Os intelectuais 8531201306, 9788531201301

Quem são os intelectuais? Paul Johnson os vê como um fenômeno surgido no final do século XVIII: são pensadores seculares

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Os intelectuais
 8531201306, 9788531201301

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PAUL

I MAGO

JOHNSON

Outras obras de Paul Johnson Elizabeth 1: A Study in Power and Intellect A History of Christianity The Civilizations of Ancient Egypt Civilizations of the Holy Land The National Trust Book of British Castles British Cathedrals Pope John Paul 11 and the Catholic Restoration A History of the Modern World: From 1917 to the 1980s A History of the English P eople A History of the Jews (Ed. bras.: Hist6ria dos Judeus, Imago)

CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Lvros, RJ. Johnson, Paul

J65i

Os inte';:ctuais I Paul Johnson: tradução de André Luiz Barros da Silva.- Rio de Janeiro: !mago Ed., 1990. (Série Logoteca) Tradução de: Intellectuals Bibliografia ISBN 85-312-0130-6

I. Intelectuais- Biografia. 2. Intelectuais- Influência. I. Título. II. Série. CDD- 920.930552

305.52 CDU- 92:301.185.4

90-0681

301.185.4

PAUL

JOHNSON

S

INTELECTUAIS - Série Logoteca -

Direção de JAYME SALOMÃO

Tradução de i\NDRf LlJTZ RARROS

DA

IMAGO EDITORA Rio de Janeiro-

STLVA

Título Original INTELLECTUALS Paul Johnson

First published in Great Britain in 1988 by George Weidenfeld and Nicolson Lirnited

91 Clapham High Street, London SW4 7TA

Copyright

©

Paul Johnson, 1988

Copidesque: Emanuel Brasil Revisão: Lucia Videira Monteiro Marcos José da Cunha Capa: Eduardo Muniz

Direitos adquiridos por IMAGO EDITORA L TDA. Rva Santos Rodrigues, 201-A- Estácio CEP 20250- Rio de Janeiro- RJ Tel.: 293-1092

Todos os direitos de reprodução, divulgação e tradução são reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida por fotocópia, microfilme ou outro processo fotomecânico.

Impresso no Brasil

Printed in Brazil

SUMÁRIO

.lcan-Jacques Rousseau: "Um louco interessante" ' Shclley, ou a Insensibilidade das idéias





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Karl Marx: "Gritando maldições colossais" ·I llcnrik Ibsen: "Muito pelo contrário"

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111 hlrnu nd Wilson: Um tição do incêndio

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I I 1\ nmsciência inquieta de Victor Gollancz

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I.' 1\kntiras, malditas mentiras e Lillian Hellman .

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'' kan-l'aul Sartre: "Uma bolinha feita de pêlo e tinta"

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X lkrlrand Russell: Um caso de tolices lógicas

I \ 1 1 vúo da razão

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l'olstoi: O irmão mais velho de Deus

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As águas profundas de Ernest Herningway .

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lkrlolt Brecht: Coração de gelo

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AGRADECIMENTOS

Este livro faz uma análise das qualificações de ordem moral e capacida­ de de discernimento com que certos líderes intelectuais se credenciam para orientar a humanidade. Tentei proceder de maneira factual e objetiva, utili­ zando, sempre que possível, a obra daqueles que estavam sendo examinados, assim como . suas cartas, diários, memórias e conversas registradas. Para Rousseau descobri que a mais útil era a de Lester G. Crocker, Jean-Jacques Rousseau: The Quest, 1712-1758 (Nova Iorque, 1 974) e Jean-Jacques Rousseau: The Prophetic Voice, 1758-1783 (Nova Iorque, 1 973), embora também tivesse apreciado o estudo polêmico de J.H. Huizinga, The Making

of a Saint: The Tragi-Comedy of J.J. Rousseau (Londres, 1 976). No caso de Shelley, utilizei-me enormemente do excelente livro de Richard Holmes,

Shelley: The Pursuit (Londres, 1 974), embora não concorde com ele no que diz respeito a filho ilegítimo. Para Marx guiei-me principalmente por Marx (Londres, 1 968) de Robert Payne. Ibsen tem um biógrafo exemplar em Mi­ chael Meyer, Henrik Ibsen: i. the Making of a Dramatist, 1828-64 (Londres,

1 967); ii. The Farewell to Poetry, 1864-82 (Londres, 1 971); iii. The Top of a Cold Mountain, 1886-1906 (Londres, 1 971), mas também me utilizei do livro de Hans Heiberg, Ibsen: Portrait of the Artist (trad., Londres, 1 969) e de Bergliot Ibsen, The Three lbsens (trad., Londres, 1 951 ). Das muitas bio­ grafias de Tolstoi, segui principalmente a de Ernest J. Simmons, Leo Tolstoy (Londres, 1 949), mas também fiz uso do extraordinário ensaio crítico de Edward Crankshaw, Tolstoy: The Making of a Novelist (Londres, 1 974). Pa­ ra Emerson, usei trabalhos de Joel Porte, principalmente o seu Representati­

ve Man: Ralph Waldo Emerson in His Time (Nova Iorque, 1 979). Para He­ mingway, as duas excelentes biografias recentes: a de Jeffrey Meyers, He­

mingway: A Biography (Londres, 1 985) e a de Kenneth S. Lynn, Hemingway (Londres, 1 987), assim também como um trabalho mais antigo de Carlos Ba­ ker, Hemingway: A Life Story (Nova Iorque, 1 969). Para Brecht usei o livro de Ronald Hayman, Bertolt Brecht: A Biography (Londres, 1 983) e o estudo brilhante de Martin Esslin, Bertolt Brecht: A choice of Evils (Londres,

11)59).

No caso de Russel, a fonte principal para os dados biográficos foi o

trabalho de Ronald W. Clark, The Life of Bertrand Russell (Londres, 1975).

Para Sartre, utilizei especialmente Sartre: A Life (trad., Londres, 1987) de

Annic Cohen-Solal e Simone de Beauvoir (trad., Londres, 1987) de Claude 1-rancis

c

«.:omplcto

Fernande Gontier. A fonte indispensável para Gollancz é o relato honesto feito por Ruth Dudley Edwards em Victor Gollancz: A

c

Uiography (Londres, 1987) e para Lillian Hellman, a magistral peça de tra­ balho de detetive de William Wright, Lillian Hellman: The lmage, the Wo­ num

(Londres, 1987), mas também considerei tltil o livro de Diane Johnson,

Fhe Life of Dashiell Hammett (Londres, 1984). Para o último capítulo, utili­ t.ci particularmente Cyril Connolly: Diaries and Memoir (Londres, 1983) de I >avid Pryce-Jones, Mailer: A Biography (Nova Iorque,

1982) de Hilary

1\1 i lls, The Life o f Kenneth Tynan (Londres, 1987) de Kathleen Tynan, Love

is Co/der Than Death: The Life and Times of Rainer Werner Fassbinder (Londres, 1987) de Robert Katz e Peter Berling e The Furious Passage of ./ames Baldwin (Londres, 1968) de Fern Marja Eckman. Sou grato a todos esses autores. As referências a todos os outros trabalhos consultados poderão ser encontradas nas Notas.

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1

JEAN-JACOUES ROUSSEAU: "UM LOUCO INTERESSANTE"

Ao longo dos últimos 200 anos, a influência dos intelectuais vem crescendo regularmente. Na verdade, o surgimento do intelectual secular foi um fator decisivo para dar forma ao mundo moderno. Visto de uma perspectiva histó­ rica ampla, trata-se, em muitos aspectos, de um fenômeno novo. Não há dú­ vidas de que desde suas primeiras encarnações como padres, escribas ou pro­ fetas, os intelectuais exigiram para si a tarefa de orientar a sociedade. Porém, sendo eles guardiães de culturas hieráticas, fossem primitivas ou sofistica­ das, as inovações morais e ideológicas que eles propunham eram limitadas pelos cânones da autoridade externa e pela herança da tradição. Eles não eram, nem podiam ser, espíritos livres ou aventureiros do pensamento. Com o declínio do poder do clero no século XVIII, um novo tipo de mentor surgiu para preencher o vazio e conquistar os ouvidos da sociedade. O intelectual secular, mesmo sendo deísta, cético ou ateu, estava tão dis­ posto quanto qualquer pontífice ou presbítero a dizer como os homens de­ viam agir diante dos problemas dessa sociedade. Desde o princípio, expres­ sou uma devoção especial para com os interesses da humanidade e uma pre­ disposição evangélica para fazê-los avançar graças a seu ensino. Deu a essa tarefa auto-imposta um sentido muito mais radical do que tinham dado seus predecessores do clero. Não se sentiam limitados por nenhum corpus de uma religião revelada. A sabedoria coletiva do passado, o legado da tradição, os códigos prescritos por uma experiência ancestral existiam para ser seletiva­ mente seguidos ou para ser completamente rejeitados, dependendo apenas do bom senso de cada um. Pela primeira vez na história humana - e com uma arrogância e uma audácia crescentes -, os homens se diziam capazes de diagnosticar os males da sociedade e curá-los com sua inteligência auto-sufi­ ciente; mais: diziam ser capazes de traçar um plano pelo qual não apenas a estrutura social, mas os hábitos básicos do ser humano podiam ser transfor­ mados para melhor. Ao contrário de seus antecessores sacerdotais, eles não eram servos nem intérpretes dos deuses; eram seus substitutos. O herói deles era Prometeu, que roubou o fogo celestial e o trouxe para a Terra.

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Uma das características mais marcantes dos novos intelectuais seculares era o prazer com que submetiam a religião e os respectivos protagonistas a uma análise crítica. Até que ponto esses grandes sistemas de fé trouxeram beneffcios ou maleffcios à humanidade? Em que medida esses papas e pasto­ res viveram de acordo com os pr6prios preceitos de castidade e sinceridade, de caridade e benevolência? Tanto no caso das igrejas como no do clero, os veredictos foram rigorosos. Hoje, depois de dois séculos durante os quais a in luência da religião continuou decrescendo e os intelectuais seculares de­ sempenharam um papel cada vez mais importante no caráter de nossas atitu­ des e instituições, já é hora de examinarmos suas vidas, tanto em âmbito pú­ blico como privado.Pretendo avaliar particularmente as credenciais morais e de julgamento que os intelectuais possu(am ou não para ditar regras de con­ duta à humanidade. Como administravam suas pr6prias vidas? Que grau de retidão demonstravam para com a famflia, os amigos e os companheiros? Eles eram honestos em seus relacionamentos sexuais e financeiros? Será que falavam e escreviam a verdade? E até que ponto seus sistemas te6ricos resis­ tiram ao teste do tempo e da práxis? Nossa investigação começa com Jean-Jacques Rousseau (1 712-78), que foi o primeiro dos intelectuais modernos, um arquétipo para eles e em vários aspectos o mais influente entre todos. Homens mais velhos, como Voltaire, haviam iniciado a tarefa de demolir os altares e entronizar a razão. Porém, Rousseau foi o primeiro a combinar as características visíveis do Prometeu moderno: a afmnação do direito de rejeitar, em sua totalidade, a ordem vi­ gente; a confiança na capacidade de reformar tal ordem a partir da base de acordo com as regras que ele pr6prio estabeleceu; a crença de que essa re­ forma podia ser feita por meio de um processo polftico; e, não menos im­ portante, o reconhecimento do papel valiosíssimo desempenhado na conduta humana pelo instinto, pela intuição e pela impulsividade. Ele acreditava ter um amor inigualável pela humanidade e ter sido dotado de talento e perspi­ cácia nunca vistos para fazê-la mais feliz. Um número impressionante de pessoas, na época e desde então, concordou com essa avaliação que ele fez sobre si mesmo. A longo e a curto prazo, sua influência foi enorme. Para a geração que se seguiu a sua morte, ele alcançou o status de mito. Mesmo tendo morrido uma década antes da Revolução Francesa, muitos de seus contemporâneos o apontaram como responsável por ela e, por extensão, pela derrubada do

an­ cicn dgime na Europa. Essa opinião foi compartilhada tanto por Lu(s XVI quanlo por Napoleão. A respeito das elites revolucionárias, Edmund Burke disse: "I lá uma grande disputa entre os !(deres para saber qual deles se pare­

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Rousseau (...). Para eles, Rousseau é o modelo de perfeição".

pn�prio Rohcspierre afirmou: "Rousseau é o único homem que, graças à

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à grandeza de seu caráter, mostrou ter méritos para de­

papel de professor da humanidade". Durante a revolução, a

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Convenção Nacional votou a favor de que suas cinzas fossem transferidas para o Panteão. Na cerimônia, o presidente da Convenção declarou: "Deve­ mos a Rousseau o avanço salutar que transformou nossa moral, nossos cos­ tumes, leis, sentimentos e hábitos".1 Entretanto, num nfvel bem mais profundo e por um período de tempo muito mais longo, Rousseau alterou alguns dos pressupostos básicos do ho­ mem civilizado e mudou a configuração da estrutura do pensamento humano. A extensão de sua influência é incrivelmente ampla, porém pode ser dividida em cinco categorias principais. Em primeiro lugar, nossas idéias modernas acerca de educação devem muito à doutrina de Rousseau, principalmente por sua obra Emflio (1762). Ele popularizou, e em certa medida inventou, o culto da natureza, o gosto pelo ar livre, a busca da novidade, da espontanei­ dade, do vigor e do natural. Foi o primeiro a fazer a crítica da artificialidade urbana. Identificou e apontou o artificialismo da civilização.

É

o precursor

do banho frio, do exercfcio sistemático, do esporte corno formador da perso­ nalidade e da casa de campo para o fim de semana. 2 Em segundo lugar, paralelamente a essa revalorização da natureza, Rousseau aconselhava a se desconfiar dos avanços progressivos e graduais acarretados pela marcha vagarosa da cultura materialista; nesse sentido, pas­ sou a rejeitar o Iluminismo, do qual fizera parte, e buscou urna solução mais radical. 3 Insistia em que a razão, por si só, tinha sérias limitações corno meio de curar a sociedade. Entretanto, isso não queria dizer que a inteligência humana fosse insuficiente para levar a efeito as mudanças necessárias, visto que ela tinha reservas secretas e inexploradas de compreensão e intuição poéticas que deviam ser usadas para sujeitar os ditames estéreis da razão. • Seguindo essa linha de raciocfnio, Rousseau escreveu suas Confissões, que foram terminadas em I 770, embora não tenham sido publicadas antes de sua morte. Essa terceira idéia correspondeu à origem tanto do movimento ro­ mântico corno da literatura introspectiva moderna, pois ele levou o fato de se ter descoberto o indivfduo - o feito principal do Renascimento - a um c..stfí­ dio bem mais avançado, penetrando na personalidade fntirna e exibindo-a pa­ ra exame público. Pela primeira vez foi mostrado aos leitores o âmago de urna vida emocional, embora - e essa também seria urna característica da li­ teratura moderna - seu aspecto fosse enganoso, as emoções se mostrmulo traiçoeiras, superficialmente sinceras mas no fundo cheias de falsidade. A quarta idéia popularizada por Rousseau foi, em alguns aspectos, a mais difundida de todas. A partir do momento em que a sociedade se desen­ volveu, partindo de um estado primitivo de constituição até o artificialismo urhano - afirmava ele -, o homem se corrompeu: sua natural auto-suficiên­ ,·ia, que ele chama de

pernicioso,

o

amour de .soi, se transformou num impulso hem mais

amour-propre, que combina a vaidade com a auto-estima, cada

homem avaliando a si próprio pelo que os outros pensam dele, e desse modo procurando impressioná-los com seu dinheiro, sua força, sua inteligência -13-

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�upnioridade moral. Sua auto-suficiência natural se transforma em competi­ trvi1bde c ganância, e por isso ele se aliena não apenas em relação aos ou­

t ros homens, que passam a ser vistos como concorrentes e não companhei­ ros, mas também em relação a si próprio. 5

A alienação dá lugar, no homem,

a uma doença psicológica caracterizada por urna discordância trágica entre a

aparência e a realidade. Segundo ele, o pecado da competitividade, que destrói o senso comuni­ tário inato ao homem e estimula suas características mais perversas, inclusive o desejo de explorar os outros, levou Rousseau a desconfiar da propriedade privada, j ulgando-a a causa da criminalidade social. Desse modo, sua quinta inovação, bem nas vésperas da Revolução Francesa, consistiu em desenvol­ ver os rudimentos de uma crítica ao capitalismo, tanto no prefácio da peça

Narcisse como nos Discours sur l' inégalitt, identificando tanto a proprieda­ de quanto a competição necessária para obtê-la como as causas básicas da

alienação. 6 Essa foi uma fonte de pensamento que Marx e outros explorariam sem se impor limites, do mesmo modo que a idéia correlata de Rousseau re­ ferente à evolução cultural. Para ele, "natt:ral" significava "original" ou pré-cultural. Toda cultura acarreta problemas, visto que é a união de um ho­ mem com outros que estimula as tendências mais perversas desse homem. Como ele escreve, em Emflio: "O bafo de um homem é fatal para os outros homens". Desse modo, a cultura na qual se vive, ela própria uma construção artificial c em evolução, prescreve um etJmportamento ao indivíduo, e se po­ deria aperfeiçoar ou mesmo transformar totalmente o comportamento dele mudando-se a cultura e as forças competitivas que a produziram - ou seja, por meio de uma organização social. Essas idéias são tão abrangentes que chegam a constituir, quase por si só, uma enciclopédia do pensamento moderno. Na verdade, nem todas se de­ vem a ele. Sua formação de leitura é ampla: Descartes, Rabelais, Pascal, Leibnitz, Bayle, Fontenelle, Comeille, Pctrarca, Tasso e, em particular, Loc­ ke e Montaigne. Germaine de Stael, que acreditava que ele possuía "as mais

sublimes faculdades jamais encontradas num homem", afirmou: "Ele não in­ ventou nada". Porém, acrescentou ela, "infundiu emoção nessas idéias". Era a forma simples, direta, vigorosa, verdadeiramente apaixonada como Rous­ scau escrevia que fazia suas idéias parecerem tão vívidas e novas, de modo a

se apresentarem a homens e mulheres com o impacto de uma revelação. Quem afinal era o irradiador de tão extraordinário vigor moral e inte­ lectual, e como ele alcançou esse status? Rousseau era um suíço nascido em

< icncbra, em 1 7 1 2, e educado segundo padrões calvinistas. Seu pai, Isaac, era um relojoeiro que não tinha prosperado na profissão, visto ser um criador de �·asos que se envolvia com freqüência em brigas e tumultos. A mãe, Su­ l'.annc Bernard, era proveniente de uma família rica, porém morreu de febre pucrvcral logo depois de Rousseau nascer. Nenhum dos dois era proveniente do drnrlo restrito de famílias que formavam a oligarquia dominante de Ge-14-

compunham o Conselho dos Duzentos e o Conselho Interno do� Cinco. Apesar disso, tinham plenos direitos legais e de voto, c Rou s­ �m fria e firmemente vingativa ( . . . ) . Eu ri com vontade quando começa­ ram seus dias de aflição"); concluiu a c arta com uma promessa à humanida­ de - " Estou pronto a fazer qualquer coisa que possa ser útil para meu país e meus amigos"; terminava "& além de tranqüil idade para você, de quem continuo a ser um amigo afetuoso". Esse era o mesmo Will iams que ele esta­ va e nganando c que logo se tomaria mais um angustiado devedor. 6 '

I .uditas s.� o !!rupos d e trahal h adores hritânicos que, entre I K l i e I R I r,, se revoltaram e destrufram n•�quim" de fahrica�·llo de tecido por acreditar que elas causavam desemprego. (N. do T.)

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Shelley dedicou a vida ao progresso político, usando o talento poético prodigioso que lhe era inato, sem nunca se dar conta dessa incapacidade Imaginativa. Além disso, não compensou essa incapacidade por meio de um esforço no sentido de conhecer os dados sobre os grupos humanos que de­ sejava ajudar. Escreveu seu l ivro An Address to the lrish People [Discurso ao povo irlandês] antes que tivesse ao menos pisado na Irlanda. Quando chegou lá, não fez nenhum esforço sistemático para investigar a situação ou descobrir o que os próprios irlandeses realmente queriam. 66 Na verdade, pla­ nejou em segredo destruir a religião à q ual eles davam tanta importância. Além disso, Shelley continuou profundamente ignorante acerca da polftica e da opinião pública inglesas, acerca da natureza alarmante dos problemas por que passava o governo no período pós-Waterloo e acerca da sinceridade dos esforços para resolvê-los. Nunca tentou se instruir ou fazer justiça aos ho­ mens bem-intencionados e sensíveis como Castlereagh e Sir Robert Peel que l i nham exatamente aquele tipo de agudeza imaginativa que dizia ser tão es­ sencial . Em vez disso, ofendeu-os, em The Mask of Anarchy, assim como ofendeu seus credores e se descartou das mulheres em suas cartas. Shelley notadamente desejava uma transfom1ação pol ftica total, i ncluin­ do o fim da religião organizada. Mas não sabia como consegui-lo. À s vezes, pregava a não-violência, e houve quem o visse como o primeiro verdadeiro evangelizador da resistência pacífica, u m precursor de Gandhi. 67 " Não há , nada a se fazer com a força e violência ., escreveu ele em seu discurso ao

)

povo irlandês; "As associações com fins de violência merecem a mais enér­ gica desaprovação por parte do verdadeiro reformador! ( . . . ) Todas as asso­ riações secretas também são maléficas". Mas Shelley procurou, por vezes, • •rganizar sociedades secretas, e alguns de seus poemas só fazem sentido l ' t llllO incitação a uma ação direta. O próprio The mask of anarchy é contra­ du6rio: numa estrofe (os versos 340 a 344), Shelley defende a não-violência. 1\las a estrofe mais famosa, que termina assim: "Vocês são muitos, eles são poucos" ( frase que se repete nos versos 1 5 1 a 1 54 e 369 a 372), representa 1 1 1 1 1 apelo no sentido da i nsurreição. 68 Byron, um rebelde como Shelley, em­ l lnra fosse mais um homem de ação do q ue um intelectual - ele não acredita­ v a , de modo algum, na transformação da sociedade, mas somente em auto­ • klenninação -, era bastante cético a respeito da utopia de Shelley. No admi­ • J\vcl poema de Shelley Julian and Maddalo, que recorda sua longas conver­ '11' em Veneza, Maddalo [ B yron] fala sobre o programa polftico de Shelley: " l 'e nso q ue você deve fazer uma critica severa a um sistema como esse I Em l • •t l a a extensão do termo", mas na prática achava que "essas teorias arnbi­ l 1osas" eram "vãs". ( > fato de nesse poema, que data de 1 8 1 8- 1 9, Shelley ter admitido as , 1 fi Kus de Byron representou uma pausa em seu fundamentalismo político 1 1 1 .�ol c n l e . Shelley se aproximou de Byron com grande modéstia: " Desisti de • • val 1.1.ar com Lord Byron, corno fazia antes, e não há nenhum outro com - 61 -

quem valha a pena discutir ( . . . ) cada palavra sua é marcada pela imortali­ dade". Por um período de tempo, o poder de Byron quase paralisou-o: "O sol apagou o vaga-lume", como ele assinalou. Certamente, o fato de ter co­ nhecido Byron teve o efeito de amadurecer Shelley. Porém, ao contrário de Byron, que tomou para si a tarefa de organizar os povos oprimidos - primei­ ro os italianos e mais tarde os gregos -, Shelley começou a se afastar de qualquer tipo de ação direta. É bastante significativo que no fim da vida te­ nha se tomado contrário a Rousseau, que ele relacionou com os horríveis excessos da Revolução Francesa. Em seu poema inacabado, The Triwnph of L�le, Rousseau é apresentado como uma figura narrativa digna de Virgfiio, tendo ficado preso no Purgatório porque cometeu o erro de acreditar que o ideal podia ser realizado em vida, e por conta disso tinha se corrompido. Po­ rém, não está nada claro que Shelley estivesse, desse modo, renunciando à pol ítica real para se concentrar no puro idealismo da imaginação. 6 9 Certamente, n o s meses q u e precederam s u a morte não houve nenhum si­ nal de uma mudança fundamental em seu c aráter. Claire Clairmont, que vi­ veu até alcançar os 80 anos e até se tomar uma mulher sensível (inspirou Henry James a escrever sua sedutora estória, The Aspern Papers), escreveu,

60 anos depois desses acontecimentos, que "o suiddio de Harriet teve u m efeito benéfico sobre Shel ley - ele s e tomou muito menos confiante em si mesmo e não tão impetuoso quanto tinha sido antes". 70 Isso até que pode ser verdade, embora Claire, olhando dessa grande distância no tempo, conden­ sasse os acontecimentos. Shcllcy de fato se tomou menos exageradamente egocêntrico, mas a mudança foi gradual e de modo algum completa até sua morte. Em 1 822, tanto ele como Byron tinham construído barcos par� si o Don Juan e o Bolivar - e Shel ley em particular estava obcecado pela na­ vegação. Por isso, insistiu em conseguir uma casa em Lerici, na baía de S pe­ zia, para o verão. Mary, que estava grávida de novo, detestou-a, principal­ mente por ser muito quente. Os dois estavam cada vez mais afastados; ela estava desiludida e cansada da vida irregular que levavam no exfiio. Além disso, havia um novo perigo. A companhia de Shelley na navegação a vela era Edward Wil l iams, u m tenente de salário reduzido da Companhia das Í n­ dias Orientais. Shelley demonstrava um interesse cada vez maior pela esposa casada consensualmente com Edward, Jane. Jane tinha musicalidade, tocava violão e cantava bem (assim como Claire), que era algo de que Shelley gos­ tava. Deram-se festas sob o l uar do verão. Shelley escreveu vários poemas para e sobre ela. Seria Mary substituída, do mesmo modo que certa vez substituíra H arriet? A 1 6 de junho, como vinha receando, Mary abortou, e caiu novamente em desespero. Dois dias depois, Shelley escreveu uma carta q ue deixa claro que seu casamento estava praticamente terminado: "Só sinto necessidade das pessoas c apazes de sentir minha falta e de me compreender ( . . . ) M ary não é capaz. A necessidade de esconder dela pensamentos que l he causam sofri-

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1 1 1ento tal vez torne esse comportamento necessário. É a maldição de Tântalo que uma pessoa com capacidades tão superiores c uma inteligência tão ino­ cente como a dela não exercite a concordância indispensável a sua dedicação i\ vid3 doméstica". Shel ley acrescenta: "Gosto cada vez mais de Janc ( . . ) l · la tem uma aptidão para a música e uma elegância de forma e movimentos que compensam, até certo ponto, a falta de refi namento literário" . 7 1 No fim do mês, Mary encontrava sua posição: o calor, a casa, insuportável . "Gosta­ l ia " , escreveu ela, "de q uebrar minhas correntes c deixar essa masmorra". 72 Ela conseguiu sua alforria de uma maneira trágica c incsperaua. Shelley 'l·mpre tinha sido fascinado por velocidaJe. Numa encarnação que vivesse 1 1 1 1 século XX, ele teria se dedicaJo a carros de corriJa ou mesmo à aviação. I l m de seus poemas, The Witch of Atlas [A hru.x:a de Atlas I , t': uma ode à ale­ I ' ria Je se viajar pelo espaço. Seu barco, o Don Juan, foi constru(do para andar em alta velocidade, e Shel ley o modificou para que andasse ainJa mais 1 ápido. Tinha somente 7 ,30m de comprimento mas possufa dois mastros �·randes emparelhados e um aparelho de escuna. Ele e Williams projetaram 1 1 11 1 novo aparelho de gávea que aumentou surpreendentemente a área das vdas; para aumentar ainda mais a velocidade, o arquiteto naval que traba­ l hava para Byron criou, a pedido de Shelley, uma reaparelhagem e uma popa ,. uma proa falsas. Agora, se tornara um barco muito veloz e perigoso que navegava "como uma bruxa" . 73 Na época do desastre, tinha capacidade para l l l's gavetopes e uma vel a de mau tempo e flutuava na água numa altura adi­ nonal de 7,60 em. Shelley e Williams voltavam de Livorno a Lerici no barco I ITIJ llipado. Eles safram a 8 de julho de 1 822 em condições c limáticas com h' ndência a piorar, a todo o pano. Quando a tempestade começou, às 6:30 h,

.

1 t •das as embarcações italianas locais voltaram em disparada para o porto. O ' apitão de uma delas disse ter avistado o barco de Shel ley, em meio a ondas l l l ll'nsas, ainda com todas as velas aparelhadas; ele lhes disse que viessem

para o seu barco, ou então pelo menos que encurtassem as velas, "do contrá­

"" vocês estão perdidos". Mas um dos dois (supostamente Shelley) gritou " N r11 1 " c foi visto tentando impedir que seu companheiro abaixasse as velas,

••varrando-o pelo braço, "demonstrando raiva". O Don Juan foi a pique a

da costa, ainda com as velas levantadas; ambos se afogaram. 7 4 F. cats tinha morrido d e tuberculose em Roma n o ano anterior; B yron foi .,,u,�· rado até a morte por seus médicos dois anos depois, na Grécia. Assim, 1 1 111 pc rfod o breve e incandescente da literatura inglesa chegou ao fim. M ary J . · vou 1 1 pequeno Percy, o futuro baronete (Charles tinha morrido), de volta 1 1 1J.. 1 n

)

pa1 a a I nglaterra e começou a construir um monumento mítico à memória de

•,J u·l lcy. Porém, as cicatrizes se mantiveram. Ela tinha visto o pior lado da v 1da l llll'lcctual c tinha sentido o poder maléfico das idéias. Quando um ami1'"• q ue 1 1hscrvava Pcrcy aprender a ler, comentou: "Tenho certeza de que o · k 'ná um homcn: extraordinário", Mary Shelley se exaltou: " PcC modo, os intelectuais formariam a elite - os gene­ rais - e os trabalhadores seriam os soldados de infantaria. Tendo definido a riqueza como sendo o poder monetário judaico esten­ dido à classe burguesa como um todo, e tendo definido proletariado segundo um novo sentido filosófico, Marx se dirigiu então, utilizando-se da dialética hegeliana, ao coração de sua filosofia, ou seja, aos acontecimentos que con­ duziriam à grande crise. O trecho fundamental sobre esse assunto termina as­ sim: O proletariado confirma a sentença segundo a qual a propriedade privada se estabelece pelo fato de originar o proletariado, do mesmo modo que confirma a sentença segundo a qual os trabalhadores assalariados se estabelecem pelo fato de possibilitarem o enriquecimento de outros e a miséria deles próprios. Se o proletariado for vitorioso, isso não significa que ele se tomará a facção absoluta da sociedade, pois será vitorioso tão-somente por extinguir a si próprio e a seu adversário. Então, o proletariado e seu adversário definido, a propriedade privada, desaparecem. Marx, desse modo, consegui u definir o acontecimento catastrófico que ele tinha visto, primeiramente, como uma imagem poética. Porém, a defini­ ção se dá nos termos acadêmicos alemães. O que de fato nada significa no tocante ao mundo real fora do salão de conferências da universidade. Mesmo quando M arx tenta politizar os acontecimentos, ainda assim se utiliza do jargão filosófico: "O socialismo não pode vir a existir sem uma revolução. Quando a força ordenadora começar a atuar, quando a essência, a coisa-em-si aparecer, então o socialismo poderá se desfazer de todos os disfarces políticos". Marx era um vitoriano legítimo; tanto quanto a própria rainha Vitória em suas cartas, tinha o hábito de sublinhar palavras. Mas, no seu caso, essa hábito realmente não ajudava muito no sentido de transmitir sua mensagem, que ficava encoberta pela obscuridade dos conceitos da filo­ sofia acadêmica alemã . Para fazer sentir a força de seus pontos de vista, Marx também lançou mão de uma grandiloqüência habitual, enfatizando a natureza universal do processo que estava descrevendo, porém isso também ficou obstruído pela retórica. Desse modo: "o proletariado só pode existir no âmbito de uma história mundial, do mesmo modo que o comunismo; suas ações só podem ter uma existência inserida numa história mundial" . Ou ain­ da: "O comunismo só é possível na prática enquanto ação imediata e simul­ tânea do povo dominante, o que pressupõe o desenvolvimento universal do poder produtivo e do comércio mundial que depende desse poder". Entre­ t anto, mesmo quando a mensagem de M arx é clara, suas afirmações não têm, necessariamente, qualquer validade; não passam do ohiter dieta de um filó­ sofo moralista. 1 1 Algumas das frases que citei acima soariam igualmente -

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plausíveis ou implausíveis se fossem alteradas para ganharem o sentido con­ trário. Portanto, onde estão os fatos, as provas do mundo real, que transfor­ mariam esses ditos proféticos de um filósofo moralista, essas revelaçõs, nu­ ma ciência? M arx tinha uma atitude ambivalente em relação às informações, assim como em relação à filosofia de Hegel. Por um lado, passou décadas inteiras de sua vida reunindo dados, que se acumularam em mais de 1 00 imensos ca­ dernos de anotações. Porém, esses dados eram dos que se encontram em bi­ bliotecas, registrados em l i vros azuis. * O tipo de informação que não inte­ ressava a Marx era aquele a ser obtido a partir do exame, com seus próprios olhos e ouvidos, do mundo e das pessoas que nele vivem. Ele era, total e in­ corrigivelmente, restrito a sua escrivaninha. Nada no mundo o tirava da bi­ blioteca e do estudo. Seu interesse pela pobreza e pela exploração data do outono de 1 842, quando tinha 24 anos e escreveu uma série de artigos sobre as leis que regulavam o direito dos camponeses locais de estocar madeira. Segundo Engels, Marx contou-lhe que "foi seu estudo sobre a lei concer­ nente ao roubo de madeira e sua i nvestigação sobre os camponeses de Mo­ sela que o fizeram desviar sua atenção das condições meramente polfticas para a situação econômica, e por conseguinte para o socialismo"} 1 Mas não há nenhuma prova de que Marx tenha de fato conversado com os campone­ ses e proprietários ou tenha analisado a situação in loco. Mais uma vez, em 1 844, e screveu para o semanário Vonviirts (0 radical) um artigo sobre a si­ tuação dos tecelãos silesianos. Porém, nunca foi à S ilésia ou, até onde se sa­ be, jamais falou com nenhum tipo de tecelão, e se o tivesse feito estaria contrariando seu próprio temperamento. M arx escreveu sobre finanças e in­ dústria durante toda a vida mas só conheceu duas pessoas ligadas aos siste­ mas financeiro e industrial. Um era seu tio na Holanda, Lion Philips, u m bem-sucedido homem d e negócios q u e fundou a firma que s e transformaria na imensa Philips Electric Company. As opiniões do tio Philips sobre o sis­ tema capitalista em geral deviam ser bem embasadas e interessantes, mas Marx não se preocupou em explorá-las. Só o consultou uma vez, acerca de um assunto ligado a altas finanças, e embora tenha visitado Philips quatro vezes, nessas ocasiões eles trataram tão-somente de assuntos pessoais rela­ cionados com o dinheiro da famflia. O outro entendido era o próprio Engels. Mas Marx recusou um convite de Engels para acompanhá-lo na visita a uma fiação, e até onde sabemos, Marx nunca esteve, durante toda a sua vida, nu­ ma manufatura, numa fábrica, numa mina ou em qualquer outro local de tra­ balhe industrial.

O que é ainda mais surpreendente é a hostilidade de Marx em relação aos companheiros revolucionários que tinham essa experiência - ou seja, os

* Livros azuis são publicações oficiais do parlamento inglês. (N. do T.)

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trabalhadores que haviam se conscientizado politicamente. Ele encontrou tais pessoas pela primeira vez em 1 845, quando fez uma breve visita a Londres e foi a um encontro da Sociedade de Educação dos Trabalhadores Alemães. Não gostou do que viu. Aqueles homens eram, em sua maioria, trabalhadores especializados, relojoeiros, impressores c sapateiros; o lfdcr deles era um guarda florestal. Eram autodidatas, discipl inados, cerimoniosos, bem-educa­ dos, totalmente contrários à boemia, ansiosos para transformar a sociedade mas moderados no tocante aos meios práticos para alcançar esse objetivo. Não partilhavam das visões apocalfpticas de Marx c , sobretudo, não usavam sua linguagem acadêmica. Ele os via com desprezo: para ele, não passavam de carne para canhão. M arx sempre preferiu se ligar a intelectuais da classe média como ele próprio. Quando ele e Engels fundaram a Liga Comunista e, de novo, quando formaram a Internacional, Marx se certificou de que os so­ cialistas que eram da classe trabalhadora fossem afastados de qualquer posto de influência e fizessem parte de comissões meramente como proletários re­ gidos por um estatuto. A razão para isso era, em parte, um esnobismo inte­ lectual e, em parte, porque os homens com experiência real das condições numa fábrica costumavam ser contra o uso da violência e a favor das melho­ rias simples e progressivas: eles eram inteligentemente incrédulos quanto à revolução apocalfptica que ele afirmava ser não apenas necessária mas ine­ vitável. Alguns dos ataques mais virulentos de Marx foram direcionados co­ I ra homens desse tipo. Assim, em março de 1 846, sujeitou William Weitling a urna espécie de julgamento antes de um encontro da Liga Comunista em Bruxelas. Weitling era o filho pobre e ilegítimo de uma l avadeira que nunca soube o nome do pai dele, e era um aprendiz de alfaiate que apenas por meio de trabalho ãrduo e de autodidatismo conquistou um grande número de adeptos entre os trabalhadores alemães. O objetivo do j ulgamento foi o de msistir na "correção" da doutrina e fazer calar qualquer trabalhador presun­ '"so que não tivesse a formação filosófica que Marx achava essencial. O ala4ue de M arx contra Weitling foi e xtraordinariamente agressivo. Ele era n r l pado, disse Marx, de comandar um tumulto sem doutrina. Isso seria acei­ l �vl'l se acontecesse na R ússia, onde "se podem criar associações com jo­ wns

c

apóstolos estúpidos. Mas num pafs civil izado como a Alemanha, de­

vt·rnos compreender que nada pode ser conseguido sem a nossa doutrina". I

hr ainda: "Se se tenta influenciar os trabalhadores, principalmente os tra­

ha l l radorcs alemãe�, sem o corpo de uma doutrina e idéias científicas claras, •·r�l ;io você estará jogando um jogo propagandfstico vazio e inescrupuloso, �··r vindo inevitavelmente para estimular, por um lado, um disdpulo inspira­ . t. . .

l"

por outro, asnos vociferantes prestando atenção a ele". Weitling repli­

' "" que não tinha se tornado um socialista para aprender doutrinas elabora­

dns 1 1 1 1 1 1 1 gabinete; falava pelos trabalhadores verdadeiros e não se subrncte1 111 11...

opiniôcs de simples teóricos que estavam afastados do mundo de so-

1 1 l l l ll"l l l o

dos verdadeiros trabalhadores. Isso, disse urna testemunha ocular,

- 7?. -

"enfureceu Marx de tal modo que ele deu um soco na mesa com grande vio­ lência e a l uminária balançou. Ficando de pé num pulo, gritou: 'A ignorância nunca ajudou ninguém ' ". O encontro terminou com Marx "ainda andando

de um lado para o outro da sala num violento acesso de c6lera" Y Esse foi o modelo de ataques ulteriores, contra socialistas proletários e contra qualque l íder que tivesse conseguido um grande séquito de trabalha­ dores pregando soluções práticas para problemas reais ligados a trabalho e a salários, e não a uma revolução doutrinária. Desse modo, M arx atacou o ex-tip6grafo Pierre-Joseph Proudhon, o reformador agrícola Hermann Kriege e o primeiro social-democrata alemão realmente importante e organizador de trabalhadores, Ferdinand Lassalle. Em seu Manifesto contra Kriege, Marx, que nada sabia sobre agricultura, principalmente nos Estados Unidos, onde Kriege se estabelecera, denunciou seu prop6sito de dar 1 60 acres de terras do Estado para cada camponês; disse que os camponeses deviam ser arregi­ mentados por meio de promessas de terra, mas uma vez estabelecida a socie­ dade comunista, a terra seria usufru(da coletivamente. Proudhon era um anti­ dogmático: "Pelo amor de Deus", escreveu ele, "depois de termos destrufdo todo o dogmatismo [religioso] a priori, não vamos, entre todas as coisas, tentar incutir um outro tipo de dogma no povo ( . . . ) não nos transfom1emos em !(deres de uma nova intolerância". Marx detestava esse trecho. Em sua diatribe violenta contra Proudhon, A mis�ria da filosofia, escrito em junho de 1 846, acusou-o de "infantilismo", flagrante "ignorância" em economia e filosofia e, sobretudo, má utilização das idéias e técnicas de Hegel - " Mon­ sieur Proudhon conhece tão pouco a dialética hegeliana quanto o idioma em que foi escrita". Assim como no caso de Lassalle, ele se tomou uma vftima do mais brutal escárnio anti-semftico e racial de M arx: ele era o " Barão lt­ zig", "o Negro Judeu", "um judeu gorduroso oculto sob a brilhantina e as j6ias baratas". " Agora está perfeitamente c laro para mim", escreveu Marx para Engels a 30 de julho de 1 862, "que, como indicam a forma de sua ca­ beça e o crescimento de seus cabelos, ele é descendente dos negros que se juntaram a Moisés em sua fuga do Egito (a n ão ser que sua mãe ou av6 por parte de pai tenha tido relações com um negro). Essa combinação do judeu com o alemão, tendo como base o negro, estava destinada a produzir um hf­ brido ins61ito". 1 4 Desse modo, Marx não estava disposto a investigar, ele pr6prio, a situa­ ção da indústria nem a aprender nada com trabalhadores inteligentes que a tinham vivido. Por que deveria? Em todos os pontos essenciais, usando a dialética hegeliana, chegara a suas conclusões - em fins da década de 1 840 sobre o destino do homem. O que restava !!ra encontrar as informações para fundamentar essas conclusões, e isso podia ser tirado de reportagens de jor­ nais, de l i vros azuis do governo ou de dados coletados por antigos autores; todo esse material era encontrado em bibliotecas. Por que ir mais longe? O prohlerna, do modo como aparecia para Marx, era encontrar o t ipo certo de - 74 -

informação: as informações adequadas. Seu método foi hem resumido pelo fil ósofo Karl Jaspers:

O estilo dos escritos de Marx não é o do investigador ( . . . ) ele não cita exemplos ou expõe fatos que se opõem a sua teoria mas apenas aqueles que provam ou conímnam aquilo que ele considera como a verdade última. Toda a sua abordagem é no sentido da justificação, não da investigação, mas trata-se de uma justificação de algo declarado como sendo a perfeita verdade com a convicção não do cientista, mas do crente". 1 s Nesse sentido, então, os "dados" não eram centrais ao trabalho de Marx; eles estavam subordinados, reforçando conclusões que já tinham sido alcançadas independentemente deles. O capital, o monumento em tomo do qual girava sua vida de erudito, deveria ser visto, portanto, não como uma investigação científica sobre a natureza do sistema econômico que pretendeu descrever, mas como um exerc fcio de filosofia moralista, um tratado compa­

rável aos de Carlyle ou Ruskin. Trata-se de um sermão gigantesco e no mais das vezes i ncoerente, um ataque ao sistema industrial e ao prindpio de pro­ priedade feito por um homem que tinha criado um 6dio intenso, e mbora es­ -;c-ncialmente irracional, em relação a ambos. Curiosamente, essa obra não um argumento central que atue como um princípio organizador. Marx originariamente, em 1 857, planejou que a obra consistiria de sete volumes: o l l'lll

capital , a terra, o salário, o trabalho, o Estado, o comércio e um último vo­ l ume sobre o mercado e as crises intemacionais. 1 6 Porém, a autodisciplina met6dica precisaria levar a caho tal plano, que provara estar além de suas

capacidades. O único volume que ele chegou a escrever (o qual, paradoxal­ l l lente, se encontra dividido em dois volumes) não possui de fato nenhuma f orma coerente; trata-se de uma série de exposições isoladas arrumadas numa ordem arbitrária. O filósofo marxista francês Louis Althusser achou a estru­ t u ra da obra tão confusa que dizia ser "imperativo" que os leitores ignoras­ �·· • n

a

primeira parte e começassem da segunda, ou seja, do quarto capftulo. 1 7

1\ la:-. outros

exegetas marxistas repudiaram veementemente essa interpreta­

•, ill l . De fato, a abordagem de Althusser não ajuda muito. A sinopse que o

f ll e amiúde em grandes quantidades, fumava abundantemente, bebia bastante, em especial a forte cerveja ale, e em conseqüência sempre tinha problemas com seu fígado. R aramente tomava banhos ou se lavava de qualquer modo, o que, j untamente com sua dieta ina­ dequada, explica os verdadeiros acessos de furúnculos dos quais sofreu du­ rante um quarto de século. Eles fizeram aumentar sua natural irritabilidade e pelo visto estavam em sua pior fase na época em que escrevia O capital. "O que quer que aconteça", escreveu ameaçador a Engels, "enquanto a burgue­ sia existir, espero que ela tenha motivo para se lembrar de meus carbúncu­ Ios". 4s Os furúnculos variavam em número, tamanho e intensidade, porém, de uma hora para outra apareciam em todas as partes de seu corpo, inclusive nas bochechas, no cavalete do nariz, nas nádegas, o que o impedia de escre­ ver, e no pênis. Em 1 873, esses furúnculos causaram um colapso nervoso ca­ racterizado por extraordinários ataques de raiva que lhe causavam estreme­ cimentos. Sua grotesca incompetência de lidar com dinheiro era ainda mais essen­ cial como causa de sua raiva e de sua frustração e estava talvez bem na raiz de seu 6dio ao sistema capitalista. Quando jovem, essa característica o dei­ xou à revelia dos agiotas que trabalhavam a altas taxas de juro, e um vee­ mente 6dio à usura representou a base da dinâmica emocional de toda a sua filosofia moral. Isso explica por que ele dedicou tanto tempo e espaço ao as­ sunto, por que toda a sua teoria sobre as classes está enraizada no anti-semi­ tismo e por que ele incluiu n'O capital uma passagem extensa e violenta de denúncia contra a usura, a qual foi tirada de uma das diatribes anti-semíticas de Lutero. 46 Os problemas de M arx com o dinheiro começaram na universidade e du­ raram toda a sua vida. Derivam de uma atitude essencialmente infantil. Marx pedia dinheiro emprestado de fonna insensata, gastava-o e depois ficava in­ variavelmente surpreso e nervoso quando as letras de câmbio altamente des­ contadas, somados os juros, venciam. Ele via a cobrança de juros, que � es­ sencial a qualquer sistema que se baseie no capital, como um crime contra " humanidade e como causa da exploração do homem pelo home m , que seu

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sistema filosófico estava fadado a extinguir. Isso era em termos gerais. Jl.1as no contexto particular de seu próprio caso, reagia às dificuldades sozinho, explorando qualquer um que estivesse a seu alcance c, em primeiro lugar, sua própria famflia. O dinheiro era o assu nto dominante na correspondência que mantinha com a fam(Jia. Na última carta de seu pai , escrita em fevereiro de I X 3 X , quando já estava morrendo, ele reitera sua queixa de que l\1arx não dava importância para a fam(Jia a não ser para conseguir ajuda c para se la­ mentar: "Você está agora no quarto mês de seu curso de advocacia c já gas­ tou 280 táleres. * Eu não ganhei tanto d inheiro durante todo o inverno". 47 Três meses mas tarde, ele morreu. 1\farx não se preocupou em assistir a seu enterro. Em vez disso, começou a pressionar sua mãe. Já tinha adotado um meio de viver à custa de empréstimos de amigos c de conseguir quantias pe­ riódicas da fam flia. Alegava que a famflia era "bastante rica" e tinha a obri­ g,ação de apoiá-lo em seu importante trabalho. A não ser no caso de sua ati­ vidade jornal fstica ocasional, cujo propósito era muito mais fazer pol ftica do que ganhar d inheiro, Marx nunca procurou seriamente arranjar um emprego, embora certa vez tenha concorrido, em Londres (em setembro de 1 862), ao cargo de escrivão ferroviário, tendo sido rejeitado por ter uma caligrafia muito ru im. A falta de vontade de l\ f arx de procurar uma profissão parece ter sido a razão principal pela qual sua fam fl ia se mostrava indiferente a seus pedidos de esmola. Sua mãe não apenas recusou pagar suas dfvidas, acredi­ tando q ue logo ele se endividaria outra vez, mas acabou por descrdá-lo com­ pletamente. Daf em diante, suas relações passaram a ser mfnimas. Atribui-se a da o desejo mordaz de que " Karl acumulasse capital em vez de apenas es­ lTcver sobre ele". Ainda assim, de um modo ou de outro Marx teve direito, por herança, a q uantias de di nheiro consideráveis. A morte do pai lhe rendeu 6000 francos de ouro, dos quais gastou uma parte provendo de armas os trabalhadores belgas. A morte da mãe, em I X 56 , lhe rendeu menos do que esperava, mas tsso se deveu ao fato de que ele tinha antecipado o pagamento da herança ao J K·dir emprestado a seu tio Phi lips. Recebeu também uma grande quantia do csp1�1io de Wilhelm Wolf, em 1 864. Outras quantias vieram por i ntermédio de sua esposa c da famflia dela (ela também trouxe, como parte de seu dote, serviço de jantar de prata com o brasão de seus antepassados de Argyll, faqueiro timbrado e roupa de cama). No espaço de tempo entre o recebi­ I I IC IIto dessas q uantias, eles ganharam dinheiro o bastante - que foi investido l·o t u ;;cnsatcz - para garantir uma vida confortável , e em nenhum momento 'ua renda bmta esteve a menos de 200 libras por ano, ou seja, três vezes o -.a J :irio médio de um trabalhador especial izado. Porém, nem o próprio Marx l ll' l l l .lcnny ti nham nenhum interesse por dinheiro exceto no que dizia res11111

11111

' I

�ler é umn anti).!n moeda alemn de prata. (N. do T.)

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peito a gastá-lo. Heranças, empréstimos transfonnaram-se, do mesmo modo, em ninharia, e eles nunca experimentaram uma situação de aumento de renda por muito tempo. Na verdade, sempre estavam endividados, e geralmente devendo uma grande quantia, e o serviço de jantar de prata com freqüência ia para a mão dos agiotas, junto com muitas outras coisas, inclusive a roupa da família. Numa ocasião, M arx estava prestes a desistir de sua casa, conser­ vando um par de calças. A família de Jenny, assim como a própria família de Marx, se recusou a dar maiores ajudas a um genro que considerava como sendo ocioso e imprudente. Em março de 1 85 1 , escrevendo a Engels para anunciar o nascimento de uma filha, Marx se queixou: "Não tenho, literal­ mente, nem um centavo em casa". 4 8 Por essa época, é cl aro, Engels era a mais recente vrtima d a exploração. Desde meados da década de 1 840, quando se encontraram pela primeira vez, até a morte de Marx, Engels foi a maior fonte de renda da família Marx. É provável que ele tenha cedido mais da metade de tudo o que ganhou. Porém, é imposs(vel se computar o total pois durante um quarto de século Engels forneceu quantias de dinheiro irregulares, acreditando nas promessas de Marx de que sua situação logo estaria ajeitada, visto que estava para chegar a próxima doação. O relacionamento se baseava na exploração por parte de Marx e era completamente desigual, já que ele era sempre o parceiro que dominava, e às vezes oprimia. Apesar disso, de um modo curioso, cada um precisava do outro, como um par de comediantes teatrais num número a dois, incapazes de representar separados, resmungando a toda hora mas sempre mantendo-se unidos no final. A parceria quase se desfez em 1 863, quando Engels sentiu que a mendicância insensfvel de Marx tinha ido longe demais. Engels tinha duas casas em 1\tanchester, uma para receber pessoas relaciona­ das com seus negócios e a outra para sua amante, Mary Burns. Quando ela morreu, Engels ficou profundamente triste. Ficou furioso de receber de Marx uma carta insensfvcl (datada de 6 de janeiro de 1 863), em que reconhece sua perda com brevidade c então, imediatamente, recai no assunto mais impor­ tante: um pedido de dinheiro. 49 Não há nada que ilustre melhor o indissolú­ vel egocentrismo de Marx. Engels respondeu com frieza, e o incidente quase representou o fim do relacionamento. Em alguns aspectos, ele nunca mais foi o mesmo, pois deixou claro para Engels as limitações da personalidade de Marx. Parece ter decidido, por essa época, que Marx nunca seria capaz de conseguir um emprego ou sustentar sua família, ou mesmo pôr ordem em seus negócios. A única coisa a fazer era pagar-lhe com regularidade um do­ nativo. Então, em 1 869, Engels vendeu sua empresa, assegurando para si uma renda de um pouco mais de 800 libras por ano. Dessas, 350 iam para Marx. Por conseguinte, durante os últimos 1 5 anos de vida, M arx foi pensio­ nista de um rentier, e experimentou uma certa segurança. No entanto, pelo visto gastava cerca de 500 libras - ou mais - por ano, se justificando para Engels: "Mesmo exami nando-se pelo lado comercial, uma organiz:u;ão pu-

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�amente proletária seria inadequada nesse caso". so Portanto, as cartas solici­ tando de Engels donativos adicionais continuaram. s • Porém, é claro que as vftimas principais da imprudência e da relutância de Marx para trabalhar foram seus próprios familiares, sobretudo sua esposa. Jenny Marx é uma das personagens trágicas e lamentáveis da história do so­ cialismo. Tinha a coloração c lara dos escoceses, uma pele pálida, olhos ver­ des e o cabelo castanho-avem1elhado de sua avó por parte de pai, descen­ dente do segundo conde de Argyll, morto em Rodden. Ela era bonita e Marx a amava - seus poemas o provam -, e ela o amava apaixonadamente, travan­ do batalhas ao mesmo tempo com sua fam fl ia e consigo mesma; só depois de muitos anos de amargura esse amor se extinguiria. Como poderia um egofsta como Marx inspirar tal afeição? A resposta, penso eu, é que ele era forte, dominador, bonito durante a juventude e na meia-idade, apesar de sempre sujo. E não menos importante: ele era engraçado. Os historiadores prestam muito pouca atenção nessa qualidade; ela geralmente ajuda a expl icar um fasdnio que de outra forma parece misterioso (era uma das vantagens de Hi­ tler, como orador tanto em l ugares reservados como em público) . O humor de Marx era sempre sarcástico e enraivecido. Entretanto, suas excelentes piadas faziam as pessoas rirem. Se não fosse esse humor, suas muitas carac­ lerfsticas desagradáveis teriam tomado imposs{vel que ele tivesse um único disdpulo e as mulheres teriam lhe dado as costas. Desse modo, as piadas

nam o caminho mais seguro para atingir o coração das mulheres muito fiéis, ,·u jas vidas são ainda mais diffceis do que as dos homens. M arx e Jenny fo­ ram vistos rindo juntos várias vezes e, mais tarde, seriam as piadas de Marx, mais do que qualquer outra coisa, que l igariam suas filhas a ele. Marx se orgulhava da nobre descendência escocesa da esposa (ele exa­ �·erava esse ponto) e de sua posição de filha de um barão e oficial superior no governo prussiano. Em convites i mpressos que ele mandou emitir por , ,,·asião de um baile em Londres, na década de 1 860, ela aparece como "n�e von Westphalen". Declarava amiúde q ue se dava melhor com aristocratas ,.,· n u fnos do que com a burguesia avarenta (segundo testemunhas, falava a palavra burguesia com um desprezo peculiar e desagradável). Mas Jenny, tão logo lhe foi revelada a terr{vel realidade de ter-se casado com um revolucio­ n�rio sem posição social e sem profissão, teria de bom grado preferido uma v1da hurguesa, não i mportando quão banal ela fosse. Desde o começo de I X· IX c no m{nimo pelos próximos dez anos, sua vida foi um pesadelo. A 3 de ma rç o de 1 848, uma ordem de expulsão belga foi expedida contta Marx e de l oi levado para a prisão; Jenny também passou a noite numa cela, com 11111

grupo de prostitutas; no dia seguinte, a famflia foi levada sob escolta poa fronteira. Durante a maior parte do ano seguinte, Marx esteve fu­

1 1 1 1 a l ai�

f' I J Jdo ou em

julgamento. Por volta de junho de 1 849, estava sem recursos. confessou a um amigo: " A última j6ia perten cent e a minha

No mês segu i n te, • · •. posa .i fi achou

seu caminho at� a casa d e penhores". n Manteve seu fu t i n 1o

- X ') -

graças a um otimismo revolucionário exagerado e pennanente, e escreveu para Engels: "Apesar de tudo, uma erupção colossal do vulcão re volucioná­ rio nunca foi tão iminente. Aguarde maiores detalhes". 1\ fas para ela não ha­ via tal consolo, e além disso estava grávida. Encontraram segurança na In­ gl aterra, mas também aviltamento. Ela agora tinha três filhos, .Jenny, Laura e Edgar, e deu à luz um q uarto, Guy ou Gu ido, em novembro de 1 849. Cinco meses mais tarde , foram despejados de seus aposentos em Chelsea por não pagarem o alugue l , sendo jogados na calçada perante (escreveu .Jc nny) "toda a gentalha de Che lsea". Suas camas foram vendidas para pagar o açouguei­ ro,

o leiteiro, o fannacêutico e o padeiro. Eles acharam abrigo numa casa de

pensão alemã imunda em Leicester Sq uarc

c

lá, naquele inverno, o bebê

C i uido morreu . .Jenny deixou um relato dese sperado desses dias, e desde en­ tão seu entusiasmo c sua afeição por 1\farx nunca mai s foram recobrados. 5 3 N o d i a 2 4 de maio de

1 850, o embai xador britâncio em Berl i m , o

Conde de Westmore land, recebe u de um inte l i gente espião policial prussia­ no uma cópia de um relatório que descrevia, bem detalhadamente, as ativi­ dades dos revolucionários alemães que se concentravam à volta de 1\farx. Nenhum outro texto transmite de forma mais c l ara o que .Jenny foi obrigada a tolerar:

f 1\farx f

leva a vida de um i ntelectual boêmio. Lavar, arrumar e trocar a

roupa de cama são coisas que raramente faz, e na maior parte do tempo está embriagado. Embora com freq üência fique ocioso por dias a fio, é capaz de trabalhar dia e noite com uma persistência sem descanso quando tem muito trabalho a fazer. Não tem um horário detern1 inado para ir donnir ou para acordar. A m i úde , fica acordado a noite i nteira e depois se deita completamente vestido no sofá ao meio-d ia, e donne até o fim da tarde , nada i ncomodado com o mundo de gente entrando e

saindo daquele cômodo [ ao todo, s6 havia dois I ( . . . ) Não há nenhum

móvel l i mpo ou inteiro. Está tudo q uebrado, esfarrapado e rasgado, com um ccnt(metro de pó sobre q ualque r coisa c a maior desordem por toda a parte . No meio da [ sala de estar) há u ma mesa grande e antiga coberta com oleado e sobre ela se encontram manuscritos, l i vros e jorn a i s , j u nto com os brinquedos das crianças, trapos c farrapos da cesta de costura de sua esposa, vários copos com as bordas lascadas, facas, garfos, lâmpadas, u m ti nteiro, copos sem pé, cachi mbos de barro holandeses, tabaco, ci nzas ( . . . ) o dono de uma loja de q u i n q u i l harias teria d ú vidas q uanto a jogar fora esse extraord i n ário conj unto de bugigangas. Ouando você entra no aposentos de l\1 arx, a fumaça e o tabaco fazem seu s ol hos lacri mejarem ( . . . ) Está tudo sujo e coberto de poe i ra , de modo q ue se sentar torna-se uma ação arriscada. N u m canto, h á uma cadeira de três pernas. Em outra cadeira, as crianças bri ncam de cozi n h ar. Por acaso, essa cade i ra tem q uatro pernas.

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ú n ica q ue é oferecida às vi sitas, mas

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a comida das crianças não foi retirada c, caso você se sente, c s t tí se arriscando a perder um par de calças. 5 4 Esse relato, que data d e 1 850, descreve provavelmente o ponto nHus baixo na história da famflia. Porém, mais desgraças viriam nos pr6x i mos anos. U ma filha chamada Franziska, que nasceu em 1 85 1 , morreu no ano se ­ guinte. Edgar, o filho tão amado, o favorito de l\ 1 arx , a quem ch a m a va llflls­ ch ( Mosquinha), pegou gastrcnterite por conta do ambiente imundo c morreu em 1 85 5 , o que representou um choque terrfvel para os dois . .lcnny nunca se rccurerou. "Todo dia", escreveu Marx, "minha esposa me diz que gostaria de estar no túmulo . . . " Uma outra menina, Eleanor, tinha nascido três meses antes, mas para Marx isso não era a mesma coisa. Ele sempre quis fi lhos homens e agora não tinha nenhum; as garotas eram insigni ficantes para ele, a não ser como auxiliares de escreventes. Em 1 860, Jenny pegou varíola e perdeu o que restava de sua beleza: desde então até sua morte em 1 88 1 , ela definhou devagar e ficou em segun­ do plano na vida de l\1arx , tornando-se uma mulher cansada e desiludida, que se contentava com pequenas caridades: a devol ução de sua prataria, uma casa própria, etc. Em 1 856, graças a Engels, a famflia pôde se mudar de So­ ho para uma casa alugada, o n� 9 da Grafton Terrace, em Havcrstock Hil l ; nove anos mais tarde, outra vez graças a Engels, conseguiram uma casa muito melhor, em I 1\laitland Park Road. Dessa época em diante, nunca mais deixaram de ter no mínimo dois criados. M arx passou a ler o jornal The Ti­ mes toda manhã. Foi eleito para o conselho da paróquia local. Nos domingos de sol, levava a famflia para passear, com todo o aparato, até Hampstcad l lcath, ele próprio caminhando à frente, a espoa, as fi lhas c os amigos atrás. Porém, o "emburguesamento" de 1\ l arx deu lugar a uma nova forma de exploração, dessa vez de suas filhas. Todas as três eram intel igentes. Pode­ se ter pensado que, para compensar a infância desassossegada e empobrecida que elas suportaram por serem filhas de um revolucionário, ele teria pelo menos obedecido à lógica de seu radicalismo e as encorajado a ter profis­ silcs. Na verdade, ele negou a elas uma educação satisfatória, não pern1itiu que tivessem nenhuma instrução e proibiu peremptoriamente que ingressas­ sem em profissões. Como Elcanor, a que mais o amava, disse a Ol ivc S(_·hrciner: "Por muito tempo, os anos de miséria representaram uma sombra t•ntrc nós". Em vez disso, as garotas foram mantidas em casa, aprendendo a tocar piano c a pintar aquarelas, como as filhas dos negociantes. Enquanto l'las cresciam, l\ 1 arx ainda participava, de vez em quando, de bebedeiras com os amigos revolucionários; porém, segundo Wilhclm Lichknccht, não perm i

­

t i a que eles cantassem canções indecentes em sua casa, pois as me n i nas po­

diam o u v i r. 5 5 �. ! a i s tarde, desaprovou o s p re ten den t es das fi l has, q ue fat.iam parte de �l'U próprio amhicntc rc voluc ionMio. Não pod i a , ou não conSC).! I I i u , l' V i l ;u I) J

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que se casassem, porém dificultou as coisas, e o fato de ter sido contra dei­ xou marcas. Chamava o marido de Laura, Paul Lafargue, que tinha vindo de Cuba e possufa algum sangue negro, de " Negrilho" ou "o Gorila". Também não gostava de Charles Longuet, que se casou com Jenny. Na sua opinião, seus dois genros eram idiotas: "Longuet é o último dos proudhonistas e La­ fargue é o último dos bakuninistas - danem-se, os doi s ! " 5 6 Eleanor, a mais nova, foi a que mais sofreu com a oposição do pai a que as fi lhas seguissem profissões e sua hostilidade em relação aos pretendentes. Ela tinha sido cria­ da para ver o homem - ou seja, seu pai - como sendo o centro do universo. Talvez não seja tão surpreendente o fato de ela ter-se apaixonado por um homem ainda mais egocêntrico que seu pai. Edward A veling, um escritor com pretensões de tornar-se um polftico de esquerda, era um galanteador e um parasita que tinha se especial izado em seduzir atrizes. Eleanor queria ser atriz e, por isso, foi uma vftima natural. Por uma pequena e mordaz ironia da história, ele, Eleanor e George Bernard Shaw fizeram parte, em Londres, da primeira leitura privada do brilhante l ibelo de Ibsen a favor da liberdade da mulher, Casa de bonecas, no qual Eleanor fez o papel de Nora. Pouco de­ pois da morte de 1\tarx, ela se tornou a senhora Aveling, e daf em diante, foi sua triste serva, como sua mãe Jenny tinha sido de Marx. 57 Entretanto, Marx deve ter necessitado de sua es posa mais do que quis admitir. Depois da morte dela, em 1 88 1 , definhou rapidamente, parando de trabalhar, procurando se curar em várias estâncias de ãguas da Europa ou viajando para Argel, Monte Carlo e Sufça atrãs de sol e ar puro. Em dezem­ bro de 1 882, alegrava-se com sua crescente infl uência na Rússia: "Em ne­ nhum outro lugar meu sucesso me dã mais prazer". Destrutivo até o final, se vangloriava de que "isso me dã a satisfação de estar corroendo um poder que, depois da Inglaterra, é o verd�deiro sustentáculo da velha sociedade". Três meses mais tarde, morreu em seu robe, sentado perto da lareira. Uma de suas filhas, Jenny, tinha morrido poucas semanas antes. A s mortes das duas outras também foram trágicas. Eleanor, profundamente angustiada por conta do comportamento de seu marido, tomou uma dose excessiva de ópio em 1 898, possivelmente escapando de um pacto de suiddio com ele. Treze anos depois, Laura e Lafargue também fizeram um pacto de suicfdio, e ambos o levaram a efeito. Houve, contudo, uma estranha e obscura sobrevivente dessa trágica fa­ mflia, o fruto do mais grotesco ato de exploração pessoal de 1\tarx . Em todas as

investigações que fez sobre as injustiças dos capitalistas britânicos, ele

encontrou por acaso vários exemplos de trabalhadores com salários baixos, porém nunca conseguiu achar nenhum que não recebesse salário. No entan­ to, esse trabalhador existia,

e

vivia na casa de Marx. Quando ele levava sua

famflia em seus pomposos passeios, bem atrãs, carregando a cesta de pique­ nique e outras bagagens, estava uma atarracada figura feminina. Tratava-se de Helen Demuth, conhecida pela famflia como " Lenchen". Nascida c J n

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1 823, filha de camponeses, tinha se juntado à família von Westphalcn na idade de oito anos como babá. Ganhava seu sustento mas não recebia salá­ rio. Em 1 845, a baronesa, que se sentia afl ita e preocupada com sua filha ca­ sada, cedeu Lenchen, então com 22 anos, para Jenny l\1arx a fim de facilitar a situação da filha. Ela continuou com a família de l\1arx até sua morte, em

1 890. Eleanor a chamava de "a mais amorosa das pessoas em relação aos outros, enquanto que austera, a vida inteira, consigo mesma' ' . 5 8 Ela traba­ . lhava de forma brutal e infatigável , não apenas cozinhando e lavando a casa mas também administrando o orçamento familiar, o que Jenny era incapaz de fazer. Marx nunca lhe pagou um centavo. Entre I 849 e 1 850, durante o pe­ rfodo mais tenebroso da história da família, Lenchen tornou-se amante de Marx e ficou grávida. O pequeno Guido tinha acabado de morrer, mas .Jenny, também ela, estava novamente grávida. Toda a família estava vivendo em dois cômodos e Marx teve de ocultar o estado de Lenchen não apenas de sua esposa mas dos muitos visitantes revolucionários. Por fim, Jenny desco­ briu ou teve de ser infommda e, mais do que as outras desgraças por que passava na época, esse fato representou o fim de seu amor por Marx. Deno­ minou-o de "um incidente sobre o qual não insistirei mais, embora tenha aumentado bastante nossos infortúnios públicos e particulares". Essa passa­ gem está num esboço autobiográfico que ela escreveu em I 865, do qual 29 das 37 páginas foram conservadas; o restante, onde descreve suas brigas com 1\ larx,

foi destruído, provavelmente por Eleanor. 5 9

O filho d e Lenchen nasceu na casa d e Soho, o n � 28 da Dean Street, a 2.' de junho de I 85 I , 60 O garoto foi registrado como Henry Frederik Demu­ lh.

Marx se recusou a reconhecer sua responsabilidade, na época ou mais

t arde,

e negou categoricamente os boatos de que era o pai. Deve ter aventa­

do a possibilidade de fazer como Rousseau e pôr a criança no orfanato, ou

··ntão adotá-la para sempre. M as Lenchen tinha uma personalidade mais forte

do que a senhora Rousseau. Insistiu em reconhecer, ela própria, o garoto. l · ll' foi oferecido para adoção a uma família de operários chamada Lewis, porh1 com permissão de visitar a famnia Marx. No entanto, foi proibido de

r l 'ar a porta da frente e obrigado a ver a mãe apenas na cozinha. Marx estava ha�lantc temeroso de que a paternidade de Freddy fosse descoberta e que is­ " ' l he causasse um prejuízo irrevogável como líder e profeta revolucionário. I l n HI leve referência ao incidente ainda se encontra em suas cartas; outras fo­ l ó l l l l supri midas por mãos variadas. Por fim, convenceu Engels a reconhecer

·.n-rl·tamente a paternidade de Freddy, como uma versão falsa em que a fa­ acreditasse. Eleanor, por exemplo, tomava-a como verdade. Mas En­ ,., · b , l'mbora pronto, como sempre, a se submeter aos pedidos de Marx para " 1 11.' 1 1 1 de seu trabalho conjunto, não estava disposto a levar o segredo para o t rl r 1 1 1 1 l o . l :n ge l s morreu, de câncer no esôfago, a 5 de agosto de 1 865; inca1 '" ' • k- falar mas desejando que Eleanor Cfussy, como era chamada) não mais " l l' d r tassc que Sl' U pai era puro, escreveu numa lousa: " Freddy (: li l ho dl' rnfha

·

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1\ tarx. Tussy q uer transformar seu pai n u m ídolo" . A secretária e governanta de Engels, Louise Freyberger, numa carta de 2 de setembro de 1 898 a Au­ gust Bebe!, disse que o próprio Engels contou a ela a verdade, acrescentan­ do: "A semel hança de Freddy e M arx chega a ser absurda, os dois tendo aquele rosto j udeu e o cabelo preto-azulado; só mesmo estando cego pela parcial idade é que se pode ver nele alguma semelhança com o General" (como c h amava Engel s ) . A própria Eleanor aceitou o fato de Freddy ser seu meio-irmão e afeiçoou-se a ele; nove de suas cartas para ele se conserva­ ram. 61 Ela não l h e fez nenhum beneffcio, uma vez que seu amante, Aveling, chegou a pedir emprestado todas as economias de Freddy e nunca o reem­ bolsou. Lenchen foi o único representante da c l asse trabal hadora que Marx che­ gou a conhecer de perto, seu único contato real com o proletariado. Freddy pod ia ter sido outro, visto que ele foi criado como um jovem proletário e em

I 888, com 36 anos, ganhou seu cobiçado diploma como engen heiro mecâni­ co qualificado. Passou praticamente a vida inteira em K i ng's Cross e Hack­ ney e foi um membro constante do sindicato dos engenheiros. Mas Marx n u nca o conheceu. Encontraram-se apenas uma vez, possivelmente quando Freddy estava subindo a escada externa que safa da cozinha, sem saber, nes­ sa época, que o filósofo revolucionário era seu pai . Ele morreu em janeiro de

1 929, n u ma época em que a visão de Marx acerca da ditadura do proletaria­ do tinha tomado uma forma concreta e aterradora e Stal in - o governante que alcançara o poder absoluto pelo qual Marx ansiara - estava apenas começan­ do seu ataque catastrófio1 I contra os camponeses russos.

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4

HENRIK IBSEN: " M U ITO P E LO CONTRÁR I O ! "

l 'uda obra escrita apresenta dificuldades. A obra criativa requer um esforço 1 1 11clectual da mais alta envergadura. A inovação criativa, principalmente I H I I Il nível primário, exige um grau de conce ntração e de energia ainda mais �·xccpcional . Passar uma vida inteira de trabalho fazendo avançar, continua­ l l lcntc, as fronteiras da criação por meio de uma arte implica um nível de nul o-disciplina e de dil igência i ntelectual que poucos escritores jamais pos­ ·. u fram. No entanto, foi essa a forma regular que tomou a obra de Henrik Ib­ "' 1 1 . É difícil pensar em qualquer escritor, de q ualquer campo ou época, que h·uha se dedicado com mais sucesso à própria obra. Ele não apenas criou a d� ; u naturgia da era moderna como escreveu uma sucessão de peças que até hu,e formam uma parcela importante de todo o repertório desse período. :\d1ou o teatro ocidental vazio e impotente e transformou-o numa fom1a de .u ll' rica e de imenso vigor, não apenas em seu próprio pais mas pelo mundo . d ura. Além disso, não apenas revolucionou sua arte mas modificou o pen­ ·.,u ncnto social de sua geração e da subseqüente. O q ue Rousseau tinha feito · · n 1 I ins do século X V I I I , ele fez em fins do século XIX. Enquanto Rousseau ' "nvcnccu homens e mulheres a voltarem à natureza e, por conta disso, pre­ ' 1p1 1ou uma revolução coletiva, Ibsen pregou a revolta do indivíduo contra o ""ácn r�gime das inibições e dos preconceitos que exerciam seu domínio · · 1 n cada cidade pequena e, na verdade, em cada famflia. Ensinou aos ho­ I I W n s , c especialmente às mulheres, que sua consciência individual e suas 1 d h a s de liberdade tinham precedência moral perante as exigências da socie­ d,u k . Tendo feito isso, precipitou uma revolução nas atitudes e no compor­ t . u nc n l o que começou quando ainda estava vivo e tem prosseguido desde · · n t ao, em saltos c espasmos repentinos. Bem antes de Freud, assentou os l n n d ; u ue n l os d a sociedade pennissiva. Talvez nem mesmo Rousseau - c com n h · ; a , nem Marx t e n h a t ido mais influência sobre a maneira de o povo,



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em opos1çao aos governos, realmente se comportar. Ele e sua obra formam uma das bases do ediffcio da modernidade. O feito de Ibsen é ainda mais notável se levarmos em conta a dupla obs­ curidade de seus próprios antecedentes. Dupla porque ele não apenas era, por si só, pobre como vinha de um país pequeno e pobre sem nenhuma tradi­ ção cultural fonnalizada. A Noruega tinha sido poderosa e arrojada no co­ meço da Idade Média, de 900 a I 100 d.C. ; depois disso, se iniciou um deciC­ nio, em especial depois da morte de seu último rei inteiramente norueguês, Olavo IV, em 1 387; por volta de 1 536, o pafs era uma província da Dina­ marca e manteve-se assim durante cerca de três séculos. O nome da capital, Oslo, foi modificado para Christiania para homenagear uma soberana dina­ marquesa, e toda a cultura de elite provinha da Dinamarca - poesia, roman­ ces e peças teatrais. No Congresso de Viena, em 1 8 1 4 e 1 8 1 5 , a Noruega ganhou aquela que ficou conhecida como a Constituição de Eidsvoll, 1 a qual garantia autonomia sob a Coroa sueca; mas foi somente em 1 905 que o país teve uma monarquia própria. Até o século X IX , o norueguês era mais um dialeto rústico e provinciano do que uma língua nacional escrita. A primeira universidade data de 1 8 1 3 e

ClT'

1 850 o primeiro teatro ainda não tinha sido

construído em Bergen. 2 Na juventude e no começo da idade adulta de Ibsen, a cultura ainda era esmagadoramente dinamarquesa. Escrever em norueguês era se isolar do resto da Escandinávia, sem falar no resto do mundo. O di­ namarquês continuava sendo a língua da literatura. O pafs, em si, era pobre e triste. A capital era uma pequena cidade, pro­ vinciana para os padrões europeus, com apenas 20 mil habitantes; um lugar lamacento e sem encantos. Skien, onde Ibsen nasceu a 20 de março de 1 828, ficava na costa, a 1 60 km para o sul , uma área sel vagem onde ainda eram comuns os lobos e a lepra. Poucos anos antes, tinha havido um incêndio na região graças ao descuido de uma jovem criada, que por conta disso fora executada. Como Ibsen descreveu numa passagem autobiográfica, as pessoas eram supersticiosas, o lugar era l úgubre e brutal, com o rugido dos moinhos de represa e os gritos e gemidos das serras: "Quando mais tarde li sobre a guilhotina, sempre pensava nas lâminas daquelas serras". No ediffcio públi­ co da cidade ficava o pelourinho, "um poste marrom-avermel hado mais ou menos da altura de um homem. No alto havia uma protuberância arredonda­ da que tinha sido pintada originariamente de preto. ( . . . ) Da frente do poste pendia uma corrente de ferro e dela, uma algema aberta que me parecia dois pequenos braços prontos e ávidos para se estender e me agarrar pelo pesco­ ço. ( . . . ) Abaixo [do edifício público da cidade] havia calabouços com gra­ des nas janelas dando para a praça do mercado. Por entre aquelas barras eu vi muitos rostos desolados e melancólicos". 3 Ibsen era o mais novo de cinco filhos (quatro meninos e uma menina) de um comerciante - Knud Ibsen - cujos antepassados eram capitães do mar. Sua mãe era de uma famOia de navegadores. Por�m, quando Ihscn tinha seis

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anos, seu pai faliu e daí em diante tomou-se um homem enfraquecido, men­ dicante, mal-humorado e supl icante - o Velho Ekdal de O pato selvagem. Sua mãe, que já tinha sido bonita, uma atriz frustrada que se tomara intros­ pectiva, costumava se esconder e brincar com bonecas. A famnia estava sempre endividada e comia principalmente batatas. Ibsen era pequeno e feio, e cresceu com o fantasma adicional de uma suposta ilegitimidade, sendo apontado como filho de um namorador da região. Ibsen, vez por outra, acreditava nisso, e deixaria escapar essa opinião em ocasiões em que bebia; mas não há provas de que seja verdade. Depois de �.;.na infância humilhante, foi mandado para o sombrio porto marítimo de Grimstad como assistente de um farmacêutico, e lá também seu destino foi de pobreza. O negócio de seu patrão, depois de decair durante muito tempo, acabou indo à bancarrota. • A ascensão vagarosa de Ibsen do fundo desse abismo foi uma epopéia marcada por um autodidatismo solitário. Desde 1 850, abriu seu caminho até a universidade. Suas carências, na época e por muitos anos depois, foram extremas. Escreveu poesia, peças em verso solto, crítica teatral , comentários políticos. Sua primeira peça, a sátira Nonna, não foi encenada. A primeira a chegar ao palco, a tragédia Cataline, também em verso, •oi um fracasso. Não teve sorte com a segunda peça a ir para o palco, St. Joh ·1 ' s Night. Sua tercei­ ra peça, The Warrior's Barrow (O tl1mulo do guerreiro] , fracassou em B er­ gen, e a quarta. Lady lngar of Ostraat, em prosa, foi encenada anonima­ mente e também fracassou. Seu primeiro trabalho a chamar a atenção favora­ velmente, A festa em Solharg, em sua opinião era uma peça banal e conven­ cional. Quando seguia suas inclinações naturais, como no drama em verso

Love's Comedy, era classificado de "imoral" e não conseguia encenar de jeito nenhum. Apesar de tudo, adquiria aos poucos uma enom1e experiência de palco. O músico Ole B u l i , fundador do primeiro teatro para peças em l ín­ gua norueguesa de Hergen, contratou-o como autor da casa por cinco libras por mês, e durante seis anos ele foi um auxiliar teatral , trabalhando com o cenário, o vestuário, na bilheteria e até mesmo dirigindo (embora nunca re­ presentasse; uma fraqueza sua era não ter confiança na própria direção de atores). As c::mdições eram primárias: o lampião a gás, usado um Londres e Paris desde mais ou menos 1 8 1 0, não chegou ali até que ele deixasse a cida­ de, em I 856. Então, passvu mais c�nco anos no novo teatro de Christiania. À força de trabalho árduo, foi tomando-se mais e mais habilidoso em seu off­ cio, e então começou a experimentar. Porém, em 1 862, o novo teatro foi à falência e ele foi despedido. Já estava casado, bastante endividado, ator­ mt>ntado pelos credores, c!eprimido e bebendo muito. Foi visto por estudan­ tes caído inconsciente na sarJeta e foram levantados recursos para que o "poeta bêbado Henrik Ibsen" fosse mandado para o estrangeiro. s Ele próprio escrevia com freqüência requerimentos - q ue hoje soam patéticos - à Cnroa c ao Parlamento, pedindo uma pennissão para viajar para o sul . Por fim con-

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seguiu, e pelo pró x i mo quarto de século, de 1 864 a 1 892, levou uma vida de exilado, em Roma, Dresden e l\1u nique. A primeira indicação de sucesso veio em 1 864, quando seu drama e m verso The Pretenders e ntrou no repertório do teatro d e Christiania, o qual voltara a funcionar. Era um hábito de Ibsen publ icar todas as suas peças primeiro na forma de li vro, como de fato faziam muitos poetas do século X I X , de B yron e S helley em diante. O mais comum era que a encenação efetiva só acontecesse anos depois da publicação, às vezes muitos anos. Po­ rém, aos poucos foi crescendo o n úmero de cópias de cada peça publ icada e vendida: para c inco, oito, dez e até quinze mil cópias. A s encenações come­ çaram a ocorrer. A fama de Ibsen veio em três grandes ondas. Pri meiro vie­ ram seus dramas em verso, Brand e Peer Gynt, em I 866 e 1 867 ( nessa épo­ ca, M arx publ icava O capital). Brami era uma investida contra o materialis­ mo convencional e um apelo para que as pessoas seguissem a própria cons­ ciência contra as normas da sociedade, talvez o tema central de toda a sua obra. Criou uma imensa controvérsia quando foi publ icado ( 1 866) e pela primeira vez Ibsen foi visto como l íder de uma revolta contra a ortodoxia, não apenas na Noruega mas em toda a Escandinávia; ele tinha conseguido deixar o reduzido universo norueguês. A segunda onda veio na década de 1 870. Com Brand, ele se empenhou em fazer peças com idéias revol ucionárias, mas chegou à concl usão sistemá­ tica de que tais peças causariam um impacto muito maior se fossem apresen­ tadas no palco, em vez de serem l idas na sala de leitura. Isso o levou a aban­ donar a poesia e adotar a prosa c, com ela, um novo tipo de realismo teatra l . Como ele declarou: "O verso serve para as visões, a prosa, para a s idéias". 6 A transição, como em todos os progressos de Ibsen, levou anos para se dar, e às vezes Ibsen parec ia estar inati vo, meditando mais do que trabalhando. Um c'ramaturgo, em comparação com um romancista, de fato não gasta muito tempo escrevendo. O número de palavras, mesmo numa peça longa, é sur­ preendentemente pequeno. A peça é escrita nem tanto de acordo com uma lógica ou um tema mas em espasmos, e m episódios teatrais isolados que são a origem do enredo, mais do que os dese n volvimentos feitos a partir desses episódios. No caso de Ibsen, a fase q ue precedia o trabalho de escrita era particularmente diffcil pois ele estava fazendo algo completamente novo. Como todos os grandes artistas, não ad mitia se repetir e cada obra sua é d i fe­ rente em essência, em geral representando um novo passo em direção ao desconhecido. Porém, u ma vez decidido o que ele queria que acontecesse no palco, escrevia rápido e com facilidade. Os primeiros frutos importantes dl· seu novo método, Os pilares da sociedade ( 1 877), Casa de bonecas ( 1 879) c Espectros ( 1 88 1 ) , coincidiram com o fim do longo período vitoriano e com o surgimento de uma nova disposição de âni mo caracterizada pela ansiedade c pela inquietação da sociedade. Ibsen fez perguntas desconcertantcs sobre o poder do dinheiro, a opressão da mulher e até sobre as doenças sexuais, l(lll' - 98 -

eram um assunto tabu. Pôs questões políticas e soctats básicas l iteralmente no centro do palco, em linguagem simples e coloquial e em cenários que to­ dos podiam reconhecer. A agitação, a raiva, a repugnância mas sobretudo o interesse que ele despertou foram imensos e se espalharam em cfrculos ca­ da vez maiores a partir da Escandinávia. Os pilares da sociedade marcou sua penetração junto às platéias da Europa Central e Casa da bonecas sua entra­ da no mundo anglo-saxão. Foram as primeiras peças modernas e deflagraram o processo que transformaria Ibsen numa figura mundial. Porém, uma vez tendo se tornado Ibsen, ele começou a achar diffcil se adaptar ao papel de dramaturgo dedicado aos propósitos sociais, mesmo com o apoio de adeptos em vários países. A terceira fase importante em sua as­ censão, a qual mais uma vez aconteceu com uma velocidade acumulada após anos de va!!arosa gestação, foi quando abandonou as questões políticas en­ quanto tais c voltou-se para o problema da liberação pessoal , que provavel­ mente ocupou mais sua mente do que qualquer outro aspecto da existência humana. "A liberação", escreveu em seu caderno de anotações, "consiste em assegurar para os i ndi víduos o direito de se l ibertarem, cada um segundo suas necessidades particulares." Afirn1ava constantemente que as l iberdades políticas fonnais só tinham sentido se esse direito pessoal fosse garantido pelo comportamento efetivo das pessoas em sociedade. Assim, nessa terceira fase ele escreveu, entre outras, O pato selvagem ( 1 884) , Rosmersholm ( 1 886), Hedda Gabler ( 1 890), O construtor Solness ( 1 892) e John Gabriel Borhnan ( 1 896), peças que muitas pessoas da época acharam complicadas, ou mesmo i ncompreensíveis, mas que se tornaram as mais importantes entre suas obras: peças que investigam a psique humana e sua busca de liberdade, o i nconsciente e o tema terrível de como um ser humano pode exercer o do­ mínio sobre outro. O mérito de Ibsen foi não só o de estar sempre fazendo algo novo c original em sua arte, mas também o de ser sensível às idéias formuladas apenas pela metade ou ainda não exploradas. Como disse o críti­ co d inamarquês e seu antigo amigo Georg Brandes, Ibsen manteve-se "numa espécie de misteriosa correspondência com as idéias que fermentavam e gemünavam em sua época (. . . ) tinha ouvidos para o rumor apagado que nos conta sobre idéias mi nando do chão". 7 A lém disso, essas idéias circulavam internacional mente. Espectadores do mundo todo eram capazes de se identi ficar - ou a seus vizinhos - com as tristes vítimas e os angustiados exploradores de suas peças. Seus ataques contra os valores con•;encionais, seu projeto de liberação pessoal, seu apelo no sentido de que todos os seres humanos devem ter a chance de se satisfa­ zer, eram bem-vindos em toda a parte. Desde o começo da década de 1 890, quando ele voltou vitorioso a sua casa em Christiania, suas peças foram en­ cenadas cada vez com mais freqüência pelo mundo afora. Na última década de sua vida ( morreu em 1 906 ), o antigo assistente de farmacêutico era o ho­ mem m a i s fa moso da Esle. Assim, de tempos em tempos, e cada vez mais à medida que envelhecia, renunciou à arte e exerceu uma liderança moral. Trata-se de um caso desastroso de auto-ilusão. É surpreendente como Tolstoi - que pensava sobre si mesmo tanto quanto qualquer cutro hot:1e 1 1 1 (inclusive Rousseau), que escreveu copiosamente sobre si mesmo c cuja maior parte da obra gira em tomo de si, de um modo ou de outro - s e desco­ nhecia patentemente. Com0 esrritor, tinha uma habil idade superlativa e , en- 1 2X -

quanto escrevia, era menos perigoso para os que estavam a sua volta e para a sociedade em geral. Porém não queria ser um escritor, pelo menos não para tratar de assuntos profanos. Em vez disso, queria liderar, atividade para a qual não tinha a menor habilidade, o que é diferente de vontade; também queria profetizar, fundar uma religião e transformar o mundo, tarefas para as quais ele era moral e intelectualmente desqualificado. Assim, grandes ro­ mances deixaram de ser escritos, e ele levou - ou antes arrastou - a si pró­ prio e à famflia para um confuso isolamento. Houve uma razão adicional para que Tolstoi se sentisse impelido a se auto-impor tarefas de cunho moral. Como Byron, sabia que era um pecador. Porém, ao contrário de Byron, tinha um sentimento de culpa esmagador por nmta disso. Tolstoi sentia essa culpa de um modo seletivo e nada preciso muitos de seus piores defeitos, até mesmo seus crimes, os produtos cruéis de seu ego arrogante, não eram considerados por ele, d� maneira alguma, como sendo pecados -, mas também de um modo bastante intenso. E com a certeza de que havia muita coisa em sua j uventude de que se envergonhar. Parece ter aprendido a jogar de forma impulsiva em Moscou e em São Petersburgo já l'JII I 849. No dia I Ç? de maio, escreveu para seu irmão Sergei: "Não vim para São Petersburgo por um motivo especial; aqui, não fiz nada que prestasse, upcnas desperdicei muito dinheiro e contraí dívidas". Disse a Sergei para vender logo uma parte da propriedade: "Enquanto espero a chegada do di­ JJIK·iro, tenho que conseguir, de qualquer jeito, 3500 rublos imediatamente". I · acrescentou: "Podemos fazer esse tipo de idiotice apenas uma vez na vida. l 1ve que pagar por minha liberdade (não havia ninguém para bater em mim; ,·,se foi meu maior azar) e para poder filosofar; agora já está pago". 1 8Com •• k t to, continuou a jogar, inte�itentemente, às vezes de forma impulsiva e , �o-,astrosa durante os dez anos que se seguiram, período em que vendeu n n u t as de suas terras e acumulou dívidas contraídas com conhecidos, amigos ,. l'lllllerciantes, muitos dos quais nunca foram reembolsados. Jogou quando •"-ll' ve no exército. Uma época, pensou em criar um jornal militar, que se hu maria A Gazeta Militar, e vendeu o bloco de Iasnaia Poliana para finan1 11\ lo: mas quando o dinheiro chegou - 5 mil rublos -, usou-o no jogo e l " ' l l k u-o rapidamente. Depois que deixou o exército e viajou pela Europa, vul h n t a jogar e aconteceu a mesma coisa. O poeta Plonski, que o viu em '•l n l lgart em julho de 1 857, relembra: "É lamentável que a roleta o atraia u • • • !anta intensidade. ( . . . ) [ Ele] foi completamente roubado durante o jo­ '" ' l 'ndcu J mil francos e não lhe restou um soldo". * O próprio Tolstoi es• • · w u em seu diário: " Roleta até seis. Perdi tudo". "Pedi emprestado 200 • nt .l"' de um francês e perdi-os. " "Perdi o dinheiro que Turgeniev me em1 ' 1 ' "·' " 1 1 . " 1 9 A n o s mais tarde sua esposa perceberia que, mesmo se sentindo • u l 1 •ad" pe lo jogo em si, parecia não sentir nenhum remorso por não quitar 1

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··ultlo rrn

IUIHI n 1ocda francesa.

(N. elo T.)

- 1 29 -

as hviarm:ntc, isso não aconteceu. Até mesmo a mais submissa das cspo­ l l.' r i a achado o casamento com um tremendo egocêntrico diffcil de aturar.
X, 1 29, 1 59, 1 67, 1 68, 1 69, 1 9 1 , l ') l ,

Bourdet, Edouard, The captive [A cati-

209

va], 3 1 9 Braden, S pruille, 1 75

calvinismo, 1 4, 1 8

B railsford, H.N., 307, 308

Camboja, ver Pol Pot

Braine, John, 229

Camden, Lord, 25

Brandes, Georg, 99, 1 0 1 , 103, 109, 1 1 1 ,

Campanha pelo Desarmamento Nudca1 (CDN), 229, 230, 240, 3 1 3; J unla

1 1 2, 1 1 3 Brando, Marlon, 366 Brecht,

dos Cem, 230, 242

B ertolt, 1 9 1 -2 1 6, 256, 262, 300, 326, 357, 36 1 , 363; O cfrculo de giz caucasiano, 1 97, 200, 20 1 ; Tam­ bores na noite, 1 93 , 203; Freiheit und Demokratie, 207; A boa mulher de Setzuan, 197; Der Jiisager (0 ho­ mem-sim), 1 96; A vida de Calileu, 196, 197, 203; Oie Masshahme, 1 96; Mãe Coragem e seu filho, 1 , 35 1 , 354; Across the river mui inta lhe tre­ es [Através do rio e dentro da mata], 1 84; Ry-li11e, 1 65 ; Death in the after11oon [ Morte à tarde], 1 6 1 , 1 65; A fa­ rel-.·ell to arms [Adeus às armas], 1 66; The fifth column [A quinta coluna] , 1 6 1 ; Fanvhom the bel! tolls [Por quem as sinos dohram] , 1 69; 1 74, 1 76: Tli e green hills o( A(rica [As co­ linas verdes da Á (rica], 1 65 : In ou r time [Em nosso tempo ], 1 66; Hen wi-

-

1 84, 1 88 Hemingway, filhos, 1 85 ; Grcgory, I XO, 1 82, 1 84, 1 85; Jack, 1 79, 1 85 ; l 'a · trick, 1 80, 1 87, 1 8 5 Henderson, W.O., 77 Henriksen, Hans Jacob, 1 06 Hersey, John, 333 Hildebrand, Bruno, 78 Hirschfeld, dr. Magnus, 237 Hitchner, Elizabeth, 5 1 , 60 Hitler, Adolf, 65, 89, 1 1 2, 1 48, 1 '15 , 1 97, 1 99, 225, 230, 249, 2(13, 30·1, 305, 309, 3 1 0, 322, 349, 36 1 Hoffman, Abbie, 353 Hogg, Thomas Jefferson, 44, 49, 50, 'i 2 , 56, 58 Holhach, Barão d'., 1 6 H olbrook, 1 osiah, I 57 Holmes, Oliver Wendell, 1 56 Holst, Hcnrikkc, 1 1 4, 1 1 7 H omero, 1 58 Homolka, Florencc, 206 Hood, Sidncy, 209, 23 9 , 240, 24 2 , 2 · 1 · 1 , 330 Hoppner, R ichanl, 55 ll ordcr, l ord, 30 I

.

l l orkhcimcr, l\ l ax , 207, 25(,

·

Hl 7

Hotchner, A.E., 1 87 Houdetot, Sophie, condessa d'., 30, 38 Howe, lrving, 330, 352 Hugo, Victor, 38, 1 59, 234, 254 Huizinga, J.H., 28 Hulton, Edward, 356 Hume, David, 20, 25, 3 3 , 37, 44, 250,

e a família, 288-9; falta de sentimento familiar, 29, 37, 66, 82, 1 04-6, 1 39-40, 1 62 - 3 , 1 92, 249; discordân­ cia com os pais, 1 5 , 46, 355-6, 366: problemas das mães, 1 6 1 -3, 277, 300- 301

e os

f"llhos:

89-92,

263, 369

86-90, 1 06-7, 1 29, 1 35 , 1 57 , 200, 2 1 0, 2 1 8, 243-5, 272-4, 282-3, 291 2,

297-9,

3 1 8;

generosidade,

326-8,

243-4,

273-4,

travagância, 87, 1 22 e as mulheres, 2 1 , 46-7, 50-2, 1 1 2-6, 1 26,

1 29-33,

1 36-37,

1 7 1 -72,

1 78-85, 1 86-87, 202-6, 233 -4, 23941,

258-9,

298 - 30 1 ,

350, 358-9,

362; amantes/concubinas, 1 6, 28, 302, 33, 5 1 -2, 54-6, 92-4, 105 -6, 1 303 1 , 1 78-85, 2 1 4 - 1 5 , 234-40, 257-63, 273-5, 285-7, 299, 300- 1 , 3 1 8-9, 3 2 1 -2, 359-60; esposas, 47-5 1 , 89, 93-4, 1 07 - 8 , 1 3 3- 37, 140, 148-53, 1 56-57,

1 7 1 - 72 ,

1 79-85,

233-5,

236-40, 282-5, 286-9, 300- 1 , 343 -5, 347-8, 350, 358-60, 362-3

e a política, 34-6, 40- 1 , 43, 43, 6 1 - 2, 67-82, 208- 1 5 ,

Ibsen, f"llhos, 1 05 - 6, 1 08-9; S igurd (filho), 1 07, 1 08, 1 1 7 - 1 8 Igreja Ortodoxa, 1 45 Iluminismo, 1 3 , 1 6 , 1 8 , 43 I luministas, 43 Imlay, Fanny, 50 lngersol, Ralph, 3 2 1 intelectuais: e o álcool, 82, 97, 1 03 - 4, 1 1 9, 1 30,

99,

1 1 9,

143-47,

1 7 1 - 75 ,

252,

263 -72,

223-34,

279- 83, 302-6, 3 1 1 - 1 2 , 3 2 1 -5, 3358, 340-2, 345-7, 35 1 - 3 , 357-8, 363, 367-9, 370-3

e a religião, 44, 65, 70, I 19, 1 2 1 - 22 , 1 39, 145-46, 1 5 5 , 1 59-61 , 1 64-65, 1 67 -69,

1 92,

2 1 8,

265 ,

27 1 - 2,

295-6, 3 1 1 - 1 2, 335, 365: ateísmo, 44, 2 1 8 , 2 2 1 - 2

e a roupa, 2 2 , 4 1 , 101 - 3 , 1 42 , 1 69-70, 1 94, 1 98-9, 236-7, 363

! R I , 1 R2-3, 1 85 - 90, 256-7, 26 1 - 3 , 363;

3 1 0- 1 1 ,

dívidas, 47, 5 1 , 52,

3 60; avareza, 37, 1 05-7, 243-4; ex­

1 08, 1 1 6, 1 20

353,

300- 1 ,

351;

57-60, 88, 97, 1 29-30, 1 3 3-4, 273-4,

mão), 1 05 Ibsen, Suzannah (née Thoresen), 100,

drogas, 363 -4

1 85,

93-4, 1 05 - 7, 1 3 1 , 206

Ibsen, Henrik, 92, 95- 1 20, 1 22, 1 3 1 , 1 64, 1 77, 240, 295, 346, 354; Pri­ meiras peças, 97; Brand, 98, 104, 106; A doll's lwuse [Casa de bone­ ca], 92, 98, 99, I 1 3 , 1 1 6; [Espectros], 98; Hedda Glaber, 99, 1 1 3 ; Jolm Gabriel Borkman, 99; The league of youth [A liga da juventude], 1 09; The master builder {O mestre construtor], 99, 1 1 5, 1 1 6; Peer Gynt, 98, 1 09, 1 1 9; Pillars of society [Pilares da so­ ciedàde], 98, 99; The pretender, 98; Rosmersholm, 99; Solhaug, 1 00; The wild duck [O pato selvagem], 97, 99 Ibsen, família: pais, 96-7, 1 04, 105-6; Hedving (irmã), 104; Nicolai Ale­ xander (irmão), 105; 01e Paus (ir­

3 1 7 - 1 R,

1 48,

e o dinheiro, 1 5 , 29, 40, 56-60, 69, 70,

332-3,

287-8,

1 1 0- 1 1 ,

236-7, 24 1 - 2: ilegítimos, 3 2 - 3 , 54-6,

f-lume, Thomas, 54 Hunt, Leigh, 43, 56, 58, 59 Husserl, Edmund, 249 Huston, John, 272 Huxley, A ldous, 250 Huysmans, J.K., 256

273-5,

legítimos, 33, 49, 54,

1 07 - 8 ,

e o sexo, 27-R, 46- R, 55-7, 1 1 5 , 1 29-:n, 1 34-35, 1 4R - 50, 1 56-57, I (,!). 70,

- 40X -

24 1 - 2 , 248, 257-8, 262- 3, 2Cih, 2hl, 268-9, 282-3, 294-5, 2%, 21J7 - X,

1 89, 2 2 1 - 2 , 233-4, 225-7, 258-9, 286-7, 32 1 , 322-3, 357-6 1 ; homos­

123-4,

sexualidade, 28, 37, 1 5 1 - 52, 357-8,

302 - 1 0,

362, 366; masturbação, 27-8, 37,

325, 326-28, 329-33, 336, 3 3X, .\hh-

357-8,

obsessão

360;

relacionada

280-2, 335

hipocrisia,

33,

37,

55-6,

1 1 2- I \,

234-5, 258-9, 367-8

236-8, 259-62, 285 -7

e os "trabalhadores", 6 1 , 72-4, 1 42, 1 46-47,

1 1 9- 20,

7, 368-9; paixão pela verdade, 277,

com o pênis, 1 9, 1 1 5, 1 78, 237; poli­ tica de "abertura", 47, 1 34, 148- 50,

1 45 ,

1 1 5 - 3 1 7,

1 72-73,

incapacidade, vida parasitária, 1 5, 1 1 , 85-6, 346- 7, 367

1 98-9, 207,

ingratidão, grosseria, 2 1 -4, 29- 30, .17,

2 1 4- 1 5 , 264, 270-2, 301 -2, 323-5, 33ó-7

44, 5 1 - 3 , 1 08-9, 1 4 1 , 20 1 - 2

intelectuais, características dos: amor pelo poder, 84- 5 , 1 27-28, 1 97-8,

intolerância,

manobras, exploração, 23-4, 27-X, :'i0-

305 - 6, 36 1

auto-comiseração, 1 5 , 1 9 -20, 303-4; paranóia, 24-7, 37, 228-9 auto-ilusão, credulidade, 49, 1 28-29, 1 72-74,

1 00- 1 ,

misantropia,

1 04-5, 1 08-9, 1 1 2- 1 3

2 1 0,

222-3,

2,

141,

229-30,

263-4,

1 40,

ódio, agressividade e v iolê n cia , 4h- 'I,

1 76-78,

289-90,

1 1 5 -6,

2 1 2- 1 5 , 240-4, 258-62, 267, 2X5-h,

298-9, 30 1 - 2, 303, 372 - 3 1 20,

1 08- 1 0,

297, 298- 300

264- 5, 294,

brigas, 2 1 , 24, 2 9 , 82-4, 8 5 - 6 , 1 09- 1 0, 1 1 2-3,

88, 92-4,

1 93 , 1 97 - 203, 204, 205-6, 207, 20'J,

67, 73-4, 8 1 -5, 86, 1 02 - 5 , I I X-20, 1 23 ,

1 95,

1 37-8,

1 8 1 - 83,

1 84,

I X 5 - Xh,

1 93 , 224-5, 287-8, 289- 9 1 , 29X - 1J,

299- 300,

3 1 2 - 14,

309, 3 1 1 - 1 2, 323-4, 329, 354-5

3 1 8,

329,

353-5,

.lh·l,

366-8; adoção do princípio de vio­

canonização dos, 38, 1 46-7, 327- 30,

lência,

333

covardia, 1 07-8, 1 1 5 -20, 1 93, 346-7, 359- 60; coragem, 1 24, 1 68-70

224-5,

226-7,

2hX- 1 1 ,

347-50, 35 1 -4, 363, 367-9, 370- 1

orgulho, 48-9, 1 2 1 - 2, 1 23,

l h2 - Cd ,

229-30, 244- 5 , 292, 298-9

crueldade, 30- 1 , 37, 42, 1 4 1 , 1 83 - 85 egocentrismo, egoísmo, 1 6, 20- 2 1 , 30,

talento

para

autopromoção,

1 42,

3 1 , 37, 48, 56, 60, 62, 84-6, 9 1 -2,

1 69-70, 1 94, 1 95-7, 200-202, 20X,

1 04-5,

255-6, 3 1 8 -9, 325-7, 3 5 1 ' 352-·1 ,

1 07- 1 1 ,

1 33-4,

1 40,

121,

1 48- 5 1 ,

1 23 ,

1 24,

327

1 6 1 -62, 203,

vaidade, 20, 29-30, 37, 100-3, 1 2 1 ,

247, 272-3, 285-6, 299- 300, 3 1 2- 1 4, 35 1 , 35 809; falta de, 4 1 egoísmo, crueldade, 1 3-4, 29-30, 42,

1 88, 228-9, 3 1 1 - 1 3, 35 1 , 357

204-5, 206, 209, 228-9, 242-3, 299-

Irving, W ashington, 1 55 Isaías, 1 2 1 lsherwood, Christopher, 207

300, 343, 4; altruísmo, 4 1 - 2, 1 40,

I vancich, Adriana, 1 84

1 09- 1 0,

1 33-4,

141'

1 43,

203,

240- 1 , 3 1 9-20

esnobismo,

89,

1 0 1 -2,

1 23 ,

23 1 ,

245-6, 342-4; esnobismo intelectual,

Jaegar, Henrik, 1 0 1 James, Henry, 62, 1 56, 1 63, 27C•, 277, 279, 289

2 1 9, 222-3

falsidade, desonestidade, 28-29, 37, 49-50, 77-82, 1 4 1 , 1 70-72, 1 73-74, 1 77,

1 99- 200,

207 - 8 ,

2 1 0- 1 2,

2 1 5 - 1 6, 220, 223- 24, 226-8, 234-5,

Janson K ri sto fc r , I I I Jaspers, Karl, 75 .Jeanson, Francis, 263 .Jcnsdattcr, E lsic Sophic, I 07

- 409 -

Jerrold, Douglas, 297, 299 Jessel, Lord, 343 Jesus Cristo, 1 2 1 , 1 23, 146, 1 60, 295 judeus, judaísmo, 43, 65, 69-70, 94, 143, 230, 252, 266, 2 7 1 , 295-97, 3 16; anti-semitismo, 69-70, 74, 86, 148, 282 John, A ugustus, 229 Johnson, reverendo Hewlett, 307 Johnson, Lyndon B., 232, 353-54 Johnson, Samuel, 26, 35, 1 09, 272 Johnsrud, Harold, 283 Jollivet, S imone, 249 Jones, James, 354 Joyce, James, 1 63, 1 66, 1 77 , 277, 286 Kamenev, Lev, 209 Kanapa, Jean, 264 Kant, I mmanuel, 3 8 , 1 55 Katz, Otto, 309 Kat, J.P., Physical and moral conditions o( the working classes [Condições ffsicas e morais das classes operá­ rias ], 78 Kazin, Alfred, 330 Keats, John, 4 1 , 53, 63 Kennedy, J ohn Fitzgerald, 230, 23 1 , 232, 233 Kruschev, Nikita, 2 1 0, 228, 23 1 , 242, 328 Kie1er, Laura, 1 16 Kielland, Kitty, 1 1 3 Kierkegaard, Sõren, 1 07 Kilian, Isot, 2 1 4 King, M artin Luther, 367 Kipling, R udyard, 1 63, 1 66, 1 67, 1 78, 207, 277, 340 Knudtzon, Frederick, 1 03, 1 1 8 Kober, A rthur, 3 1 7 .

.





.



Koestler, Arthur, 24 1 , 260, 263, 264, 3 1 2; Darkness at noon, 35 Kohlberg, Alfred, 227 Kolman, Amost, 227 K osakiewicz, Olga, 261 Kosakiewicz, Wanda, 2 6 1 , 262, 274 Kova1cvski, M axim, 84 K ricgc, l lermann, 74

Kugelmann, dr. Ludwig, 86 Lafargue, Paul, 92 La G uardia, Fiorello, 22 1 Lanchester, Eisa, 203 Lanham, Charles, general, 1 62 , 1 82 Laski, Harold, 305-306, 307 Lassalle, Ferdinand, 74 Lassithiokatis, Hélene, 262, 274 Laughton, Charles, 1 97 Lawless, John, 58 Lawrence, D.H., 1 63, 290 Lawrence, J.H., 56 1e Gallienne, Richard, 1 00 Leibnitz, Gottfried, 14, 220 Leigh, Augusta, 47 Lemaitre, Jules, 1 7 Lenin, V.I., 35, 64, 84, 1 1 2, 1 45, 1 94, 1 98, 206, 2 1 0, 223, 225, 279, 322, 338; marxismo-leninismo, 1 96 Lessing, Doris, 229 Levasseur, Thérese, 1 6, 26, 30-32, 33, 258 Lévi-Strauss, Claude, 38 Levy, B enn, 302 Lévy, Raoul, 252 Lewis, John, 306, 3 1 1 Lewis, M ildred, 3 1 8 Lewis, Sinclair, 1 77 Lewis, Wyndham, 1 64, 1 77 Liebknecht, Wilhelm, 9 1 Liga Comunista, 66, 73; Marx escreve o manifesto, 66 Lind, dr. James, 43 Lippmann, Walter, 280 Liverpool, Lord, 43 livros azuis, 72, 79-80, 145, 2 1 8 Locke, John, 1 4, 44, 234, 369 Loeb, Harold, 7 1 2, 1 77, 1 79 Lofthuus, Christian, 1 05 Longuet, Charles, 92 Lorange, A ugust, 103 Lorre, Peter, 1 97 Lowell, Robert, 290 Lubbock, Lys, 346 Luís X V I , rei da França, 1 2 Lund, dr. Robcrt, 205

- 410-

Lynd, Sheila, 299, 306, 3 1 1 Macaulay, Thomas Babington, 57 McCarthy, Desmond, 347 McCarthy, senador Joseph, 232 McCarthy, Mary, 26R, 2R3, 2R4-85, 287, 330- 3 1 , 332, 339; A charmed l!fe, 288 !'v'lcCartney, Paul, 1 93 McCaracken, S amuel, 333 MacDonald, Joan, 1 7 MacDonald, Ramsay, 302 Mackenzie, Compton, 229, 277, 355 MacLeish, A rchibald, 1 73, 1 77, 1 86 M acmillan, Harold, 230, 23 1 maçons, 43 McTaggart, J.E., 245 Maeterlinck, M aurice, 295 M ahan, John, 303 Mailer, Norman, 333, 350-3, 359, 360, 36 1 ; The naked and the dead [Os nus e os mortos], 35 1 ; The white Negro ro negro branco], 352, 353, 357, 367, 368, 369 Mailer, Fanny, (mãe), 350 Mailer, esposas: B eatrice (née Silver­ man), 350; Lady Jean (née Camp­ bell), 350; Beverley (Bentley, 350; Norris (née Church), 350; AdeJe (née Morales), 353 Makarios, arcebispo, 242 Malcom X, 368 Malesherbes, Chrétien, 25 M alleson, Lady C o nsta nce, 235, 236, 239, 347 Halleson, !'files, 2 1 8 Malraux, André, 1 69, 25 1 , 252, 253, 267 Mancy, Joseph e Anne - M arie, 247 Mann, Thomas, 207, 250 Mao Tse-Tung, 64, 84, 242, 268, 270, 349, 3 7 1 , 372; l\1adame Mao, 1 96 Marat, Jean- Paul, 68 Marcuse, Herbert, 207 Marie-Louise, princesa, 1 00 M urryat , Fredcrick, 1 63 Mursl' ilk, Waltcr, 22ó, 227

M arsh, Mae, 1 70 M artin, H enri, 265 l\1 artin, K ingsley, 225, 309, 3 1 1 , 1 1 1< , 349 Marx, Jenny (née von Wcstphalcn), hh, 82, R4, 87, 88, 89-90, 9 I , 92, 93, :!O"i Marx, K arl, 14, 40, 64-94, 95, '>H, l O ., , 1 1 0, 1 3 1 , 1 44, 1 45, 1 41!hi/O,\'Of >/n• i :\ /11.1 tflria da fi/osofio ot'idt•lltal ( , .! .'O.

religião, declínio da, 1 1 - 1 2, 39; nos Es­ tados U nidos, 1 54; wr tambt!m cris­ tianismo e judeus Renan, Ernest, 277 Resistência francesa, 25 1 - 52 Reston, James, 333 revolução, política revolucionária, 34, 37, 40, 66, 59-60, 83, 84, 1 1 2, 1 44, 1 54, 279, 354 Revolução Francesa, 1 2, 39, 62, 271 Revolução Industrial, 1 4, 8 1 , 1 45 Rey, Evelyne, 262 R hodes, Ceci), 297 Richardson, Samuel, Clarissa, 17 Riddevold, reverendo H., 1 1 1 Ridgeway, Matthew, general, chefe da OTA N, 265 Rohcrts, dr. William, 58 Rohcspierrc, Maximilicn, 1 2 -

41 1 .

-

lfuman knowledge [O conhecimento humano], 220; lntroduction to ma­ thematical philosophy [Introdução à filosofia matemática], 245; Justice

in wartime [Justiça em tempo de guerra], 232: The practice mui theory o{ Bolshevism [A prática e a teoria do bolchevismo], 225; Principia Wathe­ matica, 2 1 9 Russell, I !! Conde, (Lord John Russell), 218 Russell, 2� Conde (irmão de Bertrand Russell), 234-35 Russell, esposas: Alys (née Whithall), 224, 234, 235; Dora, (née Black), 236-37, 238, 239; 240; Peter (née Margery Spence), 222, 238, 239, 240; Edith (née Finch), 240, 243 Russell, filhos, 237, 238 Rustin, Bayard, 367

Sacco e Vanzettu, 23 I Sanchez, Thorwald, 1 86 Sand, George, 38, 256 Santayana, George, 236 Saroyan, William, The time o{ your li{e, 320 Sartre, Jean- Paul, 232, 247-75, 285, 286, 287, 30{), 326, 327, 329, 33 3 I 343, 348, 350, 35 1 ' 354, 360, 368, 370; Les chemins de la liherté [Os caminhos da /ilJerdade], 25 1 ; Criti­ que de la raison clialectique [Crftica da razão dialética], 262; L'Étre et te néant [O ser e o IU1da], 252, 253; lfuis-clos [A portas fechadas], 253; · Les mots [As palavras] , 248, 27 1 ; Les mouches [As moscas], 253; La JU1llsée [A náusea], 250, 259; Récherches t'hilosophiques [Investigações filosó­ ficas], 250: Les séquestrts d Afto1U1 [Os seqiiestrados de A/tona], 262; \Var diarv [Diário de guerra), 25 1 Sartrc, pais: 247-8: ver tamhém � fancy, .loscph c A nne - � 1aric Sartrc, ;\ rlcttc, Sauvy, A l frcd,

262, 274-75 26!�

Schandorph, professor Sophus, I 04 Schapper, Karl, 68 Schiller, Johan Christophe Friedrich von, 38; �1aid o{Or/eans, 207 Schneekloth, Martin, 1 08, 1 1 1 Schoenman, Ralph, 230, 232, 240-44, 245, 274 Scharamm, K onrad, 84 Schreiner, Olive, 9 1 Scribner, Charles, 1 70 Segovia, Andres, 1 7ó Segunda Guerra l'v1undial, 1 70, 1 87, 1 98, 232, 250-53, 267, 309, 3 1 0- 1 1 , 338 Selassie, Haile, 242 Semionov, Vladimir, 2 1 3 Shakespeare, William, 36 1 : Ricardo 11, 1 9 1 ; Troi/us and Cressida, 83 Shaw, George Bcrnard, 92, 1 00, 266, 295, 320; São João, 207 Shaw, Irwin, 323 Shelley, Percy Bysshe, 38, 39-63, 98, 1 67, 204, 233, 238, 260; Address to the lrish peop/e [Um discurso ao po­ vo irlandês] , 6 1 ; Afastar, 59; The Cenci, 40; De{ence of poetry [Defesa da poesia], 39; Epipsychidion, 54; A hymn to inte/lectllal beauty [ Um hino à beleza intelectual], 40; Julian and .1 /adda/o, 6 1 , 1 67; "Lines from the Eugenean lfills", 40; The mask of anarchy [A máscara da anarquia], 40, 6 1 , 207; The necessity of atheism [A necessidade do ate(smo], 44-5; "Ode to the west wind'' ["Ode ao vemo do oeste"], 40; Original poetry by Victor and Cazire [Poesias origi­ tU1is de Victor e Cazire], 44; "Ozy­ mandias", 40; A philosophical view o{ refonn [Uma visão filosófica da re­ fonna], 56; Prometheus unbowul [Prometeu desacorrentado, 40; Que­ en 11ah [A rainha 1/al>], 48, 53, 60: The revolt o{ lslam [A vevolta do Is­ lã] , 40, 47; St. lrvyne, 44; Swell{oot, o tirano, 40; "To a skvlar!.:" [ "A coto­ via"] , 4 1 ; The triumph o( li(e [ O

- 414 -

triunfo da vida], 62; The witch of Atlas [A bruxa de Atlas], 63; Zastroz­ zi, 44 S helley, fanu1ia: Sir Timothy, 42, 43-4, 45, 46; Lady Shelley, 45 ; Helen (ir­

S helley, esposas: Harriet (née Westbro­ ok), 45, 47, 48, 49, 50, 5 1 , 52, 53, 55, 56-7, 60, 62, 234; Mary (née Godwin), 4 1 , 42, 43, 48, 50, 53, 54,

S tewart, Donald Ogdcn, 322 S toppard, Tom, 2 1 7 S towe, Harriet Beechcr, I X2; l lndr• Tom' s cabin [A cabmut do l'ai I o­ más], 365, 367 S trachey, John, 229, 24 1 , 302, ]0�, 107, 3 1 1 , 337 S trachey, Lytton, 277; Emilu•m vil'lorians [Vitorianos ilustres], 24 5 Strauss, Richard, 195 S travinsky, l gor, 2 1 1

55, 56, 58, 60, 62-63 Shelley, filhos, 49, 48-50, 53 -4, 62, 238

S tyron, William, 285, 333, 354 Sue, Eugene, 1 23

Shelley, Sir Bysshe, 42 S hevlin, Durie, 1 83 Sitwell, fanu1ia, 290 Skelton, Barbara, 286, 347 Slater, Humphrey, 24 1 Slatter (livreiro de Oxford), 44, 59 Srnith, Adam, 79 Smith, Bill, 1 60, 1 78 Srnith, Logan Pearsall, 224, 344 Smith, R andall, 324 socialismo, socialistas, 7 1 , 72, 1 1 2, 1 45, 1 73, 23 1 , 245, 252, 268, 279, 296, 30 1 , 303, 305, 3 3 1 , 339, 357, 3 7 1 S ócrates, 1 2 1 , 1 96, 222 Somervell, D.C., 296 Sintu, Hildur, 1 1 4 Sorokine, Nathalie, 261 S pender, Sir Stephen, 33 1 Spinoza, B aruch, 1 2 1 S tael, Germaine de ( Madame de), 1 4 S talin, Joseph, 64, 65, 8 3 , 84, 94, 146, 1 73 , 209- 1 0, 2 1 2, 225, 24 1 , 263, 279, 284, 289, 302, 305, 307, 308, 309, 3 1 0, 3 1 5, 322, 324, 328, 330, 333, 338, 339, 349, 349, 372; Prêmio de Paz S talin, 1 93, 2 1 0

Suhrkamp, Peter, 200 Sukarno, presidente da Indonésia, 242 Suter, Gody, 2 1 3 Synge, J.M., Riders to the sea, 207 Syutaiev, V.K., 140

mã), 44, 46; Elizabeth (irmã), 46-7; Mary (irmã), 46

S tanislavsky, Konstantin, 2 1 2 Steffens, Lincoln, 1 64, 1 65, 278 S teffin, M argarete, 204 Stein, Gertrude, 1 63, 1 64, 1 77 Steinbeck, John, 278 Steiner, dr. Herbert, 332 Stendhal, 1 63 Stcrn, Ada, 1 85

Tasso, Torquato, 1 4 Tchekhov, A nton, 1 40 Techow, Gustav, 84, 85 Thalheimer, August, 307 teatro, 85, 1 9 1 , 200-202, 357-5X Thomas, J. Parnell, 198 Thomson, Virgil, 1 86 Thoresen, M agdalene, 100, I 07, I OX, 1 10 Thrane, M arcus, 1 1 7 Tintiretto, 2 7 1 Tito, presidente d a Iugoslávia, 26X Tocqueville, A lexis de, ! 54 Tolstoi, Leon, 38, 99, 100, 103, l i I , 1 2 1 -53, 1 5 9, 1 63 , 1 69, I X3 - X4, I K� . 230, 232, 2 3 3 , 237, 240, 24 1 , 2W, 263, 270, 3 1 3, 330, 348, 35 1 , 354, 373; Arw Karenina, 1 26 - 27, 1 2X, 1 32, 1 34, 1 36, 1 38, 1 39, 1 40n; lnffln­ cia, 1 25; Confissões 1 35; di:'lrios, 1 30, 1 3 1 , 1 33, 1 34-35, 1 4 1 , 1 4 2 , 1 49-50; tratados doutrinais, 1 .\'J; 'The K reutzer sonata" ["A sonata < k K reutzer"], 1 49, ! 50; A /e/la to tl�r· Chinese [ Uma carta para o clrinh· i , 1 46; The significance o/ Ru.uitm rr­ voluntion IA import/lm:ia da rrvolu­ ção Russa [, 1 46; (iuara t' paz, 1 2tl,

- 4 l "i -

1 2X , 1 3 R, 1 40n, 1 44, 1 45, 1 66, 290;

Youth [ Heninice Juventude], 1 23, 1 25 Tolstoi, famllia: pai e avô, 1 22, 1 30; Condessa A lexandra, 1 38; Dimitri (irmão), 1 40: Nikolai (irmão), 1 24, 1 30, 1 40; Sergei (irmão), 1 24, 1 29, 1 40

Tolstoi, S onia (née Behrs), 1 33 - 35, 1 35 , 1 39,

1 40,

141,

1 42,

1 43,

Vercellis, Condessa de, 25 Vian, Boris, 1 57, 262: Michelle, 262 Victor, Pierre (Benny Levy), 274 Vida!, Gore, 3 1 8, 354 Viertel, Virgínia, I R3 Vietnã, 232, 268, 269, 354, 370, 372, 373; Tribunal de Crimes de Guerra do Vietnã, 1 96, 232, 233, 242, 243,

1 4 8,

1 49-5 1 , 1 52, 274

Tolstoi, filhos, 1 3 1 -32, 1 34-35, 1 36, 1 39-40, 1 48, 1 5 1 -52; A lexandra, 1 48, 1 52 ; Tolstoi, filhos, 1 3 1 - 32,

269

Ville, M arie, 260, 261 V illon, François, 1 95 , 267 Vishinski, A ndrei, 305 Vitória I, rainha da Inglaterra, 7 1 , 2 1 7,

1 34-35, 1 3 6, 1 39-40, 1 48, 1 5 1 - 52;

Alexandra, 1 48, 1 52; Masha, 1 48; Tania, 1 36, 1 48 totalitarismo, 34, 36, 1 46, 254, 338,

218

Viviani, Emília, 56 Volkonski, família, 1 22 Voltaire, 1 2, 1 6, 1 9, 25, 32, 37, 65, 1 59,

370, 37 1

1 9 1 , 230, 255, 256, 263 , 267

transcendentalismo, 1 5 5, 1 56 Trilling, Diana, 329 Trilling, Líonel, 278 Tronchin, dr., 1 9, 2 1 , 25 Trontsky, Leon, trotskismo, 279, 284, 285, 308, 340

Wagner, R ichard, 200, 202 Wahl, Jean, 258, 272 Wallace, Mike, 353 Walpole, H ugh, 1 fi3 Warens, Françoise - M arie de, 1 5, 28, 29,

Tunney, Gene, 1 94

33

Tupanov, coronel, 1 99 Turgueniev, Ivan, 1 22 , 1 29, 1 30, 1 3 1 , 1 4 1 , 1 44, 1 63, 263

Twain, M ark, 1 63 Twysjen, Dorothy (Lady), 1 79, 1 83 Tynan, Kenneth, 1 86, 202, 355 - 6 1 , 364; Oh! Calcutta.1, 358, 360 Tynan, pais: R ose, 355, 360; ver tamhém Peacock , Sir Peter Tynan, esposas: Elaine, ver Dundy, Elaine; Kathleen (née Gates), 355, 359-60

Watson, Peter, 345 Waugh, Evelyn, 1 89, 290, 335, 339, 340-43, 344, 345, 346, 347; Bride­ shead revisited, 1 6 1 , 356; Robbery under law [Roubo dentro da lell, 340; Sword of lwnour [Espada de honra], 346

Webb, Beatrice, 236, 302 Webster, John, The duchess of Halfi [A duquesa de Hal{i], 1 97 Weideman, Jerome, 365 Weigel, J.felene, 204, 205, 206-7, 208, 2 1 5, 262, 300

Ulbricht, \Valter, 2 1 3, 2 1 4 Undset, Ingvald, 1 1 9 União Soviética, 64, 94, 1 52, 1 5 3, 1 73, 1 97, 209, 2 1 1 - 1 4, 226-28, 229, 23 1 , 266-67, 268, 279, 280, 282, 284, 302, 304, 306, 3 1 0- 1 1 , 3 2 1 , 322, 324, 32X l J nwin, Sir Stanlcy, 244

Weightman, John, 26 1 , 265 Weil, Kurt, 1 93 , 1 95-96 Weishaupt, A dam, 43 Weisstein, Gottfried, 1 0 1 Weitling, William, 73, 83 Wells, H.G., 295 Wesker, Arnold, 229 West, Nathanacl, 3 1 ó Wcst, Rchccca, 277

- 4 1 () -

Westbrook, Eliza, 49, 5 1 Westmorland, Conde de, 90 Wharton, Edith, 277 Whitehead, Alfred North, 2 1 9, 246 Whitman, Walt, 295 Whitton, William, 46 Wilde, Oscar, 96, 355 Wilhelm I , imperador da Prússia, 84 Williams, Edward e Jane, 62, 63 W illiams, John e Owen, 5 8 , 59, 60- 1 Williams, William Carlos, I ó4 Williams- Ellis, C1ough e A rnabel, 24 1 , 245 Willich, A ugust von, 84 Willingham, Calder, 354 Wilson, Edrnund, 1 66, 1 70, 276-93, 294, 322, 327, 336, 348; The ameri­ can jitters [O nervosismo americano] , 280; Apologies to the lroquois [Apo­ logias aos iroqueses], 293; Axel's castle [O castelo de A xel], 277, 280, 345; I tlwught o{ Daisy [Pensei em Daisy], 277; Memoirs of Hecate Coullty f-\1em6rias do condado de Hecate], 29 1 ; Patriotic gore [Sangue patriota derramado], 293; The scrolls of the Dead Sea [Os pergaminhos do Mar .\torto], 29 1 , 293; Rumo à esta­ ção Finffindia, 28 1 , 282, 29 1

Wilson, pais, 277 Wilson, esposa: Mary (née B lai r l .!?X, 283; Margaret (née Canhy), 27X, 283, 286; 1\�ary, ver � ! cCa r l h y , Mary; E1ena (née Mumm), 2H7, 2XX Wilson, Harold, 242, 3 1 2 Wilson, Woodrow, 224 Wittgenstein, Lud wig, 220, 3 1 2 Wodehouse, P.G., 339 Wolf, Wi1he1m, 87 Wollstonecraft, l\1ary, 46 Wood, Jonh, S., 326 Woo1f, Leonard, 303, 308, 349 Woo1f, V irginia, 250 Wright, Richard, 323, 366 Wright, William, 3 1 7, 33 1 Wuolojocki, Hella, 207

Yeats, W.l3., 278, 35 1

Zaphiro, Denis, 1 84, 1 87 Zilboorg, Gregory, 296 Zinoviev, G rigori, 209 Zoff, l\1arianne, 202, 203 Zola, Ernile, 1 63 , 255, 256, 277 Zucher, E.A., 1 1 4 Zuckmayer, Car1, 1 94

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