Medeia
 8574806587, 9788574806587

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Apoio Pòs-Ut/CAPES/PRPq/PROEX/FALE/UFMG/Fapemig Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração - CBMM

TRUIIERS A trupe de tradução de teatro antigo apresenta

Μ ΕΔΕΙΑ de

ευιατΐΐδες D IR E Ç Ã O E C O O R D EN A Ç Ã O G ER A L T E R E Z A V IR G ÍN IA R IB E IR O B A R B O SA

/E

Ateliê Editorial

C o p y r ig h t © 2 0 1 3 b y T e re z a V ir g ín ia R i b e i r o B a r h o s a ( t r a d u ç ã o )

Direitos reservados e protegidos pela Lei tj.âro de 19 de fevereiro de 1998. É proi bida a reprodução total ou parcial sem autorização, por escrito, da editora.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (c i p ) (Câmara Brasileira do Livro. SB, Brasil) Euripides M ê d e ia /de Euripides; direção e coordenação geral Tereza Virgínia Ribeiro; tradução Trupersa (Trupe de tradução de teatro antigo), São Paulo: Ateliê Editorial, 2013.

ISBN 978-85-74*0-658-7 Título original: Medeia. Bibliografia.

1. íeatro grego I, Barbosa, Tereza Virgínia Ribeiro,

13-0 76 8 8

C D D -882,01 *1

índices para catálogo sistemático: 1. Teatro: Literatura grega antiga

88z.cn

Direitos reservados à Atbliê E d i t o r i a l

Estrada da Aldeia de Carapicuíba, 897 06709-300 - Granja Viana - Cotia - SP Telefax; (11) 4612-9666 www.atelie.cotn.br / [email protected],br 2013 Printed in Brazil Foi feito 0 depósito legal

S UM A R I O

Medeia da T ru p ersa : U m a E x p e riên cia de T ra d u çã o em C e n a Olimar Flores-Júnior............................................................. 7 P refá c io .........................................................................................Ί3

M e d e i a ..................................................................................................... 41

Argonáutica d e A p o lô n io E u r i p i d e s ......................

R ad io n ov ela B asead a n a na

Medeia d e

d e R o d es e

i 5S

A m o r, A b ism a d o A m o r ......................................................... 155

Capítulo 1 ......................................................................... !5õ Capítulo 2..............................................................................*05

Capítulo 3 .................................................................... · 173 Capítulo ........................................................................... t83 F icha T écn ica d e M e d e i a .......................................................... B ib lio g ra fia .

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M E D E I A DA T R U P E R S A : UMA E X P E R I Ê N C I A DE T R A D U Ç Ã O EM CENA O lim a r F lo res-Jú n io r Faculdade de Letras Universidade Federal de Minas Gerais

O mito é bem conhecido; M edeia é a m ulher que, hábil em m a­ gia e encantos, mas sucumbindo ela mesma ao encanto da paixão, com ete em seu nom e uma série de atrocidades - dentre elas o fratricídio - para acom panhar o amado em uma terra estrangeira; mais tarde, traída e forçada ao exílio em vista da conveniência e das a m ­ bições do marido, mata os próprios filhos para purgar no sofrim ento deste hom em que é o pai das crianças o ultraje da rejeição e a dor do abandono. Todavia a tragédia de Euripides, com o aliás toda tragé­ dia, dá à m onstruosidade dos crim es perpetrados em seu entrecho uma outra dimensão, na medida em que recupera neles o resultado do jogo com plexo das forças que subjugam o homem, cada homem e cada m ulher, no curso de sua existência; são forças que, conquanto possam ser obra de um deus, parecem nascer do hom em , im previ­ síveis, imponderáveis e insidiosas, e que o hom em só controla - se é que ele as controla - ao preço do próprio dilaceram ento, que não raro coloca em perspectiva a hierarquia dos valores. Assim, face ao drama do herói dilacerado - no caso, uma heroína

o espectador

se surpreende a si mesmo dilacerado e, preso na tensão entre terror e piedade (com o já observava Aristóteles), frui o impasse do ju lg a­ 7

s

MEDE) A

mento; se a tragédia em seu efeito próprio depende inteiram ente da consciência de uma ficção plantada na mais profunda realidade da n ostra res cigitur (segundo o calque latino lembrado por Albin Lesky), ela então, de alguma maneira, nos acusa e nos designa, a nós que estamos instalados na distancia da platéia, com o cúmplices e juizes do crime que ela põe em cena, Mas debruçar-se sobre as contingências e vicissitudes do ser hum ano não é privilégio da tragédia. O mundo em que o homem habita e o m undo que nele habita, com a instabilidade que permeia um e outro fazendo vacilar crença e m oral, ocupam não só o espaço da cena, com o fornece, por exemplo, o material que move o discur­ so filosófico ou a explicação da história. O próprio da tragédia não é portanto o qu ê, mas o com o. A meio cam inho entre a experiên­ cia em primeira pessoa e a reflexão objetiva projetada em exemplos abstratos, a tragédia revela, na atualidade do espetáculo, uma outra ordem de th e o r ia ■ . contem plando a tram a que se oferece aos seus olhos e ouvidos, o espectador sofre uma dor que só é sua na medida em que é de outro e pode assim ter dela uma com preensão que o simplesmente vivido não comporta. Na aisthesis do teatro, através de uma “subjetividade por procuração” fundada pelo pacto ficcional e operada pela ação das personagens, o espectador engaja sua p ró ­ pria verdade com o uma síntese possível da verdade do grupo a que ele pertence. Nesse sentido, uma peça de teatro - de teatro grego em parti­ cular

tendo em seu horizonte a expectativa mesma desse engaja­

m ento, é o produto de uma carpintaria complexa: a lenda heróica ou a saga dos deuses que com põem os mitos tradicionais, funcionando com o o depositário da identidade de todo um povo, é a matéria -prima onde geralmente tudo tem seu princípio; m atéria plástica que recebe sua torm a a partir das intenções de um poeta para em seguida passar pela voz e pelo gesto dos atores e do coro e atingir enfim, no espaço de um edifício público, um grupo de espectadores que reagem sim ultaneam ente, no foro de sua sensibilidade e expe-

M E D E I A DA T R U P E R S A 1 UMA E X P E R I Ê N C I A DE T R A D U Ç A O EM C E N A

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ricncia próprias, à trama objetiva do palco. Ainda que - se não pelo método, ao menos por princípio - nenhum a arte possa ser o resulta­ do de um solepsismo radical, o teatro, de um ponto ao outro de sua cadeia de significação, e em todas as suas cam adas, é antes de tudo ii nr fenôm eno coletivo. É justam ente no âmbito do esforço de recuperar esse traço maior do teatro grego, através da tradução da M e d eia de Euripides que ora vem à luz, que se inscreve o trabalho da Trupersa, grupo que uniu num a empresa com um jovens de orientação acadêm ica à gente do teatro, sob a coordenação experiente de Tere 2 a V irgínia Ribeiro Barbosa, professora de língua e literatura gregas da Faculdade de Letras da Universidade Federal de M inas Gerais1, que contou ainda, sobretudo para os aspectos propriam ente cênicos do projeto, com a colaboração da não m enos experiente atriz e diretora Andreia Garavello (que aliás desempenha o papel de M edeia na montagem da peça). Trata-se sem dúvida de um grupo heterogêneo e, em alguma medida heteróclito que, no entanto, sem com prom eter a unidade formal do estilo e do registro linguístico do produto acabado, sou­ be fazer da diversidade um elo forte e enriquecedor no desenvolvi­ m ento de um trabalho cuja originalidade repousa precisam ente na tentativa ideal de abordar o fenôm eno antigo pelo prism a de seu elã fundador. Apenas por isso, essa nova tradução de M ed eia já m erece ser saudada. Na base desse laboratório - e o term o parece se adequar ple­ nam ente aos fins e ao método do projeto - estão uma constatação e, solidária a ela, uma hipótese. A constatação: a grande m aioria - se não a totalidade - das traduções do teatro grego em língua brasileira parecem visar antes o texto escrito, ou seja, a form a fixa que na sua origem m ais rem ota estava inteiram ente subordinada i.

i. Para lima amostragem de seus muitos trabalhos, veja-se o recente Sófodes, Os Icn éu tas, os Sátiros R astréadórés. Fragmentos de nm drama satírico reconstruído para a contemporaneidade com base nos aparatos de Stefan Radt e Hugh Lloyd-jone* com tradução e comentário der Tereza Virgínia Barbosa, Belo Horizonte* Editora UFMG, 20 12.

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M E D EIA

ao d r a m a , à a ç ã o ; a hipótese que se segue a essa constatação identiík a -se com a possibilidade vislum brada de que um texto teatral traduzido, ainda que texto escrito, guarde as m arcas do m ovim en ­ to da cena original, ou que pelo m enos o favoreça. A crescente-se a isso o dado de que a grande m aioria das traduções tenham por trás de seu texto final a mão de um único tradutor, e o que em principio não seria mais do que um detalhe anódino e circu n stan ­ cial adquire, no caso da tragédia grega, uma m aior relevância. Na verdade, em tais condições, a tragédia se aproxim a perigosam ente do diálogo filosófico, reavivando uma simpatia que nem sem pre foi pacífica: não terá sitio nm m ero acaso o fato de que, a tom ar por certos testem unhos com o o de D iógenes Laércto, Platão tenha sido poeta de tragédias antes de se “converter” à filosofia e tenha, após essa “conversão”, subm etido as propriedades da arte m im ética por excelência ao crivo de uma crítica rigorosa; por outro lado, Aristóteles, o mais ilustre dentre os alunos de Platão, observa o caráter em inentem ente filosófico da tragédia, no que - sublinha o estagirita - ela é superior à história por dizer esta o que aconteceu, e aquela o que pode acontecer segundo as regras da verossim ilhan­ ça e da necessidade. No intuito de restituir o próprio da tragédia, a M ed eia da Trupersa substituiu a figura de um único tradutor que sozinho com u ­ nica o poeta antigo com seu novo público e que sozinho decide as íorm as da porosídade que devem conduzir um texto determinado à sua versão traduzida, por um colégio de tradutores que explora a matriz de uma história bem conhecida alargando o espectro de sua recepção e de suas possibilidades interpretativas através de uma es­ pécie dc “convergência de sensibilidades m últiplas”. Logo, no lugar de algo próxim o de um exercício filosófico individualizado, o que se tem ao fim do processo é o resultado de uma experiência plural e, em certo sentido, catártica, que por antecipação im prim e no novo texto os efeitos que e!e deverá produzir em cena. E, de fato, no caso dessa nova e inovadora com panhia o projeto da Iradução saiu do pa-

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DA T R U F E R S A :

UMA

EXPERIÊN CIA

DE TRA D U ÇA

o

EM

CENA

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pel c ganhou a cena, e a cena é, nesse sentido, o espaço de verificação das virtudes do texto (re)escrito. Pelo princípio mesmo de sua proposta, a empreitada não podia ser coisa fácil, A tragédia grega que hoje goza da reputação de arte difícil, reservada a uma m inoria dita - e que se diz - esclarecida, uma arte cujo pleno entendim ento parece sempre reclam ar alguma erudição, era na Atenas do século v a.C. um espetáculo para gran­ de público. Para ele concorriam largos subsídios do estado e a sua produção mobilizava o conjunto dos cidadãos; muito mais do que uma opção de lazer esporádico, que se opõe à regularidade neces­ sária das atividades produtivas, o teatro, realizado no contexto de grandes festivais de caráter religioso, era em sua origem uma expe­ riência cívica, de caráter propriam ente político: com o já se escreveu, na G récia de Esquilo, Sófocles e Euripides, a cada peça encenada é a cidade inteira que se fazia teatro. P or outro lado, seria um equívoco definir a tragédia grega com o uma “arte popular”, no sentido que em prestamos hoje a esse term o. Se a com édia (e em alguma medida o drama satírico), em vista m esm o dos efeitos a que visa, incorpora em sua trama a atualidade e os elem entos de um quotidiano mais prosaico e com ezinho, a tragédia preserva em sua fatura a solenida­ de dos temas e dos personagens que dão substância ao seu enredo. Nesse contexto, a ação e a palavra dos reis e dos heróis, memória atemporal de uma outra época, bem com o a presença de deuses e semideuses, ganham vida com o artificio de certas formas poéticas e de uma dicção que, sem obliterar a inteligibilidade imediata da cena, não corresponde inteiram ente aos m eios da com unicação habitual O p ath o s da tragédia se constrói portanto, também no registro da linguagem, entre estranham ento e participação. Está posto o problema: com o traduzir (e representar) uma tra­ gédia grega quando se quer traduzir não apenas os temas universais que ela evoca mas também a sua m a n eira de tratá-los? Com o in ­ terpelar a sensibilidade moderna com um material antigo no breve tempo de um drama que, com o a própria vida, não perm ite voltar

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a uma página virada nem tam pouco consultar uma nota explicati­ va? Com o garantir a fruição espontânea de um objeto preservando nele aqueles elem entos que parecem nos escapar e se refugiar num outro mundo, num mundo de uma alteridade aparentemente já in ­ transponível, sem dissipar a carga de sentidos que lhe è própria? São questões que o projeto da Trupersa levanta e tenta responder com esta M ed eia. Um pouco indiferentes ao juízo do especialista e à o p i­ nião do erudito, o acerto dessa resposta, sua pertinência e eficácia, apenas pela experiência direta do texto, no papel ou no palco, se deixarão julgar. Por fim, considerando que o que se nos oferece aqui é apenas uma de um repertório de trinta e duas tragédias gregas conservadas integralm ente (e de outras tantas comédias, convém lem brar), per­ m anece aberto diante da Trupersa um vasto terreno a ser explorado, de muitas e diferentes possibilidades.

PREFACIO

A ntes q u e eu co loq u e a m á sca ra e a tragédia c o m e c e ... Esta tradução da M ed eia de Euripides é fruto de três anos de convivência bastante próxim a entre a Pós-Graduação em Estudos Literários da Faculdade de Letras da Universidade Federal de M inas Gerais (Fale-UFMG) e a Pós-Graduação em Estudos da Tradução da Centro de C om unicação e Expressão Universidade Federal de Santa Catarina

( p g e t - u f s c ).

A aproximação dos dois programas de pós-

-graduação foi proporcionada pelo Programa Nacional de Coopera­ ção Acadêmica, m antido pela Coordenação de Aperfeiçoam ento de Nível Superior (Capes). Com a pesquisa realizada, temos, enfim, a satisfação de oferecer para os leitores o que cham am os de "tradução brasileira coletiva funcional e cênica” de teatro grego clássico. Um produto cu jo diferencial explicaremos com detalhe. Até o momento - e excluídas as adaptações violentas que m odi­ ficam, reescrevem e mutilam os textos antigos

o teatro grego, em

todo o território brasileiro, vem sendo dedicado a uma elite intelec­ tual de acadêmicos e artistas selecionados. As razões são muitas e en ­ tre elas destacamos a que julgamos ser a mais pesada na escolha dos 13

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atores, diretores e encenadores: a tradução erudita e sofisticada que fhes chega às mãos não se adequa à encenação para o grande público. De fato, o que temos traduzido, embora de excelente qualidade acadêmica e mesmo artística, exige leitura delicada, lenta, cuidadosa e dedicada. Seu enfoque é quase exclusivamente linguístico. São tex­ tos para se apreciar na solidão e não mais no meio de muitos, em um estádio ou em um grande teatro aberto como aqueles que se veem em ruínas na Grécia. E quando ocorre serem estes textos oralizados no flu­ xo contínuo da encenação, o entendimento do léxico, a assimilação da sintaxe complexa e a projeção de uma encenação hierática, sobretudo se pensarmos que o público não pode reler ou rever a cena nem resol­ ver a angústia dos termos obscuros deixados para trás durante o espe­ táculo, quando ocorre serem eles encenados, o ato de comunicação e a cumplicidade do espectador com o ator simplesmente não acontece. Não se condene, contudo, a tendência vigente. Tais traduções foram feitas por e para um público diferenciado: os helenistas e es­ tudiosos de teatro preocupados com os rigores acadêmicos, a fide­ lidade histórica, os requintes filológicos e as discussões filosóficas. Sem dúvida, assim como estão, estas traduções ensinam muito e é com elas que todos aprendemos o nosso grego para poder traduzir. Mas acrescente-se: desde sempre a tradição nos estudos clássicos para o teatro privilegia o texto e vê a sua espetacularização como possibilidade remota. Tal posicionamento supõe um contentamen­ to por obter equívalências semânticas bem-sucedidas e sofisticadas soluções tradutórias entre o grego e o português as quais, porém, não almejam ver a palavra corporifkada saltando do papel. Há ainda um entrave e, para relatá-lo tomamos palavras da comparativista e pesquisadora de tradução Susan Bassnett: No que respeita aos estudos tradutológícos orientados para os modos literários, se é certo que a maior parte se centra nos problemas envolvidos na tradução de poesia lírica, também é verdade que os textos dramáticos têm sido muito esquecidos. Há muito poucos dados sobre os problemas es-

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pecüicos da tradução de textos dramáticos e os testemunhos dos tradutores que o fazem deixam muitas vezes pensar que a metodologia usada no pro­ cesso de tradução é a mesma tom que são abordados os textos narrativos. E, todavia, mesmo uma reflexão superficial sobre 0 assunto é suficiente para mostrar que o texto dramático não pode ser traduzido como uni texto narrativo. Para começar a leitura de um texto dramático é diferente. Ele é lido como algo incom pleto e não como uma entidade inteiramente acabada, pois é só no espetáculo teatral que todo o potencial do texto é atualizado. O que coloca ao tradutor um problema central: traduzir 0 texto como um texto puramente literário ou tentar traduzi-lo na sua fu n ção de mais um elemento de outro sistema mais complexo1.

Pois bem, leitores e estudiosos da teoria de Bassnett, resolvemos encarar de frente a incompletude e a função do texto trágico grego. E quando falo “nós", falo em nome da trupc de tradução e ence­ nação Trupersa. Nós pleiteamos e sonhamos ver 0 teatro chegar a muitos. Por isso nossa pespectiva é outra. Traduzimos para o teatro, encenamos e queremos encenar M edeia - com o texto grego tradu­ zido na íntegra em todos os seus detalhes gramaticais - nas regiões mais carentes do país, queremos falar para todas as gentes brasi­ leiras; aliás, em parte essa meta vem sendo cumprida: já estamos encenando, pois o texto, antes de se fixar no papel, foi testado em parques e praças da periferia de Belo Horizonte sempre com público heterogêneo e, segundo alguns, despreparado para textos eruditos; depois em faculdades e universidades, desde a ufmg até aquelas em­ brenhadas nos mais remotos lugares de Minas Gerais, Até agora, íelizmente, o texto agradou. Sim; 0 texto foi traduzido diretamente do grego c tornou-sc acessível para todos. Para isso, seguimos, de perto, todas as pegadas de Euripides; usamos as mesmas roupagens, metáforas, hipérboles, quiasmos enfim, guardamos suas preciosi­ dades para oferecê-las a todos, em português. O nosso processo de

I, Susan Bassnett, Estu dos d e T r a d u ç a o : F u n d am en tos d e u m a D iscip iin a, trad, Vmna de Campos Figueiredo, Lisboa, Fundarão Calouste Gulbenkian, .2 0 0 3 , pp, Ítf9 -l 9 0 ,

lo

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manipulação atçve-se não somente aos recursos linguísticos, esti­ lísticos e literários, mas à escolha lexical, ao uso dos arcaísmos e ao aproveitamento de intertextualidades pertinentes para uma elocu­ ção atualizada dos atores. ούκ dm μεν μοι παΐδες, οιtia Óè χθόνα φεύγοντας ήμάς καί σπανίζοντας φίλον; ταΰτ’ έννοηθεϊσ’ ήσθόμην αβουλίαν πολλην εχουσα καί μάχην θυμουμένη. Crianças? Já. não tenho? E não sei que somos fugidos da terra e precisamos de amigos? Aí, pensei e percebí a insensatez que tenho... tão d escu id a d a... por nada tão desalm ada.

A intertextual idade, claramente costurada na tradução dos ver­ sos 882-883, provoca no ouvinte uma sensação de conforto. Ele es­ cuta o lugar da brasilidade e o lugar do estranho ao mesmo tempo; lembra-se de Tom Jobim e de Vinícíns de Moraes, vê que estamos no mesmo barco; todos, brasileiros ou gregos, temos nossos mo­ mentos de insensatez no amor. O ouvinte, assim, prevê que vem por aí uma tempestade, que Medeia há de fazer Jasão chorar de dor, pois foi ele quem, primeiro, semeou o vento e, por isso, colherá a gran­ de tormenta. Afinal, tudo o que aparece em M edeia acontece ainda hoje, nos moldes de Agamben em seu renomado ensaio 0 Q u e Ê o C on tem po râ n eo ?1A estratégia da intertextualidade visou a nossa tentativa de realizar um teatro que fosse popular e elitista para to­ dos. O leitor poderá observar outras mais imperceptíveis, com a do v. 414, “A minha vida há de ser gloriosa. Famas vão rolar!”, quando, de Jeve, nos remetemos à marchinha carnavalesca As Á guas Vão Ro-

■*Giorgio Agiimbi'ii, O Qw É

o C on tem p orâ n eo? E O utros E n saios,

MímÉsko, Chapecó/SC Argos, 2009, pp. £7-73,

trad Vinícius Nicastro

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de teor perfeitamente adequado para o contexto dionisíaco da Neste sentido, também quebramos a primazia do texto escri­ to - que afirma uma única leitura como a maneira certa de repre­ sentar- e introduzimos uma interpretação imiscuída da brasilidade da canção popular. Igualmente recuperamos falas de poetas queridos, um deles foi Mario Quintana4 e com ele traduzimos os versos 934-940, abaixo. lar3,

hybris.

έπε'ι τυράννοις γης μ ’ άποστεϊλαι δοκεϊ κάμοί τάδ’ εσύ λφστα, γιγνώσκω καλώς, μήτ’ έμττοδών σοι μήτε κοιράνοις χθονός ναίειν: δοκώ yap δυσμενής είναι δόμοις ημείς μέν εκ γης τήσδ’ άτταροϋμεν φυγή, παΐδες δ’ όπως αν έκτραφώσι αή χέρι, αίτοϋ Κρέοντα τήνδε μή φεύγειν χθόνα. Já pros tiranos está resolvido: devo ir daqui da terra - para mim, também isso é o melhor; eu sei, não vou atravan car 0 teu cam in ho, nem a terra dos chefes habitar; pelo ieito, sou rival da casa real. Nós, desta terra, partímos em fuga, mas os meninos, para que sejam criados por tua mão, pede a Creonte: não sejam banidos deste chão!

Homenagens à parte, voltemos à nossa metodologia. Intencionalmente ensaiamos todo o tempo numa escola que abrigou, tem­ porariamente, menores infratores. Nosso trabalho, no princípio, foi insuportável. As crianças fugiam das classes, interrompiam os ato-

3, "As. águas vão rolar: /Garrafa cheia eu não quero ver sobrar,/Eu passo a mào na saca, saca, saca-rolha/E bebo ate me afogar Deixa as águas rolar!/Se a polícia por isso me preuder/E na última hora ine soltar,/Eu pego a saca, saca, sâCâ-rolhd/E bebo até me afogar./De-íicd as águas rolar!M 4. Cf, Mário Quintana, C a d ern o H; M ário Quintana* Tania Franco Carvalhal (ed,),Sâo Paulo, Editora Globo, 2 0 0 6 , p, 1 0 7 : “Hoeminha do contra/ Todos esses que aí estão/ atravancando o meu caminho>/eles passarão,,. /eu passarinho!”



Μ Ε Π Ε IA

res, entravam correndo na saia de ensaio, atrapalhavam, macaqueavairt cenas. Ouvíamos batidas na porta todo o tempo; uns alunos se faziam espias delicados, outros, mais atrevidos, soltavam gritos assustadores e inesperados nas janelas. Com o tempo, porém, al­ guns deles pediram para assistir aos ensaios. Atualmente, muitos já sabem trechos do texto euripidiano de cor. Essa novidade deu-nos ímpeto dionisíaco e por isso me dispus a talar, em nom e do grupo, sobre o processo, com o foi c onde ele nos levou. Entendemos o texto teatral com o uma com posição de palavra propriamente dita e de execução cênica - de autoria diversa e m últi­ pla - que pode, inclusive, contradizer o registro da expressão escrita no m om ento de representação. Pelo m enos é o que dem onstra Sallie Goetsch na análise da montagem da tetraíogia Les A trides produzi­ da pelo Théâlre du Soleil ε dirigida por Ariane M nouchkine5. Nessa montagem, segundo Goetsch, M nouchkine, engajada em propósi­ tos essencialm ente feministas, enfrenta o um grupo de peças viris e másculas e sucumbe ao m achismo do seu autor. Goetsch se decep­ ciona com isso. Náo vímos o espetáculo, infelizmente, mas nos parece inte­ ressante que a própria critica com ente seus desapontamentos e, ao fazê-lo, deixe m anifestos alguns pontos fracos em sua argum enta­ ção, por exemplo, o incôm odo pelo fato de que, apesar de Esquilo inform ar que as Erínias eram figuras fem ininas, a diretora M nouch­ kine - contra toda expectativa - tenha optado por delinear esses v in ­ gadores com o seres “perturbadoram ente assexuados”. O ponto de interesse é que a eliminação da sexualidade (que, para a helenista, parece ser antifem inista), para nós soa com o libertária. Afinal, por que esses entes tão execráveis deveríam manter-se sempre fem ini­ nos? Enfim, não vamos discutir o espetáculo aqui. O exemplo serviu

5- Vencedora da 39‘ edição da Bienal de Veneia, 2007 com o prêmio “Leão de Ouro” pelo conjunto de sua obra.

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som ente para m arcar que o texto pode surgir em cena a partir de uma “traição *1 do autor pelo diretor6. Neste ponto, a terminologia metafórica “fidelidade e traição” para o processo de tradução cabe bem. Realmente, em tempos em que o modelo já está ultrapassado, o jogo humano que se reflete em todas as instâncias da vida e do qual não se foge alarga-se. Sabemos que to­ dos traímos e que, igualmente, todos somos fiéis. Resta saber a quem, quando e por que traímos e somos fiéis. A consciência do ato, a sua transparência nos justificará. A oscilação de um sentido interpretado (garantido ou traído), contudo, é guardada por um núcleo essencial (0 qual é controlado frouxamente pela escritura muda ou pela situação motivadora da ação). Mas é preciso admitir: o texto escrito é apenas um dos componentes do teatro a ser encenado e ainda assim, para o texto escrito - se ele for bem escrito - não há uma só maneira certa de ler. É fato, a partitura teatral tem a mutabilidade como um dos seus constituintes básicos; cercear possibilidades e estabelecei- fetiches sub­ juga e mutila o alcance do conjunto escrito. Pensando assim, não só é impossível congelar o texto teatral com o também é inaceitável sacralizá-lo a ponto de bloquear a imaginação cênica de modo a obliterar a beleza poética focalizando somente as questões filológicas, sintagmáticas e sintáticas. “A tradução é muito mais do que a substituição de elementos lexicais e gramaticais entre línguas", “ela pertence mais propriamente à sem iótica”7. Os diálogos (e monólogos) que se desen­ volvem em cena são fruto do espaço, do tempo e estão, por sua vez, integrados a situações extralinguist teas8. Se, nos dizeres de Bassnett, a tradução é um processo semiótico9, então a tradução de teatro o é à potência máxima. No teatro, os sentidos migram.

6. Same Goetsch, Playing Against the Test, “Les Atrides” and the History of Reading Aeschy­ lus, The D ram a Review, vol, 38, no 3 (Autumn, 1994), pp. 76 e 85.

7. Susan Bassnett. op, dt„ pp. 5 4 e 3 5 , respectivamente. Id e m , p.

191,

9, l-lipotesede Jin I^v^jj^WiiSusaii Bassnett, p,7 1 .

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Num pako, o ator e o encenador terrain de decidir como interpretar a expressão com base no seu conceito de encenação bem como do sentido global e da estrutura da peça. A interpretação seria expressa através da in­ flexão da voz10*. O poder do ator é inegável. O s artifícios que ele tem para dar vitalidade e vigor às suas próprias intenções, independentem ente do texto escrito, nos levam a supor uma neutralidade quase total da partitura. Sejam os francos; precisamos libertar os personagens gregos, deixando-os falar para todos e deixando todos falarem por eles; só assim veremos a sua novidade escondida. “A tradução tem um papel crucial a desempenhar ao contribuir para melhorar a co m ­ preensão de um mundo cada vez mais fragm entado”11. E o que pode ser lido nas brechas das frases, que sugestões o texto propõe na sua incompletude é m atéria de interpretação multífacetada, passível de captura de diferentes modos nas diferentes idades, nos diferentes gêneros e nas múltiplas culturas, daí a necessidade do m últiplo na leitura, na interpretação e na realização do jogo teatral. Portanto, para nós, o texto teatral não é de um só, nunca, nem mesmo quando e se foi escrito por uma única mão, pois, de saída, não há teatro sem platéia e ainda se houvesse, na interpretação do ator, toda a intenção fabricada textual mente pelo autor pode ser so­ lapada, pois em cena o ator é rei. Ele é o único dono da palavra quan­ do a cena acontece; em razão disso, estabelecemos que prescindir do ator na tradução é tem erário (aliás, recorde-se; Ésquilo, Sófocles e Euripides foram homens de teatro antes de serem poetas). E nós, que sabemos grego e na grande maioria somos “letrados”, para aliviar a tensão, nos aliamos às gentes de teatro. Elas podem amenizar o pro­ blema de verter a Antiguidade nos nossos dias por várias estratégias. As nossas foram advindas da observação de uma prática da equi­

io. Susan Rassnctt, op , cit.·, pr 48, n . Idem* p. 2.

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PREFACIO

pe francesa já m encionada antes, a trupe do Théâtre du Soleil. Sim, confessamos; traduzimos por um processo coletivo o qual acredita­ mos ser, devido ao seu caráter coletivo, um feito altamente criativo. Fom os inspirados pelo trabalho de Ariane M nouchkine e pela ideia do processo colaborativo de inspiração político-social. Vestimos a máscara de um diretor de tradução e representamos o papel de um organizador de hermenêuticas que pariu um organismo vivo. Na primeira etapa buscam os trabalhar com jovens pesquisado­ res (graduandos, mestrandos e doutorandos) a fim de garantir para o texto traduzido frescor, vivacidade e atualidade. Estes novos helenistas {Ana Araújo, Ana C ristina Fonseca dos Santos, Alexandre Cardoso Nunes Magalhães, Carlos Eduardo de Souza Lima Gomes, Douglas Cristiano Silva, Flávia Freitas M oreira, Gustavo Henrique M ontes Frade, Josiane Félix dos Santos, M aria de Fátima Lanna, M arina Pelucci Duarte M ortoza, Priscilla Adríane Ferreira Almeida, Vanessa Ribeiro Brandão), entre os quais se contam também atores, atrizes, escritores, poetas, cantores e bailarinos, foram introduzidos, durante o processo de tradução, nas técnicas de atuação e, em du­ plas - observando sem pre que possível a lógica de m anter um re­ presentante do sexo masculino e um do fem inino

assumiram os

papéis na peça na categoria que chamam os de atores d e trad u ção. Obtivemos, assim, uma fala andrógina e individualizada para cada personagem. O trabalho dos atores foi dirigido pela professora de grego responsável pela criação do método e pela tradução, Tereza V irgínia Ribeiro Barbosa, e pela atriz Andreia Garavello. O proce­ dim ento elim inou um problem a grave na transposição da escrita de teatro em qualquer língua, a dicção particular da personagem forja­ da em bigorna poética que revela som ente, pelo uso das palavras, o caráter peculiar de cada uma. V oltarem os a esste ponto. Antes, todavia, pensemos; se admitirm os que Platão tem razão, na passagem da R epú blica 3923 - 3940, ao propor que o texto teatral é uma narrativa onde é hábito o autor se esconder sob uma máscara, p erso n a que atua, personagem, se aceitam os a suposição do filósofo,

21

ΜΕΙίΕΙΑ

então o oculta m ento (camuflagem, simulação, ilusão) é um m eca­ nism o im portante no teatro. Isso nos pareceu muito interessante e tom am os o mestre com o referência para nossa tradução. D ecidi­ mos: ficaríamos todos escondidos - atores e tradutores - tal com o postulou Platão; do mesmo modo o tradutor se ocultaria o mais pos­ sível. A própria Medeia, com o personagem, apresenta a técnica do ocultam ento com fins práticos;

v, 36S-370 δοκϊΐς χάρ αν με τόνδε θωπεύσαΐ ποτέ εί μή τι κερδαίνουοαν ή τεχνωμένην; ούδ αν προσεΐπον ούδ ’ αν ήψάμην χεροίν. Acaso achas que ο bajularia sem tirar vantagem

oll

sem tramóia?

Nem falaria com ele. Nem nele tocaria com as mãos. O trecho citado ocorre logo após a saída de Creonte, quando M edeia ganha do rei mais um dia de permanência. V ê-se que o dito da princesa colca não confere com o que ela realmente quis dizer, todos sabem. Saindo de cena Creonte, sua “m áscara" de indefesa e vítima é retirada à frente do coro. Situações assim se repetem ao longo da peça no nível das personagens, que se constituem com o a palavra do autor oculta em máscaras. M as em tão profundo grau se enraiza o encobrim ento que ele chega, inclusive, a atingir o ato de produzir um testo escrito que finge ser texto oral. Abaixo temos um exemplo:

v. 780-783 παιδας; δέ μείναι τούς ίμούς αίτήσομαί, ούχ ώς λιποΟσ' άν τιολεμίας εττί χθονός έχβροΐσι παϊδας τούς εμούς καθοβρίααι., άλλ ’ ώς δόλοισι τταίδα βασιλέως κτάνω.

PREFÁCTO

13

Hos meninos, os meus, pedirei que fiquem não pra largar em terra hostil com inimigos humilhando os meus meninos mas é que assim, com ardis, mato a menina do rei! O

trecho,

vê-se

nos

negritos,

mostra

uma

“repetição

ofensiva"12, recurso frequente no discurso oral. M ecanism o fácil de ser reproduzido, sem dúvida. O seu uso gera um efeito de oraIidade, de prosaísm o no falar; entretanto, exortam os o leitor a o b ­ servar: o uso do vocábulo παϊδα no verso 783 nos leva a perceber que ele é atribuído am biguam ente tanto à filha de C reonte quanto à “esposa” de Jasão. A crescente-se que τταΐδα é tam bém 0 mesmo term o usado para os m eninos de Jasão. O requinte sofista não é e n ­ genho praticável em fala com um ; estam os, sem dúvida, diante de uma elaborada redação poética. Tem os aqui a prova de um en tre­ cho literário sim ulando-se oral. O s versos são considerados uma interpolação por causa da repetição13. Nós, ao co n trário , acredi­ tam os ser uma estratégia sutil de escam otação forjada pelo poeta. E seguindo as pegadas do autor, perseguim os obstinadam ente as formas de m ostrar - em texto escrito - os diversos registros e a oralidade (com suas aglutinações, repetições, uso dos pronom es e sintaxe truncada) m arcas que julgam os essenciais para colocar a escritura num nível de acessibilidade quase im ediato. Não obstan ­ te, preservam os a sofisticação da escritura euripidiana. E não nos esqueçam os, tudo é ilusão: o escrito se m ascara de orai; o oculto se m ascara de revelado e, por tais engenhos, o ocuítam ento que se deu na Antiguidade, por parte do autor, julgam os, foi respeita­ do. Ademais, a tradução foi assinada por uni organism o múltiplo, m isturado e enorm e, a Trupersa, e com isso exibim os a cam ufla­ gem do tradutor.

li. Euripides, M ed ea, Comentário de Denys L. Pagc(ed.), Oxford, Clarendon Press, 1 9 6 1 , p. 12 9 . 13. Euripide, M édée, Édition, introduction et commentaíre de Kribcrt Flacdière, Paris, Presses Universitairesde France, 1 9 7 0 .

14

m e d e ia

Particuiarm ente, vaie notar ainda que, na tragédia grega, a escaraotagem vai além da máscara. C om apenas três atores permitidos (excetuando, é claro, o coro), utilizava-se o artifício das máscaras, que possibilitava sem grande dificuldade a permuta de personagens variados em poucos corpos, o que, por sua vez, admitia a con tin ­ gência de um só hom em fazer o papel de algoz e vítima no mesmo espetáculo e, nesse caso, para a voz, traço de identidade mais óbvio, esperava-se, naturalm ente, que ela fosse tam bém m ascarada nas di­ versas form as possíveis14. Provavelm ente a estratégia de um indivíduo representar mais de um papel na m esm a peça seria um resquício da tradição hom érica que atribuía falas para papéis variados, em discurso direto e form u­ lar, pela perform ance de um só rapsodo. Contudo, entre Hom ero e o teatro há um a diferença notável: na poesia hom érica um m es­ mo texto aplicava-se a diferentes papéis. P or exemplo, uma mesma sentença pode ser atribuída ao Atrida e ao Laertida. Isso significa que a fala não os distingue, eles não têm nem um vocabulário nem uma sintaxe própria, O que os diferencia não são as afirmações a eles concedidas, mas a voz (modalizada, modificada ou alterada) que os anuncia e os epítetos que os qualificam 156. Registre-se, portanto: se os rapsodos cantam com uma única voz (ainda que im postada de diferentes m odos), no teatro, 0 ator e sua voz erigem - juntam ente e sobretudo com o texto - a diferen­ ça de um papel

. Insistim os: as diferenças das personagens, com a

escrita particularizada para cada uma, foram antes garantidas nas

14. MarkPattien, “Actor and Character in Greek Tragedy", T heatre Jo u rn a l, v o l 41 n 3 1 9 8 9 p 317. 15 - Jennifer Wise, D tu nysn, w rites; T he In v en tion o f T heatre in A n cien t G reece, fthacVLondon, Cornell University Press, 1 9 9 8 , p. 4 8 . i6. G. Capone, L 'A n e S cen ica d egh A ttori T r a g id G reet, Padova. Casa Editrice Dolt, 1935, p. 19 , postuJa a apuração na técnica vocal, quer para falar continuamente numfôlego só ( e ir a i a p o tã d e n , ap n eu stí), quer para uma redlaçãosimptes ( k a la b g é ) , uma dicção melodramáti­ ca (p arak y ttn b g é) ou um canto (m élos). A importância da voz pata o h y p okriíés é, segundo o estudioso italiano, inquestionável.

PREFACED

ϊ

5

palavras cio autor, o que m ostra a im portância do testo conferido a cada função-papel. Dessa forma, os textos das personagens têm marcas particulares para cada uma, eles m esm os se apresentam com o personagens feitas de letras, palavras, sintaxe: “espírito e le­ tra”. Pois bem , usamos com o meta procurar respeitar estes registros. Em M e d eia , por exemplo, m antivem os para o pedagogo as suas ex­ pressões de controle do ouvinte, Ele fala com cacoetes lexicais e por este modo particular de falar, ele segura o interlocutor com freio e rédea curtos. No grego, a repetição e o controle do ouvinte se dão, por exemplo, com o pronom e demostrativo neutro - τό δ ε / isto colocado com o última palavra de um verso. Com o nem sempre foi viável m anter o pronom e demonstrativo na frase (traduzim o-lo, no verso 73 por um advérbio), recuperamos o cacoete lexical pela repe­ tição da interjeição h ã , no final da frase. V ejam os (w . 61-62 e 67 ss. respecti va mente): Παιδαγωγός

é μωρός, εί χρή δεσπότας tmelv τόδε:

ώς ούδέν οΐδε των νεωτέρων κακών. Παιδαγωγός

ήκουσά του λέγοντος, οΰ δοκών κλύειν, πεσσούς προσελθών, ένθα δή παλαίτεροι θάοσουσι, σεμνόν άμφ'ι Πειρήνης ϋδωρ, ώς τούσδε παϊδας γης έλιτν Κορινθίας σύν μητρί μέλλοι τήσδε κοίρανος χθονός Κρέων. ό μέντοι μύθος εΐ σαιρής οδε ούκ οίδα: βουλοίμην 6 ’ αν ούκ είναι τόδε. Παιδαγωγός ν. 85 τις 6 ’ ούχ'ι θνητών; άρτι γιγνώσκεις τόδε, ώς πας τις αυτόν τοι> ττέλας μάλλον φιλεϊ, [οί μεν δικαίως, οΐ δε καί κέρδους χάριν] εί τούσδε γ ’ εύνής οϋνεκ’ οΰ στέργει πατήρ;

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MED

r

IA

Pedagogo Que tonta - se convém dizer isto dos patrões, foi? não sabe nada das desgraças mais recentes. Pedagogo Escutei por ai, sem parecer que ouvia, quando ia pra praça dos jogos, onde os bem veihos se sentam, ao redor da santa fonte Pirene, que essas crianças, dessa terra coríntia, com a mãe, o rei Creonte vai expulsar pra longe. Se a história é certa, isso não sçí. Queria que não fosse assim, h ãf

Pedagoga E qual dos mortais não?! Só agora sabes isto, h ã 7 Que todo mundo ama a si mais do que ao próximo, [uns com justiça, outros por vantagem] se è mesmo que, por causa da cama, o pai não gosta inais destes. Retornem os à questão dos atores versáteis com base nos rapsodos hom éricos; claram ente os profissionais do teatro, à época, estavam bem treinados para em itir o canto para suas personagens de form a distinta por m eio da modificação de uma única voz. De qualquer m odo, entretanto, se não fosse possível um registro mais agudo ou grave, uma languidez ou rispidez, havia a garantia de um texto apropriado e diverso para cada papel17. V eja-se, então, a im ­ portância de traduções que preservem as marcas sutis das diferenças entre as personagens, ainda que admitamos que o texto dram ático não seja autônom o e que o ator tenha uma participação basilar na construção da personagem cênica. Neste raciocínio, as amas são construídas pelas palavras que elas proferem com o amas, os reis com o reis {com o uso do plural

17 . Mark Damen» op. cí'f,bp, 322,

PREFÁCIO

17

m ajestático e tudo mais), os mensageiros com o mensageiros. Isso foi im portante para nós. Em M ed eia os velhos haveríam de falar com o velhos criados ou velhos reis; sutilezas preciosas registradas na língua de origem nos dirigiram e foram elas que estabeleceram as diferenças. As amas, expressando-se com o mulheres nervosas, inde­ cisas, pragmáticas, agradecidas ao pouco que a vida lhe deu, servi­ ram -se de sintaxe suspensa, reticências, contradições, aglutinações. V ejam os um exemplo (v. 185);

δράσω τ ά δ ά τ ά ρ φόβος εί πείσω δέσποιναν έμήν: μόχθου δέ χάριν τήνδ ’ έπιδώσω. άποταυροΰται δμωσΐν, όταν τις μύθον προφέρων πέλας όρμηθ[ή. σκαιοΰς δέ λέγων κούδέν τι σοφούς τούς πρόσθε βροτοϋς ούκ άν άμάρτοις, οϊτινες ύμνους έπι μεν θαλίαις έπί τ ’ εϊλαπίναις καί παρά δείπνοις ηΰροντο βίω τερπνός άκοάς: στ ογιους δέ βροτών οΐιδείς λύπας ηϋρετο μούση και πολυχόρδοις ψδαϊς παόειν, έξ ών θάνατοι δειναί τε τύχαι σφάλλουσί δόμους, καίτοί τάδε μεν κέρδος άκεΐσθαι μολπαΐσι βροτούς; ΐνα δ ’ εϋδειπνοι δαϊτες, τί μάτην τείνουσι βοήν; το παρόν γάρ έχει τέρψιν άφ' αυτού δαιτός πλήρωμα βροτοϊσιν. Farei isso! Mas periga eu não convencer minha senhora... Farei esse ingrato favor; mesmo com aquele olhar de leoa parida, a mirada de touro pros escravos, quando um - pra dizer palavra - chega perto... Pra quem diz “sinistro e nada sábio são os

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M EDEIA

antigos” não posso dizer que erra.,, Uns, hinos pra festas e mais banquetes e ainda jantares pra vida, uns, descobriram prazenteiras canções, mas pra aliviar tristeza cruel nenhum vivente descobriu - nem co’a Musa, nem na harmonia das cordas - encantos. É com isso que os mortos e as sortes terríveis derrubam as casas. Mesmo assim, vantagem é cuidar destas coisas com melodias. Pra isso, boas festas... convidados... Por que aprumar um grito pra nada? O presente tem sua própria alegria, Cmesa cheia pros viventes! N o trecho, a ama simula uma “indeterm inada determ inação”, tanto pelo m odo hesitante de falar quanto pela lacuna profícua para preenchim entos visuais e corporais de sua hesitação. E nqu an­ to se m ostra oscilante, ela, ao m esm o tempo, faz ver os perigos que vai enfrentar ao exortar sua senhora a sair de casa. A fala se con s­ trói, a princípio, com uma assertiva seguida de adversativa: “farei isso, m a s ...” (v. 185); 0 procedim ento se repete indicando o valor da ação que o su jeito falante realizará: “darei esse ingrato favor” e, ainda, esse su jeito enunciador de realizações acrescenta, para tal, as dificuldades pelas quais passará: o olhar de M edeia com o leoa e touro. Atitude típica de alguém que quer valorizar seu trabalho, que fará o que lhe fo i ordenado sob 0 peso de toda incerteza de su­ cesso e que, assim, procura garantir de antem ão 0 perdão para seu fracasso. A ama m ostra sua a p a r ia pelo discurso e igual mente pelo com p ortam ento cênico, ou seja, a d u b ita tio é uma rubrica para a cena. O bserve-se, porém , que Euripides usou dois verbos diferen­ tes, no futuro δράσω/ farei e έπιδώ σω/darei. Um problem a surgiu. No português, o verbo dar (nossa opção por ser mais enxuto e por isso m ais im ediato, mais dram ático) aqui seria bítransitivo, “dar algo a alguém ”. Esse alguém não aparece no texto. Nossa solução

PREFÁCIO

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foi; repetir o verbo “fazer” que, em nosso entender, reproduziu, pela repetição, a insistência por forjar uma decisão tomada sem convicção.

E o coro? Como talaria o coro? O que temos neste coro de Eu­ ripides? Ora, são mulheres e deviam se portar como mulheres (as que cuidam da cozinha, das notícias domésticas - e da casa real em litígio -, das dores femininas}; são, pois, mulheres, mas mulheres de um porto, o porto de Corinto, ou seja, das seriam aquelas que esta­ vam disponíveis para os marinheiros recém-chegados, submetidas a eles, ávidas por notícias de outras terras. Cantam em coro, mas nâo são coesas em seus pensamentos. Χορός w. 131 e ss. έκλυον tpüjvciv, Εκλυον δέ βοάν τΰς δυοτάνον

ΚολχΙδος: οόδέπω ήπιος; άλλ' ώ γεραιά, λέξον. άττ’ άμφιπόλου γάρ έα ω μελάθρου βοαν έκλυον, ουδέ συνήδομαι, ώ γΰναι, άλγεσι δώματος, έπεί μοι φιλία κέκραται. Χορός w. 173 e ss. πώς αν ές οψιν τάν άμετέραν ίλθοι μύθων τ ’ αύδαθέντων δέξαιτ’ όμφάν, εϊ πως βαρύθυμον όργάν και λ ήμα φρενών μεθείη; μήτοιτόγ' έμόν πρόθυ­ μον φίλοισιν άπέστω. άλλα βασά νιν δεύρο πόρευοον οί­ κων εξω; φίλα καί τάδ’ αΰδα, σπεύσασά τι πριν κακώσαι τούς έσω: πένθος γάρ μεγάλως τοδ’ όρμάται.

MEDEIA

Χορός

v. 636

στέργοι ôé με σωφροσΰνα, δώρημα κάλλιστον θεών; Coro Ouvi voz... F.u ouvi um berro da desgraçada colca, E não foi nada brando... Mas me conta, 6 velha: saiu das portas duplas, de dentro do palacete... Um grito eu ouvi! Não me alegro não, ó mulher, com as dores desta casa. Tempera mais doce. Coro

- Como ela há de chegar à nossa vista e receber a voz das palavras ditas? - Se esse ânimo pesado, o impulso e o propósito ela pudesse do peito dispor! - Por certo, meu zelo não deixa... não deixa os amigos. - Mas anda! E a ela, traga aqui, - Que de casa saia fora! Esta voz é amiga. Apressa-te, antes que malfaça aos de dentro: este luto transborda. Coro

Seja eu amada com o tempero dos deuses, mais belo dom!

Da mesma forma os mensageiros, estes precursores da “impren­ sa marrom” tal como os delineia Euripides, deveríam pular para fora das palavras do texto e se materializar. Ei-los afoitos, rápidos, exage­ rados e interessados em vantagens18. Em M edeia o texto do άγγελος i8> Para a tradução da fala do mensageiro valemo-nús do estudo dâ Irene J. F. De )orig> N a r r a ­ t i v e i n D r a m a : t h e Arf o f t h e E u r i p i d e a n M e s s e n g e r - s p e e c h , Leiden* E, j, Briíl* 199L

PREFÁCIO

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é bastante longo. A narrativa contínua, 94 versos em primeira pes­ soa (isto é, um relato onde 0 narrador presencia os fatos elencados), foi mantida. Na peça M edeia, o discurso do mensageiro é apresenta­ do sempre pela primeira pessoa do plural, exceto nos últimos versos de sua fala. O detalhe é interessante e mostra 0 tom majestático que o informante quer apresentar em seu enunciado. A narrativa dire­ cionada para informar e imprimir no público (e nas personagens da peça) um efeito terrível é eficaz. A pessoa que descreve a morte dos reis é confiável, sabe das coisas por vê-las, como um servidor seja na casa de Creorite seja como ele fora, anteriormente, na casa de Medeia. O dado é importante, pois durante sua fala - por interesse ou por amizade - ele é cúmplice da antiga senhora e busca provocar nela sentimentos de regozijo. Ao fim, faz-se de conselheiro. Desse modo, a personagem que informa tem controle total da situação, direciona 0 sentimento de seus ouvintes (v, 1167 - que visão terrível de ver/ãeivòv ήν θέαμ' ϊδεϊν; w, Π76-77 - vozeria estridente/μέγαν κωκυτόν); o tom moralista no encerramento da fala nos autorizou a fazer uma interpolação no verso 1224. Repetimos o provérbio bem conhecido: a volta do castigo [no lom bo de q u em dá], No geral, por conseguinte, a fala do mensageiro é valorizada pur meio de um certo empolamento grosseiro e do uso de frases de efeito. Coloca-se como uma cena à parte do jogo teatral e pudemos presenciar várias ve­ zes que a encenação do mensageiro, no meio da peça, foi espetáculo particular que arrancou palmas do público. Mas não trataremos das personagens uma a uma; digamos so­ mente que o marido desertor devia se transformar em apaixonado enrustido para terminar como um triste abandonado, a irritadiça Medeia passava de mortal traída a deusa poderosa com discurso fir­ me e autoritário, Creonte e Egeu seriam instrumentos para Medeia arquitetar seus planos. Além disso, para efetivar a tradução de um mundo antigo, todos e todas deveríam falar como estrangeiros arcaicos de um mundo re­ moto (porque grego antigo) que, sem embargo, habitam um mundo

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MEDEIA

muito próximo {porque mítico e eterno). Mas como Aristóteles (R e­ tórica, 3,1404) afirmou que na tragédia, texto de dicção elevada, Euri­ pides teria utilizado a linguagem de todos os dias, essa referência nos manteve atentos19. Vestimos o disfarce textual para dizer o sublime ora de modo excelso ora de forma banal, para estar no ponto máximo de tensão entre o oral e 0 escrito, o poético e o prosaico. Os arcaísmos próprios da linguagem trágica, se não foram recuperados no momen­ to exato de sua ocorrência, foram preservados e retirados da música, das interjeições e dos ditos populares. A interjeição “ar’Tarre” {da­ tada por Houaiís como sendo de 1502), por exemplo, utilizada por Guimarães Rosa10, (w. 901 e 1280) serviu-nos para recuperar o ãpa, partícula interrogativa épica de impaciência; outros termos emprega­ dos, como “permeio”, no verso 820, ou ainda “merencória” (v. 1114}, tomado da velha Aquarela B rasileira composta por Ary Barroso em 1939 garantiram para a tradução um efeito de antiguidade. αρ', ώ τέκν’, οΰτω και πολύν (ώντες χρόνον Ίάλαιν', ώς αρ' ήσθα πέτρος ή σίδαρος ιτιά: περισσοί πάντες ούν μέσιρ λόγοι,.

πώς ουν λύει προς τοΐς άλλοις τήνδ’ ετι λύπην άνιαροτάτην Ara! ôÔ crianças, que assim seja por muito tempo.

19 .

De fato, 0 iambo é mais coloquial dos metros. Prova disso é usarmos mais iambos na con­ versa uns com os outros c raramenle - apenas quando fugimos do tom coloquial - os hexâmetros (1449a 23-28) (Aristóteles, P o ética , tradução e comentários de Ana Maria Valente, Lisboa, Fundação Caiouste Gulhenkian, 2007). ao. João Guimarães Rosa, G ra n d e S ertão; V eredas , Rio de janeiro, Editcua JoséOlynipio, 1976, pp. 70 e 144 respectivamente: “Aí Z é Bebelo reparou emmim: -Professor, a r a v iv ai Sempre a gente tem de se avistar..,"; E “Arre que de nio desconfiava, não percebia!” [gualmente. na p. 134: "P erm eiú com quantos, removido no estatuto deles, com uns poucos me acompanheirei, daqueles jagunços, conforme que os anjos-da-guarda”.

HÉUB

rREFACIO

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Infeliz! Como?! Arrel Foste pedra ou ferro? Deixa pra lá! Todo permeio agora é inútil! Como então se livrar, entre outras, de mais esta tão meren cúria dor.

A M arca do A ntigo na Nossa C ultura Dilacerada: ο σπ αρ αγμό ς

É claro que, depois da tradução das duplas d e atores de tradução e levadas em consideração as idiossincrasias de cada papel, ao direLor de tradução cumpria a harmonização do léxico, da sintaxe, do Lom de cada papel. Este diretor agiu, por alguns momentos, tal qual maestro que afina, controla e harmoniza, segundo critérios próprios, todos os resultados já ordenados que o levaram a agir, efetivamente, como um d iretor d e tradução. Concluída a tradução, o texto foi submetido à atriz regente An­ dreia Garavello, também leitora da língua grega, para uma primei­ ra avaliação c, a partir daí, recomeçou todo o processo: tradutores ouviam seus textos pela boca de outrem e com surpresas - ora fe­ lizes ora enfurecidos - faziam eles mesmos, conjuntamente com a atriz, os ajustes necessários para a encenação. Nesta etapa o texto foi posto à prova do concreto antes de ser adotado no cotidiano da preparação dos atores profissionais. Ajustes feitos, o texto traduzido foi entregue para memoriza­ ção e encenação aos atores d e fa to . Este foi o momento mais críti­ co: a ocasião de se verificar a qualidade de palco para cada verso. Quantas palavras pesavam, mal soavam, arrastavam-se no chão! Quantas modificações a cena exigiu! Quantas contendas entre todos! A tores d e tradução e atores de cen a buscavam seu estrela­ to. Nunca se ouviu tanto a palavra “meu"! E, todavia, nada soava como se supunha ter sido traduzido. Assustados, sofremos, amamo-nos e odiamo-nos.

i

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M E D EIA

Do ponto de vista intririsecamente coletivo do ritual religioso, social e político dedicado ao deus Dioniso, levar os atores-tradutores e atores d e cena de uma cultura personalista como a nossa ao exercício tradutório conjunto foi um gesto de crueldade, pura om ofagia. Tivemos que intensificar o papel/função do diretor dc tradução, que passou a agir não mais como um regente, mas como um sacerdote cruel na prática do sacrifício. A severidade se ins­ taurou pela intervenção drástica no texto dos tradutores/atores. Apavorados, cheios de medo (φόβος) vímos a cor do dilaceramento rituaf dionisíaco. Os versos foram desconstraídos, mutilados, reintegrados: uma bacanal! Nada do resultado anterior foi man­ tido integralmente; o diretor de tradução, professor de língua e literatura grega, com técnicas inspiradas nas teorias literárias de desconstrução, alteridade, estranhamento e hospitalidade realizou o sparagrnósl σπαραγμός (dilaeeramento ritual) de forma que fos­ se possível desintegrar, despedaçar as personalidades na tradução coletiva. Que voz nenhuma sobressaísse nem fosse identificada! A decisão final competiu aos atores d e cena. Pensamos que este foi um processo para alcançar uma elocu­ ção trágica sob o patronato de Dioniso, o deus da exuberância e da ausência, da vida, da destruição e da morte. Por isso guardamos na tradução ambas as facetas desse deus, a privação e a exuberância. Cenas cômicas e cenas trágicas lá estão, como o autor determinou pela presença de alguns marcadores: as ironias, os usos linguísti­ cos, as lacunas, tudo pronto para ser preenchido por outros mar­ cadores, os não linguísticos, visto que, se existe apenas um desses elementos, o texto não se completa. Decerto, o texto teatral exige o concurso ativo e criativo de muitos na sua produção, realização e espetacularização. Procuramos flexibilizar o vocabulário suavizando □ erudição acadêmica dos reccm-formados tradutores, objetivando a clareza. Mas não abolimos o estranhamento poético, guaidamo-tu na sin­ taxe invertida de alguns trechos que são mais bem entendidos se

PREFÁCIO

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verbalizados em alta voz; ousamos em cena adotar palavras supos­ tamente inadequadas (palavrões, por exemplo) e por ambiguidades maldosas, não criadas, mas preservadas. Mantivemos, porém, a be­ leza sem ambiguidades da segunda pessoa - a qual não impedia em nada o entendimento, mesmo para pessoas com pouca escolarida­ de; preservamos arcaísmos recuperados da música popular e dos falares de outras regiões do pais mais preservadas da urbanidade. Além do já citado “merencório”, surgiram termos como “palpi­ tar”, “pejo”, “sorvedouro” e “entojado” - polêmicos para os jovens, evocadores para os mais velhos; modulamos os tons, marcamos os ritmos, encenamos o texto, várias vezes. As metáforas, hipérboles, metonímias, em resumo, as figuras de linguagem foram uma ob­ sessão. Todas, exceto aquelas que nos escaparam, foram mantidas, julgamo-las direções para a cena, jogo de esconde-esconde cheio de surpresas. Ê que o teatro quer ocultar e fazer ver por todos os meios possíveis e impossíveis. Em tudo isso, a técnica é simples: o poeta é um exp ert na "fabricação de imagens” (em grego: eidolopoíesis/ είδωλοττοίησις21) que têm poder de manifestar, ao mesmo tempo, uma presença real e uma irremediável ausência daquilo que se pre­ tendeu representar22. Imagens que revelam e que escondem. Estas imagens, nomeadas como visões, seriam produzidas na própria poesia e não somente na cena. Mas, ao traduzir, como notá-las no texto grego? isso também é simples. Bastou-nos procurar o alicerce sobre o qual se assentariam as estruturas do poema, ou, em outros termos, a terra em que se plantaram palavras para se fazer brotar imagens, a gleba das palavras metáforas. Aristóteles (R etórica, 1410 b), em uma obra dedicada à eloquência, pondera que este modo de falar por meio de metáforas é, para todos,12

11. Platão, A R epú blica, tradução e notas do Μ. H. da Rocha Pereira, Lisboa, Hundaçâo Calouste Gulbenkian, 1983, O trecho a que nos referimos é R epú blica* 599a7; a ideia se repete no diálogo Sofista, 265-bI. 1 2 . Cf. J-P. Vernant, “The Birth of Images”, em: Froma L Zeitlin íorg.K M ortals a n d Im m o r ta l Princeton, University Press, 1991, pp, 164-185. Apassagema que nos referímos está na p, 1Ó8.

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M EDEIA

natural e agradável, pois tem a serventia de, antes de qualquer outra coisa, ensinar de maneira visual, rápida, eficaz e, ainda mais, sem ob­ viedade, guardando a sensação de estranhamento. Mais à frente, nessa mesma obra, Retórica, 1412a, o filósofo de Kstagira esclarece que “é forçoso que as metáforas provenham de coisas apropriadas, mas não óbvias, tal como na filosofia é próprio do espírito sagaz estabelecer a semelhança com entidades muito diferentes”1314 ; por esta mecânica o poeta insere no discurso o demento surpresa que, por sua vez, gera o prazer, pois o texto construído por metáforas é mais encantador. No mesmo tratado o discípulo de Platão acrescenta que para ele a metáfora é o estratagema de linguagem de onde derivam mui­ tas outras formas de transferência (tradução) de sentido (Retórica 1412a). Importante para nós ao pensarmos em nosso tema de pes­ quisa, a tradução, é que, para Aristóteles, a metáfora serve para “dis­ por ‘o objeto diante dos olhos’ (Retórica, 1411b)" de muitos modos, de substanciação, de processo e de resultado24. Resta-tios oportunamente avisar que quase nunca trabalhamos a métrica; não criamos neologismos, nem tentamos recuperar a so­ noridade grega. Aqui nossa tradução foidomesticadora; nossos sons são brasileiros e amiúde recolhidos, como dissemos, em poetas de nossa língua. Por algumas ocasiões homenageamos nossos colegas professores e tradutores primorosos em suas saborosas, acertadas e inspirado ras traduções: Jaa Torrano, Mário da Gama Kury, Irajano Vieira e Maria Helena da Rocha Pereira.

13 .

Aristóteles, R etórica, tradução e notas de Manuel Alexandre Iuní0 1 ; Paulo Farmhouse Alberto; Abei do Nascimento Pena, Lisboa, Imprenso Nacioml/Casa da Moeda. 199B. Texto grego da Aristotle. Aes W tetorica, W. D, Ross (ed.l, Oxford, Clarendon Press. 1559: 0 εϊ 6 έ μίταφέρειν, καθότι ep εϊρηται πρότερον, and οικεία™ καί μή ιρανερών, οίον καί έν φιλ CKTOípiç Γό 51,:-ι:)·. 1 .1 εν πολύ ίιιεχουσι θεωρόν 1 ".': οχ10

14

. Idem , texto grego da Aristotle, Are R h etorica:

λίγω δή npò ò μμάΐιο v raOTa noiELv όσα ένεργοΟντα ση μα ivtr, οίον τον άγοβών áv5po ιράvm είν α ι τετρά γα τνον μετιχιρορά, ( άμφια γ α ρ τ έ λ ε ιά ), ά λ λ ο ΐ οιγμαίνει εν έρ γ εια ν ; ά λλα τ ό θ ο ϋ σ α ν Ε χ ο ν το ς τήν α κ μ ή ν " εν έρ γ εια ,κ α ί τ ό ' ο έ

ί “ττούντεΰθεν ο υ ν Έ λ λ η ν ε ς ά ξ α ν τ ες ρ ά : τ α χ ύ γ ά ρ λ έγ ει.

5 ' ώ σ π ερ

άν

αιρετόν” ελ ε ύ θ ε ρ ο ν έν έρ γ ειο , κα

north*:’’ (Hur. ΙΑ. ν. SO) TO ά ξ α ν τ ες

εν έρ γ εια καί μ αταφ ο

PREFACTO

37

A tônica foi criar uma trad u ção fu n cio n a l cên ica. Os vazios m a­ terializam a fragmentação {sparagm ós) dionisíaca interna que leva a uma sucessão de ações e pensam entos às vezes concluídos e al­ gumas outras vezes nitidamente incondusos. Inserim os o pronom e pessoal de primeira pessoa para recuperar os particípios, evitamos perífrases, mesóclises, formas oblíquas dos pronomes e gerúndios que materializam ações extendídas, organizações mentais refletidas e prolongadas no português. Deixamos as lacunas, preservadas por reticências e frases curtas e suspensas! elas serão preenchidas em cena com gestos e outros signos. Tentam os adequar a imediaticidade planejada traduzindo, por exemplo, o futuro (formas conden­ sadas e de ritm o curto na fala antiga) e, em momentos, também o particípio pelo presente histórico, artifício im perioso para recuperar o fluxo im ediato e im pactante da tragédia. D escobrim os coisas inusitadas, particularidades que talvez não sejam imagináveis hoje. P or exem plo, falando de m ães e filhos, após a tradução notam os que nessa peça não há - uma vez sequer - o registro da palavra fiiho/υΐός; curioso, n ão ?23 Vocês diríam que talvez a palavra não existisse ou não fosse de uso com um à época. Inform o, porém , que C hantraine não confirm a essa hipótese26. A palavra existia e era de uso com um , exceto para os trágicos. In-

15 .

Das peças de Euripides, vamos encontrar o termo somente em T r o ia n a s, w. 987 e 747; v. 539; 110 F r a g m e n te 424; O restes, 1689. z6. Traduzimos e transcrevemos trechos do Pierre Chantraine, D/ítíonuíre Ê ty m olog iq u e d e ia L an g u e G recq u e (pp. 1153-1154): “υίός: 'filho' (Horn., itm .-att. etc.), também Oóe (aí.), forma mais arcaica υίι>, (lacrem., cretense) c ύυς (inrer. at.) e üç contrato (itud.); acus. uióv (Cretanse), υϊα (Horn.), niter (Horn., raro), usualmente uíòv (Horn, jm i.-a t. etc); gen. dièoç (Horn..)™.-fl/.), yloç (Horn., Lessálio), ι>ιί)ος (poetas hclcnístícos e tardios), υιού (Corcíra século VI a.C., O d 22,238 .jtm .-iit. etc.); dat. uíéi, uíõ ey[i (Hom.). uieie οίψ(jo n .-a t.); nom. pl. uiéec;, ιιίες e uitiç (Hom.), ultK e uioi (jon.-at.)·. ίιιήΐς (poetas hclenisticos e tardios); acus. uitivq (Crera), υίεας e ytac (Hom.),íiu, e i - i ( , v gen. oitev (Hom,), 1 1 - e lif,'(jott.-aí.)·, dat. iiítíu! e uíoToi (Hom.), niÉtrte υίοϊς (jo n .-a t.), Como se vê a palavra per­ corre terttos antigos e tardios de regiões diversas, Chantraine continua 0 verbete afirmando que “a palavra υιός ‘hiho’ é corrente no átíco, rara n.s trágicos, ela compete com Raie que t atestada somente em Heródoto". Há um registro de seu uso no dimínutívo, vífiiov, em V espas de Aristófanes (v. 1356), umhápax; o ático utiliza, para ddiminutive, mais frequen­ temente a forma ürôoüc R esox,

3#

M EDEIA

crível, não? C om o m atar o que não existe? Nessa perspectiva, de fato, M edeia não m ata seus filhos, ela m ata todos os correlatos que determ inam a relação m atriz e filial: os herdeiros, a prole, os re ­ bentos, frutos, crias, a estirpe, os d escen d en tes... Essa p articulari­ dade do texto em questão nos leyou a repensar a cultura antiga, as relações fam iliares, a narrativa teatral e m esm o a construção poé­ tica da tragédia. Pelo m esm o m otivo, evitamos, o mais possível, o uso do vocábulo “filho”. Não conseguim os, contudo, elim iná-lo totalm ente. P or fim, nossa opção pendeu sempre por palavras de im pacto, de corpo, estranham ento, distanciam ento, m assa cênica, fem inilidade; nos moldes que em prega A ristófanes no ag ó n entre Esquilo e Euripides em Rãs. Havia uma preocupação de ajustar cada term o ao contexto poético e cultural do texto grego, M as não paramos por aí. Ao fim do espetáculo, tal com o faziam os gregos, para exorcizar a dor gerada, na esteira dos antigos que in­ tegravam ao festival de tragédias espetáculos de drama satírico e de comédia, inserim os uma paródia - de autoria de Ana C ristina Fon­ seca dos Santos e A ndreia Garavello - da peça euripidiana. A peça côm ica, intitulada 0 L a d o O bscuro d o A m or, foi escrita e gravada com o uma radionovela da Trupersa e foi publicada pelos C a d ern os V iva V oz da Faculdade de Letras da Universidade Federal de M inas Gerais. N o fina) deste volum e publica-se uma nova versão da mesma obra, com trechos revistos e acrescidos pela direção de tradução sob o título A m or, A b ism a d o A m or. Assim, de ruínas do trágico con s­ truím os o riso. A nossa intenção: dom esticar a d or e regenerar, pelo riso e pelo rebaixam ento, a alegria. Detalhes sobre o processo ficarão para outra etapa. Cabe somente recordar que o drama satírico foi durante cerca de 150 anos parte integrante dos festivais de tragédia e que os gregos não se propunham a oferecer para seus espectadores espetáculos trágicos sem desconstrui-Ios pelo riso27. Assim sendo, a

27.

Bemd Seidensticker, “Dithyramb* Comedy and SarypPIay", em Justina Gregory (ed.)* Λ Oxford, Blackwell, 2005, p. 44,

C om p an ion d o G reek T ragedy,

PREFÁCIO

39

postura dionisíaca dos rituais antigos, com a inclusão de nossa pa­ ródia, se conserva. Finalm ente, esperamos que a Trupersa - Raça Dourada de G re­ gos Brasílicos - possa oferecer não somente este texto, mas muitas outras peças para ocuparem as praças do vasto Brasil afora! Agra­ decemos a todos pela oportunidade. À Capes, ao Pós-Lit-Fale-

ü f m g

,

ao Program a Artista Visitante da

u f m g

, à

p g e t

-

u f s c

. A

o s

integrantes, colaboradores, leitores, apoiadores e espectadores da Trupersa, aos colegas e amigos A ntônio Orlando D ourado Lopes, Jacyntho Lins Brandão, Leda M artins, M arcos Antônio Alexandre, O lim ar Flores Júnior {consultor e revisor eleito pelos participantes da Trupersa) e Teodoro Rennó Assunção por seu apoio, suas críti­ cas e sugestões sempre muito bem -vindas. Por ora, que se inicie o espetáculo de leitura!

ΜΕΔΕΙΑ

MEDEIA

42

Τ ροφ ός Ε ϊθ ’ ω φ ελ ’ Ά ργους μή δ ια π τ ά σ θ α ι σ κ ά φ ο ς Κ όλχω ν έ ς α ία ν κ ν α ν έ α ς Σ ν μ π λ η γ ά δα ς, μη S' έν ν άπ αισ ι Π ηλίον π εσεϊν π ο τέ τμ η θ είσ α πεύκη , μ η δ ' έρ ετ μ ώ σ α ι χ έ ρ α ς

5

ά ν δ ρ ω ν ά ρ ισ τ έ ω ν oi rò π ά γ χ ρ ν σ ο ν Βέρος Π ελ ία μετήλθον. ο ν γ ά ρ ã v δ έ σ π ο ιν ' έμή Μ ή δ εια π ύ ρ γ ο υ ς γη ς έ π λ ε ν α ' Ίω λ κ ια ς έρ ω τι θυμ όν έ κ π λ α γ ε ισ ’ Ίά σ ο ν ος:

ιο

ο ύ δ ’ α ν κ τ α ν εΐν π ε ίσ α σ α Π ελ ίά δ α ς κ ό ρ α ς π α τ έ ρ α κ ατώ κ ει τή ν δε γην Κ οριν θ ίαν

que essas crianças, dessa terra coríntia, com a m ãe, o rei Creonte vai expulsar pra longe. Se a história é certa, isso não sei. Q ueria que assim não fosse, hã? AMA E com o Jasão suporta ver os íilhos sofrerem tal?

75

A briga dele não é com a mãe? PEDAGOGO As velhas pelas novas! As alianças são deixadas e aquele não é am igo desta casa.

48

Τ ροφ ός ά π ω λ ό μ ε σ θ ’ &ρ \ εί κ α κ ό ν π ρο σ οίσ ο μ εν

νεον π α λ αιω , πριν τ σ δ ' έξη ντλη κέναι. Π α ιδ α γ ω γ ό ς So

ά τ ά ρ σύ γ ο ύ γ ά ρ κ α ιρ ό ς είδέν α ι τάδ ε δέση οιναν, η σύχ αζε κ α ι σ ίγ α λόγον. Τ ροφ ός ώ τέκ ν

ά κ ο ν ε θ ’ ο ϊο ς εις νμ ά ς π α τή ρ;

δλΰ ιτο μέν μ ή: δ εσ π ό τ η ς γ ά ρ έ σ τ ’ έμ ός: &τάρ κ α κ ό ς γ ’ ώ ν έ ς φ ίλ ο υ ς ά λ ίσ κ ετ α ι. Π α ιδ α γ ω γ ό ς 85

τις δ ’ ονχι θνητώ ν; άρ τι γιγνώ σκεις τάδε, ώ ς π α ς τις α υ τ ό ν τοΰ π έ λ α ς μ ά λ λ ο ν φιλεϊ, [οί μ εν δικαίω ς, οι δ ε κ α ι κ έρ δ ο υ ς χ ά ριν ] εί τ ο ν σ δ έ γ ’ εύ ν ή ς ο ΰ ν ε κ ’ ο ύ σ τέργ ει π α τή ρ; Τ ροφ ός ϊτ

90

ε ν γ ά ρ εσ ται, δ ω μ ά τω ν ’έ σω, τέκνα,

σν δ ’ ώ ς μ ά λ ισ τ α τ ο ύ σ δ ’ έρ η μ ώ σ α ς έχε κ α ι μή π έλ α ζ ε μητρι δνσθνμ ονμ ένη . ήδη γ ά ρ είδο ν δμ μ α νιν ταύ ροιιμ ένη ν τ ο ϊ σ δ ώ ς τι δ ρ α σ είο ν σ α ν : ο υ δ έ π α ύ σ ετα ι χόλον, σ άφ ’ ο ϊδα , πριν κατασκή ψ ιχί τινι.

95

εχ θ ρ ο ύ ς γε μέντοι, μή φίλους, δ ρ ά σ ε ιέ τι. Μ ή δ εια ίώ, δύστανος

ê jw

μ ε λ έ α τ ε πόνων,

ίώ μ οί μοι, π ώ ς

άν όλοίμ αν;

49

ΑΜΑ Ara! Estam os perdidos, se o novo mal som a com o antigo, antes dele acabar. PEDAGOGO

8o

Mas tu, ó, ainda não é hora da patroa saber disto, hã? Fica quieta e segura a língua! AMA Ô meninos, escutai como é vosso pai! Não que m orra - é meu senhor mas sendo mau pros am igos... é culpado... PEDAGOGO

8j

E qual dos mortais não?! Só agora sabes isto, hã? Que todo mundo ama a si mais do que ao próximo, [uns com justiça, outros por vantagem] se é m esm o que, por causa da cama, o pai não gosta mais destes. AMA Ide! Que seja pra bem ! Pra dentro de casa, crianças!

go

E lu, guarda-os bem longe, o mais possível e não te achegues da mãe entojada. F, que já vi o olhar dela: toureira - prestes aqui, com o q u e ... Matutando algo. E não vai acabar com a sanha - vê bem - antes de atacar alguém. Que faça isso!

95

Mas contra os rivais, não contra os amigos! MEDEIA ilh ...! ôÔ eu! Infeliz! Sofro em vão! ilh ...! ô Ô ...! m m ôl, mmoi, com o queria morrer!

50

Τ ροφ ός τ ό δ ' έκεινο, φίλοι π α ΐδ ες : μ ή τη ρ κ ιν εί κ ραδ ία ν , κινεί 6 έ γσΑον. ιοο

σπεύδετε θ ά σ σ ο ν δ ώ μ α τ ο ς είσω κ α ι μή π ε λ ά σ η τ ' ά ρ μ α τ ο ς έγ γνς μ η δε π ρ ο σ έ λ θ η τ άΑΑά φ ν λ ά σ σ ε σ θ ’ ά γ ρ ιο ν ή θος σ τ υ γ ερ ά ν τ ε φύσιν φ ρενός α ν θ ά δ ο ν ς .

ws

ιτε ννν, χ ώ ρ ε ΐθ ' ώ ς τάχ ο ς εϊσω : δ ή λ ο ν ά π ' άρχή ς έξ α φ ό μ εν ο ν νέφ ος οίμω γής ώ ς τ ά χ ’ αν ά ψ ει μείζονι θνμώ: τΐ π ο τ ’ έρ γ ά σ ε τ α ι μ εγ α λ ό σ π λ α γ χ ν ο ς δ ν σ κ α τ ά π α ν σ τ ο ς

no

ψνχή δηχ Ο άσα κακοϊσιν; Μ ή δ ε ια α ία ς έπ α θ ο ν τλάμ ω ν επ α θ ο ν μ εγ άλ ω ν ά ξ ι ' όδνρμ ώ ν, ώ κ α τ ά ρ α τ ο ι π α ΐδ ε ς ο λ ο ια θ ε σ τ ν γ ερ ά ς μ α τρ ό ς συ ν π ατρί, κ α ι π ά ς δ ό μ ο ς êppoi.

I

Τ ροφ ός ιΐ 5

ίώ μ ο ί μοι, ίώ τλήμων. τί δ έ σοι π α ΐδ ε ς π α τ ρ ό ς ά μ τιλ ακ ια ς μ ετέχ ουσ ι; τί τ ο ύ σ δ ’ εχθεις; οϊμοι, τ έκ ν α , μ ή τι ττάθη θ' ώς όπ εραλγώ . δ ειν ά τυ ρ άν ν ω ν λ ή μ α τ α κ α ί πω ς



12 0

ό λ ίγ ! ά ρ χ ό μ εν ο ς πολλά κρατούντες χ α λ ε π ώ ς ό ρ γ ά ς μ ετα β ά λ λ ο υ σ ιν . τό y à p είθ ίσ θ α ι ζήν έ π ’ ισοισιν κ ρεϊσ σον: έμ οϊ γ ο ν ν έπ ί μή μ εγ ά λ ο ις

I l1 I

όχ ν ρώ ς τ ’ εϊη κ αταγ η ρ άσ κ ειν . 12 $

τω ν γ ά ρ μ έτρ ιω ν π ρ ώ τ α μ εν είπεϊν

r-

AMA É isso aí, filhos queridos! A m ãe... no coração palpita! A zanga palpita! loo

Apressai-vos, rápido, pra dentro de casa, e não chegai junto do seu olhar! Nem passai perto, mas vigiai! G ênio d ifícil... Natureza odienta de peito arrogante!

ws

Ide agora! Correi, ligeiro, pra dentro! ‘Stá claro o co m eço ... Suspensa, a nuvem de lágrimas ferverá logo com maior calor! E então, que farão as furibundas

no

e enorm es entranhas!? A alma mordida pelo mal!? MEDEIA Aiai! Desgraça! Sofri, sofri grandes e m erecidos pesares. Ô malditos - que morram filhos da mãe odiada! Com o pai e toda a casa desapareçam! AMA

iJ5

iôÔ, mãe! lômôi, desgraçada! E por que - pra ti - os filhos entram na culpa do pai? Por que odeia estes? Ô i eu! C om o me dói, meninos! Que não sofram!

i 2o

Vontades terríveis de tiranos! Q uão pouco se dom inam ! São muito mandões; e que dificuldade é acalmarem o rancor... Pois acostumar a viver entre iguais é o melhor! E eu quero mais é, sem grandezas, na dureza envelhecer...

125

Pois então! Pra vencer, que se diga antes

51

το όν ομ α ν ικ ά , χ ρ ή σ θ α ΐ τε μ α κ ρ ώ λ φ σ τ α βροτοϊσιν; τά 0“' ν π ε ρ β ά λ λ ο ν τ ' ο ν δ έ ν α κ α ιρ ό ν δ ν ν α τ α ι θνητοϊς, iso

μ είζονς δ ’ &τας, ό τ α ν όργισθμ δ αίμ ω ν οϊκοις, άπ έδω κεν. Χ ορός ίκ λ ν ο ν ψωνάν, έκ λ ν ον δέ β ο ά ν τάς δνστάνον Κ ολχίδος: ού δ έπ ω ήπιος;

ΐ3 5

άΑΑ ’ ώ γ ερ α ιά , Αέξον. ά π ' άμ ψ ιπόλυυ γ ά ρ εσ ω μ ε λ ά θ ρ ο ν β ο ά ν έκλνον, ο υ δ έ σ ννή δομ αι, ώ yvvca, άλ γεσι δ ώ μ ατο ς, έπ εί μ οι φ ιλία κ έκ ρ α τ α ι. Τ ρνφύς ού κ είσϊ δόμ οι: φ ρ ο ύ δ α τ ά δ ’ ήδη.

ΐ 40

ròv μέν γ ά ρ έχει λ έ κ τ ρ α τυράννω ν, ή δ ' έν θ α λ ά μ ο ις τή κει β ιοτή ν δέσ π οιν α, φίλων ο ύ δ εν ό ς ο ύ δ έν π α ρ α θ α λ π ο μ έ ν η φ ρέν α μ ύθοις.

Μήδεια αίαι, δ ιά μ ο ν κ ε φ α λ ά ς φ λ όζ ο ύ ρ α ν ία 14 5

β αίη : τ ί δ έ μοι (ήν έτι κέρ δος; φεν φεν: θ α ν ά τ ω κ α τ α λ ν σ α ίμ α ν β ιο τ ά ν σ τ υ γ ερ ό ν π ρολ ιπ οϋ σ α. Χ ορός ιτιές, ώ Ζ εν κ α ι γ ά κ α ί φώς, ά χ ά ν ο ια ν ά δ ύ σ τ α ν ο ς

iso

μ έλ π ει νύμφα; τις σ ο ί π ο τ έ τάς ά π λ ά το υ κ η ίτας έ ρ ο ς , ώ μ α τ α ία ;

o nome da Cautela! Usar dele é muito m elhor pros vivos: exageros dão vantagem nenhuma pros mortais. A cegueira maior é quando,

130

irritado, um dem ônio visita a ca sa ... CORO

Ouvi v o z ... Eu ouvi um berro da desgraçada colca. E não foi nada brand o...

135

Mas me conta, ô velha: saiu das portas duplas, de dentro do p alacete... Um grito eu ouvi! Não me alegro não, ô mulher, com as dores desta casa. Tempera mais doce. AMA

Casa? Não há! Agora desgraçou tudo! 14 0

É assim: um tem a cama dos tiranos, a outra derrete a vida nos lençóis, a senhora. Não há, dos amigos, nenhum. Nem um coração aquecido com p alavras... MEDEIA

Aiali! Atravesse a minha cabeça a chama celeste!

145

O que eu ganho ainda estando viva? Phu! Que na morte me perca! Que uma vida de desgraça abandone! CORO

Ouça Zeus! Terra e l u z ... em que tom canta iso

a desgraçada ninfa! Que desejo é esse, em ti, do leito fatal, louca!?

54

σ π εν σ ει θ α ν ά τ ο υ τ ελ ε υ ­ τ ά : μ η δέν τ ά δ ε λίσσον.

155

£ί’ α ό ς πύσις κ α ιν ά λέχη σεβίζει, κείνω τ ά δ ε μή χ α ΐ)άσ σον : Ζ ευς σοι τ ά δ ε σννδική σει. μ ή λ ία ν τ ά κ ο ν δν ρ ομ έν α σόν εννάταν. Μ ή δ εια

ι6 ο

ώ μ ε γ ά λ α Θέμι κ α ι πότνι ’ Ά ρτεμι, λ ε ύ σ ο εθ ’ â πάσχω , μ ε γ ά λ ο ις δ ρ κ ο ις έν δ η α α μ έν α τον κ α τ ά ρ α τ ο ν

i 6s

πόσιν: δν π ο τ ' έγ ώ νύμφοιν τ ' έ α ίδ ο ιμ ' α ύ τ ο ϊς μ ελ ά θ ρ ο ις διακ ν α ιομ έν ου ς, ο Γ έμ ε π ρ ά σ θ εν ιο λ μ ώ σ άδικεϊν. ώ π ά τερ, ώ πόλις, ών κ ά σ ιν α ισ χ ρ ώ ς τον έμ όν κ τ ε ίν α σ 1 άπ ενάσ θ η ν . Τ ρ οφ ός κλιί^β 1 υ ίά λέγει κ&πιβο&ται Θ έμιν ε ν κ τ α ία ν Ζ ηνός, ό ς όρ κω ν

ι-o

θν η τοΐς τ α μ ία ς νενόμ ισται; ον κ έσ τιν 'όπως εν τινι μ ικ ρ ω δ έσ π ο ιν α χ ό λ ο ν κ α τ α π α ν σ ει. Χ ορός π ω ς ά ν έ ς οψ ιν τάν ά μ ετ έρ α ν έλ θ ο ι μ ύ θω ν τ' α ύ δ α θ έν τ ω ν

J75

δ έ ξ α ιτ ' όμφάν, ε ΐ πω ς β α ρ ν θ ν μ ο ν όργάν καί λ ή μ α φ ρένω ν μ εθ εί η;

ι8 ο

μ ή τοι τό γ ’ έμ όν π ρ ό θ υ ­ μ ο ν φ ίλοισιν άπ έσ τω . άλΑά β ά σ ά νιν

155

Tens pressa do fim? Da morte? Nada assim suplique. Se o teu esposo venera estas camas frescas, não te aflijas! Zeus, disto, te fará justiça. Lacrimosa demais! Pelo teu homem, não te amofines! MEDEIA

160

165

O grande Têmis e soberana Artemis, vede 0 que sofro, atrelada ao marido por juras solenes. Que eu possa ver algum dia o maldito e a noiva arruinados no palacete deles. Eles, antes, tiveram a coragem de me ultrajar. O pai, ÔO pátria, que me expulsastes pela vergonha de ter matado meu irmão! AMA

170

Escutai de que modo faia e urra... Têmis sagrada e Zeus das juras, o dito juiz pros mortais, não é com pouco que a senhora acalma a zanga... CORO

175

j So

- Como ela há de chegar à nossa vista e receber a voz das palavras ditas? - Se esse ânimo pesado, o impulso e o propósito ela pudesse do peito dispor! - Por certo, meu zelo não deixa... não deixa os amigos. - M as anda!

δ εύ ρ ο π ό ρ ευ σ ον ο ί­ κω ν εξω: φ ίλα κ α ί τ ά δ ’ α ν δα, σ π ε ν σ α σ ά τι ηρίν κ α κ ώ σ α ι τού ς έσω : π έν θ ο ς γ ά ρ μ ε γ ά λ ω ς τ ό δ ' ό ρ μ ιϊτ α τ Τ ροφ ός δ ρ ά σ ω τ ά δ ά τ ά ρ φ όβ ος εϊ πείσω δ έσ π ο ιν α ν έμήν: μ ό χ θ ο ν δέ χ ά ρ ιν τ ή ν δ ’ έπιδώ σω . κ α ιτ ο ί

τ ο κ ά δ ο ς δ έρ γ μ α λ εαίν η ς

ά π ο τ α ν ρ ο ν τ α ι δμαισίν, ό τ α ν τις μ ύ θον π ρο φ έρ ω ν π έ λ α ς όρμηθή. σ κ α ιο ύ ς δ ε λ έγ ω ν κ ο ν δ έν τι σοφ ούς του ς π ρ ό σ θ ε β ρ ο τ ο ν ς σ ύ κ αν ά μ ά ρ τ ο ις, οϊτινες νμ νονς έπί μέν θ α λ ια ις επ ί τ ’ είλ α π ίν α ις κ α ί π α ρ ά δείπ ν οις η ν ρο ν το β ίω τ ερ π ν ά ς ά κ ο ά ς ; σ τν γ ίο ν ς δ έ β ρ ο τ ώ ν ο ν δ εϊς λ ύ π α ς η ϋ ρετο μ ο ύ σ ι; κ α ί π ολνχόρδοις φ δ α ϊς π α ύ ε tv, ι ξ ώ ν θ ά ν α το ι δ ειν α ι τε τύ χαι σ φ άλ λ ου σ ι δ όμ ο υ ς. καίτσι τ ά δ ε μ έν κ έρ δ ο ς ά κ ε ισ θ α ι μ ολ π α ΐσ ι β ρ ο τ ο ν ς: ίνα δ ’ εΰ δ ειπ ν οι δαιτες, τί μ ά τ η ν τείνονσι β οή ν; το π α ρ ό ν yàp ίχ ει τέρψ ιν άφ ’ α ύ τ ο ύ δ α ιτ ό ς π λ ή ρ ω μ α βροτοΐσιν. Χ ορός ΐα χ ά ν ά ιο ν π ολ ύ σ τον ον γόων, λ ιγ ν ρ ά δ ’ α χ ε α μ ο γ ερ ά β ο α τον έν λ έχει π ρ ο δ ό τ α ν κακόννμ φ ον: θ εοκ λ ν τει δ ’ ά δ ικ α < π άθη > π α θ ο ν σ α τάν Ζ ηνός όρκ ία ν Θέμιν, & νιν εβ α σ ε ν

57

ΐ ' I I I

Ε a ela, traga aqui. - Que de casa saia fora! Esta voz é amiga. Apressa-te, antes que malfaça aos de dentro: este luto transborda.

'

a m a

JS5

t9o

195

200

Farei isso! Mas periga eu não convencer minha senhora,.. Farei esse ingrato favor; mesmo com aquele olhar de leoa parida, a mirada de touro pros escravos, quando um - pra dizer palavra - chega perto... Pra quem diz “sinistro e nada sábio são os antigos” não posso dizer que erra... Uns, hinos pra festas e mais banquetes e ainda jantares pra vida, uns, descobriram prazenteiras canções, mas pra aliviar tristeza cruel nenhum vivente descobriu - nem coa Musa, nem 11a harmonia das cordas - encantos. É com isso que os mortos e as sortes terríveis derrubam as casas. Mesmo assim, vantagem é cuidar destas coisas com melodias. Pra isso. boas festas... convidados... Por que aprumar um grito pra nada? O presente tem sua própria alegria, é mesa cheia pros víventes! CORO

205

Um choro, ouví! Triste... Tão gemido... Uma agonia dara e doída reclama na cama o esposo ruim... Infiel. Injustiça sofreu e aos deuses exora a promessa de Zeus, Têmís, a que lhe fez andar

5*

210

Έ λ λ ά δ ’ ές ά ν τ ίπ ο ρ ο ν Ôt' ά λ α ννχιον έφ ’ ά λ μ ν ρ ά ν Π όν τον κλ>] μέν σόν ον φ θονώ χ«Αώ< εχ αν: ννμ φ εύ ετ εύ π ρ ά σ σ ο ιτ ε: τή ν δε δέ χ θ ό ν α έ&τέ μ ’ οίκ εϊν κ α ι γ ά ρ ήδικημ ένοι

Ms

σ ιγη σόμ εσθα, κ ρ εισ σ ό ν ω ν νικώμενοι. Κ ρ έω ν λ έγ εις ά κ ο ν σ α ι μ α λ θ ά κ άΑΑ ' έσω φ ρενώ ν ό ρ ρ ω δ ία μ ο ι μή τι β ον λ εν σ η ς κακόν, τοσ ω δε δ ' ή σσον ή π ά ρ ο ς π έ π ο ιθ ά σοι;

32ο

γυνή γ ά ρ οξύθυμ ος, ώ ς δ ’ α ν τ ω ς άνή ρ, ρ ά ω ν φ υ λ ά σ σ εις ή σιω π η λ ός σοφή. άΑΑ ’ εξ ιθ ' ώς τάχ ιστα, μ ή λ ό γ ο υ ς λέγε: ώ ς τ α ν τ ’ ά ρ α ρ ε , κ ού κ έχ εις τέχνην δ π ω ς μ ενεϊς ταχρ ’ ήμϊν ο ύ σ α δυσμ ενή ς έμοί, Μ ή δ εια μή, π ρ ο ς σ ε γ ο ν ά τω ν τής τε ν εο γά μ ου κόρης. Κ ρ έω ν

3^5

λ ό γ ο υ ς ά ν α λ ο ϊς : ον γ ά ρ αν π είσ α ις π οτέ. Μ ή δ εια άΑΑ ' ίζεΑάς μ ε κ ο ν δ έν α ίδ έσ μ λιτάς;

65

305

Eu mesma compartilho dessa sorte; Porque sou sábia, há quem me ache odiosa. [Há quem me ache tranquila, há quem o contrário, há até quem me ache áspera. E eu nem tão sábia sou assim] E tu ainda temes que eu te faça sofrer algo fora de tom?

310

315

Não penses assim de m im ... de nós - sem medo, Creonte! como prejudicar homens que são reis! Em que tu foste injusto comigo? Casaste a moça com quem teu coração mandou. Mas o meu marido, ele eu odeio! E tu, creio, foste sensato. Mesmo agora, não invejo, que tudo te vá bem: faz 0 casamento - que bem ajas!, mas, nesta terra, deixa que eu more nela! Mesmo injustiçada silenciamos, fomos vencidas pelos mais fortes. CREONTE

320

Falas doçuras de ouvir, mas no fundo, me dá horror que trames algum mal. Por tais coisas fio menos em ti; és mulher, impulsiva, tal qual macho, porém, é mais fácil vigiar um sábio calado. Então, ligeiro! Sai sem falar palavra. Isto agrada. E não terás manhas pra ficar entre nós sendo hostil a mim. MEDEIA

Não! Aos teus joelhos! Pela moça, a nova noiva! CREONTE

325

Perdes palavras: não convencerás jamais. MEDEIA

Então me expulsas e não respeitas minhas preces?!

6λ.£$ο ν σ α ^ τεχ ν ω μ έν η : Ερπ ές to & ívóv; ν;ιν χγ(ρν ευψ υχίας, ό ρ φ ς â π ά σ χ εις . 0ρ γ έχ ω τ α β ε ϊ σ ' όφ λεϊν τ ο ΐς Σ ισ ν φ ε ίο ις τ ο ϊσ δ ’ Ί ά σ ο ν ο ς γάμοις, γ ε γ ώ σ αν έσθλο,ς παΤρ ό ς Ή λ ίο ν τ ’ άπ ο. έπ ι& τασ αι δ έ: Τζρ^ς δ έ καί π εφ ύ κ α μ εν γ υ ν αίκ ες, ές μέ\, £σ μχ - ρ μ η χ α ν ώ τ α τ α ι, κ α κ ώ ν δ έ πάντ(ον τέκ τ ο ν ε ς σ ο φ ώ τα τα ι. Χ ορός ά ν ω π ο τα μ ώ ν i^pQVχ ω ρ ο ν σ ι π α γ α ί, κ α ί δ ικ ά κ α ί π

- ora em diante - por esse blasfemo crime. Quanto a mim, irei para a terra de Erecteu,

1385

m orar com Egeu, filho de Pandion. Quanto a ti, infame, na infâmia morrerás: com destroços do teu navio Argos na cara enfiados, vendo a estaca final deste teu casamento comigo! JASÃO

Que a ti destruam as Erínias dos filhos!

1390

Justiça, pelo sangue! MEDEIA Qual deus, qual divindade te escutará? O perjuro, o que engana os hóspedes? JASÃO

Phu! Suja! M atadora de crianças! MEDEIA

Corre pra casa e enterra tua mulher! JASÃO 139 5

Corro! Infeliz pelos dois filhos! MEDEIA

Não te lamentes mais: espera ainda a v elh ice... JASÃO

Oh, filhos tão queridos... MEDEIA Pra a mãe! Não pra ti.

150

Ίάσων κάπειτ' εκανες; Μήδεια σέ γε πημαίνονο Ίάσων

1400

ώμοι, φιλίαν χρμζω στόματος παίδαιν ό τάλας προστττύί,ασθαι. Μήδεια νϋν σφε προσανδάς, νυν άσπάςμ, tot ’ άπωσάμενος. Ίάσων δός μοι τιρός θεών μαλακού χρωτός ψανσαι τέκνων. Μήδεια ούκ έστι: μάτην έπος έρριητατ Ίάσων

1405

14ΐο

Ζεύ, τάδ' άκούεις ώς άπελαννόμεθ' οιά τε τιάσχομεν έκ τής μνσαράς και παιδοφόνον τήσδε λεαίνης; άΑλ ’ ο πόσον γοΰν πάρα και δύναμαι τάδε και θρηνώ κάπιθεάζω, μαρτνρόμενος δαίμονας ώς μοι τέκνα κτεΐνασ ’ άποκωλύεις ψανσαι τε χεροΐν θάψαι τε νεκρούς, ονς μήποτ’ εγώ φάσας οφελον προς σον φθιμένους έπιδέσθαι.

151

JASÃO Por isso mataste!? MEDEIA Pra te hum ilhar... JASÃO Ôh, m m m ... ô! queria eu, o mísero, beijar a boca amada cios 1 4 Q0

meninos. MEDEIA Agora chamas por eles, felicita os outrora rechaçados. JASÃO D á-me, pelos deuses, tocar a pele m acia dos 61hos! MEDEIA Não dá. Palavras jogadas em vão. JASÃO

140;

Zeus! Ouves isso? Ouves com o somos rechaçados! Quanto sofremos desta imunda, infanticida, desta leoa? Mas, ao menos, quanto m e resta e posso isso hei de chorar e dam ar aos deuses,

1410

os divinos atestam: mataste os m eninos e me proíbes de tocá-los e enterrar os corpos com minhas mãos. A eles, pudera eu não ter gerado pra depois vê-los por ti abatid os...

Χορός

1415

πολλών ταμίας Ζευς εν Όλύμπω, πολλά δ ’ άέλπτως κραίνονσι θεοί: καί τά δοκηθέντ' ονκ έτελέσθη, τών δ ’ άδοκήτων πόρον ηνρε θεός, τοιόνδ’ άπέβη τόδε πράγμα.

153

CORO

1415

De muito é Zeus curador, muita coisa, pelo avesso, reviram os deuses... o que se esperava não se cumpriu, mas um deus achou uma saída do inesperado. Tal foi, tal é: assim findou esse ato. Ou Zeus no O lim po muito distribui e muito os deuses realizam além da expectativa. O esperado não se cumpriu e do inesperado deus achou uma saída. Assim term ina esse ato. Ou De muitas coisas Zeus, no O lim po, é soberano e muitas vezes os deuses nos assombram com suas façanhas: não se cumpre o que é desejado e do inesperado o deus faz o caminho. Assim term ina a história.

i

R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA A R G O N A U T I C A DE A P O L Ô N I O DE RO D E S E NA M E D E I A DE E U R I P I D E S

AMOR,

ABISMADO

ΑΜΟΚ1

Este texto pode ser gravado para ser transm itido em rádio ou encenado ao vivo, em p e r fo r m a n c e . No caso de encenação, o posi­ cionam ento dos atores/cantores pode ser: três atrizes/cantoras do lado direito. M icrofone de pedestal; três atores/cantores do lado es­ querdo. M icrofone de pedestal; locutor e locutora (cori-feío & cori-feia, representando o sátiro Sileno e a Ninfa Maia) posicionados atrás de uma pequena mesa com m icrofone no centro do palco. Sugerimos que o figurino e os adereços remetam para a indu­ m entária grega antiga: túnicas, sapatilhas, perucas ou cabelos pen­ teados. A comédia L isístrata, de Aristófanes, pode oferecer material rico para isso. Alguns objetos de cena podem ajudar na comicidade:

í. Este texto i a segunda versão do texto piródico para M ed eia intitulado 0 L a d o O bscu ro d o A m o r . Λ nova versão foi revista e ampliada para publicação com o título o obscubo e AS7SMAOOΑΜΟΚ- O texto foi escrito por Ana Cristina Fonseca dos Santos, Andreia Garaveüo t Tereza Virginia Ribeiro Barbosa. Agradecemos atodos emespecial a Maria Cecília e Manuela comseus palpites pitorescos. 155

156

M E D E [A

um punhal, um pente para Jasão, placas para ações da platéia (aplau­ dir, rir, chorar, resmungar etc.), panelas diversas.

C a p ít u l o abertura:

1

T rinta primeiros segundos de A C a v alg ad a d as V alquírlas, de Richard W agner ou A N oite no M on te C alvo, de Modest Petrovich Mussorgsky ou ainda aquela que a trupe encenadora julgar melhor.

c o r i - f e io :

(O locu tor e a locu tora assu m em ocu ltam en te

0

d e Ja s ã o e M ed eia, respectivam en te. C o m o sátiro,

p a rtid o 0

lo cu ­

tor é lascivo, a locutora, com o, em g e r a l tod a n in fa grega, é sensual.) Rádio Tebas 877 M hz

ac,

em seu m om ento

de especial abismada paixão abismai. Sao vinte horas e

25 m inutos de areia na nossa ampulheta. Tem po bom, tem peratura em elevação. Ao fim da tarde, instabilidade atm osférica levando a possíveis tempestades tropicais. Jingle da rádio. CORI-FEIA: (A lo cu to ra dev e m a rca r certa cu m p licid ad e eró tica com o locutor; d ev erã o a m b o s co locar-se co m o estereótipos, m u lh er c a rreg a d a de em o çã o ; h om em , p ra g m ático .) (d e­ sesp erad a ) Tropicais^ Tem pestades tropicais você disse,; Na Grécia^ O mundo está mesmo virado de cabeça para baixo. É ou não é queridos ouvintes^ (M ostrar p la c a de co m a n d o p a r a a p la téia : Êéé!) Boa noite, senhoras e se­ nhores, sátiros e ninfas, bacantes, toda a nobreza terres­ tre, e, claro, os Deuses Olím picos! Esse público m ara­ vilhoso, todos que nos assistem ao vivo, aqui direto do nosso auditório. (M ostrar p la c a d e ap lau so.) M ais uma vez temos a honra de lhes oferecer os instantes mais pungentes da minha, da sua, da nossa Rádio Tebas!

R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA AR

G ONÁt / T/ CA DE A P O L Ô N 1 0 . . .

157

E a Tebas Broadcasting Corpora­ tion, 435 A C m h z , apresenta agora a mais emocionante temporada cie histórias de C a llian d ra brevipis, o aroma

co b i -feio: (T om ágil e travesso.)

que desperta em você as forças impetuosas do amor! c o r i

Sim, queridos ouvintes, na alegria de despertar estes alegres sentimentos, estamos na vossa companhia e des­ frutaremos de minutos apaixonados e irem entes. Que­ remos, em nome do patrocinador deste programa, agra­

-fe ia :

decer sua atenção - que será pura emoção. coíu -feio ; (L ocu tor ag o ra m a is en tu siasm ad o.)

são se dá pela Rádio Tebas,

453

a c

E a nossa transmis­ antes de Cristo

m h z

{dú vida q u an to à v elo cid a d e d a transm issão. E le troca ra os n ú m eros de m ed id a d u ra n te tod a rad ion ov ela ) única

emissora que agrada a gregos e troianos. Este programa tem o apoio cultural de: c o r o s

-

(can ta n d o ) Frigoríficos Aristophanes com phU! ( convem q u e a ex p ressão ‘ com p h " seja fa l a d a p o r ou tra p esso a ou gru po ou em torn!ritm o diferente, com o um ad en d o, as vezes a té um p o u co in con ven ien te, de u m a in fo rm a ç ã o q u e na v erd a d e n ão acrescen ta n ad a).

c o m -feia :

A propósito, para você que curte cozinhar, não pense pequeno, os Frigoríficos Aristophanes com ph sao a única rede de frigoríficos em que você encontra a nuns fresquinha carne de rãs (som d e brejo). Nada de carne de sapo, gia ou batráquio, mas a mais genuína carne de rãs. Os Frigoríficos Aristophanes com ph há quinhentos anos só recebem carne de qualidade. Frigoríficos Aristo­ phanes com ph na mesa nossa de todos os dias!

COR1 -FEIO: E, falando em cozinhar, Tebas ainda esta tentando se

esquecer do horripilante caso que ocorreu ano passa­ do - todos devem se recordar -, um caso envolvendo a

MEDEIA

15»

princesa Medeia, que se meteu a Cozinheira louca e fez deliciosa e encantada sopa - ao menos, todos concor­ daram, ao provar a iguaria. Aos ingredientes básicos mparíferos ela acrescentou uma criação engenhosa, carne frita de rei! (muda o tom e mostra a placa ARGHÍ). cor t-f e ia ;

Pasmem os senhores, o banquete foi mesmo a carne de Pélias frito. Uma calamidade ainda por ser apurada! As denúncias foram muitas, os amigos devem se lembrar que a população convidada para o repasto encontrou no meio da sopa - entre os bagos e os ovos - dentes, dedinhos, e... deixa pra lá, não vamos rememorar as coisas passadas. Lastimável, porém, é que, como sempre, as autoridades de Ioico abafaram o caso e, indulgentes e incompetentes e inconsequentes e negligentes, temendo os poderes malignos da M aâ cooker, deixaram a mulher solta, negaram sua extradição e - dizem mais - dizem que o princês Jasão mexeu o pauzinho para evitar a cap­ tura da individual

co ri - feio :

O tema é polêmico, minha querida ninfeta Cori, não há provas concretas. Sabe-se somente que Medeia, no fes­ tival culinário de Corinto, ganhou o prêmio A Concha de Ouro do Concurso Anual de Sopa de Carne Nobre. É, a moça sofisticou. Já foi logo usando carne de rei... esperta!

co ri - f e ia :

Fascinante! Ninguém pode com a raça mulheril!

co ri - feio :

A Rádio Tebas denuncia e cobra soluções. Mas 0 que se passa numa mente criminosa tão vil e traiçoeira, tão monstruosa (a fa la precisa soar ambígua, pois remete para M edeia e para a cori-feia)\ Que mistérios, fobias, medos, psicoses.,.

R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA

A U G O N Á U T IC A

DE A P O l . Ó N I O . . .

159

CORI-FEIA.: (M a n ifesta n d o e n fa d o com o p a r c e ir o .) E por que ela fez o que fez? O lha q u e d e tu do q u e é vivo e tem v o n ­ tade, nós da raça fem inina som os as mais lamentáveis criaturas2. CORI-FEIO; Deixa de poesia subversiva, acabam com nosso patrocí­ nio, disso, vai, estamos no a r . . . Sim, queridos ouvintes, hoje nós nos preparamos para uma jornad a através de uma história de am or intenso, paixão e crime: a tragédia da pobre rica princesa M edeia e do princês Jasão! Uma história que vai tocar até o mais duro coração esparta­ no! Vocês verão - m elhor dizendo, o u virão... - com o os deuses olím picos, apenas por capricho, fazem o que querem com os mortais. E tudo com o latrocínio, não, não, com o patrocínio de: COROS: Cca n ta n d o ) Frigoríficos Aristophanes co m p hü ! CORI-FEIO* (A o f a l a r d os p atro cin ad o res, ele sem p re cap rich a.) E alô, aló, cori-feia! Não se esqueça também de anunciar que o Frigorífico Aristophanes com ph recomenda que o churrasquinho de rãs seja regado com o mais suave e agradável néctar dos sátiros, aperitivo para todas as horas, maravilha com o churrasquinho de rã, a cachaça Bode V elho, a bebida, em tem pos pós-m odernos, prefe­ rida de D ioniso e de seus camaradas! COROS: Co’a Aguardente Bode Velho Toda m oça fica bela. C o ’a Aguardente Bode Velho Todo hom em é martelo. C o’a Aguardente Bode Velho Você pode contar,

i, Euripides, M ed eia , w , 231-232.

1Ó0

MEDEIA

Aguardente Bode V elho Sua amiga na hora H. c o r i-f c ia

;

E atenção, caros ouvintes, a Rádio Tebas orgulhosam ente apresenta:

c o a o s : (M ú sica tem a d e E o Vento Levou.) A m or, a b is m a d o a m o r ! (C oro em p o s iç ã o d e sú plica), c o R i-F E io : Este, caríssimos, é o instante de pedirmos aos deuses

inspiração. E, ao patrocinador, um gole de Bode Velho! E esta é pro santo! V ocê, ouvinte, aí na sua casa, coloque uma garrafa de Bode Velho na mesa, um gole no copo, erga a mão direita e clam e com igo: O, M usas do Sagrado M onte, fazei de nossa voz a vossa própria voz. Ó ninfas da terra e sátiros da floresta, incendiai e arrebatai aos que vos invocam com vosso furor dionisíaco. Ó Musa Calíope de bela voz, canta o destino trágico de um amor construído com tijolos de ódio, ó M elpom ene canta a argamassa rancorosa que levou à ruína todo um reino, e o cim ento cium ento que selou para sempre a voz de tantas infelizes. Canta, ó, Euterpe, M u sa ... S om d e h a r p a . Voz em eco in terrom p en d o a fa la . m u sa : (F irm e, m elod io sa e p ro fesso ral. ) Chega de vocativo! Pas­

tores agrestes, vis infâmias e ventres só! Nós sabemos com o dizer muitas mentiras semelhantes ao fatos, maaaa s ... ( m u d a o tom , torn a-se m ais p ra g m ática) temos mais o que fazer, Vocês mortais, ora sempre pedindo, ora im ­ plorando sempre, é uma lamúria sem ftm. Ó, Musa, can­ ta ... Canta, ó, M usa... Musa canta ó , Ó , canta M usa... C anta, Musa Ó ... Não importa o lugar das palavras na frase, a ordem dos sedutores não altera o oviduto, assim é o grego, mas o sentido é o mesmo: "Chega mais, dona M usa, manda uma inspiração aí, valeu?”

R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA

A R G O N Á U T IC A

co ri - feio ; Eu vos peço perdão,

DE APOLÔNIO...

l 6t

6 Erato, senhora dos versos eró­

ticos! E para vós, todas as M usas divinas que tendes o O lim po com o morada, peço-vos: insuflai poesia, der­ ramai belas palavras em nossas cabeças, ó altaneiras, ó excels as... m usa : (M uito irrita d a.) Chega! V ocê

é surdo? Pare já com esse

lenga-lenga! Morada no Olimpo, pois sim! Estamos em greve, nao vamos mais inspirar ninguém. E você aí em ­ baixo, C ori-feio Sileno, anuncie (em tom d e d esp rezo z o m b eteiro ) em sua radiozinha: agora nem tem os onde morar! Um absurdo! Não temos nem mais onde m o ­ rar, com a crise na Grécia levaram nosso m onte para a Alemanha, nosso tem plo foi para a Inglaterra, enfim, es­ tam os sem pátria. Restava-nos uma ruazinha simpática num a cidade esplêndida, com um céu luminoso! c o r i -feio : Ah, sim, Madri! m u sa : Não, meu caro senhor, o nom e da cidade

é Belo H ori­

zonte. Veja que lindo nome, Apoio que o d iga... Pois que conste de sua pauta de notícias: a prefeitura perm i­ tiu a venda da Rua das Musas, a nossa rua! E tudo por causa da construção de um hotelzínho barato. N oticie, por favor, a gramática grega ordena: em Rua das M u­ sas existe uma regência de genitivo bem marcada e Rua das Musas. (M o stra rp la ca : ch o ra r.) Agora estamos sem

monte, sem rua, sem lenço e sem docum ento. Ó, a mo­ dernidade fragmentou nossa divina m orada, arrancou nosso cetro. É que “o ouro vale mais que mil palavras” e foi-se nossa ru a ... A pós-modernidade dirá: Musas sem terra, sem teto, sem rua, sem aura! Portanto, não nos peça nada. Acabam os de fundar o M ovim ento das M u­ sas Sem Terra: m m st ! E estamos em greve!

162

Med eia

corí - f e ia : E u concordo, M usa querida. Acho até que nossos patro­

cinadores haverão de apoiar o seu m m tê. E se quiserem passar um tempinho aqui na Rádio enquanto a turma organiza um p iqu ete... m u sa : Não é necessário, cara ninfa! Um amigo nosso, profes­

sor de grego, até nos cedeu um quartinho com vista para o sh o p p in g ... É o bom Jacy n th in h o ... Antes honrado e respeitoso para conosco, habitava em nossa rua, hoje, é clandestino na própria casa - e nós com ele. Mas lá no quartinho tudo está arrumadinho, sabe? A roupa de cama é cretense, o ventilador é da m arca Hércules, as flores da jarra ele escolheu especial mente para n ó s... Lindos narcisos amarelos. Coitado do jaz, embora por nós ele corra grande risco, até criou o blog das Musas!

cofii-FEto; Entendo o problema; porém, estamos no ar, madames. Em meio a tanta desilusão e tristeza, o público precisa dos nossos versos e 0 presente tem sua própria alegria, é mesa cheia pros viventes !3 Ó, Polím nia, cante conosco, senhora dos muitos hinos, ó Musa Erato, minha preferi­ da, v enha... m u sa : Por Zeus, cale-se! Que coisa m ais chata:

ó M usa, can­

ta ... canta ó M u sa ... M usa, M usa. O u você para ou vamos calar sua voz para sem pre. Seja engenhoso, m ultiversátil, cori -f e ia :

(feminista) Com o Ulisses, Musa, aquele que deixou a mu­ lher esperando por vinte anos, se aconchegou com Calip­ so numa ilha paradisíaca, dormiu com Circe no Spa Eeia, passou um tempo com as Sereias, flertou com feácia Nausicaa e voltou pra casa como se nada tivesse acontecido?!

3. I d e m , w, 201-202.

R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA A U G O N Ú U T r C A D E A P O L Ô N I O . . .

m usa : Não, ninfa M a ia, com o o MacGyver. V ocês não

163

têm aí

um fio de microfone, uma fita isolante e um chiclete? Então contem a história! Das m entiras criem a ficção, da ficção 0 sonho e a paixão! Vocês são muito hum anos... M ilhares de anos se passaram e eles continuam os mes­ mos. .. Bebe um gole de Bode Velho, Cori, e vai, com e­ ça logo essa h istó ria... Ah, outra coisa, Ulisses seguiu o exemplo de Zeus, viu? coros : Tom ou cachaça hoje? Cachaça Bode Velho. Toda moça

fica bela, todo hom em é martelo. CORI-FEIO: Ô produção, não mandei rolar o com ercial! Estou pa­ rindo agora a poesia! O que por prim eiro cantar? Por segundo o que trautear? c o íu

-

f e ia

:

Ô, Sileno C ori-feio querido, o pessoal



certo,

é

hora

dos patrocinadores, C o ri... coro : V em viajar, vem navegar, vem conhecer mares escal­

dantes! Yacht Cruzeiro do Sul felicidade em alto-mar: sauna, piscina, show s e tudo que você precisa para ser fe­ liz. “Não há ó gente, ó não um m ar com o o de Poseidão! Navegar é preciso, viver, não é preciso!” Yacht, Y acht, Yacht! co r i - feio : Estou pronto, tenho

já a história elaborada. Sim, caros

ouvintes, agora me lembro! Estavam os Argonautas em missão para os lados da velha Rússia, terra de bárbaros, lá nos mares da G eórgia.., T recho de Georgia on my M ind de Ray C harles. m usa : Oh, homem, eles não estavam na Rússia... co r i -feio :

Oh, sim. Eu peço perdão, senhora. Na velha u r ss , tal­ vez. ..

164

MEDEIA

MUSA: Não, estúpido. Raça se Sisífo\ sois ventres só, argh. Eles estavam na Cólquida. c o r i - γ ε ιο :

Pelo tirso das baeantes! É claro. Estavam naquela viagem que passava pelo M editerrâneo e chegava até o Bósphoros com ph, o canal da vaca amante de Zeus e seguia até o Ponto para, de mansinho, aportar na Cólquida.

co r i -f e ia : P o n to evírgula... m usa : Exatamente, meu caro. P or Zeus, pela vaca Io e pelo

Bósforo, pelo menos ele acertou o lugar. Vam os, irmãs, o p r o fe Jaça nos espera para o chá. co r i -fei O: Mas, senhoras, esp erem ... Esperem ... a h istória... Não

m e deixem só à beira do cam inho! co r i - f e ia : Senhores ouvintes, desculpem-nos. Sem Musas, vamos

pesquisar lia A rgon âu tica do Apolônio pra escrever a história. E, enquanto as filhas da M em ória tomam seu chazinho, que tal um cafezinho com A m or-em -p ed a ço s, hein? coro :

É hora de tomar um cafezinho, quentinho, temperadinho... C a fé Sileno Seleto, fácil de preparar, instantâneo, forte, quente e delicioso.

co ri - feio : Então, caros amigos, com este agradável cafezinho e, c o ­

mendo os amores por pedaços, desejamos-lhes boa noi­ te, bons sonhos! E embalados por nossas canções, co n ­ tinuem sintonizados na Rádio Tebas, a m elhor emissora de todos os séculos. Rádio Tebas! 543 coro : Rádio Tebas!!! 4

4. idem , w . 4 0 5 e 1 3 8 1 .

mhz ac.

K A D I O N O V E L A . B A S E A D A NA A E GO WAL T T Í C A D E A P O L Ô N I O . . .

Capítulo 2 a bertu ra :

Trinta primeiros segundos de A C a v alg ad a d as V alquírias, de Richard W agner ou A N oite no M on te C alvo, de Modest Petrovich Mussorgsky o u ,..

CORi-FEio: V ocê está ouvindo agora a Rádio Tebas, que para seu lar traz os m om entos mais especiais da paixão abismai de M edeia a princesa colca filha do rei Eeres. São vinte horas e 25 m inutos de areia na nossa ampulheta. Tem po instável, tem peratura em elevação. Chuvas e trovoadas devido a possíveis tempestades tropicais. cori - feia : Tempestades tropicais^ Alô, amáveis ouvintes! Boa n o i­

te, senhoras e senhores, deuses, sátiros e ninfas! Mais uma vez temos a honra de lhes oferecer os instantes mais pungentes da minha, da sua, da nossa Rádio Tebas!

435 mhz a c . Assim continuam os com mais um capítulo de (trilh a d e E o V ento Levou) A m or, A b ism a d o A m or, aqui 11a nossa rádio tbc sob 0 patrocínio de C alU andra brevipis, o aroma que desperta em você as forças im pe­ tuosas do amor! Queremos, em nome do patrocinador deste programa, agradecer sua atenção - que será pura em oção, Para você m u lh e T ch eiro sa.,, CORi-FEiO: ...e gostosa! E por falar em gostosuras, seja sábado, do­ mingo, segunda, terça, quarta quinta ou sexta, dê uma passadinha pelos Frigoríficos Aristophanes com ph, onde você encontra a m elhor carne para sua reifeição! coros : (can ta n d o ) Frigoríficos Aristophanes!!!

c o R i-F E io : Sim, meus caros ouvintes, a m elhor carne de rã servida

com a cachaça Bode Velho no Yacht Cruzeiro do Sul! Felicidade total!

16 6

MEDEIA

COROS: Vem viajar, vem navegar, vem conhecer mares escaldan­ tes! Yacht Cruzeiro do Sul felicidade em alto-mar: sauna, piscina, show s e tudo que você precisa para ser feliz. coR i-FE io: Não há ó gente, ó não um m ar com o o de Poseidão! N a­ vegar é preciso, viver, não é preciso! iVlas... esta história de am or e sofrim ento entre Jasão e M edeia ficou inter­ rompida exatamente quando o príncipe Jasão e seus com panheiros Argon antas estavam de viagem para Cólquida, terra da neta do sol, a selvagem Medeia, violenta com carnes e cozidos - e vocês conhecem a fúria dessa mulher desprezada - feiticeira, alquimista, a senhora das especiarias, mestra em mil temperos, a bela e a terrí­ vel princesa Medeia. c o r i

-

:

f e ia

Bem , gente, quando os jovens aportaram , dirigiram -se logo para a suntuosa residência do rei Eetes e nos m agníficos jard ins escutaram , lá de dentro, voz en can ­ tad o ra...

m e d e ia

:

(M ú sica d e R osan a.) Com o uma d e u s a .v o c ê me m an­ tém, e as coisas que você me diz, me levam a lém ...

coRi-FEiA; Pararam estupefatos, admirados! Que voz solar, que que nt ura... co ri - feio ; Sim, M aia, d em a sia d o caliente. A ponto de rom per a

barreira dos dentes do jovem Jasão ... ja s ã o

:

Gente boa, confesso que essa voz

é

boa pra caramba,

em bala legal... Acho que tô dentro e quando eu en trare a voz me o lh ar...

CORO m ascu lin o : Jasão tá dentro, de certeza, ela vai notar: ele é o cara, bicho! M oreno alto, bonito e sensual! / Por certo a solução dos seus problemas/ C arinhoso, com nível so cia l...

R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA A E G O M Á U 7 I C A D E A P O L Ô N I O . . .

l6;

co r i - feio : E enquanto isso, enquanto ficavam naquela de rapazia­

da pagodeira debaixo da janela e no ja rd im ... Nas a l­ turas do M onte Olimpo, Hera e Atena conspiravam a favor do m oçoilo protegido, o príncipe íasão. h er a : Atena, querida filha de Zeus, meu marido, tem o por Ja-

são. Bom rapaz aquele m enino. Perdeu seu reino para o Pélias, partiu de lolco em aventuras e foi para a Cólquida buscar recursos e resgatar o manto de puro ouro do pai m orto. Carece, querida, encontrar um m eio de ajudar o menino! Você, deusa estrategista, olhos de c o ­ ruja, que sugere? Com o podemos ajudar jasão a dobrar o cruel Eetes? C om o podería ele devolver o manto rou­ bado? Ele, um pirata de mares, homem desagradável e arrogante, s>em fin esse nem noblesse? a t e n a : Zero Um! C oncordo com você, madrasta. C oncordo em

gênero e núm ero e na primeira declinarão de tem a em alfa puro. Além do mais, nosso amado príncipe Jasão é m acho forte, reprodutor sem igual, novilho de primeira!

HERA: É. E você sempre tem boas idéias! Nunca me esqueço do cavalo de pau na guerra de T r o ia ... atena:

Isso é passado, madrasta. Vam os pensar e cam inhar em silêncio, em absoluto silên cio ...

h er a : Atena, querida filha

de Zeus, meu marido, Jasão já che­

gou aos jardins de E etes... a t e n a : Psit! Em silêncio, Hera, em silên cio ...

A ten a e H era p isa m em fo lh a s secas, o silên cio é com p leto. D u ran te a ca m in h ad a , a o fu n d o d eix a -se ro la r o play d e Estrada do Sol d e T om jobitn . a t e n a ; Eureka! V am os para

a ilha de Chipre, onde nasceu Afro-

dite de olhos espertos e fala doce!

16 8

MEDEIA

Hhr a : Atena, filha querida de Zeus, meu marido, adoraria dar uma escapadela e vingar as traições cruéis de seu pai, mas agora não é o m om ento ap ro p riad o ... atena:

Posso continuar com minha estratégia? Afinal, estraté­ gia vem do grego: estratégia e significa a arte de com an­ dar, então, com ando eu! E não term inei nada ainda. O plano é o seguinte: feitiço contra feitiço, encanto paga encanto, flecha de am or traz angústia e dor! Direto. V am os ao Shopping De Milus, lá avançamos e invadi­ mos - para além da Taprobana - chegamos à diretoria da fábrica, capturamos a P od erosa A fro âite - não tenho grande apreço por ela, mas, para este caso, é disso que precisamos. E ela sabe de tudo que é jogo pesado, filtro de am or, poções mágicas, chazinhos e cartas.

h er a : Pega leve, Atena, a guerra já acabou. M as escuta, Afrodí-

te joga cartas? Então ela joga no trabalho, é? Joga bridge, será? Por que ela nunca me contou nada? Eu adoro car­ tas: bridge, paciência, truco, p o k er, burro, buraco, copo d agua. O que uma esposa com o Hera deveria fazer en­ quanto seu marido faz filhos por toda parte, em toda mulher, se bobear até em árvore? Haja paciência... Em deusas, em mortais, em princesas, em pastoras, em vaca, em bezerra, nele m esm o... Vai gostar de fazer filho, viu! Você deve saber disso bem, não é Atena, é filha da cabe­ ça d ele... a t e n a : Não gosto que fale assim de meu pai, o grande Zeus. Ele

não é moleque, é caveira! Tenho orgulho de ser sua filha e olha que nascí da cabeça dele e não da coxa, do pé, da ch u va... h er a :

E u sei, eu sei. Um a parte pra cada criança. E para m im , o que sobra? A m em ória é pras m usas... A chuva pra

R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA A R G O N Á U T I C A D E A P O L Ô N I O . . .

léÇ)

Perseu... Chifres para E u rop a... A coxa pra D io n iso ... Evoé pra cá, Evoé pra lá. Vida ativa tem seu pai e, can* sadn dessa trabalheira toda, ele chega sempre dizendo: Hoje não, Hera, estou acab ad o ... Desculpe, Hera, tenho hoje uma terrível dor de cab eça... Entenda, amor, temos hoje a final de Atenas contra E sp a rta ... E se eu in sisto ... Som d e raios e trovão. h er a :

Isso aí, ouviu? Raios e trovões. Isso me incomoda tan to ... Uma só vez, o entendimento de Zeus-porla-égide em bo­ te i... Afrodite me auxiliou e à volta dele esparzimos um doce e suave torp or... Que noite, Atena, que noite!

c o r i- f e a :

A propósito, se você, ouvinte, tem esse tipo de problema h era d isto ris em casa, se seu marido não é mais o deus grego por quem seu. coração disparou, se ele passa o d o ­ m ingo de pijama, o cabelo cheira a churrasco e o bafo é de a lh o .,. Apimente sua cama indo a o ...

c o ro s:

(can ta n d o ) D ioniso Sex Shop.

cori - feia : D ioniso Sex Shop onde você vai encontrar tudo que

precisa; algemas, óleo de massagem comestível, lingerie sexy, velas perfumadas, vibradores e, claro, p h allu s de todos os tipos e tamanhos. Depois da D ioniso Sex Shop seu casam ento nunca mais será o mesm o. Ligue 0800 69,

meia mole, meia dura. S om d e telefon e tocan do.

c o r i - f e io :

Só um m inuto, Cori, m eu bem . Alô, rádio

trc,

em que

posso ajudá-la? o u vin te : blablablablabla........

CORi-FEio: Oh, sim, madame. Eu entendo perfeitamente 0 seu pro­ blema. Sen marido só olha para atrizes de televisão. E

17 0

MEDEIA

nem m esm o beija mais a senhora??! M aníaca? N info o quê? Oh, não dá conta, é? U m a vergonha, uma lástima. Um m om ento, princesa. co r i -e e ia : Querida, nós temos o produto perfeito pra você. É o

novo Batom beijim beijim blaublau sabor cereja. Seu h o­ mem não vai resistir. A senhora pode adquiri-lo facil­ mente na D ioniso Sex Shop bem na esquina de Satírico com Parreiras. o u v in t e : blablablablabla........ cori -feio : A senhora não sabe com o chegar lá? É simples. A senho­

ra tem g ps ? Ah, não? De avião, não? Ah, de barco, é? Rem ando! Não, m ad am e... Produção, solta o play\

CORO: V em viajar, vem navegar, vem conhecer mares escal­ dantes! Y acht Cruzeiro do Sul felicidade em alto-m ar: sauna, piscina, shows e tudo que você precisa para ser feliz. co r i -feio ; É isso aí, m inha rainha, a senhora pega o Yacht Cruzei­

ro do Sul rumo a Atenas. Lá chegando, desce no Pireu, pega um ônibus para Delfos, Chegando lá, em Delfos, a senhora pergunta pelo templo de D ion iso... o u vin t e : blablablablabla____ co r i - feio : Isso, isso m esm o, ele divide espaço com Apoio, quando

um tira férias, o outro assume o comando. E pra subir a senhora aluga um burrinho. A mula é mais em co n ta ... Se não conseguir, tudo bem , dá pra subir a pé. o u vin te : blablablablabla........

CORI-FEIO: N ão, princesa, é um excelente exercício, a senhora vai voltar em ótim a forma, seu m arido vai curtir à beça,

R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA A R G O N Á L I T I C A D E A P O L Ô N Í O . . .

171

m esm o que a senhora chegue cansadinha, exausta pro lado dele. o u vin t e : blablablablabla......

COR3-FEIO: N o templo, num cantinho reservado, recôndito e escu­ ro, adornado com cortinas fucsia e aromas de canela, som ambiente de m arim bas...

OUVINTE: M a r i m b a ? ! c o r i

-

f e ia

:

É, querida, aquele instrum ento feito de pau-santo ou pau-rosa, pauzinhos que ao serem tocados com baque­ tas produzem um som doce e melodioso. E a senhora encontrará ninfas adoráveis a seu dispor para ensinar, entende? Un h erm oso popurri interpretado por extraor­ dinárias n p n fa s...

o u vin t e :

blablablablabia........

CORI-FEIO: Testar? Não, não é possível, senhora, lam ento. Sem test-drive. Sim, de nada, é sempre um prazer saber que te­ mos ouvintes interessados com o a senhora! B a ru lh o d e telefon e desligan do, co ri - f e ia : V oltem os, Sisi, ao O lim po, lembra? C O R I-F E IO :

Sim , caros ouvintes, continuem os nossa história. H era e Atena, num voo rápido da Oym pic C ondor Airlines, em um segundo aterrissaram em Chipre.

m ú sica : {U m segundo de El Condor Pasa, a o f i n d o b aru lh o d e h e­

licóptero m esclado com a s falas: hypéroke! katapletikós! magnifique!) a t en a

:

C om andante Hermes, vamos logo para o heliporto da De M illus Afrodite Factory.

h e r a

:

Chegamos, Atena. Belo pouso, Hermes, belo pouso.

V I

MEDEIA

a t e n a : Vam os, Hera,

à diretoria.

m ú sica : { T rilha so n o ra d e M issão Impossível, p assos d e sa lto alto

co rren d o, p orta s a b rin d o e fe c h a n d o , p a r a d a .) afr o d ite : Zeus! A que devo a honra?! A high society do Olimpo? h er a : Viem os jo gar bridge, querida. afr o d ite : Bridge? Truco! a t e n a : M adrasta, tem dó! Dá um tempo. Quem com anda sou

eu e eu não falei deste tipo de cartas, falava de cartas sibilinas, por favor, dá um tempo, senhora. Poderosa Afrodite, renda-se! afr o d ite : Ares amado, deus da guerra, que loucas! Não entendo

nada. Expliquem -se, vocês estão em meus domínios. coro fem inino : “E u

sei que eu sou/ bonita e gostosa/e sei que você me/ olha e me quer...”

h e r a : (S ussu rrando.) Venenosa eh, eh, eh, e h ,,. co r i - feio : Ai que mulher! Não, caros ouvintes, ai que deusa! Que

cintura profunda, que se io s... Ê a beleza, o amor, a b ru ­ ma calorosa do o cean o ... a fr o d it e :

É que nascí da espuma das ondas, meu rapaz, mas, por favor, não entre em conversa de deusas, sim?

co r i -feio : Claro, claro, senhora dama do grande lago salgado! cori - f e ia ; Ei, sátiro louco, isso aqui não é a história do Rei Artur.

Guarde seus anacronism os para si, guarde tam bém essa sua língua nervosa,.. cori -fe io : Perdoem -m e, senhoras. Perdoem -m e, queridos ouvin­

tes, nenhum a analogia seria suficiente. Me empolguei. afr o d ite :

É de praxe, querido, é de praxe... Fica caladinho, vai... Mas H era vingativa, grande deusa esposa de Zeus, guar-

R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA

A & G O N A U T IC A

DE A P O L O N I O . . .

173

díã da fidelidade, a que devo a honra de sua entrada im­ petuosa com a guerreira Atena? h era e ateh a (ju n tas):

É fasão. Jasão precisa de um filtro, um feiti­

ço, uma cartada bem jogada... a t e n a

:

É, Apesar de não gostar muito de seus meios, o moço m erece...

afr o d ite :

Hum, bum, merece, Atena, conheço o caso. Sei bem ... m as... não posso fazer nada. Entrei na pós- modernidade... Agora vale o amor self-service: tudo rapidinho, nada duradouro, nada de grandes, terríveis, destruidoras paixões, Novas empresas, novos negó­ cios ... Não posso fazer nada.

m ú sic a : (Segundos d a c o m -γ ε ια :

5a sinfonia d e B eeth ov en , j ° m ovim en tai)

Senhores ouvintes, desculpem-nos. Com este clima, sem o entusiasmos de Afrodite só nos resta fazer unia pausa, certo? Que tal um cafezinho?

coro :

É hora de tomar um cafezinho, quentinho, temperadinho... C a fé Silerio S eleto , fácil de preparar, instantâneo, forte, quente, delicioso.

c o m - feio :

Então, caros amigos, com este agradável cafezinho, desejamos-lhes boa noite! Bons sonhos! E continuem sin­ tonizados na Rádio Tebas, a melhor emissora de todos os tempos. Rádio Tebas! 543 mhz a c .

C apítulo 3

a b er tu r a : T rin ta primeiros segundos de A C a v alg ad a d as V alquí-

rias, de Richard W agner ou A N oite no M on te C alvo, de Modest Petrovich Mussorgsky o u ...

174

MEDEIA

cori - feio : Boa noite! Essa é

a sua Rádio Tebas, de volta ao seu lar

com os mais estupendos arroubos da paixão abismai de Medeia. São vinte horas e 25 m inutos de areia na nossa ampulheta. Tem po chuvoso, tem peratura em elevação. Tempestades boreais. cori - fe ia : Boreais^ Estimados ouvintes, hy hi'. Boa noite, deuses,

sátiros e ninfas, senhoras e senhores, ch ild ren 1. A n o s­ sa Rádio Tebas está no ar! 735 mh 2 a c de pura paixão! Vocês ouvirão hoje o penúltim o capítulo de (trilh a d e E o Vento Levou) A m or, A b ism a d o A m or, aqui n a nossa rádio tbc sob o patrocínio de C a llia n á ra brevipis, o a ro ­ m a que desperta em você as forças impetuosas do amor ferido! Seja você uma m ulher em an en te.., cori - feio : ...e saborosa! E por falar em sa bo rên cia , seja segunda,

terça quarta quinta ou sexta, sábado e domingo, dê uma passadinha pelos Frigoríficos Aristophanes, com ph, onde você encontra a m elhor carne para sua reifeição! Nada de carne de sapo! coros;

(can ta n d o ) Frigoríficos Aristophanes!!!

coR i-FE io: Sim, meus caros ouvintes, a m elhor carne nova e fresca servida com a cachaça Bode V elho no Yacht Cruzeiro do Sul! Felicidade Sobrenatural. coros ; Vem viajar,

vem navegar, vem conhecer mares escaldan­

tes! Y acht Cruzeiro do Sul felicidade em alto-mar: sauna, piscina, show s e tudo que você precisa para ser feliz. co R i-F E io : Lem brem -se, com panheiros de em oções - são tantas em oções - ; nossa história term inou com a nução da Po­ derosa Afrodite que - parece - mudou 0 feitio de amar, pós-m odernizou ... O que será de Jasão, meu Zeus? V o l­

R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA A B G O N Á l / T / C A D E A P O L Ô N I O . . .

175

tará ele para casa? Desvalido, sem recurso, de porto em porto, à deriva?5 m úsica : ( S eg u n d os d a

5a sinfonia d e B e e th o v e n , i ç m o v im e n to .)

cORi-FEiA: Não, não é possível! Ó pátria! Õ domínios meus! Que Jasão não seja sem terra, forasteiro que só tem falta de consolo6. atena;

Pois, claro que não! Eu, Atena, sou pós-antiga, Afrô, e exijo que você retorne às raízes!

a fr o d it e :

Ai, que coisa mais chata, mais cu lt, imagina olhar a vida toda pra um só rosto7, um só m arido... Mil vezes eu queria...

heral a f r o d it e :

Aí, Atena, foi seu pai quem ensinou... Mas se for um jogo... hum ... Acho que vou cooperar... Vou falar com meu anjinho Eros de dardos quentes,.. Talvez, ele se interesse em brincar... Pode ser que use suas velhas flechas envenenadas de amor ardente... Em M edeia.... São infalíveis, E ros.... vem na mamãe, bizuzu! Ah, e traga suas flechas de amor, meu b eb ê...

coro

FEMiNiNO:(CflfJtaM(Í0.) Flechadas de amor, flechadas de amor, O que fazer com tanto ardor, flechadas de Eros, flechadas de Eros, você vai ficar louca... Com tantos esmeros.

c o r i

-f

e i a

:

A propósito, se você

é

uma pessoa sozinha, as Flechadas

de Eros trazem seu verdadeiro amor em três dias, uma hora e trinta segundos. coro fem inino : E

5 . Idem, v. 52it. 6. Idem>Yv>645-647.

T. Idem, V, 247.

de joelhos!

176

MEDEIA

T elefon e tocan do. c o r i - f e io :

Um instante, querida, tem os uma ligação. Alô? Rádio Tebas, em que posso ajudá-lo?

o u vin t e : c o r i - f e io :

bhblablablabkblabla Ah, você quer saber se nós tem os regras contra atirar uma flecha do am or em gente casada? Não, é claro que não, você sabe: o am or é cego, você pode pedir uma Flechada de Bros para quem você quiser.

o u v in t e : c o r i - f e io :

blablablablabkblabla Senhor, nós não aprovamos o uso de violência. É só uma flechinha. Nem dói. É com o uma injeção.

o u vin te : c o r i - f e io :

blablablablabkblabla Amostra grátis?! Não, senhor, não temos. Igualmente, senhor, a Rádio Tebas agradece a sua ligação. Onde estávamos? Ah, com ela ... a i... Afrodite, Afrô, m inha fro r...

afrodite : (C h a m a n d o a o longe.) Eros, Eros! Querido! Vem na ma-

mãzinha, pitucucho. Eu tenho aqui uma coisa pra você! co r i -f e ia : Tristem ente inform o, amigos queridos, infeíizmente,

Eros não ficou m uito feliz em saber que sua m amãe que­ ria que ele flechasse o coração de Medeia. F.le agora não se liga m uito nesse lance de arco-e-flecha, gosta mais de surfar na in ternet, e nesse exato m om ento ele estava exa­ tamente curtindo a atualização do seu

b f f

no Facebook.

Então ele pergunta o que ganha atirando uma Flechada do A m or em M ed eia... m ú sic a : (P rim eiros cin co segu n dos d o p rim eiro m ov im en to d a $-

Sinfonia d e B eeth ov en )

R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA Af i G ONÁL T T I CA D E A P O L Ô N I O . .

177

HERA: E n tã o ... tu, a ele! Teu m arido Hefesto, manda forjar um plano! m ú sic a :

(P rim eiros q u a tro segu ndos d o coro d os fe r reiro s d e Ver­ di, em II Trovatore.)

afr o d ite : Hum, me deste uma id eia... Cupido, cu p id in h o... (m a ­

tern a l). Eros (im p era tiv a ), olha menino, tive uma ideia: vou pedir pra Hefesto pra fazer, pra você, um pom o de ouro, igual ao do H arry Potter! Eu sei que ele faz, ele faz tudo que quero, de feiro, de ouro e de prata. co r i -feio : E foi com essa promessa sedutora, a dourada Afrodite

(su spiro) conseguiu ajudar Hera, Atena e Jasão! cori - f e ia ; Hã! Então, na Cólquida, onde vive a princesa M ed eia... coro fem inino : (C an tan d o.) “C om o uma d eu sa ,..” co r i -feio : Lem brem -se, amigos, Jasão ... Nos jardins esplêndidos

do cruel rei E etes... O uvia... Está tudo pronto: depois de toda essa divina conversa entre as deusas do O lim po, nossa Rádio Tebas 242 mhz ac contará 0 clím ax desse A m or, A b ism a d o A m or. Estam os na Cólquida, senhores e senhoras, terra de gente bárbara. co r i -f e ia : V ejam ! O cruel rei Eetes conversando com

0 lindo, gato,

gostoso, jovem , confiante e viril, o p rin ces Jason! coro m asculino : (C a n ta n d o m ú sica-tem a.) Eu sou sexy de doer,

sou sexy de doer, Tão sexy, yeah! cori - f e ia : Não consigo ouvi-los! co ri - feio : Não interessa, Cori Maia,

lá vem M ed eia.,, Olha que

coisa mais quente, mais cheia de ra ça ... Pense Medeia, olhe pro rap az... O destino do am or está ao alcance das suas m ão s... Sim , ouvintes, M edeia cam inha inocente­ m ente qu and o...

178

MEDEIA

Som de fle c h a atin gin do a lv o . m e d e ia

:

Oh! O que está acontecendo com igo? É um ataque do coração? Ó Afrodite que amas o riso, o que está me acontecendo?

co ro f e m in in o :

(Cflítíando.) "Alô cupido, vê se m e deixa em paz,

Meu coração já não aguenta m ais, Hey, hey, é o fim, Alô cupido, pra longe de m im !” c o r i-f e ia :

V ai, gente, aum enta o som! Eí-los, já consigo ouvi-los!

JASÃO: E ai, Rei? O que é que tá pegando? Tu é sangue bom, aí. M e

arranja aí a capa de ouro, na moral, e a gente vai em bora de boaça, mano. Cê não tá fazendo nada com ela m esm o ... cori - feio : M as não pensem vocês que o príncipe Jasão

vai con se­

guir a capa de ouro puro assim tão fácil. Ainda mais com esse discurso desrespeitoso. EETES: Ô moleque! Que pensas? Só um valente levará a capa

d o u ro deste país! V alente que tiver coragem para e n ­ frentar provas. E provas es-cal-dan-tes! ja s ã o :

Beleza, véi. M anda ver. V ou pra praia me esquentar.

m ed e ia : Ai de m im , querida Senhora da Lua Negra! Eu conheço

as provas capciosas do meu pai. M eu am or vai morrer, se eu não ajudar! Ó, Hécate, mas se eu ajudo meu pai me m ata - e frita! M eu coração diz que eu amo esse m o ­ re n o ... tão másculo! Aí, ροτ que, por que meu coração dialoga assim com igo ?8 c o R i-F E ro : Rápida com o H erm es, a minha, a sua, a nossa Rádio Te-

bas 248

m h z

a c

leva vocês, caros ouvintes,

da nave Argos, aumenta o som!

S. Idem , v.

1043.

à

praia, junto

R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA

ARGONÁUT1CA » E

APOLÔNIO...

179

coro m asculino : Cara, você tá ferrado! As provas do rei são cabu-

losas! Touro-cospe-fogo, d ragão... chi, véi, melou. Não vai conseguir m esm o. ja sã o : ( Fingindo chorar.) D e boa, véi. Algo me diz que aquela

filha do rei vai me dar uma força. Sacô o jeito dela! Tá no jeito, tudo no lugar, h o t girl, cara! E com o diria o Peíeu, panela velha é que faz com ida boa. E ela tá até gostosinha pra idade dela. E tam b ém ... Eu nunca conhecí m i­ nha mãe. coro m ascu lin o : Ih, véi, que é isso. Eu já te contei o que aconteceu

com um tal Édipo! Se liga. c o r i- f e ia :

A propósito, se você tem algum problema com o co m ­ plexo de Édipo, complexo de inferioridade, complexo de superioridade, com plexo da m elhor idade, complexo de Golgi, núm eros com plexos, venha ao consultório de psicanálise do Dr. Hipocrates. O único lugar onde você pode m atar seu pai, sua mãe, seu prim o bem -sucedido, aquela harpia chata, seu cam elo e até seu vizinho, qual­ quer um que te incomodar. Consultório de Psicanálise do Dr. Hipocrates: você nunca mais será o mesmo. T elefon e toca.

co r i -feio : U m instante, querida, tem os mais uma ligação. Alô? R á­

dio Tebas, em que posso ajudar? o u vin te :

blablabiablablablabla

co r i -feio : Ah, entendo, você não tem complexo de Édipo, e n e­

nhum dos complexos mencionados, sei, qual o seu co m ­ plexo então? Complexo do Alemão? Que doença é essa? Ah, è onde a senhora mora. Entendí, então qual seu pro­ blema? Com plexo de Electricidade? Não se preocupe,

190

MEDEIA

Dr. Hipócrates concerta sua cabeça, não im porta qual ê o problema.

OUVin Te : blablablablablablabia cori- feio ; Hã? Seu m inotauro tam bém precisa de ajuda? Ele pensa

que é Cérbero? Ah, isso é mais difícil, é um estudo re­ cente, mas ele pode tentar. D r. H ipocrates, eu ouso d i­ zer, é m elhor que o próprio Freud. ouvinte :

blablablablablablabia

cori -feio : (P ara a Jocu tora. ) Obrigado, sua ligação, ela é muito im ­

portante para nós. O nde estávamos? co r i -f e ia : Ai de mim, ai de mim! Oi m oi! Que desespero ser sábia

quando a sabedoria nada vale!5 Isso não im porta agora. Preparem -se! Ela está vindo! co r i -feio : Sim, ela

é o demônio em pessoa, a Princesa Medeia, a

Cozinheira L o u ca...! Gostosona, mas louca, gente! c o s o fem inino : (C a n ta n d o .} '‘C om o uma d eu sa..., V ocê m e m an­ tém. .

e as coisas que você m e diz, me levam além, tão

perto da le n d as,,.15 co r i -feio ; (In terro m p en d o .) c h e g a ! Todo inundo

já decorou a

música dela, Coisa irritante, não se pode m ais dizer M e­ d eia... coro fem in in o : (C an tan d o.) “C om o uma d eu sa,, cori - feio : (In terro m p en d o.) b a s t a ! Será que estamos falando gre­

go? Lembrem-se: estamos encenando uma tragédia aqui. Ela já é a cozinheira louca, e já -já será uma M ãe Louca! O u uma vaca louca? R ê rê. Acho que agora me exced í... M ed eia... M edeia... M uito bem, onde você estava?9

9- tá e m ,

W, 292-253.

R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA A R G O N A U T / CA D E A P Q L Ô N I O . . .

1 S1

MEDEIA; Meu am or pode m e levar a qualquer lugar. Por esse am or eu salvei, traí, matei, piquei, cozinhei, roubei, usurpei, mas, acim a de tu d o ... coro fem inino ; ( C a n t a n d o a m ú s ic a d e C a u b y P e ix o to .) “Eu d ei...

eu d e i... nunca pensei em dar assim .. m e d e ia ; c o r i- f e io :

Ei! Q uem deu fui eu! O h, desculpe. E deu m esmo. Mas, antes disso (ou d e­ pois, não tenho certeza), com seu conhecim ento e suas poções (lem brem -se: ela é a senhora dos tem peros!) ela salvou Príncipe Jasão de um destino atroz, capturou o pom o dourado... Digo, a Capa de O uro, escapou do ódio de seu pai e ... argh. Não posso dizer isso, todo mundo sabe, não preciso dizer!

cori - f e ja : Queridos ouvintes, o que d a fez? Eu não sei, eles não

sabem, diga, C o riS i, diga v á .... cori - feio : Claro que sabem! E se não souberem não digo. Depois

de tantos filmes do H arry Potter, todo mundo sabe que quando se diz “você-sabe” significa a pior coisa possível! Ou impossível. N ão, não digo. É um ato indizível! co r i - f e ia : É dizível, vai, conta! E veja, meu bem , isso NÂo é uma

história do Harry Potter. Eles não sabem o que aconte­ ceu. C onta logo! co r i -feio : (M ú sica d e fu n d o : The Butcher Boy.) Indizível! Entre­

tanto, o s h o w tem de continuar. Pois bem , M edeia m a­ tou e cortou em pedacinhos seu próprio irmão, Apsirtos e, para atrasar seu pai, que a perseguia, foi jogando cada pedaço do corpo do irm ão nas águas do M editerrâneo: prim eiro um braço, p lo ft, depois o outro, p lo ft , uma per­ na, p lo ft , outra perna, p lo ft , a barriga, p l o j f, e por fim, a cabeça: stru n eu n c a p lo ft.

lS z

MEDEIA

música : (D ois segu n dos d e cori - feia :

Aguas de Março d e T om Jo b im .)

A propósito, se você gosta de cozinhar, ou até mesmo guerrear, vai precisar de algumas ferramentas de corte e escudo, e não há lugar melhor para adquiri-los do que no Ferro Velho Hefestos. Lá você encontra tesouras, fa­ cas, machados, punhais, serra elétrica, alicates de cutícu­ la, tudo em ótimo estado por um preço melhor ainda. E os escudos, então? Já houve até morte por causa de um deles. Se não acreditam, perguntem a Odisseu-Ulisses, ah, não, a... Aquiles.

c o r o s:

II Trovatore de V erdi.) Ferro Velho Hefestos! Serrar, cortar, martelar é o nosso negócio! Até mesmo Odisseu-Ulisses vai comprar!

coRj-FEtA:

Falando em Odisseu-Ulisses, ouvintes, não percam, amanhã, no mesmo horário de A m or, A b ism a d o A m or, não percam a nova, espetacular, irressistível radionove­ la O disseu E stá d e V iag em ... A única radionovela com proporções homéricas jamais produzida desde a crise grega e o naufrágio de Argos...

(A o fu n d o , co ro d os fe r r e ir o s , d a ó p e r a

Som de p a lm a s n o p o rtã o . f e it ic e ir a

CIRCE:

Odisseu! Odisseuuu! Odisseuuuuuuu! S om d e grilo.

c o k i -f e i o :

Não percam mais essa emocionante, apaixonante, nave­ gante novela O disseu Está d e V iagem um patrocínio de: Frigoríficos Aristophanes!!! Frigoríficos Aristophanes comphü! Frigoríficos Aristophanes!!! S om d e grilo.

CORO:

Frigoríficos Aristophanes!!! (V o z triu nfante): Com efe!

\ R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA A R G O N A U T 1! CA D E A P O L Ò N I O . . .

COKI-FEIO:

183

Naolül!!1 {Seguida d e ra ios e trovões, b aix in h o.) £ com ph... Até amanhã!

C a p ít u l o 4

a bertu ra :

Trinta primeiros segundos de A C a v a lg a d a d a s V alquírias, de Richard Wagner ou A N oite no M onte C alvo, de Modest Petrovich Mussorgsky ou,..

coRi-FEio: Noite escura, amigos... Obscura! Abismai! Essa é a sua

Rádio Tebas, de volta ao seu lar com os mais intempes­ tivos arroubos da paixão abismai de Medeia, São vinte horas e 25 minutos. Tempo quente, temperatura em ele­ vação. Tempestades passageiras, manhã de sol quente. cori- feia :

Calorão hein, gente! Boa noite, Sol! Boa noite, Hefesto! Vamos senhoras e senhores, child ren , pela derradeira vez ouviremos Medeia! A nossa Rádio Tebas está no ar! 735 m h z ac de paixão efervescente! Vocês ouvirão hoje o último capítulo de (trilha d e E o Vento Levou). A m o n A b ism a d o A m or, aqui na nossa rádio t b c sob o patrocínio de C a llia n ã ra brevipís, o aroma que desperta em você as forças impetuosas do amor ferido! Para você, mulher esquentada...

cori - feio :

.e queimada! E por falar em q u eim a ç ã o , seja segunda, terça quarta quinta ou sexta, sábado e domingo, nunca deixe a sua a melhor carne de rã passar do ponto para a reifeição!

coros: (C an tan d o!) corl- eeia :

Frigoríficos Aristophanes!!!

Sim, meus caros ouvintes, a melhor carne, nova e fresca servida ao ponto com a cachaça Bode Velho no Yacht Cruzeiro do Sul! Feíicidade Sobrenatural.

i

i&4

MEDEIA

c o ro s:

Vem viajar, vem navegar, vem conhecer mares escal­ dantes! Yacht Cruzeiro do Sul felicidade em alto-mar: sauna, piscina, shows e tudo que você precisa para ser feliz,

c o iu - felo :

Sim, meus caros ouvintes, a melhor carne de rã só pode ser servida com a cachaça Bode Velho no Yacht Cruzei­ ro do Sul! Felicidade Total. Bode Velho na hora H! Bem, voltamos, afinal, a história precisa acabar... Enfim, o Príncipe Jasão casa-se com Medeia, prosseguem com sua vidinha de casal feliz, e cometem mais crimes terríveis.

c o e i - f e ia :

É. Foram piores que Bonnie and Clyde... queLampiãoe Maria Bonita...

c o r i - f e io ;

E sem jagunçada, sem jagunçada! Depois de matarem Pélias (in terrom p en d o a c o r i - f e ia : O coitado foi pica­ do, temperado e cozido) o casal, natural mente, fugiu, de lolco para uma h erd a n ç a do soi para Medeia, cidade à beira-mar...

c o r i - f e ia :

É. Fugiram para a cidade de Corinto. Lá, em Corinto, finaimente estavam felizes. Tiveram dois filhos e tudo corria bem, naquele tédio próprio do casamento, mas estavam felizes, até que:

co ro f e m in in o : (C antando

Garota de Ipanema de Tom Jo bim .) Olha que coisa mais linda/ mais cheia de graça/ é ela a menina / que vem e que passa/ num doce balanço/ a caminho do mar”,

c o r i - f e io :

Não, caros ouvintes, não se trata de alguma propaganda de resorts no Rio de Janeiro, Ainda estamos em Corin­ to, onde vive a princesa Creuza, famosa por dançar o “Créu”, e seu pai, o Rei Creonte.

R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA A R G O N Ã U r i C A DE A P O L Ô N I O . . .

cori-eeia :

1&5

E o Creonte, também dançava o “Créu''?

CORi-FEio: Não, ele dançava o “kuduro”. E quando Jasão colocou os olhos nela... Tin Too Sexy) “Eu sou sexy de doer, Sou sexy de doer, Tão sexy, aah..

jasão : {C antand o

c o r if e u :

Basta! Chega de música tema! Todo mundo já sabe que Jasão é bonitão, gostosão etc. e tal. Se continuarem eu chamo asbacantes para um jantarzinho básico. Entenderam?

coki-fe ia :

Resultado: Príncipe Jasão seduziu a Princesa Creuza, famosa por dançar o créu. Claro, caros ouvintes, quem podería resistir àquele jovem, ambicioso e viril?

cori-feio :

Finalmente o Príncipe Jasão conseguiu realizar seu mais verdadeiro e profundo desejo. Casar com uma mulher mais jovem? Garantir o futuro dos filhos? Entrar no Big B rother ? Não, caros ouvintes. Pensem, pensem...

co rj - feia :

Sim, pensem, amigos, Jasão casou-se com a princesa Creuza, famosa por dançar o Créu, pois ela é filha de Creonte, que por sua vez é o Rei de Corinto. Então...

cori - feio :

Podemos concluir que Jasão quer ser o novo Rei de Co­ nn to. Rapaz egoísta e esperto. Esse Jasão, hein? Ô meni­ no danado!

c o r i-feta :

Pobre Medeia! Pobres crianças!

cori - feio :

É verdade. Que maldade para com eles, não? Deixa­ dos assim, sem proteção paterna e sob as ordens do Rei Creonte, que logo mandou expulsar Medeia e os filhos de Corinto. Pobre mulher, sem marido e sem lar.

cori-feia :

A propósito, se você já está cansado de morar com sua

{Interro m p en d o .}

mãe, cansado de dividir quarto no pensionato, se você está

|S6

MEDEIA

sem um iar não pode deixar de visitar o Residencial Héstia. Lá você não encontra apenas uma casa, mas um lar. CORO; (C a nta n d o .)

Residencial, residencial, residencial Héstia!

cori - feia :

Residencial Héstia: o único onde você pode escolher uma casa já com o marido dentro. Velho como o Rei Egeu, é verdade, mas pelo menos não vai espancar você. Além do mais, a casa é novinha.

medeia :

Um ultraje! Uma zombaria. Olho por olho, dente por dente. Ah, Jasão, agora tu vai ver com quantos paus se faz uma nau!

cono feminino : (C a n ta n d o .) “Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim/Ah meu hem, não faz assim comigo não/ você tem, você tem/ que me dar seu coração”. cori - feio : (N a rra n d o com o jogo d e futebol .)

Preparem-se, caros ouvintes, para ouvir e sentir o terror e a piedade da pró­ xima cena. Medeia, enlouquecida, trama o ardil ardiloso ardilosamcnte. Creonte, num erro técnico, deixa Me­ deia ficar mais um dia. Ela prepara o terreno, ajeita o manto de ouro, mira diretamente seu alvo, apelas pros deuses, respira fundo e... chuta (a o fu n d o som d e torcida d e fu te b o l). E balança a rede em Corinto.,. sacudindo a torcida, num lance individual digno do Fenômeno, Me­ deia marca dois de uma só vez: mata a princesa Creuza que nunca mais dançará o Créu, e o rei Creonte! (som d e torcida), Éo fim, é o fim, caros ouvintes... B arulho de torcida d e fu te b o l

cori - feia :

O fim? Ainda não, ouvintes, aos 44 minutos do segundo tempo, Medeia, completamente tomada, quer realizar o impossível, o abominável, e prepara a mão e o punhai, levanta pra dar 0 bote final... Mas, de repente:

RADIONOVELA

BA SE A D A NA A R G O N Á V T I C A

DE A PO L Ô N IO ...

iS?

B a ru lh o de torcida d e fu teb o l.

“Se a criança chorou/ dorme, dorme, meni­ na/ a dor breve passou/ mamãe tem auricedina”.

coros: (C an tan d o.)

m e d e ia :

Pô, sacanagem. Isso vale cartão vermelho, juiz, Eu sem­ pre comprava esse remédio pra eles. Oh, vem cá na ma­ mãe...

cori - feio :

Salvos pelo gongo! Mas, como debaixo de angu tem torresmo, para o azar do bonitão, eis que aparece, justo agora, Jasão,

COKü m a sc u lin o E JASÃO: (C an tan d o.) “Meu carro é vermelho/ só

uso espelho prá me pentear...” m e d e ia :

Chega, Jasão. Foi a gota d’água, Acabou, Tudo está aca­ bado,

IASÃO: Mulher enlouquecida! Péssima mãe, e cozinheira tam­

bém. Por Zeus, por quê? Você não era assim. Por que? medeia : (C a n ta n d o c o m o

As Frenéticas) “Você fez de mim uma

hipócrita” CORO feminino : “Você fez de mim uma cinica” medeia :

“Você fez de mim uma mulher sem lar/ uma marvada..

c o r o e m e d e ia :

(A in da ca n tan d o com co reog rafia esfaq u ea n d o .)

“por isso eu sou vingativa,/ vingativa, vingativa, / por isso eu sou vingativa / e tenho até asco de você....” cori- feia :

Meu Zeus, que vejo! Vejo a mulher malvada com a faca afiada avançar e cravar a lâmina fundo no coração do menino! Oh!!!! Zeus pai dos homens e deuses, ela avan­ ça agora para o outro, mira o fígado, oh!!!! Como pôde? Mas como a cidade dos rios santos, chão abrigo dos deu­ ses, a ti, a infanticida, abrigará? A facínora das cidades?

18 8

MEDETÀ

Imagina os golpes tias crianças, imagina que chacina construída! Não!10 c o r i - f e io :

Faz parte do mito, ninfa Maia. E assim, nesse banho de sangue, termina nossa novela. Aliás, como terminam to­ das as nossas novelas, tragicamente. E não foi diferente em A m o r, A bism ado A m o r. Você que perdeu, não perca a nossa edição em Vale a Pena O uvir de Novo, e não dei­ xe de se inscrever no concurso “Mostre seu Talento”, já temos milhares de inscrições, Píndaro, Simônides, Baquílides e Esquilo, Você não pode perder essa chance de entrar para a História aqui, na minha, na sua, na nossa Rádio Tebas 5 2 ac mhz . Apoio cultural:

c o r o s : {C anta nd o .)

Resort e Pousada do Ciclope!

A propósito, se você está estressado e sua família está cansada também, não deixe de conhecer o Resort do Ci­ clope. Lá você terá as férias com que sempre sonhou: tranquilidade para você e aventura para as crianças numa ilha paradisíaca. Resort e Pousada do Ciclope, onde a única estrela é Ninguém. c o r i - f e io :

Enfim, vamos ficando por aqui, mas deixamos vocês ou­ vindo a Rádio Tebas, na companhia das últimas palavras de Medeia. A Verdade, d e Jerry A d ria n i) “Que a verda­ de, lhe faz mal, eu sei. / O que ela faz é a mim e não a ti./ Não, não, ninguém poderá julgar-me, nem mesmo tu...

m e d e ia : (C anta nd o

c o ro s: m e d e ia :

1 0 . Id e m ,

Que a verdade é malvada eu sei. Meus erros eu fiz ao meu modo e onde estavas tu?

vv. 846-85.3.

R A D I O N O V E L A J i A S E A D A NA A R C O N À V T I C A

c o r o s: m e d e ia :

DE A P O L Ô N I O . . .

189

Que a verdade é malvada eu sei, Vivias penando em mim.

COROS: parápapapa. m e d e ia : c o ro s:

Ficavas contente em ver. parápapapa.

medeia : Que

há muita gente que se enganou a si, sem saber por

q u ê.... to d o s:

“Ninguém poderá julgar-m e, nem mesmo tu ...”

cori - feio : Boa noite

e bons pesadelos...

coki- eeia : E não se esqueçam, encontram o-nos amanhã, aqui para

novas em oções com a flutuante, molhada, espetacu­ lar, irressistível radionovela O disseu E slá d e V iag em ... A única radionovela em mar aberto, jam ais produzida desde a crise grega e o naufrágio de A rg o s,.. Som de p a lm a s n o p o rtã o . f e it ic e ir a

ciRCE: Odisseu! Odísseuuu! Odisseuuuuuuu! Som d e grilo.

c o r i - f e io ;

Nào percam mais essa em ocionante, apaíxonante, nave­ gante novela O disseu E stá d e V iagem um patrocínio de: Frigoríficos Aristophanes!!! Frigoríficos Aristophanes com phü! Frigoríficos Aristophanes!!! S om d e grilo.

coro: c o r i f e io :

Frigoríficos Aristophanes!!! ( V oz triu nfante): Com efe! N ão!!!!!!! (Seguida d e m io s e trovões, b aix in h o .) É com p h ... Alé amanhã!

t

F I C H A T É C N I C A DE M E D E I A

A T O R E S DE TR A A U Ç Ã O Μ ΕΔΕΙΑ : Gustavo M ontes Frade, M arina Pclucci Duarte Rlortoza JA SÃ O : Douglas Cristiano Silva A M A : Ana Araújo, Douglas C ristiano Silva, V anessa Ribeiro Brandão Ρ Ε Δ Α ΰ Ο Γ Ο : Priscilla Adriane Ferreira Almeida X O R O : Alexandre Cardoso Nunes Magalhães, M aría de Fátima Lanna ΕΓΕΙΤ; Flávia Freitas M oreira, G ustavo M ontes Frade, M a ri­ na Pelucci D uarte M ortoza K R EO N TE: Flávia Freitas M oreira, Gustavo M ontes Frade, M arina Pelucci Duarte M ortoza M ENSAFE1RO: Priscilla Adriane Ferreira Almeida, M arina Pe­ lucci Duarte Mortoza O ILH O S: Carlos Eduardo de Souza Lima Gomes AIREÇÀ O DE T R A iU Ç Ã O Tereza Virgínia Ribeiro Barbosa

191

192

M E D EIA

A SSISTE N TE S DE AIREÇÃ O D E TRA A U Ç Ã O Alexandre Cardoso Nunes Magalhães, M arina Pelucci Duarte M ortoza A IREÇÃ O A R TÍST IC A Andréia Garavello / V inícius Albricker A SSISTE N TE D E A IREÇÃ O A R TÍST IC A fosiane dos Santos Félix R EV IZ Ã O FINAL ManueAa Ribeiro Barbosa TEX T O GREGO EU R IPID ES. M ed ea. David Kovacs (ed.). Cambridge, Harvard University Press, http://www.perseus.tufls.edu/liopper/text ?doc= Per s eus: text:19 99 .ο 1 .0113 FICH A T É C N IC A D O E SPETÁ C U LO M ED EIA Elenco: A ndréia Garavello - Medeia Guilherm e Colina/ G eison Bezerra da Silva- fasão Geraldo Peninha - Pedagogo/ Creonte/ Egeu Gaia Bouchardet - Ama Alexandra Stella - M ensageiro Raposa Lopes/ Graziele Sena - Coro fosiane Félix - Corifeu fay Barcelos/ Juliana Birchal/ féssica Tam ietti - C oro Criação musical: Josiane Félix e M arco Fiávio Alvarenga Preparação vocal: M arco Fiávio Alvarenga Preparação corporal e coreografias: Dulce Beltrão Figurinos: Léo Piló

fich a

téc n ic a

de

m ed eia

93

Cenário; Renato M artins e Helvécio Izabel Produção: Janaina Morse/ Jouberl Silva Assistência de produção: Carlos Eduardo Gom es

FICH A TÉC N IC A DE O LA D O OBSCURO DO AM OR ( 0 L ado Obscuro d o A m or é a primeira versão do texto paródico para M edeia. Neste livro, apresentamos esta versão revista e ampliada para publicação com o título Amor, A bism ado Am or.) texto

- Ana C ristina Fonseca dos Santos, Andreia Garavello,

Tereza V irginia Ribeiro Barbosa a t o r e s

e

v o z e s

- Ana Cristina Fonseca dos Santos, Andréia

Garavello, Bruno Pontes, Everson Soto, Flávio Gonçalves, Josiane FélLx dos Santos a p o io t é c n ic o

- C aio Teodoro, Carlos Eduardo de Souza G o ­

mes, Priscilla Adriane Ferreira Almeida, Priscilla G ontijo, Vanessa Ribeiro Brandão

Aildréia Garavello. Foto de Clara Garavello Baião de Amorim,

E squ erd a :

A c im a . D a e s q u e r d a p a r a a d ireita , se n tid o h o rá r io :

Alexandre Cardoso Nunes Magalhães, Carlos Eduar­ do de Souza Lima Gomes, Alexandra Stella, Priscilla Adríane Ferreira Almeida, Gustavo Montes Frade, Josiarie Félix, Gaia Bouchardet, Jessica Tamietti de Almeida, Tereza Virginia Ribeiro Barbosa, Maria de Fátima Lanna, Marina Relutei Duarte Mortoza e Douglas Cristiano Silva. Foto de Barbara Zanco,

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