Sons, Formas, Cores e Movimentos na Modernidade Atlântica: Europa, Américas e África
 9788574197821

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ORION

CORES É MOVIMENTOS NA MODERNIDADE

O N

EUROPA, AMÉRICAS E ÁFRICA

Coleção OLHARES

TÍTULOS PUBLICADOS O trabalho mestiço: maneiras de pensar e

formas de viver — Séculos XVI a XIX Eduardo França Paiva & Carla Maria Junho Anastasi (organizadores) a

Cinema Carioca nos anos 30 e 40 Os filmes musicais nas telas da cidade Suzana Cristina de Souza Ferreira Espelho de cem faces: o universo relacional de um advogado setecentista Alvaro de Araújo Antunes Trabalho livre, trabalho escravo: Brasil e Europa, séculos XVIll e XIX

Júnia Ferreira Furtado e Douglas Colle Libby (organizadores) Política, nação e edição: o lugar dos impressos na construção da vida política (Brasil, Europa e Américas nos séculos XVIll e XX) Eliana de Freitas Dutra e Jean-Yves Mollier (organizadores) Encontros Brasil-Portugal Eduardo França Paiva (organizador) No sertão das Minas: escravidão,

violência e liberdade (1830-1888) Alysson Luiz Freitas de Jesus Brasil, ficção geográfica:

ciência e nacionalidade no país d'os sertões Luciana Murari

SONS,

FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA: EUROPA, AMÉRICAS E ÁFRICA

Júnia Ferreira Furtado

(org.)

Sons, Formas, Cores e Movimentos na

Modernidade Atlântica: Europa, Américas e Africa

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É. Q.00R84 Infothes Informação F987

e Tesauro

Sumário

Furtado, Júnia Ferreira, Org. Sons, formas, cores e movimentos na modernidade atlântica: Europa,

Américas e Africa. / Organização de Júnia Ferreira Furtado. — São Paulo: Annablume: Belo Horizonte: Fapemig: PPGH-UFMG, 2008. (Coleção Olhares). 208 p.; 17 x 24 em

Colóquio Internacional “Formas, Sons, Cores e Movimento na Modernidade Atlântica - Europa, Américas e África”, Belo Horizonte, 21 a 24 de novembro de 2005. ISBN 978-85-7419-782-1

l.História do Brasil2. . História de Minas. 3. Minas Gerais.

4. Europa. 5. América. 6. Africa. 7. Globalização. 1. Título. II. Série.

CDU 981 CDD 981

Catalogação elaborada por Wanda Lucia Schmidt — CRB-8-1922

11

INTRODUÇÃO - SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS MODERNIDADE ATLÂNTICA: EUROPA, AMÉRICA E ÁFRICA

NA

Júnia Ferreira Furtado

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA: EUROPA, AMÉRICAS E ÁFRICA

000

17

1. OSSONS, ASONORIDADE E AS LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

19

OS SONS E OS SILÊNCIOS NAS MINAS DO OURO

Júnia Ferreira Furtado

Coordenação editorial

57

Joaquim Antonio Pereira Diagramação Ray Lopes

Anthony Pagden

Capa

Carlos Clémen a partir de Vista do Salto do rio Iguaçu,

de José Fernandes Alpoim, 1759.

(Mapoteca do Itamaraty)

o0o

CONSELHO

EDITORIAL

Eduardo Penuela Canizal Norval Baitello Junior

/9

Bernardo

Krause

O SOM NA CATEDRAL DE MARIANA NOS SÉCULOS XVIII E XIX Paulo Castagna

119

OS SONS E A PAISAGEM FABRIL NA MINAS OITOCENTISTA: O CASO DE ITABIRA Cristiane Maria Magalhães

137

1º edição: fevereiro de 2008

€ Júnia Ferreira Furtado (Org.) 000

161

Rua Padre Carvalho, 275 . Pinheiros . São Paulo . SP.

Brasil

Tel. e Fax, (011) 3812-6764 — Televendas 3031-9727 wwwannablume.com.br

2. FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS

A

A

ENTRE ARCOS TRIUNFAIS E FOGOS DE ARTIFÍCIO: PRÁTICAS FESTIVAS EFÊMERAS E O DIÁLOGO DOS PODERES NAS VISITAS RÉGIAS DOS FILIPES A LISBOA (1581-1619)

Ana Paula Torres Megiani

ANNABLUME . editora . comunicação 05427-100

NA GUERRA DOS EMBOABAS

91

135

Maria de Lourdes Sekeff Cecilia de Almeida Salles Pedro Roberto Jacobi Lucrécia D'Alessio Ferrara

OS RUMORES

Adriana Romeiro

Maria Odila Leite da Silva Dias Gustavo

CONQUISTA OU COLONIZAÇÃO: A LINGUAGEM DA HISTÓRIA E A LINGUAGEM DO DIREITO NA DISSOLUÇÃO DO IMPÉRIO ESPANHOL NA AMÉRICA

DA IMAGINAÇÃO À IMAGEM: O SONHO COMO CRIAÇÃO NA ESPANHA DO SIGLO DE ORO Maria Jordan Arroyo

173

TRANSFORMAÇÕES IDEOLÓGICAS NA ATLÂNTICA AMÉRICA ESPANHOLA: AS IMAGENS E AS NARRATIVAS DAS REBELIÕES DE 1624 E 1692 NA CIDADE DO MÉXICO

Jorge Canizares-Esguerra

187

219

DO REINO À ÁFRICA: FORMAS DOS PROJET OS COLONIAIS PARA ANGOLA EM INÍCIOS DO SÉCULO XVII

Diogo Ramada Curto

AS FRUTAS DO BRASIL, DE FREI ANTÔNI O DO ROSÁRIO, E AS FORMAS SIMBÓLICAS DO PODER MONÁRQUICO

Carla Maria Junho Anastasia

227

229

3. O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGEN S E NARRATIVAS APARÊNCIAS, IMAGENS E METAMORFOSES DOS AFRICANOS NA PINTURA E NA ESCULTURA FLAMENGA E HOLANDESA (S ECS. XV-XVII)

293

TRÂNSITOS E “AMÁLGAMAS” DE TÉCNICAS , SABERES E PRÁTICAS CULTURAIS NAS MINAS DA AMÉRICA PORTUGUESA

457

481

Neil Safier

303

319

IRREGULARES OU PITORESCAS? OLHARE S SOBRE AS PAISAGENS URBANAS MINEIRAS

Cláudia Damasceno

Fonseca

A ESCRAVIDÃO EM IMAGENS NO BRAS IL OITOCENTISTA

Maria Eliza Linhares Borges

343

4. AS CORES E O COLORIDO DO MU NDO ATLÂNTICO

345

AS CORES E A INSTITUIÇÃO DA OR DEM NO MUNDO DO ANTIGO REGI ME António Manuel Hespanha

361

375

385

401

PORTUGUESA SETECENTI STA Silvia Hunold Lara

O ENGENHEIRO ARTISTA: AS AQUA RELAS E AS TINTAS NOS MAPAS DO NOVO MUNDO Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno

TRAÇOS EUROPEUS, CORES MINEIRAS: TR ÊS PINTURAS COLONIAIS INSPIRADAS EM UMA GRAVURA DE JOAQUIM CARNEIRO DA SILVA Camila Fe rnanda Guimarães Santiago

DISCRIÇÃO NAS CORES E EFEITOS NA S FORMAS: EMBLEMAS, SIMBOLOGIA S E MANIFESTAÇÕES DA IDENTIDADE DO S OFÍCIOS MECÂNICOS NO MUNDO PORTUGUÊS DOS SÉCULOS XVIII E XIX Jo sé Newton

427

497

Coelho Meneses

5. OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

TRÂNSITO CULTURAL, CONQUISTAS E AV ENTURA NA AMÉRICA PORTUGUESA Isnara Pereira Ivo

O TRÁFICO NEGREIRO INTERNACIONAL E À DEMOGR AFIA ESCRAVA NAS MINAS GERAIS: UM SÉCULO E MEIO DE OSCI LAÇÕES

Douglas Cole Libby

TRÂNSITO E MOBILIDADE ENTRE MUND OS: ESCRAVIDÃO GLOBALIZADA, COMÉRCIO E PRÁTICAS CULTURAIS

Eduardo França Paiva A

SOMBRA

DOS

QUILOMBOS:

TEMOR

ESCRAVISTA M INEIRA, SÉCULO XVII I Pablo Luiz de Oliveira Lima

Flávia Maria da Mata Reis

NATUREZA NARRADA: REPRESENTANDO O MUNDO NATURAL NAS EXPEDIÇÕES SETECENTISTAS

Stuart Schwartz

443

Eddy Stols

2/1

VIDAS ENTRE IMPÉRIOS: MOVIMENTO E A LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA NO MUNDO LUSO-HISPÂNICO

429

205

SOBRE OS AUTORES

E DESASSOSSEGO

NA

SOCIEDADE

Introdução SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA: EUROPA, AMÉRICAS E ÁFRICA Júnia Ferreira Furtado

Este livro visa discutir temas geralmente pouco explorados pela historiografia sobre o mundo atlântico moderno: as formas, os sons, as cores e os movimentos que caracterizaram o viver em uma época que o mundo se ampliava para muito além das fronteiras habitualmente conhecidas. Os sons, as formas, as imagens e as cores foram partes integrantes desse mundo em franca expansão, sempre em movimento. O ambiente da modernidade era caracterizado por uma heterogeneidade de imagens, por uma cacofonia de sons, pelo colorido das vestimentas, das festas e das procissões, como também pelo constante trânsito de homens, idéias e mercadorias. Explorar as possibilidades que os quatro temas abrem para o estudo histórico em ambientes distintos integrados pelo Oceano Atlântico — Europa,

Américas, África — é o principal objetivo dos textos que compõem essa edição.

Este livro tem como ponto de partida um seminário que ocorreu em novembro de 2005 na UFMG, cujo objetivo era promover o intercâmbio acadêmico entre os integrantes do Grupo de Pesquisa História de Minas e do Brasil — espaço, cultura e sociedade, composto por professores, alunos e ex-alunos do Programa de Pós-Graduação do Departamento de História da UFMG e especialistas da área no país e no exterior, sob o patrocínio da CAPES e PRPQ/UFMG. Mas o conjunto de textos aqui reunidos extrapola o âmbito do seminário realizado, pois alguns dos textos que integram o presente volume foram produzidos diretamente para este livro e ampliam as temáticas discutidas no colóquio. O livro conta ainda com o apoio da FAPEMIG. Na primeira seção — intitulada Os sons, a sonoridade e as linguagens da conquista atlântica — são arrolados textos que articulam as linguagens e a sonoridade do viver em colônias na época moderna. Analisam-se não apenas as músicas ouvidas pelos moradores das Américas, mas também toda a sonoridade desses mundos novos. Júnia Ferreira Furtado, em Os sons e os silêncios nas Minas do ouro, explora não a música colonial produzida na

capitania, mas os sons que marcaram o viver cotidiano da população mineradora ao

longo do século XVIII. A partir da idéia de que a linguagem escrita também serve para

12

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENT OS

NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

remontar o que ouviam os habitantes da reg ião, a autora explora a cacofonia de sons ali existentes: o barulho das

trombetas, dos sinos, dos tambores, das vozes e dos gritos, sons constituintes do viver em colônias. Ess es sons muitas vezes permitiam apro ximar o Velho Mundo, trazendo

para mais perto as imagens da sociabil idade européia, “civilizando” a sociedade que deveria se instituir enqu anto espelho do reino; noutras vezes refletiam a alteridade que caracterizava o “viver em colônias”. Anthony Pagden, em Co nquista ou colonização: a linguagem da História e a linguagem do Direito na dissolução do Império Espanhol na América, compara a li nguagem da História e do Direito ta nto na América inglesa quanto na parte de colonização espanhola. Com isso pretende se insurg ir contra a idéia, um tanto ao quanto já cristali zada, do triunfo das formas democrát icas no mundo anglo-saxão e da inevitabilidade do auto ritarismo nas áreas de colonização ibéric a. Adriana

: INTRODUÇÃO

13

Siglo de Oro, analisa o processo de formação dos sonhos visto de forma negativa pelos teólogos espanhóis do século XVI, a partir do estudo do caso ae dois aa espanhóis,

Miguel Piedrola de Beaumont e Lucrecia de León, que andavam

sonhando

hecatombes e

anunciando uma nova dinastia e um novo papado durante o Reinado de Felipe II. Jorge Cafiizares-Esguerra, em Transformações ideológicas na atlântica RÉ IcO espanhola: as imagens e as narrativas das rebeliões de 1624 e 1692 na cidade do México, a parti r do relato de duas freiras, estuda o levante popular ocorrido na cidade do México em 1624,

comparando-o com os tumultos ocorridos na mesma cidade em

692. O primeiro é visto

pelas duas religiosas como uma batalha épica, que opunha demônios e anjos ; enquanto O outro é percebido por meio dos relatos coevos como um simples uimu lto, quando então milhares de índios, castas e espanhóis se enfureceram e queimaram o palácio do vice-rei. O ambiente da cidade do México na época emerge por meio de inúmeras pinturas que retratam o cotidiano nas praças e no interior das residências locais. o

Diogo Ramada Curto, em Do Reino à África: formas dos projetos coloniais para

falsas notícias de acordo com uma perspicaz tática militar. Em O som na Catedral de Mariana nos séculos XVIII e XIX, Paulo Castag na apresenta um panorama da prática musical na Catedral de Mariana durante os sécu los XVIII e XIX, concentrando-se na atividade dos or ganistas e mestres da capela, na funç ão cerimonial da música, e no repertório lá executad o a partir da documentação musica l remanescente. Seu estudo se centra na produção musical de João de Deus de Castro Lobo, mestre da capela dessa catedral (provavelmen te de 1824 à 1832), cujo maior nú mero de composições musicais foi preservado. Por fim, Cristiane Maria Magalhães, em Os sons e q paisagem fabril na Minas oitocentista: o ca so de Itabira, estuda a Companhi a União Itabirana, instalada em 1876 na província de Minas Gerais, estabelecendo-se na zona rural do documentais, a proximidade dos si gnos da modernidade industrial qu e caracterizaram o processo de instalação das fábricas de tecidos mineiras, representados na preocupação com a salubridade e a higiene dentro do espaço fabril e nas vilas operárias, na racionalidade espacial e da força de trabalho, no us o da força hidráulica, no maquinário importado, na presença de técnicos estrangeiros, entre outros aspectos. A modernid ade produzia sua própria sonoridade. À segunda seção — Formas do poder e da inversão da ordem nas monarqui as atlânticas

cerimoniais da monarquia no An tigo Regime Ibérico no chamado “tempo dos Filipes” em

Angola em inícios do século XVII, analisa, a partir da proposta que o capitão Garcia Mendes Castelo Branco esboçou sobre a tributação dos sobas em Ango la e no Congo, as formas de conquista e da conservação do Império Português — sobretudo no Congo, Angola e Benguela. O autor discute, a partir do trânsito de autoridades com larga experiência na administração do Império, o problema de se saber como era pensada a presença portuguesa na costa ocidental africana no primeiro terço do século XVII. Em As Frutas do Brasil, de Frei Antônio do Rosário, e as formas simbólicas do poder monárquico, Carla Maria Junho Anastasia disseca a linguagem simbólica utilizada por Frei Antô nio do Rosário em seu livro de 1702, e aponta que, para muito além de uma visão edênica da natureza, o autor articula um discurso sobre as formas do poder monárquico e sua dimensão hierárquica no interior de um império que se espraiava pelas quatro partes do mundo. A terceira seção - O mundo atlântico em imagens e narrativas — reúne textos que analisam tanto a questão do olhar sobre as paisagens quanto das imagens que cristalizavam esse olhar. Inicia-se com toda a arte imagética desenvolvida nos Países Baixos entre os séculos XV e XVII e os seus reflexos, e atinge a invenção da fotografia no século XIX, fenômeno que revoluciona toda a estética de repr esentação visual. No texto Aparências, imagens e metamorfoses dos africanos na pint ura e na escultura flamenga e holandesa (sécs. XV-XVII), Eddy Stols aponta como o processo da colonização do Novo Mundo teve impacto em toda a arte em Flandres. A abertura do mundo se espelha numa verdadeira revolução de imagens, trazendo para o interior das artes plásticas e aplicadas dos Países Baixos um conjunto de representações das figur as de negro(a)s e mulato(a)s que são constantemente lidas e relidas, o que acaba por atrib uir a essas figuras mestiças Novos significados. Flávia Maria da Mata Reis, em Trânsitos e “amálgamas” de técnicas, saberes e práticas culturais nas minas da América port uguesa, parte do pressuposto de que a mineração, ao exigir conhecimentos específicos, conf igurou um espaço profícuo e dinâmico para os trânsitos e interações de técnicas, sabe res e práticas minerais. Neste sentido, algumas evidências encontradas nos document os históricos e nos registros iconográficos e arqueológicos permitem considerar que a influência exercida pelas explorações hispano-americanas e os conhecimentos trazi dos por especialistas europeus

14

(portugueses,

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS

espanhóis,

alemães

e flamengos)

foram

NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

se amalgamando

com

as

ferramentas, as crenças e os saberes introduzidos pelos escravos africanos, somados ainda à experiência prática de indígenas. Em Natureza narrada: representando o mundo natural nas expedições setecentistas, Neil Safier busca responder à questão de como se representava a natureza brasileira por meio de textos de ordem administrativa do século XVIII. Quais eram os elementos linguísticos e gramaticais que se usavam para fazer a ligação entre um relato oficial - cumprindo uma função particular dentro de hierarquia colonial - e a experiência ocular de uma viagem através de paredões, cachoeiras, florestas e outros elementos exuberantes das paisagens que avistavam os viajantes portugueses? A natureza representava uma força dificilmente controlada dentro do léxico habitual do viajante administrativo ou científico, e que, por assim ser, os obriga a uma transformação na própria linguagem utilizada para poderem representar o mundo natural que percorrem nas expedições de demarcação territorial. A maneira como os núcleos urbanos mineiros foram percebidos no conjunto documental formado pelos relatos de viajantes estrangeiros do século XIX, no qual se sobressai o de Auguste de Saint-Hilaire, é o tema de Cláudia Damasceno Fonseca em Irregulares ou pitorescas? Visões das paisagens urbanas mineiras. A autora aponta que o olhar dos viajantes estrangeiros variou entre o prosaísmo dos memorialistas e a subjetividade dos artistas, e que foi a primeira impressão crítica que prevaleceu e se fixou no imaginário, tendo sido reproduzida na historiografia, e especialmente nos trabalhos sobre arquitetura e urbanismo colonial dos anos 1950 e 1960. Em A escravidão em imagens no Brasil oitocentista, Maria Eliza Linhares Borges analisa as representações visuais dos negros de ganho ao longo do século XIX brasileiro, produzidas em aquarelas e em fotografias. Por meio dessas imagens, a autora reflete sobre os aspectos socio-históricos relacionados com o circuito social destas representações junto a seu público-alvo. Na quarta parte — As cores e o colorido do espaço atlântico — os autores se debruçam sobre as cores que caracterizavam o universo do mundo atlântico: as cores que distinguiam as ordens sociais, as cores e o colorido das tintas empregadas nas pinturas e gravuras, e mesmo a diversidade das tonalidades de pele dos homens e mulheres da época. António

Manuel Hespanha, em As cores e a instituição da ordem de Antigo Regime, parte do pressuposto de que o Direito nem sempre foi tão cinzentão assim. Na vertigem de conhecer a ordem das coisas, as cores parecem que desempenhavam um papel importante na sociedade de Antigo Regime. Os juristas tiraram partido delas para conhecer os homens, e para que, a partir daí, as pessoas parecessem sempre aquilo que verdadeiramente eram. Esta conformidade entre a aparência e a essência tocava muitos aspectos da vida. Silvia Hunold Lara, em A cor da maior parte da gente: negros e mulatos na América portuguesa setecentista, faz uma instigante análise de verbetes de dicionários portugueses, determinações legais, relatos de cronistas e processos de injúria relativos à América portuguesa, o que

permite à autora verificar a variação de significados que os termos “pardo”, “mulato”,

“preto” e “negro” adquirem em diversas situações. A ambigúidade da associação entre cor

e condição social, discutida à luz dos critérios de classificação social do Antigo Regime, é examinada no contexto da presença crescente de cativos, e sobretudo de libertos, nas cidades coloniais setecentistas, mostrando como estes termos passaram a indicar cada vez mais, ao longo do século XVIII, diferenças culturais e distâncias sociais.

INTRODUÇÃO

15

Já Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno, em O engenheiro artista: as aquarelas e as tintas nos mapas do novo mundo, trata dos mapas dos engenheiros militares no XVIII. A autora focaliza as convenções e códigos empregados na representação da natureza do Novo Mundo. Assim como os símbolos gráficos (árvores, matas, serras, montanhas, vilas, fortalezas, cidades, etc.), o emprego das cores foi uniformizado a partir do século XVIII, cabendo ao engenheiro militar manejar a complexa linguagem cartográfica, preparar as tintas e aquarelar os mapas. A autora busca reconstituir o gabinete de desenho do engenheiro militar, conhecer o receituário empregado no preparo dos pigmentos e tintas, e o modo de

“dar as aguadas”. Nos mapas dos engenheiros militares, o Novo Mundo não está representado de forma naturalista. Para a sua compreensão é necessário decodificar a linguagem visual e a paleta cromática ali empregadas. Em Traços europeus, cores mineiras: três pinturas coloniais inspiradas em uma gravura de Joaquim Carneiro da Silva,

Camila Fernanda

Guimarães Santiago estuda três pinturas religiosas coloniais encontradas em igrejas mineiras

que foram inspiradas numa gravura do autor, reproduzida em um missal de época. Com

esse ponto de partida, a autora reflete sobre a utilização, pelos artistas que atuaram em Minas Gerais durante o século XVIII e início do XIX, de estampas européias como fontes iconográficas e formais. Faceta pouco explorada da dinâmica criativa no período, o uso de gravuras como modelos para pinturas era prática comum na América portuguesa. Manejando técnicas e materiais disponíveis, o artista decalcava os traços do papel, integrandoos, como pintura, no cenário da vivência religiosa do mineiro setecentista e oitocentista, seja no forro de um templo, num painel ou numa tela. José Newton Coelho Meneses, em seu texto Discrição nas cores e efeitos nas formas: emblemas, simbologias e manifestações da identidade dos ofícios mecânicos no mundo português dos séculos XVIII e XIX, busca dar visibilidade ao trabalho e à identidade do oficial mecânico em Lisboa e em Minas Gerais, discutindo a identidade e a inserção social desses personagens na sociedade luso-brasileira dos séculos XVIII e XIX. A quinta parte — Os impérios atlânticos em movimento — articula-se em torno da questão do movimento que marcava o ir e vir de pessoas, animais e objetos entre as três partes do mundo que se espraiavam pelas margens do Atlântico: Europa, África e América, e também atingindo por vezes a Ásia. Stuart Schwartz, em Vidas entre impérios: movimento e liberdade de consciência no mundo luso-hispânico, aborda o trânsito de idéias que circulavam na esteira do fluxo populacional que se deslocava entre Portugal e Espanha e suas colônias, muitas dessas idéias de caráter inconformista. O autor conecta histórias globais por sua natureza, já que esses indivíduos atravessavam a extensão mundial dos impérios português e espanhol, do Oriente, à Península Ibérica e à América. Essas viagens se tornavam cada vez mais frequentes no interior de impérios de alcance geográfico não só atlântico mas planetário. Isnara Pereira Ivo, em Trânsito cultural, conquistas e aventura na América portuguesa, aborda o trânsito e a mobilização de pessoas — descobridores, missionários, conquistadores, aventureiros e mercadores — no Império Marítimo Português, o que era uma constante desde o século XVI. A questão é verticalizada na trajetória de

alguns homens que, em meados do século XVIII, percorreram os sertões da Bahia em busca de conquistas e de riquezas. O resultado desse movimento incessante é um mundo

conectado em diversas dimensões, sejam elas políticas, econômicas, culturais ou religiosas:

16

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

um cenário alicerçado em estruturas propícias ao deslocamento de agen tes sociais responsáveis por inusitadas experiências de trânsito, movimento e mediações.

O tráfico negreiro internacional e a demografia escrava nas Minas Gerais: um século e meio de oscilações, de autoria de Douglas Cole Libby, discute como, apesar de o número

de obras sobre o tráfico transatlântico de escravos para a América portugue sa ter aumentado enormemente ao longo das últimas décadas, expandindo nossa compre ensão acerca de diversos aspectos do comércio negreiro, ainda sabe-se muito pouco da distribuição de novas peças africanas para além dos portos de desembarque. Espe cula-se que, com a marcante diminuição das importações no último terço dos Setecent os, o tráfico como fator de reprodução da população mancípia, tanto no Brasil quanto nas Minas Gerais, teria sido substituído pela reprodução natural. Ao partir de fontes ainda pouco estudadas — assentos de batismos de africanos adultos -, o autor procura toma r o pulso do tráfico negreiro para as Minas durante quase de 150 anos, investigar, na med ida do possível, as origens dos africanos importados, e sustentar uma interpretação da demografia escrava mineira que não considera como mutuamente excludentes o tráfico e à reprodução natural. Eduardo França Paiva, em Trânsito e mobilidade entre mundos: escravidão globalizada, comércio e práticas culturais, chama a atenção para o fato de que nos quase quatrocentos anos de tráfico de escravos africanos para o Novo Mundo ocorrera m indelevelmente o trânsito, a mobilidade e as trocas, tanto de práticas culturais, quanto da cultura material, dos conhecimentos e saberes, dos mitos e religiões, das form as de viver e de pensar. Mobilidade, também, era aspecto fundamental na vida dos povos que habitavam as terras chamadas de América pelos europeus. Portanto, a escravidão afri cana, ao ser implantada

Parte 1

OS SONS, A SONORIDADE E AS LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

no Novo Mundo, não experimentou dinâmica inédita, mas, ao contrário, aproveitou de

movimentos já praticados longamente, e, evidentemente, os aperfeiçoou a partir de demandas, essas sim, novas, que ligavam várias partes do mundo, cada vez mais integrandoas, aproximando-as, tornando-as conhecidas entre si, em outros termos. Finalmente, o autor aborda essas questões a partir da mobilidade experimentad a por personagens — exescravos e mestiços — que transitaram pelas áreas urbanas e pelo s sertões do Brasil. Pablo

Lima, em 4 sombra dos quilombos: temor e desassossego na sociedade escravista mineira,

aborda o tema do medo, questão recorrente na literatura sobr e os quilombos em Minas Gerais ao longo do século XVIII. O medo é uma prática cultural situada entre a experiência vivida e a representação imaginária, e, no caso de Minas Gerais, o autor observa uma relação direta e contínua entre a história de Palmares e o medo que os quilombos despertaram na capitania, sempre ameaçada por uma revolta escr ava de grande amplitude. Bem-vindo a esse caleidoscópio de sons, imagens e cores de impérios sempre em movimento!

Soldados. In: Uniformes militares do Brasil colônia. (Museu Histórico Nacional)

Os SONS E OS SILÊNCIOS NAS MINAS DE OURO

Júnia Ferreira Furtado

Caia a noite de 21 de junho de 1743 e, com toda a pompa, o bispo do Rio de Janeiro, dom João da Cruz, se preparava para deixar a vila de Nossa Senhora do Carmo, hoje Mariana, em direção ao arraial de Camargos. Sem que soubesse o que lhe aguardava, o bispo ultimava os preparativos para finalizar a primeira etapa de sua segunda visita pastoral à região da capitania de Minas Gerais, então sob sua jurisdição. Os três meses passados na localidade haviam sido conturbados, marcados por disputas com o clero e as autoridades locais, capitaneados pelo ouvidor Caetano Furtado de Mendonça.? Como forma de ostentação pública da importância do prelado na hierarquia da Igreja no Estado português e do seu papel na observância da fé católica, todo o protocolo de entrada na vila e da visita fora seguido à risca. Como espelho do reino, ainda que ondulado, a idéia de pompa presente nesta como em todas as cerimônias públicas, fossem religiosas ou civis, visava salientar as hierarquias e a ordem pelas quais, enquanto parte integrante do universo espacial das monarquias católicas atlânticas, a sociedade mineradora deveria se regrar. Por sua vez, o luxo, também característico destas solenidades, era maneira de tornar visível essa ordenação.? 1. Agradeço aos participantes do seminário pelas críticas e sugestões valiosas que procurei incorporar a esta versão final do texto.

2. Ver: Lisboa. Arquivo Histórico Ultramarino. (AHU) Manuscritos Avulsos de Minas Gerais (MAMG).

Carta de dom João da Cruz, expondo as suas queixas sobre a atuação de Caetano Furtado de Mendonça,

nomeadamente no caso do roubo dos badalos dos sinos da Igreja matriz, quando de sua visita a vila do

Carmo. Caixa 43, doc.87; TRINTADE, Cônego Raimundo. Arquidiocese de Mariana: subsídios para sua

história. Mariana: s/e, 1929.v. 1, pp. 61-2.; VASCONCELOS, Diogo de. História do Bispado de Mariana.

Belo Horizonte: Apolo, p. 36.; KANTOR, Iris. “Entradas episcopais na capitania de Minas Gerais (1743

e 1748): a transgressão formalizada”, in JANCSÓ, István & KANTOR, Íris (org). Festa: cultura e sociabilidade na América portuguesa. São Paulo: Edusp/Hucitec/Imprensa Oficial, 2001, pp. 169-80.

3. “Ao tomar a forma processional, a cidade desfilava informando hierarquias, dignificando uns em detrimento

de outros. A idéia de Pompa presente em todo o desfile também tinha a mesma conotação de hierarquia

20

SONS, FORMAS, CORES

E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

ATLÂNTICA

No entanto, ao contrário do que era esperado, e à medida que se adiantava a hora da partida, frente aos moradores que atônitos já se aglomeravam pelas vielas para prestar reverências à comitiva que estava prestes a se retirar da vila, os “costumados repiques dos sinos” tanto da igreja matriz quanto das demais da localidade não se fizeram ouvir Os sons dos sinos eram fundamentais para a ordenação da vida nos arraiais coloniais. Era um som codificado e, em vários momentos, a imposição solene das badaladas marcava a reverência com que alguns atos do cotidiano, como a saída oficial do bispo, deveriam ser tratados. Passou a hora do ângelus e os sinos de Mariana continuavam mudos, não entoando a Ave Maria.* Algumas pessoas mais temerosas das consequências de tal ato de insubordinação ainda tentaram remediar o desrespeito e utilizaram “martelos de ferro para se despedirem com a devida dignidade do prelado”.º Inconformado com a quebra do protocolo e com a desatenção pública a sua figura, o bispo, em vez de seguir viagem, permaneceu no local onde deu início a uma investigação para apurar o incidente. Desc obriu que os badalos dos sinos das igrejas haviam sido roubados em total afronta à sua dign idade de prelado. Entre as várias questões que o silêncio dos sinos das igrejas marianenses nos descortinam,º este artigo se detêm nas possibilidades de, a partir da linguagem escrita, reconstruir alguns dos sons, e mesmo os silêncios, que marcaram o viver cotidiano da população mineradora ao longo do século XVIII e os seus significados. Não iremos aqui tratar da extensa e significativa produção musical barroca que teve como palco a capitania, mas da sonoridade vivenciada pelos moradores nos arraiais, nas vilas, nas estradas e nos sertões da capitania do ouro. A partir da idéia de que a linguagem escrita também serve para remontar os ruídos do viver cotidiano pretende-se explorar a cacofonia de sons ali existentes: o barulho das trombetas, dos sinos, dos tambores, das vozes e dos gritos, mas também dos sussurros, dos murmúrios, e os silêncios.

Figura 1: Os sinos nas igrejas mineiras eram importantes formas de comunicação. Fonte: Foto da autora.

e ordem”. FURTADO, Júnia E Desfilar: a procissão barroca, Revista Brasileira de História - ANPUH, São Paulo, v. 17, n. 33, pp. 251-79, 1997.; ver também CAMPOS, Adalgisa Aran tes. O triunfo eucarístico:

hierarquias e universalidade. Barroco: Arquitetura e Artes Plásticas, Belo Horizonte/UFMG, v. 2, p. 464, 1990/92.

4. AHU. MAMG. Caixa 43, doc.87. 3. KANTOR. Entradas episcopais na capitania de Min as Gerais..., p. 175. 6. Ver, por exemplo, o artigo de Íris Kantor, citado acima, que a partir do mesmo incidente discute a questão da tra

nsmigração da etiqueta para o além-mar.

PARTE 1 - OS SONS, A SONORIDADE

E AS

LINGUAGENS

DA CONQUISTA ATLÂNTICA

2

Os sons da natureza

,

Foram muitos os que descreveram o espaço geográfico das Minas, fosse para um público mais amplo, em relatos manuscritos e impressos, fosse para uma comunidade de leitores mais restrita, em cartas pessoais ou comerciais. Na maioria das vezes, seus escritos revelam uma percepção onírica da paisagem, criando uma verdadeira geografia das maravilhas. Esta leitura paradisíaca da terra brasilis era herdeira de uma tradição que

remontava os primeiros tempos após o descobrimento,” mas durante o século XVIII, este éden tropical se deslocou progressivamente para as Minas Gerais, o que se deveu, principalmente, às suas riquezas auríferas e diamantíferas, o que, para o olhar coevo, aproximava o Eldorado do paraíso terreal.º

Mas essas paisagens magníficas, um verdadeiro mar de montanhas, com “altitudes [que alcançavam] de setecentos a oitocentos pés”,? não deveriam ser experimentadas apenas com a visão. Se os olhos dos que percorriam os trajetos que ligavam São Paulo e o Rio de Janeiro ao centro do distrito minerador certamente se deslumbraram com as florestas cuja vegetação era composta de um verde carregado, onde múltiplas e desconhecidas espécies de plantas proliferavam, seus ouvidos também se deliciavam com o alarido dos bandos de tucanos, periquitos, papagaios e outros pássaros, além dos sons emitidos pelos muitos animais que se espreitavam pela mata e corriam em debandada à menor aproximação humana. Ao longo do Caminho Novo, utilizado pelos que se dirigiam ao Rio de Janeiro, pequenas rãs de um amarelo dourado produziam um coaxado grave e intermitente:1º Os urros dos macacos-barbados, repetidos pelos ecos, assemelha[va]m-se ao ruído de um vento impetuoso que se interrompesse por intervalos, espaçando-se pouco a pouco (...); os batráquios misturam seus coaxados variados e bizarros, e as cigarras seus trinados agudos e monótonos. É assim que se forma essa voz (...), que não é mais do que a expressão do temor, da dor e do prazer partindo de seres diferentes.”

Se, ao amanhecer, densa cerração ocultava a paisagem ao redor, podia-se pressentir o que estava escondido ao olhar humano ao ouvir “milhares de pássaros, cuja plumagem 7. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do de Mello. “O novo mundo entre Deus e Paulo: Companhia das Letras, 1986, pp. in Agents of Empire: Portuguese doctors

paraíso. 6a ed., São Paulo: Brasiliense, 1994.: SOUZA, Laura o Diabo”, in — -Odiaboeaterra de Santa Cruz. São 21-85. GOODYEAR JR., James. “Brazil: terrestrial paradise?”, in colonial Brazil and the idea of tropical disease. Baltimore:

Johns Hopkins University, 1982, pp. 33-72 e 73-121, mimeo.

8. Para análise da fusão do mito do Eldorado ao do paraíso terrestre e seu deslocam ento progressivo para as Minas ver: FURTADO, Júnia E “Chuva de estrelas na terra: O paraíso e a busca dos diamantes nas

Minas setecentistas”, in História e meio-ambiente: o impacto da expansão européia. Funchal: CEHA,

1999, pp. 445-58.

2. LUCCOCK, John. Notas sobre o Rio de Janeiro e partes meridionais do Brasil. Belo Horizonte/São Paulo:

Itatiaia /Edusp, 1975, p. 274.

10, SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem pelas províncias de Rio de Janeiro e Minas Gerais, Belo Horizonte/ São Paulo: Editora Itatiaia/ Edusp, 1975, p. 24.

11. SAINT-HILAIRE. Viagem pelas províncias..., p. 22.

22

SONS,

FORMAS,

CORES

E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

ATLÂNTICA

difere tanto quanto os hábitos, [que] fazem ouvir um gorjeio confuso”, e num somatório de cantos saudavam a manhã.!º Alguns desses trinados eram sons melodiosos, outros

causavam estranhamento, e

E AS

LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

23

Mas o maior risco de todos era, na verdade, o encontro nada amistoso com os índios, que traziam para perto dos viajantes os sons do desconhecido e os gritos do confronto entre duas culturas distintas. Foi o que ocorreu na derrota que, em 1734, João Antônio

no meio de todos esses sons um ruído mais vibrante corta os ares, faz retumbar a

floresta, e espanta o viajante. Julga ouvir os golpes de um martelo sonoro batendo na bigorna a que se seguisse o trabalho entontecedor da lima exercendo-se sobre o ferro. O viajante olha para todos os lados, e se admira quando descobre que os sons que vibram com tanta força são produzidos por um pássaro do tamanho de um melro, que, quase imóvel (...) canta, interrompe-se, e espera para recomeçar [assim] que outro indivíduo

da sua espécie tenha respondido a sua voz.!

A experiência auditiva ao longo dos caminhos que conectavam as Minas ao litoral

sudeste não era muito diferente da experimentada por aqueles que, a partir de 1730, quando se descobriram as novas minas de ouro na região de Cuiabá, percorreram os

caminhos para esses novos descobertos, abertos a partir das Minas Gerais e de São Paulo.

A grande diferença era que, dessa feita, a maior parte da viagem era realizada percorrendo os rios, em torno dos quais a natureza gerava o mesmo encantamento aos olhos e aos ouvidos. Os viajantes que para lá se dirigiam se viam cercados de bandos de papagaios, macacos e tucanos em suas algazarras e ruídos costumeiros, e que serviam de caça para aplacar a fome. Apesar da beleza, o trajeto era percorrido com bastante temor, “pois é com grande risco de vida, [já que] o caminho para elas são ainda por grandes matos. (...) Sobre o maior perigo, as muitas onças”, sempre à espreita, que chegavam silenciosamente, e de forma traiçoeira atacavam os desprevenidos viajantes.'º

Figura 2: De manhã bem cedo, densa cerração ocultava a paisagem

ao redor. Fonte: Nuvens Baixas na Serra, de William Michaud — 1885.

12. SAINT-HILAIRE, Viagem pelas províncias..., p. 22. 13. FURTADO, Júnia & ANASTASIA,

PARTE 1 - OS SONS, A SONORIDADE

Carla. A Estrada Real na História de Minas Gerais... História &

Perspectivas, Uberlândia, n. 20-21, pp. 33-53, jan/dez, 1999.

14. Trata-se da araponga, SAINT-HILAIRE. Viagem pelas províncias..., p. 22.

15. Hospital São José (HSJ). Testamentária de Francisco Pinheiro (TFP). Carta 161, maço 29, f.201, apud

LISANTIE, Luís. Negócios coloniais; uma correspondência comercial do século XVIII. Brasília/São Paulo:

Ministério da Fazenda/Visão Editorial, 1973, p. 291.

Cabral Camello realizou na região. Na manhã do dia 6 de junho, quando os monçoeiros navegavam no rio Paraguai, “um grande urro” que ouviram da parte direita da embarcação

anunciou a presença dos índios paiaguás que até então se escondiam sob a densa vegetação que cobria as margens. Era prenúncio de coisa pior. Em seguida veio na direção da comitiva “uma tão espessa nuvem de flechas, que escureceu o sol”. O ouvidor Lanhas, que ia na

expedição, aprisionado pelos índios em seu barco, gritava para que lhe socorressem.

Depois da primeira e sangrenta investida, o barulho das taracas que ouviam “tocar a cada instante”, era “manifesto indício” de que os índios ainda se encontravam nas proximidades

e podiam atacar a qualquer instante.'º

Não menos impressionante era a paisagem dos que iam para as Minas pelo caminho

da Bahia, que em grande parte margeava o rio São Francisco ou rio Verde, e entrava na capitania pela barra do rio das Velhas,” conhecido como Caminho do Sertão, da Bahia, ou dos Currais, pois ali estabeleceram-se grandes fazendas de gado, aproveitando-se da abundância

de água e de depósitos de sal. Arriscado e penoso, o Caminho do Sertão

cortava uma região mais plana, em comparação à geografia mais íngreme com que se

defrontavam os viajantes que partiam do Rio de Janeiro e São Paulo, e que tinham que cruzar a Serra do Mar e a da Mantiqueira. Mesmo assim, por todo o percurso era constante

a ameaça de doenças, de animais selvagens e de bandos de negros fugidos que atacavam de surpresa, o que tornava imperativo que a viagem fosse realizada em grupos fortemente

armados. Descrevendo esse caminho, um morador das Minas contou que a viagem era

demorada e “tudo era feroz e contrário à penetração humana nessas terras misteriosas e sinistras”.!8 Logo no início do Caminho do Sertão, os viajantes que partiam do litoral se deparavam com um barulho tão forte “que a duas jornadas distantes se ouve o estrondo”. Era a hoje chamada cachoeira de Paulo Afonso, onde “a água se despenca de tão alto, e com tal bulha” que impressionava a todos.!º Mais à frente, a Lagoa dos Patos descortinava todo um ecossistema animal e vegetal que refletia a fartura que o rio provia aos caminhantes famintos e sedentos. A profusão de pássaros e animais que ali matavam a sede com seus alaridos, por vezes quase infernais, encantava os que por ali passavam no século XVII e, quase intacta, ainda deslumbrava os viajantes estrangeiros que a conheceram no século

16. CAMELLO, João Antônio Cabral. Segunda notícia prática das minas do Cuiabá e Guiazes na capitania de São Paulo, apud TAUNAY, Afonso de E. Relatos monçoeiros. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1976, pp. 128-9.

17. FERREIRA, Luís Gomes. Erário mineral. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Organização de Júnia Ferreira Furtado, Coleção Mineiriana, 2002, pp. 293, 373 e 431.

18. FURTADO, Júnia Ferreira. Homens de negócio: a interiorização da metrópole e do comércio nas Minas setecentistas. São Paulo: Hucitec, 1999, p. 190.

19. ABREU, J. R. Historiologia médica, fundada e estabelecida nos princípios de George Ernesto Stahl.

Lisboa: Oficina de Antônio de Sousa da Silva, 1739, t. 2, pp. 517 e 520-1.

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SONS,

FORMAS,

CORES

E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

ATLÂNTICA

XIX.2º Já próximo a Sabará, o viajante se deparava com o ribeirão do Inferno, que ganhou tal nome “porque para atravessá-lo era preciso passar uma por uma ponte de menos de 20

pés de comprimento, correndo o rio por baixo por mais de duzentos de profundidade”. Passar por ali era uma experiência terrível para todos os sentidos, pois no fundo de um horroroso precipício o rio corria com toda a bulha.? O som das águas era marcante na paisagem. Nos trajetos para o interior, quando a viagem não era toda feita nas próprias águas dos rios, atravessavam os caminhos terrestres “mil regatos de puras e cristalinas águas”, ou majestosos rios como o São Francisco ou o Paraíba do Sul. Era um espaço interior, mas era um espaço fluvial, e “por toda parte, o suave farfalhar das folhas e o tilintar argentino e o murmúrio da água correndo constituem uma música para os ouvidos”.?2 Fios de água caíam “a pique e em fio de altíssimas montanhas”; outros se quebravam e se dividiam “sobre rochas até o sopé das serras”, e

após voltas e viravoltas desaguavam em rios maiores. Os sons das águas eram às vezes mansos, pois regatos de águas preguiçosas se abriam em espaçosas praias de areias brancas; outros, serpenteando entre as serras apertadas, sumiam de vista para reaparecer ao longe, em inúmeras quedas, com fúria e estrondo.” Por toda parte a natureza compunha um espetáculo sonoro inesquecível, Se nas Minas as estações não eram rigorosamente marcadas, pois somente se distinguia um período de seca, que se prolongava de abril a setembro, e outro de águas, entre outubro e março, quando chegavam as chuvas, elas “não eram mansas e miúdas”,2* mas grossas e ruidosas, e se arrastavam por dias e semanas, e o som das pesadas gotas por vezes sobressaltava os moradores trancados dentro de suas casas, temendo as devastadoras

enchentes que, não raro, destruíam os serviços nas datas minerais. O alarido dos trovões rugia ao longe,2 repercutia com estrondo nas montanhas? e fazia tremer a terra, assustando os mais destemidos. Porém, quando o sol reaparecia num céu azul e límpido, a vida se renovava e a natureza de novo se mostrava bela e alegre. Chuva pesada, chuva de Minas, experimentou a expedição que o governador Antônio de Albuquerque, governador da Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, recrutou nas Minas para expulsar os piratas franceses que haviam se apoderado do Rio de Janeiro, em

20. Imagem da Lagoa dos Patos pode ser encontrada em VOGEL: Teich am Rio de S. Francisco, a partir de

PARTE 1 - OS SONS, A SONORIDADE E AS LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

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1711, capitaneados por Du Guay-Troin. Na ocasião foi mobilizado um contingente de seis entre os homens mais mil homens, dispostos em seis milícias de ordenanças, recrutados de seus escravos. ados panh acom todos is, reinó ou stas pauli eles em foss , Minas das honrados

A viagem da comitiva iniciou-se na vila do Carmo e logo se transformou em um pesadelo.

ilitando o ssib impo veis, nsitá intra s anha mont das as trilh as aram torn as chuv adas «pes que transporte da pólvora e de gêneros”;” os rios mostravam enchente, mas Albuquer das águas pesa das e es trovõ dos mbar retu do ar apes da”, força ha marc sua em va inua cont que caíam sobre suas cabeças.”

Os sons dos caminhos Mas não era só a natureza que guardava seus sons. Os viajantes, em seus deslocamentos

pelo território das Minas, produziam seus próprios ruídos, muitas vezes forma de trazer para perto de si o mundo que deixavam para trás. Os sons de seus ritos e rotinas habituais

lembravam-lhes sua terra de origem, davam-lhes familiaridade e imprimiam-lhes espírito

de grupo, além de afastá-los dos temores que sentiam em relação à natureza agreste e desconhecida e dos perigos sempre à espreita. Para imprimir esses efeitos, desde o primeiro minuto do dia os homens eram cercados por ruídos que deveriam provocar as reações adequadas ao ouvido atento. Assim, para despertar após uma noite incômoda em pousos geralmente precários, nada mais próprio do que anunciar a alvorada ao som de caixas,” de forma a acordar os sonolentos e ativá-los para a longa jornada que a ainda fraca luz do dia anunciava. Pouco depois, antes da partida, várias das caravanas que percorriam as veredas mineiras começavam o trajeto com uma missa matinal, confortando os espíritos com a fé para encorajar o grupo. O som das matinas ordenava o início da faina do dia e pedia a proteção de Deus para a jornada a seguir. Foi o que ocorreu a cada manhã da viagem que o governador dom Pedro de Almeida e Portugal, conde de Assumar, empreendeu para assumir seu posto no coração das Minas Gerais. Acordava-se cedo, assistia-se ao ofício religioso, e a partir das sete da manhã marchava-se “a paulista”. Isto é, caminhava-se somente até por volta do “meio-dia, quando muito até uma ou duas horas da tarde, assim para se arrancharem, como para terem tempo de descansar e de buscar alguma caça ou peixe”,” e “alijar-se do sol”. À medida que o governador penetrava em território mineiro era recebido pelos

esboço de C. Heinzmann, apud FURTADO, Júnia E; COSTA, Gilberto C.; RENGER, Friedrich E. &

SANTOS, Márcia Maria D. Cartografia da conquista das minas. Lisboa/Belo Horizonte: Kappa/Editora

da UFMG, 2004, p. 91.

27.

Janeiro até as Minas do Ouro., in Códice Costa Matoso. Coord. de Luciano Raposo de Almeida Figueiredo

28. BOXER, Charles. A idade de ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial. Rio de

905. 22. BURTON, Richard. Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1976, p. 39

29. Encontrando quilombos... Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, v. 108, pp. 56-7, 1988; SOUZA, Laura de Mello e. “Formas provisórias de existência: a vida cotidiana nos caminhos, nas fronteiras e nas

21. BRITO, Francisco Tavares de. Itinerário geográfico com a verdadeira descrição dos caminhos do Rio de e Maria Verônica Campos. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Coleção Mineiriana, 1999, v. 1, p.

23. COUTO, José Vieira. Memória sobre a capitania de Minas Gerais, seu território, clima e produções metálicas. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1994, p. 54.

24. COUTO. Memória sobre a capitania de Minas Gerais..., p. 54. 25. SAINTHILAIRE. Viagem pelas províncias..., p. 126 26. SAINT-HILAIRE. Viagem pelas províncias..., p. 365

FURTADO, Júnia Ferreira. “Arte e segredo: o licenciado Luís Gomes Ferreira e seu caleidoscópio de imagens”, in FERREIRA. Erário Mineral, v. 1, p. 3-30. Janeiro: Nova Fronteira, 2000, p. 125.

fortificações”, in

(org.). História da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na

América portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, v. 1, 1997, p. 66-7.

30. ANTONIL, André João. Cultura e opulência no Brasil, por suas drogas e minas. Belo Horizonte: Itatiaia;

São Paulo: Edusp, 1982, p. 182.

31. Do Rio de Janeiro a Vila Rica. Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de

Janeiro, v.3, 1939, p. 295.

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

26

e na paulistas com salvas de tiros e tocava-se muita caramela. Em São João Del Rei ntes e ouvi dos te delei para Deum Te um brar cele a e ou-s cheg í Tripu do Paragem tranquilidade dos espíritos cristãos.

A viagem que fez o mestre de campo e guarda-mor Inácio Correia Pamplona, em da e o apur do plar exem foi a tani capi na s ombo quil uir destr e izar local para , 1769 ermas sofisticação sonora que se podia imprimir nestas expedições, ainda que por terras ume de 13 cost o era como ado panh acom , lona Pamp u parti to agos de 18 A o. sertã do na, pólvora, cavaleiros, 58 escravos seus, “com armas de espingarda, clavinas, facões, patro também “7 chumbo e bala”, tudo carregado em 52 bestas de carga. Mas na comitiva iam

PARTE 1 — OS SONS, A SONORIDADE E AS LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

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de surpresa por um bando desses nos caminhos das minas setecentistas ficaram registradas em ex-votos que, se por um lado deixam em figuras imóveis imortalizado aquilo que na a realidade se configurou como uma segiiência de imagens trágicas, por outro nos deix entrever por trás dessas cenas os gritos de dor e pavor emitidos pelos que vivenciaram com

pelos terror tais experiências. Os perigos dos caminhos para Minas eram bens conhecidos ns deles viajantes contumazes: o ataque de negros quilombolas ou de índios bravios, algu

antropófagos.

violas, rebecas, escravos, 6 fora da referida conta, e 1 branco, [que] fazem 8 — com cobertas de trompas e flautas travessas, — e juntamente 2 pretos tambores, com suas caixas rto, com encerado”.2 A cada parada a comitiva se deleitava em ouvir um pequeno conce o minuetos e toques de caixa que marcavam o romper da aurora. Assim, no dia 23, pouc a alvorada, ores tamb os aram “toc iva, comit a toda r erta desp para r, hece aman do antes crepúsculo da seguiram-se os músicos a cantar e tocar seus instrumentos, até o primeiro que ouviram manhã, tocaram-se as Aves Marias e celebrou-se o santo sacrifício da missa, te dos todos os que por ali se achavam”. Em alguns pontos do trajeto, para maior delei e do seu ouvidos da inusitada audiência, foram recitados sonetos em louvor da empreitada

mestre:

Que intrépido, que ardente, que pasmoso

Vencendo vai o monte desmedido

Um novo herói buscando o cume erguido,

Onde a fama erigiu seu templo honroso. (...) Hércules lhe dá a clava e diz a fama Respeitem as idades o meu brado; Aqui um Alcides novo hoje se aclama.*

go Mas os sons dos caminhos não eram somente de puro prazer aos ouvidos. O peri s estava sempre à espreita, a viagem era longa e arriscada, e por isso todos os deslocamento bandos bempara as Minas, não importa o trajeto percorrido, eram sempre realizados em

, ao terminar O armados para aumentar a segurança. O comerciante Francisco da Cruz

o”, O percurso entre o litoral e Vila Rica, afirmou que o caminho era “longe e diabólic muito maior perigo eram os ataques de grupos de mulatos e negros fugidos, quase sempre deixavaM bem-armados. Se eles chegavam em surdina, o som do ataque era infernal, e s pegos marcas naqueles que experimentavam tais assaltos. As lembranças dos sobrevivente

] A o a Nossa Senhora dos Remédios, Fi gura 3: : O ex-vot acervo do Mosteiro de São Bento na Bahia, mostra os perigos por que

Drama 32. Encontrando quilombos..., p. 53. . 33. Encontrando quilombos..., p. 56-7. Ver também: SOUZA. “Formas provisórias de existência...” IL Negócios 34. HSJ. TFP Testamentaria de Francisco Pinheiro Carta 150, maço 29, f. 166., in LISANT coloniais, p. 256.

o ataque de animais selvagens e peçonhentos, e ainda os sezões ou as

; que produziam não ruídos de estrondo, mas lamentos de dor. Como grande parte dos viajantes, o cirurgião-barbeiro Luís Gomes Ferreira ficou doente no percurso, permanecendo cinco meses na barra do rio das Velhas atacado de febres malignas,

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SONS,

FORMAS,

CORES

E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

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sem saber a natureza do mal, mas certo de estar perto da morte.** Gomes Ferreira registrou em seu livro que a febre alta o prendeu ao leito e tinha delírios seguidos, proferindo frases desconexas, pois as sezões que infestavam a região do rio São Francisco eram as piores de que tinha notícia e a maleita acometia a todos que chegavam desta região. Já para quem partia do Rio de Janeiro, um dos grandes perigos da viagem para Minas era a travessia da Serra da Mantiqueira, palavra cuja etimologia, incerta, deriva de manta — capa de lã —, e, em sentido figurado, ardil, trapaça e ladroeira.*º Ali onde a estrada se estreitava entre a serra e os despenhadeiros, nos seus pontos mais altos, nas proximidades do arraial da Igreja Nova, hoje Barbacena, atuou nos anos de 1780 o bando de um perigoso bandido chamado José Galvão, apelidado “o Montanha”, referência aos locais elevados da serra onde costumava atacar suas vítimas. Alguns diziam que o chefe do bando era um cigano, mas ninguém sabia ao certo. Certo era que atacava de surdina e matava sem dó nem piedade em busca do ouro que era o que lhe interessava de fato. Nesse caso, o silenciar dos costumados sons da natureza podia ser prenúncio de ataque certo.” Também nas proximidades da Serra da Mantiqueira, junto aos descobertos do Macacu, outro bando, desta feita o do Mão de Luva, aterrorizava os viajantes. Quando em 1786, a mando do governador dom Luís da Cunha Meneses, os soldados liderados pelo sargentomor Pedro Afonso Galvão desferiram o ataque final ao esconderijo dos bandidos, denunciado pelo som do galo,” a zoeira da luta — o som de guerra — era infernal. A tropa entrou “com muita desordem”, os soldados gritavam “mata mata, trocando bordoadas na escuridão sem reconhecerem os inimigos”. A escuridão era tanta que não se via nada, mas ouviamse os estopins dos tiros desferidos e a correria desordenada dos que procuravam se refugiar e se abrigar do ataque. No escuro impenetrável da noite ouvia-se apenas o tropel da refrega e o cheiro da pólvora que recendia pelo ar. Como relembrou mais tarde uma

testemunha, como nada se via, suas lembranças eram todas auditivas; assim, ouviu quando “Mão de Luva atirou duas vezes contra o cabo [José de Deus] mas, [como estava] sem

munição, [o que se ouviu foi] a espingarda mascar”. Em meio à barulheira de corre-corre, tromba-tromba, estocadas e estopins, o bandido gritava orientando seus comparsas: “Estamos rendidos, o cabo João de Deus é contra nós, entreguemo-nos e ninguém resista!”.º

35. FERREIRA. Erário Mineral, v. 2, p. 516.

36. BRANCO, Oswaldo H. Castello. Uma cidade à beira do Caminho Novo. Petrópolis: Vozes, 1988, p. 30.

37. ANASTASIA, Carla Maria Junho. A geografia do crime: violência nas Minas setecentistas. Belo Horizonte:

Editora da UFMG, 2005, pp. 87-96.

38. ANASTASIA. A geografia do crime..., pp. 96-109 39. MAWE, John. Viagens ao interior do Brasil. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Editora Universidade de

São Paulo, 1978, p. 97. Segundo o autor daí reside o fato de que o local onde o bando de Mão de Luva

se escondia ter ficado com o nome de Cantagalo. 40. ANASTASIA. A geografia do crime..., p. 103.

PARTE 1 — OS SONS, A SONORIDADE E AS LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

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Figura 4: À pintura de Caetano de Costa Vasconcelos, Ataques de índios botucudos na região de Minas Gerais com danos e mortes, ilustra os perigos que os viajantes encontravam nos caminhos das minas, Fonte: Coleção Lamego, IEB.

Os paulistas, mais intrépidos, também faziam sentir e impor sua presença utilizando recursos auditivos. Eram acostumados a caminhar acompanhados de numerosa escolta de indios domesticados e escravos negros, entre eles alguns escravos trombeteiros. Estes trombeteiros, em trajes coloridos, iam à frente de seus senhores pelos caminhos e vilas

anunciando sua chegada, tocando trombetas e clarins.' Mas o uso desses instrumentos de apito e percussão como forma de ostentação da importância dos potentados locais não foi privilégio apenas dos paulistas. Manuel Nunes Viana, português de origem, que foi proclamado governador durante a Guerra dos Emboabas, conflito que opôs paulistas e recém-chegados pelo controle das minas, rapidamente se apossou desses símbolos auditivos de demonstração de poder, revertendoos em seu benefício. Na escalada de violência em que o conflito rapidamente evoluiu, Nunes Viana, nos dizeres de um contemporâneo, para se impor frente aos paulistas “formou Companhias, fez Oficiais de Cavalaria, e Infantaria, [todos] com suas trombetas e tambores”, para se fazer ouvir e impor respeito dos adversários e do grosso da população local.*

41. DIAS, Maria Odila Leite da Silva. “Nos sertões do rio das Velhas e das Gerais: vida social numa frente de

povoamento, 1710-1733”, in FERREIRA. Erário Mineral, v. 1, p. 74-5.

42. Stuttgart. Bosch Collection. Noticias das minas da América chamadas Geraes Pertencentes à El rei de

Portugal relatada pellos tres irmaos chamados Nunes os quaes rodaraó muytos annos por estas partes. De como os paulistas foram dominados. Doc. 555.

SONS,

FORMAS,

CORES

E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

ATLÂNTICA

Mas, à medida que a Coroa impôs-se na região, o estopim dos apitos, o rufar de tambores e o toque das trombetas e dos clarins foi usurpado dos potentados locais. Com o tempo, esses costumes entraram em desuso nas minas, e começou-se a considerar um hábito supérfluo o emprego de um escravo sadio em tal atividade, visto que o mesmo poderia trazer bons rendimentos

na mineração. Assim,

em 1719, o conde de Assumar

observou que “uma única vez depois que aqui assisto, ouvi tocar trombetas e me fez e aos circundantes novidade, nem os mineiros e mais habitantes estão tão sobrados, que tenham o luxo que lá se considera”. Ao longo dos caminhos, aos poucos, entre os vastos espaços dominados pelos ruídos da natureza selvagem, começaram a se impor os espaços e ruídos produzidos pelos homens, A domesticação dos sons era fundamental para efetivar o processo civilizatório empreendido pelos portugueses nas Minas Gerais. Fazendas, roças, estalagens e arraiais foram sendo estabelecidos junto às estradas. Serviam de abrigo para os viajantes, pasto para os animais, e traziam para mais perto o conforto, a sociabilidade e a sonoridade da civilização branca. O viajante deveria estar atento e ser capaz de reconhecer os sons que de longe prenunciavam o mundo que os colonizadores construíam. Um “monótono ruído à margem de um regato”, por exemplo, denunciava a proximidade de um monjolo de água, e era indício que nas suas cercanias o caminhante encontraria uma ou duas habitações, lugar de pouso certeiro.

Os sons da ordem

LINGUAGENS

E AS

PARTE 1 - OS SONS, A SONORIDADE

DA CONQUISTA ATLÂNTICA

31

algumas pessoas (...) procuram intimidar as partes, particularmente se são pobres e miseráveis que não têm inteligência para saber ler os ditos despachos, (...) e muitas vezes os pintam como querem, diferente do que eles são na verdade”. Também era comum que nas Câmaras das vilas mineradoras, os vereadores da localidade fossem convocados para ouvirem a leitura atenta de uma carta enviada pelo governador da capitania, ou mesmo o rei, e, dessa forma, ainda que não estivessem presentes, as autoridades faziam os súditos ouvir suas vozes por meio dos homens bons, os dignatários

do lugar. Assim, a 30 de junho de 1720, em Vila Rica, o presidente do Senado da Câmara

leu publicamente, na presença dos vereadores e dos homens principais da terra, uma carta do conde de Assumar, no qual mandava dizer em resposta ao levante que recentemente se fizera na vila contra a instalação das casa de fundição, que os moradores, juntamente com seus negros, deviam “atalhar toda a ruína possível, tomando a voz do nome de el Rei em a sua boca”.

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Os paulistas, ao introduzirem o hábito de serem precedidos por escravos trombeteiros, não configuravam novidade. O uso de recursos sonoros esteve sempre associado ao poder. Assim, quando governadores, bispos, ouvidores — autoridades a mando e representativas do poder real — entravam nas vilas mineradoras ou se deslocavam pelo território, assumiam a forma processional e eram precedidos por pagens que os anunciavam tocando trombetas

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ou caramelas e batendo caixas. Da mesma forma, porque parte visível de uma cadeia de poder que emanava do trono, quando o Rei enviava um novo bando para a região, ordenava que as ordens “as mando publicar ao som de caixas”. Era forma de chamar a atenção dos passantes, impor a autoridade, pois exigia o respeito e o silêncio, e tornar pública a legislação para a grande maioria da população que era iletrada. A lei escrita se tornava a

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voz do monarca, pois além do rufar de tambores e do tocar de clarins, o rei exigia que se fizesse uma leitura pública do que ia escrito, e determinava que “quem de mim alcançar algum despacho, o leia assim como ele é”. Tal ato não só publicizava o decreto, transformando-o numa mensagem sonora, mas também diminuía as chances de usurpação de seu poder. O texto, tal qual tinha sido redigido, chegava aos ouvidos de todos, evitando deturpações da vontade régia, pois, informava o monarca, “chegou à minha notícia, que

Figura 5: Soldados. Fonte: Uniformes militares do Brasil colônia. Museu Histórico Nacional,

43. Reflexões de Martinho de Mendonça Pina e Proença sobre a capitação, apud CORTESÃO, Jaime. Obras

várias de Alexandre de Gusmão. Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores/Instituto Rio Branco,

1950, pp. 418-9. 44. SAINTHILAIRE. Viagem pelas províncias..., p. 56.

45. Belo Horizonte. Arquivo Público Mineiro.Câmara Municipa l de Ouro Preto, cód. no.06, f.8v- 9. 46. ATAS da Câmara Municipal de Vila Rica. Revista do Arquivo Público Minei ro, Belo Horizonte, ano 25, V. a, 1937, p.

133.

32

SONS,

FORMAS,

CORES

E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

ATLÂNTICA

A palavra, quando proferida em voz alta, ou mesmo gritada, era extensão do poder, e imprimia mais poder. Era capaz de intimidar e mesmo fazer temer o adversário, mas também servia para ameaçar o próprio poder instituído. Neste caso, a palavra usurpada pelos rebeldes visava tornar público seus atos de insubordinação. Não por acaso, nos Motins do Sertão, em 1736, os amotinados proferiam em altos brados seus gritos de rebeldia contra as autoridades, deixando claros seus focos de insatisfação. Nos arraiais dispersos pelos ermos da capitania, como o de São Romão, gritava-se a plenos pulmões

palavras de ordem tais como “Viva dom João, o Quinto, e morram os traidores e régulos à Coroa!”, ou “Viva El Rei, Viva o Povo e morra o Governador!”, ou ainda “Viva o povo,

PARTE 1 — OS SONS, À SONORIDADE

E AS

LINGUAGENS

DA CONQUISTA ATLÂNTICA

Várias metáforas sonoras são empregadas no texto para melhor descrever o ambiente insubmisso da região. São estrondos, golpes, correr de pedras, ruídos subterrâneos, espíritos buliçosos, “bramam graves trovões continuamente, donde se precipita o raio ardente”. “O ouro toca desaforos, destilam liberdades os ares; vomitam insolências as nuvens (...); O clima é tumba da paz, (...) é como no inferno”.”! O sossego dos povos, que as Câmaras municipais e as autoridades portugueses tão arduamente buscavam, significava interromper

o fluxo da palavra insubmissa, dos sons dos amotinados que se originavam da terra, fazendo calar os rebeldes.

senão morra!”.*”” Os diferentes refrões proferidos em altos brados demonstravam que o

lugar do poder era volátil e por vezes se situava no rei, e, em outros, se transferia e residia

no populacho, pois, se em geral a figura incorpórea do monarca era preservada, os amotinados também gritavam “Viva o povo, senão morra!”.*º A disputa de poder entre os reis e os súditos se transferia assim para o campo da linguagem, da palavra falada, pois o domínio no campo sonoro também era fundamental para a perpetuação do poder político. Também os sons de caixas podiam adquirir o sentido inverso da imposição da ordem quando apropriados pelos rebeldes. Nesse caso podiam servir como convite à insubordinação. Em 1713, alguns moradores da Vila de Nossa Senhora do Carmo, insatisfeitos com as prisões de seus escravos a mando do ouvidor geral, em tumulto, “sem admitirem administração da justiça”, obrigavam os moradores locais, “uns por força, outros por vontade, ao som de caixas a se levantarem e fazerem motim”.*º Não por acaso o conde de Assumar, em discurso encomendado sobre a Revolta de 1720, em Vila Rica, atribuiu ao contínuo remexer da terra em busca do ouro, ao incessante ruído das ferramentas despertando os humores do inferno, o caráter inquieto dos mineiros, concluindo que eram “os motins naturais das Minas”: De sorte que até no centro, onde tudo descansa, não admite sossego, porque no maior silêncio da noite se ouvem, muitas vezes, estrondos e golpes como de alavancas, marretas e outros instrumentos minerais, percebendo-se claramente correr pedras, socar cascalho,

e dizem os mais experientes que onde costuma haver semelhantes ruídos, têm a diligência

e exame descoberto várias folhetas, e sem dúvida há maior pancada de ouro (...), e é

propriedade e virtude do ouro tornar inquieto e buliçosos os ânimos dos que habitam as terras onde ele se cria.*º

47. ANASTASIA, Carla Maria Junho. Vassalos rebeldes: violência coletiva mas Minas na primeira metade do século XVIII. Belo Horizonte: C/Arte, 1998, p. 75.

48. ANASTASIA. Vassalos rebeldes..., p. 75. 49. ATAS da Câmara Municipal de Vila Rica (1711-15). Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, ano 49, 1927, p. 271. 50. Discurso histórico e político sobre a sublevação que nas Minas houve no ano de 1720. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1994, p. 60. Estudo crítico de Laura Mello e Souza, Coleção Mineiriana.

33

Figura 6: Extração de diamante. Fonte: JULIÃO, Carlos. Riscos iluminados

de figurinhas de brancos e negros dos uzos do Rio de Janeiro e Serro do Frio. Biblioteca Nacional.

91. Discurso histórico e político..., pp. 59-60. Grifo do autor.

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SONS,

FORMAS,

CORES

E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

ATLÂNTICA

Mas, às vezes, as disputas entre o rei e os súditos tão distantes das serras mineiras não se dava em altos brados: era sussurrada entre quatro paredes. Tal foi o que aconteceu no contexto dos mesmos Motins do Sertão, quando os rebeldes se apropriaram de forma pouco ortodoxa da estrutura da mais familiar reza católica, o Padre Nosso, mudando-lhe a letra, imprimindo a esta um conteúdo mais condizente à realidade opressiva do sertão. Assim, manuscritos circularam na região, e eram lidos em voz alta em nome de todos os

moradores das diversas regiões mineradores da capitania, contendo um “Padre Nosso dos

moradores das Minas Gerais, minas novas dos currais, minas de vários metais, minas do rio das mortes, minas do Sabará, fortes de minas do serro do frio, minas de prover seu brio, minas de goiases, minas dos topázios, minas do inferno, minas, minas de todo o delírio”. Da mesma forma, nas décadas de 1760 e 1770, outros papéis manuscritos sediciosos circularam pela capitania tendo como epicentro o arraial de Curvelo.” Tratava-se de uma falsa bula Papal que, “com palavras desaforadíssimas”, condenava a excomunhão o rei dom José I por ter expulsado os jesuítas do Império Português. A carta passou por várias mãos, circulou pelo Distrito Diamantino, foi lida publicamente em voz alta em várias ocasiões por um certo irmão Lourenço, frade franciscano e esmoler. Uma dessas ocasiões ocorreu numa reunião noturna no arraial do Papagaio, em casas do sargento-mor Simão da Silva. Confirmando a transmissão oral do pasquim, Nicolau José de Mesquita contou

PARTE 1 - OS SONS, A SONORIDADE

E AS

LINGUAGENS

DA CONQUISTA ATLÂNTICA

35

componente fundamental para criar os laços de identidade entre os dois lados do Atlântico; palavra e poder completavam-se, um tornando o outro possível.

A troca de cartas, tanto na espera pública quanto na privada, seguiu o fluxo do

povoamento e as correspondências permitem que se acompanhe o processo de expansão

As cartas narravam territorial em direção ao Centro-sul, à região das Minas em particular.

os principais acontecimentos que convulsionaram a região, bem como as novas que chegavam do reino. Na distante colônia elas se tornaram também importantes veículos Mas o para a reprodução do poder, seja nas cadeias formais, quanto nas informais.” ade conteúdo das missivas não se imobilizava apenas enquanto palavra escrita: numa socied onde as taxas de instrução eram muito baixas e a sociabilidade assentava-se na oralidade, rapidamente este se transformava em palavra falada.

às autoridades que devassaram o caso que teve notícias do panfleto “por ouvir dizer de

muitas e várias pessoas”. Uma das pessoas de quem ouviu “tais murmurações” foi o alferes Matheus da Silveira Ávila. O frei Lourenço a lera tantas vezes, em tantos lugares, que chegou a ser capaz de citar vários de seus capítulos apenas de memória. A oralidade funcionava nos dois casos, no sertão e no Curvelo, como jogo mnemônico de sedição. Se a insubordinação podia ser gritada ou sussurrada, a repressão e o castigo

geralmente produziam murmúrios de dor. Bem no centro dos núcleos urbanos mineradores, ostentando o poder do Império, ficava o tronco ao qual eram amarrados os escravos transgressores. Suas vizinhanças foram muitas vezes testemunhas imóveis do som estridente da chibata e dos gritos abafados dos supliciados. A insubordinação dos cativos era penalizada com açoites que pretendiam emudecer os espíritos transgressores.

Os sons das palavras Na trilha da interiorização do povoamento em direção às Minas tornou-se forçoso o estabelecimento de linhas de troca de informações entre autoridades administrativas, entre redes de comerciantes, entre parentes, familiares, compadres e amigos. A palavra era

52. FIGUEIREDO, Luciano Raposo de Almeida. “Furores sertanejos na América portuguesa: rebelião e

Figura 7: A troca de cartas seguiu o fluxo do povoamento. Fonte: JULIÃO, Carlos.

Riscos iluminados de figurinhas de brancos e negros dos uzos do Rio de Janeiro e Serro do Frio. Biblioteca Nacional.

| No caso do Brasil, e das Minas Gerais em particular, onde as informações vindas do remo eram escassas e irregulares, havia o hábito de que tais cartas fossem lidas em público,

em circulos restritos, quando todos se punham a par das novidades. Muitas vezes a posse

cultura política no sertão do rio São Francisco, Minas Gerais — 1736”, in Oceanos - Fronteiras do Brasil

colonial, Lisboa, v. 40, dez, 1999, pp. 128-44. 53. CATÃO, Leandro Pena. Sacrílegas palavras: Inconfidência e presença jesuítica nas Minas Gerais durante o 54.

período pombalino. Belo Horizonte: UFMG, Dissertação de Mestrado em História, 2005, pp. 249-356.

AHU. MAMG. Caixa 110, doce.52.

25. FURTADO, Júnia E “Uma correspondência de negócios nas Minas setecentistas: possibilidades de leituras”, in ABREU, Márcia & SCHAPOCHNIK, Nelson. Cultura letrada: objetos e práticas. Campinas: Mercado

de Letras/ALB/FAPESP 2005, pp. 118-39.

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SONS,

FORMAS,

CORES

E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

ATLÂNTICA

de uma informação recém-chegada auferia prestígio e poder ao receptor. O domínio da informação era vital não só para o bom desempenho dos negócios do Estado e dos particulares, como também para se ter notícias dos familiares e colocar-se a par de diversos assuntos, e, acima de tudo, era forma de demonstrar poder e afirmar-se perante os outros. Um agente comercial estabelecido em Sabará na primeira metade dos Setecentos, chamado Francisco da Cruz, contou em uma das missivas que enviou ao reino que suas primeiras cartas vieram na comitiva do governador dom Lourenço de Almeida. Deu-lhe muito gosto não só ter sido o portador da carta pessoa tão ilustre, mas o fato de que o governador, como os demais moradores da vila, foram a sua “casa a saber de novidades de Lisboa”, pois ele era o “primeiro que nesta terra tive cartas do reino”, o que o tornou “pessoa apavonada de todos”.º” Pode-se imaginar a cena: sentado em um dos poucos tamboretes de que dispunha em sua modesta casa estava O governador a ouvir atentamente as novas de Lisboa; os demais disputavam em pé todos os recantos disponíveis na sala. Do recinto apertado, de boca em boca, as notícias escritas ganharam as ruas, espalharam-se pela vila, e, de lá, pelas estradas, chegaram aos rincões da capitania. Havia algumas novas que percorriam esse circuito com rapidez, espalhadas aos quatro cantos a partir das correspondências ou das gazetas que chegavam do reino. Foi assim que no ano de 1725 várias pessoas correram novamente à casa de Francisco da Cruz, pois ele tinha recebido cartas de Lisboa e podia dar notícias, “por se ter espalhado por todas estas minas as notícias das desgraças que houvera nela, vindas numa gazeta ao sr. governa-dor”.” As enormes distâncias e o domínio da oralidade provocavam distorções nas informações, gerando burburinhos e fofocas. A chegada de uma carta podia confirmar ou desmentir tais boatos, demonstrando, em alguns casos, a supremacia da palavra escrita sobre a falada. Assim, novamente, o mesmo Francisco da Cruz, em agosto do mesmo ano, sentiu-se aliviado, pois, a partir de uma carta recebida do grande comerciante português Francisco Pinheiro, de quem era correspondente nas Minas, pôde “certificar-se de uma

mentira, que mandaram dizer haveria cinco dias das Minas Gerais, (...) a tal patarata era

PARTE 1 - OS SONS, A SONORIDADE E AS

relatos sobre os primeiros tempos da ocupação das Minas escutou de um correspondente anônimo que “pouca notícia posso dar, pela falta de discurso que naquele tempo tinha,

por vir muito menino a estas Minas; mas [podia dar algumas informações] pelo que ouvia

conversar o paulista com quem assistia”. Outro de seus informantes, José de Lemos Gomes, encarregado de reunir as informações mais antigas sobre o arraial de Catas Altas,

contou que “procurei pelos meios que me foi possível saber à certeza, sem embargo que | ainda nessas poucas pessoas que se acham ainda neste país e que são dos mais antigos, não deixa de haver variedade nos pareceres”. Desse poder da palavra estava bem ciente Pedro de Rates Henequim, que viveu nas

Minas na primeira metade do século XVIII e acabou preso nos cárceres do Santo Ofício em Lisboa.** Condenado como herege e queimado no último Auto de Fé que Lisboa assistiu, Henequim pretendia reunir todo o conhecimento que adquiriu sobre o paraíso num livro intitulado Paraíso Restaurado, Lenho da Vida Descoberto. Não chegou a concretizar seu

intento, mas resumiu aos inquisidores em linhas gerais sua visão cosmológica. No centro do Brasil, nos confins das Minas Gerais, cercado pelas serras, ali estaria o paraiso terrestre, pois encerraria os quatro rios, a árvore da vida e a árvore da ciência, onde foram criados Adão e os anjos.“ Segundo ele, tudo aprendera “navegando mares, andando terras, tratando com gentes, observando-lhes os costumes; examinando árvores, e seus frutos”. “Não é de surpreender que Henequim dedicasse 36 das suas proposições ao tema da linguagem”, e defendesse que a língua celeste era o português, e que “os sinais da escrita são espíritos criados por Deus”, “porque Deus é letras”. Com propósitos mais mundanos, mas percebendo o poder da palavra, e que os nomes eram emblemas das coisas retratadas, diversos potentados mineiros alardeavam em altos brados seus nomes, imprimindo-lhes força e poder simbólico. Assim conta-nos um relato coevo da Guerra dos Emboabas que

e, apesar das distâncias entre as Minas e O reino,

o nome de [Manuel Nunes] Viana atemorizava, em toda a parte, os Paulistas, os quais

interpostos por tantas serras, tanto mar, Francisco da Cruz foi advertido por Francisco Pinheiro “que cá [em Lisboa] tudo se sabe”.º O conde de Bobadela, governador da capitania,

vendo-se obrigados a não sair daquele retiro, se submeteram a quanto [o] dito Vianna

quisesse reduzi-los. O dito Viana lhes impôs as leis seguintes: que haviam [de] obedecer

a todos os ministros reais; consentir nas imposições das ordenanças V'El Rey; pagar os direitos; não resistir à justiça; que havia de haver Bispo e Governador, que fossem do

também demonstrando a força e o poder das palavras afirmou que nas Minas “tenhais por certo, que nelas só o que se não faz é o que se não sabe”.”

DO. 56. Ascartas entre Francisco da Cruz e Francisco Pinheiro foram analisadas com mias vagar em: FURTA “Pidalgos e lacaios”, im

57. HSJ.TFP Carta 150, maço 29, f.166.

. Homens de negócio...,

pp. 29-86.

58. HSJ.TFP Carta 149, maço 29, f.184. 59.

HSJ.TFP Carta 156, maço 29, £.173.

60. HSJ.TFP Carta 927, maço 12, f.212.

rissimo Sr. 61. INSTRUÇÃO e norma que deu o Illmo. e Exmo.Sr. conde de Bobadella a seu irmão o precla seu José Antônio Freire de Andrade para o governo de Minas, a quem veio succeder pela ausencia de irmão, quando passou ao sul. Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, ano 4, 1899, p. 376.

37

Era um tempo de ouvir dizer, em que o escutar podia ter primazia sobre o escrever. Assim, quando o ouvidor Caetano Costa Matoso começou a recolher um sem-número de

que Deus tinha levado para si a pessoa de VM”. As notícias corriam o mundo

LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

61. Códice Costa Matoso, v. 1, p. 217 . 62. Códice Costa Matoso, v. 1, p. 262 .

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pura

nas Minas Gerais. um visionário na Corte de Dom João V: revolta e milenarismo

nã Editora UF MG, 2001; GOMES, Plínio F Um herege vai ao paraíso: cosmologia de um exlino co São Paulo: Companhia das Letras, 1997. 44). 0-17 (168 ão isiç Inqu ela E o enad R ROM 64. EIRO. Um visionário na Corte de Dom João V.., pp. 61-2. 65. Rn ROMEIRO, Um visionário na Corte de Dom João V..., p. 84. 67. MES, P Um herege vai ao paraíso..., pp. 84-6.

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS

38

NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

huma destas cláusulas Reino [e] postos por El Rey; que reconheceriam ser Vassalos. A nen

os mais vassalos consentiam antes, sujeitando-os Viana, enfim. E estes vivem hoje como d'El Rey Dom João, o quinto.

das coisas e do, mun do o açã ent res rep de ico ból sim ato um pre sem é , pois , Nomear ental para o dos sentimentos em palavras. Escolher as palavras certas é fundam crever um des ao m, Assi nte. ouvi do nto ime end ent o para e ogo diál do estabelecimento s e as similaridades fato, um objeto ou um animal, é necessário evocar no ouvinte as analogia o, em 1769, uma das necessárias ao entendimento da coisa representada. Por esta razã o José de Meneses rig Rod dom r ado ern gov pelo ta aber ssa deva na ôs dep que as testemunh birussu cam Ita do o ôni Ant o Sant de a Serr na tes man dia de os inh cam des para apurar os ”.º O atento galo o feit o ert cob des no a rav “mo Cruz da a Vier uel Man o did ban o que contou

o um galo, cantando ouvinte ao ouvir tal comparação podia imaginar o temido bandido, com pelos ermos ersa disp ção ula pop a ão, sert do ste agre ao o mei Em . eiro terr o ndo e domina va à mercê desses da serra, distante do poder das autoridades oficialmente instituídas, fica régulos. o. Tal era o Falar uma língua é também fator de identificação e coesão de um grup inguia dist os que o a, ílic bras ou l gera ua ling na am cav uni com se que s ista caso dos paul odenominavam aut se s ista paul Os a. dor era min ão regi à os gad che émrec ais dem dos eram chamados “naturais do solo”, “filhos da terra”, e se opunham a todos os forasteiros, que udas, o que calç nhas gali r dize quer ua líng sua na que , rezo desp por bas boa “em de por eles cobridores das imitavam pelos calções que usavam de rolos”.7º Os paulistas foram os des da região role cont O e e poss a , iços serv seus de a troc em o, ntid gara lhes a tinh rei minas e o que vinham sendo ameaçados pela invasão de forasteiros.” negociar a paz O governador Antônio de Albuquerque, enviado pela Coroa para iu Fernando de titu subs o, régi er pod ao ção ina ord sub a rar egu ass e is riva pos gru os e entr de uma expedição Lencastre, que falhara na pacificação da região, tentada por meio seu poder era O r; ado oci neg do era or, cess ante seu de o rári cont ao il, perf Seu va. repressi para a nova da palavra. Sua trajetória na administração do além-mar o havia preparado ceses, nas fran aos o junt rei do e ant ent res rep fora e ão, anh Mar o ara ern gov função: am-lhe também der ões funç Tais .” ana Gui a com as teir fron das o açã arc dem da es açõ oci neg

PARTE 1 — OS SONS, A SONORIDADE E AS

LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

39

a habilidade de falar a língua brasílica, o que foi fundamental na condução das negociações com os paulistas durante a Guerra dos Emboabas,”* ao mostrar seu domínio sobre o código Antônio linguístico característico dos paulistas. Assim, ao chegar a São Paulo, em 1709, de Albuquerque “passou disfarçado a Minas e, chegando ao arraial do Caeté” mandou

] e emissários secretos aos rebeldes que os aconselhassem, que “buscassem [o governador se lançassem a seus pés os chefes dos levantados”.”* Estes, temerosos do castigo real, e

convencidos pelo poder da palavra e da negociação, se deslocaram até Caeté, onde

Albuquerque os aguardava. Depuseram as armas € estabeleceram os acordos que, conforme prometera O governador, permitiram que os líderes rebeldes se retirassem para O sertão.

Dominar a língua brasílica nos espaços dilatados dos sertões das Minas também

podia significar a tênue diferença entre a vida e a morte. Quando em viagem pelo sertão uns certos irmãos Nunes, viandantes do caminho, aproximaram-se de uma aldeia de índios para pedir água, e como não dominavam a língua e “como ninguém os entendia, os quiseram matar. Chegou, então, um coronel, seu camarada, que sabia a língua da terra, e lhes salvou a vida”. “Os línguas”, aqueles que eram capazes de dominar dois códigos lingúísticos, tornavam-se a voz dos portugueses recém-emigrados no contato com as populações nativas — índios e também paulistas. Mas também podia ocorrer o inverso: os índios se aproveitarem desses intérpretes para se fazerem ouvir. Na derrota que em 1/34 João Antônio Cabral Camello realizou ao Cuiabá, após o confronto com os índios paiaguás, que resultou em várias mortes, o restante da expedição se abrigou em uma pequena ilhota no meio do rio. Cercados pelos nativos, de uma das canoas inimigas “um rapaz (...) que [os índios] tinham prisioneiro desde o ano” dirigiu-se à expedição em “formais palavras de desafio”, intimando-os que, se ainda havia algum guerreiro entre eles, que logo se pusesse a lutar, caso contrário os índios os iam buscar. Nessa ocasião era O prisioneiro

branco em mãos dos selvagens hostis que servia de intérprete aos propósitos dos índios.” Mas, por vezes, era o silêncio que se impunha no contato nada pacífico que se travava entre os dois povos. Nesse momento, ele podia significar a impossibilidade do diálogo e a derrota, ainda que por vezes momentânea, de uma civilização pela outra. Na mesma canoa em que João Antônio Cabral Camello avistou o rapaz, aos pés do cacique, ia uma moça branca que acabara de ser feita prisioneira, depois de lhe matarem o marido português. Ela também se levantou, e, atônita com o que o destino lhe reservava, em silêncio, apenas tentou balançar o lenço em despedida, no que foi impedida pelos índios que partiram ligeiros em suas canoas rio abaixo. A resignação com um destino incerto e muito

provavelmente cruel não podia ser expresso por meio de palavras. A mesma reação pode 555. 68. Bosch Collection. Noticias das minas da América chamadas Geraes... Doc. 69. ANASTASIA. Geografia do crime..., p. 107. Reino, palavra que quer dizer 70. Códice Costa Matoso, v. 1, p. 206. Também: “Emboabas chamavam aos do galinha com calças”. Códice Costa Matoso, V. 1, Pp. 202.

as Minas nos primeiros anos, o que 71. Augusto de Lima Jr calculou que cerca de dez mil pessoas foram para

impedir essa emigração. ele chamou de “A Grande Invasão”. Em Portugal, várias medidas legais tentaram

o Paulo: Itatiaia, 1978, p. LIMA JÚNIOR, Augusto de. A capitania das Minas Gerais. Belo Horizonte/Sã

36.

rias familiares”, in histó e as logi mito s: Mina de ores rnad gove es nobr “Os e. o Mell de a Laur 72. SOUZA, zonte: Editora . Norma e conflito: aspectos da história de Minas no século XVIII. Belo Hori UFMG, 1999, p. 185.

ser observada quando, na região do rio Doce, no início do século XIX, os portugueses

combatiam os botocudos sem tréguas. Depois de dizimarem todos os homens de uma

Fis 3.

| e “E como o senhor governador Antônioe de Albuquerque tinha governado o Maranhão, sabia a língua”.

Códice Costa Matoso, v.1, p. 200. 74. Re José Joaquim da. Geografia histórica da Capitania de Minas Gerais. Belo Horizonte: Fundação 040 Pinheiro, 1995, p. 88. Estudo crítico de Maria Efigênia Lage de Resende. Z9. CAMELLO, João Antônio Cabral. Segunda notícia prática das minas do Cuiabá e Guiazes na capitania

de São Paulo, p. 129.

40

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

aldeia, os portugueses capturavam as mulheres e crianças. No momento em que elas eram levadas à força para longe da aldeia “soltavam grandes gritos; mas apenas caminhavam um pouco, pareciam conformadas” e prostravam-se num silêncio desolador.”º Em muitos casos, o silêncio que se impunha a algumas línguas não era apenas efêmero, mas definitivo. O campo lingiístico era um dos locais onde se travava a luta acirrada entre a civilização portuguesa que se constituía nos trópicos e as outras culturas sobre as quais ela procurava se afirmar. Tal era o caso dos africanos, trazidos para a América como escravos, que desde muito cedo eram instados a se comunicarem em português, esquecendo a língua nativa. Logo que eram escravizados recebiam o sacramento do batismo, e, simbolicamente, era-lhes dado um nome cristão. Um novo nome conferialhes outra identidade, e, não por acaso, marcava lingúisticamente sua entrada na vida do cativeiro que lhes era imposta. Apesar das Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia apregoarem que para receberem o batismo os escravos adultos deveriam dominar alguns rudimentos da língua portuguesa, isso quase nunca ocorria. O domínio ainda que precário do português os tornaria aptos a que lhes fossem ministrados os primeiros ensinamentos da fé católica. Para compensar a falta de domínio da língua era comum que escravos ladinos, já adaptados ao cativeiro, que além de dominar o português executavam com desenvoltura algum ofício, ajudassem no processo de adaptação dos recém-chegados, muitas vezes servindo-lhes de intérpretes e mesmo de padrinhos no sacramento do batismo. No comércio interno, os ladinos eram valorizados e atingiam as melhores cotações. Diferenciavam-se dos boçais, expressão que designava geralmente os recém-chegados, mas também se aplicava àqueles que, ainda que escravizados há longo tempo, resistiam ao processo de aculturação e jamais aprendiam a falar a língua local. Apesar dos esforços dos senhores, muitos africanos encontravam mecanismos para continuarem a se comunicar em sua própria língua, e dessa forma manterem vivos elementos, ainda que fragmentados, de sua cultura. Entre inúmeros exemplos, quando Saint-Hilaire estava a caminho de Vila Rica, depois de passar pelo registro de Matias Barbosa, se encontrou com um escravo que lhe explicou que estava para se casar com uma negra da Costa da Mina que sua senhora acabara de comprar, pois com ela poderia falar a sua língua.” Não só as línguas, mas mesmo os códigos de comunicação de índios, africanos ou mesmo dos paulistas eram diferentes dos portugueses, o que por vezes provocava em um e outro reações inesperadas. Os portugueses se espantavam quando dirigiam palavras aos índios coroados, pois eles, em reação, “baixam a cabeça como crianças; [nJoutras soltam grandes gargalhadas, sem que seja possível descobrir-lhes a razão”. Queixavam-se também que eles falavam “com a boca quase fechada e desprendiam os sons com esforço do fundo da garganta”, e quando tentavam se comunicar com os brancos seu discurso era feito “em mau português”.”º Já os “malalis só se falam [entre si] a sua língua; quase todos, porém,

sabem o português, e se exprimem nesse idioma de modo bastante inteligível”.” As expressões

PARTE 1 - OS SONS, A SONORIDADE

E AS

LINGUAGENS

78. SAINTHILAIRE. Viagem pelas províncias..., p. 31-3. 79. SAINT-HILAIRE. Viagem pelas províncias..., p. 182.

41

de censura ou aprovação em relação à forma como os índios eram capazes de se expressar

denotam a expectativa por parte dos colonizadores ibéricos de finalmente imortalizarem no campo da linguagem a vitória de sua civilização com o “silêncio dos vencidos”.

Os sons da fé, ou da pouca fé O cotidiano das Minas, como parte integrante do Império Português, era marcado pelo espirito religioso. Afinal, a expansão da fé era um dos propósitos definidores do

espírito colonizador. Católicos praticantes, devotos e temerosos de Deus, os moradores da Minas dos Setecentos afirmavam que tudo “começa com Deus e é dominado por Ele”: a chegada de um comboio em segurança no porto, o sucesso na descoberta de ouro ou de pedras preciosas, a saúde, a riqueza, a manutenção da vida longe dos perigos, entre outros; tudo era obra da graça divina. O tempo da religião era o tempo da eternidade e transcendia em muito a vida terrena e a dominava. A missa dominical era local de expressão cotidiana da fé católica, por isso, segundo

o gosto da época, o culto deveria ser uma experiência absorvida por todos os sentidos e para isso seus aspectos exteriores eram extremamente valorizados. As igrejas, espalhadas

por todos os arraiais mineradores, eram construídas a partir de técnicas decorativas que

pretendiam submergir temporariamente o fiel num espaço suspenso entre o céu e terra,

aprofundando a sensação de entrega à oração e à reflexão. Profusamente decoradas, com os altares cobertos de ouro e repletos de imagens, com tetos e paredes pintadas, o ambiente

era soturno, meio irreal. Os interiores, com os altares de madeira cobertos de ouro e adornados com imagens, eram completados com as pinturas nos tetos e nos painéis laterais

da nave central, da capela-mor e das sacristias. O exagero das formas, o gosto pela curva, pelas formas abertas, pela utilização do contraste entre o claro e o escuro, pelo ilusório, pela pompa, tudo contribuía para imprimir no fiel a sensação de estar mais próximo ao céu. Esse ambiente pictórico era embalado pelos sons das ladainhas dos padres e pela música dos órgãos, esta última parte essencial para completar o ambiente religioso. Além dos cultos dominicais, as autoridades e as irmandades mineiras celebravam anualmente várias festas ligadas ao calendário cristão, como a Semana Santa, a QuartaFeira de Cinzas, o Senhor dos Passos, o Corpus Christi, além de diversos ofícios de defuntos,

missas cantadas, várias delas celebradas em ocasiões relativas à celebração de eventos civis, como nascimento, casamento ou morte de membros da família real, ou para agradecer alguma bênção concedida por Deus ao povo português. Em Vila Rica, no ano de 1718, os vereadores mandaram rezar uma missa cantada com sermão do pároco local para dar graças ao nascimento de mais um infante real, o príncipe dom Pedro.” No Tejuco, em 9 de novembro de 1751, foi celebrado um Te Deum para comemorar a aclamação de dom José |. Organizado por ordem do capitão dos dragões Simão da Cunha Pereira, a comemoração se estendeu por três dias de danças, máscaras, luminárias, missa cantada e sermão na

76. SAINTHILAIRE. Viagem pelas províncias..., p. 184.

77. SAINTHILAIRE. Viagem pelas provincias..., p. 95.

DA CONQUISTA ATLÂNTICA

80. ATAS da Câmara Municipal de Vila Rica, p. 78-79.

42

SONS,

FORMAS, CORES

E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

PARTE 1 - OS SONS, A SONORIDADE E AS LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

ATLÂNTICA

43

P

igreja do Rosário. Todo o evento foi acompanhado pelo intendente dos diamantes e os

principais habitantes do arraial, e foi concluído com um banquete oferecido pelo primeiro.*!

Apesar do esforço da Igreja católica em buscar uma uniformidade da fé entre os

devotos, nas Minas como no resto do Brasil proliferou o sincretismo religioso, caracterizado mais pela atenção aos ritos e aspectos formais do culto do que aos dogmas, comumente

desviados de seu sentido originário. No Registro Velho, próximo a Borda do Campo, o

padre Manuel Rodrigues da de ladainhas que o número algozes. Ao mesmo tempo, ruído das bofetadas que se Deus

Costa, durante o serviço religioso, recitava o mesmo número de bofetadas e chicotadas que Jesus Cristo sofreu de seus com o violão ressoando ao fundo, “a capela vibrava com o aplicavam aos presentes e todos respondiam Louvado seja

” B3

Assim é que prevaleceu também um familismo e um imediatismo no culto aos santos, modificando seu significado, que deveria ter um caráter mais espiritual do que ligado às questões mais imediatas da vida cotidiana.** Imagens eram colocadas atrás das portas, afogadas em copos d'água, xingadas, crucifixos açoitados pela não realização de milagres

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Figura 8: As igrejas, espalhadas por todos os arraiais mineradores, eram construídas a partir de técnicas decorativas que pretendiam submergir temporariamente o fiel num espaço suspenso entre o céu e terra

As missas eram não apenas local de expressão da fé, como também o principal espaço de sociabilização dos núcleos urbanos. No interior da igreja todos se viam e eram

vistos, mas também ouvidos, pois ali também trocavam conversas e informações. Enquanto transcorria o culto, podia-se ouvir o burburinho das pessoas, já que a maioria não entendia

o latim e apenas repetia mecanicamente as orações. Era tão generalizada a desordem que, em 1777, o padre José Justino de Oliveira Godim, em visita pastoral ao Tejuco, repreendeu os moradores pelo pouco respeito e a irreverência com que muitas pessoas se portam na casa do Senhor,

onde se deve estar com o mais profundo silêncio e acatamento, estando todos distraídos com conversações [ilícitas, escandalosas], ao mesmo passo que se estão celebrando os mais sagrados mistérios de nossa redenção.º* 81. Notícias históricas de Portugal e do Brasil (1751-1964). Gazeta de Lisboa. Coimbra: Universidade de

Coimbra, 1964, v. 2, p. 13. 82. Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Diamantina (AEAD). Lançamento de pastorais e capítulos de visitas dos bispos da freguesia da Vila do Príncipe do bispado de Mariana (1745-1844), caixa 557, 32-32.

e até Deus, em pessoa, foi ameaçado com uma faca por não recompensar os trabalhos de um fiel.º Em 1748, em Conceição do Mato Dentro, uma Maria da Costa vivia às turras com seu ciumento companheiro que lhe dava várias surras.*” Numa delas, “se descompuseram de palavras e pancadas por ciúmes e que do modo de viver da dita têm resultado várias ruínas e mortes”.*” Acusada pelos moradores do lugar de ser meretriz, ela

revidou que “se ela era mulher pecadora, que por ela tinha sido Santa Maria Madalena”, e com estas palavras escandalizava a sociedade e os representantes do clero. Apesar das censuras da igreja, Maria da Costa não mudou seu modo de vida. Alguns anos depois, ela foi novamente denunciada por um certo Francisco de Brito Bittencourt, que acrescentou que ela tinha o apelido de “a vassoura”, e era mulher pública e escandalosa, “com sua língua”. Em 1753, o bispo visitador, Miguel de Carvalho Almeida Neves anotou que apesar das promessas de que se emendaria ela continuava a “descompor os homens com palavras injuriosas e menos decentes, como também as mulheres”.”º O exemplo da mulata forra Arcângela também revela a dificuldade de controlar o comportamento de alguns fiéis e sua religiosidade pouco ortodoxa. De forma bem pouco convencional, ela foi encontrada certa noite batendo as costas na porta da matriz de Santo Antônio do Tejuco,

83. SAINEHILAIRE. Viagem pelas províncias..., p. 60-1.

84. SOUZA, Laura de Mello e. “Religiosidade popular na colônia”,in | Santa Cruz, pp. 86-150.

.Odiaboeaterra de

85. SOUZA. Religiosidade popular na colônia.

86. E provável que se tratasse da mãe da famosa Chica da silva. FURTADO, Júnia Ferreira. Chica da Silva e

a

o

0 contratador dos diamantes: o outro lado do mito. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, pp. 70-1. « Mariana. Arquivo Eclesiático da Arquidiocese de Marina. (AEAM). Devassas, fevereiro de 1748, £.33,

apud FIGUEIREDO, Luciano R. O avesso da memória: cotidiano e trabalho da mulher em Minas Gerais no

século XVIII. Rio de Janeiro/Brasília: José Olympio/Editora da UnB, 1993, p. 109. - ABAM, Devassas, fevereiro de 1748, f.31v-32, apud: SOUZA, Laura de M. Os desclassificados do ouro: a pobreza mineira no século XVIII. Rio de Janeiro: Graal, 1982, p. 184.

o AEAM. Devassa de 1750-53, £.16-16v.

- ABAD. Livro de Termos do Serro do Frio, caixa 557, 1750, f.10. Apesar de estar genericamente catalogado

como livro de termos, trata-se na verdade de um livro de termos de culpas de devassas referentes às Visitas de 1750 e 1753 na Vila do Príncipe, Conceição do Mato Dentro, Tejuco e arredores.

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SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

proferindo blasfêmias e superstições, acordando os moradores do retículo central da urbe que, escandalizados, delataram o caso ao bispo visitador.”

Os sons das festas O espaço urbano nas Minas se tornou o local preferencial de identificação cultural. Ali, o colonizador dispunha os símbolos de sua dominação, e a utilização da pedra, como material construtivo preferencial, por sua durabilidade, marcava o tempo eterno do Estado e da Igreja. A cidade era o local ideal para a publicização do poder real, espelhado nos monumentos que se erguiam, na ordenação do espaço e também nos vários acontecimentos sociais, principalmente os que ocorriam na rua, como as festas e as procissões. As festas oficiais, fossem religiosas ou civis, desenrolavam-se por vários dias e tinham

nas procissões um dos momentos de ápice. Ao ondular ao longo das ruelas das cidades coloniais, as procissões expressavam uma ordem social que o poder pretendia implantar,

ela hierarquizava os moradores e distinguia uns em detrimento de outros. Seja no seu

aspecto religioso, quanto civil, as procissões reforçavam a obediência e a devoção à Igreja e ao Estado, por meio de seu soberano. Era uma das maneiras de cultuar a Deus e ao rei,

QUISTA ATLÂNTICA CON DA S GEN GUA LIN AS E E DAD ORI SON A S, SON OS = 1 E PART

45

são a “estrondosa res imp a sav cau s poi , nto eve do de ida lic pub a s mai aumentava ainda ito das danças”. Conforme rép est o s, ica mús das sa cio ifi art a odi mel a s, sino dos ia harmon idos sonora”.* ouv aos e (...) tos vas pre sem os olh s “ao o tud era ta, nis cro anotou um ruas bandos Nos dias que antecederam o Triunfo Eucarístico saíram diariamente pelas s, motivo de riso, oso joc tos ges e es traj es ant gal e os tos vis com , que s ado car de mas ação atu à ado lig te men eta dir ava est o lic púb de o ess suc . O des ida tiv fes as m anunciava

a e fazer a fest a a par s soa pes as tar men egi arr de e dad ili sib pos sua à s, rio ssá destes emi nciar da multidão notícia circular o mais longe possível. Para isto, eles tinham que se difere despertar o riso do iam te faz men nte que fre to mui que , tos ges ou o lux de o ess exc pelo s nas ruas, passante distraído, como os bandos de mascarados que abordaram as pessoa

es anunciando a festa do Áureo Trono Episcopal. Além dos apitos, caramelas e tambor

especial costumeiros, estes arautos recitaram aos passantes, pelas ruas da cidade, e em junto ao Palácio do Bispado, curtas poesias, com rimas que explicavam o motivo da festa. nto, mas A boa atuação dessas figuras foi importante não só para avisar ao povo do eve sua sofisticação fez crescer o rumor de que tudo estava sendo preparado com muito luxo,

o que colaborou para atrair “um numeroso concurso de gente, tanto da principal como da plebe de todas as Comarcas”.?

e, desta forma, este último se fazia mais próximo de seus súditos, numa aparente comunhão com eles. Em Minas Gerais, duas dessas festas se tornaram célebres: o Triunfo Eucarístico,

festividade que marcou a trasladação da imagem do Santissimo Sacramento para a nova igreja do Pilar em Vila Rica, em 1733; e o Áureo Trono Episcopal, que em Mariana

comemorou a posse do primeiro bispo local, em 1748. Tudo começava com a saída dos arautos, que se destacavam da multidão pelos trajes coloridos ou elegantes, e pelos gestos, que apelavam para o riso. Nos dias precedentes ao evento, sons não habituais ao cotidiano serviam para despertar a curiosidade dos que estavam atrás das portas, atrair ainda mais a atenção dos passantes e tirá-los de sua rotina. Tocava-se música, trombetas, tambores ou pífanos ou mesmo uma gaita, “(...) que

por singular fábrica do instrumento e boa agilidade da arte [do gaiteiro] fazia uma agradável consonância”.”? O uso de repiques de sino e de pequenos concertos de música nas ruas

Figura 9 e 10: No livro de Carlos Julião observam-se vários instrumentos musicais utilizados nos festejos como a Festa

do Rosário. Fonte: JULIÃO, Carlos. Riscos iluminados de

91. AEAM. Livro de devassas. 1750-1753, £40-41v. Luiz Mott descreve um ritual semelhante no Nordeste,

figurinhas de brancos e negros dos uzos do Rio de Janeiro

e Serro do Frio. Biblioteca Nacional.

parecendo tratar-se de sincretismo africano: “Joana Pereira de Abreu, escrava mestiça, dezenove anos,

moradora na Mocha, sede da capitania do Piauí, confessou que, seguindo orientação da mestra feiticeira

Cecilia, dirigiu-se nua, “altas horas da noite, à porta da Igreja da mesma vila da Mocha, em que vivíamos,

e ali bateu com suas partes prepósteras assim nua umas três vezes na porta da Igreja, indo sempre para trás, e que dali havia de endireitar nua para umas covas de defuntos que estão a um lado da vila, aonde chamam o Enforcado, por se ali ter enforcado algumas vezes alguns delinqiientes”. MOTT, Luiz. “Cotidiano

e vivência religiosa: entre a capela e o calundu”, in SOUZA. História da vida privada..., p. 208. 92. KANTOR, Íris. Tirania e fluidez da etiqueta nas Minas setecentistas. LPH: Revista de História. Ouro Preto, v. 5, pp. 122-37, 1995; KANTOR, Iris. Pacto festivo em Minas colonial:a entrada triunfal do

primeiro bispo na Sé de Mariana. São Paulo: Universidade de São Paulo/IPE, Dissertação de Mestrado

em História, 1996; FURTADO, Júnia Ferreira. Desfilar: a procissão barroca. Revista Brasileira de História - ANPUH, São Paulo, v. 17, n. 33, 1997, pp. 251-79. 93. MACHADO, Simão Ferreira. Triumpho Eucharistico. Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte:

Imprensa Oficial, ano VI, 1901, p. 1015.

Os sons deveriam ser adequados e se ajustar às circunstâncias. Assim, nos dias que

antecederam a comemoração das exéquias de dom João V, em Vila Rica, o clima funesto

da ocasião não permitia a presença de personagens que provocassem o riso. Desta forma,

para anunciar o ofício religioso foi preparado um circunspeto edital de convocação, que

94. MACHADO. Triumpho Eucharistico, p. 999. 95.

E

Throno Episcopal. Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte: Imprensa Oficial, Ano Vi, » P. 399.

46

SONS,

FORMAS,

CORES

E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

ATLÂNTICA

foi lido publicamente nos principais lugares da vila, sendo que a leitura era antecedida apenas por rufares de tambor, de forma a chamar a atenção dos passantes de maneira grave.” A música era também fartamente utilizada nessas ocasiões festivas. Servia não só para atrair a atenção dos assistentes sobre algum carro ou pessoa em particular durante a procissão, e para causar surpresa, mas também para criar um clima diferente, artificial e de encantamento. A estética barroca criava todo um cenário audiovisual, onde o ilusório e o inesperado estavam sempre presentes, o que explica o uso constante de estampidos, tambores, apitos, clarins, trombetas, tiros de mosquetes. No Triunfo Eucarístico, um grupo

de músicos abria o desfile, e no meio iam um gaiteiro, um moleque tocando tambor e quatro negros tocando trombetas. Na missa de exéquias de dom João V em São João Del Rei, o clima fúnebre e algo etéreo, num tempo suspenso entre a vida e morte, foi criado na Igreja por dois coros, dois rabecões e um cravo.” Era comum também a explosão de fogos de artifício. Nos festejos do Áureo Trono Episcopal, o morador que construíra um magnífico carro triunfante, como forma exteriorizar sua riqueza, fez iluminar a noite anterior à festa com “artificioso fogo do ar”, que entre um estampido e outro extasiava a multidão. Nos dias de festas, após a procissão, vários eventos se sucediam para o populacho,

PARTE

97.

SALGADO,

Mathias Antonio & AIVARENGA,

Manoel José Correa e. Monumento do Agradecimento,

tributo da venerança, obelisco funeral do obséquio, Relaçam fiel das reaes exequias, que à defunta

Magestade do fidelissimo e augustissimo Rey o senhor D. João V. Lisboa: Officina de Francisco da Silva,1751.

98. Áureo Throno Episcopal, p. 403.

DA CONQUISTA ATLÂNTICA

47

marujada, o catopê, caboclos, etc.” Durante os dias de festa, o imperador exercia verdadeiro

poder sobre seus “súditos”, chegando a libertar os presos do arraial, o que não raro escandalizava as autoridades metropolitanas." Em 1771, o pároco Leonardo de Azevedo Castro contou que na localidade, é costume este e todos os anos, mandar soltar a quem quer o rei, fazendo lá outros mil desatinos [;] são venerados lá como verdadeiros reis e legitimamente lhes fazem até os homens brancos genuflexão quando eles passam. Fazem-lhes trono levantado com dossel,

se divertia, em “muitas e festivas demonstrações de alegria”. Mas, mesmo nestas festividades

Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte: Imprensa Oficial, Ano IX, 1904, pp. 359-65.

LINGUAGENS

e reizados — sobreviveram e muitas vezes foram incorporadas às festividades católicas, dando mostras da capacidade assimilativa da Igreja católica em terras brasileiras. Todos os anos, em diversas vilas mineiras, as Irmandades do Rosário elegiam um rei, uma rainha, um tesoureiro, um escrivão, e os irmãos que iriam compor a mesa, além de quatro juízes e quatro juízas por devoção a Nossa Senhora do Rosário, São Benedito, Santo Antônio e Santo Elesbão.” O rei e a rainha eram escolhidos geralmente entre os de cor. No Arraial do Tejuco, para os festejos do Rosário, comemorados anualmente, eram eleitos um rei congo e uma rainha ginga, sendo o primeiro coroado imperador do Divino.'ºº A celebração compunha-se de ofícios religiosos e do congado, ou reinado, que consistia em uma representação da luta entre a monarquia negra e os brancos, além de danças, como a

pelas ruas, concertos de música e instrumentos públicos e/ou particulares”. Enfim, o povo

96. Funeraes de Dom João Quinto. Auto de Vereação da Câmara Municipal de Ouro Preto. Revista do

E AS

Várias festas de origem africana, em que se coroavam reis negros — como os congados

que fartavam os olhos e os ouvidos. Havia cavalhadas, comédias, touros, banquetes, “bailes

paralelas, os moradores das vilas se distinguiam uns dos outros. Nas missas, por exemplo, enquanto a nobreza e o clero ficavam dentro da igreja, o povo assistia do lado de fora. Alguns eventos mais eruditos, como as récitas ou a declamação de poesias, eram ouvidos apenas pela elite. Já as danças traziam sempre alegria e descontração. Geralmente, a incorporação dessas manifestações populares nas festas oficiais diminuía as tensões numa sociedade hierarquizada, mas também reforçava essas mesmas hierarquias, pois não raro provocava reações jocosas. Em Mariana, durante a procissão do Áureo Trono Episcopal, desfilaram alguns “mulatinhos”, realizando uma “dança de carijós”. Provocaram o riso pela “grosseria natural dos gestos” e pelos trajes caricatos, de plumas de papel pintado e latas, que estalavam conforme o movimento, em contraste com todas as demais figuras, que trajavam-se com todo o luxo e a pompa, além de desfilarem em majestoso silêncio. As danças de mouros, que reproduziam as guerras entre católicos e turcos, que tinham ocupado a Península Ibérica, ou as danças de romeiros, que vinham de longe pagar promessas, muitas vezes abriam as procissões para anunciar a vitória e o triunfo da cristandade e da religião católica sobre o paganismo.

1 —- OS SONS, A SONORIDADE

onde, sentados com coroa e cetro, despacham

pretos e a todos despacham.'ºº

petições, dão audiência a brancos e

Mas a capacidade assimilativa da Igreja católica em terras mineiras tinha seus limites muito bem-conformados, e em muitos casos de expressões da religiosidade popular, marcadamente as de origem claramente africanas, sua reação não era no sentido da assimilação, mas da repressão. Assim foi quando uma tal Josefa Maria, africana de nação courá, criou um culto nas Minas de Paracatu, onde realizava uma dança chamada de tunda, ou acotunda. O ritual era realizado em louvor ao Deus da sua nação, que era representado por um boneco de barro, espetado na ponta de ferro, enfeitado com uma

capa de pano branco.

Os africanos, com as mulheres vestidas de chita, ao som

dos

atabaques, punham-se em roda, dançando freneticamente e entrando em transe quando recebiam o santo. Nesse momento, Josefa Maria caía como morta, para depois se levanta r e Se por a pregar na língua africana.'º* Era a aparente morte que a libertava do silêncio A

po

*

Livro de inventário da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, caixa 514, 1733-1892, f. 49.

ANDRADE, Carlos Drummond de. “Rosário dos homens pretos”. Obra completa. Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, 196 7, p. 642.

101. ms Affonso (org). Minas Gerais: monum entos históricos e artísticos — circuito dos diamantes. E E Barroco, Belo Horizonte, v. 16, 1994-95, p. 276. ha RADE. Rosário dos homens pretos, pp. 643-4,

- Apud ANDRADE. Rosário dos homens pretos, p. 644. 104, MOTT, Luiz. Acotunda: , raízes setecentis

e tas do sincretismo religioso afro-brasileiro. Revista do Museu

Paulista, v. 31, 1986, pp. 124-47; MOTT, Luiz. De escravas a senhoras. Leitura, Diário Oficial de São

Paulo, 7 ago 1988.

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SONS,

FORMAS,

CORES

E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

ATLÂNTICA

que lhe impusera a cultura portuguesa e permitia que se pusesse a falar como em sua terra, recriando nas minas alguns traços da cultura africana que a Igreja católica, sempre vigilante, não se furtava de tentar silenciar.

O som das danças e dos batuques As danças populares nas Minas setecentistas eram, em sua maioria, junção de tradições indígenas, negras e portuguesas. Traziam o ajuntamento dos corpos e facilitavam a espontaneidade, muitas vezes beirando a licenciosidade, sendo por isto também geralmente temidas e reprimidas pelas autoridades. O lundu português, constituído de danças soltas de pares de homens e mulheres, na colônia misturou-se aos ritmos africanos e foi apropriado pelas classes populares, que lhe revestiu um caráter licencioso. Enquanto em Portugal os pares dançavam à distância, no Brasil o lundu se caracterizou pela proximidade dos corpos, o que provocava escândalo nas autoridades portuguesas. Temia-se que tais costumes se generalizassem, pois muitas vezes nas festas oficiais e mesmo nas religiosas viam-se tais tipos de danças para “escândalo dos fiéis e perturbação do sossego com que se deve estar em lugares sagrados”. Este era o caso também da Festa de São Gonçalo, realizada em vários pontos da Colônia, sempre a 10 de janeiro, que provocava a intolerância das autoridades religiosas e foi por diversas vezes proibida. No interior das igrejas, indivíduos de todo tipo, homens, mulheres, crianças, escravos, autoridades, de maneira pouco decente, dançavam ao som de guitarras.

PARTE 1 — OS SONS, A SONORIDADE

E AS

LINGUAGENS

DA CONQUISTA ATLÂNTICA

49

As modinhas, invenção brasileira de fins do século XVII, eram as músicas mais

tocadas nos saraus. Suas letras, em que se percebia o erotismo subjacente, evocavam

amores impossíveis, muitas vezes entre os senhores brancos e as escravas negras e mulatas.” Era difícil resistir ao clima de sensualidade que tomava conta dos ouvintes. A música “roubava o coração, antes que se tivesse tempo de se proteger contra sua malévola influência; você se via bebendo leite e admitindo o veneno da volúpia no mais recôndito esconderijo de sua existência”.'ºº Uma delas, as relações licenciosas entre mulheres de cor e homens brancos, tantos casais mistos espalhados pelos arraiais mineiros, dizia: Meu branquinho feiticeiro,

Doce ioiô meu irmão, Adoro teu cativeiro,

Branquinho de coração. Pois tu chamas de irmãzinha A tua pobre negrinha . Que estremece de prazer'”

O que mais preocupava as autoridades eram as danças e ritos africanos, frequentemente acompanhados dos sons de tambores que tiravam o sono de muitos brancos atemorizados no interior de suas casas. Os tambores africanos infligiam reações muito diferentes das provocadas pelos sons das caixas que acompanhavam os atos régios e o deslocamento das autoridades na capitania. Os ritmos e a cadência dos sons produzidos — ainda que oriundos dos mesmos instrumentos — eram códigos sonoros, transmitiam mensagens que evocavam

a ordem ou a desordem, e que os ouvintes eram capazes de decodificar. O rufar dos tambores africanos era muito diverso do dos brancos. O batuque negro provocava o

estranhamento e não raro o temor. Foi o que ocorreu com Nuno Marques Pereira, autor do Peregrino da América.'º8 “O estrondo dos tabaques, pandeiros, canzás, botijas e castanhetas” impediu que caísse no sono em uma das fazendas onde pernoitara a caminho das Minas.

O calundu dos negros, com tais “horrendos alaridos”, representara para ele “a confusão do inferno”. Avaliou que era o próprio demônio que mandava “tocar em triunfo ao som destes infernais instrumentos”, “com tais estrondos”, para mostrar sua vitória sobre o Deus cristãos nas terras coloniais. Mas, para seu espanto, logo cedo, ao se encontrar com o seu hospedeiro na varanda da casa, este lhe confidenciou que “não há cousa mais sonora, para dormir com sossego”, 19º

105. FREYRE, Gilberto. Casa grande e senzala. 31a ed., Rio de Janeiro: Record, 1996, p. 355.

106. BECKFORD, William. Italy, with sketches from Spain and Portugal, apud FREYRE, Gilberto. Casa grande e senzala, pp. 340-1. 107. BECKFORD. Italy, with sketches..., p. 341. 108. Figura 11: Dança do lundu, por Rugendas. Fonte: Rugendas. Viagem pitoresca ao Brasil. Litografia, 1815.

PEREIRA, Nuno Marques. Compêndio narrativo do peregrino da América. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2 V., 1939.

109. PEREIRA. Compêndio narrativo..., pp. 123-5.

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SONS,

FORMAS, CORES

E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

ATLÂNTICA

Se o diabo se manifestava em som tão estridente, para Nuno Marques Pereira essa

presença era também silêncio, pois era sintoma da ausência da verdadeira fé. Foi assim |

que, chamando o mestre dos calundus, explicou-lhe que em bom português, segundo a | etimologia do nome, calundu significava “que se calam os dois: calo duo (...), vós e o diabo. Cala o diabo, e calai vós o grande pecado que fazeis pelo pacto que tendes com o diabo”.

PARTE 1 — OS SONS, A SONORIDADE

E AS

LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

51

falta de moral que geralmente derivavam daí. Os negros tocavam os tambores compassadamente, algumas vezes acompanhados de um instrumento feito de “um pequeno pedaço de pau arredondado” que era esfregado “sobre as rainuras transversais de um grosso bastão”, o que produzia “um ruído mais ou menos semelhante ao da matraca”. “Os dançarinos acompanhavam-nos com seus cantos, (...) avançavam um após o outro, remexendo os pés, e dando a todos os membros uma espécie de agitação convulsiva”.'º Mas os sons que enalteciam, divertiam ou alegravam os da terra podiam ser captados

de forma muito diversa, dependendo de quem escutasse. Saint-Hilaire queixou-se que o

momento da oração lhe era especialmente cruel. Para ele, as expressões da fé cotidiana se faziam ouvir como um contínuo e desagradável ruído que se repetia todas as tardes. Em

a

UNA

os oe A

Tapanhuacanga, muito a contragosto, foi “obrigado a ouvir um violão, no qual o mais teimoso dos músicos repetia durante horas a fio três ou quatro notas, eternamente iguais”,

Enquanto os negros viam “com grande pesar” a hora de terminar os batuques e “chegar o instante marcado para o repouso”, ele não via a hora de terminar “toda a barulhada”. Já o canto que os índios coroados entoavam enquanto dançavam tinha aos seus ouvidos um

“tom lúgubre e melancólico”."'* Eram reações muito diferentes da provocada pelos sons da

natureza que, em geral, como ocorrera com Saint-Hilaire, extasiavam os que pela primeira vez se aventuravam pela natureza tropical.

Os sons da morte Mas os sons não acompanhavam apenas as festividades alegres, como também as de dor. À morte, como vários momentos do cotidiano que transcorriam em público, eram acontecimentos importantes de afirmação e reprodução da sociedade colonial, onde hierarquia e ordem eram acentuadas. Os funerais, por isto, como a maior parte da vida, eram acontecimentos festivos, que deveriam ser vistos e ouvidos para serem compartilhados por muitos."'* Estas cerimônias públicas eram ocasiões especiais nas quais a sociedade se dobrava sobre si mesma, como espelho e reflexo, pois serviam para sua instituição e a

expressava. Eis a razão porque, desde o nascimento até a morte, todos os momentos da Figura 12: Batuque, por Rugendas. Fonte: Rugendas. Viagem pitoresca ao Brasil. Litografia, 1815.

Apesar dos esforços no sentido de conter a cultura africana, por toda a capitania,

“durante a noite, os negros dançavam batendo as mãos e socando a terra com os pés”.!!

Por vezes o som das suas vozes era tão estridente e alto “que fazia uivar todos os cães da vizinhança”.“2 Eram os batuques que, nas senzalas das casas de fazenda ou nas vendas nos morros dos arraiais, reuniam frequentemente escravos e libertos e escandalizavam as autoridades, que temiam a libertinagem, a inversão dos papéis sociais, a sensualidade e a

vida privada e pública de um indivíduo eram cercados de um ritual que servia para rememorar e introjetar o lugar social e a função de cada um. A hora da morte era o último momento para que estes aspectos fossem exteriorizados. Cercada de ritos, permitia o perdão dos pecadores, a salvação da alma e, ao mesmo tempo, preservava e reafirmava as hierarquias sociais estabelecidas na vida, e que continuavam nas esferas celestes. Os ritos fúnebres refletiam os mesmos paradoxos com que se defrontava a sociedade da época: criados para retratar uma sociedade estratificada e estática, quase imóvel; revelavam também sua fluidez e sua heterogeneidade. Ou seja: por mais que pretendesse Ser rígida, a sociedade mudava, e com ela suas instituições, incorporando novos atores a

110. PEREIRA. Compêndio narrativo..., p. 126. 111. SAINT-HILAIRE. Viagem pelas províncias..., p. 138. 112. SAINT-HILAIRE. Viagem pelas províncias..., p. 138.

SAINT-HILAIRE. Viagem pelas províncias... p.31. * SAINTHILAIRE. Viagem pelas províncias..., pp. 131-8. 115. REIS, João José. A morte é uma festa: ritos fúnebres e revolta popular no Brasil do século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

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SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

sociais, como era o caso dos libertos. Por isso, os funerais deveriam se cercar de pompa e de luxo, que serviam para tornar visível o lugar de cada um,"º ainda que esta ordem fosse resultante de reescalonamentos das hierarquias, como no caso das negras forras, que na hora da morte não se furtavam em ostentar símbolos impróprios à sua condição, mas que eram reflexos da importância que adquiriam nas urbes mineradoras.''” Mesmo com essas indistinções, nada mais diverso do que a cerimônia de enterro de um escravo e a de um homem livre e branco. Em geral, os cantos fúnebres são lamentos contra a escravidão,8

Antes de tudo, a hora da morte era o último momento de fazer elevar a Deus a voz do cristão preocupado com a salvação de sua alma. O som das dezenas, mesmo centenas de missas celebradas pela intenção de sua alma ou as dos parentes mortos, pediam o perdão

dos pecados, demanda intermediada pelos santos e anjos da corte celestial, invocados

neste momento de extrema aflição. Ignácio Dias Cardoso, comerciante, ordenou que se

rezassem duzentas missas de esmola em Ouro Branco; quinhentas no Rio de Janeiro, no convento de Santo Antônio e de Nossa Senhora do Carmo, sendo uma no mesmo dia de sua morte, cem nos meses subsequentes, além de cem pela alma de sua mãe e outra centena pelos seus escravos. Pagou também por uma “lâmpada de alumiar o Santís-simo Sacramento de sua freguesia”. João Gonçalves Baptista pediu que se celebrassem duzentas missas pelas almas dos escravos que morreram em seu poder. Jacinto Collares separou um por cento de seus bens para as missas em intenção às almas do fogo do Purgatório, e mais cento e sessenta missas em favor de sua alma, quatrocentas pela do pai, outras quatrocentas pela da mãe e cem para a dos avós."? Para fazer ouvir a súplica da salvação, o morto podia lançar mão de um último recurso: o número de celebrantes da missa de extremunção. Quanto maior o número de padres a oficiar o culto, não só era mais forte o tom do pedido, como também era recurso para demonstrar a importância do morto no seio da comunidade. No Tejuco, Maria Vaz da Conceição exigiu que sua missa de corpo presente fosse rezada por oito sacerdotes; Gertrudez Angélica da Glória pediu que fossem seis os celebrantes; e Bernardina Maria da Conceição se fez acompanhar de todos os sacerdotes que estivessem no arraial por ocasião de sua morte. Todas elas eram forras. O velório se arrastava durante dias, e quanto mais demorado, mais importante era O morto. Temia-se não a morte em si, mas aquela que, ocorrida de modo apressado, não tenha permitido a celebração dos ritos necessários à salvação da alma.'”? A boa morte era

116. CAMPOS, Adalgisa Arantes. Pompa, escatologia e artes na cultura colonial mineira. São Paulo:

Universidade de São Paulo, Tese de Doutorado em História, 1994. 117. FURTADO, Júnia Ferreira. “Transitoriedade da vida, eternidade da morte: ritos fúnebres de forros

PARTE 1 — OS SONS, A SONORIDADE

120. CAMPOS, Adalgisa Arantes. Execuções na colônia: a morte de Tiradentes e a cultura barroca. Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, v. 110, 1992, pp. 141-67

LINGUAGENS

DA CONQUISTA ATLÂNTICA

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a que, ao mesmo tempo, foi chorada e festejada em excesso, constituindo-se, nas palavras de João José Reis, numa verdadeira festa, numa profusão de sons.'?

Os sons das ruas O lócus da rua dos núcleos urbanos mineiros era o universo para onde escoavam as tensões do mundo escravista em que a sociedade estava mergulhada. Desde as primeiras

horas do dia as ruas eram marcadas pelo ir e vir dos escravos e escravas que saíam para

lavar roupas nos rios e ribeirões próximos, levar recados e objetos para seus senhores, assim como para buscar água em potes nos chafarizes. Em grupo, as escravas saíam descalças, trajando roupas coloridas, panos na cabeça, cangalha nas costas, carregando cestos com frutas, alimentos e quitutes que eram apregoados aos gritos para serem vendidos

diariamente nas ruas ou para os escravos empregados nos serviços minerais, apesar de ser

proibido pela administração." Do parapeito de uma das casas, de onde toma a fresca, um desocupado morador “chama um vendedor de doces”, muitas vezes apenas para, de forma jocosa, “depreciar sua mercadoria num tom extremamente duro”.!?* Mais à frente um aborrecido senhor despacha uma negra com seu “tabuleiro repleto”, com um seco “Vai-te embora!”, dito de forma grosseira.!* Nos chafarizes, locais de grande zoeira, os escravos se revezavam para encher os barris e as moringas de água que servia para aplacar a sede de seus senhores. Na beira dos rios, as lavadeiras com suas cantigas ritmadas esfregavam e batiam as roupas nas pedras das margens para garantir a boa limpeza. Aos domingos, segundo o costume, os escravos, em fila, ruidosos, acompanhavam o senhor à missa na matriz. Em uma esquina, um negro se inclina frente a um branco que passa e diz, em tom humilde: “A benção, meu senhor”. Ão que o primeiro responde: “Deus te faça santo”. Logo mais à frente, quando quem lhe cruza o caminho é um negro como ele, galhofeiro lhe deseja “Deus te faça branco!”, ao que o outro lhe retruca: “Deus te faça balanço”.!2º

121. REIS.A morte é uma festa.

122. Asescr avas do Tejuco, muitas delas ostentando seus tabuleiros, foram retratadas entre 1776 e 1799 por

Carlos Julião. Julião nasceu em Turim, em 1740, e serviu no exército português, galgando vários

E Stos até chegar a coronel, Era engenheiro militar e aquarelista.” Suas figuras de escravos do Serro

e livres nas Minas setecentistas”, in JANCSÓ, István & KANTOR, Iris (org). Festa: cultura e sociabilidade na América portuguesa. São Paulo: Edusp/Hucitec/Imprensa Oficial, 2001, v.1, pp. 397-416.

118. STRAUMANN, Tierno (org). Rio de Janeiro, cidade mestiça: ilustrações e comentários de JeanBaptiste Debret. São Paulo: Companhia das Letras, 2001, p. 40. 119. FURTADO. Homens de negócio..., p. 139.

E AS

O Frio e do Rio de Janeiro constituem raros exemplos de iconografia de escravos no século XVIII. Cf.

E

JULIÃO, Carlos. Riscos iluminados de figurinhos de broncos e negros dos usos do Rio de Janeiro e Serro do Frio. 1960.

*

RE

125. «

MANN: Rio de Janeiro, cidade mestiça..., p. 14.

STRAUMANN. Rio de Janeiro, cidade mestiça..., p. 16.

x

e

erva nociva que medra entre as searas”, apud STRAUMANN. Rio de Janeiro, cidade mestiça...,

54

55

PARTE 1 - OS SONS, A SONORIDADE E AS LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

ATLÂNTICA SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE

tiacomprados pelos senhores para vestir seus escravos, a habilidade de Ana da Glória garan

lhe renda suficiente para vive Animais soltos pelos campos e pelas ruas também produziam seus sons. Alguns, de anhuacanga, tão selvagens, “perderam o hábito de ouvir a voz do homem”.'** Em Tap t-Hilaire quando os batuques dos negros terminaram e “toda a barulhada cessou”, e Sain q 127

u “a lamber pensou que finalmente ia se pôr a dormir, “um boi esfaimado de sal” começo

mo”. * ssi otí mon o ruíd um o ind duz pro to, quar (...) do a port a ar cess em 5

Nos mercados, os comerciantes apregoavam suas mercadorias e os comboeiros

anunciavam aos gritos as peças recém-trazidas da África, para serem imediatamente

incorporados aos plantéis escravistas locais. Muitos deles iam trabalhar nas minas, onde a todo momento ouvia-se o barulho dos martelos, das picaretas a quebrar as pedras, a

desmontar os morros, a cavar buracos, sons oriundos da faina mineradora que quartel do século inquietavam o sono do conde de Assumar, Mas as vilas também seus espaços silenciosos — as casas na hora da sesta, os mercados de venda de alcovas das donzelas ou os quartos de trabalho das senhoras —º ou locais de como os confessionários das igrejas.

no primeiro ostentavam escravos, as murmúrios,

Já na zoeira das ruas, competindo com os sons da faina cotidiana, as crianças realizavam suas brincadeiras infantis, que refletiam a rudeza da vida e se caracterizavam por serem agressivas e cruéis. Bastante popular, o jogo do beliscão consistia em dar um beliscão na criança mais próxima e a última era jogada no chão e apanhava de todas as demais, que cantavam: Veja bem que vinte são E recolha o seu pezinho Na conchinha de uma mão

Que lá vai um beliscão...!*!

Por trás das portas ouviam-se as rixas entre os casais. Como o capitão-do-mato, pardo, morador Tejuco, que “vivia ilicitamente com uma negra forra, por nome Rosa, de nação angola, (...) e continuamente anda com ela em zelos, dando-lhe muitas pancadas, tratando-a como sua manceba”.'*? Em meio aos “vícios, pecados, abusos e escândalos” que eram vistos e ouvidos por toda a comunidade, os bispos visitadores, recém-chegados,

e as moringas de água. is barr os her enc a par vam eza rev se os zoeira, os escrav Figura 13: Nos chafarizes, locais de grande il. Litografia, 1815. Fonte: Rugendas. Viagem pitoresca ao Bras

na confecção de. e o dã go al de m ge la ce te na m va ha al ab tr Muitas escravas ou forras incessante dos teares m so o ir ouv se iapod as zal sen € as cas roupas, e no interior das próximo ao as, Bic nas ho nc ra um ha tin a, min a gr ne , manuais. Ana da Glória dos Santos uma certa Dona de ras ter nas o, Fri do ro Ser do a rc ma co arraial de Milho Verde, na de qa os íci ind , fiar de a rod a um e or ad oç ar sc de um Theotônia. Deixou entre seus bens na

conclamavam que todos comparecessem à mesa no prazo de 24 horas para confessar as

ndera certamente re ap que efa tar , te en lm na sa te ar s ido tec 3 plantava algodão e produzia a. » ta cos da rcado consumidor de “panos

me África.'2º Nas Minas, onde havia um crescente

ais, 1 71 6-1 e Ger as Min a ôni Col na al tur cul so ver uni e 126. PAIVA, Eduardo França. Escravidão : acumulação de pec a T tas pre s nhá “Si . tro Cas de ila She IA, FAR 1; 200 , Horizonte: Ed. UFMG XVII e XIX)”, im SILVA, E 6. dos cul (sé a ist rav esc e est sud no ras for transmissão de bens de mulheres cação: homenage ma Maria edu e ia tór His re sob os rit Esc ). gs. (or J. O, da; MATTOS, H. M. & ERAGOS FAPERJ, 2001. Yedda Leite Linhares. Rio de Janeiro: Mauad/

t

F

1

&7. Biblioteca Antônio Torres. Testamento de Ana da Glória dos Santos, Diamantina, Cartório do 1º *

a

e

.

ofício, maço 4.

o

AINT Em Ee

Viagem pelas províncias..., p. 138.

“HILAIRE. Viagem pelas províncias..., p. 139. 130. : STRA UMA NN. Rio de Janeiro, cidade mestiça..., pp. 58, 60 e 68. 131 - Casa grande & senzala, p. 369

132. AEAM. Livro de devassas, 1750-1753, f. 41.

56

ICA ÂNT ATL E AD ID RN DE MO NA OS NT ME VI MO E ES COR , MAS FOR SONS,

DA M GE UA NG LI A O: ÇÃ ZA NI LO CO OU A ST UI CONQ HISTÓRIA E A LINGUAGEM DO DIREITO NA A IC ÉR AM NA OL NH PA ES O RI PÉ IM DO ÃO UÇ DISSOL

8 e escandalosos”? cos bli “pú sem fos s ado pec os cuj s re do ra mo Os r próprias culpas e delata itania, cap da s re do ra mo dos ano idi cot O rar reg am av ur oc Por toda parte, Igreja e Estado pr ranha est nte lme ica rad € a nov e ent alm tot ia ênc eri exp o que não deveria se constituir em uma a alteridade pel o ad rc ma o mp te o sm me ão era que as, Min em relação ao reino. O viver nas s que son de nia ofo cac ma nu a sav res exp se , e pelas similaridades da vida na metrópole em parte ou cur pro igo art e est que e s re do ra ne mi is aia sintetizavam o cotidiano dos arr desnudar. Nos dizeres de Fernando Pessoa: À luz do dia Até os sons brilham.

Anthony Pagden

Às comparar a América do Sul com a América do Norte — escreveu Hegel, em 1830 — observamos um espantoso contraste. “Na América do Norte testemunhamos um próspero estado de coisas: um crescimento da indústria, da ordem e da liberdade da população civil; a federação inteira se constitui não em um, mas em vários estados, que possuem seus centros políticos. Na América do Sul, ao contrário, as repúblicas dependem da força militar; sua história é uma revolução contínua; os estados federados se tornam desunidos; os que eram anteriormente separados, se unem; e todas essas mudanças surgem de revoluções militares”. À primeira vista, essa pode não parecer uma observação muito impressionante. Mas O contraste criado por Hegel e a questão nele implícita sobre por que, aparentemente, teria o Norte sido bem-sucedido em se tornar uma república civil moderna, e o Sul fracassado, determinou o sentido de boa parte do triunfalismo do Norte, e da inquietude do Sul, desde O seu tempo até o nosso. Hoje, não quero discutir a questão de por que o Norte teria sido

“bem-sucedido”. Em todo caso, há, sob meu ponto de vista, uma question mal posé na suposição de que o Norte, de alguma maneira, tivesse sido bem-sucedido, posto que isso

deriva de uma historiografia nacionalista, que se beneficiaria de um exame mais minucioso. O que quero é examinar algumas das implicações de uma das duas causas que Hegel

sugeriu para esta disparidade; especificamente, o fato de que “a América do Sul foi

conquistada, enquanto a América do Norte foi colonizada”, e sua afirmação de que, quaisquer que sejam as causas históricas do surgimento das divisões entre o Norte e o Sul, 9 permanente militarismo foi o destino inevitável do Sul.

on. University Park/PA: Da regi ng ini d-m gol ian zil Bra a yin ert lib s iou ent Lic J. 133. HIGGINS, Kathleen UEIREDO, Luciano R. A. Barrocas FIG bém tam Ver 10. 109 pp. 9, 199 ss, Pre state University c, 1997, pp. 41-79. ite Huc lo: Pau São I. XVII ulo séc no ais Ger as Min em vida familiar

|. Tradução de René Lommez.

RA m

a

di ERG,

a EEE Georg W. E A razãoE na História: uma introdução geral à filosofia da história. 2º ed., São Paulo:

ntauro, 2001, pp. 83-4.

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

58

Para fazê-lo, passarei rapidamente pela Espanha, e pela formação do assim chamado

Espanhol. rio Impé um fato, de nem e , nome de nem e, houv a nunc Império Espanhol. Ali

m tempo, algu nte dura ém, tamb foi r rado impe cujo no, Roma o péri o-Im Houve, claro, o Sacr

ela, que um soberano, Cast de ém, tamb dali Foi nha. Espa da os rein ntos disti de o rei tório, que se estendia durante cerca de três séculos, governou uma vasta massa de terri rido como sendo o refe é que é isso , geral Em ico. Pacíf e o ntic Atlâ nos Ocea dos para além

domínio da monarquia espanhola (numa ainda estava associada o bastante com idéia de reinado universal), e, em algumas ares universalistas, fazendo-se de — ou, ao

época, deve-se dizer, na qual a palavra monarca a monarquia Helênica, pois trazia implícito a ocasiões, os reis de Castela e Aragão assumiram menos, permitindo serem assim denominados —

hores de todo o mundo”. No “Sen , stia modé s meno com ou, , ade” tand Cris da s hore “Sen

ribuição e de justiça entanto, o próprio monarca atuava mais como um agente de dist ralizadores cent rços esfo dos eito desp a e, ica, polít de rida auto uma como que do comunal parecia se mais a rqui mona a nte alme cion titu cons ela, Cast de s rano de consecutivos sobe lmente indivisível lega e o únic um que do es dent epen -ind semi dos esta de o raçã fede com uma aos domínios europeus: imperium. Isso era, claro, particularmente verdadeiro em relação Aragão e, idad real na , como s, rano sobe s reino como m-se inha mant ia Nápoles e Sicíl s Baixos operavam como um Paíse os ; ente pend inde do Duca um era o Milã era; o bém tam

formalmente que a aind , icas Amér as mo mes É, dos. cipa prin e ados cond de conglomerado em caso de necessidade s meno ao — do ruta desf am havi ela, Cast de a Coro à adas rpor inco política; e a nomi auto r maio a aind uma de e , legal a nomi auto de grau — de um grande Índias”. Não foi por das nos “rei os s: reino como s rita desc nte, elme riav inva e fato de eram, ia, em uma conferência acaso que quando o grande teólogo dominicano Francisco de Vitor de “comunidades plos exem ia platé sua à ecer ofer quis civil, r pode do ens orig sobre as

ntes, e que tivessem seus perfeitas” — ou seja, aquelas que fossem politicamente auto-suficie e uma república is” anhó “esp os rein dois ão: Arag e ela Cast za, Vene citou —, próprios fins italiana.” institucional ade neid roge hete a cou enfo ricos histó tos escri de de tida quan de Uma gran ente desconsiderado icam emat sist sido tem nto, enta no que, O o. ânic hisp o mund do e cultural

rço para se alcançar é que, se por um lado não houve ali um contínuo ou bem-sucedido esfo

oriográfica e, na falta de hist ica, juríd ade unid uma sim e houv l, iona ituc inst a integração

ional ituc inst ão coes de falta a ade, verd Na . rosa pode o muit ca lógi um termo melhor, ideo entanto, acima No s. fuero os — s locai s legai as norm pelas eito resp ínuo implicou no cont como à corporificação de , rtum impe do gem ima nte rese re-p semp a va esta o lism loca e dess o na pessoa icad onif pers , icum publ tus no, Roma ito Dire do m uage ling na uma lei ou, jurídica — a persona ficta — do próprio monarca.

PARTE 1 —- OS SONS, A SONORIDADE

4. PAGDEN, Anthony & LAWRANCE, Jeremy Press, 1991, p. 301.

LINGUAGENS

DA CONQUISTA ATLÂNTICA

59

Atualmente há várias formas de se conceber a lei. Mas uma delas, que tem sido constante

foi no Ocidente desde o tempo da república romana, é como uma narrativa. A lei sempre historicamente incorporada. Distinguindo-se dos juristas, os legisladores, desde o próprio

Imperador Justiniano - o homem responsável pela codificação do Direito Romano -, no em século 1 d.C., até Napoleão, no final do século XVIII, têm insistentemente se esforçado eriar códigos legais que pudessem estar à prova de interpretações, às quais Justiniano chamava

próprio de “o vão discurso da posteridade”. Mas o direito sempre resistiu a esses esforços. O e Direito Romano, antes que os legisladores de Justiniano o codificassem, era — e em grand parte assim permaneceu, mesmo em sua forma codificada — a interconexão das histórias de

gerações de atores e gerações de intérpretes. Essa era, na descrição de Varro, a vera narratio

— o verdadeiro discurso. A lei também foi sempre concebida como ratio scripta — razão escrita. Mas essa seria uma forma de razão que somente poderia se manifestar no tempo. Ronald Dworkin proporcionou-nos uma brilhante explicação do processo legislativo, enquanto uma forma de narrativa, a que chamou de “romance em cadeia”. Nesse

um

empreendimento,

grupo

de

romancistas

escreve

um

romance

seriatim

[seriado]: cada romancista da cadeia interpreta o capítulo que lhe é dado para escrever

um novo capítulo, o qual será acrescentado àquilo que o próximo romancista irá receber, e assim por diante. Cada um tem a tarefa de escrever o seu capítulo de forma a fazer com que o romance seja construído da melhor forma possível, e a complexidade dessa tarefa se assemelha à complexidade da solução, perante a lei, de um processo complicado como se fosse uno.

A questão é que cada capítulo envolve tanto a criação de novas interpretações (em um corpo de texto legal, análogos aqui aos personagens, cenários, etc., do romance), quanto uma interpretação criativa dos capítulos anteriores. O “romance em cadeia” jurídico, que uniu as diferentes peças da monarquia espanhola, começa em Roma, e com uma série de extensas reflexões acerca da reivindicação do Imperador Antonius Pius em ser o “senhor de todo o mundo”, Trata-se de uma narrativa cujos “personagens” são os textos canônicos da lei romana, os ensinamentos dos Pais da Igreja, e um restrito número de escritos clássicos, os principais deles. Ela passa pelos comentaristas medievais do E E. = praça EE particular, nos RuENDe civil e canônico, nos en o O - E pupilos e os pupilos a a Seo iPad O es de Pranócior ae ces ento Vazquéz de Menchaca. Encontra o seu Sim - ê aeisbo sirene É f ; à que emprega tanto novos textos quanto novas teorica de inte sl o ne udCampillo e ECosio), (C istas (Camponmanes, iii inistas de reformadoresrd de um grupo Jovellanos, mo ssemosm A

ele acrescenta que “Provincias [é um termo nte, vame anti ific Sign . 75-6 pp. ., ria.. Histó na o razã A EL. HEG 3. Reyno [sic] diferentes, que asi llamamos usado] por nuestras juristas mas generalmente por la naciones, y Provincias a Italia, assi a Alemania, Francia y sus semejantes”. (orgs.). Political Writings. Cambridge: Cambridge University

E AS

ini

o

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a

ai

de am imperador romano,

a - significativo que tais esforços O rio cien rs, : cons a parte o próprio Carlos HI, mas do clero e dos mas juristas, Sia como guardiões de um discurso jurídico e teológico lidamente E E E encontrava sob a ameaça de idiomas estrangeiros, em Particular do Em o de Montesquieu e da economia política de Adam Smith.

60

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA|

A existência dessa história contínua garantiu a contínua existência do debate público

acerca do significado da monarquia histórica, sendo uma parte crucial desta discussão ocupada pela presença das Américas. A entrada das Américas nessa narrativa legal

tipicamente castelhana foi marcada pela famosa Bula de Doação [Tratado de Tordesilhas],

ao que antes legal e política de identida conferiu Bula Esta 1493. de VI, e Alexandr do Papa

era um mero espaço vazio, uma terra nullius — forma como os ingleses continuariam aver

a América, como mostrarei mais adiante. É por isso que para os espanhóis, independente

de qual fosse sua opinião sobre a justiça ou injustiça da conquista, fosse para Juan Ginés de Sepúlveda, ou Bartolomé de las Casas, a América havia, de fato, sido “descoberta”,

Colombo, como Las Casas de certa maneira veio a enfatizar, havia inserido a América na

história, quer dizer, na nossa história, isto é, na história dos povos judaico-cristãos. Mas foi o ato de doação de Alexandre VI que foi fundacional, pois a Bula reconheceu a existência

de uma América povoada, isto é, uma América a cujos habitantes autóctones teria sido. outorgada uma relação política, legal e, finalmente, cultural, com os habitantes da Europa, A América podia ter sido concedida à Espanha, mas o ato de concessão também a tornara, e a seus habitantes, da forma mais pública possível para o século XV, parte do discurso | legal espanhol. A subsequente incorporação das Américas à Coroa de Castela representou apenas o reconhecimento institucional de uma já completamente elaborada prática | discursiva. Essa é uma das razões porque Las Casas nunca contestou a validade da Bula, ou da autoridade que ela conferiu à Coroa espanhola. Pois fazer isso teria sido na realidade| fazer o que seu arquiinimigo, Fernando de Oviedo, e, mais tarde, Sepúlveda tentaram. fazer: isto é, colocar os índios fora do alcance da sociedade civil, e, assim, fora da história, | para torná-los o objeto e não o tema dos direitos, como os ingleses, de forma profunda, 0 fizeram. A história da luta pela defesa dos índios (a denúncia de António de Montesinos,, em 1511: a comissão convocada pelo rei Fernando, em 1513, para avaliar a legitimidade do direito de soberania da Coroa espanhola; as Leis de Burgos, do mesmo ano; às; conferencias De Indis, de Francisco de Vitoria, em 1539; o debate Las Casas-Sepúlveda, de 1550-51) é composta de estágios de uma ininterrupta narrativa pública acerca da relação | H entre a monarquia espanhola e os povos da América. De forma conveniente para mim, o que chamo de narrativa legal castelhana teve seu próprio historiador: o jurista Juan Solorzano y Pereira; significativamente um homem que. nasceu na Espanha, mas que passou a maior parte de sua vida profissional no Peru, onde . se tornou um campeão das reivindicações criollas pelo direito de deter altos cargos de. Estado dentro de seu próprio território. Foi ele um dos arquitetos da Nueva recompilación de leyes de los reynos de las Índias (embora ela só fosse promulgada após sua morte, em. 1680), texto que pretendia fazer pela América o que o Digest — a peça principal do Direito | Civil Romano — fez pelo Império Romano. Pois, assim como o Corpus juris civilis havia | representado o papel do bem comum — o salus publici — para os povos romanos, a Nueva. recompilación haveria de proporcionar o salus publici a todos habitantes da América de | espanhola. Em 1629, Solorzano publicou seu mais conhecido trabalho, o Disputatio Indiarum iure sive de iusta Indiarum Occidentalium Inquisitione, acquisitione et retention&, cuja versão reduzida foi publicada em espanhol no ano de 1647, com o título de Política indiana. O Disputatio é, como sugere seu título, uma história do discurso legal sobre à

PARTE 1 - OS SONS, A SONORIDADE

E AS

LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

61

érica. Mas sua história não começa, como era de se esperar, nem com a Bula, ou com

ia a Junta de 1513, e nem em nenhuma outra data convencional com a qual se poder iniciar um relato sobre O direito indígena. Ao invés disso, ela se inicia onde o próprio ior ou tempo começou, ou seja, com a história da criação. Nenhum outro texto legal anter subsegiente havia realizado um movimento como este, apesar dos métodos de interpretação tas do mores fortemente historicistas utilizados pelos juristas humanistas italianos, os juris movimento o mesm o ra embo muito — ado iariz famil a estav zano Solor quais italicus, com os foi também fosse bastante familiar aos historiadores. E o que Solorzano se pôs a fazer narrar a discussão jurídica sobre o status dos povos da América como sendo uma etapa da história da humanidade. Assim fazendo, esperava ele que fosse possível trazer o debate

cobre a legitimidade da conquista e da colonização das Américas a um definitivo e incontroverso final. A história desse debate, no relato de Solorzano, conduz a uma conclusão:

qualquer que fosse a natureza do debate, e por mais equivocada que a monarquia espanhola pudesse ter estado acerca da validade do seu ato original de fundação (ou seja, a Bula Papal), o próprio processo histórico o tornou, então, válido. A América havia sido, por

assim dizer, inserida dentro da história espanhola. A jogada que tornou isso possível foi a legislação romana de prescrição. A prescrição, que continua sendo uma parte importante do arsenal teórico do direito internacional, era

um argumento jurídico existencial essencial que sustentava que a legitimidade de um Estado, ou sua condição, dependeria de sua existência contínua e bem-sucedida, e não das circunstâncias do ato original de fundação. Uma ocupação de longo prazo poderia, portanto, confirmar retroativamente um direito de jurisdição. Assim, concluiu Solorzano, “até mesmo a tirania se torna, com o tempo, uma perfeita e legítima monarquia”,º e foi isso o que a monarquia espanhola se tornou na América. Os índios faziam agora parte de um processo

histórico que os circunscrevia no tempo à Coroa castelhana. Qualquer nova discussão sobre esse tema seria, concluiu Solorzano, simplesmente inútil, e todo argumento anterior, fosse contra ou a favor, que versasse sobre direitos anteriores ou sobre domínio psicológico seriam todos, então, reduzidos a esta única afirmativa legal, de caráter empírico. Sem dúvida, Hegel estava'terto ao ver a conquista como o traço definidor do Império Espanhol. No entanto, o que ele não percebeu foi que o sentido último dessa conquista não havia sido apenas a criação de um regime semifeudal, mas a necessidade de incorporar os RSvos conquistados a uma única narrativa histórica e jurídica, castelhana-americana.* Civilizar” os indígenas significava não somente convertê-los, compelindo-os a adotar RR Ames e roupas europeus. Significava também torná-los parte da História. Em contraste, a América inglesa, como Hegel corretamente observou, havia sido colonizada. Colônias São, por definição, o povoamento em espaços vazios, espaços sem História. As colônias inglglesas foram criadas a partir de uma fundaçãÉo lockeana, quase literalmente emergindo

RE O. DispDi utatio de Indiarum iure sive 5. SOLO o RZANANO. de iusta Indiarum Occidentalium Inquisitione, acquisitione

6 NT. Neione: Madrid, 1629-39, 2 vols, v. 1, p. 108. ">=

O Oniginal Castilian, que se refere ao reino de Castela.

62

SONS,

FORMAS,

CORES

E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

PARTE 1 - OS SONS, A SONORIDADE E AS LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

ATLÂNTICA

diretamente do Estado de Natureza. Em 1776, o virginiano Richard Bland (que segundo. Jefferson era “o mais sábio e lógico dos homens, e um profundo conhecedor de direito constitucional”) escreveu que todos os homens

Assim, na compreensão histórica de seus fundadores, as colônias inglesas haviam

sido criadas ex nihilo (do nada), uma vez que este processo não envolvera a subjugação dos povos, mas sim o cultivo das terras. O problema dos revolucionários americanos

têm o direito natural de deixar a sociedade da qual são membros, e de se retirar para outro país. Agora, quando os homens exercem esse direito de se retirarem de seu país, eles recuperam sua liberdade natural e sua independência; a jurisdição e a soberania dos Estados que deixaram cessa. E, se estes homens se unem e, em comum acordo,

tomam posse de um novo país e formam uma sociedade política, eles constituem um Estado soberano, independente do Estado do qual se separaram.”

Já os habitantes indígenas, por supostamente viverem da coleta e da caça, e porque, nas palavras de Robert Cushman, “corriam pela relva como as raposas e bestas selvagens”, não tinham nem direito a terras, nem a um lugar no processo histórico.º Assim, a história da América do Norte (a história da América, segundo os colonizadores ingleses) começa com o primeiro dos colonos europeus e é a história de seu povoamento. A especificidade americana, desde Cities on a Hill, de Winthrop, até a Doutrina Monroe, tem se fundamentado, no fundo, sobre essa suposição. Uma história do mesmo tipo da que Solorzano escreveu — apesar do fato de que homens como James Abercromby tenham feito largo uso dela para seus próprios propósitos — era inimaginável em qualquer contexto anglo-americano. O que quero afirmar é que essas diferentes concepções de história determinaram, de um modo significativo e muito preciso, o curso da final emergência de novas sociedades independentes nas Américas. Independência, para todo regime colonial, significa evidentemente não apenas a afirmação de autonomia política, mas também a criação de | novos Estados. O que implica, na ampla definição de Clifford Geertz, no confronto entre o denso conjunto de categorias cultural-raciais e categorias lingúísticas

locais de auto-identificação e lealdade social, que séculos de história não formal tinha produzido,

com

um

simples,

abstrato,

intencionalmente

construido

dolorosamente autoconsciente conceito de etnicidade política; nacionalidade, no sentido moderno.º

uma

e quase

|

7. BLAND, Richard. “The Colonel Dismounted: or The Rector Vindicated. (Williamsburg, 1769)”, imBAILY,

|

into Parts of America. London, 1622, £2v.

9. GEERTZ, Clifford. “After the Revolution: The Fate of Nationalism in the New States”, in The Interpretam of Cultures. New York: Basic Book, 1973, p. 239.

distinção feita por Friedrich Meincke, uma Kulturnationen (nações culturais), e não uma

Statsnationen (Estado-nação). Enquanto essas “nações culturais” se mantiveram como parte de uma monarquia, composta por um certo número desse tipo de nações governadas por um único soberano, claramente não houve ali clamor algum por separação política. E, por assim se dizer, o que era verdade para o México e o Peru era igualmente verdade para Aragão ou Navarra. Todos proclamaram em uníssono — exatamente como seus sucessores fizeram na Espanha moderna — que eram regiões autônomas, que voluntariamente se associavam em uma entidade política maior, que evidentemente não era nem uma nação, e nem mesmo um governo federal, mas um corpo de forma simbólica: a própria monarquia. Além disso, também havia ali os índios, sempre a lembrar que a monarquia sempre encarnou nao apenas as aspirações das comunidades de colonos, mas também uma durável relação legal entre conquistador e conquistado. A independência implicava na tomada, por parte da elite criolla, das dificuldades dessa relação. A necessidade dos criollos de fazer a mediação entre estes legados históricos irmãos foi captada da forma mais completa na famosa Carta



Geertz estava descrevendo as dores do parto dos novos Estados da África e da Ásia, entre 1945 e 1968, mas seu relato também valeria para as duas Américas, posto que ele deixa tão pouco de fora. As exigências de confrontação no Norte e no Sul foram muito diferentes, exatamente por conta de suas distintas percepções da história.

8. CUSHMAN, Robert. Reasons and Considerations Touching the Lawfullness of Removing out of England

consistia em como conceber, como “imaginar” uma nova sociedade política que preservasse as intenções do ato original de fundação a partir do momento em que o poder metropolitano traiu a confiança que os colonos haviam investido nele. Isso, por sua vez, significava criar um novo tipo de sociedade, e, por fim, um novo tipo de gente. Como na fundação inicial, isso supunha um ato de criação sem precedentes. “Nós somos agora”, como comentou Tom Paine, em 1782, “verdadeiramente um outro povo”. Na América espanhola, contudo, tal separação nunca foi possível. Libertar-se daquilo que era frequentemente descrito como 300 anos de tirania espanhola requeria o escape desta ininterrupta tradição histórica espanhola. Mas também exigia uma contínua negociação com esta mesma tradição, para que a identidade criolla, no momento da independência, não fosse necessariamente associada à noção de separatismo político. Na América, os “reinos” da Coroa Espanhola constituíram, segundo a antiga mas ainda útil

da Jamaica, escrita por Simon Bolívar, em setembro de 1815, como uma resposta a um

autêntica

Barnard (ed.). Pamphlets of the American Revolution (1750-1765). Cambridge: Harvard University Press, 1965, p. 12.

63

AGO Ee inglês que queria saber, no despertar do levante de Hidalgoo de 1810, qual seria exatamente o papel que os indígenas e a população mesti team ] À E, S E em qualquer movimento de independência futuro. “Não somos”, escreveu ar,

índios

gr mia Dpiica E nem europeus, mas uma espécie intermediária entre os legítimos proprietários O conti : dnente e os usurpadores espanhóise : em suma, sendo american os por nascimento, mas co Mo nossos direitos rei derivam dos da Europa, temos

:

à |

entre eles e os do pa ís.1º

que continuamente mediar

|

10. LECUN

À, Vicente. Selected Writings of Bolivar. 2º ed., New York: Colonial, 1951, v.1, p. 165.

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

PARTE 1 — OS SONS, A SONORIDADE

| | '

haviam sido: , ola anh esp uia arq mon à er met sub se que s mai ham tin agora, que não ios da sábia e ncíp “pri os o und seg -lo fazê se de de ida ess nec da e o; pov ao s ido olv dev eco aos debates primitiva Constituição da Espanha” — frase esta que nitidamente faz década de 1790. da a anh Esp na os outr e s ane pom Cam por s ido duz con s sta ali ion constituc ele frequentemente Esse documento em nenhum momento menciona a palavra nación. Mas ao republicanismo| ado oci ass te tan bas já l”, gera de nta “vo mo ter o usa o; pov ao se refere

que teria permitido aos europeus disporem da lealdade de seus súditos.”

A separação e total definitiva da pátria-mãe, a que Bolivar chamava de essa “raça de exterminadores” era, como até mesmo Belgrano veio a perceber, a condição necessária

para a independência. Mas, como os súditos de um regime, tal qual a maioria dos criollos

o concebia, que lhes negava qualquer participação no processo político e qualquer presença autônoma na história castelhana, poderiam alcançar tal separação? A resposta recai sobre os índios. Se os criollos não podiam clamar participação alguma — nenhuma participação independente — na história espanhola; se eles agora eram espafioles-americanos, e não

e sobre a! ent tam exa a apói se , nto ume doc no so res exp foi o com o, açã min da autodeter s) | esta (pot or mai er pod o , ória hist sa Nes . nei cio men já que a a han tel narrativa legal cas Mas o direito de a. arc mon ao o erid conf te men eta dir era e , Deus de te men derivava direta empregar a linguagem a (par ri erva cons in ado erv res va esta tas) tori (auc er pod este exercer

mais espafioles en America, segundo os termos do peruano Juan Pablo Viscardo; e se, como Viscardo afirmou, “o Novo Mundo é nossa pátria, sua história é nossa”; então talvez

usado, e) ser ria pode Isto . povo para ez) Suar sco nci Fra XVI, lo sécu do íta, do grande jesu

o usufruto permanente” r, dize m assi por a, tinh rei o que mar afir se para era, o e ent geralm sem deixar rer mor a se vies ele caso E, do. Esta do iva slat legi e a utiv exec da autoridade

ainda fosse possível recuperar o passado dos povos indígenas como sendo seu próprio

passado. Afinal, como argumentou Viscardo (de forma um tanto hipócrita), havia sido a

monarquia espanhola, e não os criollos, que continuamente quebrara seus contratos com os nativos, desde Colombo, passando por Francisco de Toldeo, “aquel monstro sanguinário”, até a execução de Tupac Amaru, em 1780. As duas tentativas de reinventar estados nativoamericanos, em benefício da elite de colonos parecem ser, retrospectivamente, — e como, de fato, pareceram para alguns de seus contemporâneos — meras alucinações. Mas elas foram respostas calculadas e imediatas para um perigo que era tanto cultural e psicológico,

4

para definir que não mas s, ado Est os nov r tui sti con a par e dad ori aut a proporcionava-lhes servação estava à | con pela as and dem nas ita líc Imp r. umi ass am eri pod s ado Est s forma este

óbvia e imediata pata suposição de que um dia a monarquia poderia retornar. A solução em am, car bus xos Bai es País dos das Uni s cia vín Pro as qual à o uçã sol a — ma esse proble teaubriand endossou Cha va. ati ern alt ica ást din em hag lin uma car bus a seri — 0 158 ricas de Amé as a par o açã ort exp a r tra ues orq tou ten e o, uçã sol essa te entusiasticamen

quanto político.

E ct E

de Miranda (para o qual escreveu em francês, durante

res, um esboço para uma Constituição), também guarda uma o mare está preocu E ança com a monarquia inglesa; o que não é de se surpreender, uma Sa ção inicial foi obter apoio lEges para a Inqera o da Venezuela. Tal E E governo hereditário, um imperador inca”, além de uma Câmara O ee S instituições To aedile (antigo magistrado romano, encarregado os O blicas)

; Que deveria estimular a edificação pública; os quaestors e censors,

a e independente instou para que o Infante Francisco de Paula fosse feito soberano de uma nov o, clar a xav dei iz Cad em s ano ric ame dos ega del s pelo as feit s cia gên exi como a maioria das

so E Ei

O

em 1825, Manuel Belgrano E, . opa Eur na ão paç ocu sem ns rbo Bou pes nci prí de e séri uma

o, tais monarquias, ant ent No u, feri inde IV os Carl que ido ped a, Prat da Rio do uia monarq

65

el”, nas palavras sobreviver com apenas o suporte de uma aristocracia imaginária, “miseráv de Bolívar, “e coberta de pobreza e ignorância”, e sem nada do aparato social e cultural

pela busca ito dire O . ção tui sti Con uma de de ida ess nec da , nte ame ric francês; e fala, catego

iro (como foi o! ange estr er pod um por o tron do a forç à tado afas e foss ele se ou es, sucessor tuição de Baiona); caso, após a invasão Napoleônica de 1808, e a imposição da Consti todo. Esse foi o um o com e dad uni com a para ia rnar reto tica polí ção elei de ito dire então o ar| ern gov de ito dire pelo s nago vezi e ldos cabi dos o açã dic vin rei a ou conceito que fundament no lugar do rei. parte da pretensa. Mas, embora os criollos tivessem sido capazes de se apropriar desta espanhóis de rais libe dos rio trá con ao , iam pod não eles a, tel Cas de ” ção tui “antiga Consti tuição sti Con a Est . ura fut ca íti pol em ord er lqu qua ver cre 1812, utilizá-la para des

LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

inglês. haveriam de ser reformuladas, pautando-se no constitucionalismo segundo o modelo tamiento de Ayun do s tado depu os am ever escr , guia” o outr mos tive “a este respeito, não nem outro modelo, luz), ena pequ stra (nue to imen arec escl eno pequ Guatemala, “que nosso Jose Maria nto, mome ele naqu do mun todo e quas o (Com sa”. Ingle senão a Constituição — Peinado, o autor desse trecho, havia sido um leitor atento de Montesquieu). Belgrano o para , tant Cons amin Benj de , elle tion titu Cons ique Polit de s que em 1815 traduziu o Cour próprio espanhol, intitulou seu projeto de Reino Unido del Rio de la Plata, e, como seu e limitada e duas Câmaras nome sugere, este haveria de ter uma monarquia hereditária compostas através de eleições. s Mas uma monarquia, ainda que modificada de forma a ir ao encontro dessas nova a fracassar; aspirações constitucionais, estava, como havia previsto Bolívar, destinada ria pois uma monarquia é sempre mais que um monarca. Nenhuma monarquia pode

no qual os o óric hist e ural cult , tico polí aço esp um rar ont enc de de ida ess Essa nec undo ele, seg a, tinh rar ont enc se em ess pud s ano ric ame s ivo nat os e s ano ric ame llos crio extraordinario y afundado os líderes dos movimentos de independência no caso mas jurídicas s iva rat nar , tes ren cor con s ória hist e entr lito conf o a eri pod o Com o. cad compli

ural emergente ser rivais, e, finalmente, entre imagens rivais acerca de uma política cult resolvido? ncia, esses No princípio, como em todo esforço para se conceber uma independê de uma forma, s) çõe ira asp o com sas res exp (e gem gua lin a num s ado mul for am projetos for ta Suprema de Jun la de ón laci nsta AT da. ina erm det te men ica tor his de constitucionalismo de de se construir ida ess nec a e sobr a sav ver o, mpl exe por , 1810 de l abri de 19 Venezuela, de nos direitos de soberania que: os ead bas ), ones naci não € -se, note ses, (pai ses” “paí os nov

E AS

11. Lett

3 erto General O'Lea ry, September 13, 1829, Obras completas, v. HI, p. 315.

66

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

para manter a ordem pública —, todas instituições inspiradas na República romana, Ela era, como disse Bolívar, uma simples quimera — uma criatura com muitas cabeças mo nenhum corpo. Já a Monarquia incasica, de Manoel Belgrano, constituiu um projeto muito mais sério, mas apenas porque Belgrano — ao contrário de Miranda, que naquele momento se: encontrava isolado em Londres — estava em posição de levar suas idéias adiante. E porque | essa não haveria de ser uma mera monarquia constitucional, com títulos luxuosos, como alguns contemporâneos seus, tais quais seu amigo e parente Alvarez Thomas e o visitante norte-americano

E. M.

Backenbridge,

viriam

a acreditar.

Suas

idéias guardavam

reminiscências do projeto de John Locke para a nobreza dos Landgraves, Margraves,. Caciques, e outros da Carolina do Sul. Era um projeto para um novo Estado, o qual, ao: menos em princípio, aspirava mobilizar as massas indígenas contra os espanhóis. De:

acordo com Brakenbridge, Belgrano e Guenes (então governador de Salta) declararam publicamente no Alto Peru, em 1818, que sua intenção era a de restaurar o Império Inca,

pois, 1780, sobre todos

como ele observou, os índios nunca haviam esquecido o levante Tupac Amaru, de e as “palavras liberdade, independência, direitos do homem” teriam pequeno impacto eles, em comparação com as de “restauração de seus queridos incas, cujo reino recordavam como a uma época de ouro”. E desnecessário dizer que os colonizadores do Norte nunca puderam se valer, por 1 assim se dizer, de uma higienizada e europeizada versão da federação iroquois. Os índios podiam até ser transformados, para Jefferson, numa imagem da força natural da liberdade, | mas a própria legitimidade dos Estados Unidos, enquanto comunidade política, recaia na afirmação de que era um vazio histórico, e que o país havia sido fundado pela pura vontade política de seus criadores. Tanto o Império Inca de Miranda, quanto o de Belgrano, deram em nada; bem como muito menos enfocada tentativa de José Maria Morelos de, em 12 de setembro de 1818, “reestabelecer o Império Mexicano”, e ao mesmo “aperfeiçoar o seu governo” — muito | embora Morelos, sendo um mestiço, tivesse muito mais esperanças de se fazer acompanhar: pelas populações indígenas que pela europeizada aristocracia dos creollos do Sul. Todos estes grandiosos projetos deram em nada por uma série de razões políticas e estratégicas

óbvias. Mas o seu fracasso foi também o fracasso da então ideologicamente desolada elite criolla, em inventar para si mesma uma narrativa política capaz de conduzir a sie a seus | partidários a um futuro que estivesse finalmente fora do alcance intelectual da antiga monarquia espanhola. Como realizar isto, uma vez que todo o aparato dos anciens regimes (fosse o europeu, fosse o indígena) haviam sido, enfim, desmantelados, e ofereciam terríveis problemas criativos? Até mesmo Bolívar afirmou ter estado incerto quanto ao caminho que deveria ser então trilhado. “Entretanto, é mais difícil”, disse ele a seu correspondente inglês, na Carta da Jamaica, pressentir o futuro do Novo Mundo, estabelecer princípios sobre sua política e quase

profetizar a natureza do governo que irá adotar... Foi possível prever, quando o gênero humano se encontrava em sua infância, rodeado de tanta incerteza, ignorância e engano,

|

PARTE 1 - OS SONS, A SONORIDADE

E AS

LINGUAGENS

DA CONQUISTA ATLÂNTICA

67

qual seria o que abraçaria para a sua conservação? Quem teria se atrevido a dizer que tal nação será uma república ou uma monarquia, esta será pequena, e aquela grande?

(...) Nós somos uma miniatura da raça humana, e possuímos um mundo à parte, cercado

por dilatados mares.

Essa alusão ao Estado de Natureza esteve, contudo, longe de ser exata. Para tanto, como supunha Bolívar, a Nova América teria, de fato, que ser criada de forma totalmente independente daquelas duas histórias, a espanhola e a indígena. Mas ele sabia também que (e, aqui, evidentemente, as histórias do Norte e do Sul correm próximas, mas em linhas paralelas), a matéria da qual ele seria composto podia ser encontrada, ainda, na outra História, a mesma História que tinha proporcionado os materiais constitutivos a partir dos quais a monarquia espanhola criou sua própria identidade inicial: a da Antiguidade

clássica. Mas, enquanto os espanhóis se miravam em Augusto e seus herdeiros, Bolívar

como muito de seus contemporâneos, voltava-se para a Republica romana e para Atenas. E o republicanismo — ou, ao menos, uma espécie de republicanismo — se transformou, como sabemos, na forma política dominante, e no credo político dominante em todas as Américas. Para Bolívar, como para todos que pensavam como ele, uma coisa estava clara: o que a república significava. “O que é chamado de república”, declarou Tom Paine, cujos Direitos do Homem (1791) teve um duradouro impacto sobre o pensamento dos libertadores do Sul, não é nenhuma forma particular de governo. É um conjunto de características do objetivo, assunto ou objeto do qual o governo deve ser instituído e no qual ele deve ser empregado, a RES-PUBLICA, a esfera pública, os assuntos públicos ou literalmente traduzindo a coisa pública... e esse sentido é naturalmente oposto à palavra monarquia.!?

Ão abraçar essa antiga forma institucional de governo, os creollos não estavam

confirmando sua conexão com o Velho Mundo,

(apesar de que foi exatamente a sua

experiência na Europa, e seu conhecimento da literatura eu ropéia, que lhes havia dado acesso à filosofia política antiga): antes de mais nada eles estavam buscando uma forma

política que fosse histórica e culturalmente autônoma. O republicanismo — e, acima do republicanismo deles estava o que Kant, ao descrever suas próprias ambições republicanas para a humanidade, descreveu como um “construto da razão” -um republicanismo a que todos os seres reacionais fossem, finalmente, levados a aceitar.

Mas, para Bolívar e para os outros, não importa quão elevada fosse sua retórica. É

evide Nte que eles se depararam com a dificuldad e de traduzir sua imaginação racionalista em uma forma constitucional, e, por fim, institucional. Este foi também o caso do momento

2:

No

Orio)

. ts

nginal: : “is not PUBLI or object of is er public "REY opposed matter,



any: particular form of government. It is wholly characteristically of the purport, which: government ought to be instituted and on which it is to be employed, RESafairs, or public good; or literally translated, the public thing... and in this sense it to the word monarchy”.

68

SONS, FORMAS,

CORES

E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

ATLÂNTICA |

pARTE 1 — OS SONS, A SONORIDADE E AS

em que os creollos espanhóis vieram a cogitar a independência, pois existiam duas recentes |

LINGUAGENS

DA CONQUISTA ATLÂNTICA

69

e espetaculares experiências republicanas, cujos exemplos vieram a definir na América

“anormais” ou “não estruturadas”, sociedades na quais, como bem exprimiu, “as paixões se tornam leis, a fim de destruir a lei”. “Sibaristas da civilização da Europa”, escreveu ele,

com suspeição: a norte-americana e a francesa. Destas duas, a França era a que se encontrava temporalmente mais próxima, e, por razões que irei abordar em seguida, a que lhes eraa

pregadores da liberdade, eu gostaria de ver seus tribunais estabelecidos nas margens do

espanhola a linguagem da construção da nação, mesmo que os creollos vissem a ambas |

Orinoco, suas tribunas de senadores misturando-se com a horrível mistura de negros,

mais diretamente conveniente. Como Belgrano recordou em sua Autobiografia, havia sido

mulatos, homens comuns (Ilaneros), e creollos, com homens repentinamente dragados

a Revolução Francesa que o transformou de um estudante creollo de Direito, da Universidade

das profundezas da escravidão e da barbárie, para serem transformados em legisladores

de Salamanca, em um revolucionário: “As idéias de liberdade, igualdade, segurança e propriedade se agarraram firmemente em mim”, recordou ele, “e eu via apenas tiranos | naqueles que pretendiam impedir um homem, onde quer que estivesse, de desfrutar dos direitos que Deus e a Natureza lhe deram”. Mas, era o ano de 1789, e como a presença dos. termos “segurança” e “propriedade” na lista de objetivos revolucionários de Belgrano deixa:

e chefes de Estado! O mesmo sangue, a mesma língua, os mesmos costumes, uma herança comum de grandeza e talento, uma civilização avançada, tudo isso mantém juntas todas as partes das sociedades da Europa. Na América, tudo é diversidade, princípios de divisão,

ausência de civilização. O que na Europa se realiza, na América é preciso criar.

claro, não havia sido a idéia de “liberdade” de Saint Just ou de Robespierre que o inflamara, No momento em que Belgrano e outros vieram a consolidar suas percepções sobre qual

A República Americana do Sul teria que se voltar para essas misturas se quisesse

futuro os Estados da América do Sul deveria buscar, a Revolução Francesa tinha sido:

conduzida não apenas ao Terror (que para a maior parte dos líderes dos movimentos de” independência, como para Jefferson, não era tão terrível assim), mas também a Napoleão | (que, este sim, o era). E, embora a maior parte dos líderes intelectuais dos movimentos de |

independência não vissem o Império Francês com tanta aversão, quanto a nova geração | de liberais franceses, estava claro, ao menos para a maioria deles, que a história de Roma |

havia sido a do declínio da República ao Império, como também seria para a história da | França. Outrora, afirmou Bolívar, Napoleão o havia feito pensar “na escravidão do meu país, e na glória que conquistaria aquele que o tornasse livre”. Mas este havia sido 0)

cônsul da República. O imperador dos franceses, que ele se tornou, era uma pessoa

totalmente diferente; e, a coroa que escolheu para colocar sobre a sua própria cabeça era,| segundo Bolívar, “uma coisa miserável, de modismo gótico”. Por outro lado, e mais perto de casa, estava a federal, representativa e liberal república

sobreviver. E isso eles só poderiam fazer caso o republicanismo que adotassem tivesse “poder moral”, para usar a expressão de Bolívar, o suficiente para “regenerar o caráter e

os costumes que a tirania e a guerra nos legaram”. Uma república como tal teria que ser capaz de criar nas florestas tropicais “um poder moral, tirado das profundezas da antiguidade e daquelas esquecidas leis que uma vez mantiveram a virtude entre os antigos gregos e romanos”. Foi o que ele disse, em uma passagem de extraordinária força criativa dirigida aos legisladores, em Angostura, que se reuniram na Assembléia do Orinoco para esboçar à Constituição para o novo Estado. “Nós devemos”, continuou ele, pegar, de Atenas, o Aeropagus, os guardiões dos costumes e as leis; de Roma, os censores

|

e os tribunais domésticos; e, constituindo uma união sagrada de todas essas instituições morais, nós reviveremos no mundo a idéia de um povo que não se contenta em ser livre e forte, mas que deseja também ser virtuoso. Nós tomaremos de Esparta suas austeras instituições, e, criando, a partir desses três rios uma fonte de virtude, daremos à nossa República uma quarta força, cuja firmeza serão a infância e o coração dos homens, o espirito público, os bons costumes e a moralidade republicana.

americana. Mas esta, como Bolívar declarou, era o fruto de uma cultura política que,

desde o início estimulara um alto grau de auto-suficiência política entre os seus colonos. Aquela a que ele se referiu por vezes com ironia como sendo a “república de santos” nunca, poderia ter sido criada entre os corruptos e degradados povos da monarquia espanhola, | Além disso, um federalismo do tipo norte-americano se baseava em um sistema de representação e, aos olhos de Bolívar, “nossa constituição moral ainda não tem a consistência. necessária para receber o beneficio de um governo completamente representativo”. Ele se! assentava também sobre uma cultura política de cooperação mútua, e isso, por sua VEZ, |

exigia um tipo de coesão cultural que as culturalmente uniformes antigas colônias inglesas: possuíam, mas que as multi-raciais sociedades da monarquia espanhola não. Ninguém.

talvez percebeu isto mais claramente que o conselheiro político de Bolívar, Dominique Dufour de Pradt. Escrevendo para o Courrier Français, em 12 de janeiro de 1829, em, defesa da tomada de poderes ditatoriais por parte de Bolívar, Pradt advertia Constant, que.

há alguns dias antes havia descrito Bolívar como um potencial Napoleão americano, de

que as leis sociais que se aplicavam à Europa, e por extensão aos Estados Unidos, sociedades

às quais chamava de “normais” ou “estruturadas”, não poderiam ser aplicadas em sociedades

Essa curiosa bricolage constituiu uma saída radical para a retórica constitucional

das gerações anteriores; e em nenhum outro discurso político hispano-americano nada Muito semelhante a ela existira até então. Mas, por mais exagerado que este pensamento,

E e E “AM E

e

ga

come Re

clássicas, pudesse parecer, ele foi capaz de captar as aspirações lade política, a qual poderia separar as recém-autônomas histórias ai

da

pátria-mãe

; uma comunidade política

(os cabildos e o a É ivar, prescindisse tanto das instituições e do aparato legal espanhol

indígena. Carlos

e

Pintura deformada eo

AS de qualquer tipo de associação direta com o pRSdo

on E estava correto ao advertir contra 0 que ele chamava de “a

Escolástica/Encicloné a-no âmbito das excludentes dicotomias Suarez/Rousseau ou pedia”, mas o republicanismo bolivariano (e, neste ponto, Belgrano . + . . A AA ventado O constitu : : cion alis mo ingl ês) estava muit. o longe das narrativ: as jurí dica s 9€ei no início deste artigo.

via rein

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

70

A república de Bolívar é o que na literatura do republicanismo é conhecido como q

r modelo antigo, em oposição ao “moderno”. Esta distinção — que é, deve-se dizeem

grande medida uma invenção moderna, não sendo possível reconhecê-la nas desceric sao das repúblicas históricas do Mundo Antigo — já havia sido esboçada por Montesquie !

embora a mais celebrada, e a amplamente empregada tenha sido a distinção formulada,

em 1819, pelo liberal francês Benjamin Constant em seu ensaio A liberdade dos antigos: comparada à dos modernos. As repúblicas do Mundo Antigo, como salientou Constant,

teriam sido, necessariamente, sociedades pequenas e militarizadas, que envolviam todos.

os seus cidadãos em um projeto comum de governo e defesa."* Elas eram “virtuosas”, no: sentido romano do termo; ou seja, eram compostas de homens (e estes eram sempre homens, uma vez que se acreditava que estes eram a essência das sociedades guerreiras, e que seu. mundo social havia sido criado a fim de torná-los eficazes máquinas de guerra, eleme to ; considerado importante nas tentativas de se recriá-las nas Américas) que estariam semp : ; preparados para colocar o que Cícero, em sua defesa da Republica romana, chamou de “o bem da cidade”, acima do bem individual. Como um historiador da emancipação do Peru: -

um

disse de forma crua, mas eficaz, em 1867, o Peru “se tornou livre porque seus filhos se:

tornaram homens, e esses homens se tornaram republicanos porque a republica é a! verdade”.!* Os heróis dessa tradição republicana são aqueles que estão preparados para sacrificar a si mesmos, ou aqueles a quem mais amam — os filhos de Brutos —, para alcançar algo maior, o bem comum. O patriotismo republicano é uma tradição embebida. em sangue. Dulce et decorum est pro patria morire. Tais comunidades eram compostas, segundo a muito influente redescrição do modelo antigo feita por Rousseau, não de homens, | mas de cidadãos, e a vida privada do indivíduo estava inteiramente integrada à vida pública da comunidade, a res-publica. “O que os antigos chamavam de liberdade”, escreveu | Constant, constituía, com efeito, “a completa sujeição do individuo à autoridade da comunidade”.!º As repúblicas antigas não haviam sido criadas para tornar seus membros livres, no sentido moderno do termo. Elas havia sido criadas para transformá-los em seres da política pública, ou seja, em “cidadãos”. Essa “liberdade para”, e a correlata obrigação

de fazer parte do corpo político (que permitiu a Rousseau falar em obrigar os homens à serem livres), era a única garantia de felicidade (no sentido específico do termo latino felicitas), do Estado e de “todos” os seus membros (os homens adultos). Em 1846, San | Martin escreveu ao general Pinto, então presidente do Chile: |

13. Para um relato mais detalhado, ver PAGDEN, Anthony (ed.). The Languages of Political Theory

Early-.

dl Modern Europe. Cambridge: Cambridge University Press, 1990, pp. 133-55. 14. LISSON, 1867, p. 16. Como Pradt afirmou, “entre todas as constituições americanas que conheci, não.

houve uma que incluísse alguma palavra sequer acerca de lealdade. Pelo contrário, todas foram marcadas por um forte apagamento do republicanismo, e se inclinavam mais para as instituições dos Estados |

15.

Unidos, que pelas da Europa”. Reflexiones sobre el estado actual de la América, o cartas al Abate de Pradt. Madrid, 1817, v. 1, pp. XI-XII. (O autor é anônimo).

CONSTANT, p. 311.

A ATLÂNTICA ST UI NQ CO DA NS GE UA NG LI AS E DE DA RI NO SO PARTE 1 — OS SONS, A

71

ma de como ser republicano, ble pro o eu olv res ia pátr a nad rtu afo sua o; cert está ê Voc er tipo de governo lqu qua sob , ens hom os o Com . (...) ola anh esp ua embora falando a líng o melhor governo , zas que fra e s xõe pai mas mes às itos suje o estã é, isto são os mesmos, procure a felicidade daqueles que ele aqu mas os, cípi prin seus em ral libe mais é não o que o obedecem.

is, cujos As repúblicas modernas, ao contrário, eram grandes sociedades comercia vidas privadas distintas suas do ten man o, taçã esen repr da vés atra os rnad gove cidadãos eram

eas de gêm ções cupa preo nas ente isam prec am eav bas se Elas . icas públ s vida suas de Montesquieu Belgrano: «“astabilidade” e “propriedade”. Este é o tipo de sociedade que tituição cons a r reve desc ao e ment em a tinh ele que o e ”, rada mode ia arqu “mon chamou de Tais sociedades inglesa como uma “república que se esconde debaixo de uma monarquia”. a - e, na visão de Constant, em 1819, elas eram apenas três: a República holandesa, no sentido que Inglaterra e os Estados Unidos — eram constitucionais e também liberais, tarde pela nos é familiar. A liberdade proporcionada pela república “moderna”, e mais oro, O sociedade liberal democrata, criou o que, nas palavras de Rousseau, eram um oxím chamavam “cidadão privado”. Naguelas sociedades a que seus inimigos do século XIX . Eles têm “república liberal burguesa”, os homens estão aptos a serem homens e cidadãos

acesso, embora apenas como eleitores, à vida política, que lhes havia sido negada pelas

monarquias do Ancien Régime;

portanto, é permitido que eles se tornem seres sociais

totalmente autônomos, não estando completamente submetidos ao Estado do qual fazem parte. O Estado liberal, em outras palavras, dá aos cidadãos não apenas liberdade política, mas também de liberdade civil. Para a maioria dos modernos, os mais importantes traços que definem o republicanismo são sua confiança na representação, e sua inclinação ao comércio: somente isso poderia assegurar ao corpo de cidadãos a necessária “liberdade de”, que eles tentavam alcançar em suas vidas privadas (em particular, a liberdade da interferência do Estado). Pode ser um reducionismo sugerir que as tradições culturais e políticas do Norte inclinaram os anglo-americanos para a direção das concepções modernas de república, ao passo que os hispano-americanos haviam sido exclusivamente atraídos pelos modelos antigos. Mas, em geral, é correto dizer que na disputa pelo livre comércio e nas reformas do Império ocorridas no final do século XVIII, os criollos haviam buscado metas de livre comércio apenas por causa dos benefícios econômicos imediatos que ele obviamente poderia trazer. Eles tinham uma restrita compreensão da fé européia na função do comércio como agente civilizador (crença esta que perturbou Montesquieu, Campomanes, e Jovellanos), e menos ainda uma aspiração de estender seus benefícios para toda a humanidade. E não tinham eles o menor entendimento da idéia de representação, e nem mesmo uma particular

tia por ela. Isso porque, por um lado, o que Bolívar havia chamado de “constituição

moral” dos novos Estados não estava ainda preparada para a representação, e, por outro, Porque representação implicava em democracia, mesmo que no sentido restrito em que o E E Eco no final do século ai Visto que a república antiga era oligárquica, republicanismo antigo”, por contraste, parecia oferecer a perspectiva de Eos conômica e social dentro de uma comunidade unificada, na qual as velhas

72

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA.

PARTE 1 — OS SONS, A SONORIDADE E AS

LINGUAGENS

DA CONQUISTA ATLÂNTICA

73

esse evento e seu significado político, foi exatamente um destes instrumentos de difusão de

elites poderiam conservar todo seu poder e riqueza. A república antiga poderia então. proporcionar tudo isso, ao mesmo passo que podia dar à elite uma identidade política, a

qual, em quase todos os seus pormenores, não poderia ser futuramente extirpada pelo. A discurso do direito espanhol, ou pelas pretensões dos indígenas. Concretizar o sonho de Bolívar de uma nova república clássica que fosse em parte. Esparta, em parte Roma, em parte Atenas, exigia, no entanto, mais que uma constituição, Exigia a construção de uma imagem de si mesmo, um foco de lealdade. Ao menos à Venezuela, a mais autoconsciente república entre os novos Estados hispano-americanos se

voltou para os mesmos mecanismos culturais — um teatro de massa comprometido co na

recém-decretada, e ainda em grande parte ilusória, pátria —, como a França havia usado

para gerar o “poder moral” que afinal manteve unida a sua comunidade. Um destes eventos: (brilhantemente analisado em um artigo por Luis Castro Leiva) envolveu o corpo de: im

certo Coronel Giradot e ocorreu 1813. Giradot morreu em batalha, durante uma fase: particularmente sangrenta das guerras de Independência, conhecida como “la guerra q muerte”. No entanto, sua morte, ao contrário de inúmeras outras, foi rapidamente mitificada

— e sacramentada como um exemplo de auto-sacrifício patriótico e republicano. Em 30 de setembro, Bolívar decretou que os ossos de Giradot deveriam ser repatriados para seu local de nascimento, Nova Granada, mas que seu “coração será levado, em triunfo, para a capital de Caracas, (...) e será depositado em um mausoléu que se erigir á na Catedral Metropolitana”.!º Ali, Bolívar declarou no início de outubro, que “suas virtudes republicanas o colocam entre os nomes ilustres de Brutus e Marcus Scévola”.

O prometido triunfo foi encenado em 14 de outubro. O cortejo se moveu lentamente pela estrada que ia de Valência a Caracas. A urna, confiada ao exército do Vigário Gei al, foi seguida pelos carabineros nacionais. Atrás dele vinha o próprio “Libertador”, Simon Bolívar, liderando os chefes do Estado. Depois destes, vinha a Guarda de Honra e, finalmente, compondo a retaguarda, três companhias de Dragões. O cortejo parou em dez “cidades”

ao longo do caminho, e em cada uma delas as “mais belas donzelas, vestidas com as cores

nacionais, deveriam despontar ao longe, e encontrar a caravana triunfal, que avança”. À cada parada, essas moças coroavam o Libertador, recitando composições poéticas em sua honra e à de Giradot, e então começavam a “cantar canções marciais sobre Liberdadee Glória”. A deposição final da urna na Catedral foi acompanhada pela coroação de Bolivar, com guirlandas, quando houve sua aclamação não somente como el libertador, mas ta ém A — e talvez pela primeira vez — como pater patriae, como padre de la patria.

As repúblicas sempre empregaram tais rituais (assim como as monarquias, emb pra

com uma função política radicalmente diferente), pois a civitas, a comunidade de cidadãos participativos, precisavam de afirmações periódicas e coletivas de sua identidade. AS sociedades modernas, como um todo, cujos membros são indivíduos privados, não precisam

mais disto. Esse cerimonial, como as fêtes de la liberté francesas, também se estendiam para além da cerimônia em si. A Gazeta de Caracas, que registrou com tanto detalhismo

massa (como O Moniteur; na França) que foram agentes cruciais na criação das identidades e nacionais. Em um reduzido espaço de tempo, embora um tempo marcado pelo sangue por conflitos ininterruptos, os venezuelanos inventaram uma pátria, algo pelo qual se

eria morrer, que se casava com as imagens criadas pelo famoso discurso de Bolivar, o

Discurso de Angostura, e que ecoou na constituição que se seguiu, muito embora eles ainda não tivessem criado uma nação. Entretanto, como um anônimo e hostil observador notou em 1820, tudo isso, e em particular estes elementos mais teatrais, parecia pouco mais que uma imagem de “um mundo que é, de certa maneira, fantástico, mas que pode ser criado para justificar o passado e autorizar as esperanças no futuro”.”” Porém, esta natureza quimérica não foi seu único defeito. Pois defeituosa era exatamente a sua “fonte de virtude”, como o próprio Constant havia reconhecido em seu ataque a El Libertador no Courrier Français, ou seja, aquilo a que Bolívar continuamente entendia pelo termo “liberal”. Era uma liberdade que somente podia ser extendida àqueles capazes de praticar a “virtude republicana”, e estes, por definição, eram somente os homens que tinham poder suficiente para levar algum vigor à vida política. Da mesma maneira, a “opinião pública”, a que tanto Bolivar quanto muitos outros dos líderes dos movimentos de independência se referiam continuamente, não era a mesma que para os demais pensadores liberais, de Constant a John Stuart Mill (ou mesmo para Montesquieu), ou seja, uma força que devia ser usada para reprimir a ambições daqueles que estivessem no poder. Ela era, ao contrário, a expressão de um desejo político coletivo, um sinônimo da volunté general, de Rousseau. “Ela teria que ser como um poder despótico e, ao mesmo tempo, um poder de opinião pública”, cuja imaginação política operava, em muito, sobre o mesmo território, como o historiador da República argentina, Vicente Fidel Lopez, disse em Buenos Aires sobre a Junta de 1810. Uma das dificuldades — uma das muitas dificuldades — de se tentar criar repúblicas antigas no mundo moderno é que os atores originais foram, como afirmou Constant, impelidos pela necessidade a irem uns contra os outros, eles combatiam e ameaçavam

uns aos outros sem cessar (...). Todos compravam sua segurança, sua independência,

toda a sua existência, pelo preço da guerra. Esse era o interesse constante, a ocupação quase habitual dos Estados livres da Antiguidade.'s

|| A esse respeito, todos os generais revolucionários da América espanhola foram Ee de uma verdadeira cultura militar republicana. A ditadura de Bolívar, de 1828,

» COMO O próprio Bolívar reconheceu, uma ameaça para a sobrevivência da liberdade o tanto apreciava. Para Constant, era a herança fatal das repúblicas oligárquicas É as na escravidão que suprime a propriedade e priva os proprietários de seus bens *=). Se O povo não é suficientemente sábio para ser livre, não será, certamente, a tirania

nu

"o a]

16. No original: “Su corazón será levado en triunfo a la capital de Caracas, donde se le harála recepción G€ los libertadores y se depositará en un mausoleo que se erigirá en la Catedral Metropolitana”.

Ea

17. Reflexi 18. o

a pero actual de la América... Madrid, 1820, p. IV. (O autor é anônimo).

74

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA, Os

tant e Bolivar que irá trazer a sua liberdade”. Mas, a ditadura foi também, como Cons

seus sabiam muito bem, o meio tradicional através do qual a República romana superara ida temporária, med uma a form ma mes da era dura dita A . crise de os ent mom rsos adve mais até as can eri -am ino lat as blic repú as s toda e quas de o açã gin ima na e assim permanece hoje. O exército não representava apenas à garantia da segurança da República contra as respublica da r edo ten man te agen o bém tam a seri ele -, s reai pre sem — ameaças externas er moral”, “pod o sse aça ame as, blic repú as s toda de inal term nça doe a o, upçã quando a corr ânica evitar o destino. Apenas dessa maneira poderiam as novas repúblicas da América hisp das, e o da França, ela mod am for s quai as o und seg go, Anti do Mun do as blic final das repú d ial. inic ão iraç insp uma os muit para que foi s nas. Havia, no entanto, uma significativa diferença entre O lugar dos militare primeiras, eles: Nas var. Bolí de s uosa virt as blic repú nas e go Anti do Mun do as repúblic

DOS

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RUMORES

s. Washington: oi eram amplas milícias de cidadãos; nas últimas, exércitos profissionai

Adriana

fazer para as apen do cria sido a havi ele pois tal, inen Cont cito Exér o r olve diss capaz de

foi criada a partir das nascer uma sociedade que, apesar de seu aparente classicismo, com autonomia! a blic repú uma de gem ima uma o und seg e eu, qui tes Mon e e Lock idéias de hispano-americanos, s nto ime mov dos res líde Os a. ativ icip part te men pal nci pri e l rcia come que foi, e smo tari mili do par esca de z capa am for ca nun o, rári cont ao a, nci de independê | ER o ainda é, parte integrante de sua visão pojtica

|)

|

Romeiro

Ão estudioso da Guerra dos Emboabas causa perplexidade a derrota militar dos paulistas frente à facção emboaba, após uma série de batalhas iniciadas em novembro de 1708 e encerradas definitivamente em novembro do ano seguinte, logo depois da entrada do governador D. Antônio de Albuquerque na região mineradora. Afinal, como entender o fracasso da fantástica máquina de guerra da América portuguesa, num cenário em que tudo favorecia a sua vitória? Indubitavelmente, eram os paulistas os soldados mais capacitados a quem a Coroa portuguesa podia recorrer para a solução de conflitos armados em condições ecológicas inóspitas. Gente experimentada na guerrilha, habituada aos labirintos do sertão, eles haviam desenvolvido, ao longo de todo o século XVII, uma arte

bélica insuperável, capaz de derrotar os negros quilombolas de Palmares e os índios bravios

que assolavam a Nordeste brasileiro na segunda metade do século XVII. As consultas do Conselho Ultramarino mostram de forma inequívoca que a gente do Planalto era reputada nos dois lados do Atlântico os mais notáveis e valorosos soldados, os únicos capazes de vencer inimigos desconhecidos pela tradicional arte militar européia. Por volta do final do século XVII, o recurso estratégico a eles para combater os índios do sertão do Nordeste, por exemplo, pareceu às autoridades a única alternativa viável para impedir-lhes o avanço,

Pois que, segundo D. Frei Manuel da Ressurreição, então governador-geral, era “gente

Seostumada a penetrar sertões e tolerar as fomes, sedes e inclemências dos climas e dos

tempos, de que não têm uso algum os infantes, nem os milicianos a que falta aquela

disciplina e constância”.? Optava-se assim por descartar o recurso à infantaria paga — ou

1.

“a |

|

no alvorecer das Minas, realizado com financiamento do CNPq, através de bolsa de ia ta dt eem Pesquisa e bolsa de Pós-doutorado. A pesquisa contou ainda com o apoio da FAPEMIG,

2 "esponsável tbmo

faz parte de um estudo mais amplo, intitulado Paulistas e emboabas em luta nos sertões: idéias

pela concessão de recursos para uma temporada de estudos em Portugal.

a eo

de E. História das bandeiras paulistas. São Paulo/Brasília: Melhoramentos/INL, 19 75,

76

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

PARTE 1 = OS SONS, A SONORIDADE E AS LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

tropa de linha — e a de ordenança, e acionar a máquina de guerra do Planalto, Em

correspondência sobre as circunstâncias do engajamento dos sertanistas no destroçam

e a mim indignamente me elegeram no posto e cargo de sargento maior de batalhas do

am

Ouro Preto e todo o seu distrito, e da mesma sorte logo, e a requerimento do mesmo povo se elegeram capitães e infantarias da ordenança com seus sargentos maiores e

de Palmares, o governador de Pernambuco, Souto Maior, manifestou o seu entusiasmo: “e por estes homens serem os verdadeiros sertanejos, e se acharem com 400 homens de am a os requeri para esta conquista dos Palmares, mandando-lhes patentes de conquistadores dele [...] chegou o tempo de verem estes [negros] levantados a sua ruína”. Ao apagar d sm

luzes do século XVII, imediatamente antes da Guerra dos Emboabas, a superioridad mili e HE paulista era reconhecida por todos os vice-reis e governadores, a despeito das críticas' frequentes que circulavam sobre os modos truculentos e cruéis com que lidavam com os: inimigos, desrespeitando acintosamente a ética da guerra. 4 Apesar disso, em princípio do ano de 1709, apenas dois meses depois da eclosão do. confronto armado, a região mineradora encontrava-se sob o domínio emboaba, consagrado. na aclamação de Manuel Nunes Viana como governador e na criação de uma estrutura. administrativa dominada pelos forasteiros. Nos meses que se seguiram, os paulistas não. chegaram sequer a representar uma ameaça ao governo emboaba: este só entraria em

mestres de campo, criando-se um terço nos arraiais do Ouro Preto, Antônio Dias, Padre Farias e Ribeirão do Carmo, e outro no Campo pela numerosa gente que nele habita.º

Para o posto de ajudante e chefe militar, Nunes Viana nomeou o português Antônio Francisco da Silva, que tinha uma vasta experiência como soldado do Império Português.

Havia servido na Índia, como sargento de mar e guerra, tendo participado depois, no Rio de Janeiro, de expedições de captura de navios piratas que rondavam o litoral. Na Colônia

do Sacramento, atuara como soldado infante e de cavalaria, tendo sido nomeado ajudante de navio pelo governador Francisco Napier. Em 1700, depois de mais de vinte anos de

serviços prestados à Coroa como soldado, concorreu ao posto de capitão da tropa de

cavalos da Colônia do Sacramento, tendo perdido para Leonel da Gama Belles.” Para o posto de sargento-mor de batalha, os forasteiros elegeram Bento do Amaral Coutinho, que

viria a protagonizar um dos lances mais célebres do levante emboaba, o famoso Capão da Traição. Amaral Coutinho chegara às Minas na condição de foragido da justiça do Rio de

internas.

Uma investigação orientada para o estudo das causas da derrota paulista deve levar em consideração três ordens de fatores. O primeiro deles relaciona-se com a natureza da

Janeiro, onde havia assassinado Inácio Gago da Câmara com mais de sessenta facadas.º Carregava consigo a fama de homem terrível, desdenhoso das leis de Sua Majestade, e implacável com os inimigos, contra os quais cometia as maiores atrocidades, como a castração, o que lhe rendeu o apelido de “capador de homens”.” Mesmo um autor de orientação pró-emboaba, como Rocha Pita, aponta a péssima reputação do sargento mor de batalha:

Guerra dos Emboabas, descrita tradicionalmente pela historiografia como um movimento mais ou menos espontâneo, que irrompe abruptamente em novembro de 1708, em razão

das hostilidades crescentes entre paulistas e forasteiros, sobretudo na esteira dos conflitos em torno da arrematação do contrato dos açougues.” Na linguagem política do An igo Regime, o episódio, em razão de sua natureza súbita e desordenada, configuraria assim

um motim.º As evidências apontam, contudo, numa outra direção: logo depois da ocorrência do primeiro confronto armado entre ambas as facções, desencadeado pela questão do

contrato dos açougues, ainda no ano de 1707, a idéia de um levante militar contra os paulistas passou a frequentar as cogitações dos forasteiros, enormemente fortalecidos F ela derrota dos adversários. Isto fica claro quando se observa, por exemplo, a cuidadosa é eficiente organização das tropas militares dos emboabas, anterior à eleição de Manuel Nunes Viana para o cargo de governador das Minas. Com efeito, uma das primeiras medidas do partido emboaba foi a criação de terços e infantaria de ordenança nos arraiais de Ouro Preto, Antônio Dias, Padre Faria e Ribeirão do Carmo, com a nomeação de capitães e mestres de campo. Nas palavras de Bento do Amaral Coutinho: “a

77

=

Era Bento de Amaral natural do Rio de Janeiro, alentado, porém tirano; com maior crueldade que valor havia feito na sua pátria muitos homicídios e insolências grandes, € 05 seus delitos o levaram para aqueles povos onde não havia justiças que o castigassem..º

Violento e facinoroso, Amaral Coutinho possuía, no entanto, bastante experiência Sm assuntos militares, o que ficaria depois comprovado por ocasião das incursões francesas ho Rio de Janeiro, sob o comando de Duclerc e Duguay-Trouin.

do

6. AHU. Manuscritos Avulsos do Rio de Janeiro (MARJ). Castro Almeida. doc.3149. Carta de Bento do EO Coutinho parao Governad or do Rio de Janeiro, no qual se lhe relata o levantamento que se dera

7. AHU

o os naturais da vila de S. Paulo e da Serra. Arraial do Ouro Preto, 16 jan 1709

Esto

a

3. ALENCASTRO, Luiz Felipe. O trato dos viventes: formação do Brasilno Atlântico sul, séculos XVI eXVIL

São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 239. 4 4. A historiografia de referência sobre a Guerra dos Emboabas é: VASCONCELOS, Diogo de. História antiga das Minas Gerais. Prefácio de Francisco Iglésias. Introdução de Basílio de Magalhães. 4a ed.; É ão Horizonte: Itatiaia, 1974; MELLO, J. Soares de. Emboabas: crônica de uma revolução nativista — documentos, inéditos. São Paulo: São Paulo Editora, 1929; GOLGHER, Isaías. Guerra dos Emboabas: a primeira guems

civil nas Américas. 2a ed., Belo Horizonte: Conselho Estadual de Cultura de Minas Gerais, 1982.

5. BLUTEAU, Raphael. Vocabulario português e latino. Lisboa: Oficina de Paschoal da Silva, 1712, Vi 2 p.7.

e E nastr Almeida. doc.2424. Consulta do Conselho Ultramarino, sobre o provimento do omnes Soo Ss tropa de cavalos da Colônia do Sacramento, que vagara por falecimento de

1700, ,

8.

Rn

Leonel Ee

a Gama Belles, Antonio Francisco da Silva, Manuel Gomes Taquenho, Lisboa, 16 dez

MARJ tros

es Xara, o a que eram concorrentes Luiz Antonio de Sá Queiroga, João Gonçalves

E

ao E

neida. doc.3 148. Carta do Governador D. Fernando Martins Mascarenhas de relata Os acontecimentos tumultuosos que se tinham dado nas Minas, e os atos

- AHU. MARJ. Ca Os pelo intruso governador Manuel Nunes Vianna, Rio de Janeiro, 18 fev 1709. e - Castro Almeida. doc.3095. Carta de Garcia Rodrigues Paes ao rei. Rio de Janeiro, 08 jan 10. PIT x da Roc A, Sebastião ha. História da América portuguesa. Belo Horizonte: Ita tiaia, 1976, p. 243.

78

SONS, FORMAS, CORES

E MOVIMENTOS

PARTE 1 - OS SONS, À SONORIDADE

NA MODERNIDADE ATLÂNTIC A

E AS

LINGUAGENS

DA CONQUISTA ATLÂNTICA

79

!

A tese de que o levante vinha sendo preparado havia algum tempo, com o objetivo de surpreender os paulistas, é também reforçada pela informação de Bento do Amaral Coutinhe sobre a existência de 16 arrobas de pólvora armazenadas em ranchos no arraial do Ouro Preto, que os paulistas tentariam em vão incendiar.” Também é bastante revelador da existência de um plano cuidadoso a estratégia emboaba de assegurar à vitória rápida e. minar a resistência dos adversários, priorizando a conquista de posições estratégicas,

es mais como Sabará, Ouro Preto e o Rio das Mortes — reconhecidamente as três regiõ 4 importantes — e que bem cedo caíram sob a órbita emboaba. desig; ar. para te levan o term ao em rrer reco os râne empo cont os de fato o ito Não é fortu

o que ficaria depois conhecido como Guerra dos Emboabas. Por toda a documentação: a a palavra setecentista, aparecem apenas as palavras levante e levantamento, quase nunc er, guerra. De acordo com Bluteau, a principal característica do levante consiste no seu carát aqui.!2 Assim, à osta prop tese a a obor corr que o m, moti o com aste contr em premeditado,

uma. derrota dos paulistas pode ser atribuída ao fato de que eles foram surpreendidos por “4 revolta cuidadosamente planejada e organizada. Para além disso é preciso também contemplar um segundo fator, mais decisivo ainda ão. que o anterior. Trata-se da incontestável superioridade numérica dos forasteiros em relaç

digno é de: aos paulistas, apontada por quase todos os observadores. O relato mais fide também, dadaa! mas o, regiã a ou visit só não que que, quer Albu de nio Antô D. de ia autor de fornecer sua larga experiência nos negócios militares, estava em melhores condições as forças cifras verídicas. Por ocasião do célebre encontro, na vila de Guaratinguetá, com or Bueno paulistas que marchavam a caminho do Rio das Mortes, sob o comando de Amad rior em supe tão lto: Plana do ns home dos ota derr a certa por tinha que quer Albu , da Veiga '3 Ademais, 08 número era o exército emboaba “que os havia de destruir e pôr em retirada”.

; Bahia da os vind ns home de nte inge cont de gran o com r conta ém tamb am podi forasteiros tem cuja estrada controlavam. Segundo D. Fernando Martins Mascarenhas de Lencastre, Nunes Vianal passo franco os moradores da Bahia com que se engrossa O seu poder [o de ao contrário, não stas, pauli Os * e”.' idad rior supe e o mand do ção ambi a s raíze ndo toma

momento decisivo. puderam contar com reforços vindos das outras vilas vicentinas, porque o ão das estaç a com idiu coinc — 1709 de ro janei e 1708 de mbro nove entre — ito confl do

chuvas, quando os caminhos ficavam “intratáveis”, especialmente o que ligava à Teg jão

abas mineradora às vilas paulistas." Os dados disponíveis indicam que as forças embo

contavam com um contigente de 2 a 3 mil homens. O provedor da Fazenda Real estimou petição à o exército de Nunes Viana em cerca de “três mil homens armados”.'º Numa

a Coutinho Coroa em recompensa dos serviços prestados por seu pai, Miguel Rangel de Sous observou que as tropas emboabas eram compostas por quatro mil homens.” Bento do Amaral Coutinho escreveu que, na primeira vez em que os forasteiros se reuniram diante

da casa-forte de Nunes Viana, havia dois mil homens armados." O governador D. Fernando Lencastre informou ao rei, em carta de fevereiro de 1709, que Nunes Viana comandava uma força militar de “três mil homens”, e que estava à espera do socorro de 600 homens que “vinham do sertão da Bahia”.'º Uma aproximação com a realidade demográfica da

o região mineradora permite apreender o peso desses números. Antonil estima a populaçã das Minas, entre 1707 e 1709, em mais de trinta mil almas.?º Em 1705, o desembargador

Toão Pereira do Vale comentava que “afirmam os de melhor inteligência que nas minas andam mais de 30 mil pessoas”.”: No mesmo ano, Filipe de Barros Pereira, escrivão do guarda-mor Garcia Rodrigues Pais, falava em 50 mil pessoas,? e tudo indica que este seja p número mais próximo da realidade. Considerações sobre a natureza premeditada do levante e sobre a superioridade numérica dos forasteiros não explicam, porém, o fracasso militar dos paulistas. Porque, para além da derrota no campo de batalha, não foram poucos os episódios em que os paulistas simplesmente recuaram, fugindo do combate, quando aparentemente tudo favorecia a sua vitória. Se no Sabará a maioria esmagadora dos forasteiros foi decisiva para o aniquilamento das forças paulistas, como explicar que no Arraial Novo, em que constituíam a maioria absoluta, pudessem sofrer o mesmo revés? Mais que isto, por que teriam eles abandonado o campo de batalha quando aparentemente estavam em melhores

15. LEITE, Aureliano. O cabo-maior dos paulistas na guerra com os emboabas. 2a ed. rev. e acresc. de outras

informações. São Paulo: s/e, 1961, p. 72. 16. AHU. MARJ. Castro Almeida. doc.3212 a 3225. Carta de Luiz de Almeida Correia d' Albuquerque a Diogo de Mendonça Corte Real. Rio de Janeiro, 06 fev 1709.

17. AHU. MARJ, n.13401. Requerimento de Miguel Rangel de Sousa Coutinho, no qual pede a propriedade

dos offícios de escrivão da câmara e de tabelião de notas da cidade do RJ em recompensa dos seus

Rs

18, E pac

Coutinho para O Governador do Rio, 11. AHU. MARJ. Castro Almeida. doc.3149. Carta de Bento do Amaral vila de 5.

ra os naturais da cont s Mina em dera se que ento ntam leva o a relat lhe se qual no de Janeiro, Paulo e da Serra. Arraial do Ouro Preto, 16 jan 1709.

Ada 12. BLUTEAU. Vocabulario português e latino, v. 5, p. 96. de d. Antônio de Albuquerque Coelho dê Carta doc.22. cx.1, Gerais. Minas de s Avulso ritos Manusc AHU. 13. O governador tentou demovel o! a, sec Fon da uel Man re pad o o und Seg . s/d. V o Carvalho ao rei D. Joã

para o que intentavam”. FONSECA, paulistas do seu intento, lembrando-os de que “eram poucos

=

do Brastes cia vín Pro da s Jesu de hia pan Com da es, Pont padre Belchior de A Manoel da. Vida do venerávels/d, p. 214. São Paulo: Melhoramentos,

s Mascarenhas & É tin Mar do nan Fer D. r ado ern Gov do ta Car 48. .31 doc a eid Alm tro 14. AHU. MARJ. Cas dado nas Minas, e 05 at os que se tinham Lencastro, em que relata os acontecimentos tumultuos

Janeiro, 18 fev 1707 de Rio . nna Via es Nun uel Man r ado ern gov abusivos praticados pelo intruso

ER

o

e dos que haviam prestado seu pai e irmão, Julião Rangel de Sousa Coutinho.

Castro Almeida. doc.3149, Carta de Bento do Amaral Coutinho para o Governador do Rio Iro, no qual se lhe relata o levantamento que se dera em Minas contra os naturais da vila de 5.

e da Serra. Arraial do Ouro Preto, 16 jan 1709.

19. Ro “ria

20. 21

Castro Almeida. doc.3147. Carta de d. Fernando Martins Mascarenhas de Lencastre ao rei.

aneiro, 14 fev 1709.

o nie João. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. Texto da edição de 1711. ie 1965Eos E Ra crítico de Andrée Mansuy. Paris: Institut des Hautes Etudes de I”Amerique * AHU. Ro E

s

Almeida. doc.3100. Carta do Desembargador João Pereira do Valle, sobre a

e Os quintos da Casa da Moeda do Rio de Janeiro, estado das minas e concessões. Rio de z 1705.

oiro

Almeida. doc.3108. Carta de Filippe de Barros Pereira sobre os descaminhos dos as minas e os meios suaves a empregar para se evitarem. Rio de Janeiro, 15 set 1705.

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

80

PARTE 1 - OS SONS, À SONORIDADE

condições de vencer a peleja? Seria, como quer Evaldo Cabral de Melo, “a demonstração definitiva da superioridade das “regras militares científicas” sobre a “ciência experim enta e. q a UE dos naturais da terra”? Seria o triste ocaso de uma arte militar baseada na gue se via então superada pela assimilação de preceitos bélicos mais modernos? Ainda queç partido emboaba adotasse técnicas típicas de uma mentalidade militar mais tradicional, baseada na organização sofisticada e no movimento disciplinado dos homens, eleja mais | ignorou o rico acervo de saberes guerreiros consolidado na América portuguesa, um

centros litorâneos, tudo isto em meio à violência cotidiana típica dos primeiros anos,

formavam um campo extraordinariamente fértil para a propagação de boatos. Havia ainda um outro fator decisivo. Ao contrário dos pequenos povoados e aldeias da Europa moderna,

que configuravam comunidades fechadas, em que o elemento forasteiro era praticamente ausente, nas Minas as sucessivas levas humanas que a todo momento engrossavam a multidão

paulista frente aos reinóis. Um fator invisível e insidioso, mas tão eficiente quanto um

arsenal bélico, teve aí um papel central. Trata-se do boato, decisivo no curso da Guerra dos Emboabas a ponto de alterar radicalmente o jogo de forças entre um e outro partido

E aqui cabem duas ordens de consideração: em primeiro lugar, é preciso definir o boato, de acordo com o léxico setecentista. A palavra boato vem do latim boare, que significa “berrar o boi”. De acordo com Bluteau, “usa-se boato metaforicamente, falando no estrondo da fama, ou de uma nova opinião, ou de uma cousa que se espera com grande alvoroço? Aduz como exemplo uma passagem do padre Antônio Vieira: “é para sentir não se te) conseguido a opulência que das mesmas minas desvanecidas com tanto boato se esperavam”.2* A acepção não é muito diferente da atual, definida nos dicionárioems circulação como “notícia anônima que corre publicamente, sem confirmação”. À segu ida ordem de consideração diz respeito àquilo que podemos chamar de mecânica do boato isto é, os efeitos almejados com a sua disseminação. Na Época Moderna, o boato se guie nesse caso, uma ordenação invariável: ele desencadeava o medo, o medo levava à ação, à

ação efetivava a revolta e o motim. Na linguagem política da época tinha um termo mike

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apropriado para designar semelhantes efeitos: é “sugestão”, entendida como a arte dé incitar a ação mediante a sugestão dos povos.” É por essa razão que, como bem mostrol

Antigo Georges Lefevre, o boato fazia parte do repertório político das populações do Regime, suscitando reações de medo que, no caso da Revolução Francesa, tiveram um papel decisivo na mobilização dos camponeses contra inimigos como coletores de impost os atravessadores de gêneros de primeira necessidade, agentes da justiça, etc.” Cumpre obs Ivai Ti o]

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que se a obra de Lefebvre consagrou o tema do Grande Medo, ela é também reveladora do quão presentes estavam os pequenos medos no cotidiano dos individuos, sempre asse Iago à disseminação de boatos sobre a alta dos preços dos gêneros alimentícios, sobre a cobi anca

violenta de impostos, sobre a chegada de exércitos inimigos, sobre o aparecimento repentino M

de hordas de ladrões, etc.

81

entre si, a inexistência de uma rede de comunicação eficiente, a grande distância dos grandes

Na verdade, o campo de batalha está longe de explicar suficientemente a derrota

y

LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

Nas Minas, as condições eram surpreendentemente propícias para a disseminação de rumores. O caráter difuso e rarefeito do povoamento, com os arraiais e povoados distantes

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de gente vaga e tumultuária — conforme uma expressão da época — conferiram à região um caráter aberto, instável e fluido, tornando-a apta à proliferação dos pequenos e grandes medos, suscitados pelas vagas incessantes da boataria. Disso resultou uma sociedade

organizada em bandos fortemente armados, à mercê dos potentados locais, em torno dos

quais os indivíduos gravitavam, numa relação clientelista em que a proteção e o amparo eram trocados pelo respeito e prestígio. Neste cenário inquietante, a violência alastrava-se

frequentemente sob a forma de vinganças espetaculares: casas eram incendiadas com seus moradores dentro, corpos eram esquartejados e exibidos como troféus pelas ruas dos arraiais; homens mutilados e desfigurados; mulheres estupradas e assassinadas.

Num contexto dessa natureza, os boatos transmudavam-se em poderosa arma de luta, assumindo foros de verdade certa e inquestionável e desencadeando ao mesmo tempo reações desesperadas. Afinal, na Época Moderna, o “ouvir dizer” não estava ainda descolado da realidade: nos tribunais civis e inquisitoriais, aceitava-se como testemunho fidedigno aquilo que se ouvira dizer, e que, na linguagem da época, confundia-se com a “fama pública”. Assim, o que se falava e o que se ouvia desencadeavam efeitos de verdade e, como numa gigantesca caixa de ressonância, disseminava ecos múltiplos e incontroláveis. * Ao longo do levante emboaba, os forasteiros souberam manejar com desenvoltura os rumores, valendo-se deles para conduzir os acontecimentos segundo a sua conveniência. A “Começar pela deflagração do conflito, quando era preciso encontrar um poderoso elemento “de combustão, suficientemente explosivo para mobilizar a multidão heterogênea de forasteiros em torno da figura de Manuel Nunes Viana. Para tanto, o partido emboaba espalhou o boato de que os paulistas estariam preparando o terrível massacre de todos os

forasteiros da região, passando-os todos a ferro. É bem revelador o modus operandi

imputado aos paulistas: “passar a ferro” era exatamente a tática paulista de execução de inimigos, como quilombolas e índios bravios. Manuel de Borba dá um testemunho precioso dessesEs prime iros incidentes: na ocasião, com o propósito de mobilizar os moradores dos

“aiais e concentrá-los no Caeté, o partido emboaba espalhou a falsa notícia de que a ida

do cunhado deJer ônimo Pedroso de Barros ao Sabará, na noite anterior, tivera por objetivo E senha para o levante paulista. Assim, quando mandou uma pessoa vender seus barris

ÉS aguardente, dizendo “vendesse logo por qualquer preço”, suas palavras foram

23. MELLO, Evaldo Cabral de. Olinda restaurada: guerra e açúcar no Nordeste, 1630-1654. São Pa e 2 Forense Universitária/Edusp, 1975, p. 248.

24. BLUTEAU. Vocabulario português e latino, v. 2, p. 133.

o 25. BLUTEAU. Vocabulario português e latino, v. 7, p. 778. ro z J de Rio a. Frances ão Revoluç a e eses campon os 1789: de medo grande O . Georges RE, LEFEBV 26. ” sm

Campus, 1979.

2

mi.

retadas como a senha com que os paulistas iniciariam o massacre.” O famigerado

27. AH.

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Martins

Castro Almeida. caixa 15, doc.3214. Carta de Borba Gato ao governador D. Fernando

ascarenhas de Lencastre. Minas do Rio das Velhas, 29 nov 1708.

SONS,

82

FORMAS,

CORES

E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

o da Traição, Bento do Amaral Coutinho, responsável mais tarde pelo episódio do Capã no

descreveu o pânico que se alastrou no Sabará:

poder me negue a obediência, e em caminho impeça o passo, vendo-me com muito menos

n io Antô e o Pret Ouro do iais arra s este ruir dest e ear saqu a e noit uma dar vam ira “consp e de Dias, matando tudo o que pudessem matar, por serem mais importantes”. Uma séri s: cartas ista paul dos os ósit prop dos ca uívo ineq a ênci evid a o com tada rpre inte foi indícios

da que foram interceptadas, o relato de um paulista poderoso que se recusou à participar indicar, cia pare Tudo etc. o, Pret Ouro no ora pólv de hos ranc dos ima que a ção, conspira protagonizado por de acordo com os sinais e boatos, a iminência de um grande massacre em assembléia paulistas enfurecidos: nas versões do padre Manuel da Fonseca e Rocha Pita,

alto combinaram que Plan do ens hom os , 1708 de ro emb nov de fim no a izad real tada, como a das massacrariam todos os forasteiros no dia 10 de janeiro, “em hora ajus Vésperas Sicilianas para Os franceses”.? 4 D. Fernando Martins) Também o boato foi decisivo na expulsão do governador ativa malograda de tent ra mei pri a num as, Min às gem via em e, astr Lenc de as enh Mascar idéia de quea apaziguar as dissensões. O seu plano apoiava-se, em grande parte, na eito nos resp e or tem ndir infu para te cien sufi a seri r ado ern gov um de ça simples presen nariam as ndo aba logo , tava esen repr que er pod do te dian os nad sio levantados que, impres r sobre o assunto, armas e render-lhe-iam submissão. Na reunião da Junta para delibera eito podia atalhar anta resp , ença pres sua m “co que de tese a e ent dam rra afe era end def ele

apresentar ruína, sossegar aquele levantamento e motim”. E, por essa razão, cuidou de se “aqueles oficiais € igo cons o and lev , ava ent res rep que er pod do os bol sím dos o investid eM governador d um de eito resp nça ura seg para ios ssár nece rão ece par soldados que me

isso, ante bast não Se ”.º” ltas incu es gent com ções sedi as tant e entr ão sert no Majestade mpanhar de apesar do “inculto e agro dos caminhos em tempo de águas”, ele se fez aco

e outros OL ciais s hia pan com tro “qua com a cid rne gua ,” tiva comi nte one imp e uma lustrosa

nando que Fer D. de tiva comi a era nde gra tão o, coev to rela um o da sua guarda”.*2 Segund Coutinho para o Governador do Rio ral Ama do o Bent de a Cart 49, .31 doc a. eid Alm ro 28. AHU. MARJ. Cast rais da vila de»

em Minas contra Os natu de Janeiro, no qual se lhe relata o levantamento que se dera

a Paulo e da Serra. Arraial do Ouro Preto, 16 jan 1709. a de Jesus "A anhi Comp da s, Ponte de ior Belch padre ável vener do Vida da. el Mano Pe. 29. FONSECA, portuga São Paulo: Melhoramentos, s/d, p. 208 e segts. PITA. H istória da América ESA

E.

ã0 Ea Martins Mascarenhas de Lencastre do nan Fer D. de a Cart . 3147 doc. ida. Alme ro Cast J. MAR . 30. AHU = Rio de Janeiro, 14 fev 1709. 242.

de Lencastre â0 E” enhas Mascar Martins do Fernan D. de Carta 7. doc.314 . 31. AHU. MARJ. Castro Almeida

Rio de Janeiro, 14 fev 1709.

32. PITA. História da América portuguesa, p. 244.

expectativa de fazerem bom negócio e cobrarem o que lá tem”.

ervara que “o não temer uma reação emboaba: em carta ao rei, pouco antes de partir, obs me dar parte € notícia Manuel Nunes Viana destes excessos e provimentos me faz recear

os paulistas que de cia notí à com s, nido defi mais s orno cont do han gan foi O boato

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partir, “com a m era olv res tos mui que por , iro” Jane de Rio io “me oar pov ameaçou des

Apesar da lustrosa e numerosa comitiva, D. Fernando tinha motivos suficientes para

os emboabas, que Houve notícia [que] juravam os Paulistas passar a ferro frio todos o entre eles na conquista assim chamam aos nossos Portugueses assistentes por aqui, estil do gentio mui antigo.”

Província do Brasil.

83

LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

OS SONS, A SONORIDADE E AS — E 1 T R A P

luto das minas”. por se conservar nas honras e respeito de governador e senhor abso erno emboaba, D. Cauteloso, em vez de seguir diretamente até o Ouro Preto, sede do gov

primeiramente o-se gind diri po, Cam do a Bord a até o Nov o inh Cam o ar tom eriu Fernando pref . O fato é 1709 de l abri em gou che e ond , ista paul a ori mai de es, Mort das Rio à região do que a estratégia equivocada deu tempo para que a eficiente máquina emboaba de boatos am propagasse rumores sobre um suposto castigo aos seguidores de Nunes Viana, que seri ou ade enc des a obr man A iro. Jane de Rio do s uço abo cal aos s ente corr em s ido duz con e presos

arápida mobilização dos emboabas, que se apressaram em opor resistência ao governador

e sua comitiva. Além disso, a negociação com os partidários de Nunes Viana, ainda no Rio das Mortes, e não com o próprio, foi interpretada como uma recusa de D. Fernando em lhe reconhecer a autoridade e, por conseguinte, a disposição em não negociar. No Rio das Mortes, a chegada de uma comitiva reluzente aos sertões distantes impressionou os moradores, que salvaram o governador com uma descarga de tiros, conduzindo-o até a casa da aposentadoria, enfeitada com bandeiras de armas reais, 'e se lhe fizeram luminárias três noites sucessivas”.*º” Como observou um contemporâneo, “e assim foi recebido com estas demonstrações de súditos a seu governador e lugar-tenente da Majestade”.3º Logo depois de sua chegada, D. Fernando lançou um bando convocando todos moradores a se apresentarem diante dele, “e aparecendo o governador, fez a todos Sua prosa: estranhando semelhantes revoluções e contendas, como se não fossem todos portugueses, vassalos do mesmo príncipe”, pedindo que cada um dos partidos nomeasse os | procuradores, para “que entre si satisfizessem queixas e, esquecidos do passado, assentassem em um modo de viverem em boa harmonia, e que a ele fizessem aqueles Seus

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ser necessários para a concordância dela que a todos escolhido para ser um dos procuradores dos emboabas, ei ç passou na ocasião. Depois de reunidos o ee ii

entendessem de a

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29 governador, que o aceitou bem A

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so pai oispoiae principalment guns negócios,

33. AHU. MARJ - Castro Almeid] doc. 3220-3225. Carta de Domingos Duarte de Carvalho a Manoel Mendes a.

. 09 17 n ja 23 o, ir ne Ja de MJaAneir- o,Cast18ro feAlv meidoa. doc.3148. . C Carta de

eRi:o de

: D. Fernando Martins Mascarenhas de Lencastre ao rei.

““Históri a do distrito ir do RioRi das Mortes, sua descrição, descobrimento das suas minas, e casos nele atôntecid e ereção das suas vilas”, in Códice Costa Matoso. Coordenação e ps geral de Luciano “E eida Figuereo e Maria Verônica Campos. Belo Horizonte: Fundação João Pinhe; 51999. p 254 ”

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36. . “Histótóriria do O didis sttri rito do Rio das Mortes...”, in Códice Costa Matoso, p. 234.

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SONS,

FORMAS,

CORES

E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

ATLÂNTI

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PARTE 1 - Os SONS, A SONORIDADE

Minas Gerais”, não sem antes formar cinco companhias, quatro de infantaria e uma de cavalos, nomeando por sargento-mor a Ambrósio Caldeira Brant. Em vista dos crescentes

perigo

O recrudescimento dos boatos sobre a intenção de D. Fernando de castigar os levantados.

“nara cujo fim levava algemas e correntes”, e a notícia de sua chegada iminente

mobilizaram as tropas emboabas, que o foram esperar no sítio das Congonhas, a quatro:

léguas do Ouro Preto. De acordo com Rocha Pita, “se lhe apresentaram no alto de uma! colina em forma de batalha, a infantaria no centro, e a cavalaria aos lados”, o que evidenciava a disposição de resistir à entrada do governador.” Segundo um anônimo,

Manuel Nunes Viana, que exibia o “seu bastão alvorado como capitão-mor da vila do os Penedo”, aproximou-se de D. Fernando para alertá-lo que, caso intentasse destituir nomeados aos cargos e patentes, o povo impediria a sua entrada. Disposto a não transigik; fez, ao governador não restou alternativa senão recuar e voltar ao Rio de Janeiro, o que

para surpresa e estupefação de todos.!º Uma das versões mais curiosas, também de auto ia

anônima, assim descreve a sua retirada: “e tão soberbos ficaram que correram com 0

ao governador do Rio de Janeiro, que veio a estas Minas apaziguar, e no Campo lhe foram

encontro, que escapou por milagre, deixando a sua comitiva muitos dias atrás para poder escapar, porque o alarido com que lhe tomaram os passos foi tão excessivo de caixas,

clarins e muitos mil negros armados de espadas, catanas e armas de fogo que, ainda que

tivesse esforço para resistir ao ímpeto dos negros, não escapava dos infinitos brancos que eram ou estavam como leões”.“! Uma outra versão anônima, que coincide com as anteriores; acrescenta um detalhe interessante: “e, com efeito, toda a gente que estava de guarda ao

dito Viana clamava com vozes descompostas: “Fora, Dom Fernando, e venha o nº Sso, governador!”, dando a este muitos vivas, e descompuseram ao senhor Dom Fernando, O 1 qual logo se retirou para o seu governo”.* Um documento é particularmente elucidativo do contingente do exército emboaba

com que o governador se defrontou. Segundo o filho de Julião Rangel de Sousa Coutinho,

um dos procuradores paulistas do Rio das Mortes, seu pai acompanhara o governador

fugindo de um exército de mais de quatro mil homens:

traição.*

Um dos episódios mais desconcertantes da Guerra dos Emboabas é certamente a retirada paulista no Rio das Mortes. Por ocasião do cerco ao Arraial Novo, tudo favorecia

a vitória dos paulistas: depois de oito dias, as forças emboabas debatiam-se com a falta de munição e de víveres e já contemplavam a possibilidade de uma rendição. Eis que, no nitavo dia, os paulistas simplesmente batem em retirada, deixando para trás o inimigo perplexo. Novamente aqui o boato desempenharia um papel decisivo. Segundo um contemporâneo, “mas desvaneceu-se este cuidado com a notícia de que eles, com vergonhosa

fugida, seguiam o caminho de povoado. Bem poderia ser esta apressada fuga por algum aviso que recebessem de que a gente das Minas Gerais vinha com acelerada marcha a

socorrer o Rio das Mortes. Fosse pelo motivo que fosse, eles, paulistas, sem passarem do Rio das Mortes, depois de quatro dias e quatro noites de marcial contenda, desfeito o bloqueio, deram contas, deixando abatida pela fuga aquela soberba com que, altivos, entraram a ela, tendo-se comprometido, extintos os emboabas de todas as Minas, capitularem com o soberano sobre o governo delas ser muito a seu arbítrio. Junto com a queda da soberba perderam também o respeito do seu honroso nome depois de tantos anos pelas suas insolências adquirido”. Segundo o padre Manuel da Fonseca, correu o boato de que Um socorro de “mil e trezentos homens, que do Ouro Preto, marchavam a socorrer os sitiados”.*º Para além destes exemplos mais pontuais, o boato esteve presente de forma difusa e não menos decisiva na estratégia bélica dos paulistas, imensamente prejudicada pelos

Mumores sobre a esmagadora superioridade numérica dos forasteiros. Afinal, a ação militar

dos homens do Planalto baseava-se no exame cuidadoso das táticas do adversário, no Conhecimento daquilo que chamavam de “disposições dos países” e nas suas formas de a é resistência. Nos Palmares, por exemplo, viram-se obrigados a aprender rapidamente as traças, astúcias e estratagemas” dos inimigos. Para os paulistas, o grande desafio de

Palmares foi adaptar as suas estratégias de luta ao eficiente sistema de fortificações com

! 43. AHU R

37. “História do distrito do Rio das Mortes...”, in Códice Costa Matoso, p. 234 e segts. 38. PITA. História da América portuguesa, p. 244.

portuguesa, p. 244. 39. PITA. História da América . E : É Eras E e memorá mais coisas algumas de sucessos os e Gerais 40. “Relação do princípio descoberto destas Minas

de vida, por cuja causa perdeu todos os seus bens que possuia e todas as

mil homens, só pelo motivo de não querer ser o pai do suplicante seu parcial na referida

'

a partir dos quais é possível, contudo, reconstruir os acontecimentos em suas linhas gerais,

85

DA CONQUISTA ATLÂNTICA

e não conveniências que tinha naquelas Minas, na lavoura do ouro, em que se ocupava foi bastante ver que por esta causa conspirava contra a sua vida um corpo de mais de 4

boatos sobre a disposição do partido emboaba em barrar-lhe a entrada nas Minas Ger; el os moradores ofereceram-se para acompanhá-lo, mas o governador recusou o oferecimento. Infelizmente, não se tem notícia da correspondência de D. Fernando ao rei sobrea sua jornada às Minas. O que se sabe a esse respeito provém de relatos de interposta

LINGUAGENS

se ausentou das Minas em companhia do dito governador, correndo nesta fuga evidente

este de sua maior obrigação e cuidado, determinou o governador a sua partida para as

dirigindo-se então ao âmago do governo emboaba.º”

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veis.

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que sucederam de seu princípio até o tempo que as veio governar o Excelentíssimo Senhor Dom Brás da Silveira”, in Códice Costa Matoso, p. 199. 41. Notícia do que ouvi sobre o princípio destas Minas, p. 219. 42. “Relação de algumas antiguidades das Minas”, in Códice Costa Matoso, p. 223.

Eo - Castro Almeida, doc.13.401. Consulta do Conselho Ultramarino sobre a pretensão de

Seia de Sousa Coutinho, a que se refere a seguinte petição. Lisboa, 30 ago 1748. O distrito do Rio das Mortes, sua descrição, descobrimento das suas minas, casos nele acontecidos as. DS e emboabas e ereção das suas vilas, p. 239. 46.

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- Vida do venerável padre Belchior de Pontes..., p. 218.

Requerimento

de todos os Oficiais e sold que aos pés de VM. humildemente prostrado faz em seu nome, e em aquele

ados do terço de Infantaria São Paulista de que hé Mestre de campo Domingos Jorge O, Que atualmente serve aV M. na tani guerra dos Palmares, contra os negros rebelados nas capitanias

de Pernambuco (doc. 54).

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SONS,

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FORMAS,

CORES E MOVIMENTOS

NQUISTA ATLÂNTICA CO DA NS GE UA NG LI AS E DE DA RI NO SO A S, SON PARTE 1 — OS

NA MODERNIDADE A

verso do que di o it mu a, ig rr Ba da a rr Se na es posiçõ que os palmarinos defendiam suas te ao en lm ta on fr € ga ce ar ss me re ar se em e consistia at mb co de ilo est jo cu , os di ín os am zi fa os paulis a do ce m be a, ir ne ma er qu al qu De ificando. ataque, jamais recuando ou se fort igos. im in s do s ca ri mé nu s õe ns me di s da ta e objetiva is al re o çã ia al av a um am er nd ee pr em do inimigo. a a ci ên st si re de de da ci pa ca à r adaptada estabelecendo uma tática milita razão das em , io íc in o e sd De u. ce te on ac não Na Guerra dos Emboabas, isto pa istas Os , to en am vo po de a rm fo à s região, ligada da as ic ít ol op ge es ad id ar ul ic rt pa do contingente o nt ta es çõ or op pr s ai re as r na mensio tiveram grande dificuldade em di ao ar or pl ex e ub so a ab bo em o id rt pa O fogo. de r de po o iv et ef u se do to an qu o, ig im in as consistiu ab bo em s do ” ia úc st “a l pa ci in pr tas. E a máximo esta fraqueza dos paulis um de o sã es pr im a s io ár rs ve ad s ao r boatos para da s do o mã ar nç la em te en am is ec pr , no Rio vo No l ia ra Ar no mo Co . te en am iv et ef e o era contingente militar muito maior do qu ente in im a e br so as ls fa s õe aç rm fo in com sagacidade ar or pl ex am er ub so es el , es rt Mo das plificando am , as ab bo em as op tr s da o rr co so rchavam em chegada de grandes reforços que ma ter sobseu de em ag nt va a m co a nd ai am av nt Estes co a capacidade bélica dos forasteiros. a ad tr en de a rt po l pa ci in pr a , ra do ra ne gião mi re à a hi Ba a va ga li e qu o nh mi ca o r de da po ntos ca os s do to de e pa ro Eu da víduos oriundos di in m ía lu af de on r po s, na Mi para as América portuguesa. gime, o boato Re go ti An do es çõ la pu po s da política Presente no repertório da ação emp 0, ex r po , os di ín Os ra nt Co s. ta is ida dos paul ec nh co mbe ca ti tá a um a er ém tamb crevendo em 1676, João LoDes com O boato. Es do ci re pa o it mu l di ar um de o lançavam mã por eles: o ad eg pr em a em ag at tr es o ve Serra assim descre

mor está próximo otã pi ca o e qu em ng fi s ele , os ar Os bárb Tão logo as bandeiras encontram todos mortos am ri se o ri rá nt co so ca , ia ár ição é necess com mais tropas e que sua rend em alguns do an ir at a ic if gn si o iss e qu o er entend pelas armas de fogo — e O fazem eles se Se . os ar rb bá s ao e nt me de an que assusta gr animais, que eles matam, coisa e se espalhem qu o sm me o rã ui eg rs pe os e qu entender rebelarem, os paulistas fazem-nos

|

levante paulista de an gr um de ro ct pe es o , as or at tr de s diante dela. Apartir destas formulaçõe dígenas in de es ar lh mi r ma zi di a s do ma tu os ac ns ou de um massacre protagonizado por home s medos que do ro nt co en ao do in s, na Mi s da s re do ra mo aos e ceu muito convincent sustadores s as en ag im as am av oc ev e qu e a oc ép e da ad id al nt me s na deitavam raízes profunda de homens selvagens. iro em ne Ja de o Ri ao ar eg ch m a ra ça me co só a ab bo em e Os rumores sobre O levant da sobretudo va ra ag , ra do ra ne mi ão gi re da a ci ân st di fins de dezembro de 1708. A longa to do en am ch fe o e , as uv ch s la pe s do ca fi ni da te an pelo péssimo estado dos caminhos, bast nos fugidios or nt co io ód is ep ao ir er nf co ra m pa ra re or nc co Caminho Novo pelos paulistas” agosto de 1709, em e nt me so m ia ar eg ch as ci tí no s ra ei im pr e imprecisos. EM Lisboa, as es, escritas ar ul ic rt pa de as rt ca r e po nt me ra ei im pr s do va também sob a forma de boatos, le ra. Por essa er gu de na zo da s te an st di o it mu m va ta es e no Rio de Janeiro por homens qu e tendiam a qu o, mã ra ei rc te e a nd gu se s de õe aç rm fo in razão, suas fontes provinham de stadoras. Falavasu as e eis rív ter es çõ or op he pr -l do in er nf co to, fli con exagerar a dimensão do eiros de st ra fo s do o an pl no s, do la os s bo am de de da an se, por exemplo, numa grande mort de quinze mil is ma r po o ad rm fo a, ab bo em to ci ér ex de an gr m ” queimar os paulistas, nu ntra-ataque.” co o ra s pa ta is ul pa mil z de de is ma o de çã za li bi homens“ e na mo e também seria qu er qu bu Al r po da ta ce o en çã ca fi ci pa de ia ég at tr Mais tarde, a es emboaba — e pouco ão cç fa la as pe id uz od s pr õe rs ve s da a Um . os at bo s e re mo vitima dos ru rnador a um ve go ra do do ca fi ci pa ão ss mi ia a ar ci so as — em ag ss pa e de verossímil, diga-s abas, dando a entender a bo as em nç ra de is li pa ci in pr as e ele e tr o en ad rm fi io év pr do acor autoria de de s. É ta is ul pa ar os ig st ca ão de iç os sp di s a ro e ei st ra fo s lo sua simpatia pe rnaria a matriz de Rocha Pita a formulação mais conhecida desta idéia — aquela que se to tantas outras. Segundo ele: , não Considerando todos os homens de melhor discurso assistentes naqueles povos to, mas por poderia permanecer o governo de Manuel Nunes Viana, não por injus

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pelo sertão.

nada 0H o uc po s, ro ei st ra fo s do os at ina de bo qu má sa io ig od pr da m, ré po , te Dian ção do za ni ga or e o çã za li bi mo de pacidade

pela alta ca os id nc ve s, ta is ul pa os m ra de io 49 ár pu in ag im e nt ue fl in e o lh ve do valendo-se . so is só a er o nã s Ma s. io ár rs seus adve Ee rm fo as ab bo em OS o, çã za li vi ci so às regras da es av , el fi in e o ar rb bá mo co ta paulis sombrios, º ns to em o lt vo En e. nt va le política do ão aç ic if st ju de so ur sc di o ad um sofistic aparentac” e, nt ta ie qu in e so go ri pe o ig im in um como a 6 es pr paulista emerge do discurso emboaba em a bo ca a r va le de z pa essa razão, inca r po e , os tr ns mo e s ra fe s da é no t o universo ou ab ac s, re mo ru e os at bo r fundida po di , em ag im ta Es . ão gi re da o çã coloniza rou O pe a ge e qu o mp te o sm me ao , to al nte do Plan ge à ra nt co s io ód os r ba er ac ex por ão nordeste rt se do o çã za ni lo co à e s na ge dí bárbaros: povos in dos ra er gu A o. dr Pe I, ON NT PU 47. FAPESB 2002, p. 200. p/ us Ed c/ te ci Hu o: ul Pa o Sã 0. 1650-172

87

do Brash

o ao ilegítimo, e que o nosso augusto monarca, justamente irado por não terem obedecid

seu lugar-tenente, castigaria a todos os cúmplices naquele procedimento, quiseram antecipar a sua obediência à resolução real, chamando para o governo das Minas ao novo governador do Rio de Janeiro. Deram parte deste intento a Manuel Nunes, que

48. AHU. MADeRJ.

€ el a. doe.3220 a 3225. Carta de Domingos Duarte de Carvalho a Manu id me ro Al - Cast

ra

jan 1709. 23 o, ir ne Ja de o Ri a. ab bo em sobre o levante

rtandade mo a it mu rá ve ha o ei cr s, ta is ul pa os r ma a vir os emboabas abaixo a quei de parte a rvalho a Manuel Ca de te ar os Du ng mi Do a de rt a. Ca id me Al ro st . Ca U. MARJ Pereira cr iro, 23 jan 1709. 50. “Manuel a E re o levante emboaba. Rio de Jane m levantado

49. “E agora

todos os postos

campanha “a

a

ns, e para os reger, se te dizem, se acha com mais de quinze mil home a armas, ou e que estão entrando, e saindo de guarda, como se fora uma praç de

sort

a de Manuel preceitos militares”. AHU. MARJ. Castro Almeida. doc.3220 a 3225. Cart ME Sousa sob ce enbonta Rio de Janeiro, 16 fev 1709. MAR) ER te de Carvalho a Manoel Mendes ar os Du ng mi Do a 5. de rt 22 Ca -3 20 32 c. do o Pereira. Rio de e de Janeiro,

erque. Rio qu bu Al a d' ei rr a Co id me Al de is Lu de a rt Ca ; 06 fev 1709: Carta d Ee 3 jan 17ne09iro remetida para as Ilhas. Rio de Janeiro, 10 fev 1709. o Rio de Ja

88

SONS,

FORMAS,

CORES E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

A

PARTE 1 - OS SONS, A SONORIDADE E AS

LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

posto se presumisse o chegou a sentir, não faltou em o aprovar, e com o seu parecer | |

: De acordo com Carla Anastasia, a estratégia foi bem-sucedida

secretário de Antônio de Albuquerque no governo do Maranhão. Por ele com repetidos |

do No Caeté, os oficiais mecânicos levantaram-se contra a imposição da nova taxa, acusan

enviaram a Fr. Miguel Ribeira, religioso de Nossa Senhora das Mercês, que haviasido

ados da Câmara. O o Conde de adotar medidas para as Minas sem antes ouvir os Sen

| | rogos e cartas de Manuel Nunes e das pessoas principais lhe pediram fosse às Minas, onde o esperavam com alvoroço e obediência, fiando das suas disposições o sossego e ! sujeição (em que desejavam viver) a todos os preceitos del-rei e ordens dos seus | governadores.

el Ri bei ro, Segundo Rocha Pita, em sua jornada Albuquerque teria topado o frei Migu

que lhe “entregou as cartas, e O certificou, de que conforme a elas acharia os

ânimos de

todos aqueles Povos, os quais com grande alvoroço, e contentamento o esperava m”.2

Assim, o encontro entre os dois governadores teria sido iniciativa do governo emboaba que, por meio do frei Miguel Ribeira, negociara a rendição de Nunes Viana e a transmissão

do governo a Albuquerque. Semelhante versão aparece também em Belchior de Pontes mais que certamente a extraiu de Rocha Pita, repetindo-se em outros autores, dos quaiso

importante é, sem dúvida, Diogo de Vasconcelos.” Sobre ela, há dois aspectos a ponderai

sublinha em primeiro lugar, trata-se de uma interpretação pró-emboaba, na medida em que

89

confirmar a motim foi se espalhando pela Comarca do Rio das Velhas, o que parecia opinião do governador de “quão sumamente importante [era] cortar os membros pobres ”.* para que não [passassem] herpes aos demais

Este é apenas um exemplo em meio a tantos outros em que a disseminação de boatos atuou como uma arma eficaz na prática política dos moradores das Minas no século

XVIII. Proveniente do repertório político do Antigo Regime, a estratégia do boato põe em evidência uma faceta pouco explorada da Guerra dos Emboabas: foi em meio aos medos luta furiosa e boatos que os protagonistas desta história se movimentaram, irrompendo em contra seus inimigos potenciais, ou preparando diligentemente a resistência ante uma

ameaça intangível, mas suficientemente verossímil a ponto de influenciar decisivamente

os rumos de um conflito armado.

e o poder ao a fidelidade incondicional dos levantados, dispostos a devolver pacificament

governador; por outro lado, o fato de a correspondência de Albuquerque jamais faze

ment alusão a qualquer tipo de negociação prévia com os emboabas, não implica necessaria que ela não tenha existido, afinal, não se dava a saber tudo a todos. O ardil do boato seria definitivamente incorporado ao repertório político das Minas

reaparecendo em inúmeras revoltas e motins que ali tiveram lugar ao longo do sécule

quê XVIII. Nunes Viana, por sua vez, viria a se notabilizar pelo modo engenhoso com os ânimos conta recorreria ao rumor para mobilizar as populações locais, galvanizando

motim de Barra de governadores e autoridades. O episódio mais curioso é certamente O

ele — de que Rio das Velhas, deflagrado com a notícia — inventada e disseminada por

oNi negr cada sobre cento por dez de to tribu um r lança a es prest ia estar mar Assu conde de nova lista dos quintos. Na versão do governador: os, Pior foi a cizânia que semeou de que eu queria impor dez por cento além dos quint cento sê explicando esta matéria como se a soubesse radicalmente, dizendo que dez por s, das compras de entendia da farinha que se comia, das vacas, das vendas dos negro

]

que da vila do Caeté terras, e de tudo o que se comia, se bebia e se vestia, e constam

s semelhantes | outra e estas ando seme país este todo para ários emiss s vário am saír quintos.” / vozes, pondo pasquins em varias partes para que morresse quem pagasse

52. PITA. História da América portuguesa, p. 249.

= 53. VASCONCELOS. História antiga das Minas Gerais, 20 vol., p. 72. e capitão-gels” 54. AHU. MAMG. Caixa 2, doc.3. Carta de D. Pedro de Almeida e Portugal, governador s de Manuel Nu o de São Paulo e Minas, para D. João V informando sobre os maus procedimento Viana, que dera início a uma sublevação. Vila do Carmo, 08 jan 1719, f1.7v.

y

ss.

ESA

Ribeirão do C iva nas

ce 11. Carta de D. Pedro de Almeida para o ouvidor geral da Comarca do Rio das Velhas.

e dez 1718, 1.86, apud ANASTASIA, Carla M. Junho. Vassalos rebeldes: violência primeira metade do século XVIII. Belo Horizonte: C/Arte, 1998, p. 110

DO

o

esa

mio

=

O som NA CATEDRAL DE MARIANA NOS sécuLos XVIII E XIX

Paulo Castagna

trodução Em

-

E prática musical mineira foi inicialmente estudada, do ponto de vista musicológico, C Pesq uis: dor teuto-uruguaio Francisco Curt Lange. A partir de 1944, esse autor publicou zenas de trabalhos sobre o assunto e estabeleceu uma tendência que ainda pode ser rcebida nos estudos recentes sobre essa questão. A grande preocupação de Curt Lange

levantar uma grande soma de informações para demonstrar a existência de uma prática iisical erudita” desde os primórdios da colonização, embora nem sempre se preocupasse st à interpretação. Paralelamente, o pesquisador concentrou seus estudos em torno da nara e das irmandades de Vila Rica, apesar de ter produzido importantes trabalhos entes a outras regiões mineiras e brasileiras.

E maior interesse pelas informações históricas do que propriamente pela música fez pe A Lange recolhesse uma grande quantidade de manuscritos musicais, mas 2Isse Muito pouco sobre os mesmos. Além disso, as relações que Curt Lange estabeleceu eStntormações históricas e os manuscritos musicais também não gerou uma integração

esmos, fazendo com que o conhecimento sobre a música antiga brasileira

*S Múlto

em torno de obras e autores, com predileção pela abordagem biográfica.

— »SBUmte realizou várias pesquisas referentes a cidades com as quais Curt Lange Dalhado, porém o estudo das particularidades da prática musical em torno o = que contratavam música está apenas se iniciando, embora já conte com Fim

es

ar |

ET

“Baihos, como os de André Cardoso.

“9 nViSa apresentar um panorama da prática musical em torno da Catedral de

g E:

e. jo Men a”

a

te os séculos XVIII e XIX, a partir das informações até agora conhecidas e o concentrando-se na atividade dos organistas e mestres da capela Su da música, no repertório lá executado e na documentação musical O final do século XX, essa instituição não havia sido suficientemente 1)

aos

é

Ê

E

*

92

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTIC

estudada do ponto de vista musicológico: Curt Lange nem teve acesso aos documentr

referentes à Catedral na fase mais intensa de suas pesquisas em Minas Gerais, pois. | Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana (inaugurado em 1965) ainda não estava organizado e os pesquisadores que o seguiram preocuparam-se com cidades como Oura Preto (Vila Rica), Tiradentes (São José del Rei), Sabará, Itabira e outras, ficando Me E.

PARTE 1 - Os SONS, A SONORIDADE E AS

Instituídas em 1745 pelo Papa Bento XIV as dioceses (e, consequentemente, as catedrais) de são Paulo e Mariana foram as últimas a serem instaladas no Brasil no século xvIII, precedidas por cinco outras catedrais, respectivamente em Salvador, Olinda, Rio de “Janeiro, São Luís e Belém (quadro 1).

“A

fora do foco principal de atenção musicológica.

Quadro 1. Dioceses brasileiras (1551-1900)

Nos últimos anos foi possível reunir informações até então desconhecidas sobre ; prática musical cateralícia marianense, que permitem analisar o crescimento da ativida é

|

musical no século XVIII e seu declínio no século XIX, bem como a produção de alewn: autores, especialmente João de Deus de Castro Lobo, o mestre da capela dessa catedra (provavelmente de 1824 a 1832), do qual foi preservado o maior número de comp osições

Diocese 25/02/1551

Bula

| São Salvador (Bahia)

Super specula militantes Ecclesic

Júlio HI

Super universas orbis Ecclesias

Inocêncio XI

Candor Lucis ceterne

Bento XIV

Sollicita Catholici gregis cura

Leão XHI

“Vinocêncio XI Ad sacram Beati Petri sedem 16/11/1676 | Olinda (Pernambuco) |S. Sebastião do Rio de Janeiro | Romani Pontificis Pastoralis solticitudo Inocêncio XI 16/11/1676

30/08/1677 | São Luís do Maranhão

musicais.

04/03/1719 | Belém do Grão Pará

06/12/71 Tás.

Mariana (Minas Gerais)

06/12/1745 | São Paulo

Mestres da capela da Catedral de Mariana

15/07/1826 | Cuiabá

15/07/1826 | Goiás

A música religiosa em Minas Gerais nos séculos XVIII e XIX era principz mente encomendada pelas câmaras, pelas catedrais e pelas irmandades ou ordens terceiras sendo acumulada por músicos ou corporações de músicos. Raros são os casos nos quais

07/05/1848 |S. Pedro do R. G. do Sul 06/06/1854 | Diamantina (MG) [6/06/1854 | Fortaleza (Ceará) 2704/1892 | Curitiba (Paraná)

foram preservados acervos musicais e informações históricas referentes a uma mesm: instituição, destacando-se, no Brasil, as catedrais de São Paulo, Rio de Janeiro e Ma iang

27/04/1892

| Niterói (Guanabara)

2704/1892 | Amazonas 27/04/1892 | Paraiba

algumas irmandades cariocas, alguns mosteiros ou conventos regulares, e algi mas

15/11/1895 | Espírito Santo

corporações musicais das cidades mais antigas. A Catedral de Mariana (figura 1) é a mais

04/08/1900 | Pouso Alegre (MG

:

Celemente XI

Copiosus in misericordia —

Bento XIV

[ Candor Lucis eeterne

Sollicita Catholici gregis cura

[Ad oves Dominicas Grovissimum solicitudinem Pro Animarum Salute Ad universas orbis Ecclesias

| Leão XLII Pio XI Pio IX | Pio IX Leão XIII

Ad universas orbis Ecclesias

Leão XIII

Ad universas orbis Ecclestas Ad universas orbis Ecclesias

Leão XI Leão XI

Postremis hisce temporibus

Leão XII

| Sanctissimo Domino Nostro

02/07/1900 | Alagoas

antiga instituição mineira da qual foram preservados um acervo de manuscritos musicais e informações históricas sobre a prática musical, atualmente concentradas respective ment

no Museu da Música de Mariana e no Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana

93

LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

Regio Latissime Patens

Leão XIII

o

Leão XIII

Assim como em todas as outras catedrais do mundo católico daquela época, a Catedral e Réniana possuía uma estrutura oficial destinada à prática musical financiada pela

| RR

mens

RE

EE

efa

Os principais cargos ligados

Drganista, porem vários outros clérigos di

t desde o bispo até os moços do coro. En Ga dos Capelães-cantores, muitas ve

Tespons

Rae

a

bch

dirigi saca

a E õ

et

o

Ea a ocoroide-cantochão

zes acompanhado pelo organista, o mestre da capela era

polifônica, executada com vozes e instrumentos por músicos não-

Nas E os % a contratados por ele próprio. em Eatedrais do Norte Rs e Rio de Janeiro durante o século XVIII (talvez também pregado é RE do Brasil) predominou a música para coro e órgão, metade do século Xv! e o e da música catedralícia portuguesa da segunda

dré da Silva e

Figura 1: Catedral de Mariana, em julho de 2005. Fonte: Foto do

autor,

E!

E E

JR.

|

edi

Figura 2: Órgão da Sé de Mariana.

à quai

um representante transferiu-se para São Paulo em 1774 —

sao Rene da capela de sua catedral. Em Minas is, de acordo omias E a qua que Portuguesa, e foi e pes pis Soor a disponíveis, a influência era mais italiana comum a utilização de coro acompanhado pelo menos por ha: i Violinos e , o e baix o e interess pelo a RE mente também com a utilização do órgão, mas com evidente

Sdismo operístico, mesmo em ambiente sacro.

94

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTIE

CARTE 1 = OS SONS, A SONORIDADE E AS LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

r

Quadro 2. Mestres da capela da Catedral de Mariana cujas provisões

Um indicativo da importância a que chegou a prática musical em torno da caiba o

foram localizadas nos Livros do Registro Geral da Câmara Episcopal do Bispado de Mariana entre 1748-1896

marianense foi o fato de que os músicos da cidade colocaram uma imagem de Santa Cecília em um altar da catedral e celebraram, durante alguns anos, as festividades de ser

dia (22 de novembro), apresentando a D. João VI, em 1820, o pedido para a ereção « Ê uma Irmandade de Santa Cecília na cidade, acompanhada de seus estatutos. Essa irmandade

Provisionado

j

entretanto, ou não chegou a ser aprovada ou teve vida efêmera, pois não existem registros "El

Caetano José

sobre a mesma, exceto a referida petição, preservada no Arquivo Nacional do Rio de

Manoel da Costa Dantas Manoel da Costa Dantas

capela José Felipe Corrêa Lisboa, assinou a petição nada menos que Manoel da Cost:

foi um devido à existência da Irmandade de Santa Cecília de Vila Rica), sua catedral importante centro musical mineiro, embora ainda não tenha sido suficientemente estudads

Manoel Coelho Inácio Cardoso Manoel Coelho Manoel Coelho

Até recentemente eram conhecidos apenas os mestres da capela que atuaram nas

catedrais de São Paulo e Rio de Janeiro nos séculos XVII a XIX, porém em vário: levantamentos, principalmente aquele realizado entre 2001-2002 com a Bolsa Vitae di

a função de organista. Homem branco, “natural e batizado na Freguesia do Recife, Bispade

de Pernambuco”, Coelho Leão recebeu Sentença de Habilitação de genere em 31 de agos ;

de 1756,! na mesma época em que se tornaria mestre da capela e organista. Mas

contrário de seus antecessores, não solicitou provisões para uso de ordens, Se é que "

recebeu, dedicando-se quase exclusivamente às funções musicais da catedral. Sua UDN ha= aparição até agora conhecida na documentação mineira foi como testemunem

0

q

02/10/1780 02/01/1782

02/01/1783 | 30/01/1783

14/12/1785

Silvestre José da Costa [Gerás]

| 11/12/1789 |

-

|

José Pedro de Alcântara Benfica Sates 2) trêmula “A na direção da O

|

13/12/1786 [3/12/1788

11/12/1789

19/06/1792

: 15/12/1792 | 07/10/1825 | 08/10/1825 27/01/1832 | [27/01/1832] 22/07/1833 | [22/07/1833] 12/08/1870 |

[12/08/1870

seu antecessor, Silvestre José da Costa Gerás, no qual sua assinatura

a idade avançada.

não E conhece nenhum manuscrito musical que mencione Manoel

RE qi,

O demestres Exclusivamente - a | E a

arrs ou copista, apesar de sua atuação durante quase 40 anos

a aa na catedral, Como se isso não bastasse; a presença dos He 4 e Mariana em manuscritos arusiCais érara, restringindo-se E es: João de Deus de Castro Lobo e José Felipe Corrêa Lisboa, que

Ds ani nose a veis

Um indício, entretanto, emitidos entre na

2 ABAM. Armário VII

1. Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana (AEAM). Livro do Registro Geral, 1756, £38r

10/09/1756 12/03/1764 14/01/1765 05/10/1779

| 12/12/1785 |

A partir da reunião das informações encontradas em todos esses documentos, foi possíve

recebeu várias provisões consecutivas para esse cargo, na maioria das vezes acumb jan y

22/11/1752

Manoel Coelho Leão

Manoel Coelho Leão João de Deus de Castro [Lobo] José Felipe Corrêa Lisboa Antônio Nunes Cruz

7

17/10/1749 15/11/1751

| 29/12/1783 | 07/01/1785

Manoel do Couto Ribeiro

am ce pi

26/08/1779 -

| | | |

15/04/1749

02/01/1784

Manoel Coelho Leão Manoel Coelho Leão

Livros de Receita e Despesa de várias irmandades e ordens terceiras marianenses. À consulk desses códices revelou que a maior parte dos serviços musicais contratados por essa! instituições, ao menos na segunda metade do século XVIII e primeira metade do XIX fo dirigida pelos músicos que ocupavam o cargo de mestre da capela da catedral. Outr( documentos do Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana também se referem mestres da capela, como recibos do cabido do final do século XIX e documentos as ulsos

[E

01/03/1748

29/12/1783 |

Manoel Coelho Leão

Outros documentos marianenses permitem precisar a relação dos mestres da capel especialmente os Livros de Receita e Despesa da Câmara de Mariana (ICHS-UFOP) eq

Como se pode observar no quadro 4, Manoel Coelho Leão (c.1735-c.1794) foif mestre da capela mais atuante em todo o período pesquisado: de cerca de 1755 a 1/7

|. |

Manoel Coelho Leão

Mariana preservados no Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana (AEAM), códices q que contêm preciosas informações sobre a atuação desses músicos no período.

Ê

| 06/09/1756 16/01/1764 [14/01/1765 =] 02/101779

Leão de Matos Leão Leão

Silvério Gonçalves de Araújo

de provisões nos antigos Livros do Registro Geral da Câmara Episcopal do Bispado de

a Tio

| 16/11/1752 |

José Joaquim da Silva Carlos da Silva Lobo

Artes, foi possível relacionar os mestres da capela (quadro 2) e organistas (quadro 3) qu atuaram na Catedral de Mariana nos séculos XVIII e XIX. Seus nomes figuram em registros

Registro

Provisão

| 16/10/1749 | e

À

Manoel da Costa Dantas

Ataíde. Apesar do fracasso da Irmandade de Santa Cecília de Mariana (provave ment

elaborar o quadro 4, uma relação dos mestres da capela e o período aproximado de st |3 , atuação na Catedral de Mariana entre 1748 e 1886.

|

Gregório dos Reis e Melo

d;

Janeiro (Monteiro, 1997). Entre clérigos e músicos, com destaque para o então mestre

95

pode ser ob

nense e mesmo em outras catedrais brasileiras.

ser o servado nos recibos do Cabido da Catedral de Mariana, »P e 1890 e hoje arquivados no AEAM.? Em tais documentos, os profissionais » Prateleira 4, Despesas do Cabido.

mt] = OS SONS, A SONORIDADE E AS LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATL ANT

96

al edr Cat da ela cap da s tre mes dos o açã atu de o íod per el sív dro 4. Pos

ões foram Quadro 3. Organistas da Catedral de Mariana cujas provis

EO de

scopal do: localizadas nos Livros do Registro Geral da Câmara Epi

o Leã lho Coe oel Man foi ela cap da tre mes o , ões upç err int s uma alg am

Bispado de Mariana entre 1748-1896

Manoel da Costa (Dantas)

Manoel Coelho Leão

Manoel Coelho Leão. Manoel Coelho Leão

Manoel Coelho Leão

José Joaquim da Silva

|

E ei

À

|

Carlos da Silva Lobo Silvério Gonçalves de Araújo Manoel Coelho Leão Manoel €Coelho Leão

Manoel Coelho Leão Manoel Coelho Leão

Manoel Coelho Leão

E

26/09/1757 ;

pl

|

E

José Gonçalves Gomide

José Gonçalves Gomide

Es

9/1757

28/08/1719

Bu

|

— 05/0/1779

* 02/01/1782 5º EE “30/01/ E sn 02/01/178 | > 785

bo

1755-1764

assis

RO

1765-1780

1780-1781 | 1782 1783 | 1783

E”

| SF

1792

1792-1793

1793-1810

13/12/ 1790.

“2h VT1793

1824-1832

“08/07/1809

1833-

ManoelCoelho Leão

|

José Joaquim da Silva "Carlos da Silva Lobo Silvério Gonçalves de Araújo Luís Corrêa Lisboa

E E

Manoel Coelho Leão

” Silvestre. José da Costa Gerás E.

E 1871-1874 [-1876? 1876 1879-1% 880. 1881 1881-1386

E a m paga do os recib m nava assi ias ralíc cated as môni ceri das ca músi a am igi dir que receberam do mestre da capela pelos serviços musicais, como, por exemplo

março de 1871:

j

capela da Sé de Mariana, a quantia de oitenta mil réis— 80$000— pelo ajuste da mus: ua que tocou na noite do Natal, e por verdade passo este em que afirmo ser verdade cais Er à, q

Mariana, 5 de março de 18; O Procurador da Banda de Mú a

Manoel Coelho Leão

* José Gonçalves Gomide

E

João de Deus de Castro Lobo

a

José Felipe Corrêa Lisboa

Antônio Nunes Cruz

José Pedro de Alcântara Benfica Sales

1870-187]

|

Manoel do Couto Ribeiro

Antônio Tomás [de Aquino?) José Felipe Corrêa Lisboa

1832-1833

12/07/1833 29/01/1863 nd LA geo 25/2/1882

Hermenegildo do Espírito S%

” Inácio Cardoso de Matos

1817 1817-1824

-

Caetano José | o Mel e Reis dos ório Greg s Dana a Cost da el Mand “Manoel | Coelho Leão

E

1789-1792

e

Recebi do Ilustríssimo Senhor Cônego José Emílio Fernandes Valles, atual mes

|

ojos:

1784-1789

31/08/1819

Torquato Claudiano de Morais

ter recebido).

A E

| 749 7 3 -175 1749

“18 1 1/171795

FE

"Manoel da Costa [Dantas]

1748-1749

750

02/10/78 o À

2121785

rr 1º

Antônio Nunes Cruz Casimiro Pereira dos PPassos « Silva. co da José Américo Francisco Otoni de Santana

Rol 127 174 8

14/01/1764 UM | [4/01/17 6

am 1783 “29 12/11783 29/12/[1783

Mestre da Capela

= ci 177 Í 789.

Silvestre José da Costa Gerás Silvestre José da Costa Manoel Coelho Leão

E

14/01/1764 14/01/1765

Ono



o a

Silvestre José da Costa [Ge ás

José Gonçalves Gomide

REM

E

Francisco Pires da Silva

1

Provisão

| |

eeprovisionado

qual, até fins do século XIX. O colchete indica o período no

um

|

José Emílio Fernandes Valles Corrêa de Carvalho Pretextato Batista Americano José Caetano de Faria EEN Pretextato Batista Americano |

.

E vi ds 1 fecibos dessa época— os únicos até o momento localizados — informam o nome a e: nais | ao me:

da capela, músicos e corporações musicais que atuaram na Catedral de

5), porém sugerindo claro que a direção técnica da música não cabia — SS mestre da capela, o qual exercia apenas sua administração burocrática. O exemplo rery EAS|

pre a med

tativo desse novo tipo de mestre da capela foi Pretextato Batista Americano,

a música na catedral (entre 1881 e 1886) fora vigário da Freguesia da ã ali End em Mi erera: 9 Brumado na década anterior e cônego da catedral no mesmo período O mestrado da capela. Pretextato Batista Americano foi essencialmente um

q E Carreira eclesiástica, que somente exerceu o cargo de mestre da capela, pois À eleaae dca não era mais necessário o conhecimento musical que tiveram os mestres da |

Períodos anteriores.

É

O VR

8

DERN RMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MO PAD :

Ra

ati

RR

Fe Eralelaente.

todos os músicos mineiros dos séculos XVIII e XIX foram docume nta ção cartorial e s na do ta ci s co si mú s do a ri no mi a E um e nt N me C so e I res, mp iseritos T osustito ica do período figuram em am ssa situação sugere que a ecles m e imaginaram qu a to an qu te an er ub ex tão do si ter o nã de produçê Jo musical dessa fase po

Catedral de Mariana

[876

| Corrêa de Carvalho

1879-1880 | Pretextato Batista Americano

1881

José Caetano de Faria

ano 1881-1886 | Pretextato Batista Americ

co - Músi Hermenegildo do Espírito Santo Pedro Claudino dos Santos Pedro Claudino dos Santos

E e E

[Jacinto Augusto de Godoi?], da Sociedade Fila

i môn a Bernardino, da Sociedade Filarm eirsco el Pernci ManoSão E Fra de de 188] a 1885 Manoel Pereira Bemardino, é 188 Sociedade Filarmônica de São Francisco e de ns 1886 Manoel Antônio de Sousa Mineiro

E: Funções

Lj

figura como

copista

musicais,

ana. ri Ma de ca si Mú da u se Mu no s do ra nt co en te en unicam ) ado A partir de qual época os me stres da capela teriam deix

ndo as Mat:

It |

de ser músicos:

para

nd

0;

sta que ocorreu attéi ani org e ela cap da tre mes de s çõe fun das o ul atividade, é o acúm esse fato, João de Deus de Cas! ro |

ista em

Tu

necessidade de música Ê d; Além s o, o Regimento do Coro da Sé de Mariana (1759) determinou que os músico ss di Além “| stre da capela atuassem também no o Tríd do memest Trí uo Pascal: re da JO

até 01 mom

org: mo co ado cit foi 2, 183 e 24 18 e tr en mestre da capela provavelmente

e

ERsoensid

coaã , da Pás da al, Nat de dia em m ja se o , os am unç "a Ressi , do Espírito Santo, dos Apóstolos São Pedro e São | Paulo, , da da AssAssunção de Ressurreição : çã RERERaR

É

atinas cantadas como orden pis

Nossa Senhora, da sua Imaculada Concei nis | Semana Santa, a todas elas assistindo o de estre ta E)

de cop ia nc tê is ex in a a par ão aç ic pl ex a ém mb ta a tornarem apenas burocratas? Seria ess ntista da Cê ece set e fas na m ra ua at e qu ela cap da s re til e composições musicais de mest ss € te en am iv et ef artada, pois sc de ser a ss po o nã se te pó hi a est ra bo Em de Mariana? ram para ac da re ve en € m ra na de or se e qu II XVI lo cu mestres da capela mineiros do sé eà es or it os mp co m ra fo ém mb ta e qu la pe ca eclesiásticaa, existência de mestres da s Garcia. R ne Nu io íc ur Ma sé Jo a par ue aq st de m em outras catedrais brasileiras, co sse períodt ne s no me ao , que ica ind , o) ul Pa o (Sã s me Janeiro) e André da Silva Go ssa ce ne foi o nã te en rm io er st po e qu l ca si to mu cargo catedralício exigia um conhecimen la do€ pe ca da s re st me os e qu de e ad id il ib Outro fator que corrobora a poss se dr es r ce er ex de do an ix de m ra fo e qu é X XI XVIII eram músicos, e que os do século

em do século XIX. Embora as provisões não cit

aa

; as Ecantar com os seus músicos nas funções de São José, na ve No al, Nat a, nt Sa R U da ; S na , Santíssimo exposto, O, é em todas DO AAA Ras o havendo nã a nd ai l, ica tif Pon de a E al A ã O o O Prelado. s e també em em algu que houver tunção extraordinária em guma

enas eram pre RE: ap se ou m, ra fo o ém mb ta s bo ci re Os de que aqueles que assinaram nco contra ta ci s Do s. õe nç fu as m ra ce er ex te en am das corporações musicais que efetiv enas “À: ap va na si as que co si mú o, ir ne Mi a us So somente um - Manoel Antônio de documentos

da capela

gimento do coro e os estatutos da cated iam ser dever que os músic ios própr Os ral. atu e na E. ataEidos pelo mestre da capela atuar em aa tados ral na ler Dana o tant iee narta 5 a entos. N Na provisão de Manuel Coelho Leão para mestre da capela da Cated E documentos. V ários E e deveria est e qu o ad in rm te de foi o, pl em ex por ), 56 17 de de Maraiana (6 de setembro

De de o vr Li no da ra st gi re o sã ci de , as os gi li da música das festividades re úsica da m a ra pa a ot qu a er ec rn fo a r ua in nt u co (AEAM) com a frase: “O Governo nego | cert at Ei festividades da catedral”. sicos, nãão se pode te = mú mais am er o nã a oc ép a ss de la pe ca da s re st me Se os E al

em

dos mestres

— Vários documentos eclesiásticos nos informam sobre as atribuições dos mestres da car 4, organistas e outros servidores das catedrais, com destaque para as provisões, O

da música ainda o ment paga O que rmam info mas a, capel da e mestr quanto o l c; pú Dúb R da ão ma la oc Pr à te in gu se o an , 90 pelo governo”. Em 18 S Ofinancia Ami | ela “quota fornecida pi eu o ou rr ce en e s pal ões catedralícia nç fu as r ga pa de ou ix de ro ei il as br o o govern spesas doca

compositor)

nem

é s ma , XX lo cu sé no os ad ic bl pu s ho al ab tr s no es or «o Curt Lange e seus seguid e nte no início dest me so go le fô o nd ma to á est do tu es de o tip e seesr que ess SO O : h qu a par to fei ue a um conhecimento mais E século, e que muito deverá ser eg ch se e qu a r a p ovo sé I e XIX. II XV s lo cu sé s do o ir ne mi l ca si mu ma ra no pa do o tiv

|

Tacinto Augusto de Godoi, da Sociedade Filarmô ca

acentuou-se no End a an ri Ma de al dr te Ca na l ca si mu Esse declínio da atividade de mencionar tanto o m deixa 1890, e 1886 entre o, cabid do os recib século XIX. Os

(e não

99

mbém foi ta im ass e 2, 183 em te mor sua à o siv alu al edr cat da ido | documento do cab e XX. ceferido em outras fontes dos séculos XIX

do Cabido d; s ibo rec em s ado cit s co si mú e la pe ca da s re st Me 5. Quadro a Mestre da Capela Período les [871-1874 | José Emílio Fernandes Val 12 25/4/1875 [9 19/1/1876

A IC NT LÂ AT A ST UI NQ CO DA NS GE UA NG LI os SONS; A SONORIDADE E AS

E

e Sábado da

da capela com a sua música

“As funções do m estre da capela na Catedral de Mari à s, embora da ni fi R de m« be Mariana eram e m em u

Pouco com o tempo. Nos Estatutos da Catedral de Mariana (1759) observa-

Yarniass

qm

* 4 Sua principal ir pal tarefa era dirigir a música nas seguintes ocasiões: ,

6

em

- ABA) *

Livro

Resistir

AL, E ao

ps e, cap. 13, £66y.

-1759, £ Ir.

Mariána... de ade Cid da Sé cta San /da tos atu Est dos preta. 1º- Segunda parte

100

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLANrie

PARTE|

“OS SONS, A SONORIDADE E AS LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

1) Nas Vésperas de dias clássicos, como de Nosso Senhor, Nossa Senhora e Visitação,

101

ORGANISTA

2) Nas Missas da Terça de todos os domingos e dias santos de preceito,

O Organista desta Sé, a quem se paga seu ordenado pela Real Fazenda, é obrigado a

3) Na Prima da Vigília do Natal.

tocar nos dias e às horas seguintes, a saber: em todos os dias clássicos* duplex majus,

4) Nas cerimônias da noite de Natal.

ainda nos dúplices, somente nos quais dias não só é obrigado a tocar a Missa da Terça, mas também do Benedictus.

5) Nas Completas dos Sábados da Quaresma. 6)

Nos Ofícios da Semana Santa.

7)

Em todas as mais solenidades que lhe ordenam o Prelado ou o Cabido.

Nos dias semiduplices deve tocar a Missa da feria e nos domingos, excetuando os da Quaresma e Advento, por neles não permitir a Igreja o toque de Órgão, salvo na terceira

dominga do Advento e quarta da Quaresma, porque nestas é obrigado a tocá-lo, nem também se tocarão nas Matinas e Missa de dia dos Inocentes, salvo caindo em dominga.

=

Por outro lado, nas provisões da Câmara Episcopal foram destacadas funções ligada:

Tocará mais em todas as Vésperas de Dignidade do Senhor, Nossa Senhora e Apóstolos e nas Completas dos Sábados da Quaresma, na Prima da Vigília do Natal, nas antífonas da expectação, vulgarmente chamadas “do 6”,º e em todas as ocasiões que o Bispo for à Sé.

à conduta geral na Catedral, à fiscalização da música executada nas igrejas sob su

jurisdição, e a execução, sempre “com seus músicos”, nas funções da Semana Santa, Nata

e Novena de São José. Tais determinações podem ser resumidas da seguinte maneira; 1. Servir à ocupação como convém ao serviço de Deus.

Tem mais a obrigação de tocar o dito órgão em todas as Matinas cantadas e em todas as

festividades que forem próprias da Sé e nas mais que o Bispo ou Cabido lhe ordenar. Tem mais a obrigação de tocar em todos os atos de posse que tomarem as Dignidades e Prebendados desta Sé. Faltando a alguma destas obrigações, sendo das principais, será multado em cem réis e

2. Escolher, para seus músicos, pessoas dignas do nome e serviço de Deus. 3. Assistir com a música necessária na matriz ou catedral, mas também nas demai + matrizes e capelas da Comarca.

4. Cuidar para não se cantar em uma festa as letras que somente competem outra.

sendo das menos principais, como semidúplices, domingas, etc., em cinguenta réis.

Sucedendo, porém, que por remisso e descuidado, incorra mais amiúde nestas faltas, ordenamos e mandamos que da sexta falta em diante se lhe dobre a multa, que todas aplicamos para a Fábrica da Sé. E não sendo esse dobro a que baste para a sua emenda, Será obrigado o Apontador a dar parte ao Prelado para prover no caso como melhor lhe

À

5. Aprovar os papéis que serão cantados nas igrejas sob sua jurisdição, evitandor

canto de composições com letras profanas ou outras que não sejam Antitonas

Salmos, Hinos, Graduais e as mais que se contêm no Oficio Divino e MISS conforme o rito da festa. nd A 4 6. Aplicar nos papéis sua aprovação, rubricando-os.

parecer. ?

O cotejamento de todos os documentos que referem as atribu ições dos mestres da Capela da Catedral de Mariana permite definir a rel ação de cerimônias nas quais sua

7. Conceder licença aos músicos para cantarem nas igrejas sob sua jurisdição:

8. Receber estipêndios ou emolumentos pelas licenças aos músicos (somente entr

Participação era obrigatória, inclusive a de “seus músicos”:

A

1748-1753).

9. Querendo entrar nas músicas cujos papéis aprovou, pode fazê-lo como musik da

ATO: LF

)

particular, levando o seu estipêndio pro rata como os mais, ao que nenhum dos

outros músicos se lhe deve opor.

10. Cantar com seus músicos nas funções da Semana Santa, Natal e Novena de é | José, com o Santíssimo Sacramento exposto, em todas as festas de Ponth cã em funções extraordinárias nas quais houver necessidade de música. s 11. No arraial, vila ou cidade em questão e seus arrabaldes, são preferidos Os músico A “ do mestre da capela a todos os mais. Quanto ao organista, é interessante transcrever suas atribuições, de acordo com Estatutos da Catedral de Mariana (1759): f

|

Dm

“Sa Os dias clássicos sãosã aque ie a solenidade, em seis queles em que exi: stem celebraçõ-es religi osas, divididas, segundo seu grau de lferentes classes: 1) duplex de primeira classe: 2) duplex de se i 4) duplex menor: e Maior; 3) semiduplex; 6) simplex. 6 que cuca se) dupla

Asanti fonas do ó desã = sete antifonas maior€ es que se cantam dezembro, nas Vésperas do Advento, entre 17 e 23 de Adonai (18 de RR cas Por iniciarem-se pela interjeição “o”: O Sapientia (17 de dezembro), O ro), O radix Jesse (19 de dezembro), O clavis David (20 de dezembro), O Oriens (21 e! E ),0 Rex gentiu; m (22 de dezembro) e O Emmanuel (23 de dezembro). São também denominadas dezembro, e devido à festa da Expectação do Parto de Nossa Senhora, celebrad a no dia 18 de ta O hecid Reras canta-se uma das antífonas “do 6”. Por esse motivo, Nossa Senhora do Parto

a Fte

a à como “Nossa Senhora do Ó”.

€ Sacerdote

o =. Rad

Nosso Senh 0r/que Deos

da Cidade da Portugal).

RR

de?

E Mariâna/sob o Patrocinio/do Principe dos Pastores, Pontífice Divino,/ a

peio

por ordem/de Sua Majestade Fidelissima/Dom Joseph. I.

Ex.mo e R.mo D. Joseph Botelho/de Mattos, Arcebispo Metropollita no/

do Brasil, /anno de 1759. Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Lisboa,

no AEAM. Al G1, capa preta, PI. £54r-54v,.

SONS, FORMAS CORES E MOVIMENTOS E Su geo o PS

102

HE | = OS SONS, A SONORIDADE E AS LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA à arquivo musical e a livraria da Catedral de Mariana

Apóstolos São Pedro e São Paulo (Regimento)

Assunção de Nossa Senhora (Regimento, Recibos do Cabido). Espírito Santo ou Pentecostes (Regimento, Recibos do Cabido).

a

porreu com o mesmo desde então. Documentos do Arquivo da Cúria Metropolitana » São Paulo demonstram que, ao menos no século XIX, o arquivo musical da catedral | ad ana era guardado pelo mestre da capela em sua própria casa e não na catedral

Noite de Natal, incluindo Prima da Vigília (Provisões, Regimento) statutc Recibos do Cabido).

so nom sta

bre |, 2004). Se esse costume foi comum a outras catedrais, pode ter facilitado o

Ofícios da Semana Santa (Provisões, Estatutos, Regimento, Recibos do Cabi

(com os seus músicos, Estatutos).

dra

dias

ER

llecitudini, de 22 de novembro de 1903, promulgado pelo Papa Pio X.º O Muse da Música, que preserva aproximadamente 3 mil grupos de composições

“A

de primeira “a

ais, originárias de cerca de trinta localidades mineiras, possui uma seção que inclui, tre o Jutros, uma quantidade razoável de manuscritos que pertenceram ao Arquivo Musical

Primeiras Vésperas a Missa nos dias de segunda ordem (com os seus mús To.

Estatutos).

tedreal Marianense. Intitulada “Mariana” na década de 1970 pela musicóloga Maria

cuaa

l onceeição de Rezende, foi a primeira seção a ser reunida por D. Oscar de Oliveira, e, Ê a aco da do com o que até o momento foi apurado, contém manuscritos or iginários do da pró

16. Missa nos dias de terceira ordem a somente (com os seus músicos, Estatuto: 3 17. Noa (Nona) da Ascensão do Senhor (com os seus músicos, Estatutos). 18. Te Deum no último dia do ano (com os seus músicos, Estatutos).

19. Texto da Paixão no Domingo de Ramos e Sexta-feira Santa (com os seus mus

Estatutos).

“a

Ofício, Missa e Estação Geral no dia de Finados (com os seus músicos, Estatu 2d: Aniversário da morte do Prelado (com os seus músicos, Estatutos). 20.

de Todos os Santos (com os seus músicos, Estail ário Dida Dia da Cated | ral no oitav Ei e E Ss Pange lingua na procissão de Corpus Christi (com os seus músicos, e 24. Nas festas nacionais (com os seus músicos, Estatutos). aj 25. Nas exéquias pelo Sumo Pontífice, pessoas da Família Imperial e Pr elado o os seus músicos, Estatutos). a

Essa relação de cerimônias será uma ferramenta importante para o con ro) e sa obras remanescentes do arquivo musical da Catedral de Mariana, permitindo sã á as obras foram compostas ou acumuladas para as funções da Catedral, dentre as que ne 7 até nós por meio de manuscritos musicais ou informações históricas.

vicoe o desfalque do acervo, sobretudo na transição do século XIX para o XX. Mesmo

ando-se esses fatores, uma parte do arquivo musical da Catedral de Mariana ac não conservada e transferida para a Cúria Metropolitana, provavelmente já ante eo culo XX. Não se conhece ainda qualquer registro sobre essa transferência, mas mpossível que isso tenha ocorrido pela perda de interesse litúrgico da maior parte do re er ório sacro dos séculos XVIII e XIX, decorrente da depuração do “funesto influxo que | E|re à arte sacra exerce a arte profana e teatral” que pretendeu o Motu Proprio Tra le on

| q 7 Páscoa ou Ressurreição (Regimen to, Recibos do Cabido). E 2, MA Novena de São José (Provisões). a 10. Missas da Terça de todos os domingos e dias santos de preceito (Estatutos) Ja: Vésperas de dias clássicos (Nosso Senhor, Nossa Senhora e Visitação) (Estatut tn a Ls Festas de Pontifical (Provisões). 14. Matinas, primeiras e segundas Vésperas e Missa nos

Catedral de Mariana certamente teve um arquivo musical, mas é difícil saber

jancdo este começou a ser constituído, quais foram os responsáveis por sua guarda, e o

Imaculada Conceição (Regimento, Recibos do Cabido).

Funções extraordinárias (Provisões e Estatutos). Pita

Er

A

Completas dos Sábados da Quaresma (Estatutos).

Ls.

103

|

çãa rrtono isto avaia pastas em aê três Pigavetas o de senão “dr> “Mari E O armáriosa ), além de 18 pastas deslocadas para outra seção do acervo, estando atualmente 7É 5ses manuscritos reunidos em 384 grupos de composições musicais, em 52 caixas Prateleiras do armário 1, sob o código CDO. 01, de acordo com a reorganização

“U da Música de Mariana realizada durante o projeto Acervo da Música Brasileira/ Partituras, da Fundação Cultural e Educacional da Arquidiocese vrç E— Tl;

a Petrobras e coordenado pelo Santa Rosa Bureau Cultural RE essa seção poderá revelar aspectos importantes do antigo Arquivo E RE Catedral de Mariana e mesmo da prática musical nessa igreja. má, entretanto, informações históricas que podem ser relacionadas aos manuscritos os O E 20014

- ralIs reE em

enees. » ajudando-nos a compreender a trajetória do Arquivo Musical da

n: na ônicare ao lã

E mais antiga notícia sobre a circulação de papéis de música um registro de pagamento de 1$295 réis ao músico Adão Ribeiro

É 2 SM 1821, por “umas partituras”.º Alguns anos depois, em 1826, foi realizado

E. o " " Jan,

al dessa determinação papal foi impresso em Mariana poucos meses após sua assinatura em OX. Motu Pró prio de S.S. Pio X sobre a mus ica sacra. Boletim Ecclesiastico, Mariana, ano e 1904, pp. 15-24,

Cód di Ce B1 1,

o:

I

Sala 20, Livro de Receita e Despesa da Fábrica da Catedral de Mariana: 1 749-1869,

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNT]

104

OS SONS, A SONORIDADE E AS LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

.

das festividaç s ica mús das ção ova ren da s Deu de o Joã tre Mes re Pad “Ao nto um pagame cificaçs espe a sem mas º ”,! 000 A5$ — ma ssi ndí ere Rev a nci elê Exc Sua de em ord por Sé, da

das obras em questão. Felizmente, um documento de 1832, ou pouco depois, ap esa ob de ida hec con a list iga ant s mai a hoje s”, ada nov “re es içõ pos com sas des a list

pertencentes ao Arquivo da Catedral de Mariana. Irata-Se de uma relação (figura 2)

Felipe Corrêa Lisboa apé j José ela cap da tre mes ao dos eri nsf tra is ica mus os rit usc man : 1832): falecimento de seu antecessor João de Deus de Castro Lobo (1794-

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de

Lista das músicas pertencentes à Catedral, que não foram entregues ao atual Mest

o ntPac cimedo da Capela, o Senhor Quartel Mestre José Felipe Corrêa Lisboa, por fale

Mestre João de Deus:

Os Responsórios de Defuntos por David Peres Todo o Ofício de Defuntos por José Joaquim Emerico Responsórios de Defuntos pelo Padre João de Deus As 3 Lições a solo dos Ofícios da Semana Santa por José Joaquim As Novenas da Conceição e Matinas ditas

1. 2. 3. 4. 5.

ado da Aleluia 6. Os Ofícios velhos da Semana Santa e os 2 Responsórios de Sáb

7. A Sinfonia fúnebre pelo Padre José Maurício

o arco 8. Caixa do rabecão e arco. Declara-se que existe a caixa, não

9. O Hino do Espírito Santo Veni Creator Spiritus

Excelência. Todas estas músicas foram pagas pela Fábrica da Catedral e por Sua

Figura 3: a Relação dosA manuscritos musicai i da Catedral de Mariana transferi usicais do arquivo

dose Felipe Corrêa Lisboa em 1832. Museu da Música de Mariana

ta € Recei de ica Fábr da s Livro dos ta cons tudo que o , papel e a cópi ma, íssi Reverend

rn

ong es capeie

re J ção Despesa à f.152, ter pago o Cônego Fabriqueiro o seguinte: Pagou ao Padre Mest

de Deus da renovação das músicas das festividades da Sé, por ordem de Sua Excelência.

Reverendíssima - 45$000.

: |

mente nt ume doc , P08 LG4 7]A [14 a past na do ntra enco e O ment inal orig ana, 11. Museu da Música de Mari 10. Idem, f.152v/144v

Gabrielc Folha solta de 31,0 x 21,3 cm, marca AL MASSO, tendo no verso somente o nome Lobo”. Trata-se de um documento que, de Rezende, a responsável pela organização interior do órgão da Catedral de Mariana , que esse é o ano de falecimento depoisjá à



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-

a

acordo com informações verbais de Maria da Conce Ç do Museu da Música entre 1972-1984, foi encontia no início da década de 1970. Deve datar de 1834, 0H do Mestre da Capela João de Deus de Castro Lobo dear Roni

o

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2



JC

Mark publicações: 1) REZENDE, osX duas em ção scri tran de as renç dife mas algu com essa impr foi dos seculos” ica mús de o uiv Arq a: ian Mar de ese ioc uid Arq da ica Mús da Conceição de. “Museu 5 XIX”, in Anais do I Encontro Nacional de Pesquisa em Música. Belo Horizonte: Departamento de

Man Geral da Música da Escola de Música da UFMG/Museu da Música da Arquidiocese de histor Imprensa Universitária, 1985, p. 55; 2) REZENDE, Maria da Conceição de.A música na o, 1989, p. 92%, Minas colonial. Belo Horizonte/Brasília: Ed. Itatiaia/Instituto Nacional do Livr a

=

Ro

adesda dt» 12. A informação “Ao Padre Mestre João de Deus da renovação das músicas das festivid =

ai

Pr

oem ordem de Sua Excelência Reverendíssima — 458000”, referente a um pagamento realizac 1749-1869, 1195 “a na: Maria de ral Cated da ca Fábri da sa Despe e ta Recei de Livro do a const em os seguintes lança ne exist r), 0/142 (£.15 e códic o mesm No 20). sala P-11, e Códic (AEAM.

A

oro o “rabecão” da Catedral, referentes ao ano de 1822, aqui transcritos com atualização izado —ee590 ã da Fábrica e enverm de por tampo novo no rabecão

ão: “A Manoel Francisco, pontuação:

O rabecão (...)”. «a Manoel José de Magalhães do aparelho de cordas e caixa para

8 | sa E é interessante esclarecer o significado da expressão “renovação das SS . Aratar-se-ia da composição de novas obras e a consegiente destruição das antigas 4 apenas da elaboração de novas cópias pi das músicas gi ?À E entãoAR RE incípio, a segunda hipótese parece ser a mais provável

A EU músicas foram ma pagas pela Fábrica da Catedral e por Sua Excelência Reverendíssi o. coleção de 24 obras, hoje pertencentes à Seção de Música do Arquivo aa cá à E a Politana de São Paulo, foi recopiada para a Catedral de São Paulo por le

p

E

a

Je:

. André da Silva onhaecendo-se d Gomes e dois outros copistas não identificados entre 1810 e 181 Ii d e algumas delas as cópias mais antigas, o que comprova a hipótese RC.

Rd a o s mas ca, épo tal em tas pos com am for RR il ta po a e is "2 450, Por outro lado. se esse ti tipo de renovaçãoo gá a a tod de go lon ao m mu co o sid ter e dev e tória do acervo

aparecendo co o

as Oito

!

icas » àS mús po.

Mo

obras



tem



que

caíam

em

desuso

deixavam

de ser “renovadas”

E

Iguma maneira E EE is nessa lista de 1832, três parecem ter permanecido de j a ção Mariana do Museu da Música. O único manuscrito que parece *Esponder diretamente a um m d a

Oiteem mo9 s.. éo ú

Seguinte (figura o

que foram citados nessa relação, mais especificamente

2

CONQUISTA CONQ DA MTE1 - OS SONS, À SONORIDADE E AS LINGUAGENS

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÁN

Hanense:

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aneífona. Responsórios e Lições para as Matinas e Missa do Ofício de Defuntos]. C-1 -

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2 Trompas e tas Flau 3 as, Viol 2 s, Vose 4 m /Co ral hed Cat a nte ence Pert ntos defu “officio de inetas trompas e A [outro título: Missa a 4 Voses para exequias/Com 2 violetas clar

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orio/lgr. 2: itat “Inv C-2 * ";* na] ian Mar de/ al/ edr ath o/C Lob mE dO; por Joze Joaqui Cathedral)/Tipli”;'* C-3 - “Cathedral/3 Liçoins e Missa/Offiçio pro de Functus/Flauta

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io, mtesauita José Joaquim Emerico Lobo de. Regem [cui omnia vivunt venite] [Invitatór

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107

ATLÂNTICA

uscri ntos ópias ' “renova das” de manuse ; cópias a ponder corres parece “Qoutro grupo de manuscritos umento de 1832. A mencionados no item 3 porém posteriores ao doclacã E carus : b É : € ados ivo e arqu pres ) ra indicação “catedral” nesses documentos corrobora sua relação com o

a paraclitus [Hino da diceris Qui ...] Spiritus Creator [Veni Lobo. João de Deus de Castro iym'/ Por: PoE do Pentecostes]. “Cathedral / Hymnus / In Festo Pentecostes act Tertium/ 4 Terça Gare 1;

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Primeira/3 Ligoins e uta Fal o./ Lob o ric Eme : ulo tít tro tou o Lob o ceConda/Autor Emeric Misse pº defuntos, Silva/ Cathedraly"* t. Responsórios I a VI vivi s meu tor emp Red d quo do Cre o. Lob tro Cas de s Deu João de

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“catedral” e deve ter pertencido ao arquivo dessa igreja 3

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losé Joaquim Emerico Lobo de Mesquita. [Magnificat...) et exultavit [Cântico de Nossa

bd

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xtato Batista Americano 31 e 1886 prestou serviços musicais ao mestre da capela Prete . . . .

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ísico o — provavelmente o músic

NE.o” Mineir

Um

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1º]/Resp[onsorio]/Cathedral/Responsorio

Outro caso interessante é o de uma cópia da segunda metade do século XIX, assinada

Rs pede, |

“[Baxo

Sen! jora para as solenidades dúplices (alternado)]. “+tgr. 2: Mineiro) [ras.: Cathedrall/

mm

a 4 (outro título: Mineiro/Baixo Magnifica compusição de J.º Joaquim/em tempos Tiple

remotos )"'*

e

r =

=

E

MEET

ut 'os documentos do AEAM referentes ao arquivo musical da Catedral de Mariana

n recentemente localizados e estão em fase de estudo, com destaque para a “Lista

de todas as músicas”, de c.1874,:º que embora tenha perdido algumas de suas folhas, na obras que pertenceram ao arquivo nessa fase ou que foram a ele integradas. A

jaração de seus títulos com as obras remanescentes da Seção Mariana do Museu da

|

o

y

rs

É

VIE

o!

EE

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E é,

gaita

OR -

o

a

e:

cs

“a :

ii

di (o de E

acta

(RS

A

Cast

a

z

a

de. H

580

ão antiga: [103]A1G3P01.

atual: CDQ.01.235 CO2. Código antigo: MA-FO1 CO2. Localização atual: AO1P05C030.

dios at

|

|

!A “00

= E ASS atual: o izaçã Local CO1. GO1 NO3 MA-O o antig o Códig CO1. 00 13. Código atual CDO.01.1 Localização antiga: [056]ALG2P0S.

=

uiLação antiga: ga

o

e

decaJoiS Spiritus Creator Veni doo Hino fo çã de Marian si Figura 4: Frontispício de um autógra Mú da u se Mu ”. al dr he at “C dica ro Lobo (1794-1832), com a in Li

í

il,

de Deus

fai

:

E

Eua atual: CDO.01.235 C01. Código antigo: MA-FO1 CO1. Localização atual: AO1POSCO30. [103]A1G3P01

.235 CO3. Código antigo: MA-FO1 C03. Localização atual: AO1P05COS0. atual: CDO.01 "89 Z lizaçãa

o “0 antiga: [103]AIG3PO1.

ento SAS CDO.02.225 C04, Código antigo: BC-FO7 GO2 C04. Localização atual: AO2P05CO91. digo nuga: [348]A2ZG4P07. =

e.

mA

C01. Código antigo: MA-ONOS

A1 2POS. apare vao antiga: [058]JA1G E : Armário AM. lo VIII, Prateleira 4: Despesas do Cabido. a

C01. Localização atual: AQ1P03C014.

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLAN

108

E 1 - OS SONS, A SONORIDADE E AS

Te

a sic tenh este que mo mes a, ian Mar de al edr Cat da l ica mus o uiv arq Se existiu um

sucessivos im para as cerimônias diocesanas. Tais livros são mencionados nos los XVIII e XIX (quadr sécu nos a ian Mar de al edr Cat na s ado liz rea te men ica period musical o uiv arq o que de cio indí e ant ort imp ro out são bém tam os Esses inventári is de música co; papé e sobr o açã orm inf a hum nen que vez uma , dral Cate na a permaneci nesses documentos.

« “= « = "

ermo de entrega: 10/03/1758

“eLivros” [É. 181]

* Cinco que servem a seis anos e dois encadernados de novo, e os mais antigos usados bastantemente, e um destes muito antiquissimo e grande

= Quatro Livros pontificais, encadernados em couro vermelho

* Um dito de grande volume intitulado Preparatio ad Missam Pontificalem

" Um dito encadernado em couro vermelho, intitulado Manual Coral, de folha " Dois livros em couro preto, um das Paixões, outro dos Prefácios [e] Lições da Semana

d Quadro 6. Livros mencionados nos inventários da Catedral

Santa

"* Dois Breviários grandes encadernados de couro preto, que servem na estante do coro

Mariana (1749-1804)

* Cinco Livros grandes do Coro das Missas, Vésperas e Matinas Cantadas “ Um Diretório pequeno do Coro, usado " Dois Rituais Romanos, um de meia folha encadernado em couro mesclado e outro de quarto encadernado em couro preto, de que usa o Reverendo Pároco * Deis Cantorinos que servem nos Ofícios de Defuntos

Ê Le

RS

fermo de entrega: 28/05/1759

Livres

sLivros” [E 221] ad

“ Seis Missais encadernados em bezerro * Um dito em carneira encadernada * Um dito em marroquim

* Nove

* Um Martirológio que serve no coro, já usado “ Três Missais encadernados em couro vermelho

« Um Breviário grande do coro encadernado em cordavão preto 12/01/1749

“Livros” [É 5r]

: eo

« Um Pontifical para as Missas com a mesma encadernação s

" Doze Missais que andam no uso comum

dito para o mesmo

Qutro

a Dois Passionários com a mesma encadernação

“ Um Ritual Romano = Qutro dito « Um Martirológio Romano

ae (Adição) Termo de entrega: 11/01/1753 “Livros novos para os Pontificais” f. LOv-| Ir

mo de entrega: 24/11/1759

« Quatro Livros de Pontifical em marroquim colado em ouro * Um Diretório do Cora * Doze livros processionais de cantochão = Um Missal com capa de marroquim dourado = Um Capituleiro, capa do mesmo, também dourado



Termo de entrega: 11/01/1753 “Livros novos”

“Livros que faltam

“ |

nd

mi

que acresceram”

grandes

de Solfas pertencentes ao Coro, que deu Sua Excelentíssima

* Falta um Livro das Paixões - 45900 "* Um

Livro das Procissões = 8450

* Um Livro da Novena de São José - 8300

Nirega € fiança: 15/07/1790 A LEERad] =

TE

T

[Não foram relacionados livros]

A

o , € « Um dito encadernado em couro vermelho, intitulado Manual Coral « Dois livros em couro preto, um das Paixões, outro dos Prefácios e Lições E

4 ii

Santa = Dois

Missais, digo, dois Breviários grandes encadernados de couro

. BE pi ia br

na estante do coro

A

* Um Diretório pequeno do Coro, usado

ira

* Cinço Livros grandes do Coro das Missas, Vésperas € Matinas Canta

« Dois Rituais Romanos, um de meia folha encadernado em couro3 Eee rendo Pároco quarto encadernado em couro preto, de que usa O Reve = Deis Cantorinos que servem nos Ofícios de Defuntos

É

everendissima, encadernados em couro, com seu uso

* Inventário: 01/07/1790

am Pontiftoarso = Um dito de grande volume intitulado Preparatio ad Miss

Ed

À Dez Livros

1 Jens que faltam]

= Quatro Livros pontificais, encadernados em couro vermelho

Sn

,

« De doze livrinhos da Novena de São José faltam cinco CR = Falta mais um Livro pequenino de defuntos usavam por ur = Faltam dois cadernos da Missa de Defuntos de que já se não

FI4 LÊ 199)

Eur

" Sete Missais, a saber: seis novos e um com seu uso

8

ERA.

= E 50rsov

Diretório de Coro

= De doze livros de defuntos faltam três

"Ens

a

de entrega e fiança: 15/07/1790

= De doze Rituais Romanos falta um

Euo de ento: OUtLgAd ao

Re

inventário: 01/07/1790

“ Doze livrinhos de Novena de São José

« De dois livros Processionais de cantochão faltam três

[Não foram relacionados livros]

E 32w33r]

= De seis Missais encadernados em bezerro falta um

Acerto de conta

31/03/1767

e entrega € fiança: 31/03/1767

« E todos os livros pequenos metidos em um saquinho de linhagem

f. 10v=| Ir

ma entário: E

aa

a

“ Um

[Não foram relacionados livros]

[26-27]

à

“ Doze livros de defuntos

(Adição)

“* Cinco [novos] que servem a seis anos e dois encadernados de novo, e os mais antigos, usados bastantemente, e um destes muito antiquissimo e grande

Ee

* Cinco Missais com capa de bezerro pardo



mais usados, que servem nas Missas Cantadas e outro que serve nas Missas de

ontifical

É

Termo de entrega,

Processionais

" Seis Livros pequenos das Novenas de São José

= Um Livro de Evangelhos e Epistolas encadernado em carneira



Nove Processionais Seis Livros pequenos das Novenas de São José Um martirológio que serve no coro, já usado Três Missais encadernados em couro vermelho Dois mais usados, que servem nas Missas Cantadas e outro que serve nas Missas de

= Doze Missais que andam no uso comum

e

= Três livros de cantochão para o coro

109

Pontifical

ms

Inventário

DA CONQUISTA ATLÂNTICA

Livros

manteve uma livr; guardado pelo mestre da capela em sua casa, a Catedral também mui tas vezes cantoel

, textos, e icas rubr com os rgic litú os livr de da tuí sti con te men ica bas

LINGUAGENS

mm

K

1 E Pd ; E

ond

1803

— PWtTEga: 20/02/1804

Rs no udu dis

três encadernados de couro vermelho e um de couro preto

k nes Canon Misse Pontificalis E de Epistole et Evangelia Totius Anni Ois

Pontificale Romanum

* Um Missa Pontificalis * Três Pomificale Romanum : Quatro Pas : :

Um

sio Domini

as Dominica in Palmis

E. 105

A | A tÂN E AD ID RN DE MO NA OS NT ME VI MO E S RE CO SONS, FORMAS,

110

11

ICA NT LÂ AT A ST UI NQ CO DA NS GE UA NG LI AS E SONS, A SONORIDADE

Ro

4

. E

Livros

tári o

=

velhos:

muito

= Cinco

ios

“É

[e] Missas Próprios e aos 2.40 O que um novo, um encadernado e outro muito velho

ventário gs EN “Auto de recenseamento, revisãoe E exame: 20/06/1803

ermo de entrega: 20/02/1804

10º p de recenseamento, revisão €

Ro

dilacerados

ditos,

= Um Antifonário do Coro : no mingos

pr

dy

) |

a

um Missal e outro Epistolas e Evangelhos - com es É: a

u

a ne além da aquisição de novos livros, à Catedral gastou altas seranoticias Extra artir de 1813, como se observa nas seguintes

? livros velhos, pelo menos a p jana: . : do Livro Fábrica da Catedral de Marian réis “A Francisco

“20 f das Antifonas

Antônio

Pereira,

Soares



— 48050

eu

Defuntos

No

réis “Ao

Vidal

Padre

José,

conse

do

1826 —S 4$260 de Defuntos e

z :s “Ao Padre Francisco de Sales, de en cadernar nove livros re A eee Processionais

]

]

A partir do inventário de 1803, dois títunos c Jem

am a atenção

de recenseamento, revista e

inventário: 16/12/1835 Ermos de fiança: 02/07/1839 e

1852,

partir de

mas

OS Passio Domint

inventários, até o último, de 1882 (qu a

f

E

Ea

a

TO

;

E

Mw

o

daventário: 03/11/1840

HO 06 encerramento: 03/11/1840

30.

21. Idem. £138v.

22. Idem. £144v.

93. Idem. £.144x.

Theairo Ecelesiastico

* Um jogo de Theairo Ecclesiastico

" Um segundo tomo dito

« Quatro Passio Domini

* Um jogo de Theatro Ecclesiastico

* Enrprimeiro-tomo-dito-conro-Reverendo-Subchantre [riscado]

01/1 01/12/1843 : Ermoimo de fiançafiança:

e

“Livros”, f. 139r-139v ] RE is E sat ae ti

ça.

10/01/1853

12/1852 e

Quatro Passio Domini

“Livros”, E. 15sy ao

6 de inventário: 03/11/1870

o

de fiança: 05/05/1871 MoCa er A

Ra"

a

:

E

NO

165

9 de encerramento: 06/11/1882 TOS", É. 175r-175y ot

49-1869, £.1334. 17 a, an ri Ma de al dr te Ca da a ic AEAM. Códice P-11 (sala 20). Fabr

de

“Livros”, f. 128r

RR

ÃE

mensisa"a ser lesiastico deixa de e ao EPE : ecclesiastic Theatro O Santa. Semana música das Paixões da Ao presentes nas relações de estão ini

m jogo

| (03/11/1840

MAIS

lesiastico (de Domingos do Rosário) e os quatro Passio Domini, ou Se) 5

Qualso Fússio

=

mia ha

“ Quatro Passio Domini

» Ee Recenseamento, revista e

tiv: r0S-CONMBRRRE

* Um dito, segundo volume

RE

pela sua irequis eia

ss

« Um segundo tomo dito

Ofícios

A

to.s Um dito, segundo volume

mventário: 03/02/1834 de fiança: 16/12/1835 Termo aLivros”, £ [llv-L12r

0 The é : vim e XIX:

pelo significado na prática musical religiosa brasileira dos secu a

«

Auto

|

or

dE

dos

a

=

“TREE

.

e

a

dos

" Quatro Passio Domini “ Dois Theatro Ecclesiastico

1834 “Livros”, E. 951-95v

rto dos Livros Processionais e de |

" Quatro Passio Domini E e |" e « Um dito, segundo volume

Livros pao nah Thesti, digo, Eceliástico

« Quatro Passio Domini

11º

de fiança: 31/01/1834 e 03/02/

mos

7

1826

=

o

| de recenseamento, revista e

raia BD le LIVIOS € Missais, os rnar ; suAi Ê ? encade de 1819 — 17$100 réis “A Cláudio Marcelino Pereira, h 92]

“E 89v

e

a”

para encade

ssornso:

exame: 19/07/1825

Tivro rnar O NvIO

:

sa

de Mariana (1803-1882

ios

à de recenseamento, revistae | * Primeiro e segundo tomo de Thearro Ecclesiastico

o repare

a

— $900

=

A

bordados de fio de ouro em sacos de cetim verde desbotado, que foram do mesmo nº

1813-1816

Cr“Livros

“rancis

Senhor Dom sais Ea foram do Excelentissimo Reverendissimo k

O

E

2

Martirológios

is

ão as

E ame:

E Rituais, um encadernado e o outro muito velho

[£. 73r-74v]

inven

o

* Quatro Livros de Passio Domini

* Quatro

dral

d

tári

73-74

uLivros”, É



* Um dito, mais usado d » Seis ditos, Re

ito



*

:



= Dois Missais encadernados em cor vermelha

add

DA Termo de TE

e dos Passio Domini

do Rosário)

E.

e

« Doze Missais novos, um destes com fecho de prata

Auto de recenseamento, revisão €

.

a

Ae

“a

a

|

« Um dito, segundo volume s Seis Processionais encadernados = Catorze dos Ofícios de Defuntos



;

Domingos

a

Eccliástico digo, “bati Thesti,| digo, Theatro Ecclesiástico,

« Dois

,

Con

E

E

Lamentationes

= Um

d+

:

Graduale Romanum, An iphonar

Psalterium Romanum,

Romanum

muadro 7. Referências a exemplares do Theatro ecclesiastico (de

=

Livros de Passio: cantochão figurado ou música

da Cate

E 1 - OS SONS, A SONORIDADE E AS LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

E SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADATL

112

essivas € suc em so res imp foi o, ári Ros do os ng mi Do O Theatro ecclesiastico, de principais iniciativas para à substituição di

de 1743 a 1817, e representou uma das

est ece o atr The do ão cis con e de ida tic pra A ” al. locais pelo rito tridentino em Portug ro alcar liv e est que m co fez as, tin den tri as ric rub das a observação aliadas à precis inúmeras bibl em do ra nt co en da ain o nd se , sil Bra O o tod grande difusão em Maria de ca si Mú da u se Mu O . ais Ger s na Mi em o ud eclesiásticas ou não, sobret impresso € es del igo ant s mai o o, açã lic pub sa des s me lu vo exemplo, conserva onze os de 18 ári ent inv dos tir par a al edr Cat da o nt me ci (quadro 8), mas o seu desapare aqueles te en am at ex m ja se o nã ca si Mú da u se Mu do indicar que os exemplares nos documentos acima transcritos. in

iastico de Don es cl ec o tr ea Th do s õe iç ed e es ar Quadro 8. Exempl (MG) a an ri Ma de ca si Mú da u se Mu no Rosário

Edição

Volume

Número

exemplares

[s.d.]

E

|

1758

|

i

1786

I

|

1786

H

]

1817

I

3

1817

H

1782

de

2

2

Números

úsica de Mariana e com O título Passio Domini Nostri Jesu Christi in numeris digesta

qt vocibus quatuor decantanda, seu potius deflenda: opus Francisci Ludovici Musi

ositi in Cathedrali Sede Ulyssiponensi.*

007

006 / 123

E

No Museu da Música de Mariana e no Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo 3 Domingo de Ramos) e segundo São João (para a Sexta-feira Santa), o que corrobora idade da referência, nos inventários da Catedral de Mariana, com os quatro vol A

cm

2

Los

-

a

a dos no Museu da Música. Algur E um livros atualmente preservados no Museu da Música podem ter pertencido edra e ariana nos séculos XVIII e XIX, como os Processionale tridentinos (com o

hão romano) impressos em Lisboa em 1734,% em 176177 e em 1777,º contend o à oo DR

[ E ; De 1 Sancto. jato

Aa in die Palmarum, Feria V in Cona Domini, Feria Vi in Parascevé i Esses p processionais possuem notas manuscritas, relacionadas no quadro

ranscrição paleográfica), que comprova o fato de que o

de catálogo 005

113

pertenc

à livra

tadro 9. Exemplares e edições do Processionale juxta formam

|

— Ritualis Romani, Pauli V. Pontificis Maximi jussu editi, no Museu da Música de Mariana ,

a

122 004 009/ 102 104 008 / 101

Número de | catálogo IMMMI]

| :

LO

na

Cré o a par um ): ca di nó mo ão ix Pa da es or nt ca os em três (pois eram três diáconos (que desempenhaO

0

+

“Da Sé de Marianna” [2º f. não num.)

“Para o uzo do Ps Mestre So-/-[chantre” e “ E plan Sa e [ambos no frontispício] 15

012

À

[século XIX]

“Da Cathedral de Mn.º” [frontispício]

|

ana | ri Ma de al dr te Ca da s io ár nt ve in nos s Os Passio Domini mencionado us Ec nt Ca O e qu vez a um s, so es pr im ros liv ser 1882, entretanto, não parecem volur ro at qu em o nã , 86 15 e sd de o, ad it ed foi Passionis Domini Nostri Jesu Christi

Notas manuscrito

E L

EL

ada

EF

Pertence a Sé de Mn.” [frontispício]

“pertence a Sé de Mn.” [frontispício]

Cathedral de Marianna” [final do livro, flv] Pertence a Sé de Mn.”

[frontispício, 2 vezes]

goga na Si o ra pa mo ti úl o e sto Cri o ra pa o tr ou narrador), CG o, hã oc nt ca te en am iv us cl ex ém nt co co ou mp demais personagens da Paixão). ta sica”. mú ou do ra gu fi o hã oc nt ca : sto Pas os vr Li o o Inventário de 1882: “Quatr seja! inventários nos s do na io nc me ni mi Do sio Pas os e qu É muito provável

Lu São , os rc Ma o sã , us te Ma o Sã do un eg (s s õe volumes manuscritos das Paix ervado: 3), cons 69 -1 (2 s Luí o sc ci an Fr s uê ug rt po sta nti sce João) do compositor sei

7

ham muitos do ac se que em o tic ias les ecc o atr The é: ção edi 24. O título completo da primeira do coro, €: ar. os ici Off nos ino Div to cul ao da ica ded soa Canto chão para qualquer pes lada Conceyçamt, * cu ma Im da ulo Tit no era Sob O com sa Nos Virgem Santissima Senhora Bernardo Fernandez D. de ica Mus da na nia qui Joa na ici Off Na huma das capellas. Lisboa: sa Portugueza, 4º ren Imp to: Por es. ues tug por s ico mús Os de. m CE VASCONCELLOS, Joaqui 298.

da Mús A ica de Mari ana.

RR is

Dovici /MuMnrisicceses Pre (SEU si” POT. IUS chedraliecaSednta i c , nen Prenoe positi in Cat /Ulnda yssipo Sem

do de copista. Portugal, meados do século SSIONALE XVIII: partes de ALAZTB, cantochão i ual Rit am rm fo 2 ALE juxta 1: S/ed, 1734, 2£. não ONALE Juxta j formam o

o

Ritualis Ro

ti da Silv ; 1761, 234p. 9f

Za o! IALE Juxta

hia Regia, 1777, formam 159p.

Ronan

Ritu CR

:

a

E

a

:

,

mani, Pauli V: Pontificis Maximi jussu editi. Ulyssipone:

alis Romani, Pauli V. Pontificis Maximi jussu editi. Olyssipone:

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLA;

114

aa

encerdos, o Redemptor, Ouverture João de Deus, Te Deum composto para entrada de D.

Material remanescente do arquivo musical e da livraria da Catedral de Mari da Música acabaram, 2 portanto ] sendo preservados no Museu Ena

O

mestre

da

capela

João

de

Deus

Castro

de

E

Lobo

AM , mato Vila Rica, ordenou-se em Mané E a João de Deus de Castro Lobo, embora nascido em e Co e e tornou-se mestre da capela da catedral, Paionedanenta er agor; que da capela “5 pio À atéIa | mé Castro Lobo para o mestrado

Lisboa. A única provisão de

conhece foi emitida em 7 de outubro de 1825 e registrada no dia seguinte, no Livre

Registro Geral da Câmara Episcopal do Bispado de Mariana:

|

“B

Dom Frei José da Santíssima Trindade, por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica, no Fidelíssima, Sua Majestade de Mariana, Bispo Rai cristãos satidedo eConselho bênção. deFazemos saber que, atendendoquenósDeusà guardas petição retroGg do Padre João de Deus Castro, havemos por bem, por esta nossa provisão, conceder-lhe licença para servir d e Mestre da Capela da nossa Catedral por tempo de um ano, se antes não mandarmos o contrário, a qual ocupação servirá como convém ao serviço de

Deus e ao nosso, não consentindo que se cantem músicas com composições pro fanas, nem também que se cantem em uma festa as letras que competem à outra, e decla | us que preferem os músicos nela assistentes, e haverá os emolhumennaa que io | pertencerem, e cumprirá tudo o mais que for da sua obrigação, e será is nesta cidade, sob o selo de nossas armas e sinal do nosso Reverendo Doutor Provisor ira

ú

sa, a subscrevi. ço s Vi de an rn Fe o sé Jo nd re ve Re o , eu E . 25 aos 7 de outubro de 18 0. Marcos Antônio Monteiro. Chancelaria - 3800 F

P

1

ra

AA

o.

A julgar por pagamentos realizados pela Fábrica da Catedral, pela Irmandads Santíssimo Sacramento, e por info rmações da “Lista das músicas pertencentes à j as | menos 1 o pel de des al edr cat da ela cap da tre mes foi o Lob tro de 1832, Cas

oa d a fic grá bio a íci not iga ant s mai a ta, pei sus a ndo ora morte, em 1832. Corrob que 0 €9 mpo ere sug a, ent Pim o mpi Olí por 1 191 em ada Deus de Castro Lobo, public em 4 esde sua ordenação sacerdotal condepois, até sua morte, aem E NR ou poue

:

Logo depois da sua ordenação sacerdotal [em 1 822] foi nomeado Organista da à



a

1

e,

pela:

à Igreja marianense, impondo o seu nome à admiração de todos e à posteridad fio q suas composições de músicas sacras, entre as quais sobressaem a Missa [al oito, “a

[a] quatro, Novena da Conceição, Matinas do Natal, Antifona de Nossa Senhorã, 005 2

29. AEAM. Livro do Registro Geral, 1825-1827, £.5v/6Y.

17 e

2a |

de Defuntos, a

último

1823,” enquanto a Lista das músicas pertencentes à Catedral”

não deixa dúvidas

y nto ac seu retorno à Catedral em 1832 ou pouco depois. E aa João de Deus de Castro Lobo, um dos três autores catedralícios brasileiros a ter um ero significativo de obras preservadas, ao lado de Nunes Garcia no Rio de Janeiro e

RCONNO estimada entre 40 e 60 a Gomes em São Paulo, tem uma produção EAN as, O que o coloca como o quarto autor brasileiro de sua época em número de omposições. O período de Castro

Lobo

de Mariana

na Catedral

corresponde

sroximadamente ao seu período como compositor, e por isso sua produção está

ligada à prática musical e ao próprio arquivo musical dessa igreja. sic era indo-se que somente de Castro Lobo e de Corrêa Lisboa são conhecidas | posiçõe musicais, e que a produção remanescente deste último é bem pequena, O masc o pais representativo da ERAnpOdICãs musical a serviço da principal rimei RR 7 “2a Ebtese de Mariana e o estudo de sua música será importante nos trabalhos acionados à catedral. Olir pio Pimenta (1911) é o primeiro autor que apresentou uma relação de obras de ode Deus de Castro Lobo, e, a julgar pelo título de uma delas — Ouverture João de Deus Meve ter consultado manuscritos do arquivo da Catedral, já que reproduz a ordem das

int mamente

-

narr

e

BSPmaçÕEs que normalmente aparecem nos mesmos, ou seja, o título e o nome do autor, O Ocorre em alguns manuscritos dessa obra que ainda existem na Seção Mariana do .

Iseu da Música:

EE En

serviçõe À [de Mariana], e neste caráter o Padre radre João de Deus Pp prestou os mais assinalados DE

os Seis Responsórios :

o pede Ro Eca ep «do nas duas ocupações. sr e depois Lisboa, e músico sobre o qu Ea. RE apela da Cate dral foi exercido por José Felipe E ROCorrêa js Sia da Fábrica E ste muito pouca informação na literatura paes função teria desempenhado a adral de de Mariana sugerem | que esse músico qu cerca de o entre vá edral

Er

pe

1822, Es

Curiosamente, Olímpio Pimenta cita apenas a função de organista, mas como foi num a nomeação para Os dois cargos na Catedral de Mariana, o compositor deve ter

Fele

Catedra

em

ansamento com o qual cerrou o escrínio glorioso de suas composições.” j E o

J1

:

i

sd

a Minas

veio

I quando

LA PEC

e seu estudo relacionar A : 4

informações encontradas na documentação eclesiástica revelará detalhes importantes ir Pp rática musical em torno dessa igreja. E

115

OS SONS, A SONORIDADE E AS LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

É

. Boletim HA, Olympio. Recordação do passado 1794 a 1832: o Maestro Padre João de Deus

EURO, Mariana, ano 10, n. 5, mai, 1911, pp. 110-3. Esse artigo já havia sido referido por D. Oscar 1

Ci)

Bo

de 1986, também dedicado à biografia e à produção musical do compositor

+ Nero, mas não

Ra

Eobo (reimpressa

; ei de 1929 sobre Castro citado por Raimundo Trindade em sua breve notícia

), que também não informa o período em que trabalhou na Catedral de Mariana, CE OL] Rs LIVEIRA, D. Oscar de. Padre João de Deus, preclaro musicógrafo mineiro: 1794-1832. O FUuidiOcesar

!

siga

rir: b Mariana, ano 28, n. 1.412, p. 1, 12 out 1986; TRINDADE, Côn. Raimundo. Arquidiocese o Seo sua historia. 2º ed., Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1955, v.2, p. 94. AEA 4. Fábrica

Mariana, £.135v, 141y, 142v, 1431

ódigo 7 atci Contra Bai

Ena

=V$-

o

de tedral CDO.01.3 71. Endereço atual: AO1P09C051. Sem código antigo. Endereço antigo: 9 - C01 - “Largo/Trompa 1º/Overtura”: cor 1 ; CO2 - “Ouvertura Pelo P e João de Deus

dó/Largo”: el 2, bx; CO3 - “Clarineta 1º Ouvertura pelo P e João de Deus/Largo”: cl 1,

Clarins Ouvertura pelo/P e João de Deus”: elno 1 e 2.

»

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à AM E AD ID RN DE MO NA OS NT ME VI MO E S RE CO , SONS, FORMAS

116 . srs

TE | - OS SONS, À SONORIDADE

117

LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

E AS

- Jiogra fia

[a] oito [vozes]

-* ain

* Missa [a] quatro [vozes] e Novena da Conceição * Matinas do Natal * Antífona de Nossa Senhora

"ARDO S O, André. “O arquivo musical Janeiro: 1808-1889”, in Anais do Centro Cultural Pró-Música, 2004, .ACapela Imperial do Rio

e Ecce Sacerdos º Redemptor

e o repertório da Capela Real e Imperial do Rio de V Encontro de Musicologia Histórica, Juiz de Fora: pp. 40-54. | de Janeiro: 1808-1889. Rio de Janeiro: Uni-Rio

Tese de Doutorado em Música, 2001.

* Quverture João de Deus I em Minas Gerais (1822) ro Ped D. de a rad ent [a] a par um Te De

y

4.

E e

4

que vêm sendo descerite s to ri sc nu ma os pel gar jul a , bo Lo ro st A produção de Ca Pimé por ta cri des a e qu r io ma s ze ve ro at qu s no me o outros acervos brasileiros, é pel ante em re rt po im to en im ec ar cl es um a nt se re ap r to mas esse au composiç ma ti úl a foi a ess a, nt me Pi m co do or ac Seis Responsórios de Defuntos. De

falecimento du seu o pel te en am st ju os ri só on sp re s sei as Castro Lobo, que possui apen a composição da obra: 1

|

STAGNA, Paulo. “Pesquisas iniciais sobre os mestres da capela diocesanos no Bispado ariana (1748-1832)”, in Anais do V Encontro de Musicologia Histórica, Juiz de tora: Centro Cultural Pró-Música, 2004, pp. 55-76. BF EL, Vitor. “Patrimônio, inventário e herança: a posse de mestres de capela na Sé de ão Paulo no século XIX”, in Anais do VI Encontro de Musicologia Histórica. Juiz de | ora : Centro Cultural Pró-Música, 22-25 jul 2004, no prelo. h TE (o) Maurício. “A Confraria de Santa Cecília no século XIX”, in Anais do II Encontro de Musicologia Histórica, Juiz de Fora. Juiz de Fora: Centro Cultural Pró-Música/ Pe: rob 4s/Universidade de Juiz de Fora, 1997, pp. 29-63. F | RA D. Oscar de. Padre João de Deus, preclaro musicógrafo mineiro: 1794-1832. 0 | 1 p. 1986, out 12 a, ano 28, n. 1.412, Marian cesano, rquidio | ETA, Olympio. Maest o Padre Joã ação do passado -- 1794 a 1832: o Maestr Olympio. Record HENTA, Re C etim Eclesiástico, Mariana, ano 10, n. 5, mai, 1911, pp. 110-3 asti : Motu Próprio de S.S. Pio X sobre a musica sacra. Boleti m Ecclesiastic Rare a -

* Seis Responsórios de Defuntos

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infiaga

o

infli adc estro o e onado apaix to íri esp inflama o estro ra paixo st mo m Guarda-se aqui uma tradição que be Depois de haver concluído. e. erp Eut de e art desse malogrado sacerdote pela divina jaboticabeiras sas ano de o ix ba de o ad nt se as , mo Sexto Responsório e encet ado o Séti a

gne homem dé si in o o uc po há a idi res de on io éd pr ao o que ainda se conservam junt que estavam dos ão uç ec ex a u vi ou letras e mavioso poeta Alfonsus Guimarães, u com lágrimas: izo fet pro aposentos, seus dos interior arrematados e, voltando para o ficam Os incompletos mas completa, está missão minha remate de seus dias: “x 4

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a = H gt ck

LC

no: 3, 1

4, jan/fev/mar, 1904, pp. 15-24,

E: E

átia da Conceição de. A música na história de Minas colonial. Belo Horizonte:

370.

á. est a nd ai a an ri Ma de al dr te Ca da o rn to em O estudo da prática musical é não e qu os ct pe as m la ve re os ad lt su re us el perceber que se

início, mas já é possív

s e suas ( re to au de ou s de da ci de o rn to em l ca percebidos no estudo da prática musi de 15 Francisco Curt Lange a partir da década

na linha daqueles publicados por tedrais bras ca as tr ou a es nt re fe re s do tu es os integração desse trabalho com e Im] al Re la pe Ca e nt me or ri te os (p o ir ne Ja de Rio e especialmente as de São Paulo arc us se de s te en sc ne ma re is ca si mu s to ri das quais existem documentos € manusc

T sic 4 Té a tic prá na os id lv vo en s no me nô fe dos permitirá uma abordagem mais ampla 3 X. brasileira dos séculos XVIII e XI

RE

Ec A E : Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1989 | DADE, Raimundo. Arquidiocese de Mari ariana: subsídi £ BRDE, Côn. (di os para sua historia. 2º o orizonte: Imprensa Oficial, 1955, 2v.

, s. ol , 2v za ue ug rt Po sa en pr Im o: rt Po s. se ue ug rt po s co si quim de. Os mu

ONCELLOS, Joaquim de

Conclusão

|

Ê

|

De

“Os SONS E A PAISAGEM FABRIL NA MINAS

* OITOCENTISTA: O CASO DE ITABIRA

Cristiane Maria Magalhães

D objetivo deste estudo é pesquisar a paisagem fabril que se constituiu a partir de Md 1Mina “Oitocentista, e que apresentou as mes mas características ambíguas e E

E

e

roi

|

da

gêneas da modernidade industrial que se estabelecia no país. lesa perspectiva, uma questão se impõe: como as ambigiiidades pró prias da dade foram incorporadas ao universo fabril e promoveram o enc ontro entre o iador nacional e o técnico estrangeiro, o mundo rural e o universo fabril, a disciplina

po do trabalho com os ritmos e sons da fazenda?

ra

i mente, é preciso pontuar o que está send o denominado de paisagem. Para este paisagem é o que configura o núcleo fabril: suas edific pr ações (a forma física), seu

Rano

(a tecnologia), e seu componente humano (os operár ios, os administradores e angeiros).

das nas

zonas rurais dos municípios, na maioria das vez es numa fazenda, as

rica: de tecidos mineiras construíram ao seu redor um núcleo auto-suficiente

o E nção da produção. Nesse núc leo, a pa isagem fabril abrangia tanto os signos ER ca

r é industrial, quanto as características do mundo rur al, e criava antagonismos, * “ORvivência de técnicos estrangeiros ao lad o

de trabalhadores nacionais, livres e rtada que pro duzia tecidos transportados nos lombos de burros | erior | nineiro ; e a inco rporação de signos da religi osidade, como o sino, para Háms , no estud o sobre o camp a o ea cidade, enfatizou que a vida do campo e a da "St € presente: move Se ao longo do tempo, através da história de uma família ne Povo; move-se em se ntimen tos e idéias, por meio de uma rede de relacionamen tos

vos: tec

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| p.19. -

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| mond. O campo e a cidade: na história e na literatura. São Paulo: Companhia das Letras,

a

120

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLANy

ria fabriltés úst ind a e qu se eeb rc pe , ms ia ll Wi a fal e Ao observar esse mover, de qu vimen ro mo ei im . pr ão O aç id ol ns co sua ra os pa nt ce to Oi do al fin no mineira moveu-se

has, « en ar sc o Ma an et Ca o e id nd o Câ ni tô , An do ar rn Be os mã ir dos o do foi di bem-suce end Fa a na ad al st in o, dr Ce do a ic br o Fá a nt me na io nc fu m em em 1872 colocara

BARTE 1 - OS SONS, A SONORIDADE E AS LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

HA Cia. União Itabirana tinha apenas um andar de frente e, por causa do declive do erreno, possuía um porão nos fundos, onde estavam localizadas a caldeira, a tinturaria e a marcenaria. Quatorze grandes janelas de vidro e madeira se destacavam em sua fachada pe om telhado colonial e paredes de pau-a-pique brancas. Na fotografia do itabirano Brás Martins da Costa (18661937),º

o

Ponte, em Taboleiro Grande, município de Sete Lagoas.

já contava 13 fábricas de tecid | O movimento continuou, e em 1885 Minas Gerais

ta i deo Tec | me obir ecoidade cIta nhpi irana, ni cocí ião ltab a Companhia Un Uma dessas fábricas leera De a Ma do mu al do rur da Gabiroba, estabe cida em 1876 na zona

121

fachad a colonial da Cia. União Itabirana, com suas 14 janelas quadradas e o telhad

E

ande sex oEs osé on ric a fáb peldi odriuzaiid dosindu s, ci pr to mo te os s en co tai ns em te gu el ro. Al cr as bar (de s elh st u, os mb , ba os de as nh arc os ri ei nd s, ba as la Nas jane m

ires colocados à porta ca fábrica; indicam se: Rd

il mineira. Essa fábrica será tomada como estudo de caso sobre a paisagem fabr

RR

ão ca iç q peFor aiona sou m do paisSeasmietnáh ria mpos de vestigar ge2 riCo A inspiração para in ac rn te o In ca ti má te a pel da su foi es, forma, dos sons e das cor rica. Se e as ic ér , Am pa ro Eu a ic nt e lâ At ad id rn de Mo o na nt me vi Mo Sons, Cores e e o operariado e compoj br na so li ip sc di e le ro nt co iu uz od pr e qu a rm s: fo a do ca fi ti en id não-trabe do e ho al ab tr do o mp m te o ra ta mi li de e qu ns so ; os ho al ab tr e a diversidad do fabril. eo cl nú do ca li e tó ad ca id os gi li re te for am a ar rc ma e qu es, e as cor

detajunh de o.Santo Antônio, padroeiro da fábrica de tecidos celebrada kodos Possivelmentgae, isa fes

Forma: encontro das paisagens rural e fabril |

o

E

Eram dois os estilos arquitetônicos para construção das primeiras fábri as dei ;

o primeiro, conhecido como Britânica manchesteriana, com a fachada detail in outro, de estilo colonial brasileiro, com fachada similar ao de uma casa-granana E

de café. A maioria das fábricas têxteis7 mineiras ja , inclusive a Companhia União Eltabl inseria-se no segundo estilo: o colonial brasileiro.

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Exatamente um quadrado, composto, de um lado, pelo sobrado colonial onde, no andar | de cim morava a família do gerente, e, no de baixo, ficavam instalados o refeitório eo

É loj m e ) das viúvas. Anexos ao sobrado, do lado direito, ficavam uma pensão e o escritó o da administração. Do outro lado, ocupando toda extensão opos ta, situava-se a ábricz de tecidos. Nas laterais, de um lado, foram edificados o armazém e 5 rancho do Ro e, do ERseo lado, a sala de panos, o depósito de algodão e o dormitório fersiminá:

9 méio dedessas edificações, formando um quadrado, ficava o pátio enorme, alçado

em

au

neo qui Einodão aa — em parte gramado. Ali chegavam os tropeiros e viajantes, que traziam e E Pe

tevavam os tecidos nos lombos dos burros para ou tras localidades. a desse quadrado, atrás da fábrica, estavam instalad as a carpintaria 5 caldeira | » ária e as oficinas. Nas proximidades do quadrado, ficavam o curral DRE Erdenha E: = a Ro devotada a Santo Antônio, o rego d'água (ou bica me) que conduzia a AR = oa o E hidráulicas, a escola, o dormitório masculino, a eo rio Seiros e várias casas oferecidas aos operários casados. Ainda HE Co um extenso pomar com as mais variadas frutas, um açude para ea bastec l

E

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E : E - - E Fe 's: pes

r Para entendimento da formação dessa paisagem fabril, com pete -NOS verificar, inicialmente, como as edificações estavam distribuídas no espaço físico d o núcleo. » Onúcleo fabril da Cia. União Itabirana formava, com suas princi pais edificações,

na

ia o núcl ú eo, um ja jarrd diim logo atrás do sobrad o, uma horta e

= WA para criação de porcos.*

"Sa descrição indica a com plexidade

E

da organização do núcleo. Tudo estava disp osto

o OperárioEs não tive ssem necessidade de sair dali. O armazém, a capela, a TSHã € às residênci Propor r

cionavam uma auto-suficiência quase completa para que os -

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imada: 190

Figura 1: Festa na União Itabirana. Fotógrafo: Brás Martins da Costa. Data aproximada:

Local: Fachada da Cia. União Itabirana.

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1k 7 1911,pc

2. JACOB, Rodolpho. Minas Gerais no século XX. Rio de Janeiro: Gomes e Irmãos & C., 191! !

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. Possuía

Grid grego, alemão, fran e esperanto cês . Em 1901 assumiuo e di ira. Foi iretordiretor-redator do Jornal Correio de Itabira; além ediretor da Companhia União ei

ora à composiçã 9rais doUU Senhor Afons o do núcleoFon fabriril

ôni de Clóvis Alvim, pelos por meio das crônicas

9 Camilo Oliveira, ex-diretor da fábrica de tecidos, e dos demais ex-

IC E ATLÂNT AD ID RN DE MO NA OS NT ME ANT VI MO E ES COR , MAS SONS, FOR

122

“PARTE

1 - OS SONS, À SONORIDADE E AS

LINGUAGENS DA CONQUISTA ATLÂNTICA

123

mesmo espaco, m nu os ad eg gr Se os. ári ess nec em ss fo não o pi deslocamentos ao municí

s € criavam la OR : õe aç br le ce as , so an sc de o ho, bal tra O am av lh operários comparti SIUpos: as religiosas, realizadas em ocasiões de beatificação e canonização de

a

NOS,, traslado Odede imagens í a autos-de-fé, Semana Santa, Corpus Christi e de relíquias, tas“e Ge| santos titulares e exéqu ias: xéqu ias: 0 anas, em geral associ; adas à vida quia s; ee à as prof i e feitos da =

= ”

Fi

2

RuRUIZe , |Une royauté sans sacre.... p. 436.

Mattoso discordatambé efetivam e avelmente

ente e d dos argumentos deste autor quando afirma que “a realeza portuguesa,

RE a ca à fas Racralização do poder, em apesar ARE anã, foram tão sensiveis como a de outros países às formas de ómenos de distanciamento a a intensidade das lutas entre os reis e os bispos terem provocado ciam inter E F interpretado, einodo n ueEe ] chamar, de certa forma, anticlerical, sem que isso possa tre”. Neste deba E Ro se E o expressão de um laicismo ou de uma secularização avant la attoso, oEque parece estar em jogo é a tentativa de adequar ou aSrealezas ibéricas DD José aos modelos francês e inglês estudados por Marc Bloch e Ermest Kantorowicz. | Oro SET CURTO, Diogo R. (orgs) ER ai dos prim eiros reis de Portugal”, in BETHENCOURT, Francisco & e: e ver Embém a dicenssão E ória da nação. Lisboa: Livraria Sá da Costa , 1991, p. 188. Para a o A MM

am

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| istianismo em Ei gao

Rs ii

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E

|

por HERMANN, Jacqueline. No reino do desejado: a construção

Ss Osmonareas a “e os XVI e XVII. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. Dea Na terra, aos espanh mpanham seus rivais europeus. Na condição de novos representantes reis falta pouco para substitu íre m a coroa pela mitra”. GOMES JR., Guilherme

Em

“+ E

a

1

duc,

pere grina:

1998

p.

181. Õ Barroc Deo

pensamento

sobre artes e letras no Brasil. São Paulo: Edusp/

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NTIC LÂ AT E D A D I N R E D O M NA S O T N E SONS, FORMAS, CORES E MOVIM

eiros, bodas rd he de es çõ ma la oc pr s, nascimento de o ã ç a r o m e m o c mo co bispos é s, sa ce in pr e monarquia, tais s pe ci ín pr iras, como ge an tr es es ad id al on rs pe s pe ec no o nã entradas régias e de o, ud nt Co s. re ta a vitórias mili | de o ã ç a r o m e m , o c a nd ai Rr e , as embaixad : mpre presente n x o está se p= os gi li re r te rá ca o e qu já a, ar cl o tã to . E essa sepa, ração seja de fa conjvaui se Es : . as an of pr mo co ra do sa ui sq pe la pe E da segunda categoria, definidas para a

.

cerimônias

os T ds intens“E te an st ba l, ve mó j um e xo fi ndários, um É le ca is do ha un mp co s to . en ev de custe ao e s co ni cê os at ar ap de E em ag nt mo refere à população, especialmente no que Se s pe— la ONAIgrej da ea st cu am er os st ga us Se s. de da ci e de todas as despesRias a cargo das vilas pela coroa € pela nobreza, mas nem

au, gr r no me em e, as ri ra nf co s, io êm gr , os A ayuntament a

mn

ai

s te an rt po im is ma as só a, er êm ef e ur et it qu rodas contavam com a construção de ar passo as gi ré as ad tr en s da em ag nt mo a os A ix “ 1 Desde que Filipe Il retornou dos Países Ba lad ro nt co e nt me sa ro go ri , al re o ci cr “ protocolo da etiqueta do palá 7:

F

47

.

a ser submetida ao

sua estrutur“aa é , ta pa Za sa re Te ra Pa mo dissemos. co W os rl Ca de o ad in re partir do ida | Margarer de a ad tr en a e sd de , te in gu se do gos a culo e parte “pa : reina mesma, ao longo de todo O sé ioo docoDA qa ícet in o e sd de e qu a ic if gn o! si es R so F Is * ” 1701çã V em aborar O proj oco el pe li Fi em de a a it é íc at pl ex , Es 99 15 o em pa E cu a, eo ri pr st Áu 8) houve uma

de FiSAlipe HI (159

AR asa pela dei ta no se ão aç iz on dr pa à É . os id lv vo s en alegorias, emblemas € discursos nela é em de da ci à Il pe li Fi r po o gs ad vi en , oa a dos reis em Lisba do Regimento sobre a' entrad á ã uç nd co de as gr re as r ce le be ta es em o çã j pa de 1619, onde a se evidencia uma : preocu mM a? o, da prática do orador da cidade e do recebimento.? card a Es páli St ; PO o, rg bu bs Ha o . ri pé Im no m : mu co a ic át As jornadas régias foram uma pr , que precise as ri st Au de sa Ca da as rc na mo | emp nduzido pelos | s o N . parte do sistema de governo co seus domínios s do ão ns te ex da ão nç fu em omara . as ce deslocar com frequência gi ré s ta si vi as as lh ta ba ao lado das | e , xa fi e rt co a um a vi ha o nã V os rl Ca t | seu o: ad rc ma a nh te ra bo em IL, ipe Fil r. do ra maior parte do tempo de vida do impe

tendo pas or, jad via rei um foi i, dr Ma em se ond xa fi l, rea de pela busca da invisibilida í emp de os ci lá pa , tes cor em o ad oj al to, nsi trâ cerca de cinquenta anos de sua vida em ados. OR is ov pr im os nt me pa am ac em até e os, residências de príncipes e fidalg a q ri óp pr sua em as ni mô ri ce às o es pr o mp te is Filipe II, este esteve muito ma viagens e Jor em os ni mí do s seu r re or rc pe ra pa es ad apresentando grandes dificuld r imperial pesso: de po O va ta en es pr re avô seu e qu Estava distante do tempo em rnaram

to a ui rq na mo da o çã ta en es pr re de s ta ra Com Filipe II, as formas abst . Espanhol o ri pé Im do os nt ca ro at qu os pel e -s do an comuns, espalh 23.

sa. Arquitecturas re Te Z, HO LA DE E ZAPATA p.

1991, o, ad or ct Do de s si Te : id dr Reales. Ma in

efimeras y fiestas en la Corte de carlos

A e 1

é , JosM. 9. Cf. também DIEZ BORQUE Barroco el en ta es fi y (org.). Teatro »

espafiol”, teatro y fiesta en el Barroco . 12 e sg!s. pp , 86 19 , al rb Se l de s ne io ic Iberoamérica. Barcelona: Ed ..., p. 10. as er ím ef s ra tu ec it qu Ar Z. HO es msline 24. ZAPATA E DE LA das festasde HIBP e as ad rn jo 25. B.Ajuda, códice 51-VI-46. s da r do sa ui sq pe mez, referido Gó o rr za Pi J. o sc ci an Fr de 15926] aê o nd ma ti gu úl à é at 26. Se a, on el rc Ba € za príncipe a Zarago mo co l ia ic of em ag vi ra ei im pr a su ados por viajes y des E , on al “i os an a nt ue nq ci de is ma m importância. A às vitórias aragonesas, fora ia ár in rd ao tr ex de o ri rá artístico e lite , EP-7 ipe . a FUI de es aj vi generaron un fenómeno festivo, los en o ul ác ct pe MEZ. Arte y es GÓ O RR ZA PI IN” pe li Fi de es aj vi en los

FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS e

147 o

146

pARTE2-

|

ça j s a , l a r e g do * do as ad mo as régi que Filipe II e Filipe III realizaram compreendi iam geral, as jorn — De : po os quais se estabelecia previamente o trajeto que e d deveri : co E * umumasa ériesérie de . algum

demorando-se em

nercorrer,

atem

E. E

repar

A

:

o as cidades : do reino. As =cidades do caminh na o Teruma recepção deacordo

pica

ra pa ia nd am Ra av ro ar sn ep uA pr ma , Co po d E o que se organizasse a festa nas localida es ri tó ga ri | ob o nd se o nã , al on gi re e al loc o ti poli gnificantees si in e les imp co smpi se fixar. - T Tam a ê comut

onde a corte não chegasse a

a RR esc a m ge ia av ia co ed es O antecedie

aséri o um e -s T do in gu se te, cor e da e rei do a di e av. o e locais de esta s to is ev pr ios tér cri s. a erei d' os om rd mo e el s ro de crie ei st po re s, re do ta para a en e os pelos aposen os ol oc ot pr O E : ref em o sm me é at am av Havia p lt su re e qu o nt “e me a e o aposenta nt me O ga ar al , as ad or O portâ ânciae ea im a í Da . etc s, de re pa s, ro mu e de o çã cia ent re o É ad jode ri li námo n po es Rn E a s ra ma Câ as e rei do sa Ga col ca s funcionários da NENTE AETUE RR pie 5 ss ?” s. õees. ntaççõ guairaorigodesro sead da ej as orie leveriA amcheg o ment tinsa ino para ta el a er e A che , em ag vi da o mp te o ng lo o coroava 1 çê namsa e O a ções estavam VO É Ro ] te an rt pe in is ma a a er l finaacontecia a entrada solene E a do q poa.is Eraa fequstan as, sei ém mb ta o nd se os long O a u msosécio a na O Ra e a primei maçã | or sf an tr R a iv at ic if gn si a um II XV do metade importância que fo; E l ia ic en a of o ss mi ro mp co um to an qu en r a oi adquirindo, or E E E da li pa ci ni mu Jal a ié º A entr E da Rem l. rea em ag im da lo cu tá pe es ro ei ad rd a mais do qu k a es E um ve isi er e en à úm in la ne r ra nt co en se ond “A de po , al re ta visi pes 4 Esentações que iam desdsde 3 a coa o çã la pu do po da ia ld be nfirmação re a é at o ad av tr o ct É pa S E. ntra um rei ilegítimo. entrad Quanto ao cortejo das entr era compl a nh pa Es em as ad ; | 2a+ Rvam reunida Pta ará de- festa barr oca, | na qual es se cham as várias festas junto do queimei ro lu

diferentes. Em pr

8 ar, a esta dos nobres, encarregados de protagonizar os jogos

o.

anas, sortijas, batalhas simul tícios de destreza cbr J Pod

adas- universidades

ie e

Rapala d s se ui tit ins ou s õe aç or rp co das ta fes a a rri esa oco

oa p re 6 Tos enr s seu m ya la sH de e qu s gin a Fieole gangas, justas poéticas ia a t a t A O A a ap an : d ça as a "às Que organizavam os procissô : , rua de s are alt s seu m co as, qui ESE exercícios piedosos d TR a a re carnavalesca dos

a

"Sm Cortejo múltiplo rca

apa

da festivo. Por último acrescenta-se ala

e Cada ofício concorria com suas quadrilhas

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gru

pi se io id ut m co va ça me co e il es qd e litação dos nobres, e E mbolos da si de o en pl e o tic rús o nd mu d Re * . estava e de on r, até mesmo o grotesco o * onPoptuula ad be li a rt ce , do e ções de ofrdícad ioe « er ee para a construção dos arcos de triunfo elaborados drpora

+ aum fiscal que EM cdi

E

“lo “Maestro

e seus programas fossem neo deensddee ntqu e escolhido entre os membros O ser um superint

mayor y r de la Viilla, encarr egado

A 4, A. PT “As jornadas d

Dto JURREA, Arquitecturas efímeras. » O Ornatos Barro E

BRR

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Rs

de desenvvolv ol i er e aglutinar

ta”,iniipnlirise arara fesSta ep pr e rei o r ra pe es : 19 16 e 81 15 e

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sentes: “O

y máscaras”, in DIEZ BORQUE. Teatroy

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CO

ATLAN SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE LAR

148

PAR

|

da festa pela municipalidade, conservado da joyeuse entrée medieval. Mas, no cas

A

Espanha, ainda é um pouco mais complexo analisar essas permanências devido ao proce

de unificação, pois cada reino independente até século XV tinha uma tradição espe de dialogo com a figura real, que sofre também alterações de acordo com a ma o

menor incidência da concepção de monarquia corporativa. Esses elementos pre ris:

compreendidos e comparados, sendo fundamental levar em conta ainda que entre «

havia os territórios em que essa tradição monárquica tinha mesmo desaparecidoem f o da presen ça muçulmana e da existência de um outro conjunto de símbolos e “a rituais

Ora, não resta dúvida de que a joyeuse entrée de modelo flamengo foi o paradi om artístico das entradas filipinas a partir de 1548, ao lado das práticas de etiqueta

da Borgonha; mas mesmo que isso possa ser constatado no âmbito da elaboração art

corporações nas suas cerimônias de entrada por todos oa seus domínios na form

era realizado em Flandres. Faz sentido, portanto, recuperar aqui a dimensão com desse Império, cujo poder é aglutinador e polissinoidal, caracterizado comi

encruzilhada de tradições e de novas práticas de poder. Desse modo, fica evide necessidade de uma leitura da relação entre a forma burocrático-administrat

monarquia espanhola a partir de Filipe II e a representação nas jornadeas entrac as nas quais se encontram o monarca, seus súditos e as municipalidades.

Para melhor compreender essa complexidade, a rigor é necessário dis e « primeiramente o contexto hispânico, no qual “monarquia e rei formam part po

is



;

da co | o ent nam cio fun desta monarquia em um da construção de uma represe lugares da Europa. À percep fato, por exemplo, de queno significado ritual e simbo e

: na bite que não existia na Península antes do século XVI, enquanto sta, rsali unive :

mesma PR

ATE

época, elas ainda representavam o diálogo local entre a monais ê

anaia na isaçe,

1

nas fórmu assua Sena

mbém Esse caráter universal pode ser percebido ta Je! empregadas pelos escritores barrocos espanhóis, como Lope de Vega € Cak ad, Máximo, est Maj Real rea, cesá , lica cató a, sacr rei: ao m ere ref se ndo qua a, Barc

DA ORDEM

NAS MONARQUIAS

149

E

Nuestro SeRor, Gran Rey Católico, Filipe el Grande. M

RMT ; piline, entre outras. A utilização destas fórmulas cri à uma image idéia a ifica intens que m Fipe, +

des ngula idade e de unicidade absoluta, onde estão articulados, har monios o c ráte cristão, quanto os aspectos moral e sobre-humano do rei ea | e ir içê o de um poder que tem como função reunir os pedaços políticos dol ans

e E Ea

Portugal o uso desses epitetos para os Filipes foi de extrema rele vância, Pane

aS

momentos das visitas reais e nos disse anteriormente, foi durante o E uso da propaganda e imagem ausent One NH Tal programa aplicav li a-se

textos escritos para divulgá-las. Também iá reinado de Filipe II que se desenvo da da figur | como sistem ao FRPESEÇÃO Edss tipos a de instru o m Ride Peprese dosrei mtação: a diverso ; ã entos de divulgação que iam des le a escrita antiga ao panfleto publicitário , da arte efêmera dos arcos de triunf o à tampa de combate”, além da construção de metáfora s a -

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ir único

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políticas e do estudo da históri

sal como atributo real.3?

Um

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dessa preocupaçãqo com astradições das partes do complex é a

Re forma de apresentação do corpo do monarca de e do local em que se encontrava , adotando os emblemas do ie

poles, como senhor de Milão ou como rei de Portuga É

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ado, muito broc de vista me que em Quer O — di mas ade, vont atra à minha izem que é o costume daqui?* a

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mr é Imagem e propaganda, p 55

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dmiração que demonstrava

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| es e Jardins, frutos e flores, como se pode Asa ss * Pomar “Me o que vai nesta caixa e disseram-

me que era lima e, embora na porque, se for lima, nu nca vi1! u uma tão grande como esta; egar, provai-a e dizei-me o que €, porque não posso acreditar

AM

29. DIEZ BORQUE. Teatro y fiesta en el Barroco, p. 12.

o estudo que comparasse as tradições HE 30. E foi possível Sega E Re AE : gias nos reinos espanhóis anteriores a 31. LISÓN TOLOSANA. La imagen del rey..., p. 55. Tradução da autora.

E

;

qustera q que se mo strava na Es panha — apresentou-se às Cortes de Tomar em 1581 pd o de branco e brocado ; Sem tid coroa, tendo o c co mo símbolo da monarquia Nguesa e seguindo a etiqueta trad ici onal ; 1 da Casa io - ala: de Avis. O próprio rei, em situação * a E ar, queixa-se dessa maneira sofistica da do vestir, à qual nã o estava habituado ESvendo conformado a uma de suas filhas: .—

mática prag ão zaç ani org da além o muit vai que estrutura simbólico-moral

E

E DA INVERSÃO

gestad,

Rey de reyes,

não nos parece que em termos de dignidade política fosse possível para uma como a de Filipe II incorporar a superioridade dada aos representantes da cida

ado das pia ai seln ieorosa derp a; tiv sta gbi nsão dan asce de esso proc o -se estatal”.3! Considerando historicamente fragmentado verificamos a exigência sensivelmente diferente da que se deu em outros especificidade desta monarquia espanhola explica o filipino as cerimônias régias tenham ganhado um

PODER

Excelsa Majestad. N

E.

projetos artísticos e urbanísticos perenes e efêmeros.?? Nesse processo de distribuição !

= 2 — FORMAS DO

j

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ional direito de: ivência de um fragmento do tradic funções encontramos Ns a sobrev ! Es

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E pe Infantas Meninas - Lisboa: Anai

4 3 de

abril de 1581



e E é

na irmã ou pouco depois”. BOUZA. E É ; orrespondência de D. Fili

e ; p da Biblioteca de História/ Publicações D ? Quiiote à e

asd jkE

Hipr+

9

150

SONS,

FORMAS,

CORES

E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE ATLÂN'

MARTE 2 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS...

151

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Ê

imagem adapt: Assim, percebemos que a capacidade de um rei em apresentar uma

medievai atribuíam um grande Sinificado a assistência do rei nas diferentes partes do rerritório, sendo a mobilidade uma característica e um modo de vida estreitamente ligado 4 própria condição da realeza”.ºº Naqueles séculos os motivo s da itinerância régia em

ao local em que se mostra — tão bem praticada por Filipe II -, que aos olhos de hoje pos im

I, uma e parecer superficial e mesmo estereotipada, tornou-se, ao longo do século XVI ão do tratado paç ocu pre a tra ons dem o com ol, anh esp a arc mon do principais virtudes domf a cad a que re suge se e ond IV pe Fili de ão caç edu a para ito escr o príncipe instruíd ade monárquica: « est maj à sar res exp de ca cífi espe ma for uma dia pon res cor ial itor terr eder em Port em Espanha esta era dominada pela severidade, o contrário devia suc em Elandre ou s ore sad ver con e s ávei trat to mui são s cipe prín “os e ond ça, em Fran o que “um Prínc serão] muito humanos e amigos de suas festas e regozijos”, concluind com os naturais de su se armod aco a ta pos dis to mui a, cer de za ure nat a há de ter ante e necessá ort imp s mai ca mar a a sej vez tal a cer de za ure nat uma províncias”.?º Ter 1 a um senhor universal. a morado dos Durante as jornadas a Portugal, os Filipes e os portugueses, além avam pondo estrangeiros de Lisboa e dos espanhóis que compunham a comitiva, est

Portugal eram, em ordem de importância, os seguintes: o exercício da guerra, acontecimentos solenes, caça, realização de cortes, ocorrência de peste e a deslocação sazonal determinada

nelas variações de condições climáticas.”A autora não se refere a quaisquer semelhanças

entre as entradas régias medievais portuguesas e as joyeuse entrée, seja na sua versão francesa, seja na forma flamenga, contudo havia toda um carga simbólica envolvendo aros, gestos e ritos implicados no diálogo entre rei e município, o poder central c o poder local, nas terras lusitanas. no

a

e

dor cidades diferentes para se estabelecerem. Assim, não encont ramos na história de

Portugal, até o século XVI, um espaço que realmente tenha se destacado como Paço Régio por muito tempo. Santarém, Coimbra

era

peitadosiaa res am for pre sem nem que , vos ati str ini adm itos dire nos ple garantia-lhe

de passager des dos sessenta anos da união. Isso nos leva a sugerir que os momentos imento, tar lec abe est de s ada egi vil pri iões ocas sido iam ter as ues tug por pelas cidades ador que vem de per -im rei O e entr vez a dest mas es, part as e entr o log diá de um ocam Sé col que is loca s pai ici mun s ara Câm as e o, éri Imp do de ida sal símbolo da univer A = desejos e necessidades. | ogo diál O s nia imô cer nas rar ont enc cil difí s mai seja ez talv I XVI Para o século

as tes da corte, 1S0l ien amb os e os áci pal dos tas gre as as tod nte ame tiv efe pam ocu uída na retones str con o açã rel a a par ar olh um çar Lan tos. súdi s seu dos mais o rei e Jornadas Filipinas em Lisboa poderia nos fornecer elementos para esta discussã obviamente extensiva ao Império.

|

E

à dd

— 80 15 de s te an al ug rt Po em ias rég as ni mô Festas e ceri

e Evora foram as sedes de residências régias

empo orárias mais signi [ ficativas, lemp | | além de lugares nos arredores de Lisboa, como Fr lelas e elas, e sobretudo Sintra, cujas colinas foram durante muito tempo preferidas como espaço

ar

de moradia pelos reis em detrimento das margens do Tejo.

emo ! o.

O protocolo casi s, ina Sal por o tad ten sus III pe Fili com pois e, dad uni com rei e a

«a

| Ajdéia de fixação tardia da capital em Lisboa em relação à precocidade da “pentralização do poder régio português costuma ser relacionada com a opção dos monarcas

udo das montagé est no s lido ser em pod que dos ica nif sig ses des ios vár a prátic io lembr ser desenvolvimento e memória dessas festas. Dentro deste quadro é necessár plenamer no rei um em is, lega mos ter em , 1581 de is depo iu titu cons se não que Portugal nas Cortesd e Te submisso aos Áustrias. O estabelecimento do Conselho de Portugal la

ds

Em

= A partir do século XVI, como de fato ocorreu à maioria dos rei nos apontados, a

monarquia portuguesa também sofreu um esforço de sedentarização, a corte se tornou mus numerosa, fixando-se em Lisboa para ser efetivamente o cent ro do reino, Para Romero * Mag: des, as razões da fixação não eram exp lícitas, ocorrendo de maneira gradual e vorecida pelo crescimento da burocracia ligada ao rei e ao Imp ério ultramarino. "| Aimensa extensão de terra s conquistadas pelos navegadores exigiu que o rei voltasse Sol los e a atenção para o além “mar no lugar de olhar para suas pequenas vilas e cidades aigarvias, alentejanas, minhota S, dourenses; para isso, finca pé às margens do Tejo, no que Ficou conhecido como Paço Manuelino a partir das pimeiras décadas do século XVI . ta medidaE de caráter políti | co, e sobretudo administrativo, possibilitou o surgim ento em tpo, agora fixo do rei, de uma auta cerimo nial não mais associada ao Pv “a E outras funções e estratégias da parte dos funcionár ios da corte. e Ana Maria Alves, autora do pioneiro estudo sobre imagem do rei em à Sa Monarquia portuguesa tinha um carát er notadamente civilista devido à ausência oia antas de unção e sagração, tal como foi visto para o caso da monarquia cas telhana o

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Em Portugal, na Baixa Idade Média, devido à existência da corte itineranaas a a residia temporariamente em algumas cidades, tais como Lisboa, Santarém,

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prática que, como se viu acima, associava a imagem do poder diretamenteà x| a nc rei ser ; ade lid tra tea nde gra de a ndi sci pre que a est em ag física do rei, im Costa Gomes: M. a Rit a Par no. rei o pel lar mbu dea o, tud de es ant XIV era,

AS 54555

6, E , in XAVIER, a 35. Apud BOUZA, E “Memória visual dos afectos na política barroca” Lisboa: Quetzal, “2º Pedro (org.). Festas que se fizeram pelo casamento do rei D.Afonso VI. I1-587. fonte indicada pelo autor está na Real Biblioteca de Madrid, Mss.

RR 37

sm E:

E

1ES, Rit

da Costa. A corted Telitora nãoa partilha da icié; os reis portugueses no final da Idade Média. Lisboa: Difel 1995, p. 242

+ºS impostos devidos ao e E que a itinerância fosse provocada pela necessidade da cobrança in loco des de finais do Século XI -tgumenta que uma das evidências contrária a esta tese é o fato de que "

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3:p:

Il estes pagamentos eram feitos em metal, mesmo o imposto denominado o é UE desde m eados do século XIV foi convertido em moeda. GOMES.A cor te dos reis portugueses..., oo 243 246, Dm e “MAES, J. Romero de. “pe Es :

| E

+ Rugal.

No alvorecer

od

estruturas políticas de unificação”, in MATTOSO, J. (org.). História de

Ambém o estudo de SENOS oo »

1480/1620. Lisboa: Editorial Estampa, vol. III, 1993, p. 55. Ver

NUNO. O Paço da Ribeira. Lisboa: Editorial Noticias , 2002.



IC NT ÂNT LÂ ATL AT E AD ID RN DE MO NA OS NT ME VI MO E SONS, FORMAS, CORES

152 a partir de

Teóffiilo



Ruiz, japa

da

aclamada

prática

de aclamaçi

reservaação o - mero c pi

ei, a ausênci; Pp portuguesa. tos s os objeae do to e o gi ré o ej rt co O s, õe iç el —, as refe ív ut sc di o it mu — a ro nicada co * e , o el on nu tr Ma D. de a oc ép na a autora, o nd gu dão Se o. li pá O mo co a, ic bl pú o çã iz milite ra distin de lo cu tá pe es um de ça en tamos na pres Es a. E os gi li re . o sã is oc pr a um é o ndosio nã iu : or o gi os ré ic ót ex s to en E em el de o id sc re ac : : ico”,*º que la e nt me te en in em z ri ca de , ês e cort

atr alevantamento. Eram

imais, an mo co is ta , al ni lo co o nd mu

Ergo) Puta 1 a O ra pa XV lo cu sé na Lisboa da passagem do oliniic a çô na de Or s la pe a id nd fu Mago, di i Re mo co el nu Ma D. ta en es repr na image ta is al ci en id ov pr € co ni eúdo messiâ nt co um de ça en es pr a identifica rtuguês pars po i re do m e g a m i da da an de propag o sm ni ca me um -a do an er id Rohá| cons nte.” rada try possessões ultramarinas do Orie t n e da lo de mo do ia nc uê fl in a te e eviden No reinado do Venturoso tornou-s ando-se o esf ex an € os rr ca em vo po do te ilando dian des a italiana, com as alegorias desf ri mó me na es br le cé m ra ca Fi . no ba espaço ur no o ej rt co do o ul mb eâ pr mo fo15 co unde i r fluvial T do am ar ip ic rt pa e qu s selvagens ai im an os I XV lo cu sé do de primeira meta cialment pe es € o nn Ha te an ef el O . ca Ásia e da Áfri da s uê ug rt Po o ri pé Im do símbolos pelas ruas de List as st fe as ri vá em am ar il sf de nte Ganda ro ce no ri do ci he on sc de o tã en até pe lo te en es pr de ido rec ofe ois dep e rer Albert Diú tendo o rinoceronte sido gravado por minho de Roma? ca a io, nav no eu rr mo , em ag vi à o ind ao papa. Não resist nias públ mô ri ce em al nf iu tr a er êm ef a ur itet Com relação ao emprego da arqu r ee nn ia co nc nd rê se fe ra re a, ei in im el pr a o nu ma spó a ez al esta aparece somente na re Joana - pais a D. ol nh pa es sa ce in pr a m co ão o Jo ir D. de er do casamento do príncipe-h do utindl izad si a ri te e qu , de to an et tr en , se te pó D.Sebastião — em 1552. Existe uma hi imbi Co em , na ri ta Ca D. de e III ão Jo entrada de D. [a na e nt me or ri te an o nf iu tr de co ar ;

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cal

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E.

ts ima ling uma de ura proc A o. elin Manu odo Perí no eal r as 8 guardar Moeda, 1985, P. 65. É necessário a

a

ogia do poder 39. AIVES, Ana Maria. Iconol al/C onan sa Nacigr pren a asRáa dainiãoda magem bica l perdida. Lisboa: Imo

%

tem portugalnoii

na natFrança nã eps o pl em ex r po , , da plo vi ol , nv po se ida de olv i env des çãoo do rei ricaçã e a in qu má a ns te in a e I XV em pública Ge. ag lo cu im sé da ão uç tr ns co a : rei do Peter. A fabricação E, RK BU r po s do da tu es e ina: espetdi V qu XI má ís iLu re O . ie ar -M an Je S, 1994; € APOSTOLIDE 93. Nãoq 19 Rio de Janeiro: Jorge Zahar, b, Un Ed o/ pi ym Ol sé Jo Janeiro/Brasília: á-l; a O pI id ns co a í no tempo de Luís XIV. Rio de da s ma , ão uç tr as co sa es a elina proceder certa distância, Fara» necessidade da monarquia manu a um há s, ve Al õe op pr mo co em Portugal uma “ideologia do absolutismo” e. a. st va Luís XIV a bibliografia é o da imagem a Ê çã ta en es pr re a e br so al nt me cu do squisa TE 4O. Um estudo que aprofundou a pe s impressos. BUESCU, Ana Isabel. Images

scurso português na época do Venturoso em di

os, 1996. sm Co ão iç Ed : oa sb Li ). 49 552 o (1 çã ta en es pr re discurso normativo e

41. AIVES. Iconologia do poder real..., P. 49.

A

ceidê na

auma a a ic c s r p e pa ro Eu a e os ra pa ch m ma ra xe ou rtugueses tr 42. No decorrer do século XVI os po cinco, quatro a nh ti el nu Ma et D. ont e. cer nt ro ce no ri um e s te é an o ef n el i e r ez tr do de com mais e ficava por conta il sf de do ra tu er ab A . oa sb Li a o precediam quando atravessav Baixos meridionais, no sécuo

rtugal e nos Países Po em a st fe da te ar “A . ta is Kr Lisboa: InsttMES 0. JONGE, 68 -1 50 15 pa ro Eu da es sõ vi : e Flandres do século XVII”, in AAVV. Portugal 1992, p. 92. de Patrimônio Cultural, abr/mai,

ã DA ORDEM NAS MONARQUIAS kPARTE 2 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO dem o “ Iss o. çã ri sc de ou a ur av o gr id iv ev br so le de a nh te e qu m 1526, se É E

datradas i ór eg s al to un nj co o s s en iã do da ão as os oç oc er na os ad êm , a ic ef al ór ug eg rt Po car dia, , em tardia “E régia ; iã o talvez tenha siido o rei i maismai S D. I, XV lo iã cu st sé ba Se do . D ; is Av de as rc uc nas tempos, permanecendo po movo ntderessesos no De . cada em dé a aiador e nt ra du oa sb Li em 3 os an poucos c e qu a ur st po Vidja a um o nd mi su as aa reinou e riios re tóór diit rein O; no entos contraa ad im nt va se sa au mp se r ve e qu, bituada ha e, rt co a a av nt te on E sc de ia nc sê o rei, nois à medida que sua au Fo

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par que s, sõe cis pro às va ca di de se que o era al unf aa Outro tratamento tri es Ep inDr da fé da a lic púb ci ân rt ão po aç im tr a ns mo XVI de tosentido, cresce no século quan s a.enNes ada egi vil pri s mai se : and fix te cor de os mp ness ss te Putas

Cor o de Deus, que se manteve como a mais imponente e vistosa pelos séc do

aposentador or, o-m eir rib est r, mo oom rd mo m: era a ro Ha Co

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o No tocante ao corpo dos funcionários do núcleo da Casa Real, e | KvI, segundo o estudo de A.M. Hespanha, compunha-se de 188 ofíci

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oficiais maiores

as da

a at o-m cevadeir o-mor, mor, vedor, armeiro-mor, monsteiro-moEe r, almotacé -moidr, c correiE provedor-m membros e am er da ain , tes des d R E. a cinco, ou DO i e e o A CA oR CU e a ali e ados: é DR doze; cerca de dez reis de de linze; ofi ciais suinibordin s isofida eucia r os cinquenta e cinco músicos e inúmeros inífices que chegaram até o número de trinta e sete. * Foi, assim, em torno desse rei português fi o see t c e s e qu Do a m e ipav o comer, as i, re do ipNieos de cerimônias das quais el ir st ve o a a nadie ; n e i i m co o ic bl pú a ôni a íd sa a , as miss nto, : as audiênciascias ee d despachos, e as c in meebbrrees.* Nelas nã

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89 BRR cet Aarte da festa em Portugal | Tia E “ia funções e de seus indo VER Leviatã: instituições e pode

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- CURTO, Di

:

M. As foram apresentadas por HESPANHA, A.

, p 94 19 , na di me Al a: br im Co I. XVI . séc al ug rt Po r político em

aA R. P a o em og ui Di rq na O, mo RT as da môni pp. 227-30; e CU o R, Ritos e deceri E Capela E a XI os ul éc (s s to li nf co li Literat da RR O EV: NçEsOpiritual: Revista da F . en “r

eai

. “FÊ;

: 3.54, 1998 3 e 14 3 Ra laalRég petu Corte em Portugal, P sécs à idiade e embor Cani é notar que a Pi aé existisse como e spaço cerimonial da monarquia desd u re Sã, “24,

Ea retame e Média, só recebe di gulamentação de etiqueta no período filipino — 1592 Ando E qu sia o es CUR me, OP: de cult a rm fo a e a .. | Ritos ecerimônias. os eo depois da Restauração.

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLAN

154

CARTE 2 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS. É

|

O diálogo possível nas entradas filipinas em Lisboa: confrontando as visitas de 1581 e 1619

ma, por necessidade intrínseca dos novos Estados e pela subsistência de uma consciência

omum e universal (...)”.º

|

Toda a memória das tradições referidas foi mobilizada para receber Filipe 7 de Madri inst ados envi rios ioná func de ença pres a e ra espe de do esta o mas 1580, ef de poderes de outras linhagens deram a essas cerimônias características muito espe Rot

Já foi dito, mas é fundamental retomar agora, que consideramos um grande

usurpação ile Ítim considerar as jornadas filipinas a Portugal apenas sob o prisma da a é um reino do reino de Portugal pela Coroa espanhola.” A Alta Idade Modern ad

e emb privilegiado para o estudo dos cruzamentos entre 05 diversos níveis de cultura, ento; este não seja um trabalho que se proponha a destrinchar todos os cruzam de preservação s smo ani mec os s todo em e as môni ceri as ness que -se nota s, ívei poss

tradições e renovação nelas implicados, expressam-se as intensas dinâmicas culturais função da representação pública dos corpos que constituem os poderes da eid Império e dos reinos unidos. radas régias poc À primeira vista, no Período Filipino, a carga dramática das ent

E F Nesse sentido, tal como o espaço político, também as representações do poder desse istado precisam ser entendidas a partir de dois níveis de relações. Primeiro, porque fazem

rte de um mundo que, por Es lado, se universaliza em função da dinâmica ágil dos teios de comunicação escrita favoreci 3a E. quia DO eo es pcs e er rins prin larismo edefinid Sei os Fadada: mor esa e particu partir de suas tradições locais e inventadas, Assim, as entradas reais teriam em se | jus tos alegóricos, cenográficos e retóricos, aspectos que ultrapassam as fronteiras =

ngua of cialmente institucionalizada, partilhando com os outros reinos aspectos

que vã

im dos limites em definição. Essa é também a própria tensão intrínseca ao a É E péri o de Filipe II. O fato de essas cortes terem em seu corpo de profissionais a sei = le a qt i etos italianos, artesãos portugueses e impressores flamengos é a a al pli ude. Mas também conservam e procuram fortalecer imagens e representaçõ 7 e rem uma certa identidade ao conjunto, tais como o uso de referência à preto

E Re

tel qe encontraOva sido aumentada somente em função da distância em que se em outro estudo! es, Alv ia Mar Ana o. ent cim nte aco do e dad ali ion epc exc da e s súdito

si específicos que necessitam ser traduzidos aos que

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amos mais uma vez que as entradas filipinas podem ser

ada pelo historiador da cultura política como um momento privilegiado para a Ee E o e expectativas que estavam depositadas naquela União de nd

tugue superficial, ao referir-se à parte organizada pela população por áter mitida car m era tiv s pina fili as régi as rad ent as que era sid con de, ida pal munici

com os st para s çõe iga obr suas rei ao r bra lem io ssár nece era apelativo, já que alargar as proporço em nas ape iste cons o, ant ret ent o, açã ret erp int Esta .* distantes a +

des e! entradas medievais, e acrescentar a elas o elemento espetacular, agora

ectadores. pelo rei como se representasse um papel diante do público de esp Je] contudo, descartar idéia de evolução das cerimônias régias na passagem da Id - n. »j do Antigo Reg para a Moderna, pois adotá-la significaria ver a sociedade de ordens

eval, sem medi e edad soci da to men sci cre les simp do te ltan resu uma o com também signthie mais das uma em, sag pas a dess uras rupt e as anç mud as re em conta que dent 3 rquia hier da is níve rsos dive os e uia arq mon a foi a que se deu na relação entre e dos rum Diante do que se mostrou das entradas régias da Baixa Idade Média, tomaram em França, Flandres, Espanha e Portugal a partir do século XVI, afast th na Fc interpretações simplistas e buscamos uma compreensão mais assentada

juela passa E do co x ilpáre

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€ aparição do Estado supunha a desarticulação do velho universalismo, € por

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“mostrar a morar cidade e de exaltar o rei que se tornava a cada DO cad vez mais mn a a etata metáfora explíci OFpo da monarquia. E importante lembrar que para o evento de 1581 não existem gravuras ou quaisquer BSSntaçÕes iconográficas. O programa cenográfico da visita de 1581 foi dividido por AR tro loca lidades a reino, tendo obviam es , ente a entrada em Lisboa uma incomparável Te Sar

o encarnação do com , sal ver uni uia arq mon e o éri imp de s çõe cep con que entre as feição, J. A Maraval, | per com u rmo Afi ca. épo sa des us ope eur nos rei dos co políti razão impunha a necessidade de reorganizar, de rearticular o espaç

155

rmos de amplitude, duração e complexidade. As vilas de Abra ntes

a. o,

a

ação de D. po

MM

E

no caso de Tomar, entretanto, a presença do

a no Convento da Ordem de Cristo deu maior significado E a a que Filipe II fez à Relíquia do Milagre do

forma de sobrepor sua majestade ao perigo representado no, Prior do Crato, verificada no ano anterior

da pe do es e em pleno desenvolvimento da idéia do paro ada real com um conjunto d e deze

“Má J5, Marcados Di

cada uma, um arco de triunfo, além dos enfeites de rua

í

o seno Gacramese, E

Mame + E ativo.

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E

concretamente

i

ErVistMAR AVA L,ideJ.A. Ests/dad opp.moderno de n. a E er OCc , nte 198

por arcos de triunfo, painéis pin o tados e esculturas

ea

,

o. As festas de corte e 47. CF também a discussão apresentada no artigo de PAIVA, José Pedr Cultura, Uni período Filipino (1580-1640). Revista de História da Sociedade e da =

EE

v. 2, 2002, pp. 11-38.

|

7

5

ú EL.

SR

p.52 48. ALVES, Ana Maria. As entradas régias portuguesas. Lisboa: Livros Horizonte, s/d,

Pos e

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das me tin e pap em "af cap aus r O ME PE e i ta: mó el itu GI C eta ent ri AN lo: a e. I. uadernos de Historia Moderna Dn os utores, público, impressores y manuscritos en el Siglo ANNALS

de; “OU, Cua y 'E

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-9. Y mentalidad social (siglos XV a XVII). Madrid: Ediciones de la

>.

a,

niversidad Complutense de Madrid, n. 18, 1997, pp. 31-50

ausente... capitulo: “Lisboa ubilicus mundi, ou o desejo de ser capital

à

156

, ETE 2 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS

ATi SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE DE ATLÃ

s inform mo uí ss po al ntu eve a afi ogr cen sa des em ag nt mo e o policromadas. Da construçã ra sir o , udo ret sob , os em ec nh co ; res ado s qui pes ros out por rarefeitas, já pontuadas

“Mai

157

tarde, com a morte de Filipe II, em setembro de 1598, esse corpo físico/políti

sarece ter sido cortado ao meio e repartido: para um lado ficou a imagem do eo

de significado: E s me no II, ipe Fil de te cor da te par iam faz que s de três arquiteto óis Ji nh pa es os e zi Ter ipe Fil no lia ita 0 s: ele m ra das artes do Império Habsburgo. Fo

u aê

ter sificou nas telas dos pintores da corte, nas festas e cerimônias públicas dna a ; aticamente o corpo físico; para outro, a inteligência do rei, encabeçada elo tdo : massa a controlar a vida administrativa e burocrática da União das Coroas. Essa Dolatiz dão

a rsd e das a um foi a rer Her de n Jua s ore aut uns alg a Par z. are Álv Herrera e Baltazar esteve pres s poi II, ipe Fil de as rad ent das cos áfi ogr cen s ma ra ortantes nos prog

| imagem de um corpo refém da corte teatralizada e corpo nico m indício de que a monarquia espanhola estava se tornando mais abstrata. O pró di jério Espanhol também contribuia para essa parcelização do corpo do rei que ed nverter-se ainda em outro corpo na medida em que tinha que se fazer Representar no

mais imp a = sobrir Alb de e qu du do o lad ao e , xos Bai ses Paí aos a nad em corte desde a jor r da entrada em List ado nej pla o o sid ia ter — al tug Por de ei e-r vic ro mei Filipe II e pri ia o arquiteto ser , vez sua por z, are Álv ar taz Bal s; ãe em Al dos idealizador do Arco a | tilipe o.” Quanto tej cor do a nci iiê seg na o nd gu se , boa Lis de dos Mercadores o junto aos reis D. Sebastião e Filipe II, e sobremt

E ur do colonial em vice-reinados. Entra em marcha, assim, um processo fundamental

. relação à arquitetura maneirista de Lisboa. aração « s na document Embora sejam muito vaga ação as circunstâncias da prep rar e nadê sm : o são detalhadamente conhecidas as descrições desses dezenove momentos graçasaos EL

pede a dan qusispaa e E Ear Das O ; contudo sé foio1 possível pensar aind a sobrd e aE imagem e pps ps o refle essa xão, rofun dar . = o. di ricano, onde as figuras do pod Cr podiam no além-mar ibero-ame do rei presentaçã à j : ri o ir quiri, à distância, outras formas mais suaves, mais idealizadas e mesmo incorporar ertas fas .características do própRu rio Estado-teatro local. a ] Par; Para Fernando Bouza, o imp ortante é4 tomar a icon ografia construída para a festa e j oise como fonte, e dela tentar extrair os dados que permitam perceber os significados Baçnões Es e poder den pod o que de ida dúv há não e rqu “po ca, épo da s igo cód de to jun tro do con nrês a se a É lentos entre est coercitiva e que ers vio ipressa de forma também onão não es stes expedient ieontram as imagens”.5* Com já afirmamos div as u uesas porttug vezes, é as expectativas por a. pi onarquia fili

destacamos sua importante atuaçã

Cais da Rik Affonso Guerreiro e Izidro Velázques. Filipe II fez a travessia de Almada ao riaialançlanç as de artiartilha salv de dor ece urd ens som ao lhar ou arc emb des e real. ra o s e d ra real, gale sua em alo,co

sobre um cav a rad ent a cia ini a eir Rib da ça Pra à do an eg Ch . boa Castelo de Lis a pé.* a rav ent rei o e ond 1, a tug Por em não mas a, anh a prática usual na Esp as que Filipe II fez ei m se com s, ivo tat nti qua mos ter em a, rad ent a est Comparar boa foi uma das maiores no tocante aos momenma os m t que à de Lis d o mostra ina IPES reinad ; em Atuérpiz dez am for 8, 154 em as, xel Bru em o, mpl exe Por o. jet e pausas no do tra

passa o nã ri Mad em € ze, tre e -s am ar nt mo 9, 155 de ano e quatro; em Toledo, no ues

intra-face do o

a os portug par a sej , nto eve do do ica nif sig nde gra O r tra ons seis, o que pode dem

, sobretudo porquefe foi um reinado de fato. Essas esperanças smo ani . E ] 5 Ou menos visionári ime ou menos políticas, depositadas na monarquia de Filipe A e aparec no de nto dos últimos Avis e a consciência de uma mudança no tempo português estão presentes na ocasiãE o da entr óric“o a ada de 1581, num dos co rpos da mm: as Ade máquina que era o Arco dos Alemães

tos even 08: os tod o, tud con , ota esg não o açã rel a Est ” para a própria Corte filipina. mão, X jabei os, nei tor , sas mis , ças dan , sos cur dis além delas havia as encenações, a. ru de to en ev do ual vis ito efe o m va ga on ol pr que , ros tei conventos e mos

de ev uma s amo tac des ada, entr a dess os ativ ific sign mais tos pon os tre Den

| Stlão e do Cardeal Rei, mas onde

€ os corp es ness e vós, bisa seus de os corp dos a som da de Filipe II era o resultado À do ito escr o com rdo aco de do mun do es part duas as s como que encarnada Mercadores Alemães. Assim, pelo discurso alegórico, a União era O resultado de” já existia no ato da ascendência desses monarcas. De maneira predominante nasds 1

Lisboa, numa correspondência harmoniosa e equilibrada entre o Imp

ério, a cidade E.a

va

Herreraem + de an “Ju ge. , Jor DO RA GU SE e 6; 45pp. .., ulo. ctác espe y e Art EZ. GÓM O 92. PIZARR os. Coimbra: ent rim cob des dos ca épo na a anh Esp e al tug Por e entr as stic artí ções rela AAVV As festas que se fizeram na co Das o. ons Aff , IRO RRE GUE o: açã rel ta des s pai nci pri tes 53. Fon licença do com boa Lis em so res Imp al. tug Por de ro mei pri e ipp entrada del Rey D.Phil 1581; e VELÁZQUEZ, | lem rea o égi vil pri com , rea Cor sco nci Fra de a Ordinário, em cas Espan las Ep de Rey imo iss ict inv , ppe i Phil que en el reino de Portugal hizo la SCRM de Dom el exercito de SUJA nombre, primero de Portugal, assi com su Real presencia, como com o eE

Impresso por Manuel de Lyra, 1583.

54. PIZARRO GÓMEZ. Arte y espectáculo..., pp. 164-73.

e

falavam

da perda de D.

chamado a or past o únic do gem ima a e rec apa 3? o”. ar um só rebanh EM 1619, a presença de Filipe II foi recebid Na neta Sebilvas construiu-se um arco triunfal E EE ed | à Por trinta homens com tochas na e E ed Em foi adornada a ra Evo em aa na ima ou entr rei o e ond por da ag E À Fr

x

tou na cidades descritas, o corpo do rei Prudente é o corpo do Império que ele jun

e

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uai (

que se iniciava, pela representação que os portugueses tinham da monarquia

aspectos que esbarram no messiânico, uma espécie

|

RR adas; E Ee a as duas jorn eza ness ido auto-de fé —espetáculo ui | *89 conhecovo Sa havia temór-o-N mM um arco junto à Ermida de Nossa Senhora da Luz; e, finalmente

"ED Esteve em Almada à

pci de entrar em Lisboa, sua presença foi saudada com Nas frequentes de f. 080s de artifício do outro lado do rio. | JB ? E

Ver O estudo de MONTE tugueso » noi UZA.F ces colonização da | ZA, E úrica da imagem real... : a



P9lica da imagem real... E 41-9

go N. Bentes. O rei no espelho: a monarquia

O. São Paulo: HUCITEC, 2002.

In

E PARTE 2 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS

ATLÂNT SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLAN

158

159

a

O auto-de-fé de Évora, ; por ter sido o único dessa natureza que marcou a passage assag raticame dos Filipes por Portugal, merece um pouco mais de atenção. Está referido POT prat s tr rela : eto aqueles que só tratam do triunfo em Lisboa, mas foio icat a a todos os cronistas, exc apres al um dos acompanhantes da comitiva do rei que retiramos sua descrição, Pa por aa V isão

; de

um cort çosã oe Spanho ] q ue triunfan e

t tomava

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Emli li Il teve em sua homenagem mais de vinte arcos, EmbLisboa, Filipe e uma árvore que ca rerepresentava cada um dos reis de Portugal, desde D.Henrique d e Borgonha até seu pai, além de inúmeros outros momentos significativos ; como a comédia escrita e encenada até!o. nelos jesuítas, e espetáculos realizados durante o dia e a noite. A nova cenografia , de 4 : Ono TO bar eminentemente ate: 4 ; cal car l c n que se refere à t eatralidade, movi mento e expressão, —

empi

gou

recursos

bastante

mais

sofisticados

do

q

Finalmente, ordenadas y dispuestas todas las cosas necessarias para este tan heróico

acto, el domingo 18 de Mayo, dia en que celebraba la Iglesia católica la Pascua del Jos Espíritu Santo, levantado un solemne teatro en la plaza, presentes S.M. y AA., y sacaç 4 ella imnumerable gente desta mísera y abominable secta, tanto que pasó de 124 penitenciados, se celebró al auto y se castigaron los delitos y se dieron al fuego miserablemente 4 hombres y 8 mujeres, ejemplo al mundo, autoridad á la Justiça lustre á la fé, honra á la Iglesia, y se hizo servicio á Dios, que es lo principal para que estas cosas Dios los Reyes. Ansí suceda en lo que está por venir, para que todas permanezcan y sea ensalzado como merece sobre nosotros. *

Como se sabe, esse tipo de cerimônia-ritual caracterizou a relação entre as monar ibéricas e a religião católica, não ocorrendo em outros reinos europeus com a f reque nte marcada e o significado que se deu alí. A passagem de Filipe III ficou definitivame

Um

dos

mo

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]

]

a manhã de 29 de junho, Filipe

o ra Eficial do evento a carvo de 80

cortejo Fluvial.

103

de João

|

espetáculo de Évora, e consideramos um elemento original no conjunto das formas! praticar a entrada régia na Época Moderna. A importância de Évora dentre as € voe mta

As CIC mi

portuguesas também já foi destacada, e no caso da jornada de 1619 ela se eqt ipar 2 este auto-de-fé à importância dada a Tomar, que recebeu a reunião das Cortes devit 01

a

É surto de peste em Lisboa em 1581. cais, 8 "Para Francisco Bethencourt, as entradas régias envolvem os inquisidores lo € -se vam ola enr des ueta etiq de s jogo Os s. iado renc dife ante bast os ent tam os compor cia dest Tribunal da Inquisição e a Real Chancilleria, manifestando-se a preeminên ou O de cida da o ern gov o ia olv env o içã pet com a te men nte que Fre . organismo o

LS, A |

e

vespéle

na rei alojou-se oa . a entrada em Évor Para instituições, como a universidade

pé da cidade, e os inquisidores acorreram ao local para o beija-mão. Esta cerimônia cidade, ao | distinguir a homenagem inquisitorial da recepção organizada pela tempo que o Tribunal conseguiu preceder a universidade, pois foi recebido enquanto esta foi recebida à tarde.”

afio de 1619”,in CO! 58. NÓVOA, Matias de. “Historia de Filipe III, Rey de Espafia - libro VII -ués de la Fuen sa Documentos Inéditos para la Historia de Esparia (CODOIN), por el Marq p: ta, 1875, D. José Sancho Rayon, Tomos LX-LXI. Madrid: Imprenta de Miguel Gines

205:

do rei, 1 pção rece de a móni ceri na cia edên prec de m orde a , 1598 em id, adol Vall 59. “Em da eRea” = tradições estabelecidas durante as décadas anteriores: O president

seguia ainda as

dois oidores preside". go, anti mais or isid inqu o go, anti mais r oido à frente, seguido pelo os oidores e alcades. BEI

segundo inquisidor, dois outros oidores, o terceiro inquisidor, os outr

Leitores, > Ze de o ul rc Cí : boa Lis . ia ál It e a nh pa Es al, Francisco. História das Inquisições. Portug

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160

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arque de Ril mb se de to cre dis ao o açã rel em o cul etá esp A grandiloquência desse lismo da monar; sa er iv un o re ent s sõe ten das to en am uz cr o em 1581, e principalmente vamala le nos s, se ue ug rt po os e boa Lis por os ad rç filipina e os particularismos refo

Mi de Ide na ada tic pra era mo co a rm fo na , que em 1619 o espírito da joyeuse entrée Sm aa r er bl Ku ge or Ge u eri sug mo co , te en am ir do inte

— DA IMAGINAÇÃO À IMAGEM: O SONHO COMO CRIAÇÃO NA ESPANHA DO SIGLO DE ORO

jamais poderia ser restaura boa, por e aê Lis em 9, 161 em II, ipe Fil de a ad tr en a citado. O autor acredita que 1581, seria a re em , pai seu por do na si as r ma To de do or ac uma confirmação do perceber, efetivam el sív pos é que os am er id ns Co ” .º ga en am uma típica joyeuse entrée fl à mont Ê fere re se que no al eci esp em , os nt me mo ios vár em a presença daquele modelo vilas dk | ras out de m ia az tr que ras gei ran est s õe aç dos arcos de triunfo pelas corpor mentada

ag fr ava est de da li pa ci ni mu a pri pró a que ar mas é importante observ de sua

populaç

eios ans 08 e ss sa es pr ex que ta fes a um r za ni ga or dificuldades em

repete e se u q s ma te há que so, dis sar ape ar, erv obs no tu or representantes dela.” É op . es ad ld cu fi di às ta os ep br so a iv at ct pe ex a um sequência, e que podem significar me

a de 1619 co ad tr en à ar ret erp int se de e dad ili sib pos a Qutro fator que anula colocar em pos se se ses qui oa sb Li ra bo em , que joyeuse entrée flamenga seria série de de: a um a er et bm su se de e tev , nte ita vis privilegiada em relação ao rei no contr , em ag vi da os nt me ia ad es nt ta ns co dos nascidas do problema da demora e as pel: s siz das o nt me ga pa do cia gên exi na as, nad jor reforma dos Paços incluídos nas

ara recer ar ep pr a par as id gu se ser de m ra ve ti que as tur pos e cidades, uma série de .

otores do evento om pr os das ata os mã de am ar ix de que e rei m a ad rc ma foi 19 16 de a rad ent à que s mo zi du ri Diante de todos esses elementos de / as na mer ça en es pr te for sua . Dai o. og ál di o pel e qu a mais pelo caráter espetacular do ç s novamente decepcic construída do evento. A partida de Filipe HI deixa os portuguese tir dela.à Essa é par a gir sur a m ra ça me co e qu s so es pr im s so ur sc como é a tônica dos di os em ercês conse; égi vil pri dos a sc bu a pel a, ri mó me a pel a outra festa, aquela que pass r F

As

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REAR

1

dos livrei , ios rég s re so es pr im s do so er iv un o através das publicações, envolvendo significativos quanto 08 € mble nas

l. Tão censores do Santo Ofício e da Casa Rea

ão da ima uç tr ns co à ra pa am ar us de da li pa ci alegorias que as corporações e a muni eventos is do s do os ad in ig or os xt te de s to un cidade e do rei visitante, são os conj aaos em a alegór onic

eg s to un nj co s do e as tu tá es das e ad id al nt transformaram a monume m mo ém mb ta ão nç fu de os xt te | em s en ag im s da o poesia exaltadoras, fixando a visã E o. ric ibé o nd mu o do to em aspecto característico da cultura barroca 4

Maria Jordam Arroyo Era

Za imaginação ôni têm-se muito ; que temer”. Esta citação de Teresa de tomas a ge e demônio

E

ente por Leandro de Granada, recorre a uma idéia vigent

; Ro ento muitos teólogos espanhóis do século XVL.! E ã E e at me Ra Í de imaginatio te m suas raizes onceito o na visão que as tradições clássica e cristãâ / á pa lira d Ro à faculdade imaginativa. Desconfiava-se se desta faculdade por suas infini bilidades e combinaçõ re mações mentais: os caminhos da imaginaçã “ore a a Dn ? Pertencia t ta. er nv pei e co sus a ad l ld ve cu má fa do a in um e io em ad eu eg rr co es E ja das esferas inferior esie cor denod eporque tro da hihierarquia] das faculdades mentais. Era pouco vel

era associado

Magina “ovo tivo RO MINC

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7

O

rpórea, ligada — segundo alguns - à faculdade sensorial aos loucos, aos frenéticos, aos desenfreados, aos ielancólicos

as, às Cri j > anças e aos rud es, graças a sua falta va ri Rio "HO Tacional de seus pensamentos

]

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Este temor à su frei Luis de G ol nh pa es o og ól te a do as vr a la i b pa nc s gê r na an , ia nc gê =” o cobiemo” R , da na ra à go lhe e &obierne” (sem dono qu RAlóis poEerque2 u a muitos teólogos po cu , eo e) pr rn ve go reconhec dm

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eram p a iltip as múlt i las possibilidades que tinham os chamados ; erando-os uma potência negativa e perigosa para a vida

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ADA, Leandro delos profetas. E

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Rs.

“pecialmente a A

. 60. KUBLER.A arquitetura portuguesa chã

nça entre 9% ; É ere dif l áve not a um “Há : que to tex seu em 61. O próprio Kubler chega a afirmar "nm gos men fla os mo co , boa Lis em iam viv que ros gei construídos pelas colônias dos estran a a € vam sta tra con is qua 05 com os nt me nu mo italianos e os alemães, e outros ge HT e lon sa m era ras gei ran Ôni est as . ôni a col o b As s i L õ de tit ões ins uiç Õ comerciantes e instit corporações, A arquitetura portuguesa chã, p. . ER BL KU Cf. . es ues tug por os que do para o rei

149

On: Hutchins

e. Luz de las

Ra

Ee

Col, 1988,

dez de Córdova Ro

ia

ee el principio del mundo en las

Bonaventu ta em. - KEARN EY,YR, sobre Richard. T; . p.

dos expoente f“acae , RiolibrofoiIdeum MD E

maravillas que Dios ha ob

opina RA

A

; mais importantes desta teoria. Ver: DEL RÍO ON magia arión Hip a di E : rid Mad . 99] [15 Ro a presenta Di citese og Ee ; e d pe hos son dos a tem ao da ona aci bibli rel da ia e raf iog ibl Eee em: T/ (o USTET, María & 20-04 pa a emóônio Mod d Eda la en blo dia El . s.) (ed es Jam G, AN AMEL 4 PP. 327-65 d: Marcial Madri . rna ode fi

à

ATLÂNÂN SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE “ATL

162

ao

dadas | as de nuestra anima que más desmandad Pues la imaginación es una de las potencias É De donde nace que muchas vecesseS quedaron por el pecado y menos sujetas a la razón. da la vuelta al mundo que nos-va de casa, como esclavo fugitivo, sin licencia, y primero le

echemos de ver adónde está.

200 E É precisamente essa falta de controle o que produziu consternação dentro dos eici a mental e o nt me ta or mp co o rar uad enq e r igi dir em pre sem religiosos, preocupados

ponsabilidade human; res a am ati deb se e ond , imo ínt aço esp um ser Por das pessoas. ica, represer ból dia ou ina div a est se fos , ral atu ren sob o açã pir desejos íntimos) e a ins

mostravs po, tem o sm me ao e, al, tur cul smo igi dir de o tip o tod a a ont afr uma potencial os podere ta e de receio ante pei sus de e tud ati a Est le. tro con de e tad von a tod de limites mo “imagi co u no mi no de f Gof Le s que Jac que ao te, men ura seg , imaginação respondia aqui apresenta que lá de te gen da va ati gin ima a uez riq a e r-s eri ref ao profana”, somente uma amostra. Paralela a esta noção

negativa

existiu uma

A

corrente que exaltou os pod ere

cons s ai ao ci pe es s ere pod m íra ibu atr lhe as ist ent asc ren s ore imaginação. Alguns pensad externe

coisas concebidas as e ent tam ini inf ar lic tip mul de az cap ia la uma potênc sens do mun do tal men nte ede exc um r cria de az cap r, pelos sentidos, quer dize

fac ta des vos ati cri os ect asp os tou sal res e u ece onh rec r, ula tic par Giordano Bruno, em i ão

Mais que uma simples fun .” riz mot ade uld fac uma -a ndo era sid con humana, to ele como outros € tan s, mai Ade s. iva dut pro e vas ati cri s çõe fun reconheceu suas cgi

+

as

desses | ão ens dim a Um o. açã gin ima da s ico mág s ere tempo reconheceram os pod

Ack o.” açã gin ima e des ida uos str mon re ent o açã rel na nça cre pode ser percebida na | ez vid gra da es mes ros mei pri nos mãe da os ent se, por exemplo, que os pensam operava nos casos bém tam o açã gin ima A . feto O e ent vam ati afetar positiva ou neg »B

“08 . ojo de l “ma o com ido hec con e olhado, comument en m da te par a est por ram ssa ere int se ém mb ta óis Muitos médicos espanh

nifestações patoio ma tas cer a par cas ógi iol fis es açõ lic exp er Procuravam oferec z profética eram ent ide luc a e a” iv at in ag im ia nc mê ee “v anômalas. A chamada espe cificame s, ica fís ões diç con tas cer por o sad cau vo ati gin como um excesso ima indivíduc 1: (ni hr ” no umo um desequilíbrio humoral. O predomínio do humor melancúliscoou emmesm manifes | ia e man os íri del — a dut con sua na ões caç ifi mod r nta aprese d o 47

os trabalhos es ant ort imp são o ect asp te Nes ” de. ida ial gen temporárias de

SA

a

TP É LUAR

3 SIP ON Ui no

a

ode HERMIDA, Jacobo Sanz. Cuatro tratados médicos renacentistas sobre el mal de ojo.

e 309-13. SAN JUA4N, Huarte de. E Examen de ingenios, pp. 201

V

a

onha que a ei = É é [ | C qualificad os como r evelações ser , COMO ilusões es

e Ee E

demoniacas, ou como discursos humanos e imaginações. É importante destacar uti Sri ton iêi entidedo Eetadltima categoria] pareceu ter vários signi ficados diferentes. Para ati ne a fic à ; naginações” eram os pensamentos de vigfíli ( qual “faz s l era a Edo media em si as coisas Uia coi é lante a a nt a sendo outros, ara a outro fi ingi imagi Eomo de”; ) sendo que E se as tivesseEve presentes, não sendooeassim a verda a asPi r | vezespe utiliz avaoe termo para significar o ato de raciocinar.'º Ainda que as diferenças entre essas defini e z õe jam sutis, já que am envolvem operações do que hoje entenderíamos como indica sclente Ente s, a segunda delas se associa mais com a loucura quixotesca, a cren a oluta na realidade e materialidade do mundo imaginário Fort Eça



=

»



À relação en imaginaçã ] om e Imaginação era direta, já que se entendia que dentro d tre E E prai E ; sua facu dade mental estava ativa e sem a censura de outras faculdad :

tdi». : RS Ee o eo ER 1 Gostaria1 de argumentar que foi cad oDO feio ls eco guo o dodo so 10 que lhe abriu] as possiha bilid ades como recurso narrativo. iá: oo: stnitamente estéticos dos sonhos de ficcão sea galO dos sonhosoro s autobiográficos e co ndiiondo mo uma ferramentaande crítica social| ousoMis de exaltação O mm Pr éticos. Neste último caso não se pode descartar que alguns os Mutdm com periência autenticament e religi 7 gi osa. O grande d esafio para os juristas Biosos era elucidar a ori gem e ou separar 7 Ea | das fontes rar dentro deu m me smo discurso | -spondia Dion E o qu e

par % do perdido o sonho sua inoc encia, est e se converte em uma ocasião de tentação

7 pen b; Já que comprometia a éti ca do indivíduo tanto dentro do mundo da vigília 10 dentro do mundo dos sonhos. Qu :uais ES eO as repres ent gec etam na o logoso nd par a açõ seresEpç - FOT ISSO,u mui tosáriteó idealizar receit uára ios

“a progra oral (se ( armã Em sue al Hortod“Umoxia: ma vi de o, ce oa pa já que todas o, as teatro E sacros e profan leitur a ade imp ressos) as coisas percebidas acabavam impressas ou pin tadas na ilação. Mas o alcan Enados o mundo ceimadesse esforcçoo pe Soi Mi E da gó as gi oid co de preencher de conteúdos religiosos Eád O alia eira os fiéi nific; e, especialmente, a assimilação unilateral i

Sados desses ensinamentos é dc

P

e medir e está ainda por fazer-se. Se tomamos

E templos Os casos de alguns Roni ai

EE Dls

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A

:

JP ir!

Fin

p. 200.

lassifi á car visões e sonhos de muit| á Ni Di fazia d a no céu. . Seus relato s p podi 3| zia Deus

E

1040-1. pp. 2, 196 r, ila Agu : rid Mad . res ado pec de a Gui de. GRANADA, Luis , 1987, pp. 335-54» rus Tau : rid Mad ERR a. ori mem y ia mag do, Mun parte, pp: 5045 BRUNO, Giordano. s on, ati gin ima the of ers pow the and t phe pro al sic phy The n. VERMIER, Koe É 1987, pp- e , Be a, uel Sir nes cio Edi : rid Mad . ios dig pro y uos str Mon se. PARÉ, Ambroi

Castilla y León, 2002,

'Não é de se surpreender, então, que dentro do âmbito Jurí dico também se reconheci ecia Fr. a É us . + H . . “chamadas “imaginações” como um dos critérios operantes na classificação dos relatos

ta

à]

163

E

as avr pal as Ess .? as ac ní mo de ões iss rom int as m co s, moral do cristão suscetível, ademai a ks sentido: frei Luis de Granada dramatizam esse

j

: a ARTE 2 = FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS

e

E

TRE

-

Bos Mi ore S e visionários pro sum E o pel nquição amos que questionar o alcance e do esforço homo geneizador, e, ao mesmo

SCUSSÃo de:

64 ONZÓN E

I

dasobreas

x egunda acepção aparece em: DEL RÍO, Martín. Antonio de Torquemada

0a: Bl; Francisco. Avisos spirituales

,

hoso al spíritu ORI A como el suefio corporal sea provec RA K nci Fra ia. Mar AN, uses A e a r P lógi Mteo MD no e Eoria Moderna, v. É 26,: eE Hist ? 2 PP.+ 169.84, Ógica de los suenos en la Espaíia del siglo MG E

de Colonia, 1563 pp:27

|

so -ial,

nclusão que nclusã u

por or

“se

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A

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sobre

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o

lo ou

15

não.

a

Aqui



vemos

que

a Imagem

onírica

ou pseudo

n políticas do momento,

a =e

oniri

ó

segu aé :

E]

mperativo enquadrar os eventos históricos

ebe uma questão fundamental Piedrola se perc o mesm a rado popul E osEda cultu | udios ar. O soldado-profeta, como ele mesmo se denomin Ro Ou, €EXp ica de E

ism E de co nstrucã TE ção que utilizou para armar seus sonhos,

cu

utores sagr

o]

Pai

ugal Port ada pela anexação dade Histó o » ponto de vista da voz profética, claramente consaternteleo Gu 00 ente corr a lógic visão da ro eino eino « panhol Há que enfatizar que dent istória era dentro do plano divino

ma mescla es

m e g a m i da o x o d o r e t e h o id sent

ventura não era a entrada de Portugal”, já que havia diferentes ã

etada segundo as eventualidades aradajamente interpr t |

: rame R mente E m o

Métodos de constru

VE

o

ce

=”

e aos nt me so o nã ca li ap se va ti ma ir af ta Es s. ta is protagon s cu ia fo e qu , te ra ca Es de na li ta Ca de o o caso pl em ex mo co e rv Se . os an di ti co os nh so aos de m o fim co as ic ír on es sõ vi as su de s ma gu al de feiticeira por interpretar e contar eú nt co s no ar tr en nc co me u vo ho al ab tr e a conduta “imoral” de seus vizinhos.” Nest nk pa Es ! na a, ru de as et of pr is do de os s sonh no processo de confecção das imagens no como das , te en am is ec pr r, ra st mo é l pa ci in pr fins do século XVI. O objetivo poder e como essa noção ambí| g

E

lítico-religios po e is oa ss pe os et oj pr os m co l ia ic of as histórias bíblicas e a moral sonhos proféticos, nastar

Ô enroscava, apesar de permanecer com a cabeça erguida, , e que dava gran | delo, o sonhador, assombrado pela impressão da imagem 3 anos . Er Ola e sa pe Com raesse us Ao” Í 1 1 ” o que poderiaÍ si1 gnif] icar aquele sonho chegando à ão aç r ti in cu m ag co a im tou de “dis

1

“p s xa le mp co em am ir uz ad tr se s lo de muitos sonhos e pesa

ítica cr a ra pa o” d çã “a ha e ec br a um a ri ab mundo imaginário e do sonho

165

RETOS

Na prá o. oc rr Ba do al ur lt cu o sm gi ri di ividade do et ef da s se te s da r ta ei sp su o, mp te roduções” nas quais conta

de s ca ri tí sa s ia ór st hi m ia cr se as an of religiosas e pr

E2- FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS Mo.

7

="

164

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERN

ISO E

m

dizend

m E ano, adornada com alguns ditos dos escritos ninds

E

Somada a sua experiência de vida formavam os elementos bási icos E do

F

E

bs

)

E

etas espanhói of pr is do m ra fo ón Le de ia ec cr Lu Miguel Piedrola de Beaumont € ia e um novopé

dinast va no a um do an ci un an € es mb to ca andavam “sonhando” he entes pol id ss di de o up gr um a os ad ci so as m s fora durante o reinado de Felipe H. Ambo e punitivo de co ri tí sa do eú nt co ao as aç gr siástica e críticos da hierarquia ecle moriais e criaré me e s to ri sc nu ma em am ar ul rc ci os mensagens. Muitos de seus sonh js somen m te la ro ed Pi de os nh so s Do s. ão es +t co grande impacto dentro dos círculos da Inquisição, já no

as ci ên di au de s la sa s na o sm me e el resumo oferecido por . Mê os nh so us se de 2 41 de ta ri sc nu ma a pi amos com a có

Lucrecia de León, cont

d |

a



,

*

S

i n K los: rodas “o ras, letras, que lhe servi- am como chaves mnemônicas. O E , pintu ód | di !é Essas imagens eram colocad E à ar recordar o que deviaia dizer. para emorize E as de uma ai a ajustá-l para ca específi meira rt to maior propósi ao ca s ue neste o

parcuiaraer po da Em s. os poderes temporai — acreditar e seu processo, Piedrola culpou, especialmente E de vento dizendo [que] eram profecias” e a leitura da in ça ram .

sacredits

E

=

N

ale tura de certas passagens bíblicas, em especi os livros proféticos, pecial mos E otes porque exc;

podi

exar a ss re te in me , os nh so us se de co ideológi falar de suas pessoas e do conteúdo Pod mos ass . as ic ét of pr oic ír on s õe uç od pr suas forma como eles confeccionaram o de Felipe Il e pressa:

PasEm

Acompanhav * . es or ad nh so s do to ia ed im 1o mundo am Os TespoM er es El s. ai ur at en br so s re e comunicado es or ad di me mo co m va ua at que imagens do futurá

eram lidos nos serviços religiosos Produzidos na arte visual. Apesar dis di inproféticos teólogos aconselharam que não fossem E nceificas as TRAS passagensE ente que à ae 00 vro de Daniel, já que excitavam o imaginário nte comum. É es livros proféticos tiveram um forte impacto emocional Eis Enoe que ESe cas,o emde alp E ma E Ps 5 se traduziu: em criativas narrativas do futuro

do reinad a ic ít cr a ur it le a um am nt se re des | an gr as que ambos Os relatos ap m ra fo is pa ci in pr protagonistas us se Os a. nh pa Es ra pa so um futuro glorio XVI e pessoas lo cu sé do u pe ro eu o ic ít ol op ge políticas e religiosas do contexto am estes personagens figuras0

ores as ad nh so os ad eg al es st de s ho ol os por apresentar ante

ot

ração. au st re de s en ag im ou s va ti ni pu s cas: i esta r i n o o d u e s p u o s a oníric im s n s e la g ue a aq m va ia cr ai19s se qu mo co , Agora, e t n a t r o s imp i a m E, ? es or ad nh so s te es a s paradigmas serviam de modelo edro PiEs de so ca o te en am ir e im pr Tomemos modificações dos modelos originais? o em um arco que se: adro.

ad eg pr to is Cr s su Je a u vi ele , os nh so f m e e, qu te Em um de seus an ic pl su e o ad jo ajoelh an m u ia ec ar ap ra gu fi a st da terra. Debaixo de UNE” tag va ha ac se jo an e st de s pé s Ao Cristo. s su Je a ia rd có ri se mi a di pe , no castelha aa

al E

n.10, fl.1-15. , .85 leg , do le To de ão iç is qu In N. 12. AH

13. Caso de Piedrola e de Lucrecia. em que a , on Le de ia ec cr Lu de os nh so almente aos 14. Esta afirmativa se aplica especi agregados. secundários familiares, vizinhos e

ne

a

=

,

tavam d era estada po e uam Horozco Y Covarrubias criticou aqueles que 1 5ºviê 41]É]

pensa que a escritura sagrad

O]

psi

Rap tista Fernández assinalava que

fados » Já que os santos livros não deviam

o referências diretas à s fontes que o insp ] pir i aram para armar iscu disc| urso profético » DO caso de Lucreci la de León é necessári o procurálas seguindo as s açõe do . “a m e má su 7380 Emos com text as o,cópjáiasquede asE não são explicitadas. A vantagem no seu caso é que fosa análise da E icão E Os, O que permite ao investigador moderno fazer E Ne esse corpo profético.

liguel de p:

Y Sucesos sumame

Vid: Ro t3,048.49..

eli o

E a

Se Comumente.'” Sabemos que ce q

E

mm

FT, p qret

Hruncie

OZCO Y Cova np

U cip i sen qe

É

mente extraris

SUBIAS, Fray Bap

extranísim os del propheta, ni ; falso, ni santo como se nombraba

RE del propheta..., f1.62-63. sta Fernannde dess. . Primer Primea a parte de las demostracion

Se funda la verdad de nuestra cristiana religión. Logroão, 159 3, pp. 99

O

16

— aaATLÃ SONS, ; FORMAS, y CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE

6

Br

vd

sb

a

a

l

tm dentro da arte religioso pós-tridentina, já reconhecida pelos historiadores da arte.'?

Os exemplos aqui apresentados mostram a dívida que estas narrativas proféticas

uma serpente nas mãos «

Veio a mim um homem Ordinário (São João Batista) au:

e

E mirando-a dando um nó com ela disse: «Já esta não tem língua”.

“2.

nais

o que ras

“do

DE

o céu: he ol e qu de pe a s ro ei ag ns me Mais adiante, outro de seus

“0

panha nas

trional uma centelha de fogo que vinha dar em

e a trazia o anjo da ira dom uma espada desnud e aa a e e ameaça ndstaaa | Eus, dio se Deus de “O mandamento a aee

a ccoentra « a tic a ae na à ão aç rr na a um Nestes relatos, Lucrecia apresenta a a a as a nt me le mp co são s en ag im direta. As dramáticas e eloquentes om o & No sonh a. ric oní ão vis da o ad ic if i gn ign si o rificar ai| nda mais para cla st antraisdentio do iconografia cristã que se| rvemDu

aaa

> símbolo das forças do mal, agente de destruição e inimiga dé O

lado, a serpente,

encarna ao rei Espanhio:

divina, representa o juiz

:

np

E

mb

ganda

a

THA

mbolo da ira edaj

a q inaça

cucilânime e débil, situado no umbral de sua decadência po

apresente

Vítica, como proé

Ma

O Raica é um retrato caricatural e patético da no am a sa a oo tivera m madril enhos muitos que percep a ção refletia

dad ala »

é completada com as expressões ameaçadoras, a tonatida “a fazem ainda mais claro e iminente O io «m da Espanha povoada de álai ERuNNTO Sao Fato a da ai subita caiu um gelo! fruto. As folhas tinham uma cor esver = : E oi atasnaloo mente, Finalmente, um venté

destas árvores e transformou as folhas ver a “m quadro desolador do futu ro da E derrubou. Esta imagem apresenta E Five do reino e, por sua Vez]

A mudança da natureza serve para té a nega eloqiiência da mensag! À a maisS' levantar um juízo adverso sobre osO gover ' dor dramatiza e torna MS”

cujo tomháameaça destê E ao E ta declaratória o dos prazeres, de vir o gelo que tira a cor - dest pl ” Edal ? seu comunicado: “No meio dos Pp m e x nd e a “ «e m o d e l b a em (...)”.'8 Neste caso, o modelo pode ser o esquem do “a a im a ou al su vi m e g a m i a v a a h n sacra, segundo a qual se acompa

acompanha

liva

e restauração, acompanha a descrição física dos jardins elementos sonoros, os ficos de regozijo como o aleluia e as glórias. Este dado poderia sugerir que o lugar

reot pado apreendido pela educação religiosa se junta um elemento retomado de uma Beriência real: a participação nos cantos religiosos dentro do serviço religioso. Lucrecia Cr

ma assídua visitante de missas e procissões. Às semelhanças temáticas e simbólicas entre os sonhos de Piedrola e de Lucrecia

ostram à estreita relação dos discursos proféticos destes dois profetas madrilenhos, os BIS se uniam, por sua vez, a de outros discursos proféticos antigos e vigentes em sua ea. Esta realidade põe em evidência a forte circulação e a mútua dependência de a sos que se complementavam e que, em certas ocasiões, polemizavam entre si. Ademais,

e “mos indicado anteriormente, nos mostram as variações dos modelos onsinais e ER constante de a de destes profetas, ou pseudo-profetas, de “personalizar” e de ESstuMiiZar

18. AHN. Suefio del 21 de enero de 1589.

seus relatos.

d

be s Eguir são resumidos algumas características e pontos que marcam as semelhanças E

auerenças

entre os dois.

O orimeiro| icasEcom mo E.

se observa em ambos os casos um afã de comparar as imagens etos ou indiretos — fossem esses visuais, orais ou auditivos — que NesEREasse Rsir neinam com o fim | de fazer maisis nítiníti da a descriçã icão. Por exemplo, ao descrever

FE Suas visões oníricas, Piedrola apontava que um corvo levava em seu bico uma bola ne ENTIAS em sua narração especificava que aquela era “como a pintam os astrólogos”, E

desta forma o objeto paradigmático com o qual associava a esfera a que

Ri E a afã de comparar se observa também em Lucrecia. Ao descrever um dragão

RE

pousado sobre a cabeceira da cama do rei, dizia: “E sentou-se sobre o teto RE ira assimila Pu tenho Visto fazê-lo as pombas”. Neste caso específico, a jovem donzela a

dade com as ações levadas a cabo pelo objeto que descreve com os modelos da a k E Da: ela estava familiarizada. Outro exemplo que ilustra este ponto se

ão d

:

ne

€ um sonho no qual ela vê nas ruas de sua vizinhança muita gente

e Ê

ora De la man . [ o =| Aur a Medio Er i

= 17 [e

a

sh,

mos

te

ncictis

Nue| estes paradigmas eram adornados e acompanhados de elementos próprios do mundo Wliato aos sonhadores. Por exemplo, quando Lucrecia de León descreve o tempo de

E

;

Final, e com outras tradições proféticas, hispânicas e européias. O esquema

—resentados, quase sempre, por jardins paradisíacos. O que me parece importante destacar

grandes vozes quer tão em dizia o eisto pátria”, sua de são que : ameaço a todos os

océueaterra...

Juízo

o às promessas pacifistas e utópicas que seguem aos períodos de crise histórica,

É

calmá É

com os relatos proféticos bíblicos, especialmente com as passagens descritas no

cenários catastróficos acompanhados de di scursos intimidatórios intimi |, p a al consistia em alternar

E disse-me: “Não vês que em Filipe o poder que tiver daqui em diante não é de é nu o seu ome de grande lhe ficará, mas nada do que tem já que | |

COrpO...”.

m

Ea.

tendo tantal “Como dizes que não tem língua de um terço dela fora da boca. E disse-lhe: o : BR

porque somente 0

167

ça declaratória cuja finalidade era romper a neutralidade da imagem ou do discurso. eunerposição de imagem e palavra parece refletir um gosto estético ou uma prática

A imaginação bíblica foi também a fonte principal de onde se nutriram muita; de Lucrecia. Segundo o sonho de 2 de fevereiro de 1590: ia

imagens oniricas de

FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS... = pe Ee

ER

JT



i|

hi a

A

|

Literatura, Emblemática, Mnemotecnia Y Arte en el Siglo de Oro.

Ucrecias's Dreams Berkele

:

NTOS NA MODERERNIDADE “ATLÂN mA y SONS, FORMAS, CORES E MOVIME

168

lhe EEparecem efamili o. que eram ltana eamente, "umas, cançõescutou degolada e escuta, simu : ae nc E da ea a Posteriormente, Lucrecia explica que Bê cânticos que es cífico, os referentes provêm de

rentes proviiaa se canta Epara enterrar dos mortos”. Neste caso especiais, que ari Sé ários mortu s rituai aos iados assoc cos cânti aos aludir cem pare e l eriência pessoa a gr. quais as mulheres espanholas tanto se destacaram. a as por es descrições oferecid Uma segunda característica, recorrente dentroa dasAR

ória como 00 profetas, é o uso de palavras que cumprem uma função declaratcom O modelo origina inal, as renç dife as car no mas? indi para em serv 2 “calvo”, que

queaes u indico ele a, Piedrol por a descrit e orment anteri exemplo, referindo-se à esfera iferencis d , sangre” de cor da era que “salvo gos astrólo ao de que ele viu na visão era como à dos e oferece o detalhe ã

:

]

»

a

e

a

arte. Lucrecia

de taine sua imagem do objeto original. Por sua parte, ap al qu no um espelho h O a peito & a imagem bastante complexa, em que ela aparece olhandocruzados P sobr e

: assim

:

m os braços co o, rt mo Il, pe li Fe de em ag im refletida a

bo

adi to ao coração. Asqtesp idas no meio do peito,posjun sp espadas cujas pontas estavamemmet 1ea ma for a tas naquel punhadura “e estavam

tinham nem guarnição, nem

na imagem de Nossa senhora das Angústias”.” O uso do “nem” serve tanto: ara | , como p a gem vir da ica tór pic em ag im da a e ão vis da tro den rei do a tur a pos ões das imagen! caç ifi mod as ia rec Luc de no o com la dro las. Tanto no caso de Pie m descreaver ia er qu es el e qu co gi ló to ca es a o ao dram

serviam para ajustar a visã O Juizo pk sto ife man õem exp as arm nás entos sr ( a edes vermelha da bola e a falta de aditam sobre o monarca espanhol e seu reinado. Neste caso, uma Vez mais, a tinalidada e tornar vil o rei. Estes predicados representam à parte mais rica e mais ertanis he. 3 na

relatos proféticos. aaa | Em terceiro lugar, a mobilidade e o movimento (físico e gestual) aa es 8 característica destas visões que cumpre duas funções: primeiro, as modificaçõ

RS E ias oníricos projetam e dramatizam Os diferentes juízos vertidos sor era espaço 85% do o dentr para dor sonha o adar trasl pará m serve da gente; e, segundo, de gestual eai ce oabill ms expressivida à — 1 no qual se exerce o ditame. Ambos os traços da pints ce stial —- são traçÇos Import antes conv: ivênciaa de dois espaços, O terreale o cele a [Le

E. o

er

SR Asálogos a

= plástica barroca.? , E s € Gia TD” ar sentençavisões. rcal inte e, ment rior ante mei Des: eo Em quarto lu gar, como afir o ge dos profetas, ao o explicitar exp a me VISS as claramente para precisar o ponto de vista ades intel id il ib ss po às e -s am av ch fe o, sã da vi rompia-se com à neutralidade ae conf cia, Lucre de s sonho nos gos diálo dos 5 sonhos ela se encontra com à madr e Maria dd +, no caso em receptoreses, e exem a um dos plo, relato. Por até do da UE . E PASO nto CASO TaT SEP , hora “Sen diz: Neste 24 quem a oa, Lisb de a Monj a como a ecid conh or melh ua | mo lasti me nelas o tenh que s cravo esses com | a] q bem mal estou, porque E

cer

erta-se

.

A

R

4

Te

A Da

Po

1590. 91. AHN. Suefio del 10 de febrero de

Ls

E

+

a

Mm

A:

Aguil

2a

' -

. Madrid: "as Oro de lo Sig del ola ari esp a ur nt pi la de 29. GALLEGO, Julián. Visióny símbolos & blemática y literatura»ns : 23. Ver o importante estudo de EGIDO.

Artemia, pp. 25-49. de 1588. 94. AHN. Suehio del 18 de marzo

a

“Fronteras entre em

1

|

Ê

se

ã | ARTE 2 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS...

169

Zador , e, 3 de tal: modo, 3 rechaça o rol martirizad " jamen ê ta da dor infligida pelos cravos a

se

que se

uia lhe impunha desde o céu. Nos sonhos de Lucrecia é frequente encontrar vários SAS “ra n E níricos comentando as imagens que se lhes apresentavam ante seus olhos. ei ; d bém ob se visual co rios s ém va tar Tampouco Barro do literá sonho dos dentro l a tamb u s obser i se v o omen o node perder-se de perspectiva o ensinamento do professor Fernando Bouz

interdependência do oral e do visual nesse período.

forte

da

ondee nãonã somente à * Em quinto lugar, o afã descritivo e detalhista das visões resppond

és da minuci a descrição e Revessidade intrínseca de tornar transparente a mensag detalhes m fas imagens oníricas, como ressalta a quantidade de das pinturas ados emoriz E d m servia lhes mostas nas igrejas, que, seguramente, mental. - Al Alguns kilivros da modelo e , a Ene m

o

atraves

da

ICS

UCIoOSs

E

o Lorenzo Palmireno (1571), oferecem oca, ecomo o Estudioso | el de la aldea, desJuan p o particul e em xt os. st te sual disponív;el aos cristã Ne inventários sobre todo o rico mundo vi com que à

=» destaca a forma estereotipada i Os a A dot irgem, os santos e os E plástica com que se e a riquez

sa Espanholae, da Idade

Embéro descrevem

a

: dn Saia o fc jano. Quando Lucrecia descrevia o Homem Ordinário, um ár aque, e E ind ava “sempre vestido de uma mesma maneira ; que ia esnudo de braços e pernas peles que pareciam d e camelos tal como o havia vi o pintado s uma com mas , tido Ives vist q avia “NA isto o Igrejas de São João Batista”.2º A tud ES “a podemos concluir que às minuciosas descrições

dos sonhos respondiam também a instânci

E iguras

des A | E jes específicos para poder estabelecer dc E" Os. As intromissões desses interlocutores se percebem da

atumentemesrsonhoside

RE

E

o

pa

: ain

ã

E RRESELO lugar pode-se observar a forte intertextualidad

$, dentro destes sonhos proféticos. Abundam, por dd

a sé desonra

: j

e une à Juízo o a agens bíblicas, especialmente aos livros ProfECO do cielo; o nados às d i ao alusões há mporâneos = eMem disso, | outro de oE discurso n Egal ades políticas jãOS prognósticos as ou notícias que circulavam novas às trológicos, oi ai m a 2 deR e arna form TE Sgadutiliz s e aos sonhos de vizinhos e de beatas visionárias. Este toda ja. lj

À

ár

di

E

E

|

, mida MU a

profetas

S

ação

!

disponível

d seu alcance

A

conte

Serv

a iti o prolongamA sagem ento n da men aos discursos proféticos. També m permitia — *POrar novos S el elemen tos e fazer emendas ao profetizado anteriormente, segundo a vi eduta e Feceptividade dos receptores imed Políticas. jatos e as mudanças nas circunstâncias

E: E últim 1 colocar as profecias e as críticas dentro de um sonho foi troo dalugar, 4 Ro QUd o1 a Sig do e O d l eval medi ura terat sonho o n foi lo e on,> UM mode o ez Talv o de Oro. sonho orácul ae | qual no culo [= AM quai um guia aparece ao sonhador para anunciar-lhe um ad Ti

2

Livros Sagr

Os também

2

:

contem sonhos premonitórios. Apesar da desconfiança,

Re

OUZA, Ferr: 99, pp.

o

E O. Co

municació

EGIG 15-39: E f. 41. Esq

S/12/2,

a

“o

O, Auro

ae

* Conocimiento y memoria en la Esparia

ra. De la mano

de Artemia.

'

mts

de los siglos xviy xvii. Salamanca:

170

SONS,

FORMAS,

CORES E MOVIMENTOS

DE 4

NA MODERNID;

eiros, e r dad ver hos son o com te, men ial enc pot s, ado fic ssi cla ser proféticos podiam deviam ser cuidadosamente examinados para classificá-los dentro de uma ngcatego outra.

É

ud

“a E

Durante o Renascimento 08 modelos mais importantes foram os sonhos bíbli er; famoso sonho de Macróbio, tão utilizado como modelo dentro dos sonhos lit a transmi par m via ser s nho -so udo pse os ou as ric oní s çõe fic As 2 ol. Barroco espanh ON

ce o — FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS...

mabela 1. Símbolos que Lucrecia de León aprendeu de uma moura E

E 7 E com e mhar

e

r. -se iam pod não gem ori de te fon a ou a ori aut de e dad ili responsab categoricamente.

Stu

iu ty

lc da os ric oní s ato rel dos e o ism fet pro do s oso udi est dos a ori mai A bíblicos eli s elo mod os com ham tin es est que ia ênc end dep a o lad ina européia tem ass que pod eríamoscl , sos cur dis ros out que a nci luê inf a car bus nte ssa ere Seria int e da oniroma | art A . ões duç pro tas nes r rce exe m ra de pu , ais gin mar s mai o com

osq seus respectivos significados. Os manuais de sonhos eram como dicionári os símbolos oníricos com seus respectivos significados. Apesar da cens

Se q

a a estes

da; nesma L circularam várias cópias na Espanha de então.” Pelo testemunho o de sonhos ensi 1 taçã rpre inte de do méto um ecia conh m jove esta que sabemos tos cres er r ecii conh esses que se umePres casa. sua em o vivid a uma moura que havi forte interes ao e os sonh seus avam copi que ogos teól dos ntos name ensi eraças aos gados. Com el eito, mi agre os outr e nhos vizi de co níri do-o pseu ou ico onír rial mate símbolos que aparecem em seus sonhos correspondem a símbolos oníricos mei or

a

recitados em seu testemunho (ver a tabela 1).

Chegada; de hóspedes Abundância e riqueza para quem o sonhasse

Trabalho para quem o sonhasse Honra para quem o sonhasse

kar com touros ou crianças ha “com azeite

Riqueza para quem o sonhasse

o jar com carvão

Filhos para quem o sonhasse

jar com carne em uma panela

Casamento

mhar com rabanetes

para quem

o sonhasse

Disputa, Leva bom sucesso para quem o sonhasse.

pahar com vela com chama

Es daue

pectivos sign com seu extenso e complexo sistema de símbolos, com seus res : on rover certos elementos e detalhes a estes sonhadores. Dentro da tradição“entre ativos ret erp int s odo mét os ers div am sti exi ana ulm muç e tã clássica, cris ciaisa. na los: mbo $ 05 e entr s ica ból sim es exõ con ou s ica lóg ana es açõ rel as m ria descob e justar

ízoizo d da pessoa que sonhou Preju reju

rtas aves mort

Mar com cana ou canudo kar com uma mesa cheia de comida | E

for

oficial./ o cole ja Igre a ra cont e o uic árq mon me regi o ra cont ica crít a ios rode os direitos relato crítico dentro de um marco onírico se esfumaçavam a

Significado

Símbolo

a

|

é os bol sím dos ada fic pli sim são ver a úim a lha eme ass se

O bolos

mificados que aparecem em alguns manuais de sonhos.*! Nos séculos XVI e XVII circularam ps manuais de interpretação de sonhos. Em particular se tem conhecimento que alguns mbnbros da« nobreza espanhola tiveram acesso a Onirocrít rocríti ica, de Artemidorus de Daldias,

dos guias mais importantes e mais traduzidos.*? f ; Pare ar finalizar podemos apontar que era possível elaborar estas

“engrenagens”, ou iruções de sonhos proféticos, graças a um método de memorização de figuras e símbolos ;

oo

Es

ie

que se associavam ou se correspondiam a certos significados d

=

blemáticos

sside com os ento es elem em dessEste clagicas. recipolít mediante a socio de EMO lato podia prolongar-se nc ter pode ras untu idades à luz das novas conj o um dos métodos E ana isa seus r arma para rua de tas profe fados pelos rola Pied Ash a Ea a o dizia “Que : ores isid inqu eu testemunho ante aos

no ER E lo o adornava com alguns ditos da Escritura dos profetas o ; ão + Este método tem sido confirmado por outros estudiosos do e E 5

lidade desses discursos se assentava nas infinitas a vita À co Pani |

partindo de modelos — visuais, orais ou textuais — determinados. Também ção imagi imaginária nári , posteriormente discu ES S como na recria Nação ; rsiva, das imagens oníricas 'NES dois profetas madrilenho ; s, manip- ulava-se os modelos originais de onde os sonhos “a

m. Essas transf. ormações des são sã a parte criajatitiva, subjetiva, e, se quiser, poética destes

PO

95. Nos dois co casosE os juí inoli Dados se inclinaram a pensar que estes sonhos proféticos haviam pare ade sediciosa. Em todo caso, estes relatos foram qualificados ha

20h Alons,o de Mend oza » SSen RR livro criv ã e confessor de Lucrecia de León, reconhece que deste ivao u tinha um exemplar +

É

Al

pia

27. TRUEBA, Teresa Gómez. El sueiio literario en Espafia. Madrid: Cátedra, 195-"

+ Tal os. sonh dos o taçã rpre inte pela ão haç vin Adi ia: anc rom OS. Oni 28. sor de s uai man “ll es dess um de scrito 29. Presentemente estou trabalhando com um manu o

e "po

| Q

“Stemunt eiêma E de um manual manuscrito de sonhos. E.

Mons de Mend do

Sópia

do livro de Ea

Ver

510.470,

Oimn “PSitante es

FT

.

Oza, arcebi

So



ea, uma beata madrilenha implicada; no caso de Lucrecia, sabemos que

ebispo de Toledo e confessor e secretário dos sonhos de Lucrecia, tinha uma

que lhe foi enviada de Paris. AHN. 3712/2, f1.193.

dy sucesos,

t.62.

tudo de Pedro Cátedra.

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ações”, “dis in ag im s sa al “f , o” ni mô de do es sõ lu “i como “coisas da imaginação”, nhos de L so s do so ca no e, ”, as ot or “l , a” ul “troça” “fáb

“devaneios”, “mentiras”, se in linar J ão, ent , cto edi ver O a. ri la va ca de foram comparados com os livros munc um ar nt ve in de z pa ca a er io ár in ag da invenção humana: O mundo im to sobrenaturais. Na verdade, no Renascimen

dependência das musas nem das forças da s imas re de po os o, lad um por a: iv at in ag im e ud rt vi vigentes duas noções sobre à imã aço esp o o, tr ou por a; ic ét po o çã na i ag im como um ato do pensamento e da sa du tromissões sobrenaturais. Ironicamente, es

como um âmbito sensível a in

as e prolíficas ud ag o tã es nt me as du de o çã a abriu as possibilidades de profetas espanhóis.

2 sda

|

TRA SFORMAÇÕES IDEOLÓGICAS NA ATLÂNTICA

|

ÉRICA ESPANHOLA: AS IMAGENS E AS NARRATIVAS DAS REBELIÕES DE 1624 E 1692 NA CIDADE DO MÉXICO |

Jorge Canizares-Esguerra

SN

172

SONS. FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADEA

anhã se aproxi e mar ea o hã de 8 de setembro de 1623, no Convento de E man E ) es vi o: o cibóri xico, Sor Ana de San Ambrosi rosio teve uma uma visã RR Tao DIO rs rm sífo tran se ) page, | lou em uma bola de fogo. Insegura se havia sido Deus e o a “a fúgi a Visão, Ana recusou a comunhão, , e bus cou refú uem prov gio embaix; o do pi

o Ali, aum a apela.

a caiu do teto e feriu sua cabeça. Então Ana soube que era E mandando-lhe uma mensagem: isso era um sinal de que em re o palácio do vice-rei da Nova Espanha. Enquanto estava na

E e ras ch aria cu| idando de seus ferimentos, Ana entrou em um êxtase que dur ou horas. Nesse tact; 4 AS LEI ou cenas de batalhas no palácio áci do vice-rei, aire e viu demônios avan Ea: a se reunia na praça.? No final PMUGdo O co que aerac RE GATENO de dezembro, Ana de San Francisco na

dr al

“E

de

aci

RL CepETO Is também teve uma experiência de transe

Ao

Ambrosio, que vira demônios, Ana de San Francisco viu asalias

Fio, conduzidas por bons anjos, atacarem o palácio.? As visões das duas freiras , : . . eram Tealida maca E

ra eo r denuncia para México do Cidade da praça ne herético” um “luterano u e queimou epois de ser recebida a tiros pelos guardas, a o DSeMoenfurece Hos, castas e

peneoo

mero

an

Rage

ns costumeiros ócul, palácio. Escondido embaixo de uma grande capa S, O Vice-rei, assustado e sem enxergar bem, procurou arà turba para alcanççarar o claustro dos fra ; nciscanos, onde encontrou proteção. =

o nista,| € on : tag pro o , tes van Cer de o livr do os l tu pí ca nos 35. A semelhança se devia a que maneira, em a sm me Da vo. sal s) na pe (a sai exposto a diferentes perigos de que , sempr al ur at en br so da aju m co is, qua as Lucrecia confronta diversas vicissitudes € as nove na ti an rv ce a obr a re ent s nça ere as dif ación de lo in ag im La s. Iné , AR AZ : em e ec ar ap relatos bizantinos 2000, p. 5. lo, Pau o sã de de da si er iv Un . do ni ve Recien

) de Rer

o

TS Lommez,

de | à orden de a

| 853.57, segun a Os tum.

Muito 1624, 3:33.7.

a fnentados por D. Mariano Fernández de Echeverria y Veitia ols,

2-

:

UEROA, Francisco García (ed.) Mexico City: Juan R. : :

S. 2-3, (3: 17-20). Daqui em diante, Documentos tumulto 1624.

|| | | |

||

N SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLA NTLAN

PARTE 2 = FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS

ad

174

a poi: es, Gelv de Esta foi a última vez que o povo da capital pôde ver o marquês deposto pelos ma as, eir tum cos s nia imô cer as sem ia, ser ei e-r vic o mesma noite a da Audiência, e pelo arcebispo do México.*

E]

mo Além das narrativas religiosas examinadas acima, o levante d descrito como relatos de conspiração, ou como niialivas Ru = e 1624 também foi ascensão do governo tirânico. Os partidários do vice-rei, por exemplo, depreende

E

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Es E Re ud = dE cr =

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má de ha un op que ca, épi a mn alh bat a um mo co 24 16 Ao enfocar o levante de te mul “tu ao va ati rel ão aç nt me cu do da m ta as af se s ira fre das duas

conspiração das elites seculares e eclesiásticas locais, irritadas od pd

seus esforços para acabar com a corrupção. Gelves havia encarcerad elves por conta ados

-

anjo s, os relatos

aU)

noite de 8 de junho« e na ocorrido anterior, ao similar muito 1692”: um distúrbio queimar e am, cer ure enf se vez a um s mai óis anh esp e tas quando milhares de índios, cas 1692 també de e ant lev do s nte ipa tic par os e as unh tem tes As ei. o palácio do vice-r rrido, pois desde: oco o re sob as ios lig re s iva rat nar ado cri e ent ilm fac poderiam ter que pareciam ters s nto eve ido viv am vi ha ico Méx do ade Cid de 1691 os habitantes da ade; avalanches: cid a ram nda inu vas chu a: ativ g vin ade ind div a um nejados por T

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multo acaecido enladit “Tu 9; -33 309 3: , ico Mej de ia tor his la a par [1692]”, in Documentos (eds.). Tumultosy rebeliones 6 caecito os Carl A, EYR PER & aro Gen , CIA GAR in 2”, 169 de io elan México. Mexico City: PO de ia tor his la a par os rar muy o os dit iné s nto Volume X de los Docume es políticas y Alboroto y motin

tud vir de tro Tea de. los Car A, OR NG GÓ Y ZA EN GU SI : -80 369 6. Para estudos sobre

México. Mexico City: UNAM/Porrúa, 198

este levante, veja: GE

1692. Historia de o ult tum Bl a. Ros , JOO FEI ; City ico Mex y tur Mec al Seventeenth-Cen ni lo Co in y et ci So an ina tion. Plebei 656-79: R. COPE, Douglas. The Limits of Racial Dom cap. 7. 1720. Madison: University of Wisconsin Press, 1994,

eram

os mercados citadinos autorizados.

a a fi

Elaustro como mais ameaça

de lav Serna viu esse sítio dá Juan Pérez uma ia epoeclesiástica,

odiar a

"Esso

à



escassa

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opas para montar guarda na aaa



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do vale.de Ossenhfrancis canos tinham, até então, íge na e-odebrase ind ososiníndios “ protego-d mant ido ori tornarem presas idos” dios “a Bro: por trabalh vice-rei Essese arranjo beneficiava oovica: manter ca Eis, per RB.mitindo-o ção do r |

'

a

inndPeS palsíquias indígenas nas ido ; Do o sob e controle rvêia, que era regulado

8 paróquias indígenas para as iãos E de padres secular es pode E ,ocasionar e ria m a perda da influência do vice rei sob e os -rei sobr

, — V arcebispo res pondeu o a este cerco excomungando os guardas E, rapidamente, as ese S fugiram do co: ntrol e. O vice-rei acabou or denando que o arcebis po fosse expu lso do FEXICO, Perez de la ema respondeu à altura, exco mungando o vice-rei , fechando todas as

hotrde

E

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ou asilo no Mosteiro de Santo Agostinho,

ria a “MA

-



evitar sua captura. Gelves

ja

ai

5, pp» 2 194 s, Pres a rni ifo Cal of y sit ver Uni ey: kel Ber . ton Bol ene of Herbert Eug mplo, AGL HU exe por Ver, s. osa lum ,vo bém tam são e ant lev este cs. As fontes documentais sobre Méxicoa un 4 de dad ciu la de l tua ven con ve, gra 226; “Copia de un carta escrita por un religioso ciudad en dia 8 de xt ha dic en do edi suc o ult tum el nta cue se que la en la Puebla de los Ángeles

U tam

| que Gelves j ez ã ; scano franci os apoiado Ro s na disputa pela transferência das paróquias indígenas oas mãos RA estes para o clero secular. Quem quer que controlas se e stas paróquias Í controola larria i também

a punctual del tumulto y sedición que huvo en Mexico de. Algunos singularesy extrao! z Rui l ova ist Chr A, ER BR CA 4): 162 , (n.p .. que le precedieron. La prisióny destierro de d es. Gelv de s que mar el, ent Pim go Die don de no sucessos del govier sston dela Real. udi pri La sia. Igle la de dad uni imm la de a ens def Serna, arzobispo de Mexico, por la achos. Mexiee ch mu los de Ito u tum y to, oro alb El . dad ciu la a por mandarlo bolver del destierro Ge: dad ciu la en vo hu e qu r ula pop n ció era alt y o 1624.: ALTAMIRANO, Diego. Propuesto el tumult arques de Gelves. m rey vir del a son per la de o odi y to ten con des en lunes 15 de enero de 1624 FEIJOO, Rosa. El tumulto de 1924. : exemplo por ver, e, ant lev o re sob s udo est os mer inú m Existe versus Corporatism s)in) 4, 198 m tis olu Abs d. har Ric ER, BOY ; 69, 42pp. Mexicana, v. 14, 1964, History Review l a n o i t a n r e t n I e Th 24. Administration of the Marquis of Gelves, 1621- 16 nt É ury. Ce e h ent t Sev the of ” sis Cri al ner “Ge the and 475-503: ISRAEL, Jonathan 1. Mexico of 1624. Turmoil à o ult tum The es. Jam l Noe E, OW ST Present, v. 63, 1974, pp. 33-57; if eve | ts io “R L. r e t s e h C , E ; GUioTnHsR”I, in Greater America: Essays ti , c1970 University of Southern Californ ia, PhD Dissertation nomi Condit o c E d an al ci So of d y Stu A : City Century Mexico 43-58. o o |

O ou

jerímetro do claustro

umentos Patronato real, leg.221-225. Ver também: Doc tion, MS 1246; Relació lec Col r Aye E. ard Edg y, rar Lib ry ber New 4, de 15 de henero de 162 násn | los 15 de enero de 1624 y de las cosas Th

Er

:

erica

os magistrados

do vale, sob acusação celeiro o Chalco, pec, estocav Veráez de Pérez especulação. E E a a milho, forçando os índios a vender-lhe a bai a vai s ar a preços altos em postos de venda que Rio e a

| LD

Indias [ las de l ra ne Ge o iv ch Ar no e, ant lev o m ve re 4. Há cinco volumes de fontes prim árias que desc tumulto 1624; Relación de el

em favor de seus protegidos ou

utésico é estão E E do México, Melchor Pérez de Verdes, poa de

da Ci O

pla amo mil car ata gas pra ; iras inte tas hei col m ara mat das gea liquidaram alguns bairros; escuridão,m nandar na l ita cap a hou gul mer sol do e ips ecl um ou; e o trigo se estrag porta É o. nd mu do fim o pel r era esp a par s eja igr às milhares de devotos em pânico com« sc m eça par se não 2” 169 de to mul “tu do os t rela os que rir surpreendente descob licaçé exp as e ent vem bre ei ver cre des s ina pág mas óxi pró Nas descrevem o levante de 1624. IT explicações estas que 5 1ge s; nto eve s doi OS a par os ne dadas por contemporâ dos final no ico Méx no m ra re or oc ais tur cul e s iai importantes transformações soc XVII.

comerci

principal

o

“prender

a Ads AMO ni

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175

mn

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io o palácio.

o fri ti par .

S do arcebi yr ISpo e as elites locais certam Tá cvr “a diferente - Já ente entendiam as coisas de vimos co | “a

freiras, nos conventos de Jesus Maria e L os Mo as duas draraErm Ba enqua En,de libert mrESRtO ação, dentro de um amplo, cósmico, épico e reli ;

H

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1; almas penitentes i multir ARO profética, o vice-re era o racial próprioqueDiabo, e os05 qu turba A por anjos bons. o E com a tilhav Compar ” É iva de fundo religioso : eimou narrat mesma a Eiras > Te uefa] SEIO 7 SKO de guerra no mot im era: Abaixo o luterano herético!”. Contudo E a

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CO Qnd the “G eneral

larização

articula

das paróqui

Crisis

is ofthe Seventeenth Century, J. I. Israel mostra que a disputa pel a ii x o aps demográfico ameríndio, do Sao dee av

! Ê ei scanas Mente no cio as fran anci foi decisivo para o con trole d : O col

0 m m 176

ÂNTICI A ATL E D A D I N R E D O M NT NA LÂ AT OS NT ME SONS, FORMAS, CORES E MOVI

por seis ão ag Ar de ei -r duque: ce vi do o o d a çã e ra nom st ni mi ad va no a valido, mo co a, rm Le de e qu du s mes mc do , es ar 1621, e a queda do iv Ol m co , va ha il rt co. Gelves pa xi Mé no ir rv se ra pa ou “a oc Olivares o conv e qu eriam

qu s bo am s: no ta ri pu e s ta egot ch es lv impulsos reformis Ge a, ir ne ma a st De Império. em pelo crescente custo do a

ia PR

lismo, c e t n e i l c de is ca lo s a i e d pr ycess a c s n u g l a u i r e perseguiu as f s n a r t , s o possuíd s e d s do l x ve ní no a iç st ju da o ã ç a z i os l emente rm fi ou oi nome da equa Ap j . s os o nt v o me n ga ul de o ã lizaç a e r a u o n e d r o e , ão iç íger ind ias jurisd óqu par das le ro nt co o e br so O arcebispo

cular pe es os u em suas contendas com ui eg rs pe m, fi r Po edatórios. pr es or nh se de os di ín os er a abasté r a p o, intuito de proteg lh mi de s ga ne fa de milhares u ro mp co , ro ei nh di o ri óp pr dos. mi ri Op s do e, com seu or et ot pr se es No entanto, . do ia id bs su ão gr m co a que é | g m é u pósito e a alhóndig g l a o, lh mi do r do r especula io ma o mo co o ad er id ns passou a ser co esto u Se a. ig nd hó al na os ci gó ne s do to abelecimen ppOM ; exSSem enormes fortunas através do rest lves» ,PO e G . mo is el nt ie cl de is ca lo s ia as rede mp ro e & s do e to d à o va ci na dí er ie sp al de ” um pesada -a considerando , go la do m e g a n e r d a or rele rv fe de ordenou que se parasse to ex nt co e ss Ne novamente. se rda un in a lh -i de da ci à descor . no ra ti um apenas para ver mo co es lv em pintar Ge es ad ld cu fi di m ra ra nt co as elites locais não en

, qica narrativa sobre 1692 que bora de um em i p a it mu u esto nguém pr je ni 24 16 em lápeio a e a qu av o lp ss cu pa o nd Ao mu e. do nt re to 92 dife 16 po ve tique in em stiram contra o palácio, vante. Em

idários

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do



vice-rei,

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mo parte do co

ima expres X são

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E : Ea! enc



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jaicos CT is ua nt em o ad rv se ob r se a o E KR QURo correto prot:ocol : do e , ver “ o rn to em À as ut sp di as co e ti br lí 7. So a do discurso po ão aç st fe ni a ma te d an rt po im co. New FE pi xi Me o México, como a mais al ni lo Co in r we Po l ga re ce e and Politics of Vi ur lt Gu e ns Th e. ag Im ng vi Li 's ng Ki 2003. , em MEXICO a el ra Is J. to an qu n, ai Sp w Ne in m rsus Corporatis ve sm ti lu so Ab em r, ye Gelves,NO 555 Bo de o ra nt ei Ta rr 8. ca da o çã za li ca lo na es nt excele

são Crisis” of the Seventeenth-Century, ivares. Ol de s ta is rm fo re os rç fo es s ao do ga de um contexto mais amplo, li

mw

;

À

de

a de 1692, os muchachos foram transmutados em uma multidãoão de b BE Nos aço e batedores E a massa anôni s (cafetõe sordei los zaramul de sro « o êni o, am esea icanos), e vários tipos de mestiços, como os E E E '

A , aEunh

” sos; e lobos.” Essaà era “a chusma

ralé.



a

es

fo» Egas,

e co Ea aa aca e essa disforme mente, Curiosa o A como os er erada pelos índios: “a mais desagradável, i E. aten arandos content : aereas [emb criou; Deus que gente Esordeira f avorecida com privilégios mais a ] também fosse Lembora ; s absurdo e ades Raios. ireitos, sobci os quais exigem iniquiid Mm NE. Idis

So

Drcav: dicavam



“sa

e

infame

e

em sustentar



» 11 Estes conse os e guem.” ]

.

qu

Epis que o que parecia um evento espontâneo era a de de f; fato uma bem-

nspiração da casta índia.

à di muito diferent d foi i muito não motim o 1692 e e do de 1624. Apesar do fato de entanto, “No | fo de início je no do levante, as autoridades perseguiram Ea e executaram Em

(na maioria artesãos) 12 há

rma esmagadora

da eli setores alguns que de ias evidênc grandes tambémes sina O E ter enfocado Eco rea ente de Apesar os. envolvid am estiver | G y za en gi Si , os iç st me e ios índ mbém descreveu em s ta re a or do ng ça Go ea am y d to Ela il abr de 7 em d Elato do motim como cônego um o, lt mu tu do s te an s se me os » Pouc gota. mm vibrante ser; a edra O ; perante os magistrados da Audiência e do próprio o mã er o conde de Galve, con denandoeiei, 0c e milho.!3 No dia d E beatas que celebravam a 0; 0-0 por especular com o preço do

10 índic

1!

k,

;

E | rs = E

O vice-rei assistia à mi IRanto

oitava do Corpus Christi atacaram Galve com insul :

E E E da manhã na capela do convento de San Au Rn Ge 1692 pode também ter sido prod das conspirações produto partici dos maioria participantes acreditasse que ela fosse uma be a à

"99 motim de 1624, o dr lite, Mas, embor

|

Ta-

GUENZ; er 2A Y| GÔNGORA. Alboroto Ymotin.. GUENZ; VEsÊ YGÓNG Mo :

|

om

das realidades locais.

A

Poa

e estúpidos seguidor es de um clero fanátitico. O d

e místico mucdhacÉ h de os doman cha uni com na, ica ma mex mes à tica polí m cia dadeque ambos perten nnindo a Fon atiaa, sig a pati nifica ade

e...

tm

a

is

Rn id lv vo en s do es ss re te in os m be de 1692. A m ti mo É e n e n jos eventos de 1624 não refletiafomi de de a um tectada era a de

Baixos, es ís Pa s do s ra er gu s da e rt pa a, Gelves li e, finalmente, tomou cí Si na e o lã Mi em o id rv se r te ra. Após er gu de o ir ne io is pr mo co ilip HI é Ph três anos de e rt mo a m o C ). 20 anos (1614-16

FD

177 pel

olvidas nv se de as ri tó ra pi ns co e s ca ni râ ti As narrativas religiosas,

pe

riente guer pe ex um i fo es lv Ge de s O marquê nal E R de o sã va in na u to lu e el e, nt II. Primeirame pe li Fe de o ad in re o b so u ço Armad: el ív carreira come nc ve In da ou ip ic rt pa a, id gu se Em à caval aria. te en am av br o nd ra de li , 80 em 15 onde foi capturado, passan

Asi

a

l

o de jug do ão aç rt be li a su e br so narrativas as en ap m ra ve ol nv se de o nã a ato rs ve e qu e as elites locais , ca ti lí po a iv at rr na a um ram também uí tr ns co es El . os ig im in s co ía ni demo O . co xi Mé rânico no ti o rn ve go do a ed qu a al e r ão pe ns im ce as r a do ra st ni mi ad e o ir re

Castela, pagass os, € à st po im de ta le co à ar or lh go ao. lo , es lv México determinado a me Ge r, ra pe es se de mo era o C . is ca lo es it el as ad in nadies i iv st fe corruptas e efem as ad or ab el as r ta ei ac o de não tã es qu z fe e El s. do to a r de en começou a of ao longo de lo áud sa a s ai nf iu tr s co ar ão haveria ali n m, si as a; ad tr en a su m do arts ca li mp co marcaria o ou ch an sm de ém Gelves tamb l. ta pi Ca à uz -as Cr o d n ra a g Ve u j de b u s , es it el peregrinação as r a humilh a a m r o f de , o d l i b a C no pção u r r o c da e nt fo a dos assentos na Audiência e m e s s o f as omo se el

a

PARTE 2 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS

13 P.

181.

to y motin... p. 189: Jo má s despreciable de nuestra tra inf: infame plebe” (p. ro bo Al , RA E - 10 ma : s de 1d ES pentntee Mas ingrata, quieta que Di in e a os br um ej qu cida con re vo fa s ma la , ió cr “a Yacuyo abrigo E op e y es des y sinrazon da ui iq in a ja ro ar 4) 18 A. p. , .. n. tí Mo pr OW consigue.” (SIGUENZAY GÓNGOR aro Lhe Limits of Racial Dominar: SA

1

O

, pp. 154-60. .. n. io at in ho À . RA GO ÓN YG Sa motín...,, p. 184 TENZAY GÓNGORA. . o Oroto y motin... p. 190.

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATIAN vi

178

“ma

)

causado: planejada conspiração da casta índia, o motim, na realidade, havia sido

escassez de milho, provocada por meses de mau tempo e pelos ardis especulativos dos,

supri detinham o monopólio desse comércio. Como em 1624, os esforços do vice-rei “emIN supr rédiosos e cor alhóndiga, através da compra do milho, foram interpretados pelos cidadãos médi a A e. Galv de os bols aos do sta aju , ivo lat ecu esp ma um estratage a 7 Conde Para ser honesto, existiram diferenças importantes entre os dois motins. O conde locais e pelas formas Galve nunca demonstrou uma total desconsideração pelos ritos Ca É

a s Gelve de uês marq do ção atua da rada gist a-re marc a m fora que r, pode de io equilíbr EA: na a

Pérezz rário de Pere papel desempenhado pelo arcebispo também não foi o mesmo. Ao cont Serna, que deliberadamente incitou as massas a se revoltarem, em 1624, Franei SCO A q y Seijas (arcebispo do México em 1692) não encorajou novos motins. Muito emb involuntariamente

o tenha feito, quando

eres indíger manifestantes, que, injuriados, traziam-lhe os corpos feridos de duas mulh

a multidão, ele na verdade procurou acalmá-la, quando esta começou à que imar a

Entretanto, assim que ele e seu séguito deixaram o arcebispado carregando

símbolos e ritos do poder, no entanto, não foram completamente violados. No: mom

em que a praça se consumia em chamas, um cônego do cabido da Catedral, Dr. Man | .e dest Escalante y Mendoza, correu para lá a fim de salvar a Hóstia ConsagraOda clérigo, então, se precipitou novamente para a jurisdição do arcebispado, abraçé ão retrocedeu| tid mul à o, nt me mo se Nes . sto Cri de po cor o ha ostensório que contin Christi, o Co po de sinal de respeito:!º ela havia sido ensinada a venerar O Corpus bstanciação. O miste nsu tra da e agr mil o e ant dur a rad sag Con tia Hós na presente o equive era — r alta do lo ácu ern tab no do rda gua io nsór oste no do objeto sagrado — cultua à da Hóstia Consagrada nto qua a ios ter mis tão era er pod de e font cuja rei, sacro do

raramente o corpo do rei era visto pelo populacho.” E, assim, à multidão quei

ie

Consagrade tia Hós à a vid nga “Lo a: tav can to uan enq ça, pra da no tor edifícios em à 2 !?" gue pul ao a vid ga Lon o! ern gov mau ao ixo Aba rei! ao a vid 15. SIGUENZAY GÓNGORA. Alboroto y motín..., pp. 189 e 193.

16. SIGUENZAY GÓNGORA. Alborotoy motin..., p. 198.

17. SIGUENZAY GÓNGORA. Alboroto y motín..., pp. 204-5.

18. SIGUENZAY GÓNGORA. Alboroto y motín..., p. 205.

e.

a King, PP->2 19. Sobre o Rei e o ritual do Corpus Christi, veja CANEQUE. The Living Body ofthe, inBEEZLbL md NAGY Linda A. “Giants and Gypsies: Corpus Christi in Colonial Mexico City” branons 20.

. Public Cele C. E. & FRENCH, W. (eds.). Rituals of Rule, Rituals of Resistance Es urces, 1994, pp. 1-26. Reso y larl Scho : ware Dela on, ingt Wilm co. Mexi in Culture rtir do suco& p a co Méxi “. RM N.T: O pulque era uma bebida fermentada produzida na região do

91. SIGUENZAY GÓNGORA. Alboroto y motin..., p. 203.

pré

uma grar

cruz, a multidão os atacou com pedras.'º Grupos de jesuítas e mercedários tambémfi a p forçados a se retirar, devido à fúria da multidão, conforme o clero entravna o ros ário carregando crucifixos e imagens da virgem, cantando litanias e rezando

2 — FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS E

* Continuamente, O É

pa

179

a aparece como o principal culpado pela rebelião. Mas em

d SORO reside em seu poder inebriante, mas em seu odos Os RESP a e eriar novos canais de sociabilidade. A maioria dos relatos apresenta as Ea; devoamc e dids com rica Momo o lugar ondeea conspiração fora tramada.? Ao Seda des cafés sa nglesa, as pulguerías não eram espaços de sociabilidade onde o público discutia rnais,jornai manuscritos, | ou novos livros.” anuscri ivros.” No entanto, elas abrigavam uma nova e é m ergentente esfera esfi E | e

mexicana, um espa sública se ais raci e ais soci ias arqu hier as vári as qual no paço m mutica indi chavam, onde homens desman as e espanhóis pobtares se juntav am índi es, her ts, mul cularizar os,as cast “a E autoridades Por con gar e ridi

para rir, chorar, brigar, xin

do motim, as

mas foram imediatamente fechad

por duas vezes se recusou a falar com «

que haviam sido pisoteadas e espancadas na alhóndiga na véspera e na tarde do mo área que a mulher alguma jamais havia sido permitido pisar sob a jurisdição do misóge prelado.!s Embora as ações de Aguiar y Seijas tivessem por fim contribuído para inflam

“M

ndo reabertas e iAD e Soa er e depois de passados alguns a cr ovos motins, o incidia éxico mario o só De dr impoststo que le era rentável demai ais para que asautoridades do final Edo pulque NoM

E lQuem lê as descrições do moti pisceulo XVII, o mercado dominava a cena. E elideoló Bico que-o comérci Bo de 1692 não pode deixar de se surpreender com o ain esempenhou na maior parte dos relatos. Apesar de rem omotim O DO E pelosindios da

nfat eis rapel-nos

paró = e

A

ia

Conio produto de uma conspiração tramada nas

de Santiago Tlatelolco,

a maioria dos relatos também

“a DO masac ico e sob os quais o comércio de milho se regulava. Ao de 1692 realçaram a competência do vice-rei o Como administrador do E Redo: o vindo milh do e tant cons o flux o co po a e E E nx Ch uca. (Tol nhos vizi s e Bs val coisa que fez não

ênte. a travá E d Ee

1a), e também dos distantes (Celaya, no Bajio);

exigência de que os proprietários entregassem os rão: armazenados E mismo $ bi dados preços), mas também e amente aesgave im nos mercados de forma a forçar a as comércio”. Em abril, alguns meses antes da revolta, o vice-rei conv 5 E cipais autoridades locais (os ouvidores, os de conegos da catedral, a Câmara municipal e o

| HH

|

80

Essas mulheres, argumentava ele, Rr

alhóndiga, apenas pelo fato de serem ; roteger os índios

perto straendr |

proveito dessa

15

2 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONA RQUIAS.. PARTE 2 -

ivilegi

milho subsidiz e Ea tentos a tiniai ua eculação, esAR indígenas. EE menos favorecidos da esp mao política. Além do mais, a mo coca a

]

1a

O

rtilhas. . Tirando proveito tanto como consumidoras qua e nto como

1640. o México fez a Coroa conhecer os limites de seu Império. Ate o fim do sé culo, o LU, féxico e Castela continuaram a se enfren tar acerca do domínio do Império, e, todas as Cazes as elites do México mostraram arrogant emente a porta da saída a seus vice-reis * Essa bem-sucedida economia se assentava no cerne da crescente exp ansão demográfica das castas urbanas mexicanas. Os mestiços começa ram a aparecer como resultado de do 7 —

A

s ds LOM as fi

descoberta oras,des

bou ajudando a subsidiar o coSsnsumo do pulque, ea

migrações internas, do campo indígena para as cid ades em expansão; e cresceram, também, e. Em conexão com o trááfico tico de escravos africanos. Escravos libertos. » es “SPanh óis pobres e anh oIs pob Indi oso se encontravam em áreas urbanas próximas, criando laços afetiv WuI os e famílias. Estas

E aA

iraçãoão cpara conspiraç entomartaombpod rebbeeli ãot émer.usaram o mercado para explicar por queare a ia aa a = come

Fastas, no entanto, usavam o mercado como um meio de acumular riqueza e de desafiar

tamente. Uma vez que a multidasão começou a se Jorgar pedré reunir € àa Joga tão abrup É ra usar 26 das barracas que os ir alácio do vice-rei, os amotinados decidiram usar 08 o As esteiras se mos

Paris na praça para incendiar as portas e janelas do p

;

Tua RE

ucedidas acabaram por comprar seu embranquecimento; embora, nesse meio tempo, tivessem crescido rebeldes, e exigindo da Coroa cada vez mais dire itos.2 Individual a

A

as castas obtiveram ascensão social ao entrar nas r edes de clientelis mo. Como os plebeus o Antigo Regime, as castas aspiravam obter ac esso a padrinhos poderosos, já que não destrutavam dos distintivos direitos corpor ativos. Já a riqueza, essa era obtida atra vés da Cumulação de bens

que, ve co s a me rc ia m o nt ag es a qu cajones dos mercaderes, robustos iosques tinh am ma de fe it am os er | ca jo Os ne s ra ça p . pe la em pedaços Eles e roupas. açúcar s a : aç vidros, ferramen tas, prataria, seda, m ercadorias, inclusive aça. A multidão tinha

, e não de dinheiro, pois, paradoxalm ente, no México as moedas de

prata eram extremamente escassas.? Por isso, como se era de esperar, na noite de 8 de lho de 1692, as castas mexicana

rofisocis,entemaisparade in cê nu iramesu ducezendntiaosr es s ácipeo,la o também a alhónd nãta o vaapmendi assper O sopal ma da E uan to toda a praça ardia, o motim rapida A pes ip e. Ã multidão abandonou seus esforços em destruir of se degenerou em sad ue. ndivid e voltaram uns contra os outros, lutando pelos ma indivi SA : foram encontradas nos cajones. Aqueles que tm antadi : 2

a

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roupas.a

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do Erário

Régio

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feridos fugiam para esconder o saque, principé

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não podiam justificar a origem de novas peç Os tentadores artigos que estavam

século XVII na Europa,

o

dos nos cajones dos comerciantes raça era o ponto de distrivm

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lveu

uma

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ela como é ie duuzzindo cacau tão somente paraE os mercados da :

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à a Filipinas, e fa Vira

a ve Em

amplamente autônoma economia que

motim de 1624 ocorreu q

a.

de

uan do o vice-rei,era por compreender mal an

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ostrar a desgraça dos amotinados.

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é Mercadores do O próprio

Eca io

dois

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se

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is

..,, pp. 184-6. tin.... Y GÓNGORA. Alboroto y motiín

ou co são esteiras de palmas, usadas para se deitar

bertura

|

que na punição do vice-rei: o mercado lhes permitiria

as

3

na noite do motim, o mercado acabou por se

SE ULAL O parian, o mercado Filipino. Foi neste palco, que

'eão Manila conseguiram acumular, de forma evidente, mais pod er

ess cemencisa srs

ólica, mas verdadeiramente.



Ri. uade Política do México Politic s

O

Ro Na

; No entanto, vê o México como nte, ao lado da Europa, da “crise ger al” do século XVII. Já, Richard verdade,

beneficiou e fortaleceu a economia mexi cana; ver BOYER, é eventeenth Cen : ti j ] ] listorica Peri, 757, 1977, pp. 455.76 tuty: Transitio ] Am of a Col n oni Soc al iet His y. pan ic erican Re A icon

MOLENSY

the 1. Pub

tanford.

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a

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die

economiaja

saudável,q anha, ao mandar mM:



tinamente, passaram a se interess ar mais pela

Éum testemunho do poder ideo lógico do mercado que emergiu no México a partir final do século XVII, qu e após o moti m de 16 92 não foi o palácio do vice-r ei o primeiro lfício cobola ser reconstruíd o. Em uma pintura re alizada por Cristobal e Villapando, em EP “A a praça da cidade do México que metade do palácio permanecia, E. = ua É Deo Praça, os cajones dos comerciantes hav iam sido substituídos

e.

como prata, cochinilha, e baunilha para a Europa € a economia mexicana erafé piada ia o. e não da erâmica para abaste cer os mercados peruan os. O tônuÀ s o México, ée; não G8 de nt al d col ôni as com o atuavam a Venezu demaciar tas

f

a de roupa ou de artigos que escoi S

independente, crescendo mais que à própria da Esp

]

Pnag dos nes dos A CD eme rgiem r como cajo um grupo distinto.

Je.

doendo vindas do Pea, r,o MéVexinecozueldea,senvEspo anha, África Ásia. Durante aa

mercadorias vindas

no

s, repen

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do: às autoorida rer toida arrefeceu, pe| rmitindo mardEo controden le dosovis arc deant s re aé jue |

A partir da manhã do dia seguinte, Ra

E

Ed

de sorte. A súbita e recente descoberta desse desfrutaram enormemente desse golIpe p encorajar os índi a tra osmar aca

181

mexicana e o poder das elites locais, procurou subordinar a Nov a Espanha aos planos mrmistas do duque de Olivares. Muito antes das revoltas de Portugal e da Catalunha, em

praticar

comecedo ra o

desaparecido das padarias da cidade, quase : todo m

to

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!

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1

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATlj

É

e

Rca

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GS

: : Passing: Informal and Official Whiteness' in Col oni al Spa nish América”, in John & HUMPHREY 1h Thomas J - (eds.). New Worl

d Orders. Violence, Sanction and Author ity phia: University of Pennsylvania Pre ss, 2005, Pp. 249-72: TWINAM, Gender; Hono

COPE. The| mi Td University Press, 1999. 9J Racial Dominati

r; Sexuali

on..., cap. 6.

; and Iilegitimacy

Ec

in ColonialS anish America.

E

2 — FORMAS

DO PODER

E DA INVERSÃO

DA ORDEM

NAS MONARQUIAS...

umbres, y estado o p presente de mexicanos cost en, “Orig “Ori rás. Basa de nio Anto uín Joaq ería, Pulqu | ra 1: Figu

New York. y philipinos” (1763). Hispanic Society of America,

Figura 3: Loja de chocolate, José de Páez. Pintura de casta ('de Espanhol e Mourisca, Albino”), ca. 1770-80. Coleção priv

se desenvolvia.

ea

Mal

e Espan hol, nasce uma ata “ ( Mul e a m i (“d a nim anô ta cas de a tur Pin . ria Figura 2: Pulque

90. Coleção privada.

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ada. As pulguerías não eram os únicos es paços onde a “nova esfera pública"

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i E= 29 desenvolvime

ai

o Sasses mais 1

ce

Pintura de Casta (de Espanhol e Mourisca, um Albino), ca. 1770nte com com as chocolat erias e cafés, as sorveterias : eram espaços “ novas formas de sociabili abilidade. Ao contrário das pulquerias. i estas

EARTE

2 — FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS

[o

e Espanhol fazem Mourisco”), to ula (“M ta cas de a tur Pin o. nim anô Figura 5: Mesa de chocolate. Pintor as mesas de chá da América mo Co . ico Méx do ade Cid ón, and Esc formas de ca. 1780. Coleção Malú e Alejandra ola encorajaram à formação de novas

7: Mulatto com caixa de rapé. É Juan Rodrigu Figura quez Di

rica espanh inglesa, as “mesas de chocolate" da Amé

à d Juarez. Pintura

:

o

produzem um Mulato de trás pra frente”), ca. 1715. Breamore House Mantena Eidárdio e - O mercado

ntes. sociabilidade entre as castas emerge

criouad as castas e

e também definiu iu sua sua |identidade i numa co munidade i : definia mais pelo acúmulo de mercadorias do que pelo dnreiro:

cajonesdos car

mercado indígena, & do as rac bar ça, pra E=ste E or ei, e-r vic do . d i r d Figura 6: Palácio a M . Museo de America, do século XVI com o meia Biombo mexicano pintado, meados XVII, século do meados em do vice-rei, mostra bem a praça do palácio tra & influel ns mo de ém mb ta como indígenas e os cajones dos comerciantes, de Acapulco. México, que chegava através do comércio

de a

NOVE

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Cristobal de viMalpando.

em

FA

Vj;sta da Praça do Méxi E co (1695). Methuen Collection

Corsham

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e a ascensã . Eqanado

:

eoefiiso

Do REINO À ÁFRICA: FORMAS DOS

"PROJETOS COLONIAIS PARA ÂNGOLA EM É INÍCIOS DO SÉcuLO XVTI!

Diogo Ramada Curto B

“m janeiro de 1620, o capitão Garcia Mendes Castelo Bra nco encontrava-se em mid para propor

um regime de aforamento e tributação dos cerca de duz entos sobas de à. Tinha por detrás uma experiência acumulada de mais de quarenta anos de carreira à Ocidental, em especial no Congo e em Angola. E não era a primeira vez que se autorizado a submeter ao rei e aos seus conselhos pla nos destinados à colonização

les territórios. Ao que parece, já em 1603 propusera um arbítrio para a construção R forte A Da

eis

em Pinda, no reino do Congo, com o duplo objetivo de controlar a costa e ( E base à penetração no interior. Desta feita, tratav a-se de desenvolver uma verdadeira Bla de ocupação territorial em Angola. Os documentos que então apresentou, Não uma digressão histórica acerca da conqui sta de Angola, revelam a existência de —Romia pouco monetarizada, na qual os panos eram os objetos de mais fácil ão

. Cada um dos 200 sobas ficaria obrigado a pagar de pensão, segundo as suas 9 correspondente a 100$000, 150$000 ou 2008000: aos conquistadores antigos e nos, aos moradores das fortalezas e presídios, in cluindo os da cidade de Luanda, ou “ig Sc 8, EM particular aos jesuítas. Todos estes conquistadores, moradores e religi osos “a Sponsabilidade de instituir aforam entos de juro e herdade, através dos quais se E da taneamente aos soldados e ao feitor do rei. Com este sistema de tributação, | e E iam de estar obrigados a pagar aos macunces, espécie de embaixadores | ES que lhes extorquiam arbitrariame nte um rendimento, nomeadamente em 90 em caso de guerra e por pedido do governador os mesmos sobas seriam

cando

=.

| End

ntale

comunicação apresentada a um colóquio organizado em Paris pela Sorbonne e pelo o Tluguês da Fundação Calouste Gulbenkian, “Idéologi es impéri

Empire Pora Eos

ale

s dans VAfrique dix-septiême siêcle”, in ALENCASTRO, Luiz Felipe & BETHENCOU RT Francisco ais face aux autres

empires. Paris: Maisonneuve et Larose, pp. 203 -47, em preparação.

a

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SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE At

ate9 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIA S...

obrigados a disponibilizar carregadores. O sistema proposto não constituía ner ; novidade, pois se limitava a reproduzir nas suas grandes linhas a situação vivie a

sobas em relação ao deposto rei de Angola. Aos detentores dos ditos aforamentos comp também proteger e amparar os ditos sobas, sobretudo defendê-los das tiranias a « encontravam sujeitos por parte dos governadores e capitães das fortalezas,p ocede; cobrança suas em duas ou três prestações anuais. As terras seriam devida; tombadas, dasfica ndo pensões assim gar antidas as condições de estabilidade para o usufruto ple Im propriedade. Qualquer atentado à propriedade ficava também regulado em ter 1 pena a aplicar. E, uma vez que seria possível identificar cada fidalgo soba, com suz

189

— Projetos, memoriais e alvitres para a tributação dos sobas de Angola tinham sido | E gados anteriormente em Lisboa e Madrid. Em 1618, por exemplo, o capitão Baltasar

| a a de Aragão— com experiência de serviço em Angola desde 1593 — procurara interessar E 5a na tributação dos sobas. No seu alvitre, propunha um sistema próximo do de Reia Mendes, não obstante certas variantes. Cada soba era dado a um conquistador lo este que pagar uma pensão à Fazenda real. Porém, o pagamento dos tributos tinha

E produtos agrícolas — milho, feijão, azeite e sal - a sua base, podendo igu almente ser Eruado em

escravos. Baltasar Rebelo parecia também antever um sistema de cobrança a que os oficiais da Fazenda teriam a seu cargo o arrendamento. Ora, se para Garcia Tr

7

a

ou banza, melhor funcionaria o regime legal que os protegeria dos assaltos prat pelos escravos dos portugueses e forros. | Neste processo de tombamento e aforamento dos sobas, Garcia Mendes era E al. obrisando Ep

en es tombar e tributar os sobas não implicava necessariamente desenvolver uma máquina irocrática, para Baltasar Rebelo a concretização do mesmo projeto implicava a existência E ERmais oficiais capazes . de impor a autoridade da coroa. Isto porque, em Angola, para =

com o parecer do superior da Companhia de Jesus e do Provedor da Fazenda, Este,

jes cousa que tenha nome real porque tudo levam os capitães e governadores”. Para ele

interessada. Pretendia para si o cargo de comissário geral, obrigando-se a atua

vez, assumiria as funções de letrado, ficando a seu cargo ordenar todasas esem

mandar ao feitor pôr as rendas em receita. O rendimento assim criado seria 1fo zado pagar diretamente aos soldados, “por não gastar Vossa Majestade em oficiais ni partindo do pressuposto que um projeto de colonização interna, associado au na cone militarizada do Império, fazia parte de uma ordem política simplificada, capaz de dis a presença e a multiplicação de oficiais e letrados. Prevista ficava tambéma formi le

e

ilizar as suas palavras,

“todos estes presídios não rendem nada a Sua Majestade, nem há

ventura de modo mais acintoso do que para Garcia Mendes, os capitães e ovemadurEs

jo 56 roubavam os sobas, como tinham imposto um tributo tirano nas feiras, sendo que feada dez peças de escravos uma era para eles.

Est matéria da tributação dos sobas, considerados vassalos dos portugueses, fora jaImente objeto de pareceres e alvitres por parte do P João Salgado de Araújo e de Bento tha Cardoso, desde 1611.4 E, no início do seiscentos, as cartas ânuas dos jesuítas à

posse a cada soba, que seria da competência do mesmo comissário, com à res;

oinidas e impressas pelo P Fernão Guerreiro, difundiram um ideal de colonização das

mercês, uma vez que estava em causa um novo rendimento de cerca de. 50.00

nero de sobas, classificados como condes, marqueses ou duques, sendo os seus Er

declaração do que teria de pagar de tributo e das liberdades que lhe co espauh Ia troca de todas estas idéias, Garcia Mendes não escondia o seu desejo de

as angolanas que remontava aos tempos da sua conquista por Paulo Dias de Novai à OS jesuítas, fora este conquistador que submetera com a força das armas um Ce

Contudo, o Conselho de Portugal em Madrid não se mostrou convencido com est E

por considerar que os próprios sobas eram gente livre, não podendo as suas err S aforadas. Frente a esta oposição, Garcia Mendes recapitulou a legitimidade ( gs clarificou o que pretendia obter com ela. Uma das mercês a que visava, Cla artê e na avaliação de um investimento a efetuar, dizia respeito à criação de tina o Anzele, nas imediações de Luanda. No seu entender, tal fortaleza, à instal aaa

soba Caculo Quehancango, passaria a ser propriedade sua e dos seus filhos, não

nenhum governador prover nela outro capitão.”

a

de Novais, na sua 2. Garcia Mendes Castelo Branco acompanhou a Angola Paulo Dias

su

os seg de 1574-1575, e aí permaneceu, durante pelo menos 46 anos. São-lhe atribuídos Questies Relação... do reino do Congo [1603?], apud CORDEIRO, Es nero um regime ência Geral das Colónias, 1935, v. 1, pp. 168-78; Projecto de

ni

De

O

coa CORDEIRO.

ce çámos amónio, 1601que1 come cu mersoisde Garcia Mendes, porquarautor enta e seis anos pp. 185-98; Relação da costa de África [1621], apud

[Reino de Angola... que há 211; CuEaBes nistórco-coloniisCprOs:

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e

Questões Da

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a conquistar e Ed |

Rn r dos a bispados. No seu entender, os sobas, embora Eotds

absolutos nas ii

às, tinham; sempre se beneficiado da proteção de alguém na corte do rei de Angola o Primeiro governador procedido à sua distribuição tanto o pelos o oie conio pedidoseusde capitães jesuítas que o acompanharam a Angola. Aliás, CE e

E Segundo a narrativa edificante das suas ações, era muitas vezes solicitado pel E Sobas, sabedores de que assim seriam melhor protegidos, tanto de ob ignaa rte de Paulo Dias de Novais, a harmonia deste sistem a, da ros. EE demo ado de funcionar. Para Jerónimo Castafio, que partilhava Ea Visão apologética do trabalho dos jesuítas, a responsabilidade desta mud Soo à ão ança pot dOS ministros de Filip cado: e II que não cuidaram do governo, ou seja, das nomeações e

3

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ço 7

Pasais rRebelo de Aragã do

Eco id no CIR 1592, e esc

fe

e j ua * Parte da expedição a Angola, organizada pelo governador D. Francisco de

E tões histórico-coloniais, p. 2920-234, SIC Roo Ques /nume

anne | Ebro E DRAEIO

se

y amar Ultr l do Gera cia Agên a: 10). Lisbo 0-16 (160 ntal. a Ocide Áfric ana. Afric mit OSSddpp 810 Miss TtÓnio. Monumenta

aldo |

W1V 1955, p. 19,

S DA fricana. África Ocidental.

pera

(1611-1621). Lisboa: Agência

k

MEM»..

ss

a

E

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÃ

190

reconhecer como senhores aos capitães e padres, da de 1607

E E E

ede 1611 quer na res

los regimentos dos governadores de Angola de

|

1, os sopas ea

.º poA par r es. eceues ui,usosheaic de maada | aa alhhoo de de Portugtraal osao por partug de Gar daq'a Consel smodestem AociameMen , na quetir e exclusivamen r-s ica ded por am av ab ac es ues tug por os , ção iza a peca A i

; conquista e colon os.”o governador Joã)o Rodrigues ravdo rciorde qu escan pesa cod nem um só soba reconhecia a autoridade dos

a eAngola. em |a

ti

ue também eta consã

a

conquista. Manuel Cerveira Pereira, que lhe suce a a do as condic ae devotíssimo da Companhia, continuou A seo E Pelo menos era esta av oq

restabelecimento do trabalho missionário pad

em AngolaºN à segi

raised

jesuítas pretendiam dar da história das relações pe

de todos estes projetos de tributação dos sobas ae

E

o

Ee assim,

ou for eres na ordem estes vassalos, era necessário dispor de presídios

ig a obtenção de uma mercê régia, o governador de Angola Bento Banha Cardoso, ele ópri D tinha submetido à obediência do seu governo mais de oitenta senh ores, sobas Eroso 3, € fizera de novo construir uma fortaleza em Ango — além de nunca ter sido do em guerra, apesar das muitas feridas sofridas, nomeadamente um olho e três )s de uma mão."E E Mas x a não é só no discurso de auto-representação das petiações e mercêsA que se encontram %ência E sE às fortalezas, estas sur

»roblema

colo cam O ana PISHnoSSES Projetos como o de de Garcia Mendes e seus antecessores ident afric al E na costa ocide e

saber como era pensada a presença senao res e relatos de experiências, deé no bIem re terço do século XVII. Uma série de descrições, alvit so — s uê ug rt Po do Impéri io o à çã va er ns co € a st ui nq co na iparam dos que partic

gem também como unidade temática nas descrições a à Costa africana. O modelo inicial era constituído por S. Jor ge da Mina que, RSA de 1620, Garcia Mendes considerava uma “boa fortaleza RE ”. "2 De acordo com este DM, à exist ência de um governador, de uma população de 300 vizi RE nhos e de 200 E —S Bem como uma compreensão geral dos produtos e resgates surgiam como os A

Ba.

|

J

A alles

dio Miralles

5. IMPERIALY GOMEZ, Claudio ]

de Diego

Ge

a

7 O

ae

de. de. Angola en tiempos de Felipe Il e de Felipe III. JRLos ET e.

rrera y de Jerónimo Castano, p. teoria

a . aid

Africana..., M V PP.

268-9;

4

BRÁSIO.

Pao

mn

Sá de Jesus ompanh “a de

iona ana..Coisa ., V.s VP. BRÁSIO. Monumenta Miss Rela çãoria AnuaAfric l das que fizeram os Padres da E opr

ia menta M

8 GR iversidade, 1939, V. 1 pp: 3958; A meatrin Dust Missõ| es. Coimbra: Impr ensauma O pa n tação geral desta questão smturycf . Para interpre Bea . HEI ReviNTZ sta E Portuguea s" CE

nos ppa

9.

The Vassal Treaties of the 16th to the 18h Century RENT nto

E moxime p. 121, 1980, onde refere 1582 como data

oa

de .vassaLAnclagemiendosCongo soa relaç ões Louis JADIN,

AVE

ortugueses.

do p

igaises,Re

portug abl romaines archives 1979, , a quprês lesde Rome, 0 000 E. 1,p:97Ze

Belge Brux las/Roma: Institut Historique les. Bruxe et espagnoles.

A

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Elons, s, edited “elon “ra

regimen U! ização n o mesmo Si Or a

:

efetiva colonizado desprezo a que So era votada. a agricultura eDios

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E.

umenta Missionaria A

a

2/.

na hierarquização dos regimes de vassalagem entre sobas frente à capitães

inarcas locais e as suas respectivas cortes. Conforme recordava, numa petição tendo em

com soldados disciplinados.

e presídios

Elas constituíam, simultane

tugues és (residentes em fortalezas), e reis locais debaixo da proteção dos governadores jonareas portugueses. Por sua vez, este sistema de vassalagem, que detém uma autonomia pri [muito para além da referência às fortalezas, corresponde a uma concepção das ações interpares, na qual se inscreviam as alianças e contactos diplomáticos com os

: há muito fixada: os se

uatro vezes por ano, recebia deles como presents“

Fortalezas

Ê

E

insistia

tomaram Luanda, limitaram-se a repetir e um tributo; quandoog bres do país; encontravam-se submetidos e pagavam E de 20 a 50 escrê

a

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E : 6410

cu

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E dot

nte, o resultado material e as expectativas ainda + concretizar de um projeto de coame nquista temporal e espiritual das terras afr icanas. E queo sentido atribuído a cada uma delas é muito variável. As fortalez as podem ser rendidas enquanto expressão material de uma das funções urbanas mais determinantes, | io aquela que se encontrava associada à defesa e criação de uma ordem política o de favorecer o intercâmbio comercial com a região e o termo circundante do local uralhado. Neste sentido é possível estabelecer uma relação entre o estatuto da fortaleza, Jd de ade e o da feitoria. Mas também é de notar que os fortes e fortalezas podem ser sa ebidos nas suas relações uns com os outros, ou seja, em rede, atuando como pontos de min: ção num território mais vasto. Nesse caso, os fortes tanto valem como modo de esinalar militarmente a presença portuguesa ao longo de vias de comunicação como as e eram favorecidas por rios, como podem servir de entreposto destinado a alcançar inginquos destinos, como acontecia com as almejadas minas de Benguela. Existe, porém, j outra dimensão, mais ou menos idealizada, associada à existência de fortes, que

sa

o oia

a

ao estatuto jurídico dos sobas,

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191

oo, Angola e Benguela — permitirá reconstituir essa configuração.'º Na base de tais E Ea tomada de consciência é possível localizar um conjunto circunscrito de fortalezas

ço do ato de, na corte, alguns mtesiEa

vassalosiro, perdas oamudae nças de

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o a a

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socorro de Angola, tendo o rei deste território

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DER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS...

Ré a

LI dire R ELNE

qu

EG: The Stran ge with notes ande

Adventures off Andrew Battell of Lei h, in Angola and the adjoinin f Leig g joining oncise history of Kongo and Angola. Londres: Hakluyt Society, 2º série, v.

| “Alfredo de Albuquerque de Lima. Angola. Apontamentos sôbre a ocupação e início do

imbra- no 208 Portugueses no Congo Angola e Benguela extraídos de documentos históricos ERG“SIELO BRA = Pr Univsa en ersidade 1933 ARCOS p 438 ); N da | So

Erico coloniais é areia Mendes. Relação da costa de África [1621], apud CORDEIRO. Questões

Nante D,

erique

PE37; BRÁBRÁSIO. m

o Timo relação da costa da Guiné de 1607, alude-se a que já no tempo do a tinha sido feitae cidade. Cf.o CORDEIRO. Questões histórico-coloniais, v.1, p. p. 374. icana..., v.V Onumenta Missionaria

aoTE 2 — FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS...

E 1ATLAN AD ID RN DE MO NA OS NT ME VI MO E SONS, FORMAS, CORES

] 92

4 : da so c No a. ez al rt fo la pe a íd ade constitu id un da or ri te in no os ct pe as principais nm e a a . o n a N de o, ct pe as último especialmente importante era o : pi É a o a ge i p a ouro, de que dantes vinha todos os anos evantesr , ouro do ém al ra dro. Pa da Mina xo roupas da Índia e de enfiadas de vi ai ab as gu lé as uc Po . gália e couros al m marfi nes o comércio os escravos, Cor "00 res melho ar rcion propo de capaz ia feitor holandeses dispunham de uma tn do: po ti ns co , el ív ex fl is ma l ia rc stema come si um de se aav at tr , to fa negócio. De designado

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uma boa for de or sp di r po a id ec nh co te en igualm Em 1621, ailha de 5. Tomé era =

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malato ed a Sua principal riqueza, dotada de bastante artilharia.> O açúcar era ue tinha dado na cana. A exportação 510qe devido a uma doença q ava que se encontr E ua isso. descido para quatro ou cinco,

carregados Er de vinte navios a E

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açucar

izinhos brancos e maisis

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jo paralelo. Os escravos resgatados destinavam-se sobretudo às Índias de Castela, | E “os melhores eram enviados para Lisboa, sendo os piores

mro

deixados para os engenhos à acúcar de S. Tomé. As mercadorias utilizadas para o resgate eram, mais uma vez, os anos da Índia, mas também se usavam búzios com a mesma proveniência, que acabavam mar corresponder a uma espécie de dinheiro que corria localmente: coral, laqueca, contarias de - vidro, panos ordinários e de várias cores, bonés e outras bugerias.'? * Em contraste com S. Jorge da Mina e S. Tomé, onde fortalezas e forças militares m, ao lado do comércio, de unidades temáticas para a descrição, a ilha do Príncipe É

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não dispunha

de força de consideração.!º Porém, os seus 700 vizinhos encontravam-se

Envolvidos na exportação de açúcar e também de arroz. A ilha de Ano Bom também não tink a força nenhuma, mesmo se envolvida no mercado de exportação de algodão. Na

cOstz de África, mais precisamente à altura do cabo de Lopo Gonçalves, navios holandeses procediam ao resgate de marfim, e esperavam os navios portugueses para os assaltar uando estes se recolhiam a S. Tomé depois de terem efetuado os seus resgates. A partir do abo de Lopo Gonçalves até ao rio do Congo ou Zaire, eram terras do rei de Loango, consic erado amigo dos portugueses. De fato, quando em 1611 0 P João Salgado de Araújo edi à uma fortaleza para o Loango, deparou-se com a oposição dos que pensavam que

E constituída por 800 vizinh uma concepção bem-militarizade ] “a população cm com e conformidade Em ni dada a sua defender contar com os escravos. NARA defender, se em CIERE capaz deus considerada era e Aliás ólvora. A gent sociedade, toda esta Abi a . p e munições Ê E ue tivessem bom capitão, —

il projeto meteria cobro às boas relações com o rei local.!'º Num porto situado cerca de

de a fortaleza já ter sido ocupada pelos holandeses, com DR càcids de ses de bas dispunha e a ps RS NOM 1 existência, em a era atribuido à à feitoria, qu contratador um a arrendada época à ce a referência o éoim ves ad iz or en rm Po é. in Gu da ta cos navios para os resgates de escravos ; na ina, mandavam-S

EESidade de modificar esta situação, propondo que aí se construísse uma fortalez a e se

a que

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habilidade, pelo que bastaria q

er téguas abaixo do dito cabo, os holandeses tinham constantemente duas naus e uma eitoria em terra, resgatando sobretudo marfim, pois conseguiam pagar melhor que os Portug jeses. Os portugueses também aí dispunham de uma feitoria, vocacionada para 0 sf gal é de panos de palha destinados ao comércio de Angola. Garcia Mendes defendia a

t aZoltER s a o e nt ju a de s: rei ia ao or ad s rc va me ti ec sp re es € at tais resg OR Di panos m : . A o ea qu mo a os anos um a dois navios à )o e ão Té do Benim, enviava f o a a

inhame e outros mantimentos; » de marfim e pan os de ns “2€s0 s” de os ra ha ad uc co “c s : a os mas também umas curi rregmadososreis 5 tis des ist tia em dois na| vios p or ano ca is ns co co ate 4: com o rei de Xabu, o resg o e os id um s ns ia co or os ad os rc ri me cu as os anos de algodãão com dese nh ]

TIL S.

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de Ere e do rio Forçados faziam-se resgates de escravos € ou

estava assim envolvida num comércio que abarcava os portos

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desde a Minaat me

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pp. 594, 598 e 608.

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umenta ME . na ca é ri na to ss Mi a nt BRÁSIO. Monume m BRÁSIO: do socorro da Mina, em 1606, em a r a g em , es es nd la 3 ada pelos ho A ea em que se encontrava, cerc a co So 6. 335 e 9 631-2, 335-40, 34 P Africana..., V. W PP 249-51,3 o t i | mu à 3 59 PP V V. ., .. na ca a ri Af a d ri Missiona ra dera se a er o iã st ba Se S. de a ez al raaste,M isa sifoonrtaria Africana..., V. V p. 37 e emnuco mentnt IO07., Mo BRÁS16 15. Em 12, 15-2 9 . p p Missionaria a nt O me nu Mo . IO ÁS BR cf. , io ód is ep te es e 16. Sobr ;

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“LO BRANCO. Relação da co sta de África [1621], pp. 200-2.

A, Previa-se a construção

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pedra e cal para defesado E

onumenta Missionari

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SEoro delirio, cBRÁSIO,

naria Africana... , v. VI, pp. 19-20. Re BRANCO, Es relaç ões do v., fo da costa de Af ica [1621], pp. 203-4 e 209-11. Ena com O cristianismo, nomeadamente acerca do modo como este geria com Oa a TelaçEBR ões ÁSI e

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a de Relação da cost Re . . es nd Me ia rc Ga , ica Africanaq.. CO y., VN pp-2 n AN PE 168E TELO BR v.1, pp. 199-200; BRÁSIO. Mo En

a

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| Missionaria e de um forte de menta Africana..., v.V p. 382º

pazes ca os gr ne 0 13 de os id sc re ac s n e de 40 hom e. 13. Em 1607, fala-se da existência io a EI ' p CORE [1621], apud Miss naria Africana..., VV | ri Africa

em quatro padres da Companhia. Estes últimos, seguindo um modelo já anteriormente dono Congo e em Angola, teriam como missão conv encer o rei a proibir os resgates às holandeses,?º A L tei do Congo, cujo s antepassados se tinham convertido ao cristianismo há mai s de anos, começara desde há poucos anos a mostrar-se aberto às relações com os Endeses. No estuário do Zair e, O porto de Pinda era frequentado por navios holandeses dg

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de e totomar an

cf. BRÁSIO. Monumenta

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oc)

ao Laprês les na

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éecom o monarca português e da embaixada a Roma de António Manuel

EM Issionaria Africana..., v. V pp. 110-8, 12 1-2, 280-93, 310-5, 367-

467-77, 588-9 e 649-51. CUVELIER, Jean & JADIN, Louis. Vancien

romaines (15]

e

Académie Royale des Sciences Coloniales,

Apos AV E I fase. 2, 1954, passim Um; SI, Teobaldo. Le Relazioni tra il Regno del Congo ela E RRo nice Cairoli, 1968; FILESI, Teobaldo. Roma e Congo alPinizio 7900.O, Nuo Nuove a |

La

PLA,

ia

da Missionários dios olmo: Editrice Cairoli, 1970. Para as iniciativas do rei do Congo em Mmiterio dei Capucci e quando da ocupação de Luanda pelos holandeses, cf. TOSO, Carlo. Il Puccini nelPinedito di P Cavazzi (sec. XVID. Roma: "italia Francescana, 1992,

| lj UIAS RQ NA MO S NA M DE OR DA ÃO RS VE IN DA R E DE PO DO AS RM FO CARTE2 -

L AT E AD ID RN DE MO NA OS NT ME VI MO PO SONS, FORMAS, CORES E

194

taos senhores das ditas terras, estav am obrigados à vassalagem do rei de Portugal. Emtudo, à falta de reli josos, muito em parti

por Maur as ad vi en , as et cr se e as ic bl pú baixadas, em às am av tr en e qu aí r po a e er planos s! seu os do nta ese apr ha tin es Mend Nassau. Desde pelo menos 1603, Garcia |

o s de Angola. A inexistência de uma fortaleza riqueza o permitia o justo aprove ass too das Y itamen E. a st de sã es ma muralha eram expr

que só através da concretizaç endo defend Pinda, em za fortale uma de construção de Pé rei do a ni ra se su de s õe iç nd co as abelecer as supost

a iv et ef a um la go An em ar nd fu de e a Ra ã n es nd Me ia rc Ga .” al ri pe im «o s efetivos de ao E. e nt me va ti la re s ro me nú e ec er a não of P E ça E “a Tr e daquela que nt re fe di o nt i t u a n a E 1599 E a ER Suas E. E ídos de Portugal,

projeto seria possível rest

rigado ob va ta es e qu a o ut ib tr o r ga pa de o ad sobre o rei do Congo, o qualtinha deixm a construção desta fortaleza, as duas ou tri . Co os tempos de Paulo Dias de Novais os e merca av cr es de e at sg re r ze fa a e nt me ua in holandesas que por ali andavam cont de: | teriam, pelo era, assim, holandeses. necessários

mil colonos sa is do s do es aa Dbi as Rio E. , Índias il as Br 0 ra pa r pa ca es r po a E Re mM a , na ões da en Ad O eto de sal de na an s da — de E e o reino de a a sa rio e nte ra ga o ía tu ti ns co — ia ár cu pe da e a ç era am a ti is ex e e qu o aa sda e, ad id al re na s o E OMEO Mas, R Es p mc co r ma air be dade O al consistia num qu a , da an Lu , os nh zi vi in ta mercial de onde O navios carregados de a

construção de vo ti je ob O o. rt po o tr ou a menos, de ir fundear , nomeadam os ig im in s do ça en es pr a r di pe im controlar a costa € lharia | ti à a it mu de a id ov pr a ez al fort No papel, tratava-se de uma bas s, se me is do de o od rí pe um e nt ra 100 homens para à estabelecer du de far

da ci te as ab r se de a ri te il as Br ns. Do me ho 40 de o çã ni ar gu a um depois feirs a r la te an sm de a, ez rt ce m co a, militar iri mandioca, dado que a presença ia de « ég at tr es a um m co se rla cu ti ar a ri deve existia. Esta fortaleza junto » costa s de cobre, uja exF

mvinte de a rc ce r R o a par e a el st Ca Sa 5 Dara as Índias de rior, te in No .” il as Br do ar úc aç de os A E sontra E m-se quatro pequenas de cerca de 250 o çã ni ar gu a um m co a, ip ta e issser nero O ecientése dO ari or T E S E R a d i p E va ta es idade de S. Paulo de Luanda qual era o , za an Cu o ri do as gu lé 14 de a rc a ce tan : uas. Era ao lon ngrá!

am umas mina ri ta es de on a, mb Pe é at o tr en ad pelas terras az fo en o: rj Fo a ir re Pe el nu Ma , 09 16 Em aleza. implicaria erguer uma outra fort ta é em Pi s ve al nç Go o ni tó An , is po de o an Um ” o. de por em prática este projet que se prÉoes em s õe iç nd co s da n R o in re e st de a rc Congo para tratar com O mona consenso gem

egáve por cerca de 60 lég as fortalezas de m ha un sp di se que rio no sa A cri ima, Massangano e Cambambe.?! presídios sucede-se. e s eza tal for ras out de ção n 160 E Balt o, na g on aj ac go An de io síd pre do o itã cap era ão ag Forj elo Reb , MadenuelArPereira pois o de ansar Sama.R '? Um Balta ao nO na si O R s da r eá or it O se de mo objetivo o Banha Cardoso, no período do ra

stem smais de um exi 1 161 Em * da. Pin em te for construção de um de uma fortaleza € ão uç tr ns co a nte dia por ar acerca da necessidade de se lev 16-1/ uu 1 E 16 de os an s lo Pe ” a. st co a r ra segu onde com duas galiotas se podia ocurou realiza: pr e qu , ta Pi s ve al nç Go o ni tó An a o idêntico volta a ser atribuíd a

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Bent ta n a c ) 15 16 161 (1 no ri te in o rn ve go , cerca de sete a oito O fassangaro: mas o fato E pusera um presídio em Ilamba

o, db be ar Re as lt Ba , 18 16 Em o. ng Co m do co da rei a u ez Ca do al el rt cindív de uma fo esi impr n m ia autorizaçãoO pa se

levou à E transferênci Dn ceden, Luís su e lh e qu or ad rn ve go lo pe ca ba Am ra desç de Vasconcelos.“* P Por sua veàz,paas fortalezas de Cambambe ou Massangano eram

ocorre

7 rcio de me gi mé co m o va la ro nt co aí e qu es es nd la ho s do eliminar a presença m velho projeto. Neste sentido, pretend

se junto da a r a p Garcia Mendes insistiu mais uma vez no m e s s a d u m se , mé de S. To os ul io cr to fa de s, co an br a T H as p o n i e r 100 moradores le ue aq r po lhados pa es s se ue ug rt po 0 50 1. de

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Só assim os cerca caso de guerra, onde se recolher.” Garcia Mendes :

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ch in John. The Development of an African Catholic Chur

XXV, PP. 147-67, 1984.

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s VA ppIS

E 518-20. PP. , V. ., .. na ca ri Af a ri na io ss Mi a 92. BRÁSIO. Monument o-colontas, o Vogado, apud CORDEIRO. Questões históric

ás]

4 cc ADEIRC 23. SOTOMAIOR, Manuel 20. P. VÊ, V., .. na ria Africa : 24. BRÁSIO. Monumenta Missiona 18], apu 16 , la go an de o in re do o çã ma or [Inf 25 nARAGÃO, Baltasar Rebelo de. 9. 228205-6. € 6 217 : PP histórico-coloniais, v. |, PP: , 1] 62 [1 ca ri costa de Áf da o çã la Re . O C N A R B O L E 26. CAST

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nda. Cf RÉ e pc dizia- da defesa de Lua RONÍNS O , io

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BRANCO, Relação

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1Ec64 ) oZ.A

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175 491 8 çã en am nd fu é ma le ob pr do da va pp. 51-2. Para uma visão crítica, amplaé reno the Kingdom O ongo,a E

e

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as e de o tip er qu al qu ha tin não da an Lu Izja-se que Onstituíd: as ao longo da praia a que se eir nch tri as ha, pal de es io rê O m era tes imavam for numenta Mo . IO ÁS BR cf. a, ari ilh art m se e cas fra muito Pp. 389-90 pas APER 8 Es apenas

nata

a

of African History,

ídi de An ação dos ofícios e presídpresios rel sua na 6, 400 EM ado mais

iaasdo de Elar gola, inic son descrevia a conquista do reea ino de An ei

E

Já em 1606

o niciada na d

a de 100 légua rc ce de o óri rit ter um mo co , is va No de as Di oo. Alguns anos antes, Baltasar Rebelo de Aragão aponta pi | ul Pa r po 70 15 nt de comprime ntro. ++ ade ra ter la pe 0 15 € o nt me ri mp co «sdI um tanto diferentes: 50 léguas de

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1

E tiempos de Felipe II e de Felipe III, p. 61. =

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621], p. 206-8.

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E. 1, p. 104,

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e ,a das mesmas do ta el Cervei cfPere eira,E também es ao ra eri Em 1606, Manu ref se Fales: de Vp. 390. Ma 2247 Muxima, ssangano e Camb e Missionaria Africana..., v.V ;

ÁSIO 1

CL. BRASIO. Monumenta

rican VM p. 227. ssionaria Afe ÁSIO Monumentaa Mi s RAGÃo fonu nent Missionaria YW M pp. 246-7. , Lu “ de, lo be Re r sa ta únio de 3 LUInfo : História Bio de Oliveira. RR

+

“2| Ultrama

E

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a

rmação do reino de Angola, 1618], pp. 223-4. Cf CADORNEGA

rra das8;gue .s a E vp Pp:al 75: ; 1979, v.1,ger

l anas. José Maria[ Delgado (ed.). Lisboa: Agência

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLAN;

196

H

,

| ”

série de projetos políticos baseados na descrição de fortes e fortalezas Pertenciz de

baluartes

na

cidade

de

que

Luanda,

se

eria

de

responsabilidade da Câmara; bem como a construção de uma espécie de fortaleza d est a proteger o porto de Luanda, tal como acontecia com a Torre de Belém em Lisboa

1641, quando os holandeses conquistaram Luanda,a preocupação pela estado das murg

e pela construção de novas de que existiam numerosas, que estas se encontravam mais importantes situados

espiritual

E

Anzele, entre o rio Cuanza e Bengo, 10 a 12 léguas para o interior de Luanda. À m e construção

E «nnquista

apresentadas como um modelo que o capitão Garcia Mendes pretendia reprodu

amuralhamento

- FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS...

E

fortalezas manteve-se. Na altura surgiu também a perca grandes e belas casas, à moda portuguesa — o que queria « a uma notável distância umas das outras, sendoos edif Enfim, a im à beira-mar, propriedade de comerciantes.”

de um império e de uma colonização baseada na construção de fortalezas te ve umê

Sea conquista temporal era concebida com base na existência de fortalezas, associadas

*

E

sistema político de vassalagem e de relações d iplomáticas entre cortes e monarcas,

a conquista espiritual era pensada em função das igrejas e conventos, mas antes de mais a

partir do trabalho desenvolvido por clérigos e ordens religiosas. Segundo Oliveira Martins,

não se quisera era, desde a fuga do governador D. craRcisto de Almeida, osquepadres governam, Wleitar à Companhia de Jesus, ou seja, desde 1593, uma “colônia jesuíta: = sovernadores são pupilos seus, e o clero secular e os bispos em vão protestam e reagem Angola

montra os intrusos”.“º Ora, para o capitão Garcia Mendes os jesuítas mereciam uma atenção marticular. Embora se verifique que ao juízo edificante das capacidades para o trabalho issionário atribuídas à Companhia de Jesus se opunha, noutros lugares, a denúncia do

longa, e, bem entrado o século XVIII, era à existência de castelos que se associavar

geu envolvimento no comércio e um gênero de vida dedicado a ócios e atividades de

donatários.s Em 1621, cerca de 60 léguas a sul da cidade de S. Paulo de Luar

o mais importante era salvaguardar ipuchinhos surgia como uma alternativa, uma vez que

car

sinais da presença portuguesa € efetivo esforço colonizador por parte d

conquistador e governador de Benguela reclamava ter aí construído um pequeno porém já em 1599 se falava da sua existência. O resgate de cobre e a des aa respectivas minas surgiam como as principais riquezas de Benguela. Mas esta tambér e considerada muito fértil de mantimentos e gado.” |

pereação. Neste último caso, o trabalho missionário desenvolvido pelos franciscanos ou

objetivos de conversão próprios do trabalho missionário — porventura o fim último e de naior legitimidade de toda a conquista." O debate acerca das potencialidades das ordens igiosas, polarizado nesta altura em torno da Companhia de Jesus, não esgotava o modo Ria pensada a conquista espiritual em função da hierarquia eclesiástica. O desempenho partiu dos que se encontravam no topo dessa hierarquia, dos bispos aos deãos, ou o Projeto de criação de uma nova instituição, como a do Pai dos Cristãos, já anteriormente

pense

tada no Estado da Índia e alvo de apropriação pelos jesuítas pelo menos em

E eonstituem outras variantes.” De qualquer modo, em nenhum caso o trabalho de RR OS € da Igreja em geral surge dissociado da ação concreta de agentes no terreno. E

É Ca

35. CASTELO BRANCO. [Resposta ao anterior projecto Ou nen

1621], apud CORDEIRO. Questões Histórico-Coloniais, V. 1, p.190.

Garcia Mendes, Hi

A

36 do BRANCO. [Resposta ao anterior projecto ou memorial de Garcia Mendes, porauia elis He 1621], apud CORDEIRO. Questões Histórico-Coloniais, v. L danse a feviiGa 37. No seu relatório sobre a situação de São Paulo de Luanda, dataSE e Zé : JADIN Quman também começa por descrever o estado precário das fo Caço ssa !

ps E

a

PAngola...,t. 1, pp. 21-5. Contudo, em 1641, os holandeses referem

fortaleza do lado do mar, cf. JADIN. LAncien Congo et an

RAnci casa

o rod

TADIN. é

conquista verificam a inexistência de uma muralha priopriamen'e e definição da moda

estética das casas, lAngola..., 3 t.1, 3 p. ; 127. Sobre a valorização À

ce

cf. JADIN. LAncien Congo et CAngola...; t. 1, pp. 103 e 127. Sobre os p

o s para no

JADIN. LAncien Congo et Angola... t. L, pp. 111, 134 e 351. A debilidade sa

Luanda, mas também de Massangano, Cambambe e Ambaca é notada em

Congo et VAngola...; t. 1, p. 157. 38. FELNER. Angola..., pp. 418-9

NC

39. CASTELO BRANCO. Relação da costa de África [1621], p. 208. Sobrea exis de Felipe Benguela em 1599, cf. IMPERIALY GOMEZ. Angola en tiempos de Felipe Il Ee ge

o regimento dado ao governador de Angola em 1607 referiaa exista

a vas

por

LOLuasale

es e fortalé

“JADIN:

104 , th “AM

+ a fortal

II, p. 7401 ns

up 2

paulo Dias de Novais em Benguela, cf. BRÁSIO. Monumenta Missionaria Africa cm 1617, refe

a Eis ar ent entury a precede a fundação de um forte em Benguela por Manuel in máxime, the Sev ao R Cadornega. cf. CHILDS, Galdwyn Murray. The Peop les of Angola 8 “O p- 272, 1960: to Cadornega. The Journal of African History,v. 1, n. 2, pp. 2/1 9, máxime, à

J

o E Congo, cujo rei se havia convertido ao cristianismo há mais de cem anos a

EE Pare, havia muitos clérigos, incluindo naturais da própria t erra que eram anos.” Porém, para compreender as SE ações de tais sab a se ceunóuis oiii TER : justificação | ima - E Pa plide GAtAçer teológico, das bulas papais às teorizações de Aristóteles DO costini - Tomás de Aquino, sem esquecer as concepções do viver associado inspiradas o Essianismo. E

9, nem tampouco se lhes pode atribuir qualquer tipo de profetismo ou

E

PMARTINS,1920J. Pp.23 Oliveira. . O Brazille Pereira, ira

DP.

“Conforme se dizia

:

EM tudo tenha o o

Pumenta Missionaria

| as colonias portuguezas. 5º ed., Lisboa: Parceria António Maria

do regimento dado ao governador de Angola em 1607, “que o primeiro lugar feio sempre deve preceder e antepor-se a todas as mais coisas”, cf. BRÁSIO.

iris Y. V p. 278. O mesmo se dizia no final do regimento de 161 1, cf PRÁSIO. Monumenta e es V VI p. 38. Sobre as atividades dos capuchinhos, requeridos "SGE 1618 pelo rei do Congo ã

da Propaganda e pela Coroa espanhola, cf. PIN, Louis. Le Cler pá E cesta os pela Congregação Con go et Angola aux XVle et XVile siêcles.

Bulletin de Unstitut Histor

REP IOVITOOT Para um

ê

pr 80 € em Angola, cf Ea

e

les Capuccins du

invesçro oo é XXXV, 1964; JADIN. LAncien Congo et l'Angola...,

das principais obras relativas às atividades dos capuchinhos no

en tiempos de Felipe II e de Felipe II, pp. 9-10. o Gab DEIRO, Questões hist rico col “ASTELO coloniais, v. 1, p. 319. BRANCO. Relação da costa de Áfri ca [162 1], p. 205.

| pa

|ARTsTE 2 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM N

L AT E AD ID RN DE MO NA OS NT ME VI MO º E S AT E RE JAD U SONS, FORMAS, CO

198

ão se encarregav c u j Segundo de Calvino, holandeses. 98 e u t e r o encarregavam s e propagação cuja de de Lutero Calvino, experiêr o seu projeto =, , as às e) xperi para apoios de busca em porventura — Garcia Mendes nham : ti s no ca ni mi do € os an sc ci an fr ntadas por anteriores no reino do Congo inte iesult; s o no çã na io ss mi de os rç fo es os s do a to fracasso, devendo concentrar-se agor ionaçi ss mi da o li pó no mo o ir bu ri at e de ad id ss ce ne mesmo capitão já insistira na ão 4 | uç tr ns co A .“ la go An de o cas o bre so ou unci jesuítas, quando em 1620 se pron À de ci 1c0€ | os íd bu ri st di a, hi an mp Co a d es dr pa nas terras de cada soba e o envio de a E es nt ge ur e is ma es s nt da a ge di me rede, surgiam como as MT Ar

uivvo e narrativa v veria| sempre voltar com se se tratasse de uma matri z. Documento de arqui istóric dos feitos de armas funcionam, assim, como forma de justificar os projetos i e projetos imperiais C a s t e l Mendes astelo Branco, que se retrata a si próprio como irso,º Por sua vez, , Garcia E...

im experiente cabo de companhias e capitão-mor no campo, refere que trazia se GR à ' cerca de cem flecheiros e espingardeiros escravos, ; tend o seus quatro irmão sua custa E

E e dar pretendia que imagem a pois, era, Esta nestas irEu esmpai o morrido or guerras um senh da guerra.”de Angola. O modelo do nobre capitão rodeado do seu próprio

4

ação de vassalagé rel da o nçã ute man à a par o ári ess nec e foss as sob dos o batism x -

O bom capi p tão

'

agem” al ss va de es çõ la re s da ri fe re s da epção nc co na te an in rm te de a ci ân rt po im

E



A 47-8. . Questões hiStorna RO EI RD CO d apu ], 03? [16 go Con do do reino 45. CASTELO BRANCO. Relação... Mb histórico-colontais, es stõ Que . RO EI RD CO d apu , 21] [16 . CO AN BR O EL ST v.1, pp. 176-8 CA e s à nisso ado tin des vos ati ern alt os jet pro am sti exi I XVI ulo séc do EEN m u Desde o início de ão aç rm fo à nado co desti ado tin a des boa Lisbo Lis em o em ário n mi se um africana, baseados na construção de 1-2,e: po 49 , 23 17 , 156 , 50 914 pp. V. vu. .. na. ica Afr a cf BRÁSIO. Monumenta Missionari ão dos sobados LSa SS aç ut ib tr e to en am or af de me gi re um de ia 46. CASTELO BRANCO.a Projarectota Mérida OE . 181 p. 1, s, v. iai lon -co ico tór CORDEIRO. Questões his | “a , anterior projecto ou memo rial de Garcia Mendes a

| a

m 4%E

r moera e de Felipe Mi EO Il Century, pp: 120-1. Em ipe Fel de s po em ti en la go Y GOMEZ. An mesma moeda. Cf. IMPERIAL a de Jesus na fixação da image

anhi mp Co da de da li bi sa on sp re a al qu r be em05" 5 ag al ss va à 49. Resta sa eu et bm su e qu or ad st ui nq mo protector da Companhia e co m 08 Padres da Co: ra ze fi e qu as is Co das l ua An o cf GUERREIRO, Fernão. Relaçã

suas Missões, V.1, pp. 395-8.

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face aos jagas ou

evidentes no já am er as iv at nt te s tai çã a ; o: Manuel. A este Dropósit > finado detuD.ação o do çã o,re asqua e reparar que o omesm cuoment ao ua la si re e a fer em ng Co do | e rei assal agem que competia ao e

ução ntuogal, também menciona que, caso fosse decidiodo levar adiante o projeto de constr | A

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q acontece

Pp. Ai 8 a 185.9

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1621], apud CORDEIRO. Questões h 0 batismo não era condiçicãão neces sária paararaa Vasa ere que 48. Embora Beatrix Heintze consid al am a co s pa e ap de te en es pr re mp se e as dd sobas, pode dizer-se que ele está qu The Vassal Treat gol a?

Novais co

lizadas pa íe e lugar No interior das estratégias militaresernuti expl es açõ dic i-s mo ibu mes atr ta, m quis ste Exi as. int O essa destaque à util ização das divisõ ícitas, para

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Afric ra er lom ei qu co pi tó m 44. BRÁSIO. Monumenta Missionaria nu se umo or sf an os holandeses tr pel es nt ta es ot pr s na ri ut do das o sã fu di o diP Ca azzi (se it ed in lP ne i in ec pu Ca dei o ri te mi er

O,

Eperic :anterior fo do governo de Paulo Dias de Novais, quanto ao mod ROS portugueses o E ado Cia do rei Portugal, precisamente no e

uam |

di

ais se qu os , mé To S. de ha il da o nh ge en de es npanhar de aigungus nsb brancos eorcr ioulos das suas ricas casas; na mesma ocasiã o envio de 10 senh

vacrmaves e encontraes ospalhados pelo Congo, ? e que seriam capazes d de arrastar consigo mais de

€ gase católico, medo O ana..., v. V pp. 139-40.

emo

51

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udalism inAn Fe an ic fr -A so Lu x. ri at Be E, TZ IN dito, cf. HE que vassalagem € 1588, considera-se explicitamente

d

O salBaelçou-se a necessidade de recrutar todos os portugueses com experiênci

E

inicialmente por Paulo Di

istórico-coloniais, v: E, p. 198.

se sugeria

EP AAMIR

con às , la go An de so ca no a, íd bu ri at de de conquista. A centralida lhes | à se de to fa lo pe a ad tr ns mo de a fic is as de Nova

a ao 47. CASTELO BRANCO. [Respost

O

1 períoc

ópric ) : do ão nç fu em a ad ns pe a er ém mb al ta mo A conquista temporal e espirituus a NS quistas

ngo, C cf, a título de exemplo, TOSO. H Co

o

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4 Ber

. Já em 1588, ) quando se traça vam pl] anos para reani Imar a conquista de go ti an era to Exérci Ee

léguas de modo a formarem uma

ir e possível ogarant ia ser m cit si pli as , só es nd Me ia rc Ga ra e, pa nt me el av ov ” Pr expl a. ic át pr moment m u h n e n em de r sa pe (a os ad quiz sobas fossem batizados e cate agem

dad os cumentos ini guaro espécie de ato fundador cuja justificação era associada a doui stador nq co do os mp te s do a ri mó me ta

na Torre do Tombo. Era, aliás, es emitia conceber uma ordem política imperial profundamente militarizada , àa qual nese

ufam el in — co an Br o el st Ca es nd Me ia rc Ga cap itão os ch e os mesmos jesuítas. Com tr o en ad me no er s Congo do bispo o de Jesus, devendo lecer lá um se be ta es el ív ss po o tã en a ri se o sp bi &0 pagos pelo rei do Congo, E

199

a

Dr

zuma

e de

apresentade — o ng Co do rei o vo no de er et bm Neste sentido, os planos para su O envio de 12a 13 padres da Corr e

dízimos buiria va ri nt co e qu na ge dí in o er cl um de formação Este último destinava-se à terras das doi as el qu na o sã fu di a ir ed imp para difundir a cristandade, mas também 44 Geo

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AS MONARQUIAS...

ito claramente,

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no caso de Garcia] M

endes

Castelo

Br an

co, na sua CASTELO 3

i to ou memorial de Garcia Mendes, por autor anónimo, anterenor projecjecto Posaota

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mui

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O,

1621]

E E BO BRANCO. Relação da costa de Áfri

a p Feli de e pe II li CAST E € E Ro Angola: en eis eo Feg C “AS22),TELapud C Ro. do reino do Congo Gs E l6

é RUEStÕeS histórico-colon jesuí de ta car ma nu Se JE =ONA: 10 : : um mjesuita, datada de

tais,

1

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guerras a publicada por BRASIO, António. Monument

V Í, pp.

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319-20

ci;da

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África Ocidental. (15 E 509; c Ro A as trae loEuofaiEa The Imbagala and the er C. a o n ad ca df Africa ri Af l Cen y e rl s ga ja ogy os e br So . | é 72 19 4, 9 4 5 156 p. pp. 4, me n. , xi I X ma , LO; ografia PP. 549-74 a d n a R

History.

Journal P

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ga et les Bayaka du Kwango Ja T, M. Les ER J. S. UA CQ AN PL r po ar 1 eç as: xel Bru . his ue OR iq a ph ra og lin he Four datio as: Institut R i K the nof RM a rn

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MAM: GHAM à"SM History

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com

E o 5. e Kingdom of Kasanje. Journal a V, n. 3, o 1963, pp. 355-74; Ia th Imbangala Invasion of Angola. Journal of o vid: The Date and Significance of of the

1 , n.2 VI, Y. gol: VAN ; -52 143 Jan. More on th pp. 965, A, SIN th, d n a a ; Jag the by Poa 1 and the osenimh €.e Nzix.nga C of African History, v. VII, n. 3 e sda o Cinsn

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o 1975. O trab

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Senço and

o SS n e; D V. XVI St ican History DARE Journal of Afr ARA importante continua aserod

angala Im Pact on the Mbundu of Angola. Oxford: rien

O ed

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200

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATIAN

ne

ss

| A existência de um clima de guerra latente constitui, senão outra das justificações,

melo menos um outro quadro onde ganha sentido a existência de uma ordem política o

Ad]

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4 serial de caráter militar. O fato de as guerras serem elas próprias produtoras de escravos, ede existirem tentativas sistemáticas de extorsão direta de esc ravos aos sobas locais por marte dos que detinham a autoridade imperial — fossem eles governadores, capitães, ou me adores - surgem como as duas principais razões para atri buir aos portugueses a responsabilidade na criação de guerras permanentes. Tratava-se de “fazer guerras por pei as” = de escravos, entenda-se —, conforme se dizia numa devassa de 1609. No caso

e!

de um forte em Pinda.** Em inícios do século XVII estava ainda bem presentea

rei de Angola ewn o re ent to fli con do -se ndo ita ove apr , que ais Nov de s Dia lo como Pau o pr . nte rme ita mil a dar aju o, ang aco Que nge loa Qui e nom por seus poderosos vassalos, intentosde fr; s seu os ar tiz cre con a par a nci luê inf sua da r cia efi ben a vindo assim RR

Ed

Diz tuadas pelo mesmo Paulo efe , nza Cua rio do go lon ao s sta qui con As ” io. érc com à sua utilize 3 Novais, foram também atribuídas à existência de lutas intestinas e FrÊ jo A e!

tangombee Quiz Qui ba him Moc ndo qua u tece acon que o Foi ses. ugue port dos parte ra um: aa considerado vassalo do rei de Angola, pediu socorro aos portugueses cont tendo esta proteção implicado a submissão

desse soba ao seu protetor, U

mama

das extorsões, a cadeia de acontecimentos era particularmente clara: os sobas, vexado s pela violência que sobre eles se abatia, revoltavam-se, fugindo para os matos, o que

ustificava uma ação militar contra os mesmos, logo, uma guerra capaz de produzir scre os." Aos jagas também se atribuíam responsabilidades no fom entar de tais guerras Má que a sua ferocidade e o seu canibalismo os impeliam naturalmente a favorecer as

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português. uistas Uma das alianças mais referidas para os peri odos de fundação das conq ver ficando: que se estabelecera com os jagas. É o que acontece no caso . de Angola, Tomba 57 : ems tamb ra.” Perei eira Cerv uel Man por uela mesmo no relato da conquista de Beng que nos ajudam | s jaga “Os : ola Ang a ção rela em , 1620 em r, nota a fazi o des Men

mesmas guerras.”

7 Mais controverso é saber— a partir dos discursos e das for mas de tomada de consciência da épocs = quais os grupos de portugueses mais interessados em fomentar tais guerras. Por

Piado, OS principais responsáveis parecem ser os govern adores e capitães, os quais tuavarr à margem dos mecanismos de mercado, que se con cretizavam na existência de

ntar o gentio enao ah ferozes, que estão conosco, que são de efeito muito para amedro

rem outra co que não eles que o, vinh de cê mer uma r faze ade est Maj sa Vos de lhes man candenl é . nte de as Com este conselho, Garcia Mendes reagia provavelmente às tentativ 7-21), qu e 08 U jagas, ensaiadas pelo governador Luís Mendes de Vasconcelos (161 E Sã pe da sar ape o, tud Con º? es. ues tug por os com nça alia levado a abandonar a d as sõe das rem cia efi ben se es ues tug por dos e dad aci cap à s tiva imagens rela rario, te cont pelo to mui s, ora ced ven ões facç as com nças alia das o tid par m tirare os d a ern ext da aju uma de ia ânc ort imp a ir sent ao que, os grupos locais tecie C on ac rá te tal , la go An Em tar. so mili ão zaç ani souberam tirar partido da sua org rna dispo i te ex r ta li mi da aju à rreu reco nga Nzi ha rain a 1622 e 1624, quando stratég € na nte sta con uma am for rnos exte os apoi os s, Aliá es. pelos portugues “el | a ue tug por 08 com ou ebr cel que paz de o tad tra o e , nha rai ma mes da r ita mil RR as

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| 54. CASTELO BRANCO. Relação... do reino do Congo [16032], p. 174.

55. CASTELO BRANCO. Relação... do reino do Congo [16032], p. 187. 56. CASTELO BRANCO. Relação... do reino do Congo [1603?] » P. a

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958:

CORDEIRO. Questões sesricoco lodo v. 1 insistira na necessidade desta aliança COS

cf. MILLER. The Imbagala Impact..., pp. 265-7. É 59. MILLER. The Imbagala Impact...,p. 568. 'a de aliança com ospo tentad : 60. Também, em 1641, os holandeses reproduziam a mesma teoria a a eolE EI, pp-23 4 IV

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Nzinga of Matamba..., p p. 206-8 e 211 -2. Sobre o tratado de 1656, CAVAZZI. Descrição sta ca dos tres reinos, v. II, pp. 332-3. Para uma perspectiva de Nzinga mais atenta às am ação interna, do que ao formas de mo do de utilização dos apoios externos, THORNTON, Joh n K. Legitimacy E Political Power: Queen Njin 8a, 1624-1 663. Journal of African History, v. XXXII, pp. 25-40, ar ENER. Angola..., p. 1991. ESMTANCs

424.

Coisas que se há de CORDEI RO, Questões histórico.L- d eclarar a Sua Magestade, tocantes ao reino de Angola [1629], "ORDE apud E.ais e o objeeu niais, vI, p. 336 Pes . Sobrea mesma relaçã ação entre a guerra aos potentados etlAnee “ag E da e Eos pronunciam-se os hol andeses em 1642, cf. JADIN. Cancier Congo das

j 1

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iitas vezes como E

[16% ne . CASTELOe BRA com osi l NCOne . Projecto d de um regi ime de aforamento e tributação dos: sobados

tendo em vista derrotar os portugueses, cf. JADIN, LAncien Congo e e 49.

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RB que consistia em favorecer transações comerciai s pacíficas envolvendo moradores e onimerciantes locais. = A guerra surge, então, ã como uma prátic ti a claramente oposta ao E;

CORDEIR Ecs

57. Relação da conquista de Benguela, apud CORDEIRO. Questões histórico-c Benguela, ct MI outras referências de Manuel Cerveira Pereira à entrada dos imbangalas em BehS Sa 3) E

ps -as quais, por Sua vez, eram expressão do bem comum e de uma suposta vontade

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201

E ham revelador da sua capacidade para gerir tais apoios, em lugar de se deixar manipular alas referidas forças externas.”

de uma fortaleza em Pinda — onde os holandeses tinham permanentemente duas dissimular, diz até e o red seg o o tod o ári ess nec a seri — os rav esc de e gat res a par s nau s:q re ple sim era ão raz A . ola Ang em s eza tal for r faze de a tav tra se simplesmente que Congo tinha em Portugal quem o podia avisar, se se divulgasse o projeto de estabe

TE 2 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS.. .

e E coco

de ear o

oniais, v. 1, p. 335. Sobre a informação de que os jagas atuaram

Sobre A EEpeticão das g

e 686. Londres: University of London, The Athlone Press, 1952,

E Stugele for Brazil and mea

P.228.

a Sua Magestade, tocantes ao reino de Angola [1629], apud

pa

aos portugueses, cf. BOXER, Charles R. Salvador de Sá and

mo CORgO et Angola... t.| Sem dos jagas canibais, cf. uma descrição holandesa de 1642, JADIN. mm O de 1643, cf FARIA E * P- 159; no mesmo sentido se pronuncia o Dr. Francisco Leitão no seu

“a » De ““iç ão do

Ea África Sd Glem Rei qu

br Mercados ep

. Ca

dee petição perecioa ger Madrid

éoIa 1618], apud CORDEIRO. Questões histórico-coloniais, v. 1, pp. 226-7.

54... Anno 1597 O cf, ABREU E BRITO, Domingos de. Sumario e descripção do reino Fa ç -Em fins do século XVI Dans A. A, Lima Um inquérito à vida adminstrativa e económica de E S, Enquanto Mecanismos Ri imprensa da Universidade, 1931, p. 6, 35. Intenção de regular nens brancos, pazes de

pacificos do tráfico de escravos, impedindo que nelas participassem

cometer extorsões e de as destruir, encontra-se no reg imento dado ao

À

Dur 2

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE Amt

E

ni Si o çã za ni lo co de os jet pro aos sta opo ava EE comércio. Mas também se afigur -1 artidé ndess-pa Me cia Gar e ão ag Ar Ê : de elo Reb ar tas Bal er menos era o que davam a entend mind

Acões militares, mais do que quaisquer outras, eram também requeridas para abater topoder dos inimigos europeus, sobretudo holandeses, que infringiam as regras do

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E

e na tribut; do mesmo projeto de colonização interna, baseado no aforamento das terras dos sobas de Angola — quando se insurgiam contra OS governadores e caprtaesana ete constantemente fazer a guerra aos ditos sobas para lhes extorquir escravos.” Po tamb lado, existem outras opiniões que levam a culpar não só os capitães, mas

:

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próprios moradores - como sucedia no caso de Luanda —, pelas mesmas razões nr

E

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guerras eram máquinas de produzir escravos.” É, frente a este clima de guerra la onde os interesses criados localmente desempenhavam um papel determinante, queg sentido o tema da guerra justa ou injusta. Em Angola, por exemplo, era preciso de | normas e os procedimentos que poderiam justificar uma guerra. Para tal, seria nece reunir o conselho do bispo ou de um seu substituto, do reitor da Companhia de Je K -Ieg ouvidor geral, do feitor e da Câmara de São Paulo.* Só através deste co e, por isso mesmo, investido da autoridade régia — seria possível ultrapassa rosin € criados localmente, ou seja, as já referidas motivações de capita e moradores, ass

s* Im às dos jagas, em relação às guerras enquanto modo de produção de escravo es, T exemplos de uma guerra justa encontrava-se, segundo o capitão Garcia Men:

| Paulo Dias de Novais tinha movido contra O rei de Angola, o qual quebrara as paz inicialmente estabelecidas, tendo as suas terras ficado sujeitas à vassalagen as depois de terem sido congu istadas com a legitimidade conferida por reg ieREaa da Consciência e Ordens.?”º

monopólio na costa africana.” Porém, constatar que as estruturas de dominação imperial e encontravam profundamente militarizadas, tanto no nível das experiências mais

vidianas como das elaborações mais intelectualizadas, não é suficiente.?2 Está por ,

Ii otic

E rer todo um trabalho analítico de diferenciação dos níveis de significado presentes em Milerentes funções militares, o qual se afigura indispensável se se quiser levar mais longe à compreensão do que se entende por ordem política militarizada. Na base desta mesma ardem, porventura como um dos seus elementos mais enraizados, encontrava-se a figura

do conquistador capaz de acometer atos de bravura. Um relato de glorificação de Manuel Berveira Pereira reproduz bem esse misto de bravura e violência projetados na figura do istador de Benguela: “Ali esteve o conquistador alguns dias em que mandou abrasar a todas as suas povoações, destruir sementeiras, cortar palmeiras, que tudo ficou assolado, por ver se com isto os obrigava a obedecer com medo de outra semelhante, como depois o imagem do geram”.? Claro que a figura de Cerveira Pereira não pode ser reduzida adeesta Benguela para ]

FR

je

ia

203

Eonquistador, pois o seu envolvimento no comércio de exportação do sal

Aja! de faz parte integrante das suas ações, sobretudo a partir do momento em que o seu

projeto de descoberta de minas se saldou num fracasso.”* Aliás, o envolvimento de Cerveira Pere ra no comércio, nomeadamente de escravos, com as Índias de Castela e Brasil era um desde, pelo menos, os tempos em que servira como governador de Angola.” O E-

202

* FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS...

ai uistador desdobra-se, assim, na figura do mercador — o que traduz bem a persistência D Ripa do cavaleiro-mercador que Vitorino Magalhães Godinho colocava no centro da ipansão dos portugueses.

além do registro mais individualizado dos atos de bravura, que encontrou na

Re

Monografia portuguesa de meados do século XVI uma das principais formas de Ê

e,

M ção, há que considerar os níveis mais institucionalizados da organização militar. ERuamento de soldados, numa épo Po ca em que a |massificação da infantaria põe em rima:

Salizs

ia Afr overnador de Angola de 1607, BRASIO. Monumenta Missionar À

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274.

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nda se servian 1642 os holandeses descrevem como os principais moradores de Lua interior cf. JADIN: EAncia : negros, os

an : ne a

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g 1141; JADI

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di aeeg he , ; 8 4 3 e ; / 9 pp. 1, t. CAncola..., gs pombeiros como ne s mesmo os Sobre 1470. p. HI, t. corçO et CAngola..., e Congo...» pp.25092. q. Angola de ão situaç A de. Leite LU L a 2 escravos, cf. FARIA, Fr. Francisco P. 1, 18 16 , la go An de o in FI de. [Informação do re lo be Re ar as lt Ba , ÃO AG AR 66. [162 a ol "c PP, 0] 62 [1 s E do ba so s do ng ão aç ut de ib tr é to a en am afor

Projecto de um regime de 459 ao reino de sa tocantes co Magestade, g Sua a declarar de de há | ra queDÚSia seRÉRSAEha 67. Lembrança das coisas aê P

os próprios traficantes de escravos o seu negócio era a principal causa pe holandeses diz sobre as edições de 1627 e 1647 do seu tratado BOXER. Saiyan and Angola..., p. 239. No momento da conquista de Luanda, em 1641, 98

mesmos argumentos, considerando que quanto Re os Em

a 2

vendem como escravos, JADIN. LAncien Congo et LAngola..., LP: 2º» declarar a Sua Magestade, tocantes ao

A

jno de de? AngolaeLH

rem

68. Lembrança das coisas que se há de

ode

. CORDEIRO. Questões histórico-coloniais,V. , p. 335

ade, tocantes ã0 st ge Ma Sua a ar lar dec de há se que sas coi 69. Lembrança das CORDEIRO. Questões histórico-coloniais, v. I, p. 335.

-.

RA a Ei Cla "E ar j n

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Mendes, pory auto

70. CASTELO BRANCO. [Resposta ao anterior projecto ou memorial de Garciae 1621], p. 189.

reproé

aos Seus vizinho

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Pé primazia do cavaleiro, constitui um dos ! maiores problemas do ponto de vista ganizacional. al. Em 1588, planos para uma efetiva conquista de Angola supunham um

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E ente de de milmi soldados e 60 cavaleiros recrutados no Congo, em S. Tomé e no Brasil,

Pôrfimas Dedo e.

Missionaria

Re

CORDEIRO. Questões histórico-coloniais, v. 1, p. 335. Também o

o

a

Afr;

ção da costa de África [1621], pp. 200 e 211. Medidas militares destinadas a monopólio de navegação multiplicam- desde 1605, cf. BRÁSIO. Monumenta gação multiplicam-se

=» VV pp. 141-5 e 305-6. Na segunda metade do século XVII, a consciência das Brandes Ro EMO marcos princi E taças Pelas conquistas holandesas revelada nos escritos do P Cavazzi adopta Es de Luanda, em 1641 e quista de Olinda, em 1632 (quando na realidade esta teve lugar em 1630),

» EL. TOSO, Il Congo, Cimiterio dei Capuccini nelPinedito di R Cavazzi (sec.

MID, p. 47,

ns angola Angol; 2 PO excelência, da ordem | EV p. 223.9.

Manuel Cerveira Pereira em 1606, cf. BRASIO. Monumenta Missionaria Africana...,

a à da conquista de B

BLANC A

Por

aa.

ítica imperi política imperial encontra-se na relação de ofícios e presídios de

Mine “o QUE sei de An

enguela, apud CORDEIRO. Questões históric - o-coloniais, v. 1, p. 259.

EENER. Angola, pp. 424 8 1": [1622], apud CORDEIRO. Questões histórico-coloniais, v.1, p. 322.

204

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE AT|As

|

ços | mes os e gr ne , nos ica afr mil ros out ar ast arr de s aze cap , incluindo mamelucos ainda em 159% habilitados como espingardeiros e flecheiros a tais guerras. Contudo, azes de utiliz: cap es ues tug por cem que do s mai ola Ang em a eri hav não que ava fal os neg ar ront amed de fim a s alo cav 60 iar env de de ida ess nec na e o-s ind arcabuz, insist A esta situação pretendia fazer frente o regimento do governador de Angola de

ulação con pop a do sen , ada riz ita mil e ent ram cla tica polí em ord uma quando definia am. Re ativamer | ebi rec não o que os e do sol am ebi rec que os s: ria ego cat em duas em que presie nda-se te en — os jad alo m ava est s are lug que em er sab a primeiros importari ) segi aos Qua( nto ou fortalezas -, e quais as armas e munições de que dispunham. E ni nomeadamente os que eles oficiais e capitães e de sair em exercício na defesa da cidade, interior?

qdPoe

se encontravam em Luanda, deveriam estar alista dos e eleg a mm des de companhias| de ordenanças, tendo obrigação de dispor todos os domingos e dias santos, de modo a que pude sem sem que entretanto fossem obrigados a participar nê s guer | 3 A A

Seria possível transformar as levas de degredados enviados da metró pole ems | capazes de assegurar O controlo de novos territórios? Em 1621, Ga Mena Cz

Branco respondia a esta questão, sugerindo que se mandassem para Angola car

si mas, em lugar de se lhes fixar residência em Luanda, porque O feedali logo fugiar “nas fortale nas o ea Congo sem esperança de voltarem, propunha que fossem utilizados outras No” nteric Muxima, Massangano, Cambambe, ao longo do rio Cuanza, e a provavelmente Ambaca.”º De igual modo, interessaria saber como seria possua : 1h

Pois. como informava em 1620 Manuel Cerveira Pereira, ao receber em Luanda 60:

e a maior pal os onh bis m era es del tos mui la, gue Ben de sta qui destinados à con 3

205

meninos, tendo começado todos logo a adoecer.*º Esta mesma suspeição relativa às mnacidades a1588, à formulmilitares das levas de degredados enviados da metrópole conduzira, já em ação de um outro plano de recrutamento para Angola. Travase, neste caso Ê

mobilizar & émo hilizar os mamelucos do Brasil, ) os br ancos e cri; oulos de S. Tomé,, e os portugueses f ompanhados dos seus respectivos escravos que viviam es pa lhados pelo Congo, muitos ico doseurei ra p ds en de at a r i e es stõ que s rda Apa ” tri

atérias de organização militar, em conformidade com a literatura da é oCnNasbio Fatadística militar, as doutrinas do bom capitão e os regimentos das ordenanças. Contudo e. a E , 3 questê o fiscal tal como foi pensada é a que melhor revela a orientação militarizada da rdem “a política eimperial.aDois mode O los parecem coexistir, embora se possa sustentar que o parneles atribuído à idealização e à representação da experiência vivida é bem diferent

rum lado, grupos organizados em torno de moradores, capitães, ou governadores ia | | m be Se nos seus exércitos privados, celebrando ao mais alto nível alianças com Srupos 1 e cc 5 africanos, nomeadamente com os Jagas, e procurando na pilhagem de escravos | rec ia pela guerra a sua principal base de sustentação. Por outro lado, seria possível

Re

—de forma mais idealizada, e reproduzindo parcialmente o modelo da encomienda

tie

Em qualquer destas alternativas, o comércio de escravo S surge como o elemento

E já várias vezes referida hierarquia de sobas atribuídos à cad a capitão de fortaleza, Emuindo da tributação da agricultura local e da estabilidade do mercado, incluindo dos nuno 82 Cravos. E

j

os soldados enviados para África não fossem simplesmente um contn

ARTE 2 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS...

E

e

demonstrando bem o papel de motor desempenhado pela formação de uma Raio Atlântico Sul dependente do fornecimento dos escravos africanos, , estudada Alencastro. de or uniz Felipe

Curso monárquico ed

À

E 76. IMPERIALY GOMEZ. Angola en tiempos de Felipe II e de Felipe IN, pp. 48 e SO 77. IMPERIAL Y GOMEZ. Angola en tiempos de Felipe II e de Felipe III, pp. 61 e 64. “mM 15884 CoRaA 78. BRÁSIO. Monumenta Missionaria Africana..., V. VI, pp. 22 € 24.

como de S. Tomé e do Brasil), e que sem esses “homens brancos O rei a pe principais bases de apoio, cf. IMPERIAL Y GOMEZ. Angola en tiempos E dee e 52. Fuga de capitães e soldados para oSu Congo é também referida na dev Cerveira Pereira, devido aos seus atos a a 1606, cf. De E

dado ao

dA

13 entes

70. CASTELO BRANCO. Relação... do reino do Congo [16032], pp» 197-8. Já em era possível recrutar para a conquista de Angola soldados e cavaleiros PO

a.,

governador de Angola, em 1607, manda-se apre

Je Felipe e |

+ 494. L p. 42 A. N a a

E. havido P

cos em 16am nr eriiaiedáde no Congo semjustificação visse os seus bens apreendidos ioualmente TA o BRÁSIO. Monumenta Missionaria Africana..., V. V, p. 276. Mas, iguá pa onçalves sucedendo António nomeação do capitão dos portugueses no Congo, Cardoso, cf. BRÁSIO. Monumenta Missionaria Africana..., V. V, pp. 357-8, 364, 47m os

544-5, 548-51 e 219. Igualmente, em 1607, numa descrição do Cong? RR que aí residiam, dos socorros que ali foram, pelos proveitos que 3! cs

Angola, BRÁSIO. Monumenta Missionaria Africana..., Y.V, p. 389

Fazenda real que escapavam para o Congo na devassa de Andrébia

p. 429: e em BRÁSIO. Monumenta

di niireid mode od

mposta

pu:

de mulato

ic

ér

nciade 1610

blicada em

constatação

ae

pu

mA nO

Ouman, cf JADIN. LAncien Congo e! : aa 7

Até aqui, foi

posí

Ji:

um conjunto de discursos sobre a conquist a espiritual e a petizar Dora ca ociden tal para reconstituir os principais quadros que dão sentido d Instr ERução do Império Portu guês. Valerá agora a pena verificar até

que ponto estes

E E.

IMPERIAL, y GOMEZ CASTELO BRANCO E Angola en tiempos de Felipe II e de Felipe III, pp. 47-54. ELO BRANC is ect O de um regime de aforamento a dos sobados. | 5; e tributação RR tino de Angola [1629]

Praticado no

+ Tu e Que Fel; de Empos forme da Pe Il e de

a ão PerEru e

a

* P-

das coisas que se há de declarar à Sua

954. Jd em 1588 se fazia referência explíci

seria Necessário pôr em Felipe II, pp. 48-9

«mi

o partieto IMP cf. prática em Angola, Angola en GOMEZ. Y ERIAL 8

à SETvir, a Coroa E receb era grande perda se não saís

Ste trato Ee

[162 “178E ER

Po ce faltassem os respectivos ide paterna

à

ue

“Escravos que la nã tambem se entende facilmente. e assy mais o que se perderá em Indio

que

"êS ditas partes, os o 48 minas de ouro e cultiuão a terra e servem em todas [as] obrage[n]s ião por tão Bi d,

é

se lá não fossem necessarios e se podessem crer hé que Fc os o eresse deama estaidia escuzar, E E presos, ss BReCaprao/e porque

rss am

Mar

z

»

:

— CS Angola”, cf BRÁSIO. M

resso

por

q

Porque Os comprão; mas não me meto nisto senão só no

206

N ADE AT AMÃ SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNID |

REE 5 PAR

r ORMAS DO P ODER E DA INVERSÃO DA ORD EM NAS MO NARQUIAS...

|

mesmos quadros são moldados por um discurso centrado na figura do rei.

monárquico, no qual se conjugam: uma das principais matrizes de percepção das soe É

e unidades políticas africanas; um modelo de virtudes; uma concepção extremam ac pe hierarquizada da ordem social encimada pela figura do rei; e uma ne sssid

| permanente de conselho destinado a restaurar uma ordem política projetada, no pó Cada uma destas dimensões requere um

atuais analítico particular. im ti

7

ugar, a percepção da ordem e das unidades políticas africanas, moldada pelo mesm

de discurso monárquico, traduz-se na divisão dos territórios em reinos, nas tentat estabelecimento de uma hierarquia de reis e senhores, sendo os sobas locais equipe

a fidalgos do rei, e na reconstituição da genealogia das dinastias locais. A insistêr a que se descrevem ritos, cerimônias, cortes, embaixadas e formas de tratamen! oc og políticos africanos faz parte do mesmo conjunto de percepções centradas num « monárquico. Enfim, tais descrições favorecem a concepção de uma política des com reis vizinhos, seguindo um modelo já claramente desenvolvido no E tad 3 de

Em segundo lugar, a concepção de um sistema político centrado na figu

como modelo de virtudes permite estabelecer diferenças muito claras, como sé

de uma contra-imagem, tanto em relação ao comportamento dos reis tiranos (co

ivo do tema da fidelidade inaci

nação portuguesa

uistador de Dede

dis

E

- Umforte sentido de hierarquia penetrai pos: onerosa as tie O Ea Us

re Sá

cistentes não correspondem a um único desfeni ri rn » SãO OS governador ades coerentes ao rei; porém. sã es, capitães, e

OE

»

»dO Constantes as

et

exemplo, num dado momento era considerado o rei do Congo), como dos: 1

ycão cons 86 A | an x de governadores, oficiais e poderosos. | A imagem da corsuEça > coa corrupção desta forma, em oposição ao comportamento virtuoso, favorecedor do. bem € vel dER : M

simbolizado pela pessoa do rei, e simultaneamente como modo possível dei

interesses criados localmente. De todas as virtudes, a justiça parece ocupar lugar dec ! correspo , tiva ribu dist a e tiva puni ça justi a entre ir ingu dist ível poss é No seu interior e tis se encon a esta última uma série de mecanismos jurídicos de controle dos qu instrumentos dee ias, dênc resi e ssas deva as com a teci acon que o Era serviço do rei.

que na s, eira carr das ção niza orga de o mod no as diret ões icaç impl am que tinh novas nomeaçõeê s e na concessão â de mercêsE, nomeadamen te de hábitosSs das

Ee

Je igual mod Es.

embaixas último querer prestar obediência ao sumo pontífice, frente à oposição do

e

to de derava dependente da Coroa de Portu: gal, cf. FILES: I. Roma e Congo alPiniz- CASTELO o consi : testimonianze, pp. 35-45. Sobre as embaixadas do reis do Congo € Angola, Ui

[Resposta ao anterior projecto ou memorial de Garcia Mendes, por autor anónimo, *

ITR

A per

8: GRAY, Richard. The Papacy and the Atlantic Slave Trade: Lourenço da Silva, no Ro E 901 Decisions of the Holy Office. Past and Present, v. 115, 1987. Sobre a especificidad

ambundo e o papel nele ocupado pela corte, cf. MILLER. Nzinga of Matamba..., PP: &º HE pp: 204-5. Ds 85. CASTELO BRANCO. Relação... do reino do Congo [1603?], p- 170.

ao rei. Corrupçe 86. Apropriação por parte de ç governadores e outros oficiais do que cabe a

caso de Luand; Conflito de jurisdições. Sobretudo rivalidade intra-regional: oalmente do comes Manuel Cerveira Pereira é retratado como estando a beneficiar pess

+"

?

9 e seus representantes governadores e c apitães

|

EM

e

ções de vassalagem e de submissão dosreis

ao tratados com enorme desprezo os dores das assi i esempenhand Os entre uy el cru pap um O ; ma orde E PPlliações locais m idealizada constituída pelas autoridade : tuguesas ei face por s | = Por não serem de confianca n

ds MM

sa ne! Contarini acerca da embaixada do rei do Congo a Roma, de 1607, coloca preci

tatidese

bobas locais aos monarcas

os— lat ia conhece

A

" 84. Paulo Dias de Novais não chamava ao rei do Congo mais do que por “Senhoria”, repreends,. P: tratavam de “Alteza”, ct CASTELO BRANCO. Relação... do reino do Congo [16032], ssa em 1607, descreve-se o rei do Congo com “sua casa e corte ordenada o mais que pode a Reis de Portugal”, cf. BRÁSIO. Monumenta Missionaria Africana... VW, P- 386. 01 ator

rtencer aos vereadores da Câmara. os Resentariam melhoro nome e o régios.”º Noutras situações, o sentido a encontra-se nas já referid S ridas rela

o amdo b rei. As astúcias viçfic Ser Conspirações e interesses que lhes sã o Satri E uíd e F as 2º* SE Contava dess e deã adas E ent res rep emrein do to A o mula do Congo, com o qual nã RE

A

o se poderia

| “ JUnsdiche SÕES em matér; dec.

ri Ea P. 8; entreo Con

ida India, » eCasta

a E Rar a Africana. das Coisas que E Boo

E

prática, cf. BOXER. Sal

entre o Conselho da

ao

ças; entre

i capaz de a teoria,

is Sá..., p. 10. Sobre o conflito

a India e a Mesa da Consciência e Ord descia cf BOXER. Salvador rdens, cf. BRÁSIO Monumenta ES

d e declarar a Sua Magestade, tocantes ao rei Bal. da de Angola [1629], pp mo soe. Onquista de Ben sam E SABiT às residan e: guela, p. 262. De fato, Cervei

Bam UQ

Missi

ctveira Pereira tinha procurado, desde pelo menos

idências relati

AGÃO OU, [Inform ação do reino q

e

3

-

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÃ

CatE 2 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS...

:

| A

|

entrada num estudo de caso da costa ocidental de África em inícios do século XVII, terá

contar para o trabalho de imposição da ordem considerada legítima, uma vez q

cessa jamente de incluir um exame dos diversos tipos de justificações e dos pontos de sta dos ag entes imperiais. Claro que se poderá sempre objetar que nenhum RR

capaz de todas as traições. Em 1641, os holandeses deparam-se com o mesm sent hierarquia por parte das 400 famílias de brancos de Luanda, na maior parte nv vic |

a grande qu antic a A

duto de uma construção ideológica, e que os fatores determinantes das dinâmicas imperiais e coloniais há que buscá-los nos aspectos econômicos, militares ou biológicos.

Difícil de determinar na sua extensão, O conselho ao rei constitui-se com C o 1trs

oré

modalidades de um discurso monárquico. No primeiro terço do século do XVI: qt1 pa:mM mo que! tal de d o j se mca a li ip lt mu os h sel con do en nt co ias ênc ert adv informações e fat O ou alvitres. ios ítr arb de a, tiv ora pej es vez tas mui al, ger merecer a designação

ue é ja ordem da justificação, da tomada de consciência ou da construção ideológica gis intelectualizada, melhor- será adotar uma perspectiva mais concreta, segundo a qual ações e o trabalho dos agentes não são independentes da produção de significados e de eursos que lhes dão sentido. Isto porque, se um império não é produto de nenhuma plogios a, também se pode dizer que nas suas formas mais concretas de ação Os seus

corte, se terem pas da s ante dist to mui os, vídu indi e pos gru de e cent cres ero núm como. im dac | e a-s gur afi cas íti pol es niõ opi s sua as ir im sentir autorizados a expr No caso da costa africana, Os projetos enunciados podiam dizer espa a nova s forr

j

intes estavam permanentemente envolvidos num trabalho de reflexão sobre os programas

tributação dos sobas, como já foi referido, ou ao velho debate relativo às formas dee

lota '=incluindo os referidos aspectos econômicos ou militares que alguma historiografia

fiscal por contrato com particulares ou por administração direta por pareganto ú

régias.”* Podendo igualmente acrescentar-se que 0 conselho acerca funcionamento dos aparelhos institucionais não se distinguia dosinteresses as OC) folhas de serviços individuais e, mais concretamente, à obtenção de um à a a próprio ou um seu familiar. Tal como se se tratasse de uma troca entrado

€ |

servidores mais capazes de o aconselharem, O bom capitão aspiravaà QuE

a

conhecimentos, obtidos numa vida de serviço à Coroa, pudessem nessa

justiça distributiva encarnada na figura do monarca. Uma última su rela RE retorma, OHsS político diz respeito ao fato de este se apresentar geralmente como a no passado, ojet pr se , ma ti gí le a ad er id ns co r se por , que retorno a uma ordem

)

a aprese tar como uma espécie de monopólio das suas descobertas e da sua capacidade

“a

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pi, pe

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RRRSAdO

e

nvolvido inspira-Se se de i aqu ico lít ana r áte car de o nt me gu ar o colonizar -, situa ida revisionista da história imperial e colonial dos portugueses, à qual seo

a

aproveitamentos ideológicos e anacrônicos presentes nas leituras nacionaM

a al de do Império dos séculos XIX e XX. De fato, é no momento mic a q q dinâ das são reen comp na s rado cent antropológicos

paradigmas a a e a s meno pelo que ta, ionis revis impõe adotar uma perspectiva fatores imperiais e coloniais. É que o olhar antropológico coincide, m a ne império e se dê por isso, com uma noção eufemizada de um

RE neo-luso-tropicalismo de elogio da mestiçagem adaptado aos pr =" ias colon e ial imper ria histó da ta ionis revis da agen uma Ora, ão. lizaç globa E

tom das de posição no que se refere a Angola, Congo e Ena

I-Z, 1 8 p p 1, vs, ai históri ico-coloniais,V- 1, PP

ões s histór e õ t s e , . u O Q R o I E d D R a O C n g i | , nuel Vo ORcie I;An OMALAn ) gola..., t.I, Pp . 104. SOTIN. 9293.. JAD ci n MaCongo et VAn ; 229 e 302.

Es

nc pr ERP adição, onde se encontra bem presente a união entre as armas e as letras, António ai Fi Cadornega

E

assumirá mais tarde a responsabilidade de escrever a História das

À este elenco de nomes há que somar o de vários eclesiástico s, sendo o pr

DO e era apenas um dos últimos elos de um ela borado O eres co sro ' ee respeito importa não esq uecer a referência feita E ravos, elaborados em Luanda por um outro jesu íta, os manuscritos, sobretudo, mas também livros impressos, festemunham os j in Ci ; à circulação de idéias. Para veículo principal o es, constituem linée Cabo um exemplo raro de um arbítrio impresso da autoria do saim : E| de Ae nexiste drada Castelo Branco, data do de finais do século XVI; na mesma ara Ee O capitão André Álvares de Al mada punha em circ ulação um manuscrito pe tado breve dos rios de Guiné do Cabo Verde. Pela mesma época, projetos e *9€S sobre a colonização do Brasil enc ontram-se nos esc ritos de Gabriel Soares de a ! Mal

dad

ã q

de Abreu e Brito, Jerónimo Castafio, Baltasar Rebelo de Aragão,o P leAráujo, bem como os governadores Paulo Dias de Novais ; Manuel Cerveira Pereira Forjaz, Bento Banha Cardoso, Luís Mendes de Vasconcelos, Fernão

o. Geixaram traços e, nalguns casos verdadeiros arquivos, PuaSa RE e

à “a

rec 4 a em os ad ss re te in — tas nis ica afr s re do ia or st hi Em contraste com os peutss pre pres pe ro eu os tr ou € s se ue ug rt po os e qu es de vista e dinâmicas das sociedad nus se

tuir as verdadeiras estruturas,

* Come resulta claro das análises até agora empreendidas, os pareceres e alvitres do | A Re Castelo Branco não eram um dado isolado. De 1570 a 1630, Diogo

E

Negócios políticos

L. 1, pp. 178-9 .; a.. gol VAn et go Con n cie LAn IN. JAD 94.

, em lugar de reduzir a uma espécie de epifenômeno — de nível superestrutural - o

T

] F.

F

im m) LU n JO Ma is impressi on

Isa, cf. Oisa

|

sen

e também o que foi objeoh: Diria anFteont cto da ediçaaão maisÉ cuidada é- o de Fernão de oa par

a a história de Angola no século XVIT. Estugarda : Franz Steiner

DOO Liverp Livern ool: 1 LivIY e OUr Empi oi re nã and thethe Fai Faith. Né do Cabo Ro

Advice ; offered to Philip, King of Spain and Portugal c. E University Press, 1990; ALMADA, André Álvares de. Tratado breve PEGA de mo Brásio (ed.). Lisboa: Editorial L.1.A.M., 1964.

| Il

H |E

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e

comércio, mas utilizando sempre para efetuar os seus negicios negros que habitavam as palhoças da parte baixa da cidade.

209

e

208

E.

|

Aq; SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADEAbra

210

re 2 - FO FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS.. RTE2

; MPR de Ambrósio Fernandes Brandão. Também o Estado da India foi objeto dor

RARE de do p particularmente conhecidos os de Diogo Couto, Franeise gênero discursos, sendo ilveira P'António Freitas Costa. Duarte Gomes de Solis, Francisco Rodrigues

Silveira, E

não

Freire, Jorg;

rame esta f ani cas nti idê ões paç ocu Pre a. and Mir de Sá de no nti sta de Azevedo e Con A

proliferava o mesmo e ond a, ric Ibé ula íns Pen a a tod por s aliá o com Portugal, ci netiodais! advertências e discussões políticas: de Martin González de

de Évora (Baltasar de Faria Severim e Manuel Severim de Faria), de Moncada

Navarrete ou Sancho

a Agostinho

ti

de Pedro Fer

de Vasconcelos,”(

Manuel

« pi

po escala en multiplicação de discursos se difunde aDu | e it a ter em conta o que se passava pela mesma época em Ja aveia ê Para compreender o significado de tais discursos, a Angola por Garcia Mendes e outros, será preciso E : cd unida e é ca an discursivas ou unidades temáticas. Algumas dessas tra a cone As um tempo longo, tendo o seu uso sidoE recorrente duranteral. séculos. simbolizada na e

ficou demonstrado: no que respeita à conquista temporai,

aa

ios da conquista espiritual, pé discussão acerca do papel das fortalezas; nos desígn desisg níve á . ifer ente is de sign ific ado a de forma mais ou menos concreta,

a

sn

exacerbados pelas doutrinas

doutrinas do bom capitão ou do soldado pr lo XVI: e na linguag em das' estoicismo lipsiano desde o último quartel do secu E di Sa integra uma fi : associada aos modelos polí íticos da monarquia, qu A altas e at oa PBRRO E como diversos tipos de pare ceres, > consultas € arDitrk a instru mentos jurídicos, bem

ris

K

o que os alvitres de Garcia Mendes indiciam é que eles

los

o

são discursos

oieranitk

política, necessitando por isso ser analisados em função do mo Es as quis aslizar uma expressão 4 tão correr orrente na € imecdeciosinolíti praticados os “negócios” políticos,xs para Aienoutinível em finais p do século XWI'e iiciaaa +

O XVII encontra-se mais próxaimoca dospa EQHEE *

Ps

O



de “interesses criados”, enquank ;

2

va

;

historiadores do Brasile dal | Ra determinante das dinâmicas políticas locais, segundo os

a iaçcã jodo À € e pe de pega à Pi Latina, do que do recurso ai acriçade igsúidades da política no interior das ag o e iam rede correta do que se entendia mm a

reparar que os discursos contendo alvitres surgem aaa

também se podes lar emé

E is ca petições de mercês individuais ou mesmo de âmbito e ida disê ca À as Ea que o seu tempo forte — que é sem dúvida o

Mana ai comia :

introdução continua a ser o estudo pioneiro

5

98

se

SPENCE

1969.

de VILARJe ,

ident ,

arbirista en el Siglo de Oro. Madrid: Revista dein ma China, To Change China. Western advisers

Jonathan.

1973. |

Sp importância que passam a assumir os acontecimentos no interior esfera de | importância q p m crer poder definir como altamente politizada. deNouma momento a

Wiscussões que estamos em cre » os acontecimentos

P

j deixam de ser exclusivamente quer meras séries de exempla de

que os

lores mais altos a sustentar, quer aspectos de um presente a que só era permitida uma | Esão metafórica, feita em função de tradições historiográficas mais prestigiosas, emerge nação de negócio político. À “Onegócio de construção de uma fortaleza em Pinda ou o da tributação dos sobas de

angola, submetendo-os pela força das armas, para utilizar dois dos casos em que esteve volvido Garcia Mendes, constituem dois bons exemplos da centralidade assumi da pelos ã TAM

er entos na maneira de pensar e fazer a política nos inícios do século XVIL. O seu

| E onente não parece ter sido bem-sucedido na defesa dos seus interesses individuais, em

Foca pelos seus projetos; e estes só em parte podem ser considerados originai s. Como se peurou sublinhar, as idéias de Garcia Mendes eram partilhadas por muitos dos seus tem poráneos com experiência no Congo, Angola e Benguela. Por outras pala vras, os

Us pr jetos faziam parte de uma pequena série de idéias e argumento s partilhada por na comunidade circunscrita. Um inventário mais ou menos exaustivo de tais projetos, Ê

e o em funç ão de uma cade ia de aco nte cim ent os prec isa, permitirá, com certeza, uma Es A

hor interpretação dos projetos de Garcia Mendes. Contudo, em lugar de um qualquer

mério tendo em vista alcançar a exaustividade, melhor será reduzir o exercício de caráter ntextual a um outro momento exemplar. A 1599, quando Jerónimo Castafio submeteu o seu memorial sobre a conveniência ontinuar a conquista e comércio de Angola, explicito u melhor os interesses e grupos úividos nesse “negócio”. * No seu entender, Paulo Dia s de Novais conquistou Angola, mas retirou para a Coroa o b enefício do tributo pago pelos sob as, bem como o do comércio

j ' avos. Este último, sobretudo, foi particularmente rentável, uma vez que se encontrou Elise da produção e comércio do açúcar no Brasil, suscitando novas formas de rendimento “a

:

Ada real. Novais contou com a colaboração de Castafio para a descober nasiee ta das Para conservar a conquista: porém, este último pouco ou nada se beneficiou com êNCio da conquista. Conforme in dica no seu memorial, perdeu nela três filhos, irmãos E EA Os, além de muitos parentes, e endividou-se para poder auxiliar Novais na Huista das minas de prata, apesar de te r conseguido impedir que a Fazenda real gastasse PO R Que quer que fosse. A retórica rela tiva à modéstia e sofriment o individual do autor

A E — IRcapaz de ter se beneficiado da conquista para a defesa dos seus próprios RR filia-se Porventura em tradições discursivas relativas à virtude da humildade e

=+

EIVOS da súplica, bem como em velhos ideais de cavalaria . Porém, esta mesma SSConde a

=,

consciência

dos principais acontecimentos que definem Mol a, a conquista ne = "AM tampouco a identificaçãgo par a dos principais agentes e interesses en + volvidos no | *SSO. Por exemplo, vinte anos antes da escrita do memorial, Paulo Dias de

]

bos os am em er, sab a s, te en id ev s õe aç ic pl de causalidade, tem im joneiro

[a

desde o último quartel do século XVI - é também o piri pe e registros de acontecimentos políticos, de Cabrera de Faria. Esta última associação, aliás, sem nunca se apresen

“a

Bostono

211

us

MPERIAL

y

|

esócio” Ngola en tiempos de Felipe IT e de Felipe III, p. 69-74, onde se topa OM aEpalavraE. várias vezes

212

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLAN

BARTE

Novais conseguira obter o apoio da coroa, isto é, do Cardeal D. Henrique pai | empréstimos necessários à continuação e reforço da conquista de Angola, Mas 2 ini ; gerou forte oposição da parte dos arrendadores do contrato de S. Tomé, que tuco: iz

para impedir a continuação do comércio de Angola, a ponto de terem chegado a influe | o rei do Congo, o qual também enviou uma embaixada à Europa para se o POr ao me “negócio”. Sem se conseguir resolver entre os interesses das partes envolvidas, o Ca D. Henrique nomeou como juiz do caso o doutor Pedro Barbosa, o qual determino sentença definitiva, isto é, sem apelo, que se continuasse a conquista de Angola. Na op de Jerónimo Castaiio, a sentença de Barbosa foi muito útil e proveitosa para Ango esto solo basta para se uer quan contrastada cosa fue la conquista de aquella tierra é 2» 100 À poco”. costar pueden no grandes cosas las que deçir puede AME

enaltecendo a sua intervenção na descoberta das minas de prata de Cam bambe beneficiar com a-congui constituíam a prova irrefutável de que a Coroa poderia se Angola. Mas houve quem suspeitasse que a prata não provinha daí, mas da Ag

dar

Exprimindo um ponto de vista parcial de uma re alidade que outras fontes poderão

a reconstituir como ainda mais variegada, o me morial de Castafio é bem revelador

reveladores de avanços e os, bem como de uma série de negócios, frente a os quais se posicionam grupos e

a

Dm Cn

ições. O tráfico de escravos, no âmbito explícito de formaç ão de uma economia de

Erescentar a longínqua idéia de submeter o rei do Congo) sã O os grandes negóci os com se pretendem justificam os benefícios do Império. ul No seu discurso destinado |

1

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a captar tenção do rei, Castafio tepresenta-se a si próp rio como um suplicante RS nte essa esa do, outras vezes 4 Os seus inimigos, sempre capazes ge O prejudicar a ele e ao seu rei, representantes idea lizados da boa ordem política. cer O Pie

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se pela sujeição de Angola a S. Tomé, o que equivalia a fazer abortar OS projeie

conquista. Mas o novo rei, frente a um parecer que contrariava o do seu an cen q n o negócio para consulta de Rodrigo Vasquez, presidente do Conselho de. Ca E acabou por confirmar o acertado da sentença de Pedro Barbosa. Ã cong : a | it readquiria toda a sua autonomia. No entanto, O envolvimento de Jerónic na Á todo este processo ter-lhe-á valido ódios e inimizades. Foi o que acontece Fonseca, irmão de António Moniz da Fonseca, secretário do Conselho de. ora Madrid, que se viu prejudicado com a resolução final. Mais, Castano dá ae e durante o tempo em que os ministros do Conselho de Portugal pretender o negócio da conquista de Angola, afastando-o de tais matérias, gastaranaaa

a



-€

0a conquista, representando pontos de vista conflita ntes — mas numa luta permanente EnNS grupos, famílias e indivíduos, qu e pretendem captar a legitimidade dos conselhos e munais, bem como sustentar os seus projetos através des entenças e diplomas legais. A Ca st af io é mu ito explícito ao referir- se a uma Ste propósito, aliança entre o rei do Congo, osa ssentistas de S. Tomé e o C onselho de Portuga e l em Madrid (onde um seu secr giz Mol etário os interesses de um irmão). Claro que, ao +

E

a

a

tano será necessário ter presente outros

arbítrios de Garcia Mendes na da têm de — sem dúvida individualizado e dotado das

dinheiros em socorros, uma vez que se acabaram por perder e entregar asno po Angola os sobas que já tinham estado sujeitos e pago tributo a Paulo Dias q Nm =

recuperar Angola, o rei necessitava agora de fazer novos investimentos, a de avaliação dos custos e benefícios, própria de um negócio, utilizada por GasE. SL Aofnh na g0: am poderi se assim Só Angola. uistar reconq em a se interes o er o a defend a ue tesouros, os quais seriam ainda maiores se se pensasse seriamente na cons adol Rr

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213

capacidade de tomada de consciência revelada por este gênero de discurso s. A conquista de Angola é pensada a partir de uma cadeia de aconteci ment os, ú

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espanhola. Por isso, ainda durante o tempo do Cardeal D. Henrique, O Gonsells da e a Casa da Moeda examinaram a dita prata, certificando a sua proveniência ec ualic Esta situação alterou-se com as juntas que Filipe Il mandou reunir acerca da conqu E Angola. Por influência de Francisco Duarte, provedor da Fazenda, as ditas juntas decie =

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r Dia deh , Jerónimo Castafio representa-se a si próprio como um fiel seguidode

2 = FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS...

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O fato, já anteriormente referido, de que tanto o rei de Benguela ca

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portugueses. Podendo mesmo considerar-se que o fruto, isto é, 08 benefício

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q RE sentiram amedrontados frente à ferocidade dos jagas favorecia uma

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a Coroa seriam maiores em Benguela do que em Angola."

100. IMPERIAL Y GOMEZ. Angola en tiempos de Felipe II e de Felipe HI, p.

101. IMPERIALY GOMEZ. Angola en tiempos de Felipe II e de Felipe III, pp.

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- Nova lo

Revolutio n Thete and RoDinad mo ê - Nova l

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J.



TEA Fque: : J. Port & Company, 1902; LÉNINE, Vladimir 1. er orque: Vanguard Press, 1926; : LOUIS,

William Roger allagher Controversy. Nova Iorque: View Points, 1976.

214

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADEDEAR AT

CatE 2 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS...

cia ção de impérios, pirocur: envolvidos na construçã reconstituir os p pontos de vista dos agentes 8 identificar as suas formas de tomada de consciência, e, logo, o modo como racionaliz: Lo enquanto negócios as lógicas imperiais, não implica necessariamente excluir dos nd 7 imperiais as sucessivas formas de arcaísmo que os investiram." 103 A este propósit permanente recurso a idealizações do comportamento nobre e cavaleiresco bz astai E o ilustrar a presença de tais formas de arcaísmo no seio do Império. Pode gt ss od

que arcaísmo e racionalização de custos e benefícios coexistem na mesma époc

MA

215

jo seu entender, este últimocontext teria o,sidonãomanipu por aqueles. Contudo, Garcia Mend endes, de atribui deixalado = sea um outro an Fel E lr a iniciativa de manipulação ao d Enfi do Congo. j , este dastipodinâmicas prio rei do Congo. umaEntim, noção apesar demasiado de muito escasso de inform—ação negópoderá africanista udar a pôr em causa negócios e a)E ssses — locais E

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nos mesmos discursos. Por outras palavras, o ideal do nobre soldado assurmiaa pe capitão, posto ao serviço do rei, não se demarcava da lógica mercantil do comerc força do tipo-ideal proposto por Vitorino Magalhães Godinho, o do cavaleiro-mee 4 158 volta a se impor.

Porém, para além desta conjugação de atitudes presente nesse tipo sociao a

torna-se difícil situar os pequenos processos de credibilidade individual dos agentes impe nomeadamente dos que recorrem à escrita para afirmar a sua posição. A E

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veracidade e pertinência dos seus conhecimentos. Jerónimo Castafio tambémn m er cic

seus anos como combatente, os sacrifícios a que esteve sujeito, e o fato de ter pé cia das tantos familiares em Angola para afirmar os seus pontos de vista. À Ea articulada com o exercício das letras, tópico do humanismo cívico tão bem-id Jen por Luís de Sousa Rebelo, surge então como evidente. Porém, a insisténdia co n que de relações familiares, e não só, sempre que é possível perceber a posição d sugere um outro modo de pensar na sua credibilidade ou reconhecimentolE otne

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a sim dar a conhecer quem é que ele era e o que tinha feito: “Digo isto tudo

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| d quando em 1611 Bento Banha Cardoso pretende desqualificar os disc os o Salgado de Araújo, esse “capitulante e alvitrista” que representava sem dúvidauma

pi eten d que lhe era oposta, mais do que no conteúdo malfundado dos seus pareceres,

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Figura 1: Os selva gens

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ê para ele, Salgado de Araújo ser seu inimigo. Não pertencendo por issoaos seus negócios e interesses dificilmente eram conciliáveis. Uma última nota aé es

negócios e interesses diz respeito à necessidade de incluir neles as iniciativas locais, SO as que envolvem monarcas ou chefes políticos africanos. Castafio é bem aarc propósito, quando considera na mesma aliança os assentistas de S. Tomé e 01 ei d 9 51

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se curvam ao missionário, na imagem do livro, Viagem ao reino do Congo, de

com o magistrado André Velho da Fonseca, quando veio em devassa à À ngola. como podiam o rei e os seus conselhos- nomeadamente Diogo Soares a quema? or era remetida— acreditar no que propunha Salgado de Araújo? Mas, con noe próprio Banha Cardoso, a verdadeira razão para tanta desconfiança consistia nº

103. SCHUMPETER, Joseph A. Imperialism and Social Classes. Nova torque. A.M. Kelly 195: a º 104. BRÁSIO. Monumenta Missionaria Africana..., V. VI, p. 17.

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saiba quem hé Joam Salgado e seus alvitres, que bem vão elles dizendo com as ua e se não engane S. Majestade com ele”.!º* Ora, no rol de desgraças que servirar caracterizar a má natureza de Salgado de Araújo, constavam as suas inimizac seu tio, bispo do Congo; as suas exorbitâncias na praça pública de Luanda; eoss

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SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNT

PARTE

2 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS...

217

ind “íduo acabava por pre) udicar os negócios do seu concorrente. Pior, nestas condições

tinham acabado por ser os africanos a tirar o máximo de lucro. Competia, Companhia Holandesa construir as condições necessárias para o exercício

» intei ditando o comércio aos particulares. Através desta medida, bem como da

por i o 6

ado de

nbstáculos à monetarização das trocas ou da descoberta de minas, seria possível Rd diferi r a ci re pa o nã e qu al ni lo co o et oj pr um ofà futuro de em muito do que os portugueses . tinham ensaiado'*

do livro, Viagem ao reinodo . gem ima na o, Cong do ão miss na vista ente serp Figura 3: A grande Ê é

Congo, de Dioni Carli).

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Epílogo ologia própr ide a um de ido est inv , uês tug por al oni col a tem sis Terá existido um tomarmos se va iti pos ser ece par ta pos res A ? ica Áfr de aplicado na costa ocidental 1643. Para este h ja e 42 16 de s ado dat r, me ta or Mo ter Pie de s rio m estabilid e e consideração os relató d r o em a av ic pl im o ng Co Angola e no em io rc mé co o r ra gu se as de o objetivo er mi

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havia dúvid: as ac o nã so is r Po r. ia do cr ui eg ns co am nh s ti se ue tal como os portug 4 neces i seri o, pl em ex r s. Po uê ug rt po lo coisas o mode

necessidade de imitar em muitas o pelo nenos€ 7 ad nh pa om e, ac nt ge li di o it mu e ss fo e qu ém gu enviar para o Congo al nte, para Vel me la le ra s. Pa ro ei rm fe en ês tr la e co es spredicadores, com três mestre des de da ci pa ca ar tr ns mo de o is ec pr a er , is ca lo det “aa ão uç tr ns co desconfiança e captar as vontades à e nt me ia ava necessar e implic qu o , os rn te ex os ig im in frente aos ra e seria possível O gu a se ri ca fi de da ci a m si as . Só da an Lu em a de pedr quer modo, e tal como os portugueses tinham

dos reis e potentados locais. De qual

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» de a i r e t — da an Lu ão de aç ic if rt fo la r pe ça me co a a — a militarização da colôni aias | ss va nã a ou ci ên nd pe de na am ri ca fi e qu , is ribuições dos reis loca com as cont da, desenvo” : za ri ta li mi al ri pe im m de or a um de o çã ia Companhia. Através da cr ível criar à a ss po a , ri se ca gi gó da a pe e ri ná io ss e mi ad id iv conjunto com uma at gueses, > avos. Os port cr es de io rc mé o co nt do me vi ol nv se de o necessárias para te sistema, a es ic át pr em r o pô ad nt te ém mb ta am nh r, ti me Moorta

no nseguirê” a co nc m nu ré l. Po ve tá es o eç pr um os a av s cr he es -l er sobas a fornec ameii" E is ec Pr ê? qu r Po . os eç pr de de da li bi ta es da condições para a referi de mode , io rc mé co o ri óp pr u se o te en vrem comerciante pretendia exercer li

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DIN, LAncieLAnci n Congo et Angola...

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350-60.

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As FRUTAS DO BRASIL, DE FREI ANTÔNIO DO ROSÁRIO, E AS

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FORMAS SIMBÓLICAS DO PODER MONÁRQUICO

Carla Maria Junho Anastasia ao

Er esse trabalho, minha pretensão é tratar a categoria liturgias políticas — que ngloba ritos, símbolos

e alegorias do político — a partir do exame de partes do livro útas do Brasil numa nova e ascética monarquia,* consagrada à Santíssima Senhora do sário,

escrito por Frei Antônio do Rosário, e editado em Lisboa em 1702. | Frei Antônio do Rosário nasceu em Lisboa em data não conhecida. Agostinho descalço, lotou o nome de Fr. Antônio de Santa Maria na ocasião em que professou seus votos no invento de Monte Olivete em 18 de julho de 1671. Durante o período que foi da ordem de No Agostinho, ministrou aulas de filosofia, dedicou-se aos sermões e foi Visitador Geral Sta ordem em Portugal. Mais tarde, abandonou a ordem e ingressou no clero secular.

| - Astazões da sua vinda para o Brasil são desconhecidas. Sabe-se que no ano de 1686 tà itônio entrou para a Província Capucha de Santo Antônio do Brasil, sediada na Bahia, "WEmiSsionário, durante um bom tempo, nas aldeias indígenas sob jurisdição franciscana. à E 'Almeida em sua resenha, Frei Antônio do Rosário legou à posteridade vasta literatura “range dois momentos diferentes: a de antes e a de depois de chegar ao Brasil. “ão múltiplos os modelos dos te xtos de literatura de viagens qu e proliferaram nos FP Bodernos com a descoberta de novas terras.! Um desses modelos, arquétipo sem !

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su do Rosário, além de me ceder seu tex to ainda inédito no qual aborda a ref erida obra, tônio do. Frutas do Brasil numa nova, e ascética Monarchia, consagrada à Santíssima de Lisboa re 10. Lisboa: Officina de Antonio Pedrozo Galram, 1702. Em 2002, a Biblioteca Na a cional Publicou, em edição fac-similar a

ÇÕES a seguir sobr

E CRISTOVÃO,

obra com apresentação

Fernando. “As frutas brasileiras e sua significação oculta”, in PIMENT pr (Coord, Portugal e Brasil EL, Maria do no advento do mundo modern o. Lisboa: Colibri, 2001, pp . 283-96.

DE ANTE SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDAATI

220

ordena dúvida dessas narrativas, é o modelo bíblico da exploração da terra de Canaã, por Moisés e relatada no Livro dos Números, no seu capítulo XIII. Vindo do Egite direção à Terra Prometida, Moisés enviou alguns exploradores para se informar se a terra rvar obse am eri dev ens hom s Esse . povo seu ao a inad dest va esta que a a terr a

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tz vam ecor fértil, se a vegetação era abundante, detectar a índole dos povos que as habi çam tode “Fa e: ment cial espe va nda ome rec és Mois te, lmen Fina . vida de o mod era o seu q ”. ião reg da tos fru dos em zer possível para tra As notícias trazidas pelos exploradores foram terríveis. Os habitantes da T de gigar cendentes des os, sim tís for m era , adas ific fort s ade cid em m ava mor ida met Pro El

pro E na nça fia con de a falt da ão raz em e, os tod de ou der apo se o med o Nessa medida,

da te rra f mal ado fal iam hav que res ado lor exp s ele Aqu ou. tig cas os s Deu na, divi

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igos, de forma que incontinenti fulminados pela ira divina e seguiram-se outros cast

o é io sód epi se nes nte ssa ere int de há que O aã. Can em dia um am rar ent que os foram

ho de uvas carr q de os exploradores portarem, além das más notícias, um gigantesco cac

te para cien sufi foi não os frut de a tur far a o, tud Con s. figo e ãs rom , ens por dois hom

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rativa bíbl nar esta era sid con vão stó Cri do nan Fer uês tug por or iad tor O his

s diretamente é a funçã arquétipica por duas razões.” A razão que nos interessa mai

o tópico da descrição a enh emp des aã Can de a terr da o açã lor exp da ico bíbl no modelo suplantado, noO riente só , nte eva rel ar lug am par ocu as frut as il, Bras No as. frut

a farmae um de as, casc es, ent sem s, erva de vas ati cur des eda pri pro declaração das s frutas, poiso frutk pela o pad ocu ue taq des de el pap esse ar ant esp se de é Não exótica. E. . ano hum ho bal tra no nto qua za ure nat esperado, tanto na simbolis Como o tratado que ora se examina — Frutas do Brasil — é pleno de ções acerc era sid con s uma alg r faze a dev se que se taedi acr , alegorias e metáforas "a

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simbolismo político.

do X vel visí lado pelo l, gera ma for uma de a, tad tra é tico A dimensão do polí

s co letis E xõe pai e os ent tim sen os ,º art Ans re Pier rma afi o com , -se desconsiderando

er = o simbol pod do l síve invi o lad O s, veze tas Mui s. tica polí acompanham as práticas ento que nãoà ã istOr im ec nh co de as áre ras out de os dad cui aos o xad político — é dei ritos € 8! mbol S! s, nça cre de ca íti pol o açã liz uti a er end ent se Obra crucial para 4.” Bloch tratou deu 192 em da ain ada lic pub ch, Blo c Mar de reis taumaturgos,

| a r esc das l “ma do a err lat Ing e nça Fra de s rei os pel ritual de cura mágica feito ao r Sos gura se as por a bav aca s rei os pel a cur sa des ca gi má crença popular na gem” ão diç tra na zes raí das fun pro ha tin s rei dos vo ati cur poder. Essa crença no poder ou queHe erv obs or aut O s. ina div ras atu cri mo co tos vis em que os reis eram

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9 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS...

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toque mágico explicitava-se um clima eminentemente político — o poder do rei vinculado

à yreja, aliada fiel na afirmação do poder monárquico. Se até então o político estava aos gabinetes de reis e ministros que deliberavam sobre a “razão de Estado” afinado co Bloch, ao discutir o político a partir do campo do imaginário, abriu uma nova possibilidade

de análise histórica: o sentido simbólico da política. "

Blochressalta que o “milagre” da cura não pode ser entendido como manipulação política. Se o monarca fazia uso das crenças para construir o seu poder político, tal fato era possível em razão das crenças integrarem toda uma concepção de mundo. ; — Erst Kantorowicz,* em sua obra sobre teologia política medieval, analisa a ficção mística dos dois corpos do rei. Segundo o autor, na Alta Idade Média os juristas definiram um conceito de realeza mística possuidora de dois corpos, um natural, e, portanto, mortal j E putro, político, imortal, isento de defeitos e máculas. | Nateoria política desenvolvida na Alta Idade Média, o Estado era representado como um corpo humano, em que o Rei era a cabeça, centro das decisões, e os vassalos, os “membros, cada qual com suas funções específicas. Essa metáfora deriva da teologia e das eic cr: icas, em que u a Igreja] e a socieda , istã formavam um “corpus mysticu is canônica ] m”, cuja de cristã abeço era Cristo. Esse pensamento foi apropriado pelos juristas e transposto da esfera teo eológ e para a do Estado. Dessa forma, os juristas desenvolveram uma teologia da realeza uma “cristologia real”, fato que novamente remete para a crença no caráter sobrenatural das monarquias européias.” “Na primeira fase da construção dOs dois corpos do Rei, a realeza era centrada em inacÊ o de poderes e competências o7 com o uma persona mixta, com a combinaçã Cristo, aparecend o E E Ee ares reunidos em uma única pessoa ou como a personificação de Cristo istus por meio da consagração, ou seja, tornava-se deificado por virtude da Eé ã o monarca era percebido como um ser Taça. E ÉN E formulação, geminado, ao mesmo A E e a pela graça, não como Cristo, que também o é, mas por natureza.

panhia das Letras, 7. BLOCH, Marc. Os reis taumaturgos. São Paulo: Com

1993.

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ms parir do século XII, a teologia política era ainda marcada pela linguagem litúrgica PSIo pensamento ierênci O ente do tor teológico » emem razão razão dadai inexistência de uma teologiaÀ política secular “ia greja. Nessa época, o rei aparecia como imitador de Cristo, não mais mo Christus Diez: O mo intercessor entre apopulação eo clero. Assim, em contraposição DM momo e, a o a monarquia por “direito divino” construía-se não sao o

a

gico do rei ESTO Cristhus. Ou seja, o pensamento jurídico havia Specto puramente litúrgico para criar sua espiritualidade secular: os

Fgume ntos : ssem a se utilizar do direito canônico e da ócio centra “TEM ais E ta continua linguagem am do direito romano. Contudo, os conceitos medievais da realeza E Ee não f oram abandonad O . ; pens Dn amento s, mas subsisistitiram traduzido em modalidades seculares s ENG

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Graduação em História, Tese de Doutorado, 2004.

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5. CRISTOVÃO, Fernando. As frutas brasileiras..., p. 284. 83A. disco” 19 e, mm Ho d” e PAg ne, san Lau s. que iti pol 6. ANSART Pierre. La gestion dês passions Para e à. gtó » 1 . a v l i S a d o at , Ren no excelente trabalho de. DIAS plar, avid exem o mod de , feita é e segu Horizonte: UEMG/P s gramê Belo s ão Ouro nas Mina do > do Rei? Política, religião e escr

221

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5 OROWICZ, Ernst. is Er Os do corpos do rei: um estudo sobre teologia política medieval. São Paulo: as, 1998. Eis Letr RE e

a : :, s 4 Blóriar de De us, e do Rei?... A disc Mesenver o que se segue foi inspirada nos argumentos ussã “Yolvido pelo auto

222

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTIE

uotE 2 = FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS...

Pierre Ansart afirma que desde a Idade Média a devoção ao rei contém uma dir nens nsificá-lainte am car bus os, ern mod pos tem nos as, arc mon os e na, divi , ural sobrenat

| m dúvida um servo de Deus na ca: acepção completa do termo e adepto da “economia da E =» A origem do Brasil é nsti

=Leo CA

e!

Ra.

" A senhora do Rosário, diz a Igreja, também compôs o livro do mundo com o divino “compositor: O mundo o que é? Um livro da divindade, obra da divina onipotência, disse

está ela mesma mantida. O amor do rei é indiretamente renovado pelos culas elig sos cotidianos: para tanto que este amor do rei encontra seu modelo analógico no amor de cessa de ser sustentado e reproduzido em todas as práticas da religião não ele Deus, da

* ogrande Antônio do Egito (...). No segundo tomo do mundo, que é o Brasil, estampou o * Rosário em frutos, para cumprir o que diz Salomão nos Cantares (...).!2 A

)

“ Na medida em que na sociedade colonial as coisas eram consideradas valiosas porque Eram ran penetradas pela sacralidade e impregnadas pela gra ça celeste, a economia da graça nstituía um forte elemento para a manutenção da ordem social, impedindo a emergência

muitos: pod am for as rc na mo os pel dos usa l na io oc em são sua Os veículos de per õe nogsré e ico ser falados ou escritos, difundidos por meios visuais, por meio de publicaç s es in 1 ilant en ag ns se me amiti nsm , tra tos fle pan de o mei , por fia oso fil à tro Do tea ma de nião é gerava-se a indignação, formas de sustentar O poder. Uma outra for

os dir jtos.“ Acreditamos que esse argumento desautoriza aqueles que vêem a obra de Frei Antônio do Rosário como precursora do nativismo brasílico. Continuando, segundo Frei Antônio do Rosário, os frutos são melhores do que as “Hores, mais abençoados por Deus, mais ditosos e úteis do que elas. Assim, sobre as frutas

oso cotidiano rer o estaria, para Ansart, nas práticas da religião cristã. O culto religi cessa des er T at indiretamente, por analogia ao amor de Deus, o amor ao rei, que não festas | as s, uai rit os so, dis ém Al s. osa igi rel as tic prá das o mei por do e reproduzi à majestade do pri m to pei res O am ari orç ref s que ca gi gó da pe as tic m prá -ia -se nar tor ir que a sociedade « ec clu con a par a ogi col psi à e orr rec art Ans , udo est Em seu

:

agem trad ie ) na d Combinando os efeitos desse amor ao medo, o rei explicitava a im se ea a | cri de os nt me mo Em . ial soc dia cór con da e paz da or tet pro generoso, poder, ma dual justificava a repressão nas rebeliões e revoltas. Há, na relação de quema frel entre o prazer de ser amado e o prazer de dominar, o que se compara ao es e de Eros e Tanatos. ás,que des] an an do ta tra do an qu o ári Ros do o ôni Ant i Fre ge sur i aqu Eis que maior interesse na perspectiva das liturgias políticas. Mas antes, vou falar a 3 3 o

ge

imava o frei, em comparação com a fragilidade das flores: “As frutas de gua rda duram do o ano; e como a virtude da benção de Deus é fazer crescer e multipli car, permanecer jurar os frutos que crescem e multiplicam (...)”.14 — Parao religioso, as frutas servem para identificar as classes sociais, virtudes e vícios, é pretexto para defender uma “nova e ascética monarquia”. Não faz uma crít ica dura à nobreza embora afirme que uma “fidalguia apaixonada” deixa muito a desejar. Compara jobres à fruta jaracatiá, uma espécie de mamão q uc parece verter sangue porque angi inolentos, matadores, vingativos, não são de bom sangue, não são de sangue puro

NpoPacquando a cólera está desenfreada e o sangue não está mui to puro”.!5 b seu tratamento dos religiosos é bastante cauteloso . Compara-os aos umbus, | E ºs, Ejs, Jenipapos e outras frutas, tomando como ponto de semelhança as cores e Fa

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E hábitos. Só os critica pipridote Ruaenes o Pous cos“ão,na 'enados e poucos bem . 1

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OU aNberD ó o seu tratado. Nele, a nat Je m epaiO pa rel ureza AR exu fért ant múl il, e, tip ocu la, raçã ao e | | dO a atest e

Anaturezada re 1

o períod o desde vigente já graça”, da ia “econom ira verdade uma ece estabel UMA É

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pessoas devem sua existência a uma “graça” de Deus: fazem parte,r porra “dado”. O servo de Deus é, portanto, aquele que sabe vislumbra em od

Frei Antônio da be . ina div ” aça “gr da ça sen pre a na ma hu ia tór his natureza e da + ra

10. ANSART La gestion dês passions politiques.

|

“108: 4

a. Petrópolis: Vozes, 1987, p. 109 logi ideo e o Mit . nial colo de nda sta cri A do. lan Rio , 11. AZZI

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quando, protegido por uma citação de S. João Crisóstomo aocapme o e;temmui po,tosmuinotoshábito e Po s cosqueno iidmer izeeci são r ane acism dad , co pou mento: ordenados na vida e nos costumes”.16

; = comparado rs sem ' qualquer intenção pejorativa às bananas, mas E pes do corpo político, à semelhança2 do modelo teológico tratado por owicz, referedas profissões, sendo a mais prestigiada a de rio Raio, a g Eausase ade eleSã OporJosmeio é. Critica especialmente dois ofícios: os alfaiates, e pe dos pela fruta Itituru ba, que tem a propriedade de o seu caroço brilhante ser vir , [-

o

s só ten adada soa pes as e sas coi as , oso igi rel nte izo hor se des A partir oa à as to Tan de. ida ral sac sua ite nsm tra s lhe que , ino div vinculadas ao poder

tes

Janto ao E E Ro

por Deus para à descoberta, tao,O dest ada s como divina: a flora e a fauna foram cri ; . iva ( nante na He exploração dos homens. Como afirma Riolando Azzi,! a perspectiva dominante Ne, iência, da América portus r típica dos tempos modernos, e, por consequencia, dat o mundo, de ve .

dr

Tra

tiva, e renova as formas de cole a óri mem na , ição trad na ito escr está rei do r amo [ O a trac au ição afeição político-religiosa constituídas desde a Alta Idade Média. Entretanto,

il de sut ime reg um de o mei por as dut con das le tro con de constitui uma forma

223

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PO, € O dos oficiais d e mercancia, simbolizados na fruta zoas, sem elhantes aos “onhos. Os alfa ijates, criti ca-0s por

que “às vezes faltam com as obras que prometem”

224

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE At 1.

SARTE 2 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS..

225

*

e “por executarem modas de vestes profaníssimas e desonestíssimas”,17 Os ofins ICia mercancia porque estão presos à cobiça, enredados com o diabo nas suas co consciê;

com dívidas certas e sabidas.

“Como se afirmou anteriormente, Ansart afirma que ao combinar os efeitos do amor

'

Voltando à relação de poder, em que há uma dualidade entre o prazer de ser pi

e o prazer de dominar, afirmada por Pierre Ansart, o tratamento do Antônio do Rosário é paradigmática.

2

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ao medo o rei explicitava a imagem tradicional de pai generoso, protetor da paz e da soncórdia social. Em momentos de crise, essa image m justificava a repressão nas rebeliões revoltas. Assim diz Frei Antônio do Rosário:

ii

De todos os frutos, o ananás foi o mais louvado por todos os cronistas seisce

* Orei do Céu e da Terra apareceu a São João no Apocalipse na figura de cordeiro e de

há cronista que dispense destacar o seu suave odor, o sabor, a abundância de sumo

boma brandura, para os maus, para os rebeldes e criminosos é necessário todo O rigor

leão para ensinar aos que governam o rigor e a brandura a seu tempo. Para os bons é

portugueses. O ananás foi enquadrado no grupo das ervas que são fruto e se comer

formosura.!'* Gândavo e Gabriel Soares de Sousa dedicam razoável parte de sua ob ananás. Segundo Gândavo: US Ea Monção

Outra fruta há nesta terra muito melhor, e mais prezada dos moradores de todas, qu : ; a AR se cria em uma planta humilde junto do chão; a a qual planta tem umas pertagVP as o erva babosa. A esta fruta chamam ananases e nascem como alcachofras, os quais parecer naturalmente pinhas, e são do mesmo

Ea

tamanho e alguns maiores. Depois que são Z JE

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maduros, têm um cheiro mui suave, e comem-se aparados feito em talhadas. São tãe saborosos que, a juízo de todos, não há gruto neste reino que no gosto: es faç

vantagem.!

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Frei Antônio, mais tarde, elevou o ananás a rei dos pomos. a Em “Do Ananás, Rei dos Pomos”, Frei Antônio afirma que o Criador fez esse

com aparato real, de coroa, cetro, púrpura e guarda, e que não há outroq e tenha

e toda a violência.”

-

x» | Como exemplo aos governos terrenos, a graça divina conferiu ao ananás do Brasil goroa e insígnias reais e os atributos de suave e severo: suave para os beneméritos; nocivo para os feridos e chagados que são os rebeldes e cr ImInosos. E tão suave que não há fruto MM ar E f a f ã que o iguale na doçura, e também tão áspero e violento que gasta o ferro que o corta jonclui Frei Antônio do Rosário sobre o ananás, que seja pois o rei dos frutos quem sabe empe: ; em as doçuras com os rigores, conferindo aos governos do mundo máximas e leis divinas e humanas.

| EreiJerônimo da Ressurreição » que aprovou a publicação do tratado, afirmou, com eabedoria que o autor se aproveitou das frutas do Brasil para delas retirar outros frutos de melhor laia e de mais proveito, quais sejam as virtudes e o s bons costumes. Enfim, a partir n Írutas materiais, Frei Antônio faz alegorias com os frutos espirituais, a fé em Deus, e fomos frutos políticos, a busca do bom governo e da boa soci edade inseridos nos parâmetros Ci

da Senhora do Rosário do que ele. Ananás significa, para o religioso, Annascitur: dê

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quais reserva suas chagas e feridas. Para Frei Antônio, assim como afirmou £ e brandura em seu devido tempo é o axioma do melhor governo. Para 0!

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OR O SEU INDIGNO ESCRAP O RESTO NIO DO ROSA RIO,

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18. Ver SEIXAS, Maria Lucília Barbosa. Para uma tipologia das grandezas do Brasil. Viseu E.

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os Menores da SeS. Antoniodo Brafil, Serafica Familia & Milionario

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Justiça e misericórdia: a exclusividade da bondade no príncipe não é recom: endável E Rm sendo bom o que governa, pode ser mau o seu governo”.?º Por isso, o princip espelhar no rei dos pomos, sendo ao mesmo tempo, brando esevero.

20. ROSARIO. Frutas do Brasil..., p. 2.

CONSAGRADA

TES!

Apesar de ser tão suave e deleitável, é muito severo e áspero com os criminosos,

Editores, 2003, p. 108. 19. Apud SEIXAS. Para uma tipologia..., p. 108.

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que possui para o bom governo, é um príncipe perfeito, em razão de ser

17. ROSÁRIO. Frutas do Brasil..., p. 152.

UMA NOVA, E AS cetica Mona

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CE ANTONIO PEDROZO GALRAS Gram tudaAn s aeo lice de nçasgorme e fri anass

|| | Figura 1: Folha de rosto do livro Frutas do Brasil de Frei Antônio do Rosário.

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SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE AT;

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O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

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Parte 3

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de Andrés Thevet.

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ória dos Figura 3: O ananás, no livro Hist Lisboa. Maranhão de Frei Cristóvão de

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Cachoeira de Paulo Afonso (E. E Schute, 1850)

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- APARÊNCIAS, IMAGENS E METAMORFOSES

“DOS AFRICANOS NA PINTURA E NA ESCULTURA “FLAMENGA E HOLANDESA (sÉcS. XV-XVID!

Eddy Stols

| ) oceano Atlântico entrou em pleno na mira dos Países Baixos por meados do

lo XV, quando os mercadores flamengos começaram a frequent ar, por incentivo e tédio dos seus parceiros e hóspedes portugueses e espanhóis, as costas da África

fal, as ilhas do Atlântico, principalmente à Madeira, os Açores, as Canárias e mais São Tomé.

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Esta vertente africana dos descobrimentos e das primeiras navegações Ceu até agora menos estudos que a americana, se bem que seu impacto tanto econômico q cultural foi quase tão grande. Pelo menos parece ter estimulado uma considerável HediC € e imagens a

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nografia empresarial e a primeira mundiali zação E

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R eter Breughe] (1525-69) e seus descen dentes, os filhos Pieter Breughel, o jo vem - 938) e Jan Breughel, o velho (1 268-1652 ), os netos Jan Breughel, o Jovem (1601| AM brosius Breughel (1617-75) e até bisn etos, como Jan van Kessel ( 1626-79º),

“W Preughel (1631-90), ou David Teniers III (1 638-85), constituíram, além de suas o E Ssticas como pin - UMa nova

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etapa

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da

tores, uma espécie de empresa especializ ada na mundividência a bertura desassossegada do mundo nos séculos XV a XVII.2 -—

E vinte Ferreira Furtado o estímulo para ensaiar esta primeira enciclopédia e sua generosa — Sacolhida do resultado. A Eduardo França Paiva não devo somente a discussão e revisão deste Re 9 companheirismo nas andanças para a coleta do material visual. Os olhares e as RR de René Lommez Gomes me despertaram para nov as abordagens. Heloísa Pires Lima e ERTe e Prestaram algumas informações preciosas. de 2c NES, Philippe et alii (eds.). Le siêcle de Bruegel. La peinture en Belgique au XVle siêcle. Re pa e ROBERTS-JONES, Philippe. Bruegel, Une dynastie de peintres. Bruxelas, 1980; ERTZ, ma Tá, ta (eds.). Pieter der Jiingere- Jan Breughel der Altere, Flâmische Malerei um — On und Fortschritt. Essen, 1997: OR :

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ENSTEIN, N. M. et alii (eds.). Pieter Bruegel the Elder;

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂN

ais tarde nas gravuras mexicanas de Posadas — e as vanitates advertiam com ironia o ;EE ino de tanta diversidade e riqueza. Se os Breughels e seus contemporâneos levavam tipo de pinturas ao paroxismo, certamente não foram | os inventores destes temas, que iáapareciam desde a Alta Idade Média nas miniaturas dos livros de horas, nos calendários, nas tapeçarias, nos vitrais, nos retábulos e até nas miséricordes esculpidas dos coros de

M anil o com es, tor pin ros out de s ena dez o and pir ins , tes ren cor comercial suscitava con formavam empre de Vos, os Francken ou Van Valkenborch, que por sua vez igualmente aiaa a 8] avad j ores foram A os Os oran pint os nto qua s ivo 2 dut pro tão se Qua es. liar fami s stia ou dina icx, osde Pas Wier os , aert Coll os e, Gall ips Phil x, Cock s ymu ron Hie flamengos, como e, é Abraham Boss ou t, fur nck Fra em Bry, de os o com , país do fora do ran ope 4 já alguns E de 18 ta: vol por m, ria cob des n, nti Pla o com , pia uér Ant de as a vez que as gráfic Ega gens, aos, livros um mercado editorial muito receptivo aos descobrimentos e às via a d A dr rm fo em as map de es eçõ col às e a, ogi iol ict a e ca âni bot a re síntese sob emá si s mai o açã lor exp a car ifi ens int a eri dev que eu ceb per el patriarca Pieter Breugh

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m do mais, sey & 1631, pelo menos 31 cópias conhecidas, em figurações variadas. Alé

dorejas, ou ainda nas artes decorativas, como a cerâmica ou a prataria.* Entretanto, nunca

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Os Breughel a ) Oy eita ; s, ico tór pic tas dis ope icl enc o com se Qua . ico ráf nog deste filão ico cos, como 2 Ade r ssi clá s oso igi rel as tem ros out a, ist Bat o Joã São de além da Predicação pe

co Quasi uni m nu r ena enc a par , cis Cru Via a e ém Bel de so Cen o dos Reis Magos, e tão diversos

tipos humanos

quanto

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e envolviam num pande T ico rát hie or rig seu de m pia des que s, ado Pec os ou Virtudes ma i co po um , ava ciz lai se or gad alo cat afã Seu de atividades humanas diversas. y aa oSa ivi Dil do , tre res ter o aís Par no e Eva quando aproveitavam o tema de Adão os para S | g ! ria tid Sen tro Qua dos ou tos men Ele tro Qua dos Noé, do Calendário, mentos, nstEa ali s, ume leg e tas fru , res flo s, nta pla s, eto os mamíferos, peixes e ins

o 98 mic orâ pan ar olh o sm me O . ção era min de as ent ram musicais, armas ou fer tanhas, E E mon , ies níc pla o ond tap jus a, mic cós em sag pai ou ft, cha uma Weltlands esaii be de os tip os ers div al, nav a alh bat ou e tad pes ou reunia, numa baía, tem

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& frenética, em pouco mais de meio século, quanto os Breughel e seus concorrentes se empenharam em realizar, como se uma nova civilização da imagem fosse irromper a

sery iço de uma nova ciência da natureza.º * Consegientemente, surge a tentação de interrogar esta pletórica iconografia flamenga arespeito de seu horizonte mundializado, de seus conhecimentos e de sua visão dos novos m indos. Será que esses iconógrafos, dispondo dessa considerável capacidade técnica, queriam e sabiam utilizar esse potencial para representar o mundo extra-europeu em toda

sua diversidade e complexidade e ultrapassar os estereótipos acomodadores? Conseguiriam

eles produzir suficientes imagens inovadoras para acompanharem e aprofundarem o interesse e a informação sobre as outras sociedades e culturas não-européias? Poderiam a ingir, além dos meios eruditos, a população européia em geral? À primeira vista, a Resposta parece decepcionante. Se o caminho do Sudeste asiático e do Extremo Oriente, aberto pelos descobrimentos portugueses e seus concorrentes holandeses, franceses e ingleses, OImece meceu uma safra extremamente rica de literatura de viagens, a visualização destas ' culru ras e sociedades se restringia aos desenhos pouco profissionais feitos por Jan Huygen ar Linschoten, em Goa, e somente a partir de meados do século XVII se foi enriquecendo Peulatinamente com algumas novas imagens holandesas. Ao contrário, os pintores E a=es registraram, entrementes, com maior zelo e precisão nos biombos da arte namban Ros seus ukiyo-é a chegada dos europeus e reproduziram paisagens, mapas, retratos de

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e de monstros ea a os ôni dem de os, anj de ade ied var a m Ne es. bot e caravelas, naus

s evel e nde gra os do an rc ma ca, íti pol e dad ali atu na até se mva Aventura

Ed 3: DE ONGHE Rddy & LUNJTEN, Ger. Spiegel van alledag, Nederlandse a (eds.). Los Austrias, Grabados de la Biblioteca

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LENHEE (ed.). onary Peter Dicti , ated BRINK of 7 7 DEN Tustr VAN 2001; York, w m/Ne erda Rott . Prints and ngs Drawi s, 2001; DE MAERE, Jan & WABBES, M. Bruxelas/Gand/Pari inters. Bruxelas, 1994. :

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a espia a um mo co e, ent alm Fin s. osa igi rel s sia vér tro polêmicas nas con 2 tal de o bol sím o pri pró O m ava ent res rep , ada ger por toda esta acumulação exa etos eto uel esq com te mor de a Torre de Babel, ao passo que as dodendansen, danças "EL

aviam sido registradas tantas formas e cores do mundo, com tanta aplicação apressada

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4 - O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

232

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDA

BRO UNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

seu | s governantes e popula seustasgosnip to ôni descos critivdeo eEdo anedót pela dive fissçõe ões,s.”os Noarti se ico assemE lhas E vida urbana e das a ; ese destacaram bastante dos seus contemporáneo POE Hamengos aa a tilezas das sempiternas paisagens montanhosas mais fascinados o E Já os pintores de miniaturas das cortes dos Mogols e dos & flora e fauna restrita. Já os p or curiosidade pelos europeus portugueses,

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recapituladas por Jan van: e ESC

Connist tinaent os primeiros pintores índios e ca o « es.mán ” Até Pom Gua a de Ayala, parecem ter documentad

paquias imenTEAanEo a bem que com um olhar extremamente cr invasão da nova Tê Ra e ê ai ejas andinas.!º A uma difusão confidencial ou Ea o Gs a devia, em primeiro lugar, Renee uase nulo de pintores flamengos ou hola e sai spa observar pelos próprios olhos estas pu SA nie a il iconográfico. Uma vez realizadas posar Ro : a à ne senai caseiros, ou quando muito iam tra obrigatória à ; 4

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. . Tóquio, 1972; CANAVARRO, PedEm ro et: o

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TE ANT Doris etalii (eds). Japa Namban, Les Portugai ? | 1543-1929. Berlin, 1993; PROUST, Jacques.; LEurope au prisme du Japor, Vi

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1492-1992. Berlin: Neue Welten/Neue Wirkli

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2004. E om the

ilha, Madrid, Praga, Londres ou Paris. Simon a partir dos anos de 1560 embarcaram para pit E os outros poucos flamengos, o México ou o Peru, produziram lá nas obras religiosas e nunca mandaram imagens para casa.” Se alguns marinheiros comerciantes podem ter feito esboços amadorísticos para uso particular ou para agradar igos, esperou-se quase um século e meio até o mecenato do govern ador João Maurício, cife, para ver-se desembarcar pintores formados, como Post e Eckhout, com o encargo eção dos índios brasileiros trazidos pelos holandeses nos anos de 1620-40, que "ae ss | hiialmente E de o dem ol sp ca o eurocentrismo |estes produtores de imagens se corre acionava sem. úvida também a grande disponibilidade de outros tipos marginais, selvagens, cigano s, bufões,

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ficos de casa podiam amplamente satisfazer a nova classe burguesa, ávi da de manifestar própria respeitabilidade e de distinguir-se pela inversão das classes sociais.!* A descobert a selvagens americanos estimulava um novo encanto pelos primeiros hom ens e pela préória em geral, como no quadro Os primórdios da civilização, de Cornel is van Dalem

3, Rotterdam, Museum Boijmans Van Beuningen). Ao mesmo tempo, a procura da nificência exótica pelas elites se saturava mais fac ilmente com as turqueries exuberantes pério Otomano, valorizadas pela escola veneziana de pintura e introduzidas nos Eos e

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O onientalista da Crucificação (ca. 1501-05, Bruges, Groeningemuseum). O fascínio

Brandes turbantes brancos e dos cafetãs de seda deix ava naa sombra os cocares dos | . a E SHos asteca

e inca.!*

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e o “outro” a duas

Este reducionismo generalizador, limitando o olha r flamengo E opções

de estereótipos

com

plementares, se bem que algo raditórias, isto é ] : em o o oa dd5 am c PE Fam ERA Pode er S ca, mas nãoa deixa de ser um pouco elementar e simp list a, "390 quando confrontado com a represen tação do africano na arte flamenga e =



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pintura E itriga e as riquezas açucareiras na América colonial”, in VIEIR A, Alberto co quoti iano. Funchal, 2004, pp. 363-84.

ali (eds) Ro Sm

den. eé ra Ant uérpia/Ga Antué nd, rpia, ca,EN,BruidHelgvan 1992: 1993; VON Ameri de ).zon,He à E KÚGELG a (ed. rika en de Lage Landen. Antuérpi Att É Ben)a SCHMIDIT, Benij 2002 ; Mad rid/Frankfurt, nie y la mirada europea. Pr jon and and the the New World, > 1570-1670.E Cambridge, 2001, | E broad. The Dutch Imagination

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|

flamengos por Pieter Coecke van Aelst, nos seus Moe urs et fachons de faire des Turcs j Hon de la court du Grand Turc (1553), ou, mesmo antes, por Jan Prov oost na sua

dest

“A Legen Jahrhundert, Idstein, 1988; WINIUS, SE gica “Eiohtv' Years W ap”. in La imagen delin White: The American Indian E o STO ReiRa e RT Rudy ( de ). Flandre et Amé + 1 0, ; E E 4 3 x '

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de enfoque no imaginário flamengo. Mais do que os sel vagens americanos, os

Paris, 1976 |

1992: GOLIN, Susi. Das Bild

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ndigos, vagamundos, e, sobretudo, camponeses, que disputavam a curiosidade e a mazia

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, japonês, indiano ou índio americano, com

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lícito de reunir uma documentação visual.-*Por outro lado, até este período, nos próprios es Baixos, não chegou qualquer chinês

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rival do Prado & FILHO, Luiz Emygdio de Mello. Albert Eckhout, A presença da Século

XVII. Rio de Janeiro, 1989, pp. 78, 83, 85-7, 123-5 e 126; BUVELOT, Quentin TEEckhout.

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A Dutch Artist in Brazil, Haia e Zwolle, 2004: CORRÊA DO LAGO, Pedro &

Frans Post, Le Brésil à la cour de Louis XIV. Paris, 2005; KREM PEL, Leon (ed.). 2-1680). Painter of Paradise Lost. Munique, 2006: MARTINS

TEIXEIRA, Dante. A ui Kessel, o Velho (1626-1679): uma visão seiscentista da Fauna undo. dos To J i É s re, DOS a na sare de ande Vertoog over het zelf. Antuérpia, 1987: BARTRA, Roger. El » México,

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+ PaStair Arabische cultuur en Ottopracht maan in Antwe se rpens Gouden Eeuw. Antuérpia,

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234

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATIAN

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holandesa. A respeito deste “outro” exótico, os pintores e escultores dos Países Bai parecem ter aberto um leque social muito mais diferenciado e contribuído com || visualização mais rica e realista.»

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canto a idealização quanto a diabolização de sua valentia guerreira e sensualidade. Dois mavaleiros negros com turbante participam das lutas numa tapeçaria de Tournai, O Saco de Tróia (ca. 1465-70, Pasquier Grenier).º Entretanto, surpreende a ausência de guerreiros | eg os ou de pele escura nas grandes séries de tapeçarias flamengas sobre os conflitos dos reis portugueses ou espanhóis com o mundo muçulmano, como a série da Tomada de

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As primeiras representações do africano como cavaleiro, príncipe ou rei no imagim

“Arsila, tecida em Tournai (ca. 1471, Pastrana, Igreja Colegiada), dos Sucessos e triunfo de

“dom João de Castro, na Índia, de Michel Coxcie e Bartholomeeus Adriaensz (1555-60, “Viena, Kunsthistorisches Museum), ou da Tomada de Túnis por Carlos V, do ateliê bruxelense

ocidental têm origens bastante antigas e remontam, pelo menos, às conquistas roms Um soldado romano, canonizado como São Maurício, era, em analogia etimol ica sua origem da Mauritânia, representado como negro nos painéis em sua d evoção Francônia do século XVI, ou no painel lateral da Adoração dos Reis Magos, | lo p alemão Baldung Grien (ca. 1507, Berlim, Gemãldegalerie). Entretanto, o culto à estes

“de Willem de Pannemaker (1564-66).

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Esta falta contrasta com a abundância na onomástica dos Países Baixos de topônimos E patronímicos referentes aos mouros para localidades, como Moria enshooft (Cabeça de Mouro), uma perto de Oudenaarde, em Flandres oriental, e outra na Zelândia, assim tomo para nomes de ruas, como em 1550, a nova Moriaenstraat de Antuérpia, ou para albe gues, lojas ou residências, como duas casas Den grooten of witten Moor (O Grande

Tau

não parece ter tido grande expansão nos Países Baixos, salvo na igreja deaia

em Lille, onde uma pintura de seu Martírio, de Jan Boeckhorst (1661, Lille | alai Beaux-Arts) o apresenta apenas com traços amulatados. Três cavaleiros negros, ricz vestidos à borgonhesa, aparecem ajudando o imperador Constantino a estz eles corte em Constantinopla, no livro de miniaturas La Fleur des histoires, de Jean N

Mouro) ao lado do Zwarte Moor (Mouro negro), na Hoogpoort 50 e 52, em Gand, In t Mo inneke (Na Moreninha), em Louvain, ou De Moriaantje s (Os Moreninhos), em A nsterdam.”” Em Liêge, no Neuvice 55, a casa Au Moriane, datando de 1653, leva na fachada uma imagem de negro. Het Moriaanshoofd era também o nome de uma cerâmica

(Bruxelas, Bibliothêque Royale, n.9233 fol.7). Mais tarde, as guerras de Carlos! ' as

seus contatos com o califado de Bagdá reforçaram a fama e valentia dos mouros afrie

Uma embaixada de Harun-el-Rachid a Aquisgranis em 801 para homenage ar on Ti cristã pe o e prestar tributo ressurgiu na memória européia, em meados do sécul o RA entral, e resultouen "tem de pintur Gharl a, com enasnvários e:(camouro 1660:s,65;de Briste Jacoblas, Jorda ens,René paraWin: umadA série de ca 661. cartões Ed 2

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cruzadas Arras, Musée des osBeaux contra -Arts ; tapeça mucul ria Itália, manos , sejam Roma, Quirinale). no Orien m, é o te Médio sejam També na PeRER NNN sê a

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iransini Africa Black of yal Portra The Eyes: an Europe in s African Peter. MARK, 1978; ne, Lausan

E É | a cn o M ss iRDs ue vo nato vo; E Jlúxelas, na Bergstraat, E. o E Ee imprimia e vendia seus livros Sub signo trium Aethiop um ou Inde dry o ia Moriaen, escrito em flamengo, dentro da tradição dos romances | : ias aa E eTR d E : Arthur, protagoniza e E e dle roupa preta, eAcg aval com uma nobre rainha moura , en, e que, Neide diferentem ente do que

E Sob ie a É eEN E E Ek e gura Es do cavaleEa iro mouro sobrepôs-s o mito do Preste João, muito celebrado Ev critos dos Países Baixos, e fixando-se até como nome de família: Papejans.? Es 9brimentos portugueses na costa africana, o desembarque em Lisboa de escravos

E sá ss cada Vez mais numerosos, os contat os diplomáticos e missionários com o rei do “td e E imperador da Etiópia fizeram do século XV nas palavras de Jan Nedervee n toria 4 Século africano”, enquanto 7 o século XVI seria “americano”. Fala-se até de | FP RanIsmo. Ainda em 1 “LE!

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Beelden van Afrika en zwarten in de Westerse populaire cultuur. dp

dge, 2

ey

EARLE, T. E & LOWE, K.J. P (eds.). Black Africans in Renaissance Europe. Gambit "a = " E era ir a st Dutch C t. “Colour Prejudice and the Yardstick of Civility: the Initial as e 5

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» CAMPBELL.

a

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é

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Tapestry;

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van Afrika. Baarn, 1989; CORBEY, Raymond & ec

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o Bernardin Surius, coloca o Preste João “em cima de todos os

O

Man, Apeman, Changing views since 1600. Leiden, 1995; NEDERVEEN im

: in

Se

E 666, um livro editado em Bruxelas, o Pieux Pélerin ou Voyage de Satem, do franciscan

FP

15th Century Europe. Syracuse, 1974; BASSANI, Ezio & FAGG, William B. Africa and ih Art in Ivory. New York/Munique, 1988; DA SILVA HORTA, José. “O Africano: pro ; ra de viagens. Lisboa, 1999, pp.

235

familiarizaram os cristãos com a existência de soldados mouros e negros, e fertilizaram

nu ada

sensei

3 - O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

|

DR

a imagery in a modern world. Bloomington, 1993; SENS, Angelie. 2001; NOR 1H visies op de wereld rond 1800. Universidade de Nimega, Tese de doutorado, A 2002. , Oxford 850. Africa's Discovery of Europe, 1450-1

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8. VAN AKEN.-

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Frans fico Pere ncsSaNce

E Nederiantische eai

pp. 575,

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* VANAI

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Ridder metter mouwen,

1993, pp. . 94-5

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a SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE4 TÂNTi

236

: PARTE 3 - O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

É

na

reis da África como o leão reina sobre todos os animais”. O Preste João,o impera etíope e o rei do Congo fusionaram, possivelmente por interação, na figura de um dostr reis magos que vieram do Oriente adorar o Menino Jesus no estábulo de Be ém: o Baltasar.? Este, se bem que no início às vezes confundido com o rei Gaspar s e fixando imaginário e persistirá até a época contemporânea, tanto nos presépios mais p opul: e baratos quanto em todo o tipo de procissões por ocasião da Festa dos Reis Magesos-1eistal Sa g tav spu Hamengas crianças as XX, século do décadas últimas nas Ainda Epifania. a a

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Em)

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o rei Baltasar, de Bruges a Antuérpia Os mercadores de Bruges foram pioneiros nestas viagens de ultram ar e nos “investimentos açuc

N

ha

areiros nas ilhas atlânticas. Entretanto, seus concorre ntes e sucessores

va Antuérpia, mais novatos, mas muito ambicioso s

conhecimentos e sua experiência junto aos reis de Portugal e de Espanha, tinham talvez “mais a ganhar nesta identificação com

os reis magos, pelos seus méritos de trazerem do “ultramar preciosidades exóticas.” Dan Ewing rec onheceu nos fardos de presentes representados no Tríptico do Mestre da Adoração de Antuérpia (Bruxela s, Musée des Beaux-

privilégio de poder pintar-se de negro e representar o Baltasar para ir cantar n as por

das casas e receber caramelos e outros doces. | com Foram os pintores italianos que lançaram o tema dos reis magos, se; em É representaram Baltasar, primeiramente, como um rei branco, eventualmente acompanh *

por um servidor negro. Também entre os mestres da pintura espanhola ou ca al, dita « tipo gótico, os reis magos são quase sempre todos brancos, como no Tríptico, de Diegc me

Vga

Arts) as marcas pessoais que mercadores costumavam colocar nas suas mercadorias. É significativo que particularmente em Antuérpia aparecia entre as famílias de comerciantes importantes, desde o começo do século XVI, a moda de batizar os filhos com os prenomes de de Gaspar, Melchior e Baltasar, como o fez Erasmo Schetz, mercador com passagem por Lisboa e fortes contatos com o Oriente. Em seguida esse hábito proliferá, até o começo do

|

DA

la Cruz (Catedral, Burgos), na obra de Alonso de Sedano, ou na Epifania, de Fernam

E

rcelona, Muse Na onal de Arte da Catalunha). A proximidar allego Fo 80-90, Ba TOS Z e expluicar ci a preferência pela cor branca. Em meados is E pin borgonhesa incorporaram esta devoção. Novo ímpe | jor proeminência alcançou o tema entre os pintores de Antuérpia, nas primei as déc: maior

do século XVI, é mantendo sua popularidade na pintura dos Países Baixos atépelo mei a a meados do século XVII. Sua produção e, inclusive, as numerosas cópias, ult ranass p

em pouco tempo várias centenas de quadros, que populari izaram o tema em quasquase todas igrejas de Flandres, ; mas que se exportaram principalmente para a Penín sula. béricz y mes sa as ilhas atlânticas.?2 A predileção repentina por esta devoção se estimulava: nm sob a influência da Renânia e particularmente da cidade de Colônia, onde est desenvolveu com antecedência e atraía muitos peregrinos. Seus comerciante: ediava ou m facilita REnuento vas a op raca co Panos que paquei a an mo : mengos suas relações comerciais ultramarinas. Inclusive, ta muitos alemães e a relacionaram pelo casamento. No Museu de Arte Sacra do Funchal conse ir a quadros de origem flamenga, negociados em troca de açúcar, como a Adoração | 7 E de Machico. | A

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e endiisiior Nimega 1994: RAMOS Manuel grão ecos ra

eras cogu a CISTOVÃO, Emas A

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destina

anel João. “O A destino etí à ppÉ 238 o Ye ope do Preste JoãSu,o: a 22. VAN HILDESHEIM, Johan. Les rois mages, Balthasar, Gasprd o TI E biei , Melchior: Vhistoire des bien n s ia ei pz ig,"ta120 Se AO Literatur und Kunst. Leipzlês KAPLAN, Paul, The Rise of the É Médici, ua14 459 Examining Benozzo Gozzoli's Procession of the Magi Fresco Cycle in the Palazzo Interpretation. WJGR, t. 12, p. 63, 2005.

e ansiosos de valorizar seus

século XVII, entre os della Faille, de Moucheron, Van Immersee l, Van Surck ou Forchoudt. Os impressores Plantin Moretus repetiram o prenome de Baltasar por várias gerações . Também albergues de qualidade gostavam de garantir o esmero de seus serviços os tentando — na fachada a tabuleta dos Driekoningen (os Três Reis), como em Gand » em Brug es — a casa

de Jacob Despars, mercador FR

es na Madeira, posta à venda em 1486 -, OU, talvez por associ ação com os Drie oriaen en (os Três Mouros), em i po Ç Breda, em 1683. Até o Eancioneiro popular flamengo desta época celebrava a vinda dos reis do Oriente, “menc = ionando e explicando às vezes explicitamente sua di ferença de cor: “Si je suis noir je suis bien connu... Je suis le roi du pays des Maures.. - Es tu le roi du pays des Maures, Tu as emi le soleil et la lune” (Se sou negro, sou bem conhecido como tal, - SOU O rei do país dos mouros... Se você é o rei dos Mour os, você es cureceu osolea lua).º » Nestes quadros, a cor do rei Baltasar variava como branca, morena, parda ou negra, Se aí bece m sque São predomE)ínio cresce e nte desta à última cor parece ser uma evolução partic ular no a e azia o alemão Step han Lochner, no seu Tríptico (C olônia, Catedral), Rogier van der Weyden ainda apresen tava no Retábulo de Midelburgo (Berlin, idldegalerie, 1445 -48) e numa outra Ad oração (1458-59, Munique, Alte Pinakoth “BSRE três reis como bra nc ek) os, distinguindo-se o rei Bal tasar apenas pelo turbante oriental e à barba. Quando muito, se podem notar nos quadros de Van der Weyden alguns traços

Ê

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b

Rs

a meo

Ereperenssão das viagens e das conquistas portuguesas nas Índias orientais na vida andres no século XVI”. in ROMERO MA GALHÃES, » Joaqui Joaq m & FLORES, Jorge Jorge Manuel Man : Ca Gama. Homens,

do EA açúcar 4 E on eod

Viagens e Culturas. Lisboa, 2001, t. 2, p. 11-38; ROMERO MAGALHÃES, Manuel

ts cn

. “O Doce nunca amargou... e nem em Flandres. A dinâmica do novo micas de PorÉ tugal com Flandres na época = de dom João III”, in :25. EWING, * Dan. Mag “Odoroide (ed.). ). D. J D. João e o Império Lisboa, 2004, pp. 453-83 b . k an d Ca Merchants: Civic Iconoggrarahyh and d Loca Local l CulCul turtur e e inin A Antwe rp Adorations, 1500“ |

VECOUSS

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SONS, FORMAS, CORO E MOV

= PARTE 3 - O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

mediterrâneos, ou ligeiramente amulatados, do tipo que se encontra em outro quadro Os sete sacramentos (Antuérpia, Museu de Belas Artes). A cópia da sua Adoração, feita r

nor uma capa de brocado, e com esporas nas botas. Compenetrado, numa expressão de "nobreza, é O Ee e três a encontrar-se em pé, mas um pouco de lado em terceira " mosição. Gerard David apresenta ainda Balta

ve e: s |

um seguidor (1460-70, New York, The Cloisters, Metropolitan Museum), mante

239

1465, Munique, Alte Pinakothek), e de Joos van Gent (ca. 1460-80, New York, Metrope | Museum), os três reis são brancos, com os vestidos característicos da corte borgont |

e a e do que

e namo aparecem im

o mas em O

acrescentando apenas um turbante oriental. Também nas Adorações, de Dirk Bouts

“Art Ad Artação ).verNa Magos, Mestre São qui efo sen negrode cla donsoo o ro, Ild o rei doé um Musedos Uni um), B s,aran., 740 sity or

Mais tarde, o próprio Van der Weyden apresentou um rei Baltasar negro ou moreno final do século XV esta metamorfose se tornaria doravante a regra nos quadros de que os pi

pis Santa -15 00, o

“coroa de ouro, enquanto nem seus traços faciais nem sua ea não s a iranpica mar Floalg actseríMe dosridout stimlcainpar à a a a pio d e é ea do osPrado, Museves (14ula u tid 79,r Mad , ros “Ja reiuma g tic ns, decarHan

todos os outros pintores flamengos. Foi provavelmente por sua influência

italianos e espanhóis do século XVII acabaram também representando o Baltasar co

p reié negro mesmo, esguio, de tipo mauritânio, senegalês

ou sudanê

pet

um negro, e superando o desprestígio desta cor numa sociedade muito mais marcac escravidão negra do que a Flandres. Negro, com coroa dourada, é o Baltasar d os vidre

“chapéu de lado de sua dou cabeça so cabelo crespo braço e as as per a ,E a Ves E na S Dus ado de: e como RE azu,l com rado de br e fundo uma túnica de brocado

(1559-60, Granada, Catedral e Capilla mayor), numa Granada conquistada apenas

Pinakothek), coloca, além do rei negro, mais quatro negros cavalgand d

Sevilha e Cádiz, Pablo Legot, representa na suas Adoraciones (Cádiz, Catedral el

Adoração, do Mestre do Santo Sangue (Milão, Coleção Robert Smeets a et

em outro quadro seu, O Panorama da vinda e do Triunfo do Cristo

flamengos Arnao de Vergara (1544-50, Toledo, Museo de Santa Cruz) e Teodoro de Hols século antes sobre os mouros nazarís.”º Por volta de 1640-50, um pintor flamengo ati

o seu lugar. Em alguns trípticos ele se encontra relegado no painel lateral. Esta preemir mes em favor de Melchior ou Gaspar se correlaciona, provavelmente, coma

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jaturistas

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Hamengos abriram o caminho a esta individualização. No Breviário de Isabel de Caste É E E dos E do Breviário de Dresden (por volta de 1488-97), aparece na Adoração dos

]

continentes ou partes do mundo, na qual a Europa imperava sobre os outros, Asia 4 sem, entretanto, afetar a equivalência colegial ou fraternal entre esta trindade dos rei do Congo tampouco se considera naquela época um colonizado. rent n a

ur

Magos,

ERRE

º

Portugal.” Grosso modo, podem-se distinguir dois tipos de representaçõesentre um“a bs de aspecto é roupagem mais simples e menos marcadamente negro, e outros! nitidamente negro, mas resplandecente em sua indumentária ricamente dare

' “homem

figurada com grande simplicidade por Gerard David, um rei Baltasar como gro de visual tão simppiesles ou c omum quanto os outros, em capa azul,

ne

*

Fo

+ So, com um Ur. chapéu ou turba nte vermelho na mão, Bapéu ã e atrás dele, um servidor com portudo.

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primeira versão se desenvolveu principalmente dentro da estilística devocional medi

;

semelhante, mas de chapéu azul e co

aparece no Stein Quadriptych, do ateliê b

O pintgucopieséiia numas Ge

| Piada dos dois lados por duas cabeças de nc

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SE PASSEAs iso

e Simon Bening

Etsabdp SEO de uma

entre os soi-disant “primitivos flamengos”, pintores de Bruges e Gand, ea segu h

E

mundana, renascentista e até maneirista, em Antuérpia, ou entre pintores COnN

four. a “e Bening, e pouco antes Gerard David tenham sido e a Michel d tenham compartilhado com Michel Sittow ci, o pintor Juan de Flandes, autor, pet o ú W, do Retábulo de Isa sli bel a Católica, com pelo menos 47 pequenos quadros.ºº

contatos com a Itália.

nose -—

Hugo van der Goes, um dos principais primitivos flamengos, imaginou RO s=555 8 prnCraISP ; - more! morena mais feição de rei um ie) egaler Gemãld Berlin, 80, (1472de Monforte negra, mas com cabelo bem crespo, descoberto, vestido numa túnica sóbria, tirifa =

“= “a

Vais E E A hESA

28.2. kRKREEN && MC M KEN É

26.7 NIETO ALCAIDE, Víctor. La vidriera del Renacimiento en Granada. Granada, 20 e» insá Histor Sor Kong gu

97. THORNTON, John. “Early Kongo-Portuguese Relations: A New Interpretation , E il 1981,t.

ci

gre ca vamente, a fisionomia do Baltasar se torna menos fantasiosa e hierática, e Ece onPro forma ssi da vez mais com o cotidiano e com um verd adeiro retrato. Esta inovação se aimibui geralmente a um desenho de Albrecht Diirer, ? que fez um esboço do retrato facial dCcial d de ps u | nm homem negro em Veneza (1508, Viena, Albertina). Na realidade, os primitivos e

os outros já O chegando ou acorrendo ao evento, até em passo de dança, enquanto

1

io

de Astúrias), de tipo banto, de aspecto mais grosseiro a MR sao a epebas Artes Os reis, pelo beiço e rognatismo, nariz forte e bochechas acentuados.

Jesus, e, frequentemente, ajoelhado ou inclinado. As vezes, Baltasar parece estara

od

rs

Fetinto é o Baltasar de Jerônimo Bosch (Anderlecht Igreja de São Glide | atento iríptico do Mestre da Lenda de Maria Magdalena fes 1520, Oviedo, M : sis a

uma posição ligeiramente secundária, em pé, detrás ou ao lado dos reis brancos Gas pa ra o M Melchior, um dos quais vem sempre posicionado mais no centro, de frente

ETREiA pero

Memling,

Eavalos. Bem negro também, mas com uma coroa dourada, se a re tries PME

Nuestra Sefiora de la Oliva) o Baltasar como um rei mouro totalmente negro, | Geralmente, Baltasar, aparentando ser o mais jovem, quase sempre imberbe, ox

Oriente Médio na cristianização, e, mais tarde, se consolida na hierarc ia e

dana

Es o Ena of Flemish Manuscri pts..., Pp. 347-9. o doras, de e À numph of Flemish Manuscripts..., pp. 458 e 46 9. Ver também O Livro de CP SHIKAWA. c n ; Hastings, British Mu | A, Chi seum, Manuscripts, Add. 54728. 200% pp. 98, 138, YO. EIS The Retabloão d Re la Católica by Juan de Flandes and Michel Sittow. “904, Turnhout, À

“hr

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS A

PAR PARTE

Neste retábulo aparece, no meio de seus tipos humanos mais meridionais, duas vez



Aalst, Joos van Cleve, e vários anônimos, co mo o Pseudo-Bles, o Mestre da

“Adoração de Lille, pouco ou nada inovaram na indivi dualização do negro, ienes

“seje descoberto, de cabelo crespo, seja mais freque ntemente com um chapéu vistoso, de “perfil, ou com O rosto apenas visível. Eventualmente, acentu am o brilho do branco aos olhose afinam o corpo. Gostam mais de ch amar toda a atenção para sua indumentária Elaborada de túnicas e capas, longas ou mais curtas, coberturas de cabeça, meias-calças sar dálias ou botas, de cano alto ou baixo, amarel as ou vermelhas, espadas ipi ds

jóias e tesouros.” Sobrepõem roupas e chapéus, como no Baltasar de um quadro anôni

Arte Sacra). Do mesmo pintor, um rei Baltasar, de feição apenas morena, com é pontudo coroado

Aix-en-Provence, Musce Granet, n. 1489), que, além de seu turbante incrustad

e ricamente vestido, ido, ( (1510-12, ) Londres, / National Galleryyon.na 279%

Clara), mas com uma túnica mais rica de brocado, botas de cano alto, espada chapéu coroado. Menos bem-vestido e quase popularesco, surge O Baltasar 10 trípt um mestre holandês anônimo (ca. 1490, Santo Domingo de la Calzada, Catedra

outro de Marcellus Coffermans (ca. 1575, Tenerife, Taganana, Iglesia de NuestraS

'pintores inven tam figurino inos s inspira inspi dos princip inci almente pela moda 10]! italiana e borgonhesa, nas, também, pela

a ; de las Nieves). vinda Talvez que estas figurações mais realistas podem relacionar-se coàm

E

roupa trazida da África, e os artesões po dem t er realizado estes modelos para seus Clientes. Importa lembrar aqui que os flamengos E

um Retrato de um príncipe negro, realizado por Jan Mostaert (ca. 1525-535, AmSt&i

Rijksmuseum). Trata-se de um homem de expressão segura e voluntariosa, Demavs

E Rs

e ne

inspirado destes jovens africanos na corte portuguesa para figurar ao

Magos (ca. 1524, Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga), um Tel e e =" suavizados, em comparação COMA acompanhante, de traços juvenis e mais lo da 1 d

Mostaert. Talvez já foi o caso anteriormente para o Baltasar do Retáb di Virgem, do Mestre de Évora, um pintor flamengo ativo em Portugal (ca.* MATR ; Évora).

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31. Guancho: indivíduo dos guanchos, antigos moradores de Tenerife nas ilhas

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e boubous do Senegal ou do Mali contemporâneo.

A cabeça se

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filhos à corte de Portugal, ou em embaixada a Roma, em 1514. Não ses ua f [ xadaa p( possibilidade de que um deles tenha viajado para Flandres, em uma embz aixad

seus quatro acompanhantes no Tríptico da Adoração, do Me; Bo : Philadelphia, Museum of Art, Johnson Collection). Mais tarde, Quim a a Baltasar mais como um retrato na sua Adoração (1526, New vo Também os pintores portugueses Gregório Lopes € Jorge Leal p : o 7

É

da época cultivavam um grande

| Algumas capas ou túnicas, branquinhas ou de cores muito claras e com capuz lemb

de luvas e com uma mão na espada. Tem a cabeça coberta com um barrete qe dá

Baltasar e (ca. 1504, trata o rei Museum).

e Es o E oEu

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VEBTO.

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nte api de guanchos?! das Canárias, ou até de algum príncipe africano. Recenteme

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Países Baixos de servidores negros ou escravos na companhia de mercadores portug

à Feitoria de Antuérpia, ou que tenha frequentado a corte da rainha Catarina imperador Carlos V: Quase como retratos de jovens africanos ou guan hos, a]

E

; aça e grevas, do Baltas : ifani fes da Epifa Mestre nia de Antuérpia (ca. 1520, Barcelona, Museu Nacio nal de Arte de a

— Er TIE

vermelho, com uma medalha sugerindo sua participação numa alguma e mariana. Podia tratar-se de um membro da família real do Congo, que1 aii

>

pedras preciosas, ainda levanta na mãoÀ um roma :corpontudo pedras cos . Sobrecarregada e Resto na ro a 6a vestimenta de inspiração neo- sombrei quase

parece mais com um retrato. Este rei, mais negro, de tipo sudanês, reap à ece em« de 'S adoração da escola de Memling (Burgos, Medina de Pomar, Real Monastério

dia

241

Pelocontrário, os pintores de Antuérpia, como Jan de Beer, Jan van Dornicke, Pieter “Coecke van

mesmo negro, com a cabeça descoberta, de feição humilde e bastante compenetrada a espad | tábua, que mostra a entrada do Cristo em Jerusalém, se encontra carregando a ressur lado de um grupo de curiosos orientais com turbantes; e na outra, que é sobre do Lázaro realizada por Cristo, ele fica atrás de um judeu ou de um mouroe rimi | algum ceticismo. Lucas van Leyden dá na sua Adoração (1510, Chicago, Col eção Ryersc o cabelo crespo como distintivo principal do rei Baltasar. Um negro semelhante, pintz de em grisalha, aparece num medalhão inserido na tela Nossa Senhora de Amparo, Gossart dit Mabuse, um pintor mais influenciado pela are italiana (Fun | des Musg

Ls

3 - O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

o 3 fu; õ É:

e

um pa e com Pesa

adeira obra-

| Eros de Bartholomeus de Brun (ca. 1520,

e

o

por três servidores

Mantos de leopardo aparecerão ainda no século XVII ma i E ams | Re ta anónima ou atribuída E E tes Eykens (Canadá, Saint-Michel de Sillery). Também se NR e os colares revelam a , E A Ou amuletos africanos. O sespnçõo ei

a E '9dos dourados, trabalhados em filigrana

o & maestria dos ourives flamengos.

E

devem

acaso

refiguren um

O

ui ses

vo ouro do do

eiro chatzkammer er, Gabinete de Preciosidades, se bem eimasináa 1 bsbu Ê : imperadores Mp aE ae D > É OUtros poderosos estavam constituindo nei i Baltasar da U E

E

Es

N

à

ui Georges. Pie rre Coeck d Alost. Br ux elas, 1966, É “ISCO (ed.). Las tab » PP p . 109- 74e 399-41 413: 3; FERNANDEZ : É f TENS, E en la Ruta Jacobea, San Sebastián, 1999: VAN DEN r

:

Idi E

É TRNEK (OS. Ei

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mar. |

PARD

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*d: ExtravagAnt! A forgotten chapter ofAntwerp painting, 1500-1530

t vil& hasVASSAL is de Nu m ara ReLO nas E

SILVA, Nuno (eds.). Exótica: os

mento. Lisboa e Viena, 20 01.

descobrimentos portugueses e as

É

242

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATI ium

3 - O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

Adoração, de Maarten de Vos, além de uma espada e uma coroa com pedras reciosas

ucée des Beaux-Arts) um Baltasard

leva nas mãos uma concha náutila e um cetro, todos ricamente trabalhados,> que, que in Jur com a capa branca azulada, orlada de ouro, contrastam com a pele negra de seus o Bram DIac

e pernas

desnudos

(1599,

Valenciennes,

5

Musée

des

Beaux-Arts;

outra

versão:

Dorotheum, 2005). Em majestade não perde nada para os outros reis branços,

Munie

Es

;

|

discípulo seu (Poznan, Museum Narodowe, n. MO1333), Baltasar se apresen tacos

membro da elite da época, distinto e bem-vestido como um cortesão ou letrado hum : acompanhado ainda por uma senhora negra do mesmo tipo. Jerônimo Bosch e set |

:

, Prado e Anderlecht, Igreja de São Guidon) entre uma figura quase sacerdotal, pe sibilina e indumentária branca, de tipo sudanês ou berbere, e uma outra de P Ra E “Brux

34. STOICHITA, Victor “La imagen del hombre de raza negra en el arte y la literatura i de Oro”, in VON KUGELGEN. Herencias indígenas..., pp. 259-90.

35. KOLDEWEIJ, Jos et alii. Jérôme Bosch, Loeuvre complet. Gand/Amsterdam, 2001.



ú “0a RE

ao

à E

;

1

2

Bruges

So

: (Munique, Dorotheum, 2005) um tipo mais etíope,

a Ra

em Eras msg

!

O

acompanhado

por uma

figura mais negra. A

discordante como no Tríptico anônimo (Amiens,

ea

vestido

e uma capa e um saiote,

Sa

amontoam construções imponentes.

Escolhem um rei mago intermediár! E Muse

aario

|

Boi a

Os unmontados - a ca valo.

Outros pintores como Pieter

OS

E

8 &

seus

filhos, Jan, o Velho e Pieter, o Jovem

(Bruxelas, Musée des Beaux-Arts "Arts, N. 3929; e AntuérEdo pia

parece mais simpl 8, N. SA e B). Seu rei Baltasar, geralmente de cabeça

dos Breughel. Entretanto, chega enroupado numa majestona ?

es, e sua postura se dissol issolve numa

UM

cia

E

*oordbrabants Museum) E

E

ar jovem e jovial



%

ogrono,

ui negro envelhecido, de roupa muito simples e Costa (M606h

Hertogenbosch

; Prefere um Baltasar e seu servidor bastante enroupados, com

N S reis Magos e o B arroco E

Rubens, Por sua parte. b

em ao gosto do barroco contra-r eformatório, individualizou poeira > Mas voltou a = Hegar a majestade do rei AC 90. À primeira *MUCrnis

Ud To

ar erce Ee Gi e

Gear cansado. Pelo

dromedários e no elefante. Pelo contrário numa Adoração, de Joos Vam Cleve, es

ELLA ARO

de

O

rSumentas como nostrípticos de Adrisen Isenbrant (ca. 1510-

E

nu, numa túnica vermelha com capa branca simples, o exótico exprimindo-s apeme

a

ateliês

tom um séquito de três à unisepidores yestosa longa capa branca e Egas com vestidos e rostos diferenciados, algur em um lenço branco em torro E Coingnet diferencia a cabeça. Também o pintor antuerpiense Gillis simplicidade, seu Baltas ar dos outros reis (ca. 1586. L Pela nNasário Catedral de la Redon » DO f Goltzius desenh: erra de gravuras sobre a Vida de Maria (1593-94), Hendrik

parece faltar apenas o Tosão de Ouro. Na Epifania, do Mestre de Pau i Barnabe (ca(cad 40, Barcelona, Museu Nacional de Arte de Catalunha, n. 64104), Baltasarane até

- AMA

à

am sar barbud o dos e amula reis sábi(León. C atedral). Inventam-se também três tado encont O ro como pumas encenações, eis sábios, n MM mérdia, Museum Mo pes n. 9), ro O nistingue sa sa Ra d

à se insere fas em né n ue não m“emne

banto, coroado com um boné bordado. Gerard David justapõe numa Adoraçe ú

outros

E. 7 izante, > mas trabalhando em Sevilha porvolt a de 1560, reduz seus três reis à ing à, ltalian á a Corpo; com um Baltasar barbud os de rostos bastante individualizados e de

dl

variavam suas versões de Baltasar (New York, Metropolitan Museum, Madr e

Em

;

Pieter de Kempeneer aliás Pedro de Giriban

ou até de escravo. Não se deve perder de vista que a escravidão vai se justifi cando « |

os protótipos. o caso do Tríptico, atribuído ao es e Matriz da Ribeira Brava), com uma figura mais amulatada, de cabeleira me borgonhesa, com um colarinho e um boné de arminho branco, enquanto no sem

num dromedário.

um

4

cristianização, mas, simultaneamente, vai encarnando melhor sua condição de sei

o Entretantonão, falavam representações do rei Poiacor qu

montado

3

VENUS, » de botas amarelas, com bonete bord ado ou trança do, brinco com motivo africano, completamente no estilo antuerpiano, aparece em Contraste de frente a uma paisagem total d despovoad i d a mente passo que no outro painel do rei de origem asiáti p a, fora de um muleteiro, ao

negro mais humilde, gente comum, igual a qualquer outro flamengo, coaduna me ni “tiro ae como espirito da Berto moderna, ou dos franciscanos e seu projeto ua

=



árabe,

E Dr Eu E

E

: Há o Baltasar revestido de toda sua majestade real, exalando riqueza e | segurança ma ci um parceiro respeitável para os comerciantes flamengos. O outro Baltasar, berber

-

aa

E

da E

E

tã negro que desaparec e q quase no este ( o rei mouro éS tão | claro-obscur o do quadro, $Se este( tipos contrastantes seriam deliberados, seu conceito se antecipou já nos quadros flamengo:

vam

E

ir

City Museum; Ojacastro, La Rioja, Igreja paroquial). Lambert Lombard

a

superficial”, e outra de Juan Bautista Maíno, com “un negro verdadeiro (...) lumine 1 hom claro, deslumbrante”.** A primeira figuração procederia de um branqueamento ddo e fé negro, facilitando sua integração social, ao passo que a segunda ressaltaria e valoriz ; : ira ir roi el mais a auto-afirmação e originalidade do africano Entretanto, na Epifani a, de E anci de Herrera, o Velho (ca. 1653, Barcelona, Museu Nacional de Arte de Catalunha, - 2416:

argumento de que facilitaria a cristianização dos idolatras africanos.

de

E

Baltasar, emburgesado, com colarinho branco sobre vestido preto, “lucía una negra

é

E

Ao

do século XVII entre uma Adoração, por Diego Velázquez (1619, Madrid, Prado), ond:

*

a

Baltasar

Ras SAR parte, a uma distinção semelhante que Victor I. Stoichta vislumbra na pintura. espanhe

Ea

Ea

táve

Esta diferença entre as duas figurações de Baltasar parece corresponder em br

à

a:

qmusto meridi ligeirsóbrias onal,em ouroupas amente, amula som servidores mais mulatos, ou quase aparen negroscia , mas todos e aindatado >

ENIQUE

+

Anai

248

J

244

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATANHE

PARTE 3 - O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

245

e. -H

steriormente na coleção real (Madrid, Museu do Prado). Para fio raro : na s, Rubens se inspirou em uma cópia que fez do retrato do rei de Tuninis Balt asar s, Mii da

Ahmad, a uma pintura, perdida posteriormente, de Jan Cornelisz Vermeyen, Es e tinh Carlos V, em 1535, em sua cruzada a Tunis em apoio a este pretendente |

Em

Durante quase três séculos o rei negro Baltasar se tornou uma figura onip resente e indidsspensável, rep epresentado em quase todas as expressões artísticas, nos retábulos, nos

vitrais e até em bordados de casula.”” A tapeçaria flamenga repetiu o tema desde A Vida

tao

EE:

acompanhado e trono, elabo sa série tapeçarias sobre o evento. No reretrata de ono, Rubee ns (Borou ston,os cartõ Museesumde ofuma Finefamo Arts), Mulayde Ah mad, de rosto mais mouro « e e 3

da Virgem Maria (1500, Beaune; e 1523-51, SaintBertrand de Comminges), O Velho e

Novo Testamento (1501-18, La Chaise-Dieu) e a Adoração dos Magos (ca. 1520, Copenhagen) até por volta de 1750, quando o ateliê de Vand en Borgt em Bruxela s ainda produzia e | . 38 conseguia vender o tema. Este vedeti7 smo tri1 unfante e quase peren e de Baltasar pode talvez explic

SI

“Á gRa pie o, com o na esp Uma a mã ada dou radnta outra versão aprese a, tra impomai nesntenegtur tem bra a túni umz um rosto robanco tranco ços e ainumda mai

ara quase inexistência de outros santos neg ros, como B enedito ou Ifigênia, “no imaginário de Flandres. Mesmo a religiosidade protestante, menos propensa a este tipo “de devoção e avessa a admitir imagens e quadros nas suas igr ejas, não conseguiu eliminar a Driekoningen

faiivi idnializados ind

(Cambridge, , Fitzwilliam Museum). No quadro destinado à. Antuérpia rei Baltasar de Rubens, de rosto mais negro, tem o mesmo turbante, mas com umac pen, q ínica e uma faixa adornada com pedras precio sas, ao passo qu eu uma Uee azul, uma túnica iro, repetindo um rito antigo. Mais do que um momen ERR A no Pe Rd doe Rubens, ocupando metade do quadro com da pino Mi ie Ge cara Ear Re Gs presta uma porten tosa homena carregadores ; ao comércio internacional, adaptada à sua destinação num lugar profano. Ruben s pir ainda várias outras versões do mesmo tema (Groningen, Groninger Mu no lc Te E

PEA

Museo pe mg a particular), variando a posição e a cor da túnica do rei Baltasar, a feição do 2 à | colocando ainda dois negros como tocheiros. a | a :o O feitio mais suntuoso de Rubens suscitou vários seguidores, como Pora | Abraham Bloemaert (1623-24, Grenoble, Musée), Cornelis de Vos (ca. 1630, Antuê ilha,

RR

feest, ou a Festa dos Santos Reis, que continuou

* Salomon de Bray (Paris, Louvre), nem abandona ram o próprio tema da adoração.

"O batismo dos africanos e sua entrada na comunida de cristã

, Entrementes, os calvinistas ; primeiro em Flandres, e mais “a E Do tarde, sobretudo na o: a da leitura da Bíblia e dos come »P ; ntários das Atas dos “Apóstolos por Jean Calvin, temas concorrent es, a Entrada da rainha de Sabá em Jerusalé m é sua recepção pelo rei Salomão, e, principalmen t e, O Batismo do camarista ou eunuco etíope pelo Apóstolo Felipe. A rainha de Sabá e sua companhia são representadas tanto

Museo de Bellas Artes), Artus Wolffort (ca . 1630-%

b Jordae

ns (Cherbourg, Musée Thomas Her Antuérpia, pAnseu e eae ca fora Cornelis de Baellieur (Bruxelas, pas ace d as ux-Arts), € Antué rncaiBEa ione: (1 621-25 Lille, Paladeisdes Be: como Georges cette

Ê app

agp sado em D arau e porv Arts), ou Jean de Reyn, Biseipulo de An thonie a o Municipal) Cine: be m negro | de 1640. Na Adoração deste Gio: (Rer gues Mu fundo anote um jovemn STO turbante ocupa RM ad

ii

So IMpressio

com jóiaSE s Te

bn

r van Loon (Malinas, Begijnhofk pi

seu Baltasar em segundo plano, mas resplandecentes as al Muse

uma pequena coroa em ciima ma do turbante (1624, Utrecht, Centraal ver Mus: situl Ja be a na sua Adoração (ca. 1650, Greenville, Bob Jones A rei do tipo breugheliano, de capa branca mais simples e fita branca aos | a e mas num colorido brilhante de seda, de uma elegância quase feminina,

ajoelhado, uma posição mais central.

€ 06H

tomo brancas quanto como negras, ou até misturadas, como no quadro Salomão e a Rainha de Sabá, de Jan

Boeckhorst (Antuérpia, Coleção particular).“º A figura do camarista WEBTO Encarnava o ideal protestante do batismo do adulto consciente e a sua ap licação a

Um africano mediante um preparo e bom conhec imento dos textos da Escritura Sagrada. “Apareceu, dentro do etio

pianismo supramencionado, já no co meço do século XVI, numa miniatura do Livro de Horas de Carlos V (ca. 1524, Viena, Biblioteca Nacional, Cod.1859, E 84, 1516)

como um negro, bastante humilde ainda, nu, com apenas um lenço branco é Ti, âmoda cor ei Baltasar dos sup racitados primitivos flamengos. Maerten van F RE erck (1569) e Hans VanÚ Elbrucht j este + | último para a catedral de Antuérpia (ca. | 60, Rotterdam, Muse h useum Boijmans van B euningen), parecem ter sido entre os primeiros | À 108 F

j o

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“ F

tee

NEYRIE-DAGEN:N, , Nad a eije, 36. SUTTON, Peter et alii (eds.). The Age of Rubens. Bosol, Eds 3:YorLA k, 1999: VERGARA Ale,j E

Paris/Hazan, 2003; SCHAMA, Simon. Rembrandt's Eyes. Ne (eds.). La adoración de los Magos. Madrid: Prado, 2002.

=CITIS

E

aa io

4

em

polgando as crianças * pela expectativa de distribuição de doces e mereceu vários quadros de Jan Steen, ou mais tarde de Cornelis Troost (Haia, Mauritshuis, n. 192 ).%º A] guns pintores holandeses, como

e

Do Ativerp Altarpieces..., pp. 45, 101 e 141; HELBIG, Jean. Lesvitratx dela premiêre moitié mae —o conservés en Belgique, t. 1, pp. 613, 136€ 278; et. 2, pp. 266 -7: HUSBAND. The Luminous no Ao /0-1;e 150; DEFORR, H. L.M. (ed.) Schild eren met

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CEL,

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39, VAN WAGENBER A ET E Re

E £.22,199 Em

e.|

(eds).

x 5, “00

so

:

E

gouddraad en zijde. Utrecht, 1987, pp.

Tapisseries flamandes sous Charles-Quin;t. Mal a inas, 2000.

N, Anke A. The Celebration of Twelfth Nig ht in Netherlandish Art. Simiolis,

+ porE: izabeth.E “Sibyis, j Sheba and Janan BoBoeecckhkhorsort's sts Par P ts off the the WoWrl orld”, d”,in in BAL BALIS, Hor IS, Arn Am iss ououtt et et aliiali ant Bij , dr pp. 357.70 agen tot de kunstgeschiedenis der Nederlanden (15de-17de eeuw). Bruxelas,

246

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE |

ouRTE

=

pintores a encenar o tema em grandes quadros, enquanto Philips Galle prodn=:

at ibuído a Jan van der Straten (Bruges, catedral de São Salvador, segunda metade séc. XVI); um negro entre

E mais representados pelos pintores holandeses, deram-se ao etíope ares mais Na maiecras Bc como no quadro de Matheus Molanus (1613, Antuérpia, Museu de Belas Artes). Na figr | seu prota sOnisTd de David Colyn (Hamburgo, Kunsthalle), o camarista perde paisagem, seus cinco servidores, a carruagem e toda uma tropa.” Rembrandt inter a

os assistentes à predicação do apóstolo e outro salvando suas relíquias das chamas nas Cenas da vida de santo André, de Frans I Pourbus (1572, Gand, Catedral São Bavão); no Sacrifício dos Israelitas, de Maarten de Vos (Haia, Mauritshuis); um rei negro e uma mulher negra assistindo à circuncis ão do Tríptico da vida do Cristo e da V ircem Maria, de Frans I Francken (Gand, Museu de Belas Artes, inv. S-95): ou no Martírio de santa Bárbara, de Theodoor van Thulden (ca. 1633, Dijon, Musée de S Beau x-Arts). Excepcionalmente, apareceu um negro até entre os pastores, como em duas vers ões da Adoração dos pastores, de Maarten van Heem skerck (ca. 1540, Haarlem, Frans Hals Museum). Há duas figuras de pele escura com turban te e um negro com fita na cabeça na Predica ão de são João Batista, de Pieter Breugh el, o jovem, e outro negro também no q adro do mesmo tema de Bartholomeus Breenbergh (1 634). Na Torre de Babel. de Tobias Nerhae

=,

o tema, dramatizando a incredulidade dos outros negros (Utrecht, Catharij 1€ En

Parece que se inspirou de uma gravura de Pieter Lastman (1623), mas teve por HE

He vários seguidores, como Jan van Vliet (1631, Amsterdam, Rembrandthuis)

Nauwincx (ca. 1641, Paris, Louvre) e Jan Both (Londres, Coleção Real). Pouco ap . a evento ganhou mais pompa oriental. Aelbert Cuyp, mais especializado em paisas cenas campestres com animais, realizou duas versões, por volta de 1642 a 165 q conseguiam harmonizar com êxito a submissão do negro, o luxo distinto de sua r )

de sua carruagem e a curiosidade menos incrédula de seus três ou cinco acompanha Em uma encenação ainda mais exaltada, Abraham Bloemaert (1620-25, Jtrec EG Museum) ajoelha o eunuco em postura frontal e em total aceitação na frente de

caravana de negros do tipo janízaro, todos ostentando um vestuário em nad a infer nm mais suntuoso rei Baltasar. A crescente popularidade deste tema se relacionou, sem dúvida, com as perspe de missionação, vislumbradas doravante por parte de alguns calvinistas holanc ese

África e nas Índias ocidentais e orientais, e que eles pretendiam intensificar, po motivos. Nos seus conflitos com os portugueses, procuravam, à sua semelha vantagem, ganhando mais apoio de indígenas conversos. Uma figuração interessar

pas chinesas, quando estes reconquistaram a ilha de Formosa.** Um dos primeiros negros, Capiteyn, mereceu um retrato muito individualizado. Alguns, pressentinds das luzes e do pensamento crítico, como François Valentyn, no seu Oud en Nie

|

at.

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Indién (Dordrecht, 1722-26), dissociavam a origem da cor negra da maldição ” ]

Cam e já preferiam explicações de ordem natural.

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|,

do eu Tanto a representação do Baltasar mais humilde, quanto do batismo A Ss cr al do facilitavam a inclusão dos africanos como gente comum na comunhão aberturas da evangelização se evidenciaram pela sua incorporação e prese Içê emo temas religiosos, como figuras de pele escura na Coleta do maná, do Mestre do Mar 1460-70, Douai, Musée de la Chartreuse, n. 792); um negro bem-vestido com |

História dos Ossos de São João Batista, de pintor flamengo desconhecido (cê . 1490

E Jp

à

|

cht (ca. 1600, Antuérpia, Museu de Belas Artes), vêem -se turcos e negros chegando com sua caravana.

'Mais frequente é a presença de um soldado neg ro, como na Subida ao Calvário e na rueificação do Cristo, dois retábulos de Antué rpi a, no Panorama da Paixão do Cristo, de Men g (1470-71, Turim, Galleria Sabauda), no trí ptico da Crucificação, da escola de ] dem E (ca. 1515, a

Haarlem, Frans Hals Museum) e de Bosch (Ro ncesvalles Colegiata) num: pintura de Pieter Coecke van Aelst (Lo ndres, Hampton Court) eno Tríptico do esa as Dores, atribu

j

esta temática da conversão se encontra no negro suplicante no Sacrifício do p rec Hambroeck, quadro anônimo (1662, Amsterdam, Rijksmuseum), relativo às erse

ído a Pieter I Claissens (ca. 1550-75, Be rgen op Zoom

ep ea Uma tapeçaria do ateliê deste mesmo van Ael st (1511-18, Madrid Palácio Real) leva n | = sa o do africano a inscrição Mori, associando o mouro com a Grs do Cristo. A E E E oa no tríptico O Último Julgamento (1467-71, Gdansk, O e E as o Aa um negro entre. os eleitos e de out ro entre os A Dos, pre eram todos pintados como negros. Rubens,

E

o 69-70. 42. WHEELOCKJR, Arthur K. Aelbert Cuyp. New York/Londres, 2001, pp. 106-9 e 1523:

43. ROETHLISBERGER, Marcel G. Abraham Bloemaert and his sons. Doornspijk, 2 t, E pes

44. Reproduzido em BLUSSE, Leonard & OOMS, Ilonka. Kennis em Compagnie. Amsts sue

Y

“a

pretação

barroca

do

mesmo

tema

(1615,

Munique,

Bayerische " esammlungen, n.890), coloca o negro um pouco menos em evidência, abaixo iaEsE as ce ns ão eir. tos » a dO Passo que entre os caíd soas de pedo les eselcu os no inf: erno figuram apenas algumas — Entretanto,

UEOSsa T.

à presença do ne

e é fregúente em outros quadros seus de temática

paia rancisco Xavier ( 1618-19, Viena, K A Lapidação de São Estevão (Valencien nes, Museu de Belas Din

istori

çã e Belas Artes). A este efeito Rubens se valeu de retratos com quatro posições diferentes (161 3-20, Bruxelas, “Arts, n. 3176). Q uase 350 anos mais tarde, por ocasião de uma grande Es Sição em Bruxel as sobre Le siê cle de Rubens, em 1965, o influente crí tico de arte, Leo a “Ide, celeObrou o ta in lento d e Rubens de “ter escrutado de maneira tão profunda a 2 40 Mesmo Ingenua mentalidade do negro como ta mbém de ter captado o » Fls o". Numa Bélg ica que nestes anos ainda Ny

41. BRIELS, Jan. Peintres flamands en Hollande au début du Siêcle d'Or, 1585-1630. Antucip'

247

Kunsthistorisches Museum); uma figura mais singela no tríptico Cenas da Vida da Virgem

gravura em 1582. Sobretudo no século XVII, quando se tornou um dos temas re ais E

3 - O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

248

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLA de fe

edulcorava seu passado colonialista no Congo, a reprodução deste estudo serviria

impresso nos bilhetes de 100 francos, como prova de sua boa vontade paternalista

com o homem negro. Um dos discípulos de Rubens, Gaspar de Crayer, executou, ante 1637, um estudo semelhante de um jovem mouro (Gand, Museu de Belas Artes, n. 1%

“PARTE

3 - O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

ig

249

cada vez mais pela sua beleza anatômica e pela força atlética. Nesta linha, Juste Le Court “esculpiu quatros negros, servindo de atlantes, portentosos na sua foupadrirta para o monumento funerário do doge veneziano Goivanni Pesaro (ca. 1665-69

Maria dei Frari).

eneia

Santa

uma expressão bem mais desajeitada, e, se ele preferia geralmente nos sex s quad; RS E e RR nd T + temática religiosa uma figuração mais orientalista, os monEos aparecemieaa ima vi de desenhos, gravuras e pinturas seus.“ Esta banalização se encontra ainda em ot

| — Bem mais rara devia ser a presença de negros de categoria social elevada em quadros sobre o circuito científico ou artístico. No gênero dos Kunstkamers (Galerias de Art e) ) Willem van Haecht mostrava na sua Visita de Alexandr agno o dà oficina ofici de Apelles (Haia, Maunitshuis) dois africanos, cada um num grupo de trê RA= = S pessoas, como se foss e uma ' a éplica laica dos três reis magos: um com turbante vermelho , admirando quadros, junto E.

Gerbrand van den Eeckhout (Haia, Mauritshuis, n. 1084), ou José distribuá indo trik

je Frans Francken II, circula um negro, mas mostrando um globo a um cliente. É pres ente ambém no Gabinete de arte de Jan Snellinck, de Jerôme F

que serviria em seguida para seus quadrosA crucificação (Rennes, Musée des Beau; e o Martírio de São Lourenço (Gand, Museu de Belas Artes, n. 67).ºº Também Rembr: cap o a

a

se dignou a fazer o retrato de Dois negros (1669, Haia, Mauritshuis, n. 685), mas pa



no.

4

Eh

e

quadros, como Paulo e Barnabé em Listra, de Jacob Jordaens (1645, Viena,Akade Rebece Bildenden Kiúnste, n. 663), ou mesmo de pintores holandeses, como Isae ac Egípcios, de Nicolas Van Helt Stockade (1656, Amsterdam, Palácio Real). Jan

“o

Stee

mostra poucos ou nenhum negro nas suas cenas domésticas ou popularescas, admite: nos seus temas religiosos, como em Moisés derrubando a coroa do Faraó (Coleção part

o Casamento de Tobias e Sarah, Ahasvero e Belshazar, Sansão e Dalila (Colônia,We «NBR Richartsmuseum), e Jesus no banquete de núpcias de Canaã.

í

eM,

rs

RR

RR:

lusée des Beaux-Arts, n. 2628), e reaparece, : com Z

despir; dO lado tn

tuniosidades no Kunstkamer, de um anônimo (ca. 1650 , Norwich, Castle M useum).).N Numa Vanitas A fascinante, de David Bailly (ca. 1650, ) Cornell University Museum), , aa p presença d de negro, de boa aparência e bem-vestido, destac ando um medalhão com um | nto em imatura, no meio de outros símbolos do maior requinte cultural, consagra açã sua integr s e dos prazeres de uma Europ gração das ciência 9; mundo np mu >

A ascensão do negro na civilização dos brancos

“l

Por extensão, os negros participavam cada vez mais de temas de

À representação de reis

mito ogia o

da história greco-romana e de alegorias. Rubens, no quadro em colaboração Co

Breughel, A Natureza ornando as três Graças (ca. 1615, Glasgow, Art Gallery and A

Kelvingrove), introduz dois negros no meio da grinalda de frutas e legumes. Re apê no Baco bêbedo com sátiros (1616-17, Munique, Alte Pinakothek), e, um pou

claros, enlaçados com mulheres brancas, na Festa de Vênus Verticorde (163959

Kunsthistorisches Museum). Seguindo o exemplo do mestre, figuram tambem nes

r quadros de Anthony van Dyck, como a Castidade de Scipião (ca. 1620-21. Church), ou o Silene bêbedo do mesmo período, e de Jacob Jordaens, como O Me

santa Apolônia (1628, Antuérpia, Museu de Belas Artes),À fecundidade ou Hom

Pomona (Bruxelas, Musée des Beaux-Arts, n. 119), A Morte de Cleópatra (19)

f Staatliche Museen) e o Banquete de Cleópatra (1653, São Petersbt 80, BI samimits Alegoria cósmica, de Hondius (ca. 1625-30, Basiléia, Offentliche Kun

um negro com cocar, tal como três outras figuras brancas, segurar É E

DR

q das

da

prendem um sol para iluminar o globo. Ao mesmo tempo, o corpo dor 46. VLIEGHE, Hans. Gaspar de Crayer, sa vie et ses oeuvres. Bruxelas, 2 t., 1972.

uma Gas”

npPotTo S

ua

E o

47. DE VRIES et alii. Rembrandt in the Mauritshuis, Alphen aan den Rijn, 1978, P: 1/0 its Universidade de Amsterdam, anuncia um estudo e uma exposição sobre O tema na

Amsterdam, em 2008.

BE.

a 48. JANSEN, Guido et alii (eds.). Jan Steen, Painter and Storyteller. Zwolle/Yale, 122 “CR 49. D'HULST R.-A. et alii (eds.). Jacob Jordaens (1593-1678). Antuérpia, 1993.

a, que se julga civilizada, mas que

pressa também suas próprias dúvidas.

cipa

mbaixadas

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as: de

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jet a

de viagens, seja de holandeses

diseatiça

on

o a Besch iam

Iithet Gout Koninkcrijck van Guinea, de 1602, de P

Fi id

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RR

Pe

tensa de Olfert Dapper, seja em traduções de RÃ e | fee editoras de Amsterdam ou Leiden até es er a

mente no frontispício ou nas gravuras, reis Ed PHose cenas de mercado. Entre os retratos e

agi

guel de Castro, enviado Sar

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das

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a

4,

1

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S, Coleção particular). Ares sobera nos manifestam outros retratos dois Dj ignatários afri canos, Um guerreiro africano e Um a mulher com menino a

.

Daehao A [oe 1

SB, National Museum of Denmark

Wagner (163441, Dresden pe

e eum albi

“Covia, Biblioteka

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e as condições, nas quais teria rei Ro Congo ou de outro reino africano , acompanhado por seu

sa, E

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aa mo os de ais mais conhecidos sãoBrgãe

e

éSi“têza “Ckx ou Albert Eckhout (ca. 1643, dure e sobr — existe e AA E presença de Eckhout na ÁfriFca ri E “KN ROUt E,

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ria

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gur

abc - pdUma

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figura

eo feminina

Eckhout, aparecem ainda no Libri Picturati

onska). Anterior é o retrato, por Gerard Dou, de um jovem

| ÔNIG, Eliz eth A. Painti ReprPrododuzuzicido abem JOPPIEnu the d N ng and E Market i in Early Modern Ti]mes. New Haven/Lo ndres, 1998, p. 186. “R Maurits van Vision Haia, of Brazil” , Nassau-Siegen, 1604-1679. 1979,

in pp-308 VAN DEN -10. BOO

GAART, Ernst et aliiT (eds.).

4 O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATA

2H

m 128 o alg ial soc to atu est seu de o tiv ica ind vez tal , fino negro, com um penacho E seda en de pas Rou ). eum mus des Lan es sch hsi (1635, Hannover, Niedersác

aa jes em: jov um de ut, kho Eec den van nd bra Ger por o, rat ret um am riz particula NE a ell k Roc La 4, 5-7 163 (ca. ês and hol ou no ica afr l áve not um alg Elho ou servidor de Cod

militar africano um ar ent ost ece par ial ofic de e ent pat Uma . de) Mon u du Nouvea

A

Músicos e festeiros africanos E

v

de a Ge parcialmente de perfil e de costas, num quadro menos conhecido de autori Nacional de Arte de Catalunha, n. 6500 3), = Flinck (ca. 1640, Barcelona, Museo do que vem a ser um gênero especifica RN nas alguns exemplos São ape

espa m de caras e ças cabe es, troni 's moor e ns m s de I deke hoof aens mori os a, flamenga e holandes r noss inve e XVIL s como ono XVI s ulo séc dos os ári ent inv nos nvent a nci quê fre com m ura q que ue figngur moreninl um n, nse bro van rd pee te n rke Moo een 14) (16 se nis cke + de Filip I van Val eninhoe uma more; mor um , 34) (16 rch nbo are Sch van ena dal Mag de , nze bro cavalo de Heem com um em pedra, ou, de Guillaume Potteau (1692), um quadro de David de

negros emb ou ros mou de s eça Cab .”” rsas dive as frut de nda rla gui uma no meio de

s tal s algun os, livr ou as cart e sobr vo rati deco peso o com ido serv ou pedra parecem ter

exemp ar um ra Figu au. Nass de io ríc Mau João do ção cole na o com , origem romana (Madrid, Museo del Pr o Velh o el, ugh Bre Jan de a, Vist da oria Aleg da tos os obje também: em rec apa os, índi de has flec e res coca com s veze às os, Mouros esculpid Ant cariátides ou atlantes nos kunstkabinetten, os armários luxuosos fabricadosemda tanto para exportação como para as salas dos proeminentes flamengos (Antuérpia, N ça de Viiss pina uma , 1616 em Já .* eum) smus Rijk m, erda Amst e Plantin-Moretus; mam. E uma Rg proa, na ndo, provavelmente .



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A

navegou sob a invocação do Moriaen, leva mouro. Em Gouda, a casa Moriaen

construída por volta de 1625, servia primeii

A mobin ; : do exi , aco tab de loja e car açú de a nari refi o com te men ior ter pos e ria cea mer oia O . .

. Ceram leàza a da porta de entrada. Seue exotismo fascinante embe cim com cocar em E. |

: lgama surpre amá o o com , ejos azul de eis pain em seja co, taba de s pote em seja Delft, ção similar aos biom bos do na de negros com geishas e dragões orientais numa encenaae sé na pri japonêsA (ca. 1700-25, Bruxelas, Museu de Arte e História). Figuram até nas ph

a n num dos uzi rod rep s, ael ent Ori ca mar a sob o did ven , aco embalagens de tab

Se desta maneira se à 25€! o). ári Ont of y ler Gal Art o, ont Tor 71, (16 a nim anô morta, do negro como tocheiro, suporte € ea d

uma linha iconográfica de banalização

ou de relógios, como nas pen dules au nêgre, há também uma outra, que o pers

na |

des Arts dets ée Mus an Roh ais Pal Roi, du e mbr Cha , 0 4 7 1 . a c lo:o: ca. 1740, € E xemp j ; ; mpl bustos (um exe trate e cano Fou ei siapor Jean-Antoine a don €+ e que retomará novo fôlego na escultura de afri 5| :



Aassociação dos africanos com danças e músicos ocorreu, principalmente, por meio

“dos moriskesdansen ou danças de mouros, bastante populares na Europa central em relação com o avanço dos otomanos.” Nos Países Baixos se propagaram através dos contatos aimásticos com a Espanha, e particularmente a partir do casamento de Felipe, o Formoso

o m Joana de Castela, mas p perderam rapp idam ente seu caráter guerreiro, esconjurador e

Mrista para tornarem-se p puramente festivos. Na 9 asi cidades, com uma taxa de Ro ces alfabetização bastante elevada e uma; cultura popular muito orientada para espetáculos e : ro de rua, se executaram frequentemente em praça pública. Anteriormente, os teat

zamelingen "a 59. DENUCÉ, Jan. De Antwerpsche “Konstkamers”, Inventarissen van kunstver Eric. Antwerp A JONTIAS uit de zeventiende eeuw. Bruxelas, 1984-2002, t. 1, p. 303; t. 3, P- 401; et. 12, p: 21055508

l.on in 17th Century Amsterdam. Amsterdam, 2002, p. 201 at Aucti Artae Mich 1991. 53. FABRI, Ria. De 17de-eeuwse Antwerpse kunstkast. Bruxelas,

q ã “2

;

iá i portugueses dos duques s de de B Borgonha talvez nesta moda. Felipe, o ram luí inf já que e R

nentos

>

Ho n, causou-se com a infanta Isabel, e sua neta Maria de Borgonha com Maximiliano de

Habsburgo, cujo pai, o imperador Frederico, tinha ficado encantado no seu casamento

com a princesa portuguesa Leonor, em 1451, com a festa de negros e mouros oferecida na

corte portuguesa.” No banquete de casamento do duque Carlos, o Temerário, se apresentou * uma contrafação de um dromedário com seu cornaca,” vestido de dourados. Uma pintura provavelmente de autoria flamenga, sobre a vida de sir Henry Utton (ca. 1596, Londres “q. = National] Portraita Gallery), mostra uma festa animada por músicos e uma roda de dançantes *Entre Os quais aparecem cinco casais de crianças o o aca o m d ardi fitas e velas.** Na Festa de casamento no ardi Sebastião São de Artes sm no a Eua os, da confraria a (Museu de Belas —

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de Antuérpi Art E boné jovem negro usando um E

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Mestre de Francforte apresenta um

um boné branco S e batendo tambor para a dança de dois jograis. O

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tapeçaÇ rias com om f festas das ta, bara s mai sa ; gue bur são ver a num -se, del irar insp Uma ce pare a. rez RE nob alta à s ada Ellertimentos destin : E 41 Uma E

ertod E

Ba Poissonnier (Castelo de Gaasbeek

a : série Lhistoire de Carrabara, de

o de Brux elas), ostenta um negro semelhante, o. E 4 E inimando com seu tambor a moreno. Estes tist flau um de lado s ao ano cig de festa uma o saia lambores negros animam també ém o cortejo d . RE à psp a eda Índia (ca. 1504, Lisboa, Fundação E Paixão íptico da ,

a

o

Do de 89,128e 130,

= geen.

Volksfeesten en rederijkers te Mechelen (1400-1600). Gand, 1962, pp. 69,

e >= dobre danças de m ouros é cristianos na Espanha, ver Francisco FLORES ARROYUELO, J. De la aventura teatro 56. NASC c ta fiesta, Moros y cristianos. Murcia, 2008. it a, 1992, q, Aires ipa ji (eds.). Diário vi do Embaixador Nicolau Lanckman de Valckenstein. jário dede viagem à RAMADA CURTO, Diogo. “A linguagem e o Império”, in BETHENCOURT, o e, História da expansão portuguesa. Lisboa, 1998, t. 1, pp. 414-24;

“SAUND qa. JERS, A. C. de C. Social É History of Black Slaves and Freedmen in Portugal, 1441-1 555: é -A Car RAM 1982; ES, | Cambr 1997, idge, RODRIGU Ana e GR RãO, José. Os negros em Portugal: uma presença silenciosa. Lisboa

Rae

o

16e en 17e eeuwen. Antuérpia, 1932, pp. 1, 362 e 370; DUVERGER,

e

) E

DE Rene

TA, José. “O africano:

o) Condicionantes

1-301.

ue - Osnegros em Portugal - sécs. XV a XIX. Lisboa, 1999; DA SILVA rn

ÃO, XV-XVII)”, in CRISTOV e representações (séculos 1999, estudos e bibliografias. Lisboa,

iteratura de viagens,

Tele que guia camelos ou elefantes

o Th ET. “a Zido em PASTON-WILLIAMS Sara. ing& Eating. Londres, Cook of y Histor , A ing Din of Art The Para. , “HP. 136,

d

252

o

|

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATIÂNT

(Bruxelas, Musée des BeaweArts, 1

"PARTE 3 - O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

“sua substituição por dois mouros, que conseguiu reproduzir em dois autômatos. De pura

driaens: ;

5460) Ca

Adrichem, Jan Mostaert inclui no painel Ecce Homo

253

alegria pela sua libertação, Hakem se converteu adotando o nome de Martin para casar-

um trompetista negro de bar €

de um cavaleiro, no painel da Via Cri vermelho, com ainda outro negro, acompanhante No Retábulo de santa Auta (Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga), váriosm sicosne É

«e comE Martine. da cidade.muitos anos felizes e tiveram muitos filhos. Ainda hoje fazem nlciore Viveram parte

outro quadro anônimo, Chafariz del Rei, sobre a Lisboa do século XVI, os dois nm am

Da Itália renascentista veio a moda das bacanais. Maerten van Heemskerck foi um dos primeiros a introduzir o tema nos Países Baixos. Na sua Bacanal (ca. 1 536-37, Viena,

tocando instrumentos de sopro, parecem de inspiração flamenga, como também, > são. batendo o pandeiro para um jovem casal, de aparência flamenga, talvez comerciant

* Kunsthistorisches Museum), coloca ao lado do Baco, voltando do Oriente, cinco figuras

desembarcando do Tejo.” Na Inglaterra, por volta de 1576, a rainha Elizabete se dei >

negras, uma dançarina oriental, um menino segurando um bode, um sátiro bebendo vinho,

divertir por músicos e dançarinos africanos, se bem que duas décadas mais tar e decretc a expulsão

de todos

os infiéis negros

sob o pretexto

que consumiam

um bêbedo sobre pernas de pau e outro com máscara referente ao culto dos mistérios

os alimé

dionisíacos.* Do quadro restou uma gravura de Cornelis Bos, de 1543. Para o Altar dos

indispensáveis para o povo inglês.” Faltam retratos de cantores negros, que às vezes atuar: nas diversões aristocráticas da época. Uma cantora portuguesa negra, criada da rainh Isabela de Bourbon, teve seu tempo de glória na corte espanhola de Aranjuezr à aleg dramática La gloria de Niquea.” e. Entretanto, nos numerosos quadros das festas da burguesia, como também, nível mais popular, em outro tema predileto da pintura flamenga, nas quermesses rústie Wingk surpreende a ausência de músicos negros. Apenas numa Festa noturna, de Josse van Wi (Bruxelas, Musée des Beaux-Arts) se vê um negro dançando com uma dama e numa pi N de gênero, de Pieter de Hooch, um grupo de músicos parece ostentar traços 1 BrÓ

“tecedores, da igreja São Bavão, em Haarlem, o mesmo Heemskerck pinta, em 1546, um grupo festivo e dois elefantes com um cornaca negro e mais outras figuras negras no fundo “de um painel lateral com o tema a Adoração dos Magos (Haarlem, Frans Hals Museum). “Nesse quadro ele é um dos primeiros pintores a representar um menino negro levantando “a capa dourada do rei Baltasar. Mais de meio século mais tarde, um grupo semelhante de bacantes negros reaparece no Casamento de Baco e Ariadne, de Hendik van Balen (ca. 1505, Leipzig, Museum der Bildende Kunst), e no Triunfo de Baco na Índia, de Simon de

Nos (1603-76).” Negros participam da fantasiosa cavalgada marítima, com a qual Joris Hoefnagel embeleza alegoricamente sua Vista de Sevilla (Bruxelas, Biblioteca Real). Até

(Londres, National Gallery, n. 3047), mas podem tratar-se de ciganos. Deve ser am é

um quadro de tema religioso, Os Apóstolos Paulo e Barnabé em Lystra, de Bartholomeus

caso de uma mulher parda numa Festa aldeã, de Frans Boels, Os ciganos « | monopolizavam o exótico na zona rural.” É que, provavelmente nos Países Baix presença de mouros e negros continuou um fenômeno exclusivamen eu dê diferentemente da Península Ibérica, onde havia os numerosos mouriscos € é ei

negros no campo. Em ouros;j verdadealtos/d iro patrimô da cultura sonora da cidade de au constituiuoica salidem edoisniometros; cestides

verme ha

turbantes brancos, apelidados de Martin e Martine, que servem de jacquemart, uma o e de carrilhador, na torre do relógio da prefeitura. Datariam de 1512 ea res origem existem duas lendas (Disponíveis em www.villedecambrai.com). Uma PASN erarara que foram criados para homenagear um ferreiro e sua esposa, que se esmeran

castigar um senhor espoliador da região do Cambrésis. A outra reza que” Ns soldado espanhol mouro, vindo com o exército de Carlos V para punir àcidade Ra se estabeleceu na cidade de Cambrai, onde acabou se apaixonando poruna

Como nenhum dos dois quis abjurar sua religião, foram presos na tome SST a e a indulto, condenados a tocar o sino da cidade. Um padre misericordioso obteve O ind oamed!

IVC

Bisenbergh (1598-1657), recupera um grupo semelhante de cinco negros festivos. = Inspirado pelos Triunfos romanos, de Andrea Mantegna, Rubens pinta na sua À Rerpretação (ca. 1627-28, Londres, National Gallery) quatro elefantes com quatro festivas

; Postas

s Pa E E Rr

59. RODRIGUES. Os negros em Portugal...

60. NORTHRUR Africa's Discovery...,p. 9.

|

|

61. STEIN, Louise K. “Los músicos de la Capilla Real y la música de los festejos pr GARCÍA GARCÍA, Juan José Carreras & Bernardo J. (eds.). La Capilla Real 2001, p. 266.

62. BRIELS. Peintres flamands...,p. 120

aaa

elefante montado por um cornaca negro, que impressionou e inspirou vários

italianos.

Meio século mais tarde, em 1563, outro elefante, presenteado por dom FP S4dO dO imperador Maximiliano II, desfilou pelas ruas de Antuérpia e de outras E ' les flamengas. O animal causou sensação, tanto mais que num só dia teria bebido 18 Potes de vinho. O acontecim ento se i no imaginário flamengo através de uma Br: à de Jan Mollijns, colocando o contegrou rnaca em evidência (Londres, British Museum ). O

Rm mereceu doravante seu lugar, se bem que relegado no fundo, em vários quadros dor ração da família Breughel. Também Maarten de Vos apresenta na supracitada ad “a dos reis magos tanto dromedários com cornacas negros, em segundo plano,

=- SBTO guian da elefantes, em OS terceiro plano, no fundo da tela. Entretanto, a figura do cornaca já E a E do: dromedá: rios já tinha aparecido nas tapeçarias à maneira de Por tugal e da lu

+ eu

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negras como cornacas e tocheiros. Em 1514, o rei de Portugal Manuel tinha enviado

E. er

Gos leões (ca. 15 16-21, Caramulo, Museu do Caramulo). Assim conquistou mmegang de Antuérpia, um cortejo de festa anual, como também naquele

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SROSSHANS, Rainald, Ma

E, Andreas, Bacchus im do, á. Dorotheum, alte e

e ABEDINI Si *

Certen van Heemskerck. Die Gemálde. Berlin, 1980; EMMERLING-SKOLE, er Renaissance. Hildesheim,

p. 201. ister. Munique, 2002,

t. 1, 1984, p. 4

PEMIO. The Pope's Elephant. Manchester, 1997.



mouro e uma moura, e também a cidadezinha de Lier tinha o seu desde ofinal de

XVII. O Ommegang de Dendermonde sobre o tema medievalista do Cavalo avardia a Quatro Irmãos Aymon se modernizou por volta de 1700 com a introdução de mi a

|

negro com cocar de guerreiro. Em Cambrai, a apresentação dos supracitados carrill adon mouros, Martin e Martine, como gigantes negros num carro de triunfo, data do q nda

trompe tistas mouros ou negros para anunciar um ou outro dignitário, como ocorreu em "Haia, em 1623, com a chegada de Jean-Baptiste Gramaye, enviado do imperador.” Se a moralidade calvinista se devia de desaprovar a índole festeira dos africanos, suas danças

-4 de altura, continuam desfilando até hoje, a cada ano, nesta mesma data. Em outras festas públicas de Flandres, as famosas Entrées Joyeuses, ou Entrac

Thalia, do poeta Willem Godschalck van Focquenbroch (1678), figura uma roda de negros enegras, que o comentarista apresenta como um “dodelijck gespuis van Vrouwen em van

agosto de 1713. Copiados no final do século XIX, com o tamanho de mais de cinco met

em , 154 solenes, como aquela de Carlos V em 1540, ou do príncipe herdeiro Felipe tampouco podiam faltar negros. Na cidade de Antuérpia, ao longo do caminho do co € real, arcos de triunfo e estrados exaltavam as cruzadas e as vitórias sobre os turcos

celebravam a homenagem recebida pela Europa pelos outros continentes, Ásia e Áfr Nesta arte efêmera se representavam turcos prisioneiros e negros.” Na entrada do govema

Ernst de Áustria em Antuérpia, em 1594, se organizaram justas com participantes vesti

Ao k como brasileiros e africanos (gravura sobre cobre de Pieter van der Borcht).

século XVII os africanos continuaram a inspirar cortejos carnavalescos, cavalgadas e! se bem que se confundiam às vezes com outros continentes ou com mouros ientais festa oferecida pelo duque Charles IV de Lorraine, em 24 de maio de 1649, na Grand |

de Bruxelas, onde se representavam as guerras nos quatro continentes, aÁsia vinha ves s com muitas plumas, ar como turcos com espadas de a fogo, a América como mouro F a dos, S aljava e flechas de fogo, e a África com roupas compridas e bonés doura So “ cada um maças de fogo de todas as cores.” As cortes européias cultivaram esta trac até no século XVIII. Se no Carrousel, de Luís XIV, em Versailles, em 1662, predominars as quadrilhas de índios americanos, turcos e persas, com apenas alguns mouros carregs macacos e segurando ursos, pelo contrário os africanos protagonizaram o Carronss E

= E RL

E

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Atrican

quatre continents, organizado em 1709 na corte de Augusto o Forte, em Dresden.?

de dé turcos e índios confraternizavam ainda em torno dos carros alegóricos nas festas am 4. . ' . . pintadas por Domingo Martínez (ca. 1748, Sevilha, Museo de Belas Artes). a o.

emúsica

Mans” -uma canalha mortal de mulheres e homens, sempre ocupados a pular e indiferentes aqualquer acontecimento catastrófico, nem que seja o grande incêndio de Tróia, dançando até sua morte e sepultura.” Com mais realismo e respeito, Dirk van Valckenburg pintou

m ima plantação do Suriname, uma surpreendente festa africana de caráter religioso cm

negros e negras bebendo e dançando (ca. 1706-07, Copenhagen, Statens Museum for funst nº 76). Esta visão festiva dos africanos repercutiu até nos desenhos de tecidos das foalhas é damasco em Courtrai e Haarlem, das quais uma, com o tema dos quatro contin entes Fepresenta a Africa como dançarinos bem-vestidos, batendo no pandeiro.” E

E “rs hilarious exotics in the Spanish Netherlands”, in DE JONG, Jan et alii (eds.). Picturing the

Kunsthistorisen a5s 1950, Peasants and outlandish peoples in Netherlandish art. Nederlands o.

Zwolle, t. 53, 2002, p. 63.

67. CAIVETE DE ESTRELLA, Juan Cristóbal. El Felicíssimo Viaje del Muy Alto y Muy Poderoso Phelippe. Madrid, 2001, pp. 409-10. e. 68. LEESTMANS, Charles J.-A. Charles IV; duc de Lo p. 157.

baroqu rraine (1604-1675), Une errance

E e

us

Virgem negra e Vênus africana en

— Amulher negra apareceu na iconografia européia desde a Idade Méd ia ligada às X . o BoiirERG uiAs da Virgem Maria e de outras mulheres bíblicas. 3 como Maria, a Egipeíaca, e a EP 9ImE

RR io e

:

g, 1977,P: 4/* 69. BUITENDIJK, W.J. (ed.). Nederlandse strijdzangen (1525-1648). Culembor

de Sabá, provavelmente na procura de cristianizar cultos Dacia anteriores 7 Nos Baixos o culto da Virgem negra sofreu do iconoclastismo dos DEoiestAncaS Minas A

se venerava na Igreja . da Potterie uma pintura, 3 datada “a sed formosa. Em Bruges, . em oii mostrava uma virgem negra com um menino Jesus todo branco, inspirada a ; que a

iigemnegra la Ee E

A

» Que

CASTELLUCIO,

de Chipiona, perto de Cádiz. Em Bruxelas se conservava outra

deu até nome de rua, a Rue dela Vierge Noire. No bairro pouco católico

Stéphan

GARE GAEHTGENS, Thom

E:pp. 102-3e242.3

“a

Lasn :

F

“aa 4 Rovas marcas de devoção incentivadas pela Contra-Reforma e pela conquista Fepanhola. Destacaram-se, sobretudo, as peregrinações à Virgem Negra, de Halle e de E euvel. Em Lier, a invocação de Nossa Senhora da Graçasefazia:sobiolemade E

66. PRIMS, Floris. “De Antwerpsche Ommeganck op de vooravond van de beeldstormerij”, in Mê a

Kon. Viaamse Academie voor Wetenschappen, Letteren en Schoone Kunsten, 1945-1948; MEU Géants processionnels de cortêge en Europe, en Belgique, en Wallonie. Tielt, 1979; VAN DER E , . "S Johan Reuzen in Vlaanderen, Volksleven van vijf eeuwen. Aartselaar, 1985; VERBERCKMOES

suscitaram pelo menos a curiosidade dos holandeses. Na portada da Africaensche

CK VAN

. n e. Les Ecarrousels en n F France d XVle au XVille siêcle. Versailles, 2002, p. 125;

as W. etalii (eds.). Splendeurs de la Cour de Saxe, Dresden à Versailles. Paris, 2006,

AG & sia

BEGC Ê

|

Willem (ed.). Afrikaense Thalia, Jan Helwig, Deventer s/d.

-Damast. Courtrai, 1986, pp. 187-8; VAN YSSELSTEYN, G. T. White

the 15th to beginning of the 19th century. Haia, 1962, p. 123. 9, Ean. The Cufrom lt of the Black Vithe rgin. Londres, 1986.

ai

dn Gie

em matéria de diversões públicas. Entretanto, na Exaltação do príncipe Guilherme (1620 Jaz Jem, Frans Halsmuseum), Hendrik Gerritsz Pot colocou, ao lado dos três elefantes; “acompanhados por mulheres representando as Virtudes, três homens negros também Goi “uma faixa peitoral vermelha. Um texto de uma canção militar faz alusão à utilização de

e

Estes cortejos criaram os gigantes, um fenômeno particular dos Países Baixos. O Ommeg 4

Maisrara é a presença de negros em festividades públicas nas Províncias Unidas ou

Países Baixos setentrionais, onde as autoridades praticavam uma política mais restritiva

Beaux-Arts) e por Denis Van Alsloot (1615, Londres, Victoria and Albert Museum, n. 599% á |

de Gand fazia desfilar, entre 1664 e 1698, um Moorse reus ende Moorinne,

255

3 - O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂN

e E |

254

256

de OQutremeuse, em Liêge, sua popular virgem negra passeia, ainda hoje, a cada quim

agosto, em procissão. As santas africanas, como Ifigênia, não parecem: 1 si devoções nos Países Baixos. Algo misteriosa e discutível é a aparência femi nina, o:

menos bastante ambígua, do rei Baltasar em certas representações por pint he

Jerônimo Bosch, no Jardim das Delícias (Madrid, Prado), se bem que tam bém 1 nc quadro Salomão e Betsabá aparece uma mulher negra. Espalhados no meio depE flores, frutas, animais, pássaros, peixes fantásticos, de uma cavalgada e de uma pro

de corpos brancos, ele coloca uma dúzia de negras e negros, sozinhos ou formando e

tanto de negra com branco, quanto de negro com branca, juntinhos em pé, na éand lago ou sentados sobre um pato em vôo. A interpretação deste quadro, que teve gr repercussão e mereceu uma versão em tapeçaria por um ateliê de Bruxelasp por v

1570 (Madrid, Palácio Real),é bastante controvertida.” Para alguns éum+ nosop

terrestre, com seus prazeres da vida, inclusive sexuais; para outros, uma de nn

luxúria. De toda maneira, os corpos, tanto de brancos como de negros, parecem 1 frágeis, desencarnados, assexuados e quase imóveis, com apenas pouco os. AM aproximação ou de contatos íntimos. 5E

as ç

artistas itali

flamengos ou alemães, das quais se conservaram pelo menos 15 exemplares.2O pelo mármore na Antigúid e para esculturas, CComo ( ade deromana, Aurélio a cavalo,negro, de Píerutilizado Jacopo Alari-Bo nacolsi Mantova (início do século) a Nimesis Fine Arts), ou pela sardônica, trabalhada pelos ourives, como o cê me

Vermeyen (1600-06, Viena, Kunsthistorisches Museum, n. XII 806), podem teer fac lite

aceitação e a divulgação desta Vênus negra desnuda. Parece que por este interme transferiu para a arte gráfica, como símbolo da África, talvez pela primeira Vé do Theatru de 36Abraham (Antuérpia, 1570).£ m Orbis , de traduçõe s deste Atlas,Terrarum em total até 1612,Ortelius vulgarizaram esta imagem de

negra, de raiose solares, formosa, de bomres corpo, seios proeminentes Daureolad oam cemamao

passo assim, sua coxa. deSuapobreza nudez emseria, na leitura,à E forcada,parade trás, Ernst valoriza van den ndo Boogaart um sinal comparação dal eepres sen |

75.

MARIJNISSEN, Roger H. Jheronimus Bosch. Bruxelas, 1972; BELTING, Hans. Loja

nçois Desprez (Antuérpia, 1570; primeira edição francesa, Paris, 1562) e Omnium pere

ur ropa 2, Asiae, Aphricae atque Americae gentium habitus (Colônia, 1577), ou nas margens jos mapas do continente africano, como aquele de Blaeu-Verbist, impresso em Antuérpia,

E.1 1644. Não somente os povos da África do Norte ou da Etiópia, como também os

eneggalenses, mercadores da Guiné ou magnates do Congo aparecem com roupas próprias » ad japtadas ao clima. A própria Iconologia de Ripa oferece, nas suas edições de 1603 e

1603, uma África vestida. Nas esculturas de Erasmus Quellin, o Velho, sobre o tema dos

Qt ro Continentes rendem homenagem a Amsterdam, no tímpano do Raadhuis, Palácio far icipal (1656), as características próprias da África lhe conferem um status antes juv 4

ta E

Tt

]

alente do que inferior em relação aos outros continentes. Na Alegoria dos Quatro

mentes,

de

Jan

van

Kessel

(ca.

1664-66,

Munique,

Bayerische

E isgemáldesammlungen), que manifestadamente fazia pouco caso desta pretensa

E

quia dos continentes, a África se apresenta amplamente vestida, com jóias, sentada

obrcrum leio, com ao seu lado tesouros da civilização, porcelanas e ourivesaria. É o caso imbém de uma versão mais simples, por Cornelis Baellieur (ca. 1660, La Rochelle, Musée é on ouveau Monde). Numa miniatura de Bouttats, a África leva somente uma saia, mas à judez do seu peito e tronco, desta maneira, valoriza melhor um impressionante colar de

E albem vermelho (1688, Antuérpia, Arquivo da Catedral).

p Além disso, pelo critério da estética, que não devia ser desconhecido ou indiferente E E emporâneos, a mulher africana nua ganha em elegância graciosa das outras, até

de suz concorrente americana, que ostenta uma nudez mais guerreira ou masculina, e esta ; ag em prevalece nas sucessivas séries de gravuras dos quatro continentes, que se

e En re m posteriormente, entre 1581 e 1600, sobre desenhos de Dirck Barendsz, Marcus

PE Saerts, Marten de Vos e Crispijn van de Passe (Bruxelas, Biblioteca Real, n. IV 29847: Ammuérpia Stedelijk Prentenkabinet). Na gravura Roma triumphans, de Hendrik Is (1586), o corpo desnudo da África, vista de frente, se destaca da Ásia, vestida, virada de costas, e da própria Europa, relegada a segundo plano. As quatro estátuas,

“Place de Bruxelas, representam os quatro continentes, convivem aparentemente em E ta harmonia e igualdade, sob a batuta de uma quinta figura, a Justiça. À sua África ;

a

2005. sa a a! 76. MAI, Ekkehard (ed.). Venus, Vergeten Myth. Antuérpia, 2001; SEELIG, Lorenz. Chriscars > € “Moor's Head: a late Renaissance drinking vessel”, in EARLE & LOWE. Black AjTICANS =.» + (ed. Von allen Seiten ch o BÚCKLING, M. Die Negervenus. Frankfurt, 1991 ; KRAHN, VV (ed.) Renaissance und des Barock. Heidelberg, 1995.

ij! ende cleedinge in de landen van Europa, Ásia, Africa ende in den wilden eylanden, de

inchada da casa do ofício dos capelistas, Le Renard, reconstruída em 1699 na

qua

74. Reproduzido na contracapa do Burlington Magazine, jan 2001.

fricanas e africanos ricamente enroupados nos livros de costumes, como Alderhande

Y

A primeira mulher negra pintada nua, de corpo inteiro, é provavelmente

metade do século XVI com as esculturas da Vênus negra, realizadas por

suropa e da Ásia bem-vestidas e mais civilizadas.” Entretanto, não faltam representações

|de

Pierre Coeck d'Aalst e o Mestre da Adoração de Lille (Milão, col. Robert Smeets), cor rosto de traços extremamente delicados e sobrecarregado de jóias.”

A atração erótica do corpo feminino negro somente foi promovida a par

257

caBrE 3 - O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE AgiAy

— REM O corpo graciosamente envolto com um vestido, nem a nudez de um dos

NO ateliê do ourives Augustin Van der Steene (1726), a esbelteza graciosa de uma

ANDEN

:

BOOGAARD, Ernst. EE

pdaim,



“Keizerin Europa en haar drie zusters, De Nederlandse uitbeelding van de

1570-1655”, in America. Bruid van de zon, Catálogo de exposição Antuérpia,

vis uales de los E » Eddy. “Alegorias fosilizadas o redivivas? Las cuatro partes del mundo en las artes Ses Bajos (siglos XVI-XVIII)”, in O'PHELAN, Scarlett & SALAZAR-SOLER, Carmen vem ). Pose T.a ps "8, mediadores culturales y agentes de la primera globalización em el Mundo Ibérico, siglos + 2005, pp. 853-85; POESCHEL, S. Studien zur Ikonographie der Erdteile in der Kunst des underts. Munique, 1985

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATIÂN'

258

Rei

africana, levando colar e brincos, se metamorfosea em alça de um bule de chá. A céri

| Desportes dos cartões de Albert Eckhout, apresenta uma rainha negra, quase a; sa de peito desnuda, mas vestida de ima = caia, que, carregada numa rede, de bom porte, cad aaa Ut pe . jóias, um crucifixo no pescoço e uma tiara quase pontifical, parece quebrar o chavão persevera, contrapondo selvageria e civilização. Já O ateliê bruxelense, do tapeceiro Pi her van der Borght (ca. 1750), emancipa a África por completo em companhia de mu

“Gallery Derek Johns). Tão majestosa como uma mulher branca e até mais sedutora pelo

“seu olhar convidativo, ela ostenta sua beleza sem recato, suas jóias, brincos, tiara de pérolas com camafeu nos seus abundantes cabelos crespos, pulseira dourada de pedras preciosas no alto do braço, e um seio desnudo sobre a esplêndi ; da roupa de seda. Também Es

homens elegantes, comendo à mesa, conversando e dançando, tal qual a melho r sociedac

ha

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mitológicos da Antiguidade clássica, como no Triunfo da Sabedoria, de Bartholomi

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Fa

s de exaltação da mulher negra “Também Rubens explorou vários modelo o. É Bacanal (ca. 1615, Moscou, Museu Pouchkine), ele a pintou toda nua, tão car ” ressã( uma Xpress com mas s, enga flam es her mul de os corp seus nto qua ha hin duc gor o É me

a dentes. meio assustada ou maliciosa, acentuada pelo branco dos olhos e dos reaparess or, ctad espe O para te fren de o and olh e ro segu mais co pou um já r olha Rios, Tepress des Gran ro Quat dos o içã pos com na Nilo do os braç náiade negra nos Ay

78. The Magic of the silversmith's Trade, European Silver in Private collections from p. 84.

79. MeGRATH, Elizabeth. Sibyls, Sheba and Jan Boeckhorst's Parts of the World.

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1500 to 1850. As Ja

“a oa

Dav E “a 80. VAN THIEL, Pieter J. J. Cornelis Cornelisz. van Haarlem, 1562-1638. Doornspijk:

Majolica 1550-1650. Amsterdam, 1997, P- So 81. BIESBOER, a Pieter. Nederlandse as

82. LANEYRIE-DAGEN, Nadeije. Rubens. Paris, 2003.

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Ea

se

nara

mas elegante e bem-vestida,

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Nascimento de Vênus (ca. 1600, Bruxelas, Galerie Jan de Maere), Hendrik de € seu! aono mostra uma graciosa jovem negra nos braços de Netuno, com um meni Uma rainha africana ricamente vestida com turbante e jóias, segurando um coral, apé nos quadros de Frans Il Francken, na Homenagem do mundo a Apolo (1629, Oldent Landesmuseum), e, de novo, na Abdicação de Garlos V (1636, Amsterdam, Ri csmt se Também algumas sibilas são representadas como africanas, como em quadros di Boeckhorst e Jan van den Hoecke.”º Este fascínio e culto da beleza africana contagiar

pequeno xale e por várias jóias, um broche, uma coroazinha no alto dos cabe O desco eso sesse duplo bracelete de ouro.ºº Um reflexo bem mais tosco deste intere figura de mulher negra nua ajoelhada, pintada dentro de um prato de majólica 10Jg i 9681 : do período 1600-25. À e.

E é E Folici E erdesAim

mais frequentemente o rosto e o corpo

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na lavagem da perna de uma mulher mais jovem e bonita, desta vez nua, Salvo Ps

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Coleção Graf von mersfelden, Mortillo van(Pom e Caesar is arytt P RR Everdingen deixa apenas adivinhar Schônbrun). No seu Baco e Ariadne em Naxos,

Spranger (ca. 1595, Viena, Kunsthistorisches Museum, Gemãldegalerie, 1133)

costas cobertas por um xale com letreiro grego, os cabelos presos por uma fita e ping preciosos nas orelhas. Ela é a única personagem a encarar O espectador de em mesma figura reaparece na Toalete de Betsabá (1594, Amsterdam, Rijksmuseur a), aj

Rae

E. Roy E A Ee FR

Entrementes, belas mulheres africanas foram introduzidas em quadrodes te

vários outros pintores. No Casamento de Peleus e Thetis (ca. 1592-99, Haar em, F Hals Museum), Cornelis Cornelisz van Haarlem coloca em segundo plano, o meio corpos nus e brancos, uma solitária mulher negra, talvez uma doméstica, |

E

os Quatro Continentes (ca. 1615, Viena, Kunsthistorisches Museum). Sua negritude “acentuada poderia se relacionar com a tese da origem etiopiana do Nilo.º De inspiração A snsiana, parece o grande retrato de busto de uma formosa negra, atribuído primeiro a Ka el van Mander e depois a Jan Boeckhorst, datando aproximativamente de 1650 (Londres

tapeçarias Les Nouvelles Indes, tecida em 1740-44, sobre uma nova versão po: Fra id

numa figuração bem ao gosto do rococó.

259

CARTE 3 - O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

no fundo da telao rosto cheio de uma negra (ca. 1 ; 1660, Dresden, Staatliche Kunstsammlunen). gra (ca.

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quatro continentes se

ormista.º* Servem de atlantes nos E ea gocos,comonaisreja aO e Bruges (1689), na Igr Ela Golke de e dd fi açã a ca, 1690) ena Ti E A de Esta última, o escultor Michiel van RR anaspare de E ort DC

ad ação hierárquica em relação à missiona = PE Pro;

e queparede implicar

a

a E PRA na China ou nas Américas. laigrejá jesuítica de são Vinde ea BXOO); figuras femin ir as, totalmente vestidas, personificam E RR a Europa e a Ásia, O escultor Hendrik-Frans a Ra Verbrugghen prefere Se DD O

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a a ; ada Cias ad ação os continentes africano e americano. Umn E mus go de pele de elefante e um crocodilo RES deve figurar a África E na Fi e plumas e uma aljava sobre uma ia : ar is tartaruga, a América. Na Ae

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ea. 1684), leva medalhões com reise ad

ce

do mesmo Verbruggen

ha Predicação de São Francisco Xavier. de J fes ERSIOSICO TO de africanos. Também ao lado de mulheres e homens dos áia ssc entes,E continae uma mulher negra vestida com dois mulher uma do fi h Os, Rubens já tinha admiti eu milagres de São Franci o Xavier =SUS,PSRasc (1618-19, Viena, Kunsthistorisches Museum). São ainda a mulher mulh es v mente devida também Odo, à ; te africano estidas, que repr o nos quadros continen o escltam Se q (H 9 mundo adora a eucaristia

d iMUITA Dentro

o o

a (Hasselt, Igreja de São Quintino) e Os quatro continentes Jacobus van Hal (ca. 1742, Antuérpia, Igreja de Santiago).

Mas nas festas da E a neste ndo convinha ao conceito de pureza angélica, RO Este probier. e ção dos santos Inácio e Francisco Xavier, em Antuérpia, em | à toi resolvido vestindo o anjo dos negros do Reino com uma roupa de x

ENMeGR —

,

dir aMAL, Elehard H, Elizabeth. “River. Sources and the Mistery of the | Nile, Rubens “Four Rivers” in Viena”, (ed alii ver-Gods, Er apre Colônia, 1994, Pp. 73-87. e e E na NBRORCK, El: RE

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van de Zon, pp. 77-8 FE

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260

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLR

(ca. 1650-51, New York, Metropolitan Museum; e 1678, Paris, Musée du Louvre) rein terpretou

seda azul, semeada de pérolas.ºº Duas décadas mais tarde, Nicolaas de Liemaeckere

seu quadro sobre Os êxitos missionários de São Francisco Xavier (ca. 1640, Gand, Iereia São Pedro) já mistura raças e cores entre os convertidos sem nenhuma discrimina

aparente: dois negrinhos levantam a capa de um soberano oriental e o índioc eb a Ê

branco.

Entretanto, a possibilidade de uma relação amorosa ou de um casamento entre um negra e um branco ou o inverso parece, à primeira vista, não ultrapassar o caso doc enlaçado nos Quatro Grandes Rios, de Rubens, se bem que alguns casamentos mistos

da Más realizaram em Portugal e talvez em outras partes da Europa.ºº No Retábulo Deus, do Mestre de Sixena (ca. 1363-75, Barcelona, Museu Nacional de Arte da € ata uma mulher branca cristã rechaça de seu quarto de dormir um mouro negro de turb; Na Coleção Real da Dinamarca, em Copenhagen, se guarda um retrato de uma mer PE

mars E

branca acompanhada de um jovem cavaleiro negro. Francis Drake, quando foi feito cavalei em 1581, foi presenteado pela rainha Elizabeth com uma jóia, na qual o camafer sardônica representa em perfil um homem negro e uma mulher branca reunid os, U

figuração inspirada, talvez, nas efígies dos imperadores romanos, com variaçõesde ou

algum mercador da Companhia das Índias Ocidentais (1646, Coleção particular,

negra de rosto parece uma cigana, que lê as mãos de um soldado no quadro. 'es a al eum). Mulhe com adivinha, de Jean Valentin de Boulogne (1631, Viena, Liechtenstein M os negras surgiram também como empregadas ou escravas. Um dos primeiros. retrat

um naturalismo afeituoso, se deve a Albert Diirer, quando em 1521 foi hóspede escrava-cozinh português, Rui Fernandes de Almada, em Antuérpia, e conheceu sua Catarina. Através de algumas referências documentais se evidencia que outras escr

agora não se sabe de um

quadro flamengo comparável à cozinheira negr ne

do) Rubens d o Pra del eo Mus d, dri (Ma o ixt Cal e na Dia dro qua No . uez Velázq

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Kessel no Kunstk van Jan por do eti rep a tem , nca bra sa deu a dar aju ra neg empregada a g UR ), 2797 n. le, thal Kuns he tlic Staa t, tgar Stut , 1659 (ca. ete toal na s Vênu com werman. (Ca Wou ips Phil de ão falc com caça a nte dura negra figura na Parada Falens (ca. , Londres, Dulwich Picture Gallery), e em outra versão de Carel van ns van Mieris; O Fra ês, and hol or pint um bém Tam s). Art uxBea des ée Mus i, bra Cam a

ai

h

85. PONCELET Alfred. Histoire de la Compagnie de Jésus dans les Anciens Pays-Bas. Br > Ro 467.

86. NORTHRUP Africa's Discovery..., pp. 8-10.

, p. 150. 87. DORAN, Susan (ed.) Elizabeth. Londres: Greenwich, 2003

Berlin, 88. Reproduzido em KOHL, Karl-Heinz et alii (eds.). Mythen der Neuen Welt.

sa a

OBA ».315

1704 Es"

— duas vezes o tema da ajuda no toalete, deixando a negra entrar na intimidade burguesa.

“Bo último subsiste também um desenho (ca. 1662, Londres, British Museum). É um caso

“bastante excepcional dentro da pintura de vida cotidiana e bem pouco em comparação

com as numerosas domésticas holandesas, que mereceram um retrato nos interiores de

Pieter de Hooch.

"| Tampouco as cenas de bordéis, um gênero cultivado por pintores, como Gabriel “Metsu ou Hendrick Pot, quase nunca mostravam prostitutas negras, salvo em dois quadros, “um de Christiaen Van Couwenbergh (1632, Estrasburgo, Musée des Beaux-Arts), sugerind o

“aviolentação de uma mulher negra por três homens brancos, e outro, de Andries Both

* (Haia, Museu Bredius).” E possível que se achassem africanas nos prostíbulos de Antuérpia Amsterdam, se bem que não faltavam moças mais baratas das regiões vizinhas.” Um dos livros clássicos sobre o fenômeno, Le Putanisme d'Amsterdam (1681) não fazia menção “anegras e somente no começo do século XVIII surgiram algumas alusões na obra de Jacob “Campo Weyerman. Este, na voz de uma alcoviteira célebre, Madame Berkmans, aliás 125 Enesche Mem, exaltava a diversidade das cores entre as prostitutas de Amsterdam: “Ik had a,

gem cutters ou lapidários.*” Num nível social mais baixo, existe o retrato por Jan Barentszoon Muyckens de espos a jovem negra ou mulata escura, com brincos e colar de pérolas, que seria

negras viviam nos Países Baixos, servindo seus donos portugueses na cozinha. Até à tante mercadores flamengos em Sevilha ou Lisboa não se privavam deste luxo. Entri

261

PARTE 3 - O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

“Dames van allerley Slag, van de koolzwarte Muyzevangster tot de goudgele Oranjepoes” “tu tinha senhoras de toda espécie, desde a caçadora de camundongos, negra como carvão até a gata de cor amarela dourada). As canções dos marinheiros da VOC abundavam Sá cg e cias às expectativas por relações sexuais com mulheres de cor nas Índias orientais set em que sempre acompanhadas por advertências contra os olhares de relance e õs E dlados desta Chamsgebroed, cria de Cam, e os consequentes perigos dos mestiços ou

am doenças venéreas.”? De seu posto, em São Jorge da Mina, um funcionário da WIC. o

Eprec: tado poeta Focquenbroch, lançou, em uma carta a um amigo, uma sórdida debe a as mulheres negras, de muito mau gosto, assegurando a seu correspond ente que ES resistir à sua pretensa feiúra.” Entretanto, a veemência dos seus termos parec e E rs com 9 crescente racismo nesta Holanda da expansão ult ramarina, que faz | E E ecer a Vênus negra da temática de sua pintura dur ante o século XVII. Ro mesmo Nr E E E pe para os canibais, como a índia tapuia, de Albert Eckhout, “DR E o ig com índios tapuias. Obras literárias ou de teatro, De wi Eos = yn, opgeschreven voor de Heeren Gebroederen Cornelis em A,

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Comparam as crueldades cometidas em 1672 na execução dos irmãos

iapuya vleesmarkt”

BO BUVELOT, Quentin nn

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(uma feira de carne de tapuias).

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Mieris, 1635-1681. Zwolle, 2005, pp. 37, 157 e 158;

quotidien, Essai sur la

ENBROECK. Beeld van de ander..., p. 206.

PAN DE POL, : Lo A

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Het Amsterdamse hoerdom, Prostitut 7 ie2 in1 de zeventiende en achttiende eeuw. Sob JÉITINa

. Amste rdams a 1996. is te a prostituição em Amsterdam, ver os catálo gos das exposições Liefde te koop, e. tori sch Mus eum, 3 2002: 3 e Amsterd am Revisit : siited: d: Ada À ora s Amsterdam: De aA MM Er E m and Eve, On sex, tolerance and

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"mi dir mee naar Oost-Indiê varen. Amsterdam: Liedjes uit de Compagniestijd,

CK VAN FOCQUENBROCH. Afrikaense Thalia, p. 161.

262

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE AT;

O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

Às avessas se advertia também as mulheres brancas contra os perigos d das sexuais com negros. Seus avanços em cenas amorosas transparecem num deser a : à Hoefnagel, no seu Patientia (1569), no qual um negro, acompanhando os nteio a s espanhol na porta de uma mulher flamenga, suspira: “O que dolor es al doaori To querer; y no ser querido”. À maneira da literatura picaresca espanhola, Gerbran; SZ i



am de mulatos na sociedade flamenga ou holandesa desta época é mais do «Avel, Se uma comédia de Brederode aludiu jocosamente ao fruto da relação amorosa eaE «a mulher holandesa e um soldado negro do exército do duque de Alva, sua presença tura é mais discutível. Hendrik II van Steenwijck colocou numa de suas numerosas ta de interior de igreja (1613, Cambrai, Musée des Beaux-Arts) uma figura amulatada

encenou o tema na sua comédia teatral, De Spaanse Brabander, através dos d d og Jerolimo, um mercador de Antuérpia, falido e refugiado em Amsterdam, me

uma capa amarela e ares de intruso neste ambiente sagrado. Um retrato de uma

a

metido a mobre, com seu servidor Robbeknol.º* A mãe deste, uma e x holandesa, se deixou seduzir por um soldado negro do duque de Alba, expeerime n cia

a bastante escura e com cabelo meio crespo por Frans Hals ficou conhecido como O

to (ca 1628-30, Leipzig, Museum der bildende Kunste), mas uma confrontação posterior um retrato semelhante (Kassel, Staatliche Museen) o identificou com uma figura

om

sua reputação de doçura erótica. Realmente, o negro a acariciou e a tratou àsn mê

mas, entre muitos mimos, a presenteou também com um pequeno mulato o carinhos do pai, o menino se assusta e o rejeita por causa de sua cor negra, Por cúr infelicidade se suspeita que o negro tinha roubado todos os presentes. na ca 5 a di mestre. Torturado com banha fervente nas costas, confessa seu crime e acaba na p is provavelmente uma das primeiras peças de teatro a evocar a promiscuidade RN SE blancs, a gente miúda holandesa e os marginais negros. a O receio de conceber um filho negro se incrustou no imaginário popular,man f se em ditos populares, como a expressão, “een Moriaen schuren” (lavar um mour tópico se visualizou até numa tabuleta de uma loja em Gand, In den verlorer Abe seja, no trabalho inútil, que provavelmente se inspirou da iconografia Peine Per Cesare Ripa, que mostra uma negra se lavando. De uma fantasmagoria sem aiEee um aviso ou panfleto, impresso em Antuérpia por Niclaes Mollijns, em 1579, advé que nasceram na Alemanha duas crianças monstruosas como castigos divinos: D

9

humanas e desordens morais. O relato vinha ilustrado com uma gravura, m os! An criança bicéfala: uma cabeça e a metade do corpo eram negras, mas a outra cabeçe

outra parte do corpo eram mulatas.” A segunda criança, um menino, era completam negro e nu, com uma mitra episcopal e suas mãos substituídas por a vassoura-chicote. Esta preocupação quase obsessiva, e pelo visto muito: pop e

dramaturgo Van Embden a inventar uma variante inversiva na sua peça Karyelea k anco pranc

com uma rainha dos mouros que se entristece com o nacimento de seu ita

neve.” Durante seus namoros, ela teria olhado demais para a imagem de Andrôme

para escapar da suspeita de adultério, abandonado a criança.

A

ar Peeckelharing.* Entretanto, a confusão com um marinheiro, de pele curtida pelo

ar €E peia bebida, indica alguma proximidade entre uns e outros. O retrato que Hals ro 4 em 1655, do seu colega Frans Post (coleção particular), sugere os efeitos jonômicos da passagem deste pelas terras brasileiras da mestiçagem. Traços amulatados

reconhecem no retrato de um oficial na Festa dos Atiradores, de Hendrick Gerritsz Pot Haarlem, Frans Halsmuseum).

ças e anjinhos, jovens e servidores africanos E ida dentro desta humanização do africano se descobria o ar gracioso da criança a, que poderia diversificar e valorizar os temas alegóricos ou religiosos. Os Breughel arecem ter sido os primeiros a infantilizar, nos seus quadros da Adoração dos magos, ) lcba enos um dos servidores do rei Baltasar. A seguir, Marten de Vos pinta, detrás de seu ei Ba tas ar,

|

1999, versos 95-156 e 233-6.

e Ester van Lint (1609-90), coroado com um sol dourado, ao lado de outro anjinho E E pCoroado de flores e com um cisne branco nos braços (Holanda, De Wijk, Wijermars | Equairs). Esta figuração se inspirou provalmente da Iconologia, de Cesare Ripa, que

+ "9 Meridiano como um mouro de tamanho maior coroado do mesmo sol dourado

om E aios. Traços negróides menos marcados ostentam anjinhos numa obra anônima,

a da Água (Paris, Antiquário Kugel, 2006), e no Menino Jesus recebendo os

entos da paixão, de Jacob van Oost de Jonge (ca. 1670, Lille, Igreja Saint-André). %! Hendrik-Frans Verbruggheni incorpora anjinhos negros nos supracitados bancos - LOTT Er ão, tanto na Igreja dos Jesuítas, de Malinas, como na igreja da mesma ordem, a da]

a

mst |

95. DE POTTER. Het boek..., p. 108; RIPA, Cesare. Iconologie. Paris, 1644, t. 2, pp. 16-7.. mP a:

96. VALKEMA BLOUW, Paul. “De Antwerpsejaren van Niclaes Mollijns, 1597-86”, inDe

1992, p. 108.

um cocar de índio e ainda um colar de plumas, qual

a yaria nte do rufo à moda espanhola (Valenciennes, Musée des Beaux-Arts). Único, P Es feimente, no contexto flamengo, surpreende um querubim negro na Alegória do Ar,

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94. BREDERODE, GerbrandszA. & GROOTES, E.K. (eds.). Moore SpaanschenBrabande À

um menino negro, com

) escult

a ' ; E

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"DrUges, atualmente São Walsburga. Nesta última, um pequeno chinês com trança e um = a Com fortes traços negróides, grossos lábios e cabelo crespo, mas com plumária irà, Sed“eutor como se fosse um cupido, seguram juntos o medalhão exaltando o missionário

|E E

£O Xavier. Uma pequena estátua em mármore de um menino negro, coroado com

SStelo-fortaleza e com um marabout de plumas no peito, esculpida por Jean Claude

Guide"

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97. VAN EEMEREN, G. Elck loopt vast. Inhoudsopgave van de ernstige Nederlandstalige to ce periode 1575-1650. Antuérpia, 1991. fi

263

*

PEyMour et alii (eds.). Frans Hals. Londres, 1989, pp. 216-23.

264

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLj

de Cock (1704, Amsterdam, Rijksmuseum) fazia, tal vez, parte de um conjunto dos continentes. Do mesmo tipo, mas incorporado num lustre esculpido em boa ma

J. E Allaert, o menino, simbolizando a África, leva na cabeça uma tromba de el cavalga um leão, segurando no braço uma cornucópia com espigas de milho (17; | 2]

Museu de Arte Decorativa).

oe

Nesta época floresceu um novo gênero específico de retratos de crianc: famílias flamengas e holandesas, mas poucos jovens negros parecem teralcançado su status para merecer esta distinção.” Até agora, se repertoriam, somente, três cg Retrato da família do mercador zelandês Joost van Trappen (ca. 1635, Rijksn Amsterdam) figura um jovem negro, bastante encabulado, talvez por ter sido res 7 algum navio chegado em Midelburgo. Frans Hals integra no Retrato de família« uma paisagem (ca. 1648, Coleção Thyssen-Bornemisza) um adolescente ne + q roupas similares e frontalmente colocado entre duas pessoas brancas, mas ir inquieto de sua integração nesta família como um eventual filho adotivo. Na co de Dinamarca existe uma pintura anônima de uma menina branca, acompan ad, jovem cavaleiro negro. Mesmo assim, o realismo dos pintores flamengos e holand:

parece ter produzido imagens comparáveis aos meninos de rua, brancos, mulatc

| de Esteban Murillo.!ºº Menos personalizados ainda, mais estereotipados e colocados em posição. em plano segundário, aparecem os meninos negros presentes como pagememi

3 - O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS arara

ou até um macaco. Num

265

quadro celebrando A vida elegante numa arquitetu ra

, de Jacob Ferdinand Saeys (ca. 1685, Valencie nnes, Musée des Beaux-Arts, n 25) protagoniza, em nível de igualdade com um grupo de senhoras mundanas. um o, bem-vestido, correndo em passo de dança com dois cachorros e uma arara ermelha de asas abertas. Esta figuração tev | e tanto êxito que Jacob Jordaens inclui u, sem ulo, talvez por ser protestante, este motivo secular num quadro religios ja Adoração dos Reis Magos dois negrinhos, um segurando um macaco, outro uma arara 1669, Sevilha, Catedral). Provavelmente, se trata de uma cópia de um primeiro quadro em macaco. O original da igreja de São Nicolas, Dixmude, foi destruído durante a Primeira a mundial, mas subsiste um =

a

a versão sem macaco (1644, Kassel , Staatliche Museen) guindo esta moda, um negrinho pode ter sido integrado na festa de São N ico las como udante do santo, o Zwarte Piet, ou Pêr e Fouettard, primeiro para carregar os regal ra as crianças boazinhas, mais tard e para usar o chicote nos malvados . ret relacionam sua cor negra com figura s medievais, e outros atribuem sua negrura à de que de

sceria com os presentes pelas chaminés das casas. 1! Ê Mais estranho é que o negrinho ap arece também na pintura da Holanda burguesa ente mais identificada com figuras brancas nos temas da intimidade do méstica. de a associativa, ou caritativa ou de li ções de anatomia. Encontram-se retrat os com ato

:

.

retratos. Atribui-se a origem desta moda ao exemplo italiano, se bem que a

Joana de Áustria foi retratada desta maneira já em 1553 por Cristóvão deÀ

retratista da corte portuguesa, sob influência do pintor flamengo Antonis Mo j Musée des Beaux-Arts). Em 1561, Melchior Schetz, encabeçando como principe c

o desfile dos participantes do Landjuweel, um festival de teatro das câmaras de. Ri desenhado, talvez por Frans Floris, com um jovem mouro guiando seu cavalc Biblioteca Real, n. II 13368). Um pouco mais tarde, vários pintores flamengo este pequeno negro nas suas pinturas. Frequentemente, traz um prato de frut Parábola do filho pródigo, de Frans Pourbus, o Velho (Antuérpia, Museum May Bergh), no Inverno, de Jan Breughel de Veludo (Bayreuth, Neues Schloss), no. Herodes, de Simon de Vos (Munique, Dorotheum, 2005) ou de Hieronymu

Anthonie van Dyck retrata a marquesa Elena Grimadi (1623, Washington, Nation: ou a princesa Henriette de Lorraine, com o negrinho segurando um parasol ou O flores (1634, English Herritage, n. 88028826). Em outros quadros apresenta um

água, como no Retrato de uima senhora, de David Teniers, o Jovem, ou emu para O casal Pieter de la Court, de Ferdinand Bol (1661, Antuérpia, Museu de E g Variações deste tema deixam o negrinho segurar o cavalo, como no Retrato de,

Gonzalo Coques (Kansas City, Gallery William Rochhill Nelson), ou os cãesde à EM

a

99. BEDAUX, Jan Baptist & EKKART, Rudi (eds.). Kinderen op hun mooist, Het kinders

Nederlanden, 1500-1700. Gand, 2000. 100. BROOKE, Xanthe & CHERRY, Peter Murillo. Scenes of childhood. Londres, 2001, PP»

costumes não reconheciam juridicament e o estatuto “Stravidão, nada impedia que, na prática,; alguns de seus habitantes, principalmente Sadores efuncionários, se deixasse m servir em casa por negros comprados na Península “4 OU No ultramar 10 4 Um funcion ário da VO C, Geleynssen de Jongh, regressado a sua 1

» Charles W. SainSaint Ni t Ni Raro 1978; WANSON, Ischabolas of Myra, Bari,À and Manhattan, Biography of a Legend. Chicago/ elle. Un Saint-Délice: nai d'éni E Alexan ; enice: pain d'épice et Nicolas. Bruxelas, 2002 WELSH é dra Nora. Jan Mijtens, 1613-1670. Petersberg, 2006. 02.

“BRUNE

orge (ed.). European Scenes on Chinese A U,Y Ia Porcelaine Art. Londres, 2005, p. 237; HERVOUÊTE E & des Compagnies deslunese Indes é décor occidental. Paris, 1986. am e É A ngos, Re “a sua aprendizagem na escravidão”, in PAIV A, Eduardo França

O (eds.). O trabalho mes tiço: maneiras de pensar e formas de viver —

3

266

SONS,

FORMAS,

CORES

E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

ATI) NTIC

|

com de cidade natal de Alkmaar, mostrou seu passado colonial e sua riqueza, posando Stedeli aar, Alkm 8, (164 en ding Ever Van C. por ato retr seu para s negros descalço Museum) .!º Foi o caso também do ex-governador do Brasil holandês, Johan Mat - s, mt | éstimo do Mu sée d | empr eum, smus Rijk m, erda Amst , 1666 (ca. n Naso r Piete retrato por

kenburgh, direte Valc Jan de e , dwe) Naro eum Muz , óvia Vars : elas Brux de ts x-Ar Beau Amsterda is geral da costa de Guinea, pintado por Daniél Vertangen (ca. 1660,

como é quel , adas priv ções cole em , atos retr mais am ecer apar Rijksmuseum). Recentemente

na sua sala ri ament do governador de Elmina, Dirck Wilre, por Pieter de Wit (ca. 1669),

quad decorada e com um escravo coberto de plumas, mas ajoelhado e apresentando um nm à a. alez fort uma de vista a com m A representação de negros adultos como servidores ou contínuos é mais rara, não inexistente. Aqui também, o exemplo veio da Itália, particularmente dosy eT ez ar os a a o ca jane a sand mostrar de que gostavam Museum), ou os

ni

pain

io

representações mais antigas de trabalhadores negros, no código de minas

Douce, fº 31 Teto), T ot a Ms. Library, Bodleian (Oxford, César Jules ancienne jusqu'à

ATLÂNTICO

EM IMAGENS

E NARRATIVAS

267

enterradas no cemitério judeu de Ouderkerk nove pessoas mencionadas como preto, preta,

| escravo ou escrava.'* Muitos historiadores do Século de Ouro das Províncias Unidas continuam fazendo pouco caso ou mesmo nenhuma menção ao escravismo holandês,

o fundamentando sua inexistência nos motivos religiosos calvinistas.'º” Se, efetivamente, do | lado de moralistas e teólogos, ou de juristas, como Grotius, existiam resistências, estas jam rapidamente diante das necessidades da nova aventura colonial." Logo no o | início de sua chegada nas Índias orientais, os mandatários da VOC colocaram os escravos

a lista dos artigos de comércio, segundo o relatório do almirante Wolfert Harmenszoon

"da expedição às Molucas, em 1602.'ºº Com alguma hipocrisia, Godfried Udemans, no t Geestelyck roer van 't coopmans schip (1640), justificava o tráfico desde que os escravos

não caíssem nas mãos dos papistas espanhóis e portugueses. Como sugeriam os supracitados quadros sobre o Batismo do camerista, a escravidão podia facilitar a evangelização dos Eis Ja É

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Getty (Los Angeles, Paul ds e Veneza, Galleria dell Accademia), Dina de náo

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O tráfico

|

negreiro

e a escravidão

no

ultramar

| conserto de um barco por vários marceneiros ou marinheiros negros. Os escultore Som ajudante negro de. um evidência, em retábulo, num colocaram de Gand e Jean d'Ypres

Levando em conta a implicação bastante precoce, desde o começo do século XVI, e, uma escala crescente, de flamengos e sobretudo de holandeses, tanto na compra de escravos quanto na exploração de sua força de trabalho em plantações no ultramar;

: e: negros vinham certamente a bordo de barcos portugueses, como se veia no o

195.

va Lucas, pintando o retrato da Virgem Maria (ca. 1500, Sé Velha, Coimbra) Nau Santa Catarina, entrando um porto do Mediterrâneo, trazendo

a bordoraa I

j ao ate atribuído quadro Sabóia, de duque o com Beatriz para seu casamento ur E a po Patinir (1520, Londres, National Maritime Museum). Em temas sobre pos

aparecem às vezes carregadores negros, como no quadro de Michael mn

Paris, Louvre). Um contínuo negro conversa com à cozinheira numa Vista

=

|

fa po

o GR 3 Jan van Kessel (1650, Londres, Noortman). Frans Sms aco NH carregador de cestas, no seu Mercado de peixes (ca. 1021, provavelm negro, ente um , oa Kunsthistorisches Museum). Ana trário, a ausência

Nas pinturas de gênero da escola holandesa, se nota, pelo con

A

trabalhador negro adulto. Quando muito, com alguma boa vontade se pode ca AM pat

expedição às

Ra EÍndias ias, Orientai

(A msterc e

holandês idades 160 e escravos alguns faltar Historisch Museum). Entretanto, não deviam Ê

pelo menos entre os cristãos novos de origem portuguesa. Entre

, R . re séculos XVI a XIX. São Paulo: Annablume 2002, pp. 41-61 Sob os E ira, Madeira ver VIEIRA, Alberto. “Escravos com e sem açúcar na Made i

F

fa

actividades”, in La esclavitud en la Península Ibérica..., pp. 61 ETs

E

-89.

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47. Um dos primeiros autores calvinista s a denunciar a participação de holandeses no tráfico foi VAN o * HOUT, |

)

ter aoãcoo.m EST ma | estadio “ta esclavitl pao

ah

gi

van de Groot-M

pa

|

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tráfico ou da escravidão.

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p epistolae q

. sta-diplomata quatuor”, ini VON MARTEL, , Z Zweda

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á

us us ed.). Hilversum (ed.)

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SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂN;

268

OARTE 3 - O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

surpreende seu impacto muito limitado no imaginário iconográfico. Não se devia jonn que nestas plantações uma mão-de-obra escrava e geralmente negra ou com traços negr: e da Ín era indispensável, como se podia ver já nas tapeçarias à maneira de Portugal tecidas nos ateliês de Tournai por volta de 1500. Mas eram escravos dos outros, não flamengos ou holandeses. Sobretudo Jan Huygen van Linschoten, no seu Itinerario (1596 com frequentes reedições e traduções em inglês, alemão e francês, contribu ape Es

ai

269

da cultura européia merece certamente uma investigação ambiciosa .”'3 Há, por exemplo,

| a "erâmica de Delft, que, se bem que geralmente mais orientada para a chinoiserie, mostra, nº produção de Zacharias Dextra (ca. 1756), escravos negros enrolando tabaco nas plantações.

4

ed

visualização da escravidão no mundo português. Em seis gravuras ilustra sua onipresé de cinco até vinte escravos. Acompanham seus donos montados a cavalo, car

tocam a flauta ou lavam sua roupa branca. Estes escravos eram principalmente abess ab: ab cafres da Etiópia e da África oriental até o Cabo de Boa Esperança, comprados ai fai Linsch indianos. algodão de tecidos preço, por dois ou três ducados, em troca de tim E

A

sublinha que até os marinheiros não aceitavam mais executar a menor tarefa preferiam confiá-la a seus subalternos escravos, arrogando-se o título de cz pitão oi

piloto. Seu olhar de desprezo sobre o escravismo português virou estereótipo até na ilush | de uma reedição das cartas do humanista flamengo Nicolas Clenardus, um dos p ime a criticar este hábito vicioso já em 1535, em Évora."º Sobre a escravidão negra nas Amén Ta nos engenhos de açúcar e mandioca, as primeiras gravuras holandesas apare: era = mes a

o

sobre

do

, Reysboeck van het rijcke Brasilien, Rio de la Plata, Magalanes (1624). Tambe = izavam familiar ilustrações, em publicações de Ioan de Laet e de loan Nieuhof, E e

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RE, nos para utilizá-los nas suas conquistas ultramarinas. sil oi Na pintura, Frans Post é o primeiro a integrar nas suas paisagens do Br re Rea 1h uma presença abundante de sua população de origem africana.” Geralmente pH dançando Ot o, rsand conve ados, agrup e ido reduz muito ho taman em s negro trabalhando, como no Engenho (1668, Rotterdam, Museum Boijmans van, Beuni é ss TE | A

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Apenas em alguns quadros ganham um pouquinho mais de volume, individualizas

;

“en nieuw Oost-Indiên, de François Valentijn (Amsterdam,

1724). Estes atraíram

do, a atenção sobre a situação geográfica e os feitos de guerra. Entretanto, no Es . EMO L Io asiáticas da VOC e na sua colônia do Cabo desenvolveu-se uma verdadeira sociedade E ; ta, comparável à situação social existente nas colônias portuguesas e espanholas! ES “A DroD EapESpria VOC, como instituição, e quase todos os holandeses, além dos próprios ricos E ge es es e outros asiáticos possuíam escravos, às vezes por dezenas, tanto para o serviço | E E É So como para o trabalho na carpintaria, na construção ou nas plantações. Havia E ' gimento de soldados negros, armados, mas descalços, a menos que tenham sido E ados na Igreja Reformada."'º Um rolo japonês de cerca de 1800 mostra na feitoria Jolandesa de Dejima, em Nagasaki, músicos e servidores negros na recepção E. dos dignatários Araie AM dIS, ta

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“parece ter realizado sobre os escravos dos holandeses nas outras partes de seu novo império

erdam, Rijksmuseum), ou de alguma feitoria na Índia, como Hoegli por Hendri “AmsS ck | in Schuylenburg (1665, Amsterdam, Rijksmuseum), alguns desenhos de Esaias Boursse 'em Colombo, no Ceilão (ca. 1662, Amsterdam, Rijksmuseum), ou de Joannes Rach, em “Batávia, os mapas do Atlas de Vingboons e as gravuras de livros, como Naauwkeurige inge van Malabar em Choromandel... het machtige Eyland Ceylon, de Philippus E:Besc Baldaeus (Amsterdam, 1672), Aanmercklijke Voyagie gedaan door Wouter Schouten Naar *Oost-Indien (Amsterdam, 1676), Gedenkwaerdige Zee en Lantreize door verscheiden gewesten va Oostindien, de Joan Nieuhof (Amsterdam, 1682), Reizen over Moskou, door Perziê en 1 idiê, verrykt met drichonderd konstplaten, de Cornelis de Bruyn (Amsterdam, 1711), ou

assento na igreja, vingam se for preciso uma afronta contra seu mestre com U má

F

* holandês dentro do conjunto da pintura holandesa, ele se revela bem superior ao que se umas poucas pinturas com vistas de Batávia, como de Andries Beeckman (ca. 1656,

em palanquins, levam sua espada, o parasol ou a roupa contra a chuva, prey

pouco os holandeses com a presença inevitável dos escravos no ultramar € pre;

TÃO modesto e quase marginal que seja este patrimônio iconográfico sobre o Brasil

colonial, na África, e sobretudo nas Índias Orientais. Até agora se conhecem principalmente

em Goa, onde fidalgos, gente comum e simples soldados, sem qualquer distinção, )

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como em O Carro de Bois (1638, Paris, Louvre), na Vista de Itamaracá (1645

Mauritshuis), no Forte Ceulen no Rio Grande (1638, Paris, Louvre), e no Forte Hr a a

Hendrik. Várias de suas cenas do Brasil holandês escravista se reproduziram em

como gravuras do livro de Gaspar Barlaeus, Rerum per octennium in Brasília... ., AMSEJe Confi nos. africa dos idão escrav pela ssado intere ter-se parece não t Eckhou 1647. istra | senhos de Zacharias Wagner, que ousou reg É]

por muito tempo, ficaram os de Thierbuch tanto um mercado de escravos como as festas de negros (16: ue á a

Kupferstich Kabinett).!'2 A repercussão destas imagens dos três artistas dentroGo EN k

“poEM

110. ROERSCH, Alphonse. Correspondance de Nicolas Clénard. Bruxelles, t. 1, 1940. 111.

Naauw-keurige Voyagie van Nicolaas Clenard... Leiden, 1706.

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1

E ic XIV

DO LAGO, Pedro & DUCOS, Blaise (eds.) Frans Post. Le Brésil à la cour de Lo CORRÊA

112. WAGENER, Zacharias. Zoobiblion, Livro de animais do Brasil. Edição de Edgard dec São Paulo,

1964.

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prime: primeiras publicações de René Lommez Gomes.

DIS Sobre a escravidão nes Lodo cPeOrientai cardemes rk,holandep. 141 Sespiegeld. Zutphen E sas ver BAREND-VAN RRq

E

1619-1725, Vriie

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E

À BEWAGENARR

HAEFT, Marijke. Oost-Indiê

724, Pp. 131-66; NIEMEUJER, H. E. Calvinisme en koloniale stadscultuur, Batavia,

Miversiteit Amsterdam, Tese de doutorado, 1996; PETERS, Marion. In steen O e ar VOC-dienaren op de kust van Coroman

Sar de vooravond van a

del. Amsterdam, 2002, pp. 62-

il

e, VOC-vestiging in Ceylon, Beschrijving van een koloniale samenleving

— 49-60; BOSMA, Ulbe &. Ro opstand tegen het Nederlandse gezag, 1760. Amsterdam, 1994, pp. SCHo E Eno e us Indische wereld 1500-1920. Amsterdam, 2003; E “a 1799, Cidade do boo » Machtelt Smit en die 18de-eeuse samenleving aan die Kaap,

2003, p. 323,

3 Roel

,

of. Naporra's omweg, Het leven van een VOC-matroos (1731-1793). Amsterdam,

270

=

are 3 - O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÃ

Tratava-se geralmente de asiáticos de pele escura, originários das ne Molucas. | Bengália ou da costa do Coromandel, que foram vendidos por seus parentes, ou qt

conresentação, a grande diversidade dos tipos africanos invalida modelos simplórios de RE yretação. Sua proximidade, quase familiar com o mundo dos europeus, intriga e

Madagascar e das costas orientais da África. As autoridades locais procuravam limits

Flamenga e holandesa desta época. A respeito da visualização da cultura material africana

do concubinato surgiram muitos mestiços, que se agrupavam com os bertdia a

Kas

venderam a si mesmo por problemas de dívidas; mas havia também muitos a ici

|

número dos escravos mantidos por pura ostentação até mesmo por holandeses mui i Às vezes batizavam seus escravos e libertavam-nos por testamento. Desta fa lia

fora dos muros da cidade. Formava-se uma população muito mais diferenciada do

qt

residentes ho ndes e vryburgerscom dos funcionári com, ao oulado Holanda, , oumestiças, também míxties, mestiços, casties,os, ou militares filhos de europeus poesties, ?

de casties com casties, toepassen, ou indo-portugeses, e ainda escravos negros, Er

TRI!

merece novas investigações paralelas tanto na História Social, como na cultura literária

n também mais pesquisas detalhadas sobre os artefatos, tecidos, tapetes, marfins fat | api) e armas, representados nas Adorações e outros temas religiosos, e nas pinturas de

«amers e Vanitates."º? A descoberta do Atlântico africano e afro-brasileiro levou a

intura e escultura flamenga e holandesa a enriquecer as cores do mundo com os inúmeros at es do negro. Além disso, esta moda do africano foi-se espalhando pela E e vocou adesão entre pintores fora dos Países Baixos, às vezes de menor re as i ie ;

mas muito produtivos. Foi o caso do tirolês Stephan Kessler (1622-1700)

encor rado na gravura da Adoração dos Magos, de Rubens por Lucas e

de miscigenação, Batávia ou mesmo a Cidade do Cabo prefiguravam o Rio deJanei

século XIX. Causa espécie que este escravismo e a variedade de tipos humanos

do E ou o suscitaram a criação de uma pintura de castas, como foi o caso do Méxic nem os inúmeros desenhos e gravuras sobre 0 Brasil do início do século MIN “mM esá interessaram tanto pelo Erico como pelas plantações com escravos na Saint-o ni v francesa, seus pintores não registraram estas experiências no ultramar.” Reser

inspiração para mostrar os sofrimentos dos escravos cristãos presos entre os mu como A Trindade e os escravos cristãos, de Gillis Smeyers (1687, Malinas, Igi

e

os temas dos Quatro Continentes um passaporte para salpicar por sua vez ds

P

com grandes e pequenos mouros negros de turbante oriental, se bem que a nf E eza próxima não foi menos estimulante neste manierismo.'2º Mais arde Re

a

pintas

Seriam a Holanda e os Países Baixos muito mais ensimismados que O mu e americano? Deve-se esperar o final do século XVIII, com o despertar da nova antropolos das luzes e as primeiras manifestações do abolicionismo, muito tímido na Holand ver surgir desenhistas como Jan Brandes sobre o Ceilão e Batávia, por volta dei| 17 s E

y sans Sol r za ha lt Ba ns Fra , Sul do ica Áfr da es ot nt te ho Gordon Atlas sobre os cafres e inar no , Sur no ão id av cr es a re sob oit Ben rre Pie de tar s os hindus, e um pouco mai

a do

D XVIII, alguns quadros flamengos ou holandeses serviram de modelo e inspiração à pintur francesa e inglesa, que tomaram a dianteira para desenvolver novos olhares europeus ed osafricanos.” Um quadro como Mademoiselle de Clermont au bain avec ses esclaves

| RRREo Marc Nattier (1733, Londres, Wallace Collection) se situa numa continuidade

João), ou em esculturas de um escravo pedindo esmolas (Wervik, Igreja de Sãod

em

os

dros de Cornelisz van Haarlem ou de Rubens. Quando Jean Baptiste Vanmour, nativo de Valenciennes nos antigos Países Baixos espanhóis, pinta na corte do sultão Dono, a Istanbul, o chefe dos eunucos negros (Valenciennes, Musée des Beaux-Arts) e outras » Certamente tem em mente os retratos de negros e as pinturas de gênero d ra ] im tr ao “2 A filiação histórica dos temas aparentemente novos é mais em s. ulo séc vários te ran cur us pe ro eu grande as a pe ti veram holandesa e ist flamenga pintura a que mais tanto art dJe p pesquisa indispensável, dos io O vári

Conclusão à Pr 2 Deste inventário provisório ressalta, a título de primeira conclusão, que é de africanos no imaginário artístico flamengo e holandêsé muito mais duradoura do que se podia imaginar. Ultrapassa de longe o papel do índio americano ico exóticos dos Países Baixos. Além disso, se não falta o estereotipoé egór

117. Sobre a participação dos Países Baixos meridionais no tráfico, ver RINCHON, pie er. Liévin Van Alstein, A Capitaine négrier, 3 Gand 1733-Nantes 1793. Dakar: IFAN, t.

/1,:

= ari

io Mercy-Argenteau, status quaestionis, ver KOLENBERG, Tomas. Florimond-Claude de 1092.

plantages op Saint-Domingue. Lovaina: KULeuven, Tese de licenciatura em História, h Ceylon; 1 Ee 118. DE SILVA, Rajpal & BEUMER, Mieke. Illustrations and Views of Dutc

'Cafen van ng fers en Hottentottem”, Leiden, 1988; HUIGEN, Siegfried. “Huishoudi

inwoners van zuidelijk Afrika in de Gordon Atlas”, in DE JONG et alii. Picturing Reaa 205.

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2000.

» Ézio. African Art and Artefacts in Eu ro

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L7 E NOEL, Eri

Ro Leo & STAMPFER, Helmut

..

pean Collections 1400-1800. Londres: British Museum,

(ed (eds.). Stephan Kessler, 1622-1700. Bressanone, 2005.

Être noir en France au XVlle siêcl écle. Paris, 2006; HONOUR, Hugh. The Image of'the Black Cambridge, 2t., 1989. dota Am

veline etet alii. Peitos du Bosphore au dix-huitiême siécle. Paris, 1989; SINT-NICOLAAS, Eveline

eur, de Sultan en de Kunstenaar, Op audiêntie in Istanbul. Amsterdam, 2003.

272

=

PARTE 3 - O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

273

Figura 3: Um capitão espanhol, acompanhado por seu “servidor negro, faz a corte a uma senhora flamenga. Desenho na obra de emblemática política, 'Patientia' de

doris Hoefnagel,

1569,

facsimile de R. Van

edição

Roosbroeck, Antuérpia, 1935.

Figura 1: Cupido, representando a África num lustre dos 4

continentes, esculpido em madeira por meados do século XVIII. Conservado no Museu de Artes decorativas de Grand.

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Figura 4: Folheto sobre maravilhas, de Nic laes Mollijns,

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Figura 2: Melchior Schetz, acompanhado

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ci por Um mouro,

abre como príncipe o desfile da Câmara de Retórica do Landjuweel,

Festival de Teatro, em Antuérpia, 1561.

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Antuérpia,

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Plantin-Moretus.

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADEA

275

Figura 5: Retrato de mulher africana, provavelmente numa série sobre os quatro continentes, atribuído a Jan Boeckhorst, discípulo de Rubens, apresentado por uma galeria de Londres na Feira de Arte de Maastricht.

Figura 7: Retrato de jovem negro de autor desconhecido. Apresentado pela galeria Polak de Amsterdam na Feira de

Maastricht.

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274

7. ARTUR TR q

ntado pela Figura 6: Cupido negro numa pintura alegórica de Pieter Lintens. Aprese

galeria Wijermans de De Wijk na Feira de Arte de Maastricht.

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= TRÂNSITOS E AMÁLGAMAS” DE TÉCNICAS,

"SABERES E PRÁTICAS CULTURAIS NAS MINAS DA

E

AMÉRICA PORTUGUESA!

Flávia Maria da Mata Reis F

| E constante expansão do mundo moderno, operada a partir do sécu lo XV com o enômeno da “mundialização ibérica”,? permitiu que na América portugues a os mundos Europeu, africano e indígena fossem colocados em contato. Este encontro foi marcado por onflitos, acordos, estratégias, adaptações e acomodações que ditaram os ritm os do processo E-

colonização do Novo Mundo. O desenvolvimento de novas atividades econôm icas, as trocas de ricas e variadas mercadorias, a circulação de idéias, informações e costumes Miversos, o êxodo de pessoas e a fixação nas novas terras fizeram com que os trânsitos Mturais se manifestassem nas mais variadas dimensões e aspectos da vida colo nial, não ! indo sido diferente nas regiões mineradoras do sudeste brasilei ro exploradas entre os eculos XVI e XVIII,

+ 9 presente trabalho, fruto de pesquisas ainda em andamento, parte do pressupo sto

de que a mineração

colonial,

ao exigir conhecimentos

específicos para o seu

isenvolvimento, configurou um espaço profícuo e dinâmico para as trocas, apropriações

| E ações de técnicas e práticas culturais. As evidências encontradas nos documentos ERMCo 8, NOS registros iconográficos e arqueológicos permit em considerar que os

Pinecimentos trazidos por especialistas europeus (portugueses, espanhóis, alemães e “Mengos), que contavam com uma longa tradição na atividade minerári a em suas terras "+ 8€m, paulatinamente teriam se amalgamado com as crenças e os saberes introduz idos MOS escravos africanos, somados ainda à experiência prát ica de indígenas.

Re = 19 Eresultado das pesquisas que estão sendo realizadas para o mestrado junto ao Programa de do sam, S50 em História da

ent PA

tits

Fafich/UFMG e contou com o apoio do CNPq. Agradeço aos coordenadores

9, em especial à professora Júnia Ferreira Fur tado.

Ne“eia E 'SKT, Serge. Les Quatre Parties du Monde; historie d'une mondiali sation. Paris: Éditions de La Here, 2004, pp. 35-76.

SONS,

278

FORMAS,

CORES

E MOVIMENTOS

NA

MODERNIDADE

|

Pouco se sabe sobre a atuação dos técnicos europeus que em diferentes momente

— preciso considerar que a própria natureza da atividade minerária impunha um aprendizado prático, adquirido através da observação das formações naturais, do experimento, da

convivência e da tradição oral, elementos estes que compunham o cotidiano das minas. Assim, por exemplo, o uso comum entre portugueses e espanhóis de termos relacionados ao universo técnico-mineral, tais como bateia, almocafre, cata, beta, piçarra, pinta, socavão, etc., pode ser considerado um forte indício de um contato mais permanente no espaço das

lavras.” Corrobora para a existência de um trânsito de conhecimentos e técnicas o fato de

se encontrar em diferentes momentos espanhóis circulando pelas lavras portuguesas, e, no sentido inverso, portugueses circulando nas regiões das minas espanholas. | Ásricas minas de prata descobertas e exploradas nos vice-reinos da Nova Espanha e do Peru tornaram-se uma referência para as primeiras prospecções minerais realizadas na “América portuguesa. Os descobrimentos nas terras espanholas exerceram verdadeiro fascínio sobre autoridades régias e colonos luso-brasileiros, alimentando imaginários e promovendo à vinda de homens especializados na atividade minerária, que chegaram, inclusive, a dcupar altos cargos ligados à administração das minas, como os espanhóis Agostinho de “Soutomayor e D. Rodrigo de Castelo Branco. Tal constatação, de certa forma, nos permite pensar que houve, por parte dos portugueses, um reconhecimento e valorização da Experiência espanhola adquirida nas suas minas do Novo Mundo. po Assim, talvez não por acaso, o castelhano Felipe Guilhem foi um dos primeiros mineralogistas a prospectar no Brasil, onde teria aplicado “a experiência e certos

ss

se verdadeiras escolas de formação e aperfeiçoamento de mineradores, ensaiadore engenheiros e metalurgistas de toda a Europa”. Mas também a Espanha, e mesmo Portuge

apresentavam uma certa tradição na atividade minerária, sendo as minas auriferas (ve

e aluvião) exploradas desde os tempos da ocupação romana na Península, nas Pro! yíncia

da Lusitânia, Áustria e Galícia, com destaque para a região de Estremadura (noroeste Espanha), em cujas explorações já se empregavam desvios de cursos d água, méto( bastante difundido nas Minas durante o século XVIII. É preciso considerar aindaa presenç árabe na Península que, na mineração, teria contribuído especialmente com ai ntroduçé das rodas hidráulicas usadas no esgotamento de infiltrações nas escavações? Merece referência especial o tratado De re metallica, do germânico Georgius Agric olé (nome latino de George Bauer), uma espécie de manual prático de mineração publica À em 1556 e que foi adotado na Europa até meados do século XVIII.º Os ensinamento Lu

[ Conhecimentos de que dispunha, em que entravam curiosidade, fantasia e, principalmente, ambição de melhorar a vida”. Guilhem veio ao Brasil em 1538, por ordem régia, e fixaraPÉ primeiramente na capitania de Ilhéus. Já na década de 1550, foi nomeado pelo

há secule reunidos na obra de Agrícola — colhidos em suas observações de técnicas aa E

A

Buarque de.

antecedentes

luso lusos- brasileiros” dat História Geral GeralER eiros”, ininiHistórial

Brasileira. Rio de Janeiro/São Paulo: Difel, Tomo 1: A Epoca Colonial,v. 2, 1977,p. 251.

| Bovernador-geral Tomé de Souza provedor da capitania de Porto Seguro, ficando

RE “olhar

ss

* Outras

a

da produção arBe" TT 4. HOLANDA. “A mineração...”, p. 249. Nos séculos XV e XVI houve uma expansão divã da Saxônia autoras

a

di

mo

prata do cobre nos minerais. Os principais locais de produção eram: Tirol, Hungria, Boémia,

Alsácia e Saxônia. Entre 1510 e 1520 aparecem os famosos taleros, antiga moeda de prata alema “a

Ouro e moeda na História (1450-1920). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980, p. 90. O 5. BARGALLÓ, Modesto. La mineria y la metalurgia em la America espafiola durante la época com Mexico: Fondo de Cultura Economica, 1955, p. 22. a

e

AGRICOLA, Georgius. De re metaliica. Trad. de Herbert Clark Hoover. New York: Dover Publisa” 1950, AM

|

TITE

crertoriics

PasterioLm: Ra 6. Esta obra foi escrita originalmente em latim, tendo sido traduzida para vários idiomas possa

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minar pesquisar/exa da t Odesieam

ras =

na Europa, sob os auspícios dos germânicos, quando em 1451 o duque

de amálgama com chumbo nos processos de beneficiamento, o que permitia separar mais tac

279

— Na América portuguesa pouco se sabe sobre a circulação de tratados de mineração durante os séculos XVI-XVII, e mesmo durante o XVIII, ao longo do qual as ricas jazidas de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás foram sistematicamente exploradas. No entanto, é

e que alguns ainda acumulavam a experiência mineradora obtida em várias mundo. O destaque cabe aos germânicos que, devido às condições locais foram capazes de desenvolver os melhores métodos e instrumentos para de metais, especialmente da prata e ouro. Destacam-se, sobretudo, as agiõe

Nina “A mineração:

E NARRATIVAS

“Nova Espanha, Nova Granada e Peru os processos de extração e beneficiamento de metais E disponíveis na Europa, juntamente com os saberes relacionados ao universo das lavras.

século XVI chegaram à América portuguesa, estavam imbuídos dos métodos então praticade

SENDEo SS - HOLANDA HOLAND

IMAGENS

teria comprado um exemplar daquela obra, disponibilizando assim para os mineiros da

flamengo Cornélio Arzing, especialista na construção de engenhos de ferro. Todavia, de maneira geral, pode-se dizer que os mineiros práticos, que a partir de

dar

EM

rapidamente chegaram também às colônias espanholas da América. Já em 1557, Felipe II

vários outros, do sertanejo Antônio Rodrigues Arzão, considerado um dos primeiros descobridores de ouro nos ribeiros das Minas Gerais, em 1693, e que seria descendented

as

ATLÂNTICO

desenvolvidas nos principais centros mineiros europeus — tiveram longo alcance e

foram trazidos para a América portuguesa por iniciativa da Coroa. Menos ainda so) | aqueles que vieram por iniciativa própria, movidos pela esperança de auferir gr lucros nas novas terras do além-mar. A documentação a respeito muitas vezes n3 localizada, já não mais existe, está dispersa ou é pouco precisa. Outras vezes, não est acessível ao pesquisador brasileiro ou, o que é pior, torna-se confusa devido à tendênci: generalizada nos documentos de naturalização dos nomes estrangeiros. Êo caso, dent |

na Europa, partes do favoráveis, mineração

MUNDO

90

ATLANHE

»9

as jazidas minerais, por ser considerado perito em

erra, e o que nella há, porque sem duvida É la esmeraldas

e

as .º Já no governo de Duarte da Costa, em 1553, partiu também de Porto

o com Langue e Salazar-Soler, “el lenguaje aparece a la vez como el lugar privilegiado de ese

e revelador de un verdadero mestizaje cultural”., in LANGUE, Frédérique & SALAZAR-SOLER, Recherch » Liccionariooa de términos mineros para la América espariola (siglos XVIXIX). Paris: Éditions à 8B.p sê les Civilisations, 1993, p. XXV À Históri j a

E

de Almeida. A Bahia e as capitanias do centro do Brasil. São Paulo: Nacional, Coleção

9 PRADO Ap mação da Sociedade Brasileira, v. 3, 1945, pp. 297-8. | “A Bahia e as capitanias..., pp. 297-8.

280

SONS,

FORMAS,

CORES E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE4

L ÂNTIC

PapTE

Seguro, juntamente com doze homens e o padre Aspilcueta Navarro, o castelhano Bruz;

visto a experiência que detinha neste assunto, oriunda das suas andanças pelas ter d rr

CU

281

| A — Em consonância a essas recomendações, em 1591 foi nomeado provedor das minas

Com essas e várias outras investidas, pelo menos desde meados do século xy

do Brasil o castelhano Agostinho de Soutomayor, verdadeiro globe-trotter nos espaços do E ndo ibérico. Prático minerador das minas de prata do Peru, em 1574-75 encontrava-se aserviço de Portugal nas concessões minerais portuguesas recém-conquistadas aos árabes,

espalharam-se notícias sobre a existência de riquezas minerais nos sertões da. Bahia

Pernambuco, Porto Seguro e, com mais insistência e acerto, nas “partes do sul”, que incluia

a capitania de São Vicente, na qual o mineiro Luís Martins, então enviado por Portugal Brás Cubas, na qualidade de provedor da Fazenda Real, teriam descoberto ouro entre anos de 1560-61.'º Dra Mas foi somente no final do século XVI, mais especificamente no último decê; io, qt Ro

EM IMAGENS E NARRATIVAS

e, para a prata, mineiros de Potosi; para o ferro, oficiais de Biscaia, e, da Alemanha, E oiros para o ouro de betas, salitre e enxofre, além de ensaiadores e refinadores para Ear do tipo de metais.

de Espinosa, conhecedor da língua dos gentios e encarregado de descobrir minas preciosas

peruanas.

3 - O MUNDO ATLÂNTICO

na África oriental, na região do grande Império do Monomotapa. Foi encarregado de

mto

do ministrar as minas de ouro e prata e de propor soluções para sua exploração mais eficaz, já que sob seu olhar, os africanos não dominavam a “verdadeira” arte de minerar. Ap “um estudo das jazidas de veio, o espanhol sugeriu a instalação de moinhos para

“pulverizar a rocha.'? Com conhecimentos acumulados e tendo observado diferentes métodos

a atividade mineradora mereceu maiores investimentos, pois foi justamente quar é o se

confirmaram as notícias da descoberta de metais nas proximidades de São Paulo que

extração — tanto africanos quanto indígenas -, há de se considerar que esse experiente

4

técnicos estrangeiros foram enviados para a América portuguesa. É preciso considerar qui

'minerador contribuiria de alguma forma para o incremento das explorações na América

Felipe II, o que justificaria, em parte, este novo incremento dado à atividade, visto que Espanha, quanto às suas minas, manifestou maiores preocupações neste sentido.Não pj acaso, sob as Ordenações Filipinas, foi promulgado o primeiro regimento

“Animado pelas descobertas da expedição paulista chefiada por Sousa Botafogo, que partira em 1596 em direção às cabeceiras do rio São Francisco à procura das cobiçadas e legendárias serras de prata e esmeraldas, D. Francisco de Souza, em 1599, transferiu-se

adotado. Merece menção especial o artigo 37 do referido regulamento:

patrocinado diversas viagens em demandas de minas e de índios. Em seu projeto, D.

este momento foi também marcado pela união de Portugal e Espanha sob o governo di

portuguesa.

administração das minas de ouro e prata encontradas no Brasil, no qual claramente observam referências à experiência espanhola como modelo de exploração a ser entã

para São Paulo “acompanhado por um séquito de mineiros práticos da Alemanha, Holanda “spanha”.'* Entre 1599 e 1611, quando faleceu, o governador tinha autorizado e mesmo

a

le Porque o melhor lavrar das Minas de Ouro e Prata, quando nas betas são fixas e: undas.

P fancisco propunha articular os setores de mineração e agricultura com base na mão-de“obra indígena.

e não se lavrarem nem cavarem a pique se não atravês por ser assim a obra mais orte

|

espar

e mais segura para os que nelas trabalharem puderem chegar ao metal combna

experiência tem mostrado em muitas partes do Peru, Nova Espanha trabalharão quanto. fôr possível os que lavrarem minas desabrirem só cavando-as por baixo em través para longe das suas minas (...).”

pique então havia partido em busca de minas preciosas. No ano de 1595, foi enviado à ca Pitania de São Paulo onde, juntamente com outros dois mineiros (um deles alemão),

|

=

a

da!

54 a descoberto a serra de Araçoiaba, cujas amostras, enviadas à Espanha em

RE

a ..

11. Ver: LEME, Pedro Taques de Almeida. Notícias das minas de São Paulo e dos sertões da mes ge: ca

São Paulo: Livraria Martins Editora S.A., 1953. Coleção Biblioteca Histórica Paulista, V. X, PP:

e

y

- ? Sérgio B. de Holanda afirma que providências neste sentido, embora mais modestas, teriam sido tomadas

|

Ee 1586. A partir da análise na Biblioteca da Ajuda de um rol manuscrito encontrou uma relação de E z E fundidores, ferreiros e outros oficiais trazidos para as “capitanias de baixo” entre aquele ano RR e 1604, HOLAN DA. História geral da civilização brasileira. Tomo 1, v. 2, p. 250.

DE

“mA | e EA,

Composto por 63 artigos, muitas das suas disposições foram retomadas em regimentos,P

e 4

a

em ESCHWEGE, W.L. von. Pluto Brasiliensis. Belo Horizonte: Itatiaia, 1985. v. 1, pp. 83-92.)

qm —

19

o

Res

com Eschwege, este regulamento permaneceu 50 anos na Espanha e só em 1652 foi registrado no DES

1600,

em ferro e ouro. Em 1602, Manuel Juan foi nomeado Tevelaram ser a mesma riquíssima “Erovedor da Real Fazenda de São Paulo. me, z

es PatM fato marcant foram der-geral século XVII do os seprincípios e 1590 de década A | anci Fr D. destacaram as ações do governado mineração, período no qual Souza, grande partidário da vinda de técnicos estrangeiros para o Brasil. Em aponta! entos oferecidos ao rei, em 1607, indicava para a exploração das minas de ouromineiros chilenos

bandos expedidos para a administração das explorações auríferas em Minas Gerais durante 0%a Uma cópia desse regulamento, com algumas diferenças na transcrição, também pode ser e

ola, encontrou apoio em Manuel Juan de Morales (Manuel Joã o), espanhol que

integrava a referida comitiva. Este mineiro, quando chegou ao Brasil em 1592, foi Primeiramente enviado pelo governador ao sertão de S ergipe para encontrar Gabriel Soares,

o que poderão começar a bôca do tal socavão onde melhor lhes parecer ainda que seja +

Aoque parece, esse projeto, com claras inspirações no sistema praticado na América

O

António Luís. O Monomotapa. Lisboa: Grupo de Trabalho do Ministério da Educação para

emorações dos Descobrimentos Portugueses, 1994,

h Com O, John Manuel. Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: “Ompanhia das Letras, 1994, pp. 58-61. Os investimentos do governador D. Francisco de Souza no

E

a emento da mineração resultaram na sua nomeação em 1608 para governar com plenos poderes a

— FPartição Sul e superintender as minas do Brasil.

282

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂN

ARTE 3 - O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

283

“os morros, exigia dos descobridores um domínio efetivo da geografia/hidrografia dos "descobrimentos. Nesse sentido, o costume indígena de “memorização geográfica”, “ anropriado pelos sertanistas nos deslocamentos pelos sertões, favoreceu sobremaneira as sec bertas de ricas jazidas. A extraordinária capacidade dos negros da terra de observação

indígenas fossem organizados em aldeias administradas por jesuítas, localizadas próxim a às minas de ouro e ferro, onde trabalhariam por jornal e “paga justa”.

“reconhecimento das minas a partir dos sinais e da disposição dos elementos naturais nos “Jugares onde os cobiçados metais e pedras preciosas podiam ser efetivamente encontrados.

Ê

Já em 1636, em apontamentos dirigidos ao Rei Felipe IV, o minerador : inda da o Paulo, pedia que lhe fossem enviados metalurgistas para dar continuidade aos. enger h de ferro, então desativados pela morte dos fundidores. Demonstrando experiê ia organização do trabalho e da exploração das minas pelos sistemas de mitae encomient

da forma como se praticava “en las índias de Castilla”, sugeria ainda ao Rei: que

diferer em difere Ao longo do século XVII, diversas foram as notícias de achados minerais lugares da capitania de São Vicente, sobretudo ao sul, em territórios dos atuais estado Paraná e Santa Catarina, é nas reduções espanholas do Paraguai (Itatim, Uruguai, (

São Paulo, em Parnaíba, Curitiba, Cananéia, Iguape e especialmente em Paranaguá, E

em 1658 encontrava-se envolvido no descobrimento de um rico veio o experiente) Comas, mineiro espanhol que antes disso havia trabalhado durante 18 anos nas minas ro ré à capture pouca duração. Foi somente no final do século XVII que os paulistas, afeitos em sem índios, mas de nenhuma forma indiferentes às riquezas minerais, ao penetrarnos

M

das Gerais, encontraram os ricos depósitos das minas de ouro.

se a prese No contexto das empresas descobridoras, mais uma vez encontraespanhola, oficialmente reconhecida pela Coroa portuguesa. O caso emblemát: co éc castelhano D. Rodrigo de Castelo Branco, enviado ao Brasil para examinar as minas ouro é prata descobertas em Paranaguá, bem como as de S abarabuçu. D. Rodrigo:

“depois de andar pelo Peru, recolheu-se à Europa com os conhecimentos adquirido: como soube que o Rei de Portugal carecia de um especialista, apresentou-se paré

encarregar dos descobrimentos”.”” Em 1673 foi nomeado pelo rei administrador minas de ouro e prata já existentes, tendo plenos poderes e jurisdições par novas minas preciosas. Por volta de 1680, após os parcos resultados obtidos em! organizava-se em São Paulo a bandeira chefiada por D. Rodrigo de Castelo B ranco, € o encargo de seguir a bandeira de Fernão Dias Paes (que partira em 1674) e upervis f

A — seus achados. No Brasil, ao contrário do que ocorreu na América espanhola, os poi ugueses

= Ee fundição de metais para que pudessem logo tirar proveito. Contudo, isso não impes a contribuição indígena se manifestasse em outros aspectos também indispetaa encontraram uma população nativa detentora de conhecimentos e técnicas de

atividade minerária. A realização das empresas descobridoras, que partiam para 0 desconhecidas em busca das faisqueiras nos leitos dos rios e dos ricos velo Esc do

Paulo, 1636”, in CORTESÃO, Jaime. Jesuítas e bandeirantes no Guairá. (1 549-1640). pp

16. BOXER, Charles R. Salvador de Sá and the Struggle for Brazil and Angola 1602-1686. ; Rd

of London; The Athlone Press, 1952, p. 191.

17. VASCONCELOS, Diogo de. História antiga das Minas Gerais. Belo Horizonte:

Nãoã por acaso, os próprios índios eram valorizados pela sua condição de guia, vistos

“como os conhecedores dos locais onde existiam as grandes riquezas. Além disso, os nomes “de origem tupi, aplicados para identificar os rios de pinta rica e as serras resplandecentes — como Itaberaba-açu, a legendária serra de prata —, são também um indício da apropriação

de elementos indígenas no universo das explorações minerais.

Seja como for, é certo que os indígenas participaram sistematicamente das entradas descobridoras como mão-de-obra para as mais diferentes atividades necessárias ao empreendimento. E é provável que tenham contribuído ainda com algum incremento técnico naquelas primeiras explorações. Por exemplo, a prática de macerar as folhas de determinadas Plantas junto à água usada na lavagem do sedimento aurífero com o intuito de precipitar, no fundo da bateia, as partículas sobrenadantes, bem poderia ser uma adaptação do “Costume dos índios (e sertanistas) de envenenar a água com ervas e cipós específicos para a pesca. E a própria origem tupi do termo carumbé,* recipiente usado para o transporte “do material extraído nas lavras até os locais de apuração, e do termo mundéu, tanque no qua a lama aurífera obtida no desmonte dos morros era armazenada para a decantação

“do metal, indica a presença indígena e/ou mestiça na mineração colonial.

— Por fim, é preciso considerar ainda que entre os indígenas empregados no trabalho E as minas ou nas expedições descobridoras, alguns já poderiam ser especializados nas a tividades mineiro-metalúrgicas, com conhecimentos adquiridos nas missões jesuíticas do | Ea a ai, região de alvo constante das investidas paulistas para o apresamento de mãoE obra. Interessante nesse sentido é a carta do Frei Gabriel de Valencia, enviada em 1657 E governe dor de Tucumã, D. Alonso de Mercado de Vila Corta. Ao tratar dos problemas Enc Os da posse de armas de fogo pelos índios das missões localizadas nas imediações Sos nos Paraná e Uruguai, o religioso afirmava que naquelas reduções, já por volta de e E = SSlicavam-se arcabuzes com quatro forjas instaladas pelo padre Domingo de Torres, + | — 48. Sobre Dre as habilidades e saberes dos naturais da terra ver especialmente HOLANDA, Sérgio Buarque de. e E 19: Deaco e Neleon RR PR pentA Ca Letrosldos Elabuty e O nen de Sena, o termo carumbé é indígena, “designando, entre os Tupys, o macho do E rgnrir ne

E. espião de Jan e acasteine 15. “Documento XXXVI: São Paulo, os paulistas e as bandeiras julgados por Un

Biblioteca Nacional/Divisão de Obras Raras e Publicações, v. 1, 1951,pp. 1856.

“da natureza, aguçada pela “vivacidade dos sentidos”,!º foi fundamental para ajudar no

mm

e Itatiaia, 1974,

tcem

O, textualmente

— O casco achatado desse Chelonio da nossa fauna; e, porque os

tartaruga, etica; nos serviços de mineração, de uma pequena gamélla parecida com a carapaça da | veio o brasileirismo Carumbé; que é a alteração prosódica do legitimo tupy carambé”. |

po NA, Nels on ade. Factosos ee casos da nossa lingua no Brasil — ainda sobre africanismos “a ocurrentes na

* Estado, ano xy o asileita. Revista do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do *V 1, 1937, pp. 306-7. De etimologia tupi - mu'nde— a palavra significa “armadilha de “Caça” :

VAISS, Instituto Antonio. Dicionário HOUAISS da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Diet , 22001, — Sbetiva

a

284

=

SONS, FORMAS, CORES E MO VIMENTOS NA MODERN] DADE NR AML

4 O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

4

“a

natural de Andaluzia, ajudado pelo padre chileno Francisco de Molina e peleci| . 1 Acrescentava ainda o informante que, com a ajuda desses hábeis oficiais,a cal | a anos dessa atividade, “deve-se crer que entre os índios haverá já oficiais que tenhas x ao primor de mestres”20 a

a capuchinho italiano João Antônio Cavazzi de Montecúccolo apontava as diferentes ocapt dos reinos do Congo, Matamba e de Angola, onde ricas minas de metais eram RR A rovíncia de Chela (Angola), por exemplo, fornecia grande quantidade de contradas. O ai das espumas das águas, amassando perto delas capim grosso, de

Pont Dansto dedndigenasro espaço das lavras minerais encontra-se er n gr parte Ro sub-re gistrada, o mesmo se pode dizer sobre a atuação dos escrav os a | Feie i muitas vez

Ro o O! a que,

pao =

separan

do-se toda a sua humidade, se torna, aos poucos, matéria consistente,

depois, por meio do fogo, se transforma em ferro perfeitíssimo”.2? Também o metal | ser obtido durante as chuvas quando, perto das minas, os africanos “tomam uma carta que as águas levam para os caminhos ou para as valetas e, colocando-a sobre porta”terra jo, tanto a trabalham com os foles que, por fim, separando-se as escórias, fica o Err aito bem fundido e purgado”.”* Conhecimentos estes que, transplantados para a E E sa portuguesa, certamente poderiam ser aplicados nas prospecções de jazidas e na E secão de ferramentas simples, como alavancas e cavadeiras indispensáveis à atividade

es simplesmente como a força de trabalho empregada na mine racão É que, com a consolidação da atividade mineradora a partir das descobertas das cas | e

mo

e. aj

E

i

se

auríferas nas Minas Gerais, todo o trabalho nas lavras, desde os procesdeso extsraçã

e

RR

a fase final de apuração, baseava-se predominantemente na mão-de-obra scrava nes O escravo tor

nou-se tão indispensável à atividade que, de acordo com as determi acõ Regimento de 1702,2! só poderiam ter acesso às datas minerais aqueles que ivesser A

de-obra disponível para o emprego nas lavras.

285 8

“ma

|

Se, de fato, eram os negros quem estabeleciam contato direto com as mir Za x

minerária, sobretudo quando se tinha o ferro disponível em grande quantidade e geralmente

| q úximo às minas auríferas.

dizer então que elas se tornaram espaços propícios para a transmissão não apen métodos e técnicas de exploração, mas também de crenças e práticas cultur ais afric De fato, vários indícios encontrados nos documentos históricos (escritos e icon ográf c como as semelhanças nas descrições dos métodos de extração aurífera praticadoslos tantc ta Africa quanto nas Minas, apontam para a mediação dos africanos no espaço das la

a Entre os diferentes povos sudaneses da região africana genericamente denominada Guiné, os ferreiros constituíam uma casta profissional dentro de uma est rutura social | fita mente hierarquizada, e eram mantidos fora da sociedade possivelmente por causa do À poder que detinham: “um poder sobrenatural, que se fazia evidente ao transformarem o solo laterítico em instrumentos de ferro”. Na Costa dos Escravos (Golfo de Benim), o

identificar diferentes os séculos detinham

intimamente associado aos cultos e à divindade de Ogum. — Jáas jazidas de cobre, ao que parece, eram mais escassas no continente africano, sendo encontradas em Takedda e no Magrebe. Todavia, isso não impediu que o seu uso fosse bastante difundido entre os habitantes da larga faixa ao sul do Saara, sendo adquirido

Todavia, ainda que se reconheça a influência africana, é praticamente imposs

ferro tinha grande importância religiosa para as sociedades yorubá, estando o metal

precisamente a procedência dos seus conhecimentos técnicos, uma vez que regiões da África que exportaram escravos para a América portugt es: duran XVI a XIX, podem ser identificados grandes impérios e grupos étnicos qu uma longa tradição de exploração de metais como o ferro, o ouro e o cobre

o caso da Senegâmbia, Alta Guiné, Costa do Ouro, Costa dos Escravos, África centre

por meio de trocas com árabes e europeus, dos quais obtinham as cobiçadas manilhas. Na

ocidental e África oriental. De todas essas regiões africanas, a exportação de scr para a América portuguesa variou de acordo com as diferentes conjunturas econômicas rs

políticas que determinaram o comércio transatlântico.

“maior parte da África ocidental, |

cida

*

De forma geral, na África subsaariana, o ferro tornou-se conhecido por volta de 30

a.C., embora os primeiros metais utilizados tenham sido o ouro e o cobre, mais

manipular no seu estado natural, ou mesmo

R

fáceis

a favorecer a fertilidade e à conjurar perigos (...). Era, por exemplo, em bacias de latão

África centro-ocidental, “quando os portugueses atingiram pela primeira ve az foz d Congo, em fins do século XV, verificaram que o 'maní, ou rei, do Congo era membro dé uma corporação de ferreiros' rigorosamente hermética”.22 Já na segunda metade do séc

ou cobre, e só nelas, que se recolhia, em muitos lugares, o sangue dos sacrifícios.”

Pra

=:

|

20. Documento XXV: Cópia de uma carta do governador de Tucumã para Frei Gabriel de Val enci:

ta ] |

seus membros, 1657”, in CORTESÃO, Jaime. Jesuítas e bandeirantes do Itatim (1 596-1 760). Rio« | Janeiro: Biblioteca Nacional/Divisão de Obras Raras e Publicações, 1952, v. 2, pp. 259-60. a

,

21. Regimento original do superintendente, guarda-mores e mais oficiais deputados para as minas de ourt que há nos sertões do Estado do Brasil”, in Códice Costa Matoso. Belo Horizonte: Func ação Joac

Pinheiro/CEHC, 1999, v. 1.

k

22. DAVIDSON, Basil. Revelando a velha África. Lisboa: Prelo, 1977, p. 80.

t + PAR

a

ros iaomos sãos reis-e potentados -Prrasmumerosorspovos sera

(untamente com suas ligas) um poderoso amuleto, destinado a assegurar a boa saúde,

forjar, quando fundidos, do que o erre gi

Franciscano, mas egresso da Companhia de Jesus, pedindo notícias sobre esta, com a respectiva contendo informes muito particulares sobre toda a província jesuítica do Paraguai eas ativida ES

O cobre era extremamente precioso, por sua escassez e caráter mágico. Usava-se nos

?

23. MONTECÚCCOLO, Pe. João António Cavazzi de. Descrição histórica dos três reinos do Congo, Matamba eAngola [Bolonha, 1687]. Tradução, notas e índices pelo Pe. Graciano Maria de Leguzzano, O. M. Cap. Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar/Agrupamento de Estudos de Cartografia Antiga, 1965, v. 2, p. 22. A

ZA. MONTECÚCCOLO. Descrição histórica..., v. 2, p. 165. 25. SILVA, Alberto da Costa e. A manilha e o libambo: a África e a escravidão de 1500 a 1700. Rio de

Janeiro: Nova Fronteira, 2002, p. 160. 26. Ver, sobre o tema: ADEKOYA, Olúmúyiwá Anthony. Yoribá: tradição oral e História. São Paulo: Terceira

27

Margem/Centro de Estudos Africanos-USP 1999.

* SILVA.A manilha e o libambo..., pp. 178-9.

286

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTIE

| “PARTE 3 - O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

Dentre esses povos, destacavam-se os acás, grandes produtores de ouro, para quem toda uma importante atividade manufatureira dependia da importação do cobre e si ni »



z

mi

“te

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*

E

descoberto, corresponde a um personagem afro-brasileiro, de caráter “ancestr e, fundador e totêmico, cujo aparecimento público está associado à figura do Boi”.

o

-

ligas. E, entre os povos do Golfo de Benim, era notória a destreza com que manipul: sia

= |

e: À

Se ele aparece mais perto, mostra que o diamante não tard a. Sairá na primeira lavagem,

se a pessoa luta com o boi durante o sonho. Esse tipo de sonho é dos mais certos, e por todos interpretado de maneira igual. Importa sublinhar esse s sonhos de que o boi é o protagonista.**

* que que que,

Na



primeiras expedições aos sertões os negros participaram com seus conheci nen

— tinha fundamento, pois sob a denominação mina se misturavam africanos de variadas

|

| * Procedências,?* tanto da costa quanto do interior do continente, incluindo aqueles ori undos

| “Ba |



qm *é

bastante escura, o que engana facilmente. Há uma outra espécie de ouro falso que se e ao ouro maciço

ata

ro ef

e não passa duma certa matéria composta de coral fundido. Também > papa embora para isso se sirvam quase sempre de cobre limado, ao qual dão a cor do ouro . 2» da Áfici Voyage de Guinée. Amsterdão, 1705, apud COQUERYVIDROVICH, Catherine.A descop qu Lisboa: Edições 70, 1965, p. 129. 1 “aa

30. RICARDO, Cassiano. Marcha para oeste. São Paulo: José Olympio, v. 2, 1940, pp. 240-1.

|

3a.

:

.

= E RE raguá é, sem dúvida, um personagem afro-brasileiro, formalmente similar à outras figuras africanas Secorejose autos dramáticos”,

“A

falso vulgar é composto de prata, de cobre e de uma pequena quantidade de ouro; apre

Também africanos de outras origens étnicas detinham conhecimentos e habilidades se tornaram fundamentais no espaço das lavras. O destaque no caso cabe aos negros genericamente eram denominados mina. O poder que se atribu iu aos “minas” fez com no séculoXVIII, Se tornasse crença comum entre os mineradores que, se não tivessem

uma negra “mina”, não teriam sorte nas suas explorações.?º De certo modo, essa crença

mas a atuação africana nestas explorações. O Jaraguá, denominação dada-aonae aa

dentro apenas há cobre e, muitas vezes, ferro; inventaram isto ainda não há muito cena

.

para quase todos (...). Sonhar com um boi à distância é diamante certo mas demorado.

correspondência com algumas das estratégias adotadas pelos escravos negrosn as avras das Minas Gerais, como a mistura de limalha de latão ao ouro em pó, alvo constante das reclamações de autoridades régias e dos oficiais das Casas de Fundição no século XV IL Partindo do pressuposto de que a contribuição africana no desenvolvimento de mineração colonial é potencialmente múltipla, uma vez que em diferentes regiões da África havia uma tradição de mineração e metalurgia, é possível considerar que já nas

fundem alguns bocados, de maneira a arranjar uma capa exterior de ouro da grossura cui a

a

De outra parte crê nos sonhos fastos e nefastos. Variam as interpretações, segundo o resultado da experiência. Em todo caso, há sonhos que se decifram de maneira igual

relatos sobre as formas como os africanos fabricavam ouro falso apresentam: ma certé

para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1996, pp. 21-3. — «masa pe er. 29. Ao observar esta prática entre os africanos da região da Guiné, assim relata o viajante W. Bosme

£

| oferecem alguns indícios dessas resignificações e permanências:

de extração, foram trazidas também para as lavras auríferas práticas de falsificação. O

e so. 28. FERRONHA, António Luís. As civilizações africanas. Lisboa: Grupo de Trabalho do Ministério daJE Educas



manifestações no espaço das lavras, onde junto às esperanças de encontrar riqu ezas se misturaram agouros, adivinhações, feitiços e outras práticas religiosas? As crendices colh idas por Aires da Mata Machado entre negros garimpeiros de São João da Chapada, em “princípios do século XX, ainda que tão cronologicamente apartadas daq uele “Jaraguá”,

peritos no trabalho com diferentes metais permite pensar que, juntamente com as técnicas

XVI, com as explorações de Afonso Sardinha, o moço, nas minas auríferas do morroa Jaraguá. Nos últimos anos quinhentistas, esse paulista “os mandou buscar A Bi SEA k cisco, chegando ao gosto de possuir um navio de carreira de Angola par RAR ema fp do e St parece confirmar não A apenasa presença

*

crenças e mitos africanos teriam sido reapropriados, ganhando novos significados e

O ouro, por sua vez, era explorado na Senegâmbia, nas regiões de Bamkuk (alto rio Senegal e rio Felemé), de Buré (alto rio Níger) e de Gabu (ao sul do Gâmbia, nosrios Gebe e Corubal); na Alta Guiné (nos pequenos campos auríferos da Serra Leoa); na Costa de Ouro (atual estado do Gana), onde era explorado pelos acãs, adangbés e gás, pc teriormente substituídos pelos ashantes; na região entre os rios Comoé e Volta; em Lobi (rio Volt Negro) e em Zamfara e Kangoma (norte da Nigéria). O ouro também era encont rado nas ricas jazidas da África oriental, na região entre os rios Limpopo e Zambeze que delimi tavan o Império do Monomotapa. ram A constatação de que muitos dos escravos trazidos para o Brasil provavelmente eran

de escravos africanos nas lavras minerais se dá justamente na última década do séct

a

o boi como animal sagrado, para o qual dedicam cultos e ritos. Cabe aqui a perg unta:

Sa

experiência na busca por metais e pedras preciosas. Um dos primeiros registros da pra

E

É sabido que muitos povos bantos, que ainda hoje praticam a atividade pastoril, têm

o cobre para a confecção de símbolos de prestígio e poder, como as grandes más:cara s de

personagens importantes ou divindades.

287

=

"|

SeJaneiro: Pallas, 2003, p. 187 MA

in LODY, Raul. Dicionário de arte sacra e técnicas afro-brasileiras. Rio

CHADO FILHO, Aires da Mata. O negro e o garimpo em Minas Gerais. Belo Horizonte : Itatiaia/São Paulo; Edusp, 1985, Pp. 47-8.

Ro

E Governador do Rio de Janeiro, Luís Vaía Monteiro, assim descreveu a depe ndência dos Ores em relação aos escravos e escravas “minas': “As minas é certo que se não podem cultivar Sendondoq comue negros. (. ente

ve

-) Os negros minas são os de maior reputação para aquele trabalho, (...) mas eu

. * Sóeles do ob pad aquela reputação por serem tidos por feiticeiros, e têm introduzido o diabo, que BRO aendo que só im Ouro, e pela mesma causa não há mineiro que se possa viver sem uma negr a mina, “Rd Ed. UFMG, 1998 com elas tem fortuna”, apud QUEIROZ, Sônia. Pé preto no barro branco. Belo Horizonte: 3. Adesignação a PD. 29, |

região da CT

| |

É

|

Sra usada pela identificar os escravos que embarcavam nos portos localizados na

Mira, O muido cana chamada Costa da Mina, cujo nome estava associado ao Castelo de São Jorge da à parte da Rs Pelos portugueses em 1482. De acordo com Pierre Verger, a Costa da Mina correspondia ública Ea à leste de São Jorge da Mina, para além do rio Volta, na atual costa do Togo e aBahiade Todo cm VERGER, Pierre. Fluxo erefluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin S Os Santos: dos séculos XVIIa XIX. São Paulo: Corrupio, 1987, p. 19.

288

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATI À:

das regiões produtoras de ouro. Também entre os mina encontravam-se q

mandingas,

tidos por grandes mágicos e feiticeiros.

- —

PARTE 3 - O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

cas existentes em torno êmi pol As . ola anh esp a ric Amé da nas íge ind por a aind cos ou

desse instrumento de mineração servem bem para ilustrar os trânsitos e as apropriações de

E

Na África subsaariana, antes do processo de mundialização ibérica, o islamismo : difundiu, atingindo as regiões dos grandes impérios ghana e mali, e permaneceu coexistind com as antigas práticas religiosas e tradições animistas dos africanos. Os africar

E “cnicas e conhecimentos operados no espaço das lavras ao longo dos tempos por diversos agentes ligados aos processos de colonização das diferentes partes do mundo. E De acordo com sua etimologia, o termo bateia seria originário do espanhol batea,

me por sua vez teria origem do árabe batiya, que quer dizer “bacia”*s, Na tradução “americana de De re metallica, obra originalmente escrita em latim, o termo batea foi

islamizados eram, em geral, considerados detentores de algum poder especial, riu unde rezas fortes e do dom de fazer talismãs eficazes, “como os grigris, uns saquinhos de ec

contendo um papel com um trecho do Alcorão, os quais, pendurados ao pes q

otado (como tradução do termo latino alveus) para designar o recipiente em que o ouro

sporindo do interior das minas (small batea) ou utilizado para sondar as terras O auríferas (large batea). De acordo com os tradutores da obra: “the Spanish term batea has been so generally adopted into the mining vocabulary for a wooden bowl for these purposes, that we introduce it here”.ºº Todavia, é significativo que no Vocabulário português e latino,

costurados à roupa, protegiam contra a feitiçaria e as armas inimigas (...)?35 Tais conhecimentos seriam de grande préstimo no contexto das vã descobridoras, nas quais sertanistas enfrentavam todo tipo de obstáculos tantom material como no espiritual. De forma que,

elativo às primeiras décadas do século XVIII, não constem os termos bateia/batea, mas apenas “bateada”.*º Robert West, por sua vez, oferece um novo dado a essa questão: “de

(...) antes de partir cada bandeira, os mais supersticiosos não se esquecem da oração para achar ouro, levando-a também escrita nos seus patuás: Em nome de Deus padre,

“acuerdo com la Real Academia Espariola, la palavra es caribe, lo que podría indicar que el

— instrumento es indígena”.*! Todavia, de acordo com o barão de Eschwege, alemão que esteve nas Minas entre 1810-21, tido por grande conhecedor das antigas técnicas de mineração, a bateia de

em nome de Deus filho, em nome do Espírito Santo, ar vivo, ar morto, ar de est 1por, a ro de perlesia, ar excomungado, eu te arrenego em nome da Santíssima Trindade". cusDA

Seria esta prática uma apropriação de crenças de escravos islamizados, na qui | misturaram elementos da religião católica para uma maior eficácia contraos inimi sobrenaturais que escondiam as minas? Apropriação de crenças e de conhecimento práti capazes de revelar o verdadeiro local das jazidas, tal como o fez o “moleque magnétie de Antônio Bueno Azevedo nas imediações do ribeirão Vermelho:

— |

* q

Quem sabe lá se o tal saci africano, que ele trazia consigo, lhe descobriria o lugar onde do se achava escondida tanta riqueza? Pois dito e feito. Tais foram as cambalhotas

E,va Sto do mundo”.*º Mas acrescenta que esta bateia cônica ou chinesa, usada na Ásia desde

“mineiros africanos.“ h — Analisando as diversas informações, pode-se concluir que a origem desse instrumento, im como de outros, é muito antiga e bastante difícil de se determinar. Nessas condições, Ê- o e considerar então que nas minas da América portuguesaa bateia poderia ter sido

podia mais haver dúvida. Era aí mesmo e (coisa incrível) não teve o bandeirante outra

a

Com base no que foi exposto, pode-se dizer que as lavras minerais da Ame

portuguesa configuraram um espaço no qual transitaram, coexistiram, se

madeira, redonda e de formato afunilado, seria de origem africana. Para ele, as bateias, introduzidas juntamente com os primeiros escravos africanos, “de cuja experiência o natural espirito inventivo e esclarecido dos portugueses e brasileiros logo tirou proveito”,*? pela tsc que apresentavam, tornaram-se preferíveis às européias. Já o engenheiro Paulo “Rolf, com base nos seus estudos sobre técnicas de mineração, sugere que “provavelmente abateia cônica, de madeira, diâmetro acima de 50/60 centímetros, tipo Chapéu Chinês, (..) é de origem chinesa, por quem foi introduzida na Malaia e dali pelos portugueses no 400a.C., e conhecida pelo nome de dulang, provavelmente foi introduzida no Brasil por

moleque, saltando como um demônio e garatujando nomices de todo geito, que não:

coisa a fazer 'sinão dar imediato começo á mineração".

nisturaram €

ida por diferentes vias e agentes; poderiam ter (co)existido diferentes “modelos”

ei

(

complementaram conhecimentos de mineração e metalurgia indispensáveisà co mr

raTr

da atividade. Neste “universo técnico-cultural”, os diferentes elementos se encoi trava

tal forma imbricados que se torna muito difícil, senão impossível, identificarpreecisan

a origem de determinadas técnicas ou saberes aplicados à extração mineral. B eram conhecidos séculos por povos nos diferentes continentes, tanto por europeus e africanos, qu

ante

UAI

Y

te

E te RETADA,

35. SIIVA.Amanilha o libambo..., pp: 163-4.

36. RICARDO. Marcha para oeste, v. 1, p. 65. 37.

RICARDO. Marcha para oeste, v. 1, p. 66.

| ' ç

=

icionário H

3. “AGRICOLA. De o “40:

ico DO o eu a portuguesa.

(Termo das minas do Rio. ) He huma gamela, ou outra coufa femelhante, chea de bateáda Hs

Eai »In BLUTEAU, Raphael. Vocabulário português e latino. Rio de Janeiro: UERJ, 2000. - WEST rt, prnerta de aluvion em Colômbia durante el periodo colonial. Bogotá: Imprensa Ro k Ro

aid x

que, por sua vez, teriam sido readaptados às conveniências da exploração e

3 1 HOUAISS, D;

at

aqui o exemplo da bateia, recipiente cujo princípio e funcionalidade

289

| E = . | ROLEF E

É

Pluto Brasiliensis, v. 1 » p. 167-8; 181.

Ulo Aníbal Marques de Almeida. Subsídio para a história da mineração brasileira. Revista da , Escoade

Ouro Preto, v. XXXV n. VLER SuMinas. bsídio pa ra a história. » P. 23.

3, ano XL, 1976, p. 16.

290

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE

4:

291

transmitidos entre as sucessivas gerações de descobridores, mineradores e tTr; abal escravos. mes Assim, talvez o mais interessante seja atentar para as múltiplas possib ilide

um contexto de mundialização, como aquele que se formou a partir do o autor de As Aventuras do Sr. Pickwick identificouo

p pitoresco

coma carnic:

|

Viagem pitoresca e histórica ao Brasil é o título dado por Debret aos dois volum pda o e es a Nes: o seu livro sobre a sociedade brasileira na primeira metade do século XIX.” té gares dis | Re (o Brasil e a França) -, ele celebrou a memória do Instituto de França e dos É patrocina a

ir

10. MAGGI, Angelo. “Dal pittoresco al pittorialismo”, in ZANNIER, Ítalo (org.) Pittorialismo eee

di fotografia pittorica in Italia. Firenze: Alinari/CRAE 2004, p. 19.

00a neociz

mi

amenieto civilizador do Brasil” que, segundo ele, apenas adquiri i E E daGorie e as aem 1808 á dquiriu força e consistência com 3 transt ; E Viagem pitoresca ao Brasil, editado em francês e alemão em 1835. trata da Ro. ? articipação do pintor e desenhista Johann-Moritz Rugendas (1802-58) na expedição do E E barão de Langsdorff.'º No Brasil, essa obra foi publicada com o título de Viagem pitoresca “on ; ravés do Brasil, em 1940. As paisagens de Rugendas devem muito às noções de “beleza o 5 Ee presca” e de “viagem pitoresca” proposta por Gilpin F em 1792. Suas composições, plenas pu: “de tons, enquadramentos e luzes, fogem ao padrão estético do neoclassicismo, que em jeados da década de 1820 achava-se enfraquecido entre os d esenhistas e pintores ; “aa q de formação. RR E Embora a análise de suas imagens da escravidão escape aos propósitos deste artigo ) abe observar: suas pranchas foram litografadas por 22 gravado

A



a

eravadores. Esse dado nos remete

a um fenômeno que hoje é parte constitutiva de nossas relações com a cultura visual: a ; uestão da reprodutibilidade das imagens.

pad | igada à ela, peio| menos trêsA aspectos merecem ser destacados. O primeiro diz as múliiolas i f :

Spelto

multiplas Inter erências na produção

de uma

Imagem;

o segundo

tem a ver

O alteração d ee Er ; mm à alteração de seus suportes, e o último nos remete à produção e à circulação de dológi escal sem

magens em escala mercadológica. Uns e outros nos remetem ao tema dos usos e das Ações que o leitor/observador fará da imagem que lhe chega; ambos são constitutivos a

Rat estoes que integram a chamada cultura do olhar que acertadament e vem sendo, Ga vez mais, utilizada no plural. “a EHSo9, a Iypographia Nacional publicou a primeira edição do Brazil pittoresco,

autoria de Charles Ribeyrolles (1812-60) e Victor Frond.'” Dois anos depois, Frond, já m Pari

à Faris, publicou, pela Maison Lemercier, a edição francesa do mesmo livro. iferenteme terer nte das obras anteriormente citadas, as Imagens de Brazill pittoresco pi ã são g ; E,

Postahias editadas a partir da litografia.

o que a nos interessa, vale destacar: : as expressõe E“Far ssõs es pito pi resco ou RERARes dos títulos de outoutr sent rosj hilivros de viagem do séc ulo scu lo XIX, estive onram presentes na nstruçã . . . :

ES

O dos mesmos, seja mediante o recurso literário, seja: através de suas ilustrações.

— — SM €oMo janelas para a ordenação das narrativas textuais e visuais dos anos entos. Raios

entre neoc 11. MAGGI. Dal pittoresco al pittorialismo, p. 20. Sobre esta questão da contaminação e pitoresco, ver também MILANI, Raffaeli. Il pittoresco: del gusto tra classico e romanas Laterza, 1996.

à a

12. ALEXANDER, Abel & PRÍAMO, Luis. “Recordando a Christiano”, in PRÍAMO, Luis & VALH

(orgs.). Un país en transición: Christiano Junior; fotografias de Buenos Aires, CUyOY GrINSIEEN 1883. Buenos Aires: Fundación Antorchas, 2002, pp. 21-71. TR o...

13. MILANI, Rafaele. Il pittoresco nelVevoluzione del

gusto tra classico e romantico, Roma» =a55"

14, Oscontos, originalmente publicados na impressa, foram reunidos no livro DIGHENS/ REM RRA do Sr: Pickwick. São Paulo: Abril Cultural, 1982.

15. Trabalhamos com a

. seguinte

Martins Fontes /EDUSP

1972.

po versão:

DEBRET, J. B. Viagem pitoresca e

-

“ctórica do aoBrasil. histórica br j

d€

RS

PIDE essas questã

Ilustradas.

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ECO fotógrafo Viet

Trajetória 5 1 4 1

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da

ria do enredo

To

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São Pa E

es arúgo de ZENHA, Celeste. O Brasil de Rugendas nas edições populares e ad

E OO

Y6] O retrato. etrato, a a letra bi or Erond, ver SEGALA, Lygia. de um

ea História:a: notas aa p partir da

fotógr afo oitocentista. Revista Brasileira de Ciências Sociais v. 14,

326

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDAD E ANtÂNTIA

PARTE 3 - O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

Jean-Baptiste Debret: entre a cida de negra e a cidade branc:

Concordando com Naves, percebemos que a rej eição debretiana dos cânones neoclássicos foi mais expressiva nas aquarelas sobre cenas do cotidi ano da capital da corte.

RA” Em uma das passagens do Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, Debret relata cc E chegou ao modelo definitivo do pano de bo ca executado por ocasião da encenação da Elogio à coroação de D. Pedro I no teatro da corte. Segundo ele, seu trabalho já p: e d av: praticamente pronto quando recebeu a visita do imperador e de José Bonifácio. Naquele moment Ci

Das 104 imagens presentes em Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, 38,4 % tratam de temas relativos aos negros de ganho; 21,1% se referem a retrat os e costumes indígenas: 14,4% inserem-se na categoria pintura de histór ia; 17,3% são imagens de costumes brancos

Of

La

E

o,

a aprovação da tela ficou condiciona da

a uma alteração: seria ne esa

substituir as palmeiras que sustentavam o teto do trono, onde uma figura fe NE. representava a mo

narquia. Na visão de Debret, elas simbolizavam as particularidades da natureza frondosa, colorida e irregular do Brasil . Davam um tom pitoresco à monarquia que aqui se instalava. Ora, isso era tudo o que José Bonifácio queria evitar Para ele e para o imperador era im

prescindível impedir que os convidados fiz essem qualquer & ss0€! acã | entre a monarquia e “Estado selvagem”. A representação do trono da monarquia p recis avi ser feita a par

tir de “algum motivo de arquitetura regular”.!8 Como profissional disciplinad que era, Debret seguiu as instruções de seu pa trocinador. No lugar das palmeiras, pintou duas colunas gregas.!º = Este fato não apenas destaca um ponto importante da polêmica sobre a producão d

Debret no Brasil, como também chama atenção par a a questão da autonomia semp relativa de um pintor

cortesão. Enquanto boa parte daqueles que trab alham coam produção

debretiana tende a inseri-la nos cânones do neoclassicismo, o historiador e crítico da art e Rodrigo Na

ves problematiza, não sem razão, tal afirmativa. Segundo ele:

|

Pi

|

|

Jean Baptiste Debret foi o primeiro estrangeiro a se dar conta do que havia de postiço e

enganoso em simplesmente aplicar um sistema formal preestabelecido - oneocl; sicismo, | por exempl o — à representação da realidade brasileira,20

“sa:

Embora Naves se refira mais ao Debret aquarelis ta, o episódio da

co

critérios da “beleza pitoresca” às suas criações. Ou sej a, não foi apenas como pintor livr dos cons trangimentos contratuais que Debret procurou exprimir o diálogo, cer amen

assimétrico, entre arte e realidade. Provavelmente, seu contato prolongado coom elim quente e úmi

do, com os odores das ruas sem esgotos, repletas de escravos ao ganhi aliada à convivência com membros nem sempre virtuosos da corte imperial, É zer am-no perceber que a distância entre a Europa e a América tra nscendia as dimensões geográficas 18. As expressões entre aspas foram extraídas do livro de Debret.

e. 19. Para uma análise mais detalhada desse fato, ver BORGES , Maria Eliza L. Pintura de história e razê g Estado: um est

udo sobre a fundação da nação brasileira. Portuguese Studies, London, Mo dernF dpi

Research Association, v. 22, 2006, pp. 39-54.

20. Sobre a estética neoclássica, ver NAVES. Debret, o neoclassicismo e a escravidão, p. 44. 21. Sobre essa modali

ah dade de trabalho, ver SILVA, Marilene Rosa Nog ueira da. Negros do & p= “a face da escravidão. São Paulo: Hucitec, 198 8. 1 UA SD 22. Lembramos aqui as reflexões de E. Thompson

sobre o lugar e o papel da experiência ! es formulação do processo cognitivo. Sobre essa questão, ver THOMPSON, E. RA miséria dá a | Janeiro: Zahar, 1981, pp. 158.

b

Ê esboços de vilas e áreas urbanas e 8,6% tratam da fauna e da flora brasileiras. A superioridade das imagens sobre a escravidão urbana é inquestionável, sobretudo se levarmos

|

em conta que 80% das aquarelas sobre costum es brancos contém personagens negros, escravos ou libertos. | Diante desses percentuais, pode-se indagar: não seria tal hegemonia negra apenas “um reflexo da con

statação de uma realidade social? Afinal , a população da Corte era constituída por altas taxas de negros. Dito de outro

modo: Será que ao produzir essas pranchas Debret não estaria exercitando seu olhar de pintor de história, de profissional comprometido com a “verdade dos fatos”, como ele mesmo se definia? Mesmo que cabíveis, tais perguntas não esgotam as questões subsumidas nas | composições e tampouco na escolha que Debret fez de temas. De fato, em 18 30, 50% dos habitantes do Rio de Janeiro eram negr os; em 1849, esse percentual caíra para 38,2%, mas, se somado aos negros das paróquia s

rurais Vizinhas e que transitavam nas ruas da Capital, a população negra chegava à ca sa dos 41,5%.2 É sabido que nesse pe ríodo o Rio * de Janeiro detinha a maior populaçã o negra das Américas. Em que pese tal realidade, Vale observar, como fez corretamente Naves, que a presença negra nas re presentações Visuais de outros viajantes não teve a mesma centralidade que em Debret. Se comparadas à produção de T. Ender, J. M. Rugend as ou mesmo à de N. A. Taunay ta mbém membro da Missão Artística Francesa, as aquarela s de Debret atestam a prioridade da da à participação da escravidão urbana na vida cotidi

ana da Corte. Enquanto nos demais ela se dilui nas

Roa

oação € imperador mostra que, mesmo atuando como pintor de história, ele tentou aplica ralgl ns

k

327

Já assinalada acima. Se bem observ armos seus enquadramentos, vere mos que eles distinguem “Claramente os espaços próprios da cidade negra e da cidade branca. Enquanto essa se faz Presente mais na arquitetura, aquela se materializa através dos atores, em sua maioria a

Na

figura 1, intitulada Carruagens e móveis prontos para o embarq ue, Debret metria dos corpos humanos com a da arquitetura ao fundo. No en tanto,

328

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MO DERNIDADE ATi À ra

PARTE 3 - O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

pe.

| vestimentas dos carregadores, bem como dos ob jetos por eles sustentados. Isto sie hifica que a intenção do pintor não foi outra senão destacar os atores. Mais que a cidade branca ali representada na arquitetura, é a cidade negra que ch ama e retém o olhar do ob ar idea As Janelas e portas fechadas, do prédio ao fu ndo, parecem sugerir os limites da inter licãr

329

|

destaca, na realidade, o uso de talher pela negra que se encontra em frente da cena que, | temente seria a principal. Como pode ser observad o, Debret a representa como canhota. Temos aí uma escolha figurativa motivada por um propósito. Se a mulher fosse destra, O observador poderia não perceber que ela se diferencia dos demais consumidores

posta à cidade negra. A rua é, por excelência, o lugar destinado ao movimento dos negras de ganho. Ao fundo,

|

HI

Hill | | | |

Esse “muito a ganhar” é, em Debret, relacionado prin cipalmente com a absor ção de hábitos civilizados.

heroísmo, de ação exemplar. Ele se limitou a nar rar uma de suas modalidar R o trabalho escravo, a seus leitores estrangeiros. Ao longo de seu Viagem pitoresca e h istórica

| | ||

Mas a produção e o consumo de angu é outr a parte da imagem que também cresce diante do olhar do observador. Para ressaltá-la, as ligações entre terra e mar foram atenuadas. Fr

ao Brasil, há inúmeros adjetivos pejorativos sobre a raç a negra. É provável que sua “alm: de pint

| | |

ouxas e esmaecidas, elas não retêm a atenção de qu em olha a cena. À

or de história” tenha feito dele um aliado da cida de branca. Mesmo condenand, essa forma de trabalho compulsório, Debret não deix ou de destacar a brandura dom, ande branco no Brasil. Pode-se dizer que a composição de Carruagens e móveis prontos para o embarque destaca uma das modalidades pitore scas da escravidão brasileira. ed

|

construção da composição indica que Debret quis ressaltar o trabalho das escravas e o movimento de negros (clientes) em torno delas. Dest inadas ao observador europeu, as informações contidas nesse espaço da aquarela mo stram a existência de um comércio de rua destinado à mão-de-obra escrava que circulav a pela cidade. Não podemos deixar de observar que, nesse momento, Debret está novamente rep resentando uma cena pitoresca. Naquele período, cozinhar e comer eram, no mundo reconhecido como civilizado, atos

cód

| | || |

|

|

|

hábitos no espaço público, Debret abre-nos a possibilidade de pensar a escravidão de ganho como uma

ú “x

|

| | |

| |

realizados tradicionalmente em espaços fechad os, em torno de uma mesa. Ao colocar tais

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|

| |

s civilizados. A julgar pelo texto de seu Viag em pitoresca e histórica ao Brasil, Debret defendia a tese de que os negros — sempre qualificados como crianças preguiçosas e indisciplinadas — tinham muito a ganhar com o convívio com os brancos.

neoclassicismo, no entanto, o destaque dado aos habitantes da cidade negra não nos autoriza a confirmá-los. Temos fortes indícios de qu e Debret não via o trabalho escravo como signo de

[|

| |

de angu que comem de “capitão”, um hábito que, no diz er de Norbert Elias, não se incluiria no rol dos hábito

o azulado da serra se estende até o restante da arquitetura; dily mais uma vez, as marcas da cidade branca. | “di | A teatralidade da cena representada nos remete a cri térios de composição próprie ; do

|

|

experiência que subverte as rígidas fronteiras ent re mundo público e mundo privado, entre o dento e o fora. A ausência da arquitetura nessa prancha é outro indício de que o Debret documentarista privilegiou os habitantes da cidade negra.

Figura 1: Jean B. Debret. Carruagens e móveis prontos para o embarque . Fonte: O BRASIL de Debre

e]

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| | |

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t. Belo Horizonte: Vila Rica Ed., 1993, p. 8.

alnar Negras cozinheiras, vendedoras de angu (figura 2) é uma compos ição em que O 05 ais

IDEs

do observador entra pelo corredor de terra-batida, : ra ladeado por escravos, gira a!“dire treata E | vai até o mar, para, logo em seguida, retornar à terra firme e deter-se na negra de 8 “a Ê : i que se coloca diante das cozinheiras de angu. sT cer Esse trajeto do olhar tem endereço A

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emma Figura 2: Jean B. Debres - “ebret. Negras cozinheiras, vendedoras de an Debret. Belo Horizonte: Vila Rica Ed., 1998, p. 8.

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SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE +Ari AN

330

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ndEmbora a profusão de e cenas sobre o cotidiano do comérei 0 meércio ambulante “E sob c ã E o E

atra

Aus alinhar as ruas E capital da Corte com as de Outras capita mundo, as E oo É de s a o Pie singulariza o caso brasileiro. lei “no um ar Atribui-lhe pitoresco. A individualidade dos atores torna-se, àé r = pois, dispensável.

mot . São negros, simplesmente. Ao se decidir a representá-los absortos em ser r D ebret defi papé Pa niu o que o observador deveria extrair da cena produzida. Nem mesmo cliente que está sendo barbeado, representado de frente para o observador, é dotade individu ”

do Malês — um dos principais ipai motivos do pavor de uma Insurreição içã escrava na

|

|

O

E | mi

alidade. Sua fisionomia quase que totalmente enco berta pela espuma de aa perguntas sobre suieir sugere à dimensão dada ao branco de seus olhos, não nos =“

331

revo E posterior à partida de Debret, é bem provável que ele tenha ouvido os rumores corteE “a e negra que redundou na independência do Haiti em 1804. sda Tevo ms E. Ao dissociar negros e brancos, não . E teria: Debret a intenção de destacar o enorme E. fasso existente entre ci idade negra e cidade branca? O fato de privilegiar as imagens da Ss. = dão de ganho não seria indício de que Debret perceber a os laços de solidariedade 5 diosos brasileiros sustentam ter existido no interior da cidade negra? Ora, laços que estu Edesoos lidariedade press upõem ações orientadas : por fins,| ou seja, implpura ica um grau sofi | sticado de racionalidade. A julgar pelo texto de Viagem pitoresc a e histórica ao Brasil, nosso E.elista não parece ter considerado esta possibilidade para aquar os habitantes da cidade negra. Seu desprezo pela raça negra é patente em diversos momentos de seu livro. Ouçamos as palavras na explicação da prancha Enterro de um Negrinho:

epi ne para 1OS de coma cidade dp como Vitri a leitura do pitoresco. Estamos dian te de tir asd ) em bar GIROS, nem clientes têm individualidade. São figuras desp ovidas d,

somada mas sobre ofícios, sobre hábitos sociais.

+

O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

É a an Elali

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PA inferioridade de suas faculdades mentais [dos negros] reconhecida entre nós [é os confirmada] pelos sábios naturalistas [que] concordam que o negro é uma espécie à

|

parte da raça humana e destinada, pela sua apatia, à escravidão, mesmo em sua pátria”26

k

FP

Contudo, reduzir o itinerário do olhar de Debret a um deslocar-se inteiramente racional

| seria buscar linearidade e coerência onde provavelmente houve dúvidas, surpres as e

| mudanças de visão de mundo. Como bem lembrou Rodrigo Naves, em muitas ocasiões o pintor de história da corte napoleônica abriu mão de sua formação neoclássica para levar

|

* as especificidades das culturas no Brasil até seu público francês. Além disso, há que se

* Considerar: no Brasil, assim como na França, Debret pertenceu a um segmento social

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e

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Claramente identificado com a “porção civilizadora” das sociedades. Suas repres entações Visuais foram reunidas num livro com endereço certo: o leitor culto europe u que, no século “XIX, era estimulado a buscar o pitoresco, o exótico, nas culturas não-européias.

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Figura 3: Jean B. Debret. Barbeiros ambulantes. Fonte: O BRASIL de Debret. Belo Horizonte: Vila Rica Ed., 1993, p. 8. Ml

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sugerem a idéia de educação pela via da coação. Nas poucas cenas em que cidade | ri d | e cidade negra se cruzam, Debret vê e mostra a distância de papéis sociais que sepais

negros e brancos. Será que além de ressaltar as singularidades desses mundos, Debi estaria sugerindo algo mais a seus consumidores hinotécicos e FpSNe Coal ER Ainda que a data exata da produçãoE e de tais image ns seja desconhecida, s

sabe-s ga eq Debret retornou à França em 1831. Segundo os estudiosos da escravidão: e R oitoce gs

ntista, o ano 1832 marca o início do medo branco do perigo negro. Ainda Que

Il

fotografia e da litografia

|

indicial, aliada a seus suportes, produziu outro tipo de impacto no olhar dos consumidores. IN Antes de analisarmos os desdobramentos da circul ação da fotografia, cabe observar que

Brande parte delas chegou ao público mediante repr oduções litográficas. A fototipia,” Rem de cara, só foi utilizada em escala a partir do inicio do século XX.

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26. DEBRET V;

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Seaprodução visual de Debret é da ordem da manualidade, as ima gens de Christiano

Jr e de Victor Frond pertencem à era da chamada “image m mecânica”. Sua natureza

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| Christiano Jr. e Victor Frond: a escravidão brasileira no ; fircuito da "|

Passemos à questão da atenção que Debret dá às relações entre brancos e negr Apenas seis de suas pranchas tratam da violência física nas relações escravis tas. A maior delas se refere a cenas domésticas, nas quais, um chicote ali ou uma l palmatóri a acol

|

Ê

—— Jagem pitoresca e histórica ao Brasil, p. 177. “Otipia é um processo de reprodução de imagens sem retina, criado em 1860, na França, por J. couber,

ed “senvolvido na Alemanha a partir de 1870. Consiste em aplicar sobre uma placa de cristal ““tma solução de óleo e água misturados com gelatinae sais de cromo. Com uma tiragem de até E Piares por clichê fotográfico, a fototipia é um processo mais lento e caro que a litografia, ra mais exato.

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332

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTI — A

PARTE 3 - O MU

Na realidade, as parcerias litografia/desenho e litografia/fotografia propiciaram

edição, em larga escala de mercado, de livros de viagem plenos de ilustrações sobrea faur

a flora e os costumes das culturas então consideradas exóticas e/ou pitorescas, Q asa À E Asa : do SRaR recriadas pela interferência dos gravadores e editores, as reproduções litográficas adquiriam vida própria: eram convertidas em outros produtos. Conforme informado por Celeste Zenho sucesso do comércio de imagens foi tal que algumas firmas litográficas frances:

enveredaram pelo ramo da produção de pranchas soltas, isto é, separadas dos livros, e pe

negócio de papéis de parede.?* Destinados às casas da burguesia européia, os desenhos aa fotografias dos viajantes oitocentistas eram recriados e transformados em cená: os cc

“vistas” chinesas, brasileiras e até mesmo européias. Fábrica de sonhos e imaginários casas litográficas foram tiveram um papel importantíssimo na disseminação do hábito «

consumir imagens, e, certamente, tornaram-se lugar de difusão de identidades so ciocultura quase sempre estereotipadas, sobre as culturas representadas. Enquanto a litografia era o recurso técnico para reproduzir desenhos e fotografias

em livros ou em separado, a partir de 1855 os retratos fotográficos em suportesde pap

e em tamanho reduzido — em geral de 9,5 x 5,5cm -, produzidos no formato carte-ç visite, entraram no mercado de imagens com uma velocidade nunca vista. Sem a mediaç; da litografia, mais baratos do que os daguerreótipos e outros tipos fotográ! S, ele

NDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

333

* Qutros analistas que se debruçaram sobre o corpus imagético de Christiano Jr

-no, com muita competência, para estudar temas ligados à escravidão, tais

“ut

as etnias negras do Rio de Janeiro, e a condição dos negros de ganho.?! : : ud | Amós interessa destacar como a fotografia cria um mercado visual distinto. O realismo ie suas figurações foge por completo do padrão visual criado no inicio da modernidade, “onde as terras do Novo Mundo foram associadas à idéia de paraíso terrestre ou de espaço

| “e omo,

“das aberrações.

* Paracompreender o padrão visual do século XIX, que teve na fotografia um grande “aliado, nada melhor que começar por destacar algumas das características do ofício/

" profissão de fotógrafo do período: o autodidatismo, a itinerância e, sobretudo, a capacidade de mesclar os diferentes arcanjos das correntes estéticas em voga com o objetivo de seduzir um público já encantado com os efeitos realistas produzidos pelas câmaras fotográficas. “Vejamos como tais atributos se materializaram em Christiano Jr. k Sabe-se que em 1862 ele possuía um ateliê fotográfico em Maceió, na rua da Ajuda,

“57. Dois anos depois, um anúncio de jornal mostra que seu estúdio Photographia do

* Commercio, em sociedade com Fernando Antonio Miranda, mudara-se para a rua São Pedro, n. 69. Em 1862, Christiano Jr. recebeu a medalha de bronze na II Exposição Nacional “do Rio de Janeiro, um dos espaços que dentro e fora do país muito ajudavam a divulgar as

povoaram o cotidiano e a intimidade das pessoas, circularam pelos correios, e instituir padrões de auto-representação repetidos nas mais diferentes culturas. rh A Por mais que os fotógrafos tivessem plena consciência do alto grau de mar ipula e das imagens fotográficas, por mais que a clientela dos ateliês vivenciasse o processo fabricação de imagens, a dependência da fotografia em relação ao referente legitimav crença de que as “imagens mecânicas” eram um duplo do real. A materialidade e € suportes da fotografia — fossem eles em vidro ou papel — sugeriam perguntas eo serva ões não comportadas pelo universo das imagens manuais. A relação entre imagem e mem

“Imagens fotográficas e a promover esse oficio de fotógrafo, sobretudo no mundo das artes à plásticas. Em 1869, aos 37 anos de idade, Christiano Jr. figurava no censo da capital da “Argentina como fotógrafo com domicilio na Calle Florida, n. 159. Segundo Luis Príamo, — sete funcionários trabalhavam neste ateliê fotográfico. Era, portanto, um empreendimento “de porte para a época. Ainda que até 1875 Christiano Jr. tenha mantido seu estúdio em parceria com o fotógrafo Bernado José Pacheco, no Rio de Janeiro, os estudos sobre sua produção em Buenos Aires e no interior da Argentina sugerem que seus laços com o Brasil já não eram tão fortes desde 1869.32

edição de Matiêre et memoire, de Bérgson, data de 1896. Não por acaso, muitos anansk da fotografia lembram que naquele então as imagens fotográficas não evocave m Jena: presença do modelo nem a de seu criador. Por essas e outras razões, pode-se afirmar chegada da fotografia propôs um novo modelo cognitivo; inseriu o observador em our patamar da cultura visual. A Em 1855, portanto, um ano após a invenção dos carte-de visite, aportava o Hm

Brasil ele foi fundamentalmente um fotógrafo de estúdio. Ao que se sabe, apenas seis Jotografias de sua série de 77 foram feitas ao ar livre. — Em um anúncio de 28 de janeiro de 1866 do Almanak Laemmert, na seção de * Notz bilidades”, o fotógrafo anunciava a aquisição de máquinas próprias para confecção dos chamados timbres-poste, retratos que, segundo ele, estavam “muito em moda na Europa usados Como] cartões de visita, de boas-festas e de casamento, bem como para collocar

por exemplo, adquiriu um quê de realidade até então inexistente. Não por acaso,a

primeir

de Pedro Ilum fotógrafo português de Açores, segundo os argentinos, e sem nacionalida

certa, de acordo com estudiosos da história da fotografia no Brasil. Trata-S a ua

Christiano de Freitas Henrique Júnior. Antes de deixar o Rio de Janeiro eseguir em dif é:

à Argentina, em 1867,*º Christiano Jr. legou-nos uma série de 77 retratos de negro: E ganho feitos na capital da Corte. A 4

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Sena Argentina a câmara de Christiano Jr. foi clicada dentro e fora de seu ateliê, no

p alto da margem de uma carta para um amigo ou parente”. Completando seu anúncio,

pe "Ros saber suas intenções, sua “variada colleção de costumes e typos de pretos, [era] El

Sa muito própria para quem se retira para a Europa”.

|

imagens por nós utilizadas foram reproduzidas a partir de AZEVEDO, Paulo César & LISSOVSKY, * (orgs). Escravos brasileiros do século XIX na fotografia de Christiano Jr. São Paulo: Ex Libris, o RE

28. ZENHA, Celeste. O Brasil de Rugendas nas edições populares ilustradas. Topoi, Rio deJ aneiro,

82. Todas

29. Sobre esta polêmica ver ALEXANDER & PRIAMO. Recordando a Christiano; e VASQUEA, SS

8.

jan, 2002, p. 145.

Brasil na fotografia oitocentista. São Paulo: Metalivros, 2003.

30. VASQUEZ. O Brasil na fotografia oitocentista, p. 82

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ven. informações foram extraídas de ALEXANDER & PRIAMO. Recordando a Christiano; e

O & LISSOVSK. Escravos brasileiros do século XIX...

O & LISSOVSKY. Escravos brasileiros do século XIX..., Contra-capa da folha de rosto.

& LISSOVSKY. Escravos brasileiros do século XIX...

334

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNID ADE ATLÂNTI

Diante de tais palavras, parece não haver dúvida s: Christiano Jr. tinha os olhe postos no out

ro lado do Atlântico. Seus timbres-poste dest inavam-se primordialmenteE -, 1] público europeu interessado em frag mentos pitorescos, ou seja, nos exotis mos ét ico ca mundo dos ofícios que nesse momento do século XIX já começara a viver seu o na oe: so: ELITT]

cidades industriais européias.

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Como vimos ressaltando até agora, a existência de um mercado para esse tipo de imagem vinha de longe. Contudo, a entrada da fot ografia no circuito das imagens at; ibui B mais realismo ao pitoresco, tornaria sua visualidade mais cobiçada, e, principalmen : mente mais legítima. Lembra-nos o estudioso argentino, que q

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en su estudio portefio.*

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O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

335

“4a Áfriecaà Ásia, bem como pelas exposições fotográfi cas realizadas nas capitais européias, O uri

osidade por “personagens mais pitorescos, isto é, menos ocidentais da cultura brasileira”, vinha sendo muito aguçad a. No entanto, cabe observar que o teresse por “esscke tipo de fotografia não era uma exclusivi dade dos estrangeiros. Sabe-se inque um dos ajo

lhuno s

de fotografias de Christiano Jr, encontrado no Ita marati, pertenceu a Joaquim co”

rt Como ele, muitos brasileiros consumiram os tim bre-postes de Christiano Jr. merá Nabuco “lido” essa fotografias da mesma man eira que o público estrangeiro? as imagens que se seguem (figuras 4 e 5) são poses de estúdio. Nelas, Christiano Jr. , Dnit pu os negros e as negras de ganho das rua s e os colocou em espaços fechados,

"ambientados segundo os padrões dos carte-de-visite.

las poses adoptadas por los negros en el estúdi o carioca de Christiano eran simile res a las del pescador, el naranjero y los vendedores de diários que retrató pocos afios de pués

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j Ora, o anúncio de coleção de negros do Brasil data de 1866, portanto, 16 anos depois da proibição do tráfego internacio nal de escravos. Este fato, aliado à crise cultura dos ofícios na Europa, autoriza-nos à destacar o senso comercial do fotógraf

açoriano, confirmado posteriormente por sua trajet ória na Argentina. Os números disponíve sobre a circulaç

Emtamanho reduzido e sem mediação da litografia, essas fot ografias eram facilmente

ansportadas na bagagem dos viajantes ou enviadas por correio. Em suas bordas, superior quinferior, e em seu ver so, o comprador da imagem as adjetivava; atr ibuía-lhes sentidos

“variados.

A figura 5 retrata o ofício de barbeiro. Se comparada à figura 4, os barbeiros de Debret, veremos que suas diferenças compositivas são notóri as.

ão de negros e negras de ganho nas ruas do Rio de Janeiro levam-nos crer que Christiano Jr. percebia que a presen ça de ambulantes brancos, estr angeiros, era uma realidade naquele momento. “ai Não é demais lembrar que entre 1844 e 1878 entraram no porto do Rio de Janeir

mais de 200 mil imigrantes portugueses, uma médi a de 1.269 portugueses por ano, S Sidney Chalhoub, já em 1852, 64,5% dos cativo s trabalhavam em 1.013 estabe ecime artesanais

e industriais, isto é, estavam fora das ruas. Além disto, no início da década 1860 o crescimento das alforrias retirava do mercado de trabalho escravo 2.681 cativi por

ano.º” Se levarmos em conta as altas taxas de mortalidade escrava, provocadas pe epidemias da époc

a, esse número pode crescer ainda mais.

a Não é o exercício da observação a principal “fer ramenta” de trabalho de quem vil da produção de imagens? Tudo indica que Christ iano Jr. percebia as oscilaçõdoes mercac de trabalho urbano na Corte. Seu senso comercial indicava-lhe ser aquele o momen exato para fazer dinheiro com os retratos de “typos de pretos”. Se perdido esse cayros fotógraf

o açoriano certamente desperdiçaria a chance de atender à demanddoa públ europeu. Esti

mulado pela circulação das imagens saídas das viag ens fotográficas ao no

Figura 4: Foto de Christiano Jr.

“sa

Fonte: AZEVEDO,

de & LISSOVISKY, Mauricio (orgs). Escravos brasileiros do século XIX na fotografia de Christiano Jr. São Paulo: Ex Libris, , 1999, p. 88 (Coleção Gilberto Ferrez).

35. Sobre essa questão, ver HOSBAWAM, E. J. Mundos do trabalho. 32 ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2U pp. 193-224. A 36. ALEXANDER & PRIAMO. Recordando a Christiano, p. 22. | + 37. Não estamos queren

do dizer com isso que a diminuição do trabalho escravo tenha sig necessariamente, uma diminuição do mercado ambulante negro. Dados atuais indicam qu | de toda a história do comércio ambulante, a presença de negros e/ou mestiços continuouà preco”

no país. Queremos tão somente chamar a atenção para os indicadores da diversificação em mercado de rua naquele momento. RR

Paulo Cesar

ao, VELLE

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39 aor “de

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- Patrícia. O espelho distorcido: imagens do indivíduo no Brasil oitocentista. Belo Horizonte: Ed. > 2008. JO & LISSOVSKY. Escravos brasileiros do século XIX... » Pp. XIV

336

E

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLANr

apre 3 — O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVA S

337

is adereços, sua forma de vestir; outras 40 mostram ofícios masculino s e femininos; sete se | cenas externas; 15 são rostos, masculinos e femininos e cinco apresentam negros de a no inteiro. As cenas de ofícios perfazem 51,9%; a segunda categoria mais importante:

e retratos de corpo inteiro, representa 22 % das imagens. A seguir, com 19,4% do total ) E tos, encontram-se os retratos em que apenas se vêem rostos. Daí se deduz que Christiano Je deu ênfase a uma tipologia de tipos de trabalhadores urbanos. No verso de uma das fotc zagraf“daq ias uela de mulher, o comprador a ofereceu a um amigo, sugerindo-lhe observar a bele negrinha”. Nesse caso, a intenção foi ressignificada. Estamos diante da E semia das imagens; de sua diversidade de usos e funções sociais. “Fm quantas fotografias não vislumbramos os sentimentos dos indivíduo s que a

compõem?”, indaga Patrícia Lavelle em seu estudo sobre a relação entre fotografia e

j d idualidade.'º “Tristeza, medo, mas também autoconfiança, alegria, jovialidade, e até mesmo raiva”, são sentimentos (ensaiados?, quem sabe?) visíveis nos retratos feit os por “Ch ano Jr.. Longe das ruas e imobilizados diante da câmara, muitos dos “typos de

|

p etos” do fotógrafo açoriano são um convite ao devaneio. Estamos dian te da distância que separa intenção do fotógrafo e usos e funções sociais das imagens. Pensando em Roland Barthes, somos tentados a dizer que, na pose do barbeiro, o Dlhar de seu cliente é o puctum dessa fotografia. Distante e/ou alheio à fabricaç ão de sua imagem, ele parece vagar por tempos e espaços que o observador jam ais poderá qualificar. * Essa tensão entre fragmento de individualidade e classificação de tipos sociais talvez seja a principal marca dos “typos de pretos” de Christiano Jr. Seguindo adiante, já na figura 6 diríamos que, ao contrário da fot ografia anterior, o “Ofício não parece ser o tema principal da pose em questão. O aperto de mãos e a troca de “E ; Eh MUITA Wihares — signos da cordialidade e/ou dos laços de solidarie dade entre os membros da Cidade negra =, no centro da composição, é o que retém o olhar do observador. Os pés no RAE E 9,98 panos enrolados também no chãnao, um tonel servin 3 do de assento, são complementos mt

ES

Figura 5: Foto de Christiano Jr. Fonte: AZEVEDO, Paulo

Cesar de & LISSOVISKY,

icio ). Escr brasileiros do século XIX na Maur fotografia (orgs de ChristianoavosJr. São Paulo: Ex Libris, 1999, p. 40 (Coleção Serviço do

|

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

os

, | O fundo neutro indica a intenção do fotógrafo: reter a vista do observador na d

“Coisa fotografada”, a experiência prévia de já ter sido fotografado ao menos uma

suficiente para que o consumidor da imagem saiba que aquela fotografia represent presença de uma ausência. | 4 sa

ia”

Tar

ogia

imagem, a cena ali retratada poderia ser consumida como algo produzido na: te

brtantes para se destacar a relação entre civilidade e precariedade das condições de

a

Singularizada pela presença de dois sujeitos que certamente não faziam parte do público dos ateliês. Na década de 1860, no Brasil, uma dúzia de cart e-de-visite variava entre



Qual ausência? Na realidade, sem o selo do correio e sem o texto do e

i 58000 à 5$000, dependendo do fotógrafo e do lugar em que era feita. Segundo Boris

|

Kossoy, na década de 1850, uma assinatura de um jornal da Corte, por um ano, feita fora 49 Rio de Janeiro custava 28$000.º É pouco provável que um escravo de ganho pudesse

Pagar 0 valor de uma pose.

em qualquer outro país que tenha usado mão-de-obra negra. Para além do pitoresc É cena e sem um trabalho de contextualização da imagem, a fotografia, enquanto tal, ná

nos autoriza dizer que os retratados eram escravos brasileiros.

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Rbalho, O carimbo do fotógrafo, na parte inferior da imagem, parece querer indi vidualizar * Uma figuração em princípio padronizada em todo o mundo ocidental, mas que ali é e

fotografada, ou, se se preferir, na relação artífice/cliente. A nitidez da imagem E net tese, assentada no senso comum, sobre a “verdade” do discurso fotográfico.O realisme

a

A

Contudo, pesquisas anteriores já haviam indicado a relação entre essasi re

intenção do fotógrafo. Como anunciado por Christiano Jr., as poses montadas ser. na. “typos de pretos” do Brasil oitocentista. Das 77 fotografias, 10 imagens são de negras Eds . corpo inteiro, nas quais- o critpaia ério da figuraçã3o parece ter sido ressaltar a belezaeza neg Do!

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O ELLE O espelho distorcido.. ., p. 31. | 83 E Boris. Dicionário hist rico-fotográfi brasil co eiro: fotógrafos e ofício na fotografia no Brasil, “1910. São Paulo: In stituto Moreira Salles, 2002, pp . 30-2.

338

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATIÂN E

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ore 3 - O MUNDO ATLÂNTICO EM IMAGENS E NARRATIVAS

“Nacional, em 1959, O livro foi muito bem-aceito

339

pelo Instituto Histórico e Geográfico

| es «ileiro, apesar da precariedade das reproduções. Não sabemos até que ponto o litógrafo

interferiu na composição das fotografias de Victor Frond, mas o fato de ele próprio ter

eunervisionado o trabalho com as imagens é um forte indício de sua concordância com a

interpretação do gravador.

*

Es Aimagem da figura 6 é um exemplar típico da variedade de cenas sobre a escravidão

rural no Brasil, um dos temas privilegiados pelo livro, ao lado das vistas cosmopolitas

Euro a cidade do Rio de Janeiro.

" Patada de 1858, a reprodução que utilizamos integra hoje a Coleção Antologia “Fotográfica, do acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. O carimbo da livraria * Dazibao, no canto direito de seu verso, diz-nos do interesse que ela continua a despertar “na atualidade. Como os leitores hoje a interpretam? Bom, essa é uma questão para outra “pesquisisa.

"|

*

Figura 6: Victor Frond. Produção de farinha de mandioca

| | Bibioteca, Nacional (Soa

em fazenda do interior da província do Rio de Janeiro,

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imagem, deslocamos nossa atenção para o fundo pintado. E por quê? Sua conj | ga ção

cor

a fotografia insere o realismo inscrito nos “typos de pretos” num contexto tipi amen

burguês. Aí, os “typos de pretos” ocupam um espaço que não lhes pertence: o uni y erso a ateliê. A nosso ver, esse jogo entre realismo e imaginação é mais que uma mera dimé pitoresca da pose da figura 6. Ao montar tal composição, Christiano Jr. abre-nos espaço para refletirmos sobre uma das marcas da fotografia, isto é, sobre sua capaci dade de teatralizar as relações sociais. Mais ainda, a imagem em questão nos remeteà ovidaé da linguagem fotográfica que, a despeito de seu discurso realista, coloca, desde Se nascimento, o observador diante da possibilidade da viagem, da recriação do “o utroa | Para concluirmos, gostaríamos de chamara atenção par um outro a tipo de compc ça visual sobre a escravidão oitocentista brasileira: as litografias feitas a partir das foto Se de Victor Frond e publicadas em seu Brazil pittoresco editado em co-autoria com cha g Ribeyrolles. ! = À rica e pertinente análise de Lygia Segala pontuou as principais questões sobre 68 obra pensada como parte de um projeto audacioso e destinado a ressaltar a in usas Brasil no rol dos países vocacionados à civilização. Publicado no Brasil pela Typograms 42. SEGALA, Lygia. Victor Frond et le projet photographique du Brésil pittoresque. Colloque Interno"

“Voyageurs et images du Brésil”. MSH-Paris, 10 dez 2003. Table 3 — Missions artistiques et exp a q te

| brasileira será necessário voltarmos no tempo e irmos até a Paris de Napoleão III. Foi aí * que os militantes republicanos, Charles Ribeyrolles e Victor Frond, se envolveram numa * tentativa de rebelião contra o golpe de Estado que interrompeu a experiência da Segunda

República na França. Perseguidos por Napoleão III, eles se uniram à “colônia” de refugiados

inceses na Inglaterra. Companheiro de Victor Hugo, de quem recebeu uma carta de apresentação endereçada a D. Pedro II, Victor Frond deixou a Inglaterra e se dirigiu para

* Portugal, onde abraçou o ofício de fotógrafo para garantir sua sobrevivência. De lá, seguiu

+ para o Brasil. Em 1857, aportou no Rio de Janeiro e imediatamente abriu um ateliê que | Vinia ser frequentado pela alta sociedade da Corte. Atento para o crescimento do mercado

Deixando um pouco de lado os “typos de pretos”, principal campo de força dessa

scientifiques. Versão on-line,

Paraanalisarmos as intenções do fotógrafo e sua interpretação da escravidão rural

:

E

editorial de livros ilustrados, compostos por imagens pitorescas, Frond convidou seu exà Companheiro de exílio, Charles Ribeyrolles, para um projeto audacioso: montar um álbum l sobre a expansão da civilização no Brasil. Enquanto Frond se encarregou da narrativa visual, a pena de Ribeyrolles compôs a saga de um “país hospitaleiro”, que dava fortes o Sinais de rumar em direção à civilização. | Nessa“obra utilitária”, como foi chamada por ambos, que contou com o apoio de D. | Pedro II, a escravidão rural oitocentista teve um papel importante. Além compor vistas do Rio de Janeiro, Frond percorreu fazendas de café e de cana-de-açúcar em busca de modelos — Para ilustrar seu projeto. * Editadas a partir da parceria fotografia/litografia, as imagens da escravidão que “Sompuseram boa parte de Brazil pittoresco denotam um forte diálogo entre duas estéticas =] PParentemente incompatíveis: a beleza pitoresca e a beleza neoclássica. Como dito Enteriormente, essa “contaminação” de estéticas distintas foi mais comum do que se no “sinta. Comparadas às composições de Debret e de Christiano Jr, as imagens de Frond São as que melhor expressam tal mescla de estilos.

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SEGALA, Victor Frond et le projet photographique...

340

SONS,

FORMAS,

CORES

E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE.

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MUNDO

ATLÂNTICO EM IMAGENS

E NARRATIVAS

341

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Voltandoà figura 6, observamos como o cuidado com a composição perme ia tc ii figuração. Os gestos, as vestimentas e alocação dos atores no espaço, os plan

enquadramento, o jogo de luz e sombras, a textura do chão e dos objetos crisriam :

cenário tipicamente neoclássico. Dignidade e concentração no trabalho são atr ibu ER

somados à idéia de família, imprimem um ar de virtudeà escravidão rural. Comole;

Lygia Segala, nas fotografias de Frond há algo inusitado no universo da li oia fotográfica: os escravos não se voltam para o observador“* Como peças de u ru al

destinadoà reflexão sobre os valores do trabalho, eles se mantêm alheios à q ia

máquina. Algo que naquela época era quase impensável. “a Mais que fotografia destinada a preservar a memória de um instante, a cena cris integra uma pauta a ser executada pelo criador da imagem. Nela, a escravidão propris ai

dita pouco importa. Guia para ação, a imagem criada foi concebida com um p OR si

3-0

priori: dar corpo a uma tese que mais tinha a ver com os ideais republicanos do! Ri bey e de Frond do que com a realidade que lhes servia de referente. 7!ca E Assim concebidas, não é de estranhar que esta e outras fotografias de Brazil pitton tenham contado com a aprovação dos membros do IHGB e do próprio im per lo: Brasil. Afinal, tais representações sobre a escravidão rural brasileira não. foram « coisa senão uma celebração da ética do trabalho ordeiro e compenetrado e dos vê positivos da família. Na figura 7, em particular, o pitoresco ficou por conta. do « a o bananas, dos objetos rústicos e cuidadosamente “jogados” no espaço. Uma das prin ambigúidades dessa criação de Frond está exatamente no fato de elaser uma. Fabri ? caç pensada e concebida por um ex-militante republicano.

Outras imagens de Frond foram claramente alteradas no momento da reprodução

meráfica. Em uma delas, feita na Bahia (figura 7), Frond mostra uma paisagem bucólica. EE uma vista urbana a partir da praia, onde cria um ambiente de harmonia entre a Ea laridade da natureza e o alinhamento das casas. Às canoas e os cestos na praia são Mádi cios de atividades pesqueiras, sugerem relações sociais de produção. A igreja, no alto morro, virada de costas para o mar, rompe com o pitoresco e transporta o leitor para oun

|

à de uma vida ordenada por relações institucionais e de poder. No entanto, na

lirografia que a reproduz (figura 8), a introdução das silhuetas humanas, na extremidade

emmerda e em frente ao conjunto de casas, recompõe a fotografia que privilegia a natureza e a arquitetur a. Não é demais lembrar: as paisagens pitorescas quase sempre eram hum anizadas com a presença de figuras humanas integrantes do mundo pré-industrial. H

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2 8: Victor Frond. Vila Velha do Pereira, vendo-se o Forte ana, 1858. Fonte: VAZQUEZ, Pedro Karp. O Brasil na fotogrde São Diogo e a Igreja de Santo Antonio. Salvador, Província afia oitocentista. São Paulo: Metalivros, 20083, p. 57. (Coleção O do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

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a g Figura 7: Victor Frond. Vila Velha do Pereira, vendo-se o Forte de São

Diogo e a Igreja de Santo Antonio. Salvador, Província da Bahia, 1858.

Fonte: VAZQUEZ, Pedro Karp. O Brasil na fotografia oitocentista. São Paulo: Metalivros, 2008, p. 57.

44. SEGALA. Victor Frond et le projet photographique..., p. 10.

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Fruto da combinação de muitas mãos, o trabalho de produção, edição e circulação às imagens por nós escolhidasi integram um conjunto visual próprio dos anos oitocentos.

Co “PS Essas, outras imagens do período também prescreveram formas de organização do If sobre a sociedade brasileira. Os significados neles embutidos são resp onsáveis pela criação de leituras estereotipadas da escravidão brasileira no século XIX que ainda hoje FAZEM eco e, por isso mesmo, não podem ser desconsideradas.

Parte 4

AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

Evge au Brésil dans lês annés 1815-1817, do Príncipe de Wied Neuwied Maximilien. tBosch Collection).

=» Às CORES E A INSTITUIÇÃO DA ORDEM NO

"MUNDO 1

DO AnTIGO REGIME

António Manuel Hespanha pe

Em abril de 1683, o estudante Hermann Wissmann, de Magdburgo, escolhia para

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5na da sua dissertação na Universidade de Leipzig, perante Christian Thomasius (165

28)?já então famoso (e iconoclasta) professor de Direito natural nessa universidade, o

Feito acerca

das cores. O tema era um tanto bizarro, embora não inédito entre os juristas.”

mestre, porém, tinha-lhe pedido — como decerto fizera com outros candidatos — um tais a não vulgar nem óbvio, provavelmente para evitar a crítica corrente de que, em

js acadêmicos, a preguiça dos candidatos os levava a escolher matérias vulgares, tratadas 4

jomo em todas as universidades européias, também nas universidades alemãs se praticava, desde o jeniodo medieval, a prática de organizar disputationes sobre matérias determinadas, ou mesmo discussões =

de quod libet). Um tipo destas disputas era o das dissertationes, em que O e tema aberto Eandidato tinha (disputationes que defender um tema contra os seus colegas oponentes, sob a presidência de um olessor (Praeses). A partir da segunda metade do séc. XVI, começa-se a fazer coleções organizadas de lissertações por vezes por temas, universidades, ordem cronológica ou praeses. Sobre este tema: UEDING,

Jerd (ed.). Historisches Worterbuch der Rhetorik. Túbingen: Niemeyer, v. 2, 1994, pp. 866-84; KELLY, W

= Eary German dissertations: their importance for university history. 32 ed. aum., East Linton: The Cat's und Richterbild in der Whiskers Press, 1997. Síntese on line: Filippo Ranieri, “Juyristenausbildung entlichungen/ trier. htm por Schen Tradition”, Disponível em http:// ranieri.jura.uni-sb.de/Veroeff riften: lâstige Richterzeitung, 1998, 285-294, Manfred Komorowski, “Die alten Hochschulsch Re NATE oder ungehobene Schãtze unserer Bibliotheken?”, disponível em www.bsz-bw.de/ depot/ Eq SE NOOU 0/3421000/3421308/3421308/971 0232.htmlfF11. RR Ernst. Christian Thomasius, ein deutscher Gelehrter ohne Misere. Frankfurt/Main: Subrkamp, EP 98; VOLLHARDT, Friedrich (coord.). Christian Thomasius (1655-1728): neue Forschungen im Kontext Re Maujxlárung. Túbingen: Niemeyer, 1997. Súmula em inglés, com bibliografia, disponível em http:/ + “O Stantord.edu/entries/18thGerman-prekant/%1. Ps.

OPPOINGIUS [Hóping]. De Jure Insignium. (Não consegui identificar completamente esta obra. Ela é Da

Fada como abordando o tema das cores): GULDTE, Johann. De coloribus quaesitis, vulgo Von gesuchten rh E Ride Rechtens. Altdorf, 1675; LINDENBERG, Georg. De titulo colorato, Kiel: Reumann, 1681.;

P2HER, Christian Friedrich. Dissertatio optica de coloribus. Jena: Krebs, 1699.

E. | AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATI Àr

346

rapidamente a partir de dois ou três compêndios saídos da própria univers sieida g dissertação obteve êxito, sendo publicada nesse mesmo ano de 1683 — De Jure ci Ke | Von Farben Recht (...).? O candidato estava consciente de que a palavra cor tinha sentidos próprios e figi ad Nestes últimos, incluía-se um outro que podia ser também relevante para o Di rei ] a palavra “cor” era sinônimo de “a pretexto de”, “como ficção de que” (“sob cor de que, como tal, seria também objeto de dissertações acadêmicas contempor: quer, no entanto, fixar-se nos sentidos próprios, tentando listar todos os pontos do di em relação aos quais a cor — tomada a palavra no sentido físico, ligado áqui o a A olhos viam (qui visus objectum est) — era relevante (p. 2). Porém, o problema começava justamente aqui. O que é que os olhos realmente via Além de pouco vulgar, o tema podia ser também fascinante. Desde logo, Wissmann está a escrever sobre as cores — talvez não por aca no não é o único a fazê-lo nesse período de menos de 25 anos* — justamente Hu

st n Huygens tinha publicado a sua obra Traité de la lumiere, na qual defendia que a a um movimento num meio ultrafino, provocado por choques da matéria que, por Evez, E aduziam luz. — Quer a teoria “corpuscular” de Newton, quer a teoria “ondulatória” de Huyghens iriam muito do legado da Antiguidade sobre o assunto. Aristóteles”? via a cor como E “mistura, sobreposição ou justaposição de luz e sombra, de branco e negro; o carmim, Rrre xemplo, seria O produto da mistura da escuridão com a luz do fogo ou do sol. Como Ea luz Z do sol não teria cor, constituindo esta alguma matéria dos objectos, capaz de ou alterar a luz pura que incidisse sobre eles. Numa data já muito próxima Ewadar | gdjela em que Wissmann escreve, O matemático jesuíta François d'Aguilon (1567-1617) proc uzia deste modo a teoria da mistura ou modificação das cores: A

il

crucial da evolução da teoria das cores— e sob o olhar de um mestre, Christian Thomas

tão desconfiado da erudição tradicional dos juristas” como ávido de conhecimentos Cie ntific novos.!º

Em 1672, Isaac Newton (1642-1726) começa a publicar a sua críticaà te tradicional das cores,” revendo por completo o legado helênico, devido, sobretude

Aristóteles e ao seu discípulo Teofrasto. Para Newton, as cores não eram modificaçõe luz branca, mas os seus componentes originais. Não eram o produto de uma: uré luz e sombra, mas elementos primitivos, cuja variedade dependia do modo como 0E Ss

F pe

corpúsculos eram refratados (Opticks, 1704).'? Poucos anos antes (em 1678),oholar

NE jo Ron gua

|

Verde

e: pai VE

Figura 1: Diagrama das cores esboçado pelo matemático jesuíta François d'Aguilon.

am

1740 (1ºer 4. BESOLD, Christophorus [1577-1638]. Ed. novissima emendata. Ratisbonae: Pedeponti, Túbingen, 1629). Sub praesídio Chr Thomasius. Diss, 24.4.1683 Lipsiae, Typis Garbrielis/Trogil

RE

dissimulatis; fictionibus aliisque coloribus usus sit in corrigendo iure antiquo? disquifera projess

iuris ordinariam... sibi demandatam sollemniter auspicabitur.. indicit insimulque Am deceatas rationes legum ignorare? Leipzig: Langenheim, 1734; ENRENBERG, Gottfried Franz. De genuino col

8. GULDTE, Johann. De coloribus quaesitis, vulgo Von gesuchten Schein des Rechtens.

“nobres”,” das quaiso todas as

ão cheio de

| o chek |E

ind

indecisões. Embora enuncie algumas das grandes questões que os físicos se , Sobre a origem e a natureza da luz, ele tenta ser expedito a desfazer-se delas.

19PRESSA

também a perplexidades dos teólogos, mas estas nem sequer explica quais são. elere-se :

a

RA autoria da principal obra de Aristóteles sobre as cores — De coloribus— não está definitivamente

referênciaa cores como o branco e o negro também podiam conter referências metafóric

e à parte má (p. 3), o que explicava o fato de ser hábito vestir de negro os réus (Ver ir fa)

e

utras derivavam. Já as cores primárias eram o branco e o negro, a luz e as trevas, como lo Seel ementos opostos de cuja luta derivavam todas cores.“

dr e 6. Sub colore iuris, expressão ainda hoje usada; outro exemplo, tirado de uma fonte con tea “grandes denariorum summas illicite lucrari et obtinere sub colore colligendi eleemosinz .

ex-solo iure in re. Halle: Saale 1729. A este sentido metafórico, como argumento possessorii defesa de uma causa frágil, se referia QUINTILIANO. Institutiones Oratoriae, L. 4, €. 2, E

am : O amarelo, vermelho e azul eram as cores básicas ou

ltdo o ADis

LINDENBERG, Georg. De titulo colorato. Kiel: Reumann, 1681; FISCHER, Christian Friedrir ichT Lost ms

optica de coloribus.

9. Cf. o título em um jornal que começou a publicar em 1668: Scherzhafte und esta, veemi if tige “28 einfáltige Gedanken iiber allerhand lustige und nutzliche Biicher und Fragen.

|

à, podendo ser dele ou de um dos seus discípulos, sucessores no Liceum: Theophrastus (c. 372-

Ear a.C) ou Straton de Lampascus. Edições actuais: ARISTÓTELES. On colours. (ed. J. Barnes) The

— Plete Works of Aristote. The revised Oxford Translation, 1, 1961, pp. 1219-29; ARISTOTLE. Works in

0BiLingual Greek-English Edition. Loeb classical Library, 23 Volumes, v. 14 (“Minor Works: On colours. heard physiognomics. On plants. On Marvellous things heard. Mechanical Problems. On é Rines

| Sable Lines. The Situations and names of winds. On Melissus, Xenophanes, Goorgias”).

10. Weitere Erliuterungen der neueren Wissenschaft anderer Gedanken kennen zu lernen az 1 ). 7

ka, eSoria aristotélica das cores foi resistindo, mesmo depois das descobertas de Newton. No início do séc.

11. NEWTON, Isaac. Philos. London, v. 6, p. 3075, 1672, reimpresso em COHEN, 1. B. geo anca

JW von Goethe (1749-1832) contribuiu para pôr em causa o bem-fundado das teorias newtonianas,

Papers & Letters on Natural Philosophy and Related Documents. Cambridge, Mass. Harvard É+

5 e, 1958. 12. De acordo com o tamanho destes corpúsculos: os grandes corpúsculos do vermelho eram menos Tê e do que os pequenos do azul.

atribui

A

E Ta revalorizar certos aspectos das concepções clássicas, voltando a destacar, nomeadamente, os lee tos subjetivos da cor; o que, calhando muito bem com o espírito romântico, potenciou de novo ras simbólicas da paleta cromática.

348

SONS,

FORMAS, CORES

E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

4ATLÃ

E.

a

E, no entanto, teria muito que explicar. Ele próprio afirma que o seu objetivo é limi

| |

Tae

349

"ho

E. adavia, Wissmann não trata sequer da questão gritante do daltonismo, ou da menção das cores desviante do sentido comum, embora se multiplique em exemplos de “os urídico das cores que as revelam, antes de mais, como suportes de simbolismos tamer 0 j “de = valores que nós hoje não temos dúvidas em ter como atribuídos arbitrariamente pelos

gros

dificuldades teóricas — a questão da acessão ou da especificação, um dos modos de aquisie: da propriedade. Trata-se, em suma, de saber a quem pertence uma coisa que é Ea Junção de duas coisas de donos diferentes; ou de uma coisa à qual se aplica a indústr E

ATLÂNTICO

ealidade, que a identificam com modificações da consciência.!?

aquilo que geralmente acontece (id quod plerumque accidit), do ponto de 1 homem médio (bonus pater famílias) — trata, enfim, das cores como qualidades y | dos objetos. |

DO MUNDO

— euieito que vê. E, realmente, o mundo das cores, tal como o mundo da linguagem, tem a dois campos de eleição no surgir de perspectivas radicalmente construtivistas acerca

as cores, todas as vêem e conhecem, sem que se tenham que esmerar em refla rele: alambicadas; e é disso, dessas cores trivialmente vistas, que o direito -queses DE

Num certo ponto, Wissaman toca uma questão jurídica que poderia D 0)por

di

AS CORES E O COLORIDO

CH

AM

E

!

né | — Wissmann também reconhece que muitos dos valores e das hierarquias das cores são Encialmente produzidos e, por isso, a sua estimação e significado varia de lugar para

outrem que não o dono, no sentido de a modificar. No caso das cores, isto acon

igar chegando a depender de atos claramente arbitrários, como uma lei imperial. Porém,

tipicamente, com a tintura de panos ou com a pintura de tábuas. As regras gerai especificação privilegiavam aquele a quem pertence trabalho aplicado à cois hipótese de geração de uma co-propriedade entre o proprietário original e o trabalha

Doi ponto decisivo de mira é o de que os significados, valores e hierarquias das cores stão inscritos na natureza das coisas, como elementos de uma ordem natural, ou como sinais postos nas coisas para que o seu lugar nessa ordem se torne patente a todos. O

Mas havia outros elementos a considerar, como a irreversibilidade da transformação valor relativo dos dois componentes.!s a A questão supunha ainda uma certa compreensão do ato de tingir ou de pintar c

Branco exprime, naturalmente, a inocência; o vermelho, o sangue e as paixões (dolorosas E

era problemática. Era a lã tingida (ou a tábua pintada) apenas uma espécie do gêner

yu gozosas) do corpo; o terroso e baço, o primitivo e rústico; o pálido ou cerúleo, tal como j 3 negro, a morbidez e a morte. Tal como a forma e a fisionomia, a cor era um dos a

elemer tos dessa hermenêutica universal que tornava a face visível do mundo num livro com o qual se desvendava, por meio de uma contínua hermenêutica, a sua fase oculta. Os homens potenciavam ainda essa leitura, apondo nas coisas sinais cromáticos que as glassificavam e apontavam a sua natureza íntima: os sinais amarelos obrigatórios para os juder ou para os loucos, o luto negro para as viúvas, o branco para as vestes dos meninos E das (noivas) virgens, o vermelho ou púrpura para o poder e seus atributos (como para as encz dernações dos livros de direito civil ou para a tinta dos rescritos imperiais).

(ou tábua)? Ou seja: a cor era apenas uma qualidade da coisa ? Ou antes um ek en luz que incidia sobre ela? E, num caso ou noutro, era a cor de tal modo relevante & pudesse mudar um gênero noutro? Um tecido de lã tingido dessa cor i ign e que €

púrpura continuava a ser lã? Os próprios clássicos o tinham discutido, a propósito di

texto do jurista romano Labeo, embora não tivessem dado à discussão este tom mas antes um sentido ou conceitual, em torno das relações entre gênero e:

meramente prático, acerca da relação entre o valor originário e o valor acrescent Qualquer das perspectivas levantava questões relevantes sobre anatureza da ainda certo que, se se encarar o problema do ponto de vista dos valores das coi e acessória, entra em jogo todo um complexo sistema de valoração dos materiais tintas, do trabalho, mas também das cores em si mesmas, que traz à liça aspectos «

naESociedade de todos os homens, na sociedade das nações (societas civilis major vel sennum), cuja comunhão se baseava, muito proximamente, na natureza das coisas.

;ã; Era por esta via da consideração dos elementos subjetivos da visão das co! W. Goethe irá valorizar poucos anos mais tarde!º — que Wissmann poderia

O rea pela sua proximidade ao branco ou ao negro, respectivamente. E, partindo embora Epson Siderações meramente físicas, insinuava também elementos sobre os quais toda e complexa simbologia e hierarquia das cores se podia enxertar, a qual, basicamente,

| Afirmeza ou invariabilidade destes sinais cromáticos seria mínima nas sociedades

domésticas, das quais o autor nem sequer trata; menor, nas repúblicas particulares, em

que usos locais poderiam complicar aquela taxinomia cromática natural; máxima, porém,

não têm muito a ver com as coisas, mas com os valores - materiais ou simbólicos= qi

À árvore das cores” de François d'Aguilon, reproduzida acima, já organizava as

homens lhes dão.

FeySna de tender a valorizar as cores claras - como o branco, o amarelo, o laranja, o “

PE! € O castanho.

realce que a identidade e o valor das cores é produto, não de qualidades: e mundo exterior, mas de modos de percepção — fisiológica ou simbólica — que pertence

dmg

15. Ver muito resumidamente, COING, Helmut. Derecho privado europeo. Tradução cas e F ana é is

Pérez Martin. Madrid: Fundación Cultural del Notariado, 1996 (edição original em alem Berto ATRAIR 380-1 e bibliografia. Para o Direito romano clássico, com o qual sobretudo lida WISS: né d'Ors. Derecho privado romano. Pamplona: EUNSA, 1973, pp. 186 e segts. o

16. Ver infra.

elho e todas as suas compósitas — sobre as cores escuras, como o pret o, o pardo, o

|

Por acaso, na origem da teoria dos sistemas autopoiéticos, inspirando directamente Niklas Luhmann, SSãotrabalhos de Ricardo Varela e Humberto Maturana sobre a visão (dos pombos e de uma rãzinha das Caraíbas a o e Frankfurt ). Cf. SCHMIDT, Siegfried J. (org.). Der Diskurs des Radikalen Konstruktivi smus. Suhrkamp:

o

am Main, 1987.

E

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE Ar!

350

E

aa

ccoRES EO COLORDO DO MUNDO

cão. na verdade, estes elementos simbólicos das cores que o Direito sempre haveria 0, inar mesmo antes de J. W. Goethe? ter lançado as bases daquilo a que se poderia

E, na verdade, as conotações destas últimas cores com a morte, o luto. os es to EST Emis infernais, a falta de luzes ou de virtude, a barbárie, a inexistência, ou, pelo me » Pelo discrição e a modéstia, são correntes e estão estudadas nomeadamente no maenie,

va a ma teoria romântica das cores, centrada no sujeito. Na verdade, é J. W. Goethe acicte NOS Aspectos subjectivos, na percepção (fisiológica, mas também emocional)

que Michel Pastoreau dedicou ao tema.'* A própria linguagem remetia, no latim ma»

; do modo como o também oe Ele afirma que as sensações cromáticas dependem

caráter quase inominável das cores “deprimidas”: caeruleum (azul, a cor da ne ai , ;

ss

i

se In51:

e roOico.Reno grebro processa a informação externa: daí que o que nós vemos dependa tanto do pa inter Ero e da luz como da nos sa percepção. Isto abrirá a portaa para pretações estéticas

fato, não tem cor); glaucum (derivado de Glaucus, um dos deuses gregos do mar é

Ovídio atribui, no entanto, uma forma monstruosa, e extensivo ao azul pálido ou fus

do mar — o qual tampouco tem cor); lividum, caesium, aerium, ferreum, blavum (pal:

da mais subjetivistas e simbólicas, que florescerão, primeiro, com o Romantismo e,

esta que provém do germano blau, e que adquire uma conotação pejorativa, Je bár | | sendo associada aos povos dos confins do Império — celtas, germanos). Er im,

| mois, com o Simbolismo e com O Expressionismo, transformando as cores em como que íriros sensíveis, ou, pelo menos, em entidades que seriam, antes de mais, estímulos

(pp. 26-7). No teatro, personagens de olhos azuis, sobretudo se associados a cabelos ou ruivos (o que corresponde, de fato, ao tipo bárbaro do Norte) são típicos d cê p

Eus cores como seres sensíveis “nas suas próprias vidas chorando e rindo, sonho e êxtase, quentes € sagradas e sagrado, como canções de amor, eróticas como hinos e corais gloriosos!

discord;

Pastoreau, “tudo termos polissêmicos, cromaticamente imprecisose de emprego

ara a sensibilidade do espírito. O poeta expressionista Emil Nolde não hesita em falar

Pares em vibração, tintilando como campainhas de prata e soando como sinos de bronze, mroclamando a felicidade, a paixão, o amor, o sangue e a morte”. Pela mesma época, o

“A ridículas ou negativamente conotadas. !? Mas os elementos que podiam suportar uma teoria simbólica das co es não apenas estes, de origem clássica. Também a tradição bíblico-cristã — sobretuado parti

Eimbolista português Eugénio de Castro (1869-1944) corporizará esta simpatia entre cor,

imagética e da liturgia — se encarregarão de cobrir as cores de significados. O brar

ome sentimentos em termos muito semelhantes.“

a cor da pureza (candidus), do batismo, do mistério pascal, da ressurreição (o enascil é

E

a manhã, a alba ou alva) e da vida eterna. Enfim, o branco corresponde al uz pu

luminosa do sol, essa luz que tantas vezes é identificada com Deus. Em contrapartic

negro carrega-se de uma pesada simbologia: a falta de luz, a abstinência,a penitência,

aflição e o sofrimento. O vermelho, enfim, remete para o sangue de Cristo edosm árt sinal do amor (ou a paixão), todos sagrados, embora a sua semântica se estenda, dep

ao amor profano (contrastando então o vermelho de novo com o branco, que une

aa

ligado à cor do céu ou — neste caso com o tom mais violáceo do sofrimento — do mank Virgem, à medida que as técnicas de coloração e os suportes (o vitral, por exemplo ) permitem dar luminosidade, destacando-o das cores escuras. No entanto, também

recolhimento

É, portanto, em plena convulsão das teorias dos físicos sobre as cores que Wissmann Escreve o seu pequeno tratado jurídico.

2

Pastoreau descreve também — é este um dos temas maiores do seu livro — como 0 2

nela, e nas cores que ela faz aparecer, um engano dos olhos, destinado a

od

a

pureza, logo, amor cristão). O verde e o amarelo fazem o papel de cores im entre o negro e o branco; enquanto que o roxo ou violeta se aproxima do negro 9

valorização positiva da luz é objeto de controvérsia, pois as correntes mais ascé

+

ud

e da reflexão soturna e aflita (logo, negra), sobre a natureza p e a

mas em trevas, vi luz para alumiar Ee

&é Zur Farbenlehre, 5 vols. (completo, com notas de R. Steiner) conteúdo: Beitráge zur Optik (179112); Versuch, die Elemente der Farbenlehre zu entdecken (1794); Von den farbigen Schatten (1792); Der

er-such als Vermittler von Objekt und Subjekt (1793); Erfahrung und Wissenschaft (1798); Entoptische Farben (1813-20); Tafeln zur Farbenlehre / Entwurf einer Farbenlehre (1810); Enthillung der Theorie Newtons (1810): Newtons Persônlichkeit (1810): Konfes-sion des Verfassers (1810); Uber den Regenbogen (1832);

*

Goethe

gegen

den Atomismus/Goethe

als Denker

und

Forscher/Goethe

der

und

=» Bakurwissenschafiliche Illusionismus (Rudolf Steiner). Disponível em: wwwfarben-welten.de/farbenlehre/ | index.htm; downloads em: wwwfarben-welten.de/farbenlehre/index.htm). Traduções: Zur Farbenlehre

IS vols. 1810; traduzido como Goethe's Theory of Colors, 1840). Sobre as inovações da teoria das cores



arriscada do mundo, tomada esta aparência de claridade pela luz verdadeira? |

de luz. . na região e sombra da morte, a luz raiou”; Lucas 2:30-32 : João 2:8 - “São pásdándo as trevas, e já a verdadeira luz alumia”.

deGoethe, ver SEPPER, Dennis L. Goethe contra Newton. Polemics and the Project for a New Science of

E Er: Cambridge: Cambridge University Press, 1988.

E

*

»Porexemplo, o seu poema Um sonho (em Oaristos, 1890): Na messe, que enlourece, estremece a

18. PASTOREAU, Michel. Bleu. Histoire d'une couleur. Paris: Seuil, 2000 (usei a edição de 200, , CO + oro

JHErmEsse/O sol, o celestial girassol, esmorece.../E as cantilenas de serenos sons amenos/Fogem fluidas, — “Ba. | fluindo à fina flor dos fenos...//As estrelas em seus halos/Brilham com brilhos sinistros.../Cornamusas

Editorial Estampa, 1993. 19. Terência, em Hecyna, descreve “um gigante obeso, com olhos azuis e cabelos ruivos e en

EA epa pos

acentos /Graves,/S uaves.//Flor! enquanto na messe estremece a quermesse/E o sol, o Re Eoridos f girassol esmorece,/Deixemos estes sons tão serenos e amenos,/Fujamos, Flor! à flor destes

20. Cf. PASTOREAU. Bleu..., pp. 33 esegts.

+.

a

ad Cítolas, cítaras, sistros,/Soam suaves, sonolentos,/Sonolentos e suaves,/Em suaves,/Suaves,

em português, PASTOREAU, M. Dicionário das cores do nosso tempo. Simbólica e So ciedad >. Jud

face lívida [livida; cor de cera, caerulea], como a de um cadáver. Citado por PASTOREAU.

21. João 1:9 — “Ali estava a Luz verdadeira, que alumia a todo o homem que vem ao mundo”; e

+

a

j

Biel...» É *

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ção Si O

Es “Eu sou a luz do mundo: quem Me segue não andará em trevas”; Mateus 4:16 — “O povo qui

| e

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enos...//Soam vesperais as Vésperas.../Uns com brilhos de alabastros,/Outros louros como,

tas, /No céu pardo ardem os astros.../Como aqui se está bem! Além freme a quermesse.../- Não

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e

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que esmorece?/São os amantes delirantes que em amenos/Beijos se beijam,

Írescos fenos...

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E

e

352

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATi

A 1 '

Logo no início, ele constata essa mesma vertigem teórica, multiplicando as def;

sobretudo medievais e modernas de Joseph Justus Scaliger (1540-1609), » umUM er€

comentador de Teofrasto, considerado por Leibniz como o melhor represent: nte da é (1 508); r ) e metafísica de Aristóteles; a Margarita philosophica de Gregor Reisch

ainda para outros autores, como Hôpping e Guldte, que tinham coligido outras

No entanto, lembrado decerto do dito de Ulpiano, de que o saber jurídico LE o Te senão de um conhecimento suficiente (adequado) “das coisas divinas e uma: 1,1,12), reconhece a inutilidade de uma pugna — “como as dos gladiadores”, isto é a senão artificiosas - sobre definições quanto a uma coisa — a cor — que de tod conhecida e clara, sendo, demais, certo que a ele lhe interessava a coisa em si mes não as elucubrações filosóficas sobre a sua natureza ou essência.” Bastar-se-á r não com uma definição cuidada, mas com uma descrição notória que se possa ar 1 -

qualquer eventuais branco, o das cores

cor: “a cor é a qualidade que se pode perceber visualmente” implicações simbólicas, retém a opinião de Aristóteles, que liga fogo ao vermelho e a terra ao branco ou ao negro (8 22), bem fundamentais: branco (album), negro (nigrum), vermelho

o

MM

Flavas

(8 5)3) a água ec « Omoo € (rubrum)

|

e no perturbante Athanasius Kircher (In Mundo subterraneo),* mas dando cont opiniões que omitiam o azul e substituíam o rubrum pelo puniceum (escarlate) (84 sua síntese sobre a combinação das cores é, afinal, a da Arte magna? e do Mi A subterraneus, de Kircher: o

“O

A

E Eis vinae Mumana da naturega. * O primeiro capítu

à lo em que o assunto é; tratado substancia lmente (Cap. IL: “O uso

das cores em diversos estados do homem”, 8 36 ss.) trata do modo como as cores são o

»

si nal dos estados dos homens; pois, se a natureza e o Direito distinguem os homens de

Acordo com a variedade dos seus estados — ou seja, dos seus estatutos nas sociedades

24. “No entanto, para mim, reconhecendo certa ingenuidade, nenhuma me agrada, pois obseurecer |

hhumanas

(“civil maior, ; civil e a civil mais pequena ou doméstica”. 8 37) — estes “devem peq 5837) -, originar diferenças no seu aspecto”.

do que esclarecem uma coisa que de todos é suficientemente clara e conhecida de qualque verdade, o primeiro fim das boas definições é fazer com que os homens possam adquirir

cam

um cx

distinto e notório de uma coisa desconhecida ou obscura (...) No entanto é inteiramente de adm

| Nasociedade civil maior - a sociedade de todos os homens do universo vivendo em

a coré do gênero das coisas físicas que, de qualquer modo, é mais fácil em geral conhecer, 7

paz (societas gentium, ou sociedade das nações, 8 38), tais diferenças de cor já existem: Ee j a pda (corados, enrubescidos), os cartagineses albi, os coríntios rubris, os Bstmanos de várias cores, segundo Tácito, tendo as suas as nações, desde a Antiguidade,

ser fácil determinar a sua essência. E, por esse facto, é porventura fácil esperar poder ser d

remeter este tipo de especulações para os filósofos, abordando, em si mesmo,

encarreguei”.

aquilo de |

na

25. Basta-se também com a uma noção vulgar de “qualidade” — “acidente pelo qual uma co saé

o

e abstraida discussão dos físicos sobre

BESTentes cores de corpo, cara e cabelos (839).º Dos hispanos se dizia que eram jfusci

se essa qualidade é real ou intencional jOUIE ps que se diz colorido, ou, antes, à luz (remetendo para Robert Boyle, Experiments ana :constaas

touching colours, London: Royal Society, 1664). Em todo o caso, situa-se brevemente em

face def

dos problemas da física sobre a percepção da cor, sobre a diferença entre luz e cor, sobre caa

casã e

sobre as divisões das cores (reais e aparentes, 8 16; nativas, 818; e factícias ou artísticas, 8 ds E

mistas

88

21-3),

et.

(8

F

à

23).

a

“7.

:

-

e

7

1669; KIRCHER, Athanasius S.J. Mundus Subterraneus, in XII Libros digestus; quo Divintum : a LE à “Drnatei

ESCurOS), passo que a Gália está “menos infectada por este rubor dos vizinhos” (at ontra Galia“aovicino E ; jr E

o o E

Nuk | vIrE

Re

Mundi Opificium, mira Ergasteriorum Naturae in eo distributio, verbo pantamorfon Frota” Universae denique Naturae Majestas et divitiae summa rerum varietate exponuntur, apue vos

k

O;

q 1a p..

Outras divisões com relevo simbólico: cores úmidas e secas; cores nobiliores (que o ag : E ignobiliores (que têm muito de sombra); outros (Hôpping) chamam nobres às cores principes”

algumas delas (o negro e o azul) tenham muito de sombrio (8 34). 0a ” E. 28. Ars magna, lucis et umbrae, in decem libros digesta. Romae: Ludovigo Grignani, 1646; ss numa obra central da Ordem Rosa-Cruz.

OA

a uma clara teoria rácica baseada na cor da pele, que se

das

suas

faces

a

a

= queimadas e pelo negrume da cor; = a estes parecendo opor-se os m

E (albos), entendendo: como tal os habitantes do norte da Europa, especialmente os Tancece : THEESeS

E

27. —

5 €5 nf ecta rubore).

UU Se iniciam as alusões

Causa

Ro

a

Janssonium & Elizeum Weyestraten. Amsterdam, 1665, 2 vols.

o

FPRSui pela afirmação de que, segundo muitos, os etíopes foram dominados pelos mouros

4

26. SCHEFFERUS, Joannes. Graphice id est arte pingendi liber singularis (cum indice necessario). “

Figura 2: Diagrama das cores de Kircher.

De todos estes autores,” Wissmann procurava contributos para encontrar uma ordem do justo relativa às cores ('quid justum sit circa colores, vel colorem occasione”, 8 35), prdem esta que havia de se fundar em sentidos e hierarquias naturais das mesmas na

(caeruleum), amarelo (flavum, ouro), com base no ensino de Schaeffer (De arte pi Mad

Rolens

(gallos) (8 40). Já os germanos, pela cor de seus cabelos e olhos, continuavam

E

% E magna, lucis et umbrae, in de cem libros d igesta. Romae: Ludovigo Grignani, 1646, que se tornou numa Eira central da Ordem Ro sa-Cruz. autores citados (filósofos, físicos, médicos, teólogos 8 35).

“Mo o. pv

354

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂN;

are 4 2 AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

amarrados à simbologia antiga — originária em Tácito — do barbarismo: teriam ol

E.

selvagens e azuis (caerulei); os cabelos seriam russos ou amarelos, não tanto pornatur naturez

mas por os lavarem com sabão para que tivessem um brilho avermelhado, o mesr à E ee negativa | e os suecos (8 41). É decerto por causa desta carga Negativa fazendo os| dinamarqueses

olhos azuis, associados aos cabelos russos (ou ruivos), que mais tarde, ao tratar das co) como indícios de índole criminosa, o autor se pergunta, como outros juristas, so re se ruivo dos cabelos não é indício de um espírito violento e criminoso. 4 Nesta teoria cromática das raças, passa-se com a cor da pele o que se passa com

tingir dos tecidos. O branco — cor difícil de obter nos tecidos, à custa de exposição ae

mamas

(“pôr a roupa a corar”, e não “a descorar”), barrelas de cinza e de lixívias - eraaco

elaborada, cultivada, aperfeiçoada, da limpeza e do requinte. Uma cor ao mesmo tem

trabalhosa, cara e perecível. Em contrapartida, o pardo, encardido, terroso, indistint

era a cor (ou não-cor) nativa, rústica, não polida. Na humanidade era a cor dos primeir homens, “formados do insignificante e descolorado pó, pelo que teriam os olk Os €

355

pf (tal como, por razões já referidas, “cabeça russa” ou “ruiva”, Rothkopff)

Blaust

x

É

a

a

=

*

a

=

£

k

dia ser considerada juridicamente injuriosa, como sinônimo de “sabichona”, “pedante” podiz Va (6

no 34 124).

120) —5 pepois da sociedade das nações vinha a sociedade civil, cobrindo todas as ações rernas os homens (8 44). Neste plano, se as simbologias das cores remetiam menos para E is reza do que para os usos enraizados — essa segunda natureza do mundo de então — E ja riqueza era enorme. Embora Wissmann apenas se preocupe com as conotações ' a antes para o Direito, os seus exemplos são muitos.

É

O autor começa, como era de esperar, pela simbologia do poder, descrevendo como,

nara ostentar a majestade, várias foram as cores usadas. No Império Romano, o púrpura o a uma cor imperial, como tal interdita por Nero a qualquer outra pessoa (8 45), tal tomo, na República, também o fora o branco.ºº Estas cores reais tinham-se mantido. Na porte inglesa, a vara branca era um sinal real, preferindo os oficiais reais (officers of the

white staff )” aos da fazenda. O mesmo prestígio tinha a cor na corte francesa, em honra da

cabelos de cor azul (caerulea) e amarelada (flava) (8 42). Embora os físicos se im ogasser 8 sobre as diferenças de coloração da pele, era fácil aproximar as cores terrosa S, baçz

“pomba branca, que teria trazido do céu os santos óleos para a unção do rei; daí a escolha do “rio, “flor branquíssima?”, como insígnia real.3 O mesmo, com a escrita e com os selos: os

soprado por Deus, ou, terminado o seu trânsito animado e abandonado do espíi ito vita

sujeita a licença do imperador o uso da cera rubra — tinta sagrada (sacrum encaustrum

encardidas, desse estado primitivo do homem acabado de sair do pó, ainda antes

retornado, já cadáver, a esse tom de palidez ou de cera.

pe

A outras chaves simbólicas estavam ligados os usos que os vários povos faziam cores. O uso do preto, em Espanha, para falar com o rei. Também no Japão o negro «

fescritos imperiais deveriam ser escritos a vermelho, assim como devia ser proibida ou

inchiostro], 8 71)? — na selagem dos documentos.*º Já os documentos deviam, em geral, ser escritos em papel branco,*! sem manchas, encardido ou com letras apagadas (8 128). [e

então, a cor mais nobre. Na Turquia, o verde era reservado para a família do Profeta,

fanfarrão (Cf. http://www.bach-cantatas.com/Articles/BWV524Quodlibet%5BBraatz%5D.htm). A

a cor amarela fora julgada por muitos povos como abjeta. Essa era, na Europa, à cord barrete (Viena, 1228, pileum cornutum), ou da marca que os judeus deviam coz E.

=”

Expressão surge na Inglaterra do séc. XIX, significando uma forma desviada de comportamento das

a

mulheres que pertenciam ao primeiro movimento feminista. Já por volta de 1750, Lady Elizabeth

É

roupas, tendo variado a sua forma: estrela, rodela ou triângulo. O IV Concílio c eLa tê os 8 2X

(1215, Inocêncio III, cân. 68) mandava que os judeus e os sarracenos de ambos

usassem roupas que os distinguissem publicamente das outras nações. Esta mesma idé E

a

£

'



Ê

1 E lizei prá n aplicava-se também a profissões vis, como as de talhante e prostitu ta (cf. Polizei y) 1 E

O n dados

Robinson Montagu abrira o seu Salon; como um dos convidados —o botânico Benjamin Stillingfleet — tava mas meias de seda preta que ela não podia suportar, autorizou-o a usar umas das suas meias de a malha azul. O fato tornou-se conhecido, pelo que os participantes destas reuniões intelectuais passaram

pas comerciantesaaa a.

que eram e quis: acentre RO a aproximação Cie e à usura permitia a cor amarela e a cor do ousa

AM

“a ser conhecidos como Blue-Stockings. o A ! ! : : 7 5%. Este tipo de mulher é caricaturado por Honoré z Daumier e objeto de chacota e ódio dos homens: “Alle

/Nicht sollen Frauen Gedichte machen:/ ferlein. Pfifl, t ein h sein schá”tze(OssiecarnichBlu sachen Sie hen uche n,benGedi en vers ROSollPesc chte/Iczu mentha 1852-1917, Blaustriimpfe, 1887) (Toda a

A

“Vossa tralha

noét;

oportunismo. Também os loucos se deviam vestir de amarelo, em sinal de ignom| inia

E

persas tivessem o azul como cor real, os alemães continuavam a tê-la, então, por despreza

já menos, ssem intere nos isso, por e, as, insígni em oradas incorp cores a refiram se ca deles a!guns Simbóli “a da insígnia |consumia, em geral, a da cor. nor: E nive

RA

Mas, na China, o amarelo era a cor imperial, proibida a todos os outros. É nbor

comunicando essa conotação à mulher que, traindo a sua natureza, se cultivava €: a ex ) ess por sabichona ou reivindicativa de prerrogativas de mando.* E, por isso, +

=CO

er

UR

[9:

31. “Se a cor russa dos cabelos aumenta os indícios de crime?”, in Cons. Rupertum, ad Salust.,Pp. 952 »

n. 6).

'

odeltides

32. Com elementos sobre uma teoria cromática das raças, MAZZOLINI, Renato G. Leticoriaas di

somática degli europei”, in PRODI, Paolo & REINHARDT, Wolfgang. Identitd colletive tra mesas

Età Moderna. Bologna: CLUEB, 2002, pp. 43-64.

2

33. Blaustrumpf (meias azuis) era o epíteto destas proto-sufragistas (8 43). A expressão enco” letra (de autor desconhecido, 1708) de uma cantata de Bach (BWV 524 Quodlibet

Ea

a

seind das vor grosse Schlósser) significando alguém que revelou hipócrita, traidor, jactanclos” —

Rs

35

=

poctica/Vale para mim tanto como uma porcaria/As mulheres não devem fezer versos,/ | | | |

Sim tentar tornar-se poesia).

e.

a,

e. m

per

'Sso, as varas dos juízes das câmaras portuguesas (também no Brasil) eram vermelhas (juizes

» Tepresentantes do Império), ou brancas (juízes ordinários, representantes da República

Municipal), Má | Deen is de vara vermelha eram os officers of the wardens ain. Oficia berl Cham ava Lord o avult quais OS FÊ — Ofthe Fleet, que esperavam o rei empunhando um bastão vermelho. 23. Que , no ent an no À zur). u figura nas armas reais da FrançaÇ em amar elo (or) sobre campo azul (fonds d'a 2. A Oautor refere to, rh

“a 40,

Ea

parecer da Faculdade de Direito de Leipzig dado aos escabinos de Wittenberg e de

o o qual nenhum privado, nobre ou plebeu, poderia usar cera rubra, a não ser por privilégio

Por E,

em princípio, do imperador (cf. “Corollaria”, p. 68)..

(ibidem) E a mas já explicadas, também as sentenças de mortes deviam ser escritas em vermelho » brancas: é ao sobre a morte devia ser tomada, em tribunal, por votação por bolas negras e . Com fita Ro lalmente, 0 condenado deve ir vestido de negro (8 135).

era, e não cinzenta, ou muito menos de outras cores, como verde ou vermelho (8 128).

356

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDAR 1 a

r

CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

357

a

E

Depois, as alusões simbólicas multiplicam-se. O negro significa 0 luto ee ho alegria (cf.

, também, 8 53). Na França e na Inglaterr a, porém, a cor do lu ' al a violeta. O luto das rainhas francesas era o branco (daí que se

E

chamassem B inca

LR BIT

cardeais e o dos reitores de algumas universidades da Alemanha era o púrpura (uam escuro) (8 47, 8 52).

1

países, como a Espanha ou a Alemanha, o reitor presidia às disputas

trajando vestes amarelas (batina, manto, pequeno barrete com um penacho)

; CE

à

3

=

;

a pas ogas, meias, sapatos, pantufas e fardas, tudo podiaa ser objet o de regulamentação —“ sempre baseada na natureza simbólica das cores ou em significa dos longamente n E NE dos º neste mundo em que a aparência devia correspo nder à essência, FMI

| codi di

Nas mulheres, as libertas usavam vestidos de cores diferente s das mat e sy

desmaiado ou amarelo, açafrão, mirtilo, ametista, cor de vinho ou rosa, azeviche caem

rara corresponde ao objeto etiquetado. E em que, como num grande teatro, a marcação

amêndoa; enquanto que estas usavam tecidos mais car os, cor púrpura. Tambmonea émo exs. negro as distinguia das prostitutas que o usavam louro (flavum, 8 48). Nos

ao lado de outras, duplicando outras** — devia remeter para a hierarquia dos

romá , 8

cores oscilavam entre o branco, o negro, o azul e o castanho, todas cores neutra

» Friquetas eram, também, as penas que, portanto, se podiam também exprimir pela enTA

escuras, evocadoras da sobriedade, da honestidade, da pureza ou do sofrimen: rede à advogados deviam vestir-se de negro, pois esta era a cor da firmeza e da preserver Ê (por muito que — acrecenta o autor - muitos gostem, precisamente , de variar, 8 50). Também às várias idades competiam, pornatureza, cores diferentes, os sete anos) convinha o branco ou o prateado da inocência; aos púberes À infância | (até os 15 Ir ae

|

“MH

VOLS.

, sm sição de cores. A uma certa cidade, em sinal da sua perfídia, asa pc E E ; do vermelho e imposto o do amarelo. Em 1582, o Parlamento de Paris condenou os Falidos * mesmo de boa fé, a usarem um chapéu verde. Em outros lugares, como no Saxe, RR co dessa 1560), coro sos loncos em VenezasSom 4 lei judaica, os sacerdotes com manc ha deviam usar veste e véu pretos. Os outros,aoos

mea

convinha o azul; até os vinte anos, o amarelo; o verd e (viridium) era, onomato baicam

a cor da virilidade, sendo própria dos homens até aos trinta anos; o vermelho nm (a e o amor carnal) acompanhava-os,

muros, usavam-nos brancos (8 128, numerado, por erro, de 126).

ra nesta cor se combinasse, também, a evocação da serena constância própria: idade, e, por isso, esta era também a cor que em muitas nações tingia as vestes « magistrados, confirmando a majestosa lentidão e pa rcimônia que lhes devia caracter

faltas morais graves contra a honestidade (honor; honestas). Assim, é crime apor na sua casa as armas de outrem, ou mesmo pintar a sua casa com uma cor que, por uso, outro tenha reservado para as suas;* utilizar cores adulteradas; pintar um cavalo de modo a que

e EM

por sua vez, até aos cinquenta; quanto ao

Dafadograv idad FE |101), estad o, edodasexo, usurpaçã dasemcores consotitu tantoque, crimcomo es de a falso usur,paçã o dos do nome puni - to, pelo; Direi acomo

nes

acompanhava, como um eloquente vaticínio, os idosos (senes) (de mais de 60 ar Embo

acor lhe aumente o preço; um magistrado usar cores abjetas nas suas vestes (8 127).

o gesto (8 51). | a á Estes mesmos sentidos das cores eram utilizados no teatro, para que os € e adore de um golpe de vista, pudessem caracterizaro personagem: assim, os meninos se vestia de branco ou de linho: as prostitutas, de açafrão ou de cor de barro; os saceire tes branco; a túnica dos adolescentes variava com as situações e a sua condição: aa egri ae sugerida pelo branco; a tristeza, por uma cor gasta; a riqueza, pelo púrpura;a pobre pelo escarlate; os velhos vestiam negro e os chulos cor es variegadas.? sia Certas peças de vestuário, nomeadamente as que se usavam na parte = demais no

| Estecaráter natural da ordem das cores explica também, por sua vez, a gravidade da mistura de cores, já realçada por M. Pastoreau.** Uma cor nova nunca se deve obter pela mistura dos princípios ativos das cores simples. Por exemplo, o verde não se deve obter misturando corantes azuis com corantes amarelos; mas, antes, buscando corantes autônomos verdes, ou degradando os tintos das cores originais até se obter o tom desejado. Misturar ESTES seria como que perturbar a ordem do mundo, criando um hermafroditismo contra

atura.* Para além de eventuais questões de técnica e de fiabilidade do novo tinto, há aqui

corpo, a cabeça, que assim figurava como o lugar da insígnia ou timbre, tinham regras z mais. fixas quanto a cores. O chapéu: A o o dos cardeaisaz era vermelho, conforjáme dec da fórmula da sua imposição: “Ad laudem omnipotentis Dei et Sanctae Sedis Apostohes |

E

"E q,

ornamentum accipe galerum rubrum, insigne singulare dignitatis Cardinelatus per ,

quê

designatur, quod usque ad mortem & sanguinis effusionem inclusive pro exaltatione Ca:Sanck

Fidei,

pace et

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quiete

populi christiani, augmentu et statu Sacrosanctae Ecclesiae Roman

te psd

€ as, , tnmn N shSR a caentãs. & Filius, Também os barretes universitários tinham as suas usavam borlas vermelhas ou negras, ou violeta, como em

a

ritus

Sancti” (8 54).

& Spiritus an Sa regras cromáticas. Os Jur Leipzig, embora esta fo S5€= Ds d

da teologiaela, ,E:Pois pois sese oc ocupava do mundo celeste, que virá depois da morte de ste» 42. Tal como as prostitutas se deviam vestir assim, segundo o Direito portuguêsant igo.

'

“mundo, que se baseavam as pragmáticas, tanto as que apenas pretendiam conservar a

Ordem do mundo, como aquelas que, já dentro de uma lógica mercantilista ou de rigorismo

3, CEs63a68.

Ly Tal é o caso da combinação entre a forma dos assentos e sua cor, Cadeiras de docel, de espaldar, de

* E

mun dodo (É| mun “a“a al

“profundas questões de ética, relacionadas com o interdito da impurificação. * Era nesta ordem simbólica das cores, correspondente a uma ordem subjacente do

braços, meros tamboris, bancos e almofadas representavam uma hierarquia, que podia ser duplicada Pelacor dos materiais (couros e estofos): “Não erraremos se dissermos que é conveniente que cada dignidade de pessoa use bancos de cor diferente, vermelhos para os superiores, violáceos ou negro s para

;ÉS. 9Sinferiores” (8 70 ). Em certas aldeias

,—

do sul de Portugal, as cores das barras inferiores das paredes exteriores das casas Identifica a família proprietária. letári

29. PASTOREAU. Bleu..., p. 60 esegts.

?: Como cXemplo, uma lei saxónica de 1626 (31.1.) proíbe a mistura de tintas (8 84).

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDAD ATiE AN =

TE 4 — AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

Es

| q religioso, visavam limitar o luxo. Sendo que, uma ou outras das perspectivas tor naves

:

Hamentos, sobre os humores corpóreos, sobre as virtudes curati vas de plantas ou de outros

base, muito frequentemente, a cor dos adereços. Assim, leis imperiais alemãsde 1

E

tos, sobre as propriedades secretas das coisas. Mas também há de incorporar aspectos rramente técnicos, como

regulavam o uso do carmim (carmasinus): uma Polizeior dnung, de 1577, proibis nes

a origem, a qualidade e as característica s e condições de fabrico, a idade e o preço dos corantes. Finalmente, com as condições me sológicas: as cores Hominantes na paisagem, a paleta da terra, dos céus e dos mar es, das plantas, dos animais

de categoria inferior à de cavaleiro ou de doutor de enfeitar seu s cavalo des am: (flavum, 8 68). Tr A Muitas das questões jurídicas das cores estão relacionadas com as insígnias. Já ar

dos próprios homens.

se disse que, nestes casos, o simbolismo das armas e insígnias parece mais orte do ar das cores que as compõem, pelo que, mais do que de um direito das corese s, trataris um direito das insígnias. Porém, mesmo aqui a simbologia autôno ma das cores faz uos seus direitos: é que, se as insígnias — tal como os emblemas — são uma.

linguagem mais elogiente, em que os significados apareceriam como que imed

por uma espécie de efeito de espelhamento direto da natureza no sinal (in si

359

É sobre tudo isto que se estrutura o simbolismo das cores, fixando sentidos e hierarquias, atrações, repulsas e interditos. Constituindo, através de ditos, de provérbios, Je: normas jurídicas, ou de simples modismos de diversa natureza, significados, ordens e hierarquias para as cores, com as quais se marca a ordem da sociedade.

| Q exemplo que escolhi neste artigo foi o de um texto do séc. XVIII, escrito numa

5)

acontece porque os elementos do sinal (do brasão, da insígnia) têm significados tar

Pidade do nordeste da Alemanha. Nele se compendia uma memória européia de sentidos

nobre deve anteceder a simplesmente nobre e ser posta num lugar superior (...): sen

fadição bíblica, helenística e romana, por exemplo) e muito lon ge (desde logo, no mundo

que lhe chega através de citações de autores que escreveram muito antes (no seio da

eles naturais, quer no plano das figuras, quer no plano das suas cores. De fato: “a cor

mediterrânico, dotado de uma paleta mesológica muito diferente da predominante no norte da Ale

deste princípio que decorre o costume de pintar nas insígnias as imagens dos anim: das feras (isto é, leões, águias, lobos, etc.) de cores divers as das naturai , com ) exemplo, azul” (873), assim fazendo corresponder a nobreza (e luga r) da figura à nobi

manha). * Aexpansão colonial européia deve ter enriquecido extraordinar iamente a sensibilidade Eromática, não apenas por ter posto os europeus em contacto com outros meios físicos,

e lugar da cor, pois as cores “têm os seus próprios significados, quase místicos”, os« se impõem a uma representação

nas também por lhes ter criado, em virtude de novas experiências, de nov os corantes, ou da incorporação de tradições

naturalista do bestiário heráldico 48

simbólicas alheias, novas sensibilidades para a cor. As

Wissmann trata ainda, neste apartado, das normas que regem a prof issão de tintt ou de pintor. Omito este tema, por menos interessante na economia des te: tigo, ape: relevância que possa ter numa outra abordagem desta história do colorido (artil neste caso) do mundo.

designações européias das regiões exóticas abundam de adjetivos referidos a cores: Mar São ou Mar Vermelho, Cabo Verde, Cabo Branco, Brasil, Rio Negro; assim como o haginário ultramarino evoca coloridos fortes e variegados.

“ea RU qi

| Os estudos sobre as cores implicam, antes de mais, levantamentos exaustivos e iBorosos: dos pigmentos disponíveis e usados, das cores, das casa s, das vestes dos santos,” das cores das vestes. Finalmente, e mais tarde, dos símbolos regionais e nacionais. Estes

“os

MMOs tiveram, nas novas nações, um impacto na sen sibilidade e no gosto desconhecido

Por que é que nos interessa, ao estudar a história político-social est , a questãt RE

= Nitas das nações européias, de identidade mais estabilizada e, por isso, menos ávidas 7 a! Eme de identificação. Não

e

Por várias ordens de razões. og Em primeiro lugar, num plano metodológico, a história das cores, da sua peree fisiológica e da sua conotação simbólica constitui um dos mais elogiientes e pic insuficiências de uma historiografia objetivista, que confun da a construção humans

mundo e dos seus sentidos com uma realidade objetiva. O mundo nãos “

=

a

-

” ma

Ci

1G

espetáculo; o mundo é o espetáculo que as sociedades constr oem, organizando-0€ UM lhe uma narrativa. Dessa narrativa faz parte, também, o seu colorido. a

Em segundo lugar, e ainda neste plano metodológico, uma história bem-conta

a

assim nas Américas, onde o azul, o branco e o ver melho EDS em à paisagem humana norte-americana como, em um nível que muitos brasileiros + *S9 capazes de notar, o azul, o amarelo e o verde dominam o espect ro cromático de PHS cena de rua no Brasil.

E

E Mas » COM Isto, as velhas imagens européias não se perdem. Num grau que importaria * que variará de zona para zona, de objeto para objeto e de situação par a situação, » dO permanecido como um patrimônio latente que importa recordar.

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1

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*

Ea

a

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cores há de saber combinar ingredientes quase exclusivamente im ginários 5 « relação entre cores, sons e sentimentos — com memórias de saberes. De saberes: ais À ; E: os 48. Pelo que a cor dos elementos das insígnias constitui um elemento distin tivo ess encial, ne A acusar alguém de usurpar armas alheias, se as suas cores são diferentes (8 77). Sobare cor mm

dos exércitos em guerra, ver8 80.

“2

. e n dá exemplos de simbolismos chineses, japoneses e turcos das cores. |. Em eo também virará designativo cor.

Espaco Ro ao ultramar, note-se que a gravura, facilmente transportável, não levava cor, abrindo um

— *

Mais alargado à invenção cromática.

'À COR DA MAIOR PARTE DA GENTE: NEGROS E MULATOS NA AMÉRICA PORTUGUESA SETECENTISTA!

Silvia Hunold Lara E. | À 'm verdadeiro formigueiro de negros”: assim um oficial francês que aportou no

Janeiro em 1748 descreveu a segunda maior cidade do Estado do Brasil? Sua

ah x

) foi secundada por diversos viajantes, e também por autoridades portuguesas que gavm ao Brasil pela primeira vez, ou por letrados que descreveram as cidades das as zonas de produção açucareira. O marquês do Lavradio, por exemplo, ao chegar a

nbuco em abril de 1768, ficou impressionado com a “inumerável multidão de negros”

tos — tanto que teve dificuldade em “descobrir algum branco (...) que verdadeiramente

Se No final do século, Luís dos Santos Vilhena anotou que a cidade de Salvador e as

do Recôncavo baiano (a região de maior densidade demográfica daquela capitania) j àm, n aquela altura, cerca de 110 mil habitantes, “a terça parte (...) de brancos e sendo as outras partes de negros e mulatos”.

Sato, ao longo do século XVIII, o aumento do número de negros e pardos libertos ? +01 especialmente significativo nas cidades da América portuguesa. Censos Sonais do final do século XVIII indicam que na cidade do Rio de Janeiro quase ,

o

Soc

densa argumentos desenvolvidos em Fragmentos setecentistas. Escravidão, cultura e poder

— Portuguesa. Campinas: Unicamp, Tese de Livre-Docência, 2004. Agradeço ao CNPq o apoio + o Misa e aos participantes do colóquio “Formas, sons, cores e movimento na modernidade and

=pE 4

ho,

topa, Américas e África”

; Ocorrido em novembro de 2005, os comentários e sugestões que

4

J e Vaisseau LArc-en-ciel à Rio de Janeiro” (1748), apud FRANÇA, Jean Marc el Carvalho. Visões Ee o 2 colonial. Antologia de textos, 1531-1800. Rio de Janeiro: José Olympio, 1999 , p. 83. lo E -— Sea meu tio o arcebispo regedor em 21 de julho de 1768...”, apud Marquês do Lavradio. Na +» 1768-1769. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1972, pp. 33-4. [

E Roe —

Santos [1802]. Recopilação de notícias soteropolitanas e brasílicas contidas em XX MBprensa Oficial do Estado, 1921, p. 49.

4

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE

362

E! -AS

livres ou libertos. Em Salvador, os censos indicam cifras ainda maiores: seg iridá O!É de 1775, 64% dos habitantes não eram brancos — porcentagem que. cheg ada

1807. Os negros e mulatos livres somavam cerca de 22% dos habitantes el u

Esta desproporção entre negros e brancos é geralmente explicada pe

a partir do próprio incremento da escravidão no século XVIII, com o desen:

histo

sto

e

363

CORES

o (nã a tiv ica ind é nca bra da nte ere dif cor a , sta ari ion x = as Sa “ ,a tenção: segundo o dic A . mulatos” e pretos são os escravos, de ordinário que já cativa, dição da con da co aqui, não me parece desprovida de significados. | ale

55% dos habitantes não eram brancos: 35% eram escravos e 20% eram p

variaram entre 41% e 50%.º

E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

0! e

«nreto” aparece no Vocabulário claramente associadaà condição escrava:

qu afirma de modo explícito que “pretinho vale o mesmo que pequeno escravo” e que

|



E

E. Reto

dd

bém se chama o escravo preto”.º “Negro”, por sua vez, é o “homem Ga terra dos

cru filho de pais negros”, enquanto um “negrinho” é simplesmente “um rapaz negro”.”º

mineração e de novas áreas de cultivo de açúcar, bem como com o crescimen nto do vc do tráfico negreiro. Além do maior número de escravos, os estudiosos cham aa para o crescimento significativo do número de libertos e, neste grupo, para uma pro

gr 4, aqui, vma referência direta à escravidão, mas a uma origem geográfica. O verbete ag amlhado quanto a isso. Descreve a terra dos negros ou “Nigritas” como sendo “uma | na região da África entre o Saara e o [sic] Guiné”, indicando que os que viviam no E eai

ao longo do tempo, as explicações mais frequentes para este fenômeno refererem-se às taxas de manumissão que caracterizaram o escravismo brasileiro e chame im a a

ce E deles se fizeram cristãos”. Re: que Bluteau registre e equivalência entre “preto” e “negro”, é significativo que

'comerciavam com Os Pe TaaGU ese

maior de mulatos do que de pretos libertos. Apesar das diferenças regionais e de ada vila cl

para a larga presença da miscigenação. Seguindo um caminho algo diferente, pretendo examinar como este fenôme: percebido e explicado por letrados e autoridades coloniais. A análise inicia-sepelo es

dos significados de termos como “branco”, “pardo”, “mulato”, “preto” e “negro” Dali Vocabulário portuguez e latino, de Raphael Bluteau, que serviu de base nora 10 . dicionários portugueses setecentistas.” Uma primeira aproximação permite verificar vam | semânticas importantes. O adjetivo “branco”, ao se referir a uma pessoa, indica alguém “bem naseid sê ue na cor se diferencia dos escravos que de ordinário são pretos ou mulatos”. À cor! está, pois, associadaà condição da liberdade e indica bom nascimento (categoria impo numa sociedade de Antigo Regime). Certamente, a definição aqui evidencia 0:mopeime

genérico de associar os não brancos à escravidão: na sociedade portuguesa, e sob

vi suaalmer nte na área colonial, a cor da pele foi incorporadaà linguagem que traduzia

e, por isso, “perderam a sua natural braveza e

»ça apenas no verbete “preto”; para o dicionarista, “negro” é um termo muito e à ligado a características relativas à cor, à origem e ao nascimento — não a uma E dicão social. Por isso, não é extraordinário que os escravos sejam “de ordinário” pretos, ,

ennão negros. * Os termos “pardo” e “mulato” mereceram menos cuidados por parte de Bluteau e narecem claramente associados, no seu Vocabulário, à mistura de cores. Mesmo assim, nade-se observar nuances importantes entre as duas palavras. “Pardo” é, antes de mais uma cor: a “cor entre branco e preto”, que é “própria do pardal, donde parece lhe mad. vejo o nome”. É equivalente a “mulato”, cuja definição remete claramente a pessoas: q fulata e mulato. Filha e filho de branca e negra [sic], ou de negro e de mulher branca. Es" » nome de mulato vem de mu ou mulo, animal gerado de dois outros de diferente

pécie” "! A idéia que preside estas definições é a de mistura de cores ou de seres gerados

Dr pessoas e animais de “diferente espécie”; também aqui não há qualquer ligação

hierarquias sociais.º Assim, a cor branca podia funcionar como sinal de « stinçã

dir ta com a condição escrava. Certamente a distância entre uma definição que remete

liberdade, enquanto a tez mais escura indicava uma associação direta ou indi re A escravidão. Ainda que não se pudesse afirmar que todos os negros e ulatos tivessem sido necessariamente escravos, a cor era um importante elemento dei entificaçi

apenas à cor de uma pessoa e aquela que enfatiza seu nascimento híbrido indica uma hierarquização. * Esta gradação entre cor intermediária e nascimento misto torna-se mais evidente no

e classificação social.

| E AM

5. Para dados populacionais sobre o Brasil colonial, ver ALDEN, Dauril. The population of Bi

azilin the 73:

eighteenth century: a preliminary study. Hispanic American Historical Review, Vi 43, R. 2, PE

1963; e MARCÍLIO, Maria Luiza. Evolução da população brasileira através dos censos até 18; 2.A1

Em História, v. VI, pp. 115-37, 1974. 6. Ver entre outros, KLEIN, Herbert S. Os homens livres de cor na sociedade escravista brasil eeira? asil

17, pp. 4-9, 1978; e RUSSELL-WOOD, A. J. R. The black man in slavery and freedom in colon al ras

York: St. Martin's Press, 1982, pp. 31- 2e46- 9.

J

7. BLUTEAU, Pe. d. Raphael. Vocabulário portuguez e latino. Coimbra: Collegio das Artes da( ompai Jesus, 1712. (Ed. fac-simile, Rio de Janeiro: UERJ, CD-Rom, s/d)

8. Para uma análise mais ampliada do tema, ver LARA, Silvia Hunold. The signs of color:women!madre e | racial relations in Salvador and Rio de Janeiro, ca. 1750-1815. Colonial Latin American 5 A |

pp. 205-24, 1997.

ú

Ê

ferbete “mestiço”, termo definido por Bluteau como aquele “nascido de pais de diferentes ; por exemplo, filho de português e de índia ou de pai índio e mãe portuguesa”. nai) na

exerm pio remete ao que Stuart B. Schwartz chamou de primeira etapa da mestiçagem no

Brasil: aquela predominantemente realizada entre os colonizadores portugueses e à

População indígena, e que possuía características bem mais integradoras que a ocorrida [

!

a

E.

Dao:

;

5

BLUTEAU. Vocabulário portuguez e latino. Verbete “preto”. E interessante observar que, neste caso, não há um verbete para “preta”. B U. Vocabulário portuguez e latino. Verbetes “negra” e “negro”. nu BLUTEA U. Vocabulário portuguez e latino. Verbetes respectivos. 12. B U. Vocabulário portuguez e latino. Verbete “mestiço”.

é

,

|

364

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE AT is

TE 4 = AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

” ao longo do século XVIII.“ Ainda assim, a geração híbrida possuía claramente n AM diminutiva, indicando um nascimento menos qualificado, já que envolvia gen e dal que não ocupava os mesmos lugares sociais. o O exame de outras fontes indica que esta desvalorização dos mestiços e a dife :

|

entre pardos e mulatos acentuou-se ao longo do tempo. Mulato foi, aos poucos, ganh:

conotações pejorativas, sendo muitas vezes considerada infamante. É com este sentidr o termo aparece em uma ordem de d. João V, de 1726, que veda o acesso aos cargr administração pública e da justiça a qualquer negro ou “mulato, dentro dos quatros em que o mulatismo é impedimento”.”* A infâmia, aqui, advém de um “baixo nascima um “defeito de sangue” que revelava uma origem ligada a pessoas de “ínfima e nd ne

Os processos de injúria da segunda metade do século XVIII revelam que m

também podia ser uma forma de xingamento. Na documentação que consultei, as of |

|

|

| !

1º Em sin restringiam-se geralmente a “ladrão”, “corno”, “cachorro” e “filho da puta” ; Ç mais raras, “mulato” podia ser incluído na lista de injúrias. E o caso, por exemplo, de

briga ocorrida em 1793 entre dois moradores da vila de Cachoeira. No entrevero, sobr: bofetadas até para a mulher de um deles, que estava próxima, e muitos xingame entre eles o de “mulato”. No libelo de defesa, o ofendido dispôs-se a provar que “não mulato, mas sim branco bem nascido e de boa família e não fofra] jamais infamad

mulatismo, senão pelo réu”."” Também aqui, os autos e o contexto indicam que a “infãr 2 E,

365

Ri, respeito a um nascimento de “baixa qualidade” ou espúrio — o que não era pouca E. “em se tratando de uma sociedade do Antigo Regime.! * pardo”, ao contrário, era utilizado por aqu eles que reivindicavam privilégios e atamentos específicos. Foi como pardo, por exemplo, que um mestre de capela dos E nos dos Goitacases se definiu ao solicitar o privilégio de usar uma espada para fazer E sua condição de “filho de homem branco e senhor de engenho” e continuar a ser eratado com (...) estimação naquela vila”.”? Intitulavam-se pardas, também, a maior arte das irmandades que, majoritariamente compostas por não brancos, desejavam se iferenciar de suas congêneres que aceitavam escravos e negros livres. 2º Eram pardos também os vários terços militares que se formavam e cresciam em númer o ao longo do Ráculo XVIII, distinguindo-se do antigo terço dos Henriques. Fr

ad

* Assim, ao longo do século XVIII, pardo começava a aparecer como uma identidade

eivindicada. O termo se revestia de uma positividade, ao contrário de “mu lato”, geralmente

usado para desqualificar ou inferiorizar. Não por acaso, Bluteau afirmou que os escravos “de ordinário são pretos ou mulatos”, e não pardos. | A escolha dos termos utilizados para designar uma pessoa dependia, entretanto, do |jogo de forças entre os envolvidos, da situação e do contexto: revestia-se claramente de um | paráter político. Isso fica ainda mais claro quando se observa que, muitas vezes, a cor de am indivíduo nem sempre era fixa. Não é raro, nas fontes, alguém não branco ser designad o de modos diversos. al

» Aoscilação entre “preto” e “negro”, para os escravos, era muito comum, mesm o em

: sr]

13. Ver SCHWARTZ, Stuart B. “Brazilian ethnogenesis: mestiços, mamelucos, and pardos”, in GRUZ Pr

1

Serge & WACHTEL, Nathan (orgs.). Le nouveaux monde, mondes nuveaux, Paris: Editions. Recherc

les Civilisations/Éditions de "École des Hautes Études en Sciences Sociales, 1996, pp. 9-27 a

14. RUSSELL-WOOD, A. J. R. The black man in slavery..., pp. 69-79; e também BICALHO, Maria Fer Baptista. “Mediação pureza de sangue e oficiais mecânicos. As câmaras, as festas e a representa

Jeasos em que a precisão era de se esperar, como em autos de apreensão de fugitivos ou em Eocessos criminais. Apolinário, por exemplo, acusado de ter matado Maria Angola a

ieddas em Cachoeira, em 1785, aparece designado no processo ora como “o escravo Bponnario , como “um preto chamado Apolinário”, “um crioulo”22 ou ainda um “preto “Ary

n

a

fo

=



Império Português”, in PAIVA, Eduardo França & ANASTASIA, Carla Maria Junho (orgs. ). O tm mestiço: maneiras de pensar e formas de viver. Séculos XVI a XIX. São Paulo: Annablume/PPGHA

2002, pp. 307-13.

15. Mesmo assim, em regiões de ocupação recente ou mais afastadas dos grandes centros,1 divic | |

|

não eram brancos ocuparam funções públicas, exercendo cargos nas Câmaras ou providos, ) RUSSELL-WOOD, A. J. R. Ambivalent authorities: the African and Afro-Brazilian contabuto! — governance in colonial Brazil. The Americas, v. 57,n. 1, pp. 13-36, 2000. 16. Na Seção Judiciária do Arquivo Público da Bahia (APEB), há oito processos refere! tes às'

Cachoeira e Moritiba, no período entre 1750 e 1800, dos quais um está sem condição de leituts os sete restantes, o epiteto de ladrão é a principal injúria proferida em cinco deles, sendo q

ser

diante do juiz. Em apenas dois destes sete processos “mulato” aparece como parte das injúrias

PA

palavras foram consideradas “tão injuriosas” que se fizeram “indignas” de serem ç rita sel



|

Inga

sócios. Um deles seguiu o outro da Praia do Peixe até a rua da Cadeia, descompons: vozes... chamando-lhe torto, filho da puta, cachorro, ladrão e comudo e por fim desatiar

a

saísse para a rua a contender com ele”. Cf. Autos de um processo de injúrias intentads Es”

Duarte contra Antonio de Faria Figueira, 1773. AGCRJ, cod.40-1-3. 2a 17. Libelo cível e crime de injurias verbais: autor Francisco Gomes da Costa; réu Vicente É reItaSS Cachoeira, 1793. APEB, Seção Judiciária, est. 37 cx.1325, doc.4.

e

Rs como se pode ver nos processos de genere e de habilitação à Ordem de Cristo do filho mais elmo de Chica da Silva. CF. FURTADO, Júnia Ferreira. Chica da Silva e o contratador dos diamantes. O * outro lado do mito. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, pp. 58-72.

4: Petição de Manoel de Carvalho e Melo ao Vice-Rei, despachada em 19 de setembro de 1752, apud | “a

= o

da

epítetos de “ladrão” ou de um “roubo” cometido. Exemplar, neste sentido, é o contito

maneiras para que sua ascendência africana e até mesmo a escravid ão materna fossem esquecidas

o Subsídios para a história dos Campos dos Goitacases. 2º ed., Rio de Janeiro: Ed. Esquilo, 255. CÊ. também Petição de Manoel de Carvalho e Melo ao vice-rei, despachad a em 19 de

DOk pp TMO de 1752, apud FEYDIE T. Subsídios..., p.; 255. C ;

a conflitos ocorridos na cidade do Rio de Janeiro entre 1768 e 1774. Destes, dois são monES o E acusações de feitiçaria, tomadas como injúria, e todos os outros incluem, entre outros, IM

po

FPP:

No Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ) há 11 processos de injúria rerersms dE

'

- Porisso mesmo no, quando algum mulato ou pardo pretendia buscar algum cargo ou disti me: nção, tratava de K

so

[E

-

il

à E 0 E de Minas Gerais, SCARANO, Julita. Devoção e escravidão. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 7 PP: 115-1p29; para o caso do Rio de Janeiro, ver VIANA, Larissa Moreira. O idioma da mestiçagem: Siosidade e “identidade parda” na América portuguesa. Nite rói: UFE Tese de Doutorado, 2004.

Hº E

E Ros

sobre a história militar que atentem para este dado. Sobre o terço dos Henriques ver;

do Estado e Ê RR de SILVA, Luiz Geraldo. “Negros patriotas. Raça e identidade social na formação 1770-1840: as ROC) 1770-1830)” e KRAAY, Hendrik. “Identidade racial na política, Bahia, Paulo: = EM sd E Henriques In JANCSO, István. (org.). Brasil: formação do Estado e da nação. mai Rn Unijuí/Fapesp, 2003, respectivamente pp. 497-520 e 521-46. Para uma análise Rae: S milícias de negros e pardos, vide RUSSELL-WOOD. The black man in slavery..., té. Cri O o”, S cap. 5. Dritiouos paço R. Bluteau, é o “escravo que nasceu em casa do senhor”. 2 BLUTEAU. Vocabulário E

] r

|



€ tatino. Verbete respectivo.

366

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE

AS CORES E O CO

escravo”.“” Mas há casos em a variação é grande, como no de uma“

nome

Francisca”, presa como fugida na cadeia de Cachoeira, em

LORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

367

o soldado de capitãocom Re: e o rav esc um era não que var pro a par es mes ic a-Jhe permitido andarà noite e portar armas. o ta Assim ode “se concluir que não havia, no Brasil setecentista, uma correlação exa orea condição social das pessoas, ainda que a primeira pudesse ser um elemento e do é

a

designada também como “uma negra por nome Francisca de nação anga



Embora as variações permaneçam restritas geralmente a um mesmo1 nive j

aa

também encontrar também situações em que uma pessoa tenha sido identificáca a k “mulata” ora como “branca”. Exemplar neste sentido também é o caso do Padre. | Monte Carmelo, de grande importância na vila de Itu, na capitania de São au :

ativo da segunda. Na sociedade colonial, os brancos eram certamente livres e os

economicamente, sendo identificadas como brancas.

no entanto, as de sua proveniência africana. Pessoas não brancas que eram livres,

E eifam uma categoria problemática: uma pele escura podia indicar um passado escravo

tido como mulato e como branco, conforme as circunstâncias 2 Márcio de: C estudando Campos dos Goitacases na segunda metade do século XVIII,

casos de pessoas pardas que foram aos poucos, conforme corissa

eram majoritariamente escravos, sobretudo quando traziam as marcas corporais

e

o um nascimento espúrio. Suas liberdades tinham que ser afirmadas com mais » estavam sempre sob suspeição. Em alguns casos, elas podiam ser facilmente

cial

E ndidas com escravos.

Não se trata apenas, no entanto, de uma questão de nomenclaturadifusa E s

sobre a cor, ou sua transformação em gradações mais próximas do brariági a :

afastamento da condição escrava. Na direção oposta, há numerosos exem olos sãa parda e negra, forros e livres, que foram presos sob suspeita de: es precariedade da liberdade para aqueles de tez mais escura era um fato—— sob;

RR

= armas

os

secomiam a ouros elementos da linguagem visi GAS ASS, ou dos comportamentos para terem seu status social de livres socialmente

= : hecido. Também eram ciosas de suas qualificações, defendendo posições e privilégios E mente Eonquistados- Ao reivindicar prestígio equivalente aos brancos, porém, eram | dua Ki der ados “ousados”, “presunçosos”e “soberbos”. Era assim, por exemplo, que Luis dos

| |

os que se distanciavam dos laços de dependência pressupostos nas relaçõa » ale

antos Vilhena, no final do século XVIII, se referia aos “mulatos”, ao criticar o excessivo

um “ingênuo, nascido de pais livres e por tal sempre foi tido, havido e reconh

ahia.”

Manuel da Silva, por exemplo, era filho legítimo de um casal de forros.

Consider:

im jero de alforrias dadas aos filhos bastardos havidos entre senhores e suas escravas na

d

“miríade de termos que, misturando cor e condição social, oferecia a possibilidade le gradações diversas para o grande contingente de homens e mulheres que não eram

vila [de Cachoeira] de dondeé natural, sem fama nem rumor em contrário, gg02 ani sua liberdade desde o seu nascimento”. Em 1791, quando foi à vila de Cairu tratarc

jrancos talvez tenha nascido exatamente deste jogo de forças. Ser “pardo” ou “mulato”, cafuzo” ou “cabra”, “preto” ou “negro” podia significar muito para quem queria mostrar istinção, afastar-se do cativeiro ou afirmar privilégios. Ou, ao contrário, podia ser uma

a que negócios, acabou sendo preso sob “pretexto de ser escravo e andar fugido”. várias testemunhas para provar sua liberdade e conseguir ser solto. O fz tode afastado do local onde era conhecido como homem livre, fez com que fosse c confur

ama poderosa para quem queria diminuir, desqualificar e criticar. Na segunda metade do

|

com um escravo fugitivo: sua cor o colocava sob suspeição.

Século XVIII, o aumento do número de negros e mulatos libertos e livres nas áreas urbanas tomou esta flutuação de significados cada vez mais delicada, evidenciando uma tensão

Extraordinária, mas condizente com este e outros exemplos, é ahistória dedo “« forro” Lino de Souza, soldado de capitão-do-mato nos Campos dos Goitacases, é que

a ser preso sob suspeita de ser um cativo em fuga, e permaneceu na cadeiap 2 mês. Dezenove dias depois de ser solto, voltou à prisão, só que desta vez conduzindo mesmo — dois escravos fugitivos. Cerca de quatro anos depois, Lino foi preso1

Crescente. ” Para letrados e autoridades coloniais o aumento do contingente de alforriados derivava Se um mau funcionamento da escravidão: algo que decorria do modo como os senhores se

agora por uma ronda noturna, por trazer uma faca de ponta aguda na cintura. Demo)

E Hportam

as relações espúrias dos senhores com suas escravas nasciam bastardos mulatos que

a! e

a e 5

cal

a

' Wavam uma vida ociosa e frequentemente eram libertados pelos senhores; das relações

"=

bs homens livres brancos com as escravas e as forras (muitas delas prostitutas) nasciam

“nt

23. Processo crime sobre a morte de Maria Angola, escrava de Miguel Pereira de Brito,por cast

Negros e mulatos livres. Era esta a origem desta gente de nascimento misto, que não Encontrava um lugar certo nas hierarquias sociais, gente “sem assento certo”.

e a |

APEB,»

dadas pelo escravo Apolinário do mestre de campo Jerônimo da Costa. Cachoeira, 1785.

Judiciária, Tribunal de Justiça, est. 27, cx.1001, doc.03.

24. Autos de justificação de embargo, Cachoeira, 1788. APEB, Tribunal da Relação, est. 37, cx (13 doc.19.

24

M. de Oliveira. Ni as fronteiras da independência: estudo so bre os signi ificados 25. Ver RICCI, Magda g

e * CE Arquivo do Cartório do Segundo Ofício de Campos (RJ)- Traslado de uns autos crimes de Lino de

|

|

|

liberdade na região de Itu, 1750-1821. Campinas: Unicamp, Dissertação de Mestrado, 1993. 68 ; 26. SOARES, Márcio de Souza. A remissão do cativeiro. Alforrias e liberdades nos Campos dos Goittaça

ca.1750-ca. 1830. Niterói: UFF Tese de Doutorado, 2006, especialmente pp. 32147. | E 27. Justificação de escravo (sic), Cachoeira, 1791 APEB, Tribunal de Justiça, est. 37. ex. 1317, doc.25. !

com seus escravos. Tratava-se, sem dúvida para eles, de um desgoverno senhorial:

Sotisa cabra que vão remetidos deste Ofício Ordinário para o Tribunal da Relação da cidade do Rio de “Janeiro [1800 si |. Extraordinário é também a história da parda livre Caetana Franca, n ascid ana Madeira, Que foi vendida como escrava nas Minas Gerais. CÊ RUSSELL-WOOD, A. J. R. “Colonial Brazil”,

EA

“A

& GREENE, Jack B Neither slave nor free. Baltimore: The Johns Hopkins University

A HEcoa pa riaE ie - Recopilação de notícias soteropolitanas, pp. 138-39.

368

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

ATLÂNTICA

Vilhena, por exemplo, criticava a escravidão por ter produzido poucos escravos realmente convertidos, por ser responsável por introduzir várias moléstias e epidemias, pelo perigo de os senhores serem envenenados pelos cativos, pela corrupção que o convívio

com cativos podia trazer às famílias e aos eclesiásticos. Dentre todos os problemas, o que

parece ter preocupado mais o professor de grego era a facilidade de acesso dos senhores às mulheres cativas, fato que criava “uma tropa de mulatinhos e crias que depois vêm a ser perniciosíssimos nas famílias”. Segundo ele, estes bastardos e “mulatos presunçosos, soberbos e vadios” acabavam herdando “muitas das mais preciosas propriedades do Brasil”.ºº Além do desperdício econômico, esta “paixão de ter mulatos” oferecia riscos de outra natureza, já que “todas as crias, sejam mulatas ou negras, são criadas com mimo extremoso, motivo por que são todos vadios, insolentes, atrevidos e ingratos, por culpa dos senhores e falta de governo político”. Em 1796, o conde de Resende, vice-rei do Estado do Brasil, batia na mesma tecla: criticava os hábitos dos senhores opulentos de terem muitos escravos que acabam vadios pelas ruas do Rio de Janeiro e se juntavam à “multidão inumerável de mulatos, crioulos e pretos forros”. A alforria, para ele, era um problema: era fruto da liberalidade dos senhores

para com os escravos nascidos e criados em suas casas, das concessões feitas aos que lhes entregavam seu valor (“adquirido quase sempre por meios criminosos”), ou das doações testamentárias. Ela dava origem a uma multidão de libertos, que se entregavam “a todo O gênero de vícios, tornando-se facinorosos, lascivos, ébrios e irreligiosos”, vivendo uma “vida escandalosa e libertina” (sobretudo no caso das mulheres). Além de inquietarem o sossego dos moradores, consumirem os mantimentos, fazendo aumentar a carestia, e tirarem as esmolas de quem merecia, eles cometiam crimes e tendiam a ser mais numerosos que O contingente militar que devia reprimi-los. Sem contar que a “fácil e frequente comunicação que têm os soldados com mulheres da mesma qualidade entregues à prostituição” enfraquecia as tropas, que se consumiam em doenças...*?

Nos dois casos, o problema era claramente o “mulato”: cada vez mais esta palavra carregava significados pejorativos e catalisava os temores das autoridades coloniais, sobretudo aquelas preocupadas com as questões da ordem pública. Além do nascimento “misto”, a condição de solteiro da maior parte dos mulatos era assinalada com frequência para indicar gente sem lugar fixo — qualificação que operava no mesmo sentido da vadiagem. Era gente que não estava submetida ao poder dos senhores, tinha uma origem bastarda,

30. VILHENA. Recopilação de notícias soteropolitanas, pp. 138-39. Este é, segundo o autor, um problema grave, que pede a real atenção, “porque a não se obviar o virem os engenhos e grandes fazendas a cair

nas mãos destes pardos naturais, homens comumente estragados e que estimam aquelas incomparáveis propriedades em tanto quanto lhes custam elas, pelo decurso dos tempos lhes hão de vir a cair todas nas mãos e por conseqiiência a perder-se”. O assunto já havia sido discutido pelo Conselho Ultramarino em sem agosto de 1723, a partir de um pedido do governador das Minas, para que os mulatos não pudes herdar seu pai, mesmo que não tivessem outro irmão branco. Cf. AHU, cod.233, fls.284-286. 31, VILHENA. Recopilação de notícias soteropolitanas, p. 139 32. Carta do conde de Resende a Luís Pinto de Souza Coutinho de 11 de abril de 1796. Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, Correspondência do Vice-Reinado para a Corte, cod.69, v. 13, f1s.39-42v.

PARTE 4 — AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

369

não queria trabalhar, era majoritariamente solteira, sem lugar fixo, e viviam a vadiar P isso mesmo, as propostas de controle e subordinação da população colonial não aa e de mencioná-los. is Ao fazer um balanço de seu governo e deixar várias recomendações a seu suce ssor

marquês do Lavradio ponderou que os terços auxiliares eram um instru mento muito

para manter os povos subordinados. Segundo ele, tratava-se de “um país tão dilatado E

abundante, tão rico”, mas cuja “maior parte dos mesmos povos [compunha-se] de

da pior educação, de um caráter o mais libertino, como são negros, mulatos

entes

Re

mestiços e outras gentes semelhantes”. Por isso, para serem governados “com sossEgO E sujeição”, deviam ser divididos “em pequenas divisões” comandadas por bons oficiais que lhes dariam bons exemplos “da obediência e respeito”, colocando-os “no costume da

subordinação”. Em 17/96, para solucionar os problemas que detectava diante a multidão de escravos e de negros e mulatos libertos e livres que havia na cidade do Rio de Janeiro. fez uma

proposta minuciosa, que encaminhou à Corte, aos cuidados do então ministro da Marinha e Ultramar. Ponderando não poder interferir no hábito senhorial de ter muitos escravos nem cercear o trabalho dos escravos de ganho, sugeria uma série de medidas para acabar com aquela multidão de libertos: pretendia que fossem todos registrados e mandados para

casas de correção para aprenderem ofícios, e depois serem obrigado a se casar. Esperava assim transformar homens insubmissos em seres socialmente aceitáveis, com ofícios e casados, que pudessem ser úteis ao bem comum. Sua fórmula, ao esmiotenio em que Elitavara dissolução dos costumes, tentava contribuir para a produção de alimentos, para a fixação e o aumento da população e para o reequilíbrio entre os poderes no nin palco político do Estado do Brasil. ** Tal preocupação pode ser encontrada também entre os letrados do período. Para Manoel Ribeiro Rocha, por exemplo, era necessário alguns ajustes no modo como os senhores deviam possuir e tratar os seus escravos.* Para ele, a escravidão dos afri canos tal como vinha sendo praticada pelos comerciantes portugueses e pelos colonos do Eras havia se tornado ilícita, pois não era possível ter certeza sobre o processo de an realizado na África. Para legitimá-la era preciso entender que a liberdade dos afri canos encontrava-se apenas penhorada com aqueles que se tornavam seus senhores: por isso O cativeiro era transitório. O “resgate” da liberdade dos que fossem “legit imamente”

escravizados na África devia ser feito mediante o pagamento do valor da compra inicial ou por meio da prestação de serviços durante 20 anos (e 25 anos de trabalho para os

De

Gan pe

E o do marquêsA de Lavradio, vice-rei do Rio de Janeiro, entregando o governo a Luís de Vasconcelos

rosa, que a o mia sucedeu no vice-reinado [ [1779]”.)”, apud apud Revista do Instituto Histórico e Geográfico Revi ] istóri Í

34. cede do conde de Resende a Luis Pinto de Souza Coutinho de 11 de abril de 1796. 35. me HA, Manoel Ribeiro [1758]. Etíope resgatado, empenhado, sustentado, corrigido, instruído e

Ttado. Apresentação e transcrição do texto original por S. H. Lara. Cadernos do Instituto de Filosofia

e Ciências Humanas, v. 21, 1991.

370

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE AT LAN

ingênuos nascidos durante o cativeiro dos pais). Toda a sua argumentação destinav: legitimar esta prática e manter o comércio negreiro, que tantos benefícios raz; n

|

e a Deus... Mas tratava-se também de um período de educação para a liberdade: aod aos

e o Ss o pn Ppepçã o cuidado nas enfermidades, cai medido, produziam bons cativos que, depois de libertos, seriam gratos a seus ex-senhe Uma lógica que operava inteiramente no interior da concepção das obrigações: rectp |

que regiam a idéia da alforria como uma doação.”

Proposta semelhante chegou a ser feita por Luiz Antônio de Oliveira. Mendes memória apresentada à Real Academia das Ciências de Lisboa, em 179338 Seu ob era discutir o tráfico de escravos entre a costa africana e o Brasil, focalizando espe: al as doenças e outros males que atacavam os cativados nos sertões africanos. Prop medidas para eliminar os abusos do tráfico e da escravidão mas, levado. belo “ar To] co

|.

pátria” e pelo “desejo de querer ser útil (...) à porção mais infeliz da h umanide

| | |

E ,

sa

[

acrescentou um projeto de lei municipal destinado a combater as “tirania doss” que lide com os escravos. Sua proposta era bastante simples: como regra geral, todos osca deveriam ficar livres depois de dez anos de escravidão, desde que pagassem o preço liberdade. Uma vez livres (às suas custas ou mesmo quando alforriado pelo senhor ), té

um ano para se assalariarem. Aqueles que não conseguissem provar esta condicã

presença de um magistrado, voltariam a ser escravos. Seriam colocados em hasta pi

e o valor de suas vendas seria revertido para libertar outros cativos. Os escravos ca que tivessem quatro filhos também seriam alforriados (embora os filhos permaneces:

cativos por mais 18 anos), assim como a escrava que provasse “estar na me ncebiz

|

senhor”. Finalmente, “todo o preto forro, manumitido e livre, que sendo casado mos e provasse ter dez filhos entre varões e fêmeas, lhe seria dado por prêmio p ara o s€

escravo daqueles que dentro de [um] ano e dia se não achassem assalariados”,

Mesmo na proposta radical de Oliveira Mendes não havia qualquer qu estior a ao tráfico e à própria escravidão. Certamente, ele o reconhecia, assalariar os livres” tiraria Portugal da “dependência do transporte dos escravos, com benefício: eterno” da humanidade. Para os escravos que conseguissem acumular um pi Í de pagar suas liberdades e evitar o risco do retorno à escravidão por falta de AE

sujeição tornar-se-ia temporária. Na versão final, que foi publicada pela / projeto foi omitido e sua memória se tornou apenas um elenco de recomendaçõe

ne

WTE 4 — AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO

ATLÂNTICO

37]

= Forcar orça traficantes e senhores a bem tratar e cuidar de seus cativos.” Ainda assim, a

“oposta evidencia a preocupação em regrar tanto as relações entre senhores e escravos

Í Canto normatizar o processo de alforria, estipulando prazos e regras para sua revogação.

— Defato, a alforria parece ter ne sir objeto e reflexões e cuidados. Ela é o tema “incipal de um panfleto anônimo, publicado em Lisboa, em 1764. Estruturado na oca aE E AM um “letrado” e um “mineiro do Brasil”, o texto discute os dilemas das

relações entre senhores e escravos e, sobretudo, das alforrias. O mineiro possuía um escravo

á de? anos e havia lhe prometido alforria ao cabo de outros dez anos, “se continuasse em servi-[lo] bem”. O “preto” tornou-se tão bom escravo, que o senhor não queria cum prir a aromessa — e consultava o letrado para saber se estava “obrigado a guardar a palavra que deu] a um negro seu”. O dilema serve de pretexto para que opiniões “a favor dos negros” wu dos senhores sejam discutidas.

| Como se pode observar, mais que um questionamento da escravidão, a polêmica

rsava sobre o comportamento senhorial para com os escravos e sobre as condições da lorria. Por isso mesmo, estas são reflexões que podem ser relacionadas ao cresciment o ds população liberta na América portuguesa: são textos escritos por letrados com fortes la O s com o Brasil e que estão preocupados em formular alternativas para uma relação

tre escravidão e liberdade que pudesse conferir legitimidade à escravidão e ao mesmo

tempo garantir sua continuidade. Ao contrário do que pen savam os abolicionistas do Século XIX, a liberdade aqui não constituía o término da escrav idão ou seu oposto, mas ima promessa que podia tanto se transformar em inc entivo ao bom cativeiro, quanto ser im instrumento legitimador da própria dominação senhorial. A condição escrava, mesm o ando chegou a ser pensada como transitória, foi considerada por estes autores como um e H jdo preparatório para a liberdade, já que o liberto, mesmo livre, deveria continuar

Do domínio dos senhores.

id e MENDES, Luiz Antônio de Oliveira [1793]. Memóri a a respeito dos escravos e tráfico da escravatura Rca Costa d'Africa e o Brasil. Porto, Publicações Escorpião, 197 7, pp. 88-9. Esta obra reproduz a RES ção feita em Lisboa, pela Tipografia da Academia em 1812, como tomo IV da coleção de “Memórias 2 RES da Academia Real das Ciências de Lisboa”. Os motivos que levaram às alterações do texto dE Oliveira Mendes vêm sendo estudados por Robert W Slenes, que chamou minha atenção para as duas Cúlções co o quem agradeço muitíssimo por me manter informada sob re suas descobertas. A hipótese de )

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a E a E publicado por Carreira corresponde à memória tal como foi apresentada na Academia em e e com base na análise de vários exemplares originais desta obra. Cf. SLENES, R. & SLENES,

36. ROCHA. Etíope resgatado..., especialmente pp. 137-49.

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37. Tal concepção é expressa também em temos legais, como se pode verificar pelo Título 6: Aa Ordenações Filipinas. Cf. ALMEIDA, Cândido Mendes de (ed.). Código Philippino ou

do Reino de Portugal recopiladas por mandado d'elrey d. Philippe I. 14º ed., Rio de J ne

do Instituto Philomathico, 1870, pp. 863-7.

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38. MENDES, Luiz Antonio de Oliveira. “Discurso acadêmico ao programa”, in CAR R Er RE companhias pombalinas de Grão-Pará e Maranhão e Pernambuco e Paraíba. Pets Presença, 1983, pp. 364-420.

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Eco lit African Abrahams, Lucretias and men of sorrows: allegory and allusion in the Brazilian antio Ecs aphs (1827-1 835) of Johann Moritz Rugendas”. Sla very and Abolition, v. 23 n. 2, 2002, posta E notas 22 a 27. Maria do Rosário Pimentel é um dos poucos autores a citar e analisar a Ra de lei elabora por Oliveira Mendes. PIMENTEL, M. R. Via gem ao fundo das consciências. sr “a * Colibri, 1995, pp. 259-62. Hor E E RE a Relação de hum abuzo emendado, ou evi dencias da razão; expostas a favor dos

Panfleto raro o PUtm dialogo Entre hum letrado, e hum Mineiro” [1764], in BOXER, Charles R. Um Bicen. 9 Taro acerca dos abusos da escrav o

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idão negra no Brasil. Anais do Congresso Comemorativo do da Transferência da Sede do Governo do Brasil da Cidade de Salvador para o Rio de Janeiro. “ro, Departamento de Imprensa Nacional, v. III, pp. 177-8, 1967.

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372

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SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERN IDADE ATI ànm

OTPO político”

Reino. Este movimento pode ser pe MICO E rcebido por meio de vários do cument os legais da erA metade do século XVIII, como a lei de 1755, que reconheceu a liberdade para os nal | Maranhão e do Bra

sil, passando a considerá-los como vassalos e súditos da Cara. decreto de 1761, que ordenou que os súditos asiáti ça em Portugal; e o alvará de 17 sa | I Dr

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- Ainda que este - esa | envolvesse um alargamento das hier arqui as sociais portuguesas, ele não abrangiaos neg cai e mulatos do Brasil. a À 7

Para o caso da Índia, o rei podia até af irmar que “não distin pela cor mas pelos méritos de cada um”.*! A determinação foi reit erada várias veze

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eram igualmente vassalos do rei e iguais perante Deus, Enfrentando algumas oposicõe tais medidas destinavam-se a asse gurar a fidelidade da população nati va à Coroa.“ Na América portuguesa, a situação era be m diferente. Podia haver movimento alec equivalente em relação aos índios, * mas não em rel ação aos negros e mulatos. Aq Ui, On a escravidão presidia a ordem so cial, e era massivamente africana , o crescimento é contingente de negros e mulatos libe rtos tensionava as relações sociais. E as tensões 8 exprimiam de forma cada vez mais ra cializada: a discriminação contra os mulatos (forro e livres) se desenvolvia paralelame nte à tendência de associar todos os pretos, pardo: mulatos e mestiços à escravidão, ' c hamando-os simplesmente de neg ai

ros.



TE 4 — AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNT ICO

373

Exemplar, neste sentido, é a pragmática de 1749, que proibia a todos os negros ros das Conquistas, o uso de certos e tecido

s e ornamentos, sob pena de pa gamento de multa em dinheiro ou açoites, na primeira vez , e degredo para São Tomé na reincidência .“ Não se tratava apenas de proibir as esc ravas de usar sedas e tecidos finos ou jóias de ouro, | proibição para todos e quai squer A de negra”, que não poderiam se sir “da mesma sorte que as pessoas branca s”.*? Negros, mulatos e brancos: a cond ição social não tem importância, ou está subsumida pela nomenclatura das cores. Usando as definições oferecidas por Bluteau, podemos ter certeza de que os brancos referidos nes ta determinação legal eram livres. Mas o que dizer dos outros? mula

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não se têm em menos conta que os brancos, sendo bastantemente atrevidos”“8 E, ao bradar contra os batuques e alaridos das “multidões de negros de um e outro sexo”, desejava que | Sepusessem num estado de subordinaç ão tal que julgassem quanto ao respei to que qualquer branco era seu senhor”.* Mais uma vez, negros, brancos e mu latos e não escravos, livres e libert os. Mas é bom lembrar que a

documentação indica uma variação enorme de termos para os mestiços, assim como a possibilidade de nuances entre ne Sros e pretos e entr

e mulatos e pardos. Por isso mesmo, as escolhas são significativas : elas indicam que aqueles três termos fo ram alar

gando seus sentidos para incluir, cada ve z mais, significados sociais. De todos ele mulato foi o que se tornou mais pejo s, rativo. Er

a a liberdade destes homens e mu lheres de fêz escura que incomodava: eles nã o reconheciam nos brancos seus senhores; muito ao contrário. Afastando-me do modo com que a hist oriografia brasileira tem geralmente abordado 9 tema, prefiro descrever estes movi mentos como parte de um processo " 191 de racialização das Telações Sociais. Ainda que o termo ce “ta ializaçã c o” possa oferecer alguns problemas analíticos e introduza um certo anacronism o, ele permit e descrever um movimento de

41. Decreto de 2 de abril de 1761, apud BOXER,

C. R.

ri Ês Edições 70, 1969, p. 286. 42. Instruções ao governador José Pedro e. da Câmara de 1774, apud MAXWELL, Ke nneth. Marques Pombal. Paradoxo

43. Carta de Martinho

do iluminismo. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1996, p. 138. de Me

E. lo e Castro ao bispo de Cochim de março de 1779, apud BOXER. Colonial Português, p. 288. a

44. MAXWELL. Marquês de Pombal. » asa PP. 138-9; DOMINGUES, Ângela. Quan do os índios era Colonização e

relações de poder no norte do Brasil na segunda metade do século XVII. Lis poa, Ch es 2000, pp. 39-41. que, não por acaso, a difusão deste corpo jurídico no aa ) ru | E se deu quando o antigo governador do Pará, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, O sr foi o secretário de Estado do Ultramar (176 | 0-1769). DOMINGES. Quando os índios era m vê RA 41. "

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ática de 24 de maio daquele ano, sem dar razões para tal. Appendix das leys extrav agantes..., P. ÀS, VILHEN o y

49 VILHENA.

ecopilação de notícias soteropolitanas, p. 46. !Recopilação

de notícias soteropolita nas, p. 136.

374

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ; ua

ganhando, na segunda metade do século XVIII, significa dos específicos, dE dominação escravista e colonial, e destinados a subjugar ou excluir A determinadado , sor sociais.

Sem dúvida, a presença crescente de negros e mulato s livres e libertos“a ma mundo

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colonial colocou em risco diferenças e distâncias sociais important es para senh e autoridades coloniais. Neste contexto de tensões sociais, a designação da cor dass tornou-se uma arma política — sobretudo quando se tratava de lidar com a ma MU] das gentes que habitavam estas Conquistas. j TV

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ARTISTA: AS AQUARELAS E AS MAPAS DO Novo MUNDO

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as armas de fogo, os engenheiros militares eram mais afeitos às questões de terra: ao

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Engenheiros militares. Envolvidos com a construção de complexos sistemas de defesa contra o

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(Fênero de representação da natureza, a cartografia, mais especi ficamente a Ranografia terrestre, surgiu a partir de meados do séc. XVI como uma das atribuições dos

engenheiro militar como um técnico, senhor de conhecimentos teóricos eruditos, sobretudo .

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vinculados as matemáticas aplicadas — geometria e trigonometria. No entanto, além de "homens de ciência”, foram os engenheiros militares verdadeir os artistas, sobretudo no

que diz respeito à feitura de mapas. A cartografia elaborada por esses profissionais era assunto de Estado, com circulação “VOL strita à esfera da administração oficial, permanecendo predominante mente manuscrita E às últimas décadas do XVIII, justamente por não visar à difu são em larga escala. E



ACoroa portuguesa, assim como as demais do perí odo, investiu na formação de Qua Os técn icos des ch!

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| ac tera naera cer reed NER O e ia EE O ya A e = a ce reopara sra a = REAIS, o e, ser igura 1: Nos Hiscos iluminados de figurinhas de ranc e negr os dos uzos do Juliã o, observam-se as clivagens entres as raças. (Bibliotec Rio aneiro e aos Naci onas

rs!

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tinados a elaborar cartas terrestres, seja contratando profissionais PHanSeiros, seja através da formação de nacionais. Inicialmente, uma série de engenheiros vil) En: É Puutares italianos foram chamados para atuar em Portug | al e con qui sta s ult ram ari nas a parti : e 7 ; — r d 8

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So teimado de D. Sebastião. Exemplo desse período é o célebre arquità eto FiliTs ppo

; 4 Fesponsável por inúmeras obras, dentre as quais a conclu são da fachada da Igreja e ESãO Roque, da Igreja de São Vicente de Fora e reforma do Paço Real para recepção dos E rh mais conhecido por suas obras civis ereligiosas, notabilizou-se também +. “uiteto militar, elaborando projetos para reforçar o sis tema de defesa da barra do E Esse intercâmbio intensificou-se no período da união das Coroas ibéricas, envolvendo “ “anos do calibre de um Tibúrcio Spanoqui (1º engenheiro-m or de Espanha), Leonardo EMario

Tédida

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(1º engenheiro-mor de Portugal), Alexandre Massay, cuj os desenhos nos dão a da sua qu .

alidade técnica em plenos séculos XV I e XVII.

376

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATI ÂNT.

Cara e insuficiente, a contratação de estrangeiros mostrou-se logo infrutífera r meados do século XVII foi criada uma Aula Régia em Lisboa destinada à formar engenhei

Neles, a parte escrita ficou restrita ao título, topônimos e legendas. O título converteu-

nacionais. Em resposta a sérios problemas de soberania no reinado de D, JogaU

engenheiro-mor do reino, Manoel de Azevedo Fortes, foi incumbido de intr oduzir o ensir da cartografia no curso. Para tanto, redigiu dois importantes tratados — Tratado do mod, o mais facil e o mais exacto de fazer as cartas geographicas, assim de terra como de mo

e tirar as plantas das praças (1722) e O engenheiro portuguez (1729, tomo 1). Fara

primeiros tratados publicados em Portugal especificamente sobre o assunto, re por uniformizar as práticas cartográficas, introduzindo normas e convenções (

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“máximas”) internacionais de acordo com modernos procedimentos, sobr etud

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divulgados pelos franceses. Hoje, eles nos dão a medida das dificuldades inerentes ao fazer cartográfico no s; AVI, trazendo inúmeras curiosidades sobre o assunto e sobre o lado artístico dose ngenheire militares que pretendo aqui explorar. Geografia é palavra grega que significa descrever, desenhar ou pintar a terra “A A

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Tur: EEE DIZ

o verbo graphein significava simultaneamente descrever desenhar e pintar. Portantc mM ar e são uma forma de “pintura do mundo”. Mas, como tal, não são duplos, rera. -PTOCQUÇO fidedignas da natureza, mas representação. “A carta é uma imagem plana da uma de suas regiões” - mediação, interface, dispositivo abstrato de linhas, có c igos, cc ré e inscrições, miniaturização esquemática e simbólica da natureza, em suma, repres 2

fruto de um paciente trabalho de construção técnica, de convenções gráficas e artifi visuais. A carta não é uma categoria anistórica ou transcultural, apresentando lóg especificas em diferentes contextos. Instrumentos de comunicação, através de jog

analógicos, os mapas representam, em escalas diversas, o espaço terresAstre carta .s

trazem, portanto, uma realidade nova, abstrata e simbólica, segundo convenções ve ida pelo uso, que fazem com que numa certa época e numa certa sociedseade recon mundo sobre o qual se vive numa determinada configuração gráfica.

passagem de um tipé va ssi gre pro a s amo erv obs o, raçã abst à mo lis ura nat Do representação mais figurativa para um tipo de representação cada vez mais abstra

motivos foram progressivamente convencionados e a natureza representada pt or mei

pictogramas (sistema primitivo de escrita no qual as idéias são expressas pormei figuras simbólicas), ideogramas (sinal que exprime uma idéia) e outros símbol

(tramas, variação de valor, etc). Essa esquematização simbólica pressupôs a padromi das convenções para que se tornassem inteligíveis nos diferentes locais cultur mento Segundo Ulla Ehrensvárd, a partir do século XVI, a cor, como qualquer oi

apTE 4 - AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

se, em definitivo, no nível de informação que preparava a compreens ão do documento,

expl | icitando a sua natureza (escala, temática), autoria e datação.

|

Jáalegenda invadiu o desenho como o “lugar da explicação”, desempenh ando um

papel complementar. Ela trazia um conjunto de informações que excediam o conteúdo do * gitulo. A legenda dizia o que não era representável, ou o que exigia, de uma maneira ou de E outra, tradução verbal. Era o lugar onde terminava a utopia de uma linguagem visual, de "simbologia gráfica imediatamente inteligível e legível por todos sem que fosse necessário recorrer à tradução verbal. A legenda oferecia uma série de equivalências entre os símbolos

gráráficos e a linguagem ordinária, explicitando um liame que pod ia ser mais ou menos evidente, segundo o grau de mimetismo ou abstração do símbolo.

O mapa é uma representação matematizada do espaço. Para tanto, necessita de uma “escala gráfica ou petipé. Essa escala gráfica variava de aco rdo com o objeto registrado. As * medidas oscilavam de um lugar a outro, sendo, por exempl o, o pé português diferente do “pé castelhano... Até a Revolução Francesa, quando foi criado o sistem a métrico-decimal, houve uma estreita analogia entre as medidas e o corpo humano — polega das, palmos, | braças, pés e léguas. Além do petipé, nas cartas geográficas era obrigatór ia a introdução darosa dos ventos ou da flor de liz, para orientação do desenho, respeitando-se a convenção |de colocá-la no meio de rios ou mar. Luz e sombra ta mbém estavam convencionadas: a * luz sempre proveniente da esquerda e a sombra tomban do para a direita. Diferentemente “do desenho fruto da pura contemplação, os mapas rep resentam de fo rma naturalista a superfície terrestre. A estampa n. 10 do tratado de Manoel de Azevedo F rtes, O engenheiro poruguez (1729), ilustra os principais símbolos grá ficos convencionad os no século XVIII: Caminhos

À Primeira cousa, que se deve riscar na config uraçaô dos terrenos saô os caminhos (=); Estes se riscaô com duas linhas quasi parallela s de tinta da China sobre clara, e depois

E lhe dá huma aguada, ou sombra cortada de meia tinta da China da parte de fóra do EiSCO opposto à luz, ficando o caminho, da cor do papel. Rios e ribeiras

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também perdeu progressivamente sua função decorativa, restringindo-sea uma

puramente informativa. Os primeiros tratados sobre o assunto foram publicados!

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depois na Inglaterra, Holanda e França. A partir do século XVIII, a cartog a e todo foi perdendo definitivamente seu caráter decorativo em benefício da precisão a Abundantes nos mapas quinhentistas e seiscentistas dos cosmógrafos, as ' figurações livres tornaram-se raras nos mapas do século XVIII e circunseritz ua específicas.

Os rios, e ribeiras se risca ô com duas linhas de tinta da China, huma mais grossa, e outra

delgada; a mais grossa da parte, que lhe naô dá a luz, e a mais delgada da parte, que lhe he exposta; e para que naô haja equivocaç

aõ se deve notar, que vindo a luz da parte Esquerda da plan ta, a mesma linha da borda da ribeira da parte esquerda he a que se deve asso brar (...) Os mares, rios, ribeiras, e lagoas se lavaô de aguada de rios. Montes — daOsmon tes, e serranias se configurad aa com huma penna bem a delgada molhada em tinta sá

Sobre clara, e o penejado hirá imitando a volta, que os montes fazem : e este

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE AT!

378

TE 4 - AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

penejado he mais, ou menos comprido, segundo he mais, ou menos compria da escarr dos montes, e a aguada tambem à proporçaô mais, ou menos clara, observando a par |

379

Através da leitura do tratado de Azevedo Fortes é possível saber detalhes sobre a átic 'do desenho cartográfico, tal como o modo correto de seg urar a pena. É possível,

da luz; e naô devem ser os riscos do penejado, nem todos igua es em comprir lento, nem em distancia huns de outros, mas feitos como ao descuido. 7

E USive, imaginar a disposição do mobiliário que compun ha o gabinete do engenheiro li ar: a mesa de trabalho, sempre disposta junto de uma janela à esquerda, pois, por

E = ão, a luz provinha desse lado e as sombras tombavam para a direita. Firme e lisa, mesa era dotada de uma barra de madeira nas suas bordas para impedir que o engenheiro

K. Bosques (matas) e arvoredos

costasse e amassasse, ou “ofendesse o papel”:

as arvores se riscaô de tinta da China, com penna bem delgada: o corpo daa; vore he de figura ovada mas pontuda, a que se accrescenta hum pé curto t; com huma rabisca cur cura e delgada da parte opposta à luz: o corpo da arv ore se lava de huma aguada de me 4 tinta de verde-bechiga, ou verde-lirio. |

e sendo a planta grande, que naô caiba na meza se deve por o papel, de sorte que o “Desse

nhador lhe naô encoste o peito quando dessenha; e porque tambem naô póde * deixar de encostar o peito, se procurará hum sarrafo de madeir a do comprimento da

“ meza, com dous chapuzes, e dous parafuzos, para o Dessenhador poder encostar o

BP Prados

peito, sem offender o papel, que passa por entre o sarr afo, e a meza.!



Os prados se dessenhaô dando em toda a sua extençaô huma aguada unida, em mei

Os instrumentos utilizados no gabinete integravam o chamado estojo de mathematica,

tinta sobre clara de verde-lirio; e depois com huma penna bem fina, molhada em tin da China se daraô varios pontos ao comprido, dous a dous, ou tres a tres parallel baze da planta. Ni | ar

aber: 1) quatro tipos de régua de latão ou madeira; 2) esq uadro; 3) compassos (dois simp les e cinco complexos); 4) transferidor (semicírc ulo graduado de 180º de latão ou

ata); 5) petipé.

“Além dos instrumentos do estojo de mathematica, os engenheiros-desenhadores dispunham de um estojo de desenho contendo bon s canivetes para aparar as penas; penas; acéis ; lápis; miolo de pão e “cola de Inglaterra”. Alg umas curiosidades nos chamam a tenção. Não deixa de ser hilariante o alerta de Azeved o Fortes sobre a especificidade de Jeterminadas penas: “as de corvo saô proprias para o dessenho de linhas extremamente elgac das, e das ordinarias as da aza esquerda saô mel hores, que as da aza direita”. No éculo XVI

A. Terras lavradas

As terras lavradas se riscão de tinta da China sobre clar a, com huma penr a del ga como a das vinhas com linhas rectas, mas a modo de tre midas humas 1 ais que outré dividindo o campo em courellas irregulares (...), alternand o-as em (...) sentido. =”

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II, os melhores papéis eram os da França e Holanda. A cola para emendar as ilhas, em caso de mapa grande, era também importada, provenien te da Inglaterra, assim

2Mo O nanquim da China, as gomas arábicas.

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H. Pomares a

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Os pomares se riscaô com arvores iguaes, e igualmente compassadas humas de out E

* Uma vez esboçado o levantamento de campo num caderno de notas (o borrador ou TT 0 de lembrança) no gabinete, cabia ao engenheir o preparar a mesa e iniciar o risco r meiro a lápis, depo

no que só se destinguem dos olivaes, e arvoredos, que naô guardaô regularidade

is a bico-de-pena e nanquim.

L. Hortas

As hortas se riscaô com a regoa sobre o papel (...) fazendo os canteiros em para. elogre desiguaes, ou quadrados, de sorte, que naõ affecte a regularidade dos jardins, e fe os parallelogramos com tinta da China com a mesma penna, e tinta sobre clar penejão, com linhas parallelas, ou inclinadas irregularmente (...) Isto feito se lhé cantairas huma aguada de verde-lirio em meia tinta adoçada para o meio dos canteiros M. Jardins

O dessenho dos jardins, quanto aos canteiros, naô differem do dessenho das naô na regularidade, e semetria. : ul = »eiuado

a imer as reduções, até atingir sua escala defini tiva. As linhas a lápis eram depois apagad as M miolo de pão

.

|

Ja =osamente, tal como vimos no recente filme Moça com brinco de pérola, que trata “ga do pintor holandês seiscentista Johannes Vermeer, cabia aos engenheiros militares — =» Preparar as tintas e por vezes improvisar pigmentos. Manoel de Azevedo Fortes “a isina sobre a receita para composição das tintas, hoje fundamental para orientar a tduraçã . ção dos mapas: á As tintas de

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hortas

Os borrões eram submetidos

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. : Maior uso entre os Dessenhadores saôEu a tinta ã da China, o carmim, a aguada ro

haõ, o Bistre, o verde-bechiga; o verdelirio, o anil fino, o vermelhaõ, e a suada de tabaco . ã

PORTES, |

M Manoel de Azevedo. O engenheiro portuguez. Tomo I. 172 9, , p. 421.

|

|

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SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE

É,

A tinta da China se vende em páos, ou bolinhos: he huma composição feitaar

que he só a verdadeira: tambem se contrafaz em França, e Holanda.

Carmim he huma especie de pó impalpavel, e o mais carregado em cor

in Shea naôh val

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nas plantas para denotar as agoas: como esta tinta se naô vende feita, darey aqi

Receita para aguada de rios:

uaiarde líquido &c. j

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No entanto, em situações adversas, era preciso saber improvisar. Azevedo Fortes dá rosas dicas nesse sentido: E.

Tomem-se duas onças de verdete fino, huma onça de cremortartero, e degomaarab tanto como a groçura de huma avelã, e tudo redusido em pó se deite em | ç ma

se hum pedaço de tabaco de fumo do melhor, isto he, da melhor folha, e desfolhado

impet O sgveis; e se lhe tire a tintura por infusaô do modo, que fica dito do Bistre, e se

cs

f

as, segundo a quantidade de agua gomada com que se destempera.

» em agoa morna para largar, a parte que tras de melaço, e algumas areas

te, e he pre:

Fa

uada de tabaco, he muito boa para as plantas, porque dá differentes cores pardas,

E meceita para fazer a aguada de tabaco:

e

modo de a fazer.

Modo de suprir as tintas:

pan

vidrada, e se ponha a ferver ao fogo brando com cousa de hum quartilhod

Porque

póde succeder faltarem algumas das tintas necessarias ao Dessenhador, darey

aqui | o modo com que se podem suprir por necessidade. É

E. da China se póde suprir fazendo-se de pós de escodar finos, dos que vem do Norte, desfeitos em vinagre branco, primeiro forte, e depois destemperado o vinagre

lavar, ou dar aguadas nas obras de Hide e em algumas contada aafadd nos alguns se servem tambem desta cor para lavar os foços secos. as z

“com agoa bem gomada, e depois se faz em bolinhos ou pauzinhos, e se usa delles, como da tinta da China. a

|

G;

Como o Bistre naô he cor, que ordinariamente se venda, darey aqui o modo de o Receita para fazer o bistre:

ti

faze

um

Ajunte-se hum pouco de ferrugem de chaminé da mais lustroza, que se achar, 6% ponha de infuzaô em agoa sobre sinzas quentes, atê que a agoa tenha bem recebida

K tintura, e esteja forte em cor; e depois se deitará em huma manga de papel pardo, ndo pele em fórma de fonil, e suspendida com o seu recipiente por baixo se hirá filtrando

papel, e feito se guardarã em huma garrafinha de vidro...

“E

“Tohao se póde suprir com açafraô de França, que he em sevras secas, que naô tem Jevado azeite.

“ocre, e a sombra de Italia bem moidos no porfido, ou pedra dos pintores, supre as cores “das aguadas dos terrenos. É

Com as mesmas tintas, de que temos falado, se pódem fazer, e suprir outras:

d

=

Jão, e aguada de rios fazem hum verde admiravel.

%

verde lirio tambem he huma composiçaô melhor, que o verde-bechiga, e tem o mes fo uso. “NES

Aa

:

A aguada de rios com verde-bechiga faz hum bom verde-gaio..

anil fino he de huma cor azul turquim escuro, e serve para dar aguadas nas ferragen

“Tohão com hum pouco de carmim faz cor de madeira para suprir o BISTRE: tambem faz

vermelhão fino he hum pó impalpavel, e o mais acezo em cor he o melhor: muitos usa delle para as aguadas em lugar de carmim, mas os mais curiozos só usaó del le para = aguadas dos telhados; e para as configuraçoens dos terrenos. | MM

* Vermelhão com tinta da China fazem differentes cores de terra, e finalmente cada hum Com as Cores, que tiver póde fazer differentes experiencias, e segundo as differentes

qr

381

modo com que se faz esta aguada, he o seguinte.

para lhe conhecer a bondade se destempera em agoa gomada em vaso vidrado e: tirada fora, fica o vaso em malhas, he sinal, que naô he dos melhores: porque para |

deve ficar o vaso sem sinal da tinta...

(CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

Ee

“EM

Cor de terra, e de area levando menos carmim, e tambem huma cor propria para dar | aguadas nos foços secos.

382

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATI Nm

4 - AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

misturas, e quantidades de humas, e outras tintas lhe rezultaraô differentes cores. o que naô he inutil para a configuraçaô dos terrenos arroda das praças, nas Ara+ O

montanhas, rochedos, matos

&c..”

da minha morada, adonde tenho mandado levantar o meu quartel com o comodo destinado para o risco, por me parecer indispensáve l esta providência, pois não tenho

l

abrigo, nem ad onde escreva, muito menos adonde ris que (AHU-LISBOA).

Rr:

O espaço intra-urbano e o projeto arquitetônico das edificações também esta codificados: «sao

o

eram muitas vezes obrigados a realizar os mapas, pedindo sempre desculpas pela qualidade

“dos desenhos.

Toda a obra de pedra, e cal nas Fortificações, que chamaô alvenaria, se deve ris e lavar, ou dar aguada de vermelho./2 Toda a obra de terra, se deve riscar, e lavar preto./3 Toda a obra em projecto para executar, se lava de amarello.? o

| Esseéo caso das plantas enviadas pelo ouvidor da comarca de Porto Seguro, José “Xavier Machado Monteiro, entre 1769-72, ao Conselho Ultramarino, prestando contas das movas vilas ali fundadas e desculpando-se pelo risco (ou projeto) tosco, fruto da sua pouca aptidão para tanto:

No que diz respeito à ornamentação, Azevedo Fortes pregava uma certa sobriedac Para o enquadramento das cartas, legendas e títulos sugeria a elaboração de cercadu

A respeito de fundação de villas sómente erigi na Aldeia chamada do Campinho, e dei o nome de VILA VIÇOSA e de que remetto planta, em tudo conforme o seu original,

com linhas retas de diferentes espessuras, excluindo os tradicionais cartuchoso namenta Quando empregados, os ornamentos enquadravam-se na estética do período, have estreita homologia entre os cartuchos dos mapas e os motivos decorativos da arquite a eles contemporânea (barrocos, rococós, etc.).

Na ausência de engenheiros, os governadores, ouvidores e demais funcionários do rei

ainda que, por falta de architecto, delineado pela minha rustica ideia e decifrada pela minha penna. (...) Governado pelo edificio da Igreja já feita, que ainda que tosca lhe naô

q

podia mudar por cauza da pobreza dos freguezes, entrei na curiosidade de riscar e

Os cartuchos eram, assim, o lugar da liberdade em oposição à submissão às reg

formar peia minha tosca idéia a planta da villa com a possível uniformidade. Medido e

e convenções vigentes no restante do desenho. Na ausência da assinatura, o cartuel o pod à

balizado o adro com 360 palmos de comprido e 200 de largo (dentro de cujo circuito

fornecer indícios sobre a autoria do mapa. | São inúmeras as dificuldades inerentes ao fazer cartográfico. Doenças, insetos, ind bravios, clima insuportavelmente quente e úmido, dificuldades de transporte de egt ipame

Existe a Igreja para se poder accrescentar quando o tempo permitir ficando sempre á toda separada das cazas, que lhe haó de fazer boa perspectiva) lhe entrei a alinhar em boa ordem ao longo do rio, deixando-lhe a margem preciza para caes e trafico das

pesados marcaram o cotidiano das expedições dos engenheiros em terras inóspitas Com

PF

marcado por inúmeras etapas. Os lugares onde foram realizados estes desenhos nem semy

"| Osmapas não realizados por engenheiros militares eram, em geral, mais naturalistas, dnenos codificados, menos abstratos e científicos. Implicavam certamente num conheci 4 mento

o sertão brasileiro. Do borrão às aguadas, a produção de um mapa seguia um nl

eram os mais adequados.

|

Muitos foram feitos in loco, em gabinetes improvisados. Isso é o que se de preei

das informações legadas pelo genovês Domingos Sambucetti, autor do projeto do Príncipe da Beira, às margens do rio Guaporé, no atual estado de Rondônia, entre abri 1775 e janeiro de 1777. Toda a concepção da obra foi feita no local, cabendo ao eng A elaborar o projeto e enviá-lo a Lisboa para aprovação do Conselho Ultramarino, Sam E inicialmente instalou-se “(...) nas casas que forão da preta Ana Moreira”, que dest

como malcobertas e escuras “por falta de janelas como costumam ser as casas Q a pretos”. Esta falta de luz não permitia ao engenheiro genovês escrever, pelo que im a a vários escritórios de campanha “debaixo de umas larangeiras ou num pequenciiam

que tem a frente das taes casas”. Por ocasião do início das obras, Sambucetti instalo “quartel” (quarto) no sítio escolhido, com cômodo destinado para o “risco”:

! “2.

Em 19 do corrente com 27 pretos del Rey e 16 de Manoel de Souza Silveira neste luso a E VizinHeM das obras tiverão ellas principio, cortando-se o mato na margem do rio e nas vizinhanças à 2 RAR

j

2. FORTES, Manoel de Azevedo. O engenheiro portuguez. Tomo I. 1729, , p. 421.

embarcações a praça, ruas e travessas seguintes (AHU-LISBOA).

ínimo das regras da cartografia; mas estas eram aplicada s de forma rudimentar, mais ERES, com figurações livres, emprego equivocado do código de cores, etc. Contrariamente, (Dos mapas dos engenheiros do século XVIII, a “verdadeira natureza” do Novo Mundo

auna e flora, aí incluídos os índios) converteu-se em simples ornamento, relegados às Molduras de títulos e legendas. No mais, imperou uma “outra natureza” — matematizada, 20 fada, abstrata, domesticada, submetida à vontade humana, controlada, delimitada, o tecida, conquistada. Como braço direito das coroas européias, os engenheiros militares a a Piiram papel decisivo na conquista do Novo Mundo. Metaforicamente, o engenheiro E José Joaquim da Rocha, no cartucho do Mappa da Comarca do Sabará (Arquivo

789 Mineiro e Biblioteca Nacional) expressou esse conflito entre cultura e natureza.

ai Em face ao arco e flecha, tanto quanto qualquer arma de fogo, o desenho de mapas a “Mm importante instrumento nas ações político-estratégicas de definição, submissão e

, | Ntrole de “territórios” em meio à pujante natureza do Novo Mundo.

TRAÇOS EUROPEUS, CORES MINEIRAS: TRÊS PINTURAS COLONIAIS INSPIRADAS EM UMA GRAVURA DE JOAQUIM CARNEIRO DA SILVA

Camila Fernanda Guimarães Santiago

A arte colonial mineira vinculava-se às proposições do Concílio de Trento (1545-

53), dando visibilidade ao catolicismo reformado. O artífice deveria estar apto para

Fepresentar passagens sacras, materializando e reforçando o imaginário religioso coletivo. Não era, portanto, plenamente livre na definição dos traços e temas das obras.! Seu encargo Era formalizar padrões ratificados pela Igreja nas peças encomendadas pelas confrarias, grandes “mecenas” das artes em Minas Gerais.? O pintor ou escultor comprometia-se a respeitar a temática requerida. Como modelos,

muitos recorriam às estampas européias que circulavam avulsas ou ilustravam livros Teligiosos como bíb] ias, missais, sermões e outros. De posse da gravura, o artista lançavaPS na execução da obra que poderia se tornar mais ou menos semelhante à imagem

inspiradora. Nesse momento da história da arte, a cópia não era detratada como plágio e Rem minimizava o mérito do criador, Um bom artista/artífice era aquele capaz de reproduzir moldes já sancionados pela Igreja e representativos da devoção comum .? A valorização “tremada da originalidade criativa, já anunciada no Renascimento italiano, é uma postura

não é u ma invenção do pintor, mas uma proclamação reconhecida das leis e da tradição de toda MA 2 Ay borodin Alberto. história da leitura. São Paulo: Cia das Letras, 1997, p. 121. ação GUEL, religiosa da arte Uma mineira colonial não impediu o desenvolvimento de apurada percepção estéti a

Ted)

cana

Particularmente

1980 Ro

3 ainda U

E

eiados

entre os letrados e os artistas. Também não inviabilizou o afloramento de

AVILA, Affonso. O lúdico e as projeções do mundo barroco. São Paulo: Perspectiva,

de acordo do Caio César Boschi, ora o termo artista ora artífice, pois nas Minas setecentistas

o havia delimitação clara entre os significados dos dois vocábulos. CE BOSCHI, Caio César. O Mineiro: artes e trabalho. São Paulo: Brasiliense, 1988, p. 15.

E

ETsjá fora estabelecida AvinAvinculac; ção da arte à religião pelo Sétimo Concílio de Nicéia, 787: “A execução da Pintura

o

À,

Oa

iomântica, bem-definida na Europa oitocentista. Enfoco, especificamente, esse aspect o da

386

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDA

E

4 AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

'

produção artística mineira, qual seja, o uso das estampas européias como mode séculos XVIII e XIX, faceta pouco explorada e de extrema relevância, pois “ a

387

—hiente artístico-religioso de vilas e arraiais. Ao inundar as Gerais com as gravuras Es que os decoravam, os livros devocionais abasteciam o vocabulário iconográficoE FPE “1 da região. A idéia de vocabulário, definida por Gombrich, refere-se à miríade de

gravuras haveriam de constituir os únicos elementos de informação e, porieual e; modelos disponíveis, que não se usavam modelos naturais”4 A

“drões disponível ao artista no momento da execução de alguma obra, dentro da qual E,

Boa parcela das figuras impressas que aportavam na América portuguesa est: livros sacros. Desde o início da colonização, a maioria dos exemplares que chegava muitos ilustrados, era religiosa. Os primeiros vieram no século XVI com os jesuít:

= eleve algum como modelo.º Considerando que a mesma imagem percorria diversos —eões do território lusitano, se só, suas traduções em pinturas em várias paragens criavam “a paisagem visual mais ou menos comum, cuja identidade era costurada, mediante o

XVII, os volumes mais comuns nas bibliotecas eram os catecismos, resumos de his

mnhecimento das formas, pelos que transitavam pelo Império.

santas, diretivas, exercícios espirituais, livros de novenas, orações e manuais para: ã

= Verticalizarei a análise em três pinturas mineiras realizadas entre a década de 80 do seculo XVIII e o primeiro quartel do XIX, nitidamente inspiradas numa gravura de Joaquim "armeiro da Silva aberta durante o período em que ele foi mestre da escola de gravura da

se aproveitar os sacramentos. Número mais significativo de títulos profanosé p;

nos Setecentos, embora a maior parte das obras continuasse sendo devociona A Nas Minas Gerais, parcela insignificante da população possuía livros. Mesme

mpressão Régia. A estampa, que representa a Ressurreição de Cristo, atravessou o Atlântico

a capitania destacava-se das demais nesse quesito em decorrência de sua consti

eiculada pelos missais daquela importante tipografia, e serviu de matriz para um painel,

urbana, como atestam o Triunfo Eucarístico e as manifestações literárias do Át reo Episcopal. | Sabe-se da presença de livreiros no território, responsáveis por dema 1C

atu ) mente presente na sacristia da capela de Santo Amaro, em Brumal, para o forro da capela-mor do templo de São José da Lagoa, hoje Nova Era, e para o forro da nave da Cap e a de Santana, no atual município de Santana dos Montes.

dos dízimos capitão Manuel Ribeiro dos Santos, residente em Vila Rica. São conhe

| impressão régia: a gravura de Joaquim Carneiro da Silva e seus desdobramentos pictóricos nas Gerais

exemplares no Reino e vendê-los na colônia, como o caixa e administrado dos rcor

receitas de livros encomendados por ele a seus correspondentes, moradoredes Lisbo:

décadas de 40 e 50 do século XVIII. O capitão exigia peças novas ou usadas en condições e com os títulos dourados. Interessam-me as obras religiosas, numerose rs.

a

pedidos, cujas ilustrações poderiam servir de modelos aos artistas mineiros. Em 174

exemplo, foi requerida uma escritura sagrada com estampas e em várias outrasré missais de Antuérpia e sermões. Ele as vendia, muito provavelmente, aos cléri

ad localidade. Os artistas podiam escolher seus modelos folheando os livros estampados religiosos, sobretudo quando os padres estavam a serviço da confraria encomendad

trabalho a ser feito. As livrarias das irmandades eram campos férteis de potenciais estam

modelos. Os próprios artistas também possuíam suas gravuras, como constano testz de João Nepomuceno Correia e Castro, pintor que trabalhou no Santuáriode Bom

do Matosinhos, em Congonhas: “Declaro que todas as estampas que tenho, risco sede os deixo a Francisco Xavier e Bernardino, meos aprendizes”? J Minas estava na rota de impressos que, dotados de grande força motriz,é se a despeito de fronteiras nacionais e geográficas, transformando, através das

apropriativas que mobilizavam não apenas o universo cultural daqueles queos Ham Fi

a

bem como algumas de suas peculiaridades administrativas, funções e articulação com outros órgãos do governo.

Para começar a funcionar, a casa adquiriu os instrumentos — prensa, caracteres e dutros — com a compra “de huma Officina Typographica das melhores, que poder achar”,!º endo sido escolhida a tipografia de Miguel Menescal da Costa. Objetivava “animar as letras, e levantar huma Impressão útil ao público pelas suas produções, e digna da Capital destes reinos (...) respeitavel pela perfeição dos caracteres; e pela abundância, e asseio de Suas impressões”. Para isso, reunia várias atividades necessárias para a boa confecção de a Tc - Foi-lhe anexada a fábrica de caracteres, criada em 1732, quando D. João V proibiu 8: GOMBRICH, E. H. Arte e ilusão: um estudo da psicologia da representação pictórica. São Paulo: Martins E Fontes, 1986, Pp. 114e 126. O termo é usado em diversas partes do livro sem que tenha sido feita uma

” definição precisa. Ê “Agradeço às paróquias e, especialmente, àqueles que abriram as igrejas para que eu as pudesse fotografar.

Especialmente a Elvécio Eustáquio da Silva por ter viabilizado as fotos da igreja matriz de São José da B 0a, Nova Era, e de dois missais que compõem o acervo do Museu de Arte e História da Cidade de

ns

MACHADO, Lourival Gomes. O barroco mineiro. São Paulo; Perspectiva, 1991, pp. 2256 A - VILLALTA, Luiz Carlos. “O que se fala e o que se lê: língua, instrução e leitura”, in De MbLLM) s ”

— Almpressão Régia, também chamada Régia Oficina Tipográfica, foi criada durante 0 reinado de D. José I, em 24 de dezembro de 1768, quando Lisboa contava com 11 Oficinas tipográficas. A análise do alvará de criação revela os fins que deveria perseguir,

Laura (org). História da vida privada no Brasil. São Paulo: Cia das Letras, 1997, pp. 36 po 6. DINIZ, Sílvio Gabriel. Um livreiro em Vila Rica no meado do século XVI. Kriterion, B to Hon

1 Ova Era. É Arquivo da Imprensa Nacional. Casa da Moeda de Lisboa (INCM). Alvará de Criação da Impressão

7. Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana (AEAM). Testamento de João Nepomuceno &

T INci Sa Nacional-Casa da Moeda, pela gentileza de ter me enviado o documento.

47-8, pp. 186, 190 e 194, 1959. Castro, 1794, n. 619, £2v.

— Ta Ra

-

“=

+ 24.12.1768, 816. Agradeço a Margarida Ramos, do Centro de documentação e informação da

INCM. Alvará de Criação da Impressão Régia, 24.12.1768, 8 14.

388

=.

Agi á SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE

PAR

4 = AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

a importação de tipos,!2 “para que se continuem a fazer grandes partidas de todaac ualic de letras, assim para o abundante uso da mesma Impressão como para as mais Im ts

* A escola decorou obras de temáticas diversificadas que saíram dos prelos da tipografia. entre 1768 € 1800, foram dadas à luz 34 edições ilustradas e 548 sem imagens.' O perfil

também trabalhava na instituição e ensinava sua arte.' A auto-suficiência da casa re

“mo conferia maior destaque aos religiosos, menos favorecidos no período de D. José 1.'º

do Reino”.!º Um livreiro, encarregado da livraria e da encadernação dos volumes produzie

quanto ao fornecimento de papel, o que reiterava a dependência lusitana, evidente e os primórdios da imprensa no país, dos mercados internacionais para ob encão de

imprescindível matéria-prima.! eo as | Importa-me, particularmente, outra atividade adjacente à Régia Impressão: a ilustre

das obras com estampas. Para tal fim, fez-se necessário:

nish

trorial da casa, durante o reinado de D.Maria I, primava por volumes luxuosos, bem

martir da época da rainha, foram impressos diversos missais que, embora contendo

enas mudanças textuais, eram ornamentados, geralmente, com as mesmas estampas

E

Eae ; por Joaquim Carneiro ou algum de seus discípulos: Eleutério Manuel de Barros, maenar Fróis Machado, Manuel da Silva Godinho, Eduardo José de Figueiredo, Nicolau Bantista Cordeiro. Era corriqueiro o mestre desenhar e certo aluno gravar. Vários desses

livros continham a imagem da Ressurreição que pretendo enfocar, como o missal de 1782

|

(figura

hum abridor de estampas conhecidamente perito, o qual terá obrigação de abrir todas as que forem necessárias para a Impressão (...) e de mais ensinará continuamente os aprendizes (...) e vencerá de custo quatrocentos mil réis e este trabalho; e por cada

1).

discípulo, que ensinar, e apresentar Mestre (...) quarenta mil reis (...) e cada aprendiz 4 vencerá cem reis cada dia.!º

Por decreto de 29/12/1768, Joaquim Carneiro da Silva (1 727-1818) foinor 1 DOR mestre-escola e abridor de estampas.

Carneiro da Silva nasceu no Porto e veio para o Brasil com os pais em

1739. Nof

de Janeiro, aprendeu a gravar com João Gomes Baptista, mais tarde empossado ab

dos cunhos das Reais Casas de Fundição do Ouro. Estudou na Itália por conta do

URBA: N] Cp sá

ha,

gover

na escola de Ludovico Sterni, onde aprimorou seus conhecimentos. De volta a L 0a 1762, era reconhecido como exímio abridor de estampas. Encabeçou a escola de gre da Impressão Régia de 1768 até 1786, quando ela entrou em crise, que se estendeu a oficial fechamento, em 1788.” 658

concaifTRDENT

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4

1 G o CTORITATE criam Mix, que ex conceifionibus Pontifciis in Regno Po k Ss. E: EN Arinsarça n f RÉ 3

NAV;

12. Em 1756, o governo português autorizou a entrada do tipo estrangeiro por 10 anos. €

Pedro: GUEDES, Fernanda Maria; PAES LEME, Margarida M. O. R. & CALADO, Maria Marque

Imprensa nacional: actividade de uma casa impressora. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moe at 1975, p. 53.

13. INCM. Alvará de Criação da Impressão Régia, 24.12.1768, 89.

14. INCM. Alvará de Criação da Impressão Régia, 24.12.1768, 812.

b

e.

15. INCM. Alvará de Criação da Impressão Régia, 24.12.1768, 817. Os primeiros impressores atuam Portugal usavam papel importado, sobretudo da Península Itálica e da França, apesarde uma ph iniciativa de transformar moinhos de pão em moinhos de papel no século XV, na re; ão e

com matsina início do século XIX, a dependência externa perpetuava e onerava 92% dos gastos da Casa Literária do Arco do Cego. Cf. ANSELMO, Artur. Origens da imprensa em É ortuga a “8 Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1981, p. 392. DOMINGOS, Manuela. “Mecenato politico da edição nas oficinas do Arco do Cego”, in CAMPOS, Fernanda Maria Guedes de etalii (Org. Literária do Arco do Cego (1799-1801). Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda/Biblic E

ac

e 1999, p. 100. a 16. INCM. Alvará de Criação da Impressão Régia, 24.12.1768, 8 11. =: 17. FERREIRA, Orlando da Costa. Imagem e letra. São Paulo: Edusp, 1994, pp. 99-100. SOM

História da gravura artística em Portugal, e os artistas e as suas obras. Lisboa: Nova Editora,

Ni a MACHADO, Gyrillo Volkmar. Colleção de Memórias relativas às vidas dos pintores, é ese h a e gravadores portuguezes, e dos estrangeiros, que estiverão em Portugal. Lisboa: Imp! Fo nano

Rodrigues da Silva, 1823, pp. 255-8.

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Eos;

7 no fx hoje é K

Da een Figura 1: Missale Romanum. Lisboa: Typographia Regia, 1782. Acervo do

Museu de Arte e História da cidade de Nova Era. Foto: Camila Santiago.

de -

E “ PARIA, Miguel Figueira de. “Da facilidade e da ornamentação: a imagem nas edições do Arco do Cego”, ! inCAMPOS et alii. A Casa Literária do Arco do Cego..., p. 128. 19, CAN AV)

D

MARRO etalii. Imprensa nacional..., p. 40.

390

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE

E 4 - AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

O livro apresenta textualmente as marcas de sua trajetória pretérita: as licencaca. órgãos de censura competentes, o local em que era vendido, se era ou NãO Drivilá daquela tipografia e o nome dos gravadores. No caso, o missal era privilégio. PR | Tipografia, o que significa que não poderia ser impresso em nenhum a outra cas ga: vendido pela Impressão Régia, que mantinha loja própria na Real Praç a do Comérein gravador da estampa da capa foi o próprio Joaquim Carneiro da Silva , que assi roma E, ou seja, Silva Fecit, fez, executou, em latim. A indicação dos gravador es, desenh: sta

por vezes, impressores, era feita no vinco da estampa com verbos latinos r a a tetere :

. pessoa do singular do passado, geralmente abreviad z Ri os.22 Como não há EJA nenhuma men; e

'

|

sm

btenção de novos livros justificava-se por algumas mudanças nos textos refe rentes ag rações da Igreja, alterações de calendário, de pontífice ou nova s missas, a E. que constavam nas capas dos volumes. A “atualidade” do miss al era cobrada E : E do, como é possível depreender da visita do cônego Henrique More ira de Carvalho, “og E de Santo Amaro, Brumal, em 1747. O templo já possuía, na ocasião, quatro E ai arrolados no inventário dos seus “ornamentos e mais cousas”, de 1738 , e dois E iridos após visita anterior. Apesar disso, o religioso exigiu “que se com pre um missa)”, “ada au Pa

1,

a:

: i à ; ampradas pela advertencia do vizitador”, sob a rubrica “mais hum missal novo”.24 As

1"

Ru

ao desenhista, que era referido, dentre outros, pelo verbo delineavit (des enhou), ou m; comumente, delin, é presumível que Carneiro da Silva seja também o autor dos traço que fazia com maestria. E á

= ue foi prontamente atendido, como declarou o administrador no “inventário das coisas ] . x. bi

a]

o

a

!

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Eontorno

Tipografia Baleoniana, de Veneza, ou a Tipografia Plantiniana, sediada em. intuérpi quando a Impressão Régia começou a editar os seus. Mas renovavam seus es oques,

por vontade própria seja pelas exigências da Igreja. A irmandade de Nossa £ enhora de

seji

fe realizar os traços, o gravador entintava a placa. A tinta ficava empoçada nos riscos, a

matriz era limpa com panos e com a mão do gravador, mais caprichoso onde queria, na Estampa, branco, e menos nos detalhes que imaginava acinzentados. Depois, era passar a

prar Cheao papel na prensa, formada por dois cilindros horizontalmente dispostos.

confeccionou, respectivamente, mais dois missais que também foram comprados pé

* Nagravura, as sobr eposições de elementos são definidas pela mudança no sentido

"

mr

mpri mi, inclusive, obras publicadas por outros impressores. Devi à conco dorrência daí advindos, os impressores passaram a recorrer aos poderes

1

“R]

Rossulcos, o que fica claro no lado direito da cena, onde estão bem-demarcados, por esse FSSUrso, a túnica de Cristo, o fundo e a montanha. Quando mais profunda a canaleta,

e

ido

Da

]

mais retém tinta e mais escura fica a linha impressa. Os efeitos de sombreado, exímios, foram Obtidos pela proximidade dos riscos: quanto mais próximos, mais escura é a região. | 2 Que é possível perceber, por exemplo, na sombra da tampa do sepulcro, formada por aços profundos e próximos, na musculatura do braço erguido de Jesus e em algumas l

des exclusividade:

públicos para garantira

suas publicações. Cf. ANSELMO. Origens da imprensa em Portugal, p. 171.

a

excius

“A

Ml

A

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E do tecido. Sombras mais tênues, por sua vez, foram criadas pela não limpeza total

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do desenho. Para evitá-la, o artista deve usar pranchas maiores que o papel. 22. DAVIDE, D. Sebastião Monteiro. Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. São Paulo: ir de Antônio Louzada Antunes, 1853, p. 136. "dade de NOS 23. Casa dos Contos, Arquivo da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar. Missais da Irman dade- FO!6 o077|

85e 86.

K

=

z

A

=

Ar

a

é Unta antes de a matriz ser impressa. Servem para melhor definir as formas, com

dest;

21. Os nomes bisel, testemunha ou vinco são usados para a moldura a seco formada na estampa emo

Senhora do Pilar de Vila Rica, rolo 75,v.81e 82; rolo 76, v. 82, 83 e 84; rolo 212,V. 2769:

inicial, Joaquim Carneiro usava a água-forte, ou seja, envernizava a prancha e

ganaletas. Os detalhes eram dados pelo buril, habilmente manejado pelo mestre. Depo is

primeiro missal da Tipografia Régia, de 1784. Em 1789 e 1818, a oficina lusitar

m

de alguma imagem, podendo ser outra estampa.? Para dar o

retirava o verniz nos limites da cena, que seriam mordidos pelo ácido, formando as

Pilar de Vila Rica, por exemplo, já possuía quatro missais flamengos ilus trados, im pres: em 1703, 1728, 1744 e 1751, e um veneziano, com belas gravuras, quando ac quir do

.

i

Vegetal e limpas com trapos embebidos em óleo. O desenho era feito na placa a lápis, à monta-seca ou pelo decalque

portuguesas, como a tipografia de Miguel Menescal da Costa, ou estrangeiras, com

f

-

Instrumento eliminadas com o rascador, polidas com pedra pomes, brunidas com carvão

Muitos sodalícios mineiros já deviam possuir missais, trazidos ao lumepor cas

=.

E

; magem, como era comum na escola da Impressão Régia, era o uso do buril com o auxílio ; ja água-forte. As chapas, geralmente de cobre, eram marteladas, sendo as marcas do

outras, nem fazer outras inclinações, reverencias, genuflexões, ósculos, bênçãos, senão

Durante as primeiras décadas da imprensa na Europa, a impressão e vend a era

Es

“de Cristo aberta por Joaquim Carneiro da Silva (figura 2). A técnica de elaboração da

litúrgicos era obrigada a ter um missal romano, pois, de acordo com as Co Astituiçõe Primeiras do Arcebispado da Bahia, “não poderão meter no discurso da Missa algun

20.

ê

mrmamentavam, já sancionado pela Igreja e pela censura. * Difundiu-se pela capitania, com os missais da Régia Oficina, a gravura da Ressurre ição

século XVIII e as duas primeiras do XIX. Qualquer agremiação que celebrass os e ritc

irmandade.”

T

mea impressoras européias contavam com considerável mercado consumid or de livros liciosos nas Minas, onde as irmandades estavam sempre demandando exem plares. Com as volumes, aportava o vocabulário iconográfico-formal nas est ampas que os

Esses missais espalharam-se por toda a extensão do Império Marítimo ortu guê integrando o acervo de irmandades e capelas mineiras entre as duas últimas déca das.

que estão apontadas nas regras do Missal Romano reformado”.22

391

que para as complexas reentrâncias dos tecidos, que lembram os revoltos panos

a » AEAM, Livro de documentos e inventários da capela de Santo Amaro, Brumal, prateleira A, n.30, fl.4£ e “y, SE, 5y, 6£ E 4 —

4

Febarbasn

Imagem e letra,

p. 67 e 70. Ponta-seca é um instrumento

às extremidades doEr s sulcos.

q

que arranha o metal e deixa

E

392

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ar

AIN

PA

4 - AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

393

Transitando pelas Gerais, a gravura inspirou o artista desconhecido que a pintou, à “ampera, num painel setecentista de 107,3 cm por 75,4 cm, ” hoje presente na sacristia da E la de Santo Amaro, em Brumal, distrito de Santa Bárbara, freguesia de Barão de

A ais (figura 3). O conhecimento da data aproximada de impressão da estampa inviabiliza ahipótese da pintura ter sido feita concomitante às que decoram a capela-mor e parte da “nave, que remontam a edificação do templo, final da década de 20 e década de 30 do ui, com as quais, inclusive, em nada se parece estilisticamente. No final do século, a igreja retomou os trabalhos de ornamentação, período em que foram lançadas as seguintes despesas: “Paguei ao carapina de pregar huns painéis no forr o, e pregos”? entre maio de

1789e dezembro de 1790, e, “Pelo que paguei o carapina de preg ar hum painel no forro epregos e andame” entre novembro de 1791 e novembro de 179 922 Não seria um desses “painéis a referida pintura, visto que o forro da capela não apresenta atualmente nenhum ornamento? Possível. Provável, também, que a capela tivesse um missal impresso pela Tipografia Régia, pois foram elencados num de seus inve ntários, feito entre 1764 e 17/07

data presumida pela posição do documento no códice, três missais, um novo e os outros usados. Em 1839 foram inventariados quatro miss ais, três velhos e um novo.3!

Figura 2: Gravura da Ressurreição. Missale Homanum. Lisboa: Typographia Regia, 1782. Acervo do Museu de Arte e História da Cidade de Nova Era. Foto: Camila santiago.

representados por Bernini em Santa Tereza D'Ávil a e Beata Lodovica Albertoni. A iluminaçã sobrepõe-se, parcialmente, ao dese

nho apenas no peito de Jesus e nas voltas do pan imediatamente à sua esquerda, cujos detalhes foram dissolvido pel s a intensidadda e h que do Ressuscitado emana. O branco, aí presente, foi conseguido pela simples ma ute nçã | da integridade da chapa de cobre, ou seja, não foram feitas linhas com o buril e: eg

foi devidamente limpa após o entintamento. Essas técnicas, historicamente cc nstituíde

criavam efeitos na imagem que os pintores mineiros tentavam traduzir com as técni 6 +:

pictóricas, os materiais e a organização do trabalho que lhes eram próprias . Iconograficamente, a imagem condensa a narrativa dos Evangelhos.

da sepultura e sobrevoando-a, cujo movimento orienta o olhar para a gravui

| a e

descrito na Bíblia, pois quando as santas mulheres chegaram no local do sepul a

a

e

Filho de Deus já o havia deixado, como as informou o anjo. Coube ao sécu lo XIV. e aa |

essa forma de representação que reflete, segundo Louis Reau, interferência das passa ss da Ascensão e da Transfiguração. ui

, À 26. REAU, Louis. Iconographie de

“art chretien. Paris: Presses Universitaires de France, 1995,saPp. “200,2UM:

RE “

Figura 3: Painel, capela de Santo Amaro, Brumal. Foto: Camila Santiago.

Bru— mal, distrito d e Sant a Bárbara, capela de San to Amaro. Inventário de bens móveis e int -MG/91-081-0140. egrados do sy AEAM. Lj

3, ARAM

to de documentos e inventários da capela de San to Amaro, Brumal prateleira A, n.30, f1.131f.

394

SONS, FORMAS, CORES E MOVIME NTOS NA MODERNIDADE ATLÃ

7%

aid

q

N

Através do movimento ocular que osci la da pintura mineira para a STAVUra po rtuga: e vice-versa, num constante ir e vir , a fecundidade do estudo históric o dessa dj À apropriação esbraveja. É possível refletir em termos de uma história do olhar, inda gand. como um

artista mineiro que trabalhava com condições historicamente delinea compartilhava

” das tramas socioculturais tecidas em Minas Gerais fitou a est; pa é Carneiro da Silva e tomou-a como no rte para sua cria e

ção exilada, da origem da estam» matriz, pelo oceano. O olhar do ar tista foi capaz de mutilar, material mente ou não » livro que continha a imagem e que lhe conferia o sentido previsto pela edição : ilustrar | 5

diitina ata e me

Ressurreição de Cristo, completando, fecu ndando e termmemorando, para o pregador | texto alusivo. 2 O olhar do artista colonial, vislumbrável pela comparação da estampa com a pintur não se revela textualmente, mas por meio da lingua gem das cores e das formas. O grande desafio é decodificá-la, compreendê-la. As semelhanças entre as duas imagens e, sobret udo as diferenças, devem ser in

ventariadas e pensadas como elos que as si gnificam no diálogo com seus ambientes de criação — técnicas pictóricas, org anização do trabalho, materiais concepções estéticas, religiosas, redes sociais, sistema de encomendas. Mas o univers mineiro de produção artística não deve ser tomado a priori como explicação da fo ma,

como um contexto edificado dentro do qual encaixo a pintura como mais um de seus sintomas ou expressão, emudecendo-a enquan to fonte para apontar novas possibil idades de entendimento. E Os liames

que vinculam a arte às condições históricas de sua confecção devem ser cuidadosamente traçados, respeitando as dimensões da forma intraduzíveis textua men E e, muitas vezes, inexplicáveis. É preciso adentr ar a linguagem pictórica, desvelande -aa partir de seu interior, e articular cadeias exp licativas que a transborde rumo ao entorno sociocultural.

Frente ao modelo, o artista de Brumal foi obediente quanto à temática, o arranjo ea posição dos

personagens na cena, mantendo as mesmas dispos ições espaciais. As cições do anjo também são parecidas com as da gra vura, ao contrário da aparência de Cr sto, mais cabeludo

panejamento

e com traços menos expressivos. O sofisticado jogo de sombras do do Cordeiro de Deus, tão encantador na composiçã o lisboeta, foi mui to

simplificado na pintura. O artista nem se preocupou em manter a torção da veste, desdobrando-a numa massa branca meio nuança da. Ao contrário do Jesus impresso,O mineiro carrega um pequeno estandarte, indício do conhecimento do artista de outros componentes do vocabulário acessível, pois muitas ressurreições em missais traziam esse

elemento. 10ae Colorir traços importados, na tradução da gr avura para a pintura, era “a E grandes oportunidades do artista agir gu iado por preferências estéticas, propri a técnicas e materiais de seu lugar de atuação. Ao con trário do imaginável, no horizonte irrestrito de possibilidades e os constran gimentos iam desde os pigment” encontráveis até do a

Ralis

insinuações cifradas na própria estampa. O olhar coloria induzi de Ea reconhecimento da forma. As carnações, as vestes, as folhagens ganhavam tomadas =

mais ou menos socialmente convencionadas e historicamente definidas, seja através tradição artística, da influência das obras de arte integrantes do universo visual do pi

O)

E 4 - AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

E

395

mamizando a “intertextualidade imagética” nas Minas da colônia, da observação da

E.

sa ou mesmo do conhecimento de fontes escritas, como bíblias e missais. A imagem

formada por delicados matizes, do branco ao preto, propunha a relação tonal. A

alternância de linhas pretas, sulcos do buril, com brancas, papel, criava uma vibração

luminosa dimensionada pela trama dos traços, sua proximidade e direção. Cod ificam-se,

assim, qualidades de cor: “As diferenças qualitativas do tecido sígnico correspondem às

diferenças qualitativas entre as cores”.º? Não se trata de código fechado, do tipo: determinada

trama refere-se ao azul ou ao vermelho, mas do estabelecimento das rela ções no interior

do impresso.

O artista de Brumal respeitou, de maneira geral, as propostas cromáticas da gravura. Manteve o branco nas regiões pouco maculadas pelo buril, como a veste de Cristo, embora seu manto tenha tonalidades esverdeadas, na manga e na gola dos dois soldados à direita. As roupas do soldado que segura a lança demonstram que soube interpretar como mesma cor as tramas, idênticas na gravura, da volumosa manga e da parte abaixo da cintura, coloridas por um intenso vermelho. A armadura, portanto, é sugestionada bem mais clara do que o resto da roupa, o que não foi obedecido. Embora a Bíblia prescreva claramente que o anjo da Ressurreição vestia-se de branco, o artista pintou sua roupa de amarelo, talvez motivado pela aparência um pouco mais esc ura que esse panejamento tem, na gravura, em relação aos panos de Jesus. Restrinjo-me a essas breves considerações sobre a pintura de

Brumal, pois ela recebeu uma repintura, a óleo, no século XX, sendo difícil definir o que se refere à sua coloração original.

Pelo antigo arraial de São José da Lagoa, hoje Nova Era, os traços de Carneiro da Silva também circularam. Serviu de matriz par a a pintura do forro da capela-mor do templo (figura 4), cuja autorização para a constr ução é de 1766, quando o monumento já Existia e começou a ser ampliado e ornamentado, sendo abençoado em 1768.3 A j ulgar pela data da gravura, a pintura do forro da capela-mor ainda não tinha sido feita. A relação cromática entre a veste da figura principal e a do anjo foi, nessa pintura, Iesolvida de forma semelhante à peça de Bru mal: o anjo com uma roupa levemente mai s escura que Cristo, muda ndo apenas a cor escolhida para esse fim; lá, o amarelo, cá, o azul. Nenhum dos doi s pintores respeitou as Sagradas Escrituras nesse aspecto, o que é ça luz sobre as relações entre arte e as condiç ões históricas de sua ndo serem as ilustrações dos textos sagrados, e não os próprios textos, às Principais font es par a as pinturas mineiras coloniais. Publicadas em latim, bíblias e MiSsais não eram legíveis para a maioria, contando, os artistas, com as estampas para eriar, No caso dos soldados, entretanto, o pintor foi menos subm isso à gravura, optando Por um forte Vermelho onde a estamp a propõe tom mais brando. Esses personagens estão anatomicamente maldesenha dos, sobretudo o que segura a lança, e suas roupas pintadas de e fo Tha grosseira, em unidades de cores pouco elaboradas. Talvez fosse essa a intençãoã o

ARGAN, Giulio Carlo. Imagem e persuasã o. São Paulo: Cia das Letras, 2004, p. 20. Arquivo do IEPHA. Pasta Matriz de Nova Era.; BA RB OS A, Waldemar de Almeida. Dicionário histórico e Seográfico de Min as Gerais. Belo Hor izonte: Itatiaia, pp. 223-4.

2

396

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNrI

WTE 4 - AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

Fi

|

397

Ao contrário do artista de Brumal, o pintor em questão assumiu o desa fio de transpor nara a técnica pictórica o complexo panejamento da gravura, embora o tenha feito de ç ma mais angulosa.

"| a

Qartista mobilizou todo seu conhecimento técnico para aum entar consideravelmente compos

mor

ição de tamanho sem perder as proporções. Transpondo-a para o forro da capelaespa

ço muito mais amplo do que uma folha de livro, seu abrigo original, o pintor a umentalizou-a, integrando-a na arquitetura e decoração fausta do templo. A ima gem

massou a mobilizar olhares coletivamente destinados, exigindo de seus observadores posição corporal específica para ser mirada, ao contrá rio da fruição individual da estampa, que circulava de mão em mão. A Ressurreição dig nificou-se ao compor o local mais nobre da

capela. Seu sentido foi, assim, completamente renovado pela relação estética que passou emaranhado de rocalhas. Retratada como um medalhão no centro de uma pintur a de perspectiva rococó, a ce na “amineirou-se”, imergindo perfeita mente no universo visual de fins do XVIII e primeira metade do XIX, quando roca Ti

lhas de diversas qualidades e

:

pintura, aclimatando-a. Assim tratada, a cena imiscuiu-se, sem dissonância, no ambiente religioso minerador, foi ap



a

Figura 4: Forro da capela-mor da Matriz de São José da Lagoa, Nova Era.

Foto: Camila Santiago.

Apropriação similar da estampa de Carneiro da Silva foi feita lá pelas bandas da Real Vila de Queluz, onde os devotos fregiienta dores da capela de Santana do Morro do Chapéu, hoje Santana dos Montes, erig ida por provisão de 08 de agosto de 1749,3 também Bevravam seus pescoços para contem plarem a Ressurreição, pintada no forro da nave tngura 5). São mais eruditas as rocalhas dessa obra das primeiras décadas do século XIX ' À ancisco Xavier Carneiro, nasc ido em Mariana e filho de escrav a3 Xavier Carneiro Fsva seu modelo por intermédio de suas concepçõ es artísticas, do universo visual que o

1

do

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A

do pintor, desprestigiando os algozes de Jesus. Outra explicação seria terem sido ela or

por algum artífice contratado ou aprendiz do artista a quem foi destinado elaborar fig menos nobres. Seria essa mais uma ponte que nos remete da imagem às con diçõe trabalho artístico nas Gerais, d

y

onde os pintores treinavam seus pupilos, muitos deles escre

ão d

balhos.

Essas divergências entre pinture agr í

SEAT.

a

cont do lhes parte da es O OOo BOA inspiren Dos,e a adora apontam caminhos de ligação entr Êtísticae seu fo rm a ar amb LionentPo e €E do qual o devir abartoua a

? O Cristo do Ria da

mo intencionou parecer-se com seu ancestral imp)

sobretudo na boca, mas dele se distingue pela saliên cia dos olhos. Já as feições E : i eira ita E foram completamente transformadas, distanciando-se do sembla nte à manei o Ú da estampa,** ganhando um rosto menos redondo, cabelos menos a SA larga e nariz menos pontiagudo. Parece-se com os anjos que ornamentam às a rs

época, inspirados, provavelmente, nas mestiças feições loc ais.

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a: a 34. Joaquim Carneiro da Silva estudou na Itália cola de antes de assumir seu cargo na escola 3

Tipografia-Régia.

ropriada, integrada.

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qual fazia parte. Artista de reconhecida importância, circulou pelas Minas

e “ongonhas, da capela-mor, de Bernardo Pires e da nave, de João Nepomuceno Co rreia E



— Provavelmente, também, das igrejas do arraial do Inficcio nado, hoje Santa Rita PHI &O, pi nt ad os Por Jo ão Batista de ER Figueiredo2 € utros, todo impactad s outros roc E

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do a

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, todos rocoocócós.s. Poss elelm Posivsiv meent nt e O por tais trabalhos, o marianense dige riu a estampa lusitana e converteu-a,

usta de São José da Lagoa, em formas triviais às Minas, on de a pintura alia-se » Int

itetura

*

egra-se nos recintos dos ritos católicos e são repletas de rocalhas.

de E PÁR RBA OSA, Vicionário histórico Myri am Andrade Ribe geográfico..., p. eiro de. O rococó308re.l igioso O aro: Cosac & Naify, 2005, Pp. 284 . E TINS,

Judith. Dicionário DFO: MEC, 1974, p. 155,

no Brasil e seis ante cedentes europeus. Sã o

de artistas e artífices dos séculos XVIII e XIX em Minas Gerais. Rio de

398

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODE RNIDADE ATLÂN

PAR

4 — AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

399

arrolado no seu inventário, de 1840, como “As ciê ncias das sombras relativas ao dezenho”38 Prova velmente, ele já possuía a obra quando trabalhava em Sant ana do Montes, pois a edição em

português, tradução do mineiro da Vila S. José, Comarca do Rio das Mo rtes, Fr. José Mariano da Conceição Veloso , é de 1799, na Oficina de João Proc ópio Correia da

* Silva.” Na capa, o livro informa com precis ão seu propósito.

Na qual acharão regras demonstradas para conhecer a especie, a forma, a lo ngitude, e a larg

ura das Sombras, que os diferentes co rpos fazem, e produzem, assim sobre superfícies horizontaes, verticaes, ou inclinadas, como sobre as superfície s verticaes,

planas, convexas, ou côncavas.

Apesar da origem socialmente desprest igiada e da indelével marca que ela imprimiu em sua pele, Francisco Xavier Carneiro era artista considerado nas Minas, te ndo sido Jouvado de célebres pinturas como na Matriz do Pilar de Vila Rica, na capela franciscana de Mariana e na

capela da irmandade de Nossa Senhor a do Rosário de Mariana. Conhecedor das letras, lia o que pode mos inferir a pa

rtir dos livros citados no seu inventár io, não só o supramencionado, mas outros , como Segredo necessário para as ar tes da pintura e Orthografia portuguesa.*! Também escrevia, pois declarou em seu test amento que “por “Estar cego, e não poder escrever pe di ao Sr. Joaquim Anselmo Coelho que este por mim fizesse assignandome somente do modo que costumo e me he possivel”, O diálogo entre fontes visuais e es critas, indagadas cada qual com respeito das

Figura 5: Forro da nave da i greja de Santana, Santana dos Montes, Foto: Camila santiago.

ho,

j 3

Rs OS Caracteres, acentos e espaça mento, presentes na edição de 1782 , a primeira frase E.

No forro de Santana, a potência narrativa da cena da Ressurre ição foico mplet: no

alterada, impondo-se, o artista, sob or mode elo que adotava. Cristo foi afastadodos ou personagens, ganhando peculiar destaque espacial, o que é perceptível pelo i À edit a em relação às pinturas precedentes, da visão de toda a asa direita do anjo. A: o E | ao fundo, perdeu os detalhes de relevo demarcados na gravur a, transforma ndo sa massa escura que divide a cena entre Cristo e o anjo, diante de fundo bastante claro €

an E , soldados na penumbra. A luz que recai sobre os soldados na gravur = a impede « ue

plps

afundem num ambiente sombrio e os conecta com a tot alidade da composição.Iva 2 PH embora tenha sido respeitada tal iluminação, ela car ece da intensidade nec: o

E

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comp.

rentou o desafio de traduzir Pp ictoncanta reentrdap ânchei iasrosomtam brebém adas enf a dos pan ejamentos. Contou, entretanto, como a A do tratado As sciencias das sombras relativas ao desenho, obra necess áriaa tomo vin k

Td Dupa querem desenhar architetura civil, e militar, ou que se destinão a pintura..., de! ils

s Posição de destaque na pagina? Difícil sabe r com certeza. Mas se seu norte fosse E Revo 70 fato desta ser a primeira frase, por que o art ista não transcreveu, por exemplo, o 7» m caixa alta, situado no topo da folha? |

Um

conseguir o mesmo resultado. .

ue

a

“2. Arquivo códi da Casa S etecentista de Mari ana (ACSM). Inventário de Franci E] FARIA, 59, auto 1346, 2º ofí sco Xavier Carneiro, 1840, cio, fl.4. —o iguel Figueira de. “Casa Literária do Arco do Cego exemplo singular na em Portu al. À ontame t História . da ediç * = 3)» ão E e à “o

ro

O Cego”, Lisboa

res

ida A 4 Reg ; ado “ta responsável por avaliar obras artísticas, Da o. 42 ACSM Inventário de Franci ! Testame

t

EIS

ou não.

sco Xavier Carneiro, 1840, códi ce 29, auto 1346, 2º ofício, f.4f, : k ;

o

; nto de Francisco Xavier Carneiro, 14.06.1838, códice 288, auto 5244, 1º ofício, f1.4f.

400

DEÀ SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDAATI -

armas

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DISCRIÇÃO NAS CORES E EFEITOS NAS FORMAS: * EMBLEMAS, SIMBOLOGIAS E MANIFESTAÇÕES DA

:

IDENTIDADE DOS OFÍCIOS MECÂNICOS NO MUNDO

Iuper me manum tuam , allelúia: mirabilis facta eft

"PORTUGUÊS DOS sécuLos XVIII E XIX

Figura 6: Comparação entre o texto do missal e a pintura “)

A frase é de grande elogiiência por estar, ao contrário das demais, na prin pessoa do singular: “Ressuscitei e ainda estou contigo, alleluia”. Posicionada | >róxim representação da Ressurreição, ela adiciona sentido ao Cristo, que se transfigur enunciador dos ditos. É possível pensar em complexas interações texto- “Imagem re Jaci ao arranjo editorial dos livros religiosos. A estampa, ao ser confeccionada pel gravura da Imprensa, tinha seu destino previamente definido, submetido Je dênci escrito. Interrompendo-a, na edição, mobilizava do leitor outra forma el ruiç decodificação, numa temporalidade distinta, orientada por trajetórias oculares horizontais, que são arrebatadas subitamente. O artista de Santana objetivou com renovando, parte dessa dinâmica. A apropriação pode ter se dado num entre aiia

|

José Newton

Povo, o: nome coletivo difícil de definir, porque dele se formam idéias diferentes nos diversos lugares, nos diversos tempos e segundo a natureza dos governos (...). Encyclopédie

imagem para o texto e vice-versa, deslocando a atenção de Xavier Carneiro ora E

linearidade da disposição dos caracteres alfabéticos, ora para o imediatismo arreb: da imagem.

sa

Não estou afirmando que o pintor sabia ler latim, mas que se relacionava « língua ao transcrevê-la, ao observá-la no missal e ao ouvi-la nas cerimônias. pe caminho para fecundar esse tipo de investigação é não projetar, para a epoc 488 distanciamento que hoje temos em relação ao latim.

Considerações finais Ao fim dessas breves páginas, é notório que muitas possibilidades de analises toh abertas e não repercutidas. Gostaria de lançar uma última. Como foi apresentado, missais adentravam a região mineradora em constantes levas, exigidas pelos represente!

Coelho Meneses

p Artesãos, homens e mulheres, teceram, edificaram, forjaram, curaram, enfim,

nanufaturaram e viveram construções sociais no Reino português e em seu além-mar. A 4identidade e a inserção social desses personagens na sociedade portuguesa dos séculos V m e XIX são questões abertas para os estudos históricos. Problematizar a emblematização

qu que q bus dar visibilidade ao trabalho e à identidade do oficial mecânico em Lisboa e em pau ha Gerais no transcorrer deste espaço temporal é o objetivo do autor e deste texto, que RED esta para refletir parte desse grande objeto de investigação. Em Lisboa, como em qualquer outra cidade do Reino, nas vilas e nos aglomerados Por Rs das Minas Gerais do período colonial, a banalidade dos serviços essenciais evivência só pode ser aquilatada em sua importância social se o foco com que se

ob Servam

tais ações for deslocado para o trabalho dos homens e das mulheres que fornecem

da Igreja. Os velhos, entretanto, continuavam compondo os acervos das irmanãa des, COI fica claro no enunciado de seus inventários, bem como na conservação dos livr | Suas ilustrações continuavam, assim, participando do vocabulário iconograt fi O que motivaria a escolha de um modelo em detrimento dos outros? Por que os!x % a a dos três locais analisados preferiram a Ressurreição de Joaquim Carneiro da Silva? (ç E: no

viços e produtos necessários à vida. Historiadores só perceberão a dimensão do trabalho a “a sua atenção como investigadores se ativer à organização grupal desses Ao es manuais e, sobretudo, se, como intérpretes dessas vivências, forem sensíveis à necessidade desses indivíduos em buscar uma construção social que os inclua na vida Só é possível entendê-los como seres civis, embora não sejam, naquele mundo deasurbes. hi crarquias rígidas, cidadãos. Participar da vida da cidade e do mundo que envolve sua

sobre escolhas estéticas historicamente motivadas. Ou seja: preterir estampas erÉ mb S a de outras revela o gosto daquela sociedade, suas predileções. A escolha torna: E ea

inte edificação e sua permanente manutenção, e, por outro lado, ter consciência = Sa participação, dá aos oficiais mecânicos a dimensão de serem membros civis dessa

E

ador

mais um importante elo que significa a arte tendo em vista o seu ambiente criador

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Sanização humana. Sob esse olhar, clareia-se a cena onde atuam seres históricos, desvelam-

402

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATI àh

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se ações dinâmicas e importantes, evidenciam-se personagens centrais que não ars figuram complementarmente no cenário da História. “A E comum a evidência do mundo do trabalho nas sociedades antigase d O/AnE Regime pela lente da exclusão, pela classificação tipológica dada a esses seres enm

«eus privilégios e evidenciá-los no texto de uma lei, nas insígnias de uso público, na

posição de um cortejo ou na representação de uma solenidade profana ou religiosa, Em fisboa, no momento do pós-terremoto de 1755, os regimentos dos ofícios e das bandeiras

| essas últimas, as suas representações mais visíveis — são reconstruídos e reedificados , “extinguindo e normalizando funções, dando luz a atividades mais prementes e jogando à

Cars =

“sombra aquelas que perdem aderência ao real daquele espaço histórico.? É esse o dinamismo

dessres es ent home Mespar 1378 moticque cícibal o had rep se ore dê s emmanum espaço de desigualdade açãns. o e de ipaçãotal, exer os tra uais têm importante pape DE a ES “a

"que se percebe em documentos que podem elevar um mestre de ofíc io mecânico à função reconhecida, ou ext

inguir uma profissão e obrigar seus oficiais a serem incorporados a outro corpo profissional, assim como uma diversidade de mudanças regimentais a que

O oficial mecânico e seu trabalho - em Lis boa, Sabará, Vila do Príncipe, Vila Ric São João d'El Rei, Tejuco ou em outros espaços contemporâneos, mas sig

distin tos — ent com uns aprreesesinta emm sua s ens reaões dim lidade pars tichisula tórres icas,e ger emb aisoraque conos muiat ngue alm

Bada corporação faz, frente a contingências.

nificativamé

de opçãcar o ade

"|

Oprimeiro caso nos atesta o decreto régio de 9 de maio de 1 776,* quando o mestre “daD Silva Gaião,o são responsabilizados,o Mo junni tam cient oiecocom mparo ad sar edgen fitodamor de m JoséoMonteiro de

NE|

casos específicos (como o de um ourives distinguido como cidadão pelo rei, em Coiml

Carvalho, 'com exercício de engenheiro”, e com o “arquiteto geral das obras públicas”, o

ou o de um artífice da imaginária barroca de Minas), ou, de outro modo, fazer soci aisia que histór Enrvol geralde das pesvem À opç soa,s com ãoe fic uns aquar i é rest ficarito r nesaosa ent Eon tet end isntoé e disNR ime cussãocodas ise a GuiStru

siprão Reyna co Manuel dos Santos, pela compra dos terrenos particulares ao norte da RRfaráter novatécda nicoPale ma, visfia da con andnça o adaseuCâmala menega arargaagr to m e per dson oagens de CR segmentos distintos da de

interpretando o particular, ora buscando explicações generalizantes, sujeito e disp st assumir as incompreensões, impossibilidades e incapacidades pessoais de cadaeia uma des opções.

à sociedade lisboeta envolvidos na sua reconstrução. No segundo caso, há inúmeros exemplos

|We remanejamento de atividades mecânicas entre os ofícios, de extinção de atividades, de permissão a oficiais fora das normalizações, de adaptações nas com posições das bandeiras Pede suas representações públicas, e muitas outras situações inerentes a esse dinamismo

A condição de oficial mecânico em Lisboa situa indivíduos em patamares mais

e sociais distintos, considerando-os, às vezes, como peças sociais primordi is, outras v como párias sociais entregues às mãos da polícia. Como é comum para uma socied

à que afeta a cidade e as suas atividades econômicas. Fr

segmentada típica, valores profissionais reconhecidos não significam, em co; espond T direta, mérito que eleve socialmente um indivíduo. Esses homens compunham um cor

Dé Bandeira é uma associação de vários ofícios que configura a marca de individualização dos mesmos nos » atos públicos, caracterizada por um estandarte onde se pinta a ima gem do santo padroeiro. Esse estandarte = acompanhava os oficiais em suas apresentações públicas, not adamente na procissão da cidade (Corpus Christi), quando eles apresentavam construções e insígnia s —- chamadas de castelos e de invenções — “Conferindo maior pompa ao desfile. O fato de “ter bandeira” dava distinção aos ofícios e a seus oficiais. E Nem todo ofício é “em

distinto que, dotado de autonomia própria, é necessário na composição do todc so com as funções políticas e sociais a ele designadas. Participam da hierarquia nce como natural, e, mais que dela participar, buscam evidenciá-la em sua aparênc E

bandeirado” e uma bandeira integrava vários ofícios, de acordo com a proximidade

necessário aos grupos laborais mostrarem-se ao corpo social em sua posição dentr convenção construída culturalmente e esperada socialmente. A identidade desse sua inserção na hierarquia da urbe são, assim, visualizadas nas situações po ssh E |

— deles No arruamento, a afinidade profissional ou, simplesme nte, as boas relações entre seus mestres. As

Vendeiras têm, também, como as Corporações de cada ofício, Regimentos que nor malizam a sua inserção pa Cidade. Para mais detalhes ver MENESES. Artes fabris e serviços banais...; e SANTOS, Georgina Silva dos. Ofício e sa ngue. A Irmand ade ede São min stoJorge e a Inquisição na Lisboa moderna. Lisboa: Edições Colibri/

na as Erico AA da mente a RR 5 a a de form a dinâ mica, atingem e perdem PetA importância n e legalmente se reprat estruturam para funcionarem como um novo corpo profissional? Individualididac adeE “a a são valorizadas e alçadas à condição particularmente distinguida. Corporações: e individ

DE Livro xvim de consultas e decretos del-rei D. José 1, £.220. OLIVEIRA, Eduardo Freire de. Elementos para Eulistória

do município de Lisboa. 17 Tomos. Lisboa: Publicação da Câmara Municipal de Lisbo a, 1885E. 1911, p. 547. A partir daqui, essa obra será referenciada de form a simplicada pelas

letras iniciais EHML. ol Ustrando tais Situações podemos elencar dentre muitas poss ibilidades um Despacho do Senado da | E E de 20 de novembro de 1775, que remaneja o comércio de chapéus entre sirgu eiros e

“a

Re.

1. Ver MENESES, José Newton Coelho. Artes fabris e serviços bana is. Ofícios mecânicose as: Câmar: pe

do Antigo Regime. Minas Gerais e Lisboa (1750-1808). Niterói: Universidade Federal Flt mine nse, “s Doutorado, 2003. 2

2. Em Lisboa esse corpo profissional se institucionaliza em inúmeras corporaç ões de

a

Er

essas corporações não se constróem oficialmente. Nesse espaço colonial, o corpo dos oficiais € a ic; É labor segue p parâmetros costumeiros do mundo em corporações esta po rtuguês, sem se edificar h marcadas.

403

ericulam interesses, adquirem e perdem prerrogativas. Sobretudo, lutam por assegurar

possuidores do defeito mecânico, povo, terceiro estado. O presente texto fund air enta á uma pesquisa maior que os percebe em sua importância intrínseca que, comumenr abordagem política da História social ignora, negando a possibilidade de ex. rcíci ei o cide a

4 - AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

a

ço

» proibindo os últimos de comercializarem produção alheia (EHML, pp. 537-8); o Assento de de 27 de Maio de 1775, que separa os ofícios de sirgueiros de agul has e sirgueiros de chapéu,

Ren as contendas” entre eles (EHML, pp. 464-5); a Consulta, de 16 de dezembro de 1773, que net FR tendas entre o ofício de pasteleiro e os contratadores e rendeiros das cisas das cames e os

ma

e

5 que devem ser tomados para satisfazer aos oficiais e aos controladores do uso da carne como

“Para RE ma (EHML, pp. 413-6); o Aviso do marquês de Pombal à Câmara, ordenando lice nça especial in» ação de Paulo José da Rocha “para vender todas as obras que fizer, de qualquer qualidade que Sejam (EHML, pp. 440-1).

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE Ar

“e 4 - AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

405

mt

“ae sob pena dele juiz pagar quinhentos réis para as obras da câmara”. Os pedreiros

|

“2d Assim é, se lhe

É Ear cada um deles, um castelo nas mãos “bem obrados assim como o costume da ade Lisboa”. A descrição pormenoriza, além desses, outros exemplos, e, com as

| Pira

E as e encenações, todos são obrigados a levar “ricas bandeiras”, que identifica m,

inguem e torna ainda mais cara a participação dos ofícios e suas bandeiras na festa. Eb E — Qcortejo do Corpus Christi em Lisboa é, como percebido na citação acima, exemplo a as demais procissões das outras cidades portuguesas, e, na Corte, o event o é revestido

O cortejo da procissão de Corpus Christi, que tem, des de o século XVI res próprio e específico para as principais cidades portug uesas do Reino, de min: a | apresentação de cada bandeira, ou de cada ofício, descreven do alegorias e ES

je pompa e teatralidade e “a imponência e a suntuosidade excedem aí tudo quanto era

representações a serem desenvolvidas no decorrer do desfile, bem como a ordem:

re imaginar”.º Regulamentado desde 1517, data do Regimento da Procissão de Corpus

elas devem se apresentar A encenação decorrente desses propósitos regimen ais : inequivocamente, uma reflexão interpretativa sob re a importância e o papel d desses ofícios, se não na vida da cidade, pelo menos no imaginário soc ial que se cor acerca deles. Este texto não tem a pretensão de atingir esse objetivo complexo, mas

Ehristi, de Lisboa, o evento obriga a participação de todos os oficiais mecâ nicos nos »guintes termos:

Que todos os juízes e mordomos dos ofícios da festa do Corpo de Deus se façam presentes

fazer desse momento e de outras representações alegóricas um ponto de partid:

“com tudo o que a seus ofícios pertencer. E que sejam na Sé com eles as sete horas para

pensar a emblematização da identidade laboral e corpor ativa dos ofícios mecâni o

mundo português. Ee Para se ter uma clara idéia do cortejo de Corpus Christi, dentre as muits s aleg a citação de algumas poderá ser relevante para O nosso propósito. Ass im, tôman ton EA

Regimento da Procissão do Corpo de Deus, de Coimbra, determina -se à os for read

carniceiros, telheiros, caeiros e lagareiros da cidade e de seu termo representarem

aj

(dança de judeus), devidamente caracterizados e com sua toura. Aos cordoeir os, é odreiros e tintureiros (todos da mesma bandeira) é responsabilizad o a ap resenti “quatro cavalinhos fustes bem feitos e pintados”: aos barqueiros obriga-se rep a resen de “um São Cristóvão muito grande com um menino Jesus ao pescoço, tudo muito corrigido”; os oleiros devem apresentar uma dança de espadas com dez homens dispostos e que bem o saibam fazer”, e, além disso, “um rei com sua cor oa eT vestidos, com tamboril ou gaita”. Sucessivamente, no cortejo “os alfaiates e al

tecedeiras de tear da cidade e Termo são obrigados a fazer um imperador co:

imperatriz com oito damas (...).Eo Juiz do dito oficio será avisado que não seja em m ne

a 6. As terminologias emblema, alegoria e atributo terão aqui o sentido dado por Jean Chevalier Ai emblema “é uma figura visível, adotada convencionalmente para representar uma idéia, um Ser hisice moral : a bandeira é o emblema da pátria, a coroa de louros, o da glória.” Já alegoria “é uma

hi

que toma com maior fregiiência a forma humana, mas que por vezes toma a forma de um

animaié

um vegetal ou, ainda, a de um feito heróico, a de uma determinada situação, a de uma virtude

ou a(

sêr abstrato. Por exemplo: uma mulher alada é a alegoria da vitória, e uma comucópié:a abundância.” Por fim, atributo “corresponde a uma realidade ou imagem que serve design

um personagem, uma coletividade, um ser moral: as asas são atributo de uma sociedade é aérea; a roda, de uma

companhia ferroviária: a maça, de Hércules; a balança, da Justiça. a acessório característico para designar o todo.” CHEVALIER, Jean. “Introdução”, in CHEVALIER, d8 GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras ”

números. 20º ed., Rio de Janeiro: Jos é Olympio Editora, 2006, p. XVI. 7. Trancrito em LOUREIRO, J. Pinto. Casa BR dos Vinte e Quatro de Coimbra. Elementos para sua ea Coimbra: Edição da Biblioteca Munici

29.

pal, Separata do Arquivo Coimbrão, vols. HI e IV,

1937, PP

ME

sairem com a procissão. E que todos os oficiais de cada ofício acompanhem sua bandeira

á eoficio.”

a)

Regulam-se alegorias de cada bandeira, formas de apresentação, autos teatrais , judengas (dança de judeus), pelas (dança das espadas) e segitórios (figuras armadas de setas), o que

evidencia a tradição medieval da festividade. Em uma decisão da Câmara de Lisb oa, de

31 de maio de 1760 há a determinação de como os cavaleiros das três ord ens militares evem acompanhar o cortejo “com seus mantos capitulares” e sem ningué m entre eles.!º Às procissões e o gosto dos portugueses por elas são, aliás, marcas culturais iden titárias jue chamam a atenção de todos os estrangeiros que visitam Portugal em várias épocas e, Specificamente, no final do século XVIII. O catolicismo teatral se eviden cia em vários dess s cortejos que se realizam no decorrer do ano. Em Lisboa são qui nze as procissões | s com a participação maior ou menor dos ofícios no decorrer do calendár uiene io litúrgico, ph

é em quase todas elas, ao sentido religioso se acresce um aparato e uma simbologia tivica, em que religioso e profano, sacro e burlesco se entrelaçam sem limites claros.” Na

Quaresma, a Igreja de Lisboa promove oito procissões de caráter fúnebre que impressionam Carl Ruders, pastor protestante sueco que visita a cidade em 1798.:2 Passada a Páscoa, ; =

8. IGLÉSIAS, Fátima. Corpus Christi. Lisboa: Quimera, 1992.

fo” « e Eimento da Procissão de Corpus Christi de Lisboa, 1517”, in IGLÉSIAS. Corpus Christi 7" Despacho da Câmara de Lisboa, 31 de maio de 1760”, in IGLÉSIAS. Corpus Christi, Anexos. O texto — Stado de Fátima Iglési as analisa a produção de dois autos de Gil Vicente de que não se conhece o texto, Mas que há comprovação histórica de suas encomendas e do pagamento que o teatró logo recebeu

por “les. Um desses autos foi representado na procissão de 1511. Lembre-se que Gil Vicente, além de | * teatrólogo e ator, era ourives e o estudo da autora suspeita que tal encomenda tenha sido feita à b Ein ção co cu pereld an mienten 2 GLÉSIAS. Corpus Christi, Eae



E SANTOS, Piedade B.; RODRIGUES, Teresa & NO Srangeiros, Lisboa: Livros Horizonte, 1996, p. 82.GUEIRA, Mar panico fi sbonidA ea

o

==

n

O

Emblemas: a identidade exposta

=

404

406

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE 4

= 4 AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

começa-se, segundo o mesmo visitante, o rito acentuado de peditórios preparatér:

a procissão do Corpo de Deus que acontece a 4 de junho.'3 A respeito

Beckford, ex-negociante e membro da Câmara dos Comuns em Londres:

d

“enlados e dotados de certa autonomia '

Hicula

causa do repicar dos sinos, do rufar dos tambores e do toque dos clarins, que prineir logo de madrugada em honra do pomposo festivo do Corpo de Deus”. 14 AA prociss prnçies

E

«ánomos que a compõem.'é

e A teatralização social, quer na publicização de comemorações civis e profanas, quer e festejos de caráter religioso e litúrgico, no espaço das Vilas de Minas Gerais, no | ariodo em tela, é, de forma similar, legitimadora da hierarquia social. Uma hierarquia e é ainda mais vincada pela diferenciação acentuada daquela sociedade desigual, e la marcante presença do homem escravo, e que nos apresenta reconhecimentos e definições

início na Igreja Patriarcal (São Vicente de Fora), e, presidida pelo Patriarca, acomr |

de personagens nobres, de figuras mitradas e de figurantes de várias categorias dr percorre, demoradamente, tortuosas ruas com janelas e balcões decorados em divas: * md)

f

público. Nas palavras de Beckford, o cortejo é “uma das mais teatrais pe spec

Et

alguma vez contemplei (...)”.15

de lugares sociais, também no que se refere aos oficiais mecânicos. De resto, esse jogo | anresentativo hierárquico parece ser uma realidade clara em outras áreas da colônia [ Rio esa na América, tendo os centros urbanos como o cenário ideal para tal. Como nos disse István Jancsó, caracterizando Salvador, no final do século XVIII, a cidade “é o grande a (co onde cada qual reitera sua posição, seu poder e seus privilégios”, e, ainda seguindo

Ad

de f da | Não é, portanto, apenas a procissão de Corpus Christi que mobiliza os ofícios da cidade. Em várias outras procissões e ocasiões solenes são eles chame:

participar de forma a conferir representatividade e teatralidade a cortej e os solenid

caso não cumpram com as obrigações regulamentadas ou acordadas, pe gam m perdem prestígio no seio do grupo social. Também quando há touradas associs

on esmo autor, “isso se dá de mil formas: festas, procissões, vestuário, cadeiras de arruar. fude é simbólico, tudo visa a afirmar até a exaustão a identidade real ou presumida do E Do tador”.'º

festejos, tanto em Lisboa quanto em Coimbra, pelo menos, são os grêmios de responsabilizados pelo fornecimento de touros a servirem na praça.!é Toda essa teatrs

motivada por uma comemoração litúrgica acaba por se transformar em um espa: manifestação das identidades corporativas e dos vários segmentos da socie dade, al possibilidades para eventos estimuladores das sociabilidades entre grupos, como. saraus e festas populares. a

A permanência dos festejos populares alusivos ao Corpus Christi em Portuga

ter sido uma realidade até início do século XX. Em Penafiel é viva até meadosdo 5 passado a tradição do “baile dos sapateiros”, que ocorre no dia da procissão de

Christi, como uma festa de “desfeita”, ou seja, fora do espaço religioso e das

sok

regulamentadas pela Câmara, como uma manifestação da identidade corp prativa, € a qual ocorriam autos com música e danças que elogiavam o trabalho do o A visibilidade dos ofícios se adere à tipologia tradicional que se con

sociedades do Antigo Regime. A representação social que se busca nos atos: pú tal aderência de forma e realidade. Se formalmente buscam-se constituiçã es de « E

E

E “AÍ reside a importância dos rituais nesse tipo de sociedade: eles legitimam pelos idos em geral, e pelo olhar, em particular, o equilíbrio social dos vários corpos 1] O 3

dor

Rossio, onde o séquito acaba por dispersar, após contornar várias vezes aquel t

em equilíbrio, na prática da evidência : E

E o Pa resentativa a delimitação desses corpos, didaticamente, hierarquiza a visão pública

mes

período de maio a setembro de 1787 em Lisboa, assim se refere: “Mal pude

407

* Também na Lisboa setecentista a identidade presumida de cada um que se fazia

representar nos cortejos diagnostica o seu estatuto diante da cidade. Demonstra visualmente

ha cena vivenciada em público a individualidade de um saber/fazer e a identidade de um

corpo profissional. Há alteridade na percepção coletiva do organismo da cidade e identidade dos corpos diversos que a compõem — incluídos aí não apenas as corporações de ofícios mecânicos, mas todos os vários corpos institucionalizados da sociedade — na visualidade Representativa que materializa a ordem objetivada. O estatuto de membro da cidade que é “a corte de um reino e de um vasto império é, assim, dado pela evidência visual da

Tepresentação hierárquica que identifica cada ofício como parte dela. Ser membro da

Cidade é, seguramente, estar, de alguma forma, incluído no seu viver/fazer. O estatuto Wesses oficiais, portanto, não é apenas o da exclusão social marcada pelo “defeito mecânico”,

Juma vez que as representações sociais se aderem sempre a realidades objetivas configuradas.

e

18. É vasta a biblio grafia que trata ou considera relevante a representação hierárquica nas sociedade s do )

a)

13. A Expressão “Corpo de Deus”, embora aparente uma incorreção conceitual, na medida em uma idéia, era comumente utilizada para designar o cortejo de comemoração do Corpus

que Chrt

Antigo Regime. Interessantes para o nosso caso são vários textos, especialmente, o de MONTEIRO,

Nuno G. “A sociedade local e seus protagonistas”, in OLIVEIRA, César (dir) História dos municípios e do

ela será aqui utilizada para respeitar o acervo documental e não pretende traduzir nenhum 6

poder local [dos finais da Idade Média à União Européia]. Lisboa: Círculo de Leitores, 1996, pp. 29-77;

religioso.

14. SANTOS et alii, Lisboa setecentista vista por estrangeiros, p: 82. 15. SANTOS et alii, Lisboa setecentista vista por estrangeiros, p. 82.

16. Loureiro nos dá notícias de documentos da câmara de Coimbra are

XAVIER, Angela Barreto & HESPANHA, António Manuel. “A representação da sociedade e do poder”, in OSO, José. História de Portugal. O Antigo Regime. Lisboa: Editorial Estampa, v. 4, 1998, pp. 113240; FERNANDES, Paulo Jorge. As faces de Proteu. Elites urbanas e o poder municipal em Lisboa de

e.

entaro acompanhe"

finais do século XVIII a 1851. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, Col. Lisboa, Arte e História, 1999: e,

Procissão do Corpo de Deus, na cidade, até a década de 20 do século XIX. (LOUREIRO. Gasa ms

e Quatro de Coimbra, pp. 56-7).

ne

ea

17. MIRANDA, Abílio. O baile dos sapateiros na festa de Corpus Christi. O Penafielense, Fc a Ga 1942.

q

para o ambiente específico do modelo dessa sociedade, tendo como padrão as cortes, ELIAS, Norbert.

ne

O.

à sociedade de : Corte. 2º ed., Lisboa: Editorial estampa, 1995.

pa ? JANCSÓ, István. Na Bahia contra o Império. História do ensaio de sedição de 1798. São Paulo/Salvador:

CITEC/Editora da UFBa, 1996, p. 103.

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATi Àr

KBTE 4 — AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

Não só os atos litúrgicos cristãos servem ao teatro dessa ordem dada. As solenidcivis comemorativas de eventos e as laudatórias de personagens da realeza sáon me

— doseuministério o muito que lhe são estimáveis os interesses do mesmo povo, tomando na sua proteção a Casa dos Vinte e Quatro que o representa, se porá nela o seu retrato com a epígrafe que determinar o nosso diretor, para que por este meio ficar indelével a “memória da nossa gratidão, assim à real piedade de Sua Majestade Fidelíssima, como

de exposição pública dos vários estatutos sociais e da ordenada economia: da i Como essa economia é o espaço da ação primordial da Câmara— pois esta é a do Senado dos homens-bons, o símbolo da autarquia municipal no Antigo Regime port

aos bons ofícios de seu fiel e incomparável ministro. Do que se fez este assento que todos

—, a demonstração de seu funcionamento deve, também, ser um primado começ |

assinaram. Lisboa, 15 de abril de 1764. O escrivão do povo que o escrevi e assinei. Tomé Lopes Manuel Rodrigues da Costa. (Seguem-se as assinaturas dos mais deputados da Casa dos Vinte e Quatro).

elaborado e organizado sob sua intervenção.?º São esses momentos, portanto

ideal para a didática dessa economia e desse poder, e, assim, as corporações de as bandeiras, bem como a sua representação na cidade e na Câmara— a Casa dos' Quatro e os seus procuradores — disputam no ambiente plenário de suas dis Se sê 4 primazias e os privilégios que possam tornar visual a participação deles nessa “orde economia”. Então, usar insígnias, como a vara e o espadim, ou se assentar em cad junto à mesa dos vereadores desembargadores, mesmo que essa tenha espaa ist distinto dos assentos dos nobres, é muito mais que uma busca igualitária, de« Vc | de status individual. É, enfim, a afirmação de inclusão pessoal e corporativa na ao estabelecida. pa O projeto e posterior execução e inauguração da estátua equestre de D. José Praça do Comércio, em 6 de junho de 1775, é cenário e cenas que nos mostram tal prir do visual e do parecer ser nesse mundo de performances a apresentarem de forma didãt uma ordem dada. A despeito de existir um projeto anterior para tal monumento, realiz pelo engenheiro militar Eugênio dos Santos, e modificado pelo desenhista e escultor Joz Machado de Castro — que acaba por realizar o projeto — é a Casa dos Vinte e Quati reivindica a prioridade da idéia de erigir tal homenagem. Em reunião com a preser

vedação onde se inscreve, em latim, a inscrição “A nuvem não cobre o sol”. No dia 22 as

corporações de ofícios mecânicos se encarregam de começar a levar o carro com a estátua protegida para a praça e o cortejo dura três dias e meio, sendo acompanhado por forças militares e grupos de música. A instalação da estátua no alto do pedestal termina no dia 27 e, então, começa-se a preparar a praça para a inauguração. Seus edifícios, que não completamente

prontos,

foram

complementados

em madeira

por ordem

de

Nessas construções iconográficas, as móveis são aquelas que têm maior relevância

Emliboa

Pelo menos é o que nos indica a documentação materializada em peças e

e Pastuções que permanecem no tempo. Segundo Langhans, em Portugal “nunca as Corporações chegaram a enriquecer a tal ponto que pudessem ostentar a sua magnificência mk edifícios € outros monumentos”.?* Sabemos que a Casa dos Vinte e Quatro — a

na

et



servido a assinar-lhe; e, porque o Ill.=º e Ex." Conde de Oeiras, seu ministro deF Este ; não só tem promovido as mesmas providências, mas tem mostrado em toda a conno

é. Resolução da Casa dos Vinte e Quatro, de 15 de abril de 1764— EHML, pp. 465-521.

-

21. Resolução da Casa dos Vinte e Quatro, de 15 de abril de 1764— EHML, pp. 465-521.

monumento aonde irá se assentar, na Praça do Comércio.? O ritual de colocação da estátua no monumento movimenta as corporações e a cidade, desde o dia 20 de maio, “quando ela é colocada em um carro especialmente construído para tal e coberta por uma

Pnid ais.

um grande número de sábias e justíssimas provi dência clementíssimo soberano tem dado para a manutenção e alívio do fiel povo desta capital, se lhe devia pedir licença paré a 8 lhe levantar uma estátua, a expensas do mesmo povo, em uma das praças € ue fos

ha

artísticos do escultor e espera a construção do

dignilidade de cada um deles, além, é claro, da homenagem ao santo dei invocação dos

devendo perpetuar o seu reconhecimento ao paternal cuidado, com qe oDS

do Antigo Regime em Portugal.

mesmo local recebe os acabamentos

me tros de madeira enfeitados), construídos de acordo com o tipo de festejo. Nessas nani estações busca-se dar identidade a cada grupo corporativo e exaltar a honra e a

Assentaram uniformemente os vinte e quatro deputados dos grêmios desta ci fade

23. II

a ns

area | Abucd

fundida no Arsenal Real do Exército, em uma só peça, em 15 de outubro de 1774. No

| ara ser comemorado por três dias pela população da cidade. Esse jogo de aparências incorpora as representações em pinturas e esculturas que &E mpanham cortejos, em bandeiras (estandartes), em invenções (alegorias) e em castelos

ly

de gerência da economia da cidade e seu termo, desempenhado pelas Câmaras é umam

as despesas e compromissos nos três dias de cerimônias públicas e de festas. A estátua

Seb; astião José de Carvalho e Mello, então, não mais o conde de Oeiras, mas o marquês de Pombal. Só no dia 6 de junho se descobre a escultura e “o sol” aparece em sua plenitude

na conservação das prerrogativas desta Casa, aumento e alívio do povo desta Capite resolução explicita que s

rh te 20. Nuno Monteiro (em “A sociedade local e seus protagonistas”) chama a atenção que essa

E a primazia é concedida pelo conde de Oeiras e pelo rei à Casa dos Vinte e Quatro, jue, nos festejos de inauguração, em 1775, assume através dos ofícios e das bandeiras

iram

108 eet todos os deputados da Casa, em 15 de abril de 1764, resolvem render esse “digno reconhecimento do “amor e fidelidade” dos grêmios corporativos para com o “clemen soberano”. Parece a eles “conveniente que se conferisse o meio de se perpetuarr reconhecimento” e que esse se estendesse ao “Tll."º e Ex.”º Conde de Oeiras que, dea! de seu ministério, tem dado repetidas provas de incomparável zelo que tem dob em A

409

de

ão

Edo: «Já então, marquês de Pombal foi, como queriam os Vinte e Quatro, efetivamente, colocada

Pedestal do monumento. No entanto, após sua morte, foi alvo de constantes atos de vandalismo e Eca » Sofrendo avarias que determinaram a sua retirada. Somente em 1833 ela é recolocada no

É. LANGHAN S, Franz-Paul de Almeida. As corporações dos oficias mecânicos. Subsídios para sua História. Lisbo à: Imprensa Nacional de Lisboa, 2 vols., 1943, p. 54.

=

408

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDAD AR

atE 4 - AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

representação dos principais ofícios — tinha sua sede em dependências do Hospital R

= do capítulo 5º que: “Debaixo da inspeção dos Mord omos fica a guarda, e cuidado de "m trato da bandeira, ou estandarte do Arcanjo S. Miguel para servir funções ressionais, e a eles compete chamar os homens que os devem levar nas mesmas procissões A a seus vestidos competentes”.? Naturalmente que os “vestidos com petentes” também

Todos os Santos, e que nenhuma corporação teve sede em edifício próprio, ou tenha m. construído algum monumento que homenageasse o exercí cio profissional. As aleg

privativos, e, mesmo nesse caso, fazem poucas referê ncias aos instrumentos rd

trabalhos.

:

averiam demonstrar a honra e a importância dos oficiais represent ados pela bandeira no

cl

cortejo processional.

A procissão de Corpus Christi é, no entanto, o esp aço cenográfico p imo rdialo manifestação identitária dos ofícios mecânicos e se tra nsforma em verdadeira “fesr:

| A igreja de São José dos Carpinteiros, em Lisboa, é a manifestação monumental

mais evidente da ornamentação e da simbologia heráldica dos ofícios mec ânicos.” A

trabalho (...) onde os ofícios mecânicos constituíam a parte mais espeta culare brilhante

E reia pertence à Confraria da Bandeira do Patriarca São José dos Carpinteiros e Pedreiros

Inácio Barbosa Machado, em citação de Langhans, e referindo -se às bandeiras ai |

de Lisboa. O templo escapa do terremoto de 1755 sem sofrer ava rias comprometedoras do

no tempo do reinado de D. João V diz que elas são levadas “à maneira de grand; pé

edifício. Ela traz os emblemas profissionais no topo da capela-mor e da capela do San tíssimo

u

suspensas por cordões de seda e ouro e varas compridas com remates e pontas de ou

[seiscentistas) — representando instrumentos dos ofícios em escudo ovalado, como é

que pendiam muitas e grandes borlas do mesmo metal”. E continua caract rizando-: Er ist

conveniente, pela regra heráldica, em uma instituição religiosa — e motivo s alegóricos ornamentais no

E

Estas bandeiras, sendo muitas em número, eram em igual no rico de que eram fabricadas

trazem um picão e uma enxó, encimados por um compasso. No frontão (fot ografias a seg

e no artifício com que se viam bordadas, sendo umas de dam asco, outras de bro a 0,€

ir), os motivos estão colocados lateralmente à porta principa l da igreja e abaixo de

muitas de bordadura de ouro; sobre o mesmo ouro represent avam em preciosas tarjas FR.



|

:

das forças de três ou quatro homens, que de quando em quando se revezavam pars

tolerar o trabalho que tinham em levá-las.”

ua

E A despeito do provável estilo literário da interpretação, a doc umentação regiment nos indica preocupações excessivas com os gastos e as possibilidad 7 es de cons: alegorias que mostrem a riqueza da cada ofício no ambiente público, o que press

ornamentações caras e ostentatórias naquele mundo de aparências tão naturaise esse

O Regimento de 1770, da Bandeira do Arcanjo São Miguel, prescreve em seu parágrs [o

Ed

25. LANGHANS. As corporações dos ofícios mecânicos..., p. 55. E. 26. MACHADO, Inácio Barbosa. História critico-chronológica da instituiçam da festa, pro E am, € 0) | corpo santisssimo de Christo, 1759.

a 2.

27. LANGHANS. As corporações dos ofícios mecânicos..., p. 56. Sobre o estandarte da Band race que está na igreja de mesmo nome, em Lisboa, existe um trabalho de análise artistico”

KEIL, Luís. A bandeira da Irmandade de São José dos Carpinteiros. Revista Municipal,

;

1947. Na Igreja de São José estão arquivados, ainda, insígnias, varas e documentos da €: E e Quatro, em sala/sede da agremiação dos carpinteiros e dos pedreiros, que até hoje patrocine

de “São José operE ário”,é em 1o de maio. ã

dois medalhões - que narram a fundação da Bandeira de São José, em 1537 (lado esquer do da

=

e circulos de ouro as imagens dos santos, que na vida exercitaram os seus ofícios mecânicos, ou de outros santos, a quem escolheu a sua devoção para seus singulares protetores. Eram levadas por homens vestidos com opas ou túnicas talares )erfilad: s de galão de prata; e algumas bandeiras eram tão grandes, e tão pesa das pelo muit ouro das suas guarnições, franjas e bordaduras, que para se moverem | necessitavam

A

porta) e a recuperação de avarias no frontão da igreja, no períod o pós-terremoto de

1755 (lado direito). Eles apresentam-se soltos entre inscrições latinas e fitas decorativas e são compasso, picão, marr ete, esquadro e régua, de um lado e compasso, enxó, martelo e

serra, do outro. Instrumentos fundamentais do trabalho de carp essas alegorias se apresentam em formas reais, mas não naturalistasinteiros e de pedreiros, , permitindo o objetivo

decorativo que as estiliza, simplificando-as, para evidenciar a natureza fabril das atividades

Ea ligação do santo invocado a elas.

O compasso é rico SXercicios profissionais. Orien te, O saber exato, Eos Dlicamente é marca

RE Fobre sua ponta a circunscrever um círculo, ao voltar a sua origem. Nor malmente, + aqui, no caso analisado, apresenta-se junto ao esquadro out ro instrumento de trabalho

E Carpinteiros e de pedreiros, que lhe faz composição simból ica: o compasso é o céue a —WEMtialidade; o esquadro, a terra e a materialidade. Esse conjun to (compasso e esquadro) “Enifica harmonia e equilíbrio, no Oriente e bons costumes e boa ordem, no Ocidente. O

z egimento da Bandeira do Arcanj o São Miguel”, in LANGHANS. As co rporações dos ofícios mecânicos. ma

2.

de representação na Casa dos Vinte e Quatro, que dava oportunidades iguais a todos elesaço

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dá,

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6.

“EBUndo Langhans: “é o único sítio onde, na cidade de Lisboa, se encontra representação simbólica de Um lo” ne pas E 5 e a Es corporações dos ofícios mecânicos..., p. 55). Em Estremoz, no Alentejo: , na Capela de São

E.

E

E

em simbologia e dessa forma é figura representativa de vári os Representa convencionalmente, tanto no Ocidente quanto no o rigor matemático, por oposição à fantasia imaginativa. do dinamismo construtor e da ação criadora dos homens — e aí

Sid sua força significativa para carpinteiros e pedreiros — e do ciclo de uma exi stência, ao e

: a 28. A Bandeira de São Miguel congregava em igu E ivreiros, sirgueêl ald ade hie rárqui 8 ca os ofíc ios sres de livrei s & o agulha, luveiros, sirgueiros de chapéus, conteiros, penteeiros,q fabricantes de fitas e galoe

fundição. Isso significa que nenhum dos ofícios era “cabeça” da bandeira, e que tinh am : + a E o E

exterior, de finais do século XVIIL.%! No interior da igreja, os escudos

mesa

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ão

4 ““ementos ornamentais alusivos ao ofício dos alfaiates no pórtico da sacristia. O autor deste teve autori zação

para fotografar tais ale orias. p &r Is aleg EÉ inscri GHA çãoNS.Lit:As corporações dos ofícios mecânicos..., p. 55.

“ER

ção

|

são latina no esquadro (JOSEPH-FABER-LAPIDARIUS) é exemplar da mensagem invo catória Patrono e laudatória do ofício.

sa

ornamentações, ao que nos parece, se restringem àquelas realizadas em capel:

471

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410

412

SONS,

FORMAS,

CORES

E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

ATI

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PARTE 4 - AS CORES

E O COLORIDO

DO MUNDO

ATLÂNTICO

413

compasso sobre o esquadro, como se apresenta na alegoria analisada, é sinal — como

convém ao local onde se fazem representar, um templo— de superioridade do espiri

sobre o material. A enxó, instrumento essencial dos carpinteiros, representada também de forma nã naturalista é símbolo do que age para a conservação da vida, significado seme ae do martelo que representa inteligência e perseverança na busca da verdade, A régGoa

instrumento de trabalho dos dois ofícios, é sinal de retidão e de aperfeiçoamento es om a se ao conjunto simbólico de peças e de santos para configurar a imagem de equilíbrio qq

ve

se quer construir.*º

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Figuras 2 e 3: Medalhão e motivos alegóricos, lado esquerdo. Fotos do autor.

Figura 1: Igreja de São José, Lisboa. Foto do autor.

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. 33. CHEVALIER & GEERBRANT Dicionário dos símbolos..., pp. 215-6, 287, 305; 430 € 5645..

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des: Medalhão e motivos aleg óricos, lado direi to. Fotos do autor.

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SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADEAmi ivo

CARTE 4 - AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO al

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Esse conjunto representativo tem uma função mediadora que for nece uma mensac

unificadora e corporativa desses dois ofícios, pela qual instru mentos de trabalhe« insígnias e dispositivos pedagógicos para criar uma comunicação da corporação er

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do santo protetor (também um carpinteiro) traduz uma demonstração de dinadi

diz aos olhos de quem vê sobre a realidade vivida por esses homens. Desvel am : sentidos e intenções que compõem o jogo de imagens típicas das sociedades do dE ti

medores sem mecanismos de receber suas dívidas e povo sofreria assim, em consegiiên cia, maior indigência, não achando quem lhe fiasse os gêneros de primeira necessidade “vendo impraticáveis os meios de cobrança”. Aqui, Câmara e Casa dos Vinte e Quatro exercitam claramente a responsabilidade de

que

defender o interesse dos representados — o povo e a cidade — com visões diferenciadas e concordantes em partes, deixando à clemência do rei a decisão final. Importante perceber

a tramitação desta representação” do juiz do povo e da “consulta” da Câmara ao rei para “verificarmos

E

a extensão da lógica representativa dos corpos vários da cidade. O juiz do

O valor simbólico dos instrumentos de trabalho, não apenas como alegc

povo, inicialmente tinha se dirigido diretamente ao conde de Oeiras, o poderoso secretário

representativa, mas como símbolo da necessidade e importância do trabalho na o de ne dos homens e da cidade, é acentuado por documentos que desvelam a busca de asseg ; que o oficial, mesmo se repreendido por alguma transgressão, tivesse a seguranc poder manter seu trabalho através da posse dos instrumentos que o permitissemna pré A este respeito o Senado da Câmara de Lisboa, instado pela Casa dos Vinte e Quat consulta ao rei, em 2 de setembro de 1767:

bastião José de Carvalho e Mello, que retorna a representação à Casa dos Vinte e Quatro, “solicitando que ela percorra os trâmites normais, via Câmara. A leitura da represent ação do juiz do povo nos é reveladora do preceito jurisdicional que rege a formalidade e a forma política de representação. As justificativas para o que solicita se tecem com “argumentações de ordem ética, moral e legal, e se fundamentam no sentido ético da

MM

“própria monarquia: o bem da república e a Justiça pelos quais zelava o rei. E Em Baependi, nas Minas Gerais, temos exemplo similar de emblematização de oficiais

E

Senhor, Propôs neste tribunal o juiz do povo desta cidade a representação inclusa, em que pondera o dano que experimentam os oficiais e mestres dos ofícios e artes fabris, em se proceder nas execuções que se lhes fazem, a apreensão e penhora na ferramenta e mais petrechos com que exercitam os seus ofícios, nascendo da falta deles o sujeitaremse a empregos e exercícios abjetos, sendo aliás de tão pouco valor, que apenas podé chegar o seu produto para as despesas das arrematações das mesmas ferramentas e Es a LE pelo que seria útil que nas execuções se lhes não penhorassem aqueles bens.

em templo religioso. Embora a fatura dos emblemas aconteça na segunda metade do Século XIX, ela nos remete a essa tradição simbólica e representativa, tanto dos ofícios

construtores do cotidiano, quanto do equilíbrio e da harmonia construtiva do homem no * Coletivo. Os elementos das alegorias da igreja de São José, em Lisboa, se fazem presentes | aquiem formas mais naturalistas: esquadro, serrote, martelo, prumo e compasso, encimados

Porum cetro. Mais evidente nesses emblemas é a ação profissional dos marceneiros e dos Carpinteiros, provavelmente, uma homenagem do escultor, o “vigário artista” Monsenhor

Marcos Pereira Gomes N ogueira, aos seus auxiliares e aprendizes, responsáveis, com ele, Se Ornamentação da Matriz de Nossa Senhora do Montserrat, um edifício construído no Século XVIII — iniciado em 1754 — e reformado e complementado no decorrer do XIX.%7

Pondera mais que esta isenção seria ociosa, a não ser seguida de outra que era| à

liberdade ou privilegio de não ser preso oficial ou mestre algum por dívida meramente

cível e de boa fé, por ser este procedimento que se pratica na falta de bens, inútil aos

credores e sumamente nocivo aos devedores que, impossibilitados por este meio de conseguirem não só os da satisfação da sua dívida, mas os do seu próprio sustento! a , A te: suas famílias, vêem estas a recair,.". igualmente que os presos, na últi ma ruína: 3 ]l +

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E famílias, elas têm valor ínfimo para o fisco e causam dano excess ivo aos oficiais.

traria, na sua prática, consequências nocivas ao mesmo povo”, uma vez que deixaria os

Regime que, de outro modo, têm heranças imemoriais e permanecem a config linguagens modernas e contemporâneas.

1

Quanto a estender esse privilégio a todas as pessoas do povo, outra requisição paralela do E. do povo, a Câmara discorda por lhe parecer “além de exorbitante de todo o direito,

meio social, na qual a linguagem simbólica dos instrumentos de uso cotidiano e d: Fo

profissional e harmonia construtiva e equilibrada. A atividade desses trabalhado re proteção da Igreja e de São José, a espiritualidade da fé e a materialidade do exerei mecânico contribuem com a ordem social, e as alegorias, cum prindo seus obj ot eri demonstram visualmente essa harmonia, materializam essa linguagem da aparência

preensão e penhora das ferramentas e prisão — a possib ilidade do trabalho e do sustento

Ei “A

415

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A apreensão das “ferramentas e mais petrechos” e a prisão do trabalhador E fiscalizado e associado aos ofícios representados pela Casa dos Vinte e Quatro, | a Câmara no decorrer da consulta, não são úteis e nem necessárias, pois além de tira E

Fa

COLA

|

J sm ai 34. Consulta da Câmara a el-rei em 2 de setembro de 1767. Livro VI de consultas e decretos do st Retb +» I, £223, EHML, p. 169-172. Ê



| 3 Consulta da Câmara a el-rei em 2 de setembro de 1 767. Livro VI de consultas e decretos do sr. Rei D. José Lts, EHML, p. 169-172. A representação do juiz do povo que deu origem à consulta se encontra no E Mesmo livro, à folha 224v., EHML, p. 172-174. F

ah

| de registro da Casa dos Vinte e Quatro, £.140.

SIMO “vigário artista” foi, segundo a tradição oral da cidade de Baependi, cunhado por Olavo Bilac Para designar o pároco escultor que exerceu suas funções na paróquia de 1870 a 1916. Agrad eço a Júlia Coelho de Magalhães Salomé Mangia e a Patrícia Felizalle Guimarães a coleta de imagens e de d S

ados para essa interpretação.

416

SONS,

FORMAS,

CORES

E MOVIMENTOS

ma

NA MODERNIDADE ATLANLIT ;: | Rd

PARTE 4 — AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

:

417

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Toda essa interpretação simbólica é chave especulativa para interpretarmos o

)

imaginário de um tempo que não é o nosso. Nada mais que isso! Pode ser que escultores

=

quisessem evidenciar apenas o seu trabalho, sem embutir significados outros em seu ato. pvidenciar a sua identidade pode ser o objetivo máximo do ato emblematizador.

Seguramente, NO entanto, os significados existem e são de tempos imemoriais. Interpretá-

los é exercício que permite aos leitores a crítica e a busca de novos sentidos. Os símbolos escapam às definições rígidas.

Emblemas da identidade corporativa e elogios do artesão

A

O cuidado metropolitano em regrar a teatralização dos atos festivos na Lisboa setecentista e a responsabilidade de cada corporação lisboeta na cena dos festejos é Contraponto interessante à falta de normalização para a participação regulada dos oficiais mecânicos nas festas emblemáticas da sociedade das Minas Gerais. Ao que se infere pela

documentação que memoriza tais festas e manifestações públicas, as incumbências

|

sepresentativas das camadas laborais nas aglomerações urbanas da capitania das Minas determinam-se e autorizam-se pela ação normalizadora e contingente das Câmaras,

cada necessidade de comemorar feitos. Ao cuidado dos Senados das Câmaras acresce-se,

E.

eclaro, a tradição portuguesa (e européia) e os costumes herdados no espaço americano,

ma

onde a participação dos artesãos se apresenta como essencial no teatro representativo

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di ind dinda E Levair A fuas Eibairo,

dessas festas.

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ape SoTto parti NOS cipaç moãost o dasestu do dasde Mary racama Del s Pri ateriz festa ore América , nae pela ,ºava-s populare e carac “partport de icipaugue çãosa,

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Biversidade étnica e às distinções sociais na Colônia”.4º Acompanhando a análise da autora

k,

flor-de-maio. O conjunto dos emblemas laborais traz o esquadro no nível superior (dilema :

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da lógica do conjunto lisboeta descrito acima), com o compasso emoldurando O e .

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inferior da alegoria. Prumo, compasso e esquadro designam equilíbrio construa os E : re na “ . : prad. prumo tem, ainda, o sentido de retidão espiritual, da verticalidade e da jusaçaica temp mo com clemência. Há o martelo que nos remete à imagem da força bruta (mal), US o AM AQE. destruição dos males (bem), como instrumento mágico da construção de felicid pe cetro, sinal de força e de autoridade, de capacidade de realização, encima 05) = E

4

+

|

múltiplos atores anônimos (...), sendo um hábil meio de diminuir tensões inerentes à

Os elementos escultóricos da ornamentação empreendida pelo pároco são ig os um nota por sua singularidade e pela qualidade do desenho. Em cedro e sem poli cromia, é 7 ornamentação foge aos modelos europeus e opta por represent a flora ar local, esculp ndo cachos de gravatá, acá, folhas de bananeira, de fumo e de “unha de boi”, cachos de: iva DAE

a

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4

|

que, inspirada por José Antônio Maraval, vê nos barroquismos das festas uma prática de

exercício de poder no espaço do absolutismo português, podemos verificar que de Recife ão Rio de Janeiro, passando por Salvador e chegando a São Paulo, as festividades contavam sem à participação bem-definida das camadas populares, e, dentre elas. dos oficiais mecânicos, não apenas na confecção de palanques, altares, infanta e AddeieR importantes, mas

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ambém na encenação do cortejo e na teatralização das cenas.*! Referindo-se aos

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MATTOS alegóricos, a autora nos lembra que: “A tradição foi, bem entendido, herdada de E

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Portugal, bem como as técnicas de construção, desenho e execução de tais carros alegóricos”: acresce .-“ = E , f E Atando que: O financiamento de sua construção ficava por conta das irmandades às Corporações de ofícios”“

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elementos, como a dispor da capacidade e do poder de realização dos trabalhadores

exercício decorativo da Matriz.*

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38. CHEVALIER & GEERBRANT. Dicionário dos símbolos..., pp. 432, 577 e 276-7, respectivamas,

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E — 40, E

|

ORE, Mary, Festas e utopias no Brasil colonial. São Paulo: Brasiliense, 1994,

41. DEL o

Festas e utopias no Brasil colonial, p. 15.

é Dir

42

|

Festas e utopias no Brasil colonial, p. 15. O estudo apresenta relatos de festejos, nos quais

de Recife E AE ;

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representativa de várias categorias profissionais nos cortejos, nas localidades

no Bl DEL PRIORE. Festas e utopiasJaneiro,

principalmente. +

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418

SONS,

FORMAS,

CORES

E MOVIMENTOS

4 - AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

NA MODERNIDAD E 1 à RE

inboral no cortejo. Ao descrever os cinco arcos que ornamentam as ruas, o narrador - um

Para o espaço setecentista de Minas é interessante perceber, como quer Júnia Fe “AA Furtado, que:

eb oeta que vivia nas Minas — acrescenta a beleza dos mesmos “em cujo artifício ajudou a mreciosidade do ornato, a arte e competência dos artífices”.*º Ao descrever as alegorias aos

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astros, narrando Vênus, nos remete a “um carro triunfante de feitio de uma concha, em

Todos os aspectos da vida cotidiana eram momentos ímpares de afirmação e reproduca;

meio da pompa, que garantia aos indivíduos seu lugar determinado, e do luxo y a maneira de tornar visível esta ordenação.*

cuia fábrica concorreram em igual propriedade a arte fabril e as cores da pintura”, Em “ado relato há constantes ressalvas à beleza dos ornatos e construções alegóricas, e,

q 1€ erg

HE

asnecialmente, elogios à qualidade dos arreios que paramentam as montarias do cortejo.

à! partir de um certo ponto há minuciosa descrição do desfile das irmandades leigas e dos É mãos que acompanham cada segmento da procissão e as representa. Não há citação de «orporações de ofício, como seria de se esperar em um ambiente do Império Português — como recorrente nos cortejos reinóis — e a participação dos oficiais mecânicos, provavelmente icontece como irmãos, filiados às irmandades representadas e caracterizadas como corpo à “associativo. — Apersistência da tradição que recorre aos oficiais mecânicos para a organização, a '

É

A autora completa:

ES

Eis a razão porque, desde o nascimento até a morte, todos os momentos da vida privad; pr a

1

e pública de um indivíduo eram cercados de um ritual que servia para rememorarE É] introjetar o lugar social e a função de cada um.“

Nas Minas Gerais, no período estudado, a despeito da força das irmandades, sa

que as corporações de ofícios não se estabelecem e não arregimentam os pares em

|

o



E E

setor de trabalho. Talvez advenha desse fato a dificuldade de se regular a pa rticip: cê oficiais nas festas, uma vez que os impedimentos de determinar-lhes represer

º

dificultariam também o cumprimento das regras. No entanto, parece que a tradição e algumas ações camarárias des

responsabilidades pelas alegorias dos festejos aos oficiais mecânicos. À € adereços e atributos é direcionada diretamente aos mestres dos vários ofíciosq te, assum,

o encargo, distribuem afazeres a outros oficiais e pagam as custas do empreendim

O relato do Triunfo eucarístico,* de 1734, já demonstra a tradição da partic dos trabalhadores mecânicos sem, no entanto, identificar a representatividade corpe

==

TEL

43. FURTADO, Júnia Ferreira. “Transitoriedade da vida, eternidade da morte: ritos fúnebres de: orros

Minas setecentistas”, in JANCSÓ, István & KANTOR, Iris (orgs.). Festa. Cultura e sociabsoctabi ameli

portuguesa. São Paulo: Imprensa Oficial/Hucitec/Edusp/FAPESB v. 1, 2001, p. 397.

ni

Importa

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feitura ou o financiamento de cortejos e seus fundamentos alegóricos é uma verificação que ultrapassa os limites do século XVII. Em Sabará, no ano de 1817, por ocasião dos estejos da aclamação de D. João VI, ocorrido na cidade do Rio de Janeiro, foram convocados os mestres dos ofícios mecânicos para “darem por si e seus oficiais uma dança para o urro”.” Os mestres de ofícios que se dispõem a organizar a representação arcam com que, repassadas à Câmara, obrigam a taxação de uma quota de 1.200 réis devida por cada um dos mestres de ofício da Vila. No entanto, os mestres de ofício alistados como milicianos no Corpo de Infantaria dos Pardos não se dispôem ao pagamento, alegando « que “milicianos não devem contribuir com fintas, taxas e outros encargos impostos pelas 3) da es k| Câmaras”.”” Por seu lado, a Câmara argumenta que eles não foram convocados ao E

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] a gamento como milicianos, mas sim como oficiais mecânicos “que em tudo devem obedecer à Câmara”, e como súditos que devem provar “amor e fidelidade” ao rei. O imbróglio Chega ao governador da capitania, que em ofício solicita mais informações à Câmara de Sabara.” Por seu lado, a Câmara o informa a seguir os detalhes sobre a ocorrência: que “101 Sempre de estilo e prática imemorial concorrerem todas as corporações com algum sina . sa: es ; Sinal demonstrativo do público júbilo e contentamento” nas festas reais e que era, assim a

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As cerimônias públicas eram ocasiões especiais, nas quais a sociedade se dobrava sobre vam si mesma, como espelho e reflexo, pois serviam para sua instituição e a expressa ava

l

419

festas e festejos no espaço histórico em tela poder ser vistos em CAMPOS, Adalgisa Arannbra! mineiras e missas. Varia Historia, n. 15. Belo Horizonte: UFMG, mar, 1996, pp. 19-.

7

“Entradas episcopais na Capitania de Minas Gerais (1743-1748): a transgressão formaliz & KANTOR. Festa..., v. 1, pp. 169-80; SOUZA, Laura de Mello e. “Festas barrocas € vida ec idianas

Gerais”, in JANCSÓ & KANTOR. Festa..., v. 1, pp. 183-95; ROMEIRO, Adriana. O enterro semanas

é E Co | = =

governador: festa e protesto político nas Minas setecentistas”, in JANCSÓ & KANTOR-Z5 500

309: PAIVA, Eduardo França. “Celebrando a alforria: amuletos e práticas culturais entreas mm e mestiças do Brasil”, in JANCSÓ & KANTOR. Festa..., v. 1, pp. 505-18; CHAMON, tarlã » nal “a

imperiais. Festas cívicas em Minas Gerais. (1815-1845). Bragança Paulista: EDUSE 2002. A 44. FURTADO. Transitoriedade da vida, eternidade da morte..., pp. 397-8.

45. Orelato refere-se ao opúsculo publicado em Lisboa, em 1734, de autoria de SimãoPe

A

e a solene trasladação do Divino Sacramento

da Eucaristia da Igreja do Rosário

provisoriamente, para a nova Igreja Matriz. O exemplar examinado é o editado por À

Resíduos seiscentistas em Minas. Textos do século do ouro e as projeções do Horizonte: Centro de Estudos Mineiros, 2 vols., 1967.

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:

em Mariana. Relatado por cronista anônimo, o texto narra minuciosamente as alegorias dos festejos, mas mal se refere aos artesãos que as confeccionaram. A e popéia da narrativa dura de agosto de 1747

Ro 4

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.

seu primeiro bispo, do Maranhão até a cidade mineira, bem como à “Entrada” de D. Frei Manoel da Cruz

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em que descreve as festividades da inauguração da nova matriz de Nossa Senhora do Pilar

:

Resíduos seiscentistas em Minas..., v. 1, p. 200.

4 E Resíduos seiscentistas em Minas..., v. 1, p. 241. texto do Aureo Trono Episcopal, outro importante documento sobre os festejos setecentistas nas Minas, se refere às comemorações da criação do Bispado de Mariana, e à narrativa do deslocamento de

1

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EMO,

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de 1748 e o texto foi publicado em Lisboa, em 1749. Cf. ÁVILA. Resíduos seiscentistas em

V.

.

CMS (COR), FT 43, fls.2-6.-1817-1822. Agradeço a sugestão dessa fonte à Thaís Nívia de Lima

o: € Fonseca. 5

AHMO/CMS (COR), FT 43, 1.3.

= ARMO/CMS (COR), FT 43, 1.3-3v.

420

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATA |

E 4 - AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

ms

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es TREM dever sagrado, pela Faustíss ima Aclamaçãoa do Nosso Augusto Soberano o Senh o

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João Sexto” que “os Mestres dos Ofícios Mecânicos” respondessem à conv ocação da Câm “para darem por si e por seus oficiais uma dança para o Curro”,2 como prometer:

de que cada um dos indivíduos concordariam com a devida quota” e que os miliciane negavam ao compromisso do pagamento. No ques Ta HA A sequência documental evidencia a decisão do governador! que obriga ao paga ne o e Sep a a a clara a ins mas

(...) está-se diante de um Estado que goza de uma grande autonomia, cuja preocupação — primeira e última é preservar o status quo e no qual o denominado terceiro estado devia

|

ale orias festivas R

comemorações civis no mundo português também na América, e,ese

E.

me : 5

dos ofícios, transformando o exercício fabril e seus trabalhadores em setores tutelados

dentro do quadro do absolutismo.” Em assim sendo, essas associações religiosas podem fer se tornado um espaço identitário importante para a transmutação de oficiais mecânicos em irmãos, em membros de uma fraternidade associativa religiosa com reconhecimento próprio, o que lhes daria uma possibilidade de estatuto diferenciado no corpo social. Dessaforma, as próprias irmandades podem, em Minas, ter assumido certa identidade

substanciada e que merecesse respaldo grupal, induzisse a atitudes individual

corporativa dos ofícios mecânicos que a elas se vinculavam, não exclusivamente, mas

negadoras da condição de artesão. Assim, buscar-se-ia fugir a responsabilida: identificadoras do trabalho manual para, em nome de um interesse financeiro, ass outra identidade funcional. Note-se que a atitude negadora, no caso referenciado, é g

com alguma divisão lógica, em que se associa a tradição devocional com o vínculo ao exercício manufatureiro. Assim, por exemplo, carpinteiros, marceneiros e carapinas tenderiam a se filiar à Irmandade de São José, o santo patrono dessas atividades. Acredito,

no entanto, que houvesse grande variedade, de região para região e de localidade para localidade, nesta questão que, entretanto, não é objeto do presente texto.ºº É claro que a tradição das bandeiras em Portugal induz campos de filiação corporativa diferenc iados

o que caracteriza a ação corporativa de oficiais mecânicos em nome de outra aa VIC

“us

também nas diversas regiões da colônia portuguesa na América.

As irmandades leigas podem também ter funcionado como uma vályt adems

para a identidade de muitos oficiais mecânicos. Junto com a busca de cargos o

podem ter se configurado em um espaço de ação do homem trabalhador que Ik

Ea

artesão uma condição civil diferenciada — como ocorria em Lisboa, com as corp

|

a 7

a uma condição social mais reconhecida pelos trâmites do poder local e das redes cliei que o envolvem.

e praça de touros construídos provisoriamente em área apropriada para ocasiões festh Bis, Ar

53. AHMO/CMS

24. AHMO/CMS

|

(COR), FT 43, fl.4.

(COR), FT 43, fl.5v.-6.

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e

dadrinhamentos, naturalmente se transformam em instrumentos diferenc iadores de

E

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o

BOSCH, Caio C. Os leigos e o poder. Irmandades leigas e política colonizadora em Minas Gerais. São Paulo:

JO.

uma reflexão sobre a questão das irmandades leigas é imprescindível o citado trabalho de Caio Boschi,

— Editora Ática, 1986, p. 41. 2» BOSCHI. Os leigos e o poder... p. 50. 2”. BOSCH Os leigos e o poder..., p. 55.

E, Local provisório para dispor animais (cavalos e touros) e fazer apresentações com eles; 2 pe

oe

nd víduos, para além da Indi atividade manual, que possibilitam aos oficiais mecânicos certa

bandeiras, Casa dos Vinte e Quatro e Juiz do Povo - nas Minas, com a inexistência des representações, outros canais civis se manifestam como aptos a elevar o oficial mecan

desmontados ao término da festa.

irmandades, serviços especiais, cargos, funções públicas, além de relações de amizades

de

parece claro que, à falta de uma representatividade corporativa que lograssaoe

56

Jeigo 5, podendo, inclusive, serem instrumentos de anulação dos interesses corporativos

reconhecidas. = A ocorrência acima nos remete a uma outra face da questão identitáriOa. fato oficiais mecânicos assumirem uma identidade de outro grupo da socied — aade de milicis — para fugirem a um compromisso que tradicionalmente lhes cabia como artesão demonstrar, em síntese, que a ausência de uma representação corporativa

uma condição estatutária superior âquela que seu ofício laboral o poderia levai

:

O ser carteiros — As irmandades, para o autor, são, assim, “a face religiosa” de empreendimentos

Minas. Mesmo que cortejos solenes não apresentem a identidade corporativa de e; exercício artesanal alegoricamente — uma vez que as corporações não se constituer espaço — a inserção dos trabalhadores se faz presente em responsabilidades que lhes

assumida e em negação à sua condição de artesão.

encontrar soluções próprias para os desafios e demandas criados por esse tipo de regime político. É, portanto, no interior dessa última camada social que se encontram as X

5

ou seja, tomada pelo grupo dos milicianos e assumida em correspondência feita po deles, o pardo Lourenço de Mello Pimentel, coronel de Infantaria do Regiment o do

a | Caio Boschi nos remete à4 necessida f de de seculari* zaçãrao como um obje. tivo precípuo

ia governo ilustrado português, que, assim, busca por termo a uma hegemonia do clero enciedade civil,* atitude que toma corpo com o reinado de D. José L. Diz-no:

fizeram. Salienta que “um terceiro cumpriu com a necessária despesa na justa espera

an

421

a

Ver, ainda, dentre outras obras: SALLES, Fritz Teixeira de. Associações religiosas no ciclo do ouro. Belo Horizonte: UFMG/Centro de Estudos Mineiros, 1963; SOUZA, Washington Peluso Albimo de. “As

lições da vilas e cidades de Minas Gerais”, in Anais do IV Seminário de Estudos Mineiros. Belo Horizonte: UEMG, Edições Cinquentenário da UFMG, 1977, pp. 97-241; TÓRRES, João Camilo de Oliveira.

Ória das idéias rel igiosas no Brasil. Igreja e sociedade brasileira. São Paulo: Grijalbo, 1968; TRINDADE, Cônego Raimundo.

A igreja de São José em Ouro Preto. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, h. 13. Rio de Janeiro: SPHAN, 1956; LOPES, Francisco Antônio. História da construção da Igreja | do Carmo de Ouro Preto. SPHAN, n. 8. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, 1942: e e O, José Ferreira. Igreja, Iluminismo e escolas mineiras coloniais. São Paulo: Ed. Nacional, Col.

Tasiliana 1958,

422

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE At

are 4 — AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

ascensão social, pelo menos em nível horizontal, e motivam trânsitos me vis libe

dr jo. Em um padrão com grandes efeitos decorativos, os painéis têm um estilo entre o ycocó e O neoclássico, e, segundo estudos,º foram confeccionados por volta de 1800, avelmente na Real Fábrica do Rato (fábrica de faiança e azulejos fundada em 1767). k O azulejo é expressão primordial da cultura urbana portuguesa. É linguagem funindamental para a interpretação da história da cidade portuguesa, mas, no caso do chapeleiro António Joaquim denota, essencialmente, a busca de afirmação identitária e Jeje reconhecimento social. Mesmo que instalada na quinta, fora do espaço urbano, os E bainéis evidenciam mais que uma intervenção arquitetônica e decorativa: querem mostrar

preconceitos e da rigidez social típicas do Antigo Regime. Interessa aqui perc; el se : nas ET

re

Minas Gerais setecentistas e do início do Oitocentos as relações da cat ego F

trabalhadores mecânicos com o poder local— que constrói redes de clientel; de malhas socioeconômicas definidas por oportunidades de sobrevivência social— são mais relaxadas que no mundo metropolitano. Apre interesses negociados na informalidade, sem instituir formas oficiais de ma ú utilizando-se de instrumentos estatuídos a partir do costume e da convivêncidaa

formalidade representativa do Reino, aqui, na ausência das corporações ded ofícios,

z

um modelo mais elástico, que se molda nas contingências e no pragmatismo, Já estrutura na ação individual dos mestres ou na obtenção de novas identidades s O oficial mecânico prestigia-se socialmente quando tem reconhecido o seu 23

fe

Eaa dinâmica da vida do artesão. Como é clara nessa manifestação artística que toma

dimensão em Portugal, neste caso também a azulejaria dos painéis é registro do imaginário Edo gosto do homem português. O artesão que ascende socialmente encomenda um texto, q e se expressa nas placas cerâmicas, e que pode ser lido e interpretado como marca da

€*

de mestre, quando conquista cargo ou função em atividade de seu ofícionoos t

coisa pública, ou quando

423

cultura burguesa que se construia na sociedade portuguesa na virada do século XVII para

alcança posição relevante dentro da associação Te

o XIX.

função ques tem base nele— e nesse sentido ofuscando o fundamento e sua fuui

De modo geral, essa é a grande marca da azulejaria em Portugal: para além do uso convencional —- revestimento de superfícies— o azulejo é instrumento de qualificação estética

no sentido de atingir objetivos mais individuais, interesses mais localizados em sua vont e em sua necessidade. Busca, assim, uma personalidade social que se alia ao seu exerc à sua arte fabril, ao seu serviço banal, que o cotidiano de uma sociedade const

à artísticos, de tradições mouras, flamengas, holandesas, italianas e indianas, tornadas ibéricas na dinâmica de suas transformações em Portugal.“ Essa rica transformação nos u sos da cerâmica vitrificada nos evidencia esse pragmatismo da cultura lusa, quando um

Regime, talvez se reforce em grupos sociais que não constroem representa orpora rígidas, como é o caso dos ofícios mecânicos nas Minas Gerais. A ausência das corpor e de seus instrumentos de categorização social pode ter levado artesãos à uma acentuada busca de distinções em nível individual, já que a representada e ass não se fazia presente e não augurava identidade de grupo que os pucca distin gu E hierarquia social, dando-lhes estatutos reconhecíveis pelo conjunto da socie sociedade de etiquetas e aparências, o prestígio e a distinção têm valida dE acá n

| | Osrepertórios temáticos são tão diversos quanto a diversidade dos espaços onde os “azulejos são usados. Se civil ou religiosa, as cenas variam de alegorias cristãs a cenas guerreiras ou de caça, mitológicas ou satíricas. De certa forma, desd o século e XVI constróiSe uma tradição temática ligada a artífices, geralmente sem formação acadêmica, e uma ubstituição da tradição européia da pintura pela azulejaria. Igreja e nobreza são os Principais responsáveis pelas encomendas aos artífices ou às fábricas, pelo menos até e dos do século XVIII, quando uma burguesia surgente passa a fazer parte dessa clientela. MS exigências desses novos encomendantes vão, inclusive, influenciar a buscas de temáticas óticas mais influenciadas por outras culturas européias. António Joaquim Carneiroé um artífice que ascende economicamente, aburguesa-se

o ofício artesanal— o oficial mecânico age sem as amarras da agremiaçãocoi

valoriza e uma sociedade das aparências possibilita visualizar. a A reivindicação de privilégios e de monopólios, comum em uma sociedade do Ar

sociais que vão além daquela tida como a “boa sociedade”.º

8

bem em A emblematização dessa busca de distinção e prestígio se exemplifica caso no mundo lusitano, que as figuras a seguir materializam. São sete painéis de az (1,18mx 0,83 m, cada) — hoje expostos no Museu Nacional dos Azulejos, em L

narram os episódios essenciais da vida do chapeleiro António Joaquim Carnei narrativa auto-elogiosa que o oficial mecânico manda produzir em azulejos e on X painéis decora a sua própria residência, na quinta de sua propriedade, em Póvoa deve

dos espaços arquitetônicos e é suporte de mensagens, de identidades, de discursos religiosos

Tevestimento arquitetônico adquire formas, cores e discursos e os espaços que eles vestem Se tornam didáticos no uso cotidiano.

é evidencia sua ascensão de forma aparente, usando a azulejaria como suporte dessa

emblematização. A narrativa foca a ascensão social do chapeleiro, desde sua infância no | E » Onde trabalhava como pastor, até sua vida de próspero homem de negócios. São

A enias de uma ascensão burguesa com base no trabalho esmerado de oficial mecânico.

E

59. Em A sociedade de corte, Norbert Elias nos diz, ao discutir a “lógica do prestígio”, que “o pertença a essa “boa sociedade” são as bases da identidade pessoal como daexistência ( indivíduo”. (p. 69). Refere-se a essa sociedade como “uma formação social que arrasta iG uma competição particularmente dura e determinada pala conquista da força ligada ao e esta

“prestígio” (p. 67).

E

afirmação do artesão assenta-se em uma busca de parecer ser e cultuar monumentalmente à sua diferenciação enquanto indivíduo próspero em uma sociedade onde importa a

Katralização do viver.

60. PEREIRA, João Castel-Branco. As coleções do Museu Nacional dos Azulejos, Lisboa. Catálogo. Lisboa: eE Português de Museus, 1998, pp. 50-1. j “o

-As coleções do Museu Nacional dos Azulejos. Ver, ainda, www.instituto.camoes.pt/cve/azulejos.

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNI

424

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= 4 - AS CORES E O COLORIDO DO MUNDO ATLÂNTICO

Os painéis salientam a origem pobre, o aprendizad o do ofício com o mos MO

passagem para dono de loja instalada e a transformação em homem de negóciosmes à

ER, pur

“ E 7 z Aa Ss OS família. e quinta montada. É a trajetórFaia almejad a do bom oficial mecân ico que se d

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individualmente e emblematiza sua ascensão social. O primeiro painel anuncia «

painéis episódicos/narrativos como a seguir e

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euira 10: Painel 4 — “O dito com sua Ram mnanhia

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de sua mãe e duas irmãs e dois

e MRRRM

Figura 7: Painel 1 - “Antonio pastando [pastoreando] no idde levando irmão a casa”

“ga

Figura 11: Painel 5 — “O dito com sua mulher e cinco enteados tratando de sua loja e negócio”. Figura 8: Painel 2 — “O dito em companhia de uma almocreve para casa de seu tio para este ensinar-lhe o seu ofício”.

Figura 9: Painel 3 “O dito aprendenc peu

ofício com seu tio António Freire

4

E Figura 12: Painel 6 — “O dito em seu carro

“eminhando para a sua quinta onde existe Sua fábrica e negócio”,

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDAD E ATLÂNHEE Com formas ricas, mesmo que em cores discretas, homens de ofícios mecânicos am

uma sociedade de corte que se aburguesa, evidenciam seu trabalho, sua participação

construção das urbes portuguesas no Reino e na América. Marcam suas identidad es er signos e emblemas de valores correntes, nos cortejos, nas festas civis e religiosas me

espaços do culto e da vida laica. Buscam a evidência dessa identidade, nas formas ar

na

nas imagens didáticas, nas alegorias públicas, objetivando, sobretudo, o reconheciment social. Corporativa ou individualmente, prestigiam-se em seu trabalho de mestre de ofic , ia

ou de aprendiz. Quando conquistam cargos ou funções em atividades de seu of io

trâmites da coisa pública, quando alcançam posição relevante na associação re siso

leiga à qual se filiam, ou, simplesmente, quando adquirem bens e valores por suas arte:

mecânicas, exaltam seus saberes e seus fazeres mostrando o que são no trabalh

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realizam e em emblemas que essa sociedade das aparências lhes oportunizam. “MA -

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Parte 5

OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

VIDAS ENTRE IMPÉRIOS: MOVIMENTO E A LIBERDADE

* DE CONSCIÊNCIA NO MUNDO LUSO-HISPÂNICO!

Stuart Schwartz

O: impérios ultramarinos da Espanha e Portugal foram extensões dos sistemas de autoridade governamental e religiosa. Eles estabeleceram instituições e práticas que reforcavam ordem e ortodoxia, de modo a fazer das colônias reproduções das metrópoles. Entretanto, por sua própria natureza e dispersão, estas colônias evocavam o contínuo “mo rimento e circulação de pessoas através dos processos de migração e imigração dentro “de padrões regionais, continentais e mesmo globais. Seria incorreto, porém, pressupor um “mundo colonial marcado pela mobilidade em contraste com o estável e estático mundo

agrário europeu do início da Idade Moderna. Tanto na Espanha como em Portugal, os

* Camponeses nunca deixarem de se movimentar, seja em função do emprego sazonal de | Colhedores, na transumância de pastores, na perambulação de vagabundos, nas jornadas

de peregrinos, nas viagens de mercadores, ou do contínuo movimento das aldeias para

Cidades e vice-versa. Além disso, o recrutamento e as guerras deram a milhares de pessoas Nastas experiências de viagem ao engajá-los em campanhas na Europa e no Mediterrâneo,

é às Viagens marítimas chamaram outros milhares para o mar. Não é por acaso, como o

historiador David Vassberg nos lembra, que duas das mais notáveis obras da literatura

Espanhola, Don Quixote e Lazarillo de Tormes, versam sobre protagonistas itinerantes.?

E p

No entanto, quaisquer que fossem os níveis de mobilidade, movimento e migração

dentro de Espanha e Portugal, seus impérios apresentavam raras oportunidades para o

— Movimento individual, e, com tal mobilidade física, oportunidades para mobili dade social

“Para o afrouxamento dos constrangimentos da lei e da moral. O clero no Brasil e na América espanhola reclamava a

constantemente

E Tradução de José Celso de Castro Alves.

que a América era uma

terra de

E VASSBERG, David E. The Village and the Outside World in Golden Age Castil e. Cambridge: Cambridge University Press, 1996, pp. 171-5.

431

ARTER| 5 - OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLAN

Fo

«tro fizera de Angola para Pernambuco e correram rumores (falsos) de que ele teria sido oO previamente em Angola por atividades similares. Os testemunhos, incluindo aqueles olhi Jos na capitania de São Vicente, onde ele também aparentemente vivera, não eram entes e alguns eram puramente boatos e rumores sobre seus hábitos sexuais. Seja cos

licenciosidade e liberdade excessiva. As pessoas se movimentavam no interio de vant espaços e através de fronteiras imperiais com relativa facilidade, e tiravam

inabilidade do Estado ou da Igreja em regular seus comportamentos, expre dissidentes ou impopulares, contestar as fundações básicas de autoridade ou ex É

amo for, ele E preso em 1613, supostamente por contato homossexual com meninos e

expressar um senso de independência intelectual. Neste texto, eu pretendo examin; qua

jovens.”

indivíduos cujas vidas ilustram o potencial para vários tipos de “liberdade” queo movi | dentro e entre espaços imperiais facilitava. Contar histórias de vida é, certamen

home

foco da História. Estes indivíduos não são apresentados aqui como representatirivos de grupo ou classe de indivíduos— embora muitas histórias de vida fossem similares = m antes como exemplos das possibilidades de dissidência e inconformismo queaac iriret Je

transição de soldado a padre não era desconhecida. Isso, de qualquer modo, havia sido a Inácio de Loyola. A prisão por desvio sexual era também algo bastante Santo de stória hi l EL “desvios” sexuais, incluindo por presos eram comum no final do século XVI e muitos clérigos

, torna de micro-história na qual peculiaridades, mais do que aspectos em comumse

colocava. Eles eram os produtos inesperados do Império.

Deixem-me começar com uma história de movimento dentro do Império: do Oce:

Português

Da

RR

Portugal e então ao Brasil, não era extraordinária. A

sJas de natureza homoerótica. O encarceramento de Pereira de Castro não foi de forma

lguma incomum a este respeito também, embora suas conexões familiares e suas origens fizessem dele uma espécie de caso especial. No entanto, mesmo que sua carreira fosse

(

suficientemente normal, o que sabemos sobre ele após sua prisão reflete uma mente e uma atitude inesperadas que desafiam ou confundem tendências generalizantes: EEiibora preso em 1613 e enviado para Portugal, a evidência apresentada contra

era uma criança do Império. Ele nascera em Goa, em torno de 1563, e era identificad sua aparência e modo de falar variavelmente como mulato, cabra ou mestiço, Ele alega n hi morrera a eventualmente que soldado um fora Oporto em nascido pai seu que que sua mãe era a filha natural do exVice-Rei da Índia, Afonso de Noronha.Ele tinh

ue ocunavam postos no comando judiciário e militar. Dada a sua aparência ua ai de do provavelmente uma mulher indiana. Pereira de Castroh via eres no Estado da Índia e, como muitos dos homens jovens da colônia, se tornara im

q de Castro não era clara e tudo indica que outras questões parecem ter estado E olvidas. Ele ainda estava na prisão esperando a disposição legal de seu caso sete anos a epois. Os jovens que testemunharam contra ele não conseguiram especificar o lugar e o momento em que os atos alegados supostamente ocorreram. Ao final, conseguiram somente

frotas e participou na defesa da fortaleza portuguesa em Chaul, Pereir nas serviu Ele Castro, no entanto, também tinha gosto pela leitura e eventualmente entrou u par

ainda estava na prisão da Inquisição lisboeta. Mais importante do que isso, ao longo do

situação algo excepcional já que pa dres mestiços, embora

=

Sujeito ao mastro (quer dizer, suspenso numa roldana por suas mãos amarradas nas costas

dos é então repetidamente largado, causando extrema dor e, às vezes, deslocamento º

ser parente de Dom Erancisco de Sousa, que seria mais tarde governade

ato de s ere de RS eventualmente velejou para Lisboa, estudou em Coimbrae,een a Pereira

E ou seja, ombros). Durante o seu Rs a encarceramento e tortura, ele permaneceu negativo, Rs

provavelmente na comitiva de Francisco de Sousa que, depois de servir comoé asu e do nas É Mina das foi mandado como governador

Porque era um cristão novo, como a vasta maioria dos acusados pela Inquisição portuguesa,

a uma visita inquisitorial no Rio, como um homem que gostava mais de garottEc

não por ser um judeu ou sodomita, mas porque ele sabia a verdade sobre o negócio dos

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cris tãos

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mulheres. Estes incidentes teriam alegadamente tido lugar numa viagem q que Pere vê

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Sociedad décadas do século XVII, definira a questão dos “cristãos novos” preocupava a à ade Primeiras portuguesa e Pereira de Castro sua própria posição sobre o tema e

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o tir uma punição mais séria.

Caderno do promotor 202, p. 539-41.

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Cultural History/Social History: Some Reflections on a Continuing Dialogue. Journal0,

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— PEtecebeu dois “tratos corridos”, ou seja, foi suspenso até o teto e depois largado. Como ele estava E de injúria permanente, o médico da Inquisição suspendeu a tortura. Pere deira Castro permaneceu BR e mo a sua inocência durante o processo e, sem sua confissão, a evidência foi insuficiente para

E

o | Arquivos Nacionais da Torre do Tombo. (ANTT). Inquisição de Lisboa, processo 6789.

f8 ver: GREGORY Brad S. Is small beautiful? Microhistory and the History OfEveryday Life

1808. New York, 1992.

aa,

e

históricas foi q di 3. A questão do uso de biografias como técnica para amplas análises res a nza, 1968. BAROJA, Julio. El sefior inquisidor y otras vidas por oficio. Madrid: Alia

4. CÊ RUSSHIL WOOD, À.A.J.R. The World on the Move. The Portuguese in Africa, Asta, €

xhe?

Stava agindo de acordo com sua convicção. Sua ortodoxia não estava em questão, mas O

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avan

| SBiode asd quando em 1610 foi denunciado por um número de marinhe

ão a

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asil e

dastiranias feitas aqui contra os cristãos novos e prisioneiros, e que ele havia sido preso

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do Estado do Brasil (1591-1602), Brasil em 1607. O que Pereira de Castro fez ali depois de sua chegada não é cla O;,

:

ele sabia havia tido sexo com Jjovens homens, mas, em suas Pp palavras, “porque porq

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e

pes pu todas as acusações. O que ele alegou, por outra, foi que ele havia sido preso não

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vara o Brasil e Espanha, visitando também Milão e Roma. Ele retornou

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desconhecidos, fossem relativamente raros. Ele deve ter sido ajudado em sua carrei

Caso ele sustentou sua inocência, mesmo durante uma sessão de tortura na qual ele foi

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sugerir que Pereira de Castro havia tentado, sem consumar, atos de sodomia. Em 1621, ele

e

Índico e do Estado da Índia português para Portugal e Brasil. Fernando Pereira «

Epnsequentemente, sua história, embora global em natureza e atravessando a extensão

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430

432

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATIÀx ie

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que este preso clerical da Inquisição fez na prisão lisboeta do Santo Oflei. verdadeiramente notável. Uma visita inquisitorial ao Brasil em 1618 havia mai volta à prisão inquisitorial lisboeta diversos prisioneiros, muitos dos quais aci secretamente se dedicarem ao judaísmo. Em 25 de setembro de 1621, o carce; eiro repc que, na noite anterior, tiros haviam sido disparados na cidade e que Perei À de ( a havia informado os outros prisioneiros que aqueles eram sinais indicando qj je a perdão geral dos cristãos novos havia sido assinado em Madri, que um inquisic E h morrido repentinamente e que os prisioneiros acusados de adesão ao judaísmo não dev

5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

433

reassentamento murados para eles no Marrocos e pagos com dinheiro saído de seus próprios a sos foram levados adiante. A Coroa não os expulsou, mas em mar ço de 1619 as últimas Ear ções do perdão de 1605 foram anuladas. Deste modo, a questã o do perdão estava ainda bastante presente nas mentes tanto dos proponentes, quanto dos oponentes quando oincidente no Estaus aconteceu. — Pereira de Castro certamente não era um judeu, mas era um homem que havia viajado, “vistoo mundo, e estava disposto a tirar suas próprias conclusões sobre a Justiça da campanha da Inquisição. Em colaboração com cristãos novos da prisão inquisitorial de Lisboa, e

confessar nada, já que eles seriam todos perdoados em breve e deixariam seu confinz ne

com pelo menos um outro prisioneiro cristão velho, ele estava organizando a resistência

dos prisioneiros e deixando claro sua desconfiança da Inquisição e seus objetivos. Ela, por “sua vez, o via como um perigoso causador de problemas que havia destruído a tranquilidade “dos corredores do cárcere e as operações do tribunal. As acusações finais dirigidas contra Pereira de Castro, entretanto, não levantaram a questão dos cristãos novos ou questionaram sua teologia. Os inquisidores o processaram somente pelas acusações de sodomia. Sua inabilidade em forçar a confissão, contudo, havia prevenido punições mais sérias, e assim Pereira de Castro foi apenas suspenso do sacerdócio e mandado para seis anos de exílio penal no mais longínquo canto do Império Português, uma rocha no Atlântico, a Ilha do Príncipe. Ele nunca chegou lá e acabou ficando em São Tomé, porque, segundo ele, os “holandeses haviam tornado a passagem para a Ilha do Príncipe perigosa demais. Após

anistia geral que os perdoaria pelos erros religiosos do passado e os permitir

Fetornou então para Portugal. Quando capturado novamente, os inquisidores demandaram

de

de forma honorável. Em colaboração com o prisioneiro cristão novo de Lisboa, apelic Fleur de Lis, ele estava promovendo resistência; em outras palavras, dando es; Derança : prisioneiros e tentando endurecer sua resolução. Esta situação foi confirmada poro prisioneiro, padre Fernando de Mendonça, que alegou que o padre Pereira ao“capi da dissidência por jogar os prisioneiros contra a Inquisição.” Mendonça info inquisidores que Pereira havia dito a uma moça, informada que sua mãe e irm = EU confessado adesão ao judaísmo, que permanecesse firme em sua negação de c ulpa este informante quem sugeriu igualmente que os tiros disparados como sinais. especificamente para a “gente do Brasil” que estava na prisão. Estes teri am sic prisioneiros mandados para Portugal depois da visita de 1618 à Bahia e Pernambucc E

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O momento destes eventos foi crucial. A questão de um novo perdão geral esta muito viva em Lisboa naquele momento. Em 1605, os cristãos novos, depois de consider; briga e na face de violenta oposição por parte de elementos da população e da de Portugal, haviam concluído um acordo com o papa e o rei, que lhes co ce

“cerca de seis meses, ele velejou para Angola num navio que foi, de fato, capturado prontamente pelos holandeses, que então o deixaram na costa ocidental africana perto da fortaleza em El Mina. De lá, ele velejou para Angola e, então, Pernambuco porque, disse ele, esta “era uma terra que era mais segura”. Permanecendo no Brasil por um ano, ele

juntamente com suas propriedades.” A quantia total paga por este perdão ex:

“Saber por que ele havia desobedecido a ordem de exílio penal. Nem sua dita constrição,

também propinas e “contribuições” para um número de oficiais, incluindo o d

Sua sentença. Ele foi mandado para servir os três meses restantes de sua pena na Ilha do

milhões de cruzados, uma soma enorme que incluía não apenas o valor o

nem suas desculpas de idade, pobreza, sofrimentos e perigo os persuadiram a liberá-lo de

Príncipe no meio do Oceano Atlântico. Ele era, no final, “um homem inquieto”. —

da fonte de renda vinda das condenações de cristãos novos e por alguns do clero mé fanático. Quando pagamentos não podiam mais ser feitos em dia, o perdão foi revos ars cristãos novos, e de uma nova tentativa da parte deles de concluir um acordo « o Coroa. Essa foi uma era marcada pela forte presença da Inquisição na vida po ítica

Para si a causa dos cristãos novos e estava convicto de que esta postura era a raiz de seus Problemas. Soldado e padre, ele vivera em outras terras e conhecera outras culturas. Ele “ra um homem amplamente viajado e havia visitado a corte espanhola em Madr i e o * Vaticano, assim como as costas e cidades do sul do Brasil. Talvez mais bem-educado do que muitos de seus contemporâneos, suas atitudes a respeito dos cristãos novos havi am

qual idéias como a expulsão de todos os cristãos novos ou a criação de campc ,

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o Ss Se «land Relicions Fito ERA na SARAIVA, Antêniodedé The Mar ran ua

The Portuguese Inquisition and its New Christians. Leiden, 2001, no qual os acalorados debates E

autore 1. $. Révah sobre a realidade dos cristãos novos judaizantes são reimpressos.

=”

Parecido num momento inoportuno em meio à luta em torno dos perdões. No entanto,

le Via a situação dos cristãos novos como injusta e estava disposto não apenas a falar

LT

1080 | 8. ANTT. Caderno do promotor 202. Esta descrição foi feita por outro prisioneiro da Inquisi as op

7

SePereira de Castro era homossexual ou não é impossível saber, mas ele tinha tomado

|

| Contra ela, como também a estimular ou organizar a resistência na prisão. Não houve

Nenhum novo perdão em 1620. Seu esforço foi inútil. Mesmo assim, suas atitudes refletiram | uma independência mental que o levaram a adotar posições contrárias ao que deveria ter

Elo “Sperado de alguém com sua experiência ou com seu preparo profissional e expectativas. E o Caso seguinte envolve outro viajante que circulou igualmente pelo Império Português “Na atitude em relação aos cristãos novos divergiu daquela da Inquisição. Este indivíduo

Wmbém formou para si uma identidade que oscilava entre fés e impérios.

434

SONS,

FORMAS,

CORES

E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

ATLÂNTICA Et

PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

=

Em 1688, o representante local da Inquisição em Havana, Cuba, prendeu um residente português chamado Vicente Gomes Coelho por suas declarações públicas de natureza escandalosa e profética. Muitas pessoas haviam ouvido suas observações e, embora talvez não heréticas, elas eram encaradas como sendo ao menos ofensivas para ouvidos LOSsá possivelmente cismáticas. Gomes Coelho falara abertamente sobre o fato de ter estado em pr

ele fosse um judeu, ele nunca haveria deixado a Jamaica. Sobre o seu sebastianismo ; OS inquisidores relataram: Este prisioneiro teve as profecias de Santo Isi dro e Santo Isidoro trazidas à luz pelo

E”

E

Padre Antônio Vieira da Companhia de Jesus (...) e tinha visto e lido nelas que um

uma ilha e ido a uma sinagoga judaica, uma declaração que estava fadada a pro suspeição sobre sua ortodoxia católica. Além disso, ele declarara que o “Rei Seb: estava numa ilha e que iria retornar a Portugal num cavalo branco, ganhando coraç; que em Portugal até o seu retorno eles lhe dariam dinheiro e que santos e profetas hg assim afirmado”.'º Em outras palavras, Gomes Coelho era um sebastianista, um se

encubierto estava para vir ao mundo sem dizer quem seria, e os seguidores do Rei

Sebastião disseram que este encubierto tin ha que ser este D. Sebastião.!º

Gomes Coelho tentou convencer seus interrogadores de que, embora os portugueses acreditassem nisso, ele pessoalmente nunca havia sid o desta opinião. No entanto, não faltavam pessoas em Cuba que o haviam ouvido falar destas profecias em várias Qcasióas À medida que o interrogatório continuou, a história começou a mudar. Agora el 4 alegava que havia fingido ser um cristão novo somente para benefício pessoal De ia alo

+

havia um tribunal do Santo Ofício, Gomes Coelho foi interrogado e a história. contou revelou ser ele um viajante entre impérios e fés. il Nascido em Lisboa em torno de 1660, ele viveu com seus pais até seus vintee pouco: anos quando velejou para o Estado da Índia, servindo eventualmente como um: kk numa fortaleza em Macau. Ele nunca havia frequentado uma universidade, mas sabia e escrever. Ele foi eventualmente para Goa e então de volta para Lisboa. Ali, autoridades haviam prendido Gomes Coelho por alguma forma de falsificação de moeda e o sentenciai à morte, mas como era frequentemente o caso, sua sentença fora comutada para o exili penal em Angola. Todavia, ele não permaneceu por muito tempo em Angola e consegt entrada num navio inglês que o levou para a Jamaica. O capitão, porém, havia pedidi

uma nota promissória no valor de 50 pesos e, uma vez na ilha, Gomes Coelho proeurs um judeu afluente e lhe pedira ajuda alegando ser o filho de Antonio Rodrigues Mo: “um judeu muito rico de Lisboa e por esta razão queimado com toda a sua fai Lisboa”.?? O judeu jamaicano deu a ele cinquenta pesos para pagar a sua dívida e Gorm

Coelho retornou então a Cuba, onde viveu em Porto de Príncipe e Havana. Ele parece sido um homem com um talento para sobrevivência. Ele ganhou a vida como é sem nunca ter estudado medicina, embora conste que tenha lido alguns livros :é ide sa ) pouco de experiência na área médica. Os inquisidores ficaram perturbados com seu contato com judeus na Jamaie: numa segunda entrevista, começaram a pressioná-lo nesta questão. Verificaran mg

RO

havia dito a seu benfeitor na Jamaica que era o sobrinho de um certoAitoio

GorRéa Bravo, um cristão novo, embora na verdade ele não soubesse se seus pais eram cristãos velhos ou novos, mas quando seu benfeitor co meçou a demandar que ele vivesse agora sob “a lei verdadeira”,

ele concordou em aprender as cerimônias, ser circuncidado e visitar a smagoga, tudo pelos cingiienta pesos e pelo apoio que estava recebendo. Somente a verzonha eo desejo de proteger a honra do nome dos Coelhos e Bravos (a família de sua a ) haviam impedido de admitir isso diante dos inquisidores. Mais tarde ele confessou : o “a Primos na Jamaica haviam lhe ensinado a lei de Moisés e que ele havia contista a | Rs. mas ele deve ter estado mais perto da verdade quando declarou que “na Jamaic a E veu com os judeus como um judeu e com os cristãos como um cristão, fingindo e Estando eles”. “ Esperando voltar para Portug al, ele havia se recusado a fazer difcuitcisao Aesta altura, a história começou a mudar nova mente. Ele admitiu ter praticado o judalemo E ngola e Lisboa, mas abjurou sua histór ia de ter sido instruído por seus parentes na E E Ei encaminhado para tortura, ond e renegou e mudou suas explicações »

Segando que o seu judaísmo havia, na verdade, começa do na Índia, e suas

rele sobre ele,es na Jamaica. Agora, Bor tudo o que ele sinceramente queria era ser cristã EE pidas ristão. = um

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cristão novo ou cristão velho? Um traidor dos judeus ou dos cristãos? A

—ância e o cruzamento de limites imperiais e culturais deram a Gomes Coelh rtunida de para autoformação; e para o trânsito através de fronteiras religiosas e qe de 508 Imperiais. Diferenças religiosas não pareciam significar muito para ele, e Gomes Coelho havi tr avia encontrado um nicho ao explorar ar as d iviSO E tr 4 a Ei bibi , md

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Completamente. 10. AHN. Ing. Lib, n.1023 (Cartagena), p. 426-433v.

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Ivisoes entre fés ou ao ignorá-las

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11. Aidéia de que D. Sebastião residia numa ilha, talvez a ilha de St. Brendan ou a Ilha das fundada por sete bispos espanhóis, era comum entre sebastianistas no final do século DEN BESSELAAR, José. O sebastianismo: história sumária. Lisboa, 1987, pp 137 . Antônio Vieira. Profecia e polêmica. Rio de Janeiro, 2002, pP- 457-65 HERMANN, Jacqueline. No reino do desejado. São Paulo, 1998, pp. 247-51, onde ela

435

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entre o conhecido sebastianismo do Padre Antônio Vieira e as expressões populares destas Ad 6 milenarista. ao ; 12. A frase original é udio muy rico que por tal quemaron en Lisboa y toda su familia.

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q: Lib., nº1023. Ver também: VALENSI, Lucette. Fables de la mémoire: La glorieuse bataille des "BJOois rois. Pari ; obre as conexões hispânicas com o pens amento milenarista de Vieira, ver: » Maria V. The Empi .

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1992.

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Vieira and the Ant Fat oni her ChoRev the o andraz le: Fut. ure seniewPeop E Re World da. ToPhetic Question in theEisps spanic Luso-B ilian , v. 40, n. 1, 2003, pp. 45-58. ES à LE)n Jama;aica portandose en dicho ti * Enganandolos” judios judio judi Y con cristianos, n dicho isti tiempo con judios isti cristiano fingiendo serlo

436

PARTE 5 - OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTI

437

|

Este não era apenas um informante. Vasconcelos era um proeminente jesuíta, um proponente da natureza edênica do Brasil, que escreveu sobre sua ordem no Brasil e que representou

No entanto, mesmo aqueles que viam a si mesmos como crentes ortodo; frequentemente construíam seu próprio mundo de credo. Sebastián Damil e Sout | (DaMil y Sottomayor) havia nascido e sido criado, segundo ele contou aos inquis por pais cristãos velhos no Rio de Janeiro “de Portugal”, em torno de 1665.15 Ba confirmado e participante regular nos sacramentos da Igreja, ele sabia bem sua e obrigações cristãs. Ele era letrado, aprendera suas primeiras letras no Brasiel 2 anos

do Brasil, e, se podemos acreditar em DaMil y Sottomayor, com interpretações heterodoxas

do dogma.

Oito pessoas deram testemunho contra ele, notando seus maus hábitos, o modo cor evitava ir à igreja e suas idéias estranhas. Denunciado, Damil y Sottomayor foi Dreso pá expressar uma série de opiniões suspeitas, mas ele se recusou a admitir qualquer coisg alegou que as acusações eram falsas e que seus acusadores estavam muito enciumac os de E

uma relação ilícita que ele tivera com uma mulher em Cartagena que ele admitiu ser s comadre, mas, depois de três audiências com os inquisidores, ele finalmente começo RR discutir as proposições que haviam causado a sua prisão. O problema havia começado em abril de 1699, quando, numa conversa sobre

recente terremoto ocorrido em Lima, alguém dissera que aqueles eventos tinham causas por exemplo, o mar engolia um navio, isto não era a vontade de Deus, mas im] a força dos elementos. Depois de Deus ter criado o mundo, DaMil y Sottomayo! inquisidores, ele concedera seu poder aos elementos, o sol, os planetas e as estre coisas, assim como cada pessoa, operavam segundo sua própria vontade. Al | z e disseraQ De infeli al marit vida sua de o amad recl havia ersa conv da a cipav parti desgraçado casamento havia sido vontade de Deus, a que DaMil y Sottomayor ISspS” ido € m havia s planta As is. anima os e s planta as criado havia não Deus eza. natur pelo sol e os animais, tal como os mosquitos e sapos, haviam sido criados à | aa

— Na medida em que sua defesa perante os inquisidores se desenvolveu, DaMil y Sottomayor não hesitou em admitir que ele sabia alguns salmos que podiam matar cobras,

iguanas e vermes ou que podiam curar pessoas.'* Ele era o que os portugueses chamavam de benzedeiro ou saludador, um curandeiro popular. Ele narrou um incidente ocorrido quando encontrou algumas vacas infectadas com vermes e tentou curá-las com uma benção, fazendo o sinal da cruz e a seguinte oração:

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Gusanos malos que comeis y no lograis la maldición de Dios y de la Virgen Maria Yyde San Pedro y San Pablo hagais que en taes dias te cayas.

oIrPrr

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19, O Padre jesuíta Simão de Vasconcelos nasceu em Oporto, em 1597, e morreu no Rio de Janeiro, em 1671.

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Vasconcelos escreveu vários trabalhos sobre a ordem jesuíta no Brasil, Ele é particularmente lembrado Como um expoente de uma visão edênica do Brasil e por sua afirmativa de que São Tomás teria visitado

9 Brasil nos primeiros dias do Cristianismo. Ver: VASCONCELOS, Simão de. Notícias curiosas e necessarias das cousas do Brasil. Lisboa: Luís A. de Oliveira Ramos Ed., 2001.

**. Ver DOMINGUES, Beatriz Helena. Jesuits in Brazil and Seventeenth-Century European Modern Philosophy

and Science: Continuities or Discontinuities. Disponível em wwwla.utexas.edu/research/paisano/BDHitext.

a

q PAIVA, José Pedro. Práticas e crenças mágicas. Coimbra, 1992; PAIVA, José Pedro. Bruxaria e superstição.



15. AHN. Ing. Leg. 5349/1.

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“tormentos.

aritcitil

4 spo ão geraç de idéia antiga a ando advog estava ele Aqui, terra. da putrefação : que rec criação de coisas vivas a partir de objetos inanimados, uma crença sobre € ê s muito de to dimen enten do parte fazer a nuava conti que e Aristóteles € físico. Onde havia ele aprendido estas coisas? Neste caso, diferentemente de tal tos ele foi capaz de informar aos inquisidores que ele não havia lido sobre elas n E o sim aprendido tudo com um jesuíta no Rio de J aneiro chamado Simão de Vascons

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do inferno? DaMil era muito esperto para admitir isso. Ele explicou que, quando de uma conversa sobre avisita de São Patrício ao inferno, alguém havia afirmado que as almas de | lá estavam sendo punidas com navalhas e correntes; ele havia dito que isso apenas parecia ser assim porque as almas eram somente espíritos e não tinham corpos para sofrer tais

que a união não era a vontade de Deus, mas aquela do homem infeliz por Si SO, Ja * ido muk ced a havi s Deu s. emo faz que o tudo em trio arbí e livr do s amo goz todos nós a

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porque Deus era todo poderoso e Cristo havia sido concebido quanto o Santo Gabriel colocou | três pingos de sangue no coração da Virgem”. Ele também não acreditava em demônios ou em inferno. Demônios, ele dizia, eram simplesmente cristãos que haviam morrido. Os inquisidores queriam saber mais. Teria ele realmente questionado a existência

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divinas já que nem a folha de uma árvore se movia sem a vontade de Deus Sottomayor discordou. Ele disse que Deus não tinha poder sobre os elementose qu

“entranhas Deus iria encarnar. Maria havia permanecido virgem depois do nascimento

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ouvintes não estavam dispostos a fazer ouvidos moucos diante de seus desvios do dos

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ele era um homem que não guardava suas opiniões para si e, sendo um estrangei



estancias), no que aparentemente sua experiência rural no Brasil lhe serviu bem. No entar

9

Cartagena trabalhando como administrador de propriedades rurais (mayordoma

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meses antes de chegar a Cartagena das Índias num navio negreiro. Ele se instalou em

Lisboa, 1997; BETHANCOURT, Francisco. O imaginário da magia. 2a ed., São Paulo: Cia, das Letras,

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três

Porém, se DaMil y Sottomayor parece ter enfatizado o livre arbítrio individual e ter sido um protodeista, de certa forma ele também estava claramente misturando estas idéias “aparentemente secularizantes ou “modernas” com um grupo de superstições e práticas E populares e com um entendimento do dogma em E divergência AG com os ensinamentos da Igreja. Ele acreditava, por exemplo, que Cristo não havia sido carregado no ventre de Maria por nove meses, já que ele não podia crer que naquelas “repugnantes (bascosidades)

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8

“dúvida.” Ele era também um homem com algumas curiosas idéias sobre o caráter edênico

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lá, ele seguiu a bordo de um navio inglês para a Jamaica, onde permaneceu durante

de várias formas a tentativa jesuítica de reconciliar a Escolástica com a observação e a

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438

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTI

PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

439

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Ele sabia outras orações também: uma oração para curar febres; outra para « estanc

sangramentos. Ele recitava em latim uma oração contra a peste que lhe havia sido:

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E no Rio de Janeiro por um padre português chamado Mota. As demais orações et ele havia aprendido no dia-a-dia e através da tradição oral. Uma delas foi ensinada ae

no Rio de Janeiro por uma mulher idosa, outra por um homem negro. Outraele adr it ter lido num livro intitulado Thesouro de prudentes. Este era um almanaque muito popu:

repleto de informações sobre as marés, as fases da lua, eclipses e outras curiosidac eso menos E fenômenos naturais. Publicado pela primeira vez em 1612, ele ganhou pelo: : edições ao longo do século seguinte." Através da palavra oral e de fontes populares, DaMil y Sottomayor havia enriquecie seu repertório de orações, misturando devoção ortodoxa e mágica. As orações eram cheis de referências aos santos, a Jesus e à Virgem, mas sua intenção era agir sobre o mun através de magia natural. Deísmo, dúvida e encantos mágicos, sua cosmologia ti contradições, mas ele parecia confortável com elas. No final, nem suas explicações, né seu pedido por perdão o ajudaram. Toda a sua propriedade foi confiscada e ele foi sentenciad a à prisão perpétua nas galés reais. O caso final neste quarteto é uma verdadeira odisséia caribenha. Antonio€ ela Abu era um nativo de Candás no principado de Astúrias. Nascido em torno de 1685, elha

chegado em Cartagena num pequeno navio vindo de São Domingo. No seu baú marítir

ele havia carregado vários livros e os recomendado abertamente a seus companheiros

especialmente a cópia das Escrituras Sagradas em espanhol. Alguém notou que est não tinham as licenças usuais e alertou Abuja que eles poderiam ser volumes pro

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Abuja respondeu que não tinha nenhum interesse em heresia, mas, já que os livro:

em espanhol, lhe pareciam bons. O amigo com quem Abuja morava, então, levou: para o reitor da universidade jesuíta para obter uma opinião sobre seu conteúdo e 0 je recomendou que eles fossem trazidos à Inquisição. Os inquisidores queriam sal ei ma e Abuja foi preso. Diante do tribunal ele narrou sua história de vida. Todos os seus avós e pais el cristãos velhos e ele havia sido batizado, confirmado e educado como católico. Ele( bem suas orações e forneceu todas as indicações de que tivesse sido criado como ca Ele também sabia ler e escrever, mas nunca havia ido à universidade.” Abuja ha! Det: de casa aos oito anos de idade, ido para Cádiz e de lá velejado para as Índias. das Índias ele fizera viagens como marinheiro para vários portos do Caribe, eventuair atingindo a ilha holandesa de Curaçao, onde ele ficou por alguns anos servindo COF marinheiro em navios holandeses empregados no contrabando ao longo dé = venezuelana e visitando também as Ilhas Virgens e as ilhas caribenhas dos ra ingleses. Ele retornou finalmente para Cartagena, onde por três anos embarcou €9 marinheiro em navios envolvidos no asiento de escravos para as ilhas holandesas e

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lus. Lisboa, 161205 ÇÕe a ado tir nte ame nov , tes den pru de ro sou The de. 19. SEQUEIRA, Gaspar Cardoso pn 1702. e 0 170 5, 167 em s trê 1, 165 6, 162 m em ara cul s cir nte iie seq sub 20. AHN. Ing. Legajo 5349, causa 7 (1716).

A certa altura, ele foi capturado pelos ingleses e levado para Bermuda e de lá para as Carolinas. Abuja era claramente um homem que havia cruzado fronteiras culturais facilmente e sua experiência demonstrava a futilidade das políticas que procuravam isolar “as Índias espanholas de influências estrangeiras. No entanto, foi seu gosto por materiais

de leitura que mais preocupou os inquisidores. Que livros ele tinha e como ele os havia “adquirido? O baú de Abuja tinha quatro livros. O seu favorito era um volume in-folio em romance (castelhano), intitulado A Escritura Sagrada com os livros apócrifos. Isto ele havia comprado na ilha de Barbados de um judeu chamado Moisés Brandon, provavelmente um cristão novo português chamado Brandão. O texto era um fruto proibido. A Inquisição espanhola havia proibido a leitura da Escritura em espanhol ou em qualquer outra língua vulgar “desde 1550, e os diversos índices de livros proibidos haviam garantido que esta literatura ficasse especialmente longe das mãos de pessoas comuns.” Abuja queria conhecer por si 'mesiao. Ele trouxe aquilo, disse ele, simplesmente para que ele pudesse ler a Bíblia. Se “estava escrito em espanhol, como poderia ser ruim? Os outros livros eram quarto volumes menores de natureza similar, incluindo um “volume em espanhol intitulado O Novo Testamento do Nosso Senhor Jesus Cristo, dado a “ele, Abuja disse, “por alguns amigos ingleses na ilha de Carolina”. Estes ele havia lido “pouco, mas o volume in-folio ele havia lido frequentemente porque aquele livro lhe parecia ““bome proveitoso (bueno y provechoso)”. Ele alegou não ter idéia de que esses volumes e “as Escrituras Sagradas em particular poderiam ser ruins, uma vez que eles haviam sido impressos em Amsterdã e corrigidos por Dom Sebastian de la Encina, ministro da Igreja Anglicana! Abuja pode ter sido tristemente mal-informado, extremamente franco ou simplesmente ingênuo, mas seu desejo de saber coisas por si mesmo indicou uma independência mental que o levou a outras dificuldades. Uma testemunha relatou uma conversa com Abuja que nós podemos reconstruir a

partir dos procedimentos do julgamento. A testemunha havia chamado os ingleses de “cachorros heréticos desgraçados (perros herejes)”. Abuja respondeu: “Como você sabe que

Os heréticos estão condenados?”. “Como os mouros”, disse a testemunha. “E como você “Sabe que os mouros estão condenados?”. “Porque eles não são batizados; todos aqueles que estão fora da comunidade da nossa religião sagrada estão condenados”. “Como você sabe?

“Você viu isso, alguém veio para te contar tal coisa?”. “Eu sei disso pela luz da fé. Por que você me pergunta se eu sei se os heréticos ou mouros estão condenados?”. Abuja então

respondeu, deduzindo do seu entendimento da Escritura, talvez a partir de sua própria

leitura da Bíblia: “São Tomás diz, ame Deus acima de tudo e o seu próximo como a você

Mesmo. Os mouros e heréticos não são nossos próximos?”. “Todos os descendentes de Adão são”. “Então, como você pode desejar o mal ao seu igual dizendo que eles estão Condenados?”.

de libros prohibidos del siglo XVI. Historia de la Inquisición en Esparia Indices Martínez. J. E BUFANDA, Y América. v. 3, n. 808, p. 22.

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440

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

Aqui estava a proposição de que outros poderiam encontrar; a salvação atra és dew Deus misericordioso e, em seu testemunho, Abuja indicou que havia aqueles entre osi g] que eram caridosos e faziam boas obras e que, embora ele tenha dito então aos inguisic

que ninguém poderia ser salvo sem fé em Deus, lhe parecia que alguns dos her os poderiam ser salvos e que era um ato de piedade ou misericórdia que Deus não permitisse que todos fossem condenados e que, como ele dizia, o “fruto do sangue de Cras se perdesse”

Sua teologia deve ter sido um tanto confusa. O registro do Julgamento cc havido alguma dúvida sobre se ele pensava que São Tomás ou São Paulo havia dito ? me Deus

acima de tudo”, mas, mesmo assim, o conceito do amor por um igual, e, po tanto, ; tolerância, havia marcado o seu pensamento. | | “A “DES



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Havia ainda outras proposições heréticas e as inconsistências no depoimentodas buje tal como acreditar que simplesmente porque os livros eram em espanhol de | er bons, revelaram desilusão de sua parte. Em sessões posteriores perante os Jubesao que havia ridicularizado relíquias, que tinha dúvidas sobre a presença de Cristo na Ei cz e na existência do Purgatório. Ele começou a interpretar a Bíblia por si mesmo. E

para ele “o livro dos livros, a lei de Deus e o que Deus eos Profetas haviam

nclina admitiu que, desde que a Bíblia havia chegado em suas mãos, ele tivera alo para heresia, uma vez que lhe parecia “mais a vontade de viver em iberdade a nunca tivera certeza sobre isto e “havia vivido indeciso entre as duas fés”. us x Eventualmente, Abuja abjurou. Ele procurou clemência e pediu para sena on com a Igreja. Ele admitiu ter escondido dinheiro para evitar que ele fosse co U E : gs corte. Ele estava arrependido. Ele pediu à Inquisição que tirasse sua vidro É a | em algum monastério onde ele pudesse servir a Deus. Um laudo médico incas 1€ tinha uma mente confusa com tendência à mania. A corte foi relativamente tera foi sentenciado à reconciliação num auto de fé público com um sanbenito, a o religiosas, confisco de toda a sua propriedade e, então, dois anos de penitência a Ê po Em 1711, junto com outros prisioneiros, ele embarcou na almiranta da frotade gale: que navegou para a Espanha para cumprir a sua sentença.

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Até agora, a narrativa de Abuja e o tratamento de seu caso pelas autoa E e : :

parece bastante típica dos dissidentes ocasionais que podiam ser encon

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tivesse ficado para além do horizonte histórico, mas sua história estava

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luso-hispânico, e nós poderíamos esperar que sua carreira tivesse

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O galeão que o carregava e aos outros prisioneiros foi aa a me ingleses três dias após a saída do porto e Abuja e os demais foram leva e e Ele não tinha desejo ou razão para voltar a subjugar-se à soberania

assim, ele se instalou na ilha, vivendo, e finalmente casando, com me ilha de Curaçao, tendo três filhos com ela e ganhando a vida como marinhe

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PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

obstinado, impenitente, relapso herético que havia permanecido propositadamente entre os protestantes da Jamaica com o objetivo de evitar sua sentença.

Abuja foi capaz de contar em detalhe aos inq uisidores a natureza das cerimônias de seu casamento e do batismo de seus filhos, as quais foram feitas de acordo com os rit os anglic

anos. Sua confusão ou indecisão entre a Identidade católica e seu protestantismo parecem ter continuado. O mesmo pode ser dito do seu desejo de ler. Ele continuou a ler à Bíblia em espanhol e a liturgia que os ingleses cham avam de O Livro da Oração Comum. Ele explicou, “não tendo nenhum outro alimento espiri tual, ele recitava aquelas orações certos dias”. Ele pedira perdão, mas, entr ementes, tentava arrancar as barras de sua cela das velhas paredes da prisão. Ele continuava fiel às Velhas proposições; pensava que a confissão direta a Deus era melhor, duvidava do poder dos santos, não usava um rosário e admitia que, na Jamaica, ele havia vivido como um protestante, embora “sempre com dúvidas sobre estas coisas”. O que ele tentou argumentar foi que ele havia desejado viv er emerrer entre os pr

otestantes da Jamaica, mas não no interior de sua religião, isto é, ele tentou fazer uma distinção entre a sociedade política e a religi ão jamaicanas. Ele havia se casado dentro dos ritos protestante, mas apenas para proteger os direitos legais de sua

mulher e crianças. Ele havia aceitado a fé pro testante, mas ele não havia frequentado sua s igrejas. Abuja tentou convencer os inquis idores de que acreditara sempre que a religião que seus pais o haviam ensinado era a melh or Sobre seus queridos livros, porém, ele foi bastante claro. Ele continuara a ler seus liv ros porque ele os adorava, e se isto era her esia e apostasia, então que fosse.?? Desta vez , ele foi sentenciado a um auto de fé público, Prisão perpétua e sete anos nos remos das galés reais. Ele navegou para Sevilha co mo Prisioneiro no

Xavier em março de 1719.

Aqui, então, estavam quatro vidas que atravessaram e cruzaram espaços coloni ais. “Cada um destes homens esteve de certa fo

rma em disparidade com sua sociedade e co m algumas de suas mais profundamente sentid as e fortes idéias. Enquanto Pereira de Cas tro tinha alguma educação universitária, Gomes Coe lho, Abuja e DaMil y Sottomayor podiam lere escrever, embora não tivessem aque la educação. Eles Valorizavam livros, gostavam de pensar por si mesmos e não estavam dispostos a aceitar o controle sobre opi niões que Eles mesmos podiam formar.

Eles insistiam na liberdade de pensamento e consciência. De Certo modo, eles eram Tepresentativos do abrangente setor da po

pulação situado entre as Categorias de letrado e “popular” ou não-educado, e suas vidas revelam a insuficiência destas Categorias, bem como a complexida de da relação entre cultura de elite e cultura Popular. A questão das influências mútuas entre as culturas popular e erudita precisa levar

| em Consideração o papel mediador destes indivíduos, cujo papel social e intelectual situaar realmente ampliou seus horizontes.

ingleses, mais provavelmente no ramo do contrabando. Para Abuja, a a aa terra da liberdade, tinha agora se tornado realidade. Em 1716, sc as aventur

espanhola de Trinidad, ele foi reconhecido e capturado. Depois de a

tentativas de escapar, numa das quais ele escapou de um tronco, deixou um]

441

e

PÉ Afrase original é: “Que es cierto aver buelto a leer los libros por la afición que les tenía y que si esto era ser herege Y apostatar, era asi”.

442

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTIC

Um padre, possivelmente um judeu converso, um deísta curandero e um protesta marginal, cada um destes homens aceitava algumas crenças e duvidava de outras, O na antiga fronteira de credo que há muito tempo existia na Europa.” Sem dú entanto, suas experiências num mundo colonial, onde o controle era limitado easd eram enormes, renderam à sua independência mental crescentes oportunidades de expressó O fato de que eles podiam cruzar fronteiras imperiais e promover idas e vi ndas e) mundos cultural e religiosamente distintos também lhes ofereceu oportunid ades par:

independência e um estímulo para a liberdade de consciência.

Pereira de Castro fora enfurecido por uma suposta injustiça, Gomes

expectativa messiânica com relativismo religioso ou oportunismo,

— TRÂNSITO CULTURAL, CONQUISTAS E AVENTURA NA AMÉRICA PORTUGUESA

“o

Coe ho mistura

DaMil y Sc

vivera num mundo de dúvidas e mágica, e Abuja, sem muita estima pela consi coerência, aceitara algumas crenças, duvidara de outras e tentara decidir por

sobre a vontade de Deus. Cada história revela independência mental e espirita al, alér

sublinhar os espaços para o comportamento involuntariamente criaram.

individual que os impérios colon:

Isnara

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Pereira

dio

N as primeiras décadas do século XVIII , trê s homens, em nome da Coroa portuguesa , partem do norte de Minas Gerais e se aven turam pelo sertão da Bahia. Motiva dos pel a busca de riquezas minerais, saem de Mina s Novas do Araçuaí e iniciam a conquist a da

tegião compreendida entre os rios das Contas, Pardo e São Mateus, à época conhecida Como Sertão

da Ressaca.



OQempreendimento de Pedro Leolino Mariz, João da Silva Guimarães e João Gonçalves da Costa está ligado à expansão de Mi

nas Novas do Araçuaí, ao tempo pertencent e à Capitania da Bahia, e foi iniciado em 1727, quando Mariz, superintendente do lugar “Mica o processo de interiorização e conquista dos sertões baianos, especialmente, o Sertão da Ressaca, região fronteiriça com o norte de Minas Gerais e situada no centro-sul da dabia +

Fa

a

Ddhia,

Logo no ano seguinte, em 1 728, Mariz inform a às autoridades portuguesas os “Sultados iniciais de suas atividades, com a descoberta de minas de sal itre na região de “Montes Altos, localizada no Alto Sertão da Bahia, fronteira com o Sertão da Ressaca. Seu percurso é surp Em r e e n d i d o por mais um embate entre paulistas e emb z oabas, momento que r

registra mais um bom feito aos olhos da Coroa: a prisão de Manuel Nunes Vianna.! Enquanto Mariz permanece em Mo ntes Altos, avaliando a quantidade de salitr e studando as melhores técnicas para extraç ão do mineral, João da Silva

ão Gonçalves da Costa continuam a adentrar o sertão, registrando

* arta de Pedro Leolino M ariz 23. HALPERIN, Charles. The Ideology of Silence: Prejudice and Praga

Frontier. Comparative Studies in Society and History, v. 6, n. 3, pp. 442-66, | Nicholas.

Opportunist The Best of Both faiths: The Boundaries of Religious Allegiance and “a

Eighteenth-Century Cuenca. Bulletin of Hispanic Studies, v. 77, n. 2, 2000.

3RIFI

em seu

para Tomé J. da Corte Real, em relata dos seus ser viços nos diferentes ara no Brasil, referindo-se à prisão do famigerad o Manuel Nunes Vianna, ao Novas do Arassuahy e das minas de salitre, á criaçã do Bom ano das o da Vila de Nossa Senhora ins d M Sucesso, etc. Montes Altos, 18 de junho de 1759, apud ALMEID RE o tos relativos ao Brasil existentes no Arquivo de Marinh A, Eduardo Castro. “Inventário a e Ultramar”, in Anais da Biblioteca N), Rio de Janeiro, v. XXXI, p. 344.

4

FORMAS,

CORES

E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

ATLÂNTICA

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percurso combates com os índios autóctones em busca de minas de prata no Sertão da

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Ressaca e também de diamantes na Vila do Rio de Contas, no Alto Sertão da Bahia, Nos primeiros anos de 1750, Guimarães envia ao vice-rei, conde de Althou guia, amostras de

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pedras e uma planta do lugar relatando as medidas adotadas para a extração da prata nas minas recém-descobertas.? Na medida em que adentra o sertão baiano, duas de suas filhas, D. Isabel Maria e D. Quitéria, permanecem em Minas Novas, tornando-se as primeiras moradoras do Recolhimento Feminino Casa de Oração do Vale de Lágr imas, fundado em 1750 pelo padre Manoel dos Santos.?

A curiosidade e a procura de pedras preciosas e ouro conduzem João da Silva Guimarães para o Alto Sertão da Bahia e para o Recôncavo. João Gonçalves da Costa,

Guimarães.” Natural da cidade de Chaves, em Trás-os-Montes, Costa nasceu provavelment e nos anos de 1720. Duas décadas depois, encontra-se no norte de Minas Gerais, ao lado de

aqueles que, nas redes do cotidiano, tecem as mais diferentes tramas, em gra us e dimensões com intensidades também distintas, dilatando as fronteiras entre os uni versos culturais, facilitando a permeabilização entre mundos tidos como incompatí veis, imergindo e interiorizando novos saberes. O Novo Mundo não é o primeiro cenário da circulação e do trânsi to dos agentes

Mariz e Guimarães no processo de conquista dos sertões.

Estes homens destemidos, obedientes servos da Coroa lusitana, dedi cados vassalos

em busca de fontes de riquezas que pudessem agraciar os cofres portugueses serão os protagonistas e agentes da interiorização portuguesa nos sertões baiano e mineiro. Aventura e conquistas são alguns dos elementos presentes nas experiências insólitas

lusitanos: “Mas é a África, antes da Ásia de Vasco da Gama e da América de Col ombo que

em: a IVO, 4. A análise dos resultados da conquista e da trajetória de João Gonçalves da Costa pode ser vist

Bahia.nai Vitória da Conquista: Edições UESB, 2004; e IVO, I. P “A conquista do sertão da Bahia no Século XVI: ediação I. PO Anjo da Morte contra o Santo Lenho: poder, vingança e cotidiano no sertão da

cultural e aventura de um preto forro no Império Português”, in Anais do XXIII Simpósio Na LE.

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História, Londrina, 2005. 0) 5. ABEP Seção Colonial e Provincial. Patentes e Alvarás de Governo (1738-1745). Maço 356. P- 2

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faz as vezes de laboratório experimental. É lá que os portugueses des envolvem seus métodos de invasão e de coleta de informação”.º O espaço africano dos séculos XV e XVI, metamorfoseado pelos portugueses como um espaço para est as vivências, é o locus para as primeiras imersões européias realizarem pioneiras investida s em solo não-europeu. Serão os mulatos e brancos, alguns deportados, outros aventureiros ou cristãos novos,

denominados de lançados,” os primeiros encarregados do Vel ho Mundo a imergirem no universo tropical africano. De acordo com Boulégue,º eram, em sua maioria, provenientes da ilha de Santiago, em Cabo Verde, outros seriam eur opeus não-portugueses, mas culturalmente assimilados a estes. Os lançados, vivendo como africanos, absorvendo práticas e crenças cabo-verdianas e são-tomenses, serão os intermediários entre as sociedade s locais e o mundo lusitano. Eram auxiliados pelos grumetes — africanos semidestribalizados, cristãos, civilizados e de Posição superior. Também em Angola encontravam-se esses promotore s de natureza semelhante interligados pela atividade comercial — aviados e pombeiros. Os aviados eram “S Mestiços e funcionários baixos que exerciam o comércio com o interior da Colônia após a proibição do comércio no sertão aos brancos. Os pombeiros descalços, negros com

“Calções”, também semidestribalizados, desempenhavam a função de interlocutores entre e

a,

Anotações de Braz do Amaral. Bahia: Imprensa Oficial do Estado, 1957, v. 2, p. 336.

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e nas viagens arriscadas empreendidas por estes encarregados da Coroa portuguesa na

2. Ofício do vice-rei conde de Athouguia dando conta da informação que recebera do comandante das Minas Novas do Arassuahy, Pedro Leolino Mariz e do Mestre-de-Campo João da Silva Guimarães, acerca da descoberta das minas de prata, que anos antes tinham sido reveladas, por Belchior Dias Morêa, por alcunha o Moribeca. Bahia, 25 de maio de 1753, apud ABN, Rio de Janeiro, v. XXXI, p. 48. ato 3. “Oficio do Arcebispo da Bahia, para Diogo de Mendonça Corte Real, referindo-se à um Recolhimen Ed Mulheres, fundado no sertão por uma filha do Mestre-de-Campo da Conquista João da Silva TRA e pedindo instruções a respeito”, in ACCIOLI, I. Memórias históricas e políticas da província da

protagonizando distintos contatos, nos permite pensar em que medida a intensidade destes movimentos podem ser responsáveis pelas relações e conexões entre mun dos diferentes e aparentemente incompatíveis. Quantos proscritos, degredados, ná ufragos e viajan tes solitários circularam por cenários inóspitos do mundo ultramarino lusitano, vivenciando as mais diversas exp eriências, contudo, sem agasalhar-se e sem acomodar-se aos inusitados e perigo sos cenários longínquos? Estes anônimos ou mesmo transeuntes, com suas experiências efêmeras, esquecidos e circulando em diversas partes do mundo não são os res ponsáveis pelos nexos conseguiram deslocar-se do anonimato e protagonizar, em escalas variadas, transferências culturais entre o seu mundo e o novo espaço recém-vivenciad o. Estamos nos referindo

recebida em 1744, permanece no Sertão da Ressaca com o objetivo claro de substituir

implementados por diversos atores sociais que, indo e vindo de um lugar para o ouro,

445

entre universos apartados e distantes. Voltemos nossa reflexão para aqueles que, mesmo em ambientes e culturas adversas,

conforme explicitada em sua Carta Patente de capitão-mor do terço de Henrique Dias,

América, A mobilização de homens circulando e transitando nas diversas partes do mundo, pertencentes ao Império Marítimo Português, permitiu a conexão entre universos culturais distintos e fomentou, incessantemente, um vaivém de saberes, costumes, experiências e técnicas, ao tempo em que sedimentou os alicerces da dominação lusitana em espaços longínquos. Diversos missionários, artistas e aventureiros abriram caminhos pelos mares ou pelas florestas A lista destes personagens que transitavam pelo mundo ibérico é longa e não nos permite contabilizar todos estes operadores que, em diversas partes do mundo, vivenciaram as mais inusitadas experiências desde o século XVI. A incidência de circulações e trânsitos

PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVI MENTO

6, GRUZINSKI, S. A passagem do século: 1480-1520. As origens da globalização. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p. 106.

7. Segundo Alencastro, o termo lançados ou tangomaus (portugueses lançados na Guiné) pode deri var do

Verbo lançar Jogar fora, degredar, explicando assim o estatuto social destes agen tes. ALENCASTRO, L. E

Otr ato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000 , p. 48. 8. VENÂN CIO, J. Cc. “Mestiços em África: mediadores culturais naturais”, in LOU REIRO, R. M. & GRUZINSKI, S. (org.). Passar as fronteiras. Lagos, 1999.

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NA MODERNIDADE A

447

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os comerciantes de Luanda e os chefes locais, atividade que, muitas vezes, acaba:

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concorrer com os aviados. Tanto as comunidades de lançados como as dos aviados acabaram

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por diluir-se em processos de mestiçagem que perduraram até nossos dias em Luanda. Cabo Verde e São Tomé.? | sl Nos primeiros anos do século XVI, tem-se o registro de uma das primeiras presenças. européias nas costas brasileiras. Objeto de iconografias, de lendas e de relatos fant: sticos. Ee

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o registro do sobrevivente de um naufrágio na ilha de Itaparica — Diogo Álvares Co caia o Caramuru — também recebeu olhar da historiografia. Vivendo como os índios, falanç sa língua deles e chegando mesmo a adotar um nome tupinambá e a se casar com uma: indígena, Caramuru tornou-se o primeiro caso de interiorização cultural européia na

América lusitana.!º

e

De característica semelhante, o cronista Bernal Diaz del Castilho registra a his 'Ó ria de dois espanhóis que tinham naufragado, ainda em 1509, em terras espanholas, i grandose posteriormente à comunidade maia. Assim como o Caramuru, Jerônimo de 4 guila: e

recusa-se a retornar ao mundo cristão; Guerrero, por sua vez, apóia a causa indígena em .

luta contra os espanhóis conquistadores." +E Foram várias as faces do diálogo nas novas paisagens resultantes da expansão. portuguesa que propiciou as mais complexas e inusitadas mediações culturais em níve s

religiosos, econômicos, institucionais ou mesmo lingiisticos. Privilegiou-se na p sente. análise a dimensão econômica como uma das faces do processo de circulação e trá sito. dos agentes portugueses que, incansavelmente, inventando rotas e caminhos, buscaram | riquezas, aventurando-se por ambientes insólitos da América portuguesa, interiorizando. os pilares do processo de interiorização e integralização econômica. y ma Inóspitos serão os sertões, terra de ninguém, espaço do súbito e de sociabilidades, inesperadas. Sertão encantado, morada do Diabo, '2 palco de seres mágicos e de alegorias. indistintas. Sertão mestiço, violento e imprevisível;!º nele, a incerteza é o horizonte daqueles | A

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10. Segundo Janaína Amado (1998), a historiografia não tem dúvida da existência deste personagem ] também não a comprova com veemência, apesar de Gabriel Soares de Sousa ter escrito sobre um, náufrago encontrado nas costas da Bahia em companhia do donatário Francisco Coutinho. Registrãa o registro de Caramuru perpetuou-se em obras posteriores. 11. GRUZINSKI. A passagem do século..., pp. 108-9.

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12. MOREAU, P & BARO, R. História da últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses € relação

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viagem ao país dos tapuias. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Editora da Universidade de São Pau a EH eo 1979, p. 104 13. Sobre estes conceitos acerca do caráter das relações sociais no sertão. Ver: FRANCO, M. 8. de C. Ho és dd

gi

1

Mariz, do mestre-de-campo João da Silva Guimarães e do preto-forro português João

Gonçalves da Costa.

Como já dito, enquanto Guimarães e Costa adentram os sertões baianos, Mariz se sedimenta como um homem de fronteira, permanecendo em Minas Novas do Araçuaí mas

em constante contado administrativo com a Serra de Montes Altos, no Alto Sertão da

Bahia. Mariz era italiano nascido em Roma,!*e foi o responsável pelo adentramento dos

No presente texto optou-se por analisar os mecanismos de interiorização impiementados pelo superintendente das minas do norte mineiro, Pedro Leolino Mariz,

sociabilidades e aventuras imprevisíveis. Aguilar, após o reencontro com seus pares euro eus,

autora que a partir dos Poemas épicos de Santa Rita Durão e os relatos do Padre Simão de

do encontro, muitas permeabilidades das trocas e mediações. Sertão da Bahia. São minas Pedro Leolino

sertões baianos executado por Guimarães e Costa, que abriram os caminhos e as rotas de ligações com o Recôncavo e com o porto de Camamu, no sul da Bahia.

Gonzalo Guerrero imiscuíram-se no universo indígena por vários anos, protagonizando.

9. VENÂNCIO. Mestiços em África..., p. 185.

que se arriscam pelas suas entranhas. O inesperado é o resultado vezes permeado pelo confronto que também se ameniza frente às fronteiras culturais, inaugurando novos cenários fomentados pelas Sertão de Minas Novas do Araçuaí, Sertão da Ressaca, Alto estes os sertões das aventuras e conquistas do superintendente das

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cuja aventura parece iniciar-se em 1728, quando recebe, na Bahia, o título de comandante eregente das Minas Novas por ordem do vice-rei Vasco Fernandes César de Menezes, !º com a incumbência de expulsar do sertão mineiro os irmãos paulistas Domingos e Francisco Dias do Prado, primeiros descobridores do ouro do lugar. Mariz, ao escrever para as autoridades portuguesas em 1759, informa seus feitos, destacando a descoberta de Minas Novas no ano de 1727 e as contendas que há muito envolviam as questões jurídicas, administrativas e militares do lugar, ao tempo em que solicita o “emprego de superintendente geral da localidade e de todas as minas da capitania,

; com jurisdição no cível e no crime (...) e estabelecer nelas tudo quanto respeita[va] aos

reais interesses”.1” À preocupação de Mariz coadunava com a do governo baiano em submeter a região de Minas Novas à jurisprudência da capitania da Bahia. De outro modo, o governador das Minas Gerais, Dom Lourenço de Almeida, tenta convencer à Coroa de que as terras

14. Benedito José de Souza foi sócio efetivo do IHGMG e faz esta afirmação no artigo intitulado: SOUZA ,

B. J. 250 anos de Minas Novas. Revista do IHGMG, Belo Horizonte, v. XVIII, pp. 169-83, 1981.

15. Menezes assumiu O governo da Bahia em 23 de novembro de 1720 até o ano de 1735. Em 1929 recebe u

O título de conde de Sabugosa. Foi um dos encarregados pelos descobrimentos das minas de Cuiabá, Goiás e Rio das Contas. Foi um dos fundadores das vilas baianas de Maragogipe, Rio das Contas e Jacobina. Ver: CALDAS, J. A. Notícia geral de toda esta capitania da Bahia desde o seu descobrimento até o presente ano de 1759. Salvador: Tipografia Beneditina Ltda, 1951, p. 268. 16. Ver também ROCHA, J. J. da. Geografia histórica da capitania de Minas Gerais. Descrição geográfica, topográfica, histórica e política da capitania Gerais. Estudo crítico de Maria Efigênia Lage de Resende e

Rita de Cássia Marques. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1995: SOUZA, B. J. 250 anos de

J. Vassalos rebeldes. Violência coletiva nas Minas na primeira metade do século XVIII. Belo Horizonte: of

Minas Novas. 17. Carta de Pedro Leolino Mariz para Tomé J. da Corte Real, em relata dos seus serviços nos diferentes

ANASTASIA, C. M. J. (orgs). O trabalho mestiço: maneiras de pensar e formas de viver: Sécul os XVI a XIX. São Paulo: Annablume, 2002, pp. 379-92.

descobrimento das Minas Novas do Arassuahy e das minas de salitre, á criação da Vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso, etc. Montes Altos, 18 de junho de 1759, apud ABN, v. XXXI, pp. 344-5.

livres na ordem escravocrata. 3º ed., São Paulo: Kairós Livraria Editora Ltda, 1983; ANASTASIA,

aço

Arte, 1998; ANASTASIA, C. M. J. “Saci-pererê: uma alegoria mestiça do sertão”, in PAIVA, E. E &

lugares que desempenhara no Brasil, referindo-se à prisão do famigerado Manuel Nunes Vianna, ao

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PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

ATLÂNTICA

descobertas pelos paulistas distavam seis dias da Vila do Príncipe do Serro Frio, ao passo que para a Bahia a distância não era menor do que 20 dias.'* As preocupações de Mariz estão relacionadas às complicadas divisões judiciárias e

pelos escravos uma vez que sua saúde o impedia de se locomo ver a cavalo Dedicação por ele mesmo reconhecida em função da importância dos resultados de sua Ss ações para o

governo português:

administrativas que envolviam as capitanias da Bahia e Minas Gerais com a descoberta de

ouro e pedras preciosas no início do século XVIII. O fato é que a Ordem Régia de 17 de maio de 1729 determinou que os novos territórios descobertos — Araçuaí e Fanado — ficassem

Guiado da minha estrela nos primeiros ano s da minha mocidade vim parar no centro

destes sertões da Bahia, aonde vivendo entre os seus habitantes com alguma distinção me ofereceu a fortuna várias ocasiões em que pude mostrar a natural inclinação de servir a El Rey (...) aumentou-se a minha reputação com a feliz execução que dei às ordens de S. M. para prisão do famigerado Manuel Nunes Viana e ou tros, que por poderosos e acastelados viviam despótica e lib ertinamente (...) fiz várias expedições e armei bandeiras à minha custa, de que resultou o verem-se hoje este Ss sertões tão povoados.?

pertencentes à capitania da Bahia. Em 29 de maio do mesmo ano expediu-se nova Ordem Régia criando a vila de Minas Novas, que foi posteriormente instalada em outubro, ato que a vinculava judicialmente à comarca do Serro Frio, ao passo em que também atrelava

a vila recém-criada, administrativa e militarmente, à capitania da Bahia. No entanto, em 1757 o Conselho Ultramarino incorporou todo o território de Minas Novas à capitania de Minas Gerais, mas permanecendo as dúvidas, pois o ouvidor de

Jacobina continua a interpretar que do ponto de vista jurídico o lugar continua submetido

à comarca baiana e, apenas militarmente, à capitania de Minas Gerais. Tentando por fim às dúvidas, uma nova Carta Régia volta a esclarecer que civil e militarmente o lugar subordina-se à capitania mineira, decisão que não resolve a querela jurídica que perdurou por mais algum tempo. Por fim, sob resolução de 26 de agosto de 1760, determinou-se a absoluta separação dos distritos e sua incorporação à capitania de Minas Gerais do ponto de vista civil, político e militar, permanecendo subordinado à Bahia apenas no que se refere às questões eclesiásticas.!º As inquietações de Mariz acerca das questões de jurisprudência de Minas Novas podem ser mais bem-compreendidas quando o mesmo registra à Coroa a descoberta de minas de

449

Apesar da correspondência de Mariz ser datada de 1759, ele relata vários de seus feitos desde sua chegada em Minas Novas do Araçuaí, em 1727, não sendo possível, portant precisar ainda o momento exato da descoberta do salitre em Montes Altos. E É " O registro que se tem é que em 1757 0 vice-rei, conde dos Arcos, registra as medidas tecnicas e administrativas necessárias para exploraçã o do salitre com segu rança, destacando a qualidade superior do mineral encontrado no sertão em relação ao o ado da Ásia pelo governo lusitano. De outro modo, a preo cupação financeira com as despesas reais red; EN + A U edimensiona a necessidade de averiguaçãEo da qu antidade existente e da melhor forma de extração:

salitre na Serra de Montes Altos, localizada em terras baianas:

Mas tão excelente, que a pólvora que com ele se fez provou muito melhor do que a outra que foi Composta de salitre da Ásia e que verdad eiramente se faz hoje este negócio um dos mais importantes objetos de interesses des se Reino (...) faz-se indispensavelmente necessario, que antes de tudo eu nomeie um Min istro desta Relação e um Oficial militar deste Estado, que achar mais dignos de minha confiança para irem incorporar-se com Ped ro eolino a examinarem com ele, se com efeitito o há há do referido material tão grande

Se achou salitre descoberto por um fâmulo de minha casa, e por se achar de boa qualidade no experimento, que dele mandei fazer, certificado por outros exploradores, que mandei de que a serra era abundante deste mineral, dei prontamente conta a S. M.; que

foi servido

de

ordenar-me

prontamente executei

a mandasse

[sic]

examinar

miudamente,

o que

(...) e pelas informações vim a certificar-me que a serra era

abundância que valha a despesa,??

bastante comprida e quase toda nitrosa.”

sua A correspondência entre Mariz e as autoridades portuguesas revela que toda a

vida fora consagrada às causas reais. Mesmo em idade avançada, ad pessoalmente o trabalho de extração do salitre, sendo muitas vezes conduzido em E

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ário histórico das

20. Carta de Pedro Leolino Mariz para Tomé J. da Corte Real, em relata dos seus serviços nos

lugares que desempenhara no Brasil, referindo-se à prisão do famigerado Manuel Nunes Vi

descobrimento das Minas Novas do Arassuahy e das minas de salitre, á criação da Vila de Nossa do Bom Sucesso, etc. Montes Altos, 18 de junho de 1759, apud ABN, v. XXXI, pp. 34455.

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ee Julguei que era o mais prático dos Sertões desta Améric a pelos haver fregiientado 9 O tempo que serviu de Ouvidor da Comarca de Piau, donde havia de adquirir a

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Nom E eei cetao Desembargador Joã=o Pedro Henriques da Silva, porque entre todos os desta

: 19. Ver CUNHA MATOS, R. J. da. Corografia histórica da província de Minas Gerais. Belo Horizonte Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1996; SOUZA. 250 anos de Minas Novas.

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par E a li dar com o indist istiinto. De outro modo, demonstra a sempre pre sente astúcia portuguesa que se refere ao tratamento com o outro:

18. SOUZA. 250 anos de Minas Novas, p. 175.

Itatiaia, 1981, v. 1: ROCHA. Geografia histórica...; BARBOSA, W. de Almeida. Dicion

onhecimento notório das adversidades e inconstâncias do universo cultural sertanejo a O Vicvice a que tenha a e-r-rei ei na escolha de alguém experiências, técnicas e habilidades

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Ha de Pedro Leolino Mariz para Tomé J. da Corte Real... GO do vira ra:

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à rei conde dos Arcos para Thomé E Joaquim da Costa Corte Real, sobre a exploração do erra

dos Montes Altos. Bahia, 4 de setembro de 1 757, apud ABN, v. XXXI, p. 175.

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NA MODERNIDADE

as instruções necessárias para tratar com Sertan istas e poder na mesma

ne” ATLÂNTICA

PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

rudeza e

Seguro de que a exploração do salitre será de grande importância para Coroa, Mariz remete cuidadosamente às autoridades lusas um a descrição minuciosa das potencialidades minerais da Serra dos Montes Altos, e a necessidad e da utilização da mão-obra-escrava

confusão com que falam tirar todas aquelas noticias que possam ser proveitosas para o

bom êxito da diligência de que o tenho encarrega do. Para acompanhar a mesma diligência, tenho nomeado ao Alferes d' Infantaria Francisco da Cun ha, que é igualmente prático nesses sertões pelos haver circulado bastan te vezes e Juntamente nomeei ao

para averiguação precisa da quantidade de salitre existent e e posterior instalação da real:

Sargento mor engenheiro Manuel Cardoso Saldanha, de quem confio , que fará as mais exatas averiguações (...) a respeito da posição das terras, com o da demarcação do

fábrica

Sem o socorro da substância corporal, não hão de poder subir e descer os montes, que

caminho, que for mais direito, breve e praticável e haver de formar um cálculo sem

V. Ex. viu e sabe o quanto lhe custou a subir um e assim saberá V. Ex. dar a providência

grande excesso ou diminuição a despesa, que se fará em abri-lo?

necessária para que não faltem as forças em diligê ncia tão precisa e importante e hajam os escravos necessários, ágeis e fortes para aqueles serviços e persuada-se V Ex. que com menos de 80 a 100 negros, se não pode m fazer e feitores que os toquem (...) que se abram umas cavas fundas, para o deseng ano se naquela altura cristaliza o salitre depois que lhe entra o ar e que assim que tiv er descoberto a quantidade deste mineral,

A decisão acerca da melhor forma de se conduzir o salitre com menor custo para os cofres reais apresenta-se como um problema de difícil res olução: por terra, as íngremes e

perigosas rotas pelo sertão podem tornar o transporte do mineral de alto custo; por outro lado, a condução pelo rio São Francisco “seria de pouca despesa, quando não tivesse à cachoeira de Paulo Afonso e as que a seguem, mas (...) pelo dito rio será mais cômoda a sua condução até o sítio de Juazeiro, em barcas e canoas conduzidas pelos índios das aldeias mais vizinhas”.

Para seu empreendimento, Mariz considera importante o envolvime nto dos indígenas

locais para a abertura dos caminhos que possam conduzir o salitre até o porto de São Félix, no Recôncavo, ou o porto de Camamu, no sul da Bahia. Para tanto, solicita às autoridades coloniais a nomeação de capitão dos índios com conces são de patente ao índio Valério de Sousa de Nação Aracapá, destacando sua habilidad e em arregimentar os “índios dispersos pelo sertão das povoações, rio Pardo e sertão cir cunvizinho”2 Para esse feito foi convocado João Gonçalves da Costa, parceiro de Gui marães na aventura e conquista do Sertão da Ressaca, ordenadas por Mariz. A larga experiência na abertura de caminhos e o trato com os índios autóctones fizeram de Costa um homem importante para o governo português no processo de conquista dos sertões bai anos, & imprescindível para aberturas de novas rotas: “Hei de expedir ordem ao Capitão-mor da Conquista do Sertão da Ressaca João Gonçalves da Costa para fazer descer o gen tio mongoyo que se há de empregar neste serviço”.25

23. Oficio do vice-rei conde dos Arcos para Thomé Joaquim da Costa Corte Real. .. 24. Ofício do Desembargador Thomaz Roby de Barros Barreto, Intendente Geral dos Diam antes, para u vice-rei conde dos Arcos, acerca da exploração do salitre na Serra dos Montes altos e ep 25.

sobre a aquisição e preços dos escravos para os respectivos serviços. Tejuco, 22 de março de 1758, apu ABN,v. XXXI, p. 281. . Portaria de

ra Leolino Mariz, Mestre-de-Campo e Comandante e Intendente das Mina s Na

Arassuahy, na qual encarrega Valério de Sousa a abertura de uma estrada e o nomeia Capitão Índios. Vila do Bom Sucesso das Minas Novas do Arassuahy, 8 de fevereiro de 1758, apud ABN, V. , 280.

26. Oficio do governador D. Fernando José de Portugal para D. Rodrigo de Sous a Eme

estabelecimento de nitreiras e artificiais, por conta da Fazenda Real, na serra dos Montes

a

Atus

abertura de uma estrada desde esta serra até à Vila de Camamu, de cuja diligência fora encarres

José de Sá Bittencourt Accioli. Bahia, 8 de maio de 1800, apud ABN, v. XXXVI, p. 244.

451

Es

que persuada seguramente o estabelecer-se fábric a real?

Após meticuloso estudo, o vice-rei conde dos Arcos decide pelo transporte do mineral por terra com destino aos portos; ao tempo em que ratifica a necessidade de recursos humanos especializados no trabalho. Admitindo à inexistência de técnicos apropriados na América, recomenda o envio de “um oficial dos que tinham vindo do Estado da Índia”2s com larga experiência e saber acerca da extraç ão do salitre. Ponderando que a imediata instalação de uma fábrica real acarretaria altos custos, propõe o estabelecimento “de uma pequena fábrica de 6 fornalhas, em que fez ventar outras tantas caldeiras, vários coadores e crista lizadores (...) não é o seu parecer, que erija fábrica formal, sem que primeiro se mande cont inuar a mina”.?º O vice-rei teme a repetição de iniciativas pouco econômicas, como em out ras tentativas de extração de salitre no Que sendo mandado erigir uma fábrica pouco distante do rio São Francisco, foi abolida dentro em poucos anos pela pequena quanti dade de salitre, que nela se extraia e o Mesmo sucesso teve a fábrica, que estabelecerã o os Salgados no Governo de Pernambuco e semelhante infelicidade experimentou a fábrica que junto ao rio São Francisco estabeleceram no ano de 1740 por Provis ão de S. M.3º mp ee

27. Ofício de Pedro Leolino Mariz para o vice-r ei conde dos Arcos, no qual lhe dá informaçõ es sobre a descoberta de salitre na Serra dos Montes Altos e os meios da sua condução para a costa. Vila do Bom Sucesso, 10 de fevereiro de 1758, apu d ABN, v. XXXI, pp. 278-9. 28. Ofício do Vice-rei conde dos Arcos para Th omé Joaquim da C. Corte Real transmitindo as informações que recebera da comissão enviada à Serra dos Mon tes altos para proceder a exploração do salitre e estudar o caminho mais fácil e econômico par a o transportar. Bahia, 15 de setembro de 175 8, apud ABN, v. XXXI, pp. 289-95. 29,

5 30,

Ofício do vice-rei conde dos Arcos para Th omé Joaquim da Costa Corte Real, em que lhe comunica Novas e interessantes informações da exploração do salitre na Serra dos Montes Altos, que havia Tecebido do Desembargador Thomaz Roby de Barros Barreto. Bahia, 30 de novembro de 175 8, apud ABN, v. XXXI,

pp. 309-10. Ofício do vice-rei conde dos Arcos para Thomé Joaquim da Costa Corte Real...

MI

452

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

a

No ano seguinte, o vice-rei reconsidera algumas decisões ao perceber que a administração particular da fábrica não tem explorado a quantidade de salitre avaliada por Mariz. Aponta, de outro modo, que somente a instalação de uma fábrica real com a quantidade de escravos necessários poderão render maiores rendimentos à Coroa, ao passo em que reitera a confiança no sertanista em negócios reais:

Para se conservar sempre presente a lembrança do benefício que S. A. R.o Príncipe N. S. acaba de fazer os seus vassalos na abertura de tão útil estrada em todo o temp o-eu, a denominei Povoação Augusta da Real estrada, que principia nas cabeceiras do Rio do Peixe, onde fixei os primeiros 4 casais e continua até além do Guandu légua e meia, em que estabeleço 7 moradas que absorvem os 28 casais, que cá tenho, deixando um e outro braço do Guandu um quarto de légua para se estabelecer o lugar onde deve fazer a freguesia dos casais ou Vila Real, conforme for do agrado de S. A.*

Tão somente vieram 87 arrobas de salitre, quando confessa esperava mandar mais de 200, o que diz não poderá conseguir pelas inumeráveis

doenças, que sobrevieram

À construção da estrada da Serra de Montes Altos mobiliza tanto os governadores da capitania de Minas Gerais e da Bahia como de outras vilas importantes, interessadas nos benefícios que a abertura de novos caminhos pode proporcionar ao interior. É esse o sentido da correspondência entre o governador baiano, Francisco da Cunha Menezes e O

naquele sertão, o que não pode causar novidade por serem muito comuns (...) se Pedro Leolino Mariz tivesse um competente número de escravos e os feitores necessários para

os administrarem, poderia no tempo de verão ter-se aproveitado de tal sorte, que quando chegasse o inverno tivesse vencido a maior parte do trabalho.”

Pode V. Ex. considerar de que a vantagem não será uma estrada que vai formecer O

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interior dos cortes a força e o pão. O terreno é o mais fértil para todo o gênero de culturas, o milho, o feijão, base fundamental da sustentação de todo o Pais das Minas, se verá propagar com muita abundância na Real estrada, com muita abundância sem

Ouvidor da comarca de Jacobina:

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A instalação da fábrica real e a abertura de estradas ligando a Serra de Montes Altos aos portos baianos foram de extrema importância econômica para os sertões. A iniciativa das autoridades coloniais de sedimentar a instalação de famílias de pequenos agricultores ao longo do trajeto objetivava não só a preservação e manutenção dos caminhos, mas: também uma iniciativa de fomentar o abastecimento das áreas de mineração, especialmente Minas Gerais, num projeto claro de interiorização e integração econômica dos sertões baianos à economia colonial:

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No decorrer do processo de abertura das rotas vários são os registros acerca do controle das famílias de colonos que habitavam as margens dos caminhos, OS produtos que estavam cultivando e o número de pessoas envolvidas. Os promotores € encarregados da integralização econômica têm claro entendimento da necessidade de interiorização institucional de suas ações, e a importância do povoamento das margens da estrada é acompanhada da preocupação do controle social e do esquadrinhamento dos novos

Om

7

dúvida nenhuma.”

Condução de madeiras, dos gêneros, produtos e gados do interior e das minas do sertão para os portos do mar, cidades e vilas principais pelo seu comércio e povoação, se faz sumamente necessário ao Real serviço, que V M. com a maior brevidade possí vel me informe confidencial e circunstancialmente sobre a utilidade que se pode seguir desta obra, sobre ao certo de sua direção tanto econômico, como topográfico, e da importância total em que se avalia a sua inteira construção. *

Em 1803, as preocupações do governador da Bahia externada ao Ouvidor da comarca de Jacobina referem-se aos novos problemas vivenciados após a abertura da estrada, pois decorridos seis meses de sua conclusão, são vários os relatos sobre o temo r que se tem em utilizá-la, uma vez que a iniciativa de sedimentação de colonos ao long o do percurso não foi tão vitoriosa, ficando a obra abandonada e sem manutenção regular. Passa-se a questionar se a obra tem de fato a utilidade pensada no momento de sua cons trução, questionando inclusive que o empreendimento estava por beneficiar as fazendas do responsável pela direção da obra, o coronel José de Sá Bittencourt Accioly. Argumenta o capitão-mor Ângelo Custódio da Rocha Medrado ao ouvidor de Jacobina nos seguinte s termos: A referida estrada, porquanto me conta por uma voz geral que é inabitável, por passar esta por continuados atoleiros e pantanais, não obstante ser esti vada pela extensão de

muitos que é impossível sua conservação, e totalmente falta de pastos para os animais dos viajantes, que o fim de semelhante obra só reduza em proveito ao mesmo Coronel,

moradores:

exploração 31. Ofício do vice-rei conde dos Arcos para Thomé J. da Costa Corte Real, no qual informa que à do salitre na serra dos Montes Altos não produzia resultados satisfatórios, enqu anto fosse feita por da Fazenda Real. administração particular e que era necessário estabelecer uma fábrica por conta Bahia, 15 de agosto de 1759, apud ABN, v. XXXI, p. 365.

bre05

tinho, em que informa Sa 32. Carta de José de Sá Bittencourt Accioly para Dom Rodrigo de Sousa Coutin Porto de trabalhos da nova estrada para a Serra dos Montes Altos, cuja construção estava dirigindo. Sousa, 20 de maio de 1801, apud ABN, v. XXXVI, p. 4053.

453

Por passar o caminho nas suas fazendas, sitas para os mesmo lugares, não vindo a ter O público o menor interesse.

33.

a

*

E

de José de Sá Fies Bittencourt Accioly para Dom Rodrigo de Sousa Coutinho ...

“cio do Governador Francisco da Cunha Menezes para o Ouvidor da comarca da Jacobina, no qual lhe determin

a que o informe sobre a utilidade da construção da estrada da Serr a de Montes Altos. Bahia, de maio de 1802, apud ABN, v. XXXVI.

454

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLANT

Continua o argumento destacando que mesmo o capitão da conquista, João Go eta da Costa, pioneiro nas aberturas e caminhos do sertão e profundo conhecedor da regiã não se arrisca utilizar a estrada da Serra de Montes Altos: d

PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

ad

E tanto se comprova ser verdadeira a incapacidade daquela estrada, que sendo o

Capitão da Conquista João Gonçalves da Costa, parcial amigo do dito Coronel [José de

455

no início do século XVIII, encontra-se em Salvador, onde recebe a incumb ência de expulsar os paulistas de Minas Novas com o cargo de superintendente geral das Minas. Estes ele mentos 'com pigmentos, formatos e origens distintas transitam e circulam pelos sertões mineiro e baiano tecendo e tingindo novos espaços mesclados pelo indistinto.

o

Sá] não faz uso da referida estrada por ser péssima e invadiável, antes passou a abrir

outro igual caminho a saia na estrada geral em direitura ao Rio Secco, onde embocam | todas as mais, tanto de Minas, como a outra de Maracás, por ser aquela costa muito.

bravia e falta de comércio, e sujeita a muitas hostilidades do gentio bárbaro, de sorte que: estando aberta a mais de 6 meses não consta que os povos queiram transitar porela 3.

| É

Silva Guimarães é incrementado e dinamizado pelas novas necessidades fomen adas pela

ES

O processo de aberturas e caminhos iniciado por João Gonçalves da Costa e João da

São Félix e Camamu. A implementação de novas ligações e contatos entre o sertão e 0 litoral abriu possibilidades claras de interiorização da administração colonial, tendo Pedre Leolino Mariz como um dos principais agentes da imersão administrativa colonial.

As rotas abertas com o empreendimento de Guimarães e Costa inaugur um cenáric am

de circulação de produtos e pessoas entre os sertões e diversas regiões, principaln com o norte de Minas Gerais, Nazareth, Valença e Aldeia, no norte da Bahia, e Canay e Ilhéus, localizados no sul baiano. As novas ligações efetuadas em função do transpc do salitre conectam os sertões diretamente com o mundo atlântico, intensificando novo nexos e transposições tanto de pessoas e coisas, como de saberes, numa conjugação de uefa= Aliçe

coexistências distintas e aparentemente dissociáveis. cam Imagens em caleidoscópio. Cores, formas, línguas e saberes díspares convivendo, às vezes, de forma idílica, outras vezes de forma conflituosa, mas condicionada S |] nela permeabilidade e/ou impermeabilidade das fronteiras culturais. Encontros e conf x permitindo diálogos incessantes, matizando, colorindo e forjando intensamente novos ton: novos dialetos e novas formas. É um arco-íris de cores em mutação num universo: cu tural que abarca distintos matizes. É o saber técnico de um engenheiro europeu dialogando com a experiência científica de um indiano de igual formação. É um preto forro, ex-es cravo português, tornado autoridade no sertão lusitano, que facilita o diálogo institucional de um italiano, tornado superintendente das Minas, com um líder indígena, comuni vitoriosa que culminou com a nomeação de capitão dos índios a um índio da terra de

nome Valério de Sousa e de Nação Aracapá. É o mesmo italiano, nascido em Roma, que,

E

o)

35. Carta do Capitão-mor Ângelo Custódio da Rocha Medrado para o Ouvidor da Jacobina, em que lhe 68 as informações a que se referem os documentos antecedentes. Vila do Rio de Contas, 11 de outubro 68 1803, apud ABN, v. XXXVI, pp. 149-50.

DR

intensificação das conexões entre os sertões mineiro e baiano, ligando-os aos port

E,

descoberta do salitre e seu consequente escoamento. A extração do mineral fomer

|

O TRÁFICO NEGREIRO INTERNACIONAL E A DEMOGRAFIA ESCRAVA NAS MINAS GERAIS: UM SÉCULO E MEIO DE OSCILAÇÕES

Douglas Cole Libby

Dre as últimas décadas do século passado e nos anos iniciais do atual a literatura acerca do tráfico negreiro transatlântico se ampliou imensuravelmente e nossa compreensão de diversos aspectos do sistema de comércio de escravos africanos nas Américas é hoje bem mais aprofundada do que quando a onda de revisão historiográfica se principiou, por volta de 1970. Graças aos esforços de estudiosos adeptos da cliometria estima-se com cada vez mais acuidade o volume de “peças” sugadas pelo tráfico. Conhecemos bem melhor a geografia proporcional dos embarques na África e dos desembarques do outro lado do Atlântico e confirma-se que, diferentemente do tráfico para o Oriente Médio ou do comércio de cativos interno à África, a composição da carga destinada às Américas, além de ser, em média, de dois a três homens para cada mulher, incluía pouquíssimas crianças." Outras vertentes do revisionismo têm-se debruçado sobre a travessia em si, examinando as condições de vida e morte a bordo dos tumbeiros, tanto para a mercadoria escrava, quanto para as tripulações. No caso, os quadros desenhados são de chocar — afinal, tudo parece indicar que o tráfico negreiro internacional tenha sido o mais mortífero empreendimento de

1. Aobra seminal é CURTIN, P The Atlantic Slave Trade: A Census. Madison: University of Wisconsin Press, 1969, Entre muitos outros, ver CONRAD, R. E. Tumbeiros: o tráfico de escravos para o Brasil. São Paulo:

Brasiliense, 1985; ELTIS, D. Economic Growth and the Ending of the Transatlantic Slave Trade. New York: Oxford University Press, 1987; MILLER, J. C. Way of Death: Merchant Capitalism and the Angolan Slave Trade, 1730-1830. Madison: University of Wisconsin Press, 1988; FLORENTINO, M. G. Em costas negras:

uma história do tráfico atlântico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro (séculos XVIII e XIX). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1995; KLEIN, H. S. The Atlantic Slave Trade. New York: Cambridge University

Press, 1999: ALENCASTRO, L. E de. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo:

Companhia das Letras, 2000. Ver também as coletâneas, tais como INIKORI, J. L. & ENGERMAN, 5. E

(eds.). The Atlantic Slave Trade: Effects on Economies, Societies, and Peoples in Africa, the Americas, and

Europe. Durham: Duke University Press, 1992: e FLORENTINO, M. G. (org.). Tráfico, cativeiro

Rio de Janeiro, séculos XVIILXIX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.

e liberdade.

458

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

transporte humano da História — mas, por outro lado, já está claro que, em função das experiências acumuladas por essa empresa cada vez mais especializada, as taxas de

mortalidade na travessia sistematicamente declinaram com o passar dos séculos. Estudos especializados nos proporcionam uma visão da evolução técnica do design e da construção das embarcações negreiras, da composição das tripulações, da sazonalidade das travessias — diversa, pois dependia do destino nas Américas — e dos ocasionais efeitos perversos da natureza sobre a navegação, os quais, ao prolongar os percursos cuidadosamente planejados, provocavam verdadeiras tragédias (inclusive, é claro, as perdas de boa parte da preciosa carga).? Hoje, embora haja muito que pesquisar pela frente, é impossível ignorar a participação africana no tráfico, pois, quase que exclusivamente, coube a empreendedores locais a captura e a escravização iniciais das “peças” e seu encaminhamento até os muitos pontos de embarque que se espalhavam pelo litoral do continente africano. Daí que persiste um vivo debate acerca dos determinantes da composição majoritariamente masculina dos fluxos negreiros, ora atribuídos à demanda de plantadores americanos, ora às influências das sociedades e das culturas locais sobre a oferta africana. Principalmente no caso do tráfico para a América portuguesa, anda sendo questionada a própria “nacionalidade” do comércio negreiro, visto cada vez menos como exclusivamente português.º Diante das

evidências demonstrando a consolidação, desde muito cedo e em vários portos de embarque na África, de uma casta de comerciantes de origem luso-africana, do surpreendente

envolvimento da Sociedade de Jesus nos dois lados do Atlântico Sul, e, sobretudo, da participação direta, através do financiamento das viagens de negreiros, de empreendedores brasílicos, especialmente os sediados na cidade do Rio de Janeiro, referir-se ao tráfico como “português” torna-se um tanto quanto inadequado. Aliada ao conhecimento que se

tem sobre a origem “multinacional” das mercadorias que compunham a cesta utilizada na

troca por escravos na África — asiáticas, sul-americanas, norte-americanas, caribenhas e, sim, em último lugar, européias — a comprovação de um comércio direto entre a África e a América portuguesa acaba por colocar em cheque o antigo conceito do tráfico triangular, tão caro à historiografia tradicional.* Com efeito, aqui o revisionismo dos estudos sobreo tráfico negreiro se junta a todo um movimento que, ao desvendar as várias instâncias de

autonomia econômica, política e cultural presentes nas sociedades coloniais, põe em dúvida a validade das interpretações baseadas no chamado Antigo Sistema Colonial. Também

2. Ver, especialmente, KLEIN, H. S. The Middle Passage: Comparative Studies in the Atlantic Slave Trade.

Princeton: Princeton University Press, 1978; e RODRIGUES, J. “Arquitetura naval: imagens, a É possibilidades de descrições de navios negreiros”, in FLORENTINO. Tráfico, cativeiro e liberdade, p. 77

123. 3. Ver ALENCASTRO. O trato dos viventes. E 4. NOVAIS, E A. Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808). São Paulo: Hucitec,

1981.

menana a 5. Sobretudo FRAGOSO, J. L. R. Homens de grossa aventura: acumulação e hierarquia na praça Rio de Janeiro (1790-1830). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1992. Ver também, anca Um contraponto baiano: açúcar; fumo, mandioca e escravidão no Recôncavo, 1780-1 860. Rio de

Civilização Brasileira, 2003.

dd ;

Janeiro.

PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

459

paralelo ao re-exame do tráfico negreiro é o interesse cada vez maior, embora ainda muito incipiente no Brasil, na História da África$ Afinal, se se quer conhecer melhor os

africanismos que fazem parte fundamental das sociedades mestiçadas, legadas por mais

de três séculos de escravismo, é preciso buscar as raízes no próprio passado da África.

Diante de todos os avanços elencados acima no que diz respeito aos estudos do tráfico negreiro internacional, não deixa de ser curioso constatar que ainda sabe-se muito pouco sobre o funcionamento deste comércio após o desembarque das “peças” no solo da América portuguesa ou, mais tarde, do Brasil. Justamente graças a tais estudos, podese afirmar que as chegadas de navios negreiros eram extremamente concentradas em apenas três portos. Por isso mesmo, se constituíam nas principais praças do comércio de escravos: Rio de Janeiro, Salvador e Recife. Com a exceção parcial e de relativamente curta duração de São Luís, nenhum

outro centro portuário recebia, a não ser muito eventualmente,

embarcações procedentes da Africa e carregadas com a mercadoria mancípia. Foi realizada, a partir destes três portos, a distribuição de recém-chegados africanos por todo o “interior” da Colônia/Império. Quando viável, preferia-se como meio de transporte a cabotagem pois era a opção mais barata. Assim, o suprimento com “peças boçais” de regiões Rs e mesmo das ribeirinhas localizadas a beira de rios navegáveis a partir do litoral foi efetuado por embarcações de pequena dimensão. Na verdade, pode-se supor que, até as descobertas de ouro no interior longínquo e montanhoso do Sudeste, a vasta maioria dos novos africanos foi transferida através da cabotagem. Ainda não sabemos se os empreendimentos de transporte costeiro e ribeirinho tinham estreitas ligações com as grandes casas comerciais cariocas, soteropolitanas ou recifenses que tendiam a monopoli zar o comércio em “peças” novas, se se vinculavam a mercadores sediados nos portos meno res do litoral e dos rios navegáveis, ou se eram empresas independentes. No entanto, com o surgimento da insaciável demanda das lavras e catas de ouro, e, mais tarde, de diamantes

nas Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, passaria a predominar, cada vez mais, o transporte terrestre, se bem que, como se discutirá adiante, a rota partindo de Salvador para depois

aproveitar as águas do rio São Francisco e do rio das Velhas tivesse considerável importân cia nas primeiras décadas do século XVIII. Fala-se, por exemplo, na organização de comb oios que teriam juntado algumas dezenas de escravos em marchas destinadas a varia dos pontos

6. Ver, entre muitos outros, MANNING, P Slavery and African Life. Occidental, Oriental, and the African Slave Trades. Cambridge: Cambridge University Press, 1990: LAW, R. The Slave Coast of West Africa, 1550-

E

The Impact of the Atlantic Slave Trade on an African Society. London: University of Oxfo rd Press,

E : THORNTON, J. Africa and Africans in the Making of the Atlantic World, 1400-1680. Camb ridge: io ridge University Press, 1992; PANTOJA, S. & SARAIVA, J. E S. (orgs.). Ango la e Brasil nas rotas do E: Eco Sul Rio de Janeiro: Betrand Brasil, 1999; LOVEJOY, P E. Transfor mations in Slavery: a History

e: avery im Africa. 2º ed., Cambridge: Cambridge University Press, 2000: HEYWOOD, L. (ed.). Central e and Cultural Transformations in the American Diaspora. New York: Cambridge University Press ,

E é CURTO. J. C. & LOVEJOY, PE. Enslaving Connections: Changing Cultures of Africa and Brazil during a pda of Slavery. Amherst NY: Humanity Books, 2004.

a

LLA, M. P O abastecimento da capitania das Minas Gerais no século XVIII. São Paulo; Hucitec/ USP, 1990, p. 142.

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

460

mit

|

E

batismos de africanos adultos — na definição da Igreja católica, quaisquer indivíduos com sete anos ou mais de idade - nem de longe correspondem à totalidade de escravos

importados que chegavam a estas paróquias. Boa parte do contingente mancípio africano,

com efeito, dependendo da região de origem, provavelmente a franca maioria, já havia recebido o sacramento do batismo antes de pisar em solo mineiro. O batismo nos portos de embarque, muito especialmente naqueles localizados na África centro-ocidental, era bastante comum e, também, o sacramento poderia ser ministrado durante o chamado

maior migração forçada na História, ou seja, a transferência de centenas de milhares de

escravos africanos dos portos litorâneos para as regiões da América portuguesa inicialmente ende-. povoadas em função da mineração restam outras dúvidas ainda mais primárias. Pret se aqui refletir, a partir de uma base empírica apenas incipientemente explorada, acerca. os. de dúvidas que persistem com relação ao tráfico negreiro para as Minas Gerais, desde E

período de cura que geralmente decorria nas regiões litorâneas de desembarque. De qualquer

ado

forma, de acordo com as Constituições Primeiras da Bahia, cabia aos proprietários de cativos infiéis cuidar de sua catequese para que os mesmos recebessem o sacramento do batismo dentro de um prazo de seis meses a contar das respectivas compras.!* É difícil saber se tal prazo foi efetivamente observado pelos senhores de escravos recém-chegados, ou se os clérigos nas Minas zelavam pelo cumprimento das Constituições. Suspeitamos que a resposta seja negativa, mas isso não passa de mera especulação. Da mesma forma, por enquanto, não sabemos como calcular a proporcionalidade dos adultos batizados no conjunto de escravos entregues a compradores mineiros pelo tráfico. No caso das Minas Gerais, a não ser com a possível exceção das décadas iniciais do século XVIII, acreditamos que a proporção era relativamente pequena, mas não nos arriscaríamos em estimá-la em termos porcentuais. Passadas aquelas primeiras ondas de importações, a regularidade do registro de assentos de batismos adultos fortemente sugere que correspondiam a uma proporção de novos africanos razoavelmente constante ao longo do tempo. Se aceitarmos esta sugestão, o corolário lógico é que quaisquer flutuações nos números anuais de batismos de africanos estariam refletindo flutuações no volume do próprio tráfico negreiro para as Minas. Mesmo que o nosso argumento seja questionável, o fato é que a qualidade dos registros paroquiais, aliada a sua abundância e seu caráter seriado, fazem com que constituam a documentação mais fiel à realidade do que o historiador da sociedade escravista luso-brasileiro atualmente dispõe. Ano após ano, os registros de assentos de batismo, de casamentos e de óbitos registraram, com graus variados de detalhamento, acontecimentos vitais na vida dos indivíduos, ou seja, estes registros refletem o cotidiano

primórdios das descobertas do ouro até a supressão deste comércio em meados do século XIX. Se ainda não é possível precisar o volume das importações de africanos para as Minas, poder-se-ia ao menos apontar para as prováveis flutuações das mesmas? De que m maneira o desenrolar da economia mineira no período em tela - um objeto de análise bei teria afetado mais complexo do que antes se pensava e ainda o alvo de calorosos debatesenc— ial idades d ) pot as os rm ta go es de o sã en et pr er qu al qu o ritmo das importações? Sem m a dem ) grafia tema proposto, como analisar as complicadas relações do tráfico negreiro co gados, escrava? Finalmente, o que se poderia dizer a respeito das origens dos cativos aqui che os de Br pos seja em termos das grandes regiões do continente africano, seja em term Es

o q étnicos, lingiúísticos, políticos ou religiosos, entre outros? os Nossas considerações partem dos levantamentos de registros de batismos de escrav nat : adultos em cinco paróquias mineiras, datando de 1713 a 1862. O levantamento paroquiais ivos arqu vos ecti resp nos nas lacu há pois s, quia paró de unto conj o para íguo cont e, em quase todos os casos, os livros referentes às décadas iniciais do Ses ee

NE du q 4

JÊ FA

E.

ga ea desapareceram. Geograficamente, as paróquias examinadas se concentram na anti

ora da € 8 ei Mineradora Central - Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto,? Nossa Senh

Santo Antônio de de Catas Altas!º e Santa Luzia”! — e na região do Campo dos Vertentes — 51

EIRA, 8. FRAGOSO. Homens de grossa aventura, pp. 146-7; FRAGOSO, J. L. R. & FERR

80

a a “ê

rita

artimanhas de uma fonte seriada. Os códices 390, 421, 424 e 425: despachos de

a

A , 2001, pp , 239-78. date jânia: ia: ANPUH-MG i no Brasil:il: um balanço. Goiân e serial

Campos de tes E

12, Esses dados são fruto de um projeto de pesquisa ainda em andamento, enfocando a freguesia de São José e que conta com a participação, além do autor, dos professores Afonso de Alencastro Graça Filho da Universidade Federal de São João del Rei e Zephyr Frank da Stanford University e da professora

|

da Intendência da Polícia da Corte, 1819-1833”, in BOTELHO, T R. et alii (orgs). História quis

9. Para esta paróquia os dados foram gentilmente cedidos pela professora Franco (atualmente UFMG e seu então assistente de pesquisa Renato

Federal Fluminense).

mestran

Clotilde Andrade Paiva (atualmente pesquisadora do Centro de Estudos Mineiros, FAFICH/UFMG e do

Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, FACE/UFMG).

do da Universidade Aados

is, À professora Sílvia Jardim Briigger da Universidade Federal de São João del Rei prontamente atendeu

4

baseados noº hiaba

id -— Uai

H

sr e ofereceu os ment rosa gene s) Mina (PUC lho Bote s igue Rodr ísio Tarc r esso prof O 10. | | assentos de escravos adultos de Catas Altas. p tuo r e P a n tan a orien oli | 11. Os dados de Santa Luzia resultaram dos trabalhos realizados por minh o Car Corrêa, e do bolsista de Iniciação Científica, Bruno Estanislau Pugshcitz.

461

São José do Rio das Mortes'? e Nossa Senhora do Pilar de São João del Rei.!* Com a exceção de Santa Luzia, estas paróquias constam entre as mais antigas de Minas . Estes

interioranos.” Porém, comprovadas na documentação da época — no de 1819 a 1831 —. às. temos apenas as saídas da praça do Rio de Janeiro de tropeiros mineiros que voltavam E. Gerais com alguns poucos escravos, raramente ultrapassando a casa de meia dúzia* mesmo nesse caso, ainda não se sabe se tais tropeiros agiam por conta própria, a ped ido de compradores conterrâneos ou via consignações concedidas por poderosos trafican es «dE cariocas. Não obstante, sobre este movimento humano fundamental, esta última etapa da |

ai

PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

E

minha solicitação dos dados sobre batismos de adultos da paróquia de N. S. do Pilar de São João.

14, Sobre a adminis tração do sacramento do batismo aos africanos adultos ver: PORTO, P de. O Batismo de escravos adultos na matriz do Pilar de Quro Preto. Belo Horizonte: UFMG, Dissertação de Mestrado em Estória, 2004; e CAMPOS A. A. & FRANCO, R. E Notas sobre os significados religiosos do batismo.

qria Historia, Belo Horizonte, v. 31, pp. 21-40, jan, 2004.

462

PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

dado em 1722 (com nada menos que 216 cativos africanos recebendo o sacramento do

estrito senso. Tal sensibilidade para com o tempo real não pode ser reproduzida, por exemplo, nas interpretações baseadas em dados provenientes de inventários post mortem:

como se discutirá adiante, a temporalidade é outra. Já as escrituras de compra e venda de escravos, cuja utilidade para o presente trabalho seria mais que óbvia, são peças notadamente raras nos arquivos que reúnem documentação cartorária, ou porque a elaboração de tais escrituras era pouco frequente, ou porque simplesmente se perderam ao

longo do tempo. Da mesma forma, por mais valiosas que sejam, as listas fiscais, as

(proto)estatísticas agregadas ou as listas nominativas de caráter censitário são bastante escassas e de uma cobertura cronológica bastante pobre quando comparadas aos registros paroquiais. Pode ser que, no futuro, seja encontrada, em Lisboa, uma documentação fiscal mais pormenorizada — quem sabe, listas nominativas e por distritos da capitação — mas, por ora, quer nos parecer que os assentos de batismos de escravos africanos adultos representem a melhor fonte primária disponível para, por assim dizer, tomar o pulso do tráfico negreiro para uma dada região ao longo de períodos prolongados. A figura 1!º demonstra as médias moveis de três anos dos batismos africanos adultos nas cinco freguesias acima mencionadas. No momento, a série mais antiga por ora disponível se refere à Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto, que remonta ao ano de 1713 e termina em 1843, quando o último escravo africano recebeu o sacramento do batismo nesta paróquia, uma das duas da então capital da província de Minas. Há, entretanto, um lapso quase completo entre 1720 e 1735 — existe um único registro de 1728, certamente correspondendo a alguma retificação feita posteriormente. Incluímos os dados para os anos 1713-1719 pela simples razão de que informações sobre os primórdios das Minas são muito raras e, por isso mesmo, têm de ser valorizadas. Os registros de Nossa Senhora do Pilar de São João del Rei vão de 1736 a 1851, mas há três lacunas na série: 1754-60; 1775-78 e 1842-47. No caso da freguesia de Santo Antônio de São José do Rio das Mortes os assentos datam de 1752 a 1840, porém existe uma falha entre 1780 e 1786 (provavelmente incluindo partes dos anos de 1779 e 1787). O conjunto mais completo de

dados se refere à paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Catas Altas, datando de 1715 até 1853, com um único lapso correspondente ao ano de 1720. Para à freguesia de Santa Luzia os registros cobrem o período de 1818 a 1862. Ao todo, estas figuras

contabilizam 8.075 batismos de cativos africanos mais ou menos recém-chegados às

respectivas paróquias.

Apesar das lacunas e, também, das distintas histórias regionais destas cinco pr

o que se destaca na figura 1 é a consistência dos dados, muito especialmente em termos

e

tendências ao longo do tempo. Muito embora o pico de batismos em Catas Altas tenha se ivo da Paróquia de Nossa Senhora do am Arqu .). (orgs R.J. , NCO FRA & A. A. , POS CAM são: es font As 15.

de Ouro Preto, 1709-1896; BRÚGGER, S. J.; RESENDE, M. L. C. & CARDOSO, M. T

Paróquia de Nossa Senhora do Pilar de São João del Rei, 1732-1874; GRAÇA FILHO, do

ma qa

- co Rio das

Z.: PAIVA, C. A. & LIBBY, D. C. (orgs.). Arquivo da Paróquia de Santo Antônio de São Jose

463

eição de San de daria Senhora Nossa de Paróquia da Mortes, 1752-1890; BOTELHO, T. R. (org.). Arquivo Matriz da Paro Catas Altas do Mato Dentro, 1714-1889; CORREA, C. P (org.). Arquivo da Luzia, 1814-1888.

batismo), os dados provenientes desta freguesia, de Vila Rica e de São João sugerem que as maiores ondas de importações em toda a história de Minas teriam se dado principalmente na década de 1730. As médias da primeira metade do século XVIII sugerem que as importações da região mineradora central teriam sido maiores que as destinadas à região

do rio das Mortes, onde as atividades agropastoris se destacaram desde muito cedo. A partir do último quartel do Setecentos, no entanto, a tendência parece se inverter. Já as

quedas relativamente bruscas registradas durante a década de 1740 em Catas Altas e São João talvez reflitam uma reação contra a política fiscal da capitação ou, no caso daquela paróquia, uma diminuição das necessidades por novos braços diante de certa estabilização das atividades mineradoras. Em Vila Rica, uma clara tendência ao declínio da entrada de novos africanos se delineia apenas na década de 1760. Tais achados sugerem uma cronologia da “crise” mineratória, particularmente complexa e que poderá ser alcançada somente através da soma de histórias regionais bem-pormenorizadas. Em termos de tendência geral, as ultimas décadas do século XVIII foram de diminuição

dos batismos de adultos africanos e, por extensão, da intensidade do tráfico negreiro,

embora houvesse pequenas recuperações aqui e acolá: na década de 1770, em Catas Altas e Vila Rica; na de 1780, em São João e em São José. Foi no último decênio do Setecentos, no entanto, que os batismos praticamente cessaram, situação esta que se prolongaria ao longo de toda a primeira década do século XIX e um pouco além. Nestes vinte e poucos anos, os números de batismos anuais se mediam em dígitos únicos. Em São João del Rei, nos anos de 1809 e 1810, enquanto os batismos de crianças prosseguiram normalmente, nenhum africano novo recebeu o sacramento. O mesmo se deu na paróquia de N. S. do Pilar de Ouro Preto em 1805, 1810 e 1811. Em São José, entre 1790 e 1810, foram sete

anos sem qualquer batismo de cativos africanos; em Catas Altas, onze. Ora, estes achados

são, no mínimo, surpreendentes. Esta marcante diminuição no número de batismos de adultos africanos não pode ser atribuída à chegada de africanos já batizados, pois, como

se verá, a partir do final da década de 1770, as peças oriundas da África centro-ocidental

se tornaram a franca maioria entre os batizandos nas quatro paróquias em tela. Acreditamos firmemente que os nossos dados estão indicando uma virtual retirada das Minas do tráfico negreiro transatlântico. Por sua vez, uma marcante redução das importações de cativos só pode ser interpretada como sinal, senão de uma crise cabal da economia mineira, então de uma prolongada fase de recessão profunda. Primeiro, exatamente como queria a grande Pioneira do revisionismo historiográfico no Brasil, Maria Yedda Linhares,!'º temos aqui

mportantes elementos para refletir sobre a cronologia e as dimensões daquilo que a

historiografia tradicional chamava da secular estagnação de Minas. De acordo com o RENO de entradas de africanos novos, o pior teria se dado nos dois decênios correspondendo à Virada para o século XIX. O que fica su gerido neste caso é que a capitania mineira teria

ficado de fora da chamada renascença agrícola e exportadora que marcou o último quartel

a

16. LINHARES, M. Y. L. “O Brasil no século XVII e a Idade do Ouro: a propósito da prob lemática da decadência”,

m Seminário sobre a Cultura Mineira no Período Colonial. Belo Horizonte: Conselho

Estadual da Cultura de Minas Gerais, 1979, pp. 147-71.

464

PARTE 5 - OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

mo

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

foi o ano em que o último africano recebeu o sacramento em São José; em Vila Rica seria 1843; em São João, 1851; em Catas Altas, 1854; e, finalmente, em Santa Luzi a, 1862. Tudo indica, portanto, que em Minas a retomada da compra de escravos no mercado

=

do Setecentos no Brasil.” Ou, melhor, os produtores mineiros do final do século XVile início do XIX encontraram-se incapazes de competir pela mercadoria escrava com compradores sediados em regiões que efetivamente participavam da renascença. Afinal, de acordo com as melhores estimativas disponíveis, entre 1791 e 1810 aproximadamente 200 mil escravos africanos foram desembarcados no porto do Rio de Janeiro!s — àquelas alturas o principal porto negreiro, senão ou único, a suprir as Minas. Graças à alta dos preços internacionais do açúcar que seguiu na esteira da Revolução Haitiana, o interior fluminense, em particular a região de Campos dos Goitacazes,!º e a capitania de São Paulo, especialmente o Vale do Paraíba,” devem ter absorvido boa parcela dos boçais que, em outros tempos, estariam destinados ao mercado mineiro.?! Na freguesia de São José do Rio das Mortes, a última onda importadora teve início

465

internacional teve uma duração de aproximadamente duas décadas. Duas observações se fazem necessárias aqui. Primeiro, na doc umentação examinada na nossa pesquisa, todos os assentamentos de batismos pós-1831 claramente identificaram

os batizandos pelas suas respectivas origens africanas ou simplesmente como “africanos”, que, curiosamente era uma designação pouco usual antes da implement ação, na década de 1830, do tratado anglo-brasileiro celebrado em 1826. No caso, parece que os clérigos mineiros não conseguiam perder o antigo hábito de registrar estes bati smos de adultos como tal, claramente distinguindo-os dos batismos de crianças inocentes. Para a Igreja continuaram valendo as Constituições Primeiras, a despeito de eventuais mudanças políticas ou de conjunturas internacionais desfavoráveis ao tráfico negreiro tran satlântico, ou, mais tarde, a própria instituição da escravidão. Pelo menos nas Minas, long e dos olhares de agentes consulares britânicos, o clero não teria compartilhado do jogo em que certas irregularidades ou ilegalidades seriam mascaradas “para inglês ver”. E, neste caso, tornase no mínimo arriscado continuar insistindo que Minas teria part icipado de maneira significante do tráfico negreiro para o Brasil nos seus últimos quinze anos,2 quando o volume de peças desembarcadas somente no porto do Rio de Janeiro superou a marca dos 500 mil.? A segunda observação diz respeito aos preços de escravos em Mina s no final do

no ano de 1813, quando 42 africanos adultos foram batizados — com efeito, o pico de

batismos de toda a série paroquial. No mesmo ano, na vizinha São João, o número de adultos batizados foi 17, mas no ano seguinte de 1814 alcançou 52. Embora de forma menos dramática, nos mesmos anos o volume de batismos africanos aumentou em Vila Rica e em Catas Altas. Os dados de Santa Luzia, iniciados em 1818, também sugerem uma

recuperação do tráfico e incluem uma notável concentração de batismos no ano de 1832. Concentrações estas, é bom notar, que pareceriam corresponder ao início da fase de legalidade do tráfico negreiro internacional no Brasil, aconteceram em São João, São

José, Catas Altas e, de maneira muito marcante, em Vila Rica, entre 1829 e 1833. A partir de então, surpreendentemente, os batismos de africanos diminuem de forma acelera: 1840

século XVIII e durante a primeira metade do XIX. Na verdade, não existem séries de preços de escravos confiáveis ou estatisticamente significantes para o período em tela. O que

temos é uma grande série baseada nas avaliações de escravos cons tantes de inventários post mortem cobrindo quase toda a época escravista mineira.” De acordo com este levantamento, que serve como uma aproximação aos preços de fato praticados, a partir do final da década de 1760 e ao longo do resto do século, o valo r nominal de escravos africanos se estabilizou entre 808000 e 908000. Provavelmente como reflexo da demanda reaquecida pela já discutida renascença agrícola, na primeira década do Oitocentos, este Valor subiu um pouco para algo em torno de 100$000. Em que pese nossa falta de

17. ARRUDA, J.J. de A. O Brasil no comércio colonial. São Paulo: Editora Ática, 1980; eARRUDA, JiJide

A.. “A produção econômica”, in NIZZA da SIIVA, M. B. O Império Luso-Brasileiro. Lisboa: Estampa, 1986, pp. 85-153.

18. ELTIS. The Ending, p. 243; FLORENTINO. Em costas negras, p. 59.

19. Ver, FRAGOSO. Homens de grossa aventura, especialmente pp. 76-82; FARIA, S. de GC. A colônia em movimento: fortuna e família no cotidiano colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.

20. Para um excelente estudo que demonstra a robustez da economia paulista na virada do século e LUNA, E V & KLEIN, H. S. Slavery and the Economy of São Paulo, 1750-1850. Stanford: Stanfo University

Press, 2003.

v

conhecimento acerca do comportamento da inflação no período, tratar-se-ia de um aumento

8

21. Aqui denniros a falta de levantamentos de batismos de adultos relativos a outras regiões, Rs do Sudeste brasileiro. O único levantamento encontrado se refere à freguesia carioca de São José de

que, embora aparentemente pouco significativo, parece indicar a fragilidade da posição dos compradores mineiros que se veriam basicamente alijados do mercado de escravos Por um pouco mais de duas décadas. Ademais, a retomada das importaçõ es indicada pelo dumento dos batismos de adultos na década de 1810,? além de sinalizar para uma

1802 a 1821 e é analisado por GUEDES, Roberto. Na pia batismal: família e compadrio entre pre

na freguesia de São José do Rio de Janeiro (primeira metade do século XIX). Rio de Janeiro: Universk a á Federal Fluminense,

Dissertação de Mestrado

em História, 2000. Tratava-se

de uma fregu

essencialmente urbana (ou suburbana) e, portanto, apenas indiretamente influenciada pelags

agrícola. Ademais, o período enfocado é curto demais para uma comparação satisfatória o os nos. a dados mineiros. Mesmo assim, vale a pena assinalar que, de 1802 a 1808, os números anuais

de batism

e

22. Como se verá logo em seguida, esta é a posiçã o imutável de Roberto Martins desde 1980. 23. ELTIS.

de africanos adultos eram bastante reduzidos. Já a partir de 1809 passam por um aumento 5 io dE - situação esta que iria perdurar até o término do levantamento em 1821. Seria muito pas

qualquer conclusão aqui, mas a sugestão que fica é a de que boa parte do Sudeste

ER

| passou a participar mais ativamente do mercado de peças novas a partir do aumento coincidiu com a chegada da Corte ao Rio de Janeiro. Gostaríamos de agradecer Roberto Guedes por K nos cedido os seus dados e a professora Sheila da Castro Faria que nos colocou em contato co m seu eX-

orientando.

The Ending. p. 243.

É

24. Ver: BERGAD, L. W. Slavery and the Demographic and Economic History of Minas Gerais, Brazil, 17201888. Cambridge: Cambridge University Press, 1999, pp. 262-5. as. À chegada da Cor te ao Rio

de Janeiro quase sempre foi considerada como um grande estímulo às atividades voltadas para o abastecimento nas Minas, muito especialmente a criação de gado de corte e Suínos, bem como a produção de queijos. Nossa cronologia de batismos de africanos adultos parece

466

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

notar que essas duas últimas regiões continham nessa época os seto res exportadores mais dinâmicos da América, excetuando-se apenas a área algodoeira dos Estados Unid os. A conclusão de que Minas era um grande importador de escravos, e mesmo os resultados

recuperação da economia como um todo, provavelmente foi estimulada pela relativa estabilidade dos preços, já que estes permaneceriam em torno de 100$000 ao longo de toda a década de 1810. De acordo com as avaliações de inventários, o preço médio de

quantitativos alcançados, encontram contemporâneas.”

uma peça nova iniciaria uma subida na década de 1820, que o elevaria para os 2008000 já em 1828, e para 300$000 em 1831. Daí em diante, o aumento foi constante, com os dados sugerindo um preço médio perto dos 450$000 em 1850, ano do término do tráfico para o Brasil. Ao que tudo indica, a grosso modo, os compradores mineiros tiveram tráfico legal, marcado pelo (não) cumprimento do tratado de 1826. Os picos de batismos em torno da implementação do tratado fortemente sugerem que se pensava que o acordo era para valer e que se estaria aproveitando das últimas oportunidades para a aquisição de braços africanos. Reiteramos que, de acordo com os nossos achados, é mister concluir que Minas praticamente não participou do tráfico ilegal, importando meros pingos da verdadeira enxurrada de entradas que teve lugar entre 1835 e 1850.

O debate acerca da demografia escrava das Minas já fez bodas de prata, e pode-se dizer que foi inaugurado com a defesa de tese de Roberto Borges Martins, em 1980, Na

di ==

FACE/UFMG, 1988, pp. 11-32; PAIVA, C. A. & LIBBY, D. C. A Middle Path: Slavery and Natur al Increase

i expli jcar daO

fato de que o tráfico parecia ter virtualmente parado em 1810, quando não houve um único da as africano nas nossas cinco paróquias, reanimando-se de maneira até espetacular apenas ti ês an Vanderbilt University, PAD Dissertation, 1980.

FAPESP 1996, p. 103. Ver também: MARTINS. Growing in Silence...; MARTINS FILHO, A. V & MARTINS

Pp. 26-43, dez, 1988; PAIVA, C. A.; LIBBY D.C. & GRIMALDI, M. “Crescimento da popul ação Escrava: Uma questão em aberto”, in Anais do IV Seminário sobre a Economia Mineira. Belo Hori zonte, CEDEPLAR/

total, e da província do Rio de Janeiro, que importou cerca de 15 por cento. Vale a penas

Gerais,

AMARAL LAPA, J. R. (orgs.). História econômica da Independência e do Império. São Paulo: Hucitec/

Historiografia mineira: estado de arte. Belo Horizonte: Instituto Cultural Amilcar Martins (no prelo). 28. Ver: Comments on Slavery in a Nonexport Economy. Hispanic Ameri can Historical Review, v. 63, n. 3 1983 com contribuições de SLENES, R. W. (pp. 569-81), DEAN, W. (pp. 582-84) e ENGE RMAN, S.L. & GENOVESE, E. D. (pp. 585-90); LUNA, E V & CANO, W Economia escravista em Minas Gerais. Campi nas: UNICAMP Cadernos IFCH, v. 10, 1983. 29, Ver: LIBBY, D. C. Transformação e trabalho em uma economia escravista: Minas Gerais no Século XIX. São Paulo: Brasiliense, 1988: LIBBY, D, C. & GRIMALDI, M. Equilíbrio e estabilidade: econ omia e comportamento demográfico num regime escravista, Minas Gerais no século XIX. Papeis Avulsos, n. 7

total do tráfico atlântico para o Brasil entre 1800 e 1852. Elas colocam Minas entre os maiores importadores provinciais nesse período, superando a Bahia, Pernambuco, São Paulo, a Corte e o Rio Grande do Sul, e sendo superado apenas pela província do Rio de Janeiro, que nessa época implantava e expandia rapidamente seu setor cafeeiro, € cuja fatia do tráfico ultrapassou 25 por cento do total importado pelo Brasil. Com relação ao total do tráfico atlântico no século XIX, a parcela de Minas situa-se em torno de 11 por cento, abaixo apenas de Cuba, que recebeu quase 25 por cento desse

E R. B. Growing in Silence: The Slave Economy of Nineteenth-Century Minas 26. MARTINS,

27. MARTINS, R. B. “Minas e o tráfico de escravos no século XIX, outra vez”, in SZMRECSÁNYI, T. &

Historical Review, v. 63, n. 3, pp. 537-68, 1983; e MARTINS, R. B. “A historiografia sobre o século XIX em Minas Gerais: notas para um debate”, in MARTINS FILHO, A. V. & MARTINS, R. B. (eds.).

na primeira metade do século XIX, cabendo-lhe uma fatia de cerca de 19 por cento do

,

natural são necessariamente mutuamente excludentes2 Como escrevemos há um bom tempo:

R. B. Slavery in a Nonexport Economy: Nineteenth-Century Minas Gerais Revisited. Hispanic Ameri can

As estimativas indicam que a Província importou aproximadamente 320 mil escravos

tarde.

o

ocasião, entre toda uma série de interpretações de cunho revisionista, o autor insistiu que,

corroborar esta interpretação. Afinal, apenas uma recuperação repentina e de vulto dg

forte respaldo nas evidências e opiniões

O que mais importa no momento é que a posição assumida por Martins implica na negação peremptória da possibilidade de uma reprodução natural, mesmo que em escala muito reduzida, das populações escravas de Minas. Para o autor, estas se mantinham ou se aumentavam através do tráfico e ponto final. Nos seus comentários anexados ao artigo dos irmãos Martins na Hispanic American Historical Review, de 1983, tanto Warren Dean e quanto Stanley Engerman e Eugene Genovese fizeram questão de frisar que consideraram essencial mais estudos justamente para explorar a possibilidade da reprodução natural da escravaria mineira, assim inadvertidamente secundando um artigo que levanta uma hipótese parecida e que apareceu aqui no Brasil no mesmo ano. Desde então, ao revirar fontes inéditas e empregar técnicas e metodologias variadas, um pequeno grupo de estudiosos vem se dedicando a investigações que procuram evidências da reprodução natural da população mancípia mineira. A abordagem do grupo se distingue da de Martins, e, como logo se verá, da de Bergad, por não considerar que importações via o tráfico e a reprodução

condições de acompanhar a alta do preço do escravo africano até a conjuntura do fim do

na primeira metade do século XIX, a província de Minas Gerais teria sido umas das maiores regiões importadoras de escravos africano de todas as Américas. O argumento de Martins se baseava em estimativas geradas através do emprego de um “método análogo ao da técnica do sobrevivente” dos demógrafos usada para calcular migrações”. A base empírica neste e em seus subseqiientes trabalhos é constituída por documentos de natureza censitária: estimativas oficiais de 1819, o Recenseamento de 1872, um outro conjunto de estimativas elaboradas em meados da década de 1850, e listas nominativas da década de 1830. Deixemos que o próprio autor resuma os seus argumentos:

467

ais 1

Brasil.

in Nineteenth-Century Minas Gerais. Latin American Population History Bulletin, v. 23, pp. 2-15, Spring 1993; BOTELHO, T. R. Famílias e escravarias: Demografia e Família Escrava no Norte de Minas Gerais no

Século XIX. São Paulo: Universidade de São Paulo, Dissertação de Mestrado em Histór ia, 1994; PAIVA,

C. A. & BOTELHO, T. R. “População e Espaço no Século XIX Mineiro: Algumas Evidências de Dinâmicas

Diferenciadas”, in Anais do VII Seminário sobre a Economia Mineira. CEDPLAR/FACE /UFMG, 1995, v. À, Pp. 87-108; BOTELHO, T.R. The Demography of Accommodation: Slave Demography in Minas Gerais,

Brazil, 18th Century. Paper presented at the Leverhulme Trust Interchan ge Conference, Labour in Slave and Non-Slave Societies, Tiradentes, mar, 2004.

IS

s

468

SO

120 Cp

PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

Durante a segunda metade do século XVIII, as importações de escravos para as Minas Gerais ficaram reduzidas a um volume muito pequeno e que, nas primeiras décadas do século XIX, o tráfico negreiro para a província, embora passando por curtos periodos de recuperação, empalidecia quando comparado ao processo de reprodução natural, o qual era responsável pela vasta maioria de uma população escrava que crescia de maneira regular e que, ao longo do tempo, se tornava cada vez mais de origem nativa.”

estudiosos da Gostaríamos de sugerir tão-somente que a tarefa que se apresenta aos

o doméstica” são questão não é a de determinar se as importações ou a “produçã século XIX, e sim, de responsáveis pela enorme população escrava de Minas Gerais do procurar aproximar-se da importância de ambas as tendências demográficas na composição do contingente mancípio.”

E, na verdade, o que vem emergindo é um quadro bastante complexo em que as variações no espaço e ao longo do tempo vão se multiplicando. Ora o tráfico imperava, até mesmo sufocando as possibilidades de reprodução natural, ora a reprodução era tão robusta que tornava o tráfico virtualmente desnecessário, mas, no mais das vezes, havia uma combinação em que tanto um quanto a outra contribuíam para a manutenção ou século XVII, o aumento da população escrava. É consensual que, na primeira metade do tráfico negreiro dominou a demografia escrava das Minas, como sugerem, aliás, os e-se que a nhec reco bém Tam Joao. São de e Altas Catas Rica, Vila de s dado os noss

probabilidade de uma forte diminuição ou uma virtual cessação no fluxo do tráfico para as Minas teria se dado em algum momento da segunda metade do século XVII À polêmica

ntram mais forte se refere à primeira metade do Oitocentos, período para qual os estudos enco tendências dispares e até contraditórias. autor Para Laird Bergad, porém, a história é outra, bem mais linear € delineada. Este eriormente, começou seus estudos enfocando o Termo de Mariana, de 1750 a 1808, e, post análise sobre à sua toda e Quas 32 1888. a 1720 de s Gerai s Mina toda para ndiu expa arrolados em demografia escrava é embasada por um grande levantamento de escravos 111.963 escravas: endo cont os, ment docu 28 10.0 so, preci ser para em: mort post s tário inven africana e ente riam rita majo eve mant se iada ntar inve a cativ o laçã popu Enquanto esta sinal da continuada óbvio um , XVII o sécul do de meta eira prim a nte dura a ulin masc be-se um processo dependência vis-a-vis o tráfico negreiro, na segunda metade do século perce de maneira , a-se ment Argu . sexos os entre íbrio equil mais vez cada de e o” zaçã de “criouli das ão nuiç dimi e cent cres a o, raçã mine da crise a com que, perfeitamente plausível, uma razão de sexo com o laçã popu numa o ltad resu teria eiro negr co tráfi via importações

XVIII, O mais equilibrada, assim estimulando o aumento da parcela nativa. Para O século

te que, até a insis mas , esso proc do ia olog cron na as renç dife havia que autor reconhece basicamente ia cresc iras mine es regiõ as todas de ava escr o laçã década de 1790, a popu

para o tand apon ra embo XIX, o sécul ao ão relaç Com al. natur ão através da reproduç al como E natur ão oduç repr à as apen e te-s admi co, tráfi do momentos de recuperação o é que: lusã conc A iro. mine ípio manc nte inge cont de gran do nto cime força motriz do cres

30.

LIBBY. Transformação e trabalho, pp. 60-1.

to cedo € rá esteve presente desde muito ução reprod a para The 31. TR. Botelho insiste, no entanto, que o potencial F r II (Ve

acado com o desenrolar do século XVI que desempenhava um papel cada vez mais dest

TA | Demography of Accommodation...). nômicos da escravidão em Mn 32. BERGAD, L. W. Depois do boom: aspectos demográficos e eco GAD. Slavery and the Demogr BER e ; 1994 525, 495pp. 3, n. 24, v. os, ômic Econ dos Estu 1808.

469

a

De acordo com o autor, seus dados indicam que, a partir da segunda metade do século XVIII, as importações de africanos teriam conhecido três breves períodos nos quais as entradas aumentaram consideravelmente: 17/90-95, 1805-15 e 1820-30. O primeiro

período teria resultado “da renascença econômica que se fez sentir em todo o Brasil em

fins do século XVIIP”.3* Os outros períodos se vinculariam ao término da tráfico negreiro para o Caribe britânico e para os Estados Unidos, e a chegada da Corte ao Rio de Janeiro que resultou no fim de monopólios produtivos e de comerciais e a promulgação de legislação promovendo o comércio livre. (...) As novas leis não apenas estimularam o crescimento econômico,

mas também colocaram compradores brasileiros em contato direto e legal com negociantes

de escravos de virtualmente todas as nacionalidades. Tudo isso foi seguido por um abrupto aumento no tráfico para o Brasil que continuaria ao longo da década de 1820.*

Embora, pelo menos para o longo prazo, os argumentos de Bergad sejam convincentes e plausíveis, no que diz respeito a presente discussão, sua dependência com relação a dados tirados de inventários post mortem é perturbadora. Uma vez que já enumeramos uma série de críticas com relação à metodologia e às conclusões do autor,*º limitamo-nos aqui a tecer alguns comentários acerca dos inventários post mortem como fontes históricas. Dado que permitem a elaboração de grandes séries de dados, os inventários obviamente constituem valiosas fontes para o historiador. Para as Minas Gerais, é geralmente a partir da década de 1730 que estes documentos, com seus detalhados arrolamentos dos bens dos

defuntos, sobrevivem em quantidades suficientes para a elaboração de bases de dados.

Com relação aos escravos enumerados nos inventários, no entanto, é necessário prosseguir com uma certa cautela. Tal como executados de acordo com a lei, os inventários deixam O historiador observar a posse de escravos no momento da morte do proprietário. A

composição das posses, portanto, reflete práticas de uma vida inteira, as quais poderiam envolver compras de africanos recém-chegados, o encorajamento da formação de famílias escravas e da reprodução natural, bem como variadas combinações de ambas as práticas.

33. BERGAD. Slavery and the Demographic..., p. 130.

34. BERGAD. Slavery and the Demographic..., p. 126. 35. BERGAD. Slavery and the Demographic..., p. 127. 36. LIBBY, D. C. “Minas na mira dos brasilianistas: reflexões sobre os trabalhos de Higgins e Bergad”, in BOTELHO et alii. História quantitativa..., pp. 279-304, especialmente pp. 291-7.

A7O

SONS,

FORMAS,

CORES E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

ATLÂNTICA

PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNT ICOS EM MOVIMENTO

Isto quer dizer que a temporalidad e das tendências detectadas em dados Provenientes de inventários post mortem po de ser

extremamente complexa. Como indicadores composição da escravaria in troduzida pela via do tráfico negreiro internacional,

da por

exemplo, suspeitamos fortemente que tais dados tendem a representar tendên cias prevalentes havia duas ou mais décadas. Vem à mente aqui o ciclo de Gutman,” o qual serve para sugerir que os dados de inventários pr ovavelmente não reflitam as tendênci as da demografia escrava que se processam no mome nto da inventariação. Um rápido exemplo deve servir co mo alerta de que os dados tirados de processos de para O quingiiênio 1795-1799, os nascidos no Brasil representariam um Pouco mais que 60% de todos os escravos. Um ce nso eclesiástico da paróquia de Sã o José para o ano de

entre os sexos do núcleo de escrav os nativos sugere que provavelme nte favorecesse a reprodução natural. São estas dúvidas e até as aparentes inco ngruências que surgem quando da comp aração de informações tiradas de fontes distin tas que fazem da nossa série de batism os de escravos adultos um elemento importante pa ra refletir novamente sobre o debate “tráfico versus

meados do século, uma diminuição — ou, para certas regiões e períodos, uma virtual parada — do tráfico na segunda metade do século com a consegiiente “crioulizaçã o” da população escrava. Reexaminando à figura 1 fica claro que as pressões do tráfico deve riam

determinada região: os “surto s” do tráfico entre 1790 e 17 95, ou de 1805 e 1812, e de por Bergad simplesmente nã tectados o aconteceram.

De qualquer forma, sabe-s e que OS caminhos da Hi stória muitas Vezes se re velam

anos distintos a partir de 18 13, continuaria na década de 1820 e culminaria nas compras em torno da “imple grandes mentação” do tratado anglobrasileiro nos início da déca de 1830. A brusca queda no da s batismos já por volta de 1834 1835, sugerindo o tráfico para as Minas, é, ta colapso do mbém, surpreendente, pe lo menos para aqueles qu que a provincia teria contin e insistem uado como um dos principa is im portadores de escrav até a supressão definitiva do os boçais tráfico negreiro. O que se de senha neste caso é uma bo recuperação do tráfico que lha de teria gerado entradas de af ricanos em volumes suficien fazer do perfil da população tes para escrava como um todo algo aparentemente pouco propíc reprodução natural. Em ou io à tras palavras, esse aument o das importações de dura aproximadamente duas déca ção de das provocou uma “african ização” do contingente manc mineiro que poderia ser in ípio terpretada - em uma anális e das listas nominativas de Por exemplo — como um si 1831 -32, nal da continuada depend ência das Minas com rela ção ao

estudos baseados em cartas de salvo conduto e de pass aportes emitidos na Corte 1819 e 1832, sugerindo qu entre e algo em torno de 45% do s novos escravos que saía Janeiro por via terrestre ti m do Rio nham como destino as Mina s Gerais.ºº Trata-se de um achado

Essa paralisação, de duração de quase uma geração, somente pode ter concorrido pas consolidar a reprodução natural entre os cativos. Embora a cronologia desta sugeri da queda no comércio negreiro possa ser considerada um tanto quanto inesperada, ela coaduna perfeitamente com uma história de longo pra zo que caminhava em direção à manutenção

37.

GUTMAN, H. G. The Black Family in Slavery and Fre edom, 1750-1925. New York: Vintage, 1976, pP137-9, lê 38. LIBBY D.C. & PAIVA, C. A. Manumission Practice s in a Late Eighteenth-century Brazilian Slave Parish:

São José El Rey in 1795. Sla&vAbo elit ry ion, v. 21,n. 1, 2000, pp. 96-127.

471

É

9, FRAGOSO. Homens de gros sa aventura, pp. 146-7; FRAG OSO & FERREIRA. Alegrias e artimanhas...

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS

472

A questão das origens estudiosos há muito tempo e da verdade, é difícil saber identificar os africanos aqui

NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

dos africanos trazidos pelo tráfico negreiro vem desafiando os inspira bastante cautela na hora de elaborar hipóteses. A bem ao certo o significado dos diversos rótulos utilizados para escravizados. Às vezes, a terminologia se referiria tão somente

aos portos de embarque ou a extensas regiões geográficas, sendo, portanto, bastante

imprecisa. Outras vezes, bem mais raras, designavam-se os cativos de acordo com seu pertencimento a grupos étnicos, políticos, religiosos, linguísticos cu territoriais de existência

tão efêmera que não é possível hoje identificá-los. Ao mesmo tempo, é bom lembrar que,

nos dois lados do Atlântico e durante as travessias, esta terminologia adquiria vida própria,

ficando sujeita a mutações de natureza variada. Como observa Júnia Furtado, também ao trabalhar com assentos de batismos: Em Minas Gerais, para designar a origem dos africanos foram utilizados termos que se referem ao local de embarque na África, como mina, que faz referência ao castelo de São

Jorge da Mina, de onde saíam os escravos da região do Golfo do Benin; à unidade lingiúística, como nagô, que era o termo utilizado para designar a língua geral do conjunto dos

iorubas:

à religião, como

malê,

que se referia genericamente

aos escravos

mulçumanos; à etnia ou nação, como os tapas, também chamados nigês ou nepes, das

margens do Níger; às traduções fonéticas de termos africanos, tais como cobu, adaptação portuguesa para k avânú, que se refere ao natural de Cové, região de antiga fala mahi; ou até a um reino, como é o caso do Daomé.*º

Para tecer algumas breves considerações sobre o assunto das origens de escravos africanos, resolvemos concentrar esforços nos dados provenientes de Vila Rica, São Joãoe São José. Antes, no entanto, uma série de observações se faz necessária. Em primeiro lugar, nem sempre

os clérigos anotaram

informações

relativas às origens dos cativos

batizandos, de modo que, dependendo do local e da época, a proporção de casos sem informação é muito grande. Em segundo lugar é preciso reiterar que os batizados não correspondem à totalidade dos escravos importados. Lembrarmos que a Igreja administrava o sacramento do batismo apenas uma vez na vida dos fiéis e que muitos escravos, com certeza a maioria, o recebiam antes de chegar nas Minas, ou até mesmo antes de embarcar

para as Américas. No que diz respeito às origens, isto significa que, agora, dependendo sobretudo do período enfocado, os adultos batizados não eram necessariamente representativos de todos os africanos aqui chegados. Como se verá, o batismo na África parece ter sido marcado por uma geografia e cronologia específicas. As figuras 2, 3 e 4 trazem os dados sobre a origem genérica, ou seja, divididos pelas grandes regiões da África ocidental, África centro-ocidental e África oriental, dos adultos batizados em Vila Rica, São João e São José, respectivamente. Além do frustrante alto

PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

473

índice de casos sem informações, principalmente para a primeira metade do século XVIII em Vila Rica e São João, o que solta aos olhos de imediato é a predominância quase total da Africa ocidental até a década de 1780 e a posterior prevalência marcante da África centro-ocidental. Deve-se frisar que tais achados não estão em consonância com a cronologia

mais recorrente da oferta do tráfico negreiro para as Minas, muito embora haja um consenso de que, nas primeiras décadas do Setecentos, a praça de Salvador lá entregou dezenas de milhares de escravos oriundos da África ocidental - a principal fonte de mercadorias dos traficantes soteropolitanos. Com efeito, é muito provável que a maioria dos escravos em Minas provinha da Africa ocidental pelo menos até a década de 1730, quando o tráfico baseado no Rio de Janeiro, com seus vínculos estreitos com Angola e o resto da África centro-ocidental, passaria a predominar no mercado mineiro. Mesmo assim, durante a

maior parte do século XVIII, o número de batizandos da África centro-ocidental nem de longe correspondia a sua proporcionalidade entre os africanos importados. A explicação

para esta discrepância parece residir no fato de que, a partir de meados do século XVII o

tráfico luso-africano, ou melhor, brasílico-africano encontrava-se muito bem-instalado em vários pontos da África centro-ocidental, permitindo que a Igreja e, em particular, a Companhia de Jesus atuassem junto às populações locais, inclusive e sobretudo à parcela destinada à comercialização pelo tráfico negreiro. O resultado foi que a vasta maioria dos escravizados desta região foi batizada antes de embarcar nos navios negreiros. Já na África ocidental, desde as primeiras décadas do Seiscentos, a concorrência entre o tráfico

das várias nacionalidades foi muito mais intensa, dificultando a fixação de agentes do tráfico para o Brasil na região. E daí, com muito mais frequência, as peças eram embarcadas

sem receberem o sacramento do batismo. Neste caso, resta explicar por que, repentinamente,

escravos oriundos da África centro-ocidental passaram a constituir a quase totalidade dos adultos batizados. No momento podemos apenas aventar uma hipótese. Parece-nos razoável supor que a expulsão dos jesuítas de todo o Império Português no final da década de 1750, em conjunto com o acirramento da concorrência internacional, mesmo nos territórios nominalmente portugueses da África centro-ocidental, contribuíram para desestabilizar a atuação da Igreja na região. Tal desestabilização, por sua vez, teria resultado na entrada para o tráfico de maiores números de escravos não-batizados. De qualquer forma, com relação ao fim do século XVIII e ao XIX, é provável que a proporcionalidade das origens entre os batizados, registrada nas figuras 2, 3 e 4, se aproxime a de todos os africanos, pois tudo indica que as importações da África ocidental haviam diminuído a volumes bem

pequenos, enquanto a chegada em Minas de escravos provenientes da África oriental sempre fora diminuta.

41. E preciso ter cautela aqui. O abastecimento de peças do tráfico baseado em Salvador nunca foi feito exclusivamente na Africa Ocidental, pois incluía cativos vindo da África Central Ocidental e também oca sionalmente da Africa Oriental. Da mesma forma, o tráfico sediado no Rio, embora concentrado nas

40. FURTADO, J. E “Quem nasce e quem chega: o mundo dos escravos no Distrito Diamantino e no arraial

do Tejuco”, in LIBBY, D. C. & FURTADO, J. E (orgs.). Trabalho livre, trabalho escravo? Brasil e Europa, séculos XVIII e XIX. São Paulo: Annablume, 2006, pp. 246-8.

fontes da Africa Central Ocidental, comerciava peças das outras regiões africanas mais ou menos

regularmente. Ver, por exemplo, SOARES, M. de C. Os devotos da cor: identidade étnica, religiosidade e

escravidão no Rio de Janeiro, século XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000,

42. Ver ALENCASTRO. O trato dos viventes.

ATA

SONS,

FORMAS, CORES E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

ATLÂNTICA

PAPA temporalidade desta inversão de predominância entre os batizados procedentes da Africa ocidental e da Africa centro-ocidental inspirou a elabor ação das figuras 5 e 6, que apresentam a frequência com qual as 17 designações de africanos mai s comuns apareciam

nos assentos entre 1/12 e 1780 e de 1781 a 1851, respec tivamente.“ O intuito aqui é

apenas de dispor as designações encontradas para cada período, sem atribuir a elas muito peso interpretativo. Cabe observar, por exemplo, que, ent re 1712 e 1780, o termo mina aparecia em mais que três quartos dos casos contendo informaçõ es sobre origem, e que,

posteriormente, se tornaria quase que a única designação para cat ivos oriundos da África ocidental. Trata-se, talvez, de um fenômeno particular a Minas Gerais. É no mínimo curioso

observar que o termo guiné, usado com muita frequência no Rio de Janeiro ainda durante

a primeira metade do século XVIII“ aparece uma única vez no conjunto de assentos sob exame: especificamente no registro de batismo de Bernardin o, feito em Vila Rica, no dia

13 de julho de 1755. Como nos aponta Furtado, o termo mina era gen ericamente aplicado

aos cativos do Golfo de Benin, cativos estes que, por uma série de características, eram bastante valorizados pelos mineiros. Esta valorização pod e ter conduzido a uma generalização do uso da designação mina, mesmo quando o esc ravo pudesse ser rotulado como saburu, nagô ou cabo verde, entre outras. Na medida em que peç as provenientes da África ocidental foram escasseando da segunda metade do século XVI II em diante, o termo talvez se carregasse de ainda mais valor. Os dados extraídos do Rol de Con fessados da freguesia de São José do Rio das Mortes, elaborado em 1795, parece corroborar esta noção. Entre os escravos havia 218 minas (6,8% dos mancípios africa nos), enquanto os demais cativos da África ocidental incluíam meros 11 nagôs, 6 cabo ver de, 2 fulas e 1

43. A categoria de “outras designações da África Ocidental” inclui as seguintes “nações”: jague m, maritânia, chambá/xambá, calabar e calabari. Ver: CURTIN. The Atlantic Slave Trade, pp. 97, 100, 186-7, 189, 195, 202, 246 e 254; VERGER, P Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo de Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVI a XIX. 22 ed., São Paulo: Corrupio, 1987, pp. 12, 204, 207, 209 e 669; THORNTON, J. Africa and Africans in the Making of the Atlantic World, 1400-1680. Cambr idge:

Cambridge University Press, 1992, pp. XVII e XXV: SOARES, M. de C. Devotos da cor; p. 109. As “outra s designações da Africa Central Ocidental” encontradas foram bassa/baça, bemba, cabunda, camun dongo,

mahomé, massangano, mucumbé, muhumbé, quissama e songo. Ver: KARASH, M. Slave Life in Rio de

Janeiro, 1808-1850. Princeton: Princeton University Press, 1987, pp. 371-82. A quase totalidade dos batizandos provenientes da África Oriental foi descrita como moçambique, mas, no ano de 1818, um

grupo de 6 macoas foi batizado na paróquia de N. S. do Pilar de São João del Rei. Ver KARASH. Slave

Life in Rio de Janeiro, p. 381. As origens não identificadas quanto à origem por grandes regiões

africanas e que foram incluídas na categoria de “sem informações” são, além da genérica guine, crabaré, fogaça e teremani.

44. SOARES. Devotos da cor, pp. 102-8. De acordo com a autora, o significado do termo guiné foi se ampliando com o passar do tempo, chegando a se equivaler simplesmente a designação totalmente genérica de africano. 49. FURTADO, Júnia F Chica da Silva e o contratador dos diamantes: o outro lado do mito. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 66-7; RUSSELL-WOOD, A. J. R. The Black Man in Slavery and Freedom

in Colonial Brazil. New York: St. Martin's Press, 1982, p. 113. Para o autor, os minas eram considerados os melhores e mais fortes trabalhadores, mais resistentes às doenças e ótimos mineradores. Gostaríamos de lembrar que aqueles com habilidades na metalurgia e na arte de fundir o ferro também tenam contribuído à valorização dos africanos minas em Minas Gerais.

PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO saburu.*º Seja como for, para o período de 1781 a prevalecer entre os adultos batizados da mesma O maior grupo no segundo período, os congos, batizados com alguma identificação de origem,

A75

em diante, nenhuma designação chegaria maneira que os minas no período anterior. perfazia apenas um quarto (25,2%) dos e era seguido de perto pelos igualmente

genéricos cabindas (22,0%), angolas (16,1%) e benguelas (14,2%). Esta ordem de grandeza

contrasta com os achados de São José, em 1795, onde os angolas constituíam 35,1% dos

cativos africanos, os benguelas 33,3%, os congos 8.4% e os cabindas meros 2,8% (além dos minas, estes foram também superados pelos rebolos, com 5,6%). Tentar explicar tais diferenças não passa, é claro, de um exercício em especulação, mas a notável precisão do Rol de Confessados quanto ao quesito origem/cor da população

como um todo nos convida a fazer as comparações possíveis. Uma primeira sugestão, aliás bastante plausível, seria a de que o batismo antes do embarque nos navios negreiros teria sido bem menos frequente entre as peças rotuladas como congos e cabindas do que entre aqueles conhecidos como angolas e benguelas. Afinal, o tráfico luso-brasílico ou afro-brasílico teve, nos portos de Luanda (origem do angola “genérico”) e Benguela, seus pontos de apoio mais bem-organizados, e, daí, deles poder-se-ia esperar taxas de batismo mais altas entre os escravos despachados para a América portuguesa/Brasil.“º Por outro lado, não se pode perder de vista que o Rol de Confessados é uma fonte que retrata um dado momento da História, enquanto os batismos de adultos nos proporcionam dados

seriados no tempo. E, efetivamente, cabe observar que os congos, embora aparecendo em

quantidades diminutas entre os adultos batizados em Vila Rica, São João e São José durante todo o século XVIII, passaram a frequentar os registros de modo regular e em números substanciais a partir da década de 1810. Já os batismos de adultos designados como cabindas se deram quase que exclusivamente de 1812 em diante. O óbvio é que nossos achados estão a demonstrar oscilações no tempo e no espaço, tanto da frequência de batismos ministrados no litoral africano, quanto no volume de exportações das várias regiões do continente negro.

46.

47.

LIBBY & PAIVA. Manumission Practices..., p. 104,

LIBBY & PAIVA. Manumission Practices..., p. 104.

48. Ver, entre outros, PANTOUJA, S. “Três leituras e duas cidades: Luanda e Rio de Janeiro nos Setecentos”, in

PANTOJA, S. & SARAIVA, J. E S. (orgs.). Angola e Brasil nas rotas do Atlântico sul. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999, pp. 99-126; CRUZ e SILVA, R. da. “Benguela e o Brasil no final do século XVII:

relações comerciais e políticas”, in PANTOJA & SARAIVA. Angola e Brasil..., pp. 127-42; CRUZ e SILVA,

R. da. “The Saga of Kakonda and Kilengues: Relations between Benguela and its Interior, 179 1-1796”, in CURTO & LOVEJOY. Enslaving Connections, pp. 245-59. 49. Para exemplificar, quando do pico de batismos em São José no ano de 1813, os congos eram 17 de um total de 42 batizandos, os cabindas 10, ou seja, estas duas “nações” representaram cerca de 65% do total, Ao longo do ano de 1815, em São João os adultos batizados totalizaram 60, dos quais os congos eram 16 (26,6%) e os cabindas 24 (40,0%). Já em Vila Rica, no ano de 1818 os congos e cabindas perfaziam 16 dos 27 batizandos registrados (59,3%). A cronologia sugerida aqui é corroborada em MILLER, J. C. “A economia política do tráfico angolano de escravos no século XVIII”, in PANTOJA &

SARAIVA. Angola e Brasil..., pp. 63-7; FLORENTINO. Em costas negras, pp. 89 e 263; AMARAL, R. do. “Brasil e Angola no tráfico ilegal de escravos, 1830-1860”, in PANTOJA & SARAIVA. Angola e Brasil..., pp. 147-8.

|

476

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA.

PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

477

e

Para concluir, gostaríamos de deixar bem claro que a nossa intenção aqui tem sido tão somente a de explorar o potencial dos assentos de batismos de adultos africanos n na4 elucidação dos padrões do tráfico negreiro internacional para a hinterland mineirados

Figura 2. Origem dos africanos batizados, N. S. do Pilar do Ouro Preto, 1712-1843. 120. 7——

séculos XVIII e XIX. Acreditamos que estes registros paroquiais constituem-se nas font s

re

100

mais fiéis à realidade do tráfico internacional para o interior da América portuguesa e do Império de que o estudioso dispõe no momento, precisamente porque sobreviveram em

forma seriada (muito embora com algumas lamentáveis falhas). Com isto, no entanto, não estamos a descartar as outras fontes, tais como as listas fiscais, as listas nominativas.

OAlrica Oriental BAtrica Centre Ocidental

BaAfrica Ocidental . B Sem identificação

e os “mappas” de população agregados, bem como os inventários post mortem. Na verdad |

será através do cruzamento destas e outras fontes diversas que poderemos elucidar asas muitas dúvidas que ainda pairam sobre o tema do tráfico negreiro transatlântico cos mercados além dos portos de desembarque. E é a esta tarefa que tencionamos nos dedie; no futuro imediato. eu mm

Figura 1. Batismos de adultos africanos, freguesias selecionadas de Minas Gerais, 1712

í Fonte: ver nota 15

1853 (média móveis de 3 anos) 143

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Figura 3. Origem dos africanos batizados, São João del Rei, 1736-1851. 10

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478 PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

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nas Paróquias de N. Preto, São João e São José, S. do Pilar de Ouro 1781 -1851(N = 2013).

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Figura 5. Designações

Cabinda BAngola GB Benguela Bi Moniolo B Rebola MCassange

BOutras designações da África Central Ocidental

BMina

EOuiras designações da África Ocidental

EB Moçambique

Fonte: vor nota 15

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Figura 5. Designações de africa nos batizados nas Paróquias de N. S. do Pilar de Ouro Preto, São João e São José, 1713 -1780 (N = 3431). Sem

informação ou desconhecida

mMina

(3 Saburu H Nagô

m Cabo Verde = Fon

m Courano m Ladano g Cobú

MoOutras designações da África Ocidental BAngola

OBenguela

EBOutras designações da África Central Ocidental MMoçambique

479

TRÂNSITO E MOBILIDADE ENTRE MUNDOS: ESCRAVIDÃO GLOBALIZADA, COMÉRCIO E PRÁTICAS CULTURAIS

Eduardo França Paiva

Trânsito: pessoas e coisas O:

quase quatrocentos anos de tráfico de escravos africanos para o Novo Mundo

inscreveram-se na perspectiva indelével do trânsito, da mobilidade e das trocas, tanto de práticas culturais quanto da cultura material, dos conhecimentos e saberes, dos mitos e

religiões, e das formas de viver e de pensar. Tal mobilidade não se limitou à travessia

oceânica, nem à gênese comercial dela, mas foi muito mais alargada. Ela, na verdade, já era intensamente praticada entre os vários povos africanos por todo o continente, bem antes da chegada dos primeiros europeus, e, em grande medida, era marcada novamente

pelo comércio e pela religiosidade. Nesse caso, o contato antigo com os muçulmanos havia fortemente marcado populações inteiras, de costa a costa da África. Mobilidade também era aspecto fundamental na vida dos povos que habitavam as terras chamadas de América pelos europeus. Portanto, a escravidão africana, ao ser implantada no Novo Mundo, não experimentou dinâmica inédita, mas, ao contrário, aproveitou de movimentos já praticados longamente, e, evidentemente, os aperfeiçoou a partir de demandas, essas sim, novas, que ligavam várias partes do mundo, cada vez mais integrando-as, aproximando-as, tornando-as conhecidas entre elas; em outros termos, globalizando um mundo novo, enormemente ampliado a partir do século XV.

Categorias e conceitos O corpus conceitual desse texto é um tanto amplo e pretensioso, ao mesmo tempo em

que é inconcluso, e, por isso, meio movediço

e carente de ajustes. No entanto, é ele

esclarecedor e as categorias trabalhadas aqui permitem uma compreensão mais verticalizada da dinâmica que marcou o longo processo da integração planetária iniciada no século XV.

482

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

O mundo ibero-afro-americano é, ao final, o escopo a ser abordado, mas,

evidentemente, isso se fará de maneira fragmentada e pontual, a parti r, sobretudo, de alguns agentes mediadores que transitaram por esse universo tão complexo, interlig ando as muitas partes dele por meio de antigos e de novos instrumentos, sejam eles culturais, econômicos, políticos, científicos, religiosos ou tecnológicos, quase sempre meselados entre si. Tratava-se de universo em movimento e de agentes ávidos de circulação, de trocas, de conhecimento e de conquistas de toda sorte. Por Isso, a idéia/conceito de trânsito enquadra-se perfeitamente aqui, uma vez que nos ajuda a abolir a obrigato riedade do movimento entre dimensões rigidamente hierarquizadas (por exemplo, a circularidade de culturas ente camadas dominantes e subalternas).' Assim, podemos pretender enfocar a

dinâmica de construções culturais compartilhadas, no seu fazer-se e no seu manter-s e, por grupos sociais que se distinguem e, ao mesmo tempo, se assemelham, dependendo do

vínculo identitário escolhido, dos interesses destacados, da época e da região, além da

atuação de agentes mediadores entre eles e da leitura a posteriori dos historiadore s. Essas construções culturais, portanto, não têm um locus de nascimento identificável (uma class e, uma casta, uma camada, um sistema ideológico) nem há um sentido pré-defi nido de

divulgação (de baixo para cima ou de cima para baixo, por exemplo). Não obstante, as

particularidades e os traços específicos do pensar, do representar, do viver e do impor-se de cada grupo (e aí se pode identificar a origem de algumas construções histórico-culturais), o que o conceito de trânsito nos impele é a procurarmos as construções comuns, compartilhadas por diferentes, não apenas assentadas em pontos iguais, mas, também,

nos distintos, que passam a coexistir e, ao mesmo tempo, a fomentar novos espaços, nova s referências, novas realidades e, ainda, a fundir-se com os anteriores.

A idéia de trânsito, além de tudo, é mais adequada a uma história que não intenta restringir-se a fronteiras locais, regionais ou nacionais, mas, ao contrário, que se entende resultado de intercessões, e também de distensões entre partes, tradições, práticas e concepções muito distintas. Um conceito complementar ao de trânsito, mas não menos importante, é o de coexistência. Não se trata, evidentemente, da convivência entre os distintos, mas da existência deles, às vezes ocupando e produzindo o mesmo espaço, sem,

necessariamente, mesclarem-se ou confundirem-se, mesmo que isso possa ocorrer, aind a

que parcialmente, ao longo do tempo. Em caso contrário, estaríamos postulando culturas

estáticas temporal e espacialmente, e até mesmo culturas puras, perspectivas absolutamente distintas da nossa.

Em um universo tão ampliado como o ibero-afro-americano houve o que coexistiu, em conflito, em acordo e até sem se conhecer e sem se identificar, assim como o que se mesclou e o que se construiu a partir de concepções e práticas comuns ou daquelas forjadas

dentro do próprio movimento de integração, de contato e de transformação, cada vez

1. Ver a perspectiva adotada por GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as idéias de um

moleiro perseguido pela Inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. Sobretudo no Prefácio à edição italiana, incluído na edição brasileira, onde o autor apresenta o conceito tomado de empréstimo a Mikhail Bakhtin.

PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

483

mais intenso depois do século XV Entendimentos, conhecimentos e hábitos diferentes entre

os vários povos que participaram de tamanha empresa também pavimentaram os eixos de

integração, não apenas apropriando-se uns dos outros, substituindo-se uns pelos outros, mas forçando a produção do novo. Para tanto, espaços de sociabilidade, constituídos

coletiva e individualmente, foram extraordinariamente importantes para a dinamização

desse fenômeno histórico-cultural. Feiras, portos, rotas, vendas, templos, cemitérios, casas,

prédios oficiais, enfim, espaços públicos e privados emolduraram mestiçagens, hibridismos e impermeabilidades, coexistências e negociações, invenção de valores, desenvolvimento de técnicas, surgimento de práticas, que, mais ou menos intensamente, estiveram presentes no dia-a-dia dos muitos grupos sociais, desde escravos e demais trabalhadores até mandatários que ocuparam infinitas posições nesse universo cultural? O trânsito interno na América foi, portanto, em grande medida, devedor de dinâmicas comerciais e culturais consolidadas em toda a extensão do continente africano, antes das primeiras conquistas européias do século XV. Comércio e religião, muitas vezes em íntima associação, já haviam impelido os incontáveis povos africanos ao contato com o outro (tanto violento, quanto pacífico), e ao trânsito, ligando-os por rotas internas que cortavam

desertos e florestas, mas também por mares, integrando-os ao mundo muçulmano e ao comércio com o Mediterrâneo e através do Índico. Essa experiência subsidiou o contato comercial com os europeus e com os americanos e favoreceu o tráfico de escravos para O Novo Mundo. Muitos dos que saíram cativos acabaram por transportar consigo práticas vinculadas a essa mobilidade (formas de comércio, disposição para adaptações culturais e religiosas, conhecimento da natureza e da transformação dela, por exemplo), que foram introduzidas e associadas a outras em terras americanas.

2. Temas como os tratados aqui vêm sendo discutidos por vários autores, de diferentes nacionalidades, em uma série de encontros realizados em torno do conceito de Passeurs Culturels/Mediadores Culturais. Sessões desse Seminário itinerante já se realizaram em várias cidades e resultaram nas seguintes obras, por ordem de realização dos eventos: QUEIJA, Berta Ares & GRUZINSKI,

Serge (orgs.). Entre dos

mundos; fronteiras culturales y agentes mediadores. Sevilla: Escuela de Estudios Hispano-Americanos de

Sevilla, 1997; LOUREIRO, Rui Manoel & GRUZINSKI, Serge (orgs.). “Passar as fronteiras”, in Anais do Il

Cológuio Internacional sobre Mediadores Culturais — séculos XV a XVIII. Lagos: Centro de Estudos Gil

Eanes, 1999; GARCIA, Clara & MEDINA, Manuel Ramos (orgs.). “Ciudades mestizas: intercambios y

continuidades en la expansión occidental. Siglos XVI a XIX”, in Actas del 3er. Congreso Internacional

Mediadores Culturales. México: CONDUMEX, 2001: PAIVA, Eduardo F rança & ANASTASIA, Carla Maria

Junho (orgs.). O trabalho mestiço: maneiras de pensar e formas de viver — séculos XVI a XIX. São Paulo/ Belo Horizonte: Annablume/PPGH-UFMG, 2002: GODOY, Scarlett O'Phelan & SALAZAR-SOLER, Carmen

(eds.). Passeurs, mediadores culturales y agentes de la primera globalización en el Mundo Ibérico, siglos AVI-XIX. Lima: Pontifícia Universidad Católica del Perú/Instituto Riva-Agiiero/Instituto Francés de Estudios Andinos, 2005. Ver ainda GRUZINSKI, Serge. La pensée métisse. Paris: Fayard, 1999: GRUZINSKI, Serge.

Les quatre parties du monde; Histoire d'une mondialisation. Paris: Éditions de la Martiniêre, 2004; PAIVA, Eduardo França. Escravidão e universo cultural na Colônia; Minas Gerais, 1716-1789. Belo Horizonte: Ed. da UFMG, 2001; SUBRAHMANYAM, Sanjay. “Connected Histories: Notes Towards a Reconfiguration of Early Modem Eurásia”, in LIEBERMAN, V (ed.). Beyond Binary Histories. Re-imagining Eurasia to €. 1830. The University of Michigan Press, 1997, pp. 289-315; TACHOT, Louise Bénat & GRUZINSKI, Serge

(orgs.). Passeurs culturels: mécanismes de métissage. Paris: Fondation Maison des sciences de Phomme;/

Presses universitaires de Marne-la-Vallée, 2001.

AB4

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA Mas, é certo, o trânsito interno na América também se deveu a experiências recolhidas

pelos europeus dentro de seu continente e fora dele, assim como às práticas e aos conhecimentos dos nativos, chamados de índios pelos conquistadores. Esses últimos, deve ser lembrado, abriram caminhos entre matas e montanhas que interligavam grandes extensões territoriais, tendo várias dessas rotas se transformado nas estradas que hoje utilizamos. De fato, a mobilidade é marca indelével do que se vem chamando de globalização ou de mundialização iniciada no século XV. E essa mobilidade foi física, social, econômica e cultural, tudo ao mesmo tempo, como demonstram as realidades coloniais americanas, sobretudo as mais fortemente vinculadas às redes inter e intracontinentais, concomitantemente as mais mestiçadas. Aliás, nesse contexto, comércio não deve ser uma definição restrita a interesses econômicos e materiais apenas, mas deve ser tomado como um instrumento de emprego cotidiano que pouco distinguiu e quase nunca separou dimensões

tão estreitamente ligadas como negociações econômicas e movimentação cultural. A América, desde os primeiros tempos da colonização, esteve no centro da nova dinâmica planetária e os escravos africanos aí introduzidos acabaram desempenhando papel importante na montagem de um universo que demandou mobilidade, miscibilidade e esforços de adaptação, palavras de Gilberto Freyre que podem ser empregadas para todo o Novo Mundo.* De um lado, esses escravos e libertos africanos, ao longo de quatro séculos, reforçaram o ambiente movediço americano, mesmo porque se constituíram no maior grupo de imigrantes (forçados, é verdade), o que per se é fator de constantes modificações e de incorporação do novo, e, nesse caso, em escala alargada. Mas, em certa medida, esse novo em terras americanas era tradicional nas africanas, como, saliente-se, práticas específicas de comércio e o próprio habitus construído em torno dele, marcado por rotas que aproximavam mundos diferentes e por caravanas que faziam circular objetos e culturas, assim como por estratégias “orientalizantes” que associavam negócios e Islã. Embora continuemos conhecendo pouco sobre o tema, é necessário se perguntar sobre quanto de tudo isso atravessou o Atlântico em embarcações que traziam, portanto, bem mais que corpos cativos. É igualmente necessário se indagar sobre o impacto disso no Novo Mundo, principalmente nas áreas escravistas e mais urbanizadas. Se a mobilidade foi traço entre os escravos imigrados, por outro lado, houve também os que chegaram à América, provenientes de domínios que cultivaram pouco ou nenhuma mobilidade social, Sociedades que se organizavam em castas existiram na África sub-saariana. Foi o caso do poderoso Império do Mali, posteriormente tomado pelo Império Songhai, extensa região cercada pelos rios Senegal e Niger, dominada desde o século XIII pelo Islã, de onde centenas

3. FREYRE, Gilberto. Casa grande & senzala; formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 27º ed., Rio de Janeiro: Record, 1990, pp. 8-15. Para uma visão panorâmica sobre o tema à América espanhola ver BERNAND, Carmen. Negros esclavos e libres en las ciudades hispanoamericanas.

Madrid: Fundación Histórica Tavera, 2001: QUEIJA, Berta Ares & STELLA, Alessandro (orgs.). Negros,

mulatos zambaigos; derroteros africanos en los mundos ibéricos. Sevilla: Escuela de Estúdios Hispano» Americanos/Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 2000.

485

PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

de milhares de homens e mulheres saíram escravizados em terras de rígida hierarquia e de pequena possibilidade de contrastavam-se com as regiões escravistas do Novo Mundo, exclusivamente, com as cidades, vilas e povoados. Novamente,

direção à América.“ Essas ascensão para a maioria principalmente, mas não o elemento africano, agora

esse, várias vezes denominado “mina”, pouco acostumado à mobilidade social (embora

não ocorresse o mesmo com relação à física), teve atuação importante, mas pouco estudada ainda, para a mobilidade americana. Até meados do século XVIII são esses povos (nem todos, na verdade, vindos da mesma região de hierarquia rígida) que, majoritariamente, foram transportados como escravos, sobretudo pelos portugueses, e distribuídos pela América portuguesa e pela espanhola. Como esses homens e mulheres transitavam nas regiões escravistas americanas, tão marcadas pela mobilidade, pela mestiçagem e pelos inúmeros casos de alforria e de ascensão econômica e social de ex-escravos? Como a rigidez de castas se transformava em avidez de mobilidade? Em que medida, entre os séculos XVI e XIX, notícias sobre a mobilidade em terras escravistas americanas chegavam à África

ocidental do Islã e como essa realidade distinta teria sido incorporada pelos africanos ou como elas teriam forçado alterações na organização social rígida? Na verdade, tenho mais indagações que possíveis respostas para oferecer. De toda forma, O que se apresenta aqui é, essencialmente, aspectos que podem nos ajudar a pensar em uma história da escravidão estreitamente ligada à mobilidade e ao trânsito, tanto global, quanto nas áreas coloniais, que difere acentuadamente de uma história engessada, estandardizada e, evidentemente, simplificada da escravidão. Os casos exemplares que apresentarei a seguir são testemunhas da dinâmica vivenciada nesses tempos escravistas

por escravos e por não-escravos e, sumariam, ao mesmo tempo, incontáveis outros casos semelhantes e referenciais, que podem nos ajudar a mensurar os resultados de toda essa mobilidade, bem como a conectar histórias que se estenderam por várias partes do mundo moderno.

Mediadores

culturais e transeuntes:

testemunhos

Africanos em África O capitão Álvares d'Almada era crioulo, natural de Santiago de Cabo Verde e era letrado. Escreveu sob a perspectiva de cristão que era, como um português sob a Coroa unificada sob Castela, e como súdito do poderoso monarca ibérico no final do século XVI

4. Ver sobre essa região, entre outros, ADÉKOYA, Olúmúyiwá Anthony. Yorúbd: Tradição Oral e História. São Paulo: Terceira Margem/Centro de Estudos Africanos-USB 1999: KI-ZERBO, J. & NIANE, D. T. (orgs.)

Histoire générale de VAfrique. IV LAfrique du XIe au XVle siêcle. Paris: Présence Africaine/Edicef/UNESCO,

1991; OGOT, B. A. (org.) Histoire générale de VAfrique. V LAfrique du XVIe au XVile siêcle. Paris: Présence

Africaine/Edicef/UNESCO, 1998; SHILLINGTON, Kelvin. History of Africa. London: MacMillan, 1995; SILVA, Alberto da Costa e. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. 2º ed., Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 1996; SILVA, Alberto da Costa e. A manilha e o libambo: a África e a escravidão, de 1500 a

1700. Rio de Janeiro: Nova Fronteira/Fundação Biblioteca Nacional, 2002.

RR

486

SONS,

FORMAS,

CORES

E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

ATLÂNTICA

(o texto é de 1594).º Dissertou sobre os africanos, testemunh ando toda a mobilidade física da população continental, entre reinos que se formavam e se desfaz iam com guerras e com golpes frequentes. O mestiço Almada descrevia, entã o, as rotas e o trânsito comerciais, os negociantes e os costumes. Dedicou várias páginas aos mandin gas, jalofos e bixirins — todos muçulmanos — e as conexões de seus grandes reinos a um comércio globalizado. No seu Tratado breve, o capitão destacava a presença de europe us, sobretudo portugueses,

negociando na África mercadoria de toda parte, tais como contaria da Índia, con tinhas de

Veneza, vinho, tecidos e ferro do Velho Mundo. Seu texto aca ba registrando, portanto, o

intenso negócio estabelecido entre esses povos — europeus e africanos — no final do século XVI, explicitando relações muito mais complexas que uma preten sa presença de traficantes de escravos nos portos atlânticos africanos. O comércio era um valo r referencial e uma demanda importante para uns e outros. Associada a ele, em ambos os lados havia uma grande necessidade e uma nítida vontade de conhecer e de se rel acionar com o “outro”, Isso, evidentemente, não impediu escravização, tráfico e exploração de algumas populações, tanto dos europeus com relação aos africanos, quanto entre esses últ imos, pois não eram

eles um único povo ou uma única etnia, como se acostumou pens ar, sobretudo a partir do século XIX. Nesse caso, o capitão crioulo demonstrava toda a sua perspicácia, seu poder de observação e sua importância como informante real. Almada mapeou reinos, etnias e intercessões religiosas e culturais. Esse arguto súdito de Felipe II inf ormava sobre os negros Judeus em terras do Islã e sobre os muçulmanos que procuram o bat ismo nas terras cristãs de Cabo Verde. O texto de Almada tornava-o, então, uma das mui tas peças importantes da monarquia planetária e da mundialização do século XVI.

Africanos e mestiços em movimento no Novo Mundo No movimento cotidiano aprendia-se, entre muitas coisas, a(s) língua(s). Quanto

mais intenso o trânsito — e ele o foi no período colonial, sobretudo a part ir das cadeias

urbanizadas, das migrações ininterruptas e dos negócios comerciais — maior, portanto, era o aprendizado de todos com relação a todos. Nesse movime nto, então, africanos aprendiam formas de como se comunicar na América. No Brasil, por exemplo, comunicaram-se a partir da língua portuguesa, das línguas nativas, da língua geral dos paulistas, e até mesmo das línguas dos vários povos das muitas Áfricas que aí se reproduziam. Isto vale, claro, para índios e portugueses, na verdade, para europeus. Vale ,

PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

487

catecismo com Claver para, com as respostas, instruir os catecúmenos ; e Igna cio Angola, que era, também, pedreiro; de um certo Antônio Congo, conhecido como Antônio Flauta,

que além de intérprete tocava enquanto Claver distribuía almoço aos pobres, na porta do Colégio Jesuíta de Cartagena de Índias; de dois outros — Diego Folupo e Domingo Folupo (esse último morreu na Jamaica) — que talvez fossem Mandingas (Juan Mand inga, negro de língua folupa”, p. 583); de um certo José Monzolo (Monjolo?), que ajud ava também na fabricação de rosários; e de três yolofos (jalofos?) — Francisco Yolofo, intérprete da língua portuguesa, Francisco de Jesús Yolofo, que era um “turco” que havia “se estabelecido” em Cartagena e que diante dos exemplos de sacrifício e de caridade de Pedro Clav er se converteu

ao cristianismo e passou a ser intérprete do Jesuíta, e ainda Juan Yolofo, que era um negro condenado à morte por roubo, mas que serviu como intérprete de Clav er nos últimos momentos da vida do jesuíta.” A experiência de Pedro Claver e de seus intér pretes, indicativa de tão intenso trânsito e troca de saberes, de técnicas, de impressões e de representações, assim como de movimentação física, deve, certamente, ter sido seme lhante à vivência de outros religiosos que pretenderam “civilizar”/evangelizar o Novo Mundo e seus habitantes, tantos os naturais, quanto os introduzidos à força. Pode-se pensar, por exemplo, na saga de dois outros jesuítas pioneiros na América do século XVI: o português Manuel da Nóbrega e o canarino José de Anchieta, que chegaram nas terras portuguesas, resp ectivamente, em 1549e 1553. Anchieta, o principal jesuíta desembarcado na América port uguesa, saíra de Tenerife e estudara no Colégio da Companhia de Jesus, em Coimbra, de onde partiu para o Brasil.º O “Apóstolo do Brasil”, como ficou conhecido, fundou o Colégio Jesuíta de São Paulo, berço da futura megalópole, foi reitor do Colégio da Companhia no Rio de Janeiro e tornou-se provincial, o mais alto posto jesuítico no Brasil. Além disso , esse padre (beatificado pelo Vaticano em 1980; não há, até hoje, santos nascidos no Brasil, embora em 2002, uma freira de origem italiana que atuou no sul do Brasil no iníci o do século XX tenha sido canonizada; a América espanhola, ao contrário, conheceu seu primeiro santo ainda no século XVII)º chegou mesmo a escrever a Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil, de 1595, o que demonstra a importância conferida por esses religiosos/ passeurs culturels à língua, não apenas como instrumento de comunica ção, mas também como um conjunto de códigos pertencentes ao “outro”, que precisavam ser decifrados e apreendidos pelos colonizadores. Para a América espanhola, mais precisamente para o vice-reino do Peru, outro caso é emblemático e se aproxima dos anterior es, no que tange

igualmente, claro, para a América espanhola. O espanhol Pedro Claver (declarado sant o

por Roma, em 1888) recorreu a vários escravos, de variada etnia, como intérpretes em suas pregações e esforços de evangelização levados a cabo em Cartagena de Índias, no século XVII. Há registro de intérpretes de Angola — Alonso Angola, que dialogava sobr e

7. As informações foram retiradas do Proceso de beatificación y canonización de san Pedro Claver/ traducción

del Latin y del Italiano, y notas de Anna María Splendiani y Túlio Aristizábal Giraldo, S. J. Bogotá: CEJA,

2002, pp. 571-98.

8. Sobre a presença dos jesuítas na América portuguesa, no século XVI e sobre o trânsito da natureza

9. Tratado breve dos Rios de Guiné do Cabo-Verde feito pelo Capitão André Álvares d'Almada Ano de 1594. Lisboa: Grupo de Trabalho do Ministério da Educação para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1994.

6. Ver sobre o tema GRUZINSKI. Les quatre parties du monde...

fomentada por eles ver ASSUNÇÃO, Paulo de. A terra dos brasis: a natu reza da América portuguesa vista pelos primeiros jesuítas (1549-1596). São Paulo: Annablume, 2000.

9. Ver sobre esse tema GLAVE, Luis Miguel. De Rosas y espinas; economia, sociedad y mentalidades andinas,

siglo XVII. Lima: IEP/BCRB 1998, pp. 181-226: MEDINA, Manuel Ramos. (org. ) Camino de la Santidad;

siglos XVIXX. México: Condumex, 2002; TOSCANO, Verônica Zárate. “Las fiestas em honor de F elipe de

Jesús, santo novohispano”, in PAIVA & ANASTASIA. O trabalho mestiço..., pp. 357-76.

488

]

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATL ÂNTICA

a exploração dos recursos de comunicação. Trata-se de outro jesuíta espanhol , que chegou a arcebispo de Lima, nomeado em 1578, e que mais tarde (172 6) foi declarado santo por Roma, Toríbio de Mogrovejo. Antes, ele tinha sido inquisidor em Granada e nos Andes, para melhor cumprir o papel de evangelizador, dominou línguas nativas (quechua, guajivo, tuncha, guajoya), empregando-as na catequese dos índios. Beatos, santos populares (alguns posteriormente oficializados) e padr es (houve mulheres também; aliás, foi uma mulher o primeiro dos santos americanos: Sant Rosa de Lima!) se ocuparam de nativos e de negros introduzidos no Novo Mundo, assim como, com o passar do tempo, com mestiços também. Na maioria dos casos, dominar a língua, para todos os envolvidos, foi recurso importantíssimo e muit os se esmeraram em fazê-lo.

Muitos “boçais”'º entenderam, talvez mesmo antes de chegarem ao cativeir o americano,

que deveriam, se pretendessem alguma autonomia ou negociaç ão, dominar a língua dos mais poderosos. A História mais recente tem demonstrado, cada vez mais convincentemente, que muitos tiveram êxito. Diante disso, pergunta-se então: em quanto tempo um escravo “boçal” tornava-se “ladino” na América? E esse tempo? Poderia ser ele também marcado pela intensidade dos trânsitos, para os quais os pretos contribuíram de maneira decisiva, fazendo-se convenientemente entender e se notar na frenética movime ntação social do Novo Mundo, ela própria marcadamente híbrida, essencialmente porosa e maleável? À dinâmica social movediça e intensa, não era africana, não era européia, não era

indígena. Era, contudo, o resultado das misturas coloniais, que sulcavam aquele tempo, estreitando espaços entre nativos, escravos e colonizadores. Entretanto, essa conjunção não decretou a erradicação das diferenças, do particular de cada grupo e de fórmulas históricas construídas a partir das peculiaridades de cada sociedade.” No caso específico dos africanos, por exemplo, o movimento entre o chegar “boçal” e o tornar-s e “ladino”, como se verá a seguir, imprimiu aspectos singularizantes à realidade escravis ta, dimensão imprescindível da mundialização da Época Moderna.

10. Atente-se para o significado que essa antiga expressão acabou inco rporando em nossa época, isto é, 0 de parvo, idiota, absolutamente estúpido e ignorante, tendo como contrapo nto outra expressão antiga,

isto é, ladino, que no início significava o que falava a língua do proprietário europeu, mas que, hoje,

tornou-se sinônimo de esperto e astuto. Quanto maior a capacidade de se movimentar, de se adaptar, de apreender a form

a de comunicação do outro, no caso do colonizador, mais ladino se apresentava 0

africano na perspectiva européia. Pergunto: teriam os mesmos “ladinos ” ou, até mesmo, os “boçais

considerado Claver, Nóbrega, Anchieta e Mogrovejo, entre muitos outros, “lad inos” também? Quais

termos teriam sido empregados nesses casos? Que referências, valores e idéia s compunham a perspectiva, a avaliação e o olhar africanos?

11. Pretendi discutir esse tema em PAIVA, Eduardo França. “Africanos na América portugue sa, trânsito entre dois mundos e práticas de antiglobalização”, in GODOY & SALAZAR-SOLER. Passeurs, mediadores culturales..., pp. 295-310. Uma versão desse texto está em PAIVA, Eduardo França. Africans in Portuguese America. Crossroads between Worlds and Practices of Anti-Globalisation. Image [&] Narrative - Online

Magazine ofthe Visual Narrative, Louvain, Bélgica, v .10, n. 11, 2005 .

PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

489

Soldados mandingas Nos sertões, entre a Bahia e as Minas, próxim o aos caminhos e embrenhados nas matas, grotas e capões próximos ao vale do rio São Francisco, tropas de africanos

mandingas, escravos autônomos e quase nômades (si tuação, de certa forma, semelhante à vida errante de vários deles no antigo e grande Império do Mali, depois Songhai) espalharam medo e violência entre os habitantes durante os primei ros anos do século XVIII. A tropa mais virulenta, uma milícia privada, pertencia a um célebre potentado local, Manuel Nunes Viana, português de origem, instalado na Bah ia e invasor de terras nas Minas Gerais, onde, em 1708, em pleno conflito que envolv eu paulistas e forasteiros na área

mineradora

(episódio

conhecido

como

a Guerra

dos

Emboabas),

fora aclama

do irregularmente governador da região, a despeito da von tade do rei português. Nunes Viana aterrorizou a população do norte e do centro das Minas até a década de 20 do século

XVIII, roubando-lhes terras e fazendas e cobran do-lhes impostos. Para tanto, usava sua

tropa de africanos “feiticeiros”, que, segundo a docume ntação existente no Arquivo Público Min

eiro, em Belo Horizonte, fechavam o corpo do chefe contra atentados, tiros, facadas e outros males e se encarregavam de divulgar entre os habitantes da extensa área à proteção

mágica que ofereciam a Viana e a capacidade adq uirida por ele para ver através das paredes e para escutar o que se conversava dentro das casas. Durante mais de vinte anos a

estratégia deu certo: Viana se transformou em ho mem muito rico e temidíssimo, chamado

de régulo por seu maior adversário e inimigo, o govern ador da capitania das Minas Gerais, o conde de Assumar.!? No interior da América portuguesa, mandingas africa nos convenceram um potentado da eficácia de seus poderes mágicos, leva ndo-o a requisitá-los, assim como, tradicionalmente, faziam em suas regiões de origem e em outras por onde transitavam na África centro-ocidental. Lá e nos sertões americano s, essa casta de protetores mágicos dos governantes misturou o Islã com religiões tradicionais e com conhecimentos práticos sobre flora, fauna e técnicas de caça e de fundição metálica. Ao cruzarem cativos O Atlântico, eles transportaram para o Novo Mundo boa parte da exp eriência adquirida em suas andanças

12. Há vasta documentação no APM, em Belo Horizonte , sobre Manuel Nunes Viana e sua tropa de mandingas. Ver, sobretudo, os códices da Seção Colonial . Ver, também, ANASTASIA, Carla Maria Junho. A geografia do crime: violência nas Minas setecentista s. Belo Horizonte: Ed. da UFMG, 2005 : ANASTASIA, Carla Maria Junho. Vassalos rebeldes: violênci a coletiva nas Minas na primeira metade do século XVIII. Belo Horizonte: C/Arte Editora, 1998; CAM POS, Maria Verônica. Governo de min eiros: de como meter as Minas numa moenda e beber-lhe o caldo dou rado — 1693-1 737. São Paulo: Universidade de São Paulo, Tese de Doutorado em História, 2002: GOU VÊA, Maria de Fátima Silva. “Manuel Nunes Viana”, in VAINFAS, Ronaldo (org.). Dicionário do Brasil colonial (1500-1808 ). Rio de Janeiro: Objetiva,

2000, p. 372; PARRELA, Ivana D. O teatro das desordens: garimpo, extravio, contrabando e violência na ocupação da Serra de Santo Antônio do I tacambiruçu (17681800). Belo Horizonte: UFMG, Dissertação de Mestra do em História, 2002; ROMEIRO, Adriana & BOTELHO,

Ângela Vianna. (dir)

Dicionário Histórico das Minas Gerais — periodo colonial. Belo Horizonte : Autêntica, 2003, pp. 153-4; SILVA, Célia Non

ata da. Sertão mestiço: mandões e bandidos na Capitania das Min as. Belo Horizonte: UFMG, Tese de Doutorado, 2004.

490

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

africanas e em sua atuação como casta de protetores e, mesmo permanecendo escravos no interior do Brasil setecentista, reinventaram, com eficiência, o ambiente mágico que dominavam no mundo sub-saariano, deslocando-se incessantemente sobre O território colonial, !* Os mandingas dos sertões do Novo Mundo consubstanciavam a mobilidade e o trân sito

491

Não produz um século um homem com o gênio deste capitãomor, tem 80 e tantos anos, e todas as suas paixões tendem a estas aberturas e descobertas, em que tem gasto o que é seu, e arrisca frequentemente a própria vida.!º

Maria Barbosa, parda de Évora

de culturas entre a África negra e a América portuguesa, o que acentuava e matizava,

ainda mais, os movimentos em escala planetária do início do mundo moderno, que tiveram

Acusada de feitiçaria em Portugal, Maria Barbosa foi enviada para o exílio em Angola, onde foi tomada novamente como feiticeira e como alcoviteira e foi condenada a açoites. A parda, entretanto, cruza o Atlântico, passa pela ilha Fernão de Nor onha, se instala em Pernambuco e passa pelo Rio Grande. Em 1610, se achava instal ada na Bahia, onde foi novamente acusada e presa. Em seguida foi enviada à Inquisição de Lisboa, mas o navio em que estava foi atacado por piratas e ela, então, foi abando nada em uma praia de Gibraltar, de onde seguiu sozinha para Lisboa. Depois de viajar por três continentes e de se transformar em uma autêntica mediadora entre culturas e agente da mundialização, Maria Barbosa chega a Lisboa, onde foi sentenciada em 1614.1º

sólidos investidores entre os ibéricos, como nos alerta Serge Gruzinski.!* Ainda escravizados,

esses homens “feiticeiros” ajudaram a impregnar o universo colonial de dimensões mágicas

e fantásticas de origem africanas, inclusive já mestiçadas por lá.

João Gonçalves da Costa, preto forro português no sertão das Minas

Português, natural da cidade de Chaves, preto forro (libertação conquist ada em

Portugal), chega com mais ou menos 16 anos na região de Minas Novas, então capitania

da Bahia. Em 1744, já era capitão do Terço de Henrique Dias," “capitão da gent e preta que servirá na conquista e descobrimentos”, servindo à bandeira do mestre-de-ca mpo João da Silva Guimarães.!º João Gonçalves da Costa e sua família foram responsáveis pelo domínio de extensa região interiorana da Bahia e pela formação do arraial da Conq uista, mais tarde transformado em Imperial Vila da Vitória e cidade de Vitória da Conq uista. O domínio da região se estendeu até as margens do rio de Contas e do rio Pardo. Gonçalves da Costa foi considerado por um governador da Bahia, em 1783, “povoado r do Sertão da Ressaca, homem com o valor e espírito dos antigos paulistas e sem a sua ambição”.“” As conquistas foram feitas em nome da Coroa portuguesa e João Gonçalve s da Costa, preto forro e oficial, estava todo o tempo investido da autoridade delegada a ele. Com mais de 80 anos de idade, explorou as margens do rio Pardo e, por isso, provocou o

Anastácia, mestiça entre São Paulo e Minas Gerais Filha mestiça de um paulista e de uma índia, em 1735, aproximadame nte, partiu da Vila de Itu em direção às Minas Gerais, fugindo do marido que se encont rava “nos sertões” e que, soubera, voltava para Itu. Na longa ausência do marido, a mest iça Anastácia cuidara da filha do casal, mesmo que desamparada pelo esposo, mas tivera dois outros filhos de diferentes pais. Para “remar a vida e para que o dito meu marido não matasse”, dizia ela, resolveu, então, tentar a sorte na região de mineração, no período em que o ouro ainda havia em razoável quantidade. O trajeto exato da viajem para as Minas é desconhecido, mas Anastácia cruzou serras e matas, passou por lugarejo s e estabeleceu-se na vila de Pitangui, onde teve mais dois filhos de outros dois pais, com um dos quais se acomodou e terminou seus dias. Nessa vila mineradora, uma das primeira s a serem erigidas nas Minas Gerais, a mestiça paulista resolveu mudar o nome, pas sando a chamar-se Francisca Poderoza. Assim ela se declarou em seu testamento, dat ado de 1742, quando desfrutava de uma vida afetiva aparentemente mais estabilizada ao lado do companheiro que escolhera e dos filhos que gerara, bem como de razoável fortuna material . Ao resolver se dar nova identidade, essa notável personagem setecentista escolh eu um codinome absolutamente apropriado para uma mulher que viveu tantas experiências inus itadas naquele mundo de mobilidade — física e social — de intenso trânsito e de mestiçage m.?!

comentário do conde da Ponte, governador da Bahia, em 1807:

13. Ver PAIVA, Eduardo França. “De corpo fechado: o gênero masculino, as milícias e as prátic as mágicas nas minas Gerais do início do século XVIII — trânsito cultural”, in LIBBY, Douglas Cole & FURTA DO,

Júnia Ferreira. (orgs.) Trabalho livre, trabalho escravo: Brasile Europa, séculos XVII e XIX. São Paulo/

Belo Horizonte: Annablume/PPGH-UFMG, 2006, pp. 113-30.

14. Ver GRUZINSKI. Les quatre parties du monde...

15. O Terço (um regimento) comandado por Henrique Dias atuou destacadam ente na guerra que expulsou

os holandeses do Brasil, no século XVII. Henrique Dias era homem negro (é possível que fosse crioulo, isto é, nascido no Brasil, filho de mãe negra/africana) e seu Terço compunha-se de escravos e de ss

18. IVO. O Anjo da Morte contra o Santo Lenho..., p. 56.

continuaram existindo mesmo depois da morte do comandante, ocorrida em 1662.

religiosidade popular no Brasil colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1986, pp. 334-8 e GRUZINSKI. Les quatre parties du monde..., pp. 139-44. 20. Sabará. Museu do Ouro. Casa Borba Gato. Cartório do Primeiro Ofício-Testamentos. códi ce 13, £92.

19. Sobre Maria Barbosa ver SOUZA, Laura de Mello e. O diabo e a Terra de Santa Cruz: feitiçaria e

escravos, negros, crioulos e mestiços. O “Terço de Henrique Dias” ou os “Regimentos dos Henriques

16. As informações sobre João Gonçalves da Costa foram retiradas do trabalho de IVO, Isnara Pereir a. 0 Anjo da Morte contra o Santo Lenho; poder. vingança e cotidiano no sertão da Bahia. Vitória da Conquista: Edições UESB, 2004, p. 55.

Testamento de Francisca Poderosa. Pitangui, 06/ago/1742. 21. Sobre Francisca Poderoza ver PAIVA, Eduardo França. Escravos e libertos nas Minas Gerais do século

17. IVO. O Anjo da Morte contra o Santo Lenho..., p. 55.

AVI: estratégias de resistência através dos testamentos. São Paulo: Annablu me, 1995 , pp. 161-5.

o

492

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

Manoel da Costa, preto mina forro Trazido como escravo para as Minas Gerais, Manoel foi embarcado, provavelmente, na Costa da Mina e desembarcado na Bahia, igualmente a outros tantos milhares de

negros provenientes da extensa região próxima ao que hoje chamamos de Golfo da Guiné. O escravo comprou sua alforria de seu antigo senhor e parece ter preferido o trabalho e a ascensão econômica na região mineradora do Paracatu do que a constituição de família (mas declarava ter uma irmã “de pai e mãe”, a forra Roza Pinto da Trindade, sua herdeira): permaneceu solteiro, não teve filhos, mas tornou-se proprietário de uma venda; possuía uma lavra mineral; era dono de quatro moradas de casas, sendo três delas cobertas de

telha; era senhor de onze escravos, todos homens africanos, e tinha sociedade com Antônio

da Costa (provavelmente africano forro) em uma chácara, à qual foi dado o nome de Costa da Mina.“

Manoel tratou, pelo que se vê na documentação, de cultivar certa memória de origem. Manteve-se ligado à irmã, que também se forrara depois de atravessar o oceano como

escrava. Ele parece, portanto, ter valorizado laços familiares africanos nas Minas Gerais, o que o trânsito experimentado internamente na África, o vivenciado no Novo Mundo e o que se desenvolveu entre esses dois universos não conseguiu arrefecer. Além disso, Manoel] forro reinaugurou no Paracatu uma origem e uma identidade étnicas imaginárias, tomadas de empréstimo aos portugueses, que estavam embutidas no topônimo empregado em sua chácara: a Costa da Mina. A Mina ou a Costa da Mina não existia antes que os portugueses aí instalassem o célebre Castelo de São Jorge da Mina, em 1482. Para essa fortaleza, levavam-se africanos aprisionados e escravizados, e de daí eles eram embarcados principalmente para a América. O caso do forro do Paracatu demonstra, assim, como culturas e identidades não são estáticas no tempo e no espaço, e como africanos na América, individual e coletivamente, construíram novos elementos identitários, revestiram outros já existentes, ressignificaram práticas e representações e contribuíram na construção de seu próprio tempo e desse mundo colonial.

Joana da Silva Machada, preta forra entre o Recife e as Minas Africana da Costa da Mina, forra, Joana fez seu testamento na vila de Santo Antônio do Recife, em 1745. Apenas dois anos depois, em 1747, ela faleceu nas Minas Gerais. O testamento foi aberto no arraial dos Carijós, onde morrera, e onde, provavelmente, residia, pois o testamento ali se encontrava. Contudo, o inventário dos bens foi realizado na vila de São João del Rei, em 1748. O resultado do inventário da liberta acusou a existência de

uma enorme quantidade de tecidos de vários tipos, roupas prontas, lençóis e toalhas, sapatos, além de fivelas de sapato, porcelana indiana, vidro, pratos e tigelas de estanho,

PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

493

tachos e bacias de cobre e de arame, balanças e fumo. Além disso, foram arrolada s muitas peças em ouro e prata lavrados, algumas delas cravejadas de diamantes e de aljôfare s, “umas continhas de pescoço” e três voltas de corais engranzados em ouro. Joana tinha negócios espalhados por Pernambuco, pela Bahia, pelo Rio de Janeiro e

por Minas Gerais, e deve ter sido uma negociante de perspicácia e de sucesso para pode montar tão ampliada rede comercial. A trajetória parcialmente registrada em seu testamento e no inventário de seus bens é notável para a época, principalmente por que se tratava de uma mulher e de uma mulher liberta. Em que medida essa mediadora cultural que saiu escrava da África e que se alforriou na América portuguesa carregou de um lado para o outro do Atlântico e de uma capitania para outras antigas e renovadas práticas comerciais e culturais? De que maneira essas práticas forjaram-se em pleno e intenso movimento colonial e fomentaram outras formas de trânsito material e cultural? Mais indagações, talvez sem respostas fáceis. De toda

forma, Joana deve ser incluída na categoria das mulheres coloniais que mediavam culturas (então, a mundialização não era apenas masculina!), agentes da globalização e da conexão entre as quatro partes do mundo.?

Mais agentes de mundialização Estudos recentes têm tentado entender melhor esses personagens que transitavam entre

as partes do mundo, conhecendo melhor suas vidas, a inserção deles nas sociedades por

onde passaram, sua contribuição para a conformação de novos universos culturais, cada vez mais mestiçados. Têm, também, proposto categorias conceituais para auxiliar esse tipo de investigação, que se revela mais e mais complexa e ampla, tanto em sua verticalização, quanto, sobretudo, na sua horizontalização, isto é, em suas conexões que extrapolam fronteiras

físicas, temporais e temáticas e que tendem a se inserir em uma dinâmica de cunho planetário. Agentes de hibridação, passeurs culturels, como já se referiu acima, e, ainda, homens ultramarinos e homens coloniais, na perspectiva de Luis Felipe de Alencastro,* ou homens

mundializados, na de Serge Gruzinski e de agentes das connected histories, na de Sanjay Subrahmanyam. Todos eles, em suma, foram importantes agentes mediadores e agentes conectores entre o local e o universal, entre a região e o mundo, entre os séculos XV e XVII. Vejamos mais algumas rápidas biografias desses homens de trânsito.

Salvador Correa de Sá e Benevides Nascido na Espanha (Cádiz), Salvador Correa de Sá e Benevides era neto de portugueses

e de espanhóis influentes. Estudou, provavelmente, em colégios jesuítas em Lisboa e em São Paulo e seu avô (que era primo de Estácio de Sá) governou o Rio de Janeiro. Salvador 23. Sobre Joana da Silva Machada ver PAIVA. Escravidão e universo cultural..., pp. 232-3. 24. ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul, séculos XVI e

22. MO-CPO-TEST. Livro 51, £.159v/167.

XVII. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 104; GRUZINSKI. Les quatre parties du monde...; e SUBRAHMANYAM. Connected Histories...

494

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDAD E ATLÂNTICA

de Sá, o novo, casou-se em Tucuman, vice-reino do Peru, e, por isso, adquiriu os direitos de encomendeiro, em pleno período de União Ibérica. Enlaces matrimoniais trataram,

portanto, de atrelar sua família a outras poderosas, instaladas em território espanhol na

América. Sua prima casara-se, no Rio de Janeiro, com o govern ador geral do Paraguai, e havia ainda ligações familiares em Buenos Aires. Salvador de Sá visitou Potosi, foi governador do Rio de Janeiro e de Angola e tomou partido da Restauração Portuguesa. Construiu o galeão Padre Eterno e estabeleceu a carreira Lua nda-Rio de Janeiro-Buenos

Aires. Salvador Correa de Sá e Benevides conectou, via Atlânt ico, escravos de Angola, comércio e riquezas do Rio de Janeiro e de Buenos Aires e à prata de Potosi. André Vidal de Negreiros Natural da Paraíba, filho de senhor de engenho, André Vidal de Negreiros participou da expulsão dos holandeses do Maranhão e de Pernambuco. Dep ois da vitória restauradora, em 1654, governou o Maranhão, Pernambuco e Angola. Esse filh o da América transitou pelo Império Português nos dois lados do Atlântico, e certamente contribuiu para consolidar a integração dessas partes e, dessa forma, fomentar o processo de mun dialização.2º Henrique Dias Henrique Dias nasceu em Pernambuco e era, provavelmente, crioulo, como já se disse. Na luta contra os holandeses, comandou um exército de forr os e de soldados e de

oficiais escravos. Depois da vitória em Guararapes, em 1654, Dias recebeu de D. João IV comendas, propriedades e dinheiro. Em 1656 viajou a Portugal e con seguiu a alforria para os escravos que lutaram em Pernambuco. Mesmo celebrado e rec onhecido, sua origem o impediu ascensão mais acentuada. Não obstante, esse homem negro liberto e seus comandados influíram fortemente no desenho global ao obrigarem a saíd a dos holandeses da América portuguesa, e, mesmo que indiretamente, de Angola. Em certa medida, isso deslocou os interesses e os investimentos batavos para o Caribe e para o norte da América, alterando circuitos comerciais, volumes de produção (de açúcar, por exemplo) e eixos de distribuição dos produtos negociados, bem como as rotas e a própria din âmica da globalização. Além disso, Henrique Dias parece ter se tornado importante inte rlocutor de grupos de escravos e de libertos do Brasil diante do rei, em Lisboa .”

PARTE 5 —- OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO Pedro Claver

O já apresentado jesuíta espanhol Pedro Claver nasceu em 1585, em Verdu, na Catalunha. Cruzou o Atlântico em plena União Ibérica, para instal ar-se em Cartagena de Índias, Nova Granada. Chegou à cidade em 1610, mesmo ano de instalação do Tribunal da Inquisição. Em Cartagena de Índias se dedicou a salvar e a catequizar africanos e mestiços e a salvar hereges holandeses e ingleses que chegavam ao porto, o que testemunha o afluxo de gente de várias partes e de culturas nessa região do Nov o Mundo. No caso de Claver, dos outros jesuítas e dos convertidos por ele, o movime nto tem, como principal

combustível, a fé e o evangelho. A escravidão, por sua vez, tornar-se-ia mais tarde a base

sobre a qual se desenvolveu a devoção e o processo de canonizaç ão de Pedro Claver, que antes de morrer, segundo testemunhas, amealhava milagres ent re a população cativa e empobrecida e já era tomado popularmente como santo. O catolicismo, novamente, lançava mão da escravidão para fomentar uma mundialização sob o prisma ibérico em uma escala planetária, no sentido cunhado por Serge Gruzinski.?º Neste caso, o trânsito entre Espanha/Áfricas e Cartagena imprime impressionante hibridação cultural. Cultura, portanto, torna-se uma dim ensão primordial do comércio de escravos e do trânsito material que ligava três contin entes e conectava muitos povos, muitas histórias e várias tradições.

Pedro Claver foi anunciado beato, em 1850, por Pio IX, e foi dec larado santo, em 1888, por Leão XIII. Não se pode deixar de observar que enquanto se declarava abolida a escravidão no Brasil, se decretava o nascimento de São Pedro Cla ver no Vaticano.”

Conclusões Movimento, trânsito, conquistas, comércio, migrações (inclusive forç adas), transformação do ambiente, recriação do mundo americano: tudo isso demand ou esforços

extraordinários, não apenas dos agentes colonizadores oficiais, de nego ciantes planetários e de religiosos globalizadores, mas também de gente miúda, de escravos, de forros e de

livres de todas as cores, assim como de negros, de crioulos e de mestiços. As orig ens eram as mais diversas: africanos, americanos, europeus. Toda essa empresa lastreou-se em práticas

e em estratégias antigas de circulação e de trânsito, mas exigiu novos contorno s para elas, adequações e, também, certo grau de originalidade por parte dos agentes envolvidos.

25. Ver GOUVÊA, Maria de Fátima Silva. “Salvador Correia de Sá e Benevides”, in VAINFAS. Dicionário do

Brasil Colonial, pp. 518-20; GRUZINSKI. Les quatre parties du monde..., pp. 267-9; ALENCASTRO. O

trato dos viventes... p. 104; BOXER, Charles. Salvador de Sá e a luta pelo Brasil e Angola (1592). São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1973. 26. Ver RAMINELLI, Ronald. “Henrique Dias”, in VAINFAS. Dicionário do Brasil Colonial, pp. 41-2. 27. Ver RAMINELLI. Henrique Dias, Pp. 279-80.

495

28. GRUZINSKI, Serge. Les quatre parties du monde... 29. Ver Proceso de beatificación y canonización de san Pedro Claver...

A SOMBRA DOS QUILOMBOS: TEMOR E DESASSOSSEGO NA SOCIEDADE ESCRAVISTA

MINEIRA, SÉCULO XVIII

Pablo Luiz de Oliveira Lima

Este é um estudo sobre certo medo que supostamente teria existido na região do Império Ultramarino Português, que era conhecida no século XVIII como Minas Gerais: O medo da ação de escravos rebeldes e de sua reunião em grupos ou comunidades, mocambos ou quilombos. É também uma tentativa de analisar o medo dos quilombos em Minas Gerais para além da remissão permanente e direta aos quilombos de Palmares. A relação, sim, direta, contínua, entre a história de Palmares e a de Minas Gerais é evidente, fundamental e formativa do medo dos quilombos em Minas. Antes de qualquer quilombo sequer existir em Minas, já existia o temor da rebeldia escrava, como fugas e formação de quilombos, por parte das autoridades. Isto se devia à memória de Palmares, presente durante todo o século XVIII na América portuguesa. Deve-se ainda compreender o medo dos quilombos em Minas sem a sombra do medo de uma haitianização, o que não significa ausência de contatos entre as diversas “colônias” européias na América. Porém, a Revolução no Haiti só ocorreu na década de 1790. Isto posto, detenhamo-nos sobre a questão mais profunda do medo dos quilombos em Minas no século XVIII. Esta não é uma proposta de estudo do medo enquanto categoria abstrata e cristalizada, mas do medo como construto cultural, artefato, algo feito pelo ser humano. O medo é uma prática cultural situada entre a experiência vivida e a representação imaginária. A primeira inferência de qualquer análise sobre o medo é a revelação de que a cultura é permeada pela dimensão do conflito. O conflito social é consubstancial, inerente à cultura. Em Minas Gerais, no século XVIII, o conflito era a norma. Trata-se aqui de um estudo da

estética do medo no século XVII em Minas. O grego aisthetés significa perceber pelos

sentidos, tendo por oposição à ausência de percepção, a anestesia. Ou seja: a estética enquanto percepção é o fenômeno que possibilita a comunicação entre os seres humanos, a produção de sentidos, tornando possível a vida social. A dimensão estética não se encontra apenas no estudo do belo, da imagem, muito menos apenas na arte, ou nas análises sobre

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SONS, FORMAS,

CORES

E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

o estilo. Todo ser humano utiliza a estética. Sem a dimensão estética todo ser humano seria autista.

O primeiro limite, por sua vez, imposto ao estudo sobre o medo é a impossibilidade

de se pesar, quantificar, precisar o próprio medo. Enquanto construto cultural, o medo muda seu sentido, pois a cultura é dinâmica. Assim é necessário cautela com noções cristalizadas de medo. O objetivo deste estudo não pode ser o de medir, mas o de tentar

compreender o medo dos quilombos em suas diferentes formas de representação simbólica, por meio de imagens referentes a atos, coisas e idéias, às quais estas mesmas imagens não

são necessariamente, ou intrinsecamente, relacionadas. A relação entre o símbolo e o

objeto simbolizado é historicamente construída e, portanto, fruto do arbítrio humano. O medo pode ser expresso ou representado por uma variedade quase infinita de atos específicos

que o sinalizam. Mas nada se faz um sinal inerente do medo. Medo, antes de um possível conceito histórico, é uma palavra que junta fenômenos diferenciados. Há inúmeras formas de medo que podem ser caracterizados como fenômenos psicológicos, assim como construtos culturais. Para a presente análise, o medo é subjetivo, mas não sujeito histórico. É sentimento experimentado pelo sujeito, que é o agente social, humano, originário de um lugar social. O medo é uma unidade cultural, definido culturalmente por meio de palavras, ou seja, da linguagem. Assim, uma forma de compreender as expressões dos sentimentos de medo é por meio de informantes. No caso do medo dos quilombos, temos como informantes os homens que registraram por meio de palavras e imagens sinais do sentimento de medo relacionado aos quilombos. Daí a importância da seleção de informantes, que para o historiador são as fontes. É preciso ressaltar que em relação ao medo dos quilombos, os informantes encontrados parecem pouco capazes de usar palavras com precisão, de dizer claramente o que querem dizer com o que efetivamente dizem. Portanto, acreditar que o medo têm significado padronizado, claramente definido, preciso, leva à frustração ao se analisar os informantes, que quase sempre conseguem conduzir uma manipulação — sutil ou escancarada — do discurso sobre o medo. Não se busca aqui analisar o medo em si, de maneira descritiva, mas as condições de construção de seu discurso. Assim, o objetivo não é saber se havia realmente medo, genuino ou não, mas entender e trabalhar o fenômeno enquanto processo corporificado por sistemas culturais e simbólicos, ou seja, pela linguagem. O que não significa a redução do medosentimento ao medo-símbolo. Há uma relação muito solta entre a noção contemporânea, pós-moderna, de medo e os inúmeros símbolos específicos que o representam no século

XVIII. O medo, além de um sentimento subjetivo, tem dimensões sociais. É diferente para o homem, a mulher, a criança, o idoso; para o branco, negro, mestiço, livre, escravo €

quilombola. É provável que o que entendemos por medo agora não seja o mesmo que no século XVIII. A imensa região de Minas Gerais, em sua maioria montanhosa, foi ocupada por vários núcleos coloniais estabelecidos ao longo do século XVIII. Cortada por muitos rios, também permitia uma larga mobilidade espacial, com uma atmosfera culturalmente diversificada e demograficamente instável, composta por vilas e arraiais construídos de

PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

499

inúmeras maneiras. É possível considerar Minas Gerais no século XVIII como um universo sociocultural extremamente plural, evitando que o conceito de universo cultural esconda,

por trás do signo da diversidade, o conflito social e as lutas por poder. Apesar desta heterogeneidade, uma forma comum de exploração do trabalho era praticada e compartilhada por comunidades coloniais em Minas Gerais, assim como em quase todo o restante das Américas: a escravidão moderna, principal relação social de dominação e força produtiva básica na sociedade mineira. Como em toda sociedade

escravista, os escravos em Minas Gerais resistiram de diferentes maneiras à escravidão. Uma das formas de resistência era a fuga do controle de seus senhores e a formação de

grupos, bandos, até a construção de comunidades sedentárias de escravos rebeldes. Esse

fenômeno foi chamado de cimarrón, palenque ou Cumbe, na América espanhola; maroon, na América inglesa; e marronage, na América francesa.! No Brasil, assim como em Angola e no Congo, os nomes africanos quilombo e mocambo foram os termos mais usados. A palavra quilombo remete-se às línguas quimbundo, quicongo e umbundo, em que o vocábulo ki significa lugar e lumbu, muro, cerca. Associadas formam kilumbu ou kilombo,

lugar murado, cercado, desdobrando seu significado para campo ou assentamento de

guerra. Segundo o professor Kabenguele Munanga, o quilombo já existia na África, antes do Brasil, como uma “instituição transcultural que recebeu contribuições de diversas culturas: Luanda, Imbangala, Mbundu, Kongo, Wovibundo, ete.”.2 Para Minas Gerais no século XVIII, Carlos Magno Guimarães realizou extensa pesquisa encontrando cerca de 160 registros de quilombos diferentes.? Muitos historiadores do período colonial têm mencionado o medo da rebeldia escrava e dos quilombos, assim como certo temor frente aos escravos como um todo. No entanto, pouquíssimos trabalhos têm como tema específico o medo dos quilombos na sociedade escravista mineira. Stuart Schwartz, em uma análise de 1970, publicada no livro Maroon Societies: Rebel Slave Communities in the Americas, organizado por Richard Price, afirmou que em todo o Novo Mundo, onde a escravidão foi uma instituição básica, o medo da revolta escrava e o problema dos escravos fugidos assediou os colonos e autoridades coloniais. O Brasil não foi exceção. Ao longo dos primeiros três séculos da história brasileira corre uma ameaça de resistência escrava e medo colonial.“

1. GOMES, Flávio & REIS João. “Introdução”, in GOMES, Flávio & REIS, João (orgs.). Liberdade por um

fio: História dos Quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 10. 2. MUNANGA, Kabenguele. “Origem e histórico do quilombo em África”, in MOURA, Clóvis (org.) Os quilo mbos na dinâmica social do Brasil. Maceió: EDUFAL, 2001, p. 25.

3. GUIMARAES, Carlos M. “Mineração, quilombos e Palmares - Minas Gerais no século XVI”, in GOMES

& REIS. Liberdade por um fio...

4. SCHWARTZ, Stuart. “The Mocambo: slave resistance in colonial Bahia”, in PRICE, Richard. Maroon Societies: Rebel Slave Communities in the Americas. Baltimore: John Hopkins University Press, 1973, p. 202.

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SONS,

FORMAS,

CORES

E MOVIMENTOS

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ATLÂNTICA

Esta noção do medo como sentimento onipresente na sociedade escravista, levandoa a um estado de inquietação permanente, evidencia que ela não seria harmônica ou ajustada. Ao contrário, haveria uma instabilidade crônica provocada principalmente pela própria escravidão e a consequente ameaça e efetiva resistência escrava. Schwartz concluiu que os padrões sociais e econômicos foram ameaçados pela resistência escrava de diversas maneiras. O medo da união de escravos supostamente gerava entre as autoridades uma atmosfera de ansiedade ou “expectativa exacerbada” que acabava por influenciar suas ações. A O medo de escravos fugidos não foi exclusividade da América portuguesa. E interessante observar este fenômeno em outras partes do mundo para uma melhor noção da magnitude

deste problema em Minas Gerais. Na Jamaica, o medo foi tão intenso que levou a acordos

entre as autoridades e os quilombolas na década de 1730. Fala-se em “pânico entre a população branca”.º A facilidade de comunicação entre massas de escravos no Caribe gerava nas autoridades um medo constante de rebeliões. Este medo chegava até mesmo à Europa. Em Amsterdã, no século XVIII, comerciantes por vezes espalhavam “rumores falsos sobre a ameaça iminente de violência por parte dos quilombolas (...) [provocando] quedas artificiais nos preços das cotas de Suriname na bolsa de valores, para fins de especulação”. 9 Em certas colônias espanholas na América, vivia-se em constante medo. Quase qualquer notícia gerava pânico entre os proprietários

das plantações de café e açúcar. Eles chamariam ajuda por qualquer motivo banal como a queda de um chapéu, porque eles temiam a vingança justa dos oprimidos contra suas

práticas bárbaras.”

Na América inglesa, “grande medo e terror” estiveram presentes na Carolina do Sul já em 1711, devido às atividades de “vários negros [que] ficam armados e roubam e assaltam casas e plantações”. Um dos maiores e mais permanentes temores dos ! proprietários escravos do Sul seria uma grande insurreição de seus escravos = Perseguidores de quilombos em Cuba tinham medo de armadilhas, pois sabiam que os quilombolas conheciam melhor a região. Saques de quilombolas criavam pânico, espantando colonos e diminuindo o comércio.'” Quilombos provocavam desassossego

5. PATTERSON,

PARTE 5 - OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS EM MOVIMENTO

501

também na Colômbia." Os bandos eram ousados e o medo inflava as estimativas do seu número. A pilhagem de alguns campos de provisões ou de cana-de-açúcar e o furto de gado inspirava medo desesperado de ataques em massa noturnos, com cidad es inteiras em chamas. Portanto, não importa quão duras fossem as punições aos quilombo las, elas nunca pareciam ser suficientes para saciar o medo.'2 Voltando à América portuguesa, Laura de Mello e Souza afirmou, em artigo de 1996, que os “quilombos em Minas existiram durante todo o século XVIII, espalhando-se com uniformidade pelo território e assombrando incessantemente os habitantes” 13 Muitos outros estudos históricos sobre a colonização e a escravidão no Brasil reconhecem a existência do sentimento de medo social entre os senhores em relação aos escravos como um todo e especialmente aos quilombolas.!* Há um consenso na historiografia da escravid ão no Brasil sobre o fato de que os quilombos aterrorizavam a colônia. Mas, sobre que tipos de medo tratam exatamente os documentos que fundamentam este consenso? Definitivame nte, o medo da rebeldia escrava não foi o mesmo em essência e intensidade através do século AVII. Quem sentia e espalhava o medo dos quilombos? Qual era seu fund amento na sociedade escravista mineira? A ameaça dos quilombos? Haveria outras motivaçõ es? Que construções ideológicas estavam em jogo e como influenciaram a crença no medo dos quilombos? A quem servia o medo? Quais eram as formas desse medo? Qual o seu impa cto? Poderia alguém ter interesse em propagar o sentimento de medo? Este sentimen to merece um estudo aprofundado por ser parte fundamental do cotidiano da vida na sociedad e escravista, com impacto direto sobre a economia e política coloniais. As relações entre quilombos e outros setores da sociedade escravista são abordadas visando aprofundar a investigação sobre o processo de construção das imagens e ester eótipos dos quilombos, suas sombras, sobre a mesma sociedade que os produzia. A sombra é um fenômeno físico que serve de metáfora para a história em questão, pois ela é fruto da relação entre claridade e escuridão. Ocorre com a iluminação parcial de um objeto concreto a partir de um foco de luz. A imagem da sombra sugere aparências, sinais, traços, vestí gios do objeto iluminado. Suas formas, porém, são imperfeitas, mutáveis, defo rmadas,

enganosas, desproporcionais, fantasmagóricas. Todavia, para existir a somb ra requer

uma luz real sobre algum elemento concreto, Esta investigação busca compreen der a sombra dos quilombos entendida como as formas que este fenômeno histórico assumiu no imaginário da sociedade escravista.

Orlando. “Escravidão e revoltas escravas: uma análise socio-histórica da primeira guerra -

uilombola: 1665-1740”, in PRICE. Maroon Societies..., p. 264.

6. Tradição do autor do trecho a seguir: “false rumors about the imminent threat of violence from gu (...) [causing] artificial drops in the prices of shares in Surinam on the stock market, for purposes 0

speculation”, PRICE. Maroon Societies..., p. 14

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7. Tradução do autor: FRANCO, José. “Quilombos e rebeliões escravas nos territórios espanhóis”, im PRICE.

sam Maroon Societies..., pp. 43-4. 8. APTHEKER, Herbert. “Quilombos dentro dos atuais limites dos Estados Unidos”, in PRICE. Maroon Soctettes..., p. 152.

9. CARROLL, Joseph Cephas. Slave Insurrections in the United States 1800-1865. Mineola: Dover, 2004, P

10. RIVA, Francisco Pérez de La. “Palenques Cubanos”, in PRICE. Maroon Societies..., pp. 92-3.

11, ESCALANTE, Aquiles. “Palenques na Colômbia”, in PRICE. Maroon Societ ies..., pp. /4-5. 12. DEBIEN, Gabriel. “Marronage no Caribe Francês”, in PRICE. Maroon Societies. .., p. 108-9.

13. SOUZA, Laura de Mello. “Violência e práticas culturais no cotidiano de uma expedição contr a quilombolas — Minas Gerais, 1769”, in GOMES & REIS. Liberdade por um fio..., p. 193.

14. Alguns exemplos são REIS, João José. “Rebelião escrava no Brasil”; GOMES, Flávio. “Histórias de quilombola”; GORENDER, Jacob. “Escravidão reabilitada” ; RAMOS, Donald. “O quilombo e o sistema escravista”, e VAINFAS, Ronaldo. “Deus contra Palmares”, in GOMES & REIS. Libe rdade por um fio...;

GUIMARÃES, Carlos Magno. “Inquietações e os outros: africanos, quilombolas e índios”, in

Quilombos: classes, Estado e cotidiano, Minas Gerais — século XVIII. São Paulo, Univ ersidade de São

Paulo/FFLCH, Tese de Doutorado em História, 2000.

502

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS

NA MODERNIDADE

Uma expressiva quantidade de documentos registrou o fenômeno

PARTE 5 — OS IMPÉRIOS ATLÂNTICOS

ATLÂNTICA

Minas Gerais durante o século KVHI. Os documentos selecionados são cerca de 130 bandos,

alvarás, procurações, editais, ofícios, circulares, representações, pareceres, regimentos, ordens régias, patentes de homens-do-mato e a correspondência de autoridades coloniais

e metropolitanas. Estes documentos têm informações sobre os quilombos e sua relação

com a vida cotidiana de comunidades coloniais, a administração colonial mineira e o Império Português. Outras fontes fazem parte do processo de pesquisa; notadamente iconográficas, cartográficas e arqueológicas, aprofundando a análise proposta.

É possível identificar claramente quatro conjunturas do medo dos quilombos em

Minas no século XVIII: 1719, 1746, 1759 e 1769. A primeira, em 1719, refere-se ao conhecido episódio do medo do governador da capitania de São Paulo e Minas do Ouro, o conde de Assumar, em relação a uma rebelião escrava generalizada. O ano de 1746 marca a maior entre uma série de expedições contra os quilombos do Campo Grande, entre 08 quais situava-se o Quilombo do Ambrósio. Em 1759 ocorreu a maior expedição até então contra os quilombos do Campo Grande. E 1769 foi o ano da expedição de Inácio Correia Pamplona, mais notável pela penetração e tomada de posse de terras em território de Goiás do que estruição de quilombos. pia da Su insurreição de 1719 foi registrada pelo conde de Assumat. E Fa difícil resumir qualquer aspecto de sua presença em Minas como governador da capitania de São Paulo e Minas do Ouro. Em carta de 13 de julho de 1718, informou ao rei que os quilombos apresentavam sério problema herdado da administração anterior, que fracassara na utilização de indígenas aldeados na luta contra negros fugidos. Assumar retratou um quadro de terror sobre as Minas, em especial os quilombos. Demonstrando seu conhecimento dos métodos utilizados na América francesa, atual sul dos EUA, e no Caribe, citou o Code Noir, sugerindo o corte da perna direita de um escravo fugido pela segunda vez. Presente | no discurso de Assumar sempre está o medo de um novo Palmares. que O rei D. João V respondeu em 12 de janeiro de 1719, dizendo, sucintamente, ba, Assumar não deveria inventar muitas novidades e sim fazer o que já se fazia na Parai o assim em Pernambuco e no Rio de Janeiro: utilizar o capitão-do-mato. E que mesm deveria ser levado a cabo o projeto de utilizar indígenas aldeados contra os quilombos. e Então, em carta de 20 de abril de 1719 ao rei, Assumar tratou de uma que os negros tentaram fazer nas Minas. E esta história é conhecida: os escravos det ae dos as Minas se levantariam na Quinta-Feira Santa, quando os brancos estivessem reuni E em igrejas. Descoberta com antecedência, foi abortada.

Aqui mesmo divulgaram dous homens do campo a notícia de que acharam rastos de

negros, que nos andava[m] espreitando; deste sussurro se levantou entre o pouvo bastante receio, entrando cada qual a marmurar conforme o valor e a cobardia de que era adornado. Neste mesmo dia nos fomos arranchar a um corgo, que fica perto do mesmo Quilombo, e aí se prencipiou a engrossar a mormuração do receio dos negros que ficou no ribeirinho acima declarado, onde teve seu prencípio, e, como os mais tapejaras do Sertão eram os

que mais reciavam e mais temerosos se viam, com facilidade introduziram em todos os mais o mesmo receio e temor, de sorte que chegou a notícia ao Senhor Mestre de Campo, este sussurro de temores, ou lavarintos de receios, de tal sorte se infureceu contra todos que sem excetuar aos Amigos mais confidentes, de quem nunca tinha recebido menor escândalo, a esses mesmos, involveu no número dos agressores, choraram de sentimentos os inculpados, porém o mesmo Senhor com brevidade se desenganou dos medrosos que semilhante miada teceram.!

Quinze anos mais tarde, em 1784, o Mappa da conquista do mestre de campos regente chefe da legião Ignacio Correya Pamplona foi produzido por um cartógrafo ainda desconhecido para o governo da capitania mineira. Trata-se de uma fonte do imaginário colonial mineiro, repleta de informações, símbolos e sinais, indicações que montam uma narrativa da ocupação da região da Conquista, iniciada pela expedição de Pamplona. A

luta entre o sagrado e o profano, a distribuição geográfica do conflito entre o bem e o mal

ro, Durante o século XVIII, o sertão encontrava a fronteira no atual centro-oeste minei

foi representada pelo cartógrafo, que desenhou dezenove capelas, separadas de treze quilombos por dez acidentes geográficos.”

onde a lei não se fazia cumprir. Assim, os quilombos proliferaram, principalmente nas décadas de 1730 e 1740. De acordo com os documentos das autoridades ag escravos fugidos seriam violentos, praticariam roubos e malefícios. Estas e argumentariam o uso da violência por parte dos agentes de repressão, caso os es é oferecessem resistência a possíveis tentativas de recaptura. Em 1769, uma expedição em delimitar e conceder sesmarias. Sua viagem foi minuciosamente registrada

503

documento de suma relevância para a análise proposta: a Notícia diária e individual das marchas, de Pamplona, publicada pelos Anais da Biblioteca Nacional em 1988. Narrativa rica em informações sobre o cotidiano da expedição, é permeada pela tensão entre civilização e barbárie. Cenas de violência sangrenta são descritas ao lado de rituais religiosos, recitais de poemas e apresentações musicais da banda que acompanhava as marchas.” O texto é ainda acompanhado por seis imagens significativas elaboradas por um ou mais desenhistas anônimos, representações dos núcleos quilombolas encontrados pela expedição de Pamplona. Quando Pamplona e seus homens chegaram ao local do Quilombo do Ambrósio, que fora atacado e destruído em 1746 e em 1759, um boato desencadeou o “engrossamento” de uma sensação de medo entre os expedicionários em relação a um possível ataque quilombola. Este momento, registrado pelo escrivão da Notícia, é um exemplo da existência do fenômeno que constitui o objeto desta pesquisa na sociedade escravista mineira:

dos quilombos em

pelo mestre-de-campo Inácio Correia Pamplona percorreu o centro-oeste do atual mineiro por quatro meses com o objetivo de combater e destruir quilombos, assim

EM MOVIMENTO

15. A expedição de Pamplona foi analisada em um artigo de SOUZA. Violência e práticas culturais..., pp. 193-212. Foi inserida pontuação para facilitar a leitura. 16. Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, v. 108, pp. 47-113, especialmente, p. 68, 1988.

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17. FURTADO, Júnia E: COSTA, Gilberto C.: RENGER, Friedrich E. & SANTOS, Márcia Maria D. Cartografia

da conquista das minas. Lisboa: Kappa/ Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2004.

id |

504

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

Para concluir, cabe mencionar que o medo é, de certa forma, uma ficção, não no sentido de se opor à realidade, mas como algo feito, figurado pelo ser humano, cultural, e não natural. O medo dos quilombos no século XVIII é um construto da cultura escravista que se constrói sobre as Minas, assim como o medo das favelas ou o medo da “violência” são construtos culturais da sociedade brasileira atual, e guardam entre si uma profunda relação histórica. Já disse Antonio Ferronha que: “O que fez a civilização não foi o sentimento de se estar acompanhado, mas sim o medo do outro”.!º Portanto, o mundo em que vivemos hoje poderia ser outro se compreendêssemos melhor a estética do medo.

Sobre os Autores

dv corece o colando do immudo Ailimiiro

Participantes do grupo de pesquisa História de Minas e do Brasil — espaço, cultura e sociedade, e da linha de pesquisa História Social da Cultura integrante do Programa de Pós-Graduação em História PPGHIS/UFMG

Docentes:

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Imagem 1: O ex-voto a São Gonçalo do Amarante ilustra o temor que o s

quilombos provocavam em Minas.

Adriana Romeiro: Mestre, doutora e pós-doutora pela USP Douglas Cole Libby: Mestre pelo DCP/UFMG, doutor pela USP e pós-doutor pela Universidade de Berkeley/USA. Eddy Stols: Professor aposentado da Universidade de Louvain, Bélgica. Foi professor visitante do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Minas Gerais, e atualmente está vinculado como professor colaborador. Eduardo França Paiva: Mestre e doutor pela USP pós-doutor pela Ecole de Hautes Etudes em Sciences Sociales, Paris. José Newton Coelho Meneses: Mestre em História pela PPGHIS/UFMG e doutor em História pela UFE professor do Departamento de Veterinária da UFMG. Júnia Ferreira Furtado: Mestre e doutora pela USP pós-doutora pela Universidade de Princeton/USA. Maria Eliza Linhares Borges: Mestre em Sociologia pela UFMG, doutora em Sociologia pelo IUPERJ e pós-doutora em História da Arte da Fotografia pela USB

Discentes:

18. FERRONHA, Antonio Luis Alves. “Introdução”, in Tratado Breve dos Rios de Guiné do Cabo-Verde Feito

pelo capitão André Álvares d' Almada— Ano de 1594. Algueirão: Editorial do Ministério da Educação, 1994, p. 7.

Camila Fernanda Guimarães Santiago: Mestre em História pela UFMG, doutoranda em História pela UFMG. Cristiane Maria Magalhães: Mestranda em História pela UFMG. Flávia Maria da Mata Reis: Mestre em História pela UFMG. Isnara Pereira Ivo: Doutoranda em História pela UFMG. Pablo Lima: Mestre em História pela UFMG, doutorando em História pela UFMG.

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Autores

SONS,

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CORES

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NA MODERNIDADE

ATLÂNTICA

convidados:

Ana Paula Torres Megiani: Doutora em História pela USB professora de História Ibérica do Departamento de História da USP. Anthony Pagden: Professor da Universidade da Califórnia, Los Angeles. Foi professor assistente na Universidade de Cambridge, pesquisador do King's College e professor em Harvard e Johns Hopkins. António Manuel Hespanha: Professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa, presidente do Conselho Científico da Escola de Direito da Universidade Nova de Lisboa, foi presidente da Comissão Portuguesa para a Celebração dos Descobrimentos, Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno: Doutora e professora da FAU/USE Carla Maria Junho Anastasia: Professora titular em História do Brasil, do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em História da UFMG, linha de História e Culturas Políticas. Cláudia Damasceno Fonseca: Doutora em História pela École de Hautes Etudes em Sciences Sociales, Paris e professora da Université Paris 3 - Sorbonne Nouvelle. Diogo Ramada Curto: Professor da Universidade Européia de Florença. Íris Kantor: Mestre e doutora pela USP atualmente é professora de História Ibérica do Departamento de História da USP Maria Jordan Arroyo: Professora do Departamento de Letras da Universidade de Yale, USA. Neil Safier: Doutor em História pela Universidade Johns Hopkins, professor do Departamento de História da Universidade de British Columbia em Vancouver Paulo Augusto Castagna: Mestre em Artes e doutor em História pela USB professor do Departamento de Música da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Silvia Hunold Lara: Doutora em História pela USB professora titular do Departamento de História da Unicamp. Stuart Schwartz: Professor catedrático do Departamento de História da Universidade de Yale/USA, coordenador do Programa de Estudos Ibéricos e Latinos-Americanos da mesma universidade.

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Jorge CaxizarEs-ESGUERRA

Diogo RamaDA CURTO CARLA MARIA JUNHO ANASTASIA

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FLávia MARIA DA MATA REIS

CrÁUDIA DAMASCENO FONSECA | MARIA ELIZA LINHARES BORGES |

Antóxio MANUEL HEsPANHA

|

Sitvia HuNOLD LARA BearRIZ PiccoLoTTO SIQUEIRA | BUENO

CamiLA FERNANDA. Fela

SANTIAGO

José Newron CorLHo MENESES DURON (6 AR TZ ISsNARA PEREIRA Ivo Doucras CoLk Libby

EDUARDO FRANÇA PAIVA

PasLo Luiz DE OLIVEIRA LIMA

|

Eis

livro visa discutir temas geralmente pouco

explorados pela historiografia sobre o mundo atlântico moderno: as formas, os sons, as cores € os movimentos

que caracterizaram o viver em uma época que o mundo se ampliava para muito além das fronteiras habitualmente

conhecidas.

Os

sons,

as formas,

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imagens e as cores foram partes integrantes desse mundo em franca expansão, sempre em movimento.

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uma heterogeneidade de imagens, por uma cacofonia de sons, pelo colorido das vestimentas, das festas e das

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O ambiente da modernidade era caracterizado por

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Américas,

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Bem-vindo a esse caleidoscópio de sons, mmagens e cores de impérios sempre em movimento!

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principal objetivo dos textos que compõem esta edição,

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— Europa,

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possibilidades que os quatro temas abrem para o estudo histórico em ambientes distintos integrados pelo Oceano

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