Populismo e Negacionismo 9786525004174

Populismo e Negacionismo: o Uso do Negacionismo Como Ferramenta para a Manutenção do Poder Populista Os populistas têm c

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Populismo e Negacionismo
 9786525004174

Table of contents :
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Introdução
Capítulo I - Dissecando o populismo
Capítulo II - Negacionismo
Capítulo III - Quando o populismo e o negacionismo se encontram
Capítulo IV - Mitigando o populismo e o negacionismo
Conclusão
Referências

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Fancelli, Uriã Populismo e negacionismo : o uso do negacionismo como ferramenta para a manutenção do poder populista / Uriã Fancelli. - 1. ed. - Curitiba : Appris, 2021. 117 p. ; 23 cm. – (Ciências sociais) Inclui bibliografias ISBN 9786525004174 1. Populismo. 2. Negação - Psicologia. 3. Poder de política. I. Título. II. Série.  CDD – 320.5662  Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT.

Editora e Livraria Appris Ltda. Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês Curitiba/PR – CEP: 80810-002 Tel: (41) 3156-4731 | (41) 3030-4570 http://www.editoraappris.com.br/

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Varussa

Moreira





Aos meus avós, que me incentivaram a conquistar. À minha mãe, que me permitiu voar. Ao meu marido, que me encoraja a realizar.

AGRADECIMENTOS Primeiramente, gostaria de agradecer ao embaixador Rubens Ricupero, por ter acreditado no meu trabalho e ter tido a generosidade de escrever o prefácio deste livro. Jamais imaginei que minha obra de estreia contaria com um selo de credibilidade tão grande quanto a assinatura de um dos maiores nomes da diplomacia nacional. Muitíssimo obrigado por sua disponibilidade e palavras que me tocaram a alma. Gostaria de agradecer também à Dr.ª Janny de Jong, fundadora e diretora do Euroculture, meu programa de mestrado na Universidade de Groningen, Países Baixos. Janny foi, também, minha orientadora na tese que deu origem a este livro e esteve comigo quase semanalmente, provocando-me com perguntas que me faziam refletir. Dank u voor alles! Quero deixar meu agradecimento ao meu amigo e antigo professor Marcus Vinicius de Freitas. Por mais que ele não tenha contribuído diretamente para a elaboração deste livro, não posso deixar de eternizar minha gratidão a ele nestas páginas, que contribuiu tanto para minha formação acadêmica e pessoal. Possibilitou-me circular pelo meio diplomático paulistano e participar de eventos internacionais, como as Reuniões Anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial em Washington. Agradeço a Joise Machado Peneiras, que há anos cuida da minha mente ansiosa e inquieta. Joise ajudou-me a manter o foco com nossas sessões semanais de terapia e ensinoume a importância da Psicologia, área da qual peguei diversos conceitos emprestados para a elaboração deste livro a fim de tentar explicar o comportamento humano. Obrigado pelas discussões sobre viés confirmatório e pelos diversos outros conceitos presentes nesta obra.

Gostaria de agradecer à minha mãe, Viviane, por me educar para ser um cidadão global, por me apoiar em meu programa de intercâmbio para a África do Sul em 2008, o que contribuiu para minha visão de mundo, e por me transmitir os valores que ela aprendeu com meus incríveis avós Ivone e Jáber Felippe. Também gostaria de agradecer aos meus irmãos, Mariana, Luan e Ana Luiza, por me apoiarem e estarem ao meu lado sempre que precisei. Agradeço e também dedico este livro à minha avó Dilma Fancelli, de quem tive que me despedir enquanto escrevia a última parte da obra. As palavras de incentivo que ouvi dela enquanto crescia foram fundamentais para me permitir sonhar que um dia poderia ser alguém de sucesso profissional e faria a diferença no mundo. Morar longe das pessoas que amo, dedicar anos da minha vida e investir no meu próprio desenvolvimento intelectual fizeram parte de uma estratégia para que isso acontecesse. Ela me ensinou muito e ajudou a moldar quem eu sou hoje. Obrigado por isso, e me consola saber que há uma parte sua vivendo dentro de mim. Por último, agradeço ao meu maravilhoso marido, Anderson Baumgartner. Obrigado por sempre estar ao meu lado, apoiando-me e me incentivando. Obrigado por embarcar nas minhas maluquices e me frear nas impulsividades. Você é meu alicerce. Obrigado por dividir a vida comigo.

Quanto menor for a mente, maior será a presunção Esopo (500-600 a.C.)

PREFÁCIO Indo além da análise dos fenômenos do negacionismo e do populismo, o livro de estreia de Uriã Fancelli constitui um verdadeiro manual normativo de orientação e conselhos para lidar com essas duas modalidades de patologia política. Não há exagero em utilizar a expressão “patologia política”, pois o próprio livro recorre de maneira analógica ao domínio da psicopatologia para classificar de “esquizofrênicas” algumas variedades que assume o populismo. A obra deriva de recente tese de duplo mestrado em Estudos Europeus nas universidades de Groningen (Países Baixos) e Estrasburgo (França), complementado por experiência prática como trainee na seção política da Delegação da União Europeia no Brasil. Está dividido em quatro seções: I) Populismo; II) Negacionismo; III) O encontro do Populismo com o Negacionismo; IV) Mitigando o Populismo e o Negacionismo. Logo no resumo e na introdução, Uriã Fancelli chama a atenção para um paradoxo. Embora populismo e negacionismo se encontrem associados com frequência crescente, quase avassaladora, os estudos acadêmicos limitam-se a enfocar separadamente um ou outro, sem articular a ligação, às vezes de caráter simbiótico, entre ambos. Outra surpresa realçada reside na escassez, para não falar na inexistência prática de publicações devotadas precisamente à análise da interação entre populismo e negacionismo, da maneira como os populistas utilizam o negacionismo de modo sistemático e de como, por sua vez, este último concorre eficazmente para prolongar o poder dos populistas. Como já se pode começar a perceber desses poucos parágrafos introdutórios, um dos principais méritos do livro consiste na sua extrema atualidade, na natureza

particularmente oportuna de um esforço de reflexão crítica sobre questões cruciais que nos afetam a todos neste exato momento. A atualidade dos temas se reflete já na bibliografia recente e, mais ainda, na frequência do recurso a artigos de jornais, revistas, noticiário da mídia. A ponto de transmitir por vezes a impressão de que temos nas mãos não um ensaio acadêmico frio e distante da realidade, mas uma peça rara de pesquisa universitária de primeira qualidade combinada com jornalismo reflexivo de alto nível. Na sua abordagem do fenômeno do populismo, Uriã Fancelli optou conscientemente por um mergulho no mundo de hoje, no exame de acontecimentos frescos, muitos dos quais ainda em vias de desenvolvimento. O populismo possui evidentemente antecedentes históricos mais ou menos remotos. É o caso, por exemplo, do movimento populista People’s Party, que se identificava com o homem comum explorado pelos capitalistas de Wall Street, chegando a disputar eleições na década de 1890 nos Estados Unidos. Da mesma forma, na Itália, na França e em outros países europeus, pouco depois da Segunda Guerra Mundial, ocorreram manifestações de inspiração populista, como o Fronte dell’Uomo Qualunque (Frente, depois Partido do Homem Qualquer) ou do Poujadisme. Não alcançaram, contudo, expressão significativa ou duradoura. Em razão desses precedentes, alguns historiadores chegam mesmo a pretender que o populismo é fenômeno recorrente, manifestando-se, ao longo do tempo, sob modalidades diversas, por meio de sucessivas ondas desde fins do século XIX. No caso da América Latina, com exceção da encarnação contemporânea do bolsonarismo de extrema direita, a maioria esmagadora de suas manifestações assumiu a

forma de movimentos, não partidos tradicionais, quase invariavelmente de orientação nacionalista e de esquerda. Os primeiros e historicamente mais marcantes desses movimentos foram o peronismo ou justicialismo argentino, liderado por Juan Perón e o varguismo ou getulismo brasileiro, seguidor de Getúlio Vargas. Ambos governaram por períodos longos, deixando um legado duradouro de legislação social e trabalhista e de instituições de bem-estar social. Essas duas notáveis correntes históricas resultaram, em última instância, da emergência de um novo ator no cenário social e político, o proletariado urbano resultante da industrialização e urbanização da Argentina e do Brasil. O aprismo peruano, fundado por Victor Raúl Haya de la Torre, apresenta algumas características semelhantes a seus congêneres argentino e brasileiro, mas se distingue também por traços originais. Mais perto de nossos dias, a partir das décadas finais do século XX, surge uma nova vaga de populismo latinoamericano com o chavismo, de Hugo Chávez, na Venezuela, o lulismo, de Luiz Inácio Lula da Silva, no Brasil, o populismo de López Obrador, no México, o kirchenerismo, de Néstor Kirchner, na Argentina. Todas essas correntes políticas possuem em comum com o peronismo e o getulismo a mesma inspiração social e reformista, tendem a posições nacionalistas contrárias à liderança norte-americana e revelam influência em graus distintos do pensamento e da práxis marxista. Conforme mencionado anteriormente, o livro de Uriã Fancelli preferiu concentrar-se mais na análise das modalidades contemporâneas, ainda em evolução, do populismo, de preferência a um enfoque de evolução histórica. A opção me parece perfeitamente acertada não somente em razão do caráter conciso, de espaço limitado, da tese, como principalmente devido à relevância maior

para nós do estudo de situações que repercutem diretamente em nossa existência. Se evoquei de modo resumido alguns dos antecedentes históricos foi por dois motivos. O primeiro decorre da necessidade de indicar a complexidade do que se convenciona denominar de populismo, da variedade de suas formas de expressão e, portanto, da impossibilidade de fazer com que todas essas modalidades possam caber dentro de um único figurino explicativo. O segundo tem a ver com a importância de demonstrar que os populismos no plural nascem sempre de mudanças sociais, econômicas, culturais e que se deve investigar com lucidez suas bases sociais a fim de compreendê-los plenamente. O populismo caracteriza-se por constituir tema que vem provocando intermináveis debates e controvérsias em razão da dificuldade de conceituar de modo satisfatório expressão aplicada, nem sempre com rigor, a fenômenos bastante diversos uns dos outros. Em parte, por isso, confesso que a seção dedicada ao estudo do negacionismo atraiu-me como especialmente nova e original, talvez até mesmo por se tratar de assunto que mereceu menor aprofundamento pela academia. Aprendi muita coisa interessante no exame cuidadoso que o autor promove das formas de negacionismo. O mesmo posso dizer em relação à seção seguinte, na qual se desvenda o processo pelo qual o populismo apropria-se de atitudes negacionistas como técnica de manipulação dos eleitores e de preservação do poder. Destaco igualmente pelo valor normativo a seção final, na qual Uriã Fancelli empenha-se em fornecer ao leitor razões objetivas para ter esperança de que podemos e devemos combater essas duas perigosas ameaças ao ideal da democracia liberal. Perpassa por todas as páginas desta obra um sopro de democracia, de confiança na razão, na ciência, na informação honesta, fiel à verdade.

No momento em que escrevo esta breve introdução, ainda se desdobra diante de nossos olhos espantados a tentativa, sem precedentes na história dos Estados Unidos, de um presidente populista e megalômano que não hesita em negar os números da eleição para não ter de admitir que foi derrotado em disputa lisa e honesta. Não se poderia imaginar ilustração mais poderosa e convincente da qualidade e riqueza dos argumentos expostos por Uriã Fancelli neste valioso estudo. A fim de estimular o leitor a ler esta obra, não me ocorre nada melhor do que as palavras com que o autor sugere como se pode superar o populismo e o negacionismo. O primeiro conselho é adotar a atitude científica de manter a mente aberta a novas evidências. O segundo, ainda mais elevado em termos de valor moral, consiste na consciência de não ser dono da verdade, que apenas se desvenda a quem tem a humildade de procurá-la com espírito desprevenido. São Paulo, 21 de novembro de 2020. Rubens Ricupero Ex-ministro do Meio Ambiente e Assuntos Amazônicos. Ex-ministro da Economia durante a implantação do Plano Real. Embaixador do Brasil na Itália e nos Estados Unidos. Representante permanente das Nações Unidas em Genebra. Ex-secretário geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento.

APRESENTAÇÃO Já no fim de meu curso de Relações Internacionais, comecei a me interessar pelo Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia. Ainda não havia caído a minha ficha, mas eu estava mesmo interessado nos movimentos populistas, que impulsionaram o país a optar por deixar o bloco. Depois de formado, resolvi fazer um mestrado, fora do Brasil, em um tema não muito comum: European Studies and Culture (Estudos e Cultura Europeus). Esse mestradoduplo, realizado nas universidades de Groningen (Países Baixos) e Estrasburgo (França), foi um divisor de águas na minha vida. Pude aprofundar meu conhecimento em diversos temas do meu interesse, como a construção histórica e política da Europa. Logo no início do mestrado, um assunto específico chamou minha atenção: o populismo. Quase sempre que eu tinha a oportunidade de escolher um tema para apresentar um seminário, eu o relacionava com o populismo. Logo, não pude deixar de escrever minha tese de mestrado sobre o assunto. Este livro é uma adaptação desta, originalmente chamada de The Use of Denialism as a Tool for Populist Power Maintenance (O Uso do Negacionismo como Ferramenta para Manutenção de Poder Populista). Mas não se assuste! Este livro é acadêmico? Sim! Entretanto, nem por isso, precisa ser chato. Busquei usar uma linguagem simples e fluída para que você não sinta tédio! Eu quero, nesta obra, dividir com você as respostas que encontrei para algumas questões que têm me inquietado nos últimos anos, como, por exemplo, por que algumas pessoas, não importa o que aconteça, não conseguem mudar de opinião sobre seus políticos de estimação? Todos nós conhecemos aqueles que defendem cegamente um político (seja de esquerda, seja de direita), e não temos a

resposta sobre como lidar com essas pessoas. Eu garanto que eu compartilho das mesmas frustrações que você! Se você também não entende como as pessoas podem ter atitudes negacionistas, este livro é para você. Se, no fundo da sua alma, você não consegue entender o porquê de parte tão considerável da população não ser capaz (e também de, aparentemente, não se esforçar) de deixar suas crenças de lado e enxergar a realidade, a ciência, os fatos científicos, acredito que este livro encher-te-á de respostas.

SUMÁRIO INTRODUÇÃO ١٩

CAPÍTULO I DISSECANDO O POPULISMO 23 As cinco causas do populismo 27 Características comuns de populistas 29 Diferentes regiões, diferentes formas, mecanismos similares 34 As consequências do populismo 36 Um estilo esquizofrênico da política 39

CAPÍTULO II NEGACIONISMO 43 Fabricadores de dúvida ٤٦ Os aspectos psicológicos 49 Teorias da conspiração 53 A mídia ٥٥ Internet, redes sociais e fake news 57 Ideologia 61

CAPÍTULO III QUANDO O POPULISMO E O NEGACIONISMO SE ENCONTRAM 65 As consequências ambientais 68 As consequências para a saúde humana 73 As consequências políticas 78

CAPÍTULO IV MITIGANDO O POPULISMO E O NEGACIONISMO 85 Desestruturando o populismo 87 Refutando o negacionismo 90 1. Defendendo a ciência 90 2. Conscientizando a sociedade sobre o consumo de informação 92 3. Usando a verdade como arma 94 4. Combatendo a ignorância 95 5. Sendo humildes 96 CONCLUSÃO ٩٩ REFERÊNCIAS 107

INTRODUÇÃO Após o referendo do Brexit, as eleições de políticos como Donald Trump e Jair Bolsonaro e o crescente número de votos dados a partidos populistas em toda a Europa, alguns dos maiores especialistas mundiais em populismo têm afirmado: o populismo veio para ficar1. E, a partir daí, os populistas parecem ter aprendido a empregar uma antiga estratégia para subir e permanecer no poder: o negacionismo. A fim de reunir as visões acadêmicas sobre o populismo, o livro The Oxford Handbook of Populism (2017) foi criado por alguns dos estudiosos mais renomados do mundo sobre o tema. Ele conseguiu agrupar muito do conhecimento acumulado e condensá-lo em uma única publicação. Embora apresente três diferentes abordagens principais sobre o populismo, nove capítulos focando em diferentes regiões do mundo e cerca de 20 capítulos relacionando o populismo individualmente a alguns dos mais diversos tópicos, como fascismo, nacionalismo, gênero, constitucionalismo e religião, o livro peca ao não mencionar o negacionismo. As palavras pós-verdade e negacionismo apareceram precisamente zero vezes ao longo de suas 704 páginas. Ao mesmo tempo, nos livros Post Truth (2018), de Lee McIntyre, e The Death of Expertise (2017), de Tom Nichols, que discutem o negacionismo, a palavra populismo e suas variantes apareceram apenas cinco vezes ao longo de suas 500 páginas. Isso aponta que a relação entre o populismo e o negacionismo ainda não tem sido explorada. Tanto o populismo quanto o negacionismo representam um perigo para a democracia. O populismo pode ter suas próprias consequências isoladamente: ele desafia o processo democrático e pode atuar como uma ferramenta ou instrumento para que se possa alcançar um regime autoritário e a permanência no poder. Quando usado como

discurso ou estratégia, o populismo pode levar à ruptura das instituições democráticas e, também, polarizar a sociedade em dois grupos antagônicos. O negacionismo também tem suas consequências: ele refuta o conhecimento científico em nome de uma ideologia. Os populistas parecem ter aprendido a usar o negacionismo a seu favor, como uma estratégia populista, e a desinformação propagada por eles parece estar se espalhando. Tratando-se dos trabalhos acadêmicos produzidos sobre populismo, The Oxford Handbook of Populism (2017) destaca que “a Europa Ocidental e a América Latina são as duas regiões que recebem mais atenção, de longe. Curiosamente, não há muitas pesquisas sobre populismo na América do Norte,”2 embora isso tenha começado a mudar após a eleição de Trump. A obra também aponta para a “existência de uma pequena quantidade de publicações com enfoque transregional. Isso seria um desenvolvimento muito bem-vindo, pois permitiria a geração de conhecimento cumulativo além de um país ou região específica do mundo.”3. Na tentativa de contribuir para o conhecimento acadêmico, esta pesquisa focará na Europa, Brasil e Estados Unidos tanto para contribuir com o número de publicações que tratam do populismo norte-americano, quanto para atenuar a carência de publicações com enfoque transregional. Também será utilizado o conceito de negacionismo, que tem relações tão explícitas com o populismo, mas ainda é pouco explorado. A principal questão a ser respondida é: até que ponto o negacionismo tem sido utilizado por populistas como um instrumento político para perpetuação no poder e o que poderia ser feito para mitigá-lo? Esta obra foi dividida em quatro capítulos. O Capítulo I irá responder o que é populismo, o que o causa, quais são seus mecanismos, bem como suas consequências, e irá finalizar sugerindo uma

nova classificação para ele, como um estilo esquizofrênico de se fazer política. O Capítulo II discutirá o negacionismo, bem como suas origens, os aspectos psicológicos que levam as pessoas a adotarem mentalidades negacionistas, teorias da conspiração, o papel da mídia e da internet, bem como fake news e ideologia. O terceiro capítulo responderá o que acontece quando populismo e negacionismo se unem, destacando suas consequências em três importantes frentes: ambiental, para a saúde humana e as consequências políticas. O capítulo pretende demonstrar que, embora o os efeitos do populismo e do negacionismo já sejam consideráveis quando ocorrem de maneira isolada, ao se unirem suas consequências podem ser ainda mais significativas. Um grande exemplo que será abordado é a negação da pandemia do Coronavirus. Depois de ter a Europa como epicentro mundial, em janeiro de 2021, os Estados Unidos atingiram mais de vinte e cinco milhões de casos, e o Brasil, nove milhões4. Os dois países que, durante muitos meses, lideraram o ranking mundial em número de infecções têm uma coisa em comum: ambos eram liderados por populistas que negaram a gravidade que a pandemia representou. Eles são o resultado de uma atitude negacionista que Nichols classifica como a morte do conhecimento: “é fundamentalmente uma rejeição da ciência e da racionalidade desapaixonada, que são os fundamentos da civilização moderna.”5. E, por último, o Capítulo IV responderá o que pode ser feito para que o populismo e o negacionismo sejam mitigados. A metodologia utilizada neste estudo é baseada na análise e adoção de definições produzidas como trabalhos acadêmicos sobre populismo e negacionismo, bem como reportagens e análises de discurso, postagens de redes sociais e declarações. Muitas das definições de populismo

são baseadas nas obras de Cas Mudde e Cristóbal Kaltwasser, que adotam a abordagem ideacional. Uma vez que essa abordagem define o populismo como uma ideologia flexível, que permite que seja anexada a outras ideologias, ela foi escolhida, já que o populismo adota diferentes “ideologias hospedeiras” em diferentes partes do mundo (e iremos comparar três regiões diferentes). As obras de Roger Eatwell, Matthew Goodwin, Jan-Werner Müller e Eirikur Bergmann também serão amplamente utilizadas para ajudar a traçar um quadro melhor sobre o populismo. As discussões sobre o negacionismo serão amplamente baseadas nas obras de Lee McIntyre (Post-Truth (2018), Respecting Truth (2015) e The Scientific Attitude (2019)) e Tom Nichols (The Death of Expertise (2018)). Por último, existem alguns pontos que devem ser esclarecidos. Quando populistas referem-se ao povo, eles o fazem de maneira excludente. Para os populistas, os únicos que fazem parte do povo são os que concordam com eles, portanto, a palavra povo será usada em itálico deliberadamente para destacar a natureza excludente do populismo. Quando me refiro à “democracia”, na verdade, refiro-me à democracia liberal, que pode ser definida como “um regime político, que não só respeita a soberania popular e o governo da maioria, mas também estabelece instituições independentes especializadas na proteção dos direitos fundamentais, como a liberdade de expressão e proteção das minorias.”6.

Capítulo I DISSECANDO O POPULISMO Um termo frequentemente contestado, o populismo tem ganhado cada vez mais espaço no debate acadêmico. Fenômeno que, após a Segunda Guerra Mundial, teve como epicentro a América Latina, o populismo começou a se espalhar mais intensamente pela Europa e América do Norte nas décadas seguintes, enquanto demonstrava que não podia ser contido por fronteiras. Este capítulo começará apresentando uma visão geral sobre o populismo, bem como suas principais abordagens. Em seguida, será dividido em cinco seções diferentes, que irão retratar suas causas, o perfil geral dos populistas, seus mecanismos e, por último, uma nova forma de classificá-lo, como um estilo esquizofrênico de se fazer política. Os primeiros movimentos que poderiam ser apropriadamente chamados de populistas surgiram no século XIX da ideia de que o povo poderia legitimamente reivindicar o poder do governo para reconstituir as instituições. Atualmente usado de forma pejorativa, há dois séculos, o termo não tinha uma conotação negativa7. Apesar da falta de consenso acadêmico sobre uma definição de populismo8, diferentes abordagens sobre o assunto foram cunhadas por estudiosos para explicá-lo. The Oxford Handbook of Populism (2017) é um livro de ٧٠٤ páginas que pode ser considerado um dos mais relevantes a reunir o conhecimento acadêmico acumulado sobre o tema em uma única publicação. Ele divide o populismo em três abordagens principais: uma abordagem político-estratégica, uma sociocultural e uma ideacional. Kurt Weyland, defensor da abordagem político-estratégica, define populismo como uma “estratégia pela qual um líder personalista busca ou

exerce o poder governamental com base no apoio direto, não mediado e não institucionalizado de um grande número de seguidores não organizados”9 Pierre Ostiguy, adepto da abordagem sociocultural, argumenta que o populismo pode ser medido por meio de um eixo elevado e inferior, assim como seu espectro político na esquerda e direita10. “A ordinalidade é particularmente útil tanto para política quanto para análises políticas”11, ele afirma. Cas Mudde, um renomado acadêmico do populismo e defensor da abordagem ideacional, afirma que o populismo é uma “ideologia que considera a sociedade como, em última análise, separada em dois campos homogêneos e antagônicos, ‘o povo puro ‘versus’ a elite corrupta’, e que argumenta que a política deve ser uma expressão da vontade geral do povo”12, ou volonté générale. Como a abordagem ideacional é considerada a mais amplamente usada na área atualmente13 e os que a utilizam consideram o populismo como uma ideologia flexível14, que permite que se anexe a outras ideologias hospedeiras, ela será adotada como nosso ponto de partida para os fins desta pesquisa. Para melhor compreender o populismo, é fundamental conhecer os seguintes conceitos: (1) o povo, (2) a elite e (3) a vontade geral do povo. O povo é um conceito crucial, a julgar pelo simples fato de que, na democracia atual, é a principal fonte de autoridade política. O povo pode delegar poder, mas também reivindicá-lo. Ao mesmo tempo que o povo legitima a democracia, pode ser usado por populistas para distorcêla e explorá-la15. Para que o populismo ocorra, alguém deve afirmar falar em nome do povo16. O estudioso argentino de populismo Ernesto Laclau argumenta que a vagueza que acompanha o conceito de povo é o que o torna tão poderoso. Ela permite que populistas articulem-se com diferentes grupos e forjem a impressão de que estão

lutando pela mesma causa, mesmo que tenham demandas completamente diferentes. Ao afirmarem falar em nome do povo, os populistas não só ignoram o conceito de pluralidade na sociedade, algo que pode ser nocivo às minorias, mas também enganam a população que ela será politicamente representada por alguém do povo, um compatriota que lutará contra as aflições nacionais causadas pelo resultado das atitudes das elites corruptas dominantes. Para reiterar seu pertencimento ao povo simples, populistas costumam adotar “elementos culturais que são considerados sinais de inferioridade pela cultura vigente”17. Eles aparentam ansiar pela atenção da mídia e, para garanti-la, muitas vezes apelam para um “comportamento político amador e não profissional que visa maximizar a atenção da mídia e o apoio popular”18. Eles o fazem ao desrespeitar códigos de vestimenta, ao usar um linguajar chulo e ao se apresentar “não apenas como diferentes e originais, mas também como líderes corajosos que se posicionam com ‘o povo’ em oposição à ‘elite’.”19. Em 14 de fevereiro de 2019, por exemplo, o deputado brasileiro Major Vítor Hugo tuitou a foto de uma reunião oficial do governo em que o presidente Jair Bolsonaro usava chinelos20. O código de vestimenta de Bolsonaro era claramente uma tentativa de se distanciar da figura do político tradicional que usa ternos feitos sob medidas por alfaiates. Essa é, também, uma maneira de se aproximar do brasileiro comum. Embora populistas possam ter características diferentes, uma comum é afirmar falar em nome do povo21. Além disso, graças à natureza discriminatória e excludente do populismo, para eles, apenas algumas pessoas são consideradas parte do povo22, um conceito que geralmente é definido de acordo com alguma característica marcante e específica com qual a nação se identifica23. Nenhum

populista ocidental, por exemplo, descreve seu povo como ateu ou muçulmano24. Isso significa que, para o populista, fará parte do povo aqueles que possuírem alguma característica específica com que seu eleitorado-alvo se autoidentifique25. O lema da campanha de Jair Bolsonaro foi “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”26. Sua intenção por trás disso era estabelecer um vínculo com 81%27 dos 210 milhões de brasileiros que se declaram católicos ou evangélicos. Bolsonaro chegou a expressar, em diversas ocasiões, sua intenção de nomear um ministro “terrivelmente evangélico”28 para uma das vagas no Supremo Tribunal Federal. Quem os populistas caracterizam como povo depende de qual ideologia eles decidem associar ao populismo29. Como o populismo é algo flexível, ele raramente aparece sozinho. Ele é mais poderoso quando vem acompanhado de outras ideologias hospedeiras, como o nacionalismo, socialismo, agrarianismo, etc.30. A elite, segundo os populistas, é a responsável pelos maiores problemas da sociedade. É por isso que populistas são antielitistas31. Ao contrário do marxismo, o que separa a elite do povo não são as classes sociais, e sim a moralidade: o moral contra o imoral32. Populistas gostam de criticar publicamente as elites econômicas, culturais e da mídia33, geralmente retratadas como um grupo de pessoas corruptas que trabalham contra os interesses do povo34. O papel da elite é escolhido com base no grupo que fará o papel do povo e vice-versa. Na Europa, por exemplo, de acordo com certos populistas de direita, a elite é frequentemente representada por aqueles que defendem a integração da União Europeia e, assim, ameaçam as identidades nacionais dos Estados-membros ao mesmo tempo que permitem a imigração de forma exacerbada35. Já nos EUA, Trump e seus apoiadores atribuíam o papel de elite aos globalistas

corruptos36. No Brasil de Bolsonaro, o status de elite não é atribuído aos ricos empresários, como fazia o governo petista, e sim à própria esquerda corrupta. Se, à primeira vista, o conceito de volonté générale pode parecer altruísta, quando analisado mais de perto, é possível desconstruir a ideia de que ele se refere unicamente à formulação de políticas que visam cumprir a vontade comum. Na verdade, esse conceito é utilizado por populistas como forma de legitimar o autoritarismo ao mesmo tempo que se disfarça de uma busca pelos interesses comuns da nação. Ao agirem para supostamente dar ao povo o que ele deseja, tudo passa a valer! Inclusive atitudes ilegais ou imorais37, algo que os populistas frequentemente prometem combater durante suas campanhas eleitorais. As cinco causas do populismo Considerando o atual cenário político mundial, é possível perceber que, de maneira geral, populistas têm conquistado cada vez mais posições de poder e têm se feito cada vez mais presentes e incluídos no debate político. Mas o que poderia explicar essa mudança de posição de atores políticos coadjuvantes para protagonistas? Eatwell e Goodwin tentam responder a essa pergunta propondo um conjunto de quatro mudanças sociais no Ocidente, que abriram caminho para a disseminação do populismo. Elas são: desconfiança, destruição, privação e desalinhamento38. A desconfiança vem da ideia de que as democracias liberais possuem uma natureza elitista, e isso fez com que fosse promovida uma desconfiança em relação aos políticos, que fazem parte da elite. O povo sente que não pode mais opinar em assuntos de seu interesse, que perdeu a sua voz39. A destruição vem da perspectiva de que a intensa imigração rumo a países europeus e Estados Unidos e as rápidas mudanças étnicas por ela causadas são

responsáveis por gerar temores de que a identidade nacional desses países será colocada em jogo, será destruída40. A terceira refere-se ao aumento da desigualdade, que gera uma sensação de privação relativa, de perda de esperança em um futuro melhor41, e de que os outros estão sempre em vantagem em relação a nós42. E por último, o desalinhamento entre o eleitorado e os partidos políticos tradicionais, algo que abriu caminho para os populistas43. Embora seja didática, a visão de Eatwell e Goodwin sobre as causas do populismo não pode, por completo, ser aplicada à própria terra do populismo: a América Latina44. Ao contrário da Europa ou dos Estados Unidos, nessa região, por não haver um forte fluxo imigratório, a imigração e as mudanças étnicas não cultivam sentimentos relacionados à destruição das identidades nacionais da região45. Portanto, para o caso específico da América Latina, proponho substituir o conceito de destruição por outro: desonestidade política explícita, que poderia ser definido como a ausência de honestidade ou a falta de sinceridade, uma ação ou comportamento que se opõe à moralidade ou à transparência na política. Hugo Chávez, na Venezuela; Evo Morales, na Bolívia; Rafael Correa, no Equador; e, mais recentemente, Jair Bolsonaro, no Brasil, são quatro exemplos de populistas latino-americanos que se elegeram com a promessa de lutar contra a corrupção46. Bolsonaro, por exemplo, fez sua campanha eleitoral prometendo defender a Operação LavaJato, que prendeu inúmeros acusados de corrupção, incluindo o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. Bolsonaro chegou a nomear o juiz Sergio Moro, responsável pela operação, para o cargo de ministro da justiça no início de seu governo, em 2019. Porém, o relacionamento durou pouco mais de um ano. Moro renunciou alegando intervenção do Executivo em investigações anticorrupção47.

De acordo com Mudde, “a corrupção cria um terreno fértil para o populismo entre importantes porções da população. Consequentemente, lutar e prevenir a corrupção são estratégias cruciais para diminuir a demanda por populistas na política.”48. Os populistas já perceberam isso, logo, é comum que, na América Latina, o combate à corrupção, aqui representado pelo conceito de desonestidade, seja o carro-chefe de diversas campanhas políticas de populistas na região. É possível afirmar, então, que os quatro conceitos sugeridos por Eatwell e Goodwin (desconfiança, destruição, privação e desalinhamento) e, no caso da América Latina, desonestidade política explícita podem gerar um ambiente perfeito para a proliferação do populismo. Entre outras razões que explicam as causas do populismo está o sentimento de negligência e abandono dos cidadãos por parte de seus governos e dos partidos políticos tradicionais49. Populistas como Donald Trump (EUA), Marine Le Pen (França), Jair Bolsonaro (Brasil), Viktor Orbán (Hungria) e Geert Wilders (Países Baixos) podem ser considerados “parte de uma crescente revolta contra a política tradicional e os valores liberais,”50 apesar de muitas vezes afirmarem defender esses valores. É esse sentimento de revolta e abandono que faz com que o eleitorado passe a interpretar a política a partir da visão de mundo dos populistas51, acreditando na ideia simplista de que a maior parte dos problemas da sociedade existe exclusivamente devido à soberba da elite dominante, que só cuida de si mesma52 e beneficia-se às custas do sangue e suor do povo. Características comuns de populistas Embora o populismo possa assumir diversas formas ao aparecer apoiado em diferentes ideologias, como fascismo, socialismo, liberalismo53, nacionalismo ou nativismo,

algumas similaridades podem ser observadas ao comparar os diferentes estilos de populistas. O fato de que muitas vezes eles se opõem ao politicamente correto e gostam de quebrar alguns tabus que foram impostos à sociedade pela elite54 é um exemplo. Embora o papel dos populistas seja frequentemente desempenhado por uma figura masculina e viril, que usa seu carisma como ferramenta para obter apoio público, isso não exclui o fato de que existem mulheres populistas, como: Marine Le Pen, na França; Frauke Petry e Alice Weidel, na Alemanha; Beata Szydlo, na Polônia; Sarah Palin, nos EUA, assim como Gleisi Hoffmann e a ex-presidente Dilma Rousseff, no Brasil. No populismo, existem dois tipos de lideranças, uma delas é a personalista, em que o papel do populista é desempenhado por alguém que conquista o apoio público graças ao seu apelo pessoal e ao afirmar ser a personificação do povo55. Essas pessoas muitas vezes constituem, em torno de si, organizações políticas para disputar eleições56. O populista holandês Geert Wilders, nos Países Baixos, fundou o Partij voor de Vrijheid (Partido pela Liberdade), conhecido como PVV, um partido político que serve como um veículo eleitoral pessoal57. Wilders é o único membro do PVV, algo que o torna mais um movimento do que um partido. Sua organização interna também não atende aos padrões democráticos58. O mesmo foi feito pelo presidente Jair Bolsonaro ao tentar, até então sem sucesso, fundar a Aliança Pelo Brasil, um partido político autoproclamado conservador que afirma defender os valores judaico-cristãos59. O segundo tipo de liderança populista é aquela que não se baseia somente na figura de uma única pessoa, mas de um partido político ou movimento social60. De modo geral, “sistemas presidencialistas fortalecem a liderança personalista, enquanto os parlamentaristas incentivam o

surgimento de partidos políticos,”61 o que significa que o tipo de mobilização populista geralmente depende do tipo de sistema político vigente. Populistas apresentam personalidades e características diferentes uns dos outros. No entanto, existe um padrão em que eles frequentemente se projetam como líderes fortes que não têm medo de tomar decisões importantes, mesmo quando elas vão contra os conselhos de especialistas62. Esses líderes muitas vezes tentam apresentar-se como onipotentes, porém, quando não conseguem obter os resultados desejados, frequentemente culpam seus oponentes políticos ou a própria população por resultados catastróficos, como será visto no Capítulo 3, ao analisarmos as respostas de alguns populistas diante da pandemia do Coronavirus em 2020. Quando deparados com situações difíceis, o primeiro instinto populista não é o de resolver o problema que pode prejudicar a sociedade, e sim de distorcê-lo de modo que possa promover-se e ganhar popularidade às custas do próprio problema. Eles o fazem ao falar exatamente aquilo que a população espera ouvir, por mais que muitas vezes a decisão correta não seja a mais popular63. Populistas raramente perdem a oportunidade de estampar a primeira página e ser a manchete, custe o que custar. Eles o fazem ao usar um linguajar chulo, um tipo de discurso que, em alemão, é chamado de Stammtisch (conversa de boteco). Eles tentam passar uma imagem de que fazem parte da galera64. Preferem falar sobre futebol e mulheres do que sobre política65. Com isso, tentam criar um vínculo com o homem do povo por meio do machismo e do uso de palavrões66. Silvio Berlusconi, deputado do Parlamento Europeu e ex-primeiro-ministro da Itália, é um exemplo de populista que já fez inúmeros comentários sexistas, como: “as mulheres de direita são certamente as mais bonitas [...] a esquerda não tem gosto, nem mesmo quando se trata de

mulheres”67 ou “senhoras, tenho uma missão para vocês no dia das eleições: cozinhem! Coisas doces e requintadas, por favor. Tragam-nas para a seção eleitoral para serem examinadas. As mais ousadas podem tentar fazer uma torta, as mais habilidosas profiteroles.”68. No Brasil ao longo dos incêndios na Amazônia em 2019, durante um período de hostilidades contra o presidente francês Emmanuel Macron, Jair Bolsonaro foi conivente com comentários sexistas feitos on-line sobre a esposa de Macron, Brigitte69. O estereótipo do machão populista tende a ser mais amplamente aceito em sociedades nas quais há maior desigualdade entre os gêneros, como na América Latina e em alguns países do sul e leste europeu, enquanto populistas empreendedores, como Trump, possuem maior aceitação em sociedades mais materialistas, como os EUA70. Populistas frequentemente afirmam envolver-se com a política não por conta de suas ambições pessoais ou profissionais, mas por uma causa maior, quase como se tivessem sido escolhidos por Deus para devolver o poder de volta ao povo71. Porém, não é isso que a História tem demonstrado. De acordo com um estudo realizado por Yascha Mounk e Jordan Kyle, que analisaram 46 partidos e líderes populistas de 33 países entre 1990 e 2018, esses líderes são altamente habilidosos em permanecer no poder e representam uma ameaça para as instituições democráticas72. O estudo também concluiu que os populistas tendem a permanecer no poder duas vezes mais que os nãopopulistas, e não devido a suas altas popularidades. Eles justificam o anseio pela permanência no poder com a previsível afirmação de que eles precisam de mais tempo para trazer o poder de volta ao povo, uma justificativa dissimulada. O estudo constatou que os populistas têm quatro vezes mais probabilidade de extinguir as instituições

democráticas do que os não-populistas. Como alguém pode afirmar defender os interesses dos cidadãos e, ao mesmo tempo, prejudicar as próprias instituições que foram criadas para protegê-los?73 É aí que o discurso e as atitudes dos populistas começam a se contradizer. Acerca das visões dos populistas sobre as instituições, Jan-Werner Müller afirma que eles não são contra elas desde que sejam eles a controlá-las74. Também não são contra o princípio da representação política desde que sejam eles os que representem a população75. Ao mesmo tempo, Cas Mudde declara que o populismo não contesta a democracia, a não ser que ela venha de maneira liberal. Em outras palavras, o populismo defende um tipo de majoritarismo extremo, em que a pluralidade e os direitos das minorias são suprimidos, minimizados ou ignorados76. Embora, de acordo com as opiniões de Müller, o populismo possa ser classificado como uma maneira hipócrita da política, Ernesto Laclau, um dos maiores estudiosos sobre o assunto considera o populismo “uma força emancipatória.”77. Segundo ele, o populismo reintroduz o conflito na política, o que pode fomentar “a mobilização de setores excluídos da sociedade com o objetivo de mudar o status quo.”78. Discute-se, também, se o populismo pode fazer mais bem ou mal à democracia. Se por um lado Laclau afirma que o populismo torna a democracia ainda mais democrática ao permitir que porções esquecidas da sociedade possam ter suas demandas ouvidas79, por outro, ele pode minar a pluralidade da sociedade. Além disso, o caráter excludente do populismo ignora a diversidade da sociedade e legitima ataques à mídia e ao judiciário, que são pilares importantes em qualquer democracia ao auxiliarem na exposição e condenação de abusos de poder80. É como se o populismo desse voz somente à parte da população que possibilita a

eleição do populista, ignorando o restante como se fossem menos importantes. Com um jeito moralista de imaginar a política81, os populistas pouco se concentram em planos de governo e detalhes sobre como resolver as demandas da sociedade e mais em criticar aqueles que eles julgam responsáveis pelo declínio da política nacional82, em outras palavras, focam mais em colocar mais lenha na fogueira e polarizar ainda mais a sociedade do que em apresentar soluções. Isso demonstra uma visão superficial e simplificada sobre a política. Populistas também têm demonstrado uma aptidão à ocupação do Estado, assim como ao clientelismo em massa e à supressão de qualquer um que os critiquem, seja a sociedade civil, seja a mídia83. Uma de suas ações mais extremas por parte de populistas tem sido a elaboração de novas constituições que visam mantê-los no poder para que possam governar em nome do povo84 (naturalmente em suas percepções enviesadas sobre quem o compõe) por tempo indefinido.

Diferentes regiões, diferentes formas, mecanismos similares É consenso entre os estudiosos que as duas regiões mais afetadas pelo populismo são a Europa e a América do Sul85. Em diferentes partes do mundo, o populismo manifesta-se de maneiras distintas ao se anexar a ideologias-hospedeiras que façam sentido naquele lugar específico. Em alguns países europeus e nos Estados Unidos, o populismo costuma se associar, por exemplo, ao nativismo, rejeitando o consenso político vigente ao mesmo tempo que usa o antielitismo para se opor às ameaças externas86. Os populistas dessas regiões costumam acusar a elite local corrupta de beneficiar os estrangeiros enquanto negligencia os cidadãos locais, nativos daquela região87. A associação entre nativismo e populismo é o que Bergmann chama de Neonacionalismo88. Na América do Sul, o populismo de esquerda tende a se combinar com o socialismo ou o comunismo para acusar as elites locais de lucrarem às custas do árduo trabalho dos pobres89. Ao mesmo tempo, na região, o populismo de direita tende a se associar com um tipo de conservadorismo cristão – como exemplo, pode ser observada a figura de Jair Bolsonaro. Se o populismo europeu implica ideias como anti-imigração e xenofobia, o populismo latino-americano também faz uso de mais uma ferramenta populista para seu sucesso, o clientelismo90, que pode ser definido como uma troca de bens materiais por apoio político com a população. Populistas de diferentes partes do mundo parecem estar aprendendo uns com os outros. Da mesma forma que políticas que buscam fomentar o crescimento social e econômico estão sendo compartilhadas entre os países, muitas vezes por meio de organismos internacionais como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os populistas têm, também, se inspirado

em outros populistas. Entre as inúmeras táticas compartilhadas por populistas, podemos destacar: a vitimização, uma síndrome de perseguição, o uso de ataques para se esquivar de questionamentos legítimos ao invés de darem respostas e, por último, o negacionismo. Embora os cenários e as realidades políticas das diferentes regiões do mundo sejam bastante divergentes, os populistas continuam a encontrar maneiras de apelar para seu eleitorado. Os mecanismos utilizados por eles são os mesmos, ou, pelo menos, semelhantes. Tudo começa com a seleção de uma causa que não tem recebido devida atenção por parte dos políticos. Então, um partido ou indivíduo populista enxerga, nisso, uma oportunidade e então define um grupo específico de pessoas, ou uma elite, para servir de alvo. Uma vez que um culpado é designado, o populista começa a desqualificá-lo publicamente, a rotulá-lo como corrupto e acusá-lo de não defender o interesse geral do povo. Ao mesmo tempo, o populista apresenta-se ao eleitorado como a solução, o salvador da pátria, alguém que governará em nome do povo e que trará o poder de decisão de volta à população. A História tem mostrado que, uma vez no poder, os populistas muito frequentemente encontram uma maneira de mantê-lo, seja praticando o clientelismo, ou, como visto mais recentemente, por meio da negação de fatos, ou, até mesmo, da ciência, nas situações em que eles aparentem ser um obstáculo no caminho populista para uma possível futura reeleição. Muitos populistas tentam alterar ou criar novas constituições com o objetivo de expandir o escopo de seu poder. Na América Latina, a Bolívia, a Venezuela e o Equador são três exemplos de situações em que isso ocorreu. Nesses lugares, Assembleias Constituintes foram criadas e, depois, submetidas a voto popular91. Na Europa, isso também ocorreu na Hungria92, além de outros países

que não fazem parte das regiões-foco deste livro, como a Rússia.93 Há, também, diferenças entre o populismo de esquerda e de direita. Enquanto o de direita apresenta uma maior identificação com discursos racistas, xenofóbicos94 e contrários ao politicamente correto, o de esquerda dissimula defender os direitos de certos grupos minoritários, como por exemplo grupos LGBT, para, posteriormente, suprimi-los. É como se fizesse disso uma de suas bandeiras eleitorais, porém, é necessário lembrar-se de que a natureza autoritária do populismo quase sempre acaba falando mais forte no final das contas, logo, a defesa dos fracos e oprimidos não passa de uma fachada. Assim, é possível detectar semelhanças entre os mecanismos populistas usados em diferentes partes do mundo. A diferença mais substancial entre o populismo dos distintos lugares está nos atores que desempenham cada papel em cada país específico: quem representa a elite? Quem é o salvador da pátria daquele lugar? O que o populista alega ser a vontade geral daquela nação específica? Embora as disparidades entre as diferentes configurações do populismo possam ser facilmente destacadas, principalmente devido à ampla diversidade de ideologias hospedeiras, suas semelhanças não devem ser subestimadas. Estar consciente sobre as semelhanças compartilhadas pelas diferentes variedades de populismo nos permite realizar a identificação de futuros atores populistas que ainda não se manifestaram. Como será demonstrado no Capítulo 4, ser capaz de identificar o discurso populista é o primeiro passo para defender as instituições democráticas. As consequências do populismo Uma das ameaças mais consideráveis do populismo vem do fato de que ele corrompe o processo democrático95. Em

situações em que o líder populista possui maioria no Congresso ou Parlamento, isso pode, até mesmo, possibilitar que uma nova Constituição seja aprovada, permitindo que o populista comece a se apropriar da máquina estatal96. E ainda por cima, eles podem fazer isso com o consentimento da população, já que a justificativa populista para a elaboração de uma nova Constituição geralmente é a de que a Constituição vigente impossibilita o populista de realizar as reformas necessárias para devolver o poder de volta às mãos do povo. A natureza populista sedenta pelo poder pode ser observada em prática quando possuem apoio da maioria parlamentar. Para eles, tornar-se tentador a aprovação de medidas97 que possibilitem a expansão do seu escopo de poder. É claro que o endosso de uma nova constituição não ocorre da noite para o dia. Primeiro, os populistas começam a acusar as leis e instituições vigentes, como o Judiciário, de serem corruptas e impedirem o povo de ter o tipo de governo que deseja e merece. Assim, a insatisfação com tais instituições passa a ser fomentada, aumentando apoio para mudanças no sistema político98. Quando isso acontece, é o que alguns especialistas consideram ser o início de um processo de desdemocratização. Cas Mudde divide o processo de desdemocratização em três etapas: (1) erosão democrática; (2) colapso democrático; e (3) repressão. A primeira inclui interferir, reduzindo a autonomia dos poderes judiciários e ameaçar os direitos das minorias. A segunda refere-se a um colapso em que a democracia eleitoral deixa de existir e é substituída por um autoritarismo competitivo. A terceira e última etapa é um regime totalmente autoritário99. Há, na História, diferentes exemplos de países que passaram pelo processo de desdemocratização que acompanharam a ascensão de governos populistas ou autoritários. Alguns aconteceram após eleições

democráticas, como na Alemanha, com Adolf Hitler, ou na Itália, com Benito Mussolini100, e outros após golpes de Estado, como na Argentina, Brasil, Chile, Uruguai e Grécia nas décadas de 1960 e 1970101. Nos últimos anos, a erosão democrática tem ocorrido de forma mais sutil, com líderes populistas criando suas próprias definições sobre o que significa democracia102. Na Hungria e na Polônia, por exemplo, seus respectivos líderes populistas têm deturpado o conceito de democracia, alegando que estão tomando certas atitudes para aprimorá-la. Segundo Bergmann, atualmente, a democracia não é aniquilada de uma hora para outra, com um golpe em que exércitos passam a ocupar as ruas. Isso acontece de forma imperceptível e gradativa, sem que as pessoas notem o que realmente está acontecendo103. O populismo também está relacionado a muitos aspectos do negacionismo. Por ser uma ideologia excludente, ele rejeita a existência de pluralidade na sociedade. Por conseguinte, surge uma distinção de certos grupos de cidadãos, que passam a ter suas liberdades violadas e considerados inferiores104. Eles não são oficialmente excluídos da sociedade, mas suas ideias, princípios e Weltanschauung (visões de mundo ou cosmovisões) são questionados e legitimamente considerados insignificantes105. Isso pode prejudicar consideravelmente seus interesses e liberdade para gozar de alguns dos mais básicos direitos humanos, como a liberdade de viver sem medo e liberdade de expressão e crença106. No livro National Populism: The Revolt Against Liberal Democracy (2018), Eatwell e Goodwin argumentam que os eleitores de movimentos populistas “não são fascistas que querem destruir nossas instituições políticas centrais. Uma pequena minoria é, mas a maioria tem preocupações compreensíveis sobre o fato de que essas instituições não são representativas da sociedade como um todo”107 e que

elas estão se distanciando cada vez mais do cidadão comum108. Mesmo que esses indivíduos sejam apenas uma minoria, seu poder de dano não deve ser subestimado, pois, às vezes, um pequeno grupo de pessoas é o suficiente para legitimar ações autoritárias. Quando Bolsonaro une-se a protestos pedindo o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, mesmo que conte com apenas 300 pessoas109, o presidente demonstra inclinações pelas ideias de ditadura e autoritarismo e incentiva seus apoiadores mais moderados a aderirem a essas manifestações. Jan-Werner Müller considera o populismo uma sombra permanente da democracia, já que a possibilidade de alguém alegar falar em nome do povo para contestar as elites sempre existirá110. Isso significa que, enquanto houver democracia, o populismo poderá existir. Cristóbal Kaltwasser, ao observar diversos países nos quatro cantos do mundo, também acredita que o populismo veio para ficar111. A mesma visão é compartilhada por Roger Eatwell e Matthew Goodwin, que afirmam que o populismo tem se fortalecido nas últimas décadas112. Se o populismo está mais evidente agora, pode ser porque a atual insatisfação com os partidos políticos tradicionais e o cenário político funciona como um tipo de anabolizante para populismo, tornando-o mais forte e atrativo. Embora o populismo possa realmente ser uma sombra permanente da democracia que veio para ficar, é provável que a forma mais eficaz de proteger a democracia e suas instituições, como será visto no Capítulo 4, seja mantendo a relevância populista o mais insignificante possível. É verdade que o processo de desdemocratização pode ocorrer independentemente de um populista, porém, de acordo com o estudo de Mounk e Kyle, com 46 líderes populistas, as chances de que isso aconteça com um populista no poder são maiores. No estudo, entre os 46 exemplares de

populistas, 50% “reescreveram ou alteraram a constituição de seu país quando ganharam o poder, frequentemente com o objetivo de eliminar limites de mandato presidencial e reduzir freios e contrapesos no poder executivo.”113. Além disso, o estudo também constatou que, de modo geral, os governos populistas agravaram a corrupção, afligiram as instituições democráticas e também os direitos individuais114. A justificativa populista para a adoção de medidas controversas (muitas vezes antidemocráticas), além da falsa pretensão de devolver o poder para o povo, ultimamente tem estado cada vez mais ligada a justificativas absurdas, altamente conspiratórias, com informações que parecem tão fantasiosas que, caso fossem expressas por qualquer outra pessoa que não os próprios populistas, não teriam a menor credibilidade. É esse o estilo esquizofrênico de se fazer política. Um estilo esquizofrênico da política Líderes populistas tendem a endossar um tipo de verborreia munida de teorias conspiratórias115 sobre forças e organizações malignas e sombrias que agem de maneira oculta na sociedade para confabular contra o povo116. As teorias da conspiração, que serão discutidas mais detalhadamente no próximo capítulo, estão intimamente relacionadas a uma atual desconfiança dos governos, à violência e à dificuldade de governar117. Nos Estados Unidos, Trump incansavelmente criticava o deep state, uma suposta rede de burocratas do governo que tramavam para desestabilizar o presidente e, por conseguinte, impedir que a vontade geral do povo fosse exercida118. Isso também acontece na Europa. Políticos do partido grego de extremaesquerda Syriza categorizavam seus oponentes políticos como uma quinta coluna alemã, ou seja, infiltrados aliados a estrangeiros que ajudavam a minar os interesses nacionais

do país. Um ex-ministro do partido inclusive já chamou a União Europeia de terrorista119. Ainda na Europa, populistas como Viktor Orbán argumentam que políticos liberais dentro da UE, junto com o bilionário financiador húngaro-judeu George Soros, estão envolvidos em uma conspiração para inundar a Hungria e a Europa “cristã” com imigrantes muçulmanos e refugiados, que eles veem como parte de busca para desmantelar as nações ocidentais e inaugurar um mundo sem fronteiras que é subserviente ao capitalismo. Especialmente no Leste Europeu, a teoria da conspiração antissemita, assim como o preconceito, está muito viva e vigorosa.120

Como pode ser observado, traços desse tipo de comportamento político podem ser observados na América Latina, Estados Unidos e Europa, fazendo disso um fenômeno em larga escala. Em novembro de 1964, Richard Hofstadter escreveu sobre o que chamou de estilo paranoico de política. Ele afirma ter escolhido o termo paranoico pois não acreditava haver outra palavra que representasse satisfatoriamente as características exageradas, suspeitosas e conspiracionistas121 que, já na época, observava. Ele escreveu: O representante paranoico vê o destino da conspiração em termos apocalípticos – ele trafega entre o nascimento e a morte de mundos inteiros, ordens políticas inteiras, sistemas de valores humanos inteiros [...] Ele vive constantemente em um ponto de inflexão. Como religiosos milenaristas, ele expressa a ansiedade de quem está vivendo os últimos dias e às vezes está disposto a marcar uma data para o apocalipse.122

Cas Mudde argumenta que classificar o populismo como um estilo paranoico da política é um pouco hiperbólico123. A mesma visão é sustentada pelo acadêmico islandês Eirikur Bergmann, que afirma que a disseminação do populismo chegou a um ponto tão extenso, inclusive nos partidos tradicionais, que já não pode mais ser considerado algo paranoico, marginalizado, delirante ou patológico124. Se olharmos para a definição de paranoia, veremos que ela é:

[...] caracterizada por delírios de perseguição, ciúme injustificado ou auto relevância exagerada. [...] Pode ser um aspecto de um transtorno de personalidade crônico, do uso de drogas ou de uma condição séria como a esquizofrenia, na qual a pessoa perde o contato com a realidade.125

É verdade que chamar o populismo, como um todo, de estilo paranoico de política pode parecer um exagero. Porém, ao levar em consideração algumas características, afirmações e atitudes de populistas como Trump, Orbán, Le Pen, Wilders e Bolsonaro, como a ideia de que a cultura ocidental está ameaçada pela imigração, ou que há uma conspiração comunista para derrubar governos cristãos, é possível dizer que Mudde tem razão quando afirma que chamar o populismo de paranoico pode não ser a melhor escolha de palavras. Mas não por isso ser um exagero, e sim porque há outra palavra que melhor descreve a forma como alguns populistas se comportam: esquizofrenia. Esta pode ser definida como um: Transtorno mental de longo prazo de um tipo que envolve um colapso na relação entre pensamento, emoção e comportamento, levando a uma percepção falha, ações e sentimentos inadequados, afastamento da realidade e de relacionamentos pessoais para fantasia e alucinação e um senso de fragmentação mental.126

A esquizofrenia vai além da paranoia, portanto chamar o populismo de um estilo esquizofrênico de política pode ser ainda mais adequado para ilustrar algumas de suas características mais radicais. É claro que, quando pegamos emprestados alguns desses conceitos da psiquiatria, não nos atrevemos a diagnosticar tais políticos de maneira leiga. A adoção dessas definições médicas visa simplesmente traçar um paralelo entre esses conceitos já familiares à ciência e as características demonstradas por alguns populistas para que possam ser mais bem descritos. Regimes populistas tendem a ficar na defensiva quando suas ações são questionadas. Por afirmarem agir em nome

de uma concepção deturpada e excludente de povo, quem pensa diferente do populista que está no poder é visto como inimigo ou traidor da pátria. Quem os questiona vai contra o povo. Visto que os populistas muitas vezes carecem de argumentos fundamentados para responder a perguntas legítimas, existem algumas estratégias tradicionais usadas por eles para fornecer respostas, tais como: vitimização, queixas de perseguição e o uso de ataques ao invés de respostas a perguntas verdadeiramente válidas. No entanto, nos últimos anos, os populistas parecem ter aprendido novas táticas, empregando estratégias que foram desenvolvidas há décadas. São táticas que vão muito além de teorias da conspiração, fake news, uso mal-intencionado da internet e a desconstrução da ciência. Essa nova estratégia poderia ser resumida em uma única palavra: negacionismo, um conceito que será explorado mais profundamente no próximo capítulo.

Capítulo II NEGACIONISMO Instrumento que tem sido utilizado em diferentes partes do mundo, porém de forma semelhante, o negacionismo, no contexto deste livro, pode ser definido como a ação de selecionar certos fatos, ignorando outros igualmente relevantes, com o propósito de legitimar uma atitude ou posição ideológica pelo uso de meias-verdades, negando, assim, a existência de eventos e fatos que ameaçam a própria ideologia ou ponto de vista. Para melhor compreender o negacionismo, este capítulo começará por defini-lo e, a seguir, será dividido em cinco partes, as quais irão explorar respectivamente a fabricação de dúvidas, os aspectos psicológicos do negacionismo, teorias da conspiração, o papel da mídia, da internet e das fake news e, por último, das ideologias. Em 2016, logo após a campanha pelo Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia) e a eleição de Donald Trump, dois eventos que aconteceram em parte graças a forças populistas, a pós-verdade foi eleita palavra do ano pelo dicionário de Oxford127, que a define como: “circunstâncias em que fatos objetivos são menos influentes na formação da opinião pública do que os apelos à emoção e à crença pessoal.”128. O termo foi cunhado por aqueles que sentem que a verdade está sob ataque e sendo deixada de lado129. Ele também se relaciona intimamente ao conceito de negacionismo. Como será visto ao longo deste capítulo, o negacionismo não começou a ocorrer em 2016, mas muitas décadas antes. Os negacionistas não se consideram negacionistas130. Eles se autodenominam céticos. Porém, a definição de ceticismo empregada por eles é apenas mais um dos

múltiplos conceitos que eles distorcem a seu favor. O ceticismo, em sua forma científica, é algo honroso, nobre, que estimula os cientistas a elaborarem novas hipóteses a partir do surgimento de novos fatos. Os cientistas mudam (ou pelos menos deveriam mudar) de ideia à medida que novas evidências se apresentam, ao contrário dos negacionistas, que são genuinamente picaretas. Negacionistas alegam adotar padrões científicos rigorosos, quando, na verdade, refutam qualquer tipo de evidência131 que contradiga suas ideologias. Primeiro, eles escolhem no que acreditarão e, depois, esperam que uma evidência que fundamente suas crenças e achismos surja magicamente132 nos casos em que há qualquer tipo de evidência. O verdadeiro ceticismo científico é muito diferente daquele observado nos negacionistas. Enquanto os cientistas o utilizam para adquirir novos conhecimentos, buscar a verdade e desenvolver a humanidade, os negacionistas usam uma versão contaminada e distorcida de ceticismo simplesmente para refutar a realidade ou qualquer fato que possa ser inconveniente para suas crenças ou finalidades ideológicas133. Numa época em que alguns conceitos científicos básicos quase já haviam se estabelecido como senso comum, podemos observar especialistas atordoados com os ataques às suas conclusões e descobertas. Ataques esses que são apoiados em fundamentos absurdos, derivados de teorias da conspiração, ideologias ou puramente achismo134. O negacionismo é uma maneira de sabotar a ciência, que está sob ataque e, como será observado neste capítulo, não apenas por indivíduos, mas também por empresas multimilionárias que historicamente têm financiado thinktanks para defender seus interesses econômicos por meio da produção de estudos “científicos” tendenciosos135. Outra forma de definir o negacionismo é pela “recusa em acreditar em teorias científicas bem fundamentadas,

mesmo quando as evidências são irrefutáveis”136. Como será visto mais detalhadamente no próximo capítulo, o negacionismo não é apenas uma forma de enganar a ciência, mas também uma ferramenta política que, nas mãos de populistas, torna-se uma arma para estabelecer domínio137, ou, em outras palavras, para a permanência no poder. Negacionistas agem como se fossem donos da verdade, independentemente de qualquer evidência que possa contradizê-los. Há, até mesmo, aqueles que, pessoalmente, não acreditam em suas próprias mentiras, porém empregam o negacionismo exclusivamente para manipular a opinião pública, manter, ou aumentar, o apoio de seu eleitorado. Alguns podem, eventualmente, começar a acreditar em suas próprias mentiras, já que “se você contar uma mentira com bastante frequência, é mais provável que acreditem nela, até você mesmo.”138. Isso é algo que os populistas têm feito cada vez mais, algo que torna difícil afirmar se eles realmente acreditam em suas próprias visões distorcidas da realidade. O negacionismo é uma ameaça à verdade, uma vez que a substitui por falso conhecimento139. Para os populistas, a estratégia de desconstrução da ciência se torna bem-sucedida a partir do momento em que eles próprios tornam-se a personificação da única fonte crível de informação, ainda mais digna de confiança do que qualquer fato. Como será retratado no próximo capítulo, já não é mais necessário que um medicamento, por exemplo, seja testado para conter uma pandemia. Para grande parte das pessoas, as palavras de um populista quanto à sua eficácia parecem ser suficientes para assegurá-las acerca de sua segurança e capacidade de cura. Impulsionadas pelo negacionismo, as pessoas parecem cada vez mais não apenas carecer de conhecimento básico, mas também rejeitar algumas regras gerais de evidência que sempre foram fundamentais140.

Isso ao mesmo tempo que explicitamente desdenham a apresentação de qualquer argumento fundamentado. Essa é uma maneira de zombar e desprezar conhecimentos científicos que levaram séculos para serem adquiridos e acumulados. É um jeito desavergonhado de destruir gradativamente a construção de novos conhecimentos e evoluir a humanidade141. O ser humano possui crenças que, às vezes, são desafiadas por fatos inconvenientes. Enquanto as pessoas comuns geralmente aceitam que suas crenças devem mudar para que os fatos não sejam omitidos, os negacionistas preferem contestar os fatos, ou, até mesmo, ignorá-los, simplesmente para manter sua imutável visão de mundo142. É fundamental ter em mente que, no negacionismo, a importância dos fatos não é ignorada, mas filtrada. Só é levado em consideração tudo aquilo que respalda as visões de mundo ou fundamenta as ideologias e objetivos políticos do negacionista143. Fatos alternativos existem, mas quando faltam evidências para apoiá-los, não são fatos, mas suposições. As evidências devem sempre ser levadas em consideração antes de se chegar a uma conclusão, porém, para os negacionistas, nenhuma evidência jamais é suficiente para que mudem de ideia sobre algo144. As hipóteses de negacionistas não são baseadas em fatos, e sim na intuição, no achismo, no que lhes agrada. Mas como é possível tentar convencer alguém a mudar de ideia sobre algo que não é baseado em evidências empíricas?145 É quase tão difícil quanto pedir a um extremista religioso que abdique de sua fé. O negacionismo está mais intimamente relacionado às teorias da conspiração do que ao ceticismo146, algo que também será tratado neste capítulo e nos seguintes. As pessoas, até mesmo os especialistas, muitas vezes, culpam a internet pela disseminação do negacionismo e das teorias da conspiração. Mas, como será visto na seção

seguinte, ela não é a única culpada147. O negacionismo já existia há várias décadas, quando as dúvidas começaram a ser fabricadas. Fabricadores de dúvida Ari Rabin-Havt escreveu: “vá fundo o suficiente e você encontrará uma indústria dedicada à criação de mentiras e um grupo de pessoas que lucram com elas.”148. A história contada por Naomi Oreskes e Erik Conway em Merchants of Doubt (2010) é tão chocante que, ironicamente, parece mesmo uma teoria da conspiração, mas não é! O livro, que exigiu cinco anos de pesquisa para ser publicado, tornou pública “uma história sobre um grupo de cientistas que lutou contra as evidências científicas e espalhou confusão sobre muitas das questões mais importantes de nosso tempo. É uma história sobre um padrão que continua até hoje.”149. Em 1953, devido ao crescente número de publicações científicas ligando o fumo ao câncer de pulmão, quatro das maiores empresas de tabaco dos Estados Unidos decidiram contratar John Hill, fundador da Hill and Knowlton, a principal empresa de relações públicas do país na época, para traçar uma estratégia150. A estratégia do tabaco, elaborada por Hill, consistia em: (1) pagar cientistas para produzir estudos que protegessem a indústria e (2) contar com advogados e especialistas em relações públicas para usar esses estudos para convencer o público de que não havia consenso científico de que os cigarros de fato causavam câncer151. Foi criado, então, o Comitê de Pesquisa da Indústria do Tabaco. Uma de suas primeiras ações foi uma publicação, em 1954, em cerca de 400 jornais do país, alegando, aos fumantes, que havia uma falta de consenso entre os especialistas, que pesquisas recentes indicavam diversas possíveis causas para o câncer de pulmão e que não havia nenhuma prova de que o cigarro

fosse uma delas152. O Comitê também criou e financiou fundações e think tanks para desconstruir o conhecimento científico e disseminar a desinformação153. A fórmula havia sido descoberta! Com isso, a mesma estratégia empregada para combater a ideia de que fumar causava câncer passou a ser utilizada posteriormente pela indústria fóssil para gerar dúvidas sobre o aquecimento global. Até mesmo algumas das pessoas envolvidas eram as mesmas: Frederick Seitz e Fred Singer. Ambos ajudaram a indústria do tabaco, dirigindo programas que distribuíam milhões de dólares a interessados na produção de estudos para blindá-la154. Embora tenham sido famosos por seu trabalho como físicos, Seitz e Singer não eram especialistas tratando-se de saúde ou meio ambiente. Eles usavam o rótulo de cientista para projetar uma imagem de autoridade científica e desqualificar todos que fossem contrários às suas crenças155. Seitz foi até convidado para a Casa Branca, em 1989, para discutir um relatório no qual as evidências do aquecimento global eram questionadas156. A atitude da Casa Branca em relação ao relatório ajudou a validar seu conteúdo, que passou a ser reproduzido pela grande mídia157. Como será visto mais adiante neste capítulo, a mídia legitimou a falsa perspectiva de que havia dois lados da história158, que o assunto era controverso. De acordo com uma pesquisa realizada em maio de 2013, 97% dos cientistas concordavam que os humanos são os principais causadores das mudanças climáticas159. Essas inverdades foram repetidas continuamente, usadas como argumentos em debates políticos, parlamentos, blogs e, até mesmo, pelo presidente dos EUA. O que a população achou que fosse um debate científico era, na verdade, puramente político160, e isso desempenhou um papel-chave na disseminação do negacionismo. Dado que as notícias e

reportagens norte-americanas costumam ser fonte de inspiração para publicações na mídia no restante do mundo, a controvérsia sobre as mudanças climáticas foi rapidamente disseminada globalmente. Portanto, o negacionismo como conhecemos hoje pode ser atribuído em grande parte à negação do consenso científico sobre temas em que, na verdade, havia consenso. Não havia um debate científico sobre as consequências do fumo ou mudanças climáticas, e sim a existência de uma minoria de cientistas (que ainda por cima era financiada por suas respectivas indústrias de interesse), que teve sua voz ecoada como se fossem uma maioria tão legítima quanto o lado que eles visavam combater. De acordo com Oreskes e Conway, a estratégia do tabaco foi arquitetada para “atacar a ciência e os cientistas e nos confundir sobre questões importantes que afetam nossas vidas e o planeta em que vivemos.”161. Entretanto, o que levou físicos como Seitz e Singer a trair sua própria classe científica? Ao contrário do que muitos pensariam, a resposta não é dinheiro. Ambos haviam dedicado suas vidas à luta contra o comunismo soviético e eram defensores do livre mercado. Eles abominavam as regulamentações governamentais e preferiram desgraçar seus próprios colegas a reconhecer que, por mais que haja numerosos benefícios no capitalismo de livre mercado, eventualmente ele pode ter algumas limitações162. O lado mais irônico disso tudo é que, ao mentir, enganar, manipular, negar fatos e a realidade, eles acabaram adotando as mesmas estratégias daqueles inimigos que tanto combatiam e odiavam: o comunismo soviético163. Tudo em nome de uma ideologia. Se há cientistas como Seitz e Singer, que estavam dispostos a trair sua própria classe científica em nome da ideologia distorcendo informações e ajudando a criar polêmica onde não havia, pode-se perguntar: até onde

outras pessoas, como políticos, estarão dispostos a ir para defender suas crenças? O tipo de atitude de Bush em 1989, ao receber Seitz e seus colegas na Casa Branca, que legitimou seu estudo tendencioso, é algo corriqueiramente ecoado por Trump, reproduzido por Bolsonaro e outros populistas que influenciam seus milhões de apoiadores. Esses argumentos, originados em think tanks financiados por grandes empresas, podem acabar moldando a mente de milhões de pessoas ao redor mundo. A relevância da fabricação de dúvidas para o fortalecimento do negacionismo é tão importante quanto as outras seções que serão abordadas neste capítulo: os aspectos psicológicos, as teorias da conspiração, a mídia, a ignorância e as ideologias. Todos são fatores que contribuem para a crescente disseminação do negacionismo como vemos hoje. Os aspectos psicológicos Quem confia na ciência acha difícil (e terrivelmente frustrante) entender como alguém pode possivelmente acreditar, concordar ou defender ideias negacionistas ao mesmo tempo que há evidências que os contradizem explicitamente. Antes de passar para os outros fatores que contribuem para o negacionismo, é crucial entender como a Psicologia o explica. As pessoas são munidas de crenças preexistentes, resultantes de suas experiências de vida, da forma como foram criadas ou mesmo de informações e ensinamentos que foram repassadas por seus familiares e amigos. Quando uma crença é confrontada por novas evidências empíricas que a questiona, é criada tensão psicológica. Para eliminar essa tensão, muitas vezes as pessoas optam por mudar ou adaptar suas crenças. No entanto, isso não acontece sempre164, porque, além de nossas crenças pré-existentes, também possuímos vieses cognitivos que nos atrapalham de pensar com neutralidade165. Esses vieses foram

detectados por psicólogos, sociólogos e outros especialistas após a realização de estudos sobre o comportamento humano. Eles são úteis para entendermos por que algumas pessoas não mudam de ideia, independentemente das evidências, e optam pelo negacionismo. Eles são: a. A Teoria da Dissonância Cognitiva, a qual argumenta que o objetivo principal do ser humano é a preservação do senso de valor próprio, mesmo durante a busca por resoluções166. É como se estivéssemos naturalmente equipados com um mecanismo de defesa do nosso ego, que nos impede de mudar de ideia, afinal, quem não gosta de se sentir inteligente, capaz e culto?167 Por isso a dificuldade do ser humano de reconhecer quando não está certo. b. A busca pela conformidade social, que pode ser definida como a tentativa constante de harmonizar nossas crenças com as dos que nos cercam168. Em outras palavras, ela postula que é mais fácil ser aceito se pensarmos e agirmos do mesmo modo que os que estão ao nosso redor. c. Raciocínio motivado: ocorre quando priorizamos defender nosso ponto de vista a reconhecer que estamos errados169. Ele ajuda a reduzir o desconforto psicológico, acomodando nossas crenças aos sentimentos, para não ameaçar o ego170. Pode ser definido como uma maneira, consciente ou inconsciente, de estarmos dispostos a ofuscar nossas crenças em detrimento de nossas opiniões171. Uma das maneiras de fazer isso é por meio do viés confirmatório. d. Viés confirmatório: é a tendência humana de, com base nas experiências, fobias e preconceitos de

cada pessoa172, buscar informações para confirmar o que já se acredita e ignorar os dados que desafiam o que as pessoas consideram ser verdade173, inclusive quando um especialista diz o contrário. e. O efeito backfire, descrito, em 2010, por Nyhan e Reifler174, é o ato de reforçar certas visões em vez de mudá-las quando se é exposto a evidências que desafiam tais visões175. É importante notar, no entanto, que estudos diferentes e mais recentes mostraram evidências de que o efeito backfire ocorre em situações mais escassas do que antes se achava176. f. Efeito Dunning-Kruger: afirmando de maneira grosseira, “quanto mais burro você for, mais confiante você será de que não é realmente burro.”177. Em outras palavras, as habilidades necessárias para realizar uma tarefa são frequentemente as mesmas necessárias para avaliar o desempenho de quem a realiza, ou aquelas pessoas que sempre acham que estão certas geralmente são as que menos deveriam ter tanta autoconfiança178. g. Efeito de repetição: Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Hitler, dizia que a repetição frequente de uma mentira tornava-a uma verdade179. Isso significa que as pessoas têm mais probabilidade de acreditar em uma mensagem se ela for repetida várias vezes180. h. Amnésia da fonte: ocorre quando nos lembramos de uma informação, mas não da fonte de onde a adquirimos, o que pode prejudicar sua credibilidade181.

Além desses vieses, há quem também leve em consideração o fator da inteligência. Tom Nichols alega que nem todos são inteligentes o suficiente para saber que estão errados: [...] assim como não somos todos igualmente capazes de cantar uma melodia ou traçar uma linha reta, muitas pessoas simplesmente não conseguem reconhecer as falhas em seu próprio conhecimento ou compreender a sua própria incapacidade de construir um argumento lógico.182

Por mais indelicada que a declaração do autor possa parecer, ele tem razão. Inclusive, em seu livro The Death of Expertise (2017), também argumenta que um diploma de ensino superior, ou credencial, já não é mais o suficiente para tornar alguém um especialista, já que isso também demanda talento e experiência183. Por que as pessoas sofrem com esses vieses? Hugo Mercier e Dan Sperber explicam que os objetivos humanos nunca foram buscar a verdade, mas vencer discussões, provar que eu estou certo e você está errado184. Isso ajuda a explicar por que as pessoas muitas vezes têm dificuldade em utilizar argumentos lógicos em discussões polêmicas sobre assuntos como política ou religião. Pertencer a um partido ou movimento político também ajuda a moldar as opiniões e percepções185. Se no nível individual podemos sofrer do viés confirmatório, no coletivo, isso seria representado pela influência informacional, assim como o raciocínio motivado, que poderia ser considerado uma pressão social186. Todos esses vieses que estão embutidos, e em diferentes intensidades, no ser humano, são essenciais para entendermos o negacionismo. Contando que ocorrem juntamente sob a influência de teorias da conspiração, da mídia, da internet, de ideologias e outros fatores, como será demonstrado, suas consequências podem ser preocupantes.

Teorias da conspiração O Coronavirus foi desenvolvido por Bill Gates para lucrar com as vacinas187, existe uma trama para transformar a Europa em califado, Elvis não morreu. As teorias da conspiração (TC) frequentemente alegam a existência de forças engenhosas e malévolas que conspiram para que o povo desconheça a realidade188, forças que trabalham tão bem ao ponto de ocultar evidências e manter calados aqueles que sabem da verdade189. Pessoas que acreditam e defendem tais teorias não apenas possuem dois pesos e duas medidas, mas também demonstram ser hipócritas. Com teorias da conspiração, há uma mescla desleal entre aceitação e rejeição. Há uma aceitação diante de teorias que legitimem a ideologia do conspiracionista e uma rejeição de tudo aquilo que a desconstrua190, em outras palavras, é hipócrita. Nichols argumenta que, ao contrário das superstições, que são tipicamente simples, as teorias da conspiração são muito complexas e requerem uma pessoa razoavelmente inteligente para arquitetá-las191. Os conspiracionistas tendem a manipular evidências para que possam encaixarse a seu modo de enxergar o mundo. Eventualmente ainda fazem isso ao indicar que não há evidências quando, na verdade, há192. A falta de provas não é vista por eles como realmente é: a inexistência de provas, mas como o brilhante e excelente trabalho executado por alguém para acobertar algo193. As TC são o oposto da ciência, são o mais alto grau de charlatanismo194. As pessoas podem ser levadas por outras a acreditar em teorias da conspiração. Essas teorias são altamente atrativas para aqueles que só conseguem aceitar explicações dramáticas e optam por acreditar em baboseiras complicadas em vez de aceitar o fato de que nem sempre há uma explicação para tudo, ou que a

verdadeira explicação está além da própria capacidade intelectual de entender problemas ou processos 195 complexos . Talvez isso seja uma prova de que o Efeito DunningKruger realmente faz sentido: quanto mais imbecil uma pessoa é, mais ela se considera brilhante196. Pessoas inteligentes, com uma atitude aberta em relação ao conhecimento científico, geralmente estão cientes de que não são donas da verdade e de que há um oceano de conhecimento ainda a ser adquirido. Já os conspiracionistas realmente acreditam enxergar nas entrelinhas, perceber e captar tudo aquilo que ninguém mais consegue. Eles tentam passar a impressão de que alcançaram uma superioridade intelectual e visão de mundo muito maior do que a do resto da sociedade. O péssimo comportamento de uma celebridade, por exemplo, não é evidência de que uma pessoa que admiramos é má, e sim de que há uma trama para caluniar tal personalidade estimada197. O mesmo acontece quando atitudes polêmicas de políticos populistas, geralmente idolatrados por parte da população, são expostas pela mídia. Ludibriados pelo fanatismo fomentado pelo populismo, os apoiadores de populistas muitas vezes recorrem a explicações absurdas para justificar as polêmicas de seus líderes ao invés de reconhecer que houve um erro, ou que tal governante não é realmente como achavam que fosse. Alienados pelo fanatismo fomentado pelos populistas, seus mais devotos apoiadores corriqueiramente recorrem a explicações assustadoramente absurdas para justificar ações polêmicas tomadas por seus líderes, sem nenhum critério ou questionamento. Eles frequentemente inventam, espalham ou adotam teorias da conspiração que afirmam que as forças do mal estão tentando destituir seus líderes, portanto, qualquer possível boato é automaticamente

classificado como uma invenção da mídia ou de seus opositores. As teorias da conspiração tendem a ser aceitas em sociedades impactadas por traumas coletivos. Logo, a população começa a questionar “por que coisas ruins acontecem a pessoas boas?”198. Isso pode acontecer após pandemias, crises econômicas ou, até mesmo, como consequência de anos de abusos e exploração por parte de políticos corruptos. As teorias da conspiração não são meramente histórias alternativas. Elas podem ter consequências extremamente graves, produzir pânico e ferir as pessoas mental ou fisicamente199. Da mesma forma que pessoas em situações de vulnerabilidade causadas por traumas e tristezas estão mais susceptíveis a serem enganadas, o mesmo pode acontecer com sociedades inteiras200. Quando o pânico e o medo são covardemente disseminados por seus líderes, a situação torna-se ainda mais grave. A mídia A mídia teve, e ainda tem, um papel importante na promoção do negacionismo. Se engana quem supor que esta seção é uma crítica à mídia. Muito pelo contrário. Reconheço a livre imprensa como um verdadeiro e essencial pilar de qualquer democracia funcional. Porém, algumas coisas devem ser ditas para que ela tome conhecimento do desfavor que, em algumas ocasiões, faz ao conhecimento científico. Um dos motivos que leva a mídia a disseminar o negacionismo está, por mais incrível que pareça, na artificial e exagerada busca pela imparcialidade201. São diversos os motivos que a influenciam a adotar opiniões balanceadas, como a pressão externa na forma de apoio financeiro dos anunciantes ou simplesmente a busca

constante pelo rótulo de imparcialidade por parte da população. Ninguém está culpando a imparcialidade em si pelo crescimento do negacionismo. Muito pelo contrário! O Dicionário Oxford define equilíbrio como o ato de permitir que coisas ou partes diferentes coexistam em quantidades iguais202. Porém, a mídia deve ser capaz de agir independentemente da pressão externa, transmitindo as notícias como elas são. E existem situações em que há apenas um lado confiável de uma história. Contudo, a pressão para apresentar ao espectador duas opiniões opostas geralmente envia a falsa impressão de que, uma vez que há duas pessoas recebendo o mesmo espaço para expressar suas opiniões, presumivelmente é porque devem ter os mesmos níveis de credibilidade. Acontece que um deles pode ser um cientista que dedicou toda a sua vida ao estudo de um determinado assunto, e o outro pode ser um especialista em relações públicas que foi contratado por um grande grupo empresarial para que defenda seus interesses203. Em seu livro Respecting Truth: Willful Ignorance in the Internet Age (2015), Lee McIntyre dá um exemplo de um formato comum de programas de TV204: O âncora apresenta um eminente cientista climático de um lado da tela dividida e um “cético” (que pode ou não ter quaisquer credenciais científicas) do outro e dá a eles tempo igual para “apresentarem seus argumentos”. O cético pode se safar dizendo que algumas das evidências científicas não são “comprovadas” e o cientista é normalmente solicitado a responder às alegações mais ridículas de conspiração e prevaricação feitas pelo cético. Depois que cada um deles teve sua vez de falar, o apresentador normalmente pronuncia a questão “polêmica” e, em seguida, vira-se para o público como se dissesse “você decide”.205

O equilíbrio muitas vezes também é utilizado para substituir a apuração de fatos206, afinal, há profissionais ociosos e antiéticos em qualquer área, inclusive na imprensa.

Um exemplo concreto de desinformação que saiu do controle e que contou muito com a participação da mídia para sua propagação foi o debate sobre se a vacinação causava autismo. Em 1998, o Dr. Andrew Wakefield publicou um artigo coassinado com outros autores em uma respeitada revista médica, The Lancet, que estabelecia uma suposta relação entre um tipo de vacina e o autismo. Em 2004, soube-se que Wakefield estava sendo pago por um advogado que planejava uma ação judicial contra o fabricante de tal vacina e que o próprio médico havia registrado uma patente para uma vacina concorrente, entre várias outras fraudes do estudo. Posteriormente, quase todos os outros coautores retiraram seus nomes do estudo. Em 2010, The Lancet retratou-se pelo artigo de Wakefield, que perdeu sua licença médica no Reino Unido, porém, o estrago já havia sido feito. Anos e anos de cobertura da mídia, debates em tela dividida, artigos de não especialistas que reproduziram o conteúdo criado pelo médico foram suficientes, ao lado de outras teorias conspiratórias isoladas, para fazer com que as taxas de vacinação caíssem em todo o mundo e permitissem que doenças erradicadas em certas regiões, como difteria, coqueluche e sarampo, voltassem a surgir207. Na França, uma em cada três pessoas acredita que as vacinas não são seguras208. Outro elemento que ajuda a disseminar o negacionismo é a imensa variedade de veículos de comunicação. Ter diferentes opções é um dos benefícios de viver no século XXI. Podemos escolher quais revistas e jornais ler e quais canais de TV assistir. Mas também, há um lado negativo nisso. Consumir apenas aquilo que está de acordo com nossas próprias opiniões é uma forma de alimentarmos nosso viés confirmatório209. Muitas vezes as pessoas optam por um conteúdo que não causa conflito ideológico com suas crenças. Além disso, existe o risco de que tal conteúdo não tenha sido bem processado, afinal, no novo mundo do

jornalismo, os erros são bem mais frequentes210. Vivemos em uma época em que os jornalistas parecem estar mais preocupados em serem os primeiros a dar uma notícia do que com sua qualidade ou veracidade. É como diz o famoso ditado: a pressa é inimiga da perfeição. Internet, redes sociais e fake news As contribuições da internet e das redes sociais para o negacionismo podem ser comparadas à da mídia tradicional, no entanto, com anabolizantes. Mas antes de começar a apontar os impactos negativos da internet, não se pode ser hipócrita e negar seus benefícios amplamente conhecidos, que são muitos para serem mencionados individualmente. Da mesma forma que a internet e as redes sociais podem ser usadas para promover a democracia, como foi feito em 2011, durante a Primavera Árabe na Tunísia, elas também podem ajudar com que essa seja derrubada, permitindo que ideias antidemocráticas e fake news sejam disseminadas. Divulgar histórias alternativas é muito mais fácil hoje em dia, quando aqueles que defendem seus interesses podem se esconder atrás de uma conta no Facebook ou Twitter211 e simplesmente pagar para ter suas postagens impulsionadas. Pelo menos isso é muito mais fácil do que infiltrar um pseudoespecialista em um veículo de mídia de abrangência nacional, em que a linha tênue entre notícias e opinião, que já era um grande problema há algumas décadas, agora se tornou algo ainda maior com a ascensão das redes sociais, que conquistaram seu espaço como principal fonte de notícias em diversos lugares do mundo212. De acordo com o Digital News Report 2020, elaborado pelo Reuters Institute, no Brasil, 67% das pessoas usam as redes sociais como principal fonte de notícias; nos Estados Unidos, 48%; na Hungria, 64%; e, na Polônia, 66%. Na Holanda e na Alemanha, países com governos não-

populistas, esses números são de 39% e 37%213. Não é possível, no entanto, estabelecer uma relação direta entre a eleição de lideranças populistas e o percentual da população que usa as redes sociais como principal fonte de notícias. Existem muitas variáveis a serem levadas em consideração. Isso sugere, entretanto, que há espaço para que futuras pesquisas na área sejam realizadas. A internet, uma espetacular ferramenta que nos permite acesso a publicações feitas pelos maiores especialistas e jornais mais respeitados do mundo, é frequentemente utilizada como uma mera câmara de eco, de maneira indevida214. Nichols afirma que os usuários raramente acessam a internet para corrigir suas informações errôneas e mudar suas visões de mundo, mas para que ela sirva como um oráculo eletrônico que simplesmente confirme o que elas já acreditam, que revalide sua ignorância215. Isso nos faz pensar se as pessoas têm mais preguiça de pensar ou medo de estarem erradas. A Internet também é o principal meio de disseminação de fake news. Devemos ter em mente que as fake news não são meramente notícias falsas, como sugere sua tradução, e sim notícias que são deliberadamente falsas, criadas com um objetivo oculto216, geralmente político. As fake news são aplicadas por populistas de muitas maneiras diferentes: como uma arma para desqualificar seus oponentes políticos, criando mentiras contra eles, ou como uma ferramenta para obter maior apoio político, produzindo mentiras que os enalteçam. Embora a decisão de deixar a União Europeia fosse completamente legítima, a campanha pró-Brexit foi um caldeirão de fake news. Quando Boris Johnson declarou que o país recuperaria o manejo de cerca de £350 milhões por semana217, ele omitiu a quantia que o Reino Unido recebia de volta do bloco. Entre outras fake news estava a informação de que o país era prejudicado pois os outros

membros da UE eram a favor de economias altamente regulamentadas e protecionistas218 ou que a Turquia seria aderida à UE,219 provocando uma imigração em massa de muçulmanos turcos ao país. Ao mesmo tempo que existe uma versão clássica do conceito de fake news, conforme elucidado anteriormente, existe, também, uma alternativa, que vem na forma da frase: é fake news! Ela é comumente invocada por populistas como Trump, Bolsonaro e grande parte dos ativistas mais radicais que foram a favor do Brexit. Eles o fazem constantemente ao enfrentar uma verdade ou fato inconveniente, que possa prejudicar ou ameaçar sua popularidade ou o que eles tentam defender. Alegar “é fake news!” tornou-se a maneira do charlatão populista do século XXI de se esquivar de perguntas ou fatos inconvenientes. A falta de educação virtual também possibilita uma forma não intencional de disseminação de fake news, quando as pessoas muitas vezes apenas visualizam manchetes de uma história e a compartilham sem se dar ao trabalho de ler as notícias por inteiro, apenas porque desejam ser identificadas pelos outros como beminformadas ou inteligentes220. Isso permite que fake news sejam compartilhadas e paulatinamente repostadas, quando, na verdade, são uma tentativa de demonstração de que o usuário está familiarizado e ciente sobre os acontecimentos recentes. A atual configuração das redes sociais permite que os usuários possam organizar seus feeds de notícia como se fossem suas páginas pessoais de viés confirmatório feitas sob medida221, nas quais somente curtem páginas e perfis cujas ideologias sejam compartilhadas e se tornam amigos somente daqueles que pensam de maneira similar222. O mesmo vale para o Twitter, no qual as pessoas costumam seguir somente os políticos de seus partidos políticos ou

amigos que possuam as mesmas visões de mundo. A internet permite que as pessoas vivam em uma realidade alternativa, em que seus pontos de vista são reforçados ao mesmo tempo que evitam entender as opiniões daqueles que pensam de maneira diferente223. O psicólogo social Jonathan Haidt observou que, quando os fatos chocam-se com os valores de alguém, muitas vezes, as pessoas preferem rejeitar as evidências e se apegar a seus valores224. Em outras palavras, o controverso efeito backfire pode ocorrer quando somos confrontados, com evidências concretas, de que não estamos certos225. Muitas vezes, as pessoas acabam reforçando seu modo inicial de pensar ao invés de aceitar que estão erradas226. Assim, supondo que esse efeito de fato ocorra, mesmo de maneira mais tênue que antes se pensava, é possível presumir que, por atualmente haver mais informações sendo constantemente bombardeadas por parte da mídia e das redes sociais – e que muitas vezes entram em conflito com as nossas visões de mundo –, isso faz com que essa infinita tempestade de informações esteja constantemente suscitando um efeito backfire nas pessoas, estimulando o negacionismo. E isso é um problema enorme! Se por um lado as pessoas vivem em suas próprias bolhas, consumindo apenas informações que não rechaçam suas crenças, por outro, quando são expostas a informações que as contradigam, suas ideias iniciais são reforçadas. Como isso pode ser resolvido? Então o negacionismo é inevitável? O Capítulo IV buscará resolver esse impasse. Em seu livro The Death of Expertise: The Campaign against Established Knowledge and Why it Matters (2017), Nichols declara que a internet atua como um atalho distorcido para a erudição, possibilitando que as pessoas pensem que dominaram vários assuntos apenas porque viram nas redes sociais227. A internet consegue ludibriar os usuários de que diferentes opiniões possuem o mesmo

valor228. Devemos lembrarmo-nos de algo ridiculamente óbvio: a opinião de um jornalista ou diplomata sobre política não tem o mesmo embasamento ou credibilidade do que a opinião de nossa tia-avó que vive no interior,229 assim como a opinião de um político sobre qual o tratamento de saúde mais adequado não possui (ou pelo menos não deveria possuir) o mesmo valor do que a opinião de um médico. Desgraçadamente, as coisas são ainda piores do que isso. Nas redes sociais, muitas vezes, o que conta não são as credenciais de alguém, como seu conhecimento ou sabedoria sobre um determinado assunto, mas seu número de seguidores, sua popularidade. Se as pessoas chegaram a um ponto em que aceitam conselhos sobre dietas de influencers, cujas únicas credenciais são seus milhões de seguidores230, o que impede que essas mesmas pessoas também acreditem em tudo o que um populista com forte presença nas redes sociais diga? Muitos políticos têm se comportado como influenciadores digitais em uma época em que um grande número de seguidores acaba sendo sinônimo de credibilidade. Ideologia Acima de todos os pontos que contribuem para o negacionismo, talvez o mais nocivo seja a ideologia. Ela pode ser definida como uma soma de crenças que determina o comportamento ou visão de mundo das pessoas231. Partidos políticos geralmente se baseiam nelas232. Uma ideologia não significa necessariamente algo negativo. Adotar uma ideologia ecológica, por exemplo, pode levar as pessoas a defenderem a preservação do meio ambiente ou o uso de energias renováveis. O que nos leva a discutir ideologia neste livro é a maneira como vem sendo utilizada. É comum, hoje, observar leigos debatendo com especialistas, puramente interessados em defender suas ideologias233. Quando saem do controle, elas se tornam

alienantes. Em uma época em que as pessoas instruem seus médicos sobre quais medicamentos devem ser prescritos, Nichols destaca a existência de um ressentimento contra os especialistas em vez de um ceticismo saudável em relação a eles234. O fato de as pessoas constantemente acreditarem que são mais inteligentes do que as demais235 é extremamente prejudicial ao desenvolvimento científico. Rabin-Havt defende que, na política, o negacionismo é o resultado de um tipo de cultura política na qual o que importa não é o progresso, mas a vitória ideológica236. A ideologia: [...] apela para nossas emoções e nos faz sentir que estamos argumentando mesmo quando não estamos; diz-nos o que pensar, sem nos incomodar com o trabalho árduo de raciocinar de fato, para que possamos sentir-nos justificados em acreditar no que queremos e rejeitar o que não queremos. Como tal, a ideologia ergue uma barreira significativa para a formação de crenças verdadeiras.237

A ideologia também nos proporciona uma resposta antes mesmo de olharmos para as evidências238. E talvez algo que tenha agravado esse problema nos últimos anos é o fácil acesso a uma extraordinária quantidade de evidências forjadas e adulteradas que as pessoas encontram on-line para fundamentar suas teorias da conspiração, crenças irracionais e ideias negacionistas239. As fortes convicções dos negacionistas aparentam estar enraizadas em delírios240. Não devemos decidir no que queremos acreditar com base em nossas ideologias e, depois, procurar evidências para fundamentar nossas opiniões. Isso é o oposto da ciência. Devemos moldar nossas crenças com base nas evidências, e jamais o contrário241. Uma ideologia estava por trás da motivação de Seitz e Singer para começar a fabricar dúvidas décadas atrás. Para eles, lutar contra a regulamentação governamental

aparentava ser mais importante do que alertar as pessoas contra os malefícios do fumo, algo que, na época, poderia ter salvado a vida de milhões. Eles fizeram parte da estratégia do tabaco, que mais tarde foi usada e adaptada para tirar proveito dos vieses cognitivos humanos e lançar dúvidas sobre a veracidade da ação humana no aceleramento das mudanças climáticas. Tudo isso começou graças a uma ideologia. A criação de teorias da conspiração também é frequentemente fomentada por propósitos ideológicos ocultos. Essas TC ganham visibilidade pública tanto por meio das mídias tradicionais quanto pelas redes sociais. Nos últimos anos, no entanto, elas deixaram de ser apenas histórias alternativas após caírem nas mãos de populistas, que vêm aprimorando suas habilidades para utilizá-las para seus próprios ganhos políticos. Quando o negacionismo encontra-se com o populismo, as consequências podem ser catastróficas, e isso será explorado no próximo capítulo.

Capítulo III QUANDO O POPULISMO E O NEGACIONISMO SE ENCONTRAM Se em 2016 o dicionário de Oxford escolheu pós-verdade como a palavra do ano, um conceito que está intimamente relacionado ao negacionismo, em 2017, o dicionário de Cambridge escolheu populismo242. As seleções dessas duas palavras em anos consecutivos podem ser interpretadas como uma indicação de que elas podem ter uma relação maior do que se pensava anteriormente. Este capítulo tem como principal propósito explorar as implicações da união entre populismo e negacionismo. Iniciaremos por relacionar os conceitos vistos até agora e, a seguir, o capítulo será dividido em três seções: as consequências ambientais, as consequências para a saúde humana e, por último, as consequências políticas. O populismo e o negacionismo podem ocorrer e existir independente e separadamente um do outro. No entanto, sua capacidade de estrago é mais forte quando ocorrem juntos, especialmente se o populista em questão ocupa uma posição central de poder, como um cargo executivo, e não é apenas um candidato político ou parlamentar de um partido minoritário. Além dos cinco conceitos que ajudam a tornar o solo fértil para o populismo, mencionados no Capítulo I, desconfiança, destruição, privação, desalinhamento e desonestidade, uma descoberta interessante durante a pesquisa, necessária para a escrita deste livro, foi a de que alguns dos mesmos vieses cognitivos responsáveis por levar uma pessoa a adotar ideias negacionistas também podem justificar por que alguns continuam a apoiar populistas em campanhas eleitorais, mesmo quando surgem provas de

que seu candidato não é tão decente ou honesto quanto anteriormente se pensava. O viés confirmatório, por exemplo, pode ser observado quando alguém decide apoiar um populista porque ele fala exatamente o que o eleitor espera ouvir. Suponhamos que um eleitor italiano tenha sido demitido de seu emprego por causa de sua própria incompetência, no entanto acredita veemente que foi dispensado pois a Itália está recebendo imigrantes demais – uma ideia errônea, porém comum em muitos países europeus e EUA. Se o recém-desempregado, ao assistir TV, ouve Matteo Salvini dizer que a razão pela qual o desemprego é tão alto na Itália é por conta da imigração, é provável que tal pessoa vote no partido de extrema-direita Lega Norte, de Salvini. Isso devido ao viés confirmatório. De acordo com a psicóloga clínica Joise Machado Peneiras, Como o viés confirmatório baseia-se no pensamento seletivo que está associado as nossas crenças, muitas vezes, observamos pessoas interpretando fatos segundo suas crenças pessoais. Por exemplo, uma pessoa que possui uma crença de desamor, ou seja, acredita que não mereça ser amada, poderá enxergar o fracasso de um relacionamento como confirmação de sua incapacidade de receber afeto. Alguém que acredita que não é um bom profissional, pode intensificar esse pensamento quando seu chefe elogia o trabalho de outro funcionário. Nesses casos, as pessoas ignoram qualquer fato que contradigam esses pensamentos.243

A constante busca pela conformidade social e a inconsciente predisposição humana de alinhar nossos pontos de vista com os daqueles que nos cercam também influenciam a forma como votamos244. É por isso que muitas famílias compartilham as mesmas opiniões políticas e muitas vezes votam no mesmo candidato, inclusive populistas com discursos negacionistas. O discutível efeito backfire pode ser observado quando uma pessoa tenta convencer outra a não votar em determinado político. Wood e Porter alegam que

“particularmente entre os conservadores, as tentativas de corrigir as percepções errôneas ativaram um ‘efeito backfire’ contra os fatos empíricos, com os mesmos expressando mais fortemente uma crença não factual.”245. Eles poderão, portanto, desconsiderar qualquer evidência que lhes seja apresentada e apenas intensificar o apoio a seu político. E, por último, o efeito Dunning-Kruger pode ser claramente observado nos mais assíduos e devotos apoiadores dos populistas. Eleitores de populistas tendem a ser mais propensos a endossar teorias da conspiração246, que são, sobretudo, histórias fantasiosas e sombrias. Essas pessoas acreditam fazer parte de um seleto grupo de indivíduos que está a par da verdade. O fato é que os conspiracionistas supervalorizam sua superioridade intelectual e moral. É como declara Nichols: “todos nós nos superestimamos, mas os menos competentes o fazem mais do que o resto de nós.”247. Em 24 de fevereiro de 2016, depois de vencer os cáucuses republicanos de Nevada, Donald Trump declarou: “[...] vencemos entre as pessoas com baixos níveis de educação, eu amo as pessoas com baixos níveis de educação!”248. David Dunning, que ajudou a descobrir o efeito Dunning-Kruger, afirma que não é que os eleitores de Trump aceitem qualquer coisa dita por ele, não importa o quão ineptas sejam suas afirmações, mas que eles próprios falham em identificar as gafes do ex-presidente249. É importante ressaltar que não se está afirmando que quem vota em populistas não tem educação ou é pouco inteligente, pois existem outros fatores que podem induzir uma pessoa a apoiar um populista, como, por exemplo, a falta de opção ou simplesmente as afinidades ideológicas. O que o efeito Dunning-Kruger visa ilustrar é a verdadeira relação inversa entre a superestimação pessoal dos idólatras mais fanáticos de políticos e sua real inteligência.

Após compreender a estrutura e as prováveis causas do populismo e do negacionismo de forma separada nos capítulos anteriores e, agora, identificar que alguns dos vieses cognitivos que explicam a perpetuação de um podem, também, explicar a proliferação do outro, é fundamental contemplar quais podem ser algumas de suas consequências. Uma das consequências da sobreposição entre negacionismo e o populismo é o negacionismo histórico. Um exemplo ideal é a Lei do Holocausto, da Polônia, que previa “até três anos de prisão ou multa para quem acusasse o Estado ou povo polonês de envolvimento ou responsabilidade pela ocupação nazista durante a Segunda Guerra Mundial”250, que contou com o apoio do presidente populista Andrzej Duda251. É o mesmo tipo de atitude que pode ser observada quando se nega que houve mortes nos regimes militares da América Latina, inclusive no Brasil. A Veja, a revista semanal mais lida do Brasil, publicou, em novembro de 2019, uma reportagem que reuniu as 12 vezes (até então) que Bolsonaro elogiou militarismo no país. Em julho de 2018, Bolsonaro declarou em uma entrevista: “Não houve golpe militar em 1964.”252. Por mais que uma pessoa tenha o direito de acreditar no que quiser, e inclusive considerar que o regime militar foi positivo para o país, uma coisa é fato: negar que houve uma manobra militar para tomar controle do governo significa exercer o mesmo tipo de negacionismo histórico que o governo polonês. De acordo com a Human Rights Watch, mais de 20 mil pessoas foram torturadas e quase 500 foram mortas durante o regime que, no Brasil, durou duas décadas253. Outro resultado da soma entre negacionismo e populismo está no negacionismo científico. Nas duas próximas seções, veremos quais são as consequências do negacionismo populista para o meio ambiente e, em seguida, para a

saúde humana, sobrevivência.

dois

temas

essenciais

para

nossa

As consequências ambientais O debate sobre o aquecimento global não é científico, já que até mesmo aqueles cientistas que inicialmente eram céticos a respeito do assunto acabaram mudando de ideia à medida que aprofundaram seus estudos254. O debate é político255 e, por isso, tem sido explorado e distorcido por populistas como uma ferramenta para desafiar o status quo, criando uma divisão de nós contra eles até mesmo em um assunto que afeta a todos: o meio ambiente. Eles o fazem por meio da polarização e ao alimentarem e disseminarem teorias da conspiração, negando a realidade e afirmando ao povo que a preservação do meio ambiente é um empecilho para o desenvolvimento econômico e social. Em 2016, enquanto a versão mais recente do populismo começou a se materializar nas formas de Donald Trump e dos ativistas pró-Brexit, muitos argumentos usados no passado começaram a ressurgir, inclusive alguns elaborados há muito tempo por think-tanks financiados por grandes empresas, como o Heartland Institute, vinculado à indústria do tabaco256. Muito antes de se tornar presidente, Donald Trump deixou clara sua opinião sobre as mudanças climáticas no Twitter. Em 6 de novembro de 2012, ele tuitou: “O conceito de aquecimento global foi criado pelos chineses a fim de tornar a indústria dos EUA não competitiva.”257. Em 6 de dezembro de 2013, “A tempestade de gelo vai do Texas ao Tennessee - estou em Los Angeles e está congelando. O aquecimento global é uma farsa total e muito cara!”258. E, por último, em 26 de janeiro de 2014, “Todos e quaisquer eventos climáticos são usados pelos FARSANTES DO AQUECIMENTO GLOBAL para justificar impostos mais altos para salvar nosso planeta! Eles não acreditam nisso

$$$$!”259. Estar mais próximo das eleições de 2016 não intimidou o negacionismo de Trump. Em março desse ano, em uma visita ao The Washington Post, ele afirmou: “Não acredito muito nas mudanças climáticas provocadas pelo homem”260. Após eleito, ele manteve sua palavra. O Climate Deregulation Tracker, criado pela Universidade de Columbia, visava identificar as medidas que o governo Trump tomava para prejudicar o combate às mudanças climáticas. Até agosto de 2020, 151 medidas haviam sido tomadas, como, por exemplo, uma Ordem Executiva revogando o Plano Federal de Sustentabilidade261 e a retirada dos EUA do Acordo de Paris, anunciada em 1º de junho de 2017,262 algo que o novo presidente americano, Joe Biden, já afirmou que irá corrigir. O Acordo de Paris entrou em vigor em novembro de 2016 e é o primeiro de seu tipo a reunir “todas as nações em uma causa comum para empreender esforços ambiciosos para combater as mudanças climáticas e se adaptar aos seus efeitos, com maior apoio para ajudar os países em desenvolvimento a fazê-lo.”263. Contudo, para que tenha sucesso, é indispensável que os EUA participem, afinal, segundo dados do Banco Mundial, o país é o segundo maior emissor de CO2 do planeta, atrás, apenas, da China264. Após a ascensão de Donald Trump ao poder, a luta contra as mudanças climáticas foi colocada em xeque com justificativas negacionistas. Como se não bastasse, além de o segundo maior poluidor do mundo indispor-se a fazer sua parte para combater as mudanças climáticas, Trump também acabou legitimando as atitudes de outros líderes populistas, entre os quais podemos citar o Trump dos trópicos, Jair Bolsonaro. “O Brasil é a virgem que todo tarado de fora quer.”265. Foi essa a frase proferida pelo presidente Jair Bolsonaro quando questionado sobre os incêndios na Amazônia em 6 de julho

de 2019. Em agosto do mesmo ano, os alertas de desmatamento na Amazônia haviam sido 120% maiores do que no mesmo período do ano anterior266 e explicaram as grandes queimadas que se tornaram motivos de protestos em todo o mundo267. A Amazônia ajuda a estabilizar o clima e o ciclo hidrológico em todo o mundo, ocupa 60% da área do Brasil e é a maior floresta tropical planeta. Segundo o Instituto de Pesquisas da Amazônia (Ipam), os 10 municípios com maiores somas de queimadas também foram os mais desmatados268. O governo de Bolsonaro foi responsável por afrouxar o combate ao desmatamento, cortando o orçamento destinado à preservação, reduzindo a fiscalização e demitindo autoridades como Ricardo Galvão, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), por divulgar dados que mostravam o aumento do desmatamento269. Tratando-se de mudanças climáticas, o negacionismo de Bolsonaro não é tão explícito quanto o de Trump. Ele não profere as palavras: eu não acredito em aquecimento global, porém, cerca-se de pessoas que o fazem, como seu filho Carlos270 e seu ministro das Relações Exteriores conspiracionista, Ernesto Araújo271. Sem contar que também tem demonstrado demitir quem diz o contrário. As ações do presidente (ou a falta delas) negam as mudanças climáticas de uma maneira mais discreta, mais sutil, mas negam! É possível observar um movimento semelhante, talvez ainda em seus estágios iniciais, começando a ocorrer na Europa, com populistas alemães do Alternative für Deutschland (AfD), como Alexander Gauland, que afirma que o papel humano nas mudanças climáticas é pouco claro. O partido também se apoia nas opiniões de especialistas questionáveis, como Nir Shaviv, que argumenta que o sol tem uma maior influência sobre o clima da Terra do que antes se pensava272. Esse tipo de

argumento remete-nos aos dias em que Frederick Seitz e Fred Singer organizavam a fabricação de dúvidas nos EUA. Na Europa, entretanto, os negacionistas das mudanças climáticas ocupam posições marginais que os impedem de tomar atitudes mais concretas para sabotar a luta contra o fenômeno273. É por isso que o eleitorado europeu deve ser vigilante e não deixar que populistas assumam a narrativa, permitindo que seus países sigam os passos dos governos dos EUA e do Brasil. Como outros negacionistas, os populistas que lutam contra a ideia das mudanças climáticas, da mesma forma que os conspiracionistas, aceitam apenas os fatos que justificam suas ideologias274. Eles [...] sentem-se com direito a um padrão de dois pesos e duas medidas pelo qual acreditam simultaneamente (sem nenhuma evidência) que os cientistas climáticos do mundo fazem parte de uma conspiração global para exagerar as evidências sobre as mudanças climáticas, mas então escolhem a dedo as estatísticas científicas mais favoráveis que supostamente mostram que a temperatura global não aumentou nas últimas duas décadas.275

O número pode até parecer pequeno se comparado ao total de líderes mundiais. No entanto, foram necessários só dois populistas com discursos negacionistas de dois paíseschave para que a luta contra as mudanças climáticas começasse a ser desmantelada, ou pelo menos sofresse um grande golpe: os EUA, na posição de segundo maior poluidor, e o Brasil, detentor da maior floresta tropical do mundo, como os pulmões do mundo, os quais podem ajudar a aliviar a temperatura da Terra. Embora isso possa parecer exagerado e alarmista, a dolorosa verdade é que populismo somado ao negacionismo resulta no aumento da capacidade do planeta de acelerar sua própria destruição. As ações dos populistas que negam as mudanças climáticas também podem acelerar outro fenômeno, além da destruição do planeta, que é o possível deslocamento compulsório de milhões de refugiados ambientais. Segundo

o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (UNHC), “famílias e comunidades já começaram a sofrer com os desastres e as consequências das mudanças climáticas, que os obrigaram a deixar suas casas em busca de um novo começo”276. O Pacto Global pela Migração, adotado em dezembro de 2018, reconheceu que “a degradação ambiental e os desastres naturais interagem cada vez mais como impulsionadores dos movimentos de refugiados.”277. O Centro de Monitoramento de Deslocamento Interno estima que, de 2008 a 2016, quase 196 milhões de pessoas foram forçadas a se deslocar devido a catástrofes climáticas278, um número que provavelmente aumentará se medidas não forem tomadas para reduzir as mudanças climáticas. Além das consequências humanitárias de tais deslocamentos, há, também, consequências políticas, que serão examinadas na última seção deste capítulo. As consequências para a saúde humana Conforme ressaltado no primeiro capítulo, o populismo pode assumir diferentes formas. Um conceito interessante, introduzido por Gideon Lasco e Nicole Curato é o de populismo médico, que eles definem como [...] um estilo político baseado em performances de crises de saúde pública que colocam “o povo” contra “o sistema”. Embora algumas emergências de saúde levem a respostas tecnocráticas que acalmam as ansiedades de um público em pânico, o populismo médico prospera ao politizar, simplificar e espetacularizar complexos problemas de saúde pública.279

O populismo médico é algo ainda a ser explorado, uma vez que não existem muitas publicações acadêmicas sobre ele. Além disso, ele está intimamente relacionado ao conceito de negacionismo. Existem dois exemplos recentes de populismo médico impulsionados pelo negacionismo. O primeiro não aconteceu em uma de nossas três regiões-foco (Brasil, EUA

e Europa), mas é um bom exemplo de como o populismo ou as atitudes populistas podem agir. O caso correu de 2000 a 2005, quando o ex-presidente da África do Sul Thabo Mbeki começou a negar que o HIV causava a AIDS, argumentando que o medicamento usado para tratar o vírus fazia parte de um plano de governos e empresas farmacêuticas ocidentais para envenenar africanos280. Ele alegou que a AIDS era causada por problemas de saúde como a desnutrição281. Como resultado, mais de 300 mil vidas foram perdidas e quase 35 mil bebês nasceram soropositivos282. O segundo exemplo diz respeito à recente pandemia do Coronavirus, em que é possível observar pelo menos duas reações acusativas típicas do populismo por parte daqueles que decidiram manipular a situação. Uma das primeiras reações de Donald Trump foi culpar a China pela pandemia: “O mundo agora está sofrendo como resultado da má conduta do governo chinês”283. Assim como outros populistas ao redor do mundo, Trump, um defensor do anti-intelectualíssimo, costuma apresentar soluções simplistas para problemas complexos284. Em 23 de abril de 2020, após uma apresentação na Casa Branca, o ex-presidente Trump perguntou a um palestrante convidado: E aí eu vejo o desinfetante, onde em um minuto ele nocauteia [o vírus] [...] tem como a gente fazer uma coisa assim, por injeção ou quase limpeza por dentro? Porque quando chega aos pulmões e faz um estrago tremendo neles. Seria interessante verificar isso?285.

Depois das proporções que sua pergunta tomou, ele disse aos jornalistas no dia seguinte: “Eu estava fazendo uma pergunta sarcástica a repórteres como vocês só para ver o que aconteceria”286. Em 24 de julho, após retuitar uma série de vídeos que foram posteriormente removidos pelo Twitter devido ao seu conteúdo falso que afirmava que a hidroxicloroquina era eficaz no tratamento de Covid-19 e outras declarações,

Trump foi questionado pela repórter da CNN Kaitlan Collins se ele concordava com a médica do vídeo que ele havia publicado, a qual afirmava que as pessoas não precisam usar máscaras para se proteger. Trump decidiu encerrar o briefing e deixou a entrevista287. No Brasil, em 29 de abril de 2020, 30 dias após minimizar o impacto do Coronavirus no país e chamá-lo de gripezinha288 em rede nacional, Bolsonaro culpou os governadores dos estados pelo fato de o Brasil ter ultrapassado a China no número de mortes: “Não adianta a imprensa colocar na minha conta essas questões, não adianta botar a culpa em mim.”289. Em seguida, ele tentou induzir a imprensa a desqualificar o governador de São Paulo, João Doria290, que possivelmente será seu adversário eleitoral em 2022, uma atitude tipicamente populista. Em 7 de julho, Bolsonaro confirmou, por meio das redes sociais, que havia testado positivo para o Coronavirus. Logo então, postou um vídeo, em sua página de Facebook, no qual tomava um comprimido e dizia: “Estou aqui tomando a terceira dose de hidroxicloroquina. Estou me sentindo muito bem. Estava me sentindo mais ou menos no domingo, mal na segunda, e hoje, terça, estou bem melhor do que no sábado. Portanto, é absolutamente certo que está funcionando.”291. Em abril de 2020, Bolsonaro, então com 65 anos e, portanto, pertencente ao grupo de risco, ordenou às Forças Armadas que produzissem hidroxicloroquina em massa para tratar pacientes com Covid-19292, embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) tivesse declarado não haver evidências de sua eficácia na luta contra o vírus293. No dia 23 de julho, ainda testando positivo, Bolsonaro foi visto, sem máscara, falando com profissionais da limpeza na residência oficial294, sem se preocupar com o fato de que poderia contaminá-los. Sua atitude está relacionada à tendência populista de se projetar como líder forte e

onipotente, que não tem medo de ir contra os conselhos de especialistas295. Em 2 de junho de 2020, o New York Times expôs um gráfico mostrando que os países em que o Coronavirus mais crescia eram, também, os países governados por líderes populistas296. Isso aconteceu oito meses antes de os EUA atingirem 25 milhões de casos e o Brasil, nove milhões297, fazendo com que os dois países, juntos, correspondessem a cerca de um terço do total de casos da doença no planeta. McIntyre afirma que Quando um indivíduo está mal informado ou enganado, ele provavelmente pagará o preço; desejar que um novo medicamento cure nossa doença cardíaca não o tornará realidade. Mas quando nossos líderes – ou uma pluralidade de nossa sociedade – negam os fatos básicos, as consequências podem ser devastadoras.298

Uma dessas consequências são as centenas de milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas caso populistas como Trump e Bolsonaro tivessem optado por uma abordagem mais humilde e menos desonesta em relação a uma pandemia que atingiu não apenas seus dois países, mas todo o planeta. Negar a gravidade de uma pandemia e depois defender medicamentos que não tiveram sua eficácia comprovada cientificamente são maneiras de negar a realidade. A verdade não pode ser somente baseada naquilo que parecer estar certo ou no que se encaixa em nossas visões de mundo. A ciência defende que teorias devem ser postas à prova, já que simplesmente desejar que algo seja verdadeiro não o torna realidade299. Na Europa, a resposta à Covid foi um pouco diferente. Nos lugares onde há maiores heranças populistas, pôde-se sentir o dano que esse tipo de ideologia causa. A resposta mais lenta de alguns países pode ser atribuída às duradouras sequelas deixadas por governos populistas anteriores. No Reino Unido, de acordo com o acadêmico islandês Eirikur Bergmann, o país ainda sofre os efeitos da

desconfiança em relação aos especialistas, que foi fomentada durante a campanha do Brexit. Isso fez com que o governo tardasse em tomar ações para conter a crise, que atingiu o país com intensidade300. Já na Itália, o autor argumenta que três décadas de governos populistas no país fizeram com que se enraizasse uma certa aversão ao profissionalismo na governança, algo comumente disseminado pelo populismo. Isso pode ter contribuído para o despreparo italiano para lidar com a crise e, por conseguinte, sua resposta tardia à Covid, que, em determinado ponto, fora o epicentro mundial da pandemia301. O exemplo italiano é mais uma demonstração dos efeitos de longo prazo que o populismo pode ter em um determinado país. Nesse caso específico, é possível deduzir que, apesar de o país não ser, no momento, liderado por um populista, o negacionismo, o anti-intelectualíssimo e conspiracionismo fomentados pelo populismo ainda pairam sobre os ares de Roma. Na Hungria, a resposta foi diferente. Viktor Orbán viu, na pandemia, uma oportunidade para expandir seu poder. O Parlamento húngaro aprovou uma lei que permite a Orbán governar indefinidamente, com o pretexto de que ele possa liderar o combate ao vírus. Foram aprovadas, também, sentenças de prisão para pessoas que espalharem notícias consideradas falsas sobre a pandemia302. O país tem, cada vez mais, se distanciado dos valores da União Europeia, desrespeitando o Estado de direito e os direitos humanos303. A pandemia de 2020 nos pôde oferecer pelos menos três lições em relação aos populistas. A primeira é a que o negacionismo é catastrófico para a saúde pública, como vimos nos casos dos EUA e do Brasil. Milhões de vidas foram colocadas em risco graças as atitudes e discursos negacionistas de seus respectivos líderes. A segunda, é que

a desconfiança e o ceticismo outrora fomentados por governos populistas podem resistir ao tempo e perdurar mais que o próprio governo populista, enraizando na população uma incredulidade em relação à ciência e a especialistas, mesmo após a mudança de governo. E a terceira, como explicitado pelo caso da Hungria, mostra que, mesmo quando o negacionismo não é empregado pelo populista, seguramente há objetivos furtivos sendo levados a cabo, que, nesse caso, foram a intensificação do autoritarismo e expansão do poder do populista. As consequências políticas Talvez a primeira consequência política da união entre populismo e negacionismo seja a desvalorização da democracia em prol de uma ideologia. O discurso populista busca transmitir a ideia de que o populista é o único apto a representar o povo, o que não é verdade. Os populistas podem até dizer o que o povo quer ouvir, atuar como portavoz das aflições públicas, mas isso não significa que governarão em nome do povo, pelo contrário! De acordo com o que a História tem nos mostrado, os populistas não governam em nome do povo, mas em nome de suas próprias ambições por poder e de suas ideologias. E essas ideologias geralmente concedem a apenas parte do povo o que eles desejam, apenas parte! Nunca devemos esquecernos da natureza excludente do populismo. O estudo elaborado por Mounk e Kyle, conforme visto no Capítulo 1, corrobora com a indicação de que os populistas tendem de fato a se ater ao poder304. A natureza excludente e antipluralista do populismo geralmente prejudica inicialmente o interesse de partes da população, por exemplo, grupos LGBT, imigrantes ou outras minorias. Mas, depois, passa a minar, também, os interesses dos demais. No final das contas, torna-se visível que os únicos interesses que o populista de fato visava

defender eram os seus próprios e, também, os daqueles que o rodeiam, como amigos e familiares. O aumento do número de populistas ocupando posições de poder sinaliza uma ingenuidade do ser humano ao subestimar os danos de líderes políticos que, além de não defendê-los, atacam os valores democráticos. Para muitas pessoas, contanto que o governo compartilhe de seus propósitos ideológicos, vale a pena colocar a democracia em risco. É como se fosse uma aposta egoísta em que vale tudo para que uma ideologia seja implementada, e caso algo dê errado no fim das contas, todos pagarão o preço. Muitos não têm em mente que a democracia não pode ser dada como algo permanente e natural. Ela precisa de cuidados e manutenção. Consentir com qualquer tipo de entidade que perturbe a democracia é também relativizar tudo o que a acompanha, como a liberdade de expressão, de adoração, de não sentir medo etc. Outra consequência está nas contestações eleitorais. Uma transição pacífica de poder é a prova definitiva de que a democracia é funcional em determinado país. Em 2016, na Áustria, depois de perder as eleições por pouco mais de 30 mil votos, o Freiheitliche Partei Österreichs (Partido da Liberdade da Áustria) contestou os resultados no Supremo Tribunal Federal do país. As eleições foram anuladas, e, alguns meses depois, um terceiro turno eleitoral foi realizado, levando o partido nacionalista a novamente perder as eleições305. Nos EUA, muito antes dos resultados das eleições de 2020, Donald Trump já preparava o terreno para alegar fraude caso viesse a perder, o que ocorreu. Um de seus principais argumentos foi que os votos enviados por correio, naquele país, haviam sido adulterados. De acordo com uma reportagem do The Washington Post, entre as manobras de Trump para subverter os resultados das eleições americanas, estavam o pressionamento de autoridades no estado de Michigan sobre a certificação dos

resultados eleitorais assim como o pressionamento de legisladores do estado para que desconsiderassem sua derrota, pressionando, também, líderes na Georgia e no Arizona306. Já é esperado que um populista, que organicamente possui maiores tendências conspiratórias, conteste os resultados de uma eleição se a perdeu. Porém, é possível que alguém que venceu uma eleição também o faça? Jamais subestime o populismo! Ele pode sempre te surpreender. O próprio Donald Trump fez isso depois de vencer as eleições americanas em 2016. Ele afirmou, sem nenhum fato para legitimá-lo, que deveras venceu no voto popular, embora Hillary Clinton tenha recebido quase três milhões de votos a mais307. O mesmo foi feito por Bolsonaro. Em 9 de março de 2020, ele afirmou, durante um evento nos Estados Unidos, que tinha evidências de que tenha sido de fato eleito no primeiro turno das eleições presidenciais brasileiras,308 sem nunca fornecer provas que corroborassem sua alegação. Por que um vencedor de uma eleição questionaria resultados que lhes permitiram chegar ao poder? Uma explicação plausível está na classificação que propus do populismo como um estilo esquizofrênico de política, conforme discutido no primeiro capítulo. A interminável síndrome de perseguição ou a obsessão fantasiosa de que sejam vítimas de forças sombrias e conspiratórias são algumas das respostas prováveis. Ou talvez, a imagem que os populistas têm de si mesmos seja tão superestimada que receber a maior parte dos votos de um país não basta para acalmar seu ego. No entanto, é provável que façam desses questionamentos apenas uma tentativa populista de estabelecer artificialmente precedentes para poderem questionar as eleições seguintes caso não venham a ser reeleitos. Bolsonaro já sinalizou seguir os passos de Trump e

tem publicamente defendido que as Eleições de 2022 tenham o voto impresso. Outra consequência política da combinação entre o populismo e o negacionismo é o disparo de perplexidade em direção ao povo com o objetivo de estabelecer domínio político. Isso pode ser feito utilizando fake news, teorias da conspiração ou propaganda. Donald Trump sabe muito bem como explorar a ideia de fake news, classificando como fake todas as notícias que ele não goste309. Bolsonaro e Boris Johnson já fizeram o mesmo. Alienar as pessoas ao mesmo tempo que se tenta arrancar a credibilidade da imprensa também é uma estratégia. Os populistas vislumbraram, nas fake news, uma brecha para explorar o desnorteamento das pessoas enquanto projetam a si mesmos e a seus aliados como os únicos detentores da verdade. Essa é uma forma aguçada e imperceptível de estabelecer domínio político310. Bergmann esclarece que as democracias não morrem com um estrondo, e sim com sussurros, com a sutil e gradativa extirpação de normas que são vitais para que ela seja sustentada311. A erosão democrática não acontece mais da noite para o dia, é por passos sorrateiros, meticulosos e calculados que os populistas instalam a tirania, definida como um governo em que uma ou poucas pessoas têm poder ilimitado e o utilizam de maneira cruel e indevida312. Um exemplo de pessoa que sabia como explorar os vieses cognitivos humanos, como o efeito de repetição, foi o ministro da propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, que afirmou: “a propaganda funciona melhor quando aqueles que estão sendo manipulados estão confiantes de que estão agindo por sua própria vontade”313. Afinal, o propósito da propaganda é estabelecer domínio político, e não simplesmente enganar o povo gratuitamente314. Populistas usam técnicas de propaganda, como apelar para as emoções, desqualificar seus críticos, usar bodes

expiatórios, polarizar e fabricar dúvidas. Jason Stanley, autor de How Propaganda Works (2015), afirma que “o objetivo da propaganda não é convencer alguém de que você está certo, mas demonstrar que você tem autoridade sobre a verdade. Quando um líder político é realmente poderoso, ele ou ela pode desafiar a realidade.”315. Tratando-se do uso de teorias da conspiração, os populistas podem nem sempre pessoalmente divulgá-las, mas tampouco se empenham em desmantelá-las, uma vez que tais teorias normalmente os beneficiam e são disseminadas por sua rede de apoiadores. O negacionismo, na forma de teorias da conspiração ou fake news, pode resultar em desastres reais. O ministro da Defesa do Paquistão, por exemplo, em certo ponto, ameaçou Israel depois de ler uma fake news: “Se o Paquistão enviar tropas terrestres à Síria sob qualquer pretexto, destruiremos seu país com um ataque nuclear”316. Em seu livro Conspiracy & Populism (2018), Eirikur Bergmann examina como os populistas usam as teorias da conspiração para ganhos políticos317. De acordo com o autor, isso é mais comum entre os populistas de direita318. “Nossa população está sendo substituída. Chega.” Essas palavras foram escritas por Geert Wilders (2017), líder do Partido da Liberdade de extrema direita da Holanda, ao publicar um link no Twitter de um videoclipe que mostra muçulmanos dominando as ruas de Amsterdã. O vídeo foi intitulado “Este é o Irã ou o Paquistão? Não, aqui é Amsterdã, Holanda.” Este é apenas um exemplo de muitos movimentos semelhantes feitos por vários líderes de partidos populistas nacionalistas na Europa, indicando que a Europa estava enfrentando uma invasão hostil por muçulmanos.319

Bergmann argumenta que os experimentos discutidos em seu livro mostram que a exposição as teorias da conspiração reduzem a fé nas instituições governamentais e minam a democracia320.

Outras atitudes xenofóbicas de populistas, como Wilders, foram observadas durante a pandemia de Coronavirus. Na Itália, Matteo Salvini tentou culpar os imigrantes e até compartilhou um vídeo de um barco de refugiados chegando ao país. Ele também tentou atacar a livre circulação de pessoas na União Europeia. Como resultado, seu apoio público atingiu o ponto mais baixo desde julho de 2018321. A divisão populista da sociedade entre um povo puro e uma elite corrupta dificilmente pode ser aplicada a um momento de pandemia. Não se pode culpar uma elite por uma pandemia; portanto, a polarização pode ser reduzida322. De acordo com Andrea Kendall-Taylor e Carisa Nietsche, a pandemia pareceu renovar a esperança nos partidos políticos tradicionais e nos especialistas323 já que a resposta populista à crise, de forma global, não foi adequada. O vazio da retórica populista foi exposto e se percebeu a necessidade de valorizar governos competentes324. Segundo as analistas, isso não significa que o mundo ficará livre do populismo e que o eleitorado voltará a optar exclusivamente pelos partidos tradicionais. Os populistas terão que se reinventar, apelando para um tipo de nacionalismo ou autoritarismo ainda mais forte. Partidos políticos de extrema direita, como o partido italiano Irmãos da Itália, provavelmente se beneficiarão com a crise econômica que a pandemia deixará para trás325. Como observado, as mudanças climáticas são algo que, caso você tiver os argumentos fabricados cabíveis, elas podem ser negadas com mais facilidade. Afinal, as consequências não podem ser sentidas de imediato pelas pessoas em um nível tão pessoal, como, por exemplo, uma pandemia. Talvez seja necessária uma situação que cause pânico geral, como a Covid fez assim que surgiu, para que as pessoas possam ver o vazio do discurso populista, como apontaram Taylor e Nietsche. Em suma, no que diz respeito ao meio ambiente, os populistas podem criar um discurso

negacionista que os beneficia. Por outro lado, quando se trata de questões urgentes e imprevistas de risco de morte, o negacionismo pode levar ao suicídio político. Santiago Zabala considera que os populistas correm o risco de serem desmascarados, de serem expostos pelos líderes incompetentes que são, os quais só visam satisfazer aos interesses de seus próprios círculos, deixando seus países à mercê de ameaças econômicas e sociais326. Ao invés de proporem soluções, eles têm focado simplesmente em promover o nacionalismo, protecionismo e o ódio327 ao mesmo tempo que fazem uso do negacionismo para refutar tudo aquilo que ameace suas ideologias. Na Europa, o populismo tem perdido força. Nos EUA, Donald Trump perdeu as eleições. No Brasil, o número de pedidos de impeachment de Bolsonaro não para de crescer à medida que sua popularidade despenca. Porém, diferentemente dos EUA e da Europa, há, no Brasil, assim como em outros países da América Latina, a possibilidade de resgate de um velho propulsor do populismo latinoamericano: o clientelismo, uma poderosa ferramenta populista que, em momentos de caos social, consegue comprar a aprovação popular. No início da pandemia de Covid, o Governo Federal lançou um auxílio emergencial, que foi solicitado por 40% da população na forma de parcelas de R$600,00328. Em uma pesquisa eleitoral realizada no início de agosto de 2020, enquanto o auxílio era pago, Bolsonaro ficou à frente de outros possíveis candidatos caso as eleições fossem realizadas então329. Outra pesquisa revelou que ele havia alcançado seu maior índice de aprovação desde que assumiu o cargo, apesar de seu desempenho calamitoso em relação à pandemia. Em janeiro de 2021, no entanto, após o fim do auxílio emergencial, a reprovação ao presidente superou sua aprovação330. Não será uma surpresa caso a popularidade do presidente volte a subir à medida que o governo

expanda seus programas assistencialistas. A assistência durante a pandemia foi de fato necessária, porém, nesse caso, não foi unicamente uma inocente forma de ajudar milhões de pessoas a alimentar suas famílias, e sim uma moeda de troca para comprar o apoio político a um governo que despreza e minimiza a pandemia desde o seu início. Se, por um lado, as consequências políticas de uma pandemia podem resultar em prejuízos para o populismo (em lugares nos quais o clientelismo em massa não é adotado), por outro, as consequências políticas das mudanças climáticas podem dar aos populistas mais um argumento para defender o nacionalismo no futuro. Se o número de refugiados ambientais não parar de aumentar, os populistas que usam o nativismo como ideologia hospedeira poderão ver, nisso, uma oportunidade para disseminar a xenofobia. Uma vez que um fluxo considerável de imigrantes começar a atingir a Europa e os Estados Unidos, é possível que seja usado por populistas como um argumento nacionalista. Políticos que não jogam um jogo limpo demonstram despreocupação com a ética. Parece que, para alguns, tudo vale em nome do poder. Se, em algumas regiões, o populismo parece recuar diante de uma pandemia, em outras, ele encontra uma forma de se expandir. Existem, porém, medidas que podem ser tomadas em todo o mundo por aqueles que desejam lutar contra o populismo e diminuir seus impactos negativos sobre as instituições democráticas. O populismo e o negacionismo podem ser mitigados. Portanto o próximo capítulo irá sugerir ações que podemos tomar nos níveis individual e coletivo para que a verdade e a democracia sejam resguardadas.

Capítulo IV MITIGANDO O POPULISMO E O NEGACIONISMO Para se fazer política, diversos fatores são levados em consideração, como identidade, lealdade e comunidade. Política não deve ser feita, no entanto, baseado em como o eleitorado sente-se em relação a determinado assunto331. Em outras palavras, políticos deveriam ser guiados idealmente por fatos, não por sentimentos. Para mitigar efetivamente as consequências do populismo e do negacionismo, é essencial enfrentar os dois não só individualmente, mas também de maneira paralela. Portanto, este capítulo, que será dividido em duas seções, começará por relacionar alguns dos conceitos vistos até agora e, em seguida, sugerirá formas de desmantelar o populismo e refutar o negacionismo, respectivamente. Como observado no início do Capítulo III, os mesmos vieses cognitivos que permitem às pessoas abraçar o negacionismo também podem ser usados para explicar por que alguns insistem em apoiar populistas apesar do surgimento de evidências que desconstroem suas imagens de salvadores da pátria e pessoas puras. Devemos conhecer esses vieses para que possamos, primeiramente, combatêlos em um nível individual e, em segundo, para, mais tarde, influenciar que outros façam o mesmo332. Se, por um lado, o viés confirmatório leva as pessoas a filtrarem informações e absorver só aquelas que confirmam o que já pensam e, por outro, há o efeito backfire, que mesmo apesar de ocorrer de modo mais tênue do que antes se pensava, afirma que, quando nos deparamos com informações contrárias às nossas crenças, temos uma tendência natural de reforçar nossas crenças iniciais. Por meio desse raciocínio, significa, então, que até mesmo as

pessoas que estão dispostas a se expor a informações que são contrárias às suas crenças acabariam por reforçar suas crenças originais. Há uma solução para esse dilema? Há evidências empíricas que sugerem que a repetição de informações em algum momento tem um efeito nas pessoas333. David Redlawsk afirma que os indivíduos eventualmente começam a reavaliar suas opiniões, que chegam a um ponto de inflexão334 pois não são imunes a mudar de ideia, mesmo quando esta tenha surgido de um raciocínio motivado335. De acordo com o autor, uma forma de abrir os olhos das pessoas é por meio da insistência. Devemos acertar esses sujeitos no meio dos olhos com informações corretas de maneira repetida336. Fazer aquilo que, em português, informalmente chamamos de “esfregar na cara”. Esse não é um jeito muito fácil ou conveniente de persuadir alguém a mudar de ideia, mas aparentemente é possível337. Em outras palavras, para sair desse dilema, devemos apertar a mesma tecla até que quem estamos tentando convencer a abrir os olhos caia na real. É óbvio que isso pode levar algum tempo e que, durante esse tempo, pode haver consequências, como, por exemplo, a perpetuação do populista no poder. Mas é como diz o provérbio: antes tarde do que nunca. O segundo aspecto que envolve tanto o populismo quanto o negacionismo encontra-se na resposta de alguém às teorias da conspiração. Conhecimento e ciência são construídos com base em fatos e evidências. Teorias de conspiração são criadas com base em sua ausência ou deturpação. Nas interpretações distorcidas dos conspiracionistas, se não há evidências, significa que alguém fez um trabalho impecável acobertando-as ou as apagando, e não porque nunca existiram (o que seria a explicação mais óbvia). Se engana quem pensa que isso é inofensivo. Quando as teorias da conspiração deixam de ser

detectadas em indivíduos isolados e passam a ser identificadas em nível de massa, provavelmente é porque alguém fez um excelente trabalho disseminando esse tipo de desinformação. Isso vimos acontecer no Brasil durante a pandemia de 2020 e 2021. Portanto é responsabilidade daqueles que conseguem enxergar o todo, com visões imparciais e não-ideológicas da realidade, a tomar uma atitude efetiva e combater ativamente esse tipo de caraminhola disseminada de maneira intencional, por mais que isso possa render o chamado cancelamento nas redes sociais. É muito difícil discutir com pessoas que defendem teorias da conspiração, mas não devemos ficar frustrados. Temos que ter em mente que quem acredita nessas teorias sente que há um complô de forças maliciosas contra importantes áreas de sua vida e que negar a existência dessas ameaças só aumenta ainda mais sua capacidade de danos, já que são possibilitadas a trabalhar de maneira indetectável338. Portanto a solução é continuar batendo na mesma tecla e, talvez, até mesmo, lembrá-los do conceito da Navalha de Occam, que argumenta que, para explicar algo, não devemos fazer mais suposições do que o necessário339. Em outras palavras, a explicação mais simples para algo também é a mais provável. Desestruturando o populismo O primeiro passo para combater o populismo e defender a democracia é estar ciente dos tipos de estratégias usadas por populistas. Se as pessoas estiverem familiarizadas com tais estratégias, poderão ser capazes de identificá-las assim que forem colocadas em prática por populistas. O mecanismo básico do populismo foi descrito no primeiro Capítulo, na seção “Diferentes Regiões, Diferentes Formas, Mecanismos Similares”. Porém, tratando-se da face negacionista do populismo, a estratégica basicamente

consiste em: (1) criar dúvidas sobre assuntos incomuns, como que há uma conspiração secreta para transformar a Europa em um califado, ou que Obama não nasceu nos EUA; (2) não fornecer nenhuma evidência, exceto o próprio achismo do populista; (3) sugerir, ao público, que não se deve confiar na imprensa, já que ela possui objetivos ocultos, de bastidores, e que também faz parte do tal complô. A dúvida está lançada! Algumas pessoas começam a questionar o que a imprensa afirma e passam a classificar certos tópicos (que até então estavam resolvidos) como polêmicos340, como, por exemplo, a vacinação e o aquecimento global. Depois de um tempo, um novo sistema é estabelecido, e parte das pessoas passa a acreditar no que os populistas dizem apenas porque o dizem. O populista torna-se uma personificação da verdade, a única fonte crível de notícias e confiabilidade. Devemos reconhecer que às vezes os populistas também apresentam evidências, mas geralmente estas são contaminadas, pouco confiáveis341 e distorcidas. Pode parecer uma medida vergonhosamente óbvia para combater o populismo dizer às pessoas para acreditarem apenas em informações que são apoiadas por evidências (confiáveis). Nós, como seres humanos, temos direito a ter incertezas, no entanto, uma vez que um populista consegue persuadir-nos a duvidar de algo, torna-se nossa própria responsabilidade buscar fontes confiáveis de informação para solucionar essa dúvida que nos foi plantada. Repassar adiante dúvidas que fomos manipulados a ter sem sequer tentar respondê-las de maneira imparcial é uma maneira indireta de auxiliar na erosão democrática. Por mais ingênuo e óbvio que esse conselho possa parecer, os interessados em defender a democracia devem lembrar-se que foi pela falta de sua aplicação que milhões de pessoas ao redor do planeta têm passado a negar a ciência, consequentemente munindo populistas. Em uma época em que até mesmo a

esfericidade da Terra é questionada, lembrar aqueles ao nosso redor de preservar o bom senso não me parece ser um exagero. Como visto no Capítulo I, alguns dos maiores estudiosos do mundo sobre o populismo concordam que, enquanto houver democracia, poderá existir populismo. Isso significa que não há uma resposta concreta sobre como acabar com o populismo, mas algumas medidas sobre como contê-lo podem ser tomadas. A presença de populistas pode ser contida ao nível mais insignificante possível, talvez como pequenos partidos de oposição para que as questões por eles levantadas, que em muitos casos são legítimas, venham a ser discutidas e soluções possam ser propostas pelos partidos mais moderados. Cas Mudde sugere que as crenças democráticas podem ser fortalecidas por meio da educação cívica e da conscientização sobre relevância da pluralidade342, diversidade na sociedade. Müller acrescenta que excluir os populistas do debate público e lhes negar o direito de expor suas visões de mundo significaria agir como eles343. É necessário ter em mente que os populistas frequentemente levantam questões que parte da população sente que estão sendo deixadas de lado pelos partidos políticos tradicionais344, o que significa que essas questões requerem atenção. Talvez se engajar em um diálogo aberto com populistas e seus apoiadores seja o jeito mais efetivo de lidar com o populismo345. Embora seja difícil dialogar com alguém que não está aberto para isso, não é impossível. Uma alternativa para lidar com esses grupos que já são desconfiados do establishment político346 talvez seja com uma abordagem mais sutil, não atacando populistas ou seus apoiadores de maneira direta, mas minando suas estratégias. Isso é difícil, inclusive para mim, mas, devemos tentar! Como tentativa de recuperar os votos perdidos para populistas, os partidos e políticos tradicionais devem ter

cautela e evitar adotar o mesmo tipo de soluções simplistas ou discursos elitistas, pois ambos fortalecem o populismo347. O populismo não peca pelas questões que levanta, mas pelas respostas que proporciona. Deve-se não apenas tentar diminuir a oferta populista, mas também reduzir sua demanda348. Vale ressaltar que as soluções mais promissoras para mitigar o populismo são aquelas que estão nas mãos do cidadão comum, que incluem: o poder de questionar os populistas que usam de mentiras para controlar e polarizar a população; o poder de abrir os olhos dos outros, mostrando-lhes os mecanismos usados pelos populistas para manipular seus vieses cognitivos; e, por último, votando em políticos dispostos a abordar as questões levantadas pelos populistas, mas que só considerarão remédios democráticos e não-excludentes que não violem os direitos humanos, nem ameacem a democracia. Esperançosamente isso impedirá que a parte da população que se sente negligenciada pelos não-populistas vá à procura de representantes em outros lugares. Não apenas a demanda por populismo será reduzida, mas também a insatisfação política que o alimenta será amortizada. Em seu livro On Tyranny: Twenty Lessons from the Twentieth Century (2017), Timothy Snyder sugere medidas que podem ser tomadas para prevenir a tirania com base nas lições aprendidas do século XX. Algumas delas também podem ser empregadas para mitigar os efeitos do populismo, tais como: Não se deve obedecer antecipadamente, uma vez que [...] a maior parte do poder do autoritarismo é dada gratuitamente. Em tempos como estes, os indivíduos pensam antecipadamente sobre o que um governo mais repressivo vai querer e então se oferecem sem serem solicitados. Um cidadão que se adapta dessa forma está ensinando ao poder o que ele pode fazer.349

Não se deve confiar incondicionalmente em nenhum político, especialmente naqueles com tendências autoritárias. Devemos questionar quaisquer atitudes políticas que visem aumentar a concentração de poder nas mãos de uma única pessoa ou grupo. Como as instituições democráticas não possuem a capacidade de defender a si mesmas, cabe às pessoas fazê-lo350. A democracia não pode ser considerada eternamente garantida. Para se viver num sistema democrático e gozar dos benefícios que ele proporciona, deveria haver um tipo de contribuição extraoficial por parte do cidadão, principalmente em momentos da história de ataques à democracia. Defendê-la é simples. Basta investigar, ler artigos mais longos, apoiar o jornalismo investigativo e aprender sobre técnicas de campanhas e propaganda351. Ao fazer isso, capacitamo-nos como cidadãos e automaticamente fortalecemos a democracia. Por fim, o Snyder propõe uma medida que tem relação direta com a seção seguinte, sobre como combater o negacionismo. Ele afirma: “Acredite na verdade. Abandonar os fatos é abandonar a liberdade. Se nada for verdade, ninguém pode criticar o poder, porque não há base para isso. Se nada for verdade, então tudo é espetáculo.”352. Refutando o negacionismo Após compreender as origens, causas e consequências do negacionismo nos capítulos anteriores, decidi propor uma lista de cinco medidas que podem ser tomadas para combatê-lo. São elas: (1) defender a ciência; (2) aumentar a consciência social sobre o consumo de informação; (3) usar a verdade como arma; (4) lutar ativamente contra a ignorância; e (5) ser humilde. 1. Defendendo a ciência

Quando falamos sobre ciência, falamos sobre fatos, evidências. As pessoas devem ter em mente que a ciência não se refere exclusivamente à Química, à Física e à Biologia. Inclui, também, a Antropologia, a Geografia, a História, a Economia, o Direito, a Psicologia e a Sociologia. Cientistas sociais dedicam suas vidas para entender todas essas áreas e produzir conhecimentos que ajudem a humanidade a progredir como civilização. O negacionismo é o completo oposto da ciência, portanto lutar contra o negacionismo significa defender a ciência. Enquanto a ciência propõe-se a repensar suas teorias a partir do surgimento de novas evidências353, o negacionismo não. Ele é impulsionado por uma ideologia oculta. Embora a história seja interpretada por diferentes historiadores de maneiras diferentes, os éticos formulam suas interpretações com base em fatos e evidências. Isso significa que a História é uma ciência. Quando protegemos a História, por exemplo, isso significa que o negacionismo histórico está sendo combatido. Se a ciência não for defendida, as pessoas estarão vulneráveis em relação àqueles que a rejeitam354. Existem duas maneiras pelas quais a ciência pode ser protegida: a primeira é tendo uma atitude científica e a segunda valorizando as opiniões de especialistas. Isso deve ser feito ao mesmo tempo que assumimos responsabilidade pelo nosso próprio conhecimento. Ter uma atitude científica, de acordo com o autor do conceito, Lee McIntyre, significa não apenas se preocupar com evidências empíricas, mas estar disposto a mudar as próprias crenças com base no surgimento de novas evidências. Não se importar com novas evidências é o equivalente a rechaçar novas opiniões355. As pessoas devem sustentar uma crença não porque ela lhes agrada, mas porque há dados que a comprovem. Os negacionistas frequentemente mentem para si mesmos e às vezes nem

estão cientes disso. Geralmente selecionam evidências a dedo e de maneira muito cautelosa, apenas para provar para si mesmos que suas teorias pré-concebidas sempre estiveram certas356. Todos deveriam ter uma atitude científica, e não só os cientistas. Os negacionistas não as têm. Em vez disso, possuem dois pesos e duas medidas para escolher as evidências que os servem. Assim, o primeiro passo para defender a ciência pode ser pela promoção da atitude científica357. A segunda maneira de defender a ciência é por meio da valorização das opiniões de especialistas. Antes de tudo, é fundamental reconhecer que os especialistas estão propensos a cometer erros que podem ser ou não intencionais. Como a ética profissional não é o principal assunto deste livro, apenas erros involuntários serão considerados. Contudo, quando um erro é cometido, é de responsabilidade do especialista fazer as devidas correções para não prejudicar sua própria área de atuação, nem dar munição aos negacionistas. Não importa se um especialista está certo 99% das vezes. Os negacionistas apegam-se ao erro que representa um por cento, porque é disso que eles se alimentam, dos pequenos deslizes por parte dos especialistas para descreditar a ciência como um todo. Isso não exclui a responsabilidade do público de entender que erros podem ser cometidos e que a ciência geralmente aprende com eles. Acima de tudo, é importante ter em mente que as opiniões dos especialistas devem ser respeitadas. É como Nichols diz: “Primeiro, embora nosso desajeitado dentista possa não ser o melhor extrator de dentes da cidade, ele ou ela é melhor nisso do que você.”358. E, em segundo lugar, “os especialistas cometem erros, mas são muito menos propensos a cometer erros do que um leigo.”359. As pessoas também precisam aprender a identificar a formação dos especialistas a que ouvem360. Como vimos na

seção “Fabricadores de dúvida”, no Capítulo II, Seitz e Singer usaram suas credenciais científicas em nome de uma ideologia. Encontrar informações sobre especialistas é muito mais fácil hoje do que durante a Estratégia do Tabaco. Cada vez mais as pessoas têm acesso a smartphones ou computadores, o que permite o uso do Google, do LinkedIn e de outras ferramentas on-line para pesquisar os currículos desses especialistas361 antes de acreditar e repassar informações obtidas de fontes duvidosas, como um grupo de WhatsApp da família. As pessoas devem assumir a responsabilidade não só por seu próprio conhecimento,362 mas também por tudo aquilo que é passado adiante. Nichols argumenta que, se os eleitores não se educarem sobre questões que são importantes para eles, a democracia transformar-se-á numa tecnocracia, que é onde os especialistas ditam as regras. É dever dos cidadãos lutar pela democracia e pelos benefícios dela advindos363. 2. Conscientizando a sociedade sobre o consumo de informação A segunda maneira de derrotar o negacionismo é conscientizando as pessoas sobre como obter informações confiáveis. The Death of Expertise sugere que as pessoas abordem as fontes de notícias baseando-se em quatro conceitos: sendo humildes, ecumênicas, menos cínicas e mais discriminadoras364. Deveríamos ser mais humildes no sentido de presumir que quem está escrevendo uma história provavelmente sabe mais sobre ela do que nós, já que o escritor supostamente passou mais tempo pesquisando sobre o assunto365. Deveríamos ser mais ecumênicos no sentido de variar as fontes de onde obtemos nossas informações, já que cada meio de comunicação tem uma visão política diferente366. Deveríamos ser menos cínicos no sentido de que, embora os jornalistas possam ter ideologias diferentes, nem sempre há um objetivo político

oculto por trás de tudo o que é produzido367. E, por fim, ser mais discriminatório significa suspeitar mais de sites que produzem conteúdos que não são veiculados pela grande mídia. Não temos acesso às credenciais de autores ou editores de sites alternativos368. E muito menos sabemos quais objetivos eles estão dispostos a realizar com suas reportagens controversas. Precisamos de cautela. Em sua obra, Nichols reconhece os benefícios proporcionados pela internet, porém, ele peca ao tentar aplicar, a ela, a Lei do Esturjão, que afirma que 90% de tudo não vale nada369. Ou seja, que 90% do que há na internet não presta. Na minha opinião, a afirmação do autor não passa de uma especulação. É verdade que a internet contém muitas informações corrompidas, mas isso não é facilmente mensurável pela aplicação de uma lei que desconsidera 90% de tudo o que está disponível on-line. E quanto a todos os livros de bibliotecas do mundo inteiro que foram digitalizados e estão disponíveis para download? Não parece ter havido um embasamento por parte do autor para fazer uma afirmação tão generalizada. Porém, o autor faz outra afirmação, e com esta sim eu concordo. Ele afirma que do mesmo jeito que grande parte das pessoas mais inteligentes do mundo possuem uma presença on-line, o mesmo acontece com as mais burras370. Isso quer dizer, então, que, na verdade, não devemos culpar a própria internet pelos malefícios que ela traz, e sim os usuários que optam por quais informações acessar. Um carro pode ser usado para facilitar nosso transporte, mas também para causar um acidente, depende de como é usado. As pessoas devem educar-se ou, pelo menos, estar abertas para serem educadas por outras, para que compreendam que, em vez de ler um texto em um site suspeito, ou por uma corrente de grupo de WhatsApp, podem sempre recorrer à mídia convencional, sites de universidades ou, até mesmo, baixar um e-book no Amazon, o que leva apenas cinco segundos

(em troca de alguns reais). Divulgar desinformações ou consumi-las sem qualquer julgamento prévio é a maneira do século XXI de ser democraticamente irresponsável. 3. Usando a verdade como arma O terceiro método para enfrentar o negacionismo é usar a verdade como arma. Como foi discutido no segundo capítulo, o negacionismo contou com a ajuda de fabricadores de dúvidas para produzir dados científicos controversos e tendenciosos, mas também com a contribuição da mídia para divulgá-los. Isso foi feito por meio da apresentação de dois lados da história, mesmo em situações em que havia só um, como nos debates sobre o câncer e o tabaco, sobre o aquecimento global e o sobre a vacina-autismo. A maioria dos veículos de notícias tradicionais possui contas em redes sociais que lhes permitem interagir com o público. Por meio delas, podemos ter contato direto com grandes canais de televisão, revistas e jornais e, logo, reivindicar conteúdos melhores. As pessoas devem ter discernimento e entender que um bom conteúdo não é aquele que vai de acordo com a própria ideologia ou visão de mundo, mas aquele que apresenta fatos verificados e que conta com opiniões de especialistas respeitados. Quando houver um debate entre supostos “especialistas” que pareçam não ter as devidas credenciais e deem informações duvidosas sem qualquer evidência real para apoiá-las, também é de responsabilidade do público, dos cidadãos, pressionar quem lhe cedeu espaço para reproduzir desinformação, seja num programa sensacionalista de domingo à tarde, seja em um canal no Youtube com milhões de seguidores. Como diz Rabin-Havt, os mentirosos não deveriam ser bem-vindos no debate público371. O mesmo vale para os políticos que usam mentiras para se projetarem como salvadores da pátria. Devemos desconfiar de políticos que oferecem soluções simples para problemas complexos. Isso demonstra um

conhecimento raso da realidade, ou ingenuidade munida de ignorância. E se alguém já mente durante uma campanha eleitoral, a probabilidade de que continuará mentindo depois de eleito é grande372. Nunca, na história da humanidade, houve um instrumento como um computador ou smartphone, que nos permitem estar tão próximos dos governantes. Existe uma grande diferença entre expor um ponto de vista conservador ou progressista e disseminar mentiras373. Devemos usar a verdade como uma arma, expondo publicamente aqueles que tentam espalhar inverdades e apoiando aqueles que colocam a verdade onde ela pertence, acima de tudo. Em países democráticos, as pessoas sentem que têm direito de acesso à informação. E elas têm! Porém, devemos lembrarmo-nos que informação de qualidade exige dinheiro para ser produzida, logo, para os que possuem condições de pagar, apoiar financeiramente374 um bom jornal ou uma boa revista por meio de uma assinatura, é uma maneira de manter a qualidade do jornalismo investigativo e, assim, lutar contra a mentira. 4. Combatendo a ignorância A quarta maneira de lutar contra o negacionismo é combatendo a ignorância, que, de acordo com o Dicionário de Oxford, não é nada mais do que a falta de conhecimento ou informação sobre determinado assunto375. Ela não é, no entanto, o mesmo que ignorância intencional, que vai além. É uma ignorância somada à escolha de permanecer ignorante376. Quando alguém é deliberadamente ignorante, ele contesta qualquer fato novo, pois nada é suficiente para persuadi-lo a abandonar o que já considera verdade. E é aí que mora o perigo377. A convicção em fechar os olhos para qualquer tipo de investigação por ter tanta certeza de que a crença vigente já é o suficiente378 é uma das maiores ameaças à verdade. Lee McIntyre argumenta que o

problema com a ignorância intencional não está só no fato de que ela leva a crenças errôneas, mas que “se baseia em um padrão de raciocínio que dispensa a possibilidade de corrigir suas crenças no futuro.”379. Embora McIntyre afirme que devemos combater a ignorância intencional para proteger a verdade, talvez uma abordagem mais ampla possa nos proporcionar melhores resultados. Logo, a ignorância deveria ser combatida em todas as suas formas, intencional ou não. Ela abre caminho para a desinformação, e, para que o negacionismo seja derrotado, ela deve ser minimizada tanto quanto possível. 5. Sendo humildes E, por último, a luta contra o negacionismo não será eficaz se não pudermos ser humildes e estar abertos a mudar de ideia. É claro que seria mais fácil pensar nos negacionistas como um bando de caipiras, sem estudo, e incultos que rechaçam qualquer tipo de conhecimento produzido por especialistas de colarinho380. Mas a realidade não é essa. Há diversos exemplos que podem demonstrar que muitas vezes a ignorância não escolhe classe social. No caso da percepção pública sobre “as vacinas, por exemplo, as baixas taxas de participação em programas de vacinação infantil não são, na verdade, um problema entre as mães de cidades pequenas e com pouca escolaridade.”381. Enquanto em Bangladesh, 97%382 da população acredita que as vacinas são seguras, na França, um em cada três franceses (33%)383 considera-as inseguras. Embora essas mães e pais não sejam médicos, eles são educados apenas o suficiente para acreditar que têm a experiência necessária para desafiar a ciência médica estabelecida. Assim, em uma ironia contra-intuitiva, pais instruídos estão na verdade tomando decisões piores do que aqueles com muito menos escolaridade e estão colocando os filhos de todos em risco.384

O mesmo foi observado no Brasil e em alguns outros países, como os EUA, durante a pandemia de Covid-19, com pessoas reproduzindo (falsas) informações disseminadas por não-especialistas, porém, que possuem cargos de poder, mesmo apesar do tempo e da evolução da pandemia mostrarem, por exemplo, que esses líderes se equivocaram. É por isto que a humildade é necessária: para que as pessoas possam ter consciência de que não são donas da verdade. Mudar de ideia diante do surgimento de novas evidências não é um sinal de fraqueza de convicção ou inabilidade de pensar por si mesmo. Reconhecer que nos enganamos e mudar de ideia é um sinal de nobreza e demonstra vontade de aprender cada vez mais e evoluir intelectualmente como seres humanos.

CONCLUSÃO Como pudemos observar, por mais diferentes formas que o populismo possa assumir, seus mecanismos tendem a ser os mesmos, independentemente da região na qual ele ocorra. Frequentemente, há alguém que afirma falar em nome do povo puro e defender seus interesses da elite corrupta. O populista escolhe um alvo e começa a desqualificá-lo. Então, ele se projeta como se fosse o único capaz de enfrentar a elite. Depois de eleitos, de acordo com o que a história tem demonstrado, eles tendem a interferir no processo democrático com o objetivo de aumentar seu próprio poder ou permanecer no cargo por um período mais longo. O populismo não é um estilo paranoico da política. Ele é esquizofrênico. Nunca podemos ter certeza se os populistas realmente acreditam nas teorias da conspiração que eles disseminam, ou se elas são apenas tentativas de argumentos para tentar fortalecer seus discursos. Uma característica comum entre os populistas é o sentimento de que há sempre um complô contra eles, forças secretas que estão tentando tirá-los do poder e minar suas atitudes. Essa síndrome de perseguição está diretamente relacionada ao negacionismo. O negacionismo, da forma como conhecemos hoje, que usa discursos do medo e se transveste de pseudociência começou com a indústria do tabaco, que se sentiu ameaçada pelos estudos científicos que começaram a estabelecer ligações entre o fumo e o câncer. Por isso a indústria adotou uma estratégia para gerar dúvidas e confundir as pessoas. A mesma estratégia foi adotada pela indústria fóssil para combater a ideia de que o homem é responsável por acelerar as mudanças climáticas. Esses estudos manipulados contaram com o apoio da mídia, que quis mostrar imparcialidade e constantemente exibir os dois

lados da história. Essas estratégias ajudaram a dar forma ao negacionismo como é conhecido hoje, como algo encomendado por aqueles com interesses específicos, e que só aparenta estar embasado na ciência, quando não está. Para compreender melhor o negacionismo, é preciso também entender os vieses cognitivos que agem dentro de nós. Todos nascemos com preconceitos, e a intensidade com que os temos varia. O viés confirmatório, por exemplo, leva-nos a filtrar apenas as informações que confirmarão as crenças que já possuímos e ignorar aquelas que irão gerar tensão psicológica. Esses vieses ajudam a perpetuar o negacionismo, impedindo que as pessoas vejam o mundo com mais clareza e sem distorções. A internet e as redes sociais, embora positivas em muitos aspectos, tiveram um papel ainda mais proeminente na disseminação do negacionismo do que a mídia tradicional. Elas se tornaram uma ferramenta muito mais fácil para disseminar mentiras ao mesmo tempo que assumiram o papel de uma das mais importantes fontes de notícias do mundo. A internet é uma verdadeira incubadora de fake news, que não são apenas notícias falsas, mas deliberadamente falsas, geralmente com uma intenção política oculta. As redes sociais permitem que as pessoas organizem seus feeds de notícias como se fossem uma sopa de viés confirmatório, que só leva aqueles ingredientes que cada um gosta de consumir. Os usuários fazem isso ao seguir e curtir apenas os meios de comunicação que publicam notícias que vão de acordo com suas visões de mundo. Além disso, a internet é uma ferramenta para que os populistas entrem em contato direto com o público e desqualifiquem a oposição, a imprensa e quem quer que seja que critique suas ações políticas. Embora as ideologias possam ser algo positivo, quando colocadas acima de fatos, parecem ser as principais causadoras do negacionismo atual, talvez até mais do que

os interesses financeiros das grandes empresas. Definidas como um conjunto de crenças, podem impedir as pessoas de enxergar evidências e, assim, mantê-las na ignorância. São as grandes motivadoras por trás do populismo e do negacionismo. Embora populismo e negacionismo possam ser prejudiciais à verdade e à democracia de maneira individual, são ainda piores quando vêm no mesmo pacote. Os mesmos vieses cognitivos que nos atrapalham de perceber a realidade de forma imparcial também podem ser usados para explicar por que alguns podem ser tão fanáticos defensores de seus políticos de estimação e jamais mudar de ideia, independentemente de que um fato novo venha à tona. Esses vieses somados a fortes ideologias podem ser responsáveis por causar cegueira em massa. É por isso que é possível ver, por exemplo, pessoas apoiando Andrzej Duda, na Polônia, apesar de sua lei de negação do Holocausto. Ou então, o presidente Bolsonaro, no Brasil, que nega o período do país como ditadura militar. Isso é o que os especialistas chamam de negacionismo histórico. Um dos grandes resultados da união entre populismo e o negacionismo é sentido pelo próprio planeta. As consequências ambientais do negacionismo climático por populistas já podem ser mensuradas. O debate sobre o aquecimento global não é realmente um debate. Como já foi revelado, foi o resultado exitoso de uma estratégia adotada pela indústria fóssil para proteger seus próprios interesses. Mas os efeitos dessas estratégias ainda podem ser sentidos. Argumentos que foram cunhados décadas atrás ainda são repetidos continuamente, como se nunca tivessem sido rejeitados pela ciência. A internet permite que as meiasverdades possam perdurar e ser resgatadas diante da falta de um argumento aceitável.

Para aqueles que insistem em chamar as mudanças climáticas de debate, talvez seja mais adequado chamá-la de debate político, e não científico, uma vez que pesquisas têm mostrado que apenas um punhado de cientistas discorda de que os humanos estão acelerando as mudanças climáticas. No entanto, alguns populistas insistem em negar seus efeitos. Como resultado, Trump retirou os EUA do Acordo Climático de Paris e Bolsonaro permitiu que o desmatamento aumentasse na Floresta Amazônica. O maior poluidor do mundo, por certo tempo, não esteve disposto a se comprometer a mudar seu comportamento ao mesmo tempo que a maior floresta tropical do mundo, que pode ter o poder de reduzir os efeitos das mudanças climáticas, está sendo destruída. Por mais alarmista que pareça, é possível afirmar que populismo e o negacionismo, juntos, têm o poder de destruir o planeta. Pelo menos é isso que Trump e Bolsonaro têm demonstrado. Por sorte, os governos são transitórios e as instituições norte-americanas fortes, e Joe Biden já anunciou a intenção dos EUA de retornar ao Acordo de Paris. Os efeitos das mudanças climáticas também devem gerar movimentos crescentes de refugiados ambientais. Da mesma forma que os fluxos migratórios recentes para os Estados Unidos e a Europa ajudaram a alimentar o discurso populista e estimular a xenofobia e o nativismo, os fluxos futuros também podem fazer o mesmo. Como se não bastasse acelerar a destruição do planeta, o populismo e o negacionismo também provaram que, quando juntos, afetam, também, a saúde humana. O populismo médico, um termo muito interessante, e que também deveria ser mais explorado pelos estudiosos, assim como o negacionismo, é claro, já foi detectado no início dos anos 2000 na África do Sul, quando o presidente Thabo Mbeki negou que a AIDS fosse causada pelo HIV. Como resultado, centenas de milhares de pessoas morreram. O

exemplo mais recente, e que provavelmente levará à publicação de nova literatura, pode ser observado na pandemia do novo Coronavirus. Nas Américas, as primeiras reações de Trump e Bolsonaro foram negar sua seriedade e culpar a China pela pandemia. No Reino Unido, apesar do negacionismo inicial por parte de Boris Johnson, que posteriormente acabou mudando de atitude, a grande quantidade de fake news disseminadas durante as campanhas pró-Brexit geraram uma grande desconfiança por parte da população em relação a especialistas, como se fosse um tipo de sequela duradoura do negacionismo, que pode ter prejudicado o país a lutar contra a pandemia mesmo alguns anos depois. Décadas sob o domínio de líderes populistas fizeram com que o mesmo ocorresse na Itália. Na Hungria, apesar de não haver utilizado um discurso negacionista, o que ocorreu no país demonstra que o populismo raramente possui objetivos nobres. Viktor Orbán usou a pandemia para aprovar medidas que aumentassem seu próprio poder. Tanto Trump quanto Bolsonaro ajudaram a disseminar fake news durante a pandemia e minimizaram constantemente a gravidade da Covid nas redes sociais e em entrevistas. Eles defenderam o uso de tratamentos que não tiveram sua eficácia comprovada cientificamente. Como resultado, tanto os Estados Unidos quanto o Brasil lideraram o ranking mundial em número de casos confirmados. Em fevereiro de 2021, os dois países somavam, juntos, quase 35 milhões de casos da doença, um terço do total do planeta. Alguns meses antes, o The New York Times já havia publicado um estudo que afirmava que o vírus estava crescendo mais em países governados por líderes populistas. A pandemia do Coronavirus mostrou que, juntos, o populismo e a negacionismo também podem colocar a saúde das pessoas em risco.

Por fim, vimos as consequências políticas da indesejável união entre populismo e o negacionismo. Eles representam uma enorme ameaça à democracia. Embora os populistas afirmem ter recebido uma vocação divina para defender o povo, a história tem demonstrado que o único interesse que eles de fato defendem é o próprio. Uma vez no cargo, os populistas fazem o que for preciso para que lá possam permanecer. Como pôde ser visto pelo exemplo húngaro, em que Orbán usou a pandemia para aumentar seus próprios poderes. Os populistas costumam contestar os resultados das eleições, mesmo depois de vencê-las. Demonstram ser tão egocêntricos e se superestimam tanto que não aceitam que perderam uma eleição ou, mesmo quando vencem, acreditam que houve um golpe ou sabotagem e que deveriam ter vencido com ainda mais votos. Porém, essas atitudes também podem ser tentativas de estabelecer precedentes para contestar futuras eleições que eles venham perder. Uma descoberta surpreendente das consequências políticas do uso do negacionismo pelos populistas foi o impacto negativo que o negacionismo da Covid-19 gerou para os próprios populistas. Com suas popularidades reduzidas na Europa e nos Estados Unidos, é possível deduzir que, quando se trata de situações em que a população sinta certo risco de morte de curto prazo, como uma pandemia, as pessoas demonstraram dar um passo para trás e reavaliar suas opiniões sobre os populistas. No entanto, na América Latina, a situação é diferente. No Brasil, apesar das reações negacionistas em relação à pandemia, a aprovação de Bolsonaro parece ser ditada pelo clientelismo em massa, na forma do auxílio emergencial. Nos lugares onde há clientelismo, deveríamos encontrar uma forma de deixar claro para a camada menos instruída da população que nada é de graça, e que qualquer

assistencialismo que venha do governo é, na verdade, um retorno de nosso próprio dinheiro, e não um presente do governante. A troca de bens materiais por apoio político é uma mera distração ou um prêmio de consolação para que a população se cale e aceite péssimos serviços públicos de maneira silenciosa. É óbvio que, em regiões miseráveis e com péssimos níveis de educação, como na América Latina, a tranferência de renda é necessária e a assistência aos mais necessitados deve ser concedida, especialmente em situações de maior vulnerabilidade. Contudo, é necessário que as pessoas aprendam a questionar por que estão recebendo algo e qual o intuito de quem lhes está oferecendo. Talvez a Europa pudesse até aprender com os (maus) exemplos dados pelos Estados Unidos e Brasil e perceber as consequências e o caos público quando se tem um populista negacionista ocupando uma posição de poder central. É possível que os populistas reinventem-se após a pandemia. Como se viu, eles podem voltar ainda mais nacionalistas e autoritários. Por isso, não devemos ter memória curta. Temos sempre que nos lembrar dos danos que os populistas causaram antes mesmo de pensar em lhes dar uma segunda chance. A defesa da verdade, das instituições democráticas e a luta pela democracia não deveriam necessitar de uma situação de risco de vida para serem levadas a cabo. Existem medidas que podem ser tomadas a nível individual e coletivo para que essas instituições sejam protegidas, bem como os direitos por elas resguardados possam ser assegurados. Podemos começar tendo consciência sobre os nossos vieses cognitivos, bem como ajudando com que outros também a tenham e possam tentar deixá-los de lado para abrir a cabeça para novas ideias, mesmo que elas desafiem nossas crenças. Estudos revelam que o efeito de repetição

funciona portanto, e, se alguém for exposto a novas informações repetidamente, acabará enxergando o outro lado da história. Em uma sociedade democrática, é dever do cidadão fazer com que o outro enxergue que está defendendo uma teoria da conspiração por mais frustrante e cansativo que isso seja. Para fazer frente ao populismo, é preciso estar atento às estratégias populistas. Dessa forma, quando estamos capacitados a identificar um discurso populista, temos também condições de combatê-lo. Outra forma de desmantelar o populismo é, por mais óbvia que pareça, acreditar apenas em fatos que são apoiados por evidências (confiáveis). Existem muitas maneiras de lutar contra o negacionismo. A primeira é defendendo a ciência. Isso pode ser feito quando temos uma atitude científica, o que significa que devemos preocuparmo-nos com o surgimento de novas evidências e estar dispostos a mudar de ideia quando nos deparamos com elas. Também podemos defender a ciência de maneira passiva, simplesmente respeitando as opiniões de especialistas, bem como entendendo que eles também estão suscetíveis a cometer erros (não intencionais). A segunda forma de combater o negacionismo é conscientizando-nos sobre como consumimos informações. As pessoas devem instruir-se ou serem instruídas sobre como obter informações adequadas. Nichols dá-nos algumas dicas: as pessoas devem ser humildes, ecumênicas, menos cínicas e mais exigentes. A terceira maneira é usar a verdade como arma. Os mentirosos e suas mentiras devem ser expostos. Mentir na política deve ser visto como um sinal de desrespeito ao cidadão, portanto, talvez, aqueles que não sabem jogar um jogo justo devam sofrer uma espécie de punição, que poderia ser, por exemplo, a sua exclusão do debate público.

A quarta maneira seria lutando contra a ignorância em todas as suas formas, seja ela intencional ou não. Também podemos desestruturar o negacionismo utilizando a verdade e o conhecimento. E, por último, as pessoas deveriam ser humildes e parar de pensar que apenas os incultos e sem educação caem no discurso dos negacionistas. Estar aberto, no nível individual, a mudar de ideia é o principal ponto de partida para isso. O principal objetivo do populismo, a julgar por suas características egocêntricas e ideológicas, é a perpetuação do populista no poder, e não servir aos interesses da sociedade, como os populistas e seus apoiadores afirmam incansavelmente. Como pôde ser observado pela análise de Mounk e Kyle de 46 governos populistas em 33 países, os populistas tendem a permanecer no poder mais do que o dobro do tempo que os não-populistas, e não necessariamente por conta de suas altas popularidades, mas por manipularem os sistemas democrático e eleitoral. Uma das maneiras de fazer isso é por meio do uso do negacionismo. Segundo a visão populista, é mais fácil negar a realidade e enganar as pessoas do que tomar medidas concretas que resolvam os desafios da sociedade. Negar as mudanças climáticas ou a seriedade de uma pandemia, por exemplo, permite aos populistas não só poupar recursos que podem ser redirecionados para medidas que aumentem sua aprovação pública, como o clientelismo em massa, mas também tentar personificar a única fonte confiável de informação. Como já esperado antes mesmo das pesquisas realizadas para a elaboração deste livro, o negacionismo pode ocorrer separadamente do populismo, como, por exemplo, no polêmico caso do debate vacina-autismo, que aparentemente ocorreu independentemente de quaisquer questões políticas. Ele contou principalmente com o apoio da mídia e da internet, teve consequências catastróficas e

permitiu o reaparecimento de diversas doenças que estavam em vias de erradicação em vários países do mundo. Talvez depois da pandemia do Coronavirus, os negacionistas da vacina possam ver mais claramente a diferença que uma única vacina poderia ter feito em toda a humanidade. No entanto, provavelmente haverá aqueles que espalharão teorias da conspiração e alegarão que o vírus foi criado em laboratórios que visavam lucrar com as vendas de vacinas ou que a China quer injetar nanopartículas de 5G em nossos DNAs. É possível concluir que populismo e o negacionismo são ambos danosos, mas quando o negacionismo é impulsionado por populistas, suas consequências podem ser ainda mais calamitosas para a sociedade, em termos de meio ambiente, saúde pública e política. Estimando pelos países que elegeram populistas para seus principais cargos, como os Estados Unidos e o Brasil, uma possibilidade poderia ser supor que onde há mais negacionismo, também pode haver mais populismo e viceversa. Não se pode lutar completamente contra o populismo sem lutar contra o negacionismo. O populismo é um grande propagador do negacionismo, e o negacionismo é uma ferramenta usada pelos populistas para permanecer no poder. Diferentes estudiosos do populismo argumentam que, enquanto houver democracia, haverá populismo. Concluo por acrescentar, então, que, enquanto houver populismo, haverá negacionismo e, enquanto houver negacionismo, haverá populismo. Isso significa que o que as pessoas devem fazer é dar o seu melhor para manter os populistas tão insignificantes quanto possível. Seria utópico imaginar que nações inteiras pudessem ser educadas sobre os diversos assuntos que discuti neste livro: vieses cognitivos, teorias da conspiração, como usar as redes sociais ou como detectar os

mecanismos do populismo. Mas sempre podemos começar com passos pequenos. Talvez com projetos de educação cívica em escolas e universidades. À humanidade foi dada essas incríveis ferramentas tecnológicas, como computadores e smartphones, mas não um manual de bom senso sobre como usá-los positivamente, então cabe àqueles que apreciam os benefícios da verdade e da democracia escrever esses manuais e usá-los.

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A

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5 “it is fundamentally a rejection of science and dispassionate rationality, which are the foundations of modern civilization.” (COOPER, Terry L. Tom Nichols, The Death of Expertise: The Campaign Against Established Knowledge and Why It Matters. New York: Oxford University Press, 2017. 252 p. Public Administration Review, v. 78, n. 2, p. 318-320, 2018. p. 5). 6 “a political regime, which not only respects popular sovereignty and majority rule, but also establishes independent institutions specialized in the protection of fundamental rights, such as freedom of expression and the protection of minorities.” (MUDDE, Cas; KALTWASSER, Cristóbal Rovira. Populism: a very short introduction. New York, NY: Oxford University Press, 2017. p. 80). 7 KALTWASSER et al., 2017, p. 3. 8 Ibidem, p. 17. 9 “strategy through which a personalistic leader seeks or exercises government power based on direct, unmediated, uninstitutionalised support from large number of mostly unorganised followers.” (WEYLAND, Kurt. Clarifying a contested concept: Populism in the study of Latin American politics.  Comparative politics, p. 1-22, 2001. Disponível em: https://doi.org/10.2307/422412. Acesso em: 24 jan. 2021. p. 1). 10 KALTWASSER et al., 2017. 11 “Ordinality is particularly useful both for politics and political analyses,” (OSTIGUY, Pierre. The Socio-Cultural, Relational Approach to Populism. Partecipazione e conflitto, v. 13, n. 1, p. 29-58, 2020. p. 58).

12 “Ideology that considers society to be ultimately separated into two homogeneous and antagonistic camps, ‘the pure people’ versus ‘the corrupt elite,’ and which argues that politics should be an expression of the general will of the people.” (MUDDE, Cas. The populist zeitgeist. Government and opposition, v. 39, n. 4, p. 541-563, 2004. p. 542-63). 13 KALTWASSER et al., 2017. 14 DE LA TORRE, Carlos (ed.).  Routledge handbook of global populism. [S.l.]: Routledge, 2018. 15 KALTWASSER et al., 2017. 16 MÜLLER, Jan-Werner. What is populism? Harlow, England: Penguin UK, 2017. 17 “cultural elements that are considered markers of inferiority by the dominant culture.” (Ibidem, p. 10). 18 “amateurish and unprofessional political behaviour that aims to maximise media attention and popular support.” (Ibidem, p. 4). 19 “themselves not only as different and novel, but also as courageous leaders who stand with ‘the people’ in opposition to ‘the elite.’” (MUDDE; KALTWASSER, 2017, p. 4). 20

MAJOR Vítor Hugo. Twitter Post, 14 fev. 2019. Disponível em: https://twitter.com/MajorVitorHugo/status/1096138412124528640. Acesso em: 27 ago. 2020. 21 “a carefully crafted image of the vox populi.” (MUDDE; KALTWASSER, 2017, p. 20). 22 MÜLLER, 2017. 23 KALTWASSER et al., 2017. 24 Idem. 25 Idem. 26 JAIR BOLSONARO. 2020. Disponível em: http://www.bolsonaro.com.br. Acesso em: 28 ago. 2020. s/p. 27 50% DOS BRASILEIROS São Católicos, 31%, Evangélicos e 10% Não Têm Religião, Diz Datafolha. G1, 13 jan. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/01/13/50percent-dos-brasileiros-saocatolicos-31percent-evangelicos-e-10percent-nao-tem-religiao-dizdatafolha.ghtml. Acesso em: 28 ago. 2020. 28 BOLSONARO Diz Que Vai Indicar Ministro “terrivelmente Evangélico” para o STF. G1, 10 jul. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/07/10/bolsonaro-diz-que-vai-indicar-

ministro-terrivelmente-evangelico-para-o-stf.ghtml. Acesso em: 28 ago. 2020. s/p. 29 KALTWASSER, 2017. 30 MUDDE; KALTWASSER, 2017. 31 MÜLLER, ٢٠١٧. 32 MUDDE; KALTWASSER, 2017. 33 Idem. 34 Idem. 35 KALTWASSER, 2017. 36 BIEGON, Rubrick. A populist grand strategy? Trump and the framing of American decline. International Relations, v. 33, n. 4, p. 517-539, 2019. 37 MUDDE; KALTWASSER, 2017. 38 EATWELL, Roger; GOODWIN, Matthew. National populism: The revolt against liberal democracy. London, England: Pelican, 2018. 39 Idem. 40 Idem. 41 Idem. 42 Idem. 43 Idem. 44 KALTWASSER et al., 2017. 45 EATWELL; GOODWIN, 2018. 46 KALTWASSER et al., 2017. 47 MORO Renuncia e Ataca Bolsonaro. Deutsche Welle, 24 abr. 2020. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/moro-renuncia-e-ataca-bolsonaro/a-53226815. Acesso em: 10 ago. 2020. 48 “corruption creates fertile breeding grounds for populism among important swaths of the population. Consequently, fighting and preventing corruption are crucial strategies for diminishing the demand side of populist politics.” (MUDDE; KALTWASSER, 2017, p. 110). 49 Idem. 50 “part of a growing revolt against mainstream politics and liberal values.” (EATWELL; GOODWIN, 2018, p. 21).

51 Idem. 52 Idem. 53 MUDDE; KALTWASSER, 2017. 54 Idem. 55 Idem. 56 Idem. 57 Idem. 58 JUURD EIJSVOOGEL. Geen Grap: De PVV Heeft Écht Maar Één Lid. NRC Handelsblad, 3 mar. 2017. Disponível em: https://www.nrc.nl/nieuws/2017/03/03/geen-grap-de-pvv-heeft-echt-maar-eenlid-7093259-a1548644. Acesso em: 10 out. 2020. 59

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60 MUDDE; KALTWASSER, 2017. 61 “presidential systems strengthen personalist leadership, while parliamentary systems incentivise the emergence of political parties” (Ibidem, p. 58). 62 Idem. 63 KALTWASSER, et al., 2017. 64 MUDDE; KALTWASSER, 2017. 65 Idem. 66 Idem. 67 “The women of the Right are certainly the most beautiful... the Left has no taste, not even when it comes to women” (DID I Say That? The Guardian. 19 abr. 2008. Disponível em: http://www.theguardian.com/politics/2008/apr/20/italy. Acesso em: 27 ago. 2020. s/p.). 68 “Ladies, I have a mission for you on election day: cook! Sweet and exquisite things, please. Bring them to the polling station to be examined. The boldest can try making a tart, the most skillful, profiteroles.” (Ibidem, s/p). 69 BOLSONARO Zomba de Brigitte Macron Em Comentário No Facebook e é Acusado de Sexismo. O Globo, 25 ago. 2019. Disponível em: https://oglobo.globo.com/mundo/bolsonaro-zomba-de-brigitte-macron-emcomentario-no-facebook-e-acusado-de-sexismo-23903418. Acesso em: 17 nov. 2020. 70 MUDDE; KALTWASSER, 2017.

71 Idem. 72 MOUNK, Yascha; KYLE, Jordan. What Populists Do to Democracies.  Atlantic Monthly (Boston, Mass.: 1993), 26 dez. 2018. Disponível em: https://www.theatlantic.com/ideas/archive/2018/12/hard-data-populismbolsonaro-trump/578878/. Acesso em: 10 out. 2020. 73 Idem. 74 MÜLLER, ٢٠١٧. 75 Idem. 76 MUDDE; KALTWASSER, 2017. 77 “an emancipatory force” (Ibidem, p. 3). 78 “the mobilisation of excluded sectors of society with the aim of changing the status quo” (Idem). 79 Idem. 80 Idem. 81 MÜLLER, ٢٠١٧. 82 EATWELL; GOODWIN, 2018. 83 MÜLLER, ٢٠١٧. 84 Idem. 85 KALTWASSER et al., 2017. 86 BERGMANN, Eirikur.  Neo-Nationalism: The Rise of Nativist Populism. Cham: Springer International Publishing, 2020. 87 MUDDE; KALTWASSER, 2017. 88 BERGMANN, 2020. 89 MUDDE; KALTWASSER, 2017. 90 Idem. 91 MÜLLER, ٢٠١٧. 92 CONSTITUTE PROJECT. Hungary’s Constitution of 2011. 20 jan. 2021. Disponível em: https://www.constituteproject.org/constitution/Hungary_2011.pdf. Acesso em: 26 jan. 2021. 93 BERGMANN, 2020. 94 DE LA TORRE, 2018.

95 MÜLLER, 2017. 96 Idem. 97 MUDDE; KALTWASSER, 2017. 98 Idem. 99 Idem. 100 BERGMANN, 2020. 101 Idem. 102 Idem. 103 Idem. 104 MÜLLER, ٢٠١٧. 105 Idem. 106 UNITED NATIONS. Universal Declaration of Human Rights. 6 out. 2015. Disponível em: https://www.un.org/en/universal-declaration-human-rights/. Acesso em: 27 ago. 2020. 107 “are not fascists who want to tear down our core political institutions. A small minority do, but most have understandable concerns about the fact that these institutions are not representative of society as a whole” (EATWELL; GOODWIN, 2018, p. 21). 108 Idem. 109 TALENTO, Aguirre. Bolsonaro Vai Ao Planalto Cumprimentar Manifestantes Que Criticam STF. O Globo, 31 maio 2020. Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/bolsonaro-vai-ao-planalto-cumprimentarmanifestantes-que-criticam-stf-24455338. Acesso em: 27 ago. 2020. 110 MÜLLER, ٢٠١٧. 111 KALTWASSER, et al., 2017. 112 EATWELL; GOODWIN, 2018. 113 “either rewrote or amended their country’s constitution when they gained power, frequently with the aim of eliminating presidential term limits and reducing checks and balances on executive power.” (MOUNK; KYLE, 2018, s/p). 114 Idem. 115 MUDDE; KALTWASSER, 2017. 116 EATWELL; GOODWIN, 2018.

117 MOORE, Alfred. Conspiracies, conspiracy theories and democracy. Political Studies Review, v. 16, n. 1, p. 2-12, 2018. 118 EATWELL; GOODWIN, 2018. 119 MUDDE; KALTWASSER, 2017. 120 “Viktor Orbán argue that liberal politicians within the EU, along with the billionaire Hungarian-Jewish financier George Soros, are engaged in a plot to flood Hungary and ‘Christian’ Europe with Muslim immigrants and refugees, which they see as part of a quest to dismantle Western nations and usher in a borderless world that is subservient to capitalism. Especially in Eastern Europe, anti-Semitic conspiracy theory as well as prejudice is very much alive and kicking” (EATWELL; GOODWIN, 2018, p. 45). 121 HOFSTADTER, Richard. The Paranoid Style in American Politics and Other Essays. The American Historical Review, v. 72, n. 1, p. 281, 1966. 122 “The paranoid spokesman sees the fate of conspiracy in apocalyptic terms – he traffics in the birth and death of whole worlds, whole political orders, whole systems of human values. […]. He constantly lives at a turning point. Like religious millennialists he expresses the anxiety of those who are living through the last days and he is sometimes disposed to set a date for the apocalypse.” (Ibidem, p. 281). 123 MUDDE; KALTWASSER, 2017. 124 BERGMANN, 2020. 125 “[…] characterised by delusions of persecution, unwarranted jealousy, or exaggerated self-importance. […] It may be an aspect of chronic personality disorder, of drug abuse, or of a serious condition such as schizophrenia in which the person loses touch with reality.” (DEFINITION of Paranoia by Oxford Dictionary. Lexico Dictionaries. 2020. Disponível em: https://www.lexico.com/definition/paranoia. Acesso em: 27 ago. 2020. s/p) 126 “A long-term mental disorder of a type involving a breakdown in the relation between thought, emotion, and behaviour, leading to faulty perception, inappropriate actions and feelings, withdrawal from reality and personal relationships into fantasy and delusion, and a sense of mental fragmentation.” (DEFINITION of Schizophrenia by Oxford Dictionary. Lexico Dictionaries. 2020. Disponível em: https://www.lexico.com/definition/schizophrenia. Acesso em: 27 ago. 2020. s/p). 127 MCINTYRE, Lee. Post-truth. Cambridge, Mass.: MIT Press, 2018. 128 “circumstances in which objective facts are less influential in shaping public opinion than appeals to emotion and personal belief.” (Ibidem, p. 113). 129 Idem.

130 MCINTYRE, Lee. The scientific attitude: defending science from denial, fraud, and pseudoscience. [S.l.]: The MIT Press, 2019. 131 Idem. 132 Idem. 133 Idem. 134 Ibidem. 135 Idem. 136 “the refusal to believe in well-warranted scientific theories even when the evidence is overwhelming” (Ibidem, p. 239). 137 MCINTYRE, 2018. 138 “If you tell a lie often enough it is more likely to be believed, even by you” (MCINTYRE, Lee. Respecting truth: Willful ignorance in the internet age. London, England: Routledge, 2015. p. 80). 139 Idem. 140 NICHOLS, Tom.  The death of expertise: The campaign against established knowledge and why it matters. New York, NY: Oxford University Press, 2018. 141 Idem. 142 MCINTYRE, 2018. 143 Idem. 144 MCINTYRE, 2019. 145 Idem. 146 Idem. 147 NICHOLS, 2018. 148 “Dig deep enough and you find an industry dedicated to the creation of lies and a group of people who profit from them.” (RABIN-HAVT, Ari.  Lies, incorporated: The world of post-truth politics. [S.l.]: Anchor Books, 2016. p. 9). 149 “a story about a group of scientists who fought the scientific evidence and spread confusion on many of the most important issues of our time. It is a story about a pattern that continues today.” (ORESKES, Naomi; CONWAY, Erik M. Merchants of doubt: How a handful of scientists obscured the truth on issues from tobacco smoke to global warming. New York, NY: Bloomsbury Press, 2015. p. 9). 150 Idem.

151 Idem. 152 RABIN-HAVT, 2016. 153 KENNER, Robert et al. Merchants of doubt. [S.l.: s.n.], 2014. 154 Idem. 155 Idem. 156 Idem. 157 Idem. 158 Idem. 159 RABIN-HAVT, 2016. 160 KENNER et al., 2014. 161 “attack science and scientists, and to confuse us about major, important issues affecting our lives and the planet we live on.” (Ibidem, p. 7). 162 KENNER et al., 2014. 163 Idem. 164 MCINTYRE, 2018. 165 Idem. 166 Idem. 167 Idem. 168 Idem. 169 Idem. 170 Idem. 171 Idem. 172 NICHOLS, 2017. 173 Ibidem. 174 NYHAN, Brendan; REIFLER, Jason. When corrections fail: The persistence of political misperceptions. Political Behavior, v. 32, n. 2, p. 303-330, 2010. 175 MCINTYRE, 2015. 176 WOOD, Thomas; PORTER, Ethan. The elusive backfire effect: Mass attitudes’ steadfast factual adherence. Political Behavior, v. 41, n. 1, p. 135-163, 2019.

177 “the dumber you are, the more confident you are that you’re not actually dumb.” (NICHOLS, 2018, p. 43). 178 Ibidem. 179 MCINTYRE, 2015. 180 MCINTYRE, 2018. 181 MCINTYRE, 2015. 182 “just as we are not all equally able to carry a tune or draw a straight line, many people simply cannot recognise the gaps in their own knowledge or understand their own inability to construct a logical argument” (NICHOLS, 2018, p. 8). 183 Idem. 184 MCINTYRE, 2015. 185 RATHJE, Steve. Why People Ignore Facts.  Psychology Today, 25 out. 2018. Disponível em: https://www.psychologytoday.com/blog/wordsmatter/201810/why-people-ignore-facts. Acesso em: 17 nov. 2020. 186 MCINTYRE, 2015. 187 THE BILL Gates “Microchip” Claim Fact-Checked.  BBC, 30 maio 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/news/52847648. Acesso em: 27 ago. 2020. 188 MCINTYRE, 2015, p. 45. 189 Idem. 190 MCINTYRE, 2019, p. 246. 191 NICHOLS, 2018. 192 Idem. 193 MCINTYRE, 2015. 194 MCINTYRE, 2019. 195 NICHOLS, 2018. 196 Idem. 197 Idem. 198 “why bad things happen to good people” (TWENGE, Jean et al. The State of the American Mind: 16 Leading Critics on the New Anti-Intellectualism. [S.l.]: Templeton Foundation Press, 2015. p 138-139). 199 NICHOLS, 2018.

200 Idem. 201 MCINTYRE, 2018. 202

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203 ORESKES; CONWAY, 2015. 204 MCINTYRE, 2015. 205 “The host presents an eminent climate scientist on one side of a split screen and a ‘sceptic’ (who may or may not have any scientific credentials) on the other and gives them equal time to ‘make their case.’ The sceptic is allowed to get away with saying that some of the scientific evidence is ‘unproven’ and the scientist is normally asked to respond to the most ludicrous claims of conspiracy and malfeasance levelled by the sceptic. After they’ve each had a turn to speak, the host normally pronounces the issue ‘controversial,’ then turns to the audience as if to say, ‘you decide.’” (Ibidem, p 100). 206 MCINTYRE, 2018. 207 MCINTYRE, 2019. 208 WELLCOME GLOBAL MONITOR. Wellcome Global Monitor: How Does the World Feel about Science and Health? 2018. Disponível em: https://wellcome.ac.uk/sites/default/files/wellcome-global-monitor-2018.pdf. Acesso em: 27 ago. 2020. 209 NICHOLS, 2018. 210 Idem. 211 MCINTYRE, 2018. 212 Idem. 213 NEWMAN, Nic et al. Reuters Institute Digital News Report 2020. Reuters Institute. 2020. Disponível em: https://reutersinstitute.politics.ox.ac.uk/sites/default/files/202006/DNR_2020_FINAL.pdf. Acesso em: 17 nov. 2020. 214 MCINTYRE, 2018. 215 NICHOLS, 2018. 216 MCINTYRE, 2018. 217 REALITY Check: Boris’s £350m a Week Claim. BBC News. 18 set. 2017. Disponível em: https://www.bbc.com/news/uk-politics-41306354. Acesso em: 10 ago. 2020.

218 STONE, Jon. All the False Claims Made during the EU Referendum Campaign. Independent. 17 dez. 2017. Disponível em: https://www.independent.co.uk/infact/brexit-second-referendum-false-claims-eureferendum-campaign-lies-fake-news-a8113381.html. Acesso em: 27 ago. 2020. 219 Idem. 220 NICHOLS, 2018. 221 MCINTYRE, 2018. 222 Idem. 223 MCINTYRE, 2019. 224 NICHOLS, 2018. 225 Idem. 226 Idem. 227 Idem. 228 Idem. 229 Idem. 230 Idem. 231

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232 Idem. 233 MCINTYRE, 2018. 234 NICHOLS, 2018. 235 Idem. 236 RABIN-HAVT, 2016. 237 “it appeals to our emotions and makes us feel that we are reasoning even when we are not; it tells us what to think, without bothering us with the hard work of actually reasoning, so that we can feel justified in believing what we want to and rejecting what we don’t. As such, ideology erects a significant barrier to the formation of true beliefs.” (MCINTYRE, 2015, p. 57). 238 Idem. 239 MCINTYRE, 2019. 240 Idem.

241 Idem. 242 CAM. University of Cambridge. “Populism” Revealed as 2017 Word of the Year by Cambridge University Press. 30 nov. 2017. Disponível em: https://www.cam.ac.uk/news/populism-revealed-as-2017-word-of-the-year-bycambridge-university-press. Acesso em: 27 ago. 2020. 243 PENEIRAS, Joise Machado. [Entrevista cedida a] Uriã Fancelli. 10 ago. 2020. Arquivo pessoal. s/p. 244 COLEMAN, Stephen. The Effect of Social Conformity on Collective Voting Behavior. Political Analysis: An Annual Publication of the Methodology Section of the American Political Science Association, v. 12, n. 01, p. 76-96, 2004. Disponível em: https://doi.org/10.1093/pan/mpg015. Acesso em: 27 ago. 2020. 245 “Particularly among conservatives, attempts to correct misperceptions activated a ‘backfire effect’ against empirical facts, with subjects more strongly expressing a non-factual belief” (WOOD; PORTER, 2019). p. 2. 246 MUDDE; KALTWASSER, 2017. 247 “we all overestimate ourselves, but the less competent do it more than the rest of us.” (NICHOLS, 2018, p. 44). 248 “we won with poorly educated, I love the poorly educated” (ASSOCIATED PRESS. Trump in Nevada: “I Love the Poorly Educated”. Youtube, 23 fev. 2016. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Vpdt7omPoa0. Acesso em: 27 ago. 2020. s/p). 249 NICHOLS, 2018. 250 JOHN, Tara. Poland Just Passed a Holocaust Bill That Is Causing Outrage. Here’s What You Need to Know. Time, 1 fev. 2018. Disponível em: https://time.com/5128341/poland-holocaust-law/. Acesso em: 27 ago. 2020. s/p. 251 Idem. 252 CAMPOS, João Pedroso de. Doze Vezes Em Que Bolsonaro e Seus Filhos Exaltaram e Acenaram à Ditadura. Veja, 1 nov. 2019. Disponível em: https://veja.abril.com.br/politica/doze-vezes-em-que-bolsonaro-e-seus-filhosexaltaram-e-acenaram-a-ditadura/. Acesso em: 27 ago. 2020. 253 HUMAN RIGHTS WATCH. Brasil: Bolsonaro Comemora Ditadura Brutal. 27 mar. 2019. Disponível em: https://www.hrw.org/pt/news/2019/03/27/328618. Acesso em: 27 ago. 2020. 254 RABIN-HAVT, 2016. 255 MCINTYRE, 2015. 256 ORESKES; CONWAY, 2011.

257 “The concept of global warming was created by and for the Chinese in order to make U.S. manufacturing non-competitive” (DONALD TRUMP. Twitter post, 6 nov. 2012. Disponível em https://twitter.com/realDonaldTrump/status/265895292191248385?s=20. Acesso em: 27 ago. 2020. s/p). 258 “Ice storm rolls from Texas to Tennessee - I’m in Los Angeles and it’s freezing. Global warming is a total, and very expensive, hoax!” (DONALD TRUMP. Twitter post, 6 dez. 2013. Disponível em https://twitter.com/realDonaldTrump/status/408977616926830592?s=20. Acesso em: 27 ago. 2020. s/p). 259 “Any and all weather events are used by the GLOBAL WARMING HOAXSTERS to justify higher taxes to save our planet! They don’t believe it $$$$!” (DONALD TRUMP. Twitter post, 26 jan. 2014. Disponível em https://twitter.com/realDonaldTrump/status/427556692109574146?s=20. Acesso em: 27 ago. 2020. s/p). 260 TRUMP: “I’m Not a Big Believer in Man-Made Climate Change”. Washington Post (Washington, D.C.: 1974), 22 mar. 2016. Disponível em: https://www.washingtonpost.com/news/energy-environment/wp/2016/03/22/thisis-the-only-type-of-climate-change-donald-trump-believes-in/. Acesso em: 27 ago. 2020. 261 LAW. Sabin Center for Climate Change Law. President Issues Executive Order Revoking Federal Sustainability Plan. Columbia University. [201-]. Disponível em: https://climate.law.columbia.edu/content/president-issuesexecutive-order-revoking-federal-sustainability-plan-0. Acesso em: 27 ago. 2020. 262 LAW. Sabin Center for Climate Change Law. President Trump Announces Withdrawal from Paris Agreement. Columbia University. [201-]. Disponível em: https://climate.law.columbia.edu/content/president-trump-announceswithdrawal-paris-agreement-0. Acesso em: 27 ago. 2020. 263 “all nations into a common cause to undertake ambitious efforts to combat climate change and adapt to its effects, with enhanced support to assist developing countries to do so.” (UNITED NATIONS. The Paris Agreement. 2015. Disponível em: https://unfccc.int/process-and-meetings/the-paris-agreement/theparis-agreement. Acesso em: 27 ago. 2020. s/p). 264

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266 MADEIRO, Carlos. Relatório Do Inpe de Julho Já Previa Aumento de Focos de Incêndio Em Agosto. UOL, 25 ago. 2019. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimasnoticias/redacao/2019/08/25/inpe-queimadas-amazonia-relatorio.htm. Acesso em: 27 ago. 2020. 267 O QUE Você Precisa Saber Sobre Os Incêndios Florestais Da Amazônia. WWF, 23 ago. 2019. Disponível em: https://www.wwf.org.br/informacoes/sala_de_imprensa/?72662/O-que-voceprecisa-saber-sobre-os-incendios-florestais-da-Amazonia. Acesso em: 27 ago. 2020. 268 Idem. 269 CONFIRA a Linha Do Tempo Sobre a Polêmica Da Amazônia. Isto É, 24 ago. 2019. Disponível em: https://istoe.com.br/confira-a-linha-do-tempo-sobre-apolemica-da-amazonia-2/. Acesso em: 27 ago. 2020. 270 SOARES, Ingrid. No Frio, Carlos Bolsonaro Questiona o Aquecimento Global. Correio Braziliense, 7 jul. 2019. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2019/07/07/interna_po litica,768903/no-frio-carlos-bolsonaro-questiona-o-aquecimento-global.shtml. Acesso em: 27 ago. 2020. 271 AMADO, Guilherme. Ernesto Araújo Nega Aquecimento Global: “Fui a Roma Em Maio e Havia Uma Onda de Frio”. Época, 3 ago. 2019. Disponível em: https://epoca.globo.com/guilherme-amado/ernesto-araujo-nega-aquecimentoglobal-fui-roma-em-maio-havia-uma-onda-de-frio-23851347. Acesso em: 27 ago. 2020. 272 DELEJA-HOTKO, Vera; MÜLLER, Ann-Katrin; TRAUFETTER, Gerald. AfD Hopes to Win Votes by Opposing Climate Protection. Der Spiegel, 6 maio 2019. Disponível em: https://www.spiegel.de/international/germany/afd-seeks-votesby-opposing-climate-protection-a-1265494.html. Acesso em: 27 ago. 2020. 273 WALDHOLZ, Rachel. “Green Wave” vs Right-Wing Populism: Europe Faces Climate Policy Polarisation. Clean Energy Wire, 5 jun. 2019. Disponível em: https://www.cleanenergywire.org/news/green-wave-vs-right-wing-populismeurope-faces-climate-policy-polarisation. Acesso em: 27 ago. 2020. 274 MCINTYRE, 2018. 275 “feel entitled to a double standard whereby they simultaneously believe (with no evidence) that the world’s climate scientists are part of a global conspiracy to hype the evidence on climate change, but then cherry pick the most favourable scientific statistics that allegedly show that the global temperature has not gone up in the last two decades.” (Ibidem, p. 224). 276 “[…] families and communities have already started to suffer from disasters and the consequences of climate change, which has forced them to leave their

homes in search of a new beginning”. (UNHCR. United Nations High Commissioner for Refugees. Climate Change and Disaster Displacement. Disponível em: https://www.unhcr.org/climate-change-and-disasters.html. Acesso em: 27 ago. 2020. s/p). 277 “[…] environmental degradation and natural disasters increasingly interact with the drivers of refugee movements […]” (UNITED NATIONS. Report of the United Nations High Commissioner for Refugees. 13 set. 2018. Disponível em: https://www.unhcr.org/gcr/GCR_English.pdf. Acesso em: 27 ago. 2020. s/p). 278 THE INTERNAL DISPLACEMENT MONITORING CENTRE. 2017 Global Report on Internal Displacement. TIDMC. [2018?]. Disponível em: https://www.internaldisplacement.org/global-report/grid2017/. Acesso em: 27 ago. 2020. 279 “[…] a political style based on performances of public health crises that pit ‘the people’ against ‘the establishment.’ While some health emergencies lead to technocratic responses that soothe anxieties of a panicked public, medical populism thrives by politicising, simplifying, and spectacularising complex public health issues.” (LASCO, Gideon; CURATO, Nicole. Medical Populism. Social Science & Medicine (1982), v. 221, p. 1-8, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.socscimed.2018.12.006. Acesso em: 27 ago. 2020. p. 1). 280 MCINTYRE, 2015. 281 NICHOLS, 2018. 282 Idem. 283 “The world is now suffering as a result of the malfeasance of the Chinese government.” (MCNEIL, Donald G. Jr.; JACOBS, Andrew. Blaming China for Pandemic, Trump Says U.S. Will Leave the W.H.O. The New York Times, 29 maio 2020. Disponível em: https://www.nytimes.com/2020/05/29/health/viruswho.html. Acesso em: 27 ago. 2020. s/p). 284 MUDDE; KALTWASSER, 2017. 285 “And then I see the disinfectant, where it knocks it out in a minute […] is there a way we can do something like that, by injection inside or almost a cleaning? Because you see it gets in the lungs and it does a tremendous number on the lungs. So it would be interesting to check that?” (ROGERS, Katie; HAUSER, Christine; YUHAS Alan; HABERMAN, Maggie. Trump’s Suggestion That Disinfectants Could Be Used to Treat Coronavirus Prompts Aggressive Pushback. The New York Times, 24 abr. 2020. Disponível em: https://www.nytimes.com/2020/04/24/us/politics/trump-inject-disinfectantbleach-coronavirus.html. Acesso em: 27 ago. 2020. s/p.). 286 “I was asking a question sarcastically to reporters like you just to see what would happen.” (Idem).

287 LIPTAK, Kevin. Trump Abruptly Ends Briefing after Being Pressed over Retweeting Misinformation. CNN, 28 jul. 2020. Disponível em: https://www.cnn.com/2020/07/28/politics/donald-trump-coronavirusbriefing/index.html. Acesso em: 27 ago. 2020. 288 EM PRONUNCIAMENTO, Bolsonaro Minimiza Novo Coronavírus. Deutsche Welle, 25 mar. 2020. Disponível em: https://p.dw.com/p/3ZzLO. Acesso em: 27 ago. 2020. 289 FERNANDES, Augusto. Bolsonaro Culpa Governadores Por Mortes e Reclama de Repercussão Do “e Daí”. Correio Braziliense, 29 abr. 2020. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2020/04/29/interna_po litica,849577/bolsonaro-culpa-governadores-mortes-e-reclama-de-repercussaodo-e-dai.shtml. Acesso em: 27 ago. 2020. s/p. 290 Idem. 291 BOLSONARO, Jair Messias. Eu Tomei a Hidroxicloroquina e Estou... Facebook, 2020. Disponível em: https://www.facebook.com/jairmessias.bolsonaro/videos/723015191608243/. Acesso em: 27 ago. 2020. 292 ROSSI, Marina. Produção de Cloroquina Pelo Exército Aumenta 80 Vezes, Mesmo Sem Conclusão de Sua Eficácia Contra a Covid-19. El País, 27 abr. 2020. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2020-04-27/producao-decloroquina-pelo-exercito-aumenta-80-vezes-mesmo-sem-conclusao-de-suaeficacia-contra-a-covid-19.html. Acesso em: 27 ago. 2020. 293 WORLD HEALTH ORGANISATION. Targeted Update: Safety and Efficacy of Hydroxychloroquine or Chloroquine for Treatment of COVID-19. 17 jun. 2020. Disponível em: https://www.who.int/publications/m/item/targeted-update-safetyand-efficacy-of-hydroxychloroquine-or-chloroquine-for-treatment-of-covid-19. Acesso em: 27 ago. 2020. 294 DELLA COLLETA, Ricardo. Com Covid-19, Bolsonaro Passeia de Moto e Conversa Sem Máscara Com Garis No Alvorada. Folha de São Paulo, 23 jul. 23, 2020. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/07/com-covid19-bolsonaro-passeia-de-moto-e-conversa-sem-mascara-com-garis-noalvorada.shtml. Acesso em: 27 ago. 2020. 295 MUDDE; KALTWASSER, 2017. 296 LEONHARDT, David; LEATHERBY, Lauren. Where the Virus Is Growing Most: Countries with “Illiberal Populist” Leaders. The New York Times, 2 jun. 2020. Disponível em: https://www.nytimes.com/2020/06/02/briefing/coronaviruspopulist-leaders.html. Acesso em: 27 ago. 2020. 297 WORLD HEALTH ORGANISATION. WHO Coronavirus Disease (COVID-19) Dashboard. 26 jan. 2021. Disponível em: https://covid19.who.int/. Acesso em: 26 jan. 2021.

298 “When an individual is misinformed or mistaken, he or she will likely pay the price; wishing that a new drug will cure our heart disease will not make it so. But when our leaders – or a plurality of our society – are in denial over basic facts, the consequences can be world shattering.” (MCINTYRE, 2018, p. 224). 299 MCINTYRE, 2019. 300 BERGMANN, 2020. 301 Idem. 302 ZABALA, Santiago. The Coronavirus Pandemic Is a Threat to Populist Strongmen. Al Jazeera. 21 abr. 2020. Disponível em: https://www.aljazeera.com/indepth/opinion/coronavirus-pandemic-threatpopulist-strongmen-200421105729756.html. Acesso em: 27 ago. 2020. 303 BERGMANN, 2020. 304 MOUNK; KYLE, 2018. 305 TOP Austrian Court Annuls Presidential Election Result. Deutsche Welle, 1 jul. 2016. Disponível em: https://www.dw.com/en/top-austrian-court-annulspresidential-election-result/a-19371074. Acesso em: 27 ago. 2020. 306 BUMP, Philip. What we know about Trump’s efforts to subvert the 2020 election. The Washington Post. 25 jan. 2021. Disponível em: https://www.washingtonpost.com/politics/2021/01/25/what-we-know-abouttrumps-efforts-subvert-2020-election/ Acesso em: 27 jan. 2021. 307 TRUMP Hits out Again on Popular Vote. BBC News, 21 dez. 2016. Disponível em: https://www.bbc.com/news/world-us-canada-38397594. Acesso em: 27 ago. 2020. 308 BULLA, Beatriz Bulla; MOURA, Rafael Moraes. Bolsonaro Diz Que Provará Que Venceu Eleição de 2018 No Primeiro Turno. Estadão, 9 mar. 2020. Disponível em: https://politica.estadao. com.br/noticias/eleicoes, bolsonaro-diz- queprovara-que- venceu-eleicao-de- 2018-no-primeiro- turno,70003226593. Acesso em: 27 ago. 2020. 309 KURTZLEBEN, Danielle. With “fake News”, Trump Moves from Alternative Facts to Alternative Language. NPR, 17 fev. 2017. Disponível em: https://www.npr.org/2017/02/17/515630467/with-fake-news-trump-moves-fromalternative-facts-to-alternative-language. Acesso em: 27 ago. 2020; MCINTYRE, 2018. 310 MCINTYRE, 2018. 311 BERGMANN, 2020. 312

TYRANNY. Cambridge Dictionary. 2020. Disponível em: https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles-portugues/tyranny. Acesso em: 27 ago. 2020.

313 “propaganda works best when those who are being manipulated are confident they are acting on their own free will.” (MCINTYRE, 2018, p. 1655). 314 Idem. 315 “the goal of propaganda is not to convince someone that you are right, but to demonstrate that you have authority over the truth itself. When a political leader is really powerful, he or she can defy reality.” (Ibidem, p. 1641). 316 “If Pakistan sends ground troops to Syria on any pretext, we will destroy their country with a nuclear attack.” (AFP. Duped by Fake News, Pakistan Minister Makes Nuke Threat to Israel. Yahoo News, 26 dez. 2016. Disponível em: https://www.yahoo.com/news/duped-fake-news-pakistan-minister-makes-nukethreat-074808075.html. Acesso em: 27 ago. 2020; MCINTYRE, 2018, p. 1610). 317 BERGMANN, Eirikur. Conspiracy & Populism: The Politics of Misinformation. 1st ed. Cham, Switzerland: Springer International Publishing, 2018. 318 Idem. 319 “Our population is being replaced. No more.’ These words were written by Geert Wilders (2017) leader of The Netherlands’ far-right Freedom Party, when linking on Twitter to a video clip showing Muslims dominating the streets in Amsterdam. The video was titled ‘Is this Iran or Pakistan? No, this is Amsterdam, the Netherlands.’ This is but one example of many similar moves made by several leaders of nationalist populist parties in Europe indicating that Europe was facing a hostile takeover by Muslims.” (Ibidem, p. 123). 320 Idem. 321 KENDALL-TAYLOR, Andrea; NIETSCHE, Carisa. Populists Lose but Extremists May Gain from Coronavirus Crisis. Foreign Policy, 16 abr. 2020. Disponível em: https://foreignpolicy.com/2020/04/16/coronavirus-populism-extremism-europeleague-italy/. Acesso em: 27 ago. 2020. 322 Idem. 323 Idem. 324 Idem. 325 Idem. 326 ZABALA, 2020. 21 abr. 2020. 327 Idem. 328 ARAGÃO, Murillo. Puxada pelo auxílio emergencial, popularidade de Bolsonaro bate recorde. Veja, 14 ago. 2020. Disponível em: https://veja.abril.com.br/blog/murillo-de-aragao/puxada-pelo-auxilioemergencial-popularidade-de-bolsonaro-bate-recorde/. Acesso em: 26 jan. 2021.

329 FREIRE, Sabrina. Hoje, Eleição Presidencial Teria Bolsonaro à Frente de Todos No 1o Turno. Poder 360, 6 ago. 2020. Disponível em: https://www.poder360.com.br/poderdata/hoje-eleicao-presidencial-teriabolsonaro-a-frente-de-todos-no-1o-turno/. Acesso em: 27 ago. 2020. 330 GIELOW, Igor. Crise derruba popularidade de Bolsonaro, aponta Datafolha. Folha de São Paulo, 22 jan. 2021. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/01/crise-derruba-popularidade-debolsonaro-aponta-datafolha.shtml. Acesso em: 27 jan. 2021. 331 MCINTYRE, 2018. 332 Idem. 333 REDLAWSK, David P.; CIVETTINI, Andrew J. W.; EMMERSON, Karen M. The Affective Tipping Point: Do Motivated Reasoners Ever “Get It”? The Affective Tipping Point. Political Psychology, v. 31, n. 4, p. 563-93, 2010. 334 Idem. 335 MCINTYRE, 2018. 336 Idem. 337 Idem. 338  NICHOLS, 2018. 339 BLUMER, Anselm et al. Occam’s razor. Information processing letters, v. 24, n. 6, p. 377-380, 1987. 340 MCINTYRE, 2018. 341 Idem. 342 MUDDE; KALTWASSER, 2017. 343 MÜLLER, ٢٠١٧. 344 EATWELL; GOODWIN, 2018. 345 MUDDE; KALTWASSER, 2017. 346 Idem. 347 Idem. 348 Idem. 349 “most of the power of authoritarianism is freely given. In times like these, individuals think ahead about what a more repressive government will want, and then offer themselves without being asked. A citizen who adapts in this way is teaching power what it can do.” (SLY, Jordan S. Timothy Snyder. On Tyranny:

Twenty Lessons from the Twentieth Century. College & Research Libraries, New York, Tim Duggan Books, v. 78, n. 6, p. 868, 2017). 350 Idem. 351 Idem. 352 “Believe in truth. To abandon facts is to abandon freedom. If nothing is true, then no one can criticise power, because there is no basis upon which to do so. If nothing is true, then all is spectacle.” (Ibidem, p. 65). 353 MCINTYRE, 2019. 354 SLY, 2017. 355 Idem. 356 Idem. 357 Idem. 358 “First, while our clumsy dentist might not be the best tooth puller in town, he or she is better at it than you.” (NICHOLS, 2018, p. 36). 359 “[…] experts will make mistakes, but they are far less likely to make mistakes than a layperson.” (Ibidem, p. 36). 360 Idem. 361 Idem. 362 Idem 363 Idem. 364 Idem. 365 Idem. 366 Idem. 367 NICHOLS, 2018. 368 Idem. 369

OXFORD REFERENCE. Sturgeon’s Law. 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1093/oi/authority.20110803100538950. Acesso em: 17 nov. 2020. 370 NICHOLS, 2018. 371 RABIN-HAVT, 2016. 372 Idem. 373 Idem.

374 MCINTYRE, 2018. 375 IGNORANCE. Oxford’s Learner’s Dictionaries. 2020. Disponível https://www.oxfordlearnersdictionaries.com/definition/english/ignorance? q=ignorance. Acesso em: 17 nov. 2020.

em:

376 MCINTYRE, 2015. 377 Idem. 378 Idem. 379 “[…] it relies on a standard of reasoning that foregoes the possibility of correcting one’s beliefs in the future.” (Ibidem, p. 5). 380 NICHOLS, 2018. 381 “the case of vaccines, for example, low rates of participation in child vaccination programs are actually not a problem among small-town mothers with little schooling.” (Ibidem, p. 21). 382 WELLCOME GLOBAL MONITOR, 2018. 383 Idem. 384 “While these mothers and fathers are not doctors, they are educated just enough to believe they have the background to challenge established medical science. Thus, in a counterintuitive irony, educated parents are actually making worse decisions than those with far less schooling, and they are putting everyone’s children at risk.” (NICHOLS, 2018, p. 21).

Colonialidade e Resistências Fleuri, Reinaldo Matias 9788547337438 215 páginas

Compre agora e leia Tecemos o livro Colonialidade e resistências no contexto do tenso processo de mudanças políticas, econômicas, sociais, culturais e étnico-raciais que vivemos no Brasil em 20132018, pressionados por setores políticos aderentes a interesses antipopulares do capital multinacional. Como pós-graduandos em Educação da Unirio, entrelaçamos nossas pesquisas para entender as respostas e as propostas urdidas pelas múltiplas lutas que nos atravessam. Como um "tear", tramamos teias de resistência, pela união, por respeito, partilha e construção coletiva. Deparamo-nos com as nossas experiências e nos demos as mãos. Por meio de re-des-encontros, de entrecruzamento de ideias, criamos tessituras que tematizam "Colonialidade e resistências". Entendemos, na primeira parte deste volume, que dispositivos éticos e epistêmicos decoloniais podem ser construídos pela ação organizada dos "condenados da terra", à medida que, tomando consciência da opressão colonial, promovam a práxis revolucionária e transgressora que avance, para além da dimensão de classe, também nas relações de gênero e de raça. Nesse sentido, as práticas insurgentes dos povos originários e diaspóricos reinventam, para além de resistência, formas de reexistência. Na segunda parte, analisamos os processos de resistências cotidianas das juventudes brasileiras, dialogando com a experiência de uma jovem negra do subúrbio do Rio de Janeiro aprovada em Medicina da UFRJ. Ela afirma: "Inclusão

é um ótimo sonho que a gente está tentando implementar na nossa sociedade. Acho que é isto que eu tento fazer todos os dias: ser inclusa". É justamente o tema "inclusão em educação" que discutimos na terceira parte: sentimonos convocados a transformações, mudanças, quebras de paradigmas e a construir um cabedal de conhecimentos para novas práxis sociais e educacionais. Na quarta parte, refletimos sobre processos de resistências em contextos heterogêneos de educação infantil, de museus e de avaliação educacional de larga escala. Na quinta e última parte, discutimos desafios educacionais que identificamos na experimentação de técnicas didático-estéticas, como a do Madonnaro (técnica de pintura coletiva no chão). Agora, em diálogo com você, pretendemos compreender práticas e teorias educacionais, articulando o debate da (de)colonialidade com processos concretos de resistência, que nos fizeram apostar na rebeldia e na criatividade para construir "um outro mundo possível", generoso, fraterno, justo: decolonial. Compre agora e leia

Mulheres de Luta: feminismo e esquerdas no Brasil (1964-1985) de Mello, Soraia Carolina 9788547340506 450 páginas

Compre agora e leia Participam do projeto: Cristina Scheibe Wolff, como coordenadora geral; Karina Janz Woitowicz e Ana Rita Fonteles Duarte, como integrantes das instituições associadas, orientando as bolsistas de Iniciação Científica Barbara Maria Popadiuk, Luana Magalhães de Paula (2017) e Elyssan Frota dos Santos (2018). Participam também as mestrandas bolsistas Luísa Dornelles Briggmann e Binah Irê Vieira Marcellino, além dos bolsistas de pós-doutorado Soraia Carolina de Mello (2017) e Jair Zandoná (2018). O projeto contou ainda, como integrantes, com as professoras Joana Maria Pedro, Janine Gomes da Silva, Cláudia Regina Nichnig, Cintia Lima Crescêncio, Jaqueline Zarbatto, Erica Dantas Brasil, Maise Caroline Zucco, Maria Helena Lenzi, Giovana Ilka Jacinto Salvaro e Juliana Salles Machado Bueno. Compre agora e leia

Gêneros textuais no ensino e na aprendizagem das línguas Lousada, Eliane Gouvêa 9788547315115 305 páginas

Compre agora e leia O livro Gêneros textuais no ensino e na aprendizagem das línguas: dos estudos teóricos às práticas didáticas apresenta informações de grande interesse para o professor de línguas, pois se-propõe a divulgar dispositivos didáticos, análises e reflexões sobre o uso dos gêneros textuais para o ensino da língua materna ou estrangeira. Reunindo capítulos que abordam o ensino do francês, italiano e português, o livro traz esclarecimentos atuais sobre a abordagem dos gêneros textuais e mostra questões extremamente ligadas à sala de aula. Pelo fato de ter sido escrito por professores de línguas que também fazem pesquisas na área, o livro está muito ancorado na prática docente, sem se esquecer, no entanto, das questões teóricas que perpassam a sala de aula. Por todas essas razões, é um livro de grande valia para os professores e pesquisadores dos campos da Didática e do EnsinoAprendizagem das línguas, que merece ser lido e consultado. Compre agora e leia

Ensino da Língua Portuguesa: Contexto e a Prática de Multiletramentos Vieira, Fábia Magali Santos 9788547335144 100 páginas

Compre agora e leia O livro Ensino de Língua Portuguesa: contexto e a prática de multiletramentos, fundamentado nos estudos sobre a pedagogia dos multiletramentos e nos estudos sobre letramento e letramento digital, que apontam a existência de habilidades específicas para que o sujeito possa lidar com o texto num contexto digital, apresenta,de forma consistente,uma possibilidade para a utilização do potencial da inclusão, nas matrizes de ensino, de novas habilidades relacionadas ao uso de recursos e ferramentas digitais e à produção e recepção de novos textos que emergem nesses contextos.Por seu conteúdo atual e linguagem dinâmica, clara e objetiva, este livro torna-se uma excelente fonte para os professores de Língua Portuguesa da educação básica que desejam redimensionar e dinamizar sua prática pedagógica no que se refere à aplicação das mídias sociais nas aulas de Língua Portuguesa. Compre agora e leia

Redes Sociais: Possibilidades para o Desenvolvimento de Práticas Argumentativas Vieira, Fábia Magali Santos 9788547335137 100 páginas

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