Os franciscanos e a formação do Brasil [1 ed.]

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CAPA DE WILTON DE SOUZA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE

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ggação geral, est�v�. !l!IP!ícito comon€·.:e: ssário à- Qre�ai�o . .=.ciárÕ _ qJiEL . � se tratava do estudo teologico, do esfudo ;da Sagrada que ao lado da oraçã.o_era...r.�w�.Q.}Q. contraõ abatimento, e urgente se fazia saber conciliar a vida �o;rrra-ciên_c:ia: o- qaeera contrário, ê-rec-etifãa reprovação de Francisco de Assis era o procurar a ciên­ cia por E.la mesma, e não como meio para a atividade apostólica, ou que, pelo estudo,·a irmão se afastasse da oração.·

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Chamamos atenção para alguns pontos que melhor caraderizam a Ordem dos Frades ME.nores quanto à con­ ciliação entre a vida apostólica e a atividade de estudos, de que vemos surgir as influências que apontamos acima.

1. O primeiro ponto é o da própria Regl'1l de São Francisco no que diz rE.speito aos pregadores. Tanto em sua primeira redação entre os anos de 1220 e 1221,_ como na da redação de 1223 em que colabJraram o cardeal Hugolino, os Ministros Provinciais, e alguns Irmãos dos mais experimentados e instruídos (2) e. que é o resulta

C!r. Os Opúsculos de S. Francisco. pp. 66. 67. Diretório la Rerra· de S. Francisco, p. 125: D. Hl!arlno FELDER, O. F. M. Cap., Os Ideais de São Franl'isco pp. 23 a 26. A Regra Primitiva, de

1209 ou 1210. constitulda de textos evangélicos, acrescidos de

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do de uma experiência comprovada, encontramos no Capitulo XVII (Regra Primeira) e Capítulo IX (Regra Segunda), expresso o cuidado e aprêço ao ministério da palavra e para isto a necessidade de preparo adequado. "Nc·nhum dos Irmãos pregue contra a forma e a doutrina da Santa Igreja romana, nem sem a permis­ ::;ão do seu Ministro. O Ministro, porém, tom� cuidado de não a conceder indi:crctamente" (Regra I) . "E nenhum Irmão se atre�a.: de modo algum, a pre-­ gar ao povo sem ter sido e?'aminado e aprovado p�lo M;nistro Geral desta Fraternidade, e por êle admitido ao ofício de pregação. De outro lado, admoesto e advirto os mesmos Irmãos

Ctr. Verdad y VIda, p. 15. O R. P. Constantino Koser, desde 13 de maio de 1967, quando do Capitulo Geral dos Frad8 Menores Franciscanos, em Assis, foi eleito Ministro Geral da Ordem, cargo que deverá ocupar por 12 anos. O R. P. Koeer, que vinha exercendo o cargo de Vigário Geral desde 3 de no-­ vembro de 1965, é brasileiro, natural de Curitiba. , ten· do feito seus estudos no Rio de Janeiro e em Frtburgo. Diplo­ mado em Teologia Dogmática foi prefeito de estudos na Ord� em Brnsllla, e em 1963 !óra nomeado Definidor Geral para • América Latina.

to do objeto" . E o conhecime.nto prévio que é necessá­ rio, é também p:ático desde que serve de "norma, re.gra e conteúdo da retidão que diz respeito à vida prática".

E "Ciência prática é a que pressupõe naturalmente a operação do entendimento e por seu próprio conteúdo pode ser regra e norma do ato reto da vontade". E o P. Koser, continuando apoiado em textos de Escoto, apre­ senta seu pensamento salientando que para êle, "tôdas as verdades reveladas acêrca da vida íntima de Deus ainda as mais altas e difíceis como "Deus é trino", "o Pai gua o Filho" - são verdades práticas, isto é, têm capaciàaàe para produzir em nós, anteriorme::'lte a todo ato de nossa vontade, um conhecimento apto por sua própria natureza para ser conteúdo, regra e norma da prática reta. E não só as verdades necessárias; também as contingentes têm a finalidade não só de dissipar a ignorância, também e sobretudo de ordenar a vida prá­ tica. Para o Doutor Sutil, Deus enquanto objeto da teo­ logia, se faz cognoscível para Sér ao mesmo tempo de­ sejado e alcançado. :tl:le é nosso fim último : e amá-lo e desejá-lo "é verdadeiramente praxis, que não deriva por natureza do conhecimento, scnão da liberdade".

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E continuando em explanação do sentido desta teo­ logia prática definida por Escoto, o então Vigário Geral da Ordem dos Frades Menores diz: "esta doutrina reveste hoje uma singular importância, porque serve pàra jus­ tificar a mais sutil teologia e para indicar os caminhos pelos quais esta teologia chega a ser eficaz na espiri­ tualidade e na pastoral . A solução escotista salva, por assim dizer, de uma parte, a teologia da ruína e do des­ prêzo, E. por outra parte, salva . a pastoral da superficia­ lidade, da banalidade, da alienação por ·falta .de idéias e de . conteúdo", reforçando assim o que dissera ante­ riormente que "se se tem presente a história, não foram precisamente os pastores com pouca teologia qué mais influenciaram no campo pastoral" . (8) . · Afirmou e desenvolveu a contingência de. todo o criado, já baseado na ação de Deus ad extra, até o cam­ po da existência e da qüididade dos sêres; a excelên-

(8)

lbld, pp. 20, 21, 22, 18.

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32 ela da vontade e da liberdade, não como uma irracio­ nalldade ou arbitrariedade, mas como autodetermina­ ção, precedida peia operação da inteligência; a singula­ ridade do indivíduo e sua originalidade ; as ordens do real e as ordens da moral, desde o necessário absoluto até o necessário hipotético e o contingente; o valor da ação . Pensamento vigoroso que influenciou modernos e contemporâneos e sem deslizar em pragmatismo, relati­ vismo, subjetivismo, individuálismo, dêle podemos dizer, que seu pensamento se vo�ta: todo para os indivíduos existentes . ·

Com GUILHERME DE OCCAM (1300-1349) que não apenas distingue a razão da fé, mas as separa, e em ati­ tudes práticas assumidas em sua vida, toma partido pela separação da Igreja e do Estado, assumindo posi­ ção de defesa da soberania do Estado contra o poder temporal do Papa, colocando-se ao lado de Luiz IV, da Baviera, e mesmo · certas acusações contra sua doutri­ na lhe valeram censura e excomunhão, tendo posterior­ mente se reconciliado com a Igreja, encóntramos as raí­ zes do nominalismo, empirismo, racionalismo, e pers­ pectivas subjetivistas que influenciarão posteriormente nas correntes de pensamento. Seu franciscano amor à verdade e aos fatos, faz dele. o reformulador do movimento terminista ou nomina­ lista da Idade Média. O pe.nsamento do franciscano do século XIY será marcado pela reação à escolástica, o que se fará em têrmos de exigência de demonstrabili­ dade a tipo matemático, ao mesmo tempo que elemen­ tos P.mpiristas. racionalistas e teológicos de seu pensa­ mento fazem-no regeitar o necessitarismo da filosofia grega e procurar salientar os existentes e o conhecimen­ to do singular, assim como a onipotência divina e a vontade absoluta de Deus, decorrendo, então, para moral um campo aberto ao voluntarismo .

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Continuador da "lógica nova" ou da "lógica dos modernos" que desde o século XII e XIII está em voga, parece ter sido mais próximo às Súmulas Lógicas de Pedro Hispano