Imagens do inconsciente

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Citation preview

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5.

O Tema Mítico da União de Opostos

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1

Essay sur /'Experience

Hallucino-

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Ju Réel ou Recherche

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II.

Experience.

Delta,

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Mystique?

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15, 139.

C.G. Jung. LHomme

Psychédélique.

M DOS T E M A S M A I S F A S C I N A N T E S da psicologia profunda é o problemas dos opostos, seus conflitos, afastamentos, aproximações, união. A estrutura da psique, segundo C.G. Jung, é basicamente constituída de pares de opostos, resultando dessas polaridades o dinamismo energético da vida psíquica. Os processos psíquicos enfocados individual ou coletivamente mostram constantes tensões, separações e esforços para união entre os opostos pois. «embora fujam um do outro, eles buscam equilíbrio desde que um estado de violento conflito ameaça demasiado a vida para ser suportado indefinidament e » . Entretanto, nunca será anulada nos opostos sua condição básica irreconciliável. «Acham-se fundados sobre oposições verdadeiras inerentes à estrutura energética do mundo físico e psíquico e sem as quais nenhuma existência de qualquer espécie será possível. Não há posição sem negação correspondente. A despeito, ou justamente por causa dessa extrema oposição, um não pode existir sem o outro. E exatamente aquilo que está formulado na filosofia chinesa clássica: o yang (princípio claro, quente, seco, masculino) encerra em si o germe do yin (princípio obscuro, frio, úmido, feminino) e vice-versa. Ter-se-á portanto de descobrir o germe do espírito na matéria e o germe da matéria no espírito. »-

et ses

Pont Royal, Paris, 1968.

symboles,

Na totalidade psíquica defrontam-se consciente e inconsciente, luz e escuridão, bem e mal, princípio masculino e princípio feminino, este último par constituindo «a mais formidável oposição» entre os demais contrários, no dizer de C.G. Jung. A psicologia freudiana estabelece seus fundamentos sobre o princípio masculino, isto é, sobre a figura do pai. O complexo de Édipo é um fenômeno universal. Desse complexo depende o destino de cada homem, pois aquele

que o supera será um homem normal e aquele que permanece vinculado ao complexo será um neurótico. O complexo de Édipo não é apenas uma fatalidade individual. A humanidade carrega-o também. N a horda pré-histórica, o desejo de eliminar o pai, que ainda hoje atormenta cada criança, foi realmente levado a efeito. O pai e chefe da horda foi morto pelos filhos rebelados. Freud vai buscar, nesse drama primeiro, a origem das religiões e das instituições morais e sociais. « A significação do complexo de Édipo começou a crescer de modo gigantesco. Surgiu a suspeita de que a ordem estatal, a moral, o direito e a religião haviam nascido conjuntamente, como produtos de reação ao complexo de Édipo, na época primordial da humanidade.» 3

Segundo Freud expõe em Totem e Tabu, o pai assassinado pelos filhos foi substituído, no clã de irmãos, pelo animal totem que assumiu o caráter de pai espiritual. Numa etapa posterior de desenvolvimento nasce a idéia de Deus, ser no qual o pai da horda, já bastante depurado, recupera a forma humana. Mas onde situar, neste contexto, as Grandes Deusas arcaicas, cuja importância é inegável? Freud honestamente escreve: « O que não nos é posível indicar é o lugar que corresponde nesta evolução às grandes divindades maternas que talvez hajam precedido em toda parte os deuses pais.» A atitude de Freud diante do feminino é quase sempre negativa. «Sabemos menos sobre a vida sexual da menina que sobre a do menino. Mas não há motivo para nos envergonharmos disso, pois também a vida sexual da mulher adulta continua sendo um dark continent para a Psicologia.» E quando procura nesse território escuro algo que seja específico à menina o que encontra :omo elemento fundamental é a inveja do órgão masculino, daí decorrendo toi o o desenvolvimento psicológico da mulher. É como se a mulher fosse um lomem falhado. A feminilidade com qualidades próprias não existiria, quanlo muito estaria correlacionada ao masoquismo e à passividade. 4

5

A psicanálise pós-freudiana tenta ampliar as vistas ortodoxas sem trazer >orém contribuição importante relativa às relações entre o masculino e o feainino. Na psicologia de C G . Jung o feminino tem lugar próprio e de muito grane relevo. O inconsciente junguiano é a mãe em largo sentido simbólico, fasciante e ameaçadora. É o Reino das Mães, onde Fausto via deusas poderosas, s Mães, reinando na solidão da mais profunda das profundezas, cercada das nagens de todas as coisas criadas ( I I , Fausto). Dentre todos os arquétipos do inconsciente coletivo nenhum possui carga rvergética mais forte que o arquétipo mãe.

« A s qualidades associadas a este arquétipo são a solicitude e a benevolência; a autoridade mágica do feminino; a sabedoria e a exaltação espiritual que transcendem a razão; instinto ou impulso a socorrer; tudo que é benigno e protetor, que favorece o crescimento e a fertilidade. Tanto o lugar de transformação mágica e de renascimento, quanto o mundo subterrâneo e seus habitantes, são presididos pela mãe. N o seu aspecto negativo, o arquétipo mãe está associado a tudo que é secreto, oculto, escuro, o abismo, o mundo dos mortos, a tudo que devora, seduz, envenena, que é terrificante e inexorável.» 6

O inconsciente mãe, unidade primordial, contém as sementes do princípio feminino e do princípio masculino. T o d o ser humano é por natureza bissexual. Esta noção de bissexualidade, antes de ser aceita pela ciência, era uma intuição antiquíssima. Encontramo-la, por exemplo, no mito dos Andróginos, narrado por Aristófanes no Banquete de Platão. Os andróginos eram seres bissexuados, redondos, ágeis e tão possantes que Zeus chegou a temê-los. Para reduzir-lhes a força, dividiu-os em duas metades, masculina e feminina. Desde então cada um busca ansiosamente sua metade. O homem e a mulher sofrem esse mesmo sentimento, expresso pelo mito, de serem incompletos quando sozinhos, pois a natureza do homem pressupõe a mulher e a natureza da mulher pressupõe o homem. T o d o s sabem que no corpo de cada homem existe uma minoria de genes femininos que foram sobrepujados pela maioria de genes masculinos. À feminilidade inconsciente no homem, Jung denomina anima. Do mesmo modo, no corpo de cada mulher acha-se presente uma minoria de genes masculinos. Jung denomina animus a masculinidade inconsciente que existe no psiquismo da mulher. Animus e anima, enquanto permanecem inconscientes, manifestam-se sob aspectos de masculinidade e de feminilidade arcaicos, indiferenciados. Estes opostos, que se defrontam e lutam constantemente na vida cotidiana, lançam suas projeções sobre as pessoas do sexo oposto tecendo uma teia fantasmagórica que envolve e perturba as relações entre homem e mulher. A tomada de consciência dessas projeções permitirá porém que animus e anima desenvolvam-se psicologicamente. O animus poderá ultrapassar a condição inicial, puramente biológica, que toma forma em personagens de grande força física. Na etapa seguinte assumirá as qualidades do aventureiro, do herói de guerra ou se aproximará das figuras românticas ou dos poetas. Outro estágio será representado pelo político eloqüente, o professor ou o sacerdote. Atingindo estágio de superior desenvolvimento, o animus tornar-se-á « o mediador da experiência religiosa que

traz sentido novo à vida. Ele dá a mulher firmeza espiritual, um sustentáculo interior invisível, que compensa sua aparente fragilidade». Igualmente a anima é suscetível de evoluir. Sua condição inicial exprime relações de natureza biológica e instintiva. Desde que se desenvolva, atingirá um estágio caracterizado por sexualidade mesclada de elementos românticos. Num terceiro estágio, eros espiritualiza-se; este estágio poderá ser representado pela figura da Virgem Maria. A mãe biológica do estágio inicial aqui seria substituída pela maternidade espiritual. O quarto estágio vai mais além: é representado pela Sabedoria, ou seja, Sofia. 7

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Nas páginas seguintes será tentado o estudo da oposição masculino/feminino na história das religiões, na alquimia, nas imagens do inconsciente.

OS OPOSTOS MASCULINO/FEMININO NA HISTORIA DAS RELIGIÕES Os movimentos dos opostos masculino/feminino no inconsciente transparecem sob vários aspectos na mitologia e história das religiões, inclusive em textos bíblicos e dogmas cristãos. Numerosos mitos falam de um ser divino primordial, sem idade, macho e fêmea simultaneamente, no qual todos os opostos se acham fundidos numa unidade pré-consciente. A s primeiras divindades que se diferenciaram são de natureza feminina. Pequenas figuras femininas de volumosos corpos foram encontradas, da índia ao Mediterrâneo, revelando um culto pré-histórico que provavelmente tinha por centro a força geradora da natureza e o mistério do nascimento. Mais tarde essas figuras individualizaram-se nas formas das Deusas Mães arcaicas. « A Mãe Onipotente é mais antiga que o Pai Onipotente. Ishtar e ísis foram mães universais muito antes que qualquer deus celestial ou divindade masculina de qualquer tribo tenha assumido as funções de patriarca universal.» 9

Na Suméria, a Grande Deusa é Inana e na Babilônia seu nome é Ishtar. Inana une-se ao pastor Damuzi e Ishtar a Tamuz, jovens divinos que encarnam a potência criadora da primavera. Esta união dá o impulso anual ao ciclo das estações, despertando a fertilidade da terra. Damuzi-Tamuz desempenha papel secundário, morre na rotação das estações e tem de ser resgatado do mundo subterrâneo pela deusa. Nela é que reside o poder criador em toda a sua plenitude. 10

N o Egito do período arcaico a Grande Deusa chamava-se Hathor e tinha a forma de vaca. «Ela era de fato a grande mãe do mundo e a Hathor cósmica.

antiga, personificava o poder da natureza que perpetuamente está concebendo, e criando, e parindo, e exaltando, e mantendo todas as coisas, grandes e p e q u e n a s . » " Posteriormente ísis tornou-se a Grande Deusa do Egito. O reinado de ísis foi longo. Estendeu-se fora do Egito, sendo seu culto e seus mistérios ainda celebrados na Grécia e em Roma no início da era cristã. Lucius Apuleius, que viveu no século II depois de Cristo, louva ísis: «Mãe da natureza inteira, senhora de todos os elementos, origem e princípio dos séculos, soberana do universo.»'Mas ísis foi sobrepujada pelas divindades masculinas. O poder patriarcal afirmava-se agora apoiado numa estrutura jurídica que de Roma difundiu-se a todo o mundo ocidental. Recuemos ao mundo egeu do III milênio a.C. Encontrar-se-ào Dana, a deusa branca resplandecente, e Dictyna, deusa mãe do monte Dicte (Creta). A s representações simbólicas principais de Dictyna são «a árvore sagrada e a coluna, que unem o céu, a terra e os i n f e r n o s » , r e i n o s onde ela exerce poderes absolutos. Grande Mãe geradora e nutridora. senhora dos vegetais, dos animais e dos humanos, regula tanto a alternância das estações quanto o curso dos astros. A Grande Deusa cretense é divindade universal e suprema. 0 jovem deus que aparece a seu lado ocupa lugar de servidor. A. Evans identifica este j o v e m a Zeus, desempenhando aí papel equivalente ao de Tamuz em relação a Ishtar. Mais tarde (século XII a . C ) . é que Zeus relega a segundo plano a Grande Deusa, até então divindade universal, e vem ocupar, sob o aspecto de homem maduro, a posição de soberano patriarca no panteon dos deuses gregos. Em Canaã reinava Astartéia, rainha do céu e da terra. Quando os hebreus, adoradores do Deus Pai Javé, aí se estabeleceram 1.300 anos a . C , encontraram o antiquíssimo culto daquela deusa e o de seu esposo ou filho Baal. O choque entre os divinos opostos foi terrível. N o I Livro dos Reis (18, 40) encontramos o profeta Elias degolando 850 profetas de Astartéia e de Baal. Entretanto não foi fácil extirpar o culto da Grande Mãe. N o II Livro dos Reis (21, 4-7) lê-se que o rei Manasses chegou mesmo a introduzir uma imagem de Astartéia no templo de Jerusalém. Os altares pagãos instalados na casa de Javé foram destruídos em 620 a.C. pelo rei Josias. Foram então expulsos os sacerdotes de Astartéia e quebrados os utensílios de seu culto. A reforma de Josias não teve o alcance esperado. Persistiu a adoração dos símbolos de Astartéia, a coluna e a árvore, símbolos idênticos aos de Dictyna. É o profeta Jeremias quem o diz, clamando contra «altares e aseras junto de árvores frondosas, sobre colinas elevadas» (Jer. 17. 2). Astartéia por fim recuou diante de Javé, como Dictyna diante de Zeus. O 14

Deus-Pai torna-se a divindade absoluta no mundo ocidental. Passa a predominar o princípio paterno da discriminação de opostos essencial à estruturação da consciência, « o Logos, que eternamente luta para desprender-se do calor e escuridão primordiais do ventre materno, numa palavra, da inconsciência». 15

A teologia judaica e a teologia cristã baniram o princípio feminino da alta :sfera onde situam Deus, seja Javé, o Pai Criador para os judeus, ou a trindade masculina para os cristãos. Mas banir não significa eliminar. O eterno feninino persiste vivo e atuante na profundeza do inconsciente. N o Antigo Testamento, tão cioso do único Deus Pai Javé, vemos reponar o princípio feminino, no Livro dos Provérbios (8, 22-30), como aspecto feninino do próprio Javé. Possuiu-me Deus como principio de suas ações preâmbulo de suas obras, desde então Quando ele ainda não tinha criado a terra, nem os campos, nem os primeiros torrões do mundo, Quando fixava os céus, eu lá estava; Quando colocava um arco sobre a jace do abismo. Quando dava consistência às nuvens nas alturas, Quando dava forças às nascentes subterrâneas. Quando fixava os limites do mar, Para que as águas não transpusessem suas margens, Quando lançava os fundamentos da terra. Qual arquiteto eu estava ao lado dele; era toda complacência dia após dia, folgando na sua presença a cada instante

Merece ser transcrito o comentário a estes versículos que aparece na traição da Bíblia para a língua portuguesa, dirigida pelo Pontifício Instituto Bíico de Roma. O autor do Livro dos Provérbios apresenta-nos a Sabedoria numa con:pção completamente nova e audaz. Para ele, ela não é uma abstração, e sim n ser concreto, vivente, que opera ao lado de Deus. Todavia não é uma criara, é um ser divino, porque existiu antes que Deus criasse coisa alguma e >ncorreu para a criação de tudo. Dir-se-ia um atributo essencial de Deus, pom é personificado com relevo tão forte, que para distinguir a pluralidade de íssoas em Deus, esta descrição não precisa mais do que um passo. E este isso foi dado quando a sabedoria divina se encarnou em Jesus Cristo.»

O comentarista bíblico não explicita que este «ser concreto, vivente», todo complacência, que se encarnou em Jesus Cristo, seria de natureza feminina. Nesse sentido, porém, Juliana de Norvich, mística inglesa do século XIV, católica, traz o testemunho de suas experiências internas. Juliana escreve nas Revelações do Amor Divino: «Eu vi a Santíssima Trindade atuando. Eu vi que na Trindade havia três atributos: paternidade, maternidade e magnificência — todos num só Deus.» O atributo materno pertence ao Cristo: «nós fomos redimidos e cumulados pela misericórdia e graça de nossa doce, amável e sempre amorosa Mãe Jesus». Outro místico católico, São Nicolau de Flue, que viveu na Suíça no século X V , narra uma visão na qual lhe aparecem Deus-Pai, Deus-Mãe e DeusFilho, revestidos de igual esplendor. Deus-Mãe é a virgem Maria. As experiências internas de Juliana de Norvich e de Nicolau de Flue são vivências pessoais. A igreja católica, como instituição, mantém-se estritamente fiel ao princípio masculino. A Trindade cristã é masculina nas três pessoas que a constituem: Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, todos iguais em poder e glória. Decerto a Trindade não é uma «invenção» cristã. Paralelos históricos para essa concepção são encontrados na Babilônia, Egito, Grécia. Jung diz: «Os agrupamentos em tríades constituem um arquétipo na história das religiões que muito provavelmente formaram a base da Trindade cristã.» A Trindade corresponde a uma determinada visão de Deus estreitamente correlacionada à evolução da consciência na nossa era. Como todo dogma, exprime de maneira condensada a situação da vida psíquica coletiva numa época histórica. N o s tempos presentes pressões internas revelam que ainda está faltando algo para que o processo de alargamento da consciência continue a desenvolver-se. O que estará faltando à Trindade? Está faltando o quatro. Que significação tem o quatro? Quem o representa? O quatro é o princípio feminino, é a mulher. « O três significa o masculino, o paterno, o espiritual; o quatro significa o feminino, o materno, o concreto.»Nessa linha de pensamento, Jung interpreta o dogma da Assunção de Maria (translação ao céu do corpo da Virgem na ocasião de sua morte), proclamado em 1950, como expressão de um movimento que vem de raízes inconscientes, no sentido de aproximar o feminino da Trindade masculina. Este dogma, conquistado após difíceis movimentos dentro da Igreja, iniciados já no século I V , certamente aproxima Maria da Trindade, eleva-a à dignidade de Senhora do cosmos e de Rainha de todas as coisas criadas. Mas não a reconhece como deusa. O dogma não a situa em nível igual ao Pai, ao Filho, ao Espírito Santo. 16

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A pposição A o s i i , . i i i ide lc

Maria, irepresentante do no mundo criscpicsentante d o pprincípio r i n c i p i o ffeminino eminino n o m undo c ris-

às do ltão, . i i i . inão i . i o pparece a i e i e lter e i ddado . i d o -satisfação . a l i s t a r ã o ccompleta ompleta á s eexigências xigências d o inconsciente, inconsciente, Maria o aaspecto do O cristtalvez . i h c / |porque iou|iK- M , i i 1,1 eencarne n c a r n e ssomente omente o s p e c t o lluminoso uminoso d o ffeminino. eminino. O crisvenera, na Virgem, a iimaculada, a lluz Ela não ttianismo ianismo \ c n c i a . tia \ irgem. a maculada, a u z ppuríssima. uríssima. E la n ã o ttem e m sombra. sombra Do p onto d e \ ista d a psicologia p s i c o l o g i a jjunguiana, unguiana. o ogma d a A s s u n ç ã o , além alem Do ponto de vista da o ddogma da Assunção, i l e exprimir cxpimui a p r o x i m a ç ã o entre entre o rincípio m asculino e r i n c í p i o feminino, feminino, de aproximação o pprincípio masculino e oo pprincípio encena a inda o u t r a s conseqüências. conseqüências. encerra ainda outras O dogma, dogma, a estabelecer a a translação t r a n s l a ç ã o de d e Maria M a n a ao a o céu, c é u . admite a d m i t e implicitaimplica.tO aoo estabelecer m e n t e que que a a matéria m a t é r i a penetrou p e n e t r o u no n o reino r e i n o do d o espírito. e s p í r i t o . Embora Embora o o corpo c o r p o da da V nmente Virgem hug e m haja h a j a sido s i d o concebido c o n c e b i d o sem s e m mácula m á c u l a original, o r i g i n a l , não n ã o deixa d e i x a de d e ser s e r um u m corpo c o r p o humano m a n o constituído c o n s t i t u í d o por p o r elementos e l e m e n t o s materiais materiais e e sujeito s u j e i t o às a s leis l e i s da d a matéria. m a t é r i a . Acresce Acresce ainda a i n d a que que o o arquétipo a r q u é t i p o mãe, m ã e . suporte s u p o r t e psicológico p s i c o l ó g i c o da d a figura f i g u r a da d a Grande C i r a n d e Mãe M a e criscristã, t ã , está e s t a intrinsecamente i n t r i n s e c a m e n t e correlacionado correlacionado à á matéria matéria e e à a natureza. n a t u r e / a . Santo S a n t o AgosAgostinho t i n h o compara c o m p a r a Maria .Maria à a terra: t e r r a : «« A A verdade v e r d a d e surgiu s u r g i u da d a terra t e r r a porque p o r q u e Deus D e u s nasceu nasceu da d a Virgem.» V i r g e m . » Com Com a a Assunção A s s u n ç ã o faz-se f a z - s e presente, p r e s e n t e , junto junto à a trindade t r i n d a d e masculina m a s c u l i n a esespiritual, p i r i t u a l , oo feminino, feminino, a a mulher, mulher, a a matéria. m a t é r i a . Os O s opostos o p o s t o s masculino/feminino, m a s c u l i n o f e m i n i n o , mamatéria/espírito, t e i ia e s p í r i t o , que q u e vêm v ê m dilacerando d i l a c e r a n d o aa era e r a cristã c r i s t ã ee pareciam p a r e c i a m irreconciliáveis. irreconciliaveis. aproximam-se enfim. aproximam-se enfim. n o v o dogma d o g m a parece p a r e c e ser s e r uma u m a antecipação a n t e c i p a ç ã o de d e processos p r o c e s s o s psíquicos p s í q u i c o s em em OO novo c u r s o no n o inconsciente i n c o n s c i e n t e que q u e encontram e n c o n t r a m na n a esfera e s f e r a religiosa r e l i g i o s a mais m a i s propícias p r o p í c i a s condicondicurso ç õ e s para p a r a sua s u a configuração, c o n f i g u r a ç ã o , uma u m a vez v e z que q u e «a « a religião r e l i g i ã o éé um u m laço l a ç o vital v i t a l com c o m os os ções p i o c c s s o s psíquicos, p s í q u i c o s , independente i n d e p e n d e n t e ee para p a r a além a l e m da d a consciência c o n s c i ê n c i a nos n o s territórios territórios processos internos i n t e r n o s ee escuros e s c u r o s da d a psique». psique». 2 22

D e p o i s de d e tantos t a n t o s séculos s é c u l o s firmados firmados Depois

s o b r e oo patriarcalismo, p a t n a r c a l i s m o . aa Igreja I g r e j a passou passou sobre i n l e r e s s a r - s e pelo p e l o feminino, f e m i n i n o , atribuindo-lhe a t r i b u i n d o - l h e importância i m p o r t â n c i a inesperada. i n e s p e r a d a OO Papa 1'apa aa interessar-se loão J o ã o Paulo P a u l o I Ichegou c h e g o u aaafirmar: a f i r m a r : «Deus « D e u s éé Pai P a ie, e .mais m a i s ainda, a i n d a , éé Mãe.» M a c -AA literatura liteiaim.i :eológica t e o l ó g i c a referente r e f e r e n t e ao a oassunto a s s u n t o já j a éé vasta. v a s t a . NNo o Brasil, B r a s i l , oo franciscano f r a n c i s c a n o Leonardo I.eonaido 3off l i o l í publicou, p u b l i c o u , no n o início i n í c i o de d e 1979, P J 7 9 . um u mexcelente e x c e l e n t e estudo e s t u d o sobre s o b r e oo feminino f e m i n i n o em em ;eus s e u s aspectos a s p e c t o s religiosos r e l i g i o s o s e epsicológicos, p s i c o l ó g i c o s , significativamente s i g n i f i c a t i v a m e n t e intitulado i n t i t u l a d oOO Rosto ft.n.v Materno de Deus.-^

) Si sOPOSTOS LlQ. Q U tI M IA ( M O M O S MASCULINO/FEMININO \ l \ . S ( ' l I . I N O H . M I M N O NA N A A\ IM I \ n . | i i . n i i . i só.omuito m u i t o recentemente t e c e i i i e m e i i t e o ocristianismo c t i s t i a n i s m o começa c o m e ç a a aabrir a b r i r espaço espaço Enquanto •" " ' "feminino, I ' i i i i i i u i " a aalquimia a l q u i m i ahá liamuitos m u i t o sséculos s é c u l o sjáj . trabalhava i t r a b a l h a v ano n osentido sentido ara acolher o n i . i s i i i l m n ao . i "seu oposto. o p o s t o . « •• a l q u i m i a ée uma u m a espécie e s p é c i e de d e corrente corrente e ' unir o masculino A \ alquimia "I' " • • ' » ' em '•>>»relação i i oao . H 'cristianismo i i i s i i . i i i i s i n o que q u egoverna g o v e r n a sobre s o b r e a asuperfície. s u p e r f í c i e É. f ubterrãnea •' •' superfície, ' I>I> •|in-o osonho M M I I I Mé vpara [ l a i a a ; iconsciência c o n s c i ê n c i a e,c tal . l ; i como ! c o m o o osonho sonho ara esta o » •.'quitive-i ,,s • respondia exatamente ao processo de individuaçáo que ele descrevera. Opus r e s p o n d i . ) e x a t a m e n t e a o p r o c e s s a o e iriur-. i d i u i ç . i o q u e e u Á S ; í c . c r u . a p»-,v.>. A primeira fase do trabalho alquímico denomina-se nigredo. É um estado A p r i m e i r a f a s e d o t r a b a l h o f . í o u m i i c o d e n o m i n a - s e ' :;•'•/••...>. h u n i e-Mtu. caótico (massa confusa) no qual os diferentes elementos são separados e dec a ó t i c o ( m a s s a c o n : ' : : s a ) n u q t a f o-- •.;il'--r-;-aes e o m e a t a - s ã o s e p a r a d o , e a. compostos. Se ocorre união de opostos nesta fase. trata-se de identificação inc o m p o s t o s . mistura S e o c o rde r e fatores sjni,io J iheterogêneos . o p o > i o - n e - á aem laa .. . --.c c.v , < a c rCorres. i i . ' ' consciente, relações autônomas. c o n s c i e n t e , m i s t u r a d e f a t o r e s h e t e r o g ê n e o s -.-ir r e l a ç õ e s . n n > > u o n i . . < mii ponde à situação do adepto ainda mergulhado no inconsciente. Em linguagem p o n d e a s i t u a ç ã o d o a d e p t o a i n d a m e r g u l h a d o n-,. . U C . Ü I c . J P I . ' su h i i gu.uápsicológica, diríamos encontro com a sombra. p s i cOo l processo ó g i c a , d i r evolui í a m o s no e a c sentido o a t i o e ude a i conseguir-se a iluminar a escuridão, trazer í ) p r o e C s s . v i •'. o l a 1 n o s e ;a ü ( o 1" i a a < a ' N i; ; h 11 i: . • 'ni. à luz a precedente união de opostos realizada em nível inconsciente. Sucea l l l / .1 p r c C C l i c l I t l I S I t l . l » ' i l l •>!-.> !•• ••. || ' ' • a .,, ' l i . .11 . f l l l ' > dem-se diversos métodos de lavagem que conduzem à segunda fase, ao old e r a -o d i e i • a: