Libertando-se de Namoros Violentos: Um Guia Sobre o Abandono de Relacoes Amorosas Abusivas [1] 8564468298, 9788564468290

A vida afetiva e os relacionamentos amorosos ocupam uma parcela significativa do cotidiano dos seres humanos. Na adolesc

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Libertando-se de Namoros Violentos: Um Guia Sobre o Abandono de Relacoes Amorosas Abusivas [1]
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Sheila Giardini Murta Carlos Eduardo p. L. Ramos Thauana Nayara G. Tavares Eudes Diógenes A. Cangussú MARINA S. F. DA COSTA

« ♦



UM GUIA SOBRE O ABANDONO DE RELAÇÕES AMOROSAS ABUSIVAS

NAMOROS VIOLENTOS

M9791

Murta, Sheila Giardini Libertando-se de namoros violentos: um guia sobre o abandono de relações amorosas abusivas / Sheila Giardini Murta, Carlos Eduardo Paes Landim Ramos, Thauana Nayara Gomes Tavares, Eudes Diógenes Alves Cangussú, Marina Silva Ferreira da Costa. — Novo Hamburgo : Sinopsys, 2014. 80p. ; 16x23cm.

ISBN 978-85-64468-29-0

1. Psicologia — Adolescentes. I. Ramos, Carlos Eduardo Paes Landim. II. Tavares, Thauana Nayara Gomes. III. Cangussú, Eu­ des Diógenes Alves. IV. Costa, Maria Silva Ferreira da. V.Título. CDU 159.9-053.6 Catalogação na publicação: Mônica Ballcjo Canto - CRB 10/1023

SHEILA GlARDINI MURTA

Carlos Eduardo P. l. Ramos Thauana Nayara C. Tavares ElJ DES DlÓGENES A. CANGUSSÚ MARINA S. F. DA COSTA

NAMOROS VIOLENTOS Um

cuia sobre o abandono

DE RELAÇÕES AMOROSAS ABUSIVAS

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2014

(Q Sinopsys Ediloi.i v Sislemas Lida., 20 l -l

Libertando-se de namoros violentos Um guia sobre o abandono de relações amorosas abusivas Sheila Giardini Murta, Carlos Eduardo Paes Landim Ramos, Thauana Nayara Gomes Tavares, Eudes Diógenes Alves Cangussú Marina Silva Ferreira da Costa (Orgs.) Capa: Maurício Pamplona Revisão: Jade Bueno Arbo

Supervisão editorial: Mônica Ballejo Canto Editoração: Formato Artes Gráficas

Sinopsys Editora

Fone: (51) 3066-3690 E-mail: [email protected] Site: www.sinopsyseditora.com.br

Autores

Sheila Giardini Murta. Professora Adjunta no Departamento de Psicologia Clínica da

l Inivcrsidade de Brasília (UnB). Mestre em Psicologia do Desenvolvimento Humano pela Universidade de Brasília e Doutora em Psicologia Social e do Trabalho pela UnB, com estágio de doutoramento na Queensland University of Technology, Austrália. Pós-Doutora pela Universidade Federal de São Carlos e Universidade de Maastricht (Holanda). Especialista em Análise Política e Políticas Públicas (UnB). Investiga o desenvolvimento, a avaliação, a difusão e a adaptação cultural de programas de promoção de saúde mental c prevenção a riscos para transtornos mentais para pessoas em diferentes estágios e tran­ sições do ciclo de vida. Carlos Eduardo Paes Landim Ramos. Graduando em Psicologia pela Universidade de

Brasília (UnB). Thauana Nayara Gomes Tavares. Graduanda em Psicologia pela Universidade de Bra­

sília (UnB). Eudes Diógenes Alves Cangussú. Graduando em Psicologia pela Universidade de Bra­

sília (UnB). Marina Silva Ferreira da Costa. Graduada em Psicologia pela Universidade de Brasília

(UnB).

Agradecimentos

Aos jovens que compartilharam conosco suas experiências amorosas e nos ensinaram sobre o processo de abandonar relações violentas e “tomar as rédeas da própria vida”. Aos adolescentes e jovens que cederam seu tempo para avaliar a adequação c atratividade deste texto, nos indicando que rumo seguir. A Larissa de Almeida Nobre Sandoval, Karine Brito dos Santos, Fabrício Guimarães e Pedro Lusz, que generosamente fizeram uso de sua expertise em qualidade da relação conjugal, violência no namoro, violência de gênero e edição de livros, respectivamente, e dividiram conosco suas impressões acerca do conteúdo e formato desta obra. Aos estudantes de Graduação em Psicologia e aos membros do Grupo de Estudos em Prevenção e Promoção de Saúde no Ciclo de Vida (GEPPSVida) da Universidade de Brasília, pela leitura do texto e comentários iluminadores. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela Bolsa de Produtividade em Pesquisa (triênio 2011 a 2013 - Processo 306975/2010-6) e pelo fomento para o projeto de pesquisa (Processo 4025792010-0), que geraram e viabilizaram este trabalho.

Sumário

Prefácio..................................................................................................

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( armem Beatriz Neufeld

1 Para fazer bom uso deste livro..............................................................

13

2 1 abertando-se de namoros violentos.....................................................

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Estágio 1. Tomando consciência do problema........................................ Exercícios................................................................................................ Prestando atenção nos sentimentos quando se está com ele/a................... Prestando atenção nos bons e maus momentos........................................ ()uvindo o que os outros dizem do seu namoro....................................... Prestando atenção na quantidade de brigas.............................................. Prestando atenção nas suas reações às brigas............................................. Prestando atenção em você mesmo/a quando ele/a está distante.............. Avaliando as mudanças produzidas por esse relacionamento na sua vida...

25 26 26 27 28 29 29 30 31

Estágio 2. Preparando-se para deixar o namoro violento......................... Exercícios....................................................................... *....................... Reconhecendo a violência como ultrajante e inaceitável........................... Reconhecendo os estilos destrutivos nas relações amorosas...................... Reconhecendo como foram aprendidos os estilos destrutivos nas relações amorosas........................................................................... Avaliando as vulnerabilidades pessoais..................................................... Cuidando de si........................................................................................ Fortalecendo a autoestima....................................................................... Buscando ajuda de amigos....................................................................... Planejando como seguir em frente...........................................................

33 35 35 35

36 37 39 41 42 43

10 *»um.n H>

Estágio 3. Icrminando a icla^ao dc namoro violem.i........................................

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Exercícios..........................................................................................................

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Planejando o término.............................................................................. Planejando medidas de autoproteção...................................................... Investindo nos sonhos antes deixados de lado.......................................... Inventário de dores vividas na relação...................................................... Mantendo o cuidado a cada dia............................................................... Cuidando para seguir em frente...............................................................

46 47 48 48 49 50

Estágio 4. Protegendo-se de recaídas....................................................... Exercícios................................................................................................ Fazendo um plano de ação para não recair............................................... Investindo na pessoa que você quer ser.................................................... Reafirmando sua responsabilidade para com você mesmo/a..................... Quem eu descobri que sou?.....................................................................

51 52 52 53 54 55

Anexos Anexo 1. Indicadores de violência no namoro......................................... Anexo 2. Indicadores de qualidade do namoro........................................ Anexo 3. Fatores de risco para a violência no namoro.............................. Anexo 4. Habilidades para manejo de conflitos no namoro.....................

Os anexos estão disponíveis em:

www.sinopsyseditora.com.br/nvform

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Prefácio

A vida afetiva e os relacionamentos amorosos ocupam uma parcela Mgniíicativa do cotidiano dos seres humanos. Na adolescência, estes se iornam foco ainda mais ampliado. Quando a violência se instala nesta importante área da vida dos adolescentes, seus efeitos sobre o desenvolvi­ mento e o bem-estar dos mesmos são devastadores. Nessa direção, a obra Libertando-se de namoros violentos: Um guia ^obre o abandono de relações amorosas abusivas cumpre um papel social e educativo fundamental. Sheila Murta e colegas oferecem ao público ado­ lescente este verdadeiro presente: uma obra que aborda o tema de forma sensível, realista e direta, além de oferecer claras sugestões de identifica­ ção, preparação para mudança e prevenção de recaídas. A sensibilidade dos autores neste tema é, no mínimo, surpreen­ dente. O leitor encontrará, nas quatro unidades do livro, preciosas di­ cas que abrangem diferentes estágios do processo de abandono de uma relação amorosa violenta. Além disso, todas as unidades apresentam exercícios, planejamentos e estratégias de identificação e de interven­ ção nessa realidade. Você tem em mãos um verdadeiro tesouro. Uma ferramenta para o autoconhecimento, a autodescoberta e para elevação da autoestima. Fiquei sensibilizada por esta obra e pela criatividade, seriedade e sereni­ dade com que o tema é abordado. Trata-se de uma poderosa ferramenta

12 Prefácio

de mudança da realidade, de intervenção em contextos de relaciona­ mentos violentos e, não menos importante, de prevenção da violência em relacionamentos amorosos. Dra. Carmem Beatriz Neufeld Doutora em Psicologia pela PUCRS; Coordenadora do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comporramental (LaPICC); Docente Orientadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo; Presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC) Gestão 2011-2013/ 2013-2015.

1 Para fazer bom uso deste livro

Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. (Artigo III) Ninguém será submetido à tortura nem tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. (Artigo V) Declaração Universal dos Direitos do Homem

Enquanto a violência contra a mulher vem recebendo uma atenção crescente por parte da sociedade, entre nós ainda é pouco reconhecida a violência entre casais de namorados. Uma das formas mais frequentes de violência entre namorados é a violência psicológica, que compreende, por exemplo, xingamentos, humilhações e controle do parceiro por ciúme excessivo. Outras formas de violência incluem a violência moral, como divulgar fotos íntimas na internet, difamar e caluniar; violência física, como empurrar, esbofetear e agredir com armas; violência sexual, como estuprar e usar de ameaças para forçar uma relação sexual; e violência pa­ trimonial, como usar indevidamente o cartão de crédito do parceiro ou destruir seus pertences (carro, arquivos, fotos, agenda, celular, etc.). Essas formas de violência podem coexistir nos relacionamentos íntimos. Por exemplo, um casal, em um único episódio de conflito, pode se tratar com

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depreciações (maus-tratos psicológicos), empurrões (maus-tratos físicos) e quebra de objetos (maus-tratos patrimoniais).

A prática da violência no namoro não é restrita a rapazes, a relacio­ namentos heterossexuais e a classes sociais desfavorecidas, tampouco é rara. Rapazes e moças podem ser violentos com seus parceiros. Relaciona­ mentos heterossexuais e homossexuais podem incluir violência. Jovens ca­ sais de qualquer classe social podem praticar ou ser vítimas de violência

no namoro. Longe de ser rara, a violência nas relações amorosas de ado­ lescentes brasileiros chega a ser alarmante. Um estudo de Oliveira, Assis, Njaime e Oliveira (2011), realizado com 3.205 adolescentes de todas as regiões do Brasil, constatou que 86,9% dos participantes já foram vítimas

e 86,8% já praticaram algum tipo de agressão contra o parceiro, seja físi­ ca, emocional ou sexual. Além disso, verificaram que 76,6% dos partici­

pantes são ao mesmo tempo vítimas e perpetradores de violência. Logo, é comum que a violência seja mútua, ainda que isto não seja o caso de to­ dos os casais.

Não é parte da natureza humana agredir quem se ama. Ao contrá­ rio, tratar o parceiro de modo violento é, definitivamente, aprendido. As

práticas culturais, os amigos, familiares e pais ensinam o uso da agressão como forma natural de resolver conflitos. A violência entre namorados está associada a uma cultura de tolerância para com a violência, a relacionar-se com amigos que endossam a violência e a praticam nas suas rela­

ções amorosas, a pais que usam de formas abusivas para disciplinar os fi­ lhos, a conviver com maus-tratos entre os pais, em sua relação como casal; à ausência da experiência de sentir-se amado, e à falta de habilidades para expressar sentimentos como raiva, frustração, carinho e ternura. A aceita­ ção da violência é, em grande medida, favorecida também por estes mes­ mos fatores, os quais transmitem à vítima a crença de que “amar é sofrer”,

“é assim mesmo”, “os homens” ou “as mulheres são todas iguais”. Isto é, os maus-tratos são vistos como inerentes às relações íntimas e ter um par­ ceiro abusivo (ou parceira abusiva) é melhor do que estar só ou este é o

melhor que se pôde conseguir. Os namoros violentos não são iguais. Diferentes padrões de intera­

ção íntima violenta entre casais de jovens namorados foram identificadas

Libertando-se de namoros violentos 15

em um estudo feito por Martsof, Draucker, Stephenson, Cook e Heckman (2012), por meio de entrevistas com 88 jovens adultos estaduniden­ ses, com idades entre 18 e 21 anos de idade. Foram identificados quatro padrões de interação íntima violenta: violência de curta duração (menos de um ano acadêmico) e restrita a um relacionamento (denominada “vio­ lência contida”); violência prolongada (mais de um ano acadêmico) e res­ trita a um relacionamento (nomeada “violência prolongada”); violência reincidente associada a múltiplos relacionamentos com grau de severidade estável entre os vários relacionamentos (intitulada “violência repetitiva”); e violência reincidente associada a múltiplos relacionamentos com grau de severidade crescente (chamada de “violência escalonada”). Conforme avança o número de relações violentas e sua duração, como é o caso das violências reincidente e escalonada, essas se tornam mais complexas e se­ veras, requerendo tratamento diferenciado. E de se esperar, então, que as consequências da vitimização por vio­ lência no namoro variem em severidade. Assassinatos e suicídios estão en­ tre as mais graves. Além destas consequências extremas, existem outros efeitos negativos, como desenvolver transtorno de estresse pós-traumático, usar álcool e drogas, perder a concentração nos estudos, diminuir a produtividade no trabalho, sentir-se deprimido e ter medo de envolver-se em novos relacionamentos íntimos. Infelizmente, muitos casais que se re­ lacionam de modo violento no namoro tendem a continuar fazendo uso da violência no casamento, o que também é nocivo para os filhos. As crianças, com frequência, aprendem a ver a violência como normal e acei­ tável e o ciclo, se não for alterado por medidas preventivas ou de trata­ mento, tende a se estender no tempo e entre gerações. E por tudo isso que a violência nas relações arfiorosas deve ser pre­ venida ou eliminada o quanto antes. Quanto mais cedo cuidar, melhor. É mais fácil abandonar uma relação violenta quanto menor for o investi­ mento na relação e o compromisso com o parceiro. Por outro lado, o alto investimento e o compromisso elevado fazem com que a tomada de deci­ são de sair da relação seja adiada, levando à continuidade da violência. Pedir ajuda também não é simples. A vergonha, o medo de reações nega­ tivas e a falta de conhecimento de recursos de ajuda são alguns dos fatores

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que dificultam ou impedem a busca de ajuda. Além disso, a exaustão emocio­ nal, a depressão, a vergonha e a baixa autoconfiança vivenciadas por adoles­ centes e jovens que vivem esse tipo de relação inibem a busca de soluções que levem ao término da violência (Rhatingan, Shorey & Nathanson, 2011). Esse livro resulta de pesquisas realizadas pelo Grupo de Estudos em Prevenção e Promoção de Saúde no Ciclo de Vida (GEPPSVida), do De­ partamento de Psicologia Clínica da Universidade de Brasília, por meio de entrevistas com pessoas que viveram namoros violentos, e foi escrito com o propósito de favorecer a autoproteção frente a namoros violentos. Acreditamos que ele possa ser utilizado como parte integrante de psicoterapia ou outros serviços de saúde mental para adolescentes e jovens que vivem namoros violentos. Ao ouvir as histórias de seus relacionamentos e seus esforços para autopreservação, descobrimos como as pessoas que sofreram namoros vio­ lentos conseguiram libertar-se (Murta, Ramos, Cangussú, Tavares, & Costa, 2014). Alguns outros estudos realizados com jovens de outros paí­ ses também foram úteis para nossa compreensão acerca do processo de tomada de consciência, tomada de decisão, preparação para agir e ações de autocuidado, resultando, por fim, no término da relação violenta (Alexander, Tracy, Radek, & Koverola, 2009; Edwards et al., 2012; Sho­ rey, Tirone, Nathanson, Handsel, & Rhatigan, 2013). Esses estudos revelam que essa travessia não é fácil, mas é possível quando recursos internos e externos facilitam mudanças, mesmo que lentas e dolorosas. Para compreender essa travessia, tomamos emprestado da Psicolo­ gia da Saúde uma teoria originalmente usada para compreender o abandono do cigarro, denominada Modelo Transteórico de Mudança (Prochaska & DiClemente, 1983), e a utilizamos para reconhecer as várias fases de mudança frente ao término de um relacionamento violento (Edwards et al., 2012): • Estágio 1: pré-contemplação, caracterizada pela resistência frente à mudança (“não há nada que eu deva fazer acerca do meu rela­ cionamento”). • Estágio 2: contemplação, marcada pela ambivalência e início de tomada de consciência acerca da necessidade de mudança (“às ve­ zes eu penso que eu deveria terminar o meu relacionamento”).

Libertando-se de namoros violentos

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• Estágio 3: preparação, quando se dá a tomada de decisão e passos preparatórios para viabilizar a mudança (“eu falei com alguém so­ bre terminar o meu relacionamento”). • Estágio 4: ação, quando a mudança propriamente dita é imple­ mentada, mesmo vacilante e com recaídas (“eu falei para o meu

parceiro que estou terminando o relacionamento”). • Estágio 5: manutenção, quando o comportamento adotado no estágio anterior se mantém por, pelo menos, seis meses (“eu não

respondo se meu parceiro tenta me contatar”). O livro contém orientações e exercícios para colocar em prática es­ tratégias de transição entre os estágios de mudança, concentrando-se nos

estágios de contemplação a manutenção, sendo assim renomeados: Está­ gio 1. Tomando consciência do problema; Estágio 2. Preparando-se para deixar o namoro violento; Estágio 3. Terminando a relação de namoro violenta e Estágio 4. Protegendo-se de recaídas. Os exercícios apresentados, similares aos utilizados em Terapia Cognitivo-Comportamental para outros propósitos de mudança, buscam fo­

mentar a tomada de consciência sobre os ganhos e custos da violência, principal tarefa do estágio de contemplação; fortalecer a tomada de deci­ são e passos preparatórios para sair da relação violenta, principal tarefa do estágio de preparação; facilitar a implementação de ações para terminar o

relacionamento, tarefa central do estágio de ação; e encorajar o autoconhecimento para prevenção a recaídas, por meio do reconhecimento de armadilhas e investimento em novos interesses e horizontes de vida, tarefa primordial do estágio de manutenção. Um alerta importante: as discussões deste livrcrresultam de estudos acerca do processo de abandono de namoros violentos, mas não de casa­ mentos violentos. Portanto, as discussões e atividades que apresentamos referem-se estritamente a relacionamentos pré-matrimoniais. Existem di­

ferenças importantes no grau de compromisso e investimento entre essas relações. As complicações em terminar um casamento violento são muito maiores do que as relativas ao término de um namoro. No casamento, quando existem filhos, dependência econômica, pressões sociais ou reli­

18 Para fazer bom uso deste livro

giosas para manter o casamento, bem como complicações associadas à partilha de bens, os obstáculos para a dissolução da relação podem se so­ brepor às vantagens do término da relação. Portanto, desaconselhamos aplicações diretas do conteúdo deste livro a relações conjugais violentas.

Se você está envolvido/a ou já se envolveu em namoros violentos, este

livro poderá lhe ser útil para que perceba melhor os altos e baixos da relação e decida o que fazer com seu relacionamento atual, ou para manter-se livre de recaídas. Se você tem amigos que vivem namoros violentos, presenteálos com este livro pode ser um gesto de cuidado. Se você é psicoterapeuta, este livro pode ser um recurso complementar ao seu trabalho, facilitando o processo de tomada de consciência, fortalecimento da motivação, imple­ mentação de ações de autocuidado e prevenção à recaída entre seus clientes adolescentes e jovens vitimizados pelo parceiro íntimo. Se você é professor de adolescentes e jovens ou orientador educacional, este livro poderá lhe

dar idéias sobre como abordar alguns casos de alunos que cheguem até você pedindo apoio. Como profissional da educação, você pode fazer muito para agir ainda mais precocemente e prevenir a violência por meio do aprimora­

mento de habilidades para manter relações amorosas saudáveis na adoles­ cência (Murta et al., 2011). Se você é pesquisador especialista nesta área ou outras afins, torcemos para que este guia inspire novos estudos acerca desse

assunto ainda tão carente de investigações no Brasil, e que estas resultem em novas formas de prevenção, intervenção precoce ou tratamento. Oxalá cada um de nós, em nossos diferentes papéis, possamos fazer algo para evi­

tar que o amar e ser amado se confunda com tortura, e para encorajar que o potencial para ser feliz se atualize e os relacionamentos floresçam.

REFERÊNCIAS Alexander, P. C., Tracy, A., Radek, M., & Koverola, C. (2009). Predicting stages of change in battered women. Journal oflnterpersonalViolence, 24 (10), 1652-1672. Edwards, K. M., Murphy, M. J., Tansill, E. C., Myrick, C., Probst, D. R., Corsa, R. & Gidycz, C. A. (2012). A qualitative analysis of col-

lege womens leaving process in abusive relationships. Journal of American College Health, 60 (3), 204-210. Murta, S. G., Santos, B. R. P., Nobre, L. A., Oliveira, S. A., Diniz, G. R. S., Rodrigues, í. O., Miranda, A. A. V., Araújo, I, F., Del Prette, A., & Del Prette, Z. A. (2011). Diferenciando

Libertando-se de namoros violentos 19

baladas de ciladas: um guia para o mpodera mento de adolescentes em relacionamentos ínti­ mos. Brasília: Letras Livres. Murta, S. G.; Ramos, C. E. P. L.; Cangussú, E. I). A., Tavares, T. N. G. & Costa, M. S. E (2014) Desenvolvimento de um website para a prevenção à violência no namoro, abandono de relações íntimas abusivas e apoio aos pares. Manuscrito submetido à publicação.

Oliveira, Q. B. M., Assis, S. G., Njaine, K., & Oliveira, R. V. C. (2011) Violência nas rela­ ções afetivo-sexuais. Em M. M. Minayo, S. G. Assis, & K. Njaine (Orgs.). Amor e violência: um paradoxo das relações de amor e do ficar (pp. 87-140). Rio de Janeiro: Fiocruz.

Prochaska, J. O. & DiClemente, C. C. (1983). Stages and processes of self-change of smoking:

toward an integrative modcl of change. Journal of Consulting and Clinicai Psychology, 51, 390-395.

Rhatingan, D. L., Shorey, R. C., & Nathanson, A. M. (2011). The impact of posttraumatic symptoms on womens commitment to a hypothetical violent relationship: a path analytic test of posttraumatic stress, depression, shame, and self-efficacy on investment model factors. Psychological Trauma: Theory, Research, Practice, and Policy, 3, 181-191. Shorey, R. C., Tirone, V., Nathanson, A. M., Handsel, V. A., & Rhatigan, D. L. (2013). A preliminar investigation of the influence of subjective norms and relationship commitement on stages of change in female partner violence victims. Journal of Interpersonal Violence, 28, 621-642.

2

Libertando-se de namoros violentos

Sair de uma relação violenta nâo é o primeiro desejo de jovens que

sofrem experiências amorosas abusivas. Ao invés disso, desejam que a vio­ lência termine, mas nâo o namoro. Essa é, muitas vezes, a primeira tenta­ tiva de quem sofre a violência: tentar consertar a relação. Alguns tentam

conversar, sem sucesso. Outras pessoas usam estratégias extremas: engra­ vidar para segurar a relação, trair ou beber, e em vez de ser resolvido, o

problema aumenta. Na maioria das vezes, as tentativas de melhorar a rela­ ção não funcionam. Ao contrário, a violência continua, tornando-se mais

grave ao longo do tempo. Tratamentos psicológicos especializados (quando ambos os parcei­

ros querem se tratar e colaboram no tratamento) e medidas legais, como denúncia à Delegacia da Mulher (mesmo para homens), podem pôr fim à violência no namoro. Mas isso não significa, necessariamente, que a intimidade, o amor e a confiança possam ser resgatados. A restauração de vínculos adoecidos, com diminuição de indicadores de violência

(para avaliação, veja Anexo 1) e aumento de indicadores de qualidade da relação (para avaliação, veja Anexo 2), não é simples e depende, mui­ tas vezes, de acesso e engajamento em tratamento especializado. O su­ cesso de tratamentos, por sua vez, associa-se a múltiplos fatores relativos

a cada membro do casal, como seus fatores de risco para a violência no

22 Libertando se de namoros violentos

namoro (já apontados brevemente ao início deste livro e apresentados no Anexo 3); ao casal, como a motivação de ambos os parceiros para o tratamento e as suas habilidades para lidar com conflitos (como apre­ sentado no Anexo 4); ao terapeuta, como sua capacidade de construir uma relação de confiança com o casal e ao tratamento em si, como sua adequação técnica e ética. Como nem sempre tratamentos especializados são procurados e mostram-se suficientemente eficazes, é incomum que interações inicial­ mente abusivas cresçam gradualmente em qualidade. Então, a saída mais comum para a violência no namoro é o término da relação. Embo­ ra possa não parecer, o abandono de namoros violentos não é apenas uma forma de autoproteção, mas também de proteção ao parceiro, seja ele vítima ou perpetrador. Interromper interações amorosas violentas no namoro, quando o tratamento não é uma opção viável e as chances de melhoria da relação são frágeis ou nulas, pode ser um ato de cuidado consigo e com o outro. É sobre isto que falaremos aqui: como enxergar a realidade e lidar com ela para fortalecer-se, proteger-se e evitar anos de sofrimento, maus-tratos, vergonha, raiva e medo, senão de sequelas físicas e, até mesmo, perda da vida. Análises de experiências de outras pessoas que se libertaram da violência no namoro mostram que existe um processo de mudança para a resolução da violência. Esse processo pode variar entre semanas e anos, desde o tomar consciência do problema até conseguir resolvê-lo e proteger-se de recaídas, seja na mesma relação ou em outra com carac­ terísticas similares. Sumarizamos esse processo de mudança nos estágios a seguir. Estágio 1. Tomando consciência do problema

Estágio 2. Preparando-se para deixar o namoro violento Estágio 3. Terminando a relação de namoro violenta Estágio 4. Protegendo-se de recaídas

Libertando-se de namoros violentos 23

Para cada um desses estágios, este guia apresenta orientações e ofe­ rece exercícios para fortalecimento pessoal. Veja qual dessas fases descreve melhor sua experiência atual e faça os exercícios correspondentes. Se você está em tratamento psicoterapêutico, discuta as reflexões propiciadas por

esses exercícios com o profissional que lhe acompanha.

Estágio 1

Tomando consciência do problema

Nesse estágio inicial, a pessoa envolvida em um namoro violento começa a prestar atenção nos episódios de violência, observa como se sente na companhia do/a parceiro/a e na sua ausência. Começa a dar-se conta da tensão existente na relação. E como se “a ficha caísse”. São co­ muns sentimentos de angústia, confusão, culpa e incapacidade de solu­ ção dos episódios de conflito. Percebe que é necessário fazer alguma coi­ sa, mas não sabe o que e nem como fazer. O desejo de livrar-se dos maus-tratos coexiste com o desejo de investir na relação e manter o re­ lacionamento. Por isso, a vítima continua suportando as agressões e não vislumbra como mudar a situação. Estudos com pessoas que passaram por essa experiência mostram que elas tomaram consciência do proble­ ma quando: - Vivenciaram alguma situação de violência extrema (“a gota d’água” que faltava). - Prestaram atenção no comportamento do/a parceiro/a: descontro­ le, irritação por coisas sem sentido, forçar a fazer sexo, indiferen­ ça, humilhações, depreciações, etc. - Notaram a indiferença do/a parceiro/a (não responder mensagens, não demonstrar desejo sexual...).

26 Estágio 1

Tomando conicllnclt do problema

— Perceberam que na ausência do/a parceiro/a se sentiam mais leves: “cheias/os de si ”, livres, com vontade de viver, aliviados/as, alegres e entusiasmados/as. — Enxergaram os próprios sentimentos nas situações de violência: confusão, medo, vergonha, humilhação, raiva, culpa, aprisionamento, sensação de não serem atraentes e sensação de não terem valor.

EXERCÍCIOS

Veja a seguir alguns exercícios que facilitam a tomada de cons­ ciência. Todos estes exercícios podem lhe ajudar a dar o primeiro pas­ so, isso é, abrir os olhos. Poderá ser doloroso enxergar a realidade, mas deixar de vê-la poderá ser pior. Quanto mais cedo você perceber o que está acontecendo, melhor para a sua autoproteção. Não adie o exercício de enxergar a realidade. Abra a corti­ na e veja o que se passa no palco. Converse com amigos ou fa­ miliares nos quais você confia, se achar necessário. Procure ajuda de um psicoterapeuta especializado. Busque recursos para melhor observar a realidade. Mesmo que leve tempo e seja doloroso, não se abandone indefinidamente em uma rela­ ção violenta. Dê-se o direito de ser feliz.

Prestando atenção nos sentimentos quando se está com ele/a

Preste atenção em como você se sente quando encontra o/a seu/sua parceiro/a. Marque os sentimentos que você vivência, sejam agradáveis ou desagradáveis. continua

Libertando se de namoros violentos 27

continuação

Lista de sentimentos Sentimentos agradáveis

Sentimentos desagradáveis

[ ] Empolgado/a

[ ] Ansioso/a

[ ] Feliz

[ ] Amedrontado/a

[ ] Entusiasmado/a

[ ] Triste

[ ] Tranquilo/a

[ ] Culpado/a

[ ] Animado/a

[ ] Envergonhado/a

[ ] Excitado/a

[ ]Tenso/a

[ ] Atraente

[ ] Confuso/a

[ ] Sensual

[ ] Irritado/a

[ 1 Alegre

[ ] Acorrentado/a

[ ] Autoconfiante

[ ] Aprisionado/a

[ ] Livre

[ ] Humilhado/a

[ ] Com vontade de viver

[ ] Não atrativo/a

Você pode se sentir sem forças e não conseguir nomear seus sentimentos. Se você se sentir exausto/a, necessitará de apoio. Busque ajuda de uma pessoa com quem você possa se abrir, um psicoterapeuta ou um amigo. É possível que, com alguém que lhe passe segurança, você consiga se aproximar desses sentimentos desagradáveis. Avance devagar, mas avance.

Prestando atenção nos bons e maus momentos Que atividades vocês fazem juntos que são agradáveis? Que atividades vocês fazem juntos que são sofridas? Use o quadro abai­ xo para separar os bons momentos dos maus momentos. Existem bons momentos? Existem maus momentos? O que predomina? Na semana passada, o que mais aconteceu: bons ou maus momentos? continua

continuação

Inventário de bons e maus momentos Atividades com meu/minha parceiro/a que me fazem sentir bem

Atividades com meu/minha parceiro/a que me fazem sentir incomodado/a Ex.: estar com amigos e receber críticas dele/a na frente de todos

Ex.: cozinhar juntos

-



Ouvindo o que os outros dizem do seu namoro Como os seus pais veem o seu relacionamento? Como os seus amigos veem o seu relacionamento? Como você avalia isso que eles dizem? Avaliação por terceiros Meus pais já disseram que...

Meus amigos já disseram que...

continua

Libertando-se de namoros violentos 29

continuação

Prestando atenção na quantidade de brigas Anotar a quantidade de brigas em um diário pode ser útil para você ver a realidade. Preste atenção e anote quando as brigas acon­ tecem. Isso pode ser feito por dia e por período do dia, como no diário a seguir. Assim, você poderá ver a dimensão do problema. Diário de conflitos Domingo

Segunda

Terça

Quarta

Quinta

Sexta

Sábado

Manhã

Tarde Noite

Predominam dias sem briga ou dias com briga? Some quantas brigas ocorreram na semana. Durante quanto tempo ficaram brigados? Conflitos existem nas relações, mas sua constância e resoluções violentas são sinais que a relação não vai bem. Se há brigas constan­ tes, você está vivendo uma relação destrutiva. Preste atenção!

Prestando atenção nas suas reações às brigas É importante também conhecer como os episódios de violência ocorrem e como você lida com essas situações. Preste atenção: Em que circunstâncias isso acontece? Como você se sente? O que você pensa durante a situação? Como você reage? Como ele/a reage? Esta é outra forma de avaliar a gravidade da violência, assim como suas continua

30 Estágio 1

Tomando consciência do problema

continuação

estratégias para enfrentá-la. Preencha o exercício abaixo. O que você está vendo? Como se sente com o que vê?

Raio-x da violência Situação

Comportamento

Meus

Meus

Minha

Reação

dele/a

pensamentos

sentimentos

reação

dele/a

Brigar e não comer, brigar e quebrar a louça da casa, brigar e deixar de trabalhar ou estudar, agredir e ser agredido/a, tudo isto é muito destrutivo. Quanto mais tempo durar este padrão de rela­ cionamento, mais destruído/a você ficará. Você poderá estar em risco de ficar deprimido, beber em excesso, perder o desejo de es­ tudar, de trabalhar e, em casos extremos, de viver. Não deixe a si­ tuação se alongar e se agravar. Busque ajuda! Um psicoterapeuta, serviços de saúde mental na comunidade, Delegacia da Mulher, um bom amigo e outras pessoas em quem você confia são algu­ mas das opções de ajuda.

Prestando atenção em você mesmo/a quando ele/a está distante Preste atenção em como você fica quando ele/a está longe de você. Fica melhor ou pior sem ele/a por perto? continua

Libertando-se de namoros violentos 31 continuação

Quadro de ganhos e perdas Quando estou com ele/a

Quando estou sozinho/a

Ganhos: é bom...

Perdas: é ruim...

Veja os dois lados, os ganhos e perdas de estar com ele/a. Algumas pessoas se dão conta de que a relação tem algo de erra­ do quando se sentem mais leves distantes do/a parceiro/a. É esse o seu caso? Veja como você se sente estando ao lado dele/a ou distante.

Avaliando as mudanças produzidas por esse relacionamento na sua vida Considere o quanto sua vida está melhor ou pior desde que você entrou nesse relacionamento. Use o quadro abaixo para con­ tabilizar em que essa relação tem lhe feito bem ou mal, desde que você a começou. Balanço do envolvimento afetivo com o/a parceiro/a Consequências positivas

Consequências negativas

32 I stágio 1

lom.indo ( oiim khk i.i do pioblrm.i

continuação

Ganhar a companhia de alguém e sair da condição de solteiro/a pode ser um dos ganhos. Por outro lado, as perdas pa­ recem superar os ganhos quando a violência se agrava. Estudos mostram que pessoas que vivem namoros violentos podem per­ der o humor, o sono, o apetite, a saúde, a vaidade, os amigos, a concentração nos estudos e no trabalho e, até mesmo, a vontade de viver. É possível que os prejuízos cheguem até os familiares porque esses também sofrem (filhos, pais, irmãos...). Olhe os dois lados e faça as contas: o que lhe parece falar mais alto, as conse­ quências positivas ou as negativas?

Estágio 2

Preparando-se para

deixar o namoro violento

No segundo estágio, a vítima de um relacionamento violento gra-

dualmente dá-se conta de que os maus-tratos sâo graves. Pouco a pouco, decide livrar-se da relação violenta, mas sente-se presa, como se estivesse em

uma teia de aranha da qual não se pode escapar. Em alguns casos, experi­

menta estratégias de resolução, com insucesso, como con-versar, devolver a

violência, ameaçar terminar e, em situações extremas, forçar uma gravidez para tentar melhorar o relacionamento. Outras pessoas buscam caminhos

para fortalecerem-se e afastarem-se, gradualmente, da relação. E uma prepa­ ração do terreno para mudanças mais profundas. Como no estágio anterior, de tomada de consciência, continua sen­

do indispensável “olhar-se no espelho”: como eu lido com essa relação? Que relação é essa na qual estou vivendo (ou deixando de viver)? Mas no­

vas estratégias são também usadas para “manter os olhos abertos” e seguir adiante rumo à autopreservação. Estudos com pessoas que passaram por

essa experiência mostram que elas se prepararam para deixar um namoro violento adotando os cuidados abaixo:

— Escrever falas violentas do/a parceiro/a para se convencer de que esta relação não vale a pena.

-Olhar provas de desamor da parte do/a parceiro/a (como fotos

que comprovam traição).

34 Hstágio 2

Preparando se para deixar o namoro violento

— Considerar os danos que a relação causa para outras pessoas signi­ ficativas, como os filhos (quando já se tem filhos de outra relação ou da relação atual). - Deixar de criar oportunidades para encontrar com o/a parceiro/a. - Ouvir o que os amigos e familiares dizem sobre a relação. - Conversar com amigos que dão suporte para que a pessoa creia no próprio valor. - Investir na autoestima. - Olhar-se no espelho e identificar as próprias qualidades. - Prestar atenção em experiências do passado, como a relação com os pais, que estejam afetando a relação atual. - Reconhecer modos de pensar e de se comportar que se repetem em várias relações de namoro e causam sofrimento, tais como sacrificar-se para ser aceito/a f eu sempre me deixava em último lugar e fazia todas as vontades dele”), envolver-se sempre com parceiros problemáticos (fos homens com quem me relaciono sem­ pre vem com uma mala de problemas”) e ver-se como tendo pou­ co valor feu sou pouco, por isso recebo pouco e esse pouco eu trans­ formo em muito”). - Investir em cuidados com a saúde mental, como fazer psicoterapia, e saúde física, como fazer acupuntura, aumentam a capacida­ de da pessoa de tomar boas decisões. Isso não quer dizer que você esteja doente, mas sim que precisa se fortalecer para seguir adian­ te e não vir a adoecer.

Todos esses cuidados funcionam como múltiplos espelhos que permitem à pessoa ver claramente que a relação violenta é um proble­ ma, e que precisa ser resolvido. Essas estratégias permitem também que a pessoa se conheça melhor e busque forças para se proteger. Vendo-se em todos esses espelhos e cuidando de si, a pessoa envolvida em uma relação violenta acaba por convencer-se e decidir-se a pôr um fim na re­ lação. Colocar essa decisão em prática pode ser rápido ou demorar, mas já é um grande passo.

Libertando-se de namoros violentos 35

EXERCÍCIOS Reconhecendo a violência como ultrajante e Inaceitável Escreva todas as palavras humilhantes e depreciativas que você já ouviu de seu/sua parceiro/a e deixe isso em um lugar visí­ vel para você. Isso pode ser doloroso, mas é importante que você se lembre que ele/a é assim, e não como você gostaria que fosse. Essa dor será temporária se você for impulsionado/a por ela e se­ guir com as medidas de autocuidado que integram esse longo pro­ cesso.

Falas violentas

Reconhecendo os estilos destrutivos nas relações amorosas Relembre seus relacionamentos passados e veja se há repe­ tições. Que dificuldades se repetiram? continua

36 Estágio 2 - Preparando-se para deixar o namoro violento

continuação

Considere o quadro a seguir para fazer uma síntese de cada relação.

Histórias que (não) se repetem

Caso existam repetições, quais são elas? Você se sacrificava pelo/a parceiro/a? Aceitava a violência com medo de ficar só? Sentia-se incompetente para atrair a atenção e receber o amor de alguém? Reagia à violência com mais violência para mostrar-se forte? Você aceitava a violência esperando que a situação fosse melhorar? Sentia-se culpado/a e incompetente quando havia proble­ mas no relacionamento?

Reconhecendo como foram aprendidos os estilos destrutivos nas relações amorosas Reconheça padrões de relacionamentos destrutivos, decor­ rentes de sua história familiar, que podem estar afetando suas recontinua

Libertando-se de namoros violentos 37

(ontinuaçõo

lições. Há algum aspecto do seu jeito de namorar que é parecido Com o jeito de seus pais e que você não gosta? Há heranças fami­ liares que devem ser modificadas, como sacrificar-se para cuidar do outro, tolerar a violência, atacar o/a parceiro/a com críticas destrutivas, criticar em público ou outras? Descubra as suas he­ ranças e reflita sobre elas.

Heranças afetivas a serem mantidas ou modificadas Aprendi com meus pais e quero continuar assim

Aprendi com meus pais e não quero continuar assim

Ex.: demonstrar admiração e fazer elo­ gios à/ao parceira/o

Ex.: ironizar e humilhar quando sen­ tir raiva

Avaliando as vulnerabilidades pessoais Ao se relacionarem de modo íntimo, as pessoas procuram trocar apoio mútuo. No entanto, esses comportamentos, muitas vezes, são confundidos com obrigação e isso pode acabar resul­ tando em situações desagradáveis no namoro, como quando você dá mais de si e o outro não lhe retribui. Quando isso acon­ tece, o relacionamento acaba sendo muito desgastante e não existe uma recompensa por isso, a não ser continuar tendo uma companhia. Algo que costuma atrapalhar a tomada de posição para não voltar com o/a ex-namorado/a violento/a é o fato de a víticontinua

38 Estágio 2

Preparando se para deixar o namoro violento

continuação

ma se sentir culpada pelo que aconteceu no relacionamento, fi­ car pensando em seus comportamentos e tentar descobrir onde falhou. Quando não há autoconhecimento suficiente e autoestima adequada, existe um risco mais elevado para tolerar relacio­ namentos violentos. A baixa autoestíma e o au- toconhecimento insuficiente dificultam a percepção do modo de amar do outro como abusivo e levam a pessoa a crer que não encontrará nin­ guém melhor do que ele ou ela. Isso é agravado pelo isolamento decorrente do afastamento ou perda dos amigos. Mas é possível reestabelecer laços com amizades antigas e conhecer novas pes­ soas, aos poucos, com o apoio de quem é mais próximo. Reflita sobre as perguntas que se seguem: -Você já sentiu que seu/sua namorado/a veio com uma "mala de problemas", como se você tivesse obrigação de ajudar a carregar? -Você se relaciona com uma pessoa possessiva? -Você faz atividades que lhe proporcionam prazer? - Você sai com amigos? -Você consegue ver o que seu/sua namorado/a e você fizeram para que o relacionamento chegasse ao ponto que chegou? -Você consegue perceber quais foram suas atitudes durante o re­ lacionamento e os momentos de conflito? E as dele/a? -Você consegue ser você mesmo/a agora? Consegue ser você mesmo/a na relação? -Você percebe que a dança de vocês aconteceu conforme a músi­ ca que ele/a tocou? - Tudo tem que ser do jeito que ele/a queria? -Você se sente mais como mãe/pai do que namorado/a? - Você tem medo de ficar sozinho/a? - Você esquece muito rápido as coisas que lhe fazem, não guarda ran­ cor? - Para você tudo está bom? É submisso/a? continua

Libertando-se de namoros violentos 39 < ontinuação

Pizza da responsabilidade Veja a figura a seguir e a considere uma pizza, com várias fa­ tias. Pense nos diferentes fatores envolvidos na situação de violên­ cia. Dê a cada um deles uma fatia da pizza, com a largura que você acha justa: quanto mais larga a fatia, maior a culpa. Separe então a parcela que de fato é sua responsabilidade. Quem são os responsá­ veis pela violência? Que tanto de responsabilidade lhe cabe nisto?

É importante perceber que nem tudo está ao seu alcance e que não é possível para você sozinho/a tentar salvar seu/sua namorado/a ou ajudá-lo/a em uma situação em que você está so­ frendo muito e se desgastando. Amar também é se afastar quan­ do você percebe que estar ao lado é mais destrutivo, tanto para você quanto para ele/a, ou mesmo que seja para apenas um dos dois. Se você se afasta, protege-se e o/a protege. Faça o que lhe deixa feliz! Estar bem é o que importa.

Cuidando de si

Sem cuidar de você mesmo/a, será difícil ter forças para resol­ ver a relação violenta. De que cuidados você precisa? Que cuidados continua

Preparando se para deixar o namoro violento

40 Estágio 2

continuação

você pode se dar agora? Considere a lista a seguir e selecione os cui­ dados dos quais você necessita. Considere também por onde come­ çar. O que é viável fazer agora?

Plano de autocuidado Lista de cuidados

Avaliação da viabilidade:

por onde começar?

Tratamento psicológico

[ ] Começar por aqui [ ] Não começar por aqui

Tratamento médico

[ ] Começar por aqui [ ] Não começar por aqui

Atividade física

[ ] Começar por aqui [ ] Não começar por aqui

Encontro com amigos

[ ] Começar por aqui [ ] Não começar por aqui

Participação em grupos

[ ] Começar por aqui [ ] Não começar por aqui

Atividades artísticas

[ ] Começar por aqui [ ] Não começar por aqui

Atividades espirituais

[ ] Começar por aqui [ ] Não começar por aqui

Meditação

[ ] Começar por aqui [ ] Não começar por aqui

Estudo

[ ] Começar por aqui [ ] Não começar por aqui

Trabalho

[ ] Começar por aqui [ ] Não começar por aqui

Diversão

[ ] Começar por aqui [ ] Não começar por aqui

Descanso

[ ] Começar por aqui [ ] Não começar por aqui

continua

Libertando-se de namoros violentos 41

continuação

Fortalecendo a autoestima Preste atenção nos elogios que seus amigos lhe fazem. Lem­ bre-se das coisas boas que você já ouviu sobre si mesmo.

Mapa de Autoconceito Generosidade ("Eu ajudo as pessoas") Responsabilidade ("Eu procuro pensar antes de agir para não prejudicar a mim e aos outros")

Coragem ("Eu tenho disposição para fazer acontecer")

Humor ("Eu sou divertido")

Empatia ("Eu mpreendo perspectiva do outro")

Persistência ("Eu não desisto dos meus sonhos") Esperança ("Eu tenho fé no futuro")

Otimismo ("Eu costumo Ver o lado bom da vida e das pessoas")

Criatividade ("Eugestqde inventar coisas novas èdiferentes")

Autoconfiança ("Eu acredito èm mim mesmo") ,. y

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É importante recuperar a crença em você mesmo/a. Isso lhe ajudará a tomar m rédeas da própria vida. Se viável e necessário, .................................... .................................. i,, ,.

continua

42 l stáp.io 2

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