Luiz Carlos Prestes: textos resgatados do esquecimento
 9788553104383

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ANITA LEOCÁDIA PRESTES

Anita Leocádia Prestes

Prestes orgulhava-se de ter percorrido o caminho que o levara do “tenentismo às fileiras do partido do proletariado” e da “condição de oficial das Forças Armadas a serviço das classes dominantes à honrosa situação de soldado do grande exército do proletariado”.

Luiz Carlos Prestes: Textos resgatados do esquecimento

LUTAS ANTICAPITAL

Luiz Carlos Prestes textos resgatados do esquecimento Anita Leocádia Prestes (organizadora)

ENSAIOS Aspectos da luta contra o subjetivismo no 49º aniversário do PCB Como cheguei ao comunismo

Luiz Carlos Prestes textos resgatados do esquecimento Luiz Carlos Prestes

Anita Leocádia Prestes (organizadora)

1ª edição LUTAS ANTICAPITAL Marília - 2019

Aspectos da luta contra o subjetivismo no 49º aniversário do PCB Como cheguei ao comunismo

Luiz Carlos Prestes

Anita Leocádia Prestes (organizadora)

1ª edição LUTAS ANTICAPITAL Marília - 2019

Editora LUTAS ANTICAPITAL Editor: Julio Okumura Conselho Editorial: Andrés Ruggeri (Universidad de Buenos Aires Argentina), Bruna Vasconcellos (UFABC), Candido Giraldez Vieitez (UNESP), Dario Azzellini (Cornell University – Estados Unidos), Édi Benini (UFT), Fabiana de Cássia Rodrigues (UNICAMP), Henrique Tahan Novaes (UNESP), Julio Cesar Torres (UNESP), Lais Fraga (UNICAMP), Mariana da Rocha Corrêa Silva, Maurício Sardá de Faria (UFRPE), Neusa Maria Dal Ri (UNESP), Paulo Alves de Lima Filho (FATEC), Renato Dagnino (UNICAMP), Rogério Fernandes Macedo (UFVJM), Tania Brabo (UNESP). Projeto Gráfico e Diagramação: Mariana da Rocha Corrêa Silva e Renata Tahan Novaes Capa: Mariana da Rocha Corrêa Silva Revisão: Julio Okumura, Gabriel Nemirovsky e Henrique Tahan Novaes Impressão: Renovagraf Prestes, Luiz Carlos P936l Luiz Carlos Prestes – textos resgatados do esquecimento/Luiz Carlos Prestes; Anita Leocádia Prestes (org.) – Marília: Lutas anticapital, 2019. 59p. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-53104-38-3 1. Prestes, Luiz Carlos – 1898-1990. 2. Comunismo. 3. Partido Comunista – História - Brasil. 4. Biografia. I. Prestes, Anita Leocádia. CDD 923.281 Ficha elaborada por André Sávio Craveiro Bueno CBR 8/8211 FFC – UNESP – Marília 1ª edição – outubro de 2019 Editora Lutas anticapital Marília –SP [email protected] www.lutasanticapital.com.br

Sumário O legado revolucionário de Luiz Carlos Prestes Anita Leocádia Prestes...............................................7

Apresentação dos textos Anita Leocádia Prestes.............................................11

Aspectos da luta contra o subjetivismo no 49º aniversário do PCB Luiz Carlos Prestes..................................................15

Como cheguei ao comunismo Luiz Carlos Prestes..................................................39

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O LEGADO REVOLUCIONÁRIO DE LUIZ CARLOS PRESTES Luiz Carlos Prestes nasceu em 3/01/1898, em Porto Alegre (RS), e faleceu em 7/03/1990, no Rio de Janeiro, aos 92 anos de idade. Desde muito jovem, Prestes revelou indignação com as injustiças sociais e a miséria de nosso povo, mostrando-se preocupado com a busca de soluções efetivas para a situação deplorável em que se encontrava a população brasileira, principalmente os trabalhadores do campo, com os quais tivera contato durante a Marcha da Coluna (1924-27), que ficaria conhecida como a Coluna Prestes. Muito antes de tornar-se comunista, Prestes já era um revolucionário. Sua adesão aos ideais comunistas e ao movimento comunista apenas veio comprovar e confirmar sua vocação revolucionária, seu compromisso definitivo com a luta pela emancipação econômica, social e política do povo brasileiro. Como revolucionário, Prestes foi um patriota - um homem que dedicou sua vida à luta por um Brasil melhor, por um Brasil onde não mais existissem a fome, a miséria, o analfabetismo, as doenças, a mortalidade infantil e as demais chagas que continuam a infelicitar nosso país. A descoberta da teoria marxista e a adesão ao comunismo representaram, para Prestes, o encontro com uma perspectiva, que lhe pareceu factível, de realização dos anseios revolucionários por ele até então alimentados, principalmente durante a Marcha da Coluna. A luta à qual resolvera dedicar sua vida

8 | Textos resgatados do esquecimento encontrava, dessa forma, um embasamento teórico e um instrumento para ser levada adiante - o Partido Comunista. O Cavaleiro da Esperança, uma vez convencido da justeza dos novos ideais que abraçara, tornava-se também um comunista convicto e disposto a enfrentar toda sorte de sacrifícios na luta pelos objetivos traçados. No processo de aproximação ao PCB, Prestes rompeu de público com seus antigos companheiros os jovens militares rebeldes conhecidos como os ―tenentes‖ -, posicionando-se abertamente a favor do programa da ―revolução agrária e anti-imperialista‖ defendido pelos comunistas brasileiros. Seu Manifesto de Maio de 1930 consagra o início de uma nova fase na vida do Cavaleiro da Esperança. A partir daquele momento, Prestes deixava definitivamente para trás os antigos compromissos com o liberalismo dos ―tenentes‖ e enveredava pela via da luta pelos ideais comunistas que passariam a nortear toda sua vida. Pela primeira vez na história do Brasil, uma liderança de grande projeção nacional, a personalidade de maior destaque no movimento tenentista, - na qual apostavam suas cartas as elites oligárquicas oposicionistas, na expectativa de que o Cavaleiro da Esperança pusesse seu cabedal político a serviço dos seus objetivos, aceitando participar do poder para melhor servi-las -, recusa tal poder, rompendo com os políticos das classes dominantes para juntar-se aos explorados e oprimidos, para colocar-se do lado oposto da grande trincheira aberta pelo conflito entre as classes dominantes e as

Luiz Carlos Prestes | 9 dominadas, entre exploradores e explorados. Prestes tomava o partido dos oprimidos, abandonando as hostes das elites comprometidas com os donos do poder, não vacilando jamais diante dos grandes sacrifícios que tal opção lhe acarretaria. Tratava-se de um fato inédito, jamais visto no Brasil. Luiz Carlos Prestes, capitão do Exército, que se tornara general da Coluna Invicta, que fora reconhecido como liderança máxima das forças oposicionistas ao esquema de poder vigente no Brasil até 1930, talhado, portanto, para transformar-se no líder da ―revolução‖ das elites oligárquicas, numa liderança política confiável dessas elites, usava seu prestígio para indicar ao povo brasileiro um outro caminho – o caminho da luta pela reforma agrária radical e pela emancipação nacional do domínio imperialista, o caminho da revolução social e da luta pelo socialismo. Como foi sempre coerente consigo mesmo e com os ideais revolucionários a que dedicou sua vida, sem jamais se dobrar diante de interesses menores ou de caráter pessoal, Prestes despertou o ódio dos donos do poder, que se esforçariam por criar uma História Oficial deturpadora tanto de sua trajetória política quanto da história brasileira contemporânea. Mesmo após seu falecimento, Prestes continua a incomodar os donos do poder, o que se verifica pelo fato de sua vida e suas atitudes não deixarem de serem atacadas e/ou falsificadas, com insistência aparentemente surpreendente, uma vez que se trata de uma liderança do passado, que não mais está

10 | Textos resgatados do esquecimento disputando qualquer espaço político. Num país em que praticamente inexiste uma memória histórica, em que os donos do poder sempre tiveram força suficiente para impedir que essa memória histórica fosse cultivada, presenciamos um esforço sutil, mas constante, desenvolvido através de modernos e possantes meios de comunicação, de dificultar às novas gerações o conhecimento da vida e da luta de homens como Luiz Carlos Prestes, cujo passado pode servir de exemplo para os jovens de hoje. Luiz Carlos Prestes dedicou 70 anos de sua vida à luta por um futuro de justiça social e liberdade para o povo brasileiro. Luiz Carlos Prestes foi um revolucionário, um patriota, um comunista e um internacionalista, que jamais vacilou na luta pelos ideais socialistas e pela vitória da revolução socialista no Brasil e em nosso continente latino-americano. Prestes foi um defensor consequente dos países socialistas, tendo à frente a URSS. Esteve sempre solidário com as Revoluções Cubana e Nicaraguense. O legado revolucionário de Luiz Carlos Prestes deve ser preservado e desenvolvido pelas novas gerações de brasileiros e latino-americanos. Rio de Janeiro, junho/2019 Anita Leocádia Prestes Professora do Programa de Pós-graduação em História Comparada da UFRJ e Presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes

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Apresentação dos textos _____________________________________ Os artigos de Luiz Carlos Prestes, ora reeditados pela Editora Lutas Anticapital, o são em boa hora, pois foram publicados há muitos anos e tiveram circulação restrita no Brasil. O primeiro artigo, intitulado ―Aspectos da luta contra o subjetivismo no 49º aniversário do PCB‖, foi publicado na revista Estudos1 (órgão teórico do Partido Comunista Brasileiro) em 1971. Tratava-se de publicação clandestina, vítima, portanto, da feroz repressão movida pela ditadura militar contra os comunistas, condicionando sua distribuição precária e limitada a número restrito de militantes. Nesse artigo, ao combater as tendências subjetivistas de cópia de modelos revolucionários de outros países (Cuba, Peru, etc.), Prestes chama a atenção dos leitores para uma particularidade importante da realidade brasileira, que, segundo ele, ―temos até agora deixado de lado‖: ―O poderio do Estado em nosso país, poderio que não é apenas econômico, mas também político e – o que é mais importante – apoiado numa tradição reacionária, de instrumento de opressão, de violência e de arbítrio contra a maioria da nação‖. Após fazer uma análise histórica do Estado brasileiro a partir do século XIX, Prestes aponta: ―Aspectos da luta contra o subjetivismo no 49º aniversário do PCB‖, Estudos, ano 1, n. 2, mar. 1971, p. 5-24. 1

12 | Textos resgatados do esquecimento É esse Estado que precisa ser golpeado seriamente para, em seguida, ser efetivamente destruído, a fim de que o processo revolucionário em nosso país avance e possa ser finalmente vitorioso, abrindo para nosso povo o caminho para a democracia, o desenvolvimento econômico independente e o socialismo.

O articulista chama atenção para a necessidade da construção de um partido revolucionário, um ―partido marxista-leninista enraizado nas grandes empresas, capaz de organizar e educar a classe operária, um partido ligado às massas trabalhadoras‖. Através dele é que seria possível criar as condições que permitiriam ―abalar e golpear a fortaleza da reação, essa muralha reacionária que é o atual Estado brasileiro‖. Prestes defende uma perspectiva de acordo com a qual a luta contra a ditadura e pelas liberdades democráticas deveria levar os comunistas à preparação das forças sociais e políticas capazes de dar prosseguimento ao processo de transformação revolucionária da sociedade. Nesse caminho, seriam necessários o enfrentamento e a destruição do Estado brasileiro, ―fortaleza da reação‖. O segundo artigo, intitulado ―Como cheguei ao comunismo‖, foi publicado em 1973, na Revista Internacional2, com sede em Praga (Tchecoslováquia), editada em vários idiomas pelo movimento comunista internacional. Nesse artigo, Prestes relatou o caminho por ele percorrido, do movimento tenentista – do qual ―Como llegué al comunismo‖, Revista Internacional, Praga (Tchecoslováquia), n. 1, jan. 1973, p. 76-80. 2

Luiz Carlos Prestes | 13 se tornara a liderança máxima no final dos anos 1920 – até o ―comunismo científico‖. Contou que seu primeiro exílio na URSS, nos anos 1931-1934, havia definido seu destino, pois, apesar da resistência inicial do PCB, fora finalmente aceito em suas fileiras. Dessa forma, avaliou Prestes, deu-se a evolução que o levara do ―tenentismo às fileiras do partido do proletariado‖ e da ―condição de oficial das Forças Armadas a serviço das classes dominantes à honrosa situação de soldado do grande exército do proletariado‖. Na conclusão do artigo, Prestes afirmou: Já se passaram quase quarenta anos. Foram anos de dura luta, períodos de prisão e de vida clandestina, de fluxos e refluxos do movimento revolucionário. Grandes massas de nosso continente participam hoje da convicção dos comunistas de que só o socialismo pode resolver os problemas de nossos povos. Sinto-me feliz com a opção política por mim feita e que confirma uma vez mais o acerto das palavras de Lenin de que ―no século XX, num país capitalista, é impossível ser democrata revolucionário se se teme marchar para o socialismo‖.

Prestes aproveitou a oportunidade que lhe fora oferecida com a publicação do artigo para, uma vez mais, externar a opinião de que só havia um caminho para a revolução na América Latina: o caminho do socialismo. Anita Leocádia Prestes Rio de Janeiro, junho/2019

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ASPECTOS DA LUTA CONTRA O SUBJETIVISMO NO 49º ANIVERSÁRIO DO PCB Luiz Carlos Prestes Os comunistas brasileiros, na luta histórica em que se acham empenhados pela democracia e pelo socialismo, enfrentam numerosas dificuldades, tanto práticas como teóricas. Entre estas, como reconheceu o último Congresso de nosso Partido, estão "nossas limitações teóricas" e o ―domínio insuficiente da realidade do país". Daí, o subjetivismo que tantos males já nos causou, levando a equívocos, falhas e erros de consequências muitas vezes desastrosas para a luta sustentada pelo movimento operário que cabe aos comunistas orientar e dirigir. Quero neste artigo, escrito ao comemorarmos o 49º aniversário do Partido, referir-me a uma apenas das formas como se tem manifestado o subjetivismo em nossas fileiras, por ser talvez a mais comum e insistente, difícil de combater e que consegue muitas vezes iludir a numerosos combatentes e conquistar o apoio de parcelas não pequenas do Partido e do movimento operário e democrático. Refiro-me à tendência à transposição mecânica a nosso país da experiência de outros povos. Posição dogmática e, portanto, antimarxista e antileninista, mas que, no entanto, vem se repetindo em nossas fileiras, servindo de cobertura para as tendências oportunistas, tanto

16 | Textos resgatados do esquecimento de direita como de esquerda. Essa tendência à cópia servil do que se passa no estrangeiro reflete a influência da cul1tura burguesa e pequeno burguesa em nossas fileiras. Um fosso profundo separa, em nosso país, a minoria letrada da maioria esmagadora da nação-miserável, em grande parte analfabeta, e brutalmente explorada e oprimida. Contraste que se agrava com o crescente monopólio imperialista dos meios de comunicação em massa e com a censura oficial, burocrática e reacionária. Isto não significa negar o esforço patriótico e honesto dos intelectuais brasileiros, que vão forjando, ao lado e em oposição à chamada cultura nacional, reacionária e dominante, porque é das classes dominantes, uma cultura progressista e popular, com elementos democráticos e socialistas. São grandes, no entanto, as dificuldades que enfrentam os intelectuais em nosso país para refletir e expressar o que se passa entre o povo, seus sentimentos e reivindicações, e, daí, a tendência a cópia, à transposição mecânica de manifestações alienígenas, ao cosmopolitismo cultural. ―Combato atualmente a Europa – dizia Mário de Andrade, em 1942 – mais que posso. Não porque deixei de reconhecê-la, admirá-la, porém, pra destruir a europeização do brasileiro educado‖. (1) Mas, como não foi modificada a estrutura socioeconômica do país, essa destruição não foi possível. A ―europeização‖ transformou-se, nas últimas décadas, em americanização do ―brasileiro educado‖. Por isso, mesmo os patriotas honestos que se rebelaram contra aquela europeização – como aconteceu, por exemplo,

Luiz Carlos Prestes | 17 com os artistas e escritores da chamada Semana de Arte Moderna, de 1922 - no fim de contas, o que, na verdade, fizeram foi procurar transpor mecanicamente para o nosso país as novas escolas estéticas que surgiam na Europa após a primeira guerra mundial. E, recentemente, o Festival Internacional da Canção, no Rio de Janeiro, que nos mostrou senão o predomínio da música norte-americana sobre a música popular brasileira? E não é somente no terreno das artes, da literatura e da filosofia que predomina em nosso país essa tendência a cópia servil do que se passa no exterior. É também no terreno das instituições políticas, em que a preocupação das classes dominantes foi sempre a de encobrir instituições reacionárias e retrógradas com a vestimenta de democracia burguesa – o escravagismo do Império com o parlamentarismo britânico, como o regime latifundiário e burguês da República com o presidencialismo norte-americano. Tobias Barreto já mostrava, em sua época, os males dessa cópia no terreno político: ―Cada povo tem a sua história – escrevia ele -, e cada história tem os seus fatores. Tampouco se encontram duas nações com o mesmo desenvolvimento, como dois indivíduos com a mesma feição‖. E concluía: ―Aí dos imitadores, se diz na poesia: porém três vezes mais dignos de lástima os imitadores políticos: eles são o presente mais perigoso, com que a cólera dos deuses pode mimosear uma nação infeliz‖. (2)

18 | Textos resgatados do esquecimento O que há de errado nessa transposição mecânica da experiencia de outros povos para nosso país, tornou-se nos últimos anos, após a vitória da Revolução Cubana, bem evidente para o movimento revolucionário brasileiro. É claro que, como marxistas-leninistas, internacionalistas portanto, não podemos deixar de estudar com proveito as experiências das classes operárias e demais forças revolucionárias em todo o mundo. Sabemos também que o socialismo é uma ciência e que como ciência deve ser tratado. Quer dizer, está sujeito a leis gerais a que se submetem a revolução socialista e a construção do socialismo. Mas, como advertia Lenin, é indispensável na aplicação dos princípios fundamentais do comunismo, a tomar em consideração as particularidades específicas de cada nação. Olvidar as peculiaridades nacionais é divorciar-se da vida e das massas, é negar a ciência do proletariado. Foi esquecendo esses princípios básicos do marxismo-leninismo que se tentou transpor para nosso país a experiência vitoriosa do povo cubano, em geral reduzida, de maneira caricata, aos aspectos de luta armada sustentada por pequeno grupo de guerrilheiros, sem se tomar em consideração numerosos outros fatores – econômicos, políticos, sociais e culturais – específicos de Cuba e que contribuíram decisivamente para a vitória da revolução na Ilha da Liberdade. E, juntamente com isto, da criação de ―focos‖ guerrilheiros isolados das massas, sem cuidar do estudo ou de exame da

Luiz Carlos Prestes | 19 situação concreta brasileira, dos diversos fatores que conformam essa situação. Em verdade, a pretexto de seguir o exemplo heróico dos revolucionários cubanos, tomava-se uma posição ultra-esquerdista que, no fim de contas, queiram ou não seus partidários, facilitava – como continua facilitando à ditadura militar reacionária em nosso país, justificar e reforçar sua dominação. Não constitui também nenhuma contribuição positiva para a revolução em nosso país o aniquilamento físico de tantos revolucionários, jovens patriotas, abnegados e valentes. Diante do insucesso, já evidente, dos imitadores em nosso país da Revolução Cubana, levanta-se a tendência a imitar o que se passa mais recentemente no Peru e, talvez com menor repercussão, o que vem acontecendo na Bolívia, países em que ditaduras militares tomam medidas de sentido nacional reformistas e, mesmo, nacional revolucionário, como é o caso do Peru, conforme reconhecem em seus últimos documentos os camaradas da direção do Partido Comunista do Peru. Sem dúvidas, constitui, o que se vem passando nesses dois países andinos, muito especialmente no Peru, experiência que merece estudo acurado, já que revela novas formas nos processos revolucionário dos povos irmãos da América Latina, na luta que se aguça contra a dominação imperialista, contra o latifúndio, pela independência nacional e pelo progresso social. A nós, comunistas, interessa-nos, muito particularmente, acompanhar, no desenvolvimento do que se passa no Peru, a forma

20 | Textos resgatados do esquecimento pela qual a classe operária e a sua vanguarda comunista participam dos acontecimentos e conseguem fazer avançar sua força e sua influência política e ideológica sobre as grandes massas trabalhadoras das cidades e do campo. Supor, porém, que o atual caminho peruano possa ser repetido em nosso país, que os generais da atual ditadura brasileira – carrascos e torturadores do povo – possam espontaneamente tomar pelo caminho da defesa dos interesses nacionais ou da democratização do regime é ilusão pequeno-burguesa que, reflete, no fim de contas, capitulação pura e simples ao atual regime. Não dispomos dos elementos informativos suficientes para examinar os fatores econômicos, políticos, sociais e culturais, nem as tradições históricas do povo peruano, elementos todos que em seu conjunto contribuíram para o desenvolvimento de um processo revolucionário tão específico. Quanto ao nosso país, porém, os que julgam possível a repetição de semelhante processo, revelam desconhecimento ou total esquecimento de nossa história. A experiência dos últimos quarenta anos já nos ensinou que não é sob a direção dos militares pequeno-burgueses nem da burguesia nacional que poderá avançar o processo revolucionário em nosso país. Em 1930, por exemplo, os tenentes participaram do movimento popular – a chamada revolução de 30 – e chegaram ao poder. Que fizeram então? Destruíram por acaso o regime dominante de latifundiários e de submissão ao imperialismo? – Não. Ao contrário, capitularam e se passaram para o lado

Luiz Carlos Prestes | 21 dos opressores nacionais e estrangeiros de nosso povo. Onde estão hoje os Eduardo Gomes, os Tavora, Cordeiro de Farias, e tantos outros? – Ao lado dos setores mais retrógrados das classes dominantes, solidários com a ditadura e o regime de tipo fascista imposto à nação, com todos os seus Atos Institucionais. Muitos deles prosperam bastante e são hoje diretores de Bancos e grandes empresas estrangeiras, como Jurací Magalhães, Nelson de Melo et caterva. Essa foi a posição dos militares pequenoburgueses. Quanto à burguesia nacional (3), a partir do segundo governo Vargas, em 1951, começou a exercer papel influente no poder. Suas posições se reforçaram no governo Kubitschek e alcançaram maiores destaques no governo Goulart. Bastou, porém, que a classe operária desse alguns passos no caminho da organização de suas forças e da luta pelos seus interesses e que a conjuntura econômica se modificasse colocando na ordem do dia a necessidade de medidas mais avançadas, para que a burguesia nacional passasse com armas e bagagens para o lado da reação interna e dos seus aliados dos monopólios norte-americanos. Como reconheceu o Comitê Central de nosso Partido, em seu Informe ao VI Congresso: ―No início de 1964, modificou-se profundamente a correlação de forças sociais e políticas. A maior parte da burguesia nacional, arrastando consigo amplos setores da pequena burguesia, inclusive a maioria esmagador dos oficiais das Forças Armadas, já se colocava contra o governo

22 | Textos resgatados do esquecimento e, passava a proporcionar base de massas às forças reacionárias que conspiravam para depor o governo‖.(4) Evidentemente, essa capitulação da pequena burguesia e da burguesia nacional não se dá por acaso, reflete uma situação concreta em que se destacam dois fatores importantes: de um lado, o nível já alcançado pelo antagonismo de classe entre o trabalho e o capital, entre o proletariado e a burguesia, em nosso país; e, de outro, o poderio do Estado dos latifundiários e grandes capitalistas ligados ao imperialismo ianque, poderio econômico, com base numa tradição mais que secular e que vem do regime colonial imposto por Portugal em nosso país, mantido pelo Império escravocrata e conservado pela República dos latifundiários e de grandes capitalistas associados aos monopólios estrangeiros. É certo que a pequena burguesa, pela sua própria natureza de camada social intermediária, é vacilante e predisposta à capitulação. Quanto à burguesa nacional, sua posição política depende sempre das condições concretas, das modificações que se dão na correlação de forças de classes e, muito particularmente, da força efetiva do movimento operário e da consistência do seu sistema de alianças. Era de esperar, no entanto, que num país como o nosso, brutalmente oprimido pelo imperialismo e no qual a concentração da propriedade da terra nas mãos de uma minoria dificulta e retarda a ampliação do mercado interno, aquelas camadas tivessem força para iniciar ao menos o processo revolucionário,

Luiz Carlos Prestes | 23 fossem capazes de desfechar os primeiros golpes no Estado latifundiário-burguês serviçal do imperialismo e de conquistar um regime de democracia burguesa, em que elas mais facilmente pudessem defender seus interesses, regime em que as grandes massas populares conquistassem, de fato, as liberdades democráticas e começassem a participar efetivamente da vida política, e conhecer a prática do autogoverno, através do sufrágio universal. Isto, no entanto, não se deu. E para surpresa nossa, porque não soubemos apreciar com acerto as condições objetivas, mas principalmente porque, ao avaliarmos a correlação de forças em presenças, temos até agora deixado de lado o poderio do Estado em nosso país, poderio que não é apenas econômico, mas também político e – o que é mais importante – apoiado numa tradição reacionária, de instrumento de opressão, de violência e de arbítrio contra a maioria da nação. ―Em política – dizia Engels – só há dois poderes decisivos: a força organizada do Estado – o exército – e a força elementar e desorganizada das massas‖. (5) Mas, no caso brasileiro, esse problema do Estado, baseado numa tradição reacionária mais que secular e que até hoje não pôde ser quebrada, constitui fator peculiar de nosso país. Nisto, a situação do Brasil se distingue da maioria dos demais países da América Latina. No entanto, não temos em geral tomado na devida consideração esse fator ao apreciar a realidade objetiva em que se desenvolve o movimento revolucionário no Brasil.

24 | Textos resgatados do esquecimento Os diversos países da América Latina, aproximadamente, têm a mesma infraestrutura (embora, em níveis diferentes de desenvolvimento econômico), enfrentam todos o mesmo inimigo comum e atravessam a mesma etapa da revolução, mas cada um teve seu próprio desenvolvimento histórico, possui tradições populares peculiares e chegou a níveis diferentes de desenvolvimento político. O desconhecimento das peculiaridades nacionais de cada um decorre, em geral, de uma errônea compreensão das relações entre infraestrutura e superestrutura. Esta não é determinada única e diretamente por aquela. É claro que as leis sociais, como leis objetivas, acabam inelutavelmente por abrir cominho através de todas as resistências. Mas a lei histórica atua somente como lei de tendência, quer dizer, ―como uma lei cuja vigência absoluta se vê contida, entorpecida e atenuada por causas que se lhe opõem‖. (6) Diante de fatores adversos, que travam a atividade das massas, a lei histórica é amortecida em maior ou menor grau, segundo a influência daqueles fatores. A unidade do processo de desenvolvimento, sujeito às mesmas leis, não pode levar a não se reconhecer a diversidade das formas históricasconcretas em que se caracterizam em cada país aquelas leis gerais. É a grande lição de Marx, ao escrever que ―a mesma base econômica – a mesma quanto às condições fundamentais – pode mostrar em seu modo de manifestar-se infinitas variações e gradações devidas a diferentes e inumeráveis circunstâncias empíricas, condições naturais, fatores

Luiz Carlos Prestes | 25 étnicos, influências históricas que atuam do exterior, etc., variações e graduações que só podem ser compreendidas mediante a análise destas circunstâncias empíricas dadas‖. (7) É a análise do processo histórico em nosso país, em particular no que tange às características do Estado, que nos tem faltado para tornar mais claro o que distingue o Brasil da maioria dos demais países irmãos da América Latina. Como reconhece, por exemplo, o professor norte-americano Jordam M. Young, do Pace College, de Nova Iorque: ―Depois de 1822, a maioria dos países norte-americanos iniciaram suas experiências de republicanismo. Em contraste com isso, o Brasil adotou um sistema imperial que tinha mais em comum com o passado português do que com o futuro do Brasil‖. (8) É o que também reconhece, num dos poucos livros em que são assinalados os fatores adversos ao progresso do Brasil, o professor E.L Berlinck, ao escrever: ―(...) a origem das nossas circunstâncias (analfabetismo, baixa produtividade, opressão política) e que se podem resumir na fórmula: falta de valorização do homem brasileiro, provêm da nossa formação colonial‖. E, a seguir, pergunta por que ainda hoje (1946, ao ser publicado seu livro) sentimos a repercussão dos males que aqui foram causados pelos colonizadores? E responde: ―(...) a independência não foi uma revolução nacional, foi, antes, uma manobra continuísta da Casa de Bragança, e toda a máquina

26 | Textos resgatados do esquecimento montada para oprimir a colônia. O contraste entre a conspiração de Tiradentes, a revolução de 1817 e mesmo, já no período da independência, a revolução de 1824 e as démarches de gabinete da nossa independência...é flagrante. Nos movimentos revolucionários, sente-se a reação violenta de homens cultos contra a tirania colonial, visando claramente a sua destruição, a fundação de uma república nestas terras. Nas manobras que precederam a independência oficial do Brasil, percebem-se os esforços de uma casta dominante no sentido de colher para si essa independência que já estava madura...‖. (9) Não é isto, no entanto, o que se ensina nas escolas, nem o que consta de toda uma vasta historiografia oficial. Esta silencia o mais que lhe é possível e respeito das lutas heroicas dos oprimidos em toda a história de nosso povo, para exaltar a forma pretensamente pacífica de todas as suas conquistas. A título de história, propagam-se as mais cínicas mentiras e bastou que no ISEB fosse feita uma primeira e tímida tentativa no sentido de ser reescrita a história do país com base em pesquisa menos comprometida com os interesses dos setores mais retrógrados das classes dominantes para que seus autores fossem processados juridicamente sob a acusação de atentarem contra a segurança nacional. É de Engels a afirmação de que o Estado ―é esse poder, nascido da sociedade, mas que se coloca por cima dela e dela se divorcia mais e mais‖. No Brasil, o Estado surgiu de fora, imposto pela

Luiz Carlos Prestes | 27 metrópole portuguesa, sempre esteve por cima da sociedade e dela divorciado. Embora, a partir da independência política, passasse a representar os interesses dos senhores de escravos e, em seguida, após a abolição da escravidão negra, dos latifundiários e grandes capitalistas associados aos monopólios imperialistas, manteve-se sempre acima das grandes massas trabalhadoras e delas separado. Governo e povo foram sempre em nosso país dois campos antagônicos. Particularmente no interior do país, para o povo o governo é inimigo e não passa de sinônimo de brutalidade policial, de perseguição para o serviço militar obrigatório e para a cobrança de impostos. É a instituição que a todos, salvo a minoria dos donos do poder, atemoriza. Foi o que pude verificar, ao ouvir, durante a marcha da Coluna (1924-1927) a milhares de homens e mulheres do povo. E o sr. Raymundo Faoro, em seus trabalhos a respeito do que denomina de formação do patronato brasileiro, chaga a reconhecer que ―a nação e o Estado se cindem em realidades diversas, estranhas, opostas, que mutuamente se desconhecem‖. (10) Apoiado na burocracia colonial, na força armada e na Igreja católica (11), tinha o Estado por objetivo assegurar a exploração comercial da Colônia, manter a escravidão negra, massacrar a resistência da população indígena, submeter pela violência as outras parcelas da população trabalhadora. Apesar das lutas heroicas que se sucederam durante mais de cinquenta anos, Tiradentes (1789) até a Revolução Farroupilha (1835-1845), a independência política do país não

28 | Textos resgatados do esquecimento modificou, no essencial, o caráter do Estado. Os senhores de escravos e amplos setores da burguesia comercial precisavam, na defesa de seus privilégios, do mesmo Estado centralizado – único capaz de garantir a escravidão negra. Foi a luta pela salvaguarda da escravidão que permitiu aquilo que os historiadores das classes dominantes chamam de ―milagre‖ da unidade nacional. Todas as tentativas contra o poder do aparelho estatal, contra os impostos cobrados pelo governo imperial, pela autonomia local e pela conquista de governos representativos foram esmagadas pela força. Por isso, foi dissolvida a Constituição de 1823 e outorgada pelo primeiro Imperador uma Constituinte apropriada à defesa dos interesses dos senhores de escravos. E ninguém melhor que Caxias representou o papel – e o exerceu – de general dos senhores de escravos – capaz de todos as monstruosidades contra o povo. Em 1840, ao ser proclamada a maioridade de Pedro II, o Estado estava consolidado e pôde permitir o reinado de 50 anos do Imperador escravocrata. Nesses cinquenta anos, a tarefa do Estado foi manter a escravidão e impedir o progresso econômico e cultural do país. Com a proclamação da República, não mudou no fundamental o caráter do Estado. Com a abolição da escravidão negra, acelerou-se o desenvolvimento econômico, os entraves ao progresso foram em parte eliminados, mas os latifúndios e grandes capitalistas ligaram-se aos monopólios imperialistas e abriram o país à penetração do capital monopolista estrangeiro. Com o desenvolvimento da indústria moderna,

Luiz Carlos Prestes | 29 amplia-se e aprofunda-se o antagonismo de classe entre capital e o trabalho e o poder do Estado foi adquirindo, cada vez mais, o caráter de poder nacional do capital sobre o trabalho, de máquina do despotismo de classe. Por sua vez, com o desenvolvimento econômico, passou o Estado a intervir mais acentualmente na vida econômica, em defesa dos interesses das classes dominantes e contra os interesses dos trabalhadores. Começam os planos de ―defesa‖ do café, acentuam-se as tarifas aduaneiras protecionistas, surgem os ―Institutos‖ de ―defesa‖ do açúcar, da banha, do cacau etc. Após a crise econômica de 1929 e o movimento popular de 1930, surge a legislação trabalhista com o objetivo de submeter a classe operária por meio de uma organização corporativa de tipo fascista, subordinada diretamente ao Estado e que perdura até hoje, agravada com as medidas tomadas após o golpe militar de 1964. Nos últimos trinta anos, o Estado passou a atuar diretamente na economia, através das empresas estatais em maior parte das vezes, forçado pelas circunstâncias e que, atualmente, 65 por cento das inversões anuais em nosso país correspondem ao Estado. Nestas condições, além da força armada, da tradição secular de dominação, da organização acima da sociedade e divorciada do povo, é também uma força econômica e política aos grandes monopólios imperialistas e aos Estados e serviços deles, antes e acima de tudo aos monopólios ianques e ao governo dos Estados Unidos da América.

30 | Textos resgatados do esquecimento E esse Estado que precisa ser golpeado seriamente para, em seguida, ser efetivamente destruído, a fim de que o processo revolucionário em nosso país avance e possa ser finalmente vitorioso, abrindo para o nosso povo o caminho para a democracia, o desenvolvimento econômico independente e o socialismo. Tarefa histórica e gigantesca que só pode ser realizada sob direção da classe social que, no regime capitalista, pela posição decisiva que ocupa na produção social, é a mais avançada, é a única consequentemente revolucionária – a classe operária, que, ao libertar-se, liberta igualmente a todos os demais explorados e oprimidos. Só a classe operária tem justamente por isso condições de ganhar para suas posições revolucionárias, organizar e unir sob sua direção as demais forças revolucionárias da sociedade brasileira. Como é igualmente sob sua direção que será possível mobilizar, organizar e unir, nas condições atuais, as amplíssimas forças antiditatoriais, desde os camponeses e a pequena burguesia urbana, a intelectualidade e os estudantes, assim como a burguesia nacional. Nosso Partido precisa, pois, voltar-se, cada vez mais com decisão e firmeza, para a classe operária. É enraizando suas forças na classe operária que poderá intensificar a luta contra a influência da ideologia pequeno-burguesa, censura fundamental do subjetivismo, quer dizer, da subestimação da teoria e do estudo da situação concreta, como também de

Luiz Carlos Prestes | 31 outros males já assinalados em documentos partidários. Essa influência das correntes pequenoburguesa, viva e persistente, em nossas fileiras, decorre do próprio processo de formação de nosso Partido. Tanto das características de boa parte do proletariado – constituindo pelos serventes de construção civil e pelos trabalhadores não qualificados, em atividade nas milhares de pequenas empresas, muitas delas de caráter quase artesanal -, proletariado de formação ainda recente e de origem camponesa; como também do afluxo às fileiras partidárias da intelectualidade revolucionária antiimperialista, em geral de origem pequeno-burguesa e portadora de sua ideologia. É no próprio curso da luta revolucionária, a par de intenso trabalho ideológico, que esses aderentes adquirem a ideologia do proletariado. Isto já dizíamos no IV Congresso do Partido (1954). E insistimos no V Congresso, cujas Teses preconizavam: ―O combate às influências ideológicas estranhas à classe operária impõe a generalização da experiência histórica do Partido, o conhecimento do processo de sua formação e a crítica aprofundada às concentrações pequeno-burguesas que predominaram em diversos períodos, na sua direção e em suas fileiras‖. (12) Foi no VI Congresso, no entanto, que acentuamos a necessidade de acelerar esse processo de formação ideológica do Partido, dedicando maior cuidado à sua construção no núcleo fundamental da classe operária, o qual, nas condições atuais de nosso

32 | Textos resgatados do esquecimento país, localiza-se nas grandes empresas industriais. É nelas, portanto, onde devemos concentrar nosso trabalho de construção e reforçamento das bases partidárias. É disto que precisamos nós, comunistas, nos convencer, porque justamente nisto está a significação profunda do ―desafio histórico‖ a que se refere a Resolução Política do VI Congresso de nosso Partido, ―desafio histórico‖ que não traduza apenas uma tese teórica, mas a posição autocrítica que não decorre de uma conclusão tirada da própria experiência política do movimento revolucionário em nosso país. É através de um partido marxista-leninista enraizado nas grandes empresas, capaz de organizar e educar a classe operária, um partido ligado às massas trabalhadoras, que surgirão em nosso país as condições que permitirão abalar e golpear a fortaleza da reação, essa muralha reacionária que é o atual Estado brasileiro. É certo que, concentrando seus principais esforços na construção do Partido nas grandes empresas, os comunistas não deixam de acompanhar com atenção a vida política da nação, procurando sempre impulsioná-la para a frente através da justa utilização das contradições que se aguçam entre as classes dominantes e os diversos grupos e frações em que elas se dividem. São contradições que se acentuam em consequência do próprio desenvolvimento do capitalismo, que se intensifica nos últimos anos, a partir de 1968 mais exatamente.

Luiz Carlos Prestes | 33 Este desenvolvimento se dá em condições novas, é um desenvolvimento em benefício dos monopólios e que não pode deixar de ter em conta a existência do sistema socialista e quando no mundo se desenvolve o capitalismo monopolista de Estado e acelera-se a revolução científico-técnica moderna. Por tudo isso, o atual desenvolvimento do capitalismo em nosso país leva a uma aceleração excepcional de concentração do capital e da produção em benefício de uma minoria cada vez mais reduzida e contra os interesses da maioria esmagadora da nação. Essa maioria é vítima do arrocho salarial, da tributação crescente, da poupança forçada e da desnacionalização acelerada da economia brasileira. É um desenvolvimento enfim que leva a uma distribuição de renda nacional cada vez mais injusta e que aprofunda as contradições regionais. Consequentemente, a ditadura isola-se cada vez mais e necessita aumentar a repressão de tipo fascista para assegurar sua dominação. A violência, a brutalidade e o arbítrio dos senhores do poder não traduz, portanto, força, mas sua crescente fraqueza, que se sustenta exclusivamente no poderio econômico, policial e militar do Estado. Por sua vez, aumenta inevitavelmente a instabilidade da ditadura. Por motivos os mais diferentes, desde interesses feridos, até o legitimo receio de que não seja através dos métodos fascistas que melhor e mais eficientemente seja defendido o atual regime, grupos e frações das classes dominantes aspiram por novas ―saídas‖, buscam outras soluções,

34 | Textos resgatados do esquecimento visando à consolidação do regime imposto ao país pelo golpe militar reacionário de 1964. Semelhante divisão é particularmente sensível nas Forças Armadas, que, por dispor de força – armas e soldados -, constitui de fato, nos dias de hoje, a única organização política existente no país que pode intervir, como efetivamente intervém, na vida política, e no setor da qual, justamente por isso, não podem deixar de repercutir as contradições políticas que dividem a nação e as classes dominantes em particular. Mas mesmo diante dessa crescente instabilidade da ditadura, da perspectiva e da possibilidade real de novos golpes militares, o que cabe fundamentalmente às forças revolucionárias é prepararem-se para intervir de maneira prática, independente e eficiente em qualquer crise política. Na emergência de um golpe militar, só a força organizada das massas, dirigidas pela classe operária e sua vanguarda marxista-leninista, tem condições para golpear o atual regime político e impulsionar o processo revolucionário. É esta a orientação que a Resolução Política do VI Congresso de nosso Partido, ao prever a ocorrência de ―crises de governo e novos golpes‖, traçou como diretiva para a atividade do Partido: ―Neste caso, só a intervenção das forças populares, levantando suas próprias bandeiras de luta, poderá impedir uma solução reacionária, com a simples substituição de golpistas no poder, e impor sua solução democrática‖. Para tanto, é indispensável que à frente das forças populares esteja a classe operária dirigida por

Luiz Carlos Prestes | 35 sua vanguarda marxista-leninista. Por tudo isso, torna-se cada dia mais evidente que, nas atuais condições de nosso país, a tarefa básica que enfrentamos consiste em reforçar nosso Partido, como partido político da classe operária, isto é, efetivamente organizado nas grandes empresas urbanas e de tal maneira vinculado ao movimento operário que esteja em condições de dirigi-lo. Evidentemente, não é esta uma tarefa fácil no mundo capitalista, sejam quais forem as circunstâncias, e muito menos nas condições atuais de nosso país. ―Mas o trabalho dos marxistas – dizia Lênin – sempre é difícil e eles se distinguem dos liberais precisamente porque não declaram impossível o que é difícil‖. (13) Venceremos todas as dificuldades se, em primeiro lugar, nos convencermos do acerto dessa diretiva; se, em segundo lugar, soubermos fazer esforços para realizar a unidade mais estreita dos melhores elementos de nossas fileiras, dispostos a vencer todas as dificuldades; e, em terceiro lugar, se planificarmos com acerto nosso trabalho. As medidas práticas a tomar já estão expostas, no fundamental, no capítulo sobre o Partido da Resolução Política do VI Congresso e, com maior amplitude, no Informe do Comitê Central ao VI Congresso. Outro elemento que muito poderá ajudar na realização dessa tarefa será o estudo e generalização da experiencia adquirida com os esforços já feitos numa outra organização partidária no sentido da construção e

36 | Textos resgatados do esquecimento desenvolvimento de organizações de base nas grandes empresas. É, pois, concentrando esforços para levar à prática o ―desafio histórico‖ levando pelo VI Congresso do Partido que comemorarem neste mês de março o 49º aniversário de nosso Partido. A própria atividade do Partido, apesar de toda a repressão policial, nos dá a certeza de que dispomos em nossas fileiras de reservas de energia, de abnegação pessoal, de firmeza revolucionária, de espírito de sacrifício, que nos permitem augurar a superação de todas as dificuldades. ―Não é difícil – dizia Lênin – ser revolucionário quando a revolução estalou e se encontra no apogeu‖. E conclui: ―É infinitamente mais difícil – e muitíssimo mais meritório – saber ser revolucionário quando a situação ainda permite a luta direta, franca, a verdadeira luta de massas, a verdadeira luta revolucionária: saber defender os interesses da revolução (mediante a propaganda, a agitação, a organização) em instituições não revolucionárias e muitas vezes simplesmente reacionárias, na situação não-revolucionária, entre massas incapazes de compreender de um modo imediato a necessidade de um método revolucionário de ação, saber encontrar, perceber, determinar exatamente a marcha concreta ou a mudança dos acontecimentos suscetíveis de conduzir as massas à grande e verdadeira luta revolucionária final e decisiva‖. (14) Além desse esforço meritório que exige de cada comunista uma profunda convicção

Luiz Carlos Prestes | 37 revolucionária, a firme disposição para um trabalho modesto e paciente, cujos frutos não poderão ser imediatos, precisamos intensificar em todo o Partido a educação teórica de seus membros, o que significa desenvolver e aprofundar o estudo do marxismoleninismo a situação de nosso país no contexto da evolução dos acontecimentos no mundo inteiro. Entramos agora no ano do quinquagésimo aniversário da fundação de nosso Partido. Será esta a oportunidade de concentrarmos os esforços no sentido do estudo científico da realidade brasileira, que não pode deixar de incluir o estudo das condições em que se desenvolve o capitalismo em nosso país, a história de nosso povo, a do movimento operário brasileiro e a história de nosso próprio Partido.

Notas: ____________________________________________________________ (1) – Citado por Fábio Lucas, ―O caráter Social da Literatura‖, Edições Paz e Terra, p.25. (2) in ―Estudos Alemães‖, Laemmert & Cia. Editores, Rio, 1892, p. 679. (3) A expressão burguesia nacional é aqui usada no sentido político, representando aquela parcela da burguesia brasileira capaz de opor-se ao imperialismo e de participar da revolução em sua presente etapa, segundo os termos da Resolução Política da VI Congresso do PCB. (4) Informe de Balanço do CC ao VI Congresso do PCB, p.11.

38 | Textos resgatados do esquecimento (5) Marx-Engels, ―Correspondência‖, Ed. Cartago, Buenos Aires, p. 143. (6) K. Marx, ―O Capital‖, Ed. Fondo de Cultura, México, tomo III, p.234. (7) Ibid., tomo III, p. 733. (8) ―Outubro de 1930: ―Conflito ou Continuidade‖, capítulo do livro de ensaios sobre a história do Brasil: ―Conflitos e Continuidade‖ etc.‖ Editora Civilização Brasileira, p. 291. (9) ―Fatores adversos na formação brasileira‖, São Paulo, p.9/10. (10) Raymundo Faoro, ―Os Donos do Poder‖, Editora Globo, Porto Alegre, p. 268. (11) A Igreja católica só recentemente, após ainda haver dado apoio de massas aos golpistas de 1964 mudou de posição, começou a compreender que seria um grave erro político, que a afastaria cada vez mais do povo brasileiro, continuar apoiando o atual Estado brasileiro. Posição que se relaciona também com a tomada no Concílio Vaticano II. (12) ―Teses para discussão‖, documentos para o V Congresso do PCB, p. 144. (13) Obras Completas, Ed. Cartago, Buenos Aires, tomo XIX, p. 393. (14) ―A doença Infantil do ‗esquerdismo‘ no Comunismo‖, Edição Vitória, Rio, p. 133.

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COMO CHEGUEI AO COMUNISMO? (1) Luiz Carlos Prestes Janeiro de 1973 Em 5 de julho de 1922, um levante na Escola Militar e no Forte de Copacabana marcou o início no Brasil do movimento político que receberia mais tarde o nome de "tenentismo"(2), já que dele participaram principalmente jovens oficiais das forças armadas. No mesmo ano, alguns meses antes, um grupo de patriotas ligados ao movimento operário havia fundado o Partido Comunista no Brasil. Estes dois acontecimentos importantes deram origem a duas correntes políticas independentes que, chocando-se por vezes entre si ou aproximando-se noutras, desempenharam um relevante papel na vida política brasileira. Apesar da dura perseguição de que era alvo, o partido da classe operária conseguiu vencer todos os obstáculos e, após haver sido declarado liquidado por diversas vezes pelas classes dominantes, ressurgia mais forte do que antes. Na atualidade, é o único partido político realmente organizado em todo o País. Quanto ao tenentismo, a partir do ano de 1930, quando muitos de seus dirigentes chegaram ao poder, desagregou- se. A maioria dos quadros da sua direção capitulou e pôs-se ao serviço das classes dominantes, dos latifundiários e grandes capitalistas, abertamente ligados ao imperialismo dos Estados Unidos. Não obstante,

40 | Textos resgatados do esquecimento alguns foram ganhos para as posições da classe operária e ingressaram no Partido Comunista, em cujas fileiras militaram ou continuam militando. Este último é o meu caso pessoal. Quero recordar aqui como foi possível essa evolução de um militar de origem pequeno-burguesa, educado pelas classes dominantes para defender o regime político imperante e que, de dirigente do movimento tenentista, passou a ser membro do partido político revolucionário marxista-leninista. Trata-se de um processo que não foi rápido nem fácil. Teve a duração de alguns anos, e, embora tenha contado com fatores favoráveis, que o aceleraram, também chocou-se com obstáculos difíceis de vencer. Trata-se enfim de uma experiência que talvez possa ser hoje útil à juventude revolucionária que, como eu então, busca o caminho para participar de maneira ativa e consequente na luta pelo progresso social e o futuro feliz de seu povo. A Coluna Invicta Não cabe aqui analisar as causas que levaram ao levante militar de 1922. Com a crise económica do pós-guerra, cujas consequências no Brasil tornariamse mais sensíveis em 1921, coincidiu um acontecimento político de importância: a sucessão presidencial, que se realizaria através das eleições de março de 1922. As forças políticas agruparam-se em dois bandos: o do candidato das forças de direita, triunfante nas eleições, e o da oposição. Esta última

Luiz Carlos Prestes | 41 conseguiu ganhar para o seu lado a jovem oficialidade das forças armadas, que estava descontente e ansiava por mudanças na situação do País, que protestava contra a fraude eleitoral sistemática, exigia a moralização dos costumes políticos e sonhava com o progresso da nação, compreendida a modernização das forças armadas, cuja ineficiência era conhecida pelos militares profissionais mais capazes. O movimento militar de 1922 foi derrotado. Mas ficou assinalado pelo gesto heroico do tenente Antônio de Siqueira Campos, que, comandando 17 companheiros, enfrentou as forças do governo. A heroica resistência daquele grupo de valentes comoveu toda a nação. Mas as forças eram desiguais. Como consequência da derrota, centenas de jovens oficiais foram detidos e processados juridicamente. Cerca de mil cadetes foram expulsos da Escola Militar e numerosos oficiais transferidos para guarnições longínquas. Apesar da repressão, reforçou-se a solidariedade profissional entre a jovem oficialidade, ampliou-se o campo dos descontentes e aumentou o número dos que estavam dispostos a reagir. Transferido do Rio de Janeiro para uma cidade do interior do Estado do Rio Grande do Sul, embora mantendo uma atitude apolítica, como a maioria de meus companheiros — todos em geral ignorantes a respeito dos problemas sociais —, participei ativamente da conspiração que levou a um segundo 5 de julho, com o levante da maior parle da guarnição de São Paulo, em 1924. Depois resistir durante 20 dias ao assédio das forças do Governo

42 | Textos resgatados do esquecimento central, os revolucionários de São Paulo retiraram se para o interior do País e situaram-se na parte ocidental do Estado do Paraná, nas fronteiras do Brasil com a Argentina e o Paraguai. Por haver sido com atraso que nos inteiramos do levante de São Paulo, somente em 29 de outubro conseguimos sublevar algumas unidades do Exército aquarteladas no Estado do Rio Grande do Sul. Sob pressão das forças governamentais, dirigimo-nos para o norte e conseguimos nos unir às forças de São Paulo, formando com os remanescentes — já que numerosos elementos haviam abandonado a luta — uma coluna de pouco mais de mil homens, mal armados e pessimamente municiados. Nosso propósito era atrair contra nós as forças da reação, para permitir que nossos colegas da Capitai do País pudessem depor o Chefe de Estado. De fato, não tínhamos ouro objetivo claro, político ou social. Graças aos êxitos alcançados mediante uma tática baseada na rapidez de movimentos e na orientação de evitar, no possível, os combates com forças superiores, mas atacando de surpresa as unidades inimigas para desmoralizá-las e apoderarmos de suas armas e munições, verificamos que, nas condições de nosso País, tínhamos a possibilidade de nos mantermos em armas durante meses e anos. Em pouco mais de dois anos, cruzamos o País de sul a norte e de este a oeste, enfrentando forças dez e vinte vezes superiores, mobilizadas tanto pelo poder central, como pelas autoridades dos Estados e dos municípios e por numerosos caudilhos locais.

Luiz Carlos Prestes | 43 Durante a marcha através de regiões atrasadas do País, sofrermos o primeiro e decisivo choque psicológico ao entrar em contato com a realidade brasileira. Filhos da pequena-burguesia urbana e imbuídos de uma arrogância chauvinista que nos proporcionava uma ideia falsa da vida de nosso povo, surpreendemo-nos com o atraso e a miséria em que vivia a população brutalmente explorada e oprimida por uma minoria proprietária da terra. Descobrimos rapidamente que no Brasil, rico e imenso, uma parte considerável dos camponeses não possuía um palmo de terra, via-se obrigada a viver nas terras dos grandes proprietários, submetida a seu arbítrio e sem ter a quem apelar, já que todas as autoridades locais eram aparentadas com os latifundiários ou estavam também submetidas à sua vontade. No interior do Brasil, não tinha vigência a Constituição nem eram respeitadas as leis(3). Verificamos a miséria incrível dos trabalhadores, descalços e esfarrapados a tal ponto que, em alguns lugares, ao passar a Coluna, os camponeses mantinham suas filhas encerradas nas choças, pois não tinham com que vestir-se, por só possuírem, para todas elas, um único e andrajoso vestido. Chocamo-nos com uma situação sanitária espantosa, sem nenhum recurso médico ou farmacêutico. Mais de uma vez, o acampamento da Coluna foi literalmente cercado pela população local que solicitava de nossa pequena ambulância remédios para seus enfermos. Enfim, o quadro foi sempre o mesmo ao longo dos 25.000 quilómetros que

44 | Textos resgatados do esquecimento percorremos. Mas, se era um quadro que nos comovia e nos enchia de patriótica indignação, ao mesmo tempo nos fez compreender que problemas tão sérios não poderiam ser solucionados com a simples mudança de homens na presidência da República. Simultaneamente, modificava-se a opinião errónea que tínhamos dos trabalhadores, os quais, na verdade, víamos como seres inferiores, passivamente submetidos à elite letrada e aos donos do poder. Expressão desta posição errónea, semelhante à defendida por Monteiro Lobato ao criticar em seu livro ―Urupês" o camponês miserável e analfabeto, ridicularizado na figura do Jeca-Tatu, foi uma passagem da carta que dirigi ao marechal Isidoro Dias Lopes, comandante das forças rebeldes de São Paulo, na qual, em termos que refletiam desprezo, dizia eu que o Governo "tem fábricas de munição, fábricas de dinheiro e analfabetos para jogar contra nossas metralhadoras". Supúnhamos também, como dizia naquela mesma carta, ao defender a guerra de movimento, que "com a marcha engrossaríamos a Coluna", o que não sucedeu, pois os trabalhadores do campo, se bem que simpatizassem com nossa luta, já que contra nós se lançavam todos os seus opressores, e admirassem nosso heroísmo e desprendimento, não se sentiam dispostos (com raras exceções de alguns jovens) a sacrificar seus interesses e suas vidas numa luta que não podiam acreditar que fosse vitoriosa. Na realidade, os camponeses não possuíam a consciência política necessária, consciência que não podíamos

Luiz Carlos Prestes | 45 transmitir-lhes, por sermos incapazes então de compreender a profundidade dos problemas sociais que enfrentávamos, como até mesmo as diferenças de classes no campo. A consciência política dos camponeses só poderia ser desenvolvida mediante a propaganda e agitação, por meio da atividade paciente e prolongada de uma organização bem preparada teoricamente e capaz de ligar-se à vida dos trabalhadores, e não pela ação direta, como supúnhamos naquela época(4). Naquelas condições, no final do ano de 1926 já havíamos compreendido a inutilidade de nosso esforço e começamos a nos dar conta de que as consequências da luta que sustentávamos pesava principalmente sobre a parte mais pobre da população, já que atrás da Coluna vinham as forças do Governo, capazes de todas as violências e arbitrariedades, sobretudo quando se tratava das policias militares dos Estados e dos destacamentos de caudilhos mercenários, armados pelo Governo central. Além disto, por carecermos de um objetivo político claro, no seio da Coluna começavam a aparecer sintomas de degeneração, o que poderia levar a transformar muitos de seus membros em salteadores e bandidos. Decidimos então cessar temporariamente a luta e retirar em direção à fronteira brasileira-boliviana, a qual cruzamos em 3 de fevereiro de 1927, na qualidade de exilados políticos. A marcha da Coluna foi um acontecimento de excepcional importância política. Mostrou às grandes massas populares de quase todo o Brasil a

46 | Textos resgatados do esquecimento possibilidade de uma luta prolongada e vitoriosa contra seus opressores e encheu de esperanças e entusiasmo o coração de cada patriota. A Coluna, que não tinha um programa claro de reivindicações socioeconômicas e políticas, foi, no entanto, a primeira manifestação concreta da luta de nosso povo contra o poder político central e, portanto, contra o latifúndio e o imperialismo, pela liberdade, a independência nacional e o progresso social e, por isso, seus feitos permanecem indeléveis na memória do povo. Em busca de um caminho acertado Enquanto alguns chefes da Coluna se dirigiam a La Paz e Buenos Aires, a fim de mobilizar recursos que permitissem a subsistência dos exilados, coube a mim a tarefa de conseguir trabalho na Bolívia para nossos soldados. Pela primeira vez em minha vida entrei em contato com uma empresa imperialista, a Bolivian's Co. Ltda., empresa inglesa que se dispunha a colonizar terras bolivianas nas margens do rio Paraguai e que passava por dificuldades com a falta de braços, já que a população indígena chiquitana se negava a deixar-se explorar pelos ingleses. Os feitos da Coluna tiveram enorme repercussão no Brasil e já começam a ser explorados pelas mais diversas correntes políticas. Para compreender o que estava ocorrendo, dediquei-me a ler. Os amigos enviaram-me numerosos livros, entre

Luiz Carlos Prestes | 47 eles publicações revolucionárias, como o "Manifesto Comunista" de Marx e Engels, e coletâneas de artigos de Lênin. Em dezembro de 1927, entrevistei-me em Puerto Suarez com Astrogildo Pereira, emissário do Partido Comunista e portador de uma credencial assinada por Otávio Brandão, em nome da direção do Partido. Obtive então as primeiras informações sobre a revolução russa, o movimento comunista e a União Soviética, onde o emissário dos comunistas estivera no ano anterior. Com os recursos recebidos do Brasil — fruto da subscrição popular — consegui que a maioria dos elementos da Coluna regressassem ao Brasil, ao seio de suas famílias. Em 1928, passei a residir em Buenos Aires. E lá me dediquei ao estudo do marxismo. Para mim teve um influxo decisivo a leitura de "O Estado e a Revolução", a grande obra de Lênin, que me fez compreender o quanto era falsa e errónea a concepção que tinha do Estado, que me havia sido inculcada pelo ensino universitário e que me fazia ver no Estado uma instituição situada acima das classes sociais e encarregada de distribuir a justiça e de dirigir como árbitro os destinos do país em benefício de toda a população. Foi esse, sem dúvida, o livro que me decidiu a iniciar uma revisão profunda de minha concepção da vida e do cabedal de conhecimentos acumulados até então. O primeiro tomo de "O Capital" revelou-me o segredo da exploração capitalista e tornou-me socialista por convicção científica. O

48 | Textos resgatados do esquecimento pensamento lógico e a base materialista adquirida no estudo das ciências naturais na Escola Militar me permitiram orientar-me melhor no estudo dos problemas sociopolíticos e me fizeram compreender a inconsequência do reformismo. Para ser honesto comigo mesmo, não podia deixar de tomar o caminho revolucionário. Era preciso entregar-me por inteiro â causa da luta pela transformação radical da situação do povo brasileiro. Mas seria capaz de ganhar para as novas ideias revolucionárias os companheiros das lutas anteriores, que me haviam elevado ao posto de chefe da Coluna? O problema familiar, que me preocupava, foi de fácil solução, já que minha mãe e minhas irmãs estavam dispostas a enfrentar todas as vicissitudes da vida. Com os velhos companheiros, a situação era diferente. Entusiasmados com a polaridade alcançada, esperavam que os próximos acontecimentos lhes permitissem galgar o poder político. Corria o ano de 1930, a sucessão presidencial estava às portas e alguns governantes, principalmente o do Estado do Rio Grande do Sul, Getúlio Vargas, pensavam apoiarse no prestígio da Coluna para escalar o poder central. Getúlio Vargas fora ministro da Fazenda do Governo Washington Luís, em que representara os interesses dos latifundiários e grandes capitalistas do Rio Grande do Sul. Posteriormente foi eleito presidente de seu Estado, como candidato do partido político mais conservador. Antônio Carlos, presidente do Estado de Minas Gerais, e João Pessoa, presidente do Estado da

Luiz Carlos Prestes | 49 Paraíba, igualmente representantes das forças conservadoras, eram seus aliados. Em 1929/1930 desenvolveu-se a luta entre os grupos oligárquicos sob a influência do poder central. ―Façamos a revolução antes que o povo a faça", dizia naquela época Antônio Carlos. A luta entre os dois bandos em que se dividiam os politiqueiros das classes dominantes era também um reflexo das contradições que se aguçavam entre os imperialistas ingleses e norte-americanos. O capital norteamericano, interessado em desalojar o inglês de suas posições no Brasil, apoiou financeiramente a Vargas. Este fundou o Banco do Estado do Rio Grande do Sul com um empréstimo de 160 milhões de dólares dos banqueiros ianques Dillon Read. Por sua vez, Antônio Carlos, com grande prejuízo para o Estado, vendeu à Light and Power canadense, subordinada ao monopólio dos Estados Unidos, a usina elétrica que abastecia a capitai do Estado que presidia. Com esses recursos, realizou Vargas o ―milagre de unificar politicamente a burguesia do Rio Grande do Sul descontente com o governo de Washington Luís. Foi assim que surgiu a então chamada Aliança Liberal. Enquanto Vargas era para mim um representante dos latifundiários e grandes capitalistas, ligados ao imperialismo norte-americano, meus velhos companheiros passaram, em sua quase totalidade, a apoiá-lo. Nossos caminhos, assim, pois, divergiam. Pouco antes tivera lugar meu segundo encontro com os dirigentes dos comunistas

50 | Textos resgatados do esquecimento brasileiros, Paulo Lacerda e Leôncio Basbaum (o primeiro como representante do Comité Central do PCB e o segundo como representante da Juventude Comunista), os quais solicitavam que eu aceitasse a apresentação do meu nome como candidato à presidência da República pelo Partido Comunista do Brasil. Não aceitei a proposta, embora estivesse de acordo com o programa eleitoral do PCB, porque me sentia ligado por um compromisso moral aos tenentistas e, além disto, não perdera a esperança de ganhá-los para uma posição revolucionária, de conseguir convencê-los de que a vitória de Vargas não levaria a nenhuma melhora da situação do povo, nem libertaria a nação do jugo imperialista. E que a participação dos tenentes no poder com Vargas, sem dispor, como efetivamente não dispunham, de uma torça política organizada e independente, significaria uma capitulação às classes dominantes e os desprestigiaria aos olhos do povo brasileiro. Em maio de 1930, tornei público meu Manifesto, que consagrou a cisão do movimento tenentista, minha separação dos companheiros que haviam ocupado postos de comando na Coluna e no qual expus minha posição revolucionária, antiimperialista, e de luta contra o latifúndio e pelo poder para os trabalhadores. "A revolução brasileira — dizia no referido Manifesto — não pode realizar-se com o programa anódino da Aliança Liberal. Uma simples mudança de homens no poder, o voto secreto, promessas de liberdade eleitoral, honestidade administrativa,

Luiz Carlos Prestes | 51 respeito à Constituição, moeda estável e outras panaceias nada resolvem nem podem interessar, de modo algum, à grande maioria de nosso povo, sem cujo apoio qualquer revolução que se faça terá o caráter de uma simples luta entre as oligarquias dominantes" Logo mais adiante, se assinalava: "Apesar de toda essa demagogia revolucionária e das afirmações dos liberais de que se propugnam pela revogação das últimas leis repressoras, não houve na Aliança Liberal quem protestasse contra a brutal perseguição política de que foram vítimas as associações proletárias de todo o país durante a última campanha eleitoral, e no próprio Rio Grande do Sul. Em plena fase eleitoral, foi desencadeada a mais violenta perseguição aos trabalhadores que lutavam por suas reivindicações. Os propósitos das oligarquias em pugna são idênticos". Se bem que o Manifesto fosse considerado como uma declaração de adesão ao movimento comunista, naquela época não era esta ainda minha posição. Na realidade, naquele, então, pensavam em organizar uma força política que, com uma plataforma radical, pudesse aliar-se como força independente ao Partido Comunista. Desta circunstância quiseram aproveita-se alguns intelectuais brasileiros trotsquistas, os quais encontraram-se comigo em Buenos Aires e conseguiram, por algum tempo, influir em minha busca de um caminho revolucionário. Sob a influência deles tomei a decisão de tomar a iniciativa

52 | Textos resgatados do esquecimento de criar Liga de Ação Revolucionária, publicando em julho de 1930 um novo manifesto ao povo brasileiro, no qual, conquanto sem nenhuma crítica ou ataque ao PCB, algumas expressões refletiam posições esquerdistas, sectárias e inclusive tipicamente trotsquistas. Foi então que surgiu a intervenção de uma pessoa, um comunista foi quem me ajudou a tomar pelo caminho acertado que me levaria a renunciar definitivamente às honras com que me pretendiam seduzir-me os partidários do imperialismo e do latifúndio, livrar-me de influências estranhas e converter-me em soldado do único movimento revolucionário consequente, do movimento operário e comunista. Essa pessoa foi o camarada Rústico(5) que se achava então em Buenos Aires, à frente do Bureau Sul-americano da Internacional Comunista. Logo após a publicação do Manifesto de Maio de 1930, Rústico procurou encontrar-se comigo através dos camaradas argentinos, e teve então ocasião de felicitar-me pela posição assumida. Após a publicação do Manifesto, em que propugnava pela criação da Liga de Ação Revolucionária, entrevistou-se ele novamente comigo para dizer-me com toda franqueza o quanto lamentava minha nova posição, que a juízo dele, significava um passo para trás. O primeiro Manifesto – disse-me – significava uma aproximação franca com o movimento comunista, enquanto que no segundo se propunha a criação de um partido politico que, não sendo do proletariado, não passaria de um novo partido burguês.

Luiz Carlos Prestes | 53 Tais encontros não eram fáceis, pois a Argentina já passara a ser governada por uma ditadura militar. Apesar disto, ainda tivemos alguns encontros. Rústico falava-me da luta de Lênin contra os populistas, os economistas e os mencheviques. Foram verdadeiras lições sobre a história do movimento bolchevique, que me fizeram compreender o caminho da revolução russa. Em 2 de outubro de 1930, na véspera do levante militar de Vargas, fui detido. O almirantechefe da polícia da ditadura de Uriburu ameaçou-me de fuzilamento por haver feito declarações à United Press — que não chegaram a ser publicadas, mas que caíram em mãos das autoridades —, nas quais dava a entender que os generais argentinos estavam vendidos ao imperialismo ianque. Só fui posto em liberdade com a condição de abandonar imediatamente o país. Viajei, então, para a cidade de Montevidéu, onde já se encontrava o camarada Rústico. Lá mantivemos um contato pessoal mais fácil e prolongado. Sob a influência de sua argumentação e do estudo que pude fazer do problema, compreendi o erro cometido e também a impossibilidade de levar adiante a ideia de organizar a Liga de Ação Revolucionária. Devo aqui agregar que, uma vez iniciado no Brasil o movimento militar de outubro de 1930, inspirado pela Aliança Liberal, tratei de enviar imediatamente um amigo à fronteira brasileirauruguaia, onde contava com numerosos partidários, inclusive nas unidades do Exército brasileiro, para verificar a possibilidade de organizar uma força

54 | Textos resgatados do esquecimento armada independente que pudesse modificar o curso da luta popular que estava em desenvolvimento no país. Mas poucos dias depois, em 24 de outubro, com o levante dos generais no Rio de janeiro, que depôs o presidente Washington Luís, cessou a luta armada. Subiu ao poder Getúlio Vargas em confabulação com os generais golpistas, assim como com o imperialismo norte-americano e inglês. De Montevidéu pude acompanhar a atividade do Governo Vargas, no qual ocupavam postos de destaque todos os meus ex-companheiros da Coluna, com exceção de Antônio de Siqueira Campos, falecido anteriormente, em acidente de aviação. Através de sucessivos documentos públicos, combati a política do novo Governo e procurei desmascarar sua atividade reacionária, sua submissão ao imperialismo e ao latifúndio e seu profundo sentido antipopular. A violenta ruptura com o tenentismo contribuiu decisivamente para minha formação ideológica e facilitou minha progressiva aproximação com o movimento comunista e operário, hm março de 1931, tornei público um documento em que dizia: "A todos os revolucionários sinceros e honestos, às massas trabalhadoras que neste momento de desilusão e desespero voltam-se para mim, só posso indicar-lhes um caminho: a revolução agrária e anti-imperialista sob a hegemonia incontestável do proletariado, o PCB, seção brasileira da Internacional Comunista".

Luiz Carlos Prestes | 55 Na pátria do Grande Outubro O Governo Vargas decretou anistia para os revolucionários do movimento tenentista e da Coluna, mas não podia eu voltar ao Brasil, pois se havia intensificado a perseguição aos comunistas. De outro lado, a vida em Montevidéu era para mim muito difícil. Nesta situação, os camaradas do Partido Comunista do Uruguai me propuseram que fosse para a União Soviética, onde poderia trabalhar como engenheiro, teria a possibilidade de conhecer a experiência soviética e oferecer-se-iam maiores oportunidades para estudar o marxismo-leninismo. Aceitei a proposta e, acompanhado de minha família, cheguei a Moscou em novembro de 1931. Para quem acabava de passar pelas capitais da Europa Ocidental, o panorama da capital Soviética parecia desolador. Nos países capitalistas, em plena crise económica, os grandes armazéns estavam abarrotados de mercadorias que não tinham compradores. Em Moscou, os armazéns estavam literalmente vazios. O abastecimento estava racionado e os compradores formavam filas para adquirir os artigos mais indispensáveis. Passamos muitos meses tomando o chá sem açúcar. Mais difícil ainda era conseguir roupa e calçado. Apesar das dificuldades da vida, suscitavam verdadeira admiração os ingentes esforços do povo soviético para cumprir em quatro anos o primeiro Plano Quinquenal e, de modo particular, a grande

56 | Textos resgatados do esquecimento atividade desenvolvida pelo Partido Comunista, que explicava pacientemente ao povo as causas das dificuldades que atravessava. No país soviético estava decidido em prazo histórico brevíssimo construir as bases da sociedade socialista. Era na URSS onde melhor se podia compreender o papel dirigente do partido marxista-leninista de partido de vanguarda, sua capacidade de ligar se às massas, de aplicar sua linha política, de mobilizar, organizar e entusiasmar o povo para a realização das tarefas que exigiam uma elevado consciência política, enorme abnegação e grande espírito de sacrifício. Pude participar de reuniões do Secretariado da Internacional Comunista em que se discutiam os problemas da América Latina e acompanhar, portanto, a luta que se travava em seus países sob a direção dos respectivos partidos comunistas e operários. Estive presente às reuniões plenárias 12 e 13 do Comilâ Executivo da IC e tive ocasião de acompanhar de perto o desenvolvimento da luta contra o fascismo e também de conhecer pessoalmente, além do então secretário-geral da IC, camarada Manuilski, nobre e querido amigo meu e de minha família, a grandes dirigentes do movimento comunista como Togliatti, Thaelman, Pieck, Thorez, Kuusinen, Bela Kun, Van Min e outros muitos. Em companhia cie delegações de trabalhadores espanhóis que naquela época visitavam com frequência a URSS, pude conhecer as grandes obras que se estavam realizando por todo o país e que eram um testemunho do gigantesco esforço de todo o

Luiz Carlos Prestes | 57 povo soviético e o berço do poderio e da grandeza atuais do primeiro país socialista. Meu exílio na União Soviética contribuiu decisivamente para definir meu destino. De início, a direção do PC não considerava conveniente aceitar como membro do Partido a uma pessoa da minha origem social, mas, em agosto de 1934, "A Classe Operária", órgão central do PCB, tornou pública que fora aceito como membro do Partido. Culminava assim minha evolução, que me levara do tenentismo às fileiras do partido do proletariado, e de minha condição de oficial das forças armadas a serviço das classes dominantes, à honrosa situação de soldado do grande exército do proletariado. Antes de voltar ao Brasil, em fins de 1934, tive ocasião de conhecer pessoalmente o camarada Jorge Dimitrov, líder destacado da Internacional Comunista. Com ele conversei a respeito da situação no Brasil, onde se intensificava a luta contra o fascismo. Dele ouvi palavras de estímulo e conselhos a respeito do comportamento do intelectual comunista, cuja missão consiste em servir à classe operária, compreendendo a necessidade de salvaguardar a unidade do Partido e de apoiar sua direção. Já se passaram quase quarenta anos. Foram anos de dura luta, de longos períodos de prisão e de vida clandestina, de fluxos e refluxos do movimento revolucionário. Grandes massas de nosso continente participam hoje da convicção dos comunistas de que só o socialismo pode resolver os problemas de nossos povos. Sinto-me feliz com a opção política por mim

58 | Textos resgatados do esquecimento feita e que confirma uma vez mais o acerto das palavras de Lênin de que "no século XX num país socialista, é impossível ser democrata revolucionário se se teme marchar para o socialismo" (6). Notas: ____________________________________________________________ (1) No ano em que se completam cem anos do nascimento de Luiz Carlos Prestes, CULTURA VOZES vem oferecer aos seus leitores a oportunidade de conhecer um escrito particularmente interessante do Cavaleiro da Esperança. Trata-se do seu artigo "Como cheguei ao comunismo", (publicado na Revista Internacional Praga, N. 1, janeiro de 1973, Tchecoslováquia) e que, atualmente, é praticamente desconhecido do público brasileiro. O artigo foi feito a pedido da referida revista por ocasião do 75º aniversário natalício do então secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro e relata o caminho, extremamente original, percorrido por Prestes, do movimento tenentista do qual se tornaria a liderança máxima no final dos anos vinte - para o comunismo científico. [Anita Leocádia Prestes]. (2) Este movimento, cujo nome vem da palavra "tenente". era integrado por elementos democráticos das forças armadas brasileiras c era dirigido contra a ditadura de Artur Bernardes