O Vinculo Inedito [1 ed.] 8571372101, 9788571372108

Freud introduziu no Ocidente um vínculo, até então inédito, entre duas pessoas, dois desconhecidos: chamou-o "trans

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O Vinculo Inedito [1 ed.]
 8571372101, 9788571372108

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"Q u a n to m a is trab alh o , m a is m e convenço da im p o rtan cia da im p licação do an alista no processo de an á lise e m a is ju lg o n ecessário p en sarm o s n isto, p o is tudo aq u ilo que pertence ao p lan o do sensível, ao s 'sen tires’ e ao v ín cu lo , n ão deve, no entanto, p e rm an e ce r n u m a n eb u lo sa do indizível. N ão se trata do im p en sáv el.”

ISBN 85 - 7137 - 210 -1

788571 372108

Freud introduziu no Oci­ dente um vínculo, até cn!ãç>, Inédito entre d u a s pessoas, dois desconhecidos: chamou-o ’’transferência'', No inicio de sua atividade, referia-se ã relação médi­ co-doente, mas muito ra­ pidamente esse novo con­ ceito veio a designar nüo mais o encontro médicopaciente. e sim um vínculo especifico cm relação ao inconsciente, às pulsdes e à repetição, No inicio, a transferência foi transferência de amor... e para Lacan "alguma coisa em relação ao amor". Desde então, os analistas passaram a chamar de "transferência" tudo aquilo que acontece entre anali­ sando e analista. Como o próprio nome indica, e como convém abordá-la. a transferência implica um translado, implica pelo menos duas cenas. E com a repetição que suas relações são mais evidentes, mas não podemos reduzi-la apenas ã repetição, a transferencia remete também ao novo cm virtude de sua eterna falha. Assim a transferência evolui...

C by Editora Escuta para a edição em língua portuguesa 1' edição: abril de 2003 E ditorfs

Manoel Tosta Berlinde Maria Cristina Rios Magalhães C apa

Daniel Trench, com extrato de Stattd uvnran, de Pablo Picasso P roduçAo E dttorial

Ataidc Sanches Catalogação.na Fome do Dcpto. Nacional do Livro

Z99 Zygouris, Radmila O vínculo inédito /Radm ila Zygouris ; tradução de Caterini K o lu i. —São Paulo: Escuta, 2002. Coleção Ensaios 30 p . ; 13x18 cm. ISBN 85-7137-210-1 1. Psicanálise. 2. Freud, Sigmund, 1856-1939.1. Lacan, Jacques, 1901-1981.1. Koltai, Catcrina. II. Título. C D D : 150.195

Editora Escuta Ltda. Rua Dr. Homem de Mello, 446 05007-001 São Paulo, SP Telefax: (11) 3865-8950 / 3675-1190 / 3672-8345 e-m ail: c s o ita @ u o l.e o m .b r

Freud introduziu no Ocidente um vinculo, até então, inédito entre duas pessoas, dois desconheci­ dos: chamou-o “ transferencia*'. No início de sua atividade, referia-se à relaçao médico-docnte* mas muito rapidamente esse novo conceito veio a desig­ nar nao mais o encontro medico-paciente, e sien um vínculo específico em relação ao inconsciente, às pulsões c à repcdçao. N o inído, a transferênda foi transferência de amor... e para Lacan “alguma coisa cm relação ao amor” .

Desde então, os analistas passaram a chamar de “ transferencia“ tudo aquilo que acontece entre

R \OMJl A Zvcj< IURIN

analisando c analista. Como o próprio nome indi­ ca, c como convem abordá-la, a transferência impli­ ca um translado, implica pelo menos duas cenas. E com a repetição que suas relações são mais eviden­ tes, mas não podemos reduzi-la apenas à repetição, a transferência remete também ao novo em virtude de sua eterna falha. Assim a transferencia evolui... Já trabalhei esta questão amenormente e pen­ sei que as coisas poderiam ficar mais claras se dis­ tinguíssem os a transferência horizontal da transferência vertical. E fato que evoca-se mais fre­ quentemente a transferência vertical\ seja ao situar o analista em lugar paterno, seja retomando a noção lacaniana elo analista ocupando o lugar de um sujeito-suposto-saber, amado justamencc cm tunçào deste saber suposto. Esquecemos, no entanto, de precisar que ele c suposto saber uma única coisa: aJgo sobre o inconsciente de seu analisando. Ape­ nas isto. E é justamente disso que ele nada sabe. Se não especificarmos que se trata do inconsciente, continuamos no campo da medicina, uma vez que todo doente supõe que seu médico saiba alço sobre seu corpo doente,., e, em princípio, assim deveria 0

O w\a i s\ isi-nna

ser. Ao passo que para o analisando trata-se, primeiramente, de urna ilusio. A transferencia vertical confere um lugar de dominio ao analista, ainda que admitamos este nao saber inicial. Esta posição se justifica, em grande parte, pela inevitável depen­ dencia. Eu a havia distinguido de um outro tipo de transferencia: a horizontal9cm que temos uma rela­ ção menos desigual, aínda que assimétrica — o ana­ lista pode ser levado a expressar algo daquilo que é indizível ou impensável para o próprio analisan­ do, e onde ele funciona, segundo a terminologia anglo-saxá, como um “Eu auxiliar”. Podemos in­ cluir neste npo de transferencia tambem a transfe­ rencia simbiótica e, de modo geral, todas as manifestações que dizem respeito à interdependência psíquica dos dois protagonistas. Esta interdependen­ cia está no cerne do processo analítico, se conside­ rarmos que entre dois seres humanos, seja qual for a relação oficial entre eles, acontece uma série de coisas que escapa ao controle dos dois protagonis­ tas, mesmo se, por disciplina, o analista nào as ma­ nifeste. As transferencias cruzadas e invertidas pertencem a esta catcgona. A isco devemos acres7

Radmii-a ZvGoimis

ccntar que tudo aquilo que pertence a uma rela­ ção lúdica não suporta uma relação de pura verti­ calidade. Gostaria de introduzir aqui uma distinção en­ tre transferência propriamente dita, que é aquela que, enquanto conceito, pertence ao campo da psicanálise, e a noção de vínculo, que, ainda que não pertença especificam en te ao cam po da psicanálise, nasce no campo da experiência analíti­ ca. Antes de desenvolver o que aqui entendo por vínculo, proponho que façamos um pequeno desvio.

Em seu artigo “ Forma, substância e diferen­ ça” , Gregory Bateson relembra e comenta a célebre fórmula do semântico Korzybski dizendo que “ o mapa não é o território” . Como é que se faz um mapa? Com base nas “ diferenças” do território. O território como tal não faz parte de nenhum mapa. O mapa inscreve, por exemplo, diferenças dc altá8

O i Ix a / w iKfjxrñ

tude, composição do solo, diferenças climáticas, etc. Uma diferença é algo abstrato que marcamos no mapa com um código de entrada c escala de lei­ tura, que não figuram nem no mapa nem no terri­ torio; permitem que se passe de um ao outro. A relação vivida entre analista e analisando existe, antes de tudo, fora de qualquer mapa; pode ser assimilada ao território, mas na medida em que esta relação se dá num enquadre determinado, que exige uma leitura específica em relação a um cam­ po de saber, existe urna especie de mapa para sepa­ rar do conjunto das manifestações da relação aquilo que pode ou nao fazer parte do mapa. O território como totalidade daquilo que faz vínculo entre dois protagonistas em uma situação, contém uma infini­ dade de possibilidades, das quais os conceitos espe­ cíficos da psicanálise só podem isolar algumas diferenças para constituir o que vai se atualizar no tratamento e autorizar a especificidade da leitura analítica. Isto se torna particularmente patente quando se fala em transferência. Ao falar em transferência, os analistas parecem saber que se trata de manifes9

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taçòes que se referem ao mapa que lhes permite apreender alguma coisa do território, sendo que um acesso direto a este os deixaria na impossibilidade de interpretar, pois se encontrariam na situação do médico, quando não na de uma relação mundana. Ora, o mapa do qual se servem descreve o territó­ rio do paciente, mas esse território os inclui, e te­ mos ai um paradoxo. Antes de qualquer outra consideração quanto à transferência, será que estamos autorizados a nos interrogar sobre a natureza dos fios que tecem o pano das relações humanas, as relações entre dois corpos em presença e que se falam? Não cessamos de invocar a linguagem: o que se diz é patente, ao mesmo tempo em que necessita a análise do que c latente. Mas me parece um tanto restrito nos limi­ tarmos à linguagem, ainda que seja ela nosso ma­ terial predileto. O que sustenta as palavras? O tecido do vínculo é o real entre dois organismos humanos. Trata-se, antes dc tudo, de uma caracte­ rística da espécie humana, uma realidade feita dc “ sentires” ftelings), emoções cm sua maioria in­ conscientes, mas também conscientes, de sensoria10

O i iv a i/i iNf.orro

lidades que nada tém de cspeciñcamente analidcas, inclusive na sessão analítica. O que faz vinculo en­ tre dois humanos são os alicerces de uma presen­ ça, alicerces de singularidades jamais generalizáveis. E a pardr desses alicerces que um se liga ao outro c que o vínculo se estabelece ou não. É ai que a transferencia se entrelaça . D esse m odo, a diferença entre o mapa e o território pode desmoronar a qualquer momento. Em análise, a interdição da p assagem ao ato não provém exclusivamente do medo do incesto ou da n ecessid ad e de in tro d u zir a V ersagung, a abstinencia, para que a palavra prime sobre o fazer, a interdição está aí tam bém para preservar a predominancia do mapa sobre o territorio. O mapa não tolera a passagem ao ato: pôr o corpo real em cena rasga o mapa. O mapa, com o toda teoria, é um aparelho de captura... Ele capta as diferenças, mas proíbe o acréscimo de qualquer coisa que seja h etero gén ea em relação à sua escala. E sta n e c e ssid ad e n ão deve fazer com que nos esqueçamos que a análise pura não só não existe com o sua pretensão é uma im postura, pois c a li

R,\dmii.a Z ycouris

negação da multiplicidade d os fios que tcccm o pano dc qualquer relação humana e de tudo aquilo que torna a psicanálise simplesmente possível. Evidentemente, esse recurso à diferença entre m apa e território deve ser temperado pelo simples fato de que o espírito hum ano nunca funciona com o um mapa, ele está desde o início na comple­ xidade e na simultaneidade de elementos heterogê­ n eos. M as certas p ráticas an alíticas ten d em a reduzir, quando não negar, esta complexidade. Re­ duzindo ao mínimo as intervenções do analista, reduzindo ao mínimo o tempo das sessões, pare­ cem querer preservar a “ pureza” da análise longe das escórias das relações humanas e, portanto, do vínculo. V ão esforço: já que elas acontecerão de qualquer jeito “ deslocadas” nas relações mundanas ou insdtudonais ou, simplesmente, na sala de espe­ ra entre analisandos do mesmo analista. Se desejo introduzir aqui uma diferença entre transferência e vínculo é porque o vínculo não per­ tence ao mapa, e sim ao território, que é um terri­ tório bem particular. O analista, em princípio, conhece o mapa que utiliza, mesmo que desconhe­ 12

O rixíxui i\i:.nrm ça seus limites. Q uanto ao analisando, ainda que não o conheça sabe que ele existe. Podemos ler um m apa geográfico e mentalmente nos lem brarm os da paisagem realmente percorrida ou, ainda, pode­ m os, a qualquer momento, erguer a cabeça e obser­ var a paisagem em volta, constatando, assim , as imperfeições do mapa, quando não sua falsidade. Imaginem um viajante de n ossos dias que estives­ se de p osse de um mapa anterior à descoberta da Am érica. Algum as análises sc desenrolam neste contexto. Isto pode levar à loucura, já que o anali­ sando sente perfeitamente as limitações do territó­ rio ao qual o m apa de seu analista o fixa, m as, tom ado numa relação de dependência, acaba se subm etendo a um saber que obscuram ente sente com o limitado ou m esm o errado, A pesar dos afetos serem verdadeiros e sem ­ pre atuais, no trabalho sobre a transferência caímos freqücm em ente na armadilha de um universo de m etáforas. Batcson fala em “ metáforas significati­ vas" que acontecem, cm parte, ém nível do território. C om o ilustração, ele dá com o exemplo: “ mor­ rer para salvar uma bandeira". Caímos, freqüente-

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m ente, em m e tá fo ras significativas deste upo. Morrer para salvar uma bandeira; e o impacto do sim bólico — aquilo que a bandeira representa— sobre o imaginário de um sujeito— seu amor pela pátxia— que sacrifica sua vida no real. Bateson lembra, pertinentemente, que, nos p r o c e sso s prim ários, m apa e território estão assimilados — por exemplo, no sonho— , ao passo que, nos processos secúndanos, eles sc disunguem, e no jogo, no “ com o se", são ao mesmo tempo distin tos e assim ilados. A análise aconteceria justamente nesta área de jogo. Bateson permanece, no entanto, numa visão relativamente simplista do tratamento e da transferência, comparado ao que conhecemos deles hoje cm dia. Em seu arugo “ Uma teona do jogo c do fan­ tasma” , cie chama a atenção para as grandes seme­ lhanças existentes entre processo terapêutico e jogo. Diz ele: ... assim como o pseudocombate lúdico não é um verdadeiro combate, o pseudo-amor ou o pseudo-ódio da terapia não são amor ou ódio verda­ deiros. A “ transferência" diíere do amor c do 14

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odio reais, por meio de sinais que apontam para o enquadre psicológico; c é de fato o enquadre que permite que a transferencia atinja sua plena intensidade, c que doente c terapeuta possam qucsnoná-laE , mais adiante: Para nós o processo psicotexapèutico é uma interação enquadrada entre duas pessoas, em que as regras são implícitas, mas susceptíveis de serem mudadas. N ão está errado, nem é totalmente correto.

Antes de mais nada, esta distinção tão abrupta entre paciente esquizofrênico e os demais pacientes me parece errada, já que mesmo entre os neuróti­ cos e, principalmente, entre os que chamamos de borderlines, e que cada vez mais vêm para a análise, têm-se momentos psicóticos na própria transferên­ cia. E a transferência que c ou não é psicótica e não apenas o paciente. E isto depende tão-somente da 15

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capacidade do analista em abandonar minimamente suas próprias defesas neuróticas para fazer com seu paciente a experiência inaugural dc uma transferên­ cia, que, na falta de'um termo melhor, podem os chamar de psicótica. N ada, na formação analítica dos jovens analistas, é feito que lhes permita en­ frentar tais momentos do tratamento. A o contrário, poderíamos afirmar que tudo é feito e dito no dis­ curso oficial da transmissão para que estes momen­ tos sejam evitados, quando de fato são a articulação necessária para se chegar a uma etapa fundamental­ mente distinta, sem a qual as análises patinam. Por outro, lado me dei conta que anaiisandos cuja análise foi muito longa (ou que estão em sua terceira ou quarta análise) só conseguem se safar quando atravessam esses momentos psicóticos da transferencia, caso contrário suas análises tornamse de fato intermináveis. Interminavelmente alojados numa problemá­ tica edípica, quando sua problemática nodal se si­ tua alhures. E stes m om entos são tão difíceis de serem vividos porque d ão a im p ressão de inva­ lidar todo o trabalho feito anteriormente; o que é 16

O uivar/» iKi.tvm

falsa Trata-se simplesmente de abordar um outro “ estrato” psíquico que não tem lugar nas teorias clássicas freudiana ou kcamana, cujos representan­ tes não estão, portanto, preparados a tratar, não ha­ vendo aí espaço para esta espécie de técnica nem de “ sentires” . Felizmente, os verdadeiros clínicos não espe­ tam que a teoria em curso os autorize a sentir e dar lugar a experiências inéditas. Eis por que eu n io acompanharei Baceson para dizer que a cura se assemelha a um jogo, ain­ da que muitos elementos na análise se pareçam com um espaço de jo g a Bateson acrescenta, ele mesmo, que o enquadre que introduz o “ com o se” da m etáfora representa uma dificuldade para o esquizofrênico, para quem as palavras são tomadas, com o no sonho, em sentido literal. Aquilo de que ele justamente não pode dar conta, é do fato de que aquilo não é de verdade, ignorando o contexto, com o o sonhador ignota o contexto, rs to é, o fato de que ele está sonhanda Penso que tem algo de verdadeiro, dc literal, em qualquer análise, razão pela qual parece-me importante distinguir vinculo 17

RaDMII-A Z yOOL'RIS

dc transferência, m esm o que na prática estejam estreitamente interligados.

Assim, chamarei dc transferência apenas aqui­ lo que tem n ver com os conceitos psicanalíticos. Podem os dizer, portanto; diz respeito à transferên­ cia aquilo que decorre dc uma interpretação, seja da verbalizada ou não. O vínculo nâo decorre da intcrpretncào. Ele se vive, ele é o embasamento efetivo da singularidade dc dois corpos em presença. Acontece que alguns analistas temem o vincu­ lo e, ao dcsconhccê-lo ou ao insistir em excluí-lo cm nom e da pureza analítica, obrigam seus pacien­ tes a ficar em análise interminavelmente, tendo por único objcdvo não perder o vínculo com a pessoa d o analista. E sse s pacientes-terapeutas (com o as enanças-terapeutas de seus pais) continuam, para salvaguardar o vínculo, esforçando-se, em vao, em dar uma aparência dc trabalho a seu analista fobico ou por demais adoucrinado. O que nesses casos se torna interminável é a análise do analista por seu 18

O i is n 'ifi W:0/m

paciente subm eado. A s vezes, basta reconhecer a im portancia deste vínculo para que o s pacientes consigam partir tranquilizados. N a maioria das ve­ zes sabem, quando ousam pensar, o que nem sem ­ pre acontece, que já faz um bom tempo que seu analista deixou de ocupar o lugar de sujeito-suposto-saber, assim com o deixou de estar no lugar pa­ terno ou m aterno na transferência. T orn ou -se mero objeto dc cuidados, mas quem ousaria pensar nisto? E o caso dc nos perguntarm os quem, neste caso, é o mais louco: o paciente ou o analista. Tosquelies dizia que quando estendem os a mão a um psicótico, é para a vida inteira. Se isto for verdade para o psicótico, penso que deve ser igual­ mente verdadeiro para ou tros analisandos. N em por isso devem os acreditar que se trata de transfe­ rências eternas. Acrescento, correndo o risco de me repetir, que isto é igualmente verdadeiro no caso de alguns analistas, que acabam investindo particular­ mente num analisando — por razões que em alguns casos permanecem inconscientes— e que não con­ seguem deixá-lo partir. Vivem, nesta relação com o

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paciente, algo que não pode ser vivido ou analisa­ do em suas próprias análises. Podc-sc, nesses casos, continuar falando de transferência? E , cm caso afir>

mativo, transferencia de quem para quem? E evi­ d en te q u e e sse “ v ín c u lo ” d o a n a lista com o paciente não se estabelece com qualquer um: tam­ bém aí trata-se de um encontro, seja de duas estru­ turas, seja de duas falhas, seja de duas demandas em abismo... O vínculo se encarrega disto, e uma parte, uma parte pequenina, pode emergir e se tor­ nar analisável. E is p o r que acredito que a transferência é a única parte da relação para a qual p od em os exigir um final. Quando, alguns anos atrás, eu dizia que a aná­ lise contém uma “ prom essa de separação” , queria dÍ2er que o analista se com prom eta em perm itir que seu paciente “ se mande” , trabalhando a trans­ ferência de m od o que esta possa se fundamentar sobre um "eu te prom eto que, um dia, você pod e­ rá me deixar” . E ssa prom essa implícita se opõe à prom essa de am or que se funda sobre um “ eu ja­

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O H x iKhnrm

mais te abandonarei". Q ue esse enunciado seja ilu­ sório ou enganador aqui pouco importa. O analista se comprometa cm que a transferência tenha um fim. O vínculo escapa a este tipo de prom essa, pois excede o cam po da análise. Ele se dá entre a singularidade de dois sujeitos, pode ou não durar, igual na vida, em que nem sem pre temos vontade de continuar mantendo relações com alguém que freqüentamos durante muito tempo. E ssa aceitação âo vínculo fundamental, ao mesmo tempo que a pro ­ cura de um ftm possível p a ra a transferência, consti­ tu i uma relação so cial e intim a verdadeiram ente inédita em nossas sociedades. Fica claro, desse modo, que a psicanálise só pode nascer num determinado m omento histórico e num contexto so d al especí­ fico. N ào que a noção de inconsciente seja local, os processos inconscientes são universais, m as devo precisar, o que é universal são os processos incons­ cientes c não seus conteúdos. E stes decorrem de categorias teóricas. São sempre “ supostos*’ a partir d o m apa, assim com o a interpretação da transfe­ rência só é feita com base em construções teóricas, cuja veracidade é local e temporalmente determina-

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R aomila Z ycíck ris

da. C a so a sua verdade aspirasse à eternidade c à universalidade, ela seria do dpo religioso; em con ­ trap artid a, se tais con teúdos têm a preten são de pertencer ao cam po cientifico estão sujeitos à evo­ lução, ã m udança e à crítica (ainda que se trate dc um a ciência “ m ole” e não “ dura” ). N ã o há dúvida que a idéia de uma transferên­ cia que deve ser “ liquidada” é certamentc reconfor­ tante p ara o analista: su a vida seria im praticável caso precisasse manter relações tão com plexas com to d o s seus pacientes!!! M as a vida faz bem as coi­ sa s e a m aioria d os pacientes “ se m an da” ap ós a análise c o vínculo acaba cedendo pou co a pouco. Q u an to aos outros, aqueles que não conseguem se sep arar de seu analista ou abandonar a “ casa” (ins­ tituição?) de seu analista, sem pre têm o recurso dc se tornarem analistas! E m todo caso, não se trata de com portam en tos e sim do sentido que se dá a uma relação que não pod e ser inteirameme subsum ida ao conceito de transferência. O que cu gostaria de deixar claro é que a aná­ lise c a técnica analítica, ou melhor, “ as técnicas”

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analíticas, só são eficazes, diria m esm o que só podem existir, a p a rtir de um buraco centra! no corpus an a­ lítico. O vínculo na análise se situa ao m esm o tem­ p o fora da tekbné e fora da episteme. N o âm ago da análise, há um paradoxo: a análise só pode ser efi­ caz ao sc fundam entar sobre seu próprio vazio, no interior de si m esm a. Para que haja análise em ato, é preciso que esse ato se fundam ente sobre a d is­ sipação, deiscência da análise com o saber constituí­ do. O ra, esse vazio de análise, que é um pleno de vida, um tecido de vida entre dois hum anos, que é aquilo que possibilita a análise, não está evidente­ m ente presente n os textos teóricos, no corpus ana­ lítico. Ainda que cu o enuncie, não saberia dizer em que capítulo da teoria deveria figurar. E ste capítu­ lo não tem co m o existir, ainda que dele possam os falar... E co m o os quadros de Escher, onde tem os sua m ão que está ao m esm o tem po no quadro e fora do quadro, pertencendo ao desenhista, ü vín­ culo é o umbigo do ato analítico, assim como existe o umbigo do sonho, que não é analisável A ssim , podem os levar um su sto quando, acreditando estar em pelo m enos um de n o sso s m apas, vem o-nos mergulha-

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d o s num território cu jos d ad o s n ão figuram em n o sso s m apas. A análise, no final d as contas, só é eficaz quando se apóia sobre a não análise. C aso contrário, a análise não p assa de um laboratório, os pacientes d e cobaias e o analista de um m estre de cerimônias. E que nessas ocasiões se fale em “ su­ jeito” pouco importa! M as há um a reduplicação d esse paradoxo: o fato de que esta parte de não análise, representada pelo vínculo, deve sua existência ao dispositivo ana­ lítico, o qual é absolutam ente ardficiaL Q ue eu saiba, W innicott foi o único analista que abordou essa questão, em Jogo e realidade, no capítulo “A utilização do objeto” . N ã o há uma con­ cordância absoluta entre o que eu entendo p o r vín­ culo e aquilo que é introduzido p o r W innicott ao estabelecer uma diferença entre relação de objeto e utilização do o b jeto p elo paciente. A relação de o b jeto pertence à transferência, na qual o objeto é “ subjetivo” , isto é, alucinado, ao p a sso que a utili­ zação do objeto o situa fora da esfera subjetivada, o objeto se torna real p o r poder sobreviver ao tra­ tam ento que o paciente lhe inflige na transferência.

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Em outros term os, é por tcr sobrevivido à destru­ tibilidade alucinada que o objeto pode ser “ utiliza­ do” . Para que o paciente p o ssa utilizar o objeto (o analista), Winnicott coloca uma condição: esta ope­ ração só pode acontecer se não houver represalia por parte do analista, o qual deve, enquanto obje­ to, sobreviver ao u so que dele Caz o analisando. Ora, as represalias consistem, às vezes, numa mera interpretação. D ito de outro m odo, o alicerce da operação é o vínculo que não se interpreta. Se o dispositivo cria o vínculo, este p a ssa a existir de modo autónomo (caso o analista o acei­ te), sendo que temos de acrescentar aqui o fato de que o vínculo protege o enquadre e a análise da destrutibilidade necessária ao paciente. O vínculo na análise não é, portanto, total­ mente espontáneo, já que pertence ao processo ana­ lítico. D ois individuos, analista e analisando, que cm determ inado m om ento podem ter um sólido vín­ culo, poderiam, muito provavelmente, ter passad o um ao lado do outro na vida, seni que houvesse

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encontro ou manifestação de um interesse parti­ cular um pelo outro. .Mas graças ao encontro, gra­ ças ao artefato do enquadre analítico, graças ao “ assim co m o ” do jogo, instaurou-se um vínculo não m ais redutível ao conceito de transferência, ainda que num caso como no outro os afetos sejam verdadeiros. Acrescento que Winnicott usa o termo trans­ ferencia para se referir a essas duas modalidades de relação. Penso que mesmo Winnicott acabou pri­ sioneiro do pensamento submetido ao exclusivo paradigma de sujeito-objeto. Lembro, aqui, que Balint foi aquele que mais se insurgiu contra a redu­ ção da transferência ao mero paradigma sujeitoobjeto, que pressupõe a existência de um objeto já consum ido e separado do paciente, assim como de que o mundo em nada participa da relação analisando-analista, ou que o mundo possa se reduzir aos termos de sujeito-objeto (pobre cosmogonia!) Mas a pardr do momento em que o analista pode perceber do que c feito parte do vínculo que o une a seu analisando e relacioná-lo à determi­ nada teoria analítica, deixa dc estar na área do vín­

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O l l s a '1.0 IXI-DITD

culo, p o is con seguiu isolar um a parte co n ce i­ tuai. Isto n ão é, em a b so lu to , um a conjectura quanto à “ verdade” desta operação: aí já se trata de outra questão.

Farei, aqui, a diferença entre com posição e construção. O s sons, o ritmo, mas também o silên­ cio, que é sem pre um silêncio ritmado e singular, que une a criança na barriga da mãe ao mundo, são os precursores da música e o substrato do vínculo em geral. M esm o antes de seu nascimento, a crian­ ça está mergulhada no tonal e no rítmico de uma pessoa específica que a une ao mundo. Quando al­ guém fala, seu corpo toca aquele que ouve. O vín­ culo “ m usical” su põe uma continuidade que se opõe à dcscontinuidadc das palavras da língua. A s­ sim, através da voz os corpos se tocam, se sincro­ nizam ou não, se ritmam. O que reúne dois corpos em presença é material. O s sons são matéria, as vi­ brações emitidas pelo corpo são físicas. Um músi­ co me dizia: “ sou um agitador de moléculas” . “ Mas

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Radmii.a ZvCiOURIS

é um a estranha matéria, uma matéria que carrega a língua e é sua condição. C ondição da palavra, cuja finalidade não é apenas a de informar, sua finalida­ de é unir um ao outro o que perm ite comunicar. M as comunicar exige a consdtuição de um m undo interior, de um espaço psíquico com objetos sepa­ rados: para abordar este espaço supostamente sepa­ rado, fazemos construções ajudados pela bruxa metapsicologia. Um objeto é aquilo que pode voltar. O vínculo estaria, portanto, ruais próxim o de uma com­ posição a p a rtir de entidades singulares e que não se podem repetir, ao passo que a transferência seria uma construção a p a rtir de entidades generalizáveis e que podem ser repetidas. A com posição utiliza o material da natureza: sons, cores, form as, movimento, o d o ­ res, resumindo, algo d o real que podem os apreen­ der essencialmente por m eio de n ossas sensorialidades. N o ssas sensorialidades instruem e produzem as em oções c ativam a m em ória viva e rápida d os processos primários, mas, pela linguagem, tam bém a m em ória lenta e discursiva de n o sso s processos secundários. O vínculo não entra em nenhum a re­ petição, é um fluxo. C on stitu íd o com b a se nos

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fundam entos de dois “ indivíduos” únicos, em per­ pétuo devir, é sem pre atuai. A “ matéria so n o ra” nunca se repete, assim com o a água n unca c o rre duas vezes no m esm o rio! N a transferência há con stru ção a partir d e dados pré-scledonados e já interpretados p o r um saber, e não mais uma nova com posição feita d as singularidades em presença. O vínculo decorre de uma experiência, m as quando reconhecemos elementos dc um a transfe­ rência, estamos fazendo uma construção referindon o s a um m ap a q u e e stá em n o ssa c a b e ç a , n a ausência d o qual não teríam os nenhum a idéia d a transferência. O que leva a fazer um a con strução é a seleção de entidades abstratas tom an do-se p o r b ase uma com posição que fará com que digam os ou pensemos: “ ah! isto quer dizer aquilo!” O "isto ” é a com posição, o “ aquilo" a construção. O “ isto ” é aquilo que o analista, assim com o o analisando, apreende ou seleciona no conjunto de m anifesta­ çõ es que lhe chegam do outro e dc si próprio afe-

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Radmila Z yoch riò

tado por este outro, o “ aquilo” è o sentido analíti­ co que tais manifestações podem vir a ter.

Uma voz é absolutamente única. Não pensa­ mos nisto frequentemente. Mas não apenas a voz: cada ser humano tem suas próprias emanações de ondas; cada ser humano tem seu próprio ntmo re­ conhecível a cada um dc seus movimentos. Foi pre­ ciso inventar as cartas magnéticas para que nos lembrássemos disto! O s que leram Oiiver Sachs ( 0 homem que con­ fundiu sua mulher com um chapéu) devem se lembrar, certamcntc, da história deste homem incapaz de re­ conhecer o percebido, professor de música, que não reconhecia mais nem as formas nem os rostos familiares. A medida que sua doença (física) ia se agravando, deixou de reconhecer seus alunos quan­ do imóveis, mas os reconhecia assim que esboça­ vam o menor movimento, uma vez que cada um de nós se movimenta de maneira absolutamente úni­ ca. Ele dizia “ cada um tem sua própria música” re­ conhecível de longe. 30

O : i\a in i\ i nnn

Ora, tudo isto mtervcm no vínculo c e o que eu chamo o próprio do sujeito, o próprio do sujeito é uma composição da natureza, e c o fundam entai do vinculo. A transferência não passa de uma pequena parte disto, a que podemos empregar em nossas conccitualizaçõcs, c sobre as quais pensamos ter algum controle. E por levarmos, de certa maneira, o vínculo cm conta, mesmo sem nomeá-lo, que podemos afirmar que a transferencia não se deixa reduzir à repetição c que seria redutor encarar a análise sob este único aspecto. E pelo simples fato do analista ser uma nova pessoa para o analisando, com uma voz diferente das demais (me limito à voz), que desde o início de uma análise há uma irrupção do novo na própria transferencia. A presença real do analista é, ao mesmo tempo, possibilidade de repeuçâo e entrave de seu sucesso. Enquanto singulari­ dade real, o analista rom pe com a repetição ao passo que, como objeto imaginário do outro a põe em cena. 31

R,\dmii-\ Z ygouhis

Volto a insistir: a transferencia pode ser inter­ pretada, o vínculo não se interpreta, c um lugar de silêncio, de “ sentires” , assim como de troca de pa­ lavras que podem ou não cair no campo da trans­ ferência. T eoricam ente, pod em os dizer que a transferência é feita para a interpretação. Parcce-me importante acrescentar aqui que para muitos analisandos é no vínculo que reside o essencial da análise, e mais, diria até que na maio­ ria dos casos o elemento terapêutico principal passa pelo vínculo: no entanto, o paradoxo persiste, o analisando está aí para a análise da transferência. O que nos leva à seguinte questão: se o essencial re­ side frcqüentementc no vínculo e o vínculo nào se interpreta, em que medida se trata ainda de análise? Respondo: sim, trata-se de análise, já que esse vín­ culo deve sua existência ao fato de ser vivido no interior da experiência an alítica, e é exclusiva­ mente por meio desse paradoxo que existe. O en­ quadre da análise garante que o analista nunca abusará do vínculo, não é um vínculo mundano, eis p o r que digo que Freud inventou um “ v ín cu lo in éd ito” . 32

O UlSO 7/> /M’JJHTI

A transferência, com o construção teórica, é aquilo que m uda segundo as escolas e em conseqüência das m odificações trazidas pelos avan­ ço s teóricos. Ela é inteiramente dependente de nossos saberes constituídos, o que não é o caso do vínculo.

Ainda que o vínculo se materialize cssenctalmente através da voz, ele possui também aspectos silenciosos e remete, em primeiro lugar, ao estar em contato um com o outra Freud elaborou um a teo­ ria das pu lsõcs, m as, com o bem notou André Green, não fez uma teoria do contato. Ele apenas o citou em “ Totem c tabu", em que ao se referir à proibição de tocar, afirmou que olhar e tocar se juntavam no "nível superior do contato” . Frcud in­ sistiu principalmente sobre o aspecto proibido e as­ sustador do contato na magia. O contato com o tal diz respeito ao que se sente e é essencialmente não-verbal, expressa o fundo do humor, participa daquilo que, em alemão, 33

KvnM ii^ ZvGnimis

chamamos a Stimmung, o ambiente. {St¡mine - voz, a voz que habita o silencio.) Este não-verbal tio vinculo não e um pré-verbal, pode sê-lo, mas está presente o tempo todo estejamos falando ou calados. O contato pode aceder à palavra, mas não depende da troca verbal. É um "estar junto" que se interioriza, seu rastro c diferente do rastro deixado pelo objeto, ainda que inclua o objeto. D este ponto de vista, ele entra na zona dos fluxos das pulsõcs de vida, porque faz laço e é vi­ vido mais próximo do princípio do prazer do que do princípio de realidade, inclusive quando ele sc torna depositário da depressão. O que faz parte do contato não pertence à categoria sujeito-objeto, cm que o objeto c supostamente uma entidade distin­ ta do sujeito cm questão. Considero um exagero pensar que apenas os psicóticos tem problemas com a constituição do objeto com o separado. Qualquer um pode ter “ zonas psíquicas" que esca­ pam a este bom funcionamento rcdudvel ou susce­ tível de ser pensado cm termos de $u|eito objeto, ou quem sabe de "objeto-prcdicado” . 34

O t-ixcrm ix ín rm

Para Freud, podemos dizer que o desejo era antes de mais nada um desejo de contato (contato com o objeto). Sc resumirmos tudo aquilo que participa do vínculo, aJcm do contato silencioso, temos o olhar, que une à distância, a voz e, de modo geral, tudo aquilo que diz respeito ao plano do sensívcL Voz e olhar, a mcu ver, não devem ser considerados ape­ nas com o "objetos” , como foram isolados por Lacan (justamente com o objetivo de classificá-los na lógica do sujeito-objeto); consumem, igualmente, maneiras para permanecer cm contato, à distancia entre o próprio de um e o próprio do outio. A maiona dos bons clínicos trabalham com essa noção de contato, mas o fazcm intuitivamente, sem conccder-lhe um estatuto. A exceção que merece ser ci­ tada é a escola de Louvain (Szondi, Schott e o filósofo Maldincy), cujos trabalhos se referem essencialmente aos pacientes psicóticos. Para estes, o contato sena a pulsão básica da existencia. Levar o contato cm consideração resulta particularmente úul na abordagem da psicose maníaco-deprcssiva, com o perturbação do humor: na melancolia cons35

R WTMIM Zvciourus

tata-se uma perda de contato, na mania sua in­ flação. Assim, certos pacientes são verdadeiros reve­ ladores daquilo que permanece clivado ou entrin­ cheirado no próprio analista. O fato de entrar em contato com o paciente ou com uma parte clivada do paciente pode desper­ tar, no analista, certos afetos e sensações que não lhe são familiares. É como se pusesse em advidade algumas de suas zonas psíquicas, que até esse mo­ mento nunca usara para entrar em contato com os outros ou consigo próprio. Jean Florence disse, re­ ferindo-se ao analista: “ Ouvir é pôr em contato aquele que fala com aquilo que o faz falar” . Frcud afirmara claramente que sua metapsicologia havia sido feita para as neuroses de transfe­ rência, e quanto às psiconeuroses tudo precisava ser construído. Acrescentaria, de minha parte, que a questão do contato não me parece ser uma proble­ mática reservada às psiconeuroses, c que podemos simplesmente constatar que Freud não elaborou tal teoria. Quanto a Lacan, para introduzir a problemá36

O i ir tica da transferência, utilizou configurações entre pessoas que não precisavam verdadeiramente de análise: cie sc serviu de personagens de ficção to­ mados nos textos: O banquete, de Platão, e uma peça de Claudel, cujos personagens não manifestam ne­ nhum sofrimento particular c não vejo o que os le­ varia a uma demanda de análise. Em contrapartida, ofcreceram-Ihe a evidente possibilidade de racioci­ nar em termos de relação de objeto! A forma tra­ dicionalmente lacaniana de raciocinar cm termos de lugar, não concede nenhum lugar aos efeitos da presença, ao humor ou, dc modo geral, a tudo aqui­ lo que diz respeito ao sensível. Existem analistas que se dão conta perfdtamente do lugar que ocupam para seus pacientes na transferência, sem que, no entanto, sejam capazes de sentir o vínculo não-verbal, o que limita consi­ deravelmente o impacto que venham a ter no tra­ tamento quando, para o paciente, o essencial se passa no nível do vínculo. Acredito que o contato, enquanto pulsão bá­ sica da existência, e, dc modo geral, tudo aquilo que pertence ao vínculo participa de um saber incren-

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R aomh . v Z h . ourjs

tc à cspécic humana. As paJavras trocadas estão car­ regadas de rodas essas informações que nós capta­ m os não somente por intermédio das palavras, mas cm sua substância física, que é a voz e aquilo que circula para alem do silencio dos corpos. Em função disto, o contato na análisepode ser­ vir como obstáculo ao luto de separação sempre ame­ açador. Ele garante a permanência do outro contra a irrupção das angustias de separação. Isto posto, ele não im pede o ressurgimento das angústias de separação, mas funciona com o garantia contra a ruptura e o desmoronamento Ele representa aquilo que subsiste do vínculo pnmordial, mas não pode ser-lhe sobreposto, já que c aquilo que une o pró­ prio (a singularidade) do analista ao próprio do ana­ lisando, ele é atual ao m esm o tempo que sempre novo. Puxar o contato inteiramente para o lado da transferencia c da repençáo sena o indício de uma resistência para não ter de adminr que no traramento existem pontos de estojo com a própna vida. Fcrenczi dissera: "não há trabalho analítico se o analista se recusar, no momento oportuno, a par3S

O i i\n 7/) iM.nuv

ucipar do ccnáno montado pelo inconsciente do an alisando” . O s analistas mais clássicos são também os mais prudentes e depositam o contato essencialmente no enquadre. Assim, José Blcger (“ Sim bio­ se e am bigüidade” ) levara em conta a noção de contato, que situou exclusivamente no enquadre. Sede silenciosa daquilo que, segundo ele, resta da simbiose do lado materno. Vemos que, deste pon­ to de vista, o contato é limitado ao enquadre, ele próprio referido à mãe para deixar o cam po livre c permitir que a teoria se ocupe da relação. Eu-objeto, depois sujeito-objeto. Nenhum espaço permite o vínculo entre analista c analisando com o presen­ ças atuais. Chamar de transferência tudo aquilo que une analista e anaiisando me parece ser, portanto, urna reação defensiva dos analistas, assim com o elcs podem se utilizar da teoria de form a defensiva. Esta posição permite manter a ilusão de que rudo num percurso analítico poderia fazer parte do cam ­ po do inteligível c entrar no cam po específico da

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R a d m i u Z y u o i ' ris

análise, portanto ser tratado por sua tekhné especí­ fica. Isto evacua o plano do sensível com o se a pa­ lavra de um analisando só pertencesse à língua. Quanto mais trabalho, mais me convenço da importância da implicação d o analista no processo de análise e mais julgo necessário pensarm os nisto, pois tudo aquilo que pertence ao plano do sensível, aos “ sentires” e ao vínculo, não deve, no entanto, perm anecer num a nebulosa do indizível. N ão se trata do impensável. Lem bro que Lacan dizia que “ o analista está in teressado na transferência en ­ quanto sujeito” (Seminário A . transferência). Só que pára, por aí, pois se trata de um sujeito estrutural, de um sujeito que não só não está implicado com o supostam ente nada deve sentir, estando a serviço de uma análise desencarnada.

Vou m e apoiar em alguns exemplos extraídos de um d o s textos fundadores de Lacan para m o s­ trar concretamente por que não sou lacaniana em minha prática.

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O i Iseu t n ixM vm

E m “ F u n ç ã o e c am p o da p alavra e da linguagem” , texto extremamente complexo, no qual encontramos o melhor e o pior de Lacan; comece­ m os pelo melhor, uma de suas definições d o in­ consciente: “ O inconsciente é a parte do discurso concreto, com o transindividual, que falta à disposi­ ção do sujeito para restabelecer a continuidade de seu discurso consciente” {Escritos, p. 260). Mais adiante diz: “ O inconsciente é o capítulo de minha história que é marcado por um branco ou ocupado por uma mentira: é o capítulo censurado. M as a verdade pode ser resgatada; na maioria das vezes, está escrita em outro lugar” (p. 260). Aqui, o term o “ verdade” é tom ado em seu sentido corriqueiro, enquanto verdade (realidade comum) de uma história, quando em outras situa­ ções Lacan utiliza este termo num sentido quase re­ ligioso. Portanto, o inconsciente é o transindividual, ou seja, o coletivo, em que o sujeito está m arcado pela história, não somente por papai e mamãe, m as pelo discurso que o s atravessou. Isto mc parece scr um aporte importante de Lacan à psicanálise tradi-

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R \ovii_\ Z ' v o i

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cionaJ. F. óbvio que o inconsciente não e somente esta parte do discurso que taita. Esta maneira de encarar o inconsciente o limita a ser mero conteú­ do d o recalcado. Este constitui, sem duvida, uma parte im portante, mas reduz a abordagem do in­ consciente a uma metapsicologia muito em pobre­ cida, que não leva em conta o aspecto quantitativo dos processos primarios, tão importantes na ultima fase do pensam ento freudiano. E preciso acrescen­ tar, aqui, que cm outra parte Lacan afirm a que “ aquilo que resiste na analise e o discurso” . Nem ele próprio nem os lacanianos parecem medir as consequências disto do ponto de vista da pránca. O que resiste na análise hoje em dia c. entre outros, o discurso lacamano. Mas, felizmente, Lacan estava longe de ser sempre lacamano em sua pratica... o que literalmente salvou alguns analisandos. Seus descendentes são, infelizmente, mais lacanianos do que ele... Ora, esta procura do que esta entrincheirado na história do sujeito em análise, esse acesso n realida­ de — passada ou aruai— , nunca é mera pesquisa. O analista, em virtude de sua transferência, sua pró-

O . /NCt'/ o ix i d i t o

pna historia e, pnncipalmcnte, suas próprias cren­ ças teóricas e ideológicas, vai influenciar a direção das investigações no tratam ento, ainda que fale pouco... Ainda que se cale. Todo analisando apren­ de depressa a lingua de base de seu analista. Salvo os esquizofrénicos; estes resistem ao doutrinamento, aínda que inconsciente! O analisando neurótico aprende a língua de seu analista pela magia do vín­ culo c para disfarçar a dependencia transferencial. Podem os dizer que não há realidade na análise que nao seja construida, que não seja obra comum. Não ha pesquisa independente do olhar do pesquisador. E h depende sempre do olhar e das certezas teóri­ cas daquele para quem ela c colocada em cena. A neutralidade do analista nao existe a esse nível. Não passa de uma fábula. E sta maneira de pensar em função da capaci­ dade de com preensão do outro (o analista) não é, como poderíamos supor, específica da histérica. Ela é inerente ao próprio desejo de se fazer compreen­ der. O analista e aquí o instrumento que “ desfigu­ ra a m edida” , com o afirm ava com razão Ricardo Ucyasoff. .Ai tem os de acrescentar que, sem csse

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R a d m ila Z v t.u i ms

instrumento, não haveria medida alguma e, conse­ quentem ente, nenhum a construção. A ssim com o também não teríam os a parte que falta ao discurso furado. Antes de com eçar minha crítica d o s pressu­ postos da técnica lacaniana, resumo aqui o que con­ sidero, hoje em dia, o aporte fundamental de Lacan. N ã o é cm absoluto sua teoria d o significante, que, a meu ver, ainda que não seja falsa é bastante exagerada e parcial. Considero com o um ganho in­ discutível a dívida que tem os para com Lacan no que diz respeito à enorm e libertação dos costum es institucionais que ele introduziu na França, o dis­ tanciam ento da análise d o p o d er m édico, assim com o a grande rajada de ar fresco que trouxe para a psicanálise m ortalm ente estandartizada. Isto se refere à psicanálise em “ extensão” , com o ele pró­ prio a chamava. N o que diz respeito à análise em “ intenção” , diria o seguinte: o aporte de Lacan con­ siste, para mim, antes de mais nada, no fato de ele ter conferido ao conceito dc inconsciente su a di­ m en são política, designando-o com o transindivi-

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O i /vr 17/» /\< omi dual c, cm seguida, no fato de ele ter estabelecido a diferença entre real e realidade. D uas diferencia­ ções que possibilitam à análise situar-se concreta­ mente diante da arte, da ciênda e do social.

Chego agora n o que há de pior em Lacan, e o pior é quando o m orto se apodera do eivo. N o texto já á ta d o “ Função e cam po da pala­ vra c da linguagem" (Escritos, p. 238), após um a bela investida contra os analistas da IPA, Lacan faz apa­ rentemente o elogio de Balint. Parece gostar tam­ bém m uito de Ferenczi, o que ao m esm o tem po que c com preensível parece estranho, já que sua prática se situa nos am ipodos da de Ferenczi e BalinL Por outro lado, é bom não n os esquecerm os que Balint detestava, tanto quanto Lacan, o lado adaptative da psicanálise americana da época. E i s o q u e diz L a c a n , e é b a sta n te s u r p r e e n ­ d en te:

Michacl Balint analisou de maneira absolu­ tamente penetrante os efeitos inmcados da teo45

R

a d m i I-a

Z

w .i h

ria c da técnica na gênese dc uma nova concep­ ção de análise, c não encontrou nada melhor para indicar seu resultado do que a palavra de ordem que remou de Rickman, do advento dc uma fu o body psjcbo/ogy. E I-acan acrescenta: Seria impossível dizer melhor, com efeito. A análise torma-sc na rclacào dc dois corpos en­ tre os quais se estabelece uma comunicação fantasisnca cm que o analista ensina o sujeito a se apreender como objeto, a subictmdade so é ad­ mitida no parêntese da ilusão, e a fala c excluída dc uma investigação da vivência... O ra, não é isto que Balini diz' Bahnt se ergue justam ente contra a tendência que consiste em re­ duzir tudo ao paradigma do sujeito-objeto, paradig­ m a que Lacan retoma internamente. Percebam que o analista “ en sin a” ao analisando a se perceber com o objeto... O analisra se torna pedagogo ou. pior ainda, esta no lugar do Mestre. Assim como, segundo este enunciado, só havena entre analista e analisando um a relação fantasisnca. O que não dei­ xa de ser red u to r. Lem bro que, em ou tro lugar.

•Í6

O ' iv< i r.o iM-nnn

Lacan afirma que aquilo que opera na transferen­ cia “ c a presença real do analista” . Infelizmente, não é isto que vem sendo transmitido. Apos este elogio da psicologia entre dois corpos, Lacan continua introduzindo uma diferença radical entre palavra vazia e palavra cheia. Aqui, mais um a vez, está a mil légu as da p o sição de Fcrenczi e Balint. N ão leva em conta nem a regres­ são, nem a palavra vinda de uma posição de crian­ ça, dois aspectos do tratamento que eram muito importantes para Balint, que retoma as descobertas de Fcrenczi. Ele tam pouco leva cm consideração a troca verbal com o banho dc linguagem, o ato de palavra com o ato de confiança, a relação afeava, a variedade das percepções p ostas em circulação e tantas outras coisas que a presença de dois corpos implica. A ponto de nos perguntarm os no que esta noção de dois corpos em presença o interessa e por que cita Balint, a não ser par2 postular outra coisa. E esta outr2 coisa é sua concepção do Eu enquanto instância imaginária. Até parece que a presença de dois corpos pode ser reduzida à presença de dois E u s imaginários!

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R a o m i i -a Z v c o fR is

Mais adiante, nesse m esm o capítulo, n ós nos d eparam os com o fator de realidade. Lacan evoca Frcud para dÍ2er o seguinte: Freud, lembremos, tocando nos sentimen­ tos relacionados com a transferência, insistia na necessidade de distinguir neles um fator de rea­ lidade, e segundo concluía, seria abusar da doci­ lidade do sujeito querer persuadi-lo, na totalidade dos casos, de que esses sentimentos são uma sim­ ples repetição transferencial da neurose. Portan­ to, com o esses sentimentos reais se manifestam com o primeiros e o encanto própdo de nossas pessoas é um fator aleatório, pode parecer que hà algum mistério nisso. L a c a n , n e m p o r u m in sta n te , im a g in a q u e e s ­ s e s se n tim e n to s reais p o s s a m se r o u tra c o is a se n ã o u m e n a m o r a m e n to h isté r ic o q u e s e e n g a n a d e o b ­ je to . E l e fica p r e s o a u m a a n á lise d a r e a lid a d e e n ­ q u a n to im agin ária, e x clu in d o q u a lq u e r fa to r d o r e a l ( É p o r e x c lu ir m o s o f a t o r d e re a l q u e o s a n a lista s a c a b a m p a s s a n d o a o a to , im p u ta n d o a r e s p o n s a b i­ lid a d e a o s a n a lisa n d o s!) A í a tr a n sfe r ê n c ia s e lim i­ ta a o a m o r d e tra n sfe rê n c ia , a m o r q u e ele c o n se n te

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O i h\cnn iNkoirn c m c h a m a r d e v e rd a d e iro , m a s n ã o vai alé m d isto . O r a , m a is d o q u e n u n ca, era o m o m e n to d e utilizar a d ife re n ç a e n tre realid ad e e real, d e q u e stio n a r o lu g a r d o real n a r e la ç ã o a n a lític a , a c o n f u s ã o d a s sin g u larid ad e s e a d e p e n d e n c ia re c íp ro c a n o v ín c u ­ lo d e sc o n h e c id o e, p o r ta n to , p r o ib id o d e p a la v ra e p e n sa m e n to p a ra o an alista. Q u e r o a c re sc e n ta r q u e e ssa o b s e r v a ç ã o n ão se re strin g e a o s a n alistas Iacan ia n o s, ain d a q u e se ja n e c e ssa ria m e n te m a is s e v e ­ ra c o m L a c a n , q u e p o s s u ía in str u m e n to s d e p e n sa m e n to su p le m e n ta re s p a ra , e v c n tu a lm e n te , ir a lé m d o m e ro le n g a le n g a d o in ce sto ! M a is ad ia n te n e sse m e sm o te x to (p. 3 1 4 ) L a c a n e n u m e ra a s funções do analista:. Testem unha que respon de pela sinceridade d o sujeito, depositario d o p ro ce sso verbal de seu d iscu rso, referencia de su a exatidão, garan tia d e sua integridade, guardião d e seu testam ento, tabe­ lião d e seu s codi d io s, o analista participa d o es­ criba. E u m ta n t o e x a g e r a d o , m a s v á lá p a ra o e scrib al

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Raomh -a Zn.oiR is

Só que a frase segu in te assassina o suictro: “ M as (o analista) continua mestre e senhor da ver­ dade da qual esse discurso e o progresso” . Aqui, não estam os mais na verdade singular dc uma his­ tória que precisa ser reencontrada para dissipar a mentira ou censura da históna concreta do pacien­ te, com o foi dito acima, mas na verdade em si. E n ­ tram os na religião. C hego, assim , àquilo que me parece o mais grave. Lacan continua: A suspensão da sessão não pode deixar de scr experimentada pelo sujeito como uma pon­ tuação cm seu progresso. (.A Esse c um. fato bem constatado na pratica dos textos cas escrituras simbólicas, quer se rrate da Biiu;,r ou ¿o: textos cauómcos chmtstsr neles, a ausência de pontuação c uma fonte de ambiguidade, a Dor.ruaçào colo­ cada fixa o sentido, sua mudança o transforma ou o transforma c, errada, equivale a aiterá lo

1. Sublinhado por rrv.m

O i t\< i i.o txh.orrn

Teoricamente, está correto, só que Lacan faz uma terríveJ confusão entre uma experiência analí­ tica e uma exp en èn aa de leitura.

Vemos, assim, com o Lacan parte de uma si­ tuação na qual se trata da presença de dois corpos reais (em que podem os acrescentar o E u imaginá­ rio, que nada vai mudar) e desemboca no tratamen­ to da palavra viva, com o se se tratasse de um texto, de um corpo morto. Eis com o o m orto se apode­ ra do vivo: o humano, m esm o a troca mais desi­ gual, não é um texto escrito cujo sentido é dado pelas pontuações. Isto me parece algo extremamen­ te grave, constituindo, a meu ver, uma das páginas negras da psicanálise francesa. Isto porque fez esco­ la, sem que ninguém tenha se colocado a questão de saber se era legídmo tratar a palavra de um su­ jeito hum ano com o um texto escrito, sem corpo, em que o analista seria o mestre da verdade! E sp ero que vocês se déem conta a que pon­ to existe aí um deslocamento nefasto, o quanto isto é falso, inclusive teoricamente, e tanto mais nefas51

R a d m i m Z yc; o (

ris

to que diz respeito à prática da anáiise, na medida em que esta foi a prática transmitida. E s s e m o d o de p roced er é con stern ad o r! E tanto mais consternador que ninguém parece cho­ cado por essa confusão entre um texto escrito e um sujeito falante. Criticou-se as sessões curtas, os abu­ sos de poder, m as não o fundo do problema. Se me dei ao trabalho de retom ar aqui o texto d e Lacan foi para m ostrar que tenho sérias razões para recu­ sar esta prática. Com o é previsível, o texto de L acan continua e desem boca logicam ente no tema d a m orte. L a ­ can, no entanto, não estabelece um a relação entre sua própria operação de m orte do sujeito que assi­ mila um texto e o tem a da m orte que daí decorre. E , no entanto, um desem boca necessariam ente no outro. Lacan conclui que o final da análise seria a subjetivação d a m orte. Lem bro que esses eram o s anos H eideggcr, ainda que H eideggcr se situ asse no nível da filosofia, que nem é um a terapêutica e muito m enos um a relação entre d ois corpos. D c fato, não existe análise on de a m orte não seja evocada, nem análise on de o analisando não

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0 islN C U ix) tN iin rm

p a s s e p e la p e rc e p ç ã o d e se u s lim ites, d e su a falta d c p o d e r s o b r e a v id a, m a s is t o n ã o im p lic a e ste m a n ­ d a to p a ra a m o rte. A c re d ito q u e é m u ito im p o rta n te n o s d a r m o s c o n ta d e s s e s d e slo c a m e n to s, d e s ta s p a s s a g e n s d o v iv o a o m o r to e d a se d u ç ã o ex ercid a s o b r e L a c a n p o r u m a c e rta filo so fia q u e o fa z e s q u e c e r q u e o o b je tiv o d a an á lise é e sta r d o la d o d a vida.

A q u e stã o é o u tra q u a n d o F r e u d fa la d a n e ­ c e ssid a d e d e tra n sfo rm a r o “ p rin c íp io d o p r a z e r ” e m “ p rin c íp io d e realid ad eM. N e n h u m a n e c e s s id a ­ d e a í d e e v o c a r a fig u ra d o " s e r p a r a a m o r r e ” , F r e u d se c o n te n ta em e v o car u m “ o u tro p ra z e r” : a a ç ã o d e p e n sa r q u e co n stitu i a o m e s m o te m p o u m le v a r em c o n ta o p rin cíp io d e realid ad e e u m a m a ­ n eira d e p r o lo n g a r o p rin cíp io d e p razer. P e n sa r é freq u en tem en te d o lo ro so , m a s é tam b é m a tran sv alo r a ç ã o m a is alta c g o z o s a d o p rin c íp io d o p r a z e r d e n o s s o s p rim e iro s vagid os.

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R vDMI ,\ Z>V^»i R,n

Gostaria dc concluir com urm visão mais gcral das correntes analíticas. Podemos constatar que a psicanálise, praticamemc desde seu inicio, ê atra­ vessada por duas correntes, ao mesmo tempo anta­ gonistas c complementares Elas se repartem ern função da importância dada a um ou ao outro dos dois principios psíqui­ cos, ou seja, o pnndpio do prazei ou o principio de realidade. Sabemos que na psieogenese são antago­ nistas c complementares, e não c por acaso que Freud, ao longo de toda sua obra, ¡amais deixou dc voltar a isso como se fosse uma bússola. Uma das correntes en tanza a ribtrtacào. Esta córtente privilegia, dc certo modo, o pnr,ripio do prazer. A analise tena por objetno libertar o sujei­ to dc suas inibições e sintomas, dos interditos ex­ cessivos, da culpabilidade neurótica, das censuras. Em seus escritos, mesmo os mais tardios, Freud continuava afirmando que o ob;envo essencial da arulise era libertar c pac.ente de seus sintomas c *

inibições c que não se podia exigir dela muito mais di) que isto ("Analise tcrminavei e interminável” '.

O ' 1:\

N este estar junto de dois corpos, no vínculo enquanto embasamento humano do empreendi­ mento analítico, a experiencia mais ousada consis­ te em pensar livremente. Para tanto, e preciso ter uma confiança extraordinária neste parceiro que c o analista. Como dizia Balinc, o analisa deve ser com o a água para o nadador, a terra para aquele que caminha, um suporte, uma matena, um vinculo à coda prova c um vínculo inédito, nunca visto, ja­ mais vivido. Para que "Isso pense” e que o homem comum possa fazer a extraordinaria expenéncia do pensamento-raio, usuaimente reservado para arastas c criadores. Ter um parceiro de confiança que possa espe­ rar que o raio encontre a palavra, e a palavra c uma necessidade viu] assim como um luxo magnifico. Esperar que isto irrompa e poder dizê-lo, se apode­ rar do tempo para não ñcar louco, mais louco que antes, em posse de um saber custoso de ser supor­ tado quando não paralhado, tomado por uma ge­ nialidade que só o verdadeiro gênio suporta c, m esm o assim, pagando o preço. A aniiisc inscreve o homem em sua duração mortal e inevitável nic-

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O i i\ n t.n

diocridade da linguagem pardlhada. Aquele que sob revi ve ao hilgor.

A linguagem, nosso amortecedor.

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LIVROS PUBLICADOS PELA EDITORA ESCUTA

P sican álise, ju d aísm o : ressonâncias, Renalo M azan (esg.) D o g o zo criad o r. Carlos D. Pérez O m an u scrito p erd id o d e Freud, H. Haydt d e S. Meflo O p s ic a n a lis ta e s e u ofício. Conrad Stein E le m e n to s d a in terp retação , Guy Rosolato A p u lsão d e m orte, André Green et al. P s ic a n á lis e d e sin to m a s so c ia is , Sérgio A . R odriguez/ Manoel T. Beríinck (orgs.) F a m ília e d o en ça m e n ta l, Isidoro B9renstein N arc is is m o d e vida, narcisism o d e m orte, André Green A s E rín ia s d e u m a m ã e . Conrad Stein N o ta s d e p sico lo g ia e p siq u iatria s o d a l. Armando Bauleo T ra u m a , a m o r e fan tasia, Franklln Goldgrub C lín ic a p s ic a n a lític a : estudos. Pierre Fédida P s ic a n á lis e d a c lin ic a cotidiana, Manoel Tosta Beríinck O a c a la n to e o horror, Ana Lucia C . Jorge

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A Representação. Ensaio p&canahtico, Nicos Nicolaidis O desenvolvimento kleiniano I. Desenv. c/inico de Freud, Donald Meltzer Êdipc afncano, Mane-Cécile e Edmond Ortigues Comunicação e representação. Pierre Fédida (org.) Ensaios de psicanahse e semiótica. Miríam Chnaiderman Freud e o problema do poder. Leõn Rozitchner Melanie Klein: evoluções. B ias M. da Rocha Barres (org.) Figurações do feminino, Damèle Brun 14 conferências sobre Jacques Lacan, Fani Hisgail (org.) Introdução à psicanálise Luís Homstem O aprendiz de historiador e o mestre-feit/ceiro, Piera Aulagmer O desenvolvimento kleiniano II Des. clinico de Me­ lanie Klein, D Mellzer

Tausk e o aparelho de infiuencar ria psicose. Joe! Brman ( org.)

A construção ao espaço analítico. Serge Viderman Um intérprete em busca de sentido - 1, Piera Aulagnier Um interprete em busca de sentido - II Piera Aulagnier Ter um talento, ter um sjntoma. Demse Mcrei A dialética freudiana !: Pratica óc método psicanalitico, Claude Le Guen

O inccnscente vánas leituras, Felica Knobioch (org.) Psicose uma leitura pstcanahv.ca. Chaim S Katz (org.) Históna da histeria, Etienne Tnllat A rua como espaço dmico, Equipe de A T do Hospital-

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D ia A C A S A (org.)

A clinica freudiana, Isidoro Vegh O titulo da letra, Jean-Luc Nancy e Philippe LacoueLabarthe

Quando a pnmavera chegar. M. Masud R. Khan O Deus odioso. O diabo amoroso. Psicanálise e repre­ sentação do mal, Mareio Peter de Souza Leite e Jacques Cazotle

As bases do amor materno, Margarete Hiiferding, Teresa Pinheiro e Helena B. Vianna

Transferências, Abrão Slavutzky Do sujeito à imagem. Uma história do olho em Freud, Hervé Huot

O sentimento de identidade, Nicole Berry Gigante pela própria natureza, Emilio Rodrigué Freud e o homem dos ratos, Patrick J. Mahony Nome, figura e memória, Pierre Fédida A supervisão na psicanálise, Conrad Stein et alii. Perturbador mundo novo, SBPSP (org.) Cidadãos não vão ao paraíso, A lb a Z a lu a r (C o ed.Edumcamp)

Casal e família como paciente, Magdalena Ramos (org.) Mancar não é pecado, Lucien Israel Crónicas cientificas. Anna Verônica M autner Penare, Celia Eid e Maria Lucia Arroyo A histérica, o sexo e o médico, Lucien Israel

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O lh o d 'á g u a . A rte e lo u cu ra em exp o sição , J oão FrayzePereira V ida b a n d id a , Voltaire de Souza F ig u ras d a te o ria p s ic a n a litic a , R e n a to M e z a n (C o-ed. Edusp) Em b u sca d a e s c o la id e a l, N ed a Lian Branco Martins A c asca e o n ú c le o , Nicolas Abraham e Maria Tõrok A h ! A s b e la s liçõ es!, Radmila Zygouris S ig m u n d F re u d . O sécu lo d a P s ic a n á lis e (3 vol.), Emillo Rodrigué A d ia lé tic a d a falta, Alba G om es Guerra e Patrícia Simões A in te rp re ta ç ã o , Elisabeth Saporiti F a to e m p s ic a n á lis e , IJP A O corpo d e U lisses. M o d ern id ad e e m aterialism o em A dor­ n o e H o rk h e im e r, Paulo Ghiraldelli Jr. C o n s id e ra ç õ e s s o b re o p s iq u is m o d o fe to , Therezlnha G o m e s de Souza-Dias ¡saias M elsohn. A p s ican álise e a vida, Bela Sister e Marilsa Taffarel (orgs.), O u tra b e le z a . E s tu d o d a b e le z a p a ra a p s ic a n á lis e , C láu­

dio Bastidas O s itio d e e s tra n g e iro , Pierre Fédida P s ic o te ra p ia b re v e p s ic a n a litic a , H aydée C . Kahtuni O p ro c e s s o a n a lític o , U P A E la b o ra ç ã o p s íq u ic a . T e o ria e c lín ica p s ic a n a litic a , P au lina Cymrot A lin g u a g e m dos b eb ês, M arie-Claire Busnel

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U m a p u lsão esp etacu lar. P s ic a n á lis e e teatro . Mauro P. Melches F reu d . U m ciclo d e leitu ras, Silvia Leonor Alonso e Ana Maria Siqueira Leal (orgs.) C a d e rn o s d e B io n 1. Júlio C . Conte (org.) O estran g eiro . Caterina Koltai (org.) E u c o rp a n d o . O e g o e o c o r p o e m

F re u d , L i a n a

A lb e rn a z d e M. Bastos D iálo g o s, Gilles Deleuze e Claire Pam et O sin to m a da criança e a d in â m ic a d o c a s a l. Isabel C. G om es A escu ta, a tran sferên cia e o b rin car. IJP A S exo , Rosely S ayào (Co-ed. Via Lettera) A p ro v a p e la fa la , R oland G o h (C o -e d .U C G ) O in s ta n te de d ize r, M ane-Jose Del V olgo (C o -e d .U C G ) O d esen v. k le in ia n o III O s ig n ific a d o c lín ic o d a o b ra d e B ion, Donald Meltzar A chados chistosos da p s ic a n á lis e n a s crô n ic a s d e J o s é S im ã o , Jane de Almeida (C o -E d u c) A h istó ria d e Tobias. U m estu d o s o b re o an lm u s e o p a i, Fablola Luz F re u d e a consciência, O sw aldo França Neto P u ls õ e s d e vida, Radmila Zygouris P a la v ra s cru za d a s e n tre F re u d e F e re n c zi, Luís Cláudio Figueiredo T ran s fe rê n c ia , sed u ção e c o lo n ização , U P A F e b e m , fa m ília e Id e n tid a d e . O lu g a r d o O u tro . Isa b e l

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Kahn Marin A c ria n ç a a d o tiv a n a p s ic o te ra p ia p s ic a n a litic a . Gina K Lovm zon M o s a ic o d e le tra s

E n s a io s de p sican 3h se . Ura ma Toun-

nho P e ro s C a d e rn o s d e B io n II. Júlio C ésar Conte torg.) M e m ó r ia s

de

um

a u to d id a ta

n o B r a s il. M a u ríc io

T ragtem berg E tica e técnica em psicanálise. Luís Cláudio Figueiredo e N a son C oelh o Jr. A a d e d o e n c o n tro d e V in íciu s d e M o ra e s , Som a Alem M arrach E d u c a ç ã o p a ra o fu tu ro. P sican ális e e e d u c a ç ã o . M Cris­ tina M. Kupfer P o lític a e p s ic a n á lis e . O e s tra n g e iro . Catenna Koltai N a s e n c ru z ilh a d a s do ó d io , Micheline Ennquez A id s . A n o v a d e s ra z ã o d a h u m a n id a d e , Henrique F C a r­ neiro O p ro b le m a d a id e n tific a ç ã o e m F re u d , Paulo de C a rv a ­ lho Ribeiro C a tá s tro fe e re p re s e n ta ç ã o , Arlhur Nestrovsfcj e M a ra o Seligm an n -S ilva (o rg s) C o n fo rm is m o , é tic a , s u b j e t i v i d a d e

e

objetividade,

IJPA A h is tó ric a e n tre F re u d e L a c a n , M om que David-M énard C o m o a m e n te h u m a n a p ro d u z id e ia s J Vasconcelos M u lh e r n o B ra s il N o s s a s m a rc a s e m itos. M ansa Se:em

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A clinica conta histórias, Lúcia B. Fuks e Flávio C. F er­ raz (o rgs.)

O olhar do engano. Autism o e outro primordial, Lia Ribeiro F ern andes

Doença ocupacional, Marina Durand Os

avatares da transmissão psíquica geradonal, O lg a B. R. C orrêa (org.)

Abertura para uma discoteca. R oland d e C a n d é A conversa infinita - 7 A palavra plural. Maurice Blanchot

A morte de Sócrates. Monólogo filosófico, Zeferino R o­ cha

Cenános sociais e abordagem clinica. J o s é N ew ton G a r­ cia de Araújo e T e re s a Cristina Carreteiro (o rg s.) (C o Fum ec)

que e diagnosticar em psiquiatna, J o rg e J. Sauri A constituição do inconsciente em práticas clínica na Fran­ ça do século XIX, Sidnei J o s é C azeto Narcisismo, superego e o sonhar, IJPA Psicofarmacologia e psicanálise, M aria Cristina Rios M a ­ O

g a lh ã e s (org.)

A Escola Livre de Sociologia e Política. Anos de Forma­ ção 1933-1953. Depoimentos, Iris Kantor, D é b o ra A. M a c ie l, Júlio A s sis S im õ e s (o rg s.)

Linha de honzonle - por uma poética do ato criador, Edith Derd/k

Diagnóstico compreensivo simbolico Uma psicossomáti-

Susana de Albuquerque Uns

c a p a ra a p rá tic a c lin ic a ,

Serino O c a rv a lh o e o p in h e iro . F re u d e o e s tilo ro m â n tic o ,

Ines

Loureiro O c o n c e ito d e re p e tiç ã o e m F re u d ,

Lucia Grossi dos San­

tos (co-Fumec) D rib la n d o a p e rv e rs ã o . P s ic a n á lis e , fu te b o l e s u b je tiv id a ­ d e b ra s ile ira ,

Cláudio Bastidas

O c á lc u lo n e u ró tic o d o g o z o ,

Christian Ingo Lenz Dunker

P s ic a n á lis e e e d u c a ç ã o . Q u e s tõ e s d o c o tid ia n o ,

Renate

Meyer Sanches Gilles Deleuze E. R. Dodds

E s p in o s a . F ilo s o fia p rá tic a , O s g re g o s e o irra c io n a l,

V ín c u lo s e in stitu içõ es. U m a e s c u ta p s ic a n a lític a ,

Olga B.

Ruiz Corrêa (org.) E m to rn o d e

O mal-estar na cultura d e F re u d , Jacques

Le Rider, Michel Plon, Gérard Raulet, Henri Rey-Flaud P e rs o n a lid a d e , id e o lo g ia e p s ic o p a to lo g ia c rític a ,

Virgínia

Moreira e Tod Sloan E n c o n tro s e d e s e n c o n tro s e n tre W in n ic o tt e L a c a n ,

Perla

Klautau F ig u ra s c lín ic a s d o fe m in in o n o m a l-e s ta r c o n te m p o râ n e o ,

Silvia Leonor Alonso et al. (orgs.) P s ic o p a to lo g ia p s ic a n a lític a e o u tro s e s tu d o s ,

IJPA

O g o z o e n -c e n a : s o b re o m a s o q u is m o e a m u lh e r, Eliane Z. Schermann A n n e D u fo u rm a n te lle c o n v id a J a c q u e s D e rrid a a f a la r D a

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hospitalidade, Jacques Derrída/Anne Dufourmantelle COLEÇÃO — BIBLIOTECA DE PSICOPATO LOG IA FUNDAM ENTAL Melancolia, Urania Tourinho Peres (org.) Histeria, Manoel Tosta Berllnck (org.) Autismos, Paulina S. Rocha (org.) Depressão, Pierre Fèdída Pânico e desamparo, Mario Eduardo Costa Pereira Anorexia e bulimia, Rodolfo Urribarri (org.) Dor, Manoel Tosta Berlinck (org.) Toxicomanias, Durval M azzei Nogueira Filho Diferenças sexuais, Paulo Roberto Ceccarelll Os destinos da angústia na psicanálise freudiana, Zeferino Rocha Hystería, Chríslopher Boilas Psicopaiologia fundamental, Manoel Tosta Berlinck Culpa, Urania T. Peres (org.) A paixão silenoosa, M aria Helena de Barros e Silva Clínica da m&lancotla, Ana Cleide G . Moreira (Co-Edufpa) Depressão, estação psique. Refúgio, espera, encontro, Daniel Delouya Hipocondria, M. Aisenslein, A. R ne e G. Pragier (orgs.) Dos benefícios da depressão. B oglo da psicoterapia, Pierre Fédida Superego, Marta Rezende Cardoso Angústia, Vera Lopes Besset

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Doenças do corpo e doenças da alma. la z s lo A Ávila Pesquisa em Psicopatologia Fundamentai Edilone Frei­ re de Q ueiroz e Antonio Ricardo Rodngues da Silva (orgs )

Violências, Isabel da Silva Kahn Mann C O LE Ç Ã O — PSICANÁLISE DE CRIANÇA

Rumo à pâLnra Três cnanç&s autistas em pxsnáhss, M.Christhe Lazmk-Peoot

Sublimação da sexualidade mfanvl, P a jlc A Buchvilz A criança e o infantil em psicanálise. S Iv.a Abu-Jamra Zorntg

A história da psicanalisc de enanças no Brasn. Jorge Luís Ferreira Abrào O lugar dos pais na psicanaUsc de cnançss. Ana Maria Sigal de Rosemberg C O L E Ç Ã O — O SE X TO LO B O

Hello Brasill, Contarão Calligans Clinic+i do sooal Ensaios. Lu *2 Tane ce Aragão (org.) Exílio e tortura, Maron e M arcelo Vinar Extrasexo Ensaio sobre o transexuahsmo. Cathenne Millot

Alcoolismo, delinquência. toxico mar .a Cnanc-s Meiman Imigrantes Inodènoas subjetivas cas rrudònpasoe nçua e pais, Charles M ^m an Fantasia de Brasil. O ctavio Souza

Modos dc subjetivação no Brasil e outros escritos, Luís Cláu­ dio Figueiredo (Co-Educ)

A face e o verso. Estudos sobre o homoerotismo - II, J u ra n d ir Freire Costa

O que é ser brasileiro? Carmen Backes CO LEÇÃO — ENSAIOS

Merleau-Ponty. Filosofia como corpo e existência, Nelson Coelho Jr e Paulo Sérgio do Carmo

O inconsciente como potência subversiva, Alfredo Naffah Neto

O pensamento japonês, Hiroshi Oshima Comunicação e psicanálise, Jeanne Marie Machado de Freitas

C lance Lispector. A paixão segundo C.L., B e rta Waldmann

A puísão anarquista, Nathalie Zaltzman Escutar, recordar, dizer, Luís C láudio Figueiredo (CoEduc)

Sintoma social dominante e moralização infantil, Heloísa Fernandez (Co-Edusp)

Na sombra da cidade, Mana C ristina Rios M agalhães (org.)

Estados-da-alma da psicanálise, Jacques Dernda COLEÇÃO — TÉLOS

Ensatos de clinica psicanalitica, François Perrier

A fo rm ação do p sican alista , François Perder

Afeto e linguagem nos prim eiros escritos de Fraud, M onique Schneider Com o a in terp retação vem a o p sic a n a lis ta . René Major (org.) CO LEÇÃO — U N H A S DE FUGA A in ven ção do psicológico. Q u atro sécu lo s d e su b jetivação (1 5 0 0 -1 9 0 0 ), Luís Cláudio Mendonça Figueiredo (Co-Educ) Lim iares do contem porâneo. Rogério d a C osta (org.) A p s ico terap ia em busca d e D io n lso , Alfredo Naffah Neto (Co-Educ) A s á rv o re s d e c o n h e c im e n to s . Pierre Lóvy e Michel Authier A s p u lsõ es, Arthur Hyppólito de Moura (org.) (C o-Educ) C O L E Ç Ã O — T R A N S V E S S IA S O co rp o erógeno. Um a introdução à teo ria do complexo d e Édlpo, Serge Ledaire C O LEÇÃO — PLETHOS A p a la v ra in -sen sata. P o esia e p s ic a n á lis e . Eliane Fon­ seca C o n tratran sferên d a, Suzana Alves Viana P o ética do erótico, Samlra Chalhub A Escola. U m enfo q u e (enom enológico, Vitória Helena C u ­ nha Espósíto

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P sican álise, p o lítica, lógica, Céfio Garcia A e tern id ad e d a m açâ. F re u d e a ética, Flávío Carvalho Ferraz A cara e o rosfo. E n saio d e GestaJt T erap ia. A n a Maria Loffredo (esg.) P acto R e-V e ia d o . P sican álise e clan d estin id ad e p o lítica, Maria Auxiliadora d e Almeida Cistha Aram es A p o esia, o m a r e a m u lh e r um só V inícius, Guarariaba Micheletti P sjquism o hum ano. Marco Aurélio Baggio S em ió tica d a canção. M elo d ia e le ira , Luiz Tatil A á a n tifid d a d e d a p sican álise. P o p p g r e P eirca. Elisabeth Saporiti A força d a re a lid a d e n a d íru c a freu d ian a, Nelson Coelho Junior C o rp o a fe c to : o p sicó lo g o n o h o s p ita l g e ra l, Marllia A. Muylaert C rian ças n a ru a , Ana Carm en Martin dei Cotiado U m o lh ar no m eio do cam inho, Sônia Wolf O s d izeres n a s esq u izo fren ias. U m a cad o ta sem fundo, Marilud Novaes

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T itulo P ntje io jsräficn D io jifn oui f tio

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Araüc Sonettes

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