Romantismo - uma questão alemã 9788574481814

Uma obsessão de renovação e de novas experiências surgiu por volta de 1800 em torno de uma constelação de gênios - Schle

261 86 10MB

Portuguese Pages 385 [194] Year 2010

Report DMCA / Copyright

DOWNLOAD FILE

Polecaj historie

Romantismo - uma questão alemã
 9788574481814

Citation preview

Úlz

de renovação e novas experiências sur-

giu por volta de 1800em torno de uma constelaçãode gênios -- Schlegel, Novalis, Fichte, Bettina von Arnim, Schelling, Eichendora. E.T.A. HoRmann --, impondo uma revolução cultural a uma Alemanha estagnadae ainda pós-feudal. Mais tarde viria um ressurgimento romântico moldando facetasinteiras do mundo moderno -- quão polêmicas

por vezes-- na música, na filosofia, na poesia,na política e nos costumes. Rüdiger Safranski, biógrafo de Schiller, E.T.A. HoRmann, Schopenhauer e outros, compõe uma história crítica do Romantismo como jamais sefez.

e el .d

« e

P+.

'l q

0

830.9 S134rP

ovalis, um dos expoentes mais vistosos do Romantismo, o aborda da seguinte forma: "Ao dar um sentido elevado ao comum, ao dar ao tlsuat uma aparência misteriosa, ao co?thecido

a nobrezado desconhecido,aojugaz uma aparência de eterno, assim é que eu os romantizol

Como disse Safranski em artigo no jornal ale-

mão Dfe self, o Romantismo pode servisto como um sistemacontra a monotonia e o que ela tem de corolários: a consciência do vazio, o abismo da futilidade e do nada. As receitas

romantizadoras de Novalis darão conta desse enfado reinante, que em última análise vai ter com o horror vacumde Kant? Essamonotonia toda feita de ócio(e aí entram a contemplação estética,a volta à natureza, as rodas poéticas, bestase demais liturgias românticas) é o verdadeiro inimigo e a ameaça concreta para uma geração que perdeu suas crenças antigas,

mas que nem por isso se acomodou com a nova "tirania da razão': embora louvasse os arroubos da França revolucionária, antes de se

voltar inteiramente contra ela nas guerras de libertação antinapoleânicas.Mas aí os românticosjá trilhavam sua recaída místico-religiosa e partiam rumo avaloresmitológicos germânicos (O amei dos bibe/tangos...), já longe da busca do eu pregada notadamente por Fichte. Agora imperava o "nós" de uma nação alemã em ace

lerada formação e imperiosa autoaíirmação.

E é esse ressurgir mitológico-nacionalista,

ini-

cialmente representado por Nietzsche, depois

mais enfaticamente por Richard Wagner e outros, que Safranski discute, na segunda parte do livro, como caldo de cultura para a catás-

trofe nacional-socialista e antissemita. Aqui, passamos a Thomas Mann e seu Dozlfor Fausto como representação

de uma "dura queda na

realidade': para finalmente desaguarna geração cética, revisitando Adorno, Marcuse e Rude

Dutschke, enfim, o movimento de 68 como manifestação de um romantismo tardio a encerrar essadiscussão tão passionalmente alemã, embora pertinente a toda a modernidade.

Í

# l a.

+-:++.

i l

RUDIGERSAFRANSKInasceu eni

1945em Rottweil(Württemberg).

Estudou ãlosofia (com Adorno, entre outros), estudos alemães,

história e história da arte em Frankfurt e Berlim. Desenvolveu atividades acadêmicasem Berlim Ocidental a partir de 1972, optando por uma bem-sucedida carreira

de escritor e ensaístade 1987em diante, destacando-se ESTE LIVRO FOI COMPOSTOEM \DOBE POR

GARAMOND l5

E IMPRESSO

PRO CORPO . SOBRE

PAPEL

OFF-SET 7s g/m' NAS OFICINAS DA RAFICAASSAHI,SAO BERNARDO DO CAMPO-SP, EM ABRIL DE zo.

por importantes obras sobre Schiller, E.T.A. Hoamann, Schopenhauer, Nietzsche e Heidegger, sendo que a atual

obra entrou para as listas alemãsde besf-se/leis. Desde 2002 dirige com Peter Sloterdijk o "Quarteto

Filosófico': programa televisivo de grande influência na

Alemanha. Vive entre Berlim e Munique.

ROMANTISMO

RÜDIGER SAFRANSKI

.N'

;M

Uma questão alemã

Tradução

Rata Rios

llllll ll l l l

Ê-"u-le'R. $$

Título original: Romana/#, É e zü iifófll#2rf © Cara Hanser Verlag, 2007

SUMÁRIO

.,.,-

© Editora EstaçãoLiberdade, 2010, para estatradução Rmisáo cie texto

Jonathan Busato

Rwisáo ch Hadaçáo Assbtência editorial

PREFÁCIO

Angel Bojadsen Leandro Rodrigues

15

Composição Johannes C. Bergmann/Estação Liberdade

c@«

EstaçãoLiberdade, adaptada da ed. original Ba/i zg?mmaná.zmó'li'zcom irra-í'hi, detalhe. Caspar David Friedrich [1774-1 840] . O]eo sobre te]a.

ímagm & capa

© Latinstock

LIVRO PRIMEIRO

OROMANTISMO CAPÍTULO I

Origens românticas: Herder faz seu caminho por mar. CIP-BRASILCA:lALOGAÇÃO-NA-FONTE Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

S134r Saflanski, Rüdiger, 1945Romantismo : uma questãoalemã / Rüdiger Súranski ; tradução

Reinventar a cultura. Individualismo

e a voz das nações

Sobre o oscilar das coisas na corrente do tempo. 21

Rica Rios. - São Paulo : Estação Liberdade, 2010.

C:APÍTULO ll

Tradução de: Romantik : Cine deutsche AHãre

Inclui bibliografia e índice

ISBN 978-85-7448-181-4 1. Romantismo - .Alemanha- História e crítica. 2. Literatura e

filosofia.1.Título. 10-1150.

CDD: 809.9145 CDU: 82.02

Da revolução política à revolução estética. Impotência política e atrevimento poético. Schiller conclama ao grande jogo. Os românticos preparam suâ entrada em cena. 31

(:ApÍTUI.0

lll

O século com nódoa de tinta. Despedida da sensateziluminada. A PUBLICAÇÃODESTAOBRA RECEBEUINCENTIVO DO PROJETOLITRIX.DE) UMA INICIATIVA DA FUNDAÇÃO FEDERAL DE ('UI.LURA DA .ALEMANHA) EM COOPERAÇÃOCOM O GOETHE-INSTITUT

EA FEIRA DO LIVRO DE FRANKFURT

Do esquisito ao extraordinário. Friedrich Schlegel e a carreira da ironia

O belo caos.A hora dos ditadores críticos. Transformar o mundo

numa obra de arte. 47 (:APÍTUI.0

Todososdireitos reservadosà

Editora EstaçãoLiberdade Ltda. Rua Dona Elisa, 1 16 l 01155-030 l São Paulo-SP Tel.:(11) 3661 2881 Fax:(11) 3825 4239 wwwestacaoliberdade.com.br

IV

Fichte e o desejo romântico de ser um eu. O transbordar do coração Criações a partir do nada. Sociabilidade romântica.

A notória comunidade em lena. Voo alto e o medo da queda. 67

7

(:APÍTULO

V

CAPÍTULO IX

Ludwig Tieck. Na fábrica de literatura. William Lovell:

Política poética. Da Revoluçãoà ordem católica. A ideia romântica sobre

os excessosegotistas. Sátiras literárias. O virtuoso da escrita encontra aquele que acredita na arte -- Wackenroder. Dois amigos em busca da realidade de seus sonhos. Noites mágicas de luar e a época de Dürer. A montanha de Vênus ao crepúsculo. As peregrinações de Franz Sternbald. 85

o império. Schiller e Novalis sobre a nação cultural. A nação de Fichte. Do eu ao nós. Sociedade: ventre materno.

(:APÍTULO

VI

Adam Müller e Edmund Burke. O popularesco. O romantismo em Heidelberg.Guerra de libertação. Romantismo em armas. ódio a Napoleão. Kleist como o gênio do ódio. 159

(:APÍTUI,C}

X

Hinos à noite. Sobre os dias, sob o dia. O mistério da montanha. A cristandade ou a Europa.Onde não há deuses,reirlam/antasmas.

O desconforto romântico diante da normalidade. Desilusãoiluminista. O racional e o razoável.Orgulhos e doresdos artistas. Kreisler.Crítica aos filisteus. A perda da pluralidade O espírito da geometria. O tédio. O deus romântico L'ersuso imenso

103

bocejo.O "como se"da lírica.

Novalis. Amizade com Schlegel. Ao leito de morte de Schiller.

Sophie von Kühn. Amor e morte. Sobre a volúpia do transcender.

177 (I:APÍTULO

VII

Religiãoromântica. Inventar Deus.Os experimentos de Schlegel. Friedrich Schleiermacher entra em cena: a religião é o tino

CAPÍTULO XI

e o gosto para o infinito. Religiãoalém do bem e do mal.

Novos começos e fracassos românticos. Eichendorff: um novo início. Canto de sereias.Confiança em Deus. À janela. Os Poetas e seus Pares

A Eternidadeno presente.Salvaçãoatravésda belezado mundo.

Poesiada vida. Ironia devota. O inútil como louco de Cristo. E.T.A.

Da vida de um virtuoso da religião. 125

Hoffmann: com mão leve. Sem raízes.O jogador. A estética do horror.

(:APÍTUI.0 Vlll

O paraíso -- e o inferno -- ficam bem ao lado. A princesaBrambilla e o grande riso. Um fantasista cénico. 191

O belo e a mitologia. O mais antigo sistema-programa

do idealismoalemão.Mitologia da razão.Da razãodo futuro à verdade

LIVRO SEGUNDO

da origem. Gõrres, Creuzer, Schlegel e a descoberta do Oriente. A outra

OROMÂNTICO

Antiguidade. Os deusesde Hõlderlin. Suapresençae inconstância. Desaparecer na imagem. 141

CAPÍTUI.0 Xll Recapitulando o caos nas ideias. Hegel como crítico do Romantismo As palavras de ordem do espírito universal e seus súditos arrogantes

8

9

O estilo b;edermeiere a Jovem Alemanha. Em rumo à verdadeira

CAPÍTULO X.VI

realidade. Combates reveladores. Crítica ao céu, descoberta da terra e do corpo. Futuro romântico, presente prosaico. Strauíg, Feuerbach, Marx. Heine entre as frentes. Canto de despedida à Escola Romântica e defesa

mundos. Dois corações aventureiros: Ernst Jünger e Franz Jung. Furor na Turíngia. Viagem ao Oriente. Objetividade esforçada. Esperando pelo

Da montanha mágica à planície. Langemarck.Peregrinosentre os dois

dos rouxinóis. Soldado na guerra de libertação da humanidade e nada mais que um poeta.

grande momento. Explosãode ideias antiquadas e sentimentais ao fim da

211

295

CAPÍTULO Xllll

(:APÍTUI.0 XVll

Wagner: o jovem alemão. Rienzi em Paris. Revolucionário romântico em

Romantismo no banco dos réus. Quão romântico foi o nacional,socialismo?A querela a respeito do romantismo no aparelho cultural do

Dresden. Realizaçãodos primeiros sonhos românticos: a nova mitologia. O anel dos r7ibe/trigos.Como o homem livre gera o crepúsculo dos deuses. Anticapitalismo e antissemitismo. A experiência mítica. Tristão e a noite romântica. A embriaguez simbolista. Ataque geral aos sentidos.

235

República. O romantismo político de Heidegger.

nazismo. Modernismo nazista: romantismo de aço. Romantismo

do Terceiro Reich.Nuremberg. A postura espiritual romântica como pré-história. Vida dionisíaca ou biologismo. Fugado mundo, devoção mundana, destruição do mundo. A grande interpretação dos eventos rasos. Heidegger como exemplo Hitler e os sonhos febris

do romantismo. Delírio e verdade. (l:APÍTUI.O XIV

315

Nietzsche sobre Wagner: a primeira circunavegação da arte. O espírito nada romântico da época: materialismo, realismo, historicismo. Workhouse. O romantismo do dionisíaco. Música: linguagem universal. Nietzsche distancia-se de Wagner: libertando-se do libertador.

CAPÍTUI.O XVlll

Permanecerfiel à terra. Heráclito e a criança mundana, brincalhona, de Schiller. O fim da resistência irónica. O colapso. 251

A catástrofe e a sua interpretação

romântica: O Doutor Fausto de Thomas

Mann. Interpretações superiores do acor7tecimento bruto. Recobrando a sobriedade. Alcoólatras em abstinência forçada. A geração cénica.Mais uma vez a nova objetividade. O vanguardismo, a tecnologia e as massas.

Adorno e Gehlenno "estúdio noturno'l Quão romântico foi o movimento de 1968?Sobre romantismo e política. CAPÍTUI.0 XV

335

Vida, nada mais que vida. O movimento jovem. Lebensreform. Landauer. Eclosão de uma mística. Hugo von Hofmannsthal, Rilke e Stefan George.

Encanto nos bastidores wilhelminianos: o romantismo de aço das

OBRAS CITADAS E REFERÊNCIAS

357

marinhas de guerra. As ideias de 1914. Thomas Mann na guerra.

A atmosfera ética, o perfume fáustico, a cruz, a morte e o túmulo. 273

OBtiAS CITADASTRADUZIDAS 375

ÍNDICE 0NOMÁSTiC0 379 10

11

NOTA DOS EDITORES

Nesta edição, optou-se por fazer constar no texto os títulos das obras citadas com o título das edições brasileiras, ou em tradução livre quando não editadas aqui. Em ambos os casos,

os títulos originais vêm entre colchetes após o título em português quando da primeira menção à obra.

No final destevolume, além da bibliografia original com as obras.citadas pelo autor, acrescentamosuma tabela com os títulos originais e as referências das edições brasileiras.

13

PREFÁCIO

Aquilo que por volta de 1800 foi chamado de "Escola Romântica", agrupou-se em torno dos irmãos Schlegel, que tomou a palavra na sua fugaz mas controversa revista .4íÁe/z,2z/m de modo autoconfiante e por ve' zesdoutrinário, este.livre espírito de especulação do começo f:losófico de Fichte e Schelling, aquilo que encantava como saudade do passado e como

novo sensodo fantástico nos primeiros contos de Tieck e Wackenroder, aquela tendência para a noite e para o misticismo poético em Novalis, essesentimento próprio de um novo começo, esseespírito livre de uma geraçãojovem que se apresentavaao mesmo tempo severoe brincalhão para carregar o impulso da ReYQluçãoao mundo do espírito e da poesia -- todo essemovimento tem naturalmente uma pré-história, um começo antes do começo.

Os jovens, aos quais não Estava autoconfiança, queriam marcar um novo começo, mas eles continuaram também aquilo que a geração do

Sfz/rmzznz/Z)xanK' havia iniciado. Johann Gottfried Herde!, o Rousseau alemão, havia dado o primeiro impulso. E por isso se pode começar a história do Romantismo com o momento em que Herdei, em 1.769,empreende uma viagem por mar à França, de modo súbito e como em fuga,

cansadodascondições de vida limitadas em Riga, onde o jovem pastor

l

Sf rm #nz/Z)xnng (tempestadee ímpeto) foi um movimento literário românticoalemão, situado no período entre 1760 a 1780. Entre seus representantesdestacam-seJohann Gottfried.Herdei, Johann Georg Hamann, Goethe e Schiller. O movimento animava-se por uma rçBçãoao racionalismoque o Iluminismo do séculoXVlll posculara.Os autores dessemovimento defendiam uma,poesia mística, selvagem, espontânea, quase primitiva, valorizando especialmente Q.efeito da emoção, imediato e poderoso, posto acima da razão Os ifür-17zrreram contra a lirerarura e a sociedade do Antigo Regime. Deixando de leda

a rígida métrica da poesia francesa divulgada em grande parte por Johann Christoph Gottsched, voltaram-separa a poesiade Homero, para a Bíblia luterana, paraos contos e histórias do fo[c[ore nacional nórdico.[N.T.]

15

OROMANTISMO

PREFÁCIO

tinha de brigar contra os ortodoxos e estavaenvolvido em aborrecidas contendas literárias. A caminho da França, tem ideias que inspirariam não apenas a ele mesmo. Herder Eazseu caminho por mar. Assim começa nossaviagem nos rastros do Romantismo e do romântico na cultura alemã. Ela nos leva

dç.uma política justa em relaçãoao ser acabou em um fatal romantismo

a Berlim, lena, Dresden, onde os românticos fundaram seuscentros

eZez,.zzÜ ZoJaro í?c/me /ai rr zlf" (Mann) -- um livro romântico portanto, que coloca o Romantismo no banco dos réus? Então o desencanto do pós-guerrra, a "geração cética", com suasressalvascontra o Romantismo.

e lançaram os fogos das suasideias; onde eles sonharam, criticaram e Eantasiaram.A época do Romantismo, no sentido mais restrito, acaba em Eichendorff e E. T. A. Hoffmann: artistasqüe o deflagrame que estavamligados por ambos seremjuristas na vida civil. Um delesera um bom católico e conselheiro do Estado, o outro um conselheiro liberal da Câmara. Ambos tinham existências duplas, que não estão restritas ao

Romantismo. Uma forma inteligente, praticável do mesmo. Neste livro trata-sedo Romantismo e do romântico. O Romantismo É uma época. O romântico é uma postura de espírito que não está limitada a um tempo. Ela encontrou no Romantismo a sua expressãomais

político, que o levou 4. tomar partido da revolução nacional-socialista. (2uáo romântico 6oi o nacional-socialismo? Não foi ele talvez muito mais

um racionalismo pervertido do que um romantismo tornado bruto? O Z)oz/for Eaz/ifo de Thomas Mann não é afinal uma interpretação "mz//fa

A viagem através da bizarra paisagem espiritual alemã acaba no por ora

último grande ressurgimento romântico, no movimento estudantil de 1968 e suas consequências.

A melhor def\feiçãodo romântico ainda é a de Novalis: ".,4odar zzm sentido elevado ao comum, ao dar ao usual uma aparência misteriosa, ao conhecido a nobreza do desconhecido, ao fugaz uma aparência de eterno, clsslm ê que eu os romantizo.

pura, mas o romântico existe até hoje. Ele não é apenasum 6enâmeno

Nessepronunciamento reconhecemosque o Romantismo mantém uma relaçãolatente com a religião. Ele Eazparte do movimento de busca que se

alemão, mas encontrou na Alemanha uma expressão especial, de tama-

estendeu sem pausadurante duzentos anos, que queria colocar algo diante

nho âmbito que no exterior àsvezesse identifica a cultura alemãcom

do mundo desencantado pela secularização. É, entre muitos que também o

o Romantismo e o romântico.

são,também uma continuação da religião com meios estéticos.IssoIhe deu a força para aumentar a importância do imaginário de maneira até então

O romântico encontra-seem Heine -- que quer ao mesmo tempo supera-lo -- como também em seu amigo Karl Marx. O Uormãrz: o transportou para a política, para os sonhos nacionais e sociais. Então Richard Wagner e Friedrich Nietzsche, que não queriam ser românticos, masque todavia o eram, como adeptosde Dioniso. Romântico sem reservas foi o movimento

jovem em torno de 1900. No começo

da guerra em 1914 Thomas Mann e outros acreditavam ter de defender a cultura romântica alemãcontra a civilização ocidental. Os tumultuados anos 1920 propiciaram um terreno &rtil para agitações românticas entre os santos da (hiper)inflação e todos os seus gurus aproveitadores, as seitas e confrarias, os viajantes do Oriente; esperava-se pelo grande momento, pela salvaçãopolítica. A visão heideggeriana 2.

sem precedentes. O Romantismo triunfa sobre o princípio da realidade.

Bom para a poesia, mau para a--pOljdca,se ele se perde em assuntospolíticos. E lá, pois, que começam os problemas que temos com o romântico. C) espírito romântico tem muitas formas, é musica], tentador e atraente,

ama a distância do futuro e do passado, as surpresas do cotidiano, os

.extremos,o inconsciente, o sonho, a loucura, os labirintos da reflexão. Não permanece igual a si mesmo, é modiflcador e contraditório,

sioso e cínico, apaixonado pelo incompreensível e popular, irónico e disperso, narcisista e social, amante da forma e do seu dissolvimento.

O velho Goethe disse que o .romântico seria o doentio. Mas tampouco quis abrir mão dele.

Uormãrz é considerado o período histórico entre o fim do Congressode Viena(181 5), ou a Revolução de Julho na França (1830) e a Revolução de Março de 1848/1849. A

literatura do %ormãrzé tratada também como produto da época óie ür' zeier.[N.T.] 16

an-

17

LIVRO PRIMEIRO

OROMANTISMO

E o mundo começcla cantar, se apenas achas a palavra mágica.

EichendorfF

CAPÍTULO I

Origens românticas: Herder faz seu caminho por mar. Reinventar a cultura. Individualismo e a voz das nações. Sobre o oscilar das

coisas na.corrente do tempo.

Duzentos e cinquenta anos depois de Colombo e cem anos antes da afirmação de Nietzsche: .ií /zazíi, .P/óscÓoi/, agitou-se num aventureiro

do pensamentoo desejode fazer-seao mar e lançar-seao monstruoso (Z-#zKeóez/er) realmenteexistente.No dia 17 de maio de 1769, Johann Gottfried Herder despede-se da sua comunidade com as palavra:

"mezz zZm/ca

objetivo éo & conhecer o mando de meu Deus & um maior número & belo?

Herdei se foi, a bordo de um navio que deveria levar centeio e linho para Nantes, mas para ele mesmo o destino permaneceu ainda indeânido. Talvez, pensou, desembarcasse em Copenhague, talvez trocasse de navio na costa

norte da França e tomasse rumos mais longínquos. A incerteza o inspirava: despreocupado,como apóstobs e$Lósofos,assim lida üo mundo, para uê-Lo"

Fazer-seao mar significou para Herder trocar de elemento vital: o firme contra o fluido, o certo pelo duvidoso; significou ganhardistância e amplidão. Também o ,pai&af de um novo começo estava dentro disso.

Uma experiênciade conversão,uma volta para dentro, bem do jeito como vinte anosantes, sob uma árvore no caminho para Vincennes Rousseauhavia experimentado sua grande inspiração: o descobrimento da verdadeira natureza sob a crosta da civilização. Antes de Herder pois conhecer novos paísese costumes, ele trava novas relaçõesconsigo

mesmo, com seu eu criador. Ele se abandona, balançado pelos tênues ventos do Mar Báltico, à tempestade de seus pensamentos. "0 gazez/m rtauio que l,etiitü entre o céu e o mar não proporciona em ampbs esferasde pensamento! Tudo aqui dá asas, movimento e ares vastos ao pensamento! A Dela ü'emuLante, o navio que sempre ba nça, a correnteza murmuraste Elasondas, as nuvens que Doam, o amplo e inPnito circulo de izT!Na tema,

a genteestásempreamarrado a um ponto morto e num cÍrcuLofechado de üma situação... ó.almas Como você uai estar quando deix.zr estemundo? 21

CAPITULO l

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO

Ele foi a bordo para "z/rr o mz/ Zo", escreve,mas, além do movimentado deserto aquático e de algumas linhas da costa, ele vê, porém, pouco deste. Por outro lado, encontra o tempo e a chancede "refaz//r seusconhecimentos literários, para descobrir e "cf/zzf agzz//ana gz/e

nos bolsos. Goethe era então o receptor, o aprendiz. Sentia-seinferior ao seu mentor, que era cinco anos mais velho, em quase todos os sentidos. O contado foi difícil.

Embora admirasse os "z/aifai ro óec:/mr/z/o " e os

'.p'zrecf ef.pra@ndoi" de Herder, tinha de aturar também suas "zombar/'zi

pr/zjo e af edífa". O encontro com um mundo desconhecido torna-se autodescoberta. Isso é característico desse irrompimento alemão: nos

e /e?rer/zíóei".Ele não estavaacostumado com isso, pois até então as pessoas mais velhas e superiores, escreveGoethe, teriam "re/zía2a r2#cá-Zo

meioslimitados a bordo e na solidão do alto mar, o pregador,tomado

fam PZ/2aref",poupando-o tanto que o teriam talvez até '7ormzzZa ma/" Da parte de Herdei, porém, que preencheusuacabeçacom novasideias,

pela vontade de ir para longe, cria um novo mundo; ele não encontra índios, não derruba nenhum reino astecaou inca, não acumula nenhum tesouro em ouro nem escravos,não leva a cabo nenhum novo cálculo

não sepodia espetaruma educação. Não importa como alguém se comparasse:

Goethe teve pois que superar sua vaidade, para poder ser levado a "zzoz,as

sobre a extensãodo mundo; seunovo mundo é um mundo que num

percepções todos os dias, sim, iz cheia boçal'

piscar de olhos assumirá novamente a forma de livros. Herdei, que que-

Ele via em Herder um aventureiro do espírito, que voltara do alto-mar e trouxera o fresco vento das viagens que estimula a fantasia. Assim

tl.a. deram o " repositório cheio de papel e Livros, que só pertence 'zo recinto

a Zeie rifa/da", acabasendo apanhadode novo pelo mundo dos livros,

inspirado, escreve-lhe em 10 de julho de 1772: "a/ Z# ef/azí ioZ'rea onda

pois, ainda no navio, navegaem projetos literários. "Qzle aóxafoZ'rea

com meu pequeno barco, e quando as estrelasse escondem,leuito assim

raça bam.anal

na mão do destino e a coragem, a esperança,o temor e a tranquilidade se

sobre o espírito

bumctnol

Temposl Pouosl Forçasl Misturml

a cultura

da reTraI todos os espaçosa

Figurasl Religião asiáticas E cronologia e

polícia e$Loso$a... Tudo do gregosTudo cLoromanosReligião nórdica, direito, costumes, guelra, honra! O tempo dos papas, monges, conhecimento!...

Política japonesa, cbinesalEstudo natural de um modamundosHábitos americanos, etc. [. ..] História universal da constituição mundiaLl" Herder nutriu-se a vida toda de ideias que Ihe ocorreram em alto-mar. O diário que as registrou-- um signiâcativo documento literário e filosófico da segunda metade do século XVlll

-- foi editado porém apenas

postumamente, em 1846, sob o título Z)iár/o 2e m/zzAaPj/agem/zo.z/zoZr /7á9 [/ozórna/ me/ er Reine/m7aór ,7769] ; mas seu autor encontrou depois

alternam em meu peito

É provável que a partida e o ímpeto de Herder tenham fornecido ao jovem Goethe, no primeiro esboçopara Eaz/iío,a inspiraçãopara a cenano quarto de estudos,escrita ainda sob a impressãodo primeiro cantata en\te os do\s. " õ, dorlainch

estou preso no cárcere? [. ..] Limitado

por toda esta montanha de Livros, [...]Fuja!

Ponha-te ao longe, na terra

z,.zsia..."Como Fausto, do tenebroso buraco do seu quarto de estudos, também Herder fugira da catedral de Rega. Uma miríade de ideias Ihe ocorreram durante a viagem. Na ocasião, ainda estavamem criativa desordem uma ao lado da outra. Ele estábus-

da viagem, em 1771, em Estrasburgo, um jovem promissor, Goethe, que ficou imensamente atraído pelo turbilhão de ideias e que passouadiante

cando uma linguagem para aplacar o maremoto interior. A razão, escreve,

muitas delas, tendo desenvolvido aquilo que ouvira. No décimo livro

e por isso não pode compreendero todo criativo. Por quê?Os acontecimentos causaissão previsíveis,os criativos, não. Por isso Hlerder busca

de Poesia r z,erzZaZe, Goethe se lembra do casual encontro nas escadas de

um hotel em Estrasburgo, onde Herder havia se hospedado por ocasião de um tratamento longo e doloroso nasglândulas lacrimais. Descreveque este teria causado a impressão de um sacerdote, com seus cabelos cheios

de talco e em forma de cachos presos;elegante,na forma como subiu a escada, as pontas de seu manto negro de cetim enfiadas jovialmente 22

é sempre uma razãopoirer/or. Ela trabalha com conceitos da casualidade

uma linguagem que se adapte à movimentação misteriosa da vida, por metáforas em vez de conceitos. Muito permanece vago, aludido, adivinhado. Sua linguagem, cheia de levitações e incursões, provocará resistência de muitos contemporâneos.

Kant, por exemplo, escreveu

uma vez com üânica simplicidade a Hamann para que estefizesseo 23

r' CAPÍTULO l

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'CISMO

favor de esclarecero que seuamigo Herder pensa," m.ziPargr f//ezzZna

Jen/a

como

termo

geral para aquela "

ofó /a IPaczz #/erüri.z

Ze efcoZBiZoJ

Linguagem dos homens.. . pois eu, pobre$Lbo da terra, não estou estruturado

eamaUiçoctdos, na qual uma massadejouenshomensgenial? sut1lna-cam

para a Linguagemdivina da razão contemplativa. Aquilo que sesoletrü para

'ÍazZzromagemr oz/izzZ:» para perder-se naquilo que não conhece limites.

mim em conceitos comuns segundo regras Lógicas, isso eu ainda alcanço.

Goethe e seusamigos tinham, é bem verdade,exageradode certa forma essa"época genial". Depois do seu encontro com Herder e a

Herder foi ousado o suficiente para querer revolucionar o conceito

da razão também contra Kant, com o qual ele havia estudadono início e com quem estavaligado por laços de amizade. Enquanto Kant,

mudança para teimar

em 1776, Goethe havia transformado esseagra-

surgimento do Universo, dos sistemas solares e da Terra ou apresentava

dável centro de musasno quartel generaldo culto ao gênio. Como um rabo de cometa atrásde si, eleatraiu Lenz, Klinger, Kaufmann, os irmãos Stolberg -- que ainda não sehaviam convertido. Houve bestassobre as

pesquisas antropológicas,

quais os filisteuss de teimar

na sua fase anterior à crítica, escrevia especulações cosmológicas sobre o

etnográficas e geográficas, Herder sentia-se

ainda falaram por dezenasde anos. Entre

intelectualmente ligado a ele. Era do seu gosto essaadmiração diante do mundo visível. (quando, porém, o filósofo de Kõnigsbergcomeçou

outros, assimconta o contemporâneoCarl August Bõttiger, 6oi realizadoum encontro de gênios no qual "empa ro re/mpacamefozí-je 'z7algar

a calcular os limites da razão e a diminuir

todos os copospeLajaneh, e alguns vasos saios para cinzas, que haviam sido

contemplação,

separaram-se

os caminhos.

o significado da intuição e da A Cr/f/rzz 2a razão .pz/za era

para i:!çldçL#m .l>aáz.«prazoz/azilQ"e expressãode um raciocínio estéril.

Assim como Hegel, uma geraçãomais tarde, mostrou a Kant que o medo de errar poderia ser o próprio erro. Ele, por suavez, não queria se

retirados de uma escavaçãopró)cima, foram eleitos como tropa?.

E\es se

ultrapassavammutuamente em gestose em apresentaçõesque tinham !intenção de chocar. Lenz se fazia de louco, Klinger se ressaiuao comer um pedaço de carne de cavalo crua, Kaufmann se viu na mesa do

a vida toda. Herder fala da razão viva, em oposição à abstrata.A razão viva é concreta, mergulha no elemento da existência, do inconsciente,

conde,o peito nu até a altura do umbigo, cabelosolto ao vento e com um cajado vistoso. Uma das brincadeiras de gênio de Goethe 6oi uma viagem a cavalo com o amigo conde; no caminho trocaram de roupa

irracional, espontâneo, portanto na escura e criativa vida, que move e é movida. A "vida" ganha nele um tom novo e entusiástico. O eco se deixa

e buscaram aventuras eróticas. -Em Sfz/filgzzrr,conta Bõttiger, "f/z,eram ü ideia de ir à corte. De repente todos os costureirosforam mobilizados,

ouvir longe. Pouco depois do encontro dos dois, Goethe deixará que Wíetthet exclamo:" Eu enconüo vida em toóh parte, nada mais que vida..:'

P zxnfznÓaZBr 22a e no/fe fm iUnÜeiZa cor/e." Então os dois apareceram na festa de conclusão do ano da Academia de Stuttgart. Lá estavam os admirados gênios viajantes, o conde de Weimar e seu amigo Goethe no

deixar limitar pelos preâmbulos do conhecimento crítica, e sim agarrar

A 81osofiada vida herderiana incitou o culto ao gênio do Sfz/rm z/nz/Z)gang(e mais tarde o do Romantismo). Aquele em que a vida

[J[:[a@-Gen/e] .

camarote, como convidados de honra, ao lado de Kart Eugen, e olhavam com leve desdém a concessãode um prêmio a um aluno que ainda tinha sua carreira de gênio diante de si: Friedrich Schiller. Também ele vai, na sua fase de Sfz/rm zzmz/Z)gang, celebrar a z,22a#or/ee fazê-la valer.

Nisso havia muita encenação e pretensão, mas com bastante ímpeto e autoconfiança. O espírito do Sfz/rm zznZZ)gang quer ser aquele que dá

/LjCjda çm sua intranquilidade criativa e original é mesmo algo prodigioso, diante do que a consciência se assusta.Herder cala, como mais

a luz ao genial, que dorme, presume-se,em todos, e que apenasespera para 6nalmente vir ao mundo. Num momento de reflexão tardia sobre o tumulto daqueles anos, no décimo livro de Poef/a e z,erzZa2e, Goethe impiedosamente define o

tarde Nietzsche, sobre a pavorosa "queda no precipício" do que é vivo.

24

25

pode circular livremente e que pode fazer desabrochar sua criatividade

é consideradoali como gênio. Naquela épocafoi iniciado um culto baru[hento

em torno

do chamado

"gênio-poderoso"

3

Termo empregado por Clemens Brentano em famosa palestra em lona, designando pessoa

pequeno-burguesa, patéticae insensívelà arte,e quesefirmou no ideárioromântico.[N.T]

CAPÍTULO l

LIVRO PRIMEIRO © O ROMAN'TISMO

É t,erchde também [. ..] que o mais pro$ndo âmago de nossasalmas está

próprio e a construção da cultura como atmosferade vida sãodenominados

coberto de noite! Nossa pobre pensadora certamente não estava em condição

por ele como eif/hz/Zo zZzÃz/m.z/zfz&Ze.A humanidade

de conter todo o estímulo,

oposição à natureza; em relação ao homem ela é a verdadeira realização da

todo o caroço &

cada sensação em suas pavões

não se encontra em

originais; eh náo tino.z condiçãode ouvir um mar mundial murmuraste de

sua natureza. Herder presenteou ao século XIX o corrceito de uma história

tão escurasonóhs, sem que eh o envolvessecom medo e h'emir, o cercassecom

dinâmica, aberta. Nele, não há nenhum sonho de uma pré-história para-

o cuichdo do medo e com ])oucü colagem e sem que o remo se Lbe caíssedas

disíaca, à qual seria melhor !egressar. Cada momento, cada época possui

mãos.A mãe natureza afastou deU, portanto, tudo que não é acessívela sua nítich consciência...eLaestásobreum precipício & in$nito e não sabe

seu próprio desafio e uma verdade que precisa ser agarradae modulada. Nisso ele se põe em extrema oposição a Rbusseau,para quem a civilização anual representaum dec ínio e estraníiamento da vida humana: ".4 znfú humana, em todasas épocas,masem cada uma deforma distinta, tem üfeli-

que está Lá; por meio cassafeliz ignorância eh se encontra Fome e segura.'

O conceito da naturezaviva em Herder abrange o criativos.aoqual nos abrimos euforicamente, mas também o sinistro, que nos ameaça. São exatamenteessessentimentos contraditórios que o visitam durante

cidade como soma; nós, na nossa,nos distraímos, quando elogiados o tempo de Rousseau, que não existe mais, e que nunca existiu" , escreve na Diário. .A história não é mais um /zzzC(#m/dorêgo, como entre os materialistas fran-

sua viagem de navio. As iliÊiê$.mais importantes que se distinguem nitidamente no tumulto

ceses,abandonada ao acasoe ao mecanismo sem alma. Ela tem um sentido,

de pensamentos em mar aberto e que no fiituro agirão sobre os românticos

mesmo senão está organizada em direção a um objetivo que se pode definir

são as seguintes: tudo é história. Isso vale não apenas para o homem e sua

espiritualmentede antemão.A realizaçãoda humanidade é uma espécie de ex?er/mr /zím mz/nZI,um processoem aberto, cujo desenvolvimento

cultura, mas também para a natureza. É um pensamento novo, entender

Mtória

da naturezacomo a história do desenvolvimentoque faz surgir

a variedade de figuras naturais, pois com ele a criação divina do mundo é

depende do homem, mesmo que, nos bastidores, um objetivo da natureza esteja em ação. Uma vez que este último, porém, não pode ser alcançado

incluída no processoda natureza. Ela própria é aquela potência criadora

explicitamente, só nos restarealizar o trabalho de auroformação de acordo

que anteriormente fora transportada para um espaçofora da natureza. O desenvo[vimentose dá em diversasetapas:a mineral, a vegetale a

com.os parâmetros que o homem se autoimpóe. Eles fiincionam como uma bússola interior que aponta para a direção na qual se pode esperar um maior

animal. Cada etapa tem sua razão de ser em si mesma, mas igualmente

padrão de autodesenvolvimento em sociedade. O processoxh«órico não

detém a semente de algo mais elevado. E todas as etapas são pré-etapas

se desenrola linearmente; ele se realiza por meio de 1lupturas e mudanças

do ser humano. Sua distinção advém dele poder e dever tomar sob seu controle a potência criadora que age na natureza. Pode Eazê-lodada a sua

radicais. Há de se contar com "moz,/mezz/aie r?z,oZafóei/l../ ram JenJ'zfóQgz/e aqui e ali se tom.zm entusiásticas, violentas, até mesmo abomináueif' , esctexe

!Dteligência e por causa da linguagem, e tem de Eazê-lo porque é pobre de

a respeito. Não se deveria se deixar assustar por elas, pois pertenceriam às

instintos, e consequentementeindefeso.A potência criadorade cultura é portanto opressão tanto de uma.força quanto de uma fraqueza. Com essepensamento, Hepdç!:.íjp.jç$çdor da antropologia moderna -- com o homem como um ser defeituosocriador de cultura. Paraele, a

formas vulcânicas, das quais o novo irromperia.

história da cultura da humanidadefaz parte da história da natureza,mas

Jamaisse havia compreendidoa história de modo tão dinâmico e enfático; e é surpreendente que isso tenha acontecido logo na -Alemanha,

ora dividida em pequenosEstadose retrógrada, onde a história real de certa forma estavacongelada. Era como uma preparaçãopara o

sua força criativa intencional. A transformação do homem atravésde si

grande acontecimento da Revolução Francesa, pois só então a realidade estava num ponto em que a história parecia cumprir aquilo que Herder havia esperado dela duas décadas antes.

26

27

de uma

história

da natureza

em que a.corça

(lesta --

que até então

ag@..

ipçg.nsçjeRlçmeRte -- chega ao fundo de sl.mesma na peça humana e na

r'

LIVRO PRIMEIRO © O ROMAN'TISMO

Sempre se havia falado até então "do homem" em coletivo singular.

Herder, porém e depois do conceito de história dinâmica esseéo seu pensamento mais influente descobriu o individualismo ou per' sonalismo, e disso a pluralidade. '0 homem é uma abstração;há apenas"os" homens. Assim como

e CAPÍTI.JLO l

Para seguir os rastros dessesespíritos, Herder, durante sua viagem, traçou o plano de colecionar cançõespopulares e outros documentos das culturas dos povos. Realmente o pâs em prática, dando aos românticos

um estímulo e exemplo para dar continuação a essaatividade. Ele permanece individualista quando coleciona as canções populares.

a vida em geral, em cada etapa do seudesenvolvimento, tem seu próprio

Pois aquilo que vale para a pessoa

direito e seu próprio significado, também o tem a raça humana. Cada indivíduo marca de maneira singular aquilo que o homem + .çpode pçr.

dualidade, não deve apenas respeitar a particularidade dos outros, mas

Herder defendeum personalismoradical. Há a humanidade como uma grandezaabstratae há a humanidade à qual cadaum tem de atentar em $i.pléluiç e de trazera uma forma individual. Dela, tudo depende.Dessa perspectiva, a história não é apenaso grande panorama diante do qual o indivíduo se destaca.As forças fundamentais e motrizes da história que descobrimos lá fora devem e podem ser experimentadas pelo jndi:ü:ídpo como vida criativa em si mesmo -- um contexto que H.erder experimentou de maneiraextática durante a suaviagem por mar. SÓquem vivenda o princípio criador em seu propljp corpo poderádescobri-lo lá fora, no correr do mundo e na natureza. Mais tarde, Goethe resumirá essepen' lamento numa frase das suas J14:&/m.zi: "Sabre a Ãlírór/a, n/mKZ/émme/Bor

poderá ter uma opinião clo que aquel,eque ü experimentou em si próprio.

A pessoaque sedesenvolveem um.indivíduo é e permaneceg.!entro

que, ao desenvolversua indivi-

reconhecer nela um lucro vale também para os espíritos dos povos Muitos povos, muitas vozes. A pluralidade eaz florescer a riqueza humana. O patriotismo cego está longe dele. Ele quer ajudar a entender os outros povos em suas tradições. ".Eb.pezleKzl/a m z eizn Zepe fiar Zai nações, e o que eu, sem sistema nem re$ncão constateifoi

que: cada uma cria

documentos, de acordo com cl religião do país, das tradições dos seuspais, e de acorü com os conceitosde nação; que esses documentos aparecem numa Linguagem poética, em uestimentos poéticos, e em ritmos poéticos:.ç4Ulg!

mitobgÀcosnctcionaissobreo início dassuasmais remotas])articuhridades:'

Herder vivera em Regaentre uma mistura colorida de povos, russos, livonianos e poloneses.A elite -- politicamente dominante na "cidade-república" sob domínio russo era alemã. No meio de outros povos aliou-se seu sentido para a tradição cultural alemã, mas, como pregador e pastor, tentou superar o isolamento da comunidade -- por curiosidade

sempre

e por espírito de justiça em relaçãoaoslivonianos e russos,cuja maioria

precisa de uma comunidade. Esta, porém, deve, segundo Herdei, estar organizada de modo que cada um possa fazer.dçs4bro.char..$uQjelnçnçç

vivia em grande pobreza. Na sua introdução à çgkção de canções gozei do

significativo, mesmo quando ela -- o que não se pode negar

.2ew, recorre às suas experiências em Rega, com sua cultura popular local e

individual. A comunidade é uma união para alu4g:.pgçilLnesse desenvolvimento. Por isso, tal união não resulta apenasnuma soma; ela

sua pois\a: " Saibam, pois, que eu mesmo lide oportunichde de tler resquícios

forma um espírito especial através da atuação comum. Este nasce da união e dá à pessoaum ar espiritual. Para Herder o ser humano, como

quem nossoshábitos não conseguiram tirar completamente a língua, üs canções

i!:ldiyídyo, estáincluído na comunidade uma espéciede indivíduo maior. Ele vê círculos concêntricos na família, nas tribos, nos povos, nas nações e na comunidade de nações, que, em seu nível, formam uma

sínteseespiritual.,.Em relação aos povos, fala dos espíritos dos povos'

O importante é que essasunidades maioressão pensadasa partir do indivíduo. Assim como os indivíduos entre si, também elas formam uma pluralidade: a dos espíritos dos povos28

Ditos deste canto antigo, selvagem, ritmos, danças em meio a Fados uivos, cl

e oshábitos, deixando-os com algo bastante mutilado ou com coisaalguma:

Herder, o colecionador de cançõespopulares, se conscientizou das suaspróprias rgues culturais e se esforçou para incentivar e avivar "o jeito e a arte alemães", mas sem arrogância. Quando a percebia nos outros ou quando tinha de notar que alguém o entendia desta forma, e portanto entendia mal, ele reagia de maneira bastante enérgica. ' O que é uma nação? Um jardim ganhe e não cultivado, cheio de hortaliças e & ervas daninhas. Quem quereria tomar indistintamente esse 29

LIVRO PRIMEIRO

+ O ROMAN'TISMO

CAPÍTUI,O ll

ponto de concentraçãode tolicese fartos,assim comode perfeiçõese dons [...] quebrando a Lança contra outras nações?Deixem-nos, tanto quanto pudermos,contribuir para a honra da nação;também detemosd4endê-la,

Da revolução política à revolução estética. Impotência política e

4aando se LbePzer uma injustiça [...] mas elogia-La ex ptoeesso, isso eu

:onsidero uma pTesunçao.. . Ê evidentemente uma tendência da natureza

atrevimento poético. Schiller conclama ao grande jogo

que, como um homem, também uma raça, também pois um podo de e com

Os românticos preparam sua entrada êm cena.

outro aprenda[. ..] até que todostenham aprendido a árdua Lição:nenhum pato é um Único podo escolhido par Deus sobre a Terra; a verdade tem de ser nenhum podo da Europa eleve isolar-se dos outros e dizer tohmente: comigo,

Entre a viagem ao mar de Herder e os primeiros românticos ocorre uma grande transformação, a Revolução Francesa.Como nenhum ou-

comigo mora toda a uevdade.

tro acontecimento

buscada por todos, o jardim do bem comum construído por todos../Assim,

O patriotismo de Herdar era democrático e apostava na multiplici\

político,

ela deu impulso

aos intelectuais

alemães.

O irrompimento dos primeiros românticos é o Sf rm zz/zZ Z)znngque

dade de culturas. Muitos caminhos levam para onde? De qualquer maneira, não ao domínio de um povo sobre outros, mas sim, segundo

passou pelas experiências da revolução. Na trança haviam ocorrido coisas que convenceram imediatamente

seu ideal, a unl.ig:r4i!!!.!!!.l!!!!!!!jpljçjdg4e, onde as culturas dos povos em distinção, troca e fecundaçãomútuo desen.!!!!y4mcadauma suas

os contemporâneos na Alemanha de que seriam significativas para a histó-

melhores possibilidades. O 12[!Dçíp.iQ-çEi;!de]..que ele via em ação nas

futuras. Tratavam-sede acontecimentos que, já no momento em que ocorriam, irradiavam um brilho mítico e que eram interpretados como asprimeiras cenasdo nascimento de uma nova era. Acontecimentos que, mal existentes,em toda parte, também nas longínquas Tubinga, lena e Weimar, eram considerados dignos de registro e "clássicos": o Juramento

culturas populares tornou-lhe a democracia tão simpática que sua tomada de partido pela Revolução Francesafoi objeto de desgosto para Goethe; este criticou em seu amigo o fato deste ser, por vezes, um jacobino a toda prova

O descobrimento da história dinâmica, com tudo que dela resulta

do individualismo orgulhoso até a humildade diante dos antigos documentos de culturas populares causou um verdadeiro corte no espírito europeu. Desde então tornou-se natural ver as coisas num contexto histórico. A história relativiza tudo. Ela mesma se torna algo absoluto; nenhum deus, nenhuma ideia, nenhuma moral, nenhuma ordem social, nenhuma obra se pode estabelecerdiante dela de forma definitiva. Mesmo o bom, o verdadeiro,o belo -- antes fixos no céu das ideias imutáveis e das revelações

ria do mundo, e que ainda provocariam horror e admiração nas gerações

do Jogo de Péla4em 20 de junho de 1789, quando os deputados da terceira ordem formaram um encontro nacional e juraram permanecer juntos até que uma nova constituição fosse estabelecida; a demissãodo

ministro liberal da FazendaNecker no dia 11de julho como primeiro ato da contrarrevolução e a conseguinte tomada da Bastilha, em 14 de julho;

a explosão dos linchamentos; os primeiros aristocratas pendurados nas lanternas; a constituição da Guarda Nacional; a primeira capitulação do rei, que se curva à Guarda Nacional e recebe a cocardaS,em 17 de julho;

caem no vácuo do que se Eaz

e que perece.Também o belo tem de morrer, lemos em Schiller, e o

4

crepúsculo dos deusese a repolarização dos valores também serão uma

consequênciada consciênciahistórica. E, portanto, se pode dizer sobre os pensamentosde Herder em mar aberto: elesjá sãoromânticos, porque nos inspiram para a oscilaçãodas coisasna correnteza do tempo 30

Tradução do espanhol. Em francês: Sfrme rd Jr drp z me. Compromisso de união apresentado em 20 de junho de 1789 entre os 577 deputados do Terceiro Estado de não separar-seaté que, enfrentando as pressõesdo rei LuasXVI, dotassema Fiança de uma constituição. [N.T.]

5

Do francês forarde: insígnia em forma de roseta ou redonda, nascores do país ou do Estado, usada em chapéus de uniformes ou em aviões militares. [N.T.]

31

LIVRO PRIMEIRO © O ROMAN'TISMO

CAPÍTULO ll

o declínio do poder do Estado nas províncias; a revolta dos camponeses e a revolução nas cidades; o "grande terror" que mantém em suspense

o país; o começo da emigração da nobreza -- na estrada para Turim, a "nata" da França antiga foge; à frente das milhares de pessoas,os dois

l

privadas de sua autoridade, e nos Estados da Confederação do Rente introduziu-se o código civil da França napoleónica. Tornou-se imediatamente claro para a maioria dos escritores e inte-

irmãos do rei; a noite memorável do 3 ao 4 de agosto, quando a Assem-

lectuais alemãesque os acontecimentos na França signiâcavam uma mudança nos tempos e que, de agora em diante, havia começado uma nova

bléia Nacional, embriagada pela própria ousadia, com inúmeros decretos

era.Era quaseimpossívelevitar o páiÁai do momento histórico. " Za/

patéticos, destrói o secular sistema feudal da França; a festiva Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão em 26 de agosto;o segundo grande levante em Paria a 5 de outubro, quando vendedorasde ceira forçam o rei e a Assembléia Nacional a mudarem-sede Versalhespara Paras.

fenómeno na história, do bomewf' , esctexe Kart, " não sepode mais esquecer, porque sedescobriu uma tendência e uma possibilidade para o melhor

À distânciade um tempo mais tardio, os anosentre 1789e 1804

lução Francesauma nova era na história da humanidade: "Z)ride gz/r

na naturezab mana quenenhumpolítico poderia ter descobertono correr Zaf co/s.zia/é r/zzüa".Também Hegel data, como Kant, a partir da Revo-

quando Napoleão se coroou imperador -- parecem um grande momento

o sol está no firmamento e os planetas Ü.rüm em torno dele jamais se uiu

histórico; para os contemporâneos ele foi porém um longo e complicado

que o homem seponha de cabeça para baixo, isto é, sobre ospensamentos,

processo. Formas de governo se sucederam, da democracia absoluta à constitucional e então à parlamentar, que por sua vez deu lugar à ditadura

e co/zf/rzzzz -z re.z#ZaZe Ze .zcozz/ofom fazei."Percebia-se a revolução como

jacobina. Seguiu-seo autoritário "Diretório" e finalmente õ domínio de Napoleão como imperador, que combinou elementos restauradores

a primeira cenado enredo fundado na açãoda sociedade.O que até então estavanas teorias dos contratos iluministas -- em último lugar em Rousseau,numa história preliminar abstratae projetado para um

e revolucionários. Nesse ínterim, a execução do rei, terror, guerras,

espaçoigualmente abstrato --, acreditava-se que acontecia agora diante

que trouxeram tanto as conquistas quanto os horrores da revolução à Alemanha.

dos olhos de todos e no presentetangível. Isso dava ao acontecimento

Não havia a chance de uma revolução vinda dos pobres na Alema-

nha. Issosedeixarmos de lado o curto episódio da República de Mainz (1793). Esta pede se sustentar por alguns mesessob a proteção da França -- não sem que a massa tivesse tomado um animado partido, também porque Georg Forster (famoso pesquisadorda natureza, escritor e circum-navegadordo mundo) também amuounela. O final foi fatal, tanto para a República como para Georg Forster. As tropas aliadas (Goethe se encontrava com o conde em seu séquito) reconquistaram a cidade no verão de 1793, e iniciou-se uma caçaaosrepublicanos. Forster, porém, que havia sido enviado a Paria para providenciar a anexaçãoda cidade à França, morreu lá em janeiro de 1794, amargurado e empobrecido. Nenhuma revolução vinda de baixo, pois. Tão mais forte foi ela que veio da classealta. Em alguns dias a sociedade de ordens caiu, o Sacro Império Romano-Germânico ruiu, e na Alemanha estabeleceu-seum novo sistema de Estados; famílias regentesforam depostas por Napoleão, 32

a aura de uma "Ã/rfcír/ oxnrzzZar",parafraseando Kant. Quem antes havia

sido adepto das ideias filosóficas da liberdade e igualdade podia ver na revolução, com Friedrich Gentz, contrário

à mesma, o /r/z/zlXopzürfca

Za#Zoio@a. Já que aqui se tratava dos próprios

pensamentos colocados

em prática, ainda se podia sentir como colaborador mesmono estranhamento. Finalmente foi trazida a prova de que o pensare o escrever não apenasinterpretam o mundo, mas também o transformam; talvez até de que a ideia e o espírito regem o mundo e que só dependem de encontrar os pensamentos certos, que tocam o nervo do tempo Muitos

intelectuais, mesmo fora da Fiança, viam a revolução como a "sua", porque acreditavam que agiram para que ela acontecesse.Até mesmo a simpatia de Kant pela revolução, à qual, apesar de todas as ressalvas, foi fiel até o final da vida, estábaseadanessesentimento de participação espiritual e de responsabilidade comum. Para ele fez-se na França, de certa maneira representando toda a humanidade, a grande tentativa prática

de sair da me o /Za2e czl/pos.z.

33

r'

LIVRO PRIMEIRO © O ROMAN'TISMO

Foi assimque, pelo menos no começo, a revoluçãodeu asasao idealismo. " O iZe esmo", escreve Friedrich Schlegel, "no ienrido px#fico, #zzzúz mzzjr/ do gelea í:p/r/fa zZzgz/e&z rega/afia", e Hegel declara que a razão teria,

como uma toupeira, escavadoseu caminho atravésda pesadaterra e que teria então alcançado a luz. A imagem da revolução como luz do dia ou alvorada seencontra em quase todos os escritores do início dos anos 1790,

tendo sido talvez apresentadacom maior páíÁoi pelo velho Klopstock, a quem propiciou uma primaveratardia na sualírica: "o /zz /P/ZoZZa2a império fálico já se a':anciã, o fio do alvorecerse insinua / pelase"tranl,as dos que esperam:/ ÓI Vem, nodo, / &Licioso, nem sequer sonhado sola"

l

Os jovens românticos pertencem no início aos entusiastas do alvorecerhistórico. Hõlderlin, Hegel e Schelling plantam uma árvore da liberdade em Tubinga. O último quer interromper seusestudos de teologia, quer fugir da "ferra 2of c/érzgai e eifr/farei" e deseja muito respirar "dref m/zlr //z'ref" em Pauis. O estudante de ginásio Ludwig Tieck escreve um

CAPÍTULO ll

respeito da Revolução Francesa \Beitriige zur Bericbtigung, der UrteiLe des PzfÓ#êz/mj üÓer d7f /;M zÜZrróe .Rez,a/zzr/an], onde claram.nte dá ao

povo o direito de rebelar-see declara que nessecontexto seriatambém permitido usar da violência. O tratado de Schlegel,publicado em 1796, Ensaiosobre o conceito do republicanismo \Versucb ilber den BegriRdes Rr?zzó#ê.zaifmz/x],defende, até ultrapassando a defesa kantiana de uma democracia representativa, a democracia direta, que na sua opinião poderia abdicar da divisão de poderes parte esssencialdo republicanismo segundo Kant. Na época em que escreveu esse documento, Schlegel

estavaporém muito próximo aosacontecimentos revolucionários, pois havia se apaixonado por Caroline Bõhmer, que agirá na República de Mainz [Mogúncia] como amiga de Georg Forster e que por causadisso tinha de seesconderdasautoridades. Caroline casarámais tarde com o irmão de Schlegel,August Wilhelm, para então, no auge da comunidade

deixec /r /em /ez/ióxufai..." E ainda três anosmais tarde, em 1792, ele

romântica em lena, troca-lo por Schelling. Também nas cartasde Novalis encontra-se entusiasmo pela revolução. Fala-seali do ardor da ':#óeneúzzZr. efrzaz,/züo, ódio Of ffxu/zoi".Novalis

esctexea'Wa&en oüet\ " Ab, seeufossef'ancêsl Então eu não queria estar

levita numa linguagem metafórica revolucionária. (quando condessa em

sentado aqui

I' de agostode 1794 a seuamigo Friedrich Schlegelsua ânsiapor "na/fr Ze /zÜPrlm,c zme /o e.PZ»oi",descrevea satisfaçãodos seusdesejoscomo uma

drama sobre a revolta do povo: "HProx/m.z-fe, /íóezzZaZe,/.pzznz'gaze ez/ me

mas infelizmente eu ainóh estou numa monarquia que luta

contra a Liberdade, entrepessoas que sáo bárbaras o su$ciente parti &sprezar

ostanceses... Ob, estar na Fr.znçalEntão tem de ser um sentimento maior,

Lutar sob üs ordens de Dumouriez e pâr escravos para agir, e até morrer.

revolução que o libertaria finalmente da autoridade doméstica: "gz/üesffa :éu, minha noite de núpciasfosseuma noite de SãoBartolomeu em maio para

O que é uma vida sem Liberchde?"

l despotismoe a.sprisões;então eu queria celebrar diasfelizes de casamento.

Wackenroder,essejovem frágil, assumede "rodo o coração"o entusiasmo de Tieck, e, depois que a cabeçado rei tomba, Eazo frio comer\ât\o'. "A execuçãodo rei da Fiança afastou toca a cidadede BerLim

A Revolução Francesateve uma irradiação tão potente porque se esperoudela não apenasa extinção de um sistema de governo injusto como do governo (?!ngeral. A mudança dasinstituições políticas, assim

da causa dos Panceses, mas a mim não. Eu penso cl respeito como dantes:

seesperava,traria à luz finalmente o homem livre. Acreditava-seque se era testemunhade um experimento histórico mundial que giravaem torno da seguinte pergunta: quanto autogoverno é possível e quais as leis externase ordens políticas necessáriaspara tal?

Mas ao contrário de Tieck, admite que Ihe Faltaprovavelmente coragem para lutar pela revolução. O entusiasmo daquele, porém, se limita

às fronteiras da retórica. Ele não deixa que uma prova prática tenha lugar. No início das primeiras guerrasde coalizáo,também o jovem Schleiermacher condena os "o ef/z,oiziCgpofízí" dos nobres europeus, que "pZandam izÓ'far ,z rez,o/#fá ", e acha que o fato de um monarca "ier z/ngíZa" não seria razão suficiente para não se Ihe cortar a cabeça. Fichte publica

suas Comer/óz//fóes .P.zxa a correrão 2ú OP/ /áo pzíÓ#ca a 34

Muitos daqueles que no princípio aclamaram com júbilo a revolução voltaram-se

mais tarde contra ela, quando o terror e a nova opressão

em nome da liberdade ganharam maior peso. Até mesmo Georg Forster

escreveem 16 de abril de 1793, de Paris: ".4 z/xa ia Za xnzáa,/óz/z'ez .z mais impLacáueLde todas, ainda está no futuro do mundo... Quanto mais 35

LIVRO PRIMEIRO © O ROMAN'TISMO

CAPITULO ll

nobre e mais incensuráuel a coisa, mais diabólico o abuso. afogo e a inun-

Até a Revolução Francesa, a história era para a maioria um aconte-

dação, os mais nocivos efeitos do fogo e da água, nada são em comparação

cimento do destino que tombava sobre alguém como qualquer doença ou catástrofenatural. Os acontecimentosde 1789 fizeram surgir uma

à calamidade que a razão causará.

Na verdade,a razãose mostra tirana com suatendênciaa nivelar tudo, a destruir toda a história na qual estamosenvoltos,tradições,

percepção inteligente dos acontecimentos históricos em grande estilo que,

usos, costumes. E a seduçãode gerar a grande limpeza, de eliminar uma

que inundam a Europa trazem não só o fim das guerrasde gabinete e de

tradição que só era vista como tralha de uma grande época. Tirânica

mercenários; além disso, as tropas do povo

é, pois, a razãoanta-históricaque se julga capazde tornar tudo novo e melhor. A razão é tirânica também quando pensapoder gerar uma

armada até os dentes -- significam que a história agora também recrutava

geral e quando estabelece um novo regime de opressão em nome desse

bem comum.

ou se, como Matthias Claudius, transformam-se em ferrenhos antagonistas.

O percurso da revolução vai desmascararessatirania da razão.Embora se proclame os direitos gerais do homem

segurança da vida, da

propriedade e de opinião , não seoferecenenhuma proteção contra a arbitrariedade dos novos representantesdo povo, que se projetam como tradutores do seuverdadeiro desejo e aterrorizam seussupostos inimigos, como qualquer um podia ser considerado se não correspon' desseà imagem do homem dos comitês de salvaçãopública ou setivesse caído em desgraçajunto aosdominadores por qualquer outro motivo. Essatirania da razão é exercida por uma nova elite intelectual que sabeutilizar em seu interesse o instrumento moderno da mobilização de massas.Depois da Revolução Francesa, as massas sobem pela primeira vez ao palco da história. Ospogrons liderados pelos jacobinos são consequência direta dessa nova aliança histórica entre a elite e a plebe

um prelúdio dosexcessos totalitários do séculoXX. Primeiro na França, e então em toda parte da Europa, surge com a revolução uma nova visão política. A política, até então especialidadedas cortes, pode então ser compreendida como uma empresa,podendo transformar-se numa questão vital. Temos de atentar para a violenta ruptura

1

essesímbolo de uma nação

o homem comum para o serviço militar. Na esteira dessapolitização cai a maioria dos escritores na .AJemanha,não importa se eles, como os jovens românticos, se entusiasmam pela revolução, ficam céticos como Wieland

verdadeira imagem do homem, quando finge sabero que é de interesse

L

sincronicamente à sua politização, os faz acelerar.Os exércitos da revolução

Em toda parte rege,por um tempo limitado, o raciocínio político, e não são poucos os autores que se sentem instigados a colocar a arte da Eda a serviço da ação política. Nos primeiros

inúmeros ensaios,

poemas e dramas, cuja característica predominante é a de tomar partido político e de frequentemente ter uma tendência panfletária ou agitadora.

E exatamenteestaatmosferade agitação política que tanto desagradou a ggÊlhi:-.Pa!=a.EIÊ..a..lçygLuçãlun.fld&..maia.:jg!!jÊço.u-dg...quç.o

!!!ia.algas!!iaÜ'X!!!bi!!daíig.içc;oiilleaa. Assim, a Revolução Francesa também fez época

em Goethe, ainda que não no sentido positivo como em Kant e Hegel. Ele escreve a Jacobi

em 3 de março

de 1790:

" (2zír .z .Rez,a/zífáo /;h

cef z

também foi uma revolução para mim, isso vocêpode ima©n.zr:' ç,ama anota posteriormente

/lrlgira],

nos seus Cozer/zos mo IÉo/c /cai [.A4or7óoZaK/ícóe/z

teria precisado de muitos

anos "para Superar em" sua '.poesi

o mais terrível de todos os acontecimentos, suas causas e consequências. A dependência desse tema sem $M'

\exl « onsumido" sua "veia poética

gz/aiegz/r i/za///me zfe". E verdade que a revolução desempenha um papel importante em quase todos os seus trabalhos dos anos de 1790,

que essaexplosão do político tem como consequência. As questões sobre

em parte como tema expresso

o sentido das coisas, antes atribuídas à religião, são então direcionadas

Bürgergeneral ou A alba

para a política. Um surto de secularizaçãotransforma as "derradeiras" questõesem questõessociopolíticas: liberdade, igualdade, fraternidade sãosoluçõespolíticas que mal podem negar sua origem religiosa.

Dorotbea \Hermann

36

anos são publicados

natural

como em Nerz,orai [.4ztáxerg/en], \NatürLicben

como pano de fundo e horizonte problemático anal)orotbea\

Tocbterq --,

em parte

como em /berma/z e

au em Conversas de exilados alemães

tUnterbaLtungen deutscber AusgewlzndertenÀ. 37

r'

LIVRO PRIMEIRO e O ROMANTISMO

O que, na revolução, é tão terrível para Goethe? Ele não se fixa nos interesses e opiniões dos nobres e da classemais

massa, os .paKromi, os saques nas regiões ocupadas. "0 gz/e e fenóo 2e suportar?IA massa tem de atacar, l então eLaé respeitável, l eLúsó consegue yz/@ar m/sfxnz,e/mrnfe." Lá, onde a revolução não cortava as cabeças, seu

abastada;também nota a injustiça e a exploração. Alguns anos antes da galhos de rosas e sugavam até.Êcar bem gordinhas e perdes,então asjormigas

poder pelo menos era suficiente para confundi-las. Goethe considerava a politização pública como fatídica. Denominava-a um estímulo geral

uêm e lhes sugam o sumo$1nado dos corpos. Desse modo, tudo uai adiattte, e

para conversas políticas sem fundamento.

nós chegamosao ponto em que aquele que está por cima, num dia, come mais

náveis falaçóes e debates sobre acontecimentos que nenhum daqueles

da gaze,pa2rr/a caZ'er rm .z©Kém gz/r efü m,zíi aóaüa" (17 de abril de 1782)-

que tomavam a palavra nos jornais ou nas mesaspodia influenciar; e se

Ao rejeitar a revolução, ele não seEmautomaticamente um defensordo

irritava com o absoluto desconhecimentoda realidadepolítica alemã

/

revolta, escreveu a Knebel: " WocésaZ'e,gm.z 2o oi.pz/@óeieifáo aZl#a2ai Of

,4mr/en R«ime. A Jacobi escreve, sobre a Campanha na França em 1792,

que " não estdlia minimamente interessado nem pela morte dos pecadores

h

CAPÍTULO ll

a jS/ocxaf'zJ nem pela Zoi pera2aref democxafm"(18 de agosto de 1792). Paraele,o mais terrível não é o fato de que sepõe em questãoas proprieda-

Sofria por causa das intermi-

entre os simpatizantes da revolução. Todos os jornais políticos Ihe eram abjetos. Sobre a campanha na França, escreve: "//Z/k#zme fe oijarn.z/s chegam a toda parte; elessãoagora meus inimigos mais perigosos"Ç\8 de

agostode 1792). Sente-seultrajado com a desonestidadedos que criti-

des antigas e possivelmente ganhas com injustiça e exploração. Isso se deixa

cavam a nobreza, que não queriam admitir, como por exemplo Herder

justificar. O pior é que se trata aqui de uma explosãovulcânicado social e

ou Wieland, que elesmesmosse aproveitavam do domínio dos nobres.

do político. Não é por acaso que ele, nos meses que se sucedem à revolução,

oposição ao nerunismo, à teoria da mudança gradual da superfície terrestre

A rejeição de Goethe à revolução é expressãoda convicção de que uma politização generalizada no começo da era das massasteria por consequênciauma confusão fundamental na percepçãodo que está

através dos oceanos. O gradual o atraía, o súbito e violento o fazia recuar,

próximo

tanto na natureza quanto na sociedade. Ele se ligava às mudanças, não às

dimdo de WiLbelm Meister \Witbetm Meisters LebrjahrenÜ," nasceu para

rupturas. Era um amigo da evolução, não da revolução. Mas não era apenas o aspecto da força que o assustava.Para ele, era

uma situação Limitada', eLeestáapto a perceberdeterminados fins, simples e próximos, e seacostuma a usar os meios que Lbeestãoa mão; tão logo ek,

sinistra a ideia de que as massassão manipuláveis, porque elas foram

porém, chegaà amplidão, não sabe nem o que quer nem o que deuefazer, e nisso tanto fttz se é distraído pelo número de ob3etosou se é movido para fora de si pela altivez e soberania dos mesmos.É sempreazar seu, quando

se ocupa do Genâmenodo vulcanismo -- que o deixava intranquilo -- em

arrastadas por homens da revolução

como chamava os demagogos

e doutrinários para uma esferaque não conheciam. A política tem a ver com assuntos da sociedade como um todo. Isso pressupõe uma maneira de pensar que não persegue apenasos próprios interesses,mas assumeresponsabilidade pelo bem de todos. O homem comum, porém, segundo Goethe, não pode chegar a essapercepção, e por isso ele se

torna uma massamanipulável para os agitadores.A politização geral

e do longínquo.

" O íer Az/ma a'', escreve em Oi /z/zosZe abre/z-

é Levadoa desejavnaLgo com o qual não sepodeestabelecer eLoatravésde uma anuidade própria e regular. A paixão política, Goethe contrapõe a formação da própria personalidade graçasà limitação. Já que não podemos abraçar o todo e o que é longínquo nos dispersa, o indivíduo deve transformar-se assim em algo

favorece a mentira, o ser enganado e o engano de si próprio. A gente

inteiro --

quer dominar o todo e não domina nem a si mesma;quer melhorar a so-

crianças (h terra ISeja apenas a personalidade ÇDiuã do Oriente e Ocidente

essa é a sua máxima, e por isso é que '% m /arJ?//c/faze

dai

ciedade e se nega a começar consigo mesma. A razão sucumbe no êxtase

[ Wêíf-ãf#róer Z)iz,an])". Nesse ideal da persona]idade quase acirrado há

das massase a explosão de instintos inferiores é favorecida. Exibem-no

o terror de Estado, que sacodea França em 1793, as execuçõesem

também aquela ignorância glamorosa em função da vida que Nietzsche elogiou em Goethe e que Eazparte da sua força de criação prometeica.

38

39

LIVRO PRIMEIRO © O ROMAN'TISMO

CAPÍTULO ll

Uma força de criação que advémda fórmula de vida: transformar-se no mundo e torna-lo propriedade atravésdisso, massó absorvertanto quanto se pode transformar. Disso resulta que a gente tem de deixar

seus \tala\hos, " extremamente simples, agradáliel c07ifortável e constante' \

de lado, sem escrúpulos,

seuobjetivo principal seriao de realizar"a/gaiem //nporz2 r/a Zemodo

"agw//o gzzí' náo .pode ier óem .zii/m/fado

[dai

"zz#fz,/wf /o.poZfico". Este último Ihe parece corresponder ao entusiasmo

revolucionário no mundo político. Ele escreveque Goethe seria,em

UaóeÉómm//cól". O mundo e a vida de Goethe permaneceram vastos

completo, dar-Lbe o mais])effeito polimento e confoTtabiLidade, em uez de

o suficiente, apesar dos seus gestos de recusa e limitação.

captar um mundo efttzer algo que se pode prever queftcará inctcabado...

Embora Goethe não possa libertar-se completamente das influências

da era política -- ele até compra para August, seu filho, uma guilhotina de brinquedo , estáinteiramente decidido a buscar sua fuga do turbilhão nas observações tranquilas dos seus estudos sobre a natureza. Em I' de junho de 1791, escrevea Jacobi sobre a sua ocupação com a óptica e a teoria das cores: "Neiir / rer/m, me zz/í?#Ão z&/zr/.zme/zfe zz

Começar um novo mundo, seja na poesia ou na filosofia, nada mais significa para Novalis do que deixar o impulso revolucionário agir no mundo do espírito. Tomado por semelhante atmosfera revolucionária,

mr/z/e." No final, isso não ocorreu. Ele não quis se separar da arte e da

escreveem agosto de 1794 a Friedrich Schlegel: "Êroyeem Zla áo ie tem mesmode esbanjar com o título 'sonho' coisasse realizam que bá dez anos ainda eram coMPRadasao asilo da $1,oso$a" Mais ou menos na mesma época em que Goethe escolhe a literatura como salvaçãocontra a revolução e os românticos ainda a celebram com

literatura; formavam-lhe, ao lado da pesquisada natureza,o segundo

entusiasmo, Schiller sente-sepor ela coagido a criar uma teoria estética

fundamento

moderna. Ele se transforma no iniciador das subsequentestentativas românticasde incluir a revolução no mundo âlosófico-literário, não apenascomo tema, mas também como princípio produtivo. Em outras

essasciências, e percebo bem que elas, no futuro, me ocuparão exclusiua-

contra

o espírito

tumultuado

do seu tempo.

'yi 'z/egrZ'zf

estéticas nos conservam em pé, enquanto quase todo mundo sucumbe üo

peizzr.po#r/c", escrevecom provocadoraironia ao componista e editor de jornais Reichardt, que era de orientação jacobina. A um conhecido

palavras: a teoria schilleriana do jogo, de 1794, é o prelúdio da revolução

que morava em Trier, ocupada pelos franceses, sugere: "M3f.prof/i'zmai mais do que nunca daquela modelação e calmct do es])frito pela qual só podemosaZw2ecez" àí mai.zí." Quando retoma o trabalho no seu romance

literária romântica em torno de 1800.

Oi zz#oiZe abre Zlzzzdo2e WZBe/mMe/i/er, que havia ficado de lado, escrevea Knebel em 7 de dezembro de 1793: "agora erro po/zZeza Zo

dos assassinatos do mês de setembro de 1792

e decidindo com o que quero começar no üno que uem; a gentetem de se agarrarfortemente a ctLgo.Eu acho que seta meu contigoromance.

executado

Apesar dos seus elogios a Goethe, os românticos, todavia, nem sempre Ihe permitiram excluir-se da história revolucionária. Quando Friedrich Schlegel,no famoso fragmento da revista.4fóen2z/m,colocou o W7üe/mMe/irei de Goethe e a cultura da ciência de Fichte paralelos

segundo Schiller, havia sido provado suficientemente pelos excessosda

Schiller também tinha, inicialmente, abraçado a revolução, mas en-

tão sentiu-serepelido pelo modo como estase desenrolou.Pouco antes quando quase duas

mil pessoasforam abatidas pela plebe parisiense, depois de o rei ter sido , ele havia começado a conceber uma terapia estética que

deveria ajudar a tornar as pessoas aptas à liberdade. (2ue elas não o são, revolução: "/nir/

/ai iem &/ e Z'rzz/oi" teriam sido liberados "z:lepaZrda dis-

sipação da ordem social" , e se \etlam " apressado com ira incontrohuel

em

d2x?fáoà íz/.zizz i!#a úo ã/ziwzz/". Não eram, pois, homens livres que haviam

à Revolução Francesa e os entendeu como expressãode uma tendência

sido oprimidos pelo Estado.Não. Eram apenasanimaisselvagensque

revolucionária que máoera "óózrz/ZBe/ ze m z/arfa/", mas exatamente por

ele havia colocado em correntes curadoras. Como resposta à Revolução

isso bem mais eficaz, Novalis não quis Ihe dar razão. Na opinião dele,

Francesa, Schiller faz a ousada tentativa de superar a trança revolucionária

o quietismo

uma falta de poesia em W:ZBfZm

com uma revoluçãoalternativa,uma revoluçãodo espírito. Somenteo

.A4e/s/er. Ele denomina a obra um romance.praia/cae sente falta do

jogo das artes, para ele, poderia verdadeiramente tornar o homem livre.

40

41

de Goethe

teria gerado

LIVRO PRIMEIRO

r'

+ O ROMAN'TISMO

Em primeiro lugar interiormente, e mais tarde -- quando a situação na

Alemanha tivesseamadurecido-- também exteriormente. Ele colocava grandeesperançano efeito libertador da arte e da literatura. A primeira geraçãodos românticos irá seapoiar nessavalorizaçãoímpar do estético. Schiller denomina a Revolução Francesa um momí?nfa.Pwf!#'roque aconteceu a uma rara / ?#yrf//.Infértil porque não era livre por dentro. Mas o que significa ser livre por dentro? Não devemos ser dependentes dos desejos;não importa se os perseguimos de maneira crua e primitiva

ou com o refinamento da civilização. De qualquer maneira, o homem permanecesob o comando da natureza, sem poder controlar a si próprio.

CAPITULO ll

certamente dizer -- e Schiller o faz os sentimentos.

que a bela arte educa e aprimora

Essa seria a sua contribuição

à civilização.

Mas ele não

sc dá por satisfeito com isso. O mundo estético não é apenasum campo de exercício para o refinamento e enobrecimento dos sentimentos, mas

o lugar onde o homem se torna explicitamente aquilo que ele sempre é implicitamente:

um pomo /zz2emi.

E apenasna décima quinta das suas cartas, Saórr a e#ac.zf.íaef/éf/ra do homem \tJber die àstbetiscbeErziebungdes MenscbenA, que se encontra aquela frase na qual culmina o teor desse tratado, e da qual tudo advém

que é importante para Schiller em relação ao belo na arte. Trata-se de

Mas não vivemos nós numa era do Iluminismo e da ciência, num pe'

uma tese cultural e antropológica

ríodo do florescimento do espírito livre e pesquisador?Não, diz Schiller,

preensãoda cultura em geral e do moderno em especial;uma tesecom a qual Schiller justinlca bem sua exigência de curar a doença da cultura pela educação estética. Essafamosa tese é: "vaza 22zé-Zode z/m.zz'expor

não se deve superestimar as anuaisconquistas. O Iluminismo e a ciência

se mostraram apenascomo uma cultura teórica, uma coisa externa para Z'árZ'aros .por2emfra.A razão pública ainda não tocou o âmago da pessoa,nem o transformou. O que deveser feito? O único caminho para a libertação do homem interior não é a luta política pela liberdade

exterior? SÓse aprende a liberdade quando se luta politicamente por ela. E isso pelo menos que Fichte e outros amigos da liberdade vão opor contra Schiller, que rejeita o conceito do Zearn/ngóy 2o/ng, como se diria hoje em dia. Seu argumento é: quando se enfraquece ou até mesmo se desfaz muito cedo a garra autoritária do Estado (do Estado natural) por meio da luta política,

as consequências inevitáveis são

a .zn.zrgz/Z/z e a multiplicada violência e arbitrariedadedos egoísmos: A sociedadelivre, em uezde projetar-seem direção à vida orgânica, tomba

com vastas consequências para a com-

tocha, o ser humano brinca apenas onde eLecorresponde plenamente ao conceito do ser humano, e eLeéapencts compktamente humano quando brincam'

Que jogos?Naturalmente que para ele sãoprimordialmente osjogos da bela literatura e da arte. Mas insinua que nisso toda a civilização está em jogo porque ela mesma também é um jogo, isto é, uma instituição que transforma um número possivelmente grande de casossérios em açõeslúdicas que os substituem, ou pelo menos possibilitam um trato distanciado com eles. Schiller é um dos primeiros a mostrar que o caminho da naturezapara a cultura passapelo jogo e isso significa rituais, tabus, simbolizaçóes. A seriedade dos instintos sexualidade, agressão,concorrência e inimizade

e os medos da morte e da doença

2e z,o/íaao e/eme f.zr.Tem-sede, no lugar disso,abrir ao homem um

e do declínio perdem algo da sua força subjugadora e limitadora da

campo de exercício da liberdade; tem-se de -- enquanto o Estado natural ainda persisteem garantir a exZsfê zf! J's/ca do homem criar os fundamentos espirituais sobre os quais se pode criar futuramente o Estadolivre. Não se pode primeiro destruir o mec'z/zlimo do Estado e

liberdade. Assim, a sexualidade é sublimada como jogo do erotismo, com o que ela para de ser apenasanimal e se torna verdadeiramente humana.

em seguidaquerer inventar um novo; tem-se, pelo contrário, de trocar a roda enquanto em movimento. Mas por que essatroca da roda em movimento essarevolução na maneira de pensar poderia ser gerada exatamente pela arte e pelo

o gozo, sentir o sentimento, amar a paixão; ser ao mesmo tempo açor e

nato cam e]a] Porque é através dct beleza que se chega à Liberdade. Pode-se

proliferação.O erotismo, porém, abre todo um mundo de significados.

42

43

A isso pertencem então os disfarces, artimanhas, o adorno e as ironias

no jogo, através dos quais ocorre aquela magnífica duplicação: gozar espectador.Tal jogo é que permite a intensificação refinada, enquanto o desejo se apaga na satisfação e com isso se direciona funestamente ao ponto morto: naif ca/fz m am/ze a z/m / fr/s/f. A sexualidade é desejo e

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMANTISMO

CAPÍTULO ll

O jogo abre espaçoslivres. Isso também vale para a violência. A cultura tem de contar com ela e com ela "jogar", por exemplo na competição ritualizada, na concorrência, nasdisputas de oradores. O universo simbólico da cultura ofereceum alívio no que concerne aoscasossériosde morte e extermínio mútuo. Ele torna a vida dos homensem comunidade essesanimais perigosos-- vivível. A máxima da cultura é: onde existia seriedade, deve haver jogo.

Evidentemente teremos de continuar com nossos negócios seriamente, atando relações e cuidando delas, arcando com nossas tarefas.

Mas tudo dependede estabelecermos um espaçolúdico em relaçãoaos instintos e abetosque nos dominam.

1:

Disso também faz parte a independência em relação a merasconsi-

A arte é, pois, em primeiro lugar jogo, em segundoautonomia e, em terceiro, ela compensaaquilo que Schiller analisacomo a deformação específica da sociedade burguesa: o sistema de distribuição de

empregos.Hõlderlin, Hegel e mais tarde Marx, Max Weber e Georg Simmel vão recorrer à sua análise. Não há nenhuma perspectivasobre a sociedade naquele tempo que tenha tido um impacto maior do que a dele. A sociedade moderna, escreve, fez progressos na área da técnica, da ciência e do artesanato em consequência da divisão de trabalho e da especialização.Na mesma proporção em que torna-se mais abastada e complexacomo um todo, ela deixa que o indivíduo empobreçaem relaçãoao desenvolvimento dos seustalentos e corças.Na medida em que o todo se mostra como uma totalidade rica, o indivíduo deixa de ser

derações sobre a utilidade das coisas. A sociedade burguesa, diz Schiller,

aquilo que ele, de acordo com um pressupostoidealistada Antigui-

vive mais do que nunca sob o imperativo da utilidade. Ele a descreve como um sistemafechado da racionalidadedo útil e da razãoinstru-

dade, deveria ser: uma pessoa como pequena totalidade. Em vez disso, encontram-se entre os homens de hoje apenas#nWrnfof, o que Eazcom

mental, como uma máquina social, quase como aquele /nz,ó/zlco 2e afo

que se" tenha de perguntar de indivíduo a irai {duo, para reconbeceT a faf.z#2a2r Za rara". Cada um conhece apenas seu ofício especial, seja

tal qual Max Weber a descreveracem anos mais tarde. ".4 z/fi#daZT' esçtene Sd\lN.et, "é o lande Ídolo da época, a quem todas asforças devem

eleum ofício materialou espiritual. A política também transformou-se

alimentar e todos os talentos devem boné.zr.Sobre essagrande balança, o

num ser mzzgzz/á Zode especialistasdo poder; ela não estámais arraigada

gctnboespiritual da arte não tem pesonenhum, e, roubada de toda motivação, eLedesaparecediante do mercadobarulhento do século". Com a ajuda da arte pode-seaprender que as coisasmais importantes da vida -- o amor, a amizade, a religião e mesmo também a arte -- têm a sua utilidade em si mesmas,que elasem si não fazem sentido porque fiincionalmente estãoa serviço de alguma outra coisa. O amor quer o amor, a

no mundo da vida, nem é expressãoorgânica do poder concentrado de tn&tnq.&nas'." O prazerfoi separado do trabalho, ofim do meio, o esforço da

recompensa Eternamente preso a um único pequeno Pigmento do todo, o homem seforma apenas como $'aguento.

Ouvindo eternamente o barulho

da roda quepõe em movimento, el,ejamais desenvolvea harmonia do seu ser, e em 'uez de im])Tinir

humanidade

à sua natureza, eLeê apenas uma

amizadequer a amizadee a arte, a arte; outros 6lnssão realizadosparalela-

capta clo seu negocio.

mente, é lógico, mas isso não deve ser intencional. Uma amizade calculada não é uma amizade, e uma arte em função da utilidade social também não

Mas, em oposição aos sonhos de Rousseau sobre um passadomelhor, Schiller insiste que "Por me af gz/eo /nz&z,Z2zzo paiizz iemz/r-ie Z'em

é arte. A arte é, como todo jogo, autónoma. Ela tem regras, mas as dá a si mesma. SÓpode condescendernos casossérios, quando se leva a sério. Contrariamente à utilidade geralmente reconhecida, ela tem dentro de si seu próprio âm; é pois estática, como, por exemplo, a religião, à qual se deixa de conhecer nó momento em que se a limita fiincionalmente a um

sob esseesmigaLbamento do seu ser, a raça não teria podido fazer progressos

papel social. SÓquando a arte -- assim como a religião -- quer a si própria

no todo social a riqueza das forças humanas e para perdê-la na grande

pode acontecer que ela, de certa forma involuntariamente, sirva à sociedade.

massa dos indivíduos. Nessa análise, Hõlderlin

44

2r ozzfza#orm.z".Para desenvolver a inclinação da raça como um todo,

não havia aparentementenenhum outro meio senãoo de dividir os indivíduos

e mesmo opâ-los

uns aos outros.

Ele denomina

o "azzzago-

nismo dasjorça?' como o " grande instrumento da cultura" , para real a

45

encontrará a chave para

LlyRO PRIMEIRO e O ROMANTISMO

a compreensão da sua dor em relação ao presente. Em J71p/r/on, oz/ O eremita na Grécia \HyperionÜ \erros: " Vocêuê operários, mas nenhum

CAPÍTULO III

ser humano; pensadores, mas nenhum ser humano [...] isso não ê como o

campo de batalha, onde mãos e braços e todos osmembros estão misturados

O século com nódoa de tinta. Despedida da sensateziluminada

uns aos teatros, enquanto o sangue vital escorre na areia[. . .] Mas isso seria

Do esquisito ao extraordinário. Friedrich Schlegel e a carreira da

supovtáuel, nã,o tivessem os homens que ser insensíveis em relação a toda a

ironia. O belo caos. A hora dos ditadores críticos. Transformaro

belezada lindaF...l

mundo numa obra de arte.

O esmigalhamento e a mutilação explicam para Schiller porque, na

França,o Iluminismo tenha se tornado pura ideologia como cultura teórica, e que finalmente até se mostre como vemos no exemplo de Robespierre -- o terror da razão, indo não apenas contra as antigas instituições, mas também contra a crença no coração dos homens. \

Ojogo da arte deve quando não superar pelo menos compensar essalesão cancerígena na sociedade trabalhista que torna o homem um#nWen/a, uma mera cóp/.z2o iez/ qóc/a. O jogo da arte estimula o homem a jogar com todas as suasforças -- com a razão, o sentimento, a imaginação, a memória e a expectativa. Essejogo livre liberta o indivíduo das limitações oriundas da divisão do trabalho. Permite a ele, que

sofre por causado esmigalhamento, tornar-se algo inteiro, uma totalidade menor, ainda que apenasno momento de tempo pré-estabelecido e na área limitada da arte. No prazer do belo, ele experimenta o gosto de

uma plenitude que, tanto na vida prática quanto no mundo histórico, ainda estão por vir.

Schiller esperavapois muito da educaçãoestética,e gerou uma até então desconhecidavalorização da arte e da literatura. A nova consciência da autonomia artística, o estímulo para o grande jogo e para a sublime inutilidade, a promessade uma totalidade menor -- tudo isso deu energiaao Romantismo,cuja primeira geraçãotem então sua estreia.

No início dos anos de 1780, Schiller denomina seu tempo como o J/c Zocam ÓZoz Zr r/ /.z.Vinte anos mais tarde, quando surge a geraçãoromântica, tal diagnóstico ainda não se alterou em nada. Pelo contrário: lê-see escreve-se mais do que nunca.A valorizaçãoda literatura, seu significado para a vida, aumenta sensivelmente mais uma vez.

O surgimento do Romantismo estámarcado por essaerade ávidos pela leitura e escritores ferrenhos.

Nos círculos burguesese pequeno-burgueses,a leitura intensiva torna-se quaseepidêmica no final do século XVIII. Pedagogose críticos

da cultura começama reclamar a respeito. O que aconteceno leitor dificilmente pode ser controlado -- há excitação,fantasia escondida. A mulher lendo sobre o sofá,a engolir romances, náo estáseatirando a excessossecretos?E os ginasianos leitores, não estão eles fazendo parte de aventuras comas quais seuseducadores nem sonham? Entre 1750 e

1800 dobra o número de pessoascapazesde ler. Mais ou menos 25% da populaçãopertence,no final do século,ao público potencialmenteleitor. Lentamente, realiza-seuma transformação nos hábitos de leitura: não se lê um mesmo livro várias vezes, mas sim vários livros de uma vez. Dissipa-se

a autoridade dos grandes e importantes livros que eram repetidamente estudados -- a Bíblia, escritos de edinlcação religiosa, calendários; exige-

-seuma maior massade material de leitura, livros que não coram criados

para seremlidos, mas devorados.Entre 1790 e 1800 aparecem2.500 romancesno mercado,tantosquanto o total nos noventaanosanteriores. A procura crescente quer ser atendida. O público aprende a arte de ler depressa.Sem tranquilidade não pode naturalmente haver uma vida

com leitura. No romanceZzzc/nZe, de Friedrich Schlegel,canta-senão 46

47

CAPITULO lll

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO

vida à pureza e ao jl2biLo; os beatoste respiram, e be.ztoé quem te tem e te

um centro urbano importante para a vida em comunidade favoreceuo isolamento, e com isso a vontade de estar em companhia imaginária no

cuich, tu, jóia sagraíhl ünicofagmento

de semelhança divina que nos restou

livro, ou a vontadeda companhia real por meio do livro. A .Nemanhanão

dop/zxuáo." Felizmente, naquela época não fitava preguiça na sociedade burguesa. E, se faltava, alongavam-seas horas de leitura durante a noite.

possuía nenhum poder político que incitasse a fantasia, nenhuma cidade

por acaso a canção da preguiça. " OÓ pregzóifa, preKZ//fzz.r /# á a ar gwe zZZ

ascoisassepassavamnuma família de leitores ávidos por volta de 1800:

grandecom seussegredoslabirínticos, nenhuma colónia que alimentasse a percepçãoda distância e a aventura no mundo mais longínquo. Tudo estavafragmentado, estreito e pequeno.Quando Hamann visitavaKant, issojá podia significar um encontro entre o Iluminismo e o Sfz/rmz//zd

depoisdo caR, o conde lia um capítulo da Bíblia e uma dascançõesde Klopstock. Ela então lia silenciosamente a revista Spería2or. Depois, a condessalia uma hora inteira Po z/Z i P/Zafz/í,de Lavater, em voz alta.

Z)za/{$ e em lena, uma geraçãomais tarde, as sedesdo Romantismo e do Classicismoestavamlocalizadasa um passouma da outra. Normalmente, o público alemão experimentava apenasa.pof/er/ori e atravésdo

Até a hora do almoço, cadaum lia para si. Parasobremesa,tinha-se uma leitura de Opózznáa.perdida, de Milton. Então, o conde lia asdescrições da vida de Plutarco, e, depois do chá, liam-se as passagenspreferidas de

substituto da literatura tudo de excepcionalque os navegadoresingleses e descobridores, os pioneiros americanos e os matadores da Revolução Francesa realizaram. Numa carta a Merck, Goethe constata de maneira

Klopstock. A noite escreviam-secartasque eram lidas eW voz alta na

b\exe que" o pÚbLico decente conhece tudo que é excepcionaLapenas atraliés

Não apenaso Iluminismo, também a sedede leitura exige melhor luz. A dama de companhia do conde Friedrich Stolberg descrevecomo

l

1.

produzir para quem lê rapidamente. Schiller, quando escreveuseu romance em série O z,idem/e[Z)rr Ge/srerxeóer] , também exercitara-se nisso. Sobre

doi rama cei" (l l de outubro de 1780). (quem muito lê, chegafácil à ideia de também escrever.Amigos trocam cartase as levam logo depois para o editor. Quem alcançou honra e dinheiro ou mesmo nenhum dos dois escreve,quando os anos chegam,suas memórias. Goethe suspirou a respeito desseprocesso

Auguste La6ontaine, que deixou bem mais que cem romances, dizia-se que

no W7/Be/m Meisfer,

escreviamais rápido do que lia; assim,náo poderia ter lido seuspróprios

[Sfózz/meiifer/e/

romances. Críticos profissionais -- deles faziam parte a princípio também

oslíderesdo movimento romântico -- ficavam desesperados diante dessa

beiras,.e já que não tem muito dinheiro, escreveos romanceslá anunciados ele mesmo. Com isso, aos poucos chega à opinião de que os seus

inundação de romances. "Z)r/zfre oi z,árias rom'z/zce ", escreve Friedrich

livros seriam os verdadeiros originais. Quando, então rico, conhece os

ScK\ege\ em \7')7, " que a çadafeira acrescemnossosregistros & Livros, con-

verdadeiros

manhã seguinte, antes de serem enviadas. Nas horas livres do dia, liam-

seromancescontemporâneos

o que é mencionado de modo tímido.

Os que leem muito evocam os que escrevem muito, autores que sabem

cluem em su.z maioria seu círculo & existência inexpressiva cle modo tão veloz --

refluindo-se ao esquecimento e à sujeira de Livros velhos nas bibliotecas

presenciais--

que o crítico cie arte tem de estar sem bacilo em seu encalço, se

não quer passarpelo dissabor& aplicar seujulgamento a uma obr'z que na ue/zZade /zem m,zlí exlsfe." Será uma questão de honra para os românticos que suasobras ainda existam, quando todas as outras já tiverem desapa-

Jean Paul o parodiou

\Wa/z] . Wutz

originais,

toma-os

recebe

no seu -Prc@iiorz/nÁo

regularmen

por reimpressóes

W%zz

te os catálogos

das

Essas.

A leitura intensificada eazcom que a vida e a leitura se aproximem. Naquilo que leem, aspessoasprocuram pela biografia do autor

que de

repente se torna interessante ou, se não o é, procura fazer-se. Os Schlegel

eram mestresem fazer-seinteressantes.Suashistórias de amor eram tema de conversas na cidade de lena. As pessoas procuravam pela vida por trás da literatura e, de maneira contrária, estavam fascinadas pela perspectiva

empresa de livros e jornais florescesse tão bem na Alemanha. A falta de

que a literatura podia formar da vida. Procurava-seviver aquilo que se havia lido. Vestia-seo fraque de Werther ou girava-se os olhos como Kart Moor. Apostava-seem experiênciasde acordo com o roteiro literário,

48

49

recido há muito tempo-

As condições sociopolíticas e geográficasespeciaisdeixaram que a

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO

CAPÍTULO lll

onde os papéis estavamdesignados,a atmosfera definida e as açóes pré-fixadas. Naquela época a literatura, um meio ainda relativamente novo, irradiava uma força fascinante que teatralizava a vida. Aquilo que era bom para a grande literatura só podia ser aceitável para a chamada

sob nova luz ou precipícios se abrem. Se queremos contaminar a vida com poesia, é melhor usar a técnica romântica do estranhamento, descrita

literatura de divertimento, os romancesde família de Lafontaine, as

asse.mpat TI.eck\ " Nós deveríamos apenas uma uez tentar tornar estranho

estórias de ladrões do cunhado de Goethe, Vulpius, e aos romances sobre

o comum, e$caríamos surpresosde constatar quãopró)cimode nós estãoal-

confrarias de alguém como Karl Grosse,um dos autores preferidos do início do Romantismo. Em ambosos níveiseraclaro o desejode uma

gumas aprendimgens, algumas surpresas que buscamos num Longínquo que

intensiva experiência de si mesmo; exigia-se vividez da vida, e, quando as

pés, nós deixamos de uê-Loporque nossotelescópio o esconde:' \.et e escxenet

circunstâncias externas iam contra essaexpectativa, a identificação com

prometem, pois, a aventura próxima, a pequena revolução. É claro que

modelos literários tinha de extrair momentos significativos do manancial

se desejauma vida melhor; pelo menos uma vida a mais; uma vida que prometa outras surpresase segredosdo que os comuns. O segredoem si: ele, nessaépoca dominada pela literatura, estava em alta. A luz do Iluminismo perdeu o brilho. Ela, de qualquer maneira, não havia chegado àscamadas mais simples, e nos círculos aristocráticos

da vida que definhava diante dos rituais cotidianos. As pessoasqueriam valorizar suasvidas, dar-lhes uma densidade, uma dramaticidade e uma t.

(quem lê e escreveespeculasobre uma revolução pessoal,uma revolução em consequência da qual ou as coisas comuns da nossa vida surgem

atmosfera, usando a literatura como espelho. Assim, o leitor -- que buscava

suavida a se esvair no cotidiano -- experimentava o prazer de si próprio. ".NÓííamoilr/roi

de /Zfexufz/m", reclamou o jovem Tieck, e também Clemens

Brentano ouviu o papel a sussurrar: ".Eb recc}/záefa cazázuez naif gz/r am grande número chs nossasaçõesé determinado pelos romances, e que especial' mente as mulheres, no$naLcta,s suas uichs, naco maisforam do que uma cópia dos personagensdos romances que Lheseram oferecias nas bibliotecas locais"

nos cansa. C) fantástico das utopias estáfrequentemente pertinho dos nossos

brincava-se com a razãoe se praticava um oráculo no qual se empregava uma mesa de três pés. No final do século, o estranho, o autossuficiente,

podia de novo apatçcercomo o fantástico. Os curandeiros,que antes haviam sido presos nas morÉóoz/sefí,reaparecem. As pessoasse juntam mais uma vez nas cidades para ouvir os profetas que falam sobre o fim

Esse trânsito intenso entre a literatura e a vida, a tendência a libe-

do mundo ou a volta do Messias.Gaígner,um aiorcista, atua na Saxânia

ralizar a vida, pode ter sido aquilo que motivou Tieck naquela época a traduzir o .Pom QzzZxofe, pois o tema do romance é, como se sabe, a

e na Turíngia; em Leipzig, o hoteleiro Schrepferfica famoso por algum tempo como evocadordos mortos. O clima geral se transforma, as pessoasvoltam a gostar do misterioso; a crençana transparênciae

repressão das experiências reais em prol das experiências literárias. Poder-

-se-ia ler o romance como uma epopeia sobre o perigoso imperialismo

da literatura, que subjuga a vida. O poder da liberalizaçãomostra-se até mesmo na política. Os atores dos grandesacontecimentos revolucionários

apresentam-se

a si mesmos

e ao público

culto

como

amores

em papéisque já se conhecia da literatura antiga.,A formação clássica favorece uma .experiência de z]/rgáz,z/de caráter próprio. César, Cícero

e Brutus reaparecem com vestimenta histórica. Bi:utus, por exemplo,

é representadoagora por uma mulher na banheira: Charlotte Corday (a suavefanática da Normandia) que, em 1793, apunhalou Marat que gostava.de imitar Graco. Klopstock, Wieland e outros relatam o fato: um tiranicídio como se lê nos livros. 50

possibilidade de prever o mundo diminuíra. O Iluminismo pragmático havia inscrito a possibilidade de ver o futuro e de planejar na sua bandeira. Os anos 1780 e 1790, porém, trazem crise económica e guerras. O primeiro ato da Revolução Francesaainda podia valer como um ato da razão o mundo estava "de r órfã.p.zxa óa/xa" (Hegel), o pensamento triunfava , mas as consequências tumultuadas e terroristas tinham de

ser tomadascomo um sinal de que a história da razãoplanejadora fugia ao controle e deixava aparecer nossa natureza escura mais do que nossa 6

Ou ,4róe/róa#i.Abrigos para pobres, mendigos e desampaFadosque sepretendia educar mediante

o trabalho.

[N.T.]

51

CAPÍTULO lll

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO

clara razão.Tudo isso abala a confiança no-pensamento esclarççido qi4ç simplifica

demais as coisas, o que significa que é incapaz de apreçnçlÊHa

profiindidade da vida e seulado noturno. Os românticos terão a ambição de preparar o pensamento e a imaginação para o monstruoso que há em nós e em torno de nós. Começa-sea duvidar que o progressotraga

secretas (BzózzZesroma/z); ele conta com horror bem dosado sobre misteriosas

sempreo melhor. Seráque não poderiaser o velho e o antiquíssimo? De qualquer maneira, ouve-sémelhor as vozesdo passadoquando o

ao âmbito do trivial, mastiveram um potente irradiação na literatura de ponta. No 1y7ZBe/m ]Meifíer de Goethe há a sociedadesecretada torre; ZZM [Z7/an], de Jean Paul, Os z,Ü/ai Za coro [Z)/e Kra/zr7z ãcórr], de Achim

futuro radiante se escurece. Começa-se a gostar de novo do escuro que

1,. »

irmandades e suas façanhas. Nos anos 1780 e 1790 são publicados mais de duzentos

títulos

correspondentes;

pertenciam,

na maioria

dos casos,

vem de longe. A melancolia passadadas cançõespopulares exerceseu fascínio:" Uma ge.zdatombou na noite de primavera:

von Arnin, ou W7ZZlzzw Zoz/eZZ, de Tieck, são igualmente influenciados pela tradição dos romances sobre irmandades secretas.

Emergindo na cultura literária do final do século, a ânsia pelo secreto

iluminado e até se desesperam, sonhando com um estado de emergência

Essetipo de romance reflete um esquema estereotipado: uma pessoa inofensiva cai numa teia misteriosa; é perseguida;pessoasque parecem tudo saber sobre ela cruzam seu caminho; lentamente, percebe que caiu na rede de uma organizaçãoinvisível. É comum que uma bela mulher

que lhes permita deixar de lado algumas etapas e fazer logo a sua felicidade

seja usada como isca --

individual -- antes ainda que a razão triunfante garanta a felicidade da

o protagonista penetre a irmandade, talvez até os seus mais recônditos

humanidade. Aguardam-se mudanças surpreendentes,encontros que tra-

calabouços; ele vê lá faces brancas e buracos negros com luz bruxuleante.

e fascinante é sintoma de uma mudança de mentalidade que rechaça o espírito racionalista. Muitos duvidam do gradual crescimento do progresso

gam a grande felicidade. Os romances vivem disso. "Srm n.zdaiwsPe/ía6 f /Ze caj.z, gz/.z da Ze rzpr r

"

essa transforma-se na fórmula para a

criação de suspense. Especialmente E. T. A. Hoffmann saberá emprega-la

virtuosamente.O jovem Tieck, a caminho da escola,Eazpercursosmais longos para aumentar as chancesde encontrar coisasque levem ao imprevisível.Friedrich Schlegelpode gabar-seem 1792 de ter tido um tal encon\ta: " o destino me trouxe às mãos um jovem, que pode uir a ser tuü" If

surgimento de um género literário ao qual Schiller, com seu romancesobre o vidente, também pertence. É o gênero do romance sobre irmandades

,

conta a seu irmão em janeiro de 1792. O jovem, isto é, Novalis, também

acreditaque um milagre o teria levadopara o lado de Schlegel. O poder miraculoso do destino ata elos surpreendentes,deixa cair os

à ameaça junta-se o doce segredo. Pode ser que

Por vezesele é iniciado nos mistérios de uma sabedoriasecretaou de uma intenção escondida; conhece os líderes, mas jamais o maior deles. Quanto àquelesque permitem ser identificados, trata-se para seu pavor

muitas vezesde pessoasque ele conhece há muito tempo, mas que ele tinha visto até então sob outro ângulo. Nessashistórias há por vezes uma boa e uma má irmandade, e quando seconta que elasestãolutando uma contra a outra, então tudo se torna incompreensível; agentesduplos estão em toda parte, e quase não há mais quartos sem chão duplo ou armários sem portas secretas.Não se pode mais atravessar a rua sem ser interpelado por um emissário com rosto estreito e lábios finos.

homens, deixa-os galgar a alturas inimaginadas. Nessa atmosfera, charlatóes

O ponto de referência real de tais histórias é a atuação das irmandades

do tipo de Cagliostro -- que subiram miraculosamente graçasao destino

secretas dos jesuítas, dos maçons, dos iluminados e dos rosacruzes. As teo-

e aos próprios talentos --

transformam-se quase em figuras míticas. Eles

Gozemseu percurso como cometas; pode-se vê-los por alguns instantes no céu da sociedade.

rias de conspiração dentro das irmandades secretas foram e são até hoje a

mais e6etivaforma de filosofia da história para as massas.Acredita-se saber como a história fiinciona, onde seusmanipuladores estão,como ela é deita.

Fantasias sobre sociedades secretas e complâs secretos agitavam o pú-

Os teóricos de conspiração daquela época sabiam tudo sobre a Revolução

blico de tal maneira que nós hoje em dia -- sob a histeria do terrorismo e de teorias conspiradoras -- podemos bem imaginar. Essaatmosfera favorece o

Francesa.-- por exemplo, que ela era controlada a partir de Ingolstadt, pois lá, como se sabe, estavaa sede dos iluminados...

52

53

LIVRO PRIMEIRO © O ROMAN'TISMO

CAPÍTULO lll

A ânsia pelo segredo era uma força motriz tanto para aqueles que formavam alianças secretascomo para os que se deixavam intimidar por

elas.Quem quer que disso fizesseparte, estandode um lado ou de outro, comportava-se na planície da mesma maneira que Novalis, no cume da especulaçãodo espírito romântico, exige: ".4o 2ar /za gz/r é cam m m sentido eles.zdo,ao que é usual uma aparência misteriosa, ao conhecido a

racterizam de início o próprio

impulso iluminista

do culto secreto.

Mas, no final do século, o segredomuda então seu caráter. De início, a crença na razão era tão forte que se via o segredo apenas como um 'brilho" fascinante, atrás do qual no final das contas um mecanismo

livros, dominam perfeitamente a arte de dar "zlm.zap z#nc/a mZí/er/oióz 'zo

gz/r/ z/izzzz/"; por isso elessãolidos febrilmente pelageraçãodos românti-

esclarecimento do mistério. Gosta-se do segredo não apenasporque o

cos que se sente desligada da escola do racionalismo. Lia-se especialmente

Iluminismo pode mostrar nele o seu poder, mas também porque ele

o romance Ogé/z/o [Z)er Gen/zzi],de Karl Grosse (1791). O jovem Tieck o lê todo em voz alta para seusamigos e fica tão excitado que teme perder a razão. Precisa de uma semana para recuperar-se, e escreveentão seu

se opõe ao Iluminismo. O inexplicável não é mais apenas escândalo,

é que eu os romantizo. Os romances sobre irmandades secretas,que enchiam o mercado de

1.:

são puxados para o teatro de marionete da história. Tais imagens ca-

racionalmente explicável se escondia. O misterioso era uma categoria da ilusão, algo que ainda não havia sido desvendadoe, portanto, por enquanto ainda inquietante. N4 geraçãoromântica, todavia, o interesse pelo que é misterioso começa a ser maior do que pelo desencantador

nobreza do desconhecido, ao que pode perecer a aparência do itt$nito, assim

h;

um obscurantista. Somos levados às oficinas escondidas, onde os fios

romance W7#Zam Z,oz,e#, onde uma irmandade secretanaturalmente faz

mas encanto. ".H/gzlmai co/i'ziPcam .perzãdai m,z n'7//e", como se lê em

Eichendorff. Apenas num meio tão dominado pela literatura, onde a literatura e

dassuas.Com o jovem E. T. A. HofFmann acontecealgo semelhante.

a vida semisturam, onde o segredoatrai como um continente obscuro,

Depois da leitura, ele escreveno dia 19 de fevereiro de 1795 ao seu amigo

à beira do qual nos fixamos; onde nos prometemos muito do próprio

thç,pe\= " O irrompimento de inúmeras paixõesfez meu espírito cair n m'z

interior, que conhecemos apenas da superfície do usuário --

espécie de anestesiamento cansado [...] eu ui também o meu gênio [...]

nessecontexto fixado na literatura e em segredospromissores é que os audaciosos conceitos teóricos dos primeiros românticos se poderiam

Pouco depois ele começou seu primeiro romance, que não 6oi publicado. De todo o emaranhado de coincidênciasaparente?', \erros em Classe,

apenas

nctndo-o no escavo; e o$o que eLepensa tecer em despreocupada liber(hde,

ter desenvolvido.Essesjovens,primeiro em lena e então em Berlim, estãoinspirados por um espírito com o qual querem encantara si e aosoutros. E um espírito revolucionário.rSea situaçãoà esquerdado

foi tecidopor eLabá muito tempode antemão" h. mão invisível au Q$o

Reno se altera tão rápida e fundamentalmente, se o novo está no ar e

sefrefo dominam a imaginação de uma época que acaba de começar a

desponta uma máo inuisíliel que talvez paire sobrealgum de nós, domi-

"Se ÓZ zzm./2aZo Zeie7zz,o/z,imensa Zaf#orF'zi

cadadia traz surpresaspolíticas, por que então a literatura e a filosofia não deveriam partir para outros horizontes? Nos seusescritosdos anos

humanas auaués dosséculose tvansformüçõesnas mãosdo destino e seo olho

1790, Friedrich Schlegel utiliza o conceito da "revolução" de modo quase

.Ózzm.zmo .Faze .perceóé-/o

questão, cuja resposta considera a tarefa do século. Quem reconhece esse

inflacionário. Fala-sede uma rez,o/fz2ymora/, de uma rez,o/wfáa reza, de uma rez,azar.2o ri/éfjca, do /Zea#imocomo rez,a/wf.ü.Menciona-se a

fio não precisa mais ser repreendido como um analfabeto da filosofia

expectativa

da 'küst6t\a.l " Não uês tw, formiga, que apenas te arrastas na lande

fáa Z'e7z;gma. Não sepensaaqui naturalmente numa revolução política. As condições na Alemanha não estão propícias. Tão mais forte é o

pensar a 6ilosoGla da história.

gz/.z/ / eZeP"Assim é que Herder formula

a

roda

Za #aía#Za2e?' As irmandades secretase os respectivos romances dão uma aparência

plausível

ao Po da f\losofia

da história.

agora podemos agarra-la; ela é parte de um homem 54

A máa fnz,/s/z,e/,

com frequência

de que a atual .zm.zrgzl/a Zo espz'r/fa seja mãe de uma r?z,o/z/-

impulso a uma revolução do espírito. Seu princípio é o eu criador que despertou para uma autoconsciência ousada. A Revolução Francesa não 55

CAPITULO lll

LIVRO PRIMEIRO © O ROMAN'TISMO

mostrou que o sujeito é superior à objetividade rígida?Havia chegadoa

essavisãoentusiásticade uma união que a tudo abrangede "almaver-

hora, escreve o jovem Schelling

tigem dionisíaca, na qual não bá nenhum membro que não estejaobvio"

em 1 894, de encerrar "o az/fado eznPreen-

dimento da razão, tirando a llumanidade dospavoresdo mundo objetivo" Nesse ínterim, ele também havia chegado a lena e estabelecido o rz/ .absoluto coma fique\e " que jamais, de maneio.z nenhuma, pode se tornar

elas se desenvolveram.

objeto

O círculo de lena vai longe com seusexercíciosde alongamento.

Havia pouco, nas Cúríai Ei/ér/caí 1.,4ei/óe//scÃrm .Br/e$?m] , Schiller

Ele quer derrubar completamençç..M-paredesque separam a.literatura

descrevera bem a deformação da sociedade burguesa pela divisão de

da vida. Friedrich Schlegel e Novalis cunham para essaempreitada o conceito da ram/z/zf/zaf.2a. Toda e qualquer atividade da vida deve se templação peculiar e uma força de criação que tem -- do mesmo modo

trabalho. O homem, havia escrito, tornou-se um 'yaKmen/a", e tendo a»eras" ouvido eternclmenteo barulho da roda que expõe em movimento, jamzzZírealiza a ó/zrmo#/d da frz/ ser". O Romantismo se revolta contra a divisão de trabalho e suascausasdeformadoras.Wackenroder e Tieck

que o produto artístico no sentido estrito do termo -- seu "estilo

usam, na sua crítica à vida burguesa, a imagem schilleriana do andar

A arte lhes é, no geral, menos produto do que um acontecimento que

da roda que destrói o espírito.

pode ocorrer em toda parte, onde pessoasexecutamsuasatividades

um santo nu \Wunürbaren morgenliindiscben Miircben uon einem nackten

com energia criadora e impulso vital. Novalis está convencido de que

/le//2gz/z] lê-se sobre o protagonista que "eZeoz/z,/aiem reiizzr /zoJjrz/J oz/z,/Zof

carregarde significado poético, deve trazer à luz uma belezada con-

'tl

Como é que sedeve imaginar essagrande união vertiginosa? O que exatamenteos românticos tinham em mente com ela?Aproximamo-nos melhor dassuasideias quando ganhamosclarezasobre contra o que

No E# /ü//ro

co/zfo Ze$n2aj o /e/zza/soZ're

também neKóc/aipodem ser tratados poeticamente. A vida tem de ser

a roda do tempo tomar velocidade com zunido... o imenso medo que o cansada

infiltrada pela poesia. Friedrich Schlegelcria para isso o conceito da

sempredurante o trabalho, o impedia de uer ou ouvir quakuer coisa...

Na prosa da vida dividida pelo trabalho perdemosnormalmentea

poesia uniuersaLprog'essiua.

O famoso fragmento número 1 16 da.4fóe/zãz/m,onde esseconceito

audição e a visão e o espírito criativo atrofia-se

essaexperiência está

aparecepela primeira vez, condensatodo o programa do Romantismo

no começo da fantasia romântica da libertação. Eles querem retroceder

da primeira

a fragmentação da vida: primeiro em si mesmos e no círculo de amigos,

geração:

".4 /poesia ram,2nf/c/z",

lemos

ali, "é zzm/z .pães/'z

»niuersaLprogressiua. Suíz.FnaLidade náo é apenas a de teuni$car todos os

então, pelo exemplo, na vida em sociedade. E isso que Friedrich Schlegel

genevosde poesia queforam separados ç.dç.çgb.çgl.Q.2og$11a em contatQ cgm

quer dizer quando escreveque tudo dependeriade "zor/zarpo/f/rai .z

a$1oso$a e a retórica. ELa quer e deve misturar po'sia eprosa, geniaLidade

z//2a e sociedade". Mas em primeiro

: crítica, poesia da arte e poesiada natureza, deixando que seNndam; eLa quer tgwar a poesia t'ital e sociávele tornar cl sociedadepoética.

de trabalho no campo do espírito. Especialmente Friedrich Schlegel e Novalis praticam, ávidos pela leitura e escrevendofebrilmente, um universalismo que tenta abranger tudo que para a formação -- não para a educação promete ser interessante.Schlegel,a propósito, seráo primeiro a usar a expressão.é8Égzg$@zzgf como a que permite entender a q!!Hl!!!doma que tem em mente. Indiferentes à divisão tradicional das

Tudo deve ser interligado com o espírito da poesia;os limites da especialização devem ser superados -- não só a especialização na área da literatura, quando gêneros literários diversos são misturados; náo só a especialização entre as diversas atividades do espírito, quando Rllosofia, crítica e ciência se tornam elementos da própria poesia; o que

plano está a suspensão da divisão

disciplinas, os românticos agarram tudo que lhes parece interessante.

que mais tarde negaria o impulso romântico de sua juventude, chamará

Nascido em 1772, Schlegel depois de um pequeno desvio para um aprendizado de comerciante aprofunda-se de modo radical como autodidata no estudo da Antiguidade com a firme intenção de tornar-se

56

57

deve ser eliminado é a separação entre a lógica da vida cotidiana e do

trabalho e qualquer outra atividade livre, criativa, do espírito Hegel,

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO

CAPITULO lll

"o Winckelmg:pn" d3..11gçgiê..ên.Eira. E é bem verdade que ele quase

verdadeo inventor da ironia romântica, que é muito mais que a conhecida

consegue.Com 23 anos,publica em 1795 o ensaio.9-ézr.a.glêgzZb Za plg!!g:.glgaa\über chs Studium ükr griecbiscbenPoesie\,com Q qua\ de imediato é amplamente reconhecido não só pelos maiores estudiosos

figura retórica com a qual se diz ou insinua algo enquanto sequer dizer outra coisa,talvezaté o contrário; acontecealgo muito ruim e o irónico comenta: "belo presente". A ironia era considerada até então como uma

contemporâneos da disciplina como também pelo público culto em geral.

JLçÜ!!!!ê.dO.s..glçgqs, ensina três quartos de século antes do livro de

figura retórica, também como método literário, colocada em algum lugar entre o humor, a zombaria e a sátira. .Além disso havia a ironia socrática.

NietZ$çbe sobre a tragédia antiga, não teria sido caracterizada apenas pela

A frase: "m sei gzzr/z.zzZz ie/" é naturalmente uma frase irónica, pois Sócrates

"nobre simplicidade e silenciosa grandeza", como afirma Winckelmann;

sabemuita coisa,principalmente, porém, que os outros sabemmenosdo

sua base.t.alrlliélD seria extÚçka..selvagemwcrue!..epessimj$ta. Tão mais

que pensam saber. A ironia socrática procede então como se levassea sério

surpreendentea força vital que deu aos documentos do espírito grego a perfeição e a plenitude da forma. A Antiguidade não teria sido nada

o supostosaberdo outro e o envolve de tal modo em suaprópria presunção

mais que Ingénua, como escreve Schiller no texto .!gég.4:pggfzb..íz4«n#a.z.

s(p//me /.z/,publicado na mesmaépoca. Memorável aliás como naquela 1.

que esteteria, afinal, de reconhecer o seu próprio vazio, seo orgulho não Ihe proibisse de Eazê-lo.Ela era um artifício usual dos autores do Iluminismo.

época, de um "rezo czzoi"das forças, teria nascido a forma perfeita. Isso

A ironia, pois, era tudo menos desconhecida, mas o que Schlegel 6ez dela não havia existido antes: ele romantizou-a ironia, isto é, descobriu

daria

na ironia comum uma série de usos desconhecidos;descobriu o des-

esperanças

ao presente.

Pois no presente

também

rege a .zzzaxgwi'z,

6dta o centro; trata-se porém de uma anarquia monótona, sem encantos. Falta substância. Tem-se finalmente, segundo Schlegel, de trazer geniali-

conhecido no sabido, um mundo rico de significados surpreendentes. Fazendo-o, usou a até então usual figura da ironia, que coloca uma certa

dade ao jogo. Para tal, deve-seentender que a vida talvez nada mais seja que um grande jogo. Tudo dependede sabersecolocar em cenacomo açor do grande jogo do mundo. Seria nossachance, explica essejovem genial

afirmação numa outra perspectiva, numa perspectiva mais ampla, e assim

relativizando-a ou até desmentindo-a. Q..[lyqllç..ÇQD..Lqud..Schlegel qansfo rmQILê..Uçl111ê Rum,yçi(L:çlç..aura..consiste em ..ter co.tocada..o:Pn;ra

com autoconfiança atrevida. " Zê421..gí.:!ÉzgzlúEzil2iÚoK(tL24 .4rfe.âáaJPf z J

como eauívalenlÊ[email protected]!!.H4g..ÇQunçiadQ,..g para l.perspeçtjya da

rg!!!gd!&Êég1.4}!@nçes-i:llL.ill$pitQJWQ..dQ..-WUndc.- a . QIZlna . 4ç .atU.. q11gWa

rçj3gvizacão e negação,.Q.!Z:/2zz/@, Quando essadistinção 6oi estabelecida, o

íç.moreie p?xa."Percebe-seo efeito da filosofia do jogo de Schiller. Entre os românticos, especialmente em Schlegel, esse jogo se torna o If?gg.da gq1113. Aonde se chega,quando se joga? Schlegelresponde:no antigo céu dos

jogo pode começar -- um jogo no qual todos os enunciados determinados, fixos, podem ser "rgZ2Gg&Í.i}2wlz,.z" (uma das suas expressões prediletas) .

ch razão quepensú clemaciosensatoe.nosnansportarcle nodopara a beh c07tfüão

Todo enunciado determinado significa, diante da ultracomplexidadedo mundo, uma redução de complexidade. E quem então deixa transparecer que está consciente dessaredução de complexidade dará aos seusenun-

üfant

ia, no caosoriginal ch natureza bt&mana, para o qua! eu náo conheço

ciados

nenhum

síml70lo mais bonito

deuses. " Pois esseé o começode toca poesia, anular todos os movimentos eas Leis

do que o redemoinho

colorido

üs antigos deuses."

Pode ser que ainda seja pensado de maneira confusa, mas não é preciso que

que na verdade estão aquém dela -- o tom de reserva da ironia.

O /nÚ/z/fa do qual Schlegel fala é aquilo que é ultracomplexo. Não se deve pensar apressadamente em "Deus", que aliás logo entra em jogo. "&2wa

ninguém se assuste, pois "fado o Pr i/zme in / zlm.zdfz/j/zafáo, maj o Óamfm está open'zs começando a se tornar consciente óh sua IÍl!!çg:4i11bQlé7ia

Segundo o jovem Schlegel, essabISa di.!p4çélb

QSglÇl=!!gallLÇ.Blg.:Ple

, esc\ene.

O caos, porém, existe em diversas dimensões: o próprio eu é um

não se expressa nos

caos; não devemos nos iludir a respeito de que nossos enunciados e ações

chamadosvidentes, que ele até despreza,mas sim -- e isso é típico para

possamabrange-lo algum dia ou apresenta-lo de maneira adequada. O bidé)ck1lle..é inefável.

esseRomantismo rebelde e lúdico da primeira fase -- na ironia. Ele 6oi na 58

59

CAPITULO lll

LIVRO PRIMEIRO © O ROMAN'TISMO

Em segundo lugar estáo caosentre os homens. Nenhum comunicado é verdadeiramente capaz de se fazer entender. Aquilo que circula entre as pessoasnada num oceanode incompreensões.A história do homem consiste em histórias de mal-entendidos. Isso pode ter consequênciastrágicas, masnormalmente nos arranjamos com isso. Apoiamos no outro a crença de que nos entendemos mutuamente. Isso é ruim? Não, diz Schlegel;seria pior se acreditássemosque nos compreendemos mutuamente até no que

há de mais interior. Assim, o segredodesapareceria;o /Ocaspromissor se transformariaem monótona tautologia. O homem "fem zzmseno/daí/:P?z/rapamozz ai come/z"; exatamentepor issoé que estesIhe permanecerão incompreensíveis, porque ele jamais pode chegar ao fim da compreensão

-- como é que poderia fazê-lo, senão permaneceapenasuma incógnita para os outros, mas também para si próprio? bgBig..É..produzr frases cgg!!plqe.plb:çbJqyg.êldem-a.-.inçwplSSD$MI.qwnd9.êç..ag..gula:bçn Schlegelescreveu,enquantoseusleitoresreclamavamda ininteligibilidade especialmente dos seus fragmentos, um ensaio exatamente sobre esse tema: SobK4..i11i!!!gligibiLttcl&

\tlber die UnuerstãndLicbkeit\. \.E-se a :

Mas a ininteLigibiLid(üe é mesmo algo tão criticável e mau?Me parece que o

l,em dasfamíLias e naçõesestá baseadonela... Sim, o mais delicioso que o homem tem, a satisfaçãointerior eLamesmadepen&, como qualquer um po&faciLmente

saber, no anal em algum lugar num p'nt'

destes que deve

permanecer incógnito, mas quedara issocarrega e sustenta o todo, e essaforça seria perdida no mesmo momento em que se quisesseeschrecê-Lofazendo uso

ch razão.É uer(hde que vocêstemeriam, se o mando todo, como o exigem, setornassealgum dia compreensíueLpormeio da seriedade.E eLemesmo,esse mundo i7i$nito, não éformado pela razão ch ininteLigibiLidacte e do caos?"

O incompreensível é portanto a força viva que seria ameaçadase a razão

o desvendassecompletamente. 4:.ilgllia-.sçlrEldçnlç-weKçgç.a.aççijo Niçlzsçhe recorrerá mais tarde a essepensamento quando declara q.11ãa sabçl=.ÇQ.DQ.uma exigência d4 Vida.

Ao lado das duas dimensões do caos incompreensível -- o próprio eu e a comunidade de homens há ainda a terceira dimensão, à qual a

última fraseda citaçãoprecedentealude: o universo,ou o mundo todo, é um caos.Aqui, pois, entra Deus no contexto. Ele é simplesmenteo que há de mais complexo; chama-lo de caótico, porém, não seria adequado. 60

De qualquer maneira, Ele é o absolutamente incompreensível. E por causa disso a verdadeira devoção diante desse colosso se expressapela ironia. Como é que cada frase sobre o absoluto e o transcendental não deveria ser dita apenassob a condição de ser irónica? Dizer algo finito sobre o infinito só pode e deve ser irónico. Por isso a ironia faz parte de toda filosofia que tenta compreender o todo: "náo é eézreaZme/zre a mísrér/a ma/í prol/ü7zZoZú .pZosa@a cra/ra?" Schlegel traz a ironia para o coração da filosofia, o que Hegel, que se tornara sério, mais tarde não perdoará nos tamàntlcos. "A $Loso$d' , escreve, " é a uerdctdeira pátria da ironia, a bufonaria transcendental:' an\nada que se eleva in$nitamente

pai um " estado & espírito que tudo uê,

sobre tudo que é$nito,

também sobre a própria

arte, virtude ou çenialidade. 4:.!!unia, como respeitorisonho diante do incompreensível, evita a presunção dogmática e também a humildade rígida, e por isso ela ç:.gg.nlçg!!!g.

tSg.pg ulnaarte

social:.Jç

Hg;.gzlélglzidzdc.szzéZime: permite o diálogo

porque evita o ponto morto da compreensão absoluta. A boa mis!!game QHU

Mçc»ü.

ç9nEHS.a-eslpjCh®',

e os românticos sãofrívolos o bastantepara sedeixar divertir com a reflexão sobre as derradeiras coisas. Sob a influência de Friedrich Schlegel, o jovem teólogo Friedrich Schleiermacher

que Eazamizade com ele no final dos

anos 1790 e com quem por algum tempo vive numa república

escreve

seu Ensaio sobre uma teoria do comportamento em sociechde \Versucb einer ZBear/e óüigefeZ7zge Beüage/zi] ; lá, elege a ironia de Schlegel como aquele

instrumento excepcionalque permite aoshomens aproximarem-seuns dos outros sem se limitarem mutuamente, deixando o espírito circular, sem impor suasconvicções.A ironia estáem açãoquando a vida em comunidade não é entendida como uma associaçãodirecionada a um determinado Gim,

como um grupo de trabalho ou até como uma união compulsória, mas quando seu fim reside nela mesma. Em outras palavras: quando ela é um

Jogo.E só lá onde ela é essejogo é que a vida em comunidade é apreciada por si mesma e alcança sua forma mais elaborada; só assim ela se torna verdadeiramente uma questão humana. Schleiermacher nem precisa citar

Schiller; já nota-se a famosa frase: "0 ier cama o ór/ ra ape ai o Ze e& comesponde))Lenamenteüo conceito do ser humano, e ek é apenas compkta-

mente humano quando brinca. 61

CAPITULO lll

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMANTISMO

A ironia estava realmente em ação quando o círculo íntimo dos pri-

meiros românticos

os irmãos Schlegel,Tieck, Novalis, Schelling

surgem aleatoriamente, mcls sim se sucedem segundo um g'cinde plano [...]

,

tudo issoeu só sei apreciar bá pouco, pois vejo suas ideias surgirem e cres-

no seu encontro legendário próximo ao final do século,discorreu sobre Deus e o mundo e leu em voz alta as próprias obras que ainda estavam

cerem."Depois de algum tempo, aliás, Schleiermachercomeçaa sentir Efta do sistema#anzús//co, mas isso em nada mudou a admiração que sentia por essejovem engraçado e esperto. Um sistema talvez náo seja

em processode criação. Todavia, nem na primeira fase nem na fase mais tardia do Romantismo se encontra frequentementea ironia nas

1.

mesmo a coisa certa para os que têm uma verdade.ira natureza de jogador.

abras poéticas.Apenas Ludwig Tieck, Clemens Brentano e E. T. A. Hoffmann sabiamlidar com elavirtuosamente. A tentativa de romance

A outros, porém, sem simpatia para com Schlegel, ele parece apenasum engraçadinho. Assim o chama Schiller, que se irrita com esserapaz tão

de Friedrich Schlegel, Zz/r//zZe,se mostra leve, mas ainda é um produto

forçado. Mais teoria do que prática. O verdadeiro campo de ação da ironia no jovem Schlegel permaneceu o contado social, a fllosoGia e a

autoconfiante, que seatreve a zombar do seumais novo .4/man.zgz/e 2ai mz/i.zi [.A/usem.z/m.zn.zcó], que desprezou a ]7oren, na qua] Schi]]er não o deixou escrever,e que escreveusobre Z)«nZZaZe2üs mz/ZBeref [ WãrzZe2er

reflexão. Nos seusfragmentos plenos de ideias, ele 6oi verdadeiramente

.f;hazzem] --

um irónico. Usando autocrítica, denominou suasprimeiras tentativas

infelizmente não paracima, maspara baixo. Não se escrevea respeitode que, no círculo de amigos, alguém caiu da cadeira de rir durante a leitura

\e6\\ças salte Q Estudo da poesia grega cama" completamente desl)movidas

poema schilleriano --

que lá as mulheres seriam idealizadas,

1.

cúzin21spr/ziáz/e/ /rom/a", prometendo

melhora-las. Cumpriu

a promessa

e apareceucomo teórico por algum tempo como ele sonhou, ou seja, à.:Ug.!LeiJ=a-de.i4]ZL.b71}.bl&jliÉ!.ilglian o..wwu "d

Naquela época, Schlegel parecia aosamigos por vezes um "Orlando

de O s//zo[GZo&e] , mas Caro]ine, ainda unida ao irmão August Wi]he]m, conta-o para todo mundo que quer ouvir. (quando Friedrich Schlegel publicou seu livro sobre a Antiguidade

em 1795,ele já havia atravessado um vasto campo do espírito,sem

furioso" no campo do espírito: como ele assimilavatudo em si, com

atentar para os limites entre as disciplinas. Interrompeu os estudos de

que rapidez e brilho ele o trabalhava, como se entusiasmava durante as conversas,como atirava ideias e mais ideias em torno de si e desenvolvia

direito, aprofundou-se na literatura contemporânea, na filologia, medicina, economia, matemática, ciências naturais e religião. Havia engolido tudo sem escolher nada, diziam alguns; outros admiram como ele, mesmonessapluralidade confusa,conservou nitidamente o curso. l:au.o

novos projetos para livros num piscar de olhos. Não setinha tempo de sair do espanto Quando August Wilhelm perguntou ao irmão como este dividia seu dia, Friedrich respondeu: "(azia Za rz/ .zfardo, comera ü nabaLharna minha obra eparo quandolida me deitar. Na alternância do escrever,pensar, Ler e sintetiz.zr, não sigo nenhuma regra $)ca:' Devo\s do primeiro

encontro

com Friedrich

Schlegel,

Novalis

escreve: " Za/z/ez

eu nunca mais veja um serbanana como você.Para mim uocêjoi o sumo

f!!gptie..SchlegeLo,.6o-l=le..Aíiadnç,

de .qualquer. glodo, é a idçiq:.da.pois!'z

zeZ:/zzÉZl@/. Partindo dela, desenvolveo conceito da obrtdç 411çaberta, em torno do qual a ciência da literatura moderna Eaztanto barulho. A obra de arte aberta, que não se atém mais à ordem poética dos gêneros: típico líriçg.!411máçjco 4çyçm !e!,misturados; o pensamento discursivo

estão ordenados num sistema fantástico e como tactos os seus trabalhos não

crítica, reflexãoe ciência , que geralmente sedefine fora ou até em oposição ao poético, deve ser integrado na obra de arte. Seaté agorase dizia: "dorme, artista, não fde", agora deve valer exatamente o contrário: o artista deve poetizar e pensar e falar sobre tudo. Ele deve apresentar algo e refletir sobre o que apresentou. A isso Schlegel denomina .porfia da porá/a: quando não apenasos mundos inventados, mas também a invençãodos mundos se torna tema; quando, portanto, a poesia é

62

63

sacerdote do ELêusis. Através de você eu conheci o céu e o inferno

através

de vocêexperimentei da árvore do conhecimento" Ç2qde agosto de \ 793h. E Friedrich

Schleiermacher

escreve sobre o amigo: "No gz/e se eÚee a

seu espírito, eLeé supevioTao meu, de modo que só possofalar dele com muita uenerctção.Quão rápiü e profundamente eLeadentro o espírito de toda ciência, todo sistema, todo autor [. ..] como seusconhecimentostodos

LlyRO PRIMEIRO

e O ROMANTISMO

CAPÍTULO lll

autorreferencial. Autorreferência é reflexão. Poesiaque se pensatorna-se

Esta havia acabadode ver a luz do mundo. É a filosofia de Fichte.

irónica porque rompe com a aparênciado todo completo em si, com o fechado círculo mágico do poético. Mesmo que seja um presentedos deuses,ela é também de qualquer maneira um artefato.

Quando Schlegel conheceu pessoalmente o Rilósoeoem 1796, narrou numa ca \a: " Eu me torno mais e mais amigo de Ficbte. Amo-o muito...

Com isso não só a inspiração, mas também a razão crítica ganha grande

de ser tão sábio no mando! ELenão os entenderia a$naL:' Isso não é tão mau assim, pois não ser entendido Eazparte dos riscos

reputação.;Ã..çEIUç4;:perteDçe..parte-e.li:a11sbrma=se-rm.arte. Sea poesia, como esctexe Sdx\ege\," pide do g'acejo, irias, experimentose hipótese?', a crítica está autorizada a Ihe responder com os mesmos meios. Torna-se ela mesma uma obra poética quando se aprofunda na obra estranha e recamifró/seu espírito no próprio espírito. Schlegel mostrou como isso funciona no seu comentário do \4&ZBe/m Meifrer, de Goethe. Tal crítica supera a até então usual poética

normativa:

o&!g!..!gg!!!!@.%m,Üe4L.geral, mg

peculiar.a.idml.i71düMaüL&-cQçlg,glzlà

Sepudesse mostrar-Lbe todo o conpoluto de meus cadernoslAb,

do romântico irónico.

't4.çzlêÊçê..pêg.Ze!{(.Zzg=-aí..

Fazendo-o, ela tem de, seguindo a regra que "aprnm agz/eózco/?@sáo é r'zas gz/ z/z2o afaz sz/rge z/m mzz/zdo", se deixar ir no caos individual

do qual a

'%

obra determinada

surgiu. t;!mavez.que..a-uUç2..!e-aprçZfu11Éb..naquiJJ=1.de.

Qndç-a..p.Qç$1.a.jy.!gçz..$çhlegçl pode. denomina.J4,.Zyef/ Zzaz2ice#de«J69Z...e

dar=lhe pg! vezesuma posição igual ou até superior à.da própri%podia.

Schlegel,cujo talento poético era na verdadepequeno, alonga-se em fantasiasde poder. Sonha com um domínio sobre a literatura contemporânea. Não por acaso,simpatiza com os jacobinos; também ele por vezes é tomado por um desejo ditatorial. ".M2o.poZemai.prafzórnr muito pelo poder noTmatiuo da educação estética dos modernos. ELeiú está

ronsf/fzzZ2Zo." É a teoria -- a sua, entende-se. Na carta onde sugere a seu

irmão a criação da revista .4fóenãwm a revista se tornaria o órgão principal do primeiro movimento romântico , lemos: Uma grande vantagem

dessa empreitada

seria "guie

óí

os#arümoi

z/m z gzn/z#e ,zz/-

toridade na critica, su$cientepara, em cinco a dez anos, sermosditadores críticos da ALemanba [.. . r'

Ele quer fazer dominar o espírito da ironia, a sensibilidade para o incompreensível,para o infinito e para a reflexãoque não se deixa concluir. Poesia,filosofia, ciência e política devem fundir-se, e então surgiria uma nova forma de pensamentoque "é cr/aZoxn,gwe.p,érreZú liberdade e da crençanela, e então mostra como o espiTitohumano impõe sua l,eia tudo, como o mundo é sua obra de arte 64

65

que se tenha

(l:APÍTUI.O

IV

Fichte e o desejo romântico de ser um eu. O transbordar do coração. Criações a partir do nada. Sociabilidade romântica

A notória comunidade em lena. Voo alto e o medo da queda

Fichte já era um homem famosoquando chegoua lena em 1794. Já sua aparência era dominante: âgura forte, concisa; olhar em fogo; voz cortante. Sua comunicação tinha algo ditatorial; quase não tolerava contestações. P J A. Feuerbach, que o encontrou naquela época, escreve: !u estou convencido de que eLeseria capaz de ser um Maomé, se ainda fosse tempo de Maomé, e introduzir com espada eprisão ü sua doutrina da ciência, sr a figa rá/ezÓu#ojje zzmfro o 2e rr/." O dominante

em Fichte, porém, não

eraa arrogância, mas vinha da sua paixão incontrolável. Quando, em 1794,

ele Faloupela primeira vez na residênciade Goethe em Frauenplan,não esperouque Ihe tomassemo chapéu e o bastão,mas, logo aprofiindando-se no diálogo, deixou suasvestimentastombarem na primeira mesalivre. Goethe ficou perplexo, mas também admirado diante de tal autoesquecimento, que não se interessavapor nenhuma regra de comportamento. Ele deixou

que Ihe mandassem

da gráfica

o primeiro

caderno

de FamzZz-

rlentos de toda a douwina da ciência \GrundLage der gesamten Wissenscba$s&óxr] , leu-a imediatamente e escreveu a Fichte em 24 de junho: " O gazemr

Foienviado não contém na(h queeu não entencb ou pelo menoscreia entender, fada qae não seanexasse& bom grado à minha maneira de pensar usual:'

Fichte não precisa entender isso apenascomo um elogio gentil, pois após uma nova conversa com Goethe ele pede contar à sua esposa: "JAZZ paz/ca empa [...] eLeme apresentou meu sistema tão conünsatü e claramente que riem mesmo eu poderia tê-Lo apresentado de maneira mctis nitich.

E mesmo surpreendente como a filoso6la de Fichte agradou a Goethe.

!u saberei ag'adecê-Lo" , esctene na, mesma cana, "se o senbor$nalmente ne reconciliar com os$bsofos, aos quaisjamais pu& abdicar nem jamais mr z/a/r." Em sua filosofia Ihe era simpática a afirmação enérgica da ação e da criação de formas. Ele, que podia se perder em abstraçõesescurasde 67

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO

$:

CAPiTULOIV

fazer perder o fôlego, foi tomado por Goethe entretanto como 6llóso6o da arte, porque apostavana força criativa do homem. Para ele, Fichte trouxe à luz aquilo que geralmente aconteceno escurodo inconsciente:

almoçar, como também Ihe consegue um editor. O livro é publicado

o processocriativo da criação do mundo, não apenasna arte. Por volta dessaépoca,influenciado pelafilosofia do eu de Fichte, Goethe integrou nas suas.A42x/maio princípio segundo o qual se teria que perguntar sempre: " É o objeto ou é você que seexpressaaqui?

mico em jogo, pois o tratado estavaescrito de tal modo no espírito de Kant que se podia contar com que o público a esperardo homem de Kõnigsberg já há bastante tempo uma última palavra a respeito de temasreligiosos o atribuiria a ele, mostrando-seávido na compra.

A própria ascensãometeórica de Fichte nos anos 1790 lê-secomo uma história romântica. Nascido em 1762 em Oberlausitz, filho de um

Assim aconteceu. O jornal literário ienense .4/@emrimeZ/rexarzór-Ze/f /2g ttaüa o aviso\ " Quem quer que tenha Lido o menor dos escritosatravés dos

pobre tecelão, guardava num domingo atrás da igreja o gado e recitava

quaiso $Lósofode Kõnigsbergganbou méritos imortais para a humanidade reconheceráimediatamente o sublime escritor desta obra:' B.m seguida,

de cor a pregaçãoque acabarade ouvir, quando o proprietário dasterras, Freiherr von Mliltitz, o ouviu. Tomou o jovem talentoso em suaguarda e enviou-o com uma bolsa de estudos para Schulpforta. Depois da morte do Freiherr von Miltitz em 1774, foi Heinrich von Hardenberg,

no início de 1792, contra o desejode Fichte, anónimo. O editor fora cauteloso por causa da censura; além disso, havia um cálculo econó-

ciou o final da sua educaçãoaté 1783. Novalis conheceuo filósofo

Kant agradeceuno mesmo jornal pela honrosa ligação ao seu nome, declarando que ele não era o sublime escritor; essahonra caberia ao até então desconhecido Fichte. Com essadeclaração Fichte tornou-se da noite parao dia um dos mais famososfilósofos na Alemanha. Inspirado por esseêxito inicial, Fichte se aventurou a revolucionar

pessoalmente apenasem 1795, na casade Niethammer, em lena, onde

toda a filosofia de até então. Tentando aprofundar Kant, desenvolveu uma

encontrou também pelaprimeira e última vez Friedrich Hõlderlin, que desdeo início ficou igualmenteentusiasmadopelafilosofia de Fichte. Nessemomento elejá era uma celebridadelocal. Suavida anterior havia

versões,quer ser mais do que uma especialidadeacadêmica.Ele insiste continuamente: só a entenderá quem 6or por ela tocada interiormente.

sido penosa.Depois de estudarteologia e direito, ele primeiro tinha financiado seusustento como professorparticular. Um aluno desejou

Trata-se de nada menos do que a experiência do despertar através do pensamento. Claro que isso não é para qualquer um. Fichte sabe que os

ser introduzido

homens àsvezespodem estar mortos sem percebê-lo. A essesele não quer

1:

pai de Novalis, que se ocupou do jovem prendado e pobre e que finan-

na Giloso6ia kantiana, sobre a qual o mundo todo falava.

dazza'/nzz Za cié c/a, que jamais terminará, mas que, em cada uma das suas

Fichte tomou a Crz'f/caZa razãopura, cuja ininteligibilidade havia até

aünÜ.[: " Um caráter que esmoreceue atro$ou-depor natureza ou peb escr.zui-

então gerado reserva de sua parte, e ficou táo entusiasmado que logo no

dão do espírito, pelo Luxo ou pela vaidade, jamais se erguerá até o idealismo:

verão de 1791 viajou para Kõnigsberg, paraprocurar o filósofo. Encontrou um ancião cansado,que secomportou com relativa indiferença em

Fichte radicaliza o conceito de liberdade de Kant. Naquela versão da Zaz//r/n,zzúzriéncZaque ele apresentapela primeira vez em lera e que lá faz escola,retira da frase de Kant "gae }zí.praia' fem Ze.poder afazmP/z/zoar foZai ai m/nóai /Zei.zi" o conceito de um eu onipotente que experimentao mundo como uma resistênciapreguiçosaou como

relaçãoa ele; o que não é de seadmirar, pois, nessemomento altamente conhecido, Kant estavacercado de admiradores. Também damaspediam ao notório solteirão que lhes aconselhassem em situações complicadas.

Fichte foi, como outras damas e cavalheiros, enviado primeiramente para casa.Lá ele se enclausurou por 35 dias e escreveu em pressafebril

possível material de suas afóef. Ele se apresenta como o apóstolo do eu vivo. Em cena conta-se como manda que os estudantes na universidade

um tratado, com o qual elequeria seapresentarao mestre:Ebia/o ioZ're'z

olhem para a parede diante deles. " CarasirnZ'ares,.pe/riem/zaparede",

crítica de todas as epifanias \Versucb einer Kritik

d\zXa, " e então pensem em si próprios como diferentes dela:' Lamen\axa-se

aLLerO#enbar

ngâ. Kan\

ficou tão admirado com essaobra que não só convidou o autor para

jocosamente que os estudantes fossem em bandos para suas aulas para

68

69

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO

CAPITULO IV

lá olhar desorientados para a parede, onde nada lhes ocorria, porque o

' ainda não está no Pm; Kart deu os resultados: as premissas ainda faltam.

seu próprio eu não lhes ocorria. Através da experiência com a parede, Fichte queria porém libertar a consciêni:iausual da sua imobilidade e autocoisiflcação, pois, como costumava dizer, era mais fácil levar o

Ainda falta, pois, uma iluminação do .pa/zfam.zZf.zaada filosofia, do qual

homem a imaginar que ele era um pedaçode lava da lua do que um eu vivo.

transparente,o z,erdaz/e/ro ez/do conhecimento,da ação,da crençae da

Mas nem todos se sentavam desorientados diante da parede. O talento

berta das categorias da razão conhecedora -- espaço, tempo, causalidade,

entusiasmadode Fichte como orador também animavaa muitos. Não se

}.

todas as premissas possam ser originadas. Isso poderia ser Deus, a natureza, ou

e essaé a resposta de Fichte -- a estrutura da autoconsciência tornada

esperança. Mas Kant não havia realizado o necessário para isso com .adesco-

etc. -- e do imperativo moral da razão prática? Não tinha mostrado que

havia ainda ouvido falar sobre a obra maravilhosa do próprio eu. Um en-

não sepodia tirar mais nada do autoconhecimento exatamente porque não

canto estranho emanava das suas explorações complicadas de um mundo

se pode coloca-lo diante de si como um objeto puro? O eu que deveser

desconhecidoe todavia tão próximo. Fichte queria despertar,em seus ouvintes, o desejode ser um eu. Mas náo um eu conformado, pacato,

reconhecido é o eu que reconhece; ele é, portanto, sempre pressuposto. Desse círculo, explica Kant, não sesai. Fichte agora argumentava de forma

passivo-- um eu dinâmico, explorador do mundo, criador do mundo.

diferente: não se pode mesmo sair dessecírculo, mas se pode entrar nele

Tudo era energiaem Fichte; também asreflexõessutis com asquais o eu toma a si próprio e o explora delatam o espírito da conquista. Ele agarrou o eu fugidio como se cerca a presa durante a caça. Para onde o eu foge? Ele quer se misturar às coisas, quer ser como uma coisa, irresponsável do mesmo modo, do mesmo modo preso e dominado pelo que Ihe é estra-

de outro modo, semque se acabe,como teme Kant, no eu como uma /Ze/aconPZeíam Ir z,.azia, mas com o eu como princípio de tudo que

nho. Fichte quer cortar-lhe essecaminho de fuga para a insignificância. O eu seapropria de si quando entendeque não pode esconder-seno não eu que chamamos usualmente de "objetividade". O mundo do não eu pode

vive. Este "eu" apareceucomo algo tão vivo a descobrir que Novalis -- em

maio de 1797, época em que peregrinava diariamente para Grüningen e o túmulo de sua amada Sophie , quando teve a sensaçãode tê-lo encontrado, escreveu em seu diário: ".Eb/ze ScóZzgÓzz/m r GTÜ /ngr z aZeVla de e ca /zar o ca/zre//o Zo rz/ Ze/?rAi?." subordinada

fÍz'e

O que quer dizer a frase

"o 22.z /o2a ezzelf/z,r mz/i/a ,íz,/Zo" --

permanece nesse

ser tudo que desmente minha liberdade: uma natureza exterior entendida de modo mecânico e determinista; os desejos e instintos; essanatureza

contexto um mistério.

no próprio corpo, que não seconseguecontrolar; um sistemasocial de

não se deveria fazer, mas sim observar o que acontece em nós quando pensamos "eu penso" O eu é algo que instituímos apenas através do

ausência da liberdade; uma religião, na qual um deus rege suascriaturas. Essesmundos do não eu existem; quem poderia duvidar disso?Mas Fichte

Kant partira, ensina Fichte, do "eu penso" como algo dado; isso

duvida deles. Mais ainda, ele lhes rouba toda a credibilidade. (quer envol-

pensamento,e ao mesmo tempo a força que Eazsurgir as coisasé a identidade em nós mesmos, que fica além do pensamento. O eu pen-

ver seusouvintes num complâ sutil contra o correr do tempo e o estado

sante e o eu pensado movimentam-se realmente num círculo, mas tudo

em que as coisas estão.

dependede se entender que para Fichte trata-sede um círculo ativo, produtivo. Não se trata de o eu só se fundamentar atravésda contem-

Num primeiro momento, parece que ele está buscando apenas a

solução de um problema filosófico imanente. A geração dos jovens idealistas Fichte, Schelling, Reinhold, Schulze havia realizado

a rez,o/grão Zo.pezziamefa kantiana, mas a basedo conhecimento no sujeito Ihe pareceu ainda realizada de maneira precária. "-4 .pZaio@a", escreveo jovem Schelling em 6 de janeiro de 1795 a seu amigo Hegel, 70

plação, mas de que ele se produza a si mesmo na reflexão, que por sua vez é uma atividade; ele se estabelece.Isso quer dizer que esseeu não é um fato, uma coisa, mas um acontecimento. O eu está em movimento, ele -vive,nós o sentimos em nós. Em 1795, no começo dos seus estudos sobre Fichte, Novalis -- naquela época, depois da sua formação como 71

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO

CAPÍTULOIV

advogado, trabalhando como estagiário na administração distrital de Tennstedt tenta resumir o caráter ativista do eu da seguinte maneira:

possibilidades. SÓpodemos descobrir aquilo que é real quando, dentro das

aquilo que é dado ao sentimento me pctreceser a causa e o efeito da ação

simplesmente o "necessário";tem-se de descobri-lo a partir das possibili-

primar/a". O sentimento é, portanto, um fenómenoque acompanhaa ação. Novalis estáno caminho certo, pois é fato que Fichte tenta evitar

dades. É a liberdade que descobre aquilo que é necessário. Fichte chama de

o mal-entendido de que se poderia agarrar a esseeu como a um objeto.

Zú /zeresfiZade". Tal sentimento se impõe, mas não sem dar espaçopara alternativas: sempre poderia ser de outro modo. A liberdade continua em

diversas possibilidades pensáveis, descobrimos a "adequada". Não existe

"verdadeiros" os pensamentos que estão acompanhados pelo "ie/z/imr

fa

Ele sempreinsiste: tudo estáem movimento e vive; nós o pensamos, mais ainda, nós o sentimos na nossavida. O mundo começacom uma

jogo como um sentimento de possibilidades, também no que diz respeito

açáo e com uma ação começa aquilo que chamamos de eu. Fichte diria:

aosduros fatos. Também quando reconhece,não apenasquando age, o

eu me cno como eu, por isso sou.

homem é um ser que poderia não apenas agir de outro modo, mas também

Tãs considerações têm de soar monstruosas, sesão entendidas como se

ver as coisasde outra maneira. Ele vive das possibilidades. A realidade se

negando o mundo exterior e animando um solipsismo absoluto. Mas isso não ocorre em Fichte. Ele apenastira consequênciasradicais do princípio

constitui num horizonte de possibilidades.Issoé liberdade.

de que temos o mundo exterior inicialmente apenascomo mundo interior;

de Novalis. Nosso conhecer, escreveele, só é livre porque podemos nos enganar. Nós teríamos de não ser livres, se fossemos levados de

por exemplo, a consequênciade que apenasno momento em que o eu toma possede si é que o não eu aparece.Nessesentido, a contradição /

Também esseé um pensamento que se deixa esclarecercom a ajuda

maneira compulsória às fontes do frr. Apenas porque não temos acesso

poi/'z no mesmo momento em que o eu também iepóe. Este só é perceptí-

ao zzóso/z/fo,mas sempre o procuramos,

vel em oposiçãoao não eu. Mas o não eu é portanto geradopelo eu ou permaneceem primeiro plano existindo do lado de cora?Obviamente que eleé "existente", mas apenasno âmbito do eu, do qual jamais pode sair;

Fichte vê essamovimentação livre ligada ainda à experiência do tempo. Somos seresabertos ao tempo, lembramo-nos de um passadoe esperamos um futuro. O futuro é o possível,parao qual olhamos,e o

portanto, o não eu é ele mesmo um aspectodesseeu. É uma limitação que o eu toma como autolimitação. Mas tal autolimitação pode -- e aqui

passadoé aquilo que foi real, aquilo que, já que não mais o é, tornou-se

começa o problema -- ser levada tão longe que acaba se escondendo parte

do eu na limitação. Assim, a autolimitação torna-se autocoisificação. Ela dá

"iz/rge a zzriz,idade /íz, f em cí :

novamente uma possibilidade que se deixa recordar e interpretar de maneira diferente. Partindo do orçlç!!K.=Je-ql4.ÊlçlpQ$-çompreendê::jo

dg aS:oldo com

um poder às coisasexternas que elas não mais teriam, se o eu continuasse

sygs-causas Qljglga+$..e sçu$.,!pgliyg!

consciente de si. Para Fichte, tudo depende de se adiar os sentidos para a

Ama garra.dç..pg.ss.ibilidêdç$z.g:.p.artir. dg qual.temos de descobrir.o rastro

parte do eu, isso é, para a própria atividade criativa no mundo. O mundo não é algo que está diante de nós do lado de cora, ele não é um objeto es-

.dQq.ue. é-necessário;..ç par.findodo presenteq futuro e o passado são

tranho e completo; estáimpregnado pelo eu. O mundo exterior se mostra

A agilidade com a qual nos projetamos para essesespaçosé denominada por Fichte como zZoz7z zZrz /mggÍ?úÊ4a.Kant havia utilizado esse conceito para determinar a energia inerente à percepção e ao reconhecimento. Em Fichte ele se tornará a chavede todo o sistema.E não se

no âmbito do eu. Mas como? Cada realidade que age sobre nós está incluída em possibilidades.

Sensaçõesno próprio corpo se nos impõem, mas mesmo em relação a elas temos liberdade de agir: podemos lidar com elas. Quanto mais sutis se tornam as percepções até o ponto alto do pensamento e da fantasia

, mais intimamente

elas estão ligadas a toda uma "gama" de 72

Judo. que acontece é cercado por

t4p.bém..parte .do grande espaço do possível.

oensa aaui na imaginaçáa..nQ.sen.tida.da fanç41ia; pressupõe-se um dom

de .imaginaçãoque funciona inconscientemente no eu antes que ele se torne consciente dela. Nota-se que aqui se trata de dois eus. 73

LIVRO PRIMEIRO

+ O RO MAN'TISMO

CAPÍTULOIV

De fato, Fichte distingue o Íg..g@aíredf/zz#/do ez!e/np&Zo, e assim há também -- ao lado de um dom de imaginaçãoque possocolocar em ação segundo minha vontade, ainda outro, que agede modo involuntário e inconsciente. Essasduas dimensões não são porém separadasabsoluta-

não eusestabelecidosque elesvoassematravés das vidraças:' Na üla. 28 à,e

mente uma da outra, mas interligadas por um contínuo de autoconsciência

' O mundo é b41q:.ÊLL.alg1l©xmaMgue.gMo#oQ e resgata,na re$!!é!:.Çgm.iâlg..glÉ..!glig:.!m]menü-dec]ai=a.]o, wa diuinda&. como.nós

e um grau de autodeterminação crescentes.Tudo depende de aproximar

o dom da imaginaçãoconscientedo inconscienteou -- o que resulta no mesmo de

1: 1.

outubro de 1794, dirigindo-se a Goethe, Schiller escrevesobreFichte, que eledenominara há pouco, numa carta a Hoven de 21 de novembro de 1794, "a m.z/or //zreZké ci zsPef Zaf/z,,z"desse século depois de Kart:

TÉe R@í?r evpenáuy.mai " Quando Fichte, em 1795, tem de fugir para C)ígmannstedt por causados tumultos entre os estudantes, Schiller escreve

Aqui há, segundo o autor, enormes possibilidades não aproveitadas. Evidentemente, há limites para a livre espontaneidade do eu; isso ele

em 1 5 de maio a Goethe: "náo ie/ contar m.z2aZe noz'oügz//, pois rom o amigo Fichte a fonte mais rica de coisasabsurdasse extinguia'

reconhece,mas não sem indicar que tendemos a considerar o espaço da autodeterminação menor do que realmente é. Há imposições, conscientes e inconscientes, mas nos sentimos às vezes por demais forçados onde não o somos. Isso talvez porque a liberdade seja também cansativa e por ser mais fácil sesentir como algo que é empurrado e teleguiado, sem responsabilidade, como coisa entre coisas, como simples reação e não como açáo.Fichte foca sobreaquelalentidão que tolhe a própria liberdade. Para ele, ela é o que é verdadeiramente maléfico.

Fichte polarizava.A alguns encantava,outros serevoltavam contra ele; em ambos os partidos a vontade renovada de ser um eu estava em

Seo mundo é tudo de que há uma experiência, então quer dizer que

onde não há experiência, também não há mundo. AÍ também não há a funesta "coisa em si" de Kant: é sem sentido acreditar numa substância que não se pode experimentar, mas que supostamenteestá na basede tudo, e pressupor uma casualidade entre aquilo que conhecemos e aquilo que desconhecemos. SÓpodemos constatar uma casualidade entre dois elementosconhecidos. ParaFichte vale que o sujeito, o eu ativo e reconhecedor, é a base. Não há nada que leve além do absolutismo desse eu, mas tudo leva para dentro dele.

Além do solipsismo há um segundo mal-entendido: quando esse eu pressuposto na experiência

o eu transcendental -- é confiindido

com o que é entendido psicológica e coloquialmente -- o eu empírico. Então deixa-se zombar mais facilmente a respeito. Também Schiller e Goethe fazem suas piadas. Quando Fichte se envolve numa contenda

\aga. " Foi um tempo perigoso

par'z jovens

inteligentes"

, \emita-se

mais

ta de um contem polàneo, " octremamente excitante e tensa [. ..] a vida se moz,/me /.zz,.z rnfrP z#z'ezTOJ exfz'erros...

"

Responsabilizava-se a filosofia

do eu de Fichte por todo extremismo. Pouco adiantava que estetivesse

seprotegido do mal-entendido; suaRllosofiado eu justificaria falta de rato e egoísmo. O que era então a compreensão certa dela? No tratado .QÉegZaÉaÉa-.cZ92.-aa..gmzzz](e.=iüzÜZÍca.wé« «. «er &d

zn

elg;n.çia.lEIa.$1oso$a \SonnenkLarerBericht an das põ$ere PubLikum ilber 2aj e e f#cóe WJe/z der P»/ZoioPó/e],

com

o subçjtylQ.delator

,C/ma

feri(!!illg,JiÉ..jlllUar.U..leitoresa compreender \Ein Versucb,die Lesemzum UerJZr,çem zz/ zm/ng?m], ele procura, de modo desesperado, provar que não quer dar voz ao egoísmo, mas deixar que o ser se expresseatravés do ego, com a teoria de que a dinâmica do processovital da história e da natureza só seria compreensível pensando o todo a partir do eu.

A força que movimenta a naturezae a história é do mesmotipo que aquela que experimentamos no ativismo, na espontaneidade do nosso eu. Desenvolve-se aqui ousadamente o pensamento de Rousseau, a res-

noite, Goethe escreveao seucolega,também ministro: "0 ie óor u/z poli

peito de que se sabedo começo do mundo porque qualquer um pode começara qualquer momento. A experiênciado próprio eu nos leva ao mundo como universo da espontaneidade.O "eu sou" é o segredo reveladodo mundo. O mundo não é a súmula de todos os fatos, e sim de .todos os acontecimentos. Mas aquilo que é um acontecimento se

) eu absoluto em grandes apuros, e claro quefoi muito descortêsdapavte dos

descobre pela movimentação produtiva do eu, na sua liberdade criativa.

74

75

com um grupo de estudantese alguns delesIhe quebram as vidraças à

LIVRO PRIMEIRO + O ROMAN'TISMO

CAPITULO IV

Por isso vale, como escreve

[g!!Ügt[. ..] Dessa.W.

!KmiziwQ.da.]epi]açãp.]11adiz-.!edaa.rM]iiigde'

Esseentendimento foi para Fichte

e Novalis -- aquele za/oclaro que

aqueceusua filosofia até o flm. O raia também veio da atmosfera espiritualmente carregadada RevoluçãoFrancesa.Não sehavia vivenciado como todo um povo tinha deito um novo começo da história? Fichte, que havia se posto à frente da revolução também com um tratado em sua defesa (razãopela qual os ministérios a princípio hesitaram por ocasiãoda sua convocação a lena), não amuoucom suas diHceis deduções -- que quase ninguém compreendia -- mas com seus termos marcantes, dos quais logo se podia extrair um lucro para o câmbio da nova vontade de ser um "eu". Ele favoreceuo culto ao jovem dos novos rebeldes,que Goethe deixa dizer no segundo Eaz/f/o(versosque Fichte naquela época anotou): " Zem

Sentam-sejuntos por volta de 1797 Hõlderlin, Hegel e Schelling e desenvolvemo esboço de uma nova mitologia, que se teria de "fazer' Onde se acha tal mitologia? Claro que em si mesmo. Acreditava-se poder realizar tal tarefa, criava-se uma nova ideia para fundamentar a sociedade, para transformar o mecanismo social estranho em uma vida em comunidade. Mais tarde se chamará o protocolo desseinspirado encontro O mais antigo sistema-programado idealismo alemão \Dm ãLtesteSystem'pragxnmm 2ei Ze fscóe ]2ea/!smzls]. Lê-se nesse tratado, que é movido pelo espírito Formador de mundo

e do eu: ".4 .pr/me/ra /aria é ez,/drzzfe-

mente o pena'zmento sobre mim mesmo, como um ser absolutamente Livre.

Com o ser Livre e autoconscienteo mundo inteiro surge ao mesmotempo

-- clonaco; a única verdadeirae imaginável criação:oriunda do naco:' Aqueles que tão enfaticamente se asseguravamdo seu eu sentiam-se frequentemente ameaçados e limitados por um mundo que oferecia

alguém mais & cinta anos, leitão eLe3áestá quasemorto. ISeria melhor que

grande resistência a sua necessidade de desabrochar. Ê surpreendente que

pafér morressem ceda." Sem dúvida que Rousseau, o Síz/rm wnz/-DrnnK e o

culto ao gênio tinham preparado o terreno. Nessa tradição apreende-se

em um país territorialmente fragmentado e socialmente retrógrado, no qual não havia nenhumagrande política e apenasum público restrito,

uma autonomia

que se revolta contra as convenções sociais. As pessoas

possater surgido um idealismo tão audacioso e autoconfiante. Mas talvez

,# ainda se deixavam excitar pelo carnaval gerado pelas famosasfrases que

tenham sido exatamente essaschamadas condições limitadoras que tenham

marcaram uma época: ":81.!ggiEég:.;elÉJ({g.eq. m.egçoznfz@,J/opóeZa,aí

favorecido tal introspecção criadora e tamanha intensidade de pesquisa.

\. bolUÇ.n!=.E!.nág,jg%jçilg..gang.aqueles que eu liÍI..ÇRousseau,,ÇgZÚgsóesàe

Se Estava um mundo exterior de grandes dimensões, então alguém o criava

\ .I'Ea mg..«o/Íq24z4. "z/m "'ei"lo ,r e ro/z#a #« «z.n2o"..(Goethe,

sozinho, partindo dos meios dos quais dispunha. SÓse precisa de talento es-

WÉ'roer) .

'e'Assim é que se queria ser: tão inconfundível quanto universal, poderoso

peculativo e imaginativo. Com ambos os intelectuais alemães estavam pro'

e, como poder, irradiando no mundo. Sob influência de Fichte, Novalis

vidos vastamente; mais ricos do que a classeconformada na França apesar

escreve: "0

ou justamente por causada Revolução, ou nos conformistas-pragmáticos

cízw/#óo

m/ffer/oio

Zez,aP,zxw o / fer/ar."

E acrescenta

ainda:

Quem para por ctqui só chega atéa metade. O segundo pctssotem de ser o

oLbaratiuo

parafora a observação autõnama, contida, (

mundo

afora:

Ruidosamente,Fichte havia erguido o eu ativo e contemplativo ao olimpo da filosofia. Lá estavaele,pois, como uma figura de Caspar David Friedrich, com o mundo a seuspés:uma esplêndidavista. Através dele a palavra "eu" adquiriu um volume imenso, comparável apenas à plenitude de significado que mais tarde Nietzsche e Freud dariam ao "id". O Fichte popularizado tornou-se testemunha do espírito do subjetivismo e da atividade sem fronteiras. E o suposto poder da ação criava uma atmosfera de euforia.

da [ng[aterra. Madame de Staê], em seu Sair? .z,4&mam&a [De /H/Zema]gne],

explicou ao público internacional o milagre e as curiosidadesda vida intelectual alemã da seguinte maneira: " Z-/mzzz/foF zzZem.2o e2acaiezlpoz'o; Hzz/;i# fa o.pzZó#co/ g e z/za/ sez/s.zzófaref."Assim, um autor alemão pode

sentir-se senhor de seu pequeno reino. A Alemanha, essepaís de homens

curiosos, pensadores,leitores ferrenhos, havia trazido com a geraçãode românticos também os jogadoresintelectuais. A teoria do jogo de Schiller

tinha, como se sabe,funcionado aí como estímulo. "OjoXa rPKZ/Zar Ze ideia / ,zz,enúzZe/xa.pZoio@ú", anota Novalis e denomina a.EgQiade modo correspondente como um "............

76

77

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'CISMO

CAPÍTULOIV

Essesjogadores intelectuais na .Alemanha talvez não fossem tão ele-

não tenho casa, Hi jogado ao in$nita

(o Caiu do

universo), e üuo construir uma do próprio coração e cabeça:' Nâo desça que

eles queriam tudo. Naturezas lúdicas que não abdicavam do sentido profundo das coisas,formavam uma espéciedistinta, inconfiindível. Os individualistas exigiam muito do seu eu, quando necessárioaté a

a suasuperabundância-- que no casodele,diferentementede Hõlderlin,

arte de criar um novo mundo e de abalar as condições vigentes. Tem-se

é uma superabundância mais da cabeçado que do coração -- perca para

uma realidadelimitada. Autoconnlante, nega aquilo que o nega. Em Cona,erlzz ioZ're'z poesZ.z [(;espxüc»üóer záedoes/e],e]e se autodenomina

-- como o grande eu de Fichte apenasde gritar para um grande gana: "Ser um não eu, não suportem-nopor mais tempo!" , au, cama

a\guêm " que com sua $Loso$a revolucionária

Novalis, dar-lhe o conselho: "Se z,ocâ náo ,podem far ar OJ.peras.zmefoi

é a filosofia de Fichte. Ela o é porque Ihe anima a ser desrespeitoso:o que se estabeleceu,o que foi traslado e é apenasconvencional tem de se justificar diante de um eu autoconâante; ele cai diante da crítica ou

ca/faj exfer aj, far em zí co/f.zj exfernaJPe game/zfai." Não basta que os

pensamentos apelem à ação; tem-se de cuidar para que o pensamento

de uma realidade opressora 1;

WaNâltS'." Eu, hÜtiuo,

gantes quanto seus colegas franceses, mas eram extremamente ousados;

essepoderoso não eu

seja colocado

num estado de levitação. Na Alemanha, a reflexão profunda adquiriu com o Romantismo o que segosta de ignorar não apenasa ânsia e a melancolia,mas também o dom encantadorde tomar as coisas

\

levemente e de torna-las leves. Foram exercíciosde relaxamento grandiosos. Aqui, para dizê-lo de forma menos amigável,jogou-se pardais aoscanhões o que, aliás, ainda é mais simpático do que o contrário. Aqueles que estavamencantadospelo seu eu tinham naturalmente

buscou praticar a destruição

rm gra Ze rfr,zZa". Quando escreve isso, a.#Zoio@ rez,o/wr/o Zr/a para ele

setorna material do jogo irónico. A ironia romântica de Schlegelnão é, como já foi dito, uma expressãoda ânsia pelo infinito sob a perspectiva da qual o real é relativizado; ele deve ser destruído em seu significado presunçoso.A ironia também produz esseprazerde destruir. ljE.!Ê:rla...ande....Fichie..leciona.enueUM-rUDe.reúnem:se-por algumlemp.o

Wilhelm

.çodgs os-quç-.qBçrem. çhçgar..49-d©..cola.s.çu$..çuS. August

Schlegel ensina literatura

em ]ena e escreve no ]íore/z para

que resistir a um não eu robusto e ameaçaram por vezesperecer em dor e

Schiller. Sua casatorna-se centro do movimento jovem que mais tarde seriadenominado como o "Romantismo de lena". Ludwig Tieck estálá.

lamento. O jovem Hõlderlin

Novalis, neste ínterim auditor da direção das minas de sal de Weiígenfels,

escreve a seu irmão: ".F caem.pode Zelar iez/

:oração num belo recanto, quando o mundo bate nele com ospunbos? (quanto Oraisnós somosdesabadospelo nada que, como um precipício, boceja em torno ü nós, ou nos dissipamos também pelos milhões de coisas da socie(hde e peU

ltiuida& do homem. quesemforma, semalma e semamor nospeTseglüe, tão mais amai)Gozada e impetuosa e violenta deve se tornar a resistência em nossa

alma... A necessidadeeprecariedadedo taco defoTafüz com quea superabundância do coração Lllesda necessichdee precariedaíle" À. " suç)etabundànda

do coração" exige o ato, o desperdício da sua força; a limitação, o segurar a si seria fatal. No final das tentativas de chegar ao mundo com seu eu está

vem frequentemente a lena. Clemens Brentano estuda aí medicina e liga-se à sensível e bela Sophie Mereau, que Schiller vê como a autora mais

talentosa da sua geração.Hõlderlin vem, para estar perto de Schiller e para ouvir Fichte. Schelling, que com uma famosa frase "0 ea é aea que simpl,esmente não sedei)catransformar numa coisa' se \ttuQ&wz como fichteano, vem de Tubinga para lena e consegueaí, no final dos anos 1890, um cargo como professor. Náo esqueçamos as inteligentes mulheres nos bastidores: Dorothea Veit, filha de Moses Mendelssohn

a torre em Tubinga, onde Hõlderlin, pouco importa secomo nobre fingidor

e companheira de Friedrich Schlegel, assim como Caroline Schlegel nessesanos atraída por Schelling. As pessoasse encontravam também na

ou como doente, passaas últimas décadasda suavida em reclusão.Um eu

casade Sch[ege[; o apogeu da ação em comunidade 6oi o final do verão de

que desistiu de conquistar o mundo como palco de suasafóei.

1799. Tantas personalidades orgulhosas e altivas só podiam evitar colisões

O novo sentimento do eu estáprimeiramente associadoà dor diante do mundo também no jovem Friedrich Schlegel.Ele escrevea seuamigo

se dessem, umas às outras, espaço para a ironia. Aqui, a "teoria do com-

78

79

portamento em sociedade"de Schleiermacherencontrou um rico campo

LIVRO PRIMEIRO © O ROMAN'TISMO

CAPÍTULO IV

para afirmar-se. O que também ajudava era o sentimento partilhado

que não fossenada raro várias naturezascontrárias secompletaremmutua-

por todos de que o futuro lhes pertencia. Isso lhes dava a corça, o júbilo

mente, criando obras coLetiuas:'

e a generosidade dos heróis aclamados. 'Hgz/e&zépoca em /e/zíz#oj wm,zzÚZJ

wzzZiór/ZBa /ei e$?ÓzeiZa m/nóa z,/2a", lembra Ludwig Tieck em 1828 (numa dedicatória do P» nZaiwi) a August Wilhelm

irmão Friedricb,

Schlegel; "z,oré e sem

Scbelling, ao nossolado; tocos nós jovens ambiciosos;

NouaLis-Hardenbevg, que vinha $'equentemente ter conosco: essesespíritos

/rgrlai",

escreve Carolina

em 5 de outubro

de 1799 a sua amiga Luise

Gattet," mashá um trimestre inteiro não houve nenhum momento de calma

..] (àue dias com música em comunidade, feliz;es, vivemos! [...] Naquela :pocü eu tinha entre 15 e 18 conuidctdos para o almoço. Minha

As pessoasse encontravam ao meio-dia e à noite para comer e para conversar; havia verdadeiras reuniões nas quais eram discutidos artigos

é boa, eu sou atenciosa, e assim tudo correu otimamente [...] Nós vivíamos

para a''iíÁezz.Zz/m. Tieck lia contos, Schelling lia da sua6ilosoGiada natu-

a filosofia do eu de Fichte. Henrik StefFens,que caiu alguns anosdepois no rastro dos românticos, escreveuem suasmemórias elegíacas:".Êbf r/-

em reza ra z,iz,é/zc/a."Era uma união cujo princípio

cozinheira

vital em espírito era

ieu alsç\i.tsa A cristandade ou a, Evropa \l)ie Cbvistenbeit odes Europa\. O cientista romântico Johann Wilhelm Ritter conta as novidades sobre

nbam seligado numa união estreitíssima,e na verdadeeramfeitos unspara

o "galvanismo"

Filosofa de Ficbte, o ato interno absoluto

e a "eletricidade";

havia-se ouvido uma "me/z{/2}ica 2a

\

l

fazendo longos passeios aos belos arredores de lena. "E# //z,e m/ZBóef de

formavam por assim dizer uma festa de gvace3o,bu«lor e$bso$d' .

reza (ainda em processo de criação), Novalis fez ouvir pela primeira vez

L

Quando não comiam, conversavam,liam ou musicavamjuntos,

coxa Ze Sapo"7, disse Friedrich Schlegel a zombar. Esses encontros foram

certamente muito animados. Schelling respondeu ao texto exaltado de

os outros. A quilo que na Revolução era o acontecimento natural externo, na era isso que essaaliança queria

lesenuoluer como fantasia a brincar selvagem e Livremente:'

Os românticos tinham pois usadoa /mag/nafáo.prodzzr/z,/z de ma-

Novalis com suaparódia grobiana C»do ep/rz/rZçza 2e /geinz W7deporxfe i

neira extremamente profícua, fazendo dela o pr/ cópia 2a imag/naf'Zo

.Epikuriscb Glaubensbekenntnis Heinz 'WiderporstensÜ\" Não posso mesmo

21z,/n.z(Friedrich Schlegel). Tinham se deixado mover por uma vontade

aguentar issopor mais tempo l tenho de me beliscar no corpo todo Ide nodo

de especulação lúdica. Schiller, distante apenas um passo do palco dos

acordar todos os meus sentidos l que me pareciam desvanecer l diante dos

românticos, achava que tudo isso ia definitivamente longe demais.

nobresensinamentosclo alto l üos quais me queviümit força converter:

E\e esctene-. " Ofantasista deixa a natureza por mero capricho, para poder

A ironia romântica, como mostra o exemplo, 6oi explorada rudemente, maso tom amigável Foiconservado por ora (só a contenda erótica vai fazê-lo desaparecer); as pessoastomam consciência de que a riqueza da realidade só pode prevalecerdiante da pluralidade de perspectivas. No fragmento número 125 da -H/óenãwm,Schlegeldiz programatica-

perseguira intrepidezdosdesejose humoresda imaginaçãode maneira ainda mais Livre,porquea fantasia não é nenhuma nctrauaganciada nüturem, esim da Liberdade;partindo pois de uma basememoTáuel, adaptável ao in$nito, a Liberdadeteta a uma quedain$nita nasprojhndezassem chão e só pode acabamnuma total destruição:'

menle'. " Talvez umü él)oca totalmente nota fosse começar na ciência e nas artes, se a simftl,oso$a e a simpoesias se tornassem tão gerais e internaLiza(hs

7

Luigi Galvani, médico e pesquisador italiano. A partir de estudos realizadosem coxas de sapos, descobriu que músculos e células nervosaseram capazesde produzir eletricidade. [N.T.]

8.

Por trás destesconceitos estavaa prática de autores românticos de produzir textos conjuntamente. Inspirada pela convivência em salõesliterários, a arte da conversaçãofloresceu e deu origem a produções estéticas híbridas como correspondências e romances

80

em cartas de autoria por vezespartilhada. Assim, na revista 4róf/zãzím,publicada em 1798, encontram-se 45 1 fragmentos (que resultam da colaboração entre os editores, Friedrich Schlegel e Friedrich von Hardenberg [Novalis] e Friedrich Sch]eiermacher) sem nenhuma indicação do nome do autor. Schlegel acreditava que uma nova época científica e artística, na qual naturezas diferentes se completam, poderia ser iniciada através desta prática. Cf. Friedrich Schlegel numa carta a seu irmão August Wilhelm

Cit. em: Friedrich Da mel Ernst Schleiermacher. Scór Pe zufZer Bfr/íner .Zk/f /;r98-

=/799, Kritische Gesamtausgabe. Vo1. 2, Berlim, 1984, Historische Einführung des

Herausgebers Hans-Joachim Birkner,p. XXXII. [N.T.] 81

'

LIVRO PRIMEIRO © O ROMAN'TISMO

CAPÍTULOIV

Os românticos acreditavam poder dispensar essetipo de advertência. Suavirtuosidade intelectual, com a qual sempre queriam ir além de si pró-

mesmo; sua trombeta continua a proclamar o dia do juízo final do

prios, já havia colocado em evidência os riscosdos seusempreendimentos. Jean Paul, Friedrich Schlegel e Clemens Brentano têm uma sensibilidade

7Uúfíom],apostaalto no renascimento do eu quando estimula todo um povo a finalmente libertar-se do não eu francês.

aguçada no que se refere ao abissal nos seus projetos

do TB!!!blnQjl..(çgsê:J.xpressãg..aparece.na.épQçaD.umT.{azçr..çsp-ççial. Jean

(]aedie, quando recapitula em 18 12 o irrompimento dos primeiros românticos, observalaconicamente que se tratara de !!Dê.3/nora Ze

Pau\:"Ab, se caca eu é seupai e criador, por que é que ek não pode serseu

;aL!!!!!!Jbçados

e ç3111gqrlLSbs:piÉagos

eu moral.

Mais

tarde,

nas EaZai à

próprio anjo exterminados?

Quando como Schiller o faz -- seacusaos primeiros românticos de secomportarem "arbitrariamente", então elesrespondem: Sim, e por que não?THvez a arbitrariedade seja nossa melhor pari'' Jean Paul, que

conheciamuito bem os labirintos do eu, passapara o lado de Schiller quando

mais tarde

escreve

em seu Garfo

eZeme iar Ze eiférjc.z

[ WorsfÓz/Ze

der ÀstbetikA\ " l)g.gTtjpariedade semIgi..do..esp#itQ.da.. @oç4----.qw, 1:

lllEl4.cb-pula.ew,.prece.rçd unir Q.mundo.e. g. unitierso parti-.=rtum elpaçe.de

4ç4aliZB,, se. !c WTÜAQna(h=:.s.egue:se qHe 1le tem de.jgLar da mímesis e do estudo da natureza de..maneira desdenhosa.

Alguns daquelesa quem o desejode ser um eu havia levado bem longe na própria vastidão ficam exaustosno anal. Como um eco melancólico da exclamação de Werther "ez/ me z'o/fo .z m/m mesma e acho zóm

mzznZo"soa em 1802 a observaçãode Clemens Brentano: "Q em me Levaa mim mesmo, mata-me.

Aqueles que querem ascendercom seus eus logo buscarão algo fixo. Pois também o eu-cometa Bonaparte se fixará na rija autoridade bl

imperial. August Wilhelm Schlegel encontrará abrigo com a abastada Madame de Staêl. Friedrich Schlegel preparará sua passagempara o colo da Igreja católica. Também Brentano se tornará devoto. A tradição voltará à moda, canções populares e contos de fadas serão coletados, " Ca/w Z/wzZge,zda na nojfe 2e.pr/mzzz'r

", graças a Deus que não temos

de fazer tudo sozinhos, podemos nos deixar levar e nadar numa correnteza que vem de longe. Vamos buscar locais seguros e relações estáveis.

Por enquanto, porém, ainda não chegamos a esseponto; embora o grupo de românticos se venha a dispersar depois de 1800. Também Fichte, por causade uma acusaçãode ateísmo sob medida disciplinar, deixa em 1799 o palco romântico de lena, mas permanecefiel a si 82

83

afia

aZemá [.Rezem ,zn d2e dez/íscAe

CAPÍTULO V

Ludwig Tleck. Na fábrica de literatura. William Lovell: os excessos egotistas. Sátiras literárias. O virtuoso da escrita encontra aquele que acredita na arte -- Wackenroder. Dois amigos em busca

da realidadede seussonhos. Noites mágicasde luar e a épocade Dürer. A montanha de Vênus ao crepúsculo. As peregrinações de Franz Sternbald.

Dentre os ía&n/ai#orfa2os dos quais Goethe calaracom um pouco de descrédito, Ludwig Tieck era provavelmente o mais "forçado". Enquanto os irmãos Schlegel a princípio desenvolveram apenas a doutrina romântica, \.

entre 1795 e 1800 o jovem Tieck criou, independente disso, de modo incrivelmente rápido e fácil, aquelasobras que realmente eram tão românticas quanto os teóricos haviam imaginado. Ao conhecê-lo pessoalmente em 1798, Friedrich Schlegel denominou-o

"zíma .pf'iia.z mz///a comi/

'

Pouco depois ele o aclamada como gênio.

No jovem Tieck já se encontratudo que se associacom o Romanàsma'." a noite mágica & luar l queprende a atenção, l maravilhoso mundo ie contos de fada, l ergue-te no mesmo brilho de outrora' Ociaz,gamo [Ka/Jer Orzaz,Zam], 1804); o nii]ismo

romântico

Çlmperador no romance

epistolar W7ZZ7am Zloz/e/(1795); a ironia romântica nas comédias literárias

: sal\ocas em O gctto de botas \Der gestiefelte Kater\ e O mundo pelo ciuesso [.D/e ueréeór/e WêZr]; Tieck escreve o primeiro

conto de fadas artístico dos

românticos, O Zaz/ra Erêóerr [Z)er ÓZo/zZe EcÉóerr](1797); com seuconto sobreTannhãuser ele fündamenra um mito romântico que teve influência até sobre Wagner e as fantasias a respeito do monte de Vênus no século

XX. Junto a Wackenroder,é ele quem arquitetou o Romantismo de Nuremberg, a veneraçãoa Dürer e arte religiosa dos raEaelitas.Mais tarde, os nazarenos seguirão os rastros de Tieck. Seu romance .4r.pezrl©'//zafóef de .f;b/zz Sfe

Ó # [/;bmz Sfer/zÓaZÜ Wã Zerzz/zgen] (1798) é o modelo

do romance artístico romântico, que Novalis e outros seguirão.Tieck deu uma contribuição decisiva para o descobrimento não só filológico como 85

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO

CAPÍTULO V

também poético dos antigos livros populares alemães,da Canção dos

.L

B

Nibelungos e da lírica trovadorescaeuropeia.Na suabuscapelo romântico antes do Romantismo, explorou as antigas literaturas espanhola e

e o comentário da ZenpeffízZr.Ficou contentíssimoquando as novas traduçõesde A. WI Schlegelforam publicadas, dando continuação ao empreendimento após a morte deste. O pai, distante de tudo que era

inglesa, então esquecidas. Thomas Mann dirá, sobre sua tradução do Dom Qaixote, que ela mas\ta " nossaLíngua em seu níliel maisfeLiz'

selvagem, ficou inquieto diante da paixão do filho por Shakespeare: ó fclltat;a isso, para torna-Lo completamente Louco!"

Aquilo que Friedrich Schlegelesboçateoricamente -- a .does/az/m/z,exx.z/.proa esf/z,,z , Ludwig Tieck póe em ação. Ele conhece bem quase todos os gêneros literários, brinca com pensamentos e com humores, eaz

Ferdinand Bernhardi, mais tarde seu sogro, e Friedrich Rambach -- ambos

Os professoresda escola não só o apoiavam como o usavam.August apenas alguns anos mais velhos que seu aluno -- mantinham paralelamente

magia com tons líricos. Consegue fazer tudo tão Eacilmentel Exatamente isso tornar-se-á para ele um problemas Tieck nasceuem Berlim, em 1773, filho de um mestre cordoeiro ver-

uma fábrica de literatura. Produziam romancespara o gosto popular: de horror, de ladrões e cavalheiros,e integraram o talentoso aluno .m seu

dadeiramente abastado para sua classe,trabalhador, prático e inteirado em assuntos culturais. Isso tudo ele tinha de agradecer ao Iluminismo

êxito com a descrição de paisagens,da atmosfera, da áreapsicológica, que os professores acabaram por Ihe incumbir passagenslongas, especialmente

popular em Berlim. Enviou o dotado filho ao conceituado ginásio de Friedrich. Ludwig era visto como "criança prodígio". Ele lia a Bíblia com quatro anos, com dez aprendeu de cor Gõiz z/on.Ber#ró/ngrn, um drama de Goethe. Com quatorze anos tinha lido toda a estante de livros

os importantes finais de romances. Tieck aprendeu incrivelmente rápido

do pai. Então Goia vez dasbibliotecasque emprestavamlivros. Ele lia

atormentava que o seu próprio eu, que ele imaginava ser algo como um

simplesmente tudo, e tudo misturado: as estórias de ladrões de Vulpius,

fruto, o escapasse diante de tanta literatura. Tinha muita experiência

as peçasde teatro de Lessing,os romancesde confraria de Grosse,as

na descrição de cenas horrorosas ou tocantes, mas ele mesmo não havia

trabalho. Ele podia corrigir e completar algumas cenas.Teve tão espantoso

como se Emliteratura da literatura e como seacerta assimo gosto do público.

Ele pertencia todavia à geração que aprendeu com o Wêr/óer e com

Rousseaua "sentir a si próprio", como se dizia na época.E por isso o

Clon@ssóef de Rousseau, os romances de cavalheiros de Spieíg, o \Mrr/órr e

vivenciado quase nada; podia se projetar para os complicados estadosde

as narrativas de viagem de Nicolai. Com seisanos 6oi pela primeira vez ao

espírito de alguém em dificuldades, de espadistas ou de jovens castelãs,

teatro. Com doze inventava peçascom marionetes e mostrava-as ao seu

e não era nada além de um talentoso jovem na puberdade. Assim, a vida e a arte entraram num perigoso desequilíbrio para ele.Numa carta, ele compara sua vida sentimental com o movimento das nuvens no

irmão maisjovem, Friedrich, que mais tarde se tornaria um importante escu[tor.Como a]uno do segundoano do liceu e]etraduziu duasvezes a O#liie/a primeiro em prosa, depois em hexâmetros.Numa tarde úmida de outono, num parque, leu o /lam&f de Shakespeare. Tinha conseguido um exemplar de um colega e só queria ver rapidamente a lista de personagens, mas não conseguiu mais solta-lo. Quando acabou de ler a peça, sem respirar e completamente absorto, encontrou-se mo-

céu. Elas criam formas variadas que não podem ser tocadas. Não têm

substâncianenhuma. Mas enquanto as nuvensno céu, quando passam, deixam transparecerum céu risonho e azul, os sentimentos literários, quando desaparecem, deixam um vazio escancarado atrás de si, que Ihe dava medo. Ele tenta transpor essevazio com uma produtividade

lhado e rígido de frio, ao lado de insignificantes lâmpadas de óleo que entretempo foram acesas.Foi uma experiência de iniciação. Então leu todo o Shakespearena tradução em prosa de Eschenburg. O encanto permaneceu, mas também cresceu a convicção de que se deveria ousar uma nova tentativa de tradução. Ainda como aluno começou a tradução

despreza o gosto popular ao qual serve. Em momentos impiedosos, res-

86

87

febril e mesmo assim não consegue se livrar totalmente

de insignificância

da sensação

uma sensaçãoque é intensificada pelo fato de que

salta que se desprezaa si mesmo, ainda que seu negócio fácil Ihe traga

o reconhecimento dos dois professorese algum dinheiro.

LITRO PRIMEIRO e O ROMANTISMO

CAPÍTULO V

[)esse sentimento de insignificância, vazio e autodepreciaçãoé que trata o primeiro grande romance, \UZ///úmZ,oz,fZZ, gerado durante os estudos e não mais escrito para a fábrica de literatura de Rambach. O horror pelos sentimentos apenasliterários que contém muito pouca realidade é nítido nesseromance epistolar sobre um jovem inglês de família rica, cuja

constante de Lovell. Quando se apaixona ou faz uma amizade, para eleisso não tem a-vercom a outra pessoa,massim com seuspróprios sentimentos, que o cercam como um casulo e o separam da realidade. Isso leva a um processo sutil de destruição do sentimento e à debilidade

instabilidade interior Eazcom que setorne vítima de um refinado plano

física. Também os sentimentos se espreitam; no final não sabe mais quem e o que pensanele. Perde-senuma multiplicação nefastado seu

de sedução. William

Lovell escreve a seu amigo: "JM2oa/zZa ez/.por esi.zz//Za

eu. De início, se delicia com essasituação, e então se desesperadiante

como um sonâmbulo que & olhos abertos é cego?Tudo que uem a mim é apenas

Le\a.-. " Ab, o que é verdade e convicção no ser humano! [...] Ob, que não

t+mfantasm.z da mini)a imaginação interior. Deserto e caótico, tudo jaz em

sefclLe comigo futuramente

de pessoas que fingem. O que é franqueza

torno. Como com uma varinha mágica o homemseprecipita 'zo desertoe de

em /zós.f"No final do romance, aquele que agia secretamente dá um

rede':te os ekmentos hostis sej",'tam,

parecer destruidor

clara --

tudo se agrupa, formando uma imagem

eLeé completamente absorvido e seu olhar, que não regressou,não

percebeu como tudo atrás dele de nodo se separou e divergiu:'

Tieck escreveassimmesmo antesde ter tomado conhecimento da filo.L

sobre si: ".4r/ agaxn z'océ .gera/me/z/e Je famaz/ por

lm ser nçtremümente fantástico

e raro, e nada é menos do que isso. Você

magma também que soPeu revoluções violentas no seu interior, mas tudo Isso é apenas criação...

agora t,ocê apostou tudo para se tornar

um conHso

sofia do eu e da construção do mundo atravésda imaginaçãofichteanas.

filósofo Louco.

A própria experiência e asdúvidas em si mesmo -- no contexto da criação

Os excessos do eu de William Lovell foram pois muito barulho a troco de nada. O romance tem aspectoshorripilantes, profundos; o óor or z,arw/-- o medo da monotonia , a suspeitade que apenas inventamos onde pensamos ter achado, o desaparecimento da crença e da confiança, a falta de abrigo metafísico -- tudo isso estápresentee com tudo issose brinca..Jáno início do Romantismo mostra-se,pois, o problema do niilismo romântico como o lado negro da euforia do

de uma vida falsamente literária

são suRcientes para que possa escrever:

'Eu apenas uou ao encontro de mim mesmo l num deserto vazio" E\e veta.

confirmada sua experiência anterior com os precipícios da imaginação ao Ênalmente encontrar Fichte em 1799, em lera. O poeta era nele mais

rápido do que o âlósofo. Tieck escreveo romance Zoz/e/7ainda como estudante e, para desgosto do pai, nega-sea estudar algo do qual possa ganhar seu sustento. Em Halle, Gõttingen, Erlangene novamenteem Gõttingen, ele senta nas bibliotecas, lê e escrevesem cessar quando não visita círculos sociais nos quais é bem recebido. Ainda não é nada, escreve uma vez, mas é capaz de tudo. E o romance epistolar deve finalmente prova-lo. Ele manda seu protagonista Lovell pelo céu e pelo inferno e o descreve como um homem jovem que estáapaixonado pelo seu eu, que experimenta altos e baixos de sentimento, observando a si mesmo sem cessar

e refletindo, para perceber no final quão oco e vazio ele é e que seu eu, que se faz tão grande e poderoso, nada mais é que uma marionete para poderesalheios.Um jogador, pois, que não percebeque outros seguindo o gosto do tempo, trata-sede uma sociedadesecreta brincam com ele. O aumento da percepçãode si próprio é o objetivo 88

eu. Tieck escreve, recapitulando

o trabalho com o romance: ".é a mama.

Bento, o mausoléu de muitas dores e erros cuidados e amados, mas quando =stüuü construicb, o desenbista e o trabaLbadorjá

se haviam curado dessas

dores; eu estada quasesempre muito contente quando escret;ia esteLivro, só me agadaua a mim mesmo na cona.são. Friedrich

Schlegel

havia

exigido

da poesia

romântica

a "é'eZa ca/?Óz-

iáo". A encontramos nesseromance; e encontramos também a vontade irónica de brincar com a destruição e o extermínio. " Uoecomigo,/raro, peZai /z pedi", clama William

Lovell,

"gweremoi /rmámr

/eyzíÓ/ZÚr .z

destruição.

Tieck havia aprendido também a ironia na fabrica de literatura. Não que os romances triviais produzidos ali a tivessem previsto. Rambach não teve a intenção de ser irónico

quando deu o título .dias e./;maxaJZe 89

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO

CAPÍTULO V

notórios génios da foTçü e da manha \Taten und Feinbeiten renommierter

J;:izeP-##Z .Khêügem/ei]a uma das suas coleçóes. Mas Tieck era simplesmente inteligente e criativo demais para se dar por satisfeito com o esquemaexigido sem a ironia. Mesmo antesde Friedrich Schlegel ter reclamado doutrinariamente a levitação irónica do autor sobre a matéria poética, o jovem Tieck já se exercitava nisso. SÓassim ele podia manter-se acima do chão. Uma vez ele tinha de descrever os atos heroi-

cosde um homem chamadoHiesel, da Baviera-- um Famosoladrão

1. 8

publicadapeça" O gatodebotas , "opúbLico seriabem&senbado" \ as atores que representavam

sobre o palco dizem:

".Aüo óá

r/zÁzzm.pzZÓ#ro

ma.pefú."Leanderolha atónito para o verdadeiropúblico, por trás do público representadopor atores. Um cenário lúdico que brinca audaciosamente com o público real e com o imaginário, com o autor, com a dicçãoe a realidade, com amorese papéis. Uma peça que Friedrich Schlegel, junto ao seu Zz/r/nZe, elegeu

de animais selvagense gatuno. Rambachhavia anunciadoo retrato de

como modelo da ironia romântica. E ela permaneceu um modelo para o teatro que se despededa ilusão, do jogo no jogo, até o presente,até

Hiesel como o de um gênio da força que, por causadas "r/rrzznif2nc/.z',

HI»an/a .zopzZÓ#co [PzzÓ#,êz/mJÓelcÁ/22%!!/ü/zgl, de Handke.

/zzgnre ro z,enfio" havia se formado mal. Tieck desenvolveuo conto dessaforma, deixando transparecerno âm quão aborrecido estavapor deixar essetipo aparecer como herói, uma vez que ele nada mais era do que um trapaceiro ordinário. Tieck soube como deixar em aberto essa ressalvado narrador, de modo que os leitores e também Rambach nem

\.

mais sabiam o que pensar concretamente a respeito.

De tais conflitos na fábrica de literatura nutriu-se a grande arte irónica de Tieck,l que se mostra principalmente na comédia O fura Ze

O tema do medo

do vazio,

que conhecemos

em \y?/&zm Zoz,e#.

vaga também nessapeça. O público quer ser divertido; seria ruim se o palco ficassevazio -- o que o autor insultado ameaça fazer de vez em

quando. Fim de jogo, âm de vida. Isso não pode acontecer. O autor é vaiado Uma nova peça é peremptória. Tieck tinha uma imaginação

admirável. Ele podia improvisar livremente peçasinteiras. Uma vez, num círculo de amigos, deixou que Ihe sugerissemum tema -- um amante, que se revela um orangotango

e imaginou no decorrer de

Z'aias.Lá, seu objetivo é ironizar o gosto teatral berlinense. A peça brinca

meia hora uma intriga complicada, na qual ele agiaem diversospapéis.

com um público que quer ver heróis enérgicos, donas de casae moças perdidas em decoração pomposa, mas não um gato, muito menos de botas, sobre o palco. Aqui, muito tempo antes de Pirandello, o jogo é apresentadono jogo, pois também há um público sobre o palco, e os protagonistas da peça criticam seu autor e entram em contenda com o público. Este último faz também muito barulho e reclamaque faltaria um po /a./2xo na peça e que seria impossível adentrar uma //#izío xnzoáz,e/.O autor é chamado ao palco. Ele tenta acalmar os ânimos ultrajados e só consegue se salvar da situação chamando à frente um tocador de sinos da FZawíam/eira, que vem acompanhado de alguns ursos dançarinos. No início do terceiro ato a cortina se ergue tão cedo que o autor é surpreendido no palco em conversacom o maquinista. A montagem um est:ranhoconto de fadassobre um gato que quer conseguir um reino e uma bela noiva para seu dono é literalmente triturada entre os atoresque formavam um público sobre o palco e o

O macacopassapor um breveprogramailuminista e, no final, tem tão

autor da peça. Numa cena, o sábio Leander afirma que na "rf'cenfeme/zfe 90

bons modos que se pode Ihe dar a boa moça como esposa.".4si/m", lê-se no anal da peça improvisada,

"/ c2'/ Za á bale.para z/ma grxaf'Ío gzíe z//z,

orlas as qualichdes do reino animal com as opiniões sublimes e nobres que

]oie em dia semostramna humanidade culta:' Tieck não tinha apenasum impressionante talento como improvisador; ele era também um talentoso atar. Brentano o elogia como o "m.z/or iaZen/a mlh/ra gz/e 2elxoW dr.pesar z/m.paira". Suas noites de leitura, nas

quais transitou por todo o rol de papéis e vozes, ficaram famosas.Isso era o que correspondia, do ponto de vista do desempenho teatral, à sua

virtuosidade -- com a qual ele podia imitar ou seprojetar em diversos estilos literários. Também isso faz parte da .pari//z z/m/z/farsa/ romântica. Nessesprimeiros anos, Tieck, o rápido jogador literário, tevea sorte de ter achado um contraponto num amigo que personiâcava um tipo totalmente diferente, urn colegae então companheiro para quem a arte não era um jogo, mas algo sagradamen[e sério; alguém para quem ela se 91

CAPÍTULO V

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO

da vida burguesa normal. E, além disso, não podia fugir da suspeita de

tiça de Berlim, havia destinado o filho já cedo para a carreira jurídica. O entusiasmopela arte haveria de sucumbir nessegrilhão. Morreu em 1798. Ainda teve tempo de passarsuas confissões e sua religião da arte

verdadeira produção. O verdadeiro artista, assim pensava, serve sem

ç)atao yapd., os Derramamentos do caraçáock um monge amante da arte XHerzensergieFungeneiras kunstLiebenden KLosterbraders\ , de \ 797, e, um

ano deva\s, as Fantasias sobrea arte para amigos da arte \Pbantasien {lber 21e.KãmJ/.@r Erra de 2er .Künir], editadas por Tieck acrescidas de

textos próprios -- depois da morte do amigo. Wackenroder estavaa eleligado por meio de uma delicada afeição, admirava suaprodutividade, criticava porém a irreflexão ligada à escritura rápida e o alertava para não profanar a arte sagrada. O jovem, que crescerasob um protestantismo iluminista sóbrio, era sedento por um santuário forte em imagens e sentimentos; o que ele queria e também \

#

Wackenroder sentia-se dividido entre as exigênciasda arte e as

tornou religião, que Ihe dava asase o fazia sofrer: era Wilhelm Heinrich Wackenroder. Seu pai, conselheiro secreto de guerra e prefeito da jus-

espetado. da am\go eta " 4oeLbar-se diante da arte e trazer para eh a ho-

menagem de wm amor eterno e in#nito

que o desejo da arte nele bastavapara o gozo da arte, mas não para a reservas à sua obra, não se deixa contestar; a evidência da sua criação

o põe acima de todos os escrúpulos burgueses.O verdadeiro artista, esclexe nas l)erramctmentos do coração," conseguetecer suasaltasfantasias

comoa um tecido intrépido eforte nessaTida terrena' Mas talvez a tensão entre a arte e a vida burguesa fosse menor, se a vida terrena fosseapenaspor si mesma plena do espírito artístico, diferentementeda vida na insípida Berlim. Em buscade um mundo que estivesseaberto à arte, Wackenroder descobre, ainda que de início apenasna fantasia, o Renascimento alemão, a cidade de Nuremberg, de Dürer. Não foram belos aqueles tempos em que a solidariedade burguesa, a devoção e o sentido para a arte formavam uma unidade feliz? Nos temposantigos era pois costume que se Dissea Tida como uma bela pro$ssãoou anuidade...l)eus evavisível para o mestre-de-obras" cesse

Wackenroder estavacheio de uma crença na arte fora do comum. Os temas deviam ser devotos. As imagens de Mana pintadas por Rafael

mundo divino da profissão, os artistas podiam sentir-se abrigados:

eram para ele a súmula de uma arte da transcendência. O olhar cheio de saudadeem direção à Itália nada tinha do chamado erótico que o romance

elegantemente ou como bobo) ou por causa da monotonia (como agora

sobre a Itália

de Wilhelm

Heinse

editado

em

1787,

.4p2áng&r/Zo

e /zi /ZB,zj

da .plicichde \ArdingbeLLo und die glilckseLigen InselnA, hav\a ytaNOCadOna

geraçãode jovens. Também a postura do artista deveria ser devota. Ele se entrega à sua arte, ele a serve. Convencimento, vaidade, vontade de causar efeito e levar em conta a opinião do público eram pecados para ele. .Alguém

podia pois pecar contra a dedicação, mas tudo ficava mais complicado em Wackenroder porque o princípio da realidade, personificado pelo pai, também aguavafortemente. E por issoa dedicaçãoera acompanhada pela culpa, o sentimento de pecar em relaçãoàs exigênciasterrenase burguesas

do seu círculo social. ".4 árfe é z/m.P'zzfaiez/wfo proió/Zo", diz nas suas l

Fantasia sobrea arte\ " caem provou do seusumo mais íntimo e óLoce está perdido para o mundo árido, pipo. Ele r teia caca uez maislbndo no sea ;entimento egoísta, e sua mão perde compl,etamente a força ck se estender para

alguémpróximo de maneira atiça: 92

Pois a sua arte tinha de ser para eles

tampouco eles a praticavam

cosa"""a 'l",'tecer), mas com dedicaçãofer«nba, como uma p"ftssã. eLa tinha de ser para eles, sem que eles o soubessem, uma secreta imagem

que correspondesseà vida.

Assim surgiu, na Berlim impregnada de Iluminismo dos anos 1790, o sonho de um Romantismo alemão antigo. No verão de 1793, os dois amigos se puseram a caminho para encontrar a verdade sonhada. Estudavam em Erlangen e peregrinaram de lá para Bamberg, Pommersíelden, Bayreuth e Nuremberg. Pode-sedizer sem exageroque foram Tieck e Wackenroder que nesseverão idealizaram a Francânia -- com suascidades medievais, florestas, ruínas de castelos,

residênciase minas-- pela primeira vez como terra prometida do Romantismo alemão. Naquela ocasião, numa noite enluarada no bispado

da Francânia,conta o velho Tieck, Ihe veio o milagre da "mo/írwz írá de /u.zr", quando os "lo i oic/Za fesZe zzmam'a/mpr/a"Ihe chegaram aos

ouvidos. Nuremberg, com suas múltiplas torres e altos frontões: os 93

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMANTISMO CAPÍTULO V

amigos a viram como um navio com vários mastros, altivo, mas aterrado,

na paisagemdiante deles. O toque noturno das trompetas os deixava

melancólicos.Durante o dia, porém, se deliciavam no burburinho colorido, nas ruelas estreitas entre as casas.em enxaimel e nas praças largas.Eles se sentiam verdadeiramentede volta ao tempo de Dürer. E então, em contraste com a digna seriedadeda velha cidade do Reino, a alegre residência do bispo em Bamberg. Era-lhes fácil crer que "debaixo do bastãocurvado é bom de seviver", como sedizia na época.Um mundo

católico onde as jovens moças lhes lembram as imagens de Mana nas igrejas e conventos. Há fé aqui, mas se celebra também a vida. Os cultos religiosos e as festas da Igreja desenvolvem ainda um brilho barroco, cheio

de cor. Mesmo os cortejos Mnebres oferecem uma imagem pitoresca: uma mulher que acompanhao enterro chama,causandoeco, o nome

'\

da morta nas ruelas. O povo se agrupa, as jovens vestidas com roupas escurase com imensos laços nas tocas. Quando o vento passa por eles, parecem grandes pássarosinquietos. No romance de teor autobiográfico que escreve décadas depois, O 7az/rm meff e Ze marcrzz.zrZa [Der ./zznge

Z:író&rme/í/er] , Tieck lembra-se das impressõesque teve nessacidade e

insinua indiretamente por que o mundo católico teria guardado algo de auacnte pala ele. "Meu pai, que tinha boas intenções, me avisou antes da minha viagem que eu não risse durante as festcts nas cidaüs catóLiccts.Mas

foi bom que eLenão pudesseestar presente,pois certamente teviü voltado sua

Lracontra mim por causada minha comoçãodiante dasprocissões, da música, das trompetes e das vozes dos coros, dos altares decorados mostrados na

rua, do podo a orar, que mugia comigo até à.slágrimas, enquanto el,eera ;entra essesserviços de idólatras

como el,ecbamauci coisas do género

e

Leria ralhado ainda mais comigo:

Nos diálogos introdutórios do PÉazf#izzi(depoisde 1810), Tieck observadivertido que o romantismo de Heidelberg, como ele, estavanesse ínterim a seguir os rastros da .pá#/a ízZem.í.Podia sentir-se porém como pioneiro, pois quando eezsua viagem com Wackenroder, para eles "a.pá /

era em toda parte tão desconbeci(hquctntoos reinosa seremdescobertos nas prolbndezas chÁsia ou Af'ica, sobreos quais secontavam histórias incertas' .

Eleshaviam descoberto um mundo mágico, cuja atmosfera inspirou Tieck a escteveç as navalhas

O Louro Eclebert, TannlJãuser e Runenberg. 94

O Zoz/raEc,êóerftem por tema os prazeres e temores de uma solidão

na floresta, que Tieck vivenciou na épocanas montanhasdo Fichtel. gebirge. Como lembrança de uma história contada pela mãe, surge a imagem daquela velha sinistra que vivia com seu cão numa cabana, longe do mundo. Partindo dela, Tieck criou em 1796 esseconto de dadasartístico e romântico que viria a fazer carreira. No poema 2?mz/mózalZm/e#córl, de EichendorQ leremos anos depois:

A penumbraquerabrir as casas IAs árvoressemodemteniuelmente] [...]] ,e tem um amigo consigo anão coUBe nele nessahora, ] [...]Perde-se algumas pisas na noite l Tenha cautela, $que digna e uiuol"

O tema de O ZozíroEr,êóerr é de que modo algumas coisas devem permanecer perdidas na noite e que estrago causam se são trazidas à luz do dia e comunicadas. Traz consequências terríveis que Bertha que vive com seu marido, o cavalheiro Eckbert, solitária numa fortaleza .

lenha dado confiança a um amigo, Walther, e Ihe contado sua história estranha, quase encantada. A infância lembrada adquire quase sempre traços encantados, mas especialmente esta. Bertha havia fugido de casa,

onde apanhava, errado pelas florestas e achado um abrigo feliz com uma velha senhora que vivia numa clareira com um pássaro Edante e um ca-

chorro. Ela dividia essavida solitária com a velha, o cão e o pássaroque canta a canção da so&zZ2o daWorefia e põe um ovo todos os dias, dentro do qual há uma pérola. Poderia sedar por contente, mas a curiosidade a respeito do mundo aumentava. Deixou então sorrateiramenteesse paraísoda infância. Deixou o cachorro, cujo nome esquece,para trás, mas o pássaro e as pérolas ela leva consigo. Trai pois a so#zZ2ozZzWoefta;

é um pecado, e, como uma consciência pesada, o pássaro a acompanha até que ela o mata. Depois disso vive transtornada e recolhida, mesmo

apóster aceitadocasar-secom o louro Eckbert. Assim poderia acabara história da solidão da floresta de Bertha, se Walther, a quem ela a conta. não se despedisse

com a observação:

zZzz,.zCOW/zÚZúa ,pegWrmo S/roÁml

"ezz.pairo /maXI

n". Bertha

tinha

á

Como a JenZ'oza

esquecido

o nome

do cachorro, e Wdther o sabe. Quem é ele?Aqui a infância encantada

se transforma num presenteaterrorizante. Bertha é tomada pelo pavor e morre. Eckbertl contaminado pela desconnlança e pelo desespero de Bertha, mata WHther, esseinquietante conhecedor das coisas. Mas ele 95

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO CAPÍTULO V

o perseguirá, aparecendode diversasformas. Finalmente, Eckbert não mais pode distinguir entre loucura e realidade. Morre quando a velha

daslembrançasde Bertha o encontra no final e Ihe diz que ela não seria ninguém além do próprio Walther e que ele, Eckbert, na verdade era o

.l. '\

época dos imperadores da linhagem Stau6er. Falava-se bem cedo do tom

irmão de Bertha. Enquanto isso o pássaro,que de repente estáde volta, canta sua canção sobre a io#Z2a ZaWorefía. Nesseconto de dadasromântico que trabalhacom o medo moderno,

particularmenteerótico do Tannhãuser;contava-seque ele teria sido embebido de belezae amor e teria embriagado a outros. Um Dioniso do norte. Uma cançãopopular que mais tarde é integradaà coletânea

trata-se do signinlcado plural da comunicação, da confusão gerada pela

de canções .Des-KizaóenM# Ze óarm conta como Tannhãuser, tomado

necessidade de confessar, dos perigos da intimidade -'i"31

Hameln, que atrai ascriançasdo lugar com seu toque mágico de flauta. Aqui há lembranças das cruzadas de crianças. Tieck porém associou o mito sobreo monte de Vênusà figura do Tannhãuser,um trovador da

e de segredos que

deveriam permanecer em sigilo. Aquilo sobre o que não se pode falar, sobre isso se deve calar ou cantar. Basta a canção sobre a fo//züo Zú/orefia. Para proteger a vida, a consciência romântica protege o segredo. Nos diálogos introdutórios do PÓ.zníaiaslê-se a esserespeito: " Uocêjamais searrependeu de uma pctLaurctque vocêdissemesmo ua hora de maior conPança ao amigo mais con$áuel? Não porque vocêpoderia considera-Lo

um traidor, massim porque um segredoÍntimo agoraLeuitanum elemento que pode voltar sua natureza brutafaciLmente contra eLe:' Isso \uda gata em torno de O Za ra ETÉZ'err,que era considerado entre os românticos o melhor conto de Tieck.

pelo remorso, abandona o reino de Vênus e pede perdão ao papa. Mas

como este não Ihe é dado o papa capitula diante do poder de Eros --, volta ao monte de Vênus. A narrativa de Tieck sobre as atraçóes do monte de Vênus fornece a base para trabalhos posteriores, especialmente o de Wagner. Com esse

conto ele mesmo, todavia, deu continuidade a um tema de O Zoz/ro Ec,êóer/.Trata-seda experiência de que há segredosque devem permanecer .pezz&doin.z mo/fe. Em Za/zzóãz/ier, o segredo está ligado a um

encantamento perigoso, quando arte e erotismo se tornam uma só coisa. Há momentos de êxtaseaos quais não se sobrevive, porque depois deles não se tolera a vida comum. Nietzsche os chamará mais tarde de "áp/rei

Durante seuspasseiospela região da Francânia, os amigos também visitaram minas; as impressões são tão cortes que também elas deixam sinais

de 2e/á'/a". No conto de Tieck, Tannhãuser tenta contar ao seu amigo

nítidos na obra de Tieck -- por exemplo no conto .R# e óerg.Uma vez

Friedrich a respeito. Interrompe-se e beija o amigo. No dia seguintea mulher deste estámorta eTannhãuser some. Seu beijo, porém, eezcom

até adentram a montanha:

que Friedrich perdesse a razão. ".,4sT/m e& roer? em pressa / ro/nPrerm-

".Eu ri zÁ a /mpreisáo Zr gz/eíer/,z receól2a .por

üma sociedadeoculta, por t'm grupo misteriosoou ser Levadoa julgamento diante de um tribunal secreto.Lembro-me que qu.indo criattça havia t;isto em sonho, às vezes,tais caminhos longos, estreitos e escuros:' Com a vls a üe

iÍuel, para procurar o monte encantado e Tannbiiuser,e não maisfoi Disto. \spessoascontam que quem recebeum beijo & alguém do monte não consegue vencer a tentação que o arrclnca com aforça do encanto para os abismos

Tieck e Wackenroder à montanha começa o Romantismo subterrâneo,

:Losubterrâneo da terra:'

que serácontinuado tão veementementepor Novalis e E. T. A. HoKmann e que ainda mostrarásua influência mesmoem Hofmannsthal.

Tieck acabou esseconto na manhã seguinte à noite memorável quando, no verão de 1799, teve início a amizade com Novalis na casa

Um outro conto para o qual Tieck 6oi inspirado pelos seus passeios

na Vtancõtúa çal O$el Eckbart e Tannhãuser \Der getreueEckart andder Zazzn,óãz/ier]. Aqui, entrelaça diversas narrativas populares. Primeiro, a do

fiel Eckhart, que avisaDietrich von Bem a respeito dosNibelungos. Isso deu origem ao Eckhart que estáde guarda diante do monte de Vênus. Tieck liga a essecírculo de históriasa narrativado caçadorde ratos de 96

de August Wilhelm Schlegel, em lena. Já ancião, Tieck descreve a cena da seguinte maneira: "Oi #m//ef da z,j2Úrama/m rzz/xum,e no r/# r r Lastaças brindaram

irmtindade. A meia-noite havia chegado; osamigos

dITampa"ü a noite üe vetân. Mais uma ueza lua cheia, lieLbaamiga do poeta desdeos tempos da infância, descansauctmágica e cheia de btitllo ;abre as elevaçõesem torno de leria:' 97

LITRO PRIMEIRO e O ROMANTISMO CAPÍTULO V

Tieck acompanhou Novalis, que tinha de voltar a Weilgenfelsainda na mesmanoite, uma parte do caminho. Nessanoite, Tieck prometeu que terminaria seu conto. E, de fato, pede mostra-lo nashoras da manhã

o conto terminado. Ele o lê em lena no mesmodia aosamigos. Em

Zam Áãz/ier,

o monte

atrai

com segredos

eróticos.

Em .Rw/zemZ'rrK,

escrito três anos depois, a atração pelo dinheiro e pelo ouro é acrescidaà atração erótica. Tieck havia conhecido nesseínterim a fllosoRia da natureza

de Schelling e Ritter, encontrando aí uma confirmação para sua ideia de que diante das profundezas da natureza exterior, a própria natureza interior se revela -- e a ela pertence certamente também a usura, essemagnetismo

de tesouros escondidos. Mas enquanto para Schelling a natureza alcança

a consciência plena de si mesma no espírito humano, fascina a Tieck a escuridão, também a crueldade "leis z bife Zr üpcZ,zs no ro/o 2ú /erra". Wackenroder já havia morrido quando a amizade com Novalis começou. " Zer co óec/Zo z,aré", escreve Novalis após o primeiro encontro, \

l

lá início a um nodo Livro na minha vida. Você causou uma impressão

pvofvnda, instigante em mim. Jamais alguém me estimulou tão saque e completamente quanto você:

Nessemomento, Tieck havia terminado as duas primeiras partes do romance artístico .4s perel©'/ /zfóei de /;>azzzSfer óa/2

a terceira

parte foi planejada, masjamais escrita , que originalmente queria ter escrito junto com Wackenroder. O romance, publicado em 1798, causou grande impressão na geração romântica, alcançou grande repercussãoe foi aprovado entusiasticamente. Friedrich Schlegelelogia sua fantástica plenitude e leveza,e canüttua. "Aqui tudo é claro e transparente,e o espírito romântico parece #a fai/ r ioóre i/ meigo Ze moda agrazZZz,e/." E para E. T. A. Hoffmann

ele era ainda um verdadeiro az,ra.zrfúf/ca. O W7/Be/mMeisrer, de Goethe, havia trazido ao gênero do romance

nova reputação. Ele motivou a ambição da nova geraçãode poetas de criar também uma narrativa na qual estivesseminterligados a representa-

çãodo desenvolvimentode um indivíduo interessante,o esclarecimento de problemas do trabalho artístico e uma imagem global da sociedade.

Depois do W7ZZe/m Meisfer, o romance passaa ser um gênero poético universal, no qual tudo podia ter lugar: descriçõesda natureza,diversos 98

palcos, confiisóes e conflitos, poemas espalhados, apresentados também

sob a forma de diálogos e reflexões, psicologia, filosofia, teoria da arte. Se queria ir a fundo com o romance. Em

competição

com

o W7Z%e/m Me/s/er,

Tieck

escreve seu .f;hamz

Sfer/zóaZd. Mas, ao contrário do primeiro, aí não foi o mundo burguêsnobre, mas a arte que triunfou no anal. Assim queria o espírito romântico, e por isso se Festejou esse romance, enquanto

Goethe se mostrou

indignado. Ele mandou seu exemplar com dedicatória para Schiller, observando

que

seria

incrível

"gabo

z,.zzja / elfe z,.zja óon/f

"

O romance, de subtítulo C/m.z /í/Óda zZz.,4Zeman,óa 'z/z/liga,se desenrol, no tempo de .Albrecht Dürer, artista lembrado também nos Z)rzznmame/zra. da coxafáo de Wackenroder. Na figura de Sebastian -- o amigo pintor que

Franz Sternbald deixa para trás ern Nuremberg -- é retratado o amigo morto. O nome também alude ao santo mártir. Não havia Wackenroder também sofrido pela arte e por causa dela? ':/;huna Zrlxoz/ ZKaza Naremóerg", xou hoje essamoradia familiar,

lê-se no início do romance, "Ze/-

para aumentar ao longe seu conhecimento

para, depois de uma peregrinação árdua, voltar como um mestre na arte Za .P//zfzzxn."Com isso, a história toda já está contada. As estações dessa

peregrinação são a Holanda, onde SternbaJd visita o pintor Lucas van

Leyden; Estrasburgo, cujo mosteiro é elogiado mais uma vez, como

outrora o fizeram Goethe e Herder; e a Itália, onde o jovem devoto conhece e aprende a apreciar o erotismo e a sensualidade paralelamente à arte de Raeael. Tieck não pode negar a influência da fábrica de literatura mesmo nesse romance de qualidade, pois como nos romances triviais (mas também no

\Y?Z%e/m .44eürer),uma mão invisível dirige o destino do herói. Segundo o plano não colocado em execução, Sternbald devia encontrar seuverdadeiro pai na Itália, que havia claramente planejado tudo, e deveria ter reconhecido no amigo Ludovico seu verdadeiro irmão. Uma bela desconhecida,

que ele encontra no caminho, o lembra uma cena da infância. Ela se torna então a musa do seu amor, que encontra sua realização também na Itália. O Gtoda narrativa, levemente amarrado, passano romance romântico por um cenário variado de castelos, conventos, fortalezas, construções flu-

viais e florestas,onde mineiros de carvão,cavalheiros, duquesas,eremitase 99

LIVRO PRIMEIRO © O ROMAN'TISMO

CAPÍTULO V

monges aparecem e onde, ininterruptamente, soam a corneta de carteiro, a corneta da floresta ou uma flauta de pastor. Entre tudo isso, as instruções

dos mestres e os diálogos sobre a arte. Nesse contexto, trata-se sempre

Na embriagadora sensualidade de uma Itália que lembra o romance .,4nZB/nKe/Zo, de Heinse, Sternbald vivenda ao mesmo tempo um delírio artístico e erótico. Quase se despede do ideal da arte casta de Dürer.

da pergunta: para que arte?Qual o uso que ela tem no mundo burguês? No começo da sua peregrinação, Franz Sternbald é ainda facilmente

mas então experimenta diante do/u@ me /o./7ma/,de Michelangelo, a reconversão para a severidade artística.

influenciável por questionamentos sobre a arte. Primeiro, um operário

O plano não realizado de Tieck previa a volta de Sternbald à Ale-

se expressanegativamente sobre sua utilidade prática; então a mãe que gociante zomba dos artistas, pobres diabos. Mas Sternbald sobrevive a

manha e uma purificação no túmulo de Dürer. Sternbald devia, pois, ser levado da ânsia destruidora de obras àquela que cria formas. Mas como o romance não 6oi levado a cabo, ele permaneceu também na ânsia

essesmomentos de contradição e defende numa longa fala, que mais

incerta, que ainda não encontrou o ]oca] certo nem a obra que a satisfaz.

toma conta dele Ihe aconselhauma profissão sólida, e no final um ne-

.1:

tarde seria citada com prazer pelos românticos, que a arte não teria ne-

Exatamente essafalta de satisfação causada pela intuição e pela

cess\date de se ütl\. " O que vocêexpressacom a pclLaurz utilidade? Tudo tem de se resumir a comer, beber e vestir-se?Ou que eu comande um navio

ânsia íez escola. .Nguns trechos de Sfer óaZ2causaram um verdadeiro

melhor, invente máquinas mais c07i$rtáueis, p'zra apenasmelhor comer? Eu digo mais uma uez que a verdadeira elevação não pode nem deve servir;

abalo em pintores como Runge, em poetas como Novalis e Hoffmann por exemplo aquelesem que o amigo de Sternbald, diante da cor

essautilidade é compktamente estranha a sa.z natureza divina; exigi-la

avermelhada do crepúsculo, deixa escapar as palavras: "Se z,orâ, p/ /are', pu&ssem representar para mim algo como isso[...] eu gostaria de abdicar

significa vulgarizar o sublime e rebaixo-Loàs necessidades comunsda hu-

Lo enredo, da pailção, ch composição e de tudo o mais, se vocêspudessem

manidade. Pois é claro que o homem precisa de muitas coisas, mas eLenáo

ne mostrar

üue diminuir seu espírito, fazendo-o servo do seuservo, o copo. Como um bom senhor, ele deve atentar para que ü preocupação com a sobrevivência

Lma chave rosa e rubra a pátria onde as intuições da infância uiuem, a

não seja o correr da sua vida. Assim, eu tomo a arte como uma garantia ch nossa imortalidade \..l\

como a boa natureza afaz hoje

tema brilhante.. . Ob, meusamigos, pudessemvocêsa airpara.a-sK 2jZltura essamüstca nazi.ca que o céu condensa hoje!" Depois do crer/zóaé/, a produtividade

Por um lado, Franz Sternbald é um verdadeiro artista; por outro,

, se pudessem abrir com

de Tieck começou a estancar,

sendo retomada anos mais tarde, mas desta vez em estilo realista. Como

vale para ele aquilo que Wackenroder escreveu em seus Z)erxnmame/zroi

sequisesse pâr um ponto final nessacase,juntou a partir de 1810 suas

2o cor.zf,íosobre o músico Joseph Berglinger: "2ez,a2fze7'gz/ee/elo/

narrativas românticas, contos de dadase peçasde teatro na coletânea

feito mais pctra apreciar a arte do que para executa-La?"O Sx.etnia\d de

P»a /aiz/i.O prefácio,dirigido a A. WI Schlegel,é de tom elegíaco."Eo/

Tieck não é apenasartista, mas uma personificação da ânsia pela arte. No início o encontramos nas oficinas da arte, vemo-lo trabalhar em

lma bela época da minha vida, quando eu primeiro conheci você e seu

obrasbem estruturadas.Mas ele é chamadopara o incerto e assustador; desejacriar uma obra que ao mesmo tempo seja uma imagem do infinito. Por isso é chamadopelo longínquo, porque também o seu desejode arte ameaçaperder-seno longínquo, no incompre'nsível. Ele bem que está consciente do perigo que isso implica, pois escreve,

irmão Friedricb; uma mais bonita ainda quando nóse NouaLisvivíamos Juntos para a arte e a ciência,

e nos encontrávamos

esforços.

A ânsia romântica se tornara a melancolia da retrospectiva. O Romantismo perdurou, mas Tieck estava prestes a despedir-se dele.

numa cat\a a um am\ga: " Eu queria muito fazer tudo; por isso, no anal,

não uou poderfazev nada. 100

nos liariados

agora o destino nosseparoubá muitos anos [...]'

101

(:APITULO

VI

Novalis. Amizade com Schlegel. Ao leito de morte de Schiller. Sophie von Kühn. Amor e morte. Sobre a volúpia do transcender.

f//nos à no/te. Sobreos dias, sob o dia. O mistério da montanha A cristandade ou a Europa. Onde nâo há deuses, re/nam fantasmas

r

Goetheo denominou um homemque poderiae deveriater se tornado um i mpexn2or da vida espiritual na Alemanha, tão grande, acreditava, era a sua corçapoética e filosófica. Ele lastimou que o jovem não tenha tido tempo suficiente de Éazê-ladesabrochar completamente.

Q.uandoNovalis morreu em 25 de março de 1801, com 29 anos, ainda

quasenão se o conhecia fora do círculo dos românticos ligados por laços de amizade. Até então só havia alguns aforismos e fragmentos de pensamentos, os fragmentos do /yZem[.B/amem.zawó]e os aforismos políticos, publicados

com o título

Cb?nfa e .amar [GZaz/óem zznZ ZjeZ'e],

assimcomo os /BmaJà o/fe [//ymmrm z z#fNarór] . Era tudo. A verdadeira história da recepção da sua obra começou apenas após a sua morte,

quando LudwigTieck e Friedrich Schlegelpublicaram em 1802 algumas obras do espólio, a primeira parte do romance inacabado /Zeimr/có z'om (2/}ezz#nKem, o fragmento de romance Oí apremZlzeJZe SOEZ)/e ZeÓ,. .inge zu Salsa e as Canções espirit ais \Geistticben Lieder3. Os editores

não ousaram publicar o ensaio .4 rr/SEa 2a2e oz/a .Ez/roP'zsem corta-lo. Novalis se tornou logo uma figura mítica. Ele havia contado o sonho

com a flor azul no primeiro capítulo de seu /Ze/ r/có

o

(2/2ezzZi;agem,

e sua própria pessoa e obra se transformaram num símbolo dessa flor azul, um Klingsohr no jardim encantado da poesia romântica. Os que o conheciam mais intimamente e eram seus amigos já o haviam perce-

bido assimenquantovivo: como feiticeiro e mago, sim, até como uma espéciede iniciador de uma religião. Friedrich Schlegel, que teve às vezes

ele mesmo tais ambições, escreveu a seu amigo em dezembro de 1798: 'ctluezvocêtenha mesmomais talento para um noto Cristo, que encontra em m/m íezzózaz,o2az/Zo."Também a aparência do jovem ocupava as 103

LlyRO PRIMEIRO

e O ROMANTISMO

CAPÍTULO VI

fantasias. "E7emz/dali mw/fa", escreveuSchlegel no verão de 1798, "a// suüface sealongou e seprofeta ao mesmotempo do espaçoterreno, como a noiva de Corinto. Ao mesmotempo, eLetinha os olhos de um vidente, que b«iLbam sem cor, de fo«ma direta:

Novalis arrebatava através da magia da sua aparência pessoal do mesmo modo que atravésdos seusescritos. O filósofo da naturezaHenrik Eãosigni$catiua por toda minha vida. Sua aparência Lembra a à primeira Dista aqueles cristãos devotos que seapresentam Ü maneira simples. Até mesmo

no romance

sua Desteparecia r4orçar essaprimeira impressão, pois ercl muito simples e não

eassimasformüções da minha fantasia correspondem bem ao mundo reaL='

deixava pressuporsua origem nobre. ELeera Longo,magro, e umü estrutura

A realidade, se bem entendida, é ela mesma tão fantástica que apenas um máximo de espírito poético pode capta-la. Novalis se sentia capaz de fazê-lo. Estava próximo à sua morte. Friedrich von Hardenberg nasceuem 2 de maio de 1772 em Oberwiederstedt, na Turíngia -- apenasem 1798 ele tomou o nome artístico

inquieta semostrava de modo mais que claro. Acho quesuctface me parecia bronzeada e morena. Seus Lábiosanos, por t'fazesrindo ironicamente, mas geralmente sérios, mosHüuüm a maior doçura e gentilem. Masprincipatmente jazia em seus olhos umfogo etéreo. ELepodia

l

presente-- como num conto de fadascheio de pensamentos,narrativo e reflexivo; Heinrich, cuja história de formação se espelha na grande história, deveria colher a flor azul que ele viu em sonho no final e se transformar então numa árz,ar?c.zmíam/e. A busca de um tempo perdido, que também termina com um tempo achado, pleno. ".Eb ei/o# ráapróx/mo do me/o-22 ", escreveNovalis eu6oricamente durante seu trabalho

StefFens o descreve assim: "Poz/ras.pesco.zideixaram rm mim z/m z //nPrzsi'2a

\

saberdos romanos sobre a dominação, o tempo áureo dos imperadores Staufer, os destinos políticos e espirituais da .Alemanha do início até o

especialmente na compcLnhia

de muitos ou na presençade amigos-- $car muito tempo calado, sentado. SÓ quando espÍritosfamiliares

üo seu seaproximavam

é que eLese clava todo.

a Carolice,

"gz e ai somózai fém o íam

nÃo #of aó#efoi

"Novalis", que significa "aquele que cria nova terra". Os Hardenberg eram uma linhagem antiga, original da Baixa Saxânia. O pai era proprietário de

Então faLaDade bom grado e parecia altamente instrutivo:'

terrase diretor de salinasda Saxânia,devoto da Irmandade da Morávia9

Deve ter sido um encontro de espz'rifas /rm'2ai quando Schlegel encontrou Novalis em janeiro de 1792 pela primeira vez: "eZe$aZa",escreve Friedrich Schlegelentão ao seu irmão, "#â z,frei mail e /#í z'rzeimais

e patriarcade uma família com muitos filhos. Mas em primeiro lugar 6oi o tio Gottlob Friedrich von Hardenberg, que residia como comendador da

rápido que nós e oaü'os -- a maior rapidez de compreensão e receptibiLida&

pois foi com eleque Friedrich cresceu.[)iferentementedo pai, o tio era

[. . .]Jamais

orgulhoso da sua origem nobre e queria dar oportunidade ao sobrinho de

ui o contentamento

dajuuentude

assim"

\sso esctexe a\guêm

que

ordem dos cavalheiros alemães perto de Helmstedt, a pessoa mais marcante,

'ia/Z!#azerizzzz z,zzizúzde". Ele queria fazer dele um homem do mundo e tinha,

fala muito e rapidamente. De início, Schlegel pensou que pudessedirigir Novalis, que era um ano mais novo, até que a hierarquia se inverteu. Espe-

assim conta Novalis, exibido aos seus olhos o "r/zZz'rzzZo 2e zzm comem 2o

cialmente nos últimos dois anos, o amigo se tornou um modelo admirado.

ePó'/fa", alertando-o. Aliás, inutilmente. Novalis se tornou exatamente isso.

Nesseperíodo, entre 1799 e 1801, Novalis vivia numa verdadeira

No entanto seguiuo desejodo pai e se deixou instruir como funcionário

febre criativa. O /Ze//zr/ró z,ozz(IZ/}ezz&ng?n deveria ser o primeiro numa série de pelo menos seisromances. Ele planejava todo um ciclo. ".Eb fenda z,omia2e", escreve ele em 27 de fevereiro de 1799 a Caroline

Schlegel,

de usar toda a minha vicia em Um romance quepor si consistanuma oibl,ioteca inteira -- contendo talvez os anos de aprendizagem de uma zzaf,ía."Ele planejava nada menos do que poetizar para os alemãesseu mito romântico. Tudo deveria encontrar seulugar ali o surgimento da Europa cristã, asinfluências gregase antigas,a sabedoriado Oriente, o 104

9

A irmandade da Morávia é também conhecida como "irmandade da Boêmia", "irmandade morava" ou "unidas fratrum". Trata-se de uma série de igrejas protestantes fundadas através

do movimento hussita de Jan Hus que se iniciou no século XV na Boêmia(atualmente na República Checa). Um grupo de famílias seguidorasda tradição da irmandade da Boêmia fugiu da Morávia em 1722 e assentou-sena propriedade do conde na Saxânia, onde fundaram Hrrr l ("sob o cuidado do Senhor" ou "montando guarda para o Senhor"). Hrrr/z##r tornou-se a comunidade mãe do que depois firmou-se como a igreja

da Morávia. Atualmente, as igrejas moravianas se encontram repartidas especialmente nos EstadosUnidos e, em menor número, no Reino Unido. [N.T.]

105

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMANTISMO

r:.x.J}

CAPÍTULO VI

de administração e de salinas.O tio era frívolo, mundano; o pai, devoto, e no final Novalis encontrou uma devoçãoque tinha algo de frivolidade, porque tão artística e poética.

tem medo de ma tet. " Ea tenhoabsolutacertezade quesepodeperdermais

Novalis permaneceu estreitamente ligado à família, piamente apegado à mãe -- que ele mais tarde idealizara com a imagem da máe Ze Z)eai e respeitava o pai, porque e]e]he havia ensinado a desprezaro brilho

poiiz'z,e/".Na longa carta em que pede o consentimento do pai em relação

exterior, e o havia ajudado a seguir as intuições do coração e a "zom r paz/corz//dadocom zop//z/áaZo mwmZo".Despreocupado,autoconfiante,

senso,intuições em discernimento, entendimento em princípios e simplicidade em facilidade. O pai concorda com as boas intenções do filho, mas

emotivo e entusiástico mostra-se o jovem estudante, que em 1791 visita

não que ele as queira realizar exatamente durante o serviço militar. No anal,

/zo mz//z2o Za gazea z,iZa." A chatice do serviço militar? São exatamente as "aZ'rllgafóeJ mrrá /ra " que deixam à cabeça e ao coração "fozZz #óezzZaZe aos seus planos, esboça todo um programa para a melhora do seu caráter.

As fantasiasdevem transformar-seem sentimentos, as paixõesem bom

as aulasde Schiller em lena. [)i6erentementede Hõ]der]in, quase na

o próprio Novalis reconhece que ele não precisa do serviço militar para se

mesma idade, que também idolatra Schiller, Novalis jamais está sujeito

disciplinar e melhorar seu caráter. No verão de 1794, Eazo exame de direito

ao perigo de perder a naturalidade. Ele vem pois da nobreza, no qual a tranquila autoconfiança é um dom herdado, e por isso Ihe são poupados os sofrimentos de Hõlderlin ligados a uma apreciação instável de si próprio, baseadaapenas no desempenho intelectual. Aberto como uma criança, Novalis lutou pelo apreço de Schiller, escrevendo-lhe que

em Wittenberg e começa sua atividade como estagiário na comarca em

\esgana. " que eu Lbepermaneça um pouco caro e que, quando o uir de

impeçam o casamento,ao qual Novalis estáimediatamente decidido.

Rodo, ainda encontre aberto o velho Lugar em seu cotação' . (buan&a,

THvez a idade da noiva. Mas o pai estádisposto a concordar apesardisso, pois também ele afeiçoara-seà moça. Os amigos, porém, não conseguem entender o que o fascinara; não acharam Sophie especialmente atraente.

no

começo de 1791, muito doente, Schiller cai de cama, Novalis vela por ele e secasua testa suada. O pai havia pedido a Schiller que influenciasseo filho no sentido de tira-lo das belasartes e trazê-lo de volta ao

Tennstedt. No final do ano encontra Sophie von Kühn. Ele fica completamente Horade si. É o grande amor da sua vida. O que acontece então é romantismo como modo de vida, como ele só existe geralmentenos livros. A moça tem treze anos, é de boa família. Não há pois motivos que

SÓ Tieck

está entusiasmado.

"MrmÃwma

Zesrr/fáa

poder/.z

ex? eiiar",

es-

estudo ganha-pão do Direito, e Schiller agiu nessesentido, convencido

ctexe," com que baça e beleza celestial esseser etéreose movimenta e que

de que a veia poética, quando suficientemente forte, de qualquer maneira Eazseucaminho. Aconselhado por alguém como Schiller, Novalis se deixou convencere mudou de lena para Leipzig, com o intuito de

)eleva a cerca, que ternura e majestade a vestem:'

O próprio Novalis, apesardo encanto, podia julgar a amada com distanciamento.Assim ele confia ao seu diário no verão de 1796 a

concluir lá seu estudo do Direito. Ele se prescreveu "wmldz/m 2r a/m.z

seguinte catar\e \zaçâa: " Sua precocidade. ELa quer agradar a todos [.. .]

a g e ir z?#?rr ài óeZafrié cZa ", que são rebaixadas a ca/mpanZ'e/xai das

A sua altivez e sua fLncibiLidade em rel,açãoàs pessoasde que gosta, ou

horas vagas.Elas deviam porém continuar a ser seuverdadeiro "rezoda

que eLa teme [...] E]a não Leda a poesia muito em conta [...] Não parece

entusiasmo e da gTündezd

er chegado a lierdadeira Te$exão [...] O seu consumo do tctbaco [...] Seu

Em Leipzig, sucumbepor algum tempo ao vício do mundo que havia aprendido com seu tio. Gasta muito, faz dívidas, se envolve com questões de honra e com paixões. As cartas dessa época soam impetuosas;

ele não faz progressos nos estudos.

Para disciplinar-se, quer ir para o exército. ".4 cóz/uadr.pr Jade fof mais opulenta seperderá, maseh seráainda mais substancial" , esç)eta.Nã.o 106

atrevimento em relaçãoclopai [. ..] Sua tendência a serculta [. ..]Amor de

dança. Espírito de ordem. l)esejo de dominação. Seu cui(hdo e pai)cão pelo queé decoroso eLaquer que eu abade em toda parte [...]E]a não quer passarvexamepor causa h meu amor. Meu amor a oprime comfrequência. Geralmente eLaébria. Uma incrível capacidadedefingir; a arte l,e esconderdas mulheresem gleral.. . 107

e CAPÍTULO yl

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'CISMO

No verãode 1795,depoisdo noivadosecreto,Novaliscomeçaa estudar Fichte, a quem conhece pessoalmente em cena. Já foi dito como

1' r.a.#

lugar, a imaginação funciona para cora como um ímã. Ela puxa da outra pessoaalgo que realmente está nela. Pela imaginação mudamos e inten-

a "doutrina do conhecimento" agiu sobre ele. Adicione-se, porém, ao contexto que Novalis por vezes ignora a diferença feita por Fichte entre o eu empírico e o transcendental. Com seuespírito apaixonado,

si6icamosa nós próprios e aosoutros. Num outro contexto, Novalis

parece-lheque podia não apenaspensar o momento transcendental, mas

gz/a#ía/ip.zmemZ?". No amor por Sophie ele tem sucesso nesse aumento;

experimenta-lo diretamente. Vivenciar o eu transcendental significava fincar pé no eterno, no divino em nós (a Carolina Just, 10 de abril de

potencializa a si e à amada.

1796). Exatamente isso Ihe acontece ao lado de Sophie. Na terminologia

morre. Novalis anota em seu diário: seu consolo seria "a m/Z2grai do fa

de Fichte, ele expressaessaexperiência assim: "a ma/or f z (Éa2# e2#cízf.ío )

fzóraZaxn 2# cié c/ ". (dual ciência?

éü de se apropriar do eu nanscendental, ser CLO mesmo tempo o eu do seu eu

Mas Sophie não Ihe permite apenaso voo transcendental do sentimento. (quem é o ez/ da irz/ ewpode ambos: abrir-se aos sentimentos e

denomina

essa elevação dupla

e Ihe dá a definição:

--

"ram 7zf/zar

subjetiva

como

objetiva

rom.27zfZz'zr

Za majf é2o gz/r zzz/memíaz'aparo c/a

No verão de 1796, porém, a amada adoece; em 19 de março de 1797:

No momento funcionário das salinas do governo da Saxâniaem Weiígenfels,Novalis continua a formar-se para seu trabalho, estudando as ciências naturais e ligando a isso suas especulações sobre a filosofia da

ao mesmo tempo observare com isso jogar um olhar de estranhamento

natureza. E o consolo que experimenta nisso tem provavelmente a ver

sobre a amada. Isso mostra a exala análise do estado de espírito: "4m.z/-

com o sentir-separte da grandiosavivacidade de toda a natureza,da sua

Ramei meu eu com ü imagem deh, de modo que não dou uma respiração

semeLa.Issocrescea cada dia ejamais acreditei que um sentimentopoderia crescerininteTvuptamente e mesmoassim sempreter espaço.l)isso sou tão

história incrível que também Gezsurgir o homem, e atravésdo espírito do homem chega à consciência de si mesma e das forças que a atravessam. Para "íoórez,/z'er ,z fados aJ //?#orrzZ/miai Za z,/2a", ele se aprofunda

pouco entusiasta que nessesentido estaviü a altura de um marido de anos

pois na força criadora da natureza,que sente também em si próprio.

(a Caroline Just, 10 de abril de 1796). O rz/ 2o irz/ rw permanececla-

'0 c.zm/ óa m/s/er/OJa Zez,zz pzzrn Zemr2'a." O que descobre aí tem nesse

ramente livre em relação ao eu zzmóz@amaZo com a imagem dela; "/zem

ínterim mais teor do que o eu de Fichte. "0 z/m/perto áo efzzírm ós?NHr

mesmo um rasa'o de ama pai)cão selvagem, sem controle

não ennbecemos as pro$ndezas do nossoespírito. Em nós,ou em nenhuma parte, estáa eternidade com os seusmundos.

A paixão não Ihe impede de perceber que está fingindo algo para si mesmo. Na mesma carta, ele denomina isso 'ZazerP/zxni/ z/m deifina

O o/Bar / /er/ar para a natureza busca o elo com ela; Novalis quer

artj$ciaL" . F. müs: " é com certezctum poema, pois issosigni$ca na Lin-

compreendê-la "como móf e /e/zZrmaj .z /zósmesmos e a pisa ,zma2ú". Em

guagem original nada mais do que aLgofeito'

vez de uma análise fria, o erotismo do lidar com a natureza. Em Novalis

Quando Novalis fala do .porra.zcomo .z/ga#?ifa,não o faz com o

o eu absoluto de Fichte, que também deveestar na baseda natureza,

sentido depreciativo de ilusão ou autoengano; isso é a expressãode uma

torna-se lentamente um tu. E já que entre amantes tudo é possível, vale:

corçaviva que no discurso filosófico do seu tempo, principalmente em Kant e Fichte, é chamada força da imaginação. Ele deixa agir essaforça que, nos seusestudosde Fichte, chama de

o que eu quero, eu posso

/magímafáo .produz//z/,z, também em relação a Sophie. Através disso surge

entre os homens coisa alguma é impossível"

Novalis realiza aqui uma transformação que Schopenhauer, ainda com espírito romântico, repetirá uma geraçãomais tarde de maneira genial, formando um sistemacoeso.Cç)mç)ele, Schopenhauerdistin-

uma nova realidade em duplo sentido. Pois, em primeiro lugar, a imaginação influencia positivamente e aumenta seu sentimento em relaçãoà vida. É criada uma nova realidade, ainda que apenassubjetiva. Em segundo

guirá o conhecimento de acordo com o princípio da causalidade -- ele

108

109

chama isso de ideia [Uorsrí'/Zzz/{g], do modo íntimo e próximo ao corpo que entendia a natureza por dentro. SÓem mim mesmo, explica

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMANTISMO

CAPITULO VI

Schopenhauer,vivendo o que o mundo ainda é, a não ser que ele me sejadado como ideia. O homem que experimentaa si mesmo vive o lado interior do mundo. Ele anotou uma vez: '%spesioafiam p.zzao Za#o decora em todas üs direções, em uez de ir para dentro de si, onde todos os srgre2oi.podem ier 2eiz,enZúZoi."Além de ser uma ideia, o mundo é, para

Schopenhauer, o desejo vivido no próprio corpo, como aquela obscura força que age sobre os homens e sobre toda a natureza.

#

Como ele, Novalis queria entender a naturezaa partir do próprio eu; primeiramente, sob a influência de Fichte, a partir da estrutura da consciência; mais tarde, partindo das forças obscuras e ao mesmo tempo institivas e criadoras. "Esfxa óo gz/eo / fer/or 2o comem /e óz sido observadotão pouco e que tenha sido tratado com tão pouco espivito

Ninguém tevea ideia de buscam povforçasnovas,inominadas: A essas#o f zi í am/m.z2ai Novalis chama, como mais tarde Schope-

h.

nhauer, desejo. "Na./üm2o, cada comem z,íz'eo iez/ 2ei@o"; aliás, é inte[essan\e " qae eu també« tenha u« desejosem que o saiba" . Esse &esqo

é algo mágico, poderoso. Nada há de misterioso quando, no uso ativo dos órgãos,um estímulo do espírito dá lugar e direciona os movimentos do corpo; aqui mostra-sea força mág/cado desejo.Por que não poderia ser possível provar com essamagia do desejo que a frase de Schiller

ano e avisaos amigos.Torna-os testemunhasdesseprojeto ultimativo oriundo do espírito do seu idealismo mágico. Pouco antes da morte de Sophie, Novalis sehavia denominado umJúlgadorZesí:Prendo,cujo destino depende "dr z/mzz.péiaZz ra/r e5Je oz/ /zagae& mzín2o" (a Wilhelmine von Thümmel, em 8 de fevereirode 1797). Depois, escreveem 13 de b.\ü.. üe \191'. " A pétala voou agora para o outro mundo

o iogadoT

desesperadodeixa cair suas cartas e sorri, como se tivesse acordado de um anho, para o Último cbamctdo do uiva, esperando pelo amünbeceT que Lbe

znimctráparcia vida no a no mundo real:' Novalis estáplenamenteconvicto de que a morte que ele mesmo causaé uma transformação,não um final. Or6eu segueEurídice não ao reino dos mortos, mas a uma vida mais elevada.A ânsia pela morte é, na verdade, o desejo de uma vida intensificada; ele a quer alcançar com a força do seu desejo, atraído magicamente pela imagem idealizada da amada. No contexto da dor da separação, sente sua "z,ocúf'2opaxn a

mau(io i% isÍuet

Na sepultura de Sophie, que visita diariamente, há momentos de alegria incontida,

como se já estivesse unido à amada, e ele se pergunta

"/ o rspá'ira gmeco/zifró/ o corno" vale num sentido mais profundo? Talvez seja apenasuma questão de hábito até podermos deixar a magia

surpreso:"maré áa eiZÚZomcaP" Não, não estálouco. É a imaginação produtiva, sobre a qual havia teorizado no contexto dos seusestudos de Fichte, que agora o impulsiona para um além imaginário que Ihe é verdadeiro. Mas ele ainda estáaqui; a passagemainda tem de ser traba-

do desejo agir além das fronteiras usuais.

lhada. Começa um diário com a intenção expressa de armar sua decisão,

Novalis denomina /dea/asmamág/coo que tem em mente aqui; e se promete muito disso. Quanto tivermos aprendido esse"/2ra/asma má$co, então cada um seráseupróprio médico e poderáCLdquirirum

de registrar contra-argumentos de modo exato e dizima-los. Uma vez,

sentimento completo, seguro e exito do seu corpo --

então o homem seta

anata sab\e essa.&eçltsã.a\" Tão$rme ehparece ser, me dei)ca hs vezesirritado

gz/f me.paxefÚ EÚorlfxnnóa." Outra vez, depois de ter visitado o túmulo: Zu mesentia muito bem

eu estauütio

todauiacborei:' Enâo Aguas

talvez até capaz de restaurar seusmembros perdidos, de se mütüv apenas

Homem/OJZe .zZTPZaie/z'úg?m" ao pé da sepultura. Ele evita o "criado 2e

através da vontade, e ütrtzués disso alcançar conhecimentos verdadeiros

eP/r//a Zo #z.zZla a d2a"e observacriticamente quando sesente bem em sociedade, quando fala até que sua garganta dói, quando come demais. Eu simplesmentetenho que tentar aprender a aPrmar meu eu melhor na

sobrecoTpo almct mundo vida-- morteemunhdosespÍritoe' Após a morte de Sophie, Novalis póe pela primeira vez seu /Zea/Zímo m/ íco em prática; ele aposta na corça e na magia do seu desejo. Não Eaz

troca das cenasdü vida, nü mudança tios sentimentos. Pensamentosininter-

uso dele para ref/.zz/xarmemZ'roi.pezz&Zoi; quer morrer com a amada. Não

ruptos sobre mim mesmo e sobre aquilo que eu uiuencio efaço.

que pense em atentar contra si mesmo; apenas através do desejo deve

se realizar a passagemde uma vida para outra. Ele se dá o prazo de um 110

Fichte ainda gira na sua cabeça, e por isso ele equivale esserz/ meZBar por vezesao "z,enZa2e/roca re//o Zo r em /?rale". A auto-observação lll

LIVRO PRIMEIRO © O ROMANTISMO CAPÍTULO VI

concentrada se transforma em espreita. No caso de algumas emoções, Novalis não sabe como deve avalia-las: ".Ék/xaz'cedo a/ga Ze /?rófe deixe/ z á ii /r z/mPO co Z0/2ge." Ainda é lembrança da ânsia ou já éa ânsia pela comunhão no além? Ele próprio não sabe exatamente o que deve achar; ainda mais irritados estão aqueles que observam seus rituais

estranhos.A amiga de Caroline von Kühn, a irmã de Sophie, conta: [)epois da morte de SopbieeLese deixou trancar várias vezesno quarto d,eh, e vivia apenas a sua dor. A preocupação dafamiLia dela, sobre como eLe

passarict essaLongasolidão,Levouum dia a irmã a subir ao encontrodele; 1=

r..E.#'

no momento em que ela passapela porta, $ca paralisada de bo ror, pois uê a morta do mesmo jeito que no momento da sua morte sobre a, cama. A expLicízçãofoi que NouctLis batia

estendido Lá o Longo vestido azul no

qual eLahavia morrido, ü touca, que eLabatia usado,e sobreo vestido um Litro de bolsoaberto, no qual ela Lerano anal, para evocar eftxar a visão del,a, a,l,er.

!

H

Apesar de tudo, a decisãode morrer em seguida arrefece;a vida comum o amarra mais uma vez, o eu empírico defende seusinteresses contra o eu transcendental que queria voar para o transcendente. Mas não some de todo. Permanecetão presente que a vida comum Ihe parece provisória e sempreacontece que o anseiode morte irrompe, "eíie.P/ararZr Pó /zogz/e/ eira/zo".Novalis acabarade noivar com Julie von Charpentier,

filha de Bergrat Charpentier, seu mentor em Freiberg, quando escreve a Friedrich Schlegel: "zzm,zz//2a inferesizznle.p'zrereesperar.por mím ainda assim$rmemente eu pr4eriria estar morto' Ç20de Xaneltode L7')9). Ele também conta com que esforçotem de reataro elo interiormente rompido com seusnegóciosdiários. Mas ele o conseguebem: "ez/começa.z amar o sóbrio, mas que progride, teta adiante--

contudo, asfantasias sempre

iáo ia@cie femr feia/zzúf/cm" (a Caroline Schlegel, 20 de janeiro de 1799).

No início de 1798, Novalis começa seu estudo na academia de mineração em Freiburg. A ocupação com a ciência da indústria mineira e com as ciências naturais eram para ele antes apenasum prelúdio. Agora

seenvolvia no assunto com toda a energia. Conheceu o trabalho realizadosob a terra na prática. Da vocaçãopara o mundo invisível advém a vocação para o mundo subterrâneo, noturno. Essavontade subterrânea reavivada deixará nítidos vestígios em ]Ze/nricó uo O#en#mgen. Lá, eda-se 112

ü"felicidade invejável" que p\oV\ç\a "o lidar com osantigos rochedos,FILhos

2# /z,zfwrez.z, comJZ/.ZJ r.2m'zznfasco/zaj, mZg/r.zf".Sob a terra, na noite da montanha, ele experimenta uma "eZrz,af,2o$?ÓzjoÓrr o mz/nZa". Um misteiosa nünü\a canta-." Ek éo senhor (h terra l Quem medesuaprofun&m, l

! esquece toda queixaINo seucolo] [...]IEstá Ligadoa eLa,IE intimamente a conhece, IE é colocado em chamas por eh, l Como sefosse sua noiva:'

A renovada experiência do mundo subterrâneo influenciará também os J&moJ2 na//e. Esta primeira obra importante, e a única obra poética

acabadade Novalis, é escrita entre 1798 e 1799, numa épocaem que os êxtases do extraterreno

--

a experiência com Sophie --

unem-se ao

gosto pelo subterrâneo -- pela mineração. No quarto hino lê-se: ".,4o#zúz Lecristal, invisível aossentidoscomuns, no colo escurodo monte cresce,no pédele irrompe

a maré cheia

Quem a experimenta

certamente

não regressa

L agitação cio mundo. Tudo que é terreno bola, mas aquilo que se tornou agrado pelo to que do amor corre diluído em caminhos recônditos par'z além

i,essare#.ão, onde se mistura com amores adormecidos

Pelaprimeira vez, numa carta de 31 de janeiro de 1800, Novalis menciona quasemarginalmente os /7zmosque logo se tornariam o símbolo do Romantismo apaixonado pela morte e pelo místico. ".4#m z#jlo eu envio a vocêsum Longopoema:'

Dos seishinos, é o terceiro que alude claramenteà experiênciaà beira da sepultura da amada. Pode ser que tenha surgido naquela época; de qualquer modo, determina a cenaprincipal e o centro dos outros anos. Seu começa'. " um dia, quando eu derramava lágimas amargas,

quandominha esperançadiluía-se na dor.. " O çtnaX."des& entãosinto cl :vençaeterna, imutável no céu da noite e sua Luz,a amada' . cesse q.nteüm

dá-sea epieaniade uma noite que não indica de modo algum o nada, mas uma plenitude embriagadora. Porém, o laço do nascimento tem de ser rompido antes, tem de desfazer-seaquilo que estáligado à vida cotidiana; um segundo nascimento que liberte alguém dos gr//BÓefZú /uz tem de acontecer, e ele pode acontecer por amor. No seu diário, Novalis havia registrado essemomento de êxtase, que o hino desvenda com apenasalgumas palavras: "Zá ez/eJ/az,a.zZeKre Ze modo //zZelcr//á,e/ -- momentos de raios de entusiasmo eu sopremo túmulo como poeira diante de mim séculoseram como momentos:' 113

LITRO PRIMEIRO e O ROMANTISMO

CAPÍTULO VI

Novalis lembra essacena no hino porque ela Ihe tirou o medo da noite, do que ela geralmente simboliza: morte, falta de sentido, ausência,vazio, escuridão. Havia aprendido que o amor triunfa sobre o medo da morte e sobre toda e qualquer forma de negação.(quando sevê com olhar de amante a escuridão, há sempre algo lá dentro. "Ãda/s ceZeir/a/2o gae agzzeZai effreZai bri[[lantes / [. . .] / nos parecem os olhos eternos, / que a noite abre em nós."

Os medosnoturnos do não ser, da ausênciae da Faltade sentido continuam evidentemente ativos. Senão, faltaria a resistênciaque deve ser vencida repetidamente. 1' #

O que destrói e ameaça deve ser perceptível

a distância, para que a santiâcaçãoda noite ainda tenha um vestígio daquela z,o/üpiarrz/e/ que Novalis denomina em outro momento um elemento da experiência religiosa. Haverá mais tarde

em Leopardo e Baudelaire, por exemplo

outras tentativas poéticas sobre a noite que falarão do andar, do desa-

parecimento, do nada ameaçador ou atraente, do grande cansaço,da vontade de destruição. Um pouco de tudo issojá está presente em Novalis,

mas dominante ainda é a imagem de uma noite que é iluminada pelo e fzziiaima peia

a/fe e que pensa um Sono izzWnZa, que não se iguala ao

adormecer, à extinção radical, mas sim a uma embriaguez provocada por drogas. Pode-se respirar "/z z ma édaz/xuzáz Zas z/z,af ma zzme/z2aeixn, ÓZea prodi@oso, e no sumo narrou

da papouLd' esse sono sagrado.

A noite traz a grande transformação;ela porém é também uma noite da origem, de onde o ser irrompe. E na escuridão da terra que, protegida do sol, a sementebrota. O reino da raiz é escurocomo a noite.

um renascimento, mas também a ânsia de regressarao útero materno.

O que partiu volta à sua origem. Por isso as imagens Voluptosasdo adestrar

da amante

que ao mesmo

tempo

é a mãe.

'.441zh z/m pazzco

Letempo, IE estou Livre, IE estou deitado enebriado l No colo do amor.

Os primeiros quatro hinos descrevema revelaçãoque ocorre a um individuo. Aqui a mística da noite ainda não estáligada a nenhuma religião oficial. Issosemodifica no décimo quarto hino, no qual a religião custa entra em jogo. O corte é marcado claramente. Depois do mito pessoal,a crençacristã, aliás recortada de modo extremamente voluntarioso. O quinto hino conta de maneira original sobreo declínio dosdeuses,gregos e o triunfo do cristianismo. Os deusesantigos eram deusesdo dia e da luz. O medo da noite e da morte ainda não havia sido realmente vencido, masapenasexcluído, melindrado. A religião antiga havia capitulado diante da morte e se limitara a festejaro lado claro

do mundo e da vida: "Xa/ ma zegzír / /err07mPez/ ejja co/zcaPZçr/mfÜ / Com medoeZor e Zíígrjmai." Foi apenaso cristianismo que conquistou a outra metadedo mundo, a noturna e mortal, tirando dela o horror. Foi apenaso cristianismo que provocou aquela revolução da alma que Ihe permite descobrir o promissor no que dá medo. Cristo foi além da raça humana, aterrorizada pela morte, por meio da morte, da noite e da ressurreição Desde então a morte pode ter perdido seu ferrão -considerando que se acredite na magia da cruz e da ressurreição. Novalis

realmente

acredita

nisso?

.4 mo/i?#n/ o cozo.poZerojo .ZzJZPZ,eZafócs."Essa frase pode se relacionar

As imagens da noite e do mundo da mineração se tornam uma só coisa. A noite aparececomo gravidade, como princípio materno, como

a ambos: à revelação individual no contexto da mística da expenencia

ahüga. " Tu te desfariasem ti mesmol No espaçoin$nito IMorrerias, l Se

Novalis realmente experimentou que Sophie, como Cristo, tomou

eh nãa te segurasseanão te prendessel Tu te tornadas quente IE em chamas

geznri o mz//zZa."A noite é o interior abso]uto, em re]açãoao qual aquilo que vem do dia claro é exterior. A noite é o tempo, e a montanha é o local

da origem. O que vem da origem é o original; pode ser também aquilo que é estranho à origem . A quantidade de origem guardada pelo que vem do original é que decide sobre o seu sucesso, sua verdade e beleza. Assim

pode-se entender a frase misteriosa: " nado gz/e /zai 2e/x,z rnrwii,zimaZoi lzáofxaz zi car?i Za /zo/fe?"A noite seria aquilo para o que nós voltamos, 114

com Sophie e também à revelação geral, tornada história por Cristo.

o caminho da morte antes dele e o puxou magicamente para um além. Aqui ele podia experimentar -- e por isso não precisava apenas acreditar nisso -- que o amor pode vencer o medo da morte e criar uma :mpoLgação pela noite' Seo mesmo acontece apenaspela crença em Cristo ainda é de batoa questão. Certo é apenas que a revelação associadaa Sophie apoia a outra,

oficial, e a legitima. Ele vivenciou a revelaçãopessoal;na oficial pode-se acreditar apenasquando se pode. Numa carta ao amigo do pai, o oficial 115

LITRO PRIMEIRO e O ROMANTISMO CAPÍTULO VI

de comarca Just, em Tennstedt, Novalis confessou expressamente a sua

revelaçãopessoalem oposição à religião oficial cristã, que se apoia na prova das escrituras sagradase que é diretriz para o velho amigo. Escreve

que ele não deveria se incomodar "ie ez/me ó.lírio me/zoirm cer/elas oriundas de certidões, menos nas Letras,menos na verdade e circunstâncias

da história; seeu estou mais dado a indagar {zsin#uênciassuperioresem mim mesmo,e a abrir um caminho próprio para o mundo original

Mas Novalis, como a maioria dos seuscompanheirosda mesma geraçãode românticos, foi educado conscientementena religião cristã. O pai organizava aulas de religião e exercícios de devoção em casa. Tieck, rl.L./

depois de ter visitado o amigo em Weiígenfels,conta como issoacontecia.

Ele ouviu o pai reclamare se irritar no cómodo ao lado: "0 que aconteceu?", perguntava ele, preocupado, a um criado. "Nada", respondia

h. l

secamente, "o senhor dá aula de religião.

Essadevoção robusta para a qual a & é em primeiro lugar uma fonte

de regrasde comportamento também tinha a beatitude moraviana'' de sentimentos. Esselar crente é para Novalis ao mesmo tempo lembrança de infância e presente, pois o pai continua a cultuar em família a antiga R. Ele respeita isso, pois o ama. Mas encontrou seu "próprio caminho ao

mundo original". Isso não aconteceu em oposição à devoção em casa, contudo é uma metamorfoseautodeflnida da tradição, uma continuação da devoçãoaprendida com meios próprios: Com os meios da reflexão filosófica associada a Fichte, numa tentativa de alargar o transcendental até a transcendência. Com os meios do idealismo mágico quando Novalis queria, com a força do seu desejo, morrer depois de Sophie, e através disso Pnc'zr pá no que é e/ermo.

E, finalmente, com os meios da poesia: "rog/rar é.P/aic?#an/nz,rn/ízz'

é.poerizar". Ele já havia tentado essaelevaçãoincomum da poesia nos /Bnoi ,àmoiro.Lá conseguira,melhor do que na filosoGlae mais fortemente do que no túmulo de Sophie, transportar-se a um estado íntimo e elevado. Isso tem a ver com o fato da linguagem poética dar uma forma calma ao estado de êxtase.Na poesia, o pensar se torna adoração.

'..::.===:';=::H;===:===T ;: mima realidade no sentido esü'ito [...] onde .Êca a utilidack, a influênci.a prática da #loso$a>" (bua\ ê a utü\dado que \mpotta! No seu discurso-4 rr&za/zzZzdr oz/4 EwroPa,de 1799, encontra-se uma resposta clara a isso. Tudo depende, lê-se ali, de guardar em si o fenzfZo i/zgn2do,que às vezeschama de ie //Zo /mo za/, e fazer com que ele não se dissolva no mundo anual. Se essesentido está acordado e vivo assim

também o mundo do além, que não estánum além do tempo, massim no

meio do tempo e do presente.Anualmente, essesentido sagrado,porém, não está bem. Está "/wrz,o, /maÓ/azado, JzeÁnraZo .peZoJ oz/fraJ Je //2oj". Novalis escreveseu discurso num momento histórico em que Napoleão

começa a dominar a Europa continental e realmente parece que a antiga Europa cristã está prestes a desaparecer. Tropas francesaslsaquearam Romaem fevereiro de 1798, prenderam o papa Pio VI e cair'-tiram-no para Valence. onde morreu em agosto de 1799. A Igreja Católo''parece

sem líder e há,bons motivos para duvidar que ela jamais se recupere pois Napoleão é um símbolo da dinâmica e da expansividade do' rito

mundano.'

O discurso nada mais é do que a tentativa de contar a respeito do

elfec.zmrnfo2a se r/Zo jagzu2o", de encontrar os motivos disso e de explorar as chancespara renova-lo. O discurso é uma Gllosofla da história e da religião formulada poeticamente, acabando na visão de uma terceira era. Seu começo é elegíaco, seu final proGtico. Ele não defende

aosbons velhos tempos, mas sim a partida de uma cristan- '.. :dade modificada, renascidapara novas margens, na Europa unificada. Unificadanao

pelas armas de Napoleão ou pela hegemonia de um espí-

rito nacional; uma comunidade universal e espiritual, "iem asfronteiras dos países

Uma utopia reacionária?Os amigos em cena,para os quais Novalis eezo discurso, âcaram confusos. Uma controvérsia ferrenha teve lugar.

:==:i=.=::.=i=T==::n.=r=u:= .!=;,=b ,.stáaqui à'çal&xe Üu Saut; os cavalheiros estão um tanto Loucos... eu quero p'star qualquer coisa que eles não entendem a si mesmos, nem aos outrosl'

10. Cf. nota 9 116

117

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO CAPÍTULO VI

Um dos principais antagonistas de Novalis era Schelling, que, como Friedrich

Schlegel conta a Schleiermacher,

"óaz,ia fidopar

/sio zzwzZnouzz

quedapor seu antigo entusiasmopela falsa religião" . O Credo epicurista

de /íe//zz WZder7arsfe/z, aquele poema satírico de Schelling em versos rimados contra a empolgação feminina pela religião, foi escrito pouco depois do encontro em lena.."Xa/ai sabre re/«/'Zacama.z z/m,zmw/Óer/ l quem se pode olhar através do uéu apara não sentirferuor sensuaLI caiam portanto muitas névoas de pahuras. .:

Ludwig Tieck conta décadasdepois que o círculo de amigos teria "r#e/fado F..L.#'

zín z /menir zfe" o discurso, e decidido

que ele "máa 2ez/er/'z

ser tornado conhecido através da impressão" QnaAtbenãumh. Mas prova-

velmente não sepassouassim, pois [)orothea Veit havia sequa]ificado P

h: H

naquela época, numa carta a Schleiermacher, como a "zZ Zcagwe .zdz,errjz/

fo/zfra zzm.z pz/ó//r.zf.2o". É bem verdade que estavam indecisos. August Wilhelm Schlegel sugeriu que se consultasse Goethe como juiz. Este

aconselhoucom cuidadosadiplomacia que não se imprimisse o texto, porque daria ferramentas ao público para que levantasse Essasacusações

Novalis parecenão ter se incomodado com tudo isso. Havia apenas deito uma experiência? Uma vez Novalis fez a seguinte anotação sobre a natureza &a te\6t\c

" Num Dera(deito discurso desempenbamostodososp'zpéis

passamos por tocos os caracteres--

por tons os est(üos --

só parca su Qreen-

der -- para uer o objeto de um nodo lado, para iludir o ouvinte de repente.

Ele queria apenas //zídír os ouvintes com seu discurso? Ele quis se mostrar em diversos.papéZf,no papel do autor de uma elegia, que observa

uma épocadestruída; de um revolucionário, que exigeuma renovação; de um profeta que diz o que o tempo exige? É verdade que não se deve imaginar Novalis como alguém que simplesmente transborda de entusiasmo. Ele não é ingênuo; leva a sério, mas permanece o diretor dos efeitos que quer gerar ou testar. No jogo

retórico de papéis, se conservaconsciente;um autor por cima da sua obra, o própriopaefú /xa ice 2z í#/. Apenas assim se pode explicar que escrevasem mágoa a Friedrich Schlegel sobre a ressonância negativa: 'Me deuotua 'Euvopd

eu tenho outra ideia para eLa--

el,a pode, com

algumas mudanças, fazer parte de outros discursospúblicos. A eloquência

fem Zefer fznÓ.z/»,z2a e o iiz/ fo ége/z! /" (31 de janeiro de 1800). 118

Novalis era também um jogador talentoso. Os amigos o amavam por 'sso, mesmo se nem sempre concordavam com ele; amavam-no por

essaencantadora leveza que podia brincar com o que é sério. Novalis 6oi o Mozart da primeira geraçãode românticos Do mesmo modo como estelidava com a música ]udicamente, o primeiro tratava dos pensamentos. Ele porém não levava isso menos a sério do que as outras pessoas sérias.

'

O pensamento central de seu discurso é: "Onde máoÓZZezzlrJ,re/. /z'zm#amzalm.zi." No momento, segundo ele, dominavam os fantasmas o proveito para si próprio, do nacionalismo, do pensamentode poder

politj..n Hoje nóso chamaríamos de"ideologias".Elestomaram' r ugar do atrofiado ie/zf/2o jaPnZo Separou-se o saber da crença e as pessoas seJogavam agora com devoção à ciência como uma religião Substituta.

Isso diz o cientista Novalis, que sabeexatamenteque não seguiráo rastro do mistério do mundo com a química e a física. Defende uma ''t)H''K

v

ciência que também é sabedoria e por isso conhece seus limites. Tenta preservar o espírito cientíâcó, que ele mesmo cultua, de se deixar seduzir

por si mesmo.Olhando para a história dos últimos séculos,lembra as consequências do moderno ódio pela religião: "0 Óz&o.peçareZlgf'Íaje ,Lastros de modo natural e consequente sobre todos os objetos do entusiasmo,

?l«««a. «fa«.«;i" ' .«*:m'"'.,.:''": '.""m'l'.l:l*=,;';li='"'., . aturo e o passado; colocou a duras penas o homem no toPO da Linha dos seres

uzturais e transformou a mÜsicci infinitamente

criativa do universo

aTaLho monótono de um moinho que é movido pela correnteza do acaso e

lue nada sobreeLe;um mQi.Dho..€7111i, sem arquiteto ou moleiro, e mesmo

.m «.«darei,ope:petuum nobre, um moinho qu. «Ói a si«.smo Na metáfora doperpe/z/KmmaÓ/Ze Novalis resumetoda uma história p'nsamento moderno que se desliga da metafísica cristã. Lembremos: antigamente dizia-se que a natureza não pode se sustentar sozinha; ela é uma criação e permanecedependenteda vinda constante da graça divina chamava-sea isso de erra//o f0#//7ZZ/ZZ. A partir do inicio da era moderna vale a premissa contrária:' a natureza é deita de modo que ela mesma se sustenta. Nela há leis em ação que garantem sua existência. A era moderna desenvolveu a imagem do mundo

çom uma naturezaautónoma, que não depende mais de um Deus. Numa 119

LIVRO PRIMEIRO

© O ROMAN'TISMO

CAPÍTULO VI

faseprovisória, ainda se reafirmou o princípio da criação na figura de uma hipotése sobre um relojoeiro. Deus fez o relógio, equipou-o bem com um mecanismo, e agora ele funciona -- como esseperperzlz/m moó/ó' do qual fala Novalis. Apenas maus relógios precisamda intervenção do relojoeiro. Mas um deus perfeito náo produz relógios ruins. A hipótese sobre o relojoeiro aguçavaa razão teórica, indagadora. Pois ela podia então se con6lar a entender o segredo, primeiro devotamente espantada diante da obra mágica de Deus, então com o desejode intervir e, com -»' :l'.r

1:

r..L:f'

K. Ç

ajuda do conhecimento sobre asleis, produzir obras próprias. A hipótese sobre o relojoeiro foi também a forma elegante de tornar supérflua a intervenção da graça divina. A partir de então a natureza podia, pensava-se, exaurir-se sem piedade. Isso teve por consequência um nítido esfriamento

E claro que Novalis sabeque idealiza demasiadamentea Idade Média, ou mesmo rom /z//zú-a; mas declara expressamenteque leva o factual, o #fezn/, menos a sério do que o epó'//o que age na história O espírito do novo tempo é para ele o espírito do desencantamento. A imagem de contraste, porém, essesonho para trás -- para um tempo

que antecede a "falta de abrigo metafísico" -- será sonhado várias vezes também depois de Novalis. Um século depois, por exemplo, pelo jovem Georg Lukács, antes que ele se tornasse marxista e membro do Partido Comunista. Sua famosa Zoar/ Zo rom,zmcecomeça com Novalis: ".Beata. ao ostempos para os quais o céu estrelado é o mapa dos caminhos triLbáueis p'r trilhar...

O mundo é vasto e ao mesmo tempo é como a própria casa:'

Depois da elegia, a profecia. Como é que tudo deve progredir, como

do sentimento em relação ao mundo, que naturalmente 6oi compensado

tudo irá adiante?

por um aquecimento numa outra parte, pois começou-sea dominar

Novalis conhece as tentativas do seu tempo de colocar algo em oposiçãoao empirismo e ao racionalismo desencantadores.Não Ihe satisfazo método de Kant, que opõe ao reconhecimentoexterior da natureza a experiência da liberdade moral como metafísica interna.

tecnicamente e a utilizar essanatureza "resfriada' Voltemos a Novalis, para quem esseprocesso tem por consequência que o homem anual esteja "ocupado iem cessar" em tirar "Za n.zfzlreza, 2o chão, (hs ttLwüs humanas e (hs ciências toda a poesia em destruir todo e 4uaLquevrastro do süg'ado, em tornar impossÍueLpor meio do sarcasmo toda

a memória cteacontecimentose sereshumanos enaltecedores,e em tirar cío mundo todos osadornos cotoridoi

Nesseconceito fica-se num dualismo entre o espírito apenassubjetivo e o materialismo objetivo.

O idealismo alemão é a tentativa de superar tal dualismo, e os românticos dão a essastentativas ainda uma nota especial..Nguns frisam os bons

Novalis escolhea Idade Média cristã como imagem para criar um con\teste. " Eram temposbelose brilhantes, quctndoa Europa era uma ferra cr2iíú." Isto é a busca pelo tempo perdido, no espelho da própria infância e na infância da raça humana. Novalis descrevecomo o senso

costumes(Schiller, Fichte, Hegel), outros

românticos como Novalis

e Schlegel -- o estético. Mobilizam a fantasia, náo apenascomo mero complemento, como instinto periférico e bela coisa secundária, mascomo

para o fantástico desapareceucom o recente amadurecimento, como

órgão central para a compreensão do mundo e para a sua construção. A fantasia no poderáVde impregnar o mundo com o espírito poéticosIsso

"crenf'z r 'amar" foram substituídos

começa para Novalis com as atividades diárias

por "saZ'er e /e ", como tudo só gira

em \alho de"preocupações egoístas', c mo o " tumulto sem sossegoda socie-

também "à zare#u 2e

zígór/oj.pode-Jr /ralar.pae/jcamenZ?" -- e acaba com a religião. $pa .religião

dade que dispersa" nã,o deixa mais tempo "par'z 'z concentração silenciosa

: la coma \)ue" o elemento maisperfeito da minha nçistência, afavLtasid' ,

do espírito, para a contemplação atenciosa clo mundo interiorn . 'Todas\a,

deve ter sido característico para aquele tempo que essemundo interior

escreveele em 26 de dezembro de 1798 ao amigo do pai, Just, para Ihe explicar em que a sua religião se di6erenciava da oficial. Para dizer com

não era apenas interior, mas se apresentava exteriormente, nos modelos

uma palavra: SW:religião é uma religião estética.

de vida organizados pela Igreja: rituais, imagens, festas, procedimentos sacros. Essa vida o?lga/z/fome /e harmoniosa, sobre a qual um céu se

em Hr//zr/rÓ z,o/zO#ezz#mgrn. Cada ponto setransforma num mirante;

estendia, desapareceu.

veem-se perspectivas ilimitadas, em toda parte um céu se espelha, e as 120

Tudo que eLeuia e ouvia parecia apenas cobrir-Lbe nouasjanehf'

121

, \E-se

LlyRO PRIMEIRO

e O ROMANTISMO CAPÍTULO VI

coisasadquirem um fundo dourado magnífico. A fantasia é livre, mas

ela também precisa de regrase limitações, para medir com elassuas corças e se desenvolver. ".Eu gz/ zie gz/fro 22zer", declara Klingsohr em Heinricb uon O$erdingen,"

que o caos, em toda poesict, deve aparecer poT

fzzÜdúWarefcé c/a reKzíZar d# o/ldrm... " Isso vale para a poesia e também para a religião; também ela é caos superado, com um contorno nítido no qual o brilho do infinito se mostra. O infinito não é desordenado

tudo pode ser me2zaZor; ele só precisa ser usado comolaneZa através da

qual olhamos para o prodigioso. Onde a consciência se fecha a essa esfera, começa a história macabra

da superstição moderna, que quer compreender e curar o mundo a partir Le um y n\a. C)nde não bá deuses, reinam fantasmas.

de maneira grandiosa? ".4 z,rrdaZTZza.znzzrgwi / o e/eme /o$rczzmdador

da re/Ü/,2o."Em Nietzsche leremos então: "/emoi de /er ó,:zJ/a/e CzzOf em si, para poder dar Luz a uma estrela dançante' r

b.

A união de poesia e religião é para Novalis a garantia do possível renascimento de uma era religiosa. Depois da Antiguidade e da Idade Média cristã, poderia, segundo ele, irromper uma "force/zarra", que não seria mais inspirada na revelaçãoantiga, mas sim no espírito poético. A forma histórica do cristianismo pode se apagar,masa religião viverá em \tEs qatma.s-. " Umü é o elementofecundados da reli@ão, como alegria em toda eLa. \Ouxta.l\ a mediunidade em gerctl, como crença na potência de

todo o terrestre,de ser o uinl30e o pão da vida eterna. \Outra úndaÀ a :Terça em Cristo, em sua mãe e nos santos. Escolham cl que quiserem; se vocês

escolhem todas as três, tanto faz, tornar-se-ão com isso cristãos e membros

de uma comunidade única, eterna e indiziueLmentefeLiz:' Para a nova religião não é portanto necessário que se acredite em

Cristo. Uma inspiração religiosa que sebaseienuma outra mediunidade é possíveltambém. Aliás, também aqui vale o mesmo para a poesia:um mediador, algo concreto e determinado é necessário,porque senão o sentimento

religioso

se perde no indeânido.

"Nada

/ wzz/J / záspe jáz/e/

para a lierdüdeira reli$ão do que um mediador que nosLigueà divindade. ) homem simplesmente não pode estar em contado direto com eLa. Pode ;ertamente ser Livre n.z escolha desse mediador. A menor imposição nisso

traz danos cl sua religião.

O politeísmo antigo conheciadiversosdeuses,isto, é muitos mediadores, e o deus nona\eis\a

ê a " mediador do mundo intermediário"

. B.ste

deusé a garantia de que o mzzndointermediário não se imobilize num culto pagão ou se expresse como demonismo.

A esfera do me22a2or é o

segredo que se torna visível e continua segredo. Mas não esqueçamos: 122

123

(I:APÍTULO VII

Religião romântica. Inventar Deus. Os experimentas de Schlege Friedrich Schleiermacher entra em cena: a religião é o tino e o gosto para o infinito. Religião além do bem e do mal A Eternidade no presente. Salvação através da beleza do mundo

Da vida de um virtuoso da religião.

r

Por algum tempo, os românticos fizeram da literatura, ou seja, do imaginário, o principal conteúdo de suasvidas. Eles porém não queriam ser sonhadores nem fazer suas conquistas apenas no reino aéreo dos so-

h. 1:

nhos. Queriam mudar a vida em si, começando consigo mesmos,então arrebatar os amigos, o público leitor e, finalmente,

toda a nação educada.

Até esseponto, o espírito da Revolução estavavivo também no seucírculo. (quem quisesse exprimir

o desejo romântico

por transformações

numa formula breve teria de dizer: as possibilidadesque ainda estão escondidasna realidade devem ser tornadas visíveis por meio da fançasialúdica e ao .mesmotempo pesquisadora.Era isso que Schlegel dizia quando propunha que tudo que é finito deveria ser relativizado e ironizado no horizonte do infinito; ou quando Novalis dava ao sentido poético a tarefade romantizar a vida comum; ou quando Wackenroder sugeria a devoção espantada e Tieck, o olhar que causava estranhamento.

A frase de Schiller a respeito de que o ser humano seria apenascompletamente humano quando brinca caíra junto aos românticos em solo Fecundo. Eles lembravam não apenastradições esquecidas,mas também

se permitiam brincar com elas.Carl Schmitt seguramenteacerta num aspecto de sua postura quando acusa os românticos de serem "ocasionalistas": pessoasque virtuosamente fazem de temas e motivos Rilosóflcos e

políticos um pretexto para suasbrincadeiras espirituosas. E bem verdade que a despreocupaçãoromântica antecipa sob certos prismas o posterior

pós-modernismo. A diferença é apenasque aqui se brinca com o sentimento de ainda ter muito diante de si, enquanto o pós-modernismo acreditava ter quase tudo atrás de si. 125

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMANTISMO

CAPÍTULO Vll

A religião também Eazparte do material lúdico do Romantismo? Em novembro de 1799, quando os românticos se encontraram em lena e

Novalis leu seu discurso.4 cr/s/anZa2eoz/.zEz/rapaem voz alta, pareceu que isso seria assim não apenas a Dorothea Veia: "0 frisa/a /ímo eilzí .zgzz/ à I'ordre

1=

E..L./'

t P

b: Ç

du jour;

as caz,.zZBe/roi ef

o zím &# fo Zozóroj."

Z/z,rr .Í o Áamrm, gz/.andoeZe#azfzírg/r Zez/s."Isso acontece quando ele encontra seu centro e se torna um mez&aZor um pensamento que Schlegel tomou de Novalis: "MTZla2or

/ .zgweZe", escreve, "g#f.perceó,

Liuindade em si e se dá destrutiTamente,

para proclamar essepensamento,

Paramanter a ironia também em temasreligiosos,sequeria originalmente publicar o discurso de Novalis juntamente com a sátira Formulada por Schelling em sua intenção -- o plano foi deixado de lado a conselho

para torna-Lo conhecido, e apresenta-Loa todos oshomens e costumese aios.

de Goethe. Quando se trata do tema da religião, a brincadeira deveria terminar. Nem a anunciaçãode uma novaera religiosa por Novalis nem a respectivazombaria pareciam produtivos no momento em que Fichte acabarade ser obrigado a deixar a universidadede lena por causada acusaçãode ateísmo. A religião como ortodoxia cristã ainda era, dife-

contexto mais amp]o das ]2e/ai, que, em diversasvariações,giram em torno de um pensamento:a arte estápredestinadaa salvara religião, porque a religião no seu âmago nada mais é do que arte. Que religião é esta?Issonão fica muito claro. TambémNovalis está

rentemente do que desejavam os românticos, um poder ordenador que

gz/erer#aZar Zo e/z/zíJ/'limoemg?xn/". Schlegel Ihe é grato pela definição

aârmava sua liberdade diante da religiosidade subjetiva. Se a religião estavaà /br#re Za joz/r entre os românticos, não era pois a cristã. Era uma religião-fantasiaou a religião da fantasia. Uma religião da revelaçãonão é adequadapara que nela se deixe correr o jogo da fantasia. Tinha de ser uma religião que adviessedessemesmo jogo. Novalis havia admitido na carta a Just, já citada, que a "rer/ez'z 2oczzmff#rf4" da Bíblia Ihe significava pouco e que ele havia aberto seu próprio caminho para o mundo original. As "//:/7z/é c/ zi iuprr/ares", escreve,Ihe teriam acontecido a caminho da fantasia.

e a usa imediatamente:

O discurso e principalmente o romance /7e/ r/có z/onO/tezldlnge

l.:l11 }

florescimento da liberdade criativa no homem até a aucodivinação.

sãoobras de um Eantasiadorreligioso, que porém no geral é suficientemente realista para desenvolver estudos empíricos das ciências naturais e para planejar uma espéciede agêncialiterária que devesalvaros amigos românticos da miséria financeira. Ao lado de Novalis, foram sobretudo Friedrich Schlegele Schleiermacher que levaram adiante energicamente o prometode transformação

fm .P.zZÚZ,xns e oózai." Que isso depende mais das.p.zZaz,zni e aóxasdos artistas do que dos ros/ mef e aros dos homens de bem torna-se claro no

)etpXexa e esctexe a.o a.tNx . " quando uocêfaLa de reLi©ão, parece-me "a erre cízoJrespZa/z2elre /e 2e Pr/ZJ/ámen/oj e Jem-

f/mr fas27z,/noJ fÓ'amamos e rzzs/'cimo". De onde porém vem o "rabi Zr Pe Jamr fai Zlz,/mas"?Nenhuma bíbilia, nenhuma revelaçãooficial, nem a Igreja e sacramentos e rituais são necessários;o homem entusiasmado cria tudo a partir de si mesmo. Nele tem de haver uma raz!@sáocriadora que Schlegel caracteriza com as palavras: "ió zgz/eZaca/!/üíáo Za g a/

wm mz//zZopode emerg/r / z/m c'zof". O homem religioso e o criativo sabem usar direito essaconfusão criativa; eles constroem a partir dela

seumundo, ou uma obra de arte, ou uma religião. Toda vez, porém, trata-sede uma obra da imaginação. A religião geralmente está associadaa uma moral. «.,4uezldaZe/xn roncePf'Zarenfxa/ Zo f /sfZa üma é o pec.zZo", escreveSchlegel, que quer se libertar exatamente disso. Nesse ponto o cristianismo Ihe é suspeito, ele o

vê pescarem águas turvas. Como verdadeira fonte de religião denomina

A religiãocristã,escreveFriedrichSchlegelnas/2e/ízs[12een] , tornou-

o amor, que nele é uma outra palavra para o rn/zíi/Mma. De qualquer modo, vale o princípio: ame e faça o que você quer. O que sequer com entusiasmo,isto é, com amor, também é desejadoe ordenado por Deus. Qual Deus?

sevelha e sem força, e a arte estádestinada a guardar a semente religiosa.

E o "Z)ez/iem #ó ", e ele nada mais é do que o "prc@r/a/#z&z,2wa

da religião em estética.

A verdadeira religião não é apenasheteronomia, náo é uma revelação externa, que vem de um deus que está por cima do mundo, mas o

#zZJwa maZf ú/fú poro/zc/a". Assim não surpreende que Schlegel, no

126

127

final de dezembro de 1798, escrevaa Novalis: "Ea .pr/zsoem./àn2ar

CAPITULO Vll

LIVRO PRIMEIRO e O ROMANTISMO

z/m.zmou,zre/@iáa." Isto torna-se, como não poderia deixar de ser, mais

oriunda de Deus, ou seja, heteronâmica. Mas ela deve ser autónoma.

um prometo de livro: "(2z/e iiio z/fz'.Z.zronferer afzaz,á de z/m //z,ro zz'ío

Assim o quer o conceito de liberdade de Kant. O homem -- o imperativo categórico da razão prática dá a si mesmo uma moral. Deus não

deveria surpreender, pois osgrandes autores da religião Müomé, Lutero --

üos poucos se tornam

Moisés, Crista,

menos pol'incas e mais professores

e escrito'res.

Mas essefundador de religião quer ser mais que alguém das letras, : pa\ \sso Sq\&ta, " como também Maomé, com a espada dü palavra em

fogo, em cruzar o mundo cbs espíritos, con quistando mundo?' . À. essacat\a.

Novalis responde ironicamente: "Qwfm izzZ'eie iez/prdefo áo aZe fzn o meu e col,oca,do mesmomodo o céu em movimento, como o meu o pd.r'

e #?ro/de/érre o." Assim fala o engenheiro de minas para o fundador de religião, e nos seuscadernosdesseperíodo Novalis, que faz o papel de sóbrio em relação a Schlegel, anota o pensamento de que a fantasia

age como imposição externa sobre os homens; criou o homem de modo que ele próprio possa dominar a si mesmo. Autodominação ao invés da

imposição heteronâmica de outrem. Deus age sobre a autodominação moral do homem. Esta é sublime porque pode se erguer além de meras necessidadesnaturais e instintos. Seguir os princípios morais significa ser livre em relação às imposições da natureza no próprio corpo, aos desejos e à sede de volúpia. A boa ação que merece esse nome, acontece,

segundo Kant, por si mesma, não para uma recompensa terrena ou no além. Se os homens não tivessem sua moral, que os deixa agir sem pensar

em recompensas,seriam, como meros seresda natureza, "iwó#zíga2oi.z

#

Ih,

pode também levar para o mau caminho, quando fita a correção através

todos os males da precariedade, dct doença e da morte precoce como todos

da razão./}/a e /éfzz/ca;então nos perdemos num "re/na Zela f.cima',

osctnimais da terra, permanecendoassim até que uma sepultura Largaos engula a todos e jogue aqueles que possam ter acreditado ser o objetivo

rz/zf@odádo z/endade/rocézz". O próprio Friedrich Schlegel, quando se

converte ao catolicismo dezanosdepois, irá julgar criticamente seusan-

!

teriores projetos religiosos: "Este 2ez/zz/ze/o esféf/c ", escreveele em 1808,

?sseLogropanteísta afemin.zdo,essabrincadeira com asformas tinham de acabar; eks náo são dignos da grande era e nem são mais adequados.

As investigaçõesde Schlegelforam só um prelúdio das EaZaíde Schleiermacher sobre a religião. Publicadas no Glnal de 1799, apresentam a religião do sentimento romântica de tal modo que a geração de românticos se pede reconhecer ali completamente. Tratava-separa

1=.i

essageraçãopois de uma grandezaestética, não moral. SÓestaúltima, porém, havia restado à religião depois da crítica de Kant. Kant havia destruído a antiga metafísica com as suas especulações

sobre Deus. A razão teórica, assim ensinava ele, não pode reconhecer Deus. Com isso, tirou a razão teórica rigorosamente das alturas beatiÊcadoras, onde ela não tinha nada a buscar -- de qualquer modo, nada a achar. O que restou foi a hipótese sobre Deus para a razão prática, isto é, para a moral. Kant declarou os bons modos como último órgão religioso que restava. Nisso a religião não é, tomada no sentido estrito,

o fundamento da moral; pelo contrário, é fundamentada sobrea moral. Isso é muito importante. Se a moral fossebaseadana religião, ela seria 128

anal da criaçãona gargantado caossemfunção da matéria, de onde eles haviam sido extraídos A moral da ausência de interesses é sublime; todo o resto está sob suspeita do caos e da falta de sentido. Em Kant, a religião não [em mais

a força de tornar sagradaa naturezae de descobrir um mistério nela. A ânsia românticapelo segredose baseianisso,porém. E exatamentea essaânsia correspondeu o texto de Schleiermacher Saó e z reZlgZ,ía. EaZai aoscultos entre seusdetratores \über die ReLigion. Redes an die GebiMeten enter ibren VeriicbternÜ.

Friedrich Schleiermacher havia chegado à Charité de Berlim como

pregador protestante; nessacidade logo foi aceito no salão literário de Henriette Herz, o mais importante ao lado do sótão de Rahel Levin (mais tarde, Rahel Varnhagen). Lá encontrou Friedrich Schlegel, com

quem em pouco tempo travou laços de amizade. Também Schlegelhavia acreditado de início nos rumores que circulavam em Berlim, que essepequeno, desengonçadoe tímido Schleiermacher seria o amante da bela Henriette, cuja aparência lembrava a alguns as mulheres de Tiziano e a outros as antigas representações de Helena. Teria

sido possívelque essehomem quieto e reservadotivesseconquistado tal

LlyRO PRIMEIRO

e O ROMANTISMO

B CAPÍTULOVll

mulher? Uma caricatura da épocamostra Henriette imponente, a carregar consigo seu Schleiermacher como a um guarda-chuva. [)e fato, setratava no relacionamento de uma irmandade intensa entre suasalmas. ".4si/m, não tínhamos nem podíamos ter nenhum ouro sentimento um pel'ooutro

Ele primeiro tinha de descobrir o sentimento religioso em si, depois deste quaseter desaparecidosob uma acrobacia racional do espírito. Mas como suasresistênciasinteriores eram as mesmasdos contemporâneos românticos da sua geração, sua tentativa "Ze recomgzzif/arfria região.pr(»rZ a ir/z//me /o óz/m'zmo"podia acontecer de maneira inovadora e libertadora.

do que amiz(üe, ainda que a mais prolRnch. Sim, por mais esü'anhoque

Schleiermacheré originário de uma linhagem de pastores.Já o avâ

c:onz,fri.zwoi m //

vezes", escreve Henriette Herz em suas memórias, "gzíe

possaparecer, nós re#.stramos por escrito um para o ouRO os motivos que im-

pediam que nossoreL-zcionamentopu&sse ser diferente" Sdüeletmachet

r.l./

a

e o pai haviam se tornado párocos, e a mãe era filha de um pregador

da corte famoso, Stubenrauch. ".Re/ikzáo",lê-se em suasEa/ai, "exn o

Platão e Espinoza com ela, e ela o ajudava a aprender italiano e espanhol. Ele visitava sua casaquase todas as noites. Vinha a pé da Oranienburger

corpo materno, em cuja escuridão sag'ada meu corpo jovem era alimentado

Chausseepara o seu apartamento na Neuen FriedrichstraBe. Para o penoso caminho de volta -- andavaainda em terreno não construído -ela Ihe davauma pequenalanterna que poderia pendurar na gola do seu manto. Ela teria, assimzombavam, "colocado uma luz" no casto pregador. Isso estavacerto, mas de outro modo do que o insinuado pelos boatos.

espírito, antes que eLetivesseencontrctcloseusobjetos alternos, suasocperiên-

Schleiermacher aprendeu com Henriette o comportamento elegante em sociedade; ele se tornara, como confessa a sua irmã, mais maleável, mais

do mundo, a consciênciado pecado,o mistério da graçadivina e as esp'ranças do além eram aqui determinantes. Os esperadossentimentos

comunicativo.

sobrenaturais, porém, não queriam chegar para o jovem; pelo menos não

Ele estava feliz por '.poder#azer

z/m cz/rsa deJ?m/

//Zz&zde".

Schlegel tinha ciúmes da relação do amigo com a bela Henriette.

epreparado para o mundo que ainda tbe erafecbado; nele res])içava meu ctas e a, cte'neta,.

O jovem Schleiermacherfoi confiado à Irmandade da Morávia primeiro em Niesky e então em Barby. Aqui conheceu um cristianismo

moralmente sóbrio e ao mesmo tempo cheio de sentimento. A recusa

' O pior é" , escreve ao seu \tmã.a, " que eu não liejo salvação para SchLeier-

perduravam. Ele se sentia em tal obrigação com a origem da sua família que começou a estudar teologia em Halle. (queria, como explica ao pai,

macber, para seLivrar dct armadilha da Antiguidade" . Devo\s que acekau

buscar um caminho de volta à crença, mas tinha de ser uma crença que

a sugestãode Schleiermacherde dividir o apartamento com ele, o ciúme 6oi desaparecendo.Um estreito círculo de trabalho seformou. Schleiermacher

seafirmassediante da razão.Aprofunda-se tanto na teologia como na matemática. Torna-se kantiano. E, mais rigorosamente que Kant, reduz

contribuiu com alguns .Fnalgmrnrafpara a''iiÁen.2zlm -- entre outros, o credo

a razãoteórica ao espaçofinito; rejeita mais radicalmente do que Kant

que é colocado na boca de uma mulher: "fz/ .zfrráfa /zo.poder zZzz.'om/adrr

toda especulação metafísica. Quando quer, atira-se àlálgebra para acalmar

ch educação de me aproximar

os ânimos. E mais firmemente que Kant reduz a religião à moral. Assim

novamente do in$nito,

de me libertar

dos griLllões

Éb m'zl$ormação, e de me tornar independente das Limitações do soco'

Quando Schlegel fez imprimir essefragmento, ele ainda não sabia que o desejo lá articulado o de se aproximar novamente do inânito seria o ponto de partida de um livro com o qual Schleiermacher causariagrande impacto entre seusamigos românticos um ano depois. Nessetexto tudo gira em torno do pensamento:".Re/ fáo é o ie f/2o e

conservaa seriedadeda moral oriunda da Irmandade da Morávia, mas rejeita as concepçóes#a /ús//rdi da graça e do além entre os membros da Irmandade uma compensação para as privações da recusaaos prazeres do mundo. Ele está temerosamente atento ao fato de que a fantasia

não confunda seu cálculo. Em suasEaZai,mencionará os "z,/ [z/oioi zü rellegzáo";por enquanto ele eazparte dos virtuosos da lógica. É verdadei-

o gostopelo infinito.

ramente notável e desperta a impressão de um amadurecimento precoce

Essepensamento, que significava-lhe também o reencontro da infância, só se formou em Schleiermacher no círculo dos amigos românticos.

como essejovem resiste ao desvaneio, protege-se contra todos os sonhos

130

131

e esperançasda fantasia, como ele mantém sua paixão sob controle.

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO CAPÍTULO Vll

Agora e]e !Ê..!:!!çi41112-.dl:.5êQglgla, ]111Qnlêlgg.ç e 'Wlsla!!d. Cénicos, pois, que não apenasadentram com reservaa religião, mas também a crença na ciência. Tem a leve impressão de que asciências talvez exagerem nas suas pretensões à verdade. Principalmente

com Montaigne,

aprende

que a realidadelá fora e no próprio interior é tão variada: uma imensa trama e flutuação, em cada ponto concreto e mesmo assim sempre mu-

tável; um contexto infinito no finito

tão infinito que os conceitos

geraisda ciência não a podem abranger; tampouco os dogmas da religião. Schleiermacher,que até então se tinha orientado nos conceitos da ciência e da moral estritas e que vivera no geral de maneira espartana e reclusa, r.Z.F

abre-separa experiênciasque não encontram uma expressãoconveniente na ciência, na moral ou nas religiões dogmáticas. Já que se trata aqui de '$:

experiências que vivem principalmente na poesia, na música e na pintura,

pode-se entender por que Schleiermacher se sente predestinado -- no

Ê, l

círculo social, espirituoso e apaixonado pela arte dos românticos berlinenses -- a buscar essanova veia de ouro. Ele a chama ie/zri2o egos/apego

//t/2n//a. Chama essaexperiência como a verdadeira semente da religião.

Mas como tal sementesempreé sufocadae soterradapela moral, por

suasEaZaí,antes pois da sua carreira como homem da Igreja, tons eróticos

da sua mística do ser não podem deixar de ser ouvidos. Num trecho que depois 6oi cortado,

lê-se: "Ea

el/azí mo.Pe//a Za m /zZo /aO /fo.

elfe

alento sou a sua alma, p'is sinto todas as suasforças e sua Tida in$nita,

como

Lminha própria, ele é neste momento o meu co QO, pois eu cruzo seusmúsculos membros como os meus próprios, e seusnervos mais internos se movimentam le acordo com meu desejo e minhas intuições como os meus próprios. A menor

urbuLênciae o abraço sagradosede4az, e agora a contemplaçãoestádiante le mim como uma $gura isolada; eu a meço e eh se espelha na alma aberta

omo a imagem de uma amalü que se afasta nos olhos abertos do jovem, e agora apenas o sentimento monta do interior, e se espalha como o rubro da ergonba e do desejo sobresuaface. Este momento é a suprema$or (h religião:'

Em tais momentos de êxtaseaconteceaquilo que, na terminologia filosóâca da época, era denominado suspensãoda relação entre o sujeito e o objeto. O sentimento descobre qualidades subjetivas na natureza e amálgama-secom elas.Essemisticismo do sujeito tem precursores:o encontramos em Herder e no jovem Goethe, que jubilam a z,i.Zz/ozaZ.Ele está

pensamentos sobre a utilidade das coisas, pela ciência e pelo dogmatismo,

também na tradição do misticismo europeu, até a sua versãopietista, que era conhecida de Schleiermacher, educado pela Irmandade da Morávia.

tudo depende de retira-la do interior da terra e coloca-la pura diante dos olhos, para que se possa descobri-la pelo menos em contato com outras

No círculo de seusamigos românticos, Schleiermacherencontrou a

matérias e posturas espirituais. Ele trabalha como um químico, disse uma vez a Henriette Herz. Para Novalis ele se autodenominoü. alguém que, como ele, pesquisavao interior dasmontanhas. E como kantiano levantou a pouco modesta reinvindicação de ter enriquecido as três capacidades humanas a razão teórica, a razão prática e o juízo -- com uma quarta: o juízo religioso ou o a.pr/or/ da religião como experiência do infinito. Ele define a experiência religiosa, portanto, como uma região do ser situada entre o conhecimento -- que se liga à racionalidade -- e a moral

coragem de colocar energicamente essaexperiência mística -- que sob

influência racionalistapor algum tempo Ihe pareceususpeita-- de novo no centro da sua vida espiritual, e dela desenvolver sua religião renovada. Cinco aspectosda suadoutrina religiosa foram especialmenteinfluentes entre os românticos. A união com Deus-- ou melhor: a participação na divindade -- não é uma algo da vida eterna depois da monte. Tampouco pressupõe a existência de um legislador celestial. Ela é muito mais a participação na vida

que segue a lei dos bons costumes, adotada em liberdade. Experiên-

eterna aqui e agora. A imortalidade, explica, nada mais é do que, "mo mr/a lo$nito, tornar-se uno com o infinito e ser eterno num momento' . X.staê a.

cia religiosaé sentimento e contemplaçãodo infinito do universo. Ele a

experiência do eterno no finito, que também Fichte descreveranos seus

chama também simplesmente de "iene/do.para o zzn/z/fria". Isso quer dizer

:onselbos para uma vida beata \Anweisungzum

a profunda impressão que o universo causasobre nós. O medo diante do prodigioso e a contemplação diante do sublime. É uma naturezaanimada,

da qual Schleiermachercalaentusiasticamente. Na primeira versãode 132

seligen LebenÜ, esc\ as

pouco tempo depois. O eu, diz ele, que está absolutamente decidido, abre-secom isso para o incondicional. Mas diferentementede Fichte, para quem a açãose transforma em êxtase,em Schleiermacherdomina 133

8 CAPITULOVll

LIVRO PRIMEIRO © O ROMAN'TISMO

umapmiiz'!jade / :Xanf//. Menos um agir do que um receber: uma tomada de consciência prazerosa do "2efaPzzrer/menu iem rz/ií2a 2e /oZú a /zojja

exj fé cja /zo //!Pn/fo". Uma experiênciaque Freud, seguindo Romain Rolland, chamará mais tarde do "se //me fa área /ca". Significativo é que essedesaparecimento sem ruído no infinito não seja experimentado em Schleiermacher como ameaçador, e sim como prazeroso. E um sen-

timento de fusãoamorosa.As coisasda vida, tambémo indivíduo com

1='

u,/'

h, Ç

suaslimitações, continuam importantes, maselasse relativizam diante do horizonte do prodigioso. Elas conservamsuaseriedade,masperdem o seu peso esmagador.A vida ganha algo de levitante. Em segundo lugar, a mística do ser de Schleiermacher é anta-institucional. Não precisade nenhuma hierarquia, nenhum sacerdócio,nenhuma

Em terceiro lugar, Schleiermacher falava do amor que tudo une, mas não do pecado. Nenhuma noite ameaçadora atira a sua sombra:

nem do próprio interior nem da naturezaque estáno exterior. Com o dualismo que Schleiermacher quer superar, some também o mal. É evidente que a cruz, a morte e a ressurreição, o juízo final e a condenação,

todo esseaparato do horror sagradonão encontra lugar em #sb religião bem-humorada. Falta, em suma, em quarto lugar, o dogmatismo cristão o que de certa forma surpreende num teólogo protestante. Entre os homens de letras do Romantismo

gostava-se de ler a frase: "NZo fem

e/zg/áo agzíe/e

que acredita numa escritura sagrada, mas sim aquele que não precisa de nenhuma e quepoderiaproduzir uma poT contaprópria:'

Caça ç nceQ($n

igreja e, afinal, nenhum ritual ou sacramento. Instâncias mediadoras são supérfluas onde a espontaneidade da experiência está viva. A propósito,

nova e original do universo é uma revelaçãopara Schleiermacher,e por issocada indivíduo centrado em si mesmo e dedicado ao universo pode

essamística do ser não leva ao isolamento; pelo contrário: institui uma comunidade da comunicaçãoviva. A experiênciareligiosa, que sempre

sel ç)alça de\a: " Sim, quem não uê o próprio mibgre como ponto de apoio

é uma experiência da união com o universo, exige ser transmitida.

pria reuel,açao, quando a sua alma anseia porsugar a beleza do mundo [...]

(que-

remos dividi-la com outras pessoas.Ela cria comunidades e fundamenta

pctra a contempl'ação do mundo, aquele em caio interior

não emerge a pró-

quem não senteaqui e aLI com a convicção uiva que um espírito divino o

amizades. Isso vem de encontro aos conceitos românticos da "sim6ilosofia"

movimenta, e que eLefaLa e age de acordo com cl inspirctção sagrada; quem

e da "simpoesia". Em Schleiermacher se havia encontrado um pregador

pelo menosnão tem consciênciade que seussentimentos resultam das anões

talentoso para uma religião simpatista. Para ele, já o espírito vivificador

22rezai2o

que circulava entre os amigos era algo religioso. Da perspectiva do eu, a

seinsereportanto maravilhosamenteno entusiasmoromântico pelo eu.

transcendência já começa no "você". Mas um "nós" elaborado de maneira

Não só cadaum pode fazer sua própria Bíblia como também é seu

institucional tem de encontrar dificuldades,pois não se deixa mesmo

próprio sacerdote; o sagrado não está preso a um local, ele é capaz de

edificar a partir dessesentido e gosto pelo infinito algo perene e seguro.

sentir as zzfóeido z//ziz/efta.

E por isso, escreveele, é inevitável que a Igreja "ie for e ma m'ziia

iz,essa áo fem reze/áo .z/gama." A religião de Schleiermacher

Finalmente, e isso era extremamente significativo

para os românti-

.Ruich, onde náo bá contornos, onde cada parte se encontra agora aqui,

cos, a religião de Schleiermacher era uma religião estética. Trata-se de

agaxn z// e rz/dosem/ffzóxnp.zce#c.zmenfe". É evidente que esseentendimento anti-institucional da religião se encontra em oposiçãoao Estado

sentimento e contemplação, não de agir moralmente. O sentido para o

hga&o à \grua: "Amai)coqualquer dessasLigações entrea Igreja e o Estaciol'

beleza. A alma do homem religioso anseia por "izegar a óeZez.z2a mz/nda"

Schleiermachersepronunciará contra a dominação do Estado também mais tarde, quando já era membro liderante da Igreja, razãopela qual um príncipe da linhagem dos Hohenzollern na épocada perseguição

Assim pode-setornar uma bela alma, capazde agir de maneira bela, de acordo com a grande harmonia e por isso em sintonia com as outras

aos demagogos

sagrada. .Alguns conseguem desenvolver-se como mestres; eles se tornam

o denominará

como "a m.zis / r/famfe //?/7we c/açor 2e

caZ'efa " que envenenava a juventude. 134

universo, desperto religiosamente, é ao mesmo tempo um sentido para a

almas. A experiência religiosa acompanha o homem como uma música

virtuosos da religião. Schleiermacherdeve ter seconsiderado um deles. 135

CAPÍTULO Vll

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO

(quando ele denomina a religião como uma música sagradaque deve"acoznPzznAar rodasoi fai da comem", o acento estáposto sobre o 'zcampóz/zó.zr. O que quer dizer com issoé que o percebere o agir con-

responde à incompreensível liberdade do todo. Ela sempre é entendida

servam com certeza sua própria lógica e motivos, mas que eles, através

a nós como uma pessoa.Mas apenas"como" uma pessoa.Schleiermacher

da experiência religiosa, são transpostos para um fluido dinamizador. tampouco pode substituir a moral, nem a pesquisa séria, a ciência e a

negaa existênciade algo absoluto, imaginado como pessoa,além do infinito. Nesseponto ele é spinoziano, ainda que o universo de Espinoza Ihe pareça imaginado como estático demais, maxi'geamrzr/codemais.

técnica. Nessasesferas,o homem devecontinuar a se movimentar com

A substância que tudo abrange, na qual estamos inseridos e da qual somos

calma e prudência; ele porém fará o que eazde outra maneira o fanatismo e a limitação, a paralisaçãono finito são suspensosEle ganha uma levezaserenae um relativismo alegre,não cínico, no horizonte do infinito. Mas como não só as açóes e reconhecimentos comuns podem

um momento ativo, é algo extremamentedinâmico. Podemoschama-la de "Deus", sob a condição de que se queira dizer o espírito do infinito e não um espírito além do infinito. Como é que poderia haver, além do inGlnito, ainda um deus fora do mundo? O infinito, no momento em

levar à paralisaçãoe ao fanatismo, como exatamente a religião mal interpretada pode ser fonte de fanatismo e inimizade, Schleiermacher exigedo homem verdadeiramentereligioso que: "e/e2ez/e$azer f do fom

que o experimentamos, age sobre nós de modo exaltador, intensificador,

A experiência do infinito não podesetornar um motivo especial;ela

FIJT'P

l #

B.'

religião, naco mais que religião'

A experiência religiosa não é escravade um determinado Rim, no sentido de que ela prometa uma recompensano além ou tenha por consequênciauma boa reputaçãomoral, tornando alguém apto para o trabalho e obediente. Ela é a experiênciado infinito no momento fugaz.

como um princípio criativo, que foge a todo tipo de determinismo. Por isso Schleiermacher pode falar a respeito de o universo zzglrem relação

desobstruidor. Por isso ele chama esseefeito de ação: "Na rrZl@áoo zóm/z,eixo é Disto; eLeé instituído como agenteprimário sobre o homem:' Ê um eEe\to que

nos liberta e nos deixa soltos, mesmo que desapareçamosnele. Por isso é que se pode amar ao espírito do mundo [WÊ'ágeisr],porque o desejo de desaparecertambém faz parte do amor. E como o amor torna dependente sem perda dã liberdade, assim ocorre com o sentimento de dependência

em si. Tudo depende, escreveSchleiermacher, de se nossa$aniail4, que

E o momento pleno; é a vida viva e por isso pode espalhar-separa as

submerge no universo, estáligada à consciência da liberdade ou não. Sendo

outras ár.as da vida, movendo-as. Ela não serve a um flm; ela é o âm. Isso tem em comum com a arte como os românticos a entendem. E por

eue a caso," eLaentão pevsoni$cará o espírito do universo, e vocêsterão um

isso elespodiam relacionar essaode ao sentido e ao gosto pelo infinito Embora Schleiermacher, em sua Z)owfr/n.z Za rrenfa [GZaz/óeni&órr] ,

Um universo livre, um universo que até nos ama -- isso nem podemos imaginar, ou melhor: só podemos imaginar com a fantasia; não se pode explicar. Pois quando começamos a explicar isto Kant havia

tenha denominado a religião como o sentimento da dependência absoluta

mostrado -- passamosao mundo onde as leis naturais agem cegamente,

e tenha dado margem a alguns mal-entendidos

onde o amor não [em lugar.

àsua paixão pela arte.

Hegel, por exemplo,

Z.)ez/"; caso contrário, o mundo nos parecerá um mecanismo sem sentido.

O sentimento de dependência,entendido corretamente, relaciona-seà

Schleiermachersente,do jeito romântico, a fantasia como aquela força com a ajuda da qual percebemosque o processocriativo na natureza harmoniza com a própria força criadora: "Vocês saberãoque a

ligação com o mistério da natureza, que não é um mecanismo morto,

fantasia é a coisa mais e]evada e mais original no homem... Vocês saberão

pelo qual somosdeterminados,masum princípio vivo e criativo que rio do universo espelhaa nossaprópria liberdade. A liberdade humana

que é a fantasia que cria o mundo para vocês.: Não só esseelogio à fantasia e o sentido e o gosto pelo infinito tinham de obter ressonânciaentre os românticos. Em Schleiermacher

136

137

diz zombateiramente que o sentimento de dependência caracterizaria o cachorro, não o homem , ele não nega de maneira alguma a liberdade.

sentimos em nós e redescobrimosna natureza.Pode-sedizer: o misté-

LlyRO PRIMEIRO

e O ROMANTISMO

CAPÍTULO Vll

também se podia achar a ironia romântica num outro traje. Nele, é a

educação estética \Briefen ilber die ãstbetiscbe ErziebungÜ . Wâa es\axa.

sagradamelancolia que, como a ironia, acompanha a intangível expansão para além de toda forma fixa. O sentimento religioso é um sentimento

propenso a se deixar reencaminhar para a religião pela ilê&iazK, como

acima de todos os outros; toda expressãodeterminada afunda nele, dissolve-se.Isso vale também para toda forma histórica da religião. A verdadeira religião é religião da religião, como a verdadeira poesia é, para Schlegel, a poesia da poesia. Essa transgressão de toda forma é também

r.ilr .$.

P

b:

uma despedida de toda Forma. Isso pode ocorrer de maneira ilâBjca ou melancólica. A religião de Schleiermacher é uma religião transcendental, assim como para Schlegel toda poesia é uma poesia transcendental. As EaZaide Schleiermacher coram recebidas entusiasticamente entre

os românticos o que não era de surpreender.Tampouco a crítica ásperados ortodoxos e racionalistas foi surpreendente. O mentor de Schleiermacher,o pregador da corte Sack, estavaindignado. Ele leu as Falas cama uma. " espirituosa apoLo@a do panteismo, uma representação

ele chamava aos românticos. Ele atirou o livro de Schleiermacher. irritado, junto aos outros documentos da escola berlinense. Nas EaZai, ele teria, assim escrevea Goethe, encontrado pouca substância e

muita pretensão,o que geraria nele, como outros produtos da escola, grande repulsa. Goethe por sua vez elogiou a princípio a "erz/záfáae z/criar/#2aZe"do escrito. Quando continuou a ler, seu paganismo ven-

ceu, e sua simpatia inicial passoua "wm.zzz#/@zf/a iaz/zZÍz/e/ e zz/erre" Schleiermacher havia endereçado suas EaZai sobre a religião "aai fzí/faJe frf OJie i 2erxafores".Goethe e Schiller, de qualquer modo, faziam parte dos detratores cultos com os quais Schleiermacher não podia obter muitos resultados.

Ainda assim, as EaZúfdeveriam se revelar futuramente como um poderosodocumento fundante de uma nova devoção-- a romântica.

27sfazs/z,.z Zo esp/ oziima", que não tinha lugar no púlpito. Já que continuava a gostar de Schleiermacher como pessoa,deixou-o livre e não Ihe criou nenhumadificuldade legal. Schleiermacherteveafinal de deixar Berlim, mas não por causa das EaZai.Tinha se apaixonado pela esposa de um colegada Charité. Situaçõesembaraçosassurgiram e por isso ele se deixou transferir como pregador para Stolp, em 1802. Também entre os kantianos rígidos as XaZmnão foram bem vistas; elas eram tidas como exaltadas demais. Quando Scheleiermacher então defendeu na .,4fóe/zãwm o romance Zz/cínZr, de Schlegel, aspessoasviram seuspreconceitos confirmados, segundo os quais essepregador só anunciava uma

religião de sentimentos porque Ihe faltavam a seriedadedos costumes e a estabilidade moral. Tampouco em Weimar as EaZai encontraram

ouvidos generosos.

As pessoasnão conseguiamse firmar numa religião que não tinha forma e que expressamente dissolvia todas as formas; isso contradizia a consciência formal vigente. H.avia reservasestéticas e, naturalmente, também reservasreligiosas. Schiller havia se salvado da religião que

havia conhecido como essencialmentedogmática e hierárquica recorrendo ao terreno da arte, onde encontrara substitutos suficientes para ela. Havia declarado seu credo a respeito nas Caríai iaZ're'z 138

139

CAPÍTULO VIII

O belo e a mitologia. O mais antigo sistema-programado idealismo alemão. Mitologia da razão. Da razão do futuro à verdade da origem. Gõrres, Creuzer, Schlegel e a descoberta do

Oriente. A outra Antiguidade. Os deusesde Hólderlin Sua presença e inconstância. Desaparecer na imagem

u./'

l

Com o aparecimento de Schleiermacher no círculo romântico, uma pergunta exigia ser respondida: o que tem mais peso na religião estética: o estético ou o religioso? Para August Wilhelm Schlegel, que confessa não ser um virtuoso da religião, as coisas são claras. Por que, escreveele nas suas considerações sobre a Z)/z,/m.zComédia, a obra nos dá prazer, e

por que seavê como grande arte?Não porque ilustre verdadescatólicas, masporque é bela. As pessoasgostam de esquecerque "p/zra zpari/'z, fzódogaze/ Z'e/o / z,rzzZa2e/ro". Porque é bela, e não porque é-católica, a

obra de Dance pode ser consideradaverdadeira. A. W. Schlegelatribui à arte uma verdade própria que é idêntica à beleza. Por isso a arte não

precisada escolada religião. O artista tampouco deve confundir sua inspiração com uma revelaçãoreligiosa. No contexto de uma recensão salte as Derramamentos do coração de um monge que erü amante da arte \Herzensergie$ungen eines kunstLiebenden KLosterbr deus\, ele ale ta espe-

cialmente para isso. Elogia o texto, criticando porém a automistificação

que interpreta o impulso artístico como um impulso religioso.A. WI Schlegel estava atraído pela pintura e poesia católico-cristãs e preferia o catolicismo ao protestantismo, mas expressamente por razões artísticas.

Na adoraçãoprotestantea Deus, a distância do mundo dos sentidos não dá muito o que fazer ao artista. No mundo católico é diferente. AÍ, a beleza deve exaltar o divino, e por isso o sentido para a beleza,

ainda que não tenha nenhum interessepela religião em si, encontra então rico alimento. Nessesentido, A. WI Schlegel escrevejuntamente com Caroline, no terceiro volume da -drÁen.2z/m,um elogio à pintura cristã na Galeria de Dresden. Mesmo assim, sentia-se tão pouco ligado 141

LlyRO PRIMEIRO

e O ROMANTISMO

CAPÍTULO Vlll

ao catolicismo quanto por exemplo Schiller, no seu poema Os dez/iei gregas[Z)ie GÕ er Griecóe Za/zZs],à religião pagã. Em ambos os casos trata-se do interesse estético, não do religioso. Com a definição de Schleiermacherdo religioso como o "ien/!2a e a gairape/o //e/2/z/f ", os limites entre estética e religião coram rompidos. A poesia romântica, com seu sentido para o sinistro e fantástico, já não era diretamente religiosa? E ela não era tão mais religiosa quanto mais poética era, isto é, quanto mais decididamente afastava todo realismo

1='

h: l

do sentimento da liberdade ou o contrário; se elas,portanto, entendem o universo como um mecanismo cegoou como organismo vivo, no qual a atividade do indivíduo e do todo estão relacionadas de maneira sensata, mesmo que nem sempre harmónica. Para Schleiermacher, a única

mitologia que estáà altura do verdadeirosegredodo universo criativo é aquela que surge da experiência da liberdade e que leva de volta a ela.

P //a.- /rfa é re/k1'2 ", escrevera Schleiermacher. Mas isso poderia também

O que, porém, significa essaligação da mitologia com o sentimento de liberdade? É simples: toda mitologia é livre quando anima o homem,

a representação do inf\-

nito no que é limitado. Por isso Schleiermacher havia aproximado bem P

podem ser diferenciadas de acordo com o Calo de terem surgido a partir

batata de sQ" Tomar tudo que é Limitado como uma representação do inser exatamente a deGlnição da poesia romântica:

$,

astúcia,do movimento, da morte. Assim surge como espelhodas corçasbásicasnuminosas -- a mitologia do politeísmo. As mitologias

a arte da religião, principalmente a dos seusamigos românticos; por

estimula suas corçascriativas; quando não o prende a suas origens, mas o liberta para novos planos e transformações que destroem o feitiço do

sua vez, os românticos buscavam a proximidade da religião, ou, mais exatamente, viam seu próprio trabalho como uma espécie de religião.

sempreigual; em suma,quando inspira o indivíduo para um universo criativo, do qual ele Éazparte como um organismo que também cria.

Também não era necessáriocriar poeticamente lendas sobre santos, como Tieck o 6ezcom Genoveva. Para os românticos as suas fantasias

As histórias de deusesgregos contam sobre tais libertações e metamor-

poéticas,seusjogos de palavras,imagense símbolosjá valiam como

homens, Hércules liberta Prometeu, acorrentado ao recite. A caixa de Pandora se abre, os males e a miséria caem sobre a humanidade, mas

med/adorei (Novalis), como janelas para o infinito.

O conceito de religião de Schleiermacher era tão vasto que abrigava a arte e a poesia, mas também ensinava a entender de outra maneira ao mito e à mitologia. Não era mais necessáriocriar fronteiras rígidas entre o cristão e o pagão. Tratava-se muito mais de desnudar a semente religiosa

foses.Zeus confina os titãs no Tártaro, Prometeu traz o fogo para os

também a esperança.Essashistórias são janelas para o inânito. São expressãoda experiência do homem, que é tocado por forças imensas e rema

contra

elas. A mitologia

porém

se tranâorma

em "m//allayia

z,zZZ/d"

vuan&ose começa." afaz;er da Origemdestesdeusesuma crõnicafantástical'

também nos antigos mitos e em seussistemas,a mitologia. Schleiermacher

A semente religiosa do mito deve ser, segundo Schleiermacher,

apoiava-seentão em suadefinição da experiênciareligiosa;para ela vale: o universoestáimerso numa anuidade constcLnte e revela-separa nósa todo

buscada exatamenre onde a relação com o todo imenso e o despertar

momenfa".

Em relação

aos antigos

gregos, conclui:

".Exa re/

láo gz/zznda

eles,a cada acontecimento, caracterimuam o üus, ao qual, eLepertencia,

comum nomepróprio e construíamum templopróprio; eleshaviam percebido t m ítto do aniuersoe car.zcterizaam assima suzzimdiuiduali(hde e o seu caráter

consi&rando

que as Leis eternas do mundo se Teuehpam de

maneira esclarecedorano acaso:'

As forças motrizes individuais da natureza e os instintos que agem sobre o homem

podem ser representados individualmente:

os deuses

da água, do reino dos ares, da terra, da floresta, da luta, do amor, da 142

da consciênciada individualidade estão interligados; e isso significa a experiência da liberdade. Seuconceito do infinito não permitia nenhum mito sobre a origem. Para ele não sepodia tratar de relegaro homem a uma origem. O infinito é aberto; ele inclui em si o passado e o futuro. Dois anos antesdasvaza de Schleiermacher, acontecerauma tentativa de investigar uma mitologia como essa,aberta para o futuro, e com essa vertente de inquirir sobre a mitologia que exigissea liberdade. Isso ocorreu num ousado esboçode texto de 1797, encontrado apenasem 1927 e alternadamente atribuído a Hõlderlin, Sche]]ing ou Hege]. Mesmo que muito

fale a favor de que Hegel tenha sido o autor, é indiscutível que a troca 143

CAPÍTULO Vlll

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO

entre estestrês amigos determinou o espírito desseesboço,mais tarde denominado "o mais antigo sistema-programado idealismo alemão :4pr/moira

/reza",

lê-se

no

início

do

texto,

"é n.zfz/rn/mente

.2 jZej.z

f

muito mais do que um projeto pedagógico popular. Os autores se acham

am.z ideia, que, pelo que sei, ainóh não ocorreu a ninguém

nós temos

espertos, sentem-se ainda demasiadamente senhores dos conceitos para se

de ter uma outra mitologia; estclmitologia porém tem de estara serviço da ideia, eLatem de se tornar a mitologia da razão.

deixar tomar pelo espírito romântico. A janela para o infinito ainda não seabriu neles. Isso, pelo menos em Hõlderlin e Schelling, ainda mudará.

.447fo/og//zda zuzáa -- o sensato nessa mitologia devia residir no prin-

natureza são regidaspela mesma razãoque o espírito humano. Mas como

A ousadia com a qual se põem a trabalhar, porém, já é romântica. Eles se sentem como grandes eus, capazes,com sua autoconsciência revolucionária,de produzir aquilo que se chamahoje de "mudançade

a razão subjetiva é uma característica da liberdade, todo o processo no qual

Q a&tgm:. " Com o ser Livre e autocon$ante, o mundo inteiro surgeao

o homem estáenvolvido é entendido como análogo à liberdade. Hegel

mesmotempo

e Schelling mais tarde desdobrarão essepensamento seguindo caminhos

da /zzzZá."Isso é pensado também politicamente. Um impulso anarquista

distintos: Schelling com o olhar sobre a natureza,Hegel olhando para a Tal é a dimensão da razão; mas o que é o mitológico na mitologia da

ageaqui. O atual Estado, lê-seno texto, é montado como uma máquina, não como um organismo. Os indivíduos devem funcionar, mas não trazer em si mesmosa ideia do todo, ou seja, o elemento da liberdade.

razão?A respostaé desanimadora. O mitológico não é nada de substan-

Nós temos pais que transgedir o EstadolPois todo Estado tem de WütaTo

cial, apenasuma vestimenta estética.Nisso não muda nada quando no

seThumano Livre como um mecanismocom rodas; e ek não devefaze-Lo;

história e a sociedade.

l

do na(h; ü única verdadeira e imagináueLcriação: oriunda

texto se dxz que "o üto maior da razão, ao abranger todas as ideias, é um

leve,pois, parar.

zzfoei/éf/f "; o mitológico, entendido como um ato estético, é tomado elas não terão nenhum interesse para o podo,

Não bastapois que os poetas montem sua própria mitologia privada. Issoainda não é uma mitologia que mereçaessenome. Ela tem de tornar-se pública, gerando uma comunidade. A mitologia tem o

e antes que a mitologia seja r'zcional o $Lósofo tem de ter vergonha dela.

poder de unir em sociedade. A mitologia da razão deve tirar a poesia

Assim, $nctlmente, o culto e o inculto têm de se dar as mãos.

dos nichos particulares,onde ela, degradadaa uma coisasecundária,

apenascomo uma forma de popularização ".4m/eide fora.ermoszzi/z/f/dJ

1"

O documento em torno do qual se faz hoje tanto alvoroço não é

de mim mesmocomo um serabsolutamenteLivre \..l\ \ primeirojaLarei sobre

cípio da identidade filosófica, ou seja, na suposição de que a sociedade e a í=.X''l

claras e determinadas. Devem ser tornadas mais visíveis com a ajuda da linguagem por imagens.

estéticas, isto é, mitológica,

Aqui ainda regeo pensamentotradicional iluminista, parao qual a aliás, sepode duvidar que Hõlderlin, para quem a poesiasignifica mais

só serve para compensar a miséria social no âmbito privado. Um público autoconsciente, forte, deve ser criado ainda, e Hõlderlin, Hegel e Schelling se acham bem capazesdisso no ano de 1797

do que uma roupagem para pensamentos,realmente teria tido grande participação nessetexto). Os autores querem uma mito]ogia na qual pos-

SÓpoucosanosdepois,em 1804, depois do declínio do antigo reino e sob o domínio de Napoleão na Alemanha, Schelling escreve:"ONZE

mitologia é um discurso em imagens sem ser discurso (razão pela qual,

sam envolver pensamentos ganhos em outra parte, alcançando assim um

oda cl vida pÚbLicacai nosdetalhese no cansaçoda vida privada, a poesia

melhor efeito sobre o público. Pensou-seno uso de símbolos, imagens e narrativas claras, através dos quais poderiam ocupar a fantasia coletiva

épossíuel no isolamento; ela só pode nascer da totalidade de uma nação que

e estimula-la melhor para o espírito da razãoe liberdade. Aqui, ainda

se comporta clo mesmo tempo como identidade, como indivíduo.

sepercebepouco do sentido e gosto pelo inBnito. As ideias que devem ser revestidasnum traje mitológico são, pelo menos para os autores, 144

tomba mais ou menos também para esta esfera indiferente. A mitoLo@a náo

Nessemomento -- quando Schelling começaa se ocupar com o problema do mal e com isso também com a esfera religiosa 145

, Hegel

e CAPÍTULO ylll

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO

está por trabalhar sua versão de uma mitologia da razão, aquela grande

sábia do que as mitologias que estudava. Esses românticos buscavam

narrativa filosófica que trata de como o espírito age primeiro inconscientemente na natureza e na história, para então fazer irromper no homem a consciênciada sualiberdade. Assim, a filosofia de Hegel, que desentrona os antigos deusesda história, torna-se uma mitologia da

os rastros perdidos e longínquos de experiências anteriores com o

u.r'l .t.

P

memória mística da humanidade. O sentido pelo infinito encontrou gosto na profiindidade do passado, nos precipícios da história. O surgi-

sociedade e da história, que também mais tarde, em sua transformação

mento do cristianismo lhes pareceu um corte definitivo, mas também

marxista, irradiará de maneira potente.

um acontecimentocom uma pré-história desconhecida;e no que toca à Antiguidade, ela quasese resumiu a um episódio, principalmente: revelavaao olhar pesquisador,e não apenasao olhar do admirador, contradições terríveis.

Sobre o terceiro elemento do grupo, Hólderlin, Edaremosmais adiante. O 'tens/Zo f o gajfa.pe/o /nO /fo" de Schleiermacher era ao mesmo 1='

prodigioso e o infinito. Eles se sentiam trabalhadores nos vinhedos da

tempo sintoma e motivo de um movimento que, em relação à mitologia, à arte e à religião, extrapolava a intenção do "sistefna-programa' com sua base ainda racionalista. Nisso, duas áreas são especialmente características. Em torno de 1800 desenvolvia-seuma nova maneira de pesquisa de mitos e, estreitamenteassociadaa ela, modificou-se a imagem da

Creuzer foi do oeste para o leste. Gõrres buscou o leste, para de lá,

do lado oposto, chegarao oeste. Para ambos, porém -- como também

paraFriedrichSchlegel foi definitivo ter reconhecidoaquilo que Friedrich Ast formula em 1808. da seguinte forma: ".Fngz/'zm/o náa tivermos reconhecido o Oriente, nosso conhecimento do Ocidente será sem

Antiguidade que era influenciada pelo classicismode Winckelmann.

base e sem utilidcLde.

O resultado geral desta revolução foi que a distância e ao mesmo tempo

Gõrres e os outros se tornaram viajantes do Oriente. Já Novalis queria enviar seu Heinrich von Ofterdingen para um Oriente encantado, para a "fonte da sabedoria". Essesexploradores do Oriente

no fundo do passado,o continente do lestesesobressaiu,o Oriente como se dizia na época, referindo-se principalmente à antiga índia, à China e ao Egito. 0 Oriente joga suasombra sobreo Ocidente. Isso começou apenaspoucos anos depois que Napoleão teve de interromper sua expedição ao Egito. A autopercepção europeia fora levada à ruína. .Além

de Zoega, Kanne e Welcker, principalmente JosephGõrres, Friedrich Schlegele Georg Friedrich Creuzer sãoatraídos por essadistância espacial e espiritual. Gõrres pub]icou em 18 10 a ]üsfó /a doi m/foi do m 2a asiático \Mytbengescbicbteder asiatiscbenWeLtà.No mesma ano começa

buscavam o berço cultural da humanidade; com o sentido e o gosto pelo infinito acreditavam que nesseperíodo anterior o céu e a terra se teriam tocado de modo mais íntimo.

"Hora co órcfm .z /er

"

assim

começa Gõrres, fazendo referência ao verso da canção da personagem M\gnon, d: Ga:ü: " onde « jo«m fantasia se eneb,iou p'im'i" "'os odoresdas$ores e onde em doce embriaguez o céu inteiro sederramou em

e m//aZogía

visõesmágicas?No Oriente, às margensdo Gangese dos indianos, lá o nossoespírito sesenteatraído por uma $'rça secreta;para Láapontam todas

dos antigos povos, especialmente dos gregos\SymboLik undMythoLogie der

IS intuições imprecisas que morclm em suasprol:ündezas, e h chegamos

a aparecer a monumental

obra de Creuzer, a S/móa/aK!

,z/fezzU8/&e ária Zero 2er G /eróen]. Friedrich

Schlegel, que já havia

declarado na sua vaza ioóre ,z m/fo/ogZa[.Redeüóer d]e 7M7fóo/agíf], de \7991 "No Oriente temosde buscar o romântico mais elevado", aprende sânscrito em Paria e publica em 1808 a obra Sopre zz/z'ngzíae saÓe2or/a

da índia \über Spracbe und Weisbeit der Indierq .

Essageraçãoromântica de pesquisadores do mito difere dos seus antecessorespelo fato de não se considerar de antemão mais esperta e 146

quando seguimos até a nascente a correntes calma que corre através do tempo em Lentas e em cantos sag'aços:'

Novas fronteiras, novos horizontes; a terra pela qual ansiavamos clássicos,o sul, foi destronada.Schopenhauer,que fora influenciado pelo Romantismo na sua juventude, considerará isso como a mais bela confirmação da sua filosofia quando reconhece no seu conceito de ideia

"maya" indiana, e em suaética da negaçãodo desejoo "nirvana". Foi 147

LIVRO PRIMEIRO © O ROMAN'TISMO

CAPÍTULO Vlll

Friedrich Schlegelquem introduziu as"upanishaden"no círculo cultural alemão, tornando-as conhecidas também para Arthur Schopenhauer. Como certa vez Herder, os românticos sãotomados pelo sentimento

' üsprimeirasfoLbasno grandelitro da história do mundo" tala.m esttwas

de que nadavam numa incrível correnteza do tempo, que vem de longe e leva ao desconhecido. As coisasoscilam, não se pode encontrar ne-

do corpo da mãe. O mito da origem lembraria o despertargradarivo e também doloroso de uma humanidade sonâmbula de uma prisão à

nhum ponto de observaçãotranquilo do lado de fora; somoshistória,

natureza ainda cheia de sonhos. O espírito partiu os círculos das forças

movimentados por ela. Mas nos poucos anos que sucedem a revolução e as decepções que ela preparou àqueles que dela estavam convictos

naturais, saiu da caverna que o protegia, mas em oposição ao período

-- Gõrres também fora jacobino antes de se tornar um admirador do

O coraçãodo homem já batia naquele tempo no próprio peito, mas seu verdadeiro coração" ainda é aquele que bate no universo. O homem

Oriente -- a atenção mudara de polo: ouve-se o ruído do passadoe não se presta tanta atenção às promessasdo futuro. Para a nota consciência .}

#

da história romântica, o começo abriga a verdade, e uma magia sutil emana daí. Joseph Gõrres, que com essapostura setorna a figura central do romantismo de Heidelberg por volta de 1807, escreveno posfácio da sua /ãfrória

2os m/foi Zo mz//zZozzi/áficg, utilizada mais tarde assidua-

mente por Richard Wagner e Friedrich Nietzsche: " 7Zo r/fo fe óa i/Zo aquele mundo passado,eLesubmer$u, as ondas passarampor cima dele, aqui e aLIainda apontam as ruínas, e quando o escurodo fundo do tempo

cl,areia,Demosseustesourosdeitadosna profundeza. Nós enxergamos& grande distancia no precipício fantástico, onde todos ossegredosü mundo

e da vida descansam\..l\ Eles puxam o oLbarpara o$ndo, os segredos da distancia seduzem,mas a correntezaempurra para $'ente e ioga os mevguLbadores no presente.

em letras diferentes, mas que contam em toda parte a mesma história; e Gõrres a conta por sua vez em analogia com o nascimento individual

que antecedeo nascimento,o próprio círculo ainda não 6oiconcluído.

primitivo ainda estásob a corça da terra, mas quando vai para o espaço aberto e acorda para a consciência, torna-se um ser que cria a caverna artificial da cultura: uma cavernacheia de rastrosda memória sobrea sua unidade com o céu e a terra. E só na passagem do mito para a cultura que o universal se rompe e surgem a multiplicidade

e a predestinação.

especiais,que porém já estão distantes da verdadeira origem. Goethe se sente desconfortável. Ele percebe o montar de uma onda que inundará a baseda suacultura. Escrevea Sulpiz Boisseréeem 16 de janeiro de 1818: "0 cam/mÓaZe W7nr,êe/ma aré o co re/fa Za rfe foi com certeza o certo, mas Logoa contemplação passoua interpretação e e perdeu no $m em ocpticações; quem não sabia uer, começoucl adivinhar, = assim nos perdemos na distancia do Evito e da índia,

Quando Gõrres escreve essasfrases embebidas do passado, se passaram apenas dez anos desde que Schelling, Hõlderlin e Hegel desenvolveramseu programa revolucionário de uma mitologia da razão. Paraeles, a verdade estavano futuro; para Gõrres, os segredosdo mundo estavam guardados na profundeza do passado. Gõrres buscava um mito da origem. Mas o universalismohumanista nele é tão forte que ele elabora a hipótese a respeito do passado mítico: a história de todos os povos começaria "cam z ÓZsfór/aZo mz//z2o,n,2ocom .zó/flôr/a

esprc/a/Ze wzzferra". Na tentativa de esclarecera origem da história e com isso da cultura humana, Gõrres compara, seguindo os rastros de Herder, as mitologias do Japão, da China e do norte europeu, cria elos com as tradições gregas, egípcias e indianas e chega à conclusão de que 148

Apenas

a partir dessemomento existea história de uma terra e seusmitos locais

pois tínhamos o

neLbor bem perto, em primeiro plano [...] &sde então temos de soPer sob

osfatais mistérios dionisíacos"

O primeiro plano sugeridopor Goethe não era suficiente para os românticos. Novalis náo havia cantado a noite em vão. Mas agora fascinama noite misteriosa do colo materno da humanidade e a da distância no tempo. Aquele que nasceufica atraído pela origem, onde o nascimento e a morte se unem. "NairemoJ iaZ're o mo re 2e mor/e 2a pzzii.z2o" --

escreve Gõrres na introdução

dos seus Z/z,rai.popa/ZareJ .zZr-

mães \TeutscbenVoLksbücbernÜ "A vida irrompeu pela terra como uma lama, mas a pTo$ndidade

é quem dá alimento àfhma,

e Lá embaixo pide,

m uma caverna escura,a sibih protegendoas múmias queforam &scclnsar, otan(fundoos outros que readentram o cÍrcuLoc uida])ara cima; e ressoa 149

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO

CAPÍTULO Vlll

o sino da morte que cbamci surdamente das profundezas üs Linhagens que devem descer para o reino escuro da noite.

havia

escrito:

"a z,e/zfa gz/r Sopra doj rÚmz/ZaJ doJ .z/z/egos

Gõrres pergunta: como é que a humanidade começou? Assim che-

não é apenasbons odores e roseiral, é também o pressentimento do luto

gamos ao suposto começo do começo. Quando não se quer ir tão longe,

e uma crueldadehorrível. Como é horripilante o destino de Édipo, e como são terríveis os sofrimentos de Prometeu acorrentado ao recite.

parando no começo da história de uma terra, a pergunta é: como é que começaram os alemães, o que os caracterizou, como é que se dá sua ori-

tendo seufígado comido por uma águia. Que loucura em Medeia, que

gemcultural, e, acimade tudo, que aspectosdo passadocutural alemão podem, se se lembra deles, contribuir para criar uma consciência que

-emo tom mehncóticoquedomina toda a arte grega?l)e ondea pintura

ajude a autoaGlrmaçãoem situação de crise?Essassãoentão as perguntas

:ombria dm$guras dos seus beróisjouens, mesmo deApolo?' , petguntaKai\

que se impõem ao romantismo de Heidelberg entre 1806 e 1815, depois guerras contra Napoleão. Uma nova consciência crítica cresceda atração anterior pelo futuro e da relação de beatitude com o passado. O presente,

Wilhelm Ferdinand Solger,e dá a respostaque os gregos,exatamente por colocarem sua cultura da beleza tão no alto, teriam aumentado a distância para a vida animal com um precipício no qual elestinham sempr' que cair; não perdiam o medo da queda e o medo da morte.

diz-se então, está tomado pela loucura, se pensa que estaria no começo

Isso toca o pensamento de Novalis nos /7}/zoi à o//e: os gregos teriam

do tempo ou que com ele começaria uma nova era. Quem olha apenas

tido tamanho medo da noite que eles tinham de se atirar nela como quando da entregaa um inimigo. "Oí óeZrmoi",escreveo historiador I'Lugus\'Bbçkh, " estavam mais infelizes no auge da arte e no carne da

da queda do reino prussiano, e que ganham peso político nos anos das

'::Êil [ 1 1'=]. l IÉ r.

Winckelmann

z'emcomOJÓonlozÜrexcomaPorjoZ'm'wm role/xa/". Não, dizem os românticos,

para frente coloca-se além das experiências, da sabedoria e da memória

do tempo- Os mortos não têm mais direito de opinar. Friedrich Carl von Savigny, que também fazia parte do círculo de Heidelberg, adverte:

as pessoasiriam perceberlogo que o passadoignorado sevinga, se afirmando como imposição cega por trás das costasdos atores; não se ganha portanto o futuro esperadoquando sedestrói a ligação com o passado. O passadocom o qual sequeria permanecerligado era paraa consciência clássica principalmente

a Antiguidade,

um modelo estético. Ela é vista

sob novos prismas e ganha com isso uma outra imagem. "Simplicidade nobre, grandeza serena" -- esta era a imagem de Winckelmann.

Gõrres

mata seus filhos. E também nas passagens belas e nas figuras --

"á o/zZe

#óendaZeZo g e a m.:zoar/ P mia." Ernst Moritz Arndt não quer nem mesmo deixar valer tal cume da liberdade: "a #óer2úZe / .z#men/.zZae mantida entre elespela escravidão..."

Como é porém que se comportava entre os gregoso sentido e o gosto pelo infinito? Os românticos tendem a ver nas festasdionisíacas,na embriagueze no orgiástico a tentativa de sentir o inânito na dimensão da sensualidade libertada. .Alguns deles reprovavam-no por razoes morais, outros aceitavam-no com deliciado arrepio. Não sedevia

supõe que se pede ver a Antiguidade desta forma porque as estátuas neste ínterim não tinham mais cor e a cavidade dos olhos estava vazia.

aprofiindar muito nisso, escreveSolger, senão aconteceria com alguém o que aconteceu ao rei Pendeu,que queria assistir às mênadesdo séquito

Com os olhos do Romantismo, a Antiguidade mostra-sede outro modo. Nos seus primeiros escritos sobre o assunto, Friedrich Schlegel

de Dioniso entre elassua mãe e que foi dilacerado por elas. Para os românticos -- fossem eles crentes ou em vias de sê-lo

havia apontado para o traço selvagem, dionisíaco: " O óac.z#zz/, zz/oz/cz/ra

coisas eram claras: Friedrich Schlegel, que entretempo setornou católico,

festiva nos costumes Legais qae desuenchm um sentido secreto e sagrctdo era Km componente signi$c.ztiuo do culto místico .zosdeuses." Os tomànücos

descobrena Antiguidade a aif/ z/zfxn.P/liga. Era uma cultura genial, mas não liberta, ainda longe da salvação.O exemplo de uma humanidade

haviam pressentido, antes de Nietzsche, essacorrente escondida, dionisíacado grego, e sentiam-se atraídos por))ela. Novalis fala, do seu modo

talentosa que consegue produzir apenas uma felicidade instável, que logo seapaga,eque tomba na raiva ou melancolia a esserespeito.Bõckh

suta, ào " espírito da melancoliade Baço

resume a interpretação dos românticos crentes: " 71rn/zZooi grz ZeJ

150

15 1

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMANTISMO

CAPÍTULO Vlll

espíritosque no ftlndo do seutemperamentoeram um mundo su$ciente p'lrü si mesmos, assimsereconhece quea maioria não dispunhado amor e do conforto que uma reLi©ãopura derramou no coração dos homens.

O pagãopassaa ser o demoníaco. Nos contos e poemasde Eichendorff. as estátuas em mármore de Vênus despertam em parques escuros e abandonadospara uma vida sinistra. Goethe porém não quer deixar que os românticos estraguema sua I'mttW\dado. " OPouco ü akgria que osg'egosdevem ter trazido ao mundo

é totalmente escurecidopelas tristes[. ..] imagensde névoa.

u./'l t. P

Foi Hõlderlin que também quis guardar essazz/ r/a do grego, mas de modo diferente de Goethe. Não apenasestética, mastambém religiosamente.Também estavatomado pelo movimento religioso romântico. Outros buscavamsua salvaçãona índia ou novamente no cristianismo ou em ambos; ele porém sevoltou à Grécia, com a dedicaçãode quem acredita e com força poética. Mas isso não acabou bem. Pois para ele foi ficando cada vez mais impossível distinguir se era a poesia da religião ou a religião da poesia que o atraía. Os deuses que ele cantava viviam ainda

ou existiam apenasno canto, como diz Os2e íei Za G érZa,de Schiller? Não, eles não deviam existir apenasno canto. Mas como e onde mais? Em primeiro lugar como poderiaser de outro modo? Hõlderlin os conhece através do canto. Ele lê textos gregos, Homero, Píndaro, Sófocles, já na escola; mais tarde, no Seminário de Tubinga:'. Lê mais do que os programas de ensino preveem. Elogiam seusconhecimentos filológicos. Nesta área deixa para trás seus colegasSchelling e Hegel. Principalmente um dessesdeusestem uma importância central para ele: Dioniso. Os amigos Hegel, Schelling e Hõlderlin já Ihe haviam instituído um culto privado na instituição em Tubinga, e os mistérios dionisíacos do renascimento e renovação haviam ocupado suas fantasias.

Dioniso é o deusdo vinho, da sensualidadeilimitada, da luxúria, mas também um Deus que é destroçado, morre, para regressar.Claro que lembra o Cristo crucificado e ressuscitadoaosestudantesde teologia na instituição em Tubinga, masDioniso é maisexótico, maisdiferente 11

e incita mais a fantasia. Os amigos em Tubinga o escolhemem 1790 como protetor revolucionário, como símbolo da esperançade uma renovaçãosocial, do espírito jovem em si da ressurreiçãoda natureza na primavera. Hõlderlin chamará Dioniso o aras gwr z,/ná:"ZZ /

ferzn Zo

)Limpo, Lá nas alturas do Citerone l em meio aos pinheiros, Lá, em meio s u as, onde l está Tubas e o lsmeno murmura,

Hcl terra de Calmo Ide Lá

ueme para Láaponta o deusque Dirá. Primeiro os amigos, então, cultuaram Dioniso; depois eles desenvolveram em 1797 o programa de uma "mitologia da razão", e 6oi Hõlderlin

que a pós em prática poeticamente. Nele, a razãoestáem jogo, no sentido de que o sentimento da liberdade é dominante; também a mitologia, porque

as forças da natureza e história são vivenciados por Hõlderlin como verda-

deiramente divinas e numinosas; também a poesia, porque é a linguagem que cria o espaçosagrado,no qual o divino se pode mostrar. A fantasia mítica é um órgão da percepção para ele. SÓ atravésdela

a vida pode ser verdadeiramentedesvendadae interpretada.Essetipo de fantasiaseformou pela ligação entre lembrançasda infância e expe riências de educação. O reino da infância, sua paisagem e suasvozes,se

transformaram num mundo mítico que ainda vivia nele como passado. Próximo, e ao mesmo tempo tão longínquo, e por isso lembrado com nüanc(X\a. " onde eLanossoü mais uma Pez,a melodia do nossocoraçãonos dlaíd?#zej 2ú j/?#2nc/a?"E no que se refere às primeiras experiências de formação,

nelas

ao lado dos clássicos antigos

o poema Or dezz,ei

da GMr/a, de Schiller, desempenhaimportante papel. Foi essepoema que inspirou Hõlderlin em suaspróprias tentativas de revitalizar a consciência mítica. Ele se porá a buscar uma linguagem poética para a experiência mítica, que acredita [er sido natural na Grécia e

que se perdeu para "os de hoje". Experiência mítica? Ele entende por isso uma intuição para significados mais profundos. Nós porém destruímos tal significância através daBróre da explicação. Adentramos a realidade

em vez de nos abrirmos para ela, deixando-a Zei.zórocór. Por isso não mais se z'êa terra, não se ozíz/emais o canto dos pássaros,e a linguagem entre os homens está;eca. Hõlderlin

chama essacircunstância de a/le dai

0 7ãóinger Sf#} ou Seminário de Tubinga é uma instituição de ensino e residência da Igreja protestante em Würrtemberg. Entre seusestudantes e docentes há famosos

2ez/ieT,e adverte a respeito da falsidade em virtude da qual temas e nomes

teó[ogos, fi]óso6os, poetas e sábios de outras artes e ciências. [N.T.]

mitológicos são mal utilizados apenaspara uma brincadeira artística.

152

153

CAPÍTULO Vlll

LIVRO PRIMEIRO e O ROMANTISMO

Na aclamaçãodo mundo dosdeusesgregosde Schiller não sepodia, a propósito, deixar de reconhecer os traços artísticos. Em longas passagens,

lê-seo poemacomo um "quem é quem" do mundo dos deusesgregos. As vezesse percebe no poema que o seu autor usou intensivamente uma obra que na época era fonte comum,

o Z,ér/co m/ra/óg/co df'f.z/B.zda

[Gründ//r es myfóa/ag/icóei Zex/êo/z] , de Benjamin Hederich. Para entendero poema se tem de consultar o léxico. Já Kõrner criticou sua erudição diligente, enquanto Goethe o achou apropriado, mas muito longo e carregado.

#

que está entre t,ocê e eu .

Um deus mora no espaçoentre ele e o irmão, é o espírito bom que rege

entre eles na confiança feliz, na compreensãoe na participação mútua. E é também um deus que abre o espaçoentre ele e sua amada Susette Escreve a seu amigo

NeuKer

a respeito:

".4ó.rEa.poderia

efgzzecer

pov um século,olhando encantado,a mim e a tudo quantia com eh... dentro

no poema poderiam ser poderes contemporâneos além dd mundo poé

reza e eZa/z/Zo e5i# zz /do

taco.Hõlderlin havia admirado Schiller acima de tudo; quando porém

momento intenso da vida sente a ação de um deus; por isso existem tantos deuses, por isso os deuses antigos com suas tarefas determinadas --e

mudou-se, em 1795, para lena, perto do seu mestre, ele se bloqueou e quase não escreveuuma linha. Por quê? Porque tinha de ter medo, próximo a Schiller, de perder a sua crença.Tirem-me meus deuses,disse uma vez, e vocês me matam.

l

)ez em quando, precisamos ofertar a diuinda&

Leve,o puro que nósfaLamos um para o outro...

Gontard.

Nem Schiller nem Goethe acreditavam que os deusesaclamados

t.

sucessode maneira tão fascinante,lá vive um deus, e por isso há tantos deuses:porque cada momento da vida bem-sucedido é habitado por um deus distinto. Uma vez Hõlderlin escreveu a seu irmão: ".4sf/m, 2e

Para os entusiasmados pela Antiguidade -- de Winckelmann

a Moritz,

Schiller, Goethe e Schlegel -- os deuses eram imagens artísticas. Mas para Hõlderlin

eles emergem das suas imagens antigas; para ele é claro que não

vivem apenas na frxu 2oiPoef zi (Schiller). São presentes, e não ap:n's

na

memória histórica.

z/m /oZo z#z,/HO."E assim vai adiante: em cada

não o polivalente e talvez por isso redutor [)eus único do cristianismo, que no final apela apenaspara a consciência moral dos homens.

Hõlderlin não sente como cristão, mas tampouco como panteísta. A natureza não é igualada a Deus; ambos são chances especiais, situações, relaçõesque são experimentadas como divinas. Uma vida é divina

quando crescedas suas raízes,encontra sua imagem cabível e então volta saciadaà terra. Uma vida que tem a possibilidade de concluir tal círculo está sob proteção divina. Ela é 'toznp&'f'zme fe o g e é epal /fla

O elemento forte o teria tomado sempre,e ele podia mesmodizer

/ íúa órZa". Ela é escolhida; as 2a c zi Ihe são favoráveis. Elas cortam os

queApoio o tinha vencido.IssoHõlderlin não escreve num poema,mas sim numa carta de novembrode 1802, a Bóhlendorff. Ele fala de um acontecimento real que Ihe passoudurante a peregrinaçãode inverno no MassifCentral que o leva a Bordéus. O que acontece de verdade, quando Hõlderlin experimenta o "di-

fios apenasquando o fruto estámaduro.

vino" ou os"deuses"?

mulheres que vêm com cestos por sobre os montes, nos homens que

THvez se possa falar aqui, com Nietzsche, dos "ápices do encan-

Também paisagenspodem ser divinas. Hyperion, em luto por causa da Antiguidade desaparecida, pisa novamente o solo grego, a paisagem grega, e de repente tudo estáde novo lá, o espírito dos lugares o arrebata. C)s deusessó vivem nos bosques, no vento leve qué sopra do mar, nas sentam calmos à beira do mar ou consertam

suas redes. ".FZn.z/menir,

tamento": impressõesda naturezaque arrebatamou o encantam le-

percebomais, e todo meu ser seabre à força fantástica que brinca comigo

vemen\e\ "potente éterl você/ Terra e lazl unidos os uês que perman'cem

por vezes doce e calmamente

e amam, ] deuses eternos! os elos com vocês jamais se partem em miwí

toda, e sim em determinadas paisagense configurações da rede humana

e de maneira

innçpLicáueL"

Wã.a na naluteza.

Amizade, amor, convivência elevada também fazem parte disso. Tais

é que o divino tem suasubstância.Ele vai e vem, um jogo interminável

momentos de intensidade reforçada brilham; uma luz que os distingue do cinza e do escuroda vida comum tomba sobreeles.Onde algo obtém

de presença e ausência, aparecimento e dissipação. O infinito no finito,

i54

155

o eterno no momento.

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO

CAPÍTULO Vlll

O divino se mostra em momentos de grande liberdade. Ele vive no intermediário, ele abre caminho e seu lugar é o aberto: " Uem/pzzxa coxa,

não está à altura da sua visão do mundo devem-se chamar na Alemanha

.zmigol / Hoje está nublado, os caminhos dormem, e as ruas e quase / me quer

de "videntes". Nesse sentido, Hõlderlin

parecer qae é como na crü do cbwml70..:

'vidente". Pois pouco importa qual tenha sido sua mundividência --

t, P

com certeza não era nenhum

A divindade estáem jogo quando a vida celebra.Ela é aquilo que anima

sualinguagem estavaà sua altura. Seu problema resultavado contrário:

por excelência.Vive na relaçãoe morre com ela. Issoacontecequando o

sua linguagem poética o levava a algo que ele não mais podia ligar ao

egoísmo destrói o espaço intermediário no qual o sagradase pode mostrar.

resto da suavida. Nele, a linguagem era mais poderosado que todos os

Para Hõlderlin

outros poderes da vida. No auge da sua força poética, por volta de 1800, Hõlderlin, em seu longo poema -Hrg @/ózga[,4rcó/pf'Zzgzfi] , ousou fazer

isso é característica do presente, tempo de uma "raça esperta'

que acredita conhecer a natureza e a explora, fazendo eicxaz,,zi as corçasdivi-

l..:/.]

De Gottfried Bens vem a frase sarcástica: pessoascuja linguagem

temos a impressão de que um #zz'úzolha por nós, "gz/e #ói /zzifemoiPara

surgir todo o mundo dos deusesgregos mais uma vez, inventando-os novamente na palavra encantadora, para que ela o pudesseencontrar. Tem])odeliciosode primavera na Grécia! quando nossol outono chega,

nada, queamamos um nada para g'anualmente transitarmos parcao naco

quando vocêsamadurecem, vocêsespíritosde todo o mundo anterior11 Vol-

nasque a habitam e tornando-se por issotambém escrava.O divino morre quando os homens, uns para os outros, se transformam numa coisa. Então

Temosde proteger o divino e guarda-lo; eleé tão frágil. Também o belo tem de morrer.

" {7m.z z,ez eii#z"zmof",

lê-se em J77Per/on,

'./z/zzroJ

à noite sobrea ponte depoisdeforte tempestade, e a água vermelhadcts montanbasjorrou como umaPecba por baixo de nós, m.z$do hdo a Jtoresta

verde, tranquila, e as folhas claras dasfaias quasenão se mexeram. Nos fez bem que o perde repleto de alma náo tenha Doadopara L'nge como o riacho, e a bela primavera nos conservoutão quietos quanto um páss'zro manso, masagora ek sefoi... Assim também a nossabeatitude deveria se

tem e Tejam! o ano estará completo em breve!l Então conservemas festas também vocês, dos dias que se passaram! l Que o])Olho olhe para HeLLas, e

chorando e agradecendo l que se alimente a Lembrança dos orgulhosos dias de t7'iu,nfo!"

Hõlderlin vivia e atuava em seuspoemas,em cuja esferalinguística queria emprestar duração e firmeza aos seus momentos de epifania. Ele pode ter sido bem-sucedido. Mas queria mais. Q.ueria algo muito simples, algo facilmente imaginável. Queria portanto que o espírito que

exaurir, e nós o preuemos. Quem pode dizer que eLeestá$rme quando o

o inspirava saíssedos limites do poema e, de certa forma, se tornasse

belo am.zdurecepara seu destino, quando até o divino tem de se humilhar

diário. A poesia deveria eliminar a fronteira entre a força que eazsurgir os poemas e a experiência concreta antes que o contrário ocorresse, isto

e dividir

a morte com todos os mortaisl

Nada é mais passageirodo que os deuses, escreveu Hõlderlin certa vez a Bõhlendorft eles trocam sua morada e deixam cinzas para trás,

é, que a chamada dura realidade enterrasse e estragasse a sua poesia.

por baixo das quais podemos achar uma brasa tardia. São os poetas que

talvez só vivessem enquanto sua força de linguagem os pudesse tornar

talvezpossamfazê-laqueimar de novo. O lugar e o tempo têm de ser

presentes. A expressão sublime desse pensamento sobre os reza/ei é: "Po/f

favoráveis, e eles têm de conseguir a "paZaz'xagz/eresP/xa'

lem sempre um recipientes'aco os consegueconter lo homem só suporta por

Se o divino é fugaz, tudo depende de Ihe dar uma determinada duração. Isso devepois acontecer na linguagem, no poema. Hõlderlin transporta os deusesque Ihe apareceramcomo imagem para as ima-

z/g m reZadOa P& /fzzZez&z,/#/z."A menos sublime encontra-se numa

gensda língua, para que eles possamde lá voltar a pisar o solo da vida. Geraçõesanteriores chamaram isso elegiacamente de o "visionário" em Hõlderlin. 156

Hõlderlin sabia que seusdeusesviviam em sua língua e que eles

carta a Schiller, de 4 de setembro de 1795: "ez/.perfez'ocamgrnnde#?quência quenão sou um homem raro. TenboF'io e enfureço no interno que me cerca. Tãoferrenho meu céu, tão péUeo eu"

Se para Hõlderlin os deuses pois saíram das suas antigas imagens e se ele os queria guardar nas suas próprias, teve que perceber que esses 157

LIVRO PRIMEIRO © O ROMAN'TISMO

CAPÍTUI.O IX

deusesviviam da oscilação, da conjuntura da força da sua linguagem. Mas ele queria mais; queria que o sagrado da poesia e a sobriedade da vida comum pudessemser ligados de algum modo. Criou no poema 7Ueia2e 2a z,/Za a expressão sacro-sóbrio

[/]eZ/

zzZcAfrr/z]. Mas ele não

se tornou sacro-sóbrio; essasurpreendente imagem linguística foi o que

Política poética. Da Revolução à ordem católica. A ideia romântica sobre o império. Schiller e Novalis sobre a nação

restou. Não é surpreendente que ele tenha sido tomado pelo desejo de

cultural. A nação de Fichte. Do eu ao nós. Sociedade: ventre

viver apenas nas suas imagens. Desaparecer na imagem. Talvez tenha

materno. Adam Müller e Edmund Burke. O popularesco.

sido isso que aconteceu com Hõlderlin no final. Paranão deixar surgir nenhum mal-entendido romantizador: Hõlderlin

O romantismo em Heidelberg. Guerra de libertação. Romantismo em armas.Ódio a Napoleão. Kleist como o gênio do ódio.

sucumbiu; seu espírito se tornou mesmo destruído e doente. O carpinteiro Zimmer, que tomou conta dele com muita dedicação na torre em Tubinga, o disse com seu dialeto suábio: "Fa/ .ze nPO afáope/o.pz/ropzlga esmogzór a $.

P

Os românticos, os irmãos Schlegel,Tieck, Novalis, Schleiermacher,

O ponto onde ele parou foi a própria obra. O ,flbper/on estavaquase dois anos aberto sobre a sua mesa, e ele o lia sem cessar,como se pro'

tinham aclamado enfaticamente a Revolução Francesa.A política se transformou por algum tempo num objeto de entusiasmo. O pensamento sobrea ânalidade do homem, a imaginação e o prazerde experimentar encontraram campo e desafio na política. ".Eb será/J?Zizgzzan2apz/2rr

curasse ali seu lar.

&z,/íar ma.po/ã/

fez enlouquecer. E com todos os seuspensamentoseLe$cou parado num ponto'

e em torno ele gira e gira...

Hõlderlin teve de experimentar na própria pele que o mito precisa de uma

comunidade.

",4 m/foá)KÍ z /záa é .pojJI'z/e/ #zz JO//züo",

dissera

Schelling nas suasaulasem Würzburg. E em Hõlderlin se lê: "2a/ éter/ assim soou e voou de Língua para Língua/ mil vezes, ninguém suport'zu'z cl vida sozinho; / tal bem quer-se dividido

e trocado, com estranhos /

", escreveu Friedrich Schlegel em 1796 ao seu irmão.

Foi quando trabalhava no seu .Ebi.z/o íoZ'rr o co ce/zo Zo repzzÓ#can/Jmo,

onde é desenvolvida a ideia de uma república mundial

eleita demo-

craticamente em oposição ao conceito de Kant da união dos povos (no texto .4.p.zzper7/fz/.z [Uom em e Xr/ez&n], de 1795). Três anos depois, em 1799, quando Napoleão começaraa transpor a herança da Revolução Francesapara uma ordem imperial, a paixão política de Friedrich Schlegel

transformando-se num júbilo.

Hõlderlin acabou ficando sozinho com seusdeuses.Deuses, porém,

já chegara ao Gm. Ele escreve na .4íÁem.2am: "M2o 2erxamf amar r cx? fa

que não são partilhados, somem. Ele não podia segura-lossozinho, e

no mundo político, massim no mundo divino da ciência e (h arte; sacri$que seu interior nü corrente de fogo sagrada (ü formação eterna"

assim foi atrás deles.

presentes; então ele os transportou para as imagens da sua linguagem,

Schlegelalude a seu amigo Novalis, que havia publicado aforismoscom a \ílu\o Crençae amor ou o rei e a rainha \Glauben undLiebe oór l)erKõnig

e finalmente neles desapareceu.

zz/zZZ2r.Kã/z«ín], nos quais Frederico Guilherme

Primeiro os deuses Ihe vieram das imagens antigas e se tornaram

111e sua esposa Luise são

sistematicamente idealizados, apresentadoscomo a personificação do verdadeiro republicanismo. O povo, escreveNovalis, pode se reconhecer neles de uma maneira mais elevada. O monarca dá um exemplo de vida a respeito

do que o homem pode alcançar.Ele é modelo de uma soberaniaque existe potencialmente em todos. " ZoZoi oi óomemiZez/emeflar à aZrz/xaZo »o/zo. 1) instrumento de educaçãopara esteobjetivo longínquo é o rei:' Wa É»au., 158

159

CAPÍTULO IX

LIVRO PRIMEIRO © O ROMAN'TISMO

Novalis estava consciente de que suas considerações não eram sustentadas pelo realismo político. Ele não '7az/a H,Zz&zz&mdepaef/.z", lê-se numa carta.

Poesiae não política foi, em essência,também seu texto sobre a

mundanas,

que precisam

ainda de um apoio na religião.

".F / mpojlz'z/e/",

que será

bastante característico para o romantismo da caseseguinte. Trata-se da tese

equílibrio; um terceiro ekmento, quesejü mundano e cekste ao mesmo tempo,

segundo

F

por república, público e comércio mundial são para elesapenasforças esctexe NaN2XIES, " que as forças do mundo mantenham a si próprias em

"Cristandade".

t

e dos interesses próprios. A razão moral e o sistema razoável formado

Ali

encontra-se

a qual quando

o "srn/ime

aliás um pensamento

político

zfopeZo i.zgxaZo ier.z", o egoísmo

se torna

é o único que pode solucionar esteproblema:' B.ssetetcelta e\ementa ê a

Igreja Católica universal. SÓela garante uma ordem interior e exterior à altura do homem.A guerrado lado de dentro e do lado de fora jamais

tão forte no homem que um Estadobaseadonesseegoísmonão poderá se manter a longo prazo; ele se encontrará em permanente revolução, discórdia e violência. Disso resulta que o Estado não pode estar apenas fundamentado na terra; ele também tem de estarligado ao céu: "Qzzra

cessaxâ.,esçtewe eXt," se não agarrctmos o galho de patmeirax: que apenas

verdadeiro observador veja calmo e à vontade os nadostempos que sacodem

Nós percebemos:a euforia revolucionária e republicana do começo se transforma, em Novalis como também mais tarde em Schlegel, em ideias

o Estctdo. Não Lbeparece com Sigilo aquele qae abafa o Estado? Ek acaba de

encontrar o augectoequilíbrio e Logoa pesadacctrgarola do ouü'o lado, para baixo. Ehjamais$cará em cima, seuma atfaçãonão a deixa$ut ar Lá,em direçãoao céu. Todosos seusalicercessão.Paçosamais quando o Estado de vocêsconserva a tendência em rehçáo à terra; mas Lig em-no às alturas do céu por meio de uma grande ânsia, deem-Lbe uma relação com o universo, e terão nele uma moh incansável, e seus e$orços serão amplamente recompensados.

Também esta visão de uma Europa unificada pelo cristianismo entende-se como uma resposta às considerações kantianas em .4 .p'zzPerp/fz/,z. Kant consegue dispensar uma explicação religiosa. Vê o ma/ ra2/ca/

no homem, masachaque ele é dominável; em primeiro lugar pela razão moral e em segundo pela interação da constituição republicana, do público politizado e do comércio mundial. Atravésdeleso indivíduo, pelo menos externamente, é civilizado e pode se revelar um bom cidadão, sem ainda [er sido iluminado

transformando-se num bom ser humano. Ele estava tão

convicto da ação benigna dessatríade formada pela república, público e comércio mundial que no final até diz; " OPraó&ma záz#orm.irãoZa EsZa2a é, tão duro isso soe,soLuci07táuelmesmo para uma população de demónios(se

eZefapr/zzZJ jáo .praz/idosde xaz.2oJ."Os demónios são razoáveis quando se

comportam de modo racional e previsível, no sentido do interessepróprio e da autopreservação. SÓassim, admite Kant, é que pode acontecer aquilo

um podem espiritual

pode oferecem'

que veem na religião uma fonte de ordem. No momento em que o antigo

reino ruiu, eles o idealizaram como mito, e disso adveio a visão de uma convivência pacífica dos povos sob a proteção de um poder católico cujo mandato não deveria ser transferido para os prussianos protestantes, mas permanecer na posse dos Habsburgos, católica. Por que os Habsburgos e não a Prússia?Porque os Habsburgos lhes pareciam aqueles que conservavam a ideia do reino e por isso também lhes pareciam um poder internacional. Pressentiamo dano que causariao nacionalismo deflagrado. Sonhavam com um reino que deveria ser mais do que um Estado nacionalista que se estendeunum império. Conhecedores da história da Idade Média, sabiam da tradição associadaao mito do reino, segundo o qual o

lmpéno romano e sua continuação como império cristão representaria o quarto reino profetizado no livro de Daniel; com seu declínio o mundo

acabaria,razãopela qual essereino adquiriu o papel de Éa/ecóon-- a corça que, segundo a segunda carta do apóstolo Paulo aos ressalonicenses,

poderia impedir o Anticristo e com isso o fim do mundo. Isso não era evidentemente pensado de maneira politicamente rea-

lista, muito embora inspirado pela revolução ainda que no sentido de uma revolução conservadora. Pois, na Europa de Napoleão, o retorno a uma antiga ordem imaginada teria de ser também revolucionária.

quese calculou.

Os românticosviram mais fundo nas profundezasdo homem. Por isso aportam menor confiança à racionalidadeda autoafirmação 160

12

Na iconografia cristã, símbolo da vitória sobre o mundo e a carne, especialmente através do martírio. [N.T.]

161

LIVRO PRIMEIRO © O ROMAN'TISMO

CAPÍTULO IX

Os românticos permaneceram inquietos enquanto tentavam voltar à calma.

" Za/uóz",

escreve Novalis,

"fazei

num contemüorangQl4É.çyLt%T@ gLe.bacIAe esseprogresso!çm.de..be dar um

/zós ízmemos em cer/ai zZ/Zof /zj

mgj91Wso--sgblwl.glltTO !.!!g.Ç!!!g.L4g.!qmpo "

revoluções, a Livre concorrência, cls disputas e taisjenâmenos democráticos. Mas essesanos passam para a maioria

Este é o pensamento da nação cultural alemã que também Frie-

e nós nos sentimos atraídos pov

drich SçHlb'

um mundo pacÍPco, onde um sol central dit'ige o baile, e preferimos virar

zzZemá[Z)ez/íscór Gr(iWe], um poema inacabado,

um planeta do que travar uma Lutadestruidorapela primeira dança: O indivíduo criador continuava a estar no centro, e sobre ele se

espalhavaainda um céu que deveria ser firmado institucionalmente. Os românticos, nos seusnichos particulares, haviam feito experiências ousadascom elos de amizade, relaçõesamorosas, projetos para revistas;

haviam revolucionado a literatura, a filosofia e a religião para uso pró-

#

]ê-se: "Pode o .z&máo,

nestemomento em que semfama sai da sua guerra cheia de Lágrimas[...] l

podeeLe terorgulhoealegriadoseunome?[...] Sim,eterodei[...] O reino Êlgzléo e ü:Jlaç4g.41g!!@:s41}.datas..ÇQilgs..d4$!latas. A majestade dos alemães

jamais descansousobre a$'ante de seusnobres. O alemão abriu seupróprio caminho separam da política, e ainda que o império Traísse, a:.diglnid4de akl4.IEe!!EgtBeceria, intocada. . . }il=4..Ê.i!!iene:Slee4ç3Q 4ç..ÇQ$tume!.çlLuiue

prio e nisso tudo criado uma ligaçãoentre o individualismo extremo B.

desenvolveu na mesma época. No esboço de GxnnZez,z

e o universalismo entusiasta. Esse universal era no primeiro momento

na,cl,d&wfa,.

uma transcendência não fixável, um ie lida r goi/o peão// P/z/fo. [)e-

A Alemanha não está representadana grande política, mas sua dzK /Za2ese mostra na cultura. [)ividia-se essaconvicção no círcu]o

vagar, a politização coloria também a essatranscendência. Em alguns

dos românticos, e aqui se pensavacomo Schiller. Os alemãeschegam

ela adquiriu as cores da Igreja Católica e dos Habsburgos;outros se tornaram patriotas, prussianos, nacionalistas. Uma vez que Novalis se orientava pela força pacificadora da Igreja universal, ele não precisava estabelecer a nação política como nova re-

ligião. A propósito, o ponto de vista nacional não Ihe é completamente estranho. Nem poderia ser de outro modo, porque desde a Revolução Francesao conceito de naçãose tornara inevitável para a consciência das massas.

A Revolução Francesahavia feito surgir uma "Grande Nation" que inundava a Europa com o poder amedrontador da força das armas. Essa

história bem-sucedida contagiava.Por isso na Alemanha -- que estava longe de ser uma nação com estadosuni6lcados-- se começaa perguntar o que significava exatamente "Nemanha". É mesmo desejável que se percorra o caminho político que leva à nação?Deve-se imitar as outras

grandesnaçõesou estáprevisto um outro caminho, um caminho diferente para essepaís com fronteiras incertas e uma história complicada? Novalis também se colocou essaquestão, respondendo-ada seguinte maneira: ".4 .4&a4#&g.!ggyçl !!g ra

J

o%!!%lg4w..gl&!gEgl&$:.!!Uwm®.-e:M mãg-gs]129det.çpp],ú, gi&w...ç9m-ü

atrasados na história como nação política, mas desse atraso se pode tirar Q\aNÜIO. " Finalmente

crua sucumbeü forma

CLeducação e a razão têm de vencer, l a uiol,ência

l E o podo lento l alcançará todos os quefogem

?upZZamr /e", lemos em Schiller; e Novalis espera declaradamente que o fiituro traga "m.z/arprso cz/Züza/sabre oi oz/aai". A desvantagem do atraso

se transforma em vantagem: não se é desgastadocedo por guerras de poder. Enquanto outros se ocupam com guerras diárias, mesmo quando correm de vitória para vitória, a Alemanha vai trabalhar na "co irra/f'2o effr a dalorm.irão

do »amem" (Schiller) ou educar um "c.zm.zzn2a de

fz//f rn Super/or" (Novalis). (quando isso tiver acontecido, finalmente se

mostrará qual é o sentido da vagarosidade: " Cada.poz,a/ fem iez/ dla n,z história lporém lo dia do alemão é a colheita l d,otempo inteiro"

Novalis acredita,com Schiller, que foi o ripa'/ra 2o mz/m#a que escolheuos alemãespara essagrande missão de promover a bela humanidade na Europa, e nenhum dos dois poderia sonhar que o atraso da nação geraria, em vez de amadurecimento democrático e cultural,

histerias específicase ressentimentos,que a cultura e formação evo-: luindo lentamente não seriam suficientemente fortes para evitar uma barbárie mais tardia, e que essaprópria cultura até se deixaria usar para Gins bárbaros.

162

163

LlyRO PRIMEIRO e O ROMANTISMO

CAPÍTULO IX

e$!á.fbE®ul.êçlQ.€11]..blQlCêli$.E.

Isso ocorre também no sentido da conservação.O renovadointe-

em Schiller ainda ng.Ê$12ÍEIEQ.çlg.gnlê..!Bi$gág.ytlÚç!!êlj8a; a apreciação do que é próprio não implica ainda no desprezo do que é estranho. Em Fichte, todavia, sepode observarcomo o universalismoacabase tornando nacionalismo. As .Bózief Zo /e7npo preso z/e [Grz//z2zz/g? Zrs g«?#-

resseno mito e na religião deixa pensar nas origens, numa história que não se faz, pela qual se é carregado. Já não basta que se construa com autoconfiança o próprio mundo; pergunta-se muito mais: onde eu estou inserido? A que lugar pertenço? O que me determina? Quais são minhas

O pensamento

de uma:nação

cultural

zaãrfi[gz?n Ze/ía/fers], de 1805, ainda são universalistas; ali ele declara que o "eipz'r/fo /rm.ío 2o ia/", que anseia por liberdade, direito e uma cultura desenvolvida, não está necessariamenteligado a uma determinada nação, pois estapode degenerar em virtude de um sistema político ruim e inibir o espírito da liberdade e o es.píritocriativo. Neste casoelevai sevoltar para onde "óá /az r 21rr/fo". Fichte não quer ser um dos ligados "à ferra, gaze só reconlJecem a gLeba,o rio, a montanha comoseupaí?- O espíl\to \tmão

f

$.

raízes?Descobre-seo poder criador da história, que age através"Ze forças interiores, que agem silenciosamente, não através da arbinariedade de alguém que cria Leis" (Sav\gnyl.

A metafísica romântica do infinito se transforma em metafísica da história e da sociedade,dos espíritos populares e da nação; torna-se cada vez mais difícil para o indivíduo resistir ao apelo do "nós". Entre ele e a grande transcendência (Deus, o infinito) se insere, em forma de história e socie-

procura seupaís;ele é cosmopolita. O ponto de partida é e permaneceo

dade, uma espéciede transcendênciamediana. Antes havia um deusda história; agora a própria história se torna uma divindade. Ela brilha num

indivíduo e sua ânsia por liberdade e autorrealização.

novo brilho mítico e Ihe dá sentido e significado. Isso tem consequências

IJm ano depois, porém, nasEaZn2 naf.ia ,zZem,2 de 1807/1 808, o país não é só a moldura, mas o verdadeiro sujeito da liberdade. Ele continua a falar sobre a liberdade em comunidade, porém o acento se desloca da

também para a percepção da sociedade. Ela aparece então menos como

do sol não é regional e arraigado;lá onde a liberdade tem uma chance,

projeto e produto da própria ação,mais como aquilo que a tudo abrange. Adam Müller declara que não se pode fugir da percepção de que, do corpo

liberdade interior para a exterior, para a autoafirmação da nação, convocando a Prússia, vencida por Napoleão, ao seu dever. Fichte fala do

materno, não nascemosno vazio, e sim no corpo da sociedade,e que o

povo como grandeindivíduo. As característicasdo indivíduo -- liberdade, força de ação, espírito, cultura -- são agora atribuídas ao povo,

ou com o Estado

homem

tudo

perderia

"gz/acuda

áo mais ie f/r a Zegaf'ío com a ioc/ezúzZe

Adam Müller, grande protagonista

do romantismo

da sociedade,

e consequentemente o conceito de educação que Fichte desenvolve em suas vazasestá direcionado a fazer do indivíduo um bom membro do

tução Francesa \Betracbtungen {iber die Franzõsiscbe Revoluciona (\ 790Õ

povo Essepovo alemão no todo é idealizado como o .poz,oong/na/

influenciaram definitivamente o discurso contrarrevolucionário em

da ânsia pela liberdade grrm2 z/ca.Assim desapareceo traço cosmopolita

toda a Europa por volta de 1800. Burke tinha colocado a visão política do Iluminismo direitos do homem, contrato social,direito abstratoda

e universal dos primeiros românticos. O horizonte seestreita.O espírito lúdico e livre que extrapolavatodo

está sob influência

de Edmund

Burke,

cujas

Co f/Zexnfórf

ioóre .z .Rez'o-

natureza-- em oposiçãoà convicção apoiada na vida social inglesa

limite com sua paixão pelo infinito começa a trazer a transcendência para

de que a constituição do Estado e a ordem social seriam formações que

a esferapolítica; primeiro com cuidado, em Novalis -- que busca proteção

Depois de 1800, aumenta nos românticos a tendência de pensar no coletivo. Isto ocorre ativamente, e com os olhos no futuro como em

cresceriamorganicamente, como expressãodo elo entre os mortos, os vivos e os que estão por nascer. Com suas instituições e regras,a tradição, segundo Burke, seriaa personificação da sabedoriade séculos,e por isso acima do conhecimento passívelde falha do indivíduo e dos humores volúveis da nação. Apoiado no espírito de Burke, Adam Müller

Fichte, que intensifica o eu e suas zfóef para o grande eu do povo.

pergunta: " Todos os erros infelizes ch Revolução Francesa náo coincidem

celestial-terrena na Igreja

, então mais robustamente e com maior firmeza

nos outros que, como Fichte, se fixaram no povo, na pátria e no Estado.

164

165

CAPÍTULO IX

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO

com .z bucwra de imaginar que o indivíduo poderia verdadeiramente sair

para homens que c.zrregama ganhe ALemanba nos seuscorações

da Ligaçãosocial,e mudar e destruir do Ladodecora?' É de se notar que essepensamento-- que, apoiado na história, idealiza a sociedade em um organismo estável -- aparece exatamente num momento histórico de catástrofespolíticas e de crise.

verdadeiros poetas como o senhor e Tieck ; que podem perceber o antigo canto romântico em sua profundidade e reaviva- Lode uma forma honrosa:

Tratava-se realmente de uma crise. O Sacro Império Romano-Germâ-

nico havia ruído em 1806, sem alarde e sem glória, sob os golpes de Napoleão. Os Estados da Confederação do Reno, da Baviera até a Vestfália, estavam sob domínio francês. Depois das derrotas de lema e Auerstedt, a

força da Prússia havia encolhido de grande para mediana. A Alemanha estavamais longe do que nunca de seruma naçãounificada politicamente.

»

f

i.

O desejo de autoaGlrmação gerava uma busca inesgotável por aquilo

que hoje se denomina "identidade alemã". Nesse ínterim, o conceito da nação cultural de Schiller era considerado insatisfatório, pois ele come-

çavalá no alto, com os mais educados; buscavam-setradições populares. Exatamente A. WI Schlegel, um representante da refinada cultura do espírito, declara em 1802 que as "cZaiiri wzz/i ed ca2ai 2a oiiz

afia

náo fém wm,z ///eram xa" na qual a vida de uma nação se espalhe, "mai o

óomrm comam fem z/md". Ele quer dizer os "Livros do povo", referindo-se

a Tieck, que tenta aproxima-los dos formados entre os seusdepreciadores. ' Todapoesia uer(hdeiramente criativa' , esç.teme, " só pode suvÚr da Tida

interior de um Foto e da raiz dessavida, da religião. Entre 1806 e 1080 Heidelberg tornou-se o quartel-general desse novo interesseromântico direcionado para contos de fadas, mitos, canções popu[ares e outros documentos

históricos.

".4 prc@ri,z ]ar/Ze/óerg

é um romantis«o clamoroso; lá a primavera devora casase jardins e tudo que é comum com videiras efLores, e contam para cartel,ose montanhas um

maravilhoso conto de fadas do tempo passado,como se não bouliessenada

de ma/r n/zfz/zn/nc?mz/zzdo..."(EichendorfD. Foram em primeiro lugar os professores Savigny e Creuzer, que após a reinauguração da univer-

sidade em 1803 tudo fizeram para que Heidelberg, depois de lena, se transformasse num ponto de encontro dos românticos. Creuzer escreveu

em 17 de abril de 1804 a Brentano: ".r z,erda2e.(2zlzznZa ez/i/nfo aljz moderna pequenez alemã durante minhas peregrinações solitárias nas poderosasTulhas do pastel,odaqui, sinto intensamente que estclcidctde é um lugar 166

para

Brentano veio com a escritora Sophie Mereau, que havia desposado há pouco. Fez seu amigo Acham von Arnim acompanha-lo. Juntamente

com JosephGõrres, que trabalhava como professor particular, elesformaram o famoso "triângu]o" de Heide]berg, sobre o qual EichendorH que estudava na época em Heidelberg, falava entusiasticamente mesmo com \dado avançadas " Uma maravilhosa tempestade soturna, que Teve uü aqui precipícios ocultos, e Lá, de repente, paisagens inimaginadas;

uma tem-

pestadeem toda parte violenta, reveladora e inspiradora para toda a vida. Ao lado de Gõrres estariam "Za/í ózmÜoi e ra npa/zóe/ros 2e /#la": Achim

von Arnim e ClemensBrentano. "-Eb'i maxnuamem IEa /peZz:zzmeftabel,ecimento digno, mas obscuro,perto do morro do castelo,num salão grande e aveiado, caias seisjanelas com Dista para a cidade e para a paisa-

gem iguahuctm-ie a seistelas grandiosas; o mostrador do rel,ó@oda igreja íz ór//B,zr /za izó.zdí efáo exa iez/.pên#aZo." Ficou gravado na memória de

Eichendorff como Brentano, pequeno, flexível e com cachosnegros, sentado no parapeito da janela a olhar para a correnteza do rio Necker, improvisou

canções para o violão

"z/erzZaZe/xnmenfee c nfadar"

No casal de amigos Brentano era a moça galante e Acham von Arnim o

belo homem. Ele era tão bonito que uma berlinense, ao vê-lo, criou o jogo de palavras espirituoso: "Ach im Arm ihm...I" ["ah, nos braços com e]e...]"] Os amigos publicaram em Heidelberg a coletâneade canções -4 rraznp.z mág/czz da oz,em [Z)ei .Khaóem W# Zeróorn], depois de

.r;>amz Sfermó.zó/ de Tieck o segundolivro mais cultuado pelos românticos, elogiado até mesmo por Goethe.

JohannHeinrich Voíg,filólogo clássicoe tradutor de Homero, também havia mudado para Heidelberg como se quisesseestar bem perto dos seus inimigos jurados, os românticos. Não economizava investidas

e explosõesde ira. Chamou a coletâneade cançõesdos amigos "wm montara aiuntüdo, cheio defaLsificações propositais, onde se mescLauamaté

z/g m zi oZ'zaiPróPr/ai". A aversão era mútua. Vofg era considerado ali o

fantasma de um realismo sobrevivente. Voíg, assim zombava-se,ainda sucumbida à sua própria secura, e Gõrres abriu uma aula com as palavras: 167

LIVRO PRIMEIRO © O ROMAN'TISMO

CAPÍTULO IX

Meus senhores, bá apenas duas classesde pessoas:as que estão ungÀdas do

IZl@er /zóz/z/e zz/zZ sr

ria ser consideradoseu líder. Era uma épocaviva, mastambém amarga. Sophie Mereau morreu no pós-parto, e Brentano quaseperdeu o juízo de desesperoKaroline von Günderrode cometeu suicídio quando Creuzer,

o natural com artifício e o ingênuo, com refinamento. A consciência

seu amante, não cumpriu a promessa de se separar da sua esposa. No final

Tieck conta, no tom dos antigos livros populares, a lenda das Cr/anfaí de

restou apenasAcham von Arnim, que em 1808 publicou por um ano o

/7a/mon [/ía/miai,ê/nZerm];

JornaLpara eremitas \Zeitung.Pr

poemas próprios a sua coletânea de cançõespopulares .4 fra npa m#gír Zolouem, e os irmãos Grimm inventaram, mais do que encontraram, o

lembra-se EichendorfE =..;;P

u.C'l

t.

Schiller havia avisado em seu tcxto Sopre zpoes/a//2g?/zz/a e ie/zfíme ía/ f/mf /a#scóe Z)/córwmKI a respeito de se tentar imitar

espírito poético e, em segundo Lugar, os$Listeus" V.stawaclaro que VoR deve-

am hdo a &chração

EinsiedLerà." Ojornal,

que $etornou raro'

"exa ma z,ezzZa2e zzm/raKrama da .Ramamr/smo,.Ze

& guerra ao público $Listeu, & ouço hdo .«m diagrama

rompida, refletida, não pode recuperar a ingenuidade que perdeu apenas através da simpatia e da imitação

É exatamente isso que se tentava. Ludwig

Brentano

e Achim von Arnim

acrescentam

estilo das suas narrativas.

de teste e orientação para os nodos objetiuos= a iluminação da Idade Média

Não pode haver dúvida quanto ao fundo político dessenovo amor

:aquecida e das suasobras-primas poéticas. O estranho jornal não viveu muito,

pela poesia popular. Mais tarde, depois das guerras de libertação, Gõrres

mas preencheu compktamente suahnção como ponto de Luz e sinal, ü$g

»

se expressou claramente

a respeito:

"Qzza 2o óá.poz/ro re/mpo zz.4&ma-

#

Arnim havia colocado o "jornal" completamente a serviço dos seus esforçospara reavivar a antiga poesia do povo. Ele se manifestou de ma-

nba jazia em profunda humilhação,

neira programática sobre ela no texto que posfacia a coleçáo de canções:

trazidos, só o podo permaneceu [...]$e]

' àquele qae toca o podo muito e intimamente

certamente ganhou o direito de que aqueles queforam escolhidoscoma seus

[...] é dado à mão [...] a sa-

quando os nobres seTpiam, a nobreza

cobiçada homenagens de estranhos [. . .] [,] os sábios sacri$cauüm os Ídolos

a si mesmo.Pov ta] provação eLe

bedorianaprovaçãoü séculos [. ..apara quesóeLea proclame[...] eLejunta

Líderes ouçam as tendências e convicções do seu coração; que eles honrem

seu podo disperso [...] cantando par um nodo tempo sob ü sua bandeira [...]

a uoz queseconstitui no seu meio como'z uozpopular oriunda dctuoz de

pois todos nós buscamos algo mais elevado, o uelocino de ouro, que pertence

todos, como a consciência mais profunda do seu Estados'

a todos [...]o

tecido de Longostempos [...] que os acompanha no desejo e nü

Nessemeio tempo havia acontecido o seguinte: a Prússiavencida

morte: canções, mitos, relatos, ditos, histórias, profecias e melodia?' .

não teve de entrar na Confederação do Reno, mas precisou pagar imen-

Os românticos romantizam a poesiapopular, ou aquilo que tomam por ela. No gênio, declarara Schelling, a natureza inconsciente trabalha.

sas contribuições

de guerra; a ocupação francesa foi suspensa apenas

Isso se aplicava agora ao espírito popular, do qual se acreditava que criava

hesitantemente.Unicamente a Áustria da casareal de Habsburgo havia conservado sua independência na .Alemanha. E só de Viena ainda

inconscientemente seus contos de fadas, canções e mitos. ".d,pães/zzdo.popa

sem a Rússia, que se mantinha afastada

vive ao mesmotempo no estadoch inconsciência;a arte tem a consciência:'

mantida. Em Viena se começaraa mobilizar as forças patrióticas de baixo. No Tirol, seguindo o exemplo das guerras de guerrilha na Espanha, os tirolesesdo sul lutavam sob o comando de AndreasHofer

O inconsciente era considerado nesseínterim como profundidade. Gõrres não havia denominado a humanidade do começo como sonâmbula? A poesia do povo, escreveGõrres, é como o murmúrio discreto

a luta contra Napoleão era

contra o domínio de Napoleão. O ministro-chefe Stein, na Prússia,havia

de alguém que está afundado no sonho. A alma coletiva se expressa ali.

primeiro (entre 1807 e 1808) aplicado uma política de cumprimento

A consciênciado presenteé um mau tradutor para ela, escreveJacob

de exigências e de coexistência com relação a Napoleão, esperando que,

;.ümm."

nessequadro, Ihe fossepossívelconseguir reconstruir o paísdestruído. Mas quando concluiu que Napoleão não Ihe dava espaço,tornou-se, sob a influência dos sucessosespanhóisna luta antinapoleânica, um político

Nada permaneceu mais erróneo do que a ousadia de criarpoemas

épicos [no sentida da poesia do l)Olio] ou de querer cria-Los; eles só se podem

criar a si mesmoscomo tais.' 168

169

CAPÍTULO IX

LlyRO PRIMEIRO e O ROMANTISMO

da resistência. Desde 1808, juntamente com Gneisenau, empreendeu algo

até então inimaginável: uma sublevação popular üo norte da .Alemanha para dissolver o domínio napoleónico. Paraque o povo tivesserazõespara lutar, tinha-se de criar a perspectiva de uma libertação de camponeses, de

uma reforma comunitária e de uma constituição com componentesdemocráticos. Seus planos de revolta foram parar nas mãos da polícia secreta

francesa.A Prússiateve de demitir Stein. Napoleão o declarou inimigo da França, ameaçou prendê-lo e fiizilá-lo. Stein fugiu para a Boêmia e amuou

de lá como símbolo da resistência.Seusplanos de reforma foram postos em prática de maneira atenuada por Hardenberg. Recorreu-se,ainda que hesitanremente, à ideia de Stein e Gneisenau de uma guerra popular e nacional quando no final de 1812, depois da campanha malograda da &

Rússia, a Prússia se desgarrou do domínio de Napoleão.

#

A derrota prussiana de 1806 foi tornada pública no estilo dos antigos tempos com as palavras: "0 re/ pe7zZewz/ma óaíaüa. ,4 c.z/m.z / agora a

pr/me/rc} 2ez/erfiu//." O quanto a mobilização patriótica e nacional havia progredido nessemeio tempo revela-sena chamada do governo prussiano

àe \ 8 V3\" Não importam quaissacri$ciosserãoaçigicLos do indivíduo; eles não superam os bens sagradospelos quais nós os fazemos, pelos quais nós temos de lutar e vencer, se não quisermos deixar de serprussianos e akmães.

Era a hora do romantismo político. O trabalho sobre a consciência individual alemã com a exaltaçãodos espíritos populares e da mitologia germânica, a colete da poesia popular, a visão de educação nacional de

Fichte-- tudo issopodia confluir e criar um clima público que urgia a participação avivadascorçasnacionais e patrióticas. Em solo alemãoassisre-se, nessesmeses da guerra contra Napoleão, ao nascimento da propaganda

política. Stein sugereque se crie -- contra a inundação da Alemanha com "boletins e proclamações fdaciosos e mentirosos" da gráfica de campanha

de Napoleão

uma barreira de propaganda patriótica caseira.O poder de

Napoleão, afirma Ernst Moritz Arndt, está amplamente baseadono medo que espalha, e por isso o povo deve ser esclarecido a respeito da sua própria força. Isso cabe aos escritores, que agora são oficialmente

providos de um mandato político. Stein: ".Numa naçãogz/rgoiia f z /a de kr, os escritoresjormamuma espécie de po&r atravésch sua in#uência sobre 'z ap//z/áo .pzZÓ/ícú." Metternich funda em Viena o 170

jornal O aóierz,,z2or

ã#i#üca[Õfferre/c&/fcóer .Broóarófer]e so]icita Friedrich Sch]ege]-- que há dez anos, em Z,zzrimZe,denominara a opinião pública um momi#a Óan'í..

z,e/-- como redator-chefe.SchlegelchamaAdam Müller parajunto de si. 'H sor/e2aZe, Zon,z Zai#orfas m zfer/.z/ "

proclama Fichte nos dias

turbulentos de março de 1813 em Berlim devese unir numa ação coletiva. Ele próprio quer ser soldado e pregador no quartel-general prussiano;lá, as pessoasriem disso e rejeitam a ideia. Em janeiro de 1814 o honrado homem morre de uma febre de nervos que os feridos

da guerra de libertação haviam trazido. Em 28 de março de 1813, a

guerracontra Napoleãoé, como de praxe, oficialmente iniciada com uma cerimóniareligiosa.Schleiermacherno púlpito, o público, pronto para partir, uniformizado a ouvir, os fuzis apoiados contra a parede da igreja, atrás da sacristia os cavalos a pastar. "Com zím e/zfwi/ízíma Crente,falando de todo coração,eLeadentrou todos os corações', con\a. um

contemporâneo.Em abril de 1813 começa-sea organizara tropa de combate formada por civis. Quem ainda não pode portar uma arma é enviado para o trabalho nas trincheiras diante da cidade. Lá se pode ver

todas as faculdadesda universidade de Berlim, há pouco reaberta,trabalhando. Os cientistas da nova geração, porém, estão armados. Solger,

o teórico da ironia romântica, dedica-seà criação de um fundo para viúvas. Ele manda sua noiva por questões de segurançapara a Silésia; infelizmente estaé a direção errada, porque o inimigo está estacionado ali. O nervosismo é bem grande. Bettina von Arnim, que permanece em Berlim, cidade transformada em acampamento, fornece uma descrição nítida da coorte de eruditos românticos. Também era estranho uer como gente conhecida e amigos com todo tipo de armas e ü to(h hora corriam pelas Tuas, alguns dos quais antes não se poderia pensar quefossem soldados. Imaginepor

terceira bctdahch corre pela rua com um um escudo üferro

exemplo Sauigrt), que com a

ngo espeto... o filósofo Ficbte com

e um Longopunhal, o $1,ÓLogo' Wolfcom seu narigão tinha

carregado um cinto do Tiros com pistobs, facas de todo tipo e machadinhas ü luta... no destacamento &Arnim

se achada sempre uma nopct de mulheres

que acreditavam que o serviço miLit.zr Lhescaía marzuiLbosamente beml

Achamvon Arnim, Theodor Kõrner, Eichendorff e Ernst Moritz Arndt tornaram-se trovadores do novo movimento patriótico, apoiados 171

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO

CAPÍTULO IX

por inúmeros outros mestresque escreviampoesia,advogadose fun-

maligno, demoníaco, que age nele e atravésdele: um antiespírito, o

cionários da saúde pública. " O dewi gz/e2eixaz/c eirer oJ?rra /z'2ogz/rija

inferno, a natureza decaída, uma mistura de Prometeu e Menisco.

rerz'o ", escreve Arndt;

Raramente alguém foi odiado com tamanha energia quanto esse Napoleão. Todas as correntes espirituais desenvolveram seu próprio ódio contra ele. Uns odiavam o déspota, outros, o revolucionário, outros ainda

em EichendorfFlê-se:

"fam

w/#ózz arma

/za máo

ejfaa 2e .PZramo ie/zf/nega";mais famoso tornou-se provavelmente o poema escrito por Kõrner para as milícias sobre a "r.zfa ie/z/ageme oz/s.zZúZe .[zlzzazu".São mobi]izados sentimentos e imagens românticos da natureza, o "mz/rmzZr/o2aWor sía", as árvores,em pé como gigantes, a fogueira

na noite

de lua, "acezzZam pois agora alugo

é'm zzome 2e Z)ezzf"

o traidor da revolução; odeia-se nele o furor do racionalismo, para quem nenhuma ligação é sagrada; ou o cinismo do poder sem qualquer consciência; odeia-se nele a figura híbrida do eu libertado, para o qual o resto

O inimigo é odiado com fervor. Também isso é novo. "Z?zz gzlrro o ózáa contra oiPnnceiei", escreveErnst Moritz Arndt, "náo aPe as p'zza Cria

do mundo torna-se o não eu e um material; e é claro que odeia-senele aquele que tornou uma nação poderosa para escravizar outra: a alemã.

guerra, eu o quero por Longo tempo, eu o quero para sempre [...] Que esse ódio arda como a religião do podo alemão, como uma Loucura sagrada em

A grandeza de Napoleão -- Goethe disse: "o óamrm égrn Ze arma/rpzzxw

todos os corações e conserve- nos sempre em nossa$deLidade, honestidade e

pocés"-- tinha de imbuir uma dimensãohistórico-filosófica ao ódio. A história ou Deus, tanto faz, obrigatoriamenteIhe deram uma tarefa

ua,l,en,tia:

obscura. ".4 /zafareza", escreve Arndt,

Esse ódio estava dirigido

especialmente contra Napoleão. Nesse

assunto os românticos são renegados, pois eles primeiro

o haviam admi-

"gz/r a deixa ag/r Ma rerr/z,e/mem/e,

fem Ze /er em me/zfe.z@zóm.z íare$ncom eZe".Napoleão, para Adam Müller, ê o "destruidor necessário" , que \taz o "evangelho da morte" . A. naxuteza.

rado. Os irmãos Schlegel, Tieck e Schleiermacher haviam-no celebrado

toda poderosa age nele, mas não a límpida de Rousseau, outrora idealizada

como a personificação da revolução sagrada.Beethoven queria dedicar-lhe a suaTerceira Sinfonia. Eles todos o viam como um deles, de origem

pelo Sfz/rm z/ Z Z)xu/zg.A natureza mostra a sua outra Face;Napoleão é

plebeia; como eles, ele era guiado por sentimentos revolucionários. Sua carreira fulminante lhes dava certeza: a corça natural do gênio se afirma,

Nessa agitação generalizada, E. T. A. Hoffmann, que náo se pode isolar dela, acha um tema especial: Napoleão se torna para ele a figura

monta, destrói tudo que havia antes. Ele é o sujeito transcendental da história tornado carne; a elaboradacategoriado sistemaestáagora a

monumental do mundo noturno do "magnetismoanimal" que, como prática da medicina e como indagação natural e filosófica, começaraa

cavalo, "ez/ .:zz,/ rzzz/'[email protected]#oxa", narra Hegel em 1806, de lena, "eira

fascinar os contemporâneos, ávidos de milagres e segredos. Napoleão,

óz/m/z

2o mz/n2o". Para os homens do espírito em lena e Berlim, esse

homem personificava o artista romântico por excelência:ele transformou toda a história do mundo numa obra de arte irónica; elebrincava com o material da história como o autor romântico com seusmotivos e formas. Por toda parte se vendia o busto de Napoleão. Goethe não consegueparar de adquiri-los. Tieck os tem, JeanPaul gosta de dá-los de presente,os irmãos Schlegelos levam para toda parte. Mas, depois de lena e Auerstedt, em 1806 começa a mudança. Napoleão, que além de alguma modernização também traz muita opressãoe humilhação, não

a sua cabeça de Medusa.

pois, como um grande magnetizador, que transporta para o sono e o delírio toda uma parte da terra com seustraçosmagnéticos;um deus do céuvazio e do novo tempo, no qual a política é o destino.

Heinrich von Kleist é um dos que mais odeiam. Geralmentenão é incluído entre os românticos. Mas quando se parte da definição de Carl Schmitt segundo a qual as pessoas românticas são aquelas que

tomam sua realidade de modo "ocasionalista", então Kleist -- sobretudo naquele tempo politicamente tumultuado, com o extremismo dos seussentimentos e o absolutismo do seu eu era um dos românticos

como a personificação do espírito do mundo, mas agoraé um espírito

geniais.Mas também um perigoso.Nele, todo um mundo imaginário que encontrou uma expressãoperfeita na obra passasubitamente para a

172

173

perde nada do seu gênio aos olhos dos contemporâneos; ele permanece

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO CAPÍTULOIX

esferapolítica, criando ali um fanatismodesconcertante.O ódio é um sentimento corte, assimcomo Kleist é no geral um mestredos sentimen-

encontreem oposiçãoao seudesejode intensidade. Ele só sesentiavivo quando todas as forças da atenção, do sentimento e da criação estavam

tos Fortes e arrebatadores. Não precisam ser sentimentos destruidores;

sob tensão. Um pânico em relação ao vazio que podia ataca-lo de fora ou de dentro o perseguia. "Sem adú/azr a Ze/pózzacima e.para Óajxa no meu quarto, me senteià janela aberta [...]t,] empurrei minha cabeça contra o estofadodo sofri, um uctzio indizível ocupauctmeu interior, até o

podem ser também sentimentos carinhosos, suaves,sonhadores.Kãtchen

von Heilbronn é uma doceirmã da louca Pentesileia.Kleist é um mestre em fazer com que os sentimentos fervem ou se dissolvam totalmente. Na obra, eles sáo envoltos como o inseto no âmbar e assim dominados.

Último meiode me erguerhavia falhado", esctexeele em 22 de ma ço de 1801 a Wilhelmine von Zenge. O óarror z,arzí/era o acompanhante constantede Kleist e este"erguer-se"para não cair era o esforçoda suavida. SÓo afundar, esquecidode si, numa atividade, num sonho, num sentimento,o protegia.Ele podia falar com imensaintensidade

Não era'assimna vida, e de maneira nenhuma era assim na política. No ano de 1809, quandoKleist mantémrelaçõescom asforçasque, na Prússia e na Áustria, querem alimentar a revolta geral contra Napoleão,

de esctexea ode Germaniaa seus$Lbos\" Dei)cempois/primeiro o imperctdor, l Sucoscctbanas, suas casas;l Espctlbem um mar sem margem l Sobre

e muito rápido, ou então começava a gaguejar e se calava. Como nada

essesPanceses! l Todas m praças, pastagens e lugares l Pintam de branco com

Ihe interessavaque não pudesseocupa-lo exclusivamente,ele também exigia dos outros a mesma exclusividade. Sua noiva Wilhelmine von

seusossos;daqueles que os coTuose as raposasdesprezaram l Doem aos peixes;

l Represemo Rena com seuscadáveres:

Zenge não podia se alegrar a respeito de nada que não dissesserespeito

No mesmo ano Kleist escrevea peça de teatro .4 ódí#Zbzz 2e /Zerrm

a ele,e, embora tivessevivido algum tempo numa casacoladaà dela,

[Z)/e /Zero.znniícÃZarór] , uma idea]ização passiona] da guerra tota] de

escreveu-lhe as cartas mais apaixonadas, esperavando que ela fizesse o mesmo. Em todas as suas atividades era assim, como se não pudesse

extermínio. Sob proteção do momento político, ele navegaem fantasias de destruição que teriam de permanecer incompreensíveis se se quisesse atribuí-las a um motivo político, a uma paixão política. O próprio Kleist

haver nenhuma lacuna, nenhuma ruptura, atravésda qual algo conseguisseadentrar que fossecapazde incomodar a dedicaçãoatual ou a concentração. Característico para essapostura era também o plano de vida elaborado em 1799. "E# me coZogzze/ z/m ater/z'o, eicrez,e e/r a Jzz,z

deve tê-lo intuído quando, em Germzz ia a iezíi.pZBoi remou em relação

a.NxpoXeã.a\ " Matem-no! O tribunal do mundo l Não Lhesperguntava .z raz.2o.r"Tais fantasias de destruição misturadas às paixões políticas

irmã, que

indicam uma estranha atração pela crueldade imaginária, que se pode perceber alhures em Kleist. Nenhum outro escritor do séculoXIX repre-

casodeva seraLcançado

exige o uso ininterrupta de todas as

mina'zi#orFózs e 2e cada m/nzzfa." Era necessário tirar o poder dos acasos

que podem afastaralguém do caminho. Contra o controle de fora, a auto-determinação;contra o acaso,o plano; contra o desperdíciodo

sentou com tanto afinco e prazero ato da morte. Isso vale para Michael Kohlhaas, que morre sentindo prazer porque pode acabar com a vida do seu antagonista, o príncipe eleitor da Saxânia; isto vale para a cena final de Ppn/ei/Ze/a,onde a rainha das amazonasdestroça o amado Aquiles com os dentes. Em Zerremo/a Zo CB]/í [.Er#óeóe z,a C»//í] descreve

tempo de vida seu uso incansável; contra a distração, a concentração

de todasas forçasnum ponto Em tudo que fazia, ele tinha de ir até o limite, como se, parando antes, tudo tivessede desabar:o sentimento, o pensamento, a obra. Perdemos, escreve no seu texto sobre as ma-

em detalhescomo o assassinogira um pequeno menino em torno de si em círculos e o atira tantas vezescontra a coluna da igreja até que a

rionetas, a naturalidade paradisíacapor causada consciência, portanto a consciência tem de ser intensificada ao máximo, tem de zzfx2z/é?iizz7

m'ziia ia#emfe do c.íreóro fique visível.

z/m /nOzz//a,para realcançar a beleza do começo. Ele sempre almejou

As fantasias funestas de Kleist não resultam apenas da aversão a essaou àquela realidade, mas sim da realidade em geral, tão logo ela se

soluções definitivas. Por isso tentou várias vezes convencer amigos, amantes, e também simplesmente conhecidos, a se suicidarem com ele.

174

175 /

LIVRO PRIMEIRO

+ O ROMAN'TISMO

Finalmente encontrou uma mulher que estavadisposta a se deixar basear

CAPÍTULO X

por ele, para que pudessese matar em seguida. O que tudo isso tem a ver com política?

Em relação ao seu ódio por Napoleão e os franceses, ele próprio

uJ''l .....,#

n

r

O desconforto romântico diante da normalidade. Desilusão

declarou que não se devia perguntar o motivo. Trata-se apenasda intensidade, que é tanto maior quanto menos há razãopara ela. Quando algo

Krelsler. Crítica aos filisteus. A perda da pluralidade. O espírito da

é lusti6lcado, há um elo racional que sempre tem algo de explicação, d:

geometria. O tédio. O deus romântico versus o imenso bocejo.

comunicadorÍ O ódio é em Kleist como o amor, um êxtaseda entregzlli Paranão perder áua intensidade no percurso usual das coisas,no acaso, ele tem de se aprofundar na sua paixão. Claro que também argumentou politicamente; masque para ele no final não se trata de objetivos e motivos, percebe-sequando a justificativa se torna gradualmente uma loucura. Como resposta à pergunta "o gz/ez,a/e/zeif.zgz/erra?" são dados motivos pelos quais a l:omunidade a ser defendida era tão valiosa.

iluminista. O racional e o razoável. Orgulhos e dores dos artistas

O "como se" da lírica.

O mal-estar diante da normalidade, da vida comum, une os românticos. O que é a vida deles na .Nemanha por volta de 1800?Em primeiro lugar, é a vida comum de escritores,pessoaspois paraquem coisasespirituais não são secundárias, mas sim primárias, e para quem o

A sequênciade motivos de acordo com o princípio da intensificação leva no final ao cómico ou absurdo. "/l/Z z/m'z ram /gaze .pc2rfam/o

espiritual ainda estáligado ao sacerdócio. Não é surpresa,pois muitos delesvêm de famílias de pastores,ainda que o Iluminismo tenha esva-

[...] que os selvagens dos mares do sul se apressariam .z uir salvar, se eles a

ziado sua antiga crença. Exatamente por isso eles buscam novas contes de

conhecessem; uma comunic

segredopara proteger a vida comum do desencantamento.Encontram-

de [...] que deve ser Levada ao túmulo apenas

com o iangwe gz/r rica/fere o io/." Nota-se que também aqui a loucura está

em ação. Idealiza uma comunidade que o at.ormentou tanto tempo com indiferença até que ele a deixou e foi para França, para morrer lá a "reza

morreZai ó ia/B,zi". Mas não por exemplo em luta contra Napoleão, mas sim nas fileiras de seu exército. Pode ser que ele tenha odiado os

francesese seuimperador porque não Ihe permitiram se jogar fora por meio deles.

ProvavelmenteNietzsche acertou quando escreveusobre as consequências dessa indiferença:

"/íei/zr/có z/onJ(bZsf rz//zí par czzz/i.z drfía#a/ía

nasno espírito poético, na fantasia, na especulaçãofilosóâca e àsvezes também na política, uma política ordenada eantasticamente. Com seudesconforto diante da realidade, os românticos antecipam aquele "Zeíe/zramfado mz/ #o d2a /e Zo xnr/am,z#fma"que Max beber tematizará criticamente cem anos mais tarde em seu famoso discurso em

Munique sobrea Wocafáa,p.zzn .zr/é/zc/.z[.Berz/'z r W7ífemlcÓa@] (] g ] g). SegundoWeber, o Zesemc.zm/a Zo mz/mZosignifica duas coisas.Em primeiro lugar que, com a vitória das ciências empíricas, mais e mais partes da realidade devem ser vistas como em princípio passíveisde

de amor, e o antídoto mais tervÍuel contra pessoasexcepcionais é Leda-Lasa

serem explicadas, ou seja, como racionais. Em segundo lugar, que os

a$.nciav tanto em si que o retorno setorna toda uez uma erupção uukãnica:

âmbitos da vida e do trabalho são mais e mais organizados racionalmente. O racional e a razão se condensam naquilo que Weber denomina a arcaÓoz/foZ ra cama o afo" da modernidade. Z)aro como 'zfa o arcabouço ainda não era no tempo dos românticos. Já se podia pressentir algumas coisas, principalmente quando se era sensível como eles. Eles sentiam o aumento do racional e da razão.

O racional era o Iluminismo autoconsciente no qual tinham de trabalhar. 176

177

CAPÍTULO X LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO

A razão ia ao seu encontro no pensamento utilitário burguês, que na-

Estado //wmi/za2o"

deveriam ser expulsas, pois elas 'fazem

m nlZÓr/a

perigosocom o encanto e não se envergonham de, sob o nome da poesia,

quela época surgia com força.

As ciências naturais ligadas ao empirismo e à tecnica ainda estavam

spaLbar um veneno secreto que torna as pessoas completamente incapazes áe servir iluminismo

no começo, mas seu princípio começou a se revelar na forma da ideia de

que havia um mecanismo básico na natureza que se podia reconhecer

e, mais importante ainda, usar para fins determinados. Eichendorff :sctexe que se " teria arrumado o mundo como a um relógio mecânico Z'emagz/sfzzdo gz/r.@/zf/o/z.zz,/z faz/zzóo". Em Novalis lê-se que a natureza

teria sido "ziCegeneraZa em z/md mãgzzinzz z/neÉorme". Via-se na movimen-

taçãodo mundo uma lei confiável e previsívela vigorar, garantindo a manutenção das coisas;apesarda mudança, do desenvolvimento e das

cada.-comQ..Q..-t.egiln ç..dê.utio. "NemÓz/m Eíía2o", escreve

lidade Nova

s com

pesam, " é a esse ponto

regido

como

uma .liíbrica

qu.lato

a

Prüssiadepoisda morte de Frederico GwiLbermeI" A impregnaçãoda vida com o princípio da utilidade é especialmente irritante

para os românticos

quando

também a arte e a vida do artista são

arrastadosparao foro da utilidade social,económicaou política. Uma

catástrofes, acreditava-se ter na natureza algo sempre igual, conflável,

sátira amarga sobre as exigências a isso ligadas encontra-se na exposição hofFmanniana dos sofrimentos do regente Kreisler.

a agir: um mecanismo. O pensamento moderno transformou, como

Palco dessessofrimentos são os encontros musicais nas casasdos

hz Novahs, " a ml2sica infinitamente

criativa

do universo no bctruLbo

monótono de um moinho'

O Lovell de Tieck queixa-sede que o moderno teria atrevidamente desvendado todo encanto, e que uma luz do dia artificial teria substituído

a escu \dâa mls\el\asa.. " Eu odeio as pessoasque cLareiamtoda escuricho familiar com sua pequena cópia do sol e que a$gentam os beLosfantasmas da sombra que viviam táo segurossob cisfoLbm esplzLhadas. Na mass'zépoca

sedeu uma espéciede dica,masa iluminação romântica noturnü e matinal

?ramais belado que toda essaluz cinzentade céunublado' Tal luz cinzenta do Iluminismo comum existia para os românticos não só nas cabeças,mas também na realidade social. Ela era experimentada como uma realidade cheia de regras e uniforme.

No conto de fada O.peg e/zoZacarlaJ [Jkl»/#Zzzcóes] , de Hoffmann,

conta-secomo o jovem soberanoPaphnutiusintroduz o Iluminismo no país no qual a história se desenrola. Antes disso, o pequeno país era como um "m.praz,!ZBoialardím iz//zrz/af ", onde estavam alojadas "dz'ezsaí fadas primorosa?' , lazão pda qual " quase em todo povoado, especialmente

porém nas$orestas, muitas vezesse davam os mais agrctcüueismilagres

A introdução do Iluminismo de Paphnutius não signiÊcou apenas ' derrubar as .florestas, fazer a energia .Paio, cultivar

batatas, melhorar

as escolas dos pouoados[...], estruturar alamedas e dar vacinas" \ as dadas

numinosas

caso não pudessem ser recriadas "como mrmó aJ zífelsZo 178

ricos, onde o genial, mas humilhado regente tem de agir como um ani-

mador musical e um criado. ".Eb'ffaZoiloznm emZ'oza"-- assimcomeça a descriçãode uma dessasnoites na casado conselheiro Rõderlein, que aptesen\a entre " cbá, Licor, vinho e pratos.Fios" \aínbêm " alguma música consumida bem c071fortaueLmentepeLo belo mundo" . T.ssa noite acaba com

uma sensaçãoprovocada por Kreisler. Por ter tocado as UarZ.zfóefZr GoZ2órrg,de Bach, que eram pesadasdemais para o divertimento, ele causou o rompimento do círculo. Agora está sentado sozinho ao piano

e toca, e despejada suaalma as torturas da noite. Já essasituaçãoinicial dá uma ideia da problemática toda: o artista solitário que não entende seu público e que por isso o provoca; que foge dele e ao mesmo tempo Em com que ele fuja; que está a seu serviço, mas sabe que está acima dele

como o céu. Kreisler está em estado de guerra, e as U# /afóei de Bach são sua arma. Mas o que as pessoasIhe fizeram? Bem, elas o engajaram para diverti-las com a música. As pessoasquerem ser transportadas para um estado de espírito agradável. Para isso elas se arrumam, tomam bebidas e comem; para isso se toca a Marcha 2e Z)ris.zwe outras obras

correspondentes,semjamais perder de vista o objetivo do encontro: "'z cona'erT.z agrnzZáz,e/ e a z/íz,erf/mr [o". E a esse objetivo principal também a música está naturalmente subordinada; "óem effoZB/Za,eóz /za2afem Ze/ cómodo".Dessemodo o sublime, a arte, tem de servir ao i79

CAPÍTULO X

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO

ínfimo -- assim o vê Kreisler. As lutas de concorrência e autoaflrmação

também fazem parte dasdepressõesque essetipo de convivência social nutre. Olhando de perto, trata-sesemprede ganho e perda, mas em

que ê sag'ado aqueles que não são sensíveis ao que é sugado:'

situações de divertimento. Trabalha-se na sua carreira quando as bilhas

No romance Sfermó/zZ2,de Tieck, também trata-se do motivo do

dos ricos são adestradaspara o canto. E isso é tarefa do pobre Kreisler.

sacramento da arte em oposição à ameaça gerada pela normalidade burguesa. O romance de Tieck parte para a ofensiva e é mesmo uma respostaque serve de compensaçãoao desencantodo sublime artístico

Como músico profissional, ele é um funcionário do interessepelo divertimento e autoencenaçãoburgueses;faz um trabalho que Ihe )é estranhoe no geral é visto como um "fume/foco/np/exame fe i óm/jla A única pessoacom quem o regente se entende é portanto o criado Gottlieb.

Para ele e para si próprio,

grita no final: 'Jogwí?-o#oxa, o ozãola

uniforme de seruentel

pelo pensamento de utilidade burguês. Nessecontexto os românticos forçaram o surgimento da sua religião da arte, para fazer calar suas próprias dúvidas. Na 'küst6tlLaSobre o brado Kasperl e o belo Annerl \Vom brauen Kasperl

A imagem burguesada arte como serviço Kreisler opõe uma meta-

n f

Gluck no conto do mesmonome de E. T. A. Hoffmann, pensandona exigênciade ter de sevender no mercado da arte, declara: ".EuZeZafejo

física que Ihe empresta a dignidade de um sacerdócio. Ele acredita que ü arte &i)ca, o homem apreendeu seu principio superior e o afasta dos fitos

idem scóónem ,4a/zer/], Clemens Brentano faz encenar um escritor que, quando tem de explicar suavocação a uma pessoanormal, seenvergonha de ser escritor. "Emir é z m ie f/mr / ", segundo o narrador, "gaze.zíac.z

tolos e do tumulto da vida comum para o templo de leis, onde a naturez'z

quahuer um que faz negócio com os bens espirituais, com presentes direta-

lbejah

me/zff do céz/."Ê uma vergonha que pressupõe a sensibilidade em relação ao sublime da arte. Mas ainda se torna mais grave, pois o artista começa a

com sons sagrados, jam'zis ouvidos, mas compreensíveis

Em Hloffmann permanecesempreum tom de ironia durante tais confissões enfáticas à ascensãoda arte aos céus. Que possamos nos tor-

suspeitarque sua atividade poderia na verdade seralgo doentio e perverso.

nar inimigos do resto do mundo por causada arte, que o amor à arte

Quando se vê com os olhos de um homem normal, tem a impressão de ser

possamos

esses

um ganso no qual se alimentou um fígado desproporcionalmente grande.

não apenas compreensível como digno de ser colocado

' Todo homem tem, como cérebro, estômago, baço,$gado e coisa semelhantes,

transformar

processos --

em misantropia,

é Rara ele --

que conhece

em questão. Por isso, no seu conto talvez mais Famoso,.4 maf/ óa de Srzz2er/ [Z)aJ .f;]üzz/e/ SrzlZer/] , deixa que o ourives Cardillac

se trans-

também

umcl poesia

no corpo;

quem porém

tzLimenta

demais

a um

desses

membros, dá comida ou engorda e o coloca acima de todos os outros, sim,

forme num assassino.Ele não pode aceitar que suaspeçasem ouro, nas

até o faz, suco fonte de renda, tem de ter vergonha diante ü todo o restoclo

quais investe todo o seu amor e todo o seu conhecimento, estejam em

seu ser.Alguém que vive da poesia perdeu o equilíbrio, e um $gado de ganso

mãos estranhas e em pescoços de estranhos, com pessoasque nada mais

enorme, não importa quão saboroso, pressupõe sempre um ganso doentio:

fazem com elas do que nutrir sua vaidade e fomentar suas aventuras

Em estado de tensão com a normalidade burguesa, pode pois acon-

galantes. Kreisler insulta seu público; em Cardillac isso se transforma num assassinatodo público em grande estilo. Também dessemodo

tecer que os artistas românticos percam a vital conâança em si próprios,

pode-sedecidir o conflito da arte e do artista com o princípio burguês da utilidade; também assim o enfático valor de expressãoda arte pode rebelar-se contra seu valor de troca.

Da perspectivado artista todo o mundo burguês

que comecem a buscar "a z,/2aió#da, ./2rme rm iez/i o efiz'o", como Hegel comenta ironicamente. Mesmo entre os românticos autoconfiantes, a vida artística se põe sempre na defensiva em relação ao espírito de dependência da realidade e da utilidade. E. T. A. Hoffmann conta

com seusprincí-

que ouvira de um empenhado conselheiro comercial que este, depois de

pios de ganho e perda, com o pensamento sobre a utilidade económica e social aparececomo uma esferado não sagrado;eis porque o cavaleiro

ouvir uma sinfonia, perguntara ao seu visivelmente comovido vizinho:

180

181

Meu senhor, e o que issonos prova'"

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO

rl;,b

CAPÍTULO X

Os românticos çiçn

Em E. T. A. HoKmann, por exemplo, todos os cidadãoscomportados

conlplçlaDelue.à.utilidade. Um romântico estáorgulhoso de não sê-lo, e imagina, porém, que, quando estiver mais velho, dificilmente poderá evitar de setransformar num 6ílisteu.A expressão"filisteu" vem da gíria

que não se permitem ser co i/xnnKfZoí representam essatendência para uma identidade sem surpr'sas' Em O caZ2Ze/zúa doz/vaza [GoZ27zrn 7ZU!:H,

estudantil e denominava com desdém os não estudantes ou os estudantes

sãoelesfiguras como o tabelião Heerbrand, que até em sonho procura e acha partes perdidas de dossiês. Eles não conhecem nenhuma vontade

que viviam uma vida burguesanormal, sem liberdadesestudantis.Para os românticos, o "filisteu" setorna o símbolo do homem normal por ex-

de mudar; fazem, no máximo, carreira: uma versão burguesa e banal da

celência, dos quais querem se distinguir. 0 6ilisteu não é todo aquele que

iria aborrecê-los.

gosta do normal, regulamentado-- isto o romântico fará também por vezes--, mas aquele que desacreditaaquilo que é maravilhoso, cheio de

Na obra, o entusiastaAnselmus -- quando por algum tempo "ie íorn.zwm paz/cavazo.íz,r/"e perde a crença no fantástico e na força modificadora da

segredo,e o tenta rebaixar a parâmetros normais. O filisteu é uma pessoa rancorosa, que toma por normal o que é excepcional e tenta diminuir

Eanrasia,passando com isso ao mesmo nível que o filisteu esclarecido --

o que é sublime. Trata-se pois de pessoasque se proíbem o espanto e a admiração. É no círculo dos seushábitos queridos "gz/e eZeíclrfzíZamP.zzn

metamorfose.Também evitam conhecer-se mais profundamente; isso Sentam "no crlíía/",

como é dito no C:z/de/zúo doz/vazo.

é punido pelo arquivista Lindhorst, o mágico príncipe Salamandra, que o aprisiona numa garrafa de cristal. Anselmus se encontra sobre um armário. Para sua surpresa, descobre diversas outras garrafas em torno de si, nas

Seznprr". Não lhes efta apenas fantasia; todo aquele que eles acreditam ter

quais alguns dos seus colegas e outros conhecidos estão encarcerados. Eles

demais dela lhes são suspeitos. Querem apenas continuar a "froíar iaZ're os

meSmaS rr/ZBoí"-- sempre escolhemo caminho do centro. Os românticos

nem notam que estãopresos. "Semrem-ieíúa Óemrm jz/apr/fáo Zr rrÜ/a/ gala /a rz/", diz Anselmus, e seuscompanheiros de infortúnio, que não

também precisam de um centro, mas não é, como o expressaSchleierma-

;oçlem, respondem: " O senhor está mesmo dizendo tolices [. ..Jt,] manca nos

cher, o centro filisteu, "2a goza/nz/ c zse sa -", mas "o z,rz2az/e/o ce fra, gz/e se extrai chs uia.s occênnicas ch entusiasmo F ch energia Quando as pessoas se aventuram no excêntrico, que seja a partir de

fe7zf/mojmeZ»orZa gar zgoxn." Ele então suspira: "-4»... fazei áo iaZ'em a que são a liberdade e a Tida dentro cla crença e do amor; poT issonão sentem cl pressãoda prisão na qual Salamandra os prendeu em consequência de sua

solo firme; melhor olhar da janela, mas f\cando em casae não se dei-

tolice, de seu pensamento ordinário.

xando seduzir por muito tempo para o longínquo. "EZe.zcenoz/P/zrazóm menininho, IE do pequenoessaçofamiliar l Olhou satisfeitopara o campo

O filisteu não sabeque o é. Se soubesse,já teria ultrapassadoseus limites uma vez. Mas todo mundo já não sesuperou algumavez quando ainda não sabia quem era, na infância? Certamente, e por isso é próprio do filisteu que ele esqueçaseussonhos do tempo de infância ou que os traia, enquanto os românticos por sua vez tentam permanecer

ü#oxa" (Eichendorff). Conservar uma distância seguraé decisivo para o filisteu. Uma economia de vida ordenada permite apenas divagações

bem dosadas. Novalis sobre os 6ilisteus: "EZri misfz/xam zpois/a aPenaS :om esforço, porque estão mesmo acostumados a uma certct interrupção do

fiéis a essessonhos; eles interiorizam o aviso mágico do marquês Posa

seu dia .z dia. No geral, essainterrupção ocorre a cada setedia, e po&ria

L X)am ç,axXas'." l)iga o senhor IA el,e, que eLedeve respeitar l Os sonhos

fer penam/nada zzmaJ?óe 2e Sele.poética."A poesia é útil para o filisteu,

la juventude, quandotiver setornado um homem..:'

contento que ela qual uma interrupção rejuvenescedora reconstruo a usual capacidade para o trabalho. Os filisteus são seressem transcen-

O princípio de utilidade que esqueceos sonhosno mundo burguês é um dos motivos para o mal-estar romântico diante da normalidade.

dência, 'fazem fz/Zo peça amar Za z//Za ferrelz ". Querem viver esta vida

Uma outra razão para que os românticos lutem contra a realidade é um

terrena sempre como igual; sua identidade lhes é valiosa; querem, sob

processo que HofFmann denomina '.pezzZa Za .p/uza#2údr". No conto

qualquer hipótese, permanecer previsíveis para si e para os outros

hoffmanniano

182

Esta/Bzz Za zo/z/a [.Bzwwrm/zó/], que se passa na antiga 183

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO

CAPÍTULO X

Berlim do século XVI, encontra-se a observação de que "n.zgz/eZaí+or.Z nossaBerLim era de Longemais divertida e colorida do que agora, onde tudo está caracterimdo pela mesmice, e a gente busca e encontra na própria

sede do Iluminismo,

como um "esp/zfo ZefaZaZo, Zríprou/Zo dela

íajía.-

monotonia cl vontade de se entediüF

A cidade é, no todo, construída beLamente,com ruas muito retiLinease

Friedrich Schlegel descobrena perda da pluralidade o efeito epocal da Revolução Francesa. Ele vê uma "meia/ce rez,o/ cia ár/ " a avançar ameaçadoramente,e a tendênciaseria,escreve,"amzzÜamar/zz#og e

landes praças; aqui e aLI se encontram alamedas de árvores quasesecas

é característico de um Lugar em costumese instituições nas províncias'

Os espaçosretilíneos e delimitados, mesmo quando por fora são generosos,têm o efeito paradoxalde evocar um sentimento de estreiteza.

Eichendorfftambém sequeixa a respeitoda uniformidade: " O uiaÜa fe é tomcLdopoT umü monotonia fatal quando eLe,nã,o importa para onde dirija seu meio de transporte, enconü'a a mesma.Psionomia das cidades e costumes[...] Em uez dessarica pluralidade de formas e tendências Demos

$ f

parque delimitado dos franceses.E. T. A. HofFmann zomba do Iluminismo, quando -- no seu conto Errei [/rrwngen] -- descreveBerlim.

lue, quando o Tentoa soprar sinistramente empurra nuvensde poeira para clPente, deixam tombar tristemente suasfolbas acinzentadas.

'.EhZ'oxa a e5PafoPax?f ázrga", lê-se em E. T. A. HoKmann,

"mesma

J/m

Lerefaz, por causadas pessoas escLclrecichs, terrivelmente estreitopara gente ramo #óf." Isso advém do bato de as regularidades no espaço causaremo

Mas a iguaUade não é uma unichde, esim ex.ztúmenteo que .z impede. Onde anteshavia uma pzzrfirzzZar/jade que resultavade um processo

mesmo efeito que as repetiçõesno tempo- Dosadasde maneira económica, elasproduzem um sentimento de ritmo, estrutura, até de beleza; quando usadasde modo abusivo, porém, deixam sumir todos os mo-

histórico, domina agora a ;goza/2adf.Achim von Arnim começa seu

mentos de surpresa;a impressãoda monotonia e da igualdade das Formas

conto Os ienóores óezzZe/raf[Z)Ze.A#;#arazióerren] , de 1820, com as frases:

se estabelece o que então é experimentadocomo limitação advinda do sempre igual. O espaçoe o tempo geometrizadosse tornam assim a

agora pois apenas uma forma e quase só uma direção principal:

cl militar.

' NósfoLbeamosagIoTaum caLenchrioantigo cqas gravurasa buril espelham algumas tolices do seu tempo. ELeagora jájaz como um mundo de$buLas atrás de nósl ÇglKO.gWpndo era pleno naQueLaépoca.antK} gl11 Tgllbçáo telBPQ..si:.ti11:]29]!:jgl411]..e4zilbulS

com esforço nós kmbramos

táo, e só

que pertencíamos a eLenos nossosprimeiros anos.

imagem aterrorizadora de um Iluminismo

ruim. O mundo espaçoso se

encolhequando a razão (como sabedoriade vida ou como explicação do mundo) torna comum o incomum e previsível o que não se pode prever, e por isso o já citado antiprograma romântico em Novalis: tudo &epen&e àe " dar ao que é usual uma aparência misteriosa, ao conhecido

Nessasdescriçõesfala-sefrequentemente da monotonia e do tédio. O romântico tinha possivelmentea impressãode que era o espírito da

a nobrezct do desconhecido, ao que pode perecer a aparência (b in$nito" .

geometria que impregnava a vida anual.Tieck escreveem OJourm mera'e

acarreta: a consciência do vazio, da desimportância e do nada. Esse tédio

Este é um programa contra a monotonia e contra aquilo que ela

& marcenaria: " A linha Teta,porque eLasempresegueo caminho mais curto,

é a verdadeira ameaça para a geração que rompeu com a antiga crença,

porque eh é tão aguda e determina(h,

que não encontrava satisfação na razão, mas que havia sido motivada

me pareceu a necessidadede expressar

a.pr/me/zaZ'aleproi,z/cúZ# z,ida." Por outro lado, somem as linhas czlrz'm, os enfeites que apontam para "o /n@n/roZolago, 2a dispoljfáo, Zo /amar fê## ", e nas quais as "//:/7n/ías z,/óxafóei" da vida ainda são possíveis. O que não se pode ver claramente, o que é escuro, atrai quando permite digressões e divagações, quando proporciona surpresas e uma "roz!/üiáa encara/,zZoxa"(EichendorH') . Também por causa disso se idealiza a cidade

pela Revolução Francesapara os mais ousados voos da imaginação. O mal-estar diante da normalidade se concentra no medo do tédio. Ele estásempre presente como ameaçanas obras dos românticos. No W7/&amZ,oz,f//de Tieck encontra-se uma descrição marcante desse sew menta. ' O tédio é certamente a tortura do inferno, pois üté agora não

da Idade Média, cheia de ângulos; prefere-se o jardim desordenado ao

onbeci nenhum.z maior; as doresdo corpo e da alma ocu])am o espírito, o infeliz passa o tempo com Lamentações,e sob o emaranhado de ideias

184

185

LIVRO PRIMIEIRO e 0 ROMAN'TISMO

e CAPÍTULO X

tumultuosas as horas passam rapidamente e despercebidas:mas como eu sento aqui a olhar as ambas,ando pel,o quarto parcacima e pctra baixo, para me sentar de novo, es$'Cearas sobrancelhas, e me concentrar em algo, não se sabe em quê; então de nodo oLbctrpela janela, e depois, para variar,

poderjogar-se ao sofá ah... me diga um so$'isento que se igu.zLe a esse Crustáceo que devora o tempo pouco ãpouco, e onde se mede o tempo minuto

por minuto, onü osdias são Longose clshoras tantas, e ü gente, depois de um mês, excl,ama surpreso: meu l)eus, como o tempo éhgaz! Com os românticos começa a carreira do tédio como grande tema

do modernismo.

Kant def\ne o tédio como "máz/sezz Za iz/aprc@r/aedis/éc/ or/ nZa da ausência, no ânimo, de sentimentospara os quais esteseprofeta incessanfemrzzf?". Esta náusea pode se intensiâcar num horror; Kant o chama de

porém dramaticamente no Romantismo. Por quê?

Os românticos haviam passadopela escola da sensibilidade, da filosofia da reflexãoe do culto do eu. Por causadisso, tudo se tornou mais uma experiência do eu do que uma experiência com a realidade. Essa subjetivação

tinha

de ter consequências.

Nas pseudânimas

U7KzUaJ

de Bonaventura o tédio é descrito detalhadamente como a ressacada ouça\lta àa eu." Eu agora tinha parado de pensar em tudo, e pensada ape-

nas a mim mesmo!Não batia nenhum objeto em torno senãoo grande e terrível eu, quese devorada a si mesmo, e quando engolia sempre dada Luz

a $i mesmo.Eu não tombei, pois não batia mais espaço,tampouco parecia leuitaT. A uctriação ba ia desaparecido no mesmo momento que o tempo, e

um tédio horrivelmente eterno e desertodominada. Fora de mim

tentei

horror z,aczz/. Ele evita, como antes Pascal,falar daquele vazio que é conse-

me destruir -- mas permaneci e me senti imortal:' À. te\açâo tomântlca

quência do afastamento de Deus. Se Deus é o sublime, então o vazio que se sente é a sua sombra: o sublime negativo, o nada. No tédio, diz Pascal,

consigo mesmo torna-se quase uma paródia, quando secertifica da sua participação no espírito imortal, desenvolvida aZ zóí rz/am: podemos nos sentir imortais, mas também imortalmente aborrecidos.

o homem sente esse"#.zzúz#o.@/z2azúzizz.za/ma", essevazio. Ele náo o pode suportar "srmP.z/x'2o,iem a//z/!faze, semZZffxnfáo".E assim surgem,

1[

tédio perdeupor algum tempo a suasublimidade depressiva.Isso muda

segundo Pascal, a pressa e o dinamismo

modernos.

Os grandes, escrevepor exemplo Moptesquieu, estão tão envolvidos

Os românticos entediados pela sua consciência começam a ansiar pela inconsciência. "7UZoóá n.zda ma/r e&z,aZono óomrm", lê-se no

com seus jogos de poder e com a tarefa de representar que as .z/gruas zúz

LolieLLde T\e&, " do que o estado de inconsciência; então eLeé .pLiz, e íúo Faze d/zer gz/eef/zíco fe fr." Os românticos sonham com uma

íz/m.zligadas à atividade permanecem inacessíveispara eles. "Szzagrandeza ZBef#orfazie emfe2Z/zr." Ele resume essepensamento laconicamente: Todosos nobres se entediam: uma prova disso é que uáo à caça:' Outros

vida simples, que vibra num ritmo constante. O que geralmente é vivenciado como monotonia aparecede repente como uma felicidade

o expressarammais radicalmente quando declararam: Já que os grandes senhores se entediam, eles fazem guerras. Esse motivo de pensamento

que vê no tédio uma doençaelitista é retomado por Rousseau,em quem por sua vez se inspira Kant: "Opas,o áa ie e fe2fa; eü ó'z'.zz/m/zz/!Za árida [...][,]

a alternância

entre Longo ü'abaLbo e brelie ckscanso é o tem-

longínqua. Hõlderlin: "Z)Zamrr Za fz/.z c.zZ'ana,gz//efo 2 íamózn / elí# sentado o Lavrador;seufogão tua; satisfcLção para o homem fácil de saciar [.. .]]

Os mortais vivem ] da recompensa do trabalho; alternando-se entre

e Êorfo e ra/m,z / nado eiEú zZeKre."Em oposição a isso, o poeta percebe

sua intranquilidade e excitação como defeito: "Por g e z/#czzdorme, pois, l o ferrão no meu peito'

pero do prazer da sua classe. O g'ande castigo dos ricos é o tédio. Em meio

Acredita-sepoder descobrir essasregrasde vida mais levesnos ambien-

a táo váriosdivertimentos caros,em meio a tanta genteque seesforçapor

tes carregados de tradição. As formas de vida novas, modernas, citadinas,

agrack-Los, eles se entendiam até a morte. Passam a vida a .agir do tédio e

se encontrampor outro lado soba suspeitada monotonia e da falta de

ü sedeixar capturar de nodopor ek.

sentido. No romance

Entre Pascal e Kant, pois, começa-se gradualmente, na análise do tédio,

a deixar de incluir a Efta de contato com Deus como tema. O nada do 186

P

ie f/me zza eprese ie ].4ónzznK z/7zZ(;eKemm.zrr]

(1 8 15), de Eichendora. tal vida nas cidades é descrita da seguinte forma: ' certamente o mercado mundiaLcla.s grandes cidaüs

187

[...]é

o mais Chato espe]bo

LIVRO PRIMEIRO

+ O ROMAN'TISMO

CAPÍTULO X

do seutempo.Elesprenderam a energiaantiga, po&rosa, em suasmáquinas

Os românticos ouviram essaroda eff o adia Zo /e/nPO.Elesinven-

e rodas, para que eLacorra mais e mais rapidamente; então a Tida pobre das

taram constelações e pessoasque permitiam que se adentrasseo grande

.Maricas estendena cama secaseustapetes orgulhosos, cqo versosão super$cies

vazio onde se ouvia o rumor original da existência; eles fixaram mo-

abjetm, semjorra zs,semcor[.. .] o comum e o grandioso,jogadosuiokntamente

mentos nos quais nada mais ia adiante, nos quais nenhum conteúdo oriundo do mundo -- no qual sepossaagarrar ou sepossasentir -- era

um contra o ouü'o, se transformctmaqui em palavra e golpe; a F'aquela se torna atreuick por causa do grande número; o superior luta sozinho:

cipam asimagens aterrorizadoras da "rapidez louca" que virá no século XX.

colocado à disposição; momentos do passarvazio do tempo, o tempo apenas'sua presença pura porque ele não quer passar,porque não se podia Eazê-lopassar,não se podiaprre/zcóé-ZoZr modoirai.z/o. As descrições mais importantes não são apenaspsicológicas, mas metafísicas,pois elas

A descrição romântica mais impressionante do passardo tempo vazio

mostram que quando não sabemoso que fazer, a consequênciaé que

A cidade aparececomo uma movimentação vazia do tempo e, assim, como o tédio transformado em pedra. Dessamaneira os românticos ante-

não se relaciona à cidade; ela nos transporta para um meio simbólico e de conto de fada. Trata-se de Z-/mconto 2e#n2a#a /úsf/co Zo Or/ente

o nada é que faz algo conosco. Então se teme

(Levante) sobre um santo nu \Ein wun&rbares MorgenLãndiscbes Mãrcben

Como é que nos salvamosdessenada sugestivo e que passaem branco;como saímosdo desertodo tédio?

z,om e//zemn.zr&fe /7e// g?#], texto de Wackenroder.O santo do conto de dadaspuxe sem cessarcoma a" roda do tempotoma seuimpulso sibilante' ,

conto de Wackenroder

como o i.zmfonz/ no

ter de ouvir o tempo todo o correr em branco.

Novalis sugerea arte de estimular o espírito, sua técnica da romantiza-

e por isso tem de sempredesenvolveros movimentos enérgicosde uma

ção, o que significa, basicamente, se exaltar. Como gênio da autossugestão,

pessoa "gwe ie e #orFa.por g/rar z/m.z rozúz /mania". Esse santo nu torna

ele estavaprovido de meios significativos para tal. Q.uando queria morrer

completamente evidente o conceito da sociedade trabalhadora moderna:

depois de sua Sophie quase teve sucesso, ainda vivo, em fincar pé no além.

não se trata mais dos resultados,do produto, mas sim do próprio processode trabalho; tudo tem de ser útil a ele o consumo, o emprego

Nem todo romântico conseguiutais proezas.Mas eram unânimesem relação

do capital, a destruição produtiva. Estar ocupado é tudo. Quem sai do

vez ajudariam. Assim setorna aospoucos claro contra o que os românticos lutam quando defendem o segredo;contra o perigo do niilismo moderno.

movimento sibilante do processode trabalho sai do mundo. Tão pouco quanto o santo nu que gira a imensa roda podemos nos perguntar em

a que, contra o deserto do desencanto, apenasos segredosmágicos mais uma

relação ao processo de trabalho: para que tudo isso?Como o santo, temos

Por um longo tempo, o segredo não precisou de nenhuma defesa especial.Enquanto a pesquisaempírica do mundo exterior ainda não

de atentar para que ajudemos "a moz,/menfoPr

estavamuito desenvolvida, estávamosmesmo embrulhados naquilo que

/f/ro com rodo a e #nrfo 2o

corpo, para que o tempo não corra o perigo, ainda quepor um momento, &

não se pode explicar, na escuridão, no numinoso. Enquanto os sistemas

Bazar". O crítico da cultura, porém, que está ao lado, a conversar e a olhar

de garantia do saber,da técnica e da ciência ainda são rudimentares,

criticamente, só pode sersuportado em termos por estesanto político da ocupaçã.a\ ele " esbrauejaua qu'indo uia que osperegrinos que iam ter com

trata-seem primeiro lugar de desvendaro mistério tanto quanto possível, principalmente porém de tornar de algum modo favorável para

ele$cauam parados, quietos,.z olha-lo, ou de uez em quando saíam para

si o misterioso que advém do divino. Quando as sociedades modernas

conversar entre si. Ek tremia de veemência e mostrava-lhes o gi ar inevitável

também estavamenvolvidose pelo qual também eram movimentados.ELe

começam a fornecer mais segurança, a ligação com o religioso se torna naturalmente mais fraca. Apenas aí é que surge a necessidadede se depender o mistério, pela simples razão de que ele não é mais tão ameaçador. Nessa situação, é outra coisa que se torna ameaçadora: os sentimentos

osempurrada pctrctLongequando eles,cacos, seaproximavam dele demais.

de falta de sentido e o tédio diante da vida pretensamente esclarecida,

da eterna roda, o passardo tempo monótono, em caünciü. ELerangia os dentespara que elesnada sentissemou percebessemdo mecanismo no qual

188

189

LIVRO PRIMEIRO © O ROMAN'TISMO

(:APÍTULO

XI

asseguradae regulamentada. Depois disso, não mais é necessárioum deus da segurança, e sim um deus contra o tédio. Essedeus contra o tédio é o deus romântico. Os românticos necessitam de um deus estético. Não tanto um deus que ajude e proteja e que

fundamente a moral, mas um que envolva o mundo mais uma vez em mistério. SÓassim se pode evitar o grandebocejo diante de um mundo desencantado até o niilismo. Os românticos -- e isso Eaza sua modernidade -- eram artistas metafísicosda diversão de uma maneira muito exigente, pois sabiam muito bem que só aquelesque correm o perigo de

Novos começos e fracassos românticos. Eichendorff: um novo

início. Canto de sereias. Confiança em Deus. À janela. Os l)getas e seus pares. Poesia da vida. Ironia devota. O inútil

como louco de Crista. E.T. A. Hoffmann: com mão leve Sem raízes.O jogador. A estéticado horror. O paraíso

eo

inferno -- ficam bem ao lado. A princesa Brambilla e o grande riso. Um fantasista cético.

tombar precisam ser distraídos, ou melhor, mantidos embaixo. :s Assim é que os românticos se viam como prestesa cair; e isso os torna nossos

J. f

contemporâneos.A consciência anterior ao modernismo não podia imaginar-se tombando para fora do mundo. Sempre havia algum além. SÓo modernismo se vê, sem garantias, confrontado com o infinito; ele

não se sente mais automaticamente carregado por um cosmo amplamente provido de sentido. A imensidão dos espaçosnos quais é possível se perder como um átomo; o rumor do tempo; a indiferença da matéria em relação a nossa consciência em busca de um sentido; os mecanismos

anónimos da vida em sociedade

tudo isso oferecepouco apoio, e po-

deria paralisar alguém ou deixa-lo tombar no desesperose não se Ihe opor

algo. No cotidiano, são o trabalho e os hábitos que limitam o olhar, e com isso o protegem. Isso é muito pouco para os românticos; elesopõem ao tédio ameaçador a bela confusão que eleschamam de "romantização". Mas o Romantismo irónico sabetambém: a romantizaçãoé um encantamento gerado pelo irreal. E por isso o Romantismo, lá onde ele é

mais romântico, revelaseusegredode trabalho -- e!!Sjrânjlg...!S!!pg.!S.. O poema 7Vo/fe2r /zza[Manz/nózcó]de Eichendorff assim começa: Era comose o céu tivessel Beijado silenciosamentea terra l oue tivera de sonhar com eLaapenas / No brilho dasjoLbas." V. \etnúna\

"E minha alma

abriu l amplamente üs suas asas,l Voou pelas terras traí guitas l Como se ooa,sse'>a,'ra,ca,sa,.

Quando a realidade assume a aparência de um pequeno teatro, como Tieck EazWilliam Lovell escrever,então os românticos têm uma ideia: eles buscam o segredo, aquele sentimento

que nos "/znpz/A/ama

P zn regÍÓe522sía/ZÍZKe deita óec/zZz "; nesse contexto é possível darmos

um passoerrado, ou, como Lovell, seguirmosas promessasde uma sociedade secretae funesta, perdendo assim a liberdade e nos tornando uma marionete mecânica para manipuladores obscuros. Os românticos conheciam muito bem os perigos dessa atração pelo segredo. Mesmo assim, se protegiam da outra tentação, a de seguir um realismo barato

e de sesentir em casanum mundo que seprescreveuma utilidade sem fantasia e torna suspeitos homens com talento para a transcendência e para a imaginação Nossos pensamentos, dúvidas e cálculos

"gz/ezó's-

Hoem tudo e ao mesmo tempo atravessam um vazio imenso, por uma terra

gz/eeá'smesmos2ePoz,param" precisam, se o deserto não deve crescer, deixar surgir aquele sentimento "gz/e rz/Zr/z,ea ZTJerroáÓzzdanado" 'Equ Opiniões do gatoMun'

\Lebensansichten lüs KaterMunA,

de V.. T. À..

Hoffmann, há um episódio no qual é contado como Kreisler certavez, no jardim, extremamente assustado,acredita ter visto seu sósia. Quando ele porém percebe que a aparição é apenas o efeito de um espelho escondido, .e \.[fvta " como todo aquele que uê ofantástico no quaLacreditou impor água abaixo. Ao homem

13

O jogo de palavrascom unferóz/if/z (divertir) e zi/crer-gela/ren (mantido embaixo)

mais aguada o mais profundo

perde-se na tradução. [N.T.]

190

terror ü

que a expLic'zção

naturciLdaquiLo que Lheparecefantasma@rico; eLenão quer mesmoseajeitar com estemuncto F... l 191

CAPÍTULO XI

LIVRO PRIMEIRO © O ROMAN'TISMO

E assim partem, pelo menos na literatura, essesartistas românticos, sonhadores, peregrinos e inúteis, em busca do promissor segredo, ouvindo

com saudadea corneta,quando a az/zona Soprarm cZ'.zm.zi e o sol sobe no horizonte, quando a distância atrai com as suas noites mágicasde

Os horizontes promissores para os quais se parte podem também enganar.O motivo das sereiasestá presenteem toda a literatura romântica. No poema I'vagem Ze/Pr/m.zz,ezn [Früó// g:#aór/] , Eichendorff mede a dimensão dos movimentos de partida: "Z)oir czzm.zxn2ai roóz/i/OJ

luar, com seus jardins enfeitiçados, com suas angulosas cidades boas

Irei)param pela primeira uez a casa, lforam

de contemplar, de cujas casasa fumaça sobe e onde aspesco's se sentam à

/ ianoznf 2a .Pr/mózz/eraP&'n/z [...]" A busca do primeiro

noite diante da porta ou em volta de uma tília, onde os castelossaúdam as montanhas e onde as fontes murmuram.

".4 gz/rm Z)ez/i gz/er#azer 'z/Ka

em illLbil,o lpeLas ondas claras, não vai ]onge:

ELeencontrou uma amante l Ossogroscompram uma propriedade e uma casa;dELelogoestauctbalas çando um menininho IE olhava, da casafami-

de verdadeiramente bom l (bue o mande para o mundo vasto, IE a el,emos-

//a7; / com prazer.P'zzn o c4zmPOZZJorn." O segundo, porém, é exigente,

trará seusmilagres/ Em montanha e floresta e correnteza e cama'" , escreve

seu desejo é mais ilimitado e não é passível de ser saciado com aquilo

Eichendorff num poema. Em O#erd/agemHeinrich passaapuros depois

que a realidade

que sonha com a flor azul. Ele quer evitar o destino do seu pai, que pros'

nas profundems, l Sereiassedutoras, e o puxar'lm IÀs ondas que montam

n..

segue em seu trabalho, resignado e sem desejo. Parte para uma viagem ao

t

imprevisível. Quando Ihe perguntavam para onde estavaindo, respondia: re/nprepara czzi#".É o lar maior, infinito, que ele busca, e Novalis queria deixar que o encontrasse talvez no quinto ou sexto volume do romance,

l do cubismoa cantar em cores.ll E quctndo eLese ergue do abismo, l Está cansadoe velho, l Seu navio tombara à pTofuncieza;l Em torno dele tudo

f

t.

planejado como um vastociclo. Mas elemorreu semtermina-lo. E assim o romance permaneceu como um busto do despertar romântico. 0 6im precoce do despertar também pode se dar de maneira diferente. No romance Oí poe/ai r iez/sP ref [Z)jcÓfer z/ z/ /óre GeseZZen], de EichendorK. Fortunato anima seu colega Wdter -- que nesseínterim se tornara sedentário -- a ir-se com ele, masestejá seRixana próxima etapa,

oferece;

para ele "cz

faz,am e me fiam

/.,4s m// z,ozef

está quieto l e sobre a água venta frio.

E, mesmo assim, não há advertência a respeito de excessos,o irrompimento não é denunciado como por um filisteu, mas os riscos tam-

pouco sãonegados.Partir é estarvivo; tem-se de arriscara partida. Todo o resto é atribuído à crença em [)eus: "Ca/zzam e ia.zm .zf andai / 2a primavera bem sobre mim; IE quando vejo companbeiTos tão ousados IAs

Lágrimasme enchem os olhos IAb Deus, conduza-nosdocementea ti!" Nem todos os românticos possuíam essaconfiança quaseinfantil em

numa relaçãoconjugal que serve de porto e proíbe qualquer continuação

Deus. Isto é o particular em EichendorK. Ele permaneceuíntimo do seu

da viagem. O romance é um verdadeiro compêndio de começos e de interrupções alegres, resignadas,desesperadase violentas. Vector, a figura

deus desde a infância; é o deus das florestas da sua pátria, nenhum deus

familiar e também um pouco estranha do romance, representa a maior corça

pode-se reencontra-lo quando se permanece Rel aos sonhos da infância. sob a proteção dessedeus pode-se ser devoto e ousado, cheio de saudades de casae de vontade de partir para longe, ao mesmo tempo livre e atado;

impulsionadora. Ele simplesmente não pode ser detido, é um virtuoso da despedida,para ele a alvorada jamais termina; não é surpreendente pois que no final ele se tenha dedicado a uma pátria fora da terra, à qual quer servir no mundo. E assim ele parte mais uma vez; os outros 6lcam para

da especulação e da filosofia. É um deus que não se precisainventar;

talvez livre porque preso.Assim era com Eichendorff.

trás; mais uma vez uma grandiosa vista de uma paisagem, como poderia

Suas amarras mostram-se na preferência pelo motivo da janela. Não apenasos filisteus olham para fora de espaçosfamiliares. Também

ter sido pintada por Caspar David Friedrich. Então Vector desaparecee o

aquele que está tomado pela saudade olha pela janela e ouve os pere

romance acaba com os versos curiosos: ".Mís z'zzwoJco/ZJcjr [emrnfe à z/«z'Zla,

grinos cantarem antes da partida que leva a um espaçolongínquo no qual, por sua vez, em "folhagens escuras", moças "escutam à janela" e olham para uma longinquidade mais distante ainda. As janelas abrem

l Quão rápido não uem a noite eterna le apaga o espl,endortias terras, l Tu, mundo belo, toma cuidados 192

193

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO CAPÍTULO XI

o olhar para janelas abertas, fugas de imagens até o imprevisível, e quem,

em terra calma, ouve a corneta que chama para a partida, quer sumir em tais imagens. Mas ele permanece à janela. Por quê? THvez porque com

a janela isso não tenha fim, sempre sobra uma distância, o que não é motivo para continuar sentado quando a corneta soa. ".4ijane&zi eParzas estão abertas, / [. . .]Aqui tenho de sentir:/Amor,

nenhuma resistência buda, / No 1@ndodo coração uich maravilhosa, /Mais uma uez queresme seduzirá"

O poema U:agem oz,a[FriscóeEa»rr] é sobre o cantar sedutor das sereias;com ele Eichendorff abre a coletânea tardia da sua lírica, como se quisesse assim pedir desculpas de antemão por alguma timidez e XngenxÚ&a&e." Vento mOrnO jorra azul, l PrimaueTa, primavera deve ser11 O som das cornetas é atirado em direção à$oresta,/

n.. f

Brilho singelo de olhos

corajosos;l E ü conHsão mctis e mais colorida l se torna um rio mágico e selvagem; l Para o mundo bel,o lá embcti)çol Lbe atrai ü saudaçã,o essa

correnteza. lIE não quero me proteger! 1 0 Tento me leda pctra bem Longe

& uósl (queronavegar na correntezaIBeato e cegopel,obrilho! IMil

vozes

soam sedutoras, IA aurora sopra em chamas l Vai1INão quere eu perguntar, l onde a Viagem chega üo $m!

Esse poema dá continuidade à tradição das grandes partidas e errâncias que começa com a Odisseia e com o mito dos Argonautas, e

prosseguenas histórias da Na Zoi / se iafai da Idade Média e no holandês voador, até o início dos tempos modernos. Os românticos fazem dela a viagem sem chegada e sem destino, a viagem infinita portanto, e Rimbaud darácontinuidade a elacom seuO ó.arcoébrio. Essasviagens sem Gimsão inspiradas em Dioniso, e é surpreendente que EichendorK. que vivia de maneira conservadora, tenha escrito um dos mais belos poemas sobre a libertação romântica. A devoção ao destino de viagem adiado para sempre equivale a concordar com que o fazer sentido seja também adiado indefinidamente. EichendorH'não é um poeta da pátria, mas um poeta da saudadeda pátria, não um poeta do momento pleno, mas da ânsia, não da chegada,mas da partida. Eichendorff. nascido em 1788, cresceu nas propriedades da família na Alta Silésia.Viveu ali uma infância tão bela que jamais deveria ter sido expulso dela. Mas isso naturalmente aconteceu. O pai fez más especula-

ções,os bensforam perdidos; o novo mercado de capitais em ascensão

se transformou numa desgraçapara ele, e Eichendorff. a partir daí, teve de se afirmar na vida burguesa como funcionário prussiano. Nas guerras de libertação contra Napoleão estava nas milícias de Lützow, e tem-se a impressão de que ele nada mais defende ali do que o mundo

da sua infância e juventude submerso nas florestas da Alta Silésia. ' õ campos Longínquos, ó alturas, IÓ bela, perde$oresta, l Tu, meu desejo

e minhas doresl Local de devoção!l Lá fora, sempreenganadol uaa,o mundo ocupado, l espalhemais uma vez o arco l em torno de mim, tu, moraáú vende.

Afinal ele compreende -- e por isso permanece conservador,sem se

tornar reacionário-- que o passadosó se deixa salvar na memóriada poesia. Não são mais os verdadeiros lugares da infância que guardamos, mas a maneira de experimentar as coisas associada a esseslugares. ".Eb oz/fa

os riachos a cantar l Na $orestcipara tá e para c(i, l No rumor da ÍLoTestal E%não sei onde estou.

O barão empobrecido, conselheiro do governo prussiano, evoca uma paisagem da pátria que jamais existiu assim, mas que sempre pode

voltar a nascerpela palavra.Uma paisagemque não está registradaa não ser no alias da poesia. Qual a relação da poesia com a realidade, onde ela possui seu lugar legítimo na sociedade?Essa pergunta já havia ocupado o jovem nobre, que evitou fazer da sua poesia uma profissão, isto é, um trabalho burguês. ' Oiogo da poesia não me basta. l)eus me deixe realizaraLgo certo" , ana\au

ele no seu tempo de estudante em Viena, quando escreviao romance Preiie f/mezzfoe.prí'fe/z/e.Eichendorff refjete em bom estilo romântico sobre o sentido da poesia, mas suas respostasnão são tão evidentes quanto as dos primeiros românticos que perseguiam o projeto da.poesia z/a/z,ers,zZ,

querendo, portanto, com a ajuda do espírito poético, modificar a vida inteira. OJoga 2ú .poeira /záo me Z'/ziza

esta frase valerá também para

o EichendorH'idoso, que com seu último romance Oí.poe/'zie iezíi .p'zref coloca no centro a questão do significado da poesiapara a vida individual e em sociedade. Então Eazaparecer uma série de poetas, e alguns que se tinham por tais. Lá está o conde Vector von Hohenstein, um poeta ilustre e reconhecido por todos, para quem a poesia, no auge da sua fama, se torna suspeita como pura aparência e por isso se mistura,

194 195

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO

CAPÍTULO XI

com autoironia mordaz, aosatores. Então se torna eremita e no final luta

escreverpoemcts na fbresta l Uma canção de herói cheia de brilho, ll Histó-

ativamente pela expansão do cristianismo

rias complicadas IPensadas mesmo bela e engenbosamente, IEntão ardores

de um poeta do espírito

setransforma num membro da Igreja. O cristianismo se torna para ele uma espéciede poesia que existe verdadeiramente. Essaideia não Ihe era estranha, mesmo se aí a tensão entre a poesia e a vida Ihe parecesse

''t;'

=.,'-

n.. f

Confusamente aqui e aLI. IE deixei sair do peito nodo dALguns suspiros, Imãs de todos osheróis Incida sePxou. ll Quando volto à cidade l Gelado

resolvida de modo fácil demais. Por isso ele dá uma feição de lenda ao desaparecimentode Victor.

do campo e das $orestas, IAÍ

O antagonista de Vector é Dryander, um profissional da encenação que não é atormentado por nenhuma dúvida quanto a si mesmo. Ele eazmuito barulho por nada. As pessoasdeixam que banque um artista do divertimento e um criador de efeitos; ele estásatisfeito com isso,

antiga saudadeIAcorda no coração,a construir; l Parte o inverno neste

não exigindo mais. É o / /eresí.zmre, o que prende a atenção por pouco

tempo- Então, passa-seà ordem do dia, Dryander tem de ter outras ideias novas. A poesia nada mais é para ele do que a arte de chamar a

\

t.

sussurravam, l Carregos pularam paracádarocha IE milvozes soaram l

atenção por um tempo limitado. Ele não é apresentado com desdém,

todas as canções uêm l l)e Longe; através da

confusão do maneio l Ecoam desejo e dor amais uma uez, devagar IE a {nterim IA lor

no campo JEntão surge, como efeito do tédi.o l Um poema

demasiadamente Longo! A poesia chega sempre ou cedo ou tarde demais; um presente forte e

vivo ocupa seulugar. E é bom que seja assim,crê EichendorÜ primeiro se tem de descobrir a poesia na vida, antes de aprisiona-la no mundo das palavras.Mas ele também sabeque é a fiigacidade que oferece,sem cessar, novo a menta h.Does\a.. " Um cortqojestiuo subiu a montanha, /Eu ouvi os pássarostombarem, IMuitos cavalheiros briLbctram, clcorneta soou,Irai uma

masironia. E um jogador, não mais que isso, mastambém não menos; por que a crítica teria de se dar um rosto muito sério... Oito estálá, aquele que, ignorando a sabedoria de vida e o trabalho,

ü reclondem, IA Ítoresta murmura apenas das montanhas IE na fundo do

persegueem toda parte suaambição poética e a quem, finalmente, o

wí'zí caxafáa ef/ emefo." O fugidio ganha forma na poesia, e ela permanece.

mundo das palavras separa da vida real, com a consequência de que esta

E o milagre da poesia que nela permaneça aquilo que de outro modo não

vida real primeiro zomba dele, depois o deixa fracassarterrivelmente no trabalho e no amor.

pode perdurar.

Fortunato, poeta e ao mesmo tempo artista da vida, é aquele que seaproxima mais da imagem defendida por Eichendorff. Certa manhã ele se põe a escrever uma novela. "Mas eZese se fe cifra/zÃo. O uemfa

caça diuertida1IEantes

que eu percebesse, tudo havia acabado, IA noite cobre

EichendorH' se considerava um poeta de ocasião, no sentido especial que também Goethe havia reclamado para si. Poetasquando chegaa hora, nas grandes ocasiões, nos momentos de criação que geralmente são raros.

Os negóciosoficiais como ser conselheiro do governo em Kõnigsberg, Danzig e finalmente em Berlim não podiam de modo algum ser preju-

brincalhão da, manhã ioga sucos folhas it grama, onde as galinhas brigam por ehs; atrás dek porém oscumescantam suü melodia muito antiga, que não combina com nenhuma RoDeLa; ospássarosch $orestü cantam em meio

princípios conservadores.Ele estavalonge de ser presunçosoou de se

a isso notas completamente estranhas e nuvens Doam por cima da terra e

fazer de importante; não achava que os seus negócios oficiais eram uma

g'liam

missão especial; guardava com relação a isso uma distância irónica. Em

parti eLe: homem, não seja Louco! E até o funcionário

dos serviços

$orestais saiu à caça... então elejogou segurode si a pena e o papeLfora e montou em seu cavalo, saindo também para a manhã $'isca, brilhante:

dicados. Eichendorff

os realizava com afinco, com entrega pessoal e

Os .poe/ai e sez/f.P/ires, deixa que Fortunato

diga para Walter, que está

estável num posto e é respeitado: "S/m, }á.pemíe/ z,ár/as z'ezí?ino pozgz/ê

é de qual-

do tenro amor ck tantas pessoaspel'asjünçõeso$ciais [...]Eu temo que na

quer modo mais corte do que a poesiacomo estános livros. Fortunato

maioria del,asseja a atração do coviforto de, sem ideias e sem esforçosespe-

viveu um momento poético, depois tentou 6Ká-lo num poema: "-Ebgwer/a

ciais, trabalhar energicamentedando um grande espet(óculo; a satisfaçãode

196

197

A poesia da vida -- isso é o que esta cena deve mostrar

LIVRO PRIMEIRO

CAPÍTULO XI

+ O ROMAN'TISMO

concluir algo redondo ü quasetoda hora -- enquanto a arte e a$ ciências

jamcúsestãoprontas na face da terra; sim, até cl eternidade não seprevê umPnaLpara

elas:

Aquilo que valia para as funções oficiais não devia valer menos para a poesia. No poema O /selar/mm [Z)er /segrimm], e]e zomba da supervaLa\h.2.çâQ&e a.n\bas'." Devorar pastas de documentos a noite, l Falar com

a Linguagemmundana l EfazeT balançar a günde roda l Como um boi; isso eu também posso.Imãs ücreditav que o sctqueadoTl Não seria um saqueador, l mas sim um mihgve supevuaLioso, l Isso eu nunca conseguia. ll

Mas enganar os outros, IA respeito de queeu, com a minha pena IPoderia fazer ruir o mundo qu,ebrüdiço, IMe pareceu sempre coisa de Louco:'

$.. f

O que poderia finalmente relativizar tanto o trabalho do poeta quanto o do burguês era, para EichendorÜ a crença religiosa. Ele era de Cacouma

pessoacrente, e isto absolutamente sem a exaltaçãoromântica da qual Friedrich Schlegel, Brentano ou Gõrres não estavam livres nos anos tardios. Esta devoção simples ".dó, Z)ez/i.rZ,rz'r-/zoicar/ óoi zmr z/e zzf/.r" dá a impressãopara algunsde que Eichendorffseria mais uma figura do ó/e2erme/er''do que propriamenteum romântico. Não se apostava ne[e de modo a]gum em O /mzZf//[ZauKe/z/cózs]. Os que o conheciam melhor não achavam mais surpreendente que essehomem devoto pudesse ter escrito a história genial do anarquista poético, sonhador, que se recusava a trabalhar e passeavapelas terras, negando-se a aceitar qualquer ordem burguesa.Pois o inútil, por confiança em Deus, "apos-

fazzao nada". Paraele vale também: "Comecea z,/agem.r Ea áo g era prrgz/miar / Ozz2e.z z,//zgrmrÓegazza.Pm/" Ele não se preserva, mas é

preservado.Filho de um moleiro, se revoltacontra a imposiçãodo trabalho, se permite prazeres,impressões,relaçõesamorosasfugidias; um Papageno com violino. Por pouco tempo se torna sedentário como fiscal

de impostos; lá estáelesentado com um pijama vermelho com bolinhas amarelas,fumando seu cachimbo e deixando as pessoasseguirem seu 14. Assim denomina-seo período de 1815 (Congressode Viena) até 1848 (início da revolução burguesa) nos Estadosdo Reino Alemão e do Reino Austríaco. Aqui, ele se relaciona tanto com a cultura própria aos burgueses daquela época (na música, nos

lares, na decoração de interiores e também na moda) quanto com a sua literatura. Ambos são considerados conservadores. [N.T.]

198

canil.Ilha. "Eu joguei fora as batatas e awtras uerdwrasque encontrei no meu pequeno jardim, e cultiuei-o todo com as Botes mais extraordinárias.

Mas então suas botas de viajante começam a formigar; além disso, ele está apaixonado. E assim parte mais uma vez, sem destino, monta em carruagens, pega carona e é jardineiro de damas da nobreza, deixa-se levar por cavalheiros mascarados naturalmente rumo à Itália e acha

seudestino finalmente, com suaamada, num casteloque Ihe é presenteado. As vezes, é assaltado pela angústia: "0 mz/n2o mep.zrerZ.z 2r rede fe

tão terrivelmentedistante e grande, e eu tão completamentesozinhonele, qae queria ter cborctdodoj\Indo do meu coração" V\e abana-Q xtç:hna, alguns toques, um giro na dança, e a leviandade o tem de novo. Sem a música, a vida seria talvez mesmo um erro. Enquanto ela soa nada se tem

a temer.

A narrativa

é concluída

com

a frase:

"Z)e gang? .z mzZsic.z

ecoava sempre, e bolas laminas'LS Doaram do castelo através da noite tran-

quila por sobre os jardins, e o l)anübio

tudo isso

murmura,ucl ruidosamente entre

e tudo, tudo estadabem!"

Eichendorff se deu a liberdade do louco, não porque ele era poeta, mas porque era devoto. O inútil é um louco em Cristo. Uma ironia devota envolve tudo que se toma por demasiado importante, e o trans-

porta para um estadointermediário do "como se" -- a poesiacomo também a vida burguesa.

SeEichendorffera um romântico do "como se", E. T. A. Hoffmann o era num sentido mais radical ainda, porque tinha de se arranjar sem uma crença religiosa. Diferentemente de EichendoÜ Hoümann não teve

a sorte de uma infância idílica que pudesseIhe fornecer o assunto para seus sonhos e fantasias românticos. Cresceu sem pai num lar pedante e burguês em Kõnigsberg, cercado de tios e tias e avós que atentavam

para o dever, os bons modos e a pontualidade, mas que não podiam oferecermuito do ponto de vista intelectual. O jovem sonha com a vida de artista, escreveromances para a gaveta,compõe. Sem vontade, mas obediente, ele segueo caminho que, segundo o desejoda família, o leva ao ganha-pão como jurista, feliz apenas com suasfantasias de erupção artística. Ele se torna jurista, até mesmo brilhante, e trabalha como conselheiro do governo em Posei (Poznan), Varsóvia e finalmente

no Tribunal Superior de Justiça de Berlim. Após a queda da Prússia, 199

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO

CAPÍTULO XI

aventura-se como regente de música em Bamberg, Dresden e Leipzig.

que chamava Hoffmann

Fora esseinterlúdio, HoRmann 6oi compositor, pintor e escritor apenas nas

czzilear a z,/Za ##m.z czzi4 Ze z,i/zóai". O burocrata

horas vagas, e precisou aguardar muito tempo pelo sucesso. Tem 27 anos

estavade todo errado: HofFmann não queria ter de abdicar dos paraísos artificiais da embriaguez, e seu famoso conto de fadas O czz/zZe/xüo Zaz/-

quando, em 1809, pela primeira vez aparecealgo impresso da sua autoria:

não

literária fala dele. Logo se o apelida de "o fantasma HoKmann". Torna-se a estrela dos livros de bolso para mulheres. Seus dias e noites nos arredores

muita consciência, mas quase sempre com a levezado que é feito para-

do Mercado dos Gendarmes[Gendarmenmarket] em Ber]im têm início.

lelamente; o peso todo não estava nisso.A famosa narrativa O comem de

Vai-se até a loja de vinhos Lutter und Wegner para ver ali o pequeno gnomo com traços faciais inquietos, sentado e bebendo na constante companhia do açor Devrient. Eles atiram suas ideias um para o outro, misturam seriedadee jogo, ironizam e imitam as pessoase a si mesmos,

princípios do Estado de direito contra seussuperiores, e até acarretou para

are/.z[Z)erSa z/man#] foi estruturada por e]e durante um dos monótonosencontros no Tribunal Superior de Justiça de Berlim. Ele podia Fazer muitas coisas ao mesmo tempo e olhar a realidade com diversos olhos. Apenas assim, com riqueza de perspectiva e fantasia, se pode perceber a realidade,que é realmente mais fantástica do que qualquer fantasia. Uma das suas últimas narrativas, .4 Ja/zeZúZo mez/.Pr/mo [.Z)efU?abri Ecêe/:#?sferl, nos leva aos aposentos de um escritor paralisado, a quem só sobra olhar através da janela para a confusão colorida do mercado. "Mas fria /reza",explica elea um visitante totalmente saudávelque quer

si uma medida disciplinar. HoKmann é famoso, para alguns de má fama.

aprender com o moribundo,

massa acumulada de fantasias musicais e literárias irrompe. Agora não há mais parada. Passam-seapenas algumas semanas e toda a Alemanha

$. f

mal-intencionado

fado levará o cálice de licor para o espaçosagradoda literatura. Se houve alguém que realmente chegou perto do ideal romântico do jogador, na vida como na obra, essefoi Hoffmann. O que ele fazia -- escrever,as incumbências oficiais, a composição acontecia com

o Caz,/zZBriraG/zzcÉ ].R/aer G/wr,ê]. Ele está no meio dos trinta quando a

+":

de "aóe // a g e /zaóaZ%az,.zpr/[email protected]/mr/zfe.para

fazem confissões, consolam, exibem seus fantasmas noturnos. Os contos de

HoKmann tiveram suaestreianasnoites com Devrient. Como conselheiro do Tribunal Superior de Justiça, ele é altamente respeitado, pois durante as "perseguiçõesaos demagogos"após 1817 defendera ferrenhamente os

"mai es/a /rezaé mez/ co cozo,ízgzi/ a z,!2ú em

Um outro desejoserealiza:finalmente ele tem sucessocomo compositor.

coresse abriu noaiamente, e eu me sinto amigo da sua anui(hde

Sua ópera C/nZlzzeé encenada em Berlim. Mas ela só é apresentada oito

para. Vem,primo, olhepara fora!

vezesali; acontece então um incêndio na ópera, os cenários de Schinkel sãodestruídos. Uma história que podia ter sido inventada por HofFmann. No augeda fama, esfregasurpreso os olhos. Então foi isso?Ele continua,

Em Eichendorffse olha da janela para o longínquo imprevisível. Em Hoffmann olha-se também para o que está perto, que se transforma no que está longe. Mas temos de estar dispostos a nos deixar surpreender;

mastem de tomar mais vinho. Ama a vida e morre sob protesto. Lê-se em .4 .p7//frei,z .Brumói/Za [Pr/zeiiin .Bramóí/Za], aque]e conto

temosde nos despedirde preconceitose do hábito de ver as coisasde uma determinada maneira, pois isso limita o campo de visão e torna o comum verdadeiramente usual. Uma vez Hoffmann descobre,através

que jamais

de fada fantástico com desejocarnavalesco:".MzZú.í ma/i e fedia fr 2a que, arraigado no chão, ter de responderpoT todo olhar, por toda ftILa!" Não era arrnilga2ona literatura, nem na procissãode jurista, nem como compositor e nem como pintor. O preço que Hoffmann pagou: não era levado completamente a sério em lugar algum. Compensou a si mesmonão levando, por suavez, nada totalmente a sério. As altas autoridades o viam com maus olhos por causa disso. Goethe o tinha tão pouco em conta quanto o ministro da polícia da Prússia,Schuckmann,

assustou cl todos os presentes" cam a" melhor dos humore:' . Wo\a.-se nesse

200

201

da fantasia, o prodigioso por trás da fachada do real; outra vez a fantasia

Ihe fornece recuo com relação ao prodigioso realmente existente. Em 1812, num baile de máscarasem Bamberg, HofFmann presencia

um dançarino de repente cair morto. Ele logo Eazum desenhodo acontecido e mostra aos seusamigos. Estesficam indignados que HofFmann,

assimconta o editor Kunz, tenha podido tratar "Ze z/m/nrZZefe gae

CAPITULO XI

LIVRO PRIMEIRO e 0 ROMAN'TISMO

bom humor naturalmente um tom forçado,com segundasintenções. [)lance do horror, desi

mesmo"

, como

HofFmann se exercita na arte do "m zxuz,//Bojo.pari/r êl

to nos Elixires

do Diabo

\ELixieren

des TeujeLsÜ.

Assim ele consegue distância e conserva sua curiosidade. Curioso, HoKmann adentra um campo de batalha próximo a Dresden,

durante as guerrasde libertação, com um copo de vinho na mão. A estética do horror como reação ao pavor. Ou ele é um z,aWrar,ou se aemta; em ambos

os casosa fantasia está em jogo. Enquanto a batalha por Dresden ainda está em curso, ele começa em 18 13 com O r.z/2einúo 2ozóxada,o "conto de

O estudanteAnselmus estásentadoao lado do rio Elba, perto de Dresden, embaixo de um arbusto de sabugueiro, a sonhar com os prazeres

no bar ao ar livre, com asmocinhas bonitas de lá, com tudo que Ihe foi tirado porque ele perdeu seu dinheiro. Através do sonho, ele parte de uma realidade e chegaa outra. Encontra o arquivista Lindhorst e sua bela filha Serpentina. Lindhorst faz parte daspessoasque, quando se despededelas

com um forte aperto de mão, ainda se asouve por algum tempo no eco do beco, até que elas,depois de algum distanciamento, se erguem e, como uma águia, voam para longe. Ou será que parecem mais uma gigantesca De qualquer

modo,

Lindhorst

é alguém "gzze$azla .parecer

dziía/z/e zzz,iZa car/Zlan.z ZePeifa'zi coma/7zi". Anselmus gostaria mesmo é de

voar atrásdele. No final, ele conseguesua Serpentina e some para a Atlân-

tida. Restaapenaso narrador, triste e cansado.Não conseguecontinuar a escreversobre seu protagonista. A sobriedade voltou, falta um gole. Mas Lindhorst, isto é, Salamandra, não o deixa na mão. Ele aparececarregando

um belo troféu dourado, do qual seergue uma chama azul. 'Zgz//, ZZiiee&, trago a bebida.@uorita do seuamigo, o regente ólemúsic.zJobannesKreisler.

Z' o .zrxa,êem c amai... .Bebaz/mga#nóo." O narrador não esperaque ele

diga isso de novo. Assim, as artes de Salamandrapermitem um olhar completamente artístico para o outro lado. O paraíso estábem di. Mas também o inferno, os precipícios da alma, sãoacessíveisà fantasia. Pouco depois do CaZzZe/zúa doz/zn2o Hoffmann

nada igual em seu tempo.

Conta-se a história da vida do monge Medardus. Ele, de origem misteriosa e predeterminado para a vida no mosteiro desde sua infância,

se transforma num orador famoso. No concessionárioele se apaixona; o mosteiro se torna pequeno para ele, que o abandona para procurar a amada; encontra um sósia, acredita tê-lo matado, assumeo papel de assassino, comete alguns outros assassinatos; quase que por engano,

teria matado a amada.Ele foge, é colocado num asilo, duvida de ter ele mesmo cometido os fitos sórdidos, cai em intrigas e então fica preso

fadas dos tempos modernos", como declarao subtítulo.

salamandra?

muitos. Mas o que ele Eazdeles, psicológica e poeticamente, náo conhece

escreve o E7/x/ref

do 22aóo. Aqui ele se aprofunda numa esfera do horror meio drástico

e meio sublime. Prevendo o efeito sobre o público, ele se apropria de

no Vaticano; volta ao convento da sua terra, quer fazer penitência, é testemunha de como seu sósia, que de repente reaparece,mata a sua amada, renuncia ao mundo, encontra por fim ainda a força de contar rodo o seu destino sinistro seu último exercício de penitência. Ê a história de uma personalidadedividida. Até então não havia sido contada com tamanha sensibilidade. HoÊfmann conhecia o assunto,

pois vivia com medo de ficar louco quando suasfantasiaso assaltavam. No romance, conta essesmomentos pavorosos do encontro do esquizofrênico consigo mesmo. Medardus, sob acusaçãode assassinato,está

sentadona prisão. Por baixo do chão bate alguém, chama, arranha. Alguém quer subir. Medardus tem medo, e mesmo assimcomeçaa quebrar pedras do chão: ".4gweZegae esl'zz,,z emó züo ie eifica can#oiop.zxa

cima [...]t,] de repenteLevantou-se do fundo um homemnu até a cintura, com uma gargalhada Louca,terrível. Todaü Luzda l,ampadücaiu sobresua face eu reconhecia mim mesmo perdi ossentidos. Medardus não consegue mais se livrar de seu sósia. Ele estará pen-

durado nos seusombros e irá empurra-lo pelas florestasescuras.O próprio Hoffmann pede fugir dessedestino. Sempre conseguiu dissolver a confusão entre a fantasia e a realidade. Era realista o suficiente e por isso podia se permitir o prazer da confusão. Ele a encenou da forma mais bela na Princesa BrambitLa.

Ele colheu a inspiração para esseZ'eZa cair/crio na série de gravuras a buril .B,zZZz ZI S$eii.:z/z/a, de Callot, que mostra asfiguras estereotipadasda cammeZla 2e//}zrff. Este deveria, como escreve Hoffmann

tornar-se o "mais ousado" de seus contos de dadas.

elementos de enredo comuns aos romancesde horror, então lidos por 202

203

numa carta,

LIVRO PRIMEI RO

e 0 ROMANTISMO

CAPÍTULO XI

Alguns não puderam mais seguir Hoffmann nos passeiostravessose

: mesmo por isso, p'"que estou preso num recipiente tão pequeno, que até

confusosda suafantasia. Outros, como Heine ou Baudelaire, tomaram

ISpequenas$guras

a BrnmZ'//Zapelo mais genial que Hoffmann escreveu. Heine disse que

de modo que eu não alcanço clareza ctl,grama.

quem, ao ler a Pr//areiaBxamó/#k,náo perde o juízo, não teria mais

se con$Andem e atiram

e batem as cabeças ConÍhsamente,

E de enlouquecer. Como é que se pode rir disso? O carnaval pode;

juízo a perder. Nessa narrativa, a fantasia e a realidade se misturam -- mas tudo é

ele permite a personalidademúltipla. A vontade de transformar-se, reprimida pela pressãode uma identidade sem conflitos no cotidiano

suprimido pela consciência feliz da "ziCup//c/faze2e fzzZog#í' é". Em sua

burguês, pode ser vivida agora. A gargalhada do carnaval a liberta dessa

luz pode começar um jogo que se mantém em terra firme sem abdicar dos altos voos nem da fantasia transformadora.

opressão.

Estejogo é antigo, Hoffmann não o inventou. É o jogo transformador do carnaval. Afastando as exigências desaforadasdo exterior e familiarizado com os precipícios do interior, ele se transforma num

[)o que ri o carnaval?E]e ri de tudo, e isso é o que importa. Sua gargalhadaé universal.Ele ri da moral e dos bons costumes.Os Ear. rapos são sua roupa predileta, e ele não tem nenhum medo da nudez.

Ri do poder, traveste-o:um rei louco é escolhido, a missaé uma folia

grande carnavalista da literatura do século XIX. O mágico e charlatão Celionati, isto é, o nobre Bastianello di Pistoia,

carnavalesca. Ele dá risada daquilo que geralmente assustae dá medo.

é quem dirige. Durante o carnaval romano ele encenaum teatro que não conhece nenhuma ribalta e onde as figuras que atuam não sabem que o fazem. Dá-se um pequeno teatro do mundo no Corso romano que se percorre em uma hora. Tudo está agrupado harmonicamente. O que ocorre é o velho jogo do amor, "dois ama fei ie iep'eram e Je recair///.zm,

querem exorcizar, os clérigos, se tornam cómicos. O carnaval eazseu jogo

fazes fe z #aflam e je e co /zam

oz'.zmenf "

assim Goethe descreve o

Como arlequim o diabo é conte de zombaria. Mas também aquelesque o de inversão com o que está em cima e o que está embaixo, com o bem

e o mal, com o belo e o horrendo, com o homem e a mulher. O nariz não pode ser suficientemente grande, a loucura faz o que está errado,

com a máscarado lado de trás da cabeça.O carnavalrevelaa verdade do mundo pelo avesso.Hierarquias desaparecemna grande família do

carnaval romano na tqagem à /rá//a.

carnaval. As pessoassão excêntricas: o meio de vida, as normas e o que

Em /'rinrri.z Bzamó//b, o ápice dessejogo é que os dois amantes, o açor Giglio e a costureira Giacinta, se separam porque ambos caçam a

geralmente se toma pelo seu eu perdem sua corça. Aquilo que geralmente

imagemsonhadaque têm um do outro. O charlatãoCelionati cuida, com

toma tudo no jogo do seu relativismo

esforço carnavalesco, para que os dois experimentem a imagem sonhada como realidade. O sonho que cada um tinha do outro adentra a vida,

fundamentais da vida: nascimento, amor, morte.

e como eles se sentem amados pela sua imagem sonhada, cada um se

vida, da sua relação amorosa, da distância entre a ânsia e a realização.

transforma naquilo que o outro sonhadele.Celionati evita por algum

Eles percebem como se transformam, mas que não podem se livrar de si

tempo que eles possam ajuntar a imagem sonhada à realidade. Assim,

mesmos nem um do outro. Eles fazem "paZB/zf.zZúi'\ mas vivem, e talvez

fogem um do outro parasebuscar.Elesseencontram finalmente quando,

vivam exatamenteporque fazem palhaçadas.Um niilismo vitalista, ale-

rindo, descobrem a realidade na imagem sonhada e a imagem sonhada na realidade. Todo o jogo induzindo em confusão é uma encenação de umol\ só ele pode " transformar a dor da existêncianum prazer sublime' Qual é a dor da existência? É a experiência de que em cada pessoa

gre, afasta toda amargura cínica; ele é consequência de um humor que da contemplaçãoch saturem, apta a criar seupróprio sósiairónico, em caias estranhaspalhaçadaseLereconheceas suase eu quero manter a palavra

estão contidas várias pessoas.Giglio fica completamente confuso:

ousada -- também cls palhaçadas de toda a existência aqui, Tegozijando-se"

204

estájunto, é separado,e aquilo que não sejunta, seaproxima.O carnaval alegre, também as experiências

No ambiente do carnaval, Giglio e Giacinta aprendem a rir da sua

HofFmann

define

como

"zím.zlorFa

Ze .prmi,zme/z/a m.zzaz,/aDIa,

205

or/z/

da

LIVRO PRIMEIRO

+ O ROMAN'TISMO

© CAPÍTULO XI

O humor de Hoffmann se envolve com a vida, ele não a afasta de si. Ele não é ascético. Mesmo se no final da ânsia talvez a decepção aguarde, ele não abdica dos desejosalados; não sesarisEmtampouco com os suspiros que já contêm em si a desistência da realização. Para que se possa rir de si e do mundo, tem-se de ter ousado alguma coisa; para que seperceba quem seé, tem-se de ter saído de si mesmo. O desejo de metamorfosear-se não é a pior maneira de conhecer a si mesmo. Giglio e Giacinta são instruídos

nessaforma alegrede autoconhecimento. O alfaiate é imprescindível neste conteria.

E\e, " com su.z agulha criativa, foi quem primeiro

nos trouxe ao

palco nü imagemditada pel,onossosevmais íntimo No auge da confusão carnavalesca,Giglio e Giacinta seencontram sem se reconhecerem, mas mesmo assim dançam juntos, e esta dança é uma libertação extática, uma verdadeira dança dionisíaca. Eles brincam com as forças gravitacionais do eu. "0 que você acha deste pulo, desta posição em que eu confio todo meu eu ao equilíbrio da ponta do meu pé esquerdo?" Eles entendem da arte de desprender-se, essaproximidade v\.vadas amantes. " Nada é mais entediante do que, ízrraigado no chão, ter de respondeupor todo oLbav,por toda fala!"

A vontade de se transformar triunfa sobre o desejo de autoconser-

vação.Não é um triunfo inofensivo; também Eichendorff conhecesua sedução:"-F ezzn'ío gzlrro me resgzz.:zrzZar..." Nele há uma libertação como confiança em Deus; em HofFmann, como uma grande gargalhada. Humor e ironia, na época de Hoíllnann,

eram, como se sabe, cate-

gorias que filosoficamente pesavam muito. Uma grande seriedade havia

tomado conta delas,por exemplo em Friedrich Schlegel:".4 /ronZ'zcoml)Lera,ctbsoLata, para de ser ironi'z e setorna séria:' A. l.ton\a.tomànüca, sua ózÚomzzr/arxn/gire/zdezzia/estava de olho no céu: "0 /er e/za fem 2r ier

fo/zizzmiZo."Nas culturas do riso de séculosanteriores havia se tratado por sua vez claramente de profanação. Exatamente as ascensõesao céu e os idealismos eram alvo da depreciação e da objetivação carnavalescas.

O mundo revirado da cultura do riso engolia a transcendência.A gargalhada de Pantagruel em Rabelais tem essesentido. Ela indica a vergonha

do espírito diante da imensaforça criadora da terra e do corpo A ironia romântica faz outra coisa. Ela não puxa para baixo, mas para cima. Sdx\ege\:" Sobre todo céupode se assentarrmais] um:' 206

Em Hoffmann ainda se percebe algo da gargalhada de Pantagruel -- que vem da objetivação, da profanação, do desdém diante da fugacidade do céu. Mas ele também conhece um céu; que nada mais é do que uma mina de diamantes no nosso interior. Quando no final se ri diante de uma obra de Hoffmann, então é porque apesardessecéu interior permanecemoscriados da natureza, e porque provavelmente não se consegue fazer mais da riqueza

interior

do que isso -- .p.zZBafadaJ.

Giacinta e Giglio vagam pelas ruas do carnaval, fogem um do ou-

tro, procuram-se, se perdem fantasticamente no labirinto das dançase metamorfoses e tudo tem o mesmo fim: eles ganham um ao outro

e certamente terão filhos. Assim, permanecem na prisão da função natural. E mesmopara rir: céu e terra em movimento para viabilizar um matnmõnio. A garga[hada que soa no final da Primcefa .Bxnmó//Zaencontrou na metafísica schopenhaueriana do amor entre os sexos a sua filosofia adequada: â. ânsia pelo amor que ospoetas de todos os tempos estãoocupa'bs em expressar [. ..]t,]essa ânsia que Liga àposse & uma deterltlinach mulher a iria

& umafe]i-

cichde in$nita, e ao pensamento de que essapossenão poü ser obtich, umü dor

impronunciáuel-- essaânsiae essador ü amor não podemretirar seumaterial düs necessi(lides de um indiliíduo

efêmevo; ehs são, pelo contrário, o suspiro

do espírito de uma espécieque uê aqui um meio insubstituíueLpara alcançar ou falhar em seuspropósitos, e que por isso geme pToHn(lamente.

A força modiflcadora do amor é o grande trabalho que a natureza, para impor seuspropósitos simples, faz conosco. Giacinta e Giglio riem disso depois de se terem descoberto e encontrado no labirinto do carnaval e da sua fantasia. Com a sua alegra.a,eles se mostram à altura daquela percepção elevada que Hoffmann, numa conversa dos irmãos de São Serapião, uma vez formulou da seguinte maneira: "/IZZ z/m mz/mdo interior e aforça espirituaLde uê-Loem total chrem, no brilho pleno da vida

mais agitach, mas é nossclherctnçaque o mundo exterior, no qual estamos presos,$tncione coma a alavanca que põe em anuidade aqueLctorça:

A "alavancado mundo exterior" é a natureza,que aproxima Giacinta e Giglio. Mas o soberbovoo de faíscasdo seu mundo interior -- que no carnavalse transforma em mundo exterior -- é uma realidade.Na gargalhada, ambas as realidades são fixadas: a de que se é e se permanece

207

LIVRO PRIMEIRO © O ROMAN'TISMO

um "criado"

da natureza e a de que uma "m/na / essa/áue/ Ze 22/zma fei

fr e ro fxa escama!Za em /zoiio izzfe /a ", nos dando o sentimento

de estar

infinitamente acima de todos os propósitos.

E. T. A. Hoffmann, com quem o romantismo de uma épocase encerra, foi um grande fantasista e, por isso, tão romântico quanto se pode imaginar. Mas e]e era mais do que isso. Por seu rea]ismo ]ibera], continuou com os pés na terra. Ele era um fantasista cético.

LIVRO SEGUNDO

OROMÂNTICO

f

/

que nós não estamos seguramente

em casa no mundo interpretado.

Rilke

208

CAPÍTUI.0 Xll

Recapitulando o caos nas ideias. Hegel como crítico do Romantismo. As palavras de ordem do espírito universal e seus súditos arrogantes. O estilo b/enferme/er e a Jovem Alemanha.

Rumo à verdadeira realidade. Combates reveladores. Crítica ao céu, descoberta da terra e do corpo. Futuro romântico, presente prosaico. Strauli, Feuerbach, Marx. Heine entre as frentes. Canto de despedida à Escola Romântica e defesados rouxinóis. Soldado na guerra de libertação da humanidade e nada mais que um poeta.

If tl

A grande época do Romantismo acabou nos anos 1820. Isso não mu-

dou em nada que obras românticas continuassem a serpublicadas. Achim

von Arnim eJosephvon Eichendorff continuaram produtivos. Friedrich de la Morte Fouqué não parou de escreversuashistórias de cavaleiros, mocinhasem castelose duendes, nem de reescrevermitos nórdicos. Ele era muito bem aceito com essestrabalhos pelo grande público, era muito lido, assim como E. T. A. Hoffmann,

que deixava assombraçóes

passearempela Berlim da época. O mágico, o que vinha da Idade Média,

o fantasmagórico,e também o que era ligado a uma devoçãofingida continuavam a ter conjuntura. Os motivos simples haviam afundado nas profundezas das bibliotecas e nos livros de bolso para mulheres. Os que tinham ambições riam disso. O impulso revolucionário, inovativo e autoconGante estava gasto. Nas outras artes, os impulsos

românticos

haviam desencadeado

apenas agora seu efeito total. Na música, em Schumann e Schubert,

e na pintura por exemplo nos "nazarenos", para grande desgosto de Goethe que, em 1818, aproveitou para acertar as contas com toda a corrente, embora ele outrora tivesse gostado dos irmãos Schlegel e os apoiado. Juntamente com Johann Heinrich Meyer, seu especialista em artes plásticas, ele escreveu o texto JMoz,/z ar/e .z&má, re//g/ai/z e.pzzfr/óf/r z [Nrz/-Zez/zscóe reze/oi'Pari/a//íróe

.Khmir] . Tanto os esforços re]igiosos 211

LIVRO SEGU'N'DO © O ROMAN'TICO CAPÍTULO Xll

quanto os patrióticos na arte são repudiados áspera e zombateiramente. Simplesmente não é verdade, lê-se ali, que "enfz/i/mmo Zez,ofae ír/z//mr

faf

religiosos seriam condiçõesimprescindíveis para ü capacidade de])roduziT

rz7ff".Em primeiro plano o talento no lidar com o material, a consciência

da forma, o sentido para a naturezae um temperamento sadio seriam pressupostos mais duráveis para o exercício da arte. A religião poderia, no máximo, dar sua contribuição

\

quando ela, como na Antiguidade,

sacraliza

o que é terreno festejando os sentidos, sem deliciar-se no que está para além dos sentidos, onde ao artista pouco resta para realizar. E no que diz respeito ao patriotismo, a arte estaria, na sua origem, ligada a um lugar, mas ela se caracterizariaexatamente por mostrar o universal no particular. Com essa recusa

precedida por uma igualmente bem-sucedida

crítica racionalista ao romance de Johann Heinrich Voíg fixou-se numa parte do público a imagem poética de um Romantismo devoto, preso à Idade Média, catolicista e alemanizador de um modo senti-

\

1.

mental e nacionalista. Já que Friedrich Schlegel e Adam Müller, nesse ínterim, haviam lutado junto a Metternich pela "santaaliança", esta imagem tornou-se cabível, fazendo esqueceros traços experimentais, fantásticos, altamente reflexivos e até revolucionários do Romantismo.

conseguir sua transferência para Berlim, que ocorre em 18 18. .Altenstein admirava em Hegel -- o que também causavaprofunda impressão num

público que queria descansardas turbulênciasdos últimos anos-o jeito próprio com o qual este trabalhou os impulsos modernizadores desdea Revolução Francesa,ligando-os ao mesmo tempo a uma postura

conservadora,âel ao Estado. Quando em 1820 a /7/Of(@ Zo z#rej/a [PÓ/ZoloP /e #ei .Reróís] de Hege] foi pub]icada,

com aquela famosa

çtase da pteçâc\o: " O que é razoável, é verdadeiro; e o que é verdadeiro, é razo#z,e/",

Altenstein

parabenizou

o autor

com

as palavras:

denuncia-los. Naquela época, escreve em 1820 na -4ifi/zzzfz/xaZo re/mpa Signatur

des ZeitaLtersÜ, tuà.o \cita " se passado como sempre, quando o

sangue e toda a energia vital sobem demais à cabeça" . O \ndtv duo lama

suasideias e aquilo que Ihe ocorre por importantes demais. Bom que disso surgiu somente um "caos de ideias" e nada de mais grave. Por sorte

havia poderes ordenadorese tradições que eram mais fortes do que a 'arbitrariedade subjetiva". E por isso apenas os conceitos foram postos

de cabeçapara baixo, mas não os povos. É bom quando preferem seguir não sua cabeça, mas as autoridades estabelecidas. Disso cuidou-se na Alemanha nos anos que se seguem a 1815. Em

Berlim, foi Hegel que retrabalhouseucomeçoromântico num impressionante pensamento ordenador, e que tampouco economizou em sua crítica à arbitrariedade e ao subjetivismo românticos. O ministro da EducaçãoprussianoAltenstein, um político relativamente liberal, estavaentre os admiradores do filósofo e empenhou-se em 212

fe óor

dá à filosofia ü única verdadeira postura em relaçãoà realidade, e assim certamente o senhor terá sucessoem preservar seusouvintes da presunção nociva que nçctui o que oçiste sem o ter reconhecido e que, especialmente em relação ao Estado, gosta de criar arbitrarictmente ideais sem conteúdo.

Os românticos haviam exigido outrora a "poesia universal progressiva", e Hegel estavaagora em vias de desenvolver sua GilosoÊauniversal

progressiva, mas sempre com uma crítica clara à "arbitrariedade de sujeitos ousados" que ele relacionava ao espírito romântico. Assim, deno-

mina por exemplo um filósofo perseguidopelasautoridadese aluno de Fichte, Fries, como um "com zmZa fe driJ.z 2or/zf

O próprio Friedrich Schlegel estavamuito empenhado em retoca-los ou

"0

.pZofc@a"e que se atreve a misturar o Estado

à.o" trabalho constanteda razão"

gz/e Je az/rodemom/ óz

esta construção oriunda

"a papa do corctção,da amizade e

do en,tu,sí,astro

Essapolêmica hegeliana sob medida contra o Romantismo subjetivo combinava bem com uma convicção que, até o final da suavida, o deixava beber um cálice de vinho tinto a cada 14 de julho como homenagem à Revolução Francesa. Naquela época ele tinha plantado uma

árvore da liberdade às margensdo Necker com Schelling e Hõlderlin; havia começado a esboçar uma filosofia da sociedade através do amor. A revolução permaneceu para ele uma "gxn záoi z ,zZ'rrrwzadoi ie r/doi, o descobrimento prodigioso sobre o íntimo da Liberdade' . }Àn&a em \ $22,

enquanto exigia das autoridades prussianos que interviessem num jornal literário que criticara sua Giloso6la, ele disse sobre a Revolução Francesa:

Desde que o sol está no armamento e os planetas Ü.ram em torno dele, jamais se uiu que o homem se tenha posto reponta-cabeça,

ideias, construindo ü realidade de acordo com elas:' 213

isto é, sobre suas

LIVRO SEGUNDO + O ROMÂNTICO CAPÍTULO Xll

As açóes revolucionárias e os sonhos românticos de íagr/fai oz/iaZai são

desprezadospor Hegel; por outro lado, ele inclui o impulso revolucionário e fantástico no coração pulsante do espírito do mundo, que realiza seu trabalho sem que o filósofo tenha de interferir. Este precisae pode apenas desenvolverem conceitos aquilo que acontece de qualquer maneira. Este é o processode desenvolvimento necessário,uma história do chegar-a-simesmodo espírito na realidade material da vida social. O todo é o verda-

deiro, porque o todo se torna verdadeiro, e quando isso estáconcluído a filosofia pode se reconhecer lá zz paifer/or/. ".4 fora.z Ze M7nerz,.z .zZf.z

kllf t.

l

9 +

fezz z/oc2gz/anda

/z esrwrZzZZa comera ,z fowózzf."

Para Hegel,

a história

é

verdadeiramente o tribunal do mundo. Ela julga tudo que sobreviveu,

tudo que se opõe ao impulso de autorrealizaçãodo espírito. Paratal, rebeldes, românticos e demagogos são desnecessários.Eles se destroem a si mesmos. Por isso a declaração de lealdade de Hegel a um Estado

que está em vias de tirar de circulação os "demagogos". Ele escrevea

1.

'Eq\ethammet: " Eu me odiento em que o espírito do mundo deu zp.zLat'rade ordem parcao avanço; taLpaLalirü de ordem é obedecido sem hesitação; esse serie movimenta como umctfa

nge encouraçada, fecbach, irTesistiuelmente

e com um movimento tão iml)erceptÍuel quanto o sol quando se mote, para

frente, Tenhao que vier; inúmerastropasLevescontra e CL favor do mesmo franqueiam

em torno; a maioviü

nem sabe do que se trata e só recebe golpes

HzzcaZ'efa coma Zr z/wíz máa / z//n'z/e/."Deve-se ver os românticos

certa-

mente entre essasrroP.ziZez,ei que levam um golpe na cabeça. Hegel conspira com o espírito do mundo e não precisase envolver nos negóciosdiários. Um dia, quando Napoleão entrou com suastropas em lena e Hegel estava escrevendo as últimas frases da sua Xr/fome oZaKf 2o esp/r/ra IPÉã ome o/ag/r 2ef Ge/fresl, ele teve de se salvar aos francos e barrancos da

cidade de leda em chamas.O espírito do mundo Ihe havia sido duro, mas ele náo deixou de admira-lo: ".É mesmo z/m z ie/zi.zf'ío maxaz,iZBoiaz,erz/m ía/ indivíduo que [. . .], mono.zdonum cavalo, afiança sobre o mundo e o domina:'

Isso vale também para o espírito do mundo: onde se lixa, caem limalhas. Em Berlim, nesseínterim, ele se havia aproximado bastante

filosofia, que apresentao espírito do mundo como um espírito que trabalha, combinava bem com esseclima. Depiais...deimbabe..xem.n

çlÊgçanw.cansa.f$tá.em.maus..lençóis. O tempo portanto não é propício para o sublime e para os altos voos românticos. Os tempos são bons para o teatro e a ópera desde que se dê pouco trabalho ao público e se aposte em efeitos grandiosos e nada sutis. Enquanto

Napoleão

fazia com que o mundo

a respiração, aparece na Alemanha a tragédia de destinos. (quando ele caiu, ao mesmo tempo em que cessaram os grandes aros e o infortúnio,

também findou a brincadeira com tais pesos.O que era leve setornou ainda mais leve. Artistas festejaram triunfos desempenhando o papel de macacos.

Os cenários

se tornaram

cada vez mais suntuosos.

A atmosfera política e social na qual Hegel festejava seu sucesso era a da calmaria e da febre de trabalho sem maior entusiasmo.Sua

Z,/nz#me,

obra hoffmanniana, lucrou com isso.Até a magnitude da encenaçãode O#amco-a//rnZor [/;»/íróz2zz] , de Car] Mana von beber, foi superada.

As montagensde Spontini foram ainda mais impressionantes.Aqui até elefantesforam colocados no palco, e houve disparos de canhão.

As pessoas querem descansardas intempériesdos últimos trinta anos. Como no#oWerde um teatro durante a pausa, há uma confusão de vozes na qual se fazem ouvir as emoções dos últimos tempos A grande

filosofia de Hegel age aqui como uma recensãoagradávelde acontecimentos que haviam prendido a respiração de todos e que agora haviam acabado. Tempo da colheita. As pessoas controlam

e guardam seus bens.

Epoca do ó/enferme/e7'.

Mas o espírito do tempo é mais refinado do que aparentade início. A política da restauraçãodepois de 18 15 quer forçar a vida a retomar a ordem do séculoXVlll, como se nada tivesseacontecido. Mas haviam acontecido coisas demais. A confiança na durabilidade e segurança do

que foi transportadopelo tempo tem algo de forçado, de obstinado. As pessoasseconformam com o que é imposto com um leve sentimento de estar pisando um solo instável. As convicções começam a pestanejar;

a moral perde o foco. As pessoasse submetem, andam cabisbaixas,se acomodam e olham "Zo .zromró«o dos farei" (Eichendorff)

daqueles que seguram a lixa.

prendesse

com prazer

para fora, onde tudo se move em direção ao precipício, onde impera o f ePüic Zo.Não surpreende ninguém que os contos de HofFmann sejam tão bem acentos.Para Hegel, ele pertence à categoria da /rop.zZez/e, e

214 215

LlyRO SEGUNDO e O ROMÂNTICO

CAPÍTULO Xll

ta.mbêm merece c i\lca: " Prefere-se nos Últimos temposporém o diLacera-

e na rua Friedrichstrasse se encontra a "[)isputierverein

mento Íntimo

schwebender Fragen" ["União de debatedores para tratar de questões pen-

e sem controle blue passa por toda dissonância desagTadáueL;

eLetornou-semoda e trouxe um humor da feiúrcl e uma palhaçada ch ironia na quüLpor exemplo Tbeodor Ho$münn sesentia beml'

dentes"]. Em parte são formas de confraternização de orientação política

Hegel descobreem Kleist, cuja obra só se tornou até certo ponto conhecida nos anos 1820, um outro tipo de arbitrariedade romântica

um bem-estar e da garantia mútua de que as pessoas se encontravam em

sub\e\h\sta. " Kleist sof'e tanto ch incapacidadecompartilhada e infeliz de

permanecem contudo suficientemente curiosos para querer saber como a máquina fiinciona e o que tudo significa. Mas não setoca a curiosidade a

priorizclr a natureza e a verdadequanto da falta de instinto para buscá.Z#iem iz/ai záfforfóei." Portanto também nele haveria um "m/l//c/sma z,a/zln/.z /oi " que surgiria apenas quando um indivíduo

se distancia dos

propósitos substanciaise dos teoresobjetivos de bom comportamento, impondo ao seu eu um interior ainda mais profundo, um "d&m effxnnAo", virado pelo avesso, do qual então deve cintilar a "óeZezz paper/or 2a ,z/m4". Com isso, porém, segundo Hegel, a poesia seria "/za sporia2a

para o eózó/oio,o uzz/casar o z,.zz/a".Para onde isso leva pode ser visto )

F lb4r'l»d"

zur Behandlung

que querem fugir da vigilância policial. Mas, mais do que isso,trata-sede solo firme. Aqueles que se sentem como pequenas rodas e parafusos ainda

ponto de estar disposto a se deixar inquietar. Tal curiosidade que tem medo de riscos pode ser bem saciada nas aulas dadaspor Hegel. Por isso, veterinários, corretores de seguros, fiincionários da administração, tenores de ópera e comerciantes invadem suaspalestrasna universidade. Certamente

que não se entendia Hegel muito bem, mas com certezabastavapara que sepercebesseque lá estavaalguém que entendia tudo e que o achavabom.

no príncipe de Homburg, que devaneia em vez de ouvir as instruções

Em outubro de 1839, Hegel foi eleito reitor da universidadeem Berlim. A confiança do governo neleera tão grande que, no contexto da

que antecedem a batalha. Isto seria "sem gosto" e não serviria de motivo para uma tragédia.

perseguição aos demagogos", se Ihe passou o então recente cargo com plenos poderes de Estado para o controle da universidade. Com essa

ParaHegel, averdade está como se percebeo tempo todo ao lado da firmeza. O aventureiro e o que é excitante fazem para ele parte do passado.Não para o presente,e sim para o passadovale que. "0 gzóe é verdadeiro é uma ueTtigemdionisíaca, na qual, não bá nenhum membro

fusão de cargos Hegel encarnava uma síntese curiosa: ele representava a

gz/emáoeffda /ór/o." Ele dirige suaenergiapara o esboçode um sis-

autonomia do espírito universitário

e ao mesmo tempo a sua suspensão.

A Revolução de Julho de 1830 na França ocorre durante seu man-

dato de reitor uma cesurapara a cultura espiritual e política na Alemanha. Durante essetempo, até o final de 1830, só havia sido preso

tema da razão histórica que documenta o presente como um resultado bem-sucedido de um longo processo; o advir está purgado de qualquer

um único estudante, porque ele havia vestido uma cocarda francesa.As

decepção.Trata-sede se tornar maduro para uma cumplicidade com a razão objetivo. Também assim sepode encontrar um lar no espírito.

doze estudantes fumaram onde não era permitido, três duelaram, quinze

Num chão instável, a respeito do qual sefinge que é firme, começa um

passara sem motivação política. Assim parecia a princípio na superfície, mas os acontecimentos de 1830, a segunda grande revolução além

grande palavreado. Até então não existiam tantas possibilidades de seestar

demais infrações disciplinares não eram motivo de preocupação séria: queriam ir aos socos, treze haviam feito arruaça em bares

tudo se

em companhia agradável. Em Berlim os clubes, as sociedades,as mesas-redondas e os círculos brotam do chão. Há a "Gesetzlose Gesellschaft"

do Remo,agiram fundo. Essesacontecimentosvão levar a partir dali a

j"Sociedade sem ]ei"] , que não tem outra pretensão senão "a/maf

sua cabeça":S;eles vão trazer uma nova geração, também um novo

de z/m

je/ra óem ,zZrm,io"; também Hegel está por vezes lá. A "Gesellschaft

der

Maikã6er" ["Sociedade dos besouros de maio"] se concentra em mostrar-se ambiciosa e atava. A união dos "Philarten" 216

repetidas tentativas de colocar Hegel "sobre seus pés e não mais sobre

quer "descer/ízr .z a/m ",

15

O autor lembra aqui uma famosa frase de Karl Marx sobre Hegel ;Colocar sobre os pés" significa o mesmo que chamar à realidade. [N.T.]

217

LlyRO SEGUNI)O e O ROMÂNTICO CAPÍTULO Xll

Romantismo político, que investirá a herança da metafísica hegeliana numa vida terrena de futuro auspicioso. Isso se anuncia no crescimento do debate político, sobre o qual Hegel

O fio da meada da crítica é o seguinte: na filosofia e na poesia já temos

o sonho de uma verdade que só precisamos trazer para a terra. Temos de,

finalmente, fazeraquilo com o que sonhamos.Temosde recuperaros te-

reclama numa das suas últimas cartas. Em 13 de dezembro de 1830 escreve:

Mm agora o incrível interessepolítico absorveutolas osoutros

souros atirados ao céu e fazer deles nossa propriedade. Mas isso só funciona,

uma crise

como sabeessacorrente, se compreendermos três coisas.

na qual tuíio queaté entãoDáliapareceter setornado probkmático:' Assim

Em primeiro lugar, quando compreendermos que nós mesmosnos oprimimos. A solução para isso é proclamada: a emancipação da carne.

foi; mas o método usado para problematizar, a famosa diabética, foi tirada

de Hegel, que morreu no outono de 1831, vítima do cólera. No verão de 1830, Heine, nessaépoca em Helgoland, saúda os acontecimentos

na França com as frases: ".Éb máapoisa m.z/s 2orm/

' Eu tenho muito respeitopelo corpo humano, pois a alma estáLádentro" , escreve Theodor

e

correra é um prometoque não precisa sejustificar diante de uma tradição e que não pode se consolar com nenhum porvir. Tudo tem de ser decidido

I'anho sonhos quando acordado... ê de enl,ouquecer... Eu andei na noite por todas üs terras alemãs, grandes epequenas, e bati na

aqui

porta dos meus amigos, e perturbem o sono das pessoas... Eu bati cheio de

p""':te

e, bocejando, el,esperguntaram: 'oue horas são mesmo?'Em Paria, caros

Hegelscben RecbtspbiLosophie\ cam um toque de \tom pe\a:"A pLoso$a

do esmagamento do val,o gaulês.

ParaMarx, como também para o cenário cultural depoisde 1830, trata-seda "realização".A nova geração-- Gutzkow, Wienbarg, Heine, Bõrne,Mundo -- seliberta do "reino áreaZaiionóoí"(Heine).O Romantismo teria poetizado a realidade, dizem eles;agora seria hora de realizar a poesia. Nos filósofos, lê-se consoantemente que até então se teria apenas

interpretado o mundo; agoraestariana hora de muda-lo. Gutzkow, um porta-voz do movimento que se autodenominava "Junges Deutschland" ["Jovem A]emanha"],

escreve em sua peça Mero as rimas: " Qzle#

z/me fe

em uezda fantasia vazia l vinda do brilho falso do espíritol de um tempo caos sonhoseram confundidospelo soPsmo/ se estabeleçauma realidade

verdadeira,oarctf e melhor:

do movimento.

"0

z,riba morrem/,

"'; ":tu:ias"'-am, o momento atuaLfaz .«se do: seus .lireitosn , esc-e-

À exigênciahumanasegundoa qual as pessoastêm de formar uma

nã,o

interiores estiveremsatisfeitas,a ressurreiçãoalemã setapropagada alta és

é a bandeira

p'ra essecírculo. As pessoasjá estãosaturadasdos apelospara que sejam comedidaspor parte dos "Zoacoida ef/aó/#Zade"(Bõrne) e dos "íerz,oiZo, noórei" (Wienbarg).

galo não mais parara de cantar também na filosofia. Em 1844, Karl M.atx cone\Dita a sua Crítica daPloso$a do direito de Hegel \Kritik der

pode se revoltar sem a realização da $Loso$a. Quando todas as condições

Ser mover/za

vem outros. Goethe, que morre em 1832, não tem por isso muito valor

ízmzgai,cózm/az/ ogaio; f isso/ f Zo gweez/ie/." Nos próximos 15 anoso

o proletariado

e agora.

e o gz/e é z,ezzZade/ro/ mover/za", lê-se em Glaígbrenner. ".4s co zZZfóei 2a

sentido uclscostelasde alguns $Listeus gordos que roncauclm nojentamente

não parte se concretiz.ar sem cl revolta do proletariado,

em l,gnz/i .NÜ.z [.Mzcêfe/z Wenz/J].

Em segundo lugar, temos de entender que o estabelecimentoda vida

pelo espírito ultrüssensibiLizüdo caçam CLS mais bizarras visõessoturnas. passada &stejeito

Mundo

$

Perto/z,z#Zadrnão é suficiente, pois a terceira coisa que precisa ser entendida é: a liberdade não pode ser obtida individualmente, e sim como um empreendimento coletivo. E assim nos deparamos sempre com a palavra de ordem da literatura dessacorrente. "7\6f, osÃomf f 2o moz,/mr/z/ ", escreve reine

levemente

irónico

na Escala .Rama fica ].Romamr/fróem STÓz/Zr].

Nos anosde 1840, o sentimento de ser uma corrente se condensanuma consciência partidária. As pessoasperguntam umas às outras suasopiniões,

dando a solução: "Domar.pari/Za.r" A cabeça deve buscar o coração do movimento -- em primeiro lugar simplesmente o.poz/a,depois em Marx o

proZríar/aZo. Nesseínterim aliás se revelou inclusive um movimento social:

durante a Festaem Hambar em 1832, durante a Revolta dos Tecelões.m 1844. Mas, por outro lado, os camponeseslevam o jornal que os incita à rebelião, o /?>sTZscóe Z z/zZ&azr, de Büchner, ao posto policial mais próximo...

Os ativistas dos anos de 1840 olham com desdém para os que escreviamjornais literários nos anosde 1830: viam ali tempestadesem

218 219

LlyRO SEGUNDOe O ROMÂNTICO CAPÍTULO Xll

copo d'água, vaidade, uma imagem positiva demais de si. Freiligrath, o cronista,

ainda tinha

anunciado:

" Oporia

mais elevada / do que a das ameias do partido:'

ie e comfzn #z/wzz prz:çPefr/z'zz

A- Isso responde \:Let'Nega,

o ativista,com o poemaO píz2'/iZo, no qual selê: "Pari/Zo.r2arr/Za/ C)uemnão deveria toma-Lo l eLequefoi a mãe de todcLS as uitÓTias11 Como

é que um poetapodeproibir tal palavra l

uma palavra, quefez nascer

tudo que é supremo:

A proibição não 6oijustificada apenaspela nudez depravada; também asdúvidas de Wdly causavam repulsa. Wdly não havia se mostrado

ap'nas na cena à janela como partidária da naturalidade, mas também tocara em assuntos religiosos. Ela é pela religião do coração e contra os dogmas da crença institucionalizada:

O que agora se evita mais é o tom pessoal,visto com maus olhos por

exemplo em Heine, tido como pouco conflável e vaidoso. Nessetempo ávido por contendas, Heine responde: "SÓ.porqz/e e fe o íam.znó'z.presençade espírito l vocêspensam que eu não sei tTouejar11Vocêsseenganam

muito, pois eu tenho talento l tctmbémpara a trovoada:'

Nos anosde 1840 se desenrolauma verdadeiracompetiçãodos radicalismos. Lá estão as notórias repetições: a crítica crítica e então, mais

uma vez em Marx, a crítica da crítica crítica. A realidade real. O verdadeiro socialismo. A disputa se desenrola com obstinação extraordinária.

Os "partidos" caem uns sobre os outros. Herwegh condena Freiligrath. Engels faz campanha contra Heine. Heine contra Bõrne e vice-versa. Feuerbach critica StrauR, Bauer critica Feuerbach. Stirner quer ser melhor

que todos, mas então vem Marx, que os coloca todos no mesmo saco: a ideologia alemã'

No ano de 1835, não se inaugura apenasa primeira ferrovia na Alemanha, entre Nuremberg e Fürth; também no mundo do espírito há dois acontecimentos de modernidade com vastas consequências.

São

todos os demais escritosda "Jovem .Alemanha"'' sãocolocados na lista das obras proibidas.

e não poderia ser de outra forma -- acontecimentosligados

ao revelar-se. Os trajes são atirados ao chão, as pessoasavançam em

direção à realidade.

O primeiro acontecimentoé o romancede Gutzkow, WaZb zzgzzr d z//2az,a[ WÉzZ/7 z&f Züee#er/n] . Aqui trata-se da emancipação da carne.

O amante de Wally para sua adorada: "Moifre-mr gz/e z'ocê áo fem seg'edopara mim, nenhum, g.:llê!.il!!!!!!.llrb e eu obtenho a bênçãopara m//zóa z,/Za /oZa.r" Wally e o autor resistem. Então ambos aquiescem.

E assim o autor deixa que suaWally fique por algum tempo nua à janela diante de seus leitores. A Confederação -Alemã, porém, não perdoa tais

obscenidadesdo autor. O romanceé proibido, e nestaoportunidade 220

"N3s máoffremoJ emÓammoz,oc/a

e nenhuma nova terra; mas a ponte entre os dois parece ter de ser construída mau.zmf/zf ", escreve Wally em seu diário.

O segundo grande acontecimento revelador está ligado apenas a essetema religioso: em 1835 aparece''{ z//2aZe7ei f [Z)aJZeÓr/z]elz/], de David Friedrich StrauR. Praticamente nenhum outro livro do século XIX teve um efeito semelhante.

Strauíg,aluno de Hegel, tirou da filosofia da religião desteúltimo consequênciasradicais. Hegel havia ensinado: a Giloso6a"ie ca/ora ar/ma Za#orm/z Z# CZ'enfa, a fomfezZZo .Í o mesma". Isso significa que a reflexãofilosófica toma a religião como expressãode um espírito que também vive no homem. Em outras palavras, o espírito humano pode chegarsozinho lá, não precisade nenhuma revelaçãodo além. Desse pensamento, Strauíg extrai consequências radicais -- às quais Hegel, que está pensando na harmonia com os poderes vigentes, não chegou.

Ele falara de uma "azzfarrez,eZafáa 2o esPü/ra"no homem, e com isso ainda deixou valer algum acontecimento de revelação.Strauígagiu de outro modo. Paraele não há nenhuma revelação,mas sim de um lado apenaso Jesushistórico e de outro o mito do "Cristo" que nada mais

é do que um produto do espírito humano, uma imagem, na qual os homens esclarecemsua melhor natureza e sua tarefa histórica. Com

o métododa crítica de texto historicista,desenvolvidaa partir do Romantismo, Strauígdescascada tradição bíblica o Jesushistórico e deduz dele o mito "Cristo". Um mito que também tem a sua verdade, a qual ele apresenta no bom estilo hegeliano. Em Cristo, diz Strauíg,

expressa'sea ideia da raça humana; todo homem devee pode setornar 16

'JovemAlemanha" Uungff Z)eunfó&/zd) designavaum movimento de jovens poetas liberais inspirados pelas revoluções de 1830. [N.T.]

221

CAPÍTULO Xll

LIVRO SEGUN'DO e 0 ROMÂNTICO

como Cristo. Os milagres que Cristo comete devem ser entendidos apenas simbolicamente;

eles mostram "gzóe o espz'r/ra ie aproPr/a c da

z,ezm/z/íZa n.zfz/reza".A ausênciade pecado em Cristo significa para a human\date

" que o desenrolar do seu desenvolvimento não tem mácula,

que cl impureza sempre está col,ada no indivíduo,

\

Í

mas que está suspensa no

gê era e em iz/,zó/sfcír/a".A morte na cruz é símbolo de que o progresso exigededicaçãoaltruísta e também sacrifício; e a ascensãoao céu nada mais é do que a promessamítica de um futuro glorioso. A 14züde7esz/itornou-seda noite para o dia a febre da burguesia culta, que sentia reafirmada sua crença no fiituro terreno. O efeito extraordinário do livro (depois de poucos anos haviam sido vendidos bem mais de cem mil exemplares)reside na ligação de dois componentes típicos à época: de um lado o espírito do desnudamento.Avança-se para um "verdadeiro" centro, isto é, age-sede maneira desmistificadora. Por outro lado, descobre-se algo como uma "realidade"por baixo, que dá motivo para otimismo: a ideia de um progressoda humanidade. De Strauíg partiu aquele grande estímulo que Feuerbach mais tarde vestira com as palavras: os "c,z 2yZafoi zzozz&w" deveriam finalmente tornar-se estudantesdo terreno

Uma geraçãomais tarde, Nietzsche verá em Straufga caricatura de um 6ilisteu antirromântico e zombara dele; ele se acomodaria "iarraíe/ramentê' com seu " entusiasma de quem usa meias defeLtro" num mundo

a respeito do qual ele não cessade acreditar que estaria aí apenas para agrada-lo.

Mas o entusiasmo romântico não é de fato destruído em Strauíg;

eleo traz

pelo menosno seupróprio entendimento dascoisas

do

céu para a terra. Depois de Strauígvem Ludwig Feuerbach, que declara: ' l)eusfoi meu primeiro pensamento,a razão meu segundo,o homem mev ferro/ro e zí/f/mole izme fa." Tampouco se deve interpretar isso como

desilusão;também aqui há entusiasmopelo progressodo homem em jogo. Em Strauígeleera expressode maneiracomedida,em Feuerbach ele se torna exaltado. O homem, ensina ele, é um virtuoso do estranhamente. Ele projeta suasmelhores forças numa imagem de Deus, faz disso uma força que rege sobre ele. Torna-se estranho ao seu próprio poder, é um estranho para si mesmo. O mecanismo em si permanece 222

escondido para nós. Precisamos desvenda-lo; isso será nossa libertação.

O mecanismo do estranhamento -- Feuerbach o denomina à boa maneira hegeliana "dialética" -- funciona em diferentes níveis. Há a sociedade, o corpo e o "tu". Nessas três esferas rege o estranhamento.

A força criadora do homem que vive em sociedadeé tornada estranha na imagem de Deus. Mas também temos medo do nosso corpo e das suasnecessidades, porque nos tornamos estranhosaele ao toma-lo como uma coisa externa, como corpo A gente tem de fazer do corpo que se

tem o corpo que se é. Temos medo dos outros porque não experimentamos os outros como tu, mas sim como desvio do nosso eu, gerando

estranhamento.Entendamospor fim que o tu nos abrea chancepara a aventura do amor e da comunidades Para Feuerbach o caminho que vai de Deus, passando pela razão, até

chegarao homem dotado de um corpo, é um caminho à luz. Com ardor sacro, ele fala sobre o que Ihe é mais sagrado corpo, tu, comunidade e mostra com isso que ele de certa forma percorreu essecaminho de Deus para o homem ao contrário; do homem para o divino, mais exatamente, para o homem divino. Ele denomina os sentidos do corpo por exemplo como "órgúoi Zo .zóso/#/ " e sobre o tu e a comunidade

ele

esctexe'." A solidão éser$nito e Limitado, estar em comunidade é liberdade,

é in$nito. O homem sozi«.bo é u«. homem(no se«.tido com.«m); o bode«,:

com o homem

a unichde de eu e você,é l)eus"

E então Karl Marx. Também ele eazparte da história daquele movimento que, à procura da verdadeira realidade, puxa o além romântico do céue o colocadestelado, no futuro. Como Feuerbachdescobreo corpo, o tu, a comunidade, assimMarx descobreo corpo da sociedadee seu ponto central: o proletariado. É uma paixão 6ilosóâca que se volta ao sofrimento na sociedade. É o pensamento

que impele à realidade. O Galhodo burguês é atraído pelo proletariado

porque Ihe atribuiu um papel Gilosó6lco.Assim como não se tem em Feuerbach a impressão que que ele fala do verdadeiro corpo -- ele, pelo

contrário, apresentao corpo pensadoa partir do seupapel filosófico

,

tampouco trata-se em Marx do verdadeiro proletariado, mas de uma categoria com inúmeras ramificações. Marx havia até declarado que os filósofos teriam "ape zi / rer7rezadoa m 223

Zo Ze modo z&z,fria", e que

LIVRO SEGUN'DO e 0 ROMAN'TICO

CAPÍTULO Xll

trata-se, porém, "de trans6ormá-lo"; masessamudança pretendida é uma

t

passando o Romantismo, declara: ".4 zle#ormzz Za ca/zsc/éfja co J/í/e em

um político social, ele só poderia entendê-lo como ofensa. O Marx dos anos 1840 está completamente ocupado com a tarefa

próprias açõest.] Vai se mostrar então que o mundo bá muito sonha com

,Uese libertar de Hegel. Em Hegel, declara,o espírito determina o ser. Mas trata-sedo contrário: "0 ier 2eferm/zz'z a ro sc/ê/zcZ'

possuí-La ueTdadeiramente:'

lma coisaa resp'ito (h qual eLetem apenasde ter consciênciapara poder

tolQé sóbrio, mag sjm pala fazer da flor sonhada a flor de verdade. Mlarx

expressasuas forças vitais no trabalho, fazendo surgir a si mesmo e à

sonho.E. ult4.apassado pela posse verdadeira; esta é a grande promessa

sociedade. Mas esse trabalho

daiuaâloso6ia.

se dá "cam zlm effznnÃ.zmrnzo or/z/ndo 2a

bach regressaaqui. A dialética atravésda qual o próprio é constituído como uma força estranhaé projetada por Marx ao corpo da sociedade

e à sua lógica. Segundoele, não só se projeta um deus; também um mecanismo social é formado que, em forma de mercado e de adoração

HI

lue se desperte o mundo do sonho sobre si mesmo, que se Lbe ocpLique as

Mas o que é isso -- ser?Em Marx ele é o homem o homem que trabalha e o homem que é tornado membro de uma comunidade a partir do trabalho -- em intercâmbio com a natureza.O homem

/z.zfwreza".Um mecanismo cego domina o mercado. Os produtos que o homem produz e as relaçõessociais que ele adentro têm poder sobre ele e Ihe sãoportanto estranhos.A crítica à religião de Feuer-

\

A./Zar z'/z,.z-- Novalis a tinha buscado em sonho. E Marx, urra.

continuação da filosofia com outros meios. Setivessesido denominado

Tem.sede despertar o Romantismo sonhador,não para que se o quer a.continuação do Romantismo com meios despertos. Q.ualquer

A concretizaçãode um sonho romântico é o objetivo, masantesdele se encontram as dificuldades da planície. .Ni, tudo se passa de maneira

completamentedistantedo Romantismo. Parao pensamentodo início da era das máquinas, a história da libertação começa ela mesmaa funcionar como uma espéciede máquina. A ela sepode confiar o estabelecimento da vida de sucesso a propósito: sob a condição de que as pessoasse comportem de acordo com as funções. A burguesia produziria "pr/n-

de mercadorias,agecomo uma força natural que e/Z/ã/rifaos homens. A respeitode seu próprio projeto teórico, Marx diz querer passarda crítica do estranhamento divino para a crítica do estranhamento não

ipalmente seuspróprios coveiros.Sucoderrota e a vitória do proLetctriado sáa móoi / ez///zíz,e/ ", segundo Karl Marx. Essavitória seria inevitável,

àlLx\x.ü. " Êportanto

incomodada. Disso se encarregamos "2o fa es2a ez,o/zífáo"(Heine), que devemos imaginar como engenheiros da sociedade. Indignações e visões a respeito do futuro devem ser olhadas a distância, sem grandes emoções,e favoresque trazem distúrbios têm de ser eliminados. Movi-

tctrefa da história, del)ois que o além da verdade de-

sapareceu, estabeleceua verdade terrena [.. .]A critica do céu se transforma

assim na crÍt ca da terra:

Um furor romântico opera nessacrítica, masé também uma crítica

sea máquina da regularidade histórica continuassea trabalhar sem ser

que acredita ser a última. Filosofa pela última vez, e então a 6tlosoâa

mentos confusos e espontâneos devem tomar a forma de um partido.

pode desaparecerna felicidade que se tornou realidade. Em Hegel, a coruja de Minerva havia alçado seu voo depois que a realidade se mostrara pronta.'' Em Marx, a coruja de Minerva devevoar em direção à

E preciso contar com prazos mais longos, desenvolver estratégias e táticas; é preciso fazer crescer um zomgy#imo de.afo, como se o denomina mais

a\Nata.da'."A crítica fez ama corrente & Pores imaginárias,

deve serposta em risco levianamente pela espontaneidade. Os guerreiros devem ser previsíveis. Por isso a polêmica contra elementos que não são de confiança, como Heinrich Heine, contra os anarquistas e os teóricos

náo para que

o homem porte a corrente semfantasia e desolada, müspara quejoguefora

l corrente e pctrta a flor uiuü=

tarde usando um conceito de tênin. A realização de grandes objetivos não

da liberdade instantânea,como Max Stirner e Mikhail Bakunin. 17

Segundo esclarecimento do autor, o mesmo que dizer que as sabedorias filosóficas

Os sonholgS!!j!.!!g.!illÊ!!!çãg..çontinuêg!..lama!!Elçg$ mas o comportamento pessoalnão devesê-lo. O romântico é investido no processo

sempre chegam tarde demais. [N.T.]

224

225

LITRO SEGUNDO e O ROMÂNTICO CAPÍTULO Xll

objetivo, mas os sujeitos devem ser livres dele. Nessescírculos que, olhando friamente, são românticos no seu comportamento social,

ocorre que o termo "romântico" se torna uma ofensa,a definição de uma postura da qual se suspeita mutuamente

e que merece ser desatada.

Heinrich Heine conheceKarl Marx, que é 21 anos mais novo, em dezembro de 1843, em Paras.Ele ficou tão fascinado por ele quanto, dois anos antes, Moses Heíg, que escreveua Berthold Auerbach: "Z)n Ma«, a«im :e chamameu ídolo, é «inda um b.«».m bemjo"'m [...] Associa a mais profunda seriedade JiLosó$ca ao humor cortante; pense em

Rousseau, VoLtaire, HoLbacb, Leasing, reine e Hegel unidos, náo atirados

/z//zfai, nz/m.zíó peito.z e zzii/w z,océfezú.A4arx." Marx quer conseguir a

\

colaboraçãode Heine em diversaspublicações,e este,que fica certamente lisonjeado com a corte, deixa a maior parte dos seustrabalhos no ano de 1844 entre eles.4Zemzznóa. t/m ro fa de#aZaidr i z,rrza [Z)ez/zscóZa/zZ. .E7/z\y7 /ermzZrcóen] \ -b

com o novo amigo, para que ele

faça a primeira impressão. Isto ocorre num tempo em que Heine não é geralmente bem visto entre os come i 2# rez/o/ fáo e os liberais. [)epois que, em 1840, pub]icou seulivro sobre Bõrne, três anosapós a morte deste, sua reputação nessescírculos ficou completamente arruinada. Já se desconfiava dele porque tinha uma postura muito crítica em relaçãoao nacionalismo, que

crescianessesanos também entre os liberais por causado patriotismo. Ele ainda deixou prevalecer a visão de Bõrnes sobre uma Alemanha uni-

ficadademocraticamente. Mas quando o chauvinismo francês em 1840 l

novamente levantou exigências em relação à região à esquerda do Reno

e em consequênciadisto se deu uma virada nacionalista na .Alemanha --

em toda parte se cantava .EZ'sn,ío dez,em #-/o, a Re/zo alem.ía /íz,re, de

Becker, e .4 z,faria re/zona [Z)/e Wacór m .Róe/n] , de Schneckenburg

--,

Heine então alertou quanto a um nacionalismo que luta pela liberdade da Alemanha, mas não pela liberdade dos alemães.Além disso, para ele,

o judeu, não era possíveldeixar de ver que com o aumento do clima nacionalista também o antissemitismo ganhava formas ameaçadoras. Aquele que "Zez,oraPamreieT", disse ele, "rosé m z comer z/m JzzZez/de-

pois, par'z ter um bom gosto' . No Conto de fadas de inverno, E:le\ne de

fato diferenciará exatamenteseu amor pela .Alemanha e seu desprezo 226

pelo espírito de subserviência: "-éZ'i m.zrcó m a//z2a iúo rzg/ZoJ.pordz'/ -estilos tão apuratlamente l como se tivessem engolido o bastão lcom o qual ízm/el Je Z'a/ez/ neZef." Ele zomba do desejo de unificação

política

que está

disposto a aceitar a união alEadegáriacomo meio externo de unificação e a

censura como meio interno. Os franceses,diz, não devem sercombatidos. mas superados

pela criação

de //zir/rz//fóeK

#z,rel.

No

prefácio

do

Cloro/o,

elese declarapartidário do seumodo de patriotismo: "ie /fp'm//darmos a lue os $'ancesescomeçaram, se nós os superarmos na ação como iá o $zemos 10pensamento [...] [,] se destruirmos a seruic]ão até no Último esconderijo bcéu, $esalvarmos o l)eus que pide na tema, nos homens, da sua humilhação ..] e Testituirmos a beleza violada sua dignid(de,

assim como o disseram e

cantaram nossosmestres[...] a Fiança toda uai então cair em nossasmãos. ü Europü to(h, o maneio todo

o mundo todo ucii se tornaralemão! Com essa

rtissão e tlomínio uniueTsal da Atemanba eu sonho Pequentemente quando .P/zjle/aíaZ' os cózrz,aZBoJ. .Ehe / me# .Pzzü/a//fmo. " Embora Heine siga aqui

o programa de esquerda hegeliano sobre a desdivinização do céu e a divinização do homem, não se dava a mínima confiança a ele. Trata-se, para ele, dizia-se, apesar de todas essaspalavras grandes que soavam bem, em suma apenas da óeZez.z z,/azeda. Pala os " patriotas em serviço" e pata as " doutores da reuotKção" de e a

e permaneceu um artista vaidoso, para quem uma piada, uma rima, uma metáfora, uma bela frase, eram mais importantes do que os imperativos da consciência social e a política da libertação. Era tido mais como epi-

curista, como um homem dos sentidos, para quem a camisado prazer era mais próxima do que o traje da ação social. Achava-se até que ele era subornável. O próprio Bõrne havia ajudado, em 1832, a fazer circular o boato de que Heine seria um espião pago pela Prússia. Na verdade, ele não recebiada Prússia,mas sim do governo francês -- que o protegia das p''seguiçóes prussianas-- uma ajuda em forma de uma pensãode Estado,

paga a ele durante os anosde 1840. Heine porém adentrou tão pouco uma relaçãode dependênciaquanto no que toca a JamesRothschild, de quem aceitava presentes, sem por isso parar de zombar dele.

Marx não dava caso aos boatos e ataques contra Heine. Segundo

o relato da sua filha, teria julgado a respeito das 'yngzíezai.po/l#/ra" de Heine "2a ma e/xn m z/s óxn 2aPoiiüe/'. 227

Poetas, dissera Marx, "iáa

LIVROSEGUNDO © O ROMÂN'TICO

CAPÍTULO Xll

coTuàaspandas estranhas, que temos de deixar cumprirem seu caminho. Não

se deve julga-Los com os parametTos de pessoasnovmüis, ou mesmo com os

2e.peiioaiexrepr/omzz/í." Marx gostavatanto do poetapoliticamente não con6iável que, quando foi expulso de Paria no início de 1845, escreveu a Heine:

".Ew gos/ar/a df /fuzz7 a if

óor /zzzZ'/zgagem." Por seu turno,

aquele que é voltado para o passado, cristão, avessoaossentidos e cheio

[eÚ.s\ta:" Nem todo mundo Pca deitado inerte como o novo Tannbiiuser

de renúncia. Como a "Jovem Alemanha", ele também condena aquilo que se chama de reacionário no Romantismo histórico: a aliança sagrada

Zanzzó,2z/ier, que sucumbe à magia do monte de Vênus, é desde Ludwig

Tieck

e .4 frazmP.z m/@ic,z Zo yoz,em uma figura simbólica

do

erotismo romântico. Quando Heine é denominado o noz,aZannóãz/ien não se acerta apenasos românticos, mas também se denuncia aquele que é propenso aos prazeres e corrompe os costumes. Ainda antes que o mal de Heine se manifestassecompletamenteem 1848, já se ouvia boatos a respeito de que ele teria uma doença sexualmente transmissível.

IF:

Há um Romantismoao qual elepermaneceGel e um outro que ele critica. Seu Romantismo é aqueledos roz/x/ ó/f; o Romantismovisto com olhos críticos é aqueleque idealizaa quaresmada Idade Média,

Friedrich Engels, mais ou menos na mesma época declarava em outro H. el,ne.

\

inbam de se mantemescondidos,com os bicos calados:' b-qü\ aVaxecea dupla imagemque Heine tinha do Romantismo.

Heine nunca seimportou de aparecercomo partidário do romantismo

erótico.

"0

z&onifz'ac ", como Nietzsche

denominará

mais

com meios estéticos.Mas, diferentemente daquelegrupo, sabeque o Romantismo não se limita de modo algum a isso.

Em seu grandioso ensaio a '

jus-

tifica suarelaçãocom o Romantismo.O Romantismofoi, escreve,uma 'War zZz.paháa gae Z'boroado jz gazede Cr/f/a"; ele era atraído pelo além

tuberculoso como Novalis, o espírito da especulaçãoo fez florescer. Ele era politicamente tolo e submisso quando os dominantes ordenaram o patriotismo.

Também aqui se agia até que a Zozlcz/zn/z&má imperasse.

Mas o romantismo dos rouxinóis, que ele amava, era diferente: ali existia

tarde, era um elemento vital para ele e um estímulo poético, mas só

um estranhamentoem relaçãoao mundo, um desejode produzir beleza,uma

quando encarado ironicamente, como no seu famoso poema da Loreley. O canto das sereiasataca o marinheiro com "ie/z,agemZor", mas a me-

aversão contra a utilidade. O encantamento lírico, a enlevação, os excessos

lodia encantadora do poema se transforma numa sobriedade cheia de àesàêm: " Eu acho que as oníhs engolem/porém o marinheiro e o barco;

E. T. A. HofEmann,o jogo irónico, a vontadede contar fábulas-- tudo

/.F iifo$rz

fom iez/ c.zmfo /,z Zarr-Zey."

Mas a atração

continua

apesar da

fantásticos, o senso do sinistro, por exemplo em Achim von Arnim e em

isso Heine juntava numa tradição à qual não queria ter de abdicar,porque se sentia familiar à mesma, que o inspirava em sua própria produção.

distância. Heine não quis, como uma vez o ardiloso Ulisses, abdicar de ouvir o canto das sereias,e também queria, como ele que se deixou

Ele portanto acertou ascontas com o Romantismo de modo a ainda poder

prender no mastro tomar medidas para não ser tragado por esse canto. A ironia pode ser uma ferramenta. Mas Heine sabeque não se

eram favoráveisa essetipo de Romantismo. Em 3 de janeiro de 1846, escreveua Varnhagen von Ense: "o r?//zo2r m// /znoJ2a .Ram.z/zfzfmo fem

pode mantê-la para sempre. Nos ZlsPz'r/raieZeme/zíarrf [.Êbmeniargr2i-

um Pm, e eu mesmojüi seu último e abdicante rei dasfábuh?. Em Ana

ferm] ele inicia a antiga canção de Tannhãuser com a observação: "Mai o homem nem sempreestádispostoa rir, eLeàs vezesPcü quieto e sério, e

ZroZ7(1841) ele teria se arriscado mais uma vez a brincar como os antigos companheirosde sonhos sob o luar. Teria sido um "r fa Ze c/s e z /7acz

pensa no passado; pois o passado é a verdadeira pátria da suEIcLIma, e eLeé

ü declínio

tomado por uma saudadedossentimentosque eLecerta ue2;sentira, mesmo

permanecer romântico, mesmo pressentindo que os sinais da época não

Iluminado pelo luar e em meio "à ie/uúgemr.zfa àsdgzfzaJ a /zí 2#J

que sejam ossentimentos de dor. Assim aconteceu com Tannbãuser..." No

Ze ia/zÃoi" tropeça a figura grotesca de Acta Troll, um urso. Deve perso-

comentário

nificar os literatos políticos do círculo em torno de Bõrne e tambéma

sobre essa canção

lê-se: ".Ew o z,/ ZZ Ze/z o os fo s Zúgz/fazei

rouxinóis amaLdiçoados que, durante a Semana Santa na Idade Média, 228

"Jovem .Alemanha"

convictos, mas sem talento. O urso dança, mas 229

LIVRO SEGU'NDO © O ROMAN'TICO

CAPÍTULO Xll

não sabedançar. No nlnal, é morto. Da pele do urso se Eazum tapete

eledeve ter sido atraído pelo fato de que no saint-simonismose atrí.

para a frente da camade Juliette, em quem se reconhecefacilmente a Mathilde de Heine. Tudo foi escrito "da mano/xnexfzaz,/zga/zfe e ianóa-

bufa ao poeta quase um papel de sacerdote. No prefácio em francês das Imagens de viagem \ReisebiLdernÀ, esctexe em \ 834: " Nosso antigo grito

dora daquek escoa romântica na qual eu uiui os anos mais agradáveisde

Le guerra contra a classe dos sacerdotes foi substituído

minha ju«ent"de

neLbor.Não se trata mais de destruir a antiga Igreja de maneira uioLentcl,

Heine age com o romântico

contra o Romantismo.

No livro Zz/z/mig

Bõrne. Um memorial \Ludwig Bõrne. Eine Denkscbri$à, ele culxha pala essasituação a seguinte fórmula: os gregos contra os nazarenos. " bodas

nas muito mais de construir uma moda;e, bem Longede quererdestruir o sacerdócio, agora nós mesmos queremos nos tornar sacerdotes"

Heine era amigo de Prosper Enfantin, líder dos saint-simonianos em

sãoou pessoascom instintos ascetas,iconoclastas,em feroz busca da espiri-

Pauis;ele até Ihe dedicou a versão francesa da ]Bífóri

tualidade Vnazatenos\,oz pessoas com uma natureza alegreem relaçãoà

taAlemanba \Gescbicbte der ReLigion undPbilosopbie in Deutscbbnd\. Pad'ta,

vida, orgulhosos de se terem expandido e realistas \gregas\:'

ter esp'r'nç's fundadas em ser reconhecido como sacerdote da nova Igreja. Depois que conheceu mais de perto não apenas as doutrinas, mas também

'1

\

por uma solução

Heine se senteum romântico na versãogrega*8,fortementeacuado

Zú eZlk/áoe.pZojo@a

pelos novos nazarenos. Estes últimos evidentemente não se sentem como

os doutrinadores do saint-simonismo, a perspectiva de se tornar ali um

românticos, maspara Heine eles o são.Os antigos românticos amavam o passado,os novossão fiéis ao futuro; ambos estão em falta quanto ao presente. Que Heine denomine sua linha de pensamento como "realista" precisade algum esclarecimento."Realismo" signiâca nessecontexto nada mais do que presençade espírito no sentido epicurista. Heine quer se apropriar das riquezasdos prazeresreaise imaginários contra todo consolo a respeito de um futuro, cora da Terra ou terreno, e contra qualquer moralismo político. Sucumbeaté mesmo ao encanto da Idade Média o tempo

poeta-sacerdote Ihe pareceu bem menos sedutora. Nas Car/ai ioZ'r? o .p.zZca

das catedrais, das damas de castelos e dos trovadores --, sem ter vontade

de instituí-la novamentee sem o temor de ser acusadodisso. Quem diz uma coisa não precisa dizer automaticamente outra. Ser consequente é algo para doutrinários, não para rouxinóis.

#amcâ [.Br/e#rn üóer '#e#n/zzã/fcóe .Büóne]( 1837), ele fala das "exilgénci.z, =rrõneasda no a Igreja aos artistas, de que estesdeveriam &dicar suas obras üo objetivo & alegrar e tornar a raça humana mais beh. Eu chamo essasexi-

d&.aliada..mTzi-à[email protected]üç )) o l)!óDria mando

mo

Quando, dezanosmais tarde, Heine simpatizou com os comunistas, estabeleceu-serapidamente para ele a mesma tensão entre o utilitarismo político-social e a exigência em relação à "dz/fo om/a Z# zz7/f".Mais uma vez ele seenvolve em dificuldades com o seu rouxinol romântico. Quando os aspectosda utilidade social e política se tornam mais dominantes --

escreveu

exatamente porque ele lhes atribui razão de ser --, então o próprio valor,

seulivro sobrea EscolaRomântica, estavasob influência da doutrina

a suave inutilidade da poesia, começa a ter de ser justiâcada. Heine vivendaalguns momentos de pouca coragem. Uma vez escreve a Immermann:

E, mesmo assim, Heine era uma mente política. Quando

de Saint-Simon, cuja exigência primeira a exploração do homem por outro homem deve ser eliminada Ihe era tão clara quanto a consciênciade que não poderia existir uma sociedadede iguais, e que

".4Poes/ / aPe/zaJz/m.z reza roja,zJerz//zzür/a. " Isso foi depois de um jantar

na casade Rothschild; depois de ter visitado uma reunião dos ".óomen.

por isso posições e hierarquias deveriam ser atribuídos de acordo com a

2a rrz,o/af,2o" num local enfumaçado, ele anotou: a poesia é apenas um

capacidade e a produção e não segundo a origem de alguém. De início,

"ór//zg edo Sagrado". Dos "dome i Zo paz,o" que encontra ali ele não

18.

O autor esclarece:a consciência humana percebea ilusão da crença nos deuses.Os deuses,

esperanada de bom. Teme o barbarismoda plebe e a ignorânciados seusporta-vozes.Enquanto Bõrne afirma que, se um rei apertassesua

nos quais não mais se acredita, não podem mais exercernenhuma influência.

mão, ele a poria sobre o fogo para limpa-la, Heine por sua vez afirma

230

231

LIVRO SEGUN'DO e 0 ROMAN'TICO

CAPITULO Xll

que" eu, se o podo me al)errasseü mão, a l,ataria depor?. h. texdu$.o € sublime apenasquando selê sobre ela. Na verdade, escreveele, ela é suja,

E a antiga pergunta da teodiceia transferida para a arte. Outrora se perguntava: Como é que sejustifica a existência de Deus diante de

a lama sobe.A falta de bom gosto ganha uma consciênciatranquila. A ira por causada injustiça sejunta ao ódio da cultura. Quer-se destruir

tanto mal no mundo? Agora a pergunta é direcionada à arte: como é que

aquilo que até então não estavaao seu alcance. Mas não estão os pobres com razão, não se pode entendê-los bem? Certamente, mas estarão eles

A.alia-g!!!1lZlçi.ÊXisiênçia.:iá.!!áQ..í.WPuç.s.!iáa.da,i11il4$!iça.açE. O lamentar do mundo e o canto dos rouxinóis -- como os dois se podem harmonizar? Heine se ocupa com essasquestões.Beleza,espírito, poesiatêm seu

servidos se os rouxinóis desaparecerem?

Heine gira em torno dessasquestões.BõrneIhe ofereceum espe-

lamente nem

objetivo em si mesmos,elessãoum grandejogo. Não sejustinlcampor servir a algum objetivo político, nacional ou social isso ele sempre tem em mente, e também Ihe é uma advertência de que alguns colegas traem a arte por solidariedade com a miséria. A percepçãoà qual ele

Ele tinha se virado sobre

depois de dúvidas e perguntas sempre volta é a seguinte: Ou a arte se

táculo aterrorizante. Ele havia se engajado pelos pobres e por aqueles de quem se usurpara os direitos, e tinha alcançado pouco E por isso \

t

}

no çtna\ puxou" a touca por sobreas orelhas, não queriajüt z'er nem az/z,/r e c ia

opreriPú'/o

iem.@n2o".

s(;Msann.do.JnaLna.inunda?

os " dejetos dos plebeu?' e assumido " os modos banais de am demagogo'

justifica por si mesma, ou procura justificativa

Valia a pena, pois, delatar os rouxinóis? dá um depoimento marcante. Ele tinha, escreve,apoiado as ideias comu-

sociais, políticos, económicos. Mas então ela já se perdeu. Uma vez Heine escreveu:"M#i z,ocâdez/emfa/orar zzwzz eipzz2a jorre meu caixão; pois eu $1i um soldado uctLentena guerra da libertação da

nistas e socialistas, sabendo que elas, se obtivessem sucesso, trariam um

óz/m/zzz/Za#e." Nas ConPssóei [Gefi2nZn/iiem]

tempo no qual as pessoasmaterialmente talvez estivessemmelhores, mas no qual os rouxinóis teriam deixado de cantar. "SÓ cam ferra r horror ezz

de sua morte porém selê: "E#, rama 'zi.ceifa ZJdizem, náo .zZra/zre/aZa

Um ano antes da suamorte, no prefácio de 1855 para Zz/rer/a,Heine

em outros aspectos,

\

penso no tempo em que aqueks iconocbstas sem bTilbo chegam ao poder: com

nesta terra. Não me tornei nada, n.zda além de poeta:

O Heine romântico ficou com a última palavra.

seuspunhos incultos eles&stroem então tochaas$guras em mármore do meu

amado mundo (h arte; el,esdemolição todas aquel,asbrincadeiras ousadas que eram tão caras aos poetas[...] os rouxinóis, os cantores sem utilidade, serãocaçados,e abl meu \.Xvto üas canções uai será;irde embrulho para o

uendeür de temperos,para colocarc4é ou rapépara as Telhasü futuro. Há duas vozesno seupeito. Essaé uma delas.A outra estáenfeitiçada ç,ot " silogismos terríveis: não possoeu contestar a premissa de 'qze todos os homens têm o direito de comer', então eu tenho que me submeter ü

foZai i ransegwénr/.zi".As consequênciasporém são: num mundo cheio

de horror e injustiça, é um luxo elitista se retirar a uma ilha de beatos com a sua poesia. Na tênue poesia não age também a falta de coração?

O jovem Hofmannsthal vai trajar essadúvida do artista oriunda da sua consciência social -- nos versos: ".4/ga/zi, claro, fém 2e morrer ZZ embctixo, l onde os pesados remos das barcos tocam, l outros moram Lá,em cima onde está o Leme,l conhecem o uoo dos pássaros e as terras de estrelas: 232

que escreveu pouco antes

233

CAPÍTUI.O X.lll

Wagner: o jovem alemão. Rienzi em Paria. Revolucionário romântico em Dresden. Realização dos primeiros sonhos românticos: a nova mitologia. O ar?e/dos n/be/tangos.Como o homem livre gera o crepúsculo dos deuses. Anticapitalísmo e antissemitismo. A experiência mítica. Tristão e a noite romântica A embriaguez simbolista. Ataque geral aos sentidos.

\

Richard Wagner está sob a influência das jovens ideias alemãsde liberdade, unidade nacional e progresso quando começa a trabalhar em

' l.l h

1838 em .R/rnz/ -- suagrande ópera sobre uma tentativa frustrada de revolução em Romã no ano de 1347. Ele é regente de música em Rega, três vezeshumilhado: pelas condições miseráveis do teatro local, pelos seuscredoresque o acuam, pela sua mulher Minna, que fugiu com o amante. Como outrora Herder, também Wagner deixa Regacomo em fuga para, depois de uma perigosa viagem por mar terríveis tempestadesforçam o navio a ancorar com urgência na costa da Noruega -- pisar solo francês com .R/enz/ inacabada na bagagem. Em Parasele fica até 1842; são anos de frio interior e exterior, de perdição, de miséria. Torna.seamigo de Heinrich Heine, que o ajuda financeiramente e Ihe fornece o material romântico, a história do Tannhãuser e do holandês voador, para trabalhos posteriores. Vendo a posição brilhante de Meyerbeer, ele odeia ainda mais a cidade que náo Ihe dá o reconhecimentoque acredita merecer. Mais tarde escrevenuma carta a Theodor Uhlig: "ez/ lão acredito mais em nenhuma revolução que não comececom o incêndio to al áe Parti

A Paris de 1840 se torna para ele a Romã de 1347, onde Cola di Rienzi, filho de um hospedeiro, apoiado por um movimento popular contra a aristocraciadominante, tenta estabeleceruma república seguindo o exemplo da Romã antiga, mas é forçado a ver como o povo se afasta dele. Na ópera de Wagner, Rienzi tenta pela última vez, da varanda do Capitólio, conquistar a multidão mobilizada contra 235

LIVRO SEGU'N'DO © O ROMAN'TICO

CAPÍTULO Xlll

ele por um enviado papal , ganhando apenasuma chuva de pedras. O prédio é incendiado, desabae enterra consigo Rienzi, com suautopia da felicidade do povo e da liberdade. Rienzi e a Romã degenerada

nessaconstelação Richard Wagner,

nia

em claro rompimento com a constituição -- dissolveu o governo

eleito e ameaçoucom tropas prussianas razão pela qual a guarda civil é alarmada --, Richard Wagner toma parte dos preparativos para

o músicotribuno do povo, podereconhecer muito bem seupróprio

sublevação armada junto com Bakunin, de quem ele havia nesseínterim

destino. E ainda um outro se reconheceráaí. Depois da visita de uma apresentaçãoda ópera romântica em Linz no ano de 1906, um jovem de

se tornado amigo. Ele pareceaté ter conseguido certa quantidade de

dezessete anos

diante dessa "mzZí/r.z aZ'empa.zZa.porZ)ezóf"

chega a

granadasde mão. O talento prático de organizaçãode Wagner impressionou Bakunin, que sugeriu ao amigo a composição de um terceto no

uma convicção que trará grandes consequências: que também "ez/ fere/ sucesso em unificar e tornar o reino alemão um grande reino' . Nsüm u&çÀI

qual o tenor sempre deveria cantar "corte a cabeça dele", o soprano "enforquem-no" e o baixo "Fogos Fogos" Mas as ideias artísticas de Wagner

Hitler conta mais tarde a Albert Speer.

tomaram outro rumo. Ele se ocupou.com um drama sobreJesusde

A ópera de Richard Wagner sobre um revolucionário fracassado se transforma num sucessoeuropeu. Pomposidade teatral, cenascom

Nazaréque deveriaserapresentadocomo rebelde social e como aqueleque libertava da propriedade privada. Na situação revolucionária Wagner se sente invadido por um "prnzeryamZe, s/m, ex?.zzziiz'o", que o Eazlembrar dos sentimentos de Goethe durante a canhonada de Valmy. Começa uma nova época e ele pode dizer que estavano centro dela, quando o rei e seus ministros fugiram da cidade em maio e a população sublevadaformou um

massas,encanto transportado pelo cenário eram uma grande exigência para grandes palcos; Wagner, que queria finalmente sair do "ranf//zóo 2e miséria", tinha planejado assim.

Wagner deixa Paria em 1842 como um homem famoso. Ele se torna regente de música da corte em [)resden. Logo estará insatisfeito. Seu salário

governo provisório. Wagner aproveita o cessar-fogo para uma empreitada

não cobre seu estilo de vida luxuoso. Novamente o monte de dívidas cresce.

muito arriscada. Ele distribui folhetos entre os soldados para motiva-los a

Ele vê a si mesmo e a empresaartística nos grilhões dos interessesfinanceiros. Esboça um conceito de reforma atravésdo qual a potencialidade dos palcos deveria crescere toda a direção deveria estar concentrada em

se aliarem à brigada

suas mãos. O teatro de ópera não deve apenas servir ao luxo e ao prazer,

ópera tomba em chamas; mais tarde sedirá que Wagner a incendiou. No dia

mas dar impulsos progressistas, democráticos. Náo acha ouvidos para suas

8 de maio os rebeldesde Dresden são derrotados. Os líderes sãopresos,ele conseguefugir, primeiro para Weimar, onde os ensaiosde orquestra para

propostasde reformas. A rotina administrativa o aborrece.Então os tumultos revolucionários dos anos de 1848 e 1849 finalmente trazem

civil. Observa as lutas da torre da igreja e tenta dirigir

a movimentação dos rebeldes entre as barricadas que haviam sido construí-

dassob a sábiadireção do arquiteto Semper.No dia 6 de maio, a antiga

uma mudança. Olhando para os mesesestimuladores, escrevea Minna

Za/zm,ü#z/ier começaram.(quando, em 16 de maio, o mandado de prisão é publicado, Franz Liszt o ajuda a fugir para Zurique.

em 14 de maio de 1849: ".Hii/m, n.z m zíor / ia//{#af'2o com m/nózzpoiifúa

[)urantes os meses de revo]ução, e]e havia feito o primeiro esboço

e quasecoma minha arte [. ..] altamenteendi içado [...] euafundei com este mundo, parei de ser artista [. . .] e me tornei

ainda

porém «lü convicção

isto é, eu buscada o solo

ctpenas um revolucionário,

que não nü ação,

para as moda,scriações do meu espírito apenas num «fundo completamente 11

contra a sociedadeburguesa.Quando, em abril de 1849, o rei da Saxâ-

para o seudrama dos nibelungos, concentrado ainda totalmente na figura de Siegfried, que, como Cristo, graçasao seu sacriHcio deve trazer a libertação de uma condição mundial errónea.

mas também na ação.Ele escreveupanfletos contra a aristocracia e

Wagnerquer escreverum mira revolucionário; elechegaem Zurique com esseintuito, e o perseguepor vinte anos até que O z/ze/Zof /óe/ /lgoi é concluído em 1874. Com isso, os sonhos dos primeiros românticos a respeitode uma nova mitologia tornam-se finalmente realidade.

236

237

transformado: Richard Wagner se torna revolucionário, não apenas na convicção,

LIVRO SEGUNDO e O ROMÂNTICO CAPÍTULO Xlll

Recordemos: dois motivos haviam posto em ação a busca por uma nova mitologia. Em primeiro lugar, a arte deveria setornar a sucessorade uma re-

ligião pública que havia perdido suacorça.Ela deveriacriar um novo mito,

Para a arte moderna, segundo Wagner, não haveria mais tal vida pública. Ela se teria transformado num mercado, e a arte sucumbido às exigênciasda comercializaçãoe da privatização. Esta teria, como outros

do mais './2índa Zo.@n2o Zo ep/r/ra" (Schlegel), isto é, ser algo inventado e

produtos também, de seoferecer como mercadoria no mercado e sevender.

não algo que se revelou. Por isso se falava também da "m/fa/[l@a zúzraz'2o' O segundo motivo residia na experiência dos momentos de mudança na

Também o artista teria se transformado num produtor, que não produziria

sociedade do início do século XIX. Faltava uma ideia polivalente a respeito

uma vez que a arte, como expressãoda força criativa do homem, deveria

da vida em sociedade;via-se o egoísmo sem espírito e o pensamento sobre

ter uma diginidade autosuâciente. A escravidãodo capitalismo desonrada

a utilidade económica tomarem seu lugar, e por issoo efeito principal da nova mitologia deveria constituir-se em "zlm/r oi óomrmi nzzmzz .perce7fáa

a arte, a degradada como mero instrumento:

Um processo escandaloso,

"Z)/z,rxs'2o.p'zza aJ m'zjjas,

prazer /Z/xz/OJO /Para0i /coi." A arte seria privatizada ao mesmo tempo

coma/m".Os românticos haviam aprendido da tradição que não se pode viver sem mitos, e o espírito do modernismo, que é um espírito ativo, os

em que'" o espírito comum sePaglmenta em miLdireções egoísta?. Q alas\a.

motivava a criar em último caso tal mitologia eles mesmos.

ter algum valor, teria de se distinguir dos seusconcorrentes.E como os

Richard Wagner começa a realizar a visão de uma nova mitologia cinquenta anos mais tarde. Ele fez uso do mito sobre os nibelungos que os românticos haviam reeditado, mas tornando-o algo próprio. Ele porém

artistas individualmente, também as diferentes artesdeixaram "a Zangan/z

\

PPI.õÓ''

por amor à obra, e sim para ganhar dinheiro.

liga-se principalmente aos pensamentos românticos a respeito da função

da arte na Antiguidade a de criar mitos e unir a sociedade. No texto .4 zzrfee a rez,o/wf.2a]Z)/e Xamif z//zZ2:e.Rez,o///om], de 1849,

Wagner opõe a cultura idealizada da pólis antiga grega às condições culturais da sociedade burguesa moderna, vista da pespectiva do anticapitalismo nos primórdios do socialismo. Wagner entende do assunto, talvez tenha lido ou ouvido algo de Karl Marx. Na pólosgrega, escreve,a sociedadee o indivíduo, os interessespúblicos e privados teriam estado

em harmonia, e por causadissoa arte teria sido realmenteuma coisa

estariasob a exigênciade ser original de maneira superficial. Quem queria

qual elassemouimentüuam unidas, para agora ca(h umü seguir seucaminho, para se desenvolver & modo in&pendente,

mas sozinha, egoisticamente"

Fragmentação das artes, fragmentação dos artistas e dissolução do elo que uniGlcavaos objetivos criativos tal seria a assinatura da era atual. Como único elo teriam restado a indústria, o capital e o trabalho por ele comandado. O anticapitalismo de Wagner é também o ponto de partida para seu temível antissemitismo, do qual se falará mais adiante.

A indústria domina, o dinheiro, a vontade de negociar,o guiar-se na utilidade económica. Esta é a religião do presente,que não conecta, mas isola e instiga à concorrência. Um novo elo de união é necessário.

ParaWagner, que nessafaseainda é adepto de Feuerbach,ta] elo

pública, um acontecimento atravésdo qual o povo teria deixado expor o

não pode mais ser a antiga religião, nem a dos gregos nem a cristã. Com

sentido e os princípios da sua vida em sociedadenum contexto festivo,

Feuerbach, ele vê nos deuses projeções da Força criativa livre das pessoas,

sagta&a. " Este podo [ .] se ag'upaua, saindo dos conselhosde Estado, dos foros, do interior, dos navios, dos acama)cimentosde guerra, das mais distantes reÜ.ões,enchendo com wintct mil o ün$teatro para uer a mais complexa das

tragédias,o Vtome\eu, para seconcentram diante da enormeobra & arte, para chegar a si mesmo, entender sua anuidade, para Hndir-se com seu sev,

que se emancipa do poder dos deuses. Olhando para a Antiguidade,

mais reservada, eLetambém erü."

Wagner ressaltou a figura de Prometeu. Siegfried é para ele um novo Prometeu, como também um novo Cristo. No que toca a fragmentação dasartes e dos artistas,Wagner sonha com uma obra de arte plena que una novamente várias artes, a música, o teatro, a literatura, assim como

238

239

sua comunidade, seu deus na mais plena unidade, e ctssim,na mais profunda e nobre calma, ser aquilo que havia poucas horas, em excitação sem descattso e na indiuiductLidade

e por isso a ideia do homem livre tem de tomar o lugar da religião. A figura de Siegfried é para ele uma imagem prática da personificação da liberdade. Nela, se deixa ilustrar aquilo que se dá com o homem

LIVRO SEGUN'DO © O ROMAN'TICO

\

\.

CAPÍTULO Xlll

as artes plásticasda pintura e escultura.A obra de arte plena exigeo artista pleno. Uma produção coletiva é possível?Provavelmente não,

lugar, ele queria pelo menos tornar perceptível a necessidadede uma

a responsabilidade permanece no artista individualmente falando, que

politicamente, mascomo artista no ápice da suafama

porém deve se entender como alguém em quem as forças criativas do povo e suas tradições se juntam. Também para a prática das represen' caçõesele se orienta no exemplo da Antiguidade. Festivaisdevem ser realizados nos quais a sociedade se compreenda e celebre como uma comunidade, unida por valores comuns.

que sua arte seria capaz de compensar ou mesmo de substituir a falta de

revolução futura. Mas então, na última década da sua vida -- resignado

, eleacredita

transformações sociais.A experiência da arte se torna, expressamenteem nani#a/, um momento sagrado da libertação, até mesmo um mensageiro e uma promessa daquela grande salvação do final dos dias. A arte se

Wagner, decepcionado pelo fracassoda revolução, ainda está convicto

transforma em religião. Para Nietzsche, ofendido e desapontado, isso servecomo motivo para romper com Wagner.

de que" semumzzrevolução a sociechdee também a aHe não po&m encontrar

Mas ainda não chegamos a esseponto Ainda se trata para Wagner

sez/z,ezzZaZe/ra ie "; por isso a arte permanece dependente da revolução. as duas se encontram numa relação mútua. A revolução precisa da arte, e

de criar poeticamenteum mito, no qual os deusesmorrem quando o homem livre aparece.Isso é religião de qualquer modo, no sentido da divinização do homem. Wagner deixa o céu, como Heine no Cobro Zr

a arte precisa da revolução. Ambas têm um objetivo comum: "Eífe oó/efiz,a

#aZai Ze / z,é'r/zo, para os pardais.

é o bomemforte e belo: que a reuoLuçáoLbeckforça, que a arte Lbedê belezas"

Wagner trabalha 25 anos no -H/ze/doi /óe/zznKof, começando com o esboço em prosa O m/fo 2ai /óe/zfmgoi,de 1848 até o anal em no-

Mas isso não significa que ela seja rebaixadaa uma servada política, pois

A arte serve pois ao seu próprio desabrochar quando serve à revolução. Logo depois do fracassopolítico, tem-se de reafirmar a função revolucionária da arte e criar obras de arte que mostrem "à correnfez,z2e moz,imenfoi ;«iai'

passionais um objeti«

beb e alto, o obj"i"

'h bumanid«de

nob«d' .

A sua obra de arte à qual ele atribui essatarefa deve ser o drama dos

nibelungos, que nos anosvindouros se tornará uma tetralogia. O revolucionário procurado por mandado de prisão em Zurique sabe, porém, que no momento não se pode pensar em encontrar na Alemanha uma

forma

apropriada

de

realizar

espetáculos.

"Com

fria

minha

moz'a

vembro de 1874. ".Eb náo z[ka m zZí##dú", escreve e]e na última página

da partitura da tetralogia. Em 1876 todo o .4/ze/é apresentadopela primeira vez ao longo de quatro dias para a inauguração do centro de festivaisde Bayreuth. Representa-se a grande história da queda dos deuses.O que são eles e qual a razão da sua destruição? O esboço em prosa de 1848 o diz

claramente. Os deusesteriam alcançado seu objetivo quando, através da ctl.açâodo homem, "se destruíssema si mesmos,isto é, na Liberdade

concepçãoeu saio completamente de to(h rel,açã,ocom o teatro de hoje e com

La consciênciahumana tivessemde ctdentrar o cÍrcuLoda sua própria in-

o pÚbLico: [...] SÓ se pode pensar numa apresentação depois da revolução.

./Z#ê/zr/a /meZZa/a".

[...] Eu uou montar um teatro no Rezo e contido para uma grandefesta:

com Feuerbach: os deusesnão somem a não ser na consciência humana.

depois de um üno de preparação eu apresento no correr de quatro dias toda

quando esta descobreo mecanismo com o qual a própria potência é projetada nas imagens dos deuses.Nos jogos de poder dos deuses,os

a minlla obra: com ela dou ao homem da revoluçãoo sentido ch revolução, a ser reconbeciciono seusentido mais nobre. EstepúbLico uai me entender; o 2e zzgozunáo.pade#azê-Zo." Wagner até pensou, depois dessa apresentação

única do seu ciclo, não só em mandar destruir o teatro como também em queimar a partitura. Se, no futuro, mesmo sem revolução, o -4ne/ deve ser apresentado,

então Wagner tem de redefinir o efeito do seu drama. Em primeiro 240

Isto é formulado

ainda completamente

de acordo

homens podem reconhecer suas próprias obsessõesde poder. E eles podem reconhecer que seus deuses, como eles próprios, não alcançam a verdade mais profunda da vida, isto é, a reconciliação do poder e do amor. Também os deusespermanecem presos aos poderes vitais em discórdia. Se os deusesnão podem unificar o poder e o amor, então quer dizer que são os homens que ainda não uniram as suasforças vitais. 241

LIVRO SEGUN'DO © O ROMÂNTICO

e CAPÍTULO Xlll

No destino dos deuses, os homens podem reconhecer os motivos do seu próprio fracasso. Assim, o mito a respeito do declínio dos deuses

da juventude eterna. Para resgata-la -- pois sem ela os deusestambém ficarão velhos e cinzentos , ele rouba o tesouro de Alberich, em vez de

conta a história simbólica da superaçãodo autoestranhamento. Setem,

devolvê-lo às olhas do Reno. Preso por contrato aos gigantes, não consegue

pois, de tirar toda crença dos deuses que aparecem nesse espetáculo,

mais restabelecera antiga pureza do ser. Por isso Erda, a primeira mãe

para que surjam aquelespoderes muito humanos, cuja personificação

das divindades ctónicas:9, recusa-se a reconhecê-lo: " Z# /záo á / agzzjZo gz/r /f coam.zi."A come de posse e poder vence a justiça do ser natural:

fantástica

eles são.

Agora sobre o mito ele mesmo,como Wagner o conta e transpôs para a musica. Ele começa com o famoso acorde em mi bemol maior, o pensamento

O mundo mítico tem portanto três níveis: embaixo o ser original de belezae amor, personiâcado pelas filhas do Reno e pela mãe da

acústico do começo de todas as coisas: o elemento primeiro e móvel da

terra Erda; por cima dele, o mundo dos nibelungos, onde tudo gira em

água.Da dissoluçãodo primeiro tom sedesenvolvetodo o resto.O momento da criação se torna audível quando o tom que simboliza o sol se fazouvir. O fogo do sol faz com que a águabrilhe como ouro. O ouro

torno do poder, possee escravidão;e, envolto nele de maneira nefasta,

o terceiromundo, o mundo dosdeusesque se afastaramda suaorigem ctónica. No anal de "Ouro do Rena" as filhas do Reno lamentam:

setransforma num tesouro no fundo da água.As bilhasdo Reno o protegem.

' Confiáuel,e$el lé apenas no fundo: lfclLso e covarde lé o que se alegra

Ele ainda náo foi tocado pela sede de utilitarismo, ainda náo foi incluído no círculo vicioso do poder e da posse; simboliza a pureza e a unidade

l,á,em ci,ma,!

do mundo natural. O poderosoanãoAlberich, um príncipe da escuridãoe senhor dos nibelungos, náo tem sensibilidade para a beleza dessetesouro. Ele quer possuí-lo para aumentar o seu poder. O amor deixaria o tesouro e

da carne. Deles não virá a salvação.Ela só pode ser trazida pelo homem

a sua beleza em tranquilidade,

ele os deixaria ser. Quem, porém, renuncia

ao amor, quererá rouba-lo e utiliza-lo. Alberich conseguefurta-lo porque seupoder não é domado por nenhum amor. Essacenainicial já contém todo o conflito do drama. A tensãoentre o poder e o amor, entre a sede de posse e a entrega, o jogo e a coação, dominarão o .4/ze/até o final. Alberich escravizaos nibelungos, que têm de trabalhar para ele. Forjam do tesouro um anel que dá um poder ilimitado a quem o usa. Não há dúvida de que Wagner vê o espírito demoníaco da era industrial agir sobre

o reino dos nibelungos. Sob o impacto que as instalaçõesportuárias de Londres tiveram sobre ele, Eazo seguinte comentário a Cosima: " O iozzóa deALbericbfoi reaLimdoaqui. NibeLbeim,domínio mundial, açáo, trabalho, por toda parte a imposição do tiapor e ch nel7Lina.

Também Wotam, o álamo branco e deus maior, se deixou envolver pelo mundo do poder e da posse. Ele faz com que os gigantes Fafner e

Fasolt construam seu castelo divino, Walhall. Por causadisso, contrai

uma obrigaçãocontratual com elese tem de penhorar Freia, a deusa 242

Zu que sau senhor através de contratos, l dos contratos sou agora servo:

Os deusesparticipam da corrupção generalizadado mundo. Sãocarne

livre, que rompe com o círculo vicioso do poder, da possee de contratos enganosos; o homem que -- sem ordem divina e não por amor à posse -- mata o dragão, ganha o tesouro e o dá de volta às filhas do Reno. O novo começo tem de ser conseguido sem os deuses. Os deuses, cansados

dassuascriaçõeserradas,podem morrer quando o homem do amor e da belezadespertar.Ele adentra o palco na figura de Siegfried. Ele mata o dragão, toma o tesouro inocentemente, dá o anel a Brünnhilde como presente de amante. Mas Ihe faltam a sabedoria e a esperteza. Por isso

ele é vítima de uma intriga de inveja, desejode poder e fome de posse. Hagen, alho de Alberich, o assassina.Siegfried não conseguea libertação, Brünnhilde conclui a sua obra e devolve o anel ao Reno. Wãllhall é incendiado, os deuses tocam fogo. O último canto de Brünnhild: "N2a óe/zs, não auto, l nem suntuosidade divina; ]t. ..] não contratos sinistros l ligação enganosa,l nem costume hipócrita Idurü ki: Ideixem que o amoTseja apenas

l beato no desejoe na dor. 19

Na mitologia, e particularmente na grega, o termo crónico (do grego /çófóa /oi, "relativo à terra", "terreno") refere-se aos deuses ou espíritos do mundo subterrâneo, por oposição às divindades olímpicas.

Também denominados "telúricos" (do latim ff/y#i). tN.tj

243

LIVRO SEG(INDO e 0 ROMÂN'TICO

CAPÍTULO Xlll

O homem que seliberta também do poder opressorde um céu cheio de deuses,que aprende a colocar seu desejode poder em xeque através da força do amor, a ele o anel propiciará um palco brilhante. A imagem contrária, o mundo que se tornou estranho, o do poder e da posse, encontra-se no reino de .Alberich, com os nibelungos, onde o ouro e o dinheiro imperam. Mas tampouco contra essemundo é mobilizado algum ódio. O espírito de amor e a boa vontade da arte não o permitiriam. Ocorre que havia em Wagner muito ódio que não adentrou diretamente

a obra, mas buscou outros caminhos. Para ele -- já foi notado aqui os habitantes do reino negro de Alberich têm um determinado rosto: são os judeus -- para ele a personificação do espírito do dinheiro e do comér-

cio não apenasna vida dos negócios,mastambém no âmbito da cultura. Meyerbeer, seu concorrente nos anos parisienses, se torna para ele, por exemplo, símbolo dessecapitalismo cultural sem gosto. A ideia do espírito monetário judaico vai crescerem Wagner até a loucura de imaginar uma conspiração mundial a partir do espírito do dinheiro. Ao mesmo tempo em que ele pensa a respeito da arte e da revolução e sobre a obra de arte do futuro, no início dos anos de 1850, ele publica o texto Ojudaísmo na ml2sica \Das Judentum in der MusikÀ, na qua\ se lê:: " Na süuaçáo aludi das coisas, o ji'deu jú é mais do que emancipado:

Nos últimos anos, Wagner adentrou fantasias sobre a eliminação final do judaísmo. Numa brincadeira pesada,segundo Cosima, ele te-

ria dito numa conversaque "fadosailzzZr i Zrz/erramgz/e/mr Z za fe zzm'z a2reie/z/úfáa Zo Nathan". No final do texto .Reco/zÃef.z a r/ Hein, IErêenzzeóõcó íe/ói/l, escrito no final da época do Parse#a/,enfoca claramente a solução anal da questão mediante a morte deles. Quando o povo alemão, lê-se ali, finalmente tiver reconhecido a si mesmo, não vai )alier mais nenhum Judeu. Parcanós alemães,estagrande soluçãopoderia seTmais Plausível do que para qualquer outra nação:' E, anca.ça.à.o:, canelnua'. " Que nós, se avançarmos ctpenas o suficiente, depois de termos

superado todo falso pudor, não teríamos de ter medo de a última conclusão ter se tornado clara para aquele que está repleto de pressentimentos.

Quando, depois da morte de Wagner, o jornal Ba7rez//óer.B&rrerse transforma completamente numa plataforma do racismo fanático e do antissemitismo exterminador, isso acontece certamente no espírito do "mestre", que começou com tais agitações,mostrando, contudo, ter su6lcientesensibilidadeartística para deixar suaobra no geral livre delas. No palco, o mundo dominado pela fome de poder e de possenão é o judaico, maso burguêse capitalista; e não o ódio, mas o novo

el,edomina e uai dominar pelo tempo em que o dinheiro perra'lnecerno

mundo feito de amor e belezaprovoca o declínio do mesmo. VaRRer não quer mostrar issoapenascomo um contador de Hbulas. Ele quer mais. Quer

poder, diante do qual toda nossaanuidade e movimento perdem sua força:'

alcançaruma transformaçãodo homem interior naquelesque assisteme

Em conversas e em cartas, Wagner se expressaainda mais agressivamente. Em 1879 ele defende -- como selê no diário de Cosima em 1 1 de

outubro -- a expulsãodos judeus do reino alemão. Em outra ocasião, declaraque se deveria reverter a assimilação; ela seria um esconderijo perigoso para os judeus. Quando o organismo vivo de uma cultura morre, escreve em O yz/Zaúmo /z.z mzZs/r'z "a car r desse corça" se dissolveria

ouvem -- comparável à conversão religiosa. Tem por objetivo nada menos

do que a presençada libertação partindo do espírito da arte, aqui e agora. O próprio Wagner eda sobre uma experiência mítica que ele quer provocar.

Como é que sedeve imagina-la? A história mítica que o O ane/Zoi /z/óe/z//2goi conta pode ser tomada de outro modo do que como ficção?

organismo cultural se teria de cortar a carne morta com os vermes. Já aqui

Wagner não trabalhou apenascom um material mitológico que nesse ínterim já estavadesprovidode toda credibilidade, com a Ca/zfáodoi /z/óe/ ngoi, com as,E2úZai e com a .AÜ/oZaK/a .zZemáde Jacob Grimm? Sua

sepercebecomo um antissemitismo anticapitalista e cultural setransforma

obra não está programada para a recepção estética, e uma ação mítica não

num antissemitismo biológico e racial. Opondo-se à sugestãode Facilitar a integração dos judeus atravésde casamentosmistos, ele argumenta em

é neutralizada exatamente por isso?Wagner tinha toda consciência dessas

/zwm/zz,/2a e$?rz/efrenff 2e z,ermef". Esses seriam os judeus. Para salvar o

L873: " então no lhturo não haveria mais akmáes, o sangueLouro alemão

dificuldades. Isso mostram seus diversos textos, que, porém, também tornam conhecido seuobjetivo de fazer ruir as fronteiras do meramente

não seria silficientemente forte para resistir a ess.zLi)ciuiaçáo'

estético e provocar aquela consciência que ele denomina de w#/czz.

244

245

LIVRO SEGUN'DO © O ROMÂNTICO

CAPÍTULO Xlll

É evidente que com isso ele não pode estar falando da recuperação da

ele brilha. Num sentido figurado, os deuses realmente retornam. Eles não

crença nos deuses,pois a queda dos deusesé exatamente o tema do -4ne/.

mais regem o mundo; adentram a vida e as coisascomo uma força inten-

Mais uma vez: o que é a experiência mítica? E uma experiência intensificada, à qual se abre uma miríade de significadosinimaginados.

si6icadora, as "habitam", como se dizia na Antiguidade.

Wagner a distingue da percepção científica e cotidiana. Aqui, a postura

Nietzsche usará

para isso a fórmula: Wagner nos dá momentos de "iene/me foJcez/o" Os ie/z//me fosrer/ai pertencem a uma esferaa qual Schopçwh3yer--

em relação ao objeto é definitiva. A distância desaparecequando se

que representa, para Nietzsche como para Wlgllçr, a principal experiência

espera de nós que sejamos "erresgz/eParr/c#'am"; algo se abre para nós,

cultural

nós nos abrimos em algo, em situações, pessoas,impressões da natureza,

inconsciente e do quase consciente. imundo.dQ.çlç$çigÊ!!!.$ç!!111?ç!!!!©yer ou o mundo.Slig!!ilÍ4ççLÊl11.Nietz$çbe;.elg.é.lêDbém o mundo romântico

linguagem, música. São poderes da vida dos quais participa a consciência

isolada, superando suas limitações. Wagner chama tais momentos da forma condensada da aiic real

Ele quer torna-los diretamente visíveise audíveisno drama musical. Denomina pois de mü/ca aquela postura que em deixar de existir por algum

tempo a geralmente tão óbvia separaçãoentre o sujeito e o objeto

denominou como a esferaescura,instintiva e dinâmica do

nWm. A ideia romântica de que a luz do nossoentendimento náo ilumina todas as áreasda nossaexperiência, de que nossaconsciência não pode abranger todo o nosso ser, de que nós estamosligados mais intimamente ao processovital do que nossarazãoquer acreditar-- esta'

o que pode ser encantador, trazer felicidade, mas também pode deixar inerte. Sejacomo for, trata-se de uma outra experiência, de uma expe-

convicção que encontrou na filosofia do desejo de Schopenhauer uma expressãotão incisiva continua a agir em Wagner e em Nietzsche. Nisso

riência estranha à cotidiana. Richard Wagner declara expressamente

que abriria um outro palco Zo ser com seu drama musical. E isso não

Na imagem seguinte, Schopenhauer resumiu o pensamento a respeito de uma certa ligaçãovital subterrâneado indivíduo com o todo:

apenascomo uma construção mentalmente compreensível,mas como

Pois como num mar revolto, que sem limite ergue efaz cair para todo lado

experiência,

isto

é, no presente

real.

Mas

a um presente

como

esse,

segundo Wagner, só se chega pela atuação comum de todas as forças que tornam algo dado. Lá estáa música, que encontra uma linguagem para o indizível, que entende apenaso sentimento; lá estão as palavras que se aliam à música e com ela formam uma nova esferade significado; lá estáo ritmo no enredo e no movimento; lá estãoas posições

eles são românticos,

como o próprio

Schopenhauer também o era.

nontanbas de água uiuantes, estásenta( um marinheiro num barco, depositanà) conPança no frágil veiculo; assimsenta, no meio de um mundo cheio de suplício, tranquib o homem só, apoiado e con#ante no gt\nçip\um l.n&x-

viduationis." ParaSchopenhauer,era um sentimento de óarror quando o indivíduo era arrancado das suas limitações e experimentava o sentimento

de ligação com o rodo da vida. Paraoutros românticos, como Novalis, era

das pessoas em relação às outras, as tensões espaciais, os bastidores e o

uma delícia afundar no "rica/ro, iedafar caio Za /z,z/z/zela".No geral porém

mundo de imagens do fundo, os gestos e a mímica, a distribuição da luz e da sombra. Nenhum elemento dessee/ziemóü do visível e audível

é um sentimento misto de desejoe dor, êxtaseeparalisia,horror mortal e

deixade serincluído no grandejogo de significado.E lá estáo ritual do espetáculo,dos dias de festival, o anfiteatro da casade espetáculos que corta asvias de fuga do público. A experiência mítica é excepcional, pois normalmente vivenciamos de maneira diferente, mais fugaz, mais superficial. Não só o sujeito que vivenda as experiências se transforma; também o objeto ganha profundidade e significado. Nós nos transformamos, o mundo setransforma, 246

cestaà vida que acompanham tal escancaramento. Richard Wagner o traz para a música. ".4 ozgz/efrzn", escreve ele, "/ a ró,2a Ze ie //me fai /nOn/faJ, !enerctLizadores,(hs quais o sentimento individual

daquele que se apresenta

pode cresceraté o ponto maior depLenitude." F.m Dueto momento, ele çompar' o som da orquestra com o mar, e a melodia é o barco que naveganele. A esfera schopenhaueriana do desejo é completamente erotizada em

Wagner, semelhante ao que ocorre em Novalis. Zriíí2o e /soZ2amostra o romantismo de Wagner, seujogo com os sentimentos oceânicos, no 247

P

LIVRO SEGUN'DO e 0 ROMAN'TICO

CAPÍTULO Xlll

ápice. Os amantes são denominados os "comÁece2orrida o/fe", eles morrem a morte amorosa, dissolvem-se no acontecimento dinâmico e básico do "morra e se torne" }

[Sfíró z/nz/ Wêrdr].

Tudo é colocado em cena de maneira táo impressionante que esse drama musical se torna um acontecimento europeu, e começa-sea entender fora da .Nemanhao que tem em si o romantismo alemão. O próprio Wagner escreveua Mathilde von Wesendonk:"Cr/.znfa/ EsseTt\s\âo uai ser algo terríueLI Este Último atolll Temo que íz ópera seja proibida

--

se tudo não virar uma paródia

por causa de más encenações.

A queLüscompletamente boas devem enlouquecer as pessoas. ..

Também quando se trata de coisas tênues e finas, Richard Wagner

declina sempre todos os registros do seu poder de açãopara deixar o âmbito das meras belas artes e tornar possíveis a experiência mítica ou o êxtaseinebriante. Sua arte, como já notam contemporâneoscriticamente, se torna um "/zíagz/egexa/a /a2oi ai fr rijas". Isso empresta à sua

obra, que protesta contra o modernismo capitalista, sua modernidade especial.Pois o princípio do efeito e a pretensãode criar efeito faz parte do caráter dessemodernismo no qual o público seorganiza como mercado. Lá também os artistas têm de concorrer uns contra os outros para conseguir atenção. Com artifícios barulhentos e grosseiros, têm

É verdade que Wagner enlouqueceu muita gente. Na França, por exemplo Baudelaire, que experimentara Za/zn&.2z/ie7' como a uma super-

de frequentemente fazer propaganda para o suaveempirismo de suas obras. Charles Baudelaire sugere abertamente aos artistas que aprendam

excitação causada pelo ópio: " Oz/z//mZo eii

do espírito da propaganda: " Gerem a mesa'zporfáo Ze i írreffr ram oj me/Of

mzíi/c.z ,zrzZenfe,zlü''spofíz,mr

parece h vezescomo se cl gente encontrctsse,pintados no fundo (h escuridão,

de vocês...dupLiqüem, tripLiquem, quadripLiquem a dose:' O met

osrastrosdo ópio que desaparecem. Eu tinha totalmentea imagemde uma

o público ao poder. Ele quer serbajulado, seduzido ou mesmodominado.

alma que se movimenta num ambiente claro, um ênase, nascido (h deLÍcia e

Ele exige, na política e na arte, os seusheróis. Richard Wagner foi um tal herói; ele poderia serconsiderado o Napoleão do teatro musical europeu

do conhecimentoe a Levitar,alto e ao Longe,sobreo mundo natural." Wagner não se tornou apenasna Fiança um ídolo dos cósmicos artísticos e dos simbo]istas libertos. Para a ,R(zzzêÉ.]Zçgzez:êww -- um jornal

da az,an/'ga/zZe e não, como o .8a7rez/fóerB&z#ez;um jornal de cunho ant\saem ita

,'Wagnet ela um " !íür e estimulador em simpksmente todas

üo \ Dure

Ele, que sepunha em harmonia com a experiência mítica, sabiamuito bem como estabelecersuaprópria pessoacomo um mito. Provavelmente

havia uma ligaçãoaqui: a produção de mitos no Modernismo requer uma "automitologização" do produtor. Wagner não começasua luta

#i áre/zi".A z&czzdemre e o./2a 2ei/urze, não importa se em Paris, Viena ou

para ganhar o público em Paria com a exibição das suas obras, mas com

Munique, encontraram em Wagner o seucosmo do mundo virado pelo avesso,onde a doença triunfava sobre a saúde, a morte sobre a vida, o

o aluguel de um apartamentosuntuoso que ele na verdadenão tinha

artificial

Wagner, o culto à pessoacomeça em grande estilo.

sobre o natural,

a inutilidade

sobre a utilidade

e a entrega sobre

a autoafirmaçãosensata.Aqui se via o mundo novamenteenvolto em segredo; aqui se mostravam

o demoníaco

e o dionisíaco,

e se ouvia o

lamento pungente sobre o tornar-se sóbrio da era burguesa. Huysmans,

D'Annunzio, o jovem Thomas Mann, Schnitzler, Hofmannsthal, Mallarmé, todos eles estavamfascinadospelo tema da morte de amor e pelo crepúsculo dos deuses,pelo reino sombriamente sonoro feito de predestinação, Eros e Tânatos. As tempestades orquestrais e a melodia inânita faziam com que se afundassenasprofundezasda alma e em

condições de manter, mas que despertava interesse pela sua pessoa. Com

O crepúsculo dos deuseshavia criado espaçopara o artista divinizado. Sobre a instalação da pedra fundamental no morro de festivais em Bayreuth,em 22 de maio de 1872, conta Adelheid von Schorn, uma amiga de Fritz Liszt e uma das primeiras adeptasde Wagner: "Na 22a do assentamentoda pedra fundamental, o tempo estadatão terrivelmente chuvoso, o chão de barro do morro estava tão prolfündamente tudo se tornou Literalmente

amolecido, que

água [...] Meu estímulo porém náo esmoreceu

suas promessas incertas. As pessoas se sentiam no olho do furacão, no

[...]Eu desci e apareci por baixo da construção de madeira comigo mctis umü pessoctdo sexofeminino [...]Nós duas Ficamos de pé atrás de Ricbard

interior das corças criadoras das formas.

Wagner quando eLedeu os três goLpesfestiuoscom o martelo sobre a pedra

248

249

LIVRO SEGUNDO © O ROMÂN'TICO

CIAPÍTULO X.IV

[...] Quando se virou [...] estava branco como um cadáver, e Lágrimas to-

müucimseusolhos. Foi um indescritível momentofestivo queprovavelmente ninguém

que estada presente jamais esqueceu.

Nietzsche sobre Wagner: a primeira circunavegação da arte O espírito nada romântico da época: materialismo, realismo,

hístoricismo. Workhouse.zoO romantismo do dionisíaco. Música: linguagem universal. Nietzsche distancia-se de Wagner

libertando-sedo libertador. Permanecerfiel à terra. Heráclito e a criança mundana, brincalhona, de Schiller. O fim da resistência

irónica. O colapso.

(quando, em 22 de maio de 1872, aniversário de 59 anosde Richard Wagner, ocorrem as festividades de assentamento da pedra fundamental

da casade espetáculosem Bayreuth, também Nietzsche estápresente. Escreve ele na quarta das 7Uarxaf/z'zzf/zm.zcró/z/ras[Unte/

em/We .BernncZ'-

;unâ," Ea primeira lioLta clo mundo no reino da arte: em que, como parece,

não apenasa nota arte, mas a arte em si é descoberta.

Nietzsche e Wagner, uma história longa e complexa. Existiram os dias felizes em Tribschen, quando o jovem professor Nietzsche, saindo de Basileia, entrava e saía da casa do mestre. EssesElísios foram descritos várias vezes, os passeios comuns no lago, Cosima segurando no braço de

Nietzsche; as noites em comunidade num círculo de conhecidos quando o mestre, depois da leitura comum do Z)ergoZ2nr 7Z2#']CaZ2Ze/núa Ze awra]

de E. T. A. Hoffmann, declara Cosima como a cobra mágica Serpentina, a si próprio como o arquivista Lindhorst e a Friedrich Nietzsche como o estudante sonhador e atrapalhado Anselmus; a dedicação com que Nietzsche organiza para Cosima na Basileia copos de vinho, citas de

filó com estrelasde ouro e bolinhas, uma escultura de JesusMenino e outras bonequinhas e ajuda a dourar as maçãs e nozes para a decoração

do Natal ou verifica as correçõesna autobiografia de Richard Wagner; a manhã do dia de Natal em 1870, quando uma pequenaorquestra,

20.

Termo usado aqui como metáfora para a transformação do mundo num lugar em que

apenasa utilidade, o trabalho e a economiasão importantes. Cf. capítu]o TT].[N.T.] 250

251

LIVRO SEGU'NDO e 0 ROMAN'TICO

CAPÍTULO XIV

em comemoração ao aniversário de Cosima, apresentana escadariaa composiçãoque mais tarde ficou conhecidacomo o ./2/1#/o 2r S/elg /eZ

IS/elg/}/ez/-/27/a; Nietzsche improvisando ao piano, ocasiãoem que

não há nenhuma dúvida de que é um deserto que cresceaí; são os terrores de uma terra plana que, infinita, se estendediante de alguém. Permaneçamosmais um momento nessenormalidade social por volta

Cosima ouve educadamente e Richard Wagner abandona o espaço com

de 1870,nessehorror do comum contra o qual Nietzscheofereceo

um riso contido.

romantismo do dionisíaco.

Logo se dão aborrecimentos, mas, apesarde tudo, para Nietzsche continua sendo assim: Wagner significa para ele "a .pr/mf/xa z/o/fazzo mz/ z/o a e//zoZa ar/e". Ele vê a arte, com Wagner, voltar a sua origem na Antiguidade grega.Ela setorna de novo um acontecimento sagrado

imensos. Positivismo, empirismo, economismo, ligados a um pensamento utilitário excessivo,determinam o espírito do tempo E, principalmente, se estáotimista. AÍ se vê, anota ele indignado, a fundação

na sociedade, que celebra o significado mítico da vida. Recupera aquele

do reino alemãocomo um golpe fulminante contra toda a filosofa

palco onde uma sociedadese entende a respeito de si mesma, onde o sentido de toda açãoe movimento seabre à percepçãocoletiva. Mas em

"pessimista". Nietzsche dá o diagnóstico para sua época: ela seria cor eía

que consiste esse"sentido"?

fOo Zr rr z#2a2e,maZjz,ezzZa2r/ru". Ela buscaria teoriasem toda parte que fossemaptas a justificar uma "izzóm/iiáo 27 /z/e2o rea/"

Nietzsche não se detém nos detalhes mitológicos da poesia de Wagner.

It.

Nietzschelida com uma épocana qual a ciência festejatriunfos

e i/arrxn,

mas de maneira

plebeia.

Seria "m.z/f iz/ómZçf

22a/zie Ze gzzaZgz/er

Ele descobre o mítico da sua arte quase exclusivamente na música, que

Nietzsche ainda tinha diante dos olhos o aspecto Z'/edezme/e 2:, pouco

ele denomina a linguagem da z,ezzZade/xa ie s/ó///jade. É preciso ter passadopela doença da nossacultura, diz ele, para poder recebercom gratidão o presente da música de Wagner. O drama musical portanto

corajoso, desserealismo. Mas depois de meados do século XIX, imperava

como resposta romântica ao grande mal-estar diante de uma cultura sem

de,poder,que Nietzsche mais tarde proclamara, já celebra seustriunfos,

profiindidade, unidimensional. Wagner teria notado, escreveNietzsche, que a linguagem está doente. O progresso das ciências teria destruído as imagens que se tem do mundo. Nós vemos o sol nascer todos os dias, mas sabemos que ele não o faz. O reino dos pensamentos alcança o que não se pode ver nas pequenascomo nas grandes coisas. E ao mesmo tempo a civilização se torna cadavez mais complexa e impenetrável. A especializaçãoe a divisão de trabalho aumentam, as correntes de

todavia ainda não à altura do super-homem,e sim na movimentação exageradamente esforçadade uma civilizaçãoque em tudo que tem a ver com coisaspráticas acredita na ciência. Issovalia para o mundo

açóes --

através das quais cada um está ligado ao todo --

crescem e se

um realismo que se subjugava ao que era existente apenaspara dominá-

-lo mais, e para transforma-lo de acordo com seus interesses. O z2esdo

burguês, mas também para o movimento dos trabalhadores, cujo lema concludente era, como se sabe, "saber é poder". A educação deveria trazer

ascensãosocial e tornar resistente contra todo tipo de ilusão: quem sabe alguma coisa não pode ser enganado facilmente; o impressionante no saberé que não é preciso mais se deixar impressionar. Prefere-seum tipo

embaraçam. A linguagem negará seus serviços àquele que tenta captar

de saber com o qual podemos

o todo no qual vive. Ela não mais abrangeo todo, tampouco vai até o fundo do indivíduo. Mostra-sepobre e limitada demais.Ao mesmo

Nenhum excesso,pois. SÓquem resolve suascoisasde maneira secae

tempo, a ligação mais estreita do tecido da sociedade traz consigo um

ascoisaspara o solo e para uma forma própria e possivelmentemedíocre. E realmente surpreendente como, depois da metade do século XIX

nos proteger das tentações do enfzziZaimo.

objetiva vai adiante e pode ganhar soberania. As pessoasquerem trazer

crescimento do poder público da linguagem. Ela se torna ideológica. Nietzsche chama isso de a "Zaacz/rndof canse/rasgexnZi",que agarram o indivíduo como braçosfantasmagóricose o empurram para onde ele

-- depois dos altos voos idealistas do espírito absoluto --, de repente

não quer ir. Paraonde, porém, urgeo espírito do tempo?ParaNietzsche

21.

252

Cf. nota de rodapé n' 14

253

LIVRO SEGU'N'DO + O ROMAN'TICO

CAPÍTULO XIV

surja em toda parte o desejode tornar o homem pequeno.A carreira da seguinte figura de pensamento começa: "o homem nada mais é que..." Parao Romantismo, como sesabe,o mundo se erguia a cantar tão logo

é uma

fraqueza moral. Satisfaça-secom o mundo que existe. e o mundo do ser nada mais do que dejetos de material e mutações de energias. Nietzsche se sente desafiado a defender o mundo do atomista

sua crítica ao sentido prosaico de seu tempo, adentra águasromânticas. Já como estudante ele havia comprado briga com seu professor ao defender seu poeta predileto, Hõlderlin.

O espírito da segunda metade do século não

era mais generoso com os matadores no palco encantado do espírito; eles pareciam crianças quando os realistas, armados com a fórmula do "nada

mais que", apareceramà porta. O time idealista e romântico havia agido com energia, misturado tudo, mas agora tratava-se de arrumar o todo; começava a seriedade da vida, disso os realistas cuidariam. Esse realismo da

segunda metade do século XIX vai conseguir a proeza de pensar pouco do homem e mesmo assim conseguir coisasgrandiosascom ele -- se queremoschamar a civilização científica moderna de "grandiosa".De qualquer modo, nos últimos 35 anos do séculoXIX a modernidade de então come-

Demócrito dos materialistas contemporâneos. Não se precisa evidentemente mais do Noz/i de Anaxágoras, nem, claro, das ideias de Platão e tampouco do Deus dos cristãos; não se precisa mais da substância de Espinoza, nem do rogfro de Descarnes,nem do eu de Fichte e nem do espírito de Hegel. O espírito que vive no homem, dizem, nada mais é do que uma função cerebral. Os pensamentos se comportam em relação ao cérebro como a bílis para o fígado e a urina para os rins. " CZm pozzca zz'2a .P//xa2oi" seriam essespensamentos, nota naquela época Hermann Lotze,

um dos sobreviventesda anteriormente tão corte fileira dos metafísicos.

A vitória do materialismo não podia ser impedida por argumentos sábios, principalmente porque a ela estava misturado um elemento meta-

físico especial: a crença no progresso. Se analisarmos friamente as coisas e a vida até suaspartes elementares, então descobriremos, assim ensina

era contrário às leis. SÓ poucos adivinhavam na época, como Nietzsche,

essacrença, o segredo que faz funcionar a natureza. Se desvendarmos como tudo é feito, estaremos aptos a imita-lo. Aqui está em atividade

que horrores o espírito da sobriedadepositivista ainda viria a produzir.

uma consciência que quer rastrear tudo, também a natureza, a qual --

çou com um pensamento para o qual tudo que era exageradoe fantástico

l

da conce])ção que uai além dos sentidos

O que não "existia" para tal forma de percepçáol O mundo do advir

Mais intensamente do que ele mais tarde poderá tolerar, Nietzsche, em

F

a causa mais profun(h

metade do

palavras mágicas, de inventar significados fervorosos.

1:.

--

século eram o projeto audacioso de encontrar consecutivamente novas

se achava a palavra mágica. A poesia e a 61osofia da primeira

L

à natureza. Sim, certamente, a insatisfação com o mundo dosfenómenos

O esgotamento do idealismo alemão fez surgir em meados do século

um materialismo de formato especialmentevariado. Breviários da sobrie-

no experimento -- se tem de flagrar em açáoe a quem, quando sesabe como ela funciona, se mostra como devese conduzir. Tal postura também impulsiona o marxismo na segundametadedo

dadepodiam setornarar de repente Z'eirieZZezT. Lá estavamKart Vogt com suas Póys/o/oglscóen .Br/e$?n [Caríni.Pí/o/óg/cai]

(1 845) e sua po]êmica

século XIX. Mam havia dissecado o corpo da sociedade num trabalho árduo

.RZÓZrrgZaz/ór z/nZW7sj?mróa@ [l## do óro ca r z f/ê r/a] (1854), Jakob

e minucioso e retirado dele a sua alma: o capital. No final, não estava mais

Moleschott

Zeóe s [C#cz/Zo Za z,/2a] (1 852), J]í]#@ z/nZ

muito claro se a tarefa messiânica do proletariado (a contribuição marxista

Sa@ [Xarfa e m crer/a4 (1 855) de Ludwig Büchner e a ]VezzrDazsze# ng

ao idealismo alemão antes de 1850) ainda teria a mínima chance contra

deJSe jz/,z/fsmws [.AZoz,a aprece/zíafáo 2oieniz/a#rmo]( 1855), de Heinrich

a lei ferrenha do capital (a contribuição marxista para o espírito determi-

Czolbe. Este autor havia classificado o etos dessematerialismo deito de

nista após 1 850). Também Marx quer analisar friamente aquilo que outrora

corça, impulso e atividade de glândulas com as palavras: "/ mesmo zzm'z

corao supremo e sublime, o espírito. Ele o deduz, como superestrutura, à

pToua de atrevimento e uai(hde melhorar o mundo reconhecível através da

base do trabalho em sociedade.2z

e o KreíiZaufdei

Lnuençãode um mundo além dos sentidos e quererfazer do homem, por meio

ch anexação de uma parte que estáalém dos sentidos, um ser que é superior 254

22

Isto é, Marx negaa independência do espírito. A origem de tudo é a economia. [N.T]

255

LIVRO SEGUNDO

© O ROMÂN'TACO

CAPÍTULO XIV

O trabalho em si. Ainda muito além do seu significado prático, o trabalho se torna um ponto de referência,partindo do qual mais e mais aspectosda vida são interpretados e recebem um determinado valor. O homem é o que ele trabalha, e a sociedade é uma sociedade de

trabalho, e mesmo a naturezatrabalha de certa forma, ao longo da evolução, para frente. O trabalho se transforma no novo santuário uma espéciede mito que mantém coesaa sociedade.A imagem da grande máquina social que torna o indivíduo uma rodinha ou um parafuso ocupa a autointerpreração das pessoase fornece o horizonte no qual se orientam. É exatamenteesseaspectoque Nietzschedestacaao criticar David Friedrich Strauíg,o iluminista popular da segundametadedo século. Friedrich, que, como já mostrado, com seu primeiro texto, .,4u/2a 2e7esz/i(1835), levara a crítica do cristianismo ao grande público e que agora, idoso, publicara um livro de confissõesmuito lido .4 anfi]gae 4 naz''zfrr fa [Z)era/fe n# 2er ,zeaeGZazzóe] (1872) era um inimigo jurado dos novosmitos artísticosde Wagner,assimcomo de qualquer tentativa de erguer a arte como substituta da religião. Por causa disso, ele era profundamente odiado por Wagner; e Nietzsche se deixou levar por esteúltimo a esseautor, que ele renega,na primeira aas suas Narrativas anacrónicas \UnzeitgemãFen Beta.zcbtangenÀ,como

uma "sopaii cem", Beethovené "zzmca/?Á?/ra", e quando ele ouve a 111iáilÀz tem o ímpeto de "ro/nper os #m/feS e Z'z/Jcar z/m'z az'e/z/w ", mas

logo volta às delícias do costumeiro na febre de fundação da Alemanha unificada, e Nietzsche derrama desdém e zombaria sobre esse"emf#siasmo escorregadiode quem usa meias defeLtro"

Percebe-seem Nietzsche toda a indignação de uma pessoaque deseja

ver a arte, especialmentea música, no coração do mundo; de alguém que encontra seu verdadeiro ser "iaó a r ca fa Zú .zrir" e que por isso luta contra uma postura segundo a qual a arte é uma coisa secundária -- talvez até a mais bela, mas de qualquer modo apenasuma coisa secundária. Essaindignação em relaçãoaos burguesesvioladores do templo da arte -- Niedsche os chama de '.pásrez/i Zú edwcafáa" -- já citamos como tema constante nos autores românticos. Na tradição romântica do

insulto público estátambém Nietzsche com suacrítica a David Friedrich Strauíg.Também ele se enleva nas fantasiasde vingança de um amigo la arte u\tt$ado:

" coitados de todos os vaidosos educadores e de todo o $r-

namemto estético quando o jovem tigre sair à caçam" O Sabem ügtd

havia aparecido no livro sobre a tragédia, onde simbolizará o espírito da arte dionisíaca e selvagem.O que deixa Nietzsche tão irritado é que essa postura em relaçãoà educaçãoe à sociedade reinterprete o terrível como

sintoma de toda a cultura adoradora da ciência e do pensamentosobre a utilidade do trabalho.

algo aconchegante.

A mensagemde Straulgé: há muitos motivos para seestar satisfeito com o presentee suasconquistas--- o caminho de ferro, a vacina, os altos-fornos, a crítica à Bíblia, a fundação do reino alemão, os adubos, os jornais, o correio. Por que se deveria fugir da rica realidadepara a metaHsicae a religião? Enquanto a física ensina a voar, os que sobrevoam a metafísica têm de tombar ao solo e se consolar com o fato

-- que crescia enormemente na época

de que devem habitar decentemente a terra plana. O senso de realidade

é exigido. Ele vai trazer as obras miraculosasdo futuro. Não se deve tampouco deixar embriagar pela arte. Em pequenasdosesporém, ela

Ele \â

Isso vale para a arte e para a natureza, pois também o darwinismo é banalizado por Strauíg,e pre-

cisamente suas sérias consequências, como nota Nietzsche criticamente, são deixadas de lado. Se gosta de tomar de lá o ateísmo; em vez de Deus,

o tema é o macaco,certamente.Straufgvesteo "ilznge ie/z,agem 2ú orla g?/zeaZaK/a a/ZZr//r 2osmacaco", mas ele evita arcar com as consequências éticas dessagenealogia da natureza. Se ele tivesse sido corajoso, poderia ter deduzido "do bellum omnium ro/z/zaomnes e, 2o Zzx?//ada maülorr', P / czP/aJmoEU/f.pazn .z z,/2a", com os quais ele teria imediatamente voltado os 6ilisteus contra si. Para satisfazer sua necessidade de segurança e

é útil e boa, até indispensável. Exatamente porque nosso mundo se trans-

conforto, Strauígevita asconsequênciasniilistas do materialismo e dá uma

formou numa grande máquina, também vale a frase: "Meia m.2oie moz'rm

Tal óleo que alivia a dor é a arte. Strauígdenomina a música de Haydn

virada confortável e bem-humorada aosseuspensamentos, ao encontrar na natureza uma "nova revelação da bondade eterna". Para Nietzsche, porém, a natureza é simplesmente o monstruoso.

256

257

apenas rodas impiedosas, também o Óleo que minimiza a dor escorre Lá

LIVRO SEGUN'DO e 0 ROMÂNTICO CAPÍTULO XIV

Para se proteger de tal visão âlisteia, Nietzsche quer, de qualquer jeito e sempre, conservar o mo/zif7'zzoia visível aos olhos do espírito. Ele

é um inimigo declarado de qualquer tentativa de tornar as coisas.zconrólgan/es. Por isso ele também entra em conflito com o historicismo,

que, ao lado do materialismo e do realismo, é uma poderosatendência do espírito da época.

de colecionar

o saber:

"pr/usemos

nwmóz cz///

zn gz/e

áa fem z/m.z Sede

)riÜnaL$rme e sag'ada, mas que estáfadada a esgotartodas as possibilidades e tenta $e aproximar

miseravelmente de todas as culturas --

este é .

presente [. . .apara onde apontam a incrível necessidade histórica da cultura

modernctinsatisfeita, o acümulo de inúmeras outras culturas em torno de si

Na AJemanhado Grü 2erze//23,essehistoricismo havia adquirido uma coloração especial.O historicismo olhava de volta para a história, para chamar à lembrança quão maravilhosamente longe se havia chegado. Ao mesmo tempo, tratava-se de compensar uma insegurança no sentimento em relação à vida e no estilo. Não se sabiamuito bem quem se era e o que sequeria alcançar. E assim,essehistoricismo se ligou à vontade de imitar, ao fuso. Mais uma vez vence o espírito do "como se". Aquilo que

pareciavistoso causavaimpressão.Todo material utilizado queria representar mais do que era. Ocorre uma inflação da camuflagem de material: mármore era madeira pintada, alabrastro brilhante era gesso;o que era novo devia parecer antigo, colunas gregasna entrada da bolsa, a concentração de fábricas como castelo medieval, a ruína como uma construção nova. Cultuava-se a associaçãohistórica; os prédios do poder judiciário lembravam palácios dogais, o cómodo burguês abrigava cadeirasluteranas, copos de zinco e Bíblias de Gutenberg revelavam-se acessórios para costura. Depois da nomeação do "imperador

alemão" na sala dos espelhos

de Versalhes,também o poder político brilhava como ouro falso. Esse desejo de poder não era muito verdadeiro; era mais desejo do que poder.

Desejava-sea encenação.Ninguém o sabiatão bem quanto Richard Wagner, que acionou todos os registros do encanto teatral para trazer a pré-história germânica ao palco de maneira impressionante. Tudo isso combinava com o pensamentoávido por realidade.Exatamenteporque esse sentido era tão ativo, o todo tinha de serembelezadoum pouco, decorado, drapeado, cinzelado -- para que causasseimpressão e tivesse algum valor.

Segundo Nietzsche, não se podia afastar a suspeita de que o histo-

ricismo quisessecompensaruma falta de força vital. E essaforça vital 23.

estavaenfraquecida exatamente porque ela perdeu a orientação na febre

O termo refere-seà fase económica no século XIX na AJemanha e Áustria antes da

grandedepressão de 1873. [N.T.]

o quererreconhecer, senão para a perda do mito, para cl perda(h pátria

lítica, do colo materno míticos

Sem dúvida, essemundo do realismo, da utilidade, da febrede trabalho, do conforto semsegredoe do historicismo é, no texto de Nietzsche sobre Wagner, o ponto de partida para a chamada "Zoz/rzzxa doi ronco/fa. grzair", que agarra o indivíduo com "óxnfos#a íaimaKór/coi". ÉMcura (!2.!!!Pç!$ÉialidadÉ..ql4Ê.causa..al,Êlidas.uudiet;êçbç.gpÊE&yer

curadas

pela música. ' Se então" , esctexe N\etzsche, " numa humanidade ferida desta ma-

neira, a música dos nossosmestres al,emãesecoa, o que é que ecoa Lá na verdade? E mesmo o sentimento certo, o inimigo cie todas as convenções, cle

todo esnanbamento arti$cial e de todcl incompreensãoentre um homem

; o"t": u

anal«"4m"-.q"'-'k ua; pois na alma dos homens

mtzisamáveis surgiu a urgência daquele regresso,e na arte soaa natureza t««.sfo«m«da em «mo,.

O sentimento certo é para Nietzsche aquele que ele vê como um poder

vital mítico e cujo nome já conhecemos:o dionisíaco.Já os românticos o tinham colocadoem evidência,Friedrich Schlegelpor exemplo, quando gritou contra a cultura diária prosaicado racionalismo:"0 /e/npocóegoz/... ra2oJ os m/f/é jaJPa2rm se rez,czar.r"Ele estava falando dos mistérios

dionisíacosda sensualidadeespiritual e do rezoczzoi.Uma espéciede união ébria com a substância do mundo, com o segredo do ser criador. Do mesmo modo, Nietzsche se promete do drama musical de Wagner

a reunificação dionisíaca nas camadas mais profundas do sentimento, aquela comunhão atravésda arte como ele descreveem seu livro sobre ) Nascimentoda tragédiado espírito da música \Geburt der TTagõdie aus Zem Ge/irr drr .A/ai/.ê], partindo do exemplo grego. "Saó o f c fo Zo dionisíaco, o eLoente o homem e outro homem se refaz. Agora [. . .]cada um

258

259

LlyRO SEGUNDOe O ROMÂNTICO

CAPÍTULO XIV

sesente não apenas unido ciopróximo, reconciliado cam eLe,fundido a eLe, m«; com. se fo«messe co« eLeuma u«-idade, como se o «éu da iLu:ão ti«esse

A ng ramo sentida-Glgurêdg!..ç.eni-Sí=Uopçnhaqer..Êla.gpyrççS.j;!!!ãQ.ÇQlnQ.eXPlçssãQjmediata

sido rasgado e só voasse em favvapos diante do secreto que está na origem."

dgJQçbA.!nlu®

Nietzsche experimenta o drama musical de Wagner como um grande jogo mundial dionisíaco. Para se tornar consciente dessa experiência, ele utiliza sua diferenciação entre o apolíneo e o dionisíaco quando fala de Wagner.

O apolíneo é composto pelos destinos e pelo caráter das figuras em si, suas falas e ações, seus'conflitos e concorrências. O fundo sonoro,

porém, é o dionisíaco; lá há também diferenças condutor"

'\

Se o logos quebra o silêncio das coisassem linguagem e o seu ser infinito tem de fracassarao usar conceitos, e se é mesmo o mito que quer dizer aquilo que o logos não alcança, então a..!B1lâii=a.fliz.parti:.da

;liga.®a. Ela se afirmou como força mítica e é onipresente.Ela se infiltra por toda parte, em todas as relaçõese espaços-Ela é um tapete de sons, atmosfera, ambiente.

a técnica do "motivo

(/e/fmo//z,) de Wagner as acentua expressamente --, mas tudo

que é diferente afunda, vez após vez, no mar de sons.A febre musical dionisíaca dissolve todas as máscarasdos diferentes caracteres em favor

Nesse ínterim,

ela se transformou

no som que está na base da nossa

existência. Quem se senta no metro ou faz cooPernum parque usando um

conede ouvido vive em dois mundos. Ele viaja ou corre apolineamente,

de um sentimento de união total. A música de Wagner é para Nietzsche

enquanto ouve dionisicamente. ndêQÊiâ.e s. As discotecas e as salas de concertos são

um acontecimento mítico, porque ela expressaa unidade cheia de tensão

as catedrais anuais.Uma parte significativa da humanidade entre treze

daquilo que vive.

e trinta anosvive hoje nos espaçosdionisíacos do rock e da música pop que são cora da linguagem e anteriores à lógica. As correntes musicais não

conhecem fronteiras; elas minam os territórios políticos e as ideologias --

de.Waaner é a tentativa de entender o mundo musical dos sons como

a.rS:!(Êlg$

eMomens. Aqui, o fi-

o que se mostrou nas transformações de 1989. A música forma novas

comunidades e transporta para um outro estado. Ela abre as portas de uma nova existência. O espaçoaudível consegueisolar o indivíduo e fazer

lósofo começa pesquisasque serão lembradas mais tarde por ClaudG.Lévi-Straussem sua obra magna,4©ÉeZZgla!-- quando afirma que na música, e especialmentena essênciada melodia, estaria o "último

com que o mundo exterior desapareça, e mesmoassima música,num

segredodo homem". A música seria a mais antiga língua universal, compreensível para todo homem e mesmo assim intraduzível em qualquer

mesma coisa. A.-música-numa-çamadalia-consciên(:ia queani:igamenteara

outro idioma. O que é que se deve entender por esseizK e2o sobre o

Nietzsche cita a "moda .z/r?z,/2ú"de Schiller que separaos homens uns dos outros e faz com que se voltem uns contra os outros, e articula a esperançade que o "óe/o#nKazáz,/no"traga novamente a grande união. Ele crê que o drama musical de Wagner possafazê-lo: ele deve

qual falam Nietzsche e Lévi-Strauss?

(quando se considera que a música hoje, de Bach até a música popu[ar, representao único meio de comunicação universal, então se pode

vê-la de qualquer modo como uma força que triunfa sobre a confusão babilónica das línguas. A ideia ligada a isso de que a música estaria mais próxima do ser do que qualquer outro produto da nossaconsciência é muito antiga. Ela estána basedos ensinamentos órflcos e pitagóricos. Guiou Kepler quando ele calculou a órbita dos planetas. 260

outro nível, faz com que aqueles que escutam se agrupem. Eles podem ser manadas sem janelas, mas não mais estão sozinhos quando ouvem a ÍS:ÇI:lIDa,EDnSCIênÇILSO@KCÓU«k.

eliminar

"m ie?azafóef rzk/2ai, / imzgni", criando

um novo "elyngz /Za

dQ..barzwnia mundial"

Harmonia mundial? A gente não deve imaginar que issoseja muito festivo. O êxtaseestá cercado pela tragédia. A euforia da harmonia mundial inclui a consciênciado declínio e do sacrifício. E uma consciência 261

LIVRO SEGU'N'DO © O ROMAN'TICO

CAPÍTULO XIV

para a qual o "ier pr/moral/zz/" se revelou "como ffff#ízwé#/f

ic?Pez/or e

esmoP zn Je nPreyz/ir{/2c.z2oi". Esse tipo de justificativa

está em forte

cheio de cona adição" , e ç)ata.a. qua\ " a construção Lúdica e {z desü'uiçáo

oposiçãoa uma moral que esperamelhorar o mundo e apaziguarsuas

do mundo do irai

contradições. A moral, diz Nietzsche, tornou-se verdadeiramente o 2rz/s

íduo se mostram como a emanação de uma vontade

ori$nal, de modo semelhante como HeT.icLito, o Obscuro, compara a força

ex m.zró/ma da modernidade secularizada. Falta-lhe sabedoria dionisíaca;

que constrói o mundo com uma criança que coloca pedras soltas para Lá e

ela não arrisca a olhar sem trégua para o fundo da vida. A arte plena do

para cá, e quefaz um monte de areia para depoisderruba-Lo".

Aquele que assistea uma tragédia ou a um drama musical seiden-

espírito dionisíaco secomporta de outro modo. Emaranhada na ilusão da arte, ela pode abdicar de ter ilusões em relaçãoà vida. Nietzsche

tiRca com o herói trágico, por exemplo com Siegfried, mas ele o vê à frente, como a uma imagem luminosa diante do fundo escuro da vida

defende a alegria da arte quando frisa sua seriedade especial. Mas o público da épocaterá de percorrer o longo caminho do enobre-

dionisíaca, e de lá ecoa a música "PoZrroia e cóe/ 2e 2efe7o"; ela vem do

cimento até que tome a arte tão Festivae seriamente como ela, segundo Nietzsche, merece. Ê preciso ter um espírito trágico para poder valorizar de verdade a alegria esteticamente criada. É preciso ser livre das ilusões e ao mesmo tempo continuar apaixonado pela vida, mesmo quando se

precipício da dor e do desejo, uma "org/a mz/i/c,z/". Friedrich Schlegel e Novalis só podiam sonhar com tais orgias quando tentavam Eazê-las surgir com conceitos ébrios e com imaginação poética.

Na çongç2ç4g d?s !omânljçosudç..flkdliçb..$çlilegd.a.INktzsçhç, elKlgia! .4io rlbÍ3ç?s..êç.uam.na..!!t$!-Êlg!..ná(2. esi;ãg.4gççl9&4çl4g.-pala. um além bri1lyplç;.ç.

sim ,pêra.g..claro:É$çL!!Q.dg.pr.QCEs$g..ylBL.g1411.

descobrea sua grande inutilidade. Nietzsche exige muito de alguém que

já esteja maduro para a tragédia. Ele primeiro tem de se abrir para o horror e o pavor, e então desaprender esse"medo óarrz'z,e/"ao vivenciar que \â.no " menor momento, no mais curto átomo do correr da suü vida eLe

dig11f2..çl..#!iâOkç)Do ponto de vista da vida comum, trata-se de uma transcendência, mas de uma transcendência gerada pelos precipícios do desejoe da dor. ParaNietzsche, o precipício se descortina sob dois asrectas: como " a terrível anuidade destruidora da chamada história cto

esse pensamento, " toda esta humanidade líder de morrer um dia

mw/zdo" e como a "f

duvidaria disto!

eZZa2e2a

zzí rezíz". A consciência dionisíaca se

envolvecom o prodigioso da vida, tendo a percepçãopropiciada pela representaçãoartística de que não há nenhuma dissolução terrena da

pede e rozzfxnr'zeo JaZEndo".O momento estético é um tal átomo de Feli-

cidade que relativiza toda luta e toda miséria. ".F se", assim conclui ele quem

entãosecobca comoa tarefa mais importante para todos

os tempos vindouros que se cresçajunto, rumo Zt unidade e ao comunitário,

grande dissonância dessavida. Ela será sempre injusta com o indivíduo,

para que ü humanidade caminhe como um todo em direção a seu declínio eminente, num espírito trágico; nessatarefa maior estáincluído todo eno-

ao qual resta apenas a aliviadora comunhão com o processo vital em seu

brecimento do homem.

todo. Para Nietzsche ainda, isso é o ra cozome/ll/Zíica que a arte propicia.

A tarefa mais importante é, pois, fazer surgir ou agir sobre os mo-

Ele é apenasde natureza estética, o que se mostra já no fato de que seu

mentos de maior êxito num homem, numa obra. Para isso Nietzsche

efeito permanece temporário.

escolheu uma única vez, em suas anotações, a curiosa expressão: "a óg'/re

"Como

o ia/zà ", escreve, "é moz;C@cdZ# /z

nossa apreciação das coisas enquanto nos sentimos seguros pelo encanto da

dopxnzer do m#mdo". A gente deve imaginar tal momento como quando,

arte" Mas s6 enquanto Isso. " Nós precisamosdo dramaturgo com todos os

num instante do maior perigo

talentos para que eLenos Liberte da incrível tensão pelo menos por algumas

por exemplo -- um tempo infinito é condensado num segundo; o maior

óozai."O consolo metafísicoda arte não é nenhum que prometa um mundo do aqui e agora, com indenizaçóese alívios e sua garantia de um reino futuro de grande justiça. Não há tal consolo religioso. Há apenas Q es\êücol "Apenas comofenómeno estético a existência e o mundo

prazer, a maior dor, quando a vida inteira aparecede uma vez antes de sucumbir. As imagense iluminações do gênio sãodessanatureza.Assim como o indivíduo compreende sua vida inteira nessesmomentos e pode vivenciá-la como justa, assim também toda uma história da humanidade

262

263

"no c/ côro Ze zz/gZ//m gzóese z{»

",

LIVRO SEGUN'DO e 0 ROMAN'TICO

CAPÍTULO XIV

é clareadae justificada pela luz dessasimagens brilhantes. A elevaçãoa um tal ã2/ce Zo.prazerconcretiza o sentido da cultura. Esseápice era para Nietzsche o drama musical de Wagner e também, pelo menos no início, a pessoa de Wagner. Eie admirava a ousadia com a

qual$gíyçlgHlela$-da

de 1 876 em Bayreuth,

Nietzsche

começará o traba]ho

no ]ivro ]7ama7zo.

demasiado bumctno \Menscblicbes, ALlzumenscblicbesÃ, àe maça a se latnax

resistente contra futuras decepções. Mas ele ainda não chegou lá, ainda aposta no "capzioZome/z{/2}/ra

da arte. Mais tarde denominará sua fraqueza romântica que tenha

viçlg..b111glFsa; a falta de modéstia com a qual ele se recusavaa ver na arte apenas uma bela coisa secundária; a sede de poder com a qual até justamente impunha a sua arte à sociedade. Por sorte, Wagner é um Napoleão da arte,

e por issoele poderia vencer o antiespírito do tempo, esperavaNietzsche. Pouco antes da abertura do primeiro festival de Bayreuth, Nietzsche des-

creve mais uma vez a decadência da arte no mundo burguês: "Eirxn/zóa compromentimento ch capacich& &juLgamento, uma busc.zma! disfarçada

=anüàeta.à.o" necessáriaa arte do consolo meta$sico. Não, três vezesnão! Mocas, jovem românticos: ela não precisada ser necessária!", esctexe eXena

Tentativa de uma autocrítica" do livro sobre a tragédia. Nesse momento, em 1886, ele não quer mais de modo algum ser um romântico, e nega ter sido realmente um. Mas não deveríamos nos deixar levar por isso. A crítica nietzschiana ao romântico e seu distanciamento se

por prctzeres,por divertimento a todo custo, cui(fados como de estudiosos,im-

referema um Romantismo do retorno ao cristianismo. Não é pois a primeira geraçãodos românticos, da reza ro/?/2iiáo(Novalis) e da orgf/z

ponência e tear'o com ü serieda& dü arte por parte dctqueLesquea executam,

espia//w.z/(Friedrich Schlegel) que Nietzsche tem diante dos olhos, e sim

fome braçal por lucro $nanceiro por parte cbs empresários, vazio e ausência

o Romantismo mais tardio, o catolicizante, e que se identificava com os conceitos políticos de ordem da Santa Aliança. (quando Nietzsche

üpe'-lamentos

na sociedade... fado issojunto$rma

o ar abafado Crer'-idoso

das condiçõesda arte em nossosdias:

começou a escrever,o Romantismo era considerado como o espírito

Para grande decepçãodo filósofo, Bayreuth não mudará nada nessascircunstâncias. Pelo contrário: Nietzsche, que no final de julho de 1876 viaja para Bayreuth para assistir aos ensaios e vivenda toda a agitação a chegadado imperador; a corte de Richard Wagner no morro dos festivais e em casa,em Wahnfried; a comicidade involuntária

de uma reaçãopolítico-religiosa ainda não superada. E é esseconceito que ele coloca como basedaquilo de que se distancia. No sentido do retorno

romântico ao cristianismo ele não era portanto de modo algum um romântico, maso era entendendo o dionisíaco como o verdadeiro centro de estímulo do real. Como os românticos, e]e]uta contra a fraquezada moral convencional, contra aquelesque são "z/z/ lzriza2oreJZú Óarmo /a" -- tão

da encenação;o balançardo instrumentário do mito; a comunidade bem-humorada, saturada e de forma alguma em buscade salvaçãoem torno do acontecimento artístico; asturbulências ligadas à invasãodos

x.zraPe2a óz/ma/zZZaZe" (Friedrich Schlegel).É a buscaromânticapelo

restaurantes depois das apresentações --,

Nietzsche portanto parte após

selvagem,pelo prodigioso, que impulsiona também a Nietzsche. A trans-

e também doente. "-Eh Ba7rezzró

cendência romântica, de Schlegel a Nietzsche, não vai em direção à grande

também aquele que assisteé digno de se assistir", hall.a ele esctlto, " aqui vocêsencontram um público preparado e iniciado; a comoçãodepessoasque

calmaria, mas em direção à aventura; a imagem da turbulenta viagem marítima, à qual nos lançamos, parece mais adequada aqui.

se encontram no cume da sua felicidade e que sesentem unidas por eLaem

e&z,ado."Em vão, Nietzsche procura tal público em Bayreuth. Tem de

Paraonde levou a curiosidade romântica, podemosenxergarclaramenteem contrastea Kant. Na Crüic Za razãoPZ/zn,Kant havia achado uma imagem poética para a autolimitação da razão que não

dolorosamente constatar que apenas o imaginara.

havia sido aceita pelo Romantismo.

alguns dias: horrorizado,

aborrecido

bodoseu seT,deixando-sefortalecer em direção a um querer maior e mais

Não teria ele imaginado demais da música de Wagner e do drama mu-

incansavelmente ocupados em "2zifa/t,fz' fz/da gzzr/ 2zz//noe ó#wzz#o/z,

"7\Uí /{goza áa só rrz/z.amos /z ferra

sical em geral, não se teria prometido demais deles?Depois da decepção

Larazãopura [. .amas também a medimos, e determinamos nela um lugar para cada coisa. Esta terra porém é uma ilha [...] cercadapoT um oceano

264

265

CAPÍTULO XIV

LIVRO SEGUN'DO © O ROMÃN'TACO

reuoLto[...]

onde clLguns bancos de neblina e .algum gelo prestes a derreter

$ngem ser noucls terras, e tlo iludir

o marinheiro

que está o tempo todo em

então o dionisíaco sóbrio é tomado por uma náusea.Esta pode crescer atê o ho tot: " Na consciênciach verdadeque se uiu uma uez,o homem só

busca de descobrimentos com esperanças vazias, eLao envolve em Quenturas

reconheceagora em toth parte o horror ou o absurdo do ser:' O que acontece

que ]amüis pode abandonar, sem, porém, jamais Leda-l,asaté o Pm.

Kant permanecera na ilha e chamara o oceano revolto a ominosa co/i.z

aqui?Onde o horror se mostra?É a verdadedionisíacaque é o horror ou é a realidadediária que assumeuma aparênciahorrível por se ter

em í/; Schopenhauer já se aventurara mais longe quando batizou o oceano

experimentado as delícias do escancaramento dionisíaco? Nietzsche

com o nome de züsdo. Os românticos ainda acharam outros nomes para

calade um duplo horror: visto pela consciênciacotidiana, o dionisíaco é horrível; visto do ponto de vista dionisíaco, a realidadecotidiana é horrível. A vida consciente se movimenta entre as duaspossibilidades. Mas trata-sede um movimento comparável ao dilaceramento.Tomado pelo dionisíaco, com o qual a vida conserva plenitude para não bana-

)

isso, o "c'zoi" , as "i.zlz/r/zã#zzi" do ser, a "n.z/z/rez.zcrZ //z,4". E para Nietzsche

a absoluta realidade é o dionisíaco, com aspalavras de Goethe, que ele cita:

"um mar eterno, um tecer que se alterna, uma vida em brasa". Como se estivesserespondendo diretamente à metáfora kantiana do oceano do que não pode ser conhecido, o dionisíaco Nietzsche escreveem Caia r/é c/a:

lizar-se, e ao mesmo tempo dependente dos mecanismos de proteção

chqueLe que reconheceé novamente permitich, o mar, nossom.zr está de nodo

da civilização para não estar à mercê da força dilaceradora do próprio dionisíaco. Não é surprqe.ndçntç.quçNietzs.chei:econb.çça,nadutinade

aberto; talvez jamais tenha bauicio um tão 'aberto mar'

1;!!b$çs --

$naLmente os nossosnavios podem partir, partir para todo perigo; toda ousctdia

O dionisíaco quer dizer o ser inicial -- o ser que, afinal, estápor toda parte e não é compreensível. O conceito do dionisíaco implica naturalmente numa decisão teórica, que por suavez resulta de uma experiência

que se deixa atar ao mastro de um navio para poder ouvir o

canto das sereiassem ter de segui-lo para sua própria desgraça-- yma akggElg.4çlsljjtuaç4o.preqrig:: per$oniGicaâ sab.edolriadioni. sÍ4ça-Ele-ouv.e.o.prQdigiasa-mas-para

se preservarLacçltg:42.rjgág.@s

primordial. Para o jovem Nietzsche o ser é algo móvel, ameaçadore sedutor ao mesmo tempo. Ele o vivenda no raio, na tempestadee no

(:gl11i!!!ç!.as.t.abilbadore!.dl cultura ou a uma religião que.estabeleça.a

granizo, e já nas suasprimeiras anotações aparecea "cr/anta Zo manda'

E aqui pois começasuacrítica ao Romantismo que se tornou cristão. Ele ouvira o canto das sereias,mas sedeixou de novo prender pelo cristianismo positivo. No final até se pâs de joelhos. Na Ga/.zrié/zc/a, Nietzsche define o que entende por esseRomantismo em oposição à

Heráclito, que, brincando, monta e destrói mundos. Ê a mesmavisão que se expressano comentário de Schlegel em Z,mc/m2e, onde se lê: Destruir

e criar, anos e tudo.

Nos jovens românticos e em Nietzsche, o romântico é a experiência

do ser como algo prodigioso, que seduzao dissolvimento voluptuoso do

olSISB.Ê..grzgailanqllilidade.

sabedoriadionisíaca. Na "pZe/z//zfZrZa z,/zü", o homem dionisíaco é forte

próprio ser; o romântico é de qualquer modo a experiênciade um ser

o suficiente para poder suportar também a "z,/íáa rnág/c.z e a .z2enfznr.z z,/Za", enquanto os românticos buscam "zzca/ma, a si#/zr/o, o m/zr Jem

onde a vida, despertadapara a consciência,não pode se sentir confortável.

ondas, a Libertação de si awauésda arte e do conbecimenta". bqa\a isto

O serse mostra dionisíaco quando aquilo que é conhecido setorna sinistro.

não estámais direcionado contra os românticos da história, mascontra

Nietzschedenomina de sabedor/aZZo/z/íázcíz a força que permite que se suporte a realidade entendida dionisicamente. Tem-se de suportar nela

Richard Wagner, a quem, depois de 2nrKe#a/,ele acusa de se ter transformado de um homem dionisíaco num cristão, e consequentemente

duas coisas: umlam

/s co óec/2o.pznzer e uma náz/fe,z.A dissolução dioni-

num romântico. O próprio Nietzsche, por sua vez, apesar de certas reviravoltas e mudan-

síaca da consciência individual é um prazer, pois com ela desaparecem as "óarrr/rai e oi #m//ri Za exisré zc/a". Mas quando esse estado passa, quando

ças,permaneceuum homem dionisíaco que nessemeio tempo ganhou uma

a consciência cotidiana

visão aprofundada da produção de mitos e que sabe que o indivíduo, mas

domina novamente

266

o pensamento e a experiência,

267

LIVRO SEGUN'DO © O ROMAN'TICO

CAPÍTULO XIV

também culturas inteiras, claramente necessitamde um "óor/za fe rfrczzdo

se libertar da necessidade de salvação e se tornar livres para um trabalho

esseobjetivo se pode, quando não se acha abrigo num deus, eleger até a propriedade, a técnica e a ciência como um mito que gera significado; mas acima de tudo trata-se de, pelo menos, admitir com sinceridade

artístico que sabedar valor ao fato de ter ele mesmo dado luz ao mito.

que se arranjou tudo isso. Essa seriedade e .z/eyia, porém, não são encontradas em Wagner, que ele considera um ator que no final não quer perceber que é um ator; um mago que no final encanta a si mesmo.

Na. Tentativa de autocrítica, de \ 886, \ê-se: " vocêsprimeiro det,Criam

O ,4ne/ de Wagner havia obtido o aplauso de Nietzsche também

1l' .1

em torno da redenção. Nietzsche, por sua vez, encorajava as pessoasa

de mi/Of" para que transforme o mundo em que vive numa unidade. Para

semporém setornar suavítima, o que quer dizer: acredita-senelepara que ele forneça um consolo metafísico. aprender a arte do consoloterreno

vocêsdeveriam aprender a rir, meus

jovens amigos, aindct que queiram ademctis permanecer pessimistas; talvez -ocosentão, como homens risonhos, um dia manckm todo consolo meta$sico

porque ele abdicara do consolo metafísico. O mítico que Wagner havia

para o inferno

tentado alcançar significava mesmo uma divinização da vida e sua li-

e a meta$sica em primeiro Lugar! Ou, parafaLar na Lin-

guagem chqueLedemónio dionisíaco quere chama Zaratuswa: 'Essa coroa dos

berdade, e de forma alguma uma fuga transcendental das complicações

risonhos, essacoro.zde rosário: para vocês,meus irmãos, jogo essacoroa! Eu

trágicas da vida. Mas em Wagner, como era totalmente visível para Nietzsche, havia culminado aquele processo da metafísica do artista como celebraçãoartística do mito de salvaçãocristão. No ano de 1880,

declarei o riso comosag'ado: uós,homens superiores,aprendam

a rir!"'

Nietzsche ri de um desejo de verdade que sempre se Em ridículo diante das exigências da vida: "a úpa#

c/a, .z .érre, a e7zga/za,.z óprjca, o /zaPe-

enquanto trabalha no Parie#a/,Wagner escreve.'"poder-se-/aZz'zerg e ZZ

rn//z,o 2a prz:Perrfz/zze Zo erro". Nietzsche ri da //z/sáo ZZra#s/a a respeito

onde a reLi©ão se torna arti$cial,

a arte tem o direito ü saldar a semente

de uma arte do consolo metafísico. Zomba dela não pela aparência, mas

da reLi$ão. O núcleo da religião, porém, reside na percepçãoda precariedade do mundo e nü instrução daqui retirada para se Libevtavdo mesmos

pela falsa crença na aparência.Não critica que se arranje algo como se quer tê-lo, mas que alguém se iluda, que esqueçaportanto que apenas searranjou algo do modo desejado.É claro que a vida deveEmersurgir seus

Essa mudança religiosa também teve consequências para o movimento dos festivais em Bayreuth, que se tornou mais e mais aquilo que Wagner denominou ã?if/z/a/ 2e óemf.2ofe,zfxn/.Essasacralidade forçada

valores e perspectivas, mas não deve fdsificá-las como verdades eternas.

repudiou Nietzsche fortemente

ele também desprezavaa comunidade wagneriana que agora peregrinava para Bayreuth. Denominava essa

da "aparência", mas sem a segunda ingenuidade da qual ele acusaWagner.

gente de um .pou//zÃa que se achavamuito espertopara ser religioso no sentido tradicional do termo, masque por outro lado buscavaa incli-

corça. Nada contra o mito quando se condessa que se é seu criador. Apenas

nação religiosa na arte.

próprio. Admitido e tomado sob controle consciente, o anseiode aparência e pela ilusão se torna um elemento intensificador da vida.

O homem dionisíaco Nietzsche se agarra ao poder vital e à riqueza vital Nada contra a imaginação, mas devemos permanecer soberanos sobre nossa

o desejo da aparência e da ilusão não confessados significam enganar a si

Nietzsche separou-sede Wagner no momento em que percebeu como ele, e mais ainda o seu círculo, abandonara-sea uma segunda ingenuidade, a uma ingenuidade artificial, na qual o que sefazia, o ar-

mento de Zaratustra, essaânsia a6lrmativa pela aparência é descrita assim:

tificial, era adorado como se viessedo céu: "Sdamof czz/Za2oiof.Zaremoi

De quais meios dispomos, para tornar as coisas belas, anüentes, cobiçáueis,

contra nossaambição de quererlhndar religiões." V\e nâo s6 acusa Vragnet

quando elas não o são? [. , .]Nisso temos algo a aprender com os médicos, mas

de ter rastejado para a cruz -- quando, em Eaz!e#a/,revivou mitos de redenção cristóes e gnósticos , mas principalmente de que ele não mais reconhecia a dimensão estética e artificial de todo o seu trabalho

muito mais com os artistas, que na verdade estãoocupadoso tempo todo em produzir tais sentimentose malabarismos [...] nósporém queremosseT

268

269

No quarto livro da (;a/a c/é/zc/a,a última obra que prepara o surgi-

poetasda nossavida, e em primeiro lugar no menor e no mais cotidiano.

LIVRO SEGUN'DO © O ROMÂNTICO CAPÍTULO XIV

Com a figura de Zaratustra, Nietzsche inventa uma instância espiritual que ele utiliza conscientemente para formar e dar sentido à própria

vida. Com ele, respondeao retorno de Wagner ao seio da crença cristã tradicional. Contra o dogma cristão da culpa e consequente necessidade de salvação,Nietzsche cria em .Z:zrnfasfzao hino da pureza divina de

que Nietzsche espera do seu super-homem. Este é esboçado como livre

da religião, não porque a perdeu, masporque a abrigou em si. Nietzsche quer salvar as corçasdo sagradopara o terreno. Paraesse objetivo ele inventa seu mito a respeito do "rl?r o repelia': deixando que

todas ascoisas,do dizer íim e.zm/m para tudo que vive. Mas quem quer

Zaratustra o pregue. No entanto, a ideia do tempo que gira em torno de si mesmoe que joga com o limitado conteúdo do mundo é muito

amar a vida tem de começar consigo mesmo. "(2zíero exiPr Zr z,a/za/oZa .z

velha. Ela aparecenos mitos hindus, nos pré-socráticos, em correntes

bebem e soberania que nós empresa'amosàs coisa reais e às imaginachs como

pro])piedadee criação do homem: como suü mais bela apolo$a. O homem como poeta, como pensador, como deus, como amor, como poder.

Em Zararz/i/za, Nietzsche encontra imagens palpáveis para essepro-

cessode reconquista:primeiro somosum c.zmeZo, carregadocom um monte de z,ocêdez,e.O camelo se transforma num Ze.2o. O leão luta contra todo essemundo do uacéZez/e.Ele luta porque descobriu o ezzgz/ero.Mas porque ele luta, permanece atado negativamente ao z,océdez,e.Sua possibilidade de ser se exaure na necessidade de ter de rebelar-se. Aqui ainda há demasiada teimosia e endurecimento

do próprio ser em jogo; por isso este não

é ainda um jogo resolvido. Ele o será apenasquando nos transformamos

novamenteem fr/zz/zfm,quando alcançámos,num novo nível, a primeira espontaneidade do que é vivo: ".4 cr//znfa / /ngenzl/zúzZee esgz/ec/mrmra,z/m

heréticas da Europa cristã. Na imagem do eterno regresso expressa-se,

no geral, um cansaçoresginadodo mundo. A volta circular do tempo esvaziao acontecimento até chegar à falta de sentido. Ele usa porém essemito como uma formula autossugestivapara a convicçãode que, se cada momento regressa,o aqui e agoraganham a dignidade do eterno. O regressonão esvazia;pelo contrário, ele condensa.." Seaquele pensamento ganhassepost sobre você, ele o transformaria como uocêé

e talvez o esmigaLbasse;apeTgunta em tudo e em cada um:

Docaquer issomais uma ueze ainda])or vezesin$nitasl' iria colocaro maior pesosobre suas cações!Como você teria de se tornar bom para você mesmo

: para a vida de modo a não ncigir mais do que estaúltima con$rmação e decisãoduradoura?

Nietzsche, que quer jogar fora todo z,orêZez,r,também ensina aqui,

novo começo,um jogo, uma rock quegira sozinha, am primeiro movimento,

ainda assim,um novo dever:viver o momento de forma que elepossa

üm sagrado dizer sim. Sim. Para o jogo ch criação, meus irmãos, precisa-se

regressarsem horrorl Poder dizer para cada momento: mais uma vezl

dizer um sim sagrado.

Com uma proliferação de imagens, Nietzsche evoca esteestadode

Tudo depende de tornar sagradoo terreno. Isso diferencia o ateísmo

de Nietzsche do niilismo moderno, com o qual ele se ocupa especificamente.

O niilismo moderno, como ele o vê, é meramente sobriedade.Deu-se

graça no agora sob a perspectiva do eterno regresso. Para tirar desta ideia

aquilo que paralisa e pesa, ele a pensa juntamente à imagem do grande jogo do mundo. Também o jogo está baseado em repetições, mas nós as

à vida um sentido transcendental e um valor. (quando esse sentido para

vivenciamos com prazer. Com a morte de Deus, se revela para Nietzsche o caráter ousado e lúdico da existência humana.

o além desaparece, permanece atrás a vida esvaziada. Sacralizou-se um

Super-óamrm é quem tem a corça e a levezade adentrar a dimensão

além e fica-se agora sentado no terreno profanado. O niilismo moderno

do jogo do mundo. A transcendênciade Nietzschevai nestadireção:

perde os valores do além sem ganhar o terreno como tesouro. O Zaratustra

do jogo

de Nietzsche, porém, ensina a arte de ganhar quando se perde. Todos os

fundamento, dança como Shiva, o deus dos mundos.

êxtases, todas as graças, as idas ao céu do sentimento, todas as intensida-

como

base do ser. Zaratustra

dança

quando

ele alcança

esse

Essaé uma surpreendentevolta para aqueleprimeiro impulso dos

desque anteriormente se acoplavamao além devem se agrupar na vida terrena. Transcender e mesmo assim "perna ecerPe/ à /erra" é isso

jovens românticos, para aquela frase de Schiller: "0 serózzmz/zoió / /nfe/-

270

271

rnmenfe óz/m'z/zo gz/zznZo ór/mra. " Completamente

imbuído

pelo espírito

LlyRO SEGUNDOe O ROMÂNTICO

romântico, Nietzscheincentiva a tornar a própria vida uma obra de arte. O desejoominoso de poder tem primeiramente essesignificado: a soberania

(l:APÍTUI.O

X.V

üa.autoeotma çã.o:" Vocêdeve ser senhor de si mesmo,senhor das suasprópri'zs

ui rudes.Antes ehs eram seusenhor; mm elm quem alem'zssersumferramentas ao Lado de outvüs ferramenta.s. Vocêdeve ganhar poder sobre suas opiniões e ;abe, como muda-L«. Li«emente, 'te aco«do "m

seu: .bj"i"s

ma:o«s. Você

deve aprender a entender o peTspectiuoem cada julgamento de valor. . .

Não há dúvida: em seusmelhores momentos, Nietzsche consegue uma levezalúdica na linguagem e no pensamento, uma agilidade que sabe dançar mesmo com dores e sob o peso de pensamentos carregados,uma alegria "apesarde tudo", uma mistura de êxtasee naturalidade. Encontram-se perspectivas a partir das quais a vida parece um grande jogo. Ele brinca também com as suasperspectivas,coloca máscarase experimenta papéis,se exercitacomo espírito livre, como o Príncipe Vogelfrei, como Zaratustra. Enquanto Nietzsche estava ativo espiritualmente, ele podia semprebrincar e se proteger contra o domínio dassuaspróprias ideias, por exemplo a ideia do super-Z'amem que dizima os zz17e/zexnZoi. Com o desejo

de poder utilizado pessoalmentee como jogo, entendido como domínio sobre si mesmo, ele podia fazer desâlar seusprojetos "gigantomânicos". c(

Eu não quero ser wm santo, pre$ro ser um jogo-ningué7n" , esctevla então, au-." Não é mesmo necessário, nem mesmo desejado que se tome meu partido:

pelo contrário, uma dosede curiosidade,como diante de um uegetcilcurioso, aliada a umcl resistênciairónica, parece-me uma postura incomparavelmente m zZíi íe/ e/z/f ó /z/e 2e m/m" (a Carl Fuchs, 29 de julho de 1888). Nietzsche luta desesperadamenteaté o fim por essaresistência irónica

Vida, nada mais que vida. O movimento jovem. [ebensreáorm.

Landauer. Eclosão de uma mística. Hugo von Hofmannsthal, Rilke e Stefan George. Encanto nos bastidores wilhelminianos:

o romantismo de aço das marinhas de guerra. As ideias de 1914. Thomas Mann na guerra. A atmosfera ética, o perfume fáustico, a

cruz, a morte e o.túmulo

Poucos mesesdepois do seu colapso, Nietzsche foi descoberto pelas pessoasdo mundo e pelos homens do espírito. O final na loucura deu à sua

obra, zz.pc2ire/ari, uma verdade obscura: alguém havia com certezaadentrado tanto os segredosdo serque havia consequentementeperdido o juízo. No famoso trecho da Ga/a riénc/a, Nietzsche havia chamado aquele que negavaDeus de óamrm Zoz/co, e ele mesmo havia enlouquecido. Isso tinha de atiçar uma imaginação que estava em busca de segredos.Ta] curiosidade

é romântica, pois a buscapelo conhecimento de um mundo promissor, na

fronteira da loucura, é puro romantismo. O último editor de Nietzsche, C. G. Naumann, pr'ssentiu o grande negócio. Já editara novos contingentes de obras nietzschianas no final de 1890, e elas agora tiveram vendas notá-

veis.Quando airmã voltou do Paraguaiem 1893, assumiucom agilidadee semescrúpulosa continuação da comercializaçãode seuirmão. Quando ele ainda estavavivo, ela fundou o Arquivo de Nietzsche em Weimar e

também em relaçãoa si próprio. É a ironia romântica direcionada à exis-

cuidou para que fossem editadas as primeiras obras completas. Provou

tência que se exige aqui. A tragédia começa quando Nietzsche se confunde

seudesejode poder, pois tentou afirmar uma determinada imagem do seu irmão para o público e não teve pudores em usar falsificações. Tudo isso já é demasiadamenteconhecido. Ela queria fazer de Nietzsche um

consigo mesmo e se joga de corpo e alma naquelasimagens que ele havia imaginado. Mas ainda naquela "notas loucas" que ele mandou mundo agora

depoisde ter perdido a razão,a resistênciairónica ainda joga seu último Jogo, seujogo louco. A Jakob Burckhardt, o amigo paternal em Basileia, escreveem 6 de janeiro de 1889: " U7f/m,zme/zrf í'z/goifízr/amzó//om,z2;Zesrr professorem Basikia do queDeus; maseu não me atrevi a deixar ir táo Longe

alemãochauvinista e nacionalista, racista e militarista, e para uma parte do público ela o conseguiuaté hoje. Mas ela também sabia atender as necessidadesrefinadas da época. Na Villa Silberblick, em teimar,

meu egoísmoparticuhrpara,

deito instalar um estrado onde o irmão, afundado em seus pensamentos,

por causaük, deixar de lado ü criação do mundo.

O senhor uê que se tem refazer sacri$cios, como e onde quer que se uiva." 272

onde desde 1897 estavaabrigado o Arquivo de Nietzsche, a irmã havia

eraapresentado ao público como um mártir do espírito.A irmã era 273

CAPÍTULO XV

LIVRO SEGUN'DO e 0 ROMAN'TIDO

wagneriana o suficiente para saber tirar de seu destino efeitos sublimes e arrepiantes. Na Villa Silberblick ocorreu um jogo anal metafísico do aPo2rer/me/zra noórr" (como no vinho) europeu

uma caracterização

Fidus", começa a pintar suasnlgurasnuas que adoravam o sol e a fundar projetos de colónias de modos de vida:4. Lê-se o Zazafz/fixa. O seu aviso

'.perra'zaef.zm #é/í à /erra" é ouvido com fervor e também obedecido.

de.Gottfried Benn. Meio séculoantesdissoThomas Carlyle, que era

Os adoradores do sol e os nudistas podem também se sentir seguidores de

querido nessescírculos mas não gozavada admiração de Nietzsche,

Zaratustra. Em um dos vários textos iniciadores e comentadoresdo início

havia expressado o cálculo romântico em tais jogos anais: " z/m //?Pn/fa. Jamais tente engoli-lo contando na sua capacidadeLógicade digerir; seja

do Expressionismo,

lê-se: "Z)ar m mãos. /Sz/Ó/r em z#rrfáo à mo lança

a

nudez divina.] [. ..] Tome(hs minam mãos todo o soltara você.l Ilumine o

r/zaj,fz//f.zgar e/eo engzzZa." Nietzschehavia sido pois engolido, tinha

mundo,IA noiteseparte. aparta para a luz! Ó homem,para cl Luz" No tempo de Nietzsche, a juventude burguesa ainda queria parecer

se aventurado muito. Perdeu-se no prodigioso da vida.

madura. Naquela época, a juventude era certamente uma desvantagem

muito m.zisagradecidoquando você,.fincando estaou aquela coluna no

Não apenas através de Nietzsche, mas principalmente

por causa

para a carreira. Sugeriam-seremédios que supostamente aceleravamo

dele, a palavra "vida" ganhou um novo som, secreto e tão sedutor que aqueles que exigiam palavras sólidas alertavam para a "ag/[rzfáa 2a z,i2a'l Mas o renascimento do conceito da vida romântica não podia

crescimento da barba, e óculos eram tidos como símbolo de prestígio. As pessoasimitavam seuspais e usavam colarinho engomado; aqueles que estavam na puberdade eram vestidos com sobrecasacase ensinados

ser evitado apenas com isso. "Vida" se tornou um conceito central,

a andar elegantemente.Antes a "vida" era tida como algo que trazia

como outrora "ser", "natureza",

sobriedade, e a juventude devia perder as arestas batendo contra ela. Agora, porém, a ela é a impetuosidade e o despertar, e com isso é a pró-

"Deus" ou "eu", também um grito de

guerra direcionado contra duas frentes. Por um lado, contra o idealismo parcial da obrigação, como ele era cultuado nas cadeiras de professores

alemães, na retórica política oficial e nas convenções morais burguesas.

Por outro lado, contra um materialismo sem alma, portanto a herança do final do século XIX. "Vida" significava a unidade de corpo e alma, a dinâmica, a criatividade. O protesto do Sfz/rm ##Z Z)gang e do Romantismo

se repetia. Naquela

época, a "natureza" ou "espírito"

eram

pria juventude. "Juventude" não é mais nenhuma falha que precisaser escondida. Pelo contrário: a idade tem de se justi6lcar; ela está sob suspeita de estarmorta e rígida. Toda uma cultura, isto é, awilhelminiana:s, é chamada diante da "faze/xn ZoiJ üef Za z,/Zú" (Wilhelm Dilthey) e confrontada com a pergunta: esta vida ainda vive? Em primeiro lugar: tudo crescia de maneira fantástica se temos em

aspalavrasde luta contra o racionalismoe o materialismo. O conceito "vida" tem agora a mesmafunção. "Vida" é uma proliferação de formas, riqueza criativa, um oceano de possibilidades, tão imprevisível e

mente o crescimento do poder político da .Nemanha depois da fiindação

cheio de aventura que não precisamos mais de um além. O terreno nos oferece o suficiente. Vida é o partir para margens distantes e ao mesmo

xas, a expansão da segurança social. Em todos essesassuntos a .Alemanha

tempo muito próximas, a própria vida que exigeque secrie uma forma. Vida" se torna a palavra de ordem do movimento jovem, da arte nova, do neorromantismo, da pedagogiareformada. Em 1896 foi fundada a

e orgulhosamente pelos representantes da .Nemanha oficial. Por volta do

do Império, assimcomo o desenvolvimentoindustrial, a tecnologia,o nível geral de educação,o elevado padrão de vida também nas classesbaise tornara, nesse ínterim,

24

revista/agenz/ [/uz,emfzzZe] . O manifesto de fundação diz programatica-

274

incessante

Zfóf ir(Êorm (reforma da vida ou de costumes) designa um movimento de reforma na Alemanha e Suíça no final do século XIX que influenciaria várias comunidades até os meados do século XX. O movimento esteve principalmente

menle'. " Juventude é uma forma de existência, capacidade de divertimento,

esperançade amor, crença no homem juventude é vida, juventude é fa é#orma e /zíz." Nestes anos, Huno Hõppener, que se chamava de

líder na Europa, e isso era anunciado

ligado à crítica da

urbanização e da industrialização. Seu tema era o "regressoà natureza". [N.T.] 25.

A época wilhelminiana

abrange o período de 1890 a 1918, que comporta os anos de

governo de Guilherme ll e a Primeira Guerra Mundial. [N.T.]

275

LIVRO SEGUN'DO e 0 ROMÂNTICO

CAPÍTULO XV

final do século,no circo Renz-- o maior local de reuniõesde Berlim Werner von Siemensfaz desfilar o espírito dessaépoca como ele a entende. Ele deve ter Enfadoà alma dos círculos burgueses, mas também à-dos pta\etâ los: " E assim, meus senhores, náo queremos nos dei)car abafar

em nossa,crença,de que nossaatiuichde & pesquisa e invenção propicia ÊL bumanida&

níveis de cultura mais elevados, a tornam nobre e mais acessível

clCLmbições idealistas; nü medida em que o tempo que irrompe minimiz.a sua

precarie(hde, sua doença,aumenta seuprazer de viver, afará melhor, mais feliz com seudestino. E mesmo que não reconbeçamosclaramente o caminho

ero/zóm/ro ZoJ /xaÓaZZ.zZorei",escreveu um autor trabalhista em 1888,

não é su$ciente para explicar seu significado. Para dez;amas de milhares

Lese tornou também uma nota pátria para a alma; do ponto de Dista meramentehumano eLese transformou num conteúdo existencialTido e

rAe/odea/grZ ." Não sequeriaapenaslutar por objetivos,masorganizar já a nova vida, a vida melhor. Tratava-se de uma nova organização

da vida com grémios, seguro em casode morte, instituições de ensino, vizinhanças, festas, canções. Um romantismo todo particular estava em Xa%a. " o noto

queLevüráü essascondiçõesmelhoradas, queremoscontudo permanecer$rmes em nossaconvicção de que ü Luz da uevchde que pesquisamosnão Leda,a

caminhoserrados, e que o])odes trazido à bumani(hde não pode diminuíLa; que, pelo contrário, tem de eleva-La CLum nível, mais alto da existência.

Uma das condições para essesucesso,segundo Siemens, é um sentido

tempo irrompe

conosco.. :'

Enquanto o movimento trabalhista cuidava mais de um ressurgimento lento,

no qual se contava

com prazos mais longos

e as pessoas

estavamconvencidasde que podiam conGlarnuma supostalei objetiva do progresso as pessoassabiam que "frmoi /úopoz/copader.paxn#azer sta TeuoLuçãocomo nossosadversários de edita-la . as mom\men\aç6es

desperto para a rea]idade, isto é: emagrecimento do espiritual e curiosidade

dos neorromânticosamigos da vida e da reforma de costumeseram

pelo que estápróximo. Para issoé preciso também a disposição de inserir-

mais impacientes e, no que concerne à mudança interior do homem, mais

-se nas formas de organização moderna da vida tecnológica e económica.

radicais.

Assim, a "óaói/afáo Zeafo" (Max beber) do Modernismo pode setornar afinal um ]oca]prazerosode seviver; acima de tudo se tem a perspectiva da recompensa de que um dia se participará de maneira mais abrangente da riqueza da sociedade, se apenas nos comportarmos da maneira certa. Para o movimento de trabalhadores social-democráticos a mais

forte oposição à Alemanha de Guilherme ll -- o comportamento correto seria deixar trabalhar para si as contradições do sistema industrial capitalista e apostar em que eles finalmente levassema um Estado popularizado e a uma propriedade socializada tudo isso porém no con-

O movimento trabalhista não queria superar o mundo burguês, e sim encampá-lo.O trabalhador deveria encontrar nele seu lugar certo. Não se pensavanum "novo homem". Isso era considerado um romantismo ruim, de pequenoburguês.E, por outro lado, os reformistasde costumes [ZTZ'e in(#ormrrn], os automarginalizados, os membros do Wandervõgeln27

os novos colonos e os anarquistasnão tinham em alta conta os socialdemocratasdo movimento operário. Eram denominados ioc/a/ií/ai 2a /acamar/z,a.Em seu CB.zm.zZo aa ioc/a//íma, Gustav Landauer zomba:

um contexto de vida que dessesentido ao presente e confiança no figuro.

) pai do mançismoé o vapor. Mulheres idosasfazemprofeciasa partir da borra de café.KarLMarxfaz profeciasa partir do vapor:' Gustav Landauer, hoje quase totalmente esquecido, era uma das figuras mais importantes destasalianças neoromânticas nos anos de 1890.

Para os "companheiros sem pátria" da democracia social, o partido se

Em torno de Landauer e dos irmãos Hart se havia fundado a "Nova

texto do sistemaindustrial, para o qual não sepodia imaginar nenhuma alternativa. Até então tratava-se não apenasde criar uma oposição, mas

tornou a nova pátria, que aliás em breve se integraria à pátria maior, com Bebei:' como o "anti-imperador".

"0

curro mc?z,/mrmfo,po/ü/co r

Comunidade", que tinha o objetivo nada modesto de criar, no espírito do irrompimento dos primeiros românticos, uma religião comunitária 27

26

August Ferdinand Bebei (22/02/ 1840-13/08/ 19 13) eoi um dos fundadores do Partido

Social-Democratada A]emanha(SPD).[N.T.]

276

Literalmente, "pássarosem movimento". Movimento apolítico de jovens alemães fundado em 1896 em Berlim-Sreglitz; seu objetivo principal era o de libertar a juve ntude de uma sociedadeburguesa repressivae autoritária. [N.T.]

LIVRO SEGUNDO e 0 ROMAN'TICO

CAPÍTULO XV

baseadaem princípios atribuídos a Novalis e Fichte: em primeiro lugar, as pessoas deveriam ir para dentro de si mesmas, encontrar seu

-leinricb kart era Lido em uoz alta [...]seguido de uma palestra deJulius 'kart que vinha dasproÍhndezas. Vida! Vidalsoa a chspaLaPrasdestesdois

centro místico, seu verdadeiro eu -- isso era considerado o caminho

lrmúos, e a natureza nos gritava a mesma coisa.

de Fichte; partindo do eu captado de maneira nova dever-se-iaentão, num sentimento de simpatia com o todo, criar a nova comunidade -- no espírito de Novalis. Pensava-senessasequência: era preciso,

naquela época se formaram no contexto do movimento do IWanZerz,Ólg?Zn

A "Nova Comunidade" foi uma das muitas comunidades rurais que e das empresas agrícolas alternativas, mas foi provavelmente a mais famosa.

primeiro, se ter achado no isolamento para superaro estranhamento na sociedadee se tornar novamente apto a viver em comunidade Num texto com o título programático.4fraués2a Zso/amenra à fa-

Serviu como exemplo e, graças à personalidade de Landauer, 6oi especial-

ma/n/dado [Z)WrcÓ-dÓSO/z2erz/ng zzzr Geme/ icóú@], Landauer escreve:

O nome de Nietzsche já setornara de qualquer modo um ponto de convergênciaentre os novos românticos: quem defendia a vida contra convençõesburguesas,contra o pensamento utilitarista, o racionalismo,

E quando nós nos aprofundados ao máximo em nós mesmos, então encon-

tramos no centro mais recôndito do nossoeu a comunidade original e geral:

com íz humanidade e com o cosmo[...] Distante do Estado, tão distante

mente atraente para artistas, escritores e 6llósofos que queriam dar à vida

um significado romântico e inspirado por Nietzsche.

ciuanto ele nos deixe ir e tanto quanto nós nos arranjámos com ele, distante

gostavade recorrer a Nietzsche. -As mais importantes correntes artísticas do início do século -- Simbolismo, .4rf noz/ueaw,Expressionismo

da sociedade de mercadorias e comércio, distante do culto ao $Listeul Que

foram todas inspirados por ele. Nessescírculos, quem quer que secon-

criámos um.z pequena comunidade com alegria e açáo, que nos recriemos

siderasse importante já tinha tido sua "experiência nietzschiana". Harry

como homens qwe uitiem de maneira exemplar [. . .] Nossoorgulho tem por-

GrafKessler formulou de maneira marcante como os que pertenciam a

tanto de nos proteger de Tiver do trabalho dos outros homens. Aprendemos

sua geração

haviam

"vivenciado"

Nietzsche:

".Êb

áo#aZauzz ape/zas.pzzxa

z trabalhar, a fazer trabalho braçal, a ser atiuosdeforma produtiva:' Próximo a Berlim, não tão distante da "cidade mo zifrz/aizz':foi fundada uma comunidade rural, com uma empresarural, artesanatoe ins-

a razão e afantasia. Seu 4eitofoi mais abrangente, mais profundo e mais

tituição de ensino. Havia palestras e saraus, se pensava sobre a educação

heroísmo entre nós e o fundo da realidade. Através dele nósfomos afastados, encantados para fora desta época glacial:'

global dascrianças (Rudolf Steiner fazia parte do círculo mais distante da "Nova Comunidade");

Fidus dava forma aos espaços e Henry van de

secreto.Seueco,queseexpandiacada uezmais,signi$cava o irrompimento de uwcl mística no tempo racionaLimdo e mecanizado. ELeestirada o uéu do

O /rro/nP/menu

Ze am.z múf/ca

é exatamente isso que se deu em

se entendia mesmo como um "moz,o mosfe/ro iem zz//m/iaf.2o Za z/j2a mo-

torno de 1900, contra a cultura oficial da .Nemanhade Guilherme ll. Lá havia por exemplo o círculo dos "cósmicos", em volta de Alfred

nástica" , como uma" c07ifaria ch verdadeira vida" , que " ética, relógios'z e

Schuler, em Munique. Ludwig Klages e Steean George também fizeram

esteticamente deveria wansformar a uich toca numa obra & arte" ÇHe\nt\ch

parte dele por algum tempo Schuler estevesob a influência da pesquisa dos mitos de Gõrres e Bachofen, e tinha adentrado os escritos ocultos

Velde criava estuques e decoração de interiores. A "Nova Comunidade"

Hart). Era famosa por suasfestas,para as quais os chiques de Berlim peregrinavam. Havia a "Festa do Tao", as "Novas dionisíacos", a "Festa das tempestades primaveris", e no Natal, a "Festa da autorredenção"Landauer descreve uma dessasbestasnuma carta: " Z./mmomento óo/z/f', cheio de .ztmo$era religiosa, joi quancb nós nos alojados num belo ponto do

dos primeiros gnósticos até Swedenborg. Ele porém não se sentia como pesquisadorou receptor dos conhecimentos fundamentais, e sim como médium. Determinados objetos, um antigo objeto de culto, um pedaçode cerâmica,certaspessoase assuntospodiam Ihe trazer

lago; uma maravilhosa luz soturna sobre o hgo e ospinbeiros bravos, nuvens

vibrações, e então acontecia que uma correnteza de palavras desabava

ie tempestade no céu e Longínquo trovão, enquanto um prefácio-poema de

sobre os ouvintes; ela parecia cósmica para quem estava familiarizado,

278

279

LIVRO SEGUN'DO e 0 ROMAN'TICO CAPÍTULO XV

e cómica para quem estavadistante. Schuler pregavao heterismo e o amor entre os homens e receitava os antigos mistérios -- cuja mensagem só era compreensível para os que estavamembriagados com Dioniso ou se encontravam afastadosde tudo -- como remédio contra a doença

do tempo. Ele tinha pensadoa sério no plano de libertar Nietzschede sua incapacidade mental pela apresentaçãode danças coribânticas. E só

desistiu do intuito porque não tinha o dinheiro exigido para mandar fazer a necessáriaarmadura em cobre. Schuler não apenaslembrava antigas mensagens e "i/zóe2or/ s"; ele também tinha as suas próprias, que anunciava quase em transe, como o ensinamento a respeito do período original que devemos imaginar como cheio de luz, td qual o pleroma dos gnósticos. Essa época áurea teria findado com um consequente "esczírí'c/mr / "; seguiu-se o período da "z,ZZadlz'Z212a", do estranhamento,

da

formação de castas, da imposição. Os poderes sinistros se manifestam no presente, especialmente

no "cz//fo ,z ,Adamon", assumindo

o poder.

Eles liberam um atavismoeconómico iradamente cego que ameaça transformar a terra numa paisagem lunar. Perseguemcom seu ódio os

que portam as faíscasde luz que sobraram, os guardiões das "/z/zei Ze sangwz'". Em Schuler, os "Zaz/róei 2# /wz" ainda não estão muito identi-

ficados como judeus. Isso acontece então com Ludwig Klages, que dá continuidade aos ensinamentos de seu amigo.

Os cósmicos buscavam uma alternativa mística para o sóbrio mundo moderno: em especulações filosóficas, em redesde confrarias e em atividades ritualizadas que com frequência se transformavam involuntariamente em piada de carnaval.Aliás, isso ocorria também propositalmente, pois os cósmicos eram famosos pelasbestascarnavalescas.Stefan George aparecia como César, Schuler como a mãe origi-

nal, Gala, Wolfskehl como Dioniso. Dançava-sea dançade Beco em círculos, soprava-se a flauta de Pan, alojando-se sobre peles de tigre e acendendo lampiões de brilho azulado. Ninfas das regiões periRricas de

Munique eram convidadas, também jovens camponesesde boa estatura

que, em último caso, podiam personificar o espírito germânico pagão.

Com o olhar pousadosobre essamística febre festiva,Thomas Mann Ea\aem Doutor Fausto da "permanente Liberdade de usar máscara?' em Schwabing, antes de 1914. 280

O "/rro/mPjmr/zíoZe zzm.z múzfca" (Kessler),a volta da ânsia romântica pelo misterioso se deu também de formas sublimes e sem mistagogos.

Em 17 e 18 de outubro de 1902, eoi publicado no jornal berlinense O dz z [Z)er 72g]-- um dos maiores diários de língua alemã -- o conto (Jma rúrZa [.E]i/z .Br/(H, de Hugo

von Hofmannstha].

O título

completo

desse

Ex\Q üe çxc(lâo e-. Esta é uma carta que PbiLiPP Lota Cbandos, $Lbo mais

loto de Earl ofBatb, escreveua FrancêsBacon, mais tarde Lota VeruLame /escondeSt. Albans, para se &sculpar diante êste peh sua total desistência

le quctLquer anuidadeliterária. Mais tarde se julgou a Cada como um documento do ceticismo

moderno em relaçãoà linguagem no espírito de Fritz Mauthner e do jovem Wittgenstein e da literatura moderna que se teria expressadoem um dos seusgênios na atmosfera do.Pn 2r i/êcZevienense.

E verdadeque ela narra uma crise de decadênciada linguagem e do p'nsamento. "E# pena ca/npZe/amr/z/ ", escreve o lorde Chandos depois de uma recapitulação autocon6iante da sua obra rica e até então bem suceX&a, ' a capacidade de pensar oufaLar correntemente sobre o que quer queseja:'

Mas nem o lorde nem Hofmannsthal perderam de alguma forma a capacidadede pensarou de falar. A própria Cargaprova brilhantemente o contrário. Se escrevebem lá, em períodos artísticos, que vibram por muito tempo, e se pensa exata e coerentemente, tão coerentemente que se pode determinar exatamenteo ponto em que o segredodesafiaior começa e acontece o "omi

OJO/rro/mP/mrm/o Zr zím.z máric

". Lorde

Chandos não se cala; pelo contrário, escreve a respeito e avança assim no terreno daquilo que supostamente não pode ser dito. Hofmannsthal descobriu com isso um novo continente para a literatura moderna que o liberou para assentamentoslinguísticos posteriores.

Um processodo Romantismo histórico serepete.Ihmpouco naquela época as pessoassesatisfaziam com a confissão de que além da linguagem

e do pensamento haveria o segredo que não pode ser revelado. Queria-se adentrar as áreasescuras, e por conta dessa exigência a linguagem

e o pensamento tinham de se torHar elásticos. Mobilizava-se um novo exército de metáforas. O que era considerado irracional deveria ser

apanhadonas redes de uma racionalidade abrangente.Certo é que, diante do prodigioso, só restavapor vezesum mero "ah" kleistiano. Mas 281

LIVRO SEGUN'DO e 0 ROMÂNTICO

CAPÍTULO XV

isso erapelo menos um sinal; era mais do que apenasemudecimento. Também em Hofmannsthal não há, nessaobra da crise da linguagem, um emudecimento.Pelocontrário; há nela o mesmomovimento, o mesmo impulso de conquistar a terra que no Romantismo. Que terra?

Antes de olharmos para essaterra a ser conquistada para a linguagem, temos de esclarecera questão: a que estão relacionados a crise e o

graçasa seu professorde filosofia Ernst Mach, formulado desta forma: / z&z,/2a m es// e#ãó/Ze, o indivíduo

é inefável. Hofmannsthal

lida com

um problema que os nominalistas chamavam de óarcreiíaj, o "isso aí" A realidade consiste em diversos desses"isso aís"; até mesmo a própria

pessoaé também um "isso aí". Aquilo que existe é algo único num ponto do espaçoe do tempo. Esseextraordinário é a suaindividuali-

declínio da linguagem a ela associados;qual é a terra da erosãoque se transforma num deserto e que por isso temos de abandonar? A Cúria determina duas zonascríticas do declínio da linguagem.

dade. Cada conceito, assim argumentam os nominalistas, é diante dele

Por um lado as "oP/n/óei re/ /oia ", que nesse ínterim

que chamamos de Deus. Nós jamais conseguiremos alcançar Deus --

parecem "fe//zi

de aranha, atvauésdas quais meuspensamentosseatiram para o vazio' Declínio da linguagem portanto naquilo que estábem distante, para o

que é, no alto, o mais abstrato:em Deus. Mas então há o declínio da linguagem de modo geral, nos conceitos abstratos que abrangem todos os âmbitos do ser e as apreciações gerais do bem e do mal. ".Eb íenfi z/m müL-estar inexplicável, ao apenas pronunciar

as palavras 'espírito', 'alma',

ou 'corpo'. As palavras abstratas das quais a Língua naturalmente tem de

fazer usopara expressar algumjuízo sedesfizeramna minha bocacomo coKZ/me/ai podres." (quando ele lida com essesconceitos e juízos, tem

a impressãode estar diante de um jogo vazio, do qual a realidadese àespe&u. " Essesconceitos, eu os entendia: eu uia seu maravilhoso jogo de relações montar diante de mim como fantásticos jogos aquáticos a brincar com bol,as dauvctd,as.

Cogumelos podres ou fantásticos jogos aquáticos pois

mas ambos

distantes da realidade. Que realidade? Também aqui se determinam duas

regiões decisivas que deveriam se tornar acessíveismais uma vez para a linguagem. Elas são a individualidade das coisas concretas e pessoase a individualidade do próprio ser; duas esferasque se envolvem em segredo, embora estejam tão próximas. Lá estáa esferaque lorde Chandos

denomina o mais profundo, o mais pessoaldo seu pensamento,e lá está a outra esfera das coisas e seres individuais

no mundo exterior: "z/m

re@Ldor, uma alfaia agrícolaabandonüü no campo,um cãoao sol, um pátio

de igreja modesto,um aLeijaóLo, uma peqaenízcasade trabalhador rural" . As consideraçõeslevam a um ponto que a tradição fllosóGicada Idade Média define como nominalismo, que Hofmannsthal conheceu 282

algo abstrato, apenasuma palavra que não alcança o nível do concreto,

mas que tampouco se eleva até o que é excessivamenteconcreto, e tampouco o indivíduo. Nem um nem outro se deixam representarde maneira plena. O que está longe e o que estápróximo são infinitos, por isso o mistério começa nas coisasindividuais; não importa do que se trata. (quando lorde Chandos declara que o regador, a casa de um trabalhador do campo, um cachorro se teriam transformado para ele num "cá#ce 2a mj/zóa rrz,eZafáa",então isso não é apenas sua

experiênciaíntima, existencial; isso seencontra na lógica do ceticismo em relação à linguagem e aos conceitos do nominalismo que retorna em Hofmannsthal. A C2ría de Hofmannsthal é o texto programático de um misticismo poético que quer dar uma linguagem ao interior que é indizível, e às coisas sem voz. A linguagem possibilita o './7zz/z'p'zrao aa/ a vaza". Para

onde?.Ali estão por exemplo os ratos em agonia, um besouro que se afoga num regador. Não é piedade, acentua lorde Chandos, é ao mesmo

tempo mais e menos, é um mergulho no./7zz/da2# z,/2Úe 2a mor/e, mas

também umas rl/r#'afáo viva nas coisasditas mortas, que senos mostram como setivessemque receber de nós, que asvemos e nomeamos, a confirmação da sua existência; como se elas só estivessemlá a partir

do momento em que se espelhamno nossoolhar e nasnossaspalavras. A Cbrr.zrefjete sobre uma crise da linguagem e quer ao mesmo tempo expressaralgo ainda não dito. O homem se descobreno meio da naturezacomo um serque tem uma linguagem,e por issoas coisas e o ser podem se Ihe apresentarcomo algo que exige ser nomeadoe comentado, como se aspalavrasfossema redenção.O homem com sua linguagem dá um palco à natureza, sobre o qual ela pode aparecer; de 283

LIVRO SEGUNDO e 0 ROMÂNTICO

CAPÍTULO XV

outro modo ela seria muda, afundada em si mesma. Porque ela é muda, a natureza sofre, lê-se na Orijgrm Zo eram z Z'arroio .z/em.íade Walter

Benjamin um texto que é publicado duas décadasdepois da Cada e é aplaudido por Hofmannsthal.

O mistério do mundo sem voz -- é disso que se trata. É uma brincadeira de criança imaginar um Deus se comparamos isso com a dificuldade, por exemplo, de se imaginar como uma pedra. Não é Deus o verdadeiro mistério, mas a pedra. Como seresespirituais podemos entender muito bem Deus como princípio espiritual. Ele é da nossa espécie.Ê diferente com a pedra. Algo que não é espírito nem alma, mas que mesmo assim está aí; imaginar de verdade este ser sem consciência --

isso é quase impossível. Que mundo é este que, como as pedras, é

da vida exterior podem ressurgir. Na nona -Êlleg/aZe -Z)z/z'7zo lê-se: «É'eisai ousas,que l vivem do passageiro, l compreendemos que tu as celebrem;lpasageitas, leias nos contam

uma força salvadora,

a nós, os mais IPassageiTos

Le tod,os. l Querem que em nossos corações invisíveis

ompi'to l

in$nitamente

as l transformemos por

em nós! quem quer queen$m sejamos:'

Rilke, juntamente com Hofmannsthal e naturalment. também com SteEanGeorge-- o terceiro grande nome neste triângulo; para um grande público elesrepresentaram uma autoconsciência poética que não se conhecia desdeo irrompimento da primeira geraçãode românticos cem anos antes. Na Comi,farsaioZ'repormaf

[GesPücó #óe Ge#lcófe], de

1903, Hofmannsthal escrevealgo que os outros dois poderiam perfeitamente \et àwo'. " Se a poesiafclz uma coisa, então isso: eh, tat quaLüqueLas

apenasser, sem consciência? Como é que ele pode estar aí, sem mesmo

Fguras nos contosdefada que extraem ouro de toda parte, retira com garra

saber que está?Não é diante de Deus, mas diante do ser sem consciência,

- que lbe épróprio, o que correspondea sua natureza, de toda e qualquer

diante das pedras,que a consciênciacomum desiste.Mas talvez não os poetas. Hofmannsthal pelo menos estavadisposto a aceitar estedesafio: vetbaÀ a um mundo" sobreo quaLgeraLmente um oLhoPassa com naturctl indiferença Exatamente desseforma é que Rilke, da mesma idade, entendia a tarefa

do poeta.Alguns anosantes da Cúria de Hofmannsthal surgiu o poema:

mugem do mundo e do sonho.

O próprio Hofmannsthal, e não apenasseu fictício lorde Chandos, podia, quando escreveu a Carín, já olhar para trás e enxergar uma rica obra que ele, como parece, criou com uma mão leve, genial: poemas, peças curtas, ensaios. Uma "criança prodígio"

-- ele publicou os primeiros poemas

ainda como estudante de ginásio -- com uma aura encantadora, apaixo-

' Eu temo tanto a palavra do homem. l Elas expressamtudo tão claramente:

nado por si próprio e afiindado num mundo estéticoque criava em torno

IE isso sechama cão e a quilo cbamct-se casa, IE a qui é o começo e o fim ali. ll

de si. Ele era o centro do círculo

Temo também seu sentido, seujogo com o desprezo,/Elas tudo sabem cto que

no caB Griensteidl. Lá, Stefan George buscou o jovem poeta no início dos

foi e que será;l Nenhuma montanha Lhesé mais maravilhosa; l Os Limites

anosde 1890. Georgedeveter ficado um pouco apaixonado,masacima

do seu jardim e sua propriedade uão até l)eus. ll Eu quero sempreavisar e

de tudo Hofmannsthal

akrtar:

conservem-se distantes. { Gosto cte ouuàv as coisas cantarem l Vocês

as tocam: elas são então Ti@das e mudas. l Vocês me matam to(hs tls coisas"

É preciso ter cuidado quando se produz palavras, pois elas podem

de artistas em Viena;

recebia as pessoas

era para ele -- que já se sentia como "mestre" -- o

único que considerava à sua altura. George se aproximou da mesa, onde

Hofmannsthal bebia seu caB e folheava uma revista, com a declaração verdadeiramente brusca de que haveria alguns indícios de que o jovem

esvaziaro mundo ou até torna-lo estreito como uma prisão; elas não apenasdesignam, mas interpretam, e também isso pode se tornar um

\amem seita " um dos poucos na Europa (e aqui na ÁusHia o tónico) com o

problema quando se [em de perceber "g e nós áa ef/zmoi rea/me fe em

z,/ óaz"zmogz/ejr / a.paéfíc..." Assim contou mais tardeHofmannsthal.

casa no mundo interpretado

George deve ter se esforçado insistentemente em conquistar o jovem.

Como em Hofmannsthal, surge também em Rilke, da crise e do ceticismo em relação à linguagem, um misticismo poético que cria

(queria atrai-lo para o círculo que havia começado a formar em torno

no poema um espzfo / fer o Zo mzzmZo[[We/f/ 284

r zazlm] onde as coisas

dual eLeteria de buscar uma ligação: trütaliü-se (h união daqueles queadi-

de si. Mas Hofmannsthal resistia,embora admirasseGeorge.Depois do primeiro contadoem dezembrode 189 1, mandou para Hofmannsthal um 285

LIVRO SEGUN'DO e 0 ROMAN'TICO

CAPÍTULO XV

poema no qual se lê: " UorêmeaZerfaz/pzzzw coisas/ gzlr sáoierrezaiem mim /

Hofmannsthal, Rilke, George -- neles houve mais uma vez um

Vocêfoi as corctm da alma /para o vento notwrno que sopra." Externamente,

desabrochar do Romantismo, mais uma vez Foi possível este «e a mz/mZo

Hofmannsthal permanece cortês e obsequioso, como era do seu estilo,

fomes'z a canzn

mas no &âtl.o ele ano\a: " Neste meio tempo o medo cresce:a necessidadede

exerceram um grande efeito como porta-estandartes mais ou menos

rfzácz/Zar/azar /zgz/eZe gz/ees/zízáa fe 2e m/m." Ele não o ridicularizou; muito

oficiais e mensageiros do reino poético. Eles são a exceção à regra que

tempo depois da recusa final à corte da sua pessoa,Hofmannsthal cita

Friedrich Hebbel formulou com alguma amargura numa carta em 27

--

de abril de 1838: " 1,''Zz'rmagazn, fom exrefáa 2aJPaz/coJ gz/e a# #.z #rjca

em sua Cona,rri.z ioZ're.poemas (1903) --

exemplo de plenitude

os poemas de George como

lírica no presente: "z,em /'zxn o .pzzrgz/r drrézxa2o

morra e z'r7.z..."Hofmannstha]

portanto se havia aEmtado, mas não parou de

admirar Georgecomo aqueleque conseguiuestabelecerum círculo lírico encantado numa época em que ele próprio não mais era capaz de escrever um grande poema. Na Car/a de Chandos Hofmannsthal havia colocado tão alto as exigênciasao misticismo poético -- de que estedeveria escutar a verdadeira natureza das coisas-- que ele mesmo se excluiu da produção

fe aPe as .zróaJ aP.zZaz,za mz@/ca... " Eles, de certa forma.

alcançam algum êxito, nem mesmo cinco pessoasnaALemanba que tivessem

lmü opinião sobreesses brotoumaist'ágeis da alma. Havia um romantismo de tipo especial na .Alemanha de Guilherme ll.

mesmo sem o "irrompimento de uma mística" e sem a sublimação lírica. (2wan2o ,Game/ZJ ZÚ naz,.z g?zafáo", declara Oswald Spengler, "if z,o/lym

ü técnicaem uezda Lírica,à marinha em uez,cia pintura, à política em ez da crítica do conhecimento, então eLesfazem o que eu almejo, e não se

lírica. George, porém, continuou a estender seuscírculos e fundou um

.pode 2efdar-/BeJ

'Estado estético" como outrora Friedrich Schlegelhavia provavelmente imaginado nos seussonhosousados.Não há nenhumadúvida de que

AJemanha, então ambiciosa nação industrial, para a marinha e para a

Stefan George era no final das contas um romântico, ainda que de estrita observância.

Basta lembrar

aquele poema

fantástico

do Noz,o rr/no

ReichÜ, \nütu\aào A canção: " Um servosaiu para altoresta/Sua

[7Vezórn

barba ainc

z2a meZBon" É verdade que as pessoas se voltavam na

política, e o seumaior representante,o imperador, personificavaengenhosamenteestenovo desejo de poder. Primeiro porque ele depois do caso de Eulenburg, que Ihe trouxe a reputação de ser um molengo romãnttco -- queria secomportar de modo especialmentebélico. .Além

11Todaa aveia saiu à sua procura l da manhã até à noite, Imãs ninguém

disso, seu talento como açor o impulsionava a encenar a política como um baile a fantasia, no qual podia fazer sucessocomo líder dos hunos,

encontrou rastro seuIA{ seo declarou morto. lIAssim sepassaramseteanos l

como cruzadoou como grande industrial.

não era cerrada l Eb se perdeu nü $ovesta encantaíh l ELejamais retornou.

E uma manhã eLede repente estadadiante {h aldeia IEfoi

parcacl beira ch

fonte. lIELes perguntaram quem ek era e o olharam l Com estvanbamento no

Quando o ministro britânico de guerra Lord Haldane -- que na verdade era um âlóso6o formado, tradutor de Hegel -- chegou em Berlim em feve-

rosto. 1 0 pai moveu, cl mãe morreu l Outro não o conhecia. ll Há dias eu

reiro de 19 12 para motivar a Alemanha a restringir o rearmamento de sua

me perdi l Eu estava na $oresta encantada l Eu cheguei a tempo para uma

frota, ele visitou o cemitério em Dorotheenstadt. Achou os túmulos de Fichte

festa Imãs me mandaram logo para casa. IAs pessoastêm cabelo dourado l

e Hegel bastantedescuidadose abordou o tema à noite durante o banquete.

Ea pele é como a Rede.IAssim, são chamadosde sol e Lual De montanha,

O imperador respondeu sorridente e trinindo:

planície e ügo. MIAI todossowiram: ü essahora Iene não estácheio& Diabo.

Óá Jllígar.para /poJ Coma.fjn?g?/e/?róí?." Não foi nenhuma coincidência que

dELes Lbederam o gado para cuidarIEdisserüm

essapequena contenda durante o banquete festivo tenha estado associada

que estada Louco. lIAssim

eLe

"S/m, /za mez/ //npé7'lo n'2a

Levadao gctdoto(bs osdias parti o campo IE sentava numa pedra IE cüntüuü

com a política de construção de frota, pois esta era um pedaço do Roman-

ctté tüvü da noite IE ninguém ligada pctra ek. ll SÓas crianças ouviam sud

tismo realmente existente no reino alemão. Mais tarde, ganhará o nome de

canção l E sentavam sempre a seu hdo... l Ebs cantarctm sua canção muito

romantismo de aço". Marinha em vez de pintura, havia declarado Oswald

tempo depois dele estar morto Iate o boráTio mais tardio?' 286

Spengler, e o imperador ajuntava: marinha em vez de Hegel e Fichte. 287

LIVRO SEGUN'DO + O ROMAN'TICO

CAPÍTULO XV

A marinha e o Romantismo como é que eles estão interligados? A marinha era uma questãomaior da sociedadeburguesa.A construção da frota de luta, com a qual a política oficial mostrouà Inglaterraseus limites depois da saída de Bismarck e com a qual almejava um local imperial ao sol, não era apenasum empreendimentoprático, mas também simbólico, uma válvula de escapepara os sonhosde poder frustrados dos cidadãos,que no geral eram conservadoslonge do poder político. 'Aos navios" tinha sido a palavra de ordem dos movimentos românticos de Herder até Nietzsche; e agora ela era traduzida para a dura realidade

Thomas Mann estáentre aquelesque, no início da Primeira Guerra Mundial, levitavam em sentimentos nacionalistas. De início sãoos sentimentos comuns que foram expressosem massanos primeiros meses da guerra. Um milhão e meio de poemas à guerra devem ter forrado das penas dos alemães no mês de agosto. Até mesmo Rilke havia escrito num poema'. " Abençoado sou, por uer pessoas tocadas. ..

O estar tocado se manifestava em toda parte enquanto a seriedade da guerra ainda não havia sido experimentada nas cruéis batalhas reais e enquanto as lembranças idealizadas dos combates vitoriosos e rápidos de

por engenheiros, procuradores e professoresgraduados quando eles tinham suasinspirações românticas. Vestiam-se as crianças aos domingos

1866 e 1870 ainda perduravam.Os soldadosse dirigiram em agosto de 1914 para o campo de batalha com a expectativa de travarem um

em trajes de marinheiros, os bares onde tradicionalmente se oferecia

combate no antigo estilo dos cavalheiros, e coram surpreendidos pelas

cerveja eram rebocados com os emblemas dos navios de guerra famosos, nas associações de construção de frotas se apresentavam coros formados

por homens e bandas de música. No exército, a antiga nobreza ainda

dava as cartas, mas na marinha os burguesespodiam fazer carreira. O programa de construção de frota setornou tão popular que praticamente setransformou num símbolo da nação orgulhosa que sonhavacom seu controle do mundo, o qual seacreditava na época poder alcançar ape-

novastécnicasdo assassinato de massasindustrial, que acaboucom as ilusões do Romantismo a respeito do combate entre homens. Havia também insatisfação e tédio em consequência do longo período de paz. O poema de Rilke insinua-o: "/?#zz/wf#/f

zzmZez/J.J2 gar mz//iai z,ezef

não mais captáuamoso pacÍ$co f toma-nos de repente o deus da batalha: Os 2?msamr/zraJ 2e gz/erra [Ge2am,êe/z /m Kr/ZX] de Thomas Mann, agosto de 1914,

têm o mesmo

tom.

Fala-se

do cozmparznmr/z/a

de

cazzca-

nas com o poderio marítimo. Tirpitz, o diretor do programa, mostrou-se

/zifZado período de paz, que finalmente havia encontrado seu merecido

um propagandista e administrador genial. No final do séculoXIX, tornou-se o inventor e o iniciador da mobilização de massasmoderna,

lm-. "Mundo

que se desenvolveria plenamente no século XX. E mesmo assim tudo era romântico, no sentido simples, irreal e sonha-

dor. A frota que 6oi então construída desagradouà Inglaterra e a impeliu a Juntar-se à coalizão inimiga, mas os navios não puderam fazer muita coisa,

como se mostrou depois na guerra. Os naviosforam construídospara batalhas grandes, decisivas, que a Inglaterra não era obrigada a engajar. Ela conseguiu montar linhas de bloqueio longe da costa alemã e mantê-

-las com navios menores e velozes,enquanto a frota de alto-mar alemã permanecia sem função nos seusancoradouros, mostrando-se ser aquilo que ela era: /2rfPoz/r /:zrr, o brinquedo romântico de uma burguesia que sonhara em vez de agir sensatamente.Que, ao final da guerra, a revolução de novembro tenha começado exatamente nessesnavios é a ironia dessa história de um Romantismo político na Alemanha de Guilherme ll. 288

horrível, que PnaLmente não é mais

será quando o grande temporal tilier passado!" l\amu

ou que não mais

bÃa.nn esctexeu

isso enquanto se informava por cartas junto a conhecidos sobre o que

fazer para não ser convocado para o serviço militar. Como ele teve a sorte de ser poupado, podia limitar-se, com grande alívio, a "z,/z,errama rondado, m,zs Jem ier iaáZado". Entendia Pe iamemzo". Assim se lê no prefácio

como tal o "sfrz,/fa .zrm.zZo do

das Co/zi/dexnfóei 2e

m a@aZ#/ro.

Mann havia começadoessetexto como consequênciada suaindignação em relação à carta aberta de Romain Rolland a Gerhart Hauptmann,

na qual o autor desmascarao desrespeitoà neutralidade da Bélgicapelas tropas alemãs,lembra os escritores e homens do espírito da tradição humanista e convoca uma aliança de paz do espírito. Nessacarta, há uma diferenciação entre a AJemanha de Goethe, a verdadeira, e a militarista, a falsa. Esse documento, juntamente com outras declarações contra a

guerra vindas do exterior, provocou diversascontramanifestaçõesde 289

LIVROSEGUNDO

CAPÍTULO XV

© O ROMÂNTICO

júbilo em relação à guerra por parte dos intelectuais, como a "Declaração" de 16 de outubro de 1914, assinadapor 3.016 professoresdo ensino superior, na qual expressava-se com indignação "gazeOf//z/mzgai chAlemanba, supost'zmentepara nossobem, querem diferenciar entre o espírito ch ciência akmã e aquilo que elescoam.zm ü militarismo prussiano

As pessoasnão queriam sedeixar dividir pelo militarismo, mastampouco queriam sedeclarar partidárias dele como Eito consumado. Queriam fazer

Se as Considerações& um apolítico \Betracbtungen eines UnpolitiscbenÜ

de Thomas Mann, inicialmente planejadascomo um texto ligado a questões cotidianas, adquirem o âmbito e o peso de uma obra magna que Ihe ocupa quatro anos, isso acontece porque ele age de maneira "oca-

sionalista",pois toma a discussãosobre a política da guerrae o paciflsmo como pretexto para refletir sobre a sua própria arte e coloca-la no contexto da tradição cultural. Nessemomento ele se define, em

dele algo cheio de significado. Uma febre interpretativa sem precedentes

síntese,como romântico irónico, e diz sobre o Romantismo que Ihe

consumia os que estavam por ele consumidos. "S2o" -- escreveuErich

eta. tece\knç\a. eXe"será sempre celebrado como um acontecimento cheio de

Marcks, cujo parecer acertou em cheio no tom dessaonda de opiniões

encantona história europeiado espírito e da arte"

verdade as forças mais ptohndas da nossacultura, nossoespírito e

Mann lança mão da diferenciação entre cultura e civilização, já

nossahistória que nutrem estaguerrae queLbechouma alma:' Dec\a aç6es de identidade nacional de natureza extremamente robusta são comuns.

usada há muito tempo. Mas seu acirramento enquanto antítese, ao qual

Também Thomas Mann se deixa determinar por elas. Ele denomina a

anos antes, ainda era comum na .Nemanha que se visse a civilização e a

guerra um acontecimento no qual "a /zzz#z,lz/zzzz#zúzZe 2ePouoJüo&2oÍ, JZ/'zj

cultura como aspectosque secompletavam numa cultura total, que de um lado possuía aspectos civilizadores que se relacionavam às formas

.Ps/a/zomjaJeffr/zai, ie deif zcam#orrrmen/e" e só podem ser captadas por

se aterra, é novo. Surgiu para ele apenas no início da guerra. Alguns

filosóficas em grande estilo para objetivos bélicos. Na Inglaterra seEdade

técnicas e materiais de vida, assim como ao comportamento, e de outro a aspectosculturais, dentre os quais principalmente seentendia asobras

um assalto de hunos contra a cultura europeia, e na trança do barbarismo

-- artísticas, científicas e religiosas. Disso resultou que o civilizatório

asiático em luta contra a razão.Na Alemanha brotam diversasantíteses:

era entendido como algo externo, e o cultural, como algo interior; mas era indiscutível que, naturalmente, ambos desempenhavam seu papel nas culturas nacionais em questão. Disso surge uma oposição que é co-

uma "PÍ/co/aW de z{/}mro". São delineadas rápidas tipologias culturais e

comunidade orgânica contra sociedade fria, heróis contra comerciantes, sentimento contra razão, os ideais de 1789 -- liberdade, igualdade, fraternidade -- contra o ideário de 19 14 -- dever, ordem, justiça.

Em cada país se reinterpretam as carnificinas em batalhas de espít\tas. \)uta.nte a guetta a "fome de uer o mundo de mízneira individual e

locada também entre as nações --

essa interpretação

se insinua em Paul

de Lagardee Julius Langbehn, os dois filósofos da cultura mais famosos na .Alemanha por volta do final do século

, mas a antítese ominosa será

orÜin,z/" cresceria,escreveMax Scheler.Na verdade,porém, asopiniões dificilmente podem ser consideradasoriginais; no geral vêm do passado, remobilizadas para dar à guerra significado e profundidade. As cabeças realmente políticas, de Max beber a Carl Schmitt, sentem-serepudiadas. Max Weber censura severamente o 'aZafór/a e 'z esc'rez,/nóaf.2o 2oj

carregada de energia polêmica apenas imediatamente antes da guerra e

/íferafai" que confundiam suasobras de arte opinativas com o pensa' mento político. E para CaraSchmitt -- como escreveem suacrítica posteriorao Romantismo político -- a elevaçãometaHsicado político seria mero orai/o a//rma, uma postura que tomaria a realidade apenas como pretexto para uma produção narcisista de ideias.

sinistros, civi]iza-os. É a superHcie na qual se pode viver. O dionisíaco

290

291

durante a mesma.Thomas Mann a usae Ihe dá ainda um significado especial, no qual transparece a distinção nietzschiana entre o apolíneo

e o dionisíaco. Nessesentido, a civilização é apolínea, conservaa vida, é otimista, a]ivia, é racional e tem bons modos. Ela domina os instintos é porém profundo, elementar, instintivo, selvagem e também maléfico. Sentimo-nos bem na civilização apolínea, enquanto o dionisíaco nos indica o monstruoso, que podemos expressarde maneira romântica ou também -- no estilo apolíneo -- superar racionalmente e talvez até eliminar.

LlyRO SEGUNDOe O ROMÂNTICO

CAPÍTULO XV

0 Ocidente é apolíneo-socrático, otimista. A cultura alemã porém, segundoMann, tem maior força dionisíacaem si. Traduzindo: ela é mais música do que democracia. E música significa tragicidade, embriaguez, desejo de desvanecer-see de morrer, Eros, Tristão, Dioniso.

morrer, "er/e a #ãz/fr/ro, rrzíz, mar/e e /zZmaZa".Também essas atmosferas

escurasdas quais vive a arte seriam teme negadas pelo espírito da civilização, que jurou ser útil à vida a qualquer preço. Os zzdap/abas .z, fe/npo da civilização, escreve, não toleram nenhuma

tragicidade; o peia/-

Thomas Mann aponta para Schopenhauer,Nietzsche, Wagner; todos eles tocaram o fundo negro do poço e criaram de peida, /az/fz/xne 2or

m/fmo lhes é suspeito; a ligação perigosa entre Eros e Tanatos também.

obras grandiosas e decisivas. Ele tem a falta de modéstia necessária para

tado em Nietzsche. Refere-seao filósofo quando ilumina sua arte dionisicamente e mantém distância do espírito do progresso, da utilidade social e da democracia.

se colocar nessacompanhia: um dionisíaco com vinco e gola engomada.

O dionisíaco é para ele o romântico. E o Romantismo é para ele o símbolo da distância da política. Ele é "sonho, mzZsic.z,o 2eü.zr /

a sam

Ao elaborar as Ca i/ZrzafóeJ Ze z/m aPoZ#/ca, Mann havia se orien-

Trinta anos mais tarde, 1947, Mann olha mais uma vez para Nietzsche

alongado de uma corneta, liontade de ir para Longe,sctudadede casa, queda

lo grande ensacaA$Loso6a & Nietzscbe à Luz ch nossaexperiência \Nietucbes

2e Za/mPzzr/ai ioZ're a pargo/e à no/fe". Ele encontra estas características

PÓ/Zaiopó/e /m Z/ró/e z/ jerrr Zbl#aórzíngj--um produto do seutrabalhono

no /nzí/// de Eichendorff. que para ele é o exemplo mais impressionante de uma poesia completa pois, "Ze z/ma m.z/ze/zaÃde /aza/me/zfeiz/r7rern-

Z.)oz/forEaz/ifa. Agora ele denomina Nietzsche o "ef/f/a me/zoipaifüe/de ser í/z/z/o",a quem não se deveria imitar de modo algum. Diferentemente de

dente, eLase encontra na condição de inocência e impiedade políticas' . O inútil é alegre, mas seu narrador é no fundo melancólico, pois ele

Nietzsche, não se deveria ter vergonha dos conceitos da verdade, liberdade

sabeque a sorte da poesia não é totalmente deste mundo e que não se deixa realizarem outra parte que não a própria poesia.A política do

é politicamente sensato, mesmo que esteticamente desinteressante, e por

me//or/fmo nada pode mudar nisso. Em renovados ataques e em várias

estéticas de cruz, morte e túmulo --

versões,Mann isola o espaçoda poesiaque mereceser protegido da política em sentido duplo: nem ela devesetornar política nem a política deve poder inserir-se nela. O grande inimigo é o espírito de soberania da política. Ele o projeta na figura do literato da civilização personificado, como se sabe,por seuirmão Heinrich. Mas por que essemedo da política; o que o espírito do inútil tem a temer dela? Há mesmo um perigo desselado? Thomas Mann pinta

nesse"será,/fozzrm.zdo Za Pe iamemf ", talvez tenha tentado. Naquela

o çan\asma do llKminismo

meLborador e da pLantropia revolucionária

na parede, como se o espírito do progresso da democracia social não mais admitisse tais inúteis. Enganou-se no tempo e na direção. Aquilo

e justiça -- esteticamente talvez pouco atraentes. Dever-se-ia fazer o que outro lado não se deveria querer transformar

em política

suas obsessões

como ele mesmo, nas Ca/zi/Zexafóei,

época ele havia tomado partido contra a politização da arte, e com a sua

antipolítica finalmente acabou por levar a cabo uma política a serviço do espírito alemão. Nesse ínterim, percebeu que não só a politização da arte, mas também a estetizaçãoda política era um perigo. Aqueles "gz/efe reuoZ/amem amr 2a óeZeza",escreveno ensaio sobre Nietzsche, esquecem

frequentemente que a política tem de defender o usual e o compromisso; que ela deveriaestar a serviço da possibilidade de viver. A arte porém está interessada em situações extremas; ela é radical e, falando de Thomas

Mann, também apaixonadapela morte. No verdadeiro artista, a busca

que prevê como o espírito do Ocidente se torna real apenasem 1917, com a RevoluçãoRussano Leste:a reduçãoterrorista do homem em

por intensidade é mais forte do que o desejo de conservar-se,a serviço do qual estáa política. Quando a política perde essesenso de orientação, ela

animal trabalhador socialmente útil. Apenas aí trata-se de uma questão de sobrevivência para os inúteis os rouxinóis de Heine.

se torna perigosa para todos. E por isso Thomas Mann adverte a respeito besta proximichde n4asta entre Q esteticismo e a barbárie.

A belainsensatezdosinúteis é, paraThomasMann, uma fonte política que deve ser preservada. A outra é o caso com a morte e o desejo de 292

Thomas Mann permaneceufiel por toda a vida ao espírito das suas Co ildexnfóes, mas ele atentou

para que, nos anos futuros,

293

as obsessões

LIVRO SEGUNDO + O ROMAN'TICO

estéticasnão se expandissempara outras áreas.davida. Havia compreendido bem a teoria de Max beber

sobre a diferenciação

CIAPÍTUI,O XIVI

das esferas de valor.

O dionisíaco tem de primeiro ficar sóbrio antes de adentrar a esferado político. Assim foi que Mann secomportou: esteticamente,bebia vinho; na política, pregava a água. Poderia [er se apoiado na ideia nietzschiana a respeito de um sistema de câmaras duplas na cultura, em que numa câmara se aquecia romântica e genialmente, e na outra, para conservar a vida, se abaixavasensatamentea temperatura.

Da montanha mágica à planície. Langemarck. Peregrinos entre os dois mundos. Dois corações aventureiros: ErnsUünger e FranzJung. Furor na Turíngia. Viagem ao Oriente. Objetividade esforçada. Esperando pelo grande momento. Explosão de ideias antiquadas e sentimentais:' ao fim da República.

O romantismo político de Heidegger.

Onde estamos?O que é isto? Para onde o sonho nos Leuou>''Ns«m

pergunta o narrador no final da J4onía ó mólg/c.z.Hans Castrop vive então há seteanos no sanatório. Aquilo que o encantou lá em cima e o amarrou

lá por todos esses anos foi de um romantismo

jogo de Eros e Tanatos; esseassobio do pneumotórax;

peculiar:

esse

essasmeditações

sobre o tempo e a monotonia; essasportas que Madame Chauchat batia;

essesgrandesdebatesentre Naphta e Settembrini sobrea Idade Média e o Iluminismo,

sobre a ordem divina e o progresso humano; esseduelo de

pistola na neve; essesolucionar de dificuldades. . . de Mynheer Peeperkorn.

Foram digressõespara uma ieXZ/xafa à iamóxn na qual quasenada se transformou. SÓque Hans Castrop agora àsvezesse senta à mesarussa ruim e náo mais deixa que Ihe enviem de Bremen os Mana Mancini. dando preferência à marca de charuto suíça de nome Rütlischwur. Nesseínterim, porém, começou a guerra lá embaixo na planície, que convoca os jovens homens à guerra. Também Hans Castrop se encontra

de repente no campo de batalha, na chuva de granadas,na lama e na morte em Langemarck.Também ele canta, como se aârmou a respeito dos membros dos regimentos de voluntários da guerra que elescantaram quando, pouco instruídos no uso de armas, avançaram contra as metralhadoras do exército profissional inglês e foram ceifados aos milhares em apenasalgumas horas. Hans, sem fôlego e praticamente sem juízo, canta a canção romântica sobre a "Tília": 28

294

".Fsez/igaZBoi JZ/f-fz/rxum / Como

O autor usou aqui a expressãoH/rerrzlmfr no sentido que Ihe deu Thomas Mann

295

LIVRO SEGUN'DO © O ROMAN'TIDO

se me cóa-m.pise " --

CAPÍTULO XVI

e assim essa "cr/.z/zf.z /roó/emZrir,z",

do final de

l com gritos agudospartem para o norte

l viagem intranquiLcL!Tomem

uma época explosiva, desaparece"Zoi assaioZBoi".O narrador ainda faz acompanhar esseser que desaparecepelo comentário: "az'rnfwzai em

:lidado, tomem ctcidado! 10 mundo está cheio de assassinatos. ..

carne e espiTito que intensificaram suü simpLicidaü, deixaram que sobTe-

um encanto totalmente diferente, tenebroso. Ernst Jünger, várias vezesfe-

uiuesseem espírito 'àquilo .z que na carne vocêdi$ciLmente sobreviveria

rido e várias vezes condecorado, é um famoso exemplo disso. "H/mzZznoj#of

Quanto romantismo sobreviveu nessa guerra?

paiiz'z,e/",

Poder-se-ia pensar que no horror das batalhas materiais também todo

o resto de Romantismo tivessesido queimado. Mas não foi assim. Havia os românticos elegíacosque partiram para a guerra como membros do

Houve também quem lutou no./}a/zf e tirou do horror e da destruição

escreve ele em suas lembranças

da guerra

intituladas

ZezmpesíaZe

le aço \ln StabLgewinernÜ ," uilier nos raios invisíveis de grandes sentimentos; /sso permóz rce z/m /z/c7a jem .prrfa para /zóf." Os grandes

sentimentos

têm

movimento W2z/zZerz/oge/n para uma grande "viagem" e que idealizaram

menos a ver com patriotismo do que com Nietzsche. Jünger descreve momentos de êxtaseà beira da morte -- aquelesmomentos que Nietzsche

seu destino como sacrifício. O.penrlp/no enfie oi Zaü mz//zZoi[Z)er \Wa drrer

havia chamado de #PicesZo éxiafe. Conta a respeito de um ataque surpresa

z iícóe/z óe/2en \We/fen], de Wãlter Flex, se transformou

no livro cultuado

fracassado, perto de Cambrai:

"agora

ez/.Pn,z/me

fe // Á J/Za af/

g/Za. .,4a

mesmotempo que percebiao ponto acertado eu sentia como o tiro cortada a

dessageração.Ele foi publicado em 1916 e foi um dos livros mais lidos da República de Weimar. Em torno do autor -- que morreu em 1917 na guerra firmou-se um culto fúnebre, alimentado especialmente pela

o Ftm cbeglarüde uez. E estranhamente essemomento faz parte dos poucos a

)uventude que fazia parte de grêmios e pelos círculos nacional-românticos.

respeitodos quais possodizer queforam realmente felizes. Nele compreendi,

Um monumento numa elevaçãodiante do Wartburg transformou-senum local de peregrinação.No centro da narrativa autobiográfica estáErnst Wurche, um estudante de teologia e membro do \mazzderz,(ilg?/zz, jovem líder carismático que participa de ambos os mundos a terra e o céu, a vida e a morte estão igualmente próximos e carrega na mochila

comoseiluminadopor um raio, a forma maisinterior da minha vida.

poemasde Goethe e o Zarnfwifxa de Nietzsche. Certa vez ele está num morro, depois do banho e virado parao sol como na Orafáo ,à/wz, de F\dus'. " Ojouem

estada de pé, magro e claro sobre o solo Jtorido; o sol ia

brilhante através das suas mãos levementeabert-zs:' O nattadot e'Wutche vivenciam, entre dois ataques, encantadores dias de verão, longos diálogos

lida.. . Quando caipesüdamente nohndo da ü'incbeira, tinha certezade que

A guerra não é apenasdestruidora. Ela pode também, segundoJünger, provocar uma transformação dramática. O conforto material e espiritual da civilização se queima, e o que sobra é a semente endurecida da pessoa que não mais se ilude e a quem não se pode mais iludir. Para aquele que endureceu na tempestade de aço, a cultura do querer a boa intenção e a alegria na vida é desprezível. Ele evita a temperatura mediana e a postura moderada.O quente, o frio e o radical o atraem. O combatente, como Jünger o estabelecequal figura de culto, não estámais ao alcance

ao longo de caminhadase vigílias à noite perto do fogo. O amigo morrerá,

dos prazeresdo costumeiro. E tampouco do espírito humanista que experimentou tão claramente sua derrota na guerra mundial. ".4 meZBor

depois dessesdias idealizados, no combate seguinte; e já está marcado

respostctà alta traição do espírito em relação Ztvicia éü alta wüiçao ü espírito

pela morte próxima. O acontecimento estáenvolto numa atmosfera de

conuü o espírito; efaz parte üs prazereselevadose cruéis do nossotempo p'zrr/[email protected] Zrjle rzuóa/Bo 2e arfa afia." Através deles devem-se abrir

entrega e melancolia,

lembrando

de longe O óoigz/e 2úi i/ irei pezz&2as,

de .Nain-Fournier. Uma história de amor homoerótica na guerra, levemente heroica, compactuando com o destino e ainda assim cheia de nostalgia; uma lembrança da guerra, queixosa, mas não reivindicadora, mais melancólicado que militante. O poema com o qual a narrativa começaespelhao tom do todo: "ga ioi ie/pare ssaslz/rxnm área á zü a//e 296

as vias de acessopara o í'spafor&'menear.Este é o espaçoalém ou por baixo da segurança burguesa. É a versão bélica do dionisíaco. Jünger liga expressamenteo espaçoelementar ao epafo rama f/ra. Romantismo significa para ele ansiar por perigo, por sentimentos fortes, pela vida nos

limites; ele é com tudo isso a expressãode um coraçãoaventureiro. Mas 297

LIVRO SEGUN'DO e 0 ROMÂNTICO

CAPÍTULO XVI

o Romantismo promete apenas uma aventura, sem chegar a ser uma. A verdadeira aventura trouxe apenasa guerra que abre o espaçoelementar. O espaçoromântico, comparado a ele, é uma reservanatural ou uma salade espera.No espaço elementar não se anseia mais pelo perigo, pois ele estápresente; e não se vive mais no limite, já se o transgrediu. Além desseslimites do bem-estar burguês vale, para corações aventureiros, o se%»lute'." Não Pcüremosem lugar nenhum, onde a chama picante não nos abriu caminho, onde o atirador de chamasnão realizou a grande limpeza atTauésdo nada. Porque nós somosos verdadeiros e implacáveis inimigos do burguês, seu apodrecimento

nos diverte. Mas nós não somos burgueses. Nós

somosftLbos de gueTvase guerras civis, e só quando tudo isso, esseespetácuLo

de círculos a arar no vazio, for varrido, é que poderá desabrocharaquilo que em nós estáalojado em saturem, em força elementar, em verdadeira selvagevia, em capacidade para verdadeira fecundação com sangue e sémen.

SÓentão irá existir cl possibilidade de nadasformasl

Ernst Jünger declara expressamenteque os inúteis românticos de outrora sãoos guerreiros de hoje. Aquilo que uniria os dois seria a aversão pela "z,iZa dosmrn/.z/me/zfe/ím/iaZoi". Do grito de guerra metafórico de EichendorH'

"gzzerxn .zoi./!#frezzi.r"

adveio uma verdade sangrenta

porque esteIhe pareciapouco militante; capturou um navio em 1920 para alcançar a Rússia durante o Congresso Internacional do Comunismo. Juntamente com Max Hoelz, participou como líder da revolta de março de 192 129e foi, como ele conta, recrutado pelo funcionário comunista Ernst

Reuter-Friesland-- que mais tarde foi prefeito de Berlim Ocidental -para r'alizar um atentado a bomba a um prédio na No1lendorfplatz, em

Berlim. Depois de 1924, ele sedesligou da política comunista, abriu um escritório de agiotagemque especulavacom câmbio russo e financiou a montagem de -Ã/aÁagomnW, de Brecht. Jung era certamente um homem de coraçãoaventureiro. Defendia um Romantismo sóbrio, um anarquismo que sabe fazer uso das máquinas. .4 co gzz/sía 'ázJ mágz//naJ [Z)/e .FroZ'erz/ng derMascó/

enl era o título programático

de um dos seus romances.

O Estado é para ele o símbolo do domínio do passadomorto sobrea vida atual. No ensaio 7á'n/cá 2a$?#r/.ÜZe[ Zero/z/,ê zür G/ücÉs], de 1920, ]ê-se: ) Estado, como quer que seja constituído, jamais será a cristüLimção do fomfezÍdoZagz/j/o gaze/ p/z,a/za z//2a." Portanto se deve elimina-lo e criar

algo novo no lugar dele. Permanecebastantenebuloso o que isso seria. Ele teria apenasde poder expressar,nas Formasinstitucionais, "o r//ma

da comunidade,queé ao mesmotempoü vida e a felicidade'. Ritmo € a

na confusão das guerras civis dos anos de 1920. Os "filhos de guerras e guerrascivis" aclamados por Jünger buscam o extraordinário não apenas

palavra mágica romântica de Franz Jung. Ritmo dissolve a rigidez e deixa

no imaginário, no sonho e na poesia,mas parcialmentena realidade do matar. Eles lutaram nas milícias contra a República de teimar,

a vida e as coisas --

participaram de tentativas de golpes, cometeram assassinatospolíticos e

constituíram aquele meio militante do qual também veio Adolf Hitler. Mas essetipo de combatente também existia, é claro, na extremaesquerdae no meio anarquista militante. Aqui se pensavaigualmente antiburguês e se sentia ligado ao elementar contra o capitalismo e os pequeno-burgueses do partido. Franz Jung poderia representar um 'equivalente de esquerda" para Ernst Jünger. Seu livro sobre a guerra dos sexos,O #z,roZo raio [Z)ai Zra//e/óz/ró], foi ce]ebrado como um ápice da prosa expressionista. Seuautor circulava na boemia anarquista de Munique e pertencia em Berlim ao círculo dos dadaístas.O tempo de guerra de Jung não foi exatamente durante a guerra -- ele desertou e foi preso num asilo --, e sim depois dela. Ele deixou o Partido Comunista Alemão 298

a sociedadetornar-se uma comunidade. Tudo depende de 'fazer z,iZ'xar" isso é o Romantismo

de Franz Jung. Tanto o adepto

da psicoenergia e radical de esquerda Franz Jung quanto Ernst Jünger --

politicamente maisdireitista -- têm contato com asagitaçõesromânticas nos primeiros anos da República de teimar.

No início de 1919, em suasfamosaspalestrasem Munique sobre a Wac.zfáapara .z c/ênc/a e a Uorafáo .p'zzu .z .PO/»/c,z, Max Weber havia

analisado a buscapor um novo encantamento e alertado contra os prc:#?íai Ze cá/eZza, especialmente

nos casos em que o .pmez/m/z.prZ#Zf/ra

sopravapara a arena política. Com seu aviso, Max beber agitou consideravelmente o público. Choveram críticas, acusaçõese calúnias. Ele 29

A revolta de março de 1921, organizada pelo Partido Comunista Alemão (KPD) e pelo Partido Comunista Operário da Alemanha (KPAD), foi um movimento armada de trabalhadores na região industrial em torno de Halle, Leuna, Merseburg e na área

de Manseeld.[N.T.]

299

LIVRO SEGUN'DO e 0 ROMÂN'TICO

CAPÍTULO XVI

morreu em 1920, mas tampouco teria dado cabo de tudo que emergiu

um edital redigido por Ernst Tolhere Erich Mühsam anuncia a transfor-

em profecias, visões, doutrinas de salvação e mundividências. Pois nos

aa@n an \ unam wum" campo cheio &fbres,

primeiros anosda República de teimar havia surgido uma concorrência forte, livremente ativa, para os p7(@'i#iZe cáre2nn.Era a época dos santosda inflação, que queriam salvar a Alemanha ou o mundo na rua, nas florestas, nas praças de mercado, nas tendas de circo ou em quartos enftimaçados nos fundos de bares. 0 2rc// zia2o Or/dente [Der UnrerganK zús,4órnzi]Za/zzüs] , de Oswald Spengler,do qual foram vendidos naqueles

ubera Jzía.par/"; o trabalho como fruto de exploração,toda hierarquia e todo pensamento jurídico eram declaradosextintos; e se mandava que os jornais publicassem na primeira página, ao lado dos mais novos decretos revolucionários, poemas de Hõlderlin

e de Schiller.

O espírito febril daquelesanos atirou-se em todos os campospolíticos para dar sentido onde não havia nenhum. SÓos "dadaístas",que se apresentavam como cínicos e com isso encenavam apenas a ironia romântica, se mostravam insensíveise deânhados metafisicamente.

tempos seiscentosmil exemplares,era o grande esboçoteórico que se partia em mil pequenos estilhaços -- interpretações do mundo no espírito do Apocalipse e do novo começo radical. Quase toda cidade grande tem um ou vários "salvadores".Em Karlsruhe havia um que sedenominava "Redemoinho Inicial" e que prometia a seus adeptos a participação

Os dadaístasem Berlim, Zurique e em outras partesjá haviam zombado

do esteticismodo círculo em torno de George,do pátÁoi do "ó, homem

dos expressionistas,do tradicionalismo dos filisteus da educação,da pintura do céu metafísica, porque todas essasideias teriam passado

em energiascósmicas;em Stuttgart agitavaum "Filho do Homem" que convidava a refeiçõesvegetarianassalvadoras;em Düsseldorf um novo Cristo pregavao fim do mundo próximo e chamavaao retiro no Eifel. Em Berlim, o "monarca espiritual"

no quaLca(ü um poderia co-

vergonha diante da realidade da guerra. A provocação dos dadaístas era

resultado principalmente de que eles, quando perguntadospelo que

Ludwig Haeusser enchia grandes

substituiriam tudo, respondiam: "Por nadamNós queremos apenasaquilo

salões, onde exigia "a wzz/i ronirgz/e/zfe éf/r z 2e /rfwi" no sentido do comunismo original, propagava a anarquia do amor e se oferecia como

que de qualquer maneira já é." O dadaísmo, assim se lê no «mani6esro

líder --

dadaísta", esmigalha todas as palavras de ordem da "/f/ca, cz/#z/xn e cz#a

za/ fer/or". Isso significa: um bonde é um bonde, guerra é guerra, um professor é um professor, uma latrina é uma latrina. Quem fala, prova

" a única possibilidade de desent,oLuimento superior do podo, do

re/ o e 2a ó#wzz#/2á2c". Os inúmeros profetas e homens carismáticos daqueles anos são quase todos milenaristas e apocalípticos, desorientados

apenas que passa da lacónica tautologia do ser para a tautologia edante da

das revoluçõesdo final da guerra, partidários do "decisionismo"3'da

cansdEnç\a. " Com o dadaÍsmo, uma nota realidade assumeseusdireitos.

renovação do mundo, metafísicos tornados selvagens e comerciantes

Esta é uma realidade que 6oi abandonada por todos os bons espíritos e

do parque de diversões das ideologias e de religiões alternativas. Q.uem se preocupava com sua credibilidade afastava-se desse cenário depau-

cuja comodidade

perado, mas os limites eram mesmo fluidos. Isso também vale para o cenário político no sentido estrito do termo, onde o messianismoe as

isto aqui, isso aí e aquilo lá. "Ser dúdaÚia Jig !Pca se Zejxar7úlgar.peças

doutrinas de salvação cresciam a torto e a direito de modo igualmente so-

berbo. Nos dias da República dos Conselhos da Baviera': em Munique,

da cultura [oi pisoteada. "-H ,paZaz,xa :dazZ2'J/móaaz'z

relacionamento mais primitivo com a realidade em torno" \:lâ aDenxs pisas[...] ter sesentado um momento numa cadeira sigrti$ca ter colocado .z z,/Za em penlgo." O dadaísta zomba da ânsia romântica pelo além e

dos que invadem o céu. Por que não se deixar cair e também àscoisas? llu não uou perder tanto a cabeçaa ponto de, caindo, não estudar a$Leis C

30.

Designa em alemão uma visão jurídico-filosófica

segundo a qual aquilo que é declarado

como direito pela legislaçãodeve ser considerado como tal. [N.T. ] 31.

"República dos Conselhos da Baviera" (Ba7rfsróf Rãrerepzíó/lê),de 1919, Goium governo revolucionário de vida curta no estado alemão da Baviera. Pretendia suplantar a República de Weimar, ainda em seusprimórdios. [N.T.]

300

2a gwe2a",declaraHugo Ball. Mas, apesarda tendênciaa destruir as imagens e da repugnância pela cultura dos dadaístas -- pelo menos da maioria deles --, ele segue a buscar o fantástico. Hugo Ball anota depois de um evento dadaísta no seu diário metafísico .4@ga Zo /e/npa 301

LIVRO SEGUN'DO © O ROMAN'TICO

11

CAPÍTULO XVI

adie FLucbt aus der Zeit\: " Há pois ainda olhos caminhospara alcançar

recreio." No verão de 1920, um dos santos da inflação desencadeou

o milagre, também bá outroscaminhos da contradição:' Os dada s\as permanecem, do modo deles, metaHsicosdisfarçados e sinistros, mesmo se comentavam a desconfiança em relação às belas e grandiosas palavras.

no antigo Estado alemãoda Turíngia uma verdadeirafebre de dança, assimcomo uma confraternização no //mo 2a rom 22aZeproclamado por FranzJung. De repente mostrou-se que Hegel tinha razãoquando

Não se deve deixar enganar em tempos de predisposiçãogeneralizada

aârmou, a respeito da verdade, que ela seria "wma z,errilgemZlonÜÜra.

a trapacear créditos e nem quanto à chegadade um futuro que não se

la qual não bá nenhum membro que não estejaébrio" B.n\te\a.nto. os dançarinosnão estavamnem um pouco ébrios no sentido comum. Mas

pode controlar de modo algum. Os dadaístasdefendem que seaplaine os morros para generais3:, sobre os quais se faziam grandes declarações para o mundo. Mesmo assim, essesvirtuosos da sobriedade não expressavamo sentimento geral. As pessoasnão estavamdispostas a aceitar o desencantamento do mundo moderno, nem mesmo no meio intelectual. O espírito

tampouco estavamsóbrios. Digamos, como Hõlderlin, que eles estavam sagradamente sóbrios.

Em 14 de maio de 1920, parte um grupo de jovens de uma pequena cidade nos montes MetalíÉeros [Erzgebirge] para um passeiopela Francânia

e pela Turíngia que pouco a pouco, quanto mais o verão se aproximava,

do realismo e da política real (Coalizão de Weimar3') não era mais capaz

transformou-senum triunfo. Eles se denominam o "novo grupo". Sua

de alcançara maioria depois de 1920, e, entre os que estavamagitados ou

figura central é Friedrich Muck-Lamberty, um pequeno e magro torneiro vindo da .Alsácia,com cabelos de comprimento mediano, penteados aus-

comovidos, a sugestãode Max Weber de que se praticassea sobriedade foi pouco ouvida. Eduard Spranger resumiu em 1921 o protesto contra o realismo de Weber e sua abdicação à metaHsica da seguinte maneira: Crente[...] a nota geração aguardao renascimento interior [...] Ojouem

lembrava Stefan George. O homem tem uma voz bem modulada, profunda; gosta-sede ouvi-lo. Usa uma linguagem literária, mas é penetrante

respira e Tive hoje mais do que em qualquer outro tempo através da totali-

e suave.Quem o encontrou uma vez dificilmente o esquece..Alguémse

dade dos seusórgãos espirituais." E;üsüt\a um " instinto de totalidade" e aa

:nota.

mesma tempo uma " ânsia religiosa" : am regressode condições arti$ciais e mecânicas para o met'físico li

qae eternamenteJLui

E necessário contar nesse ponto um acontecimento

teramente para trás. Um cristo em sandálias.Aos bem informados, ele

" Seu pev$1 bem delineado se Levantou contra o sol poente, e todos

aviam com respeito.Ainda hoje eu o veJOdiante de mim, sempoder dizer o lue mefmcinaaia -- ou aos outros

real extraor-

naquela época.Elefalaua sobreDeus e

mundo, sobre o 'nodo tempo' que considerava ser um 'tempo de emergência

dinário, de encantamentodionisíaco, que lembrou Nietzscheem sua notbt\a. passagem:" Sob o encantodo dionisíaco o eLoentre o homem e outro homemserefaz... Agora cctdaum sesentenão apenasunido ao pró-

que se teria de chegar a uma 'transição de emergência [. . .] Quem estivesse pr'nto a ir com eLedeveria jogar seu dinheiro ua Lona da tenda estendida.

ximo, reconciliado com ele, Rndido a el,e,mas como unidade, como se o

ex?/oração", mas, para ele e os seus, tudo sai muito bem. O movimento

uéu da ilusão tivesse sido rasgctdo e só voasse em farrapos diante h universo

popular da juventude estáemergindo com violões e em trajes esvoaçantes

Lamberty

até fala da "/aía 2a cam /zjdade co z/zw/ado o m.z/, ron/xa a

e macios, feitos pelos próprios membros. No início eram vinte, mais 32

No original E?Z2%err/zóügr/, "morro do general". Ponto a partir do qual o próprio general, em batalhas decisivas,exercia o comando e o controle, em vez de deixa-lo a cargo de seus oficiais. [N.T.]

33

Refere-seà união dos três partidos mais claramente comprometidos com a democracia: o Partido Social-Democrata (SPD), o Partido do Centro (de tendência católica) e o Partido Democrático Alemão(DDR liberal). Ela apoiou a República de teimar durante a maior parte do período repub]icano em vários estados federados da A]emanha. [N.T.]

302

no verãoserãopor momentos até cinco mil a atravessaro país. caro

/rp/", lê-se num outro relato, Maca-Z,.zmZ'er0' cam Je .g7'#POn,z

ingia [. . .]Pareceu- me uma cruzada da ateu'ia. Moços e moças$zeram Lepe querias cidades adormecidas nu m piscar de olhos comunidades buma-

LüsTidas,alegres.Muckpregaua alegria e verdade" interiorn do púlpito das igrejas [...]E

ainda hoje esseencontro único entre moradores de pequenas 303

LITRO SEGUNDO e O ROMÂNTICO

cidades e os'Wandetvbge\n

CAPÍTULO XVI

está envolto em tal brilho que pessoasidosas se

Lembram dele como de uma Lendapreciosa:

estão as pessoas mais velhas, algumas acenam com lenços coloridos. Q.uando a noite chega, lampiões brilham nas árvores. Isso continua

assim por vários dias, mais e mais pessoasse agrupam. Elas também

O grupo também busca a solidão, selivra da multidão, repousa recolhido. Está acontecendo uma quermesse na cidade de Rudolstadt quando

vêm das vizinhanças.

sedescobre que o grupo de Lamberty está nas vizinhanças. Procura-se por

crianças no pátio da escola, os adultos atrás da casa.Um ginasiano da

ele, a quermesse se esvazia, o que aborrece a alguns que fazem barulho,

época conta como ele presenciou, na praça da catedral de Erfurt, um

enquanto lá fora, no campo, canta-see dança-se.Em lena, estudantes uniformizados com roupas coloridas34fazem alvoroço. A massa coloca Lamberty no meio dela para protegê-lo. Lisa Tetzner, que naquela época

mundo fora de controle. Não se podia mais reconhecer a corporação dos professores,

até

Nesse meio tempo, as pessoas se exercitam --

o diretor

se viu

"Ze

z,ezzZú2r

zz Zamfar.'

ram

JPO

iaj

as

do

h'fique a esvoaçar e um rosto a rir excessiuamentelNós zombamos ePzemos

viajava pela Turíngia, encontra o "novo grupo" quando este está deixando

,rinccldeiras pesadas, também sobre os outros professores que pareciam ter

a dda&e: " Uma incontável mass.zde pessoas $eapto:çimaPada montanha.

:aquecido suü dignidade professoras da noite para o dia. Mas--

Parecia que todas as pessoasda cidade estavam em maTcbü.Nú pontcl anda

depois de meia hora nós mesmos dançáuamos... inebriados, mas ao mesmo

üma pequena tvopü de jovens e moças,vestidosde maneira estranha [...]

tempo estrclnbamentesóbrios

Na $'ente deles paira uma bandeira azul, estragla(h pel,o vento e pelo sol,

com uma cruz branca. Diversascrianças seseguramem suasextremidades.

Erfiirt foi o clímax da embriaguez dançante, mas também da devoção. Ritzhaupt, pastor da cidade que a princípio havia Enfadocontra a atividade

Mas não são apenas crianças; um podo todo colorido segue-os.E dessamassa

do gtu pa, conta: "A escuriüo uem. De repente os círculos se rompem. As agLo-

a marchar para cá eu sinto emanar algo brilhante,

como se eks ctcabüssem

merclções se movimentam em direção à escctdada catedral e sobem.A catedral

de uiuenciür uma gran& anunciação e só quisessempartir para buscar a

ba ia observadocl brincadeira com espanto.Ehjá uiu muita coisa,por Último

salvação. Seu andar é um passear animado [. ..]

a marcha dü Revolução; mas algo tão surpreendente, pclcífico, eLüjamais havia Disto na grande praçct dos seuspés. Não são mais dois, nês mil, desde a tara,

Nas praças de mercado das cidades e aldeias, a multidão canta e dança

estrcLnbo:já

uma disposição ousada e aventureira.'

e arranca todos numa dança ébria que se torna cada vez mais intensa,

são cinco, seis mil Etnoite. .. Eu jamais tive tamanha impressão & UMcl mclssa

quanto mais sua fama crescee se espalha antes que eles apareçam. Em

& pessoasa aumentar [...] que havia se acomodado nas escadarias entre as

detalhe, issosedá da seguinteforma: o grupo forma um círculo, canta-se

poderosasobras monumentais da Idade Média ao cair da noite. E sobre nós

canções populares ou alguma coisa do Zzg::ÃgeÜemó/zmie/SS. Mais pessoas

üm céu sem nuvens, ainda claro. Nos degraus superiores, o grupo se rellne em

vêm, formam outros círculos que giram devagare que se absorvem, andando, pulando, mas acima de tudo balançando. "Balançar" é a ex-

escadas.Na praça, a massa se espalha, soltando-se nas beiras, se misturando e

orno da sua bandeirinha azul. As pessoas, g'anãs e pequenas,sealojam nas

pressãopredileta do grupo de Lamberty. As pessoasse tratam por "você' se tocam, se pegam nas mãos; naturalmente que a atmosfera é erótica,

se per&ndo

mas de maneira amena. Canta-se repetidas vezes"Rundinella-ruía".

instrumentos, violinos, flautas, alaúdes.O "novo grupo" carregaconsigo

com pecado e expulsão. No início de outubro de 1920, o "novo grupo" volta ao seuponto de partida e se aloja no Leuchtenburg, perto de Kahla.

até uma gaita de foles. Flores recém-colhidas são espalhadas,nasjanelas

Na primavera eles queriam



nüs ruas mctis calmas. Canções refazem ouuiT."

Claro que estahistória acaba como todas as histórias semelhantes:

novamente pzzr//r.p.zza # /erra. Nesse meio

tempo, desejavam se ocupar com trabalhos de carpintaria e marcenaria. Os estudantes, membros de organizações diversas, tornavam evidente sua aGiLiaçãoa

Mas então surgem boatos negativos. Uma mulher que fazia parte do

um determinado grupo por meio do uso de roupas de diferentes cores. [N.T.]

grupo acusa Lamberty diante das autoridades; ele "zlCl#am.zr/ao samrz/á /a

35. O livro de canções do movimento\ma/zZerz,(&e/n. Publicadoem 1909. [N.T.]

2a J?m//z/#daZe" e manteria um harém. As acusações não arrefecem,

34.

304

305

LIVRO SEGUNDO e 0 ROMAN'TACO CAPÍTULO XVI

pois havia simplesmente um número grande demais de mocinhas que estavam apaixonadas pelo Mucksõ, e este não ocultava de ninguém que não queria limitar o amor apenasao casamento.As pessoasreclamavamque Lamberty teria confundido o J?z'z'orcom o rio. O grupo teve de deixar o Leuchtenburg. Permaneceram juntos, mas se retiraram da vida pública. Mesmo assim o verão de 1920 continuou sendo, para todos os que dele participaram de perto ou de longe, inesquecível. Dez anos depois, Hermann Hessepublicou o conto .4 z,/agem'zo Or/rmfe [Z)/f Mo/genZ#nz#2Ãrf],

que começa com a frase: '7a gz/e f/z'e

a chancede uiuenciar algo grandioso, iú que tilie a sorte de fazer parte do grupo' e de ser um dos participantes daquela vageminesquecível, cujos mil,ages irradictram naquela época como um meteoro, e que depois tão :stranba e rapidamente caiu no esquecimento,na difamação, decidi ousar uma breve descrição dessaviagem inusitada:

Ê uma viagem fantástica, mas há nela também diversospontos de identificação com asverdadeiras"viagens", grupos e movimentos revolucionários do início dos anosde 1920. Num determinado ponto é deita referência expressa aos dançarinos da Turíngia; "aóaózZo.pe&gzírrxu, Zefeiperüdo poT causa da miséria e da fome [...] nossopoda [-..] estada acessível

parti algumas uertüdeiras elevações cü alma; havia Papos de choça bacãnticos

[...]bauia issoe aquilo que pareciaapontar para o além e para o milagre"

11

Aos viajantes do Oriente os do conto e os de verdade une a predisposiçãopara o que estáalém do verdadeiro. O sonho do Romantismo apresentado no conto alimenta-se dos movimentos milenaristass7

daqueles anos, como, de maneira inversa, essesmovimentos se sentem

ligadosao imaginário que lhes fornecetoda uma tradição ainda viva. Por isso eles se agrupam todos na festa em Bremgarten, um clímax do conto: Novalis, E. T. A. HoKmann, Clemens Brentano.Também muitas das figuras que eles inventaram estão lá, e parecem mais vivas do que os seus poetas.

Na "fiança" (Band se reúnem os peregrinos românticos; é uma Alemanha secretada poesia, a caminho dos destinos ansiados:os que estão próximos e os longínquos, os do presentee os do passado..Algunssãoatraídos pela terra santa dos cruzados, na época do imperador Staufer; outros sãoatraídos pelo reflexo da lua no mar de Famagusta,pela ilha de borboletas atrás de Zipangu, pelo convento em Maulbronn, pelo castelo Wart-

burg (onde sedesenroloua disputa dos cantores),pelasorgulhosascasas dos patrícios da antiga Augsburg ou pela Estremadura de Dom Quixote.

0 0r/enff porém é o símbolo da busca romântica. "NZo rxa ape/zas z/ma erra e algo geogr(isco,mas a pátria da juventude ch alma; era o toca parte

o lugar nenhum,eraa uni$caçãoh todosostempos. Mas não se trata apenasde ressurgimentosromânticos. O conto também lembra que náo só a poesia, mas acima disso o horror da guerra havia criado um "es/ado exrepr/OZZ.z/ Ze /rre,z#2ade". Entre essa

irrealidade da guerra e a ultrarrealidade do poético há uma ligação sutil. Na guerra, a realidade parece tão louca que em comparaçãoa isso as loucuras do mundo poético podem parecera passagemda loucura cruel para a loucura bela. O narrador

que depois da dissipaçãomis-

teriosa do grupo e a interrupção da grande viagem tenta descrever suas

experiênciase perde as esperançasporque não o consegue encontra um conhecido que por sua vez tem dificuldades semelhantesem apre sentar experiências completamente diferentes: com a guerra. A viagem no Oriente e a guerra estão unidas pelo bato de estarem desligadas do cotidiano, como se estivessemcortadasda vida comum. "..4saóZe/me $orestas raspadas,o tremor de terremoto no fogo dos tambore?' estão úa /ncÜz/z,e/mrm&eZongz'ngzzoi" quanto

a encantadora

Festa nacional

do

grupo em Bremgarten.Ambos os acontecimentos se transportam para o longínquo do sonho. Um deles não pode contar porque é algo terrível

demais;o outro, porque é belo demais. Estaria Rilke de repentecom a:zlâD-. nâ.ç,€ o" belo nada mais que o começodo terrível?'

36. Alusão à "História do pequeno Muck", um conto de fadasde Wilhelm HauE publicado no Almanaque de Contos de Fadasdo ano de 1826 ["Mãrchen-A]manach aufdas Jahr 1826"]. [N.T.]

37. Partidários do milenarismo, doutrina que prega a esperapelo reino de mil anos de Crista na terra após sua volta no 6lnal dos tempos (Apocalipse 20.4-6.). [N.T.]

306

O que no final fica claro e que não surpreendeem Hesseé que o conto trata da representação de uma viagem.parao interior; eleé a história da reunificação de uma pessoadividida. O narrador fracassade início quando tenta descreveraquela notória viagem pelo país, interrompida sob condições estranhas,até que reencontra o servo Leo, que sumira 307

LIVRO SEGUN'DO e 0 ROMAN'TICO P CAPÍTULO XVI

de repente. Leo é

o que se percebe apenas depois que desaparece

inflacionárias. Um nada barulhento, diz a província. Um local «gwe

o centro mágico da TAliança". Sem ele, a magia sedissolve. Ele é o espírito

forra.z /aía/mem/e mcíz,e/", declara Ernst Jünger, o palco "2a rraneÁorm4-

da poesia,e o narrador tem de entender que não pode dispor dele, que tem é de continuar dependente da sua dedicação. O criativo é uma benção.

Mas não apenaspor isso o narrador é atormentado por dúvidas e do final dos anos de 1920, ele não pode deixar de se perguntar quão real foi a "fiança", quão real foi a viagem. E por isso a pergunta não é apenasse aquela viagem romântica pode ser narrada, E sim: ela foi mesmo passívelde ser vivenciada?De qualquer modo, o autor vê a viagem ao Oriente como um prometoromântico que não mais combina ou ainda não combina protestos. Na atmosfera da Nova Objetividade"

Nos anos da Nova Objetividade, da conjuntura económica temporária e da estabilizaçãopolítica, ainda havia na província, no interior e nas pequenas cidades um solo fértil para a fantasia romântica. Em Berlim, porém, para onde o círculo de pessoascultas era especialmente atraído, triunfava o novo espírito, que era em grande medida insensível ao Romantismo. A Berlim do império havia sido impressionante, mas a nova Berlim era irresistível, "a óeáz,Seca,.pia e mesmoaii/m /záogé//Z# atmo$era, o indescritível dinamismo, a vontade de trabalhar, de realizar projetos, a disposição de tolerar golpes duros

das viagens

românticas,

aquelas

"ondas

a e/e7'n'Z Car7f#/eZ.Z ZÚZJzZ/W4f

O novo espírito realista de Berlim se define de maneira decisivamente antirromântica. Mobilidade contra o arraigamento, frieza contra o calor, esquecimento contra lembrança, diversão contra concentração,

canosdo Romantismo, como por exemploErnst Wiechert

ouvem

outras vozes e sonham com outras promessas:"Ea gzzrraZ&e2úr m ,acre e um Lagotranquib, onde você não precisará mais se atormentar. Descanse

agazw,mez/ ierz,o." Para os românticos conservadores em relação à terra e por vezestambém ao sangue, Berlim é uma Babel dos pecados, uma sala de ucecuçao e um deserto sobre o qual uma Luü esverdeada estada questionável como toda ]uz dest.z cidade" , uma tece de

relacionamentoscaracterizadapela falta de proximidade, um tecido de dinheiro, de trânsito, de ritmo acelerado,de notícias, de palavras 38. A Nova Objetividade (]Uez/eSaró#róêe//) foi um movimento artístico surgido na Alemanha no começo dos anos de 1920, em oposição ao Expressionismo. O movimento acabou em 1933 com a queda da República de Weimar e a domada de poder pelos naciona[-socia]istas.[N.T.]

308

numbra. Bertolt Brecht,a estrelado tempo, publica um Gzí/apazugziem )iue em cidades \Lesebucb $r

Stãdtebewohner\

na qual os ensinamentos

Za./}/ez.z,para usar uma expressãode Helmut Lethen, são transmitidos

num novo espaçosocial: distancie-se, considere coisasprovisórias os alojamentos, seja desconfiado, economize suaspalavras, não prometa

nada, não se deixe tocar, seja relaxado, não deixe o cigarro apagar. Sente-seem qualquer cadeira que estiver aí l Mas não $que sentado..." E acima de tudo e sempre:

"apague aJ zalfroJ.f

As pessoasse mostram frias e desiludidos. "N2o Áá m.z/í zZs//m ", escreve

e de continuar a viver" . Os

'quietos no país" -- que agora se veem como parte dos últimos moi-

pendurada[...]

A Berlim dinâmica e real isto é, falando como Jünger,simplesmente a pa/ênr2a2# z,/Za.Trata-sede uma outra mobilidade do que aquela

transparência contra opacidade, luz contra escuridão, clarezacontra pe-

novamente com o presente.

1}

ão ch vida em energia, como eLa se revela na ciência, técnica e transito 10zumbir das rodas ou no campo de batalha como fogo e movimento" .

Gottfried

Benn em , 1930, ".ZJEarr.zf Je 'záZ7axamcoma dzrr/azar de z/m ÍeKzl a

LeuicU, noA querontesedesenvolveuma piscicultura de enguias,a antiga ideia L vesp'it'

do formidável

no homem se paralisa na inauguração

da exposição

Leartigos para higiene com participação geral, enquanto as contentesalemãs

ksfilam em trajes diferentes, solenese de volta a seu conteúdo normal."

Essesnovos acordes,essenovo estilo, foram porém apenassazonais. O próprio Benn não teveilusões a respeito da vida breve da desilusão. Nessa "noz,a eiíaíúo #fenár/a", escreve ele, as pessoas não estão acessíveis

para o "Sentes novamente o arbusto e a clareira...".3PIsso pode Jáser diferente na próxima estação.

E é verdadeque o estilo frio não durou muito tempo. Com a crise económica e com o agravamento das tensõespolíticas, com o crescimento do extremismode esquerdae de direita, a agitaçãofebril dos 39

ReEerêilcia ao poema i EKa, de Goethe. [N.T.]

309

LlyRO SEGA.JNI)O e O ROMÂNTICO

CAPÍTULO XVI

primeiros anos de 1920 estánovamenteviva, o atentismo revolucionário, a espera cheia de tensão pelo grande momento. Na verdadeisso já havia começadodurante a Nova Objetividade. Ela havia, ainda que metafisicamentefria, apostado na presençado

espírito. Dava valor apenasàquilo que estava2 zz/f#xuZo fe/mpa.Para Brecha o lutador de boxe se transforma num personagem cultuado; ele

é o atleta da presençade espírito. O bom boxeadorsabeinstintivamente

em que momento deve se agachare em que momento deve bater. As fantasiasde mobilidade da Nova Objetividade são dominadas pela obsessãode que alguém poderia errar no seutempo, como seperde um trem. Num ambiente vital desestabilizadoespiritual e materialmente, a presençade espírito se transforma no grande ideal. Dessapresençade espírito trata o romance O czzireZo, de Kafka, considerado de teor contemporâneo. Lá, uma chance perdida e a falta de presençade espírito se transformam num metafísico cenário de horror: o agrimensor Josef K. deixa de comparecer a um encontro com asautoridades do castelo.Tâjvez

omo um raio, um terremoto [...] Nós também temos c]e nos Libertar das pinhõesdo séculopassado, como ehs resi&m no conceito da 'evolução'" . ç)s

esboçosfilosóficos da divisibilidade do tempo da efrzzrZz&a Za mo. me fo z//z,22o de Ernst Bloch até o mime ía 2a Zer/s,2o de Carl Schmitt. do jzZój/aesPznfa de Ernst Jünger até o ,éa/ros40 de Paul Tillich -- todos elesse reportavam, como também Heidegger, ao morre /a, cuja carreira começara com Kierkegaard. Kierkegaard torna-se moda. O momenfa dele: quando Deus irrompe na vida e o indivíduo se sente convocado a decidir e a arriscar o salto

para a fé Desde Kierkegaard o morar/z/ase transforma num farol para virtuosos antiburguesesda religião, do tipo de Cara Schmitt -- que se perde na política e no direito político com a sua mística do momento -ou Ernst Jünger, que com isso vai parar entre os guerreiros e surrealistas. Contra o hábito superficial da estabilidade burguesa impõe-se o prazer intenso de uma eternidade intensa no momento. Kierkegaard Éoio pensador do século XIX que introduziu o séculoXX

isso o salvasse.

no mistério do momento. O outro foi Nietzsche.O momento de

Longe de Berlim, em Friburgo, Heidegger evocao páfóai romântico do momento e da decisão. "0 mamenfo", declara, "n.z2a m.zií é Zo gz/e o olhar da decisão,na qual a situação completa de uma ctçaose revela e se

Kierkegaard significava a invasão do que era completamente distinto. O momento de Nietzsche significava a fuga do costumeiro. No momento da©amdr desp f/zz&mem/oacontece em Nietzsche o nascimento do

ma tém aberta:'

:sPIXtta \xxte'." O lande desprendimento uem subitamente como um tremor

O descobrimento e elevaçãodo mamemfopor parte de Heidegger é sintomático para a crescente consciência a respeito da crise no final da

Leterra: a jovem alma é abalada de repente, arrancctda, tirada àforça [...] Lmdesejode peregrinar rebelde, arbitrário, vulcânico, impulsionador:'

república.A constataçãoa respeitodo tempo, dominante nos últimos anos da República de teimar,

No momento de Kierkegaard algo adentra; em Nietzschealgo se

não busca a verdade histórica no contínuo

vai. Em ambos os casos trata-se de situações excepcionais. Mas apenas

do tempo, mas nas rupturas e interrupções. Os .Rzziüos [Spwx?n]de B]och,

partindo delasé que setorna claro aquilo que normalmente permanece

a .Rz/.zZe máo zZ /c z de Benjamin,

O coxufáo az,enfwre/ro l.,4óenirzzer#cóef

Herzl de Ernst Jünger são exemplos disso. "0 agora 2a reco óer/me fa é o morar fo Zo Zeipertar", escreveBenjamin. A história como cratera de vulcão: ela não acontece, explode. Por isso é que se tem de estar pronto

prova tudo [...] Na exceçãocl força da vida real parte a crostade uma mecânicaimobiLizada])ela repetição.

para interpretar, antes de ser soterrado. Quem ama o momento náo pode estar muito preocupado com a sua segurança. Os momentos perigosos

Schmitt,

Estassão frasesda ZeoZaKZa pa/l#/campo//f/scÓe ZBeoZay/e] de Carl que defende decisões que "z,e do

ormaf/z'.zme/z/e, zz.ZJcexam2o

m,z.Zz". A decisãonão tem um outro fundamento alémdo desejode poder

exigem corações aventureiros. Já que a história do mundo "Progr/Ze 2e z/m.z c.z/üsfroÚ?.paraozzfxn" estar preparado

segundo Oswald Spengler

para que o que é decisivo

310

aconteça

tem de se

"2e repente, izZÓ/ra

40

R2z/rafé um conceito religioso e filosófico parao momento propício de uma decisão que, se não aproveitado, pode trazer consequênciasnegativas. [N.T.]

311

LIVRO SEGUN'DO

T

+ O ROMÂNTICO

CAPÍTULO XVI

e a intensidadede vida de um momento. Schmitt, que uma vez criticara o Romantismo político taxando-o de oportunismo, indiretamente se declarapartidário de um Romantismo político da soberanianum estado de emergência numinoso. "Soóera/zo é gz/rm ZecZ2eioóre o filado 2e emergência.[.. .] O estadode emergência tem, par'z ajurisprudência,

um sigrli#cado

análogo ao do mihge. Percebe-se: acabou a objetividade exagerada; o desejo pelo milagre

e pelo segredo, o romântico pois, revela-se novamente. Em sua famosa ç)fixes\ta Os conceitos IMndamentais da metct$sica \Die Grundbegri#e der

Me/apÁyf/ê] , de 1929-1930, Heidegger declara que tudo dependeria de se permitir

o momento

do "remar //z/rr/o ", que cada segredo carrega

em si e que dá à existência sua grandeza.

Permaneçamosainda um momento com Heidegger.Três anos mais tarde, depois da tomada de poder nacional-socialista, ele dá sua conferência como reitor, não como seguidor, mascomo revolucionário decidido que montou o seu próprio nacional-socialismo. O que acontece, para ele, nessa revolução?

Com ela, assim fantasia ele, uma elite do povo encampa o "aZ'ando/za do comem cante npor2 eo o me/o Za exií/é cZa". Isto significa, em dupla

referência a Nietzsche, que por um lado Z)ezzifria morra e que por outro essa elite claramente se recusa a fazer parte dos "zZ/r/moi óomrzz ", a

respeito dos quais Nietzsche diz em .Zkxafairznque haveriam inventado a felicidade confortável

e " zó z Z07z,zZa.z reg/áo o 2r exa dz/ro ie z,/z'er", e

em vez disso se satisfariam com seus "pega/enoi pxuzr ef z//árioi e mo/z/mos" e prezariam sua "iazZ2e". Num gesto romântico,

Heidegger

para

separarsuaelite do corriqueiro -- inicia com uma crítica aosfilisteus, como se se tratasseapenasde ir contra o pequenoburguês.A revolução nacional-socialista,ao contrário do que ele afirma posteriormente, não é para Heidegger apenas a luta contra o desemprego, a eliminação

de um parlamentarismo incapaz de funcionar, a revisãodo contrato de Versalhes, tampouco um novo sentimento de comunidade; ela é algo muito mais sublime, a tentativa, seguindo os rastros de Nietzsche, de dar .2 /zózz/m.z esf eZú num mundo sem deuses. E por isso Heidegger aciona

Heidegger se dirige àqueles que o ouvem a seus pés --

os estudantes

e os líderes de partidos, os professores, os cidadãos honoráveis os ministros e os chefes de administrações e repartições públicas como se

elesfizessemparte de uma tropa de choque metafísicaque parte para a .=VILão " do maior p'Figo para a existênciaem meioao preümínio do sef' .

: z::::i:n:: ====a-«:::::=::=1:: u

juntos fazemparte do batalhãode ataque,do grupo intrépido; e o líder um pouco mais. Tudo gira em torno desseperigo, e nisso desapareceo simples fato de que, em tal situação, seria mais perigoso não pertencer a esta ominoso tropa da revolução. Heidegger

"romantiza"

num sentido fatal quando dá "zzm je/zr/da

eLeVadoao comum, ao usual uma aparência misteriosa

E num outro sentido ele também "romantiza". Instrumentaliza o arcaico para fins políticos. Conhece-se o processo através dos termos "âdelidade

dos nibelungos"

e "punhalada",

que ecoam nos anos de

teimar. Thomas Mann havia avisadoem 1930 a respeitodo perigo que representava a "ex?Zaiáo 2e.zrrúÚmoJ" ' ' "' Uma explosão de arcaísmos encontra-se também na Eda de Heidegger, na passagem em que ele menciona os três serviços -- "o Zo /znÓaZBa,o 2o exérrjfa e a do saber' . Ele usa aqui a imagem notória das três ordens que

dominavam a imaginaçãosocia] da Idade Média: camponeses,guerreiros e sacerdotes.A definição da Idade Média dessaordem é: " ZrpZilce/ )ortünto a casa de l)eus, que se percebe como uma: aqui na terra uns otan,

urros Lutam, outros trabalham; estestrês são uma unidade e não suportam er separados; & modo que as obras dos outros dois estão baseachs em um,

posto que todos ajudam a todos.

Na imagem das três ordens sacerdotes ligam o organismo social ao

céu. Cuidam para que energiasespirituais circulem no que é terreno. Em Heidegger, os nllóso6os, ou melhor, a filosofia que está à altura do seu

tempo, toma o lugar dos sacerdotes.Mas onde outrora estavao céu, lá está agora a escuridão do ser que se esconde, a i ieKzzxnfa do mzz Zo; e os novos

sacerdotessão verdadeiramente os guardiões do nada e possivelmente mais

todos os registros de um Romantismo político e metafísico: para dar aos acontecimentos uma profundidade que não se supunha que tivessem.

s.do que os guerreiros. Eles não têm mais nenhuma mensagem que pudessemtrazer do céu à terra, mas mesmo assim ainda refletem

312

313

Y

LIVRO SEGUNDO e 0 ROMÂN'TACO

o brilho opaco daquele antigo poder do sacerdócio que outrora estava

C:APÍTUt,O XVll

baseado no monopólio sobre as coisas invisíveis e exaltadas.

Heideggerse envolve na política como sacerdotee toma a palavra quando se trata de dar o golpe mortal contra a República de teimar. (quinze

anos antes,

no início

desta, Max

Weber

na sua Fala Worzzfáo

,2 c/énr/a, em Munique -- havia convocado os intelectuais a suportar o 2eirmc.zmfoZo mz/ndo. A grande salvação, uma saída da caverna, não estáem vista, e Weber alerta a respeito do negócio sombrio de um novo

encanto por meio dos "profetas da cátedra". Heidegger tampouco tinha simpatia por tais profetas. Ele próprio não queria ser um. Mas profetas de cátedra são sempre os outros.

Romantismo no banco dos réus. Quão romântico foi o nacional. socialismo? A querela a respeito do Romantismo no aparelho cultural do nazismo. Modernismo nazista: romantismo de aço. Romantismo do Terceiro Reich. Nuremberg. A postura espiritual romântica como pré-história. Vida dionisíaca ou biologismo. Fuga do mundo, devoção mundana, destruição do mundo A grande interpretação das eventos rasos. Heidegger como

exemplo. Hitler e os sonhos febris do Romantismo.

Como podemos voltar para casa?,havia perguntado Heidegger com Novalis, e descreveuo regressoao lar que para ele significava irromper

Delírio e verdade.

em direção ao ser -- como um processo que deveria acontecer "com /oZa

sobriedade e no total desencanto de um questionamento apenas objetivo" .

Mas agora Heidegger estálá, empertigado e deixando tilintar as palavras de modo marcial; o sacerdotesem mensagem do céu, o desbravador cercado por bandeiras e estandartes; numa aula sobre Platão ele havia

E.m A decisão socialista \Die Sozialistiscbe EntscbeidungÜ, lexia que

terminou de escreverpouco antes da sua expulsão da Alemanha em 1933 e que foi parcialmente abafado sob pressão da situação política, o grande filólogo da religião Paul Tillich havia considerado o movimento

sonhado com o papel do libertador que tira os prisioneiros da caverna e os conduz à luz. Agora percebe que os moradores das cavernas estão todos a marchar. Ele só precisa secolocar à frente deles. É uma lição a respeito de que seria melhor conservar o Romantismo

nacional-socialista junto a outros grupos populares e nacionalistas como parte do Romantismo político. Ele definiu o Romantismo como

longe da política. Mas há também, não apenas na cultura alemã, mas es-

pecialmente nela, a tentação de liga-los. Um desconhecimento dos limites

da origem e da comunidade tradicional, seushábitos e regras,e que, já que estespoderes originais não mais existem em sua forma inicial, se

da esfera política, na qual a razão pragmática, a segurança, a concórdia, a

obriga a 2eZx#-ZoJ /z.ZJrer/zoz"Zmrmfe. Isso aporta o paradoxo que Tillich

promoção da paz, a justiça deveriam ser determinantes, e não a sede de

resume na já citada passagem:essetipo de romantismo comportaria

aventura, o desejo pelas coisas extremas, a sede de intensidade, o amor

tempo a exigêncict de gerar a mãe através do Bibe e de evocar o püi do nada'

e o desejode morte. Mas o mal-entendido permanece;procura-sena política algo que jamais se encontrará ali: a salvação,o verdadeiro ser, a respostaàs últimas perguntas, a realização dos sonhos, a utopia da vida

que deu certo, o Deus da história, o apocalipsee a escatologia.Porém, quem os busca na política faz parte do romantismo político. Sobre este ú[timo, Pau] Ti]]ich disse de maneira marcante pouco antes do Glna] da República [de Weimar]

que e]e seria a tentativa "de g?zar zzmáe ,zrxnuá do

.P/Bc2e de ez,orzr o .pa/ Zo n,z2a", capaz de destruir toda sensatez política. 314

uma postura de espírito que, em vez de sedeixar levar pela aventurada autodeterminação, prefere buscar refúgio nos pode eJ or //z /r do solo,

O nacional-socialismoé Romantismo político -- assimjulgavaum diagnóstico que soou pouco antes da tomada do poder por parte de Hitler; poderíamos citar ainda muitas outras vozes críticas dos últimos anosda República de teimar que também julgaram dessemodo. Também depois da queda da ditatura estabeleceu-sevárias vezes uma ligação entre o nacional-socialismo e o Romantismo. Victor Qempetet esctexe'." Eu tinha e tenho em mim a consciênciainabalável 315

Y

LIVRO SEGUNDO e O ROMÂNTICO

CAPÍTULO XVll

a respeitoda LigaçãoÍntima entre o nazismo e o Romantismo alemão [. ..] Pois tudo que caracteriza o nazismo está contido no Romantismo como semente: cl deposição da razão, a ünimaLimção do homem, ü ideaLimção do pensamento depoder, do predador, da besta l,aura" Geo\%\.x)\;ács X\aRIa

fornecido o caminho para a interpretação marxista: o Romantismo seria

o momento perigoso de mudança da história do espírito alemão; assim se lê em seu livro .4 Zrsfrz//fáa

da rnzáolZ)Ze

.Zkzsrõrz/ng Zer Uernwz?#l.

A vida irracionalmente liberada teria vencido a razãohumanista e com isso preparado diretamente o irracionalismo nazista. Mas vozes conser-

vadoras e burguesaschegaram também a um resultado semelhante. Fritz

Strich escreveem 1945 no prefácio do seulivro CZzifisc/fmoerom z //fma úZem,2ei [Z)ez/íifór KZais/,ê z/mz/7?om.znfiÉ] , publicado

inicialmente

em

Lq22.." Se na ruela época a tarefa ercl colocar em evidência a razão de ser do Romantismo em relação ao classicismo, assim eu cottfessohoje que o processo

histórico me Levoua Teconbecerno Romantismo alemão um dos grandes perigos que então Levaram a desg'aça que se abctteu sobre o mundo: O Romantismo

como antecedente histórico

mental da desgraça?

Dois historiadores preeminentes das ideias o voem assim: lsaiah Berlin e Eric Voegelin.

Paralsaiah Berlin, o Romantismo alemão trouxe à tona um 2eicomfraZedo gênio: a tomada de poder da imaginação subjetiva, primeiro na áreaespiritual e então na política -- o que levou à destruiçãodas estruturas humanas herdadas. O Romantismo só pode criar monstros políticos, segundo Berlin, porque ele primeiro lúdica e genialmente, então de modo prático aceitou a premissa de que o desejo individual e criativo é mais forte do que qualquer eifrzzfz/xa objetiva "Za mz/mdo, 2

quctl temos de nos achPta+

Eric Voegelin vê como um mau augúrio que a Alemanha comecea seformar como naçãono início do séculoXIX justamentesobbandeiras românticas. Pois o Romantismo autoconfiante havia, segundo ele,

destituído a ordem feoma$a e o humanismo objetivo do Iluminismo, e substituindo-os por um poder imaginativo próprio, mais tarde projetado

para a índole nacional. Assim surgiu aquela perigosa Faltade controle da qual também Berlin fala. O Romantismo: um destino sinistro para a Alemanha? 316

Hitler eoi o primeiro a afirmar que os anseios dos pensadores e artistas

românticos seriam preenchidos pejo nacional-socialismo. No dia 2 1 de março de 1933, o chamado "dia de Potsdam",ele declara:«o a&m . . ,esinteg'ciclo em si mesmo, dividido pcom isso impotente

no espírito, tagmentado

na ação, se torna taco

na a$rmação

no

«u'k"j.

da própria

uich.

1le sonha com o direito nas estrelas e perde o chão da terra... No anal, ao

er humano alemão só resta o caminho para dentro. Como o podo dos calores,p"tas e pensadores,ele sonha então com um mundo uo qual osoutros -lutam, e ap'nas quando a necessidade e a miséria o ferissem de maneira

,esumanaé quetalvez nascesse da arte o anseiopor uma nota ascensão.por

zímmoz'07rz/zoe rom /SJO.por zzmanaz/az,/2a." Mas quanto Romantismo 6ezmesmo parte do triunfo do nacional-socialismo? Em primeiro lugar -- Ralf Klausnitzer analisou isso detalhadamente -- trata-seda apropriação e do uso de tradições românticas no sentido estrito do termo por parte das instituições que administravam a ideologia e pela propaganda. O que se absorvia, como se o transformava, o que se desprezava?

seguintes aspectos da tradição romântica eram interessantes para

os ideólogos do movimento: as ideias sobre o povo e a sua cultura,'os pensamentos românticos a respeito de um organismo ligado ao Estado e

àsociedadee também asinterpretaçõesromânticas dos mitos de alguém como Gõrres ou Creuzer.

Como sesabe,o romantismo de Heidelberg, absorvendoos estímulos de Herdei, havia colecionado e recontado as cançõespopulares, os contos de fada e ditados. Havia seguiado o olhar do indivíduo criador para o povo, descobrindo ali uma substância poética, uma competência poética popular. Friedrich Ludwig Jahn, para alemanizar a palavra "nacionalidade", havia criado em 1810 a expressão"índole nacional"

( Uo/&sfzím), e Schleiermacher e Adam Müller haviamfalado pelaprimeira vez de uma "comunidade popular". I'udo isso ainda era muito inocente e, se esquecermoso pai do atletismo, Jahn, não era pensado de maneira nem polêmica nem política. Mesmo assimparececombinar com o a pr/or/ popular, que Joseph Goebbelsexprimiu em março de 1933 da seguinte maneira: "íf g e o edaz/r a rez,oZafáapa/#/cazoJe ,enominadormais simples,entãoeu querodizer: no dia 30 dejaneiro o 317

'Y

LITRO SEGUNDO e O ROMÂNTICO

CAPÍTULO XVll

tempodo individuo morreu de$nitiuamente. A nota era não se chama por acaso de erü popular.

O individuo

em si é substituído

pel,a comunithde

do

poVO.Quando eu, nas minhas consideraçõespolítica, colocoo povo no centro, então disso resulta a primeira consequência: tudo que não é podo só pode ser

instmmento para um determinado$m. Temosna nossaa$rmaçáo novamente

um centro, um polo .firme na $.ga cim aparições[. ..] o podo comoa coisaem si, o podo como o símbolo do intocável, aquilo a quem tudo tem de servir e ao qu«Ltudo tem de s' 'ubj"ga'. "Opor,o coma .z fo/sa em ii": essaé uma expressão usada para as clas-

seseducadas,para os dirigentes e diretores dos meios de comunicação diante das quais Goebbels falava; e ele podia apontar para o fato de que

alemão -- também diante do exterior

podia estar "arg#ZZoia". Ele se

insurgiu contra os fanáticos críticos pedantes que exigiam do Romantismo uma visão de mundo baseada na biologia racial, visão que eles deveriam colher

nas respectivas

ciências

responsáveis;

com o conceito

do UoZ&r/am

romântico não havia como criar um Estado baseadona biologia racial. Issovalia também parao outro tema com o qual sepretendiaassociar o Romantismo: a ideia de organismo. Para os nacional-socialistas, a concepçãode organismo no Estado e na sociedadeera uma ideia central.Já o primeiro programa do partido prometia que o nacionaloç\2Rsma \tXa ovgani2;ar o mundo que saíra do ei)coe or&nar o caos orga-

licamente, pata.,üa.mera massa,çatmax o todo correntementeesnuturado

desejavareavivar o espírito do Romantismo sob essaperspectiva. Mas o inconveniente logo se mostrava quando alguém seaprofundava mais nesseespírito. Uma contenda a respeito da base"realista" ou "romântica"

da comunidade do povo. Isto era evidentemente direcionado contra o sistema parlamentar de Weimar, considerado mecânico, atomista e

se desenrolava nos aparelhos ideológicos. Os "realistas" se opunham à

concebido a sociedade e o Estado como um organismo

concepçãoromântica do povo como "povo lingual"; exigiam uma fundamentação biológica, racial do Uo&srzzm.O espú/fa 2o poz,o, lê-se em Hermann Pongs, se constituiria, antes ainda da consciência linguística, como /Ze/.ziem.paázz,zus, do sanguee do chão. Nessesentido, Ernst Krieck um ideólogo central na áreada ciência da educação-- exigia a ruptura radical com a tradição espiritual do Romantismo e do Idealismo. Posições semelhantestambém foram defendidas na "SeçãoRosenberg": responsável pela formação da mundividência dos membros do partido. A comunidade

do povo, dizia-seali, não deveser confundida com um idílio romântico; o Romantismo seria no todo demasiadamente gz//e/!íía, e teria, 'lz/zi#zz @ga 2a re/zZí2ade náa zi?ig?rí2a",traído as pessoassimples. Os românticos teriam sim coletado cançõespopulares, mas evitado a verdadeira conexão com o povo. Teriam sido elitistas. Essasacusaçõesculminaram finalmente

num ataqueao "óz/ma !fmo Zlss/mz/fada" do Romantismohistórico. Com isso combinam também os indícios de que os círculos românticos teriam sido fortemente impregnados pelo "foimopo//filmo Jz/2a/r ", pelo "c//wzz geral & cidadãosdo mundo" e pe\o " individualismo exacerbado". Os ata-

quesao Romantismo histórico foram por vezesveiculados de maneira tão aguda que Goebbels protestou, lembrando pragmaticamente que o Romantismo simplesmente fazia parte da herançacultural da qual o povo 318

eJ/zn/ZÓazZO .poz/o.Os românticos, especialmente Adam Müller, teriam

em oposição ao Estado nivelados, mecânico, da Revolução Francesa.Mas como os nazistas

sentiam

falta do racial

e do biológico

no conceito

de UoZ&ríz/m

do Romantismo,assimtambémsentiamfalta do princípio do líder no organismo romântico, e nessesentido as ideias que os românticos desenvolveramsobre o organismo eram inúteis para seusobjetivos; o Romantismo mostrava também aqui seu caráter .p,zsi/z/a. Os ideólogos do nazismo exigiam a postura ativista, enquanto os românticos teriam desejadoum Estadopara o conforto, um Estadocomo uma mãe.Tra. tava-sede criar um Estado rigoroso, paternal e organizado rigidamente: um Estado não para o prazer, mas para a marcha e para a luta. Krieck transformou sua crítica ao Romantismo numa crítica ao que era básico: q.visão de mundo idealista e orgânica acredita no mero crescimento,no ;ilencioso tornar-se, no acontecimento que nasce da espontaneidade das peças mowizes. ELe conhece, mas não reconhece o ato beroico, a indigna-

do do indivíduo, e com issolbefalta o verdadeirorudimentopara um

dinamismo histórico.

O regime nazista tinha, também do ponto de vista ideológico, diversoscentros. Abaixo da liderança havia núcleos de poder rivais. Seus porta-vozes lutavam secretae também abertamente uns contra os outros. Rosenbergseopunha contra o ativismo heróico e crítico do romantismo 319

Y

LIVRO SEGUN'DO e 0 ROMAN'TICO

CAPÍTULO XVll

de Krieck; para ele, o grande desempenhodo Romantismo resida na

Precisava-seda técnica e também das ciências naturais modernas. Não se

descoberta do místico, o regresso ".zo / ir/ r/ua, a g r /z'2ofem#orm'z,

queria ouvir nada a respeito "do Zer/Ih/a 2a .z/m/z"por causado "espüjra

.zo 2emozzÜco, ao Jexzla/, zzoexz#fíca, ,zoiz/óferrá/zeo". Goebbels não tinha

(técnico). A alma -- o que quer que se en tendesse por isso -- devia fazer

isso em conta. Ele já havia denominado a obra de Alfred Rosenberg,

aspazescom a técnica. Os que praticavam o poder queriam ser modernos,

]lüroj

tecnicamente progressivos,antissentimentais, objetivos, efetivos. Não

2o jécz//o .XX [.A/yróz/i Zri 20. 7aZ'róz/mZerís], publicada

um "arrasa ./;/oi(Wca",

em 1930,

escrevendo no seu diário que, dependendo

de

queriam ser sonhadores, voltados para o passado,isto é, não queriam ser

P.osenbetg,," não haveria mais teatro alemão, e sim apenascoisas,culto, mito e trapaças semelhante:

idílicos como o Romantismo histórico. Por isso Goebbelshavia usado

Nessabriga ideológica em torno do Romantismo, Goebbels defendia uma linha por assim dizer pragmática: ele deve ser conservado

o termo romantismo de aço, repetindo-o mais uma vez em 1939, por ocasião da abertura de uma exposição de automóveis. " 14z,errosmz/m'zexn

lue éao mesmo tempo romântica e de aço, que não perdeu a prohndida&

como herança cultural, tal qual o Classicismoe outras épocasliterárias

lo seucaráter,mas quepor outro hdo &scobriu um outro romantismonos

representativas.Mas, para o presente,um outro romantismo, diferente do Romantismo histórico, é necessário:um romantismo de aço, assim

resultados dosdescobrimentos modernos e na técnica' \ q çtaíxsmo le la s2b\&n

ele o chama no seu programático discurso por ocasião da abertura da Câmara de Cultura do Reich em 15 de novembro de 1933: "z/m raman-

impulso ardente de nosso tempo.

cismo que não se esconde das durezas da existência ou tenta fugir delas nos ermos

azuis, muito mais um romantismo que tem coragem de intentar

o$problemas e de olhar .Êrmementee semtremer nos olhos implacáveis."

xtrüit da tecnologia seu caráter desalmado e preenchê-Lacom o ritmo e o

Os "impulsos ardentes" deveriam referir-se ao povo, ao .Re/róe ao chefe de Estado (/;ãórer). Para tal, mobilizava-se os meios românticos que eram úteis. O Romantismo pensemos na obra .,4rr/síanzZzZeozzzZ

Na fórmula do romantismo de aço seexpressaa característicamoder-

.Ébropa,de Novalis -- não havia sonhado com a defesa e a reinstituiçáo do reino cristão da nação alemã? Certamente. Mas havia sonhado com

nista do regime nazista. O regime não queria voltar aos tempos arcaicos;

isso de tal maneira que Thomas Mann, na sua defesada República de

uma sociedadealtamente tecnocrata deveria ser desenvolvida: industrialmente capaz, construindo autoestradas e preparada para a guerra. O sonhar com o arcaico e com a ligação com a terra a participação na

Weimar em 1922, pede recorrer a Novalis como alguém que superou o nacionalismo e Foi testemunha de um humanismo universal. Este ansiavapelo reino como restabelecimento da Europa cristã. O nacional-

agricultura regrediul eram produtos artísticos da ideologia que não eram levados a sério pelos pragmáticos. Mesmo na liderança das tropas de elite, asSSem torno de Heinrich Himmler -- nas quais seplanejava

-socialismo, porém, usou o mito do reino como modelo para um grande reino grrmz2n/ca.Decorado pela mística de uma z/aZáagerm2/z/rae früzú,

uma arianização em alta escalanas regiõesconquistadas e a escravização que faltava à germanoGilia romântica o mais importante: o biologismo

suficientemente vago e promissor para alimentar a crença na restauração da grandeza alemã. Havia Estados e nações, mas apenas um "reino"; ele era o título de nobreza dos alemães, que, embora tivessem sido hu-

desenfreadoe o racismo.Além disso,também aqui o elemento industrial e técnico desempenhavao papel principal: mão de obra, matériasprimas, mercados.A crítica romântica ao racionalismo técnico, que

milhados por algum tempo, podiam pressentir uma grandezafutura. Encenava-setal romantismo a respeito do reino. Nuremberg, um símbolo do antigo esplendordo reino, foi escolhida

não deixava de existir na confissão de ideologias do nacional-socialismo, não

como a cidade onde se realizavam as reuniões do "partido do reino". Foi

encontrava porém muita ressonância. Ludwig Klages e seu grupo eram os

o Romantismohistórico que havia redescobertoesse"cofre de tesouro

porta-vozes. Denominava-se issode "romântico" de maneira pejorativa.

do reino". Ludwig Tieck e Wackenroder tinham peregrinadopara lá

320

321

no Leste, mobilizando para essefim a mitologia germânica --, sabia-se

o mito do reino devia satisfazernecessidadesespirituais. Essemito era

Y LIVRO SEGA'N'DO © O ROMAN'TACO

CAPÍTULO XVll

em \ 79Ge esctwetam: " Nurembergltu queanteserasuma cidademundialmentejamosal Com que prazer cruzei as tuas ruelas, com que amor i7ifa7'tiL$tei as tuas casase igrejas p'ztriarcais, nas quais estágrcluado o

do Romantismo histórico por parte do regime nazista, masde uma

[rüçoPrme da antiga arte da nossapátria. Quão profundamenteamo üs obrase costumesdaquele tempo que têm uma linguagem tão rústica, forte e verdadeira. Como elas me transportam & volta àquele séculocinzento:

presentelivro, usa-seum conceito mais amplo do Romantismo.

A idealizaçãoromântica da cidadedurou todo o séculoXIX, com a ajuda dos "mestres cantores" de Richard Wagner. Tão glamouroso quanto se imaginava que haviam sido as reuniões do reino dos antigos imperadores deveria ser organizado também o

"apelo geral" do partido. Os bastidoresda cidade de feiçõesantigas forneciam o contexto para a idealização.Ao toque de sinose fanfarra, cercado por massasa jubilar e a acenar com bandeiras, Hitler chegava. Através de ruas ostentatórias, decoradascom bandeiras e flores, ia-se

para o salão de festasda prefeitura, onde ele recebiaum presentede honra. Na "cúpula da vitória" em Nuremberg, em 1933, seu presente 6oi a gravura em cobre O r.zz,.z/Be/ro, ,z marfee o Zrmóm/o,de Dürer: a imagem predileta de Nietzsche. Eis o que pode ser dito sobre os requisitos românticos do domínio

Plessnere outros -- não se trata em primeiro plano da recepção e uso chamada postura espiritual romântica, que também deve serconsiderada responsável pela catástrofe alemã. Nesse contexto, como também no

Em primeiro lugar há o romantismo da vida dionisíaca,chamadapor Schlegele Nietzsche de c.zoic / f/z,o.Nele, a razão quer penetrar, mas dentro dele ela perece muito rápido

vencida pela' embriaguez, pelo

êxtase,pelo entusiasmo, pelo amor. Sentimentos grandiososem vez de prudência. O homem pode até se agarrar na sua razão, mas não pode deixar de perceber que o processo vital é no todo irracional. Schlegel e Schelling igualam o irracional e o divino. O deusdeles é porém um deusinquieto, em formação, instigante, que tem semelhançasuspeita com o desejo do mundo, cego e instintivo, do qual cala Schopenhauer. Nietzsche associaseu conceito da vida dionisíaca ao desejo(io mundo cego schopenhaueriano. Esta filosofia da vida entre Schlegel e Nietzsche

ê romântica porque ultrapassavitalística e dinamicamente asfronteiras da razão traçadas.por Kant, querendo avidamente mergulhar na grande

correnteza da vida. Em Schelling e Schlegel ela ainda está associadaà

nazista. No mais, o Romantismo era prezado nas escolas,nas universidades, no teatro, nas bibliotecas e nas editoras como uma herança cultural comum. Fazia parte de um cânone, como Lessing, Goethe e Schiller; ele

religião; em Nietzsche, já está liberta das inibições religiosas.

eraum componentenatural do equipamentocultural do "homem duplo'

mera função da vida, reduzindo o conhecimento a verdades com funções

durante a ditadura. Entre 1933 e 1945 o cidadão comum fazia geralmente

de apoio à vida. No momento em que a verdade desaparece,porém, asesda moral social se partem. O que resta é a lógica selvagemda

um papel duplo. Ele era aquele que comportadamente fazia seu trabalho,

que cultivava suaspreferênciasculturais tradicionais, que satisfaziasua necessidadede divertimento; e era ao mesmo tempo aquele que vestia um uniforme, marchava, jubilava e denunciava e que seembriagava de maneira bem dosada do desejo de poder. Essehomem duplo era ao mesmo tempo

o filisteu dos quais zombavam os românticos com suapaixão pela tranquilidade, pela ordem e pela segurança-- e o homem que queria participar da consciênciada dominação e do heroísmo. No arquivo do Romantismo seencontram requisitos para ambas as necessidades,para ambos os papéis.

Mas na cr(tecaao Romantismo -- como elafoi formulada por lsaiah

No que diz respeitoa esseromantismo da vida dionisíacaque culem Nietzsche, a acusaçãoé: este teria rebaixado o espírito a uma

autoaârmação e o ideal da autorrealização desenfreadada vida potente às custasda vida mais fraca. Este tipo de âlosoâa da vida teria pois criado

uma pré-disposição espiritual favorável a um desimpedimento moral que culminou com a permissão de destruir aquilo que se considerava como uma vida sem valor. E verdade que encontramos pensamentos nos escritos mais tardios

de Nietzsche que induzem a essainterpretação. Por exemplo quando, no fina[ de Erre ]7oma, ele resume todas as suas objeções a respeito da moral cristã na seguinte acusação:o cristianismo teria posto a "Zesper-

Berlin, Eric Voegelin, e também por Lukács, Fritz Strich, Helmuth

ían.z&z.zf'Zo e o amor ao .prós/m " como o valor m,is alto, e com isso

322

323

LIVROSEGUNDO

+ O ROMAN'TICO CAPÍTULO XVll

criado a "mora/ 2o 2ec/z'n/o .por erre/êmfia",típica de uma espéciee de uma época.

Contra

deveria finalmente

este partido

de tudo

que é 'Paro,

2oe7zre r zzlqgrmexa2o'

surgir um "pzzrf12o da z,/zúz,gz/e fome em izz/zi mãos /z

maior de todasas tarefas: a Criaçãoda humanidade superior, incluindo a destruição impiedosa de tudo que é corrompido

e pcLrasitáTio'

De maneira sintomática, encontramostais declaraçõespor parte de Nietzsche ali onde ele substitui o ponto de vista estético então dominante

a respeitoda autoelevaçãoda vida individual

pelo ponto de vista

biológico; ali, pois, onde ele não mais dá continuaçãoa uma tradição romântica, massofre a influência do pensamentobiologista e social-darwiãista. Em Nietzsche setrava a disputa entre o Romantismo e o biologismo de seutempo, que era totalmente antirromântico. E é portanto nessaáreado pensamento -- nas ciências naturais vulgarizadas -- que são incubados os

monstros do racismo, a criação de alemães"de raça pura", a extinção da vida que não tinha valor como tal, e um antissemitismo assassinoque vê os judeus como bacilos e exige o seu assassinatocomo uma medida sanitária.

A filosofia da vida romântica foi envenenadano momento em que se a associou a um pseudo conhecimento científico que acreditava poder deduzir da biologia uma moral, como na seguinte frasede um famoso higienista de raças em torno de 1900, Wilhelm

Schallmayer: "n.z

zfzl e ,

livremente a imaginação, sem limita-la ao aspecto da utilidade social

e política. Maná aponta para essaliberdade estética que se mostra principalmente na ironia, para esselevitar acima das coisas.Nesse contexto, eleabordao estranhamentodo mundo romântico na cultu.a alemã -- um estranhamento que desde então foi descrito repetidas vezes e também analisado a partir dos seus pressupostos históricos até seus

efeitos políticos: de maneira especialmentee6lcaze exemp]arno livro .4 n/zf'ZaarzmaZalZ)/e z,ezxPã/?/e Na//on], de Helmuth Plessner-- um estudo que, primeiro, quase despercebido, foi publicado durante o exílio holandês em 1935, e então reeditado com acréscimos em 1959, desencadeando uma grande reação.

A vida espiritual da Alemanha era, como primeiro notou Madame de Staêl, fortemente marcada pela divisão política, pela falta de grandes centros urbanos, pela forma reduzida da vida social. Não havia uma nação política na .Alemanha, mas diversos Estados autónomos, pequenos e mé. dios, e, encaixotados neles, uma infinidade de pequenos mundos privados,

estufaspara caracteresindividuais, do excêntrico até o genial. Tinha .se de ansiar pelo grande mundo para poder exclamar como Werther: "ra )oito-me para "'lim mesmo, e encontro um mundo!"

Tudo isso é conhecido e desdeentão já [oi descrito várias vezes;

LndiuÍduos que não têm mais nenhum valor parcao interesseda espéciesão reguLarmettteconcienactos a ama rápida desnuição". Não Q B.omanüsmo,

nao e necessáriorepetir pormenores. Sob o ponto de vista do estranha-

mas especialmente o biologismo de um mundo que acreditava na ciência

o grande mundo lá Fora, as pessoaso criavam, em solidão e liberdade,

corrompeu moralmente o pensamento. Não se levou a sério o aviso de

na própria cabeça.Era-sesublime ou idílico; ou aspessoastinham em

Thomas Huxley, um aluno de [)arwin, que disse:"Co/narre/zdamas2e uma uezpor tocha que o proa'essa moraLdü sociedade não sedeve à imitação

do processocósmico, tampouco afaga dele, mas a Lutctcontra eLe..."

Se a 6ilosofla da vida romântica não inventou as ideias a respeito de uma vida sem valor, será que sua postura avessaao mundo e destruidora de mundos não tornou possível que na .Alemanha as ideias que surgiram de outras fontes tenham sido colocadas em prática de maneira

tão inescrupulosa? O estranhamento do mundo foi mesmo por muito tempo uma característica do pensamento alemão. Thomas Mann o defende expressamenteem suasComi/Zexafóef 2e zzmapa& iro, porque deixa correr 324

mento alemão em relação ao mundo, porém, deve-se reter: já que Éalt,va

mente modelos e interpretações ousadasa respeito do que ultrapassavaa

esferado político ou seencolhiam por baixo (ida, aprofundando-secom carinho nos idílios ou no âmago da própria alma. A verdadeiraesfera

política permaneciaobscura e dava pouco estímulo à vida espiritual. Faltavacom isso uma cultura política como o Ocidente a havia desenvolvido, um humanismo político baseadono realismo, na sabedoria prática e no conhecimento amplo do mundo. Esseestranhamento em relaçãoao mundo político, porém, une-se-- como mostrou Plessner-a uma especial dez/afáoem relação ao mesmo. A religião, desiludida pelo

protestantismo instituído pelo Estado, liberava disposiçõese impulsos 325

LIVRO SEGUNDO e O ROMANTICO

CAPÍTULO XVll

religiosos frustrados que adentravam a arte, a filosofa, a literatura e a música. A cultura foi carregada de religiosidade, a educação substituiu

a religião. Indiferentes diante da política comum, as pessoasolhavam devotamente em situações excepcionaispara a esferapolítica, esperando por significados mais profundos, prometendo-se dela aquilo que geralmente só a religião pode oferecer, isto é: a respostaàs últimas perguntas, apocaliptismo, escatologia. Se o interesse cultural havia de se ocupar dele, aquilo que era político tinha de resplandecer num brilho acima do político, quase sagrado, como por exemplo "reino",

"povo" ou "nação

Por causadisso é que Thomas Mann, nas ConiiZexafóei de z/mapaZãico, declarou adorar um romantismo

"gwe áo ca õec/a oz//zaex lçê cióz.pa/üíc.z

do que ü eleva(lamentenacional, pelo imperador e pelo reinou.

A sínteseda devoçãoem relaçãoao mundo e do estranhamentoem relaçãoao mesmo realmente impedia a formaçãodo sentido político. As pessoasdesenvolviam perspectivas Rrteis para aquilo que estava próximo

-- o existencial e o pessoal

e para o que era longínquo: para as grandes

questões metafísicas. Em vez de um ensinamento sábio da política, havia a filosofia

da história.

A esfera política porém está entre o próximo

eo

longínquo, numa distância mediana.Aqui a capacidadede juízo político é exigida, e isso faltava na Alemanha. Em vez de usar a razão pragmática,

aspessoasseaproximavam do que era político usandomeios impróprios: ou existencialmente ou de modo metafísico e especulativo. Por isso o pZróoi político soava muitas vezes tão falso.

lsaiah Berlin, Eric Voegelin e outros denominam romanticismo a essedesencontrocom o político e seuoftiscamentocom imagense expectativas existencialistas e Gilosofico-históricas semirreligiosas. Em 1933,

na revolução nacional-socialista, essapostura realmente criou um efeito

fatal. Thomas Mann, que era politicamente esclarecido,denominou-a na Doutor Fausto como a àns\a pat " uma inteQretaçáo superior dosacontecimentos bTutog'

Tomemos Martin Heidegger, essemestre da Alemanha, mais uma vez como exemplo. Quando Heidegger, na sua última visita mais longa a Karl Jaspers,em março de 1933, declarou que "prec/i mas/nrerz,/r", era como se ele estivesse eletrizado -- não pelos acontecimentos brutos,

mas pela interpretação superior que deu a eles. Heidegger reagia a pro326

cessospolíticos, e suaação seconsumou em nível político

mas eoi a

imaginação âlosófica que governou a reação e a ação. E tal imaginação filosófica transformou o cenário político num palco histórico-filosófico, sobre o qual uma peça do repertório da história do ser era encenada.

A filosofia grega,segundo Heidegger,libertara o homem da caverna da sonolênciamítica. Nesseínterim, porém, a história do mundo es. cartade novo mergulhada na luz turva da mentira; ela teria retornado à cavernade Platão. E ele então interpreta a revoluçãode 1933 como a chance de deixar novamente a caverna, como um novo momento histórico do verdadeiro. Assim interpreta Heidegger romantizante -- os acontecimentos do presente, nos quais ele se transforma, de um ruminante pensador do ser, num ator. Por isso se torna reitor, organiza um fórum científico em Todtnauberg, deixando rodasde fogo correrem no vale durante a bestado solstício, fala para desempregadosque leva para a universidade, escreveinúmeros manifestos, Eazdiscursos todos

elescom o objetivo de ap í?@/zoar os acontecimentospolíticos do dia, de modo que combinem com o palco metafísico imaginário. Ele recorre

nessecontexto a Hegel e Hõlderlin. Eles também não aprofundaram a verdadeira história e fizeram dela algo sublime? Hegel não vira em Napoleão o espírito do mundo e em Hõlderlin "a.p7z'Hr@r ZalrJ/a, .para a qual os deusese Crista teriam sido convidado?' >

Quando mais tarde recapitula, justificando-se -- depois de já ter acordado há muito da embriaguez de suas profundas interpretações

tudo isso soa muito diferente. Então Heidegger aponta para a precariedade do tempo, para o desemprego, para a crise económica, para os ressarcimentos, para a guerra civil, para o perigo da tomada de

poder comunista e para as fraquezas da república que não podia lidar com essasdificuldades. Ele não quer selembrar das suas"//z/erprrzafóef superiores".Embora continue a falar da história do ser,não menciona mais Hitler, a quem havia aclamado como um inovador. Percebera em Hitler

uma "pr(?@/zda rqgnrf#re"

(uma expressão de Thomas Mana

nas Comi/ZexufÓeJ Ze z/maPaZl#/ca), do mesmo modo como, no geral, a maioria dos intelectuais alemãesnotara umas tantas coisasem Hlitler. A tomada de poder por Hitler havia provocado um clima revolucionário quando sepercebeucom horror, mas também com admiração 327

LIVROSEGUN'DO © O ROMÂNTICO

CAPÍTULO XVll

e alívio, que os nazistas estavam verdadeiramente empenhados em destroçar o "sistema de Weimar", que apenas uma minoria ainda apoiava. Aconteceram manifestações arrebatadores do novo sentimento

comunitário, juramentos em massasob catedrais de luz, fogueiras festivas

Foi como uma salvação,um salto mortal na grande simplicidade, mastambém, pode-sedizer, no primitivismo. Em 30 de novembro de 1933, numa t)destra aos estudantes da Turíngia, Heidegger declara: ;er pvimitiuo signi$ca seguindo uma necessichde e instinto interiores

c(

nasmontanhas, falasdo líder no rádio -- aspessoassereuniam vestidas com suasroupas de festa em locais públicos para ouvi-las, no pátio da

ficar Lá onde as coisascomeçam, ser primitivo,

universidade e nas tavernas --, cantos de corais nas igrejas em homena-

exercer o novo direito

gem à tomada do poder. O clima daquelas semanas

As pessoasquerem ser simples e profundas, querem romper o nó górdio de uma realidade que se tornou complicada demais e ao mesmo

escreveSebastian

HafFner, que as vivenciou -- era diHcil de descrever. Formou-se então a

verdadeira base do poder do futuro Estado nazista. ".Eku cbctmar de outro modo

áo iepoZe

um sentimento uastamente disseminado de salvação

movido poTfoTçasinternas.

E exatamentepor serprimitivo queo noto estudanteestápredestinadoa ao saber.

tempo encontrar um sentido mais profundo. O primitivismo une-se ao romanticlsmo.

dissolvido.Algo verdadeiramentenovo pareciaseanunciar: um domínio

Hannah Arendt denomina o que acontece aqui "zzm.zz// /zf z e/z/re .zfwró,zea e#fe". Uma elite intelectual, para a qual na Primeira Guerra Mundial osvalorestradicionais do mundo se haviam perdido, é alienada o suficiente para ver realizados, pelo nacional-socialismo, seus sonhos, com um reino, um povo unificado e um novo ser.

popular sempartido e com um líder de quem seesperavaque tornassea Aiemanha internamente unida e externamenteautoconf\ante. O anseio

da consciência moral?

? /ÍZ'er/afáo Za democracia. " Não apenas entre os inimigos da República

de Weimar havia essesentimento de alívio pelo final de uma democracia. A maioria dos seusseguidorestampouco acreditava que ela teria a corça de superar a crise. Foi como se um encanto paralisante tivesse sido

por uma política apolítica parecia ter sido satisfeito de repente. A polí-

SÓalienada?Não se trata aqui de uma corrupção sem precedentes lsaiah Berlin vê o estranhamentoromântico do mundo como intrin-

tica era, para a maioria, um caso de briga entre partidos e de egoísmo.

secamenteassociadoà negligênciae ao desprezoem relaçãoà norma-

O próprio Heidegger expressouesseressentimentoem relaçãoà política

lidade,

quando atribuiu toda esta esfera ao g?zn/e ao$nZaM /o. A "política" era tida

viverem juntas. E nas relaçõespolíticas regidaspela razãoque a dignidade e a liberdade dos indivíduos estão preservadas,sem ser sacrificadas em

como uma traição aosvalores da verdadeira vida: a felicidade em família, o espírito, a lealdade, a coragem. " ZI/ma.primo.zpo/ü/ca me / execx#z,e/", já havia dito Richard Wagner. A paixão antipolítica não quer se conformar com o fato de que os homens são plurais; em vez disso, ela busca pelo grande singular: o alemão, o povo, o trabalhador, o espírito. Aquilo que havia restado de sabedoria política perdeu da noite para o

dia todo o crédito; aquilo que agora contava era a emoção. Justificando sua defesa do regime a Klaus Mann,

Benn escreveu nessas semanas:

:idade gvünde, industriaLismo, intelectualismo, todas as sombras que esta

crcljogou sobre meus pensamentos, todos ospoderes do século que enFentei

isto é, às regras comuns

de vida que tornam

possível as pessoas

favor de qualquer "grande" ideia filosófica e tampouco das obsessõesde

um "grande" indivíduo criador que, em suasobras e suasdemaisações, sente-se mais em obrigação com suas expressões do que com pudores

sociais.lsaiah Berlin denomina como "romântica" essapostura que dá mais valor à originalidade intelectual e à expressividadesubjetiva do que aosvalorese normas que são válidos para a sociedade.Ele escreve: ' Na medida em que bá valores comuns, torna-se impossívelafirmar que tu(h devesercriado por mim mesmo,que eu deueviademolir tudo que existe ou destruir

tudo aquilo

que tem uma determinada

estrutura

para

que possíz

na minha produção; bá momentos nos quais toda essclvida atormentada

deixar correr a minha Liurejanta.sia. Visto assim, o Romantismo, quando se

afunda, e nctda mais bá do quea planície, a imensidão, as estaçõesdo ano, as Palavras simples: l)ouo.

o pratica até a sua Última consequência, acaba numa espéciede Loucura:'

328

329

O Romantismo histórico teria experimentado essaperigosapermissãoà

LIVRO SEGUN'DO e 0 ROMÂN'TICO CAPÍTULO XVll

imaginação e ao desejo subjetivo na esfera artística o que a princípio parece inofensivo, mas que não permanece assim: "Na./findo", prossegue e,eTlhn, " o movimento inteiro é .z tentativa de vestir a re.zLidade com um modelo estético, de modo que tudo tenha de obedecer às regras da arte. Para P

artistas pode ser que algumcts das aÕrmações cio Romantismo

realmente pos-

sam reclamar uma certa validade. Todavia, a sua tentativa ck transformar a Tida em arte pressupõe que as pessoassejam apenas matéria, que sejam

simplesmente umcl espéciede material, não distinto das corese dos sons: E na medida em que issonão procede,na medica em queas pessocts, quando cluerem se comunicar, estãoforçachs a reconhecer certos fatos e certos valo-

rescomunse a habitat um mundopartilhado [...] nessamesmamedidtto Romantismo que desabrochou compktamente, e não menos suas Tami$caÇÕes -- o existencialismo e o fascismo

, me parecem estar equiuocadosl

A tesede Berlin é: por meio do subjetivismo da imaginaçãoestética, da expressividade, da fantasia, da alegria lúdica irónica e da meditação deflagrada, o Romantismo ajudou a soterrar a ordem moral tradicional. Voegelin argumenta de maneira parecida, mas ele diagnostica essa

ordem comprometida como /como/:#ae amplia a crítica à subjetividade romântica com a acusaçãode que o Romantismo havia praticado uma autodivinação do sujeito estético: uma acusaçãoque já Heinrich Heine havia formulado em seuleito de morte quando denominou os românticos e seusdescendentes-- inclusive ele próprio -- como uns "Zez/ief Zo ez/ fem Zrz/i", que não haviam compreendido que ser óom é melhor do que

rrr reza.Na ala dos críticos do subjetivismo romântico, podemosincluir Georg Lukács, que argumenta a partir de princípios marxistas e para quem

o objetivismo naturalmente significa algo diferente do que para lsaiah Berlin e Eric Voegelin. ParaBerlin, trata-sede uma objetividade do consenso moral; para Voegelin, significa a responsabilidade diante de Deus, e, para Lukács, a diabética"objetiva" do processo histórico. Não importa como essaobjetividade seja deGlnida,o Romantismo de qualquer modo é acusadode ir contra ela e de propiciar uma postura que se comporta da seguinte maneira: se a realidade não corresponde às minhas ideias, pior para elasAquilo que foi chocado longe do mundo, acredita-se, aden-

trou o mundo de maneiradestruidora.Mais uma vez devemoslembrar Heinrich Heine, que, na famosapassagemfinal da sua ;Bs/ária Za rPZ /áo

e da#ZoJ(?Pa z ..4&m.zmÃ.z,alerta o público francês a respeito das consequências

da revolução

romântica

do espírito:

"N2o

irem

rjs zúz dagz/eZe

pntasista que espera que no reino chs aparições ocorra a mesma revolução lue nü área do espírito. O pensamento ctntecedea ação como o raio ao trovão.

) trovão alemão é naturalmente um alemão e portanto não muito ágil, e ai chegandoum pouco devagar; mas uai chegar,e quando m dia ouvirem

üm barulho como]amaisfoi ouvido nü história do mundo,ctssimsaberão:o trovão alemão $nalmente alcançou sua meta...

(quando recordamos os gênios admiráveis da época romântica que criaram seusmundos e que enfrentaram a realidade de maneira auto-

confiante, tudo em nós serecusa a mencionar uma figura como Hitler num mesmo momento que essatradição romântica. Mesmo assim,não podemos deixar de ver atavanele essaligação fatal entre o estranhamento em relaçãoao mundo e essafebre destruidora.

Certamente que as ideias de Hitler não eram de modo algum românticas. Elas vêm das ciências naturais vulgarizadas, moralmente devastadase transformadas em ideologia: o biologismo, o racismo e o

antissemitismo. O próprio Hlitler se orgulhava da sua mundividência c/f'/zr€72ca, e vale a pena dar uma breve olhada em seu sistema de loucura,

que ele realmente pâs em ação. Acostumamo-nos a falar das confusas construções de pensamento de Hitler. Mas na verdade seus pensamentosnão são confusos. O as. sustador neles é muito mais a lógica implacável com a qual no .4de/zz JCa/zlpfconclusóes assassinassão tiradas de algumas premissas racistas e .oçltÂ-&aX-v.ix«estas. " Claro, pode ser que aqui um ou outro dê risada, mas

esteplaneta ]á cruzou o éter durante milhões de anos sem sereshumanos, eLepode andar novamente do mesmo modo, seas pessoasesqueceremque

tão devem a sua existência superior a alguns ideólogosLoucos,mas ao :onbecimento e üo uso sem pudores de Leis naturais irrevogáveis?' Ns \ek

da autopreservaçãoe da seleçãodos mais fortes valem na luta mortal )da eüstbnç\a. " A humanidade

cresceu na Luta eterna; na eterna paz eLa

fz/cz/móe. " Há raçasinferiores e raçasmais Fortes.O ariano é o "arame/rzí da cama/z/Jade"; ele acende aquele fogo que, "cama ranger/mf ra, czares a a/fe doJ Segredars/&/zr/asas". O ariano porém está ameaçado pela

snge/ " racial. Especialmente perigosos são os judeus. Se não 6orêm

330 331

LIVRO SEGUN'DOe 0 ROMAN'TICO CAPÍTULO XVll

eliminados, a vida superior perecerae vai acontecerque o planeta novamente gerarásem sereshumanos no espaço.Os judeus precisam ser mortos também porque inibem a luta pelasobrevivênciado ariano com suaproibição de matar oriunda do mosaísmo,criando nos arianos um sentimento de culpa. Hitler quer eliminar uma ética ao acabarcom a vida dos supostos"inventores" dessaética. "Eí/amos",declaraele nas conversas com Hermann

Rauschning,

"záamfe Ze z/wzz fzn

/2prmafáo

prodigtosct dos conceitos morais e do alinhamento espirituaLdo homem. Nós

encerradosum caminhofalso da humanidade.As tábuasdo monte Sinal perderam sua validade. A consciênciaé uma intenção iudaical A política de Hitler está fundamentada numa loucura que se tornou

Hitler é uma personificação perversa do "eu" fichtiano, que monta seu

mundo e quebra a resistência do não eu. Hitler queria fundar um reino

mundial do Atlântico até os Montes Urais; queria realojarpovosinteiros, extinguir vidas "inferiores", cultivar a superioridade de seu próprio povo,

e declararapouco antes do seusuicídio que o povo alemão infelizmente se havia mostrado fraco demais e não seria necessário que sobrevivesse.

Devia morrer junto com ele.

O povo porém, que se deixou levar por essavertigem fria de loucura assassina, não deu com isso a maior prova da suafalta de sentimento em relaçãoà realidade, não mostrou aqui algo dessaligação entre o estranhamento em relaçãoao mundo e o furor pela suaderrocada?A favor disso

verdadeirapor ter sido executada.As pessoasque eleliderou contribuíram

fala o fato de que o colapsodo domínio nazistafoi experimentadopor

para isso como crentes, como executores de ordens, como ajudantes solíci-

muitos como o despertarde um aturdimento, como o flm de um fantasma.

tos, como medrosos, como indiferentes. A cultura moral da sociedade de qualquer modo não conseguiu pâr flm a essaatividade. Normalmente a loucura separauma pessoado seumeio, a isola, a aprisiona. O monstruoso no caso de Hitler é que ele superou a solidão da loucura por conseguir Eazê-lacompartilhado socialmente. Houve vários motivos para se segui-lo,

masisso náo muda nada no resultado de que, aqui, toda uma sociedade contribuiu

para pâr em prática um sistema insano.

Não foram, como já dito, ideias românticas as praticadasaqui. Mas figuras como Hitler, que atraem toda uma sociedadepara seu lado, já haviam sido previstas nos sonhos febris dos românticos, por exemplo

como se o encanto se tivesse quebrado. [)e um dia para outro, aquilo que

até então havia regido pareceu completamente irreal; e náo demorou para que as pessoasentão não mais se quisessemreconhecer naquilo que até pouco tempo ainda eram. "7\Ufsó cÓelgzzmoJ z /zá malmaf", escreveuArnold Gehlen em 1971 como resposta à questão "o que é alemão?", "ga.znZo /i..7

podemosjogar adiante de nós um fantasma ou o que quer que seja, de modo lue a tentativa de chegar até ele, através do bosque cerrado da reagi(hde, tenha de acorrer Ze m,zmr/xa z,/oZemza".Quando as pessoas chegaram a si mesmas

em 1945, o fantasma havia desaparecido, e a sua realidade estavaem ruínas.

nos poten fados demoníacos e niilistas de Jean Paul e na figura do grande

magnetizador de E. 'l-. A. HofFmann. " Zonaexir# c/a", diz o magnetiz.a&ot," é Luta e emerge (h Luta. O poderoso vence num clímax crescente, e com OJz,zzjJ.zZaf JZ/Ó#z/gados e& az/menta iz/a#orF ." Que Hitler é uma figura

que pareceoriunda de um pesadeloromântico soa também em 1938, no corajoso ensaio /rmáo l fZrr [Brz/Zrr /B/Zero, de Thomas Mann. A]i, Hitler é descrito pelo autor como um artista fracassado,mal resolvido, que usa todo um povo como material plástico e como um instrumento que ele toca. ".Eb gz/rro deixar em .zZ'irra", escreveThomas Mann, "se /z lJistória da humanidade jamais liiu um casoparecido de opressão moral ? espiritual,, associado ao magnetismo que se chama geralmente de 'génio',

como essedo qual somostestemunhas envolvidas:' 332

333

CAPÍTUI,0 XIVlll

A catástrofe e a sua interpretação romântica: O l)outor Fausto de Thomas Mann. /nterprefações super/ares do acontec/mento bruto. Recobrando a sobriedade. Alcoólatras em abstinência forçada. A geração cética. Mais uma vez a Nova Objetividade. O vanguardismo, a tecnologia e as massas.Adorno e Gehlen no

'estúdio noturno". Quão romântico foi o movimento de 1968? Sobre Romantismo e política.

Em janeiro de 1947, Thomas Mann conclui, na distante California, o

Z)az//arEaz/i/a:esseromancesobre "A vida do compositor alemãoAdrian Leverkühn contada por um amigo", como selê no subtítulo de grafismo antiquado. Nesseromance altamente ambicioso, Thomas Mann havia planejado nada menos do que, no espelho do correr da vida de um compositor, representar e espelhar o destino desastroso da .Alemanha. Deveria

ser um romancesobre um artista, um romance sobrea sociedadee acima de tudo um romancesobrea Alemanha. Quando foi publicado no verão de 1947, foi recebido basicamente com reverência.As pessoassabiam dar

valor ao Eito de que a terrível história da Alemanha nazista-- pouco a pouco o horror ganhavasua estatística: 55 milhões de mortos durante

a guerra, deles25 milhões de civis, 15 milhões de "não pessoas"nos campos de concentração, 1 1 milhões assassinadas,delas seis milhões de judeus, mais de dez milhões em fuga, cinco milhões de moradias destrua. das ou severamente danificadas

tivesse sido interpretada de forma tão

sublime; e o sentido solene da obra quaseque reconciliava com o horror. No romance, Thomas Mann protestara contra a busca romântica por uma f /er7rzzafáo JaPr /or Zo aco zrrjmr/z/a Z'rz//o, mas foi exatamente isso que

elepropiciou. Setal buscaera realmente um problema romântico, então esseromance é ele mesmo parte do problema cuja solução pensa ser.

Foi ouvido com prazer que a ameaçaao artista deveriaespelhara ameaçaà alma alemã porque se tratava em Leverkühn de um artista genial que além disso tinha uma semelhança espantosacom Nietzsche; 335

LIVRO SEGUN'DO © O ROMAN'TICO CAPÍTULO XVlll

oferecia-setodo um aparatodemoníacode contágiosifllítico e de

cortes;Leverkühn, para experimentar a embriaguezcriativa e a liber-

pacto com o demónio: uma interpretação do horror que se projetou a surpreendentes alturas da reflexão artística e filosófica. Thomas Mann realmente teve muitas ideias no que diz respeito a Hitler. O romance evocouo sentimento do fim em todos os sentidos: o fim do artista bur-

tação dionisíaca e para abrir caminho, desde o excessode reflexão até

guês,da arte, da burguesia, flm do humanismo tradicional, do conceito da razão.Um crepúsculo dos deusessem precedentes.Também o quadro da queda do anjo, como Michelangelo o pintou na CapelaSistina, é citado pelo narrador SerenusZeitblom, que diz nas últimas frasesdo romance sobre a Alemanha: "Érdr eZaczz/,.zóxnf.zZa por 2rmó ioi; a m'Zo

aos poderes do irracional.

sobre um olho, com o outro a fttaT o horror;

tombando

de um desespero

para outro. Quando irá alcança o fundo do abismo? Quando é que de

um Último desespero, um miLage queestáalémda crença,amanheceráü Luz da esperança? O filólogo

clássico

e pedagogo

Serenus

Zeitblom,

"zzmzz m.zfz/rez.z

saudável, tempercldü humanamente, divecionada para' o que é harmónico e

rezo.íz,e/",conta entre 1943 e 1945 a história da vida deAdrian Leverkühn

o sentimentoelementar,para uma segundaingenuidade.A .Alemanha buscaa revoluçãovital; Leverkühn, a inspiração. No 6im, ambossão carregadospelo demónio. Eles traíram a razão humana e seentregaram Em ambos os casos, uma recaída catastrófica

do espírito altamente desenvolvido no primitivismo arcaico. Mas esseparalelo não é mantido até o final. Na verdade, Leverkühn devia, como Nietzsche na época do Zaxnf f/xa, vivenciar uma embria-

guezcriativa dionisíaca.Ela Ihe é prometida pelo demónio naquela conversa na casa de Manardi, em Palestrina, com quase as mesmas

palavrasque asusadaspor Nietzsche em Erre coma para descreverseus momentos de inspiração. O diabo também promete ao compositor a

Forçade se atrever a usar o óaróa /ímo e de reconduzir /z cz/Zrwxa gzíe girou as costaspara o culto naNanlen\e a.oelementar. Mas as coisasse passamde outro modo. Leverkühn permanece apolíneo ao invés de se tornar dionisíaco. Ele não vai mergulhar no

desdea juventude, seu amigo admirado e genial, que, nascido em 1885, cresceem Kaisersaschern-- uma antiga cidade alemã que se pode comparar a Naumburg -- e que estuda teologia em Leipzig e em Halle, onde

Em vez da sensualidade,deflagra-se no uso dos meios artísticos uma

esfria sua curiosidade metaÊsica com uma matemática rigorosa, trocando-a

aos cumes de prazer da reflexão.

finalmente pela música também por causado rigor; compõe algumas obras

no estilo mais moderno, na técnicade dozesons,e por fim, em 1931, no auge da sua criação musical, perde suascapacidades mentais; louco,

como Nietzsche, ainda passadez anos sob os cuidados da sua mãe, até que morre em 1941 . O tema é portanto "ú z//dú e a aórn Ze z/m efp/r/fa orgulhoso e ameaçado pela esterilidade" , no qua\ se espelha " a situação

da arte em geral, da cultura, sim, do homem,do próprio espiTitona nossa íPorzz /oí#/me fe rrz'f/ca", como comenta Mann. Leverkühn como espelho da alma alemã -- isso foi o que ele pensou:

inconsciente, mas aumentar a consciência e o refinamento construtivo

objetividade sem rédeas.Em vez de afundar no el.menu,r, el. s. .levará Com isso, porém, o plano original

que prevê um paralelismo entre

o destino da .Alemanha e o do artista -- é frustrado. Nesse ínterim já se pesquisou detalhadamente, especialmente por obra de Hermann Kurzke, como pede acontecer que Thomas Mann se tenha deixado desviar do seu

primeiro plano.A causadisso6oio encontrocom Adorno e suafilosofa da música.Poder-se-iater adivinhado que esseencontro Ihe traria outros p'nsamentos, pois já na conversacom o diabo há um momento em que o demónio parececom Adorno e também fala como ele. ",4 iz/ósz/faa Laexpressão sob o geral conciLiaür é o princípio mais central da aparência mzlJ/ca/./sío agora araÓazz",diz o homenzinho gordo com os grandes óculos e cabelo ralo aquela figura na qual o diabo se metamoreoseara

ambos, a Alemanha e Leverkühn, caem numa situação estéril, sem fé, ameaçadapela petrificação da vida. A Alemanha politicamente, Leverkühn artisticamente. Ambos fazem um pacto com o demónio para alcançar novamente as Gonresde energia viva: a Alemanha, para achar o caminho de uma sociedade desintegrado para uma comunidade com sentimentos

Sob a influência de Adorno, o esboçooriginal do protagonistase transforma aosolhos do autor. Apesardo pacto com o diabo, Leverkühn

336

337

e da qual parte um vento frio que vai até Leverkühn...

LIVROSEGUNDO

T

e 0 ROMÂNTICO

CAPÍTULO XVlll

permanecedistante da esferado dionisíaco. Esseartista, que reflete excessivamente,não mais serve para representar a queda vitalista no elementar, a sedução do primitivismo. Se porém nos ativermos ao conceito do paralelismo e Thomas Mann o fez nos seus comentários públicos --,

então "a / ferPrfíaf'Za

eTH====1.1:=:==':.?=:1.=='. :T: artimanha do demónio simplesmente evaporou do romance.

Vale ressaltar que Mann pede afirmar, mas não conseguiu representar

artisticamente aquela interpretação da catástrofe alemã segundo a qual

íwprr/or 2o .zfa fefimrnra Z'rz/ra"é ainda mais pronunciada.A ligação entre o destino da Alemanha e o do artista ameaçadesaparecerno sublime. Mann com certezapercebeuque aqui algumascoisasnão mais combinavam. E por isso o narrador SerenusZeitblom tem cadavez mais

que ela poderia ter sido representada?Provavelmente só assim:Leverkühn

de assumir a parte que representaa .Alemanha. Po modo que a figura do humanista sensato Zeitblom -- foi construída, jamais sepoderia tratar

com o Nietzsche dos últimos anos

do irrompimento do dionisíaco e do elementar,e sim apenasdo tema da //crer/oridaZepro/eK/Zapeãopoder"4i. Zeitblom, não Leverkühn, representa a burguesia alemã. Ele partilha em 19 14 do entusiasmo pela guerra,

a revolução espartaquista ihe causarepulsão, visita, nos agitados círculos intelectuais dos anos de 1920, os cosmologistas, os apocaliptistas e os decisionistas; no começo, com cautela, apoia o regime nacional-socialista

como um poder de ordem -- até o momento em que toma consciência da catástrofequando estafinalmente o visita em suatranquila reclusão. Pouco antes de acabar de escrevero romance, Mann declara em

outubro de 1945, na suapalestra.4 .4Zem,zn&,z r Ofa/emáei:".4 ó/flôr/d pode tornar uma coisa evidente para nós: que não bá duas ALemanbas,

üm.zmá e uma boa, masapenasuma, ncl qual o que havia de melhor se transformou em maLdaü pov artimanha do demónio.A ALemanbamüluac é a boa que tomou um mau caminho, a bondadena infelicidade, na culpa

e no nauPágto. A observação

um excessodo espírito romântico teria levado ao crime político. Como é

-- por uma postura romântica e em buscade um novo impulso vital e criativo -- cai na esfera da embriaguez dionisíaca e em analogia se entrega a um decisionismo do

poder e da violência: exatamenteaquilo que o autor identificou em suas Galas como fatal, quando declarou por exemplo que os alemãesteriam :ometido seuscrimes por causa de um idecllismo estranho ao mundo" Leverkühn devia ser uma figura que personificasseessecontexto através do seudestino. Ele porém setornou diferente para o autor, e isso parece indicar que a consciência artística não Ihe permitiu uma representação assim e que ele seguiu de boa vontade os conselhos de Adorno a respeito

da criaçãodo perâl artístico de Leverkühn. Por quê?THvezporque a inicialmente planejada interpretação da ligação entre o espírito romântico e a política criminosa não possa mesmo ser sustentada, e Mann percebeu que sua falsidade se teria manifestado num esquematismo artificial. De qualquer modo, ele efetivamente disassociao 6lm de Leverkühn da ideia da catástrofe alemã. Em vez disso, mostra-se nisso algo bem distinto, isto é, a crise de uma criação artística que sofre de intelectualismo e que busca um caminho de volta a uma segunda ingenuidade. Mas isso então náo mais

é um fenómeno especialmentealemão, e sim da consciência artística mode que, por

az"f/maná.z

da z/fmó/z/a,

o melhor

se

converterano ma/ era dirigida a Leverkühn. Mas como estenão caiu numa embriaguezdionisíaca, nem num excessoromântico, e sim, com

derna. Mann também o admitiu em entrevistas que concedeu na ocasião em que a edição americana do romance 6oi publicada. Não obstante, ele não sedeixou impedir, em outros contextos, de repetir aquelainterpretação

a ajuda de Adorno se elevou ao artificial altamente elaborado, nele o ma/ não podia se revelar muito bem. Em Zeitblom ele tampouco se podia mostrar; ele é comportado demais para isso. Sua /nreríar/Zú2eP a/rK/Za

da catástrofealemã -- de que o idealismo ou o espírito romântico teria levado a Alemanha ao crime. As pessoascertamente gostavam de ouvi-la,

41

um significado tão elevado.

Expressão extraída de Thomas Mann. Espera-se do Estado que ele assuma os assun-

tos políticos e se encarreguede que o indivíduo possadar exclusivaatençãoàssuas

questões particu[ares e espirituais.[N .T.]

pois tinha algo de bajulador, o .zron/ef/me /a Z'rz//aganhando dessemodo .4 /mfeq'r?Ía úo JaPrr/ar Zo ara irr/mrmío órz//o se insere bem no estilo

então característico, no qual tons patéticos eram absolutamente típicos.

338 339

Y

LIVRO SEGU'N'DO © O ROMÂNTICO

CAPÍTULO XVlll

Em 1947 6oi publicado um livro de Ferdinand Lion, amigo de Mann, com o \ítu\o

Romantismo

como destino alemão \Romantik

aLs deutscbes

Sró/cosa/]. .Ali, interpreta-se a ligação entre um romantismo que podia u/ralar //uremrnf " e o militarismo prussianocomo o " co fec/me fa

#afií2ár" que finalmente levou à catástrofepolítica. O livro de Lion Goiapenasuma das inúmeras tentativas de associara questão da culpa alemã a interpretações grandiosas que iam ao fundo da história. Alterna-

damente, localizava-se a origem do mal nos finais da Idade Média, nas

Guerrasdos Camponesesou, portanto, no Romantismo.Tratava-sede genealogiassutis da fatalidade, de teleologias negativasque partiam de começos longínquos para retraçar o caminho supostamente obrigató-

rio até a catástrofe.Na suaprimeira visita à Alemanha em 1950, Hannah Arendt avaliou tais interpretaçõescomo expressãoda notória reflexão alemã que não buscaas causasda guerra, da destruição da Alemanha e do assassinatodos judeus nos fitos do regime nazista e na subordinação da população, e sim, como ela escrevecom desprezo lacónico, "mai ar07ztecimentos que Levaramà e=çpulsãodeAdão e Euü do parctÍso".

Nos primeiros anos que sucederam1945, faltava um raciocínio político que não desviasselogo para questões demasiadamente grandes, faltava um pensamento pragmático e político que pudessecontrabalançar um espírito que quasesempre começava muito alto ou muito baixo,

no nadaou em Deus, no declínio ou na ascensãoda Europa.Até mesmo o ideólogo do nazismo Alfred Baeumler comentou autocriticamente nas anotaçõesque 6ezno período em que estevepreso que com essestons agudos possivelmente se deixava de abordar aquilo que era decisivo. Em vez de buscar uma verdadeira "Praz/miZúZe em rezar.2a,às co/szz", escreve, as "z//ií#i .P/z/zoxgm/cai" teriam triunfado

e violentado

a

realidade. Ele adverte quanto às "aósfzafóef em #lref.Zo .zo /nziC(/7m/2a"e aprende a gostar da democracia exatamente porque ela é o "anrzsfz/ÓZ/m "

Sob influência da catástrofe, também da pessoal, Baeumler começa a lição

difícil para elede pensaro político sem usar uma metafísicada história. Normalmente ainda não se era tão sóbrio quanto esseantigo nacional-socialista.As pessoasromantizavam quando representavamo nazismo por meio de vistas panorâmicas, não como o acontecimento bruto que 6oi, e sim como um desvio romântico da nação.

$EHl;ll;iHi%;lGela

romantismo. O nazismo e a guerra, que ainda haviam vivenciado e sobre-

vivido em suacasefinal como assistentesde defesaantiaérea Flakheller] ou mesmo como tropas auxiliares do exército [WerwõlGe],os haviam curado ra Jicalmente. As consequências disso foram, segundo Schelsky, )recessosde despoLitização e de desideoLogtzação" qüe Xvaxet\am acabe\aüa

uma notável sobriedade. Encontraram-se pois aqueles que acabavam de despertar da embriaguez e aqueles que, jovens no anal da guerra, ainda estavam além das ilusões e da desilusão; viveram um terror do qual esca-

param por um flo e que os transformou num piscar de olhos em adultos que desaprenderam a sonhar ainda antes de o terem realmente apr':ndido. Essa geração,. diz Schelsky, é, "em szz/zranlf/énrja

foc/a.(

ética, mais descontada, mais incrédula ou, pelo menos,com menosilusões I' que todas as ge,ações ante.io«s

de jo«ens, e co« isso mais próxima ch

validade, mas apta a intervir e mais' con$ante na vitória''. 'Powatttn àe maneiranenhumaromântica. Quando no anal dos anosde 1950 são realizadas eleições com o í/qgnm inapelavelmente vitorioso de "nada de

expenmentos", isso certamente não é indício de quaisquer tendências românticas. Trabalhava-secom afinco e náo se tinha tempo para o luto. Dia após dia se reconstruía, das ruínas, uma vida que quase já se tinha perdido. Adquirir bens e se acomodar correspondia à expectativa geral; utopias se compravam em prestações. ' Eram os anos da reconstrução que, como se sabe, 6oi levada a cabo

com um modernismo objetivo e pouco respeitoso para com os restos românticos da antiga cultura alemã das cidades. Fachadas coram desfiguradas, continuou-se

a destruir e a devastar os centros das cidades lá onde

as bombas não haviam se encarregadode seu próprio planejamento. A arquitetura dos anos de 1950, do ponto de vista estético, está mais para os pecados da jovem República Federal .A].mã. O trauma da guerra e da violência ainda estavatão arraigado que pr'dominavam prédios no estilo dos abrigosà prova de bombase das prisões. Construía-separa a "sociedadenivelada de classemédia", como se dizia então. Um prometode vanguarda nessecontexto 6oi o bairro Hansa,

340

341

Y LlyRO SEGUNI)O e O ROMÂNTICO CAPÍTULO XVlll

em Berlim. Foi construído pela elite dos arquitetos europeus-Queria-se 1950, porém, constatou-se que os moradores dos novos prédios estavam

palavras.Em primeiro lugar: elessãoBe/rai,assimcomo todo o resto o é.A criação artística enfática ou solícita não era vista com bons olhos. As pessoasse mostravam reticentes. Não se queria imitar nada masse

confusos: eles não entendiam o sentido das plantas dos prédios, não sabiam

imitava mesmo assim os métodos da fabricação do acabamento industrial.

combinar cores nem entendiam por que móveis no estilo Chippendale e

Além disso, apontava-separa a visão de mundo não descritiva da física

novas moradias para o novo homem. Numa pesquisa no final dos anos de

um jardim de ervasna varandaseriamhorríveis.Os arquitetostinham calafrios diante do "gosto Piefke4z". Assim, passou-se a construir "máquinas para moradia". .Ali, o consumidor normal não podia fazer muita coisa

errada, podia-se deixa-lo sozinho nas unidades de moradia atomizadas. Em Berlim, os enormesconjuntos habitacionais de Gropius-Stadt viraram expressãodessedesprezo pelo homem transformado em tijolos. Em con-

descendenteconformidade, as pessoasse exercitavamtambém de outras maneiras no mundo do trabalho e da diversão que prosperava. Objetividade

no trabalho, sentimentalidade em pequenasdosese por preçosbaixos nas horas vagas e no consumo. O mercado, regulado socialmente, dava uma segurançaque as pessoas-- depois dos excessosaventureiros e criminosos da época do nazismo

sabiam apreciar. Já se estava farto da vida perigosa.

moderna. A realidade, deduzia-se partindo dela, é algo que não pode mesmo ser retratado. Mesmo assim, o abstrato devia abrir '7aneZúj.pazu o / z,üz'z,e/",como se lê no catálogo da exposição "Igreja e arte abstrata" Percebe-se:um romantismo da transcendência estéticapode agir também

no vanguardismo.

se vanguardismo, aliás, vingou aquele ideal artístico que corresp.ondia exatamente ao que Thomas Mann havia imaginado para seu Adrian Leverkühn: autonomia rigorosa, adequaçãodo material, não à representação,distanciamento dos homens. Donaueschingen -- onde,

no romance,asobras de Leverkühn sãoapresentadas pelaprimeira vez -- transformou-se nos anos de 1950 verdadeiramente num lugar (ie peregrinação para o Modernismo musical, e Adorno na época já fornecia

Também seeraavessoaosexcessosdo espírito. As pessoasestavamorgulhosas

os lemas.para todo o círculo de músicos modernos. Concordava-se que

da ideologia da ausênciade ideologia, ao passoque os resquícios ideológicos

Leverkühn tivesse rejeitado o "calor Ze z,.zc,z"'3 da música tradicional,

da era nazista eram confortavelmente canalizadosem anticomunismo.

Nos círculos que se consideravam a elite, as pessoaseram definitivamente vanguardistas e se mantinham a distância. A pintura abstrata começara sua marcha triunfal. Contribuíram para isso a dupla legiti-

mação: por parte do realismo socialista, de quem as pessoasqueriam tanto se distanciar, assomocomo da condenaçãonazistaem relaçãoà "arte degenerada". Esse duplo distanciamento

resultou, nos círculos

vanguardistas, num conformismo dos não conformistas. Evitava-se a

chamada"experiência"e a imitação da realidade.O desejo da forma só deveria se curvar à lógica do material. O artista, dizia-se, tinha de libertar-se de referências que estavam fora da própria arte; seu assunto está nos tons, nas palavras, nas cores. Poemas, disse Benn, que na época

começara sua carreira de estrela, não são feitos de sentimentos, mas de

42

mas não se precisava do pacto com o demónio. Pode até ser que alguém

vendessesuaalma à época da tecnologia, mas com certezanão por uma embriaguez dionisíaca. Este tipo de Modernismo com certeza nada sabia da embriaguez. Ele era sóbrio, mas de maneira alegre. Na revista Magnzzm,na época a mais Importante para os leitores de gosto renlnado,lia-se em 1955: Um mundo de seriedadea$nch. A destruiçãock convenções libera akgta. \ queda das ideologias torna ridículas a$ testas t'anzichs.

A 'seriedade da

ida' é principalmenteum conceitoirónico [...] Tambéma relaçãoente s sexosé Libertada da escuridão e do peso, eLa relaxa. As tragédias de Itrindberge

Wedekind$caram para trás. Amor sem medo. Ganhamos um

unto nodo, mais distendido, em relação ao nossocorpo" ''JE-seágata.

também as mulheres apareceremcom a l.ve2;adessenovo sentimen to

Expressãogeralmente pejorativa, "P/í=@f"designauma pessoaque gostade contar vantagens e de se fazer importante.

[N.T.]

342

Uma das expNs;es usadaspor Leverkühn para descrevero "calor animal" da música

343

l LIVROSEGUNDO

e 0 ROMÂNTICO CAPÍTULO XVlll

em relaçãoao corpo. Sobre elas,lê-sena ÀZag/zwm de 1958: "eZai áa têm ilusões, elas piscaram a palavra Romantismo,

elas sáo sinceras, objetiuas,

náo usam maquiagem [...] Nenhuma pode enganar a outra. Rejeitam-se elogios.Odeiam volutas. Elas náo paqueram. Não jogam conuersafora. Esquece-secom frequência de que os anos de 1950 e os primeiros anos de 1960, comumente denominados como reacionários e bolorentos,

também foram uma época da objetividade moderna. E porque agora as novas conquistas tecnológicas haviam adentrado todos os lares, essaépoca

também foi devota da tecnologia. Max Benzefoi o porta-voz filosófico dessa//zfeZZegrnzii.z de vanguarda e da Nova Objetividade: "nóí friamoi zzm mundo" , esctexeu eXeem \ 95Q, " e uma tradição exüaordinariamente Longínqua prova a origem destemundo dos esforçosmais antigos da nossal.nte\hgents\a. Mas hoje não estamos em condições de dominar essemundo teórica, espiritual inteLectualnem racionalmente. Falta-Lbe uma teoria, e com issofaLta

a clarezado elostécnico,querdizer, a possibiLich&&pronunciarjutgamentos éticosjustos dentro deste mundo [...] Nós o aprimorados talvez, mas não estamos em condições de aprimorar os homens deste mundo para estemundo. Essa é zz i//z/'zfáo

/{/bf/z,

Za

aii,z rxZi/ê

rZa]dominada

pe]a]

«-opa"or à tec«-ologia repete-se

nedieuat da caça Ztsbru)cas

A disputa em relação à tecnologia tocava nos medos do tempo. Na épocada guerrafria, que insinuou que a política seriao destino vozes tomaram novamente a palavra, múltiplas e incontornáveis; criticavam a ção no político como engano a si mesmo e diziam que na verdade a tecnologia havia se tornado nesseínterim o nosso destino. Um destino.

diziam, que dificilmente ainda poderíamos controlar politicamente. sobretudo se nos apegássemosaos conceitos tradicionais de política, fossem eles os do "plano" ou os do "mercado".

Pode ser que nos anos de

1950 se tenha reprimido o que havia de funesto no passado,mas, apesar do milagre económico e da febre de reconstrução, manifestou-se um mal-estardiante do fiituro do mundo tecnicizado. Incontáveis coramos encontros nas academias evangélicas sobre tão relevante tema; ele apa-

recia nasElas de domingo dos políticos, era amplamente discutido nas revistas.No movimento "Luta contra a morte atómica", ele encontrou

fecmoZaKizz."

A discrepânciaque Benzesublinha entre o homem e o mundo técnico criado por ele pode ser interpretada de outra forma. Nos anos de 1950, uma crítica à tecnologia tomou a palavra, exigindo, diferentemente de Bense,não que o homem se adaptasseà tecnologia, masque esta se adaptasseao homem. Fazemparte dessescríticos Friedrich Georg Jünger,

comseu\Nto A pe$eiçãoda tecnologia\Die Pe7$ktionder Tecknik,\ 9'53À , Martin Heidegger, com sua famosa palestra .4 gz/ef/úo2a /ec/zo&K/a[Z)/r

/ zzgr/zzcó2er Zecêzz/ê], também de 1953, e principalmente Günther Anders, em 1956, com o primeiro volume de O co/zierz,.z2o /smoZo amem

uma expressãopolítica direta. Os já citados livros de Jünger,Heidegger e Günther Anders corampublicados a esserespeito.Em 1953, saiu a edição alemã do .dzZm/x#z,e/m

Zo

oz,o, de .Aldous Huxley,' transfor-

mando-se num óeir-ieZbr. O romance propicia uma visão de horror de

um mundo no qual os homens já sãoprogramadosna proveta para um destino e uma profissão: um mundo cujo destino é não ter mais destino algum, e que seenchanum sistema totalitário

totalmente sempolítica,

apenas através da tecnologia. Usando a linguagem de uma sociologia séria e da filosofia da cultura, o livro O /errei o azza g arfa /'amem, de Alfred

Weber, provoca no mesmo ano grande sensação,porque pinta o quadro

adie Antiqwiertbeit desMenscbenÀ.

Tais críticos das novas tecnologias foram frequentemente denominados de forma pejorativa como "românticos" por seusadversários. Em vez de pâr uma demonização da tecnologia em prática, devia-se como foi dito num artigo da revistaZ)erMon.z/44-- olhar com maior 44

\en çã', puxa '." tecnologia ch de«onização.

hoje,num plano espiritucll mais alto e de maneira sublimada. a Loucura

Z)erAZa/zaf6oifundada em 1948 por Melvin Lasky. Publicada em Berlim, tinha um caráter

anticomunista e tinha ajuda financeira do governo americano. Entre outros, escreviam nela Thomas Mann, Heinrich Bóll, Max Frisch, Hannah Arendt e Hermann Kesten.

de horror de uma civilização tecnicizada, povoada por homens-robes. Além disso, ele deu ao leitor a sensaçãode ser o espectadorde um rompimento que criava uma novaera, a terceira na história da humanidade: em primeiro, a do homem de Neanderthal, então a do homem primitivo

dos bandos e tribos, e ânalmente a do homem da alta cultura, gerada na Europa pela tecnologia. Mas em meio a essacivilização altamente equipada e tecnológica, de acordo com .Alfred Weber, o homem estáem vias de regredir espiritual e culturalmente. Aquilo que acontece conosco

344

345

'Y LIVROSEGUNDO e O ROMÂNTICO

CAPÍTULO XVlll

não é menosdo que a gênesesocial de uma mutação.No flm haverá dois tipos de homem: os grandescérebros-- extremamente refinados, mas ameaçadospela melancolia -- e os novos primitivos que se movimentam no mundo artificial como numa selva,desinibidos,sem

relaçãoa issoeu sópossodizer simplesmente:sim! Eu tenho uma ideia a

nada saber e amedrontados.'S Tais cenários provocavam um sentimento

uafeLicidade nestemundo serãouma ilusão. E uma ilusão que um dia se

horrível e reforçavam a vaidadede uma elite intelectual que se distanciava orgulhosamente do chamado "homem da massa".Como é que se deve imaginar que seja essehomem da massae sob quais circunstâncias ele pisa o palco da história pode-se ler nos óeif-irü,zs da teoria daqueles anos, em .4 eóe#áo Z#i masfai, de Ortega y Gasset, e em .4 mz/Zr/zZZa io#í2 /a, de David Riesman.

omperá. E quando eh se romper, isso terá consequênciasterríveis."

espeit' dafeLicidade objetiua e do desesperoobjetivo, e diria queos homens, n quanto aLiuiarmos sua carga e não lhes contarmos to(h a responsabilichde

a capacidadede tomar suaspróprias decisões,também o seu bem-estar.

Gehlen responde que isso era certamente um belo pensamento, mas

que os homens simplesmente não são assim. Querem alívio e buscam alguém que se encarregue de suas responsabilidades. Geralmente são sobrecarregados quando se exige que sejam donos dos seus aros. Gehlen conclui seu pensamento com a observação: "Sx ,4Zorno.. . emZ'aznez/J/nía

Antes de alcançar o grande público em 1967, o mal-estar em relação à cultura contemporânea 6oi discutido pelos intelectuais de ponta. Já os

lue estamosde acordo no que toca hpremissas básicas, tenho ü impressão de

anos de 1950 e os primeiros

com o pouc' que Lberestou depois de sua grande condição catastró$ca."

anos de 1960 haviam elaborado um discurso

sobre futuras catástrofes que a princípio coexistia pacificamente com a

lue esseacordo éperigoso e que o senhor tende a deixar o homem insatisfeito

febre de reconstrução,com o deleite na prosperidade,com o otimismo

O todo é aquilo que é falso; ambos defendem esseponto de vista. O melhor, aârma Gehlen, é que se ajude os homens a conduzirem seus

pelas coisas pequenas e ao alcance da mão. Em bemol lúgubre, a crítica à

\eg$dos,

cultura acompanhava a animada agitação da República Federal Alemã, que

poupando-lhes um esforço de reHexão que lhes levaria então a colidir com o estadocatastrófico do todo.47Não, diz Adorno, em nome da

prosperava. As Cassandras instaladas nos altos picos dos maus prognósti-

cos gritavam seusjulgamentos sombrios umas para as outras por sobre as planícies, onde reinavam a agitação e o "vamos em frente"

Um dessesdiálogos de montanha para montanha ocorreu em 1965 na Südwestfunk4Ó. Foi pouco antesdo início do movimento estudantil. Dois m/z/adoreique representavamo mais elevadoespírito do tempo se encontraram. Um deles no papel de grande inquisidor; o outro, no de fi-

lanrropo O grandeinquisidor 6oiArnold Gehlen;seuadversário, Adorno. " O ienóor .zcõ'z mesma", pergunta

Gehlen,

"gz/e nór 2ez,erümaf

//apor

a todo mundo a carga cia problemática básica, do esforçode re$exão,dos

sendo

eles " resistentes à crítica

e imunes

quanto

a ressalvas" ,

libertação temos de anima-los a fazer tal reflexão, para que percebam o quão ruim é sua situação. Por não ver uma alternativa plausível para o que existe,um delesquer como resultado de uma reflexãoprofunda -- proteger os homens da reflexão; o outro quer exigi-la deles, embora só possa oferecer pouco consolo diante da percepção de que a resistência é inútil. E essepouco é algo quase totalmente romântico, lembranças da infância, sonhos, pressentimentos de felicidade num poema, na música ou na "me/zt#lf/r/z, mo morre/z/o em g r eZaJZ/fz/mZ' ".

erros existenciais de consequências abrangentes pelos qucúspassamosporque

E notável como ambos estão logo de acordo a respeito de que o estado geral da sociedade é na verdade catastrófico. Mas essacatástrofe não causa

tentamos nos Libertar? Gostaria muito de sabe-Lo."Àdotno responde. " Em

alarme. Pode-seviver muito bem com ela. ParaAdorno, issoé uma consequência do duplo estranhamento dos homens: eles perderam a consciência

45.

A contradição entre "desinibidos" e "amedrontados" é intencional. As pessoasestão à

do seu estranhamento. Para Gehlen, a civilização nada mais é do que a

vontade e ao mesmo tempo têm medo porque os outros estão,como elas,livres de todas as amarras-- o que astorna ameaçadora. Esclarecimento 6ornecido pe]o autor. [N.T.]

47.

O "todo", que permaneceobscuro nos pronunciamentos deAdorno e Gehlen, refere-se

46. A Südwesthnk (SWF) foi, entre 1946 e 1998, a emissorados Estados alemãesda

a todos os males do mundo moderno: a explosão das tecnologias, a bomba atómica, a

Renânia-Palatinado e Baden-Württemberg e o sul de Baden-Wtirttemberg. [N.T.]

destruição da natureza, a exploração, etc. Esclarecimento fornecido pelo autor. [N.T.]

346

347

'v LIVRO SEGUN'DO © O ROMÂNTICO CAPÍTULO XVlll

catástrofe em estado de vivência. E ambos, apesar da sua crítica fiindamental,

seinstalaram muito confortavelmente na moz,/mrmzaÉúo que criticavam. Eles seresignaram -- um com a consciência tranquila, o outro não.

A crítica fundamental ainda sedesenrolanos "estúdios noturnos"48. [)ois anos mais tarde e]a chega aos i/r-/ni e i?acó-//zi do movimento de 68.

Richard Lõwenthal -- nos anos de 1920 um líder estudantil comunista

que setransformou em social-democratano exílio edepois num dosmais importantes cientistaspolíticos da República FederalAlemã --, debruçando-se sobre o movimento estudantil, falou em 1970 de uma "reczz22Za romázzrica".Ele compara o ano de 1968 com a "geração cénica",sobre a

qual afirma que teria desenvolvidouma relaçãorealistacom a sociedade industrial, por além da "ieceisáo eif/r//"

e do "cozÚormiímo / cap zz de c A

f/cíz". A geraçãodo ano de 1968 era diferente. Nela, as 'pr(Z/ü/zdaí/za2Zfóei Zú n#elfáo rama/zf/c/z à ioc/e2ade / d i/ri.z/" teriam irrompido

novamente.

Em primeiro lugar, salta à vista com que rapidez um movimento de oposição universitário, que a princípio só se revoltara contra más condições de ensino ("universidade para as massas"),e contra estruturas autoritárias (professores-funcionários

] Ox#ín zr/en z/n/z,rrl/üf]),

avança

numa crítica fundamental e radical à sociedade.Ainda em 1966, uma cuidadosa pesquisa do Instituto para a PesquisaSocial de Frankfurt chegou à conclusão de que os estudantesseriam, no geral, aptos a adaptar-se, avessos à crítica e politicamente desinteressados; na universidade faltaria potencial para renovação. A sociologia, como se percebe,

teve tão pouca capacidade de prever a explosão de 1967 quanto, vinte

anosmais tarde, a queda da República Democrática Alemã e de todo o bloco soviético. A geração que então se rebelava havia crescido durante o milagre económico,isto é, sempenúria ou pobreza;elatinha vivido até então apenas em tempo de paz, apesarda guerra fria, e tinha se acostumado a condições democráticas. De onde veio porém a disposição para a crítica fundamental? Foi realmente, como formulou Lõwenthal, o regressoda tradição romântica de resistênciaà sociedadeindustrial? A crítica de Lõwenthal ao movimento estudantil não foi posterior, masformulada em meio à refrega,e agiu diretamentesobreo movimento, 48

que se defendeu da acusação. Não se queria ser romântico. Isso soava demais como sonho e ilusão. Como mera subjetividade. Acreditavase que se estava associado a uma tendência objetiva. De fato, havia

uma simultaneidade de acontecimentos de Berkeley até Romã, Paria e Berlim.

Os estudantes saíam às ruas em toda parte, articulando

seu

protesto ruidoso e cheio de fantasia. Cada movimento estavadirecionado da sua própria maneira; comum a todos era, porém, a tendência antiautoritária e o repúdio à guerra americanano Vietná. E em todas as sociedades livres e abertas do Ocidente se exigia mais liberdade e abertura; as exigências constitucionais foram comparadas criticamente

à realidade das mesmas. Mas não se ficou restrito ao protesto liberal e pacífico. Questionou-se também as formas de vida da sociedadedo trabalho e consumo capitalistas. Na República Federal.Nemã ainda se ajuntou a hipoteca do passadonazista. O fracassodos pais em desobe decer ao regime nazista gerou desobediência contra eles, embora não houvessemais nenhuma instância ditatorial. Odo Marquard chamou isso de "z/eioóez&é c/'z.gxn/wjia ziCé êai/z2a" por parte da geração de 1968.

Um protesto dentro do sistemasetransformou de maneirasurpreendentemente rápida num repúdio ao sistema como um todo. As alternativas

do bloco soviético no geral não pareciam atraentes. Onde se poderia encontrar uma alternativa para o sistema?Com exceçãoda exótica China e do socialismo caribenho em Cuba, ela ainda não existia; havia apenas essatranscendênciainterna no interior do sistema.As necessidades da sociedade não eram satisfeitas ou o eram de maneira pervertida. Foram valorizadas como corças produtivas que deveriam estar aptas a romper as

relaçõesde produçãodo capitalismo tardio. Herbert Marcusedenominou logicamente essasnecessidadesreprimidas como a nova "ó e i/npw6/anadann". O verdadeiro proletariado não existe mais; portanto, há apenas es-

sasnecessidadesreprimidas que, no indivíduo, representam uma espécie de proletariado

interior. "0.»lmZamr

fo do / z#uiü/ao", escreve Marcuse,

ele mesmoumü dimensão cb$.ndamento da sociedaü' SuDetam-se aqüx teoricamente com essaexpressão os sonhos audaciosos da fllosoRia do eu

de Fichte. Este havia construído o mundo a partir da consciência do eu, agora bastavao desejo. Não se dependia mais do autocontrole; o desejo

Assim denominavam-se os programas de rádio de boa qua]idade dos anos de 1960.[N.T.]

348

deveriareinar. O desejoé uma mola, e só tem a ver com a liberdade 349

''v LIVROSEGUNDO

e 0 ROMAN'TICO

CAPÍTULO XVlll

na medida em que se luta pela liberdade de se deixar controlar pelo seu desejo.Um rousseaunianovulgar estavaem jogo aqui, pois se agia de acordo com a divisa: o homem é por naturezabom, a sociedadeo torna mau. Eliminamos as dienaçóes sociais, para que a bondade verdadeira,

natural, possafinalmente mostrar-se.Não se pode negarque age aqui uma herançaadvinda de uma mistura turva de Fichte e Rousseaue que ela, não importa o quanto foi banalizada,adentrou a ideologia do movimento de 1968.

O protesto tinha também raízes existencialistas. O Existencialismo, como linha de pensamento, estavabem difundido antes de 1968 entre os intelectuais, não só na Alemanha. Ele foi, primeiro de forma apolítica e então politizando-se gradualmente, um exercíciode liberdade ligado a uma rejeição fundamental do que existia e que era tido como algo absurdo, sem

sentido, do qual era preciso se distanciar vestido com uma malha negra de

golaalta e com um inconformismo melancólico.Não eraesseum mundo absurdo,que de um lado produzia riqueza e do outro afiindava na pobreza e miséria? Como agora se podia explicar o absurdo não apenas metafísica, mas também política e economicamente, o protesto perdeu a sua coloração

melancólica de inutilidade e tornou-se político. No existencialismo, as

pessoaspodiam se sentir parte de uma elite não con6ormista.Tal inconformismo podia ser reinterpretado facilmente como um vanguardismo de protesto. A grande maioria era tida como manipulada, emaranhadapela dupla alienação --

o "apz/ro Za az ié/zr/,z 2e neresi/2az2es"49(Heidegger);

a vanguarda,porém, sofria suasdoresfantasmas.Ela sentia o que Ihe estava e não durou muito para que então se ouvisse nas ruas e se lesse nos muros:

:Z)eifrz/'zm ágil/Za gz/edeif ó/ z,acém.f " O que permaneceu existencialista no

movimento 6oi o seuvoluntarismo. Um sujeito que realmente o quer e que assumesua liberdade pode abalar a situação. A indulgência e paciência com a qual se esperava pelo amadurecimento das condições objetivas não eram cabíveis para os agitados que pressentiam que perderiam seu impulso e que cairiam, se se envolvessemcom projetos com prazo dema-

siadamentelongo. A "/o/49amarcóapeZaiínirirz/ifóer" (Rude Dutschke) 49

Isto é: as pessoasestão alienadas, mas nem mesmo o percebem. Não têm consciência das suas ]imitações.

[N.T.]

não é para ser interpretada no sentido de uma prolongada política de reforma, mas como uma rápida conquista de posições nos setores da educação e da comunicação

Não se queria furar tábuas espessasSO, mas

amealhar bastiões burgueses. Entre o outono de 1967 e a primavera

de 1968, pensou-secom toda seriedadenos círculos da Liga de Estudantes Socialistas .Alemães (SDS), em Berlim Ocidental, na instalação de uma república de conselhos. O romantismo

político estava sedento de

ação. Acreditava-se que havia chegado a hora de libertar o sonho que as condições reais supostamente carregavam no ventre. A palavra mágica que deveria servir de parteira, unindo tudo a tudo --

o sofrimento confortável aqui com a miséria geral lá --, era: "diabética

"Diabética"erao métodode autovalorização da ira estudantilsobre os pais autoritários, a falta de reflexão sobre o passado, a tutela das proprietárias de quartos, o transporte púb]ico, o sexo tradicional, as condições de ensino, os planos de ensino, os professores.Essesriscos pr'cisavam apenasser dramatizados e elevadosao ifa/z/sdo terror -- do

terror do consumo até o terror da opinião

e transformavam-senos

sofrimentos estudantis do capitalismo tardio, que aliás se comunicavam

diretamentecom os queimadoscom napalm no Vietnã e com os camponeses famintos na Bolívia. A "dialética" ligava os estudantes rebeldes

com os deserdadose oprimidos em todo o mundo. Ao sofrimento comum juntou-se o inimigo comum. Eram o imperialismo, a lógica do sistema e as "suas máscaras". Havia-se aprendido da teoria crítica que as

aberraçõesdo capital privado e do capital estatal, isto é, o Ocidente e o Oriente, formavam um "zZ/z/coco /exmoZe cegzfeixn"(Adorno). As pessoas

nã' mais se contenE-'m com a "/nr«í«/p.&«/c.z -/«ma/" (Walter Benjamin), essaexpressãoda melancolia da esquerdaem seus nichos. Elas queriam agir no grande palco. Havia a possibilidade de faze-lo, pois o desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação havia nesse ínterim criado novas possibilidades de globalização da agitação.

O mundo ocidental transformou-se nessemomento num polo de contágio para sentimentos de revolta. A isso se juntou a exigência por um 50

são a uma expressão usada por Max Weber. Segundo ele, a política seria a arte de

furar tábuasespessas, pressupondo asse rn paciência Esclarecimento do autor. [N.T.]

350

351

'1 LIVRO SEGUNDO e O ROMÂNTICO CAPÍTULO XVlll

momento histórico. Toda geraçãoquer vivenciar em algum momento o irromper de uma nova época. Os que agitavam o ano de 1968 acreditavam agora ter chegado sua vez. A dinâmica do movimento mudou seusparticipantes. Podiam sentir-se

Vem de Marx a observaçãode que movimentos sociaisteriam neces. cidadede ilusões para poder impor seuslimitados conteúdoss: O movi. mento estudantil colocou, na fantasia, todo mundo diante do tribunal da suacrítica; entendeu-se ma] enquanto sujeito revolucionário e se enrolou por vezesnos trajes do antigo movimento dos trabalhadores.Sem edar

como novos sujeitos

com novas sensibilidades, fantasias, desejos e hábitos --, estavam em nítida oposição ao mundo falso do sistema,

com seus "óowfz2i Zdime/zf/anais".Tudo se encaminhava para uma ruptura. Herbert Marcuse forneceu o lema para isso: a "grande refwi'z' A observação de Lõwenthal, de que as '.pr(:@ dai /xaz/Zfóefzü r@rif'Zo

rom 2 /ica à sac/e2ádeinda/srrióz/"teriam sido revividas, é certamente pertinente nessecontexto. Subculturas florescem como naquela vez por volta de 1900, com os adeptos da reforma de costumes e os adoradores do sol.

Havia novamente enxames de profetas descalçose seusseguidores. Eles

se autodenominavam agora "rebeldesmaconheiros errantes". Partia-se mais uma vez para viagens ao Oriente. A febre da dança estavapor toda

que alguns desorientados fizeram até mesmo uso das armas. O movimento

nao conseguiu muita coisa, se tivermos em vista os resultados imediatos.

houve uma mudança de atmosfera política. O período do governo social-liberal começou com o lema: az/iar mzziÍZemorzuc/a.Onde astransformações eram realmente profundas nas estruturas familiares no estilo das relaçõesa dois, nos hábitos sexuais, nos modos, no estilo de consumo, no hedonismo

, ali mostrava-se que o movimento de 1968

era mais o sintoma de um processo do que sua causa. As ilusões que o acompanhavam e estimulavam eram porém consideráveis.E românticas. No seu âmago expressava-sepois a ideia de um novo princípio da realidade.

parte, e não apenas,como antes, na Turíngia. Os opostos tradicionais entram novamente na ordem do dia: comunidade contra sociedade,o

Também para issoHerbert Marcuse havia fornecido os lemas. O princípio

espiritual contra o domínio do dinheiro, espontaneidadecontra convenção, natureza contra artificialidade, autorrealização contra carreirismo.

tornou-se dispensável exatamente por causa disso. O princípio do prazer,

Durante o Maio de 68 parisiensedizia-se:-H#a/zíaf/ana ,poder/A isso juntou-se a música. Não se entende direito aqueles anos se não se ouve o seu som. No verão de 1968, quando os estudantes berlinenses, como protesto contra a declaração do estado de urgência, decidiram ocupar

os prédios universitários e depois,partindo do auditório, sederramaram em bandos

luminosos

pelos institutos

vizinhos,

soava para eles nesse

de realidade do capitalismo, ensinava ele, levou a uma sociedade afluente e

até então rigidamente colocado em xeque pela exigência do trabalho, está

em vias de modificar-se substancialmente. Os instintos agressivos,em última instância a propensãoà morte, perdem terreno diante do instinto erótico. A natureza interior do homem se transforma. Uma grande era da conciliação se anuncia. Move-se, escreve Marcuse, "a e/zergfaeró//ca zÜ -- uma energia que quer ser libertach: também a natureza espera

dia ensolaradopor todo o ca/mpz/i "StreetFighting Man", dos Rolling

por rez,o/algo".Novalis também poderia ter dito isso. No movimentode 1968 houveverdadeiramente um romantismoda

Stones.A Comuna IS:já sehavia confortavelmente instalado no prédio dos filólogos medievaise colocado caixasde som nasjanelas. Havia

libertação que tudo abrange. Tão mais surpreendente que o movimento

melodias, cançõese ritmos que fundamentavam asatividades daqueles anos e forneciam uma amostra do "aprofundamento

da consciência" que

aspessoasseprometiam atravésda mudança do sistemacomo um todo. 51

Foi a primeira das numerosascomunas em Berlim Ocidental criadascomo oposição social e política à sociedadeestabelecidae provavelmentea mais militante e provocadora delas. [)urou do início de 1967 ao fim de 1969, mas outras perduraram por décadas. [N.E.]

-- esquecendoa aliança com a cultura pop -- tinha uma relação quase

'"'' hostil com a chamadacultura refinada.Ela era tida como '.' superestru-

cura ; queria-se porém estar ligado à "base". Onde se achavaa base?Nos movimentos de libertação do Terceiro Mundo, na empresae no bairro, e

no fundo não sublimado da própria alma. Visto dessa"base",todo o resto 52

Por exemplos proclama-se na Revolução Francesa a libertação do homem; ao invés nisso se se poe em prática o objetivo limitado da organ zaçãoda propriedade burguesa. Esclarecimento do autor. '''r'''"'' '''õ

[N.T]

352

'

353

'" "

1' LIVROSEGUNDO

e 0 ROMÂNTICO

CAPÍTULO XVlll

eratido como soberbo,isto é, como romântico no sentido negativodo termo. É o mesmo paradoxo percebido na disputa de Bõrne com Heine: investia-se romantismo no processo objetivo da libertação, do que resul-

tava um romantismo social, e ao mesmo tempo se falava com desprezodo

romântico, dos rouxinóis da poesia.Os românticos no plano objetivo não querem sê-lo no plano subjetivo. Assim declarou-se em 1968 a "morre 2a #fexafz/za", causada por um utilitarismo

político e moral. No Vietnã,

nova esquerda no fato de ela não conhecer o verdadeiro funcionamento da sociedade, e apenas usufruir dele. É a velha briga: os realistas apontam

para asleis irrevogáveisda produção, para o sentido das instituições e das coisas habituais, denominando os radicais um time sem responsabilidade, de narcisistas e sonhadores. Isto é, românticos.

Essabriga irrompera necessariamente cadavez que o impulso romântico não apenasrompe com o realismo comum, o que é certamente

diziam, criançaseram queimadascom bombasde napalm, portanto a arte erauma mentira. Diante da obrigaçãopelo bem social e político, por exemplo na luta anta-imperialista, não haveria mais tempo nem es-

de se desejar, mas irrompe sem freios na política, o.que náo é bom nem

paço para o belo. Citava-se Lênin, que dissera que diante da música de

Cheguemos ao f\m. O Romantismo é uma época áurea do espírito alemão, com grande irradiação para outras culturas nacionais. Acabou

Beethoven se quer acariciar com ternura a cabeçado homem, de todo homem. Mas o mundo não era assim, e algumas cabeças precisavam

ser cortadas.A arte, especialmentea romântica, era tida como falsa porque seria uma reconciliação precoce. Era preciso se proteger da sua disposição à mansidão; a arte só seria justificável, quando muito, em suasformas agitprop. Na literatura isso vem a serteatro de rua, panfleto,

para o romantismo nem para a política.

enquanto época, maso romântico permaneceu como postura. Este quase

sempreestáem jogo quando um mal-estardiante do real e do usualbusca por saídas,mudançase possibilidades de transcendência.O romântico é fantástico, criativo, metafísico, imaginário, tentador, transbordante, profundo. Não tem obrigação de consenso,não precisaser útil à sociedade, sim, nem mesmo à vida. Pode estar apaixonado pela morte. O romântico buscaa intensidade até o sofrimento e a tragicidade. Com tudo isso, não estáespecialmentequalificado para a política. Quando a adentra, isso deveria estar ligado ao acréscimo de uma forte dose de rea-

reportagem. Muitos escritores concordaram que tinham a obrigação de se automarginalizar. Sua consciência social e política o exigia. Além disso, a alguns não ocorria outra coisa. Tratava-se novamente do antigo problema da arte com a teodiceia: podem as musas cantar quando o mundo estáindo mal? Elas não podem, declaraa geraçãode 1968, a não ser que entoem hinos de luta contra a exploração e a repressão. Mais uma vez,como outrora na Rússiapós-revolucionária,houve uma

política sensata,por sua vez, ama o compromisso. Precisamosde ambos:

inimizade com a arte, e 6nalmente sua destruiçãopor uma pretensa

da aventura do Romantismo e da sobriedadede uma política tenaz.

solidariedade com os condenados desta terra. Tudo isso se repetiu em

Se não compreendemos a razão da política e as paixões do Romantismo

1968 -- a propósito, mais como comédia. A crítica de esquerdaao escapismo do Romantismo tampouco foi coerente, pois na música pop as pessoascelebravam suas saturnálias dionisíacos. A geraçãode 1968 lia Kart Marx e falava sem parar das forças e das condições de produção, mas na verdade estavam mais próximos do /nzZ/i/

lismo. Pois a política deveria estarfundamentada no princípio da redução de dores, sofrimento e crueldade. O romântico ama os extremos; uma

como duas esferas e se não sabemos separa-las, se em vez disso desejamos

uma unidade sem rupturas

sem saber como viver em pelo menos dois mundos --, então há o perigo de que busquemosuma aventurana política que acharíamosmelhor na cultura, ou que, ao contrário, exijamos da cultura a mesmautilidade social que da política. Nem uma política

-- naturalmente sem possuir seu charme. Schelsky,que havia elogiado o

aventureira nem uma cultura politicamente

entusiasmopara o trabalho da "geraçãocénica",publicou em 1975 uma

Foi Friedrich Schlegel quem apontou para a necessidade de se dividir as

polêmica intitulada

Oi ozzfrof é gz/e/agem a fraóaZBo. Zz/ríz 2r cZajfeJ e

Zomz'n/a iacerzZoía/ Zos /m/eZecfw,z/s. Schelsky via o segredo operacional da 354

correta são porém desejáveis.

esferasquando declarou que se deveria começar com a independência do belo e conserva-la separadado que é verdadeiro e moral. Assim foi que se 355

r LIVRO SEGUN'DO e 0 ROMÂN'TICO

OBRAS CITADAS E REFERÊNCIAS

deu aquela grandiosa libertação do romântico na época do Romantismo.

A tensão entre o romântico e o político faz parte da tensãoviva entre o que se pode imaginar e o que se consegueverdadeiramenterealizar. A tentativa de transpor essatensão para uma unidade sem contradições pode levar ao empobrecimento ou à devastaçãoda vida. Esta empobrece

quando não ousamosimaginar nada que vá além daquilo que acreditamos poder vivenciar. E é devastadaquando se quer a todo custo -- até mesmo à custa da destruição e da autodestruição -- viver algo só porque Eoi imaginado.

Numa situação, a vida se empobrece porque

se desiste do

Prólogo

Thomas Mann: Eiiayí 5. Org. Hermann Kurzke e Stephan Stachorski. Frankfurt s/ Meno, 1993, p. 279.

imaginável por amor à paz; na outra, esfacela-sesob a violência com a

Novalis: W?rée, \zo].]]. Org. Hans-JoachimMáh]. Munique, ]978, p. 334.

qual o imaginável deve ser realizado sem ressalvas.Em ambos os casos

Joseph von EichendorfE SróZ # ei/z Z,ied //z ,zXfn Z)/ngen. Wêr#f. Org. Wolfdietrich

não sesuporta a tensão entre o imaginável e o que pode servivido; deseja-

Rasch.Munique 1977, p. 103.

se uma vida perfeita. Uma vida assim,porém, é certamente apenasum sonho romântico.

Capítulo l

O romântico Eazparte de uma cultura viva; a política romântica é contudo perigosa.Parao Romantismo, que é a continuação da religião com meios estéticos, vale o mesmo que para a religião: ele tem de vencer

Hermann August KorK Ge/rf der GaerÉeze/r,Vo1. 1. 1966. Darmstadt, 1988.

a tentação de se lançar ao poder político.

Friedrich Wilhelm Kantzenbach: 1970, P. 37, 24.

Ea zai/a

o poder.r--

essa não

6oi mesmo uma ideia tão boa.

Friedrich

Nietzsche.

Sãm///cóf Wêr&e. .K}///sr,çe Sf 2/e

zisKnóe,Vol. lll.

Org. Gior-

gio Colli e Mazzino Montinari. Munique/Berlim/Nova York, 1980, p. 530.

Jo z

Gafe#/eZ /Zrrder. Reinbek (Hamburgo),

Por outro lado, não devemosperder o Romantismo, pois o juízo político e o sentimento de realidadesão muito pouco para se viver.

Johann Gottfried

O Romantismo é a mais valia, o excedente de um belo estranhamento

Johann Wo[fgang Goethe: ]14z! fóner.4zlsgaóe,Vo1. 1 6. Org. Peter Sprenge]. Muni-

em relação ao mundo; a riqueza de significados. Desperta a curiosidade

pelo que é completamente distinto. Sua imaginação desatadanos dá os espaçosdos quais necessitamos, se percebermos, com Rilke, que ' Nós não estamos realmente em casa

rlo mundo interpretado:'

Herdar: Jo r a/ mei/zer Reine imlaÃr

/7á9.

Wêrêe, Vol. l. Org.

Wolfgang Prole. München 1984, p. 360 efieg., 359, 364 fr íeg., 370, 375. que, 1985, p. 433, 436 erseg., 554. Johann Wolfgang Goethe: .A/ünróner .4z/Skate,Vo1. 1.2. Org. Gerhard Sauder.

Munique, 1987, p. 135. Karl August Bõttiger: Z,/ferrar/;córZz/s/ã Zr z/ Z ZrírKr oiie . BrgrK zlnge z/ Z GesPnüróe /m ÉZasi/ífÃf \Me/mar.Org. Klaus Gerlach e RenéSternke.Berlim, 1998,P. 75. Johann Gottfried Herder: Sfór Pfn zzzPÓ//afapÁie,Zlferafz/CM# if wn#.4#frfwm /784-/787. WÊ'rée, Vol. IV Org. Jürgen Brummack e Martin Bollacher.Frankfurt s/ Mero, 1994, p. 345. .f7erder Z,c,ieó ró. Org. Siegfried

Hartmut Sunnus. Frankfurt s/ Mente/Leipzig:

1994, P. 184, 235, 268 efjfg. Johann WolFgang Goethe: .A4ünc»nfr.4asgaóe,Vo1. 17. Org. Gonthier-Louis Fink,

Gerhart Baumann e JohannesJohn. Munique, 1991, p. 81 5.

356

357

r O ROMANTISMO

OBRAS CITADASE REFERÊNCIAS

CaPÍtuLoll Johan Huizinga:

]loma /Kdrmi. Uom (#przzng Zer .KÜ/fKr im Sp/f/. Reinbek (Ham-

FriedrichHõlderlin: .fl5per/on.Sãm/#cóe\Werée z//zZBri(á?,Vol. l. Org. Michael Knaupp. Munique, 1992, p. 754 erseg.

burgo), 1981. Reger Caillois: Z)/e Sele/e z/ Z dfe .Adrmlfófn. J4aiêr z/n.ZRaz/irÁ. Frankfiirt s/ Mono,

CaPÍtuLo lll

Berlim, Viena, 1982.

\l.ent\ B unsdiwlgl. Geselkcba$undRomantik in Preufen im 18.Jabrbün&rt. VíankDie Franzõsiscbe Reuolution. Die Augen2;eugenbericbte u7id DarsteLLungen deutscber

Sc&r@f/f/&r z/n# .füs/or/Éfr. Org. Horst Günther. Frankfurt s/ Meno, 1985. Heinrich

August

Winkler:

Z)e'r &zagf WK

aró Wêr/ea. Z)f'zzzsc&f (;ksrÓ/rÓ/e z/om .Ebdr

desAtten Reicbes bis zum Untergangder

Weimarer RepubLik. Mun\que,

Hans Ulrich Wehler: Z)í'zízic&e Gele/hcóa/2sKfifóirÃ/e /700-/8/5.

furt s/ Mente,Berlim,Viena,1975. Josef Nadler: Z)/f Ber/í/zfr Ramz r/Ê .r800-/8/4. Berlim, 1921. Ricarda Huch: Z)/f Rom

Munique, 1987.

Peter Merseburger: .A47/óoi Wê/maz. Zzc/iirAe Geiff z/nZ .A4arAf. Munique, Norbert Oellers/Robert

ThomasEq\ppetdey. Deutscbe Gescbicbte 1800-1866.

f/,ê..,4ai&reifwnX.B/üfezeíf z//zZWe(#a/7. Tubinga, 1979.

20QÇ).

BürgerweLt und starker Staat.

Munique, 1998. Rüdtgel SaEtatxks\:Scbiller odor die Er$ndungcies deutscbettIdealismos.Mun\que, /[ it )4

2000.

Steegers: 7}l(®)z/mÉf \WP/mzz Z/ffxurz/r zz Z Zfófn zz/r Zrif

Goetbes. SMügclrt 1999

Z)zziêZcuífiróeWê/m,ZK72xff z/ ZZezzg lide. Org. Heinrich Pleticha. Munique, 1983.

Wãlter H. Bruford: Dif gele/hróa!#/írófnGrz//zzi/bgrn drr Gpr/reze/f.Frankfurt s/ Mente, Berlim, Viena, 1975.

Georg Wilhelm Friedrich Hegel: Wor/riz/ngí'zz üóer z#f PÉ//OJopAje 2rr GTJr jró/f. l.eo BÁet l t..Geíhat&'. Die VerbilrgerLicbung&r ckutscben Kan.st,Literal

Frankfurt s/ Meno, 1970,p. 529. Friedrích Schlegel:XHüiróe Sfól!#en. Org. WolEdietrich Rasch.Munique, 1970, p. 498.

Friedrich Gotrlieb Klopstock: Z)/í' .Einzi(2néxnz/x.HzísKf 2ó/re Wêréf, Vol. l. Org.

Karl August Schleiden.Munique, 1981, p. 140.

fio/ze . Munique, Friedrich

K\aus Günze\= Das Leben desDicbters Ludwig Tieck in Briefen, Selbstzeugnisseund

Berlrófe/z.Berlim, 1981,p. 112. Richard

Brinkmann:

Literatur

Frühromantik

und Franzõsische

Revolution.

In: Z),zzzsrAr

ndFranzõsiscbe ReuoLution. Sieben Studien. Gb\üngen,

\974, p. \ 73.

Johann Wo16gangGoethe: .A4ãncó frHzngaóf, Vo1. 12. Org. Hans J. Becker, Ger-

hard H. Müller, John Neubauer e Peter Schmidt. Munique, 1989, p. 308.

r undMusik im

/8. JaAró drrf. Org. Gerd Mattenklott. Frankfiirt s/ Meno, Berlim, Viena, 1972 Theo&ote ZXaNknws\â: DasAmt der Poeten.Die deatscbeRomantik andibre Institu1994.

Schlegel: Z r/ 2e. Z)íc#fzlnge

z/nz/ .4uÓ.ãzzf. Org. Wolfdietrich

Rasch.

Musique, 1984,p. 35. Friedrich Schlegel:Kr/f/icóe STAre#e/z. Org. Wolfdietrich Rasch.Munique, 1970, P. 23, 161, 38, 155, 161, 498, 127, 505, 502, 503, 97, 538 erjeg., 11, 5, 11, 47. LudwigTieck: Wmée,Vol. l. Org. Marianne Thalmann. Munique, 1963, p. 124 efieg. Novalis: \m?rée,Vol. ll. Org. Hans-Joachim Mãhl. Munique, 1978, p. 334. Carl Grosse:Z)er Gfnizfi. Frankfiirt s/ Meno, 1982, p. 6.

Johann Wolfgang Goethe: .A#amcóner.4#«zzóe, Vo1.9. Org. Christoph Siegrist, Hans J. Becker, Dororhea Hõlscher-Lohmeyer, Norbert Miller, Gerhard H. Müller eJohn Neubauer. Munique, 1987, p. 137.

Johann Gottfried Herder: Sãmf/íróe Wêrêf. /877; Vo1. 5, p. 588

Johann Wo16gangGoethe: .A4ãncó/zer.4zlíKaóe, Vo1. 5. Org. Hans-Jürgen Schings. Munique, 1988, p. 408.

FriedrichWilhelm Josephvon Schelling:.4KSKrzu2ó/fe Srór Pe , Vol. 1. Frankfurt s/ Meno, 1985,p. 47, 57.

Nicholas Boyle: Goeróf. Z)er Z)irAfer iei er Zr/f. Vo1. 11: 1791--1803. Tradução

Georg Wilhelm Friedrich Hegel: PÉ2nomenoZa@f üs Geifles.Hamburgo, 1952, p. 39

Holger FJiessbach.Munique, 1999,p. 249, 249 ef ífg. Novalis: Wi'r&e.Org. Richard Samuel, Hans-Joachim Mãhl e Hans Jürgen Balmes. Munique, 1978-87, Vol./p. 11/412, 1/557.

Friedrich Schiller: Sãmf//róf lmerée,Vol. V Org. Wolfgang Riedel. Munique, 2004,

P. 580, 575, 573, 618, 572, 582, 584, 586.

358

JohannGottfried Herder: Wi'rÉf,\zol. l. Org. WolÉgangPross.Munique, 1984, p. 636

Wilhelm Heinrich Wackenroder:WêrÉrzzndBr/l=#r.Org. GerdaHeinrich. Munique, 1984, p. 304. Friedrich Schiller: S2mf#cóe\mprée,Vol. V Org. Wo16gangRiedel. Munique, 2004, P 618

Ernsr Behler: Fr/f2ricó Sró/rX?/.Reinbek (Hamburgo), 1966, p. 57.

359

O ROMANTISMO

OBRAS CITADAS E REFERÊNCIAS

(.:apítuLoIV

Friedrich Schiller: S2mf#rAeW?rée,Vol. VI Org. Wo16gangRiedel. Munique, 2004

Ram.z/zf/ícÃeU/Opõe stop/fr&e Rom.znfiÉ.Org. Gisela Dischner e Richard Faber.

Hildesheim, 1979. Ràchatd van l)ámen:

PoesiadesLebens. Eine Knlmrgescbichte der cteutschenRomantik.

P. 780. Jean Paul: S mf/ffAe WêrÉe.Org. Norbert Miller. Munique, 1959, Vol./p. 1.2/274 1.5/31.

Colónia, teimar, Viena, 2002.

Egon Friedell:.Kü#wgfícóicóffZerAres/zfif,Vo1.2. Munique, 1976, p. 908.

Capítulo V

Nicholas Boyle: Gaerór. Z)er Z)icó/fr Jej/zerZeif. Vo1. 11: 1791-1803. Tradução Holger Fliessbach. Munique, 1999, p. 260.

Wolfgang Rath: Zz/dmzgZlef#. Z)ai z'ergfiie r Ge ie. Paderborn, 1996.

Johann Wolfgang Goethe: .A4ãmróer 4 sgaóe,Vo1. 17. Org. Gonthier-Louis Fink, Gerhart Baumann e JohannesJohn. Munique, ] 991, p. 827.

Amo Schmidt: Z)ai eiiay/s//iróeWêrêzzfr 2ez/zicóf Zifexn/zfr,4 Vols. Zurique, 1988.

Wilhelm

G. Jacobs: Joó.zmn Gaff/leó .f?rale. Hamburgo,

1984, p. 34.

Rogar Paulin. Zz/dmzk 77erÉ. Z?f e /f/ernr/sfóf BioK71apó/f. Munique,

1988.

LudwigTieck: \merÉe, Vol. l. Org. MarianneThalmann.Munique, 1963,p. 354, 690, 369, 702, 811 erleg.

Immanuel Kant: Krí/iÉ der rf/ e/zUer/zz//?#. Org. Wilhelm Weischedel. Frankfurt s/ Mente, 1964, p. 134.

'KXausGün\ze\ : Das Leben des l)icbters Ludwig Tieck in Briefett, SeLbstzeugnissen und

Novalis: Wi'rée. Org. Richard Samuel, Hans-Joachim Mãhl e Hans Jürgen Balmes. Munique 1978-87, Vol./p. 1/469, 11/18, 11/181, 11/177, 11/232, 11/236, 11/106,

Bettine von Arnim: \WerÉe, Vol. 1. Frankfurt s/ Mente, 1986, p. 281.

11/235.

Theodore Ziolkowski: Z)ai Wa/z2eOaAr/n /eaa. Ge/sf z/ d GeieZhrAze#. Stuttgarc,

Ber/cófe/z. Berlim 1981, p. 147.

Wilhelm Heinrich Wackenroder: WÉ'réfzzzzZBr/í:#?. Org. GeadaHeinrich. Munique, 1984, P. 332,247, 254, 256. LudwigTieck: \merée,Vol. IV Org. Marianne Thalmann. Munique, 1966, p. 375.

1998, P. 63. Johann Wolfgang Goethe: .A#zlmrA/zí'r.4z/egnÓe, Vo1. 18. 1. Org. Gisela Henckmann

Ludwig Tieck, Phantasus.Sróre#en,Vo1.6. Org. Manfred Frank í'f .z/. Frankfurt s/ Mente, 1985, p. 18, 27, 182 efieg., 9.

e Dorothea Hõlscher-Lohmeyer.Munique, 1997, p. 175.

Jean-Jacques Rousseau: Z)ié'Bebe/zf/zfsie. Munique,1978,p. 9.

Josephvon Eichendorff..IEêrÉí'.Org. Wo16dierrichRasch.Munique, 1977, p. l l.

Johann WolFgangGoethe: Ã/ünróner .4zlsgdóe, Vo1. 1.2. Org. Gerhard Sauder.

Friedrich Schlegel: Xríüsróe Sróre#rm. Org. WolHdietrich Rasch. Munique, 1970, p. 79.

München 1987, p. 203. Capitulo VI

FriedrichHõlderlin: 5Zmr&róeWêréezr/zdB7'/{#r.Org. Günter Mieth, Munique,

1970,Vbl. 1,P. 917.

Florian Roder: Novalis. Z)/e Uerm/z27 ng Zri .A4rmíc#e/z. Zeóe zz/zdWêréFr/e#r/fA

Madame de Staêl: De I'Allemagne, 2. Parte 1. Kapitel. Paras1813, 1868, p. 160

Friedrich Hõlderlin: Sãmr/fcZre W2rée d Br/í=á?. Vol. ll, Org. Michael Knaupp. Munique, 1992, p. 668.

z/o/z.fía7zdrnófrgi. Stuttgart, 2000.

Gerhard Schulz: Noz,,z#f.Reinbek (Hamburgo), 1969.

Max Preitz: Friedr/c# SfóZqgr/z/ #JVoz,z/fí. Darmstadt, 1957, p. 43.

Novalis: Z)oêamrn/e iei esZeóe zi Z Sferóeni. Org. Hermann Hesse e Karl lsenberg. Frankfurt s/ Mente, 1976.

Ludwig Tieck: Sró #f , Vo1. 6. Org. Manfred Frank ef .z/. Frankfurt s/ Mente,

Henrik

1985,P. 1206. SrófZ#ng. Org. Michaela Boenke. Munique, 1995, p. 103. ,4r#enzzezlm.Org. August Willhelm Schlegel e Friedrich Schlegel. Vo1. 1, 2' parte.

Berlim,1798,p. 209. Dieter

Arendt(Herausgeber)

Steffens: IWaí irA frZeó/f. Munique,

1956.

Novalis: W2'rÉe. Org. Richard Samuel, Hans-Joachim Mãhl e Hans Jürgen Balmes.

: ]Vló//l;mzri.

Z)/f .4/{/2ngP.

Uo faraó/

ó/r ]\çezzjrÓe.

Munique 1978 87, Vol./p. 1/452 efseg., 1/294, 1/156, 1/153, 1/155, 1/463, 1/150, 1/153, 1/157 ef frg., 1/158, 1/162, 11/239,11/232, 11/372 efleg., 11/741, 11/749,11/257,11/741,111/205. Schelling. .4wsgf ãó/f z/#z/z'orgfiff#f z,o Ã47r&afZú Bae Éf. Munique, 1995, p. l lO.

Colónia, 1970, p. 33.

360

361

r O ROMANTISMO

OBRAS CITADAS E REFERÊNCIAS

GeorgWilhelm FriedrichHegel: WÉ'rée. Frankfurt s/ pleno, 1986,Vol./p. 1/234:

Capítulo Vll

1/236, IV/3 1 1.

Kurt Nowak: STA/e/frm.zróer.Gõttingen, 2001. Karl

Barth:

Z)/e pro/c'ira

/!iróf

ZbeaZl7gjf /m /9. ]aóróz/mZrrf.

Zurique,

1981.

Friedrich Wilhelm Kantzenbach: SróZeirrm,zfóer.Reinbek (Hamburgo), 1967. Paul Tillich:

Uor/eiz/ngr zlófr 2ie Ceira/raro 2es cAr/s///róen Df Éezzí.Parte ll.

Stuttgart, 1972.

1984, Vbl. 1, P. 917. Manfred Frank: Der #ammrn2e Goa. Frankfurt s/ Mono, 1982, p. 199. Friedrich Schlegel: Kríll;róf Sróre#rn. Org. Wolfdierrich Rasch. Munique, 1970

Friedrich Schlegel:Kr//ficar Sfórz@r/z. Org. Wolfdietrich Rasch.Munique, 1970,

P.94, 97, 96, 94.

n bo2 Alfred Baeumler: Dai n7ró/írAf Wê/fa//fr. Munique, 1965.

Novalis: WÉ'rée.Org. Richard Samuel, Hans-Joachim Mãhl e Hans Jürgen Balmes. Munique,

FriedrichHólderlin: S2mf//róe\U?rêf d Bri #r. Org. Günter Mieth. Munique

Herbert Uerlings (Org.): ZBeafíf Zer Ramz riÉ. Stuttgart, 2000, p. 171.

1978-87, Vol./p. 111/256, 111/257, 1/679, 11/775.

WHter Jaeschke: Z)er S#eir m 21r Gr

Richard van [)ülmen: 2ofslf ZrsZeóenf. Co]ânia, 2002, p. 299.

Hamburgo, 1999, p. 403 ef ieg.

Günter de Bruyn: .4Zí2neriegw/. Frankfurt s/ Meno, 2006, p. 173, 175.

Rudolf Haym: Z)/e ram.züscóf Sc&wZr. Darmstadt, 1977,p. 413. Friedrich Schleiermacher: (1%er2zeReZllgio#.Berlim, s/d, p. 62, 54, 27, 114, 1 13,

ZZaKe 2er.4sf#eríÉ. Texto Humboldt

ef .z/.

Friedrich Hõlderlin: 5Zmr#cóe\Weréezz/zz/ Br/e$r.Org. Michael Knaupp. Munique, 1992/93, VÓI./P. 1/374, 1/190, 11/921, 1/308, 11/715, 11/650, 1/654, 1/308

1/674,1/279,11/667,1/311.

54, 181, 179, 105, 103 ffjeg., 66, 110. Capitulo IX Z)ewiTTA/a/zZz//zfer Aãzpa/ea/zfn Hagf ze'ugf/zórr/core/z. Org. Eckart KleBmann. Munique, 1976 CaPÍtuLoVlll

Friedrich Meinecke: \rê/róürgfrf m zl dJ\Czf/o/zaA/.z/zf. Munique, Berlim, 1908. D\e\et \].e\nt\ch: SeLbstuerstàndnisse. Gedanken undAuslegungen zu den Grundlagen ier kLassiscben deutscbenPbilosopbie. Swxttgalt, \')8 2.

D\etel 'L:le\ntich-.KonsteLEationen. Problemaund DebaHenam Ursprungder ideaListi-

;cbenPbiLosopbie (1789-1795).S\utqal\, \99 \. ÊxaXuüon des Gela\es: lera um 1800. Natur undKünst, Pbilosopbie und Wissenscba$

/m SP'zm/zz/ag:#rZZ der Cerra/fó/e. Org. Friedrich Strack. Stuttgart, 1994. M)tboLo$e der Vernunft. Hegels"àltestesS)stemprogvammdesdeutschenIdealismuf Org. Chrisroph Jamme und Helmut Schneider. Frankhrt s/ Meno, 1984. Hans-Oiro Rebstock: .f?2grÃ.4ze#híz/agzÜf.A/7igaJ/ ifi r Früósrór!#e/z. Freiburg, Munique, 1971. Charles Taylor: J7rKf/. Frankfurt s/ Mente, 1978.

Moritz Kronenberg:Geicó/róffc2hZ)ez/ZXTÓe ]2r #imwi.Vais. le 2. Munique, 1909. Richard Kroner:

Uon .K2znfó/s .f:reze/.Vais. l e 2. Tubinga, 1961.

Aermann'T\mm\ Die beilige Reuolution. Scbleiermacber--NouaLis--Friedrich Scbkget. Frankfurt s/ Mono, 1978.

Friedrich Schleiermacher: ,aer z&eRe/Üion. Berlim, s/d, p. 57 ef ieg.

362

Z)ie B(#'e/z/ngiêrlrKe f/z '4zzgenzezlge/zóer/rófen. Org. Eckart Kleígmann. Munique,

1973 Adam Müller: STAR Pe/zzwr Sin.z/spó//oíopóif.Org. Rudolf Kohler. Munique, s/d. Joachim Maass: K7eiíf. Z)ie GfrrZrirAfe sei ei Zeóení. Munique, Zurique, 1980. Pau[ K[uckhohn: Z)ai ]2eengzzf2er Z)fwíKr#e Xamã f/É. Tubinga, 1961 V.at\ \l.e\nz Bohtet'. Der romantiscbe Bri($ Die Entsteb ngãstbetiscber Sujektiuitãt. Munique, 1987.

Friedrich Schlegel:Krif/sfóe Srór Pe . Org. Wo16dietrichRaschMunique, 1970, P. 101.

Novalis: W2'rÉe, Vol. ll. Org. Hans-Joachim Mãhl. Munique, 1978, p. 294, 738,

743,748,749,309. Immanuel Kant: Krifíê der fi ze/zUer zl/!P. Org. Wilhelm Weischedel. Frankfurt s/ Mente, 1964, p. 224. Wilhelm Dilthey: Z)ai Er/fó ff z/ d z#r Z)/r#rwng. Gõttingen, 1965, p. 202.

Friedrich Schiller:S#mf/írÃeWêrée,Vol. l. Org. Albert Meter. Munique, 2004, p.

474,475,478. JohannGottlieb Fichte: WÊ'rÉe. Org. Immanuel Hermann. Berlim, 1971, p. 17 rfieg

363

r OROMANTISMO

OBRAS CITADAS E REFERÊNCIAS

.Ufred Baeumler: Z)ai myfófrróf Wê/ra/er. Musique, 1965, p. 120.

Friedrich Schiller: S2mf/frAf Wêrée,Vol. ll. Org. Peter-André Alt. Munique, 2004,

Herbert Uerlings (Org.): ZBrorie #rRom.znfíÉ.Stuttgart 2000, p. 342, 185, 433, 167. Paul K[uckhohn: Z)m ]2rengzzfderde zscóe Ramz/zf/É.Tubinga, 1961, p. 103, 1 14,

l

253

Achamvon Arnim. \m?rée, Vo1.4. Org. RenateMoering. Frankfurt s/ Meno, 1992, P. 107.

Josephvon EichendorH IWerêe. Org. Wolfgang Wolfgang Frühwald, Brigitte Schillbach e Hartwig Schultz. Frankhrt s/ Mente, 1985-93, Vol. V. P. 430, 43 1 í'f Jeg., 435 ef Jeg.

von Arnim e Clemens Brentano. Munique, 1957, p. 885 efleg.

Z)er ZanKr Wg

Hartwig Schultz. Frankfurt s/ Mente, 1985-93, Vol./p. 11/229, 1/322 ef ieg.

Wilhelm Heinrich Wackenroder: IWerÉfz//zz/ Brie#r.Org. Gerda Heinrich. Munique, 1984, p. 304.

Rüdiger Sdranski: Sfóope A zzer.Musique, 1987, p. 223. Winkler:

FriedrichHõlderlin: 5Zmf//róeW?réez//zZBrieár,Vol. l. Org. Michael Knaupp. Josephvon Eichendorff: \W?rée.Org. Wolfgang Frilhwald, Brigitte Schillbach e

Des Knaben Wunderhorn. .4//e Z)ew/irÓfZ/e2er.Compilado por Ludwig Acham

August

Z)/e Aêzrófmúróen 2es.jazz/zz,en/z/rn.Org. Wo16gang Paulsen. Stuttgart, 1964, p. 122.

Munique, 1992, p. 230.

Richardvan Dülmen: Pari/e2rf Zeóeni.Colónia, 2002, p. 210, 215.

Heinrich

P

zró WJ/en. Z)ez/ÍJTÓf GefrAjcó/e. yol.

l.

Munique, 2002, p. 164 Friedrich Schulze: Franzosenzeit in deutschen Landen. Leipzig 1908, Bd. 1, P. lO

Heinrich von Kleist: WÊ'rÉe. Org. Helmut Sembdner.Munique, 1993, Vol./p. 1/26, 1/27,11/379.

'

Friedrich Nietzsche: S#m///róe Wer,êe, Xr/f/scóeSf d/f/za sgaóe,Vol. l. Org Giorgio Colli und Mazzino Montinari. Munique/Berlim/Nova York, 1980, P. 354 ef jeg

Capítulo XI Oskar Walzel: Dez/nróe Rom z/zfi#. Berlim. 1 926. \l.ans M.a#et'. Das ungl ickLicbe Bewuftsein.

ZfsiZng ói; /ír/

Zar deutscben Literaturgescbicbte uott

e. Frankfurt s/ Mente, 1986.

Mikhail Bakhtin:Zifrxa/ r amz/.R:zrnez,/z/. Zar RomzziÉeor/ez/nZZ,.zcóÉz//fz/r. Frankfurt s/ Mente, Berlim, hiena, 1985. Z)er .A4e/ficaZer Rama/zliÉ. Org. Francois Furei. Essen, 2004. Gelhal& Sch\s\z: Die deutscbe Literata r zwiscben Franzõsischer Reuotution und Res-

fdz/ra//ozz.Parte l e 2. Munique, 1983.

Capítulo X

L.olhar V\ku\\k: Romantik aLsUngenÍlgenan der Normalitãt. Am BeispielTiecks, /lCc:#h.z/zní,E2fóe/zdatl#;.Frankfurt s/ Meno, 1979.

E.T.A. Hoffmann. WZ'rée. Frankfiirt s/ Meno, 1967,Vol./p. 111/271,111/92,IV/383,

Lothar Pikulik.' FrüAram.zzzf/é. E2arÓe --Wêrée -- \y7rÉzznK.Munique,

1/145, 1/201, 1/442, 111/114,111/56,111/124,111/92,111/54.

2000.

e\el Gal'. l)ie Macbt desHerzens.l)as 19. Jabrbundert und die Erforscbungdes

/ró.Munique, 1997.

FXbet\ Bêg«xn'. Traumwelt undRomantik.

LudwigTieck: WÉ'rÉe, Vol. l. Org. Marianne Thalmann. Munique, 1963, p. 565, 467.

'

'

Versuchüber die romantiscbe SeeLe in Deutscb-

Landund in derDicbtungFrünkreichs. Betna., \ 91'L.

Josephvon Eichendorff: \U?rÉe. Org. Wo16gang Frühwald,Brigitte Schillbache Hartwig Schultz.Frankfurt s/ Mente, 1985-93, Vol./p. 1/226, 111/353,1/224, 1/225, 1/361, 1/120 í'fleg., 1/346, 1/173, 111/131,111/131 efseg.,1/329, 111/110,

11/469,11/496,11/561.

Novalis: WI'rée,Vol. ll. Org. Hans-JoachimMãhl. Munique, 1978, p. 741, 263, 334.

Hermann Korte: Joíepó z,o/zE7róf/zdoJ3g: Reinbek (Hamburgo), 2000, p. 59.

Ludwig Tieck: IW?rÉe. Org. Marianne Thalmann. Munique, 1963, Vol./p. 1/269, IV/245, 1/390, 1/633. '

Joseph von EichendorfE Werér. Org. Wolfdietrich

Rasch. Musique,

1977, p. 78

et seq.

E.T.A. HofFmann: Wêrée.Frankfurt s/ Mono, ] 967, Vol./P. 11/125 erleg., 11/127, 1/28, 1/34, 1/189 eflrg., 11/540, IV/201. '

Johann Wolfgang Goethe: //a/ienisr f crise. .A4z2mrAner .4z/ÍKdóe, Vo1. 15. Org. AndreasBeyere Norbert Miller. Munique,1992, p. 602.

Clemens Brentano: \rÉ'réf, Vol. ll. Org. Wo16gangFrühwald e Friedhelm Kemp. Munique, 1963, p. 782. '

Arthur Schopenhauer:Z)/eWi'/f,zÃW?/Ze z/ Z WorTrf/7wng. \m?réf,Vo1.2.2. Zurique, 1977,P. 645. Rainer Mana Rilke: Z)z/íneffrE7egíí'/z /l W?rée.Frankfiirt s/ Meno, 1955. Vol. 1,p. 194.

364

365

r O ROMANTISMO OBRAS CITADASE REFERÊNCIAS

Capítulo Xll

F\al\an 'VaB,en ÇOtg,.]\ Die deutscbe Literal

Ludwig August von Rochau: Grwnúáfze drr Re /Po/ír/É.Org. Hans-Ulrich Wehler.

Frankfiirt s/ Mono, Berlim, Viena, 1972.

Karl Gutzkow: W2z//7 -- Z)ifZüfWr Hermann Baumgarten: Dfr dez/iscÃe Z,ióexa/fumas. Org. Adolf M. Birke. Frankfurt s/ Meno, Berlim, hiena, 1974.

t in Text undDarstellung.

Restauratjon.

Uorm2rzz/ Z 48fr Rfz,o/zzf/o/z. Stuttgart, 1975, p. 174. i . Gõttingen, 1965 (reimpressão),p. 114, 302

Ludwig Feuerbach: Grz/nZiázzf drr PÓ/ZoíoPóií'der Zwêzf/!#. Frankfurt s/ Mente

1983(reimpressão), S62.

Ludw\% M.atcuse:Ludwig Bõrne. Aus der Frilbzeit der deutscbenDemokratie. Zurique, 1977.

Ludwig Marcuse:.fír//zrícóJ7ei e. Zurique, 1980, p. 230, 197, 228.

K[aus Brieg[eb: (2i2#?r]7e/ e? Uerizzróe üófr Star #zz2gf 2er Rez,o/u//om. Frankfurt

s/ Mente, 1986. Do[f Srernberger:

Capítulo

/íei zr/ró ]7rí/ze zfnZ díe .4óifóz!#üng 2rr SÜ df. Frankfurt

s/

Mente, 1976.

Heinrich Heine. 4f/óeffró'po/ífiirAr Pro@&.Org. Gerhard Hõhn. Frankfurt s/ Meno, 1991.

Ernst Heilborn. Zwischen zwei Revolutionen. Der Geist der Schinkelzeit 17891848. Berlim, 1927.

Martin

Gregor-Dellin:

Xlll

.R/ró.zx2 Wag/zer. Se/n Zfóen. Seja WêrÉ. Se//zJaÃróa/zdrrf

Munique, 1980.

l)deter Borchmeyer: .Rira.zr#Wagnex..4Aaiz,erima/zd/ungfn.Frankfurt s/ Meno 2002. Wagmer-/Za/z2ózzró. Org. Ulrich Müller e Peter Wapnewski. Stuttgart, 1 986.

Ludwig Marcuse:Z)ar de É zlreZlge Erór drf R/rAar#Wag rr. Zurique, 1973.

WHter Jaeschke:Z)er Surf/f z/mdfe GrzzdZagf derjl f#ef/#. Texto Humboldt rf .z/. Hamburgo, 1999, p. 385, 410.

(Jber Wagner.Von Musikertl, Dicbtern und Liebbabern. Eine Antbologie. Swlt\gata:

Friedrich Schlegel: Z)irÃfwngf/z Z.4uÓãzzf. Org. Wolfdietrich Rasch. Munique,

Theodor W. Adorno: Upriz/róüófr mlgner. Munique, Zurique, 1964.

1984, P. 632.

1995

RichardWagner:,A4rinZ)faÉen.,4z/ímzó/ó /z2.Org. Martin Gregor-Dellin. Muni-

Arsenij Gulyga: .fiírKe/.Frankfurt s/ Mente, 1981, p. 167, 163, 81.

Georg Wilhelm Friedrich Hegel: WêrÉei# zmz z 1986,Vbl./P. XI/556, Xl11/ 289.

B,2mZen. Frankfurt s/ Meno,

M.ax l.enl,: Gescbichte der Kgl. Friedricb-WiLbeLmUniuersitãtzu Bertin. \:La\\e, 1918, P. 220.

que, 1982, p. 96, 132, 116, 1]6, 174, 189, 150, 362. Cosima Wagner: 72gróüfAer.Muniqtie, 1978, Vol./p. 1/1052, 7.4.1873, 11/852. Richard Wagner: Z)fr Rins 2ei .N;óf/ nge . Munique, 1991, p. 240, 118, 80, 346 Richard Wagner: SZm//fiar Wêrêf. Mainz, 2004 fE, Vo1 ] 0, p. 274.

Kurt Hübner: D/e Waóórir 2ei À/y/óas.Munique, 1985, p. 398.

Johann Eduard Erdmann: PÉ]/oiopó/f drr Nrzzzeif. Z)er 2ez/isrAe]2r /lsmws(com textos originais) Vol. VII. Reinbek (Hamburgo) 1971, p. 168.

Heinrich Heine: S#mf#fóf Sróre#f/z.Org. Klaus Briegleb.Munique, 1968-76, Vol./P. IV/55, IV/431, V/201, IV/581, IV/574, 1/107efleg., 111/691 erleg., 111/695, 111/361, 111/378, IV/495, IV/18, 11/956, 111/317, IV/75, IV/76,

V/232, V/232, 11/382,VI/1/498.

Arthur Schopenhauer: Wêfée,Vol. 1. Zurique, 1977, p. 482, 645. Charles Baudelaire: lrêrÉe. Dreieich, 1981, Vol. 111,p. 30.

[)olfOehler: 2ar/ífr Bi/2rr. Frankfurt s/ Mente,1979, p. 48. Richard Wagner. .Fín Z,eóf/zió/ó/ i/z Z)aê#mrm/fn. Org. Oito Werner. Berlim, 1990 P. 467.

Karl Marx/Friedrich Engels: Wêr&f. Berlim, 1959 ef íeg., Vol./p. 1/391, 1T1/7, 1/379,1/346.

Capítulo XIV

[heaba\d Eles\er: Die geistigenund soziaLenStrõmungendesNeunzebntenJabrbunderü. Berlim, 1910, p. 179, 195, 203.

Georg Bollenbeck: 7}ad///on. '4z,amilgzzzz/e. Rea,êr/on.Z)fzíílfÃr Kozzfroz'errem z/mZíf

Jost Hermand (Org.): Z).ziJ#nge Z)ezízic:óZand. Zexfe z//zdZ)aÉzómefe. Stuttgart,

AÇe/ cóe z//zz/%gmer. Sf.z//o e fizer r7arÃ/zZrm BqgrZnz/ng. Org.[)deter

éz//fzzre/ZeÂ4o2rr r. /880-/945.

Frankfurt

s/ Mente, 1999.

e Jõrg Salaquarda. Vols. l e 2. Frankfurt s/ Meno, 1994.

1968,P. 185.

Kart Joêl.' Açe/ rÃf z/ Z 2íf Ram/zmfiÉ. lena e Leipzig, 1905.

366

367

Borchmeyer

O ROMANTISMO OBRAS CITADASE REFERÊNCIAS

Curt Pau[Janz.: Fr/e2r/ró ]Wfzmcóf. B/ogzzzPÃif. 3 Vo]s. Munique, 1981. Walter Kaufmann:

AçeimrÃe. PÓ//piava

/)Wróa/aKe

.4/zrícArisf. Darmstadt,

1988.

AÇe/zsróe-.f/andóz/có. Z,eór/z Wêré-- \PZréz/ng. Org. Henning Ottmann. Stuttgart, 2000.

Nietzsche:

Gustav Landauer: .4zeP'zefzz/m cozia/fímz/í. Org. Heinz-Joachim Heydorn. Frankfiirt

s/ Meno, 1967, p. 98.

Karl Jaspers;A4efmrAf.Berlim, Nova York, 198 1 Friedrich

C.ht\st\an Ç.taEvon K.lockow-. Die Deutscben in abremJabrhündert 1890-1990. Reinbek (Hamburgo) 1990, p. 47, 48, 86, 101

SZmz#cÃe WêrÉe. .K>iriifóe Srz/2/e /zzzsgaóe.Org. Giorgio

Colli

e MazzinoMontinari. Munique/Berlim/NovaYork 1980,vol./p. 1/433, 1/455, 1/364, 1/169, 1/188, 1/184 ef seg.,T/182, 1/452, 1/184, 1/194, 1/197, 1/146, 1/456, 1/29f, 1/38, 1/153, 1/56, 1/134, 1/56, 1/452, 1/469, 1/47, 1/115, 1/453 ff Jeg.,Vl1/7, 200, 1/448, 1/449, 1/64, 111/574,1/38, 1/56, 1/57, 111/620,1/145,

Manfred Frank: Go /m Ex//. Uar/fiz/ngf üóerdíf ]yez/e7U7róo/OX/e. Frankfurt s/ Mente, 1988, p. 149, 147. Steven E. Aschheim: ]Vlezmróe zz/2/ Z)fz/iic&e/z.Stuttgart, 1996, p. 23.

Hugo von Hofmannsthal: Brirfdri Zor# C»/zmZos. Poe/a/aKfícÃe ScÓr{/2e/z. Seleção Hansgeorg Schmidt-Bergmann. Frankfurt s/ Meno, 2000.

VI/26, 1/22, 1/18, 111/538,Xl11/41, IV/31, 111/570,11/20,VI/365. Rainer Mana Rilke: \Werée. Frankfiirt s/ Mente, 1955. Vol. 1, p. 194 ffleg., 685, 71g. Friedrich Albert Longe: Gffc#íróre 2ei JUaferia/lsmzn('/8óK9.Org. Alfred Schmidt.

Frankfurt s/ Meno 1974, Vol. ll

Huno von Hofmannsthal:

Gesamme/fe W?rÉf /n zrÃ

E7zzze/ó.Zadrn. .FrzãA/KnXra.

Frankfurt s/ Mono, 1979, p. 499.

Immanuel Kant; Kri//# 2rr re/ r Uer/zz//:P. Org. Wilhelm Weischedel.Frankfurt s/ Mono, 1964, Vol. 111,p. 267134.

Franz Schonauer: Sf(#amGeargem/f Se/óíizezígm/iif/zz/nd B/Z!&ZoÉz/me /em. Reinbek

(Hamburgo), 1960, p. 28, 29, 20. Stefan George: WêrÉe.Düsseldorfe Munique, 1976. Vol. 11,p. 241 f'r Jeg.

Capítulo )(V Ferdinand

Tónnies:

armei

Oswald Spengler: Z)fr (/n/erga g drs ,4ófnz/Za/zZeí. Gütersloh, s/d, p. 63.

lróaÚ z/n.Z Gfff//sróa@. /987.

[)armstadt,

1991.

Julius Langbehn: Remórn 2/ a/sErz/eAer.Uo/zeizzrmZ)eaísróf/z.Leipzig, 1890. Paul de Lagarde: Z)ez/i3rófScórlPfzz.Gõttingen, 1891.

Symbolismus undJugendstil.

Walter Muschg:

7}zzg/íróe Zifernf

rgeicÁ/fófe.

Stutt%att,

s/ Medo, 1993, p. 192.

Hermann Kurzke: ZBam/zs .l/ann. Epocór-- Wêré W7rêang.Munique, 1997, p. 243.

Die WienerModerna.Literatur, Kunst und Musik zwischen1890 und 1910. Otg,. Gotthard Wunberg. Stuttgart, 1981. Impressionismus,

Thomas Mann: Essayr.r. Org. Hermann Kurzke e Stephan Stachorski. Frankfurt

\')77.

Ft\tz K. Rlngerl Die Gekbrten. Der Niedergang {er {íeutschenMandarins 1890- 1933.

Munique, 1987, p. 171. Thomas Mann: Deixar'çrzfngfme/ fi (,üzPO/i?//sr&ea. Frankfurt s/ Mente, 1988, p. 142, 308, 367, 23, 138, 13, 45, 45

Berna, 1953.

Janos Frecot / Johann Friedrich Geist / Diethart Kerbs: Fld#s. Z ráf#ef/irÃem Praz/f

bilrgerLicberFlucbtbewegungen.M.un\que, \ 972. Georg L. Mosse: Z)/e z,ó/»/rrÁePera/w/íon. Kõnigstein/Taunus, ] 99 1.

Capítulo XVI Stefan Breuer: 4/zarom/rder ,êanierz, zf/z,e Rez,a/uf/a/z. Darmsradt, 1993.

Kut\ V\uch: Die geistige MobiLmacb ng. Die deutschen InteLektuetLeTIund der Erste

SteEan B\eue '. Ãstbetiscber Fundamentalismos.

\Wp/rÉr/eg. Berlim,

2000.

Stefan George undder deutscbe Anti-

mo2er /smz/i.Darmstadt, 1995.

Thomas Car[y[e: ]7ró/em anZ .fír/2r/zz,errórzrng.Ber]im, s/d, p. 83.

Rüdiger SJranski: ElzzA4e/s/frúar Z)rz/ílró&zazZ .f7r/ci%Kmzíndse/ne.lã-/r.Munique, 1994

Heinrich Rickert: Pói/aiopó/f z/fi Zeóe í. Tubinga, 1922, p. 155.

Thomas Mann: Z)erZz óeróerg.Frankfurt s/ Meno, 1974, p. 990, 993, 994.

HermannGlaser:SzlgmdFrrz/2s Zzz,amzikJ/fslaóróz/nderf. Munique,1976,p. 146.

WalterFlex:Z)fr IWa/z2ererzm/ rÃr óe/de Wê/rem. Munique, 1940

Kutth

Ernst Jünger: /n SraÁ/gfm/ffern. Sãmf//r f Wêrér, Vol. 1. Stuttgart, 1978, p. 293.

P\nthus

toro,.]:

Menscbbeitsdãmmerung.

Ein Dokument

des E)cpressionismus

Í/PZ00. Hamburgo, 1959, p. 224.

Ernst Jünger: Z)erHróe//er. Stutrgart, 1982, p. 54, 55.

/aóróz/ derfmr/zdr. ,4zt/brwró / 2if ..l/oZernf. Org. August Nitschke fr /z/. Reinbek

(Hamburgo). 1990, Vol. 1, p. 312.

368

(=ht\s\\an Gtaç von V.roeRaM: Die Deutschen in abrem Jabrhandert 1890-1990. Reinbek (Hamburgo), 1990, p. 159.

369

r O ROMANTISMO

e OBRAS CITADAS E REFERENCIAS

Franz Jung: Zero /É 2€i G/ür,êí.Berlim, 1920, p. 17. Ulrich Linse: BúJ:/;e/Í;grPoffe/z. ETÜfer 2er zm,z/zzik?rlaArf. Berlim, 1983, p. 27,

97, 100, 104, 118.

Z,/ffrafzfr z/nZZ)Iróf ng /m /)r/f/en Re/ró. Eine Dokumentation von JosephWulf.

Tzara, Grosz, Marcel Janko, Huelsenbeck, Gerhard PreiR, Hausmann in: Z)/r deutscbeLiteratas. Ein AbriFin

Capítulo XVll

Text und DarsteLlung. \íoX. \ 4. Expressionistas

z/mZZ)a2a/sm í. Org. Otto F. Best. Stuttgart, 1974, 293 ef frg.

HugoBall:Z)ieF7uróf/zaidrr Zrif. Zurique, 1992,p. 100. bt\\z K. Rln getl Die Gelebnen. DerNiedergangder ckutscbenManckrine 1890- 1933. Munique, 1987, p. 328.

Friedrich Nietzsche: 5ãmf#róe Wêr&e,Krifliróf S z#f/z/z game,Vol. l. Org. Giorgio Colei e Mazzino Montinari. Munique/Berlim/Nova York, 1980, p. 29.

WernerHelwig:Z)/f ÓÁzz/e B/ mf des\Wadrrz,agr6.GãiferrZo/9áO, p. 181, 182. Hermann Hesse:Z)/e.A4oqí'm&znz#ü&rf. Grs.zmmf/teSr#r@r . Vol. VI. Frankfiirt s/

Meno, 1987, p. 9, 10, 24, 10, 39, 36, 15.

Reinbeck (Hamburgo), 1963.

Léon Poliakov/JosephWulÊ E).zfZ)r/#e Re/c& nd sf/lzeZ)e/zÉex. Z)oÉz/me/e z//zZ Beriró/e. Wiesbaden, 1969. \3.ans D\etet Sd\'ãçet: Das gespaLteneBewuftsein. Deutscbe KuLtar und Lebenswirk-

#rAÉfir /953-/J)45. Munique, 1981. Hans Ulrich Thamer:

U?lyaórwng zlmZ Gema/F. Drzózicóázmd /953-/.945.

Berlim,

1994 9 Gbtz Pü7\ HitLers VoLksstaat. Raub, Rassenkriegund nationatn Soziatismus.Ftal:ÃKEutt

s/ Meno, 2005. Paul Tillich:

Geiammf/fe Wkréf, Vo1. 2. Org. Renate Albrecht. Stuttgart, 1962, p.

249,252.

Peter Gay: Z)/e Repz/ó#Z'drr.4zt4rmiei/fr. Frankfwt s/ Mente, -1987, p. 170.

Vector Klemperer: LTI. Notizbuch eines Philologen. Halle, 1957, Leipzig, 1995.

Ulrike Hall: Vom ,,Aufstandder LandschaftgegenBerlin". In: Z,i/fznfz/rdrr Wê/-

Ralf Klausnitzer: B&zme B/Kme z//zrrrm/Za,êe/zêrezlz. Paderborn, 1990, p. 359, 374,

mare'rRepz/ó#ê.Org. Bernhard Weyergraf Munique, 1995, p. 363.

Bertolt Brecht: Z,fieóz/rA./ãrSf#2/eóe oónen \m?rÉf,Vol. XI. Frankfurt s/ Meno, 1966, P. 162 rfjrg.

377, 375, 380, 604, 383, 400, 401, 467, 468. Fritz Strich: Z)e &róf J(Zzss/#z/mZ.RomanfiÉ.Berna/Munique, 1962, p. 9.

lsaiah Berlin: D/e zurze/n Zrr Rom.znfié.Berlim, 2004, p. 227, 244, 245.

Gortfried Benn: Gri/zmme#eWkréf!/zuifr B,Im2em. Org. Dieter WellershoK.Wiesbaden 1978,Vol. 1, p. 85. Martin Heidegger: Gfsam/ózziíXnóf. Org. Hermann Heidegger. Frankfurr s/ Meno, 1991, \61. 29/30, P. 224, 244, \h1. 24, P. 404. Wãlter Benjamin: Gei/zmmeZrf Srór1/2en, Vol. V/2. Frankfiirt s/ Meno, 1982, p. 1250. Oswald Spengler: Z)er.A4r#iró zl Zzãr Zero íê. Munique, 1931, p. 27. Friedrich Nietzsche: Sdmf#róe lm?rêe,Kr//fsróe S/zíz&e zzlsgaóe, Vol ll. Org. Giorgio

Coleiund Mazzino Montinari. Munique/Berlim/NovaYork, 1980, p. 15 efirg. Carl Schmitt: Po#//frÃr ZBfaZaKlf.Munique/Leipzig, 1934, p. 14, 31, 11. Matttn 'L\e\degget'.Die SeLbstbebauptung der ókutscbenUnitiersitàt. Das Rektorat.

Frankfurt s/ Meno, 1983, p. 13. Friedrich Nietzsche: S2m/#cAeWê Ér, Krif/iróf Sf 2/f/z/zzlígaóí', Vol. IV. Org. Gior-

gio Colli und Mazzino Montinari. Munique/Berlim/Nova York 1980, p, 20. Novalis: Wi'rêf, Vol. ll. Org. Hans-Joachim Mãhl. Munique, 1978, p. 334. Max Weber: Saz/aZaKfe. IWe/ efróirór#cAf .4/za/7se. 2o#/iÉ. Org. Johannes Winkkelmann. Stuttgart, 1964, p. 3 17.

370

Eric Voegelin: .f7;f/er z/nz/.d/eZ)ewísrófn. Munique, 2006, p. 86

JoachimFesc:/Bf/er. Berlim,2004,p. 525. Albert Speer:Er/n/zerzzngf#. Frankfurts/ Meno, 1969,p. 139. JosephGoebbels: 7Zgfóàicóer.Org. H. G. Reuth. Munique, 1988, Vol. 111,p. 1076. Thomas Mann: Eisayr2. Org. Hermann Kurzke e Stephan Stachorski. Frankfurt s/ Mente, 1993, p. 130. Peter Reichel: Z)rr írõó f Srófi .defZ)r/f/en .Re/fórf. Munique, 1991, p. 125. Cht\süan GELEvan V.tackow=Die Deutscben in ihrem Jabrbundert 1890-1990. Reinbek (Hamburgo), 1990, p. 209.

Friedrich Nietzsche: SãmfZ/róe\UprÉe.Á.ririíróe St 2íenazlsKnóe, Vol. VI. Org. Giorgio Colli e Mazzino Montinari. Munique/Berlim/Nova York, 1980, p. 372,374, 304.

Hedwig Conrad-Martius:Uraple der .A4rmir,be züc rwng.Munique, 1955,p. 74. Johann Wolfgang Goethe: .A/ü#cómf'r.4zzsgaóe, Vo1. 1.2. Org. Gerhard Sauder. Munique, 1987, p. 203

He[muth P[essner:Z)/et,enpãfefe]yú//an. Frankfurt s/ Mente, 1974,p. 41.

371

r e O RO MANTISMO

OBRAS CITADASE REFERÊNCIAS

Thomas Mlann: Befrarórzzngem f'/#fi C/nPa/l/isróen.Frankfurt s/ Mente, 1988, p.

108, 52.

Eberhard Rathgeb: Z)/e e gagierre ]ya/íam. Z)ezliiróeZ)eóa e/z/i)45-2005. Munique,

2005.

Thomas Mann: Z)a#ror Eazzsfz/í. Frankfurt s/ Mente, 1974, p. 409.

Z)ie ]2r //iüf drr Z)ewílróen. Org. Werner Weidenfeld.

SebastianHafFner: UomB/;m,zrfê zz/ .fã/&r. Munique, 1978, p. 219.

Thomas Mann: Z)aÉ/arEaz/srzzi. Frankfurt s/ Meno, 1974,p. 409, 675, 324, 331,

Gottfried Benn: Grs/zmme/ffWêrÉei z,ierBã dr/z. Org. [)ieter WellershofE Wies-

baden 1978, Vol. IV. p. 79. Bernd Martin (Org.): .A4arf/n Hr/zl(?Wfr z/ Z 2af 'Dr/rfe Rfiró'. Darmstadt, 1989,

P. 180.

Bonn, 1983.

322

Thomas Mann: Eísa7f 5. Org. Hermann Kurzke e Stephan Stachorski. Frankfurt s/ Mente, 1993, p. 279, 274. Ferdinand Lion: Rom z fiÉ /zÃ2rz/zsróeiSróirÉsa/. Stuttgart, 1963, p. 9.

Hannah Arendt: Eb'meare z/ C#lprüngr fala&r .fZemTróa@. Munique, 1986, p. 528.

Heinrich Heine: Sãmf/íróf ScAre#í'/z. Org. Klaus Briegleb.Munique, 1968-76, VÓI./P.11/510, 6.1/486, 111/639.

Hannah Arendt: ZzzrZril. Po/iffir&f Eíiayf. Berlim, 1986, p. 45. }Àçted Baeum\et: HitLer und der NationalsoziaLismus. AulReichnungen 1945--1947 In: Z)er /:êaó/ K 160 ef íeg.

Hermann Rauschning: Gespxür#em/f .f#f/rr. Zurique, 1973, p. 2 10.

Jost Hermand: .K2z/fz/r im W:edexnze/b.zzí. Munique, 1986, p. 256, 417, 261, 258.

E.T.A. Hoffmann: WÊ'rÉe. Frankfurr s/ Meno, 1967, Vol. 1, p. 170.

Max Benze: Zrcón/scóeEdis/fnz. Stuttgart, 1950, p. 202.

Thomas Mann. Esiayr4. Org. Hermann Kurzke e StephanStachorski.Frankfurt

RolfWiggershaus: Z)/f' FznnÉ r/er ScA /e. Munique, 1986, p. 653.

s/ Mente, 1993, p. 31 1.

Richard Lõwenthal: Z)er ram z r/sróe Rüc,ê#a#.Stuttgart, 1970, p. 12, 3 1.

Arnold Gehlen: Geiamfa game,Vol. VII. Frankfurt s/ Meno, 1978, p. 420.

C)do Marquard: Abschied vom Prinzipie]]en.

]n: Z Éz//!P óxn róf /7eréz/p?#.])É//o-

ropói;rÃe'Esiayf. Stutrgart, 2003. Capitulo

XVlll

Herbert Marcuse: Uersz/ró#óer díÉ'B# f/anX. Frankfurt s/ Meno, 1969, p. 17.

hn ge\a Bo\aEçtlDie schreckLicben Deutscben. Eitte merkwürdige Liebeserktãrüng. Berlim, 1995.

Herbert Marcuse: Ko/zrfrrez,o/zif/onz/ d Rez,o/re.Frankfurt s/ Mente, 1970, p. 90.

BunclesrepublikaniscbesLesebuch.l)rei Jahrzebnte geistigerAuseinandersetzung.ç)\%Hermann Glaser. Munique, 1978. C).emens À\btecht et at. =Die inteLLektueLk Grtlndungder

Bzncksrepubtik. Eine Wir-

éz//ZKsgesrÃ/rófe drr Fka ÉVürffrSfóz/Zr.Frankfurt s/ Mente,Nova York, 1999. Retmann G\ases: Kleitte KuLturgescbicbteder Bundesrepublik DeatscbLandi945/898.

Munique,

1991.

Ma?ün GreijJbnbagen. Da.sDikmma üs Konseruatismm in Deutschhtü. M.uNx que. V)7\ Getd V.oenenlDas roleJabrzebnt. UnserelzleineKaLturreuolxtion 1967-1977. CoXõnia, 2001. Wa\Egang, Kxaushaat\ Frankfürter

ScbuLe undStudentenbewegung.

palf zam .A4aZafamcor,êfóz// /94á ó/s /995. 3 Vais. Hamburgo,

Von der FLascben-

1998.

Lu&w\g Pesca: Die romantiscbe RebelLion in der modernen Literatur und Kunst. Munique, 1962.

Ramamr/'êÉorsr&z/ g eif .rP45. Org. Klaus Peter.Kõnigstein/Taunus, 1980. Romazzf/ê.E/ Z7ê/#i 7ã&/agir Uor/riwngf/z.Tubinga, Stuttgart, 1948.

372

373

OSRAS CITADAS TRADUZIDAS

Título

Autor

Obra publicada no Brasil

3erufzwr Politik 3etrachtungen {iber die E;ranz6siscbeRe olutioK

4 po/ãirú rama z'arafáa. ITrad. Maurício Tragtenbergl Brasília: Ed. UnB. 2003

Edmund Burke

Reflexões sobre a Revolução em Fiança

[Trad. Renamode Assumpção Faria, Denis Fontes de Souza Pinto e Carmen

Lidia Ritcher Ribeiro Mouras Brasíiia:

Ed. UnB, 1982. Brie$en iberdie

Á educação estética rio Igomem: numlz

lsthetbche Erziehung

i/r/f 2e cúriai. ITrad. Roberto Schwarz ê Máfcío Suzuki] 3' ed. São Paulo

Iluminuras,1995. ){chtung und Wabvbeit

1. WI Goethe

Agem(Ír/ai.-2oexlz e z,e7züde,2 volt.[Trad

Lconel Vallandro] Brasília: Editora Universidade de Brasília / São Paulo: Hucitec, 1986.

DoutorFaastus

Thomas Mann

En /o. .t/m z /7z%géd/a. I' parte.[Trad. Jenny Klabin Segall]. São Pauló: Editora 34, 2004.;

Eawlla.

C/m.z /nngcafa.

2' parte. [Trad. Jenny K]abin Sega]]]. São Paulo: Editora 34,2007. [)aineser

Elogie

Rainer Mana

E/CX!.zi 2e Z)zf/na.[Trad. Dou Ferreira

Rilke

da Silva] 2' ed. Rio de Janeiroi Globo,

2001. Die einsameÀ4ms

A multidão solitária. Um estudo da naehnça do caráter americano. VTtaà. Rosa R. Krausz e J. Guinsburg] 2' ed. São Paulo: Perspectiva, 1995

375

T O ROMANTISMO

OBRAS CITADAS TRADUZIDAS

TítuloAutor Z)/f Gn/ dóqr #à drr

/Wf/apÁys/#

Obra publicada no Brasil

Título

Autor

Martin

Cls conceitos $ n aventais

Kritik {kt Hegekcben

Karl Marx

Heidegger

mu/zdo, ./2n/f#2e, ia/íóüa.[Trad.

l Antonio

da meta$sica: Marco

Obra publicada no Brasil Critica cLa$Losoflado direito de HeRcl. [Trad. Rubens Ender]e e Leonardo de

RechtspbiLosopbie

CasanovaJ Rio de Janeiro

Deus] São Paulo: Boitempo Editorial,

l ForenseUniversitária, 2003. )ie Mlorgentancfabn

Hermann Hesse

mugem .za Orienrf.[Trad.

2005.

Leda Mana

Kritik der Teinen

Immanuel Kant

Gonçalves Maia] 6- ed. Rio de Janeiro: Record, 1988. Elccehomo

!inbahKsna$e

Friedrich

ãccehomo: como alguém se torna o que é.

Nietzsche

ITrad. e notas Pau]o Cesar de Souza] São Paulo: Companhia de Bolso, 2008.

Walter Benjamin

)br.zs escolhidas }i

Crüirú zúzznz'ío pz/xn.[Trad. Va]erio

Rohden e Udo Ba]dur] São Paulo: Nova

Cultural, 2000 Die Leiden (ks ]ungen WeTther

J. W Goethe

Of io#ime fai 2a ./oz,em \m?rigor.[Trad. Er[on JoséPaschoal]SãoPaulo: Estação Liberdade,1999.

Rwa de mão única

ITrad. Rubens Rodrigues Torres Filho e roséCar[os Marfins Barbosa] 5' ed. São Paulo: Brasiliense. 1997. Erdbeben uon Cbili

Heirinch von

Noivado em São Domingos. A marquesa

Kleist

do O. O fer emofodo C»i/e.[Trad. Pau]o Edmur de Souza Queirós] São Paulo:

Melhoramentos,1952 rõblicbe7i WisseKscba$

;eburt ür

Tragõdie aus

üm Geiste Ür Mugir

;escbicbte áer Retigion {Kd Pbitosopbie i% [)eutscbLand

üythob$ca

Friedrich

,4 (;al/z r/é/zc/a.[Trad., notas e posücio

O rrw e o cozida. À6ro/óXicai /.[Trad. Beatriz Perrone-Moisés] São Paulo:

Nietzsche

Paulo César de Souza] São Paulo

Cosac Naif.

Companhia dasLetras, 2001.

A6/a/óg/cai 2. [Trad. Cardos Eugênio

Friedrich

) nascimento {

Marcondes de Moura] SãoPaulo: Cosac

Nietzsche

epfiiímfsma. [Trad. J. Guinsburg] São

Naify,

Paulo: Companhia de Bolso, 2007.

Aüfa&e@czzi 3ITrad. Beatriz Perrone-

Heinrich Heine

tragédia, ou, Helenismo

:onnibaição história da religião e fi/oio@ n,z.,4/emana.z.[Trad. Márcio

Suzuki] São Paulo: Iluminuras, 1991. Friedrich

::"',".".;;'

)hànamenotogie des l;vistes

G. W: F. Hegel

Éiipér/azz, o#, O irem/f.z /z.z Gréf/a.[Trad.

Hólderlin

Erlon JoséPaschoal] SãoPaulo: Nova

1. W Goethe

Hadem à /r.í/la /786./788.[Trad.

Sergio

}h !osophieáesRecbts

?rins pios cü$

G. WI F. Hegel

E.T.A. Hoffmann

OPegz/eno Zararim, chamado Cinábrio ITrad. Karin Vo]obuef] São Paulo:

)oLitischen Theologie

Carl Schmitt

Der SaKdmann

E.T.A. Hoffmann

ZeaZaX/pa/l#/f .[Trad. E]isete Antoniuk] Belo Horizonte: Del Rey, 2006. Co/zfoi i/ z/rfroi.[Trad.

Ricardo Ferreira

Henrique] São Paulo:M. Limonad, 1987. )as Scblo.F

Franz Kafka

O r.zifeZo. [Trad. Modesto

Carone]

São

Paulo: Companhia de Bolso, 2008.

Hidra, 2009

376

soba do direito. \Xta&.

Orçando Vitorino] 2' ed. SãoPaulo: Martins Fontes,2003.

Tellaroli] Sáo Paulo: Companhia das Letras, 1999. KLein Zacbes

.4 orfKfm 2oi mo2oj .à mesa.

Francisco. 2008.

Alexandria. 2003 [tatieniscben Reine

r/nzm.

XP ame c,ZaKf 2o espúi/a.[Trad. Pau]o Meneses] 5' ed. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: Ed. Universitária São

i994.

Friedrich

/ Z)o me/àí

Moisés. São Paulo: 2006.

:c31versasobre a poesia e outros

#ngmfnfas.[Trad. Vector-Pierre Stirnimann] SãoPaulo:Iluminuras,

Schlegel

2005./

2005.

377

e 0 ROMAN'TISMO

Título

Autor

Tbeorie ãesRomana

Georg Lukács

INOiCE 0NOMÁSTiC0

Obra publicada no Brasil A teoria {h romance. Um ensaiohistórico

filosó$cosobreasProas cLag'ande bica. [Trad. JoséMancos Mariani de Macedo] 2' ed. Sãa Paulo: Cosac Naif/Duas

Cidades,2009 t)bn die Religion.Reckn Friedrich an die Gebiicielenuntar Schleiermacher

l];z;;;;Ü;';;=i'iz:i;;i;i;.]ü= editorial, 2000

ib renVerãcbtern tlber naipe and

Porfia ingé/z z e senflmfnfn/.[Trad. Márcio Suzuki] São Paulo: Iluminuras, 1991.

Dicbtung Oswald Spengler

A &ca&Kcia cio Ocidente: esboçode uma

Abendhn&s

J$uust

no $oLogia eh bistóüa uniuersa{. VXad

/om ewigen Frieeien

#iLbelm Mleis ers

J. WI Goethe

Wãlter Benjamin

Brentano, Clemens,50, 62, 79, 82, 166-9

Immanuel Kant

Anders, Günther (Günther Stern), 344

Brentano,

Annunzio, Gabriele(cf. D'Annunzio,

Büchner, Kart Georg, 219

Gabriele)

Zahar, 1982

Arndt, ErnstMoritz, 151,173

Ea ifa fera.[Trad. ChristineRõhrig] São

Arnim, Bettina von (nome de solteira:

Sophie

(cf. Sophie Mereau)

Büchner, Ludwig, 254 Burke, Edmund, i65 Cagliostro, Alessandro, Conde, 52

Brentano), 171

Callot, Jacques, 203

Carlyle, Thomas, 274

apresentação e notas Paulo Sérgio

Arnim, Ludwig Achim Freiherrvon, 53, 167-9, 171, i84, 211, 229

Rouanet] São Paulo: Brasiliense, 1984.

Ast, Georg Anton Friedrich,147

Claudius, Matthias, 37

Porto Alegre: L&PM, 2008.

Bachofen,JohannJakob,279

Corday d'Armans, Marianne Charlotte de, 50

)s anos & aprendimáo

Charpentier, Julievon, 112

'4 p.zzperpér#.z. [Trad. Marco Zingano]

J. W Goethe

Thomas Mann

181, 198,306

Anaxágoras, 255

Herbert Caro] 3' ed. Rio de Janeiro:

Or«em 2a óZrnm.zó'zrroro .z/empa.[Trad.,

Baeumler, Alfred, 340

Creuzer,Georg Friedrich, 166, 168, 317

JIZe[sfar.[Trad. NiCo]ino Simone Neto] São Paulo:Editora34.2006.

Bakunin, Mikhail Aleksandrovitch, 225

Czolbe, Heinrich, 254

.4 mon/.znAa mlgírú. [Trad. Herbert

Ball, jugo,

LebÜabren

)er Zaaberberg

Brecht, Bertolt, 309

Arendt, Hannah, 329, 340

Paulo: Cosac Naif. 2003. Jrsprzng&s deatscben rraaerspiets

Bõttiger, Carl August, 25

Altenstein, Karl Sigmund Franz Freiherr vom Stein zum, 212

J. C. F.Schiller

sentimentaLiscbe

)er Untergangaes

Adorno, Theodor W., 337-9, 346-7, 351

de Withelm

Caro] 2' ed. Rio de Janeiro:Nova Fronteira, 2005.

237 301

D'Annunzio, Gabriele, 248

Baudelaire, Charles, 1 14, 204, 248

Dante AJighieri, 141

Bauer, Bruno,220

Demócrito, 255

Bebei, August, 276

Descarnes, René, 255

Beethoven,Ludwig van, 172, 354

Devrient, Ludwig, 200

Benjamin,Walter,284,310, 351 Benn,Gottfried,157,309, 328,342

Dilthey, Wilhelm, 275 Dürer, Albrecht, 93, 99

Bense, Max, 344

Dutschke, Rubi, 350

Berlin, lsaiah, 3 16, 322, 326, 329-330 Bernhardi, Johann Christian August

Eichendorff. Joseph Freiherr von, 16 19,

Ferdinand,87

55, 95, i52, 166-8, 171-2, 184: 187

Bloch, Ernst, 310-1

378

192-9, 206, 211, 2i5, 292, 298

Bõckh, Philipp August, i51

Enfantin,Prosper,231

Bóhmer, Caroline (cf. Caroline Schlegel)

Engels,Friedrich,220,228

Bõrne, Ludwig, 218-220, 226-232, 354

Espinoza,Baruch de,130,137,255

379

r O ROMANTISMO iNO1CE ONOMÁSTICO

Feuerbach, Paul Johann Anselm, 67

Haeusser, Ludwig Christian, 300

Homero, 152

Langbehn,Julius,291

Feuerbach,Ludwig, 220, 222, 223-4, 239

HafFner, Sebastian, 328

Hõppener, Hugo (cf. Fidus)

Lavater, Johann Caspar, 48

Fichte, Johann Gottlieb, 15, 34, 42, 65,

Haldane, Richard Burdon, 287

Huxley, AJdous, 345

67-82, 88, 108-111, 116, 121, 126,

Hamann, Johann Georg, 49

Huxley, Thomas, 324

Lênin, Vladimir llitch Ulianov, 225 354 Lenz, Jakob Michael Reinhold, 25

133, 164, 170-1, 255, 278, 349

Hardenberg, Georg Philipp Friedrich von

Huysmans, Júris-Karl, 248

Leopardi, Giacomo Conte, 1 14 Lethen, Helmut, 309

Fidus (Huno Hõppener), 275, 278

(veja Novalis)

Flex,Walter, 296

Hardenberg,Heinrich von, 68

Jahn, Friedrich Ludwig, 317

Lévi-Strauss, Claude, 260

Forster,Johann Georg Adam, 32, 35

Hardenberg, Kart August von, 170

Jaspers,Karl, 326

Lion,Ferdinand,340

Fõrster-Nietzsche,Elisabeth(nome de

Hart, Heinrich, 278-9

Jean Paul (i. é: Johann Paul Friedrich

Liszt, Franz, 237

solteira: Nietzsche), 273

kart, Julius, 279

Fouqué, Friedrich Heinrich Karl Baron de

la Morte, 21 1 Frederico Guilherme 111,Rei da Prússia, 159

Richter), 49, 53, 82, 172, 332

Lotze, Hermann, 255

Hauptmann, Gerhart, 289

Jung,Franz, 298-9, 303

Lõwenthal, Richard, 348, 350

Hebbel, Friedrich Christian, 287

Jünger,Ernst, 297-9, 309-31 1

Hegel, Georg Wilhelm Friedrich, 24, 33-4,

Jünger, Friedrich Georg, 344

Lukács, Georg, 121, 316, 322, 330 Luciano de Samósata, 132

Freiligrath, Ferdinand, 220 Freud, Sigmund, 76, 134

37, 45, 51, 56, 70, 121, 136, 143-6, 148, 152, 172, 181, 213-226, 255,

Kafka, Franz, 310

Mach, Ernst, 283

Frios,Jakob Friedrich, 213

303,327

Kanne, Johann Arnold, 146

Mallarmé, Stéphane, 248

Kant, Immanue1,23-4, 33, 37, 49, 68-71 73-5, 121, 128-9, 131, 138, 159-160

Mann, Klaus,328

Heidegger, Martin, 16, 310-4, 326-9, 344 350

GaBner, Johann Joseph, 51

Gehlen,Arnold, 333,346-7

Heine, Heinrich, 16, 204, 218-220, 225

233,235,241,354

Gentz, Friedrich von, 33

186,265-6,323

Mann, Heinrich, 292 Mann, Thomas, 16-17, 248, 280, 289294, 313, 321, 324-7, 332, 335-343

Kaufmann, Christoph, 25

George,Steean, 285-7,301-3

Heinse, Johann Jakob Wilhelm, 92

Kepler, Friedrich Johannes, 260

Marat, Jean-Paul, 50

Glaígbrenner, Adolf. 219

Herder, Johann Gottfried von, 1 5, 21-31

Kessler, Harry Graf1 279

Marcks, Erich, 290

Kierkegaard, Saren, 31 1

Marcuse,Herbert, 352-3

Herwegh, Georg, 220

Klages, Ludwig, 279-280, 320

Marquard, Odo, 349

Herz, Henriette (nome de solteira:

Klausnitzer, Ralf. 317

Marx, Karl, 16, 45, 218-220, 223-6, 228,

Kleist,Heinrichvon, 173-6,216

255, 277, 353, 354 Mendelssohn,Moles, 117

39,54, 133,148,317

Gneisenau, AugustWilhelm Anton Graf Neithart von, 170 Goebbels, Joseph, 317-321

de Lemos), 129-130, 13

Goethe, Johann Wolfgang von, 17, 22-3,

24-5, 28, 32, 37-41, 49, 53, 67-8,

nesse, Hermann, 306-7

Klemperer, Vector, 315

74-6, 83, 85, 98, 103, 118, i26, 133: 139, 149, 152, 154, 167, 172-3,200,

Himmler, Heinrich, 320

Klinger, Friedrich Maximilian,

Hitler, Adolf. 236, 298, 317, 331-6

Klopstock, Friedrich Gottlieb, 34, 48, 50

204,211, 219

Hoffmann, E. T. A. (i. é: Ernst Theodor Amadeus),16, 52, 54, 62, 96, 98,

Kõrner,ChristianGottfried,154

Gontard, Susette (nome de solteira Borkenstein), 155 Gõrres, Johann Joseph von, 146-1 50, 167-9,

198,279,317 Grimm,JacobLudwigKarl, 168, 169 Grosse, Karl, 50, 54 Günderrode, Karoline von, 168 Gutzkow, Karl Ferdinand. 2 18, 220

Mereau e casadaBrentano), 79, 167-8 Metternich, Klemens Wenzel Nepomuk

Kõrner, Theodor, 171, 172

Lothar,príncipe de,170,212

Krieck, Ernst, 318-320

Meyer, Johann Heinrich, 21 1

199-208, 211, 215-6, 229, 25i, 306,

Kühn,Carolinevon, 112 Kühn,Sophievon, 107-113

Meyerbeer, Giacomo (i. é: Jakob Meyer

Kunz, Friedrich Karl, 201

Miltitz,

Kurzke, Hermann, 337

Milton, John, 48

Hofmannsthal,Hugo von, 96, 232, 248: 281

Hõlderlin, Johann Christian Friedrich, 34, 45, 68, 78-9, 106, 143-146, 148,

152-8,254, 303,327 Hoelz, Max, 299

380

Mereau,Sophie(nascida Schubart,divorciada

101, 173, 178, 180-1, 183, i85, 191 332

Grimm, Wilhelm Kart, 169

25

Beer), 235, 244 Ernst Haubold Freiherr von, 68

Moleschott, Jakob, 254

Lafontaine, August Heinrich, 48

Montaigne, Michel Eyquem Seigneur de, 132

Lagarde, Paulde,291

Montesquieu, Charles-Louis de Secondat

Landauer, Gustav, 277-9

Baron de la Brêde et de, 186

381

O ROMANTISMO

e iNO1CE ONOMÁSTICO

Moritz, Karl Philipp, 154

159, 166, 167, 172, 178, 181, 184,

Schleiermacher, Friedrich Ernst Daniel, 34,

Reuter-Friesland, Ernst, 299

Muck-Lamberty, Friedrich, 303-6

Riesmann, David, 346

61-2, 79, 126, 128-139, 141-4, 146,

Mühsam, Ernst, 301

Rilke, RainerMana, 209, 284 7, 289, 307:

159, 171-2, 182, 317

Schmitt,Carl, 125,173,290, 311

Tirpitz, Alfred PeterFriedrich von, 288

Rimbaud, Arthur, 194

Schnitzler, Arthur, 248

Toller, Ernst, 301

Ritter, Johann Wilhelm, 80, 98

Schopenhauer, Arthur, 109-110, 148,247, 261,292, 323

Varnhagen, Rahel (nome de solteira:

Schrepfer, Johann Georg, 5 1

Veia, Dorothea (nascida Mendelssohn, di

Müller, AdamHeinrich, 165, 171, 173

356

212,317, 319 Mundo, Theodor, 218

Robespierre, Maximilien Made lsidore

NapoleãoBonaparte, 32, 82, 117, 159,

de, 46

169-174, 214 Naumann, Constantin Georg, 273

Rosenberg, Alfred 319-320

Necker, Jacques, 131

Rothschild, James, 227

Nietzsche, Elisabeth(cf. Fõrster-Nietzsche Elisabeth), 273

r

Rolland, Romain, 134, 289

Niethammer, Friedrich Philipp Immanuel, 68

Schuckmann, Friedrich von, 200

Rousseau, Jean-Jacques, 21, 27, 33, 76, 186, 350 Runge, Philipp Otto, IOI

L

Schulze,Gottlob Ernst, 70

Vende,Henry van de, 278

Semper, Gottfried, 237

\roegeiin,Eric, 316, 322, 326, 330

Shakespeare, William,

86-7

Voga, Karl, 254

Siemens, Werner von, 276

Vaí!,JohannHeinrich, 167,212

Simmel, Georg, 45

Vulpius, Christian August, 50

Sack, Friedrích Samuel Gottfried,

Savigny,FriedrichCaravon, 150, 166, 171

Solger,Kart Wilhelm Ferdinand, 151

323-4

Schallmeyer, Wilhelm,

Spengler, Oswald, 287, 300

189, 192, 225, 229, 262, 278, 314,

138

324

Só6ocles, 152

Scheler, Max, 290

Spontini, Gaspare, 215

Schelling, Friedrich Wilhelm Joseph von,

Spranger, Eduard, 302

i5, 34-5, 55, 62, 70, 79-80, 98, 118: 126, 143-5, 148, 158, 168, 213, 323

57, 85, 92-100, i25, 188, 321 Wagner, Cosima (nascida Flavigny, depois Liszt, separada Bülow), 251

Staêl-Holstein, Anne Louise Germaine,

Wagner, Richard, 16, 148, 235-249, 251-

2, 256, 258, 259, 264, 267-270, 292,

Baronesa de (nome de solteira:

Weber, AJfred, 345

25, 30, 41-6, 47-8, 52, 57-8, 61, 63, 74-5, 77, 79, 81-2, 106, 110, 121

Stein, Heinrich Friedrich Karl Freiherrvom

Weber,CaraManavon,215

125, 138, 142, 153-4, 163-4, 166,

Steiner, Rudolf1 278

169,271

Stirner, Max, 220, 225

Welcker, Friedrich Gottlieb, 146

Schiller, Johann Christoph Friedrich von,

Ortega y Gasset, José, 346

Wackenrodet, WilhelmHeinrich, 15,34,

Necker),77, 82, 325 StefFens, Henrik, 81, 104

Schelsky, Helmut, 341, 354

321,353

129

vorciada Veia e casadaSchlegel), 79 117-8, 126

148, i50, 176,222,24i, 247, 251275, 279-280,292-3,296-7,311-2,

96-8, 101, 103-122,i25-i36, 147, 149-151,i59-i64, 178-9,182,i85,

Levin),

Schuler, Alfred, 279-280

Nietzsche,Friedrich, 16, 25, 39, 76, 122,

Novalis (i. é: Georg Philipp Friedrich von Hardenberg), 15, 17, 35, 40-1, 52, 54, 56, 57, 62, 71, 73, 76-80, 85,

185, 187,191,321 Tillich, Paul,311,314, 315

322,328

undzum, 169, 170

Weber,Max, 44-5, 177, 276, 290, 294, 299,

302,314

Pascal, Blaise, 186

Schinkel, Karl Friedrich, 200

Stolberg,Christian Günther, Conde, 25

Wiechert, Ernst, 308

Píndaro, 152

Schlegel, AugustWilhelmvon, 15,35, 49, 79, 82, 85, 87, 101, 118, 141, 159,

Stolberg,Friedrich Leopold, Conde, 25 Strauíi,David Friedrich, 220-2, 256-7

Wieland, Christoph Martin, 37, 39, 50, 132

PausVI, Papa,117 Platão, 130, 255

166, 172,211

Strich, Fritz, 316, 322

Winckelmann,JohannJoachim,58, 146,

Tieck, Ludwig, 15, 34, 50, 52, 54, 57, 62, 79-80, 85-101, 103, 118, i25, 142,

Wolfskehl, Kart, 280

Plessner, Helmut,322-3,325

Wienbarg, Christian Ludolf. 2 18-9

i50, 154

Schlegel, Caroline (nascida Michaelis, viúva

Plutarco, 48

Bõhmer, separada de Schlegel e casou

Pongs, Hermann, 318

com Schelling), 35, 63, 79, 104, 141

Rabelais, François, 206

34-5, 40, 48-9, 52, 55-60, 61-65,

Rambach, Friedrich Eberhard, 87

78-82, 85-6, 89, 91, 98, 103-4, 118,

Reichardt; Johann Friedrích, 40

121, i25-i30, 138, 146-8, 150-1,

Reinhold, Carl Leonhard, 70

i54, 159, 171,172, i84, 198,206

Zenge, Wilhelmine

L:;

v: :

382

von, 175

Zoega, Johann Georg, 146

Schlegel, Karl Wilhelm Friedrich von, 15,

383