Marx
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CONHECER..

TRANSFORMAR O MUNDO Moacir Gadotti

"Até hoje os fiiósofos têm interpretado o mundo de diferentes maneiras; o que importa é transformá-lo"

EDITORL1F 1 DSA.

MAíRiZ: Rua R1.11 BarbJs.o, i 56 í�a Vts!ã) SÀO PAULO· SP CfP 01326 - Tel 283-5011 - e� Postal 30402

Dados de Catalogação na Publicação (CIP) Internacional (Câmara Rrasi!eira do T ,jvro; SP, Rra.sil)

Gadotti, ?vloacír. 1941-

Marx : transformar o mundo I Moacir Gadotti.

Sao Paulo

:

FTD. 1989.

-

(Prazer em conhecer).

l. Filosofia marxista 2. Marx, Karl. 1818-1883 I. Tí­ tulo. II. Série. ISBN 85-322-0001-X

cnn-335.411 -320.532

89=0441

Índices para catálogo sistemático: 1. Marxismo . Ciência polítiça 320.532 2. Marxismo : Fundamentos filosóficos 335.411

Editor: Jorge Cláudio Ribeiro

Assessoria de texto: Cleide Rita Silvério Coordeµnçnn de revisão: Adolfo José Facc!lil"!i Edição de arte e p;ojeto g;á11co�· i"-J'air de �1edeiros Barbosa Produção

e

diagramação: Edilson Felix Monteiro

Capa: Chromo Digira/

-

Design Gráfico

/lustrações: Laerte Coutinho

ReproduçõesfotográJlicas:

0..Imora..lt Coordenação de ar,e-Jirial: Veia Lúcia Vai.ano

Arte-fin.al:

Angelice Maria Taioque; Isabel Reis Guimarães Ricardo H amassak

Teresi.n Jia de Fátiw.a Joaquim de Oliveira Assiste;1te de produção: Wilson Teodoro .....

Recado

para

o professor

Esta coleção de Filosofia tem

um

objetivo simples: começar

começo! Dirige-se ao j oveiu que se sente

busca referências que o ajuàem a

se

situar

cresc.endo

por dentro

...

e

do

que

n1undo de idéias e deci­

nun1

sões que se descortinam.

Para começar a coleção, escolhemos os filosófos Platão, Aristóte­ les, Descartes, Marx e Sartre. De certo modo, eles inauguram correntes h . ' . h' . .] . -',. -' sua ue pensamento e sao pres,,,..�ça oungatona na .JStona uas tueias. l..apresentação é feita em livros separados para àar maior liberdade ao professor, que assim pode montar a programação de acordo com a ne­ '

...

cessidade pedagógica. Outros livros virão, sobre outros filósofos, awnen­ t::iJldo

as

opções.

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Capítulo 1 Rocky ,,.

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7

Rocky x Drago

bamos. E não é só isso. Nos jornais, na TV, nas músicas de rock, na publicidade, nos filmes, existe um conflito em tomo do marxismo que não é muito fácil de identificar. No noticiário de todo dia nos deparamos com palavras como socialismo, comunismo, classe social, ideologia e re­ volução. Mas poucos prestam atenção ao cenário que está por trás delas. Vejan1os um e'lf:emplo simples como o filme Rocky IV. Logo nas ,

primeiras imagens aparecem duas luvas de boxe, uma de cada lado da tela. A da direita tem a bandeira americana e a da esquerda mostra a foi­ ce e o martelo.

No momento seguinte, as duas se golpeiam e se destroem.

Está apresentada a trama que vai percorrer todo o filme: EUA contra URSS no esporte profissional. O desafio de uma luta de vida e morte entre dois homens que simbolizam, no boxe, o confiiio enire duas superpotências. Por trás do filho de imigrantes Rocky Balboa, o "Garanhão Italiano", e do coronel Ivan Drago, o "Expresso da Sibéria", é apresentado nos míni­ mos detalhes o confronto entre o capitalismo e o comunismo. No final, claro, o campeão americano vence o campeão soviético, a princípio confiante mas logo intimidado pela resistência do oponente. Mas a vitória principal é dos tradicionais valores do "american way of lifen, a pureza de sentimentos, a crença de que o esforço individual é sem­ pre recompensado e de que

o

ser humano vale mais que a tecnologia de

que se serve. Balboa e Drago se enfrentam como profissionais: afinal, o embate entre dois líderes mundiais não pode ser uma coisa amadorística, improvisada. Assim, a exibição esportiva de energia e indestrutibilidade

8

Rocky x Drago

ai.uplia seu ca...11po de ação e ga..-u'1.a uma dimensão política: Balboa/EUA versus Drago/URSS. Mais ainda: a origem italiana de Rocky faz dele um símbolo de todo o "mundo livre". E o que isso tem a "ler com I'y1ai-x?

Quando um filme, ou qualquer outro produto cultural, coloca frente a frente a URSS e os EUA, está confrontando dois sistemas econômicos, 1' • • ....1 1 • "Ç, • • 1' tota...1rnente ....J ul1eíentes: o comunismo e o capita.11spout1cos e 1ueo1ogicos ,

.

mo. Ora, Marx é o principal pensador de uma corrente que é o funda­

mento político do sistema comunista.

É natural que ele, mais de cem anos

depois de morto, ainda seja uma podeíosa refeíência - a favoí e contra. Nas not icias relativas a Cuba, ao governo da Nicarágua, aos parti­ dos comunistas, à guerra do Afeganistão, à corrida espacial e às Olim-

A t... piauas, o que esta poí tras nâo e somente o uesempen110 esportivo, os iüdices de produtividade. O que está em disputa é uma filosofia de gover­ ·

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no, uma forma de construir a vida humana. Parece que tudo se resume

numa questão: ''O que é melhor: o capitalismo ou o comur..ismo?''

9

Rocky x Drago

Para entendei coíretaiuente toda essa questão, que não começou

hoje, ajuda muito estudar o pensamento de Marx. A partir dele percebe­ mos que a tarefa da Filosofia é pensar a vida e o mundo, para transformálos. Só que não se trata de pensai' de qualquer jeito, como se a realidade fosse do tamanho da nossa casa e não existisse nada além do nosso quin­

tal.

É preciso discutir sempre mais o porquê de sermos livres, de amar-

111os,

de duvidar-nios e de ficarmos tristes (ou não). O porq11ê da fom�

da miséria, da injustiça. Quanto melhor conhecermos wna realidade, maio­ res serão nossas chances de melhorá-la.

,... am-� m:--Â,,,.... "" npu unuuu

Costuma-se dizer que, sob certos aspectos, a vida em sociedade se assemeiha a u111 campo 111inado, que só pode seí atrav'essado com segu� rança com a ajuda de um instrumento que detecte as bombas enterradas. 1

Como veremos, a época de Marx fez parte de um ciclo histórico 1

1

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1

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part1cu1armente exp1os1vo. ca.-nponeses e opera..1os ViVla.a"TI aentro ae um t



regime desigual, que não lhes possibilitava sequer imaginar o que seria uma vida digna. Nesse campo minado, o pensamento de Marx foi um 11

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1 aos me1nores guias, nao so paiii iocMzar uenunc1ar a uestru1uora exp.o-

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ração capitalista, como também para produzir uma análise profunda que propôs caminhos. n

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...J ev1aen1e que a açao e aret11exao uo nosso -

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ri � nao se re... uzi-

ao campo político e econômico. Marx é sem dúvida um dos pensa­

dores mais completos que a humanidade já produzi,. Sua obra é muito mais ampia âo que a discussão entre sistemas político-econômicos, do que oposição aparentemente ingênua "mundo livre"/"cortina de ferrd . '

A obra de Marx exerce influência no pensamento científico e filosófico

C' L ...1 A e• mais � essenc1a. • 1 ao nosso secu10. rara nosso 111oso10, uuscar a veruaue •

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do que se fixar em algumas verdades, ainda que estas sejam as que ele mesmo descobriu.

10

Rocky x Drago

Vamos Refletir

1 . Quais as princ ' i pais idéias que estão atualmente cm conflito no campo: - da política?

- do esporte?

- da arte?

- da mú sica?

- da religião?

- da filosofia de vida?

2 . Selecione poemas e músicas em que apareçam os conflitos de idéia acima e notícias de jornal a respeito (de preferência aquelas em que aparecem a s p a­

lavras socialismo, comunismo, livre iniciativa, capitalismo, marxismo).

3. Até que ponto as express ões "mundo lívre" e "c ort ina de ferro" correspon-

Propostas de Atividade 1. Assistir a filmes/vídeos, como Rocky IV,· Doutor Jivago; Rombo; Guerra nas estrelas. Debatei como é ãprescntada a ideologia das superpotências e o conflito entre elas. Até que ponto esses filmes colaboram p ara a causa da paz?

2. Entrevistar várias pessoas (agrupando-as por idade, sexo, profissão) sobre: "Qual a contribuição de Marx para o mundo de hoje?" 3. Elaborar um texto próprio (cerca de vinte linhas) sobre: "O principal conflito do mundo 111oderno é.. :� •

Guardar esse texto até que você tenha lido todo este livro.

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1r1nerar10 de u1r1 iti;1e;Aa;1te u

i2

O itinerário de um itinerante

Era das revoluções arl Marx nasceu no dia 5 de maio de 1818, em Trier, cidade

que na época tinha doze mil habitantes, situada ao sul da Prús­ sia, reino que fazia fronteira com a Fra nça Foi a Prússia que .

comandou "a ferro e sangue" a unificação dos estados independentes alemães, concluída em 1870.

O filósofo nasceu exatamente na metade do período compreendi­ do entre duas datas importantes: 1789 (queda da Bastilha e marco inicial da

Revolução Fra...ncesa) e 1848 (quando houve revoluções por toda a Europa, sobretudo na Alemanh a e na Fran­

ça, wisturando ide:.lis !ibef:.lis, socia­

listas e de identidade nacion al) Esse .

período, em que ocorreu um comple­ xo e conflituado desenvolvimento da indústria, é conhecido como a Era

das Revoluções. p • .......ssa t ... 01

uma epoca nao so' ri 'Ye '

grandes transformações e progressos, como também de grandes tensões so-

ciais� .rAiS expect�ti\1as otirr...istas de en� riquocimento geral não se realizaram :

o progresso beneficiou apenas as clas­ ses dominantes. Elevando ao máxi­ mo a taxa de exploração da força de

trabalho, com enorme custo socia l

,

os ca pitalistas acumulavam suas ri­

quezas.

Casa onde Marx nasceu

O itinerário de

l-i.m

13

itinerante

Mas não foi menos conturbada a fase histórica que vai desde a pu­ h1;���;;,.,. ri,-, flA,-,,,,if"o�nlv1>11 inrn;;ii" -Ali� .. én::i ---'hi ..tóri::i ... � --- ::inr1>nt�-h1" -r .. .. . .......... .... no,;; .,.. -.J ---�, -- m11itn C'.nm11m --... _,,,._

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movimentos sociais encontrarmos revolucionários, jornalistas e literatos, tudo isso reunido em urna única pessoa. """"'- --!- -!-...... ...... -..!.-..- ....l.-. 1\. A ..-.. --� v ar ugu ui;; 1v1nln a CJ pVJU .. .l".IU.) rCW\.-4-1.f SAJ�.._.. """�....� . -'-" . .......- .. � ... .. .. �,., , .,_ . .. ..--..... 4

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Marx nem a sua esposa. Eles recebem a visita com muita ama­ bilidade, oferecendo-lhe o que houverpara oferecer. Aos poucos

tomafor,71a uma co,.-,i'ersa i,i1teligente e i.11teressa.11te, qt1e co111-

pensa todas as deficiências domésticas... Como marido e pai,

apesar de seu temperamento instável e inquieto, era o mais doce

Marx entendia que a relação homem-mulher é uma troca de vai o­ res: a.-anor se troca por amor, confiança por confiança.. Ma(} quando um

dos parceiros se deixa alienar pela propriedade, pelo dinheiro, os valores são.subvertidos: o amor se transforma em ódio, o vício é considerado vir­

tude, a fidelidade se dilui. Para ele; o amor é o caminho por onde todos os seres humanos se apropriam do próprio ser, é o modo de se relacionar

com o mundo como ho1nem total. Essa condição só é prejudicada quando O amor não fazia parte das preocupações teóricas de Marx, ele vivia o

que pensava: o amor é o meio de o homem se realizar como pessoa.

r---�osso filósofo nunca deixou de se empenhar em se11 relacionamento com Jenny. O casal teve quatro filhas e dois filhos: Jenny (como a mãe), Lau­ ra, Eleonor, Guido, Francisca e Edgard. Os três últimos morreram ainda pequenos, durante

o

período de dificuldades por qt1e pa�saram.

O clima familiar foi manifestado por Jenny, em carta a um traba­ lhador amigo da família. Depois de expor as dificuldades financeiras, ela

Não pense que esses sofrin1entos triviais me abateram o ânin10. Sei m11ito bem que nossa luta não é isolada e ql1e eu em particular devo considerar-1nefeliz e privilegiada, pois meu querido marido, esteio de 1ninha vida, ainda está a 1neu fado. A

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ção é o fato de ele ser obrigado a suportar tantas n1esquinha­ rias, de haver tão poucos que o ajudem, e ele, que con1 tanta disposição e boa vontade já ajudou a tantos, enl--ontrar-se tão desamparado aqui.

22

O itinerário de

um

ítínerante

1Venhum inimigo pessoai No prefácio da primeira edição de O capital, em 1867, Marx adver­ te que foi muito duro em suas avaliações, sobretudo contra os capitaiistas

que para ele não se tratava de questões pessoais: as pessoas (criticadas) só interess am à medida que representam e os

proprietários de terra,

mas

categorias econômicas, etn que simboiizam reiações de ciasse e interesse

de classe. A. nível individual; Marx tinha o maior respeito por todas as

pessoas, mesmo por aquelas que professavam idéias contrárias às dele. Em 1875 seu estado de saúde era bem precário, fruto dos anos de miséria e sofrimento. Tinha dores de cabeça, bronquite crônica e furún­ culos. Nos últimos anos de sua vida, sofria de dor de garganta e de com­ plicações pulmonares. Marx procurou estações de repouso, que trouxe­ ram apenas melhor::is passageiras. Mas ele manteve o ritmo de trabalho. O golpe definitivo começou com a morte de Jenny, a 2 de dezem­

bro de 1881. Marx procurou recuperar-se, mas nova desgraça o atingiu:

sua filha m::iis querida, que levava o nome da mãe, faleceu em j aneiro de 1883.

Dois meses depois, no dia 14 de março, Marx fa.iecia. ltanqiliiamente, ·

S07inho, à sua mesa de trab;:iJho, com 64 anos de idade. Marx foi sepultado no cemitério de Highgate, em Londres, no setor reservado às pessoas banidas e rejeitadas pela Igreja Anglicana.

A. beira da sepultura, Engels proferiu emocionada oração fúnebre,

evocando a obra de intelectual e militante realizada pelo filósofo: Marx era, antes de mais nada, um revolucionário. Sua verdadeira missão na vida era contribuir, de um modo ou de outro, para a derrubada da sociedade capitalista e das insti­ tuições estatais por esta suscitadas, contribuir para a liberta­ ção do proletariado moderno, que ele foi o primeiro a tornar consciente de sua posição e de suas necessidades� consciente das condições de sua emancipação. A luta era seu elemento

.

E ele lutou com uma tenacidade e um sucesso com que pou•

J.

cos puaeram nvauzar. •

Marxfoi o homem mais odiado e mais caluniado de seu tempo. Governos, tanto absolutos como republicanos, depor-

O

23

itinerário de um itinerante

taram-no de seus territórios. Burgueses. quer conservadores ou ultrademocráticos, porfiavam entre si ao lançar difama­ ções contra ele. Tz1do isso ele punha de lado, como sefassem teias de aranha. não tomando conhecimento, só respondendo auando necessidade extrema o comvelia a tal. E morreu ama:.a .. .

.

do, reverenciado epranteado por nú/hões de colegas trabalha­ dores revoiucionários - das minas da Sibéria até a caiijór­

nia. de todas as nartes da Eurona e da A mérica - e atrevo-me -



-

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-

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.

.

J.

1.

a dizer que, muito embora possa ter muitos adversários, não teve nenhun1 inimigo pessoal

Em 1956, em cima do túmulo de Marx, foi construído um monu­

mento que ostenta o lema que conduziu seus atos, seu pensamento e toda a sua vida:

Cronologia 18 1 8 - 5 de maio - Nasce Karl Marx, em Trier, na Prússia. 1 820 - 28 de novembro - Nasce Friedrich Engels, em Barmen, numa região mais 1 83 1

-

1 833

-

industrializada que Trier.

Morre Hegel, que deixou profunda influência na Universidade de Berlim e em

Abriu-se no ginásio de Trier um inquérito para apurar a "subversão !ibera!" promovida peio diretor, um protestante racíonalista. Marx, que cursava o se­ cundário, tomou o partido do diretor.

1836 - Marx e Jenny ficam noivos. No mesmo ano, Marx se matricula no curso de Díreito da Universidade de Berlim.

1 840 -

É

publicado o livro O que é propriedade?, de Pierre-Joseph Proudhon

/1• Qf\0�1 t;;: \ ('Af"" iAln.oA PJ"'n.n n.mict� P um tin� nrim Pirn11;; \ uiu- ..... 1. Q.t;,. UUJJt J"-'"'1.'-'I'U'C>'-"t .._. ..... ..,. • • ....- 1. & 1. 1. u ....... ....- ..... . .. ........ .. ., ..., f-' • • • • • - • • ..,.. ...,

mo, cuja tese é "toda propriedade é um roubo".

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24

O itinerário de um itinerante

1 84 1 - Publicação do livro A essência do cristianismo, de Ludwig Andreas Feu er bac h n RM-1 >177) ,- ... - · - - · -,T�

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gelianismo por não indicar os mei os concretos de reali zar as idéias. Marx se casa com Jenny.

1 844 - Publicação do Esboço de uma critica da economia polftica, de Engels. - Marx escreve os Manuscritos econômico-filosóficos, em que d i sc u te a teori a da alienação. Só foram publicados em 1 9 3 1 .

1 845 - Marx

e

Engels publícam A sagrada famlfia, e m que cr i t i c am o s j ovens hege -

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com a mesma intenção, o livro A ideologia alemã, só publicado em 1 932 . Marx inicia A miséria da Íiíosofia, pu biicauo no ano segui nte.

1 848 - Marx e Engels publicam o Manifesto do Partido Comunista, a melhor intro­ d ução ao estudo do marxismo.

- Na França , é proclamada a República, que teve repercussão em movimentos nacionalistas na Alemanha, na Itália e na Hungria.

! 849

-

É publicado o livro Trabalha assalariado e capital, contendo con ferências pro�

nunciadas por M arx em Bruxelas dois anos antes.

1 850 - Niarx escreve As lutas de classe ;ia Frartça, sobre o movimento de 1848, que considera uma demonstração concreta de suas t eo rias do desenvolvimento da

História. 1 852

-

Marx publica O 18 Brumário de Luís Bonaparte, sobre o golpe de estado de

Luís Bonaparte, em 1851, de que resulta a criação do Segu n do I mpério na França

,. em mie -i -- - Ronanarte r -

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assume o t ítulo de Naooleão I I I . - · - -

·

.



- Auguste Comte (1 798-1857), filósofo e matemático francês, pu b l ica o s eg undo

Cate-

o método científico.

1 85 9 - M arx publica a Conrribuição à critica da economia poíitica.

1 864 1 865

-

É criada a Associação Internacional dos Trabalhadores (mais conhecida co­ rno P r ime i ra Internacional), após um comício operário em Londres.

Marx publica Salário, preço e lucro, a pedido do conselho diretor da Interna­

cional. 1 870 - Um levante de trabalhadores em Paris obriga o governo a se ret irar

e

instala

a Comuna de Paris.

1 87 5

-

Em Crüica ao programa de Golha, Marx analisa o programa do Partido Social­ Democrata Alemão, estabelecendo a diferença e ntre o socialismo e o comu­

nismo. Marx decla ra que não pretende a centralização do poder no Estado

sim a mais ampla liberdade de organização civil. 1 878 - Engels pub l ica o livro A nti-Dühring, criticando o social-democrata Eugen Düh ring , cuja tese era de que u ma revolução deveria destruir toda a ciência e a e

25

O itinerário de um itinerante

cultura anterior e elaborar algo totah,nente novo. Marx e Engeis tinham enorme respeito pela cultura produzida até então, mesmo a de inspiração burguesa.

1 883 - 14 de março - Morre Marx. ! 884 Engels publica A origem da faml1ia, da propriedade privada e do Estada 1885 Publicação do segundo livro de O capital, sob direção de Engels . .-... 1 1· __. ' 1• A .rl I • r1 J:: J 1 is�4 - r u o1 11..:aç:ao uo terceiro 1 i V'íO ue v capita1, ea1tauo por ._.nge.s. -

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1 895 - 5 de agosto - M orre Engels. 1 9 1 7 - I:: m outubro, ocorre a Revolução Russa, primeiro grande movimenéo socialis­ ta com base nas idéias de M arx.

Tllmu lo de Marx em

Hi ghgate

.

.

26

O itinerário de um itinerante

Vamos Refletir

l . Que profissào você pretende escolher? Por quê?

2. Compare sua resposta com o texto de Marx sobre a escol ha da profissão. De­ bata em gru po.

3 . Comente: "A prática sem teoria é ingênua, a teoria sem prática é estéril' ' . 4. Os sentimentos e emoções têm.algum papel na lura contra a injustiça? Co­ mente a frase do revolucionário Che Guevara:

sem perder a ternura jamais " .

"É preciso endurecer-se, mas

5 . Analise o tei ·.� � ;),Ç� � ..

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Os economistas ciássicos não analisaram as etapas de produção da n1ercadoria; só levaram em conta o produto final já sendo manejado pelas forças do mercado. ft.v1arx, atento ao processo de produção, denun-

ciou como o sistema capitalista atribui à mercadoria uma vida, um valor próprio, omitindo a contribuição bá5ica do trabalhador. Desta forma, a mercadoria adquire um caráter misterioso, como se fosse um ídolo a con­ trolar as vantagens h umanas, degradando operários e patrões. De todas as mercadorias, a mais importante para o capitalista é o dinheiro, porque p ode comprar todas as outras, inclusive a fonte de valor, que é a força de trabalho.

72

Capital

e

trabalho

Vamos Refletir

l.

Debata:

''A tendência do capitalismo é transformar tudo cm mcíCâdoría". Até

que ponto você percebe essa tendência em sua vida?

2. Aponte a distinção entre valor de uso e valor de troca quanto - pessoa humana; - relações pessoais; - força de trabalho;

a:

- arte: --- - - 7

- religião..

3. "Você que só faz usufruir E quer mulher para usar ou para exibir Você vai ver um dia, em que toca você foi bulir A mulher foi feita

pro amor

e

pro perdão

cai nessa não, cai nessa não'.' Relacione esses versos de Vinicius de Moraes e Toquinho com os conceitos de valor de uso e valor de troca.

4. Relacione as charges apresentadas no texto com os conceitos estudados.

Proposta de Atividade

Montar um jogral a partir do poema Perguntas de um trabalhador que lê (ane­ xo), atualizando-o para a realidade brasileira. •

73

Capita! e trabalho

Anexo Perguntas de um trabalhador que lê Berto/d Brecht Quem const ruiu a Tebas das sete portas? Nos livros

const am

os nomes dos reis.

Os reis arrastaram os blocos de pedra? E a Babilônia tan tas vezes destruída

Quem ergueu outras tantas?

Em que casas da Lima radiante de ouro

Moravam os construtores?

Para onde foram os pedreiros Na noite em que ficou pronta a muralha da China?

A grande Roma está cheia de arcos de triun fo.

Quem os levantou?

Sobre quem triunfaram os césares? A decantada Bizâncio só t inh a palácios.

Para seus habitantes?

Mesmo na legendária Atlântida,

Na noite em que o mar a engoli u ,

O s que se afogavam gritavam pel os seus escr.avos. O jovem A lexandre conquistou a Índia. Ele sozinho?

César bateu os gauleses. Não tin ha peio menos um cozinheiro consigo?

F i lípe de Espanha chorou quando sua Armada nau fragou. Ninguém mais chorou?

Frederíco I I venceu a Guerra dos Sete Anos.

Quem venceu, além dele?

Urna vitória em cada página.

Quem cozinhava os banquetes da vitória'? U m grande homem a cada dez an os

.

Quem pagava suas despesas? Tantos relatos.

Tantas perguntas.

Capítulo 8 ...

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uomznacao e ;-esisie11c1a -

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75

Dominação e resistência

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egundo Marx, a miséria não basta para que os povos lutem e ����i: !�::��;;r:�����!�ã����::��� � ;:::��:

ii��:

safo, os homens mudam a sociedade dentro de circunstâncias muito determinadas.. São essas circunstâncias que os homens

precisam conhecer para transformar o mundo. Para se ter uma visão cien­ tífica das inudanças sociais é necessário chegar às causas econômicas dos fenômenos; é preciso buscar infarmações seguras sobre a situação eco­ nômica ào período analisado. Não se transforma o mundo e a sociedade espontaneamente, sem

um plfuc"'10, sem uma teoria. Daí a importâi�cia do conhecimento, da filo­ sofia como arma da transformação. Para projetar um futuro melhor, é preciso valorizar as lutas do passado e compreender bem o presente. Es­

ses conhecimentos fazem parte de uma teoria revolucionária, fundamen. tal para se ter uma prática revolucionária eficiente. Para entender como se realizaram as transformações sociais atra­ vés 4os tempos, Marx estudou as formas como os homens produziram materialmente a própria existência. Foi assim que o filósofo identificou alguns

modos de produção.

iVíodo de produção é um conceito que reúne outros dois conceitos: • meios de produção: instrumentos ou ferramentas utilizadas pelos

h • .iomens

.

' os meios necessar1os a sua eXJstencia; para prori .... uz1r ,,.

.

'

.

,..,_

.

• relações de produção: são os laços que ligam os homens entre si

nas diversas formas de se produzir a existência, dividindo o trabalho em grupos, ou classes, por exemplo entre escravos e senhores, entre empre­ gados e patrões. Classes sociais são grupos humanos que se diferendarn entre si pela

posição que ocupam num determinado modo de produção e pelo seu papel

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Dominação e resistência

na apropriação da riqueza. Cada um pertence a uma classe social de acordo

com a parte que lhe cabe na divisão da riqueza que uma sociedade pro­ duz. Por ocuparem posições diferentes em determinado regime econô­

mico, algumas dasses podem apropriar-se do trabalho das outras. Os con­ flitos de interesses entre as classes conduzem inevitavelmente à luta entre

exploradores e explorados.

É a luta de classes..

Marx considera que o modo pelo qual os homens produzem os bens materiais n eces sário s à vida humana é o gerador das grandes mudanças

históricas, condiciona a transição de um regime social para outro. O filó­

sofo analisa cinco modos de produção, cuja evolução não é mecânica:

1. Primitivo: no início da humanidade os homens extraíam diretamente da natureza os bens necessários para sobre'1iver. Caçava.-n , pesca= vam, colhiam frutas e raízes. Numa fase seguinte, as tribos começaram a se fixar e abandonarain a vida nôn1ade. Passaram a criar gado e a de­ senvolver a agricultura. Para realizar essas atividades, os grupos primiti­

vos tomavam posse de territórios.

Com o desenvolvimento da agricultura, os homens produziam mais do que necessitavam para seu consumo in1ediato. Essa "sobra" permitia que alguns indivíd uos não precisassem trabalhar tanto e se apropriassem

dos excedentes produzidos. S urge assim a propriedade privada e, com ela,

as desigualdades sociais. A propriedade surgiu rnuho depois das origens

do homem. Nas comu nidad es primitivas, a propriedade dos meios de produção era comum.

Como conseq üên c i a do fato de algumas famílias terem proprieda­ des e outras não terem, surgiram as classes sociais, que lutavam entre si.



2. Escravista: a escravidão apareceu quando o esforço de produção tinha condições de gerar excedentes. A escravidão acentua a divisão

de classes da sociedade: uma minoria é dona da força de trabalho, dos meios de produção e do produto do trabalho. Para garantir aos senhores o direito legal de explorar os escravos, para reprimir suas revoltas contra os senhores, para defender das agressões externas os territórios dos se­ nhores, surge o Estado. Um tipo especial é o "modo de produção asiático", que predomi­

nou em épocas di ferentes na China, na Índia etc. O Egito foi um caso

típico: lá o Estado era liderado pelo faraó, que usava enorme qu ant idad e

Dominação

e

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resistência

de escravos para a edificação de obras suntuosas. Através das castas sa­ rf'rdntais_ o Estado inculcava na cabeca do oovo que o faraó era Deus ... -- - - � - - � :r

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e, portanto, seu poder era inquestionável.

3. Feudal: sua característica é que a sociedade estava dividida entre senhores e servos. Os senhores feudais tinham o poder econômico por­ que eram donos das terras. Tinham o poder político porque faziam as leis dentro do feudo e obrigavam os servos a obedecê-las.

Os servos não eram escravos: eies trabaihavam as terras ào senhor por conta própria e durante alguns dias iam cuidar das plantações do se­ nhor. Todos os nobres eram sustentados pelo trabalho dos servos. As leis não permitiam a venda do servo como se fosse um escravo, mas o servo não podia abandonar o feudo onde nascera_ A maior proprietária de ter­ ras era a Igreja Católica, que pregava a obediência dos servos a seus se­ nhores, o respeito à autoridade reai que provinha de Deus.

4. Capitalista: nesse modo de produção, o que manda é o dinheiro. Os produtos são fabricados para dar lucro e aumentar o capital. O que torna o dono do capital cada vez mais rico não é a venda de seus produ­ tos, mas a mais-valia: é a exploração capitaiista.

O capitalismo começou a se constituir desde o século XIV, no inte­

rior do feudalismo, com o desenvolvimento da" companhias de navega­ ção (capitalismo mercantil) . .uurante esse período, até o sécuio XiX, pre­

dominou a livre concorrência entre os capitalistas (capitalismo concor­

rencial). Mas as pequenas empresas foram falindo e as maiores domina­ ram sozinhas o mercado, criando monopólios em suas áreas. A ânsia de lucros l�ou as empresas a buscar novos mercados, em outros países. A concentração internacional das grandes empresas e a utilização de novas tecnologias produziram um novo tipo de capitaiismo, imperialista, cha­ mado "capitalismo monopolista''. Este é o capitalismo do século XX. A situação do assalariado no capitalismo é melhor do que a do es­ cravo e a do servo. Contudo, ensina Marx, a liberdade que o assalariado

tem de assinar um contrato de trabalho com seu patrão acaba sendo uma ilusão de liberdade., pois não lhe é possível decidir não vender sua força de trabalho. Deixa de ser servo de um senhor e passa a sê-lo da burguesia em ger::il; ou do capital enquanto um senhor abstrato. O contrato de tra­ balho não lhe permite decidir também acerca do que vai produzir e em

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Domínação

e

resistêncía

que condições: o assalariado se torna prisioneiro do sistema capitalista

com todas as limjtações e cerce