................................................................................................................... 300 5. Bibliografia de apoio .................................................................................................................................................... 302 6. Endereços eletrônicos para pesquisa .................................................................................................................... 304 7. Reflexões sobre a prática pedagógica ................................................................................................................... 306

Observações, sugestões e resolução dos exercícios deste volume .......................314 8. Atividades integradoras de Ciências Humanas.................................................................................................. 314 9. Metas e orientações por Unidade .......................................................................................................................... 323 Unidade 1 – Mundo contemporâneo: economia, geopolítica e sociedade ............................................. 323 Objetivos, 323 • Atividade complementar, 323 • Projetos interdisciplinares, 324 • Sugestões bibliográficas, 324 Comentários e respostas das atividades ............................................................................................................................ 326 Capítulo 1 • O desenvolvimento do capitalismo............................................................................................... 326 Capítulo 2 • A globalização e seus fluxos .......................................................................................................... 329 Capítulo 3 • O desenvolvimento humano ......................................................................................................... 330 Capítulo 4 • A ordem internacional ................................................................................................................... 332 Capítulo 5 • Conflitos armados no mundo ....................................................................................................... 334

Textos de apoio .............................................................................................................................................................. 338

Unidade 2 – Indústria no mundo ......................................................................................................................... 347 Objetivos, 347 • Atividade complementar, 348 • Projeto interdisciplinar, 348 • Sugestões bibliográficas, 348 Comentários e respostas das atividades .................................................................................................................... 350 Capítulo 6 • A geografia das indústrias ............................................................................................................. 350 Capítulo 7 • Economias desenvolvidas: a industrialização precursora ............................................................ 351 Capítulo 8 • Economias em transição: a industrialização planificada ............................................................. 353 Capítulo 9 • Economias emergentes: a industrialização recente ..................................................................... 354

Textos de apoio .............................................................................................................................................................. 358

Unidade 3 – Comércio e serviços no mundo ..................................................................................................... 360 Objetivos, 360 • Atividade complementar, 360 • Projeto interdisciplinar, 361 • Sugestões bibliográficas, 361 Comentários e respostas das atividades .................................................................................................................... 362 Capítulo 10 • O comércio internacional e os principais blocos regionais ........................................................ 362 Capítulo 11 • Os serviços internacionais ........................................................................................................... 363

Textos de apoio .............................................................................................................................................................. 365

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Manual do Professor

Caros Professores Nesta edição do livro do aluno, além da completa atualização iconográfica e de dados estatísticos (com base nas fontes mais confiáveis e recentes disponíveis), elaboramos novos mapas, gráficos e infográficos. Fizemos também uma reorganização dos capítulos. No volume 1, elaboramos um capítulo introdutório para tratar de aspectos teórico-metodológicos da Geografia. No volume 2, fizemos uma condensação e agora a Unidade 2, que trata da indústria no mundo, ficou com quatro capítulos. Além disso, criamos uma nova Unidade de comércio e serviços no mundo, na qual aparece um capítulo inédito sobre serviços internacionais. Esse tema também foi abordado em Brasil, na Unidade 1 do volume 3. Acreditamos que um livro atratente e a diversificação de recursos didáticos contribuem para um aprendizado motivador e significativo. Em consonância com o complexo e multifacetado mundo em que vivemos, é preciso incorporar novas tecnologias e diferentes linguagens ao trabalho docente no cotidiano da sala de aula. Nesse sentido, este Manual do Professor tem o objetivo de oferecer subsídios e sugestões para o seu trabalho docente. Fica a seu critério selecionar e articular os que são mais adequados às possibilidades e aos objetivos do seu curso. No texto Estrutura da coleção, explicitaremos como a coleção está dividida e detalharemos as seções que a compõem. Nos textos de 2 a 4 deste Manual serão abordadas questões sobre ensino de Geografia, documentos curriculares e avaliação. Esperamos que este Manual seja útil em seu trabalho e desde já estamos abertos a críticas e sugestões para o aperfeiçoamento do livro do aluno e também deste material de apoio que o acompanha. Bom trabalho! Os Autores

Elder Vieira Salles/Shutterstock/Glow Images

Museu de Arte Contemporânea de Niterói (RJ), em 2013.

Manual do Professor

291

Apresenta•‹o da obra 1

A cole•‹o

Estrutura da cole•‹o Esta coleção é composta de três volumes, um para cada ano do Ensino Médio. O primeiro volume do livro do aluno inicia-se com uma breve introdução à teoria da Geografia. De forma sintética busca discutir os principais conceitos e correntes teórico-metodológicas da Geografia, assim como um pouco da história do pensamento geográfico. Logo em seguida vem o estudo da Cartografia, em razão da importância de seu conhecimento para a leitura de mapas, cartas, plantas e diversos tipos de gráficos que aparecem em toda a coleção. O domínio da linguagem cartográfica é essencial para o estudo dos temas geográficos. Após o estudo da Cartografia, o volume 1 apresenta os temas da Geografia física, diversos problemas ambientais – globais, regionais e locais –, legislação ambiental e as conferências internacionais sobre meio ambiente. Dessa forma, as relações entre sociedade e natureza são analisadas com os processos naturais próprios da Geografia física. O volume 2 se inicia com os estudos de economia, geopolítica e sociedade no mundo contemporâneo, como formação do capitalismo e revolução informacional, globalização, desenvolvimento humano, geopolítica do pós-Segunda Guerra Mundial e pós-Guerra Fria, conflitos armados no mundo. O estudo desses temas é fundamental para a compreensão das unidades temáticas seguintes, tanto no volume 2, que trata do processo de industrialização nos principais grupos de países, os serviços e o comércio internacional, como no volume 3, que aborda a industrialização, os serviços e a política econômica no Brasil, a produção e consumo de energia, a geografia da população, o espaço urbano e o espaço agrário no Brasil e no mundo. Além do texto dissertativo, utilizamos outras linguagens nesta coleção: fotografias, pinturas, quadrinhos, charges, tabelas, mapas e plantas, gráficos, imagens aéreas e de satélite – todos esses elementos são importantes instrumentos para a compreensão das diferentes dimensões e configurações do espaço em diversas escalas geográficas. Vale ressaltar que procuramos valorizar as imagens. É importante o trabalho com as diferentes linguagens, tanto os diferentes gêneros textuais quanto as diversas fontes visuais, essenciais para a análise geográfica, pois permitem aos alunos lidar com os conceitos específicos da Geografia e desenvolver habilidades que lhes possibilitem compreender a organização do espaço. A utilização de diversos recursos didáticos, como vídeos, músicas, internet, jornais e revistas, atlas, maquetes, observação da paisagem e estudo do meio, etc., instiga os alunos e favorece o aprendizado. 292

Manual do Professor

Os volumes estão divididos em unidades temáticas desdobradas em capítulos. Os temas são introduzidos por um texto que sintetiza o conteúdo que será trabalhado. No início de cada capítulo há também uma fotografia que ocupa a página inteira e busca representar o assunto a ser tratado. Considerando a proposta teórico-metodológica do educador norte-americano David Ausubel, essas fotografias podem ser utilizadas como um organizador prévio dos temas a serem abordados. Após a abertura do capítulo, algumas perguntas provocativas relacionadas aos assuntos convidam os alunos a estudar. Essas imagens que iniciam os capítulos podem ser utilizadas para problematizar de maneira introdutória o tema a ser abordado, e levantar o conhecimento prévio dos alunos sobre esse assunto. Segundo Ausubel (2003), para que a aprendizagem aconteça de forma significativa, além de uma estrutura cognitiva relativamente organizada é fundamental que o aluno tenha interesse em aprender. Ao longo dos capítulos há tabelas e gráficos recentes, atualizados até o primeiro semestre de 2016. Aparecem também as seções Para saber mais e Outras leituras, que são boxes complementares com textos dos próprios autores no primeiro, e com transcrições de produções de outros autores no segundo. Essas seções permitem um contato com diferentes tipos de textos relacionados ao assunto abordado, seja de Geografia, seja de outras disciplinas. É importante destacar a parte iconográfica, que procura oferecer mapas e imagens atraentes e atuais, articuladas ao texto, que auxiliam os alunos durante a leitura, tornando-a mais interessante, e facilita a compreensão da realidade multidisciplinar. Alguns capítulos apresentam infográficos e sínteses históricas. Os infográficos trazem informações sobre um tema específico de maneira mais instigante, que articulam diferentes linguagens, como textos dos autores e de terceiros, mapas, tabelas, gráficos, ilustrações e fotos. Muitos alunos já estão familiarizados com esse tipo de linguagem da comunicação visual, mas nem sempre são capazes de decodificar as convenções e os símbolos utilizados. Esse exercício de decodificação pode ser feito aproveitando o interesse que normalmente os alunos têm pelo uso de computadores, meio em que se destaca esse tipo de linguagem. Alguns temas da Geografia, como capitalismo e indústria, para serem mais bem compreendidos exigem uma noção de processo, portanto, demandam uma breve retomada da História. Isso foi contemplado na seção S’ntese hist—rica, que, como o título indica, busca sintetizar em textos curtos, mapas, dados estatísticos e fotografias alguns aspectos históricos essenciais acerca do tema tratado. Ao longo do livro um glossário traz explicações de termos destacados no texto e auxilia na compreensão das temáticas tratadas. Os verbetes aparecem próximo da palavra usada no texto. Também há Sugestões de leitura, filmes e

sites. As chamadas aparecem ao longo de cada volume e, no final de cada um deles, encontram-se as indicações, em ordem alfabética, com as respectivas sinopses. Reunimos indicações de livros que permitem aprofundar os temas tratados e de sites confiáveis, que poderão auxiliar os alunos em pesquisas e/ou na complementação do estudo. Quanto aos filmes e documentários, são um recurso didático muito enriquecedor para as aulas de Geografia e é interessante utilizá-los sempre que possível para familiarizar os alunos com esse tipo de linguagem e possibilitar o acesso à produção cultural, fundamental para a compreensão da realidade. Em cada volume foram inseridas três seções Dialogando com as disciplinas, na qual algum tema significativo tratado no livro é abordado de forma interdisciplinar com o aporte de conhecimentos de outros componentes do currículo. Além dessa seção, toda vez que houver alguma abordagem interdisciplinar ao longo dos capítulos isso será sinalizado com um ícone. Exemplos: Dialogando com História, Filosofia, Física, Biologia, Língua Portuguesa, etc. No fim de cada capítulo, encontra-se uma seção de atividades dividida em dois blocos: Compreendendo conteúdos e Desenvolvendo habilidades. O primeiro tem como objetivo retomar e fixar aspectos fundamentais dos conteúdos desenvolvidos no decorrer do capítulo – conceitos da Geografia e de outras Ciências Humanas, informações e conhecimentos –, com base na proposição de questões que permitam aos alunos analisar de modo reflexivo os temas estudados. O segundo é composto de atividades conceituais, procedimentais e atitudinais que procuram desenvolver uma série de conhecimentos, competências e habilidades – como leitura e interpretação de textos; desenvolvimento de pesquisas (individual e em grupo); análise de mapas, gráficos e tabelas; reflexão, argumentação e posicionamento crítico; criatividade e elaboração de textos –, além de buscar articular a teoria com a prática cotidiana dos alunos. Para a elaboração das atividades do bloco Desenvolvendo habilidades, levamos em consideração a Matriz de referência para o Enem, que pode ser consultada na página 298. As atividades propostas não são extensas nem em número exagerado, o que permite dosá-las de acordo com a carga horária de seu curso e complementá-las, se necessário, com outras atividades sugeridas neste Manual. No fim de cada Unidade incluímos a seção Vestibulares de Norte a Sul, com testes e questões dos vestibulares aplicados nas principais universidades de todo o país, que visa iniciar a preparação dos alunos para os exames a que serão submetidos em sua jornada. Há também a seção Caiu no Enem, que apresenta uma coletânea de exercícios do Exame Nacional do Ensino Médio até 2015. Esta coleção apresenta ainda a seção Pensando no Enem, presente em diversos capítulos, sempre interagindo com algum assunto mais pertinente e/ou interessante de ser ressaltado. Essas seções permitem aos alunos familiarizar-se com a forma de abordagem dos conteúdos realizada nessas avaliações.

Ao fim de cada volume constam as referências bibliográficas, na qual listamos as principais obras utilizadas na elaboração do livro. Essa bibliografia pode auxiliar tanto o professor como os alunos em pesquisas sobre determinados temas ou na ampliação de conhecimentos.

Fundamentação teórico‑metodológica Como vimos, cada volume da coleção está estruturado em Unidades temáticas, subdivididas em capítulos, que se desenvolvem com base em uma abordagem crítica dos conteúdos. A concepção teórico-metodológica adotada tem um caráter epistemológico interdisciplinar que leva em conta as relações espaço-temporais e as relações sociais em diversas escalas geográficas e com a natureza. As atividades também são propostas de forma a garantir uma progressão em direção a aprendizagens significativas de maior complexidade. A própria sequência da seção Atividades reflete isso: em um primeiro momento, em Compreendendo conteúdos, busca-se retomar e fixar os principais contéudos do capítulo, para depois trabalhar diferentes competências e habilidades, em Desenvolvendo habilidades. Ao considerar o espaço geográfico como uma construção histórico-social, a coleção utiliza, em muitos momentos, uma abordagem histórica para a compreensão do mundo atual. São apresentados conteúdos e atividades que constituem instrumento importante para o entendimento da relação entre as sociedades e sua relação com a natureza. Privilegiando o espaço geográfico como objeto de conhecimento da Geografia, a coleção ainda busca explicitar os processos que atuam sobre o território, entendido como espaço produzido e apropriado pelas sociedades humanas. O desenvolvimento dos conteúdos aponta para a compreensão dos processos que atuam na organização do espaço – esses processos são sociais, mas isso não exclui a consideração dos fenômenos naturais. A diversidade dos recursos naturais, sua desigual distribuição pelo planeta e seu significado para a sociedade, em qualquer época histórica, devem sempre ser considerados quando se pretende conhecer as variáveis que explicam a organização do espaço. Assim, a natureza é analisada sob a perspectiva do desvendamento dos mecanismos próprios de seu funcionamento e de seu sentido e significado expressos pelas formas de transformação e apropriação pela sociedade. Com isso, esperamos que, ao longo dos três volumes desta coleção, a relação sociedade-natureza seja compreendida não apenas como uma interação entre os seres humanos e os elementos da natureza. O objetivo é compreender que, no processo de produção de sua existência, que é também o processo de produção do espaço geográfico, os seres humaManual do Professor

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nos estabelecem entre si relações de ordem social, política, econômica e cultural que irão mediar e, portanto, de alguma forma, condicionar a maneira como as sociedades apropriam-se da natureza. Os conceitos de espaço geográfico, paisagem, lugar, território e região são desenvolvidos na Introdução e utilizados ao longo da coleção de forma articulada aos conteúdos. Assim, eles ganham sentido e significado, sobretudo nos momentos de análises que contemplam questões ambientais, relações econômicas, sociais, geopolíticas, etc. Considerando que os conceitos são uma representação do real construída pelo pensamento, a perspectiva metodológica desta obra encara a operacionalização dos conceitos como ferramenta de análise em diferentes contextos e, sempre que possível, com referência à realidade mais próxima dos alunos, ou seja, ao lugar que vivem. O enfoque teórico-metodológico do processo de ensino e aprendizagem valoriza os conhecimentos prévios dos alunos, sua participação ativa na elaboração do conhecimento escolar, no desenvolvimento de suas próprias capacidades de aprender e em sua inserção crítica e participativa na sociedade. A perspectiva é incentivar a autonomia, a reflexão e a expressão do pensamento dos alunos em seu diálogo com o conhecimento e com o mundo em que estão inseridos. O conjunto de textos e atividades sugerido oferece oportunidades para a ampliação da capacidade cognitiva dos alunos, por meio de diversas habilidades, como análise, interpretação, comparação, explicação, argumentação, problematização de conteúdos em trabalhos investigativos, produção de textos, debates, etc. Além disso, em vários momentos os alunos são convidados a se posicionar sobre a realidade em que vivem, muitas vezes comparando ideias conflitantes.

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Este Manual do Professor destina-se a auxiliar a prática docente. Além dos textos introdutórios e dos textos sobre o ensino de Geografia e avaliação, ele apresenta uma seção com Atividades integradoras de Ciências Humanas, que oferece: • sugestões de projetos interdisciplinares com temas relacionados às quatro disciplinas que compõem essa área do conhecimento; • geralmente, esses projetos apresentam a seguinte organização: Introdução, Objetivos, Conteúdos, Tempo estimado, Desenvolvimento das atividades, Avaliação, Bibliografia para o professor e Indicações de fontes para os alunos. Apresenta também a seção Metas e orientações por Unidade, que oferece, para cada tema desenvolvido no livro, os seguintes materiais: • objetivos; • atividades complementares que visam desenvolver competências e habilidades; • projetos interdisciplinares com base em uma questão-tema, possibilitando ao professor o diálogo com praticamente todas as disciplinas do currículo escolar; • sugestões de bibliografia para aprofundamento dos temas abordados (e em alguns casos, também de endereços eletrônicos); • comentários e respostas das atividades, separadas por capítulo; • respostas das questões de vestibulares e de Enem; • textos de apoio com temáticas imbricadas às da Unidade, que visam a formação continuada do professor.

Ao final desta parte do Manual, encontram-se ainda artigos escritos por especialistas em educação.

Ensinar e aprender Geografia

Vivemos em uma sociedade na qual há uma crescente multiplicidade de informações e linguagens com as quais temos de lidar, como resultado da revolução tecnológica responsável pela difusão e rapidez dos meios de comunicação. Mas isso não coincide com a inserção crítica da maioria dos indivíduos nessa sociedade, uma vez que geralmente esses indivíduos têm de lidar com uma enorme quantidade de informações distintas, descontextualizadas e fragmentadas. Essa situação dificulta o estabelecimento de relações entre as informações e a construção do conhecimento. A escola tem o importante papel de conferir sentido e significado a esse conjunto vasto de informações e de promover um processo de reflexão, decodificação, análise e interpretação, além de permitir aos alunos a apropriação das várias modalidades de linguagem e diversos gêneros textuais presentes nos meios de comunicação. Nesse sentido, é fundamental trabalhar com linguagens próprias do 294

Estrutura deste Manual do Professor

Manual do Professor

universo juvenil, e o livro procura fazer isso quando possível. No âmbito da educação escolar, essa situação tem implicado cada vez mais novas e distintas formas de aprender e ensinar. Assim, é importante assinalar a centralidade do trabalho docente na busca de metodologias e práticas didáticas capazes de permitir a apropriação e a socialização do saber – principal tarefa da escola. Por ser um lugar de reflexão sobre a realidade – seja local, regional, nacional ou mundial –, a escola é um espaço privilegiado para auxiliar os alunos a construir uma visão crítica, organizada e articulada do mundo. Nós, professores de Geografia, temos papel essencial nesse processo, já que o conhecimento com o qual trabalhamos permite aos alunos elaborar uma leitura crítica da prática social na qual estão inseridos no território em que habitam. A Geografia contemporânea tem privilegiado o conhecimento sobre o espaço em diferentes escalas de análise.

Como disciplina escolar, prepara os alunos para a leitura e a compreensão do espaço geográfico, entendido como construção histórico-social fruto das relações estabelecidas entre as pessoas de uma sociedade e desta com a natureza. Mas é preciso lembrar que, durante muito tempo, o ensino da disciplina foi marcado por uma abordagem descritiva e mnemônica. Foi apenas a partir dos anos 1980 que ele passou por uma renovação, processo pelo qual a Geografia como disciplina científica já havia passado na década de 1970.1 A revisão do ensino de Geografia fez parte, naquele momento, de um movimento de renovação curricular cujos esforços centravam-se na melhoria da qualidade do ensino, que passou necessariamente por uma revisão dos conteúdos e das formas de ensinar e aprender as diferentes disciplinas do currículo da escola básica. Na realidade, esse processo ainda está em curso, pois é sempre importante refletir sobre a prática docente, na perspectiva de um movimento constante de renovação pedagógica. No que diz respeito ao processo de ensino e aprendizagem, há muitas questões a considerar, entre elas a necessidade de conferir sentido e significado aos conteúdos ensinados/construídos. Portanto, é importante superar a ideia do professor visto apenas como transmissor do conhecimento e entender os conteúdos como meios e não como fins didáticos. Mais do que aprender conteúdos, importa que os alunos consigam realizar uma apropriação crítica e reflexiva da realidade – e os conteúdos escolares são os meios para essa apropriação. Considerando que o conhecimento é construído pelo sujeito – em nosso caso, os alunos –, em sua relação com os outros e com o mundo, é necessário que os conteúdos sejam pensados e reelaborados pelos alunos para se constituir em conhecimento apropriado por eles. Assim, é preciso desenvolver as competências de ler o mundo e pensar sobre ele, assim como a capacidade de elaboração própria. Aprender a pensar é uma estratégia fundamental para potencializar a competência cognitiva. Na prática pedagógica, são inúmeras as possibilidades de despertar o interesse dos alunos pelo conhecer e pelo desvendar; mas para isso é necessário mobilizá-los, acompanhando-os e colaborando para que eles apreendam/construam o conhecimento até chegarem a elaborar e a expressar a síntese do que compreenderam. Segundo Marina (1995), compreender é apreender o novo com o que já é conhecido; daí a importância de se considerar o conhecimento prévio dos alunos como ponto de partida para uma aprendizagem significativa, como sugere Ausubel (2003). Vale lembrar que as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL, 2012), corroborando as ideias deste autor, defendem no artigo 16, inciso III, “a aprendizagem como processo de apro-

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priação significativa dos conhecimentos, superando a aprendizagem limitada à memorização.” Vasconcellos (1992) expõe de maneira interessante como se dá o movimento do pensamento no processo de elaboração do conhecimento, constituído por três momentos: parte do sincrético, passa pelo analítico até chegar ao sintético. A síncrese corresponde ao momento no qual os alunos têm uma visão confusa, indeterminada e fragmentada do mundo. Ela é seguida pela análise, que é um movimento do pensamento no sentido da compreensão da realidade, desdobrando seus elementos e entendendo a parte como fragmento do todo. Finalmente vem a síntese, resultado da integração dos conhecimentos parciais em um todo orgânico e lógico, estabelecer relações e identificar os nexos que explicam uma dada realidade. No processo de aprendizagem, a análise e a síntese correspondem a um momento de desenvolvimento procedimental, quando os alunos realizam uma pesquisa ou um estudo individual. Além de elaborar mentalmente, é importante que eles expressem materialmente essa síntese (ainda que provisória), sob a forma de exposição oral, texto argumentativo, mural, etc., para que o professor possa acompanhar o processo de elaboração de seu conhecimento. A coleção apresenta vários momentos em que o conhecimento dos alunos pode ser elaborado e expresso. Por exemplo, na seção Atividades, ou até mesmo nas atividades sugeridas neste Manual do Professor. Esses são momentos que possibilitam aos alunos passar pelas etapas de observação, análise, interpretação e sistematização do conhecimento adquirido, bem como por sua expressão material, como sugere Celso Vasconcellos. Qual a necessidade de expressão material do conhecimento? De um lado, é para possibilitar a interação social (possíveis correções/interações); por outro, é para melhor determinar a síntese, na medida em que, quando está na cabeça, pode ainda incorrer em certo grau de generalidade, de abstração, ao passo que na medida em que se realiza a exposição material, o sujeito se obriga a uma formatação, a uma concretização, a uma sintetização conclusiva, específica. Pode acontecer de a expressão material (fala, escrita, etc.) ser simples reprodução da síntese mental (o que significa que ela foi feita com bom grau de concretude), mas frequentemente o que ocorre é que, no momento da exposição, o sujeito apercebese que as relações, as articulações não estão tão claras assim. Desprezar a exposição material seria supervalorizar a elaboração mental do indivíduo, além de negar a possibilidade de reconstrução e de interação social. (VASCONCELLOS, 1992.)

Para mais informações sobre o movimento de renovação da Geografia universitária, consultar: MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. 20. ed. São Paulo: Annablume, 2005. Manual do Professor

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É nesse processo de elaboração do conhecimento, principalmente nos momentos de síntese, ainda que aproximativa, que os alunos exercitam a competência de elaboração própria e tendem a se sentir mais seguros e confiantes diante dos novos conhecimentos. O livro didático tem papel importante nesse processo, sobretudo quando o professor estabelece uma convivência produtiva, em um constante diálogo com a realidade em escala local, regional, nacional e global. Isso quer dizer que nenhum material didático por si só é capaz de dar conta de uma aprendizagem significativa e eficaz, sendo necessário reconhecer a centralidade do professor nesse processo. Assumir a responsabilidade pela condução da aprendizagem requer do professor um exercício permanente de investigação e reflexão sobre sua prática, como afirma Nídia Pontuschka e colegas. Se considerarmos a docência como atividade intelectual e prática, revela-se necessário ao professor estabelecer cada vez maior intimidade com o processo investigativo, uma vez que os conteúdos com os quais trabalha são construções teóricas fundamentadas na pesquisa científica. Assim, sua prática pedagógica requer de si reflexão, crítica e constante criação e recriação do conhecimento e das metodologias de ensino, o que pressupõe uma atividade de investigação e reflexão permanentes. (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE, 2007.)

3

Referenciais curriculares para o Ensino MŽdio

A partir dos anos 1980, os governos de muitos estados da federação elaboraram referenciais curriculares para seus sistemas de ensino. A intenção prioritária era melhorar a qualidade do ensino oferecido na escola pública e reduzir as altas taxas de repetência e evasão escolar que penalizavam, dominantemente, as crianças das camadas populares. Procurava-se, também, incentivar a participação da comunidade escolar nas decisões, de forma a superar-se o autoritarismo de reformas anteriores, com frequências impostas de “cima para baixo”. (MOREIRA, 2000.) Entretanto, essas propostas de reestruturação curricular não se revelaram suficientes para nortear as mudanças esperadas na prática pedagógica da escola, sobretudo no âmbito do Ensino Fundamental. Já o Ensino Médio, que sempre sofreu certa indefinição – ora tinha caráter propedêutico, ora profissionalizante –, só mais recentemente tem sido alvo de maior preocupação no âmbito das políticas públicas no campo curricular.

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Fica claro que a iniciativa e a profissionalidade do professor são essenciais no processo de ensino-aprendizagem. As tarefas educativas requerem autonomia e responsabilidade docente, além de um conjunto de habilidades, conhecimentos e valores que permitam ao professor lidar com as singularidades das situações educativas próprias de cada lugar. Por fim, gostaríamos de destacar que esta coleção volta-se para o Ensino Médio, portanto, para estudantes que atravessam um processo de ampliação e exercício dos raciocínios abstratos, sendo fundamental auxiliá-los a deduzir, inferir, elaborar hipóteses e estabelecer relações. Assim como estimular a discussão conjunta e participativa, é interessante desafiá-los a encontrar e produzir soluções para determinado tema ou problema. Considerando a adolescência como uma etapa marcada também por questionamentos, inseguranças e expectativas, é importante que a escola crie oportunidades para manifestações culturais, expressões de ideias, debates, eventos e “inventos” criativos ( jornal, mural, feiras, gincanas, dia/semana do aluno, criação de grêmios/associações estudantis, “inventos” da Química, da Física, estudos do meio, debates com temas como sexualidade, drogas, etc.), propiciando a participação e buscando atender a algumas das inúmeras demandas dos alunos nessa faixa etária e estimular a pluralidade de pensamento. Nessas atividades é importante, sempre que possível, valorizar temáticas e linguagens próprias do mundo e da cultura juvenil.

Manual do Professor

Nos anos 1990, com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei 9394/96), coube ao Estado na esfera federal encaminhar uma base comum que organizasse o sistema de ensino e favorecesse a unidade nacional. Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM), lançados em 1999, inovaram muitos dos procedimentos didático-pedagógicos, principalmente no que diz respeito à concepção de conteúdos, que passaram a considerar o desenvolvimento de competências e habilidades. O foco do currículo voltou-se para a aprendizagem dos alunos em sua dimensão individual e coletiva, assim como cognitiva, social e cultural. A formação básica a ser buscada no Ensino Médio realizar-se-á mais pela constituição de competências, habilidades e disposições de condutas do que pela quantidade de informação. Aprender a aprender e a pensar, a relacionar o conhecimento com dados da experiência cotidiana, a dar significado ao aprendido e captar o significado do mundo, a fazer a ponte entre teoria e prática, a fundamentar a crítica, a argumentar com base em fatos, a lidar com o sentimento que a aprendizagem desperta. (BRASIL, 1999, 2002.)

Para esse propósito, os PCNEM conclamam o caráter interdisciplinar e contextualizado da aprendizagem, ou seja, a interdisciplinaridade como uma prática pedagógica pautada pelo constante diálogo entre as diferentes áreas do conhecimento e buscando permanentemente a relação entre os conteúdos e seus contextos, tornando a aprendizagem significativa ao associá-la com experiências da vida cotidiana do aluno. As Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM), publicadas em 2006, buscam dar identidade a essa etapa da escolaridade básica:

A institucionalização do Ensino Médio integrado à educação profissional rompeu com a dualidade que historicamente separou os estudos preparatórios para a educação superior da formação profissional no Brasil e deverá contribuir com a melhoria da qualidade nessa etapa final da educação básica. (BRASIL, 2006.) As OCEM atualizam os PCNEM, portanto, seguem os mesmos princípios, em uma abordagem que privilegia as competências e habilidades. Veja como elas estão definidas em Geografia.

Competências e habilidades para a Geografia no Ensino Médio Competências

Habilidades

• Capacidade de operar com os conceitos básicos da Geografia para análise e representação do espaço em suas múltiplas escalas.

• Articular os conceitos da Geografia com observação, descrição, organização de dados e informações do espaço geográfico considerando as escalas de análise.

• Capacidade de articulação dos conceitos.

• Reconhecer as dimensões de tempo e espaço na análise geográfica.

• Capacidade de compreender o espaço geográfico a partir das múltiplas interações entre sociedade e natureza.

• Analisar os espaços considerando a influência dos eventos da natureza e da sociedade. • Observar a possibilidade de predomínio de um ou de outro tipo de origem do evento. • Verificar a inter-relação dos processos sociais e naturais na produção e organização do espaço geográfico em suas diversas escalas.

• Domínio de linguagens próprias à análise geográfica.

• Identificar os fenômenos geográficos expressos em diferentes linguagens. • Utilizar mapas e gráficos resultantes de diferentes tecnologias. • Reconhecer variadas formas de representação do espaço: cartográfica e tratamentos gráficos, matemáticos, estatísticos e iconográficos.

• Capacidade de compreender os fenômenos locais, regionais e mundiais expressos por suas territorialidades, considerando as dimensões de espaço e tempo.

• Compreender o papel das sociedades no processo de produção do espaço, do território, da paisagem e do lugar. • Compreender a importância do elemento cultural, respeitar a diversidade étnica e desenvolver a solidariedade. • Capacidade de diagnosticar e interpretar os problemas sociais e ambientais da sociedade contemporânea.

• Estimular o desenvolvimento do espírito crítico.

• Capacidade de identificar as contradições que se manifestam espacialmente, decorrentes dos processos produtivos e de consumo.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Ciências Humanas e suas tecnologias. Brasília: MEC; SEB, 2006. (Orientações curriculares para o Ensino Médio; v. 3). p. 45.

Outro referencial importante para o segmento de ensino é o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), criado em 1998 pelo Ministério da Educação (MEC) para avaliar as competências e habilidades desenvolvidas pelos alunos que estão concluindo ou já concluíram o Ensino Médio. Atualmente, o Enem é o principal instrumento de seleção para as universidades federais e muitas estaduais. Inúmeras universidades públicas do país têm considerado seus resultados para compor a nota final em seus vestibulares e, mais recentemente, algumas, como as universidades federais, consideram apenas o Enem para selecionar o ingresso de seus alunos. Isso é feito por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), sistema informatizado do MEC, em que as univer-

sidades públicas oferecem vagas a canditados que prestaram o Enem. O Programa Universidade para Todos (ProUni), do governo federal, concede bolsas de estudo a alunos de universidades privadas e também utiliza o Enem como referência. A matriz de referência para o Enem destaca um conjunto de cinco eixos cognitivos comuns a todas as áreas do conhecimento – dominar linguagens; compreender fenômenos; enfrentar situações-problema; construir argumentação; elaborar propostas – e seis competências fundamentais para a área de Ciências Humanas e suas tecnologias. Cada uma dessas seis competências é dividida em cinco habilidades, como mostra este quadro. Manual do Professor

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Matriz de referência de Ciências Humanas e suas Tecnologias Competência de área

Habilidades

1. Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.

H1 – Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura. H2 – Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas. H3 – Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos. H4 – Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura. H5 – Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.

2. Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de poder.

H6 – Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos. H7 – Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações. H8 – Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social. H9 – Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial. H10 – Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade histórico-geográfica.

3. Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, conflitos e movimentos sociais.

H11 – Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço. H12 – Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades. H13 – Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder. H14 – Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca das instituições sociais, políticas e econômicas. H15 – Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da História.

4. Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social.

H16 – Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social. H17 – Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção. H18 – Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações socioespaciais. H19 – Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano. H20 – Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.

5. Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.

H21 – Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social. H22 – Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas. H23 – Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades. H24 – Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades. H25 – Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.

6. Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e geográficos.

H26 – Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem. H27 – Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e/ou geográficos. H28 – Relacionar o uso das tecnologias com os impactos socioambientais em diferentes contextos histórico-geográficos. H29 – Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas. H30 – Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.

BRASIL. Ministério da Educação. Matriz de referência para o Enem 2009. Disponível em: . Acesso em: 22 fev. 2016.

298

Manual do Professor

Podemos notar nessas orientações que o eixo do currículo desloca-se de uma concepção tradicional conteudista para uma ênfase nas habilidades e competências, valorizando a autonomia intelectual e o pensamento crítico dos alunos. Esta coleção busca exercitar essas orientações estimulando uma postura participativa sobre o espaço geográfico em suas diferentes escalas, além das atividades que trabalham as dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais do conhecimento. Essas atividades procuram valorizar a experiência e o envolvimento dos alunos para introduzir ou aprofundar conhecimentos, elaborar sínteses, formular hipóteses, problematizar temas da Geografia sob a forma de trabalhos investigativos individuais ou em grupo. Outra característica presente nesses referenciais é a valorização do trabalho interdisciplinar, privilegiando assim o trabalho coletivo na escola. A própria organização do currículo do Ensino Médio por área (Linguagens, Códigos e suas tecnologias, Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias, Ciências Humanas e suas tecnologias) pressupõe uma concepção curricular mais abrangente, que cria possibilidades de um trabalho mais integrado (pelo menos no âmbito de cada área). Esta coleção valoriza a prática interdisciplinar na seção Dialogando com as disciplinas, no livro do aluno, e projetos interdisciplinares, indicados neste Manual do Professor. Nesses projetos, propõem-se situações problematizadoras da realidade articuladas às temáticas desenvolvidas; contudo, cabe ao professor a decisão de utilizá-los em sua prática pedagógica. A interdisciplinaridade, como método de procedimento, parte do princípio de que cada uma das disciplinas deve contribuir para a compreensão da realidade, que é sempre multidisciplinar. Nesse sentido, é fundamental ressaltar sua importância como exercício de recomposição da totalidade. Mais do que uma postura metodológica, a interdisciplinaridade constitui-se em uma atitude solidária e dialógica que significa […] não só eliminar as barreiras entre as disciplinas, mas também as barreiras entre as pessoas, de modo que os profissionais da escola busquem alternativas para se conhecerem mais e melhor, troquem conhecimentos e experiências entre si, tenham humildade diante da limitação do próprio saber, envolvam-se e comprometam-se em projetos comuns, modifiquem seus hábitos já estabelecidos em relação à busca do conhecimento, perguntando, duvidando, dialogando consigo mesmos. Trata-se, portanto, de um modo de proceder intelectualmente, de uma prática de trabalho científico, profissional, de construção coletiva do conhecimento. (LIBÂNEO, 1998.)

Assim, a interdisciplinaridade não dilui as disciplinas, muito pelo contrário, as reforça e as valoriza, mas exige um

trabalho coletivo e colaborativo, o que implica mudanças de práticas arraigadas, como afirma José Carlos Libâneo, e isso está claramente colocado no § 2o do artigo 8o das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino MŽdio:

A organização por áreas de conhecimento não dilui nem exclui componentes curriculares com especificidades e saberes próprios construídos e sistematizados, mas implica no fortalecimento das relações entre eles e a sua contextualização para apreensão e intervenção na realidade, requerendo planejamento e execução conjugados e cooperativos dos seus professores. (BRASIL, 2012.) Apesar de sua importância, os trabalhos que envolvem a interação entre os diversos campos do conhecimento, sobretudo na escola básica, não são fáceis de serem executados. Muitas vezes, falta interlocução entre os professores das diferentes disciplinas e apoio da direção, faltam espaços de diálogo, além de estar instalada a tradição de trabalhos individuais, caracterizando uma excessiva especialização de professores voltados apenas à sua disciplina. Isso impede a construção de uma linguagem comum entre os professores e a criação de uma identidade de educadores preocupados com a função social da escola. Entretanto, apesar das dificuldades, a construção de um trabalho coletivo na escola sempre é possível e deve ser estimulada. Os professores normalmente se reúnem para a realização de atividades conjuntas, como comemorações, semanas culturais, etc. Essas ações podem servir como base para a elaboração de projetos mais consistentes, com maior participação dos sujeitos sociais da escola. Seria então interessante conduzir um movimento pedagógico na escola para estabelecer temas geradores, eixos temáticos ou situações-problema que mobilizassem alunos, professores e a comunidade rumo a um trabalho colaborativo. Há inclusive amparo legal para adaptações no currículo, uma vez que os PCN do Ensino Médio apontam para o estabelecimento de um eixo integrador para a elaboração de projetos interdisciplinares ou como um objeto de conhecimento ou mesmo para um plano de ação ou intervenção na realidade. A própria LDB 9394/96 dá respaldo a isso ao assegurar uma parte diversificada do currículo para poder dar conta da diversidade dos lugares que compõem o território brasileiro e ao mesmo tempo garantir sua inserção na dinâmica nacional e global. A LDB propõe:

Art. 26. Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. (BRASIL, 1996.) Manual do Professor

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As novas DCNEM também corroboram esse movimento integrador: Art. 7o A organização curricular do Ensino Médio tem uma base nacional comum e uma parte diversificada que não devem constituir blocos distintos, mas um todo integrado, de modo a garantir tanto conhecimentos e saberes comuns necessários a todos os estudantes quanto uma formação que considere a diversidade e as características locais e especificidades regionais. (BRASIL, 2012.) No livro Pedagogia do oprimido, o educador Paulo Freire desenvolve uma proposta de construção de um currículo local ancorado no tema gerador, no final do capítulo em que discute a importância da dialogicidade para uma educação como prática de liberdade. Não é possível, pois, construir uma abordagem de questões locais ancorada em temas geradores ou situações-problema e em propostas de intervenção na realidade sem haver diálogo entre professores e alunos, entre escola e família. Ainda que o professor de Geografia possa ter dificuldade em mobilizar outros docentes para um trabalho colaborativo, existem temáticas que podem de alguma forma chamar a atenção da comunidade escolar – por exemplo, o estudo do lugar onde os alunos e seus familiares vivem, da prática social em que estão inseridos e das relações que estabelecem com o espaço habitado. Sendo a população

4

Formas de avalia•‹o

A avaliação é um momento privilegiado na relação ensino-aprendizagem. Ela deve estar presente em todas as etapas dessa relação, permitindo que alunos e professores percebam seu grau de envolvimento nesse processo e acompanhem sua dinâmica. Dessa forma, assim como é um momento de fundamental importância para que cada aluno compreenda como está se desenvolvendo sua aprendizagem, também o é para que o professor perceba como está se dando seu ensino. É importante que a avaliação esteja prevista no projeto político-pedagógico da escola, de forma coerente com os princípios pedagógicos. Assim, ela deve estar em consonância com os procedimentos teórico-metodológicos adotados, considerando-se os diferentes contextos em que ocorre. Por exemplo, ao avaliar o aluno em um trabalho de pesquisa, é importante que o professor valorize sua capacidade de proceder o levantamento e tratamento de dados e informações, de análise, produção e elaboração de síntese pessoal, o que pode ser expresso sob a forma de textos, exposição oral, mural, etc. Além disso, o levantamento do conhecimento prévio dos alunos já é uma pré-avaliação ou uma avaliação 300

brasileira hoje majoritariamente urbana, a experiência do cotidiano na cidade é vivenciada por uma parcela significativa dos alunos; portanto, é fundamental que eles compreendam o fenômeno urbano. Para compreender o lugar de vivência, pode-se, por exemplo, elaborar uma pesquisa sobre a rede urbana da região, as funções urbanas que deram origem a algumas das cidades próximas, a hierarquia urbana e o sistema de transportes e os impactos ambientais relacionados à destinação do lixo, saneamento básico e contaminação de rios e lagos, qualidade do ar, poluição, condições de vida da população, etc. O Manual do Professor do volume 3 desta coleção apresenta essa sugestão de trabalho interdisciplinar, que pode ser muito produtiva, sobretudo para tornar a aprendizagem significativa. Especialmente se associada a experiências da vida cotidiana, ela pode contribuir para o esclarecimento das dinâmicas que regem a vida urbana. O mais importante é que o trabalho interdisciplinar surja da necessidade e do envolvimento de professores, alunos e suas famílias na elaboração do projeto político-pedagógico da escola e se constitua em um desafio para cada disciplina envolvida, atraindo a atenção dos professores de todas as áreas do conhecimento. Nesta coleção, a Geografia é considerada uma disciplina aberta ao diálogo e à prática interdisciplinar, sobretudo pelo caráter abrangente de seus temas de estudo, que contemplam a sociedade e a natureza e suas relações, e pela clareza da necessidade de colaboração das diferentes disciplinas para a compreensão do complexo mundo atual.

Manual do Professor

diagnóstica, passo importante para orientar o professor em seu trabalho docente com a classe. A avaliação deve ser estruturada como parte do processo pedagógico e educacional. Quando ela se restringe à aplicação de uma prova mensal ou bimestral, sua função fica reduzida a aspectos conceituais, e a maioria dos alunos estabelece um ritmo de acompanhamento dos conteúdos concentrando seus esforços para a “semana das provas”. Assim, a avaliação não deve se limitar a um instrumento de quantificação aplicado no final do processo, mas constituir um recurso para acompanhar o desenvolvimento da aprendizagem. Ela permite a revisão da programação e da abordagem do curso: se necessário, podem ocorrer mudanças de acordo com as dificuldades, desinteresse ou, ao contrário, motivação dos alunos para ir mais além. Concebendo a avaliação como um instrumento permanente e abrangente, torna-se necessário iniciá-la antes mesmo da introdução de novos conteúdos. Avaliando os conhecimentos prévios dos alunos sobre o tema que será desenvolvido, é possível adaptar a prática didática àquilo que for mais adequado ao grupo.

rios. Eles podem ainda, caso assim se decida, elaborar uma ficha de autoavaliação que, depois de preenchida, pode ser comparada com a avaliação feita pelo professor. Essa atividade é um estímulo para que os alunos busquem um desempenho cada vez melhor, desenvolvam seu senso crítico e sintam-se mais participantes e responsáveis por sua própria formação e pelo que acontece em sala de aula. A avaliação permanente permite a utilização das mais variadas ferramentas para determinar os conteúdos acima propostos. O professor poderá, caso considere necessário, utilizar-se das competências e habilidades a serem desenvolvidas na área de Geografia, extraídas das OCEM. Em caso de se aplicarem provas mensais ou bimestrais, é importante que elas não se limitem a verificar a memorização de informações pelos alunos, mas sua capacidade de observação, descrição, comparação, interpretação, argumentação, enfim, sua capacidade de análise e de síntese e de elaboração de propostas. Isso pressupõe não só que os alunos detenham informações, mas também a habilidade de manipulá-las, criticá-las para, com base nesse exercício, construir seu conhecimento e solucionar problemas da realidade. A prática da avaliação ao longo de todo o processo de aprendizagem permite encaminhar os alunos com dificuldades para um acompanhamento logo que se constate a defasagem, ou alterar a abordagem escolhida inicialmente, quando esta se mostrar ineficaz ou desinteressante. Não há necessidade de esperar o fim do bimestre, semestre ou ano letivo para encaminhar esses alunos a uma recuperação. Essa prática, além de ser mais produtiva do ponto de vista do ensino-aprendizagem, retira dos alunos a pressão psicológica de ter de “tirar nota para passar de ano”. Não acreditamos que a prova seja um mal em si, até porque, na vida adulta, os alunos irão deparar em vários momentos com a necessidade de fazer provas, como a do Enem, de vestibulares, de teste para emprego, de concurso público, etc. – mas ela também não deve ser um fim em si mesma ou o objetivo da aprendizagem. Assim, quanto à nota, na avaliação permanente, ela deveria ser apenas a quantificação do aprendizado e um instrumento para indicar a necessidade de acompanhamento personalizado, e não uma punição ao final do ano, com a repetência.

Renato S. Cerqueira/Futura Press

A avaliação inicial permite perceber o impacto da situação de ensino-aprendizagem sobre os alunos. A constatação de que um aluno não apreendeu todo o conteúdo proposto de forma homogênea com o restante da classe não deve anular o fato de que muitas vezes ele avançou significativamente em relação ao ponto em que se encontrava e desenvolveu-se de forma extraordinária em relação a alguns itens trabalhados. Portanto, isso deve ser levado em consideração. Outro aspecto importante a ser considerado é a necessidade de uma avaliação diversificada para que não se restrinja a captar apenas as inteligências mais valorizadas no ambiente escolar: a linguística e a lógico-matemática. Nesse ponto vale considerar a contribuição do psicólogo norte-americano Howard Gardner. Ele argumenta que todas as pessoas têm um espectro de competências, ao que chamou de “inteligências múltiplas” (GARDNER, 2000) e algumas por razões biopsicossociais têm facilidade para desenvolver umas inteligências mais do que outras. Há diversos exemplos de profissionais muito competentes e reconhecidos em sua área de atuação que durante a vida escolar tiveram problemas de aprendizado e foram considerados “maus alunos”. Muito provavelmente não tinham muita facilidade no eixo linguístico-lógico-matemático. É importante que haja instrumentos de avaliação que possam captar outras inteligências, como a interpessoal, a intrapessoal, a espacial, a corporal-cinestésica e a musical, além das duas tradicionalmente mais valorizadas pela escola. É importante também que a avaliação não se restrinja à dimensão conceitual do conhecimento e capte as dimensões procedimental e atitudinal. Todos os itens da avaliação devem ser previamente discutidos com a classe, explicitados claramente, para que todos se comprometam com as metas traçadas. Trata-se de realizar um primeiro acordo entre professor e alunos, livremente discutido, baseado na transparência e no diálogo, na clara definição dos objetivos e das propostas. Esse é um momento fundamental para que a relação ensino-aprendizagem possa se desenvolver de forma satisfatória e dialógica. Os alunos devem saber o que se espera deles, como serão avaliados, com que frequência, em quais momentos, por quais critérios, etc., e participar da elaboração desses crité-

Manifestação do Orgulho Crespo em São Paulo (SP), 2015. Manual do Professor

301

5

Bibliografia de apoio

Educa•‹o AUSUBEL, D. P. Aquisição e retenção de conhecimentos: uma perspectiva cognitiva. Lisboa: Plátano, 2003.

Para o autor, a aprendizagem significativa é aquela na qual é possível associar os conhecimentos novos à estrutura cognitiva de forma não arbitrária e não literal, que permite uma retenção por um tempo mais longo. O contrário disso é a aprendizagem mecânica, na qual a retenção é muito limitada. BRASIL. Lei n. 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos, Brasília, 1996. Disponível em: . Acesso em: 21 mar. 2016. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Ciências humanas e suas tecnologias. Brasília: MEC; SEB, 2006. (Orientações curriculares para o Ensino Médio; vol. 3).

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FAZENDA, I. C. A. Interdisciplinaridade: um projeto em parceria. São Paulo: Loyola, 2002. O livro reúne uma série de artigos sobre interdisciplinaridade e projetos desenvolvidos em parceria. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 44. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. 302

Manual do Professor

Para Paulo Freire não existe educação emancipadora sem diálogo. Este livro se desenvolve em torno desses dois eixos e propõe uma educação dialógica e problematizadora, portanto, emancipadora. GARDNER, H. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artmed, 2000. O psicólogo norte-americano discute a teoria das inteligências múltiplas. Neste livro, ele fala em sete inteligências, mas abre a possibilidade de haver outras; em 2006, passou a falar em nove inteligências, incorporando a naturalista e a existencial.

GOODSON, I. F. Tornando-se uma matéria acadêmica: padrões de explicação e evolução. Teoria & Educação. Porto Alegre: Pannônica, v. 2, p. 230-254, 1990. O artigo analisa a institucionalização da Geografia acadêmica no Reino Unido desde o final do século XIX e o papel da Geografia escolar como indutor desse processo. JANTSCH, A. P.; BIANCHETTI, L. (Org.). Interdisciplinaridade: para além da filosofia do sujeito. Petrópolis: Vozes, 1995. Os autores criticam a fragmentação da produção do conhecimento e defendem a interdisciplinaridade como o melhor caminho para captar a realidade como totalidade. LIBÂNEO, J. C. Adeus professor, adeus professora?: novas exigências educacionais e profissão docente. São Paulo: Cortez, 1998.

O autor analisa as novas exigências educacionais e o papel da escola e dos professores na perspectiva de um projeto emancipador de educação. ______; SANTOS, A. (Org.). Educação na era do conhecimento em rede e transdisciplinaridade. Campinas: Alínea, 2005.

Esta coletânea de textos realiza uma revisão crítica das teorias pedagógicas e uma tentativa de agrupamento das principais correntes pedagógicas contemporâneas.

LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar. 17. ed. São Paulo: Cortez, 2005. O livro aborda a questão da avaliação da aprendizagem na escola, em termos conceituais e práticos, passando por abordagens filosóficas, sociológicas, políticas, psicológicas e pedagógicas.

______. Avaliação da aprendizagem na escola: reelaborando conceitos e recriando a prática. 2. ed. rev. Salvador: Malabares, 2005. O livro aborda a avaliação da aprendizagem, seus comprometimentos sociológicos, históricos, políticos, psicológicos e pedagógicos, trazendo estudos sobre a articulação entre avaliação e projeto político-pedagógico da escola e, por último, recursos técnicos para a prática da avaliação da aprendizagem.

MACHADO, N. J. Conhecimento e valor. São Paulo: Moderna, 2004. Neste livro, o autor discute as imagens tácitas do conhecimento, o valor do conhecimento, o tecnicismo na educação, entre outras questões ligadas ao universo escolar. ______. Epistemologia e didática. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2000.

O livro analisa as concepções de conhecimento, inteligência, especialmente como espectro de competências, e o processo cognitivo. MARINA, J. A. Teoria da inteligência criadora. Lisboa: Caminho, 1995.

O filósofo espanhol apresenta muitos insights interessantes que podem ser aproveitados na compreensão da realidade e na produção do conhecimento. MOREIRA, A. F. B. Propostas curriculares alternativas: limites e avanços. Educação & Sociedade, Campinas, ano XXI, n. 73, dez. 2000.

Neste artigo, o autor faz uma retrospectiva das reformas curriculares que caminharam na contramão do discurso oficial hegemônico nos anos 1980 e 1990. MOREIRA, M. A.; MASINI, E. F. S. Aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São Paulo: Centauro, 2001. Os autores fazem uma síntese bem completa e acessível da teoria cognitivista de David Ausubel. Essa obra serve como um organizador prévio antes da leitura da teoria original.

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RAMOS, M. N. A pedagogia das competências: autonomia ou adaptação? 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002. A autora analisa de forma crítica a noção de competência e sua migração do universo do trabalho para o da educação, processo em que houve um deslocamento conceitual: o conceito de competência, associado à produção flexível, desloca o de qualificação, ligado à produção fordista.

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A dissertação de mestrado reconstitui o processo histórico de institucionalização da Geografia no Brasil, tanto nos currículos da escola básica quanto disciplina acadêmica. O artigo, derivado da pesquisa, analisa a contribuição dos pareceres elaborados por Rui Barbosa, no final do século XIX, e da produção didática de Delgado de Carvalho, no início do século XX, para a renovação do ensino de Geografia.

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Os autores defendem que para o conhecimento ser construído de forma significativa é importante o aluno dominar fundamentos teóricos e práticos da pesquisa, desenvolvendo assim um espírito investigativo. VASCONCELLOS, C. dos S. Metodologia dialética em sala de aula. Revista de Educação AEC, Brasília, v. 21, n. 83, p. 28-55, abr./jun. 1992. O artigo analisa o método dialético de conhecimento em sala de aula, com base na construção do conhecimento pelo movimento do pensamento. VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. ______. A formação social da mente. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. Nestes livros, Vygotsky trabalha alguns dos conceitos-chave de sua teoria sociointeracionista, como mediação simbólica, interação entre aprendizado e desenvolvimento, relação entre o pensamento e a língua, zona de desenvolvimento proximal, aprendizado de conceitos cotidianos e científicos, etc.

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e sala de aula. São Paulo: Sarandi, 2011. VESENTINI, J. W. (Org.). O ensino de geografia no século XXI. Campinas: Papirus, 2004.

Endereços eletrônicos para pesquisa

Os endereços eletrônicos sugeridos a seguir são boas fontes de consulta para os assuntos tratados na coleção. Oriente os alunos a se manterem atentos a atualizações e a informar suas descobertas aos colegas. Para isso, eles podem utilizar ferramentas da internet, como redes sociais e blogs. Faça também um mural na sala de aula com algumas das recomendações dos estudantes. Como a internet é uma ferramenta de pesquisa dinâmica por natureza, recomendamos verificar se o endereço indicado no livro ou neste Manual permanece o mesmo antes de sugerir aos alunos uma pesquisa na internet. Dessa forma, nos responsabilizamos pela indicação dos sites até a data de acesso de 23 de fevereiro de 2016. A maioria dos endereços é estável, sobretudo os das instituições mais reconhecidas. Entretanto, é possível haver mudanças.

BASE Aerofotogrametria e Projetos. Disponível em: .

AGÊNCIA Espacial Norte-Americana (Nasa). Disponível em: .

COMPROMISSO Empresarial para Reciclagem (Cempre). Disponível em: .

ASSOCIAÇÃO Brasileira de Águas Subterrâneas (Abas). Disponível em: .

DISCOVERY Education. Disponível em: .

ASSOCIAÇÃO de Geógrafos Brasileiros (AGB). Disponível em: .

EMPRESA Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Disponível em: .

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Manual do Professor

CENTRO de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC). Disponível em: . CENTRO Integrado de Estudos em Geoprocessamento da UFPR (Cieg). Disponível em: .

CIÊNCIA Hoje. Disponível em: . COMITÊ Brasileiro do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA Brasil). Disponível em: . COMPANHIA Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). Disponível em: .

EMPRESA Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa). Disponível em: .

NATIONAL Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA). Disponível em: .

FUNDAÇÃO de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Disponível em: .

NOVA Escola. Disponível em: .

FUNDAÇÃO Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan). Disponível em: .

OBSERVATÓRIO Astronômico Frei Rosário – UFMG. Disponível em: .

FUNDAÇÃO Planetário da Cidade do Rio de Janeiro. Disponível em: .

OBSERVATÓRIO Nacional (ON). Disponível em: .

FUNDAÇÃO SOS Mata Atlântica. Disponível em: .

OBSERVATÓRIO Naval dos Estados Unidos (USNO). Disponível em: .

FUNDO Mundial para a Natureza (WWF-Brasil). Disponível em: .

ORGANIZAÇÃO das Nações Unidas no Brasil (ONU). Disponível em: .

GLOBAL Volcanism Program – Smithsonian Institute. Disponível em: .

ORGANIZAÇÃO das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Disponível em: .

GOOGLE Earth. Disponível em: .

ORGANIZAÇÃO Meteorológica Mundial (OMM). Disponível em: .

GOOGLE Maps Brasil. Disponível em: .

GLOBAL Positioning System (GPS). Disponível em: .

OXFORD Cartographers. Disponível em: . PETROBRAS. Disponível em: .

GREENPEACE. Disponível em: .

PLANETA Orgânico. Disponível em: .

INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível em: .

PROGRAMA das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Disponível em: .

INSTITUTO Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Disponível em: .

PROJETO Apoema – Educação ambiental. Disponível em: .

INSTITUTO de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP. Disponível em: .

RIO + 10 Brasil. Disponível em: .

INSTITUTO de Geociências da USP. Disponível em: .

SATÉLITE Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS). Disponível em: .

INSTITUTO de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Disponível em: .

SOCIEDADE Brasileira de Geologia (SBG). Disponível em: .

INSTITUTO Nacional de Meteorologia (Inmet). Disponível em: .

SOCIEDADE Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Disponível em: .

INSTITUTO Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Disponível em: .

SÃO PAULO Transporte S.A. (SPTrans). Disponível em: .

INSTITUTO Socioambiental (ISA). Disponível em: .

TV CULTURA. Disponível em: .

INCORPORATED Research Institutions of Seismology (Iris). Disponível em: .

UNIVERSIDADE do Texas. Disponível em: .

MINISTÉRIO do Meio Ambiente (MMA). Disponível em: .

WORLD Energy Council (WEC). Disponível em: .

NATIONAL Geographic Channel. Disponível em: .

WORLDMAPPER. Disponível em: .

INSTITUTO Brasileiro de Turismo (Embratur). Disponível em: .

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Reflexões sobre a prática pedagógica 1 O processo de avaliação Profª Drª Edna Maura Zuffi Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação – Universidade de São Paulo (USP)

Quando éramos alunos, muitas vezes criticávamos as formas de avaliação pelas quais tínhamos de passar na escola, fosse porque elas nos causavam um grande frio na barriga, ou porque não concordávamos com os critérios adotados por nossos professores para a atribuição de notas. De fato, o processo de avaliação da aprendizagem, que deve ser articulado com o planejamento e com o ensino propriamente, é complexo e sempre será passível de críticas e novas sugestões. Entretanto, o que vemos frequentemente é que, ao nos tornarmos professores, reproduzimos em nossas propostas avaliativas aquilo que vivenciamos no passado. Em geral, ainda é comum constatarmos nas escolas um enfoque meramente classificatório e meritocrático, com ênfase em propostas que não raras vezes reduzem a avaliação ao momento das provas mensais e bimestrais, sem proporcionar aos alunos uma real reflexão sobre sua aprendizagem. Uma restrição à aplicação única de provas tradicionais, nas quais se espera que os alunos resolvam questões ou problemas muito similares àqueles trabalhados em classe, com enunciados diretos e sem exigência de grande elaboração por parte dos estudantes – é que, em geral, por uma questão de tempo, apresentam um número mínimo de itens, entre perguntas, exercícios e problemas, conforme as características da disciplina. Quase sempre essas provas não apresentam a abrangência necessária dos conteúdos, habilidades e valores a serem avaliados. Se, por coincidência, um aluno tiver a sorte de ter estudado mais a matéria relativa às questões selecionadas, ele poderá obter sucesso, enquanto outro, em situação inversa, poderá obter uma nota baixa, mesmo que ambos tenham um nível equivalente de compreensão real do assunto. Muitos colegas professores utilizam outros mecanismos para ajudar a melhorar as notas dos alunos, como os trabalhos extraclasse ou a atribuição de pontos adicionais para os que têm frequência em aula. Esses mecanismos seriam muito importantes para a avaliação formativa dos estudantes se não fossem usados apenas como um paliativo superficial para a promoção dos alunos, acabando por camuflar seu real estado de aprendizagem. Em muitos casos, os trabalhos apresentados são apenas textos copiados da internet, sem nenhuma revisão ou reflexão por parte dos estudantes, e a mera adição de pontos pela frequência em sala de aula não deixa claro para eles como foi sua participação efetiva nas atividades. Outras vezes,

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os professores aplicam diversas “provinhas” com o intuito de favorecer a “avaliação continuada”, sem, entretanto, mudar o caráter das questões e das tarefas a serem realizadas. Assim, é justificado o uso de tais artifícios como se fossem o que os autores costumam chamar de “avaliação formativa”, porém esta engloba muito mais! A avaliação formativa é um contraponto à visão daquela tecnicista e meramente classificatória. Alguns pesquisadores trazem considerações importantes sobre a avaliação como processo de mediação da aprendizagem. Uma ação avaliativa mediadora envolveria a análise, nas situações-problema propostas ao educando, das hipóteses por ele formuladas, de suas ações e manifestações, visando essencialmente sua maior compreensão dos conceitos e das habilidades que estão em jogo. Tais processos mediadores objetivariam encorajar e orientar os alunos à produção de um saber qualitativamente superior, pelo aprofundamento das questões propostas, ao gerarem oportunidades de novas vivências, leituras ou quaisquer procedimentos enriquecedores do tema que se trouxe na avaliação. Nessa perspectiva, “ser avaliado” passa a ter outro significado. É a possibilidade que o aluno terá de refazer o que não fez certo, ou de melhorar o que foi feito. Os erros cometidos pelos estudantes não mais assumiriam um caráter de penalidade, mas se transformariam em tópicos de discussão e geração de novos saberes, ultrapassando dificuldades que se manifestaram numa primeira tentativa. Nessa nova proposta, o aluno não deve aceitar passivamente a correção do professor, sem saber qual seria um caminho alternativo para evitar os erros, ou por que eles ocorreram. Por sua vez, o professor deve traduzir em linguagem clara para os interessados os detalhes sobre o desempenho da classe, dizendo o que deveria ter sido feito para a melhoria dos resultados, indicando aspectos específicos sobre erros e também sobre formas consideradas adequadas de resposta. Um problema muito comum com a aplicação única de provas tradicionais é que, muitas vezes, os professores as veem como um fim em si mesmas e não aproveitam os momentos imediatamente posteriores à correção para gerar uma atividade investigativa e mediadora de novas aprendizagens. Com as práticas de avaliação formativa, propõe-se um foco maior na compreensão real dos conteúdos e procedimentos avaliados, e não somente para aqueles alunos que usualmente se saem bem nas provas,

mas também para aqueles que não apresentam bom desempenho, os quais podem ter outras chances de aprender com seus erros. Relatamos, aqui, uma experiência realizada em universidade brasileira2 com professores do Ensino Fundamental e Médio, na qual se propôs que os alunos, após a resolução das provas, recebessem-nas corrigidas e as refizessem, resolvendo as questões que deixaram em branco ou as que resolveram de modo incompleto ou incorreto, sem terem acesso aos gabaritos. Assim, os alunos teriam de estudar mais os conteúdos envolvidos nas provas, depois de repetidos retornos com indicação de erros e acertos, até que aprendessem o suficiente para resolvê-las integralmente. Para isso, poderiam utilizar as fontes que quisessem: cadernos, livros didáticos ou outros materiais. Só receberiam auxílio dos professores caso não conseguissem resolver sozinhos alguma questão após várias tentativas. Essa experiência foi realizada em uma escola com as disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática, mas poderia ter sido feita com qualquer outra. E os resultados foram muito positivos quanto ao desempenho desses alunos nas avaliações posteriores, tanto dentro da própria escola quanto em avaliações externas, ou em olimpíadas acadêmicas. Principalmente no Ensino Médio, é frequente vermos um enfoque excessivo à pedagogia do exame, na qual “resolver provas” para o preparo aos exames vestibulares, com seus modelos e suas propostas tecnicistas, torna-se a questão primordial, quase que independentemente do processo de ensino e aprendizagem. A nota domina quase tudo e é em função dela que se vivencia a prática escolar. Na medida em que estiver polarizada pelos exames, a avaliação não cumprirá sua função de auxiliar nas decisões para a melhoria da aprendizagem. Não queremos dizer, com isso, que avaliações de caráter classificatório não possam ser realizadas, mas outras propostas também precisam ser vivenciadas pelos alunos. A avaliação educacional deve ter também um caráter de diagnóstico da situação de aprendizagem, tendo em vista o avanço e o crescimento dos educandos. Ela envolve juízo de valores, baseados em critérios preestabelecidos e caracteres relevantes da realidade em que se insere, considerando também as diferenças étnicas, socioculturais e econômicas que podem interferir nas condições de desempenho de certas classes ou escolas, o que demanda uma tomada de posição sobre o objeto avaliado e decisões sobre o andamento do processo de ensino e aprendizagem. A avaliação não é neutra! Para se efetivar esse caráter diagnóstico, é muito importante que o professor tenha consciência dos objetivos que quer alcançar com determinadas unidades de ensino, 2

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para que possa inserir, no processo avaliativo, atividades que verifiquem se esses objetivos foram realmente atingidos. Para isso, a avaliação não pode deixar de ser racional, rigorosa e impessoal, em certo nível possível – aqui no sentido de que o professor deve deixar de lado preconceitos e julgamentos pessoais que possam interferir drástica e negativamente em sua forma de avaliar as atividades de cada aluno. Não deverá verificar a aprendizagem com base em mínimos possíveis, mas sim em mínimos necessários para tornar cada um mais qualificado, dentro da realidade social em que se insere. Luckesi3 nos fornece um ótimo exemplo para refletirmos: digamos que um aluno, numa escola de pilotagem de Boeing, fosse aprovado com nota 10 (dez) em decolagem e nota 2 (dois) em aterrissagem; portanto, média geral 6 (seis). Você viajaria com esse piloto? Se por um lado ele teve a média mínima atendida para sua aprovação, o conhecimento necessário para pilotar não foi alcançado. É nesse sentido que o autor coloca que, muitas vezes, os mínimos possíveis não são suficientes na aprendizagem, principalmente quando esta envolve o desenvolvimento de questões técnicas que presumem a responsabilização do aprendiz. O mesmo se poderia dizer de um técnico de laboratório que deve aprender sobre o manejo de determinados produtos químicos: se ele aprende apenas o mínimo sobre as substâncias, suas propriedades e reações possíveis, e não o necessário para exercer sua função, poderá causar danos a outras pessoas ou aos equipamentos. É nesse sentido que o professor deve usar a avaliação como um diagnóstico realista das habilidades e conhecimentos adquiridos pelo estudante, dentro dos objetivos educacionais planejados para o contexto social em que a formação se insere. O que ocorre na prática da avaliação, em geral, é que dificilmente os professores definem com clareza o que se espera da conduta do aluno, após ter se submetido a uma determinada aprendizagem. Isso pode dar margem a uma variabilidade no processo que depende mais do estado de humor do professor do que de um julgamento das condições de progresso e potencialidades do aluno. Então, faz-se necessário delimitar quais são os dados relevantes que são compatíveis com o objeto a ser avaliado e os objetivos previamente estabelecidos. Aí está o verdadeiro caráter da avaliação formativa, em sua faceta diagnóstica, pois esta leva em conta os rumos que já foram tomados e as perspectivas de ampliação das potencialidades dos alunos, com as tomadas de decisões sobre as próximas ações de ensino a serem desenvolvidas para que os alunos aprendam mais. Além da avaliação do professor, nesta perspectiva, também é interessante que os alunos se autoavaliem, a fim de estabelecerem um julgamento crítico sobre a pró-

Para mais detalhes, ver: GIELFI, Ophelia Amélia Simões et al. A avaliação escolar como recurso para mediação de aprendizagem: uma experiência no ensino fundamental de uma escola pública. Anais do X CEPFE – Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores, p. 5598-5605. LUCKESI, Cipriano C. Avaliação da aprendizagem escolar. 11. ed. São Paulo: Cortez, 2001. Manual do Professor

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pria aprendizagem, verificando as atividades que efetivamente realizaram, o nível de empenho que empregaram nelas, as dificuldades que apresentaram e por que acham que as tiveram. Também é interessante que o professor avalie os recursos disponíveis no processo de ensino, sua própria atuação nesse processo e por que uma atividade pode não ter atingido os objetivos esperados. O professor deve estar ciente de que o tipo de avaliação escolhida depende dos objetivos que quer atingir. Por exemplo, quando ele tem a necessidade de classificar muitos alunos e avaliar se estes dominam aspectos de algoritmos e técnicas da área em estudo, os testes de múltipla escolha podem ser uma boa opção. Já as questões de resposta discursiva devem ser propostas quando se deseja avaliar habilidades de expor, organizar e sintetizar conhecimentos. Outro recurso são as fichas de registro, que podem ser individuais ou de um pequeno grupo, para anotar comportamentos, problemas disciplinares, nível de participação e todo o processo de resolução de uma situação-problema ou de determinada tarefa investigativa. A avaliação feita por meio de trabalhos práticos em laboratórios ou com o uso de computadores e software educacional pode ser particularmente interessante para as áreas de Ciências da Natureza e de Matemática. Também as exposições orais de resultados de pequenos projetos podem ajudar o professor a avaliar aspectos mais amplos do desenvolvimento dos alunos, como sua capacidade de expressão oral e visual em público, os valores que eles destacam como relevantes na execução do projeto, sua capacidade de organização em grupos de trabalho, etc. Os exercícios para serem realizados como tarefa extraclasse podem ajudar a verificar se o aluno está tendo progressos parciais durante o desenvolvimento de um determinado conteúdo. Finalmente, o uso de provas tradicionais, mas com a retomada posterior de suas questões para uma atividade de reflexão dos alunos, individualmente ou em grupo, pode ser importante para dar um fechamento e promover a síntese de uma unidade de ensino. Outro recurso tecnológico de que algumas escolas dispõem são as filmadoras e os vídeos, para uso em determinadas aulas de caráter mais investigativo, que podem ajudar o professor a ter um acompanhamento mais detalhado do desenvolvimento de seus alunos, durante essas atividades. A variação desses procedimentos, mas não necessariamente de todos, pode compor um panorama mais fiel sobre a situação de cada aluno, ao longo de vários momentos do processo de ensino e aprendizagem, além de lhe fornecer oportunidades de mostrar o desenvolvimento de habilidades mais diversificadas. Pode também ajudar o professor a replanejar ações de ensino que envolvam determinados conteúdos que não foram assimilados de forma significativa, com a revisão do que foi selecionado, do método utilizado, das atividades realizadas e das relações estabelecidas em sala de aula. 308

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Além dessa variedade de procedimentos de avaliação, salientamos também a importância de dar um retorno mais detalhado aos alunos e seus pais sobre o desempenho em cada um desses momentos, ampliando com os primeiros os momentos de reflexão sobre a própria aprendizagem. Para finalizar, observamos que o professor precisa encontrar uma forma mais coesa de avaliar o aprendizado, levando em conta o projeto pedagógico de sua escola, e esta deve gerar mecanismos de planejamento, para tentar promover a recuperação daqueles que não foram capazes de aprender em algum período, conciliando diferentes lógicas de avaliação escolar, diferentemente do que ainda se vê no modelo tradicional, ainda o mais utilizado nas escolas. Para tanto, não podemos deixar de levar em conta a necessária preparação dos professores e da comunidade envolvida na escola, como pais, coordenadores e gestores. Sem isso, a chance de sucesso do uso da avaliação formativa para a aprendizagem significativa será muito reduzida. A coexistência complementar entre o processo classificatório e o formativo nas avaliações do Ensino Médio poderia ser uma prática sem conflitos, uma vez que, ao mesmo tempo em que atenderia às normas e determinações do sistema escolar vigente, com o preparo para exames classificatórios externos, poderia auxiliar o aluno para uma compreensão maior e mais duradoura dos conteúdos. Isso poderia ser realizado, por exemplo, durante um bimestre, em cinco fases: I) com a aplicação de testes diagnósticos sobre os conhecimentos prévios dos alunos, no início de uma unidade de ensino, a fim de verificar se o planejamento realizado pelo professor necessita de algum ajuste previamente à sua execução; II) com o uso da avaliação continuada, através de situações-problemas em que os alunos teriam seus desempenhos parciais registrados em um diário do professor, ou de desenvolvimento de atividades de laboratórios e exercícios extraclasse, variando-se os procedimentos avaliativos; III) com uma avaliação mais classificatória por testes ou questões dissertativas, que verifique se os objetivos mais globais do assunto dessa unidade de ensino foram alcançados; IV) com a retomada das questões tratadas na avaliação classificatória, para que os alunos tentem realizá-las novamente, por exemplo, em atividades extraclasse, com posterior discussão em sala de aula sobre erros, acertos e dificuldades encontradas; V) e, finalmente, com a avaliação pessoal do professor e dos alunos (autoavaliação) a respeito do próprio desempenho, assim como das dificuldades e facilidades pedagógicas encontradas no desenvolvimento desta unidade, por parte do professor. Os critérios de avaliação em cada etapa deverão ser estabelecidos com ciência prévia dos alunos e, se necessário,

renegociando-os, conforme as especificidades dos conteúdos tratados naquela unidade e, também, levando-se em conta a realidade social e cultural dos estudantes, que deve se refletir nos objetivos de ensino. Fornecer uma receita para isso seria imprudente, uma vez que os professores é que detêm o conhecimento dessa realidade, mais do que ninguém, e essas condições variam infinitamente. É claro que, conhecendo a realidade das salas de aula brasileiras – em que o número de alunos é grande e os professores precisam se dedicar, muitas vezes, a diversas escolas simultaneamente, com uma carga horária de trabalho extensiva –, sabemos que se torna muito difícil realizar todas essas fases em todas as unidades de ensino. Nossa sugestão aplica-se a uma situação mais próxima do ideal, em que o trabalho extraclasse do professor seja valorizado adequadamente. Nos casos em que isso não seja possível, sugerimos que pelo menos em alguma unidade de ensino do ano se apliquem todas as etapas, a fim de que o professor possa verificar os efeitos de uma avaliação mais formativa, que os alunos possam ter experiências pedagógicas mais ricas e que lhes desenvolvam maior senso crítico. Ou ainda, quando isso também não for possível, que em cada unidade de ensino se diversifique o método de avaliação, aplicando-se duas ou três dessas etapas. Ficam, então, estas sugestões para aqueles que desejam fazer a diferença em sua escola: com a discussão sobre novas práticas avaliativas, a formação e experimentação dos professores, com registros e reflexões sobre suas novas

experiências, e com o envolvimento dos pais e alunos, a avaliação poderá se tornar um processo mais prazeroso, realista e eficiente, dentro das disciplinas específicas e da escola como um todo.

Leituras complementares sobre o tema HAGA, M. S. et al. A avaliação e o seu potencial pedagógico para a mediação da aprendizagem. Anais do X CEPFE – Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores. p. 5585-5597. ______. HAGA, K. I. Fundamentos de avaliação formativa: os conflitos e as conciliações entre as diferentes lógicas. Anais do IX Congresso Estadual Paulista para Formação de Educadores, Águas de Lindoia, SP, CD-ROM. 2007. HOFFMANN, J. Avaliação: mito e desafios: uma perspectiva construtivista. Porto Alegre: Mediação, 1991.

KRASILCHIK, M. As relações pessoais na escola e a avaliação. In: CASTRO, A. D.; CARVALHO, A. M. P. de (Org.). Ensinar a ensinar: didática para a escola fundamental e média. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. p. 165-176. PERRENOUD, P. A avaliação: da excelência à regulagem das aprendizagens: entre duas lógicas. Porto Alegre: Artmed, 1999. ______. Não mexam na minha avaliação! Para uma abordagem sistêmica da mudança pedagógica. In: ESTRELA, A.; NÓVOA, A. (Org.). Avaliações em educação: novas perspectivas. Portugal: Porto, 1993. p. 171-191.

2 A leitura nas Ciências Humanas Angela B. Kleiman Professora titular da Unicamp

Como todo professor que leciona uma disciplina cujo volume de leituras é muito elevado, você já deve ter se sentido frustrado alguma vez por seus alunos não conseguirem compreender sua matéria. O fato é que muitos deles não se interessam por ela porque têm grandes dificuldades para entender a informação no texto, conforme apontam os resultados de diversos testes de leitura. A importância da leitura para a vida cotidiana e, sobretudo, para a vida na escola, espaço de aprendizagem e desenvolvimento intelectual por excelência, é inegável. Se o desinteresse de alguns alunos se deve ao fato de não terem consolidado seu hábito de ler, vale a pena o profes4

sor de História, Geografia, Filosofia ou Sociologia conhecer o que está envolvido no ensino da leitura e como essa capacidade pode ser desenvolvida, a fim de ajudar seu aluno. Lembremos que os professores de todas as disciplinas são também professores de leitura, pois são modelos de como ler os textos de sua área. Além disso, vale lembrar que é objetivo explícito nos currículos das disciplinas de Ciências Humanas o desenvolvimento de competências de leitura. No currículo de Filosofia, por exemplo, lemos, entre as habilidades visadas no 1o bimestre da 2a série “desenvolver habilidades de leitura, escrita e planejamento investigativo para autonomia intelectual”4.

SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Currículo do Estado de São Paulo: Ciências Humanas e suas tecnologias. Secretaria da Educação; co‑ ordenação geral: Maria Inês Fini; coordenação de área: Paulo Miceli. São Paulo: SEE, 2010. p. 124. Disponível em: . Acesso em: 24 fev. 2013. Manual do Professor

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Apesar de toda sua importância, a leitura parece estar perdendo espaço na vida de um número expressivo de estudantes brasileiros, em parte por causa das novas mídias e novas tecnologias, em parte pelo acesso limitado que muitos alunos têm a livros, jornais, revistas e bibliotecas. Considerados esses fatos, e para poder planejar algum tipo de intervenção didática, é importante que os professores das disciplinas da área das Ciências Humanas conheçam as principais competências de leitura esperadas do aluno, que precisa ter acesso a textos em prosa sobre assuntos polêmicos, reflexivos, complexos e abstratos, como os textos de História, Geografia, Filosofia e Sociologia. Entre essas competências, temos:

a) saber localizar informações explícitas: o professor de Ensino Médio não precisa se preocupar demais com esta competência, pois é a mais exercitada pelo professor, pelo livro didático, e a mais básica de todas as competências; muitas vezes o aluno aparenta entender, porque suas respostas exigem apenas que reconheça palavras semelhantes na pergunta e no texto, como no exemplo a seguir:

Texto5: “... o endeusamento de rótulos representa extraordinária vitória ideológica do capitalismo”. Pergunta: O que representa o endeusamento de rótulos? Resposta: Representa extraordinária vitória ideológica do capitalismo. b) inferir nas entrelinhas: é a capacidade menos visada, a julgar pelo número de perguntas que demandam inferência no livro didático, e a mais importante para a formação do leitor independente. A inferência é demonstrada quando o aluno consegue tirar conclusões e perceber intenções, e é praticada quando são feitas perguntas precedidas pelas palavras como e por que: “Por que, segundo o autor, o endeusamento de grifes representa uma vitória do capitalismo?”. A inferência também é praticada quando são feitas perguntas que demandam uma opinião baseada na leitura do texto: “Você concorda com a opinião do autor de que o endeusamento de grifes representa uma vitória do capitalismo? Justifique”.

c) usar elementos não verbais, como gráficos, tabelas e figuras, para compreender o texto: hoje os textos são multimodais, ou seja, recorrem a mais de uma modalidade: além de fotos, mapas, gráficos, ilustrações, tabelas, esquemas, infográficos, há diversos elementos gráficos, como tipografia, diagramação, cor, tamanho das fontes. O uso de todos esses recursos tem uma função, um sentido, e, na maioria das vezes, torna a leitura mais dinâmica. O livro didático pode ter um papel essencial nesse entendimento e o professor pode 5

SINGER, André. Ostentação. Folha de S.Paulo, 16 fev. 2013. p. 2.

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explorar essa leitura no próprio material; por isso é importante dirigir o olhar do aluno para sua organização: capítulos, geralmente subdivididos em tópicos e subtópicos bem destacados por cores, tamanho das letras, posição na página, etc.

d) estabelecer relações e comparar dados: trata-se de uma das competências mais importantes na leitura crítica, geralmente pouco praticada em sala de aula, que abrange saber distinguir causas de consequências e fatos de opiniões relativas a ele; reconhecer diferenças no tratamento dado ao mesmo tema em dois textos diferentes; tirar conclusões. Para desenvolver tal competência, o aluno deve ser capaz de perceber detalhes, como a seleção de vocabulário e os tipos de exemplos usados, e o professor pode ajudá-lo fazendo perguntas sobre esses aspectos. e) identificar o tema de um texto expositivo ou informativo: essa competência envolve também perceber as marcas que o autor e seus editores vão deixando nos títulos e subtítulos e na repetição de palavras, a fim de indicar que uma informação é mais importante do que outras, que é o tema ao qual as demais estão relacionadas. Chamar a atenção para o título e pedir hipóteses sobre o tema com base nele ou em uma ilustração são estratégias que podem ajudar o aluno nessa percepção. Por exemplo: há na primeira página do jornal uma chamada para o texto de opinião já mencionado, que se intitula “Autêntico, funk expõe vitória do capitalismo”. Logo em seguida, repete-se a frase sobre a vitória do capitalismo, citando – e portanto destacando – um trecho do texto de opinião: “Mas é mister observar que o endeusamento de rótulos representa extraordinária vitória ideológica do capitalismo”. Quando finalmente se lê o trecho no texto original, escondido no penúltimo parágrafo, parte do tema já foi repetida três vezes. Munidos desses conhecimentos, os alunos podem, de fato, ser orientados para a leitura de textos mais complexos das Ciências Humanas. Entretanto, para além desse saber, é importante destacar três princípios de caráter metodológico e didático, que devem ser levados em conta em relação à leitura:

1. Facilitação do texto Todos nós evitamos fazer aquilo que é desagradável e procuramos fazer o que nos dá prazer. Isso não é diferente quando se trata da leitura. Quando o aluno tem dificuldade para compreender a língua escrita, a atividade de leitura se torna desagradável. Dessa forma, se não existe alguém para orientá-lo, são poucos os que insistem nessa atividade, principalmente se não conhecem as vantagens e satisfações que a aprendizagem trará no futuro.

Acontece que, como em toda prática, quanto mais se lê, mais fácil vai ficando a atividade. O aluno que lê muito pouco desiste assim que encontra as primeiras dificuldades. Ou seja, quem mais precisa praticar é quem menos o faz; no entanto, o único meio de melhorar é pela prática. Mas, se os alunos não leem bem aquilo de que não gostam, leem bem o que gostam. A chave consiste, portanto, em fazer com que a leitura exigida pela escola se torne uma atividade menos penosa e mais prazerosa. Tornar o contato com a leitura prazeroso exige a convivência contínua com professores que contagiem com seu entusiasmo por ela e com bibliotecários prestativos e generosos trabalhando em bibliotecas bem aparelhadas. Requer também acesso a um grande acervo: livros, revistas, jornais, hipertextos, inclusive os gêneros menos valorizados, como resumos ou versões condensadas, divulgações em revistas para adolescentes, histórias em quadrinhos, revistas noticiosas; enfim, textos mais acessíveis, que despertem uma curiosidade inicial e o desejo de ler. Embora os conteúdos a serem ensinados sejam importantes, o professor pode levar para a aula textos literários ou jornalísticos que têm ou tiveram papel importante no seu letramento e na sua formação. Pode levar textos dos quais ele mesmo gosta, para mostrar aos alunos seu gosto pela leitura, e deve demonstrar suas próprias estratégias de leitor, fazendo perguntas que requeiram pensar, modelando aquelas que ele próprio se faz antes de começar a ler e explicando para seus alunos o que lhe agradou ou chamou a atenção.

2. Flexibiliza•‹o do curr’culo Em áreas que se caracterizam pela presença forte de conteúdos estruturadores e pelo objetivo de engajamento social e atuante no mundo globalizado atual, a flexibilização do currículo é viável. Numa disciplina como a Geografia, por exemplo, se um determinado conceito, como o aprofundamento da noção de território brasileiro, esteja previsto para o terceiro bimestre da 2a série do Ensino Médio6, um acontecimento amplamente noticiado no primeiro bimestre que tem a ver com o território nacional deveria ser motivo para a alteração da ordem dos conteúdos ou para a substituição de um contexto de exemplificação por outro. Fatos que já são conhecidos dos alunos – seja qual for a mídia – tornam a aprendizagem dos conceitos abstratos mais fácil, porque o conhecimento prévio permite ancorar e estruturar o novo. Isso sem contar com as possibilidades de leituras interdisciplinares desses assuntos, o que também se constitui num elemento facilitador. Quase diariamente há acontecimentos notáveis que requerem simplesmente que o professor passe a acreditar que os conceitos de sua matéria (densidade demo6

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gráfica, por exemplo) e as práticas relevantes (como a leitura de mapas) possam ser ensinados – e, portanto, atingidos os objetivos do currículo – mesmo quando o foco no conteúdo determinado para esse período é momentaneamente mudado. No início de 2013, por exemplo, a presença francesa no Mali e a queda de um meteoro na Rússia foram eventos que ocuparam as manchetes dos jornais: os textos jornalísticos poderiam servir tanto para a introdução de conceitos abstratos quanto para o exercício de habilidades consideradas importantes na disciplina, como desenvolver “a capacidade de associar padrões de desenvolvimento econômico e social às maneiras de realizar o controle preventivo de situações de risco naturais” ou “identificar elementos histórico-geográficos que expliquem o desencadeamento de conflitos étnico-culturais no mundo contemporâneo; ou a expansão do islamismo na África” 7. Isso tudo é possível desde que a flexibilização do currículo passe a se constituir em um princípio didático valorizado. Quando um acontecimento noticiado na mídia passa a ter um lugar central na aula, o aluno entra em contato, via leitura, com outras histórias que provavelmente terão muito mais chance de mudar sua forma de pensar sobre o próprio mundo e que ilustram muito melhor do que qualquer texto científico os conceitos de globalização e de transformação do espaço geográfico decorrentes das novas tecnologias de comunicação. Isso porque na grande maioria das vezes os alunos só têm contato com esses textos científicos na escola, enquanto que um acontecimento noticiado mundialmente está mais próximo de sua realidade. Caberia, portanto, ao professor, nesse caso, mostrar aos alunos a relação entre o conceito abstrato encontrado no texto do livro e os fatos vividos pela sociedade, estejam eles apresentados em jornais, músicas, novelas, filmes. Trata-se simplesmente de não descartar aquilo que o aluno já conhece e que pertence a uma cultura de massa não valorizada pela escola.

3. (Re)contextualização situada Esse princípio está ligado ao de flexibilidade, uma vez que somente um currículo mais flexível permite a (re)contextualização situada de conceitos e princípios básicos de uma determinada disciplina. O princípio envolve a abordagem de conceitos que são diretamente relevantes para a situação social do aluno, o que envolve, necessariamente, uma recontextualização de conceitos abstratos para a vida social. Em relação a uma disciplina como a Sociologia, por exemplo, cujo princípio estruturador é uma atitude metodológica – de estranhamento e desnaturalização do fato social – mais do que um conjunto de conteúdos8, o caráter especial do olhar sociológico, seletivo, distante, que refra-

SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Currículo do Estado de São Paulo: Ciências Humanas e suas tecnologias. Secretaria da Educação; coordenação geral: Maria Inês Fini; coordenação de área: Paulo Miceli. São Paulo: SEE, 2010. p. 102. (3o bimestre, 1a série do Ensino Médio). op. cit., p. 110 (2o bimestre, 3a série do Ensino Médio). op. cit., p. 135. Manual do Professor

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ta a realidade observada9, pode ser desenvolvido se o aluno, mesmo aquele com dificuldades de leitura, puder construir um olhar comparativo tomando como um dos pontos de comparação fatos vivenciados, relevantes para seu próprio contexto e situação. Tais fatos, novamente, são recorrentemente encontrados em matérias jornalísticas sobre fenômenos sociais conhecidos dos alunos, mas que ele ainda não observou pelo prisma do olhar sociológico. Um exemplo disso é o texto de opinião já citado, sobre o funk “Ostentação”, um canto falado que, em lugar de fazer denúncia social (como o rap), “exalta o poder de consumo que chegou às camadas de menor renda nos últimos anos” 10. Conteúdos como “cultura, consumo, consumismo e comunicação de massa” ou “construção da identidade pelos jovens” 11, que têm por finalidade levar o adolescente a compreender as formas em que “os jovens se relacionam com a sociedade de consumo e a produção de cultura”12, podem partir do processo de desnaturalização da prática de consumo que o referido texto de opinião (ou qualquer outro sobre a cultura juvenil local) promove, e a relação crítica do jovem pode ser desenvolvida tanto em relação a esse fenômeno cultural da periferia quanto à atitude da elite brasileira ao lamentar a perda de valores que outros grupos sociais jamais

demonstraram. O estranhamento advindo da reflexão crítica será o prisma usado na leitura, qualquer que seja a opinião do aluno, e o instrumento pelo qual será atingido será um texto jornalístico, atual, contextualizado e que permite o reposicionamento do próprio aluno. Com base nos três princípios discutidos – facilitação do texto, flexibilização do currículo e (re)contextualização situada –, o professor das disciplinas de Ciências Humanas pode fazer uso dos enormes acervos à nossa disposição, graças às novas mídias e tecnologias, até encontrar o texto e o tema que terão grande apelo com o aluno e o motivarão a fazer mais leituras, aumentando suas chances de se tornar mais um leitor à vontade com as múltiplas práticas letradas. Pelo fato de ser leitor proficiente, muitas habilidades leitoras parecem óbvias para o professor, como se fossem naturais a qualquer ser humano. Entender o sumário, o índice remissivo e o funcionamento do livro didático, por exemplo, e falar sobre a importância da leitura das imagens para a construção do sentido do texto não são estratégias óbvias para o aluno que ainda tem dificuldades para compreender o que lê, mas podem, mesmo que tardiamente, ser aprendidas e exercitadas, especialmente com textos relevantes para a área e para a vida social do aluno.

3 Materiais didáticos digitais Ismar Frango Silveira Coordenador da CEIE – Comissão Especial de Informática na Educação SBC – Sociedade Brasileira de Computação

Desde tempos remotos, o ser humano tem se defrontado com a necessidade de criar ferramentas com propósitos diversos, sendo o principal deles, possivelmente, o de facilitar a sua vida. Os computadores, essas valiosas ferramentas do nosso tempo, tão presentes e necessários no nosso dia a dia, não parecem ter a mesma presença no cotidiano das escolas, apesar de todo o seu potencial. Sabemos que as escolas brasileiras enfrentam muitos problemas, para cuja resolução a ação do professor é fundamental. E isso se aplica também ao uso efetivo de computadores no ensino. Não se trata de nós, professores, ensinarmos nossos alunos a usar os computadores, a navegar na internet ou a usar aplicativos – como editores de texto ou planilhas. Isso eles já sabem (melhor que nós, geralmente) ou podem aprender de maneira autônoma, sem a nossa 9

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ajuda. Lembremos que nossos alunos são o que se convencionou chamar de nativos digitais – crianças e adolescentes que nasceram em um mundo imerso em tecnologia. Mesmo que – por condições sociais, geográficas ou culturais – esses alunos não tenham pleno acesso a computadores e internet em suas casas, o mundo no qual eles vivem propicia uma série de oportunidades para que tenham contato com a tecnologia e para que esta venha a fazer parte de suas vidas, como aconteceu com o rádio e a TV para outras gerações. Grande parte de nós, professores, pertence ao grupo que se denomina imigrantes digitais – nascemos em uma época em que os computadores não eram onipresentes e tivemos contato com essas tecnologias depois do nosso processo de letramento. De maneira similar a pessoas que imigram para outro país, po-

Caracterização do antropólogo Roberto Cardoso de Oliveira, segundo SARANDY, Flávio M. Silva. Reflexões acerca do sentido da sociologia no Ensino Médio. Revista Espaço Acadêmico, ano I, n. 5, out. 2001. Disponível em: . Acesso em: 24 fev. 2013. SINGER, André. Ostentação. Folha de S.Paulo, 16 fev. 2013. p. 2. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Currículo do Estado de São Paulo: Ciências Humanas e suas tecnologias. Secretaria da Educação; coordenação geral: Maria Inês Fini; coordenação de área: Paulo Miceli. São Paulo: SEE, 2010. p. 144. (2o bimestre, 2a série do Ensino Médio). op. cit., p. 144 (2o bimestre, 2a série do Ensino Médio).

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Manual do Professor

demos até dominar a “linguagem” do mundo digital, mas, para nós, ela não é nativa. E o que esperam os nativos digitais de nós, imigrantes digitais, como seus professores? Na verdade, o que sempre esperaram: que os ensinemos dentro de nossas áreas de conhecimento, mas preferencialmente na “linguagem” que lhes é familiar. E de que maneira podemos nos comunicar nessa “linguagem” que não é familiar – e por vezes, nem mesmo amigável – para muitos de nós? Questões que logo nos vêm à mente são: para que fazer isso? Por que razões utilizar computadores em sala de aula? Podemos listar algumas das (muitas) razões: • Motivação: o uso de computadores em si não garante uma motivação maior dos alunos. Esse uso deve ser cuidadosamente planejado e estar em sincronia com as demais atividades da disciplina. Em outras palavras, levar os alunos para a sala de computadores para atividades genéricas, sem foco, como “fazer pesquisas na internet”, costuma ter pouca ou nenhuma eficácia. Entretanto, o uso de computadores com objetivos bem claros e diretamente associados aos tópicos do plano de ensino tende a ser uma atividade motivadora e com um bom potencial de impacto no aprendizado dos alunos. • Novas possibilidades de experimentos: há muitos casos de atividades que requerem recursos específicos (como laboratórios de experimentos) ou que trazem algum tipo de risco (é o caso de algumas atividades de Química e Biologia, por exemplo) e que poderiam ser realizadas com simuladores virtuais, com segurança e sem custo. Há ainda atividades que não poderiam ser executadas em condições normais, para as quais distintas ferramentas computacionais podem ser usadas. • Aprendizagem autônoma: os alunos podem desenvolver atividades fora do horário de aula com as ferramentas aprendidas com o professor, ou mesmo outras ferramentas buscadas e encontradas por eles na internet. Dessa maneira, os recursos digitais trazem um conjunto de novas possibilidades ao professor por proporcionar situações didáticas diferenciadas, que, de outro modo, não poderiam ser implementadas em sala de aula. Tais recursos não vêm substituir o material didático tradicional: muito pelo contrário, sua função é complementar o material já comumente utilizado pelo professor, ampliando as possibilidades do fazer docente. E que recursos existem para ser usados? Há vários tipos de recursos, cada um com uma série de possibilidades didáticas. O Ministério da Educação entende por recursos digitais “vídeos, imagens, áudios, textos, gráficos, tabelas, tutoriais, aplicações, mapas, jogos educacionais, animações, infográficos, páginas web e outros elementos”. Eles podem ser assim classificados: • Livros digitais ou e-books: são versões digitais de livros em papel ou de obras completas pensadas para o formato digital. Podem ser estáticos (como os livros em

papel, contêm textos e imagens) ou dinâmicos (podem incluir vídeos, animações, simulações ou qualquer outro conteúdo dito multimídia – ou seja, que agrega várias “mídias” ou formas de representação da informação). • Softwares educacionais: são programas de computador feitos especificamente para fins educacionais. Em sua maioria, necessitam de instalação nos computadores (o que não é – ou não deveria ser – exatamente um problema), mas muitos são planejados para utilização sob orientação do professor, visando um resultado de aprendizagem mais efetivo. Um exemplo gratuito desses softwares é o GeoGebra (para aprendizagem de Matemática; ). • Objetos de aprendizagem: na prática, correspondem a todo e qualquer elemento digital que possa ser usado e reutilizado em situações de aprendizagem – de um texto em PDF ou um conjunto de slides a um simulador virtual, incluindo nessa definição também animações, vídeos, jogos digitais e outros tipos de recursos. Apesar de vários desses objetos serem encontrados de maneira simples por meio de buscadores da internet, existem repositórios deles, que fornecem mais informações (chamadas “metadados”) sobre cada um, como autores, público-alvo, sugestões de uso, etc. Em âmbito nacional, o MEC mantém o Banco Internacional de Objetos Educacionais (BIOE; ), vasto repositório com grande variedade de objetos de aprendizagem. • Recursos educacionais abertos: seguem a mesma linha dos objetos de aprendizagem, com a ressalva de que os elementos, além de utilizados e reutilizados, podem também ser modificados e adaptados livremente. O site traz uma série de informações a respeito. Porém, que tipos de computadores são necessários para trabalhar com esses elementos? Muitos deles encontram-se disponíveis para uma variedade de dispositivos, desde computadores desktop (de mesa) e notebooks, a até mesmo tablets e smartphones. Já alguns softwares educativos apresentam algumas exigências técnicas para instalação (tipo específico de sistema operacional, quantidade mínima de memória no computador, etc.), enquanto alguns objetos de aprendizagem necessitam que determinados plugins (programas adicionais) estejam instalados. Equipamentos e programas, entretanto, nada mais são do que ferramentas. E, como foi dito no início deste texto, ferramentas são criadas com o intuito de facilitar o nosso dia a dia. Assim, mais importantes que as ferramentas, são as pessoas que vão utilizá-las: os professores dispostos a ressignificar o seu papel como formadores de cidadãos plenamente aptos a tirar proveito das tecnologias de nosso tempo; e os alunos, que poderão manejá-los como veículos de informação, interação social, entretenimento e aprimoramento intelectual. Manual do Professor

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Observações, sugestões e resolução dos exercícios deste volume 8

Atividades integradoras de Ciências Humanas

Nesta seção, propomos projetos interdisciplinares com as disciplinas que compõem a área de conhecimento Ciências Humanas e suas tecnologias, que podem ser realizadas como tarefa extraclasse.

1. Adeus, L•nin! – Alemanha, a difícil reunificação Atividade relacionada aos Cap’tulos 4 e 8.

Introdução Em 1989, a senhora Kerner passa mal e fica em estado de coma por um período. Esse não seria um acontecimento que devesse chamar a atenção, não fosse o fato de ele ter ocorrido na Alemanha oriental poucos dias antes da queda do Muro de Berlim. Quando a senhora Kerner desperta, já em meados do ano seguinte, a sua cidade, Berlim oriental, e o país como um todo estão sensivelmente transformados. Preocupado com a frágil saúde de sua mãe, Alexander decide esconder-lhe os acontecimentos do último ano, contando com a ajuda da namorada e de um amigo editor de vídeos. Esse amigo se encarrega de produzir noticiários de TV, simulando situações anteriores às grandes mudanças que estavam em curso. Esse é o tema do filme Adeus, Lênin!, dirigido por Wolfgang Becker e lançado em 2003. Com base nos Capítulos 4 e 8, uma sequência de atividades que propõem a an‡lise do filme permite o estabelecimento de conexões entre a Geografia e a História, analisando os acontecimentos que precipitaram a queda do Muro de Berlim, símbolo maior do desmoronamento dos regimes de economia planificada do Leste Europeu, e propiciaram a reunificação alemã – não sem conflitos e contradições.

Objetivos • Compreender e analisar o significado da derrocada do “socialismo real” no Leste Europeu, no quadro das relações econômicas e geopolíticas do mundo contemporâneo.

• Reconhecer, comparar e analisar aspectos econômicos, sociais, políticos e culturais das economias capitalistas e dos regimes de economia planificada. 314

Manual do Professor

• Desenvolver procedimentos de análise de obras cinematográficas, considerando seus conteúdos e processos histórico-geográficos.

• Desenvolver procedimentos de coleta, seleção e organização de dados e de informações em diferentes fontes de pesquisa e consulta.

• Desvendar processos de manipulação das informações em diferentes momentos históricos e níveis sociais. Por exemplo: antes do marco da queda do Muro de Berlim, o Estado alemão oriental manipulava as informações buscando manter o regime comunista; por outro lado, após seu fim, o filho da senhora Kerner manipulava as informações tentando esconder dela a derrocada do regime.

Conteúdos Alemanha (política, economia, sociedade e cultura) – reunificação alemã – Muro de Berlim – Guerra Fria – economia capitalista – economia planificada – socialismo real.

Tempo estimado Quatro a cinco aulas.

Desenvolvimento das atividades • Com o professor de História, converse com os alunos sobre a proposta de trabalho deste projeto. Fale sobre seu planejamento, incluindo os meios de execução, os prazos e os cronogramas, adaptando-o aos interesses dos alunos. É recomendável reservar um tempo e um espaço adequados para o trabalho e verificar a disponibilidade de equipamentos necessários à sua realização.

• Assista ao filme com o professor de História pelo menos uma vez antes de iniciar o trabalho com os alunos. Procurem extrair dele todas as informações e questões pertinentes e anotem o que mais lhes chamou a atenção, assim como as suas impressões sobre o enredo, os personagens, os ritmos, as situações, a estrutura narrativa, etc.

• Procure ter em mãos a ficha técnica do filme: título, diretor, elenco, produtor, duração, contexto de produção, núcleo da trama e outras informações que julgue importantes.

• Inicie o trabalho em sala de aula explorando aspectos relacionados aos contextos e à ambientação do filme: cenários, paisagens, cidades que são palco dos acontecimentos, objetos e aspectos dos modos de vida. Faça uma lista dos elementos que caracterizavam a vida na antiga Alemanha oriental: a onipresente dificuldade para expressar opiniões sobre o regime, a paisagem urbana, os objetos das casas, as condições das edificações e dos espaços públicos, o abastecimento de bens, os veículos, as expectativas diante das mudanças em curso, etc.

• Prepare os alunos antes da exibição do filme. Isso pode ser feito, primeiramente, com a exposição do título. Questione-os se já conhecem a obra ou se já ouviram falar dela, se imaginam do que ela trata, etc. Essa preparação os auxiliará na formulação de indagações e hipóteses, que poderão ser confirmadas ou não.

• Alguns procedimentos adotados também podem ser propostos aos alunos, como a montagem de uma ficha técnica do filme e o registro de impressões pessoais. Esse registro pode ser feito durante a exibição do filme ou logo após. Um roteiro prévio pode auxiliá-los nessa tarefa.

• Auxilie os alunos durante as anotações de cenas e contextos importantes e peça-lhes que estabeleçam relações entre a obra apresentada e os temas e conceitos em estudo. Isso os ajudará a elucidar fenômenos, compreender contextos históricos, relacionar acontecimentos e seus atores. Caso julgue necessário, durante a exibição do filme podem ser feitas algumas paradas ou o retorno a cenas anteriores para esclarecimentos de informações e de possíveis dúvidas.

• Após a exibição do filme, é importante que os professores estejam à disposição dos alunos para conversas, debates e esclarecimentos. Em seguida, peça a eles que organizem seus registros e, com base neles, elaborem uma dissertação individual sobre o tema.

2. Globalização e empresas transnacionais Atividade relacionada aos Cap’tulos 2 e 6.

Introdução Cada vez mais a globalização vem se destacando em sua face econômica pela atuação das companhias globais. São empresas transnacionais que, em busca da maximização dos lucros, passam a atuar no espaço geográfico mundial, ultrapassando o âmbito estatal ou nacional e valendo-se de estratégias como a obtenção de

Avaliação Examine com atenção os textos escritos pelos alunos e a participação de cada um deles nos momentos de debate. Verifique o domínio de conceitos, noções e processos em questão, bem como na elaboração de um texto dissertativo. Reserve um tempo para que a turma avalie a proposta e recomende outras obras que tratam do mesmo tema.

Bibliografia para o professor HOBSBAWM, E. Era dos extremos: o breve século XX, 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. KURZ, R. O retorno do Potemkin: capitalismo de fachada e conflito distributivo na Alemanha. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.

MORAN, J. M. O vídeo na sala de aula. Comunicação & Educação. São Paulo: ECA/Moderna, [2]: 27 a 35, jan./abr. 1995. Disponível em: . Acesso em: 11 mar. 2016.

NAPOLITANO, M. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2003. Veja resenha desse livro disponível em: . Acesso em: 11 mar. 2016.

Indicações de fontes para o aluno MAGNOLI, D. O mundo contemporâneo. 3. ed. São Paulo: Atual Editora, 2013.

NATIONAL GEOGRAPHIC. O muro, ano 7, n. 86, maio 2007. p. 98-123. SMITH, D. Atlas dos conflitos mundiais. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007. _. Atlas da situação mundial. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007.

benefícios e isenções fiscais, a deslocalização de suas unidades produtivas e de alguns serviços (pesquisa, publicidade, marketing, vendas) e a organização em redes geográficas. Trata-se de um tema de interesse para a Geografia e a História, uma vez que corresponde a uma reorganização espacial das bases produtivas do capitalismo e uma nova fase da “mundialização”, que tem lugar na atual etapa informacional – um meio técnico-científico marcado pelos extraordinários avanços tecnológicos nos sistemas de telecomunicações, informações e transportes. Como assinala o historiador Eric Hobsbawm (1917-2012), trata-se de um processo cuja ênfase principal está nas esferas dos transportes, das Manual do Professor

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tecnologias e da economia, oferecendo limites ao poder estatal. A proposta de uma sequência de atividades prevê a leitura e interpretação de representações cartográficas dos fenômenos citados.

Objetivos • Compreender os processos de constituição da globalização como nova escala de relações humanas e avaliar seus efeitos.

• Reconhecer e analisar o papel das empresas transnacionais como principais atores da globalização, avaliando seus objetivos e suas estratégias locacionais.

• Ler e interpretar informações representadas em mapas, plantas e cartas em diferentes escalas.

• Ler, interpretar e produzir textos de diferentes gêneros. • Desenvolver procedimentos de coleta, seleção, organização e análise de dados e informações em diferentes fontes de pesquisa e consulta.

Conteúdos Globalização – Estado nacional – empresa transnacional – capitalismo informacional – território – rede geográfica – meio técnico-científico-informacional – escala geográfica – produção industrial.

Tempo estimado Quatro a cinco aulas.

Desenvolvimento das atividades • Converse com os alunos sobre a proposta de trabalho deste projeto. Exponha seu planejamento, incluindo os meios de execução, os prazos e os cronogramas, adaptando-o às necessidades e aos conhecimentos prévios dos alunos. É recomendável reservar um tempo e um espaço adequados para o trabalho e verificar a disponibilidade de equipamentos necessários à sua realização.

• Em um primeiro momento, converse com os alunos sobre o que já sabem ou pensam a respeito do assunto. Discorra sobre o papel das empresas, do Estado e das novas tecnologias de informação e comunicação na constituição dessa nova escala de relações humanas. Se necessário, apresente textos para leitura e peça aos alunos que comparem os elementos desse novo período com os anteriores, como o da internacionalização da produção econômica capitalista (veja o item Indicações de fontes para o aluno).

• Peça aos alunos que examinem a distribuição mundial das atividades da montadora de automóveis Toyota (ver

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mapa na página 147 do livro do aluno) e da cadeia de lanchonetes McDonald’s (há um mapa na página 63 do Atlas da mundialização; ver indicação na Bibliografia para o professor), que são alguns exemplos de corporações globais. Com base nos mapas, os alunos deverão identificar as unidades de pesquisa, produção, vendas e serviços, sua expansão e seus principais fluxos econômicos. Solicite a eles que organizem as conclusões em um relatório parcial.

• Proponha uma pesquisa na internet sobre a instalação de empresas transnacionais no período recente no Brasil, em especial montadoras de veículos. Peça aos alunos que levantem dados sobre as concessões de benefícios e isenções fiscais concedidas às empresas, e as eventuais contrapartidas sociais, como o número de empregos criados e a dinamização da economia local. Essa pesquisa pode ser desenvolvida na escola ou em casa.

Avaliação Considere a participação de cada aluno nos momentos individuais e coletivos e analise a produção de textos de acordo com os objetivos propostos, articulados ao tema de estudo do capítulo e da Unidade.

Bibliografia para o professor CASTELLS, M. A sociedade em rede. 7. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003. (A era da informação: economia, sociedade e cultura, 1). DURAND, M.-F. et al. Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009. HAESBAERT, R. Territórios alternativos. Niterói: Eduff; São Paulo: Contexto, 2002.

HOBSBAWM, E. O novo século: entrevista a Antonio Polito. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2001. _____; SILVEIRA, M. L.; SOUZA, M. A. (Org.). Território, globalização e fragmentação. São Paulo: Hucitec, 1996.

Indicações de fontes para o aluno ATELIER de Cartographie Sciences Po (em francês). Disponível em: . Acesso em: 11 mar. 2016. DURAND, M.-F. et al. Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009. SIMIELLI, M. E. Geoatlas. 34. ed. São Paulo: Ática, 2013.

3. As sociedades de controle no capitalismo informacional-global Atividade relacionada aos Cap’tulos 1 e 2.

Introdução Dentre as diversas possibilidades de investigação que o estudo do chamado capitalismo informacional-global oferece no campo da Filosofia, propomos uma reflexão sobre o que se denomina sociedades de controle. Esse projeto interdisciplinar envolve a Geografia e a Filosofia e tem como principal objetivo conceituar essa expressão e refletir sobre alguns de seus desdobramentos. Essa reflexão será importante nos trabalhos dos dois capítulos iniciais. O filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) fez um estudo das relações de poder nas sociedades. Para ele, as sociedades disciplinares se constituem entre os séculos XVIII e XIX, tendo seu apogeu no século XX. Trata-se da invenção de instituições de confinamento, como a escola, o hospital, o exército, a prisão, o manicômio e a fábrica. Segundo Foucault, ao frequentar essas instituições sucessivamente, os seres humanos são paulatinamente sujeitados a uma sequência de confinamentos, da família para escola, da escola para a fábrica, etc. No disciplinamento, os corpos são controlados, o espaço e o tempo são predeterminados, assim como os ritmos, os movimentos e os desejos. Parte da diferenciação da vida, da possibilidade de criação, é neutralizada, sendo subordinada à reprodução, aos moldes. Para o também filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995), hoje, além dessa modelação dos indivíduos, resultado direto das diversas formas de disciplina institucionais, estende-se a uma modelação dos fluxos de crenças e desejos, o que equivale a dizer, um guia dado previamente às ações dos indivíduos. Rotas predeterminadas, agora com GPS, não mais estimulam a criação de possíveis caminhos quaisquer; os desejos são moldados pelo marketing, os ideais seguem modas, os indivíduos embarcam em ondas sem nenhuma reflexão. Há rotas predeterminadas para a forma de pensar, que também é monitorada eletronicamente. Nas chamadas sociedades de controle, não se trata mais apenas de disciplinar os corpos em espaço fechado, mas de controlar a céu aberto, “animal numa reserva, homem numa empresa (coleira eletrônica)” (DELEUZE, 1992. p. 224). A capacidade de criação, característica dos seres humanos, é subestimada; os mundos possíveis são antecipados e apresentados de forma controlada. É evidente que as instituições e os pensamentos disciplinares não foram deixados de lado: até hoje existe a escola, a fábrica, etc. O que acontece é que a essas instituições foram somadas tecnologias de subordinação do espaço ao tempo. “Nas sociedades de controle, as relações de poder se expressam pela ação a

distância de uma mente sobre a outra, pela capacidade de afetar e ser afetado dos cérebros, midiatizada e enriquecida pela tecnologia.” (LAZZARATO, 2006. p. 76). Essa atualização das sociedades disciplinares em sociedades de controle só foi possível a partir da Segunda Guerra, por causa do desenvolvimento tecnológico, com o advento da Terceira Revolução Industrial, que se intensificou a cada dia a partir dos anos 1970. Com a invenção da internet, o barateamento dos aparelhos eletrônicos e o sucessivo desenvolvimento de novas tecnologias, vemos hoje o uso efetivo de aparatos tecnológicos na sociedade. Esses aparelhos, cada dia menores (mini, micro, nano) e mais complexos, são capazes de alterar e transformar as relações das pessoas. O controle opera não mais por meio do confinamento, como nas sociedades disciplinares, mas pela comunicação instantânea, mediada pelas mídias, pela colaboração entre os cérebros. “Os indivíduos tornaram-se ‘dividuais’, divisíveis, e as massas tornaram-se amostras, dados, mercados ou ‘bancos’” (DELEUZE, 1992. p. 222).

Objetivos • Levar à compreensão do papel e da importância da discussão sobre a sociedade de controle na atual fase do capitalismo marcado pela revolução informacional.

• Tornar complexa e crítica a compreensão do assunto tratado, por meio do estudo de conceitos filosóficos, tais como sociedade de controle e sociedade disciplinar.

• Relacionar os estudos geográficos sobre mundo contemporâneo, economia, geopolítica e sociedade a uma reflexão filosófica sobre a responsabilidade de cada indivíduo e de suas decisões cotidianas, aproximando o estudo escolar à esfera individual de ação dos alunos.

• Desenvolver conhecimento e prática de procedimentos para coletar, selecionar e sintetizar dados em diferentes fontes de pesquisa.

• Desenvolver a capacidade de articular ideias e de se expressar em público com coerência e clareza, assim como de trabalhar colaborativamente numa equipe.

• Trabalhar com dois gêneros textuais: relatório, para registrar a trajetória do desenvolvimento do trabalho, e texto-síntese, para organizar as respostas das reflexões suscitadas.

Conteúdos Sociedades de controle – sociedades disciplinares – relações de poder – capacidade de criação como característica dos seres humanos e ausência de pensamento crítico na sociedade atual – capitalismo informacional.

Tempo estimado Quatro a cinco aulas. Manual do Professor

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Desenvolvimento das atividades • Explique aos alunos a proposta de trabalho deste projeto. Discorra sobre seu planejamento, incluindo os meios de execução, os prazos e os cronogramas, adaptando-o aos interesses e aos conhecimentos prévios dos alunos.

• Introduza esta atividade expondo aos alunos a importância de se pensar sobre as vantagens e desvantagens do uso das tecnologias disponíveis hoje, no capitalismo informacional. Nesta primeira etapa, de sensibilização para o tema a ser estudado, proponha aos alunos que se dividam em grupos e dê a cada um deles um dos textos a seguir. Eles foram escritos para esta atividade com base em propagandas e notícias reais.

Bebê feliz Berçário e escola de educação infantil com monitoramento.

Acompanhamento on-line: Considerando o ritmo acelerado da vida moderna, o excesso de trabalho e a falta de tempo, oferecemos o serviço de monitoramen‑ to on‑line, por meio de câmeras espalhadas por todos os ambientes da escola. Os pais podem acessar as ima‑ gens em tempo real para acompanhar o dia a dia de seu filho, como se estivessem com ele. Refeição sob medida: O cardápio é elaborado sema‑ nalmente por uma nutricionista, que utiliza a alimen‑ tação como ferramenta pedagógica, explorando as co‑ res, texturas, sabores e cheiros. A alimentação é desenvolvida em nossa própria cozinha, com ingredien‑ tes de procedência conhecida e de acordo com a faixa etária da criança. Participação da família: Acreditando que não há nada mais importante para a criança que o convívio e a relação com a família, trabalhamos numa política de portas aber‑ tas. Além do monitoramento on-line, os familiares contam com facilidades como relatórios e reuniões, que auxiliam em sua participação na educação das crianças. Horário personalizado: Quem define os horários de entrada e de saída das crianças são os pais e, por isso, a mensalidade do Bebê Feliz é calculada conforme suas necessidades. Segurança: Somente os pais ou responsáveis cadas‑ trados no ato da matrícula e previamente conhecidos poderão retirar a criança. Contamos também com o serviço de câmeras externas na entrada do berçário e na fachada do prédio, o que nos permite acompanhar toda a movimentação nas proximidades da escola.

Câmera flagra mulher achando carteira e dando dinheiro aos filhos A mãe distribui conteúdo assim que encontra per‑ tence. Dono da carteira afirma que havia pelo menos R$ 800,00 em vales e dinheiro. 318

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As câmeras de segurança de uma loja no centro co‑ mercial de uma grande cidade flagraram o momento em que uma mulher encontra uma carteira perdida no chão e distribui o dinheiro entre os filhos, para que gas‑ tem em presentes. A carteira pertence a um consumidor que estava fazendo compras com a esposa e, na pressa de colocar os produtos no carro em um dia de chuva, deixou o ob‑ jeto cair. Nas imagens da câmera de segurança, é possível ver que a mulher abre a carteira e imediatamente distribui o conteúdo entre os seus dois filhos. Segundo o dono da carteira, havia R$ 200,00 em dinheiro e R$ 600,00 em cartões de presente. Para ele, o que realmente cha‑ teia nessa situação é que se trata de um adulto fazendo isso, servindo de mau exemplo para as crianças. As imagens foram entregues ao dono da carteira, e a família pediu que qualquer informação a respeito da mulher seja encaminhada à polícia.

Câmeras de segurança começam a funcionar em município do interior de Minas Gerais Ao todo, 24 equipamentos monitoram vários pontos do município. Imagens são vistas em tempo real pela Guarda Municipal. Os equipamentos foram instalados para fazer a se‑ gurança no município e estão distribuídos em vários pontos, principalmente no centro. A implantação das câmeras no município aconte‑ ceu após sete anos de estudos. A vigilância é feita 24 horas e todas as imagens são vistas em tempo real pelos guardas municipais na central de monitoramen‑ to. Além de prevenir os crimes que estejam prestes a acontecer, a ideia é ajudar também na localização de criminosos. Todas as imagens são gravadas e arquiva‑ das pela Guarda Municipal. A implantação teve custo de R$ 1 milhão.

Câmeras de empresa de transportes de Belo Horizonte estão disponíveis no site Imagens das câmeras que fornecem a um telejornal local a situação do trânsito, ao vivo, nas principais ruas e avenidas do centro da capital poderão ser vistas tam‑ bém pela internet. O site da principal empresa de transportes de BH passou a mostrar imagens das 22 câmeras do centro de controle operacional, que ficam principalmente na zona central do município. Segundo a empresa, as imagens são atualizadas minuto a minuto. Ainda de acordo com a empresa, estão sendo im‑ plantados painéis com mapas em abrigos de pontos de ônibus. Eles informam itinerários e quadro de horários das linhas. A instalação será gradativa e deve ser feita em 230 locais na zona central.

Caneta filmadora com bateria interna recarregável Imagine quantas coisas você poderá filmar sem ser percebido! Objeto mais do que útil para diversas situações do dia a dia: no trabalho, em casa, na rua! Compre agora! Incrível! Uma única caneta, três funções: caneta, pen-drive e câmera de vídeo, que filma imagens coloridas e com áudio. Dúvidas? Pergunta: Como faço para gravar? Resposta: Esta caneta é bem simples de usar. Apenas aperte o botão para gravar, depois aperte‑o novamente para parar de gravar. P: Como carrego a bateria? R: Basta você ligar a caneta no carregador e este na tomada ou na porta USB do seu computador. Ela demo‑ ra em torno de 2 horas para carregar completamente. P: Quanto tempo dura a bateria da caneta filmadora? R: A bateria dura em torno de 2 horas, ou seja, você fará uma gravação de até 2 horas. P: Qual é a resolução das canetas? R: A resolução é de 640 x 480 pixels. Essa resolução tem uma qualidade boa e permite identificar facilmen‑ te pessoas e objetos. P: Qual é a distância para se fazer a gravação? R: Para garantir a qualidade do áudio, recomenda‑se uma distância de até três metros. Para capturar a imagem com qualidade, o fabricante recomenda até doze metros. Em ambientes mais escuros, nossos clientes têm consegui‑ do fazer boas gravações a uma distância de até 5 metros.

Mulher é demitida por usar redes sociais durante licença médica Uma mulher foi demitida na Suíça por usar um site de relacionamentos depois de se ausentar do trabalho alegando estar muito doente para usar um computador. A mulher estava sofrendo de enxaqueca e disse aos seus chefes que precisava se deitar em um quarto escuro. A empresa disse que a descoberta de que ela estava usando o site enquanto deveria estar repousando des‑ truiu a confiança na funcionária e motivou sua demissão. A mulher, no entanto, afirmou a um jornal suíço que é inocente e que estava acessando a internet a partir de seu aparelho celular, deitada na cama. A funcionária disse, ainda, não acreditar na versão da empresa de que uma colega teria notado que ela estava usando o site de relacionamentos e acusa a em‑ presa de ter usado truques para espioná‑la. Segundo ela, a empresa criou um perfil fictício no site e se tornou “amigo” dela, para monitorar suas ati‑ vidades on-line.

Suas suspeitas se iniciaram quando o “amigo” sumiu de sua página repentinamente, depois que ela foi demitida. Mas a empresa afirma que seguiu uma lógica simples: de que aqueles que estão em condições de usar o site de relacionamentos enquanto sofrem de enxaqueca também estão em condições de trabalhar com enxaqueca. Esta não é a primeira vez que o site causa polêmica em locais de trabalho. Algumas empresas proibiram seu uso, enquanto outras demitiram funcionários por fazer comentários sobre o trabalho em suas páginas.

• Após a leitura dos textos propostos, distribua aos alunos as questões a seguir. Enfatize que se trata apenas de um roteiro de discussão e que essas questões não devem ser respondidas como um questionário. Elas devem estimular os alunos a discutir suas opiniões, eventualmente contrapondo com sua experiência pessoal, e a buscar argumentos para fundamentá-las. Nesse percurso devem trocar ideias, comparando suas crenças, investigando as origens de suas ideias, podendo reafirmá-las ou desistir delas, conforme demonstrem consistência insuficiente. 1. Quais são as vantagens que se podem apontar no uso do aparato eletrônico aqui relatado? Por quê? 2. Seria possível apontar algumas desvantagens desse uso? Quais? Por quê? 3. Pode-se afirmar que aquilo que é considerado questão de segurança para uns pode ser, ao mesmo tempo, ausência de privacidade para outros? Justifique. 4. Pode-se pensar que, em algumas situações, a tecnologia atenta contra a liberdade? Em que medida o monitoramento vira controle? Dê um exemplo e justifique.

• Acompanhe a realização das tarefas pelos grupos. É necessário orientar o trabalho colaborativo, investigativo e dialógico. Ajude os alunos a entender que não se trata de elaboração de respostas, mas de ampliação de pontos de vista por meio da busca de fundamentação das ideias que serão expostas e compartilhadas. Sendo assim, não se trata de busca de consenso, mas sim de uma investigação.

• Peça a cada grupo que faça um relatório da discussão referente ao texto, narrando o movimento do raciocínio que o grupo percorreu, os entraves, as idas e vindas, as questões que ficaram e como delinearam o problema ao qual chegaram.

• A etapa seguinte é de exposição e compartilhamento das experiências dos grupos. É importante não permitir a simples leitura do relatório feito. Os alunos devem expor os textos que receberam na atividade, pois são diferentes entre si, e devem narrar as dificuldades encontradas, suas discordâncias, os argumentos e as ideias que foram levantadas. É desejável que uns possam interferir na exposição dos outros, cotejando as experiências e comparando as ideias, pois, embora os textos sejam diferentes, a ideia a que se quer chegar é a mesma. O objetivo é que se faça Manual do Professor

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um grande diálogo sobre o assunto. Fique atento para organizar as falas de modo que seja uma atividade produtiva e não se disperse.

• Depois do trabalho de sensibilização para o tema e de problematização com a participação ativa dos alunos, é o momento de formalizar o estudo para esclarecer o conceito de sociedade de controle e torná-lo útil para o pensamento crítico deles em relação ao mundo.

• A seguir, disponibilizamos um texto do filósofo Rogério da Costa sobre sociedade de controle, que pode ser lido pelos alunos para que complementem e aprofundem suas visões sobre o tema discutido. Com o professor de Filosofia, certifique-se de que os alunos compreenderam os conceitos trabalhados. Se necessário, faça a leitura deste texto em conjunto, parando para elucidar as dúvidas que porventura surgirem.

Sociedade de controle Num artigo intitulado “Post-Scriptum sobre as Socie‑ dades de Controle”, o filósofo Gilles Deleuze (1990) indica‑ va alguns aspectos que poderiam distinguir uma socie‑ dade disciplinar de uma sociedade de controle. As sociedades disciplinares podem ser situadas num período que vai do século XVIII até a Segunda Grande Guerra, sendo que os anos da segunda metade do século XX es‑ tariam marcados por seu declínio e pela respectiva as‑ censão da sociedade de controle. Seguindo as análises de Michel Foucault, Deleuze percebe no enclausuramen‑ to a operação fundamental da sociedade disciplinar, com sua repartição do espaço em meios fechados (escolas, hospitais, indústrias, prisão...), e sua ordenação do tempo de trabalho. Ele chamou esses processos de moldagem, pois um mesmo molde fixo e definido poderia ser apli‑ cado às mais diversas formas sociais. Já a sociedade de controle seria marcada pela interpenetração dos espaços, por sua suposta ausência de limites definidos (a rede) e pela instauração de um tempo contínuo no qual os indi‑ víduos nunca conseguiriam terminar coisa nenhuma, pois estariam sempre enredados numa espécie de for‑ mação permanente, de dívida impagável, prisioneiros em campo aberto. O que haveria aqui, segundo Deleuze, seria uma espécie de modulação constante e universal que atravessaria e regularia as malhas do tecido social. Deleuze sugere ainda que as sociedades disciplina‑ res possuem dois polos, “a assinatura que indica o indivíduo, e o número de matrícula que indica sua posição numa massa”. Nas sociedades de controle, “o essencial não seria mais a assinatura nem um número, mas uma cifra: a cifra é uma senha [...] A linguagem digital do controle é feita de cifras, que marcam o acesso ou a recusa a uma informação” (Deleuze, 1990). COSTA, Rogério da. Sociedade de controle. São Paulo em perspectiva, v. 18, n. 1, Fundação Seade, São Paulo, jan./mar. 2004, p. 161-167.

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Manual do Professor

• Com base na leitura do texto anterior e nos trechos que retratam situações recorrentes em nossa sociedade, peça aos alunos que produzam um texto-síntese dando conta de responder às questões a seguir e a outras que possam lhes ter ocorrido durante a reflexão. Em seguida, peça a eles que troquem ideias com os colegas do grupo sobre suas conclusões: 1. Qual é a diferença mais importante entre sociedade disciplinar e sociedade de controle? Qual é a marca mais forte de uma e de outra? 2. A partir de quando se começa a falar em sociedade de controle? O que permitiu o seu surgimento? 3. Você consegue identificar características da sociedade de controle em seu dia a dia?

Avaliação A avaliação poderá ser feita por meio do texto-síntese sobre a distinção dos conceitos de sociedade de controle e disciplinar. O que é, suas características, exemplos, origem da denominação, condições que permitiram seu surgimento, etc. Assim será possível avaliar a precisão conceitual. Também é possível atribuir uma nota para a participação individual dos alunos no trabalho em grupo, baseando-se na observação durante os trabalhos. De qualquer modo, os critérios de avaliação devem sempre ser explicitados antes do início das atividades, para que os alunos conheçam os objetivos a serem buscados durante o desenvolvimento do estudo.

Bibliografia para o professor CASTELLS, M. A sociedade em rede. 7. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003. (A era da informação: economia, sociedade e cultura, 1). COSTA, R. da. Sociedade de controle. São Paulo em perspectiva, v. 18, n. 1, Fundação Seade, São Paulo, jan./mar. 2004, p. 161-167. Disponível em: . Acesso em: 11 mar. 2016. DELEUZE, G. Conversações, 1972-1990. São Paulo: Editora 34, 1992. LAZZARATO, M. As revoluções do capitalismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. TÓTORA, S. Democracia e sociedade de controle. Verve. Revista do NU-SOL. n. 10, PUC, São Paulo, 2006. p. 237-261. Disponível em: . Acesso em: 11 mar. 2016.

Indicações de fontes para o aluno CHAUI, M. Convite à Filosofia. 14. ed. São Paulo: Ática, 2014. JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionário básico de Filosofia. 4. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.

4. Mapa de políticas públicas Atividade relacionada ao Cap’tulo 3.

Introdução Chefes de Estado de diferentes países têm se unido e voltado sua atenção aos problemas sociais generalizados no mundo. No início deste século, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou um documento oficial estabelecendo oito objetivos, conhecidos como Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, a serem alcançados pelos governos em parceria com a sociedade civil e organizações não governamentais, para buscar a solução desses problemas. Além das iniciativas da sociedade civil, que podem e devem ser apoiadas pelo Estado, as políticas públicas também são uma ferramenta essencial na construção de um “futuro melhor”. Uma parte importante das Ciências Sociais, a Ciência Política tem se voltado ao estudo desse dispositivo tão presente em nossa sociedade. Neste projeto, Geografia e Sociologia (Ciência Política) contribuirão para a construção de um mapa de políticas públicas elaboradas no Brasil, para que possamos chegar o mais próximo possível desses oito objetivos.

e acervos de bibliotecas na escola ou em outras instituições próximas.

• Em sala de aula, após trabalhar com os ODM (peça aos alunos que explorem o infográfico das páginas 72 e 73), proponha-lhes que relacionem cada um deles a um ou mais problemas sociais. Peça-lhes que reflitam sobre exemplos cotidianos desses problemas sociais, seja em escala local, regional ou nacional. Faça isso para cada um dos oito ODM.

• Exemplo:

jetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) no contexto nacional, regional e local dos alunos.

ODM 1: Erradicar a extrema pobreza e a fome Problema social correspondente: fome, pobreza extrema Exemplos possíveis do cotidiano local: Para orientar a discussão em sala de aula pode-se perguntar aos alunos se eles reconhecem a importância da merenda escolar para as famílias e seus filhos matriculados na escola e a importância do papel do Estado em fornecer essa alimentação aos estudantes. Questione-os se consideram que a merenda escolar possa ser uma forma de complementar a alimentação dos alunos e se consideram adequada a merenda servida na escola. Exemplos possíveis no cotidiano regional: uma região pobre do estado, com população de baixa renda e dificuldades extremas de infraestrutura em saneamento básico, abastecimento de água, fornecimento de energia, etc. Exemplos possíveis no cotidiano nacional: índices de pobreza no Brasil, que podem ser observados de forma comparativa ao longo do tempo, necessidade de cesta básica, complementação de renda, etc.

• Conhecer e analisar as políticas públicas de cunho nacio-

• Pergunte aos alunos que exemplos de ações do governo

nal, regional e local que buscam resolver tais problemas, avaliando sua eficácia.

(prefeitura, estado, governo federal) e da sociedade civil (ONGs, instituições, igrejas e associações diversas) procuram resolver esses problemas, mesmo que não sejam muito eficazes. Relacione as respostas aos problemas e ODM já listados no quadro.

Objetivos • Observar os problemas sociais anunciados pelos oito Ob-

• Produzir informação gráfica e cartográfica com base nessa análise, compartilhando com a comunidade escolar e, caso seja possível, com outras comunidades, sensibilizando mais pessoas para uma visão crítica do assunto.

• Divida a turma em oito grupos. Cada grupo deverá escolher um dos ODM.

Conteúdos Problemas sociais – geopolítica – Ciência Política – políticas públicas.

Tempo estimado Seis aulas.

Desenvolvimento das atividades • Com o professor de Sociologia, apresente à turma os objetivos deste projeto. Converse sobre o planejamento, os meios de execução, prazos e cronogramas, adaptando-os às necessidades e aos interesses dos alunos. Verifique a disponibilidade dos recursos de informática

• Peça aos grupos que realizem um trabalho de pesquisa na internet (em casa ou na escola) sobre o objetivo escolhido e as políticas públicas implementadas na esfera municipal, estadual e federal para tentar resolvê-lo. Com base nos dados levantados na pesquisa, os alunos deverão responder às seguintes perguntas: 1. Como este problema social se materializa na realidade de seu município, de seu estado e do Brasil? Dê exemplos. 2. Que políticas públicas a prefeitura, o governo do estado e o governo federal têm implementado para tentar resolver esse problema nesses três níveis de poder? Escolha pelo menos uma política pública em cada nível e aprofunde a análise. 3. De que forma essas políticas públicas mudaram a situação Manual do Professor

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da população afetada por esse problema social no seu município, no seu estado e no seu país? Ou não mudaram? Utilize indicadores como o IDH, o Renda Nacional Bruta per capita, a distribuição de renda, entre outros, para fazer comparações. Escolha, se necessário, locais específicos para serem analisados.









Algumas sugestões de fontes e/ou mecanismos de busca que podem ser utilizados (verifique também o site da prefeitura de seu município): – Google Acadêmico: ; – IBGE: ; – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep): ; – Ministério da Saúde: ; – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome: ; – Ministério do Meio Ambiente: ; – ONU Brasil: ; – ONU – Objetivos do Milênio: ; – Pnud Brasil: ; – Portal Brasil: ; – Portal da Saúde SUS: ; – Scielo Brasil: ; – Secretaria de Políticas para as Mulheres: . Acessos em: 14 abr. 2016.

Com os dados pesquisados, dê um tempo aos grupos para que façam a análise, utilizando as perguntas sugeridas anteriormente.

Quando os grupos tiverem concluído ou, pelo menos, encaminhado essas análises, peça-lhes que organizem as informações transmitindo-as de forma clara aos colegas. Isso pode ser feito com o auxílio de mapas, gráficos, tabelas e fotografias. Pode-se propor a organização de um infográfico reunindo todas essas informações.

Com os mapas/infográficos prontos, discuta em sala de aula a forma como os resultados serão compartilhados com a comunidade escolar e, se possível, com ONGs e o poder público local, estadual e nacional. A imprensa local, regional ou nacional também pode ser informada (por exemplo: revistas voltadas à educação, jornais diversos, portais de notícias, etc.). Algumas sugestões para fazer isso:

– imprimir os mapas/infográficos e expô-los em local de destaque na escola; – apresentá-los num evento cultural e/ou feira de ciências organizado(s) na escola; – disponibilizar o material no site da escola, caso seja possível; – criar um site ou um blog para expor esses resultados e divulgá-los amplamente entre a comunidade escolar, redes sociais, etc.; – criar uma espécie de cartilha, que pode ser impressa e 322

Manual do Professor

distribuída ou compartilhada em formato digital, como um relatório de acompanhamento dos ODM.

Avaliação Para avaliar o desempenho dos alunos nesse projeto, considere todas as etapas. Qual foi o envolvimento deles em cada parte do processo? Quanto dos conhecimentos de Geografia eles conseguiram empregar? Quanto dos conhecimentos de Sociologia foi utilizado? O resultado final conseguiu atender aos objetivos iniciais do trabalho?

Bibliografia para o professor CAMARGO, A. M. F. de. A Aids e a sociedade contemporânea: estudos e história de vida. São Paulo: Letras & Letras; Campinas: Funcamp, 1994. CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo: Cortez, 1991. DE CASTRO, J. Geografia da fome: o dilema brasileiro: pão ou aço. Rio de Janeiro: Record, 2001.

SAFFIOTI, H. I. B. Rearticulando gênero e classe social. Uma questão de gênero. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1992. SECRETARIA de Políticas para as Mulheres (SPM). Disponível em: . Acesso em: 11 mar. 2016.

SILVA, P. L. B.; COSTA, N. do R. A avaliação de programas públicos: reflexões sobre a experiência brasileira: relatório técnico. Brasília: Ipea, 2002. SOUZA, P. V. de. A colocação da pessoa com deficiência no mercado de trabalho. Dissertação de Mestrado – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Campinas, 1999. Disponível em: . Acesso em: 11 mar. 2016.

Indicações de fontes para o aluno PROGRAMA das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Os objetivos de desenvolvimento do milênio. Pnud Brasil, 2016. Disponível em: . Acesso em: 12 abr. 2016. PROGRAMA das Nações Unidas para o Desenvolvimento – Pnud/Brasil e Serviço Social da Indústria do Paraná – SESI-PR. Dialogando sobre Desenvolvimento. Brasília: Sesi-PR/Pnud, 2014. Disponível em: . Acesso em: 12 abr. 2016.

. Planejamento de Núcleo ODM. Brasília: Sesi-PR/ Pnud, 2014. Disponível em: . Acesso em: 12 abr. 2016.

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Metas e orientações por Unidade

Unidade 1

vidos. A necessidade de fazer com que o Conselho se torne mais representativo e democrático é reconhecida pela imensa maioria dos Estados‑membros. No horizonte histórico em que vivemos, nenhuma reforma do Conselho de Segurança será significativa se não contemplar uma expansão dos assentos per‑ manentes e não permanentes, com países em desen‑ volvimento da África, da Ásia e da América Latina em ambas as categorias. Não podemos aceitar a perpe‑ tuação de desequilíbrios contrários ao espírito do multilateralismo. Um Conselho mais eficaz deve ser capaz, acima de tudo, de assegurar o cumprimento de suas decisões. Não parece razoável imaginar que o Conselho poderá continuar ampliando sua agenda e suas funções sem que se resolva seu deficit democrático. [...]

Mundo contemporâneo: economia, geopolítica e sociedade Objetivos Propiciar aos alunos uma visão abrangente do funcionamento do sistema capitalista desde seu início até os dias de hoje. São apresentadas as características mais importantes de cada fase desse sistema econômico, com especial destaque para a atual etapa informacional-global, além de suas contradições em escala nacional e mundial, como a produção de desigualdades socioeconômicas. Os alunos devem compreender também a transformação recente na ordem mundial com o fim da Guerra Fria, o aprofundamento da globalização e o crescimento dos países emergentes, o que tem promovido mudanças nas relações políticas e econômicas internacionais. Finalmente, possibilitar aos alunos uma noção dos tipos de conflitos existentes no mundo atual com base no estudo de alguns exemplos.

BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Discurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Celso Amorim, na abertura do debate geral da 60a Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, Nova York, 17 set. 2005. Disponível em: . Acesso em: 9 abr. 2014.

Atividade complementar Trabalho a ser desenvolvido de forma interdisciplinar com História e Sociologia. Reconstituição do papel da ONU nas relações internacionais desde a época da Guerra Fria até os dias de hoje. Sugira os sites da ONU para a pesquisa (indicados adiante).

a) O que o ministro quis dizer quando afirmou que o Conselho de Segurança apresenta um “deficit democrático”? No Conselho de Segurança há apenas cinco membros permanentes, portanto, já não representa adequadamente os principais países do mundo atual. Potências econômicas como o Japão e a Alemanha, assim como países emergentes importantes, que são também potências regionais em seus continentes, como a Índia (Ásia), o Brasil (América Latina) e a África do Sul (África), não estão representados.

1. Peça aos alunos que procurem descobrir: a) Em que contexto a ONU foi criada? b) Quais são seus órgãos de poder e como atuam?

b) Qual seria a solução apontada para resolver esse deficit de democracia no órgão mais importante da ONU? Quais são as dificuldades para implementá-la?

c) Como foi sua atuação ao longo desse período? d) Qual é seu papel no mundo pós-Guerra Fria, pós-atentados de 11 de setembro de 2001 e pós-invasão do Iraque pelos Estados Unidos (2003)?

A ampliação do número de membros permanentes no Conselho de Segurança. A dificuldade para isso é definir quais são os países que ocuparão essas novas vagas. Os alunos devem perceber que os membros permanentes desse conselho expressam uma realidade do passado – o imediato pós-Segunda Guerra –, portanto, não condiz mais com a correlação de poder existente no mundo de hoje.

Como produto final, pode-se solicitar aos alunos que produzam um cartaz expondo o papel da ONU no mundo e as atividades que ela desenvolve. 2. Solicite aos alunos que, individualmente ou em grupo, reflitam sobre a questão da reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU). Peça-lhes que leiam o trecho do discurso do ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, proferido na abertura da 60a Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas e reflitam sobre as questões propostas:

Trecho do discurso do ministro das Relações Exteriores [...] A reforma do Conselho de Segurança destaca‑se como peça central do processo em que estamos envol‑





c) Solicite aos alunos que pesquisem nos sites da ONU e descubram em que situação está o processo de reforma do Conselho de Segurança e qual é o papel do Brasil nesse processo. Os alunos podem consultar: • ONU (informações disponíveis em espanhol, inglês e outras línguas): ; • Conselho de Segurança das Nações Unidas (informações disponíveis em espanhol, inglês e outras línguas): ; • ONU Brasil: ; • Ministério das Relações Exteriores: . Acessos em: 12 abr. 2016. Manual do Professor

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Essa pesquisa visa atualizar o debate sobre a questão da reforma do CSNU.

Projetos interdisciplinares Projeto 1 Questão-tema: De que formas o processo de globalização está presente no Brasil atualmente? Como isso se materializa no cotidiano? Disciplinas: Geografia, História, Arte e Língua Portuguesa. Tempo de duração: um bimestre. Trabalho: • individual: pesquisas de materiais (iconográficos, cartográficos, jornais, revistas, publicações diversas, internet).

• em grupo: troca de materiais pesquisados individualmente e produção da síntese. Forma final do trabalho: texto dissertativo ou painel-síntese. Enfoques de trabalho por disciplina:

• Geografia: investigação e compreensão das transformações tecnológicas e socioespaciais provocadas no território brasileiro pelo processo de globalização em suas dimensões econômica e cultural.

• História: compreensão do papel do Estado nacional diante das transformações político-econômicas e suas consequências sociais.

• Arte: leitura de imagens do cotidiano, especialmente nas diferentes formas de publicidade de marcas globais que representam o processo de globalização. Produção do painel-síntese.

• Língua Portuguesa: leitura de textos, identificação de argumentos, produção de texto dissertativo. Etapas do trabalho: 1. Pesquisar, ler, analisar e interpretar textos, peças de publicidade, mapas, gráficos e tabelas. 2. Reconhecer os fenômenos espaciais, sociais, econômicos, políticos, naturais e tecnológicos com base nos documentos pesquisados para identificação das singularidades ou generalidades entre o Brasil e o mundo. 3. Localizar no espaço os fenômenos sociais, econômicos, políticos, naturais e tecnológicos no Brasil e no mundo. 4. Reconhecer, com base nos dados analisados, as mudanças ocorridas no Brasil: • evolução da tecnologia;

• investimento do capital estrangeiro (crescimento do

setor de serviços, das telecomunicações, etc.); • criação de novas empresas; • transformações políticas; • desemprego e trabalho informal; • consumo/urbanização. 5. Sistematizar as informações de modo a responder satisfatoriamente à questão-tema. 6. Escolher a forma de apresentação do projeto. 324

Manual do Professor

Projeto 2 Questão-tema: Quais são as características econômicas e geopolíticas do mundo atual em comparação com a época da Guerra Fria? Qual é a inserção do Brasil nesses contextos históricos? Disciplinas: Geografia, História e Arte. Tempo de duração: um bimestre. Trabalho: • individual: levantamento das fontes de pesquisa – materiais iconográficos e cartográficos; material bibliográfico (livros, jornais, revistas e artigos científicos); material audiovisual (vídeos, CD-ROMs, internet).

• em grupo: troca de materiais pesquisados individualmente, discussão e produção da síntese. Forma final do trabalho: texto dissertativo. Enfoques de trabalho por disciplina: • Geografia: investigação e compreensão das características geopolíticas e econômicas que definem o mundo atual e, nele, a inserção do Brasil. • História: investigação e compreensão das características geopolíticas e econômicas que definiam o mundo da Guerra Fria e a situação do Brasil naquela época. • Arte: levantamento de filmes e documentários que abordam o assunto (ou o tinha como pano de fundo) e análise de sua validade para a elucidação da questão-tema. Etapas do trabalho: 1. Pesquisar, analisar e interpretar textos e vídeos, materiais iconográficos e cartográficos, gráficos e tabelas. 2. Identificar, a partir dos dados analisados, as características geopolíticas e econômicas na época da Guerra Fria e as transformações que ocorreram no mundo com o fim desse período histórico. Verificar quais foram as principais mudanças ocorridas. 3. Identificar a situação interna e externa do Brasil na época da Guerra Fria e hoje em dia. Verificar as mudanças que ocorreram na sociedade brasileira e no papel do país no cenário internacional. 4. Discutir com os colegas de equipe e sistematizar as informações coletadas de modo a responder à questão-tema do projeto. 5. Apresentar um texto dissertativo com a síntese da equipe.

Sugest›es bibliogr‡ficas ADDA, J. Os problemas da globalização da economia. Barueri: Manole, 2004. O autor analisa a difusão da globalização, as estratégias de industrialização na periferia, as novas formas de dependência dentro da reconfiguração das relações Norte-Sul e a persistência do subdesenvolvimento. ARRIGHI, G. A ilusão do desenvolvimento. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1998. Coletânea de artigos de Giovanni Arrighi (alguns em coautoria) que tratam da questão do desenvolvimento econômico, oscilando entre o enfoque braudeliano e o marxista.

ARRIGHI, G. Adam Smith em Pequim: origens e fundamentos do século XXI. São Paulo: Boitempo, 2008. Analisa a ascensão da China, as possíveis consequências no balanço internacional de poder e a reação dos Estados Unidos.

BEAUD, M. História do capitalismo: de 1500 aos nossos dias. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 2005.

Discute a reorganização dos polos de poder e a influência no mundo pós-Guerra Fria. Defende que vivemos num período em que os polos de poder não estão consolidados. HARVEY, D. O novo imperialismo. São Paulo: Loyola, 2004. Analisa a expansão do poder coercitivo dos Estados Unidos durante o governo Bush, culminando na invasão do Iraque, fase que o autor chama de “novo imperialismo”.

Com linguagem clara e ilustrado com muitos dados quantitativos, trata da história do capitalismo, desde seus primórdios até a atualidade, mais especificamente 1980.

______. A produção capitalista do espaço. 2. ed. São Paulo: Annablume, 2006.

BROWN, L. R. Plano B 4.0: mobilização para salvar a civilização. São Paulo: Ideia; New Content, 2009.

O livro é composto de sete textos, escritos entre 1975 e 2001, que explicitam os fundamentos teóricos e conceituais com os quais o geógrafo norte-americano trabalha.

O livro identifica os grandes problemas socioeconômicos e ambientais do mundo atual – escassez de terra e água para a produção de alimentos, o problema da fome, o consumo de energia e suas consequências ambientais – e aponta algumas possíveis soluções.

CASTELLS, M. A sociedade em rede. 7. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003. (A era da informação: economia, sociedade e cultura, 1). Analisa as transformações sociais, econômicas e culturais que estão ocorrendo como consequência da disseminação das tecnologias da informação no cotidiano de empresas e pessoas. Elucida o conceito de economia informacional/ global, importante para entender a atual fase da expansão capitalista e a presente revolução tecnológica.

______. O poder da identidade. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999. (A era da informação: economia, sociedade e cultura, 2). O volume 2 da coleção analisa alguns problemas socioculturais suscitados pelo advento da era informacional e da globalização, como a desagregação étnica, os fundamentalismos e os movimentos de resistência. ______. Fim de milênio. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999. (A era da informação: economia, sociedade e cultura, 3). O volume 3 da coleção analisa as transformações socioeconômicas e geopolíticas que estão ocorrendo no mundo com o advento da era informacional e da globalização no final do século XX. Faz estudos de caso, como o colapso da União Soviética e a crise na Rússia, a pobreza e a exclusão social na África, o crime globalizado, etc.

CASTRO, I. E. de; GOMES, P. C. C.; CORRÊA, R. L. (Org.). Olhares geográficos: modos de ver e viver o espaço. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012. Os autores dos seis artigos desta coletânea fazem múltiplas leituras do espaço geográfico, enfocando-o sob as perspectivas política, cultural e econômica. Ressaltam, porém, que nenhuma delas esgota a complexidade deste conceito central da Geografia. FONSECA JR., G. Anotações sobre as condições do sistema internacional no limiar do século XXI: a distribuição dos polos de poder e a inserção internacional do Brasil. In: Revista Política Externa, São Paulo, v. 7, n. 4, mar.-maio 1999.

HELD, D.; MCGREW, A. Prós e contras da globalização. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

Ao levantar os prós e os contras da globalização, este livro converteu-se numa das melhores e mais ponderadas análises sobre o fenômeno. HOBSBAWM, E. J. Nações e nacionalismo desde 1870: programa, mito e realidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. Trata-se de um livro fundamental, uma referência para o entendimento do significado das nações e do nacionalismo desde o final do século XVIII até os dias de hoje. ______. Globalização, democracia e terrorismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. O livro é composto de dez textos nos quais o renomado historiador inglês analisa o cenário geopolítico e econômico mundial no início do novo milênio. LACOSTE, Y. Geografia, isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Campinas: Papirus, 1988.

Lançado na França em 1976, este livro mexeu com as estruturas da academia ao desvendar que existem duas geografias: uma, a geopolítica, a serviço do Estado e das corporações capitalistas; e outra, a geografia dos professores, que historicamente cumpriu o papel de mascarar o real interesse da primeira, que Lacoste chama de geografia dos Estados-maiores. LIPIETZ, A. Audácia: uma alternativa para o século XXI. São Paulo: Nobel, 1991. Analisa a crise do regime de acumulação fordista, organizado sob o modo de regulação keynesiano, e a transição para o regime de acumulação flexível, regulado pelo neoliberalismo, ao qual Lipietz chama de liberal-produtivismo. MOÏSE, D. A geopolítica das emoções: como as culturas do Ocidente, do Oriente e da Ásia estão remodelando o mundo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. Analisa as relações internacionais na globalização sob a perspectiva das emoções. Divide o mundo em três grupos: “cultura da esperança” – países asiáticos de alto crescimento econômico; “cultura da humilhação” – países muçulmanos, especialmente do Oriente Médio; e “cultura do medo” – Estados Unidos e outros Manual do Professor

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países desenvolvidos do Ocidente. É uma abordagem inovadora, mas peca por certa dose de generalização e simplificação. NYE JR., J. S. O paradoxo do poder americano. Por que a única superpotência do mundo não pode prosseguir isolada. São Paulo: Unesp, 2002. O autor defende que para os Estados Unidos enfrentarem os desafios inerentes à condição de única superpotência do mundo, sobretudo após os atentados de 11 de setembro, devem assumir um compromisso mais cooperativo com o mundo.

ORTIZ, R. Mundialização e cultura. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. Aborda a mundialização do ponto de vista cultural. Reserva o termo “mundialização” para fenômenos culturais e “globalização” para fenômenos econômicos. Obra importante para o entendimento dos impactos culturais da globalização.

POUTIGNAT, P.; STREIFF-FENART, J. Teorias da etnicidade. São Paulo: Unesp, 1998.

tica à globalização e nas propostas de caminhos alternativos à tirania do dinheiro e da informação inerentes ao processo. SANTOS, T. (Coord.). Os impasses da globalização. Rio de Janeiro: PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2003. (Hegemonia e contra-hegemonia; 1). Coletânea de artigos de renomados pensadores brasileiros e estrangeiros que se propõe a analisar as mudanças rápidas e radicais do mundo contemporâneo como resultado da globalização sob a hegemonia norte-americana.

THOMPSON, G.; HIRST, P. Globalização em questão. Petrópolis: Vozes, 1998. (Zero à esquerda). Uma das mais profundas e críticas análises sobre a globalização. Os autores ingleses dissecam a globalização como um processo histórico ligado ao capitalismo e como uma poderosa ideologia, um poderoso mito.

VISENTINI, P. F. O G-3 e o G-20: o Brasil e as novas coalizões internacionais. Porto Alegre: Nerint/UFRGS, 2009. Este artigo publicado pelo Núcleo Brasileiro de Estratégia e Relações Internacionais da UFRGS destaca a nova postura da política externa brasileira no contexto da globalização, sob a qual foram constituídos o G-20 da OMC e o Ibas, que o autor chama de G-3. O trecho reproduzido na seção Textos de apoio mostra a origem do Ibas e a relação preferencial do Brasil com a África, especialmente a África do Sul e a SADC.

Discute o conceito de etnicidade, distinguindo-o de nacionalismo, e também conceitos básicos para a apreensão desses fenômenos. Atente para o Capítulo 2, cujo título é exatamente “Raça, etnia e nação”, do qual foi reproduzido um trecho disponível na seção Textos de apoio. SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996. Aborda os principais conceitos e categorias da Geografia e as mudanças epistemológicas pelas quais essa ciência está passando, como consequência da Revolução Técnico-Científica e do avanço do processo de globalização.

WALLERSTEIN, I. Após o liberalismo: em busca da reconstrução do mundo. Petrópolis: Vozes, 2002.

______. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2000. O autor retoma algumas questões levantadas no livro A natureza do espaço e avança sua análise, sobretudo na crí-

O historiador e cientista político, contrariando muitos ideólogos liberais, discorda de que a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética marcaram a vitória do liberalismo. Sua tese é que o liberalismo também entrou em crise na esteira desses acontecimentos e é necessário pensar um novo projeto de sociedade mundial.

Comentários e respostas das atividades Capítulo 1

O desenvolvimento do capitalismo Compreendendo conteúdos 1

a) Etapas do capitalismo Características

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Comercial • Acúmulo de capitais na esfera da circulação de mercadorias;

Manual do Professor

Industrial • O acúmulo de capitais vinha da produção de mercadorias;

Financeiro • Associação entre o capital industrial e o bancário;

Informacional • O conhecimento ganha importância: ciência e tecnologia são aplicadas à produção e ao aumento da produtividade;

a) Etapas do capitalismo Características

b) Doutrinas Características

Comercial • trabalho escravo e reduzido mercado consumidor.

Mercantilismo • Fortalecimento dos Estados nacionais europeus e controle sobre a economia; • acúmulo de riquezas: metais preciosos, como o ouro e a prata; • balança comercial favorável e exploração das colônias.

Industrial

Financeiro

• o trabalho assalariado assegurou maiores lucros aos industriais e ampliação do mercado consumidor.

• concentração de capitais em grandes empresas e intervenção do Estado na economia;

• expansão das transnacionais e industrialização da periferia do capitalismo;

• surgimento das grandes corporações atuais.

• surgimento dos países emergentes.

Liberalismo

Informacional

Keynesianismo

• Estado deveria deixar o funcionamento da economia entregue à “mão invisível” do mercado; • as forças do mercado, como a lei da oferta e da procura, seriam suficientes para comandar a economia.

Neoliberalismo

• Consolida-se após a crise de 1929; • papel atuante do Estado na economia, sobretudo como planejador, com o objetivo de garantir a demanda e evitar crises cíclicas; • ajudou o sistema capitalista a se recuperar da depressão dos anos 1930.

• Embora beba na fonte do liberalismo clássico, não propõe um laissez-faire, mas uma redução do papel do Estado na economia; • defende um Estado mínimo, daí propostas como privatizações, abertura econômica, desregulamentações, etc.

c) Pot•ncias • Portugal e Espanha, seguidos por Países Baixos, França e Inglaterra, que se destacou no final.

• Grã-Bretanha, seguida por Estados Unidos, França, Alemanha e Japão.

• Estados Unidos, seguidos por Alemanha, Japão, Reino Unido e França.

• Estados Unidos, seguidos por Japão e Alemanha; • Reino Unido e França perdem influência; • Ascensão da China.

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b) Na Primeira Revolução Industrial, a principal fonte de energia foi o carvão mineral; já na Segunda e na Terceira Revolução Industrial foram o petróleo e a energia elétrica. c) Na Primeira Revolução Industrial, a nova tecnologia foi a introdução da máquina movida a vapor, substituída na Segunda Revolução Industrial por máquinas com motores a combustão interna (movidos a derivados de petróleo) e elétricos. A Terceira Revolução Industrial não se caracteriza claramente como uma revolução de energia como as duas primeiras.

a) Na Primeira Revolução Industrial, ocorrida no Reino Unido, os novos ramos industriais desenvolvidos foram o têxtil, o naval e o siderúrgico. A Segunda Revolução Industrial correspondeu ao processo de expansão da industrialização para países como os Estados Unidos e a Alemanha e caracterizou-se pelo desenvolvimento de novos ramos industriais, como o químico, o elétrico, o petrolífero e o automobilístico. Finalmente, a Terceira Revolução Industrial, também chamada de Técnico-Científica ou Informacional por causa da crescente importância da informação e do conhecimento científico, está em andamento desde os anos 1970 e é liderada pelos Estados Unidos, seguidos pelo Japão e pelas maiores economias da União Europeia. A atual revolução tecnológica caracteriza-se pela crescente agregação de conhecimentos, de ciência e tecnologia aos processos produtivos, aos produtos e aos serviços, que, portanto, são cada vez mais informacionais. Surgiu com isso uma série de novos ramos industriais de alta tecnologia – informática, robótica, biotecnologia, etc. –, assim como novos serviços – financeiros, telecomunicações, internet, etc. – levando ao grande aumento de produtividade em toda a economia.

3

No século XIX, o crescimento da economia capitalista, em sua fase industrial, extrapolou os limites do Reino Unido e atingiu vários outros países na Europa e fora dela, como os Estados Unidos e o Japão. A grande expansão da produção exigiu garantias de acesso a novas fontes de matérias-primas e de energia, novas terras agrícolas, novos mercados para produtos e capitais. Isso foi viabilizado com a conquista de novos territórios, especialmente na África e na Ásia, ou seja, com a expansão imperialista das potências industriais europeias. Vale lembrar que, no final do século XIX, o Japão também se tornou um país imperialista e passou a disputar territórios na Ásia com as antigas potências coloniais europeias. Na mesma época, os EstaManual do Professor

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dos Unidos também se tornaram uma potência imperialista e passaram a influenciar a América Latina, sobretudo a América Central, com intervenções pontuais para a colocação ou manutenção de governos ditatoriais aliados.

no campo keynesiano. Eventualmente o aluno pode discordar e para isso pode utilizar um argumento liberal, como foi defendido por Ronald Reagan no passado, mas ainda muito presente hoje em dia, segundo o qual o Estado não deve interferir praticamente nada na atividade econômica, que deve se autoregular. Outra possibilidade, no extremo oposto, é utilizar um argumento socialista, segundo o qual o Estado deve controlar os meios de produção e o sistema econômico deve ser planificado.

Desenvolvendo habilidades 4

a) Como o texto de Ladislau Dowbor deixa claro, a crise financeira iniciou-se no mercado imobiliário subprime dos Estados Unidos em 2008. Os bancos aumentaram sua alavancagem, emprestando muito mais dinheiro do que tinham disponível em caixa para pessoas qualificadas pela sigla “Ninjas”, aquelas sem condições financeiras de honrar suas dívidas. Ao não receberem os empréstimos concedidos, os bancos começaram a executar as hipotecas dos clientes e muitos deles perderam suas casas. Para reaver o dinheiro emprestado, os bancos colocaram as casas à venda. Entretanto, como a oferta de imóveis no mercado aumentou muito, os preços despencaram, os bancos não conseguiam mais reaver o dinheiro emprestado e com isso tiveram altos prejuízos, a ponto de alguns irem à falência, como ocorreu com o banco de investimento norte-americano Lehman Brothers. Isso gerou instabilidade e insegurança no mercado, aprofundando ainda mais a crise, que atingiu a economia produtiva em 2009. Inicialmente a crise atingiu mais fortemente a economia norte-americana, mas, a partir de 2010, atingiu as economias europeias da zona do euro, especialmente a Grécia e outros países do Mediterrâneo. Lá o roteiro foi semelhante: bancos alavancados à beira da falência, resgate governamental, aumento do endividamento público e espalhamento da crise pela economia produtiva com recessão e aumento do desemprego. Em 2014, a crise ainda não tinha sido plenamente superada na Europa, e o resto do mundo – inclusive muitos países emergentes que tinham resistido à primeira onda da crise, em maior ou menor grau – ainda sofria as consequências dessa situação. b) As análises dos dois economistas concordam entre si, pois recomendam maior controle estatal do mercado, mais regulação por parte do governo para evitar más práticas econômicas e futuras crises. Ambos são favoráveis ao capitalismo e acreditam que a economia de mercado continuará funcionando após a superação da crise. É exatamente o que defende o governo norte-americano, como fica evidente já no discurso de posse do presidente Barack Obama, e sua política econômica foi nessa direção: defesa da economia de mercado, mas com maior regulação do Estado. c) Resposta pessoal. Espera-se que, seja para concordar ou para discordar, cada aluno utilize argumentos claros e coerentes e os justifiquem. Se o aluno concordar, os principais argumentos dos dois autores já estão listados no item anterior, cujas posições situam-se mais

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Manual do Professor

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a) • Em maior ou menor grau, todos os países listados na tabela aumentaram sua dívida pública entre 2008 e 2014, tanto em termos absolutos como em porcentagem do PIB (somente a Índia reduziu a dívida em termos relativos).

• Em 2009, ano em que a crise atinge a economia real, excetuando a China e a Índia, todos os países estagnaram ou tiveram recessão econômica. Alguns países – Estados Unidos (foco originário da crise financeira), Itália e Grécia – já entraram em recessão em 2008. Em 2010, a maioria dos países iniciou um processo de recuperação das taxas de crescimento do PIB, com exceção dos países do Mediterrâneo mais atingidos pela crise econômica, como é o caso da Grécia, pivô da crise na Europa, cuja recessão se aprofundou nos anos seguintes.

• Em 2009, todos os países tiveram uma elevação das taxas de desemprego, até mesmo a China e o Brasil. A partir de 2010, com a recuperação econômica, as taxas de desemprego começam a baixar nos Estados Unidos, na Alemanha, na China, no Brasil e na Argentina. Aliás, a Alemanha foi o único país da Europa (dos listados na tabela) a ter queda do desemprego. Com o agravamento da crise na Europa, a maioria dos países do continente registrou uma elevação do desemprego, sobretudo os mais afetados por ela: Grécia, Espanha e Portugal. b) Os dados das tabelas indicam que a crise econômica não atingiu igualmente todos os países. Inicialmente a crise atingiu mais fortemente os Estados Unidos, onde se iniciou em 2008, afetando o mercado financeiro e imobiliário e, depois, a economia real. Em 2010, a crise começou a se arrefecer nos Estados Unidos e atingiu mais fortemente os países europeus, especialmente os do Mediterrâneo, com destaque para a Grécia. A Alemanha foi um dos países europeus menos atingidos pela crise. A China e a Índia praticamente passaram ilesas nessa crise econômica. Elas não entraram em recessão em nenhum momento, embora tenham tido uma pequena elevação do desemprego. O Brasil sentiu mais fortemente a crise em 2009, tendo uma elevação da dívida pública e uma pequena recessão com a correspondente elevação das taxas de desemprego. Mas, a partir de 2010, a economia do país voltou a crescer, acompanhada da redução do desemprego.

mundo com a mesma intensidade e se concentram, sobretudo, nos lugares cujo meio geográfico tem maior conteúdo de ciência e técnica, informação e conhecimento.

Capítulo 2

A globalização e seus fluxos 3

Os capitais produtivos são responsáveis pelo desenvolvimento da economia real com a instalação de fábricas, fazendas, aeroportos, supermercados, etc. Instalam-se no território dos países por meio de infraestruturas; portanto, permanecem no novo lugar por mais tempo. Por isso, são fundamentais para gerar riqueza – lucros, salários e impostos. Os capitais especulativos, por buscarem lucros rápidos, são mais voláteis. Por serem virtuais, circulam com muita rapidez pelo sistema financeiro globalizado, não se fixando no território. Embora sejam importantes para movimentar bolsas de valores e financiar governos, quando se retiram em massa de um país podem provocar ou agravar crises financeiras.

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A resposta é pessoal. Deve-se, no entanto, considerar que está sendo criada uma cultura de massa no mundo por meio da disseminação de empresas transnacionais, de suas marcas globais e produtos e serviços da indústria cultural, especialmente oriundos dos Estados Unidos, o país mais modernizado do mundo, e associados ao American way of life. Há resistências a esse processo, e um dos exemplos que podem ser mencionados é o do Slow Food, movimento que valoriza a cultura gastronômica de cada lugar e representa uma resistência ao fast-food industrializado e padronizado, principalmente das grandes redes norte-americanas. Outro exemplo que pode ser citado e que também foi trabalhado ao longo do capítulo é a criação da Al-Jazeera, no Qatar, que foi uma forma de se contrapor à visão de mundo da CNN, rede sediada nos Estados Unidos.

Compreendendo conteúdos 1

2

Empresa transnacional, segundo a Unctad, ou multinacional, segundo o texto “A empresa multinacional”, é a definição de uma grande corporação capitalista, em geral organizada como conglomerado, que passou a instalar filiais em vários países além do território nacional em que se originaram. A maioria das transnacionais está sediada em países desenvolvidos, mas hoje também há muitas oriundas de países emergentes. Vale lembrar que muitas delas, especialmente as da China e as de outros países emergentes, são empresas estatais. As transnacionais se expandiram pelo mundo, sobretudo após a Segunda Guerra, em busca de custos menores de produção e de novos mercados consumidores; daí se instalarem, sobretudo, em países de industrialização recente com grande contingente populacional, como é o caso da China, do Brasil, do México, etc. É evidente que nos países desenvolvidos, onde estão os maiores mercados consumidores, desde então houve intensa troca de filiais de empresas transnacionais. Hoje esse processo continua se expandindo e mesmo países mais pobres, inclusive da África, da Ásia e da América Latina, também têm recebido filiais de transnacionais, especialmente oriundas de países emergentes. A globalização é o nome que se dá à atual fase da expansão capitalista, em seu período informacional, marcada pela intensificação de fluxos de capitais (produtivos e principalmente especulativos), mercadorias, serviços, informações e pessoas. A globalização só se viabilizou pelos avanços tecnológicos da Terceira Revolução Industrial ou Técnico-Científica, e a base técnica no território que dá sustentação a isso é o que Milton Santos chama de meio técnico-científico informacional. Como o mundo funciona cada vez mais de forma interdependente e sistêmica, muitos autores dizem que vivemos num sistema-mundo. Entretanto, deve ser destacado que muitos lugares estão à margem dos fluxos da globalização, que se dão em rede e atingem os lugares mais bem equipados de infraestruturas modernas e onde as pessoas têm maior renda, especialmente as chamadas cidades globais; ou seja, os fluxos da globalização são desiguais, não atingem todos os lugares do Aspectos positivos • Geram empregos, em geral pagam salários mais elevados que empresas nacionais (embora mais baixos do que nos países desenvolvidos) e recolhem impostos, ou seja, produzem riqueza e contribuem para o crescimento econômico.

Desenvolvendo habilidades 5

As grandes corporações transnacionais, ou multinacionais, são os agentes principais da globalização, e sua expansão pelo mundo apresenta aspectos positivos e negativos, como mostra o quadro a seguir. Em geral, elas têm levado os benefícios da globalização a alguns países em desenvolvimento; entretanto, há também aspectos negativos em sua expansão. No sistema capitalista, as empresas visam ao maior lucro possível – essa é a prioridade delas – como o texto menciona, porém há leis, regras e preceitos éticos que devem ser respeitados, o que nem sempre acontece. Se julgar necessário, monte uma tabela no quadro com os aspectos positivos e negativos dessas empresas, como a sugerida a seguir. Aspectos negativos

• Em seu processo de expansão pelo mundo, muitas empresas multinacionais têm demonstrado descaso com a legislação trabalhista, com os direitos dos consumidores, com a saúde pública e a preservação do ambiente.

Manual do Professor

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Aspectos positivos

Aspectos negativos

• Têm possibilitado que os produtos dos países em desenvolvimento cheguem aos mercados das nações desenvolvidas, ampliando o comércio internacional.

• Algumas cresceram tanto que têm faturamentos maiores do que o PIB de muitos países, fazendo que tenham muito poder e influência sobre o mercado e os governos.

• Levam mercadorias baratas de qualidade cada vez melhor para os países desenvolvidos, contribuindo para baixar o custo de vida e, assim, para uma era de inflação reduzida e baixas taxas de juros.

• Muitas vezes tentam manipular o mercado, sonegar impostos e cortar custos trabalhistas.

• Também têm contribuído para a transferência de tecnologia das nações mais avançadas para os países em desenvolvimento, ajudando a diminuir a diferença de conhecimento entre os dois grupos.

• Embora influenciem os consumidores, criando necessidades por meio da publicidade, deve ser reconhecido que também respondem aos desejos de consumo das pessoas.

O texto que dá conta dos itens a, b e c expressará o ponto de vista pessoal de cada aluno, mas os argumentos utilizados devem ter coerência e clareza e devem ser justificados. 6

a) Globesidade (globesity, em inglês) é um neologismo criado para definir a epidemia de obesidade que tem se espalhado por todo o mundo, atingindo pessoas de todas as classes sociais (embora seja predominante entre a população com menos renda e informação), grupos étnicos e faixas etárias (tem atingido crescentemente as crianças). Antes, esse fenômeno era característico dos países desenvolvidos, especialmente os Estados Unidos, mas hoje tem se estendido também aos países em desenvolvimento. Entretanto, em muitos países em desenvolvimento, especialmente nos mais pobres, a obesidade paradoxalmente ainda convive com a subnutrição. b) As grandes redes internacionais de fast-food e as indústrias alimentícias transnacionais têm contribuído para o aumento da epidemia de obesidade no mundo ao produzirem alimentos hipercalóricos, com alto teor de gorduras e açúcares (como foi registrado no documentário Super size me, indicado na seção Sugestões de leitura, filmes e sites), e difundirem hábitos alimentares inadequados, como a ingestão de comida em excesso (por exemplo, uma porção de meio quilo de batatas fritas, como mencionado no texto; leia-o na íntegra no endereço indicado na fonte) e com rapidez. Vale lembrar que a publicidade em diversas mídias tem um papel fundamental na difusão dessa alimentação inadequada, especialmente entre a população mais jovem. c) Os governantes podem tomar diversas medidas para frear o aumento da obesidade, como obrigar a listagem dos ingredientes nos rótulos dos alimentos e aumentar a fiscalização para coibir abusos e má-fé, sobretaxar os alimentos não saudáveis e estimular o consumo dos que são saudáveis, como foi sugerido no texto (entre outras medidas, poderia cobrar menos impostos de frutas e legumes orgânicos para estimular sua produção). Outras iniciativas do poder público podem ainda desenvolver campanhas de educação

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Manual do Professor

e esclarecimento sobre alimentação saudável, especialmente para o público mais jovem que está formando seus hábitos alimentares e é mais suscetível ao apelo da publicidade. Os cidadãos devem cobrar essas medidas dos governantes. Entretanto, o próprio indivíduo é o principal responsável por sua saúde; assim, todos devem evitar o consumo excessivo de alimentos hipercalóricos e fazer atividades físicas regularmente para evitar a obesidade e suas consequências. E nesse processo é muito importante o papel da família e da escola na orientação de crianças e adolescentes. Esta atividade permite um trabalho em colaboração com Educação Física, destacando a importância da atividade física para uma vida saudável, e com Biologia, analisando o processo de transformação dos alimentos em energia pelo nosso organismo e o processo de retenção, como gordura corporal, da energia ingerida em excesso.

Capítulo 3

O desenvolvimento humano Compreendendo conteœdos 1

Não há correlação direta entre o aumento da renda per capita e a melhoria da condição de vida de uma população, pois a renda pode ser alta e, no entanto, estar muito concentrada. Há países, como a Arábia Saudita, que dispõem de uma renda per capita muito alta, mas seus indicadores socioeconômicos – seu IDH – são mais baixos do que os de países que dispõem de renda menor, porém mais bem distribuída. A Argentina, por exemplo, com uma renda per capita cujo valor é menos de metade da que possui a Arábia Saudita, apresenta indicadores de desenvolvimento humano melhores (no relatório 2015 do Pnud, a Arábia Saudita ficou uma posição à frente da Argentina somente por causa de sua elevada renda per capita, que se equipara a dos Estados Unidos). O Brasil é um país de renda média-alta, mas possui IDH pior do que o de alguns países com renda menor. A distribuição de renda em nosso

dos. Esta atividade pode ser desenvolvida de forma interdisciplinar com Sociologia e Política, explorando mais a questão da corrupção no âmbito das relações com o Estado e as consequências disso; e com História, explorando a corrupção em outras épocas. Por exemplo, no Brasil, há no senso comum a ideia de que na época do Regime Militar havia menos corrupção do que hoje em dia. É importante os alunos se darem conta de que quanto mais se investiga e se combate a corrupção mais aumenta sua percepção. Evidentemente que em um regime democrático em que o Ministério Público Federal, o Poder Judiciário em suas diversas instâncias e a Polícia Federal funcionam sem constrangimentos, orientados apenas pelo respeito às leis e à Constituição, é natural que se descubram mais casos de corrupção. c) Oriente os alunos no trabalho de pesquisa, para que não se percam na rede. d) Auxilie os alunos a organizar o material pesquisado, com o qual se pode fazer uma exposição. e) É interessante organizar um debate com toda a sala a partir da exposição das conclusões de cada um dos grupos.

país é muito desigual e, apesar de estar melhorando, ainda é uma das piores do mundo. 2

Os países desenvolvidos mostram uma distribuição da renda bem mais equilibrada entre a população; já nos países em desenvolvimento, em geral, ela é bastante concentrada. Esse é um dos principais fatores que explica as diferenças de indicadores sociais entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.

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Seria interessante o aluno perceber que os países com renda per capita mais alta e mais bem distribuída são aqueles que apresentam um IDH mais elevado, especialmente os desenvolvidos. Portanto, a saída para melhorar a condição de vida, para elevar o IDH de um país, passa por investimentos produtivos que possam contribuir para o crescimento econômico e o aumento da renda per capita. No entanto, é necessário, sobretudo, melhorar a distribuição da renda entre os estratos da população, ao mesmo tempo em que é imprescindível que o Estado faça investimentos sociais em saúde, educação, saneamento básico, etc. e, se necessário, garanta uma compensação de renda aos mais pobres, além de assegurar os direitos civis e cidadãos – enfim, a democracia.

5

a) Os maiores contingentes tanto de pessoas vivendo abaixo da linha internacional de extrema pobreza quanto de mulheres analfabetas se encontram no sul da Ásia, na África subsaariana e no leste da Ásia e Pacífico. Percebe-se que há uma forte correlação entre a extrema pobreza e o analfabetismo, especialmente da mulher, que, em geral, é quem cuida das crianças. É interessante perceber que a região onde mais houve redução da pobreza, o leste da Ásia e Pacífico, sobretudo na China, foi também a que mais teve redução do analfabetismo feminino, o que reforça essa correlação. b) Para se atingir a terceira meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres – é importante assegurar que as oportunidades sejam iguais para homens e mulheres, especialmente com relação ao acesso à educação. A elevação da escolaridade feminina e a redução das taxas de analfabetismo entre as mulheres têm dado uma grande contribuição para a diminuição da pobreza (além de melhorar a alimentação e a higiene e reduzir as doenças) e, portanto, para a elevação do desenvolvimento humano. Esta atividade permite um trabalho em colaboração com Sociologia, no qual se pode estudar a importância dos diversos papéis que as mulheres desempenham na sociedade atual. É interessante os alunos constatarem que muitos desses papéis, além de mudarem ao longo da História, dependem do país e da cultura em que as mulheres estão inseridas e do grau de desenvolvimento socioeconômico da comunidade a que pertencem.

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a) Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) constam da Declaração do Milênio das Nações Unidas (documento assinado pelos países-membros da ONU) e visam a reduzir a pobreza mundial e a melhorar os indicadores de desenvolvimento humano

Desenvolvendo habilidades 4

a) De forma geral, os países altamente honestos, que apresentam baixo grau de corrupção são quase sempre aqueles que apresentam índices de desenvolvimento humano muito elevado. Em linhas gerais, essa é a situação dos países desenvolvidos (a Itália é uma exceção, pois é um país de IDH muito elevado, mas seu IPC é de 43 e está na 69a posição, a mesma do Brasil). No outro extremo, países altamente corruptos apresentam médio e baixo IDH, situação típica dos países em desenvolvimento mais pobres, especialmente da África subsaariana. Alguns países emergentes também apresentam alto grau de corrupção, mas há algumas exceções como o Chile e o Uruguai, ambos com IPC de 73 e na 21a posição. Pode-se inferir disso que o alto grau de corrupção compromete o desenvolvimento socioeconômico, dificultando a elevação do IDH, especialmente nos países mais pobres, onde os recursos são mais escassos e a produtividade econômica é menor. b) Essa é uma atividade significativa, pois alia a síntese de temas importantes desenvolvidos ao longo do capítulo com a pesquisa para ampliar os conhecimentos adquiridos e o debate para expor e confrontar ideias, além de exercitar o respeito a opiniões alheias, eventualmente divergentes. É importante que cada grupo apresente suas ideias com clareza e coerência. Seria interessante propor que os grupos apresentem suas conclusões entre si para ampliar o debate, envolvendo toda a sala. A troca de ideias deve afinar as opiniões de cada grupo sobre o tema e levar, senão a um consenso, ao menos a um meio-termo entre os pontos de vista apresenta-

Manual do Professor

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• No mundo todo aumentou o percentual de nasci-

dos países da África, da Ásia e da América Latina. Foram lançados na Cúpula do Milênio realizada pela ONU em 2000. Consistem em oito grandes objetivos que se desdobram em metas específicas a serem atingidas pelos países em desenvolvimento até 2015. Cada uma dessas metas foi sendo aferida por países e regiões para avaliar sua evolução e eventualmente tomar medidas adicionais para que fossem plenamente contempladas. Grande parte das metas definidas para 2015 foram atingidas e mesmo as que não foram mostraram um grande progresso em relação a 1990, como mostram os dados do infográfico.

mentos acompanhados por pessoal de saúde capacitado: saltou de 59% em 1990 para 71% em 2014.

Objetivo 6

• No mundo todo, a quantidade de pessoas portadoras de HIV que recebem terapia antirretroviral saltou de 800 mil, em 2003, para 13,6 milhões, em 2014 (essa terapia evitou a morte de 7,6 milhões de pessoas por Aids entre 1995 e 2013).

• Na África subsaariana entre 2004 e 2014 foram entregues mais de 900 milhões de mosquiteiros impregnados de inseticidas (foram evitadas 6,2 milhões de mortes causadas pela malária, principalmente de crianças menores de cinco anos, entre 2000 e 2015).

b) Objetivo 1 • Nos países em desenvolvimento, o percentual da população que vive na extrema pobreza caiu de 47% em 1990 para 14% em 2015. • No mundo, a quantidade de pessoas que vivem na extrema pobreza caiu de 1,9 bilhão em 1990 para 836 milhões em 2015.

Objetivo 7

• Em 1990, 2,3 bilhões de pessoas tinham água potável encanada; esse número subiu para 4,2 bilhões em 2015 – um aumento de 83%. Em 1990, 76% da população mundial consumia água tratada; esse número saltou para 91% em 2015.

Objetivo 2 • No mundo, a quantidade de crianças em idade escolar fora da escola caiu de 100 milhões em 2000 para 57 milhões em 2015. • Na África subsaariana, a taxa de matrícula no ensino fundamental saltou de 60% em 2000 para 80% em 2015, embora ainda seja baixa, subiu mais do que nas outras regiões (nos países em desenvolvimento saltou de 83% em 2000 para 91% em 2015). Objetivo 3 • No mundo atual, muito mais meninas vão à escola do que no passado: por exemplo, em 1990, na Ásia meridional 74 meninas para cada 100 meninos estavam matriculadas na escola; em 2015 havia 103 meninas matriculadas para cada 100 meninos. • Em 90% dos 174 países que dispõem de dados, as mulheres aumentaram sua representação nos respectivos parlamentos; na média, a participação delas quase dobrou desde 1995; no entanto, de cada cinco parlamentares apenas um é mulher. Objetivo 4 • No mundo todo a quantidade de crianças mortas antes de completarem cinco anos caiu de 12,7 milhões em 1990 para 6 milhões em 2015 (a taxa média mundial de mortalidade infantil era de 90 por mil nascidos vivos em 1990 e caiu para 43 por mil em 2015). • O índice de vacinação aumentou no mundo: em 2000 73% das crianças receberam pelo menos uma dose da vacina contra o sarampo; em 2013 esse índice subiu para 84%. Objetivo 5 • A taxa mundial de mortalidade materna caiu de 380 por 100 mil bebês nascidos vivos em 1990 para 210 por 100 mil em 2013. 332

Manual do Professor

• Desde 1990 foram eliminadas praticamente todas as substâncias que destroem a camada de ozônio e se estima sua recuperação total em meados deste século. Objetivo 8

• A ajuda oficial para o desenvolvimento dada pelos países desenvolvidos aumentou 67% entre 2000 e 2014: saltou de 81 bilhões para 135 bilhões de dólares.

• Apenas 6% da população mundial tinha acesso à internet em 2000; esse número saltou para 43% em 2015 (3,2 bilhões de pessoas estão conectadas à rede mundial de computadores).

Capítulo 4

A ordem internacional Compreendendo conteœdos 1

A Guerra Fria foi um período de forte tensão e antagonismo entre as superpotências – Estados Unidos e União Soviética. No entanto, o enfrentamento restringiu-se ao plano político e ideológico, sem confronto bélico direto, o que poderia desencadear uma guerra nuclear. A Guerra Fria estendeu-se de 1947, com a elaboração do Plano Marshall e da Doutrina Truman, até 1989, com a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética, em 1991. O Plano Marshall, idealizado em 1947 pelo então secretário de Estado norte-americano George C. Marshall, consistiu na ajuda de cerca de 13 bilhões de dólares (em valores da época) aos aliados da Europa ocidental. Visava recuperar as economias desses países devastadas pela Segunda Guerra, consolidando a hegemonia norte-

-americana no bloco ocidental e garantindo fluxo de produtos e capitais de suas empresas. Além desse interesse econômico, o plano converteu-se, ao consolidar as economias capitalistas, num sustentáculo da Doutrina Truman, que visava conter a expansão da influência soviética na Europa ocidental. 2

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O conflito Leste-Oeste tinha uma forte conotação geopolítica e ideológica durante a Guerra Fria. Era um mundo bipolar, pois opunha as duas superpotências e seus respectivos sistemas econômicos e políticos, definindo as zonas de influência da União Soviética, socialista com regime de partido único, e dos Estados Unidos, capitalista com regime democrático. Os principais símbolos desse período eram: a Alemanha dividida; o Muro de Berlim; a bipolarização militar muito nítida na Europa separada pela “Cortina de Ferro”, com a Otan de um lado e o Pacto de Varsóvia de outro. A Organização das Nações Unidas (ONU) é um órgão internacional composto de 193 países (2015). A sede está localizada em Nova York e é composta de diversas agências sediadas em diferentes cidades do mundo. Foi criada em 1945, após a Segunda Guerra, com o objetivo de preservar a paz e a segurança no mundo, além de promover a cooperação internacional para resolver questões econômicas, sociais, culturais e humanitárias. Conta com vários órgãos, dos quais os mais importantes são a Assembleia Geral e o Conselho de Segurança (CSNU). A Assembleia Geral congrega as delegações dos países-membros. Realiza uma reunião regular por ano, mas não decide sobre questões de segurança e cooperação internacional, só faz recomendações. O órgão de maior poder da ONU é o Conselho de Segurança, formado por delegados de quinze países-membros, dos quais cinco são permanentes e dez são eleitos a cada dois anos. O CSNU pode investigar disputas e conflitos internacionais ou dentro de um país, propor soluções visando a acordos de paz e adotar sanções que vão desde o corte das comunicações ou das relações diplomáticas até o bloqueio econômico; em último caso, pode autorizar o uso da força militar.

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A composição do CSNU é anacrônica porque não expressa a correlação de forças políticas e econômicas do mundo atual, mas sim o resultado da Segunda Guerra. O poder da entidade está concentrado nas mãos dos cinco membros permanentes, justamente os vencedores da Segunda Guerra: Estados Unidos, Reino Unido, França, China e Rússia. Esses países têm poder de veto, isto é, qualquer decisão só é posta em prática se houver consenso entre eles. Por isso, desde 1995 está em curso uma campanha liderada por Brasil, Japão, Alemanha e Índia para ampliar o número de membros permanentes e não permanentes do CSNU, tornando-o mais representativo e democrático.

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O Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Bird) é uma das instituições do Grupo Banco Mundial. Teve no pós-Segunda Guerra Mundial o papel de financia-

dor da reconstrução dos países aliados aos Estados Unidos e, posteriormente, passou a se encarregar de financiamentos, em longo prazo, de projetos visando ao crescimento dos países-membros, especialmente das nações em desenvolvimento. O Fundo Monetário Internacional (FMI) tinha como objetivo conceder empréstimos de curto prazo para pagar a dívida externa de países-membros com problemas. Deveria zelar também pelo bom funcionamento do sistema financeiro internacional, principalmente pela estabilidade das moedas e do câmbio. Ambos têm sua sede em Washington, D.C., Estados Unidos.

Desenvolvendo habilidades 6

a) Ao longo do capítulo há várias informações que corroboram o que foi afirmado na introdução da revista Política Externa e do livro Compreender o mundo. A derrubada do Muro de Berlim, em 1989, marcou o fim da era bipolar da Guerra Fria. A ordem geopolítica que emergiu daí, durante um curto período de tempo, foi caracterizada por uma realidade na qual imperava uma única superpotência, os Estados Unidos. Isso fez alguns analistas de relações internacionais defenderem a ideia de que vivíamos num mundo unipolar. Entretanto, as dificuldades econômicas e militares enfrentadas pelos Estados Unidos, o explosivo crescimento econômico da China (hoje maior credora dos Estados Unidos) e a recuperação da Rússia, têm levado muitos a argumentar que vivemos, no início do século XXI, em um mundo multipolar. E não devemos esquecer que o Japão e a União Europeia, tendo como eixo a Alemanha e a França, são também importantes polos de poder econômico, embora enfraquecidos do ponto de vista militar. Nesse mundo multipolar que está se constituindo (os dois textos concordam que o mundo multipolar está em processo), a China é o país com mais potencial para rivalizar com os Estados Unidos, que ainda por muito tempo continuarão a ser a principal potência econômica, militar e, portanto, geopolítica do mundo. A China já é a segunda economia mundial, tendo superado o Japão em 2010. O gigante asiático acumulou reservas da ordem de 3,9 trilhões de dólares (2014) e é o maior comprador de títulos do tesouro dos Estados Unidos (em 2015, detinha quase 1,3 trilhão de dólares desses bônus). Ou seja, a relação entre as duas potências é de complementaridade: a China depende do mercado norte-americano para vender seus produtos, e os Estados Unidos necessitam dos investimentos chineses para fechar seu balanço de pagamentos. Depois da China, a Índia é quem mais vem crescendo no mundo. Esse país tem enorme mercado potencial, é avançado em setores de alta tecnologia e, assim como seu vizinho do norte, é uma potência nuclear. Pode se transformar numa potência de peso no futuro, como aponManual do Professor

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geira e grupos guerrilheiros, que, por sua vez, podem usar métodos terroristas. Um bom exemplo disso é a guerra no Afeganistão: envolveu diferentes etnias do país (os pashtuns são majoritários) e um grupo terrorista (a Al-Qaeda, aliada ao Talibã, grupo que estava no poder, foi deposto e articulava uma resistência guerrilheira adotando práticas terroristas); ao mesmo tempo, ocorreu uma intervenção estrangeira, dos Estados Unidos (2001-2014), que lideraram uma força internacional de segurança, a Isaf, comandada pela Otan.

ta a pesquisa do economista Jim O’Neill (tratada no capítulo), o trecho da revista Política Externa (quando menciona que o crescimento econômico de países considerados emergentes vem sendo a locomotiva do desenvolvimento global deste século) e o texto de Pascal Boniface. A Rússia, herdeira da União Soviética, depois de um período de crise, vem recuperando seu status de potência geopolítica, já que preservou seu poderio militar.

Já o Brasil não tem a mesma projeção internacional que os países mencionados, pois não é potência militar, e menos ainda nuclear (tanto que não foi mencionado no texto de Pascal Boniface), mas possui soft power (conceito criado pelo cientista político norte-americano Joseph Nye que remete ao “poder brando” de um país, que advém de sua capacidade de influenciar as relações internacionais por meio de sua cultura, de seus valores) e tem procurado se aproximar de outros emergentes de peso para tentar contrabalançar a influência norte-americana e ampliar sua margem de manobra no cenário internacional, contribuindo para a multipolarização. Com a Índia e a África do Sul, formou o Fórum de Diálogo Ibas; com os outros países que compõem o grupo Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), tem procurado dar realidade a uma sigla inventada por Jim O’Neill num estudo com projeções para as potências do futuro (em 2011, a África do Sul entrou no grupo, que virou Brics, mas é no máximo uma potência regional). Segundo esse estudo, por volta de 2050, a China será a maior economia do mundo, seguida por Estados Unidos, Índia, Japão, Brasil e Rússia. De qualquer forma, excetuando a possibilidade de entrada da Índia e talvez do Brasil, o grupo de potências projetado para 2050 pelo trabalho de O’Neill é o mesmo apontado por Richard Nixon e Henry Kissinger no início dos anos 1970. Isso mostra que a correlação de forças entre as maiores potências nas relações internacionais muda de forma relativamente lenta ao longo da História. b) O texto produzido pelos alunos deverá conter, em linhas gerais, as informações apresentadas na sugestão de resposta do item a. É importante que a argumentação tenha coerência e clareza. O título deverá sintetizar o seu conteúdo. Exemplo: Cenários da nova ordem internacional.

Capítulo 5

Conflitos armados no mundo Compreendendo conteœdos 1

Uma guerra pode ter características múltiplas porque pode envolver grupos étnicos diferentes, dois ou mais países beligerantes ou uma força de ocupação estran-

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Manual do Professor

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A guerrilha se caracteriza por um conflito armado que opõe formações irregulares de combatentes e forças armadas regulares de um Estado. É típica de países marcados por injustiças políticas e sociais nos quais a população está disposta a lutar por mudanças ou apoiar grupos que se propõem a isso. Terrorismo é uma prática de grupos armados que recorrem sistematicamente à violência contra pessoas ou instalações (civis ou governamentais) com o intuito de provocar medo na sociedade, visando a atingir algum fim. Os grupos guerrilheiros em geral fazem ataques contra alvos militares e pontos estratégicos do Estado, procurando minimizar o número de vítimas civis, ao mesmo tempo em que buscam conquistar apoio de parte da população à sua causa. Já os grupos terroristas procuram fazer o máximo de vítimas civis com o intuito de causar medo e não se interessam em criar nenhum canal de diálogo com a população, nem angariar seu apoio. Entretanto, ao longo da História é comum grupos guerrilheiros lançarem mão do terror ou mesmo se transformarem em grupos terroristas, como aconteceu com as Farc.

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A palavra etnia define um grupo humano que se individualiza por suas características culturais: religião, língua, costumes, etc. Em sentido antropológico, povo e etnia são sinônimos. Entretanto, a palavra povo pode também ser usada com um sentido jurídico-político e, nesse caso, é sinônimo de cidadão. A palavra nação, em seu sentido antropológico, também é muito usada como sinônimo de etnia ou povo. Entretanto, o termo nação pode também ter uma conotação política, nesse caso é sinônimo de Estado. Ainda em sentido político, mas um pouco diferente, quando uma nação (em sentido antropológico) ou etnia luta pela autonomia e procura constituir um Estado, ou defende algum programa de autoafirmação de sua nacionalidade, está empenhada num projeto político chamado nacionalismo.

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Tanto a Al-Qaeda como o Estado Islâmico são grupos terroristas que usam como justificativa para suas ações extremistas um fundamentalismo islâmico bastante deturpado. A Al-Qaeda foi fundada primeiro, oficialmente em 1988, mas suas origens mais antigas remontam ao início da ocupação do Afeganistão pela União Soviética (1979-1989). O Estado Islâmico nasceu em 2004, como Al-Qaeda do Iraque, teve origem como um grupo

de resistência à ocupação norte-americana iniciada em 2003. A Al-Qaeda atua como uma rede transnacional, com células em diversos países, que podem fazer ações terroristas pontuais, como o ataque ao World Trade Center, em 2001; possui também franquias que se organizam para ações em conflitos regionais, como a Frente al-Nusra, na guerra civil síria. O Estado Islâmico, como seu próprio nome sugere, tem pretensões de constituir-se em Estado territorial. Em 2015, aproveitando-se da elevada fragilidade dos Estados do Iraque, em guerra desde 2003, e da Síria, em guerra desde 2011, o grupo ocupou parte dos territórios desses países, onde pretende implantar um “califado”. No entanto, a partir de 2015 vem também aumentando os atentados terroristas, como os ocorridos em Paris, em retaliação pelos bombardeios aos seus domínios na Síria e no Iraque. 5

A produção da síntese é pessoal, mas espera-se que os alunos desenvolvam, em linhas gerais, as informações a seguir: Os conflitos entre árabes e judeus têm suas origens no século XIX, quando imigrantes judeus europeus começaram a chegar à Palestina (então território britânico), mas se intensificou fortemente a partir de 1947, quando a ONU partilhou esse território em dois Estados. Em 1949, após a primeira guerra entre o recém-criado Estado de Israel e os países árabes vizinhos, o Estado Palestino desapareceu, o que deu origem à questão palestina, até hoje não resolvida. Parte de seu território foi incorporada por Israel, que aumentou de tamanho, e parte passou à administração da Jordânia (Cisjordânia) e do Egito (Gaza). Em 1967, eclodiu um novo conflito armado entre Israel e os Estados árabes – a Guerra dos Seis Dias. Israel saiu novamente vencedor e triplicou seu território: incorporou Gaza, Cisjordânia, as colinas de Golã (que pertenciam à Síria) e a parte leste de Jerusalém. Uma nova guerra ocorreu em 1973 sem mudanças territoriais significativas. Em 1964, foi criada a Organização de Libertação da Palestina (OLP), grupo guerrilheiro que lutava contra a ocupação israelense e pela criação do Estado Palestino. Depois de muitos conflitos entre judeus e árabes, em 1993 começou um processo de negociação, muitas vezes interrompido de parte a parte, que levou até agora (2015) à entrega de Gaza e de partes da Cisjordânia à Autoridade Nacional Palestina (ANP). Em 2012, a ONU elevou a ANP à condição de Estado observador não membro, mas um acordo final para a criação do Estado Palestino ainda não foi atingido. Até 2015, Israel se recusava a aceitar que a capital desse futuro Estado fosse em Jerusalém oriental e que houvesse o retorno dos refugiados que viviam em países vizinhos; ao mesmo tempo, continuava com uma política de expansão das colônias judaicas na Cisjordânia e construindo uma polêmica cerca, parte dela em território palestino, para se isolar dos vizinhos. Do lado palestino, grupos radicais, como o Hamas, recusavam-se a aceitar Israel e

mantinham seus ataques terroristas, o que vinha motivando violentas retaliações de Israel, como a que ocorreu na operação “Limite Protetor”, em meados de 2014, matando 1 767 palestinos (segundo dados preliminares da ONG B’Tselem).

Desenvolvendo habilidades 6

a) Oriente os alunos na leitura, tire eventuais dúvidas e peça que comparem a frase da epígrafe de Pascal Boniface com o texto da revista The Economist.

b) Em seguida, solicite aos alunos que correlacionem as informações das duas frases com os dados do mapa de IDH das missões de paz da ONU, localizando nele as regiões citadas nas frases. c)

• Sim, a maioria das guerras civis no mundo contemporâneo acontece em países pobres da Ásia e especialmente da África subsaariana, onde se encontra a maioria dos países de baixo IDH e com alto índice de fragilidade – consequentemente também a maior parte das forças de manutenção de paz da ONU. Não é coincidência que metade delas estejam atuando na África subsaariana. A única força de paz na América atua no país mais pobre e mais frágil do continente, o Haiti, situado no Caribe. Como diz o texto, é fácil a um homem pobre adotar uma causa, mas a pobreza também pode ser resultado de governos corruptos e incompetentes, o que causa revolta na população. Nos países pobres é comum também líderes gananciosos e corruptos se apropriarem do aparelho de Estado e instrumentalizarem as diferenças étnicas e religiosas para alcançar seus interesses políticos (consolidar-se no poder) e econômicos (beneficiar-se de recursos naturais, como o petróleo), o que contribui para aumentar o Índice de Fragilidade do Estado. Além disso, as guerras destroem a infraestrutura e as instituições dos países, dificultando o desenvolvimento socioeconômico e perpetuando os baixos IDHs. Ou seja, a pobreza gera a guerra, que por sua vez aumenta a pobreza, num círculo vicioso difícil de ser interrompido.

• Os Estados africanos, assim como suas fronteiras, foram criados de fora para dentro, ou seja, pelos colonizadores europeus durante o imperialismo, mais especificamente no Congresso de Berlim (1884-1885). Essas fronteiras não respeitaram os limites étnicos originais dos povos nativos do continente. Assim, há vários focos de conflitos pelo poder entre grupos étnicos e religiosos diferentes, assim como há movimentos nacionalistas separatistas. Porém, conforme indica o texto, mais importante do que esse fato é que especialmente na região Subsaariana do continente há países muito pobres (aí está a maioria dos países menos desenvolvidos), onde as condições de vida são muito precárias e os Manual do Professor

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Estados são frágeis, criando um ambiente favorável para a proliferação de conflitos armados.

• Como vimos no Capítulo 2, os jovens de muitos países africanos, sem perspectivas socioeconômicas, acabam sendo aliciados por grupos rebeldes e são as principais vítimas dessas guerras. Se é “fácil dar uma causa a um homem pobre”, como diz o texto, é mais fácil ainda dar uma causa a um homem pobre e jovem. Não é por acaso que metade das forças de paz da ONU atua nessa região do mundo, que possui 36 países dos 44 que apresentam baixo IDH.

Vestibulares de Norte a Sul Testes 1

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A Quest›es

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a) Antes mesmo da eclosão da crise financeira, a Grécia já vinha gastando mais do que arrecadava, o que provocou uma elevação de sua dívida pública, tanto interna quanto externa. Com a chegada da crise financeira à Europa, os bancos credores aumentaram as taxas de juros para financiar o passivo grego, elevando ainda mais o endividamento do país. A escassez de dinheiro acabou afetando a economia real, mergulhando-a numa profunda recessão, que provocou um grande aumento do desemprego. Os números finais, como mostram as tabelas da página 27 do livro do aluno, são ainda piores do que os que aparecem no enunciado da questão. Em 2011, segundo o FMI, o PIB grego encolheu 8,9% e o desemprego atingiu 17,9% da PEA. b) Pigs é um acrônimo pejorativo inventado no mercado financeiro para classificar os países europeus meridionais, cujas economias eram mais vulneráveis e por isso foram mais atingidos pela crise. São eles: Portugal, Itália, Grécia e Espanha (o “S” vem de Spain, grafia em inglês). Às vezes, como na questão, é grafado Piigs e, neste caso, o outro “I” refere-se à Irlanda.

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A globalização é o nome que se dá para o atual processo de expansão capitalista ancorado em técnicas modernas, específicas da Revolução Técnico-Científica ou Informacional, que permitem uma aceleração dos fluxos de capitais (produtivos e especialmente especulativos, já que o dinheiro se tornou eletrônico), mercadorias, pessoas e informações em escala planetária. A dimensão econômica, principalmente a expansão das transnacionais e o consumo de seus produtos pelo mundo, é a mais visível e mais debatida da globalização; no entanto, há outras, como a social, a cultural e a política. Em sua dimensão econômica, a globalização evidencia maior integração do sistema financeiro mundial por meio das bolsas de valores e de mercadorias interligadas, que permitem a circulação de capitais especulativos em tempo real. Há também um aumento da circulação de capitais produtivos, especialmente com a instalação de filiais de empresas transnacionais em diversos países. O dado novo é que recentemente surgiram muitas transnacionais sediadas em países emergentes como Brasil, Índia e sobretudo China. Como os fluxos de capitais são desiguais, beneficiam a alguns países (os mais bem preparados para receber esses investimentos) em detrimento de outros. Em sua dimensão social, a globalização tem promovido um aumento do desemprego nos países desenvolvidos e a fragilização de seus trabalhadores como resultado do deslocamento de fábricas para países que têm custos de produção menores, com destaque para a China. Paralelamente a isso, com o grande número de imigrantes vindos de países em desenvolvimento, tem crescido a xenofobia nos países desenvolvidos, especialmente da Europa, onde a crise é mais grave. Na dimensão cultural, a globalização mostra que, paralelamente à expansão das empresas transnacionais, há uma difusão de valores e estilos de vida associados a elas ou aos países onde estão sediadas. Isso muitas vezes pode levar à organização de movimentos de resistência a esse processo, como evidencia o Movimento Slow Food, contra as grandes redes de fast-food, a criação da rede Al-Jazeera para fazer frente à CNN e outras redes de notícias ocidentais. Na dimensão política, tem ocorrido um enfraquecimento relativo dos Estados nacionais, que se veem forçados a dividir poder com ONGs, organismos internacionais ou regionais supranacionais, sem contar que, com a hegemonia do discurso neoliberal associado à globalização, nos anos 1990 reduziram seu papel regulador na economia. No entanto, após a crise financeira iniciada em 2008, por muitos atribuída à falta de regulação, os Estados têm retomado sua capacidade intervencionista. A crise econômica tem provocado a redução do fluxo de mercadorias e capitais pelo mundo, ao mesmo tempo em que aumenta as restrições para o deslocamento de pessoas, levando alguns analistas a falar em “desglobalização”.

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Entre as manifestações da hegemonia dos Estados Unidos no campo cultural pode-se apontar a difusão pelo mundo de seu estilo de vida, hábitos e costumes (o American way of life) seja por meio de seus produtos industriais e de serviços – programas de computadores, videogames, redes de fast-food, etc., seja por meio dos produtos de sua indústria cultural – noticiários da CNN, filmes de Hollywood, séries de televisão, músicas, etc., ou por meio da difusão do inglês, transformado em língua franca dos negócios, da ciência, do turismo e a mais utilizada na internet. No campo geopolítico-militar, os Estados Unidos são responsáveis por quase metade dos gastos com armas no mundo (2014) e o país ainda se mantém na vanguarda tecnológica. Vale lembrar, no entanto, que em vários lugares do mundo aparecem movimentos de resistência à hegemonia norte-americana. a) Os dois centros hegemônicos da atual economia informacional são os Estados Unidos e o Japão. Isso se deve à liderança desses países, sobretudo do primeiro, na atual Revolução Técnico-Científica. Esses dois países são os que mais investem em pesquisa e desenvolvimento, possuem importantes universidades e sediam grandes corporações transnacionais. b) A África subsaariana é a porção mais marginalizada do espaço geográfico mundial, agora organizado em redes por meio das quais circulam crescentes fluxos de capitais, mercadorias, pessoas e informações. Isso se deve ao baixo grau de desenvolvimento dos países dessa região, à carência de infraestrutura ou do baixo desenvolvimento do meio técnico-científico informacional (para usar a terminologia do geógrafo Milton Santos), ao baixo poder aquisitivo da população, entre outros problemas. Agravando a penúria desses países, muitos vivem guerras civis e conflitos étnicos que contribuem para fragilizar os Estados (por isso são chamados de “Estados Frágeis”), destruir a já precária infraestrutura econômica e afugentar ainda mais possíveis investimentos estrangeiros.

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Com base na observação do mapa constatamos que a região geográfica onde se concentra a maioria dos países classificados como desesperadamente pobres (ou extremamente pobres, para usar a terminologia da ONU) é a África subsaariana, com destaque para países de grande população como a Nigéria, a República Democrática do Congo, a Etiópia, o Sudão e o Sudão do Sul. A região onde se concentra a maioria das pessoas muito pobres é a Ásia do Sul, com destaque para a Índia, o país com o maior número de habitantes vivendo abaixo da linha internacional de pobreza.

Os elementos geográficos (e também históricos) que justificam essa pobreza estão relacionados com a herança colonial (todos esses países foram colônias europeias até meados do século XX), concentração de renda, carência de infraestrutura (como saneamento básico)

e de serviços públicos (educação e saúde), agravados por questões ambientais (sobretudo secas, desertificações e inundações) e políticas – Estados frágeis dominados por regimes ditatoriais e constantes guerras civis. 19

a) O Estado Nacional é uma organização política que se originou na Europa no início da era moderna. É composto por um governo soberano e um território com fronteiras delimitadas. Pode ser formado por uma ou mais nações. Nação, em sentido antropológico, é usada como sinônimo de etnia. Assim, a União Soviética era formada por várias nações ou etnias, assim como a Rússia de hoje. No entanto, nação também pode ter uma conotação político-territorial e, como conceito jurídico-político, é usada como sinônimo de Estado. b) Os habitantes da Crimeia são russos étnicos. Quando uma nação (em sentido antropológico) ou etnia defende algum programa de autoafirmação de sua nacionalidade, está empenhada em um projeto político chamado nacionalismo. O nacionalismo dos russos da Crimeia manifestou-se pela incorporação à Rússia.

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a) O Oriente Médio é uma região localizada no hemisfério norte, na porção oeste do continente asiático, situada estrategicamente entre o Ocidente e o Oriente. Trata-se de uma denominação eurocêntrica; quando a referência é o continente asiático a região é chamada de Ásia ocidental. Possui grandes reservas de petróleo, destacando-se como principais produtores a Arábia Saudita, o Irã, o Iraque, o Kuwait e os Emirados Árabes Unidos. b) Primeira razão: sua posição estratégica no Oriente Médio e condição de grande produtor de petróleo, liderando, nos últimos anos, a oposição à hegemonia norte-americana na região. Vale lembrar que a maioria da população iraniana pertence à corrente islâmica xiita, e o país disputa a hegemonia regional com a Arábia Saudita, majoritariamente sunita, que tem apoio dos Estados Unidos; segunda razão: o desenvolvimento de um programa nuclear, que está sendo monitorado pela Agência Internacional de Energia na tentativa de impedir a produção da bomba atômica, e tem oposição frontal de Israel.

c) Entre os conflitos de grande repercussão mundial, destacam-se: • a ocupação da Palestina por Israel e o bloqueio econômico imposto à população da Faixa de Gaza, que é frequentemente bombardeada; • as revoltas da “Primavera Árabe”, que começaram na Tunísia no início de 2011 e atingiram outros países da região, como o Egito e a Síria (nesse país a revolta se transformou em uma guerra civil, que acabou contribuindo para o fortalecimento do Estado Islâmico). Manual do Professor

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a) O Estado Islâmico é um grupo terrorista fundamentalista islâmico (sunita). O grupo surgiu no início da ocupação norte-americana do Iraque em 2003 com o nome de Al-Qaeda do Iraque e foi resultado de um acordo do grupo rebelde Al-Tawhid (que se destacou na resistência) com Osama bin Laden. Em 2010, o grupo mudou o nome para Estado Islâmico do Iraque, mas continuou como uma franquia da Al-Qaeda. Em 2013, o Estado Islâmico do Iraque interveio na guerra civil síria, e seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi, anunciou a fusão com a Frente Al-Nusra (franquia da Al-Qaeda que combatia o governo Bashar al-Assad na Síria) e declarou que a partir dali operariam em conjunto com o nome de Estado Islâmico do Iraque e da Síria, mais conhecido pela sigla Isis. Isso levou à intervenção do líder da Al-Qaeda, Ayman al-Zawahari, que reafirmou a subordinação da Al-Nusra à Al-Qaeda e não ao Isis. Após essa disputa de poder, houve um rompimento definitivo entre a Al-Qaeda e o Isis. Com isso, os dois grupos tornaram-se rivais e passaram a lutar pelo controle de territórios na Síria. Após esse racha, ocorrido no início de 2014, o Isis passou a se autodenominar Estado

Islâmico (EI). Em 2015 o EI controlava parte do território do Iraque e da Síria. b) Como qualquer grupo terrorista, o Estado Islâmico antes de tudo quer infundir o terror na população dos territórios que ocupa e mesmo na população mundial – quando posta decapitações e outras atrocidades nas redes sociais – ou quando faz atentados, como os que foram perpetrados em Paris. Na tentativa de justificar seu nome, luta contra os governos da Síria e do Iraque para conquistar parte de seus territórios e implantar um “califado”, governado por Abu Bakr al-Baghdadi, que se autointitula “califa”.

Caiu no Enem 1

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Textos de apoio 1

Origem, causas e impactos da crise

A crise financeira de 2008 foi a maior da história do capitalismo desde a grande depressão de 1929. Começou nos Estados Unidos após o colapso da bolha especulativa no mercado imobiliário, alimentada pela enorme expansão de crédito bancário e potencializada pelo uso de novos instrumentos financeiros, a crise financeira se espalhou pelo mundo todo em poucos meses. O evento detonador da crise foi a falência do banco de investimento Lehman Brothers no dia 15 de setembro de 2008, após a recusa do Federal Reserve (FED, banco central americano) em socorrer a instituição. Essa atitude do FED teve um impacto tremendo sobre o estado de confiança dos mercados financeiros, rompendo a convenção dominante de que a autoridade monetária norte-americana iria socorrer todas as instituições financeiras afetadas pelo estouro da bolha especulativa no mercado imobiliário. O rompimento dessa convenção produziu pânico entre as instituições financeiras, o que resultou num aumento significativo da sua preferência pela liquidez, principalmente no caso dos bancos comerciais. O aumento da procura pela liquidez detonou um processo de venda de ativos financeiros em larga escala, levando a um processo Minskiano de “deflação de ativos”, com queda súbita e violenta dos preços dos ativos financeiros, e contração do crédito bancário para transações comerciais e industriais. A “evaporação do crédito” resultou numa rápida e profunda queda da produção industrial e do comércio internacional em todo o mundo. 338

Manual do Professor

[...] A crise financeira de 2008 não foi apenas o resultado da combinação perversa entre desregulação financeira e política monetária frouxa. Essas são apenas as causas próximas da crise. Mas existe uma causa mais fundamental, qual seja: o padrão de capitalismo adotado nos Estados Unidos e na Europa a partir do final da década de 1970, o qual pode ser chamado de “capitalismo neoliberal”. Entre 1950 e 1973, as economias capitalistas avançadas vivenciaram uma “época de ouro” de crescimento econômico, no qual a distribuição pessoal e funcional da renda era progressivamente mais equitativa, a taxa de acumulação de capital era mantida em patamares elevados devido à existência de um ambiente macroeconômico estável (inflação baixa, juros baixos, taxas de câmbio estáveis) e forte expansão da demanda agregada. Além disso, a taxa de desemprego era inferior a 4% da força de trabalho em quase todos os países desenvolvidos (exceto, curiosamente, nos Estados Unidos). Durante esse período, os mercados financeiros eram pesadamente regulados, a movimentação de capitais entre as fronteiras nacionais era bastante restrita, as taxas de câmbio eram fixas com respeito ao dólar americano e os salários reais cresciam aproximadamente ao mesmo ritmo da produtividade do trabalho. A combinação entre estabilidade macroeconômica, crescimento acelerado e baixo desemprego permitia que os governos dos países desenvolvidos operassem

com baixos deficits fiscais e uma dívida pública reduzida como proporção do PIB. O “Estado do Bem-Estar Social” não representava um fardo para as contas públicas. Esse “capitalismo socialmente regulado” apresentava um regime de crescimento do tipo “wage-led”, ou seja, um regime no qual o crescimento dos salários reais (num ritmo igual à produtividade do trabalho) permitia uma forte expansão da demanda de consumo, a qual induzia as firmas a realizar um volume elevado de investimentos na ampliação de capacidade produtiva, ao mesmo tempo em que mantinha as pressões inflacionárias relativamente contidas devido à estabilidade do custo unitário do trabalho. Com o colapso do Sistema de Bretton Woods e os choques do petróleo em 1973 e 1979, o ambiente macroeconômico muda radicalmente e o mundo desenvolvido passa a conviver com o fenômeno da “estagflação”. Esse ambiente macroeconômico permitiu o ressurgimento daquelas doutrinas liberais. Após a eleição de Margareth Thatcher no Reino Unido e Ronald Reagan nos Estados Unidos, as políticas econômicas nos países desenvolvidos foram progressivamente pautadas pelos motes da desregulação, privatização e redução de impostos. Os mercados financeiros foram liberalizados, os controles de capitais foram abolidos nos países desenvolvidos e os impostos foram reduzidos, principalmente sobre os mais ricos. Os sindicatos de trabalhadores foram deliberadamente enfraquecidos pelas políticas adotadas por Reagan e Thatcher, registrando-se uma forte redução da filiação sindical da força de trabalho. O resultado macroeconômico desse novo “padrão de capitalismo” foi uma crescente desigualdade na distribuição funcional e pessoal da renda, à medida que os salários passaram a crescer num ritmo bem inferior ao da produtividade do trabalho e o sistema tributário perdeu, em vários países, o seu caráter progressivo. O aumento da concentração de renda e o crescimento anêmico dos salários reais foi o responsável pela perda do dinamismo endógeno dos gastos de consumo, notadamente nos Estados Unidos, os quais passaram a depender cada vez mais do aumento do endividamento das famílias para a sua sustentação a médio e longo prazo. Nesse contexto, a desregulação dos mercados financeiros tornou-se funcional, uma vez que a mesma permitiu um aumento considerável da elasticidade da oferta de crédito bancário, viabilizando assim o crescimento do endividamento das famílias, necessário para a sustentação da expansão dos gastos de consumo. O aumento extraordinário do crédito bancário resultou num processo cumulativo de aumento dos preços dos ativos reais e financeiros, permitindo assim a sustentação de posturas financeiras cada vez mais frágeis (especulativa e Ponzi) por parte das famílias, empresas e bancos. O regime de crescimento “wage-led” fora substituído

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por um regime “finance-led”. Daqui se segue que no “capitalismo neoliberal” as bolhas e a fragilidade financeira não são “anomalias” no sistema, mas parte integrante do seu modus operandi. No que se refere à tese de que a crise de 2008 seria apenas um desvio temporário da trajetória de crescimento de longo prazo das economias capitalistas, os eventos ocorridos depois de 2009 parecem apontar claramente para a falsidade dessa conjectura. Com efeito, a crise de 2008 não foi apenas um “curto-circuito” na máquina capitalista, o qual poderia ser corrigido por intermédio da intervenção do Estado no “mecanismo de ignição” das economias capitalistas. Isso porque o regime de crescimento do tipo “finance-led” teve como contrapartida uma elevação significativa do endividamento do setor privado nos anos anteriores à crise de 2008. Considerando apenas os países da área do euro, constatamos que entre 1997 e 2008 a dívida das empresas não financeiras passou de 250% para 280% do PIB, o endividamento dos bancos aumentou de 190% para 250% do PIB e o endividamento das famílias aumentou em quase 50%. Após o colapso do Lehman Brothers o setor privado nos países desenvolvidos iniciou um processo de “deflação de dívidas”, no qual a “propensão a poupar” dos agentes privados é aumentada com o intuito de permitir uma redução do estoque de endividamento. Esse aumento da propensão a poupar do setor privado atuou no sentido de anular (parcialmente) o efeito sobre a produção e o emprego do aumento dos déficits fiscais. O resultado combinado do aumento da propensão a poupar do setor privado e redução da poupança do setor público foi uma pequena recuperação do nível de atividade econômica e uma “socialização na prática” de parcela considerável da dívida privada, transferida agora para o setor público. Essa “socialização das dívidas privadas” é uma das causas da crise fiscal da área do euro, a qual, na ausência de uma monetização parcial do endividamento do setor público dos países por ela afetados, irá resultar em vários anos de contração fiscal, retardando assim a recuperação econômica do mundo desenvolvido. A perspectiva para os países da área do euro (e em menor medida para os Estados Unidos) é de vários anos de estagnação econômica. Em suma, a crise financeira de 2008 foi o resultado do modus operandi do “capitalismo neoliberal” implantado no final da década de 1970 e os seus efeitos sobre o nível de produção e de emprego nos países desenvolvidos serão duradouros devido ao elevado endividamento do setor privado, gerado por um regime de crescimento do tipo “finance-led”. OREIRO, José Luis. Origem, causas e impacto da crise. Valor Econômico. São Paulo, 13 set. 2011. Disponível em: . Acesso em: 12 abr. 2016.

O mundo vive uma ‘desglobalização’?

Na década de 1990, qualquer debate político-econômico sempre envolvia uma “palavra mágica”: globalização. O termo define as políticas seguidas por países e em-

presas dentro de uma realidade em que as multinacionais podiam mudar de país num piscar de olhos e o dinheiro cruzava fronteiras com a velocidade da internet. Manual do Professor

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Hoje, o cenário é outro. O comércio mundial e os investimentos internacionais sofrem uma retração. Nas principais economias, florescem discursos e práticas anti-imigração, e a Rodada de Doha, como são conhecidas as negociações promovidas pela Organização Mundial do Comércio (OMC) em prol da liberalização de negócios, já dura 13 anos, sem ser concluída. Simon Evenett, especialista em comércio mundial da Universidade de Saint Gallen, na Suíça, defende que houve uma inegável mudança na tendência de globalização desde a crise financeira global de 2008. “Isso afeta mais alguns setores do que outros, mas é evidente no comércio internacional e no setor financeiro, um símbolo da globalização”, afirma. E este novo momento já tem inclusive um nome: “desglobalização”.

Portas fechadas Na reunião dos países do G20 em 2009, em Londres, no Reino Unido, o grupo das maiores economias do mundo se comprometeu a “evitar a repetição de erros históricos”, conscientes do perigo que a recessão mundial representava para a globalização. Foi uma referência clara a outra grande crise econômico-financeira dos últimos 90 anos, vivida na década de 30, quando países lançaram mão de políticas ultraprotecionistas, que, segundo seus críticos, agravaram ainda mais aqueles tempos difíceis. O exemplo mais claro foi a lei Smoot-Hawley, nos Estados Unidos, que elevou impostos de importação para mais de 20 mil tipos de produtos estrangeiros. “Ainda não foi adotada agora uma medida tão óbvia quanto esta, mas os governos vêm aplicando de forma discreta toda sorte de mecanismos para proteger sua produção nacional”, destaca Evenett. Com a economia global abalada, o impacto sobre o comércio tem sido claro. Se nos anos anteriores a 2008 cada aumento de 1% no PIB global era acompanhado por um aumento de 2% no comércio mundial, hoje esta proporção é de um para um, nos melhores casos. Em janeiro, o comércio mundial caiu 1,6% e em fevereiro, 0,9%. “Isso afeta os setores exportadores, que deixam de ser um motor de crescimento. Impacta ainda a criação de emprego e o nível dos salários, porque é nestes setores que estão os postos mais bem remunerados”, explica Evenett.

Política de imigração As barreiras não são comerciais. O mal-estar econômico após 2008 tem alterado o cenário político. No centro do debate de muitos países desenvolvidos, está o mundo multicultural gerado pelos fluxos migratórios, outro símbolo da globalização. Ao mesmo tempo, movimentos anti-imigração, como a Frente Nacional, na França, e o Ukip, no Reino Unido, vêm ganhando peso. Um ponto-chave do futuro referendo do Reino Unido sobre sua permanência na União Europeia diz respeito a uma mudança defendida pelo primeiro-ministro britânico, Da340

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vid Cameron, em um princípio sagrado do bloco: a liberdade de circulação dos seus cidadãos entre os países-membros. Ann Pettifor, da consultoria Prime Economics, avalia que o surgimento do partido Syriza, na Grécia, e dos nacionalistas do SNP, na Escócia, também são simbólicos deste questionamento da globalização. “Também vimos isso na crise de 1930. As pessoas buscam refúgio em diferentes grupos políticos diante da instabilidade dos mercados e da incapacidade do governo de reagir”, destaca Pettifor.

Fluxo financeiro Outro ícone do mundo globalizado é o livre fluxo financeiro. Com milhões de transações sendo processadas por segundo pela internet nos dias de hoje, é fácil se esquecer de que, até o fim dos anos 1970, havia um forte controle sobre a movimentação de capital. Os britânicos tinham, por exemplo, um limite de 50 libras (R$ 240) para levarem em viagens ao exterior. Tanto a direita quanto a esquerda costumam não se lembrar que o pilar desta política foram os acordos de Bretton Woods, promovidos pelos Estados Unidos e o Reino Unido e que criaram o Fundo Monetário Internacional (FMI), como o organismo que supervisionaria o mundo criado no pós-guerra. Hoje, não se vê um retorno àquele controle rígido, mas um comunicado do Banco Central britânico destaca que os bancos estão evitando realizar empréstimos internacionais.

‘Desglobalização’ Em um recente discurso, Kristin Forbes, integrante do Comitê de Política Monetária da entidade, afirmou que há uma “contração massiva dos fluxos financeiros globais”, que qualificou como “desglobalização bancária”. Entre os exemplos deste fenômeno, estão o encerramento de operações bancárias em mais de 20 países da terceira maior instituição do tipo no mundo, o HSBC. Muitos de seus empregados viveram em primeira mão os efeitos desta retração da globalização de grandes bancos: entre 2011 e 2013, foram fechados mais de 30 mil postos de trabalho. Este caminho também foi percorrido por outro gigante do setor, o Citi, que reduziu sua presença global para quase a metade de antes, passando a operar apenas em 24 países. “Mesmo com a redução de empréstimos internacionais por bancos, para aumentar suas reservas, a arquitetura financeira mundial não se estabilizou, como mostra o aumento de US$ 57 bilhões na dívida global desde a crise”, diz Pettifor.

Pausa ou retração? A pergunta é se estas tendências comerciais, financeiras e políticas marcam uma nova era ou se são um fenômeno transitório. Nos últimos 25 anos, a unificação mundial gerada pela globalização desenhou um novo planeta. A incorporação plena da China e da Índia – que, juntas, têm cerca de 40% da população do mundo –, bem como do Leste Europeu, são claros sinais do avanço da globalização.

Enquanto a Rodada de Doha pela liberalização segue paralisada, os acordos comerciais têm se multiplicado, com dois destaques: entre os EUA e a União Europeia, que representam 40% da economia mundial, e entre 15 países do Pacífico na Ásia e nas Américas. A tecnologia também está do lado da globalização, levando mais à ruptura de fronteiras do que a criação de obstáculos. Em um comunicado recente, o chefe de pesquisas de comércio internacional do banco holandês ING, Raoul Leering, apontou fenômenos econômicos, como a crise na Europa, como a causa da atual desaceleração, mas destacou que a globalização seguirá em frente. “Não veremos se repetir o ‘boom’ dos anos 1990 e do princípio deste século, mas a integração econômica prosseguirá. Ainda falta uma integração entre países emer-

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gentes, como China, Índia e Filipinas, que têm baixos níveis de investimentos estrangeiros em comparação com os países desenvolvidos”, avalia. “A fragilidade da economia europeia foi um fator desta desaceleração transitória.” Segundo Pettifor, é importante diferenciar a globalização comercial e financeira. “Não se pode subestimar o poder das forças que têm contribuído para a globalização. Mas é preciso distinguir a globalização comercial, que traz benefícios, da financeira, que gera instabilidade e uma forte reação social e política, que seguirá presente se não for controlada sua volatilidade.” BBC Brasil. O mundo vive uma ‘desglobalização’? São Paulo, 6 jun. 2015. Disponível em: . Acesso em: 12 abr. 2016.

Um novo retrato da desigualdade global

Sabe-se perfeitamente hoje que as desigualdades de renda e riqueza na maior parte dos países ricos, e especialmente nos Estados Unidos, dispararam, nas últimas décadas e, de modo trágico, agravaram-se ainda mais desde a Grande Recessão. Mas e no resto do mundo? A distância entre os países está se reduzindo, à medida que potências econômicas como a China e Índia resgatam centenas de milhões de pessoas da pobreza? E no interior das nações pobres e de riqueza média, a desigualdade está piorando ou sendo reduzida? Estamos caminhando para um mundo mais igual ou mais injusto? São questões complexas. Uma pesquisa de um economista do Banco Mundial de nome Branko Milanovic, junto com outros acadêmicos, começou a apontar algumas respostas. A partir do século 18, a revolução industrial produziu um aumento gigantesco da riqueza na Europa e América do Norte. É claro, a desigualdade nestes países era chocante. Pense nas indústrias têxteis de Liverpool e Manchester, na Inglaterra dos anos 1820, ou nas favelas do baixo Leste de Manhattan ou do Sul de Chicago, nos 1890. Mas o abismo entre os ricos e o resto, como um fenômeno global, alargou-se ainda mais até a II Guerra Mundial. Àquela época, a desigualdade entre os países era maior que a desigualdade em seu interior. Mas depois da Guerra Fria, no final dos anos 1980, a globalização econômica se acelerou e a distância entre as nações começou a encolher. O período entre 1988 e 2008 “pode ter representado o primeiro declínio na desigualdade global entre cidadãos do mundo desde a Revolução Industrial”, diz Milanovic, que nasceu na antiga Iugoslávia. É o autor de Os que têm e os que não têm: uma história breve e idiossincrática da desigualdade global [sem edição em português], um texto publicado em novembro último [2012]. Embora a distância entre algumas regiões tenha diminuído notavelmente – em especial, entre a Ásia e as economias avançadas do Ocidente –, persistem grandes abismos. As rendas globais, por país, aproximaram-se umas das outras nas últimas décadas, particularmente devido à força do crescimento da China e Índia. Mas a igualdade geral entre os seres humanos, considerados como indivíduos, melhorou muito pouco. O coeficiente

de Gini, uma medida de desigualdade, melhorou apenas 1,4 pontos, entre 2002 e 2008. Ou seja: embora nações da Ásia, do Oriente Médio e da América Latina como um todo, possam estar se aproximando do Ocidente, os pobres são deixados para trás em toda parte – inclusive em países como a China, onde beneficiaram-se de alguma forma da melhora dos padrões de vida. Entre 1988 e 2008, descobriu Milanovic, a renda do 1% mais rico do planeta cresceu 60%, enquanto os 5% mais pobres não tiveram mudança em seus rendimentos. E embora as rendas médias tenham melhorado bastante, nas últimas décadas, há ainda enormes desequilíbrios: 8% da humanidade abocanham 50% da renda global; o 1% mais rico fica, sozinho, como 15%. Os ganhos de renda foram maiores entre a elite global – executivos financeiros e corporativos nos países ricos – e entre as grandes “classes médias emergentes” da China, Índia, Indonésia e Brasil. Quem perdeu? Os africanos, alguns latino-americanos e gente na Europa Oriental pós-comunista e na antiga União Soviética, apurou Milanovic. Os Estados Unidos oferecem um exemplo particularmente sombrio para o mundo. E como, de diversas maneiras, eles “lideram o mundo”, se outros seguirem seu padrão não poderemos esperar por um futuro mais justo. Por um lado, a ampliação das desigualdades de renda e riqueza nos EUA é parte de uma tendência mundial. Um estudo de 2011, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), verificou que as desigualdades começaram a crescer no final dos anos 1970 e início dos 80, nos Estados Unidos e Grã-Bretanha (além de Israel). A tendência começou a se espalhar pelo mundo no final dos anos 1980. Na última década, as desigualdades de renda cresceram mesmo em países tradicionalmente mais igualitários, como Alemanha, Suécia e Dinamarca. Com algumas poucas exceções – França, Japão, Espanha – os 10% mais ricos, na maior parte das economias avançadas, dispararam, enquanto os 10% mais pobres ficaram para trás. Mas a tendência não foi universal, nem inevitável. Nestes mesmos anos, países como Chile, México, Grécia, Turquia e Hungria conseguiram reduzir de modo significativo as desigualdades de renda (em aluns casos, muito altas). Isso suManual do Professor

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gere que a desigualdade é um produto da política, e não apenas de forças macroeconômicas. Não tem amparo nos fatos a ideia de que a desigualdade é um subproduto inevitável da globalização, do livre movimento de trabalho, capital, bens e serviços, ou das mudanças tecnológicas que favorecem os assalariados mais bem formados ou capacitados. Entre as economias avançadas, os Estados Unidos têm algumas das piores disparidades de renda e oportunidades, com consequências macroeconômicas devastadoras. O Produto Interno Bruto (PIB) do país mais que quadruplicou, nos últimos quarenta anos, e quase dobrou nos últimos 25, mas, como se sabe agora, os benefícios concentraram-se no topo – e, cada vez mais, no topo do topo. No ano passado, o 1% dos norte-americanos mais ricos apoderou-se de 22% da renda do país. O 0,1% mais rico, sozinho, abocanhou 11%. E 95% de todos os ganhos de renda desde 2009 foram para o 1% mais rico. Estatísticas recentes demonstram que a renda mediana nos Estados Unidos não cresceu em quase um quarto do século. O homem norte-americano típico ganha menos do que ganhava há 45 anos, se considerada a inflação; homens que terminaram o ensino médio mas não completaram quatro anos de ensino superior recebem quase 40% menos do que há quatro décadas. A desigualdade norte-americana começou a crescer há trinta anos, impulsionada por reduções de impostos para os ricos e relaxamento das regulamentações do mercado financeiro. Não é coincidência. O fenômeno foi agravado devido a investimentos insuficientes em infraestrutura, educação e saúde, e em redes de seguridade social. O aumento da desigualdade avança em espiral, ao corroer o sistema político e a governança democrática. E a Europa parece ansiosa para seguir o mau exemplo dos Estados Unidos. A adesão a políticas de “austeridade”, da Grã-Bretanha à Alemanha, está conduzindo a desemprego alto, salários em queda e desigualdade crescente. Governantes como Angela Merkel, a chanceler alemã reeleita, e Mario Draghi, o presidente do Banco Central Europeu, argumentam que os problemas europeus resultam de dispêndios exagerados com o estado de bem-estar social. Mas esta linha de raciocínio apenas mergulhou o continente em recessão (ou mesmo depressão). O fato de o processo ter atingido o fundo do poço (a recessão “oficial” pode ter terminado) oferece pouco conforto para os 27 milhões de desempregados na União Europeia. Em ambos os lados do Atlântico Norte, os fanáticos da “austeridade” dizem: “vamos em frente; são pílulas amargas de que precisamos para alcançar a prosperidade”. Mas prosperidade para quem? A financeirização excessiva – que ajuda a explicar a condição britânica de segundo país mais desigual (depois dos Estados Unidos), entre as economias avan-

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çadas – também permite compreender os mecanismos da desigualdade. Em muitos países, controles débeis sobre as empresas e coesão social erodida produziram abismos crescentes entre os rendimentos dos executivos-chefes e dos trabalhadores comuns. Ainda não se chegou ao nível de 500 × 1, das maiores corporações norte-americanas (segundo estatísticas da Organização Internacional do Trabalho), mas a níveis bem mais alto que os de antes da recessão. O Japão, que reduziu os salários dos executivos, é uma exceção notável. As inovações norte-americanas em rent-seeking – enriquecer não por meio de um aumento do tamanho do bolo, mas manipulando o sistema para abocanhar uma fatia maior – tornaram-se globais. A globalização assimétrica produziu efeitos em todo o mundo. A mobilidade do capital obrigou os trabalhadores a fazer concessões salariais, e os governos a oferecer benefícios fiscais. O resultado é uma corrida para baixo. Os salários e condições de trabalho estão sob ameaça. Empresas pioneiras, como a Apple, cuja atividade baseia-se em grandes avanços científicos e tecnológicos (muitos dos quais, financiados pelos governos) também mostraram grande destreza em evitar impostos. Apropriam-se do esforço coletivo, mas não dão nada em retorno. A desigualdade e pobreza entre as crianças é um desastre moral mais chocante. Elas desmentem as hipóteses da direita, segundo as quais a pobreza resulta de preguiça e escolhas erradas: as crianças não podem escolher seus pais. Nos Estados Unidos, uma em cada quatro crianças vive na pobreza; na Espanha e Grécia, uma em cada seis; na Austrália, Grã-Bretanha e Canadá, mais de uma em cada dez. Nada disso é inevitável. Alguns países optaram por criar economias menos desiguais: a Coreia do Sul, onde há meio século apenas uma em cada dez pessoas chegava à universidade, tem hoje um dos índices mais altos de acesso ao ensino superior. Por todas estas razões, penso que estamos caminhando para um mundo dividido não apenas entre os que têm e os que não têm. Alguns países terão sucesso ao criar prosperidade compartilhada – a única que, a meu ver, é verdadeiramente sustentável. Outros deixaram a desigualdade correr solta. Nestas sociedades divididas, os ricos irão se encastelar em bairros murados, quase completamente separados dos pobres, cujas vidas serão quase insondáveis para eles – e vice-versa. Visitei sociedades que parecem ter escolhido este padrão. Não são lugares em que a maior parte de nós gostaria de viver – seja nos enclaves enclausurados, seja nas favelas em desespero. STIGLITZ, Joseph. Um novo retrato da desigualdade global. Outras palavras. São Paulo, 15 out. 2013. Disponível em: . Acesso em: 12 abr. 2016.

Pessoas vulneráveis, mundo vulnerável

A vulnerabilidade, enquanto conceito, pode parecer excessivamente árida e abstrata. Afinal, a maioria das pessoas e das sociedades em diferentes níveis de desenvolvimento são vulneráveis em muitos aspetos a eventos e circunstâncias adversos, alguns dos quais não podem ser antecipados ou evitados. Hoje em dia, algumas fragilidades econômicas 342

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minam o contrato social, mesmo em sociedades industrializadas avançadas, e nenhum país ou comunidade está imune aos efeitos em longo prazo das alterações climáticas. Todavia, a vulnerabilidade enquanto conceito pode tornar-se menos abstrata quando a análise recai sobre quem é vulnerável, a que é vulnerável e por quê.

Quem é vulnerável, a quê e por quê Quem?

Vulnerabilidade

A quê?

Por quê?

Os pobres, os trabalhadores e os socialmente excluídos

Choques econômicos, choques no nível da saúde

Capacidades limitadas

Mulheres, portadores de deficiência, migrantes, minorias, crianças, idosos, jovens

Catástrofes naturais, alterações climáticas, perigos industriais

Localização, posição na sociedade, períodos sensíveis no ciclo de vida

Conflitos, agitação civil

Fraca coesão social, instituições sem capacidade de resposta, fraca governação

Comunidades inteiras, regiões

Fonte: Gabinete do Relatório do Desenvolvimento Humano.

Quem é vulnerável? Em princípio, todos somos vulneráveis a algumas adversidades ou circunstâncias, mas algumas pessoas são mais vulneráveis do que outras. A identificação de grupos vulneráveis a choques ou adversidades pode ser efetuada com base em limiares; permitindo assim proceder a uma medição. As pessoas são vulneráveis à pobreza se estiverem “abaixo, ou em risco de ficar abaixo, de um certo limiar minimamente aceitável de escolhas fundamentais em diversas dimensões, como, a saúde, a educação, os recursos materiais e a segurança”1. Estes limiares são suscetíveis de variar de acordo com o nível de desenvolvimento. A pobreza e a vulnerabilidade estão ligadas, são multidimensionais e, por vezes, reforçam-se mutuamente. Mas não são sinônimos. Enquanto a vulnerabilidade constitui geralmente um aspecto importante da pobreza, ser rico não significa não ser vulnerável. Tanto a pobreza como a vulnerabilidade são dinâmicas. Os ricos podem não ser vulneráveis sempre, ou por toda a vida, tal como alguns pobres podem não permanecer sempre pobres. Contudo, os pobres são inerentemente vulneráveis porque lhes faltam capacidades básicas suficientes para o exercício da sua agência humana. Sofrem muitas privações. Não só carecem de bens materiais adequados, como também tendem a ter uma educação e uma saúde insuficientes e a sofrer deficiências noutras áreas. Da mesma forma, o seu acesso aos sistemas de justiça pode ser limitado. Tendem a ser intrinsecamente vulneráveis. Os pobres já vivem abaixo do limiar crítico da pobreza. Se as pessoas são vulneráveis quando enfrentam um risco elevado de cair abaixo desse limiar, os pobres, já abaixo do limiar, são todos vulneráveis. Isto é verdade por definição, mas é mais do que apenas uma questão de definição. Qualquer pessoa carente do essencial para viver uma vida minimamente aceitável é verdadeiramente vulnerável. Quase 2,2 bilhões de pessoas são vulneráveis à pobreza multidimensional, incluindo 1,5 bilhão que são multidimensionalmente pobres. Três quartos dos pobres do mundo vivem em zonas rurais, onde os trabalhadores agrícolas sofrem a maior in1

cidência de pobreza, presos na armadilha da fraca produtividade, do desemprego sazonal e dos baixos salários. Em termos globais, 1,2 bilhão de pessoas (22%) vivem com menos de 1,25 dólares por dia. Se elevarmos a linha de pobreza para 2,50 dólares por dia, a taxa de pobreza mundial aumenta para cerca de 50 por cento, ou seja, para 2,7 bilhões de pessoas. Ao deslocar a linha de pobreza desta forma, passa a estar incluído um grande número de pessoas potencialmente vulneráveis à pobreza e às dificuldades. Na Ásia do Sul, 44,4 por cento da população —cerca de 730 milhões de pessoas—vivem com 1,25 a 2,50 dólares por dia. Muitos dos que se juntaram recentemente à classe média poderiam facilmente voltar à pobreza com uma súbita mudança de circunstâncias. Em todo o mundo, a proporção dos pobres e dos multidimensionalmente pobres tem vindo a diminuir, mas isso não significa necessariamente que a sua vulnerabilidade tenha sido reduzida. Uma percentagem considerável da população está perto do limiar da pobreza (os “quase pobres”), e a existência desse grupo implica que os choques idiossincráticos ou generalizados poderão facilmente fazer um grande número de pessoas regressar à pobreza. Mas a vulnerabilidade vai ainda mais longe. Os problemas de saúde, a perda de emprego, o acesso limitado a recursos materiais, as crises econômicas e a instabilidade do clima contribuem, no seu conjunto, para a vulnerabilidade e a insegurança econômica das pessoas, sobretudo quando os dispositivos de redução dos riscos não estão bem definidos e as medidas de proteção social e os sistemas de saúde não são suficientemente sólidos ou abrangentes. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), apenas um terço dos países do mundo, com cerca de 28 por cento da população total, fornecem uma proteção social global aos seus cidadãos. Com uma proteção social limitada, as crises financeiras podem dar rapidamente origem a profundas crises sociais. A taxa de pobreza da Indonésia subiu drasticamente de 11 por cento para 37 por cento durante a crise financeira asiática no final da década de noventa. Da mesma forma, a crise financeira mundial de 2007/2008 deu origem a uma subida acentuada do número de trabalhadores pobres. A

Dutta, Foster e Mishra, 2011, p. 1.

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OIT estima um acréscimo de 50 milhões de trabalhadores pobres em 2011. Apenas 24 milhões deles ultrapassaram a linha de pobreza de 1,25 dólares por dia entre 2007 e 2011, em comparação com 134 milhões entre 2000 e 2007. O trabalho é uma das principais fontes de segurança das pessoas. O emprego fornece e mantém a subsistência, mas ainda mais importante para a redução da vulnerabilidade é o acesso a empregos dignos, com as necessárias proteções sociais. Na conjuntura atual, conjugaram-se diversas forças para tornar os empregos dignos mais difíceis de encontrar. Uma delas é a globalização, que, ao exercer pressão sobre os pactos sociais, reduziu alguns dos “amortecedores” nacionais integrados. A ela junta-se a forte crença na autocorreção dos mercados, nos mercados de trabalho especialmente flexíveis e nas políticas macroeconômicas mais centradas na estabilidade dos preços do que no pleno emprego. Quando a crise se instala, o aumento do desemprego e as proteções sociais limitadas ou até mesmo inexistentes fazem disparar a insegurança econômica e a vulnerabilidade. O reforço das capacidades – na saúde, na educação e no controle sobre os recursos – reduz a vulnerabilidade, pois 5

fornece às pessoas ferramentas que lhes permitirão superar as ameaças quando e onde surgirem. No entanto, um nível mais elevado de capacidades pode não ser suficiente por si só: as mulheres podem sentir-se inseguras, independentemente da sua educação. As pessoas também não funcionam sozinhas: a forma como os indivíduos se relacionam entre si ou em grupo pode determinar a forma como é proporcionada proteção durante as crises. A forma como as pessoas e as comunidades reagem ao risco e às ameaças é influenciada, quer por normas e valores restritivos que descurem certos grupos (como as mulheres e as minorias), quer pela falta de coesão na sociedade que restrinja a ação coletiva. Existe igualmente um problema intrínseco de equidade: os riscos são geralmente maiores para os pobres do que para os ricos. Os pobres e os países pobres estão particularmente sujeitos à vulnerabilidade. Enfrentam choques maiores, são menos adaptáveis e recebem menos compensações (ou nenhuma) quando ocorrem crises. PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. Relatório de Desenvolvimento Humano 2014. Nova York: Pnud, 2014. p. 19-20.

G-3: A defesa da multipolaridade e o desenvolvimento do Sul

Paralelamente à formação do G-20, o governo brasileiro articulou o G-3, reunindo Brasil, Índia e África do Sul, logo após a reunião do G-8 de 2003, nas primeiras semanas do governo Lula, produzindo um fato político de grande impacto. Além da cooperação técnica e possibilidades de integração de articulação entre países de desenvolvimento similar, estão as questões políticas de reordenamento do sistema internacional pós-Guerra Fria e a reforma do Conselho de Segurança da ONU. O Brasil, desde o governo Itamar Franco, passou a trabalhar de forma sistemática pela candidatura brasileira no Conselho de Segurança. O presidente seguinte, Fernando Henrique Cardoso, em seus dois mandatos, deu continuidade à tarefa, mas numa perspectiva um tanto distinta. Ao levar o Brasil a aderir amplamente à nova agenda internacional da globalização e adotar o modelo vigente de abertura econômica, acreditava que o país estaria sendo qualificado para o posto, e que os cinco membros permanentes reconheceriam nossa legitimidade. Foi um pouco de ilusão, pois em política ninguém dá; é preciso conquistar. E para conquistar é necessário ampliar seu poder, e não renunciar a ele, como foi a marca do ex-presidente no plano internacional. O debate sobre a reforma da ONU se arrastava, com uma infinidade de propostas e de candidaturas, que se confrontavam mutuamente. México e Argentina também se candidatavam, tentando bloquear a iniciativa brasileira. Veio a guerra do Iraque, com o desrespeito explícito da administração Bush pela posição da ONU, desencadeando o conflito sem um mandato das Nações Unidas. Para muitos analistas, a organização estava acabada. Mas foi então que muitos países despertaram para a necessidade urgente da reforma, como instrumento para estabelecer uma ordem multipolar e multilateral, em lugar de uma nova hegemonia. No governo Lula, a diplomacia brasileira passou a priorizar a autonomia, a contestação moderada e propositiva, alianças estratégicas compatíveis com o peso do país (especialmente com os grandes países em de344

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senvolvimento), a integração e a liderança sul-americana e uma campanha a favor da dimensão social. Para o público de classe média, a luta contra a fome parece ingênua, mas ela tem um forte apelo junto aos países africanos (que representam quase 30% da ONU) e em vastas áreas da América Latina, Oriente Médio e Ásia, mas também em importantes meios sociais e políticos dos países ricos. A atuação do Brasil junto à OMC, a formação do G-3, o apoio material e político a países em dificuldade, a oposição à guerra tiveram considerável impacto sobre a comunidade internacional. Assim, o Brasil ganhou importante espaço político, aparecendo como “o novo” nas relações internacionais, e está no centro de um movimento político para a conquista de um assento permanente no CS da ONU. A manifestação positiva de outros membros, como França, China e, inclusive, Inglaterra à candidatura brasileira demonstram a importância da nova diplomacia brasileira. Os interesses do Brasil na Índia e África do Sul também se reportam à liderança destes nos dois blocos econômicos que estão se formando em seus entornos, bem como o apoio mútuo nas respectivas candidaturas a membro permanente no Conselho de Segurança. A Associação Sul-Asiática para Cooperação Regional (SAARC) foi estabelecida quando sua cartilha foi formalmente adotada pelos chefes de Estado ou governo de Bangladesh, Butão, Índia, Maldivas, Nepal, Paquistão e Sri Lanka no dia 8 de dezembro de 1985, apesar da rivalidade histórica existente entre os dois membros mais importantes, a Índia e o Paquistão. O secretariado da SAARC se encontra em Katmandu, coordenando e monitorando o implemento de atividades e serviços de comunicações entre os membros da associação e outras associações regionais. [...] Já a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) remonta ao bloco político de luta contra os países racistas (África do Sul e Rodésia), denominado Países da Linha de Frente e o bloco econômico equivalen-

te, Conferência de Coordenação do Desenvolvimento da África Austral (SADC), fundados em 1980. Os blocos não avançaram devido à guerra persistente e à ausência da maior economia da região, a da África do Sul. Com o fim do regime do apartheid no início dos anos 1990, a situação mudou completamente. A independência da Namíbia, a ascensão de um governo de maioria negra em Pretória e a negociação da paz em Angola e Moçambique permitiram o avanço da integração regional, com a adesão da África do Sul. São membros da SADC atualmente os seguintes países, cada qual com uma função: África do Sul, finanças e investimentos; Angola, energia; Botswana, produção animal e agrária; Lesoto, conservação da água, do solo e turismo; Malauí, florestas e fauna; Maurício (sem função específica); Moçambique, transportes, cultura e comunicações; Namíbia, pesca; Suazilândia, recursos humanos; Zâmbia, minas; Zimbábue, segurança alimentar. A Tanzânia, a República Democrática do Congo e as ilhas Seychelles aderiram posteriormente ao bloco. O bloco SADC possui atualmente um PIB de quase 200 bilhões de dólares e também uma população total de 205 milhões de pessoas. Em suas exportações a SADC arrecada uma média de 53,5 bilhões de dólares e gasta em média 52,8 bilhões de dólares em importações2. Assim sendo, a SADC é considerada o maior bloco de toda a região africana, englobando quase toda a parte do continente ao sul do Equador. A África do Sul, Namíbia, Botswana, Lesoto e Swazilândia formam o núcleo central da SADC, pois constituem a União Aduaneira da África Austral (SACU), uma zona de livre-comércio. No contexto econômico, a média de crescimento no ano de 1996 era de 4,1%, mas ao longo dos anos decaiu para minúsculos 2%. Já no contexto social e da saúde lembramos a recente conferência mundial realizada na África do Sul, que concluiu que a grande maioria das populações das nações que fazem parte da SADC, como a própria África do Sul, estavam enfrentando uma séria epidemia de HIV. Alguns conflitos armados desencadeados em Angola e no Zimbábue também fizeram parte do quadro de problemas da SADC, mas esses conflitos, essencialmente no Congo, estão sendo negociados e a região possui um enorme potencial de crescimento e a melhor infraestrutura do continente. Um ponto destacado no programa de política externa do governo Lula era a aproximação com a África. A viagem que o presidente realizou na primeira semana de novembro de 2003, visitando São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Namíbia e África do Sul, cobriu os países de língua portuguesa da África austral e dois dos principais parceiros brasileiros da região, cumprindo a promessa. A visita é importante não apenas para as relações do Brasil com a África, mas, sobretudo, para o estabelecimento de uma associação institucionalizada entre o Mercosul e a SADC. Apesar do fato de quase metade da população brasileira ser constituída de afrodescendentes (e das semelhanças culturais comuns), do continente africano encontrar-se próximo e fazer parte do nosso cenário geopolítico e de existir uma inegável complementaridade econômica, a África sempre foi uma frente secundária 2 3

(e tardia) de nossa diplomacia. Na década de 1970, teve início uma intensa colaboração com os países africanos em foros multilaterais de caráter econômico, uma intensa agenda política comum e um comércio crescente que incluía bens e serviços. Mas a permanente guerra na África austral fez com que os resultados fossem modestos. Havia uma situação difícil, que somente foi desbloqueada com o fim do regime de minoria branca na África do Sul e a eleição de Nelson Mandela em 1993. A rede de transportes e comércio da região converge para esse país, o que veio a facilitar a integração regional. Faltava acabar com as guerras civis, o que se logrou quase dez anos depois. Nesse meio tempo, o Brasil participou de forças de paz e auxiliou países da região, iniciando uma cooperação sistemática com o gigante sul-africano. Lamentavelmente, os governos brasileiros, de Fernando Collor a Fernando Henrique Cardoso, privilegiavam apenas as relações com os países ricos e, em menor medida, com o Mercosul. Pouca atenção foi dada à proposta de Mandela de tornar seu país um membro associado ao Mercosul, formulada em 1996. Hoje, contudo, se esboça uma parceria estratégica entre Brasília e Pretória, e não apenas em relação a temas regionais, mas mundiais como o G-3 e as questões da paz e do desenvolvimento. Ambos os países são fortes candidatos a membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a líderes de polos de poder regional na conformação de um sistema mundial multipolar. Conforme Ivo de Santana, a África do Sul é um dos parceiros mais importantes no continente africano, em função de sua posição geográfica e seu nível de desenvolvimento industrial. “Brasil e África do Sul são os polos mais desenvolvidos do capitalismo em seus respectivos continentes, o que se expressa não só na grandeza de seus PIBs, mas também nos respectivos graus de sofisticação industrial”. A África do Sul, segundo o autor, pode ser considerada um trampolim para a penetração em todo o subcontinente da África austral, região de grande valor econômico derivado de sua produção e reservas de minerais estratégicos3. O governo Lula tem procurado uma nova aproximação com a África, em especial a África do Sul, que tem interesses semelhantes no sistema internacional, como a defesa da multipolaridade. Em janeiro de 2003, o Governo Federal promulgou a Lei da obrigatoriedade do Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas. Em junho de 2003, o governo brasileiro promoveu o Seminário fórum Brasil-África, de cooperação comercial. Em sua viagem a cinco países africanos em novembro de 2003, Lula declarou que o Brasil desejava desenvolver e fortalecer seus laços com a África tendo como meta o fortalecimento de países em desenvolvimento. Nessa viagem, o presidente Lula assinou acordos para ajudar a agricultura e a saúde no continente, especialmente em temas relativos à Aids. A viagem foi para São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, África do Sul e Namíbia. Em dezembro 2003, Lula visitou a Líbia e o Egito (após visita ao Oriente Médio). Seguiu-se uma nova viagem à África, em julho de 2004. Lula visitou Gabão, São Tomé e

Veja dados atualizados sobre a SADC no Capítulo 10 do livro do aluno. SANTANA, Ivo. Notas e comentários sobre a dinâmica do comércio Brasil-África nas décadas de 1970 a 1990. Revista Brasileira de Política Internacional. Ano 46, n. 2, 2003. p. 113-137.

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Príncipe e Cabo Verde. Em abril de 2005, o presidente fez sua 46a viagem ao exterior, desta vez à África ocidental. Camarões, Nigéria, Gana, Guiné Bissau e Senegal foram visitados, estreitando-se laços comerciais e reforçando os apoios ao Brasil na candidatura ao Conselho de Segurança da ONU. Vale lembrar que a Nigéria é o país mais populoso da África e um dos grandes produtores de pe-

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tróleo do mundo. A estabilidade da região, os imensos mercados potenciais e o abastecimento de petróleo são estratégicos para o Brasil. VISENTINI, Paulo Fagundes. O G-3 e o G-20: o Brasil e as novas coalizões internacionais. Nerint/UFRGS, Porto Alegre, 2009. Disponível em: . Acesso em: 12 abr. 2016.

O antigo conceito de “Terceiro Mundo” está ultrapassado, afirma Zoellick

O antigo conceito de “Terceiro Mundo” já não se aplica mais à nova economia global multipolar e é necessário um novo enfoque para levar em conta os interesses dos países em desenvolvimento, afirma Robert B. Zoellick, Presidente do Grupo Banco Mundial. Em discurso antes das Reuniões da Primavera Setentrional do Banco Mundial, Zoellick afirmou que a crise econômica global de 2009 e o surgimento de países em desenvolvimento na economia global foram o dobre de finados do antigo conceito de Terceiro Mundo como entidade separada, tal como 1989 foi o fim do Segundo Mundo do Comunismo. Isso tem profundas implicações para o multilateralismo, ação cooperativa global, relações de poder, desenvolvimento e instituições internacionais, tais como o Grupo Banco Mundial, e implica enfocar os problemas sob uma nova perspectiva. “Há décadas os estudiosos da segurança e política internacional vêm debatendo o surgimento de um sistema multipolar. É chegado o momento de reconhecer um novo paralelo econômico. Se 1989 presenciou o fim da ‘Segunda Guerra’ com o desaparecimento do comunismo, 2009 viu o fim do que era conhecido como o ‘Terceiro Mundo’. Estamos agora em uma nova economia mundial multipolar e em rápida evolução”, disse Zoellick em discurso no Woodrow Center for International Scholars em Washington, D.C., no qual lembrou aos presentes que alguns consideraram as ações do ex-Presidente dos Estados Unidos como uma oportunidade perdida. “Não podemos dar-nos ao luxo de continuar a geopolítica costumeira”. “A pobreza continua e deve ser enfocada. Estados fracassados permanecem e devem ser enfocados. Os desafios globais se estão intensificando e devem ser enfocados. Mas a maneira de enforcarmos estas questões está mudando”, afirmou Zoellick. “As categorizações ultrapassadas de Primeiro e Terceiro Mundos, doadores e suplicantes, dirigentes e dirigidos, não se enquadram mais.” Embora a pobreza e os Estados frágeis tenham persistido como desafios a superar, os países em desenvolvimento cresceram a ponto de representar uma parcela cada vez maior da economia global e proporcionar uma importante fonte de demanda na recuperação da recente crise econômica global. Isso ocorreu não somente na China e na Índia, mas também no Sudeste asiático, América Latina e Oriente Médio. A África poderá também um dia tornar-se um polo do crescimento global. Zoellick observou que, portanto, os países em desenvolvimento merecem maior reconhecimento na gestão do sistema global e que as soluções propostas em matéria de regulamentação financeira, mudança climática e gestão de crises devem refletir seus interesses. É importante reconhecer as implicações da nova economia mundial multipolar para 346

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a cooperação multilateral e resistir às forças gravitacionais que estão trazendo um mundo de Estados-nação de volta à busca de interesses mais estreitos, disse Zoellick. “O poder traz responsabilidade. Os países em desenvolvimento precisam reconhecer que agora fazem parte da arquitetura global”, afirmou Zoellick. Como consequência do enorme prejuízo causado pela ruptura do sistema financeiro, é evidente que o mundo precisa de uma melhor regulamentação financeira, com padrões melhores e mais sólidos de capital, liquidez e supervisão, disse Zoellick. “No entanto, devemos acautelar-nos contra consequências não premeditadas”, advertiu. “Não devemos aumentar os custos incentivando o protecionismo financeiro ou restringindo injustamente os serviços financeiros às pessoas de baixa renda. As regulamentações acordadas em Bruxelas, Londres, Paris ou Washington poderiam funcionar para os grandes bancos no mundo desenvolvido. Mas o que dizer a respeito de bancos menores, quer estejam em países desenvolvidos ou em desenvolvimento?” A mudança climática representa outro desafio no qual o enfoque de “tamanho único” imposto pelo mundo desenvolvido não funciona para os países em desenvolvimento, disse Zoellick. “A política de mudança climática pode estar vinculada ao desenvolvimento e conseguir o apoio dos países em desenvolvimento para o crescimento com baixa emissão de carbono – mas não se for imposta como camisa de força”, disse ele. “Os países em desenvolvimento precisam de apoio e financiamento para investir em vias de crescimento mais limpo. Um bilhão e seiscentas mil pessoas carecem de acesso à eletricidade. Embora tenhamos de cuidar do meio ambiente, não podemos destinar as crianças africanas a fazerem o dever de casa à luz de vela ou negar a trabalhadores africanos empregos no setor manufatureiro. O desafio é apoiar transições para uma energia mais limpa sem prejudicar o acesso, produtividade e crescimento que podem tirar da pobreza centenas de milhares de pessoas.” Uma terceira área em que o antigo pensamento não se aplica e na qual se deve atribuir maior consideração aos interesses dos países em desenvolvimento é a resposta às crises econômicas. “Em um mundo em transição, o perigo é o fato de os países desenvolvidos focarem as cúpulas de sistemas financeiros ou se concentrarem na má gestão dos países desenvolvidos, como é o caso da Grécia”, disse Zoellick. “Ouvir o ponto de vista dos países em desenvolvimento não é mais simplesmente uma questão de caridade ou solidariedade: É uma questão de autointeresse. Esses países em desenvolvimento são agora fontes de crescimento e importadores de bens de capital e serviços dos países desenvolvidos.”

As mudanças na economia global e no sistema multilateral têm implicações significativas para o Banco Mundial, afirmou Zoellick. O desenvolvimento deixou de ser Norte-Sul e passou a ser Sul-Sul e Sul-Norte. O Banco Mundial deve adotar uma política de reforma constante, mudando para adaptar-se a circunstâncias em rápida evolução, a fim de melhor atender aos interesses das pessoas de baixa renda no mundo em desenvolvimento. Em sua reunião na primavera setentrional a instituição espera anunciar uma mudança que dê aos países em desenvolvimento pelo menos 47% das ações com direito a voto, juntamente com o

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THE WORLD BANK. Comunicado à imprensa. O antigo conceito de “Terceiro Mundo” está ultrapassado, afirma Zoellick. Washington, D.C., 14 abr. 2010. Disponível em: . Acesso em: 12 abr. 2016.

Ra•a, etnia e na•‹o

No final dessa análise de várias teorias sobre nação e nacionalismo, que constantemente aproximaram estes dois conceitos dos de etnia e etnicidade para diferenciá-los, é preciso que voltemos às observações feitas em relação a Connor, concernentes ao perigo, para a pesquisa, de se referir ao discurso nacionalista. Elas devem ser, com efeito, matizadas. Se a nação não pode ser definida de modo objetivo, não é então absurdo pensar que ela existe apenas, em certo sentido, como representação e objeto de discurso. O perigo em relação ao discurso nacionalista reside antes no risco que se corre de se envolver com ele ou se fazer envolver por ele, acreditando atingir uma definição que captaria a própria essência da nação e que poderia abster-se das condições históricas e dos lances ideológicos nos quais qualquer tentativa de definição da nação continua atada. Pode-se então avaliar, pautando-se por Hobsbawm, que o estudo da nação deve necessariamente incluir o da evolução e o da transformação de um conceito “historicamente muito jovem”. Este conceito é político e o sentido que se lhe atribui é sempre uma forma de resolver a equação Estado = nação = povo (Hobsbawm, p. 31-35). Enquanto na concepção democrático-revolucionária o povo era dado e identificado ao Estado para constituir a nação, um modo que se impôs a partir de 1830, sob a denominação de “princípio das nacionalidades”4, separa simultaneamente a nacionalidade – tratada como um dado, como uma comunidade preexistente –, e o Estado, para ligá-los de novo em termos de aspiração e de programa político. A questão da definição e dos critérios da nação tornou-se então um lance de importância e foi de modo crescente interpretada em termos “etnoculturais”, com uma predileção pelo critério linguístico. O nacionalismo como uma das elaborações ideológicas da “ideia de nação” é, desta forma, indiscutivelmente o promotor da etnicidade. Mas, pergunta-se Hobsbawm, por que, então, haver duas palavras? Porque o nacionalismo é justamente um programa político e porque a etnicidade, seja ela o que for, não é por sua vez um conceito político e não tem conteúdo programático. Para Hobsbawm ela não faz parte da teoria política, mas da antropologia ou da sociologia. Certamente ela pode ser utilizada politicamente, mas a política da etnicidade não tem ligação necessária com o nacionalismo e pode ser completamente indiferen4

primeiro aumento depois de mais de 20% ano de seu capital, o que fortalecerá um balanço que permitiu destinar mais de US$ 100 bilhões à assistência financeira desde julho de 2008. Isso será acompanhado do programa de reforma mais abrangente na história da instituição, desde maior acesso à informação a melhorias nas políticas creditícias.

te aos objetivos dos programas nacionalistas. Não é menos verdade que o nacionalismo, para realizar seu programa, procura identificar-se com a etnicidade, já que ela lhe permite que funde a nação em uma continuidade histórica e lhe forneça um sentido do “nós”, de uma identidade que lhe falta na exata medida em que ela é uma criação recente: “A etnicidade é uma das formas de preencher os espaços vazios do nacionalismo” (1992b, p. 4). Assim, a etnicidade faz parte daquilo que Hobsbawm chama de “protonacionalismo popular”. Esta noção não implica que se possa invocar uma continuidade real entre ela e o sentimento nacional ou o “patriotismo nacional”, e nem que se possa invocar sua identidade na natureza universal do sentimento que leva a diferenciar os membros de seu grupo dos estrangeiros. A nação é justamente um grupo incomparável; não tem precedente: “A nação moderna como Estado ou como conjunto de pessoas que aspiram à formação de um determinado Estado difere em número, em extensão e em natureza das comunidades às quais as pessoas se identificaram no decorrer do tempo histórico” (1992, p. 63). POUTIGNAT, Philippe; STREIFF-FENART, Jocelyne. Teorias da etnicidade. São Paulo: Unesp, 1998. p. 53-54.

Unidade 2

Indústria no mundo Objetivos Propiciar aos alunos a compreensão da organização da produção industrial no mundo contemporâneo considerando seu contexto histórico, geográfico, econômico, político e tecnológico. A introdução ao tema é desenvolvida no Capítulo 6, e nos Capítulos 7 a 9 são analisados os processos de industrialização das economias desenvolvidas, em transição e emergentes mais significativas, nas quais os alunos conhecerão os diferentes modelos de desenvolvimento e a distribuição espacial do parque industrial.

Brubaker (1993) assinala que foi somente na segunda metade do século XIX que na França se começou a falar de nacionais e de nacionalidade francesa. A nacionalidade teve desde o início um “halo” de sentido etnocultural, e sua utilização para designar a pertença formal a um Estado “atesta uma propensão a reivindicar para o Estado um fundamento último, ideal, de ordem etnocultural” (p. 15). Contudo, trata-se, para este autor, de uma etnização relativa cuja empresa preservou a predominância de uma concepção assimilacionista pela qual ser francês “joga-se em termos sociais e políticos e não étnicos”.

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Atividade complementar

• Solicite aos alunos que, em grupo ou individualmente, observem o mapa “Mundo: principais polos industriais”, no Capítulo 6, página 136, e expliquem por que um mapa de escala muito pequena como esse não mostra detalhes da distribuição da produção industrial no mundo. • Os alunos devem perceber que em um mapa-múndi a escala é muito pequena e, portanto, a redução dos elementos representados é bastante acentuada; consequentemente, o nível de detalhamento é muito reduzido. Para observar a distribuição industrial no mundo de forma mais detalhada, seria preciso um mapa de escala maior; porém, nesse caso, não caberia na página do livro. Para maior precisão seriam necessários mapas regionais de escala média. • Se possível, levar em sala de aula algum atlas geográfico que mostre mapas de distribuição industrial em escala maior, em escala regional, por exemplo.

Projeto interdisciplinar Questão-tema: Na atualidade, quais são os fatores que mais interferem na localização das indústrias? Disciplinas: Geografia, Biologia e Língua Portuguesa. Tempo de duração: um bimestre. • individual: pesquisa de textos complementares, dados estatísticos, vídeos (filmes ou documentários), artigos de jornais ou revistas, material cartográfico, etc. • em grupo: a) visita a alguma indústria; b) troca de materiais pesquisados individualmente e produção da síntese do trabalho. Forma final do trabalho: síntese cartográfica (mapeamento) dos fenômenos observados e texto dissertativo. Enfoques de trabalho por disciplina: • Geografia: pesquisa sobre os diferentes fatores de localização industrial e ocupação do espaço urbano e a relação entre eles; mapeamento dos fenômenos. • Biologia: pesquisa e reconhecimento dos diferentes impactos ambientais causados pela instalação de uma indústria. • Língua Portuguesa: leitura de textos, identificação de argumentos e produção do texto dissertativo final. Etapas do trabalho: 1. Se possível, selecionar uma fábrica de qualquer tamanho existente no município na qual haja produção em série de algum bem e descobrir por que ela está instalada naquele lugar. 2. Pesquisar dados sobre a indústria selecionada referentes à(s)/ao(s): • setor de atividade em que atua e a categoria na qual está classificada; • porte da empresa em comparação com outras do lugar e com outras do mesmo setor de atividade; • utilização de matérias-primas, de energia, de mão de obra, de máquinas e equipamentos e de transportes para escoamento da produção; 348

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• localização do principal mercado consumidor; • fatores locacionais que explicam sua instalação naquele lugar; • interferências no meio ambiente. 3. Visitar a indústria para conhecer suas instalações administrativas e de produção. 4. Entrevistar trabalhadores dos setores administrativo e de produção para obter mais informações sobre a empresa, como se pede nos itens 1 e 2. 5. Pesquisar, ler e analisar dados cartográficos e estatísticos, que podem ser obtidos na prefeitura local ou em algum órgão de planejamento municipal, para reconhecimento de aspectos naturais e formas de ocupação da área visitada. 6. Reconhecer os fenômenos socioespaciais que determinaram a localização da indústria visitada (dar atenção para a questão tecnológica) e identificar possíveis impactos no meio ambiente. 7. Produzir um mapa representando os fenômenos socioespaciais que determinaram a instalação industrial no local estudado. Cartografar também as possíveis interferências ambientais provocadas pela instalação da indústria. 8. Sistematizar as informações, de modo a responder satisfatoriamente à questão-tema.

Sugest›es bibliogr‡ficas ARBIX, G. et al. (Org.). Brasil, México, África do Sul, Índia e China: diálogo entre os que chegaram depois. São Paulo: Unesp/Edusp, 2002. Esta coletânea busca mostrar que não há um único caminho a ser trilhado pelos países emergentes rumo ao desenvolvimento, mas diversos, alguns bem-sucedidos, como o chinês, outros nem tanto, como o argentino.

ARRIGHI, G. Adam Smith em Pequim: origens e fundamentos do século XXI. São Paulo: Boitempo, 2008. Analisa a ascensão da China, as possíveis consequências no balanço internacional de poder e a reação dos Estados Unidos. CANÊDO, L. B. A Revolução Industrial. 22. ed. São Paulo: Atual; Campinas: Unicamp, 2003.

Analisa as transformações técnicas e socioeconômicas provocadas pela Primeira Revolução Industrial. CASTELLS, M. A sociedade em rede. 7. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003. (A era da informação: economia, sociedade e cultura, 1).

Analisa as transformações sociais, econômicas, culturais e espaciais que estão ocorrendo no cotidiano de empresas e pessoas como consequência da Revolução Técnico-Científica ou Informacional. Desvenda a nova organização espacial da produção industrial e a nova divisão internacional do trabalho. ______. O poder da identidade. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999. (A era da informação: economia, sociedade e cultura, 2). ______. Fim de milênio. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999. (A era da informação: economia, sociedade e cultura, 3). Estes dois livros da coleção analisam, por meio de diversos estudos de caso, as transformações sociais, econômicas,

culturais e geopolíticas que estão ocorrendo no mundo com o advento da era informacional e da globalização no final do século XX. Na seção Textos de apoio, foi reproduzido um trecho de cada um deles.

Discute as transformações que estão ocorrendo no mundo contemporâneo como resultado da disseminação das tecnologias informacionais. Veja um trecho reproduzido na seção Textos de apoio.

CASTRO, A. B. de. O cenário internacional, a nova empresa e a nova competição. In: Dossiê “Caminhos do desenvolvimento”, Revista USP, n. 93, São Paulo, mar./abr./maio 2012. p. 11-20.

OHNO, T. O sistema Toyota de produção: além da produção em larga escala. Porto Alegre: Bookman, 1997.

Um dos textos do dossiê “Caminhos do desenvolvimento” analisa as transformações na economia internacional como resultado da nova Revolução Industrial e dos avanços nas tecnologias da informação, assim como os novos papéis desempenhados por países e empresas nesse contexto. Há outros textos que analisam o papel do Brasil nesse cenário em transformação.

CORRÊA, R. L. Trajetórias geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.

No Capítulo 11, “Corporação e espaço – uma nota”, o autor analisa a estrutura interna e o papel das grandes corporações na produção do espaço geográfico, do qual foi extraído o trecho reproduzido na seção Textos de apoio. CUNHA, A. M. A China e o Brasil na nova ordem internacional. In: Dossiê “China: desenvolvimento econômico e segurança internacional”. Revista de Sociologia e Política, v. 19, n. suplementar, Curitiba, nov. 2011. p. 9-29.

Aborda o processo de desenvolvimento econômico da China e os impactos de sua expansão industrial e comercial no mundo e nas relações com o Brasil. HARVEY, D. A condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 2. ed. São Paulo: Loyola, 1993. O geógrafo norte-americano analisa o capitalismo a partir da transição da produção fordista para a produção flexível. Essa análise encontra-se na parte II – “A transformação político-econômica do capitalismo do final do século XX”.

LEONARD, M. O que a China pensa? São Paulo: Larousse, 2008. Analisa a recente ascensão econômica e política da China, sua condição de potência mundial e as consequências advindas desse fato. KAMDAR, M. Planeta Índia: a ascensão turbulenta de uma nova potência global. Rio de Janeiro: Agir, 2008. Analisa a recente ascensão da Índia à condição de potência econômica e as transformações pelas quais o país vem passando como resultado do rápido crescimento.

KENNEDY, P. Preparando para o século XXI. Rio de Janeiro: Campus, 1993.

O historiador inglês discute as mudanças mais importantes que vêm ocorrendo no mundo contemporâneo: as novas tecnologias, a deterioração do meio ambiente, o crescimento demográfico, o avanço das multinacionais, o papel do Estado nacional, etc. KUMAR, K. Da sociedade pós-industrial à pós-moderna: novas teorias sobre o mundo contemporâneo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

O toyotismo, baseado no just-in-time e no kanban, é explicado pelo próprio criador desse sistema de produção, o engenheiro japonês Taiichi Ohno. SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996. Aborda os principais conceitos e categorias da Geografia e as mudanças epistemológicas pelas quais essa ciência está passando como consequência da revolução técnico-científica e do avanço do processo de globalização. Atente especialmente para o Capítulo 10 – “Do meio natural ao meio técnico-científico-informacional” –, em que ele aborda as transformações no espaço geográfico como consequência das revoluções industriais. SEGRILLO, A. O fim da URSS e a nova Rússia: de Gorbachev ao pós-Yeltsin. Petrópolis: Vozes, 2000. Analisa os fatores que causaram a desagregação da União Soviética – a crise econômica, o fracasso da perestroika, os movimentos nacionalistas separatistas, etc. – e o cenário político e econômico da Rússia pós-Yeltsin.

______. O declínio da URSS: um estudo das causas. Rio de Janeiro: Record, 2000.

Analisa o modelo de produção na União Soviética e as causas do declínio econômico do país em virtude de sua crescente defasagem tecnológica com o advento da revolução técnico-científica. TAVARES, H. M. Complexos de alta tecnologia e reestruturação do espaço. In: SANTOS, M. et al. O novo mapa do mundo: fim de século e globalização. 2. ed. São Paulo: Hucitec-Anpur, 1994.

Analisa a origem dos tecnopolos, ligando-os à nova fase do capitalismo, baseado nas novas tecnologias e na produção flexível. Faz uma reconstituição mais detalhada da origem do Vale do Silício e dos tecnopolos franceses. ZEMIN, J. Reforma e construção da China. Rio de Janeiro: Record, 2002. O livro reúne discursos do ex-presidente chinês e ex-secretário geral do PCC, proferidos entre 1989 e 2001, nos quais são explicitados os objetivos econômicos, sociais e políticos a serem atingidos pelo país. ZOUAIN, D. M.; PLONSKI, G. A. Parques Tecnológicos: planejamento e gestão. Brasília: Anprotec; Sebrae, 2006. Analisa o desenvolvimento histórico dos parques científicos e tecnológicos fazendo uma breve revisão da experiência do Vale do Silício. Em seguida, concentra-se na análise de alguns parques brasileiros. Manual do Professor

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Comentários e respostas das atividades bém com a Rússia. No extremo oposto temos o Japão, em cuja pauta de exportação há forte predominância de produtos industrializados, e estes são preponderantemente produtos de alta e média tecnologia. Isso acontece com outros países desenvolvidos e tecnologicamente avançados, como a Alemanha e a Coreia do Sul.

Capítulo 6

A geografia das indústrias Dialogando com as disciplinas 1

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Os Estados Unidos têm a maior participação no valor da produção industrial mundial, com 19,39%. No entanto, a participação percentual da indústria no PIB é relativamente pequena, de apenas 12%. Isso ocorre por causa do enorme peso do comércio e serviços no PIB norte-americano, situação típica de país desenvolvido. No entanto, mesmo com participação pequena no PIB, a indústria dos Estados Unidos é a maior do mundo, pois sua economia é gigantesca. A produção industrial norte-americana é da ordem de 2 trilhões de dólares, o que equivale a toda a economia da Índia.

Não, não se pode afirmar que ela movimenta mais dinheiro, porque o PIB dos Estados Unidos é bem maior do que o PIB da Tailândia. Basta verificar que a participação da indústria norte-americana na produção industrial mundial é de 19,39% e a da indústria tailandesa é de 0,87%. Ela também não é mais moderna do que a indústria norte-americana, porque esta possui maior percentual de produtos de alta e média tecnologia no valor da produção industrial nacional e no total das exportações de industrializados em comparação com a tailandesa.

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O país que apresenta a maior participação de produtos de alta e média tecnologia no valor da produção industrial nacional é a Coreia do Sul, com 63,1%, e o que apresenta a menor é o Haiti, com 5,3%. Essa enorme diferença se explica pelo fato de a Coreia do Sul ser um país desenvolvido muito industrializado e com um parque industrial tecnologicamente avançado e o Haiti ser um país pobre (está na lista dos Estados frágeis), com uma economia totalmente desestruturada.

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A Coreia do Sul apresenta a maior participação de produtos industrializados nas exportações nacionais, com 97,2% do valor total exportado, seguida pela China, com 96,6%, e a Nigéria apresenta a menor participação, com 6,7%.

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O México apresenta a maior participação de produtos de alta e média tecnologia nas exportações nacionais de produtos industrializados, com 78,3% do valor total de bens industriais exportados, seguido pelo Japão, com 78,1%, e o Haiti apresenta a menor participação, com 3,8%. No entanto, vale lembrar que no caso do México a produção de bens de alta e média tecnologia para exportação é feita basicamente por multinacionais, muitas das quais norte-americanas, interessadas em abastecer o grande mercado vizinho.

6

Não, as exportações podem ser predominantemente de produtos industrializados, mas de baixa tecnologia, como acontece com o Haiti. Em menor grau, isso acontece tam-

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Manual do Professor

Compreendendo conteúdos 1

A indústria se caracteriza pelo processo de transformação de matérias-primas, com o emprego de máquinas, ferramentas, energia e trabalhadores, em produtos semiacabados para outras indústrias ou bens para o consumo no dia a dia. As indústrias são divididas em extrativas e de transformação. As de transformação são classificadas em três categorias, segundo os bens produzidos: indústrias de bens de capital, como as de máquinas e equipamentos; indústrias de bens intermediários, como é o caso das siderúrgicas, petroquímicas, etc., e indústrias de bens de consumo não duráveis (alimentos, bebidas, etc.), semiduráveis (vestuário, calçados, etc.) ou duráveis (eletrodomésticos, automóveis, etc.).

2

Fatores locacionais são variáveis naturais, políticas, sociais e econômicas que favorecem a instalação de indústrias em determinado lugar do território de um país. Exemplos: custo e qualificação da mão de obra, disponibilidades de fontes de energia e matérias-primas, carga de impostos, sistema de transporte, etc. Para cada tipo de indústria pesa mais um fator e menos outro. Para indústrias de bens intermediários, por exemplo, pesa mais a disponibilidade de matérias-primas e de energia ou a facilidade de recepção dessas matérias-primas. Já a existência de mão de obra com elevado nível de qualificação pesa mais para a instalação de indústrias de alta tecnologia. A proximidade de um amplo mercado consumidor, por exemplo, é importante para indústrias de bens de consumo. No entanto, para todos os setores industriais, uma boa logística é fundamental.

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Com a elevação dos custos de produção nas regiões de industrialização antiga, os empresários têm buscado instalar novas fábricas em lugares onde os custos de produção sejam menores e os lucros, portanto, maiores; isso inclui tanto o interior de um mesmo país, quanto o de outros países. A desconcentração explica-se pela busca de regiões que ofereçam uma boa infraestrutura, salários relativamente mais baixos, terrenos mais baratos e impostos menores, etc. Deve-se lembrar que o processo de desconcentração industrial viabilizou-se graças à acelerada modernização ocorrida nos transportes e nas telecomunicações, fruto da revolução tecnológica, e ele ocorre em escala nacional e mundial.

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Parques tecnológicos ou parques científicos (ou, ainda, tecnopolos) representam a geografia industrial da Revolução Técnico-Científica, cujo fator de produção mais importante é o conhecimento. Os parques tecnológicos,

em geral, desenvolvem-se em torno de universidades e centros de pesquisa, muitas vezes no interior do próprio campus, porque aí estão os fatores locacionais mais importantes para as indústrias (e os serviços) que nele se instalam: produção de conhecimentos e mão de obra com elevado nível de qualificação. É comum também a existência de incubadoras de empresas nos parques tecnológicos para estimular o empreendedorismo e o desenvolvimento de indústrias e serviços de alta tecnologia. 5

A produção fordista foi implantada inicialmente por Henry Ford em sua fábrica em Michigan (Estados Unidos), a partir de 1913 – daí o nome desse processo de produção. Foi inspirado no taylorismo: Ford pôs em prática as ideias propostas pelo engenheiro Frederick Taylor. O fordismo está ancorado na produção em escala e na acentuada divisão do trabalho no interior da fábrica. Ou seja, a produção é feita em grandes lotes de um único modelo de produto e cada operário executa uma única função ultraespecializada. Na fábrica fordista, há uma rígida hierarquia, na qual os trabalhadores não têm nenhuma autonomia, e como o controle de qualidade é feito apenas no fim do processo de produção, muitos defeitos não são evitados, aumentando o desperdício. Esse tipo de organização da produção demanda elevados estoques de insumos, exigindo grandes armazéns, portanto alta imobilização de capitais, o que aumenta os custos de produção. Funcionou bem até os anos 1970, quando as indústrias mais modernas começaram a substituí-lo pelo toyotismo. Em países em desenvolvimento, o fordismo ainda permanece em indústrias que exigem muita mão de obra barata. A produção enxuta foi desenvolvida pelo engenheiro japonês Taiichi Ohno e começou a ser implantada na fábrica da Toyota, no Japão, a partir do final dos anos 1950; por isso, esse sistema de produção é também conhecido como toyotismo. Está ancorado na produção em escopo, ou seja, há uma grande diversificação de modelos fabricados. Praticamente não há hierarquia, os trabalhadores são multifuncionais, organizados em círculos de controle de qualidade, de forma que eles mesmos sejam os responsáveis pelo controle de qualidade dos produtos e pela detecção de defeitos ao longo do processo. Isso reduz significativamente o desperdício. Como o toyotismo está ancorado no just-in-time, praticamente não há estoques, podendo funcionar em fábricas menores e com baixa imobilização de capitais. Com isso, os custos são menores e a produtividade é maior. Hoje, em todo o mundo, nos setores industriais mais avançados predomina a produção toyotista.

Desenvolvendo habilidades 6

a) Esclareça eventuais dúvidas dos alunos na interpretação dos textos. b) Oriente os alunos na pesquisa na internet, para que foquem nos assuntos tratados. É recomendável checar os sites antes de indicá-los aos alunos, para veri-

ficar se houve alguma mudança. Há diversos selos verdes no mercado. O selo da ABNT é um dos mais confiáveis, porque é emitido por um órgão independente e imparcial, com tradição de fixação de normas técnicas e padrões de produção. É importante o consumidor verificar se o “selo verde” que um produto exibe foi emitido por órgão certificador, nacional ou internacional, que tenha credibilidade, porque muitos selos são criados pelas próprias empresas ou instituições e precisariam de fiscalização externa. Outros selos brasileiros confiáveis: FSC – Conselho Brasileiro de Manejo Florestal (certifica as áreas e os produtos de manejo florestal sustentável) e IBD Certificações (certifica alimentos de origem orgânica). c) O aluno terá a possibilidade de elaborar um texto dissertativo para dar conta da atividade. Cada aluno produzirá um texto diferente, que deverá ser conciso, claro e dar conta das questões propostas. O selo verde ou rotulagem ecológica certifica que um produto foi fabricado de acordo com normas ambientalmente corretas, que causam baixo impacto ecológico. Isso é importante para orientar os consumidores na escolha dos produtos que vão comprar e, para as empresas, é uma forma de “marketing verde”, que pode aumentar suas vendas. A disseminação da rotulagem ecológica e sua aceitação pela sociedade podem contribuir para aumentar a produção e o consumo sustentáveis, causando menores impactos socioambientais. Entretanto, como mostra o artigo “Produção industrial, meio ambiente e competitividade”, as normas ambientais podem ser usadas pelos países desenvolvidos como uma forma de barreira comercial não tarifária (“barreira verde”), dificultando a entrada de produtos oriundos dos países em desenvolvimento, porque supostamente eles não seguiriam padrões de produção ecologicamente corretos. Isso pode ser uma sanção legítima a países que não respeitam normas ambientais mínimas, mas também pode ser uma forma camuflada de protecionismo.

Capítulo 7

Economias desenvolvidas: a industrialização precursora Compreendendo conteœdos 1

O Reino Unido foi o primeiro a se industrializar, porque foi nesse país que, pela primeira vez na história, se reuniram as condições fundamentais para a eclosão do processo de industrialização, tais como: maior acúmulo de capitais durante o capitalismo comercial, especialmente em sua fase final; consolidação precoce da burguesia no poder; desenvolvimento dos principais avanços técnicos da época; disponibilidade de grandes Manual do Professor

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bilhões de dólares (entre 1947 e 1950), a título de ajuda. Além disso, o país dispunha de numerosa mão de obra, barata e qualificada, que durante muito tempo foi bastante explorada, possibilitando altos lucros aos empresários japoneses. Paralelamente, o Estado investiu muito em educação, pesquisa e desenvolvimento e infraestrutura, atuando ainda na economia como agente planejador. A reconstrução das fábricas e da infraestrutura destruídas pela guerra, em bases mais modernas, e a adoção de inovações organizacionais, como o toyotismo, permitiram um grande aumento de produtividade em um curto período de tempo.

jazidas de carvão mineral; abundância de mão de obra, etc. O país tem perdido terreno para outras potências industriais, especialmente após a Segunda Guerra, porque não conseguiu acompanhar o acelerado ritmo de inovações tecnológicas introduzidas no processo produtivo, que elevou o nível de produtividade e competitividade de países como o Japão, os Estados Unidos e a Alemanha. Como consequência disso, o crescimento econômico do Reino Unido foi menor e, em 2014, ele era a quinta economia do mundo, bem atrás dos outros três mencionados anteriormente, sobretudo os Estados Unidos, sua ex-colônia. 2

Uma combinação de fatores de ordem política, social, econômica, cultural e natural explica a industrialização dos Estados Unidos, concentrada inicialmente no nordeste do país. Entre outros fatores, destacam-se a hegemonia política e econômica do modelo de sociedade originado das colônias de povoamento; a preponderância da burguesia nortista após a Guerra de Secessão; leis que favoreceram a entrada de imigrantes, que constituíram uma ampla reserva de mão de obra e um amplo mercado consumidor; a enorme disponibilidade de minérios e combustíveis fósseis; o fortalecimento da ética do trabalho e empreendedorismo da população; a facilidade de escoamento da produção pelos Grandes Lagos, ligados com o oceano por meio de rios.

3

As principais concentrações industriais norte-americanas estão no nordeste do país, desde a costa litorânea até o sul dos Grandes Lagos, em uma região conhecida como manufacturing belt. Apesar da desconcentração recente, essa ainda é a região mais industrializada dos Estados Unidos. Com o exagerado crescimento das megalópoles da região Nordeste, gradativamente foi havendo uma elevação dos custos gerais de produção. A desconcentração espacial no pós-Segunda Guerra foi uma tentativa de baixar esses custos, garantindo, portanto, maiores lucros. As regiões Sul e sobretudo a Oeste foram as que mais se beneficiaram dessa tendência de desconcentração industrial.

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5

A grande arrancada industrial alemã aconteceu a partir da unificação político-territorial de 1871 porque ela significou também uma unificação econômica. Constituiu-se um mercado consumidor ampliado, sem barreiras para a circulação de produtos e capitais, com uma moeda única, uma política econômica válida para todo o território e uma legislação fiscal e trabalhista também única. Assim, a unificação política criou condições econômicas para um grande processo de acumulação de capitais, que antes era dificultado pela fragmentação territorial.

A intervenção norte-americana desempenhou um papel fundamental no processo de recuperação do Japão no pós-Segunda Guerra, durante o período de ocupação, impondo aos japoneses uma série de reformas de cunho modernizante, ao mesmo tempo em que canalizava 2,5

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Manual do Professor

6

No início dos anos 1990, o grande acúmulo de riquezas no país provocou uma crescente especulação com ações, levando a uma enorme alta na Bolsa de Valores de Tóquio. Enquanto isso, os bancos japoneses fizeram grandes empréstimos sem critério, principalmente para o setor imobiliário, o que provocou uma grande especulação. Os preços dos imóveis no Japão subiram exageradamente, transformando-se nos mais altos do mundo. Essa bolha especulativa – financeira e imobiliária – estourou no início da década de 1990. Os preços das ações e dos imóveis despencaram, fazendo a crise se propagar pela economia como um todo. Os bancos, não tendo como receber dos devedores, não faziam novos empréstimos. Muitas empresas – indústrias, bancos, corretoras, etc. – foram à falência, levando o país à estagnação econômica. Ao longo daquela década, o Japão alternou anos de crescimento muito baixo com anos de recessão. Nos anos 2000, quando o país estava ensaiando retomar o crescimento econômico, foi duramente atingido pela crise financeira que teve os Estados Unidos como epicentro. Em 2009, o PIB japonês encolheu 5,5% e no período 2000-2014 cresceu em média apenas 0,7% ao ano.

Desenvolvendo habilidades 7

Essa atividade permite um trabalho em colaboração com História, ao analisar o processo de formação dos Estados Unidos, especialmente os dois modelos de colonização que se implantaram no norte e no sul do país e acabaram levando-o à Guerra de Secessão. Segue uma possibilidade de dissertação sobre o tema proposto. Evidentemente, cada aluno apresentará um texto diferente, mas que precisa ser coerente e apresentar os aspectos apontados por Galeano e Weber.

Desenvolvimento capitalista dos Estados Unidos: a importância da desimportância e da ética protestante O fato de as 13 colônias não terem muita importância para o Reino Unido (“a importância de não nascer importante”, segundo Galeano) fez com que essa metrópole exercesse um controle pouco rígido sobre a região, em comparação ao que exercia em suas outras colônias, como a Índia ou as da África e do Caribe, muito mais

importantes para os britânicos do ponto de vista econômico e comercial. Isso ocorreu porque as 13 colônias, especialmente sua porção norte (atual região Nordeste dos Estados Unidos), não apresentavam clima tropical para a introdução de plantations, não tinham metais preciosos, nem eram estratégicas, daí o controle flexível exercido pela metrópole. Isso foi de suma importância para o futuro dos Estados Unidos, pois criou as condições para a independência política e, posteriormente, para a industrialização dessa região, que, com o tempo, se transformou na mais importante do país. Essas condições favoreceram a implantação de uma colonização de povoamento nessa região (norte das 13 colônias), e os imigrantes que para lá se deslocavam eram majoritariamente protestantes, especialmente puritanos britânicos. Como mostrou Weber, as religiões protestantes criaram um caldo de cultura favorável ao desenvolvimento capitalista porque não condenavam moralmente o lucro e a acumulação de capitais; ao contrário, valorizavam o trabalho e a riqueza, como fica evidente na última frase do texto. Com isso, desenvolveu-se uma ética do trabalho, um espírito capitalista, que favoreceu o desenvolvimento econômico da região e posteriormente de todo os Estados Unidos, à medida que o processo de industrialização se expandia para outras regiões do território. A combinação desses fatores histórico-culturais, somando-se aos econômicos, tecnológicos e naturais, favoreceu imensamente o desenvolvimento capitalista dos Estados Unidos, levando esse país a se tornar a mais importante potência econômica mundial. 8

Após a Segunda Guerra, a afirmação de Ratzel precisa ser relativizada. Embora sem desprezar o fato de que grande extensão territorial e elevada população são importantes atributos de poder, com o avanço tecnológico e a consolidação do sistema internacional, atualmente não é mais tão necessário controlar extensos territórios para ter acesso a fontes de energia e de matérias-primas; pode-se obtê-los por meio do comércio internacional (a própria China, apesar de sua grande extensão territorial, tem buscado recursos naturais no exterior). A Alemanha perdeu territórios com o desdobramento da Segunda Guerra, mas não se enfraqueceu economicamente. Apesar de não possuir recursos naturais suficientes, o país era o maior exportador do mundo até 2008 (com a crise perdeu a primeira posição para a China, em 2009, e a segunda para os Estados Unidos, em 2010). O Japão é outro país que perdeu territórios após a Segunda Guerra, mas se fortaleceu economicamente: chegou a ser a segunda potência econômica do mundo (perdeu essa posição para a China em 2010) e o terceiro maior exportador (em 2014 era o quarto). Japão e Alemanha, respectivamente 3o e 4o PIB do mundo, são militarmente fracos não porque têm territórios pequenos ou economias pouco dinâmicas, mas porque

foram derrotados na Segunda Guerra e acabaram ficando amarrados em alianças militares controladas pelos Estados Unidos.

Capítulo 8

Economias em transição: a industrialização planificada Compreendendo conteœdos 1

As principais concentrações industriais na Rússia localizam-se na região de Moscou, capital do país, onde está o maior mercado consumidor e a maior concentração de mão de obra, com predominância de indústrias de bens de consumo, e na região dos Montes Urais, em razão da grande disponibilidade de recursos minerais, com a predominância de indústrias de bens intermediários. Há concentrações industriais menores na Sibéria ocidental, como na região de Kuzbass, associadas à disponibilidade de recursos minerais e fósseis.

2

As maiores empresas da Rússia atuam em exploração e processamento de recursos naturais, principalmente minerais e fósseis, muito abundantes em seu vasto território. Entre as maiores empresas do país se destacam: Gazprom, Lukoil e Rosneft (extração e refino de petróleo, produção de gás natural, petroquímica); Severstal e Evraz (mineração e siderurgia).

3

A China é a economia que mais cresce no mundo – 10% em média desde o início da década de 1980 – em virtude de diversos fatores econômicos, sociais e políticos, entre os quais se destacam: elevados investimentos do Estado em infraestrutura e vantagens oferecidas aos capitais estrangeiros, notadamente nas zonas econômicas especiais; custos de produção muito baixos graças à enorme disponibilidade de mão de obra barata, relativamente qualificada e controlada (os sindicatos são proibidos), o que assegura altos lucros; incentivos fiscais concedidos pelo Estado; facilidades oferecidas aos exportadores; boa infraestrutura; baixo custo da terra, da energia e das matérias-primas.

4

Dentre as consequências positivas e negativas do rápido crescimento econômico chinês, o aluno deve destacar:

• aumento considerável da participação chinesa no comércio mundial;

• aumento da riqueza nacional e redução da pobreza; • aprofundamento da desigualdade social e regional, o que estimulou a migração interna;

• aumento da oferta de mão de obra nas regiões mais dinâmicas, o que colaborou para manter os salários em níveis baixos;

• aumento dos impactos ambientais, com consequências graves para a saúde da população do país (algumas das cidades mais poluídas do mundo estão na China). Manual do Professor

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Desenvolvendo habilidades 5

• É importante o aluno perceber que um dos fatores mais importantes para o desenvolvimento econômico e, consequentemente, humano de qualquer país é o investimento em educação e a existência de um eficiente sistema educacional. No caso chinês, a preocupação com a educação desde o início da revolução comunista de Mao Tsé-Tung, como afirma Maurício Lyrio, levou o país a aumentar investimentos nessa área. Basta dizer que, já em 1976, 96% das crianças do país estavam na escola, índice que o Brasil só alcançaria vinte anos depois. Em 1977, a taxa de alfabetização de adultos da China era de 66%. Desde essa época os investimentos em educação, aliados à mão de obra barata e disciplinada, atraíram muito investimento estrangeiro para o país asiático, a ponto de Welinton dos Santos ter afirmado que a educação é a “arma secreta do desenvolvimento da China”. Para os investidores estrangeiros, não basta a mão de obra ser barata, é preciso que seja qualificada e nisso a China levou vantagem sobre diversos países que tinham mão de obra barata, mas de baixa qualificação. A maior preparação dos trabalhadores aumenta a produtividade e a competitividade da economia como um todo. Basta lembrar que em 1980 a China exportou mercadorias no valor de 18 bilhões de dólares e o Brasil, de 20 bilhões; em 2014 as exportações chinesas saltaram para 2 342 bilhões de dólares e as do Brasil para 225 bilhões. Como mostra o artigo de Luís Barrucho, o baixo investimento em educação no Brasil, e especialmente a má qualidade do sistema educacional, são responsáveis pela carência de mão de obra qualificada no mercado de trabalho, o que reduz a competitividade do país e dificulta seu desenvolvimento. Essa situação pode comprometer projeções futuras para o crescimento do PIB e no presente tem feito com que o Brasil perca mercados no exterior.

Capítulo 9

Economias emergentes: a industrialização recente Dialogando com as disciplinas 1

Ambas as falas se referem à discriminação racial sofrida pela população negra ao longo da história. No Brasil, essa discriminação teve início com o escravismo, durante o período colonial. Na África do Sul, acentuou-se com a institucionalização do apartheid. A consequência dessas discriminações ainda se faz sentir na sociedade contemporânea dos dois países.

2

Os governos procuram sanar o débito histórico com a população negra por meio de ações afirmativas, como cotas para ingresso nas universidades (no Brasil e na África do Sul) e reforma agrária (na África do Sul), buscando garantir aos negros o acesso a direitos que lhes foram historicamente negados, como o direito à educação e à terra.

3

As ações afirmativas e a “história a contrapelo” procuram garantir um papel ativo, tanto na história quanto na sociedade, dos grupos que, por alguma razão, foram colocados à margem, retirando-lhes o papel de sujeito. Busca-se uma inserção dos grupos menos favorecidos em papéis ou posições sociais que lhes foram negados, bem como sua afirmação positiva como sujeitos ativos tanto histórica quanto socialmente.

4

Resposta pessoal. Espera-se que os alunos fundamentem suas respostas com argumentos coerentes e consistentes.

Compreendendo conteœdos 1

a) Os países emergentes de industrialização recente foram os últimos a se industrializar, em sua maioria após a Segunda Guerra. Para listar apenas os mais importantes, encaixam-se nesse grupo economias do Leste e Sudeste Asiático, como os Tigres Asiáticos – Coreia do Sul, Taiwan e Cingapura; da América Latina – Brasil, México e Argentina; do grupo Ibas – África do Sul e Índia. A China e a Rússia, embora sejam países de industrialização planificada, muitas vezes também são consideradas economias emergentes. b) Classificação dos países estudados segundo o tamanho do PIB (ordem no mundo em 2014, segundo o Banco Mundial): China (2o), Brasil (7o), Índia (9o), Rússia (10o), Coreia do Sul (13o), México (15o), Argentina (24o), África do Sul (33o) e Cingapura (36o). Portanto, pelos dados de 2014, a China era a maior economia do grupo e o Brasil, a segunda.

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a) No início da industrialização das três maiores economias da América Latina, foi importante a contribuição dos capitais privados, acumulados em atividades agropecuárias, como o café, no Brasil, e a carne e o trigo,

• Segundo uma pesquisa da consultoria Manpower feita em 2012, o Brasil é o segundo país, entre os 41 pesquisados, onde é mais difícil encontrar mão de obra qualificada. Só ficou atrás do Japão, mas enquanto lá a escassez é resultado do envelhecimento da população, aqui é por falta de investimento em qualificação profissional. No Brasil, 71% dos empresários consultados afirmaram não ter conseguido encontrar profissionais preparados no mercado de trabalho, enquanto na China esse índice foi de 23%. Esse é mais um dado a confirmar que a educação é sua “arma secreta” já há muito tempo e que deverá continuar sendo no futuro. Isso evidencia que se trata de uma “arma” não tão “secreta” assim. Outros países asiáticos que deram um salto de desenvolvimento antes da China, como o Japão e a Coreia do Sul, também utilizaram essa “arma secreta”. Só o Brasil ainda não a descobriu verdadeiramente.

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Manual do Professor

na Argentina. No México, a principal fonte de riqueza era o petróleo. Em todos eles, porém, o fator mais importante foi a participação do Estado na economia, que investiu sobretudo em infraestrutura e indústrias de bens intermediários, tanto que os símbolos mais importantes desse modelo econômico foram as estatais Petrobras (hoje uma empresa mista), a Pemex e a YPF. A continuidade do processo de industrialização, após a Segunda Guerra, foi marcada pela entrada de empresas transnacionais que passaram a atuar especialmente nos setores mais avançados tecnologicamente, como o automobilístico, o químico-farmacêutico e o eletroeletrônico. Assim, o processo de industrialização acabou se assentando no tripé capital nacional (privado e estatal) e capital estrangeiro.

b) A industrialização dos Tigres Asiáticos foi favorecida por uma conjunção de fatores políticos, culturais e socioeconômicos, aliados a uma série de medidas governamentais que tornavam a produção barata e, portanto, garantiam a esses países alta competitividade no mercado internacional. Entre os fatores, destacam-se a disponibilidade de mão de obra barata, disciplinada e relativamente qualificada; incentivos fiscais e subsídios às exportações; medidas restritivas às importações, aliadas a uma política de desvalorização cambial para baratear os produtos de exportação; altas taxas de poupança interna; altos investimentos em educação e em P&D. Atualmente esses países têm investido cada vez mais em indústrias de alta tecnologia e já sediam algumas das maiores empresas do setor. 3

a) Na Índia, a enorme população garantiu a oferta de numerosa mão de obra barata, mas crescentemente qualificada, e de um amplo mercado consumidor. As grandes reservas minerais, sobretudo de carvão, garantiram o fornecimento de energia e matérias-primas. Os capitais vieram de investimentos estatais, especialmente em infraestrutura e indústrias de base e bélicas. No início os indianos contaram com assessoria e tecnologia soviética, mas, com o tempo, acabou sendo mais importante a entrada de empresas transnacionais, especialmente norte-americanas e britânicas. Até hoje o Estado indiano tem uma forte participação na economia e possui diversas empresas, como a Indian Oil, a maior do país, embora haja grupos privados importantes no país, como o conglomerado Tata (Tata Motors, Tata Steel, Tata Technologies, etc.). b) Na África do Sul também foi importante para o processo de industrialização a razoável oferta de mão de obra barata, embora não tão numerosa e qualificada como na Índia. É preciso lembrar que durante o apartheid a mão de obra da maioria negra sul-africana foi superexplorada. As enormes reservas minerais também favoreceram a industrialização do país, um dos mais ricos em minérios no mundo. Também, à semelhança da Índia, a intervenção do Estado na economia foi importante, fosse implantando uma

política industrial, fosse criando empresas estatais. Apesar de ser o país mais industrializado do continente africano e ter importantes empresas, nenhuma delas consta na lista das 500 maiores da revista Fortune – um indício de que seu mercado interno é pequeno. 4

Os setores que mais se destacam na economia indiana são as indústrias e os serviços de alta tecnologia, como de informática, de biotecnologia e de TI. O país possui algumas das principais empresas desses setores e é um dos maiores exportadores mundiais de softwares; abriga ainda um dos mais importantes parques tecnológicos do mundo – Bangalore –, onde estão instaladas praticamente todas as empresas globais desses setores. Contribuíram para o desenvolvimento dos setores de alta tecnologia, especialmente da área de informática, a política governamental de estímulos ao setor, a existência de centros de pesquisas de excelência e a enorme quantidade de mão de obra qualificada, porém bem mais barata do que sua correlata do Vale do Silício (Estados Unidos) ou de Cambridge (Reino Unido). O retorno de muitos trabalhadores de alta qualificação que antes prestavam serviços naqueles dois países também contribuiu para o desenvolvimento das indústrias de alta tecnologia na Índia.

Desenvolvendo habilidades 5

Pode-se propor aos alunos a elaboração de um texto comparando os dois modelos econômicos e em seguida organizar um debate para que eles possam expor suas conclusões. O texto deve conter, em linhas gerais, as diferenças destacadas a seguir.

Diferenças entre o modelo asiático e o latino-americano A frase do ministro Celso Amorim sintetiza a diferença entre esses dois processos de desenvolvimento: “A diferença entre o modelo asiático, se se pode chamar assim, e o modelo latino-americano é que o modelo asiático é construído sobre poupança interna e mercado externo, enquanto o modelo latino-americano é construído sobre poupança externa e mercado interno”. Aquele é chamado de plataforma de exportação e esse, de substituição de importações. Porém, além da diferença fundamental apontada pelo ministro, há de se considerar que o modelo asiático, embora voltado para fora, foi mais bem-sucedido na constituição de um mercado interno e na elevação do padrão de vida da população, como mostram os indicadores de desenvolvimento humano e de distribuição de renda. Em média, seu crescimento econômico foi maior desde o início dos anos 1980, como mostram as tabelas. Além disso, os governos dos países asiáticos investiram mais em educação e em qualificação dos trabalhadores, o que possibilitou o aumento da produtividade econômica e, consequentemente, dos salários, além da competitividade externa. Esses fatos combinados garantiram melhor distribuição de renda, aumento da capacidade de Manual do Professor

355

consumo da população e melhoria dos indicadores de desenvolvimento humano (estão no grupo de países de IDH muito elevado; não há dados para Taiwan). Por outro lado, o que marcou negativamente o modelo latino-americano foi que, além de apresentar um crescimento econômico baixo, gerou uma acentuada desigualdade social, com milhões de pessoas excluídas do mercado e vivendo na pobreza, às vezes, extrema. Para agravar esse quadro, durante anos os governos foram negligentes com os investimentos sociais, como educação, saúde, habitação, etc., que poderiam contribuir para um maior avanço dos indicadores de desenvolvimento humano (os dois principais emergentes da América Latina, Brasil e México, apresentam IDH elevado e a Argentina, muito elevado). Ao final, é importante que os alunos, após o debate, percebam que, de acordo com os dados disponíveis, o modelo asiático foi mais bem-sucedido. Ele permitiu maiores avanços nas condições de existência das pessoas, como pode ser constatado pela expectativa de vida mais longa, pelos índices mais elevados de educação e pela maior riqueza nacional (rendimento nacional bruto per capita mais alta) e mais bem distribuída, indicadores que redundam em IDHs mais elevados. 6

Vestibulares de Norte a Sul Testes 1

E

2

C

3

E

4

A

5

D

6

B

7

C

8

E

9

E

10

A

11

B Quest›es

12

O modelo 1 é o fordismo, originário dos Estados Unidos na fábrica de automóveis de Henry Ford. Caracteriza-se pela linha de montagem, trabalhadores muito especializados em funções específicas, produção em escala e formação de grandes estoques de mercadorias. O modelo 2 é o toyotismo, originário do Japão, na fábrica de automóveis da Toyota. Caracteriza-se por trabalhadores com múltiplas funções, maior produtividade do trabalho, melhor controle de qualidade das mercadorias, produção em escopo, conforme a demanda do mercado consumidor.

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Flexibilidade, internacionalização e terceirização são conceitos usualmente associados à atual fase informacional do capitalismo, marcada pela expansão conhecida como globalização. Nessa etapa houve uma gradativa substituição da produção fordista pela produção flexível, gerando transformações nas relações trabalhistas e nos sistemas produtivos. Enquanto o fordismo era marcado pela rigidez no processo de produção e nas relações de trabalho, o sistema flexível implantou o conceito de flexibilidade no trabalho, na produção e no consumo, cujas implicações podem ser observadas no texto 2. Ele chama a atenção para a precarização das relações de trabalho com a subcontratação e a terceirização da produção em escala mundial e a superexploração dos trabalhadores de países em desenvolvimento. No texto 1 essa flexibilidade, aplicada à produção, caracteriza a mobilidade geográfica dos investimentos com o crescimento de empresas transnacionais, como é o caso da Zara e de outras marcas da Inditex, que se estabelecem em diversos países.

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a) Indústrias de alta tecnologia, tais como a de informática (hardware, software e TI), de telecomunicações, químico-farmacêutica e biotecnologia. b) Essas indústrias se localizam em tecnopolos como o Vale do Silício (Califórnia) e Rota 128, na região de Boston (Massachusetts). A localização delas foi definida pela existência de importantes centros de pesquisa, como as Universidades Stanford e Berkeley, na Califórnia, o Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) e a

a) Se necessário, auxilie os alunos na leitura e interpretação do gráfico.

b) • Houve mudanças importantes na participação das principais economias emergentes no valor da produção industrial dos países em desenvolvimento no período retratado. Em 1990, as cinco nações mais industrializadas entre os países em desenvolvimento concentravam 49,8% do valor da produção industrial total desse grupo, em 2014 a participação delas subiu para 70,7%, com grande destaque para a China.

• A China foi o país que mais ganhou participação: sal-

tou de 15,8%, em 1990, para 51,3%, em 2014; e o Brasil foi o país que mais perdeu participação: caiu de 12,2%, em 1990, para 4,4%, em 2014. A ampliação da participação chinesa se deu em razão de seu explosivo crescimento econômico e da elevação de sua competitividade, o que levou a um grande aumento da participação de produtos industrializados em sua pauta de exportações. A industrialização da China se deu em detrimento da participação de muitos países, entre os quais o Brasil. A perda de participação brasileira se deve à baixa competitividade da indústria do país e da priorização das commodities em sua pauta de exportação, notadamente para a própria China.

• A Índia foi um dos poucos países que conseguiu aumentar sua participação apesar do avanço chinês: em 1990, tinha uma fatia de 5,7% e, em 2014, subiu para 6,4%. O México, outro país representante do modelo latino-americano, assim como o Brasil, também perdeu participação: caiu de 10,9% em 1990 para 5,0% em 2014. 356

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Universidade Harvard, em Massachusetts, em torno dos quais se desenvolveram esses parques tecnológicos. a) A Alemanha foi inicialmente dividida como consequência de sua derrota na Segunda Guerra Mundial. Os vencedores – Estados Unidos, União Soviética e Reino Unido –, reunidos na Conferência de Potsdam (1945), partilharam a Alemanha em quatro zonas de ocupação (a França também participou da administração interaliada). O país foi novamente dividido no contexto da Guerra Fria, em 1949. Os Estados Unidos, o Reino Unido e a França constituíram em sua zona de ocupação a República Federal da Alemanha, mais conhecida como Alemanha Ocidental. A resposta veio no mesmo ano, com a criação da República Democrática Alemã, mais conhecida como Alemanha Oriental. Tinha como capital Berlim Oriental, que, aliás, foi separada do lado ocidental pelo Muro, construído em 1961 pelo governo da RDA.

c) Os países emergentes vêm apresentando redução da taxa de natalidade e aumento da expectativa de vida. Muitos estão vivendo um período chamado de “janela demográfica”, o que facilita o desenvolvimento. A proporção dos jovens diminuiu e a de adultos aumentou, o que eleva a população economicamente ativa e favorece o crescimento da economia. O número de idosos vem crescendo, mas sua participação na população ainda é bem inferior em comparação com os países desenvolvidos (estes têm enfrentado problemas como escassez de mão de obra e alto custo do sistema previdenciário). 18

b) A Alemanha dividida e o Muro de Berlim foram os principais símbolos da Guerra Fria, marcada pela forte tensão geopolítica e ideológica entre os Estados Unidos e a União Soviética, pelo conflito Leste-Oeste, no qual imperou a corrida armamentista, o equilíbrio do terror. A expressão “socialismo de mercado” expressa a combinação da ditadura comunista com a abertura capitalista. Do ponto de vista político, a China continua sendo um país bastante fechado, uma ditadura de partido único, o Partido Comunista Chinês (PCC). Qualquer manifestação contrária ao regime é duramente reprimida. Já economicamente é um país cada vez mais aberto: adota práticas capitalistas (embora grande parte das empresas seja controlada pelo Estado), recebe vultosos investimentos estrangeiros (historicamente é o segundo maior receptor) e obtém enormes saldos comerciais (é o maior exportador mundial). Desde o início dos anos 1980 é a economia que mais cresce no mundo, a uma taxa média anual de cerca de 10%. a) Entre os principais emergentes estão os países do Brics: compõem esse grupo, além do Brasil (América), a Rússia (Europa/Ásia), a Índia (Ásia), a China (Ásia) e a África do Sul (África). Outras economias importantes entre os emergentes que podem ser mencionadas: Indonésia e Turquia (Ásia); México e Argentina (América). b) Os emergentes pertencem ao grupo de países em desenvolvimento, são relativamente industrializados e possuem amplos mercados consumidores. Podem ser considerados países semiperiféricos: ainda não são desenvolvidos, pois apresentam muitos problemas sociais, mas também não são periféricos como os países pobres (menos desenvolvidos, no jargão da ONU). A China já ocupa uma posição de centralidade nos campos geopolítico e econômico, mas socialmente o país ainda apresenta problemas e está distante do mundo desenvolvido. A Rússia, como herdeira da União Soviética, ocupa uma centralidade geopolítica, mas vem tendo problemas no campo socioeconômico.

Globalização é o nome que se dá para o estágio da expansão do capitalismo em sua atual etapa informacional. A globalização desenvolveu-se ancorada na Revolução Técnico-Científica e se caracteriza por um processo de ampliação da interdependência da economia global. Esse processo foi influenciado pela doutrina econômica neoliberal, que prega a abertura dos mercados e a livre circulação de capitais e mercadorias. A China e a Índia são os dois países que mais vêm se destacando como destinos de investimentos industriais desde o início da globalização e os que mais se beneficiaram desse processo.

O avanço desses países põe o Brasil sob o risco de desindustrialização, porque nosso país está perdendo a competição com eles. A baixa qualificação da mão de obra brasileira, a deficiência de nossa infraestrutura, a alta carga tributária, a elevada burocratização, a valorização da moeda na primeira década do século XXI estão entre os fatores que vêm reduzindo a competitividade da indústria brasileira. Com isso, ela vem perdendo mercados no mundo e mesmo na competição interna com produtos importados. A participação da indústria brasileira no valor da produção industrial dos países emergentes caiu de 12,2%, em 1990, para 4,4% em 2014; no mesmo período, a participação chinesa aumentou de 15,8% para 51,3% e a indiana de 5,7% para 6,4%. A China hoje é nosso principal parceiro comercial, mas o Brasil exporta predominantemente commodities para aquele país e dele importa produtos industrializados, num claro indício de primarização da pauta de exportações e de desindustrialização de nossa economia.

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Textos de apoio 1

A Terceira Revolução Industrial

À medida que se acelerava o progresso na microeletrônica e as tarefas antes executadas pelo Eniac podiam ser realizadas por um microcomputador do tamanho de um selo postal, falar em Terceira Revolução Industrial tornou-se lugar-comum. Se as duas primeiras foram revoluções em energia – baseadas no vapor e na eletricidade – a terceira, e sobre isso havia acordo geral, era a da informação. Essa reviravolta esteve em gestação por mais de um século. Suas primeiras manifestações assumiram as formas do telégrafo elétrico, do telefone, do gramofone, do cinema, do rádio e da televisão. Mas o computador foi o ponto culminante. Isto porque, como disse um dos mais notáveis cientistas de computadores dos Estados Unidos, Hebert Simon, “o computador é único em sua capacidade de manipular e transformar informação e, portanto, desempenhar, autonomamente e sem intervenção humana, funções que antes haviam sido realizadas apenas pelo cérebro do homem”.

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KUMAR, Krishan. Da sociedade pós-industrial à pós-moderna: novas teorias sobre o mundo contemporâneo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. p. 20-21.

Corporação e espaço

As grandes corporações desempenham papel fundamental na organização do espaço. Consumidoras de uma gama variada de matérias-primas, interferem no processo produtivo de áreas agropastoris e mineradoras. Consumidoras e produtoras de uma gama também variada de produtos intermediários e finais, as corporações estabelecem ligações internas entre si e com outras empresas dos setores industrial, comercial e de serviços. Ao empregarem um número elevado de pessoas, interferem no mercado de trabalho e na esfera do consumo pessoal, gerando o aparecimento de novas atividades e novos empregos. [...] Os impactos resultantes da ação das grandes corporações sobre a organização espacial preexistente são múltiplos, afetando as suas dimensões econômica, social, política e cultural, assim como as formas espaciais. Consideraremos apenas dois dos mais importantes impactos: • A manutenção, o desfazer e a recriação das diferenças espaciais constituem o principal impacto. Resultam elas da ação das corporações multifuncionais, segmentadas, multilocalizadas e dotadas de grande escala de operações e poder econômico e político, sobre uma organização espacial prévia, já desigual. [...] As novas especializações produtivas, tanto rurais quanto urbanas, resultantes de novos padrões locacionais relevantes para a acumulação capitalista, vão traduzir-se na recriação das diferenças espaciais. Diferenças de custos da força de trabalho, na distribuição dos recursos naturais, da infraestrutura e dos

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É o computador também, como “símbolo principal” e “motor analítico” da mudança, que Daniel Bell coloca no centro de sua versão do advento da sociedade de informação. Neste ponto, ele tem uma dívida com um autor anterior, Zbigniew Brzezinski, que ao rejeitar a expressão “pós-industrial” como vazia de conteúdo, propôs substituí-la por “sociedade tecnotrônica”. Em sua opinião, a nova tecnologia das comunicações eletrônicas é que estava inaugurando a nova era. A expressão “sociedade tecnotrônica” não pegou (era, talvez, empolada demais), embora a ideia que lhe dava fundamento efetivamente conseguisse isso. Já em The coming of postindustrial society, Bell afirmara que “a sociedade pós-industrial é uma sociedade de informação, como a sociedade industrial é uma sociedade produtora de bens”.

mercados consumidores são fatores que afetam as novas localizações, geradoras, por sua vez, de novos padrões de interações espaciais. Mas as grandes corporações têm poderosas economias internas de escala e podem prescindir dos fatores locacionais tradicionais, implantando um estabelecimento industrial em uma ampla gama de pequenas cidades que, em um passado não muito distante, jamais atrairiam atividades industriais. Com isto as diferenças espaciais são refeitas: a singularidade dessas cidades é alterada, elas estão sendo inseridas de novo na rede urbana. [...] • A perda do poder de controle e decisão das cidades da hinterlândia dos centros de gestão, através de falência e dos processos de fusão e satelização funcional das empresas locais, que não apresentam condições de competição com a grande corporação (Westaway, 1974). A perda em questão inclui não apenas atividades industriais, que em muitos casos são reestruturadas, mas também as atividades financeiras e comerciais através da penetração de filiais bancárias, lojas departamentais, de eletrodomésticos e supermercados que pertencem aos grandes bancos e cadeias de lojas sediados nos grandes centros de gestão. A perda do poder de controle e decisão desestrutura uma série de atividades das cidades da hinterlândia dos centros de gestão, implicando ainda a drenagem de lucros, juros e parte da renda fundiária para os grandes centros de acumulação e decisão. CORRÊA, Roberto L. Trajetórias geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. p. 213-233.

A globalização e o Estado do bem-estar social

A globalização da produção e do investimento também representa uma ameaça ao Estado do bem-estar social, um dos principais componentes das políticas dos 358

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Estados-nação dos últimos 50 anos, e provavelmente o principal sustentáculo da legitimidade desse Estado nos países industrializados. Isso se deve ao fato de que está

se tornando cada vez mais contraditória a ideia de que empresas possam atuar em mercados globalizados e integrados, tendo de arcar com grandes diferenciais de custo em termos de benefícios sociais, bem como trabalhar com diferentes níveis de regulamentação que variam de país para país. Essa questão não ocorre somente na relação entre os hemisférios norte e sul, mas também entre os países da OCDE: por exemplo, os custos de mão de obra referentes a benefícios sociais são muito mais elevados na Alemanha do que nos Estados Unidos. Em compensação, o que representa uma vantagem comparativa para os Estados Unidos em relação à Alemanha torna-se desvantagem em relação ao México, após a implantação do Nafta. Uma vez que as empresas, por meio da tecnologia da informação, têm condições de se estabelecer em diferentes locais e manter-se integradas a redes e mercados de produção global, acabam desencadeando uma espiral descendente em termos de concorrência nos custos sociais. No passado, os limites dessa “competitividade negativa” eram considerados sob dois aspectos: por um lado, as diferenças de qualidade e produtividade entre os países protegeram os trabalhadores das economias mais desenvolvidas comparativamente a seus concorrentes menos desenvolvidos; por outro, pressões internas induziram ao protecionismo, de modo que o preço dos produtos importados fosse majorado por tarifas alfandegárias, fazendo com que a vantagem comparativa de produtos provenientes do exterior desaparecesse. Ambos os limites estão se diluindo. A nova Organização Mundial do Comércio está desenvolvendo um sistema de fiscalização com o objetivo de detectar e aplicar sanções às barreiras impostas ao livre-comércio. Embora o impacto real desses controles seja condicionado à política de comércio internacional, parece que, a menos que ocorra uma enorme reversão no processo de integração econômica global, o protecionismo explícito e em larga escala estará cada vez mais exposto à retaliação por parte de outros países. Quanto às diferenças nos ní-

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CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999. p. 296-298. (A era da informação: economia, sociedade e cultura; v. 2.)

Perestroika – novas ideias para o meu país e o mundo

Estava-se desenvolvendo uma situação absurda: a URSS, o maior produtor mundial de aço, matérias-primas, combustíveis e energia, apresentava escassez de tais recursos devido ao uso ineficiente ou ao desperdício. Apesar de ser um dos maiores produtores de grãos para alimentação, tinha de comprar milhões de toneladas por ano para forragem. Possuímos o maior número de médicos e leitos hospitalares para cada mil habitantes, e, ao mesmo tempo, existem claras deficiências em nossos serviços de saúde. Nossos foguetes conseguem encontrar o cometa de Halley e atingir Vênus com uma precisão surpreendente, mas ao lado desses triunfos científicos e tecnológicos existe uma ineficiência óbvia para aplicar nossas conquistas científicas às necessidades econômicas,

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veis de qualidade e produtividade, um estudo realizado por Harley Shaiken sobre as indústrias automobilísticas norte-americanas no México demonstrou a rápida equiparação do nível de produtividade dos trabalhadores mexicanos com o dos trabalhadores norte-americanos em cerca de 18 meses. Processos semelhantes têm sido observados na Ásia. E (os europeus devem ser lembrados disso) a produtividade da mão de obra norte-americana ainda é a mais alta do mundo, anulando portanto a possível vantagem competitiva europeia que permitiria um Estado do bem-estar social ainda generoso. Para economias em que os principais mercados de capital, bens e serviços estejam cada vez mais integrados a uma escala global, há pouco espaço para diferenças muito gritantes em termos de benefícios sociais entre Estados com níveis de produtividade da mão de obra e qualidade da produção relativamente semelhantes. Somente um contrato social global (que diminua as diferenças, sem necessariamente equalizar as condições sociais e de trabalho), juntamente com acordos internacionais de tarifação, seria capaz de impedir a derrocada dos maiores Estados do bem-estar social. Contudo, devido ao fato de que na nova economia global, liberalizada e integrada em rede, a realização de um contrato social de tamanha abrangência é muito pouco provável, tais Estados vêm sendo reduzidos ao mais baixo denominador comum, que mantém numa espiral descendente contínua. Assim, um componente fundamental da legitimidade e estabilidade do Estado-Nação está desaparecendo, não só na Europa, mas em todo o mundo, desde Estados de nível intermediário em termos de bem-estar social, como o Chile ou o México, até os remanescentes do estatismo na Rússia, China e Índia, passando pelo Estado do bem-estar social implantado nos Estados Unidos a partir das lutas sociais dos anos 1960.

e muitos dos eletrodomésticos na URSS apresentam uma qualidade sofrível. Infelizmente, isso não é tudo. Iniciou-se uma gradual erosão de valores ideológicos e morais de nosso povo. Ficou claro que a taxa de crescimento caía rapidamente e que todo o mecanismo de controle de qualidade não estava funcionando de forma adequada. Havia falta de receptividade com relação aos avanços científicos e tecnológicos, a melhoria do padrão de vida estava diminuindo e havia dificuldade no fornecimento de alimentos, habitação, bens de consumo e serviços. GORBACHEV, Mikhail. Perestroika: novas ideias para o meu país e o mundo. São Paulo: Best Seller, 1987. p. 20.

A compreensão do desenvolvimento asiático

A compreensão dos processos sociais que, entre 1960 e 1990, conduziram ao extraordinário crescimento econômico e à modernização nos quatro países [Cingapura, Coreia do Sul, Taiwan e Hong Kong], embora à custa de

graves problemas sociais e repressão política, permanece prejudicada pela paixão dos debates ideológicos. Isso porque o desempenho dessas economias desafia o conhecimento comum tanto da análise da dependência dogmáManual do Professor

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tica como da economia neoclássica no campo da teoria do desenvolvimento. Contra a visão esquerdista predominante, de acordo com a qual o desenvolvimento econômico não poderia ocorrer em sociedades dependentes sob o regime capitalista, os quatro tigres asiáticos mantiveram a maior taxa de crescimento de PNB do mundo por aproximadamente três décadas e conquistaram fatias significativas dos mercados mundiais, transformando, ao longo do processo, sua estrutura econômica e tecido social. Além do mais, embora a exploração e a opressão fossem partes integrantes do processo de desenvolvimento (como haviam sido na industrialização europeia), o crescimento econômico aliou-se à melhoria substancial das condições de vida (salários, saúde, educação e habitação). Somando-se a isso, a desigualdade de renda diminuiu na década de 1960, estabilizou-se nos anos 1970 e, embora aumentasse um pouco nos anos 1980, ainda era mais baixa em meados dessa década do que na de 1950, sendo inferior à registrada nos Estados Unidos, RU [Reino Unido], França e Espanha. É verdade que essa transformação econômica e social aconteceu em um contexto de repressão política e ideológica. Mas a maioria das sociedades em desenvolvimento no mundo estava sob condições repressoras similares e ainda se mostrava incapaz de superar seus obstáculos ao desenvolvimento, em grande parte herdados de um passado colonial ou semicolonial. Apenas os Tigres obtiveram sucesso no rompimento com esse passado e, desse modo, inspiraram emulação nos outros países asiáticos que, na década de [19]90, parecem estar seguindo caminho semelhante, embora sob diferentes condições e com políticas de certa forma diversas. Essas diferenças ocorreram exatamente porque o desenvolvimento dos Tigres mudou o contexto em que atuavam, instaurando a nova conexão da região do Pacífico com a economia global. O sucesso econômico dos Tigres Asiáticos, por sua vez, tem sido usado em apoio ao discurso ideológico de alguns economistas adeptos do livre mercado, que encontraram em sua versão reconstruída do desenvolvimento asiático o paraíso perdido do neoliberalismo. Entretanto, qualquer observador sério e imparcial do cenário da região do Pacífico asiático sabe que a intervenção estatal sistêmica na economia assim como a orientação estratégica estatal das empresas nacionais e multinacionais localizadas no território do país foram fatores básicos à garantia da transição das economias em fase de industrialização para cada um dos estágios alcançados em seu processo desenvolvimentista. Como o Japão, o “Estado desenvolvimentista” é o elemento principal da experiência das economias recém-industrializadas. Esse fato é amplamente reconhecido em relação a Cingapura, à Coreia do Sul e a Taiwan. Com base em vários estudos menos conhecidos, inclusive o meu, devo dizer que ocorreu a mesma coisa com Hong Kong. Mas a afirmação de que o Estado foi a força motriz do desenvolvimento econômico desses países mais suscita perguntas à teoria do desenvolvimento que as responde. Porque, considerando-se a difundida e, no geral, ineficiente intervenção estatal em outras economias em desenvolvimento, devemos reconstruir o complexo conjunto de relações entre o Estado, a sociedade e a economia na região do Pacífico asiático para entender as condições sociais específicas que explicam o êxito do processo desenvolvimentista. [...] CASTELLS, Manuel. Fim de milênio. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999. p. 295-296. (A era da informação: economia, sociedade e cultura, 3).

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Unidade 3

Comércio e serviços no mundo Objetivos Propiciar aos alunos a compreensão da organização do comércio e dos serviços no mundo contemporâneo considerando seu contexto histórico, geográfico, econômico, político e tecnológico. No Capítulo 10, eles terão a oportunidade de estudar o comércio internacional e os principais blocos econômicos regionais. No Capítulo 11, compreenderão o que significa o setor de serviços na economia, sua relação com outras atividades econômicas e as trocas internacionais de diversos tipos de serviços.

Atividade complementar Proposta de estudo do meio Atividade a ser desenvolvida de forma interdisciplinar envolvendo Geografia, História, Sociologia, Língua Portuguesa e Língua Estrangeira Moderna (Inglês). Organize com os colegas das outras disciplinas e seus alunos um estudo do meio no centro da cidade onde fica a escola ou ao menos no entorno desta, caso haja alguma rua comercial. É importante fazer um reconhecimento a priori do lugar a ser estudado e um planejamento das atividades antes de sair a campo com os alunos.

1. Divida os alunos em grupos e solicite que cada grupo fique encarregado de pesquisar uma rua. Eles devem levar cadernos para anotação e equipamentos para registrar falas e imagens. 2. Solicite que cada grupo pesquise as atividades econômicas desenvolvidas na rua designada. Eles devem ficar atentos para: a) Que tipos de empresa existem na rua: industrial, comercial ou de serviços? Qual é o tamanho das empresas? Quantos empregados têm? Usam tecnologias modernas ou não? Devem também fotografar as empresas pesquisadas. b) Que tipo de atividades as empresas desenvolvem: se for uma indústria, que produto(s) fabrica? Se for um comércio, que produtos vende? E se for uma empresa de serviços, que serviço presta ao consumidor? c) Com base em conversas com pessoas que residem ou trabalham há mais tempo no lugar e em observação de fotos antigas (pesquisar na prefeitura, no museu da cidade ou com moradores), reconstruir como era no passado a rua pesquisada. Que mudanças ocorreram na paisagem urbana, nas atividades econômicas desenvolvidas e nas relações entre as pessoas do lugar? Depois, promova a comparação das paisagens (do passado e do presente).

d) Observar e registrar os nomes e as publicidades dessas empresas: estão escritas corretamente? Há neologismos ou estrangeirismos, como anglicismos? Se houver, perguntar ao dono do negócio porque optou pelo uso de palavras em língua estrangeira. 3. Os alunos devem construir coletivamente uma planta do lugar estudado, juntando as informações de todos os grupos, para registrar as empresas pesquisadas. Para isso podem utilizar o Google Maps. 4. Solicite que cada grupo elabore um relatório descrevendo as conclusões que tirou do estudo do meio que desenvolveu. Eles devem juntar nesse relatório o material coletado no trabalho de campo. 5. Escolha a melhor forma de apresentação dos relatórios do estudo do meio. Pode-se organizar uma exposição do material coletado e das conclusões tiradas no desenvolvimento da atividade para suscitar um debate na sala. 6. Se considerar conveniente seria interessante dar um retorno à comunidade que participou da atividade, eventualmente propondo alguma solução coletiva para problemas encontrados.

Projeto interdisciplinar Questão-tema: Quais são os impactos da Revolução Técnico-Científica no espaço geográfico, na produção, no comércio e nos serviços? Disciplinas: Geografia, História, Física, Química, Biologia, Arte e Língua Portuguesa. Tempo de duração: um semestre. Trabalho: • individual: levantamento bibliográfico e de outros materiais – iconográficos, cartográficos, jornais, revistas, publicações diversas, internet, etc. • em grupo: troca de materiais levantados individualmente, discussão e produção da síntese. Forma final do trabalho: texto dissertativo ou painel-síntese. Enfoques de trabalho por disciplina: • Geografia: investigação e compreensão das transformações tecnológicas em curso e seus impactos no espaço geográfico e no sistema produtivo capitalista, nas trocas comerciais e nos serviços. A análise geográfica contempla elementos da Economia e da Sociologia. Buscar compreender o significado do conceito de meio técnico-científico-informacional. • História: investigação e compreensão da evolução da tecnologia ao longo do tempo e seus impactos na produção e circulação de mercadorias. A análise histórica também contempla elementos da Economia e da Sociologia. Na área de História, pode-se aprofundar o estudo das doutrinas vigentes no capitalismo – liberalismo, keynesianismo e neoliberalismo –, além da crise de 1929. • Física: levantar quais são os avanços tecnológicos que podem ser apreendidos pela disciplina – eletrônica,

computação, internet, cabos de fibra óptica, satélites, robótica, etc. – e seus impactos nos processos produtivos, nos bens e serviços e no espaço geográfico. • Química: pesquisar quais são os avanços tecnológicos que podem ser apreendidos pela disciplina – novos remédios, novos materiais, etc. – e seus impactos na sociedade. • Biologia: levantar quais são os avanços tecnológicos que podem ser apreendidos pela disciplina – biotecnologia, alimentos geneticamente modificados, etc. – e seus impactos na sociedade. • Arte: coleta e leitura de imagens do cotidiano, em particular da área de publicidade e propaganda, que retratam os avanços tecnológicos recentes, além da produção do painel-síntese. • Língua Portuguesa: análise das transformações provocadas na Língua Portuguesa como resultado dos avanços tecnológicos e do aumento da interconexão global – estrangeirismos, neologismos, gírias, etc. – e produção de texto dissertativo final. Etapas do trabalho: 1. Pesquisar, ler, analisar e interpretar textos, peças publicitárias, materiais iconográficos e cartográficos, gráficos e tabelas. 2. Identificar as transformações que estão ocorrendo no espaço geográfico por meio da observação das paisagens e da leitura de materiais iconográficos e cartográficos (antigos e recentes) para avaliar as mudanças ao longo da História. 3. Identificar as transformações que estão ocorrendo nos processos produtivos e na circulação de bens e serviços como consequência da Revolução Técnico-Científica. 4. Discutir com os colegas do grupo e sistematizar as informações coletadas de modo a responder à questão-tema do projeto. 5. Escolher a forma de apresentação da síntese e executá-la.

Sugest›es bibliogr‡ficas BRAGA, M. B. Prebisch era realmente contra o livre-comércio? Considerações sobre a origem do pensamento estruturalista. Texto para discuss‹o: Série Economia. Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (FEA-RP), Ribeirão Preto, SP, fev. 2008.

Discute criticamente algumas das ideias centrais do pensamento da Cepal, como a “deterioração dos termos de troca” e “a proteção à indústria nascente”, que redundaram na defesa da política de substituição de importações como modelo de industrialização para a América Latina. Analisa também a suposta oposição ao livre-comércio por parte de Raul Prebisch, um dos maiores expoentes da escola Cepalina. Manual do Professor

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Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (CINDES). Brasil, o multilateralismo comercial e a OMC: uma perspectiva de médio prazo. Relatório final. Rio de Janeiro, jun. 2012. p. 7-11.

do Comércio, a Rodada do Milênio, cláusulas sociais e ambientais e outros.

MEIRELLES, D. S. O conceito de serviço. Revista de Economia Política, v. 26, n. 1 (101), São Paulo, Jan./Mar. 2006. p. 119-136.

Reúne diversas visões de especialistas em comércio e política comercial com o objetivo de apresentar uma proposta brasileira para o sistema multilateral de comércio. Na seção Textos de apoio, foi reproduzido um trecho que discute a questão do multilateralismo.

Analisa o conceito de serviço inicialmente com base em economistas políticos clássicos para, em seguida, chegar a uma abordagem baseada em autores contemporâneos. Em sua proposta de abordagem o autor define serviço como “trabalho em processo” e produto como “trabalho acumulado”. Por essa razão, segundo ele, não se produz serviço e sim presta-se serviço. Na seção Textos de apoio, foi reproduzido o trecho em que o autor explicita sua proposta de abordagem.

GONÇALVES, R. O Brasil e o comércio internacional. São Paulo: Contexto, 2003.

Analisa a participação do Brasil no comércio internacional contextualizando com temas como a Organização Mundial

Comentários e respostas das atividades continuam sendo aqueles que compram matérias-primas e vendem produtos industrializados de maior valor agregado – assim como no capitalismo comercial descrito no texto 1. Isso explica por que a China acumulou mais riquezas do que os países da África com os quais comercializa: ela compra matérias-primas e vende produtos industrializados.

Capítulo 10

O comércio internacional e os principais blocos regionais Dialogando com as disciplinas 1

O trecho do livro História da riqueza do homem se refere à etapa do capitalismo comercial. Ele descreve objetivos da doutrina mercantilista, como vender mais aos países estrangeiros do que comprar (ter uma balança comercial favorável); pagar as importações com metais preciosos, com a condição de ganhar ainda mais nas exportações; importar apenas o necessário (matérias-primas, sobretudo produtos agrícolas) e exportar mercadorias de valor (industrializadas); tornar o país o mais independente possível – em termos econômicos – dos demais.

2

O texto A China é imperialista? compara a relação desse país com a África na atualidade com o imperialismo exercido pelas nações da Europa nesse continente, de meados do século XIX até a Segunda Guerra Mundial, durante o capitalismo financeiro. O autor faz essa comparação porque atualmente a China é um país dependente de matérias-primas importadas de outras regiões do mundo, especialmente da África, e busca exercer sua influência sobre esse continente – assim como fizeram as nações europeias no final do século XIX e início do XX.

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Esses continentes eram a América e a própria África. É possível fazer essa comparação porque, assim como a África em relação à China atualmente, eles forneciam matérias-primas para a Grã-Bretanha e compravam seus produtos industrializados.

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A comparação entre os dois textos permite verificar que atualmente continua sendo importante para os países vender mais mercadorias do que comprar (ter uma balança comercial favorável). Além disso, o texto 2 mostra que os países mais desenvolvidos economicamente

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Manual do Professor

Compreendendo conteúdos 1

O comércio internacional é um fenômeno muito concentrado em poucos países: em 2014, os dez principais exportadores foram responsáveis por metade do valor do comércio mundial. Ou seja, a maioria dos países do mundo pouco se beneficia da expansão do comércio internacional, que está fortemente concentrado nas principais economias dos países desenvolvidos e emergentes.

2

O G-20 comercial reúne as principais potências emergentes – os países do grupo Brics, com exceção da Rússia, e os do Ibas –, assim como outros importantes países em desenvolvimento, como o México, a Argentina e a Indonésia. Foi criado em agosto de 2003, na fase final de preparação para a reunião da 5a Conferência da OMC. Em 2015, o grupo era composto de 23 países. O G-20 concentra sua atuação em agricultura, o tema central da Rodada Doha, e busca conseguir concessões dos países desenvolvidos na questão dos subsídios agrícolas. Apesar da articulação dos países do grupo, a intransigência dos países desenvolvidos vem impedindo um acordo.

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O GATT foi criado na Conferência de Havana, em 1947, com o objetivo de estimular o comércio multilateral entre os países signatários. No entanto, era apenas um fórum de negociações vinculado à ONU, não uma organização, como o Banco Mundial e o FMI. Com a conclusão da Rodada do Uruguai, em abril de 1994, 122 países assinaram a Declaração de Marrakesh (Marrocos), criando a OMC. Essa nova organização, com sede em Genebra (Suíça) e funcionando desde 1995, alcançou o mesmo

servas internacionais em moedas fortes como o dólar, caso haja uma balança comercial favorável; maior aproximação econômica e cultural entre os países.

status do Banco Mundial e do FMI e passou a ter mais força política para regular o comércio mundial, fortalecendo o multilateralismo. Em 2001, com a entrada da China, que se transformaria no maior exportador do mundo, a OMC se fortaleceu ainda mais. Em 2015, ela já contava com 161 países-membros. 4

a) A União Europeia possui 28 países-membros, é um mercado comum desde 1993 e uma união monetária desde 2002, com a implantação da moeda única, o euro, embora ele não circule em todos os países (em 2015, 18 países da UE faziam parte da zona do euro). Seu processo integracionista é mais antigo e avançado que o dos outros três blocos. O Nafta possui três países-membros, foi criado em 1994 e é apenas uma zona de livre-comércio. O Mercosul foi criado em 1991 como uma zona de livre-comércio e em 1994 passou a ser uma união aduaneira, embora imperfeita, isto é, com muitas restrições. Foram quatro os membros fundadores, em 2011 a Venezuela entrou no bloco, em 2015 a Bolívia assinou o protocolo de adesão e em breve também deve ser membro pleno. A SADC foi criada em 1992 para assegurar a cooperação e o desenvolvimento na região sul do continente africano e em 2015 contava com 15 países. Em 2008 foi lançada a Área de Livre-Comércio da SADC e desde então a lista de produtos que circulam com tarifa zero vem se ampliando. b) A UE e o Nafta, apesar da diferença no número de países-membros, possuem tamanhos equivalentes em termos econômicos: em 2014, o PIB conjunto da UE era de 18,4 trilhões de dólares e o do Nafta, de 20,5 trilhões de dólares (isso ocorre em razão do enorme peso da economia norte-americana). Ambos também possuem um enorme potencial comercial: em 2014, as exportações da UE foram de 6,2 trilhões de dólares e as do Nafta, de 2,5 trilhões (o maior peso da UE se explica pelo enorme fluxo de comércio intrabloco). O Mercosul é um bloco bem menor em comparação com os dois anteriores; em 2014, seu PIB conjunto foi de 3,6 trilhões de dólares e as exportações dos cinco países-membros foram de 396 bilhões de dólares. A SADC é o menor (em termos econômicos) dos quatro acordos regionais de comércio estudados, mesmo em comparação ao Mercosul. Em 2014, o PIB conjunto do bloco era de 684 bilhões de dólares, e as exportações, de 205 bilhões de dólares.

Praticamente todos os principais argumentos contra o livre-comércio foram listados no texto, mas vale a pena mencionar os riscos da especialização produtiva, sobretudo na produção de matérias-primas, no caso de países em desenvolvimento. Esse argumento se liga à proteção à indústria nascente, que esteve na base do protecionismo que vigorou na época do processo de industrialização por substituição de importações dos países latino-americanos, sob a orientação da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). Vale também detalhar mais a questão do comércio desleal, no qual pode entrar a defesa contra a prática de dumping, muitas vezes resultante de desrespeito a direitos trabalhistas consolidados no âmbito de organizações como a OMC e a OIT (Organização Internacional do Trabalho), descaso com o meio ambiente, manutenção de moeda artificialmente desvalorizada, etc. c) O Brasil durante o governo de Cristina Kirchner enfrentou dificuldades nas exportações para a Argentina, que, com o intuito de proteger alguns setores industriais, elevou tarifas de determinados produtos ou dificultou a liberação de mercadorias na alfândega ou, ainda, atrasou a liberação de dólares para os importadores pagarem pelos produtos comprados no exterior (a eleição de Mauricio Macri em 2015 sinaliza mudanças nesse cenário e uma possível reaproximação comercial com o Brasil). Ao mesmo tempo, também para proteger sua indústria, o Brasil elevou tarifas de certos produtos, como os automóveis, cuja cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) é maior para as marcas que não têm fábricas em território brasileiro, em um claro movimento para barrar a entrada de automóveis produzidos na China (a maioria das montadoras desse país ainda não tem fábricas no Brasil).

Capítulo 11

Os serviços internacionais Compreendendo conteœdos 1

Desenvolvendo habilidades 5

a) Resposta pessoal dos alunos, que devem justificar seus pontos de vista. Espera-se que após a discussão o grupo chegue a um acordo. b) Além dos argumentos a favor do livre-comércio que aparecem no texto, pode-se mencionar: aumento da escala de produção, o que pode contribuir para baratear os produtos também no mercado interno; possibilidade de obter saldos comerciais e aumentar as re-

A revista The Economist define os serviços como “produtos da atividade econômica que não se pode derrubar nos próprios pés, que vão de cabeleireiro a website”. Ou seja, serviços são produtos da atividade econômica não tangíveis, diferente de mercadorias, que são produtos tangíveis. Além disso, os serviços apresentam fluxo continuo, isto é, só começam a ser prestados quando solicitados pelo usuário e não há como estocá-los, como se faz com as mercadorias. Os serviços também apresentam uma enorme variedade, tanto nas técnicas e na qualidade de prestação como no tipo e tamanho das Manual do Professor

363

22,7%. Apesar de um crescimento mais lento, em 2014 os Estados Unidos ainda continuavam como o maior exportador de serviços, sendo responsável por 13,9% do total mundial, mas o país vem perdendo terreno, pois em 2000 sua participação era de 19,2%. O Brasil tem uma pequena participação nas exportações mundiais de serviços. d) Como mostra a tabela, nosso país está muito atrás dos líderes: em 2000 a participação brasileira era de 0,6% e em 2014 aumentou ligeiramente para 0,8%, o que lhe garantiu apenas a 32a posição mundial.

empresas prestadoras. Por fim, por ser uma atividade interativa, de forma geral exige muita mão de obra, embora em alguns setores, como o bancário, tenha crescido a automação. 2

Como mostra a ilustração, os serviços dependem da indústria e do comércio para serem prestados. No exemplo dado, não há como uma operadora de telefonia celular prestar serviço aos seus usuários sem a indústria ter fabricado o aparelho celular (que é comprado em lojas especializadas), as antenas transmissoras e outros equipamentos necessários para a telecomunicação.

Desenvolvendo habilidades 3

4

O intercâmbio de serviços, assim como o intercâmbio de mercadorias, é fortemente concentrado. Sete países aparecem nas duas listas entre os 10 maiores comerciantes mundiais de bens e de serviços. Os que não coincidem: Índia, Cingapura e Espanha, só aparecem na lista dos 10 maiores exportadores de serviços (mas aparecem entre os 20 maiores exportadores de mercadorias); Coreia do Sul, Itália e Hong Kong (China), só aparecem na lista dos 10 maiores exportadores de mercadorias (mas aparecem entre os 20 maiores exportadores de serviços). A posição da Índia chama a atenção na lista dos maiores exportadores de serviços em 2014 (8a posição), pois na lista dos maiores exportadores de mercadorias aparece apenas na 19a posição. Ou seja, no mercado internacional o país é mais forte no setor de serviços (tecnologia da informação, softwares, contact centers, etc.) do que na indústria, mineração ou agricultura, que poderiam gerar bens tangíveis exportáveis. O inverso acontece com a Coreia do Sul, que aparece como 7o exportador mundial de mercadorias, com destaque para bens industrializados de alto valor agregado como navios, eletrônicos e automóveis, e como 16o exportador de serviços. Ou seja, no mercado internacional o país é mais forte na exportação de mercadorias do que na de serviços. a) Como mostra o gráfico, a China foi o país em que os serviços mais se expandiram entre 2001 e 2012, com uma taxa de 10,9% de crescimento anual; a Índia ficou na segunda posição, com 9%; o Brasil ficou na quarta posição, com 3,6%, mas bem abaixo dos líderes. b) Nesses dois países o crescimento da importância dos serviços não se deu apenas no mercado interno, mas também no externo: ambos aumentaram significativamente sua participação nas exportações mundiais de serviços desde o início do século XXI. c) Em 2000, as exportações de serviços da China correspondiam a 2,0% do total mundial e a 10,9% das exportações dos Estados Unidos, e as da Índia, respectivamente, a 1,3% e a 6,5%. Em 2014, as exportações de serviços da China já correspondiam a 4,7% do total mundial e a 33,7% das exportações dos Estados Unidos, e as da Índia, respectivamente, a 3,2% e a

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Manual do Professor

Vestibulares de Norte a Sul Testes 1

F–F–V–V–V

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C

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A soma é 21.

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C

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A Quest›es

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a) Os maiores fluxos inter-regionais do comércio internacional se dão entre a União Europeia, a Ásia e a América do Norte. Destaca-se a posição da Ásia, superavitária no comércio com europeus e norte-americanos, sobretudo em virtude do grande crescimento das exportações de produtos industrializados da China e dos Tigres Asiáticos. Chama atenção também o enorme fluxo de comércio intrarregional no âmbito da União Europeia, o maior, mais antigo e consolidado bloco econômico do mundo. b) No comércio intrarregional, as duas regiões de menor expressão são a África e o Oriente Médio. O comércio entre os países africanos é reduzido em razão do menor poder aquisitivo e de consumo de suas populações, dos problemas políticos (conflitos étnico-religiosos e guerras civis) e da fragilidade dos blocos econômicos do continente. No Oriente Médio, o comércio é até significativo, levando-se em conta o tamanho da população da região. Entre os fatores que dificultam a expansão do comércio entre os países da região estão a menor diversificação das economias, já que muitos são exportadores de petróleo para fora do subcontinente e são pouco industrializados. Os conflitos geopolíticos também dificultam o comércio: intervenções estrangeiras (guerra no Iraque e no Afeganistão), conflito entre israelenses e palestinos, conflito na Síria, divergências entre países árabes e o Irã e entre esses e Israel.

8

A União Europeia é o bloco econômico mais antigo (foi criado em 1957 com o nome de Comunidade Econômica Europeia) e também o maior e mais integrado do mundo. Atualmente é um mercado comum composto

trutura de transporte, maior cuidado com o patrimônio histórico e arquitetônico etc. Como esses países dispõem de alta renda per capita e seus trabalhadores recebem salários mais elevados, abrigam um importante fluxo interno de turistas, além de atrair grande número de turistas estrangeiros. Mas há exceções: a China, por exemplo, não aparece entre os 25 países mais bem colocados no ranking de competitividade, no entanto, é a quarta colocada entre os maiores receptores mundiais de turistas. b) Os não ranqueados são predominantemente países em desenvolvimento: alguns são economias emergentes, mas a maioria é país pobre. Entre os fatores sociais limitantes para o desenvolvimento do turismo, principalmente nos países mais pobres, podemos mencionar a menor renda per capita e os salários mais baixos dos trabalhadores, além de problemas de infraestrutura e de conservação do patrimônio histórico e arquitetônico.

por 28 países-membros. Destes, 18 países compõem a zona do Euro, que forma uma união econômica e monetária. A UE é composta exclusivamente por países desenvolvidos que apresentam alto desenvolvimento humano, estando seus países entre os primeiros colocados na lista do IDH do Pnud. O Mercosul foi criado em 1991 e hoje conta com cinco países, depois da entrada da Venezuela em 2012 e deve ampliar para seis após a entrada da Bolívia, que em 2015 assinou um protocolo de adesão. É um bloco relativamente pequeno, quando comparado com a UE, e composto exclusivamente por países em desenvolvimento. Apesar do nome, atualmente está no estágio de união aduaneira, ainda assim imperfeita, por causa da longa lista de exceções de produtos na adoção da tarifa externa comum. 9

a) Os países mais bem colocados no ranking de competitividade no setor de turismo são em sua maioria desenvolvidos. Entre eles estão alguns dos maiores receptores mundiais de turistas, com destaque para a França, os Estados Unidos e a Espanha (peça para o aluno rever o gráfico dos maiores receptores mundiais de turistas, na página 48. Apesar da crise financeira internacional, esses países apresentam um setor turístico diversificado e bem estruturado: melhor rede de hotéis e outros serviços, melhor infraes-

Caiu no Enem 1

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Textos de apoio 1

O contexto internacional e o multilateralismo comercial Um contexto desfavorável à liberalização e ao multilateralismo

É na primeira década do século [XXI] que amadurecem tendências, no contexto econômico e político internacional, que convergem para colocar em questão a legitimidade das instituições multilaterais de governança estabelecidas depois da Segunda Grande Guerra, entre as quais a OMC, herdeira do GATT. Não cabe aqui uma análise detalhada deste processo, mas é possível listar, de forma estilizada, os processos e fenômenos – estreitamente relacionados entre eles – que estão por trás da erosão da legitimidade do multilateralismo comercial, nos últimos dez anos: • a emergência do “Sul”, que sintetiza diferentes fenômenos que concorrem para reduzir a capacidade de definição, pelos países desenvolvidos, da agenda e das regras do comércio internacional. Tais fenômenos são: (I) o aumento do peso econômico e político dos grandes países em desenvolvimento no cenário internacional; e (II) a ascensão da região da Ásia-Pacífico como polo dinâmico do capitalismo mundial. Se se tiver em conta que boa parte dos países que ganham peso neste novo cenário segue receituários de política econômica distantes do paradigma liberal, entende-se que o poder no mundo deslocou-se em favor de países cujas preferências de política têm pouco compromisso com os princípios liberais. No plano in-

ternacional, as potências emergentes questionam a liderança de facto e de jure exercida pelos Estados Unidos e pela União Europeia sobre as instituições da ordem econômica mundial e demandam mudanças que traduzam a nova distribuição de poder econômico no mundo;

• a meteórica emergência da China – que entra na OMC em 2001 – como ator de primeira grandeza no comércio internacional, alterando radicalmente os fluxos de comércio e as condições de competitividade no mercado global. Mantendo práticas de formulação e instrumentos de política econômica que podem ser caracterizados como de capitalismo de Estado, o ingresso da China na OMC tem impacto relevante sobre as estratégias negociadoras dos demais membros, particularmente no que se refere à oferta de liberalização com concessão do benefício de NMF;

• a erosão do “consenso liberal”, especialmente nos países desenvolvidos, à medida que os efeitos da competição Norte-Sul se disseminavam pelos mercados de trabalho daqueles países – afetando inclusive setores até então naturalmente protegidos da competição externa. No plano doméstico, os países desenvolvidos são submetidos a pressões que testam a resiliência dos mecanismos de coesão social que deram respaldo a suas estratégias de crescimento aberto ao mundo;

• a frustração com os resultados da Rodada Uruguai nos países do Sul. Nesses países, a erosão do “consenso liManual do Professor

365

beral” está, ao menos em parte, associada a uma frustração mais ou menos generalizada com os resultados da Rodada Uruguai e dos processos unilaterais de liberalização levados a efeito em muitos países nos anos 1980 e 1990. A promessa de superação, graças à adoção do receituário liberal, das dificuldades econômicas por que passaram muitos países em desenvolvimento naquelas décadas, não foi cumprida e disseminou-se, entre estes países, a percepção de que os resultados da Rodada Uruguai foram desequilibrados, beneficiando essencialmente os países desenvolvidos; • o crescimento do número de membros da OMC, que tem hoje 15 membros e que, desde o ano 2000, passou a incluir tanto países de peso marginal na economia mundial quanto a China e a Rússia, dois dos BRICs. Isso significa que a composição de membros tornou-se crescentemente heterogênea, não somente em relação às características estruturais das economias nacionais destes países, mas também de suas preferências de política. Numa instituição onde as decisões são adotadas por consenso, esta heterogeneidade pode cobrar um preço elevado para o avanço das negociações; • a multiplicação de acordos preferenciais, que pode ser vista como causa e efeito das dificuldades enfrentadas pelas negociações multilaterais, e que passa a competir com o multilateralismo como instância principal de negociação de países desenvolvidos e em desenvolvimento. Os acordos preferenciais são também bastante heterogêneos, não havendo um modelo único, mas, em um contexto em que os países estão refratários a movimentos ambiciosos de liberalização, muitos acordos resultantes destas iniciativas têm-se caracterizado por sua baixa qualidade e alto potencial para gerar distorções – associado a complexas e variadas regras de origem e longas listas de exceção à liberalização. Isto produz implicações negativas para o sistema multilateral de comércio, ao gerar complexa rede de acordos com elevado potencial de discriminação entre os membros da OMC; • a crescente desconexão entre as agendas das grandes empresas com atuação internacional e as prioridades e os objetivos nacionais. Esta desconexão resulta da distribuição das atividades e funções empresariais em diferentes países – segundo os atributos de competitividade requeridos por cada atividade/função – e da articulação das diferentes etapas de produção em cadeias globais ou regionais de valor. A desconexão entre agendas empresariais e governamentais – estas baseadas em lógicas mercantilistas de defesa de empresas e do emprego nacionais – reduz o interesse das grandes transnacionais, que desempenharam papel relevante ao empurrar as agendas de rodadas anteriores, nas negociações multilaterais. Em algumas regiões e países, o interesse empresarial tende a se deslocar para negociações preferenciais, cujas agendas têm maior capacidade

2

para absorver as preocupações e interesses das empresas estruturadas internacionalmente. A este conjunto de fatores, vieram se agregar os efeitos da crise econômica internacional que eclodiu em 2008. A crise agregou novas fontes de tensão e conflitos a um ambiente político internacional já bastante crítico à globalização. Os anos mais recentes assistiram à proliferação de medidas governamentais que limitam e distorcem fluxos comerciais e de investimentos, sem, todavia, que se possa falar em nítida reversão, em escala global, do grau de liberalização vigente antes da crise. Este ambiente político de maior hostilidade aos processos de liberalização comercial e as críticas crescentes à globalização – nos países desenvolvidos e nos países em desenvolvimento – inviabilizaram o avanço e a conclusão das negociações da Rodada Doha. Os mecanismos internos de negociação adotados na OMC também devem ser contabilizados ao se listar os fatores que contribuem para as dificuldades do multilateralismo comercial. A adoção da regra de consenso e do princípio de single undertaking em uma instituição com número elevado de participantes, altamente heterogêneos do ponto de vista econômico e de preferência de política, aumenta a legitimidade das decisões adotadas, mas fortalece as “coalizões de veto” e praticamente inviabiliza a tomada de decisões e a conclusão de negociações. Apesar da intensa utilização do sistema pelos membros, este tem problemas de implementação, associados à protelação de adoção de recomendações emanadas dos resultados dos painéis, por parte de países “perdedores” nos contenciosos. Tais problemas reduzem sua eficácia e, por esta via, reduzem a legitimidade da ideia de um sistema de governança baseado em regras, como é o multilateralismo comercial. Um balanço dos fatores que concorrem para reduzir a eficácia e legitimidade do multilateralismo comercial não pode deixar de concluir que são os fatores externos à OMC, relacionados à evolução do contexto político e econômico internacional, aqueles que desempenham o papel determinante no processo. Não somente porque são esses fatores que subvertem radicalmente os dados da realidade sobre os quais se assentava o multilateralismo até a década de 1990, mas também porque são eles que bloqueiam o necessário processo de adaptação do multilateralismo comercial e de suas instituições às novas características e tendências da globalização. Os fatores internos ao funcionamento da OMC e ao processo de negociações neste âmbito têm papel subsidiário, mas importante, ao criar dificuldades adicionais para a adaptação da OMC às condições “ambientais” em que ela opera. Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (CINDES). Brasil, o multilateralismo comercial e a OMC: uma perspectiva de médio prazo. Relatório final. Rio de Janeiro, jun. 2012. p. 7-11. Disponível em: . Acesso em: 13 abr. 2016.

O conceito de serviço

A definição de serviço como realização de trabalho não é genuinamente nova. Explícita ou implicitamente os clássicos e os autores contemporâneos sempre trataram os serviços como realização de trabalho. Entretanto, há diferenças básicas, de ordem conceitual e metodoló366

Manual do Professor

gica, em relação à visão destes autores e a abordagem aqui proposta que permitem desmistificar e simplificar um conjunto de características formais e nexos específicos imputados aos serviços, sobretudo no que se refere à natureza dos recursos produtivos utilizados na prestação

dos serviços e no resultado do trabalho realizado o que resulta também numa concepção diferente a respeito do papel desempenhado na dinâmica econômica. Da hipótese de que serviço é realização de trabalho, derivam-se três postulados: 1) Serviço é trabalho na sua acepção ampla e fundamental, podendo ser realizado não só através dos recursos humanos (trabalho humano) como também através das máquinas e equipamentos (trabalho mecânico). 2) Serviço é trabalho em processo, ou seja, serviço é trabalho na concepção dinâmica do termo, trabalho em ação. 3) Todo serviço é realização de trabalho, mas nem toda realização de trabalho é serviço, ou seja, não existe uma relação biunívoca entre serviço e trabalho. De acordo com o primeiro postulado é possível classificar como atividades de serviço não só aquelas intensivas em recursos humanos como também as capital-intensivas, como é o caso de algumas atividades de infraestrutura econômica. Ademais, é fundamental para a compreensão da configuração dos serviços na economia moderna, tendo em vista que o conteúdo de trabalho mecânico presente nos processos econômicos tende a se acentuar cada vez mais na medida em que o avanço tecnológico proporciona o surgimento de novos “meios” ou novos ativos físicos (mecânicos) de suporte à realização de trabalho. Ou seja, novos dispositivos de realização de trabalho que se combinam ao trabalho humano ou o substituem. O segundo postulado estabelece uma distinção fundamental entre serviço e produto. Enquanto serviço é trabalho em processo, produto, por outro lado, é o resultado deste processo, ou seja, é um trabalho acumulado, um trabalho objetivado. Neste sentido, o produto ao qual os serviços estão relacionados pode ser tangível ou intangível, ou seja, tanto pode ser um bem físico ou uma informação, pois o que caracteriza efetivamente uma atividade como de serviço é, única e exclusivamente, a realização de trabalho. É possível distinguir serviço não só do produto ao qual está associado como também dos ativos e dos insumos utilizados no processo produtivo, dado que em última instância todos estes são trabalhos acumulados, i.e., são produtos de trabalhos realizados em outros processos produtivos. Ou seja, o serviço só se caracteriza enquanto tal na medida em que há realização de trabalho, independente dos insumos utilizados, se tangíveis ou intangíveis, e dos meios de trabalho utilizados, se humanos ou mecânicos. O terceiro postulado, por seu turno, permite afirmar que em todas as etapas dos processos econômicos onde se realiza trabalho há um serviço em potencial, mas para que este potencial se realize é necessário que o processo de trabalho em questão seja uma atividade econômica autônoma, estruturada a partir de um arranjo contratual (formal ou informal), onde o propósito de sua constituição é a prestação de trabalho. O trabalho realizado nas atividades de serviço não é diferente do trabalho realizado nas demais atividades produtivas, pois serviço é apenas trabalho “autonomizado”. O trabalho tanto pode estar baseado em recursos humanos (mais ou menos qualificados) como em máqui-

nas e equipamentos, porque a forma de trabalho não é o que caracteriza uma atividade de serviço e sim o próprio processo de realização de trabalho. Sob esta perspectiva, a classificação dos serviços torna-se bastante ampla, sendo possível identificá-los ao longo das etapas de realização de trabalho nos processos econômicos em geral. Analiticamente, a prestação de serviço pode se dar em três níveis, distinguíveis de acordo com o processo econômico no qual o serviço se insere: nos processos de trabalho puro, nos processos de transformação e produção ou nos processos de troca e circulação. É importante notar que essa classificação dos serviços é apenas um recurso analítico para a compreensão das várias formas possíveis de ocorrência de tais atividades no sistema econômico, pois todo e qualquer serviço é única e exclusivamente realização de trabalho em processo. Ao adotar essa definição estabelece-se aqui uma visão ampla e geral da natureza e função econômica dos serviços no contexto econômico e social, independentemente de suas manifestações morfológicas ou tópicas. Na prática, é possível separar contratualmente as várias etapas de realização de trabalho, haja visto o movimento de terceirização ocorrido maciçamente nas indústrias nos últimos tempos. Entretanto, não se supõe nessa classificação a formação de arranjos contratuais definidos por movimentos estratégicos das empresas ou moldados por um arcabouço institucional e regulatório público. Vale dizer, as condições de realização de trabalho podem mudar (e sempre mudam); os arranjos contratuais sobre os quais os serviços se estruturam podem mudar; mas a essência dos serviços continuará a ser realização de trabalho em processo. É o entendimento de ser trabalho em processo, ou fluxo de trabalho, que permite tornar inteligíveis os atributos comumente reconhecidos pelos autores clássicos e contemporâneos nas atividades de serviço, como a intangibilidade, a simultaneidade e a inestocabilidade. Em primeiro lugar, a natureza intangível dos serviços está associada à sua natureza de processo e não ao produto resultante, sendo processo é a priori intangível. Por ser um processo de trabalho, a prestação de serviço tende a acontecer pari passu ao consumo, ou seja, a produção é simultânea ao consumo. A produção só acontece a partir do momento em que o serviço é demandado e se encerra assim que a demanda é atendida. Esta simultaneidade entre o ato de produzir e consumir torna, por sua vez, o serviço inestocável, pois o seu fornecimento se dá de forma contínua no tempo e no espaço e ele se extingue tão logo se encerra o processo de trabalho. Sendo fluxo de trabalho os serviços apresentam também como atributo característico a interatividade. É condição sine qua non para a prestação de qualquer serviço a interação entre prestadores e usuários de serviço, pois é impossível a existência de um fluxo contínuo de trabalho sem um canal interativo que lhe dê suporte. Esta interação tanto pode ser pessoal e direta, através da presença física de prestadores e usuários, como essencialmente técnica, definida a partir de meios físicos de conexão, como as redes físicas de fios, cabos e dutos utilizadas para a prestação de serviços de infraestrutura econômica. Manual do Professor

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cessos produtivos anteriores, que foi acumulado e consubstanciado nesses ativos. Ou seja, não há geração de valor, e sim exploração de renda. Este é o caso, por exemplo, do aluguel de imóveis, que consiste essencialmente na exploração do trabalho de construção civil realizado anteriormente, que se consubstanciou no imóvel. Da mesma forma, a venda de licenças para o uso de softwares também consiste na exploração de um trabalho gerado anteriormente, que foi a concepção do software. Enfim, a tese aqui defendida é que serviço não é improdutivo, ou seja, não está isolado do processo de geração de riqueza porque é intangível, como defendia Smith, ou porque não está submetido à lógica de valorização do capital industrial, conforme interpretado por Marx. Da mesma forma, serviço não pode ser produtivo somente quando gera uma utilidade permanente ou durável, conforme definido por Mill e Walras. Na verdade, serviço é simplesmente realização de trabalho em processo e é a sua existência que garante a incessante reprodução do capital aplicado no setor ao qual está vinculado, o que permite tratá-los de forma endógena e integrada no sistema econômico. MEIRELLES, Dimária Silva. O conceito de serviço. Revista de Economia Pol’tica, vol. 26, n. 1 (101), São Paulo, Jan./Mar. 2006. p. 119-136. Disponível em: . Acesso em: 13 abr. 2016.

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A natureza de fluxo revela ainda outro atributo dos serviços, que é a irreversibilidade. Ao disparar o processo de realização de trabalho não é possível revertê-lo. É possível interrompê-lo, mas não revertê-lo, porque parte de sua ação e de seu efeito já se deu ao longo do processo de trabalho. Confundir serviço com os atributos do produto final, bem como com os ativos ou insumos utilizados no processo produtivo, é um equívoco crucial na compreensão da sua dinâmica econômica, pois impede a identificação do determinante fundamental do valor gerado pelo serviço, que é a realização de trabalho. Ao contrário das hipóteses adotadas por vários autores contemporâneos, a caracterização de uma atividade de serviço e o seu conteúdo produtivo independe da forma como esse trabalho é consumido ou incorporado no processo produtivo, se direta ou indiretamente. O grau de intangibilidade do resultado do processo de trabalho ou o uso a que se destina não interfere na geração de valor. Sendo trabalho em processo, os serviços são em essência geradores de valor. Se não há realização de trabalho, não há serviço e, portanto, não há geração de valor. Quando não há realização de trabalho tem-se, na verdade, a exploração de um trabalho já realizado em pro-

Crianças brincam no Centennial Olympic Park, em Atlanta (Estados Unidos), em 2014.

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