Geografia Histórica do Brasil: cinco ensaios, uma proposta e uma crítica 9788539100071

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Geografia Histórica do Brasil: cinco ensaios, uma proposta e uma crítica
 9788539100071

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A N T O N IO CA RLO S R O BER T M O R A ES

GEOGRAFIA HISTÓRICA DO BRASIL CÍN CO E N S A ÍO S , UMA p R O p O S T A E UMA C R ÍT ÍC A

SBD-FFLCH-USP

m A N N / BLUM E

Y * ol . Infothes Informação e Tesauro A 8 13

Moraes, Antonio Carlos Robert Geografia histórica do Brasil: cinco ensaios, uma proposta e uma crítica. / Antonio Carlos Robert Moraes. - São Paulo: Annablume, 2009. (Geografia e Adjacências) 152p.; 10,5 x 18 cm ISB N

978-85-391-0007-1

1. Geografia. 2. Geografia Humana. 3. Geografia Política. 4. Território. 5. História do Brasil. 6. História da Geografia Brasileira. I. Título. II. Série. C D U 911.2 C D D 910 Catalogação elaborada por Wanda Lucia Schmidt - CRB-8-1922

GEOGRAFIA HISTÓRICA D O BRASILCINCO ENSAIOS, UMA PROPOSTA E UMA CRÍTICA Coordenação de produção: Revisão: Capa: Diagramação: Finalização:

Ivan Antunes Ivan Antunes Carlos Clémen Ray Lopes Catarina Consentino

CONSELHO EDITORIAL Eduardo Penuela Canizal Norval Baitello Junior Maria Odila Leite da Silva Dias Celia Maria Marinho de Azevedo Gustavo Bernardo Krause Maria de Lourdes Sekeff (In mcmoriani) Cecília de Almeida Salles Pedro Roberto Jacobi Lucrécia D ’Alessio Ferrara Ia edição: novembro de 2009 © Antonio Carlos Robert Moraes ANNABLUM E editora. comunicação Rua Martins, 300 . Butantã . 05511-000 . São Paulo . SP . Brasil Tel. e Fax (11) 3812.6764 - Televendas (11) 3031.1754 www.annablume.com.br

Para Monica, com amor

Sumário

A presen tação

9

1. O cidentalism o e H istória da G eografia Brasileira 11 2 . G eopolítica da instalação portuguesa no Brasil

35

3 . Território, região e form ação colonial. A pontam entos em torno d a G eografia H istórica d a In depen dên cia Brasileira

59

4 . In trodução à afirm ação da territorialidade estatal no Brasil 5. O sertão: um “outro” geográfico

73 87

6 . A construção do território no Brasil. H istória, planejam ento e infra-estrutura

103

7 . N a trilha o purgatório. Política e m odernidade na G eografia Brasileira C o n tem p o rân ea

139

y

Apresentação

A abordagem da geografia não se confunde com a de outros campos com os quais essa disciplina mantém intenso diálogo. A ótica da geografia humana, por exemplo, centrada no estudo da ocupação de um dado lugar, não se confunde com a da economia, ou a da ciência política, ou da antropologia, apesar da análise da atividade econômica, do domínio político, e das representações espaciais constituírem tópicos essenciais de sua explicação. A perspectiva geográfica necessariamente articula conhecim entos variados e objetiva-se num a síntese que representa algo novo em relação a cada um dos campos específicos por ela mobilizados. Em suma, a interpretação construída pela geografia é diferente da simples somatória das matérias que com põem sua abordagem, instaurando um a nova forma de equacionamento na análise do mundo. Mostrar a especificidade desta abordagem, indicando os fundamentos teórico-metodológicos que a sustentam , é o objetivo do presente livro que renega de início a idéia de ser a geografia uma ciência “excepcional” , epistemologicam ente diferente de todos os dem ais cam pos do con h ecim en to' científico. Também não se assume a soberba de colocá-la como um corolário do saber gerado por todas as disciplinas com as quais ela dialoga. Tem-se a perspectiva geográfica como própria e alimentando-se de um grande diálogo interdisciplinar, sendo peculiar em sua essência e múltipla em suas aplicações. Nesse

sentido, a diversidade é interna e externa ao campo disciplinar, o que torna bastante complexa sua explicitação teórica. A obra qüe aqui se introduz constitui um exercício e uma tentativa de

Ocidentalismo e História da Geografia Brasileira

tratar tal matéria, fornecendo uma argumentação coerente acerca do tema.

setembro de 2009 O que tentei fazer foi uma espécie de exame geográfico da experiência histórica, tendo em mente a idéia de que a Terra é, de fato, um único e mesmo mundo... nenhum de nós está fora ou além da geografia, da mesma forma nenhum de nós está totalmente ausente da luta pela geografia. Essa luta é complexa e interessante porque não se restringe a soldados e canhões, abrangendo também idéias, formas, imagens e representações. Edward Said

Discutir a história da geografia no Brasil nos marcos metodológicos dos estudos pós-coloniais revela-se um exercício bastante interessante em virtude da particularidade da formação do país e da construção da idéia de nacionalidade nesse processo. Sabemos que a criação dos Estados ibero-americanos ocorreu anteriormente ou concomitante à época áurea de constituição dos nacionalismos europeus, datada por Benedict Anderson entre 1820 e 19 2 0 1. Sabemos também que a emancipação das elites americanas em face do dom ínio metropolitano foi feita sem romper com a idéia de civilização que sustentava a própria1 1 Benedict Anderson Comunidades Imaginadas. Reflexiones sobre el origen y la difiisión de! nacionalismo, México: Fundo de Cultura Econômica, 1993, pp. 81 e 102. Eric Hobsbawn identifica uma “primeira fase” do nacionalismo entre 1830 e 1880 (Nações e Nacionalismo desde 1780, Rio de janeiro: Paz e Terra, 1990, p.126).

dominação colonial. Ao contrário, como afirmam vários autores,

talvez com m aior ênfase dada à m anutenção da form a

a missão civilizatória em ambiente “bárbaro” foi brandida como

monárquica de governo e da própria dinastia reinante.J ’ensar-

justificativa da nova ordem instaurada, na qual a troca das figuras

se como parte do ocidente significava a adesão a um conjunto

de autoridade estatal não implicou em geral um alargamento

de valores culturais originados e comandados pela Europa, entre

social significativo da base do poder2. A manutenção de várias

os quais se salienta a concordância com o controle político e

instituições geradas pela colonização expressa bem esse elo de

^

econômico europeu do resto do mundo. Tal dom ínio, visto

continuidade, com destaque para as formas compulsórias de

como natural, ancorava-se numa visão evolutiva da história da

controle da força de trabalho, tratando-se de movimentos onde

humanidade que entendia a colonização ultramarina como um a

o “povo” (ou, em outros termos, os “nativos”) teve um peso

expansão de agentes do progresso social. A área central desse

ínfimo no que tange à representação política3. N o caso brasileiro

movimento era alçada nessa visão à condição de herdeira do mais elevado conhecimento humano, constituído ao longo de

tal elo se acentua pela continuidade dinástica que sustentava no plano diplomático a legitimidade ao novo Estado.

Duas coletâneas recentes explicitam bem a perspectiva metodológica \Jp que agrupa os chamados “estudos subalternos” ou “estudos pós\ coloniais’ : a organizada por Edgardo Lander La colonialidad dei nJLN saber: eurocentristno y ciências societies (Buenos Aires: CIACSO, 2003) e a coordenada por S.Dube, I.B.Dube e W. Mignolo Modemidades Coloniales (México: El Colégio de México, 2004). ^ N a argumentação de Mignolo tal fato estaria na base da diferença entre os movimentos de descolonização do século XIX com os do século XX (Ver: “La colonialidad a lo largo y a lo ancho: el hemisfério occidental em el horizonte colonial de la modernidad”, in E. Lander j op.cit., p.70). *i Para ele, o hemisfério ocidental é uma “imagem geopolítica” do “imaginário do mundo moderno”, acrescentando que a “conceituação do hemisfério ocidental ocorre com a integração da América ao Ocidente” (Idem, p. 70). Vale mencionar sua observação de que Samuel Huntington retira a América Latina de sua delimitação do âmbito da “civilização ocidental” , referendando uma unidade geopolítica do “Atlântico Norte”, afeita à área da OTAN (pp. 77, 79 e 82). Idem, ibidem, pp.65/66. 12

pilar fundamental. Seu correspondente geográfico material está bem expresso na constituição de uma “econom ia-m undo” , I

conceito de forte conteúdo geopolítico cunhado por Immanuel h Enrique Dussel fala desse “deslizamento semântico” do conceito de Europa, estranho ao pensamento grego clássico, avaliando esta seqüência como uma “ideologia eurocêntrica do romantismo alemão” que buscava instituir uma “ história universal falsa” (“ Europa, modernidad y eurocentrismo” in E. Lander op. cit., pp. 4 1 ,4 3 e 44L Paralela a essa sucessão caminharia a evolução da “subjetividade moderma” , com a Reforma, a Ilustração e a Revolução Francesa (Idem, p. 46). B.Anderson também aponta que resgatar a herança da Grécia clássica tornou-se um objetivo central europeu no fim do século XVIII {Op.cit.. p. 109). 7 Lander qualifica a ciência moderna como “construção eurocêntrica’ que visa instituir valores europeus como universais (“ Ciências sociales: saberes coloniales eurocéntricos’ in E.Lander op.cit, p.23). 13

Wallerstein8. A modernidade européia teve na expansão colonial

para operar o d eslin d am en to dessa tram a com plexa,

sua alavanca fundamental, seja como economia ou como cultura.

estabelecendo nexos enfFe^rltefidades e totalizações11.

A “colonialidade”, como assinalam os teóricos dos estudos pós-

Edward Said é um autor fundamental para guiar tal

coloniais, foi uma espinha dorsal da modernidade. A experiência

equacionamento, pois considera que há uma relação direta entre

do domínio político planetário atuou como alimento básico na

as ciências ocidentais e a administração colonial e que “existe

afirmação da identidade européia9. A própria sistematização da

uma convergência entre a enorme extensão geográfica dos

geografia moderna£jQquanto ciência emerge como uma expressão

impérios... e os discursos culturais universalizantes” 112. E

dessa relaçãojjque articula a narrativa colonial e a tese da

adiciona: “U m a das grandes realizações do imperialismo foi

superioridade ocidental. A visão do conjunto do mundo foi

aproximar o mundo”, possibilitando uma “experiência histórica

um elemento essencial da construção da idéia de humanidade e

do império como algo compartilhado em com um ”, gerando

de comunidade humana que está na base de um humanismo

uma dinâmica onde “estão em jogo territórios e possessões,

universalista laico10. Assim, o pensamento iluminista paga seu

geografia e poder” 13*. Segundo sua rica argumentação é o contato

tributo à barbárie da colonização relacionando - mesmo que

hierarquizado com sociedades bastante diversas, dotadas de

por laços pouco evidentes e por meio de muitas mediações —as

características díspares, que permitiu ao pensamento europeu

teorias democráticas do contrato social na Europa com a prática

elaborar teorias gerais da história e desenvolver abordagens

do escravismo moderno no mundo colonial. A história da

totalizantes acerca da vida social, cunhando conceitos que por

geografia aparece nesse enquadramento como um bom campo

meio de um aparato planetário de socialização e ensino tornaramse de fato universais. A própria noção eurocêntrica de “cultura” inscreve-se nesse processo de realização do imperialismo, o qual

8 Immanuel Wallerstein E l moderno sistema mundial, México: Siglo Veintiuno, 1987. Mignolo considera tal conceito “economicista”, apesar de resgatá- lo associado ao conceito de “geocultura” do mesmo autor, entendendo esta como um “componente do imaginário do mundo moderno-colonial que se universaliza”, logo do “imaginário hegemônico da segunda fase da modernidade” (Op. cit., p. 74). 5 Diz Saurabh Dube que “a aquisição pela Europa de um status como sede da fundação do moderno, é um resultado da dialética entre a Ilustração e os impérios coloniais” (“ Espacios encantados y lugares modernos” in S.Dubi et alli, op,cit., p. 105). Dussel acrescenta: “O etnocentrismo europeu é o único que pode pretender identificar-se com a universalidade-mundialidade” ( op.cit., p.49). Também Lander assinala que a alteridade colonial cria a identidade moderna, embasada na “grande narrativa” da história universal eurocêntrica (op.cit., p. 16). 10 B.Anderson credita a esse universalismo laico do liuminismo a possibilidade de emergência das identidades nacionais (Op.cit., p.29).

11 Cabe, segundo S.Dube, discutir o “núcleo das meta-geografias dominantes” e “os conjuntos de imaginações espaciais e disposições estruturais por meio das quais se isola e segmenta o mundo, e se orquestra e se ordena o conhecimento dessas esferas” (op.cit., p.99)”; apontando “os vínculos entre o colonialismo e a modernidade, os nexos entre o poder e a diferença” , com a análise do “ impulso homogenizador da modernidade euro-americana moderna e do conhecimento eurocentrista” (“ Introduccion. Cuestiones acerca de las modemidades coloniales” in Idem, pp.24/25). 13 Edward Said, Cultura e Imperialismo, p.202. Diz ele: “ Para seu público no final do século XIX e começo do XX, os grandes sintetizadores geográficos ofereciam explicações técnicas para realidades políticas dadas... o mapa imperial autorizava de fato a visão cultural” (p.83). 13 Idem, ibidem, pp. 23 e 37. “O imperialismo, afinal, é um gesto de violência geográfica por meio do qual todo o espaço do mundo é explorado, mapeado e, por fim, submetido e controlado” (p.384).

apresenta seus “códigos historicizantes” sob a aparência de uma

com os o lh o s d a d e sc o lo n iz a ç ã o ” s in te tiz a 118, n u m

“universalidade neutra” 14. Em meio à diversidade de idéias ali

aconselhamento de pesquisar a produção geográfica com um a

geradas um padrão recorrente de reconhecimento do mundo

visão de determinação geográfica do saber. Em suma, começar

vai se firmando: a “consciência ocidental” que protagoniza e

pela avaliação geográfica da “ciência” geografia. Nesse contexto,

racionaliza a “dominação colonial” . Para Said cabe analisar os

evidencia-se a civilização ocidental e os impérios e, no contra-

“olhos do império” com o prática e representação, vendo a

foco, o “mundo colonial” em si, como uma construção política

“descolonização” com o, antes de tudo, um movimento para “recuperar a identidade geográfica”15.

material e simbólica. Enfim, cabería questionar a origem

do campo disciplinar16: o entendimento da geografia como materialidade e com o discurso. N a diferenciação e na então possível relação entre os significados o autor capta bem a problem ática que podería ser definida com o a da “metageografia” 17. Ao focar o imperialismo e a dominação colonial com o elementos vitais da cultura ocidental, Said propicia um enfoque interessante para a interpretação da história da geografia

-

as duas acepções de geografia manejadas pela historiografia crítica

- ----------- *---- -------------- --------

Vale observar que a perspectiva acima exposta contempla

geopolítica dos discursos científicos em geral e de seus fundamentos epistêmicos, utilizando para tal operação os “poderes de dissolução da modernidade crítica” 19. Tendo em vista as diretrizes de método formuladas por Said, vale retomar o questionam ento da particularidade americana e da singularidade brasileira. C om o mencionado, estas mediações resultam do colonialismo e do imperialismo europeu, representando construções da m odernidade e expressando uma expansão do ocidente por meio de formas próprias (miméticas, só até certo ponto, para com o padrão do

(no segundo sentido, como representação). Propõe assim uma

centro). Pode-se acom panhar Saurabh D ube acatando o

abordagem politizada que se fundamenta epistemologicamente,

conceito de “modernidade periférica” , o qual qualificaria

de imediato, na sua localização geográfica. “Ler as obras imperiais

form ações sociais referidas ao m odelo europeu, porém dinamizadas em histórias peculiares e diferenciadas entre si20.

1* Idem, ibidem, p.220. Em suas palavras: “a objeção de que não se deve considerar a cultura como parte do imperialismo pode se converter numa tática para se impedir que se estabeleça uma conexão entre ambos (p.213). Eis um bom ensinamento para certa geografia cultural “apolítica”. Idem, ibidem, p.284. Diz ele que na militância anti-colonial o território “a princípio só é recuperável pela imaginação” (p. 284). E acrescenta: "A lenta recuperação, muitas vezes amargamente disputada, do território geográfico, a qual encontra-se no cerne da descolonização, foi precedida - como no caso do imperialismo - de um mapeamento do território cultural” (p.266). u> Ver: Marcelo Escolar, Crítica do Discurso Geográfico, São Paulo: Hucitec, 1996. 1 Tal como expusemos no primeiro capítulo de nossa tese de livredocencia (Antonio Carlos R. Moraes, Geografia, Capitalismo e Meio Ambiente, São Paulo:FFLCH/USP, 2000).

!S Said, op.cit., p.212. E outro grande ensinamento para a geografia cultural: “A espacialidade torna-se, ironicamente, a característica de uma dominação mais estética do que política, à medida em que um número crescente de regiões... vai questionando os impérios clássicos e suas respectivas culturas” (p.244). 19 Idem, ibidem, p.385. Vale salientar que Said tece críticas ao “culto do pós-modernismo” nas universidades americanas questionando o “pensamento débil” do fim da modernidade (p.373), mas alertando que “as teorias clássicas do modernismo não dão conta das questões contemporâneas” (p. 404). i0 Dube considera que se trata de uma “ figura híbrida”, um “conceito m etáfora” ancorado “ num campo conceituai constituído de desacordos” (“ Introducción. Cuestiones acerca de las modernidades coloniales" op.cit., pp. 17 e 18).

16

17

1

As teorias totalizadoras e os conceitos universais atuam

cuja variedade resulta exatam ente da “diversid ad e de

exatamente na tentativa de aproximação do diverso, tentando

experiências coloniais (reestruturadas pela globalização e o

consolidar nesse ato a vigência (mesmo que formal ou como

colonialismo global)”25. A partir de tal constatação, pode-se

mera referência) de alguns valores ocidentais. Serge Latouche

questionar os projetos universalistas com base numa “geopolítica

fala de uma “ocidentalização do mundo”, posta como “o confisco

do con h ecim en to” fu n d am en tad a em “ep istem ologias

do planeta pelo Ocidente”21, cujos novos agentes de dominação

fronteiriças”26. Novamente se repõe a própria geografia como

na situação pós-colonial “são a ciência, a técnica, a economia e o

mediação epistemológica na construção de uma teoria crítica.

imaginário sobre o qual elas repousam: os valores do progresso”22.

Se a descoberta da América inaugurou a era moderna,

M esm o aceitando que essa forma de pensar foi imposta pelo

como acatam muitos autores27, o movimento de independência

centro, e que “o desenvolvimento é uma relação triangular

americana pode ser lido como um marco inicial de passagem

específica entre a economia, o poder e o espaço”23, é difícil

para a “segunda modernidade”28*.Vale lembrar que os federalistas

acompanhar este autor em sua defesa da possibilidade de uma

que comandavam a emancipação das Treze Colônias em 1776

cultura periférica não contaminada pelo ideário moderno24. Mais

liam os pensadores políticos europeus, e que a Constituição do

razoável é a ótica de Mignolo ao reconhecer o “mundo colonial

EUA influenciou os teóricos da Revolução Francesa em 1789,

m o d e r n o ” co m o d o ta d o de c u ltu ra s qu e p artilh am

esta, por sua vez, esteve na base do segundo movimento de

historicamente (e de modos variados) a vivência da modernidade,

21 Serge Latouche, A Ocidentalização do Mundo, Petrópoiis: Vozes, 1996, p.18. Segundo ele, “o Ocidente é, antes de tudo, uma entidade geográfica” que, com o imperialismo, se objetiva como uma ideologia: centrada na idéia de “civilizar” o inundo (pp. 35/36). 22 Idem. Ibidem, p.26. Este autor aponta como básica nesse processo a idéia iluminista da dominação como “liberação” (p. 42) que, na prática, implanta a moral do mercado. Para ele, a linguagem científica impõe conceitos ocidentais que fundamentam a “economização do social” (p. 70). Lander também qualifica o conhecimento científico ocidental como o veículo do novo colonialismo (“ Eurocentrismo, saberes modernos y naturalización dei orden global dei capital” in S.Dube et alli op .cit., p.272). u Latouche completa a citação: “O espaço do desenvolvimento é primeiramente o território nacional”, e reafirma “a base natural do desenvolvimento econômico é o território do Estado” {op.cit., p. 98), 24 Latouche considera que a noção de “desenvolvimento” foi cunhada como um projeto de imposição do imaginário da modernidade ocidental para o Terceiro Mundo, por meio das metas de nacionalização, urbanização e industrialização (Idem, pp. 52 e 71). íal projeto opera, segundo ele, uma “economização do social” que rompe a segurança dos laços culturais tradicionais e frustra os anseios das populações submetidas (Idem, p. 70).

;

2’ W.Mignolo, “Capitalismo y geopolítica do conhecimento” in S.Dube et alli, op.cit., pp. 252/253. 26 Para Mignolo tal postura - de “descolonização intelectual” - articula “razão e localização geohistórica” (Idem, ibidem, pp. 231 e 239). Ele defende a busca da “relação que a epistemologia moderna estabeleceu entre localizações geo-históricas e produção de conhecimento” (p.230). Em outro texto, acrescenta: “A colonialidade é constitutiva da modernidade, e não derivativa” (“La coloniaiidad...” in E.Lander, op.cit., p.61). E Lander destaca a necessidade de captar as “modernidades subalternas” , desconstruindo as “taxonomias imperiais” e fazendo a “crítica da modernidade por suas margens” {Op. cit., p.36). 27 E.Dussel, “ Europa...” , op.cit., p.49. Mignolo vè a América como uma “entidade geo-social” que institui o sistema-mundo europeu (“La coloniaiidad...”, op.cit, p.57). 2li Enrique Dussel argumenta que a “primeira modernidade” européia foi ibérica, a qual conviveu (e foi periférica) com uma economiamundo asiática comandada pela China, destacando que até o século XVIII esse mundo oriental era tnais rico e desenvolvido culturalmente que o ocidente (“Sistema-Mundo y Transmodernidad” in S.Dube et alli, op.cit., pp.213 e 217). A hegemonia européia, por tanto, contaria dois séculos de vigência, sendo um elemento instituidor da segunda modernidade (p.215).

independência na América, o do Haiti na última década do

O tema da nação e do nacionalismo aparece nesse quadro

século XVIII. Enfim, a imbricação histórica Europa-América

com particularidades evidentes, pois a conceituação empregada

bem demonstra a relação já apontada entre a modernidade e a

em seu equacionamento emerge impregnada de conteúdo

colonÍ2ação29. Nessa perspectiva, os processos de independência

moderno, ocidental e eurocêntrico. Isso, contudo, não constitui

americanos não devem ser analisados como tributários de uma

um vicio de origem (epistêmico) do método adotado e sim,

dinâm ica praticada em solo europeu, em outras palavras, não

como visto, pode ser avaliado como uma qualidade intrínseca

devem ser equacionados como resultados adaptativos de

do objeto em seu equacionamento em face de tais parâmetros.

transform ações p olítica ocorridas no centro. São em si

Vale, nesse ponto, retom ar a argum entação de Benedict

protagonistas da história da economia-mundo capitalista, em

Anderson acerca dessa problemática, apesar da crítica —de

seus relacionamentos mútuos contraditórios. As sociedades

linearidade na periodização - a ele endereçada por E.Said30. A

periféricas expressam a modernidade em formas econômicas,

idéia de “comunidade imaginada” de imediato qualifica a

políticas e culturais próprias. E quando se opera a desconstrução

discussão em tela, entendendo de início que a identidade

da retórica da missão civilizatória da cultura ocidental, e da

nacional .é uma construção cultural de múltiplos caminhos de

visão evolucionista nela implícita, a orientação metodológica

afirmação, seja na Europa ou no resto do m undo. Anderson

dos estudos pós-coloniais revela sua potência explicativa na

concebe a nação enquanto “uma comunidade política imaginada

análise da formação e das singularidades dos países da periferia

com o inerentem ente lim itada e soberan a” , com o um a

do capitalismo. E é nesse pano-de-fundo que deve se enquadrar

“comunhão” entre indivíduos e grupos sociais que aspira a

genericamente o estudo da história da geografia brasileira, isto

condição de um Estado soberano como “emblema de sua

é, intrincada mais com a evolução política do país do que como

libendade”31. N a própria arena européia, em certos contextos

um capítulo numa história universal do desenvolvimento desse

essa idéia sustenta um pleito político autonom ista em face de

cam po disciplinar. Trata-se, portanto, de um a meta-geografia

um poder central espacialmente mais extenso, em outros

geopoliticam ente localizada e prenhe de determ inações

contextos serve a uma justificação ex post de uma dominação

históricas e geográficas específicas.

29 W.Mignolo, por exemplo, considera que o mundo colonial deve ser entendido como um “interno-externo” do imaginário moderno, devendo a colonialidade ser observada como o outro lado” da modernidade (“La colonialidad...”, op. cit., pp. 55/56). Este autor aponta que “a diferença colonial é um lugar passivo nos discursos pós-m odernos” (p .58). Enrique D ussel aprofunda a crítica, avaliando que o pós-modernismo não questiona o eurocentrismo (“ Sistema-Mundo...” , op.cit., p.219). 20

30 E.Said critica as “periodizações equivocadamente lineares” do processo de descolonização utilizadas por Anderson (op. cit., p.292). 31 Op.cit., pp. 23 a 25. Ele entende o nacionalismo hoje como uma “generalidade” (semelhante à família ou a religião), um “sistema cultural” que não se confunde com uma “ ideologia, consciente” (como o fascismo, o liberalismo ou o socialismo), a qual é veiculada por variados projetos políticos, e em distintos contextos históricos (pp. 23 e 30). Para ele, a nação e o nacionalismo são componentes da consciência moderna, que subverte a noção do tempo como “presente instantâneo” , desenvolvendo a idéia de futuro e da experiência da simultaneidade (pp.46). Vale apontar o posicionamento valorativo de Anderson sobre o tema: “a nacionalidade é o valor mais universalmente legítimo da vida política do nosso tempo” (p.19). 21

política estabelecida. Ele identifica as raízes da noção de

Anderson também argumenta que os impérios coloniais criaram

nacionalidade na fragmentação política da “Com unidade

“identidades territorializadas”, as quais atuaram como referência

Cristã”, já em curso no século XVI, que se “territorializava” em

para movimentos de construção de novas nacionalidades e

reinos e impérios dinásticos, que implementavam a unificação

soberanias, passíveis de serem rastreadas na “geografia das

do direito e de uma língua administrativa32. Ao longo do século

peregrinações coloniais”35.

XVIII, várias dinastias se nacionalizaram, fixando um centro e Operando processos de nacionalização de seus dom ínios,

N a verdade, a construção das nacionalidades na condição/ colonial e pós-colonial ajuda a iluminar melhor a compreensãq

contexto no qual emergiram os primeiros “nacionalismos oficiais”

desse processo no próprio solo europeu, ao possibilitar uma

impulsionados por tais monarquias, expressando “uma fusão

perspectiva comparativa onde as situações mais “artificiais” (ou

voluntária da nação e do império dinástico”33. Assim, por variados

mais distantes do modelo abstrato eurocêntrico de “nação”)

caminhos a organização em moldes nacionais se sedimentou

melhor evidenciam a sua natureza enquanto material de

com o um modelo estatal, adotado ainda no século X IX pelos

manipulação ideológica. Por um lado, nas colônias, a conquista

poucos Estados não coloniais existentes fora da Europa34 e

política e a imposição cultural sobre os lugares e sociedades

generalizando-se no mundo periférico ao longo do século XX.

subjugadas deixavam evidente a dominação estatal como elemento estruturante da sociabilidade vigente. Por outro lado, os artificialismos necessários para a criação simbólica dos padrões

32 Idem, p.39. Para ele, contudo, tais “ Estados monárquicos” eram ancorados numa “ legitim idade divina” e apresentavam “sobreposições de soberania”, características que os distingue da “forma estatal moderna” (p. 40). 33 Idem, p.127. A “russificação” dos espaços dominados pelo tzar exem plifica bem esse movimento de nacionalização oficial (patrocinada por um centro político), que se diferencia dos “nacionalismos defensivos” geralmente elaborados por grupos dominantes de territórios imperiais periféricos que não querem perder sua identidade, como é o caso da aristocracia húngara analisada como típica (pp. 153-154). Segundo Anderson, a língua vernácula, a imprensa, a literatura, o sistema de ensino, a estrutura burocrádea, são elementos de confecção e afirmação das nacionalidades. 34 Ele aponta o Japão como exemplo (Idem, p. 142). Anderson discute o paradoxo do nacionalismo imperial fornecer a base dos movimentos nacionalistas de descolonização ao estabelecer unidades administrativas circunscritas nas colônias e dota-las de uma elite criada pelos sistemas coloniais de ensino e de adestramento prático burocrático e militar (pp. 167 e 171). Segundo ele, o desenvolvimento do capitalismo implicou em funções estatais mais complexas que tornavam impossível a manutenção do grau de centralização administrativa nos negócios do Ultramar, exigindo a mobilização de uma burocracia “nativa” na administração das colônias, a qual forneceu os “quadros subalternos” que estão na base de muitos movimentos nacionalistas de descolonização (p. 198).

e características do modelo “nacional” do centro, explicitavam muito de seu conteúdo politico-cultural de origem, tornando certas argum entações inconsistentes e certos discursos translúcidos - na representação legitimadora do nacionalismo - em seu uso na periferia. A colonialidade, em sum a, acentua traços e intensifica conteúdos que tornam alguns processos político-culturais da dinâmica social da modernidade mais evidentes em sua manifestação no mundo periférico, deixando as práticas manipulatórias e os mecanismos de legitimação do centro da economia-mundo melhor equacionados quando 35 Idem, pp. 173 e 162. Em suas palavras: “A interconexão entre as peregrinações educativas particulares e administrativas deu a base territorial necessária para novas comunidades imaginadas nas quais os nativos podiam chegar a se ver como nacionais” (p.198). Nesses contextos, os mapas e os censos “serviram como base numa classificação totalizadora” (p.24l).

submetidos a parâmetros epistemológicos localizados em suas

fundamentos para a confecção de identidades políticas de base

margens, como bem destaca a abordagem dos estudos pós-

geográfica, situação nítida nas sociedades nacionais pós-coloniais.

coloniais.

Em meio à multiplicidade dos arranjos sociais e das culturas

Antes de prosseguir na argumentação, cabe relembrar

dos lugares inseridos na dinâmica da economia-mundo, um

que na h istó ria latin o -am erican a, os m ovim en tos de

m odelo geral de repartição da au torid ad e de poderes

independência e de construção das novas soberanias estatais

centralizados em Estados firmou-se associado a uma escala

não se ancoraram prioritariamente na mobilização de um ideário

geográfica instituída nesse próprio processo de afirmação: a

nacional tout court?6 Nestas formações sociais - como visto - o

unidade nacional, como sociedade e como espaço. Nesse sentido,

nacionalism o não foi contemporâneo da descolonização, emergindo tempos depois, em situações de dominação estatal já

vale cotejar o já exposto com outros enfoques sobre o tema. Eric Hobsbawn, por exemplo, argumenta que a nação, como uma

razoavelmente consolidadas, não se embasando, portanto, em

figura recente (uma “noção da modernidade”), “é uma entidade

processos de afirmação de um a autoridade interna pioneira

social apenas quando relacionada a uma certa forma de Estado

(como na maior parte do mundo colonial) e sim, acoplado aos

territorial moderno, o Estado-nação”38 e que a “consciência de

projetos posteriores de modernização3*37. Essa característica

pertencer ou ter pertencido a uma entidade política durável”

ilumina traços significativos da particularidade histórica das vias

constitui um forte critério de afirmação nacional39. Salienta,

americanas de desenvolvimento do capitalismo nos últimos dois

assim, a existência de um espaço de dominação estatal, claramente

sécu lo s, forn ecen d o um elem ento im p o rtan te p ara a

posto como “a unidade de organização política territorial que é

interpretação da história da “segunda modernidade” na América.

o critério crucial que hoje entendemos por nação”40.1. Wallerstein,

Tal posicionamento permite aprofundar a análise da relação entre a afirmação da nacionalidade e a delimitação espacial de

J Daí o despropósito de se qualificar a instalação portuguesa por comparação à espanhola, como faz - por exemplo - Sérgio Buarque de Holanda, ao concluir que este tinha uma ótica de domínio territorial enquanto aqueles que se moviam por objetivos mais comerciais (Raízes do Brasil, p. 64). Tal avaliação gera conclusões do tipo: para os portugueses “a colônia é simples lugar de passagem”, enquanto para os espanhóis seria um “prolongamento do país’ (P. 65). Em outra obra, este autor reafirma que o caráter “imperial” da colonização hispânica que, por contraste, “realça o caráter disperso, fragmentário, linear, mais de feitorização que de colonização, assumido pelas atividades ultramarinas dos portugueses” (Visão do Paraíso, pp. 306 e 309). Nesse ponto, bem mais adequada é a interpretação de R. Simonsen que aponta bem no fato de que os espanhóis fizeram mais uma ocupação do que colonização”, pois se impunham a estruturas anteriores (Ob. Cit., p. 304). 40 Ver: Capistrano de Abreu - Caminhos Antigos e Povoamento do Brasil, pp.245 a 247. O próprio Sérgio B. de Holanda considera, apoiando-se em Alfredo Elfis, que os caminhos indígenas préexistentes fixaram mais a direção da expansão paulista que o curso dos rios (Caminhos e fronteiras, p.34 e Monções, p. 24). Esse autor, lembra, entre outros, o caminho de Piabiru para o Guairá e o caminho do Guainá que desmandava o sudoeste de Minas Gerais, o primeiro trafegado pelas bandeiras de ataque às missões, o segundo trilhado por Martim de Sá (Caminhos e Fronteiras, pp. 24 e 34).

Tomando-se o Brasil como uma construção portuguesa no desconhecido território do Novo Mundo, uma construção que envolve povoamento perene e exploração efetiva - em outros termos: fixação - não há como contradizer a avaliação de Capistrano de Abreu: “A história do Brasil no século XVI elaborou-se em trechos exíguos de Itamaracá, Pernambuco, Bahia, Santo Amaro e São Vicente”43*. Entretanto, ninguém iria 41 De acordo com este autor, o “ciclo oficial” - oriundo da ação estatal - operou quase que só dentro dos limites definidos em Tordesilhas, tendo a dilatação destes sido obra do “Circulo espontâneo” (Basílio de Magalhães - Ob. Cit., p. 13). Em suas palavras: “Se a dilatação das fronteiras do Brasil houvesse ficado apenas confiada aos esforços da metrópole pouco, muito pouco, teria ela transposto a linha de Tordesilhas” (p.54). 42 Caio Prado Jr. - Ob. Cit., p. 237. 43 Capítulos de História Colonial, p. 68. Marchant concorda com essa avaliação: “assim, no que concerne à colonização, o nome Brasil, em seu mais baixo sentido só pode ser aplicado no século XVI a faixa

igualmente questionar a constatação de que as bases do domínio

Charles Boxer fala em 25 mil brancos em 1575, Alexander

lusitano na América do Sul já estão estabelecidas a partir de

Marchant entre 35 e 40 mil em 1580, e Orlando Pinto em 30

meados daquele século. O s centros de irradiação já estavam

mil no ano de 1583, número aceito por Vera Ferlini para o final

definidos, e uma formidável rede de povoamentos costeiros

do século47. Os exemplos poderíam suceder-se em afastar muito

distribuía-se numa vasta porção da fachada ocidental do

dos valores apresentados.

Atlântico44. Rede que, deve-se repetir, reproduzia fielmente o

Enfim, os núcleos originários da formação do território

padrão de instalação português nos diferentes quadrantes do

colonial brasileiro encontram-se assentados na época da

globo, e cuja dilatada extensão surpreende quando se observa o

unificação das coroas ibéricas. Uma obra geopolítica de conquista

contingente populacional envolvido nesse empreendimento.

havia sido realizada. Dos centros de assentamento partiam

Vale mencionar que reina alguma polêmica quanto ao

movimentos de exploração e de povoamento. O s primeiros

número de habitantes da colônia nas décadas finais do século

abriam o conhecimento de novas áreas e definiam percursos,

XVI. Vitorino Magalhães Godinho estimou em 30 mil o

alargando o horizonte geográfico do colonizador lusitano e

contingente lusitano aqui presente em 1600, valor rebaixado

recortando extensas zonas de trânsito e visitação esporádica. Os

para 25 mil na avaliação de Oliveira M arques45. N a verdade, as

segundos avançavam nos espaços contíguos, gerando zonas

várias estimativas oscilam entre estes números, alocando-se

contínuas de ocupação e jogando para diante as fronteiras do

todavia em anos diferenciados. Bartolomé Benasser fala em 20

território ocupado. As expedições exploradoras moviam-se tendo

mil portugueses no Brasil em 1570 e 26 mil no final do século46.

por objeto o apresamento dos indígenas ou a perspectiva da descoberta de riquezas naturais. O povoamento avançava

litorânea entre os atuais estados do Pernambuco e São Paulo (Ob. Cit., p.12). I^HComo conclui R. Simonsen: “Essa primeira ocupação costeira fixou ~ , porém, definitivamente, o europeu no Brasil” (Ob. Cit., p.88). E Mauro afirma que, ao final do século XVI, o território brasileiro possui catorze yjias. eltrcsLgidatífiS (Ob. Cit., p.219). Nestor do Car Réis'Filho lista as seguintes vilas quinhentista: São Vicente (1532), Espírito Santo e Porto Seguro (1535), Santo Cruz de Cabrália, São Jorge dos Ilhéus e Igarassu (1536), Olinda (1537), Santos (1545), Salvador (1549), Vitória (1551), São Paulo (1554), Itanhaém (1561), Rio de Janeiro (1565), Iguape (1577), Filipéia (1585), Cananéia (1587), São Cristovam (1590) e Natal (1599), Ver: Contribuição ao Estado da Evolução Urbana do Brasil (1500-1720). 45 V. M. Godinho - Os descobrimentos e a economia mundial v. IV, p. 172 e A.H.d O. Marques - História de Portugal, v. II, p. 237. Segundo este autor, em 1583, os três grandes centros de povoamento apresentavam a seguinte população branca: Bahia com 12 mil, Pernambuco com 8 mil e São Vicente com 1,5 mil habitantes. 46 B. Bennassar - La América espanola y La America portuguesa, pp. 201 e 270. O valor é acatado por Maria Luiza Marcílio que, entretanto eleva o segundo valor para 30 mil (A População do Brasil 52

apoiado na labuta agrícola, na qual se releva amplamente a lavoura da cana-de-açúcar48. Esta encontra-se em plena expansão no período analisado, constituindo-se os engenhos no maior montante de capital fixado ao solo da colônia49.

em Pespectiva Histórica, p. 18). R. Simonsen, por sua vez, concorda com este último número, mas estima em 17 mil a presença lusitana em 1570 (Ob. Cit., p. 88). 4 Ver: C. Boxer - O Império Colonial Português, p. 127; A. Marchant Ob. Cit., p. 110; O. Pinto - Ob. Cit., p. 67; V. L. A. Ferlini - Terra, Trabalho e Poder. O mundo dos Engenhos no Nordeste Colonial, p. 17. 46 Celso Furtado aponta que o sentido da ocupação foi a conquista dtps solos tropicais, aptos para o plantio da cana. (Ob. Cit., p. 7Í). Vera. L. A. Ferlini completa: “As preocupações com defesa , fixação de colonos e descoberta de metais preciosos.” 49 De acordo com Celso Furtado este montante era já significativo no final do século XVI (Ob. Cit., p. 47). Além dos engenhos, o autor 53

Existe uma tendência forte no panorama atual das ciências

Bibliografia Citada

sociais brasileiras de tratar o período colonial de nossa formação como um conjunto homogêneo, Istoé, como se estes três séculos

A BREU , João Capistrano de - Capítulos de História Colonial &

de nossa história obedecessem a uma mesma dinâmica. N ão é

O s Caminhos Antigos e o Povoamento do Brasil, Ed. U N B ,

difícil encontrar estudos que, no resgate retrospectivo de seus

Brasília, mesclava-se sempre incentivos para o desenvolvimento

temas de análise, acabam por tipologizar o colonial, dando a

da produção açucareira (Terra, Trabalho e Poder, p. 16), 5a

esse designativo o poder de definir um caráter, não raro,

ed. 1963.

explicita-se em movimentos e processos que a pesquisa histórica

BA RRETO , Luís Filipe - Descobrimentos e Renascimento. Formas

delimita em conjunturas e períodos mais restritos. Amiúde nos

de Ser e Pensar nos Séculos X V I e X V II, Ed. Im prensa

defrontamos, por exemplo, com caracterizações do período

Nacional, Lisboa, 2a Ed. 1983.

colonial que na verdade contemplam características singulares do século XVIII. No presente texto buscamos destacar a importância de se fazer uma diferenciação interna à fase colonial da formação brasileira. Isto é, tentamos apontar a necessidade de uma periodização do Brasil colônia, atentando para as singularidades próprias ao processo de instalação do colonizador português em terras sul-americanas. Visamos salientar que tal processo possui condicionantes e orientações próprias, que não se reproduzem

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em etapas posteriores. Trata-se, assim, de um momento bastante

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d ife re n c iad o , p o r ex em p lo , d a q u e le s que o seguem im ediatam ente , isto é, o do Brasil “ hispânico” e o da

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Cabe iniciar resgatando algumas idéias que fornecem o sentido da presente reflexão. Nas sociedades de formação colonial a dimensão espacial da vida social ganha uma centralidade ímpar na explicação de seu movimento e funcionamento ao longo da história1. Isso por que a colonização é - em essência- um processo de expansão territorial, constituindo umamodalidadcparticular de relação sociedade-espaço, marcada pela conquista, domínio >

e exploração econômica de novas terras.'Nesse sentido, a geografia joga um importante papel na interpretação da particularidade histórica dos países latino-americanos.

-s

O signo da conquista qualifica (e unifica) a colonização moderna do continente americano como um resultado da expansão européia, isto é, como um movimento articulado à montagem da economia-mundo capitalista, na qual a periferia colonial desempenha importantes funções12. As especificidades das histórias e das geopolfticas metropolitanas já emergem como um elemento de diferenciação entre as colônias da América, circunscrevendo conjuntos diferenciados pela origem nacional

1 Para o caso brasileiro tal interpretação está desenvolvida em: A.C .Robert Moraes - Território e H istória no Brasil, São Paulo: Hucitec/Annablume, 2002. 1 A revisão bibliográfica que sustenta esse juízo pode ser encontrada em: A.C. Robert Moraes - Bases da Formação Territorial do Brasil, São Paulo: Hucitec, 2000.

1 J

do colonizador, os quais tam bém variam de acordo com as

fazemos um a investigação pos festum . Buscamos a gênese e o

características internas das áreas coloniais (sejam as do meio

desenvolvimento de material idades políticas atuais: os territórios

natural, as da posição ou situação geográfica, ou - principalmente

hoje existentes4. Assim, nossa perspectiva histórica não se

- as demográficas). A própria estrutura das administrações

confunde com a do historiador, tolhido nesse posicionamento

coloniais busca responder genericamente a algumas gessas

analítico pelo temor em incorrer no grave erro do anacronismo.

diferenças ao estabelecer suas unidades de governe/

N o caso da geografia histórica, o retorno às divisões espaciais

Pode-se dizer que variados condicionantes internos e

coloniais é que pode induzir aos graves problemas do presente,

externos do relacionamento sociedade-espaço se articulam no

pois tal ótica sempre alimentou pretensões geopolíticas conflitivas

solo am ericano, gerando arranios geográficos peculiares,,

(expansionistas ou separatistas) nas várias sociedades nacionais latino-americanas5.

reunificáveis, contudo, por meio de algumas determinações próprias da colonização; eptre estas, o uso em toda parte da

V

Em sum a, entendemos a Geografia Histórica como

coação extra-econômica, com a generalização de formas de

caminho de reconstituição (em várias escalas) do processo de

trabalho compulsório (servis ou escravistas). A idéia de uma via

formação dos atuais territórios, postura que - inapelavelmente -

colonial (iberoamericana) de desenvolvimento do capitalismo

repõe uma ótica de história nacional (mesmo no âmbito de uma

permite bem caracterizar tais particularidades, aproximando os

perspectiva crítica). Um a desejável análise comparativa nesse

arranjos singulares criados no processo de colonização européia

campo vai, em geral, cotejar unidades espaciais individualizadas

na América3. U m a dialética interno-externo qualifica a condição

pela dom inação político-institucional, isto é, recortadas pela

de colônia, na subordinação e alteridade com a metrópole. De

administração colonial ou pelas fronteiras estatais-nacionais.

todo m odo, os processos de independência im põem recortes

M esm o os estudos em escalas de maior detalhe (regionais ou~

territoriais e limites fronteiriços com os quais a geografia histórica

locais) necessitam localizar seus objetos de análise nos conjuntos

tem de trabalhar, enquanto abordagem retrospectiva. Vale precisar este ultimo ponto: localizada no campo das ciências humanas, a análise geográfica pode (e deve) utilizar o presente com o referência de reconstituição histórica no estudo da formação dos territórios. Falamos à partir da atualidade, e

3 A idéia de '‘via de desenvolvimento”, que remonta a Lenin e a Lúkacs, parece melhor para designar a particularidade das colônias americanas do o estabelecimento de um modo de produç-ão específico para caracterizar tais “ formações sociais” . Em defesa do uso desse último conceito, ver: José Carlos Chiaramonte - Formas de Sociedad y Economia en Hispanoamérica, México: Grijalbo, 1983. 60

,jé

jma ampla e atualizada revisão sobre as definições do conceito de teerritório pode ser obtida em: Rogério Haesbaert f O M ito da Dcsterritorializaçíío, Rio de Janeiro: Bertrand, 2004. Aqui, adotamos o conceito clássico da Geografia Política que define o território - no mundo moderno - como área de exercício de um poder estatal, ou o âmbito espacial de dominação de um Estado, assumindo portanto a matriz ratzeliana de seu entendimento (conforme A.C .Robert Moraes - Ratzel. São Paulo: Ática, 1990). A geopolítica militar do subcontinente, por exemplo, sempre alimentou uma mitologia de fronteiras mais amplas perdidas e usurpadas. Mito por mito, este é mais perigoso do que o das origens das atuais áreas de soberania estatal (ver: L.A.Moniz Bandeira -'O expansionismo brasileiro e a formação dos Estados na Bacia do Prata , Ed. Revan/UNB, Brasília, 1998). No sentido da fragmen-tação, o processo de ‘‘criação” do Panamá é bem ilustrativo da responsabilidade política ao discutir a relação entre fronteiras e identidades. 61

> maiores que interferem em sua vida econômica e social (por

em solo americano. Explicando: a região foi sempre pensada

meio de legislações, tributações e outras formas de domínio).

como uma unidade espacial homogênea ou dotada de fortes

Enfim, os lugares abordados inserem-se necessariamente em

elementos homogeneizadores, não raro identificados no. seu processo de ocupação do solo e da apropriação dos meios

unidades maiores, dos quais constituem partes. N o caso em discussão, cabe iniciar a análise com o estudo da apropriação do espaço americano pelo processo colonizador ^ impulsionado por alguns estados europeus. A expansão espacial. I - em suas motivações e estratégias - em sí é um primeiro objeto

da investigação da Geografia Histórica, sendo a consolidação do domínio territorial seu corolário: a transformação dessas novas terras em áreas descontíguas de soberania estatal de cada m etrópole; em outros termos, em territórios coloniais6. A plena sedimentação dessa dominância política externa e a exploração econômica dos lugares submetidos tornam a colonização uma efetividade, que serve de base para a formação de novos estados na era das revoluções atlânticas. O s territórios nacionais se formam a partir dos coloniais, e estes foram muitas vezes ^

^7

construídos sobre as formaçõesterritoriais indígenas.. As instalações coloniais na América objetivaram-se como enclaves que evoluem para regiões, isto é, a expansão territorial

unidade, mesmo que inserido numa unidade maior (no caso, a

r

colônia e o im pério). C erta au ton om ia política e certa

^

autarquização econômica devem demarcar o espaço regional, qualificando-o como um fato e/ou uma totalidade. A centralidade geográfica, geralmente do núcleo difusor pioneiro, é outro elemento qualificador da região, num quadro onde expansão espacial e difusão da colonização são dois modos de nom ear o m esm o processo. O s fluxos (exploradores, povoadores, e de mercadorias) estabelecem a demarcação de cada assentamento colonial americano, definindo as regiões coloniais em movimentos onde os padrões da “mancha-de-óleo” (na expansão) e da “bacia de drenagem” (na consolidação) aparecem como predominantes. A intensidade dos fluxos externos foi, em muito, responsável pelo dinamismo destas economias regionais, levando-as a se ampliar e a se retrair8, contudo, a penúria local também pode agir com o estímulo à

e c o n o m ias re g io n ais. O co n ceito clássico de re g ião 7 provavelmente nunca conheceu um a aplicação tão estrita e

externo e a inserção subordinadanqscircuitos imperiais que

efetiva quanto no caso de nomear esses assentamentos europeus

qualificam tais espaços com o coloniais”. A s regiões coloniais são, antes de tudo, partes de um império. M as, são também

6 Por “território colonial” entende-se as terras descontíguas agregadas ao fundo territorial do Estado metropolitano, uma adição de patrimônio objetivada pela conquista e colonização de novos espaços. Como observa Fernando Navais, o mero estabelecimento de trocas comerciais não qualifica tal situação (“Colonização e Sistema Colonial. Discussão de conceitos e perspectiva histórica” , São Paulo: APUH, 1967). 7 Para uma discussão do uso desse conceito no campo disciplinar, ver: Sandra Lencioni - Região e Geografia, Edusp, São Paulo, 2003.

n {J

partes de têrntónos coloniais SneraiWFTÍ

__

* Para uma exempiificação da oscilação tia área ocupada pela produção num espaço de colonização consolidada, ver: Tomás Cortez Wissenbach - Bases materiais do processo de independência no Recôncavo baiano: geografia, história, e a conformação da região nos finais do período colonial, Trabalho Final de Graduação DG/FFLCH/USP, São Paulo, 2004.

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