A Prática do Meu Sistema [1 ed.] 9788598628097

Com o livro 'A Prática do Meu Sistema', escrito em 1929 e traduzido para o português EM 2007, Aaron Nimzovitsc

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A Prática do Meu Sistema [1 ed.]
 9788598628097

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© Editora Solis Ltda. 2007 Primeira edição em português: novembro 2007 © Editora Solis 2007 -- Editado no Brasil Editora: Jussara Chaves Garcez Leme Revisão: Joara Chaves Editoração eletrônica: Studio Camera Tre

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Nimzovitsch, Aaron, 1886-1935. A Prática do Meu Sistema / Nimzovitsch ; tradução de Francisco de Assis Garcez Leme -- 1. ed. -Santana de Parnaíba, SP : Editora Solis, 2007. Título original: Die Praxis Meines System ISBN 9788598628097 1.Xadrez 2. Xadrez - Estudo e ensino I. Título 07-9374

CDD-794.107

Índices para catálogo sistemático: 1. Xadrez : Estudo e ensino

794.107

ISBN: 9788598628097 As fotografias e ilustrações incluídas neste livro procedem dos arquivos da Editora Solis. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada ou transmitida em qualquer forma, nem por qualquer meio, seja eletrônico, químico, mecânico, ótico, de gravação ou de fotocópia, sem autorização prévia e por escrito dos detentores dos direitos da presente edição em língua portuguesa. A infração dos direitos do tradutor e da editora pode constituir crime. EDITORA SOLIS contatos: [email protected]

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Prefácio

O moderno mestre de xadrez não pratica o ocultismo. Como ocorre em outros ramos das artes, o jogo posicional tem a sua própria técnica e essa técnica pode ser adquirida. Esse é o objetivo e a razão deste livro. Técnica e arte que tratam do jogo posicional, das estratégias já estudadas em meu primeiro livro e que são tratadas de maneira extremamente minuciosa (com artigos intercalados) e ilustradas com partidas do xadrez magistral. Contudo, este livro é completamente independente de Meu Sistema e de modo algum é necessário qualquer tipo de conhecimento, muito menos se pressupõe estar o leitor familiarizado com os princípios expostos em Meu Sistema. Quando considerei necessário, dei a explicação oportuna. Não é absolutamente difícil compreender termos como profilaxia, superproteção, etc., porém é claro ser necessário explicá-los. O livro tem também um valor como coleção de partidas, pois ao lado das publicadas em Meu Sistema e O Bloqueio, que aqui não são repetidas, são incluídas, no total, 109 partidas minhas. Algumas palavras sobre a disposição do material no livro. Nos abstivemos do auto-elogio, pois chegamos à conclusão de que essa mania, tão arraigada no período que chamamos de pseudo-clássico, está tão fora de lugar como, por exemplo, a variante 3...c5 [Nimzovitsch se refere à Defesa Tarrasch do Gambito da Dama recusado – N. do Tradutor] e outras, louvadas com tanta falta de medidas que foram alçadas às nuvens. A auto-apologia só é justificável quando o reconhecimento merecido foi omitido injustamente. Em todos os demais casos, é de mau gosto e contraproducente. Não poderá ser dito que faltem índices neste livro, pois além de um sumário detalhado do conteúdo são incluídos também um índice de partidas e outro de aberturas. Por outro lado e, uma vez que classificamos as matérias somente conforme as estratégias mais importantes, como centralização, bloqueio, etc., e não em conformidade com estratagemas menores, como colunas abertas, sétima fileira etc., consideramos que também seria necessário incorporar um registro da tática de guerrilhas. É óbvio que não deveria ser exaustivo, porém dessa maneira se daria ao amador a oportunidade de estudar os elementos táticos de interesse especial para ele (linhas abertas, peão passado, etc). Devo dizer, por último, que gostaria de incluir 4 ou 5 diagramas em cada partida, para facilitar o estudo das variantes, às vezes especialmente intrincadas, porém os livros volumosos não gozam de grande prestígio em nossos tempos (o lema é torná-los delgados). [Nessa 1ª edição em língua portuguesa, além dos diagramas 3 9788598628097_MIOLO.pdf 3

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apresentados na edição original, foram incluídos muitos outros. N. do Editor]. Entretanto há um meio simples, além de efetivo, que recomendamos com entusiasmo ao estudante. Trata-se da utilização, no momento da reprodução da partida, de dois tabuleiros, (por exemplo, um normal e outro de bolso) reproduzindo a partida no tabuleiro principal e as variantes no outro. É muito mais fácil do que possa ser imaginado e dessa forma não são omitidas variantes valiosas. Consideramos que isso é tudo o que deveria ser dito e agora deixaremos que o livro fale por si mesmo. A. Nimzovitsch

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1 - A Centralização

Em xadrez disputado em torneios, excelentes resultados podem ser conseguidos através da centralização. O fato é que atualmente não se conhece adequadamente o controle das casas centrais e por isso ocorre com freqüência que até jogadores experientes considerem o centro como uma estaca cravada. Nós, no entanto, temos observado que qualquer omissão sobre o território central por parte do adversário deveria ser punida com o castigo correspondente. Os pecados de omissão no centro surgem ou como conseqüência de um descuido habitual das necessidades estratégicas (ou seja, por negligência estratégica) ou por uma mania apaixonada de atacar pelas alas! No primeiro caso, o adversário permite que lhe seja tomado o domínio do centro e, no segundo, o entrega por vontade própria, com a finalidade de tentar a sorte em um audaz ataque na ala. Mas um ataque na ala só encerra possibilidades reais quando o centro está fechado, pois de outra forma poderá ser contido com um mínimo de efetivos. No caso contrário, o ataque está condenado a morrer de fome, já que é impensável que seja possível associar uma difícil formação de ataque com uma formação defensiva incrivelmente difícil. A partida 3 traz uma clara ilustração desse ponto, pois nela veremos uma ruptura central que conduz a uma paralisia completa – diria uma quase

desmoralização – das tropas que atacam na ala. A técnica de centralização dá resultado (após as precauções defensivas necessárias), no caso de um centro móvel de peões adversários, com a idéia de estreitar e envolver mais o complexo das casas centrais. Nesse sentido, podemos nos orgulhar da conquista de qualquer coluna ou diagonal, que nunca será modesta se for dirigida ao centro do tabuleiro. Mas quando tivermos êxito em tornar efetivas essas potencialidades teóricas, mediante as quais se coloca uma de nossas peças no centro, poderemos nos contentar com os resultados da política de centralização. Uma concentração de forças no centro, conquistada durante o meio-jogo (como mencionado anteriormente), pode ser explorada de forma efetiva através de um ataque de ala, pois, após tudo o que foi dito e feito, a centralização não é um fim em si mesma, mas é para nós a forma mais racional de acumular as forças disponíveis para o ataque nas alas (veja a partida 8). Em qualquer caso, devemos afirmar de forma conclusiva que uma posição razoavelmente centralizada pode ser considerada segura, qualquer que seja a circunstância. Mas, apesar de tudo, inclusive uma posição centralizada não é uma garantia absoluta contra todo tipo de perigos. Por exemplo, o adversário poderia conceber a idéia de retirar as peças centralizadas através de trocas. Nesse caso, o problema 5

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

consiste em preservar um equilíbrio suficiente de centralização até o final (partida 7). Outro perigo pode surgir no caso de que nosso adversário sacrifique uma de suas peças bloqueadoras para ampliar de forma repentina o território central. O perigo a que nos referimos deveria ser erradicado com uma adaptação imediata às novas circunstâncias. Com freqüência é particularmente efetivo um contra-sacrifício, com o objetivo de proceder à enérgica exploração de uma diagonal central (partida 8). Por ora nos limitaremos a essas breves observações. Tudo mais será esclarecido pelas próprias partidas e pelas notas introdutórias. 1 – Descuido do complexo de casas centrais.

Nas partidas 1 e 2 o território central está descuidado sem razão aparente. Na partida 3, em razão de um ataque de ala. Uma estratégia assim só poderá obter êxito frente a um contrajogo deficiente. Comparem-se nossas observações anteriores com as da página 9 (partida 3). Nossa lente de aumento talvez seja imaginária, porém é um instrumento muito preciso, pois revela em cada caso se o lance planejado agregará efeito acumulativo às nossas forças. Se Brinckmann tivesse se utilizado dessa lente de aumento para visualizar o centro em nossa partida em Berlim (1928), dificilmente teria escolhido 5...Qb6 após os lances 1.d4 d5 2.Nf3 e6 3.Bf4 Nf6 4.e3 c5 5.c3, pois com seu lance permitiu que as brancas seguissem com 6.Qb3 Nc6 7.Nbd2 e, nesse momento, o lance centralizador ...Bd6

não era possível. Deveria ter jogado ao menos 7...Be7, porém preferiu o descentralizador ...Nh5, ao que se sucedeu uma breve, porém efetiva, expedição punitiva: 8.Qxb6 axb6 9.Bc7 c4 10.Bxb6 e as pretas se viram obrigadas a recuperar o cavalo com perda de tempo, 10...Nf6 (que pára a ameaça e4). Seguiu 11.Bc7, com vantagem das brancas. Sem o lance 7...Nh5, as brancas não teriam como justificar sua incursão de rapina. Por exemplo: 7...Be7 (ao invés de 7...Nh5) 8.Qxb6 axb6 9.Bc7 c4 10.Bxb6 Nd7 e as pretas têm a iniciativa. Teremos outras ocasiões para demonstrar a precisão da nossa lente de aumento.

Partida 1 Nimzovitsch - Ahues Berlim, 1928 Abertura Inglesa

1.c4 Nf6 2.Nc3 c6 3.e4 d5 4.e5 d4 5.exf6 dxc3 6.bxc3

Posição após 6.bxc3 6…gxf6 Era mais claro 6…exf6. Por quê? Porque o desenvolvimento …Bd6, …0-0

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1 - A Centralização

e ...Re8 não poderia ser evitado e essa disposição de peças significaria centralização e por conseqüência a maior garantia possível contra qualquer surpresa. As coisas são muito diferentes após o lance do texto (6...gxf6). Não há dúvidas de que as pretas colocaram um peão “arrogante” no centro, mas é duvidoso que esse peão central seja um bom motivo de orgulho de alguma coisa. Assim, podemos comprovar que a mobilidade do centro de peões é reduzida. Por exemplo: 7.Nf3 e5 8.d4 e4? 9.Nh4! f5 10.g3, seguido de Ng2 e Bf4, estabelecendo um bloqueio. Por outro lado, a manutenção do centro também é problemática, como se pode ver no comentário ao lance 9. Então, o procedimento correto teria sido 6...exf6. 7.Nf3 c5 Do ponto de vista posicional, parece melhor 7...e6, com uma construção central defensiva. 8.d4 Nc6 9.Be2 f5 Merecia consideração 9...e5, com intenção de se instalar nessa casa (política de espera). A seqüência poderia ser 10.Be3 Qa5 (ou mesmo 10...b6 11.0-0, seguido de Qd2, Rad1 e as brancas pressionam a coluna d) 11.0-0 Qxc3 12.dxe5 (muito superior a 12.Rc1, que só melhora a situação da dama, que se reincorpora à defesa através de a5 ou c7) 12...fxe5 (ou mesmo 12...Nxe5 13.Qd5!) 13.Ng5 Bf5 14.Bh5 Bg6 15.Bxg6 hxg6 16.Qd5, vencendo. O lance do texto (9...f5) é um erro grave, pois abandona todo o centro. Era relativamente melhor 9...Rg8, ainda que nesse caso as brancas conservassem sua vantagem. Por exemplo: 9...Rg8 10.g3 Bh3 11.Rb1 Qc7 12.Qa4 Bd7 12.Qc2 etc.

10.d5 Na5 11.Ne5 Esse lance decide a partida. 11...Bd7 Ou mesmo 11...Bg7 12.Qa4+ Kf8 (12...Bd7? 13.Nxd7 Bxc3+ 14.Bd2 Bxa1 15.Nf6+ Kf8 16.Bh6++!) 13.f4 f6 14.Nf3, com absoluto domínio posicional. 12.Bh5 Bg7 13.Nxf7 Qb6 14.Nxh8+ Kf8 15.Nf7 As brancas devolvem todo material sem a menor indecisão, em troca de instalar um cavalo onipotente em e6. Assim é que se deve fazer! Não queira sempre se prender a conquistas materiais. Jogar com liberdade, convertendo uma vantagem em outra, é o lema a seguir. 15...Be8 16.Ng5 Bxc3+

Posição após 16...Bxc3+ 17.Kf1! Não 17.Bd2, devido a 17...Bxh5 18.Qxh5 Bxd2+ 19.Kxd2 Qb2+. 17...Bxa1 18.Ne6+ Kg8 19.Bxe8 Rxe8 20.Qh5 Ra8 21.Qxf5 Qb4 22.g3 Qxc4+ 23.Kg2 Qe2 A situação das pretas é desesperadora. 24.Bd2 Teria sido mais preciso 24.Re1! Qxe1 25.Ng5 Bg7! 26.Qf7+ Kh8 27.Bb2! e as brancas vencem. 24...Nc4

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

Ou mesmo 24...Qxd2 25.Ng5 Bg7 26.Qe6+, com o mate de Philidor. 25.Re1 Qxd2 26.Ng5 Nd6

Posição após 26...Nd6 O restante da partida é um massacre que transcrevemos com reticências, pois não somos de natureza sanguinária... 27.Qxh7+ Kf8 28.Qxe7+ Kg8 29.Qh7+ Kf8 30.Qh6+ Kg8 31.Qg6+ Bg7 Pobre bispo, sua hora chegou! Mas ao menos há o consolo de se morrer em casa... 32.Qh7+ Kf8 33.Ne6+ Ke8 34.Nxg7+ Kd8 35.Ne6+ Ke8 36.Re5 As pretas abandonaram.

Qxf6 8.d4 (8...cxd4 9.cxd4 Bb4+ 10.Bd2 Qxd4 11.Bxb4 Qe4+ 12.Be2 Qxh1 13.Qd6 Nc6 14.Bf3, vencendo). No entanto, a captura do texto é perfeitamente jogável, pois a maioria de peões das pretas dificilmente poderá se tornar efetiva. 7…Qxf6! 8.Nf3 Aqui teria que se considerar seriamente 8.Bg2. Por exemplo: 8...Nc6 9.Ne2 e5 10.0-0, seguido de f4. Após o lance da partida, os bispos terão maiores dificuldades para exercer o máximo efeito centralizador sobre suas diagonais. 8...h6 9.Bg2 Bd7! 10.Nd2! Com esse movimento se corrige, até certo ponto, o erro do lance 8. 10...Bc6 11.Ne4 Qg6 12.Qe2 Be7 Não 12...f5, devido às respostas 13.Bf3 e Nd2, quando a casa e5 se transforma em uma debilidade crônica. Agora podemos ver que as brancas têm que resolver um problema complexo: 1) A maioria preta de peões deve ser bloqueada; 2) Há de se estabelecer a supremacia central. Esse problema poderá ser resolvido somente com a utilização exata de todos os meios disponíveis. 13.0–0 0–0

Partida 2 Bogoljubov - Nimzovitsch Londres, 1927 Abertura Inglesa

1.c4 e6 2.Nc3 Nf6 3.e4 c5 4.g3 Merece consideração a seguinte continuação, proposta por Bogoljubov: 4.Nf3 Nc6 5.d4 cxd4 6.Nxd4 Bb4 7.Qd3. 4…d5 5.e5 d4 6.exf6 dxc3 7.dxc3 Também não era má a linha 7.bxc3

Posição após

13...0-0

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1 - A Centralização

14.h4!? Ignorando o centro! Por que não 14.f4!? Se então 14...Nd7, poderia seguir 15.Bd2 Kh8! 16.Rae1 Nf6 17.Bc1 (com a idéia de Ne4-d2-f3-e5). Após as trocas em massa em e4 não se nota que as pretas tenham a possibilidade de poder utilizar sua maioria de peões. 14...f5 15.Nd2 Bxg2 Evitando a cilada 15...Bxh4 16.Nf3!. 16.Kxg2 Nc6 17.Nf3 Para seguir com Bf4. 17...f4 Fechando a porta. Segue uma última tentativa de consolidação antes que a posição das brancas desmorone. 18.Re1 Rf6 19.Qe4 fxg3 20.fxg3 Bd6 A debilidade do peão de g3, desenvolvimento insuficiente e exposição do rei são mais do que se pode suportar, mesmo com uma posição centralizada. Agora podemos ver o dano causado pelo avanço 14.h4. 21.g4 Qxe4 22.Rxe4 Raf8 23.Re3 Rf4 O leitor menos experiente observará o “serviço” que as torres realizam na coluna aberta. 24.g5 A seqüência 24.Rxe6 Rxg4+ 25.Kf2 Ne5 seria um desastre para as brancas. 24...Rg4+ 25.Kh1 Ou mesmo 25.Kf2 Ne5 26.Ke2 Rg2+ 27.Kf1 Rg3, ganhando peça. 25...hxg5 26.hxg5 Kf7 27.Ng1 Após 27.g6+, a melhor continuação seria 27...Kf6 (não 27...Ke7, ao qual poderia seguir 28.Nh2 Rh8 29.Re2 e se 29...Rh4??, então 30.Bg5+). 27…Rh8+ 28.Nh3

Posição após 28.Nh3 28…Ke7 29.b3 Bf4 Com o rei preto em f7 seria agora possível uma cravada com Rf3. Daí a razão do lance 28 das pretas. 30.Rf3 Ne5 As brancas abandonaram.

Partida 3 Nimzovitsch - Von Scheve Ostende, 1907 Defesa Stonewall

1.Nf3 d5 2.d3 Nc6 3.d4! Esse lance é bom porque agora o peão c das pretas está bloqueado pelo cavalo. 3…e6 4.e3 Nf6 5.c4 Be7 6.Nc3 0–0 7.Bd2 Ne4 Jogo correto. Observe-se que 7.Bd3 (ao invés de 7.Bd2) não teria impedido esse salto. Por exemplo: 7.Bd3 Nb4! 8.Be2 c5 etc. 8.Bd3 f5 Isso não é muito bom! Não se joga uma formação Stonewall com um cavalo em c6. As pretas deveriam ficar satisfeitas com 8...Nxd2 9.Qxd2 Nb4 10.Be2 dxc4 11.Bxc4 c5. 9.a3 Bf6 10.Qc2 Kh8 11.0–0 a6 É provável que para evitar Nb5 em 9

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

algum momento. No entanto, o que a posição pedia era que se esquecessem os ataques Stonewall (como com ...g5?). Com o simples 11...Nxd2 12.Qxd2 dxc4 13.Bxc4 e5 14.Rad1! e4! as pretas estariam próximas da igualdade (15.Ne1 Re8 16.f3 f4!) e por que não? Com lances como os feitos pelas brancas (d3, em seguida d4 e a3), não se pode construir uma pressão sobre o inimigo. Por outro lado, as pretas também teriam conseguido alguma coisa, pois a aventura do cavalo assegura o par de bispos. Devido a isso não se deve estranhar que existisse a possibilidade de se igualar a posição. 12.Rac1 h6 13.Rfd1 g5

Posição após 13...g5 Só se deveria jogar isso se as brancas não estivessem em condições de abrir linhas no centro. Com o centro aberto, no entanto, o ataque nas alas tem aparência de desespero. 14.Be1 g4 15.Ne5! A coluna d vai provar ser o destaque da posição. Veja-se o comentário seguinte. 15...Bxe5 16.dxe5 Ng5 Se 16...Nxe5, então seguiria 17.cxd5 exd5 18.Bxe4 fxe4 19.Rxd5 etc. 17.Ne2 Qe8 18.Bc3 dxc4 19.Bxc4

A coluna d é muito importante. As pretas não podem conseguir uma posição de ataque. 19...Bd7 20.Nf4 Rd8 21.b4 b5 22.Bb3 Ne7 23.Bd4 c6 24.Qa2 Ng6 Se 24...Nd5, continuaria 25.Bxd5 cxd5 26.Rc7 etc. 25.Nh5 Nh4 26.Nf6

Posição após 26.Nf6 Comparem-se as duas posições: as brancas dispõem de duas colunas centrais, dois bispos centralizados, um cavalo no posto avançado, com todos os peões pretos da sexta fileira pendentes. As pretas têm dois cavalos aventureiros... e nada mais! Não deve surpreender portanto que o ataque projetado pelas pretas seja rechaçado, com conseqüências lamentáveis para o atacante. 26...Qg6 27.Bb6 Nhf3+ 28.gxf3 Rxf6 29.Bxd8 Nxf3+ 30.Kf1 Rf7 31.Bf6+ Rxf6 32.exf6 Nxh2+ 33.Ke1 Nf3+ 34.Ke2 f4 35.Rxd7 As pretas abandonaram. 2 – Pecados de omissão no território central

Na partida 4 as pretas teriam conseguido romper, porém com jogo correto, e as brancas poderiam ter

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1 - A Centralização

restabelecido sua posição central no lance 21, porém se descuidaram. Na partida 5, as brancas estavam ameaçadas de um ataque na ala do rei, porém tiveram a oportunidade de lançar um contra-ataque no centro. Desprezaram o ataque, pois não lhes parecia que tivesse chances de êxito e em conseqüência sucumbiram com justiça frente ao ataque hostil na ala do rei. Na partida 6, as pretas estavam a ponto de ocupar várias casas centrais. As brancas deveriam ter feito frente a esse projeto, pois nunca se deve ceder sem luta os pontos centrais. Porém, subestimaram o perigo e o seu adversário pôde construir uma poderosa armação no centro. As deficiências descritas não devem ser atribuídas somente a conhecimentos insuficientes, mas também a um temperamento impressionável. Qual é a moral da estória? Bem, até em situações críticas, com freqüência a salvação pode se encontrar no centro. Assim, pois, centalize e não se desmoralize! Partida 4 Cohn - Nimzovitsch Ostende, 1907 Defesa Stonewall

1.d4 Nf6 2.Nf3 d6 3.Bf4 Nh5 Já no ano de 1907 eu seguia o meu próprio caminho. 4.Bd2 Nf6 5.c4 Nbd7 6.Bc3 Ou mesmo 6.Nc3 e5 7.e4 Be7 e o tempo perdido pelas brancas na manobra Bf4-d2 resulta em uma quantité négligeable [ uma ninharia, N. do T. ]. 6…e6 7.e3 d5 Teria sido melhor 7...b6, para seguir com ...Bb7.

8.c5 Esse avanço é correto.

Posição após 8.c5 8…Ne4 9.Bd3 f5 10.b4 g6 11.Bb2 Bg7 12.Nc3 A posição pedia 12.0-0, seguido de Ne5 e f3. 12...0–0 13.Qc2 c6 14.Ne2 Qe7 15.0–0 O lance 15.Ne5 parece melhor. 15...e5 16.dxe5 Nxe5 17.Nxe5 Bxe5 18.Nd4 Bd7 19.f3 Nf6 20.Rae1 Rae8 21.e4 O erro decisivo. O correto seria jogar 21.f4 Bc7 (no caso de 21...Bxd4, segue 22.Bxd4) 22.Nf3, seguido de Bd4 e a posição das brancas se consolida. O lance do texto arruína a posição das brancas em poucos lances. 21...fxe4 22.fxe4

Posição após

22.fxe4 11

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

22...Qg7! 23.exd5? Ng4 24.Qc4 Bxh2+ 25.Kh1 Rxe1 26.dxc6+ Ou, se 26.Rxe1, Nf2+ e mate em quatro. 26...Be6 27.Qxe6+ Rxe6 28.Rxf8+ Qxf8 29.Nxe6 Qf2 As brancas abandonaram. Partida 5 Spielmann - Nimzovitsch Carlsbad, 1923 Defesa Caro-Kan

1.e4 c6 2.d4 d5 3.exd5 cxd5 4.c3 Nc6 5.Bf4 Bf5 Uma novidade. 6.Nf3 e6 7.Qb3 Qd7 8.Nbd2 f6 Assegura a casa e5 e prepara o avanço geral na ala do rei. Um desvio de atenção estratégico na ala aqui é justificado, pois o centro aberto parece razoavelmente seguro, uma vez que a casa e6 está bem coberta e a diagonal desde f5 a b1 constitui um belo panorama. No entanto, e como já dissemos, não é demais lembrar que, quando o nosso próprio centro é inseguro, o ataque na ala é inadmissível.

Posição após

9.Be2

Aqui o indicado seria 9.c4. Por exemplo: 9.c4 Bb4 10.cxd5 exd5 11.Bb5, com igualdade. Ou, se 9...Nb4, 10.Rc1 e as brancas não têm o que temer. 9...g5 10.Bg3 h5 11.h3 Nge7 12.0–0 As brancas já não podiam melhorar a situação central com c4. Por exemplo: 12.c4 dxc4 13.Bxc4 Nd5, com forte centralização do cavalo. No entanto, essa linha era preferível à do texto. 12...Bh6 13.Ne1 g4 14.Qd1 Bxd2 As pretas ganham um peão. 15.Qxd2 gxh3 16.Nd3 b6 17.Rfe1 h4 18.Bh2 Kf7 Não 18...0-0-0, devido a 19.Nc5!. 19.g4 Outros lances também perdem. 19...hxg3 20.Bxg3 h2+ 21.Kg2 Be4+ Com a seguinte linha se venceria de uma forma mais clara: 21...e5!. Por exemplo: 22.dxe5 Be4+ 23.f3 Rag8 24.e6+ Qxe6 25.Nf4 Qg4!, ou se 24.Qf4 (em lugar de 24.e6) 24...Nf5 25.fxe4 Nxg3 26.Qxf6+ Ke8 27.e6 h1=Q+ 28.Rxh1 Nxh1+ etc. 22.Bf3 Com 22.f3 as brancas ofereceriam maior resistência.

8...f6 Posição após

22.Bf3

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1 - A Centralização

22...Nf5! 23.Bxe4 dxe4 24.Nf4 Se 24.Rxe4 Qd5 etc. 24…e5 25.Ne2 Nh4+ 26.Bxh4 Qg4+ Com mate em poucos lances. As brancas abandonaram.

Partida 6 Yates - Nimzovitsch Londres, 1927 Defesa Siciliana

1.e4 c5 2.Nf3 Nf6 3.e5 Nd5 4.Bc4 Nb6 5.Be2 Nc6 As brancas perderam tempo com o bispo. Por outro lado, o cavalo preto não está muito bem situado em b6, de modo que a manobra de bispo não é condenável. 6.c3 d5 7.d4 No lugar das brancas, teríamos preferido 7.exd6. 7...cxd4 8.cxd4 Bf5 9.0–0 e6 10.Nc3 Be7 11.Ne1 Se o ataque iniciado por esse lance (para seguir com f4, g4 e f5) fosse factível, então demonstraria que o lance 8...Bf5 é um erro e não poderia ter sido realizado. O fato é que 11.Ne1 não consegue grande coisa, e se deveria abandonar essa aventura em troca de um plano mais baseado na coluna c. Por exemplo: 11.Be3 0-0 12.Rc1, seguido de a3, b4, Nf3d2-b3-c5, para conquistar o posto avançado, tal como prescreve Meu Sistema.

Posição após 11.Ne1 11…Nd7! 12.Bg4! Jogo engenhoso. Depois de 12.f4? teria seguido 12...Nxd4 13.Qxd4?? Bc5. Também teria sido desfavorável 12.Be3, devido a 12...Ndxe5 13.dxe5 d4 14.Bd2 dxc3 15.Bxc3 Qc7, com alguma vantagem posicional das pretas. Através do lance do texto (12.Bg4!), Yates pode realizar o desejado f4 de uma forma assombrosa! 12...Bg6 13.f4 Nxd4 14.Nxd5! Nc6! Se 14...Bc5, seria forte a resposta 15.b4. O lance 14...exd5 diretamente seria mau devido a 15.Bxd7+ e 16.Qxd4. 15.Nxe7 Qb6+ 16.Kh1 Nxe7

Posição após

16...Nxe7 13

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

17.Qa4 Aqui temos o típico erro do qual falamos em nosso comentário anterior. As pretas pretendem ocupar os pontos centrais e, como é lógico, as brancas deveriam lutar por eles ao invés de se separarem do centro com o lance Qa4. Em conseqüência 17.Qe2 (com a idéia de seguir com Be3) 17...Nd5 18.Bf3 Qc5 19.Bd2 N7b6 20.Rc1 Qe7 e agora talvez 21.Be3, com o que as brancas controlam um espaço central maior do que o das pretas. Porém, inclusive se isso fosse inalcançável, que importância teria? Em qualquer caso as brancas teriam lutado por algo que valia a pena! Agora elas serão devidamente castigadas.

Posição após 17.Qa4 17...h5 18.Bh3 Forçado, pois no caso de 18.Bf3 seguiria 18...Nf5, com novas conquistas territoriais. Por outro lado, poderia se criar uma ameaça de mate com ...h4 e ...Ng3+. 18...Bf5 19.Qa3 Qb5 Habilitando a casa b6 para o cavalo de d7, que planeja instalar-se posteriormente em d5. 20.Kg1 Nb6 21.Qf3 Nbd5 22.b3 Qb6+

Posição após 22...Qb6+ 23.Rf2 Rc8 Em conexão com o seguinte, esse lance faz com que uma das torres fique descentralizada e constitui-se em uma lacuna em uma posição tão harmoniosamente elaborada em outros aspectos. O lance 23...0-0-0!, por outro lado, oferecia todas as garantias para um perfeito equilíbrio. Depois de 24...Kb8 e 25...g6, nada se oporia ao desenvolvimento centralizador das torres das pretas. Em conseqüência, eventualmente seguiria 27...Rd7 e 27...Rc8. Ainda melhor parece no entanto ser 23...Bg4!. Por exemplo: 24.Bxg4 hxg4 25.Qxg4 Rxh2 26.Qxg7 0-0-0 27.Kxh2 Qxf2 28.Nd3 Qe2 e as pretas devem vencer. Finalmente, é possível combinar ambas as linhas de jogo: 23...0-0-0 24.Ba3 e agora 24...Bg4. Se então 25.Rc1+ Kb8 26.Bc5, seguiria 26...Qxc5 27.Rxc5 Bxf3 28.Rxf3 Rc8, tomando a coluna c com efeitos decisivos. 24.Bd2 Rh6 É interessante comprovar que, depois de tudo, uma posição centralizada permite uma aventura expedicionária. Porém seria mais correto jogar 24...0-0!

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1 - A Centralização

seguido de ...g6 e de ...Rfd8. 25.Rd1 Bxh3 26.Qxh3 Nf5 27.Qd3 Rg6 28.Nf3 Rg4 29.h3 Rg3 30.a4 Nh4

Posição após 30...Nh4 Dada a disposição de forças, as pretas se dividem entre dois objetivos opostos. O fato de que as duas torres estejam desconectadas parece sugerir como sendo apropriado buscar um ataque de mate. Porém, por outro lado, o restante do exército está melhor posicionado para o final. Nesse sentido, o cavalo de d5 é uma peça formidável e as pretas ficariam de posse das casas brancas. 31.Kf1 Rc6! Para fazer com que a ameaça Qh7, seguido de Qg8, seja fútil. A torre libera a tempo a oitava fileira, pois as pretas devem vigiar ambas as alas de maneira minuciosa. 32.a5 Qd8 33.Kg1 Nf5 Não seria bom 33…Nxf3+ 34.Rxf3 35.Qxf3 g6 devido a 36.f5. 34.Kh2 a6 35.Qb1 Ameaçando Nd4. 35…Qe7 A ameaça das pretas é jogarem 36...Qc5. 36.Nd4 Isso perde de imediato. Era melhor

36.Rc1.

Posição após 36.Nd4 36…Qh4! Como as unidades separadas não podem se unir ao corpo principal, o corpo principal se une a elas. 37.Be1 Não serviria 37.Nxc6 devido a 37...Rxh3+ e mate em dois lances. 37…Nxf4 Planejando novamente uma ameaça de mate, agora com o lance 38…Rxg2+!. 38.Rxf4 Rxh3+ O mais simples. 39.gxh3 Qxf4+ 40.Kg2 Ne3+ As brancas abandonaram. 3 – A vitalidade das forças centralizadas.

Os comentários à partida 7 nos permitem observar como a centralização, cuja perspectiva é obter resultados no meio-jogo, pode se converter em uma centralização vantajosa para o final. Esse estratagema não somente é importante como meio defensivo (queremos com isso dizer que imaginamos o caso em que o defensor se desembaraça, através de trocas, de forças inimigas centralizadas), mas também quando a partida deve progredir gradualmente e com segurança. 15

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Na partida 8, as pretas conseguiram, graças a um belo sacrifício de peão, deixar de lado a tentativa do adversário de bloquear o centro, criando dessa forma numerosas linhas abertas. Mas aqui as brancas não contavam com seu anfitrião, ou seja, a vitalidade das forças centrais e o que na aparência era um bloqueio estrito se transformou em uma posição viva, na qual as peças inimigas terminam por estrangulá-las.

Partida 7 3 Amadores - Nimzovitsch Oslo, 1921 Defesa Francesa

1.e4 e6 2.d4 d5 3.Nc3 Bb4 4.exd5 exd5 5.Nf3 Bg4 6.Be2 Ne7 7.0–0 Nbc6 8.Bf4 Bd6 9.Ne5 Parece mais natural 9.Qd2. 9...Bxe2 10.Nxe2 Bxe5 11.Bxe5 Nxe5 12.dxe5 Agora ambos os lados têm uma maioria nas alas, mas a maioria das brancas é menos móvel. 12...Qd7 13.f4 0–0–0 14.c3 Kb8 15.Qb3 c5 16.Rae1

Posição após

16.Rae1

Aqui era melhor 16.Rad1!. 16…h5! 17.Kh1 Nf5 Agora a mobilidade da maioria das brancas se reduziu a quase nada. Mas ainda falta muito para que a sua imobilidade seja absoluta. 18.Ng1 h4 19.Nh3 d4 20.cxd4 cxd4 21.Qd3 Ne3 22.Rf2 Qd5 As pretas de qualquer forma conseguiram uma posição centralizada e um peão passado valioso, ainda que bloqueado, além da possível ruptura ...f6. 23.a3 f6 A agressão à massa de peões brancos poderia ser precedida por ...Rhe8 e talvez por ...a6, a fim de romper o bloqueio com ...Qb5, mas o certo é que o lance da partida é correto e demonstra com clareza a superioridade das pretas. 24.exf6 gxf6

Posição após 24...gxf6 25.f5! Rhg8 O problema era impedir o lance que as brancas obviamente planejam, 26.Nf4, ou ao menos tirar-lhe força. Nesse sentido, era recomendável a medida preventiva 25...Rhe8. Se então 26.Nf4, poderia seguir 26...Qxf5 (embora fosse mais forte e imediatamente decisivo o lance 26...Ng4!!) 27.Qxf5 (se

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1 - A Centralização

27.Rxe3?? dxe3!) 27...Nxf5 28.Rxe8 Rxe8 29.Nd3 Nd6! 30.Rxf6 Kc7 e todas as peças das pretas estão prontas para apoiar o peão d. A base estratégica da variante indicada pode ser descrita assim: a centralização das pretas se transladou do meio-jogo para o final, um estratagema muito recomendável em todos os casos em que seja possível fazê-lo. Deve ser dito que o lance do texto, 25...Rhg8, cumpre as condições do estratagema descrito e portanto é totalmente correto. Se 25...Rhe8 (ao invés de 25...Rhg8), 26.Rfe2? Nxg2! 27.Rxe8 Nf4+ 28.Qe4 Rxe8 e as pretas vencem. 26.Nf4 Qc6 Aqui poderia ter sido feita a manobra mencionada, com a simples continuação 26...Qxf5. Vejamos: 27.Qxf5 Nxf5 28.Nh5 Rge8! 29.Rc1 Ne3 30.Nxf6 Re6. Se compararmos essa posição com a que aparece no diagrama anterior, devemos concluir que o levantamento do bloqueio do peão d constitui um belo ponto a favor das pretas. Convém observar que a centralização tomou uma aparência de final mas sem perder por isso sua intensidade. Após 30...Re6, a partida poderia continuar assim: 31.Nd7+ Ka8 32.Nc5 Rc6 33.Nd3 Rxc1 34.Nxc1 d3! 35.Nb3 (ou se 35.Rd2? Rf8!; se 35.Nxd3 então 35...a6! 36.Rd2 Ng4! vencendo) 35...Nc4 36.Nd2 Nxb2 37.Rf4 b5, seguido de ...Nc4 e as pretas vencem. Em decorrência disso, 26...Qxf5 era o lance correto, com transição fácil a um final com o legado da centralização adquirido. Com o lance do texto, no entanto, não se consegue clarear a posição sem dificuldades.

Posição após 26...Qc6 27.Ng6 O lance correto seria 27.Kg1, uma vez que, após o lance do texto, as pretas poderiam vencer com uma bela combinação: 27...h3! 28.Ne7 Qc7! 29.Nxg8 Ng4! 30.Qg3 Qxg3 31.hxg3 Nxf2+ 32.Kg1 Nd3 33.Rd1 h2+ 34.Kxh2 Nf2 35.Rf1 Ng4+ seguido de ...Rxg8. Depois de 27.Kg1 não seria tão fácil demonstrar a vantagem das pretas. Por exemplo: 27.Kg1! Rg5 28.Qe2 (28.Rxe3?? Qc1+) 28...Rdg8 29.Ng6 R8xg6 30.fxg6 Rxg6 31.Qd2 Qe4 e as pretas têm uma posição imponente, ainda que com responsabilidades do meio-jogo que não sejam propriamente desejáveis. 27...Rde8? Um erro, devido ao apuro de tempo (esta partida era disputada em uma simultânea de três partidas com relógio; as pretas deviam fazer 20 lances por hora por três vezes). Como já foi demonstrado, o lance 27...h3 vencia com facilidade. 28.Nxh4 Rg4 29.Nf3 Qd5 30.Rd2 Rge4 31.Nxd4 Nxg2 Isso não era para acontecer. Após seu erro no lance 27 as pretas ficaram com uma posição perdida. Mas às vezes os deuses são bondosos com os mestres de

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xadrez... 32.Rxe4 Rxe4 33.Nc6+! Isso é mais claro do que 33.Nf3 Qxd3 34.Rxd3 Ne3 35.Rd4 Re8 36.Kg1, seguido de Kf2. 33...bxc6 34.Qxd5 cxd5 35.Kxg2 Re5 36.Rf2

Posição após 36.Rf2 Graças a esse lance fraco, o lento efeito da mobilização volta a brilhar. A continuação correta seria 36.h4 e no caso de 36...Rxf5 37.Rc2 Rh5 38.Kh3 f5 39.Rd2 ou se 36.h4 Kc7 37.Kg3 Kd6 38.h5 Rxf5 39.Rh2 Rg5+ 40.Kf4 Ke6 41.h6 Rg8 42.h7 Rh8 43.b4 e as brancas vencem. 36...Kc7 37.Kg3 Kd6 38.Kg4 Re4+ 39.Kh5 Ou se 39.Rf4? Ke5 40.Rxe4 Kxe4, vencendo. Os últimos lances foram: 39…d4 40.Kg6 Ke5 41.b4 Rg4+ 42.Kf7 Rf4 43.Rxf4? Um erro feio, é claro, mas de qualquer forma as brancas já estão perdidas. 43…Kxf4 44.Kxf6 d3 45.Kg6 d2 46.f6 d1=Q E as pretas venceram.

Partida 8 Nimzovitsch - Levenfish Carlsbad, 1911 Defesa Francesa

1.e4 e6 2.d4 d5 3.e5 c5 4.c3 Nc6 5.Nf3 f6

Posição após 5...f6 Esse lance é incorreto do ponto de vista estratégico. Uma cadeia de peões só deve ser atacada em sua base, que nesse caso é d4. Em conseqüência, o correto seria 5...Qb6 6.Be2 cxd4 7.cxd4 Bd7 com pressão sobre o peão d4. 6.Bb5 Bd7 7.0–0 Qb6 Não é correto 7...Nxe5 devido a 8.Nxe5 Bxb5 9.Qh5+ Ke7 10.Qf7+ Kd6 11.dxc5+ Kxe5 12.Re1+ Kf5 13.Qh5+ g5 14.g4++. 8.Bxc6 bxc6 9.exf6 Nxf6 Aqui eu preferiria 9...gxf6. 10.Ne5 Bd6 11.dxc5 Bxc5

Posição após

11...Bxc5

12.Bg5!

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1 - A Centralização

Este lance, que origina um bloqueio absoluto da formação de peões das pretas, é a chave do jogo das brancas do oitavo lance em diante. 12…Qd8 13.Bxf6 Qxf6 14.Qh5+ g6 15.Qe2 Rd8 16.Nd2 0–0 17.Rae1 Rfe8 18.Kh1 Bd6 19.f4 c5 20.c4 Bf8 Sempre é difícil atravessar a ponte entre um jogo sutil de bloqueio e um jogo aberto de ataque, como o que claramente deseja o adversário. Talvez se conseguisse mais com 20.Qa6, por exemplo: 20...Bb8 21.Nb3 Qe7 22Na5, ou se 20.Qa6 Qe7 21.Ndf3! e as brancas ameaçam Qxa7 ou Ng5, conforme as circunstâncias. A continuação do texto custa um peão às pretas, porém não é uma perda importante, já que agora os bispos estão muito fortes. Não é fácil para as brancas reorientarem seu jogo, uma vez que saiu do curso normal do bloqueio. 21.cxd5 Bc8 22.Ne4 Qg7 23.dxe6 O lance 23.d6! atenderia melhor o caráter da posição, mas as brancas preferiram renunciar ao sacrifício de peão. O certo é que 23.d6! ganhava rapidamente. 23...Bxe6 24.Qa6 Kh8 25.Rd1 Bg8 26.b3 Rd4 27.Rxd4 cxd4 28.Qa5 As brancas têm muito cuidado em não provocar os poderosos bispos inimigos com uma possível excursão dos cavalos (Ng5). O lance do texto impede ...Rd8, mas permite a ocupação da coluna c. A luta agora se torna muito dramática. Rc8 29.Rd1 Rc2 30.h3 Qb7 31.Rxd4 Bc5 O ataque das pretas parece ser muito forte.

Posição após 31...Bc5 32.Qd8!! Com a seguinte chave demolidora: se 32...Bxd4, 33.Qxd4 Qg7 (outros lances seriam piores) 34.Nd6!! e Ne8, vencendo de forma imediata. Aqui pode ser colocada a seguinte pergunta: a seqüência salvadora pode ser atribuída à sorte? A resposta é não. Todo o procedimento é típico. Se o adversário conseguiu romper o bloqueio central às custas de um sacrifício de peão, devemos nos manter firmes no centro e esperar que se apresente a oportunidade de explorar uma diagonal central mediante um contra-sacrifício. Esse sacrifício resultará então decisivo. 32..Be7 33.Qd7 Qa6 34.Rd3 Com a idéia de continuar com o temível 35.Qd4. Novamente a diagonal de bloqueio d4-h8! 34...Bf8 35.Nf7+ Bxf7 Ou mesmo 35...Kg7 36.Qd4+, seguido de mate em dois. 36.Qxf7 Rc8 O desastre está consumado. 37.Rd7 As pretas abandonaram. Esta partida tem duas fases: 1) Um bloqueio central, executado de forma surpreendente;

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2) Um rechaço interessante da tentativa de romper o bloqueio através de meios violentos. A primeira fase era território inexplorado na época em que se jogou essa partida, enquanto a segunda permanece sendo ainda hoje. [ Esse livro foi escrito em 1929. – N. do T.]. 4 – Vamos aprender a conhecer em profundidade o território central. Algumas formas complicadas de centralização.

Na partida 9 observamos uma forma de centralização que já vimos na partida 7, porém nesse caso o bloqueador é derrubado por um ataque direto. Na partida 10 o centro se constrói através de elementos originais, enquanto na partida 11 o fato mais surpreendente é a construção em profundidade do núcleo central. Que uma posição central pode controlar com segurança pontos afastados das alas (partida 7) é um fato baseado na própria natureza da centralização. Porém nas ocasiões em que essa irradiação de força mais ou menos automática não é suficiente em si mesma, se faz desejável colocar em marcha um ataque na ala junto com um ataque no centro. Um procedimento assim é ilustrado pela partida 12. Pode ser comprovado na partida 13 que não é absolutamente imprescindível dar a esse desvio de atenção uma característica de ataque, pois nessa partida o jogo na ala só tem por objetivo finalidades defensivas. É importante afirmar que o jogo combinado (no centro e na ala ao mesmo tempo) requer a maior solidez possível no que se refere à disposição geral da própria posição. À luz do fracasso dessa

ação combinada na partida 14, se entende facilmente o exposto, pois a ala da dama do atacante era débil. Submetemos a extremamente crítica partida 15, definindo a máxima vantagem possível a partir de uma posição centralizada. Partida 9 Yates - Nimzovitsch Semmering, 1926 Defesa Francesa

1.e4 e6 2.d4 d5 3.Nc3 Bb4 4.exd5 exd5 5.Bd3 Ne7 6.Nge2 0–0 7.0–0 Bg4 8.f3 Bh5 Agora se criou uma pequena debilidade na casa e3 no lado das brancas, que no entanto só se fará notar com o avanço ...c7-c5, um lance arriscado. 9.Nf4 Bg6 10.Nce2 Bd6 11.Qe1 Esse lance pode ser classificado dentro da epígrafe “descuido do complexo central”. Nossa lente de aumento aponta claramente a 11.Bxg6, seguido de Nd3, depois do que as casas centrais c5 e e5 parecem fixadas. 11…c5 12.dxc5 Bxc5+ 13.Kh1 Nbc6 14.Bd2 Re8 15.Nxg6 hxg6 16.f4 Um ataque de ala em uma posição central inferior. Relativamente melhor seria 16.Qh4 Nf5 17.Qxd8 Raxd8, com o que as pretas só teriam uma pequena vantagem no final. 16...Nf5 17.c3 d4 18.c4 Qb6 A posição das pretas é claramente superior. 19.Rf3 Bb4! Dessa forma as pretas conquistaram a

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1 - A Centralização

casa e3 para as suas peças. 20.a3 Bxd2 21.Qxd2 a5 22.Ng1 Re3 23.Qf2 Rae8 24.Rd1

Posição após 24.Rd1 A disposição central nessa partida nos lembra a partida 7. Aqui, como lá, o peão preto de d4 constitui-se no miolo da ação centralizada e em conexão lógica com ele próprio se encontram a casa e3 e a coluna e. Em ambas as partidas a pressão das pretas sobre o centro conduz, ou deveria conduzir, à eliminação do bloqueador branco em d3. 24…Qb3 25.Rd2 Nd6 26.c5 Nc4 27.Bxc4 Qxc4 As pretas obtiveram êxito: o bloqueador desapareceu. O estudante deverá proceder agora da seguinte maneira: pedimos que disponha em um segundo tabuleiro a posição da partida 7, após os lances 25...Rhg8 e 26.Nf4. Feito isso, deverá estudar o comentário ao último lance. Em seguida, compare com o procedimento que adotaremos na presente partida, entre os lances 24 e 27. Por último, deverá estabelecer em sua própria mente a diferença no método estratégico empregado em cada um dos

casos. Nossas conclusões serão formuladas ao final desta partida. 28.Rc2 Qd5 29.Rc1 Qe4 Agora está no ar a seguinte continuação: ...Rxf3, Qxf3, ...Qxf3, Nxf3, ...Re2 e o domínio da segunda fileira deverá resultar decisivo. 30.f5 Uma tentativa engenhosa de salvar a situação. 30...Rxf3 31.Nxf3 Qxf5 32.b4 axb4 33.axb4 Nxb4 Também não seria mau 33...Ne5. Por exemplo: 34.Re1 Re6. 34.Qxd4 Nd3 35.Rc2

Posição após 35.Rc2 35...Rc8! Tentador, mas incorreto, seria jogar 35...Ne1, devido à resposta 36.Re2!! Rxe2 37.Qd8+ Kh7 38.Ng5+ Kh6 39.Nxf7+ Kh5 40.Qh8+ Kg4 41.Qh3+ Kf4 42.Qg3+ Ke4 43.Nd6+, vencendo. 36.Rc3 Nxc5 Deve ficar claro que a seqüência de lances 34-37 constitui-se em uma manobra centralizadora, cuja base é a diagonal central f5-b1. O restante é uma questão de técnica (sobretudo da técnica da retirada estratégica).

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

37.h4 b6 38.Ng5

casa g2. A força para obrigar o adversário descentralizado a empreender um ataque prematuro na ala é característica de uma posição muito centralizada. Partida 10 Réti - Nimzovitsch Marienbad, 1925 Abertura Inglesa

Posição após 38.Ng5 38...Rf8! Sem falsa vergonha. A retirada é só momentânea. 39.Rf3 Qd7 40.Qc4 Ne6 41.Rd3 Qc8 42.Qb5 O final de torres após 35...Ne1 36.Re2 Rxe2 37.Qd8+ Kh7 38.Ng5+ Kh6 39.Nxf7+ Kh5 40.Qh8+ Kg4 41.Qh3+ Kf4 42.Qg3+ Ke4 43.Nd6+ estaria perdido para as brancas. 42…Qc1+ 43.Kh2 Qf4+ 44.g3 Qf2+ 45.Kh1 Qf1+ 46.Kh2 Nc5 As brancas abandonaram.

Eis aqui a resposta à questão colocada no comentário ao lance 27: na partida 9 o bloqueador sucumbe ao curso de manobras defensivas, enquanto na partida 7 o faz no curso de um ataque que o seu lado está obrigado a desenvolver. O ataque branco na partida 7 não pode ser classificado como involuntário, pois sem ele as brancas teriam sido arrastadas como por um tanque pelo ataque central das pretas, que se expande em direção à

Os lances de abertura se desenvolvem por caminhos hipermodernos, que desembocam em uma formação conhecida da variante das trocas na Defesa Francesa. 1.c4 e5 2.Nf3 e4 3.Nd4 Nc6 4.Nc2 Bc5 5.Nc3 Nf6 6.d4 exd3 7.exd3 d5 8.d4 Be7 9.c5 Jogando em um surpreendente estilo de bloqueio. 9…Bf5 As tentativas de ruptura na ala da dama seriam prematuras. Por exemplo: 9...b6 10.b4 a5 11.b5, seguido de c6. 10.Bd3 Aqui a continuação natural teria sido 10.Bh5 seguido de Bxc6. 10...Bxd3 11.Qxd3 b6 Nesse momento, esse avanço procede. 12.0–0 Agora falharia 12.b4 a5 13.b5, devido a 13...Nb4 com ganho de tempo. 12...0–0 Não serviriam 12...bxc5 e ...Bxc5 devido a Qb5. 13.Bg5! h6! 14.Bh4 bxc5 15.dxc5 Ne5 16.Qd4 Ng6 17.Bg3 c6

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1 - A Centralização

Posição após 17...c6 As pretas têm um belo peão d mal bloqueado e a possibilidade de atacar o peão branco de c5. Frente a isso, o controle das brancas da diagonal g3-b8 não parece um contra-peso suficiente. As brancas deveriam ter jogado 10.Bb5. 18.Nb4 Rc8 19.h3 Re8 Liberando a casa para o cavalo e ao mesmo tempo dispondo-se a ocupar a coluna central, que as brancas não podem disputar devido às suas dificuldades com o peão c5. 20.Rad1 Nf8 21.Nd3 Qa5 As brancas compreenderam que agora era forçado 22.Qa4 e haviam preparado em resposta uma manobra de centralização muito original. 22.Qa4 Seria pior 22.b4 Qa3 23.Rb1 Ne6 24.Qe5 Nd7 25.Qe1 Nexc5 26.bxc5 Bf6. 22...Qxa4 23.Nxa4 Ne4 Agora o cavalo das pretas se instala em uma dominante casa central, o que foi possível devido ao desvio das forças defensoras. 24.Bh2 Ne6

Posição após 23...Ne4 Que pode querer esse cavalo? O peão c5 é defendido com facilidade. 25.b4 Nd4! Uma cooperação realmente extraordinária entre as peças! Dois cavalos, dos quais um pode ser desviado (com f3) e o outro está desprotegido e, no entanto, o certo é que controlam o tabuleiro. 26.Rfe1 Se 26.f3 Ne2+, seguido de ...Ng3+. 26...Bh4! O terceiro aliado. 27.Be5 As brancas têm dificuldades. Esse lance perde um peão. 27...Rxe5 28.Nxe5 Bxf2+ 29.Kf1 Bxe1 30.Rxd4 Bg3 31.Nf3 Re8 32.Rd1 Re6 33.Rc1 Kf8 O rei se dirige ao flanco ameaçado. 34.Nc3 Nxc3 35.Rxc3 Re4 36.a3 Ke8 37.Rd3 Um lance excelente. Se agora 37…Kd7, a resposta seria 38.b5. 37…a6 38.Rd4 f5 39.a4 Kd7 40.b5 Isso agora falha, devido a uma sutileza digna de um estudo artístico. 40…axb5 41.axb5 cxb5 42.Rxd5+

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

Prevendo o lance ...Qb6 das pretas. 14...Nxe5 A continuação 14...Bxd2 15.Nxg4 g5 16.Bg3 f5 17.Qxb7 Qc8 falharia devido à resposta picante 18.Be5!, e se 18...Nxe5, com 19.Qxc8, seguido de Nxe5, as brancas ficam com um peão de vantagem. 15.Qxb4 Nd3 16.Qxb7 Be2 17.Rfb1 Rc8 Posição após 42.Rxd5+ 42…Kc6!! Como na partida 1, se devolve o material com expressivos agradecimentos. 43.Rd4 Ou também 43.Rxf5 b4 etc. 43…Kxc5 44.Rxe4 fxe4 45.Nd2 Kd4 46.Ke2 Bf4 47.Nb3+ Kc4 48.Na5+ Kc3 49.Nb7 b4 50.Nc5 Kc2 51.g3 Bxg3 As brancas abandonaram.

Partida 11 Levenfish - Nimzovitsch Vilnius, 1912 Defesa Caro-Kan

1.e4 c6 2.c4 e6 3.Nf3 d5 4.exd5 exd5 5.cxd5 cxd5 6.Bb5+ Nc6 7.0–0 Bd6 Isso permite o desenvolvimento sem obstáculos de todas as forças. 8.d4 Nge7 9.Bg5 f6 10.Bh4 0–0 11.Nbd2 Bg4 12.Bxc6 Nxc6 13.Qb3 Bb4 Esse lance refuta a tentativa das brancas em demonstrar instabilidade na posição das pretas. 14.Ne5

Posição após 17...Rc8 A centralização das peças pretas no coração da posição inimiga tem algo de cômico. 18.Nf1 g5 19.Bg3 f5 20.Be5 Rf7 21.Qa6 f4 22.Re1 As brancas se rebelam contra o destino, pois 22.f3 Rc2 teria sido insuportável e 22.Rd1 é igualmente desesperador. 22…Nxe1 23.Qxe2 Nxg2 24.Nd2 Nh4 25.Nf3 Ng6 A consolidação mediante uma retirada orgânica das tropas, após uma incursão repleta de êxito, é uma operação particularmente eficaz. A razão é que freqüentemente tais incursões podem acarretar certa desorganização, ou seja, que as unidades perdem o contacto umas com as outras. 26.Kh1 g4 27.Nd2 Qd7 28.Rg1 Rc2

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O tiro de misericórdia. 29.h3 g3 As brancas abandonaram. Uma partidinha bonita!

Partida 12 Tartakower - Nimzovitsch Londres, 1927 Defesa Índia

1.d4 e6 2.Nf3 Nf6 3.e3 b6 4.Bd3 Bb7 5.Nbd2 c5 6.0–0 Nc6 7.c3 Rc8 8.Qe2 Be7 9.dxc5 bxc5 10.e4 d5 11.exd5 exd5 As pretas jogaram essa abertura de forma original (lances 8 e 11). A posição está mais ou menos igual. No entanto, já nessa fase as pretas dispõem de uma cota preferencial na repartição do território central, ainda que dificilmente se possa negociar por enquanto. 12.Ba6 Bxa6 13.Qxa6 0–0 14.Rd1 Qc7 15.Nf1 Rb8 16.Qe2 Rfd8 Uma vez que consolidar a posição agora é da máxima importância, se descarta o lance natural 16...Re8. O valioso peão d merece uma escolta para manter o seu status! 17.Be3 h6!

Posição após

17...h6!

Embora não pareça, tática centralizadora. As pretas se propõem a retirar de seu adversário quase todas as casas centrais. A única casa central das brancas, f5, está, por assim dizer, desvalorizada, pois no caso da manobra Nf1-g3-f5 seguiria simplesmente ...Bf8 e o lance de ataque Bg5 já não está disponível. 18.Ng3 Bf8 19.Qc2 Ng4 As pretas buscam casas centrais, como e5. 20.Nf1 Nce5 21.Nxe5 Nxe5 22.b3 a5! Um ataque na ala derivado da centralização. 23.Rd2 c4 Outra continuação, possivelmente mais correta, teria sido 23...Rd7 seguido de ...Rd8 e ...a5-a4. Se então bxa4, seguiria ...Nc4, com penetração das torres pela coluna b. 24.bxc4 Uma defesa melhor seria 24.Rad1 e, no caso de 24...Nd3, sacrificar a qualidade em d3. 24...Nxc4 25.Rd3 a4! Para seguir com o avanço a4-a3, que criaria um forte ponto de invasão em b2. 26.Nd2 Nxe3! 27.fxe3 Se 27.Rxe3 d4 28.Rd3 Bb4 as brancas ficariam em posição inferior. 27...Qa7 28.Rb1 Rxb1+ 29.Qxb1 Bc5 30.Kf2 Rb8 31.Qc2 Qd7 As debilidades do lado das brancas (casas e3 e b2), assim como a posição vulnerável do rei, serão agora exploradas de acordo com as regras da arte que nos ocupa (veja a técnica de manobra alternativa no capítulo 5). 32.Nf3 Se 32.c4?, 32...d4!. 25

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32...Qe6 33.Qe2 Se Qxa4? Bxe3+!. 33...a3 Finalmente! 34.Rd2 Rb1 35.Nd4 Qf6+ 36.Qf3 Qe5 Com esse lance as pretas conseguiram a máxima força vertical, além da diagonal, pois o que poderia ser mais central do que a casa e5 e o que poderia ser mais forte em uma ala do que uma torre na oitava fileira, com o controle potencial da sétima?

Posição após 36...Qe5 37.g3 Um erro que deveria ter sido imediatamente fatal. A única possibilidade era 37.Qg3 e após a seqüência 37...Bxd4 38.cxd4 Qe6, as brancas poderiam seguir oferecendo alguma resistência. Uma possível variante seria 39.Qc7 (para impedir Qc6) 39...Qa6 40.Qd8+ Kh7 41.Qxd5 Qf1+ 42.Kg3 Rb2 e as pretas vencem. Note-se a cooperação decisiva do peão a3. 37...Bxd4? Aqui 37...Rc1 ganhava no ato. Se então 38.Ne2, seguiria 38...Bxe3+ e no caso de 38.Nc6, 38...Qxc3 (o mais simples). 38.cxd4 Qe6 39.Kg2 Prepara Rf2, com algum contrajogo

na coluna f, porém de toda forma a posição das brancas não pode se sustentar. 39...Rb2 A carta principal das pretas. 40.Rf2 f5 41.Kg1 Rb1+ Apuros de tempo. O jogo correto seria 41...Kh7 42.Kg2 (o peão f não deve ser capturado, por exemplo: 42.Qxf5+? Qxf5 43.Rxf5 Rxa2 44.Rxd5 Rb2 e o peão a resulta decisivo) 42...Kg6 43.Kg1 Qe4, vencendo mais ou menos como na partida. 42.Kg2 g6 Isso é menos duradouro do que a proteção indireta do peão f, como é indicado no comentário anterior. 43.Qf4 Qe4+ 44.Qxe4 dxe4 45.Re2 Agora o relógio das pretas novamente corre de forma gradual. Depois de g3-g4 teria parado. Por exemplo: 45.g4 fxg4 46.Rf6 Rb2+ 47.Kg3! (em nenhum caso na primeira fileira) e as brancas não perdem mais. É fácil ver agora que essa salvação milagrosa nunca estava disponível para as brancas, uma vez que após ...Kh7 e 42...Kg6 as pretas poderiam ter trocado as damas e as brancas não teriam a menor opção. 45...Kf7

Posição após 45...Kf7 Agora segue um final atraente pela sua

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simplicidade, um caso paralelo ao tratado em Meu Sistema como ilustração da sétima fileira absoluta. Esse tema em conjunção com um peão passado ganha sempre. O termo absoluta aplicado à sétima fileira significa que uma torre confina o rei inimigo na oitava fileira. 46.Kf2 Ke6 47.Rd2 Kd5 48.Ke2 Rb2 O lance secreto. As pretas previram todo o desenlace da luta. 49.Kd1 Ameaçando aniquilar a exuberante invasora de b2. 49…g5 A manobra de apoio na outra ala. Se 50.Rxb2 axb2 51.Kc2 f4 e as brancas estão perdidas. 50.Rc2 f4 51.gxf4 gxf4 52.Rc5+ Kd6 53.exf4 Rxa2 Agora temos a sétima absoluta mais o peão passado. 54.Ra5 e3 55.Ke1 Ra1+ 56.Ke2 a2 57.f5 Rh1 As pretas se impuseram após mais alguns lances: 58.Kxe3 a1Q 59.Rxa1 Rxa1 60.Kf4 Rg1 61.h3 Kd5 62.h4 h5 63.f6 Ke6 64.f7 Rg4+ 65.Kf3 Kxf7 As brancas abandonaram. Apesar da omissão no lance 44, ressalta de forma clara a idéia principal: a combinação de pressão no centro e uma manobra na ala. Um exemplo muito instrutivo. Partida 13 Sämisch - Nimzovitsch Berlim, 1928 Defesa Francesa

1.e4 e6 2.d4 d5 3.Nc3 Nf6 4.Bg5

Be7 5.e5 Ng8 Com essa retirada, que desfruta de má reputação, as pretas iniciam um novo e notável plano de campanha. 6.Be3 b6 Esta é a chave: trata-se de trocar os bispos de casas brancas através de ...Ba6. 7.Qg4 g6 8.h4 h5 9.Qg3 Ba6 10.Nf3 Bxf1 11.Kxf1 Qd7

Posição após 11...Qd7 Agora se ameaça, dentre outras, 12...Qc6, seguido de ...b6-b5-b4. Nesse momento podemos ver que as casas brancas c2, c4 e b5 sofrem uma certa debilidade. Essa foi a razão para a troca dos bispos de casas brancas. 12.a3 Nc6 As pretas podem estar satisfeitas com o êxito do seu desvio da dama (a d7), pois com a3 as brancas criaram uma debilidade. 13.Rd1 As brancas defendem sua posição com métodos profiláticos, o que agrega interesse à luta. Sämisch, por certo, é um dos poucos jogadores atuais que lutam pelas casas centrais. Sem dúvida é dotado de um brilhante talento estratégico. 13...Na5 14.Ng5 Nh6 15.Bc1 0–0–0 16.Qd3 Kb8 17.Rh3 A posição das brancas parece estar

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bem consolidada, pois o perigo de ...Nc4 é somente localizado e se ...c5 sempre podem responder com dxc5, com defesa suficiente, baseando-se na força da coluna d. O mais importante é que o cavalo em g5 exerce pressão sobre toda a ala do rei e não pode ser eliminado sem a entrega ao bispo branco de uma esplêndida diagonal. 17...Rdf8 Como será visto, esse lance não deixa de ter o seu veneno. 18.Kg1

Posição após 18.Kg1 As brancas subestimam o perigo. Deviam ter jogado a torre a f3, pois agora verão cortada a sua retirada. De todas as formas, inclusive após 18.Rf3!, teria seguido 18...Nf5 19.g3 f6 20.exf6 Bxf6 (ameaçando ...Nc6, seguido de ...e6-e5) 21.Re1! Re8! 22.Rf4! Bxg5 (não 22...e5 devido ao sacrifício de qualidade 23.dxe5 Bxe5 24.Nxd5 Bxf4 25.Bxf4) 23.hxg5 Nc6 e as pretas teriam uma ligeira vantagem, em função da possível ruptura em e5. A abertura, em qualquer caso, pode ser considerada favorável às pretas. 18...Nf5 19.Ne2 Qd8! Agora 19...f6 seria menos forte, devido a 20.Nf3.

20.g3 A ameaça era ...Nxh4. Veja a primeira parte do comentário ao lance 18. 20...c5 21.dxc5 bxc5 22.Kg2 Qb6 A idéia é atacar o peão e até obrigar as brancas a jogar f4, após o que se eliminará o cavalo de g5 (...Bxg5), quando as brancas já não poderão retomar com o bispo em g5 e assim se resolverá o problema do cavalo invasor. 23.f4 As brancas ainda não precisavam realizar esse avanço, mas Sämisch, para quem a consolidação havia se tornado uma necessidade psicológica, não podia suportar manter desprotegido o peão central. 23...Bxg5 24.hxg5 Rc8 25.Rh2 Rhd8 As torres, agora disponíveis, estão ansiosas para entrar em ação. 26.Kh3 d4 Um avanço gradual da massa de peões acompanhado passo a passo pela centralização das peças de apoio. 27.Qf3 Rd5 28.b3 c4! 29.b4 Nc6 30.c3 d3

Posição após 30...d3 Com esse lance se inicia uma bela e aparentemente correta combinação, se

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bem que do ponto de vista prático teria sido preferível uma estratégia de simplificação, da forma na qual ilustramos em diversas ocasiões, pois sem particular esforço as pretas teriam sido capazes de explorar as vantagens da centralização no final. Estamos nos referindo a essa continuação: 30...Rcd8 (ao invés de 30...d3) 31.cxd4 Ncxd4 32.Nxd4 Nxd4 e agora o lance de contra-centralização 33.Qe4 falharia devido a 33...Nf5 e se 33.Qf2, então 33...Nb3 34.Be3 Qb7, com uma esmagadora vantagem posicional. 31.Ng1 d2 32.Rhxd2 Rxd2 33.Bxd2 Rd8 34.Qe2 Se 34.Bc1, então 34...Rxd1 35.Qxd1 Qf2 36.Ne2 Kc8 37.Qa4 Qf3, e as pretas vencem, como também é o caso depois de 37.a4 Ne7, seguido de ...Nd5 e ...Ne3. 34...Rd3 35.Nf3 Qd8 36.Rf1 Qd5 37.Rf2 h4 O triunfo da concepção centralizadora, executada na forma do meiojogo. As brancas agora perdem a dama. 38.gxh4 Ncd4 39.cxd4 Nxd4 40.Qxd3 Sämisch não tinha nada melhor. As pretas devem vencer sem dificuldade o final, mas a fadiga (que dificilmente se teria produzido no caso em que se tivesse jogado 30...Rad8 ao invés de sacrificar o peão) originou um erro grave, que quase lhes arrebata a colheita dos frutos do jogo precedente. 40...cxd3 41.Nxd4 Qxd4 42.Kg3

Posição após 42.Kg3 42...Qe4? Com 42...Qa1 43.Kf3 Qxa3 44.Ke3 Kc7, as pretas teriam vencido facilmente. 43.Rh2 Kb7 44.a4 Kc6 45.a5 Kd5 46.h5 gxh5 47.Rxh5 Agora começa, por assim dizer, uma nova partida. As pretas só conseguem vencer após uma omissão por parte de Sämisch de uma possibilidade de conseguir o empate. 47...Qe2 48.Rh2 Qd1 49.Rf2 Ke4 50.Kh2 Kf5 51.Rg2 Qf1 52.Kg3 Ke4 53.Rf2 Qh1 54.Rg2 Kd4 55.Rh2 Qd1 56.Rg2 Kc4 57.Rf2 Qh1 58.Rh2 Qe4 59.Rf2 Kb3 60.Rh2 Kc2 61.Rf2 Kd1 62.Rh2 Qc6 63.Kg4 Qc2 64.Kg3 Qxd2 A única possibilidade. 65.Rxd2+ Kxd2 66.f5! Ke3 67.g6 fxg6 68.f6? Medo de fantasmas. Com 68.fxe6 as brancas teriam conseguido o empate. 68...d2 69.f7 d1Q 70.f8Q Qg1+ 71.Kh3 Ke4 72.b5? Qh1+ 73.Kg3 Qe1+ 74.Kg4 Qxa5 75.Qd6 Qb6 76.Kg5 Qxb5 77.Kf6 Qf1+! 78.Kg7 Qf5 79.Qc6+ Kxe5 80.Qc5+ Ke4 81.Qxa7 e5 82.Qg1 Kd5 83.Qd1+ Kc5 84.Qc1+ Kb5! 85.Qb2+ Kc6 86.Qc3+ Kd7

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

87.Qd2+ Ke8 88.Qd5? Qd7+ As brancas abandonaram. Com 88.Qa5 poderiam seguir resistindo. Um final de damas interessante. Partida 14 Alekhine - Nimzovitsch São Petersburgo, 1914 Final

Posição após 46...Qd8 47.Rf4 Compare-se essa posição com a partida 12 após o lance 33 das pretas. A diferença essencial reside no tipo de ataque de ala. Na partida 12, o peão avançado estava protegido em uma coluna. Aqui está em uma diagonal e a diagonal é menos efetiva. 47...Rc4 O jogo combinatório que as brancas pretendiam empreender no centro e na ala do rei falha devido à debilidade da sua própria ala da dama (veja-se o comentário anterior). Ao invés do lance do texto, também era possível colocar as damas em oposição através de 47...Qh8 48.Qg7 Qxg7 49.hxg7 h5 50.g4 Rg8 51.gxh5 gxh5 52.Rxh5 Rxg7+ 53.Kf3 e agora podia seguir ...a5 e eventualmente b5. É

provável que as pretas pudessem se defender nesse final, porém o lance da partida é melhor. 48.Ra1 Um lance como esse só pode ser realizado com reticências, mas 48.Qg7 seria estancado por 48...f5. Por exemplo: 48.Qg7 f5 49.Qe5 Rxa4 50.Qxe6 Re7 51.Qf6 Qd7, e as pretas estão melhor. 48...Rc6 49.Rf6 Aqui 49.Qg7 não estaria isento de perigo, devido a 49...f5 50.Qe5 Qg5 51.Rh1 Re7, seguido de ...Rc4. 49...Qb8 50.Qe3 Re7 51.Qf3 Qe8! 52.g4 Qd7 53.Re1 Rc7 As pretas realizaram progressos. Seu peão de f7 está bem protegido e as brancas, com seu peão de a4 atacado, dificilmente poderão chegar a g7. 54.b3 Esse avanço debilita ainda mais a ala da dama. 54...Ka7 55.g5 Qd6 56.Qd3 Qa3

Posição após 56...Qa3 Com esse lance as pretas tomam a iniciativa. 57.Qc2 Qb4 58.Rc1 Qd6 59.Qd3 Qa3 60.Rb1 Se as brancas tivessem agora jogado 60.Qc2, a resposta seria 60...Rc6, seguido de ...Rc7.

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1 - A Centralização

60...Qa2 61.Rf3 e5 Depois dessa ruptura, a posição das brancas, debilitada em todos os setores, não pode se sustentar. Seguiu: 62.Re3 e4 63.Qd1 f5 64.gxf6 Rf7 65.Ra1 Qb2 66.Rb1 Qa3 67.c4 Rxf6 68.cxd5 Rcf7 69.Re2 Qd6 70.Qc2 Qxd5 As pretas obtiveram um forte ataque na ala do rei. 71.Kf1 e3 72.Rxe3 Qh1+ Melhor do que 72...Rxf2+. 73.Ke2 Rxf2+ 74.Kd3 Qd5 75.Qc8 Rd7 Alekhine abandonou, uma vez que a 76.Re4 seguiria 76...Rf3+ 77.Kd2 Qg5+ e mate em poucos lances. Partida 15 Nimzovitsch - Alekhine Semmering, 1926 Defesa Alekhine

1.e4 Nf6 2.Nc3 d5 3.e5 Nfd7 4.f4 e6 5.Nf3 c5 6.g3 Nc6 7.Bg2 A ala do rei das pretas parece restringida, mas o seu centro é mais móvel do que o do adversário. 7...Be7 8.0–0 0–0 9.d3 Nb6 Seria mau jogar 9...d4 devido a 10.Ne4, com centralização, mas valia a pena ser seriamente considerado 9...f6. Por exemplo: 10.exf6 Bxf6 e as pretas têm um controle total do centro. 10.Ne2! d4?! As pretas querem assinalar que o último lance das brancas foi um erro, pois esse cavalo já não podia chegar a e4. No entanto, trata-se de um erro de julgamento e de novo 10...f6 poderia substituir com vantagem o lance do texto. Por exemplo: 10...f6 11.exf6 Bxf6 12.c3

e5 13.fxe5 Nxe5 e as pretas de forma alguma estão em situação pior.

Posição após 10...d4?! 11.g4! f6 Esse avanço, ignorado por duas vezes pelas pretas, não consegue agora os resultados desejados, devido à debilidade de e4. Era preferível portanto uma tática preventiva, como por exemplo 11...Re8 12.Ng3 Bf8 13.Ne4 Nd5 (impedindo o avanço f4-f5). 12.exf6 gxf6 Com a linha 12...Bxf6 13.Ng3 e5 14.f5 as pretas não teriam motivos para se sentirem muito felizes. 13.Ng3 Nd5 As pretas salvaguardam desde o centro a ala ameaçada e não deveriam ter êxito em seus planos. 14.Qe2 Bd6 15.Nh4 A ameaça é 16.Bxd5 e 17.Nhf5. 15...Nce7 16.Bd2 Aqui era mais enérgico 16.Nh5. Por exemplo: 16.Nh5 Ng6 17.Bxd5 exd5 18.Nf5, com ataque vencedor. 16...Qc7 17.Qf2 Ainda era preferível 17.Nh5. 17...c4! 18.dxc4 Ne3! Com essa divergência engenhosa, Alekhine consegue reduzir o ataque

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

contrário a ponto morto. 19.Bxe3 dxe3 20.Qf3 Qxc4

Posição após 20...Qxc4 A posição se tornou clara: as pretas têm um peão passado, que embora não goze de perfeita saúde, é um seguro contra a morte. Queremos dizer que as diagonais c6-h1 (depois, eventualmente, de ...Bd7-c6) e c5-g1 constituiriam compensação suficiente no caso em que o peão caísse. Seria portanto o momento para que as brancas persistissem no seu ataque na ala do rei (com o avanço g4g5), antes de se dedicar à empresa duvidosa da tomada do peão. Devido a essa omissão, as brancas agora caem em inferioridade. 21.Ne4 Bc7 22.b3 Qd4 23.c3 Qb6 24.Kh1 As brancas localizaram a ruptura inimiga. 24…Nd5 Era melhor 24…Bd7. 25.f5 As brancas descartam erroneamente o avanço g4-g5, que seria vencedor. Por exemplo: 25.g5 fxg5 26.Nxg5 Rxf4 27.Qh5, ou também 25.g5 f5 26.Qh5 fxe4 27.Bxe4 etc. 25…Nf4! 26.Rfd1 Kh8 A recomendação de H. Wolf era

melhor: 26...e2 27.Rd2 Qb5, seguido de ...Qe5. 27.Bf1 exf5 28.gxf5 Be5 29.Re1 Bd7 Agora as coisas evoluem exatamente de acordo com o que se havia descrito no comentário do lance 20: as brancas capturam o peão, porém as pretas pressionam sobre ambas diagonais. 30.Rxe3 Bc6 31.Rae1 Nd5 As pretas poderiam ter intensificado a pressão com 31...Rg8. 32.Rd3 Nxc3 Bonito, mas insuficiente. É certo que aceitar o sacrifício levaria ao desastre, mas as brancas dispõem de uma contracombinação que poderia perfeitamente ser classificada como assombrosa. 33.Ng6+ hxg6

Posição após 33...hxg6 34.Qg4!! A chave. Era ruim retomar imediatamente em g6. Por exemplo: 34.fxg6 Kg7 35.Qh3 Rh8 36.Rd7+ Bxd7 37.Qxd7+ Kxg6, e as brancas estão ameaçadas de mate em h2. 34...Rf7? Aqui era forçado 34...Rg8, quando poderia seguir 35.fxg6 Kg7 36.Rd7+ Bxd7 37.Qxd7+ Kxg6 38.Bd3! Kh6 39.Qh3+ Kg7 40.Rg1+ Qxg1+! E não

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1 - A Centralização

se visualiza a vitória das brancas em horizonte próximo. 35.Rh3+ Kg7 36.Bc4! Bd5 37.fxg6 Nxe4 38.gxf7+ Kf8 39.Rxe4 Era mais simples 39.Qg8+ Ke7 40.f8=Q+ Rxf8 41.Rh7+ Ke8 42.Qxd5. 39...Bxe4+ 40.Qxe4 Ke7 41.f8=Q+! A ânsia de expansão do peão passado... 41…Rxf8 42.Qd5 Qd6 A alternativa 42…Qc6 não mudaria o drama. Por exemplo: 43.Rh7+ Ke8 44.Bb5. 43.Qxb7+ Kd8 44.Rd3 Bd4 45.Qe4 Re8 46.Rxd4 As pretas abandonaram. 5 – Uma massa central de peões móveis Como se mantém o contato entre os peões centrais avançados e suas peças de apoio

Já vimos o procedimento na partida 13 (veja os lances 26 e 27 assim como a variante indicada no comentário ao lance 30, ou seja, 30...Rcd8 31.cxd4 etc). Pode se dizer que, naquela posição, o avanço dos peões não foi um fato isolado, um processo independente. Pelo contrário, esse avanço extraiu sua força da predisposição das peças em ocupar as casas centrais. Tratava-se portanto de um caso de ação centralizada entre bastidores. Na partida 16 e na partida 17, o procedimento é similar. Na partida 16, as características são alguns sutis lances centrais (Qe4-d4-d5), junto com um perigoso desenvolvimento nas alas (b6 e g7). Só a centralização faz possível o avanço d5-d6.

Também na partida 17 é notável o trabalho efetivo das peças centralizadas. Além da entrega voluntária da coluna c, a tentativa posicional 32...h5 merece ser mencionada. Essa última manobra é especialmente típica, pois em partidas posicionais de mestres destacados é comum que dessa forma se manifeste uma forte disposição central. Partida 16 Nimzovitsch - Romih Londres, 1927 Defesa Moderna

1.d4 d5 2.c4 e6 3.Nc3 Nf6 4.Bg5 Nbd7 5.e3 c6 6.cxd5 exd5 7.Bd3 Bd6 Era melhor 7...Be7. 8.Qc2 h6 9.Bh4 As pretas agora têm problemas para rocar. Com isso queremos dizer que o roque curto seria arriscado e o roque grande muito difícil de se executar. Nestas circunstâncias, Romih opta por uma tática de espera, conservando a opção de rocar em ambos os lados, o que parece perfeitamente apropriado. 9...Qa5 10.0–0–0 Bb4 11.Nge2 Be7 A arte do compasso de espera é a melhor! As pretas querem desviar o cavalo branco da rota Ng1-f3-e5, o que constitui uma boa manobra, que reflete mais instinto enxadrístico do que muitos ataques brilhantes. 12.Kb1 Nf8 13.h3 A fim de eventualmente retirar o bispo a g3 sem temer ...Nh5. 13...Be6 14.f3 a6 15.a3 Desenvolver aqui um ataque duradouro não é tão fácil. Por exemplo: 33

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15.e4? Nxe4! 16.Bxe7 Nxc3+ e 17...Kxe7. 15...Bd7 Preparando a manobra de cavalo ...Nf8-e6-c7-b5. 16.Bxf6! Bxf6 17.e4 Ne6 18.e5 Be7 19.f4 O centro móvel de peões. 19...Nc7 20.f5 Nb5

Posição após 20...Nb5 21.Rhf1 Assim se estabelece o contato (vejamse os comentários anteriores). 21...Qb6 Se 21...Bxa3, a intenção das brancas era responder 22.Bxb5 axb5 23.bxa3 Qxa3 24.Qa2, que teria falhado (por 24...Bxf5+) pelas brancas não terem jogado 21.Rhf1. O contato já é perceptível. Uma continuação melhor do que o lance do texto teria sido a troca em c3, seguido de ...0-0-0. Por exemplo: 21...Nxc3+ 22.Nxc3 0–0–0 23.Na4 Kb8 24.b4 Qc7 25.Kb2 e o ataque das brancas não seria fácil de conduzir. 22.Bxb5 axb5 23.Nf4 b4 24.Ncxd5 A chave. 24...cxd5 Ou também 24...b3 25.Qe4, com forte ataque.

25.Nxd5 Qa5 26.Nc7+ Kd8 27.Nxa8 Qxa8 Forçado, uma vez que a 27...bxa3 seguiria uma liquidação vencedora para as brancas: 28.d5 axb2 29.Qc7+ Qxc7 30.Nxc7 Kxc7 31.d6+. 28.d5 Qc8 29.Qe4 A centralização da dama acentua o valor dinâmico dos peões avançados. 29...Re8 30.Rc1 Qb8

Posição após 30...Qb8 31.e6! Parece haver agora uma casa “morta” em d6, pela qual os peões não podem passar, e assim seria efetivamente não fosse a dama centralizada. Porém, com a poderosa dama branca, esse obstáculo é superado sem dificuldades. 31...Bb5 32.Qd4 Ameaça 33.Qb6+. 32…b6 33.d6! Se agora 33...Qxd6, segue 34.Rfd1!, ganhando. Por outro lado, se 33...Bxd6, segue 34.Rfd1 Ke7 35.Qxg7 Rf8 36.Qxh6, com desenlace rápido. Note-se que desde d4 a dama branca atua de forma simultânea sobre as casas g7 e b6, o que podemos considerar o corolário habitual da centralização. 33…Bf6 34.e7+ Kd7 35.Qd5 Bxf1 36.Qc6++

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1 - A Centralização

Partida 17 Grünfeld - Nimzovitsch Kecskemet, 1927 Defesa Índia

12...Na4

1.d4 Nf6 2.c4 e6 3.Nc3 Bb4 4.Qc2 d6 Um lance plausível nessa posição é 4...b6. Por exemplo: 5.e4 Bxc3+ 6.bxc3 d6 7.f4 e agora ...Nfd7. Em seguida as pretas desenvolvem suas forças: ...Nbc6 (eventualmente seguido de ...Na5), ...Bd7, ...c5 (nunca ...e5), ...Qc7 e ...0-0-0, com jogo perfeitamente defensável. 5.Bg5 Nbd7 6.a3 Uma perda de tempo. A melhor continuação parece ser 6.e3. Por exemplo: 6...b6 7.Bd3 Bb7 8.f3. 6...Bxc3+ 7.Qxc3 h6 8.Bh4 b6 Também seria muito bom 8...0-0, uma vez que a 9.f3 (como na partida), então simplesmente 9...d5 etc. 9.f3 Bb7 10.e4 A disposição das forças das brancas tem, no máximo, somente um valor defensivo, pois por exemplo: 10...e5 11.Bf2 c5 12.d5 (ou também 12.dxc5 dxc5, seguido de ...Qe7 e ...Nd7-b8c6-d4) 12...g5 e os dois bispos das brancas resultam inofensivos, se bem que o ataque das pretas dificilmente possa prosperar. 10...Nxe4 Audácia! 11.Bxd8 Nxc3 12.Bh4! Teria sido pior 12.Bxc7 Ke7 13.bxc3 Rhc8 14.Bxd6+! Kxd6, pois não se poderia defender o peão branco após ...Rc7, ...Rac8, ...Nb8! e ...Ba6. Mas agora, depois de 12.Bh4!, as pretas devem entregar a peça.

Posição após 12...Na4 Nessa fase da partida as pretas pensavam com o lema norte-americano “tire o máximo proveito possível!”, ou seja, encontravam a melhor opção nas piores circunstâncias, a fim de dificultar ao máximo a vitória do rival. Assim pensam os americanos e essa forma de pensar é, sem dúvida, positiva, como poderá ser visto na presente partida. 13.b3 c5 14.bxa4? Fraco. A posição pedia 14.d5, ainda que em tal caso as pretas também tivessem assumido uma posição defensiva difícil de alterar. Por exemplo: 14.d5 exd5 15.bxa4 dxc4 16.Bxc4 d5 17.Bb5 g5 18.Bg3 0–0–0. Depois do lance do texto, as brancas caem em posição inferior. 14...cxd4 15.Ne2 e5 16.Nc1 Nc5 As pretas agora têm dois peões pela peça e uma posição forte. Por outro lado, têm a perspectiva de ganhar outros dois peões, em cujo caso conquistariam vantagem material. 17.a5 bxa5 Esse peão ajuda a cobrir casas-chave, de modo que seu valor não deve ser subestimado. 18.Nd3

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Posição após 18.Nd3 18...Nd7 A retirada correta, mantendo em observação a casa e5. Se, por exemplo, 19.c5?, segue 19...dxc5 e o peão de e5 fica protegido. Em conseqüência, 18...Ne6 não seria bom, devido a 19.c5, com conseqüências desagradáveis para as pretas: 19...Nxc5 20.Nxc5 dxc5 21.Bb5+ e a posição se abriria a favor das brancas. 19.Be2 Ba6 20.0–0 Bxc4 21.Be1 a4 22.Bb4 d5 23.Rfe1 f6 Não se deve permitir a possibilidade de um sacrifício em e5. 24.Nb2 Bxe2 25.Rxe2 Kf7 Também poderia ser jogada a opção 25...Rac8 26.Nxa4 Kf7, porém as pretas abandonam voluntariamente a coluna c para avançar sua massa central de peões da forma mais rápida possível. O transcurso posterior da partida demonstra que sua decisão foi correta. 26.Rc1 Nb6 27.Rc7+ Kg6 28.Rec2 e4! Veja o comentário anterior. 29.R2c6 d3 30.Re6 Rhe8 31.Rxe8 Rxe8 32.Kf1 Se 32.Rxa7?, então 32...Rc8. 32...h5 Um avanço instintivo, que pode ser

considerado um lance de espera. Agora se criarão novas debilidades. 33.h3 É provável que cedo ou tarde as pretas estivessem em condições de forçar esse avanço (devido à ameaça ...h4-h3), porém as brancas não deveriam ceder de bom grado no primeiro momento das trocas, pois agora existe um enorme buraco em g3. 33...h4 34.Kg1 Kf5 35.Kf2 e3+ 36.Kf1 d2 37.Ke2 d4

Posição após 37...d4 38.Nd3 O bloqueio é somente aparente, como demonstrará a seguinte manobra de cavalo. 38...Nd5 39.Rc5 Se 39.Rc4, é decisivo 39...Nxb4 40.Nxb4 (40.Rxb4? Rc8!) 40...Rd8 41.Nd3 Rb8 42.Rb4 Rxb4 43.Nxb4 Kf4 e ...Kg3. 39...Rd8 40.Ba5 Rd7 41.Rc4 Nf4+ 42.Nxf4 Kxf4 43.Bc3 Ou também 43.Bc7+ Kf5 etc. 43…Kg3 44.Rxd4 Rxd4 45.Bxd4 Kxg2 46.Bxe3 Kxh3 47.Bxd2 Kg2 As brancas abandonaram. 6 – A entrega do centro de peões

Esta operação não tem porque ser

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uma catástrofe. Como já vimos nos exemplos comentados, a única questão que realmente importa é: as casas centrais se encontram sob controle adequado? Sob um forte controle por parte das forças inimigas, a mobilidade de um centro de peões se vê reduzida a um grau alarmante e o próprio centro de peões pode se converter em um alvo de ataque. Na partida 18, Steiner descuida da possibilidade de pressionar o centro de peões livres do seu adversário. Na partida 19 veremos uma tentativa, sem o fundamento suficiente, de paralisar um centro forte e elástico, tentativa que, por assim dizer, se vê reduzida a cinzas, ao menos seus atores principais, primeiro o peão de c4 e em seguida o de e4. Na partida 20 teremos, em rápida sucessão: 1- Entrega do centro; 2- Reconquista do centro, ainda que com perda de peões; 3O déficit material é sanado mediante centralização em casas brancas e 4- As pretas deveriam ter conseguido a vantagem, porém o seu lance 33 tira a partida do curso natural, razão pela qual esta perde parte do seu valor didático. Partida 18 Nimzovitsch - Steiner Bad Niendorf, 1927 Abertura Ruy Lopez

1.e4 e5 2.Nf3 Nc6 3.Nc3 Nf6 4.Bb5 d6 5.d4 Bd7 6.Bxc6 Bxc6 7.Qd3 Nd7 8.Be3 exd4 9.Bxd4 A dificuldade das pretas reside nem tanto no centro de peões, mas no fato de que o bispo branco centralizado mantém sob ataque seu peão de g7. 9…f6?

Posição após 9...f6? Esse lance nos parece ser o erro decisivo. A continuação correta era 9...Nc5, ao que poderia seguir: 10.Qe2 Ne6 11.0-0-0 Be7 12.Nd5 0-0 13.Bc3 Re8 e em seguida ...Bf8, com efeito central suficiente. Outra possibilidade seria 12...Bxd5 (ao invés de 12...0-0) 13.exd5 Nxd4 14.Nxd4 0-0, seguido de ...Bf6 e as pretas estão bem. 10.Nh4 Uma decisão que absolutamente não é prematura. 10...Nc5 11.Qe2 Qd7 12.Nf5 Agora as pretas não podem conseguir um desenvolvimento satisfatório. Por exemplo: 12...Be7? 13.Nd5 Bxd5 14.exd5 Nxd4 15.Nxd4, com controle decisivo da casa e6. 12...Ne6 De nada servia 12...g6, devido a 13.0-0-0 Kf7 14.Qc4. 13.0–0! Não é um simples lance de desenvolvimento, mas também de espera. As pretas estão obrigadas em todas circunstâncias a criarem uma nova debilidade, se desejarem completar um desenvolvimento razoável, de forma que as brancas podem se permitir esperar que seu rival se decida por ...a6 ou ...b6. Por

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conseguinte, 13.0-0, que parece um lance de desenvolvimento, é na realidade um lance de espera, similar a 32...h5 na partida 17. 13...b6 A alternativa 13...a6 também tem os seus inconvenientes. No entanto, seria muito mau 13...0-0-0. Por exemplo: 14.Bxa7 b6 15.a4 Kb7 16.a5 Kxa7 17.axb6+ Kb8 18.Ra7 Bb7 (lance forçado) 19.Rxb7+! Kxb7 20.Ra1 cxb6 21.Qa6+ Kc6 22.Qb5+ Kb7 23.Qd5+ Qc6 24.Ra7+ e as brancas vencem. Em lugar de criar debilidades com ...a6 ou ...b6, um Steinitz sem dúvida teria optado por 13...Be7. Por exemplo: 14.Nd5 Bd8! 15.c4 0-0 16.Bc3 Re8 e a posição das pretas, embora muito comprimida, não é fácil de ser minada. 14.a4 Agora está tudo preparado. 14...a5 15.Nd5 Nxd4 Se 15...0-0-0?, segue 16.Bxb6!. 16.Nxd4 Bb7

Posição após 16...Bb7 17.Ne6 Rc8 18.Qh5+ g6 19.Nxf6+ Kf7 20.Nxd7 gxh5 21.Ndxf8 As pretas abandonaram. É claro que a posição das pretas poderia se sustentar com 9...Nc5 e, mais tarde, talvez inclusive com 13...Be7 e

14...Bd8 (ainda que este procedimento necessitasse da habilidade defensiva de Steinitz). Também seria consistente 10...Ne5!. Entregar o centro não conduz necessariamente a uma catástrofe. Partida 19 Alapin - Nimzovitsch Carlsbad, 1911 Defesa Philidor

1.e4 c6 2.c4 d6 3.d4 Nf6 4.Nc3 Nbd7 5.f4 e5 6.Nf3 exd4 7.Qxd4 Nc5 Para amansar o tigre, ou seja, o centro, pronto para a expansão. Se 8.e5, então 8...dxe5 e as brancas não têm nada. 8.Bd3 Qb6 Aqui era de se considerar 8…Nxd3 (par de bispos). 9.Bc2 Be7 10.0–0 0–0 11.Kh1 Rd8 Segue a tarefa de domesticar o centro. 12.Rb1 Be6! Essa é a possibilidade de contrajogo. Dessa forma se estabelece um processo de assédio contra o peão branco de c4. A razão para isso é profunda: por que se imaginou que esse peão poderia paralisar o centro forte e elástico das pretas (d6)? Tal presunção deve ser castigada. 13.f5 Uma concessão importante, pois agora o centro das brancas perde mobilidade de forma considerável. Contra outros lances, se colocou em marcha o processo de assédio a c4. Por exemplo: 13.Be3 Qa6 14.b3 b5 (ou também 14...d5 15.cxd5 cxd5 16.e5 Nfe4), ou inclusive 13.b4 Na6 14.Qd3 Nxb4 15.Qe2 Qc5. 13...Bc8 14.Bg5 Ncd7 15.Qd2 a6

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16.b3 Qc7 17.Rbd1 b5 Começou a tempestade. 18.Rfe1 Ne5 19.cxb5 axb5 O “orgulhoso senhor”, o peão de c4, desapareceu do tabuleiro sem glória nem piedade. 20.Bb1 Bb7 21.Qc1 Qb6 22.h3 Teria sido mais correto 22.Be3 Qa5 23.Bg1.

Posição após 22.h3 22...Nxf3! O início de uma combinação precisa e profunda. 23.gxf3 Qf2 24.Qe3 Qg3 25.f4 Qxe3 26.Rxe3 h6 27.Bh4 b4 Os dois últimos avanços de peão constituem a chave da seqüência combinatória. O centro das brancas será agora conquistado de uma forma surpreendente. 28.Na4 Nxe4!! 29.Rxe4 Bxh4 30.Rxb4 Ra7 Com os bispos e a formação de peões das brancas feitos em pedaços, as pretas têm uma posição vencedora. Seguiu: 31.Be4 Be7 32.Bf3 d5 33.Rbd4 Rd6 34.Kh2 Rf6 35.Bg4 Bd6 36.Rc1 h5 37.Kg3 Se 37.Bxh5, seguiria 37…Rxf5 38.Bg4 Rxf4, ganhando peça. 37…hxg4 38.hxg4 g5 39.fxg6 fxg6

40.g5 Rf5 41.Kf3 Ra8 42.Nc5 Bxc5 43.Rxc5 Rxa2 0–1 As brancas abandonaram. Partida 20 Alekhine - Nimzovitsch Kecskemet, 1927 Defesa Francesa

1.e4 e6 2.d4 d5 3.Nc3 Nf6 4.exd5 Nxd5 5.Ne4 Assim, as pretas se encontram em uma situação, não necessariamente desagradável, na qual deverão atuar sem peões no centro. Nos sete movimentos seguintes elas resolvem esse problema de forma plenamente satisfatória. 5...Nd7 6.Nf3 Be7 7.Bd3 b6 8.0–0 Nb4 9.Bc4 Bb7 10.Qe2 0–0 11.a3 Nd5 12.Rd1 Uma medida preventiva contra a desejada ruptura …c5. 12…c5 Não obstante, as pretas se deixam tentar prematuramente pela citada ruptura. Teria sido mais prudente prepará-la de forma gradual, com 12...c6, seguido de ...Qc7, ...Rfd8 e somente então c5. Não se deve abrir uma posição restringida de forma brusca. Também no xadrez a liberdade consumida em grandes doses pode levar à intoxicação. Com 12...c6 o jogo das pretas está forte e cheio de vida. Depois de 13...Qc7, no caso de Bd3, inclusive ...Nf4 chegaria a ser possível no momento oportuno. 13.Bb5 Nc7 14.Bxd7 É claro que Alekhine não teria permitido 14.dxc5 Nxb5 15.Qxb5 Bxe4 16.Rxd7 Qe8 17.c6 Rc8. 14...Qxd7 15.dxc5 Qc6 16.Nd6! 39

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As brancas descartam o ganho de um peão com 16.cxb6 axb6 17.Re1, devido a 17...Nd5 (18.c4 Nf6 19.Nxf6+ Bxf6, com duas esplêndidas diagonais para os bispos) e as pretas obteriam um jogo fortemente centralizado. Por exemplo: 17...Nd5 18.Ne5 Qc7 19.Nd3 Rac8 20.c3 Rfd8, e as pretas têm a vantagem.

Posição após 16.Nd6! 16...Bxd6! Não há nada melhor. Se 16...Ba6 17.c4 bxc5 18.Ne5 Qa4, poderia seguir 19.Bh6!. Por exemplo: 19...Bxd6 20.Rxd6 gxh6 21.Qg4+ Kh8 22.Rd7, com posição vencedora. 17.cxd6 Ne8 18.Bg5 Jogo refinado e agudo. 18...Nf6! 19.Rd4 Nd7 20.Be7 Rfc8 21.c3 e5 Agora se pode ver que, apesar de todas as sutilezas desenvolvidas pelas brancas, a centralização das pretas resiste com firmeza. Por outro lado, o bispo branco parece um pouco frágil em e7 enquanto o bispo preto em b7 está colocado de forma ativa. O jogo está igualado e o peão a mais das brancas não tem importância maior. 22.Rg4 O objetivo desse lance é dar ao bispo um possível campo de ação. Ao mesmo tempo libera o cavalo, uma vez que agora

o peão de g2 está coberto. 22…Qd5! 23.Rg3 Rc4! 24.Rd1 Aqui Alekhine pensava que podia ter desencadeado uma tempestade da seguinte forma: 24.Ng5 h6? 25.Rd1 Qc5 26.Nxf7 Kxf7 27.Qh5+ Kg8 28.Qg6. Omitiu, no entanto, o recurso 24...g6! 25.Rd1 Qc6! 26.Rf3 f5 e o lance decisivo 27.Rxf5 não seria possível devido ao mate em g2. Depois do lance do texto, as pretas dispõem de uma manobra incomum com a qual forçam uma troca de torres. 24...Qe4 25.Qf1 Qc2! 26.Rd2 Qa4 27.Re2 No caso de jogar 27.h3 (recomendado posteriormente por Alekhine como o melhor lance), as pretas teriam considerado, dentre outros lances, uma troca de frente para o seu bispo com a manobra ...Bb7-e4-g6 etc. Vale a pena observar as manobras centrais das pretas e, de modo particular, sua utilização da casa e4. 27...Re4 28.Rxe4 Qxe4 29.Qc1 h6 30.h3 Kh7 31.Qd1 g6 Era impensável 31...f5, devido ao sacrifício 32.Ng5+, seguido de Qh5+ e Qxg5. 32.Rg4 Qd5 33.Qc2 Rg8

Posição após

33...Rg8

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A excursão da torre (...Rc8-c4) parecia tentadora e arriscada. Arriscada, devido à ameaça Nh4xg6 e tentadora por uma questão de sistema. Para as pretas, a casa e4 é o ponto mais valioso do ponto de vista estratégico e deveria atrair as forças como um campo magnético (veja o capítulo de superproteção). Depois de 33...Rc8, poderia seguir 34.Nh4 e4 35.f3 Qc5+ e agora 36.Kh1 ou 36.Kh2. Se 36.Kh1, 36...Qe3 37.fxe4? h5 38.Rg5 Qe1+, ganhando peça, e se 36.Kh2, as pretas podem escolher entre 36...Qe3 (37.fxe4 Rc4) e 36...Ne5. Por exemplo: 36...Ne5 37.Rf4 Qe3 38.g3 exf3! 39.Rxf7+ Kg8 e as brancas não têm defesa contra a ameaça ...Qe2+. Como demonstra essa breve análise, 33...Rc8! era um lance preciso que refutaria, por ser ilusória, a suposta vantagem das brancas. 34.Rh4 Ameaça Bg5. 34...f6! 35.c4 Qe6 36.Nd2 Qf5 37.Qd1 g5 Como Alekhine afirma corretamente, era preferível 37...h5, uma vez que então a torre branca teria mais liberdade. Ambos estávamos apurados no tempo. 38.Rg4 Qg6 39.Rg3 f5 40.Rc3 e4 Aqui se concordou com o empate, sobretudo levando em consideração os problemas de tempo. Depois de 41.Nb3, seguido de c5, as brancas parecem ter vantagem. Após um exame minucioso dessa partida, o estudante poderá desenvolver a sua intuição pelas “casas fracas de uma mesma cor” (nesse caso, as casas brancas g2, e4, c4 e d7). 7 - A Centralização como deus ex machina

Pedimos ao leitor realmente inte-

ressado que não trate esse tema com rapidez. Pode ser que a centralização, quando se produz de repente, por assim dizer, como um paladar final, não seja tão característica como a centralização que se consegue gradualmente. No entanto, a centralização repentina é, no plano psicológico e pedagógico, a mais importante de todas. O que é impossível de se conseguir em uma centralização progressiva, pode ser conseguido por uma centralização repentina e isso significa que se obtém uma fé inabalável no poder da centralização. Nada mais importa. Não basta ter adquirido os detalhes técnicos. O essencial é crer que a centralização faz maravilhas. A fé é essencial, pois só triunfam os homens de fé! [ A expressão latina “deus ex machina” tem sua origem no teatro grego e no sentido empregado por Nimzovitsch significa um evento ou artefato artificial introduzido repentinamente em um trabalho para resolver de forma absoluta uma determinada situação. N. do T. ] Partida 21 Nimzovitsch - Marshall Nova Iorque, 1927 Defesa Índia

1.Nf3 Nf6 2.e3 d5 3.b3 Bg4 4.Bb2 Nbd7 5.h3 Esse avanço faz com que mais tarde não seja desejável o roque curto e reduz, portanto, as opções das brancas. Era bom 5.Be2 e 0-0. 5.Bh5 6.d3 h6 7.Nbd2 e6 8.Qe2 Se as brancas jogassem Be2 (para seguir com 0-0), teriam que ter previsto 41

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

um assalto de peões. Por exemplo: 8.Be2 Bd6 9.0-0 Qe7 10.Rc1 g5 (as brancas, de modo similar, perderam para Vidmar nesse mesmo torneio). 8...Bb4 9.g4 Bg6 10.Ne5 Nxe5 11.Bxe5 Bd6 12.Nf3 Qe7 13.Bg2 0–0–0 14.0–0–0 Bxe5 15.Nxe5 Bh7 16.c4 Esse lance faz a posição das brancas permeável, porém era necessário estabelecer uma linha de comunicação na segunda fileira. 16...Nd7 17.Nxd7 Rxd7 18.cxd5 exd5 19.Qb2 f5

Posição após 19...f5 As brancas conseguiram assegurar a posição do seu rei com medidas preventivas como 16.c4 e 19.Qb2, porém à custa de debilidades na outra ala. Era simplesmente impossível “prevenir” ao mesmo tempo em ambas as alas e assim tiveram que permitir o avanço ...f5. 20.Rd2 Rf8 21.gxf5 Bxf5 22.Rhd1 Qg5 23.f4 Qg3 24.Qe5! Esta centralização inesperada salva a partida! A centralização e a profilaxia (tática preventiva) compartem as honras, uma vez que se pode dizer que Qe5 é o corolário de 19.Qb2.

Posição após 24.Qe5! 24...Bxh3 Não era melhor a alternativa 24...c6 25.Rc2. 25.Bxd5 Qg6 26.Be4 Qf6 27.Qxf6 Rxf6 28.Rg1 Bf5 29.Rdg2 As coisas parecem evoluir de acordo com o programado. Primeiro a centralização e agora um movimento de ala posicionalmente justificado em direção à direita. 29…Bxe4 30.dxe4 Rd3 31.Rxg7 Rxe3 32.Rg8+ O ataque na ala teve como resultado essa penetração. 32…Kd7 33.R1g7+ Kc6 34.Rg6 Rd6

Posição após 34...Rd6 Essa tentativa – muito criativa - de conduzir o rei branco a um beco sem

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1 - A Centralização

saída não é suficiente. 35.e5 Re1+ 36.Kb2 Re2+ 37.Ka3 Rxg6 38.Rxg6+ Kd5 39.Rxh6 a5 40.Rh7 Rc2 Se ao invés desse lance as pretas tivessem optado por 40…Kc6, então seguiria 41.Re7 b5 42.b4 Re3+ 43.Kb2 axb4 44.f5 e o rei branco teria escapado à custa de um peão, o que, tendo em vista os peões passados e unidos, é uma perda de pouca importância. 41.Re7 b5 42.b4 Não 42.f5?, devido a 42...c6! 43.b4 Kc4, seguido de mate. 42…a4? Havia uma ligeira possibilidade de empate com 42…axb4 43.Kxb4 Rc4+ 44.Kxb5 c6+!, seguido de ...Rxf4. Com o lance do texto, as pretas ficam totalmente perdidas. 43.f5 c5

Posição após 43...c5 44.f6?? Um erro gravíssimo. Ganhava facilmente 44.e6. Por exemplo: 44.e6! Rc3+ (44...Kc4? 45.Rc7) 45.Kb2 cxb4 46.Rd7+! Kc6 47.Rd8 Re3 48.f6 e as brancas vencem. 44...Rc3+ 45.Kb2 cxb4 Empate. Se 46.f7, o empate é forçado com 46...

a3+ 47.Kb1 Rf3 48.e6 Rf1+ 49.Kc2 Rf2+ 50.Kd3 b3 51.axb3 a2 52.Ra7 Kxe6 etc. A centralização das brancas teria vencido facilmente, não fosse o erro fatal do lance 44. Partida 22 Nimzovitsch - Vukovic Kecskemet, 1927 Final

Posição após 36...Qc6 A posição das pretas, com o rei exposto e os peões isolados, pareceria comprometida, não fosse a sua dama centralizada. As pretas inclusive planejaram antecipadamente e seu plano consiste em avançar seus peões a c4 e e4 (ou inclusive ...c4-c3). No caso de Qc2, então ...Rg8. Mas as brancas tiveram êxito e seu êxito se baseou, para começar, em descentralizar o adversário. 37.Qh5! Ameaça 38.Rxc5. 37...Re7 Ou também 37...Kg7 38.Rc3. 38.Rd1 Qg6 Não há nada melhor. As brancas ocupam agora a diagonal central, perdida pelo seu adversário.

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

39.Qf3 Ganhando ainda um tempo, pois se ameaça Qf8+. 39...Kg7 40.Qd5 E logo a situação mudou radicalmente. 40...Qh5 41.Rd3 Qf7 42.Rg3+ Kh8 43.Qxc5 Qf1+ 44.Qg1 Rf7 As brancas ganharam um peão, embora para isso tenham cedido sua posição central. No entanto, o peão de vantagem é valioso. A retirada foi voluntária e o final de torres é vencido sem maiores problemas.

Posição após 44...Rf7 Seguiu: 45.h3 e4 46.Kh2 Rf2 47.Qxf1 Rxf1 48.Re3 Ra1 49.g4 Kg7 50.Kg3 Kg6 51.Kf4 h5 52.gxh5+ Kxh5 53.Kxe4 Kh4 54.Kd4 Rc1 55.Rc3 Ra1 56.Kc4 Kg5 57.Rf3 Rb1 58.a4 Ra1 59.Kb4 Rb1+ 60.Rb3 Rf1 61.a5 Kf6 62.a6 Ke6 63.a7 Rf8 64.Kc5 As pretas abandonaram.

Partida 23 Nimzovitsch - Duras San Sebastian, 1912 Defesa Francesa

1.e4 e6 2.d4 d5 3.e5 c5 4.Nf3

Atualmente penso que é melhor 4.Qg4. 4…Qb6 5.c3 Nc6 6.Bd3 Aqui é preferível 6.Be2. 6…cxd4 7.cxd4 Bd7 8.Be2 Nge7 Creio que a melhor alternativa é jogar 8...Nh6. 9.Na3 Ng6

Posição após 9...Ng6 Esse lance contraria a tradição, pois o normal é 9...Nf5, com pressão sobre o peão branco de d4, e coloca dessa forma um problema novo e interessante, que poderia ser formulado assim: Pode-se classificar o lance 9...Ng6 de descentralizador? Uma cadeia de peões (aqui os peões brancos de d4 e e5 contra os pretos de e6 e d5) normalmente só deve ser atacada pela base (ou seja, d4). É menos recomendável atacar a ponta da lança (e5). Basta por ora o que se refere à cadeia de peões. Nesse caso esclareço, no entanto, vemos as coisas sob uma luz diferente. O cavalo branco, por exemplo, se encontra em a3 e nos causa horror pensar na inutilidade que pode resultar se as pretas jogarem ...f6. Por conseguinte, o lance 9...Ng6 parece concebido para iniciar uma ação no centro que, em certo sentido, está justificada. Deve, apesar de tudo, ser con-

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1 - A Centralização

siderada descentralizadora? A resposta a essa questão é de índole reservada. 10.0–0 Merecia consideração 10.h4, ao que poderia seguir 10...Bb4+ 11.Kf1 f6 12.h5, porém essa incursão, uma espécie de expedição punitiva, seria de valor duvidoso, uma vez que as pretas dispõem de respostas válidas: 12...Ne7 13.h6 fxe5 14.hxg7 Rg8 15.dxe5 Rxg7 e também – em estilo combinatório! – 12...Ngxe5. Depois de 13.dxe5 fxe5 14.Qc3 o melhor é 14...Bc5 (não 14...0-0 devido a 15.Be3, seguido de Ng5) e as brancas têm uma posição ruim. 10...Be7 Também se poderia jogar 10...f6, porém Duras gosta de esconder seus planos na medida do possível. 11.Nc2 Se 11.Re1 seguiria 11...Bb4 e a torre teria que regressar a f1, pois se 12.Bd2 seguiria 12...Nxd4!. 11...f6 12.Bd3 0–0–0 Agora deve-se decidir a questão de se a ação preta contra o centro branco (e5) é ou não efetiva.

Posição após 12...0-0-0 13.b4 Com o objetivo de aliviar a posição

das brancas com b4-b5. Também era boa a consolidação à base de 13.Re1. Em qualquer caso, ambos os lances devem ser feitos e não importa muito em que ordem. 13...fxe5? Em decorrência dessa captura, as brancas obtêm a casa d4 para o seu cavalo e a premissa de que todo o ataque a e5 desaparece (veja o comentário a 9...Ng6). Teria sido mais preciso 13...Kb8, seguido de 14...Rc8. Uma possível variante seria: (13.b4) Kb8 14.Re1 Rc8 15.Rb1 (não 15.b5 devido a 15...Na5, seguido eventualmente de ...Nc4), porém as brancas então teriam vantagem, graças a uma forte iniciativa na ala da dama (Bd2, a4a5) e as pretas ficam presas. Essa linha principal de jogo confirma a impressão de que, apesar de tudo, a manobra 9...Ng6 apenas está justificada. Além disso, temos que avaliar o fato de que as pretas contavam com a manobra 9...Nf5, que do ponto de vista da centralização merece toda confiança. Dessa forma, temos que admitir que o lance 9...Ng6 pode ser catalogado como descentralizador. 14.Bxg6 hxg6 15.Nxe5?

Posição após

15.Nxe5? 45

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

Com esse lance as brancas deixam escapar toda a sua vantagem. A continuação correta era 15.dxe5. Por exemplo: 15...Nxb4 16.Be3 (não 16.Rb1 devido a 16...Ba4), seguido de 17.Nd4 e embora as brancas perdessem um peão, a imponente ilha central, junto com as perspectivas de ataque pelas linhas abertas, logo seria traduzida em uma vantagem importante. O lance do texto, 15.Nxe5?, é deficiente porque por um lado a torre preta obtém a casa h4 (com efeito central!) e por outro, o bispo de d7 é ativado. Como se isso não bastasse, 15.Nxe5? contraria o princípio que estabelece que “para o jogador que sofre um bloqueio, toda troca de peças alivia a sua posição”. As brancas agora têm, no máximo, somente o empate. 15...Nxe5 16.dxe5 Ba4

Posição após 16...Ba4 17.Qd2! A única possibilidade. Se agora 17...d4, então seguiria 18.Bb2 d3 19.Nd4! Rxd4? 20.Qc4+. 17...Kb8? Um erro em compensação pelo que as brancas cometeram no lance 15. Simplesmente com 17...Rh4 18.Bb2 Bxb4 19.Nxb4 Qxb4 20.Rac1+ Kd7, as pretas poderiam ganhar um peão,

mantendo d4 sob controle. 18.Nd4! Centralizar, inclusive à custa de um peão, e essa insistência audaz na idéia centralizadora salva a partida para as brancas, cuja posição estava a ponto de desmoronar. Se tivessem concebido anteriormente essa idéia do sacrifício do peão, as brancas não teriam deixado de jogar 15.dxe5, porém naquela fase da partida não sentiam a necessidade de tomar medidas heróicas. 18...Rh5 No caso de 18...Bxb4, segue 19.Qd3 e em seguida Be3 e Rb1 e as brancas teriam conseguido uma posição harmoniosa, com ataque e bloqueio, semelhante à linha de jogo indicada no comentário ao lance 15. 19.Qd3 Rdh8 20.h3 g5 21.Be3 g4 Um lado realiza lances serenos e centralizadores (Nd4, Qd3, Be3), enquanto que o outro opta por golpes fúteis nas alas. Nessas condições, não é difícil fazer o prognóstico de quem será o vencedor. 22.Nf5 Bb5 Ou também 22…Qd8 23.Nxe7 Qxe7 24.Qd4, seguido de 25.Qxg4. 23.Qa3 Qa6 24.Qxa6 Bxa6 25.Nxe7 Bxf1 26.Rxf1

Posição após

26.Rxf1

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1 - A Centralização

26...g5! Ainda que de forma desesperada, as pretas oferecem uma resistência tenaz. 27.f3 gxh3 28.g4 R5h7 29.Bxg5 Re8 30.Kh2 Kc7 Após as capturas na casa e7, o final de torres seria desesperador para o segundo jogador. 31.Rc1+ Kd7 32.f4 Aqui vencia mais facilmente 32.Bf6. O restante dispensa comentários. 32...Rg7 33.Kxh3 Rxg5 34.fxg5 Rxe7 35.g6 Rg7 36.g5 Rxg6 37.Kg4 Rg8 38.Rc3 Rd8 39.b5 d4 40.Rh3 Kc7 41.g6 d3 42.Rh1 Kd7 43.Rh7+ Kc8 44.Rh1 Kd7 45.Kg5 d2 46.g7 As pretas abandonaram. Uma partida importante do ponto de vista da centralização, cujo estudo recomendamos vivamente.

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2 - Restrição e Bloqueio

Com a aplicação técnica dos temas da restrição e do bloqueio, assim como o tema da centralização, pode-se conseguir excelentes resultados, de forma que só posso recomendar seu estudo detalhado a todos os jogadores, independentemente do seu nível! É um fato surpreendente que freqüentemente um jogador de categoria inferior desenvolva um bloqueio com maior gosto e liberdade que outros de categorias superiores. Isso se aplica especialmente à minha própria especialidade, o sacrifício de bloqueio. Nesse caso, o amador de primeira categoria, curtido na adoração do material, cai com mais facilidade do que o amador de segunda categoria. Consideremos, por exemplo, o jogo na seguinte partida, disputado entre dois amadores. 1.d4 d5 2.c4 e5 3.dxe5 d4 4.a3 Bf5 5.e3 c5 6.exd4 Nc6! Um sacrifício surpreendente, cujo objetivo é desenvolver um bloqueio. 7.d5 Nxe5 8.Nf3 Bd6 9.Be2 Ne7 10.0–0 Qc7! O peão de vantagem das brancas permanecerá inativo enquanto a centralização de forças dará às pretas uma base excelente para amarrar de forma progressiva o seu adversário. 11.Nxe5 Bxe5 12.f4 Dessa forma, a pressão exercida pelas pretas na diagonal d6-h2 conduziu a um enfraquecimento da posição das brancas. 12...Bd4+ 13.Kh1 0–0–0 14.Nc3 a6 Teria sido melhor 14...Bxc3, seguido de ...Rd6. Qualquer ataque sobre a

coluna b teria sido rechaçado facilmente com ...a5 e ...b6. 15.g4 O correto era 15.Bd2, para seguir com b2-b4. 15...Bxc3 16.bxc3 Be4+ 17.Bf3 Bxf3+ 18.Qxf3 f5! 19.h3 g6 Perda de tempo! Não havia por que temer gxf5, razão pela qual era de se considerar 19...Kb8. 20.Be3 Kb8! 21.Rab1 Era melhor 21.Qe2. 21...Nc8 22.Rb3 Nd6 A posição das brancas parece desesperadora. As casas c4 e e4 são fracas, seu peão de d5 está bloqueado e com ele também está bloqueada a grande diagonal das casas brancas. 23.Rfb1 Ka8 24.Rb6 Rhe8 25.Qf2 Rxe3! 26.Rxd6 Rde8 27.Rdb6 Re2 28.Qf1 Qe7 29.R6b2 Qe4+ 30.Kg1 Qd3 As brancas abandonaram. O senhor Karl Jacobsen, de Copenhagen, que nessa partida conduzia as peças pretas, estudava xadrez há três meses e acabava de ser promovido à segunda categoria. Com o esquema mostrado nessa partida, o tema da estratégia restritiva não fica em absoluto esgotado. A restrição tem uma abrangência muito grande e por isso não é fácil de ser assimilada. Captar a sua profunda significação resulta ser de fundamental importância. Se uma falange 49

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de peões hostis pretende avançar, devemos lutar contra isso, impedindo o avanço que se ameaça. Bastaria o processo como tal e qual descrito para explicar a natureza da restrição? Não. Na realidade, a restrição é somente uma parte de um ataque que se encontra em processo de preparação. A restrição só é efetiva a longo prazo, quando uma idéia de ataque está vinculada a ela. Se a ação restritiva se baseia em uma diagonal, em seguida a ala submetida ao ataque do bispo restritivo será o alvo do ataque final. A compreensão do valor intrínseco, latente, da restrição desde um ponto de vista ofensivo (partidas 26-28) será de grande valia para o estudante ampliar seus horizontes enxadrísticos. Nossa tarefa seguinte será gradualmente treinar o instinto do jogador para os diversos graus de debilidade dinâmica de um peão ou de uma constelação de peões. Nesse sentido, veremos como, em um bom número de partidas, diversos peões dobrados, apesar do seu grau inicial de liberdade, terminam em estado de imobilidade completa. Acreditamos que esse seja um bom tema para a prática. Não se pode ilustrar de forma melhor a debilidade dinâmica do que com um complexo de peões dobrados desse tipo. Após esses exercícios preliminares, poderemos finalmente enfrentar o problema do bloqueio, do qual a restrição é o primeiro passo. Aprenderemos dessa forma a desenvolver uma rede de bloqueio e também a evitar os perigos aos quais qualquer defeito nessa rede poderá nos expor. Nesse sentido, as medidas profiláticas ou preventivas são especialmente recomendáveis.

Por último, trataremos das variantes recentes [ em 1929, N. do T. ] e muito originais (minha própria Variante Triangular Dresden e a Defesa Francesa com um peão c obstruído de forma audaz) e procuraremos preencher o vácuo entre essas variantes e a linha de pensamento que enfatiza o bloqueio. Queremos reiterar nosso conselho ao estudante de que reflita e não regateie os pensamentos sobre todo esse segundo capítulo, no qual tem muito a aprender. 1 – Restrição de avanços libertadores de peões.

A estratégia de restrição tem aqui a primeira demonstração da sua força ou, por assim dizer, faz a sua primeira aparição em cena. No entanto, não esperemos nenhum plano completo de bloqueio, mas nos contentemos com a requisição básica de que “deve-se impedir os avanços libertadores de peões”. Na seqüência veremos como a restrição passa pela sua primeira prova. Partida 24 Nimzovitsch - Breyer Gotemburgo, 1920 Abertura Ruy Lopez

1.e4 e5 2.Nf3 Nc6 3.Nc3 Nf6 4.Bb5 d6 5.d4 Bd7 6.Bxc6 Bxc6 7.Qd3 Nd7 8.d5 Na partida 18, o primeiro jogador realizou nesse momento o lance 8.Be3. Aqui as brancas conseguem exercer pressão na ala da dama, explorando a debilidade do peão a das pretas. 8…Nc5 9.Qc4 Bd7 10.b4 Na6 11.Be3 Be7 12.0–0 0–0 13.a4 Kh8 14.Nb5 Qb8

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2 - Restrição e Bloqueio

Uma alternativa seria o sacrifício de peão 14...g6 e no caso de 15.Nxa7 seguir com 15...f5 16.Nb5 f4, com algum contrajogo na ala.

Posição após 14...Qb8 15.c3! Impede o lance libertador 15...c6. Por exemplo: 15...c6 16.dxc6 bxc6 17.Nxd6 Bxd6 18.Qxa6 e o peão de b4 está defendido. 15...h6 Se imediatamente 15...f5, as brancas responderiam 16.Bg5 com tranqüilidade. 16.Nd2! Para responder a 16...f5 com 17.f4, e as brancas estariam melhor (as pretas só tem uma torre em jogo). 16...g5 Agora o problema é como impedir o avanço ...f7-f5, ou mesmo como torná-lo ineficaz. 17.Rfe1! f5 18.exf5 Bxf5 19.Nf1 Embora fosse mais simples 19.f3 e 20.Ne4, com o que as brancas seriam muito fortes nas casas de sua cor, além da coluna e, o que não é pouca coisa. O lance misterioso 17 das brancas é particularmente característico. 19...Bg6 20.Ng3 Bf6 21.f3 Bg7

Posição após 21...Bg7 Aparentemente as brancas preparam um rolo compressor, com o avanço h2h4. Porém esse ataque falharia graças à tentativa de libertação das pretas, que já parecia descartada, com ...c6 e que daria vida nova à sua posição. Por exemplo: 22.h4? c6! 23.dxc6 bxc6 24.Qxc6 gxh4, com jogo confuso. Observe-se a vitalidade das possíveis (ou impossíveis) tentativas de libertação, pois é raro que ocorra a erradicação definitiva dessas tentativas. O mais freqüente é que persistam, escondidas sob a superfície, prontas para se tornarem ameaças no futuro. A estratégia restritiva correta, nesse caso dirigida contra ...c6, consistia na seqüência: 22.Re2! e 23.Rd1 (não 22.Rad1 imediatamente, devido ao incômodo 22...Bc2). Portanto, 22.h4 não se sustenta. Ainda assim, as coisas não eram tão claras, pois as pretas podiam empreender algumas contramedidas. Uma continuação instrutiva seria: 22.Re2! Kh7! (para seguir com ...Bf7, que sem o ...Kh7 falharia devido a 23.Qe4, com centralização duradoura, mas que agora, após 23.Rad1, resultaria muito efetiva, uma vez que 24.Qe4+ seria inócuo devido a 24...Bg6) 23.h4!!

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

(esse lance agora é possível, com o rei das pretas em h7) 23...c6 24.dxc6 bxc6 25.h5!, ameaçando hxg6 com xeque e as brancas vencem. Dessa análise se deduz que o lance correto seria 22.Re2. 22.Ra2 Esse lance concede às pretas a possibilidade de libertar o seu jogo, ainda que sem esperanças reais de salvação, pois sua situação é muito ruim. 22...Bf7! 23.Ne4 Fazendo virtude da necessidade. Esse sacrifício de qualidade deveria ser vencedor para as brancas. 23...c6 24.Nbxd6 Bxd5 25.Qe2 Bxa2 26.Qxa2 Qc7 27.b5 cxb5 28.axb5 Nb8 29.Qe6 a6 Com sua poderosa centralização, desenvolvimento magnífico e a possibilidade de um ataque direto com h4, as brancas têm a seu favor fatores suficientes para a vitória.

Posição após 29...a6 30.h4! axb5 31.hxg5 Ra6 32.Rd1 Se 32.gxh6, então 32...Bf6. 32...Qc4 As pretas opõem uma defesa engenhosa, que permite sua sobrevivência no meio-jogo, ainda que somente para entrar em um final perdido. 33.Qxc4 bxc4 34.gxh6 Bf6

Mais ou menos nesse momento as brancas começam a perder o controle da partida, que entra em uma posição de empate. 35.Rb1 b6 36.Bxb6 Nd7 37.Be3 Bh4 38.Nxc4 Ganhava-se facilmente com 38.Rb7. Por exemplo: 38...Nf6 39.Nf7+ Rxf7 (o melhor) 40.Rxf7 Nxe4 41.fxe4 Ra3 42.Bd2 Ra2 43.Rd7. 38…Nf6 39.Nxf6 Bxf6 40.Nd2 Aqui novamente teria vencido o ataque direto com 40.Rb7 Rc6 41.Nb6 Rxc3 42.Nd7 Rf7 43.Rb8+ Kh7 44.Nf8+ Kh8! 45.Bg5! Rb3 46.Re8 etc, ou mesmo com 40...e4 41.fxe4 Bxc3 42.e5 Rc6 43.Nd6 e as brancas devem vencer. As brancas descartam o ataque direto, o que deve ser interpretado como um sinal de depressão. 40…Rg8 41.Ne4 Bh4 42.Kh2 Ra2 43.Bd2 Bg3+ As brancas já não podem vencer. 44.Kh3 Bf4 45.Nf6 Rf8 46.Bxf4 exf4 47.Rb6 Ra1 48.Kg4 Rg1 49.Kxf4 Rxg2 50.Kf5 Rh2 51.Kg6 Rg2+ 52.Ng4 Rg3 53.Rb7 A sétima fileira deveria ter sido explorada antes. Agora é muito tarde. 53...Rgxf3 54.Rh7+ Kg8 55.Rc7 Kh8 56.c4 Rg8+ 57.Rg7 Empate. Partida 25 Nimzovitsch - Tartakower Gotemburgo, 1920 Defesa Holandesa

1.d4 f5 2.e3 Nf6 3.Nf3 e6 4.Be2 g6 5.c4 Bg7 6.0–0 0–0 7.b4

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2 - Restrição e Bloqueio

Para transportar o principal teatro de batalha para a ala da dama. 7…d6 8.Nbd2 Nbd7 9.Bb2 Qe7 10.c5 As brancas têm uma clara vantagem de posição. Agora 10...e5 falharia devido a 11.cxd6 cxd6 12.dxe5 dxe5 13.Nc4, seguido de Qb3, Rac1 e Rfd1. 10...a5 11.cxd6 cxd6 12.b5 Nb6 13.Nc4 Nxc4 14.Bxc4 d5 15.Bd3 Bd7 16.a4 Rfc8 17.Ne5 Be8 18.Qd2 Esse lance conduz a uma posição com bispos de cores opostas. 18…Ne4 19.Bxe4 Bxe5 20.dxe5 dxe4 21.Rfc1 Rd8 As pretas devem evitar novas trocas, pois senão seus peões na ala da dama não poderão se sustentar. 22.Bd4 g5!

escorregadio de Tartakower permite-lhe escapar da fatalidade. 24...f4 25.exf4 Qxf4 26.Qe3 Rac8 As brancas operam sob a debilidade temporária de sua primeira fileira e esse fator, que não parece essencial, permite a Tartakower elaborar um plano que salva a situação. 27.Rac1 Rxc4 28.Rxc4 Qxe5 29.h4 Qf4 30.hxg5 e5 Agora a partida deve terminar empatada. 31.Qxf4 exf4 32.Bb6 Rd1+ 33.Kh2 Bg6 34.Bxa5 e3 35.Rc8+ Kf7 36.Rc7+ Ke6 37.fxe3 fxe3 38.Bb4 Rd4 39.Bc5 Rxa4 40.Re7+ Kd5 41.Bxe3 Re4 Empate. 2 – Restrição de uma massa central de peões.

Posição após 22...g5! Como se pode impedir o avanço libertador ...f5-f4? 23.Rc4 Muito simples. Se ocorrer o avanço, a resposta agora será exf4 e Qxf4. 23...Qf7 24.Qe2 Aqui deveria ter sido prevenido ...f4 e um lance apropriado seria 24.Qc2, uma vez que após 25.Rc1 as brancas poderiam explorar a coluna c aberta. Depois do lance do texto, o engenho

Como já vimos, a restrição permite prevenir o avanço com o qual nos ameaçam alguns peões hostis. Agora submeteremos a restrição a uma prova mais dura. O problema será como conter uma massa móvel de peões centrais. Como isso poderá chegar a ser difícil poderá ser visto nas minhas partidas contra Grünfeld e Romih. Esse processo trabalhoso pode resultar menos oneroso se puder ser empreendido algum tipo de ataque, por mais modesto que seja, combinado com o método, mais ou menos passivo, de uma estratégia restritiva. Essa idéia é ilustrada nas partidas contra Alapin e Steiner (partidas 18 e 19). Um caso típico é encontrado na Defesa Steinitz da Ruy Lopez, onde os peões brancos de e4 e f2 se opõem aos pretos de d6 e f7. As pretas, sobre a coluna e, atuam contra o avanço e4-e5 com o qual ameaçam as brancas e ao 53

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mesmo tempo pressionam o peão branco de e4. Na prática moderna se encontra com freqüência que as manobras restritivas e o ataque coordenado são produzidos em territórios diferentes. Na partida 27, por exemplo, as pretas restringem o centro, mas atacam na ala da dama. Teremos um caso similar na partida 28. Na partida 26, o brilhantismo contra Marshall, essa divisão está ausente (as operações restritivas e atacantes são produzidas com exclusividade no território central), porém somente porque as brancas abandonaram por completo o centro, ao concentrar o seu ataque na ala da dama. Resumindo: se as operações restritivas se baseiam em uma coluna aberta, devem se limitar ao centro. Se o nosso único elemento restritivo é uma diagonal, então depende de nós a ampliação de nossa atividade a outros setores. A forma de como se fazer isso poderá ser observada nas três partidas a seguir. Partida 26 Nimzovitsch - Marshall Nova Iorque, 1927 Defesa Irregular

1.c4 Nf6 2.d4 e6 3.Nf3 c5 Isso se traduz em uma posição restringida. 4.d5 d6 5.Nc3 exd5 6.cxd5 g6! O bispo de casas pretas assume o controle do ponto central e5 e com ele a obrigação de impedir o avanço de uma massa central de peões (talvez dois, os peões brancos e e f).

Posição após 6...g6! 7.Nd2 Muitos leitores pensarão ser lamentável que as brancas desprezem o problema da restrição central desenvolvida pelas pretas em lugar de enfrentá-la e resolvê-la da seguinte forma: 7.e4 Bg7 8.Bd3 0-0 9.0-0 a6 10.a4 Re8 11.h3. Porém as brancas estimaram que essa posição, falando de modo geral, está mais ou menos equilibrada e, em particular, era digna de consideração a possibilidade 11...b6, seguido de ...Ra8-a7-e7. Por outro lado, as pretas também poderiam jogar 10...Bg4, seguido de ...Bxf3. Em tal caso, o que poderia ter sido feito contra o desenvolvimento restritivo ...Qc7 e a dobrada das torres na coluna e? O amável leitor entenderá que, por essa razão, as brancas tenham preferido buscar complicações com o lance do texto, antes de efetuar o rotineiro 7.e4, com o desenlace provável de que, após ter completado o respectivo desenvolvimento, ambos os jogadores chegassem a um ponto morto. 7...Nbd7 8.Nc4 Nb6 9.e4 Bg7 Aqui poderia ser jogado 9...Nxc4 10.Bxc4 Bg7. Por exemplo: 11.0-0 0-0 12.h3 Re8 13.Qd3 a6 14.a4 Bd7 e

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agora as pretas estariam em condições de completar seu desenvolvimento com ...Qc7 e a dobrada de torres na coluna e. 10.Ne3! As pretas não esperavam esse lance. As brancas projetam o avanço a4-a5 e colocar novamente seu cavalo em c4. Desde esse ponto, as brancas parecem ter a vantagem. 10.0–0 11.Bd3 Nh5 12.0–0 Be5 13.a4 Nf4 14.a5 Nd7 15.Nc4 Nxd3 16.Qxd3 f5 17.exf5 Rxf5 18.f4 Como as brancas deixaram livres as mãos do adversário, as pretas puderam fragmentar o centro inimigo. Mas as brancas continuam fortemente centralizadas (cavalo em c4) e também têm opções na ala da dama. Em lugar do lance combinatório do texto, também seria muito bom 18.Ne4. 18...Bd4+ 19.Be3 Bxc3 20.Qxc3 Nf6 21.Qb3

Posição após 21.Qb3 As brancas conseguem compensação pelo peão que perdem. Note-se, entre outras coisas, que as pretas têm dificuldades para desenvolver sua ala da dama. 21...Rxd5 A resposta a 21...Nxd5 seria 22.Rae1,

que impede 22...Be6 (devido a 23.Bxc5). As pretas estariam então sem defesa e as brancas venceriam com Bd2 e a dobrada das torres na coluna e. 22.f5 gxf5 23.Bg5 Este lance contém uma chave incomum, pois se 23...Be6 (e as brancas teriam que considerar essa defesa sobre todas as demais) segue 24.Qxb7 (ameaçando ganhar a peça com 25.Bxf6) 24...Rc8 25.Rae1! e, frente à ameaça 26.Bxf6, o bispo já não poderá proteger ambas as torres. 23...Rd4 24.Nb6+ c4 25.Qc3 axb6 26.Qxd4 Kg7 27.Rae1 bxa5 28.Re8 O caminho mais rápido. 28...Qxe8 29.Qxf6+ Kg8 30.Bh6 As pretas abandonaram. Partida 27 Sämisch - Nimzovitsch Carlsbad, 1923 Defesa Índia

Depois de um tratamento hipermoderno da abertura, as brancas ficaram com um jogo mais livre. 1.d4 Nf6 2.c4 b6 3.Nc3 Bb7 4.Qc2 Nc6 5.d5 Ou também 5.Nf3 d6 6.d5 Nb8, mais ou menos como na partida, exceto que nesse caso, depois dos lances g3, Bg2 e eventualmente Nd4, as brancas teriam obtido jogo melhor. 5…Nb4 6.Qd1 a5 A fim de manter em aberto uma possível retirada por a6 e c5, se as brancas jogarem a3. 7.e4 Aqui e na seqüência Sämisch exibe sua força de vontade respaldada por uma 55

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honestidade científica: quantos jogadores em seu lugar não teriam sucumbido à tentação de expulsar o cavalo incômodo, inclusive às custas do enfraquecimento da própria posição? 7…e5 8.g3 g6 9.Bg2 Bg7 10.Nge2 0–0 11.0–0 d6 12.f4 exf4 13.gxf4 Re8 14.Ng3 Nd7

Posição após 14...Nd7 O centro branco agora está contido. Com esse procedimento algo passivo, as brancas aumentam o ataque na ala da dama (veja-se a explicação anterior). Devemos uma explicação ao leitor minucioso: até agora ignoramos deliberadamente a coluna e e consideramos que a ação restritiva só se concluía através da grande diagonal preta. Essa é a forma adequada de interpretá-la? Resposta: do ponto de vista amplo, sim, sem dúvida, pois a coluna e não tem em absoluto nenhuma importância como instrumento de ataque, uma vez que a casa e4 está sobejamente protegida. Os verdadeiros fatores são, por um lado, o centro branco, carregado de um desejo de expansão, e, de outro lado, a diagonal preta, muito efetiva para a tarefa da restrição e, como em seguida se verá, também de ataque. 15.Qf3

Que Sämisch tenha deixado o cavalo preto de b4 sem atacar é digno de elogio. Mas que lhe permita o acesso à casa c2 é, no entanto, desnecessário. Era necessário jogar no centro. Por exemplo: 15.Be3 f5? 16.a3 Na6 17.Bd4, ou também 15.Be3 Qf6 (para impedir Bd4) 16.e5! dxe5 17.Nce4 Qd8 18.f5, com um forte ataque.

Posição após 15.Qf3 15...a4! A diagonal começa a se fazer sentir ( a ameaça é ...a3). 16.Bd2 Ba6 17.Nd1 Nc2 18.Rc1 Nd4 19.Qa3 Não há uma casa boa para a dama. 19…Nc5 A ruptura …b6-b5 havia sido devidamente preparada e já poderia ter se realizado. 20.Nf2 f5 Um plano errado. A ala da dama, como antes, seria o alvo adequado. Por exemplo: 20...b5! 21.Bb4 (que Maróczy recomendou equivocadamente como refutação) 21...bxc4 22.Bxc5 dxc5 23.Qxc5 Qd6! 24.Qxd6 cxd6, com vantagem para as pretas. 21.exf5 gxf5 22.Nh5 Se agora 22...Ne2+, seguido de

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...Nxc1, as brancas, a seu devido tempo, obteriam vantagem com o lance de ataque Qg3. 22...Qe7 Também se poderia jogar a defesa ...Bh8, seguido de ...Kh7. 23.Nxg7 Depois disso, as brancas ficarão com o pior lado da luta. Deveriam ter preservado a igualdade com 23.Kh1 Bh8! 24.Qh3. 23...Qxg7 24.Kh1 Re2 25.Bc3 Bxc4 Agora as pretas ameaçam um sacrifício de dama: 26...Qxg2+ 27.Kxg2 Bd5+ 28.Kh3 Re3+ 29.Kh4 Nf3+ 30.Kh5 Bf7+ etc. A 26.Rg1, seguiria 26...Kf7 27.Bf3 Qxg1+! e ...Nxf3, com vantagem das pretas. O mais surpreendente no entanto é o fato de que esse sacrifício de dama, de forma mais refinada, voltou a se estabelecer mais tarde, como pode ser visto no comentário ao lance 26. 26.Bf3

Posição após 26.Bf3 26...Kf8? Uma omissão, provocada pelo apuro de tempo. O sacrifício da dama continuava sendo muito forte. Por exemplo: 26...Nxf3 27.Bxg7 Bxd5 e as

brancas praticamente não têm defesa. A seguinte linha é uma amostra: 28.Bh6 Kf7 29.Rcd1 Rd2! 30.Rxd2 Nxd2+ 31.Kg1 Rg8+ 32.Bg5 Nf3+ 33.Kg2 Nxg5+ 34.Kg3 Nf3+ 35.Kh3 Nd2 36.Rd1 Bg2+ 37.Kh4 Nf3+ 38.Kh5 Ne6 39.Qe3 Rg6, ou mesmo 39.Nh3 Rg4, vencendo. Se ao invés de 28.Bh6 as brancas jogassem 28.Kg2, então 28...Kxg7 29.Kh3 Re6 30.Rg1+ Kf7 e as pretas, com uma pequena desvantagem material, teriam mantido um ataque muito forte, provavelmente decisivo. Em conseqüência disso, as pretas poderiam ter desequilibrado a luta no lance 26 de uma forma muito elegante. 27.Bxd4? As brancas rapidamente devolvem a cortesia, cometendo por sua vez um erro no apuro do relógio. Com 27.Rcd1 Nd3 28.Bxd4 Qxd4 29.Bxe2 Nxf2+ 30.Rxf2 Qxf2 31.Bxc4 teriam inclinado a balança a seu favor. 27...Qxd4 28.Bxe2 Bxe2 29.Qh3 Dificilmente há algo melhor. 29...Qxd5+ 30.Kg1 Bxf1 31.Qh6+ Ke8 32.Kxf1 Kd7 33.Qxh7+ Kc6 As pretas agora deveriam vencer sem maiores dificuldades. 34.Qh3 Rg8 35.b4 axb3 36.axb3 Kb7 37.Rc3 Ra8 38.Qf3 Ra1+ Isso faz com que a vitória se torne muito mais difícil. A torre deveria permanecer em a8 por tempo indeterminado. O lance 38...Ne4 venceria de imediato. 39.Kg2 Ne4 40.Nxe4 fxe4 41.Rxc7+ O recurso que 38...Ra1+ fez possível. 41...Kxc7 42.Qc3+ Kb7 43.Qg7+ Kc6 44.Qxa1 e3+ 57

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Agora segue um instrutivo final de damas, no qual as pretas têm uma ligeira vantagem. 45.Kg3 Qd2 46.Qa8+ Kc5 47.Qa3+ Kd5 48.Qa4 Qe1+ 49.Kg4 Qe2+ 50.Kg3 b5 51.Qb4 Qf1 52.h4 O lance 52.f5! oferecia a opção do empate. Por exemplo: 52...Ke5 53.Qc3+ Ke4 54.Qc6+ e empate. 52...Qf2+ 53.Kg4 Qg2+ 54.Kf5 Qc2+ 55.Kg4 Ke6 As brancas não viram esse lance. Se agora 56.Qxb5, então 56...Qg2+ 57.Kh5 Qd5+ e as pretas vencem. O final da partida foi: 56.f5+ Qxf5+ 57.Kg3 e2 58.Qc3 Qf1 59.Qe3+ Kf7 60.Qa7+ Kg6 61.h5+ Kxh5 62.Qh7+ Kg5 Agora o rei se dirige a b2, porém será necessária a cobertura de seu peão d para se proteger dos xeques pela retaguarda. 63.Qg7+ Kf5 64.Qf7+ Ke5 65.Qe7+ Kd5 66.Qb7+ Kd4 67.Qb6+

Posição após 67.Qb6+ 67...Ke4! Ainda não servia a fuga a b2. 68.Qc6+ d5! O escudo. 69.Qe6+ Kd4 70.Qb6+ 71.Qxb5+ Kc2

Kd3

As brancas abandonaram. Se o peão preto estivesse em d6, ao invés de em d5, então 72.Qc4+ traria o empate. Resumindo: após 23.Kh1 no lugar de 23.Nxg7, as pretas dificilmente poderiam ter explorado a coluna e. Porém como contrapartida, temos que dizer que o avanço correto (...b5) nos lances 19 e 20, como foi indicado, teria vencido para as pretas com facilidade.

Partida 28 Berger - Nimzovitsch Londres, 1927 Abertura Inglesa

1.c4 Nf6 2.Nc3 c5 3.g3 g6 4.Bg2 Bg7 5.d3 0–0 6.Bd2 e6 As pretas não temem a ameaça Qc1 e Bh6 e por conseqüência descartam o rotineiro ...h6 e ...Kh7. 7.Qc1 d5 8.Nh3 Esse lance encarna uma idéia correta, pois com Nf4 força uma decisão no centro do tabuleiro. As brancas, com sabedoria não se comprometem com 8.Bh6 d4 9.Nd1 Qa5+. 8...d4 9.Na4 Na6 10.a3 Qe8 11.b3 e5 12.Nb2 Bg4 Para impedir o roque grande das brancas, mas atualmente penso que seria melhor jogar 12...Bf5, um lance no entanto difícil de se encontrar no tabuleiro. 13.Ng5 Muito hábil. O cavalo aponta para a casa e4, ao mesmo tempo em que disfarça o ataque do bispo, de modo que as brancas estão dispostas a continuar um avanço sustentado na ala da dama. Em

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outras palavras, no centro as brancas se opõem passivamente ao avanço do peão e do adversário, porém a tal procedimento agregam um ataque agudo na ala da dama. 13...Rb8 14.b4 b6 15.b5 Nc7 16.a4 Bc8! Para trocar os bispos. 17.a5 Bb7 18.f3 Teria sido mais simples jogar 18.Bxb7 Rxb7 19.axb6 axb6 20.0-0. A coluna a pode ser que não produza efeitos imediatos, mas pediria uma vigilância constante por parte das pretas, o que ajudaria a distrair os efetivos da ala do rei. 18...Ne6 19.a6 Não faz muito tempo eu considerava que esse avanço poderia ser jogado. Hoje, no entanto, penso que a defesa das brancas – agora exclusivamente passiva – deve se desmoronar mais cedo ou mais tarde. Era imperioso 19.axb6. 19...Ba8 Aqui o bispo está morto, mas as pretas contam com a ruptura em e4, após a devida preparação. 20.h4

Posição após 20.h4 Debilita ainda mais a posição. Seria relativamente melhor Nb2-d1-f2, dirigido contra o eventual avanço das

pretas a e4. Uma medida preventiva que, no entanto, teria resultado insuficiente. Toda a defesa das brancas é demasiado passiva. 20...Nh5 21.Nxe6 Qxe6 22.g4 Nf6 Era de se considerar o sacrifício de peão que se produziria após 22...Nf4 23.Bxf4 exf4 24.Qxf4 Be5 25.Qd2 Qd6, seguido de ...Bf4 etc. 23.Bh3 Qd6 24.Nd1 h5 25.g5 Nh7 26.Nf2 f6 27.gxf6 Aqui seria um pouco melhor 27.Rg1 e depois de 27...fxg5 28.hxg5 as brancas poderiam ter conservado o seu bispo da dama para cobrir a casa f4, onde o inimigo planeja romper, o que não será o caso da partida. Por outro lado, se 27.Rg1, as pretas respondem 27...f5, conectando todas as suas peças com a casa e4: o cavalo, via f8-e6-c7-e8, a d6, a dama estaria melhor situada em c7 e as torres na coluna e. Finalmente, a ruptura em e4 se produziria com efeitos decisivos. 27...Bxf6 28.Bg5 Bxg5 29.hxg5 Rf4! Veja-se a primeira parte do comentário anterior. 30.Rg1 Rbf8 Seria agir de forma miserável ganhar um peão com 30...Qe7 31.Qd2 Nxg5 32.0-0-0. 31.Bf1 Rh4! Impedindo o lance 32.Nh3, devido à possibilidade 32...e4 33.dxe4 Qh2, que ganha a peça. 32.Qd2 Rh2! 33.Rg2 Lance forçado. A torre na sétima fileira exerce uma pressão muito forte. 33...Rxg2 34.Bxg2 59

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49.fxg4 Bxe4 O bispo sai de sua hibernação. 50.gxh5 Bf3 As brancas abandonaram. 3 – Restrição de uma maioria qualitativa (sobretudo, de uma cadeia majoritária).

Posição após 34.Bxg2 34...e4! Esse avanço de peão é a chave da troca das torres. 35.dxe4 Qg3 Não só foi uma ruptura de peão, mas também, como é óbvio, uma penetração decisiva. 36.Kf1 Se 36.Bf1 seguiria 36...Bxe4. 36...Nxg5 37.Kg1 Se 37.Nh1 seguiria 37...Nxe4 38.Nxg3 Nxd2+, seguido de 39...Nxc4 e de repente o bispo enclausurado disporia da casa d5. 37...Rxf3 Aqui o condutor das pretas pensou durante 20 minutos sobre 37...h4, que poderia ter vencido antes. Mas a seqüência poderia ter sido 38.Nh1 Nh3+ 39.Kf1 Qh2 40.Bxh3 Qxh1+ 41.Kf2 Qxa1 e agora surgiriam grandes complicações para as pretas se as brancas jogassem 42.Qh6 (porém com 41...Qxh3 42.Rg1 Qh2+ 43.Rg2 Qf4, as pretas também venceriam com facilidade). 38.Qxg5 Qxg5 39.exf3 Qe3 40.Rd1 Qb3 41.Rc1 g5 42.Kh2 Qe3 43.Rf1 Qe2 44.Nh3 d3 45.Nf2 d2 46.Kg1 Qxc4 47.Rd1 Qc1 48.Bh3 g4

Inicialmente, uma explicação que deverá elucidar o significado de maioria qualitativa. Como escrevi em meu livro O Bloqueio, uma maioria de peões, digamos três contra dois, tem, é claro, que ser restringida. Nesse sentido, deve ser permitida uma maioria em posições tais em que uma superioridade de peões em uma ala não se embase simplesmente no número. Na partida Nimzovitsch-Bernstein, Carlsbad 1923, depois dos lances 1.Nf3 Nf6 2.d4 d5 3.c4 e6 4.Nc3 Be7 5.e3 0–0 6.a3 a6 7.c5 c6 8.b4 Nbd7 9.Bb2 Qc7 10.Qc2 e5 11.0–0–0! e4, surgiu uma posição na qual as brancas (na ala da dama) e as pretas (na ala do rei) possuem atalhos para maiorias qualitativas. Por que? Porque o peão preto de d4 tem um valor maior do que o branco de e3. De maneira inversa, o peão branco de c5 é superior ao contrário de c6. Se as pretas pudessem atuar livremente, obteriam um ataque com ...f5, ...g5 e ...f5 que se igualaria em intensidade à avalanche de uma maioria. Também nesse caso se ameaça uma formação em cunha (...f4f3), assim como a abertura de linhas (...fxe3), junto com a captura posterior do peão e branco, que ficaria exposto não a um ataque frontal, mas pela diagonal. Bem, reconhecer uma maioria como tal pressupõe fazer alguma coisa contra ela. Em conseqüência seguiu: 12.Nh4! Nb8 (para impedir Nf5) 13.g3! Ne8

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2 - Restrição e Bloqueio

14.Ng2 f5 15.h4, e a ala do rei, que parecia pronta a avançar, se encontra agora paralisada. Depois de mais alguns lances, a restrição se transformou em bloqueio (com Nf4). Até aqui, o exame minucioso do meu tratado O Bloqueio. Quero incluir a seguinte observação: a superioridade do peão preto de e4 sobre o branco de e3 tem sua razão de ser pelo fato de que o peão e das brancas está bloqueado em seu caminho em direção ao centro (uma coisa penosa para um centro de peões), enquanto que o preto já superou a fronteira central. Os métodos restritivos que devem ser adotados contra maiorias qualitativas se mostram claramente nas partidas 13 e 27, de modo que consideramos suficiente remetermos a elas. Porém minha consciência de instrutor me exige que expliquemos de forma minuciosa um esquema que ainda não comentamos: “a escapatória do rei como paliativo”. Podemos considerar típica a seguinte cena da ação: uma maioria qualitativa, que avança gradualmente, ameaça esmagar a cadeia oposta de peões. Esta ruptura significaria ao mesmo tempo a exposição do rei e resultaria portanto duplamente desagradável. A medida paliativa seria conter a maioria que avança até que o rei tenha escapado. O ataque conseqüentemente não foi impedido, mas os seus efeitos foram atenuados. A partida 29 e a partida 30 mostram claramente este procedimento. Partida 29 Van Vliet - Nimzovitsch Ostende, 1907 Gambito de Dama

1.d4 d5 2.Nf3 c5 3.e3 e6 4.b3 Nf6 5.Bd3 Nc6 6.a3 Bd6 7.Bb2 0–0 8.0–0 b6 9.Ne5 Bb7 10.Nd2 a6 11.f4 Na abertura as brancas mostram sua intenção de pressionar e5. Agora as pretas consideram que chegou a hora de tomar contra-medidas. 11…b5 12.dxc5 Bxc5 13.Qf3 Qualquer pessoa que tenha algum conhecimento acerca da estratégia de centralização interpretará os dois últimos lances das brancas como uma tentativa para controlar as casas centrais, que agora se libertaram, através de peças, e também ocupá-las no desenvolvimento posterior da partida. É claro que as brancas não vão contemplar pacificamente os acontecimentos, mas também lutarão para dominar o centro. 13…Nd7 Esse lance, que ataca o cavalo inimigo (graças a 12.dxc5), tem o aspecto de ser perfeitamente lógico e, no entanto, não é o melhor. Um cavalo centralizado (e, posicionado em f6, tem todos os atributos para sê-lo no pleno sentido da palavra, pois controla e4 e protege o roque) não deve ser substituído, salvo em caso de absoluta necessidade, o que não é o caso aqui. Ao invés do lance do texto, as pretas dispunham de uma correta ação central com 13...Rac8. Na partida DuzJotimirsky – Nimzovitsch (do mesmo ano), seguiu (após 13...Rac8): 14.Qg3 Nxe5! 15.Bxe5 Bd6 16.Bd4 Qe7! 17.b4 g6! 18.Qg5 e agora as pretas poderiam ter igualado facilmente com 18...Nd7 19.Qxe7 Bxe7 20.e4 Nf6. É interessante observar que, em lugar de 13...Nd7, seria de se considerar o avanço imediato ...d5-d4, que poderia ser jogado. Mas o certo é que a tentativa 61

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13...d4 falha devido a 14.Nxc6 dxe3 15.Ne4! Nxe4 16.Nxd8 e2+ 17.Kh1 exf1=Q+ 18.Rxf1 Nf2+ 19.Qxf2 Bxf2 20.Nxb7. Uma linha que, apesar da incorreção, é instrutiva, pois dentre outras coisas nos informa que deve ser preparado o avanço ...d5-d4. Em conseqüência disso, 13...Rac8! e se então 14.Qg3, ou 14...Nxe5 (como na partida contra Duz-Jotimirsky), ou 14...d4 15.e4 Nxe5 16.fxe5 Nd7 17.Nf3, com possibilidades recíprocas. Depois do lance do texto, as pretas têm uma posição difícil. 14.Nxc6 Bxc6

Posição após 14...Bxc6 15.Qg3! Nf6 Se 15...f6, então 16.Qh3! f5 e as brancas ganham casas centrais com 17.b4 Be7 18.Nb3 Bf6 19.Nd4, embora as pretas possam oferecer uma dura defesa com 19...Qc8, ...g6 e ...Nb6. Por conseguinte, 15...f6 parece ser afinal o lance correto. Após 15...Nf6 a posição das pretas é tal que, com qualquer seqüência decente de lances (não necessariamente o plano estratégico visto anteriormente), as brancas manteriam a iniciativa. 16.Rad1

Um lance obviamente inofensivo. A estratégia central sem dúvida pedia 16.b4!, seguido de Nb3. 16...a5 As pretas se empenham a fundo. Agora já não é mais possível 17.b4 e o peão de a3 parece fraco. Apesar de tudo, é difícil impressionar as brancas, que gozam de forte posição centralizada. 17.Qh3

Posição após 17.Qh3 Meu adversário joga de forma rotineira. Um jogador de sistema teria considerado também o “sacrifício de peão pelo bloqueio”, ou seja: 17.Nf3! Bxe3+ 18.Kh1 e as brancas ocuparão as casas centrais d4 e e5. O peão a mais das pretas, por não ser móvel, não teria valor positivo e só atuaria no sentido negativo, ou seja, bloqueando suas próprias peças. Porém, como dissemos anteriormente, Qh3 também é muito forte. 17...h6 Com a idéia de provocar g4 e intensificar assim a luta. Outra possibilidade seria 17...d4. Por exemplo: 18.e4 e5 19.fxe5 Bd7 (não 19...Nd7 devido a 20.e6) 20.Qg3 Ng4 21.Rde1, ainda que nessa posição sem dúvida fosse preferível o jogo das brancas.

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2 - Restrição e Bloqueio

18.g4 d4 Para forçar a fixação dos peões, um esquema que aprenderemos mais adiante sob o título “do instrumento de bloqueio”. 19.e4 Qd7 Com a intenção de responder a 20.g4 com 20...e5. É discutível se seria melhor 19...e5. Por exemplo: 19...e5 20.fxe5 Nd7 21.Nf3 Qe7 22.Qg3 Rae8 23.g5 h5 e a posição das pretas não inspira muita confiança. 20.Rde1 e5 21.f5 Nh7

Posição após 21...Nh7 As pretas se esforçam ao máximo em conter a ameaça g4-g5 (como aconteceria após um lance da dama ou de 21...h5), mas já estão pensando em retirar o rei. Agora existe um grande interesse estratégico na seguinte questão: não teria sido mais simples preparar a sua retirada com ...Qe7, ...Nd7 e ...f6? Essas manobras não teriam economizado dois tempos, em relação às da partida, pois o cavalo chega a d7 em três movimentos ...Nf6-h7-f8-d7? Resposta: as brancas, depois de 21...Qe7, respondem 22.Nf3 Nd7 23.Nh4!, impedindo ...f6 e a conseqüente escapada do rei. Por outro lado, seria difícil fazer oposição à ameaça

24.f6 seguida de Nf5. Na manobra, tão recomendada por nós nos comentários anteriores (“tome medidas restritivas até que o rei se tenha retirado”), a velocidade é menos essencial do que induzir o adversário a que avance os seus peões, pois na natureza do seu avanço se insere que, ao menos por algum tempo, as peças fiquem à margem da ação, e tais avanços lhes retiram casas. Essa circunstância não pode senão ser bem-vinda pelo jogador que deseja deslocar o seu rei e colocá-lo a salvo. Compare-se com o comentário ao lance 24. 22.Nf3 Qe7 23.Qg3 Rfe8 24.h4 f6 O ataque à baioneta das brancas lhes retirou das peças uma casa importante. Agora já não é possível Nh4. 25.Ra1 Qb7 26.Rfe1 Kf7 27.Re2 Rh8 28.Kg2 Nf8 29.g5 hxg5 30.hxg5 Nd7 A posição das pretas agora é muito sólida: o rei pode contar com um bom lugar de repouso em d6 (ou inclusive em c8). Por outro lado, controlam a coluna h e de frente para o final o peão branco de a3 é uma boa presa. Não obstante, será difícil progredir. 31.gxf6 Para ocupar g6 com o cavalo. O livro do torneio questiona esse lance, mas nós o consideramos perfeitamente aceitável e não vemos razão para criticá-lo. Pode-se acrescentar que, embora 31.Rag1 pareça melhor, após 31...Ke7 (seguido de ...Rae8 e ...Kd8-c8), não se vê como o jogo das brancas possa prosperar, pois o peão a3 está indefeso. Não, 31.gxf6 não merece as críticas contrárias. A posição das brancas permanece com um aspecto 63

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muito bom, porém na madeira apareceram os nós e nem 31.gxf6, nem 31.Rae1 poderiam eliminá-los. 31...gxf6 32.Nh4! Rag8 33.Ng6 Rh5 34.Kf2 Nf8 35.Rg1 Rg5

Posição após 35...Rg5 Tudo isso foi jogado de forma correta pelas pretas e as brancas dificilmente poderão manter o seu ponto forte em g6. Também era possível 35...Nxg6 36.fxg6+ Kg7, seguido de ...Rh8. 36.Qh4 Aqui parece imprescindível 36.Qh2. 36…Rxg1 As pretas descartam a opção 36...Nxg6, que não seria possível jogar se a dama tivesse se retirado a h2 e entram na linha principal de jogo. 37.Kxg1 Nxg6 38.Qh5 Kf8 39.fxg6 Qg7 40.Rg2 Rh8 41.Qe2 Rh4!? As pretas seguem o caminho errado (ou seja, o caminho que se acreditava ser o correto antes de 1925, veja bloqueio). As pretas pensavam de forma errada que o peão e das brancas não se sustentasse, pois sempre está no ar um xeque descoberto do bispo de casas pretas. Pelo contrário, a partida seria vencida com facilidade mediante um ataque direto ao peão de g6: 41...Rh6 42.Qg4 Bd7

43.Qg3 Be8, vencendo. 42.Bc1! Rxe4!?

Posição após 42...Rxe4?! 43.Qd2? As brancas não vêem que a deusa da sorte sorri para elas! O certo é que Teichmann, eu próprio e mais alguém não conseguimos ver a linha salvadora. As brancas conseguiriam o empate com o sacrifício da dama: 43.Qxe4 Bxe4 44.Bxe4, com a ameaça Rg2-h2-h7 e o descoberto (...d3+) não conduz a nada depois de Kf1. Com o lance do texto, tudo está perdido para as brancas. 43...Rh4 44.Qxa5 Qd7 45.g7+ Kg8 46.Bc4+ bxc4 47.Qxc5 Rh1+ As brancas abandonaram. Uma tarefa para o leitor: pedimo-lhe que na posição depois de 30...Nd7 conduza as peças pretas. Suponhamos que um adversário de igual força jogue 31.Rae1. Defenda agora a sua posição. Para começar, como já se comentou, com 31...Ke7 , seguido de ...Rae8 e ...Kd8c8. A essência da questão é: com que rapidez e em que condições se produzirão as trocas favoráveis para as pretas? Podem as brancas alcançar a casa g7 sem permitir que se produzam tais trocas? Ou a partida derivará, lenta

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porém de forma inexorável, em direção a um final no qual as pretas terão vantagem? Esse exercício resultará interessante e instrutivo.

Partida 30 Nimzovitsch - Berger Londres, 1927 Abertura Bird

A abertura é uma espécie de Holandesa com as cores invertidas. Entre os lances 6 e 10 se produz uma escaramuça duvidosa, que não parece conduzir a nada de extraordinário. 1.b3 Nf6 2.Bb2 e6 3.f4 d5 4.Nf3 Be7 5.e3 Nbd7 6.Bd3 Para responder a 6...Nc5 com 7.0-0 Nxd3 8.cxd3, seguido de d3-d4, d2-d3, Ne5 e jogo na coluna c. 6…Ne4 7.Ne5 0–0 8.0–0 Nxe5 9.Bxe4 Nd7 10.Bf3 Bf6 A partida parece se encaminhar para o empate. 11.Nc3 c5 12.Qe1 Se 12.Qe2, 12…d4 13.Ne4? d3! 14.Bxf6 dxe2, vencendo. 12…b6 13.g4 Ba6 14.d3 d4

Posição após

14...d4

Com isso as pretas, que deviam procurar abrir a posição, conseguem somente o arrocho do seu esqueleto de peões. O correto seria 14...Rc8, eventualmente seguido de ...c4. 15.Ne4 Rc8 16.Nxf6+ Nxf6 17.e4 e5 18.f5 h6 19.Qg3 Re8? A posição agora tem alguma similaridade com a da partida anterior após o lance 21...Nh7. Também aqui o indicado é a retirada do rei e em ambos os casos o avanço g4-g5, depois de h4, não pode ser impedido. No caso do diagrama mencionado na partida 29, as pretas, mediante métodos lentos, praticamente provocaram a avalanche de peões hostis, o que conduziu ao bloqueio das casas para as peças brancas (h4 para o cavalo), permitindo ao rei escapar sem problemas. No presente caso, não havia perigo de que a fuga do rei fosse dificultada pelas peças brancas, de modo que o deliberado processo de deixar as coisas mais lentas somente supunha uma desnecessária perda de tempo. O correto seria 19...Nd7, seguido de ...f7-f6 e ...Kf7. Por exemplo: 20.h4 f6 21.Bc1 Kf7 22.g5 hxg5 23.hxg5 Rh8 e as pretas levariam sem problemas o seu rei a b8, passando por d6. Mais tarde, poderiam pensar em atacar com ...b6-b5 e ...c5c4, um avanço latente nessa posição. Depois do lance deficiente da partida, o rei preto não consegue escapar do seu castelo em chamas e sucumbe penosamente no incêndio. Quem disse que morrer queimado era uma coisa bela? 20.h4 Nh7 21.Bc1 f6 22.Rf2 Rc7 23.Rg2 Qe7 24.Qh3 Rc6 25.Bd2 Rd8 26.Kh1 Rdd6 27.a4 65

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(partida 31 e partida 34). (b) Peões dobrados e fixos em c2 e c3 (ou pretos em c7 e c6). Brancas: Pc2, Pc3 e Pd4, com o peão e em e3 ou e5; Pretas: Pc4, Pd5, Pe6 (partida 35). (c) A dupla de peões dobrados de c2 e c3 está bloqueada por um cavalo em c4 (partida 36).

Posição após 27.a4 Até esse instante o avanço ...b5 das pretas teria sido refutado com a4, porém as brancas nessa fase necessitam da sua torre de a1 na ala do rei, de modo que primeiro tomam essa medida efetiva na outra ala. 27...Bc8 28.Rag1 a6 29.Rh2 Agora já não se pode impedir o avanço g5. 29...Kh8 30.g5 fxg5 31.hxg5 b5 32.axb5 axb5 33.Qh4 c4 Não havia defesa. 34.gxh6 Qxh4 35.hxg7 As pretas abandonaram. Poderia ter seguido 35...Kg8 36.Rxh4 Rd8 37.Ba5 Re8 38.Bh5! Re7 39.Bf7+! Rxf7 40.Rxh7 Kxh7 41.g8=Q+ etc. Moral da estória: não provoque um assalto de peões, a menos que as peças hostis, como conseqüência desses avanços, percam a mobilidade e ajudem dessa forma a retirar o rei. Se não for o caso, empreenda a fuga o quanto antes, pois o deliberado retardamento da ruptura (como na partida 29) não teria sentido. 4 – Restrição no caso de um complexo de peões dobrados.

(a) Brancas: Pa2, Pc3, Pc4, Pd3, Pe4; Pretas: Pe5, Pd6, Pc7, Pb7, Pa7

Sobre o item (a): A menos que as brancas o permitam, as pretas dificilmente poderão colocar em apuros o complexo de peões dobrados, que se enrolará como um ouriço e se desenrolará com d3-d4, mantendo-se compacto. Ao mesmo tempo, uma política de abstenção em nada contribuirá para potencializar a posição das brancas, muito ao contrário (partida 31). Uma vez que o complexo tenha deixado sua carapaça, quase sempre se produzirão novos acontecimentos. Ao se avançar o peão a d4, seguindo d4-d5, o complexo ficará comprometido. Essa continuação do avanço pode ser atribuída aos nervos, devido à desagradável pressão sofrida, sobretudo na coluna e, pois é difícil encontrar razões objetivas para essa continuação. Compare-se a abertura da seguinte partida entre Tartakower-Nimzovitsch, jogada em Berlim 1928: 1.d4 Nf6 2.c4 e6 3.Nc3 Bb4 4.Bg5 Bxc3+ 5.bxc3 Qe7 6.Qc2 d6 7.e4 e5 8.Bd3 h6 9.Be3 0–0 10.Ne2 (ou 10.Nf3, como na partida 33) 10...Nc6 11.d5. Não há razão objetiva para se realizar esse avanço. A ameaça irrelevante ...exd4, cxd4, ...Nb4 poderia ser perfeitamente neutralizada com 11.Rb1. Também veremos, em relação à partida 33 (veja o comentário ao lance 13

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das pretas), a enorme capacidade de resistência que o complexo adquire com o avanço a d4. Contra isso, a debilidade do complexo claramente se acentua com o novo avanço d4-d5 e isso sem que as pretas tenham tomado medidas drásticas com ...c5 (veja na partida 32 o comentário ao lance 39). As opções que se derivam de ...c7-c5 e d4-d5 se manifestam nas partidas 33 e 34. Sobre o item (b): A debilidade dupla formada pelo peão a isolado e os peões c dobrados, considerados em conjunto, não fornece um panorama muito feliz, pois a existência dos peões dobrados bloqueados faz com que o isolado pareça ainda mais isolado do que nunca, ao estar desmembrado do corpo principal (partida 35). Quando a cadeia de peões se estende até e5, as brancas têm, é claro, possibilidades de contrajogo e em tais casos deve ser considerada uma defesa profilática do complexo, como se demonstrará mais adiante nas partidas 49 e 50, contra Vajda (Kecskement 1927) e Kmoch (Bad Niendorf 1927) respectivamente. Sobre o item (c): Comparem-se as duas seguintes aberturas: Morrison-Nimzovitsch (1927): 1.e4 e6 2.g3 d5 3.Nc3 Nc6 4.exd5 exd5 5.d4 Bf5 6.a3 Qd7 7.Bg2 0–0–0 8.Nge2 Nce7 9.Nf4 Nf6 10.h3 h5 11.Nd3 Ne4 12.Be3 Nxc3 13.bxc3 Nc6 14.Nb4 Bd6 15.Qe2 Na5. Leonhardt-Nimzovitsch (Berlim 1928): 1.e4 e6 2.d4 d5 3.Nc3 Bb4

4.exd5 exd5 5.Bd3 Nc6 6.Nge2 Nge7 7.0–0 0–0 8.Bf4 Bg4 9.h3 Bh5 10.Qc1 Ba5!. Se agora 11.a3 (para impedir ...Nb4), então 11...Bxc3 12.bxc3 Na5, e a dupla manobra do bispo das pretas induziu as brancas a avançarem seu peão a, mais vulnerável em a3 do que em a2. Partida 31 Nimzovitsch - Sämisch Dresden, 1926 Abertura Inglesa

Nessa partida as pretas não conseguem forçar o avanço do complexo de peões dobrados e como conseqüência não se consegue discernir claramente os sintomas da doença. Há uma compensação, no entanto, na forma de sintoma secundário, a saber, a ausência de defesa das peças brancas. Normalmente estas peças estão prontas para o ataque, porém o entusiasmo em atacar se vê atenuado pela consciência de que não podem contar com a cooperação dos peões. Como o corpo de peões em questão tampouco é confiável no aspecto defensivo (pois existe o perigo de serem envolvidos por ...c6 e ...d5), se compreende perfeitamente a atitude indecisa das peças (10.Qc2, 11.Qd2). Do modo como a debilidade oculta dos peões se projeta a um plano que é perfeitamente perceptível para o leitor, o estudo dessa partida será de grande proveito para ele. 1.c4 e5 2.Nc3 Nf6 3.Nf3 Nc6 4.e4 Bb4 5.d3 d6 6.g3 Bg4 7.Be2 Isso não é tão incoerente quanto possa parecer, pois o avanço g3 estava concebido inicialmente para suportar o salto do cavalo a h4 e, por outro lado, 7.Bg2 permitiria 7...Nd4. 7…h6 8.Be3 Bxc3+ 9.bxc3 Qd7 10.Qc2 67

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impraticável e a única conseqüência do lance do texto é que o cavalo é retirado do centro. 12.h3 Também teria sido bom 12.Nh4. 12...Bxh3 Essa captura perde peça. As pretas só contavam com 13.Bxh6, que certamente também teria sido forte. Vejamos: 13.Bxh6 Bg2 14.Rh2 Bxf3 15.Bxf3 gxh6 16.Qxh6 f6 17.Bg4! etc. Posição após 10.Qc2 As brancas compreendem que é pequena a mobilidade dos peões centrais, uma vez que d4 e mais ainda, d5, se paralisariam, em vista da debilidade de c5. Por conseguinte, adaptam os movimentos de suas peças às suas modestas circunstâncias de espaço. Nesse sentido, poderiam ter jogado 10.Nd2 (para efetuar uma retirada estratégica com f2-f3) 10...Bxe2 11.Qxe2 Ng4 12.f3 Nxe3 13.Qxe3 0-0 14.0-0, com posição mais ou menos igualada. Porém, deve-se considerar 10.Qd2 uma má utilização do espaço disponível, já que essa casa deveria ficar livre e a dama, em qualquer caso, estaria melhor situada em c2 (olhando de relance a casa a4 e a eventual ameaça d4). Depois de 10.Qd2, nossa recomendação é 10...Nd5 11.Qc2 0-0, seguido de ...Rfe8, ...c7-c6 e ...d6d5, com melhor posição para as pretas. 10…0–0? Aqui preferiríamos 10...Na5 (se 11.d4?, então 11...Nxc4!). 11.Qd2! Agora esse lance é correto, porque o roque das pretas corre perigo. 11...Nh7? Para jogar ...f5, porém esse avanço é

Posição após 12...Bxh3 13.Ng1! Bg4 14.f3 Be6 15.d4 As pretas não podem salvar a peça. 15...exd4 16.cxd4 d5 17.cxd5 Bxd5 18.exd5 Qxd5 19.Rd1 Rfe8 20.Kf2 Nf6 O cavalo descentralizado regressa arrependido. 21.Rh4 Ne7 22.Bd3 Nf5 23.Bxf5 Qxf5 24.Kg2 Re7 25.Bf2 Rae8 26.Rf4 Qg6 27.d5 Após a oportuna consolidação (lances 24 e 25), as brancas tiram do adversário a casa d5 e com ela as últimas esperanças de contrajogo. 27...Re5 Se 27...Rd7, então 28.Qa5 etc. 28.Rd4 Rd8 29.Qa5 Nh5 30.Qxc7 Rde8 31.d6 As pretas abandonaram.

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Partida 32 Nimzovitsch - Colle Londres, 1927 Defesa Índia

O complexo de peões dobrados da partida anterior, ampliado com o avanço d4, compõe o tema da presente luta. De uma forma geral, o avanço d3-d4 pode exercer um efeito estimulante sobre o jogo das brancas, mas, no que se refere ao complexo de peões, é o primeiro passo para a derrocada. Quando as brancas jogam d4-d5, é o segundo e último. Vamos ser claros com referência a esse ponto: o destino do complexo de peões não tem porque ser necessariamente associado com a totalidade da partida, apesar disso ocorrer com freqüência. Vale a pena observar como, de uma forma ou de outra, as brancas acabaram tendo que realizar o avanço d4-d5. 1.d4 Nf6 2.Nf3 e6 3.c4 b6 4.g3 Bb7 5.Bg2 Bb4+ 6.Nc3 Deliberadamente propondo o problema do complexo de peões dobrados. 6...0–0 7.0–0 Bxc3 8.bxc3 d6 9.a4! A intenção é provocar 9...a5 e dessa forma impedir a possível manobra ...Nb8-c6-a5. 9...a5 Ou 9...Nc6 10.Nd2 Na5 11.Bxb7 Nxb7 12.Nb3 e o complexo goza de boa saúde. 10.Ba3 Nbd7 11.Nd2 Bxg2 12.Kxg2 e5 13.e4 Agora podemos ver em plena vitalidade o complexo da partida 31, mas de forma ampliada. 13...Re8 Ameaça ...exd4 seguido de ...Nxe4. 14.f3 Nf8

A torre preta de e8 agora cumpre uma função preventiva: impede o lance f3-f4. 15.Rf2 Qd7 16.Nf1 Ng6 17.Bc1 Kh8 18.Ne3 Ng8 19.h4 Qc6 20.h5 N6e7 21.Qd3 Rf8 22.g4 g6! 23.Bd2! gxh5 24.Nf5

Posição após 24.Nf5 A idéia de impedir ...f7-f5, inclusive à custa de um peão, é boa, porém a questão em si não poderia ser abordada de forma mais incisiva do que com 24.Rh1. Por exemplo: 24.Rh1 Qxa4 25.Rxh5 f6 26.Kg3, seguido da triplicação de peças na coluna h. Mas as brancas, que lutavam pelo primeiro lugar no torneio, preferiram atuar de forma cautelosa. 24...Nxf5 25.gxf5 Nf6 26.d5 Finalmente se realiza esse avanço. Em qualquer caso, o complexo de peões dobrados desempenhou um serviço esplêndido durante o período de resistência ao avanço. 26...Qd7 27.Qe3 Rg8+ 28.Kh1 Qe7 29.Rh2 Rg7 30.Be1 Nd7 O cavalo se retira frente à ameaça …Bh4. 31.Rxh5 Teria sido mais simples jogar 31.Bh4 f6 32.Qh6 Qf7, seguido de lances repetidos da torre da dama (Rd1-a1-d1 etc.).

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31…Rag8 32.Bf2 f6 33.Rh2! Com esse lance as brancas consolidam a sua posição. Rg5 34.Bh4 Rh5 35.Rg1 Qf8 36.Rg4 Qh6 37.Qxh6 Rxh6 38.Bf2 A seqüência 38.Rxg8+ Kxg8 39.Bf2 desembocaria em um empate. 38...Rxh2+ 39.Kxh2

Posição após 39.Kxh2 39...Rb8! É típico da grande debilidade de um complexo de peões dobrados que o adversário possa se permitir jogar para ganhar, apesar do fato de que seus peões (em casas da mesma cor do bispo inimigo) tampouco estejam muito seguros. As pretas podiam jogar assim não só da forma do lance do texto, mas também com 39...Rc8 40.Rg1! c6. Esse desafio ao complexo avançado é particularmente efetivo quando a posição é fechada. Primeiro se provoca o avanço d3-d4-d5 e em seguida se exploram as deficiências da formação com ...c6. É certo que no caso presente esse procedimento não se realizaria sem algum transtorno, pois o ataque das brancas na ala do rei criou debilidades no campo inimigo: 41.Rb1! cxd5 42.cxd5 Rxc3 43.Bxb6 Rxf3 44.Bxa5 Nc5. A posição se abriu por completo e as possibilidades se inclinam muito

ligeiramente a favor das pretas. 40.Rg1 Nc5 41.Ra1 Kg7 42.Be3 Kf7 43.Ra2 Nd3 Os dois últimos lances preventivos das brancas estão dirigidos contra esse salto. As pretas deveriam ficar felizes com um empate. 44.Rd2 Ne1 45.Kg3 Rg8+ 46.Kf2 Ng2 47.Bh6! Uma defesa forte, que em determinadas circunstâncias poderá culminar com a captura do cavalo. Por exemplo: 47...Nh4 48.Ke3 Rg3 49.Rh2 Nxf3 50.Kf2 Nxh2 51.Kxg3 Nf1+ 52.Kg2 e o cavalo não tem mais escapatória. 47...Nf4? Isso perde um peão e, após um final tenaz, também a partida. Com 47...Nh4 48.Ke3 Ng2+ Colle poderia com facilidade chegar ao empate em uma partida que jogou tão bem. O final é um exemplo muito instrutivo da sétima fileira absoluta. 48.Bxf4 exf4 49.Rd1 Ke7 50.Rh1 Rg7 51.Rh4 c6 Um questionamento tardio, ainda que a resposta não seja fácil de encontrar. 52.Rxf4 h5 53.Rh4 Rh7 54.Rh1! Kd7 55.Rg1 cxd5 56.cxd5 h4 57.Rg8 h3 58.Ra8 Rh6 59.Ra7+ Kc8

Posição após

59…Kc8

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A torre domina a sétima absoluta, enquanto o rei se ocupará do bloqueio. 60.Kg1 h2+ 61.Kh1 Rh3 Agora tudo depende de quem chegará primeiro. 62.Rf7 Rxf3 63.Rxf6 Kd7 64.Rf7+ Ke8 65.Rb7 Rxc3 66.Rxb6 Ke7 67.Rb7+ Sempre o mesmo tema da sétima fileira. 67...Kf8 68.Ra7 Rc4 69.Rxa5 Rxe4 70.Ra7 Rf4 71.a5 Rxf5 72.a6 O triunfo da sétima absoluta! 72…Rf1+ Se 72…Rxd5 73.Rb7 Ra5 74.a7, seguido de Rb8+, vencendo. 73.Kxh2 Ra1 74.Ra8+ Kg7 75.Kg3 Ra4 76.Kf3 Kf6 77.a7 Kg7 78.Ke3 As pretas abandonaram. Partida 33 Janovsky - Nimzovitsch São Petersburgo, 1914 Defesa Índia

1.d4 Nf6 2.c4 e6 3.Nc3 Bb4 4.e3 b6 5.Bd3 Bb7 6.Nf3 Bxc3+ 7.bxc3 d6 Uma alternativa jogável é 7…c5!, seguido de ...Nc6. 8.Qc2 Nbd7 9.e4 e5 As pretas aparentam ter uma posição sólida, porém o bispo de b7 desempenha um papel duvidoso. Por um lado, não é forte o suficiente para justificar o avanço d4-d5 e, por outro, a sua ausência da grande diagonal logo teria efeitos nefastos. A transição a uma posição aberta é repentina. 10.0–0 0–0 11.Bg5 h6 12.Bd2 Re8 13.Rae1 Nh7

Posição após 13…Nh7 Com 13...Re6 (que parece um pouco estranho), seguido de ...Qe8, as pretas poderiam ter tentado enfrentar o compasso de espera das brancas, forçando o avanço d4-d5. A continuação poderia ser: 14.Nh4! (para explorar a debilidade da casa f5) 14...g6! 15.f4 (não 15.Bxh6, devido a 15...Ng4) 15...exf4 e agora as pretas podem escolher entre 16...g5?, 16...Nh5 e 16...Qe8. O objetivo estratégico das pretas se percebe claramente com 16...Qe8. Por exemplo: 17.d5 Re7 18.Bxh6 Ng4 19.Bg5 f6 20.Bc1 Nge5 e as brancas, embora com um peão de vantagem, não têm vida fácil. Seu complexo de peões dobrados está paralisado e as pretas controlam casas centrais. Ainda mais reveladora é a variante 16...Nh5 17.Qf2 Rf6 18.g3 g5 19.e5 Nxf4 20.gxf4 Rxf4, vencendo, ou também 16...Nh5 17.Bg3 Nxg3 18.hxg3 Qh5, seguido de ...Rae8 e as pretas não têm nada a temer. Porém a resposta a 13...Re6 provavelmente teria sido 14.Re2!. Por exemplo: 14...Qe8 15.Rfe1 e as brancas, com maior perseverança, continuam na sua política de aguardar os acontecimentos. As pretas, no entanto, marcaram um ponto,

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pois a possibilidade das brancas jogarem f2-f4 se diluiu. 14.h3 Depois de 14.Kh1 (recomendado no livro do torneio) a resposta, dentre outras possíveis, seria 14...Ndf6. Por exemplo: 15.Ng1 Ng5 e o avanço f4 já não é factível. 14...Nhf8 Aqui também poderia ter sido jogado 14...Ndf6. 15.Nh2 Ne6 16.Be3 c5 17.d5 Nf4 Ao invés de tentar suas opções na ala da dama (estropiada por culpa de ...c5), as pretas buscam oportunidades na ala do rei. 18.Be2 Nf8 19.Bg4 Bc8 Finalmente o bispo se posiciona na diagonal correta. 20.Qd2 Ba6

20…Ba6 Teria sido mais simples 20…Ng6, porém as pretas não confiam no ataque na ala do rei. O fato de que não possam forçar o avanço d4-d5 sem concessões (e ...c5 já era uma concessão) exerce um efeito depressivo sobre o seu jogo. De modo que se contentam com uma retirada estratégica e dessa forma quase vencem a partida. 21.g3 N4g6 22.Be2 Nh7 23.h4 Nf6 Posição após

24.Bd3 Rb8 Como medida preventiva, a torre se dirigirá a b7. 25.Qe2 Rb7 26.Bc1 Rbe7 27.Kh1 Bc8 28.Rg1 Kf8 29.h5 Nh8 30.g4 Nh7 31.Bc2 Rb7 32.f4 f6 As brancas conseguiram finalmente executar o avanço projetado, mas ao fazêlo tiveram que ceder pontos importantes, como por exemplo g5, o que se voltará contra elas mais à frente. 33.fxe5 dxe5 O lance 33.g5 não leva a lugar nenhum: 33...fxg5 34.fxg5 hxg5 35.Rg3 Nf7 36.Nf3? g4 etc. 34.Nf3 Nf7 35.Ref1 Kg8 36.Nh4 Nd6 37.Nf5 Bxf5 38.gxf5 Ng5 Veja o comentário ao lance 32. 39.Bxg5 hxg5 40.Ba4

Posição após 40.Ba4 As brancas não se preocupam pelo seu peão h exposto e manobram pesadamente na ala da dama (com Bc6, a2-a4a5 etc). Em comparação com outras partidas, veremos que essa manobra tem o caráter de uma expedição punitiva (em justa punição ao questionável ...c5), de tal forma que Janovsky, apesar dos pontos débeis na sua posição, ressalta as lacunas existentes no território inimigo. Janovsky possuía uma maravilhosa intuição

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enxadrística. O livro do torneio o condena por isso e afirma que a perda de um peão resulta decisiva. Mas ainda que fosse assim – coisa da qual duvido –, o mérito da variante não é reconhecido, pois a manobra de Janovsky, para o bem ou para o mal, revela o mistério da posição! [David Janovsky, 1869-1927, enxadrista polonês nascido em Volkovbysk, era reconhecido pelo seu espírito de luta e inconformidade com as partidas que terminavam em empate. Foi, juntamente com Tarrasch, um dos únicos jogadores que conseguiram vencer os quatro primeiros campeões mundiais – Steinitz, Lasker, Capablanca e Alekhine. Disputou duas vezes o título mundial, sendo derrotado por Lasker. Neste trecho do livro, Nimzovitsch presta uma homenagem ao seu amigo, na ocasião falecido há pouco mais de um ano – N. do T.]. 40...Rf8 41.Bc6 Rb8 42.a4 Kf7 43.Kg2 Rh8 44.Rh1 Rh6 45.Ra1 Qc7 46.Kf2 Rbh8 47.Ke3 Kg8 48.Kd3 Qf7 49.a5 Rxh5 50.Rxh5 Rxh5 51.axb6 Rh3+ 52.Kc2 axb6 53.Ra8+ Kh7 54.Rd8 Qa7 55.Ra8 Qf7

Posição após 55…Qf7 56.Kb3 Aqui as brancas se equivocam. Como as pretas poderiam vencer após 56.Rd8? Vejamos: 56.Rd8 Qa7 57.Ra8 Qc7

58.Kb3 Rh4 59.Qa2 Rxe4 60.Rf8 Nxf5 61.Qa8 Nd6 62.Rd8 etc, ou 60...g6 (ao invés de 60...Nxf5) 61.Qa8 gxf5 62.Rh8+ Kg6 63.Be8+ Kg7 64.Bh5, seguido de mate em poucos lances. Parece portanto que a aproximação se desenvolve em um movimento envolvente e que o livro do torneio erra ao afirmar que a perda de um peão resulta decisiva. É certo que, após o lance deficiente do texto, as pretas deveriam ter vencido com facilidade. 56...Qh5 57.Qxh5+ Rxh5 58.Be8 Nxe8? As pretas venceriam rapidamente com 58...Rh6! e a 59.Rd8, 59...g4 etc. Porém, se 59.Bg6+, a vitória seria conquistada através de 59...Rxg6 60.fxg6+ Kxg6 61.Kc2! Nxe4 62.Kd3 Kf5! (um lance que escapou em meus cálculos). Após a captura da partida, é provável que as pretas já não possam vencer. 59.Rxe8 Rh2 60.Ra8 g4 61.Ra1 Kh6 62.Ka4 Kg5 63.Kb5 Kf4 64.Rg1 A melhor resposta frente à ameaça ...Kxe4, seguido de ...Kf3 e da marcha triunfal do peão passado. 64...Kxe4 65.Rxg4+ Kxf5 66.Rxg7 Rb2+ 67.Kc6 e4 68.d6 Rd2 69.d7 e3 70.Kxb6 As brancas perderiam com 70.Kc7. Os últimos lances foram: 70...e2 71.Re7 Rxd7 72.Rxe2 Rd3 73.Rc2 Rd8 74.Rc1 Rb8+ 75.Kc7 Re8 76.Kd6 Rd8+ 77.Kxc5 Rc8+ 78.Kd6 Rxc4 79.Kd5 Rc8 80.c4 Rd8+ 81.Kc6 Kg4 82.Rg1+ Kh3 83.c5 f5 84.Kc7 Rf8 85.c6 f4 Empate. Uma luta dura. 73

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Partida 34 Johner - Nimzovitsch Dresden, 1926 Defesa Índia

Essa partida já foi publicada em Meu Sistema, porém com comentários diferentes. Se voltamos a incluí-la aqui é porque, dada a sua relação com a partida 33, a consideramos essencial. 1.d4 Nf6 2.c4 e6 3.Nc3 Bb4 4.e3 0–0 Na partida anterior, contra Janovsky, joguei 4...b6. 5.Bd3 c5 6.Nf3 Nc6 7.0–0 Bxc3 8.bxc3 d6 9.Nd2

Posição após 9.Nd2 Um lance excelente. Se agora 9...e5, seguiria 10.d5 Ne7 (não 10...Na5, devido a 11.Nb3) 11.e4, com a formação de peões que vimos na partida anterior (lance 22). A única diferença notável é o fato de que aqui o peão b das pretas permanece em sua casa inicial e portanto as brancas não podem ameaçar com o rolo compressor a4-a5. Por outro lado, esse peão permanecerá em b7, considerando que a coluna b esteja aberta? 9…b6 O enigma foi resolvido. O peão avança

para habilitar a casa b7 para o cavalo. As pretas planejam jogar ...e5 e, se d5, então ...Na5 e responder a Nb3 com ...Nb7. 10.Nb3 Aqui o indicado seria 10.f4. Depois de 10...e5 11.fxe5 dxe5 12.d5 Na5 13.Nb3 Nb7 14.e4 Ne8, seguido de ...Ned6, chega-se à formação de peões da partida 33 (após o lance 36), formação que em geral exerce um efeito letárgico na partida. 10...e5! 11.f4 e4! Esse lance também seria a resposta a 11.d5. Por exemplo: 11.d5 e4 12.Be2 Ne5, com centralização. Ou também a alternativa 11.d5 e4 12.dxc6 exd3, com vantagem das pretas. O interessante sobre essa batalha de aspecto inofensivo (lances 9-11) é que, na realidade, encerra uma luta intensa. As brancas realizaram o avanço 11.f4 com um lance de atraso, o que permitiu ao peão e das pretas sair ileso. Se as pretas tivessem jogado 11...Qe7 (ao invés de 11...e4) e depois de 12.fxe5 dxe5 retirado o cavalo a d8 (é melhor 13...e4!), a seqüência seria 14.e4 Ne8, com debilidades no geral. Após o lance do texto, 11...e4!, as pretas ainda devem resolver um problema novo e difícil, a restrição da ala do rei das brancas (avanço dos peões f, g e h). 12.Be2

Posição após

12.Be2

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12...Qd7!! Esse lance inicia uma difícil e complicada manobra restritiva. Outra possível manobra restritiva seria 12...Ne8, ao que poderia seguir 13.g4 f5 14.d5 Ne7 15.g5, que novamente conduziria a um ponto morto e as pretas não dispõem das casas c5 e f5 para os seus cavalos. Mas o certo é que é um problema de difícil solução o de empreender uma manobra restritiva e evitar chegar a um beco sem saída. 13.h3 Ne7 14.Qe1 Alguém poderia perguntar se o ataque das brancas é suficiente inclusive para garantir uma posição de empate. Vamos dar uma olhada: 14.Bd2 Nf5 (essa casa é forte para a realização de novas operações; por exemplo, agora se ameaça ...Ng3, seguido da troca do bispo branco que cobre a casa c4) 15.Qe1 g6 16.g4 Ng7 17.Qh4 Nfe8 e agora 18.a4 (dentre outras coisas, para impedir ...Qa4). No caso de 18...f5, 19.g5, seguido de 20.d5 e a posição à qual se chega é difícil de avaliar. Por exemplo: 19.g5 Nc7 20.d5 Ba6! (lance preventivo contra o avanço a4-a5, ao que agora se responderia ...b5) 21.Kf2 Qd7! 22.Rfd1 (22.Qh6 falha devido à seguinte resposta combinatória: 22...Nxd5! 23.cxd5 Bxe2 24.Kxe2 Qxd5 25.Nc1 Nh5!, com o confinamento permanente da dama branca e as pretas venceriam através de um avanço geral de peões) 22...Kh8 e 23...Nh5 e as pretas preparariam a ruptura ...h7-h6 com ...Rg8, ...Kg7-f8e7-d7. Se considerarmos que as pretas poderiam ter jogado ...a5 antes de 20...Ba6 (para prevenir o avanço branco a4-a5), fica claro que o ponto desejado pelas brancas era, na realidade, muito

difícil de se conseguir. 14...h5 O início do processo de apertar os parafusos. 15.Bd2 Ou também 15.Qh4 Nf5 16.Qg5 Nh7 17.Qxh5 Ng3. 15...Qf5! Para chegar em h7, um aspecto incomum da manobra restritiva. 16.Kh2 Qh7! 17.a4 Nf5 Ameaça 18...Ng4+ 19.hxg4 hxg4+ 20.Kh1 g3 etc. 18.g3 a5 O peão de b6 é facilmente coberto. 19.Rg1 Nh6 20.Bf1 Bd7 21.Bc1 Rac8 A posição sofreu trocas, com relação à do lance 14. As pretas já não devem temer o fechamento da ala da dama com d5, pois têm jogo suficiente na ala do rei. 22.d5 Kh8 23.Nd2 Rg8 24.Bg2 g5 25.Nf1 Rg7 26.Ra2 Nf5 27.Bh1 Rcg8 28.Qd1 gxf4 29.exf4 Bc8 30.Qb3 Ba6 31.Re2

Posição após 31.Re2 As brancas aproveitam a sua chance, pois o peão e precisa de proteção. Se tivessem optado por um plano puramente defensivo, como por exemplo 31.Bd2, as pretas teriam vencido com

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uma bela combinação: 31.Bd2 Rg6! 32.Be1 Ng4+ 33.hxg4 hxg4+ 34.Kg2 Bxc4! 35.Qxc4 e agora segue o lance de espera 35...e3!! e o mate em h3 somente pode ser evitado com Nxe3, com a perda da dama. 31...Nh4 32.Re3 Aqui as pretas esperavam o natural 32.Nd2, pois a debilidade do peão e é a única possibilidade das brancas. Em tal caso, teria seguido um sacrifício delicioso: 32.Nd2 Bc8 33.Nxe4 Qf5! 34.Nf2 Qxh3+ 35.Nxh3 Ng4++. A chave é que os lances ...Bc8 e ...Qf5 não podem ser efetuados em ordem inversa. Por exemplo: 32.Nd2 Qf5? (em lugar de 32...Bf8) 33.Qd1! Bc8 34.Qf1 e tudo está bem defendido, enquanto que, se depois de 32...Bc8! as brancas respondessem 33.Qd1, seguiria 33...Bxh3!, com o que desapareceria a pedra angular do edifício das brancas (34.Kxh3 Qf5+ etc). 32...Bc8 33.Qc2 Bxh3! 34.Bxe4 Se 34.Kxh3, Qf5+ 35.Kh2 e mate em três. 34...Bf5 O melhor, pois agora não se pode impedir o avanço ...h5-h4. A queda do peão h deixou as brancas no desamparo. 35.Bxf5 Nxf5 36.Re2 h4 37.Rgg2 hxg3+ 38.Kg1 Qh3 39.Ne3 Nh4 40.Kf1 Re8!

Um arremate muito preciso, pois a ameaça agora é 41...Nxg2 42.Rxg2 Qh1+ 43.Ke2 Qxg2!, e contra isso as brancas não têm defesa. Se 41.Ke1, levariam mate com 41...Nf3+ 42.Kf1(d1) Qh1+. As brancas abandonaram. Uma das minhas melhores partidas de bloqueio. Partida 35 Nimzovitsch - Vidmar Carlsbad, 1907 Abertura do Peão da Dama

1.Nf3 d5 2.d3 Nc6 3.d4 Nf6 4.a3 Para obrigar as pretas a declararem as suas intenções. Se 4...e6, o bispo dama ficará aprisionado. Se 4...f5, segue 5.e3, c4 e eventualmente Qb3. Se 4...Bg4, 5.Ne5. 4…Bg4 5.Ne5 Bh5 6.c4 Esse lance prepara a surpreendente combinação 6...dxc4 7.Qa4 Qxd4 8.Nxc6 Qd7 9.g4 Nxg4 10.Bg2 Ne5 11.Qb5, conservando a peça extra. É curioso que ninguém tenha pensado em 9...Bc6 (em lugar de 9...Nxg4). Após 10.Nc3 Qxc6 11.Qxc6+ bxc6 12.Bg2 Kd7 13.g5 Ne8 as pretas teriam a vantagem. As brancas, no entanto, disporiam de uma linha melhor e mais simples (depois de 6.c4 dxc4): 7.Nxc6! bxc6 8.Qa4 Qd7 9.e3, com um bom jogo. Por conseguinte, jogar a Zugzwang no quarto lance, depois de tudo, parece correto e algo bastante incomum na fase inicial da partida. 6…e6? 7.Qa4 Bd6 Leva água ao moinho do adversário, uma vez que agora pode ser jogado o

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lance restritivo c4-c5 com ganho de tempo. Depois de 7...Be7 pode seguir 8.Nc3 e as pretas, após 8...0-0 9.Nxc6 bxc6 10.Qxc6, provavelmente não possam explorar a sua vantagem de tempo, de maneira que o peão a mais seria uma vantagem decisiva. 8.Nxc6 Qd7 9.c5 Be7 10.Bf4 Impede ...Qxc6. Como regra geral, o lado bloqueador deve evitar as trocas. 10...bxc6 11.e3 0–0 As pretas não podiam jogar 11...a5 por causa de 12.b4 e bxa5, mas agora seu peão a ficará imobilizado. 12.Ba6

Posição após 12.Ba6 Este bloqueio deve ser muito desagradável para as pretas, pois impede um plano cuja execução seria da máxima importância. Esse plano consistia em se desembaraçar de seu peão a através do seu avanço. Não nos deve surpreender que esse bloqueio do bispo em a6 permita dominar a casa b7, pois como sabemos “as casas de bloqueio, quase sempre sem exceção, resultam serem casas fortes sob todos os aspectos”. 12...Rfb8 13.b4 Ne8 As pretas planejam uma ruptura no centro com ...f7-f6 e ...e6-e5. É o único

recurso do qual dispõem. 14.0–0 Existia o possível ganho de qualidade com a manobra Nd2-b3-a5, mas as brancas miram mais alto. 14...f6 15.Nd2 g5 16.Bg3 Ng7 17.h3 Para conservar o bispo. 17...Be8 18.Bh2 Bd8

Posição após 18...Bd8 19.g4! Para restringir o cavalo. Porém isso é somente a chave tática. A razão estratégica é mais profunda: as pretas terão que pedir explicações ao peão incômodo de h5, com o que de forma inevitável se abririam linhas, o que, da forma como estão as coisas, só poderá beneficiar as torres das brancas. O jogo oscila de uma ala para a outra. Em vista da sua situação precária na ala da dama, as pretas sentem a necessidade de atuar na ala oposta e, por razão bem definida, esse contrajogo produz a impressão de ser desespero. A razão à qual nos referimos são os precários meios de comunicação entre as peças pretas, como conseqüência da situação lamentável na ala da dama, ou seja, não há uma interação ágil entre ambas as alas. 19...h5 20.Qd1 Bg6 21.Nb3 hxg4

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22.hxg4 f5 23.Be5 fxg4 24.Qxg4 Nf5 25.Na5 Qh7 26.Be2!

Posição após 26.Be2! Note-se que as brancas não retiraram antes o bispo. Era essencial que as tropas de reserva antes se incorporassem à luta (Na5) e sempre se deveria levar em conta a possível libertação das pretas (...a7-a5). Compare com o comentário ao lance 12. 26…Qd7 27.Qh3 Hoje eu teria jogado 27.f4, pois nunca liberto voluntariamente um peão bloqueado (aqui g4). [O comentário é de 1929 e a partida foi jogada em 1907, 22 anos antes. N. do T.]. Após 27.f4 poderia seguir 27...Kf7 (27...Nxe3? 28.Qh3!) 28.fxg5 Be7 29.e4 dxe4 30.Bc4 Ke8 (frente à ameaça Rxf5) 31.Rad1!, vencendo com facilidade, pois as pretas estão amarradas. Por exemplo: 31...Ne3 32.Qh3 Nxf1 33.Bxe6 Qd8 34.Nxc6. 27...Kf7 28.f4 g4! Vidmar evita a abertura da coluna f, o que não poderia ter feito caso as brancas tivessem jogado 27.f4. De qualquer forma, a partida segue perdida para as pretas. 29.Bxg4 Be7 30.Ra2 Rg8 31.Rg2 Nh4 32.Rg3 Raf8 O melhor, relativamente. O lance 32…Nf5 não seria apropriado devido a

33.Bxf5 Bxf5 34.Qh5+ Bg6 35.Qh6 e as brancas em seguida asseguram a vitória com Kf2 e Rfg1. 33.Kf2 Rh8 Desespero. Porém uma política de espera não seria mais oportuna. Por exemplo: 33...Ra8 34.Rfg1 Raf8 35.Bd1 etc. 34.Bxh8 Rxh8 35.Rfg1 Rh6 36.Bh5 Diz o Mestre Marco: “Uma combinação esplêndida e decisiva”. Porém, quatro lances depois as brancas cometem um erro grave que joga por terra todo o trabalho anterior. [Georg Marco, 1863-1923, nascido em Chernivtsi, cidade romena próxima à fronteira da Ucrânia, e radicado na Áustria, foi jogador de xadrez e editor da revista Wiener Schachzeitung entre 1898 e 1916, quando teve sua publicação interrompida pela I Guerra Mundial. Também editou desde 1903 diversos livros comentados sobre os grandes torneios do início do Século XX - N. do T.] 36...Bxh5 37.Rg7+ Ke8 38.Rg8+ Bf8 39.Qxh4 Qh7

Posição após 39...Qh7 40.Rxf8+?? Uma alucinação lamentável. A seqüência 40.R1g7 Qxg7 (a 40...Qc2+,

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41.Kg3) 41.Rxg7 Bxg7 42.Qg5 Bf8 43.Nxc6 teria vencido facilmente. 40…Kxf8 41.f5 Ao jogar 40.Rxf8+ as brancas imaginavam seguir com Qd8+, porém omitiram a evidente resposta 41...Be8. 41…exf5? O correto seria 41…Qxf5+. 42.Rh1 Agora as brancas novamente têm uma posição vencedora. 42…f4 43.Qd8+ Be8 44.Qf6+ Rxf6 45.Rxh7 Bf7 Empate. No lugar dessa combinação, as brancas venceriam facilmente: 43.Qxf4+ Ke8 44.e4!, porém ainda estavam sob a influência negativa do seu tremendo erro. De qualquer modo, uma partida muito interessante. Partida 36 Marshall - Nimzovitsch Nova Iorque, 1927 Defesa Francesa

1.e4 e6 2.d4 d5 3.Nc3 Bb4 4.exd5 exd5 5.Nf3 Ne7 6.Bd3 Nbc6 7.h3 Be6 8.0–0 Qd7 9.Bf4 Agora se produz um complexo de peões dobrados. 9…Bxc3 10.bxc3 f6 Para proteger o bispo de um eventual Ng5. Agora se esclarece o significado profilático de 7...Be6. As brancas agora tentam um ataque na coluna b e não é surpreendente que fracassem, em razão da debilidade dinâmica do complexo de peões dobrados. 11.Rb1 g5 12.Bg3 0–0–0 Parece arriscado, mas faz parte de um plano iniciado no lance 9. 13.Qe2

Seria melhor 13.Nd2!. 13...Rde8!

Posição após 13...Rde8 E não 13...Rdg8, pois a melhor forma de minar um ataque na ala é através de uma concentração de forças no centro e não com um contra-ataque na ala. 14.Rfe1 Nf5 15.Bxf5 O lance 15.Ba6 resulta insuficiente depois de 15...bxa6. 15...Bxf5 16.Qb5 Nd8 17.Qc5 b6 18.Qa3 Kb7 19.Qb3 Nc6

Posição após 19...Nc6 O cavalo se dispõe a ser um bloqueador atuando em c4, posição da qual demonstrará a debilidade do complexo de peões dobrados. 20.Nd2 Na5 21.Qb2 Rxe1+ 22.Rxe1 Re8 23.Rxe8 Qxe8 24.Qb1 Kc8

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Aqui também seria bom 24...Qe2. 25.Qd1 Qe6 26.Nb3 Nc4 27.Nd2 Na3 28.Nf1 Nxc2 Agora as pretas têm um final de bispos de cores opostas com um peão de vantagem e muitos observadores fizeram o prognóstico de empate. 29.Qh5 Bd3 30.Qd1 Qe4 A 30...Qe2, 31.Qxe2 seguido de Ne3. 31.Nd2 Se 31.f3 também segue 31...Qe2!. 31...Qe2 32.Qxe2 Bxe2 33.f4 Na3 34.fxg5 fxg5 35.Kf2 Bh5 36.Be5 g4 37.hxg4 Bxg4 38.Ke3 Bf5 39.Bg7 Be6 40.Bf8 Nb5 41.Nb1 a5 Aqui também seria possível o lance 41...Bf5. A partida poderia continuar da seguinte maneira: 41...Bf5 42.a4 Bxb1 43.axb5 Ba2 44.Kf4 Bc4 45.Ke5 Kd7 46.Bh6 c6 47.bxc6+ Kxc6 e o rei se dirige a b3. 42.Kd2 Uma variante vencedora, parecida com a do comentário anterior, seria a seguinte: 42.Kf4 Bf7 43.a4 Bg6 44.axb5 Bxb1 45.Ke5 Ba2 46.Ke6 Bc4, seguido de ...Kb7 e ...c7-c6 etc. 42...Bf5 43.Na3 Nxa3 44.Bxa3 Bb1 45.Bf8 Bxa2 46.Bg7 Bc4 47.Ke3 Kb7 48.Bh6 Ka6 49.Kd2

Posição após

49.Kd2

Se 49.Bd8, as pretas vencem através da penetração do rei por b3. Por exemplo: 49.Bd8 Kb5! 50.Bxc7 Kc4 51.Bxb6 a4, seguido de ...Kb3, vencendo, pois não se pode parar o peão a passado. Essa variante demonstra a permanente debilidade de um complexo de peões dobrados. No peão a passado das pretas se reflete a debilidade do falecido peão a das brancas e, na diagonal bloqueada f6-a1, a debilidade do bispo branco é manifestada, como uma homenagem ao efeito de obstrução da formação de peões c3+c4. As brancas poderiam ter abandonado aqui. 49...Bf1 50.g3 Kb5 51.Kc1 Kc4 52.Kb2 c5 53.Be3 cxd4 54.Bxd4 b5 55.Bb6 a4 56.Ba5 d4 57.cxd4 b4 58.Bb6 a3+ 59.Ka2 Kb5 60.Bc5 Ka4 As brancas abandonaram. 5 – Sobre o processo de bloqueio.

(a) Ampliação da rede de bloqueio. (b) Com medidas profiláticas se impede a criação de buracos. (c) A rede de bloqueio em ação. (d) O sacrifício nos altares do bloqueio. Dois exércitos de peões se enfrentam entre si. Não há linhas abertas. Pode ser forçada em tais condições a interconexão entre os peões? Temos observado em várias ocasiões como uma linha aberta pode ser efetiva como instrumento de restrição. Uma linha aberta pode impedir que uma massa de peões avance e a esse mal podem ser agregados os males da restrição e o bloqueio. Mas o que pode ser feito na ausência de linhas abertas? Resposta: é necessário o maior cuidado, pois toda tentativa violenta de forçar o vigamento da

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formação de peões está condenada ao fracasso. Comparem-se os inícios das seguintes partidas: (1) Nimzovitsch-Morrison (Londres 1923): 1.b3 g6 2.Bb2 Nf6 3.g3 Bg7 4.Bg2 d6 5.d4 0–0 6.c4 Nc6 (uma tentativa violenta. As pretas permitem-se ceder dois tempos só para induzir o avanço do peão d das brancas e dessa forma aniquilar seu esqueleto de peões. Seria muito mais correto 6...Nbd7) 7.d5 Nb8 8.Nc3 Nbd7 (para jogar ...a5 e ...Nc5, o estratagema de Burns) 9.Nf3 a5 (agora as brancas poderiam ter obtido uma posição centralizada excelente, com 10.0-0 Nc5 11.Nd4 e5 12.dxe5 fxe6 e a perda de dois tempos das pretas teria passado favoravelmente para o lado das brancas). Mas na partida a continuação foi 10.Na4 e as brancas também conseguiram um jogo muito bom depois de 10...e5 11.dxe6 fxe6 12.0–0 Qe7 13.Ne1 e5, ao que poderia seguir 14.Nc2 e 15.Ne3. (2) Fairhurst-Nimzovitsch (Londres 1927): 1.d4 e6 2.c4 Nf6 3.Nf3 Bb4+ 4.Bd2 Qe7 5.g3 Bxd2+ 6.Nbxd2 d6 7.Bg2 0–0 8.0–0 h6! (as pretas não têm pressa em jogar ...e5, pois se o fizerem de imediato – 8...e5, a resposta 9.dxe5 dxe5 10.Qc2, seguido eventualmente de Nf3-g5-e4 e a posição se abriria de forma não satisfatória para os seus interesses) 9.Qc2 Re8 10.e4 e5! (somente agora é válido este lance, uma vez que a casa e4 já não está disponível para as peças brancas) 11.d5 (teria sido melhor 11.Rfe1 Nc6 12.Qc3, ainda que também nesse caso as pretas tivessem

uma posição boa.) 11...a5, com a casa c5 (...Na6-c5) como base para as operações de bloqueio. Uma estratégia executada de forma minuciosa pode recorrer a uma tática preventiva e, com certeza, a profilaxia aqui tem um lugar importante. Se na partida 38 e na partida 39 as pretas conseguem manter seguro o seu vigamento de bloqueio (que não havia sido finalizado) contra diversos golpes do adversário, devem agradecer em primeiro lugar à estratégia da profilaxia. Na partida 40 e na partida 41 a estrutura de bloqueio também não teria se mantido sem medidas preventivas, embora essa estrutura já estivesse para todos os efeitos completa e perfeitamente montada. Portanto podemos dizer, esteja ou não completo o dispositivo de bloqueio, em todos os casos dependerá, como é lógico, da estratégia da profilaxia. Gostaríamos de recomendar de forma especial ao estudante a partida contra Colle (partida 41), pois essa partida demonstra como é difícil manter um bloqueio extenso invulnerável. Que pode ser feito fica demonstrado de forma convincente nas partidas 42-45, às quais se juntam muitos exemplos mais. Partida 37 Nimzovitsch - Réti Carlsbad, 1923 Abertura Inglesa

Este é um exemplo negativo. O Mestre Réti não conseguiu fazer valer a interconexão das formações de peões (quando dizemos negativo, não queremos dizer que a partida tenha sido mal 81

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jogada, mas nos referimos ao valor teórico e didático do jogo). 1.Nf3 Nf6 2.c4 g6 3.b4 Uma das inovações do autor, adotada pelo próprio Réti em sua partida com Capablanca (Nova Iorque 1924). [Réti venceu Capablanca nesta partida no lance 31 – N. do T.] 3…a5 Um lance de valor duvidoso. 4.b5 Bg7 5.Bb2 0–0 6.e3 d6 7.d4 Nbd7 8.Be2 e5 Esse lance só seria correto se as pretas estivessem em condições de forçar o avanço d4-d5 ou, pelo menos, dxe5, pois então conseguiriam a excelente casa de bloqueio c5. Por exemplo: 9.dxe5? Ng4 etc. 9.0–0 exd4 Apenas iniciada, a manobra de bloqueio se desbarata. Teórica e estrategicamente falando, o único caminho seria 9...Re8 10.Nbd2 c6 e, de acordo com as circunstâncias, ...Qc7 ou ...e4 e ...d5, criando nesse caso uma cadeia de peões. 10.exd4 Re8 11.Nbd2 Não é fácil para as brancas explorar sua formação superior de peões. Este lance não leva em conta a possibilidade ...d5 e com 11.Nc3! as brancas teriam se aproximado consideravelmente de seu objetivo. 11...Nf8 12.Re1 Ne6 13.g3 h6 14.Bf1 Ng5 15.Nxg5 hxg5 16.Bg2 Com o cavalo em c3 em lugar de d2, a pressão desenvolvida pelas forças brancas estaria próxima de conquistar possibilidades de vitória. Do jeito que as coisas estão, o jogador que conduz as pretas poderá conseguir um equilíbrio aproximado. 16…d5! 17.Rxe8+

A única possibilidade de se manter alguma vantagem residia em 17.c5. Com esse avanço, as brancas teriam conseguido uma posição claramente superior, ao menos na ala da dama. No entanto, é duvidoso que se possa conseguir algo da posição depois de 17...Bf5 18.Qa4 b6 etc. Parece que o lance 11.Nbd2, condenável do ponto de vista do desenvolvimento centralizado, já não pode ser consertado. 17...Qxe8 18.cxd5 Qxb5 19.Qb3 Bd7 20.Qxb5 Ou também 20.Rc1 Ne8 21.Qxb5 Bxb5 22.Ne4 g4, seguido, eventualmente, do lance ...Rd8. 20...Bxb5 21.Rc1 Re8 Também se poderia jogar o simples 21...Ne8. Por exemplo: 22.Ne4 g4 23.h3 gxh3 24.Bxh3 Rd8 etc. 22.Rxc7 Re1+ 23.Nf1 Bxf1 24.Bxf1 Nxd5 25.Rxb7 Rb1 26.Rb8+ Kh7 27.Rb5 Nc7 28.Rb7 Ne6 29.Kg2 Bxd4 30.Rxf7+ Kg8 31.Re7 Rxb2 32.Bc4 Rxf2+ 33.Kh3 Rf6 34.Bxe6+ Kf8 35.Rd7 Rxe6 36.Rxd4

Posição após 36.Rxd4 Após a interessante escaramuça dos últimos 14 lances, chegou-se a um final

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de torres no qual as brancas têm alguma vantagem, porém não podem forçar a vitória, ainda que a partida tenha se prolongado até o lance 50 antes de se acordar o empate. Os lances seguintes foram: 36...Re5 37.Rd6 Kf7 38.Ra6 Rc5 39.Kg4 Rd5 40.Kh3 Kg7 41.a4 g4+? 42.Kxg4 Rd4+ 43.Kg5 Rd5+ 44.Kh4 Rc5 45.Kh3 Kh6 O erro no lance 41 se deve ao fato de conceder espaço ao rei branco, pois a perda do peão em si não é significativa. 46.Rf6 Rc4 47.Rf4 Rb4 48.Kg4 g5 49.Rxb4 axb4 50.a5 b3 Empate. Não se pode ganhar esse final de damas. Partida 38 Ahues - Nimzovitsch Berlim, 1927 Defesa Índia

Diferentemente do exemplo anterior, o bloqueador aqui consegue desenvolver a sua rede e para tal finalidade faz pleno uso da estratégia da profilaxia. 1.d4 Nf6 2.c4 e6 3.Nc3 Bb4 4.Bd2 0–0 5.Nf3 b6 6.e3 Bxc3 Se 6...Bb7, as brancas poderiam impedir a ocupação de e4 da seguinte maneira: 6...Bb7? 7.Bd3 Bxc3 8.Bxc3 Ne4 9.Bxe4 Bxe4 10.Nd2 Bxg2? 11.Rg1, com um ataque que promete. 7.Bxc3 Ne4 8.Qc2 Bb7 9.0–0–0 f5 10.Ne5 Depois de 10.Bd3 as pretas projetavam uma manobra preventiva contra a possível ruptura d5: 10...Qf6! e no caso de 11.d5, então continuaria 11...Nxc3 12.Qxc3 Qxc3+ 13.bxc3

Na6, seguido de ...Nc5, com posição vencedora para as pretas. 10…Qe7 Não há pressa para jogar …d7-d6. Primeiro deve ser reforçada a casa e6 contra a manobra Ne5-d3-f4 (na variante que começa com ...d6). 11.f3 Nxc3 12.Qxc3 d6 13.Nd3 Nd7 14.Kb1!

Posição após 14.Kb1! 14…Rad8! Manobra preventiva. As pretas resistem com a engenhosa ameaça c4-c5. Se tivessem jogado 14...Rae8, a ameaça teria se manifestado e resultado muito incômoda. Por exemplo 14...Rae8 15.Qa3 a5 16.c5! dxc5 17.dxc5 Nxc5 18.Nxc5 Qxc5 19.Qxc5 bxc5 20.Rc1. 15.h4 Pode se afirmar que 15.Qa3 e 16.c5 já não são suficientes. Vejamos: 15.Qa3 a5 16.c5? dxc5 17.dxc5 Ne5 (mais forte do que 17...Nxc5 18.Rc1), com a dupla ameaça 18...Nc4 e 18...Nxf3!. Merecia consideração 15.Be2 e no caso de 15...e5, então 16.Nc1 (não 16.d5, devido a ...Qg5). 15...Qf6 Para reforçar o efeito do avanço projetado, ...e5.

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16.Qa3 a5 17.Be2 e5 18.d5 O desenvolvimento lento sobre diretrizes profiláticas valeu a pena. As brancas são obrigadas a jogar d5 e a rede de bloqueio já se estendeu sobre o centro e a ala da dama. No movimento seguinte, a ala do rei também será incluída. 18...f4! 19.e4 Forçado, pois 19.exf4 exf4 entregaria a coluna e para as pretas, além de importantes casas centrais. 19...Qg6 Agora g2, g3 e h4 são débeis. 20.Rdg1 Nf6 Com a intenção de levar o cavalo a g3. Por exemplo: 21.c5 (que não é um mau contra-ataque) 21...Nh5! 22.g4 fxg3 23.cxb6 cxb6 24.Qb3 Ba6 25.Nxe5 dxe5 26.Bxa6 g2 e as pretas vencem. 21.g3 fxg3 22.c5

25.Rhg1 dxc5, vencendo. 23.cxb6 Nd2+ 24.Ka1 Se o rei fosse jogado a outro lugar, seriam produzidas evoluções atraentes do cavalo, com ganhos de tempos à custa do rei ou da dama. Por exemplo: 24.Kc2 Nc4 25.Qc3 Ne3+, seguido de 26...Nxd5, com ataque à dama, ou também 25.Qb5 (ao invés de 25.Qc3) 25...Ne3+, seguido de 26...Bxd5, ou por último, 24.Kc1 Qh6. 24...cxb6 25.Rh3 g2 26.Qc3 Se 26.Rh2, as pretas tinham a intenção de sacrificar a dama: 26...Nxf3 27.Rhxg2 Nxg1 28.Rxg6 hxg6. 26...Qh6 27.Rxg2 Rc8 28.Qa3 Nxf3 29.Rh1 Bxd5 Mais implacável do que 29...e4, pois todas as peças brancas estão desarticuladas. As brancas abandonaram. Partida 39 Ahues - Nimzovitsch Kecskemet, 1927 Defesa Holandesa

Posição após 22.c5 Uma tentativa engenhosa de salvar a situação, que, não obstante, é refutada por um contra-sacrifício. 22...Nxe4! Uma bela combinação! A variante principal é a seguinte: 23.fxe4 Qxe4 24.Bd1 (24.Bf1? Rxf1+, seguido de ...g2) 24...g2 25.Rh2 Ba6 26.Bc2 Rf1+, ou também 23.fxe4 Qxe4 24.Re1 g2

A fase da luta que mais nos interessa desta partida pode ser assim caracterizada: com o lance das brancas 13.d5, as pretas reforçaram o travamento das formações de peões, mas não podem obter nenhum benefício deste fato e por isso a continuação do bloqueio, ...Nd7-c5 falharia, pois tornaria possível uma ruptura inimiga. Porém se antecipam a essa possibilidade, permitindo dessa forma que a ação de bloqueio se desenvolva gradualmente, intensificando seu efeito com um ataque simultâneo. 1.Nf3 b6 2.e3 No caso de 2.e4, segue 2...Bb7

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3.Nc3 e6 4.d4 Bd4 e ...d6, com o que as pretas teriam uma posição restringida, mas não má. 2...Bb7 3.b3 f5 4.Bb2 e6! Não seria bom 4...Nf6, devido a 5.Bxf6 exf6 6.Nh4 g6 e agora talvez 7.Bc4 (provocando ...d5) 7...d5 8.Be2 e a posição das brancas teria a nossa preferência. 5.Ne5 Imitando a construção “holandesa”. Teria sido melhor 5.c4, seguido de Nc3. 5...Nf6 6.f4 g6 7.c4 Bg7 8.Nc3 0–0 9.Qe2 d6 As pretas prepararam de forma efetiva esse avanço, pois se dispõem a seguir com ...e5. 10.Nf3 Nbd7 11.d4 Qe7 12.0–0–0 e5 A ação prevista se consumou. 13.d5 a5 14.Qd2

Posição após 14.Qd2 As brancas estão a ponto de completar o seu desenvolvimento. Sua posição parece ser muito segura, pois em resposta a ...Nc5 dispõem de 15.fxe5 dxe5 16.d6!, com uma ruptura muito interessante. 14…Nh5!! Uma combinação preventiva que se antecipa à possibilidade da mencionada

ruptura, provocando, para começar, o avanço g2-g3. 15.g3 Nc5 Agora não serve 16.fxe5 dxe5 17.d6 devido a 17...cxd6 e o cavalo de f3 está atacado. 16.Be2 a4! 17.b4 a3! 18.Ba1 O trunfo das pretas agora reside no fato de que o bispo da dama das brancas esteja agora desprotegido. 18...Ne4 19.Nxe4 Se 19.Qe1, segue 19…exf4 20.exf4 Nxc3 21.Bxc3 Bxc3 22.Qxc3 Qxe2. 19...fxe4 20.Ng5 exf4 Após a troca dos bispos em g7, as pretas ameaçarão mate em dois. 21.Bxg7 Qxg7 22.Qd4 f3 O jogo combinatório das pretas rendeu os seus frutos. Agora só é questão de se prender ao que foi conquistado. 23.Bf1 Rfe8 24.Bh3 Não pode 24.Nxe4 devido a 24…Rxe4. 24…Bc8 Seria duvidoso 24…Ra4 devido a 25.Be6+ Kf8 26.Qxg7+, seguido de Bd7, embora nesse caso, com …Rxb4 as brancas obtivessem compensação suficiente pela qualidade. 25.Bxc8 Raxc8 26.b5 Re5 27.Ne6 Qe7 28.Kb1 Ng7 29.Nf4 Qd7 30.h4 Ante a ameaça ...g5. 30…Nf5 31.Qc3 Nxg3 32.Rhg1 Nh5 33.Ne6 Ng7 34.Nd4 Rf8 As brancas abandonaram. O valor da estratégia escolhida pelas pretas em seu lance 14 fica claramente demonstrado nessa variante: 15.Be2 (as brancas se esquecem de 15.g3) 15...Nc5! e se agora 16.fxe5 dxe5 17.d6, segue então 17...cxd6 18.Qxd6 Qxd6 19.Rxd6 Bh6. Por exemplo: 85

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20.Nxe5 Bxe3+ 21.Kc2 Bxg2 22.Rhd1 Nf4 e as pretas devem vencer. Partida 40

Schweinburg - Nimzovitsch

Berlim, 1927 Defesa Francesa

1.e4 Nc6 2.Nf3 e6 3.d4 d5 4.exd5 exd5 5.Bd3 Bg4 6.Be3 Bd6 7.c3 Nge7 8.Nbd2 Qd7 9.Nb3 0–0–0 10.h3 Bh5 11.Qc2 f5 12.0–0–0 Uma Variante das Trocas da Francesa com um desenvolvimento incomum dos bispos. 12…f4 13.Bd2 Bxf3 14.gxf3 Qe6! Somente esse lance explica a troca. De outro modo, com 14...g6, as brancas colocariam em ação o seu rolo compressor (h3-h4-h5). Lembrandonos da partida 33, o lance do texto deve ser entendido como uma medida preventiva, o que é em essência. 15.Rdg1 Se 15.Bxh7?, g6. 15...Qh6! 16.Kb1 Rdf8 17.Nc1 Ng8! Novamente uma manobra preventiva. Como deve ser feito ...g7-g6, o ataque mencionado no comentério ao lance 14, as pretas responderiam com ...Nf6-h5. 18.b4 g6 19.Qa4 Kb8 20.Nb3 Qh5 21.Be2 Nf6 22.Nc5 Nd8 23.Kb2 Re8 24.Bd1 Qh4 Com esse lance as pretas operam à vontade para explorar a debilidade do complexo de peões dobrados. Sem os lances profiláticos 14 e 15 não poderiam fazê-lo. Esta é uma prova clara da nossa afirmação de que sem profilaxia, o bloqueio é impossível. 25.Rf1 Re7 26.Qb5 Rhe8 27.a4 b6

Graças ao fato dessa posição lhes ser favorável sob todos os aspectos, as pretas pocedem agora à eliminação do cavalo das brancas sem se preocupar com as debilidades que surgirão no seu campo. Mas as medidas violentas, como já dissemos, raras vezes são boas e, por outro lado, a posição das brancas, ainda que deficiente em mobilidade, não é fraca. A estratégia das pretas portanto deveria ser precisa: 27...c6 28.Qd3 Nd7 (ameaçando ...Nb6 e ...Nc4) 29.a5 e agora 29...a6!. O avanço dos peões brancos parece contido e as pretas terão tempo para elaborar à vontade manobras como 30...Ka7, 31...Bc7 e ...Nd8-f7d6-c4, depois do que as brancas dificilmente suportariam a tensão crescente. 28.Nb3 Ka8 29.Nc1 Era preferível 29.Qa6 e após 29...Nb7 o jogo, embora complicado, é ligeiramente favorável às pretas.

Posição após 29.Nc1 29…c6! 30.Qd3 c5 A 29...c5 seguiria 30.a5. 31.dxc5 As brancas não acertaram em sublinhar a debilidade da casa a6 e agora

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seria demasiado tarde para fazê-lo, embora a tentativa fosse difícil de refutar. Por exemplo: 31.Qa6 (ao invés de 31.dxc5) 31...cxd4 32.a5! (sugerido por Lasker) 32...dxc3+ 33.Bxc3 d4! 34.Bxd4 Nc6 35.axb6 Nxd4 36.b7+ Rxb7 37.Qxd6, e agora uma liquidação simples 37...Rxb4+ 38.Qxb4 Rb8 39.Qxb8+ Kxb8 40.Nd3 Nd5 e é difícil pensar que o peão a mais das pretas em conjunto com sua posição centralizada, não seriam fatores suficientes para vencer. Depois do lance do texto, o ataque das pretas é demolidor. 31...bxc5 32.Bb3 Nb7! Um sacrifício de peão decisivo. Seria insuficiente a continuação 32...c4 33.Bxc4 dxc4 34.Qxd6 Rd7 devido a 35.Qxf4 g5 36.Qxg5. 33.Bxd5 Nxd5 34.Qxd5 cxb4 35.a5 Uma última e engenhosa tentativa. A 35.cxb4 seria decisivo 35...Rd8 etc. 35…Rd8 Pode-se ignorar a ameaça a5-a6. 36.a6 bxc3+ 37.Kc2 Bb4 38.Qc6 Se 38.axb7+, Rxb7 e a dama protege a torre de d8. 38…Rxd2+ 39.Kb1 Kb8 As brancas abandonaram. Partida 41 Colle - Nimzovitsch Baden-Baden, 1925 Defesa Holandesa

1.d4 f5 2.e3 Nf6 3.Bd3 d6 4.Ne2 e5 5.c4 c5 As pretas consideram que os seus peões de e5 e f5 dispõem de mobilidade suficiente, de modo que não têm

objeções a bloquear o centro e a ala da dama. 6.0–0 Nc6 7.Nbc3 g5 Jogo agudo, uma vez que não se produziu o ponto morto que as pretas buscavam. As brancas, que estão melhores na posição, estão dispostas a abrir o centro. As pretas estarão então à altura da tarefa dobrada de defender a coluna d contra eventuais invasões e os peões da ala do rei sem perdas? 8.dxc5 dxc5 9.Ng3 e4 10.Be2 Bd6 Consolidação. 11.Nb5 Be5 12.Qxd8+ Kxd8 13.Rd1+ Ke7 14.Rb1 h5 15.Bd2 h4

Posição após 15...h4 Seria preferível a seguinte linha: 15...f4 16.Nf1 Bg4!. Por exemplo: 17.Bxg4 hxg4 18.exf4 gxf4 19.Re1 Ke6, com uma formação muito centralizada. Ou também 15...f4 16.Nf1 Bg4 17.Bxg4 hxg4 18.Re1 f3 19.g3 a6 20.Na3 Rhd8 21.b4 Rd3 22.Nc2 Rad8 e as pretas vencem. 16.Nf1 Be6 17.Bc3 Bxc3 18.Nxc3 Ne5 19.b3 Rhg8 Aqui e no lance seguinte, as pretas descartam uma medida profilática importante, ...b7-b6, que faria o avanço b2-b4 inócuo e esse descuido acarretará a perda de toda a sua vantagem.

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20.Rb2 f4 21.Nd2 Bf5 22.b4 Rompe a rede de bloqueio, erguida com tanto esforço. 22…Ned7 23.exf4 Seria conveniente prosseguir com a ruptura iniciada com 22.b4, através de 23.bxc5 Nxc5 24.Nb3 Nxb3 25.Rxb3 b6 26.Rb5 etc. 23…gxf4 24.Re1 Kf7 O lance preciso era 24…Kf8. 25.Ndxe4! Nxe4 26.Bh5+ Kg7 27.Nxe4 Kh6 As pretas, em situação comprometida, descobrem a forma de se salvarem através de uma manobra interessante. 28.Bf7 Se 28.Bf3, 28...Ne5.

No caso de 33.Rg2 havia uma forma interessante de vencer: 33...Ng4! 34.Rxg2 fxg2+ 35.Kg1 Ne5!!. 33...Nd3 34.Rd2 Rxg1+ 35.Kxg1 Nf4 Coloca sérias ameaças de mate, apesar da escassez material. 36.Nf7+ Kg7 37.Ne5 Ne2+ 38.Rxe2 fxe2 39.Nd3 Be6 As pretas têm um final superior, uma vez que o rei pode colaborar. 40.a3 Bxc4 41.Ne1 Kf6 42.f3 Ke5 43.Kf2 Kd4 44.Ng2 Kxc5 45.Nxh4 b5 46.f4 a5 47.Nf3 a4 48.f5 b4 49.axb4+ Kxb4 50.f6 a3 51.Nd4 a2 52.Nc2+ Kc3 As brancas abandonaram. Partida 42 Hage - Nimzovitsch Arnstadt, 1926 Sessão de simultâneas Defesa Holandesa

Posição após 28.Bf7 28...f3!! 29.Bxg8 Rxg8 30.Nd6 Se 30.g3, 30...Re8. 30...Rxg2+ 31.Kh1 Bh3 32.Rg1 As brancas deveriam se contentar com o empate, que seria conseguido através de 32.Nf7+ Kg7 33.Ne5 Rg5 34.Nxd7 Bg2 etc. 32...Ne5! Agora as brancas não podem trocar as torres devido ao mate em dois. Por outro lado, se ameaça ...Nd3. 33.bxc5

Uma partida aparentada com a partida 41. Aqui podemos ver como o bloqueio, não alterado por algum pecado de omissão, poderia ter funcionado na partida precedente. 1.d4 f5 2.e3 d6 3.Bd3 e5 4.dxe5 dxe5 5.Bb5+ c6 6.Qxd8+ Kxd8 7.Bc4 Bd6 8.Nf3 Nf6 9.Nc3 Uma linha melhor de jogo seria 9.a4, seguido de b3 e Bb2 (ou Ba3). 9...Ke7 10.a3 Rd8 11.Bd2 b5 12.Ba2 a5 13.0–0 b4 14.Nb1 c5 15.Bc4 e4 16.Ng5 Ba6 17.Bxa6 Rxa6 18.axb4 axb4 19.Rxa6 Nxa6 O bloqueio das pretas mostra os mesmos componentes que na partida anterior, concretamente a coluna d, a casa central e5 e uma maioria qualitativa na ala do rei. A isso deve se incluir a ala da

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dama, também ameaçada por um bloqueio. 20.c3 h6 21.Nh3 Ng4 22.g3 Ne5 23.Kg2 g5 24.Bc1 b3 25.Nd2 c4 26.Ng1 Nc5 27.Ne2 Rg8 28.Nd4 f4 29.Nf5+

29.Nf5+ Se 29.exf4, segue 29...gxf4 30.Re1 e3! 31.fxe3 fxg3. 29...Ke6 30.Nxd6 f3+ 31.Kg1 Kxd6 A posição das brancas parece desesperadora. 32.Rd1 Ke6 33.Nb1 Ncd3 34.Na3 Kd5 35.Nb5 Rb8 36.Na3 Ra8 37.h3 Kc5 38.Kf1 Nxc1 Isso ganha imediatamente. 39.Rxc1 Nd3 40.Rb1 Nxb2 41.Rxb2 Rxa3 42.Rb1 b2 As brancas abandonaram. Posição após

Uma verdadeira partida de bloqueio, com uma rede bloqueadora que cobria ambas as alas além do centro. Sem menosprezar as operações nas alas, estamos propensos a conceder maior importância às manobras centrais em torno do ponto e5 e d3. O bloqueio, sem dúvida, teve origem no centro.

Partida 43 Bluemisch - Nimzovitsch Breslau, 1925 Abertura Irregular

Recomendo essa partida aos nossos leitores não somente como um exemplo de bloqueio, mas também porque do princípio ao fim ilustra o valor das linhas. O glossário sobre o que ocorre nas linhas abertas foi por essa razão objeto de atenção especial. 1.Nf3 e6 2.g3 b6 3.Bg2 Bb7 4.0–0 c5 5.d3 Nf6 6.e4 Be7 7.Nc3 0–0 8.Bd2 Nc6 9.e5 Esse lance injeta vida à luta, porém seria menos comprometedor 9.Kh1 seguido de Ng1 e f2-f4. 9…Ne8 10.Ne4 Rc8 Uma medida preventiva contra a possibilidade c2-c3, seguido de d3-d4. 11.Bc3 b5 Induzindo meu adversário a jogar b2b3. Logo se entenderá o por que. 12.b3 f5! 13.exf6 Nxf6 14.Qe2 Nd5 15.Bb2 b4 Agora as pretas colocaram um cavalo inexpugnável no centro, assim como as brancas e é difícil determinar como evoluirão os acontecimentos. 16.Rae1 a5 17.a4 Isso não é bom. O correto seria 17.Nfd2, seguido de f2-f4. 17...Qe8 Não há razão porque as brancas não devessem abrir o jogo com 17...bxa3 18.Bxa3 Nd4 19.Nxd4 (as brancas não devem jogar 19.Qd1 devido a 19...Nc3! 20.Nxc3 Bxf3 21.Qc1 Qe8 e 22...Qh5) 19...cxd4 e a coluna c, com o lance 10...Rc8 se faria sentir. Depois do lance do texto, é difícil evitar a fossilização da posição. 89

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18.Ned2 Era preferível voltar com o outro cavalo: 18.Nf2 Nd4 19.Qd1, seguido de 20.f4 e 21.Nf3. 18...Bf6 19.Bxf6 gxf6! A posição das pretas vai se tornando mais compacta e o domínio da coluna e por parte das brancas tem um valor relativamente menor. A casa e6 segue firme como uma rocha e as pretas já controlam e5 e e4. 20.Nc4 Qh5 21.Nd4 Qxe2 22.Nxe2 Rc7 23.f4 Ba6 24.Bxd5 exd5 25.Nd6 f5 O atrevido cavalo das brancas, para assegurar para os seus o domínio da coluna e, aventurou-se em um beco sem saída e resta saber se a coluna e valia tantos esforços. 26.Rf2! Nd8 27.Nc1 Rc6 28.Nb5 Bxb5 29.axb5 Re6 As pretas devem renunciar ao ponto crucial b6 para assegurar a coluna e. 30.Rfe2 Kf7 31.Kf2

Posição após 31.Kf2 Era uma necessidade premente jogar na coluna e, com a ocupação do posto avançado e5, em cujo caso as cujo caso as pretas teriam que resolver um problema extremamente difícil. Vejamos: 31.Re5

Kf6 32.Kf2 d6! 33.Rxe6+ (não 33.Rxd5?, devido a 33...Rxe1 34.Kxe1 Ke6) 33...Nxe6 34.Ne2 Rb8 35.Ra1! Rxb5 36.c4 bxc3 37.Nxc3 Rxb3 38.Nxd5+ Kf7! 39.Rxa5 Rxd3 40.Ra7+ Ke8! 41.Nf6+ Kd8 42.Nxh7 c4 43.Ng5! Nc5! 44.Ke2 Ke8!. Nessa posição se ameaçava o avanço do peão c, enquanto fazer isso no lance 44 seria um erro devido a Ne6+. Agora a continuação seria 45.Rc7! c3 46.Nf7 (se 46...c2?, 47.Nxd6+ etc; porém se 46...Rd5, então 47.Nxd6+ Kf8 [não 47...Kd8 devido a 47...Rxc5] 48.Nb7! c2? 49.Nxc5 c1=Q 50.Ne6+, vencendo.) 46...Rd2+! (o lance vencedor!) 47.Ke3 Rd5 48.Nxd6+ Kf8 e o peão c coroará com xeque. Na posição produzida após o lance 44, as brancas não poderiam se salvar com outros lances. Por exemplo: 45.h4 c3 46.h5 c2 47.Ra1 Ra3 48.Rc1 Nb3 49.Rxc2 Nd4+, vencendo. Esta é a solução, extensa mas interessante, do problema colocado no lance 31. Pode ser que exista outra solução, com 44...Kc8 (para seguir com ...Kb8 quando a ocasião se apresentar), que no entanto apenas deixa beleza à solução apresentada. Por conseguinte, o beco sem saída no qual se meteu o cavalo é um incoveniente superior à vantagem da coluna e. 31...Kf6 32.Kf3? Ainda nesse ponto as brancas poderiam evitar o problema antes esboçado, através de 32.Re5. Em qualquer caso, a técnica do jogo linear não deveria ser rompida de forma súbita. A exploração de uma linha e, em particular, a ocupação de um posto avançado, deveriam ser realizados de

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2 - Restrição e Bloqueio

forma automática. Consulte a explicação referentes a linhas abertas em Meu Sistema (Capítulo I). 32...Nf7 Protege a casa e5 da invasão. O peão b do adversário deve cair. 33.Na2 d4! 34.Ra1 Rb8

44…c3 O edifício do bloqueio é coroado por uma combinação de sacrifício. 45.Re2 a4! 46.bxa4 b3 47.cxb3 Nb4 As pretas venceram após: 48.Rxe3 Rxe3 49.Ne2 c2 50.Ra1 Nxd3+ 51.Kf1 Rxe2 52.Kxe2 c1Q 53.Rxc1 Nxc1+ 54.Kf3 Nxb3 55.h3 d3 56.g4 hxg4+ As brancas abandonaram. Partida 44

Von Holzhausen - Nimzovitsch

Dresden, 1926 Defesa Siciliana

Posição após 34...Rb8 Chegou o momento de levar os frutos para casa. Nesse ponto já se pode notar o efeito de um bloqueio acusado. Os lances e as manobras das peças brancas são limitadas e se realizam com um atrito interno progressivo, enquanto as peças ligeiras das pretas dominam todo o tabuleiro. 35.Nc1 Rxb5 36.Rd2 Nd8 37.Ne2 Nc6 38.Ng1 d5 O peão d esperou até o lance 38 para avançar. 39.Ne2 Rb8 40.Ra4 Rbe8 Agora são as pretas que controlam a coluna e. 41.Ra1 h5 42.Ng1 Re3+ 43.Kf2 Finalmente a posição está madura para uma ruptura decisiva. 43…c4 44.Rad1 Ou também 44.dxc4 dxc4 45.bxc4 Rc3.

1.e4 c5 2.Nf3 Nc6 3.d4 cxd4 4.Nxd4 d5 Uma novidade, ensaiada pela primeira vez pelo autor contra Rubinstein em Carlsbad, 1923. 5.Bb5 Parece melhor 5.Nxc6 bxc6 6.exd5 Qxd5 7.Nc3 Qxd1+ 8.Nxd1 e as brancas têm uma posição mais compacta, embora aparentemente o jogo esteja igualado. 5...dxe4 6.Nxc6 Qxd1+ 7.Kxd1 a6 8.Nd4+ axb5 9.Nxb5 Bg4+ 10.Ke1 Rd8 As pretas consideravam que a posição após o roque fosse um pouco instável. Por exemplo 10...0–0–0 11.N1c3 e5 12.h3! Bh5 13.g4 Bg6 14.a4, seguido de 15.a5 e 16.a6. Ou também 12...Bd7! (ao invés de 12...Bh5) 13.Be3 Bb4 14.Ke2 e em ambos os casos parece que se pode atacar a posição das pretas. 91

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11.N1c3 e5

Posição após 11...e5 Esse lance, forte apesar do seu aspecto, não obedece aos estritos requisitos que oferece uma estratégia de bloqueio. A base das operações de bloqueio deve ser aqui encontrada na diagonal g4-d1 e portanto essa diagonal deveria ser protegida e super protegida. E principalmente pelo fato das brancas pretenderem destruir de forma nada agradável essa base, através de 12.h3 Bh5 13.g4. O procedimento adequado, do ponto de vista do bloqueio seria 11...f5 (ao invés de 11...e5). Se então 12.h3 Bh5 13.g4 fxg4 14.Nxe4 gxh3, as brancas poderiam evitar perdas graves através de 15.Bf4 Bf3 16.Nh5 Bxh1 17.Nc7+ Kd7 18.Nf7, porém não sustentariam a posição por mais do que alguns lances: 18...Bf3! 19.Nxh8 e5! 20.Bxe5 Bd6 21.Bxd6 Kxd6. Se as brancas desistissem de todas as tentativas de romper a posição e optassem por continuar tranqüilamente com seu desenvolvimento, não conseguiriam compensação pelo fato de que sua torre do rei está fora de jogo. Por exemplo: (depois de 11...f5!) 12.Bf4 segue 12...Nf6 e em seguida ...e6 e ...Kf7. Após o lance do texto, no

entanto, a situação não está nada clara. 12.h3! Bh5 Não consegui nesse momento reexaminar a continuação 12...Bd7 13.Nc7+ Ke7 14.Nd5+ Kd6 15.Be3. 13.g4 Bg6 14.Nc7+? Aqui a continuação indicada seria 14.Be3 e se 14...f5, então 15.Ke2 e a torre pode entrar em jogo. Estrategicamente, as pretas então teriam a obrigação de jogar para recuperar a bela diagonal h5-d1, talvez desta forma 15... fxg4! 16.hxg4 Nf6 17.g5 Bh5+ 18.Kf1 Bf3 19.Rh4 Ng4 20.Nxe4 Bxe4 21.Rxg4 Bxc2 22.Nc3, com iguais possibilidades. O desenvolvimento dentro de linhas lógicas nessa variante causa impressão. 14...Kd7 15.N7d5 Kc6 16.Ne3 Era tentador 16.Be3, porém após 16... Rxd5 17.Nxd5 Kxd5 18.Rd1+ Kc4 19.Rd8 Nf6 20.Ke2 Rg8 e não se pode evitar o desenvolvimento do bispo por e7, com a conseqüente descravada da torre. 16...Bb4

Posição após 16...Bb4 O curso lógico da partida pedia o imediato ...h7-h5. Por exemplo, 16...h5! 17.g5 f5 (ou inclusive 17...h4), com vantagem das pretas.

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2 - Restrição e Bloqueio

As pretas se desenvolvem sobre linhas mecânicas, rendendo dessa forma tributo aos ensinamentos da escola antiga, segundo a qual “todas as marionetes devem se encontrar no cenário antes do início da sessão”. Que ridículo e obsoleto é um dogma assim nos dias de hoje! 17.Bd2 Ne7 18.h4 Teria sido melhor 18.a3, com algumas possibilidades de contra-jogo. 18...h5! Dessa forma se inicia a conquista da diagonal. Os oito lances seguintes apresentam uma dura luta, cheia de tensão. Porém após os próximos oito lances, a verdadeira batalha estará encerrada e as brancas se arrastarão, bloqueadas e amordaçadas, a esperar o castigo final. 19.g5 Nf5 20.Nxf5 Bxf5 21.Rg1 Rd4 Ameaça 22...e3 23.Bxe3 Rxh4 e as pretas têm um peão passado. 22.a3 Rhd8 23.axb4 Rxd2 24.Rd1 Rxd1+ 25.Nxd1 Bg4 26.Ne3 Bf3 27.c4 As brancas praticamente já não têm defesa. 27...b5 28.b3 Rd3 29.Rg3 g6 30.Rg1

A torre branca só pode jogar para as casas g1 e g3, pois se 30.Rh3? seguiria 30...Rxb3 31.Kd2 Rd3+ 32.Kc2 bxc4 e não é possível 33.Nxc4 devido a 33...Bd1+, seguido de ...Rxh3. 30...Kb7 31.cxb5 Isso facilita as coisas para as pretas. Se 31.Rg3 o rei das pretas iria para e6. Então, com a torre branca em g3, seguiria a liquidação ...Rxb3; Kd2 ...bxc4; Nxc4 ...Rxb4; Ne3 e a torre preta ocupa a primeira fileira. Nesse momento a posição é insustentável para as brancas. Se nada de imprevisto acontecer, com a torre branca em h3, as pretas poderiam forçar a toca das torres com ...Rh1 e seguir com ...f7f6, vencendo com facilidade. O restante é pura técnica de encurralar o adversário. 31...Kb6 32.Rg3 Kxb5 33.Rh3 Kxb4 34.Kf1 Rxb3 35.Kg1 Rb2 36.Nd5+ Kc4 37.Ne3+ Kd3 38.Ng2 Rb1+ 39.Kh2 Ke2 Agora o rei realiza uma manobra curiosa. 40.Kg3 Rg1 41.Rh2 Kf1 42.Kh3 Bxg2+ As brancas abandonaram. Partida 45 Nimzovitsch - Duhm Hanover, 1926 Defesa Siciliana

Posição após

30.Rg1

Uma partida de bloqueio curta, porém edificante. A respectiva formação de peões se parece com a das partidas 41 e 42, porém a forma como se executa o bloqueio, baseada em uma diagonal, lembra-nos a partida 44. Seja como for, aqui a rede de bloqueio atua de forma eficaz e desembaraçada. 93

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1.c4 e6 2.e4 c5 É melhor 2...d5 3.cxd5 exd5 4.exd5 Nf6. 3.Nc3 Nc6 4.f4 d6 O lance 4…Nf6! é mais preciso. 5.Nf3 g6 6.d4 Bg7 7.dxc5 Desse modo as brancas conseguem uma clara vantagem. 7…dxc5 Se fosse jogado 7...Bxc3+ 8.bxc3 dxc5, seguiria 9.Qxd8+ Kxd8 10.Ne5!, sempre com a vantagem das brancas. Porém, se as pretas retomassem em d8 com o cavalo, 9...Nxd8, então seguiria 10.a4, 11.Be3 e se 11...b6, 12.a5, com um rolo compressor na ala da dama. 8.Qxd8+ Kxd8 9.e5 h5 Não há dúvida de que aqui as pretas deveriam ter jogado 9...f6 para eliminar o peão bloqueador de e5, que também domina a casa d6. O contra-plano das pretas de estabelecerem um cavalo em f5, implantando dessa forma seu próprio bloqueio (pois o cavalo então controlaria a maioria qualitativa do adversário), resulta impraticável, uma vez que um ataque imediato das brancas não lhes dará tempo para grandes manobras. 10.Be3 b6 11.0–0–0+ Ke7

Posição após

11...Ke7

12.Bf2! A importante grande diagonal será ocupada com efeitos decisivos. Veja o próximo comentário. 12...Nh6 13.Bh4+ Kf8 14.Bd3 Bb7 15.Be4 O caráter decisivo deste bispo sobre a grande diagonal deve-se ao fato de que agora as pretas não poderão opor uma torre na coluna aberta, que deverão entregar ao seu adversário, o que, com a sua torre do rei fora de jogo, fará que a sua posição se torne desesperadora. 15...Na5 16.Bxb7 Nxb7 17.Rd7 Rb8 18.Rhd1 Kg8 19.Be7! Para jogar Ng5 sem prender o bispo. 19…Nf5 20.Ng5 Re8 21.Bf6 Bxf6 22.exf6 Na5 23.Rd8 Iniciando um ataque de mate. 23…Kf8 24.R1d7 Nh6 25.Nce4! Nc6 26.Rxf7+ Nxf7 27.Nxe6+ Kg8 28.Rxe8+ Kh7 29.N6g5+ As pretas abandonaram. Segue mate em dois. Partida 46 Brinckmann - Nimzovitsch Kolding, 1923 Defesa Índia

Esta partida constitui-se em uma ilustração do sacrifício de bloqueio, estratégia que parece ter se originado nas partidas do autor contra Spielmann e Leonhardt, em San Sebastian (1912). Desde então, descobriu-se que há outra partida (contra o Mestre Walter John, Hamburgo 1910) que contém um sacrifício de peão com essa tendência. Esta partida, que apresento em seguida, deve ser considerada a partida fonte desse tema.

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2 - Restrição e Bloqueio

John-Nimzovitsch, Hamburgo 1910 1.d4 d5 2.Nf3 e6 3.e3 c5 4.b3 Nf6 5.Bb2 Nc6 6.Bd3 Bd6 7.Nbd2 0–0 8.0–0 Qe7 9.c4 b6 10.Ne5 Bb7 11.Rc1 Rfd8 12.Nxc6 (o cavalo não poderia se manter em e5 em boas condições. Com o lance do texto, as brancas pretendem criar peões pendentes na posição do adversário) 12...Bxc6 13.cxd5 exd5 14.Qc2 (a captura dxc5, que faz parte do plano, é reservada para a ocasião apropriada) 14...h6 15.Rfd1 Rac8 16.Bf5 Rc7 17.Qc3 c4!! 18.bxc4 dxc4 19.Nxc4 Ne4 (também era possível 19...Ba4, porém não estaria em sintonia com o sacrifício e suas tendências bloqueadoras) 20.Qe1 (a idéia subjacente ao jogo das pretas se manifestaria claramente se as brancas jogassem 20.Bxe4 Bxe4! 21.Qd2 Qg5 22.f4 Qd5, pois pelo peão a menos teriam compensação na posição bloqueada. O lance do texto é deficiente) 20...Bb4 21.Qe2 Bb5 22.Bxe4 (era melhor 22.Qf3) 22...Qxe4 23.Nd6 (não há nada melhor) 23...Bxe2 24.Nxe4 Re7 25.Ng3 Bxd1 e as pretas venceram após uma luta dura. Após essa introdução, que ilustra as características do sacrifício de bloqueio, passamos à partida 46, na qual ocorre nossa estratégia do modo mais plástico e que, por esse motivo, é uma das partidas favoritas do autor deste livro. 1.d4 e6 2.c4 Nf6 3.Nc3 Bb4 4.Bd2 0–0 Deveria se jogar 4...b6 de imediato. 5.Nf3 d6 6.e3 b6 7.Bd3 Bb7 8.Qc2 As pretas agora optam por uma troca muito perigosa. 8...Bxf3 9.gxf3 Nbd7 10.a3 Bxc3 11.Bxc3 c6!

Posição após 11...c6! As pretas, que explorarão a debilidade dinâmica do complexo de peões dobrados, se esforçam ao mesmo tempo para bloquear os dois bispos das brancas, de modo que naturalmente evitam a abertura da posição. Por exemplo: 11...d5 12.cxd5 exd5 13.0-0-0, seguido de Kb1 e Rc1 e as brancas teriam um bom campo de operações nas colunas c e g, enquanto que a única possibilidade de contra-jogo para as pretas, ...c5, seria respondida com dxc5, ativando os bispos. 12.0–0–0 d5 13.e4 Um avanço como esse, embora crie possibilidades de ataque, também, como sabemos, debilita consideravelmente o complexo de peões dobrados. 13...g6 Forçado e, além disso, não é tão ruim como parece. O cavalo de f6 impede o ataque “à baioneta” com h4-h5. 14.cxd5 Seria melhor 14.h4 ou 14.Kb1. Porém as brancas querem jogar e4-e5, que agora seria desfavorável, devido a 14...dxc4 15.Bxc4 Nd5. 14...cxd5 15.e5 Nh5 Agora as pretas se divertem com o

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

paralisado complexo de peões dobrados do adversário. 16.h4 a5 Para restringir o bispo da dama das brancas. Agora pode ser feito o reagrupamento ...Qe7, ...Rfc8 e ...Nf8. 17.Rdg1 Qe7 18.Qd2 Rfc8 19.f4

numerosas debilidades. 27.Rxf5 Uma tentativa desesperada, que é refutada de maneira enérgica. 27...exf5 28.Bxa5 Rb3! 29.Ke2 Qb7 30.Bb4 Qa6 As brancas abandonaram. Se 31.Ke1 seguiria 31...Rbxb4 32.axb4 Qa1+ 33.Qd1 Rc1 etc. Partida 47 Nimzovitsch - Leonhardt San Sebastian, 1912 Defesa Francesa

Posição após 19.f4 19...b5!! O sacrifício de bloqueio: entrega-se um peão para trocar o bispo do rei, pois as brancas ficando fracas nas casas de sua cor deverão perder. 20.Bxb5 Rab8 21.Be2 Nb6 O sacrifício de peça é correto, porém mais elegante e mais correto ainda seria 21...Ng7 22.h5 Nf5 e ...Nc4, com jogo superior. 22.Kd1 As brancas deveriam ter aceitado o sacrifício. Por exemplo: 22.Bxh5 Nc4 23.Qc2 Nxa3! 24.Qd2! Nc4, com empate por repetição de lances. 22...Nc4 23.Bxc4 Rxc4 24.Rg5 Ng7 25.h5 Nf5 26.hxg6 fxg6 Examine a posição após a resolução por parte das pretas do problema indicado no comentário ao lance 11. O peão dobrado está bloqueado de forma irremediável e as brancas têm

A partida irmã da estratégia de sacrifício de bloqueio. (Veja, no entanto, nota introdutória à partida 46). 1.e4 e6 2.d4 d5 3.e5 c5 4.Nf3 Qb6 Depois de 4...cxd4 segue 5.Bd3, à moda de gambito, ou também 5.Qxd4 Nc6 6.Qf4, com uma pressão adequada. 5.Bd3 cxd4 6.0–0 Nc6 7.a3 Chegamos a uma posição típica de nossa estratégia: o peão e em cunha constitui-se em ampla compensação pelo pequeno sacrifício material, pois restringe consideravelmente a posição das pretas. 7...Nge7

Posição após

7...Nge7

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2 - Restrição e Bloqueio

Após a partida, meu adversário mostrou-se curioso em saber o que eu teria jogado em resposta a 7...a5? Mencionei-lhe a variante 18.Bf4 Qxb2 9.Nbd2. “Você não se atreveria a jogar dessa maneira,” disse Leonhardt. Mas o certo é que eu o teria feito, pois esse segundo sacrifício de bloqueio é o complemento lógico do primeiro. Depois de 7...a5 8.Bf4 Qxb2 9.Nbd2 Qb6 (se 9...Bxa3, as brancas poderiam garantir o empate através de 10.Nb3, seguido de Bc1 e Bd2) 10.Re1! e aqui não é fácil decidir se as brancas têm compensação suficiente. Os peões a mais das pretas não são desde já móveis seu desenvolvimento enfrenta dificuldades. Além de 8.Bf4, baseado em minha nova estratégia, tinha que ser considerado 8.a4. Por exemplo: 7...a5 8.a4 Bc5 9.Na3, com possibilidades de contra-jogo. Por último, podemos mencionar que em uma situação similar Lasker jogou 7...f5, contra o qual recomendaríamos 8.b4 a6 9.c4! dxc3 10.Nxc3 e as brancas ameaçam ocupar a casa b6, com Be3 e Na4. 8.b4 Ng6 9.Re1 Be7 10.Bb2 a5 Seria um pouco melhor 10…a6. 11.b5 a4 12.Nbd2 Ameaça 13.bxc6 Qxb2 14.Rb1, seguido de cxb7. 12…Na7 13.Bxd4 Bc5

Posição após

13...Bc5

14.Bxc5! Com 14.c3 se ganharia o peão de a4. 14…Qxc5 15.c4 dxc4 16.Ne4 Qd5 17.Nd6+ Ke7 18.Nxc4 Qc5 Impede Nb6. 19.Bxg6! hxg6 Ou também 19…Qxc4 20.Qc6+ Ke8 21.Rd1 fxg6 22.Qd8+ e 23.Ng5++. 20.Qd6+ Qxd6 21.exd6+ As pretas abandonaram. Se 21…Ke8, seguiria 22.Nb6 Rb8 23.Ne5 e a ameaça 24.d7 não tem resposta. Partida 48 Nimzovitsch - Ahues Bad Niendorf, 1927 Defesa Philidor

O sacrifício produzido no lance 25 só aparentemente é um sacrifício de bloqueio. Na realidade, trata-se de uma incursão de ataque, pois o bloqueio já existia antes da realização do sacrifício. Mas como todas as coisas têm que ter um nome, descrevemos essa luta dessa forma: uma partida de bloqueio coroada por um sacrifício. 1.c4 Nf6 2.Nc3 d6 3.d4 Nbd7 4.e3 e5 5.Bd3 Be7 Tudo isso havia sido jogado anteriormente. Nessa fase, é habitual que as brancas prossigam com 6.Nge2, 0-0 e f4, sem dúvida uma continuação correta. As brancas, no entanto, aplicam um método mais incisivo de desenvolvimento. 6.f4 0–0 7.Nf3 exd4! 8.exd4 d5 As pretas responderam bem e nesse momento a posição pode ser considerada equilibrada. 97

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9.c5 c6! Agora existe a ameaça constante de ...b6 por parte das pretas. 10.0–0 As brancas descartam 10.a3 em vista da variante 10...b6 11.b4 bxc5 12.bxc5 Nxc5 13.dxc5 Bxc5!, com forte ataque. 10...a5 Não havia nenhuma razão para retardar o lance libertador ...b6. Por exemplo: 10...b6! 11.Ne5 Qc7 12.cxb6 (o melhor) 12...axb6 13.Bd2, seguido de Rc1, com possibilidades equivalentes. Após o lance do texto, as pretas caem em posição inferior. 11.Ne5 Qc7 12.Qa4

Posição após 12.Qa4 Dessa forma se faz muito difícil (senão impossível) o avanço ...b7-b5. Durante a partida, no entanto, tinha a impressão de que poderia ser realizado, em conexão com algumas sutilezas combinatórias. Por exemplo, 12...b5 13.cxb6 Qxb6 14.Nxc6 Bd6 e essa impressão era tão forte, que nem posteriormente eu consegui me livrar dela. Na revista Kagans Neueste Nachrichten, por exemplo, recomendei (contra 12...b5) a continuação Qc2 e a intenção das pretas em ocupar e4 seria frustrada

da seguinte forma: 13...b4 14.Na4 Ba6 15.Bxa6 Rxa6 (agora se ameaça ...Ne4) 12.Qe2!, vencendo, devido a ameaça indireta ao bispo preto. Hoje não posso ver por que não deveria aceitar o sacrifício de peão. Depois de 12...b5 13.cxb6 Qxb6 14.Nxc6 Bd6, as brancas poderiam jogar simplesmente 15.Kh1 e 16.Ne5 e as pretas não teriam nenhuma compensação. 12...Re8 13.Kh1 Nf8 Novamente em Kagans Neueste Nachrichten parei o lance 13...b5 da forma mais complicada, ao invés do lance lógico cxb6 que conduzia à variante citada anteriormente, ou seja, 14.cxb6 Qxb6 15.Nxc6 (na Kagans Neueste Nachrichten eu só mencionava 15.Qxc6) 15...Bb7 (ou também 15...Bd6 16.Ne5) 16.Ne5 Nxe5 17.fxe5 Ne4 18.Nxe4 dxe4 19.Bc4 Rf8 20.Qb3 etc. Portanto parece provado que em seu lance 10 as pretas cometeram um pecado de omissão, do qual não puderam se redimir. 14.Qb3 Agora devem ser evitados por meios diretos os lances ...b6 e ...b5. 14...Ne6! Muito bem. No caso de 15.Be3 seguiria 15...Bxc5!. 15.Ne2 Nd7 As pretas conseguiram manter o cavalo da dama das brancas fora da rota c3-a4-b6, mas em troca pagaram um preço alto, pois o seu cavalo de e6, como veremos em seguida, está mal posicionado. 16.Nxd7 Bxd7 Seria preferível retomar com a dama, pois em tal caso o bispo do rei chegaria a f6, o que agora não é possível.

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17.f5 Nf8 18.Bf4 Qc8 19.Be5! f6 Veja o comentário anterior. 20.Bg3 a4 21.Qb4! O único lance que impede que o anel de bloqueio seja vulnerado. Por exemplo: 21.Qc3 b6! 22.cxb6 Bd8, seguido eventualmente de ...Qb7 etc. 21…b5 22.Qd2 Aqui merecia ser considerado seriamente 22…Red8, para transportar o bispo da dama a f7 o mais rápido possível. 22…Bd8 23.Rf3 Bc7 24.Raf1 Re7 Isso permite uma expedição interessante. Parece ser um pouco melhor 24...Bxg3, ao que poderia seguir 25.Nxg3 Qc7 26.Nh5 Re7 27.g4 h6 28.h4 Nh7, embora também nesse caso, depois de 29.Nf4 e 30.Nh3, as brancas estivessem preparadas para realizar o assalto.

Qd8 28.Qc1! Outro lance de espera, com o qual se impede o movimento ...Bc8 (no caso de 28...Bc8? seguiria 29.Qxc6). 28…Qb6 29.Qf4 Red8 30.Nh5 Ra7 Se 30…Be8, a resposta 31.Nxf6+ seria um golpe demolidor. Por exemplo: 30...Be8 31.Nxf6+ gxf6 32.Rg3+ K~ , 33.Qh6 e as brancas vencem. 31.Nxf6+ As pretas abandonaram. No caso de 31...Kh8!, eu imaginava seguir com 32.Nxh7! e logo após a partida mostrei a continuação: 32...Nxh7 33.Qh4 Kg8 34.f6 Nxf6 35.Rxf6 etc, ou também 31...Kh8 32.Nxh7 Kxh7 33.f6+ g6 34.Qh4+ Kg8 35.f7+ Kg7 36.Qf6+ Kh7 37.Rf4 etc. Teria sido mais fraco responder ao lance 31...Kh8 com 32.Qh4, pois então poderia simplesmente seguir 32...h6 33.Ng4 Nh7 34.f6 Bxg4 e as brancas ainda terian que realizar um esforço extra, ou seja, 35.Qxg4! Nxf6 36.Qg6 e o ataque se impõe. 6 – Meu novo tratamento da cadeia de peões. A Variante Dresden.

Posição após 24...Re7 25.Bd6!! Um sacrifício de peão muito profundo. O peão branco de d6 ficará perdido, porém no instante em que as pretas se dispuserem a capturá-lo, a posição do seu roque será demolida com o sacrifício de cavalo. 25...Bxd6 26.cxd6 Re8 27.Ng3

Na partida 49 e na partida 51, as pretas renunciam a um desafio prematuro à cadeia de peões das brancas, para substituir o valor de ataque assim perdido por um jogo posicional sobre as casas brancas, ou seja, troca-se o bispo do rei das brancas e as pretas procedem a operação contra as casas brancas enfraquecidas. Como é lógico, a condição essencial para o êxito de um procedimento assim é a devida proteção da própria ala do rei e nisso reside a principal dificuldade nessa forma de jogo. 99

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

Consideremos qualquer tipo de cadeia, por exemplo, a resultante de 1.e4 e6 2.d4 d5 3.e5. A ala do rei das brancas poderá ficar fechada com os lances ...h5 e ...g6. Nesse caso, as casas pretas do segundo jogador (g5 e f6) estarão debilitadas. Veja a partida 50 e compare com a seguinte abertura: (Steiner-Nimzovitsch, Berlim 1928) – 1.e4 e6 2.d4 d5 3.Nc3 Bb4 4.e5 c5 (esta agressão, como se verá em seguida, não é muito séria , pois o peão logo seguirá o seu caminho) 5.Bd2 Ne7 6.a3 Bxc3 7.bxc3 c4? 8.h4 h5 9.Be2! Nf5 10.g3! g6 11.Bg5 Qa5 12.Qd2 (a diagonal do bispo da dama das brancas exerce um efeito paralisante e o contrabloqueio das pretas com seu cavalo de f5 logo será insustentável) 12...Nc6 13.Bf6 Rg8 14.Nh3 Kd7 15.Ng5 Nh6 16.f3 Kc7 17.g4 Re8 18.Bg7 Ng8 e as pretas são rechaçadas em toda a linha. Depois de 19.gxh5 gxh5 20.f4, a posição das pretas não pode resistir. [Nimzovitch perdeu essa partida no lance 40 – N. do T.]. Qual é a moral da estória? O bispo do rei das pretas só deverá ser trocado pelo bispo da dama do adversário, pois caso contrário, este se faz superior (partida 50). Por outro lado, é recomendável proteger o peão de h5 de uma forma diferente de ...g7-g6 (partida 51). Compare-se também com a partida 13. A Variante Dresden fica ilustrada na partida 52. A idéia aqui é uma estabilização duradoura do centro. Partida 49 Vajda - Nimzovitsch Kecskemet, 1927 Defesa Nimzovitsch

1.e4 Nc6 2.d4 d5 3.Nc3 e6 4.e5 Nge7! Não 4...Bb4, devido a 5.Qg4. 5.Nf3 Se agora 5.Qg4, seguiria 5...h5. 5...b6 6.Ne2

Posição após 6.Ne2 “Ambos mantinham um solilóquio alternado e se imaginavam estarem conversando”, disse uma vez um autor, com tom melancólico. Essa forma de conversação está ocorrendo aqui. As pretas asseguram algumas casas brancas, enquanto as brancas dominam as casas escuras (planejam Ne2-g3-h5, com pressão sobre as casas g7 e f6) e o único vínculo entre as operações de ambos os lados é que cada um joga na sua vez. 6...Ba6 7.c3 Merecia ser considerado 7.Ng3. Por exemplo: 7...Bxf1 8.Kxf1 h5 (de outra forma, Nh5) 9.h4, seguido de Ng5. 7...Qd7 8.Ng3 Bxf1 9.Nxf1 h5 10.Bg5 Na5 O jogo das pretas nas casas brancas (b5, c4 e f5) agora ficará evidente. 11.Qe2 a6 12.Ne3 Qb5 13.b4 Qxe2+ 14.Kxe2 Nac6 Tanto 14...Nc4 (ao que se responderia 15.Nxc4 e 16.Bxe7, seguido de 17.Nd2 e se 17...b5, 18.a4),

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2 - Restrição e Bloqueio

como 14...Nb7 seriam ruins. Este último porque 15.Ne1 c5? ajudaria as brancas, 16.bxc5 bxc5 17.Rb1 etc. 15.Ne1 Ng6 16.Nd3 Be7 Fim dos monólogos. Agora começa uma disputa brutal. 17.Bxe7 Ncxe7 18.f4 Nh4! As pretas asseguram a casa f5. Se as brancas, no lance anterior, tivessem impedido isso com 18.g3, teria seguido 18...Nf8!, com o plano ...Nd7, ...0-0, ...Rfc8 e finalmente, ...c5, com bom jogo para as pretas. 19.g3 Nhf5 20.Nxf5 Nxf5 21.Kf3 Tramando um complô contra o cavalo preto, com base nos lances h3 e g4. Como essa idéia pode ser evitada? 21...a5 No momento certo. 22.a3 As brancas não deveriam se comprometer com 22.b5 c6 23.bxc6 Rc8 e a pressão sobre a coluna c seria desagradável, pois a coluna b não seria um contrapeso suficiente. 22...Kd7 23.h3

Posição após 23.h3 As brancas omitem a combinação de seu adversário. Poderiam ter jogado

23.Rhb1 e em seguida a manobra Ne1c2-e3, embora inclusive nesse caso as pretas tivessem alguma vantagem. 23...axb4 24.Nxb4 Uma amarga necessidade. Se 24.axb4, segue 24...h4 25.g4 Ng3 26.Rhc1 Ne4 e as pretas ganham o peão de c3, ou se apoderam da coluna a. 24...Ra4 Aqui também merecia séria consideração a manobra indicada. Porém o lance do texto deve ser suficiente. 25.g4 Ne7 26.Ke3! c5 As pretas não se contentam com a variante 26...hxg4 27.hxg4 Rxh1 28.Rxh1 Rxa3, uma vez que entregaria a coluna h ao inimigo. 27.Nc2 Nc6 28.Rab1 Rc8 Aqui havia uma linha ganhadora: 28...cxd4+ 29.cxd4 (29.Nxd4 Rxa3) 29...Rc4 30.Kd3 Rc8 31.Rxb6 Nxe5+ 32.fxe5 Rc3+ 33.Kd2 Rxc2+ 34.Ke3 g5, com vitória fácil para as pretas. Porém os apuros do relógio não me permitiram vê-la. 29.Rxb6 cxd4+ 30.cxd4 Nxe5 31.fxe5 Rxc2 32.Rb3 A vantagem das pretas praticamente virou fumaça. 32...hxg4 33.hxg4 Nesse ponto havia uma curiosa combinação de empate: 33.Rf1 Rh2 34.Rxf7+! Ke8 35.Rbb7! (parece um erro grosseiro!) 35...Rxa3+ 36.Kf4 Rf2+ 37.Kxg4 Rxf7 e agora é a vez das brancas, que jogam 38.Rb8 e empatam. 33...Rg2 34.Rb7+ Aqui teria empatado 34.Kf3. Por exemplo: 34...Re2 35.Rh7, ou também 34...Rd2 35.Rh7 etc. 34...Kc6 35.Rhb1 Rxa3+ 36.Kf4 Ra6 37.Kg5 101

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

Se 37.Kf3, Rg1. 37…f6+ A 37…f5, 38.Rxg7 Rxg4+ 39.Kf6 etc. 38.exf6 gxf6+ 39.Kxf6 Rxg4 40.Re7

Posição após 40.Re7 Não há nada melhor. O rei branco está muito mal posicionado no final e suas forças não são suficientes para executar um ataque de mate. 40…Rf4+ 41.Kxe6 Rxd4 42.Kf5 Raa4 43.Re6+ Kc5 44.Kf6 Rf4+ 45.Ke7 Ra7+ 46.Ke8 Re4 As brancas abandonaram. Apesar da omissão do lance 28, esta partida tem importância estratégica. Poucos se atreveriam a retardar até o lance 26 o lance libertador ...c5, sem o qual o Dr. Tarrasch não poderia imaginar nunhum tipo de luta ou de defesa contra uma cadeia de peões... Com toda probabilidade, esta partida nos mostrou um território inexplorado.

Partida 50 Kmoch - Nimzovitsch Bad Niendorf, 1927 Defesa Nimzovitsch

1.e4 Nc6 2.Nc3 e6 3.d4 Bb4

Seria mais seguro 3…d5. 4.Nge2 d5 5.e5 h5 Escolhemos a nossa formação preventiva, mas teria sido melhor 5...Nge7 6.Nf4 Ng6 7.Nh5 Rg8, seguido de ...Be7 e as pretas rocam grande. 6.Nf4! g6 7.Be3 Bxc3+? Muito arriscado, pois a debilidade do complexo branco de peões dobrados ficará mais do que compensada pelo seu domínio da diagonal g5-d8. O correto seria 7...Nge7, ou inclusive 7...Bd8!. 8.bxc3 Na5 9.Bd3 Ne7 10.Nh3 c5 11.Bg5 c4 12.Be2 Nac6 13.Bf6 As brancas agora deveriam vencer sem maiores problemas. Compare essa posição com a da partida de Steiner, no início desse tópico. 13...Rg8 14.0–0 Esse lance não é uma continuação forte. O correto seria 14.Ng5, seguido de f3 e g4, ou também seguido diretamente por 15.g4. Após 15...hxg4 16.Bxg4, as brancas forçariam a posição com a ruptura h4-h5. 14...Qa5 Uma pequena possibilidade de contrajogo. 15.Qd2 Nf5 16.Rfd1 Seria uma forma mais econômica de utilizar as torres o lance 16.Rad1, uma vez que o peão a claramente seria um tabu. 16...Kd7! Uma decisão consistente. O rei abandona o peão f à própria sorte. No entanto, essa linha de jogo parece ser correta, em sintonia com a estratégia demonstrada nas partidas 29 e 30, “a retirada do rei como medida paliativa”. 17.Ng5 Rf8

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2 - Restrição e Bloqueio

23...Bd7 24.Rh3 Nd8 25.Rf3 Rc8! 26.Rh1?

Posição após 17...Rf8 É uma questão para se analisar se o lance 17...Kc7 não seria mais de acordo com o espírito da estratégia mencionada. Não se trata do peão f em si, mas sim evitar que as brancas, depois de Nxf7 utilizem a casa f7 como base de futuros ataques. Prosseguir com a retirada do rei teria sido o oposto dos planos das brancas nessa direção. Por exemplo: 17...Kc7 18.Nxf7 Bd7 19.f3 Raf8 20.Ng5 e agora tanto 20...Ng7, seguido de ...Ne8, como 20.Kb8 são possíveis, adotando um compasso de espera e não é certo que as brancas possam vencer. 18.h3? O método errado. Deveria ser jogado o avanço 18.f3. 18...Kc7 19.g4 hxg4 20.hxg4 Nfe7 21.Kg2 Ng8? Um erro feio, embora as brancas não se aproveitem. Com a variante 21...Bd7 22.Rh1 Rae8 23.Rh7 Nd8 as pretas poderiam se arrepiar como um ouriço. 22.Bg7 Re8 23.Rh1 Aqui 23.Nxf7! não só capturaria o peão, mas também conquistaria a casa d6. Se 23.Nxf7 Re7, então 24.Nd6 Bd7 (24...Rxg7? 25.Ne8+ Kd8 26.Nxg7 Qc7 27.Qg5+) 25.Bh6 e as brancas têm bom jogo.

Posição após 26.Rh1? Um sacrifício de peão injustificado, uma vez que em seguida se tornará claro que a dobrada das torres projetada dará com os burros n´água. Era de se considerar 26.Nxf7, ou também 26.Qc1, seguido de Qb2. No caso de 26.Nxf7, Nxf7 27.Rxf7 Re7 28.Rxe7 Nxe7. Se 26.Qc1, por outro lado, a continuação seria 26...Kb8 27.Qb2 Rc6! 28.Qb4! Qc7 29.Bf8! Rb6? 30.Bd6. Dessa análise se depreendem dois pontos: primeiro, a correção do método profilático 26.Qc1 e 27.Qb2; segundo, a afinidade entre as peças menores das brancas e a casa d6. Sem nenhuma consideração pelos planos vertiginosos dos homens, freqüentemente as peças desenvolvem uma lógica própria que quase sempre, como nesse caso, além de convincente é de uma grande beleza. 26…Qxa2 Considerando o estreitamento do seu contra-jogo, as pretas podem se dar por satisfeitas com esse resultado. 27.Rh7 Kb8 28.Nxf7 Nxf7 29.Rxf7 Bc6

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

Posição após 29...Bc6 O resultado é que as torres dobradas estão fora de jogo. 30.Bf6 a5 Seria preferível 30...Qb2, para se antecipar ao lance preventivo 31.Qc1. Porém as brancas não estavam pensando em manobras preventivas. 31.Rh1 Qb2 32.Bg5 Rf8 33.Rfh7 Rc7 34.Rxc7 Ou também 34.R7h3 Rcf7. 34...Kxc7 35.Qc1! Se as brancas não tivessem se deslumbrado pela perspectiva da vitória, aproveitariam suas opções de empate. As tentativas que seguem para salvar a situação são de alto nível e nos fazem recordar Schlechter. [Carl Schlechter, 18741918, foi um dos principais jogadores do início do século XX. O principal resultado de sua carreira foi o empate pelo Campeonato Mundial contra Emanuel Lasker em 1910, quando o Campeão manteve o título. O comportamento esportivo de Schlechter é um exemplo de cavalheirismo de alguns mestres do passado. Quando um adversário se atrasava para o início de uma partida, Schlechter retirava do seu próprio relógio o tempo equivalente ao do atraso do adversário, igualando as condições de início da partida. Morreu em Budapeste, durante a Primeira Guerra Mundial, de inanição e

pneumonia – N. do T.]. 35...Qxc3 36.Qa1! Qxa1 37.Rxa1 Ra8 38.Bd2 b6 39.Kg3 O rei ameaça chegar a g5. 39...Ne7 40.Bd1! Bd7 As pretas só poderiam vencer, se é que poderiam, com 40...Bb7. 41.Bb4! Nc6 42.Bd6+ Kb7 43.c3 b5 44.Rb1 b4 45.Ba4! E não 45.cxb4 axb4 46.Bxb4 Nxd4 47.Bc5+ Nb5 etc. 45...b3 Isso parece bom, mas permite que o jogo chegue a um beco sem saída. A alternativa, no entanto, resolvia a luta com eficiência: 45...Nxd4 46.Bxd7 Ne2+ 47.Kf3 Nxc3 48.Bxe6 Kc6 etc. 46.Bxc6+ Kxc6 47.g5! Impede que o bispo preto seja ativado através de g6. 47...Ra7 48.Rb2 Rb7 49.Kf4 Agora as pretas forçam uma penetração digna de um estudo composto. Com 49.Ba3 a partida estaria empatada. 49...Bc8 50.Kg3

Posição após

50.Kg3

50...Rb4!! O lance vencedor. 51.cxb4

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2 - Restrição e Bloqueio

Forçado, pois caso contrário seguiria o lance 51...Ra4. 51..a4 52.b5+ Kxb5 53.Ba3 c3 54.Rb1 Kc4 Como a torre e o bispo das brancas estão imobilizados (caso contrário seguiria ...b2 e ...Kb3), o rei preto pode dar uma festa particular com o peão d e regressar a c4, o que acaba sendo o fator decisivo. 55.f4 Kxd4 56.Kf2 Kc4 57.Ke1 d4 58.Ke2 Kd5 59.Kf3 Se 59.Kd3?, 59…Ba6++. 59…Bb7 60.Re1 Kc4+ 61.Kf2 b2 62.f5 exf5 63.e6 Bc6 As brancas abandonaram. Partida 51 Brinckmann - Nimzovitsch Bad Niendorf, 1927 Defesa Nimzovitsch

1.e4 Nc6 2.Nc3 e6 3.d4 d5 4.e5 Nge7 5.Nf3 b6 6.Ne2 Ba6 Já comentamos esses lances na partida 49. 7.Ng3 Bxf1 8.Kxf1 h5 9.Bg5

Posição após 9.Bg5 Agora as brancas ameaçam conquistar casas pretas importantes na ala do rei, da

seguinte maneira: 10.Nh4 g6 11.Bf6 e a manobra Nh4-f5-g5 etc. Como é possível cobrir o peão de h5 sem o avanço ...g7-g6? 9...Qc8! Se agora 10.Nh4, segue 10...Qa6+ 11.Kg1 Qa4!! 12.c3 Qxd1 e o peão h está bem protegido, sem necessidade do peão g. 10.Qd3 Ng6 11.c3 h4 Esse lance, que causa debilidade por si só, constitui-se uma medida preventiva contra o avanço planejado pelas brancas, h4. Por exemplo: 11...Be7 (ao invés de 11...h4) 12.h4, embora 11...Be7 também seja correto. 12.Ne2 Be7 Aqui seria de se considerar 12...h3 13.gxh3 Be7 14.Ng3 a5, seguido de ...Qa6. 13.h3 Bxg5 Também poderia ser jogado 13...Rh5. 14.Nxg5 Nce7 Nesse ponto ainda poderia ser jogado 14...Rh5. 15.Kg1 Isso dá tempo às pretas para um ataque no centro. Brinckmann imagina que o indicado fosse 15.Qf3. Mas em tal caso, a posição das pretas seria preferível após 15...Nf5 16.g4 hxg3 17.fxg3 (ou também 15.Nxg3 Ngh4) 17...Qd7 18.h4 0-0-0 19.h5 Nge7 20.g4 Nh6. 15...f6 16.Nf3 Qd7 Depois desse lance as brancas têm a possibilidade (que omitem) de salvar a partida com uma manobra aguda. Por conseguinte, seria melhor 16...c5, eventualmente seguido de ...Qc7 para manter a vantagem. 17.Kh2 c5 18.c4! 105

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Valente e engenhoso. É uma pena que no lance 24 Brinckmann não encontrasse a continuação precisa, que por outro lado, estava longe de ser evidente. 18...Qc7 19.cxd5 c4 A 19...fxe5?, 20.Qb5+ Kf8 21.Ng5 exd4+ 22.f4 Nxf4 23.Rhf1 Nexd5 24.Nxe6+ etc. 20.Qc2 exd5 21.Rhe1 0–0 Não agrada às pretas 21...fxe5 22.dxe5 Nxe5 23.Nxe5 Qxe5+ 24.f4 Qd6 e agora talvez 25.Rad1, ameaçando Qxc4. 22.Nc3 fxe5 23.Nxe5 E não 23.dxe5, devido a 23...Rxf3, seguido de ...Nxe5, com ataque decisivo. 23...Nxe5

Posição após 23...Nxe5 24.dxe5? Seria correto 24.Rxe5!! Nc6 25.Nxd5 Qb8 26.Qxc4 Nxe5 27.dxe5 Qxe5+ 28.f4 Qe6 29.f5 Qe5+ 30.Kh1 Rf7 e agora 31.Rd1, mas como as brancas não podem melhorar sua posição, a partida deverá empatar. 24...d4 25.Nb5 Qc5 26.Nd6 d3 E não 26...b5, devido a 27.Qe4 e as brancas estão centralizadas. 27.Qxc4+ Qxc4 28.Nxc4 Rxf2

O que segue é um exemplo clássico de jogo na sétima e oitava fileiras, nesse caso a segunda e a primeira, respectivamente. 29.Rad1 Rc8 30.Ne3 Rd8 31.Nc4 Nf5 Impedindo Nd6. 32.a4 A 32.e6 seguiria 32…Re2!. Por exemplo, 33.Rxd3 (33.Rxe2? dxe2 34.Rxd8+ Kh7 e as pretas vencem) 33...Rxe1 34.Rxd8+ Kh7 e a ameaça ...Ng3 é decisiva. Se depois de 32.e6 Re2 as brancas ganhassem um tempo com 33.e7 (por exemplo: 33.e7 Nxe7? 34.Rxd3! Rxe1 35.Rxd8+ Kf7 36.Nd6+ Ke6 37.Nc8!, com empate) as pretas simplesmente jogam 33...Rde8 e ganham o peão. 32…Kf7 Esse lance é absolutamente correto, como se depreende da seguinte análise: 33.e6+ Ke8! 34.Ne5 d2 35.Re4 Rd4 (em vista do gracejo 35...Rf1 [ao invés de 35...Rd4], a que seguiria 36.Rxf1 Ng3 e o feitiço se viraria contra o feiticeiro: 37.Rf8+ Kxf8 38.Ng6+ e mate em h8) 36.Rxd4 Nxd4 37.Nc4 Nb3 38.Kg1 Rf4 39.Ne3 Rxa4 e as brancas estão perdidas. Acrescentamos que as pretas poderiam ter jogado 32...Re2 em lugar do lance do texto, mas é sempre melhor jogar em função do bloqueio. 33.Re4 Re2 34.Rf4 Ke6 As pretas conquistaram o seu objetivo: colocar a torre na sétima e o bloqueio em e6. Só falta expulsar o cavalo de c4. 35.Rg4 d2 36.Rg6+ Kf7 37.Rg4 a6 38.Rf4 Ke6 39.Nd6 Ne3 As brancas abandonaram.

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2 - Restrição e Bloqueio

Partida 52 Steiner - Nimzovitsch Dresden, 1926 Defesa Siciliana

1.e4 c5 2.Nf3 Nc6 3.Nc3 e5 Um lance desse tipo requer coragem e crença na validade intrínseca do bloqueio. Esse avanço cede um tempo (pois nenhuma peça é desenvolvida) e cria um buraco em d5 e tudo isso para evitar o avanço d2-d4 das brancas, ou seja, para restringir o adversário. 4.Bc4 d6 5.h3 Be6 6.d3 Be7 7.0–0 h6 As pretas se desenvolvem, pois seu adversário não dispõe de muitos lances úteis. 8.Nd5 Com o objetivo de enfatizar a força da casa d5, mas, como logo ficará claro, isso só poderá ser conseguido com a ajuda de sacrifício de material ou de posição. 8…Nf6 Agora as “forças de ocupação” de d5 estão sob ataque... 9.Nh4 E são mantidas pelas brancas através de medidas combinatórias. 9…Nxd5 Não seria bom 9…Nxe4 devido a 10.dxe4 Bxh4 11.f4. 10.exd5 Bxd5 11.Nf5 Essa é a operação de sacrifício mencionada no comentário ao lance 8. As brancas recuperam o seu peão, mas ficam com peões dobrados: portanto o resultado do sacrifício é posicional. Havia a possibilidade de sacrificar material com 11.Bxd5 Bxh4 e então 12.f4, com perspectivas de ataque. Mantendo-se a igualdade dos outros fatores, qualquer

um desses sacrifícios deve ser suficiente para se conseguir o empate.

Posição após 11.Nf5 11…Bxc4 12.dxc4 g6 Se 12…0-0?, 13.Qg4 Bg5 14.h4 etc. 13.Nxh6 Qd7 14.Qd5 Nd8 15.Be3 No caso de 15.Ng4, seguiria 15...f5 16.Ne3 Ne6 e ...0-0-0. A posição então poderia ser resumida da seguinte maneira: as pretas têm oportunidades na coluna h, enquanto que qualquer ataque que as brancas pudessem fazer bateria de frente com a compacta formação de peões das pretas. 15...f5 16.Ng8 Bh4 17.g3 Qe6

Posição após 17...Qe6 18.Rad1? O lance perdedor. A seqüência 18.gxh4 Rxg8 (não 18...Qxd5 devido a

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19.Nf6+) 19.Bg5 deveria ser suficiente para o empate. Por exemplo: 19...Qxd5 20.cxd5 Rh8 21.f4 e4 22.Rae1 e 23.Re3. 18...Rxg8 19.gxh4 f4 Agora o bispo não pode chegar em g5. 20.Bxf4 Ou também 20.Bc1 Qxd5 21.Rxd5 Nf7, seguido de ...0-0-0 e ...Rh8, com vitória fácil das pretas. 20...Qxd5 21.Rxd5 exf4 22.Rxd6 Ke7 23.Rfd1 b6 24.Rd7+ Kf6 E as brancas abandonaram, após mais alguns lances sem importância. Fica a impressão de que a linha de jogo 1...c5, relacionada com 3...e5, apesar do enfraquecimento de d5, é correta, uma vez que as brancas não poderiam se manter em d5 sem dificuldades e deveriam somente, na melhor das hipóteses, conseguir o empate.

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3 - Superproteção e outras formas de profilaxia

“Os pontos de importância estratégica devem ser superprotegidos” é um princípio descoberto pelo autor desse livro. Para as peças envolvidas na superproteção de pontos importantes existe uma recompensa no fato de que ficarão bem posicionadas sob todos os aspectos, de maneira que a importância do ponto estratégico as envolve em uma auréola de glamour. Isso pode ser formulado de maneira mais simples da seguinte forma: o contato estabelecido entre o ponto forte e as peças superprotetoras deve beneficiar a ambos: ao ponto forte, pois a profilaxia assim aplicada traz a maior segurança possível contra todo ataque, e às peças protetoras, uma vez que o ponto forte lhes transmite uma fonte constante de energia, da qual lhes é possível extrair novas forças. O próprio autor obteve quase que invariavelmente excelentes resultados com a superproteção. Algumas vezes, é verdade, alguns críticos pouco amistosos tratam de ridicularizar a idéia, mas um resumo objetivo demonstrará que eles é que estão equivocados. A propósito das dificuldades experimentadas nas partidas que seguem, por exemplo, já foi dito que essas dificuldades decorrem da superproteção. (1) Nimzovitsch – Capablanca, Nova Iorque 1927. 1.e4 c6 2.d4 d5 3.e5 Bf5 4.Bd3 Bxd3 5.Qxd3 e6 6.Nc3 Qb6 7.Nge2 c5 8.dxc5 Bxc5 9.0–0 Ne7 10.Na4

Qc6 11.Nxc5 Qxc5 12.Be3 Qc7 13.f4 (também seria bom 13.Nd4, antecipando-se a 13...Nf5) 13...Nf5 14.c3 (com esse lance começa a superproteção da casa d4, plenamente merecedora da total atenção concentrada por parte das brancas, uma vez que se trata de uma casa central de bloqueio e, deve ser observado, nessa casa anteriormente situou-se um peão, que constituía a base de uma cadeia de peões. Uma vez que o peão d4 desapareceu faz tempo e, por outro lado, uma nova cadeia agora tem a sua base em f4, no entanto, não desapareceram o glamour e a imensa importância da casa d4. Partindo dessa premissa, está claro que o agrupamento de peças ao redor de d4 deve ser da maior importância, do ponto de vista da consolidação. Assumimos que existem outras linhas disponíveis, por exemplo 14.Rac1 (ao invés de 14.c3), seguido de c4, mas o que isso prova? Simplesmente que a superproteção não é a única estratégia válida) 14...Nc6 15.Rad1 g6 16.g4 (somente aqui se comete um erro. Depois de 16.Bf2 h5 17.g3, teria sido difícil para as pretas encontrar uma continuação satisfatória) 16...Nxe3 17.Qxe3 h5 18.g5 0–0 19.Nd4 Qb6, e as pretas conseguiram a vantagem, com jogo sobre a coluna c e ocupação de c5. No lugar de 19.Nd4 as brancas deveriam ter jogado 19.Qc5. Por exemplo: 19...Rfc8 20.Nd4 Ne7 21.Qxc7, seguido de Kf2-e3-d3, com uma 109

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posição sólida. Ou também 19.Qc5 Rfc8 20.Nf4 Qd8 21.Qb5. (2) Spielmann – Nimzovitsch, no mesmo torneio. 1.e4 Nc6 2.Nf3 e6 3.d4 d5 4.e5 b6 5.c3 Nce7 6.Bd3 a5 7.Qe2 Nf5 (o protótipo da minha partida com Saemisch [Berlim 1928]. Veja a partida 13) 8.h4 h5 9.Ng5 g6 (o lance errado de superproteção. O correto seria ...Nge7 imediatamente, caso no qual as brancas não teriam conseguido realizar a manobra Nd2-f1, seguida de f3 e g4. Por exemplo: 9...Nge7 10.Nd2 c5 e a base da cadeia fica cambaleante) 10.Nd2 Nge7 (teria sido melhor 9...Be7, pois a superproteção agora não tem objetivo, uma vez que os avanços planejados pelas brancas, f3 e g4 já não podem ser impedidos) 11.Nf1 c5 12.f3 c4 13.Bc2 b5 14.g4 Ng7 e as brancas ficaram em melhor posição, muito embora perdessem a partida devido a um ataque precipitado. Nessa partida também pode ser visto que a superproteção, se executada corretamente, resultará benéfica. Sobre o tema da superproteção podemos acrescentar que somente os pontos fortes, os com importância posicional é que devem ser superdefendidos e não os fracos. Por outro lado, é desejável que os pontos em questão sejam, de certo modo, objeto de luta. A partida 20 e a partida 44 são exemplos instrutivos. A profilaxia pode ser observada nas partidas 53-56. Preocupa-nos de modo especial demonstrar a afinidade entre os lances de espera e as medidas preventivas. Na partida 53, poderia ser dito que 8...a6 nada consegue após a resposta 9.a4 e no entanto, teriam se desvalorizado as

opções das brancas no final. Um lance que resiste a uma ameaça aguda do adversário não tem motivo para estar desprovido de um profundo significado profilático, como podemos ver no sexto lance da partida 55. Ao evitar a restrição de suas próprias opções de jogo, um jogador certamente exerce a profilaxia (veja a partida 55). Também ocorre, embora não seja freqüente, que a profilaxia surja combinada com ameaças e quando isso acontece é certamente uma forma notável de profilaxia (veja o lance 24, partida 54). Devemos colocar mais uma questão: quais são as contingências desagradáveis que merecem a adoção de medidas preventivas sistemáticas? São as ameaças posicionais que o adversário pretenda executar. Nesse sentido, a partida 53 resulta muito instrutiva, pois a manobra difícil e complicada (iniciada no lance 21 das pretas) é concebida para ajudar na prevenção da ameaça de centralização. A prática moderna em torneios é rica em manobras profiláticas. Basta assinalar as partidas 7, 13, 20, 21, 32, 33, 38, 39 e 43 como amostras ilustrativas. Partida 53 Behting - Nimzovitsch Riga, 1910 Gambito do Rei

1.e4 d6 2.Nc3 Nf6 3.f4 e5 Isso leva à defesa com …d6 do Gambito do Rei recusado. 4.Nf3 Nbd7 5.d4 Esse lance é correto, uma vez que o peão de e4 pode perfeitamente ser protegido. Veja o comentário ao lance 8. 5…exd4 6.Nxd4 Be7 7.Bc4 0–0

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3 - Super Proteção e outras formas de profilaxia

8.0–0 a6

Posição após 8…a6 Um desses lances misteriosos, para os quais a escola pseudo-clássica só tem palavras de desprezo. A chave é que a formação fechada de ...c5, seguido de ...b5 é somente um tema marginal. O principal objetivo é aguardar o lance Qf3 e em seguida criar a estrutura profilática ...Rfe8 e ...Bf8. Com relação a jogar de imediato 8...Re8, não serviria, uma vez que 9.Nf3!, com a dupla ameaça 10.e5 e 10.Ng5. Por conseqüência, 8...a6 representa o sacrifício de um tempo para tornar possível o profilático ...Re8 etc. Essa linha de jogo pareceria ultrajante aos estrategistas de antigamente, pois estes descartavam o tema da profilaxia com um ostensivo dar de ombros. Chegar até o ponto de preparar a profilaxia através de um sacrifício seria “bizarro”, “uma loucura” etc. O certo é que o lance 8...a6 pode ser classificado como excelente, pois o peão e das brancas está cheio de vida, tanto no plano estático como no dinâmico, de modo que as operações restritivas requerem cuidado e paciência. Em outras palavras: lances preventivos e de espera. Ações diretas,

como 8...Nb6 (ao invés de 8...a6) 9.Bd2! d5 10.e5 Ne4 11.f5, só resultariam prejudiciais às pretas. 9.Nf5 Uma possibilidade seria 9.a4, que teria restabelecido o status quo. Uma continuação provável teria sido 9...c6 10.Ba2! (era ameaçado ...d5, seguido de ...Nb6) e agora 10...Re8. Se então 11.Nf3, 11...h6 e o avanço 12.e5? seria incorreto devido a 12...dxe5 13.fxe5 Nxe5 14.Nxe5 Qxd1 15.Bxf7+ Kf8 16.Rxd1 Bc5+, seguido de ...Rxe5. 9...Nc5 10.Ng3 No caso de 10.Nxe7+ Qxe7 11.Re1, seguiria 11...b5 (não 11...Nxe4 devido a 12.Bd5) 12.Bd5 Nxd5 13.Nxd5 Qd8, ou também 13.Qd7 e as pretas têm algum jogo contra o peão e através de ...Re8 e ...Bb7. O lance do texto, embora proteja o peão de e4, significa uma descentralização desse cavalo (Nd4-f5g3). 10...b5 11.Bd3 b4 12.Nd5 Nxd5 13.exd5

Posição após 13.exd5 As pretas conseguiram um pequeno êxito, pois agora o centro das brancas (após a captura 13.exd5) se transformou em dinamicamente inútil. Por outro lado,

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se enfrenta o difícil problema de ter que tomar medidas preventivas em dois setores ao mesmo tempo, pois as brancas preparam tanto 14.a3 como 14.f5, conquistando espaço. Com 13...a5, ambas as ameaças poderiam ter sido respondidas (devido a ...Nxd3, Qxd3, ...Ba6 etc.). 13…f5 Impede a expansão 14.f5 e ao mesmo tempo se dispõe a jogar na coluna e com ...Bh4, ...Bxg3, ...Re8 e o cavalo se posiciona em e4. 14.a3! bxa3 15.Rxa3 Rb8 16.c3 Bh4 17.Qf3 Bxg3 18.Qxg3 Re8 19.Bc2 Qf6 20.b4 Ne4 21.Qd3

Posição após 21.Qd3 Como podemos ver, as pretas puderam prescindir de medidas preventivas na ala da dama, pois a debilidade do peão a se compensa devido ao fato do fortalecimento dos peões da coluna e. Porém agora não podem continuar prescindindo de tais medidas, uma vez que as brancas buscam uma centralização com Be3-d4 e as pretas ficariam com a pior parte do jogo. De que modo elas pensam neutralizar essa manobra do seu adversário?

21...Qf7! 22.Be3 Nf6! 23.Bb3 Bb7 24.Rd1 Esse lance não é bom. As pretas esperavam 24.c4, ao qual pensavam responder 24...Bc8 25.Bd2 Ne4 26.Be1 Qf6, restabelecendo de algum modo a posição anterior, com a diferença de que a grande diagonal de casas pretas agora fica irremediavelmente perdida para as brancas. Essa combinação preventiva, que contém uma variante de retorno de seis lances, deveria impressionar o leitor pela sua riqueza e variedade de possibilidades combinatórias inerentes à prática da profilaxia. Trata-se de uma das combinações favoritas do autor. 24...Bxd5! 25.Bxd5 Qxd5 26.Qxd5+ Nxd5 27.Ba7 Um lance perigoso que, no entanto, não havia escapado às pretas ao aventurarem-se na operação das trocas. A continuação 27.Rxd5 Rxe3 28.Rxf5 Rbe8 é favorável às pretas. 27...Ne3! 28.Rd3 Ng4 29.Rd1 Ra8 30.Bd4 Se 30.Rxa6, segue então 30…Re4 31.g3 (31.Rf1 Ne3 e 32…Nd5) 31…Re2, com vantagem das pretas. 30…Re4 31.h3 Ne3 32.Bxe3 Agora essa captura é forçada, frente a ameaça ...Nc4 ou ...Nd5. 32…Rxe3 33.Kf2 Re4 34.g3 Kf7 As pretas entregam seu peão a para que o rei entre no jogo de forma decisiva. 35.Rda1 Ke6 36.Rxa6 Rxa6 37.Rxa6 Kd5 38.Ra5+ As pretas ameaçavam ...Rc4, seguido de ...Kd5-e4-d3. 38...Kc4 39.Rxf5 Re7!

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Posição após 39…Re7! O rei branco está cortado e as pretas ameaçam avançar seus peões passados e unidos. O restante da partida foi: 40.b5 Kxc3 41.b6 cxb6 Não 41...c6, devido a 42.Ra5 Rb7 43.Ra7 Rxb6 44.Rxg7. 42.Rd5 Rd7 43.Rb5 Rb7 44.Rd5 b5 45.Rxd6 b4 46.Ke2 b3 47.Rc6+ Kb2 48.f5 Kb1 49.g4 b2 50.g5 Ka2 E as brancas abandonaram.

Partida 54 Schlechter - Nimzovitsch Carlsbad, 1907 Abertura Ruy Lopez

1.e4 e5 2.Nf3 Nc6 3.Bb5 a6 4.Ba4 Nf6 5.Nc3 Bb4 6.Nd5 Be7 7.0–0 0–0 8.Re1 d6 9.Nxf6+ Bxf6 10.c3 h6 As pretas decidem adotar uma política de espera. Sua posição restringida requer uma defesa de tocaia, já que não é possível trocar em larga escala. Esse fato é enfatizado por esse lance de espera. 11.h3 Ne7 12.d4 Ng6 13.Be3 Kh7 As pretas seguem em seu compasso de espera. 14.Qd2 Be6 15.Bc2 Qe7 16.d5 Também as brancas agiriam bem em

não precipitar os acontecimentos. O lance do texto somente teria sentido se marcasse o início de um ataque na ala da dama (ou seja, com a idéia de c4 e b4) Porém as brancas planejam a operação na ala do rei e em conseqüência disso, essa é uma má preparação. 16...Bd7 17.Kh2 Nh8! Um lance preventivo, dirigido contra o plano das brancas baseado em Ng1 e f4. 18.Ng1 g5 19.g3 Ng6 20.Qd1 Bg7 21.Qf3 a5 Novamente, jogo preventivo. Desta vez as pretas se antecipam a possíveis avanços de peões inimigos na ala da dama, como c4 e b4. 22.Ne2 Bb5 23.a4 Bd7 Objetivo alcançado: a ala da dama das brancas perdeu seu ímpeto e a ação que acaba de ser mencionada, baseada em c4 e b4, é coisa do passado. 24.Rh1! Com esse lance as brancas planejam eventualmente romper em h4. Vejamos: 24...b6 25.h4 gxh4 26.gxh4 Nxh4 27.Qh5 f5 28.Kg1 etc. Porém as pretas encontram uma resposta, que não somente tem um alto valor preventivo, como também o mérito de induzir o adversário a executar uma ação rápida.

Posição após

24.Rh1! 113

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24...Qe8! A ameaça é ...Qc8. Por exemplo: ...Qc8, h4? Bg4, ganhando o cavalo. As brancas, portanto, não têm tempo para maiores preparativos e abrem brutalmente a posição. 25.h4 Qc8 Ameaça 26...Bg4 etc. 26.Bd3 Bg4 27.Qg2 gxh4 28.f3 h3 29.Qf1 Aparentemente a ruptura obteve êxito, pois agora se 29...Bd7 seguiria 30.g4 e Qxh3, com ataque decisivo. 29...f5 Esse contragolpe, preparado há bastante tempo, decide o rumo da luta. 30.fxg4 fxe4 Somente agora pode ser visto o efeito de 28...h3, que obrigou a dama a situarse em f1, no campo de ação latente da torre das pretas. 31.Qxh3 exd3 32.Bxh6 Rh8 As brancas abandonaram. Esta partida é notável pela profilaxia empregada, perfeitamente compreensível. As pretas tomaram medidas contra c4 e b4, da mesma forma do que contra f4 e mais tarde contra h4. Digamos algumas palavras acerca das características dos lances preventivos escolhidos. A política de espera, iniciada com 10...h6 é típica dessa forma de jogo, pois os lances de espera são o ponto de partida de todas as manobras profiláticas. O fato de que o lance preventivo 24...Qe8 coloque ao mesmo tempo uma ameaça, não retira desse lance a sua estrita pureza profilática. Ilustra também uma forma muito definida de profilaxia,

na qual parte do plano consiste em induzir o adversário a acelerar as suas ações. Partida 55 Wendel - Nimzovitsch Estocolmo, 1921 Defesa Nimzovitsch

1.e4 Nc6 2.d4 d5 3.Nc3 dxe4 4.d5 Ne5 5.Bf4 Ng6 6.Bg3 a6 Esse lance precisa de uma explicação. A ameaça Nb5 poderia ser estancada de forma mais simples através de 6...f5, sobretudo porque esse avanço será efetuado em qualquer caso. Porém, as pretas não querem mostrar as suas cartas imediatamente e nisso também reside a natureza da profilaxia. A 6...f5 teria seguido 7.h4 e as pretas estariam frente a um dilema. Por exemplo, 6...f5 7.h4 f4 8.h5 fxg3 9.hxg6 gxf2+ 10.Kxf2 e agora, depois de tudo isso, as brancas dispõem do importante acesso à casa b5. 7.f3! f5! 8.fxe4 Se agora 8.h4, então 8...e5 9.h5 Qg5, com vantagem das pretas. 8...f4 9.Bf2 e5 10.Nf3 Bd6 Ditado pelas necessidades do bloqueio (os peões passados e semi-passados devem ser restringidos). A posição está mais ou menos equilibrada. As brancas deveriam movimentar a sua maioria, baseado em c4-c5, porém nesse caminho encontram grandes dificuldades. 11.h4 Aqui, na opinião das brancas, teria sido melhor Bd3, 0-0 e Ne2, seguido do avanço c2-c4.

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3 - Super Proteção e outras formas de profilaxia

Posição após 11.h4 11...b5! Uma diversão de atenção propiciada pelo lance preventivo 6...a6. 12.h5 Nf8 13.Bh4 Qd7! Ameaçando ...Qg4. 14.Be2 b4! 15.Nb1 Nf6! Aqui está a chave. Como as casas e4 e h5 estão atacadas de forma simultânea, a captura do cavalo é forçada, com o que as peças pretas obterão espaço. 16.Bxf6 gxf6 17.Nbd2 Qg7 18.Kf1 Nd7 19.h6 Qg3 Para provocar Rh3 com o que as brancas perderão um tempo no lance 22. 20.Rh3 Qg8 21.Nh4 Nc5 22.Rh1 Rb8 23.c3 A abertura da coluna b é perigosa para as pretas, embora em qualquer caso elas tenham um jogo melhor. 23…bxc3 24.bxc3 Qg3 25.Qc2 Rg8 26.Nc4 Bd7 27.Nxd6+ cxd6 28.Bf3 As brancas consolidaram de forma satisfatória a sua posição e as pretas devem levar em conta manobras libertadoras como 29.Qf2, ou inclusive 29.Nf5 Bxf5 30.exf5, com a cômica ameaça de empate 31.Rh3 Qg5 32.Rh5 etc. Uma retirada profilática do rei das

pretas, com 28...Kd8 e 29...Kc7, seria agora muito boa, pois nesse caso se ameaçaria a dobrada das torres na coluna b. Se após 28...Kd8 as brancas jogassem 29.Qf2, de acordo com o plano previsto, segue então 29...Qxf2+ 30.Kxf2 Rb2+ 31.Kg1 f5 32.Re1 Rxa2 33.exf5 Ke7. Se (após 28...Kd8) 29.Nf5, segue 29...Bxf5 30.exf5, e a torre preta ocupa de imediato a coluna correta, 30...Re8 31.Rh3 e a dama preta se retira por g8, com jogo excelente para as pretas. Está claro que 28...Kd8 é um lance preventivo magnífico, que se anteciparia a qualquer ataque, inclusive em futuro longínquo, ao rei ou à dama. No entanto, ao invés de 28...Kd8, existe uma combinação profunda, que conduz mais rapidamente ao objetivo, de modo que as pretas escolhem essa alternativa.

Posição após 28.Bf3 28...Bb5+ 29.c4 Bxc4+ 30.Qxc4 Rb2 31.Be2 Rg4! 32.Qc1 As pretas esperavam essa defesa. Se, no lugar dela fosse jogado 32.Rh3, seguiria 32...Rxh4 33.Rxg3 Rh1+ 34.Kf2 fxg3+ 35.Kxg3 Rxa1 e as pretas vencem com um ataque direto das torres, com um peão passado na espreita.

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

32…Rxh4 33.Rxh4 Rxe2 34.Kxe2

Posição após 34.Kxe2 34…Qxg2+! A chave da combinação. A captura da torre pode esperar, pois antes as pretas querem recolher um belo botim de peões. 35.Kd1 Qf1+ 36.Kd2 O lance 36.Kc2, que seria melhor sob outros aspectos, é refutado através de 36...Qd3+ 37.Kb2 Na4++. 36…Qd3+ 37.Ke1 Qg3+ 38.Kf1 Qxh4 As brancas estão perdidas. 39.Kg1 Qg3+ 40.Kh1 Qh3+ 41.Kg1 Nxe4 42.Qc6+ Com o auxílio de alguns xeques, a dama acode a defesa do seu rei. 42...Kf7 43.Qc7+ Kg6 44.Qg7+ Kh5 45.Qg2 Qe3+ 46.Kh2 Nf2! 47.Rf1 Se 47.Rg1, simplesmente 47...Qe2, uma vez que as brancas não têm mais xeques. 47…Ng4+ 48.Kh1 e4 49.Rg1 f5 50.a4 Kxh6 51.a5 Kg5 52.Rb1 f3 53.Qh2 f2 As brancas abandonaram. Uma das minhas melhores partidas.

Partida 56 Yates - Nimzovitsch Londres, 1927 Defesa Siciliana

1.e4 c5 2.Nf3 Nf6 3.e5 Nd5 4.Nc3 Nxc3 5.bxc3 Qa5 Um exagero consciente do princípio da profilaxia, para cuja finalidade pode ser utilizada uma peça menor, mas não a dama. No entanto, as pretas desejavam a todo custo colocar novos problemas. 6.Bc4 e6 7.Qe2 Be7 8.0–0 Nc6 Teria sido mais consciente fechar a dama com ...b6, com o que as pretas teriam as opções ...Ba6 ou ...Bb7. 9.Rd1 0–0 10.Rb1 a6 11.d4 As brancas resolveram de forma magnífica o problema colocado pelas pretas no seu lance 5. Se agora 11...Qxc3, tinham a intenção de responder 12.Bb2 Qa5 13.d5 Nb8(a7) 14.d6 Bd8 e as pretas correm perigo. 11...b5 12.Bd3 c4 13.Be4 f5 De outro modo , seguiria 14.d5. 14.exf6 Bxf6 15.Ne5 Bxe5 Forçado. 16.dxe5 Rf7 17.Qh5 Um assalto aterrorizante! 17...g6 18.Bxg6 hxg6 19.Qxg6+ Rg7 20.Qe8+ Kh7 21.Qh5+ Kg8 22.Bh6 Qxa2 Nessa situação pouco feliz, as pretas jogam o único lance que lhes permite a salvação. Após 22...Qxc3, perderiam em poucos lances: 23.Qe8+ Kh7 24.Bxg7 Kxg7 25.Rxd7+ Bxd7 26.Qxd7+ Kh8 27.Qxc6, vencendo. 23.Bxg7 Deveria ser considerada seriamente a manutenção do bispo. Por exemplo:

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3 - Super Proteção e outras formas de profilaxia

23.Rbc1 (ao invés 23...Qa3 24.Rd6.

de

23.Bxg7)

Posição após 23.Bxg7 23...Kxg7 24.Qg5+ Kf7 25.Rbc1 Qa3 26.Re1 Ke8 O rei abandona a região do bombardeio. Agora as brancas deveriam ter lembrado que contavam com um peão h passado, mas não, seguem jogando para o mate. 27.Re4 Qe7 28.Qh6 Kd8 29.Rd1 Kc7 30.Rg4 Qc5

Posição após 30...Qc5 31.Re4 Se 31.h4 havia a opção de uma combinação maravilhosa. Vejamos: 31.h4 a5 32.Qg7 a4 33.h5 a3 34.h6 a2 35.h7 a1Q 36.Rxa1 Rxa1+ 37.Kh2 Qg7 e as pretas venceriam assim: 37...Qxf2 38.h8Q Qg1+ 39.Kg3 Qe3+ 40.Kh2

Rf1!! (ameaça 41...Qe1 e mate) 41.Qh4 Qc1! 42.Qhf6 Qe1!! (não 42...Rxf6 devido a 43.exf6, vencendo) 43.Qxf1 Qxf1 e as pretas devem vencer. Apesar de tudo, 31.h4 é um bom lance, só que as brancas não devem jogar Qg7. Depois de 31...a5, o correto seria 32.h5 a4 33.Qd2!. Levando em conta tudo isso, aparentemente a seguinte linha é a melhor resposta a 31.h4: 31...a5 32.h5 Qxe5 33.Qf4 Qxf4 34.Rxf4 Bb7 35.Rf7 Ne5 36.Rg7 Bd5! 37.f4 Rh8 38.fxe5 Rxh5 39.Re1 Rf5! e as pretas têm uma posição superior. 31...Ne7! 32.Qd2 Seria essencial jogar Qe3. Os peões passados só poderiam se tornar perigosos após a troca das damas, embora ainda então a posição das pretas deve ser superior, como segue: 32.Qe3 Qxe3 33.Rxe3 Bb7 34.g4 Ng6 35.h3 Rf8 36.Rf1 Nf4, com a ameaça de ...Bg2, ou inclusive 36...a5 (ao invés de 36...Nf4) 37.Kh2 a5 38.Kg3 e agora 38...Nf4 (com a ameaça ...Ng2; Re2 Rf3+). 32.Nd5 33.h4 Bb7 34.Rd4 Rh8 35.Qe1 Bc6 36.g3 Qf8 37.f4 Qf5 Com efeitos decisivos. 38.Qf2 Qh3 39.Qh2 Qg4 40.Qf2 Rxh4! 41.f5

Posição após

41.f5 117

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41...Nf6! Mas não 41...Nf4 devido a 42.Rxd7+. 42.Qe3 Qxd1+ Elegante e decisivo. 43.Rxd1 Rh1+ 44.Kf2 Ng4+ 45.Ke2 Rh2+ 46.Ke1 Nxe3 As brancas abandonaram. Partida 57 Morrison - Nimzovitsch Londres, 1927 Defesa Francesa

Essa partida e a seguinte são exemplos de superproteção. 1.e4 e6 2.g3 A interessante sugestão de Tartakower. 2...d5 3.Nc3 Era mais evidente 3.Bg2, seguido de d3. Em c3 o cavalo pode ser aborrecido. 3...Nc6 4.exd5 Continuam sendo melhores d3 e Bg2. 4...exd5 5.d4 Bf5 6.a3 Qd7 7.Bg2 0–0–0 O peão d está coberto de forma indireta. Por exemplo: 8.Nxd5 Qe6+ 9.Ne3 Nxd4, ou também 8.Bxd5 Nf6 9.Bxc6 Qxc6, nesse caso com ataque. 8.Nge2 Nce7!

Posição após

8...Nce7!

Esta aparentemente estranha linha de jogo é composta pelos seguintes componentes: (1) a casa e4 deve ser considerada um ponto estratégico importante (posto avançado na coluna e); (2) em conseqüência, o peão d que ataca essa casa, é valioso e um candidato perfeito que merece a nossa estratégia de superproteção.; por último, se coloca a questão (3) o cavalo poderá se manter em e4? Deve se reconhecer, uma vez que tal é o caso (observo o lance 12 das pretas). Muito mais fraco nessa fase seria o lance defensivo natural 8...Nf6, devido a 9.Bg5. 9.Nf4 Nf6 Uma vez que agora já não pode ser jogado Bg5. 10.h3 h5 11.Nd3 Ne4! 12.Be3 Agora as brancas ameaçam trocas, seguidas de Nc5. As perspectivas do cavalo do posto avançado parecem se reduzir de forma alarmante e na realidade, todo o sistema de jogo que parte de 8...Nce7 parece ter sido praticamente refutado. Mas realmente isso não é assim. 12...Nxc3! O cavalo inflige uma dolorosa chaga às brancas, ou seja, peões dobrados em c2 e c3. A coluna aberta que as brancas obtêm em troca serve apenas de um valor simbólico nessa posição, na qual as brancas se vêem ameaçadas de um estrangulamento total. O cavalo preto de e4 conseguiu manter a sua posição, ainda que não no sentido literal (comentário ao lance 8). 13.bxc3 Nc6 14.Nb4 Be6 15.Qe2 Na5! 16.h4 c6 17.0–0 Bd6 18.Nd3 Bg4 Para controlar a tremendamente forte

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casa c5 e graças ao seu desenvolvimento excelente, as pretas agora abrem o ataque ao enfraquecido roque do adversário. 19.Bf3 É difícil que exista algo melhor. 19...Rde8 20.Bxg4 hxg4 21.Qd1 Nc4 Descartando 21...Bxg3? por 22.Nc5 e as brancas vencem. 22.Bf4 Bxf4 23.Nxf4 g5 24.hxg5 Qf5 25.Ng2 Qxg5 26.f4 No caso de 26.Nh4 seguiria 26...Rxh4 27.gxh4 Qxh4 28.Re1 Rh8 29.Kf1 Qh1+ 30.Ke2 Qf3+ etc. Observe o efeito do cavalo em c4. 26…Qh5 27.Kf2 As pretas esperavam 27.Re1, para o que haviam preparado a bela resposta 27…Re3. Por exemplo: 28.Nxe3 Qh1+, seguido de ...Rh2+.

Posição após 27.Kf2 27…Nd6 O cavalo despreza o seu forte posto avançado porque ambiciona outro ainda mais forte. 28.Nh4 Ne4+ As brancas abandonaram. Se 29.Kg2, segue 29...Nxg3 e tudo vem abaixo. 1.e4 e6 2.d4 d5 3.e5

Partida 58 Nimzovitsch - Hakansson Cristianstad, 1922 Defesa Francesa

Desde 1911 o autor defende esse lance, porém foram necessários 17 anos para o mundo se convencer da sua correção. 3…c5 4.Qg4 Uma novidade das brancas, apresentada aqui pela primeira vez. 4…cxd4 5.Nf3 Nc6 6.Bd3 f5 As brancas, com um peão a menos, buscam um bloqueio e recorrem a uma estratégia que já conhecemos (nas partidas 46 e 47), ou seja, um sacrifício de bloqueio. De modo que para esse plano funcionar, o peão de e5 deve ser superprotegido, pois esse apóia toda a idéia de bloqueio. As peças superprotetoras conseguirão dessa maneira os lauréis correspondentes sem fazer nada mais do que aplicar a estratégia da superproteção. 7.Qg3 Nge7 8.0–0 Ng6 9.h4 Pobre cavalo! 9…Qc7 10.Re1 Bd7 Aqui, no caso de 10…Bc5, seguiria 11.h5 Nf8. 11.a3 0–0–0

12.b4

Posição após

11...0-0-0 119

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As brancas já poderiam ter ganho a qualidade, com 12.h5 Nge7 13.Ng5 Re8 14.Nf7 Rg8 15.Nd6+, mas então teriam que superar algumas dificuldades (as brancas estão subdesenvolvidas e seu peão de h5 está desprotegido). O lance do texto é o complemento lógico do desenvolvimento das brancas. 12...a6 Era um pouco melhor 12...Kb8, com a possível continuação 13.c3! dxc3 14.Nxc3 Nxb4 15.axb4 Qxc3 16.Be3 Qxd3 17.Bxa7+ Kc8 18.Rec1+ Bc6 19.b5! Qxb5 20.Nd4, com jogo complicado. Porém depois de 12...Kb8, é claro que as brancas poderiam continuar com 13.Bb2. 13.h5 Nge7 14.Bd2 h6 15.a4 g5 16.b5 f4 17.Qg4 Uma casa muito boa para a dama. 17...Nb8 18.c3 Sem ter feito nada, a torre superprotetora agora obtém o controle da coluna c, com um grande campo de ação: um pequeno ator que tem um grande papel na obra. Por que e como? Porque o produtor assim o desejava. Nesse exemplo, quem era o produtor todopoderoso que pode estabelecer todos os papéis? Resposta: a estratégia da superproteção! 18...Re8 Não há nada melhor. As pretas têm que levar a cabo um reagrupamento notável para salvar seu material. 19.cxd4 Kd8 20.Rc1 Qb6 21.a5 Qa7 22.b6 Qa8 Uma posição de dama que só costuma ser vista em problemas.

Posição após 22...Qa8 23.Rc7 Nf5 24.Nc3 Be7 25.Nxd5 Nxd4 Se 25…exd5, 26.Bxf5. 26.Nxd4 exd5 Asa pretas abandonaram sem aguardar a resposta. Seguiria 27.Qxd7! Nxd7 28.Ne6++.

Partida 59 Nimzovitsch - Szekely Kecskemet, 1927 Defesa Francesa

1.e4 e6 2.d4 d5 3.e5 c5 4.Qg4 Essa linha de jogo somente pode atrair a uns poucos. Nem todo mundo está disposto a entregar um peão e, além disso, não para jogar no ataque. 4…cxd4 5.Nf3 Nc6 6.Bd3 Nge7 7.0–0 Ng6 8.Re1 Qc7 9.Qg3 O leitor poderá se perguntar: o que as brancas de fato conseguiram com a troca do peão? A resposta é simples: asseguraram uma defesa adequada do peão de e5, que é a chave de todas as futuras operações de bloqueio, assegurando-se dessa forma de uma cabeça de ponte. A idéia da formação das brancas transparece claramente: a perda

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do peão d, a posição resultante nos mostra, não deve ser lamentada, uma vez que as peças aqui estão encarregadas das funções principais. Em outras palavras, o peão de e5, chave de toda estratégia restritiva, não requer de imediato o apoio do peão d, pois está protegido de forma magnífica pela torre, pelo cavalo e pela dama. As brancas portanto, embora com um peão a menos, desfrutam de amplas possibilidades, enquanto e5 for a vida e a alma das suas operações futuras (veja o comentário ao lance 6 da partida anterior). Por certo que não consideramos como muito forte o lance 8 das pretas. O correto seria 8...Be7, que teria contido o avanço h5-h5 das brancas.

Posição após 9.Qg3 9...Bc5 10.h4 Esse avanço não é tanto um lance de ataque como para aliviar a pressão sobre o peão de e5. 10...Kf8 Parece melhor 10...Bd7. Por exemplo: 11.h5 Nge7 12.Qxg7 0-0-0, embora resulte muito incômodo o lance 13.Bg5. 11.h5 Nge7 12.h6 g6 13.a3 Para provocar outra debilidade, com o avanço ...a5. 13...a5 14.Bg5 Ng8

Forçado, devido a ameaça Bf6 e Ng5. 15.Nbd2 f6 Permanece aberto o debate se esta tentativa violenta de abrir a posição não deveria ser descartada a favor de uma política de espera. Mas está na natureza humana que o assediado procure saídas. É compreensível o desejo de uma defesa ativa e contra a passividade as brancas haviam considerado, entre outras, a manobra Nd2-f1-h2-g4-f6.

Posição após 15...f6 16.Nb3!! O objetivo desse lance é induzir a resposta 16...b6 e dessa forma criar um enfraquecimento na posição do cavalo da dama. Depois do imediato 16.exf6, as brancas temiam 16...Bd6! (mas não a troca das damas: 16.exf6 Qxg3? 17.fxg3 Bd6 18.Re2! Bxg3 19.Rf1 e a posição das pretas seria desesperadora, pois seu cavalo de g8 está morto e eventualmente se ameaça a abertura de linhas com f7) 17.Qh4 e5 18.Bb5 Bd7 e não está claro como sacrificar, mas sim o fato de que com o adversário sem uma torre e na prática um cavalo, um sacrifício deverá resultar correto, porém a questão é onde e como. As brancas chegaram à conclusão de que, como primeiro passo, deveriam desalojar o cavalo de c6 e que

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só então haveria uma base para sacrificar, tanto em d4 ou em e5. 16...b6 17.exf6 Qxg3 Se 17...Bd6, então 18.Qh4 e5 19.Bb5! (agora, com o peão b em b6 esse lance é mais efetivo do que anteriormente) 19...Bd7 20.Bxc6 Bxc6 21.Bf4! exf4 22.Nbxd4 Bd7 23.Ng5 e as brancas vencem. 18.fxg3 Bd6 Se 18...a4, eu tinha preparado a seguinte combinação: 19.Nxc5 bxc5 20.f7 Kxf7 21.Bb5 Nge7 22.Ne5+ Nxe5 23.Rxe5, vencendo. 19.Bb5 Na7 20.Nfxd4 Kf7 21.c4 e5 22.cxd5 exd4 23.Be8+ Kf8 24.f7 O resto é silêncio! Se 24...Ne7, 25.Bf6. 24...Bf5 25.Nxd4 Bc5 26.Rad1 Nb5

26...Nb5 27.fxg8=Q+ Rxg8 28.Bxb5 Kf7 29.d6 As pretas abandonaram. Também nessa partida as peças superprotetoras se saíram airosamente em sua missão.

Partida 60 Bogoljubov - Nimzovitsch São Petersburgo, 1913 Defesa Francesa

1.e4 e6 2.d4 d5 3.Nc3 Nf6 4.e5 Nfd7 5.Qg4 A Variante Gledhill. 5...c5 6.Nf3 a6 As pretas evitam a variante 6...cxd4 7.Nxd4 Nxe5 8.Qg3, com a qual não estavam familiarizadas. 7.dxc5 Qc7 8.Qg3 Nxc5 9.Bd3 g6 10.Bf4 Bogoljubov joga de forma subconsciente, pois o princípio da superproteção ainda não havia sido descoberto naquela época. [Essa partida é de 1913. - N. do T.]. 10...Nc6 11.0–0 Ne7 Manobrando. No caso de 11...Bg7, seguido de ...0-0, as peças superprotetoras seriam úteis em um ataque. Por exemplo: Re1, Qh4 e Bh6.

Posição após

Posição após 11...Ne7 12.Rac1! Uma medida preventiva engenhosa, contra a idéia ...Nxd3, seguido de ...Nf5. 12...Bg7 13.b4!

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Para salvaguardar o bispo de uma vez por todas, embora debilite alguma coisa a ala da dama. 13...Nd7 14.Ne2 0–0 15.Ned4 Nc6 16.Nxc6 bxc6 17.c4

Posição após 17.c4 Se agora as pretas efetuarem o lance que parece evidente, 17...Qb8, então 18.cxd5 cxd5 19.a3 e as brancas têm as mãos livres na ala do rei. Após 19...Bb7 20.h4 h5 21.Rce1 ameaçam 22.Nc4, seguido de Nxe6, assim como 22.Qh3 seguido de g4. Observe-se a facilidade com que as peças superprotetoras de repente entram em ação. Mas agora, a questão que se coloca é a seguinte: a manobra iniciada com 17.c4 (com o objetivo de proteger a ala da dama) era absolutamente necessária? Não deveriam as brancas queimar os navios com 17.Rf1? Nesse caso, poderia ter seguido 17...a5 18.c3 axb4 19.cxb4 Qb6 (19...Rxa2? 20.Nd4!) 20.h4 Qxb4 21.h5 e se agora 21...Rxa2 22.hxg6 fxg6 23.Be3, então com o sacrifício de qualidade 23...Rxf3! 24.gxf3 Nxe5 25.Bc5 Qh4!!, as pretas ao final deveriam vencer. Bogoljubov, portanto, descartou com sabedoria o ataque implacável na ala do rei. 17…dxc4!!

Um remédio heróico, que termina com um sacrifício de peão. O que segue é um duelo intenso entre... os dois jogadores? Não, entre a centralização e a superproteção! Nesse caso, a superproteção levou a pior. 18.Bxc4 Qb8 19.Rb1 Nb6 20.Nd2 Isso não se enquadra na superproteção. 20...Rd8 21.Rfc1 Nd5!

Posição após 21...Nd5! Centralização! Se 22.Bxd5, Rxd5 23.Rxc6 Bb7 24.Rd6 Qc7, ameaçando ...Qc2 e o jogo estaria aproximadamente equilibrado. Outra opção seria 23...Bxe5 24.Bxe5 (se 24.Rxc8+, em seguida viria ...Qc2) 24...Qxe5 25.Qxe5 Rxe5 26,Nc4 Re2 27.Nb6 Bb7 28.Rc7 Rb8 29.Nd7 Rd8 30.Rxb7 Rd2, com igualdade. 22.Re1? O correto seria 22.Bxd5, como no comentário anterior. Depois do lance do texto, a situação das brancas decai de forma poderosa. 22...Nxf4 23.Qxf4 Bxe5! 24.Rxe5 Rxd2 25.Qg5? As brancas poderiam continuar resistindo com 25.Qxd2 Qxe5 26.Qd8+. 25...Qd6 26.Rbe1 Qd4 Prossegue a centralização.

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27.Bf1 Qxf2+ 28.Kh1 f6 29.Qe3 fxe5 As brancas abandonaram.

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4 - O peão d isolado e os peões pendentes. O par de bispos Consideremos o seguinte esquema – Brancas: Pa2, Pb2, Pd4, Pf2, Pg2 e Ph2; Pretas: Pa7, Pb7, Pe6, Pf7, Pg7 e Ph7.

O peão d isolado, apesar da sua debilidade estática, possui certa quantidade de força dinâmica. Agora, se quisermos entender o tema, é essencial diferenciar a estática da dinâmica com a maior precisão possível. As debilidades estáticas se manifestam no final e concretamente sob duas formas: primeira, o peão d necessita de apoio; segunda, as debilidades nas casas vizinhas adquirem importância (por exemplo: o rei preto penetrará por d5, através de c4 ou e4). Na existência da força dinâmica pode se manifestar, além do desejo de expansão (d4-d5), a seguinte linha de jogo: as brancas permitem que o seu peão permaneça onde está, porém ocupam as casas feitas particularmente valiosas pelo peão, ou seja, c5 e e5. Existem máquinas de guerra que há apenas 20 anos eram o terror dos

combatentes e que hoje em dia não passam de brinquedos inofensivos. [Esse livro foi escrito em 1929 - N. do T.]. A razão para isso é que a técnica defensiva progrediu. Atualmente, a força dinâmica do peão d isolado constitui-se pouco mais do que um brinquedo para nós e é difícil entender como alguém possa se assustar frente uma arma desse tipo. Os seguintes lances de abertura demonstram como tal força dinâmica na realidade é inócua. (1) E. Cohn – Nimzovitsch, Carlsbad 1911 1.d4 d5 2.Nf3 e6 3.c4 c5 4.e3 Nf6 5.Bd3 Bd6 6.0–0 0–0 7.a3 cxd4 8.exd4 dxc4 9.Bxc4 Nc6 10.Nc3 b6 11.Bg5 Bb7 12.Qe2 h6 13.Be3 Ne7 14.Ne5 (uma tentativa de utilizar a força dinâmica do peão d isolado, procedimento que é refutado com facilidade) 14…Ned5 15.Nxd5 Nxd5 16.Qh5 Bxe5 17.Qxe5 Nf6 18.Rfe1 Bd5 19.Bd3 Rc8 20.Rac1 Ng4 21.Qg3 Nxe3 22.fxe3 Qd7 23.Ba6 Rxc1 24.Rxc1 Qa4 25.Bf1 Qb3 26.Qf2 f5 27.Qd2 Rf7 28.Qc3 Qa4 29.g3 Kh7 30.Bg2 Qb5 31.Bxd5 exd5 e durante 70 lances as pretas concentraram o seu ataque sobre o peão e e mais tarde sobre o peão g, forçando as brancas a jogarem h4. A fase final dessa partida está incluída no capítulo 5, Manobras Alternadas. (2) Nimzovitsch – Gemsöe, Copenhagen 1922 1.e3 d5 2.c4 e6 3.Nf3 Nf6 4.d4 c5 5.Nc3 Nc6 6.Be2 Be7 7.0–0 0–0 125

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8.dxc5 Bxc5 9.cxd5 exd5 10.b3 Be6 11.Bb2 Rc8 12.Rc1 Qe7 13.Nb5 Rfd8 14.Nfd4 a6 15.Nxc6 Rxc6 16.Nd4 Rc7 17.Qd3 Rdc8 18.Nf5 Qd8 19.Rfd1 Bf8 20.Rxc7 Rxc7 21.Ng3! (observe-se o pequeno valor dos trunfos dinâmicos , ou seja, a coluna c. Acima de tudo, prevalece a debilidade estática do peão isolado. A manobra lenta do cavalo enfatiza ainda mais essa situação) 21...Be7 22.Bf3 Rd7 23.Ne2 Ne4 (essa alegria dinâmica será efêmera) 24.Nf4 Bf6 (o que jogar, se não for esse lance?) 25.Nxe6 fxe6 26.Bxe4 Bxb2 27.Bxh7+ e as brancas venceram após um longo final. Agora passaremos em revista a arma seguinte da ordem do dia: os peões pendentes. Brancas: Pa2, Pb2, Pe3, Pf2, Pg2 e Ph2; Pretas: Pa7, Pc5, Pd5, Pf7, Pg7 e Ph7.

De forma diferente do peão d isolado, essa arma de forma alguma se encontra defasada. Somente é necessário não se confiar em demasia em seu valor dinâmico, pois muitas partidas de torneios têm sido malogradas devido a um avanço violento (...d5-d4, cujo autor

lamentou em seguida). Da mesma forma seria um mau conselho renunciar a toda iniciativa em favor de uma posição segura. Estamos nos referindo ao avanço ...c5-c4 [neste caso, são as pretas que têm os peões pendentes. – N. do T.], pois embora os peões pendentes em d5 e c4 pareçam estar protegidos, perderam todo o seu potencial (a esse caso chamo de retirada para um bloqueio de segurança). O caminho a seguir será então uma mescla entre estática e dinâmica, com uma pitada de iniciativa (como, por exemplo, na partida 65, o jogo contra o peão branco em b2. Essa seria, no nosso entender, a estratégia correta. Compare o tema que comentamos com a minha investigação em Meu Sistema. A grande “mortalidade infantil” entre os peões pendentes, no entanto, não nos deve induzir a precipitar nosso julgamento um pouco cético. A alta taxa de mortalidade pode ser reduzida de forma considerável através de um jogo cuidadoso. Vejamos, por exemplo, minha confusão frente a Rubistein. Rubinstein – Nimzovitsch, Gotemburgo 1920 1.d4 e6 2.c4 b6 3.Nf3 Bb7 4.g3 Bb4+ 5.Bd2 Bxd2+ 6.Qxd2 Ne7 7.Nc3 d5 8.cxd5 exd5 9.Bg2 c5 10.dxc5 bxc5 11.0–0 Nd7 12.Rfd1 0–0 13.Ne1 Nb6 14.Nd3 Qd6 15.Nf4 Qf6? (o primeiro deslize. Deveria ter jogado 15...Qe7. Explicarei o por que no comentário a seguir) 16.b3 (agora já não é possível ...Rd8, devido a 17.e4 e se 17...d4, então 18.e5! e as pretas perdem seu bispo de b7) 16...c4 17.bxc4 Nxc4 18.Qd4 Qxd4 19.Rxd4 Nb6 20.Ncxd5 e após a troca das peças menores, Rubinstein venceu um final de

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4 - O peão d isolado e os peões pendentes. O par de bispos

torres em estilo clássico. A força dos bispos se manifesta em duas partidas contra Goldstein de modo particularmente vistoso. Temos um terceiro exemplo na partida 63. Partida 61 Nimzovitsch- Jacobsen Copenhagen, 1923 Gambito de Dama

1.d4 d5 2.Nf3 Nf6 3.c4 e6 4.Nc3 Be7 5.Bg5 0–0 6.Qc2 Nbd7 7.0–0–0 Os dois últimos lances das brancas são bem conhecidos e, no entanto, o plano do primeiro jogador, considerado em seu conjunto, contém um novo matiz (veja o comentário ao lance 9). 7…c5 8.dxc5 Nxc5 9.e3

Posição após 9.e3 Aqui seria possível ganhar um peão, mas isso não é bom. No entanto, caberia aguardar o lance 9...Qa5, com um desenvolvimento agressivo fácil contra o roque das brancas, que dá a impressão de estar negligenciado. Esse ataque freqüentemente tem conduzido à vitória. Por exemplo, a famosa partida Rotlewi Teichmann, Carlsbad 1911: 1.d4 d5 2.Nf3 Nf6 3.c4 e6 4.Nc3 Be7 5.Bg5

Nbd7 6.e3 0–0 7.Qc2 c5 8.0–0–0 Qa5 9.cxd5 exd5 10.dxc5 Nxc5 11.Nd4 Be6 12.Kb1 Rac8 13.Bd3 h6 14.Bxf6 Bxf6 15.Bf5 Rfd8 e as pretas obtiveram um jogo mais fácil. No entanto, a inversão de lances escolhida pelas brancas torna possível adiar a troca cxd5, que facilita o jogo para as pretas e com essa sutileza, as opções para as brancas aumentam de forma considerável. 9…Bd7 Se 9...Qa5, as brancas respondem com 10.Kb1. 10.Kb1 Nfe4 11.Nxe4 Nxe4 O correto seria 11...dxe4. 12.Bxe7 Qxe7 13.Bd3 Nf6 14.cxd5 exd5 Temos aqui o famoso peão central isolado. 15.Nd4 Rfc8 16.Qb3 b5 17.f3 Com a finalidade de jogar g4. A estrutura centralizada das brancas pode permitir a pequena debilidade de e3. 17...g6 18.Rhe1 b4 Isso permite um reagrupamento, com o qual as brancas se apoderam temporariamente da coluna c. Por conseguinte, sem dúvida seria melhor 18...Rab8. 19.Ba6! Rcb8 20.g4 Rb6 21.Bf1 Be6 Isso é aceitável para as brancas, uma vez que a linha de ataque e7-e3 fica assim interrompida, porém o peão isolado necessitava de uma proteção direta. 22.Rc1 a5 23.a4 Nd7 24.Bb5 Nc5 25.Qc2 Rc8 26.h4 Rbb8 27.Qh2 Agora 27.Nc6 ganharia a qualidade no ato. 27…Qc7 127

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

Posição após 27…Qc7 28.Qxc7? As brancas eram mais fortes nas diagonais e a ocupação do posto avançado f4 venceria facilmente. Vejamos: 28.Qf4 Qxf4 exf4 e não se pode impedir o avanço f5. 28…Rxc7 29.Nc6 Rxb5? Um erro grave. O indicado seria 29...Rxc6. Depois de 30.Bxc6 Nd3 31.Bb5 Nxe1 32.Rxe1 f5 33.g5 Rc8 34.Rc1 Kf7 35.Rxc8 Bxc8 36.Kc2 Ke6 37.Kd3 Ke5! 38.f4+ Kd6 39.Kd4 e as brancas não podem conseguir nada. Com o seu peão em f3 ao invés de f4, as brancas poderiam ainda seguir tentando alguma coisa, embora de todos os modos falharia devido à debilidade do seu peão a. Que a posição do rei preto em d6 não neutraliza ao rei branco em d4 se demonstra, por exemplo, no seguinte final de bispos, muito similar à posição da partida: Brancas: Rd4, Be8, Pe3, Pf3, Pg5 e Ph4; Pretas: Kd6, Be6, Pd5, Pf5, Pg6 e Ph7. Segue: 1.h5 gxh5 2.Bxh5 Bg8 3.Be8 Be6 4.Bb5 Bf7 5.Bd3 Be6 6.e4 fxe4 7.fxe4 dxe4 8.Bxe4 Bg8 9.Bd3 e o rei das pretas deve dar passagem. Isso confirma o que dissemos em comentários anteriores com relação ao complexo débil de casas adjacentes ao

peão isolado (nesse caso, c5 e sobretudo e5). 30.axb5 Nd3 31.Nxa5 Ra7 32.Nc6 Rb7 33.Nd4 Nxe1 Depois de 33...Bd7 34.Red1 se chega à mesma posição. 34.Rxe1 Bd7 35.Rc1 Bxb5 36.Rc5 Bd7 Em qualquer caso, as pretas perdem um peão. O restante da partida teve o seguinte desenvolvimento: 37.Rxd5 Kf8 38.Kc2 b3+ 39.Kc3 Ke7 40.h5 Be6 41.Rc5 Kd6 42.Rc6+ Kd7 43.hxg6 hxg6 44.Nxe6! fxe6 45.Rc5 Kd6 46.Rg5 Rg7 47.f4 Rg8 48.Kxb3 Ke7 49.Kc4 Rc8+ 50.Rc5 Rh8 51.Rc7+ Kf6 52.e4 g5 53.e5+ Kg6 54.f5+ exf5 55.Rc6+ Kg7 56.gxf5 Rh2 57.b4 Rc2+ 58.Kd5 Rxc6 59.Kxc6 g4 60.e6 g3 61.e7 g2 62.e8Q g1Q 63.Qg6 As pretas abandonaram. Partida 62 Nimzovitsch - Kudrjavsev e Landau Simultânea Dorpat, 1910 Gambito da Dama

Essa partida foi jogada de forma simultânea com outras três, todas elas com consulta. 1.d4 d5 2.Nf3 Nf6 3.c4 e6 4.Nc3 c5 5.cxd5 exd5? Seria muito melhor 5...Nxd5. 6.Bg5 cxd4 7.Nxd4 Be7 8.e3 0–0 9.Be2 Nc6 10.Nxc6 O par de peões isolados (c6 e d5) logo se transformará em uma debilidade. 10...bxc6 11.0–0 Be6 Este desenvolvimento do bispo deve ser considerado somente como um preparativo do avanço ...c6-c5, pois se

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4 - O peão d isolado e os peões pendentes. O par de bispos

assim não fosse, seria preferível 11...Bd7. 12.Rc1 Rb8 13.Qc2 Bd7 Não seria realmente possível 13...c5? Vejamos: 13...c5 14.Rfd1 Qa5 15.Bf3 Rfd8 16.b3 c4, ou 16.Bxf6 Bxf6 17.Bxd5 Bxc3 18.Bxe6 Bxb2 com jogo igualado. As pretas cometeram um erro importante ao renunciar aos peões pendentes (em c5 e d5), pois agora o seu jogo morrerá de inanição, com o par de peões em c6 e d5. 14.Rfd1 Ne8 15.Bxe7 Qxe7 16.Na4 Nf6 Um defesa melhor seria 16...Nc7. Por exemplo: 17.Nc5 Be8, seguido de ...Ne6. 17.Nc5 Rb6 18.Rd4 O bloqueio prossegue tranqüilamente. O peão preto de a7 é difícil de defender. 18...Rfb8 19.b3 Be8 20.Bd3 h6 21.Qc3 Super proteção do ponto d4. 21…Bd7 22.Ra4 Ra8 23.Qd4 Ne8 24.Ra5 Nc7 25.Qa4 Nb5 26.Bxb5 cxb5 27.Qd4 Agora o peão d está novamente isolado. 27...Bc6 28.b4 Rab8 29.Nb3 f6

Posição após 29…f6

30.Qc5!

Qxc5

31.Nxc5

Ra8

32.Rc3 O peão a está perdido. 32...Re8! O melhor. As pretas abrem o jogo. 33.Rxa7 d4! 34.Rd3 dxe3 35.Rxe3 Rxe3 36.fxe3 Bd5 37.a3 Bc4 38.Kf2 Rd6 39.Rd7 A pressão desenvolvida durante a fase de bloqueio exerce, inclusive agora, uma vez aberta a posição, sua influência paralisante. 39...Rxd7 40.Nxd7 Kf7 Não somente os pontos fortes têm algo a dizer. As brancas já não podem impedir que o rei das pretas ocupe uma posição central em d5 ou e5, mas isso significaria uma vitória da idéia da abertura sobre os princípios do bloqueio. 41.Nb6! Esse lance supõe um certo risco de se perder o cavalo, mas as brancas haviam calculado minuciosamente o salto. 41…Bb3 42.Kf3 Ke6 43.Ke4 Kd6 44.Kd4 Se agora 44…Kc6, segue 45.Nc8 e uma vez que o cavalo tenha duas casas de escape (a7 e e7), não há perigo. 44…Be6 45.a4 Kc6 46.a5 h5 47.e4 f5 48.exf5 Aqui também venceria 48.Ke5. Por exemplo: 48...fxe4 49.Kxe6 e3 50.Nd7 e2 51.Ne5+ etc. 48...Bxf5 49.Nd5 Kb7 50.Kc5 E as brancas venceram depois de alguns lances. O par de peões isolados sem dúvida se constituiu um inconveniente para o jogo das pretas, pois o bloqueio das brancas os manteve à margem até o final, inclusive após a abertura da posição. O peão central isolado teve um papel bem mais pobre. 129

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

Partida 63 Krause - Nimzovitsch Partida postal, 1924-1925 Defesa Caro-Kan

Bd6 20.Rfc1 e as pretas podem contemplar a coluna c com imparcialidade. 16.Bb3 Ne7 17.Bd2!

1.e4 c6 2.d4 d5 3.exd5 cxd5 4.c4 Nf6 5.Nc3 Nc6 6.Nf3 Bg4 Merece consideração 6...g6. 7.cxd5 Nxd5 8.Bb5! Melhor do que a continuação de ataque 8.Qb3. Por exemplo: 8.Qb3 Bxf3 9.gxf3 e6! (recomendado pelo próprio Krause) 10.Qxb7 Nxd4 11.Bb5+ Nxb5 12.Qc6+ Ke7 13.Qxb5 Nxc3 14.bxc3 Qd5 e as pretas estão bem. Outra possibilidade (após 8.Qb3 Bxf3 9.gxf3) seria a simples 9...Nb6. Por exemplo: 10.d5 Nd4 11.Qd1. 8...Rc8 9.h3 Bxf3 10.Qxf3 e6 11.0–0 Be7 12.Nxd5! Muito forte. Agora as pretas terão que buscar o melhor contra-jogo possível para manter o equilíbrio. Do ponto de vista da estratégia e da teoria, só pode haver uma interpretação deste lance: é uma confissão de que toda essa conversa sobre a força dinâmica , com a qual se supõe estar revestido o peão isolado, é somente conversa mole. Não, a realidade sombria mostra um panorama muito diferente. O jogador com um peão central isolado deve se dar por contente em esconder a sua debilidade. 12...Qxd5 13.Qxd5 exd5 14.Be3 a6 15.Ba4 Bd6 Depois desse lance, aumentam as dificuldades das pretas. O roque (mas quem pensa em rocar em um final?) teria conduzido a um jogo mais fácil. Por exemplo: 15...0–0 16.Bb3 Rcd8 17.Rac1 Na5 18.Rc2 Nxb3 19.axb3

Posição após 17.Bd2! Agora a ameaça é a dobrada das torres na coluna e. A necessidade de manter protegido o peão d exerce um efeito paralisante sobre a posição das pretas e as brancas, com o par de bispos, têm um jogo muito mais fácil. 17...b6!! O início de uma profunda manobra defensiva. 18.Rae1 Kd7 19.Re2 h6! 20.Rfe1 Rhd8 21.a3 As brancas ameaçavam Bb4. 21...Rc7! Ficou claro o plano defensivo das pretas: querem posicionar suas torres em c7 e d8 e 17...b6 era essencial para impedir Ba5. Porém 19...h6 também era necessário, pois de outro modo, as brancas jogariam Bg5, forçando o avanço ...f6, com o qual as pretas arruinariam a sua ala do rei e, concretamente, o buraco de e6 se tornaria insustentável. 22.g4 Se 22.Bb4?, 22...Bxb4, seguido de ...Kd6.

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4 - O peão d isolado e os peões pendentes. O par de bispos

22...Kc8 Com a ameaça defensiva 23...Nc6 24.Be3 Bf8! e as pretas teriam libertado o seu jogo. 23.Be3! Ng6! As pretas não podem retardar o seu processo de libertação, pois as brancas podem reforçar a sua posição através do avanço f2-f4-f5, que deve ser evitado por meios profiláticos. 24.Bxd5 Nf4 Dessa forma forçando a igualdade. Seguiu: 25.Bxf4 Bxf4 26.Re8 Rc1 27.Rxd8+ Kxd8 28.Kf1 Rxe1+ 29.Kxe1 Bc1 30.b3 Bxa3 31.Bxf7 Bb2 32.d5 Ke7 33.Be6 Kd6 Empate. O peão d isolado conquistou um êxito parcial nessa partida, mas só no sentido geralmente aceito. Falando teoricamente, o desenvolvimento dessa partida equivale a uma declaração de insolvência por parte do peão isolado, pois no lugar da suposta força dinâmica, vemos a tímida ocultação de sua debilidade estática. Deve ser admitido que o Dr. Krause planejou e dirigiu seu jogo nessa partida de forma magnífica. Que não se possa obter vantagem alguma de um peão central isolado não é por sua culpa, é claro.

Uma abertura fácil de entender. A posição está mais ou menos igualada. As brancas têm maiores possibilidades no centro, enquanto as pretas têm um centro superior de peões. 15…Bd6 16.Rad1 Deveria ter sido jogada a outra torre para essa casa. 16…Bxf4 17.Qxf4 Qb8 18.Qa4 Entusiasmo juvenil. O sacrifício de peão não pode ser correto. 18…Qc7 Teria sido melhor 18...Qxb2 19.Qxc6 Qxa2. 19.c4 Rab8 20.b3 a5 21.cxd5 Bxd5 Antes de entrar em cena o peão d isolado se faz de rogado. 22.Rfe1 Red8 23.Qa3 Rb4 24.Qb2 a4 25.Nf5! Ameaça Nxh6+. 25...Qf4 26.Ne7+ Kh8 27.Nxd5 cxd5 Aqui está o peão d isolado! Antes tarde do que nunca. 28.Qc3 axb3 29.axb3 Qb8 30.Bc2 Rc8 31.Qd2

Partida 64 Nimzovitsch - Janovsky Carlsbad, 1907 Abertura Escocesa

1.e4 e5 2.Nf3 Nc6 3.d4 exd4 4.Nxd4 Nf6 5.Nc3 Bb4 6.Nxc6 bxc6 7.Bd3 d5 8.exd5 cxd5 9.0–0 0–0 10.Bg5 c6 11.Ne2 Bc5 12.Ng3 h6 13.Bf4 Re8 14.h3 Be6 15.Qf3

Posição após 31.Qd2 O peão isolado das brancas é incômodo, pois o bispo deve desempenhar a desagradável tarefa de protegêlo, embora, no entanto, seja fácil de

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

remediar. 31...Qd6 32.Ra1! Rb7 33.Ra4 Rbc7 34.Bf5 Rb8 35.Rd4 Re7 Se 35...Rxb3?, 36.Rxd5!. 36.Rxe7 Qxe7 37.b4 Agora as brancas têm, pelo menos, um jogo tão bom como o do seu adversário. 37...Qe5 38.Bg4 Ra8 Descartando o empate, que poderia ser obtido através de 38...Nxg4. 39.f4 Ra1+ 40.Kh2 Qc7 Seria melhor 40...Qb8. Por exemplo: 41.Bf3 Rb1. 41.Bf3 Bloqueio, seguido de aniquilação, é o destino do peão d isolado na presente partida. 41...Qd6 42.Bxd5 Com esta captura, o interesse pedagógico de luta não se esgota de modo algum. Pelo contrário, convém observar como as manobras das brancas prosseguem ao redor de d4, a importante casa de bloqueio, durante toda a vida do peão isolado. 42...Qe7 43.Bf3 g6 44.Qc3 Rb1 45.Rc4 Kg7 46.Qe5 Re1 47.Qxe7 Rxe7 48.b5 Re6 49.Rc6 Nd7 50.Bd5 Rf6 51.Kg3 Nb6 52.Bb3 Nd7 53.Rxf6 Kxf6 O resultado da linha de jogo das brancas está claramente à vista. As pretas não podem evitar a troca simplificadora. 54.Kf3 Ke7 55.Ke3 f6 56.Kd4 Kd6 Que estranho! Se imaginarmos que o peão preto isolado permanece em d5, a posição respectiva dos reis poderia ser classificada de típica nos casos de peões isolados, a posição na qual o objetivo da conquista (ou respectivamente a defesa) das casas adjacentes (aqui as casas e5 e c5). Que importa se o peão isolado

desapareceu? Segue tendo algo a dizer. Certamente sua sombra paira sobre todo o jogo e as peças, tanto as suas como as do seu adversário, se concentram e atacam ou defendem tais casas como se o peão permanecesse no tabuleiro. Tivemos a oportunidade, na última fase da partida 36, de contemplar um panorama muito parecido, no qual uma unidade que já não existe mais se manifesta claramente inclusive depois de sua captura. 57.Bd1 Nb6 58.Bf3 Nc8 59.h4 Ne7 60.Be4 g5 Agora as brancas conquistam a casa adjacente e5, como se fosse uma posição real e não imaginária, com o peão d isolado. O que aprendemos nesse caso transcendental? Bem, que a questão não diz respeito somente a um peão débil, mas também a uma casa débil. Com a captura do peão d, o jogo contra o ponto d5 não terminou em absoluto. Mas os acontecimentos evoluíram gradualmente e o restante não precisa de comentários. 61.fxg5 fxg5 62.hxg5 hxg5 63.b6 g4 64.b7 Kc7 65.Ke5 g3 66.Kf4 Ng8 67.Kxg3 Nf6 68.Bf3 Nd7 69.Kf4 Kd6 70.Kf5 Ke7 71.Bc6 Nb8 72.Bb5 As pretas abandonaram

Partida 65 Rubinstein - Nimzovitsch Carlsbad, 1907 Gambito da Dama

1.d4 d5 2.Nf3 e6 3.c4 c5 4.cxd5 exd5 5.Nc3 Nc6 6.Bf4 A variante principal é 6.g3.

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4 - O peão d isolado e os peões pendentes. O par de bispos

6...cxd4 7.Nxd4 Bb4 8.e3 Nf6 9.Nxc6 bxc6 10.Bd3 0–0 11.0–0 Bd6! As pretas não desejam permitir serem aprisionadas da forma da partida 62. Agora preparam o avanço ...c6-c5. 12.Bg3 O lance 12.Bg5 faria com que uma ação centralizada não tivesse sentido. Vejamos: 12.Bg5 Rb8 13.b3 (se 13.Qc2?, Bxh2+) 13...Be5! 14.Rc1 Qd6. 12...Bxg3 13.hxg3 c5 14.Rc1 Be6 15.Qa4 Tentar deslocar o jogo das pretas com 15.e4 levaria quase que de maneira forçada ao equilíbrio: 15...dxe4 16.Nxe4 c4 17.Nxf6+ Qxf6 18.Bxc4 Qxb2. 15…Qb6 As pretas perceberam claramente que o plano correto era …c4 e não o “dinâmico” avanço ...d4. O lance 15...c4, que aporta um certo grau de segurança (nossa segurança de bloqueio) e concede a opção de uma ofensiva limitada mas sensível, é pior (veja o comentário anterior). 16.Qa3 “Força” o avanço …c5-c4, que até então era considerado comprometido. 16…c4! 17.Be2 a5 18.Rfd1 Qb4 Iniciativa em pequena escala.

Posição após 18...Qb4

19.Rd4 As brancas não têm por que temer a dobrada de seu peão a. 19...Rfd8 Se 19...Qxa3 20.bxa3 Rab8 (se não 21.Rb1), então 21.Bf3 Rfd8 22.Rcd1, etc. 20.Rcd1 Rd7 21.Bf3 Rad8

Posição após 21...Rad8 Essa posição, com sua extraordinária economia e com as forças dispostas de forma ideal, assemelha-se a uma obra de arte grega. Nada deveria ser modificado para não atentar contra a sua perfeição. A seqüência 22.Kf1 Kf8 23.Kg1 Kg8 deveria ser a conclusão da partida. 22.Nb1 Isso desfaz o equilíbrio e desbarata o jogo das brancas. 22...Rb8 23.R1d2 Qxa3! Melhor do que jogar 23...Rdb7 24.Qc3! Qxc3 25.Nxc3 Rxb2 26.Rxb2 Rxb2 27.Bxd5 Nxd5 28.Nxd5 Rxa2 29.Rxc4, com igualdade. 24.Nxa3 Kf8 Não 24...Rbd7 devido a 25.Nxc4. 25.e4 dxe4 26.Rxd7 Nxd7 27.Bxe4 Nc5 28.Rd4 A debilidade do peão b2 se manifestaria mesmo na melhor continuação: 28.Bc6 Rb4 29.Bd5 Na4.

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

Depois do lance do texto, a vitória é fácil. 28...Nxe4 29.Rxe4 Rxb2 30.Nxc4 Rb4 31.Nd6 Rxe4 32.Nxe4 Bxa2 33.Nc3 Se 33.Kf1, seguiria 33...Bc4+ e ...Bd5!, e se 33.Nc5, 33...Ke7 34.Kf1 Kd6! 35.Nb7+? Kc6 36.Nxa5+ Kb6, vencendo. A partida seguiu: 33…Bc4 34.f4 Ke7 35.Kf2 Kd6 36.Ke3 Kc5 37.g4 Kb4 38.Kd4 Bb3 39.g5 a4 40.Nb1 Be6 41.g3 Kb3 42.Nc3 a3 43.Kd3 g6 44.Kd4 Kc2 As brancas abandonaram. Na partida seguinte, os peões pendentes se mantêm durante um espaço de tempo considerável em d4 e c4. Responde-se a essa segurança estática através de uma iniciativa limitada no extremo da ala da dama sobre a grande diagonal branca.

10...0–0 11.0–0 Nd7 12.a4 Eis aqui a pequena iniciativa, dirigida contra o peão preto que se situará em b6. 12...Qc7 13.Qb3 b6 14.c4 Bb7 15.a5 Bf6 A 15…bxa5 seguiria 16.Bf4! Qb6 17.Qa4, com ataque duplo ao cavalo de d7 e a5. 16.axb6 axb6 17.Be3 h6 18.h3 Rfc8

Partida 66 Nimzovitsch - Vidmar Nova Iorque, 1927 Defesa Siciliana

Posição após 18...Rfc8 19.Rfc1! Esse lance ganha um tempo inteiro. As pretas não podem aceitar o sacrifício de peão que esse lance implica sem deixar escapar todas as suas opções. Por exemplo: 19...Rxa1 20.Rxa1 Bxf3 21.Bxf3 Qxc4 22.Qxc4 Rxc4 23.Ra8+ Nf8 24.d5 e as brancas dominam a luta por completo. 19…Rcb8 20.Rxa8 Rxa8 Os lances de torre (19.Rfc1 e 20.Rxa8) deram para as brancas o tempo mencionado. 21.Nd2 Be7 22.Bf3 Ra3 23.Qb2 Bxf3 24.Nxf3 Ra5 25.Qd2 Ba3 26.Rc2 Bd6 27.Rc1 Ba3 28.Rc2 Bd6 29.Rc1 Qa7 30.Qd3 Ra3 31.Qe4 A hegemonia central que aqui se estabelece está de acordo com o desenvolvimento da partida. Não terá

1.e4 c5 2.Nf3 e6 3.c3 Para as brancas bastava o empate, enquanto as pretas precisavam jogar para ganhar. 3…Nf6 4.e5 Nd5 5.d4 cxd4 6.cxd4 Be7 Aqui preferiríamos 6…b6. 7.Nc3 Nxc3 8.bxc3 d5 Aqui também preferiríamos 8...b6. 9.exd6 Uma continuação possível seria 9.Bd3 0-0 10.Qc2 g6 11.h4 etc. 9...Qxd6 10.Be2 Com os peões pendentes, as brancas deveriam jogar esse bispo por e2 e não por d3. 134 9788598628097_MIOLO.pdf 134

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4 - O peão d isolado e os peões pendentes. O par de bispos

escapado ao leitor atento que o ataque na ala desenvolvido pelas brancas (a4a5xb6) só teve a conseqüência das pretas terem assumido a ofensiva no setor. Assim, o ataque passou ao inimigo, o que só pode ser explicado pelos erros das brancas, ou pelo fato de que o ataque das brancas carecesse de justificativa. Mas, na realidade, não é o caso: as brancas jogaram corretamente o ataque e tinham boas razões para atacar, pois somente assim podiam preservar a estabilidade dos peões pendentes. Em conseqüência disso, as pretas – sit venia verbo – deveriam ter assumido o ataque na ala oposta, o que somente poderia ser feito com a entrega de um território importante, ou seja: o centro. Sobre essa base, a hegemonia das brancas no centro pode ser entendida. A conclusão, portanto, é convincente. 31...Nf6 32.Qc6 Rxe3 33.Qxd6 Empate. As operações das pretas na ala da dama foram conduzidas com a energia máxima, porém se depararam com um jogo sereno no centro, com o qual as operações de ala e as manobras centrais se compensaram. Com respeito à aceitação do sacrifício, a variante que segue é ilustrativa: 33.fxe3 Qa3 34.Re1 Bg3 35.Rf1 Qxe3+ 36.Kh1 Ne4, com a principal ameaça ...Bf4. Uma partida jogada muito corretamente por ambos os lados.

Partida 67 Tarrasch - Hakansson Hamburgo, 1910 Defesa Tarrasch

1.d4 d5 2.Nf3 e6 3.c4 c5 4.e3 Nf6 5.Nc3 Nc6 6.Bd3 Bd6 7.0–0 0–0 8.b3 b6 9.Bb2 Bb7 10.Qe2 dxc4 11.bxc4 cxd4 12.exd4 Os prós e os contras dos peões pendentes parecem estar equilibrados nessa posição. 12…Rc8

Posição após 12...Rc8 13.Rad1 Um lance fraco, pois deveria ser prevenido o possível ataque ao bispo do rei, o principal sustentáculo dos peões pendentes. Por exemplo: 13.a3 Na5 14.Ne5 Ba6 (não 14...Nb3 15.Rad1 Nxd4, por 16.Bxh7+ etc) 15.Rad1 Bxe5 (15...Qe7? perderia peça, devido a 16.c5! etc., mas merecia atenção 15...Qc7 16.Nb5 Bxb5 etc.) 16.dxe5 Nd7 e agora, as brancas podem escolher entre duas linhas de jogo: 17.Nb5 ou 17.c5. Se 17.c5, ...Bxd3 18.Rxd3 Qe7 19.Ne4! (ameaçando Nf6+!) 19...Rfd8! 20.cxb6 Nxb6 21.Nd6, pelo que as brancas poderiam ter se aventurado tanto nessa linha como na posicional 17.Nb5 Bxb5 18.cxb5 Rc7 19.Qe4 g6 20.Qb4!, com uma posição segura (pois as debilidades das casas brancas está bem coberta), não desprovida de iniciativa. Por exemplo: 20...Qc8 21.Rfe1 Nc5

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22.Bb1 Rd8 23.Bc1! com a ameaça de Bg5. O leitor faria bem em estudar as variantes aqui indicadas, pois nelas se manifestam os diversos aspectos que caracterizam os peões pendentes. 13…Nb4 14.Bb1 Bxf3 15.gxf3 Bb8! Também seria forte 15...Nh5. 16.a3 Qc7 17.f4 Qxf4 18.f3 Nc6 As brancas entregaram o peão, porém os dois bispos, a coluna g e por último e não menos importante, os dois peões pendentes oferecem algumas perspectivas de ataque. 19.Ne4 Rfd8 20.Kh1 Ne7! 21.Bc1 Qc7 22.Nxf6+ gxf6 23.Qg2+ Ng6 24.Ba2 Kh8 25.f4 Nh4 26.Qh3 Nf5 27.d5 Com a idéia de explorar, com efeitos ofensivos, a grande diagonal de casas pretas. O avanço de peões com a finalidade de abrir linhas para as peças situadas atrás delas, deve ser classificada sem dúvida sob o título de dinâmica. Deveríamos preferi-la ao conceito de estática e, em conseqüência, optar pela formação 27.Bb2, seguido de Qf3 e colocação das torres em c1 e d1. Observe agora como as pretas respondem à dinâmica com estática, encerrando-se e bloqueando os peões de c4 e de d5. 27...Rg8 28.Bb2 Rg6 29.Rg1 Rcg8 30.Rxg6 Rxg6 31.Rf1 Qc5 32.Qf3 Bd6 O bloqueio. 33.Qf2 Qxf2 As casas de bloqueio c5 e principalmente d6 constituem o ponto de partida para diversas penetrações. É ameaçado, por exemplo, ...Qe3. 34.Rxf2 Bc5 35.Rg2 Kg7 36.Rxg6+ hxg6

Agora não é difícil. 37.Kg2 Bd4 38.Bc1 Be3 Essa manobra limpa de bispo força a troca. 39.Bxe3 Nxe3+ 40.Kf3 Nf5 41.Bb1 Nd6 42.Bd3 e5 43.Kg4 f5+ 44.Kg3 f6 45.h4 Kf7 46.Be2 Ne8 47.Kf3 Ke7 48.Ke3 Ng7 49.Bf3 Kd6 O cavalo se dirige a h5 para desdobrar os peões. Entretanto, o rei toma a frente no campo de bloqueio. 50.Bd1 Nh5 51.fxe5+ O final de peões, após 51.Bxh5, seria desesperador para as brancas, devido à ruptura ...b6-b5. 51…fxe5 52.Kd3 Kc5 53.a4 Nf6 54.Be2 Ne8 55.Kc3 Nd6 56.Bf1 e4 57.Kd2 f4 58.Kc3 f3 As brancas abandonaram. Partida 68 Brekke - Nimzovitsch Oslo, 1921 Abertura Irregular

Os peões pendentes só aparecem como uma ameaça latente, como fantasmas nessa partida, tão prolongada como digna de interesse, com um final especialmente gracioso. 1.d4 d5 2.Nf3 Nf6 3.e3 g6 4.Be2 Bg7 5.0–0 0–0 6.b3 c5 7.Bb2 cxd4 8.exd4 Agora as pretas tinham a intenção de criar peões pendentes, se as brancas jogassem c4 (com ...dxc4). 8…Bg4 9.Ne5 Bxe2 10.Qxe2 Nbd7 11.f4 Rc8 12.Na3 Um lance original e de modo nenhum um mau lance.

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4 - O peão d isolado e os peões pendentes. O par de bispos

12...Nb6 13.Rac1 a6 14.f5 Se 14.c4, seguiria então 14...dxc4 15.bxc4 e c4-c5, depois do que o lance Nac4 teria implantado a situação desejável que mencionamos, ou seja: segurança por bloqueio, combinada com algum tipo de iniciativa. O lance 14.f5 portanto deve ser considerado um desvio do caminho correto, no entanto perdoável. 14...gxf5 15.Rxf5 Ne4 16.Rcf1 f6 17.Ng4 e6 18.Rh5 Uma torre extraviada! Sua ausência logo será sentida na partida. O lance 18.Rf3 parece ser melhor. 18…f5 19.Ne5 Rc7 20.Qe3 Nd7 21.c4 Finalmente as brancas, conduzidas por um jogador de nível de mestre, decidemse por esse avanço. Mas agora formações diferentes de peões se derivam dela e não serão produzidos peões pendentes. 21...Nxe5 22.dxe5 Rd7 Observe a liberdade dessa torre na segunda fileira. 23.cxd5 Rxd5 A coluna d agora é tremendamente efetiva (observe o comentário ao lance 18). 24.Nc4 b5 25.Nd6! Nas circunstâncias, o melhor. 25...Rxd6 26.exd6 Bxb2 27.Qh6 Bd4+ 28.Kh1 Rf7 29.Qxe6 Qxd6 30.Rg5+! Bg7 31.Qxd6 Nxd6 32.Rd1 Está claro que esse final não é fácil de vencer. 32...Rf6 33.Kg1 Kf7 34.a4 b4 35.Rd5! Re6 36.Ra5 Re3 37.Rxa6 Bd4! 38.Kf1 Be5 39.a5 Rxb3 40.Rh5 Rb1+ 41.Ke2 b3 Outra possibilidade para as pretas seria 41…Kg6. 42.Rxh7+ Ke6 43.Rh3 b2 44.Rb3

Ra1 45.Rab6 Rxa5 46.Rxb2 Não havia pressa para essa captura. 46...Bxb2 47.Rxb2 Nc4 48.Rc2 Kd5 49.Kf3 Ra4 50.Re2 Ne5+ 51.Kf2 f4 52.h3 Ra3 53.Rd2+ Ke4 54.Rc2 Re3 55.Ra2 Nd3+ 56.Kg1 Re1+ 57.Kh2 Ke3 58.Ra3 Re2 59.Kg1 Rb2 60.Ra1 Rc2 61.Ra3 Ke2 62.Ra4 Rc1+ 63.Kh2 Ke3 64.Ra3 Rb1 65.Rc3 Rb2 66.Kg1 Kd4 67.Ra3 Ne1 68.Ra4+

Posição após 68...Ra4+ Agora segue um duelo interessante entre rei e torre. 68...Ke5 69.Ra5+ Kf6 70.Ra6+ Kg5 Teria sido mais simples escapar pela rota g7-h6-h5-h4, mas as pretas enxergam uma volta muito atraente, que não querem deixar passar. 71.Ra8 Kh6 72.Rg8 Kh7! 73.Rg4 f3! É óbvio que se 74.gxf3, seguiria então 74...Nxf3+, com mate ou captura da torre. 74.Kf1 fxg2+! Mais elegante e rápido do que a linha 74...Nxg2 75.Re4 etc. 75.Kxe1 Kh6 As brancas abandonaram. Não há defesa pelo zugzwang. Por exemplo: 76.h4 Kh5 77.Rg5+ Kxh4 etc.

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Partida 69 Nimzovitsch - Leonhardt Ostende, 1907 Abertura Escocesa

1.e4 e5 2.Nf3 Nc6 3.Nc3 Nf6 4.d4 Bb4 5.Nxe5! Uma novidade, jogada nessa partida pela primeira vez. 5...Qe7 O melhor. Seria desfavorável 5...Nxe5 6.dxe5 Nxe4, devido a 7.Qg4. 6.Nxc6! Se ao leitor não seduzir o sacrifício de um peão, a linha do Dr. Krause poderá servir: 6.Qd3 Nxe5 7.dxe5 Qxe5 8.Bd2. 6...Qxe4+ 7.Be2 Qxc6 8.0–0 Bxc3 9.bxc3 Qxc3 10.Rb1 0–0 11.d5

Posição após 11.d5 Com esse lance, as brancas ativam ambos os bispos. 11…Qe5 12.c4 Nesse momento também se poderia jogar 12.d6 Qxd6 13.Qxd6 cxd6 14.Ba3 etc. 12…Re8 13.Bd3 d6 14.Bb2 Qh5 15.Qd2 Ne4? Está claro que as pretas subestimaram os bispos do adversário, pois, se assim

não fosse, teriam jogado 15...Ng4!? e a 16.h3, Ne5 com a ameaça de beneficiarse tanto materialmente (...Nxd3), como posicionalmente (...f6, fechando a grande diagonal) e os bispos teriam ficado inoperantes. Mas o fato é que o estilo profilático atrai somente a alguns poucos jogadores. 16.Rbe1 Bf5 17.Qf4 Qg6 18.Re3 Ao lance violento 18.g4 se responderia com violência ainda maior 18...Nxf2!. 18...Kf8 Para proteger a torre. 19.h3! E não 19.Rfe1, devido a 19...Ng3!. O lance do texto é o prolegômeno ao ataque decisivo 20.Rf3, que falharia agora devido a ...Bg4. 19...h5 20.Rf3 Bd7 21.Re1 As pretas abandonaram. A impressão que fica é a de que os bispos devem ser levados a sério. Mas as medidas profiláticas, baseadas na eliminação, de fato ou efeito de um dos bispos (observe o comentário ao lance 15) pode ser um remédio muito eficaz. Partida 70 Goldstein - Nimzovitsch Londres, 1927 Defesa Moderna

1.d4 d5 2.Nf3 e6 3.c4 Nd7 4.Nc3 Ngf6 5.Bg5 Bb4 A engenhosa variante de Spielmann. 6.cxd5 exd5 7.e3 Se 7.Qa4 pode ser jogado de imediato 7…c5. Por exemplo: 8.dxc5 Bxc3+ 9.bxc3 0-0 10.c6 Qc7!. 7…h6

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4 - O peão d isolado e os peões pendentes. O par de bispos

Também era possível 7...c5 8.dxc5 Qa5 etc. 8.Bxf6 Qxf6 Em lugar do lance do texto, seria mais correto 8...Bxc3+ e 9...Nxf6. Se então 10.c4, o contragolpe 10...c5 seria adequado. 9.Qb3 Qb6 Com o objetivo de complicar o jogo. De outro modo, agora teria jogado 9...Qd6, com a possível continuação 10.Be2 c5 11.dxc5 Nxc5 12.Qc2 Ne4 13.0-0 Bxc3. 10.Bd3 Aceitar o sacrifício de peão conduz a uma situação confusa, após a linha 10...Bxc3+ 11.bxc3 Qb2 12.Qe4+ Kd8 13.Rd1 Qxc3+ 14.Nd2 Re8 15.Qb1! Nb6! (seria arriscado jogar 15...Qxd4) 16.Be2 Bd7. 10...Nf6 11.0–0 0–0!! Um sacrifício de peão baseado exclusivamente na superioridade decorrente do par de bispos. 12.Nxd5 Nxd5 13.Qxd5 Be6 14.Qb5 Não é correto 14.Qe4 devido a 14…f5 15.Qe5 Rae8. 14...Be7! 15.Rfc1 c6 16.Qxb6 axb6 17.a3 b5 18.Ne5 Bd6 19.f4

Posição após 19.f4

As brancas avançam rápido demais a sua maioria central. Observe como os dois bispos agora obstruem. 19…f6 20.Nf3 Bd5 21.e4 Bf7 22.e5 Bb8 O peão d agora parece muito fraco. 23.Re1 fxe5! Se 23...Ba7, as brancas poderiam responder 24.exf6, seguido de Re7. 24.fxe5 No caso de 24.dxe5, segue 24...Be6 25.g3 g5 etc. 24...Be6 Encerrando o peão d. Veja o comentário ao lance 19. 25.Kf2 Ba7 26.Kg3 Não seria melhor 26.Ke3. 26...Rad8 27.Rad1 Rd7 28.Rd2 Rfd8 Teríamos muito o que falar de 28…g5. Por exemplo: 29.h3 Rg7, com ameaças consideráveis. 29.Bc2 g5 30.h3 Kf7 Não há pressa em recuperar o peão perdido (30...Bxd4 31.Nxd4 Rxd4 32.Rxd4 Rxd4 33.Rd1, com jogo igualado). O lance de rei, dentre outros possíveis, constitui uma medida preventiva contra o peão e passado. O rei poderia atuar como um bloqueador reserva em e7. 31.Red1 Ke7 32.Be4 h5 33.d5! O mestre britânico se defende muito bem nessa posição difícil. 33...cxd5 34.Bd3 Rg8 35.Bxb5 g4 36.hxg4 Rxg4+ 37.Kh2 Rc7 38.Bd3? A partida poderia ter se sustentado com 38.Nd4. 38...Be3 39.Rc2 Rxc2 40.Bxc2 d4 41.b4 h4! 42.Bd3 h3! 43.Bf1 139

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Posição após 43.Bf1

Se 43.gxh3, Bf4+ 44.Kh1 Bd5!, e se 43.Kxh3, Rg8+ 44.Kh2 Bf2 45.Ng1 Bd5 46.Bf1 Bg3+ 47.Kh1 Rh8+ 48.Nh3 Rxh3+, vencendo. 43…hxg2 44.Bxg2 O avanço do peão h não somente degradou o bispo branco (pois agora atua como um peão), mas também liberou o peão passado preto. Nesse caso reside a manobra das pretas. 44...Bb3 45.Re1 Bf4+ 46.Kh1 Se 46.Kg1, 46...Bd5 47.Rf1 d3. 46...Bd5 47.Rd1 Rg8 48.Rxd4 Rh8+ 49.Kg1 Be3+ 50.Kf1 Bxd4 51.Nxd4 Rf8+ 52.Kg1 Rg8 53.Nf5+ Ke6 54.Ne3 Bxg2 55.Nxg2 Rg3 56.Kf2 Rxa3 57.Ne3 Rb3 As brancas abandonaram. As conquistas do par de bispos nesta partida têm muitas faces. Atraíram e bloquearam os peões, até que a maioria hostil transformou-se em inofensiva. Em seguida, o rei inimigo foi bombardeado em todas as diagonais possíveis. Finalmente, concederam um peão passado significativo em d4 e sob a sua influência, o peão se transformou em um gigante.

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5 - Manobras alternadas contra debilidades inimigas, quando se dispõe de vantagem espacial Na combinação estratégica contra debilidades inimigas, o fator mais importante é a vantagem de espaço por parte do atacante. Essas debilidades se apresentam como conseqüência da pressão sobre o campo de operações do adversário, como na partida 71 e na partida 73. Quando o adversário tem duas debilidades e estas são atacadas de forma alternada, tais debilidades podem ser tratadas em separado, colocando-as sob fogo uma de cada vez e durante esse processo, o atacante confiará na superioridade existente em suas linhas de comunicação. A derrota estará assegurada para o defensor, pois em dado momento ele não conseguirá acompanhar a rapidez do reagrupamento das peças do adversário. A chave da estratégia que estamos examinando reside, com clareza, na utilização adequada das linhas de comunicação. Mas, em que consistem tais linhas? Quase sem exceção, as comunicações passam por uma casa determinada, que em conseqüência, constitui-se no eixo sobre o qual giram as operações alternadas. A relação entre o ponto e as peças que se dirigem ao campo do adversário através desse ponto, corresponde ao contato existente entre um ponto forte e suas peças superprotetoras. Na partida contra Schlage (partida 71) – Brancas: Kg1, Nb2, Nd2, Pc3,

Pf3, Pg2 e Ph3; Pretas: Kc6, Bd5, Ne5, Pb5, Pe6, Pf5 e Pg5, a casa d5 constituise nesse pivô. Com ameaças à ala do rei, as pretas conseguiram desviar os defensores brancos da entrada (os cavalos) e logo em seguida penetraram através de ...Bc4, seguido de ...Nd3 e ...Nb2. Convém notar que através de d5, se revelaram as casas débeis das brancas (c4 e d3). No final de damas contra Antze (partida 75), a casa d4 (em conjunto com as casas conectadas e5 e f6) funcionou como pivô. A curva descrita pela dama foi d4-f6-f7-e8-f7-f6-d4. Na partida contra von Gottschall, vemos um zugzwang que funciona como deus ex machina. O defensor se viu obrigado a destruir uma posição defensiva, elaborada com grandes dificuldades, quase, por assim dizer, com suas próprias mãos. Na partida 74, as manobras alternadas são executadas dentro das linhas interiores, enquanto a partida 76 é notável pelo fato de que, em seu caso, o pivô compreende duas casas (e6 e e5), uma branca e outra preta, enquanto o habitual é que o complexo, em seu caso, seja de uma única cor (por exemplo, as partidas 71, 75 etc). As manobras alternadas também podem se dirigir contra uma única debilidade. Em tal caso, a variedade dos ataques (frontais, de ala, pela retaguarda) substitui a variedade de pontos atacados. 141

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O leitor interessado encontrará informação mais detalhada nos comentários às próprias partidas (71-77), tratadas com cuidado especial. Partida 71 Schlage - Nimzovitsch Berlim, 1928 Defesa Siciliana

1.e4 c5 2.Nf3 Nf6 3.Nc3 d5 4.exd5 Nxd5 5.Bb5+ Aqui merecia consideração o lance 5.Ne5. 5…Bd7 6.Bc4 Nb6 7.Be2 Nc6 8.0–0 As brancas, com sabedoria, descartam 8.d4. Por exemplo: 8.d4 cxd4 9.Nxd4 Nxd4 10.Qxd4 Bc6. 8…Bf5 Para controlar as casas centrais (nesse caso, d4 e e4) na medida do possível. No entanto, não há por que ignorar o velho lance clássico 8...e5. 9.Re1 a6 Para indiretamente proteger a casa central e4. 10.d3 e6 11.Ne4 Qc7 12.c3 Rd8 13.Qc2 Nd5 Ambos jogadores agora têm um cavalo no centro e a posição está mais ou menos equilibrada. 14.Bg5 Be7 15.Bxe7 Qxe7 16.h3 0–0 17.Rad1 Rd7 18.Bf1 Rfd8 19.Qc1 h6 20.Kh2 g5 Em função do seu centro forte, as pretas podem se permitir essa pequena alegria, mas sem dúvida seria mais correto jogar 20...Bh7. Por exemplo, se 21.d4?, então 21...Bxe4, seguido de ...Nf6 etc.

Posição após 20…g5 21.Ng3 As complicações derivadas de 21.h4 g4 22.Qxh6 gxf3 23.c4 seriam favoráveis às pretas devido a 23...Ne5 24.gxf3 Nxf3+ e ...Nxe1. Com o lance do texto, as brancas obtêm uma posição claramente equilibrada. 21…Bg6 22.d4 Nb6 Levando em consideração a possível distração que se produziria com ...Na4. 23.dxc5 Qxc5 24.Rxd7 Rxd7 25.Kg1 Qe7 Uma retirada fundamentada. A dama já não tinha mais um grande raio de ação em c5 e inclusive ficava um pouco exposta, no caso de b4 seguido de a3 e c4. 26.Rd1 Rxd1 27.Qxd1 Qd8 28.Qc1 Kg7 29.Qe3 Nd5 30.Qd2 Nf4 31.Qxd8

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5 - Manobras alternadas contra debilidades inimigas

A partida tende em direção ao final, no qual as pretas, em função da maior mobilidade do seu rei, estão melhor preparadas. 31...Nxd8 32.Ne5! Bb1 33.a3 f6 34.Nd7! Kf7 35.Nc5 Um posto excelente para o cavalo. 35…Ke7 36.Bc4 f5 37.Ne2 Isso concede às pretas oportunidade de eliminar o precioso bispo branco, mas 37.Nf1 Kd6 38.b4 b5 39.Bb3 Ne2+ 40.Kh2, seguido de 40...a5! teria sido ainda mais desfavorável à causa das brancas. 37…Kd6 38.b4 Ba2! 39.Nxf4 Bxc4 40.Nh5 b6 41.Na4 Bb3! 42.Nb2 Se 42.Nxb6?, seguiria 42...Kc7! 43.Na8+ Kb7. 42...Nf7 43.Ng3 Ne5 44.Nf1 b5 A posição das pretas é muito superior, mas é difícil progredir, pois os cavalos brancos são bons vigilantes da entrada. 45.Nd2 Bd5 46.a4 h5 47.axb5 axb5 48.f3 Kc6

Posição após 48...Kc6 O início de um complicado jogo alternado. As duas debilidades necessárias da posição das brancas se destacam claramente. Na ala do rei, a ameaça ...g5-g4 (ou também ...e6-e5-

e4) e na ala da dama é ameaçada a penetração decisiva do rei preto por c4. O pivô em primeiro lugar seria a casa d5, assim como todo o território em volta, como por exemplo c4 e as casas disponíveis após a ocupação desta. O lance de rei permite que se mova o cavalo, pois se c4 (após ...Nf7), as pretas ganhariam um peão após ...bxc4; Nxc4 Bxc4; Nxc4 Kb5. 49.Kf1 As brancas já se vêem sob os efeitos da obrigação. Se 49.Kf2 (ao invés de Kf1), então 49...g4 50.hxg4 hxg4 51.fxg4 Nxg4+ 52.Kg1 Ne3, com conseqüências desagradáveis para elas. 49...h4 50.Nd1 Bc4+ Veja o comentário ao lance 48. 51.Kg1 Se 51.Nxc4, segue 51...Nxc4 52.Ke2 Kd5 53.Kd3 e5 e as brancas estão em desvantagem. 51...Nd3 52.Ne3 Também aqui seria duvidoso Nxc4. Por exemplo: 52.Nxc4 bxc4 53.Ne3 Kb5 54.Nc2 Ka4 55.Nd4 e5 56.Nxf5 Kb3 57.b5 Kxc3 etc. 52…Bd5 53.Nc2 Nb2 54.Nd4+ Kb6 55.Kh2 Nd1 56.Ne2 e5 O cavalo preto utilizou c4 como um trampolim e as brancas, nos últimos lances, perderam terreno. 57.Kg1 Se 57.g3, seguiria simplesmente 57...f4. 57…Kc6 58.Kf1 Ba2 59.Kg1 Ne3 60.Kf2 Nd5 61.g4 Era ameaçado …Nf4. Por exemplo: 61.Kf1 Nf4 62.Nxf4 gxf4 63.Ke2 Kd5, seguido de ...e4 e ...e3, vencendo. Observe a plena utilização do pivô d5, tanto por parte do bispo, como pelo 143

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cavalo. 61…hxg3+ 62.Kxg3 Nf6 63.Kf2 O avanço planejado, h4, fracassaria devido a 63...f4+ 64.Kh3 Be6+. Agora, a debilidade na ala do rei se tornou perceptível (logo o peão h3 será o menininho doente da família...). 63...Kd6 64.Ng3 Ke6 65.Ne2 Nd5 66.Kg3 Nf6 67.Nc1 Bd5 68.Nd3 Nh5+ 69.Kh2 e4 Finalmente a maioria de peões se pôs em marcha. Como o rei branco está amarrado ao ponto fraco de h3 e já não pode auxiliar na contenção da ruptura hostil, a catástrofe se aproxima. 70.fxe4 fxe4 71.Ne1 Nf4 72.Nc2 Ne2! Pela segunda vez o cavalo penetra no território inimigo. 73.Nb1 Se 73.Nxd4+?, 73...Nxd4 74.cxd4 e3 e as pretas vencem. 73...Bc4 74.Kg2 Bd3 75.Nca3 Nf4+ 76.Kf2! As brancas oferecem uma isca, mas... 76...Nd5! ...seu adversário diz não. Agora ambos cavalos estão afogados! 77.Kg3 Ou também 77.Nd2 e3+ etc. 77...e3 78.Kf3 Ke5

Posição após

78...Ke5

79.c4 Forçado, pois se 79.Kg3, segue 79...Nf4 80.Kf3 e2 81.Kf2 Ng2 e tudo estaria terminado. 79...bxc4 80.b5 Kd6 81.b6 Kc6 82.b7 Kxb7 83.Nb5 Zugzwang. As brancas não têm lances. 83…Bxb1 84.Nd6+ Kc7 85.Nxc4 Bf5 As brancas abandonaram. Essa partida durou doze horas. Tratase de um dos meus melhores finais, pois Schlage se defendeu magnificamente. Partida 72

von Gottschall - Nimzovitsch

Hanover, 1926 Defesa Francesa

1.e4 e6 2.d4 d5 3.Bd3 c5 4.c3 dxe4 5.Bxe4 Nf6 6.Bf3 Tira do cavalo a sua casa natural de desenvolvimento e favorece o avanço libertador ...e6-e5. 6...Nbd7 7.Ne2 Be7 8.0–0 0–0 Sem razão aparente as pretas renunciam a 8...e5 e devido a isso enfrentarão dificuldades. 9.Be3 cxd4 10.cxd4 Nb6 11.Nbc3

Posição após

11.Nbc3

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5 - Manobras alternadas contra debilidades inimigas

11...Qd7!! Para consolidar a posição o mais rápido possível, com ...Rfd8 e ...Nd5. 12.Rc1? Seria preferível 12.Qb3, para seguir com Nf4-d3, que teria permitido explorar seu peão central isolado. 12...Rd8 13.Qb3 Nfd5 14.Nxd5 As brancas jogam para empatar. 14...Nxd5 15.Bxd5 Qxd5 16.Qxd5 Rxd5 17.Nc3 Ra5 18.Rfd1 Bb4 Para impedir d4-d5. 19.a3 Bxc3 20.Rxc3 Bd7 Empate morto? A partida está liquidada? Não, continua havendo jogo na posição e a verdadeira luta ainda está por começar. O grande debate sobre os prós e os contras do peão isolado só terá lugar no terceiro ato. 21.Rc5 Rxc5 22.dxc5 Bc6 O peão isolado não somente é um peão débil, como também uma casa débil, pois as casas vizinhas d5, c4 e e4 são difíceis de serem protegidas e nem sequer com o desaparecimento do peão esse fato será alterado. Consulte os comentários preliminares ao capítulo 4. 23.f3 f6 24.Kf2 Kf7 25.Rd4 a5 26.g3 Parece melhor 26.b3 e se 26...Bd5, 27.Rd3. Depois de 28.h3 a posição das brancas dificilmente seria atacável. 26...a4 27.f4 h5 28.h3 Rh8! Medida preventiva contra o avanço g3-g4. 29.Rd1 Kg6 30.Rd4 Kf5 31.Bd2 Rf8! 32.Be1 e5 33.fxe5 fxe5 34.Rh4 g5 35.Rb4 Se 35.Rxh5??, 35…Kg6+ vence. 35…Ke6+ 36.Ke2 e4 37.Bf2 Rf3

Posição após 37...Rf3 Agora se criou a base para as operações alternadas sistemáticas, pois tanto a casa c5, como a casa h3, tendem a serem débeis. Após ...h4; gxh4 gxh4; Bxh4, o ponto c5 ficaria indefeso por um instante. Mas, de que forma essa insignificância pode ser explorada? 38.Rb6 Ke5! 39.Rb4 Kd5! Chegou-se a uma graciosa posição de zugzwang, na qual as brancas não dispõem de nenhum lance razoável. Se 40.Rb6, então 40...h4 41.gxh4 gxh4 42.Bxh4 e agora as pretas jogam 42...Kxc5 atacando a torre (precisamente por esse motivo foi atraída a b6). Se, por outro lado, 40.Rd4+, Kxc5 e a resposta 41.Rxe4? não adianta, devido a 41...Rxf2+. 40.h4 As brancas não querem levar a sua torre a b6, porém agora o rei preto consegue penetrar em sua ala. 40...gxh4 41.gxh4 Rh3 42.Rd4+ Ke5 43.Rd8 Bd5 A vitória agora não é muito difícil. Apesar dos xeques incômodos, o exército preto, como um conjunto homogêneo, continua ganhando terreno. As manobras alternadas agora têm objetivos bem

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definidos e dispõem de um território excelente para o seu desenvolvimento, com o pivô na casa g4. O restante necessita apenas de comentários simples.

Posição após 43…Bd5 44.Re8+ Be6 45.Rd8 Ameaçava-se 45…Rb3. 45…Kf4 46.Rf8+ Bf5 47.Rf7 Rh2 Não 47…e3, devido a 48.Bg1!. 48.Re7 Bg4+ 49.Ke1 Se 49.Kf1?, 49...Rh1+ 50.Bg1 Kg3 etc. 49…Kf3 50.Rf7+ Kg2 51.Kd2 Kf1! 52.Ke3 Bf3 53.Bg3 Rxb2 54.Bd6 Rb3+ 55.Kd4 Kf2 56.Rg7 e3 57.Bg3+ Kf1 58.Rf7 e2 59.Re7 Bc6 As brancas abandonaram. Essa luta, que considero uma das minhas melhores partidas, também é significativa com relação à debilidade de peões isolados no final.

Partida 73

von Holzhausen - Nimzovitsch

Hanover, 1926 Defesa Francesa

1.e4 Nc6 2.Nf3 e6 3.d4 d5 4.exd5 exd5 5.Bg5 Be7 6.Bxe7 Qxe7+

7.Qe2 Jogando pelo empate, pois, se assim não fosse, a resposta 7.Be2 seria perfeitamente factível. Por exemplo: 7...Qb4+ 8.Nc3!. 7…Bf5 8.c3 Be4 Com a ocupação deste posto avançado, as pretas iniciam a operação na coluna e. 9.Nbd2 0–0–0 10.0–0–0 Nh6! Contra o lance libertador 11.Ne5, que seria bom frente ao lance 10...Nf6. 11.Ne5 Aqui preferiríamos 11.h3. Por exemplo: 11...a6 (para impedir Qb5) 12.Qe3. 11...Nxe5 12.dxe5 Bg6

Posição após 12...Bg6 O jogo alternado está em processo de preparação. As debilidades brancas são o seu peão de e5 e sua desprotegida diagonal b1-g6, sendo o pivô das operações o ponto diagonal fortificado de e4. 13.Nf3 Rhe8 14.Qe3 Kb8 15.Qf4 Be4! Veja o comentário anterior. 16.Re1 O lance 16.Bb5 perderia um peão, após 16...Bxf3 17.gxf3 Qxe5. 16...Qc5 17.Nd2 Bg6 18.Nb3 Qb6 19.Qd4 f6 20.f4 fxe5 21.fxe5

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5 - Manobras alternadas contra debilidades inimigas

Ou também 21.Rxe5 Rxe5 22.Qxe5 Re8. 21...Be4 22.Nd2 c5 23.Qe3! No caso de 23.Qa4, seguiria 23...Rxe5 24.Nxe4 dxe4 25.Rxe4 Qe6 26.Rxe5 Qxe5, vencendo. 23...Rxe5 24.Qg3 Qc7 25.Bd3 Rde8 26.Bxe4 dxe4 27.Nc4 R5e6 28.Qxc7+ Kxc7 29.Ne3! Agora as brancas criaram uma excelente posição de bloqueio e um possível triunfo das pretas só pode ser divisado em um futuro distante. 29...Nf7 Para centralizar o cavalo mal situado em d6. A alternativa seria 29...Rf8 (para lutar pela coluna) 30.Rhf1 Ree8 31.c4 Kc6 32.Kc2 e agora 32...g6!, com a idéia de ...Nf5. Se então 33.g4, seguiria 33...Rf3. É difícil dizer qual a continuação preferível. 30.Kc2 Nd6 31.c4 Kc6 32.Rhf1

Posição após 32.Rhf1 32...Rh6! Esse lance nasce de um conhecimento preciso das leis do ataque alternado. As pretas terão que atuar na ala com ...a6, seguido por ...b5 e como as forças adversárias estão plenamente ocupadas em manter o peão e em observação, devem ter a oportunidade de entrar em

jogo através das colunas b e a. Dali será necessário criar um pivô para as manobras alternadas. Mas continua faltando a segunda debilidade na posição inimiga. A primeira é a obrigação de manter controlado o peão de e4. O lance de torre a h6 tem o objetivo de provocar essa segunda debilidade, que na seqüência será de importância decisiva no decorrente final de torres. 33.h3 Rg6 34.Re2 a6 35.Rf4 b5 36.b3 Rg5 37.g4 Rge5 38.Kc3 a5!

Posição após 38…a5! Com a idéia de uma dupla troca de peões, depois do que nada impediria que as torres entrassem em jogo. Por exemplo: Re5-e7-a7-a3 (a1). 39.Ref2 a4 40.bxa4 bxc4 Ao se decidirem por esse lance, as pretas tiveram que considerar o final de torres que se produziria depois do lance 44. 41.Rf8 R5e7 E não 41...Rxf8, uma vez que a torre branca penetraria na posição inimiga. 42.Rxe8 Rxe8 43.Nxc4 Nxc4 44.Kxc4 Ra8 45.Rf7 Ou também 45.Kb3 Kd5 etc. 45...Rxa4+ 46.Kb3 Rb4+ 47.Kc3 Rb7 Nesse final, a ala do rei aberta (com os

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

peões brancos nas casas h3 e g4) é uma debilidade decisiva, como veremos a seguir. 48.Rf5 Ra7 49.Kc4 Ra4+ 50.Kb3 Rd4 51.Re5 Kd6 52.Re8 Rd3+ 53.Kc4 Rxh3 Repasse os comentários aos lances 47 e 32. 54.Rxe4 Ra3 55.Re2 Ra4+ As pretas venceram. Os últimos lances foram: 56.Kb5 Rxg4 57.a4 Rb4+ 58.Ka5 h5 59.Rh2 Kc6 60.Re2 Rg4 61.Re6+ Kd5 62.Re8 h4 63.Rd8+ Kc4 64.Kb6 h3 65.Rd1 Kb4 66.Rb1+ Kxa4 67.Kxc5 g5 68.Rh1 Rg3 69.Kd4 g4 70.Ke4 Rg2 71.Kf4 h2 As brancas abandonaram. Nessa partida, a conexão lógica entre as manobras alternadas e as duas debilidades sobressaem claramente como tema. Partida 74 Nimzovitsch - Berger Londres, 1927 Abertura Inglesa

A característica mais destacada das manobras alternadas nessa partida é que se executam desde linhas interiores, ou seja, desde o próprio campo do atacante. A abertura se resolve a favor das brancas. 1.c4 Nf6 2.Nc3 d5 3.cxd5 Nxd5 4.g3 Nxc3 5.bxc3 g6 6.Bg2 Bg7 7.Qb3 Se as pretas tivessem jogado 6...c5 (ao invés de 6...Bg7), agora teriam uma defesa fácil, com 7...Qc7. 7...c6 8.d4 0–0 9.Ba3 Nd7 De repente as brancas se encontram em um estado de perplexidade, pois as

pretas ameaçavam, com ...Nb6 e ...Be6 ocupar a casa c4 das brancas. O que se pode fazer contra esse plano?

Posição após 9…Nd7 10.Bh3 Uma drástica medida preventiva. As brancas têm a intenção de eliminar a todo custo o bispo incômodo. 10...Re8 11.f4 Qc7 12.Nf3 Nf6 13.Bxc8 Outra possibilidade seria 13.Ng5. 13…Raxc8 14.0–0 e6 15.Rad1 A concentração sobre a coluna d é uma medida profilática contra ...c5 (veja o comentário seguinte). 15...b6 16.c4 Red8 17.Rd3 Agora, a 17...c5 se responderia 18.dxc5 e se 18...bxc5, 19.Rfd1. 17...Bf8 18.Bb2 Bg7 19.Ba3 Bf8 20.Bxf8 Rxf8 21.Qb2 Qe7 22.Ne5 Rfd8 23.Rfd1 Ne4 Agora o avanço libertador ...c5 perdeu todo o seu atrativo e o talentoso mestre inglês busca outro caminho, baseado no lançamento de uma ação central obstrutiva. 24.Qc2 f6 25.Nf3 b5 26.c5 Também merecia consideração 26.Nd2. 26...f5

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5 - Manobras alternadas contra debilidades inimigas

Conseguindo dessa maneira a consolidação do centro. 27.Re3 O pedido imediato de explicações com 27.Nd2 seria refutado da seguinte maneira: 27.Nd2 Nxd2! 28.R3xd2 Rd5 29.e4 fxe4 30.Re2 (a torre na frente da dama parece ser a melhor disposição de forças) 30...Qf6 31.Rxe4 e com o lance preventivo 31...h5! a posição das pretas seria satisfatória. 27...a5 28.Ne5 Rc7 29.a3 Kg7 30.Kg2 Com a idéia de g3-g4-g5, seguido de h2-h4-h5 etc. 30…h5

O contra-sacrifício 33...Rxc6 34.Qxc6 Rxd4 não serviria, devido ao lance intermediário 35.Qc7+ e se por exemplo 35...Kh6, as brancas trocam as torres e jogam Qd6!, ou também 35...Kg8 36.Rb1 b4 37.Qxa5 e ganham. 34.Ne5 Se 34.Nxa5, 34...Rcxc5. 34...Qf5 35.Qd3 Qxd3 A 35...Rcxc5 se ameaçava 36.e4. 36.Rxd3 Rd8 37.Kf3 Rb8 38.Rb3 O bloqueador se dispõe a dar o golpe de misericórdia. 38...b4 39.a4 Rd8 40.Ke4 Rcc8

Posição após 30…h5 31.Rxe4 Era evidente esse sacrifício de qualidade? Certamente. Mas tinha que ser visualizado um plano defensivo apropriado contra a maioria hostil na ala da dama e isso não era fácil. Também era essencial para as brancas adquirir a certeza de que, uma vez contida essa maioria, teriam uma posição vencedora, sobre a base de que uma manobra alternada eficaz se conseguiria a pleno rendimento. Logo ficará claro como devemos entender essa última colocação. 31…fxe4 32.Qxe4 Qf6 33.Nxc6 Rd5

Posição após 40…Rcc8 A ameaça principal e decisiva das brancas é obter dois peões passados e unidos, levando o seu rei a c4, seguido dos avanços e4 e d5. Mas há dificuldades no caminho até c4. Por exemplo, 41.Kd3 de imediato seria um erro grave, devido a 41...Rxc5. Devido a isso, trata-se de alcançar o objetivo proposto através de lentas manobras alternadas. 41.Nc4 Ra8 42.Re3 Kf6 43.Nd2 Ke7 44.Nb3 Isso destaca as manobras alternadas. A casa de bloqueio b3 é ocupada sucessivamente por torre e cavalo,

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

enquanto que a peça móvel pode desenvolver qualquer ataque. No lance 55 se obtém a mesma posição do que no lance 40, com a diferença importante de que o rei branco ocupa o desejado ponto forte de c4. 44…Ra6 45.Kd3 Rd5 46.h4 Ra8 47.Kc4 Kd7 48.Rd3 Kc7 49.Rd1 Rd7 50.Rg1 Rf7

Posição após 50…Rf7 51.Rb1! O lance secreto. A troca da guarda. 51...Kb7 A tentativa de ruptura através de 51...g5 não é adequada, devido à sensacional parada 52.Rg1!. 52.Nd2 Kc6 53.Nf3 Kc7 54.Ne5 Rg7 55.Rb3 Rb8 56.e4 Abre passagem para a batalha final. 56…Rgg8 57.d5 exd5+ 58.exd5 Rge8 59.d6+ Kd8 60.Kd5 Rb7 61.c6 As pretas abandonaram.

Partida 75 Nimzovitsch - Antze Hanover, 1926 Defesa Irregular

Aqui também as manobras alternadas, baseadas nas debilidades do adversário, levam o selo de originalidade. O lado que assume tais

manobras – as brancas – ameaçava executar uma manobra defensiva, que teria erradicado todo possível contra-jogo. Na tentativa de neutralizar essa operação, as pretas criaram uma segunda debilidade, que deixou a sua posição definitivamente comprometida. 1.d4 Nf6 2.c4 g6 3.g3 Bg7 4.Bg2 0–0 5.f4 d6 6.Nf3 c6 7.0–0 d5 8.cxd5 cxd5 9.Ne5 Qb6 10.Nc3 Rd8 11.b3! Na6 Se 11...Nc6, seria possível a combinação 12.Ba3! Nxd4 13.Na4 Nxe2+ 14.Kh1 Qa6 15.Bf3. 12.Ba3 Bf8 13.Na4 Qb5 14.Qd3 Qa5 Seria mais simples a troca das damas. 15.Rfc1 Bf5 16.Qc3 Qb5 17.Bf1 Ne4 18.Qe1 Qe8 19.e3

Posição após 19.e3 As brancas conseguiram expulsar a dama preta do triângulo b6-b5-a5, mas as pretas poderiam ter jogado em função da ruptura ...e5, com 19...f6 20.Nf3 Bg4, seguido do avanço ...e7-e5. Não o fazem e no lugar disso cometem um grave erro que deveria ter produzido uma decisão rápida. 19...b5? 20.Nc6 Rdc8 21.Bxb5 Bd7 22.Bxa6 Rxc6 23.Bb7 Rxc1 24.Rxc1 Rd8

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5 - Manobras alternadas contra debilidades inimigas

Se 24...Rb8, então 25.Bxd5 Nf6 26.Bf3 Bxa4 27.bxa4 Qxa4 28.Qc3, eventualmente seguido por Bc6, com posição vencedora.

Posição após

24…Rd8

25.Nc5 Também aqui seria forte 25.Bxd5. Por exemplo: 25.Bxd5 Nxg3 26.hxg3 Bxa4 27.Bxf7+ Qxf7 28.bxa4 Qxa2 29.Qc3, trocando as damas, com o que o final estaria vencido com facilidade pelas brancas. 25...Bc8 26.Bxc8 Era de se considerar 26.Bxd5. 26...Rxc8 27.Qa5 e6 28.Nxe4 dxe4 29.Rxc8 Qxc8 30.Bc5 Bxc5 31.Qxc5? Com esse erro feio, devido ao cansaço, as brancas quase desperdiçam a partida. O lance 31.dxc5 teria forçado a rendição do adversário em poucos lances. Se então 31...Qd7, que parece torpe, seguiria 32.Qc3! Qd1+ 33.Kf2 Qf3+ 34.Ke1 (com escapatória fácil por a3) e decisão imediata. Depois do pífio lance do texto, as brancas terão que vencer a partida pela segunda vez. 31...Qa6! 32.Qc2 Qa5 33.Kf2 Qh5 34.Qxe4 Qxh2+ 35.Qg2 Qh5 36.g4 Qa5 37.Kg3 h6 Teria sido melhor 37...Qc3.

38.Qf2 Qc7 39.Kh3 f5 40.gxf5 gxf5 41.d5 exd5 42.Qg2+ Kf7 43.Qxd5+ Kf6

Posição após 43…Kf6 Agora começa um jogo alternado que será muito prolongado. As debilidades na posição das pretas são: (a) a ala da dama, onde as brancas pensam em criar um peão passado; (b) a ala do rei, onde o monarca das brancas ameaça romper por h5. Os xeques da dama branca, a partir da retaguarda, necessitarão de respostas precisas, levando em conta que os peões pretos estão isolados. Por outro lado, a dama branca ocupará uma posição centralizada, por exemplo em d4, o que permitirá ao seu rei guarnecer-se devidamente (veja o comentário ao lance 65). As opções de contra-jogo das pretas residem na repetição de xeques. 44.Qd4+ Kg6 45.Qd2 Kf6 46.Qb2+ Kg6 47.b4 Qc4 48.Qd2 Kh5 49.a4 a6 50.Kg3 Qg8+ Basta um modesto lance de rei (Kg3) para que as pretas se vejam obrigadas a adotar medidas defensivas na ala do rei. Esta reação compulsiva, frente à menor ameaça, é uma conseqüência da situação no tabuleiro. 51.Kh2 Qc4 52.Qb2 Qd3 53.Qg2

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

Qc4 Seria um erro grave 53...Qxe3?? devido a 54.Qh3+, trocando as damas. 54.Kg3 Qg8+ Parece melhor 54...Qd3. 55.Kh3 Qc4 56.Qf3+ Kg6 57.Kh4 Kg7 No caso de 57…Qxb4, seguiria 58.Qc6+ e 59.Kh5. 58.Qb7+ Kg6 59.Qb6+ Kh7 60.Qf6!

Posição após 60.Qf6! A ocupação dessa casa importante significa um passo à frente. 60…Qd5 61.Kg3 Qg8+ 62.Kh2 Qa2+ 63.Kh3 Qd5 64.Qe7+ Kg6 65.Qe8+! Essa casa é ainda mais importante do que f6. 65...Kh7 Depois desse lance, as brancas venceriam com o avanço 66.a5 sem o menor perigo. Mas também no caso de se jogar 65...Kf6 66.Kg3 Qd3! (na situação a melhor defesa) 67.a5!, a posição é razoavelmente segura. Vejamos uma continuação possível: 67...Qf1(no caso de se jogar 67...Qb1, segue 68.Qc6+ e em seguida 69.Qb7+ e 70.Qxa6, como na partida) 68.Qe5+ Kg6 69.Qe6+ Kg7 70.Qxf5 Qg1+

71.Kf3 Qf1+ 72.Ke4 Qc4+ 73.Ke5 Qb5+ 74.Ke6 e as brancas vencem. Essa linha ilustra com nitidez as dificuldades defensivas das pretas, as quais nos referimos anteriormente. 66.Kg3 Qb3

Posição após 66...Qb3 67.a5! A melhor alternativa, pois a ameaça b5 agora tem um peso decisivo. Outra linha a levar em conta é a seguinte: 67.Qd7+ Kg6 68.Qc6+ Kh7 69.Qb7+ Kg8 70.Qb8+ Kh7 71.Qa7+ Kg8 e agora jogar 72.Kh4. 67...Qb1 Era melhor jogar o ativo 67...Qd3, depois do qual não seria fácil nenhuma linha vencedora. Por exemplo: 68.Qf7+ Kh8 69.Qf6+ Kh7 70.Qd4! e agora há duas variantes, dependendo de para onde as pretas movam a dama; as opções são b1 ou f1. Em ambos os casos segue 71.Qd7+ e as brancas venceriam, tomando o peão a, ou o peão f, que sempre restará desprotegido. Por exemplo: 70...Qb1 71.Qd7+ Kg6 72.Qc6+ Kg7 73.Qb7+ Kg8 74.Qxa6, como na partida, ou também 70...Qf1 71.Qd7+ Kg6 72.Qe6+ Kg7 73.Qxf5, com a mesma escapada do rei que no comentário ao lance 65 das pretas.

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5 - Manobras alternadas contra debilidades inimigas

Assim, após uma estratégia alternada duradoura, vemos que os peões débeis das pretas caem em cada caso, como um triunfo da lógica alternada. 68.Qd7+ Kg6 69.Qc6+ Kg7 70.Qb7+ Kf8 71.Qxa6 Qe1+ 72.Kf3 Qd1+ 73.Qe2 Qd5+ 74.Kf2 Qd8 75.a6 Qh4+ 76.Kg2 Qe7 77.Qf3 Qc7 78.b5 Qg7+ 79.Kf2 Qb2+ 80.Qe2 Qa1 81.b6 As pretas abandonaram. A ameaça defensiva das brancas (fuga do rei, após criar uma posição segura no centro) exerceu uma influência duradoura sobre o curso dos acontecimentos. Uma posição típica seria: Brancas – Kg3, Qd4, Pa5, Pe3 e Pf4; Pretas – Kg6, Qh1, Pf5 e Ph6. As brancas jogam Kf2! e o rei escapa em direção à ala da dama. Resta determinar o pivô das manobras alternadas: deve ser na diagonal d4-f6. A variante principal é convincente a respeito, pois (após 67...Qd3! em lugar do mais fraco 67...Qb1) a dama regressa de e8 a f6 e d4. Um exemplo muito instrutivo sobre a estratégia alternada. Concluiremos esse capítulo com dois finais de partida.

Partida 76 Nimzovitsch - Petersen Copenhagen, 1928 Abertura Bird

1.b3 d5 2.Bb2 Bf5 3.e3 e6 4.f4 Nf6 5.Nf3 Nbd7 6.g3 Bd6 7.Bg2 Qe7 8.0–0 e5! Meu jovem adversário joga com uma deliciosa despreocupação.

9.fxe5 Nxe5 10.Nxe5 Bxe5 11.d4 Bg4 12.Qd3 Bd6 13.c4 c6 14.cxd5 cxd5 15.Nc3 Be6 16.Qb5+ Qd7 17.e4 Teria sido melhor trocar as damas antes de realizar esse avanço: 17.Qxd7+ Kxd7 18.e4. 17...dxe4 18.Qxd7+ Bxd7 Agora o rei preto não tem por que permitir que lhe aborreçam. 19.Nxe4 Nxe4 20.Bxe4 Rb8 21.Bd5 0–0 22.Kg2! Lance preventivo (contra ...Bh3) e também de restrição. 22...b6 23.Rac1 Rbc8 Parece mais apropriado jogar na coluna e: 23...Rbe8, seguido de ...Be6 e ...Re7.

Posição após 23...Rbc8 24.Rxc8! Bxc8 25.Bc6! Para seguir com d4-d5, com o que o peão e o bispo comporão um belo quadro. 25...Rd8 26.Rc1 Kf8 27.d5 Ba6 28.Re1 f6 29.Re4 Bc8 30.Ra4 a6 31.Bc3 Kf7 32.Be1 h6 33.b4 Bc7 34.b5 a5 Agora o bispo, firme como uma rocha, se encontra de certa forma um pouco prisioneiro.

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A Prática do Meu Sistema - A. Nimzovitsch

35.Bf2 Kf8 36.Re4 Kf7 37.Rc4 Bf5 38.g4 Bb1 39.a3 Ba2 40.Rd4 Bb3 41.Rd2 a4 42.Kf3 g6 43.Ke4

43.Ke4 As debilidades na posição das pretas têm mais a ver com as casas do que com os peões. Estão situadas, quase que sem exceção, na coluna e e as brancas poderiam assumir o controle tanto de e6 como de e5, por exemplo, com Bg3, a troca dos bispos na seqüência, após Kd4 e a manobra Rd2-e2-e6. Ou também h2-h4, g4-g5 e após ...hxg5, hxg5 f5+, ...Kf3, seguido de Bf2-e3-f4, troca de bispos e Ke5. Na partida seguiu: 43...h5 As pretas não encontram o plano correto. Deviam ter jogado 43...g5, uma vez que em tal caso, seria abortada a tentativa das brancas de conquistar e5, enquanto o ataque a e6 seria refutado da seguinte maneira: 43...g5 44.Bg3 44...Bd6 45.Bxd6 Rxd6 46.Kd4 Kf8 47.Re2 Kf7 e as brancas não podem progredir (se 48.Re8?, 48...Rxc6!). Se depois de 43...g5! as brancas tentassem 44.Bd4, a continuação simplesmente seria 44...Bc4 45.Rf2 Rd6 46.Be5? Rxc6. Depois de 43...g5 as brancas não

podem vencer, pois têm um bispo a menos em jogo e o peão de d5 precisa de proteção. Apesar de estarem fortes na coluna e, isso não basta para vencer. 44.gxh5

Posição após

Posição após 44.gxh5 44...f5+ Depois de 44...gxh5, o método antes indicado conduziria mais rapidamente em direção ao objetivo, já que agora o peão h5 das pretas se constituiria na segunda debilidade. Por exemplo: 44...gxh5 45.Bg3 Bd6 46.Bxd6 Rxd6 47.Kd4 Kf8 48.Re2 Kf7 e agora 49.Re3!. Por exemplo: 49...Bd1 50.Be8+ Kf8 51.Bg6 Bb3 52.Re8+, seguido de Be4, com posição ganhadora. 45.Kf3 g5 Ou também 45...gxh5 46.Bh4 Rd6 47.Bg3 f4 48.Bxf4 Rf6 49.d6. 46.Bg3 Bd6 Se 46...f4, naturalmente segue 47.Bf2 e h4 etc. 47.Bxd6 Rxd6 48.Kg3 Kg7 49.h4 Kh6 50.hxg5+ Kxg5 51.Kf3 Kxh5 52.Kf4 Kg6 53.Ke5 Rd8 54.d6 Kf7 55.Rf2 Be6 56.Rf4 As pretas abandonaram.

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5 - Manobras alternadas contra debilidades inimigas

Partida 77 Cohn - Nimzovitsch Carlsbad, 1911 Final

Posição após

63.Kg2

63…a5 Para dar ao rei um refúgio seguro na casa a7. 64.h4 Kg6 65.Kh2 h5 66.Kg2 Kh6 67.Rf2 g6 68.Rf1 Kg7 O rei preto inicia a sua peregrinação em direção à casa a7. 69.Rf2 Kf7 70.Kh2 Ke7 71.Re2 Qc1 72.Qf2 Kd7 73.Re1 Qc6 74.Kg2 Rg4 A concentração ao redor das debilidades inimigas é uma das armas mais poderosas da estratégia alternada. Também já poderia ter sido jogado 74...Kc7. 75.Rf1 Se 75.Re2 (para dificultar ...Kc7), então talvez 75...Re4 76.Kh2 Qc1 77.Kg2 Qd1 78.Kh2 Qd3 e o rei preto se dirige a a7, depois do que as coisas tomarão o rumo devido. 75...Qc7 76.Qf3 Kc8 77.Qf2 Kb8 78.Kh3 Ka7 79.Rg1 As brancas devem ter em conta a possibilidade ...g6-g5, mas também

muitas outras ameaças, pelo que não é de estranhar que a luta tome um mau aspecto para os seus interesses. Seguiu: 79...Qd7 80.Kh2 Qd6 81.Kh3 Qc6 82.Re1 Qe6 83.Kh2 Qe4 84.Kh3

Posição após 84.Kh3 84...Qe6 Essa manobra para frente e para trás não somente tem um aspecto psicológico, mas também deve ser entendida como uma sondagem das linhas elásticas de comunicação. A idéia é: as brancas poderão responder com agilidade ao reagrupamento das forças inimigas? 85.Kh2 Qe7 86.Kh3 Qe4 87.Rg1 Qe6 88.Kh2 Re4 89.Rc1 No caso de 89.Re1, as brancas temiam a ruptura 89…g5 90.hxg5 h4 91.gxh4 f4 92.g6 f3, com complicações perigosas. Deixemos que o leitor analise por sua conta se esse temor tinha ou não fundamento. 89…Rxe3 90.Qf4 Re2+ 91.Kh3 Ka6 92.b4 axb4 93.axb4 Kb5 94.Rc7 Qe4 95.Qxe4 Rxe4 96.Rg7 Re6 97.Rd7 Kc4 98.Kg2 Kxd4 99.Kf3 Kc4 100.b5 d4 As brancas abandonaram. Pode ser dito que a lógica da vitória não oferece a clareza desejável, mas uma coisa é certa: as dificuldades que

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enfrentou o defensor eram tão importantes que a possibilidade de empate – como sugerido no livro do torneio – era simplesmente algo fora de cogitação.

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6 - Viagens pelo velho e pelo novo mundo do xadrez hipermoderno A leitura desse capítulo pode induzir o leitor a uma confusão sobre o que é o xadrez hipermoderno, à diferença dos capítulos anteriores. Mas, na verdade, os cinco primeiros capítulos deste livro também merecem essa mesma designação. Assim, restrição e, em especial, superproteção, que quase podemos chamar a vanguarda do xadrez hipermoderno, permanecem aguardando o devido reconhecimento e ainda não são conceitos geralmente aceitos. Isso também ocorreu com minha doutrina sobre o centro e outros cânones de Meu Sistema. Deverá ainda passar um período considerável antes de serem incorporados à teoria hipermoderna. Não se trata em absoluto de nenhum tipo de contraste. A idéia por trás desse capítulo é, em parte, apresentar um incentivo em pequena quantidade, mas em particular demonstrar o valor das primeiras conquistas revolucionárias para o nosso próprio prazer. Consideraremos a escola pseudo clássica (período Tarrasch), da mesma forma que anteriormente, como a encarnação do convencionalismo no xadrez, enquanto na escola hipermoderna estamos inclinados a ver uma tendência honesta por descobrir a verdade autêntica do jogo. Freqüentemente só se trata de uma pequena divergência, porém é o suficiente para mostrarmos os acontecimentos com sua luz verdadeira, no

lugar do brilho frio e irreal do período do formalismo. Bastará um exemplo. O princípio ao qual me refiro na terceira seção deste capítulo estabelece que uma formação sólida central justifica uma diversão de ala, por mais que o objetivo esteja longe de ser claro. Se agora essa formação central sólida devesse ser entendida no sentido da escola ortodoxa (ou seja, pelo menos um número de peões centrais igual ao do adversário e igualmente avançados), todo o preceito seria errôneo e irreal. O mesmo ocorreria se omitíssemos a expressão objetivo confuso. A chave, na realidade, reside em que, nesse caso concreto, defendemos com seriedade total um ataque arriscado. Dito isso, vamos analisar os diversos componentes deste capítulo. 1 – A tese da ineficácia comparativa do avanço de peões em massa

No ano de 1911 o autor introduziu pela primeira vez essa estratégia, que logo se tornou eficaz. Da partida de referência (Spielmann-Nimzovitsch, San Sebastian 1911), na qual se realizaram os lances 1.e4 c5 2.Nf3 Nf6!! foram surgindo, dentre outras, as linhas de jogo 1.d4 Nc6 (Bogoljubov) e 1.e4 Nf6 (Alekhine). Hoje em dia, provocar o avanço de peões é um dos métodos mais conhecidos e populares, com os quais quase todos os jogadores de torneios estão familia157

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rizados, quase tanto inclusive com o seu descobridor. Em outras palavras, a idéia, desconhecida em 1911, pertence hoje ao mundo explorado do hipermodernismo. Partida 78 Michell - Nimzovitsch Marienbad, 1925 Defesa Siciliana

1.e4 c5 2.Nf3 Nf6 3.e5 Nd5 4.Nc3 Nxc3 É mais seguro 4...e6 e também merece consideração 4...Nb6. 5.dxc3 b6

Posição após 5...b6 Um conceito da argúcia hipermoderna. As pretas atrasam seu próprio desenvolvimento para que seu adversário se comprometa de forma prematura, embora seja um procedimento arriscado. Seria mais correto 5...d5. Por exemplo: 6.exd6 exd6 e o peão d pode ser defendido. 6.Bd3 Seria mais enérgico 6.Bc4 e6 7.Bf4, seguido de Qd2 e Rd1 (ou também 0-0-0). 6...Bb7 7.Bf4 Qc7 As pretas insistem em uma política

provocadora (veja o comentário ao lance 5). Mantêm no bolso a opção de ambos os roques, assim como a possível formação de peões, aguardando algum deslize do adversário. 8.Bg3 Parece preferível 8.Qe2. 8...e6 9.0–0 Be7 10.Nd2 Excelente idéia centralizadora. A ameaça é Nc4-d6, dificultando a ação do adversário. 10...h5 Decididamente uma resposta questionável. Uma distração na ala dificilmente é forte o bastante para neutralizar um ataque no centro. Por conseqüência, mereciam preferência 10...Nc6 e 10...d5. 11.h3 g5 12.Be4? Por que as brancas retardam Nc4-d6? Vejamos: 12.Nc4 b5 13.Nd6+ Bxd6 14.exd6 Qc6 15.f3 f5? 16.Be5 Rg8 17.Qe2!, e as brancas vencem (17...c4 18.Bxf5 exf5 19.Bf6+ Kf7 20.Qe7+ Kg6 21.Bxg5, com ataque vencedor). Ou também 12.Nc4 Nc6 13.Nd6+ Bxd6 14.exd6 Qd8 15.Qe2 Qf6 16.Be4, com posição superior no centro. Por último, 12.Nc4 Na6 13.Qe2 0–0–0 14.Na5 e as brancas eliminam o agressivo bispo da dama do adversário, preservando uma melhor formação de peões. Portanto, 12.Nc4 teria sido forte. 12...Nc6 13.Re1 0–0–0 14.Nc4 Agora esse ataque perde a sua efetividade. 14...b5 Desocupa a casa b6 para a dama. 15.Nd6+ Bxd6 16.exd6 Qb6 17.Bf3 Desaparecem com esse lance os últimos resquícios da superioridade das

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brancas no centro. O lance correto seria 17.Be5, embora as pretas pudessem pescar em rio turbulento com 17...f5 18.Bxh8 Rxh8 19.Bd3 g4 20.h4 g3 21.fxg3 c4+, ganhando peça, ou também 19.Bxc6 (ao invés de 19.Bd3) 19...Qxc6 20.f3 g4 21.Re5, ou 21.Re3, pelo que nos inclinamos a preferir o jogo das brancas. Depois do lance fraco do texto, o ataque na ala domina o tabuleiro. 17...g4! 18.hxg4 hxg4 19.Bxg4 f5 20.Bf3 Rh7 21.Kf1 e5! 22.Bxc6 Forçado, frente à dupla ameaça ...e4 e ...f4. 22...Qxc6 23.f3 e4 24.fxe4 Rg8 25.Bf2 fxe4 26.Qd2 Ameaçando o bloqueio com Qe3. 26...e3 27.Qxe3 Qxg2+ 28.Ke2 Rf7 Com a bela ameaça 29...Rxf2+ 30.Qxf2 Re8+ 31.Kd1 e agora, primeiro 31...Bf3+ (mas não 31...Qxf2, devido a 32.Rxe8++), vencendo. 29.Kd1 Ameaça mate em e8. 29...Kb8 30.Rg1

Posição após 30.Rg1 30...Rxf2! Um sacrifício de dama decisivo. 31.Rxg2 Rfxg2 Mais forte do que 31...Rgxg2.

32.b3 Rg1+ E as pretas venceram com facilidade: 33.Kd2 R8g2+ 34.Kd3 Rxa1 35.Qxc5 Rd1+ 36.Ke3 Re1+ 37.Kd3 No caso de 34.Kf4, seguiria 37…Rf1+ 38.Ke3 Rf3+ 39.Kd4 Rg4+ 40.Ke5 Re4++. 37…Be4+ 38.Kd4 Rd2+ 39.Ke5 Rd5+ 40.Qxd5 Bh1+! As brancas abandonaram.

Partida 79 Nielsen - Nimzovitsch Copenhagen, 1928 Defesa Siciliana

1.e4 c5 2.Nf3 Nf6 3.e5 Nd5 4.d4 cxd4 5.Qxd4 e6 6.Bd3 Schlechter aqui jogou em nossa partida em San Sebastian, 1912, 6.Bc4 e seguiu 6...Nc6 7.Qe4 d6! 8.exd6 Nf6 9.Qh4 Bxd6 10.Nc3 Ne5! (sublinhando a inferioridade das brancas no centro, devido ao desvio inoportuno da dama) 11.Nxe5 Bxe5 12.0–0 0–0 13.Bd3 Qd4! 14.Qxd4 (se 14.Qh3, pode seguir 14...Qg4, um sacrifício correto de peão: 15.Bxh7+ Kh8 16.Bf5+ Qxh3 17.Bxh3 Bxc3 18.bxc3 e5, com vantagem das pretas) 14...Bxd4 (o Dr. Tarrasch declarou que a partida estava equilibrada, mas o certo é que as pretas têm uma posição muito mais centralizada) 15.Nb5 Bc5 16.Bf4 Bd7 17.Rad1 a6 18.Bd6 (é preferível jogar 18.Nc3) 18...Rfc8 19.Bxc5 Bxb5 20.Bd4 Bxd3 21.Rxd3! (aqui se manifesta de forma clara o formidável instinto enxadrístico de Schlechter, pois prefere perder um peão a permitir que o 159

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cavalo preto se instale em d5) 21...Rxc2 22.Rb3 b5 23.Bxf6 gxf6 24.Rd1 Rac8 25.Kf1 f5 (aqui Tarrasch recomendava 25...R8c5, mas depois de 26.Kg1 Rf5 27.Rf1 a vitória oferece as mesmas dificuldades do ocorreu na partida) 26.Ke1 R8c4 27.Rd2 e no lance 79 Schlechter conquistou o empate. Uma conquista considerável, levando em conta o peão a menos. 6...Nc6 7.Qe4 f5

15.Qxb2 Ng6 16.Re1 b6 17.Nc3 a6 18.Nd1 Bb7 19.Qd4 Eram oferecidas melhores possibilidades de consolidação através de 19.f3, seguido de Bf1 e Nf2. 19...Rad8 20.Qd6 Não considerando o lance 24 das pretas. O equilíbrio se manteria com 20.c5. 20...Qxd6 21.exd6 Bxg2 22.Kxg2 Nf4+ 23.Kf3 Nxd3 24.Re3 e5

Posição após 7...f5 Buscando uma formação hipermoderna de peões, pois de outra forma as pretas teriam jogado 7...d6 ou 7...Ndb4. 8.Qe2 Com 8.exf6 Nxf6 9.Qe2 poderiam surgir peões pendentes. 8...Bc5 A posição já gira em torno dos pontos centrais (d4). O lance mais precavido 8...Be7 nos atraía menos. 9.0–0 0–0 10.a3 Qc7 E não 10...a5, que debilitaria de forma desnecessária a casa b5. 11.c4 Nde7 12.b4 Nd4 Veja o comentário ao lance 8 das pretas. 13.Nxd4 Bxd4 14.Bb2 Bxb2

Posição após 24...e5 As pretas têm um final claramente vencedor, porém a continuação é de grande interesse. 25.Kg2 Nf4+ 26.Kf1 e4 27.f3 exf3 28.Rxf3 Ng6 29.Rc1 Ne5 A característica que se destaca é a coordenação excelente do cavalo com o peão passado. Em um dado momento, a disposição é Pf5 e Ng4; logo em seguida Pf4 e Ne3. Em todos os casos, o cavalo consegue pressionar e ganhar terreno para o avanço do seu peão livre. 30.Re3 Ng4 31.Re2 f4 32.Rg2 Nh6! 33.Rc3 Rc8 34.Nb2 Nf5 35.Rf2 Nxd6 36.Rff3 g5 37.Rcd3 Nf5 38.Rxd7 Ne3+ 39.Ke1 g4 40.Rf2 g3 41.Rf3 Rce8 As brancas abandonaram.

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6 - Viagens pelo velho e pelo novo mundo do xadrez hipermoderno

2 – O tratamento flexível da abertura (transposição de uma abertura para outra)

Essa estratégia, introduzida pelo autor, em sua época foi considerada como um sintoma de decadência. Um amador, por exemplo, que era bastante fraco para manter sua coluna de xadrez, sustentava que “disfarçar as próprias intenções na abertura demonstrava falta de coragem”! Na realidade, só se trata de incorporar à abertura o princípio de jogo alternado. Embora empregada em várias ocasiões em 1907, 1910 e 1911 (veja as partidas 4, 19 e 53), essa estratégia ainda não foi plenamente explorada. O seguinte método empregado pelo autor, por exemplo, é pouco conhecido. 1) Grünfeld – Nimzovitsch, Breslau 1925. 1.d4 Nf6 2.c4 e6 3.Nf3 b6 4.g3 e agora 4...Ba6! (a idéia é a seguinte: 3...b6 buscava um jogo centralizado com ...Bb7, mas para atenuar o efeito deste lance, as brancas responderam com 4.g3 (para seguir com Bg2), deixando dessa forma desprotegido o peão de c4. Esse foi o sinal para que as pretas decidissem atacar esse peão) 5.Qa4 c6 6.Bg2 b5 7.cxb5 cxb5 8.Qd1 Bb7 e uma vez eliminado o peão de c4, as pretas têm, no mínimo, uma posição equilibrada. 2) Grünfeld – Nimzovitsch, Semmering 1926. 1.d4 Nf6 2.c4 e6 3.Nf3 b6 4.g3 Be7 5.Bg2 0–0 6.0–0 Ba6 7.Nbd2 c6 8.b3 d5 9.Bb2 Nbd7 10.Rc1 Rc8 11.Qc2 c5, com o desenvolvimento completado. Se examinarmos outros exemplos, do ponto de vista de suas características teóricas, compreenderemos que os componentes essenciais do jogo alternado, ou seja, os dois pontos débeis

e o pivô, estão presentes. A ameaça central ...Bb7 constitui uma debilidade, enquanto que o possível ataque a c4 é a segunda debilidade. O pivô é o complexo de casas brancas c4-d5 e a6-b7. Como uma ilustração da estratégia que estamos falando, incluímos as partidas 80-83, as quais constituem uma mistura dos sistemas de aberturas índio e holandês. Deve ser notado que essa fusão está relacionada não somente à abertura, mas afeta também vários temas do meio-jogo. O conglomerado índio-holandês (partida aparentada Bernshtein-Nimzovitsch, São Petersburgo 1914) fazia então a sua estréia na competição e, por assim dizer, abria um caminho em direção ao novo método de jogo. Partida 80 Vidmar - Nimzovitsch Nova Iorque, 1927 Defesa Índia

1.d4 Nf6 2.Nf3 e6 3.c4 Bb4+ 4.Bd2 Qe7 Essa novidade, introduzida pelo autor, não revela de modo algum o projeto de abertura das pretas. A dama está bem situada em e7, tanto nos sistemas índios como na Defesa Holandesa. 5.Nc3 Seria um pouco melhor 5.g3. 5…0–0 6.e3 d6 As pretas mantêm a dúvida de se jogarão a Holandesa (...b6 e ...Bb7) ou os sistemas índios (...c5 ou ...e5 e ...Nc6). O caminho a seguir será decidido no próximo lance. 7.Be2 As brancas descartam 7.Bd3, o que 161

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pode ser considerado um êxito das pretas em sua política alternada. Se 7.Bd3, 7...e5. 7…b6 8.0–0 Bb7 9.Qc2 Nbd7 10.Rad1 Bxc3 11.Bxc3 Ne4 12.Be1 f5

Posição após 12...f5 A posição acaba sendo totalmente Holandesa. 13.Qb3 A idéia desse lance um pouco estranho é manter protegido o seu peão de e3. Depois de, por exemplo, Nd2, Nxd2; Rxd2, Qg5; f3 e o peão e está defendido. 13…c5 A formação holandesa se completa com esse lance, com o ponto chave e4 e o peão em c5, tanto para efeitos de ataque como para os de defesa (evita c4c5). 14.Nd2 Nxd2 15.Rxd2 e5 16.dxe5 dxe5 17.f3 g5 A tarefa das pretas agora consiste em preparar o seu ataque na ala de tal forma que o seu adversário não possa criar uma ruptura na coluna d. 18.Bf2 Nf6 19.Rfd1 Rae8 20.Qa4 Ba8 21.Rd6 Seria insuficiente sacrificar a qualidade com 21.Rd7 Nxd7 22.Rxd7 devido a

22...Qf6 23.Qxa7 e agora simplesmente 23...h6. 21...Qg7 22.Bf1 As brancas dispunham de uma defesa melhor: 22.Be1. Por exemplo, 22...e4 23.Bc3 e, no caso de 22...g4, 23.fxg4 Nxg4 24.Rd7 Qg5 25.Bxg4 Qxg4 26.Qc2.

Posição após 22.Bf1 22...e4! 23.Be1 exf3 24.Bc3 Agora é muito tarde para esse desvio de atenção, como será demonstrado pela resposta das pretas. 24...Qe7 Se 25.Bxf6, seguiria mate: 25...Qxe3+ 26.Kh1 fxg2+ e ...Qe1+. 25.R6d3 fxg2 26.Bxg2 Bxg2 27.Bxf6 Se 27.Kxg2, 27...Qe4+, com ataque rápido e decisivo. 27...Qe4 28.R1d2 Bh3 29.Bc3 Qg4+ As brancas abandonaram, frente ao mate em dois.

Partida 81 Przepiorka - Nimzovitsch Kecskemet, 1927 Defesa Índia

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6 - Viagens pelo velho e pelo novo mundo do xadrez hipermoderno

1.d4 Nf6 2.Nf3 e6 3.c4 b6 4.Nc3 Bb7 5.Qc2 Bb4 6.a3 Isso se parece muito com uma perda de tempo. Por que não 6.g3? 6...Bxc3+ 7.Qxc3 d6! Melhor que o imediato 7...Ne4. Por exemplo: 8.Qc2 d6 9.g3 Nd7 10.Bg2 e frente à ameaça Ng5, as pretas se veriam forçadas a fazer o lance defensivo 10...Rb8. A transição para a segunda fase da abertura não deve ser tão repentina. 8.g3 Nbd7 9.Bg2 Qe7 10.0–0 0–0 11.b4 Ne4 Só no momento certo! 12.Qc2 f5 13.Ng5 Ndf6 14.Nxe4 Seria preferível 14.f3 Nxg5 15.Bxg5 e5! 16.e3, com possibilidades de empate. 14...Bxe4 15.Bxe4 Nxe4 16.f3 Nf6 17.Bb2 Rf7!

esse avanço e a coluna f, que as brancas tão alegremente permitem que seja aberta, reduz drasticamente as suas possibilidades. Era um pouco melhor 20.e3, ainda que as brancas prosseguissem em desvantagem após 20...h4 21.Kg2 Nh5. 20...fxe4 21.fxe4 Ng4 A execução descrita no comentário anterior se inicia agora. 22.h3 Nf2 23.Qe2 Nxh3+ 24.Kh1 Qg5 25.Rxf7 Rxf7 26.Qg2 Nf2+ 27.Kg1 Qe3 As brancas abandonaram. Para entender essa partida em sua totalidade, é necessário perceber a conexão entre a estratégia de espera e de ataque das pretas. Todos os lances de espera das pretas (7, 17 e 18) foram feitos, por assim dizer, somente para que ganhasse força o avanço poderoso 19...h5. Sob essa luz se revela a enorme força desse lance. Uma vitória da estratégia alternada aplicada à abertura. Partida 82 Nimzovitsch - Spielmann Nova Iorque, 1927 Abertura Bird

Posição após 17...Rf7! Mas não 17...a5 18.Bc3 e a única coisa que as pretas conseguiriam seria o comprometimento desnecessário da sua posição. 18.Rac1 O correto seria 18.Rf2. 18...Raf8 19.Qd3 h5 20.e4? Se isso fosse factível, o esquema preventivo das pretas (...Rf7 e ...Raf8) teria sido inútil. Mas não se pode jogar

1.Nf3 d5 2.b3 c5 3.Bb2 Nc6 4.e3 Nf6 5.Bb5 Bd7 6.0–0 e6 7.d3 Be7 8.Nbd2 0–0 9.Bxc6 Bxc6 10.Ne5 Chegando à formação holandesa. 10…Rc8 Nessa posição Wolf jogou em nossa partida (Carlsbad 1923) 10...Nd7 11.Ndf3 Rc8 12.Qe2 Nxe5 13.Nxe5 Be8 14.Qg4 f5 15.Qe2 Bf6 16.c4 Qe7 17.f4. Então as brancas iniciaram um forte ataque, com h3, Kh2, Rf2, Rg1 e 163

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g4 e terminaram vencendo. 11.f4 Nd7 12.Qg4 Nxe5 Se 12...f5, seguiria 13.Qxg7+! Kxg7 14.Nxc6+ Bf6 15.Nxd8 Bxb2 16.Nxe6+, vencendo. 13.Bxe5

Posição após 13.Bxe5 A alternativa seria 13.fxe5, que também poderia ser jogado. Por exemplo: 13...Bd7 14.Rf3 f5 15.exf6 Bxf6 16.Bxf6 Rxf6 17.Rxf6 Qxf6 18.Rf1 Qe5 19.Qf4 Qxf4 20.exf4, com uma ligeira superioridade no centro (Nf3-e5). Ou também 13.fxe5 Qa5! 14.Rf2 e as brancas devem escolher entre e4, seguido de exd5 (o bispo preto deve retomar agora), com jogo equilibrado, ou ainda a manobra 15.Nf1-g3-h5. Compare esses comentários com o diagrama da partida seguinte. 13...Bf6 14.Rf3 Bxe5 15.fxe5 Qc7 Agora o lance 15...Qa5 seria inócuo, devido a Rg3 e Nf3. 16.Qh5 h6 O lance libertador ...f5 entretanto não é possível. Por exemplo: 16...f5? 17.exf6 Rxf6 18.Rxf6 gxf6 19.Qg4+, mas as pretas poderiam tê-lo preparado com 16...Be8 17.Rh3 h6 18.Nf3 f5 e o ataque das brancas seria difícil de se levar a cabo.

17.Raf1 g6 No caso de 17...Be8, as brancas conquistariam uma clara superioridade no centro. Por exemplo: 17...Be8 (ao invés de 17...g6) 18.Rg3 f5 19.Qxh6 Qxe5 (ameaçando ...Qxg3) 20.Qf4 Qf6 21.Nf3. Depois de 17...Be8 seria menos clara a continuação de sacrifício 18.Rf6 Qa5! (sempre a mesma saída da dama!) 19.Rxh6 gxh6 etc. 18.Qxh6 Qxe5 19.Rf6 Qh5 As brancas acenavam com as desagradáveis ameaças g4, Rf1-f3-h3. Esse lance custa um peão e as pretas lutam durante muito tempo, porém sem esperança. 20.Qxh5 gxh5 21.Nf3 Rc7 22.Rh6 f6 23.Nh4 Be8 24.Rhxf6 Rxf6 25.Rxf6 Re7 26.Kf2

Posição após 26.Kf2 As brancas devem manobrar por casas pretas, tal e como requer a lógica da partida. O fato de que as brancas prefiram ganhar o peão f antes do h parece indicar que não avaliaram mal a situação. No entanto, um lance fraco feito posteriormente prolongou sem necessidade a resistência das pretas. 26...Kg7 27.Rf4 Bd7 28.Ke2

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Aqui está o erro. Devia ter sido jogado 28.Ke1. A força inerente às casas pretas se manifesta do modo mais impressionante. O “jogo nas casas pretas” teria nos levado a pensar melhor em e5 ou g5. 28...e5 29.Rf5 Re8 A posição do rei das brancas agora não permite 30.Rxh5. 30.Rf2 e4 31.Rf4 Lentas, porém seguras, as brancas vão criando uma construção sobre as casas pretas. 31...Re5 32.Kd2 b5 33.g3 Bh3 O cavalo agora é um prisioneiro. 34.d4 cxd4 35.exd4 Rg5 36.c3 a5 37.Rf2 a4 38.Ke3 a3 39.Rc2 Bf1 40.Rc1 Bd3 41.Ng2

Posição após 41.Ng2 A situação se inverteu. Agora o prisioneiro é o bispo, enquanto o cavalo dança ao redor. 41…Rf5 42.Nf4 Kf7 43.Rd1 A ameaça é Nxd3, que anteriormente não era possível devido a ...Rf3+. 43…Ke7 44.Nxd3 exd3 45.b4 Libera a casa b3 para o rei. O peão d3 não escapará.

45…Kd6 46.Kxd3 Rf2 47.Rd2 Rf3+ 48.Kc2 Ke6 49.Re2+ Kd6 50.Kb3 Rd3 51.Re5 h4 52.gxh4 Rh3 53.Rh5 Kc6 54.Rh6+ Kb7 55.h5 As pretas abandonaram. Partida 83 Nimzovitsch - Rubinstein Semmering, 1926 Abertura Bird

1.Nf3 d5 2.b3 c5 3.Bb2 Nc6 4.e3 Nf6 5.Bb5 Bd7 6.0–0 e6 7.d3 Be7 8.Nbd2 0–0 9.Bxc6 Bxc6 Os nove primeiros lances são iguais aos da partida anterior. 10.Ne5 Be8 11.f4 Nd7 Vale a pena aqui dedicar algum tempo na avaliação da possível continuação 12.Qg4 Nxe5 13.fxe5 Qa5! (mais agressivo do que 13...Bd7, seguido de ...f5) 14.Rf2 (imaginando a manobra Nd2-f1-g3 etc.)14...Qb4 15.e4 Bc6 (o melhor: somente a centralização pode trazer algo positivo) 16.a3 Qa5 17.exd5 Bxd5 (parece mau 17...exd5, devido a 18.e6 f6 19.Nf3, com a ameaça de Nh4 e Nf5) 18.Nf1 (o lance preventivo 18.a4, contra ...b5, permitiria ...Qb4) 18...Qc7! (e não 18...b5, devido a 19.a4) 19.Ne3 b5 (deve se tornar possível o contra-jogo típico ...c5-c4 inclusive com o sacrifício de peão) 20.Nxd5 exd5 21.e6 f6 22.Raf1 e as brancas chegam antes. Por exemplo: 22...Kh8 23.Rf3, seguido de Rh3. Essa análise parece demonstrar que 12.Qg4 daria boas possibilidades às brancas. 165

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Posição após 11...Nd7 12.Nxd7 Qxd7 13.e4 f6 14.Qf3 A formação agora tem um caráter índio melhor definido. 14...Bf7 15.a4 Não há medida preventiva que seja duradoura contra o avanço ...c4. 15...b6 Contra 15...a6?, 16.a5, com efeito paralisante. 16.Rae1 a6 No lugar de 16.Rae1, também seria possível o avanço imediato g4, h4 e g5. Outra possibilidade, aberta ao debate, seria 16.Ra2 e 17.Re1, como manobra preventiva contra a ameaça ...a6 e ...b5. Como as pretas poderiam progredir em tal caso? 17.f5 dxe4 Seria pior 17...exf5 18.exd5 Bxd5? 19.Rxe7!. 18.Qxe4 e5 19.Re3 Para abrir o jogo contra o roque inimigo, que parece restringido. Mas o ataque não é fácil de conduzir, principalmente levando em consideração que a dama branca está fora de lugar (h4 seria uma casa mais apropriada para o cavalo). Ao invés de 19.Re3, sugerimos portanto o seguinte reagrupamento: 19.Qh4 b5 20.Ne4 c4 21.bxc4 bxc4

22.Re3 e as brancas ameaçam Rh3 (por exemplo, Rh3 h6; Rg3 etc). Esse reagrupamento combina o ataque com uma defesa suficiente da sua própria ala da dama. 19...b5 20.Rg3 Ameaça ganhar peça com 21.Qg4 g6 22.fxg6 Qxg4 23.gxf7+ e 24.Rxg4. 20...Kh8 21.Nf3 Seria mais ativo Qg4 seguido de Ne4. 21...bxa4 Um erro. Teria sido melhor jogar 21...Bd6.

Posição após 21...bxa4 22.Nxe5! Qe8! Se 22...fxe5, 23.Qxe5 Bf6 24.Qxf6! gxf6 25.Bxf6++. 23.Qg4 Rg8 24.Nxf7+ Qxf7 25.Qxa4 Agora as brancas têm um peão de vantagem e uma escolha agradável entre um ataque de mate e um final vencedor (pois os peões pretos de a6 e c5 são fracos). Em resumo: as brancas têm a partida ganha. 25...Qd5 26.Qg4 Bd8 27.Qg6! h6 28.Re1 Qd7 29.Re6 Seria mais simples 29.Re4, com domínio absoluto do tabuleiro. O lance do texto, com a idéia de tomar em f6,

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deveria vencer de forma ainda mais rápida. 29...c4 30.bxc4? Em parte por ter permitido essa ruptura (quando o lance profilático 30.Re4 era tão evidente) e em parte pela crença arraigada na força de ...c4, tão demonstrada na história do xadrez, as brancas não avaliaram adequadamente a realização da projetada manobra ganhadora. Por outro lado, deve ser dito que estavam apuradas no tempo. A partida poderia ter sido vencida da seguinte forma: 30.Rxf6! Bxf6 31.Bxf6 gxf6 32.Qxh6+ Qh7 33.Qxf6+ Rg7 34.Rg6 cxb3 35.cxb3 Kg8! 36.Rh6 Rf7 37.Qg5+ Rg7 38.Qf4, vencendo. 30...Rb8 31.Bc3 Rb1+ 32.Re1 Bb6+ É assombroso que esse xeque jogue por terra o empate, que aqui poderia ser obtido através de 32...Rxe1 33.Bxe1 Qa4!, etc. 33.Kf1 Rxe1+ 34.Bxe1! Agora o bispo pode se dirigir a f2 ou b4. 34...Qa4 Se 34...Re8, 35.Bb4, impedindo ...Qe7.

Posição após

35.Rh3! Rf8

34...Qa4

Contra qualquer outro lance de torre seria decisivo o sacrifício em h6. Por exemplo: 35...Rd8 36.Rxh6+ gxh6 37.Qxh6+ Kg8 38.Qg6+ Kh8 39.Qxf6+, seguido de Qxb6. 36.Bc3 Bd8 O último erro. Com 36...Qxc2 as pretas conservariam uma pequena possibilidade de empate. Por exemplo: 36...Qxc2 37.Rxh6+ gxh6 38.Qxh6+ Kg8 39.Qg6+ Kh8 40.Bxf6+ Rxf6 41.Qxf6+ Kg8 42.Qxb6, e agora seguiria 42...Qxd3+ e o final de damas apresentaria algumas dificuldades. 37.Bd2 Qxc2 Agora estamos em uma posição na qual era de se esperar uma manobra banal com descoberto. Porém as brancas tinham preparado uma surpresa. 38.Bxh6 Qb1+ 39.Ke2 Qc2+

Posição após 39...Qc2+ 40.Ke3!! A chave. Não é tão bom jogar 40.Bd2+ devido a 40...Kg8 41.Rh7 Rf7, com a ameaça ...Re7+. 40...Bb6+ Ou também 40...Qc1+ 41.Ke4! Qe1+ 42.Re3! Qh4+ 43.Kd5! gxh6 44.Rh3, vencendo. 41.Ke4 Qe2+ 42.Re3!! As pretas abandonaram.

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3 – Jogo no centro e nas alas

O que é melhor (no sentido americano da palavra, ou seja, de maior importância prática para conseguir o objetivo): o ataque no centro ou uma manobra diversionista de ala? É uma questão discutível. Evidentemente que os ataques nas alas só podem ser realizados quando a posição central é suficientemente forte. Mas a questão é: o que pode ser considerado suficientemente forte? A admissão de que em posições caracterizadas pelas formações com peões em d4, c4 e e3 (brancas), d5, c6 e6 (pretas), o avanço c4-c5 é refutado pelo contragolpe ...e5, já foi demonstrado pelo autor, nada menos do que em 1913, que de modo algum essa é uma verdade inquestionável. O lance ...e6-e5 (ou ...f7-f5 na posição com peões brancos em e4, d5 e f2 e peões pretos em d6, e5 e f7) deve ser considerado como uma reação normal, porém dificilmente podemos falar em refutação. As perspectivas das cadeias de peões (e em ambos os exemplos o fechamento que se consegue com c4-c5 e d4-d5 respectivamente, conduz à formação de cadeias) devem ser consideradas como aproximadamente iguais. Essa minha opinião já foi aceita há muito tempo. Eu mesmo já havia me convertido a ela em 1907. Examinemos a minha partida jogada contra Chigorin em Carlsbad nesse ano: 1.d4 d5 2.Nf3 Bg4 3.Ne5 Bf5 4.c4 e6 5.Nc3 (5.Qb3 Nc6!) 5...c6 6.Qb3 Qb6 7.Bf4! Nf6 8.c5 Qxb3 9.axb3 Nbd7 10.b4 Nh5 11.Nxd7 Kxd7 12.Bd2 (as brancas não se incomodam em evitar ...e5) 12...Be7 13.b5 Nf6 14.e3 e5 (o que parece esse peão?) 15.Be2 Ne8. Agora as pretas

inclusive perdem um peão. O ataque iniciado com ...e4 poderia ter continuado com ...e4, ou também ...exd4 (no lugar de ...Nf8), porém de modo algum teria comprometido a formação central das brancas. Depois de 15...Ne8?, seguiu 16.bxc6+ bxc6 17.dxe5! e não é possível 17...Bxc5, uma vez que as pretas perderiam a qualidade com 18.Na4 e Nb6+. [Nimzovitsch venceu Chigorin no lance 58 dessa partida. – N. do T.] A interpretação moderna consiste em procurar que qualquer formação central seja defensável, por mais restringida que possa ser. A partida 85 constitui-se em um exemplo notório, na qual sigo a máxima “uma formação central sólida justifica uma manobra diversionista de ala, por mais confuso que seja o seu objetivo”, ao empreender um peculiar, para não dizer estranho, ataque na ala. Na partida 88 o leitor encontrará outro postulado pioneiro, que é o seguinte: “um olho na ala, a cabeça no centro: esse é o significado profundo do jogo posicional”. Passaremos agora a estudar as partidas, que o leitor de mentalidade moderna deverá reproduzir com determinação. Partida 84 Nimzovitsch - Nilsson Copenhagen, 1924 Abertura Irregular

1.Nf3 Nf6 2.c4 c6 3.e3 d5 4.Be2 Bf5 5.Nc3 e6 6.d4 Por inversão de lances se chegou a uma posição muito conhecida. 6…Bd6

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Seria melhor 6…Nbd7. 7.Qb3 Qb6 Deve ser preferível jogar o lance 7...Qc8. 8.c5 Qxb3 9.axb3 Bc7 10.b4 As brancas ignoram o possível contraataque central (...e5) com clara consciência do valor de seu próprio centro. Pois inclusive se as pretas realizarem o avanço ...e5 nada conseguiriam com isso. O avanço posterior a e4 (...exd4 é inofensivo) só conduziria a uma paralisia que poderia culminar com o avanço do peão f (...f7f5-f4), à custa de tempo em demasia. Dessa forma, o lance ...e5 resulta ser uma ruptura inócua e as brancas podem prosseguir tranqüilamente com o seu ataque na ala. 10...Nbd7 11.b5 Ke7 12.b4 a5! Uma tentativa engenhosa de abertura da posição adversária. Com qualquer outro movimento, o jogo das brancas seria claramente superior. 13.bxa6 bxa6

Posição após

13...bxa6

14.Nh4! Dificilmente seja recomendável a captura do peão a. Por exemplo: 14.Rxa6 Rxa6 15.Bxa6 Rb8 16.b5 Ne4 17.Bd2

Nxc3 18.Bxc3 Bd3. Por outro lado, jogar Ra4 para cobrir o peão b deve ser considerado inferior, já que em algumas variantes as brancas podem responder ao avanço ...a6-a5 com b4-b5. Em conseqüência disso, deve ser abandonada a coluna a para se assegurar a base b1. 14...Rhb8 15.Nxf5+ exf5 16.Rb1 Ne4 17.Nxe4 fxe4 Nessa posição parece que as pretas realizaram o avanço ...e5-e4. 18.Kd2! O rei das brancas agora se dirige à casa c2 para proteger devidamente a sua torre de b1. 18...Rb7 Se 18...a5, então 19.b5 cxb5! 20.Rxb5 Rxb5 21.Bxb5 Rb8 22.Ba4 Rb4 23.Bc2, com a ameaça Ba3 e a posição das brancas é preferível. 19.Kc2 Nf6 Para levar o cavalo a b5 via e8-c7. A iniciativa, mediante 19...Rab8 20.Bd2 a5? não daria resultado, devido a 21.bxa5 (o que demonstra a importância de manter protegida a torre de b1). 20.Bd2 Ne8 21.Ra1 Primeiro a consolidação. Em seguida, o ataque. 21...Rba7 22.f3 Isso não somente abre a coluna f para as torres como também a diagonal e1-h4 para o bispo da dama. 22...f5 23.fxe4 fxe4 24.Ra2 Bd8 25.Rha1 Nc7 26.Be1! Isso desorganiza definitivamente o jogo defensivo das pretas. 26…Nb5 27.Bh4+! Ke8 28.Bxd8 Kxd8 29.Bxb5 cxb5 30.Kd2! A chave das trocas. O rei se dirige ao seu flanco para apoiar a torre que se dispõe a romper pela coluna f. Mais 169

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tarde, o peão h será um fator importante (veja o comentário ao lance 37 das brancas). Contra essa manobra as peças pretas não conseguem opor uma ação concentrada. 30...Ke7 31.Ke2 Ke6 32.Kf2 Kd7 33.Ra5! Lance de bloqueio, com a eventual ameaça de Rxb5. 33…Kc6 34.Kg3 Kb7 35.Rf1 Kc6 36.Rf5 Re7 37.h4 Ameaça o avanço h4-h5-h6 seguido de Rf6+. 37…Raa7 Abandona a oitava fileira, porém se 37...Rd7, seguiria 38.Re5. 38.h5 Re6 Se 38…h6, tanto a resposta 39.Kh4 (para seguir com o avanço g2-g4-g5), como 39.Rf8 Kb7 40.Rd8, são continuações vencedoras para as brancas. As pretas têm debilidades em demasia. 39.Rf8 O restante é somente uma questão de técnica. 39…g6 40.h6 g5 41.Rb8 Kc7 42.Rbxb5 Rxh6 43.Ra4 Rf6 Ou também 43...Rb7 44.Rba5. 44.Rba5 Kc8 45.Kg4 Para atrair o peão h a h6. 45...h6 46.Ra2 Raf7 Se 46...Rb7 47.Rxa6 Rxa6 48.Rxa6 Rxb4 49.Rxh6 (veja o comentário ao lance 45) 49...Rb3 50.Rh3, vencendo. 47.Rxa6 Rxa6 48.Rxa6 Rf2 49.g3 Rb2 50.Rxh6 Rb3 No caso de 50...Rxb4, segue 51.Kxg5 Rb3 52.Kf4. 51.Rd6 Rxe3 52.Rxd5 Rd3 53.b5 e3 54.Kf3 As pretas abandonaram.

Partida 85 Yates - Nimzovitsch Carlsbad, 1923 Abertura Irregular

1.Nf3 e6 2.g3 d5 3.Bg2 c6 As pretas antecipam o avanço c2-c4. 4.d3 Depois de 4.d4, segue 4...Bd6 5.Bf4 Bxf4 6.gxf4 Nh6 (e ...Nf5), com posição sólida das pretas. 4…Bd6 5.Nc3 Ne7 6.0–0 0–0 7.e4

Posição após 7.e4 7…b5! As pretas consideram que a sua posição central é sólida e que portanto um ataque de ala está justificado. A idéia básica é expulsar o cavalo branco de c3, se a oportunidade se apresentar. 8.Ne1 f5 As pretas poderiam se permitir inclusive seguir com 8...a5, levando em conta que as operações centrais planejadas pelo adversário são de pequena intensidade. 9.exd5 Teria sido um erro feio 9.f4, devido a 9...dxe4 10.dxe4 b4 e ...Bc5+. Como pode ser visto, nessa linha já aparece a “ameaça” ...b5-b4.

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9...exd5 As pretas agora têm um bom jogo. 10.Ne2 Para impedir a ruptura ...f5-f4. 10...Nd7 11.Bf4 Logo se verá que o jogo contra as casas pretas não está bem fundamentado. A continuação correta seria 11.c4 Nb6, com possibilidades equilibradas. 11...Nb6 A continuação do ataque de ala iniciado com 7...b5. Se antecipa a um possível c4 das brancas. 12.Qd2 Ng6 13.h4 Nxf4 14.Nxf4 Qf6 O jogo contra a ala da dama das brancas começa a tomar forma. Agora, o avanço c2-c3 enfraquece a posição das brancas. 15.c3 Ou também 15.Rb1 Bd7, seguido de ...Rae8 e as pretas têm um bom jogo. 15...Bxf4? Ao invés dessa troca, que só serve para enfraquecer a casa e5, as pretas deveriam ter optado por 15...Bd7, seguido de ...Rae8. Mais tarde poderiam pensar em ...a5 e ...b4. 16.Qxf4 Na4 17.Rb1 Agora as brancas ameaçam posicionar o seu cavalo em e5 (d4- Nf3-e5).

Posição após

17.Rb1

17...Nc5 O erro das pretas no lance 15 alterou toda a situação, de tal forma que o ataque na ala, que há até pouco tempo era uma formação sólida, parece agora tropas desbaratadas que caminham a esmo. Teria sido melhor jogado 17...Ba6 18.Nf3 Rae8 19.Rfe1 (19.d4? b4! 20.Rfc1 Bd3, seguido de ...Nxb2) 19...Rxe1+ 20.Nxe1 Re8 21.Nf3 Nc5 22.Rd1 Bb7 e o jogo estaria mais ou menos igualado, embora a debilidade das pretas nas casas e5, d6, c7 e d4 pesaria na balança. Por exemplo: 23.Qc7 Qd8 (ou 23...Qe7 24.Qa5, com perseguição contínua) 24.Qxd8 Rxd8 25.Nd4 (25.Ne5? Nd7!) 25...g6 26.b4 Na4 27.Rc1 Kf7 28.Nb3! e as pretas se veriam frente a dificuldades, ameaças concretas como c4 e Na5. Não obstante, estamos inclinados a imaginar que 17...Ba6 seria a melhor defesa. 18.Qe3? As brancas ignoram por completo a importância da diagonal preta f4-c7. Deveriam ter jogado 18.Rd1. Se nesse momento 18...Ne6, então 19.Qc7. 18...Qd6 Um lance muito bom. A variante 18...Ne6 também teria conduzido à igualdade. Por exemplo: 19.f4 d4 20.cxd4 Qxd4 21.Qxd4 Nxd4 22.Nf3 Nxf3+ 23.Bxf3 Bb7, embora seja possível que as brancas estejam ligeiramente melhor. Com o lance do texto, as pretas conseguem reforçar as casas ameaçadas. 19.f4 Ba6!? Interessante, mas essa não é a linha correta! Deveria ter sido jogado 19...Nd7. Por exemplo 19...Nd7 20.Nf3 Nf6 21.Ne5 Ng4! 22.Qe2 171

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Bd7 23.d4 (de outro modo, seguiria ...d4) 23...a5! 24.Rbe1 Rfe8 25.Qd3 a4! (protege a ala da dama contra b3 e c4) e as pretas parecem ter consolidado a sua posição. 20.Nf3 b4 21.Rfd1 bxc3 22.bxc3 Na4 23.Qd4 Qa3

Posição após 23...Qa3 O ataque das pretas parece promissor, porém carece de fundamentos, pois sua formação central não é bastante sólida. Disso se pode extrair a seguinte moral da estória: depois do erro 15...Bxf4, que enfraqueceu o seu centro, as pretas não deveriam ter continuado o seu ataque na ala, mas sim dedicar-se por completo em consolidar a sua posição (com o auxílio de uma retirada estratégica – veja o comentário ao lance 18). Da maneira como foi jogado, as brancas deveriam ter obtido a vantagem. 24.Ne5 A continuação correta seria 24.Rd2!. Por exemplo: 24...Nxc3 25.Rb3 Qc1+ 26.Kh2 Nb5 27.Qb4, com a ameaça de a4, seguido de Rb1. Essa linha teria dado a vantagem às brancas. O lance engenhoso do texto prepara um golpe de mão para garantir ao seu cavalo a desejada linha Siegfried (e5). [A linha Siegfried (Vitória Tranqüila) foi uma linha

defensiva preparada pela Alemanha em 1918, durante a Primeira Guerra Mundial. Era composta de uma linha de trincheiras, casamatas e obstáculos contra o avanço de tropas e foi construída em uma faixa fronteiriça com a França. Posteriormente, durante a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha também construiu outra linha defensiva muito ampliada em relação à primeira, à qual foi dado o mesmo nome daquela da Primeira Guerra Mundial, que evidentemente é à qual Nimzovitsch se refere em seu comentário. N do T.]. 24...Nxc3 25.Re1 Nxb1 26.Rxb1 O lance tentador 26.Bxd5+ falha devido a 26....cxd5 27.Qxd5+ Kh8 28.Nf7+ Rxf7 29.Qxa8+ Rf8 30.Re8 e agora 38...Qc5+, seguido por ...Kg8. 26...Kh8 27.h5 Qd6 28.Kf2

Posição após 28.Kf2 Aqui seria muito melhor o método de bloqueio, à base de 28.Rc1 e Rc5, do que o ataque iniciado com o lance do texto. 28...Rae8!! Uma defesa combinatória. 29.h6 Qxh6 30.Rh1 Qf6 31.Qxa7 Rxe5!! 32.fxe5 Qxe5 33.Qxa6 Qd4+! Contra o imediato ...f5-f4, as brancas tinham uma defesa melhor, ou seja: 34.gxf4 Rxf4+ 35.Bf3, ou também 34...Qxf4+ 35.Kg1.

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34.Kf1 f4 Se agora 35.gxf4, 35...Rxf4+ 36.Ke2 Rf8!. 35.Qa3! Kg8 36.Rh4 Uma idéia engenhosa. Se 36...fxg3+, o lance 37.Qxf8+ seria vencedor. 36...g5 37.Rg4 Qa1+ 38.Kf2 fxg3+ 39.Kxg3 Qe5+ 40.Kh3 h5 41.Ra4 g4+ 42.Kh4 Rf5! O rei preto pode tomar conta de si mesmo. 43.Ra8+ Kg7 44.Qa7+ Kh6 45.Qg1 Qf6+ As brancas abandonaram. É mate após 46...Rf3+ 47.Bxf3 Qxf3+ 48.Kh2 Qh3++. Essa partida foi premiada com o primeiro prêmio de beleza.

8...Ne4 9.a4! f5 10.a5 Isso controla b6, porém, como logo se verá, tem como conseqüência também a possível criação de um ponto forte para as pretas em b5. Seria preferível, portanto, 10.c4. 10...a6 11.Bb2 c6 12.Ne1 Nd6 Se 12...e5, 13.Nd3 e 14.f4, seguido de Ne5 como consolidação.

Partida 86 Nimzovitsch - Gemsöe Copenhagen, 1928 Abertura Irregular

Posição após 12...Nd6 13.c4! Nxc4 14.Bxc4 dxc4 15.Qc2 Nf6 Este lance não é bom. Veja o comentário seguinte. O correto seria 15...e5 para dar espaço para os bispos. Também poderia ser jogado 15...b5. Por exemplo: 16.axb6 Nxb6 17.Na3 Be6 18.Nf3 Kh8 19.Nd2 Rb8, pois a troca 20.Naxc4 Nxc4 21.Nxc4 Rxb4 22.Ne5 seria muito satisfatória para as pretas depois de 22...Bxe5 23.dxe5 Rc4. 16.Nd2 Be6 17.Nxc4 Seria preferível 17.Nef3. 17...Qc7 A tentativa de dominar as casas brancas com 17...Bxc4 18.Qxc4 Nd5 provavelmente falharia devido a 19.Nd3, seguido de Rae1, f3 e e4. Em conseqüência disso, o lance 15...Nf6 parece refutado.

1.e3 g6 2.c3 Nf6 3.d4 Bg7 4.Bc4 Para provocar o avanço 4...d5. Porém, o lance 4...d6, que as brancas parecem temer, teria sido perfeitamente suportável. Vejamos: 4.Bd3! d6 5.Ne2, com uma formação similar à da partida anterior. 4...d5 5.Be2 Nbd7 Aqui seria de se considerar 5...Nc6. 6.Nf3 0–0 7.0–0 Re8 8.b4! A mesma estratégia da partida 85. As brancas se consideram seguras contra a ruptura ...e5 ou contra ...Ne4 (em cujo caso não questionariam esse cavalo) e, por conseqüência, o ataque na ala lhes parece correto.

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18.Nd3 Rad8 19.Nf4 Bd5 20.Ne5 A ameaça das brancas reside no plano citado anteriormente (Rae1, f3 e e4) contra o qual é difícil encontrar um antídoto. 20...Bh6 21.Rae1 O lance 21.Nfd3 teria sido mais prudente. 21...Rf8 As pretas ofereceriam mais resistência com os lances 21...Bxf4 e 22...e6. 22.f3 Seria melhor 22.Nfd3. 22...Kg7 Continua a ser preferível 22...Bxf4. 23.Nfd3 Bg8 24.e4 As brancas têm uma posição melhor. 24...Qc8 25.Nc5 Revivendo a lembrança do desaparecido ataque na ala. Também teria sido muito forte 25.Qe2 e 26.g4. Por exemplo: 25.Qe2 Kh8 26.g4 Bg7 27.exf5 gxf5 28.g5 Nd5 29.f4 e as brancas têm ataque na ala do rei. 25...Kh8 26.Qf2 Kg7 27.exf5

Posição após 27.exf5 Agora as pretas perderam todo o controle das casas brancas e as brancas deveriam ganhar sem maiores problemas, principalmente por dominarem praticamente todas as casas pretas. O lance

27.d5, por exemplo, seria decisivo. Vejamos: 27.d5 cxd5 28.exf5 gxf5 29.Bd4! e as pretas estariam indefesas frente a ameaça f4, Re1-e3-h3. Ou também 28...Qxf5 (no lugar de 28...gxf5) 29.g4 Qc8 (no caso de 29...Qf4?, segue 30.Ned3, ou 30.Bc1) 30.f4. Mas o lance do texto ainda deveria decidir a luta de forma mais rápida. 27...gxf5 28.f4 As brancas venceriam facilmente com a variante 28.Qg3+ Kh8 29.Qh4 Kg7 30.g4 Bf4 31.g5 Ne4 32.Qh6+ Kh8 33.Ng6++. Após o lance superficial da partida, as pretas conseguem salvar a situação, graças a uma bela ação concentrada das peças defensoras. 28...Nd5 29.Qh4 Rd6 30.Rf3 Kh8 31.Ref1 Bg7 32.Rg3 Rff6 33.Rff3 Rh6 34.Qg5 Rdg6! 35.Nxg6+ Rxg6 Empate! A dama não pode escapar do xeque perpétuo. A partida seguinte ilustra nossa estratégia em um caso típico da prática moderna de torneio. A segurança central, na qual as pretas baseiam o seu ataque na ala, de nenhuma forma é evidente. A escola pseudo-clássica inclusive negaria a sua existência. No entanto, o jogador com as pretas, de mentalidade hipermoderna, consegue enxergá-la e a converte na base da qual lança um ataque na ala de grande alcance. Deixemos que a partida fale por si mesma. Partida 87 Johner - Nimzovitsch Berlim, 1928 Defesa Índia

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1.d4 Nf6 2.c4 e6 3.Nf3 b6 4.g3 Bb7 5.Bg2 Bb4+ 6.Bd2 Bxd2+ 7.Nbxd2 c5!

Posição após 7…c5! As pretas fortalecem a sua posição no centro, que após 8.dxc5 bxc5 seria perfeitamente sólida. 8.0–0 Em nossa partida de Berlim 1927, Bogoljubov seguiu com 8.dxc5 e após 8...bxc5, 9.0–0 Qc7 10.Qc2 0–0 11.Rad1 h6! (para impedir o reagrupamento Nf3-g5 e em seguida Nge4) 12.a3 Nc6 13.Rfe1 Rab8 14.Rb1 a5 e com o lance 15.b3 já tive que considerar suas debilidades na ala da dama. 8…0–0 9.Qb3 Qc7 10.Rfd1 h6 As pretas não têm pressa. 11.Qe3 d6 12.dxc5 bxc5 Apesar de estar atrasado, o peão d6 é sólido como uma rocha. 13.Ne1 Bxg2 14.Nxg2 Qc6! 15.Qf3 As brancas lutam pela preciosa grande diagonal, porém após a troca das damas, o rei das pretas não poderá participar da defesa.

Posição após 15.Qf3 15...Qxf3 16.Nxf3 Rd8 17.Rd3 Nc6 18.Rad1 Ne8 O rei logo ressaltará esse cavalo. 19.Ra3 Um lance de ataque. Já se ameaçava ...Rdb8 e se b3, então ...a5 etc. Devido a isso, o lance do texto constitui-se em uma manobra preventiva excelente contra essa ameaça. 19…a6! Impede de uma vez por todas o lance Ra6. 20.Nf4 Rdb8 21.Rd2 Rb4 22.Rc2 Kf8 23.e3 Ke7 24.h4 Nc7 25.Nd3 Rb7 26.Nd2 a5 27.f3 Nb4 28.Nxb4 Rxb4

Posição após 28...Rxb4 É difícil modelar o desenvolvimento

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do ataque, pois as brancas, com sabedoria, se negaram a debilitar a sua posição com o lance b3. Por outro lado, certas debilidades foram surgindo na ala oposta. 29.Kf2 a4 30.Ke2 Kd7 31.Kd1 Kc6 32.Ne4 f5 33.Nf2 e5 34.Rd3 Rab8 35.Kc1 As brancas se defendem com habilidade. 35…Ne6 36.a3 Rb3 37.Rcd2 Rxd3 38.Rxd3 Nc7 39.Kc2 Na8 Com a idéia de ...Nb6, seguido de ...d6-d5. 40.e4 Nb6 41.b3 axb3+ 42.Rxb3 Rf8 43.Rc3 Na4 44.Rd3 Nb6 45.Rc3 Na4 46.Rd3 Nb6 47.Rc3 Empate. Não estava nos planos do jogador com as pretas o empate, mas não percebi que a posição havia se repetido por três vezes. As pretas deveriam ter jogado 45...g6, com a ameaça ...h5 e ...f4. Se as brancas respondessem 46.Kb3!, a partida poderia ter prosseguido da seguinte maneira: 46...Rb8 47.Rd3 fxe4 48.Nxe4 d5 49.cxd5+ Nxd5+ 50.Kc4 (ou também 50.Kc2 c4) 50...Nb6+ 51.Kc3 Na4+, embora seja provável que não exista mais do que o empate. Ao longo da partida, as pretas contavam com a formação de peões mais compacta, o que nos permite concluir que a estratégia é consistente. Partida 88 Nilsson - Nimzovitsch Eskiltuna, 1921 Sessão de 34 simultâneas Defesa Nimzovitsch

O lema “o olho na ala, a cabeça no centro”

reflete o profundo sentido do jogo posicional. 1.e4 Nc6 2.d4 d5 3.e5 Bf5 4.a3 Para tranqüilamente desenvolver o cavalo por c3. 4...e6 5.Nc3 h5 Jogo preventivo para desativar o avanço de peões brancos f4 e g4. 6.Be3 g6 7.f4 Nh6 8.Nf3 Ng4! Para provocar o posterior h3. 9.Bg1 h4! 10.h3 Nh6 11.Be3 Be7 12.Qd2 a6! Ameaçando preparar o avanço ...b5, se as brancas rocarem grande. 13.0–0–0! Rb8!

Posição após 13...Rb8! O lance 13...b5 só teria conduzido a uma fossilização posicional após 14.Na2 (não 14.Nxb5, devido a 14...0–0 e ...Rb8) 14...Rb8 15.b4, com a casa débil c5 do lado das pretas. A leve ameaça de 13...Rb8 tem efeito imediato: 14.Na2 Be4! 15.Ne1 Nf5 16.Kb1 Ng3 17.Rg1 Nxf1! 18.Rxf1 Rg8 Com o objetivo de pressionar o peão g atrasado, abrindo a coluna g. 19.Ka1 Kd7 Para estabelecer a comunicação necessária entre as peças maiores. 20.Rg1 Kc8 O rei se dirige a b7.

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21.Nc1 b6 As pretas ameaçam a manobra …Nc6-a5-c4, pois para as brancas será muito difícil defender as casas de sua cor. 22.b4 a5 23.c3 axb4 24.cxb4 Ra8 25.Kb2 Kb7 Seria possível 25...Rxa3, porém as pretas desejavam amadurecer todas as suas opções posicionais (...g6-g5!) antes de atacar. Agora 26...Rxa3 é uma forte ameaça. 26.Na2 g5 27.fxg5 Bxg5 28.g4 hxg3 29.Rxg3 Bxe3 30.Rxe3 Qh4 As pretas tomaram posse da coluna g. As casas d4 e h3 são pontos débeis para as brancas. 31.Qc3 Na7 32.Rc1 Seria melhor 32.a4, porém de todas as maneiras as pretas têm um jogo muito superior. 32...Qf2+ 33.Kb3

Posição após 33.Kb3 33...Nb5! 34.Qc6+ Kb8 35.Qxb5 Qxe3+ As brancas abandonaram. A lógica inerente a essa partida se coloca em destaque nos lances 12...a6, 13...Rb8 e 14.Na2 Be4. Com 12...a6 e 13...Rb8, as pretas adotaram uma atitude ameaçadora, o que induziu as brancas a

tomarem medidas de proteção (14.Na2) que, no entanto, exerceram um efeito descentralizador. Com 14...Be4, as pretas passaram recibo de tal descentralização e a bola entrou em jogo. O efeito de grande alcance da sóbria ameaça na ala pode causar surpresa. A explicação parece estar em que o equilíbrio já havia sido alterado (inclusive antes de 12...a6) a favor das pretas, com uma posição muito forte nas casas brancas. A seqüência de lances 12...a6 etc., nada mais faz do que converter em realidade uma situação latente. Em qualquer caso, trata-se de uma partida simultânea jogada do princípio ao fim. Com relação a ...g5, gostaríamos de remeter o leitor à partida 71, assim como à excelente Sämisch-Alekhine, Dresden 1926. [1.d4 Nf6 2.Nf3 b6 3.c4 Bb7 4.e3 e6 5.Bd3 Bb4+ 6.Bd2 Bxd2+ 7.Nbxd2 d6 8.0–0 Nbd7 9.Qc2 0–0 10.Rad1 Qe7 11.Ng5 h6 12.Nh7 Rfd8 13.Nxf6+ Nxf6 14.Ne4 c5 15.Nxf6+ Qxf6 16.dxc5 bxc5 17.Rd2 Rab8 18.Rfd1 Bc6 19.b3 Qe5 20.Qb2 Qxb2 21.Rxb2 a5 22.Rbd2 Kf8 23.Bc2 Ke7 24.f3 a4 25.Kf2 axb3 26.Bxb3 f5 27.Ke2 Rb4 28.Kd3 Ba4 29.Bxa4 Rxa4 30.Rb1 Ra3+ 31.Ke2 Rc3 32.a4 Ra3 33.Rb7+ Rd7 34.Rdb2 Rxa4 35.Rxd7+ Kxd7 36.Rb7+ Kc6 37.Rxg7 Rxc4 38.Rg6 Kd5 39.Rxh6 Rc2+ 40.Kf1 c4 41.Rh8 c3 42.h4 Rd2 43.Ke1 Rxg2 44.Rc8 c2 45.h5 Rh2 46.h6 Rxh6 47.Rxc2 Rh1+ 48.Kd2 Rh2+ 49.Kd3 Rxc2 0–1- N. do T.] 4 – O pequeno, porém seguro centro

Como sabemos, o domínio de um 177

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centro firme, porém restringido, justifica colocar em marcha um ataque na ala, que de certo modo se baseia na firmeza do centro. Nas partidas 85 e 86, a distância geográfica entre o centro e o cenário da ação é considerável. Logicamente, ambas as ações eram totalmente separadas. As coisas são diferentes naquelas “posições Paulsen” na moda nos dias de hoje [em 1929 – N. do T.] e que são vistas freqüentemente nas partidas de Säemisch. Em tais casos, o ataque na ala só serve como auxílio para libertar o centro um pouco restringido e, portanto, deve se considerar como sendo apenas uma ação subordinada. Também geograficamente, a distância entre ambos campos é considerável. É essencial para o jogador estudar a estratégia aqui assinalada. Os dois principais requisitos para um bom jogador Paulsen são: (a) profilaxia; (b) a arte de manobrar dentro das linhas interiores. Ambos requisitos podem ser observados na abertura das duas partidas seguintes: 1) M. Vidmar - Nimzovitsch, Semmering 1926. 1.d4 Nf6 2.c4 e6 3.Nf3 Bb4+ 4.Bd2 Qe7 5.e3 Bxd2+ 6.Nbxd2 d6 7.Qc2 c5 8.g3 b6 9.Bg2 Bb7 10.0–0 Nc6! (embora não se deva temer o avanço e3-e4, pois sempre poderá se responder ...cxd4 Nxd4, com uma posição Paulsen, as pretas preferem um jogo preventivo) 11.a3 0–0 12.Rad1 Rfd8 13.Rfe1 Rac8 14.Nb3 cxd4 15.exd4 Nb8! (o início das manobras dentro das linhas internas) 16.Nfd2 Bxg2 17.Kxg2 Qb7+ 18.Kg1 Rc7 (não seria bom 18...d5 ou 18...b5 devido

a 19.c5) 19.Qd3 Nbd7 20.f4 g6 21.Rc1 Rdc8 22.h3 h5 (lance preventivo contra g4) 23.Rc3 d5! e as pretas obtiveram uma posição ligeiramente superior: 24.cxd5 Rxc3 25.bxc3 Qxd5 26.c4 Qd6. Os peões pendentes das brancas não inspiram confiança. 2) Rubinstein - Sämisch, Berlim 1926. 1.d4 Nf6 2.c4 e6 3.Nc3 Bb4 4.Qc2 c5 5.dxc5 Bxc5 6.Nf3 Nc6 7.Bg5 b6 8.e3 Be7 (para a formação projetada, com peões em d6 e e6 é necessário um bispo em e7) 9.Rd1 a6! 10.Be2 Bb7 11.0–0 d6 12.Rd2 0–0 13.Rfd1 Rc8 (o pequeno centro, e6+d6, parece perfeitamente defensável, também no caso de 14.Bxf6 gxf6! 15.Ne4? Nb4, o que significa que é apropriado o lance do texto, 13...Rc8) 14.Bf4 Ne8 15.Qb1 Na5! (as pretas lutam contra o assédio ao seu pequeno centro, daí o ataque a c4) 16.b3 b5! 17.Ne4 Bxe4 18.Qxe4 bxc4 19.bxc4 Qc7 20.Qb1 Rb8 21.Qc2 Nb7 (superproteção do peão d6, um procedimento que, como veremos, está plenamente justificado, uma vez que d6 é um ponto forte e somente os pontos fortes devem ser superprotegidos) 22.e4 Bf6 23.Be3 Nc5 24.Nd4 Be7 25.Nb3 Nf6 26.f3 Rfc8 27.g4 (esse ataque não tem o fundamento suficiente) 27...h6 28.Kg2 Nfd7 (a casa f6 foi muito utilizada nessas manobras) 29.Nd4 Rb6 e as pretas obtiveram vantagem sobre a coluna b. Esses exemplos mostram claramente que o pequeno centro faz parte do repertório hipermoderno. Um jogador da escola pseudo-clássica, que necessita de muito terreno para as suas manobras nada criativas, simplesmente ficaria

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asfixiado. Ou também não teria sido capaz de conter a pressão do seu adversário a longo prazo, pois a técnica preventiva da época não teria sido suficiente para tal propósito. Durante os meus vinte anos de atividade na área de ensino de xadrez, minha experiência me diz que o estudo desse tipo de partida (com centro restringido) produz uma aversão saudável pela formação ampla, tão querida em numerosos círculos enxadrísticos. Nós mesmos temos sentido essa reação, por exemplo, ao final de uma sessão de partidas simultâneas, que como se sabe, não é propriamente benéfico para o xadrez de competição. Incluímos na seqüência duas partidas que ilustram o pequeno centro (ou centro restringido) e uma com formação ampla.

Para poder jogar Bg3 sem que o bispo fique exposto ao ataque do cavalo (...Nh5). Porém parece muito mais natural 9.Qe2 e 0-0-0, com ataque na ala do rei. A seguinte abertura resulta instrutiva sob esse aspecto. Nimzovitsch-Vidmar, Nova Iorque 1927: 1.e3 d5 2.Nf3 Nf6 3.b3 Bg4 4.Bb2 Nbd7 5.h3? (uma posição similar, com as cores invertidas) 5...Bh5 6.Be2 e6 7.Ne5 Bxe2 8.Qxe2 Bd6 9.Nxd7 Qxd7 10.c4 c6 11.0–0 0–0–0 12.Nc3 Bc7 13.d4 h5 14.c5 g5 15.b4 h4 16.b5 Rdg8! e Vidmar venceu com um ataque direto ao rei. 9...c5 10.0–0 Nc6 11.Qe2 Nh5 12.Bxe7 Qxe7 13.Ba6 Nf6 14.Rfd1 Rfd8 15.e4

Partida 89 Capablanca - Nimzovitsch Nova Iorque, 1927 Defesa Índia

1.d4 Nf6 2.Nf3 e6 3.Bg5 h6 Lance de valor duvidoso: o aumento dos recursos possíveis derivados desse lance pesa menos na balança do que o perigo que seu avanço origina. De uma maneira geral, o lado com o centro restringido deve evitar a sobrecarga de possíveis debilidades. Um centro ativo e amplo pode absorver com mais facilidade as debilidades em uma ala. Um centro restringido é muito passivo sob esse aspecto. 4.Bh4 b6 5.Nbd2 Bb7 6.e3 Be7 7.Bd3 d6 8.c3 0–0 9.h3

Posição após 15.e4 15...Bxa6! Iniciando uma manobra concebida para demonstrar que a suposta debilidade de suas casas brancas é ilusória. Seria muito mais fraco 15...e5 16.d5, com opções em ambas alas. 16.Qxa6 Qc7! 17.Rac1 Rd7 18.b4 Rad8 19.Qe2 A dama se retira de forma voluntária. 19...Ne7 20.Re1 Ng6 21.g3 Rc8 22.bxc5 dxc5 23.Nb3 cxd4 24.cxd4 Qb7

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As brancas não conseguiram absolutamente nada. 25.Rxc8+ Qxc8 26.Rc1 Rc7 27.Rxc7 Qxc7 28.Nfd2 Qc3 29.Qa6 Qc7 30.Qe2 Qc3 31.Qa6 Qc7 Empate. As evoluções lentas das peças pesadas das pretas, dentro das suas próprias linhas (lances 16, 17, 18, 21 e 26) foram típicas de uma posição com centro restringido.

lance ...c5 adquirirá um verdadeiro valor de ataque. Na disposição das brancas é difícil entender o lance 8.Rc1. Parece estar dirigido contra ...d5, um lance que em absoluto estava nos planos das pretas. 11.0–0 Nh5 12.Bb1 g6 13.Ne2 Ndf6 14.Nd2 c5 Com esse avanço as pretas asseguram, pelo menos, uma posição Paulsen (...cxd4 e ...Rc8). No entanto, aspiram ainda mais.

Partida 90 Jacobsen - Nimzovitsch Copenhagen, 1923 Defesa Índia

1.d4 Nf6 2.Nf3 b6 3.c4 Bb7 4.Nc3 e6 5.Bg5 h6 Aqui esse lance é mais adequado. 6.Bh4 Be7 7.e3 d6 8.Rc1 Nbd7 9.Bg3 0–0 10.Bd3 a6

Posição após 10...a6 Convém observar que as pretas, que só ocupam três fileiras, parecem encontrar-se cômodas em seus incômodos quartéis, pois no momento não consideram nem o avanço ...c5, nem ...e5. No entanto concebem uma manobra original, dentro das suas linhas interiores, em conseqüência da qual o

Posição após 14...c5 15.Nf4 Ng7 Se compararmos essa posição com a alcançada depois do lance 11 das brancas, teremos a impressão de que o cavalo da dama das pretas perambulou desde d7 a g7, mas o certo é que o que está em g7 é o cavalo do rei: uma verdadeira manobra “entre linhas interiores”, com mudança de papéis e de lugares. 16.Qe2 Nf5 17.Bxf5 Ou também 17.dxc5 bxc5 18.Bxf5 exf5, seguido de ...Re8 e ...Bf8 e as pretas teriam um bom jogo, com ataque na ala da dama. 17...exf5 18.d5 b5 19.b3 Re8 20.Qd3 Ng4 Obtendo casas na coluna e, ao mesmo tempo em que se opõem às intenções das brancas (Ne2 e e4).

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21.Qc2 Bh4 Jogo preventivo, como já se disse no comentário anterior! Um resultado similar – acreditamos – ainda que com menor efeito seria conseguido com 21...Bc8. Por exemplo: 22.Ne2! Bf6 23.e4 fxe4 24.Nxe4 Bf5 25.Nxf6+ etc. 22.e4 Depois desse lance, as pretas obtêm uma posição superior. Era melhor 22.Bxh4 Qxh4 23.h3 Ne5 24.Nd3. 22...Bxg3 23.hxg3 fxe4 24.Nxe4 Bc8 25.f3! Nf6 Se 25...Ne3, 26.Qc3!, eventualmente seguido por Nf6+. 26.Nxf6+ Seria melhor 26.Nc3. 26...Qxf6 27.Qd2 Ra7 28.Rce1 Rae7 29.Rxe7 Qxe7 30.Kf2 bxc4 As brancas conseguiram proteger a coluna e, porém o fraco peão c será mais do que a sua posição poderá suportar. 31.bxc4 a5 32.Nd3 Qf6 Manobras alternadas. As debilidades do lado das brancas são o seu peão de c4, a coluna e e a grande diagonal de casas pretas. 33.Qb2 Qxb2+ 34.Nxb2 Bf5 A troca das damas não melhorou as coisas para as brancas. Ainda que a grande diagonal preta seja segura, o peão c é mais difícil de defender. 35.Rc1 h5 E não 35...Ra8, devido a 36.Nd1 etc, porque o rei branco deve se manter fora de jogo o maior tempo possível. O lance do texto prepara um ataque à baioneta. 36.Rc3 a4 37.Nd1 A 37.Nxa4, Ra8 38.Nb2! (38.Nb6 Rxa2+, seguido de ...Ra6 e o rei preto se aproxima do cavalo aventureiro) 38...Rxa2 39.Rb3 g5, com final

superior. Se 37.Ra3, segue então 38...Rb8 38.Nxa4? Ra8, vencendo. 37...g5 38.Ne3 Bd7 39.Ke2 f5 40.Kd2 Depois desse lance, fica debilitada a ala do rei, mas nem 40.f4, embora melhor, teria sido adequado. Por exemplo: 40.f4 gxf4 41.gxf4 h4, ou inclusive 40...Kf7 41.fxg5 Kg6 e em qualquer caso as brancas teriam problemas. 40...f4! 41.gxf4 gxf4

Posição após 41...gxf4 42.Nd1? Obviamente, o lance correto seria 42.Nc2, eventualmente seguido por Ne1, embora nesse caso, as pretas conseguissem um forte ataque no final. Por exemplo: 42.Nc2 Kf7 43.Ne1 Kf6 44.Rc2 Rb8 45.Kc3 Rb1 46.Re2 Rc1+! 47.Nc2 Bf5, seguido de simplificação geral e um final vencedor, pois o rei preto penetra por g3. 42...Kf7 As pretas venceram com facilidade: 43.Nf2 Rg8 44.Ke2 Rxg2 45.Rc1 Bf5 46.a3 h4 47.Rf1 Kf6 48.Kd1 h3 49.Ke2 h2 50.Ra1 Bd3+ 51.Kxd3 Rxf2 52.Ke4 Kg5 53.Rb1 Re2+ 54.Kd3 Re3+ As brancas abandonaram.

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Nesse final, a debilidade reflexa na ala do rei das brancas foi notável. A debilidade da ala da dama se comunicava, por assim dizer, com a outra ala, de modo que os peões pretos na ala do rei podem ser considerados uma maioria qualitativa. Em conseqüência disso, se colocaram em marcha, não sem êxito. A partida é indicativa da tendência moderna de executar manobras complicadas, inclusive quando o terreno oferece acidentes difíceis de serem superados. A forma com que as pretas, a partir de uma posição muito restringida, lenta e gradualmente foram ganhando terreno e finalmente conseguissem culminar suas ações com um ataque no final, tem um indubitável interesse, ao lado de resultar muito instrutiva. Uma vez mais, o centro restringido se comportou bem. Partida 91 Hansen - Nimzovitsch Copenhagen, 1928 Abertura Inglesa

1.c4 c5 2.f4 Esse lance causa uma sensação estranha, porém como se verá em breve, não é o lance que está errado, mas a impressão! Jogar um lance pela sua aparência é algo trivial e, no entanto, era um procedimento habitual até há pouco tempo. 2...Nf6 3.d3 d5 De outro modo seguiria 4.e4, com uma formação sólida. 4.cxd5 Nxd5 5.e4 Compare essa posição com a seguinte variante de abertura: 1.c4 c5 2.Nc3 Nf6 3.Nf3 d5 4.cxd5 Nxd5 5.e4 (a chamada Variante Dresden, criada pelo autor). A

posição obtida por Hansen é parecida (peão branco em d3, em uma coluna aberta), porém com a diferença de que as pretas não dispõem agora de ...Nxc3 e ...g6. Uma melhoria que, sem dúvida, deve ser atribuída a Hansen. 5...Nf6

Posição após 5...Nf6 6.Be3! e6 7.Nc3 Nc6 8.Nf3 Bd7 Para provocar o avanço d3-d4. 9.d4? Teria sido muito mais correto 9.h3, seguido por Be2. Vejamos: 9.h3 Nh5? 10.Kf2 e 11.g4. O lance do texto demonstra que o condutor das brancas não tem o instinto das posições sólidas. O lance 9.d4 não teria ocorrido nem a um jogador, digamos, do tipo de Säemisch. 9...cxd4 10.Nxd4 Bb4 Tudo já está por um fio do lado das brancas. 11.Nxc6 Bxc6 12.Qxd8+ Rxd8 13.e5 As brancas se viram obrigadas a fazer concessões no centro. Agora as casas de sua cor se ressentem de uma certa debilidade. 13...Ne4 14.a3 Um recurso engenhoso. As brancas

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querem jogar com bispos de cores opostas. 14...Bxc3+ 15.bxc3 Nxc3 16.Bc4 Não se poderia jogar 16.Bxa7 devido a 16...Nd5 e o peão de f4 não tem defesa (17.g3? Nxf4 18.gxf4 Bxh1). 16...Rc8 A estratégia adequada quando a formação adversária não é compacta. Deixemos que tudo continue inconsistente e criemos uma pressão maior! 17.Rc1 Bxg2 18.Rg1 Rxc4 19.Rxg2 b5 20.Rgc2 Ou também 20.Rxg7 Ke7 e ...Rhc8, com fortes ameaças. 20...Nd5 Um cavalo muito forte! 21.Rxc4 bxc4 22.Rxc4 Kd7 23.Bxa7 Rc8

24.Re4 Depois de 24.Rxc8 Kxc8, a vida da mariposa não poderia ser mais efêmera. 24…Rc1+ 25.Kf2 Se 25.Kd2, seguiria 25…Rh1 26.Re2 Ra1! (não imediatamente 26...Nxf4, devido a 27.Rf2 g5 28.Be3) 27.Bc5 Nxf4. 25…Rc2+ 26.Kg3 Ou também 26.Kg1 Rc3 27.a4 Rf3. 26...Rc3+ 27.Kg4 Um erro no apuro de tempo. Porém já não havia lance salvador para as brancas. 27...f5+ As brancas abandonaram. Se 28.exf6, 28...Nxf6+ e a torre cai. A debilidade de um centro extendido, cujos peões avançaram de maneira impulsiva, aqui ficaram evidentes com clareza meridiana. 5 – O tratamento assimétrico de variantes simétricas

Posição após 23...Rc8 O triunfo de uma formação sólida! O engenhoso condutor das brancas recuperou tudo o que poderia ser recuperado, ou seja, o material perdido. Mas agora deve se preocupar com a mariposa de f4, a lebre de a7 e as duas ovelhas desgarradas de a3 e h2, situação que o rei contempla à distância considerável desde o seu trono. A conclusão é terrificante.

Os seguidores da escola pseudoclássica têm uma preferência acentuada, difícil de entender nos dias de hoje, pelas variantes simétricas. Não só isso, mas também conseguiram envolvê-las com um aspecto científico. Foi difundida a crença de que muitas posições e aberturas têm uma tendência natural em direção à simetria e que seria uma espécie de sacrilégio intelectual evitar esse suposto presente dos céus. Em conseqüência disso, toda tentativa nesse sentido era considerada incorreta e deveria conduzir irremediavelmente à derrota com um jogo preciso. Examinemos a questão mais detidamente à luz do seguinte exemplo: 1.d4 d5 (que objeção poderia ser colocada ao lance assimétrico 1...Nf6?) 2.c4 e6 3.Nc3 c5? (em busca da simetria e de 183

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uma posição equilibrada. O lance correto, naturalmente, é 3...Nf6, seguido de ...Nbd7 etc.) 4.e3? (tempos atrás era considerada a resposta correta, mas o lance preciso é 4.Nf3, seguido de g3, ou seja, os lances preconizados pela Variante Schlechter-Rubinstein) 4...Nc6 5.Nf3 Nf6 6.Bd3 Bd6. Se na época gloriosa de Tarrasch alguém se atrevesse a jogar 6...Be7, os especialistas levariam as mãos à cabeça, mas no entanto, esse desvio da rota simétrica é a única continuação lógica. O inconveniente de 6...Bd6 reside no fato de que, como conseqüência desse desenvolvimento, o peão d5 necessita de proteção. Com 6...Be7, a dama permanece em contato com seu peão d, um fato que deve ser levado em consideração. Por exemplo, 6...Be7! 7.0-0 0-0 8.Qe2!. Cada jogador explora as suas possibilidades: as pretas, pressionando o peão d do adversário; as brancas, com um ataque na ala do rei, baseado em seu bispo de d3. Segue 8...cxd4 9.exd4 dxc4 10.Bxc4 Nxd4 11.Nxd4 Qxd4 e é difícil prever o desenlace da luta. Ainda assim, inclusive um exame superficial deixa a impressão de que cada partida de xadrez está repleta de problemas, dos quais o xadrez simétrico, trêmulo e carente de imaginação, foge como se esses fossem uma peste. Essa impressão é reforçada se passarmos outras variantes simétricas sob a lupa para se estabelecer comparações. Na Variante das Trocas na Defesa Francesa, depois de 1.e4 e6 2.d4 d5 3.exd5 exd5 4.Bd3 Bd6, ambos cavalos de rei são desenvolvidos de maneira central (Nf3, Nf6), ou também com o propósito de desviá-los (Ne2, Ne7) ou como “manobra diversionista na ala”. No

segundo caso (Ne2), esse desenvolvimento deveria estar em função de reforçar o centro com, digamos, f3, pois se assim não fosse, o desenvolvimento seria errado do ponto de vista estratégico. As manobras diversionistas na ala, sem a adequada segurança no centro, como já demonstrado em repetidas ocasiões nesse livro, são uma redução ao absurdo. Uma lógica obrigatória nos faz deduzir (ainda que muitos jogadores não se sintam obrigados a admitir tal compulsão) que a Nf3 deve se responder com ...Ne7 e com ...Nf6 a Ne2! Esse tratamento assimétrico, proposto por Svenonius é, na lógica da sua estratégia, muito superior ao tratamento simétrico. Observe-se esse claro contraste na luta de ideais na seguinte partida, disputada em uma sessão de simultâneas em Aalesund em 1925. Strande-Nimzovitsch 1.e4 e6 2.d4 d5 3.exd5 exd5 4.Bd3 Bd6 5.Nf3 Ne7! 6.0–0 Nbc6 7.Be3 (para atenuar o efeito de ...Bg4) 7...Bf5 8.Nc3 0–0 9.Re1 Bxd3 (com esse lance se inicia uma manobra de cavalo cuja finalidade é reforçar o centro e, de passagem, dominar terreno na ala) 10.Qxd3 Nb4 11.Qd2 c6 12.a3 Na6 13.Re2 (as brancas compreendem que suas opções se encontram no centro, porém tecnicamente não seria preferível 13.Bg5?) 13...Nc7 14.Rae1 Ne6 15.Qd3 (o lance 15.Ng5 seria inofensivo devido à possível resposta 15...Ng6; por exemplo: 16.Nxe6 fxe6 17.Bg5 Qc7) 15...Ng6 (discutindo as aspirações do adversário no centro) 16.g3 Re8 17.Bc1 (a coluna central é esvaziada para o ataque, embora as pretas já tenham feito os seus preparativos)

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17...Qd7 18.Nd1 (de uma forma ou de outra, as brancas deveriam ter jogado 18.Ne5, pois a ocupação deste posto avançado é a única possibilidade de prosseguir com a iniciativa no centro) 18...Re7 19.Ne3 Nef4. A manobra diversionista agora exerce o seu efeito. Como dissemos, o lance correto seria 19.Ne5. Se então 19...Bxe5 20.dxe5, seguiria 20...Rae8 e o avanço 21.f4 permitiria o promissor sacrifício de peão 21...Nc5 22.Qd4 Ne4 23.Qxa7 f6 24.exf6 gxf6. Em tal caso nos encontraríamos em uma situação interessante, na qual uma defesa tenaz no centro derivou para uma centralização geral, cujo sentido, dentre outras coisas, teria a projetada manobra diversionista das pretas. Após o lance deficiente 19.Ne3?, tudo está acabado. 20.gxf4 Nxf4 21.Qd2 Qh3 e as brancas abandonaram. Nessa partida, as pretas de forma indireta protegeram a casa e5, permitindo que nela se instalasse um cavalo branco, porém, ao mesmo tempo, minimizando o seu efeito (pois não devemos esquecer que poderia ser evitado com ...f6). Agora passaremos às partidas e só gostaria de repetir que estamos convencidos que a busca da simetria no desenvolvimento só pode ser avaliada, nesses tempos sem imaginação, como um testimonium paupertatis [testemunho de pobreza – N. do T.]. As duas partidas seguintes estão consagradas à coordenação de uma defesa centralizada e o ataque na ala. Partida 92 Möller - Nimzovitsch Copenhagen, 1922 Defesa Francesa

1.e4 e6 2.d4 d5 3.Nc3 Bb4 4.exd5 exd5 5.Nf3 Nc6 6.a3 Ba5 Se 6...Bxc3+ 7.bxc3 Bf5 8.Bd3 Nge7 9.0–0 0–0, segue 10.Bf4 e as brancas têm a vantagem nada desprezível de que dos dois bispos de casas brancas (em d3 e f5), o seu está melhor protegido. 7.Bb5 Nge7 8.0–0 0–0 9.Na4 Bb6 10.Nxb6 axb6 11.Bd3 Bf5 As pretas não só estão melhor desenvolvidas, mas também têm uma posição mais firme. A manobra do cavalo das brancas custou tempo em demasia. 12.Re1 A operação central que, a priori, não deve ser julgada com otimismo em excesso (veja o comentário anterior).

Posição após 12.Re1 12...Qd7 Por que nessa fase as pretas omitem o lance evidente 13...f6? Não seria com ele cortada pela raiz a ação central iniciada pelo seu adversário? Pois, sem Ne5 ou, em outras palavras, sem a ocupação do posto avançado na coluna central, as brancas não poderão realizar nenhum progresso. A resposta depende da avaliação correta das posições caracterizadas por Nf3 vs. Ne7. No momento, Ne5 não é uma autêntica ameaça e só pioraria a posição das

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brancas. Por exemplo: 13.Ne5 Nxe5 14.dxe5 e a maioria das brancas na ala do rei teria pouca mobilidade. Por outro lado, 12...f6 seria o lance que daria novas possibilidades para as brancas na coluna e, pois a casa e6 ficaria vulnerável. E a conclusão? Bem, se puder ser atrasado ...f6, antes deve se reforçar e6 e, uma vez feito isso, pode-se jogar ...f6 sem remorsos de consciência. Uma análise minuciosa da variante que se produziria com tal avanço, resulta ser muito instrutivo. Vejamos: 12...f6 13.Nh4 (uma tentativa interessante) 13...Nxd4! (também seria uma continuação correta e cômoda 13...Bxd3 14.Qxd3 Qd7 15.Bd2 g5 e 16...Qf5) e agora: a) 14.Nxf5 Ndxf5 15.Qg4 Nd6! (15...Qc8 16.Qh3, ameaçando g4) 16.Bf4! f5 17.Qh3 Qd7 18.Re2 Ng6! 19.Bxd6 cxd6 20.g3 Ne5 e a posição das pretas é ligeiramente melhor. Observe-se que as pretas só rechaçaram o ataque das brancas com dificuldades. b) 14.Rxe7 Bxd3 15.Re3 Nxc2 16.Rxd3 Nxa1 17.Be3. Isso parece forte, porém segue 17...Qe8 18.Qxa1 Qe4! 19.Rd4 Qe6 20.Qa2 Rad8 21.Nf3 c5 22.Rd1 e agora, talvez ...Kh8, seguido de ...Qc6 e a falange de peões está pronta para empreender o avanço. As pretas, também nesse caso têm uma pequena, porém perceptível vantagem. Uma posição para Capablanca. Agora estamos em condições de efetuar um balanço. Pode ser um bom lance 12...f6, mas isso conduz em qualquer caso a um enfraquecimento na bem estruturada formação de peões das pretas. O lance do texto pode ser considerado como mais de acordo com a

posição, principalmente porque, nesse momento, Ne5 seria tatear no escuro. 13.Ne5? E aqui está o resultado. Seria muito melhor jogar 13.Bf4. 13...Nxe5 14.Rxe5 A posição das pretas também seria preferível no caso de 14.dxe5. 14...Rae8 15.Qe2 f6 Somente agora esse avanço pode ser efetuado com plena consciência. 16.Re3 c5 17.c3 c4 18.Bc2

Posição após 18.Bc2 18...g5! Somente após terem devidamente assegurado o centro, as pretas podem justificar essa manobra diversionista na ala. O lance do texto oferece ao cavalo – ansioso para participar da luta – uma base de operações em h4. 19.b3 Bxc2 20.Qxc2 Nf5 21.Rxe8 Rxe8 Agora as pretas inclusive ganharam a coluna e: a ação central iniciada pelas brancas com um inoportuno 13.Ne5 deve portanto ser considerada um fracasso completo. 22.Bd2 Nh4 Veja o comentário ao lance 18.

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23.Qd1 cxb3 24.Qxb3 Re2 25.Be3 Qf5 Ainda agora as pretas devem ter presente a coordenação da defesa do centro com o ataque na ala: a casa d5, por exemplo, não deve ficar desprotegida em nenhum instante. 26.Qb5? Qe4! Ao invés de 26.Qb5?, as brancas deveriam ter jogado 26.Qb1, mas nem sequer assim poderiam ter salvado a partida. Por exemplo: 26...Qg4 27.Qf1 h6! 28.h3 Qe4, seguido do avanço ...f6f5-f4 etc. 27.Kf1 Rxe3 As brancas abandonaram. Partida 93 Enoch - Nimzovitsch Berlim, 1927 Defesa Francesa

1.e4 e6 2.d4 d5 3.exd5 exd5 4.Nf3 Bd6 5.Bd3 Nc6 6.c3 Nge7 7.0–0 Bg4 8.Re1 Qd7 9.Bg5 f6 Esse lance pode ser feito sem apreensão, pois a casa e6 está bem defendida. 10.Bh4 h5 Uma pequena novidade. Se agora 11.Bg6+ Kh8 12.Qc2?, segue 12...Nxg6 13.Qxg6 Bf5, ganhando a dama. 11.Nbd2 g5 12.Bg3 Bxg3 As pretas são obrigadas a assumir a debilidade que essa troca provoca na casa c5. 13.fxg3! 0–0–0 14.b4

Posição após 14.b4 A posição é extremamente difícil de ser avaliada, levando em consideração as numerosas frentes de luta, localizados tanto no centro (coluna e) como em ambas as alas. Porém há um fato que sobressai claramente: por mais vontade com que se entre no ataque na ala, não se pode descuidar da batalha central. Parece-nos de fundamental importância para ambos os lados manter o centro sob observação (as brancas, a partir do ponto de vista ofensivo e as pretas do defensivo). Dessas observações se deduz que a diversão iniciada com 14.b4 não nos agrada. Um reagrupamento à base de 14.Re3, 15.Qf1 e 16.Rae1 seria mais merecedor de consideração. Há uma outra continuação que produziria um jogo interessante: 14.Nb3 e agora 14...Qd6 (não 14...b6, devido a 15.Nc5!) 15.Nc5. Depois de 15...h4, poderia seguir 16.Qb3 Na5 (16...b6 perderia a qualidade após 17.Ba6+ Kb8 18.Nb7; por exemplo 18...Qd7 19.Nxd8 Nxd8 20.Qb5 Qd6 21.Qb4) 17.Qa4 b6 18.b4 hxg3 (agora a posição das brancas parece duvidosa) 19.bxa5! (não 19.Ba6+ porque o bispo pode precisar da casa d3 para evitar o salto ...Nf5) 19...bxc5 (era ameaçado, com

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aniquilação, 20.axb6) 20.dxc5!! (uma linha ganhadora deliciosa seria 20.Rxe7 c4!) 20...Qxc5+ 21.Kh1 Bxf3 (as pretas estão indefesas frente à dupla ameaça Ba6+ e Qxg4) 22.Ba6+ Kb8 23.Rab1+ Ka8 24.Bb7+ Kb8 25.Bxd5+ Kc8 26.Be6+, seguido de mate. Disso se deduz que depois de 14.Nb3 Qd6 15.Nc5, as pretas devem renunciar a 15...h4. A posição poderia se sustentar com 15...Rde8, com a possível continuação 16.Qb3 (16.Qa4? h4 17.b4 Kb8 18.b5 Nd8 e as brancas estão desbaratadas) 16...Nd8 17.Re3 Nec6 18.Rae1 Rxe3 19.Rxe3 h4 20.Nd2 hxg3 21.hxg3, com uma posição praticamente equilibrada. Nessa variante temos uma ilustração da forma com que na prática pode ser efetuada a coordenação necessária entre o jogo central e o na ala. Na presente partida, as brancas dão pouca atenção à idéia central, o que permite às pretas afirmarem-se no centro com um mínimo de efetivo e dessa forma dedicar o grosso da tropa para a batalha na ala do rei. 14...Rdg8 A razão desse lance ficará clara a seguir. É claro, 14...Rde8 também seria um lance bom e seguro. 15.Qe2

Posição após

15.Qe2

15...Rg7! Com isso se dá consistência à coluna e. Essa torre agora será protagonista da coordenação à qual nos referimos, que aparece em várias ocasiões. 16.a4 A iniciativa no centro, com 16.h3 Bf5 17.Bxf5 Nxf5 18.Qe6 seria rechaçada com 18...g4. 16...Qd6 17.a5 h4 18.b5 Nd8 19.b6 Kb8! 20.bxc7+ Parece melhor 20.c4. 20...Qxc7 21.c4 hxg3 22.hxg3 dxc4! Libera a casa d5 para o seu cavalo, ao mesmo tempo em que distrai o cavalo das brancas da defesa da ala do rei. 23.Nxc4 Se 23.Bxc4, segue 23…Nf5 com ataque decisivo. 23…Qxg3 24.a6 Nd5 25.Be4 Seria interessante a seqüência 25.axb7 Nf4 26.Qa2 a6! (não 26...Rxb7 devido a 27.Reb1, com a ameaça Qxa7+) e as pretas vencem. 25…Nf4 26.Qb2 Bxf3 27.Bxf3 Rgh7 As brancas abandonaram. No lance 14 as brancas deixaram de jogar Nc5, razão pela qual o seu ataque na ala e a pressão central fracassaram. As pretas, ao contrário, tiveram êxito com 15...Rg7, combinando a defesa central com o seu próprio ataque na ala. E não só isso – ver para crer! – teve êxito a execução dos seus planos, como também a torre de g7, como defensora, merece um destaque especial, pois a sua ação defensiva se projetou para além do centro (nada menos do que até b7 e a7). Um exemplo muito instrutivo do método assimétrico de jogo.

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Partida 94 Marshall - Nimzovitsch Nova Iorque, 1927 Defesa Francesa

1.e4 e6 2.d4 d5 3.Nc3 Bb4 4.exd5 exd5 5.Bd3 Ne7 6.Nge2 Bf5 7.0–0 0–0 8.Ng3 Bg6 9.Nce2 Bd6 10.Bf4 Nbc6 11.Qd2 Qd7 12.Rae1 Rae8 Como ambos adversários desenvolveram seus cavalos do rei por e2 e e7, a primeira parte do jogo foi bem mais monótona. Mas agora a partida ganha vitalidade. 13.c3 Nc8! 14.Be3

Posição após 14.Be3 14...N6e7! O retrocesso coordenado dos cavalos unidos tem a intenção de criar assimetria. O cavalo de c8 (na rota em direção a e4) logo concede à formação das pretas o caráter da variante Nf6 vs Ne2. Por certo que a retirada não é original, pois o autor já a havia praticado contra Spielmann em Copenhagen 1923, em cuja ocasião o jogo seguiu com ...Ne7g8, ...Nc6-e7 e em seguida ...Ng8-f6e4. 15.Nf4 Bxf4 16.Bxf4 Bxd3 17.Qxd3 Ng6 18.Qf3

Se 18.Bd2 teria seguido 18...Nd6. Porém após 18.Qf3, as pretas obtêm certo jogo. 18...f5 19.Bd2 Rxe1 20.Rxe1 f4 21.Ne2 Qf5 Também seria bom 21...Nh4. Por exemplo: 22.Qh5 Nxg2 23.Kxg2 f3+ 24.Kh1 fxe2 25.Rxe2 e agora talvez 25...Ne7, seguido de ...Nf5. 22.c4! Defesa correta, que parece criar uma brecha ao redor do muro do inimigo. 22...Nb6 E não 22...Qe4, devido a 23.Qxe4 e 24.Nc3. 23.cxd5 Nxd5 24.Nc3 Nxc3 25.Bxc3 c6 26.Bb4 Rd8 27.Qe4 Qf7 28.a3 h6 29.g3 Qf6 30.Bc3 Rd5 31.Qe8+ Kh7 32.Qe4 Qf5 33.Kg2 Qg4

Posição após 33...Qg4 As pretas não queriam mostrar as cartas, uma vez que o final lhes parecia bastante favorável após 33...Qxe4+ 34.Rxe4 fxg3 35.hxg3 Kg8 36.Re8+ Kf7 37.Ra8 a6 38.Rb8 Rd7 39.Kf3 Ne7 40.Ke4 Nd5. 34.f3 Qg5 35.Bd2 Qf6 Seria mais simples 35...Qd8. Por exemplo: 36.Bxf4 Rxd4 37.Qf5 Qd7

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38.Qc2 Rd3 e o bispo não poderá ocupar a importante diagonal c3-g7. 36.Bxf4 Rxd4 37.Qc2 Rd5? Omitindo a resposta que segue. As pretas deveriam ter jogado 37...Qd8. 38.Bd2 Qd8 39.Bc3 As brancas agora contam com um potente bispo e, portanto, têm a vantagem. 39...Rd3 40.Re4 Qd5 41.Qe2 Qd7 42.h4 h5 43.Re8 Rd1 44.Ra8 a6 45.Rb8 Com a idéia de provocar o avanço dos peões (uma vez que se ameaça 46.Rxb7), depois do que se trocariam as damas, com um final vencedor. Mas as pretas encontram uma resposta surpreendente e engenhosa. O lance correto, por conseqüência, seria 45.Qe4 e as pretas se manteriam flutuando através de 45...Qf7, talvez seguido por ...Rd5 e ...Rf5. Mas a defesa estaria muito longe de ser fácil.

Posição após 45.Rb8 45...Rh1!! 46.Kxh1 Marshall se decidiu por esse lance após ter refletido por 70 minutos! A defesa 46.Qe8 perde. Vejamos: 46...Nf4+! 47.gxf4 Qh3+ 48.Kf2 Rf1+ 49.Ke3 Qxf3+ 50.Kd4 Qd5+ 51.Ke3 Rf3+ 52.Ke2 Qd3+ 53.Ke1 Rf1++. Teria

sido desastroso 46.Qc4 Nxh4+! 47.gxh4 Qh3+ 48.Kf2 Qh2+, seguido de ...Qxb8. Tomar a torre parece ser obrigatório e, portanto, a partida está empatada. 46...Qh3+ 47.Qh2 Naturalmente, não 47.Kg1?, por 47...Qxg3+ 48.Qg2 Qxb8 49.Qg5 Qf4 50.Qxh5+ Qh6 e as pretas têm a vantagem. 47...Qf1+ 48.Qg1 Qh3+ Empate. 6 – O bispo com e sem o posto avançado

Quando reproduzir as próximas três partidas, o gentil leitor terá uma impressão definida com relação ao quanto os bispos são propensos ao neoromantismo [hipermodernismo, N. do T.], de uma forma como se não quisessem ser confundidos com os dos velhos tempos. No entanto, a diferença é imperceptível. Na partida 95, uma diagonal de bispo é tratada conforme os princípios que regem o jogo linear. Na seguinte posição: brancas – Rd1, Ne3, Pe4; pretas – Pc7, Pd6, seguindo a linha de pensamento de Meu Sistema, de onde extraímos esse esquema, podemos observar que no momento o jogo linear não tem um objetivo definido, pois a penetração na sétima fileira não é uma possibilidade real, em vista da firme posição inimiga. Porém segue 1.Nd5, que permite sublinhar o vago efeito linear, graças a um posto avançado do cavalo (a continuação seria 1...c6 2.Nc3 e o jogo linear tem um objetivo de ataque, ou seja, a casa d6). O processo aqui desenhado se muda para uma diagonal: esse é o tema da partida 95!

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Compare-se, na partida 61, o lance 28.Qf4. A dama em f4 constitui um posto avançado na diagonal. Na partida 96, os bispos são notáveis pela sua participação no ataque e na partida 97 pela sua participação defensiva. Considerando todo esse conjunto, a “diferença imperceptível” de que falamos, pode se constituir no fato de que a geração moderna de mestres pode analisar um pensamento construtivo pelo que ele é e valorizá-lo mais do que o faziam as gerações passadas. O valor e a imaginação aparecem sob uma luz diferente e melhor (veja os bispos precários da partida 96 e observe também o “valor de autonegação” exibido pelo bispo preto de b7 na partida 97).

mais importante, no entanto, só se manifestará no lance 13. 10...a5 A única forma de desenvolver o cavalo da dama. Falharia o lance 10...b5, devido a 11.Nxb5. 11.Nc4 a4 12.Bd4! b5 13.Ne5 Se, no decorrer da partida, me tivesse proposto situar esse cavalo em um posto avançado na coluna e, então não teria sentido publicar essa partida aqui. Porém, o concebi como um posto avançado diagonal: um vago efeito diagonal, até agora não definido, adquire, graças ao cavalo de e5, um aspecto definido que estabelece objetivos de ataque, ou seja, criados pela ação diagonal.

Partida 95 Nimzovitsch - Tartakower Carlsbad, 1923 Defesa Holandesa

1.Nf3 f5 2.b3 b6 3.Bb2 Bb7 4.g3 Bxf3 Essa troca parece desfavorável pois, como logo se verá, a formação de peões pretos carece de mobilidade. 5.exf3 e6 6.f4 Nf6 7.Bg2 c6 8.0–0 Be7 9.Qe2 0–0 Os bispos brancos estão bem situados, mas no momento exercem um efeito pequeno. 10.Na3! Esse cavalo se põe ao serviço dos dois bispos, pois na seqüência não somente procede a um reconhecimento do terreno, como também provocará o avanço dos peões pretos. Sua função

Posição após 13.Ne5 13...Nd5 Depois de 13...Na6, a continuação teria sido, não sacrifícios em c6, mas um simples desenvolvimento à base de Rfe1 e c4. 14.c4 bxc4 15.bxc4 Nb4 Com o desejo compreensível de de explorar a breve permanência do cavalo em seu posto central (d5), conforme o princípio “pelo centro em direção ao campo do adversário”. O esquema, no

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entanto, resulta desastroso. Mas com um jogo passivo (15...Nc7), acabaria se produzindo uma ruptura, d4-d5, que seria decisiva. 16.Bc3 a3 17.d4 N8a6 18.Rab1 Rb8 19.c5! Normalmente, a continuação apropriada é d5, porém a posição infeliz do cavalo é explorada mais facilmente através de 19.c5. 19...Bf6 20.Rb3 Bxe5 21.fxe5 Qa5 A única forma de cobrir o peão de a3. 22.Rfb1 Rb7 23.Qd2 Rfb8 24.Bf1 Qc7

Posição após 24...Qc7 Não há possibilidade de salvação. 25.Bxb4 Nxb4 26.Rxb4 Qa5 27.Rxb7 Qxd2 28.Rxb8+ Kf7 As brancas venceram depois de: 29.Bc4 Qxd4 30.Bb3 Qxc5 31.Rb7 Qxe5 32.Rxd7+ Kf6 33.Rbd1 c5 34.R7d6 Qc3 35.Rxe6+ Kg5 36.Re3 Qb4 37.Rc1 f4 38.Re5+ Kh6 39.Rexc5 fxg3 40.hxg3 g6 41.R1c4 Qe1+ 42.Kg2 g5 43.Rc6+ Kg7 44.Rc7+ Kf6 45.R4c6+ Kf5 46.Rf7+ Kg4 47.f3+ Kh5 48.Rxh7++.

Partida 96

Dalseg/Geelmuyden-Nimzovitsch

Oslo, 1922 Simultânea com consulta Abertura Inglesa

1.e3 g6 2.d4 Bg7 3.Nf3 d6 4.Be2 Nd7 5.0–0 e5 6.dxe5 Essa troca repentina do caráter da partida, de fechada para aberta, constitui uma surpresa, pois o normal é pensar, por exemplo, em 6.c4 Ngf6 (as pretas dificilmente adotariam a recomendação de Chigorin, 6...f5, com a qual o recurso ...exd4 perderia muita força) 7.Nc3 0-0 8.b3 e agora talvez 8...exd4 9.exd4 d5 10.c5 Ne4! 11.Nxd5 Ndxc5 etc. 6…Nxe5

Posição após 6...Nxe5 O bispo de g7 começa a dar sinais de vida. Se 6...dxe5 7.e4 Ngf6 8.Bc4! 0-0 9.Qe2, as pretas poderiam obter uma posição Hanham com dois tempos a mais (graças aos lances brancos e3-e4 e Be2c4), mas é duvidoso que o fianchetto seja a melhor forma de aproveitar o presente, pois a diagonal a3-f8 seguramente será débil. Por exemplo: 9...c6 10.a4 Qc7 11.b3 Nb6 12.Ba3 Re8 13.Nbd2. 7.Nxe5 Bxe5 8.f4 Bg7 9.e4 Ne7 10.c3

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As pretas poderiam responder de duas formas ao avanço 10.f4-f5: 1) aceitar o sacrifício, com 10...gxf5 11.exf5 Bxf5 12.Bg5 Bxb2 13.Rxf5 Bxa1, ou também, se considerarem essa linha de jogo muito perigosa, optar por uma mais tranqüila: 2) 10...gxf5 11.exf5 Bf6 12.Nc3 d5, seguido de ...c6, ...Bd7 e ...Qc7, ou também de ...b6 e ...0-0-0. 10...f5 11.Bd3 Está claro que as pretas planejam libertar-se com ...fxe4 e ...d5. Porém, por outro lado, isso teria conduzido ao debilitamento de alguns pontos centrais, como e4. Por conseguinte, seria preferível 11.Nd2. A expedição de reconhecimento por parte do cavalo não pode ser empreendida de forma precipitada. Uma variante plausível seria a seguinte: 11.Nd2 0–0 12.Bc4+ Kh8 13.Bb3! fxe4 14.Nxe4 d5 15.Ng5 h6 16.Nf3 e as brancas controlam o centro. 11...fxe4 12.Bxe4 d5 13.Bc2

Posição após 13.Bc2 13...d4! Com esse lance e o seguinte as pretas resistem à tentativa de consolidação das brancas, tal como indicado no comentário anterior. Muito mais fraco nessa fase teria sido o pouco imaginativo

13...Bf5. 14.cxd4 Qxd4+ 15.Qxd4 Bxd4+ 16.Kh1 Bg4 Esse lance tem mais de um propósito. Em primeiro lugar, permite abortar a manobra das brancas Nd2-f3 com ...Bxf3. Em segundo lugar, depois de 17.Re1, pode seguir 17...Kd7, sem que as brancas possam responder 18.Rd1; e em terceiro lugar, se 17.h3, o bispo se aferrará em permanecer na casa g4.

Posição após 16...Bg4 17.Re1 Se 17.h3, 17...h5 (pois seria muito mais fraco 17...Bf5 18.Ba4+ c6 19.Nd2 0–0–0 20.Nf3 e as brancas têm perspectivas de consolidação) 18.Kh2 Nf5!. Se 19.Bxf5, segue 19...Bxf5 e as pretas têm a vantagem do par de bispos. No caso de 19.g3 (para ganhar o bispo), então 19...h4! e as pretas vencem. Por exemplo: 20.hxg4 hxg3+ 21.Kg2 Rh2+ 22.Kf3 Rxc2 23.Na3 (ou também 23.gxf5 g2 24.Re1+ Kf7 25.Be3 Bxe3 26.Kxe3 Re8+) 23...Rf2+ 24.Rxf2 gxf2 25.Bd2 Bxb2, com vantagem material das pretas. Outra possibilidade seria (depois de 17.h3 h5 18.Kh2 Nf5 19.g3 h4!)

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20.Ba4+ (para conservar o bispo) 20...Kf7 21.hxg4 hxg3+ 22.Kg2 Rh2+ 23.Kf3 g2 24.Rd1 Rah8! 25.gxf5 gxf5! e as brancas estão indefesas frente a ameaça ...R8h3+ e ...g1=Q+. Por outro lado, está claro que as brancas também ficariam em posição inferior depois de 17.Nd2 (no lugar de 17.h3) 17...0-0-0 18.Nf3 Bxf3 19.Rxf3 Rhe8 20.Rb1 Nf5. Por fim, assinalamos a variante 21.Bxf5+ gxf5 22.Bd2 Bxb2! 23.Rxb2 Rxd2 e as pretas vencem. 17...Kd7! O rei avança com valentia. O fato de que ao assim fazê-lo esteja apoiado por seus bispos (que, por certo, estão no ar), faz-nos recordar das figuras acrobáticas mais audazes (nos referimos, é claro, às pirâmides humanas). 18.Nd2 Rae8 19.Nc4 Nd5 20.Bd2? Uma resistência maior seria oferecida por 20.Ne5+ (essa possibilidade de consolidar a posição se produz a intervalos, ao longo da partida). É certo que, de todos os modos, as pretas seguiriam conservando uma ligeira vantagem. Vejamos a seguinte variante: 20.Ne5+ Kc8 21.Rb1 Bf5 22.Bxf5+ gxf5 23.Bd2 Bxe5 24.fxe5 Kd7 e ...Ke6, com final superior para as pretas. 20…Be2 Ganhando um peão. A partida agora deveria pender para o lado das pretas sem maiores dificuldades. 21.Bb3 Bxc4 22.Bxc4 Nb6 23.Bb3 Bxb2 24.Rad1 Rxe1+? Um erro, que permite a ativação dos bispos adversários. Depois de 24...Kc8, as brancas não teriam nenhuma compensação pelo peão perdido.

25.Bxe1+ Kc8 26.Be6+ Kb8 27.Bh4 As pretas agora se encontram em posição crítica, pois é difícil encontrar uma defesa suficiente contra a troca das torres (Rd8+) seguido da caça de peões (Bg8 etc).

Posição após 27.Bh4 27…Nc8 É provável que a seguinte continuação bastasse para conseguir o empate: 27...c5 28.Rd8+ Rxd8 29.Bxd8 c4 30.Bxb6 axb6 31.Bxc4 e agora 31...Bc1 32.g3 g5 33.f5 Kc7 34.Kg2 Kd6 35.Kf3 (ou também 35.f6 Ke5 36.f7 Ba3 37.Kf3 h5) 35...Ke5 36.Kg4 Kf6 37.Kh5 Kg7 28.Rd8 Rxd8 29.Bxd8 Ba3! As pretas confiavam nesse lance. 30.g4? Isso perde. Também é duvidoso 30.Bg8, por 30...Be7 (30...h5? 31.Bf6! Be7 32.Be5 h4 33.Bh7! g5 34.f5 Nd6 35.f6 Bf8 36.g3! hxg3 37.hxg3 c5 38.Kg2 b5 39.Kf3) 31.Bxe7 Nxe7 32.Bxh7 Kc8 33.g4 Kd7 34.h4 b5 35.h5 gxh5 36.gxh5 Ke6 37.h6 Kf6 38.Kg2 c5 39.Kf3 a5 40.Ke4 a4, e as brancas não estariam fora de perigo. No entanto, parece igualar por completo 30.Bf6!. Por exemplo: 30...Ne7 31.g4,

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seguido de Kg2, com a ameaça Bxe7, g5 e Bg8. Ou também 30...Be7 31.Bg7 Bd6 32.f5 gxf5 33.Bxf5 h5 34.h4 etc. A troca prematura das torres (24...Rxe1+) parece ter lançado por terra a vitória. 30…Be7 O lance vencedor. 31.Bxc8 Bxd8 32.Be6 g5 33.f5 b5 As brancas não têm esperança, apesar dos bispos de cores opostas. 34.Kg2 c5 35.Kf3 Kc7 36.Ke4 Kd6 37.Bb3 c4 38.Bc2 Bf6 39.Bd1 a5 40.Bc2 a4 41.Bd1 a3 As brancas abandonaram. Partida 97 Stoltz - Nimzovitsch Berlim, 1928 Defesa Siciliana

1.e4 c5 2.Nc3 Nc6 3.g3 g6 4.Bg2 Bg7 5.Nge2 e6 As pretas querem estabelecer um posto avançado diagonal em d4, para o qual contam com o auxílio do segundo cavalo por g6. 6.d3 Nge7 7.Be3 Nd4 8.Qd2 Nec6 Veja o comentário anterior. 9.Nd1 Em nossa partida de Bad Niendorf, Kostic jogou 9.0-0, ao que seguiu 9...d6 10.Nd1 Qa5! 11.Nxd4 Qxd2 12.Bxd2 cxd4 13.c3 (é mais claro 13.c4) 13...Bd7 14.f4 dxc3 15.bxc3 Rc8, com algum jogo na diagonal. 9…Nxe2 Também não seria errado jogar de imediato 9...d5. Por exemplo: 10.Nxd4 cxd4, com pressão imediata sobre a coluna c aberta e a grande diagonal das pretas (g7-b2) que, cedo ou tarde

obrigará as brancas a jogarem c3. 10.Qxe2 Qa5+ 11.Qd2 Se 11.c3, Nd4 12.Qd2? Nb3. 11...Qxd2+ 12.Kxd2 d6

Posição após 12...d6 A ação diagonal, quando ainda não está definida, deve ser tratada com cuidado, pois poderia se transformar em nada. Melhores possibilidades eram oferecidas por 12...b6! 13.c3 Bb7 14.f4 d5 15.exd5 Ne7 16.Nf2 e agora talvez 16...Nf5. Era o momento de se reservar a opção de retomar, eventualmente em d5, com ...exd5. Depois do lance do texto, que reduz desnecessariamente as possibilidades, não é uma questão demonstrável que as pretas possam vencer. 13.f4 b6 14.e5 Bb7 15.exd6 0–0–0 16.c3 Rxd6 17.Nf2 Rhd8 A posição das pretas, ainda muito congestionada, oferece poucas possibilidades de ataque. 18.Rad1 Uma clara posição de empate, pois o peão de d3 é inexpugnável. Steinitz empatou em muitas posições similares, apesar da mais obstinada perseverança. Vamos dar uma olhada, por exemplo, na linha 18...Ne7 19.Bxb7+ Kxb7 20.Kc2

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Nf5 21.Rhe1 h5 22.Ne4 Rd7 23.Bc1. Ou 20...Nd5 21.Rhe1 f5 22.Bc1 e ainda que as pretas levem o seu rei para f7 (para proteger o peão de e6), as brancas dobram as torres na coluna e e podem esperar o assalto iminente (b6-b5-b4) com tranqüilidade. 18...e5 Uma tentativa “enérgica” que o meu jovem adversário pára sem dificuldades. 19.Rhe1 f5 20.Bxc6 Rxc6 Se 20...Bxc6, 21.fxe5 Bxe5 22.Bxc5. 21.fxe5 Bxe5 22.Bg5 Bf6 23.Bxf6 Rxf6 24.Re7 Agora as brancas conseguiram uma iniciativa considerável. 24...Rd7 25.Rde1 Bd5

Posição após 25...Bd5 As pretas não temem colocar o seu orgulhoso bispo na defensiva (em f7). Esse tipo de valor, alheio ao espírito do xadrez pseudo-clássico, parece característico do estilo neo-romântico [hipermoderno, N. do T.]. 26.Nh3 h6 27.Nf4 Bf7 28.h4 Kd8 29.Rxd7+ A retirada 29.R7e5 desembocaria em uma liquidação depois de 29...g5 30.hxg5 hxg5 31.Nh3 f4 32.Rxg5 (ou

também 32.g4 Bg6 33.Nf2 Bxd3 e c4) 32...fxg3 33.Rxg3 Bxa2, porém com o lance do texto, as pretas conseguem vantagem. 29...Kxd7 30.a3 g5 31.hxg5 hxg5 32.Nh3 Rg6 33.Re5 Be6 Agora o bispo, dentre outras coisas, forma uma ponte para a manobra …Kd7-e7-f6. 34.Ke1 Com 34.d4 a ponte teria sido inútil, porém a continuação seria então 34...cxd4 35.cxd4 f4 36.Rxe6 Rxe6 37.Nxg5 fxg3 e as brancas teriam que enfrentar um peão passado distante. 34…Ke7 35.b4 Kf6 36.Re3 Rg8 37.Kf2 Bd5 Agora o bispo sai do seu casulo. 38.c4 Bf7 Aqui seria preferível o simples 38...Bb7. Depois de 39.Kg1 Rh8 40.Nf2, não seria nada mau 40...f4. Por exemplo: 41.gxf4 gxf4 42.Re2 42...Rg8+ 43.Kf1 Bg2+ 44.Ke1 Bf3 45.Rc2 Rg1+, com vantagem. Ou também 42.Re1 (ao invés de 42.Re2) 42...Rg8+ 43.Kf1 Bg2+ 44.Ke2 (não é melhor 44.Kg1) 44...Re8+ 45.Kd2 Rxe1 46.Kxe1 Ke5 47.Kd2 Kd4 48.bxc5 bxc5 49.Ke2 f3+ 50.Kd2 Bf1, vencendo. Outras formações defensivas não seriam melhores, como (depois de 38...Bd7) 39.Ng1 Rh8 40.Nf3 Bxf3 41.Kxf3 Rh2, vencendo (42.Re2 Rxe2 43.Kxe2 Ke5 etc.). 39.Ng1 Rh8 40.Nf3 Rh1 41.Ne5! Melhor do que 41.Re1 Rxe1 etc. 41…Be6 42.Nc6 As brancas já não deveriam perder. 42…Rh2+ 43.Ke1 Ra2 44.bxc5 bxc5 45.Nxa7 Bd7 Uma última tentativa.

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46.d4 O empate seria conseguido através de 46.Nb5. Vejamos: 46...Bxb5 47.cxb5 Rxa3 48.Re8 (o mais simples!) 48...Rxd3 (a 48...Rb3, segue 49.Rb8) 49.b6 Rb3 50.Rb8! Ke5 51.b7 Kd6 52.Rd8+ Kc7 53.Rc8+ Kxb7 54.Rxc5 Rf3 55.g4 etc. 46...cxd4 47.Rd3 Ke5 48.Nb5 Bxb5 49.cxb5 Rb2! Iniciando uma penetração interessante.

Posição após 49...Rb2! 50.a4 g4! 51.Rd2 Somente 51.a5! Rxb5 52.Ra3 ofereceria alguma possibilidade de empate. 51...Rxd2 52.Kxd2 f4! 53.gxf4+ Kd6! As brancas estão perdidas. 54.a5 g3 55.a6 Kc7 56.Ke2 d3+ 57.Kxd3 g2 58.Ke4 g1Q 59.Kf5 Qb6 60.Kg5 Kd7 61.f5 Ke7 As brancas abandonaram. 7 – O complexo de casas débeis de uma determinada cor

Trata-se de uma ação típica do jogo do mestre moderno: um dos adversários trabalha de forma persistente sobre um

número de debilidades, todas as quais se encontram em casas de uma mesma cor. O processo de centralização (partida 23), assim como o de restrição, é executado com uma regularidade assombrosa sobre casas de uma mesma cor. Algo parecido ocorre no jogo alternado (veja o capítulo 5) pois pode ocorrer que as debilidades sejam brancas ou pretas, mas é raro que sejam em casas com cores diferentes (remeto o leitor para, por exemplo, a partida 71). Podem-se produzir casos excepcionais, nos quais o defensor de uma linha controlada pelo adversário (por exemplo, a coluna e) deva vigiar duas casas susceptíveis de invasão (por exemplo, e6 e e7, partida 93 – em cujo caso tenhamos um complexo de casas débeis de cores opostas). Que linha a defesa deverá seguir? (Para o ataque já demos as diretrizes oportunas no capítulo 5). Há três possibilidades: 1) É possível resistir ao jogo em casas de cores opostas. Tal estratégia (veja a partida 98) só é conveniente ao jogador de ataque, pois o jogador posicional dificilmente se sentirá confortável. Pois o tipo de posição em que um jogador deve se lançar por casas brancas e o outro tenha ocupado as casas pretas, é menos freqüente do que a tendência a uma liquidação gradual, cuja característica principal – as trocas – apenas se produz. (Veja o comentário ao lance 9 da partida 98). 2) É possível jogar para a recuperação do território perdido em casas de uma cor: uma estratégia correta, que aqui ilustraremos com um exemplo pertinente. 197

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Maróczy – Nimzovitsch, Carlsbad 1923

A partida prosseguiu assim: 23.a5 b5 24.Bxa7 Rxe5 25.Re1 (as brancas agora tratam de conquistar as casas pretas centrais) 25...Rxe1! 26.Qxe1 Re8 27.Qe5 (aparentemente conseguiram o seu objetivo) 27...Re7! 28.Bd4 (seria melhor 28.Bb6, para impedir 28...Qc7; depois de 28...b4 29.cxb4 Qxb4 30.Kg1 seguiria 30...h6 e ...Kh7, com jogo razoavelmente bom para as pretas) 28...Qc7 29.Re1 Qxe5 30.Bxe5 Rf7 31.g3 fxg3+ 32.hxg3 Rf8 33.Rb1 Rc8 (a posse da casa central e5 tem pouca importância nessa posição) 34.Rb4 g5 35.Ke3 Kf7 36.g4 Kg6 37.Rb1 h5 , empate. 3) É possível empregar medidas preventivas quando o adversário ameaça ficar demasiadamente forte em casas da mesma cor (veja na partida 99 o lance 12 que recomendamos para as brancas [Bb5]). Deve se esclarecer que nos inclinamos a dar preferência a esse último método. Partida 98 Nimzovitsch - Mieses Hanover, 1926 Abertura Inglesa

1.c4 e5 2.Nc3 Nf6 3.Nf3 Nc6 4.e4 A minha própria e especial Variante Dresden (compare com as partidas 31 e 52). 4...Bb4 5.d3 d6 6.g3 Bc5 7.Bg2 Merecia consideração o lance preventivo 7.h3. 7...Ng4 8.0–0 f5 Com esse lance se produz uma posição difícil de ser avaliada: o segundo jogador é forte nas casas pretas (por exemplo, f2 e d4), porém aparentemente as brancas podem obter contrajogo através de casas de sua cor. 9.Nd5 Ao invés desse lance, havia outras duas linhas de jogo a se levar em consideração: 1) 9.exf5 Bxf5 10.Ng5 Qd7 11.Bd5 Rf8 12.Nge4 Bb6 e as pretas estão em melhor posição. 2) 9.Bg5 Nf6 10.exf5 Bxf5 11.Nh4 Be6 12.Ne4 0–0 13.Kh1 e se agora 13...Qd7, então 14.Bxf6 gxf6 15.f4 Kh8 16.f5 Bg8 17.Nxc5, seguido de 18.Be4 Nd4, com possibilidades mais ou menos igualadas. Observe-se que (após 18...Nd4) o contraste entre as formações em casas brancas e pretas se manteve até quase o final (veja as observações preliminares nessa sétima seção).

Posição após

9.Nd5

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9...h6? Esse lance estanca a iniciativa das pretas nas casas de sua cor (pois ...h6 significa uma perda de tempo) e fustiga os planos do adversário nas casas brancas. Dificilmente se pode esperar mais de um único lance! Em lugar do lance do texto, as pretas deveriam ter jogado 9...0-0. Depois 10.Bg5 Qe8! 11.Nxc7 Qh5, não se pode jogar 12.Nxa8 (por 12...fxe4 13.dxe4 Rxf3), e se 12.h3, segue: 12...Nxf2, com problemas para as brancas: 13.Rxf2 Bxf2+ 14.Kxf2 fxe4 15.dxe4 Qxg5 16.Nxa8 Nd4 17.Rc1 – frente a ameaça ...Bxh3 – 17...Bxh3 18.Rc3 Bg4 19.Nc7 Qh5 20.Nb5 Bxf3 21.Bxf3 Qh2+ 22.Kf1 Qh1+, vencendo. As brancas, portanto, deveriam jogar 10.Bg5. No caso de 10.h3 (o que jogar, se não isso?) 10...Nxf2 11.Rxf2 Bxf2+ 12.Kxf2 fxe4 13.dxe4 Nd4 14.Be3 Nxf3, seguido de Bxh3 o jogo seria equilibrado. Depois do lance do texto, as pretas entram em dificuldades. 10.exf5 Bxf5 11.Nh4 Be6 12.Ng6 Rg8 13.h3 Ao controlar as casas de sua cor, as brancas agora partem para expulsar o adversário também das casas pretas. 13…Nf6 14.Be3! Preparando o avanço b4, que se tivesse sido realizado agora permitiria 14...Bd4. 14...Bxd5? Aqui parecia indicado 14...Bf7. O jogador com as pretas defende a sua posição contra as ameaças concretas que se possam apresentar, mas nada faz para restabelecer de uma forma coerente a situação sobre as casas brancas. É

interessante observar que 14...Qd7 (com a idéia de ...Qf7) não servia. Por exemplo: 15.b4 Bxe3 16.fxe3 0–0–0 (e não 16...Bxh3, devido a 17.Rxf6) 17.Qa4 Kb8 18.b5 Bxd5 19.bxc6! Bxc6 20.Bxc6 bxc6 21.Rab1+ Ka8 22.Ne7, vencendo.

Posição após 14...Bxd5? 15.cxd5 Nd4 Ou também 15...Ne7 16.Nxe7 e 17.d4, com vantagem das brancas. 16.f4 Qd7 Seria inofensivo 16...exf4 17.Rxf4 Ne6 e depois de 18.Bxc5 Nxf4 19.Qe1+ Kf7 20.Nxf4 Re8 21.Ne6, as brancas conservam o material de vantagem. 17.b4 Bb6 18.fxe5 dxe5 19.Nxe5 Qe7 20.Nc4 As pretas, é claro, estão perdidas. No entanto é elogiável o engenho desenvolvido por Mieses em busca de salvação. 20...Kd8! O lance 20...0-0-0 não serviria devido a 21.Nxb6+. Agora as pretas planejam ...Rhe8. 21.a4 Que lástima! A partida seria vencida de forma elegante através de 21.Re1. Por

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exemplo: 21...Qxb4 22.Rb1 Qc3 23.Qa4 Nc2 (único lance) 24.Bxb6! Nxe1 25.Bxc7+ Kxc7 26.Rxb7+! Kxb7 27.d6+ Nxg2 28.Qb5+, seguido de mate em três. Também teria vencido com facilidade 21.d6 cxd6 22.Re1 Qc7 23.a4 a6 24.Nxb6 Qxb6 25.Qd2 Re8 26.Bf2. De toda forma, o lance do texto também é vencedor. 21...Re8 22.Kh2

nas circunstâncias) 33.Nf7+ Kc7 34.Rc1+ Kb6 35.Rb1+ Kxa6 36.Qc1 Qxd3 37.Bf1. 32.Rb1 Qa4 33.axb7 Rb8 34.Qc5 Rc7 35.Qd4+ Nd7 Ou também 35...Rd7 36.Qe5 Rc7 37.Na5, com a ameaça mortal de 38.Nc6+ Rxc6 39.Qxb8+. 36.Qxg7 Rc5 37.Qh8+ Kc7 38.Qxh6 Qc2 39.Qd6+ Kd8 40.Rf1 Ke8 41.Rf8+ As pretas abandonaram. Depois de 41...Nxf8 42.Qxb8+ Kf7 segue 43.Qxf8+! Kxf8 44.b8Q+ Kf7 45.Qxa7+ e 46.Qxc5. A perda da qualidade alterou o curso lógico do desenvolvimento, porém não poderia afetar a essência da posição, ou seja, as opções de ataque nas casas brancas. Partida 99

Posição após

22.Kh2

22...Ne2! 23.d6 As brancas ficam cegas por esse avanço. Seria mais simples 23.Qxe2 Bxe3 24.Qf3, vencendo com extrema facilidade. 23...cxd6 24.Re1 Bxe3 25.Rxe2 Bg1+ 26.Qxg1 Qxe2 Agora as brancas precisam continuar trabalhando pela vitória. 27.Nxd6 Re7 28.a5 Rd7 29.Re1 Qd2 30.Nc4 Qxb4 31.a6 O ataque deverá triunfar. 31...Rc8 Se 31...b5, 32.Ne5. Vejamos: 32...Rc8 33.Nxd7 Nxd7 34.Rb1 Qc5 35.Qxc5 Rxc5 36.d4 Rf5 37.Bc6. Ou também 31...Rb8 32.Ne5 (ameaçando Qxa7, que se fosse jogado agora permitiria ...bxa6) 32...Qd4 (o melhor,

Anderssen/Nielsen - Nimzovitsch

Copenhagen, 1923 Simultânea de 3 partidas Defesa Nimzovitsch

1.e4 Nc6 2.d4 d5 3.exd5 Qxd5 4.Be3 e6 Com certeza, o melhor lance aqui é 4...e5. 5.Nf3 Bd7 Para intimidar um pouco os meus adversários, pois agora as pretas “ameaçam” pressionar em larga escala a coluna d. Objetivamente, é claro, é melhor 5...Nf6. Vejamos: 6.h3 (para impedir o eventual ...Ng4) 6...e5 7.dxe5 Qxd1+ 8.Kxd1 Nd5. Ou também (após 5...Nf6, 6.h3) 6...Qa5+ 7.c3 e5 8.b4 Qd5 9.b5 exd4 10.cxd4 Ne7! 11.Nc3 Qd8! e 12...Ned5 e as pretas consolidaram sua posição.

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6.Nbd2 É preferível 6.Be2. Por exemplo: 6...0–0–0 7.0–0 Nf6 8.c4 Qf5 9.h3 e a posição da dama preta é incômoda. Provavelmente após 6.Be2 0-0-0 7.0-0, as pretas tivessem que recorrer à incrível manobra 7...f6 8.c4 Qh5 9.Nc3 Qf7, depois da qual, no entanto, a sua posição também não fosse fácil de ser defendida. 6...0–0–0 7.Bd3

Posição após 7.Bd3 Uma idéia sutil. As brancas renunciam à evidente linha de ataque 7.Bc4 (seguido de Qe2 e 0-0-0) e não aborrecem a dama preta. Com certeza pensavam que a presença da dama preta em d5 não era indesejável, pois ao eventual ...e5 sempre poderiam responder com c4 e d5. 7...Nf6 8.0–0 h6 9.c3 g5 Para impedir que o cavalo chegue a e5. Ao mesmo tempo, a idéia é desenvolver o bispo por g7. 10.c4 Esse avanço acaba sendo agora mais perigoso do que nunca, pois ainda que a dama preta tenha que buscar casas não usuais, o certo é que resultarão favoráveis. O procedimento lógico, coerente com o nono lance, seria 10.b4,

com a possível continuação 10...g4 11.Ne1 Qh5 12.b5 Ne7 (e não 12...Bd6, pois após g3 e c4 o bispo teria problemas) 13.c4 Nf5 14.c5 Nd5, com possibilidades de contra-jogo. Depois da manobra do texto, a posição das brancas vem abaixo com rapidez incrível. 10...Qd6 11.c5 Qe7 12.Nc4 Como as pretas estão a ponto de conquistar território de casas brancas, a resistência também deveria ter uma tendência às casas brancas e, em conseqüência, seria melhor 12.Bb5!. 12...Nd5 13.Nfe5 Aqui seria preferível propor um sacrifício com 13.b4. Depois de 13...Nxb4 14.Rb1, o ataque das brancas não deveria ser menosprezado, vinculado com efeitos de bloqueio. 13...Bg7 14.Re1 Nxe5 15.Nxe5 Bxe5 16.dxe5 Bc6

Posição após 16...Bc6 Agora a posição das brancas é ruinosa nas casas de sua cor. Note-se a facilidade gradual com a qual se produz o desenlace. 17.Qc1 Nf4 18.Bf1 Nd3 19.Bxd3 Rxd3 20.b4 Qd7 21.Qc4 Rd8 22.a3 Ba4 23.Reb1 Bb5 24.Qc2 Qd5 25.Re1 g4 26.Qe2 h5 27.a4 Bc4 28.Qc2 h4 29.Qe2 Rd4 30.Qb2 Rd3

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31.Qe2 Rg8 32.Kh1 h3 Essa nova debilidade em uma casa branca (g2) soma-se às existentes em c6, d5, b5, d3 etc. É a gota que transborda o copo. 33.Rg1 hxg2+ 34.Rxg2 Ra3 35.Qe1 Rxa1 36.Qxa1 Qf3 37.Kg1 Rd8 As brancas abandonaram. 8 – O triunfo dos lances “feios” e “estranhos”

Nossos lances eram classificados com esses adjetivos cativantes. Hoje em dia, depois que as idéias modermas se impuseram de forma ampla, todos se surpreendem como uma linha de jogo tão genuína, bela e profunda como a Variante Hanham possa ter sido considerada feia um dia. Depois de 1.e4 e5 2.Nf3 d6 3.d4 Nf6 4.Nc3 Nbd7!, as pretas têm a intenção de posicionar outro peão no centro, com ...c7-c6, com o que, em algum momento, pensam em conseguir ali superioridade. Com relação a isso, que importância deve ser dada ao não desenvolvimento momentâneo do bispo da dama? Porém, os pseudo-clássicos só tinham um ideal: o desenvolvimento livre e desimpedido das peças. Mas nós não nos propomos a acertar as contas. A escola do formalismo está morta e não se pode açoitar um cavalo morto. Se nas páginas seguintes puderem ser observadas algumas críticas ao xadrez de outras épocas, o objetivo não é um acerto de contas, mas sim uma intenção puramente técnica. 1) 1.e4 e6 2.d4 d5 3.e5. “O erro decisivo”. Esse comentário, entre outros, pretendia dizer ao leitor que esse avanço – injustificado, pois o cavalo das pretas não se encontra em f6 e, portanto, não há

ataque – deve ser considerado feio. Na realidade e como o autor sustentou durante vinte anos, ainda que ninguém lhe desse ouvidos, 3.e5 não é nem um erro e nem um lance feio, mas sim um lance bom e racional. Depois de 3...c5, as brancas têm nada menos do que quatro (!) linhas igualadoras, ou seja: 4.c3, 4.exd5, 4.f3 e 4.Qg4. Na atualidade, a correção do lance 3.e5 é admitida de forma universal. 2) 1.e4 e5 2.Nf3 Nc6 3.Bc4 Nf6 4.Ng5. “O lance de um capivara”. Hoje todo mundo sabe que 4.Ng5 é uma tentativa fundada de castigar o desenvolvimento prematuro do cavalo do rei das pretas (3...Nf6?). 3) 1.e4 e5 2.Nf3 Nc6 3.Bb5 Nf6 4.0–0 Nxe4 5.d4 Be7 6.Qe2 Nd6 7.Bxc6 bxc6!! 8.dxe5 Nb7!. Uma gloriosa estratégia de retirada! Ou melhor dizendo, uma retirada combativa! Com essa retirada se infligem duas feridas ao adversário: ele ficará privado de um de seus bispos e foi criado para o próprio lado um centro compacto de peões de valor dinâmico. Um jogo cativante! Esse não é o julgamento dos pseudo-clássicos, os quais não vêem a dinâmica da retirada nem tampouco a beleza da concepção. Para eles toda a manobra era e continua sendo um penoso lance de cavalo. Oferecemos ao leitor duas partidas. Na partida 101 veremos “o bispo em b5 em uma partida fechada”, cuja formação, segundo Tarrasch, é “menos perdoável em um mestre que deixar uma peça em prise”. Na realidade, o bispo de b5 parece estar bem situado e poderia se situar nessa casa em 70% das partidas fechadas sem prejuízo algum, provavelmente inclusive de forma vantajosa. Na partida

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100 vemos a preparação (g2-g3) de um fianchetto que em seguida, “de forma inexplicável”, não chega a ser produzido. No entanto, é uma das partidas pensadas da forma mais lógica. Também em seu desenvolvimento posterior, a partida produz uma impressão em parte “misteriosa”, em parte “não harmônica”. Porém então e essa é a chave, a sensação estética no xadrez deve estar ancorada no pensamento. Quem confia somente nas aparências, pode perfeitamente chegar a um estado no qual os lances lhes pareçam feios, apesar de que de forma alguma mereçam tal classificação. A beleza, no xadrez, depois de tudo o que foi dito e feito, reside somente no pensamento. Partida 100 Nimzovitsch - Alekhine Nova Iorque, 1927 Defesa Índia

1.Nf3 Nf6 2.b3 d6 3.g3 e5 4.c4 Bizarro! As brancas não temem o avanço …e4. Qualquer outro teria jogado 4.d3. 4…e4 Esse lance debilita as casas pretas e planta as sementes das futuras dificuldades para o seu lado. 5.Nh4 Assim, pois, a casa g2 não estava destinada ao bispo, mas sim ao “estranho” cavalo. 5...d5 Esse lance teria sido bom contra 5.Nd4, porém aqui só leva a uma excursão da dama, o que deve ser colocado em reparos. No entanto, dificilmente exista algo melhor.

6.cxd5 Qxd5 7.Nc3 Qc6 8.e3 A possibilidade de fianquetar o bispo fica dessa maneira definitivamente adiada. 8...a6 Seria mais consistente 8...Bg4. A melhor continuação para as brancas seria então 9.Qxg4!, pois o cavalo perde um tempo ao se retirar. Por exemplo: 9...Nxg4 10.Bb5 Nf6 11.Bb2 a6 12.Bxc6+ Nxc6 13.Ne2 Ng4! 14.f3 (de outro modo segue ...Ne5) 14...exf3 15.Nxf3 0–0–0, com uma vantagem somente mínima para as brancas. Essa variante traz uma ilustração dos recursos defensivos das pretas que têm, como é óbvio, jogo sobre as casas brancas. Se jogarem suas conquistas de forma correta, embora não sejam muitas, dispõem da possibilidade de reduzir o ataque das brancas às casas pretas. A continuação escolhida por Alekhine faz a defesa mais difícil, ainda que não desesperadora. 9.Bb2 Bg4 10.Be2 Bxe2 11.Nxe2 Nbd7 12.Rc1 Qb6 13.0–0

Posição após 13.0-0 O lance 13.Qc2 merecia séria consideração. Por exemplo: 13...Bd6 14.Nf5. Ainda que as pretas aparentemente tenham uma resposta melhor:

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13...Nc5!, e agora se 14.Bd4, 14...Nd3+ 15.Qxd3 exd3 16.Bxb6 cxb6 17.Nd4 (ou também 17.Nc3 Ba3! e as brancas perdem o controle da coluna c) 17...Bc5 18.Rc3? Nd5 19.Rxd3 Nb4 20.Rc3 Bxd4, seguido de ...Nxa2 e as pretas têm uma posição melhor. Não obstante, voltando a 13.Qc2 Nc5, a variante parece favorável às brancas se, no lugar de 14.Bd4 jogarem 14.0-0. Vejamos: 14...Nd3 15.Bxf6! Qxf6 16.Nf4 (ameaçando Nd5), com vantagem das brancas. Com relação a outras possibilidades, (no lugar de 13...Nc5), depois de 13...00 14.0-0, continuamos a preferir o jogo das brancas, pois as pretas carecem de uma continuação plausível e o certo é que não somente essa linha, nem tampouco com a inferior do texto se poderá evitar a pressão. Não se poderá permitir que a ocasião perdida de iniciar o jogo nas casas brancas se repita. Por essa razão, vemos com receio o coup détat [Golpe de Estado, no original em francês- N. do T.] que Alekhine empreende dentro de poucos lances, justamente sobre as casas brancas. 13…Bd6 14.f3 Alekhine prefere 14.d3. 14...Be5?

Posição após

14...Be5?

Muito interessante! As pretas a todo custo tentam ocupar território branco (d3). Com relação a esse lance concreto, o que nos diz a concepção lógica da partida? Não podemos senão nos mostrarmos céticos: por que e como as casas brancas deveriam fazer sombra às casas pretas? Após o lapso das pretas em seu lance 8, a debilidade do segundo jogador nas casas pretas se tornou crônica. As brancas não cometeram erros, pois 13.0-0 não pode ser considerado como tal. Disso se deduz que a violenta, embora engenhosa, tentativa das pretas forçosamente deve ser incorreta. 15.Bxe5 Nxe5 16.fxe4 Nd3 17.Rc3 0–0–0 18.Qb1 Nxe4

Posição após 18...Nxe4 Não há “golpe de estado” que não implique algum sacrifício. É duvidoso que 18...Nc5 fosse melhor, depois, por exemplo, de 19.d3 Na4 20.bxa4 Qxe3+ 21.Rf2 (também é promissor 21.Kh1 Qxe2 22.Rfc1) 21...Ng4 22.Qf1. 19.Rxd3 Nxd2 20.Rxd8+ Rxd8 21.Qf5+ Kb8 22.Re1 Aqui também seria de se considerar 22.Rc1. 22...Qxe3+ 23.Qf2 Qd3 24.Nf4 Qc3? Com 24...Qc2 as pretas teriam boas

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possibilidades de empate. Isso prova que o “golpe de estado” estava correto? Ou que do jogo sobre as casas brancas ou pretas pode adquirir força à vontade? Não, nada disso. Em primeiro lugar, a retirada 24...Qc2 não é de todo clara. Em segundo lugar, resta ser demonstrado que que as brancas não pudessem melhorar o seu jogo em momento algum (por exemplo, no lance 22) e, por último, lamentavelmente há muitas posições nas quais uma superioridade evidente não é suficiente para forçar a vitória. Vencer à base do desgaste do adversário também deveria valer. 25.Re3 Qc1+ Agora segue uma dura luta. As brancas terminarão por se impor, mas somente após muitas horas de resistência tenaz. 26.Kg2 Qc6+ 27.Nf3 g5 28.Nd3 Nxf3 29.Qxf3 Qc2+ 30.Nf2 f5 31.Re2 Qc5 32.Nd3 Qd4 33.Ne5 f4 34.Nc4 Segundo Spielmann, o lance 34.g4 seria seguro, pois as brancas sem dúvida obteriam um ataque de meio jogo, mas desembocaria em um final? O peão passado não criaria problemas? 34...fxg3 35.Rd2 Qh8 36.Rxd8+ Qxd8 37.hxg3 Qd4 38.Qf8+ Ka7 39.Qf2 Qxf2+ 40.Kxf2 h5

Há um equilíbrio instável na balança e tudo dependerá de uma linha de jogo digna de estudo. Veja o comentário ao lance 41 das pretas. 41.Ke3 O lance secreto. 41...c5 A linha principal era 41...b5 42.Nd2! h4 43.g4 h3 44.Kf3 c5 45.Ne4 c4 46.b4 Kb6, pois a participação do rei preto parece bastante incômoda para o seu adversário, principalmente porque não há tempo para tomar o peão g5. Agora se produz a chave: 47.Kg3 e a 47...Kc6, então (e não antes) se tornará possível a captura do peão, 48.Nxg5 c3 49.Nf3!, vencendo. 42.a4 b5 43.axb5 axb5 44.Nd2 Kb6 45.Ne4 h4 46.g4 h3 47.Kf3 b4! O último clarão, antes que caia a escuridão. 48.Nxg5 c4 49.Ne4 cxb3 Ou também 49...c3 50.Nf2, seguido de Nd3. 50.g5 b2 51.Nd2 Kc5 52.g6 h2 53.Kg2 Kd4 54.g7 Kd3 55.g8Q Kxd2 56.Qa2 Kc2 57.Qc4+ As pretas abandonaram. Uma partida tremendamente disputada. Partida 101 Nimzovitsch - Gilg Kecskemet, 1927 Defesa Siciliana

Posição após

40...h5

1.e4 c5 2.Nf3 Nc6 3.Bb5 Esse lance é muito melhor do que a sua reputação e garante um jogo equilibrado. 3…Qc7 205

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Provavelmente a melhor resposta seja 3…d6. 4.c3 Agora a resposta habitual e desagradável a 4.c3, ou seja, 4...Nf3, é facilmente estancada através de Qe2. 4…a6 5.Ba4 Nf6 6.Qe2 e5 7.0–0 Be7 8.d4

8.d4 As brancas oferecem um peão, que as pretas deveriam recusar com 8...d6. 8…cxd4 Também não seria suficiente 8...0–0, devido a 9.Bxc6 Qxc6 10.dxe5 Nxe4 11.Re1 f5 12.exf6 Nxf6 13.Qxe7 Re8 14.Qxe8+ Nxe8 15.Rxe8+ Kf7 16.Ne5+, conservando a peça de vantagem. 9.cxd4 Nxd4 10.Nxd4 exd4 11.e5 d3 No caso de 11...Nd5, segue 12.e6 fxe6 13.Qxe6 Nb6 14.Bg5! Qd8 15.Bxe7 Nxa4! 16.Qb3 Qxe7 17.Qxa4, com jogo emagador para as brancas. Seria menos clara a continuação 14.Re1 Qd8 15.Bg5 Nxa4 16.Qxe7+ Qxe7 17.Rxe7+ Kf8, com vantagem duvidosa. 12.Qe3! Nd5 Posição após

Posição após 12...Nd5 Não seria melhor 12...Bc5 devido a 13.Qg3 Ne4 14.Qxg7 Bxf2+ 15.Kh1 (se 15.Rxf2, Qxc1+ 16.Rf1 Qe3+ e mate em quatro) 15...Rf8 16.Bh6 Bc5 17.e6! e as brancas vencem. 13.Qg3 g6 Se 13...0-0, segue 14.Bb3. 14.Bb3 Nb4 15.Bxf7+ Kd8 16.Bh6! Não parece que o bispo estivesse pensando na casa b6 mas, no entanto, é isso mesmo! 16…Nc2 17.Nc3 Nd4 Desespero. Se 17...Nxa1, 18.Nd5 Qc6 (o melhor) 19.Be3! d6 20.Bb6+ Kd7 21.e6++. Após o lance do texto, as brancas vencem rapidamente. 18.Qxd3 Qxe5 19.Rfe1 Qf6 20.Rxe7 As pretas abandonaram. Se 20...Kxe7, segue 21.Nd5+ e se 20...Qxe7, 21.Qxd4. 9 – A defesa heróica

Em princípio, seria de se esperar que cada aspecto da partida se visse influenciado no mesmo grau pelas novas idéias. No entanto, isso está distante de acontecer. No campo da defesa parece

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haver uma tenaz resistência à vigorosa influência do pensamento moderno. Chega a parecer que o espírito pseudoclássico, abandonando todas as suas posições, entrincheirou-se com exclusividade nesse território. De qualquer forma, o progresso no campo defensivo é infinitesimal. Um sinal de ataque no campo do jogador cria medo e apreensão e parece se impor na defesa, em termos gerais, uma imperceptível tendência convencional. A cuidadosa atenção à persistente correção de cada lance, um tímido afastamento dos caminhos desconhecidos e especialmente o temor ao “colossal”, ou seja, a algo em grande escala, o quanto tudo isso nos recorda vividamente o período pseudo-clássico de um passado que já morreu! A falha reside no fato de que se utilizam muito pouco as novas estratégias descobertas. O uso da profilaxia, a restrição, a centralização e a superproteção podem, no âmbito defensivo, desempenhar um grande papel. Atrevemo-nos a chegar ao ponto de dizer que toda a arte da defesa deve ser elevada a um plano superior. Sem dúvida, representa um mundo de diferença que o setor que está sendo atacado pelo inimigo confie em seus próprios recursos, ou que todo o tabuleiro irradie uma energia defensiva. O que poderia, por exemplo, significar a centralização senão uma coordenação planejada, como uma questão de princípios, sobre todo o tabuleiro? Incluímos nessa seção quatro partidas para ilustrar a defesa à base de medidas heróicas. Todas elas demonstram clara-

mente a intensa fusão entre os temas anteriormente referidos. Na partida 102, um centro restringido é cuidadosamente superprotegido e como conseqüência, uma formação subdesenvolvida adquire estabilidade. O retorno escolhido da dama para essa finalidade, nos lances 9 e 10, mostra um espírito verdadeiramente moderno. Na partida 103, a característica mais surpreendente é a tranqüilidade com a qual a defesa é conduzida e uma linha de aspecto inverossímel, tomada do mundo dos estudos artísticos, é utilizada com efeitos defensivos. A partida 104 é particularmente notável, pois a nova técnica defensiva surge em toda a sua plenitude por direito próprio: um ataque violento na ala é levado a um ponto morto em um momento oportuno, mediante uma reação no centro, executada com a maior intensidade. Esta partida também é significativa devido à característica que, como mencionado anteriormente, é contrária ao espírito dos pseudo-clássicos, ou seja, as manobras defensivas em larga escala, que permitem nutralizar ataques de grande força através de réplicas ou contra-medidas de igual valor. Como esse conceito amplo é, em conjunto, somente o produto de uma nova perspectiva, porém no geral não requeira um nível de jogo especialmente alto, não deveria ser inacessível para jogadores menos experientes. Também na partida 105 a técnica defensiva baseada nos princípios hipermodernos triunfa em toda a linha. O ataque inimigo, baseado nas casas pretas, é contido pela utilização casual das casas brancas, até surgir uma 207

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oportunidade de desferir um “golpe de estado” nas casas dessa mesma cor, ao mesmo tempo com a devolução do material conquistado. Algo similar se desenvolveu na partida 100, com a diferença de que, ao contrário da de Alekhine, a manobra da partida 105 se desenvolveu sobre uma base correta. O número de grandes jogadores defensivos é muito reduzido. O autor só conhece os seguintes: Steinitz, Emanuel Lasker, Amos Burn, Bernshtein, Duras e por último, mas não menos importante, Louis Paulsen. Esperamos que o nosso trabalho de pesquisa ajude a aumentar o número dos bons jogadores defensivos. Quero aproveitar essa oportunidade para dizer como é gratificante para nós que certo número de jovens mestres, como por exemplo, o brilhante e estrategicamente dotado Sämisch, mostre interesse no tratamento preciso das posições difíceis. Um viva para todos eles!

Partida 102 Brinckmann - Nimzovitsch Berlim, 1927 Defesa Nimzovitsch

1.e4 Nc6 2.d4 d5 3.exd5 Qxd5 4.Be3 e6 5.Be2 Como já foi explicado (veja a partida 99), 5.Nf3 teria causado problemas suficientes ao adversário. Mas esse lance de bispo também é forte. 5…Qxg2 Temos fé na força da defesa. 6.Bf3 Qg6 7.Ne2 Nb4

A moderna técnica defensiva consiste em manter uma pressão sustentada. O objetivo desse lance é a centralização ...Nd5. 8.Na3 Nd5 9.Nc4 A continuação correta seria 9.Nb5, ao que poderia seguir: 9...c6 (o melhor) 10.Nf4! Nxf4 11.Nc7+ Kd7 12.Nxa8 Ng2+, com jogo incerto (as tentativas de análise entre Lasker e o autor desembocaram em empate).

Posição após 9.Nc4 9...Qf6!! 10.Ng3 Qd8! Qual o sentido dessa manobra? Tem um duplo sentido: a dama procura segurança e enfatiza a idéia da centralização, pois três unidades já estão operando contra a ruptura planejada pelas brancas (c4 e d5), naturalmente depois de mover a dama. Resumindo: o cavalo central está sendo superprotegido. Torna-se claro que a retirada escolhida tem um efeito hipermoderno, pois as pretas manifestam a sua confiança na força da resistência da posição inicial, enquanto os pseudo-clássicos eram uns fanáticos pelo desenvolvimento rápido. 11.Qd2 Ngf6 Superproteção sustentada. 12.Ne5 c6!

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atrevimento. Seria mais correto 17.Rae1 cxd4 18.Qxd4 Bd7, ainda que também nesse caso as pretas não correriam maior perigo (19.Nf5? exf5 20.Ng6+ Be6 21.Nxh8 Ke7, vencendo). Também deveria ser considerado 17.Nd3 cxd4 18.Qxd4. 17...cxd4 18.Rae1 No caso de 18.Qxg7 poderia seguir 18...Rg8 19.Qxf6 Bxe5, com certa vantagem das pretas. Posição após 12...c6! Superproteção acompanhada de um compasso de espera! As pretas devem conservar a opção de ambos os roques o maior tempo possível, até que o seu adversário tenha se comprometido, ou seja, até que as brancas tenham rocado para um lado ou outro. A possibilidade de esperar na posição restringida das pretas é um outro recurso. Remetemos o leitor à seção 4 deste mesmo capítulo (O pequeno, porém seguro centro). 13.0–0! Depois de 13.0-0-0 seguiria 13...Bb4. Por exemplo: 14.c3 Be7 e as pretas se dispõem a rocar grande, com ...Qc7 (ou ...Qa5), ...Bd7 e ...Rf8. porém, após o lance do texto, o roque grande seria demasiadamente perigoso. 13...Bd6 14.Kh1 Qc7 15.c4 Nxe3 16.Qxe3 c5 O contra-ataque só poderá ter um efeito excelente em todos os casos, assim como também no plano psicológico, como já era conhecido nos velhos tempos. Por outro lado, com o lance do texto, a posição se faz menos compacta e portanto teria sido prferível jogar 16...Nd7!. 17.Qg5 Para castigar o adversário pelo seu

Posição após 18.Rae1 18...Kf8! Teria sido um erro jogar 18...0-0. Por exemplo 19.Rg1 h6 20.Qf4 Bxe5 21.Rxe5 Nd7 22.Nh5! Qxe5 23.Qxh6 g6 24.Rg5! Qh8 25.Rxg6+, seguido de mate em dois. 19.Rg1 h6 20.Qf4 Bxe5 21.Qxe5 Ou também 21.Rxe5 Nd7 etc. 21...Qxe5 22.Rxe5 Nd7 Seria mais simples jogar 22...g6. Por exemplo: 23.Rd1 Ke7 24.Rxd4 Rd8, com um final vencedor. 23.Rb5 As pretas teriam que superar dificuldades muito maiores após o lance 23.Ra5. 23...a6 24.Rb3 Ou também 24.Rb4 Ne5 25.Bg2 (no

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caso de 25.Bxb7?, segue 25...Rb8) 25...Nd3!, com a ameaça ...Nf2++. 24...Nc5 25.Ra3 Rb8 26.b4 Nd7 27.c5 Ne5 28.Re1 Nxf3 29.Rxf3 Bd7 30.Rd3 Rd8 31.Kg1 Bb5 32.Rd2 Rd5 33.Ne4 Ke7 34.Nd6 Um erro em uma posição desesperadora. Seria relativamente melhor 34.f3. Por exemplo: 34...Rhb8 35.Nd6 b6 36.Nxb5 axb5 37.cxb6 Rxb6 e as pretas vencem com facilidade. 34...Rg5+ 35.Kh1 Bc6+ As brancas abandonaram.

11.Qe3 Nb4 12.Ng3 Nxd3 13.Nxh5 Nxb2! 14.Bh6! A resposta que as pretas esperavam.

Partida 103 Leonhardt - Nimzovitsch Berlim, 1928 Defesa Francesa

Posição após 14.Bh6! 14...Nc4! 15.Qg5 A variante principal era 15.Qg3 Nf5 16.Qg4 g6!! 17.Bxf8 Bxc3 e o bispo branco de f8 não tem saída. Um tema de Rinck conhecido como a cruz do bispo. [O francês radicado na Espanha Henri Rinck (1870-1952) foi um dos principais compositores de estudos de finais artísticos em partidas de xadrez.- N. do T.] 15...Ng6 16.Nxd5 f6 Nesse ponto as pretas dispunham de outras duas boas continuações. Em primeiro lugar, a simples troca 16...Qxg5 17.Bxg5 f6 18.Be3 Rad8, com superioridade no final pelas casas brancas. Em segundo lugar, a sugestão de Kostic, 16...Bd2. Por exemplo: 17.Qxd8 Raxd8 18.Bxd2 Nxd2 19.Rfd1 Rxd5 20.Rxd2 Rxh5, ou também (após 16...Bd2) 17.f4 Qxg5 18.Bxg5 f6 19.f5 Bxg5, com peão de vantagem, ou finalmente 17.Ne3 gxh6 18.Qxd8 (18.Qxh6 Qxd4) 18...Raxd8 19.Nxc4 Rxd4 20.Rad1 Rfd8, novamente ganhando um peão. A linha da partida parece ser, contudo, a mais forte.

1.e4 e6 2.d4 d5 3.Nc3 Bb4 4.exd5 exd5 5.Bd3 Nc6 6.Nge2 Nge7 7.0–0 0–0 8.Bf4 Bg4 Até agora a partida se desenvolveu por linhas convencionais, mas com seu lance seguinte Leonhardt inicia os preparativos de ataque. 9.h3 Seria mais simples a continuação 9.f3 Bh5 10.Qd2, ou também 10.Be3, seguido de 11.Nf4. O enfraquecimento da casa e3 é defensável. 9…Bh5 10.Qc1 Ba5! Não se pode dizer que as pretas percorram trilhas desconhecidas. Se 11.a3 (para impedir ...Nb4), a intenção era jogar 11...Bxc3 12.bxc3 e o peão atraído a a3 oferece uma certa debilidade na formação das brancas, por outro lado, nada excepcional. No lugar de 11...Bxc3 (após 11.a3), também mereceria consideração 11...Bb6 e 11...Bg6. 210 9788598628097_MIOLO.pdf 210

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17.Ndxf6+ Rxf6 Ou também 17...gxf6 18.Qb5. 18.Bxg7 Rf7 19.Bf6 Qd6 20.Rad1 Se 20.Qh6, poderia seguir 20...Re8 21.f4 Re2 22.f5 Bd2 23.fxg6 Bxh6 24.gxf7+ Kf8 e as pretas vencem, ou também 23.Bg5 (no lugar de 23.fxg6) 23...Ne3 e as pretas não só têm uma peça de vantagem, como também um forte ataque. 20...Raf8 21.Qb5 No caso de 21.Qh6, as pretas podem jogar 21...c6 (ameaçando ...Bd8), e depois de 22.f4, Ne3 23.f5 Nxf1 24.Rxf1 (24.fxg6? Qh2+ etc.) 24...Bd2 25.Qxd2 Rxf6 26.Nxf6+ Qxf6, com vitória das pretas. 21…Qc6 22.Qxc6 bxc6 23.Bg5 Rf5 24.f4 Ne3 25.g4 R5f7 26.f5 Nxf1 27.Rxf1 Bc3 28.Rd1 Ne7 29.Rd3 Nd5 30.Kg2 Rb8 31.Kf3 Rb2 32.Nf6+

Posição após 32.Nf6+ 32...Rxf6 As pretas não pretendem prescindir de seu fantástico cavalo central, porém é claro que o simples 32...Nxf6 33.Rxc3 Rb6 também teria vencido sem problemas. O restante é facilmente compreensível. 33.Bxf6 Rxa2 34.g5 Rxc2 35.Be5

a5 36.g6 a4 37.Rd1 Rd2 38.Rb1 Bb2 39.gxh7+ Kxh7 40.Rg1 Bxd4 (salva tudo) 41.Rg7+ Kh8 42.Rg2+ Bxe5 43.Rxd2 a3 44.Re2 Bb2 45.Re8+ Kg7 46.Ra8 Nb4 As brancas abandonaram. Partida 104 Brinckmann - Nimzovitsch Copenhagen, 1924 Defesa Holandesa

1.d4 f5 2.e4 fxe4 3.Nc3 Nf6 4.Bg5 b6 Uma novidade, que parece extremamente arriscada. Após o habitual 4...Nc6, as brancas podem continuar com 5.d5 Ne5 6.Qd4 Nf7 7.Bxf6 exf6 8.Nxe4 f5! 9.Ng3 g6 10.0–0–0 Bh6+ 11.Kb1 0–0 12.Nf3!. Porém vale a pena mencionar outra continuação ainda não ensaiada: 4...Nc6 5.Bxf6! exf6 6.a3! f5 7.Bc4 Ne7 8.d5 e as brancas estão prontas para explorar a debilidade que causaria o avanço ...d7-d6. 5.Bc4 Parece muito melhor a troca indicada no comentário anterior: 5.Bxf6! exf6 6.a3! e as pretas estão em sérias dificuldades. 5...e6 6.Bxf6 Qxf6 7.Nxe4 Qe7! Só foram jogados poucos lances e a posição já oferece um leque de possibilidades. Observe-se, por exemplo, as seguintes variantes: 7...Qg6 8.Qf3 Bb7! (e não 8...d5, devido a 9.Bd3!) 9.Nd6+ Bxd6 10.Qxb7 0–0 11.Qxa8 Nc6, seguido de ...Qxg2, ou também 9.Nf6+ (no lugar de 9.Nd6+) 9...Qxf6 10.Qxb7 Qxd4 11.Qxa8 Bb4+ 12.c3 Bxc3+! 13.Kf1 0–0 e as pretas devem 211

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vencer. Por último, (depois de 7...Qg6 8.Qf3 Bb7), 9.Bd3! Bb4+ 10.c3 Rf8 11.Nd6+ Ke7 12.Nxb7 Rxf3 13.Bxg6 Rxc3 14.Ke2 Rc4 15.Bd3 Rxd4 16.a3 e as brancas têm que ganhar. A tentativa 7...Qg6 deve ser avaliada como desfavorável para as pretas.

Posição após 7...Qe7! 8.Bd3 Nc6 9.c3 Bb7 10.Nf3 0–0–0 Agora as brancas chegaram a uma posição que, segundo os cânones em uso, não pode ser considerada sustentável. Porém as opiniões geralmente aceitas nem sempre estão bem fundamentadas. Por exemplo: muito poucas posições são consideradas defensáveis, embora a maioria delas assim o sejam. Nesse ponto, posso acrescentar que parece jogável 10...d5, seguido de 11...e5. Por exemplo: 10...d5 11.Neg5 e5 12.dxe5 Nxe5 13.0–0 Nxf3+ 14.Nxf3 0–0–0 e as pretas teriam certas debilidades na coluna e e nas casas brancas: 15.Qa4 Kb8 16.Rae1 Qf6 17.Ne5. Esse desenlace não é surpreendente, pois uma transição repentina a um jogo aberto raramente não repercurte drasticamente na posição. 11.0–0 Rg8!

Posição após 11...Rg8! Tentativa de centralização, com a idéia ...g7-g5-g4, aliviando a pressão sobre a casa e5. Também poderia se pensar na alternativa “libertadora” 11...d5 12.Ng3 e5, que seria um erro, devido a 13.Nxe5 Nxe5 14.Re1. Porém a seguinte variante, algo incompreensível para a teoria atual, é jogavel sim: 11...d5 12.Ng3 h5 13.h4 e somente agora 13...e5, pois a captura anterior (14.Nxe5) falharia, uma vez que o peão de h4 está pendente. 12.Qe2 Kb8 13.a4 Talvez 13.Ba6 merecesse prioridade, pois o ataque à baioneta pode aguardar. 13...a5 O peão a, sem o bloqueio do bispo de a6, mostra agora a sua mobilidade. 14.Rfb1 g5 15.b4 d5 No momento oportuno, pois o cavalo não pode se retirar para a casa favorável d2, uma vez que caso 16.Nd2, então 16...axb4 e o avanço projetado a4-a5 não funciona, devido a ...bxc3, atacando o cavalo. 16.Ng3 axb4 17.a5 g4 18.Ne5 Nxe5 19.dxe5 c5

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Posição após 19...c5 Aparentemente as brancas vão vencer aqui com a captura 20.axb6, forçando a seqüência de lances com que contava o seu adversário, ou seja: 20...c4 21.cxb4 Rc8 (seria fatal abrir a coluna c com 21...cxd3? 22.Qa2 etc.) 22.Qa2 Rc6 23.Qa7+ Kc8 24.b5 Rc5!!, uma colocação da torre que não se vê todos os dias. A posição resultante está repleta de tensão. Os poderosos recursos defensivos enfrentarão fortes ataques, portanto a posição é de natureza heróica. Eis aqui uma ilustração: 25.Be2 Bg7 26.Bxg4 Bxe5 27.Re1 Rxg4 28.Rxe5 c3 29.Nf5 Qd7 30.Qa3 Rgc4 31.Ne3 Qxb5 32.Nxc4 Qxc4 33.Rxe6 c2 34.Ree1 e é provável que as brancas vencessem. Não obstante, as pretas podem melhorar a sus defesa através de 25.Be2 Bg7 26.Bxg4 Bxe5 27.Re1 d4, com grandes complicações. 20.cxb4 cxb4 21.Rc1 Se 21.axb6, simplesmente segue 21...Qc5. 21...Bh6 22.Rcb1 Qc5 23.axb6 Qxb6 24.Ra4 Bf8 25.Nh5 O cavalo ameaça se posicionar na casa f6. 25...Bc5 26.Nf6 Rg7 27.Bb5 Bc8 28.Rba1 Bb7

As pretas não conseguem respirar. 29.Kh1 As brancas, que conduzem o jogo com notável vigor, deveriam ter jogado 29.Rb1. 29…Bd4! 30.Rb1 Bc3 31.Ne8 Rg5 32.Qf1! Rxe5 33.Nf6! Qd6 34.Nxg4 Rg5 35.f3 Rdg8? As pretas abruptamente apostam no ataque na ala do rei, esquecendo-se momentaneamente de seu objetivo principal (jogo no centro contra um ataque na ala!). O correto e mais apropriado seria 35...Rgg8.

Posição após 35...Rdg8? 36.Ba6! Qb6 37.Qd3 Rc8 É obrigatório o regresso imediato da torre. 38.Bxb7 Kxb7 39.Qxh7+ Rc7 40.Qd3 Rg8 41.h3? Seria melhor 41.Ne3, ameaçando 42.Nd1 (ou 42.Nc2). 41...Rgc8 42.Ne3 Rc5 43.f4? Qb5 Consolidação. 44.Qd1 Ra8! 45.Rxa8 Kxa8 46.f5 Um erro, porém contra o bispo de c3 e os peões passados, a posição de toda forma é insustentável. 46...d4 47.f6 dxe3 48.Qf3+ Qc6 49.Qxe3 Bxf6 50.Rf1

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Ou também 50.Rxb4 Rc1+ 51.Kh2 Qd6+ 52.Rf4 Be5. 50…Rc2 51.Qg3 Be5 52.Qg8+ Kb7 As brancas abandonaram. Partida 105 Rubinstein - Nimzovitsch Carlsbad, 1923 Defesa Siciliana

1.e4 c5 2.Nf3 Nc6 3.d4 cxd4 4.Nxd4 d5 A novidade, que foi jogada pela primeira vez nessa partida, conduz a posições complicadas e portanto não pode ser recomendada ao jogador que só conhece uma forma estrita de jogar, ou seja, o largo caminho principal. Uma excursão às montanhas pode supor ter que caminhar à beira de precipícios (o que, é claro, não é para almas tímidas), mas por outro lado nos abre uma perspectiva maravilhosa. 5.exd5 Com relação à variante principal, 5.Bb5 dxe4!, veja a partida 44. Pode-se acrescentar que Lasker aqui recomenda 5.Nxc6 bxc6 6.exd5 Qxd5 7.Nc3 Qxd1+ 8.Kxd1, porém o final vantajoso obtido pelas brancas é de natureza problemática. 5...Qxd5 6.Be3 e6! Seria mau 6...e5 devido a 7.Nb5. Por outro lado, as pretas precisam da casa e5 para a sua dama. Se o peão a estivesse em a6, algo recomendável na Siciliana, então ...e5 poderia ser jogado, o que não significa que a jornada das pretas fosse cômoda ou fácil. Essa partida está destinada para a defesa em termos heróicos e não para um deslocamento

tranqüilo de madeira. Compare os lances da abertura com os de nossa partida contra NormanHansen (pretas): 1.c4 e5 2.a3 (as brancas jogam uma Siciliana com um tempo a mais) 2...Nf6 3.Nc3 d5 4.cxd5 Nxd5 5.d4 exd4 6.Qxd4 Be6 7.e4 Nc6 8.Bb5 Ne7! 9.Nge2 a6 10.Ba4 b5! 11.Qxd8+ Rxd8 12.Bc2 Ne5 (também seria de se considerar 12...Na5) e as pretas obtiveram espaço no centro. Em lugar do avanço “enérgico” 7.e4 seria preferível o mais restringido 7.e3. Por exemplo: 7.e3! Nc6 8.Bb5 e se agora 8...Ne7, então 9.Qe4!. Inclusive com 9.Nf3 (ao invés de 9.Qe4!) as brancas teriam uma posição melhor (uma vez que seria mais firme) do que a ocorrida na partida, a seqüência 9...a6 10.Ba4 b5! 11.Qxd8+ Rxd8 12.Bc2. O alegre avanço e4 (ou, respectivamente, ...e5) não parece se enquadrar no verdadeiro esquema da posição.

Posição após 6...e6! 7.Nc3 Bb4 8.Ndb5 Aqui parece a propósito 8.Be2 Nge7 (8...Qxg2? 9.Bf3) 9.0-0. 8...Qe5!

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Agora surge o aspecto brilhante do avanço contido 6...e6. 9.a3

Posição após 9.a3 9...Bxc3+! Não seria má a retirada 9...Be7. Por exemplo: 10.Be2 a6 11.Nd4 Nf6, para seguir com ...0-0 e ...Rd8. Porém a continuação adotada é mais consistente, pois o assalto sobre as casas pretas que agora pode ser feito pelas brancas pode ser perfeitamente resistido. Evitar complicações está fora do desenho da posição. Agora segue uma luta aterrorizante. 10.bxc3 Depois de 10.Nxc3 Nf6, as brancas teriam o par de bispos, porém as pretas estariam melhor centralizadas. A continuação do texto permite penetrar em d6, se bem que a custa de um peão. 10...a6 11.Nd6+ Ke7 12.Nc4 Qxc3+ 13.Bd2 Qd4 Com o objetivo de responder a 14.Bb4+ com 14…Nxb4!. 14.Bd3 b5 Para desviar o cavalo do complexo de

casas pretas. Ao mesmo tempo, se coloca em marcha uma ação de contrajogo sobre as casas brancas (...Bb7). 15.Na5 Qe5+ 16.Be2 Nxa5 17.Bxa5 Bb7 Para forçar a troca de damas (com 18...Qd5), no caso das brancas jogarem 18.0-0. 18.f3 Nf6

Posição após 18...Nf6 Finalmente as pretas encontraram tempo para desenvolver esse cavalo infeliz. No entanto, as opções que agora são oferecidas (d5 e e3) compensam o desenvolvimento tardio. 19.Bb4+ Ke8 Le Roi s´amuse! [Em francês, “O Rei se diverte!” – N. do T.] 20.0–0 Rd8 21.Bd3 Nd5 22.Ba5 Rd7 23.Re1 Qd4+ “A dama parece dispor sempre de um xeque para escapar”, é o surpreendente comentário do livro do torneio. 24.Kh1 Nf4 Colocando um fim no idílico par de bispos, algo que é possível pela centralização. 25.Qd2 Nxd3 26.cxd3

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40.Rd1 Qf5 A defesa anda escassa de linhas por casas brancas. 41.Qc7+ Kg6 42.h3 Re8 43.Rc1 Qf4 44.Rc6 Bf5 Ameaça ...Rc8. 45.Qd6 h4 Mais forte do que ...Re6. 46.Bd2 Qg3 47.Rc3 a5!

Posição após 26.cxd3 26…h5! Com uma peça fora de jogo, as pretas devem declinar (dando graças!) da captura do peão d3. No lugar dele, imaginam a manobra ...h4, seguida de ...Rh5-d5, ou também ...Rh8-h6-g6. 27.Rac1 Rh6 28.Bc3 Aqui seria mais apropriado 28.Re3 (para seguir com Rae1). Com certo otimismo, as brancas poderiam pensar que o peão g das pretas é menos intocável do que o branco de d3 e, por outro lado, se colocaria à prova a manobra ...f6 e ...Kf7. 28…Qxd3! 29.Qf4 Qd6 30.Qg5? Um lance anti-profilático, que facilita a manobra projetada pelas pretas (...f6 e ...Kf7), como indicado no comentário anterior. O correto seria 30.Qe3. 30...f6 31.Qe3 e5 32.Bb4 O bispo continua acumulando animosidade contra as casas pretas inimigas. 32...Qd4 33.Qb3 Qd5 34.Qc2 Qd3 35.Qc5 Kf7 36.Rc2 Rh8 As pretas por fim conseguiram a mobilização completa de suas forças. 37.Rd2 Qf5 38.Rxd7+ Qxd7 39.Qc2! Bc8! Se 39...Rc8, seguiria 40.Qh7.

47...a5! Um golpe de estado, no qual as pretas devolvem todos os seus ganhos materiais em troca de um ataque combinado em ambas as alas. 48.f4 Qf2 49.Rf3 Qe2 50.fxe5 Rxe5 51.Rf4 b4! 52.axb4 a4 53.Rxh4 a3 54.Kh2 a2 As brancas estão irremediavelmente perdidas. Em uma das alas têm que lidar com peão avançado livre e na outra enfrentam um ataque de mate. O arremate, no entanto, é muito interessante. 55.Bc3 Qe3 56.Bb2 Se 58.Bxe5?, 58...Qxe5+ 59.Qxe5 fxe5 e o peão a coroa. 56...Qe1 57.Qd4 Re3 Ameaçando ...Qg3+ etc. Posição após

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58.Qf4 Re4 59.Qg3+ Qxg3+ 60.Kxg3 Re2 61.Bd4 Rd2 As brancas abandonaram. A continuação poderia ter sido 62.Ba1 Rd1 63.Bb2 Rb1 64.Bd4 Rb3+, seguido de ...Rxb4, ...Rxd4 e ...a1=Q. A tragédia das brancas na fase final foi que tiveram que pagar um preço demasiadamente alto pela captura do peão a, ou seja, o deslocamento da torre. Os lances da dama preta são uma característica notável da partida. Parecem servir unicamente para rechaçar em determinado momento o perigo que ameaçava o seu lado e por conseguinte não têm uma idéia vinculante. Na realidade, trata-se de de um uso bem planejado do território central que ao mesmo tempo concede prioridade ao contra-jogo existente sobre as casas brancas. Resumindo: centralização e jogo por casas de uma cor por um lado e por outro, poderosa pressão sobre casas pretas. A vitória do segundo jogador pode ser proclamada nessas circunstâncias como um triunfo da defesa heróica, baseada em estratégias modernas. Vejamos, por último, um final que mostra com clareza meridiana a base sobre a qual se apóia o conceito defesa heróica.

Partida 106 Nimzovitsch - Behting Riga, 1909 Final

As pretas, que jogam, realizam um sacrifício evidente: 1...Nf3+ 2.gxf3 Qxh3 3.Bd4+ Kg8 4.fxe4 Rf3 Agora as brancas, que não pretendem se submenter a um pacífico empate com 5.Rfe1, lançam-se em uma aventura arrepiante, durante a qual têm que entregar uma torre para evitar o mate, ficando em desvantagem de qualidade e peão, aparentemente sem compensação. Mas não nos antecipemos... 5.Rc8+ Kh7 6.Rfc1 Qg4+ 7.Kf1 Rxe4 8.R1c7+ Kg6 9.Rg7+ Kh5 10.Rxg5+! hxg5 11.Rh8+ Kg6 As brancas evitaram a tremenda ameaça de mate (com ...Qh3+, Kg1, ...Rg4++), mas a que preço! Além disso, tanto a dama como o bispo estão atacados e não parece haver o menor sinal de ataque por parte das brancas. 12.Qc2! Isso completa a formação defensiva. As peças defensoras das brancas, em sua aparente desarmonia, oferecem um forte contraste em comparação com o trio de peças pretas. Mas, para que serve o preparo físico? As brancas devem perder porque têm qualidade a menos? Não! A defesa heróica das brancas se baseia na centralização do bispo e da dama (esta 217

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última apontando para g6 através de e4). A energia central concentrada a efeitos defensivos também é utilizável, como veremos, com efeitos ofensivos. Agora se apresenta a ameaça sub-reptícia 13.Rg8+ e no caso de 13...Kh7?, 14.Qc7+ Kxg8 15.Qg7++. 12...Qf5 13.Qc7 Com diversas ameaças de primeira ordem. 13...Re1+ Por sorte, as pretas dispunham dessa escapatória. 14.Kxe1 Qb1+ 15.Ke2 Qd3+ Empate, por xeque perpétuo. Nessa partida, a defesa heróica se baseou por completo na centralização. Deixemos que o leitor atento estabeleça o tipo e a extenção das trocas funcionais que cada unidade do trio das brancas (Qc2, Bd4, Rh8) experimenta com o 12º lance. Esse lance, como sabemos, foi o ponto de inflexão da partida, quando as peças defensivas das brancas de uma só vez se convertem em tropas de assalto. Com isso concluímos a seção 9, dedicada à defesa heróica. 10 – Combinações que “adormecem sob um fino manto”

Essa descrição excelente do Professor Adolf Anderssen (1818-1879) se aplica em combinações em partidas fechadas. Se esse Grande Mestre do período clássico estivesse vivo nos dias de hoje, é provável que tivesse catalogado sob essa epígrafe a todas as combinações da doutrina hipermoderna. Certamente, parece que haveria uma característica do moderno jogo combinatório que necessita ser estudado sem pretensões: as combinações aparecem e desaparecem,

por assim dizer, como um fantasma por entre as linhas, de forma muito tímida para se refletir no texto e inclusive quando o fazem, na crista de uma onda emergem da escuridão e saem para a prática do jogo, sem trovões nem relâmpagos, cuja aparição em cena de forma modesta (veja por exemplo na partida 107, 17...Ng6, no comentário ao lance 16) freqüentemente resulta em um contraste, diríamos quase deliberado, com a profundidade intelectual de sua concepção. Estamos longe, é claro, de declarar que a modéstia é característica do nosso tempo. Porém existe uma forma de modéstia que parece ser típica do pensamento moderno, ou seja, a subordinação do indivíduo ao conjunto (falamos de Reinhardt, Stanislavsky, do filme O Encouraçado Potemkin, no qual o único protagonista é o povo).[O austríaco Max Reinhardt (1873-1943) e o russo Konstantin Stanislavsky (1863-1938) foram dois célebres produtores e diretores teatrais europeus no primeiro terço do século XX. Reinhardt também produziu e dirigiu diversas peças nos Estados Unidos, para onde se mudou durante a II Guerra Mundial. O filme “O Encouraçado Potemkin”, realizado em 1925 pelo cineasta russo Sergei Eisentein, um clássico do cinema, retrata a Revolução de 1905 na Rússia, que pode ser considerada um movimento democrático, contra o autoritarismo do Czar Nicolau II. – N. do T.]. Ao lado da modéstia, há outro fator que também caracteriza a nossa época: o crescente amor pelos aspectos puramente técnicos. Também pode ser importante a campanha iniciada pelo autor, que visa substituir a estética existente no xadrez por um novo tipo. Não é belo nem a acumulação de vantagens minúsculas,

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nem a partida que é jogada dentro das linhas teóricas. Belo é aquilo que alinha os acontecimentos heterogêneos do xadrez com as leis da natureza, revelando assim com que amabilidade a Mãe Natureza se desemcumbe de suas obrigações. Até agora temos citado um fragmento de nossa dissertação Was ist Schön (Que é o belo?), publicada na Kagan Neueste Nachrichten (1926, página 484) e a partir daí selecionamos uma descrição da luta que, na nossa opinião, constitui um exemplo perfeito da nova estética no xadrez. Com um jogo negligente, as pretas seguem um caminho equivocado. Mediante um tremendo exercício de força de vontade, encontram um lance com o qual conseguem sustentar a posição. Assim colocam fim à tendência de queda. Então se produz um avanço, contrário a todas as probabilidades posicionais e a partida é de empate fácil. Por que, então o jogador com as pretas deveria vencer a partida? Bem, devido à dissolução, a que pôs fim através de um violento esforço de vontade, que então repercurtiu no sentido inverso. O especialista em enfermidades pulmonares conhece bem os sintomas. Uma vez interrompido o avanço da doença, se produz de modo infalível a tendência inversa, ou seja, o avanço até a sua cura. A falta de espaço não nos permite entrar em maiores detalhes, razão pela qual remetemos ao artigo citado. Mas acreditamos ter deixado claro com essas breves observações que a combinação moderna é menos ostentosa – uma vez que exclui o brilhantismo de pouca monta – e admite ser subordinada às exigências estratégicas, em comparação

com as da velha escola. Resumindo, a combinação moderna se atêm às características descritas por Anderssen, ainda que ele se referisse a uma que não era. Partida 107 Fluss - Nimzovitsch Partida Postal, 1912-1913 Abertura Italiana

1.e4 e5 2.Nf3 Nc6 3.Nc3 Nf6 4.Bc4 Bc5 5.d3 d6 6.Bg5 h6 7.Bh4 g5 8.Bg3 Bg4 9.h3 Bh5 10.h4 Se isso fosse jogado no lance anterior, teria sido muito forte 9...Nh5. Por exemplo: 9.h4 Nh5 10.hxg5 Nxg3 11.fxg3 Nd4 12.Nd5 Bxf3 13.gxf3 Qxg5! 14.g4 c6 15.Rh5 cxd5!! etc. 10...g4 11.Nd2 a6 Um lance de espera, que de passagem, impede Bb5. 12.Nd5 Nxd5 13.Bxd5 Ne7! Um sacrifício de peão com uma chave muito pouco habitual. 14.Bxb7 Ra7 15.Bd5 f5

Posição após 15...f5 16.f4 A continuação natural, 16.Be6 f4 17.Bh2, permitiria revelar a chave do

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sacrifício. As pretas então descartariam o espetacular 17...Bxf2+? em favor de 17...Ng6. Se 17...Bxf2+?, segue 18.Kf1 Be3 19.Nc4 Ng6 (única forma de cobrir o importante peão g) 20.Bg1!! Bxg1 21.Bxg4!, com vantagem das brancas. Em troca, resulta muito efetivo 17...Ng6 (se agora 18.Bxg4?, Qxh4 e observe-se que o cavalo em g6 interrompe um xeque, no caso de Bxh5) 18.g3 f3 e o bispo de h2 está enclausurado. Ou também 17...Ng6 18.Bg1 f3 19.gxf3 gxf3, seguido de ...Nf4, com vantagem das pretas. Acreditamos que o sacrifício combinatório 17...Ng6 é muito signicativo com relação às notas introdutórias. Na posição que estamos analisando, em vez de 16.Be6, também merece consideração 16.Qe2, em cujo caso seguiria 16...Nxd5 17.exd5 Qa8 18.c4 (o melhor e não 18.Bxe5 devido a 18...00!) 18...c6 19.dxc6 Qxc6 e as pretas, que dentre outras coisas, têm uma torre da dama muito móvel (observe as possibilidades como ...Ra7-e7 e ...Ra7g7) devem dispor de uma clara vantagem. O lance do texto, 17.f4, também tem os seus inconvenientes. 16...gxf3 17.gxf3 Nxd5 18.exd5 Rg8 19.Nf1 Se 19.Bf2, a continuação seria 19...Bxf2+ 20.Kxf2 c6!!, lance esse que concede à dama e à torre da dama uma mobilidade letal. Por exemplo: 21.dxc6 Qb6+ 22.Kf1 Rag7 e mate em poucos lances. 19...Qb8! Muito melhor do que 19...e4, que seria respondido com 20.Qd2, ameaçando Qxh6 e também, eventualmente,

Qe6+. 20.d4 Uma última tentativa de salvar a situação, pois se 20.b3, 20...Qb4+ 21.Ke2 e4, ou também 20.Rb1 Rb7! 21.b3 e ainda que agora não se disponha do xeque mortal de dama na casa b4, as pretas obtêm um resultado similar com 21...Bb4+ 22.Kf2 Qa7+ 23.d4 Bc3!, vencendo. 20...Bxd4 21.c3 Uma espécie de Gambito Evans. Se agora 21...Bc5, 22.b4.

Posição após 21.c3 21...Qxb2!! Uma elegante combinação final. 22.cxd4 Qc3+ 23.Kf2 Rb7! Não há resposta. 24.Rc1 Também é possível 24.Rh2, com uma conclusão similar. 24...Rb2+ 25.Kg1 Rxg3+ As brancas abandonaram. A 26.Nxg3 segue 26...Qe3+ e mate em f2. Se as brancas tivessem jogado 24.Rh2 (no lugar de 24.Rc1), seguiria a mesma linha: 24...Rb2+ 25.Kg1 Rxg3+ 26.Nxg3 Qe3+ 27.Kh1 Bxf3+.

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6 - Viagens pelo velho e pelo novo mundo do xadrez hipermoderno

Partida 108 Nimzovitsch - Krause Copenhagen, 1924 Defesa Holandesa

Esta partida está longe de produzir uma impressão combinatória e, no entanto, está coroada por combinações brilhantes e vistosas, que embora não se produzam realmente na partida, o seu brilhantismo paira nos bastidores. Recomendo com entusiasmo ao leitor que reproduza a partida com atenção especial, assim como as variantes cujas análises estão incluídas nos comentários. 1.d4 f5 2.Nf3 Nf6 3.Bf4 d6 A variante especial de Krause, que também joga em resposta a 3.c4. A chave desse plano reside em implementar o avanço e7-e5, inclusive à custa de um peão. Veja o sexto lance das pretas. 4.e3 h6 5.h4 Antecipando-se à projetada expansão do adversário ...g5 e ...Bg7. 5…Nc6 6.d5 Isso deveria ser jogado cedo ou tarde. Uma política de espera, com 6.c4 ou 6.Nbd2 falharia, devido a 6...Ng4 e as linhas que começam com 7.d5 e5 seriam menos favoráveis às brancas do que as derivadas do lance do texto, pois 6...Ng4 significaria um tempo valioso para as pretas. 6…e5 A prescrição de Krause, que no entanto não parece ser muito apropriada nesse caso. 7.dxc6 exf4 8.Bb5 A 8.cxb7, Bxb7 9.exf4 Qe7+ 10.Be2 Bxf3 e as brancas ficam com peões triplicados.

Posição após 8.Bb5 8...b6 Krause recomenda 8...Kf7 como o melhor lance. Em seguida, tanto 9.exf4 como 9.0-0 seriam desfavoráveis para as brancas. Vejamos: 1) 9.exf4 Qe7+ (não 9...Qe8+, por 10.Ne5+ dxe5 11.cxb7, vencendo) 10.Qe2 Qxe2+ 11.Kxe2 bxc6 12.Bxc6 Rb8. 2) 9.0–0 fxe3 10.Ne5+ Kg8 11.fxe3 Qe7! 12.Ng6 Qxe3+ 13.Kh1 Qg3 14.Nxh8 Ng4, vencendo. No entanto, com o simples lance centralizador 9.Qd4 as brancas obtêm um jogo superior, como pode ser visto na seguinte linha: 8...Kf7 9.Qd4 fxe3 10.fxe3 d5 11.Ne5+ Kg8 12.Nd2 b6 13.b4 (contra 13...Bc5), com clara vantagem das brancas. É notável como Qd4 exerce um efeito calmante sobre uma posição que parece ser um fervedouro combinatório. Intercalar lances posicionais é típico da combinação moderna. 9.exf4 d5! 10.0–0 Bc5 11.g3 Ne4 12.Kg2 g5 Provavelmente o melhor e a opção mais incisiva. Era também de se considerar 12...Qd6, ao que as brancas

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não devem responder 13.Ne5? devido a 13...Be6 14.f3 Nf6, com a ameaça ...d4, seguido de ...Nf6-d5-e3, mas sim 13.c3! a5 14.Nd4, com posição melhor para as brancas. 13.Ne5! 0–0! É claro, seria deficiente jogar 13...g4? 14.Nd7 d4 15.b4 Bxb4 16.Qxd4 e as brancas ganham peça. Depois do lance do texto, surge uma posição crítica.

Posição após 13...0-0! 14.hxg5! A resposta lógica. O lance 14.Qh5 falharia pela brilhante resposta 14...Qe8 15.Qxh6? Rf6, de modo que a dama em h5 deve ser protegida, se necessário, com Rh1. Por exemplo: 14.hxg5 hxg5 15.Qh5 Qe8 16.Rh1. Seria menos consistente 14.f3 (pois produz uma obstrução importante na diagonal d1h5), que teria desembocado em um jogo tremendamente agudo. Por exemplo: 14.f3 Nd6! 15.Qxd5+ Kh7 16.hxg5! (16.Nc3 Nxb5 17.Qxd8 Rxd8 18.Nxb5 Rd2+ só daria o empate) 16...Nxb5 17.Nc3! Nxc3? 18.Rh1!, vencendo, 18...Qf6 (era ameaçado mate em três) 19.gxf6 Nxd5 20.Rxh6+, seguido de mate em poucos lances. Depois de 14.f3 Nd6 15.Qxd5+ Kh7

16.hxg5 Nxb5 17.Nc3, as pretas, ao invés de 17...Nxc3 podem trocar as damas: 17...Qxd5 18.Nxd5, porém sua posição continuaria difícil. Vejamos: 18...hxg5 19.Rh1+ Kg7 20.Rh5, com um arrasador ataque das brancas. No entanto, poderiam oferecer uma resistência tenaz com 18...Rh8!. Por exemplo: 19.a4 (19.Nf7? Be6! 20.Nxh8 Bxd5 etc.) 19...Nd4 20.Nxc7 Rb8 21.Rh1 Kg7 22.gxh6+ Kh7 (não 22...Rxh6 pelo xeque intermediário em e8, com troca das torres e mate, 23.Ne8+ Kh7 24.Rxh6+ Kxh6 25.Rh1++) 23.Nd5 Rf8 (se ameaçava mate) 24.c3 e as brancas continuariam tendo que trabalhar duro para vencer. A continuação lógica do texto era portanto preferível, o que não é surpreendente, uma vez que inclusive nas posições mais fantásticas, a lógica desempenha a sua função. 14...hxg5 15.Qh5 Qf6

Posição após 15...Qf6 16.f3! Põe fim aos fantasmas! Sem temer 16...gxf4 17.fxe4 Qxe5 18.Nc3! e o peão e das brancas é tabu. Se 18...Rf7, teria seguido, após a devida reflexão, 19.Rxf4 e então as pretas teriam que

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descartar 19...Rh7, que resultaria um desastre devido a 20.Rg4+ Kh8 21.Qxh7+. Portanto, não há nada melhor que o desenvolvimento 19...Be6!, em cujo caso as brancas poderiam forçar a vitória em uma manobra digna de um estudo artístico: 20.exf5 Bxf5 21.Rh1 (ameaçando Rxf5!) 21...Be4+(as pretas devem buscar a simplificação) 22.Nxe4 Qxh5 23.Rxh5 Rxf4 24.Nxc5 Rb4 25.Na6 Rxb5 26.b4!! e vencem (mas não 26.Nxc7?, devido a 26...Rxb2 27.Nxa8 Rxc2+ 28.Kf3 Rxc6, ganhando o cavalo e o empate). A posição incomum alcançada após 26.b4 merece um diagrama:

peças pretas. 27...Rxc6 28.Re7+ As pretas abandonaram. Se 28...Kg6, seguiria 29.Nf4+ Kxg5 30.Re6 Bf6 31.c4! e as pretas sucumbem ao zugzwang. Era o destino desta partida que as combinações não chegassem a se consumar, porém devemos concluir por isso que não influenciaram decisivamente sobre o curso do jogo? Para fechar o livro, uma partida breve porém emocionante que, no entanto, não pode ser considerada totalmente correta. Primeiro as pretas executam uma combinação totalmente correta, mas em seguida, para evitar a troca das damas, embarcam em uma aventura duvidosa, que poderia ter terminado mal para os seus interesses. Partida 109 Spielmann - Nimzovitsch Estocolmo, 1920 Defesa Nimzovitsch

Diagrama de análise

Na partida, no entanto, o cavalo se retirou para d6. 16...Nd6 17.Nc3 Be6 18.fxg5 Qxe5 19.Qg6+ Qg7 20.Qxe6+ Qf7 21.Qxf7+ Kxf7 22.Bd3 Bd4 Se 22...d4, 23.Nd5, ameaçando b4 etc. 23.Nxd5 Bxb2 24.Rae1 Rae8 25.Nxc7 Rxe1 26.Rxe1 Rc8 27.Nd5! Mais preciso do que 27.Ne6 Re8 28.c7 Rxe6 29.Bc4. As brancas têm em mente a penosa imobilização de todas as

1.e4 Nc6 2.d4 d5 3.e5 Bf5 Mais simples do que 3…f6. 4.Ne2 É mais natural 4.Nf3. 4…e6 5.Ng3 Bg6 6.h4 h5 7.Be2 Be7 Assim fica justificada a manobra das brancas. As pretas poderiam ter jogado melhor, ou seja: 7...Nb4 8.Na3 c5 9.c3 Nc6 e o ataque das brancas ao peão h parece excessivo, em vista da tensa situação central. 8.Bxh5 Bxh5 9.Nxh5 g6 10.Nf4 Rxh4 11.Rxh4 Bxh4 12.Qd3 223

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Impede 12...Bg5, devido a 13.Nxe6!, vencendo.

Posição após 12.Qd3 12...Nge7!! 13.g3 Nf5 14.gxh4 Nfxd4 Agora as pretas apresentam uma ameaça dupla: 14...Nb4 15.Qxd4 Nxc2+ e 14...Nxe5 15.Qxd4 Nf3+, em ambos os casos com um duplo de cavalo ao casal real. 15.Na3 Qxh4 Seria mais simples 15...Nxe5 16.Qh3 Ndf3+ 17.Kd1 Qxh4, com um final promissor, porém as pretas queriam evitar a troca das damas. 16.Qh3 Para forçar a troca.

Posição após

Com a idéia de 17.Qh8+ Kd7 18.Qxa8 Qg1+ 19.Kd2 Qxf2+ 20.Kc3 Nb3!! (depois de finalizada a partida, também encontramos o dual ...Nf3). Não obstante, o lance 16...Qxh3 seria preciso. 17.Be3? Nesse momento, as brancas deveriam ter jogado 17.Nd3. Vejamos 17...Qg1+ 18.Kd2 Nxe5 19.Nxe5 Qxf2+, que teria sido insuficiente, como tampouco a opção 18...Kd7 19.Nc5+ (não 19.c3? devido a 19...Rh8! 20.Qxh8 Qg5+, com xeque perpétuo) 19...Ke7 20.Qh4+ Ke8 (ou também 20...g5 21.Qg3) 21.Qh8+ Ke7 22.Qf6+ e 23.c3. 17...Qg1+ 18.Qf1 Nf3+ 19.Ke2 Nfd4+ 20.Kd2 Nf3+ 21.Ke2 Ncd4+ 22.Kd3 Fatal. Para o bem ou para o mal, as brancas deveriam ter embarcado na continuação 22.Bxd4 Nxd4+ 23.Kd3 Qg5, por mais que a posição não seja exatamente invejável: 24.Kxd4 Qf4+ 25.Kd3 c5. 22...Qg5 23.Qh3 Qxe5 24.Rf1 0–0–0 25.b3 b5 26.Nxb5 Qe4+ 27.Kc3 Qxc2+ 28.Kb4 c5+ As brancas abandonaram. E com isso dou por terminado o livro e me despeço de meus leitores.

16.Qh3

16...Qg5!? 224 9788598628097_MIOLO.pdf 224

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Índice de Capítulos Os números se referem às páginas

prefácio, 3 1 – A CENTRALIZAÇÃO (partidas 1 a 23), 5 1. Descuido do complexo de casas centrais, 6 2. Pecados de omissão no território central, 10 3. A vitalidade das forças centralizadas, 15 4. Vamos aprender a conhecer em profundidade o território central. Algumas formas complicadas de centralização, 20 5. Uma massa central de peões móveis, 33 6. A entrega do centro de peões, 36 7. A Centralização como deus ex machina, 41

2 – RESTRIÇÃO E BLOQUEIO (partidas 24 a 52), 49 1. Restrição de avanços libertadores de peões, 50 2. Restrição de uma massa central de peões, 53 3. Restrição de uma maioria qualitativa (sobretudo, de uma cadeia majoritária), 60 4. Restrição no caso de um complexo de peões dobrados, 66 5. Sobre o processo de bloqueio, 80 6. Meu novo tratamento da cadeia de peões. A Variante Dresden, 99

3 – Superproteção e outras formas de profilaxia (partidas 53 a 60), 109 4 – O peão “d” isolado e os peões pendentes. O par de bispos (partidas 61 a 70), 125 5 – Manobras alternadas contra debilidades inimigas, quando se dispõe de vantagem espacial (partidas 71 a 77), 141 6 – VIAGENS PELO velho e PELO novo mundo do xadrez hipermoderno (partidas 78 a 109), 157 1. A tese da ineficácia comparativa do avanço de peões em massa, 157 2. O tratamento flexível da abertura (transposição de uma abertura para outra), 161 3. Jogo no centro e nas alas, 168

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4. O pequeno, porém seguro centro, 177 5. O tratamento assimétrico de variantes simétricas, 183 6. O bispo com e sem o posto avançado, 190 7. O complexo de casas débeis de uma determinada cor, 197 8. O triunfo dos lances “feios” e “estranhos”, 202 9. A defesa heróica, 206 10. Combinações que “adormecem sob um fino manto”, 218

Índice de capítulos, 225 índice de jogadores, 227 índice de estratégias, 229 índice de aberturas, 231

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Índice de Jogadores Os números se referem às páginas e os nomes em negrito, aos adversários de nimzovitsch que portavam as peças pretas 3 Amadores - Oslo, 1921 Ahues - Berlim, 1928 Ahues - Berlim, 1927 Ahues - Kecskemet, 1927 Ahues - Bad Niendorf, 1927 Alapin - Carlsbad, 1911 Alekhine - S. Petersburgo, 1914 Alekhine - Semmering, 192 Alekhine - Kecskemet, 1927 Alekhine - Nova Iorque, 1927 Anderssen e Nielsen - Copenhagen, 1923 Antze - Hanover, 1926 Behting - Riga, 1910 Behting - Riga, 1909 Berger - Londres, 1927 Berger - Londres, 1927 Berger - Londres, 1927 Bluemisch - Breslau, 1925 Bogoljubov - Londres, 1927 Bogoljubov - S. Petersburgo, 1913 Brekke - Oslo, 1921 Breyer - Gotemburgo, 1920 Brinckmann - Kolding, 1923 Brinckmann - Bad Niendorf, 1927 Brinckmann - Berlim, 1927 Brinckmann - Copenhagen, 1924 Capablanca - Nova Iorque, 1927 Cohn - Ostende, 1907 Cohn - Carlsbad, 1911 Colle - Londres, 1927 Colle - Baden-Baden, 1925 Dalseg/Geelmuyden - Oslo, 1922 Duhm - Hanover, 1926 Duras - San Sebastian, 1912 Enoch - Berlim, 1927 Fluss - Partida postal, 1912-13 Gemsöe - Copenhagen, 1928 Gilg - Kecskemet, 1927 Goldstein - Londres, 1927

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16 6 83 84 97 38 30 31 39 203 200 150 110 217 58 65 148 89 8 122 136 50 94 105 208 211 179 11 155 69 87 192 93 44 187 219 173 205 138

Grünfeld - Kecskemet, 1927 Hage - Arnstadt, 1926 Hakansson - Cristianstad, 1922 Hansen - Copenhagen, 1928 Jacobsen - Copenhagen, 1923 Jacobsen - Copenhagen, 1923 Janovsky - S. Petersburgo, 1914 Janovsky - Carlsbad, 1907 Johner - Dresden, 1926 Johner - Berlim, 1928 Kmoch - Bad Niendorf, 1927 Krause - Partida postal, 1924-25 Krause - Copenhagen, 1924 Kudrjavsev/Landau - Dorpat, 1910 Leonhardt - San Sebastian, 1912 Leonhardt - Ostende, 1907 Leonhardt - Berlim, 1928 Levenfish - Carlsbad, 191 Levenfish - Vilnius, 1912 Marshall - Nova Iorque, 1927 Marshall - Nova Iorque, 1927 Marshall - Nova Iorque, 1927 Marshall - Nova Iorque, 1927 Michell - Marienbad, 1925 Mieses - Hanover, 1926 Möller - Copenhagen, 1922 Morrison - Londres, 1927 Nielsen - Copenhagen, 1928 Nilsson - Copenhagen, 1924 Nilsson - Eskiltuna, 1921 Petersen - Copenhagen, 1928 Przepiorka - Kecskemet, 1927 Réti - Marienbad, 192 Réti - Carlsbad, 1923 Romih - Londres, 1927 Rubinstein - Carlsbad, 1907 Rubinstein - Semmering, 1926 Rubinstein - Carlsbad, 1923 Sämisch - Berlim, 1928 Sämisch - Carlsbad, 1923

35 88 119 182 127 180 71 131 74 174 102 130 221 128 96 138 210 18 24 41 54 79 189 158 198 185 118 159 168 176 153 162 22 81 33 132 165 214 27 55

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Sämisch - Dresden, 1926 Schlage - Berlim, 1928 Schlechter - Carlsbad, 1907 Schweinburg - Berlim, 1927 Spielmann - Carlsbad, 1923 Spielmann - Nova Iorque, 1927 Spielmann - Estocolmo, 1920 Steiner - Bad Niendorf, 1927 Steiner - Dresden, 1926 Stoltz - Berlim, 1928 Szekely - Kecskemet, 1927 Tarrasch - Hamburgo, 1910 Tartakower - Londres, 1927 Tartakower - Gotemburgo, 1920 Tartakower - Carlsbad, 1923 Vajda - Kecskemet, 1927 Van Vliet - Ostende, 1907 Vidmar - Carlsbad, 1907 Vidmar - Nova Iorque, 1927 Vidmar - Nova Iorque, 1927 Von Gottschall - Hanover, 1926 Von Holzhausen - Dresden, 1926 Von Holzhausen - Hanover, 1926 Von Scheve - Ostende, 1907 Vukovic - Kecskemet, 1927 Wendel - Estocolmo, 1921 Yates - Londres, 1927 Yates - Semmering, 1926 Yates - Londres, 1927 Yates - Carlsbad, 1923

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67 142 113 86 12 163 223 37 107 195 120 135 25 52 191 100 61 76 134 161 144 91 146 9 43 114 13 20 116 170

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Índice de estratégias Os números se referem às partidas

Cadeias de peões: 8, 23, 29, 30, 35, 38, 49, 50, 58, 59, 60, 84 Casas débeis de uma mesma cor: 20, 46, 49, 50, 59, 62, 72, 81, 86, 88, 91, 98, 99, 100, 105 Centralização: 1-23, 71, 78, 81, 83, 92, 102, 104-106, 108 Centralização deficiente: 1-6, 78, 104 Omissão de um ataque central: 5 Omissão de consolidação central: 1, 2, 4, 6, 23 Colunas Abertas, com ou sem postos avançados: 1-3, 9, 10, 12, 14, 21, 28, 34, 43, 53, 68, 73, 76, 81, 84, 90, 92, 93, 99 Neutralização de: 80, 93 Cravada: 37, 80, 98, 99, 101 Descravada: 2, 44 Defesa heróica: 63, 84, 85, 102-105 Diversas sutilezas posicionais Intuição posicional: 17, 18 Expedição de reconhecimento: 96 Lances de espera: 18, 53, 54, 81, 102, 107 Lances intermediários: 59, 74, 108 Ameaças de pouca intensidade: 88 Intervenção póstuma (transcendental): 36, 64 Debilidade reflexa: 90 Ponto morto: 86 Finais De damas: 13, 27, 75 De torres: 7, 21-23, 32, 33, 37, 50, 53, 61, 73, 84, 97 De damas e torres: 14, 22, 77 Torre e bispo vs torre e cavalo: 32, 33, 61, 81, 90 Torre e cavalo vs torre e cavalo: 51, 73, 79, 87 Dois bispos vs bispo e cavalo: 96 De bispos: 61 Bispos de cores opostas: 25, 36, 50, 72, 96, 99, 105 Bispo vs cavalo: 41, 62, 64, 65, 67 Cavalo e peões: 100 De peões: 23, 61, 90, 97

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Formações firmes e vulneráveis O centro restringido: 89, 90, 102 Sobrecarga do centro restringido: 89 Manobras em linhas interiores: 89, 90 Consolidação mediante retirada: 11, 71, 79, 85, 94, 102 Formações vulneráveis: 91 Consolidação frustrada: 96 Redução da própria escolha de lances: 97 Localização da ruptura inimiga: 15 (lance 23) Jogo de manobras: 16, 60, 67, 71-78 O par de bispos: 15, 19, 46, 50, 60, 63, 67, 69, 70, 95, 96 Postos avançados em uma diagonal: 61, 73, 95, 97 O que o jogador prático deve saber Devolução de material extra: 1, 10, 105 Interessantes tentativas de salvação: 41, 50, 51, 86, 94 (um empate interessante: 49) Fossilização: 34, 41, 43, 50, 84, 88 Coup d’etat: 100, 105 Peões isolados: 61-64, 72, 76 Par de peões isolados: 62 Os peões pendentes: 65-68 Peões passados: 7, 9, 21, 41, 51, 56, 70-73, 79, 97, 105 Luta contra o bloqueador: 7, 9, 17, 70, 73, 76 Ânsia de expansão: 15 (lance 41), 78, 96 Bloqueador reserva: 70 Profilaxia: 13, 15, 20, 21, 24, 25, 32, 33, 36, 38-41, 43, 49, 51, 53-56, 60, 63, 69, 70, 72-75, 81, 87, 88, 90, 105 Rei no final: 10, 41, 53, 62, 65, 72, 74, 84, 87, 97 Fuga do xeque perpétuo: 13, 27, 68, 75, 77 Restrição De uma massa de peões, prontos para avançar: 19, 23, 67, 70, 74 Bloqueio: 35, 36, 42, 59, 62, 67, 70, 73 Ruptura: 4, 12, 14, 28, 30, 38, 43, 48, 50, 71, 73, 78, 85, 97 Ruptura neutralizada: 4, 54, 102 Projeto de ruptura: 8, 44, 59, 65 Sétima fileira: 12, 14, 21, 24, 27, 45, 49, 51, 56, 58, 92, 107 Sétima fileira absoluta + peão passado: 12, 32 Sétima fileira neutralizada: 97 Oitava fileira: 25, 45, 51, 78, 84 Superproteção: 20, 44, 57-60, 62, 102 Xeque descoberto: 1, 27, 70, 75, 78, 83, 93

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Índice de aberturas Os números se referem às páginas

ABERTURAS ABERTAS Gambito do Rei: 110 Abertura Escocesa: 131, 138 Abertura Italiana Giuoco Piano: 219 Abertura Ruy Lopez: 37, 50, 113 Defesa Philidor (Variante Hanham): 38, 97 ABERTURAS SEMI-ABERTAS Defesa Francesa (a) Variante das Trocas: 86, 146, 187 (b) 1.e4 e6 2.d4 d5 3.Nc3 Bb4 4.exd5: 16, 20, 79, 185, 189, 210 (c) Abandono do centro: 39 (d) 1.e4 e6 2.d4 d5 3.Nc3 Nf6: 27, 122 (e) 1.e4 e6 2.d4 d5 3.e5: 18, 44, 96, 119, 120 (f) Irregular: 118, 144 Defesa Siciliana (a) 1.e4 c5 2.Nf3 Nf6: 13, 116, 142, 158, 159 (b) 1.e4 c5 2. Nf3 Nc6: 91, 107, 205, 214 (c) Outras variantes: 93, 134, 195 Defesa Caro-Kan: 12, 24, 130 Defesa Nimzovitsch (1.e4 Nc6): 86, 100, 102, 105, 114, 176, 200, 208, 223 Defesa Alekhine: 31 ABERTURAS FECHADAS Gambito de Dama e sistemas de Peão da Dama (a) Defesa Tarrasch (3...c5): 128, 132, 135 (b) Defesa Moderna (mal denominada Ortodoxa): 33, 127, 138 (c) Defesa Stonewall (Muro de Pedra - N. do T.): 9, 11 (d) Com obstrução do peão “c”: 76 (e) Com b2-b3: 61

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Defesas Índias (a) 1.d4 Nf6 2.c4 e6 3.Nc3 Bb4: 35, 71, 74, 83 (b) 1.d4 Nf6 2.Nf3 e6 3.c4 Bb4+: 161 (c) 1.d4 Nf6 2.c4 b6: 55, 69, 162, 174 (d) Com Bg5: 179, 180 (e) 1.d4 e6 2.Nf3 Nf6 3.e3 b6 (ou com as cores invertidas): 25, 41, 203 Abertura Inglesa (então Abertura Bremen - N. do T.): 6, 8, 58, 81, 148, 182 Defesa Holandesa: 52, 84, 87, 88, 191, 211, 221 Abertura Bird (para Nimzovitsch, “Abertura Holandesa com as brancas” - N. do T.): 65, 153, 163, 165 Defesas Irregulares contra 1.d4 ou 1.c4: 54, 136, 150 Aberturas Irregulares: 89, 168, 170, 173, 192

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