Inferno atlântico: Demonologia e colonização, séculos XVI-XVIII
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COMPANHIA DAS LETRAS

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do livro, foram colocadas ao final, para que a paginaçao ficasse

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LAURA

DE MELLO

E SOUZA

INFERNO ATLÂNTICO Demonologia e colonização Séculos XVI-X VI

et

(COMPANHIA DAS LETRAS

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (crr) (Câmara

Brasileira do Livro, sp, Brasil)

Souza, Laura de Mello e Inferno Atlântico : demonologia e colonização : séculos xvi-xvim / Laura de Mello e Souza. — São Paulo : Companhia das Letras, 1993. Bibliografia. ISBN 85-7164-347-4

|. Brasil — Colonização 2. Brasil — História — Período colonial 3. Demonologia — Brasil 1. Título.

93-2992

cDD-981.02]

Índices para catálogo sistemático:

1. Brasil : Colonização e demonologia

: História 981.021

2. Brasil : Demonologia e colonização : História 981.021

ÍNDICE

Asradecimentos:

INDIOÓNÇÃO

us srs ds sue sono dda ns souaad esa sad sed seia dose «ssesussedsa

11

13

r çÕE A RARA es can e TReD ssa ca Seorib Primeira parte MACRODEMONOLOGIA O diabo nas malhas do Antigo Regime

............ceereceseeeesserrreenrs

21

2. O enraizamento: circularidade de culturas e crenças — Bragil; 1543-1618, 2..02-=0"05 00050003 7000 pen eman oe no Danse a eira na da 3. Por fora do Império: Giovanni Botero e o Brasil ............

47

............

89

1. O conjunto: América diabólica

4. Por dentro do Império: infernalização e degredo

58

Segunda parte

MICRODEMONOLOGTIA O diabo e as tensões cotidianas

5. Religião popular e política: do êxtase ao combate .......... 105 6. Ambigiúidade amorosa: de santas a mulas-sem-cabeça ..... 125 7. Mentes e corpos: os assaltos do diabo .......................... 147 8 Em torno de um mito: a elipse do sabá .........sssiisiiss 160 Epílogo: Persistências inferas, Bernardo Guimarães ce O ima-

ginário demonológico

..............scresssseseressrssereranerenseeas 18]

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) por me ter concedido em duas ocasiões — 1987 e 1992

— passagem e auxílio para congressos, possibilitando-me, assim, apresentar trabalhos que, reelaborados, integram parte desta tese e, ainda, dar continuidade à investigação documental na Torre do Tombo. Pelo mesmo motivo, registro meu reconhecimento à Coordena-

ção de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES) (1988

e 1992) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tec-

nológico (CNPq) (1988), instituição à qual devo também o financiamento de atividades de pesquisa desde março de 1992, através de uma bolsa do tipo Laboratório Integrado. Em parte desta pesquisa, tive a colaboração preciosa de Rodrigo Lacerda. Na defesa do trabalho como tese de livre-docência apresentada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (usp), beneficiei-me das observações da Banca Examinadora composta por Maria Manuela Carneiro da Cunha, Gilberto Velho, Francisco Iglésias, Stuart B. Schwartz e José Jobson de Andrade Arruda.

Pelas sugestões e críticas feitas, sou grati»-Leila Mezan Algranti,

Lili Schwarcz, Mary del Priore, Fernando Torres Londofo, Marlyse

Meyer, Ronaldo Vainfas e Luís Mott.

A Fernando A. Novais, além da leitura e das observações cuidadosas, devo minha formação intelectual. Por isso dedico-lhe este trabalho.

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INTRODUÇÃO

Escritos em momentos diversos, os nove trabalhos que aqui se

as relações entre encontram têm a uni-los a mesma problemática:

o imaginário demonológico

num sentido amplo é o mundo

luso-

brasileiro do Antigo Regime. Correspondendo a momentos distin-

tos de minha formação intelectual, apresentam, creio, uma unidade interessante: podem ser lidos separadamente e, ao mesmo tempo, adquirem significado complexo no conjunto. Penso que formam um livro, mesmo se não no sentido mais convencional: as suas diferentes partes, vejo-as como capítulos. Este livro um tanto fragmentado é tentativa de encaminhar melhor questões que me preocupam desde 1985, quando terminei a tese de doutorado, “Sabás e calundus — feitiçaria, práticas mágicas e religiosidade popular no Brasil colonial?” — e o fato de citá-la no título original, depois alterado para publicação (O diabo e a Terra de Santa Cruz), não é fortuito. Naquela época, ainda não estava a

par do que era o mundo mágico luso-brasileiro, e intuia processos

que não conseguia explicar, por exemplo, que a chave estava na ten-

são entre Europa, África e América, captada por mim na oposição

sabás/calundus. Nada mais tipicamente europeu do que a bruxa que

voava em vassouras, noturna e sinistra, chupando sangue de menino novo, misturando miolos humanos, asas de morcego e baba de sapo no caldeirão infernal. Nada mais brasileiro do que o candom-

blé, cujas raízes, por vias tortuosas (como são aliás as raizes), levam aos calundus que assombravam senhores de engenho, jesuítas e moralistas nos tempos coloniais. A oposição seria, entretanto, ilusória? O diabo espírito de porco que coalhava o leite e fazia desandar o pão não era uma espécie de Pedro Malasartes, de João Grilo? Exu não é bom e ruim? Ou melhor, ser bom ou ruim sequer se colocaria

13

desta forma para os ritos afro-brasileiros? Mesmo na Europa, o dia-

bo das gárgulas, monstruoso € horrivel, não era também o diabo na-

morado e cortesão de Gil Vicente, ou o homem sedutor vestido de seda negra na versão do cineasta Marcel Carné em Les visiteurs du soir? Ou o simpático diabo popular do Carnaval, afeito a comilanças, libações etílicas, pândegas? Por fim, como mostrou Marlyse Me-

ver, Maria Padilha não é ao mesmo tempo amante de um rei de Castela, personagem de cancioneiro europeu e pombagira de umbanda, tendo cometido crimes em Niterói?

Onde termina a Europa, onde começa o Brasil? É possível pen-

sar O que seríamos sem o colonizador português — ou mesmo sem Maurício de Nassau, sem Nicolau de Villegaignon, sem Thevet, Léry, Hans Staden, o pirata Knivet, todos nos contando suas impressões de europeus exilados nos trópicos, deformando irreversivelmente, ao registrar, O que viam,

cheiravam e sentiam?

É possível refazer em

sentido inverso o percurso de nossos avós de Luanda, Mina, Guiné, atribuindo ao conjunto da cultura africana o significado que real-

mente viam nela os negros escravizados tornados brasileiros à força? É possível reconstituir, por meio dos fragmentos deixados pelos escrivães do Santo Ofício, as crenças quinhentistas tupis, chamando-

as de milenaristas ou sincréticas? Tudo indica que não. Mas, tomando de empréstimo a bela frase de Georges Braque, “não creio nas coisas, creio nas suas relações”, Na primeira parte deste livro, procuro justamente explorar as relações, ensaiar análises comparativas para melhor compreender as visões curopéias sobre a América — ou, com base no belo trabalho de Serge Gruzinski, a produção ocidental de imagens sobre a Amé-

rica —, mostrando que, se por um lado feram o Novo Continente através de referenciais próprios à sua cultura, acabaram, por outro, incorporando irreversivelmente elementos específicos das culturas que

subjugaram, ou procuraram subjugar. Tal enfoque me foi sugerido

por algumas análises da cultura popular, notadamente as de Jacques Le Goff — Pour un qutre Moyen-Age, Vimaginaire médiéval, La naissance du purgatoire —, Carlo Ginzburg — Mitos, emblemas, sinais e Os andarilhos do bem — e Natalie Z. Davis = Culturas do povo,

Fiction in the archives, Por trás de tudo, evidentemente, as concepções mais gerais da antropologia e certos clássicos da historiografia

brasileira, como Casa-grande & senzala, de GilbertdsPreyre, Cami-

nhos e fronteiras, de Sérgio Buarque de Holanda, Portugal e Brasil

na crise do antigo sistema colonial, de Fernando Novais. Por trás

de tudo, igualmente, a preocupação em mostrar que uma análise de [4

mentalidades e de imaginário pode ser problemarizada e dialogar com a nossa tradição cultural. Desta, está incorporado ainda certo fraco pela explicação, mesmo que as conclusões fiquem um tanto soltas;

todos os capítulos se referem a um momento formativo, quando as imagens européias sobre o Novo Mundo eram mais fechadas do que se tornariam depois; quando as especificidades do universo colonial ainda podiam ser registradas e captadas com maior frescor: enfim,

quando as sínteses culturais, ou o processo de aculturação — para usar expressão que os antropólogos

consideram

problemática

.—,

achavam-se em vias de se processar. Daí o corte cronológico dizer respeito ao período que abrange os séculos XVI, XVI e XVIII,

O primeiro capítulo é deliberadamente amplo, enfocando o mundo hispano-americano em toda a sua extensão geográfica: Espanha,

Portugal, México, Peru, Brasil, América Central... Procura realizar a análise macroscópica das relações Metrópole-Colônia através da demonologia, sumariando quase tudo o que, em escopo mais espe-

cífico, será abordado ao longo dos outros capítulos. No recorte da demonologia, devo muito aos belos trabalhos de Stuart Clark — “Inversion, misrule and the meaning of witcheraft”, “The scientific status of demonology” — e às conversas que pudemos manter em congressos: foi graças a ele que alarguei meu enfoque do objeto, e pude enxergá-lo onde ele aparentemente não está. “O conjunto: América diabólica” é ainda tentativa de pagar parte da dívida que ficou pendente em “Sabás e calundus”, quando acabei deixando a América hispânica fora da análise. Na incursão por este território, devo mui» to aos estudos estimulantes de Serge Gruzinski sobre o México

notadamente La colonisation de Vimaginaire =, € do seu estorço em desvendar a mestiçagem cultural do Novo Continente, Restringindo o âmbito da análise, O segundo capítulo faz um apanhado geral da religiosidade vivida na Colônia no primeiro sé-

culo da ocupação portuguesa, Refere-se às zonas litorâneas e reto» ma questões que não foram, a meu ver, adequadamente desenvolvi» das em “Sabás e calundus”, reforçando as relações entre religiosidade e cultura popular à luz, sobretudo, da leitura do clássico de Mikhail Bakhtin, A cultura popular na Idade Média e no Renascimento, Há nesse segundo capítulo um documento que eu não utilizara anterior-

mente: o processo de Pero do Campo Tourinho, donatário de Porto Seguro. Queréressaltá-lo porque, de certa forma, resume, do ponto

de vista branco « europeu, as sínteses culturais possíveis de serem geradas com à colonização. Do ponto de vista indígena e mameluco, talvez tal mecanismo seja expresso de forma paradigmática pelas 15

Santidades. Naquele tempo, os africanos ainda contavam muito pouco na mestiçagem cultural: Tourinho e o Papa Antônio, ou Tomacaúna, ilustram, assim, as duas vertentes dominantes na Colônia no que diz respeito à religiosidade e à cultura popular quinhentista. “Por fora do Império: Giovanni Botero e o Brasil” é para mim um momento especial do trabalho, não talvez pelos resultados, mas

pelo que sua elaboração representou em termos de descoberta e emoção intelectual. Foi uma empreitada detetivesca, nos moldes da ati-

vidade de pesquisa descrita por Ginzburg em ““Sinais: raízes de um

paradigma indiciário”, ensaio de Mitos, emblemas, sinais. A parte

das Relazioni universali de Botero referente ao Brasil me chegou pe-

lo correio, na forma de um xerox enviado da Itália pelo amigo Roberi Rowland, com um comentário irônico acerca da difusão da leitura diabolizada sobre a América portuguesa. Fiquei meses olhando para cla, pensando como poderia desvendá-la. Aos poucos, comecei a ter interesse por Botero, de quem não sabia quase nada. Fui me dando conta de que nunca se tinha estudado a filiação de suas informações sobre o Brasil — Federico Chabod o fizera para outras regiões —, e que talvez valesse a pena desvendar os meandros do olhar lançado por um italiano do Renascimento sobre um império estranho. A leitura de Botero sobre o Brasil fica, assim, como testemunho do fascínio que a América em geral e o Brasil em particular exerceram sobre os intelectuais curopeus do Renascimento, ou a fatalidade de que assim fosse — mesmo quando eles pertenciam a paragens que não controlavam possessões americanas. O quarto capítulo se baseia em dois textos anteriores sobre o degredo, desenvolvendo-os. Nele, o degredo é visto como mecanis-

mo interno ao Império, extremamente eficaz do ponto de vista social « ideológico (ergástulo dos delingiientes), extremamente impor-

tante do ponto de vista simbólico (ritual de purificação). É o

contraponto interno ao olhar estrangeiro de Giovanni Botero, ilustrativo das confluências possíveis de universos culturalmente distintos: no degredo, ricos « pobres da Metrópole expressavam concepções idênticas, as tensões sociais se dissolvendo na condição comum de colonizador. Na segunda parte do lívro, debruço-me sobre o imaginário demonológico e o universo cotidiano. O recorte oscila entre a longa

duração € a curta, como que tateando possibilidadeside análise dos fenômenos culturais. “Religião popular e política: do êxtase ao com-

bate” foi muito influenciado pela coletânea de Carlo Ginzburg, Mítos, emblemas, sinais, e ainda pelo clássico de Mikhail Bakhtin so[6

bre Rabelais — obras que discutem questões teóricas com grande ri-

gor. Beneficiou-se muito do primeiro curso de pós-graduação que

dei na USP, em 1989, no qual discuti a questão dos níveis de cultura. Acabou sendo um exercício tão rigido, tão escolar que, talvez de forma compensatória, me atirou nos braços da longa duração, do ensaísmo e de um certo fascínio temeroso que nunca deixei de ter

pela história francesa mais clássica das mentalidades: os estudos de Jean Delumeau.

Philippe Ariês, Robert Mandrou,

Como muitos críticos — dentro e fora do Brasil —, penso que

esta forma de fazer história tem defeitos que podem até ser graves:

é fregientemente indistinta, retórica, conceitualmente confusa. Mas, por outro lado, abre espaço à intuição e à sensibilidade, é democrá-

tica na utilização heterogênea e não hierarquizada das fontes, per-

mite ensaios. O capítulo 6, “Ambigúidade amorosa: de santas a mulas-sem-cabeça””, é, desta forma, quase um ensaio. Lida livremente com material iconográfico, sem ignorar certos procedimentos básicos da análise neste campo mas preferindo ver o registro artistico mais como indício de sensibilidade e de circularidade dos níveis culturais. Adota deliberadamente um arco longo de tempo, trata de grupos sociais distintos e remete a regiões geograficamente muito diversas. Na verdade, indaga sobre a possibilidade de um grande universo imaginário comum, e sobre a forma histórica de uma relação: a que existiu entre o lado positivo e o lado negativo do amor e da sensibili-

dade ocidentais.

O capítulo 7 — “Mentes e corpos: os assaltos do diabo” — baseia-se em processos inquisitoriais e em um documento notável que descobri em 1984 na Biblioteca da Ajuda, mas com o qual não pude trabalhar na ocasião. Deve muito ainda ao mesmo curso de pósgraduação já mencionado, quando, sobretudo através da leitura do livro intrigante de John Putnam Demos, Entertaining Satan, fiquei alerta para a questão do exorcismo e da possessão como fenômenos

distintos da feitiçaria, apesar de relacionados a ela. Beneficiou-se igualmente de discussões com alunos que, sob minha orientação, €s-

tudam o problema da medicina e do maravilhoso no mundo colo-

nial, cabendo ressaltar que, não existisse a associação estreita entre cura e possessão no mundo brasileiro contemporâneo, talvez o fenômeno permanecesse indecifrável para mim: um pouco da história

regressiva de que falava Marc Bloch. Foi ela que me levou a recortar

dois casos de possessão e exorcismo como bastante típicos de dois

universos culturais distintos, mas intercomunicantes: Lisboa no final do século xvir, Salvador nas primeiras décadas do século XVIII. 17

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Foi ela que me fez ver, com a ajuda de um artigo fundamental de Gilberto Velho, “Indivíduoe religião na cultura brasileira”, a rela-

ção estreita entre sistemas cognitivose sistemas

de crenças,

O capítulo 8, “Em torno de um mito: a elipse do sabá”, aproxima-se, mais uma vez, dos estudos de Carlo Ginzburg que procuram pensar a feitiçaria nas suas relações nem sempre óbvias com outros fenômenos: Os andarilhos do bem e História noturna. Inspirou-se também no lindo livro de Francisco Bethencourt sobre a feitiçaria portuguesa quinhentista, O imaginário da magia. Mas tem muito de pessoal, e dialoga, como “O conjunto; América diabólica”, com ““Sabás e calundus””. Na medida em que procura provar a impossibilidade de se compreender o mito do sabá sem atentar para as margens do mundo em que ele ocorre, sem olhar para os lugares em que é quase insignificante — uma elipse —, fecha o universo de possibilidades aberto com o primeiro capítulo, A bruxa tão tipicamente curopéia tem um pé nos ritos ameríndios e nos africanos: não na sua estrutura mítica, mas no conteúdo imagético que lhe foi sendo atribuído a partir do século xvi. Se não podemos nos entender sem olhar para a Europa, a Europa também não se entende de forma integral se não olhar para a América. Neste capítulo, como no primeiro do livro, Portugale Brasil formam um continuum

contraditórioe articulado, capaz de gerar especificidades de um lado e do outro do Atlântico, mas fecundo sobretudo nas relações que se oferecem no seio do Império colonial. Ensaiam-se ainda algumas considerações sobre o fenômeno da feitiçaria em Portugal: a curiosa persistência do mito, ou aspectos dele, no universo popular; a indi-

ferença ante ele entre os inquisidores, sempre preocupados com a heresta subjacente ao pacto demoníaco, este sim grande vedete das in-

quirições do Santo Ofício.

Por fim, a rápida reflexão sobre a “Orgia dos duendes”, de Bernardo Guimarães, corresponde à tentativa de pensar o problema das permanênciase da longa duração: de que maneira um mito se perpetuae se transforma, adquirindo novos significados? De que maneira, ainda, tais metamorfoses são tributárias da mudança das formas de representação, a bruxa sabática dos processos sangrentos

habitando, trezentos anos depois, o poema romântico? Por que, ao longo dos séculos, a detração do outro, humano ou imaginário, real

ou inconsciente, assume as cores carregadas e sombrias do Inferno e de seus asseclas? As respostas podem ser tantas que só as indaga-

ções permanecem. Mas talvez a melhor forma de concluir seja mesmo perguntar.

18

Primeira parte

MACRODEMONOLOGIA O diabo nas malhas do Antigo Regime

O demônio tem perspectivas amplíssimas sobre Deus, por

isso se mantém tão distante dele: — o demônio, quer dizer, o mais antigo amigo do conhecimento. Além

do bem

e do mal

MR oii

Nietzsche,

ai

Friedrich

A

I O CONJUNTO América diabólica

Dos son las iglesias de este mundo! La ta otra es diabolica [555] [7 ] como en hay sacramentos por Cristo [. .] asíen ca hay excrementos por el de monio y ordenados y serialados.

una es la catolica, la Iglesia catolica la iglesia diabolipor sus ministros

Martín de Castafiega,

1534

O SUBSTRATO RELIGIOSO E MARAVILHOS O DA EXPA NSÃO Durante muito tempo, o descobrimento da América foi visto ape- . has como o grande feito do homem europe u que se tornava irreversivelmente moderno

e crescentemente racionalista. Aprision ando e

controlando pela primeira vez o espaço do globo, esse homem pas“ava

a ser senhor dos mares e subjugador das cultur as estranhas, impondo por toda a parte seu credo, seus hábitos, sua visão de mundo. A descoberta da-América apressaria inclusive a consolidação da moSerna ciência, assentada no que hoje chamamos de paradigma galilai“O; garantiria a vitória do cálculo matemático e de uma percepção ordenada do universo, onde fenômenos até então in compreensíveis OU explicados em chave maravilhosa passavam a ter explicação racional e razoável.

Se considerarmos o caso português, veremos que, enquanto as

caravelas cruzavam os mares obedecendo a cálculos PISO into multidões se deliciavam, na Corte, com os espetáculos de Gil Vicente, ce

de se abria espaço às práticas cotidi anas do povosco no

es

di de magismo e de maravilhoso. Os proces sos quinhentistas da Eá Sição atestam como era corriqueiro o recurso a filtros e poções ma21

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o:

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gicas, e difundida a crença nos poderes extraordinários do Demônio. Conforme ficou registrado por Camões no Canto v de Os

lusíadas, os próprios marinheiros que partiam para a Índia, para a China ou para o Brasil viam com olhos apavorados certos fenôme-

nos naturais como o fogo-de-santelmo ou a tromba marinha, então já inteligíveis e explicáveis ante olhos eruditos.! Tensão entre o racional e o maravilhoso, entre o pensamento laico e o religioso, entre o poder de Deus e o do Diabo, embate, enfim, entre o Bem e o Mal marcaram desta forma concepções diversas acerca do Novo Mundo. Para os primeiros colonizadores e catequistas da América, que viveram numa época em que contendas religiosas dilaceravam a Europa, o recurso a tal embate não era simples retórica, mas índice de mentalidade onde o plano religioso ocupava lugar de destaque, mostrando-se presente nos mais diversos setores da vida cotidiana. Foi assim que, ao lado da expansão de mercados, os portugueses objetivaram, com as navegações, difundir a fé católica. Na Crônica do descobrimento e conquista da Guiné, em meados do século xv, Gomes Eanes de Zurara já expressava o missionarismo luso: A quinta razão [das que moveram o infante aos descobrimentos maritimos] foi o grande desejo que havia [o infante] de acrescentar em a santa fé de nosso senhor Jesus Cristo, e trazer a ela todas as almas que se quisessem salvar, conhecendo que todo o mistério da encarnação, morte e paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, foi obrado a este fim, scilicet, por salvação das almas perdidas, as quais o dito senhor queria, por seus trabalhos e despesas, trazer ao verdadeiro caminho.

' João de Barros, nas Décadas, abraçaria a mesma idéia de Zurara: diz que “Nosso senhor [o infante] como por sua misericórdia queria abrir as portas de tanta infidelidade e idolatria pera salvação de tantas mil amas que o demônio no centro daquelas regiões e províncias bárbaras tinha cativas, sem notícia dos méritos da nossa redenção””, para tanto determinando a João Gonçalves e a Tristão Vaz que descessem pela costa africana, explorando-a com espírito entre

comercial e cruzadístico.? Como outro grande herói da nacionalidade portuguesa, Nuno Álvares Pereira, o infante era cristão fervo-

- FOso, jejuando quase a metade do ano e fazendo repetidas esmolas. No contexto espanhol, é bem conhecido o lado místico de Cristóvão Colombo, que desejava, com o ouro da América, recuperar Jerusalém para a cristandade ocidental. Descoberto o Novo Mundo e instaurado o processo de coloniA

aos

|

e

|

zação, continuou a se desenrolar o embate entre o Bem e o Mal Em

1546, Pero de Góis, o donatário da capitania de São Tomé, escrevia

ao monarca português queixando-se do estado caótico à que se via entregue a jovem Colônia: “tudo nasce da pouca justiça e pouco temor de Deus e de Vossa Alteza que em algumas partes desta terra se faz e há, por onde se, de Vossa Alteza não é provida, perder-se-á todo o Brasil antes de dois anos”. D. João rr parece ter sido sensí-

vel também a estes apelos, e três anos depois enviava para a Colônia

Tomé de Sousa, O primeiro governador geral, e mais os primeiros

missionários, todos jesuitas. E esclarecia: ““a principal causa que me

moveu a mandar povoar as ditas terras do Brasil foi para que a gen-

te dela se convertesse à nossa santa fé católica” 3.

A PRESENÇA DA DEMONOLOGIA NA AMÉRICA E SUA RELAÇÃO COM UMA CIÊNCIA DO OUTRO A missão catequética religiosa que, na Europa, mada — o protestantismo afetou a Sé romana. Em a cristianização

fazia parte do contexto de transformação propiciou o surgimento da religião refor— e ainda a profunda reestruturação que 1545, tinha início o Concílio de Trento, e

das populações

de ambos

os lados do Atlântico

tornou-se um dos pontos de honra do programa tridentino. Antes mesmo do concílio, porém, os portugueses já se preocupavam com a conversão dos povos que submetiam — como se viu acima, nos tempos do infante d. Henrique —, e os espanhóis, no início do século XVI, enviavam missões para a América Central. Da mesma forma, desde o século xrv o pensamento erudito europeu via-se às voltas com a ameaça de coortes demoniíacas, formulando seus temores num corpo doutrinário que ficou conhecido como demonologia, Fundada por santo Agostinho, que deu estatuto concreto e multiforme ao demônio imaterial do Antigo Testamento, a demonologia se enriqueceu durante a Idade Média, sendo marcos nesta produção o Formicarium, de Nider, e o Malleus malleficarum, de Sprenger e Kramer. Nos séculos seguintes surgiriam seus maiores expoentes: a Démonomanie des sorciers (1580), de Jean Bodin; a Daemonologie (1597), de Jaime vI Stuart, depois Jaime 1 da Inglaterra; o Tableau de 'inconstance des mauvais anges et des démons (1612), do juiz Pierre de Lancre.

Com a descoberta da América, a demonologia parece ter sido»

a ciência teológica mais bem repartida entre conquistadores e colonii

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zadores do Novo Mundo, dos cronistas € especialistas como os missionários e eclesiásticos em geral — Nóbrega, Anchieta, frei Vicente

do Salvador, Acosta, Sahagún, Olmos, Las Casas — aos autodida-

tas como o soldado Cieza de León. Tal fato se explica porque, para

os europeus do final da Idade Média e início da Epoca Moderna, o devassamento dos espaços trazia consigo sua cristianização e ordenação segundo padrões culturais únicos e hegemônicos, europeus, em última instância. A evangelização da Europa expulsara o demô-

nio para terras distantes, da mesma forma como a intensificação do contato entre Oriente e Ocidente havia provocado a migração das humanidades monstruosas e fantásticas para a Índia, a Etiópia, a Escandinávia e, por fim, para a América, t+ A demonologia é hoje vista como um campo complexo do conhecimento, relacionada com o surgimento do moderno pensamento cientifico, voltada para a investigação acerca da causa dos fenômenos.º Bodin e Jaime Stuart foram também teóricos importantes

do absolutismo monárquico, o que sem dúvida sugere vínculos en-

tre a demonologia e a centralização política na Europa, confirmando ainda a hipótese de Trevor-Roper acerca da ambigiiidade do sé: culo xvi — corroborada, aliás, por certos estudos sobre a natureza

do Estado absolutista.é

Na península Ibérica, o alcance da demonologia não foi tão considerável quanto na Europa do Norte. Mesmo assim, na Espanha — onde os tratados contra superstições são a expressão local do fenômeno —, as publicações no gênero ocorreram com especial intensidade entre 1510 e 1618: seis títulos no século XVI, quatro no século xvir. Entretanto, tomando-se a demonologia como forma de

conhecimento mais ampla, aumenta o número das obras que versam sobre o assunto, alinhando-se entre os demonólogos autores co-

mo Pedro de Valencia,

Afonso de Salazar Frias, Francisco de Vitó-

"a, Andrés Laguna, Martín de Azpilcueta Navarro.º.O tom geral A

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passando, a seguir, a ns

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ando diferenciar o que per-

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Deus e do

Diabo,

ar a superstição — identificada, pela

de demonologia achavam-se presentes em inúmeros escritos quinhentistas e seiscentistas, como se procurará mostrar neste trabalho. A demonologia surge, assim, como muito mais do que um conjunto de tratados referentes à perseguição de bruxas, e se espraia por

outras obras além dos manuais de feitiçaria, sendo possível detectar uma demonologia em sermões católicos, nos textos de pregação pro-

testante, enfim, em para a descrição da e costumes de seus monologia deve ser

toda a produção epistolar e tratadística voltada natureza do continente americano e dos hábitos habitantes. Neste sentido, parece-me que a decompreendida nos quadros do que Certeau no-

meou-de heterologia, e em conexão com os textos de viagem qui-

nhentistas que fundaram o olhar antropológico — textos que revelam

uma observação assombrada pelo seu Outro, o imaginário, e que se constituíram no objeto de '“uma “cultura” assombrada pela sua exterioridade “selvagem” "'.º Na análise de outra estudiosa da literatura de viagens, elas se delineavam como “'conquista do espaço da alteri-

“dade, como recuperação de mirabilia perdidas”? Se a visão ocupava papel primordial na hierarquia renascentista dos sentidos, se o próprio conhecimento moderno se definiria pelo ato de possuir o outro por meio da visão, enfim, se viajar signifi-

— ——— = E E

quando afirma que a visão nos cativa não apenas por ser uma jornada em direção às coisas externas, mas também por significar volta a uma realidade de origem, representada nos objetos percebidos a distância. Na viagem, o viajante inventaria e descobre paulatinamente o seu lugar de origem, o lugar de onde procede, e estabelece uma relação especial com a viagem: “viajar é enxergar (ver), mas

— pa

cava reconhecer ocularmente o Outro, cabe lembrar Merleau-Ponty

enxergar. (ver) já é viajar”1º

Relacionando-se, por um lado, com a investigação científica, a demonologia se relacionaria, igualmente, com esta ciência do outro que Certeau não teve tempo de aprofundar mas que delineou sob

a designação de heterologia.” Na Europa, bruxos e bruxas consti-

da cultura dos conquistadores e colonizadores da América, Se a descoberta de novos mundos pôde revigorar os símbolos do maravilhoso, foi capaz também de fortalecer a demonologia européia. Mundo 25

A

gação: nomeava-se e se classificava o Outro ameaçador com os elementos negativos e detratores por excelência disponíveis no âmbito

o

americana —, a relação heterológica se verificaria sobretudo pela ne-

DR

za.'2 Na demonologia de que se trata aqui — referida à alteridade

E

tuíram esse outro que a cultura opunha a seus padrões, identificandoos, para alguns, com a anti-sociedade, ou com o estado de nature-

CO

inquietante, capaz de seduzir e aterrori zar ao mesmo tempo — diz Giulia Lanciani —, o ultramar atlântico pr ovocava vertigens no eu-

ropeu do século xvi, impelindo-o a buscar refe rências em contextos tranqiuilizadores, “concretos ou mentais — pouco importa”,

Recuperam-se então mitos tamiliares e muitas vezes antigos, que, “en-

xertados em húmus diverso”, ajudam a compreende r os enigmas do mundo,

“transformando-se em instrumentos de conhecim ento den-

tro de um horizonte de significação”,13

Neste sentido, acredito ter a demonologia se desdobra do tanto nas cartas jesuíticas brasileiras como nos escritos de um Acos ta ou

de um Diego de Landa, alimentando-se das narrativas de viagem ame-

ricanas para consolidar sua perspectiva heterológica da feit içaria e práticas mágicas. Caça às bruxas, manuais demonológicos — por

um lado —

e extirpação das idolatrias, catequese, literatura moral

sobre as Américas — por outro — serão aqui vistos, portanto, como

as duas faces do que Certeau chamou de heterologia.!4

A APROXIMAÇÃO

|

COM O MODELO SABÁTICO

» Foi sobretudo na caça às bruxas que se treinou o olhar demonológico sobre a América.!* Muito curioso é o caso de Andrés de Olmos, autor de um Tratado de las antiguedades mexicanas, do qual

se conhecem apenas fragmentos.!º Antes de partir para a Nova Espanha, Olmos trabalhara com Zumárraga na repressão aos bruxos e bruxas de Biscaia, e, segundo Mendieta, tal ação parece ter agido

favoravelmente no sentido de levar Carlos v a designar ambos para o ultramar — onde, em 1528, Zumárraga se tornaria o primeiro bispo do México. Na verdade, como observa Pierre Ragon, a distância

entre uma bruxa basca e um índio idólatra podia passar por muito

pequena para um espanhol do século xv1.!” Olmos afirma: “há neste mundo duas congregações: uma é muito boa, a outra muito ruim.

A que é muito boa se chama igreja católica, a que é ruim se chama igreja diabólica”. Sua afirmação é muito semelhante à de fray Martin de Castariega, para quem haveria duas igrejas, uma católica e a outra diabólica, esta se voltando para excrementos enquanto a primeira se voltava para os sacramentos.!8 Castaiiega trabalhara no País Basco na mesma época em que Zumárraga e Olmos, e suas teses seduziram este último a ponto de fazê-lo adaptar em náuatle os onze primeiros capítulos do seu Tratado muy sotil y bien fundado

de las superstitiones y hechicerias..., que se editara em Logrono no

|

= ano de 1529. Desta forma, Olmos aplicava aos idólatras do Novo Mundo o discurso de Castariega sobre os desviantes bascos, reutilizando as contribuições da demonologia em suas próprias investiga-

ções sobre a civilização asteca. A atestar a difusão da demonologia pelos diferentes meios sociais há as opiniões do jurista Juan Polo de Odegardo, que, ao des-

crever práticas religiosas andinas em Los errores y superstitiones de

los indios, incorpora elementos da feitiçaria européia: bruxas também cruzariam os ares dos Andes, falariam com o diabo, saberiam de coisas impossíveis de se saber por meios naturais.!? Há ainda a descrição dos ritos tupinambás feita por um protestante, Jean de Léry, que, no conflito dos sentimentos contraditórios nele suscitados pelas danças, as defumações e os volteios dos caraíbas, confessou na Histoire d'un voyage faict dans la terre du Brésil que, “se no início deste sabá”' se mostrara temeroso, acabara recompensado pela harmonia dos acordes, pelo impacto da música, pela cadência dos re-

frões que o encantaram.?º

|

Procedendo de lugares diferentes, abraçando fletindo sobre contextos culturalmente distintos, e Léry tiveram que recorrer a imagens que lhes a bruxa voadora, o sabá das feiticeiras — para

credos diversos, rePolo de Odegardo eram familiares — poderem entender,

de forma analógica, o que tinham sob os olhoskA familiaridade das

populações mexicanas com o uso de substâncias alucinógenas susci-

tou, por exemplo, aproximações com a feitiçaria sabática. Ao des-

crever a confecção de um ungiento alucinógeno à base de insetos amassados, tabaco e alcalóides, Durán conjecturou que deveria ser

semelhante ao utilizado pelas bruxas européias em seus vôos.2! Mas

|

|

nem sempre a demonologia se manifestou na forma sabática, e nem sempre se explicitaram as comparações com as bruxas que, na Europa, ardiam em fogueiras ou pendiam, aos milhares, de forcas. Do

corpo doutrinário dos demonólogos, os proto-etnógrafos da América retiraram frequentemente apenas um quadro explicativo mais geral, conseguindo, no interior dele, conservar bastante liberdade de

espírito. Na verdade, o Novo Mundo funcionava como poderoso inspirador das elucubrações demonológicas: se na Europa os poderes repressores perseguiam superstições e maleficia que não chegavam a recobrir verdadeiras crenças religiosas heterodoxas, em terras americanas tinham que liquidar a herança de uma Igreja pagã, consubstanciada em crenças efetivas.?? Sem aludir ao vôo noturno ou ao sabá, muitos dos cronistas

e eclesiásticos que descreveram as práticas mágico-religiosas ameri2

canas fizeram-no utilizando a terminologia que conheciam e empre-

gavam para designar os agentes satânicos por excelência. Sacerdotes

maias. incas ou astecas, xamãs, caraibas e pajés tupis, enfim, todos

“os responsáveis pelo espaço sagrado foram quase sempre chamados de bruxos e feiticeiros — termo aliás empregado por muitos até os dias de hoje, mas que se cunhou no Quinhentos, no rastro da demonologia e da caça às bruxas européia. Na Informação da Terra do Brasil, escrita em 1549, Nóbrega descreve os costumes religiosos dos índios chamando-os de feitiçaria,

mais particularmente no que diz respeito ao xamanismo tupi: **De

certos em certos anos vêm uns feiticeiros de mui longes terras, fin-

gindo trazer santidade e ao tempo da sua vinda lhes mandam limpar os caminhos e vão recebê-los com danças e festas, segundo seu costume: e antes que cheguem ao lugar, andam as mulheres de duas

em duas pelas casas, dizendo publicamente as faltas que fizeram a seus maridos umas às outras e pedindo perdão delas”. Aqui, já haveria, talvez, uma ênfase em caracteres negativos do comportamento feminino: a inconstância e a lascívia que as aproximariam ainda mais das bruxas européias. Uma vez chegando ao lugar, prossegue Nóbrega, O feiticeiro é recebido com muita festa, entra em casa escura, começa a pregação milenarista junto à cabaça, prometendo profusão de alimentos, vida longa, juventude para as velhas. E, a seguir, dá-se a possessão: Acabando de falar o feiticeiro, começam a tremer, principalmente as mulheres, com grandes tremores em seu corpo, que parecem demoninhadas (como de certo o são), deitando-se em terra, e escumando pelas bocas, € nisto lhes persuade o feiticeiro que então lhes entra a san-

tidade; e a quem isto não faz tem-lho a mal, Depois lhe oferecem muitas coisas e em as enfermidades dos Gentios usam também estes feiticeiros de muitos enganos e feitiçarias.??

O capuchinho Yves d'Evreux foi outro europeu pródigo em alusões aos feiticeiros tupis, com os quais os diabos mantinham comunicação constante, fosse por intermédio de demônios familiares em forma animal — morcegos, pássaros negros —, fosse por meio de uma voz saída das entranhas da terra, de dentro de um buraco, como a feiticeira de Endor que falara a Saul,24 Os rituais dos sacerdotes com ervas, Evreux denominou-os “cerimônias satânicas”* cogiga por intermédio do Maligno, pois “ayant toujours été entermés dans cette grande et vaste prison du Brésil, sans aucune 28

communication avec le vicux monde, ils ne pouvaient Vavoir apprise d'aucune autre nation", 25*

Mesmo sem aludir ao sabá, era ele que, com certeza, subjazia como paradigma em várias das descrições etnodemonológicas. Ainda no século Xvi, o jesuíta Azpilcueta Navarro retratava o sabá, mas enunciava o inferno: “Vi seis o siete viejas que apenas podían tengr

en pie dançando por el deredor de panella y atizando la oguera que parecían demonios en el infierno”.* No Peru seiscentista, outra descrição, agora contida num documento inquisitorial, inspira-se no sabá e nas práticas correntemente creditadas às bruxas européias, mas não os menciona:

Iten, que muchas personas, especialmente mugeres fáciles y dadas a supersticiones, con mas grave ofensa de nuestro Senor, no dudan de dar, o cierta manera de adoracion al Demonio, para fin de saber de las cosas que desean, ofreciéndole cierta manera de sacrificio, encendiendo candelas y quemando incienso y otros olores y perfumes, y usando de ciertas unciones en sus cuerpos, le invocam y adoran con nombre de ángel de luz, y esperan de las respuestas o imágenes y representaciones aparentes de lo que pretenden, para lo qual, las dichas mugeres, otras veces se salen al campo de dia y a desoras de la noche, vy tomam ciertas bevidas de yervas y raices, Ilamadas el achuma y el chamico, y la coca, con que se enagenan y entorpecen los sentidos, y las ilusiones y representaciones fantásticas que allí tienen, juzgan y publican despues por revelacion, o noticia cierta de lo que a de suceder.

Apesar de não constituírem pacto explícito, tais procedimentos — ao lado de outros, como a astrologia — denotavam a intromissão oculta do Demônio nos atos humanos, ““aprovechándose de su fra-

gilidad y poca firmeza en la Fé....2

A ENORME IMPORTÂNCIA DO DIABO E CERTOS ASPECTOS ESTRUTURAIS DA DEMONOLOGIA Mas a grande vedete da demonologia americana é o diabo: é

ele que torna a natureza selvagem e indomável, é ele que confere os atributos da estranheza e da indecifrabilidade aos hábitos cotidia-

nos dos ameríndios, é ele sobretudo que faz das práticas religiosas dos autóctones idolatrias terríveis e ameaçadoras, legitimando assim a extirpação pela força. (*) “tendo sempre permanecido encerrados nessa grande e vasta prisão do Brasil, sem nenhuma comunicação com o velho mundo, eles não as poderiam ter aprendido com nenhuma outra nação.

29

id Com a cristianização mais homogênea do Velho Continente, como ficou dito acima, o diabo se mudara para o Novo. Mesmo em um Las Casas, que na Apologetica historica, de 1559, via ubiquida-

de na ilusão demoníaca — considerando-a, diferentemente de outros etnodemonólogos, como bem repartida entre os diversos povos do mundo —, explicitava-se a associação entre a coorte infernal e a América. Para cá teriam os demônios voado em grandes quantidades por ocasião do advento da cruz, deixando para trás as regiões

mediterrânicas. E aqui continuaria a luta cruzadística. Descrevendo a destruição da pirâmide de Pachacamac que, perto de Lima, fora levada a cabo em janeiro de 1533 por Fernando Pizarro e um bando de espanhóis sequiosos de tesouros, Miguel de Estete retrata, na Ke-

lación de la conquista del Peru, o triunfo final do Santo Lenho: após

tudo destruído, os espanhóis ergueram a cruz no mesmo local em que, por tantos anos, o diabo reinara.?

Em outras plagas, o embate não teria tido igual sucesso. João de Barros foi, com forte evidência, o fundador de curiosa tradição, perpetuada por autores posteriores, em que a luta entre Deus e o Diabo aparece identificada ao surgimento da colônia luso-brasileira, e diretamente associada à crucifixão. Chegando pela primeira vez ao Brasil, dera-lhe Cabral o nome de Terra de Santa Cruz, em homenagem ao Lenho Sagrado. A necessidade de nomear a nova terra se colocou para Cabral quando partia para a Índia, a 3 de maio: mandou, então, “arvorar uma cruz mui grande no mais alto lugar de u'a árvore e ao pé dela se disse missa. A qual foi posta com solenidade de bênçãos dos sacerdotes: dando este nome à terra, Santa Cruz”. O Santo Lenho inscrevia o sacrifício de Cristo na gênese da nova terra, que ficava toda ela dedicada a Deus, havendo grande esperança na conversão dos gentios. Per o qual nome Santa Cruz foi aquela terra nomeada os primeiros anos: e a cruz arvorada alguns durou naquele lugar. Porém como o demônio per o final da cruz perdeu o domínio que tinha sobre nós, mediante a paixão de Cristo Jesus consumada nela: tanto que daquela terra começou de vir o pau vermelho chamado brasil, trabalhou que este nome ficasse na boca do povo, e que se perdesse o de Santa Cruz. Como que importava mais o nome de um pau que tinge panos: que daquele pau que deu tintura a todos os sacramentos per que somos salvos, per o sangue de Cristo Jesus que nele foi derramado.

João de Barros, numa enigmática condenação do culto à atividade comercial, clamava contra o triunfo de princípios seculares sobre os

30

religiosos, como a corrigir o rumo tomado pela expansão lusitana: “E pois em outra cousa nesta parte me não posso vingar do demônio, admoesto da parte da cruz de Cristo Jesus a todos que este lua esta terra o nome que com

gar lerem, que dêm

tanta solenidade

lhe foi posto, sob pena de a mesma cruz que nos há de ser mostrada no dia final, os acusar de mais devotos do pau brasil que dela”. E finalizava, celebrando o providencialismo da expansão: “E por honra de tão grande terra chamemos-lhe província, e digamos a Província de Santa Cruz, que soa melhor entre prudentes que brasil, posto per vulgo sem consideração e não habilitado pera dar nome às proprie1» 29

dades da real coroa”.

A força de tradição assumida pelas idéias do autor das Décadas sugere como era acentuada, na mentalidade quinhentista e seiscentista, a presença da explicação de cunho religioso para o descobrimento e a denominação da colônia brasileira, mostrando o outro lado da aventura marítima portuguesa. Escrevendo alguns anos depois, Pero de Magalhães Gândavo, para alguns “pai fundador” da

historiografia brasileira,” mostrava-se igualmente inconformado com o nome que vigorava na designação da Colônia — Brasil —,

acreditando não haver razão para negar à nova terra O nome original, nem para esquecê-lo “tão indevidamente por outro que lhe deu o vulgo mal considerado, depois que o pau da tinta começou de vir a estes Reinos [...)”'. A solução proposta pelo cronista para magoar “ao Demônio, que tanto trabalhou e trabalha por extinguir a memória da Santa Cruz e desterrá-la dos corações dos homens, mediante

a qual somos redemidos e livrados do poder de sua tirania”, era restituir à terra o nome antigo, chamando-a Província de Santa Cruz. Aos ouvidos cristãos, finalizava, era melhor som o nome “de um pau em que se obrou o mistério de nossa redenção que o doutro, que não serve de mais que de tingir panos ou cousas semelhantes””.3

No início do século seguinte, frei Vicente do Salvador desenvolveria argumentação análoga à de João de Barros e Gândavo, inspirada, sem dúvida, na dos seus antecessores quinhentistas, e como que sintetizando-as:

O dia que o capitão-mor Pedro Álvares Cabral levantou a cruz [...] era

a 3 de maio, quando se celebra a invenção da Santa Cruz em que Cristo Nosso Redentor morreu por nós, e por esta causa pôs nome à terra que havia descoberto de Santa Cruz e por este nome foi conhecida muitos anos. Porém, como o demônio com o sinal da cruz perdeu todo o domínio que tinha sobre os homens, receando perder também o muito que tinha sobre em os desta terra, trabalhou que se esquecesse o pri-

31

meiro nome e lhe ficasse o de Brasil, por causa de um pau assim cha-

mado de cor abrasada e vermelha com que tingem panos, que o daquele divino pau, que deu tinta e virtude a todos os sacramentos da Igreja [...)*º

As explicações de João de Barros, Gândavo e frei Vicent e são,

na verdade, uma só, girando em torno da identificação entre o sur-

|

gimento da colônia luso-brasileira e a luta eterna entre Deus e o Dia-

bo. Fato impar entre tantas terras coloniais, o Brasil seria à única a trazer tal tensão inscrita no próprio nome, que lembrava para sempre as chamas vermelhas do reino do inferno. Em periodos posteriores ao que aqui se estuda, a idéia do embate entre Bem e Mal como fundador da própria identidade ““brasileira”” continuou à ter força; em 1727 e em 1728, Sebastião da Rocha Pita e Nuno Marques Pereira, respectivamente, abraçariam a tradição inaugurada por João

de Barros: sob a diversidade dos contextos, portanto, persistiam pro-

fundos traços mentais. O enraizamento dessa tradição ajuda a compreender melhor a leitura que os jesuítas catequizadores fariam da natureza brasileira, assolada sem trégua pela presença demoníaca, ou endemoninhada

ela mesma. Afinal, fora.a malfadada árvore de pau vermelho que roubara o nome santificado, atestando a insubordinação de um mundo natural muitas vezes caótico, desordenado e contraditório como

=» O próprio demônio. Este habitava as terras brasileiras, perturbando, “por exemplo, a serenidade das águas fluviais: em viagem missionária pelo interior, o padre Jerônimo Rodrigues deparou com um rio “tão perturbado, que parecia andarem ali visivelmente os demônios,

que ali ferviam em pulos para o céu, que punha espanto” "MySata-

nás encarnava-se ainda em baleias, desencadeava tempestades que comprometiam as missas campais dos missionários, convocava le-

giões de moscas que atordoavam os sacerdotes no ofício religioso ,

enfim, fazia com que fosse permanente na Colônia portuguesa o estado de guerra entre as forças do Bem e do Mal: “neste lugar tivemos muitos combates do demônio, e ainda agora temos”, escrev ia a Roma o padre Pero Correia.) O teatro de José de Anchieta pôs em cena esta visão cruzadiís tica, associando ao demônio os traços da cultura am eríndia e a Deus os da cristandade ocidental. Neste sentido, cabe destacar, entre suas peças, Va festa de São Lourenço e Na Vila de Vitóri a, escritas provavelmente entre 1583 e 1586, e ainda Na aldeia de Guar aparim. Nes-

po

tas peças, entretanto, a demonização do indígena as sumiu também

coloração mais específica. Na aldeia de Guaraparim,

por exemplo,

demônios com complicados nomes indígenas reúnem-se em conci-

liábulos — o concílio do Mal, expressão do impulso demoníaco à

revolta política. Na festa de São Lourenço, enuncia-se mais uma vez a identificação do índio ao demônio pela mediação da revolta políticayiGuaixará e Aimberê, chefes tamoios que haviam lutado em 1566-7, apoiando o invasor francês contra os portugueses e os jesuítas, aparecem como demônios de destaque, dotados de vários auxiliares, diabos menores de nomes indígenas. Ardendo por toda parte, assumindo, segundo Alfredo Bosi, papel central em Na festa de São

Lourenço, o fogo, simultaneamente infernal e divino.*?

No México, a atestar mais uma vez a difusão geográfica e social da etnodemonologia das Américas, um leigo como Alonso de

Zorita se ressentia, na Historia de la Nueva Espana, da presença fi-

sica do diabo na natureza, cada vulcão sendo, na realidade, uma boca do inferno.” No Peru, os primeiros missionários acusaram a atuação dos demônios no desencadear de vendavais terríveis, que ti-

nham por objetivo impedir a evangelização dos povos andinos.”

Vendo a razão natural dos índios embotada pelo demônio — como Martin de la Corufa — ou lamentando o abandono dos americanos às hostes de Satã — como Sahagún —, os missionários e cronistas dos primeiros tempos da colonização tinham a convicção de

enfrentar, no Novo Mundo, um velho inimigo.” Por um lado, tal

certeza foi o mais poderoso obstáculo à compreensão em pro fundi-

dade das sociedades indígenas. Por outro, mostrou que o desencantamento subsequente à euforia do primeiro contato — comum tanto ao México quanto ao Peru e ao Brasil, e aqui muito bem representado na transição presente nos escritos de Manuel da Nóbrega ou de José de Anchieta — ancorou-se na própria linguagem demonológica.“º Nesta, como viu Ragon, imperou um raciocínio explicativo assentado nos princípios de inversão e de desordem, e dominou uma linguagem dos contrários, conforme

a análise brilhante de Stuart

Clark. O recurso à inversão permitia dar conta de múltiplos fatos culturais concretos análogos às realidades européias mas opostos a elas devido à ação do Diabo no sentido de parodiar as honras prestadas a Deus. No México, por exemplo, os missionários recorreram com frequência à inversão, as práticas religiosas dos autóctones sendo caracterizadas por oposição às católicas, numa perspectiva deliberadamente maniqueiísta. O princípio da desordem mostrou-se particularmente fecundo para o etnodemonólogo do século xvi, possi-

33

bilitando inventários exaustivos de hábitos e costumes dos quais não

era necessário compreender os significados nem fornecer explicações

havendo, assim, maior liberdade para as descrições, No limite, tal atitude resultou num total desencorajamento ante o incompreensí. vel, e na inutilidade da compreensão. O cronista dominicano Diego Durán, por exemplo, desencorajado ante um conhecimento inçompleto do náuatle, acaba rejeitando as fórmulas sagradas dos nauas como vazias de significados, da mesma forma como, na Europa, se

rejeitavam os gribouillis dos feiticeiros: “que el demónio que se les enschó solo les entiende”,4?

JA desordem demonfaca está presente, por exemplo, nas descrições feitas pelos jesuítas Luís da Grã e Fernão Cardim dos hábitos que envolviam a alimentação c a moradia entre os tupis do Brasil: “nem sei outra melhor traça do inferno que ver uma multidão de-

les, quando bebem”, escrevia o primeiro a santo Inácio de Loyola, Como o povo do inferno, os índios viviam junto ao fogo de dia e

de noite: “porque o fogo é sua roupa, e eles são mui coitados sem fogo [...] e toda a casa arde em fogos”, considerava Cardim no seu Tratados da terra e gente do Brasil! |

A linguagem dos contrários, por fim, seria possivelmente o elemento mais importante da demonologia, elo de ligação entre ela e

todo um universo mental característico do mundo moderno, presen-

te tanto no teatro elisabetano de Shakespeare e Ben Johnson quanto

nas concepções revolucionárias de um mundo às avessas, de um País de Cocanha, na prática debochada do charivari, na carnavalização

própria à cultura popular; quanto nos sermões e pregações ameaçadoras de católicos e protestantes; quanto, ainda, nas copiosas des» crições dos missionários-ctnógrafos e dos demais cronistas das Américas que trataram das práticas religiosas ameríndias — conhecidas, no mundo hispano-americano, por idolatriaMs ss,

DEMONOLOUIA

E IDOLATRIA

* José Acosta, missionário jesuíta que atuou na América já no final do século xvr, ilustra magistralmente a tendência em demoni-

gar as práticas religiosas do Novo Mundo, Eis alguns dos títulos das partes de sua Historia natural y moral de las Indias, Livro v, cap,

x1; “De cómo el demonio ha procurado asemejarse a Dios en el modo de sacrifícios, religión y sacramentos": cap. xv: “De los monasterios de doncellas que inventó el demonio para su servicio": cap. Jd

TT

ra pa o i n o m e d el e en ti e qu osos gi li re de s o i r e t s a n o m s lo XVI! “De n ha e qu s za re pe as y s ia nitenc pe l as e D “ : I V ; X ” . ” p n a c ó i c i t su supers cÓ e D “ : um xx p. ca : o” ni jo n ón del de i s a u s r e p r o s p o i d n i s usado lo ntos de la santa

mo

el demonio

ha procurado

remedar

los sacrame

ó r u c o o r i p n o m e d e] » e qu manera con a us e qu n ó i n u m o c Y i, st ri Ch s u Corp “De algunas fiestas que usaron los de io er st mi e) ar il im n ié mb quiso ta

en la de la

Iglesia”; cap. XXIV: “De la de ta es fi la ar d e m e r o c i x Me canta Iglesia”; cap. XXVII: Cuzco, y cómo el demonio Santíssima Trinidad”.* em e -s ou nt se s as a n a i b m o l o c é r p as A caracterização das idolatri nto e sa nt me al ci pe es , ja re Ig da es or ut fundamentação bíblica, nos do ligiore a fi so lo fi à m co a ic bl bí a nç ra he a Agostinho, Amalgamando fore el l, oa ss pe a rm fo de as ur it cr es as sa dos antigos, interpretando os ic ét eg ex s to en em el os a st ui nq co neceu ao humanismo cristão da ti os Ag o nt sa , so ca à r po o ã a. N ri at ol id necessários à definição de

m a r e b e b e u q m r e o t l u a a p i c n i r p , o s nho foi, junto com santo Tomá

'* a. gi lo no mo de da os ic ór te os rn de mo os

sentaas se s Ela s. ria lat ido as va ta en im al e qu pai o O demo era eação grosqu ca ma na a, ac ní mo de a di ró pa na , us pe ro eu os a vam, par anna s, no ma hu os íci rif sac nos s sa es pr ex , us De seira das obras de rvinha te in o ab di o de on o, çã ha in iv ad na a, mi do so tropofagia, na consinas até te en es pr e -s va ra st mo ria lat ido de ia idé A e. nt me al or

ultit des , em qu ra pa , et ev Th é dr An um de as id ec ad mp co derações se os di ín os , us De to de en im ec nh co do e o zã ra ra ei ad rd ve da dos s lhe e qu es çõ ui eg rs pe das s e ca ti ás nt fa s sõe ilu das sas pre tornavam o nd va le e ro cu es o o nd me s, te do za ri ro er at am vi Vi o. gn li Ma o ia lig inf consigo um fogo quando saíam à noite, atolando-se no engano da idolatria e adorando o Diabo por meio de seus ministros, OS pajés.*”

Se a idéia de idolatria variou entre os ctnodemonólogos da América, cabe aqui destacar, mais uma vez, O papel decisivo de José de Acosta, Diferentemente de um Las Casas, para quem ela acabava preparando o ameríndio para a recepção da fé católica, Acosta achava que, apesar de aptos a receberem a fé, os índios se entregavam a idolatrias demontacas: era assim o demônio, e não a torre de Babel, que explicava a diversidade das divindades e dos cultos, “Expulso pela chegada do Cristo, o demônio se refugiara nas Índias, delas fazendo um de seus bastiões, A idolatria não é, pois, apenas uma forma errônea de religião natural, Ela não é natural, mas diabólica” Subscreve, desta forma, a definição bíblica segundo a qual a idolatria é

o começo e o fim de todos os males.**

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lóquio dos Doze”, já se encontrava presente à demonização das idoatrias. os diabos impelindo os homens a adorarem “a coisas de barro”. ““ão sol, à lua, às estrelas, às pedras, às árvores, a ave, à sernente".*º Trabalhando com manuscritos nauas — que compreendia com dificuldade — para escrever seu próprio texto, Durán via nos ideogramas representações de Satã. O costume inca de enterrar os vivos era tido por Cieza de León, na Crónica del Peru, como determinado pelo extraordinário poder que a ilusão demoníaca ocupava na vida dos gentios, decorrente da falta de orientação religiosa que tinham. A posição de Cieza é bastante nuançada devido à admiração que nutria pelas realizações políticas e econômicas das populações andinas: demonizada se mostrava, portanto, no seu caso, unicamente a religião.” No México, autores seiscentistas se estenderam tm

sobre a questão da idolatria: Ruiz de Alarcón, Jacinto de la Serna,

Pedro Sanchez de Aguilar, Gonzalo de Balsalobre, Diego Jayme Ricardo Villavicencio, a frequência da produção sobre o assunto contrastando com o caráter assistemático das campanhas extirpadoras.*! Mais uma vez, como os demonólogos europeus, alguns destes

homens — no caso, Ruiz de Alarcón e Jacinto de la Serna — fundamentavam as informações sobre práticas idólatras com base em ex-

periência própria, como visitadores gerais das dioceses; mais uma vez, pois, aproximam-se o registro etnográfico e a teorização demonológica, O demônio era o inimigo pessoal de cada um desses evangeliza-

dores, de cada extirpador que o perseguia e combatia por toda parte

onde se encontrava, nos ídolos que se fazia preciso quebrar e na al-

ma dos índios, de onde deveriam ser expulsos. Os casos de possessão demoniaca proliferaram no Peru sobretudo na primeira metade do século XvII, e se mostraram mais comuns entre os índios. O de-

mo habitava seus corpos para melhor assegurar ou defender o impé-

rio da idolatria, e certos monges se tornaram verdadeiros especialis-

tas na arte do exorcismo, que assim veio a ser uma técnica privilegiada

esp

às,

ri

e Deus sempre triunfar no final.

No mundo hispano-americano, portanto, desde muito cedo os catequistas € Os funcionários da Coroa moveram luta encarniçada 36

[A

contra maniltestações religiosas autóctones, dando destaque especial aos templos e ídolos. E bem conhecida a ordem de Zumárraga para destruir templos astecas e, sobre seus escombros, levantar igrejas ca-

tólicas. Numa carta famosa datada de 12 de junho de 1531, ele se jactava da destruição de mais de quinhentos templos e 20 mil idolos. Dois anos antes, Martin de la Coruna declarara também em carta que uma das principais ocupações de seus discípulos era derrubar ídolos e arrasar templos, no que aliás eram dirigidos por ele próprio. Ainda no México, em 1576, Bernardino de Sahagún fundamentava a destruição das idolatrias com base na necessidade de impedir o con-

E

tágio dos “costumes da república” e afirmar uma “outra maneira de civilização que não tivesse nenhum ressaibo de coisas de idolatria”.*A destruição dos idolos era ainda mais importante do que a dos

templos, pois era fácil escondê-los.º A dos livros sagrados também

não ficava atrás: missionário no Yucatán e na Guatemala, Diego de Landa, depois segundo bispo da península, queimaria — conforme seu próprio testemunho — “tum grande número” de livros sagrados, inviabilizando para sempre a melhor compreensão da cultura maia; entre os argumentos que apresenta na sua Relación para justificar o feito, está presente o viés demonológico: “não continham nada

e

em que se não pudesse ver superstição e mentiras do diabo”.**

* Utilizada por Las Casas ainda no século xvi, foi, entretanto, apenas no Seiscentos que ganhou força nos processos de idolatria a ca-

|

suística do pacto demoníaco. Em terras mexicanas, o princípio do pacto

foi tudo o que as práticas autóctones conseguiram então conservar do repertório diabólico cristão imposto pelos catequistas e extirpadores.“ Todavia, acusações de pacto estão entre as culpas que Landa atribuía aos índios maias ainda no século xv1, em 1562.ºº No Peru,

onde o movimento de extirpação talvez tenha sido mais espetacular, Igreja c Estado se uniram no combate, que foi sistematizado por meio

de Visitas, frequentes sobretudo entre 1610 e 1671, Primeiramente, a repressão religiosa se limitou a destruições, saques, incêndios de tem-

' A

plos, túmulos, estátuas, objetos sagrados e valiosos. Mas a partir do t Concílio de Lima, em 1551, procurou-se normatizar € uniformizar a repressão aos ritos de iniciação religiosa, às danças sagradas e, so-

bretudo, aos cultos incas dedicados aos ancestrais. Em autos-de-fé,

| "

Os inquisidores destruíam santuários e estátuas sagradas, queimando as múmias dos antepassados da comunidade num espetáculo particularmente dramático por acreditarem os incas ser necessário preservar o corpo para a ressurreição. Queimando as múmias, os espanhóis privavam os antepassados da possibilidade de vida eterna, 37

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panhois nela pregassem O Santo Evangelho — quantos se salvaram”

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Quantos" Quantos foram pars e céu? — Nenhum. Quantos Incas foaum para o Inferno? — Todos. Quantas ninhas? — Todas. Quantas

tasse à falar de seu Deus e ameaçar os indios com seu inferno.* Medo do mferno, assim como do diabo, já eram, entretanto, decorrências do processo colonizador, ou, como formulou Serge Grumnnskt, do processo de ocidentalização do Novo Mundo.“ O diabo parece ter sido estranho tanto para os tupis do Brasil quanto aos nauas, maias, incas é demais povos americanos. O cosmos maia era neutro, às forças e os seres sagrados “não eram nem bons, nem ruins, mas apenas caprichosos”. O Micilar naua, associado pelos catequistas ao inferno cristão, era um dentre outros lugares que abrigavam mortos, e, contusão entre as confusões, tratava-se, originalmente,

de um lugar gelado.“ A cosmologia das populações andinas não

contava com à noção de mal personificada num ser satânico, sendo, ao contrário, dotada de visão “dialética”" do universo, “na qual forças

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rodiando a missa com adoração de uma sortille, fazendo sacrifícios e danças pagãs. Em Tequia, apedrejaram frei Juan de la Esperança e lhe machucaram ternvelmente a boca, para que nunca mais vel-

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nários, queimaram cruzes, entregaram-se à cerimônias sacrilegas, pa-

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Para os indios, 2 idcia de mfermo não era indiferente, mesmo que sua apreensão dele fosse distinta. Em Mixtôn, na Nova Galicia, ocorreu no ano de 154] uma rebebão de caráter religioso, pela libercade de culto e contra o catolicismo. Os revoltosos mataram missio-

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princesas? — Todas. Porque adoraram: os demônios nos Auecus"”.S

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“uiotatrmas qee ocorreu, nos Andes, uma ieiçara megetivoe, as “bruxas * chegando, inclusive. 2 Comfessar pactos com o diabo. Coacepções andinas referentes à cura. adivinhação. sornilêgios viram-se engoltadas por transformações profundas, inerentes 20 processo cotonizador. “Os espanhois crarem bruess no Peru, onde, antes, mephuma exsta O tmunto do diabo erstão no imaginário das populações zmereamnas autóctones acabou sendo, assm, um subproduto da mdéta que os europeus e sua Igreja tinham da idolatria: tenômeno nitidamente demarcado por barrerras próprias a uma concepção binária do umiverso, O Céu se eponto ao infemo, & matureza à culkur, O ser ao parecer, O espiritual ao temporal. Como o caráter intnnsecamente cambrante e plundimensional das idolaimas escapava aos extirpadores, eles procuraram varrer suas mamitestações do solo amercano E cito textualmente as palavras de Gruzinski, neste campo,

mais do que ninguém, inspirador: “Specificitê que les extirpateurs

convertissent en iWrationahite. Plasticité vite mise au rang de la êgereté et de Vinconstante. Une fois de plus Ia logique des uns devanait la déraison des autres" .“ Procurando colomzar O universo sobrena-

tural dos mdigenas, os europeus acabaram abrindo caminho à sua demonização.e Cabe ressaltar, entretanto, que Portugal « Espanha não agiram uniformemente ante as práticas amerimdias. Não houve, pelo menos no tocante ao Brasil, nada que se assemelhasse às extirpações movidas pelos espanhóis nos demínios de seu império. À própria designação de idolatria quase não aparece nos escritos portugueses. A dimensão menos trágica e mais pragmática do enfrentamento lusitano com os indios faz pensar na explicação lapidar de Sérgio Buarque de Holanda — pobreza imaginativa — e talvez recupere aspectos da

análise de Gilberto Freyre — a colonização mais plástica encetada pelos lusos. Seu quase-alheamento ante a questão das idolatrias pode set decorrente da pobreza da teologia em Portugal, onde, ao contrário do ocorrido na Espanha, não se produziram trabalhos de pes so, quer sobre matéria religiosa, quer sobre superstições, quer, anda,

sobre a questão da liberdade e da humanidade dos índios, Não exis39

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Acosta luso que explicite as relações entre idolatria americana

« demonologia européia; não existe, igualmente, um Las Casas: em terras portuguesas, as polêmicas em torno do direito natural foram

Num campo de estudo ainda pouco fregiientado, não há como se furtar às hipóteses quando se procura concluir. A constatação mais geral é de que, hoje, tornou-se impossível estudar a demonologia eu-

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CONCLUSÕES: A IMPORTÂNCIA DA AMERICA PARA A COMPREENSÃO DA DEMONOLOGIA E DA CACA ÀS BRUXAS EUROPEIA

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ropéia sem atentar para o papel nela desempenhado pela América, essa “porção imatura da Terra”, como dizia o contemporâneo John Donne. Mais ainda: todos aqueles que documentaram hábitos, crenças e ritos americanos podem ser chamados, sem constrangimento,

derar a relação entre essa etnodemonologia americana e a natureza da feitiçaria e da produção demonológica nos países ibéricos. Como já foi bastante repisado, práticas de feitiçaria e escritos teóricos no ramo foram relativamente pouco importantes nessa região, não se podendo compará-los com a perseguição desvairada do Norte da Europa, nem tampouco com a abundante produção erudita dos nórdicos no tocante às coisas do diabo e seus asseclas. Apesar disso, foi a região fronteiriça entre a França e a Espanha, o Labourd indefinido e enigmático visitado pelo juiz Pierre de Lancre, que forneceu matéria-prima a um dos mais importantes tratados demonológicos modernos, o Tableau de Pinconstance des mauvais anges et des démons, editado pela primeira vez em 1612, Para De Lancre, a descrição etnológica funciona como vasto feixe de ar-

gumentações válidas, “verificáveis porque vistas", que têm por ob-

Jetivo convencer mesmo os mais incrédulos da existência dos bruxos.“s Ele também é einodemondlogo, e a analogia entre seu tratado

ea produção ibero-americana acima estudada não é gratuita, o própro JUIZ TOS dando a chave para tal inferência quando, ao delimitar

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pagnole prenant la fumée d'une certaine herbe appelée Cohoba, ont Cesprit troublé, et mettant les 40

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de etnodemonólogos. Descendo um pouco às matérias mais específicas, cabe consi-

lque é eur dem i ains nt aya , sée bai tête la et oux gen x deu mais entre que temps en extase, se levent toul éperdus et alfolés contant merfonl ne i ains t tou is, Cem nt éle app ils qu' ux Die x fau leur de les veil

nos Socciêres qui reviennent du Sabat”.9'*

A argumentação presente no Túbleau é um exemplo perfeito das

faces múltiplas do colonialismo como sistema, ou da outra face do

processo de ocidentalização, corroborando a idéia aqui desenvolvi-

da de que a América teve papel fundamental péia.º8 Se a descoberta da América colocara um outro que o negava e o justificava — era que conferia identidade ao estado de cultura,

na demonologia euroos europeus diante de o estado de natureza era o espaço do paga-

nismo e da idolatria que dava sentido à ação catequética —, tal feito acarretara igualmente o desabamento, sobre o Velho Continente, de

seus demônios internos, expusera seus nervos e suas entranhas.” O discurso de De Lancre revela a vitalidade do imaginário, tão eloquente na sua linguagem simbólica: “'[...] la dévotion et bonne instruction

de plusieurs bons religicux ayant chassé les Démons et mauvais Anges du pays des Indes, du Japon et autres lieux, ils se sont jétés à foule en la Chrétienté; et ayant trouvé ici et les personnes et hieu bien disposés, ils y ont fait leur principale demeure, et peu à peu se ren-

dent maitres absolus du pays [...]'./º** Os demônios que os colo-

nizadores viram nos ritos andinos, brasílicos ou nauas voltavam, em legiões, a fustigar o imaginário do Velho Continente. Entre os séculos xvI e xvIiI, surpreendentemente, Huitzilopochtli é a designação

de demônio na Alemanha.”

As práticas mágicas da fronteira franco-espanhola fecundaram o tratado de Pierre de Lancre, que as aproximou dos ritos ameríndios de que ouvira falar, ou dos quais eventualmente lera algumas descrições. A relação entre Olmos, Zumárraga e Martin de Castafiega foi

mencionada acima; nos anos que seguiram a descoberta da América,

e ao mesmo tempo em que se processava a colonização, prolifera(*) “E da mesma forma que os índios da ilha Hispaniola ao aspirar a fumaça

de uma certa erva ficam com o espírito alterado, e colocando as mãos entre os joelhos e de cabeça baixa, tendo assim permanecido algum tempo em êxtase, levantamse completamente desvairados e transtornados, contando maravilhas sobre seus fal-

sos Deuses que eles chamam Cemis, assim agem nossas feiticeiras que voltam do sabá”” (**) ““[...] a devoção e bom ensinamento de vários bons religiosos tendo expulsado os Demônios e anjos maus do país das Índias, do Japão e de outros lugares, eles se lançaram em multidão sobre a Cristandade; e tendo aqui encontrado pessoas

e lugar adequados, fixaram sua principal morada, e a pouco e pouco se tornam senhores absolutos da região”

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superstição, No mundo ibérico, mo: co € e, qu r Po . la ip lt mú e av ch ser examinada em stohi o le pe im e qu e it im -l to je ob mo co ia ar iç it Analisando a fe

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povo num sentido lato. Um exemplo de tal procedimento é a bela leitura de Charles Z1-

ka acerca do canibalismo, ''Body parts, Saturn and cannibalism: vi-

sual representations of witches” assemblies in the Sixteenth Century”. Com base na análise de representações iconográficas, Zika procura repensar a abordagem da feitiçaria através de suas conexões com as imagens e os temas do canibalismo e de Saturno, do qual são igualmente tributárias as representações de ameríndios que começam a se difundir na Europa sobretudo após a publicação do livro de Hans Standen. E sugestivo e intrigante que o tema do canibalismo só tenha entrado na iconografia européia na segunda metade do século XVI, quando o sabá era ainda muito pouco representado; grandes pintores de bruxas, como Franz Fanken (1581-1642) e David Teniers

GRU) SO atuariam durante o século xvrt. Sendo portanto préEça E E Aga do canibalismo se atrela a variados

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era antigiíssima, conclui Zika, ela renasceu com a América, impregnando a iconografia. “Uma vez firmado o elo entre as bruxas da Europa e os canibais da América em virtude das relações fraternas

de ambos, filhos do mesmo pai Saturno, pareceria mais plausível que se pudessem estabelecer conexões entre seus comportamentos. Desta forma, nas representações de bruxaria envolvendo canibalismo os artistas teriam tomado por modelo antes as imagens do canibalismo

ameríndio do que os tratados ou as evidências processuais.”?> Delinciam-se, desta forma, pelo menos dois movimentos que,

distintos na aparência, constituem, na verdade, um único processo: por um lado, a absorção dos ritos e práticas mágicas americanas pela demonologia européia, que os aproxima da mitologia sabática enraizada no Velho Continente; por outro, a revivescência dos temas

ligados ao canibalismo, que jaziam como adormecidos no imaginário ocidental e que ressurgem em representações iconográficas rela-

cionadas à feitiçaria, e, talvez, suas precursoras.'*

Mediando os dois universos estranhos, a Europa e o Novo Mundo, a colonização e a catequese funcionaram como grandes mecanismos que, mais do que aculturar ou ocidentalizar, desencadearam a circularidade de níveis culturais. Dado o relevo do diabo no imaginário ibérico, manifestado sobretudo na demonização da América, caberia perguntar se na peninsula — notadamente em Portugal — não teria ocorrido um esfumaçamento da importância da bruxa em nome de maior importância

atribuída ao demônio. O campo de ação desta criatura, por sua vez, acabou se tornando mais rico e multifacetado que no resto da Europa, e isto sobretudo pela influência das religiões americanas — influência presente, sem dúvida, na preocupação hispânica com as superstições. A ação ibérica, notadamente espanhola, contra as idolatrias précolombianas dá ainda outro contorno à tênue perseguição às bruxas verificada nos centros metropolitanos. Se espanhois perseguem pouco as bruxas no continente, vão mover guerra sangrenta contra as idolatrias coloniais. Os próprios portugueses, tão pouco incomodados pelo sabá das feiticeiras, e mais preocupados em rastrear à presença demoniaca, iriam se mostrar, entretanto, alertas às práticas religio-

sas indígenas e afro-brasileiras, intrigando-se com seu caráter coletivo. Tal atitude perdurou até o século xvrrr, quando no resto da Europa ninguém dava mais muita importância a isto.

43

va América demonizada pelos europeus, os ídolos americanos são identificados ao demônio-bode presumidamente cultuado pelas bruxas do Velho Continente. |

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Huitzilopochtli, nesta representação, sintetiza os atributos do demônio europeu e os de ídolos americanos.

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No século xvi, as representações da antropofagia tupi entram na iconografia européia, propiciando fecundações curiosas: reforçam o tema do canibalismo mítico de Saturno, ou do canibalismo popular das bruxas.

45

Sem ter escrito tratados demonológicos no ce ses embeberam de elementos demonolópgicos 4s Suas reflexõe tugue. a periferia do Império: estes povoam as € d S SObre rtas Jesuíticas, t ratados morais como o Compên dio narrativo do Peregrino da Amé rica —. cujo subtítulo, extremamente alusivo, cabe ressaltar: EM qu e se tra. tam vários disc e documentos

ursos espirituais, e morais, com muit as advertências

contra

os abusos,

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se acham

intr

oduzidos D la ma. ticia diabólica no Estado do Br asil —, tratados políticos Com o o Dis. curso Histórico e Político do cond e de Assu Mar — pródigo no re. curs

o a imagens infernais —, estes dois últimos Já em pleno Século xvirr,* Caberia talvez arriscar a hipótese de que tal reflexão consÚtuiu, mais

em Por: ugal mas também na Espan ha, uma demonologia assistemática, fluida e distinta da demonologia sistemática dos tratados franceses, alemães, ingleses. Não seria curioso pensar ainda que os pa íses fundadores das mo-

dernas colônias — Portugal e Espanha — puderam se dedicar menos à caça às bruxas em seus territórios, que ac abaram por ficar excêntricos à produção demonológica quinhentista e seis centista , Porque, nas possessões americanas, vestiram o diabo com ou tras r oupagens, renovadas e duradouras? A América diabólica tem raízes profundas no imaginário europeu de hoje. Mais uma vez, ea g ota em outro campo, os ibéricos parecem ter sido precursores,

2

O ENRAIZAMENTO Circularidade de culturas e crenças Brasil,

1543-1618

“ Tendo outro, irmão deste, usado de certas práticas gentíticas, sendo advertido duas vezes que se acautelasse com a Santa Inquisição, disse: “Acabarei com as Inquisições a flechas”. E são cristãos, nascidos de pais cristãos! Ouem

na verdade é espinho, não pode produzir uvas.

José de Anchieta,

1554

Colonial situations breed confusion.

Inga Clendinnen,

1987

Em 13 de setembro de 1543, Pero do Campo Tourinho, donatário da capitania hereditária de Porto Seguro, Nordeste do Brasil, foi denunciado à Inquisição de Lisboa por se dizer papa e não respeitar os domingos e dias santos, trabalhando e fazendo trabalhar a seus

empregados e escravos. O Santo Ofício tinha então menos de uma década de existência, mas já estendia seu braço comprido sobre a

colônia brasileira, perseguindo desvios, heterodoxias e vigiando a ob-

servância estrita da fé católica. O donatário de Porto Seguro, ao contrário de outros colonizadores portugueses, como Pero de Góis e Vasco Fernandes Coutinho, não desistira da empresa, e ia alcançando relativo sucesso nela. Do

Minho natal trouxera seus bens, possivelmente adquiridos no comércio marítimo, fonte de riqueza para tantos de seus conterrâneos de Viana do Castelo, então Viana de Caminha.

Para a capitania nas-

meme

cente conseguira atrair alguns casais, o que tinha significado espe47

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úcar ainda não suplantara OS lucros advindos do comércio e

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mas à colonização la se enraizando, as igrejas se consMEIGA S q o palo . do an br le ce Se as ss mi as o, nd ui tr asi

A denúncia encetada por alguns dos principais moradores de u te me e c s a a Ú we se re a Lisb rio d oa sb e m ql s õe aç us ac s da o ri má su o , ro Porto Segu

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subsequente processo por crime de heresia e blasfêmia levaram Tou-

0 E o ir re ve fe em ou 46 15 de m fi No , os rr fe b so il as Br o ar ix "inho a de

de 1547, os historiadores discordando acerca do ano. De qualquer

va fica qual pelo ia dênc resi de o term um nava assi 1547 em forma. impedido de deixar Lisboa sem o consentimento dos inquisidores. Em 1550 ainda respondia interrogatório na capital do Reino, queixando-se dos inimigos que O haviam posto a perder sob falsas

denúncias. Impedido pelo Santo Ofício, nunca mais retornaria ao

Brasil, interrompendo a breve carreira de colonizador luso nos trópicos. Nas palavras do grande Capistrano de Abreu, “Tourinho foi absolvido, ou apenas teve alguma pena leve, talvez alguma penitência: a Inquisição era nova, seus raios fulminavam de preferência cristãos-novos ou hereges professos, e Tourinho seria quando muito

herege intermitente e diletante””.!

Falsas ou verídicas, as acusações que vários colonos fizeram contra o donatário refletem traços característicos da religiosidade popular nos primeiros tempos da colonização, quando era freqgiiente o hábito de blasfemar, ironizar os dogmas da fé, desacatar o clero, os santos e até Deus. Dos cardeais e do papa, Tourinho dissera que eram todos uns “bugirrões sodomitigos tiranos que por dinheiro ca-

savam e descasavam a quem queriam”.

Da procissão do Corpus

Christi, teria dito que era inadequada a época de sua celebração: ao

sul do Equador, as estações do ano eram diferentes, e seria melhor passar esse dia santo para outubro, quando aqui era quase verão. Retorquiu-se-lhe que só o papa poderia fazer tais alterações: “eu sou papa”, teria respondido o donatário, jactando-se ainda de ser capaz

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» QUe, com seus respectivos

guarda, só serviam para impedir o trabal ho: isto porque os pr p elados, nest

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a matéri? a, acediam aos ap elos de suas barregãs, que Re que fizesse um santo de guarda e eles por lhes fazeade mandavam que nos seus arcebispados se guardassem

48

aqueles santos que elas queriam”. Santa Luzia, patrona dos olhos,

roi alvo de sua ira num momento de doença, quando sofria da vista:

prometeu, na ocasião, jogá-la pela “rocha do mar abaixo”, impre-

cando ainda contra sua honra. Santo Antônio também

foi alvo da

rúria do donatário, que o responsabilizou pela fuga de alguns escravos e prometeu oferecer-lhe uma candeia de merda. “Em 1591, quando se deu a Primeira Visitação do Santo Ofício

As terras brasileiras, continuavam os colonos a desacatar santos, clérisos, sacramentos. E claro que havia o núcleo da religião oficial, observada pelos bons cristãos que confessavame comungavam com

frequência, assistiam à missa semanalmente, enfim, viviam confor-

me de, tos tais que

as leis da Igreja católica. Constituiam a norma, e, nesta qualidanão integram os autos da Visita. Esta procurava comportamendesviantes que era preciso punir, extirpar ou enquadrar, e como entendia não apenas os que abalavam os dogmas da Fé como os introduziam elementos de uma cultura popular bastante antiga. Como bem observou o historiador inglês Peter Burke, o pensa-

mento popular apresenta lógica diversa do erudito, tendo necessi-

dade de representar concretamente idéias e conceitos abstratos: assim, a Quaresma é uma velha magra, e o Carnaval é um homem gordo e rubicundo.? As concepções em torno da blasfêmia também se enquadram nesta lógica peculiar: as coisas ditas tornavam-se reais, as imprecações contra divindades constituindo verdadeiras tentativas de deicídio. Daí tomar-se a representação pela coisa representada, a imagem do santo sendo passível do castigo reservado ao próprio santo Foi assim na Europa até a época da Ilustração. No Auto da feira, de Gil Vicente — autor extremamente sensível à fala do povo e afeito a misturar elementos populares e eruditos em suas peças —, há um diálogo entre os moços dos montes e um serafim que ilustra este caráter concreto da religiosidade popular. Os moços perguntam ao serafim o que ficava Deus fazendo no Céu: quando partistes dos ceos, que ficava elle fazendo? Serafim: Ficava vendo o seu gado.

Gilberto: Sancta Maria! gado há lá? Oh Jesu! como o terá o Senhor gordo e guardado! E há lá boas ladeiras, como na Serra d"Estrella?

49

Serafim: 51.

.

| ella: z fa e u q m e g r i V a Gilberto: E

:

: Serafim: A | Virgem olha as cordeiras,

e as cordeiras a ella.

Foi assim também no Brasil colonial, conforme atestam os casos

de fins do século Xv! c inícios do século XviI presentes nas Visitas. Por

volta de 1593, em Pernambuco — ainda no Nordeste brasileiro —. três empregados domésticos de um aristocrata local discorriam sobre a or-

dem das três pessoas na Santíssima Trindade, inspirados por uma gra-

vura italiana que um deles, Luís Mendes de Thoar, pregara na cabeceira de sua cama. Observando a cena representada, onde Pai, Filho e Espírito Santo coroavam Nossa Senhora, Luis Mendes conjecturava

que, pela ordem constante na gravura, o Espírito Santo deveria ser a

segunda pessoa, e o Filho a terceira. Seu companheiro Gaspar Rodrigues, entretanto, achava que o Espirito Santo seria a terceira pessoa, pois era enunciado nesta ordem quando o fiel se persignava (“em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo””).> — O principio que permitia tal dúvida era o mesmo que levava Pe-

ro do Campo Tourinho a desejar punir o desleixo de santa Luzia para com seus olhos doentes, arremessando-a rocha do mar abaixo. Era ainda análogo ao que conferia caracteres antropomórficos e qualidades humanas a Deus, Jesus ou aos santos. Por volta de 1618, o padre Hierônimo de Lemos afirmara ““que quando São Pedro dera

a cutilada a Malco estava com duas gotas, dando a entender que estava São Pedro tomado do vinho””.º De são Francisco, dizia um ou-

tro seu contemporâneo ““que fora o santo umas certas léguas por ver

did a do RT

TE

uma mulher fermosa”',” Cerca de 25 anos antes, em mais de uma

ocasião, colonos baianos chamaram sant o Antônio de “velhaco” ou

“velhaquinho”.º

Donatários, padres » EMpregados do mésticos, lavradores partilhavam as mesm as crenças e concep ções, sugerindo que

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Dito

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o alcançe

» Quando perguntado como dizia 0 licenciado Filipe Tomás de M iranda: “boto a

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50

es

:

Cristo muita merda, e pela hóstia muita merda, pela Virgem Maria

muita merda””.?. No primeiro quartel do século xvrr, um religioso do Carmo da Bahia dizia “que quando Deus tirara a costa do homem para criar Eva, viera um cãoe a comera, e que do que saira pela

parte traseira do cão fizera Deus a mulher, e que assim ficara Deus

fazendo a mulher da traseira do cão e não da costa do homem”.1º A Primeira Visitação à Bahia compreendeu denúncias e confissões

de pessoas, ciganas na maioria, que associavam as chuvas com a urina

de Deus: “bendito sea el carajo de mi sefior Jesu Christo que agora

mija sobre mi”, diria uma delas, enquanto outra, contrafeita, quei-

xava-se que Deus mijava sobre ela e a queria afogar.”

Todas essas imagens remetem ao contemporâneo Rabelais, ob-

sedado, em sua obra, com o papel fertilizador da urina e dos excrementos. No episódio dos carneiros de Panúrgio, por exemplo, o mer-

cador Dindenault se vangloria de que a urina de seus carneiros fertiliza os campos “como se Deus tivesse mijado neles”.!2 Mijando sobre Paris, Gargantua batiza a cidade, destacando o caráter re-

generador da urina.!* Podendo integrar a blasfêmia, o baixo corpo-

ral era,

pois,

muito

importante

na

linguagem

popular

da

praça

pública. Nas imprecações registradas pelas Visitações inquisitoriais, ressalta quase sempre o seu aspecto negativo. Mas havia aspectos de deboche e de carnavalização, como a imagem dos bispos e arcebispos a criarem novos santos sob inspirações originadas em colóquios amorosos,

Apresentando elementos de continuidade com relação a cultura e à religiosidade popular da Europa no início da Época Moderna, as práticas religiosas da Colônia se confundiam muitas vezes com práticas mágicas e de feitiçaria, em quase tudo semelhantes aos ca-

sos metropolitanos estudados por Francisco Bethencourt.!* Muitas

das bruxas acusadas em terras brasileiras já haviam

saído encaro-

chadas em Portugal por crimes análogos, vendo-se por este motivo degredadas para o Brasil. Havia grande ênfase na magia amorosa: “recorria-se a mulheres tidas como feiticeiras para obter sucesso nos amores utilizando pós, rezas, filtros, poções, fervedouros, ossos de enforcados, conjuro de demônios. Indicando tal esfumaçamento entre práticas mágicas e religiosidade popular, algumas mulheres foram acusadas (e confessaram), na Bahia de fins do século xvr, de usar as palavras da consagração da missa durante o ato sexual para, com

isto, prender o marido ou o amante; uma delas recorreu ainda a certa mistura de vinho e pedra d'ara, ou seja, a pedra do altar sobre a qual se oficia a missa católica.” Outras, com seus filtros estranhos

51

|

confecoonad

os

g|

parti!

papel do baixo corporal

de

SOCTICÇOCES

Qu

cAcrementos,

confirmam

na cultura popular de então, Em

O

fins do século Xvt, por exemplo, Antonia Fe rnandes, de alcunha à Nóbrega, re

comendava às mulheres que ministra ssem aos amantes uma beberagem feit

a a partir de seu próprio sêmen, colhido no momento do ato sexual; conhecia ainda as virtudes de certos pós feitos a partir de pinhões recheados com unhas e cabe los de todo o corpo, que deviam ser engolidos, eliminados pelas fezes, lavados e moídos pa-

ra, então, serem misturados aos alimentos e garant irem homens. 'º » A mais famosa feiticeira do Brasil quinhentista foi çalves Cajada, de alcunha Arde-lhe-o-rabo, que lemb ra nebra Pereira da Farsa chamada auto das fadas. Dizi a a centina que

o amor dos

Maria Gonmuito a Gefeiticeira vi-

havendo piedade

de mulheres mal casadas, e as ver bem maridadas, ando polos adros nua...

Ee

cavalgo no meu cabrão e vou-me a Val de Cavalinhos,

e ando quebrando os focinhos por aquellas oliveiras, chamando frades e freiras que morreram por amores. Oh, se visseis os temores que passo nesta canseira, não temeria a Pereira

tanto os corregedores."”

Já a Arde-lhe-o-rabo afirmava vagar descabelada e nua pelos adros e matos, em busca de feitiços: “porque eu ponho-me à meia noite no meu quintal com a cabeça ao ar com à porta aberta para o mar e enterro e desenterro umas botijas e estou nua da cinta para cima e com os cabelos e falo com os diabos e os cha mo e estou

com eles em muito perigo... Quando voltava das andanças, vinha

“moída” pelos diabos e pelos trabalhos que tivera.'* A semelhança

entre os hábitos de Maria Gonçalves Cajada e Genebra Pereira no

que diz respeito ao preparo de feitiços e à gestualidade da mag ia indica que, na colônia brasileira,

,

|

|

=

ES sa

da sua bruxa, O grande teatrólogo luso baseou-se em práticas cor-

rentes e conhecidas do povo. Andar nua € em cabelo certamente identificava, no imaginário popular, a protagonista deste ato com a bru-

xa. No século xvt, em Evora, sabe-se que a interessada no conjuro das pedras devia fazê-lo “em cabelo e em camisa à janela, fitando

uma estrela e segurando na mão nove pedras apanhadas em'encruzilhadas”.!? No século xvil, persistiria tal gestualidade: em 1637, Ma-

ria Ortega conjurava os espíritos desguedelhada e nua da cintura para

|

cima. e em 1664 era de forma idêntica que Maria da Silva invocava demônios ou proferia uma bela oração de santo Erasmo, valendo-se

'ambém de um alguidar e velas verdes.) Também na percepção es-

pacial teria Gil Vicente se mostrado fiel às tradições populares: ao citar Val de Cavalinhos como espaço de ocorrência das estripulias mágicas, designa o mesmo local que documentos diversos, desde o

século xv1 e até pelo menos meados do século xvrll, dão como privilegiado pelos

feiticeiros para a realização

de seus encontros.*!

Nas práticas de Arde-lhe-o-rabo, encontram-se elementos da fei-

tiçaria de cunho mais acentuadamente demoníaco: dormia com os

diabos, tinha uma chaga no pé que, em certos dias da semana, os alimentava. Algumas de suas contemporâneas gabavam-se de guar-

darem demônios em garrafas ou em anéis, mostrando que a idéia do demônio familiar, muito forte na feitiçaria inglesa, existia também entre as tradições portuguesas.?? Várias dessas mulheres eram acusadas de praticar o mal, revelando preocupações outras que os sortilégios para fins amorosos. Assim, em Pernambuco, Ana Jácome viu-se sob suspeita de ter chupado o sangue de um bebê, que apareceu morto e com o corpo coberto por manchas negras de dentadas.* Tais criaturas seriam mais distantes do estereótipo da feiticeira-alcoviteira mediterrânea, como a Celestina de Fernando de Rojas ou a Branca Gil de Gil Vicente, e identificadas antes com a imagem sombria da feiticeira noturna.* Mesmo assim, não se encontrará no Brasil a feitiçaria propriamente sabática, alheia também ao mundo luso. E possível detectar elementos isolados do estereótipo, como o vôo, a metamorfose, o pacto demoníaco: mulheres que se transfor-

mavam em animais — patas ou borboletas, na Primeira Visitação —, iam de noite pelos ares, encontravam-se com o diabo e lhe davam seu sangue. Mas seriam sempre traços esparsos referentes a tradições populares, e que nunca se combinariam num complexo sabá-

tico, como nas demais regiões da Europa.

No período aqui focalizado, e que corresponde aproximadamen-

te aos oitenta primeiros anos da colonização, magia e religiosidade 53

|

«e mostraram portanto profundamente semelhantes na metrópole portuguesa e na colônia brasileira. Mas desde cedo delinearam-se tra-

cos específicos, aclimações inevitáveis dada a diversidade do meio

ambiente e das estruturas econômicas € sociais. Nas práticas mági-

cas cotidianas, cresceu no Brasil a marca do universo ultramarino:

assim, algumas das manifestações do mito do vôo noturno acharam-

se articuladas ao desejo de ir da Bahia ao Reino em uma só noite,

ou ver o que se dizia e fazia em Lisboa. Explícito ou implícito, o vôo parece achar-se subordinado à vontade de voltar à Metrópole, servindo ainda de atenuante a um vago sentimento de inferioridade por viver na Colônia. A várias bruxas atribuía-se o poder de alterar

a rota dos navios quando o quisessem, de saber com antecedência quando chegaria uma embarcação, adivinhar pelejas com navios piratas. Muitas mulheres ficavam sozinhas nas povoações coloniais en-

quanto os maridos marinheiros percorriam a vastidão do Império

Português, guerreando na Índia ou na China; algumas queriam saber o destino dos consortes para se certificarem de seu próprio estado civil, pois, não raro, desejavam casar de novo e-precisavam ter

certeza de que haviam se tornado viúvas. Desta forma, recorriam as pessoas que tinham fama de praticar a feitiçaria e prever o futuro. Outro traço específico da feitiçaria colonial, e que começou a se acentuar no final do século xvr, foi a sua associação às práticas mágicas africanas. Segundo as Visitações da Bahia, um escravo guiné chamado André Buçal fazia adivinhações com panelas e fervedouros por volta de 1587. A partir de então, as referências vão aumentando: por volta de 1610, a bruxa Maria Barbosa, protegida do

governador da Bahia d. Diogo de Menezes, atuava em conluio com o negro Cucana, que fazia pós com as aparas de certas raízes.” Em 1616, homens brancos já lançavam mão do saber de negros feiticei-

ros para conseguir a cura de familiares ou escravos.

Também a religiosidade popular, tão semelhante à da matriz européia, apresentará peculiaridades no Brasil. Em 1543, quando a colonização dava os primeiros passos, Pero do Campo Tourinho dei-

Xxava entrever, por baixo de blasfêmias obscenas, que sua forma propria

de viver

a religião

dizia

respeito

à um

mundo

novo,

onde

tudo estava por fazer. Tivera ódio de Deus porque se arrebentara um tanque de seu engenho, e, na ocasião, sentira-se desamparado por

Ele. Eram muito claras suas preocupações colonizadoras: “não se

CATE, Deus

comigo porque agora hei de ser mais ruim e mau, €

venha ele cá Deus povoar a terra, senão deixá-la-ei aos infiéis”, Se não gu

ardava os dias de preceito, era porque sobrava trabalho e fal54

|

]

=. q

tava tempo: por isso lhe desagradava a pléiade de santos a serem (o

das o tid sen o re sob o úid Arg . rda gua de s dia s ivo ess exc em tejados imprecações contra OS bispos € suas mancebas, respondeu que tinham objetivo pedagógico: “*quem era preguiçoso por jogar € folgar bus-

cava muitos santos e que isto tudo dizia para animar os homens que trabalhassem para que a terra sc povoasse € s€ fizesse O que era necessário e se aumentasse a fé católica 129 O mundo da produção se associa a elementos religiosos em váo Per is. oria isit inqu s nto ume doc nos tes sen pre es açõ rec imp ras rias out de Carvalhais acreditava que no céu só havia lavradores, que viviam

como anjos.” Pero Nunes chamava o açúcar de Deus, e Fernão Roiz

dizia que meteria Nossa Senhora numa fôrma de açúcar.” Todos es-

tes exemplos parecem mostrar que a política colonizadora de Portugal, aliando exploração econômica e catequese, imprimia-se com força no imaginário dos colonos. Na vertente mais sofisticada, mais próxima talvez ao mundo da cultura erudita, tal relação era claramente

explicitada — como nas falas de Tourinho: “a terra era nova, e era necessário trabalhar para se povoar a terra e fazerem-se algumas coisas de serviço de Deus”; na vertente mais tosca, subordinada ao '*pensamento concreto” próprio à cultura popular, assumia formas sim-

bólicas —

o céu de lavradores, Nossa Senhora enformada como

açúcar. Por fim, outra peculiaridade digna de relevo é o surgimento de

formas biculturais de religiosidade, como as Santidades indígenas. Na Primeira Visitação, na Bahia, a chamada Santidade do Jaguaripe ocupou lugar predominante entre as denúncias e confissões. Tratava-se de uma prática sincrética de conteúdo milenarista, girando em torno da chegada de um feiticeiro ou profeta, e de promessas de abundância, lazer e felicidade: na nova era que se anunciava, as flechas disparariam sozinhas, as caças viriam ter às choças dos ín-

dios, as enxadas cavariam as roças por conta própria. Havia na

Santidade a adoção de elementos da fé católica, mesmo porque os principais protagonistas eram cristianizados: Antônio, por exemplo,

que desempenhou papel predominante na Santidade do Jaguaripe, fugira da aldeia jesuítica do Tinharé, na capitania de Ilhéus, onde recebera os ensinamentos do catolicismo. O senhor de engenho Fer- não Cabral de Taíde, que acobertou a seita em suas terras, e talvez a tenha apoiado, foi o indivíduo mais acusado na Visitação: há 39

denúncias contra ele.) Tendo possivelmente se utilizado da “erronia”” como forma de controle da indiada, deve ter ficado perplexo em alguns momentos quanto à autenticidade das manifestações que 55

se desenrolavam

sob seus olhos.

L

Margarida

da Costa,

sua mu-

lher, declarou na Mesa da Visitação que “no dito tempo que a dita

abusão esteve na dita sua fazenda, que poderia ser de dois meses pouco mais ou menos, ela tinha para si, e dizia que não podia ser aquilo

demônio senão alguma coisa santa de Deus, pois traziam cruzes de

que o demônio foge, e pois faziam grandes reverências às Cruzes e traziam contas, e nomeavam Santa Maria”. Além de sua mulher, mais quatro mamelucos,

todos cristiani-

zados, confessaram envolvimento com a Santidade, desvendando, em

seus depoimentos, um mundo fascinante de hibridismo cultural. Quando estavam no sertão, pintavam o corpo, tomavam as drogas

rituais, comiam carne humana, forneciam armas de fogo aos chefes índios, viviam poligamicamente com as índias. Uma vez entre os brancos, confessavam, comungavam, voltavam para os braços das esposas legítimas e, em dois dos casos, participavam de expedições de

apresamento de índios. Apesar de, nas confissões, expressarem arrependimento pelas práticas gentílicas, é evidente a ambigiiidade de sua fé. O mameluco Gonçalo Fernandes, por exemplo, dizia que “cuidava ele que este mesmo Deus verdadeiro Senhor nosso era aque-

loutro que na dita abusão e idolatria se dizia que vinha”.3

O mais belo dos depoimentos, riquíssimo como registro etnográfico, é o do mameluco Domingos Fernandes Nobre, Tomacaúna

de alcunha. Em 1592 tinha 46 anos, dos quais dezoito passara entre

os indios. Confessando, disse que, enquanto andou pelo sertão, sua vida ““foi mais de gentio que de cristão, porém nunca deixou a fé

de Cristo e essa teve sempre em seu coração”*,36

* Assim, embora apresentando traços marcadamente curopeus nas

práticas mágicas e religiosas, a colônia brasileira, ao findar seu pri-

meiro século de existência, já revelava face pluricultural, que se con-

| O XVII € se acirraria no século XVIII. As sucessivas ondas migratórias de colonos portugueses, os hereges € feiticeiros que a Inquisição desp ejou sob re solo colonial com grande frequência durante todo o século xvil trabalhariam no sentido da manutenção das persistências. 7 O tráfico negr tenso, o contato constante co

“landeses

eiro cada vez mais in-

m as tribos indígenas, a invasão de hocalvinistas, a cresce nte consciência da condição colonial,

ital den oci da : nas ita lus ais tur cul as rm fo e as tic prá de certas

a Est .** oso igi rel io ár in ag im do o çã za ni lo co da zação, mais do que ese as ios cur as rm fo o nd ra ge ce aprofundaria nos séculos seguintes, lonial,

outros tane a ún ca ma To as, del i: aqu ar lis ana e cab pecíficas, que não

unc co os, oss de s nco bri e s are col o, ros mamelucos de corpo tatuad s Ma es. ant ent res rep s ro ei im pr os iam ser i tup hinas numerosas e prole mundo tas pon s dua as o and lig os, ári edi erm int suceder-se-iam outros e, -m ce re pa , mo co — a ad ic br im e ral ate bil do atlântico numa relação . o ã ç a z i n o l o c de es çõ la são as re

57

3

POR FORA DO IMPÉRIO Giovanni Botero

Non é paese a! Mondo, sua parte.

e o Brasil

ove il demonio Giovanni

non hab bia la Botero,

1595

lTratarei aqui de alguns pontos das Relazioni universali de Giovanni Botero que, a meu ver, são de extremo interesse para se compreender o imaginário europeu referente à América no século xvi e, ainda, para se tentar elucidar aspectos da dif usão e transmissão de notícias acerca do Brasil na Europa da época. Ambas as questões se vinculam, por fim, com o papel do Novo Mundo e, em particular, do Brasil, no conjunto da investida católi ca contra as heterodo-

| | | -

Li

:

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xias, Em outras palavras: procura-se, aqui, entender como a Europa reconstituiu seu imaginário, no bojo das tr ansformações religiosas, valendo-se, para tanto, de exemplos e re alidades vindas da América, que, heterologicamente, foram lidas com lentes familiares, ou seja,

próprias ao acervo cultural eu ropeu, Para tanto, falarei um pouco do autor em questão — Giovanni Botero — e da obra examin ad à — as Relazioni —, procurando depois retraçar as prováveis in f] uências sofridas pelo autor na ela boração de seu texto.

+ NO Piemonte, por Os Jesuitas de Palermo, no outro exado jesuíta ele também.

Entre

————&—e RR

1565 e 1569, esteve ensinando em escolas da Companhia na França. Retornando à Itália, e possivelmente devido a um gênio áspero e ins-

d

tável, viu-se às voltas com dificuldades dentro da ordem, onde, entretanto, já era considerável o nome que alcançara como intelectual destacado. De 1576 a 1584, trabalhou como secretário de são Carlos Borromeu na diocese de Milão, deixando seu serviço para, designa-

do pelo duque de Savóia, Carlos Manoel 1, desempenhar em 1585 missão secreta na França, provavelmente junto à Liga Católica (neste mesmo ano, o duque casa com a filha do mais católico dos reis

da Europa, Filipe 11). De 1586 a 1600, encarregado pela Sé romana de verificar qual o estado real do catolicismo e mantendo base em Roma, parece ter viajado pela Itália e por toda a Europa, o que certamente influiria na feitura das suas Relaziont universali. AO mesmo tempo, atuou como auxiliar de outro Borromeu, o cardeal Frederico, convivendo com intelectuais de toda a Itália na cidade

pontifícia, Na dedicatória ao cardeal da Lorena existente na primei-

ra edição da obra, Botero credita o ânimo e à prática doutrinários

à influência que recebera do cardeal.! Após o presumido período de viagens, voltou a Turim e se tornou secretário do duque Carlos Manoel e preceptor de seus filhos, tendo, então, bastante tempo disponivel para estudar e escrever. Morreu em 1617, deixando os bens aos jesuítas e pedindo para ser enterrado em sua igreja.? Botero é considerado por Trevor-Roper um ““propagandista social da Contra-Reforma”, um defensor da unidade entre Igreja c Es-

tado, numa época em que aquela perdera a flexibilidade medieval ce lutava contra a heresia e todas as formas de heterodoxia.) Neste sentido, seus escritos têm preocupação pragmática, e se valeram da retórica: não à toa, Botero é autor de um importante tratado de retórica, o De praedicatore Verbi Dei (1585), filiando-se, como frei Luís

de Granada, à linhagem de retórica eclesiástica fiel à De doctrina christiana, de santo Agostinho, Ambicionava colocar, a serviço de uma alma pura e inflamada de zelo, uma retórica simplificada ao extremo aliada a uma teologia igualmente simplificada. Também não parece fortuita a produção de três tratados de retórica pela entourage ntaliana de Borromeu, um dos grandes santos da Reforma católica: além do de Botero, o De rhetorica ecclesiastica, de Agostino Valeri (1574), e 1! predicatore, de Francesco Panigarola,* Por se mostrarem afeitos a uma teoria naturalística do contrato, Botero e outros teóricos jesuítas têm sido vistos, paradoxalmente, como pertencentes ao movimento peral que postulava então a autonomia do secular na política.” Ao lado dos tratados que discorriam

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sobre a política veneziana — em da

lido até o século Po aÃ

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tica

—, a escritos de

da

Europa.

at

ábi

o is

Serpi, muito

Botero auxiharam na edu-

esteja por trás do interesse diversificado

e do espírito universal que, apesar da formação Jesuitica, à retórica. do afã propagandístico e da vinculação

do apego

com Borromeu,

Lt md

Botero soube preservar em suas obras. E bem verdade que na Raeion di Stato toma a religião como um dos fundamentos do gover-

no, opondo-se a Maquiavel; mas admite, em contexto diverso — em nome da religião —, a violência e a simulação. Na Causa della grandezza e magnificenza delle cittã, sustenta, diferentemente da maior parte de seus contemporâneos, que a riqueza dos Estados não re-

pousava no acúmulo de metais preciosos, mas na produção, isto é,

no desenvolvimento da indústria e da agricultura. E ainda autor de uma Relazione sul mare, o primeiro trabalho a sistematizar os conhecimentos empíricos que se tinham, na época, acerca da oceanografia. Por fim as Relazioni universali, que constituem um tratado completo de geografia política universal, baseada no conhecimento positivo e extremamente útil aos homens de Estado, são consideradas ''uma nova orientação nas ciências”.' O original desta obra é sua preocupação com a situação contemporânea, no que se destaca das cosmografias do século xv1, e o apreço a experiência e às fontes dos modernos (e não o recurso até então corrente à tradição, Aristóteles, Plínio etc.).º Divide-se em cinco partes: primeira, descrição geográfica de todos os países do mundo conheci-

do; segunda, relação sistemática das condições políticas dos Estados

então mais importantes; terceira e quarta, crenças religiosas de vários povos, sobretudo da religião cristã, distinguindo a difusão do cristianismo no Novo Mundo; quinta, espécie de suplemento acerca das

modificações e reordenamentos ocorridos no desenvolvimento politico dos Estados até a primeira década do século xviII. A primeira parte das Relazioni apareceu em 1591, seguindo-se a segunda em 1592 e a terceira em 1595. A quarta parte, a que nos Interessa aqui, só veio à luz em 1596, quando surge a primeira edição completa. Seguiram-se então numerosas edições, cerca de dezes-

era

Prue latinas e mais versões para quase

quinta parte ficou inédita Ea

ra Rs » pe Quando foi e publicada por Gio-

da.? Apesar do mérito ineoá e da larea Cito inegável

levando-se em conta à

influênc: ga ain influência que exerceu, €

*Pectos modernos e curiosos (como o ma ior 60

apego à experiência do que à autoridade dos antigos,

a sensibilidade

afinada com à cartografia e a geografia renascentistas), as Relazioni

foram vistas como exemplo de certas incongruências e fragilidades

do pensamento de Botero. Este, dotado de ânimo “pouco apto a

mover-se no reino das idéias” — em que os parâmetros de comparação seriam Jean Bodin e Nicolau Maquiavel —, ver-se-ia engolfado pela irredutibilidade dos elementos heterogêneos e pelo apego excessivo às curiosidades, acarretando desequilibrio na estrutura geral

de uma obra que pressupunha concepção única do mundo.'?

POR QUE O BRASIL? ” RE CE TA N NO DA SA CO “QUIVI AVENNE As informações sobre o Brasil constituem o quarto livro da quarta parte da Cosmografia de Botero, assim intitulada: “'Nella Quarta, si tratta delle superstizioni in che vivevano giã le genti del Mondo nuovo, e delle difficoltã, e mezi, co" quali si é quivi introdotta la Re-

ligione Christiana, & vera””. Encontram-se divididas em quatro par-

tes: uma, introdutória e sem título, que trata da antropofagia; a seguir, as páginas intituladas “Dei malefici nel Brasile'”; depois “Dei disturbi dati agli heretici””, e, fechando o bloco, três pequenos parágrafos com o título ''Dei Negri, e del numero dei Christiani del Brasile”. Em termos gerais, as considerações de Botero sobre o Brasil sustentam-se em dois eixos. O primeiro centra-se nas idas e vindas da catequese na Colônia, enfatizando as dificuldades antepostas pela itinerância indígena, pelo prestígio dos pajés e, sobretudo, pelo canibalismo. Era este que fazia dos índios verdadeiras bestas humanas, desviando-os dos ensinamentos católicos, vício recorrente e difícil de extirpar: “La maggior fatica de Padri fu in reprimere Vavi-

ditã della carne humana cibo tra quei Barbari pregiatissimo”,“* Mas havia aspectos positivos no gentio: o fascínio pela onipotência divina, pela arte da escrita e da leitura. Com base em tais dados obJetivos, montou-se a estratégia jesuítica: uma pedagogia especifica e paciente, onde eram importantes tanto a feitura de uma gramática

tupi e da língua geral quanto certa tolerância ante os hábitos reni-

(*) “O maior trabalho dos Padres foi reprimir a avidez de carne humana, ali-

mento prezadíssimo entre aqueles bárbaros”

61

que s le ue aq r s po do ti me co as ci ên ol vi € s do o dos enganos, desman e de rt mo da io ód is , ep te o en am os ri Cu . ra Fé ei ad não seguem a verd des, e, te qu re rp té in um de a ri fú a da er rr : co do de za vi ti Correia é rela ina, acaub nc co a r um va er ns co o de -l bi oi pr r e po dr pa o m te co en cont bara instigando os carijós contra O catequista: ““Questi, e alcuni al tri accidenti cosi fatti hâno dato occasione ad alcuni di tenere tutte lci co di pa ca ; in r he pe ic ma at lv e, sa e ar rb ba r r pe nô pu i. nt le ge el qu tura, e di disciplina. Ma eglhi é cosa troppo ingiusta, per un eccesso cagionato per le sue suggestioni d'un'huomo fraudolente, e maligno,

condenare assolutamente tutta una natione”. E dá a chave da apa-

rente tolerância para com os índios: “Non habbiamo noi visto a” tempi nostri gli Alemmanni, i Frâcesi, i Fiamenghi, e gl" Inglesi, nationi tutte nobilissime, e honoratissime rovinar Chiese, trucidar Sacerdoti, esterminar Religioni, conculcar Sacramenti, concitate à ció dalla malvagitã d'un Calvino, d'un Luthero, d'un Beza, d'un Íllico, e di

simili altri ministri d'empietàã, e d'apostasia?””.!2*

Nas entrelinhas, portanto, e na forma de organização do texto,

Botero sugere que a heresia européia é pior do que o barbarismo americano, e que este, na verdade, deve ser matizado e visto de forma diterente da que os europeus, até então, viam os alienígenas. Alemães, ingleses, flamengos eram sabidamente capazes de cultura e discipli-

na, mas nem por isso isentos de atos bárbaros, como se fossem selvagens; por atos bárbaros, o pacifista Botero parece insinuar as guerras

que rasgavam o continente europeu, muitas delas fratricidas — co-

mo a francesa, que tanto o marcou. De um e de outro lado do Atlântico, Natureza e Cultura mostravam-se curiosamente reversíveis.

(*) “Estes, e alguns outros acontecimentos semelhantes deram ens ejo a que alguns considerassem aquela gente não apenas como bárb aros, e selváticos, mas como incapazes de cultura e disciplina, Mas isso é injusto em demasia, por um cesto Ocasionado pelas sugestões de um homem impostor, e mau, condenar completamente toda uma nação. [...] Não vimos na nossa época os alemães, os franceses, os [lamengos

e os ingleses, nações todas elas nobilíssimas , e honradíssim as, destruir igrejas, truciEiMomo o Siga desprezar sacramentos, a isso incitados pel a malGe um Lutero, de um Beza, de um Ili tes ministros de impiedade, e de aposta sia?” Ed

62

js oi

||

nfu ça pe s, to en am de al s do a ic át pr a ana; m u h e n r a c r i r e g n i de tentes s e õ ç n e m Pa s to bi há s ao s” damental na redução dos “bárbaro ifís e jad i gr te in a ar et at am di po e es qu As idas e vindas da cate pa do o ri tí i ma o ra st gi re ro te Bo , 73 na ca dos catecúmenos; na pági : co ti má te xo ei vo no um do in uz od tr in s, jó ri dre Pero Correia pelos ca

Mesmo porque, para os intelectuais europeus de então, o fenômeno

mais bem repartido entre os homens era a atuação demoníaca. ““Non é paese al Mondo, ove il demonio non habbia la sua par-

te”, escreve Botero ao iniciar as considerações sobre os pajés brasilei-

ros. Valendo-se da terminologia do Malleus malleficarum (1486) pa-

ra as bruxas, Botero chama-os de maléficos — malefici — e ainda de encantadores — ciurmatori. Sua ação se assentava na imprudência e na falta de tino — imprudenza e pazzia —, tornando-se presa cácil de ilusões. Ministros diabólicos, usavam drogas rituais — como

os europeus temeram os alucinógenos americanos! — e incitavam seus seguidores a se sublevarem. O exemplo central de superstição brasílica escolhido por Botero é a Santidade do Jaguaripe, perigosíssima

pelo caráter de insurreição — “*per mezo de' suoi ministri sollevava tutto il Brasil” !** — e de similitude com os ritos verdadeiramente religiosos — ““una sorte di superstitione, e di tãto maggior pericolo, e dâno quãto ella era piu simile, e côforme a” riti, e all*uso della Chiesa Sata””.P** Os idólatras tinham um “papa”, ordenavam ““bispos” e “sacerdotes”, ouviam “confissões”, celebravam '“missas”, traziam

““rosários”” para suas orações: procedimentos totalmente diversos dos hereges protestantes, mas igualmente demoniacos: “Et é cosa degna d'esser avertita [astutia del demonio in oppugnar !autoritã del Papa. Poi che tra noi la combattê co'l negarla per bocca di Luthero, e di Calvino, e de' seguaci loro: e nel Brasile co'l contrafarla per mezzo

di ciurmatori e d'altri suoi ministri””,16++*

Desta forma, a ação demoniaca também mudava, de um e de outro lado do Atlântico: luteranos e calvinistas negavam os ritos €

os jés tes tas

sacramentos para atacar o catolicismo; para desmoralizá-los, pae encantadores tupis macaqueavam-nos. Universos tão diferene longínquos, a Europa e a América tornavam-se porém indistinpor meio da ação de certos hereges, que não conheciam fronteiras

que se antepusessem ao exército de sua impiedade, mais preocupa-

dos em semear a cizânia no campo dos fiéis do que em pregar a palavra divina para os infiéis. Assim agiu João de Bolé, francês que veio para a França Antártica de Villegaignon e se insinuou entre os (*) ““por meio de seus ministros sublevava todo o Brasil” (**) ““uma espécie de superstição, e tão mais perigosa e prejudicial quanto era mais semelhante, e conforme aos ritos e ao uso da Igreja Santa.” (** “E é coisa digna de advertência a astúcia do demônio em refutar a autoridade do Papa. Pois se entre nós combateu-a negando-a pela boca de Lutero e de Calvino, e de seus sequazes, no Brasil a contrafez por meio de encantadores e outros ministros seus”

63

oao

católicos de 5 . de um carneiro Naa

nte vrra Vicente,

Ç pele na o tid ves tra a órdi disc a dii cor dis do comean

sen

a n g a m e l A ' i d an er th u L l o v e t e v Non ha º n e t l o v n i i t I n a t circos e i t n i v o r P e l e mia, dia; e a, € la O rolan

piú vicinaa la Lap| pia, lala Biar-

IWidolatria? e voí heretici d”In

a, e l l e c o R a l l i e n d a i n i v l a C ! vo .

e An t a m a i h c l o v e h c cia, n a r F la e , i a l a c c a ia 1 B c n a r F di i h g o u l to i a r n t l d'al e d , o i l e g n a a | e i v r ur ghilterra,

['Islandi

d o r t n i ' d a v o r p e t a f n o n C tartica; perché já e m o n e , a i S si li g e e l a u q , e n o i s s e f o r p voi fate | ru, l e i n c i l o t t a C e e n d o n a c i d - giova di sturbare ja pre suas di e h c i z n a , a i d n I ' V l € ne va Spagna, nel Brasil,

ne perche w mo [sic] nuovoa n qualche

non| se , e r i d ô u p : e si ? o s R B n a m messo la a i o g n i b b a h n o n si es e v z1 ar impresa o in in em as pr so il ma ; to a m en ; form r a n i m e s 1] re ie i st q me che non é vostro ia: né id rf pe la al h de fe 1 a m : de li alla Fe zania? nô il códurre gYinfide t-

ec rf pe il n o n ? e n o i t t u r r o c si alla uo rt vi il a m t: il rt vi la al i tt fe er al'imp ra? aa : c r a v depra tionare finalmente ma dl

aat ra pa to ex et pr m, si as , se arn to lé Bo de ão Jo de io ód O epis lô Co e e l o p ó r t e M e tr en as teir on fr e c e h n o c o nã a el : a m r o f e R car à o cerco à Igreja, os do. N n u M o v o N e o lh Ve a, ri fe ri Pe € ro nt Ce a, ni arin ru ar de m fi à e s e u q e t a c e na t n hereges interferem deliberadame méA a is po de , a m r o f e R a ro ei im pr é o ab lhe a ação. Para Botero, O di me-

o m o c a tr en il as Br o , a m r o f e R la do pe ta rica. No perigo represen e t s n ao e m a i r a r t n o c e, s a qu c a i n o m s e e d d a táfora: lugar de humanid

("1 “Vós, Luteranos da Alemanha, não tendes mais próxima a Lappia, a Biarmia, e as províncias circunstantes envoltas pela idolatria? E vós, heréticos da Ingla-

terra, a Islândia e a Groenlândia; e vós, Calvinistas de La Rochelle, e de outros lugares da França, os Baccalaíi. e a França, que chamais Antártica; por que não pasaeanes aí introduzir o Evangelho que professais, seja qual for, ce o nome de vos comprazeis em prejudicar a pregação dos Católicos no Peru, na Rn

ne

É

É

tenham

vas Brasil e ae nptia antes de entrar numa empresa em que aqueles

a aiddo aa

pertidia?

piaaia

o o vosso é ofíci ? O que se pode dizer senão que nã

dissemi nar cizânia? Não a condução dos infiéis à fé; mas

Nem dos imperíeitos à virtude; mas dos virtuosos à corrupção?

imalmente, não o aperfeiçoar, mas o depravar?"

64

ii

O a e

ai o

osobre a colônia portuguesa não passam de pretexto para que O pr o d n a os t l a x , e go fo r de de po u te se ci er ca ex li tó ta ca Fé is da pagand méritos e imprescindibilidade das missões enquanto põe a nu os horrores da Reforma, aproximando seus agentes dos gentios bárbaros

CD

rte, pa ta ar o ã qu ç a da t n e t s u s s de re la pi a) os o ad sã in rd mo sua subo rações e d i s n o c . As il as Br e o e br so nd te es ro se te Bo e qu Livro 1v, em

RR

vra de Deus.'* ndo coe c e r e a p ad a id il nt ge a (a si re e he e es qu te ca a, Desta form

a

la pa r a e c e h n o c e de c n a h c à o tã en é at do reformados, não haviam ti

cc na, ma hu e rn ca r me co em am im te o, ic nt lâ At do que, do outro jado a rm fo Ee a , as st ni ma hu os it ós op pr m te ca li tó Se q expansão da Fé ca protestante mostra-se, sem dúvida, como um anti-humanismo., Na argumentação de Botero, portanto, a antropofagia é antes um em-

mbás na pi tu os e qu do is ma a: tiv efe o çã pa cu blema do que uma preo elut s e ta is in lv ca no os mpa cu eo pr e, nt ge m me co a, ic ér Am na que, . eja Igr a io sít em em põ , pa ro Eu na e, ranos qu e qu pa ro Eu da es rt pa e br s so õe aç er id ns co s te da en em nt re Dife

o ia sc ba ro te Bo , ar rv se ob ra de pu es ad id ar li cu pe s ja cu pereorrera € viade s ta no as su o nã e qu es nt fo as tr ou em sil Bra o e escrito sobr gem." Leitor atento, abre a parte que nos interessa marcando a es-

a un to sta re mp se € e il as Br “Il : sa ue ug rt po a ni lô co pecificidade da

: ru Pe di , na ag Sp a ov nu la ce ia gg so cui à la Corona distinta da quel mane tie si € , ta nu te re mp se é si li po po oi su de” e on e nella conversi Ameril' de ti par e tr al lV ne ta nu te é si e ch , la el qu da niera differente

o ud ag o ic ór st hi o ns se de ra do la ve re a, os ri cu q” 20º Consideração depois, Fi

go lo €, Il ipe Fil a, rc na mo só um a, oc já que, naquela ép

, sa ue ug rt po da to an qu a ic ân sp hi a ic ér Am da o lipe Ir, era senhor tant tan um , ia pé ro cu na ce da to en at or ad rv se ob um ra pa apesar disso, mcu in o e qu de a et cr se ão ss mi a e -s re mb le — to diplomata também pa Es e al ug rt Po —, ça an Fr da e rt co à o nt ju bira o duque da Savóia

smo me O si, e tr en s do ra pa se , es nt re fe di os in re m nha continuava arv se ob a í Da s. ai ni lo co es sõ es ss po s va ti ec sp re as acontecendo com dail e nt ie en nv co sa co o rs pa € ci e nd “O o: af gr ção que fecha o pará

re anche raguaglio separato”?**

stoHi na — ta os Ac foi a, ic ân sp hi a ic ér Am a ra pa , que Sabe-se arm fo in de o ri tó si po re de an gr O — as di In las de l ra ria natural y mo

em do pa cu eo pr se m ja ha i on zi la Re das r to au do os os di hoje, os estu Se . sil Bra o e br so a rit esc sua a m ra ea rt no e qu tes estabelecer as fon o ido val se ia ter tes fon e qu de , eta dir ão aç rv se não se baseou na ob ? sil Bra o re sob rer cor dis ao ro te Bo ni an ov Gi or ad ri to cosmógrafo-his

o

em separado. a íci not a bém tam dar te ien ven con (**) “Daí parecer-nos

O O

u 4 ro nt co en se e qu b so a el qu da ta in st di a ro Co a (*) “O Brasil foi sempre um cos 48 € r, to or mp co se re mp se vo po u se de o sã er nv co Nova Espanha e o Peru: e na n a, ric porta de modo diferente das outras partes da Amé

65

o

O

a

a

até , que de to en im ec nh co o nh te o nã , to an et ções de Botero.Z Entr

“CHE ARGOMENTI

ERANO

ATTI A REPRIMERE TATA 4S FONTES DE BOTERO

BESTIALITA?”

À inequivoca presença jesuiítica

No tocante à ação e à estratégia cate quética na colônia lusobrasileira, Botero valeu-se de vários escritos de Manuel da Nóbrega e de José de Anchieta.2 Tomou deste, inclusive, o registro de episódio pouco conhecido da evangelizaçã o, quando alguns franciscanos tentaram iniciar a catequese dos gentios. Di z Botero: “IT primi dúque, che si misero allimpresa dell "Evãgelio nel Brasil furno alcunt Padri di S. Francesco, la piu parte Italia ni. Uno de' quali volendo passare un fiume vi restô af fogato, gli altri furono ammazzat; da” Barbari prima, che potessino dar saggio d' altra cosa, che del buon'animo, e del molto zelo loro”' 2% Diz o Padre Anchieta: Os primeiros religiosos que vieram ao Brasil foram da ordem de São Francisco, os quais aportaram a Porto Seguro não muito depois da povoação daquela capitania, e fizeram sua habitação com zelo da con-

versão do gentio, e, ainda que não sabiam sua lingua , de um deles se diz que lia o Evangelho e, como lhe dissessem os Po rtugueses que para que lho lia pois o não entendiam, respondia: “Pal avra de Deus é ela, tem virtude para obrar neles”. Um deles na passagem du m rio se afogou donde lhe ficou o nome o rio do brade; todos os mais mataram

Ni

| | | ã E

os Índios levantando-se contra os Portugueses?

A percepção da existência de fases distintas no proc esso de catequese — a necessidade de “mutar stile'” — foi sem dúvida inspirada por Nóbrega, extremamente sensível às etapas própri as a tal mo-

vimento.** Vejam-se os trechos respectivos: em Botero:

Indussero dunque con prieghi, e cô promesse | pad ri e le madri di famiglia à dar loro in cura, e in disciplina à figliuoli : Attesero poi con

molta dulcezza a maneggiare quelli giovanentti [si c], à domesticarli,

E

j

e]

cd

a



rem mm

(9 “Os primeiros portanto que se lanç aram na empresa do vangelho no Br asil foram alguns padres de São branci sco, a maior parte italianos, Um dos quais, querendo passar um rio se afogou, Os ou tros foram mortos por bárbaros ante s que pudessem dar prova de outra coisa que do seu bom Animo e de muito zelo”

ea

Non si gettô questa semenza indarno. Perché i fanciulli imparavano facilmente, quel che lor si diceva: e ne davano par te a'suoi di casa, & agli

Sen

& a invaghirli a poco a poco della belezza della virtd, e del" honesta.

altri, e con Vesempio ritiravano a poco a poco 1 compagni dalle usanze

bestiali [...];2?*

em Nóbrega: “os filhos creados nisto ficarão firmes cristãos, porque é gente que por costume e criação com sujeição farão dela o que quiserem, O que não será possível com razões nem argumentos. Já agora dão os filhos de boa vontade para lh'os ensinarem, e lhes levam disso que têm para ajuda de sua mantença [...)'";** e em Anchieta: Estes, entre os quais vivemos, trazem-nos voluntariamente seus filhos

para os ensinarmos, os quais, sucedendo depois a seus pais, tornem o povo agradável a Cristo.?? [...] Temos uma grande escola de meni-

nos Índios, bem instruídos em leitura, escrita e em bons costumes, os

telectuais à propaganda da Igreja tridentina. Acerca das práticas gentílicas, a sensação de estranhamento era, porém, infinitamente maior; num procedimento verdadeiramente etnográfico, quase transcreve trechos dos observadores diretos, diminuindo assim a margem de erro, Vejamos o que diz Botero ao tratar dos pajés:

E

mi

E

| Brasili sono in grã maniera soggeti a gli incantatori, e simili gente, Tra questi uno ve n'era che con molta arte, & astutia s'haveva acquistato una suprema auttoritá, e riputatione tra loro, di un'altro Esculapio, à Macone onde non si presto uno s'ammalava, che si mâdava subito per costui, Venne una volta a ragionamento piu che a disputa, cô esso lui il P. Nobrega: e li domãdo in cui viriú facesse egh quelle sue meraviglie, del Dio del Cielo, O del demonio dellPinferno? Ancor io (rispose !"empio) sono Dio, e quel supremo Prencipe dell"universo, a"cui cenni s“inchina il Gelo, e trema la terra, é mio grandissimo amico: espesse volte (*) “Induziram pois com pedidos e com promessas os pais e mães de família a lhes dar os filhos para cuidado e disciplina: conseguiram depois com muita doçura manipular aqueles jovenzinhos, domesticá-los, deixá-los a pouco «e pouco enamorados da beleza da virtude, e da honestidade. Esta semente não foi desperdiçada, Por que os meninos aprendiam facilmente o que se lhes dizia: e disso davam parte aos de sua casa, e aos outros, e com o exemplo tiravam à pouco e pouco os companheiros dos hábitos bestialis [...]"

67

EE

Sobre a catequese e suas estratégias, Botero deve ter lido ainda outros escritos jesuíticos nos arquivos da ordem, bebendo neles e produzindo, como pode ser constatado acima, um texto mais pessoal, compreensível num homem que dedicava parte de suas energias in-

oa

quais abominam os usos de seus progenitores. São eles a consolação nossa, bem que seus pais já pareçam mui diferentes nos costumes dos de outras terras; pois que não matam, não comem os inimigos, nem bebem da maneira por que dantes o faziam?

mi si mostra tra le nubi, & in mezo delle saette, e de'tuoni.

piu patienza il Nobrega; Non hebbe ma có piu collera, che argoment; (che arpomenti erano atti a re primere tãta bestialitã?) lo confuse, e'] Te se Mutolo. Smaccô, & avilí di tal maniera quel suo empio orgoglio, che confe. Sô, non molto dopo, la sua cecita, e malitia e domandô d” eSSer Instru tto nella fede, & ammesso al Battesimo. Il che egli ottene fin almente insie. me con al

cuni altrj.1+

trecho de Nóbrega, que lhe serviu de mode lo: Procurei encontrar-me com um feiticeiro, o maior desta terra, ao qual

chamavam todos para os curar em suas enfermid ades; e lhe perguntei em virtude de quem fazia ele estas cousas e se tinha comunicação com o Deus que creou o Céu e a Terra e reinava nos Céus ou acaso se comu-

nicava com o Demônio que estava no Inferno? Resp ondeu-me com pouca vergonha que ele era Deus e tinha nascido De us e apresentou-me um

a quem

havia dado a saúde, e que aquele Deus dos céus era seu

amigo e lhe aparecia freqientes vezes nas nuvens, nos trovões e raios: e assim dizia muitas outras cousas. Esforcei-me ve ndo tanta blasfêmia em reunir toda a gente, gritando em altas vozes, mo strando-lhe o erro e contradizendo por grande espaço de tempo aquilo que ele tinha dito: e isto, com ajuda de um língua, que eu tinha muito bom, o qual falava

quanto eu dizia em alta voz e com os sinais do gran de sentimento que eu mostrava. Finalmente ficou ele confuso, e fiz qu e se desdissesse de quanto havia dito e emendasse a sua vida, e que eu pediria por ele a

Deus que lhe perdoasse: e depois ele mesmo pediu que o batizasse, pois

queria ser cristão, e é agora um dos catecúmenos22

Não por acaso, é quando trata de outra histor ieta referente a

pajés e encantadores que Botero novamente se ap roxima mais do texto de origem. Diz o jesuíta italiano:

(*) “Os Brasileiros encontram-se grandeme nte sujeitos aos encantadores e gente semelhante. Entre estes, havia um que, com muita art e e astúcia, tinha conseguido uma autoridade suprema e grande reputação junto aos demais, como sendo um outro Esculápio, ou Macone, não ha vendo quem, ao adoecer, não mandasse procurálo. Aconteceu de entrar o Padre Nóbrega com ele antes em argumentação do que em discussão: e lhe perguntou por graça de quem realizava ele aquelas suas maravilhas, se do Deus do Céu, ou do demônio do inferno? Eu próprio sou um Deus (respondeu o ímpio), e aquele supremo Príncipe do unive ISO, à cujos acenos se incl ina o Céu c treme a terra, é meu grandíssimo amigo; mui as nuvens, c no meio dos raios, e dos trovões. N ão teve Nóbreg a mais paciência; mas com mais cólera, do que argumentos (que argumentos eram capazes de repr imir tanta bestialidade?) o confundiu, e o calo u, Desmascarou, e humilhou de tal forma aquele seu orgulho ímpio, que confessou, não muito tempo depois, a sua ce gueira, e malícia, e pediu para ser instruído na fé, e admitid 9 ao batismo, O que finalmen te conseguiu, junto com alguns outros”

Dc

Sono za, e 1560, ció in

nel Brasile moltissimi malefici, e ciurmatori, della cui imprudenpazzia non mi fará grave addur qui uno, o due essempi. Vano nel contato di Piratininga, essendo tramontato el Sole, si cominun subito a turbar Vaere, a coprirsi di solti nuvoli il cielo, e ad

aprirsi con tuoni, e con baleni. Si levô poscia un vento da mezo gior-

no, e girando la terra fin che giunse a Ponente maestro, prisi ivi tanta

forza; che portó via tetti di case, stratolô selve, diradiçô alberi di gran-

dezza smisurata: e fece in una meza hora, ch'egli durô fracasso, e rovina inestimabile. E

Alcuni giorni doppo certi Sacerdoti s"incôtrarono in un di questi malefici de" quali parliamo, & havendolo esortato lasciar quella infame

creatore d'ogni cosa. imperoche havendome di Dio, che mi venisse detta del male fattomi sati menó

Eai

professione, e vita, chêgli faceva, e à riconoscere un Dio padrone, e

To conosco (rispose egli) Dio, e'l figliuol di Dio il mio cã dato un fiero morso, chiamai il figliuo] a medicare, & egli vene incontanente; e per vendal cane, arrecó seco quel vento, che alli di pas-

tanta rovina d'alberi, e di case 3”

O trecho inspirador destas considerações de Botero se encontra em Anchieta, na “Carta de São Vicente” maio de 1560:

datada do último dia de

Não há muitos dias, estando nós em Piratininga, começou, depois do

pôr-do-sol, o ar a turvar-se de repente, a enublar-se o céu, a amiudarem-

se os relâmpagos pouco a pouco a sempre costuma cia ameaçar-nos tou os telhados e

e trovões, levantando-se então o vento sul a envolver terra, até que, chegando ao Nordeste, de onde quasi vir a tempestade, caiu com tanta violência que pares o Senhor com a destruição: abalou as casas, arrebaderribou as matas; a árvores de colossal altura arran-

cou pelas raízes, partiu pelo meio outras menores, despedaçou outras,

(*) “Existem no Brasil muitos maléficos, e encantadores, de cuja imprudência, e loucura não me será penoso citar um ou dois exemplos. No ano de 1560, na provin-

cia de Piratininga, tendo o sol se posto, adveio uma súbita perturbação nos ares, a

cobrit-se de nuvens soltas o céu e a abrit-se com trovões e relâmpagos. Levantou-se a seguir um vento sul, e rodando a terra até atingir o Poente, aí alcançou força tamanha que arrancou tetos de casas, destruiu as florestas, arrancou as árvores de desmesurado tamanho: e durante a meia hora que durou, provocou inestimável rulna edestruição, “Alguns dias depois, certos sacerdotes se encontraram com um desses maléfi-

cos dos quais falamos, e havendo-o exortado a deixar aquela infame profissão, o vb

da, que levava, e à reconhecer um Deus senhor, e criador de todas as coisas, Bu co» hheço (respondeu ele) Deus, e q filho de Deus, pois que tendo o meu vão me dado

uma vigorosa mordida, chamel pelo filho de Deus para que me viesse medicar, € ele velo incontinenti; e por vingança do mal que me fez o cão, trouxe consigo bquele vento, que nos dias passados provocou tanta destruição nas Árvores, * casas,

69

| |

passa. a um nh ne e , as ad tr es as as íd ru st ob m ra ca fi tp Hs e u q a r i e n a m de tal de árvoos ag tr es s to an qu r ra mi ad a par era es; squ O D s o l e p a i v a h sem mais do u ro du o nã is (po ra ho ia me de ço pa es o - casas nroduziu n mm . ” res é "a verdade se o Senhor não tivesse abreviad o aquele tem. e IES 3). E. na Vel a a a

cairia poi por terra. [...]| tudo € violência tamanha a «ir ta : po, nada poderia resis is ma se ás ar lg ju o sm me si r po e Vou entretanto retenr um fato, qu e escarra ei gu ce a te en am rt ce as ar nt me la o; ns de dieno de dor do que cousas, as est em ar ss pa se de is po de s dia os uc Po a. necerás a loucur iapl es ot rd ce sa ns gu al m co m vi e qu a os di Ín de em uma certa aldeia

s um mo ra nt co en o, rm fe en um à o rp co do e ma al da na ci car a medi

emos ss tá or ex o mo co , al qu o , os di Ín OS re ent ma fa Feiticeiro de grande r e do ea Cr , us De só se um es ec nh co re € , ir nt me de se as ix de muito que dispua ng lo er) diz m si as r (po ma du is po de , as us co as s Senhor de toda ho de Deus, pois fil o mo co , us De só o nã o eç nh co u “E u: de on sp re ta,

há pouco, mordendo-me o meu cão, chamei O filho de Deus que me

trouxesse remédio; veio ele sem demora e, irado contra O cão, trouxe consigo aquele vento impetuoso, que soprou há pouco para que derru-

basse as matas e vingasse o dano que me causara o cão”.*

Em ambas as passagens citadas, ressalta o caráter de exemplum do episódio narrado. Mesmo sendo de autoria dos catequistas Nó-

brega e Anchieta, e não de Botero, foi certamente tal aspecto que cativou o autor das Relazioni, instigando, nele, o habito de pregador

(e de retórico, acima aludido) tão valorizado pelo mestre Borromeu.%

|

Por fim, outra passagem quase literal dos escritos jesuíticos quinhentistas sobre o Brasil pode ser encontrada quando Botero fala de João de Bolé, o herege calvinista: Erano ira costoro due ministri d'Heresia e di pravitã Calviana, per infettare di quel veleno, e i soldati francesi, e 1 Brasili. Nel progresso dellimpresa, il Capitano, ch'io mi credo fosse Nicolô Villagagnone, nuomo d'imtendimento, e di gluditio, s'acorse, che quest i erano huomini, che con estrema ignoranza delle cose Christiane havevano conFa nd E arroganza (cosa commune à tutti gli Hereti-

a ie e

Nacque

cy

E Ra h,

poi

tro, si risolsero dí

a E unant) intollerabile. Onde cominciô Per huomini piú atti à pervertire, che a edifi-

Sa

ia

renze loro. In tato un di E

dad tra i due ministri, tanta discordia, che

o e non volendo cedere I"uno allal-

E

aspettar risposta sule diffeno, nfandô a San Vicenao ro, ch “ra -edilà anche poco d'accordo co'l Capita-

tre compagni alla casa e É postos di pelle d'agnello, s'adrizzô con

é trattati humanamente, | Gesuiti, ove furno raccolti come peregrini

ro, che parlava bene Spagn uolo, co-

70

=. minciando a millantarsi della nobilitã del suo casato (doveva forse escer un'altro Drance: Genus huio materna superbum Nobilitas dabat: incertum de parte ferebat) e a vantarsi com questo, e con quello della sua dottrina, e aiutandosi con una certa facilitã di conversatione, e pron-

|

rezza d'ingegno, si fece a poco a poco tener dalle brigate per huomo

|

da qualche cosa. Scrisse anche una lettera al Padre Luigi di Grana, Provintiale de' Giesuiti ch'era allhora in Piratininga, dandoli conto del'esser suo, e de gli studii suoi, con dire, che poiche il maestro della sua

ciovanezza, huomo raro, e singolare, | haveva introdotto nella felici spe-

tonche delle Pieridi, ove s'era nel fonte (non sô, se di Parnaso, o d'Elicona), inebriato con gli ameni, e divimi rivi della sapienza, se n'era passato a gli studii della Sacra Scrittura, e dell'altissima Teologia: e per poterla con piu agevolezza conseguire, haveva anche, non perdonando

a fatica alcuna, imparato la lingua Sacra da gli stessi Rabini, e da loro insieme appreso secreti meravigliosi, de' quali voleva far parte ad esso Padre, come prima potesse con esso lui abbocarsi. Non passarono poi molti giorni ch'egli (perché ex abundantisa cordis os loquitur) comincio a bestemmiare contra il Santissimo Sacramento, contra le imagini de' Santi, contra il Vicario di Christo assaporando ogni cosa con sale di facetie, e di motti, presi dalla bottega di Calvino, molto plausibili,

e al gusto della moltitudine vaga di novitã quale ella si sia. Havendo

cio inteso il Grana, si mossi subito da” Piratininga per opporsi a” principii del male. Il Frãcese li mandó* incôtro una Epistola, il cui essordio

era questo, Adeste mihi Celites: offerte gladios ancipites faciendam vin-

dictam in Ludovicum Granam, Dei osore. Onde si puô far congiettura del resto. Il P. giunto alla cittã, cominció* subito à dimostrare al Vicario Fimportãza del negotio, e à essortare cô frequenti Prediche il popolo à guardarsi sollecitamente dalle parole melate dell*Heretico, e da bri pestilenti, ch'egli haveva portato seco. Per conchiuderla il Frãcese se fá preso, e messo

in prigione,

e poi mãdato

in Portogallo.***

les, que não estava muito de acordo com o capitão, foi a São Vicente, e vestindo-se

“om pele de carneiro, dirigiu-se com três companheiros à casa dos jesuítas, onde fo-

tam recolhidos como peregrinos e tratados humanamente. O ministro, que falava bem O espanhol, começando a vangloriar-se da nobreza do seu sobrenome (talvez devesse

"er UM outro Drance: Genus huio materna superbum Nobilitas dabat; incertum de

71

UE E a a go ai

Ver à Genebra: e de lá esperar resposta sobre suas diferenças. Enquanto isso, um de-

É.

não sabendo o que se dizerem, e não querendo um ceder ao outro, resolveram escre-

FR

“Surgiu depois tanta divergência entre os dois ministros, e tanta discórdia, que

E

como homens mais aptos a perverter do que a edificar o gentio.

Te

sobretudo entre os calvinistas) intolerável. Onde começou a censurá-los, e a tratá-los

-

Zo, percebeu que estes eram homens que, aliada à extrema ignorância das coisas cristas, tinham uma presunção, e arrogância (coisa comum a todos os hereges, mas

ET

infetar com este veneno os soldados franceses e os brasilos. No progresso da empresa, O capitão, que creio era Nicolau Villegaignon, homem de entendimento, e de juí-

e

(*) “Estavam entre eles dois ministros de heresia e pravidade calvinista, para

* De Villegaignon, diz Anchieta que oii ”, ro ei lh va ca de an gr e o ut do i mu e catol “co

todos Cles ser

fa se ro te Bo r po as ad or rp co in s õe aç rm Mas o grosso das info

nte”: ce Vi o Sã de ta ar “C da ta ci já na ra nt co

Todos eles eram hereges, aos quais mandou João Calvino dois que lhes

|

chamam Ministros, para lhes ensinar o que haviam de ter e crer. Daí a pouco tempo, como é costume dos hereges, começaram a ter diver. sas opiniões uns dos outros, mas concordavam nisto que servissem q

| | |

| |

Calvino e a outros letrados, e logo que eles respondessem isto, guarda-

riam todos. Neste mesmo tempo um deles ensinava as artes liberais, grego e hebraico, e era mui versado na Sagrada Escritura, c por medo do seu Capitão que tinha diversa opinião, ou por querer semear os seus erros entre os Portugueses, uniu-se aqui com outros três companhei-

ros idiotas, os quais como hóspedes e peregrinos foram recebidos e tratados mui benignamente. Este que sabe bem a lingua espanhola, co-

meçou logo a blasonar que era fidalgo e letrado, e com esta opinião,

e uma

fácil e alegre conversação que tem,

fazia espantar os homens

para o estimarem. Escreveu também uma breve carta ao Padre Luís da

parte ferebat [A nobreza da mãe conferia-lhe uma linhagem soberba; diziam que a paternidade ecra incerta)) e a gabar-se disso e daquilo da sua doutrina, e valendo-se

5 forem, Tendo isto compreendido o padre Grã, deixou rapidamente Piratining: uma epístola, cuiUjo exórdi que principiava. O Francês lhe enviou mal ao Opor 6º oio Para : eraer: seo seg uinte: Adeste mihi Celites: offerte gladios ancipi ovicum Granam, Dei osore [Socorram-me, habitado»

ar O

alvino, muito aprazíveis, e ao gosto da multidão desejo-

-—

santos, contra o Vigário de Cristo E RR a aoNaa paiol + temperando cada coisa com o sal decs facéciasjo €

dor

temer fadiga alguma, aprendido a língua sagrada com Os próprios rabinos, e com es da aprendido segredos maravilhosos, que gostaria de comunicar ao pródela ii e sapo a este Dana Não se passaram muitos dias antes que

|

o

de uma certa facilidade de conversação, e presteza de engenho, se fez aos poucos passar junto à companhia por homem de valor. Escreveu também uma carta ao Padre Luís da Grã, provincial dos jesuítas que se encontrava então em Piratininga, dandolhe conta do seu estado, e dos seus estudos, dizendo que já que o mestre da sua juventude, homem raro e singular, o havia introduzido nas felizes cavernas das Musas, onde, na fonte (não sei se do Parnaso, se de Elicona), tendo-se inebriado com os amenos € divinos rios da sabedoria, tinha então passado aos estudos da Sagrada Escritura, c da altíssima Teologia; e para obtê-los com maior facilidade, tinha igualmente, sem



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Grã, que então estava em Piratininga, na qual lhe dava conta de quem

o tre de sua era, € O que havia aprendido, dizendo que depois que o mes

adolescência, varão singular, o havia metido nas escolas das Pierides,

navia bebido da fonte cabalina ameníssimos arroios de sabedoria, €

se havia passado ao estudo da Sacra teologia e Divina Escritura, a qual

ara mais facilmente poder alcançar, havia aprendido a língua Sacra, to é a hebréia, dos mesmos Rabis, dos quais tinha ouvido de muitos

peritos, e que praticaria com o Padre quando se vissem. Estas cousas

quasi compreendia no fim da Epístola, que concluiu com um dístico,

Passaram-se muitos dias quando começou a arrotar do seu estômago

cheio de fedor dos seus erros, dizendo muitas cousas sobre as imagens

dos Santos, € O que aprovava a Santa Igreja do Sacratíssimo Corpo de Cristo, do Romano Pontífice, das Indulgências, e outras muitas que

adubava com certo sal de graça, de maneira que ao paladar do povo ignorante não só não pareciam amargas, mas mesmo doces. Sabendo isto o padre Luiz da Grã, veio logo de Piratininga a oporse à pestilência, e arrancar as raízes inteiras deste mal que começava o brotar. Tendo receio disto, e pensando que tal bastasse para indignar

o Padre, e torná-lo suspeito, se porventura fugisse dele, mandou-lhe logo uma invectiva, cujo principio era este: Adeste mihi coelitos, affer-

te mihi gladios ascipites ad faciendam vindictam in Ludovicum Dei rem &c., na qual o acusava e repreendia mui grandemente porque repartia o pão da doutrina com os Portugueses, por trabalhar na versão dos Infiéis, e disto se nos amontoou muitas outras cousas,

|

|

osonão concom

que esperava se exasperaria o Padre. Mas o Padre que tratava da causa de Deus não fugiu, tendo mais respeito à comum salvação de todos, que à sua própria glória; foi ao Vigário, requerendo que não deixasse

ir adeante esta peçonha luterana, e com sermões públicos admoestasse ao povo que se acautelasse daqueles homens, e dos livros que trouxeram cheios de heresias.>*

| |

A utilização quase literal de muitas das fontes constituiu traço

característico da metodologia de Botero. Nele, Federico Chabod viu

tero resumia textos longos demais, como fez com passagens de Guicei-

ardini sobre os Países Baixos ou de Possevino sobre a Moscóvia.“

De qualquer forma — e é mais uma vez Federico Chabod quem faz o comentário com a habitual propriedade —, não se pode colocar

à questão do plágio: entre a época contemporânea e a de Botero, São enormes as diferenças no que diz respeito ao espírito científico era SOU RaÇÃO. Hoje, levantam-se ES oie naquela época,

à finalidade prática quem levava a melhor: ter à disposição ma-

Nuais e obras de utilidade tanto pela perspectiva política, religiosa 73

co

de número de informações em tempo reduzido.” Outras vezes, Bo-



ou, em outros termos, a compulsão em recolher um gran-

E

certa pressa,

e moral quanto pelos dados geográficos que continham: “* O

da finalidade prática, de uma praticidade imediata, às cust nalidades ideais; mas esse ecra o tom da época”!

tFiuntfo

|

as das fi.

| |

Antropofagia e milenarismo: enigmas Para dois outros pontos importantíssimos do texto, Chntretanto

as fontes não se apresentam tão evidentes: a descrição do ritual aii tropofágico, localizada, conforme óbvio recurso retórico, bem no infcio do texto, c a enigmática referência à Santidade do Jaguaripe, ausente das demais fontes jesuíticas quinhentistas. Os rituais antropofágicos obscdaram

os curopeus chegados à

| | Ê

aa

Da

humanas, como a heresia protestante. v De resto, é preciso deixar claro que a antropofagia americana

Se situava numa grade complexa de significados, nada tendo a ver com gulodice monstruosa: na verdade, múltiplas significações se ocultavam por detrás da aparente uniformidade do canibalismo ameri-

sao Entre 95 tupinambás, a ingestão do semelhante ritualizava à

socialização da vingança, era mecanismo conferidor de honra tanto

para O cativo a ser

ingerido quanto para o executor; o cerimonial

es.

Os maias costumavam desmembrar o cor-

To

;

râncos. É bastante conhecido o ensaio de Montaigne, “Des cannibales",* mas não foi ele o único a se preocupar com tais práticas, Em capítulo anterior deste trabalho — “O conjunto: América diabólica” —, viu-se como o estudo brilhante de Charles Zika rastreia a penetração dos temas da antropofagia americana na Europa do Renascimento, superpondo-se a tradições narrativas c iconográficas milenares de representação do canibalismo.” Ainda com base na metódologia de Zika, é possível entender a obsessão pelo canibalismo americano como metáfora de outras obsessões, o que aliás já se enunciou nas páginas anteriores: em Botero, a bestialidade expressa no ato de comer carne humana era análoga a outras atitudes anti-

Rs

América, e a partir dos escritos dos cvangelizadores e conquistadores, ganharam também as considerações dos intelectuais contempo-

primeiro cevados, é quando estavam no ponto, assados como, na Eu-

ropa, se costumava fazer com 08 porcos. A associação com porcos é curiosa € recorrente no imaginário católico coevo 4 colonização. Nóbrega diria que os índios eram “porcos nos vícios e na maneira de se tratarem”. Num depoimento intrigante, existente na Primeira Visitação à Bahia, o mameluco Lázaro da Cunha confessa ter an-

dado pelos matos com os tupinambás durante cinco anos, pintando

o corpo € tendo várias mulheres. Participou de rituais de antropofapia, mas alega não ter aderido totalmente a eles: enquanto todos co-

miam carne humana, Lázaro da Cunha diz ter comido carne de porco.” Entre os franciscanos do México, corria que a carne humana era semelhante à carne de porco.** Tanto Thevet quanto Léry alu-

dem,

em passagens diferentes, aos porcos. Diz Botero:

Tratano costoro lautamente 1 prigioni di guerra; ma quando poi vogliono far qualche festa solene, legano con piú corde quello, che par loro piu pieno, € piu grasso. TI tingono variamente, c "adoranno [sic] di molte e diverse pene: e per farli carezze, li rallentano alle voltei laci, e' nodi, e li dano largamente da mangiare, e da bere. Doppo tre giorni, le dónne e à fanciulli lo tirano hor da una parte, hor dalFaltra per le corde, cô lequali egli é legato attorno il ventre l'altra brigata li lancia

addosso pomi, e frutti d'ogni sorte & egli rimãâdando contra i suoi persecutori quelli frutti, che puó levar di terra, si sforza di vendicarsi degli

oltraggi, che li sono fatti, e in mezzo della zuffa domanda alle volte da mãgiare, e da bere per ripigliar le forze. Alora si rinova la battaglia.

Tu pagherai manigoldo, d'ossa, e di polpe il fio delle tue ribalderie.

Noi vogliamo sfogar sopra di te il dolore della perdita degli amici, e de' parenti morenti in guerra; perché ti faremo in pezzi, e ti trágugiaremo arostito. Fate quel che volete (risponde Valtro) che nô si potrã mai dire, ch'io sia morto da huomo vile, e codardo. Se voi ammazzarete me io ho prima ammazzato molti de” vostri: se voi mãgiarete me, io

mi sono anche trovato a mangiare diversi valent"huomini, & ho fratelli, e parenti, che non lascierâno la mia morte invendicata. Tl cacciano poi in una gabbia grâde, e spatiosa, e cô esso lui il suo custode, tinto di varii colori, e coverto di diverse piume, cô un gráde coltelazzo in mano. Quivi egli salta, e fischia, e mena il coltelazzo in volta, el prigione hor si spinge innãzi per cavarglielo di mano, hor si ritira indietro per sfuggire il colpo: & intanto le dône, e i ragazzi tirádo hor a destra, hor a sinistra le corde, con le quali egli é legato, no"llasciamo mai né mover di luogo, ne* riposare. Finalmente il custode, per dar fine a tãte

comedie, prima con alcuni cólpi !'habbate, e poi cô un fendente li spezza

75

| |

la testa, e li sparge 1) cervello. Larrostiscono poi tra noi 1 Porci), e ne fanno un solene, e magni fico Convito 49 A descrição do canibalismo poderia ter se base

tm

ado em Pelo Menos seis autores diferentes, talvez combinando-se mais de um, O pri:

meiro é Manuel da Nóbrega, de quem , conforme Se VIU acima 3 teria lido a “Informação das terras do Brasil”, aparec ida em 1549 e Possivelmente acessível a Botero quando moro u em Roma: sendo Jesuíta ele próprio, e residindo na mesma cidade em qu e es

]

k

t a va sediada a Companhia, não lhe deveria ser difícil lançar os olhos Sobre as carta

s que chegavam do Brasil, como os relatos de Nó breg à. Além disso, como já foi dito,

tadores, “e simili gente”,50 O segundo é Thevet, que inúmeras evidências apontam como uma das prováveis leituras do secret ário de são Carlos Borromeu. Este andara pela França no último decênio do século, podendo então ter entrado em contato com os es critos de Thevet, ou sobretudo

com o clima de interesse diversific ado pela experiência francesa na

Es

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-—— str. gumes e cam

—e

Nóbrega é citado nominalmente ha passagem em que Botero trata da sujeição dos brasileiros (i Brasili) aos encan.

rnga; O Outro grupo lança sobr e ele pomos, e frutas de todo tipo, e ele, devolvendo tais frutos, que pode recolher no chão, para os seus perseguid ores, esforça-se em vingarse dos ultrajes que lhes foram feitos, e no meio da peleja pe de às vezes comida, e bebida para readquirir as forç as. Renova-se, então, a bata lha. Tu pagarás, patife, co Ossos e polpa o tributo das tu m as velhacarias. Nós queremos desafogar sobre ti a dor Mortos na guerra; pois te faremos em peda ços, e

engoliremos assado. Fazei o que quiserdes (responde o outro), pois não se poderá : 1), e covarde, Se me matais, eu primeiro matei muitos dos Vossas: se me come tês, € tenho

irmã

também me vi comendo muitos homens valen-

| || |

América do Sul, dado que, tendo sido traduzido para o italiano em

1561, Thevet estaria acessível a Botero também em Turim ou em Ro-

ma. Sua identificação com Thevet talvez passasse pela identidade de

interesses entre ambos: um jJesuita, o outro franciscano, ambos cosmógrafos. Thevet foi cosmógrafo do rei, e guardião de suas curiosidades — curiosités, como então se chamavam as coleções de objetos variados: medalhas, plantas, animais, pedras preciosas. Tinha por eles enorme apreço, e levava inúmeros visitantes para vê-los. Reis su-

cessivos honraram Thevet com suas atenções, até que sobreviesse a morte em 1592. As Singularitez de la France Antarctique surgiram em Paris em 1558, esgotando-se rapidamente e sendo reeditadas de imediato, desta vez em Antuérpia. Segundo Gaffarel, os inúmeros erros desta impressão sugerem um editor apressado pela impaciência do público, que devorava então todas as narrativas de viagem acerca do Novo Mundo. Em 1561, um certo Giuseppe Horologgi traduzia o livro para o italiano: publicou-se em Veneza, com o título Historia della America, detta altramente Francia Antartica diM. An-

drea Thevet, tradotta di francese in lingua italiana!

O terceiro autor é Jean de Léry (1534-1611), circunstância que parece muito intrigante por tratar-se de autor reformado, próximo a Calvino — a mando de quem foi para o Brasil — e, provavelmente, olhado com repulsa por um arauto da Reforma católica. De qualquer maneira, a estrutura da narrativa do canibalismo é, no calvinista francês, próxima à do italiano católico, e chama atenção sobretudo a descrição do cozimento do morto. Léry foi editado pela primeira vez em 1578, vinte anos após Thevet, portanto. Teve numerosas edições latinas: 1586, 1594, 1600, 1642. As duas primeiras apareceram em Genebra. A tradução latina mais conhecida foi a inserida na famosa coleção de Théodore de Bry, Grands & petits voyages, que teve o primeiro volume editado em 1590. Esta é a quarta possivel fonte de Botero, que talvez não tivesse, em lê-lo na coletânea, mais neutra, os mesmos pruridos que o afastariam do autor protestante Léry. Advoga a favor de De Bry a semelhança existente entre o relato de Botero e as gravuras que ilustraram a edição das Grands

& petits voyages vinda à luz em Frankfurt no ano de 1592, notadamente a que retrata, ao fundo, a decoração do cativo, e a que mos-

tra O mesmo com uma corda amarrada na cintura à espera da execução.>? O quinto é outro jesuíta, Fernão Cardim, reitor dos colégios da

Bahia (de 1587 a 1593 e, depois, durante o primeiro quartel do século xvrr) e do Rio de Janeiro (1594-8). Cardim esteve em Roma co77

mo procurador da província do Brasil em 1598, e nesta Ci da de ria ter encontrado Botero. Na viagem, levava consigo alp

Pode.

tos entre eles “Do princípio e origem dos índios do Brasil" qSãnso Cscri basta

te conhecidos os incidentes que envolvem

Francis Cook quando assaltou O navio

,

estes escritos, roubados o que trazia o padre de VOTE

ao Brasil. Junto com outros dois — “Do clima e terra do rali e “Narrativa epistolar de uma viagem e missão jesuític a” — O texto sobre os índios foi publicado apenas em 1625 na coleção de viagens de Samuel Purchas. Cabe lembrar, entretanto, que as Relazioni, na

edição aqui utilizada, publicaram-se em 1594, quatro anos antes da viagem de Cardim a Roma. Por muitos anos reitor do colé gio baia-

no, este padre poderia ter fornecido material para a redação de car-

tas ânuas dirigidas ao geral da ordem, em Roma; talvez as redigisse ele mesmo, no período em que esteve à frente do colégio pela primeira vez, ou posteriormente, quando foi provincial da ordem no

Brasil (1604-9). Familiarizado com os fatos acontecidos na capita-

nia, é possivel que o estivesse também com a ocorrência da Santidade do Jaguaripe, e que a relatasse em manuscritos ainda desconhecidos por nós, perdidos nos arquivos da ordem em Roma. Mas esta matéria será tratada mais adiante.>3

| | |-.

|

| me



O sexto é Gabriel Soares de Sousa, autor do Tratado descritivo do Brasil, inédito até o século x1x, e de outro escrito descoberto por Serafim Leite e publicado em 1942, onde se enfrenta com os jesuítas

a 5A

res de Sousa deu em Madrid ao sr. Christovam de Moura contra os padres da Companhia de Jesus que residem no Brasil. Com umas breves respostas dos mesmos padres que deles foram avisados por um seu parente a quem ele mostrou. As respostas datam de 1592, é seus autores são Marçal Beliarte — então provincial —, Inácio Tolosa — que o fora — Rodrigo de Freitas, Quirício Caxa, Luís da

E

chieta.** Não parece impossível que, dada a polêmica em que se envolveu com os inacianos, houvesse no s arquivos da ordem, em Ro-

o

Fonseca, Fernão Cardim e, muito provavelmente, Luís da Grã e An-

E e

sua a icar justif de el passív ade, qualid Nesta & sazação e pelo colono branco: era natural, portanto, que os pa-

ser usada como elem - “à antropofagia, aliás, poderia e ento de;

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» OU anotações resumindo partes do seu con-

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por detender o apresamento de índios: Capítulos que Gabriel Soa-

om

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elemento a mais a aproximar o escrito do senhor de engenho e o lei-

tor Botero.* Vejamos,

agora,

os trechos de cada um

desses autores. Diz

Nóbrega: Quando cativam algum, trazem-no com grande festa com uma corda

pela garganta e dão-lhe por mulher a filha do principal ou qual outra

que mais o contente e poem-no a cevar como porco, até que o hajam de matar, para o que se ajuntam todos os da comarca a ver a festa, e um dia antes que o matem, lavam-no todo, c o dia seguinte o tiram

e poem-no em um terreiro atado pela cinta com uma corda e vem um deles mui bem ataviado e lhe faz a prática de seus antepassados; e aca-

bada, o que está para morrer lhe responde, dizendo que dos valentes

é não temer a morte, e que ele também matara muitos dos seus e que cá ficam seus parentes que o vingarão e outras coisas similhantes. E morto, cortam-lhe logo o dedo polegar, porque com aquele tirava as

frechas, e o demais fazem em postas para o comer assado e cozido.é

Thevet é mais detalhado do que Nóbrega na descrição do ritual antropofágico, e se aproxima de Botero em alguns pontos. Diz ele: Ce prisonier ayant été bien nourri et engressé, ils le feront mourrir, estimans cela à grande honneur. Et pour la solennité de tel massacre, ils appeleront leurs amis plus lointains, pour y assister, et en manger leur part. [...] A ce jour solennel, tous ceux qui y assistent, se pareront de belles plumes de diverses couleurs, ou se teindront tout le corps. [...] Il sera donc mené bien lié et garroté de cordes de cotton en la place publique, accompagné de diz ou douze mil sauvages du pays, ses ennemis, là sera assommé comme un pourceau, aprês plusieurs céré-

monies.””*

Léry é muito mais minucioso na descrição. Fala de dois selvagens, um à direita, outro à esquerda, que trazem amarrado o prisioneiro; mas o que interessa aqui é a narrativa do preparo do morto para o ritual antropofágico: ““se presentant avec de Veau chaude qu'elles ont toute prête, frottent et échaudent de telle façon le corps mort (*) “Este prisioneiro, tendo sido bem nutrido e engordado, eles o farão morrer,

estimando nisto grande honra. E para a solenidade de tal massacre, eles chamarão

seus amigos os mais distantes, para assisti-lo, e comer sua parte [...]. Nesse dia sole-

ne, todos os que assistem se adornarão de belas plumas de diversas cores, ou tingirão

todo o corpo. [...] Ele será então trazido à praça pública bem amarrado e garroteado de cordas de algodão, acompanhado de dez ou doze mil selvagens da região, seus inimigos, lá será morto como um porco, após várias cerimônias.”

79

qu'en ayant levé la premitre peau, elles le font aussi les cuisiniers

rotir”.28*

par

deçã

sauraient

faire

un

cochon

de | ait

prêt

Longo também é o trecho em que Cardim descreve o ritual an. tropofágico, mas, no conjunto, afasta-se dos três acima menciona. dos. Comum, mais uma vez, é a alusão ao porco: “Morto o triste, levam-no a uma fogueira que para isto está prest es, € chegando a ela, em lhe tocando com a mão dá uma pelinha p

S U que véu de cebola, até que todo fica mais limpo e a CO Mais grossa Ivo que um leitão

pelado [...)".*º O texto de Soares de Sousa é o que menos se apro xima da narrativa de Botero. Semelhanças, entretanto, se insinuam quando descreve as loas feitas aos antepassados, quando alude a um “carras-

co e, ainda, à luta com espada e à forma de execução do prisioneiro, Vejamos as passagens:

[...] untam o cativo todo com mel de abelhas, e por cima deste mel o empenam todo com penas de cores, e pintam-no a lugares de JenipaPo, € os pés com uma tinta vermelha, e metem-lh e uma espada de pau nas mãos para que se defenda de quem o qu er matar com ela, como puder; e como estes cativos vêem chegada a ho ra em que hão de padecer, começam à pregar e dizer grandes louvor es de sua pessoa, dizendo que já está vingado de quem o há de ma tar, contando grandes façanhas suas e mortes que deu aos parentes do matador, ao qual ameaça

e a toda a gente da aldeia, dizendo qu e seus parentes o vingarão. [...] [...] e com este estrondo

de está

entra (o matador) no terreiro da execução, on-

pau na mão, diante de quem chega o matador,

eO the diz que se defenda, porque vem para o matar, a quem responde preso com mil roncar

ias; mas o solto remete a ele com a sua espada - ambas as mãos, da qual se se quer desviar

o preso para alguma banà, mas Os que tem cuidado da s cordas puxam por ela de feição que o faz fa em esperar a Pancada; e acon 7

Metro que morra, chega com

tece muitas vezes que o preso pri -

à

É em Thevet, Léry, Nóbrega e Botero que a estrutura da des-

crição do ritual antropofágico se mostra mais igual: as partes

são

toem y; Lér em vel erá sid con s mai ão, ens ext a do ian var , as mesmas das elas, o prisioneiro é cevado, amarrado, preparam-no para a mor-

o, entã aí, e ou, mat que aos de alu so, ajo cor é nto qua do fala te, ele dim Car e sa Sou de res Soa co. por um a -se ndo lha eme ass s morto, urut est a os lad imi ass os men es, tar men ple com tos men ele em oferec

ra narrativa € funcionando, talvez, como mera informação — que,

aliás, poderia ter sido obtida também em outros textos. O que os upec as es ant são ero Bot de iva rat nar à i, aqu is, áve fic nti ide torna liaridades da trajetória de vida dos autores: um, antijesuita e pole-

vinpro os, égi col dos r eto dir a, uít jes ro, out O ; nos mista dos inacia cial, autor presumido de cartas ânuas. De qualquer forma, rastrear

e

[...] lui e moi ayant discouru bien au long de mon voyage en Amérique,

El

as aproximações, variações, elipses e divórcios entre esses textos é um exercício sugestivo e instigante, apontando para a frequência com que, então, se faziam fecundações mútuas, e lembrando que, muitas vezes, o melhor modelo para descrições naturalistas não é a observação das evidências empíricas, mas a observação de modelos prévios.*! Mas há também que considerar as coincidências, originárias de estruturas mentais análogas e de acervos culturais semelhantes; ao entrar em contato com a obra de Hans Staden por intermédio do dr. Félix Plateros, em março de 1586, Léry se confessara surpreso pelas semelhanças entre sua Flistoire d'un voyage... e o livro do arcabuzeiro alemão, que nunca lera:

en ce pays la, en deux voyages qu'il y a faits, ayant été détenu prison-

nier plus de six mois par les Tououpinambaoults qui Pont voulu man-

ger plusieurs fois [...]; comme il le disoit, je remarquay qu'il en parloit du tout à la vérité; bien aise aussi que je fus, de ce qu'ayant mis mon

PAR

ce que Jean Staden, Allemand de nation, qui avoit été fort long temps en ce pays là, en avoit escrit, il trouvoit que nous nous convenions três bien en la description & façons de faire des sauvages américains: et lã dessus me bailla le livre dudit Staden [...]. Ce que je leu avec le plus grand plaisir, pour ce que Jean Staden, qui a esté environ huict ans

DP

dont il avoit lhistoire imprimée, il m'a dit que, l'ayant conferée avec

81

PRP

E

nous avions si bien rencontré en la description des sauvages brésiliens & autres choses qui se voyent, tant en ceste terre lã que sur mer, qu'on

E

de Jean Staden, moins qu'il eust voyagé en Amérique, je vis que nous

E

histoire en lumiêre plus de huict ans avant que j'cusse jamais oui parler

diroit que nous avons c omunique parratiotnas,

Tudo

ao

ensemble avani

que

*

indica que,

nessa

CPoca,

configurava

SC uma

de falro

Hos

toE rmMA

euro. péta de ler a América, porção do mu ndo definitivamente INC Orpora. da, em todos os sentidos, ao universo dos Curoópeus col: Mizador es Tratarei agora da segunda parte, sobre os pajés e Ieiticeiros, ho texto chamados de maléficos — expressão, como se sabe, Presen te no Maileus malleficarum (1486) para desi gnar as bruxas, E é da tradição demonológica que Botero inse re sua narrativa sobre os chca ntadores

brasileiros, no caso, a Santidade do Ja guaripe: “Non é paese al Mon: do, ove il demonio non abbia la sua part e”, afirma Botero, acrescen. tando: “Sono nel Brasile moltissimi male fici, e ciurmatori, della cui imprudenza, e pazzia non mi sarà grave a ddur qui uno, o due esem-

pi”. O exemplo mais destacado teria sobr evindo no ano de 1584; |...| questa razza d'uomini suscitô nel Brasile un a sorte d; superstizio-

ne, e di tanto maggior pericolo, e dano quanto ela era piú simile, e con-

forme a riti, e all”uso della Chiesa Santa. Creavano co storo un supremo lor capo nelle sacre comme noi il Suprem o Pontefice. Ordinavano vescovi, e sacerdoti, udivano confessioni, te nevano scuole, e insegnavano a' fanciulli senza mercede, o salatio. Celebravano Messe, porta-

vano Rosarii per dir le loro orazioni: facevano ca mpane di certe zucche, e libri di scorze d'alberi, e di certe ta volette; con caratteri non intelligibili ad altri, che a loro, e si dice che il Demonio n'era inventore,

é maestro. Mettevano la somma della loro religion e, e santità nella pazzia, e per arrivare a quel segno, bevevano il sugo di un'erba, que i Brasili chiamano Petima, di gran vehemenza e di sm isurata caliditã. Con questa bevanda cagpiono subito tramor titi a terra, storcono la bocca, cacc

iano fuora la lingua: sj distendono, e si rivolt ano, con tremore di

(*) “ele e eu tendo disc orrido bastante sobre minha viagem à América, da qua l ele tinha a história impr essa, disse-me que, conferindo-a com o que havia escrito Hans Staden, alemão de na ção qu € estivera muito tempo naquele país, achara que nós con-

me

à verdade; fiquei muito contente também de ter trazido minha hi Stória à luz oito anos antes de ter ouvido falar gem à América, concordávamos tanto na des-

terra quanto no Mar, Que se diri outras Coisas, que podem ser vistas tanto nessa Ha que tínhamos nos comunicado antes de escrever

82

|

tutta la persona,

per terra: parlano tra denti: dano finalmente segni rali, che ben appare di chi stano ministri, Finiti questi movimenti, si lavano con acqua, e si stimano santficati, e di tanto maggior virtú, e perfezione quanto sono stati piú fuor di se, e fatto molti piú bestiali, e piú impertinenti. Dicono che 1 loro maggiori hanno da venire in un naviglio al Brasil, e a rimeterh in libertã: e che allora i Portoghesi sa-

quelli Christiani, che lor capitavano innanzi, si ritiravano ne'boschi, o ne'monti. Anzi alcuni scannavano i proprii figliuoli, affin che non reccassino loro impedimento alla partenza, o lor fossino d'impaccio nella fuga, O li sepelivano vivi. Disturbo questa pestilenza principalmente il contorno della Baya, nê si poté acquetare senza gravissimo travaglio, e de religiosi, e de* magistrati Regii. Et € cosa degna d'esser avertita "astucia del Demonio in oppugnar Vautoritã del Papa, poi che tra noi la combaté co'l negarla per bocca di Lutero, e di Calvino, o de” seguacci loro: e nel Brasile co'l contrafarla per mezzo di ciurmatori, e d'altri suoi ministri.6**

si mi

ranno tutti consumati: e se ne restará pur alcuni diverrano pesci, o porci, o simili animali. Questa vanitã, e folia € nudrita, c fomentata dal loro sommo Sacerdote, che essi chiamano impudentemente Papa. Costui si aveva aquistata tanta autorita, e fede, che per mezo dei suoi ministri sollevava tutto il Brasile. Si che molti abbandono le case de” Portoghesi, e servitio, nel quale erano impiegati: molti anche ammazzando tutti

Na Informação da terra do Brasil, Nóbrega descreve ritos indigenas de transe e possessão por ele denominados Santidade. Mas,

na passagem, refere-se a manifestações milenaristas comuns aos tupinambás, e não a uma ocorrência específica — a Santidade que te-

que são ministros. Terminados estes movimentos, lavam-se com água, e se créem san-

tificados, e tanto mais virtuosos e perfeitos quanto mais tenham estado fora de si, e se tornado bestiais, e impertinentes, Dizem que scus maiores hão de vir ao Brasil em um navio, e pô-los em liberdade: e que então os portugueses serão todos

83

ei

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tremor de toda a pessoa: falam entre dentes: fazem finalmente tais sinais, que parece

E

de sua religião, e santidade, na loucura, e para chegar aquele estade uma erva, que os brasilos chamam petimã, de grande veemênquentura. Com esta bebida caem de repente desfalecidos no chão, lançam a língua fora; se retesam, e se contorcem por terra, com

mo

locavam a essência do, bebiam o suco cia e desmesurada contorcem a boca,

E

a outros, que não eles, e se diz que o demônio os tinha inventado, e os ensinava, Co-

Seg

(*) “'[...] esta raça de homens suscitou no Brasil uma espécie de superstição, de tanto maior perigo e dano quanto era mais semelhante, e conforme aos ritos, € ao uso da Igreja Santa. Eles criavam um chefe supremo para as coisas sagradas, como fazemos com o sumo pontífice. Ordenavam bispos, e sacerdotes, ouviam confissões, mantinham escolas, e ensinavam crianças sem mercê, ou salário. Celebravam missas, portavam rosários para dizer suas orações; faziam sinos com certas cabaças, e livros de cascas de árvores, e de certas taboazinhas; com caracteres não inteligíveis

não Cabral de Taíde, senhor de Jaguaripe, e F e d s a r vc lugar nas ter : m e g a s s a p à s o m Veja fin. terras, longes mui de feiticeiros uns vém s o n a s o t r e c De certos em antidade e ao tempo da sua vinda lhes mandam limpar quao trade a os caminhos € pr

cebê-los com danças e festas, segundo seuem costu. dug, o lugar, andam as mulheres de duas mi

as faltas do| p ublicamente delas. que fizeram a seus maritindo perdão ds perdão dos umas às outras e pedindo

o pelas casas, dizen

do o feiticeiro, com muita festa ao lugar, entra em uma em parte figura humana, ue traz em as b a Ra do q cabaça, uma põe € casa escura

mais conveniente para seus enganos, € mudando sua própria voz em

a de menino junto da cabaça, lhes diz que não curem de trabalhar, nem

vão à roça, que o mantimento por Si crescerá, e que nunca lhes faltará

que comer, € que por si virá a casa, € que as enxadas irão a cavar e as freçhas irão ao mato por caça para seu senhor, e que hão de matar

muitos de seus contrários, e cativarão muitos para seus comeres, e

| ;

| | |

promete-lhes larga vida, e que as velhas se hão de tornar moças, e as

filhas que as dêem a quem quiserem; e outras coisas semelhantes lhes diz e promete, com que os engana, de maneira que créem haver dentro da cabaça alguma coisa santa e divina, que lhes diz aquelas coisas, as quais créem. Acabando de falar o feiticeiro, começam a tremer, principalmente as mulheres, com grandes tremores em seu corpo, que parecem demoninhadas (como de certo o são), deitando-se em terra, e es-

cumando pelas bocas, e nisto lhes persuade o feiticeiro que então lhes entra à santidade; e a quem isto não faz tem-lho a mal, Depois lhe ofe-

recem muitas coisas c em as enfermidades dos Gentios usam

estes feiticeiros de muitos enganos € feitiçarias.%

também

Na Informação do Brasil e de suas capitanias (1584), José de Anchieta também aludíria genericamente às San tidades: O que mais créem e de que lhes nasce muito mal é que em alguns tem-

pos alguns de seus feiticeiros, que chamam Pajés, invent am uns bailes

SETVIÇO Em que estavam empr egados; muitos ainda,

À

o. e cantares novos, de que estes Índios eles por toda a terra, € fazem ocupar o dia e noite, sem cuidado de fazerem destruído muita gente desta. Cada um

são mui amigos, e entram com os Índios em beber e bailar todo mantimentos, e com isto se tem destes feiticeiros (a que também

chamam santidade) busca uma invenção com que lhe parece que ga-

|

nhará mais, porque todo este é seu intento, e assim um vem dizendo

que o mantimento há de crescer por si, sem fazerem plantados, e jun-

'amente com as caças do mato se lhes hão de vir a meter em casa. Outros dizem que as velhas se hão de tornar moças e para isso fazem lavatórios de algumas ervas com que lavam; outros dizem que os que os não receberem se hão de tornar em pássaros e outras invenções se-

melhantes.**

ve, ela ainda não se popularizara. Léry, por sua vez, refere-se a práticas rituais indígenas que tanto podem dizer respeito à Santidade como a outras crenças. A outra importante fonte coeva, Botero não poderia ter acesso: as acusações e processos contra os participantes da Santidade levados a cabo durante a Primeira Visitação do Santo Ofício ao Brasil, entre 1591 e 1595. Aqui poderia residir o maior

dos enigmas do texto do secretário de são Carlos Borromeu. O segredo defendia os papéis do Santo Ofício, que funcionava de forma

totalmente autônoma, sem sujeição à Sé romana. Da Itália, Botero

jamais poderia ter acesso incriminados no caso da que veicula são, contudo, processos.*º Sabendo que no Colégio dos Jesuítas,

às informações contidas nos processos dos Santidade do Jaguaripe. As informações curiosamente semelhantes às contidas nos a Primeira Visitação sediou-se, na Bahia, e que estes padres forneciam apoio às in-

vestigações inquisitoriais, poderiam ter partido da pena de um deles as notícias acerca das práticas “heréticas” ocorridas no engenho de

Fernão Cabral; muito provavelmente, integrando alguma carta en-

viada à sede da ordem em Roma. Sendo Cardim o reitor do colégio à época da visita de Heitor Furtado de Mendoça, tais informações

me pareceram, inicialmente, integrar uma das cartas ânuas por ele enviadas à Companhia, e da qual não se tem conhecimento. A evidência mais forte, entretanto, aponta para outra direção: a carta ânua de 1585, da lavra de José de Anchieta, e, portanto, anterior à Visita. Com a denúncia da contrafação da Santidade, tal carta pode ter si-

do, inclusive, um dos móveis a desencadear a visita de Heitor Furta-

do de Mendoça, ocorrida seis anos depois. Mas para fundamentar

tal afirmação seria preciso estabelecer as possíveis relações existen65

| | | |

pa

Thevet não alude à Santidade, pois, na época em que aqui este-

tes. no final do século XVI, entre a Companhia de Jesus e o

Ofício — o que, até o momento,

ainda não se fez.

Santo

Escrita, como as demais cartas ânuas, em latim, esta, de 1585 não tem tradução. Entre os historiadores que a parafrasearam, cabe

destacar Serafim Leite e Robert Southey. Ao se referir à Santidade

| |

o historiador dos jesuítas diz que a ânua de 1585 narra tudo circuns.

Jarric, Histoire des choses [...), é tradução quase literal, um Pouco

enfática, daquela ânua”.

Em 1585, Anchieta era o Provincial do Brasil, já muito doente

e assistido por Cristóvão de Gouveia, o visitador que viera de Por. tugal e chegara à Bahia em 9 de maio de 1583.10 Desta forma, é do

primeiro, com o possível concurso do segundo, a carta ânua — que, a cada ano, os provinciais escreviam para o Geral da Companhia — parafraseada por Southey. O cotejo deste texto com o de Botero não deixa margem a dúvidas. Vejamos o que diz o historiador inglês; y

Tomando do cristianismo dos jesuítas o que lhes pareceu convir a seus intentos, ou talvez o que dele compreendiam, escolheram os profetas da nova lei um papa índio, uma ordem de bispos abaixo dele, e presbíteros por estes consagrados, conservando todos os seus nomes europeus. Também introduziram a prática da confissão e absolvição, conhecendo perfeitamente o poder que nas mãos do clero punha esta parte das suas funções, instituíram uma espécie de missa, e rosários por on-

de se contassem as orações que deviam ser recitadas por número, e à falta de sinos convocavam o povo para o serviço religioso ao som de

grandes cabaços ocos, convertidos em instrumentos de música ou de matinada. Não eram charlatães ordinários os cabeças desta tentativa;

estabeleceram escolas à imitação dos colégios da companhia, e afirmam Os jesuítas que da casca de uma certa árvore faziam eles livros

como que encadernados em tabuinhas de madeira delgada, e que em

caracteres desconhecidos continham umas escrituras que o diabo lhes

ed

19 np

Até aqui tudo era imitação dos TOR CR Tao ae

sabendo O que ea voa 2$ portugueses, masé era E

para extermi ; inio queles atrevidos impostores organizado o seu eX-

ste, Com esta momice, ou arremedo da ma prática selvagem de provocar con1a planta deletéria (que se supõe ter si-

avia passado por esta terrível purifica» Ficava santo, e perfeito na sua vocação.

re

tanciadamente, e acrescenta: “A descrição de Southey [...] tirada Eh

|

mm de opressores, exterminando os portugueses, e que escapassem seriam convertidos em peixes, 71 . s a i porcos e outras animál á-los r v i l à o i v a n m u n que destes OS poucos

do in gu se , ta ie ch An de ta car da io me r po e Ciente da Santidad

à narta es pr em , to an et tr en , ro te Bo a, ur ut tr es a os nt po os lhe em m uit ca er ac ias idé as ri óp pr s sua em o ad assent

rativa um tom específico,

a Luão nç me a sua só é — mo is nt ta es ot pr do , das guerras religiosas

oude e um de o ab di do ão aç a re ent tero e Calvino —, da analogia os repa ro Eu na se , que o ud nt co o tro lado do Atlântico, ressalvand os di ín os a ic ér Am na , va ti ga ne a pel formados combatiam a religião a contrafaziam.

CONCLUSÕES , od ab Ch co ri de Fe ou rv se ob , os ne râ po em nt co s para Botero e seu Vedo to en im ec nh co or lh me O € o nd Mu vo No do o descobrimento un of pr s ai nt me es çõ ca fi di mo am ar oc ov pr lho — Ásia e África — es çõ ba ur rt pe as to an qu as ci ên rr co de de s he en pr e as das, tão intens

No ? .' pa ro Eu à so io ec pr l ta me de xo lu af do as nd vi ad as ic ôm econ

smo li sa er iv un i on zi la Re das r to au o , es çõ ma or sf an bojo de tais tr à o, pl em ex por el, sív sen s, de da ci fi ci pe es a to en tra-se historiador at eapr e, gn ai nt Mo e ry Lé mo . Co sa ue ug rt po a ic ér Am e da ad id ar singul

opotr an os rit dos so pe o za mi ni mi do an qu go lo nó et de vos lai ta sen ou , pa ro Eu na s oso igi rel s do an sm de dos os ond ma xi ro fágicos, ap

quando

dá à conotação

de barbárie cores diversas, assentada não

a iv ut ol ev o çã ep nc co ma nu s ma — vo ti ga ne e vo ti si po — s re lo em va

da vida humana — estágio necessário pelo qual passariam todos os povos. Para Gómara,

o descobrimento

da América

fora “'a maior

coisa depois da descoberta do mundo"; para Botero, à coisa ''maior

e mais admirável” desde a pregação dos apóstolos.”

A centralidade das cartas jesuíticas como fonte em Botero atesta do to en im ec nh co re de so es oc pr no m ra ve ti e a qu ci ân rt po im de a gran

mundo peculiar ao Renascimento. Os missionários inacianos, tem-se

do inforen lh co re ”, co gi ló po ro nt “a s vié o ar nd fu a am ar ud aj o, dit sensiTal a. Ási à a ic ér Am da , es um st co e os us o nd ra st gi re e es maçõ

bilidade ante o outro foi desdobramento inusitado do vasto progra a st ui nq co a se a: ad rm fo re eja Igr da o ri ná ri ma propagandístico e dout religiosa do mundo era pedra de toque do programa tridentino, era

— s fo ra óg ge e s fo ra óg rt ca m se as rn to se natural que os missionários

87

j

| |

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> conf orme a

Io.

verificou, por ocasião do concílio, Alexandre Piccolomi.

74 Parece nã

tural, igualmente, que o cosmógrafo Botero,

J

esuít

a,

se valesse das cartas dos companheiros de ordem a fim de Construir

» sua visão do mundo. Acosta, Nóbrega, Anchieta tiveram desta for. ma um papel relevante na construção da cosmografia européia moderna. | Entretanto, ao mesmo tempo em que surgia Uma nova sensibilj.

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dade, mantinha-se o apego ao centro irradiador, a Europa católica, Era o que lhe permitia continuar olhando para O Novo Mundo nos

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termos da heterologia de que falou Certeau: à visão do outro era ajus-

| ]

tada pelos parâmetros do imaginário católico. E aliás a leitura contrareformista — presente já na Anua de Anchieta — que ressalta como

mais interessante do trecho sobre a Santidade: o arremedo da missa,

da ordenação de bispos, da reverência ao pontífice, enfim, os ele-

mentos de uma religião às avessas igualmente característica dos re-

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latos contra presumidas bruxas européias. Anchieta e Botero trazem ainda uma referência inusitada ao infanticidio, outro crime imputado às bruxas por seus perseguidores e ausente das demais fontes jesuíticas conhecidas: para se verem mais livres na sua idolatria, os

adeptos da Santidade chegariam a matar os próprios filhos. O procedimento metodológico de Botero e a notícia que dá sobre a Santidade do Jaguaripe autorizam ainda hipótese muito importante para o estudioso do século xvi luso-brasileiro: em cartas

anuas ou em outros documentos até agora pouco explorados pelos pesquisadores brasileiros há informações cruciais sobre a vida cotidiana, notadamente mágico-religiosa. Muitas dessas fontes repousam, indevassadas, nos arquivos da ordem, em Roma. Quatrocentos anos

atras, foram elas que permitiram ao italiano Giovanni Botero,

viajante frequentemente imaginário, um curioso é inusitado lançarde-olhos sobre os segredos internos que o Império Português procuvi guardar com ciúme. Prova de que, ol hando de fora, pode-se às ve zes enxergar bem long e.

|

4

POR DENTRO DO IMPÉRIO Infernalização e degredo

Se a tua mão ou o teu pé te escandaliza, corta-os e ati-

ra-os para longe de ti. Melhor é que entres mutilado ou manco para a Vida do que, tendo duas mãos ou dois pés,

seres atirado no fogo eterno. E, se o teu olho te escanda-

liza, arranca-o e atira-o para longe de ti. Melhor é que entres com um olho só para a Vida do que, tendo dois olhos, seres atirado na gueena de fogo. Evangelho de São Mateus,

PURIFICAR

PARA

DEUS,

SANEAR

PARA

18,8,10

O REI

No século xvi, a idéia de purgatório era relativamente recente.

Cristalizara-se, de fato, n'Á divina comédia de Dante Alighieri, con-

forme observou com propriedade Jacques le Goff,! e a grande conquista nela embutida era a noção do purgatório com o um inferno

com duração limitada, opondo-se à eternidade das penas infernais propriamente ditas. No século XvI, as colônias portuguesas passavam a ser vistas como terras nas quais se iam cumprir penas, mas | das quais se podia voltar, uma vez purgadas as culpas. A própria travessia marítima assumia características de um exílio ritual (como . O ciclo dos Argonautas, a Narrenschiff e tantos Outros): nela, o de-

sredado iniciava o longo trajeto de sua purificação.)

Um século depois, a aventura dos descobrimentos possibilita-

/

va, em termos práticos, a ocorrência de uma síntese marcante — O degredo —, unindo tradições distintas: a das formulações européias

acerca do purgatório, a da função purificadora da travessia maríti-

Ma, a do exílio ou desterro como elemento purificador. Na prática

89

2“ do degredo articulavam-se, desta forma, desdobramentos dj um grande rito de passagem, Ao que tudo indica, foi no século Xxvil que

a Inquisição portu.

guesa erigiu a colônia americana em local privilegiado do degredo

Consultando-se as listas de autos-de-fé referentes aos Tribunais de

Évora, Lisboa e Coimbra, nota-se que, a partir de 1606, começam 1

É|

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a se suceder em progressão impressionante os casos de réus degredados para o Brasil:? homens e mulheres acusados de Judaísmo, biga-

mia, sodomia, blasfêmias, proposições heréticas, visões e feitiçaria,

Antes, no século xvi, as fontes sugerem que ainda se preferia o re

curso ao degredo para as galés, fossem elas remos ou trabalhos for. çados. Depois, no século xvilI, as ilhas atlânticas e os coutos me. tropolitanos seriam eleitos os locais privilegiados do degredo.

(Esta mudança parece indicar, em Portugal, a passagem de uma

| política de aproveitamento dos desclassificados sociais e dos margi-

“nais em trabalhos forçados (comum a grande parte da Europa nos séculos XV e xvI) para uma política de aproveitamento destes mes* mos elementos na lide ultramarina e na colonização do Novo Mun“do, Metamorfoseando o ônus representado pela reprodução desta

| gente em utilidade efetiva ou potencial, a Metrópole portuguesa trans“formava suas colônias, conforme a expressão do historiador Costa Lobo, em ergástulo dos delingiientes.* Fazendo-o, era uma das pioneiras em procedimento que, desde então, passaria a se generalizar entre os países senhores de possessões ultramarinas: andava ao lado da Inglaterra, talvez quem tenha aplicado o degredo com mais per-

sistência e proveito.” Antecipava-se, por exemplo, a um João Maurício de Nassau, que em meados do século xvil sugeriria às autoridades das Províncias Unidas dos Países Baixos que abrissem as prisões de Amsterdam e enviassem os galés ao Brasil holandês para que, “revolvendo a terra com a enxada, corrijam a sua improbidade, lavem

com O suor honesto a anterior infâmia e não se tornem molestos à República, mas úteis”6

| O incentivo do Estad “7 mostrou-se| concomitant e,

o ao envio de degredados para o Brasil portanto, à montagem do próprio siste| ma colonial, /Em 1549 se iniciava a oc upação sistemática da colônia americana, e data de dois anos antes a decisão de não mais deixar

ptih

RAvIOLOS S de Li| sboa e “sem O fazerem sa b e r a o Governador da Cível, para lhe orde

casa do levar"? nar os degredados que cada navio devia Passando a degr edar um número maior de réus, à Inquisição portuguesa se nsinese ra portant O NUM co

ntexto mais amplo, no qual

90

=. de so es oc pr o st va no s o d a h en p m e r e d o p de s o h l e r a p a s do r e d o m is ta en id s oc e d a d e i c o s às m ção comu a z i t a m r O N € das exclusão o sã es pr su a : as rs ve di s e õ ç a d a r g 8 Tal processo comportou , Fé a m u i, Re m u s e — d a d i r a l u c i t r a p das heterodoxias, das sal

m é b m a T . al tu ri io íl ex o , ar pl em a a o suplício € punição ex r se e d o p , al ug rt Po ra pa e, O qu s, oa ss pe a v a d e r g e d r la cu se n4705 oa em es ís pa s o N o. in Re do s e õ ç a n e com a leitura das Ord - io omou às prá-

que existiram

s se ão aç a su , io íc Of o t n a S Tribunais do

urt po II XV lo cu sé no a; st ti lu abso o d a t s E lo pe bo ca à s da va le ticas o ã ç i s i u q n I da e o d a t s E do ão aç guês, nota-se assim a confluência da mesao , o d n a o v o p s, la ze ma as su de e no sentido de purgar à metrópol -se O de-

a n i m a x , e do tu es te en es pr . o N ra ei il mo tempo, à colônia bras . io íc Of o t n a S do us ré s ao da ca li ap o ã gredo apenas enquanto puniç

S E Õ Ç A R F N I S DA A Z E R U T INCIDÊNCIA E NA a pel s do ni pu a ari tiç fei de os cas eis ess dez e bas mo co se Tomemre os ent es, Nel . sil Bra o a par o ed gr de O m co boa Lis de o içã Inquis

esdez em os cas eze (tr es er lh mu de te an rc ma a ci ân in om ed réus há pr

seis). As práticas dos acusados dizem respeito basicamente à vida afetiva e amorosa, às tensões e conflitos integrantes do universo social, à previsão do futuro, aos anseios de comunicação com o sobrenatural. São constituídas por orações de conjuro de demônios, orações que invocam passagens das vidas dos santos, orações que se reportam a plantas e animais dotados de significado simbólico, benzeduras e curas de animais e pessoas doentes, visões, porte de bolsas

que propiciam sorte no jogo e nas pelejas, pacto demoniaco, comparecimento a conventículos de feiticeiros, ou sabás. O período de maior incidência dessas práticas é a década de 60 do século xviI, quando ocorrem cinco casos. A pena de degredo mais comumente aplicada é a de cinco anos (dez casos). As culpas que mais aparecem são as de conjuro de demônios, orações e sortilégios, mas a culpa mais duramente punida é a de Francisca Cotta, jovem filha de um capitão d'el-rei na Praça de Mazagão e acusada pelo Santo Oficio de comunicação com almas, cópula e pacto com o diabo, num pro-

o mp te o am ern alt se o ac ní mo de o e ino div o que em o ios cur so ces

todo. Em onze dos processos, a abjuração é de levi, sendo assim a mais comum

de todas. Não se nota uniformidade na aplicação da

pena conforme o grau da culpa. Como exemplo, em 1620 temos dez

anos de degredo, abjuração de levi e açoites para Suzana Jorge, e, 91

em 1624, quatro anos de degredo, abjuração em for que mais grave —, cárcere, hábito pearina perpétuo e AÇO ites ms

mão Ribeiro c Ana Antonia.

|

Enfocando-se simultaneamente as práticas dos feiticeiros ; tugueses degredados para o Brasil no século xvil & as Práticas si

Si.

logas exercidas em terras brasileiras durante os três séculos da ai nização (XVI, XVII e XVII), detectam-se permanências e alterações Nas práticas destes degredados, há traços que Continuam in aos encontrados na Primeira Visitação do Santo Ofício da qui:

ção às Partes do Brasil (1591-5), sugerindo permanência de um subs:

trato europeu comum, ainda medieval, e traços que Paulatinamente

se alteram e assumem coloração específica e mais moderna. Nas práticas dos feiticeiros brasileiros ou portugueses Tesiden-

tes no Brasil, nota-se a presença de matriz européia mais abrangen-

te; de matriz européia mais especificamente portuguesa e, por fim, de sínteses. Estas são mais tipicamente setecentistas, e se constroem com o entrelaçamento das aludidas matrizes e ainda dos substratos ameríndio e africano. Assim sendo, partindo-se da hipótese de que

o degredo funcionou como transmissor cultural, é possível sugerir que sua intensificação no século xviI tenha contribuído de forma acentuada para o engendramento de práticas mágicas especificamente

coloniais mas dotadas de marcante substrato europeu. Dentre as práticas destes feiticeiros degredados que apontam para o nível das permanências, temos sortilégios, fervedouros e orações em tudo semelhantes aos perseguidos no Brasil durante a Primeira

Visitação do Santo Ofício. mente europeu e medieval. do balaio, comum também Grão-Pará do século xvim;

|

São eles dotados de caráter acentuadaAlguns exemplos: a oração da tesoura € à Inglaterra elisabetana é vulgaríssima no o conjuro de demônios em que estes são

sujeitados como cães; as orações de conjuro com invocação de ervas ou bichos — como o touro de são Marcos — que, no século XVIII, serão vertidas para a língua indígena e dotadas de animais caros ao sistema mitológico dos ameríndios (como o jabuti pequeno cágado

ção de demônios com os cabelos soltos às cost as, “desguedelhados”, co ia doirso nu; os contratos fáusticos escritos com sangue humano ou

x

aa Esta ão século xvi quanto ao século xvrtt.!º (é às práticas dos feitic eir os portugueses degredad o Brasil notam-se tambá os p ara aceleram ou mudam den a

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=. us ré s do ns gu al r po s da va le as ls bo s o caso da É, por EX emplo, pe de s ço da pe do en nt Co . tt xv lo cu sé no il as Br o ra pa , rreca as em qu er nd fe de de vo ti je ob o am nh ti as ls bo s ta es j lbof mo co te en sm le mp si em ec ar ap € dra É do É rimentos com ferro, gasse a à qu de corporais. Revestiam-se do caráter dos amuletos, relavam à at se e a, di Mé e ad [d ta Al a e sd de s no me o el “e o

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sni ca me s lo pe as id nd fu Di e. ud rt vi de e s ca gi má as dr pe

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Grãodo l, Su a e rt No de , ro ei il as br io ór it rr te O por todo

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no m ra ca li ip lt mu se as ls bo s ta es o, çã za do degredo € da coloni

atiç fei de e s ca gi má as tic prá a se ond la cu ti Ar ais. . ga in nd ma de sas e bol -s am ar rn to , nas ica afr te n e m a c i f i c e p s e ? ria Mandinal. oni col e nt me ca fi ci pe es a rm fo a um já * Aqui tem-se

l u ç u m os in re s do m u m a v a t i b a h as ou malinkês eram povos que , h a M de o in re o : rr xi o l u c é s do a lt E do vale do Niger por vo nece set sil Bra No é. Mal por ado ign des Ser à sou pas , que, entre nós

rista, os malês (em principio, habitantes deste reino) eram tidos cosigcom os let amu o coç pes ao do zen mo mestres da magia negra, tra ! ão. Cor do s ulo síc ver e o mã lo Sa nos de

Portanto, por mecanismos vários, entre os quais o degredo e o

a al, oni col a tem sis ao cia tân ins ima últ em am ti me re que tráfico, € tade a fic ecí esp ma for a um a ign des sta nti ece set ga in nd ma de sa bol a ári but Tri . nas ica afr e ias opé eur as tic prá gar gre con de az cap mã, lis

de três continentes, ganhando

vida na articulação triangular entre

Europa, América do Sul e África, constituindo-se no seio do sistema colonial, esta prática, por motivos óbvios, acabaria se prolon-

gando na metrópole: no século XVIII, os escravos negros que habitavam Lisboa — seja por terem nascido lá, seja por lá terem chegado com seus senhores, antigos funcionários da burocracia colonial que retornavam à sede do Império Ultramarino — conheciam e difundiam a bolsa de mandinga, expressão incorporada inclusive pelos inquisidores.!2 Dentre as práticas mágicas e de feitiçaria que transmigraram para

terras coloniais e conheceram alterações significativas, cabe por fim aludir às orações que invocavam Maria Padilha. Há quatro casos de orações deste tipo entre os processos de que ora se trata, e há notícia de dezenas deles no Brasil setecentista, associados sempre a outros

elementos das orações de conjuro. Ainda hoje, Maria Padilha encon-

tra-se entre nós, brasileiros. Na umbanda, forma sincrética de religio-

Idade popular que incorpora o catolicismo, as religiões africanas, às religiões indígenas e o kardecismo, Maria Padilha é Pombagira,

ou seja, um dos espíritos incorporados pelas pessoas que freguen93

tam esses rituais, À Pombagira é figura associada a Mulhere s de o da fácil; Maria Padilha, invocada sempre junto com 4a

drilha”, é grande alcoviteira de amores ilícitos.1 PUNIDOR E PUNIDOS: IDENTIDADE DE ESTRUTURAS

Oda a sua qua

MENTAIS

Dos onze casos que passo a examinar, todos se referem q mu

lheres que desembarcaram no Nordest e brasileiro, Cinco dizem re peito ao ano de 1647, q holandês,

uando

três se espalham

era intensa a Bucrra contra o insia

pelos quatro primeiros anos da década

de 60 e um diz respeito ao ano de 1683,

Como ficou dito acima, o Brasil ocupava no imaginário do europeu colonizador seiscentista uma função purgató ria nítida. Para o Santo Oficio, enviar réus à Colônia das Américas significav em a, termos gerais, permitir que concluíssem aqui um longo processo pu-

rificador iniciado ainda nos cárceres, com a tortura, e que tivera se-

quência no Auto Público da Fé, terminando, em terras lusitanas, com

a entrada dos degredados nos navios que partiam para Além -Mar, cadeias e grilhões nos pescoços ou nos pés, fossem eles peões ou pes-

soas de maior qualidade.!* Em 1664, por exemplo, Maria da Silva sofrera o tormento da polé por um quarto de hora, “estando gritando ec chamando pela Virgem das Necessidades e pedindo misericórdia”. A seguir, a mesa examinou os Autos: “E pareceu a todos os votos que sem embargo do que nele purgou pelos indícios que ainda contra ela resultam de sentir mal de nossa Santa Fé Católica [...) ela vá na forma costumada ao Auto Público [...]”,!S Em 1683, as súplicas de Maria de Souza livraram-na dos açoites mas não conseguiram impedir que sofresse o degredo; “que ela fosse degredada por seis anos para o Estado do Brasil; porque assim se ficava dando bastante satis-

tação ao escândalo que com seus embustes tinha causado”.!º Como

santo Isidoro, esperava-se desta forma — diziam OS inquisidores —

que “pela mudança do lugar se mudem os costume 17 s”.

A idéia que os habitantes do Reino tinham sobre a posses são americana não diferia da manifestada pelo Santo Ofício, suger indo uniformidade de estruturas mentais em segmentos distinto da so s -

ciedade.'* Boa parte dos réus condenados ao degredo para o Brasil procuraram escapar alegando questões de saúde, vínculos familiar es ou ainda motivos menos concretos, tais como peri gos para a alma

e para a honra. Pouco importa que fossem reais ou imagi nários 08 94

vi

Vi.

s.

levantado

Eles ajudam a apreender a forma pela qual o

distana: ôni col te an rt po im is ma sua a comum enxergava uma por e ol óp tr Me da da ra pa se , mar |Me ses de viagem por (C vários da riscos, doenças e piratas, insalubre e infestada do vício S U v i t mo 1

A de cnd t s o s u e dos ma a

imprópria, por fim, à vida em família e em

tra da do me 0 a Par .” ca li tó ca ão igi rel da ras reg e «às m r t for o a con de naua tur era lit ta cer de o çã za ri la pu po à contribuído

nada co

-

ter

mso as e rt mo da em ag im a , mar No . al Portug posso dizer, por não saber pintar tantas

anlh me se tão e ro me nú no s nte ere dif tão medonhas tormentas, ta tragéra € imagem

da morte, que em todos os atos des

di

dm

na

ia dir ”, ... seu do to se fos tro tea o se mo o senhora de todos co em

npa es de an gr m co o nd la fa , ura fig l pa ci in pr Neo os ne sempre pela

o sc ci an Fr o Sã nau da o do naufrági te en iv ev br so so, fon aa quando 5, 156 em : oa sb Li em m va ta or ap es rof ást cat das s eco 1596. Os mra ca bo re , sil Bra do o nd vi u go ra uf na ho el Co e qu er qu de Albu

Jorge enreg do ão aç in rm te de por s, no mra se os destroços da nau € expuse ço pa es por “e lo, Pau o Sã de nte da igreja

te cardeal d. Henrique, à fre sa coi era e qu la vête gen ta tan ia de um mês ou mais que ali esteve .? ”' ço ro st de seu o nd ve s do ra mi ad m va espantosa, e todos fica ; boa e úd sa ter se e qu ia hav el, rív ter tão sia ves tra r ta en Para enfr

, na pe da las ráliv a ri de po a del ta fal a e qu as rés logo perceberam

deo m re ta mu co de o id nt se no zes juí os zar ili ou pelo menos sensib

ão, raz a est por , que a av eg al us Jes de a zi Lu ca, fra se gredo. Dizendo-

a passar par m si as e ] [... ma gu al ia nc tâ bs su m ne e s ça or “f ha tin não

ar eg ch el sív pos é o nã e a vid sua go ri pe o it mu re cor r ma do as águas

— sia lep epi à a oc ép na da o da çã na mi no de — al or -c ta go A lá.. "21 era o mal mais frequentemente invocado. Foi com base nele que, em 1624, Luiza Maria procurou se furtar à pena, conseguindo-o: os acidentes da doença sobrevinham “*notáveis e vehementes”, durando

“orande espaço, e para a sossegarem aos violentos movimentos do mal a não podem aquietar quatro e cinco pessoas, como é notório e o testemunharam as pessoas que tratavam no cárcere, e assistiam no Auto de Fé, aonde padeceu um notável acidente”'.22 Alegando estar “entrevada e cega, passando muitas misérias sem ter com que as poder remediar, e ter de idade muito dilatada”, Paula de Moura

Conseguiu cumprir pena no Algarve e deixar para trás o fantasma do Brasil.?? Na mesma época, em 1683, Maria de Souza alegou

doenças e “muitos e grandes achaques”” para fugir aos açoites públicos e, a seguir, ao degredo para a colônia americana.” O pai no-

bre de Francisca Cotta descreveu a doença da filha na vã tentativa

95

j

ão

acodem a eles se despedaçara E S Mui fortes fala muitos desatinos””.25 Fc

quência dos açoites r ecebidos

não podendo se mover “para ta de uma cama, e par a poder

ir às Caldas

|

Maria da Cruz conteúda na petição junta para o estado do Brasil

foi

riores das dores de que fingidas. Parece à Mesa que não merece o favor que pret ende.26

Em

1682, Úrsula Maria |

to com notável extremeceção [sic] das partes sólidas”, necessitando o tratamento de “muitos, e frequent es remédios”. O parecer do mé-

dico, lacônico, dizia que, uma vez feito o exame, nada se achara que a impediss

e de ir cumprir degredo no Brasil.? ”

| Algumas das rés aqui examinadas proc uraram alegar que o Brasil

não era local indicado para se purg arem pecados, pois lá eles vicejavam em vez de se consumirem.

Condenada

em

1647 a dez anos de

degredo para o Brasil, a “ilusa”” Luzia de Jesus pediu comutação

da pena alegando grande risco “de dar com maiores abu sos achando-

se no Brasil, donde a gente é mais simples e não poderá haver facil- mente quem a atalhe””. Sua mãe, a persistentíssima Maria Francisca,

insistiu na mesma tecla: “ se a dita filha sua no meio de Portugal e entr e tantos homens do

caiu em erros tão graves, dade se pode achar que m à encaminhe”.

Se o Santo Ofício visava

reconciliar O réu ao grê mio da Igreja e, desta forma, poss ibilitar-lhe 96

PO jo. que lhe deixasse a filha cumprir pena cm algum lugar ida concluía ela.2º Mãe e filha partilhavam de opinião cor-

do Reino.

ia: “ra.

a: cerca de quarenta anos antes, d. Constantino BarraBrasil, escrevia ao Santo Ofício dando seu parecer so“[...] esta terra, onde há muita gente nova na fé, « outra e uns piores que aqueles de que se espera mais exemplo, eram à terra a ajuntar dinheiro, e não a fazer justiça”?

Em 1624, O Santo Ofício comungava

da mesma opinião:

ao comu-

tar o degredo de Ana Antonia do Boco para 0 Brasil, determinava

que fosse desterrada para sempre do arcebispado de Braga para que

te camen publi iasse enunc se que nha manti erros, nos disse reinci não ía: conclu mas mar, alémpara partir fosse ré à se a sentença como

“que em efeito não tenha o dito degredo pelo po

naquelas partes de a tornar a enganar o diabo”.

que há vivendo

Atravessar o oceano representava um temor confesso: além da

|

perda da saúde, podia significar a supressão da honra e dos dotes físicos, diziam ainda as degredadas, abraçando sem saber as idéias

de ilustres detratores da América.” Em 1647, a bigama Ana Lou-

rença corria corro, o que

|

pediu suspensão do degredo em nome do grande perigo que sua vida e sua alma. O primeiro marido acorreu em seu soprometendo ao Santo Ofício voltar a fazer vida com ela: “com se fica evitando o estragar-se a dita Ana Lourença por ser mo-

ca, e pobre, o que não tem dúvida sucederá se for ao Brasil””.? Uma questão assombrava a todas elas: o que faz no Brasil uma

mulher sozinha? Torna-se prostituta, presa fácil de piratas, mendiga? O pai da jovem Francisca Cotta, que era capitão do rei na Praça

de Mazagão, “teme que indo a dita sua filha ao Brasil só desamparada, por ele suplicante não poder ir com ela por ser um cavaleiro pobre e achacoso das pernas, seja causa de maior desonra sua por ser moça e bem parecida””.?? Luiza Coelha, que ao que tudo indica embarcou junto com Francisca Cotta para o Nordeste brasileiro, tentou sustar o degredo com uma petição que alegava o seguinte: “e porquanto é mulher moça, e andando em embarcações em tempo

de guerras poderá ter muitos perigos na vida e na honra, e outros-

sim tem seu pai e sua mãe muito velhos, e ambos quase entrevados,

é quer esperar neste reino ao dito seu marido, pois consta que é vivo, e indo ao Brasil poderá perecer e padecer grandes infortúnios...

De Salvador, Joana da Cruz escreveu uma carta truncada e confusa,

difícil de ler pelos erros ortográficos mas clara o suficiente para in-

formar que seu navio fora assaltado por piratas que lhe tiraram tudo, deixando-lhe apenas uma saia velha; na travessia, continua ela, 97

|

|

Oi

so

Toro

Pe

toi humilhada pela pente do navio e vinha por bruxa e feiticeira”, quei " dissera x U=VA- Se; na Verda da a visões e tinha sonhos de salv af d e, Her Portugal e lhe Testit za da época dos descobrimentos, uj pa Após dois Meses na Bah: em| que | tomara conf ntessor “ nos pés deste Santo Antônio” ah5i» “ tempo na queixou-se de inúmeros “ trabalhos” e disse em cart ISloná. selhavam a ir para São Paulo, “q ue não ser à Que q rendo talvez com isto aludir ; “AÇÃO Que recebia qr, ed degreda pel T da o Santo Ofício.3 Tendo sete anos — provavelmente em Olind sua entrada no Brasil —, Maria da recolhendo esmolas para ref ormar o Recol

À

e

r

da Hungria, em Lisboa.) A mãe de Luzia

lha não tivesse iniciativa su ficiente para prover com di gni pria subs

istência: escreveu

os achaques”.3?

Portanto, se no século xviI à In quisição via o degredo para o Brasil como a última etapa de um processo purgatório, as penitenciadas que procuravam fugir dele ressaltavam da mesma forma o caráter negativo da terra para a qual se guiam e acentuavam a impossibilidade de nela se regenerarem. Com fregiiência, invocavam laços familiares: mães e pais velhos e sozinhos , necessitados do amparo filial (como os de Luiza Coelha), ou me smo maridos abandonados que subitamente passavam para primeiro plano no afeto das rés bígamas. O caso de Ana Lourença não é o ún ico, e nesse episódio tu-

do indica ter sido o próprio Tribunal quem de u a pista de como conse

guir a comutação do degredo, pois antes me smo que o marido ap

arecesse reclamando a esposa desgarra da, o Santo Ofício Julgara que a ré “tinha idade bastante para não correr perigo sua ho nestidade [...] e se seu primeiro marido quis er atalhar a isto a poderá

acompanhar no degredo [...]'38. Talvez fosse este o pior dos cast igos. Também em 1647 — no mesmo an o em que o antigo cônjuge de Ana Lourença resolveu voltar a fazer vida com ela —, o marido de Catarina Lope !

tícias da ex-mulher: “vindo-lhe a notícia que a dita su a mulher estaSR Para Se embarcar velo a esta cidade com a dita

o intento de viver com sua ã mulher” | entretanto, “a achou já embarcada, e ora quer ratar de que torne para Sua companhia”, Pediu à Inquisição que

98

0. “zasse a volta de Catarina Lopes; não há registro de seu retor-

no,

a as sabe-se que o Santo Ofício lhe perdoou o degredo.* bi

da purgação, a que visava o Santo Ofício quando degre-

O saneamento do corpo social pelo I? XVI ulo séc no réus us dava Sé urgo dos maus fiéis? Se assim era, como explicar que não se in-

| |

piiá odasse de com

eles seguir maculando o corpo social da Colô-

ds sobre o qual também incidiam suas investidas? Contrariamente aos réus, acreditava O Santo Ofício que no Brasil se emendariam pe-

|

cadores?

Não

parece plausível, pois O mesmo

Tribunal costumava

'nvocar os maus costumes vigentes na Colônia e que, a seus olhos,

|

a desqualificavam. Numa época de guerra € de retomada do territó-

|

em despejar sobre O solo colonial boa parte de seus penitenciados

|

dadas a visões e a acidentes de gota-coral, indesejáveis na Metrópole mas passíveis, na Colônia, de gerarem filhos de soldados mestiços

rio, talvez a Inquisição cedesse às pressões do Estado e concordasse

|

— entre eles, mulheres de conduta duvidosa ou entendimento fraco,

|

e de hereges convertidos. Se assim fosse, a Inquisição teria dois pe-

sos e duas medidas, preocupando-se mais com o controle social no

|

centro do sistema do que na sua periferia. Muitos dos processos permitem reconstituir etapas na história de degredo destas mulheres, acusando um percurso solitário e apavorado. Em três dos casos, sabemos no que deu tanto sofrimento.

|

o

o

e

SE

E

e

e

———

T—

E

-—

|

|

Em 1660, passados dez anos da condenação, a tenacidade da velha mãe de Luzia de Jesus — visionária imaginosa — venceu os inquisidores: beirando os sessenta anos, a ré voltou do Brasil e teve suspen-

so o seu degredo perpétuo para fora de Leiria, a cidade natal. Em 1668, a beata Maria da Cruz, condenada por visões, voltava a Lisboa e se apresentava com seus papéis ao Santo Ofício, após cumprir resignadamente o degredo. Pediu que lhe suspendessem a proibição

de ficar fora de Lisboa, porque achava que devia zelar pelo Recolhimento de Santa Isabel da Hungria, do qual era regente na époça em que fora presa. Quando partiu, o Recolhimento estava em obras. No Brasil, como se disse acima, conseguiu muitas esmolas para terminálo, e queria se empenhar nesta empresa porque, na sua ausência, o pedreiro encarregado das obras andara alugando os cômodos do Recolhimento: “estava como estalagem, com tenda pública de cousas que nele se vendiam, tendo-o alugado o pedreiro a quem quer que

queria morar nele para pagamento das obras que tinha feito””.*!

Acusada de bruxa, Luiza Maria fora degredada para a Bahia * aos 24 anos deixara para trás o marido. Quatro anos depois, em

1668, conseguira comutação da pena e retornara a Portugal. Em 1694,

|

|

99

Com cinquenta anos, dirigi voluntariamente ao Tribun a a me & u-se “ al Uticio para confessar. Disse que vivera pobre o Miseráve d Oda l a a ETONSAT

|

do Brasil, € que,

procurada

pelas

um

POSSOAS,

inst Maãd] aa E tas, voltara à praticar certas orações a fim de preverPorcoisa s E à de. Sintomaticamente, sua confissão termina de chofre, se qua NR o M

qualquer pronunciamento do

|

Tou

que

Tribunal acerca da matéria &

hai

haja

O REVERSO DO DEGREDO O degredo determinado pelo Santo Ofício era Parte integrante

de um processo em que exvusdo e in a WrpPoOração se alternavam. Prendendo o réu, o Tribunal o excluia momentan camente do corpo so-

cal, continuando desta forma um no seio da própria sociedade, que, parte de si mesma, No transcorrer condições para que se reintegrasse ver excluído, Uma vez condenado,

| |

movimento de exclusão iniciado por meio da denúncia, rejeitava do processo, eram dadas ao réu ao corpo do qual acabara de se a exclusão podia ser levada ao li-

mute pelo estigma da apostasia e da excomunhão.

|

e

na, RE. =

do

| ae

a

mo

O

a

=

=

ia

ii

porem,

Imediatamente,

a abjuração pública no auto-de-fé (grande solenidade que

exclui e integra simultânea e alternadamente) propiciava a reintegração do réu ao grêmio da Igreja. O passo seguinte era uma nova exelusão, simbólica e física: o cárcere, o hábito penitencial, as galés, o degredo. Neste último caso, que é o que ora interessa, o indivíduo, duplamente estigmatizado como réu da Inquisição e como degredado, via-se compelido a purgar suas culpas no grande purgatório que, como observou o jesuíta Andreoni, cra o Brasil: em 1711, escrevia ele que esta Colônia era o inferno dos negros, purgatório dos bran-

cos e paraiso dos mulatos,*

O degredo era uma das penas do Santo Ofício, mas era também um mecanismo de exclusão cujo significado ultrapassava o âmbito

do Eribunale se engastava nos meandros das relações entre a Metrópole e sua Colônia, tendo como contexto histórico o Antigo Regime, Enquanto mecanismo de exclusão, purificava a metrópole de suas ma» zelas, descarregando-as na colônia e se aproximando de outros meca-

nismos comuns à época, como por exemplo as workhouses. Permis

tindo que para as colônias fluissem elementos que, em outro contexto, eram indesejáveis, perpetuava nelas os comportamentos tidos como desviantes, Ao fazê-lo, recriava na colônia o universo metropolitano e, simultaneamente, trabalhava no sentido de moldar o seu contrário; di atinal)Jo degredo era também a face negra do processo colonizatório. 100

Com o degredo, portanto, vinham para terras coloniais elementrópinos ir oduz repr a s osto disp c tos punidos por crimes irTISÓTIOS Os O mundo

metropolitano.

Mas vinham

também

hereges,

teiticei-

as am ari min nia, colô na vez uma que, ios onár visi s, femo vá plas n de sustentas ão da ordem estabelecida, tornando-se agentes de s base

im

processo

originador

novas

de

sínteses,

|

|

Durante o século XVII, OS colonos habitantes das terras brasileiras construtram paulatinamente a percepção do que Luís dos Santos Vilhena chamou



=

eee

ee

101 opção

própria

“o viver ou

por

colônias

em

torça

de

e

Vivia-se em colônia

circunstâncias

ArAS, CNE

clas

o degredo. Mecanismo pumitivo corrente no Antigo Regime, o degredo serviu para garantir a perpetuação de formas culturais portutacris se s uma Alg . nial colo ade ied soc da seio no as) opéi guesas (eur

lizaram e permaneceram inalteradas atraves dos tempos. Mas muitas

se recombinaram e se refundiram em modalidades especificamente coloniais de feitiçaria, magia e religiosidade popular, No século xvi,

portanto, consolidaram-se dois aspectos distintos de um mesmo pro-

cesso: à constituição simultânea da consciência colonial e de formas culturais peculiares.

Funcionando como via de purgação da metrópole, o degredo — ao mesmo tempo desterro e degradação — trabalhava no sentido de

infernalizar a colônia, realimentando o que o olhar metropolitano via cada vez mais como Aumanidade inviável: olhar bem partilhado,

comum a juízes do Santo Ofício e a réus modestos. Porém, contradição das contradições, o mecanismo de exclusão não se encerrava em

terras coloniais. Muitos dos feiticeiros metropolitanos reincidiram na Colônia, sendo enviados para Lisboa e sofrendo novos processos cujo lecho era o degredo num couto de Portugal, das ilhas atlânticas ou da Alrica, Outros, já no século xvrirt, nascidos no Brasil e tributáros de uma tradição mágica e demoníaca que o degredo ajudara a perpetuar — mostrando, aqui, sua face de transmissor cultural —,

eram também processados na Metrópole e degredados para seus coutos

Ou suas galés. Acabavam,

assim,

por infernalizar a Metrópole,

criando novos problemas para a Inquisição portuguesa, Infernalizar

“Colônia significava muitas vezes ter, de volta, a Metrópole inferna-

lizada: no | mpério Português, as contradições do sistema colonial im-

Pregnavam também o universo dos símbolos e das imagens.

[01

Segunda parte MICRODEMONOLOGIA O diabo e as tensões cotidianas

Os inimiigos da alma são HH, scilicet, o mundo, e ho diabo.

a carne

Cartinha para ensinar a Leer com as Doctrinas da Prudência, 1534

|

|

5

RELIGIÃO POPULAR Do

E POLÍTICA

extase ao combate

Ecce in caelo est testis tuus judex tuus qui te justificat;

qui est qui te condemnet? (En el cielo está tu testigo, y tu juez que te justifica: quién habrá que te condene?)

São João de Ávila

INVASÃO MÍSTICA Em meados do século xvit, mais precisamente entre 1647 e 1664, 2 inquisição portuguesa prendeu e processou algumas mulheres suspeitas de crime contra a fé. Eram originárias de diferentes regiões: da Galícia, de Braga, Leiria, Torres Vedras, Lisboa e até de Mazasão. Jodas solteiras, na sua maioria filiadas a Ordens Terceiras (quatro casos em seis), tinham nascido em famílias pobres, os pais sendo la-

vradores, oleiros, barbeiros, gente que sobrevivia com dificuldade.

Apenas uma delas vinha de meio mais abastado, a pequena nobreza que se dedicava às armas « velava pela conservação do combalido

império Português, para tal servindo no Brasil, na Índia, na África. Chamavam-se Luzia de Jesus, Francisca Cotta, Maria do Espírito

Santo, Maria da Cruz, Maria Antunes e Joana da Cruz, e em puni-

são de seus erros foram degredadas pelo Santo Ofício para o Esta do

ão Brasil, a Única exceção sendo Maria do Espírito Santo, que cum-

priu em Evora os quatro anos da pena que lhe coube.!

| Nessa époça, após sessenta anos, Portugal acabava de libertar6 da dominação espanhola, e ainda se encontrava às voltas com a

“va da Restauração, Em 1578, na batalha de El-Ksar-el-Kebir (Al-

a Quibir), perdera um rei doentio e mentalmente perturbado, a

da aristocracia e do exército (cerca de 7 mil soldados), mais de 105

——

meio milhão de cruzados — ou seja, a metade das receitas anuais

|

do país — e à autonomia política. Escaparam cerca de cem Pessoas vivas € um mito messiânico: O sebastianismo. O jugo espanhol aprofundara o processo de castelhanização em curso no pequeno reino luso desde os tempos do rei d. Manuel, que contraíra matrimônio

| || |

sucessivamente com três princesas da Espanha. Espanhola também

|

era d. Joana, a irmã de Filipe Il que O principe d. João, herdeiro

do trono na linha de sucessão de d. João tl, desposara em 1552. Porem ava vit gra que — a ues tug por e cort na ol anh esp -se ava fal tanto,

torno das rainhas —, € reverenciavam-se Os autores do “Século de Ouro”. cultuados aliás em toda a Europa da época. Desde o final do século xv, até os portugueses, como Gil Vicente, escreviam na

| | E)

língua do país vizinho.”

|

| |

Além das rainhas e dos escritores, vinha da Espanha uma ver-

|

dadeira “invasão mística”. No primeiro quartel do século xvi, lá

|

teve como que e ça” gra da o ent tim sen e fort um de a tad “do mo nis

|

| |

de acenado dot e os tid ver con eus jud de a íli fam a um de o ess egr , gos

| | |

|

vicejava a seita dos “'alumbrados,

|

de Buror chi Mel no sca nci fra de fra o tes oen exp s pai nci pri s seu de um

|

Dad

forma interiorizada de cristia-

fea ci ân in om ed pr o nt me vi mo no e uv Ho ." ico fét pro dor tuado pen de ta Bea a mo co es her Mul . smo ari ion vis ao cia dên ten minina e to San de ia Mar , edo Tol de a rt Ma re mad , sca nci Fra sor a, Piedrahit pro e a tic mís do an ur st mi s, çõe ela rev as pel se amgui tin dis o Doming no ado ent ass l ona oci dev ma cli um ão ent ia viv a anh Esp fecia. A tavol os stã cri as st ni ma hu Os o. nd mu ao a fug na e nto ame despoj dutra —, to en am st Te vo No ao te men ial enc fer pre — lia Bíb à vam e a-s dav Cui . gar vul gua lin em o usã dif sua na e o-s and enh emp e zindo-a , sto Cri de ão taç Imi a is: ona oci dev as obr de o açã lic pub da também ischr a vid la de s ero Luc os , pis Kem de n ke er Em ás Tom ês and do hol cia Gar de l, tua iri esp a vid la de io tor rta Exe o s, ene Xim ro Ped de tiana, ios vár e o nh ti os Ag to san mo, ôni Jer são de os rit esc os os, de Cisner

|

livros e tratados que versavam sobre a vida espiritual de místicos medievais, como santa Angela de Foligno, são Vicente Ferrer e santa Matilde, estes dois últimos de pronunciado caráter profético.” Frutificava assim na Espanha a tradição mística da Idade Média,

eexp da e e dad ili sib sen da o íni dom o a par oso igi rel o se trazendode esa Ter e z Cru da o Joã são mo co os tic Mís l.” dua riência indivi

«A RE E

|

Oc, sio oní -Di udo Pse o o end orv abs ão, diç tra ta nes Ávila beberiam cam, Eckart, são Boaventura, Bernardo de Claraval, e fazendo do

século xv1 espanhol “o bom momento da literatura mística””.º

Mas voltando às humildes solteironas das Ordens Terceiras por106

=...

ti

juguesas: por que foram clas processadas pela Inquisição? Tinham m ava inu ins us, Jes de e s Deu de as revelações, diziam-se muito querid sas fal de me cri por ou den con as cio Ofí tas, mas o Santo cerem san crenças, O que significava heresia e, nesta qualidade, até mesmo bru-

dos m mu co o “us do vam rta apa se ões vis s sua que saria. Considerou alade lid uti em ““s os ent gim fin s católicos cristãos”, constituindo vão lua erb sob e ia ânc rog “ar de os íci ind guma pública ou particular”, comunide fato O s”? ria trá con si re ent e s lsa “fa sas coi , na” eri cif extáticas ias ênc eri exp s sua de za ure nat a s soa pes carem a várias es a face -lh ava car mas des e o tic mís r áte car al ntu eve O esvazi ava-lhes se as ê-l ond esc e as i-l obr enc do ven de impostura € charlatanice, “de

de r te rá ca O 1º ”. to ri pí es de s oa ss pe as m ze fa o m o c , us De de foram -as va ma xi ro ap m, fi r po , es sõ vi gular das

sordenado, caótico e irre vers da s ra eg “r s da va ta as af e as a r i t n e M da i Pa do e t n e m a s perigo es “' os s, ro ei ad rd ve os nt sa de óprias pr ”, es sõ vi € es çõ la ve re as ir de da e à “exer-s am av eg tr en , o” çã ei rf pe a m u s colhidos de Deus” que, “em iço rv se € or am de os at os tr ou e ia nc tê ni cícios espirituais de oração, pe nsa de r te rá ca o es lh uso cu re ão iç is de Deus”.!! Desta forma, à Inqu : is pa ci in pr os nt me gu ar ês tr em e -s tidade que reclamavam, baseando as su , ”) na ri fe ci lu a rb be so e a ci ân não tinham humildade (a “arrog vere s ra ei ad rd ve s da as gr re ““ s (a do visões eram desprovidas de méto os gu bí am é s co es ot gr s to en em el em lações e visões”), € abundantes ! ). ”” as ri rá nt co si e tr en e s sa al (eram “f SOBERBA

VERSUS HUMILDADE

€s mo is al on ci ra no se aav nt asse l ia or it is qu in o ã ç a t n e m u g r a A b so os ic st mí os xt te os ri óp pr dos o t n e m i d n e t n e e a ur it le na o, ic colást irt mo s na va sa es pr ex se os s sant do e d a d l i m u h A a. it ud er a ic uma ót flagelação,

to au na s, to en rm to s no , s a d a g n ficações contínuas e prolo si mesde sa cu re , de da ri ca da o ci cí exer no o id nt co a eg tr en de o at no s: do ca pe os ar ag ap ra pa te en ci fi su in s ma o m i x ó r p do e mo em nom ig Se s, la Hé . .. eu Di de s rãce g s de e s u b a ' j e u q s e é n en “Tl y a tant d'an t n e m e d n e m a ' d pas a y n' j I qu “M e rc pa s mp te ng lo op neur, je vis tr an s me de re mb no le ec av t en li ip lt mu se ês ch pé s me e ma vie et qu de Jesus mostrava-se

sa re Te B* o. ul Pa de e nées”, diria são Vicent

izmente O l e f n i , r o h n e S . s de Deus.. ça a gr s da o us ab e qu s pecados u e tantos anos m e , da vi ha ível em min

(*) “Há da poss en em há o nã ue rq po , is ma de que vivo é os.” se multiplicam com o número de meus an

107



|

espantada com os favores € mercês divinos, tã o desproporcionados

|||

ante sua própria a fragilidade e pequenez: '*No pong+áis, Cr' iador mio tan precio

|

veces que le torno a derramar. [...] Cómo dais la fuerza de esta ciu.

' so licor en vaso tan quebrado, pues havéis ya visto de Otras

—.— o

e

pr

=

dad v Ilaves de la fortaleza de ella a tan covarde alcaide, que a] Primer combate de los enemigos los deja entrar dentro?”".!4 Mas manifes.



tava júbilo e gratidão ante a graça concedida, sempre reconhecendo

e

sua miserabilidade: ''Bendito seáis, Senior mio, que ansí haçéis de



pecina tan sucia como yo, água tan clara que sea para vuestra mesa!

om

gusano tan vil!”.!



q

ma e re

A vivência mística das rés do Santo Ofício se nutria na efervescência religiosa que revolvia a península Ibérica naquele “século de

e

ee

santidade". lé Algumas sabiam ler, e, como os inquisidores, devem

1

Caminho da perfeição da santa de Ávila. Entre 1616 e 1654, verifi-

od

caram-se várias reedições de Los libros de la B. Madre Teresa de Je-

| ||

sus. 8 Em 1630 publicou-se o poema de frei Manoel das Chagas, Te-

1

[|

Estas publicações destinavam-se predominantemente aos conventos; neles, sabe-se com certeza que contavam entre as obras lidas por frades e freiras, ou narradas em voz alta às beatas analfabetas. Foi provavelmente desta forma que as irmãs terceiras de que se trata aqui — muitas delas residentes em conventos — travaram conhecimento com os arroubos místicos de santa Teresa, para não falar de outros místicos europeus. O entendimento que tiveram destas obras diferiu

|

|

|

|

|

|

28

E

E

oe

| '

resa Militante, onde se cantavam os feitos extraordinários da santa.!º

do havido pelos inquisidores e pelos eruditos em geral.2º O aspecto

mais intelectualizado, abstrato e filosófico, tributário da escolásti-

|

ca, tornava-se ininteligível para elas. Apreendendo o lado mais sensível, que a vida religiosa moderna trouxera para o cotidiano, as bea-

tas vivenciavam-no à sua maneira, dando-lhe quase sempre os contornos mais SODCIbIQs próprios às categorias do pensamento €

da cultura popular.?! Não poderiam dar conta, por exemplo, do movimento sutil é

complexo entre a consciência da miserabilidade humana e obsessão pelo pecado, por um lado, e 0 im a

pulso místico, O

by sea

l08

s

a qm

mou Valentim Fernandes na ““Epístola”” que serviu de proêmio à obra.” Em 1582, o arcebispo d. Teotônio de Bragança mandava imprimir em Évora, na casa tipográfica da viúva de André Burgos, o

e

s | Ot Bi 1

a

sa linguagem [...] com muita despesa da sua fazenda”, conforme afir-



|

gr

|



TD

ter tido acesso aos livros místicos que se publicavam em Portugal desde o fim do século xv, quando, sob iniciativa da rainha d. Leonor, veio à luz a Vita Christi (1495) “em lingua materna e portugue-

a

1 | | ,

|

e

=

di

Seáis alabado, oh regalo de los ángeles, que ansí queréis levantar un

|

. 0 0 0 icar da cio rcí exe do io me por to or nf co O o, çã mpla te n o c a n o refúgi mco o a av ut pa a eu por , que o ic ét qu te ca do la to os dade e do ap

. to lu so ab do s ro ei ur nt ve “a ses des o nt ortame

;

de 15 de fé e-d to au no u sai e qu , Luzia de Jesus, penitenciada

sicon a e est que o mã Si são de ira ouv , oa sb dezembro de 1647, em Li Deus e a ist Bat ão Jo são ; ele to an qu eja Igr à ia derava tão necessár

nqua to tan ia val ta bea a que do an er id ns co também a elogiavam, este de-

E

to en nv co um m, ge na me ho sua em , que é , sto Cri to o sangue de , vez sua por us, Jes a. cer nas que o no local em veria ser edificad em o mp te o de des os nt me na si en va ra st ni mi lhe que “nformara-lhe con z, Cru da a ri Ma ?? o. rn te ma tre ven que ela ainda se achava no “que va ma ir af de, ida de s ano 43 aos 0 166 em denada pela Inquisição todos,

m ia ar sm pa Ré, a del ta vis a o nd mu ão se as ce Deus manifest Ré ela e ro, tei ras o it mu o nh mi ca um por m ia que os servos de Deus

os os st fe ni ma am er os anj aos m ne e qu e a, ja por vocação mui alt

s mai em ça gra a a ir nd fu in lhe e a, av am caminhos por onde Deus a ch odo Rec ra tei por z, Cru da a an Jo 24 a”, ist Bat ão Jo altura que a são em cio Ofí o nt Sa o pel sa pre e as ag Ch às s da lhimento das Converti

AE E a

rés, que proclamavam certezas tanto mais suspeitas por excluírem

mem

er faz em ca óli cat e ad id al ig od pr ta cer em let ref ões vis as Su Glória. el gáv ine de a oc ép ma nu , em rg Vi à os ers div s me no ir santos e atribu hosen a s, iai est cel s ada est s sua nas o: ic óg ol ri ma to cul expansão do ra da Boa Morte a chamava sua mana, a da Penha de França sua prima, a dos Mártires sua madrinha; * 'quando chegasse a ser bemaventurada, havia de ser advogada contra os demônios e ânsias do coração e das castanhas, motivo por que lhe haviam de chamar Santa Maria das Castanhas”. Por outro lado, privando da familiaridade dos santos, as visionárias reforçavam a tradição popular que deles fazia intermediários entre o fiel e um Deus quase sempre distante e intangível. Para os inquisidores, tais delírios eram totalmente alheios ao universo característico da santidade; em seus pronunciamentos e opiniões ressaltam a ausência de humildade e excesso de soberba das

4 7

to íri Esp do a ri Ma .2 ”' us De de sa mo mi € ta 1659, fazia-se “de san à ir s, ase êxt em e, si de r sai a av um st co 8, 165 Santo, condenada em

que por muitos anos não se inclinara ao pecado, lembraram que san-

tos e apóstolos não conheciam tal ausência de inclinação.?! Cristãos não viviam assim, diziam os juízes, com tanta estimação própria... Procuravam mostrar os enganos provocados pela soberba com base numa leitura estrita dos textos religiosos. Quando Joana da Cruz se

109

qe

“todo movimento de dúvida”. Ante a afirmação de uma delas de

jactava de ter encontrado o caminho para certa casa graças a

ho que, nesta busca, lhe fora dado pelo arc anjo são Miguel, a O Inauxí. sição argumentava que “'Deus Nosso Senhor não serve [sic] in o: canjos senão para anunciarem os mistérios mais altos, e levantados

e aquela ação era tão leve que não necessitava de instru ment no, porque qualquer pessoa humana o podia fazer". Invali do viIdano di revelações que afirmava ter tido de Deus, segundo a qual o Cria ma lhe dizia que as dores de que padece ra em certa circunstância se as mesmas sentidas

| |

por são João Evangelista, “porque lhe havia de

conceder tudo que a ele concedera”, afirmava o Santo Ofício que em tal revelação “se contém uma temc ridade grande, qual é igua-

lar-se em merecimentos com os Sagrados Apósto los, e não pode proceder de

se”

DESORDEM

TT

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plativa quanto o exercício da caridade e do apostolado achavam-se enformados pelo método, pelo “espírito de Organização po sto a ser-

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sm

viço do amor” que, para Delumeau, caracterizaria a ação de são Vi.

|

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ão

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Gt If !

VERSUS ORGANIZAÇÃO

No século de ouro da santidade, tanto a vida mística e contem-

ge

E cit

e

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e

Deus revelação que contenha temeridade”,28 O próxim o passo nesta linha de raciocínio seria aproximar as visões das beatas soberbas do Diabo, o Pai da Mentira.

cente de Paulo.” Neste afã organizacional, nada suplanta os Exer. cícios espirituais de santo Inácio de Loyola; minuciosos e detalhados,

|

|

insistiam nos pequenos aspectos práticos que pontuam a vida espiritual, chegando a propor o ajuste entre o ritmo da prece e o da res-

piração. A Fórmula do Instituto, que normatizava a ação da Com-

panhia de Jesus, fazia, por sua vez, com que a prática apostóli ca dos missionários os transformasse em ““soldados de Cristo' , bem

adestrados € dóceis à disciplina da ordem.3º Mas também a mística teresiana foi metódica: da oração ao êxtase, há um percurso penoso

que a santa dividiu em quatro degraus, comparando-os com as diferentes ctapas do trabalho de um hortelão, sempre atento em separar as boas plantas das ervas daninhas e a prover o seu cultivo com a água necessária, A imagem não é gratuita: o ofício de lavrar a terra distingue justamente o homem ajustado, tornado sedentário, daquele que ainda vaga nômade vivendo de coleta, caça, pesca, enfim, de atividades assistemáticas,* Santo Inácio e Teresa de Jesus talvez representem modelarmente as duas principais vertentes da religiosidade moderna: o apostola-

HO

ge

a tr ou e a m u m e , s e õ ç a d a r es g ontemplativa. Em diferent

Xa o sc ci an Fr o sã mo co os os gi nerfilaram-se santos € reli º ri Ca de s ma Da as e o ul Pa de e nt ce Vi o sã , is ll Le tendência P to de da Cruz,

TT —



vier, SãO Cami +

Molinos, Bérulle, madame

Guyon.

O

s ia nc vê vi as s ba am em te en es pr e ss ve ti es o étod dade, ou E iii ese,, nas preces, na prática das mortifiimpGsortal enetrando na ascese aCl o dr Pe o Sã . de da ri ca da OU m como na da catequese ç co da os gr ne os av cr es os , so ca no — ” s” pe to dos Etío il a um do vi ol nv se de a ri te —, a ad an Gr va O ea de No Ve E



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que

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en sc re ac m ju je uo ín nt co o “A s. to en rm s to do a ic “d a UE Sdade o o met ira de longas e sangrentas disci-

o um “grande morticínio” cotidiano tav a e tr bo . or rv fe vo si es xc “e m co s da ta ci er ex plinas, implacavelmente ma ia is e c a, os ci nu a mi ci en ig ex ” Nu do ra ce corpo já dila o o ns ca s s le mp si is ma os at OS de forma a transformar r) go . a” in ic if rn ca ta up rr te in in de — em “momentos

barbear-se

e -s eu at ab ão iç is qu In la pe as ad en Também sobre as beatas cond como tal. os id ec nh co re os nt sa os iu um ns co e qu a “fome de Deus”” suro sã e ad id os gi li re da ia nc vê vi à m co es çõ Muitas de suas preocupa lo cu sé e el qu da os lt vu s de an gr s do às s te an lh me preendentemente se

o sã mo co — o nd mu do ia nc nú re a e tr en s do ra de santidade, dilace

ísu je os , la yo Lo mo co — s õe aç s e da ad id ss ce ne a João da Cruz — e

fas do so ca no mo co m, ré Po o. ul Pa e de nt ce Vi ou tas, são Camilo a ci ên ri pe ex a e m qu la ve s re io se an us o, se ad in am ex a im s ac vores divino . ua cr e a sc to is ma o it mu a rm fo sa de es pr ex a e id nt se a era os religi s ro ei rn ra ca da ar gu e as qu dr es Ve a rr To es de on mp , ca uz Cr a da an Jo na infância, “mais queria na casa de Deus ser servidora que no mun-

do ser rainha”, e tinha grandes desejos de “viver em deserto para tratar somente de quietação espiritual". No seu sonho de vida con-

templativa enxergara um grande deserto onde se destacava a imagem de Cristo crucificado. Ajoelhando-se a seus pés e dando-lhe graças, “sentiu em seu interior que da mesma imagem saíra uma voz que disse as palavras seguintes: “Não sabes o que pedes, mais te vale andar aos baldões das criaturas no mundo, que cinquenta anos de deserto a meus pés” ”. A perplexidade entre uma vida de orações no convento e uma prática mais efetiva que a inserisse no mundo circundante parece ser nela legítima, mesmo se restrita a devaneios. Mui-

tas de suas visões lhe indicavam que haveria de ser fundadora de um Recolhimento de Convertidas na Bahia, para lá levando muitas das recolhidas da casa de Lisboa, onde tudo indica que servia como porteira,*? Outras eram visões mais genéricas, mas nem por isso des-

providas de interesse; uma delas reforça a idéia acima expressa de

!1

— que havia conhecimento dos escritos teresianos por parte dessas mu. lheres, seja pela transmissão oral, seja — talvez mais Provavelmente

— pela via escrita: Joana assinava O nome c, apesar de muitos trope-.

ços «e erros ortográficos, sabia escrever, como indica documento do

próprio punho anexado a seu processo,“ A imagin ação e o ANSCIO re.

ligioso popular, fecundados simultancamente pelo Novo Testamento — q referência ao fundador do cristianismo instituciona lizado —. e por algumas noções, vagas talvez, acerca das Moradas dei castillo interior — a referência à fundadora do Carmelo — levaram-na a vVCr um “carro feito de pedra c um castelo muito forte, que chegav a ao



O



Ctu””, Pedindo a Deus que lhe esclarecesse o significado da imag em, Ele dissera que o carro cra ela, “porque assim como o mesmo Se nhor

|



| |

1

|

| |

|

| | l

dissera a São Pedro, tu es Petrus, et super hanc petram edificabo ecclesium meam, assim o dizia por ela Ré, porque sobr e cla c seus merecimentos cdificava e fundava a sua igreja, e que o castelo era ta mbém

cla Ré, porque tão forte c purificada a tinha, como aquele castelo! É Naquela época, religião significava também ordem religiosa, O que justificaria a identificação entre Pedro e Teresa: o fundador da réligião c a fundadora de uma ordem confundiam-se na term inologia e na concepção popular, atraindo Joana para a militância religiosa, Por amá-la demais, Nosso Senhor determinara que cla deveria fundar cinco ordens, ou cinco religiões: vivendo num período em que imp ortantes ordens e congregações novas se multiplicavam, a cx-pastora nad a via de errado em ser simultancamente a fundadora de cinco delas, mas antes um motivo para melhor expressar seu amor a Deus, seu empenho na difusão da fé católica. Dessacralizando 4 mensagem teresia-

na, transfoor casma telo-a va lma em si própria, missionária fundadora de religiões. Traduzia na sua linguagem de camponesa a tensão entre mística e obra, expressa, entre tantos outros, por Fléchi er no Dialogue second sur le quiétisme: “Travaillez un peu moins à devenir tranquillcs,/ Soyez moins ploríeux, ef soyez plus utiles"?,35+ Impasse semelhante, mais especificamente referido, no plano das obras, à valorização da caridade c do assist encialismo, encontra-se na bela formulação de são Vicente de Paulo: “Qua nd vous quitterez

Voraison pour soigner un malade, vous quitterez Dieu pour Dieu. Soigner Í

!

e





un malade, c'est faire oraison”,30%4

”,

di

a

K ) Empenhai-vos ce mais úteis”

um pouco menos na tranquilidade. Sede menos

(**) ' “Quando deixardes a ora Deus. Cuidar de um doente é o ção rar)”

para

[12

cuidar deu

vaidosos,

! ] m doente, deixareis Deus eus po

r

para 08 inquisidores, entretanto, O rústico invólucro popular que « anecios religiosos das beatas cra suficientemente perni-

revestia 05 ARDER

ie da no ano tonniar ; E ; penmt : de encia nes, Antu a Mari . nulos cioso para torná-los

a ações aspir suas de e idad ntic aute a sobre das dúvi tava susci 1658,

um comportamento

santo

por

não ter POOR SEIA EA

frequentemente de forma ridícula, desordenada:

público,

agindo

“quando ouvia mis-

, corpo o com stos ompo desc s abalo fazia o, oraçã em a estav sa, ou

chegando com ele ao chão”; “falava algumas vezes formando a voz estano Deus a punh a o oraçã pela que de criança pequena, dizendo

incjta que em o temp o mesm ao ão, ocasi certa em do da inocência”; va um homem a ir pelo mundo fazer vida santa, deu-lhe “um granpescoço pelo ado aferr tão tinha O chão, no do-o iban derr € o, de abraç

que com muito trabalho sc desembaraçou da Ré, ação que escanda-

lizou pelo pouco que tinha de honesta”, Além disso, Maria Antunes dizia coisas estranhas, incompreensíveis para os juízes: “*Dizia que quando fosse a pregar pelo mundo, se haviam todos de fazer amarelos”, Estaria ela fazendo menção, de forma invertida e descoor-

denada, à ação dos apóstolos do Oriente, como são Francisco Xa-

vier? Por fim; a descomposta

beata Maria da Cruz, discípula €

admiradora confessa de santa Catarina e de santa Teresa, dizia ter tido as entranhas feridas por três setas, e citava a referência mística,

gritando nos êxtases pela santa de Ávila e “dizendo que só a santa sabia o que aquilo era”. As influências carmelitas pontuam sua narrativa: “Bendito sejas, esposo celeste, quão grande é a tua luz, e quão grande m'a deste”, dizia ainda, sem entretanto ter conseguido pas-

sar por santa aos olhos dos inquisidores. Foi degredada para o Brasil, chegando a Olinda no ano de 1663.%º O êxtase escandaloso € barulhento, a forma deselegante com que se referia à boda mística afastavam-na irreversivelmente da requintada união de Teresa com

Deus. Este, por exemplo, teria dito à reformadora do Carmelo: “Deshácese toda, hija, para ponerse más en Mí; ya no es ella la que vive, sino Yo, Como no puede comprehender lo que entiende, es no entender entendiendo”.?? Na poesia “Mi amado para mi”, a santa tratara do tema da seta que a ferira de forma lírica e encantadora: Hirióme con una flecha Enherbolada de amor Y mi alma quedó hecha

Una con su Criador;

Ya yo no quiero otro amor,

Pues a mi Dios me he entregado,

ma

113

= Y mi Amado

para mi

Y yo soy para mi Amado.“ Apesar de existir um campo comum entr e a reli giosidade de san. tas “verdadeiras”" e santas “falsas”, entre o misti Cismo e q ANscio por obras edificantes de Teresa

de Ávila e o das ] danas d a Cruz ou Marias Antunes que pululavam em Portugal à é poça da Res taura. ção, havia diferenças significativas. Para os inquisj do res, elas se M

ostravam mais dificeis de precisar no que dizia res p eito ao Cont eúdo, à essência da espiritualidade:Num século em qu € OS santos e b eatos constituiam legião, verdadeira “via láctea"* “! as| he terodoxias e de s. vios nem sempre eram facilmente identificáv e is, e nesta M atéria o Santo Ofício procurava antes pecar por excesso do que por falta. A própria Te

ia

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resa ficou anos sob a suspeita da In quisição espanhola que só não a prendeu em virtude da extrema obed iência que sempre

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publicou na Espanha postumamente, graças à intervenção de frei Luís

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mostrou; mesmo assim, sua obra foi cons iderada perigosa e só se

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de León.º? Santo Inácio, fundador da or dem religiosa que talvez mais se tenha identificado com a Reform a católica, foi inicialmente

suspeito de adesão ao movimento dos “alumbrado s”, permanecen-

do prisioneiro do Santo Ofício espanhol po r mais de dois meses 43

São João de Ávila, que sempre esteve próximo de Ter esa, de são João da Cruz, de santo Inácio, tendo ainda influe nciado decisivamente a opção religiosa de são João de Deus, também esteve preso por um mês, o Assim, beatas diato, Como com a

Santo Ofício desconfiando de que abraçara o lute ranismo.“4 foi contra a forma assumida pelos êxtases e concep ções das portuguesas em questão que o Tribunal luso se volt ou de imeressaltando-lhes a desordem, a crueza, a falta de eleg ância. muito bem mostrou Jacques Le Goff, a preocupaçã o estética forma “é a marca profunda da passagem de um univer so de

sensibilidade e de cultura a um outro”.4S GROTESCO

VERSUS SOBRIEDADE

Era tanto a forma quanto o conteúdo que desconcertav a os inquisidores quando, nos depoimentos das beatas, surgiam el ementos grotescos, por eles fregientemente qualificados de “rid ículos”. Maria Antunes estava certo dia em oração quando, vendo um homem os abalos e mene ios que nela fazia, se pusera a cho-

rar com grandes gritos, e ela Ré com a força do espírito se levantara



da oração € chegando-se ao dito homem lhe dissera: “Abraça-te comiso, homem”. E que fazendo-o ele assim, lhe tornara a dizer: “Apertame muito”. E acudindo gente aos gritos, e perguntando a causa, respondeu ela que por haver declarado ao dito homem que havia de ser santo, se pusera a gritar; o que tudo fizera forçada do espírito e sem

tenção de o fazer.*

A introdução do grotesco e do absurdo revelava a presença dos códigos próprios à cultura popular, embebida, conforme viu Mikhail Bakhtin, de comicidade e do espírito da praça pública.” Os gri-

tos é os abraços da beata, que se lançava do transe à expansão de impulsos eróticos, sugeriam um universo em que maneiras descompostas, riso e até mesmo brincadeiras licenciosas podiam conviver com religiosidade. Atrelando-se a tradição muito antiga na Europa, os padres permitiam-se toda espécie de histórias e brincadeiras quando, do alto do púlpito,

pregavam

por

ocasião

da Páscoa

ou do

Natal.“ Mas há passagens dos processos das beatas que sugerem ade-

são a outros aspectos das tradições e cultura populares. Francisca Cotta — a única dentre as mulheres aqui estudadas que vinha de uma casa nobre — vivia na África com o pai militar e era dada a acidentes de gota-coral. Caia em êxtases e se comunicava também

com as almas do outro mundo, € certa vez ouvira de um sacerdote “que Deus Nosso Senhor estava muito irado contra o povo daquela vila de Mazagão (onde ela morava) e que a Virgem Nossa Senhora

andava de joelhos com os peitos de fora, pedindo a seu sacratissimo filho lhe perdoasse, e que ele lhe respondeu que lhe não havia de

perdoar'.*? Há neste delírio uma mistura curiosa da concepção gro-

tesca do corpo, em geral positiva e regeneradora, com a idéia de perdição coletiva. Ainda segundo Bakhtin, o corpo grotesco ““ultrapassase a si mesmo, franqueia seus próprios limites. Coloca-se ênfase nas partes do corpo em que ele se abre ao mundo exterior, isto é, onde o mundo penetra nele ou dele sai ou ele mesmo sai para o mundo, através de orifícios, protuberâncias, ramificações e excrescências, tais como a boca aberta, os órgãos genitais, seios, falo, barriga e na-

=

riz". A alusão aos seios de Nossa Senhora destaca-lhe os atribu-

tos maternos, de genitora do “*'sacratíssimo filho” e, portanto, responsável pela sua vida. Mas há um aspecto negativo, pois a mãe que

lhe dera a vida pede inutilmente perdão, como se fosse pecadora; seria de tal monta a perdição reinante na cidade africana — contra a qual se voltara a ira de Deus — que nem a Virgem se salvaria. Os seios expostos passam assim a ressaltar o caráter pecador — numa 115

——— alusão, talvez, às santas-prostitutas ou de comportamento

so: Margarida de Cortona, Maria Egipciaca, Maria Madalena. por detrás da blasfêmia pura e simples — aspecto evidente e inteligível à leitura dos inquisidores — abrigava-se o hábito popular de conferir atributos aos santos, mais próximos do f lel: residia ainda humanos a importante tradiçãotornando-os blasfematória da praça pública, onde, numa provável sobrevivência de fórmulas sacras muito anti.

| | |

gas, lançava-se mão de objetos ou pesso

É | ii

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duvido.

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sagradas, Jurando-se “pelo

corpo de Deus”, “pelo sangue de Cristo”, pelas tripas e tutanos de Jesus, e, assim, promovendo-se o despedaçamento do corpo, Nossa já muito conhecida Joana da Cruz entremeava as visões beatíficas com um relato fescenino: quando vivia ainda no seu Re. colhimento, “indo um dia para o coro, tivera uma necessidade cor. poral, a qual satisfizera na varanda do mesmo coro, e que vendo a dita Dona Mariana que então era vigária a varanda com as imundí. cies, as limpara, e que Deus Nosso Senhor revelara à dita Joana da Cruz que havia de ter no céu uma coroa de glória pela necessidade

que satisfizera na forma referida”.** A proposição certamente constituía blasfêmia aos olhos do Santo Ofício, revelando ainda, por parte

da beata, excesso de auto-estima e vanglória. Entretanto, sob a lógica da cultura popular, o episódio que Joana despudoradamente expusera à Inquisição tinha significado totalmente diverso — caso contrário, não o desvendaria assim aos terríveis c ameaçadores juízes, procurando antes omiti-lo. Ele remete à importância do baixo cor-

poral no universo popular europeu, os excrementos não tendo a significação banal ou estritamente fisiológica que neles vemos hoje: “Eram, ao contrário, considerados como um elemento essencial na

vida do corpo e da terra, na luta entre a vida e a morte, contribuíam

para a sensação aguda que o homem tinha da sua materialidade, da

sua corporalidade, indissoluvelmente ligadas à vida da terra”'.54 A visão blasfematória de Joana carnavalizava a graça divina para, em seguida, descarnavalizá-la. Voltando mais uma vez à iluminadora análise de Bakhtin sobre Rabelais, tem-se no banquete de Epistemon

nos infernos inúmeros elementos de inversão carnavalizadora: quem não teve sífilis na terra, certamente a terá no outro mundo; os que

tinham sido grandes senhores neste mundo, ganhavam, no inferno,

pobre, má € indecente vida; indigentes e f lósofos, por sua vez, que

tanto tinham penado na estadia terrestre, tornavam-se grandes se-

nhores quando nos domínios Ínferos.'S A beata identifica sua ne-

cessidade corporal a esse código popular, colocando-a num espaço

totalmente alheio a ela — q coro do Recolhimento, onde as vozes

!I6

«o elevavam para Deus. Mas, em seguida, desfaz o percurso anterior: o excremento, que nO realismo grotesco do povo era motivo de alegria € de fecundidade, seria reconhecido como tal pelo Criador, € a necessidade satisfeita valeria no céu uma coroa de glória, Mais talvez do que O repúdio à imodéstia das visões ou a seu caECd

3

rátcr desordenado, a recusa dos conteúdos grotescos revela a existên-

cia de um desnível profundo entre a cultura erudita dos inquisidores

e o universo da cultura popular que permeava a religiosidade delirante das beatas portuguesas. Ante a vitalidade da presença corporal, ante à importância dos excrementos, ficava evidente que juiz e réu não poderiam travar senão uma relação dialógica, assentada na total

compreensão mútua dos significados que se enunciavam.6 MISSÃO SALVACIONISTA

Uma das inúmeras visões de Joana da Cruz retratava a vida que

lhe caberia após a morte. “Sua imagem se havia de por sobre uma peanha com o diabo aos pés com uma espada na mão direita com

a ponta na cabeça do demônio e na esquerda um coração, e dentro

dele uma custódia, e um letreiro na peanha que dissesse: “Joana de

Deus reformadora de sua igreja e protetora de Portugal'”'*” Não há dúvida que, a inspirar esta visão, estava a imaginária e a arquitetura tridentinas: custódias, letreiros, peanhas multiplicavam-se pelas igrejas católicas da Europa, o mundo da cultura erudita alimentando devaneios populares.”* Uma vez morta, Joana se identificava, pelos

traços iconográficos, com Nossa Senhora da Conceição; mas a ce-

na que descreve introduz um elemento novo: a preocupação com a ordem política e o desejo de nela interferir por meio da religião. Corria o ano de 1660; após a Restauração sob os Bragança, Portugal emergia de um longo processo de luta que compreendera a guerra

contra a Espanha pela afirmação da nacionalidade. Do sonho de Joana pode-se desentranhar não apenas a figura de Nossa Senhora ven-

cendo o Maligno ou, no plano do conto maravilhoso, a da princesa

pisoteando o dragão, mas também a de Joana d'Arc levando a pátria à vitória contra o invasor estrangeiro. Que o modelo desta Joana, camponesa e guardadora de ove-

lhas na infância, fosse a outra, pastora também, mas na distante Lorena, ou fosse o arquétipo milenar da donzela guerreira — ao qual aliás pertence igualmente a santa francesa — é difícil dizer no mo-

mento. Incontestável, entretanto, é que o desejo de santidade de 117

r

toana

da Cru

PRISSAVA

pela

redenção

de seu pis

atraves

de se

Us qtos, e pela identificação com os simbolos da nacionalidade. Sempre em

visões, Deus lhe declarara que “havia de ser religiosa, POr ser assim à vontade divina, e se havia de chamar Joana de Deus, porque d cri dos trabalhos [Oruz era scu sobrenome)

Mpo aca. bada, e porque o maior santo d os portugueses cra São João d e Deus, ela

havia

de

nome.

Em

outra

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santa,

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Mesmo criara

que cra cla,

vinda era muito recente, Luzia de Jesus ap resenta nas visões traços

io

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Castela

SCV

Penitenciada treze anos antes, em 1647, quando q Restauração

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e como

havia de ser esto to

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muito semelhantes aos de Joana. “O Anjo da Guarda deste reino mostrara as muitas cousas que ela tinha re mediado no mesmo Reino com à lembrança que dele tinha”; o Senh or, por sua vez, “lhe mostrara à Santo Antonio com grande cuidado deste Reino, e lhe dissera que o Céu tinha um português, e q terra uma portuguesa,

que faziam tanta força que não tinha lupar a divina Justiça, ainda que muito se merecesse. E que Santo Anto nio dizia à cla Ré que a portug uesa que vivia na terra o ajudava, e lhe dava torç à para com

o Senhor, e que ela ré entendera de si ser a dit à portuguesa, que depois lho esclarecera o mesmo santo"? São João de Deus, num causo, santo Antônio de Lisboa (ou de Pá dua), no outro, eram os grandes santos nacionais portugueses, motivo de orgulho num momento difícil em que a identidade nacional precisava ser afirmada: parece bastante plausível que, entre O povo, tal afirmação se fizesse predominantemente com base em elemento s religiosos, Santo Antônio fo-

ra canonizado em 1232, apenas onze meses após sua morte — q que atesta o grande prestígio que ti nha, “a fama inequívoca de santidade; já são João de Deus, morto em 1550, seria canonizado em 1691. mas consideraram-no beato de sde 1630; as visões de Joana de vem, portanto, traduzir a acolhida que o santo tinha nos meios populare s

no periodo intermediário entre su a beatificação c a canonização, reforçada, sem dúvida, pelos serm ões freqiientes em que se invo cava o auxílio do santo nas bata lhas.

Sobre santo Antônio, há um curios o poema que, editado em folheto, deveria correr entre o povo, verdadeiro espelho tanto do sentimento profundo de devoção ao santo quanto do orgulho nacional pela independênci

a reconquistada: as De cimas ao Serenissimo Re y D. Alfonso VI. Quando mandou alistar por

soldado «o glorioso San

to Antonio de Lisboa, de autoria de Jerôni mo Vahia. Nos versos sim[18

— p

pátria do domíà livrará , alistado , Antômio santo que dito fica les, es, q

no I

castelhano:

tal valentia

Com

Pois

que?

Ndo

vencerd Portugal,

Quando tem soldado tal,

E mais em tal companhia? Castela de medo fria tema

Que

tdo

grunde

invasdo,

ndo pode escapar,

não,

Empenhando Antonio o braço, Nem praça do seu cordão.

Fard cousas nunca ouvidas

Em favor dos Lusitanos, Ndo sendo dos castelhanos Com ser das Cousas perdidas;

)

Pingirá, cortando vidas,

De vermelho o burel pardo, É com impeto galhardo Triunfando em todo o risco, Posto que é frade Francisco

Brigard como um Bernardo. Com hábito, e fidalguia Serd de Castela açoite, Se como frade de noite, Como fidalgo de dia: Cante a Lusa Monarquia, Chore a contrária nação, Pois ambas nele terão Para glória, e para dor Huma nas mangas favor, Outra nas bragas prisão.

Muito se tem dito sobre o papel desempenhado pelo milenaris-

mo nos séculos xvI e xvil portugueses, Antes de Alcácer Quibir, as

|

trovas do sapateiro Bandarra, influenciadas pelo messianismo judaico, previam a chegada de um rei justo que, sob um único Deus, esten-»

deria seu reinado regenerador por sobre todo o mundo. Logo O desastre africano, d. João de Castro interpretara as Trovas — apesar de sucessivas proibições, circulavam livremente entre o — “começara a pregar a volta de d. Sebastião, tornando-se para bastianismo O que, segundo alguns autores, fora são Paulo para o

após que, povo o secris-

4anismo, Por fim, quando da morte de d. João Iv, o primeiro rei da [19

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Antônio Viesra, que não reconhec iam

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a morte roo ente do rei e vatiici." navam que naveria de ressuscitar para encabeç ar O Quinto Im Périoé: Entre à elite letrada, as sucessivas publicações dé A

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Mmarnquia iusitana em GH Se Drovo

visão do campo de Ourique, de Pero de Sousa Pereira, pu blicadadaa em Lisboa no ano de 1649 e que trata do Império Portuguas Dara a glória de Deus; Ressurreição de Portugal, de Fernão Homem de Figueredo =

ha,

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(o dominicano Manucl Homem). que diz no Proêmio ao restor “Se tores castelhano, dou -te o pês Dem

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novo

império,

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Deus

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é prospere

Restauração de Portugal prodigiosa, publicada

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do

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Por

largos

anos”.

sob o pseudônimo

do dr. Gregório de Almeida, para João Lúcio de Azevedo “o mais notável desses livros”; Lusitania liberata, de An tônio de Sousa Ma. cedo, publicada em Londres em 1645, que, com base na enumeração

de prodigios, profecias e maravilhas, defende a legitimidade da nova monarquia bragantina.“ Muitos folhetos se pu blicaram na época sugerindo alcance popular maior: a glosa dos Lusíadas feita por An ”

s

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E

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dré Rodrigues de Mattos sobre o Triunfo das armas Portuguezas e publicada em 1663; o Panegyvrico em a coroação de Sua Magestade o Serenissimo Senor Dom Joam IV folheto patriótico em que os por-

tugueses são “aradores do campo de Netuno”, que, após sofrerem perigos e tiranias, vêem-se redimidos por d. João 1v, “gozo de Portugal, glória do mundo"; os Applausos Lusitanos da vitor ia de Montes Claros que tiveram os Portugueses contra os Cast elhanos.

de autoria do cônego Leonardo de São José. Este religioso era pregador de Sua Majestade, conforme atesta a página de rosto do folheto, O que sugere o papel de proa que deveriam ter os sermões na

veiculação de idéias e imagens, simultaneamente se nutrindo das con-

cepções populares e, em forma mais polida, reforçando-as mediante à Oratória persuasiva, Desta forma, sendo para certos autores eminentemente popu-

lar nas suas raízes, o sebastianismo ganhou as elites cultas, que 0 transformaram em doutrina de salvação nacional. Por volta dos anos 60, abandonado pela “gente sensata”, viu-se novamente dev olvido ao povo. Contra ele se batia, incansável, a Inquisição; em 4 de

abril de 1666, saía em auto-de-fé Maria de Macedo, a filha de um violeiro que morava no Chiado e que, indo à noite às Hhas Encobertas, falava com d, Sebastião, via o rei Artur e os profetas Enoch,

Elias e são João Evangelista, O grande Antônio Vieira também co[20

'

ti ca de os an o nc ci s lo el pe v á s n o p s e r l, ia or it is qu in a : nh eu q asa jargou. nho veiro que atês Vieira permaneceu preso ão milenarismo sebastian'so em que dele já havia desertado a elite culta. Nas do e qu o, id ec qu es o rt mo um de à mo co “' a av so z vo qua ta num mê

a dizer aos vivos coisas do seu tempo antiquadas””.*

pa

ia ór st Hi da o iv at ic if gn si o it mu ho ec tr um r ve re sc an rtante tr : l e i n a D e d a i c e f o r p à e r e f e r se o d n a u q o r u do fut í

'

pe Im só um o nd Mu no r ve ha e -d há to is no tempo deste Império de Cr o o, nd Mu do es çõ na as s da to e s dos os rei

rador, a que obedeçam to al, assim or mp te no to is Cr de o ri gá Vi ser de qual há

como o Suzno Pon rfeito pe ser e -d há o tã en al tu ri pi es o ri tifice no espiritual; O qual Impé

S DO r ra du e -d há ja re Ig da do ta es vo no e consumado, e que todo esse ser Lisboa. e -d há al or mp te o ri pé Im e st de ça be ca a e muitos anos, e qu

mpo hate e st ne e qu e , os em pr su s re do ra pe Im os e os reis de Portugal s do to em e ad id nt sa e a ci ên oc in a, iç st ju a te en lm de florescer universa

hoos s do to e, rt pa r io ma la pe e as qu , ar lv sa de ohã se os estados, e é al qu s, o do na ti es ed pr s do ro me nú o o tã en er ch en e -d mens, é se há ndo-se também muito maior do que comumente se cuida, conjectura

s io me se Os ond ra st mo e r, de ce su de ohã as us co s ta o tempo em que es e instrumentos por que se hão de conseguir.” Em 1665, as Trovas do Bandarra voltavam a ser proibidas, o que atesta a penetração que conheciam. As mulheres do povo que tinham visões e se diziam queridas de Deus apresentam formulações impressionantemente análogas às constantes nestes versos, ou nos Sermões de Vieira, ou ainda nos livros dos adeptos cultos do milenarisma, sugerindo a circularidade entre os níveis culturais popular e erudito.

É ainda Joana da Cruz quem expressa a presença do bandarris-

mo e do sebastianismo nos meios populares, Dizia que Deus Nosso Senhor lhe mostrava e manifestava na oração “'que a alma de Sua

Magestade que Deus tem andava neste mundo em figura de porco”,

sendo salva por intercessão da Virgem. O rei em questão parece ser d. João 1v, morto quatro anos antes, e a figura do porco remete, de

forma confusa e distorcida, às Trovas: nelas, a alegoria do Leão e

do Porco representam, respectivamente, Portugal e Marrocos, D. foão penando na figura de porco talvez indique a impureza em que se on-

contrava sua alma antes da salvação, ou talvez ateste a incorporação

equivocada, distorcida pela transmissão oral, do conteúdo dos ver

sos do Bandarra,” Também a alma de d, Sebastião penava sem descanso pela jor nada da África, e “assim havia de andar até o Reino se restituir ao tal

—T—— estado em que se encontrava naquele tempo”. Vez

ma humana, encostava a cabeça sobre o colo

E near”? O rei-pai era também rei-filho: purgava as penas da ei DOvo, mas às vezes leltava: em seu regaço, procurando contorto, Da mesma forma que afetivizava a religião, a mentalidade popular tabelecia liames estreitos com o monarca desaparecido, Mostrando 1

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como o sebastianismo cra vivido nas relações cotidianas, o monar q se apresentando tão piolhento como os homens pobres que io vam seu reino. No nível cotidiano, podia ainda ocorrer a SUPErDOi,

ção entre o destino coletivo e o individual: “ouvindo um sermão xi que se disse que os portugueses cram coluna de fogo”, Luzia de Jesus se representara “em seu interior que Os portugueses eram coluna de fogo porque sua mãe o era, e se lhe fizera então lembrança, que em outra ocasião havia entendido que ecra ela ré chama de fogo que

havia de abrasar o mundo”? 3 Muitas das visões de Joana da Cruz reúnem sonhos de supre-

macia religiosa e política, mostrando que, na época das guerras da Restauração, o clima de milenarismo reinante podia embasar o an-

seio de libertação nacional.” Em 1657, a visionária teve para si que

os castelhanos não haviam de tomar Olivença e, no ano seguinte,

viu que “se fizeram grandes festas no vitória de Badajós, no tempo em que da”. Em outra revelação, os anjos se tando-se diante do Tribunal Divino e ram cada um a sua província €e reino

céu alegrando-se os anjos pela o nosso exército a tinha sitiajuntaram no Céu e, apresenda Santíssima Trindade, levapara saber qual havia de ser

cabeça do Império: “saíra que ainda que Castela tinha mais santos canonizados, Portugal tinha mais justos na Terra, e que assim havia de ser cabeça do Império”. A obsessão pelo julgamento reúne o imaginário do Juízo Final à esperança de intervenção divina na contenda temporal entre os dois reinos ibéricos. A exacerbação atinge os seus limites quando Deus e os santos resolvem que a qualidade das forças e da fé lusas haveria de prevalecer sobre a quantidade repre-

sentada pelas demais potências européias, num confronto à Davi € Golias: é sempre Joana quem prevê “que Roma se há de abrasar,

e que um clérigo que ela conheçe há de ser papa, e há de canonizar El-Rei Dom Sebastião. E que os santos de Castela, França e Itália, e todos os mais da Igreja que estão no Céu se ajuntarão de uma par-

te, e os de Portugal da outra, e que estes sendo muito inferiores em número vencerão os mais em certas matérias””.'é 122

cia ên nd pe de in de os nh so s ao os ic st mí os Dos arroub

política,

de es sõ vi as , as lh ta ba s da o lt mu tu 20 s Ja quietação dos convento te an os an s no al ug rt Po em m ra ve vi as mulheres comuns que pers

a rm fo de am tr us il , am ir gu se se ela à e s à Restauração, ou qu

ens da ra ce la Di s. ai ur lt cu is ve ní s do ease » circularidade do mo u se a am vi vi , lo cu sé no s õe aç as e é renúncia ao mundo bsurda”

”, da ta er nc co es “d ”, la cu dí ri ce a rm fo — de

“contrária”, “a

cu sé o e tr en e, qu os nt sa os er úm in s do da vi na te en — o dilema pres

caa am ar nt ve in re , as os gi li re ns de or s va lo xvi e o XVI, criaram no alv Sa da e Fé da me no em s te an st di as rr te as «dade, palmilharam que, s co lu ma os do an rv se ob ; is ca ni mi do s õe ção. Assistindo a serm s to en nv co s no o nd vi ou ; ra ar nd Ba do pelas ruas, recitavam as Trovas

de s ai nu ma os e os nt sa de s da vi de s to la re os s e nos recolhimento — inverno de es rõ se s no ou io ór it fe re no a alt z vo devoção lidos em en o, nd ha il rt pa ; as sm me s ela os ond s, le da za ti be ou, quando alfa

poa ur lt cu da e ão iç ad tr da so er iv un O s, te an lh me se Fim, com seus Sed. va ua lt cu e, ad id ar li mi fa m co os nt sa os e us De a av at tr e qu pular, hano e el st ca o va ia od , ca ri Af da ha an mp ca a va ca fi ti mi o, bastiã fu es es er lh mu s sa es ”, al ug rt Po r po us De de o in re sonhava com ““o

maçavam as fronteiras entre o Bem e o o Puro e o Impuro (Nossa Senhora de o Popular e o Erudito. Como no caso ques Le Goff, suas formulações eram

Mal, O Sagrado e o Profano, joelhos, os peitos de fora...), do dragão estudado por Jacambíguas e multifacetadas.”

A leitura que delas fez a Inquisição foi unilateral; coerente na lógica escolástica, fiel aos textos dogmáticos, atenta à qualificação de heresia, afinada com o saber erudito. Daí o desfecho trágico de todos s da ui eg rs as pe ux br às as m at ra be ca as fi ti en id s, e so qu es oc pr es ess em massa por toda a Europa da época. Dai, portanto, a predominância de uma demonização que acabava na fogueira, e não no Carnaval. E no entanto as mulheres beatas usavam de linguagem que, um dia, havia sido familiar também aos inquisidores. Para elas, concepções populares e eruditas se amalgamavam, se negavam para depois

se recombinarem: eram, quase sempre, indissociáveis € indistinguíveis. Para eles, investidos do papel de juízes de idéias e de sonhos,

era necessário separar o que muitas vezes era inseparável: o Santo

Ofício desempenhou nos países católicos um extraordinário papel aculturador, para tal lançando mão da violência na sua acepção mais e , as ia qu nc râ le to à ra pa ço l pa ia es or it is qu in ão aç na a vi ha o larga. Nã

a

123

sempre presente nos anseios populares; V eja-se o tri nocchio, o moleiro friulano est udado por Carlo Ginzbure” de Me. santas não poderiam se r confundi apartadas por meio da f orça e do

124

6

A S O R O M A E D A D I U G I AMB a ç e b a c m e s s a l u m à s a t n a De s

at th n e d r a g a as d: ba d an od The Church consists of go t a e h w s ha at th d el fi a as d an has weeds as well as flowers, e er Fl .. d. ba d an d o o g th ke ta at as well as tares..., a net th re he d an ; st be ry ve e th a, ye — d are good men to de foun ch as Su t. rs wo ry ve e th a, ye — d un are bad men to be fo shall as so al ch su d an y, or gl in at se t es shall have the high ser). mi of es am fl st ce er fi d an st we lo e th be cast into 692 Samuel Parris, Sermão em Salem, 27/3/1

em tu ti ns co o ac ní mo de or am e ino div or am re ent es As relaçõ tohis os pel o lad de o ad ix de te en am ic at pr s ma imo íss objeto curios a e qu o nd ta di re Ac r. la pu e po dad osi igi rel da e ão igi rel da riadores análise do imaginário e das sensibilidades do passado pode contribuir de forma significativa para a compreensão da história das sociedades, procurarei examinar o assunto partindo de representações iconográficas, passando, a seguir, para sua presença pontual na historiografia e, por fim, recorrendo a casos documentados por fontes inquisitoriais e eclesiásticas. O periodo que se abre com o Renascimento italiano, ainda no século xv, e se encerra com a Revolução Francesa, é um dos momentos mais fascinantes da história ocidental, época rica e contraditória, como têm ressaltado muitos de seus historiadores. Ao analsar O Renascimento, por exemplo, Jean Delumeau falou de uma

as ira d

e e de outra, negativa mas igualmente importante, que aviveu e que muitas vezes a fecundou.! O tema de que qui só pode ser compreendido à luz desta ambiguidade mo.

E

Será pois remete à onipresença de Deus e do Diabo no universo

idiano e afetivo das populações de então. 125

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versão para o mesmo êxtase escu lni nor do quadro, à direita, encontra m-se o livro aberto e o crucifixo, instrumentos da mística e da meditaçã o. Logo acima, a santa levita cm extase, carregada por três anjos e tendo os olhos cerrados como na escultura de Santa Maria della Vittoria . Na parte superior do quadro, na diagonal esquerda, um anjo adult o se encontra prestes a es-

petar uma seta incandescente em seu coração. A ponta bem vermelha da seta faz com que ela pareça um pincel, e dá um tom meio

ingênuo que atenua o clima místico do todo. Mas há a vertente demoníaca, evidentemente menos difundida

do que a beatífica, desde cedo encampada pela Contra-Reforma. De-

la, talvez a representação mais impressionante sejam as gravuras de Hans Baldung Grien, o mestre alemão da técnica do chiaroscuro que viveu na passagem do século xv para o xvi, de 1480 a 1545. Entre

1512 e 1516, num tratamento já maneirista, retratou bruxas às voltas com a preparação do sabá, o conventículo constituindo assunto pr-

vilegiado para uma abordagem mais livre da sexualidade.? O erotis-

mo desta série é mais variado e cru do que o das representações €X126

o, çã ba ur st ma de s õe aç tu si do an it ic pl ex u s, º so ca os s bo am Em . de da li ia st be e a ein táticas E pi a su e, ec ar ap o nã — o ab E arnal — Deus OU O Di a E o, çã ra O , eo O = s re do ia ed rm te in r po a ad sinu tá gurá sen do in

o çã ta no co ca vo ui eq in de s ra ou ss va «e. os espetos e no , se ta êx lo pe da ua en at é us De a a eo ao a entreg eir de do ta es lo pe da ua en at é o ab di o ab pa cópula com

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e ilusão o nh so de ão st ge su la pe m, ra nt co en se a de ra lo af o s, bo am Em . os en óg in uc al s ii uso de ungúento a. ci ên ci ns co da a rd pe la pe do za li ra ut ne da sexualidade é

E

fa as ic ól ab di oic st mí es io un às te en ac bj su O conteúdo erótico goo, nt me i fr so € or am e qu em o, pl am is ma to zia parte de um contex de am av on ci la re se ou m va ta le mp co se a ur rt zo e punição, êxtase e to erso iv un O ra pa o os gi li re o nd mu do e -s do forma imbricada, espraian

do an st ra , nt te co en am os ri . Cu ro ei im pr do ao an secular, e deste retorn , as ur av gr r as po ad tr us ia il ar iç it fe e br s so ra ob s da ga vo de an com a gr poucos foram os grandes artistas que se dedicaram ao tema: há a série de Baldung Grien, há uma gravura de Diirer em que a bruxa cavalga um cabrão, há Teniers, há, por fim, já sob o impacto do [Huminismo, os Caprichos e os sabás de Goya. Mas estes se inserem em

contexto diverso, quando a feitiçaria não mais atemorizava as popu-

lações, sendo motivo de caçoada, de ironia, crença de gente ignoran-

te e supersticiosa.? Por outro lado, muitos foram os artistas de reno-

me que se dedicaram ao tema da oposição entre Deus e o Diabo, estendendo-se ainda sobre a erotização do universo religioso, o des-

pedaçamento do corpo, o suplício. Fica desta forma sugerido que a

temática da bruxa, assim como a das uniões místico-diabólicas, eram manifestações específicas de um universo mental mais amplo, mar-

cado pelo medo, pela iminência do desastre, pela catástrofe cotidiana e, sobretudo, por uma sensibilidade diversa da contemporânea,

manifestada na linguagem crua, nas maneiras bruscas e rudes, no apre-

ço por espetáculos violentos e sensacionais. Afinal, como bem viu Philippe Ariês, desde o século xv — e com certeza a partir do século XVI, Quando mais se perseguiram e queimaram bruxas —, os temas

da morte tinham se revestido de forte sentido erótico.*

oa nal

meeaçÕes esnosiiLicas são pródigas no tratamento do ii

ação, €

q quem

veja no maneirismo

Açor

a guras irreais e distorcidas de Pontormo, Beccafumi, El É O — um registro veemente do sadismo reinante, reminiscência

membros destronçados nos suplícios:

“127

A teologia apostinia na do pecado cri 4 Então, uma obsessão

na e origin al pela lux úria, pelo a) dez; neste museu ima ginário, em que e nizadas, a crótica é r anREha, Graças a ela : SOnlap en s dp er à , à c O n t emplaçã transforma em obr a pia, já O da

que se tratava da carne de « felizes ou vãs tentadoras, ou mesmo a da Virgem e de s;“*CPendidas estas, quantas Ágatas, como no célebre quad ro de Zurbarán ti pelher, oferecendo gent ilmente os sei | Finas sobre a roda ou Marparid| as ANdeja, quantas cre. s ion tal) Cata. :

drTe

á

De Mantegna a Caravaggio, suce dem-se os Davis co las,

os são Sebastiões crivados m a cabeça de Gode flechas e portador es de expressão Cheia de dor, Judites serena s c cortesás exibem cabeça s amputadas de Holofernes, que se ramific am no emaranhado das veias sANguinolentas expostas em primeiro plano ao espectador, como num magnífico quadro de Lucas Cranach no Kunsthistorische Muscum de Viena (fig. 6, entre as pp. 68 € 69). Golias, Holofernes e são João Batista aludem ao tema da decaPitação; são Sebastião, santa Úrsula, sant a Ágata, santa Margarida, por sua vez, representam a proble mática mais lata do suplício, Seja para reforçar o poder dos reis absoluto s, seja para consolidar um novo tipo de justiça, seja para enfrenta r à turbulência decorrente de credos religiosos diversos, o Antipo Regime é o te mpo dos suplícios (fig. 1). No espetáculo sangrento dos corpos qu e pendiam das árvores, se espalhavam, desmembrados, no cadafalso das exec uções, apodreciam sob a gula das aves de rapina, a violência se mostra va (ão cotidiana e frequente que corria o risco de banalizar-se (fig. 2). Mes-

mo se indício de mutação do poder, os suplícios acabaram ema bendo o imaginário moderno, colorindo-o de tons sombrios.

Não € pois de estranhar que a obsessão com o suplício, Bia

as execuções, com o dilaceramento entre Luz e Trevas RR Rd torma impressionante a iconografia moderna: templos de Jerusa É coalhados de cadáveres, que os soldados passaram pelo fio A Ed da; cristãos arremessados de penedos por soldados romanos; Td

gens em que as cruzes e forcas se erguem contra o horizonte AT isso retrata menos o mundo antigo e bem mais as aldeias

sad

pelas tropas que combati|am na terrívívelel gu guerra dos Trnin os, LANeDstOe ictaa Ando

contexto, Os monstros mortos também assumem signi

ac

ANE

tante: dragões atravessados por lanças contorcem-se sob a ' AR princesa e de são Jorge, ou a horrível Medusa EUR : o (fi 9, vendo, com pavor, as serpentes dos cabelos fugindo NS O ca Mesmo os animais surgem sacrificados aos magotes: Lucas 128

| | ] |

o d u a v o l e p , o d pra o l e p , o d e r o v r a pelo s o d s o c r a s o € s n u hifres de

o

rana

ch. s o Moço

s a i r á n i d r o a r t x e s pintaram dua

,

an s de an gr 05 o nt ta va da se ob io íc p u s o d ra mp o co i r de á n i o g ic st a mí m i o O) t n e m a s a C co ti íp tr célebre

menores. Nomling (1433-94), O painel da esquerda re - Me de o ad at tr o nt sa do o oç sc pe O no Batista, sendo =. Gérard

de , es is mb Ca de o t n e m a g l u J el ív a decapitação , E 9 () terr lua ig a io me e lo cu sé um de cerca em pa ci te an o det

doidos Fan

) 69 660 (1 t d n a r b m e R de , ia Lição de anatom relava

at se s re ve dá ca ar lh ta re de to e E destitia r”de E certEamente oa su» poon a D meignts.e 3 in € 4) (f Ô Ga me ro o vi Da de la te Na º .! al nt me so er iv a outro un g: e à r gi er em do an ix de e, st ve de sua pele como se fosse uma Íssimo be do as en ap to je ob i fo o nã o iã st ba Se o Sã a. nt le no ui ra sang muido m é b m a t s ma , 7) . ig (f m u c s u M he sc Mantegna do Kunsthistori 66) em . -c 04 15 . (c n e s s e m e H n va n Ja to menos conhecido quadro de ns, be Ru de o ul íp sc Di . is la Pa t ti Pe do exposição na Galerie Dutuit

nsa de io ír rt Ma um ou nt ) pi 78 16 359 o flamengo Jacob Jordaens (1 ear ap a nt sa da o st ro as ao id ig fl in as ur rt to as e ta Apolônia em qu cem com nitidez.!! Marcado

por David,

Massys e Diirer,

Jan

Pro-

voost (1465-1529) evidenciava o suplício em suas obras de tema do ja te ar qu o es nd fu o do an , pl el o ív ão rr ix te é if uc o: Cr a religios su por lanças em riste, o primeiro plano dominado por velhos com €xpressão de alegria sádiça; o Julgamento final impressiona pelo cuidado que o pintor dispensa ao inferno bruegheliano e charivariesco

da parte direita inferior; por fim, num tríptico aparentemente pláci-

do em que os patronos se fazem ladear por são Nicolau e santa Go-

delina, perde-se no plano do fundo a cena de uma mulher sendo en-

forcada por dois homens com um lençol torcido.!” A atestar o vigor a E UE do MUpUIO no Renascimento estão até os objetos

uçio de Rintados TiainGu m x pecurlo oa e e pis c m A éaexlisiteántses em XVI, Tal imag ário se do sé Et ã a E = 1 pat quer Ga biblica: O que interessa E que, Aces ri

te os te en am st ju se as ac st de a r i p E ES mas ligados ao suplici O Ri sOa p s da ha ec fl o d » E

bre um rochedo, !º ME e fícil não ficar

dio

duas colheradas de so

ça c oram

o sobre os filhos mortos,"

Di-

a mental de homens que, entre ê ab pa, compraziam-se em divisar, no fundo do

,fernO esjorr1ºo sangui guinolento que que Prato Holo

es

129

escapava do pescoço decepado de

tica da onipre sença de ções do Juizo Final

A qm

—— e



a

o

fi

Ra

todos pertencent es à coleçãFã do já menciona Quadro sobre o f d o Museu viene undador a ordem Jes uítica exibe desvairado de misticis u mo pao loep, O santo se ? Srgue no ce Jos; no alto, à esquerda, fogem demônios | ENVoc; lto na revoada d Os an-

ão.

Ônios em fuga

"Sé, COnstituindo o lado d emo| s, à luminosidade vibrante do santo e dos anjos que o rodeiam. Céu e Inferno, Deus e o Diabo

também se polarizam na obra de Luca Giordano : vestido de azul, com enormes asas

brancas e uma espada na mão, o ar canjo tem atrás

RE

DO

de si anjos e querubinzinhos envoltos em nuvens, e é circunda do por uma intens

a luz amarela que contrasta com a parte inferior do quadro. É aí, nesse espaço negro e sombrio, que se acotovelam e se amontoam os anjos decaídos, orelhas pontiagudas e chifrezinhos emol-

durando-lhes a cabeça. Com o pé esquerdo, Miguel pisa de leve um desses anjos, enquanto os demais berram de pavor. Os pintores menores abraçavam padrões iconográficos análogos. De Pieter Pourbus (1523-84) é um Julgamento final (p. 144) em

que, enquanto a corte celeste se compraz na contemplação divina e os justos vão galgando o reino dos Céus, as almas danadas se vêem arrastadas por diabos e sufocadas por serpentes. !º Por fim, as naturezas-mortas flamengas também sugerem a Té-

lação entre erotismo e suplício (p. 145): mesas, banquetas, bandejas, travessas regurgitam de aves mortas semidepenadas, de peixes

molengos com as guelras entreabertas, de ostras úmidas, de caças

parcialmente retalhadas por facas e facões. Do espaço etéreo dapr tica e da religião ao mundo concreto dos alimentos e da subsiste

cia, dor e prazer se opunham e se atraíam, compondo um pais vasto

e sugestivo das sensibilidades e da mentalidade

o

130

de então.

IU S O , a d i t r e v 1 n e v a h c m e , stissem 145) de que fa-

. P ( s i a m i n a s lo

.18 Em

=

o

úblicas

o, aos olho” 20 bagos

i s í f s o t n e m r to s o d o ã ç a t i c a , k s o s a c e d s o s d i c á l f algun s o gá l s o n o m o c a d o t m a p é inequivoca, u c O o, d n a r g n a s s a t s as cri e m a r b o d s e d o N -se z a f , s o r t u o m E 9 mai n a n j s e r e s e d as l p i t I ú u m s a m r o de f a z e r u t a N a m i s s í nt a s s e r e t n À . ) 8 iais (fig. z s e a l C r e t e i P e d , ) 9 . g i f ( ) 7 2 6 1 ( o ã ç i s o p x e a t s e d o l p m e x e m u é , o ener , as ti fa m e s o d a t r o c s e fimas descascadas, pã a e r t n e as tr os , s o ç a d de uvas, nozes em pe Eid Tl-

tranqúilo

convívio

num

o d a ; n g o u ã g o ç n e a s h l a o t n e a r ; st , e ão u ne t o n u e t m a l e v a v bertas d dpmiuito pro O N , o t n i t s i d n i já o O rec; hei sa e b i x e a t i e f s e d i m + torta se E O

gomos e

? a m u a n i e r gira m berana, e d r o a e s e t r e v n i , Vez a m u s i a M . o d u t € s o h bico, ol a r g e t gi a n i r se o c i n ú o , € € o v i v e c e r a p o t r o m o h | as coisas: o bic | . s o ç o r t s e d de o d a h n a num mundo mal am o i r u c s a i g o l a n a a m e t e s rem a t r o m s a z e r u t a n as s, ze ve s Qutra 1

E

=”

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Toei

:

instrumen«as. Inteiros mas recobertos de lanhuras provocadas por Tmor xes pei OS as, ent nol gui san tas pos tos cortantes; retalhados e em o gat um por s do da ar gu são 1) 166 87(15 en nss iae Adr der xan tos de Ale 9), 177 99(16 n di ar Ch B. J.de , aia arr A bra lem dro vivo! Este qua

sen em o gat um por o ad rv se ob o rad ace dil o tod que retrata o animal se s na ma hu s çõe sec dis as do an qu 8, 172 de ar dat tinela.2 Apesar de generalizavam e o conhecimento da anatomia animal avançava já em perspectiva científica, não parece arbitrário reconhecer na obra do pintor françês ecos do imaginário atormentado dos supliícios. Mistura entre o tratamento dos temas bíblicos e o de naturezamorta — indício provável do momento transitório em que este último ainda não se firmara com autonomia — é o curioso Cristo na

=".

casa de Marta e Maria, de Joachim Bueckelaer (c. 1530-73).** As

prioridades temáticas aparecem invertidas: ao fundo, tre os de Betânia, como num detalhe; na verdade, o dominado pelas atividades domésticas de Maria e de como se sabe, representada sempre com os atributos

An a aa A iádro pi e e les

a

É aa

e

Jesus prega enquadro todo é Marta — esta, da dona de ca-

eiref da tam tra ãs irm As ” ta. cin à e chaves sa com um espeto. No centro ado direito domina uma profusão de frutas

ras assemelhadas a genitálias —, animais mor-

131

E1 4 o

AARREITOR

MUSA"

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com US A | à Mandi BORA r i b u t o s é d a i s u A a v l a r a e M . " a r i a A M M G a = P d ad Nor svsagr"a l ena ou à do e ' q Próta: no Mari tem p odem S€ benefi UR MNRO Se 4 c i ar de in Parenteme nte Ueatória cur. s — Do O eh sentido mais ln Univers to, pelo imagin ário do SUpli cio e

alegórica. SACA

Pedaços

ONIPRESENÇA DE DEUS E DO DIABO Nada melhor, pois, do que as representações artíst i

c as para fi. meio de las, mais do qu qualquer outro documento, e com é possível ttenr-se as camadas profundas da alma humana e do inconsciente. Mas OS textos escritos tam. bém remetem a esta sensibilidade peculiar da sociedade moderna, que teatralizava sentimentos de torm a até então inédita. Escritos mis. ticos, relatos de vidas de SANtos e pr ocessos inquisitoriais, por exemplo, permitem-nos rastrear igualmen te os caminhos tortuosos do amor Xar

a sensibilidade

de uma

epoca:

por

divino e do amor demoníaco. O século xvi português conhecera alguns mí sticos de peso, co-

mo o monge arrábido frei Agostinho da Cruz, d, Hilari ão Brandão, frei Sebastião Toscano ou o célebre frei Tomé de Jesus (152982), que seguira com d, Sebastião para a África e, sobrevivendo a Alcácer Qui-

bir, tora preso pelos mouros. Nos Thrbalhos de Jesus, obra de mística cristológica, tratara da entrega total do místico ao Amado: “6 amor divino, possui-me todo e de ti possuído arroja-me por onde quiseres, alaga-me em quantos mares quiseres; espedaça-me via quantos tormentos quiseres; porque em ti e contigo não poderei ser perdido. Ouve-me, amor divino, e pois estais mais faminto de das do que eu sei desejar, come-me, digere-me, muda-me em ti, não ve]

em mim em toda a criatura senão a ti".26

|

O apelo violento e apaixonado do frade aludia Ri

Epi

ao suplício, desvendando mentalidade que rimava amor com É zer com sofrer, e coloria o todo com uma certa concepção an ági aixão,

TR

ni episódio da monja italiana Benedetta pa o e estudado por Judith Brown, erotismo, sacrifício e suplício ap 132

E

o

o

4 asament

mistico,

sobre atol

, fi a l e p , o ã x i a p a h n i m a d s a e as g que as Mal a h c a h n e t a v t o a N d e u p e u q a putos e u q ruz, va, dig C o a d n a A v a t s e o puatoTes d an O cê u q e v I | e j o eu o m o c quem h , | a ç º e b a e c d a d a i n c i e l e f s não inta s e s u q a a n i a p s s a abert a sinta dor, ma res l e e l a b m a s , o ã e u oraç q a d a s u t a r u g p e d os não spanho ida, DO cratar d

e di: u q o n s o a ã ç a l e r t en us! “Quero s e ]

respeito

HO

a e c da v i t s O i n p I a V d I e t L n expoe No e d n a r g O , z u r ão da C , Os o a c J i r ó e f a d t e o m d e u a q bem e s ao l , a c i t ó r e m guage

n h a r i ç e t N | = CO eiro

a e o qu

dois

r o p s a n e p a s o d i v i v m e r ro, passíviez:is de sc |

, d l e v í n o r i e c r e t O N . s o t i e l e s n algu

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S. ÚIUImO

Ú terc

al el a i r r e u q i u q A , r olor a d a n a z n e i m o c ya . , s es o or i fl D as | e d m e r s b a a z n e ba a l a Ya, va s a r a p a i n r e o s e l g u ntendi e s y en es vi la s do to e qu uede p ma no e u q r o p , o z o g de su e rt pa es rl da y , la el à n antá es v que ja ayudase o d n a u c a m l a un está l d u C ! os Di e m a l á V ! Oh ) mil depanto 202 ar. |... e c i D . r o n e S el à r a b a l a para s ua ng le e es fu a ri er ] sd! Toda ella qu .. [. . sf an e en ti la n ie qu a ntentar co a e pr em st do an in at , os satinos sant nti» se os rs ve r ze fa de z pa ca o no entant a er a, nt sa a z di a, ct po r se em [S er cu su o d o T ] s: sa zo go e as te doid n e m a c n a t l u m i s s, na pe as su e dos sobr n esta

co e qu o z o g el r a r t s o m ra pa e s a z a po y alma querria se desped pena siente.?

nu às mo co ma al da a av er od ap se No quarto nível, o Senhor

as rt ce o nd ra st mo lhe e a ir te in -a do an ev el ra, ter da vens dos vapores

em desmo co e ec al st de ma al à a; ar ar ep pr lhe Ele e qu no rei do coisas vi mo o de id lh to o rp co o l e íci e dif -s do an rn ão to aç ir sp re a a mentos: Estando ansi el alma buscando a Dios, siente con un deleite grandísia dy casi desfallecer toda con una manera de desmayo que le

E rã NT

Fies

U

O y todas las fuerzas corporales, de manera que,

pena; no puede aun mencar las manos; los ojos

a a quererlos cerrar, u si los tiene abiertos, no ve casi nada

no se os sentid los de que Ansí oye. lo que y ansi placer, su a dejar de acabar la no Era

MPIQVOCHÁ PRN antes la daúan Hablar

e Bor demás, que no atina a formar palabra,

ni hay fuerza, o ? a

toda porque ciar; pronun a poderl mM inase, para la fuerza esteri or se pierde mij y se aumenta en las de el alma para mijor

de r goza r pode convola a dO ah

su

a,

gloria,

E

El deleite esterior que siente es grande y muy cm»

:

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,

à

Durante algu gum m tempo, pairaram sérias dúvidas quanto ao cará-

ler divino d as bodas de T tresa:a: seus escritos foram considerados coisa do demônio30 133

Com

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tece

b;

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de

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“4 análisos eliganteAsM,Os,ar

5, Acerca da

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Huidez

o historl;

de frontelr;

A

tor aliam, Plero e: dis 1

cutível

Acses c alde des talianos cl tempo de “P era, numa a tmo prodígio, o M ilagre, O insóli to per cotidiano: a samnt aca bruxa T a d o pos » C u r a s ; uma us diferente) rel lo Lam as duas f n A C E s | e quivoc 44, O d na tendência ireito Co) neurótica ad afa a ve s t a r s e da calidad imaginário e ao e, 4 vinga merpulha no mu " n d o V i s i onário”, O santo trico mago do Gx l ane do corpo ma o de c erado por cilício teria, como às s e priva ai bruxas dos sabás , poderes x; UM ÂnICOs: voltas cof ten 03 mis e a | tações à santo Antã o ou com tentati vas de coGrriipir 9 FUMO pecaminoso de “mulheres de corpo bel issimo” pertenceriam “a mesma cultura da invers ão, 1) 4 qual o sagrado esc indi a a outra face, a do sacrílepo, que co ntundia construção com des FUIÇÃO, O tudo

com o nada, o possível com o i mpossível”. Pureza e porcaria, inde . céncia e sublim

idade tinhari limites tênues e incert os: “Dir-se-a qua-

“e que 4 ambiguidade estrutural da cultura folcló rica, com sua Ólica bidimensional

com

nor"

e sua

utensilag em

mental

de gume

duplo,

Invadisse

seu animismo demoníaco os espaços em que à cu' lturaa tentava

elaborar

sistemas

diferentes

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de

conhecimento

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Com base em relatos de casos de a O O RC Hugh Irevor-Roper percebeu bem a proximi ne S a “ea

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neo e o sab, entre a beata ou van b , as dos sé culos XVI CE XVII, caça às bruxas texto cm que s€ engastou se .

losas,

que se votavam a Deus, se

oia aa ART Que: virgens phos b » 4 menos piedosas, tendo» onNSsi CO LAde CTravam noivas de Cristo, e as bruxuaas concubirdeia r s a ?! 92 á,, se consideravam as 5 ne ligado a Saattã : lhante, mas mais arququivístico Po

l ancorado em material a ci ai XVI síécle, Roo » o “+ rp e ú ; is tr ats et neso “e 4 rc que, em Mag ie rs € | 4 fr an ce l se ' s in qu ie ta nte dos convento ve 1610 androu traçou o paine 4 des coletivas em

ae ESG

pa

le chamadas de “processos escandá Em

como

Deus e o Diabo

O es ando presas do Maligno atras RRsaRA DA HORA | m Ai x, Lo ud € un Suce

o

cuntos, as freiras

rópria figura do

uvicrs, nos convenr 1.044 ivas de Cris

ssivamente € devotas, NO ra it piel spitalárias, mulheres tos de ursulinas e prho esa da lubricidade do Diabbo, que desejava COP onizado to" tornaram-se

tas. O caso mais céle lar com clas. €

bre

[34

foi

o

de

Loudun,

protar

as su de as ri vá r po e s, jo An s do a an Jo e dr ma , ora Ursulina

pela ou E ele convento, o Diabo teria sc encarnado na pessoa do freiras. se rec inteligente que o lt cu m me ho um , er di an Gr o ta contentor ios intelectuais de destaque na época. Grandier foi vár m açionava 00 ajou França afora por alguns anos, mado, é Joana dos Anjos vi , os ic bl pú os sm ci or ex de s vé ra at o os al nd ca es lo y espetácu ac

ou as ad rb ba es er lh mu as mo co à curiosidade popular s nope . os mp te es el qu na pa ro Eu a am om nlfópagos que também percorri à

.

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S A C I L Ó B A I D S E Õ I N U S A S A DAS BODAS MÍSTIC Fontes escritas de natureza inquisitorial confirmam esta ambi-

glidade entre divino € demoníaco,

Vou começar por um caso espa-

rez, Cru la de na le da Ma de ia tór his da se taTra Xv, ulo séc do nho!

ligiosa de um convento cordobês que toda a Espanha reputava por

anta, Repentinamente, em 1553, descobriu-se que a santidade cra

falsa aparência e encobria a natureza demoníaca da freira: presa,

“confesó espontáncamente que habia llevado a cabo todas sus acclones bajo la influencia de Satan a cuyo gobierno se habia entregado en su infancia, arnadiendo que tenia trato intimo con é desde hacla más de cuarenta afos",4 Tinha apenas cinco anos de idade quando lhe aparecera pela primeira vez certa visão, tomando-a por um anjo de luz que, às vezes, aparecia-lhe também como Cristo crus

cificado, incitando-a à santidade; mas, aos doze anos = tempo de puberdade —, a tal visão lhe declarou ser o diabo, Madalena pac tuou com ele, que em troca prometeu “sustentaria por gran tiempo en grandes onrras”, trazendo-lhe um negro nu que a convidou para “deleites carnales”, de que a mocinha fugiu por achar o parceiro “tan feo", O diabo zangou-se, mas logo fizeram as pazes, € no mes» mo dia tiveram deleites carnais, que se prolongaram por vários anos, até O lempo em que foi descoberta e confessou,* Um outro caso espanhol, ocorrido no convento das Madalenas

de Sevilha no ano de 1576, sugere que algumas dessas projeções imaginárias tinham raízes no universo real. Vívia no tal convento desde à idade de nove anos a jovem Teresa de la Concepeiór, linda e dis reta, “de carácter retraído y no muy dada a ser la primera, más bien

lendo seguldora que acólita en lo tocante a la vida del convento”.

Certo dia, à madre superiora notou que Teresa, então com dezenete

anos, “Ievaba bulto de prefiez o semejaba cossa assi, e Inquiriendo de la rea rescebió por respuesta que Dios se lo habta mandado, que 135

y mujeres,

bia que Signi ficaba

RO Imaginaba

é VOZ estranha, lev antou

que então pediram à ma dre su eriora que se encerrasse numa cela | com a professa. '“Hallóse, con espanto de todos, que

la dicha mon ja no posseya atr ibuto de mujer y más

aum, que era varón firme y bien caba l, que daba espan to verlo entre tanta c

oncurrencia de mujeres?” A monja-ho mem foi presa, mas acabou fugindo das garras da Inquisição. Quanto a Teresa , negou qualquer relação até o fim, até ser esclarecida pela madre superiora sobre ““las cossas de la pencración”': só aí aventou a possibilidade de ter a gravidez advindo de uma sesta que fizera ao lado de Catalin, que tivera '“'convulsiones y plazeres"'; ela mesma nada percebera en lo tocante a las partes de la gencración por estar en suchos y dormir en proximidad por mor del frio”, Mais do que devassidão, Epi se de pura ignorância quanto ao próprio corpo: enamorada de odo t o r: tin dita O a acre tar a j edi acr ja mon em jov a , sor fes con seu a ser como dis que, de fato, realizara bodas místicas com o Salvador.

No século xvil, em Portugal, a Inquisição degredou Ee 3 se s Ela e. ad id nt sa sa fal de as ad us ac , es er lh mu as ri sil vá u vi o E N E A P o a s O s la santas e proclamavam sua virtude, mas ne o d n a s u a na nç re fe di a e o qu nd la ve re , sMecnHãOoS brdeuxviasa muito à diferença dos níveis fig pre a |

se volvidos nessa relação o nt sa o o, tr ou do ; do la m u « de

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136

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Bra-

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po s e r e h l u m s sa es o, nt ta No en ” e. ad id os gi li re da cerca agr na tradição mística erudita, impregnada de Esmnnia

a

casos os m sta ate mo co es, str ilu s mai manifestações

de

Jesus e de santa Teresa. Mulheres simples que eram,

rorma curiosa e peculiar O amálgama de anseios mis-

s ei via s, ne tu An a ri Ma rés, das a Um os. tic

Es q; has ran ent as çra Ero ceu no em rar ent e m do purgatório € duas a mais que santa Teresa — a versão popular a av am ch m, ia et om ac a que os tic mís s ase êxt Nos erada.do Carmelo, “dizendo sempre aa que só a santa sabia o que EEN O fundo de sua crença é inegavelmente calcado na vida iatá

ê Ávila, como

revelam

as palavras que proferia

quando

tua a é nde gra o quã e, est cel oso esp as, sej to ndi “Be estava fora de si: do da un in era o tud es, siõ oca tas Nes e””. dest m'a nde gra luz, é quão

tra que luz ta mui a pel ras atu cri as ver ia pod o “nã : ial est cel luz por

sia de Deus”; quando olhava para a hóstia consagrada ou para O intou

TiOra panto y más entre $ aca. qualra soide de alina, ra “en ormir atavaDeus, o todo o Bragavam

ão viu

s fenó-

(es Ch-

jo bres,

náticas

cálice, deles saíam três resplendores que a ofuscavam e obrigavam a desviar a vista.'* Nas suas visões, a linguagem erótica é mais explícita: “estando na oração, sentira interiormente que Cristo Senhor Nosso se lançara em sua alma, e ouvira interiormente que lhe dizia que ela era o seu leito; ao que respondera, também interiormente: 'É possível, Senhor, que vindes a quem vos fez estas chagas?” E que o mesmo Senhor lhe tornara: “Aí verás quem sou eu” "3 Degredada: para Evora já no século xvii (1758), Maria do Espírito Santo, outra ré do Santo Ofício acusada de crime de feitiçaria, também teria devaneios eróticos com Jesus. Furiosa por querer se sangrar e não ter a aquiescência do sangrador, praguejou “que importava pouco que o sangrador lhe não fizesse a sangria, porque

o menino Jesus a sangrara interiormente aparando-lhe o sangue em

uma bacia, e lançando-lhe sobre a cama uma colcha guarnecida de

diamantes". Difícil não ver no sangue e na colcha rutilante alus6es ao defloramento ou à perda da virgindade: é conhecido de todos o hábito mediterrânico de O noivo, após o casamento, mostrar

ãos convivas das núpcias o lenço! conjugal manchado de sangue — prova da honra da noiva e da união consumada.

as Ea sei ápiiho ao

pla as

m tico,

ava ainda asas à imaginação para vi-

co ocando-o na encruzilhada da religião

popular, com a tradição do maravilhoso:

ae ali se achava o noivo presente, seus pare ntes já defuntos, e toda

corte do Céu, incensando-a alguns anjos, pondo-lhe outros nos om137

n

os

que na ação de se darem Petição, e para maior segura

É

esse estado

a

re

“Mm tinteiro, lho prometera por letra,

“SPacho, mandan

de coisas.

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A e E q

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No mês de agosto de 1734 Maria apresentou-se volunta r:

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» CONStantemente huDesesperada, chegara a clamar

pelo demônio, que, misteriosamente, sem aparecer, passara a ajud áa pe E RR Mordida pela curiosidade e sempre atenta : ontissões de pacto demoníaco, a Inquisisão pergunta se havia chegado a se entregar ao diabo, ou se pensara no assunto; só por um dia, responde Marcelina, quando saíra à pro-

cura do maligno de noite e dera com um “vulto muito alto, e lhe parecia que tinha mais altura do que ela, na figura de um bode, não sabe dizer de que cor, porque tanto que viu o corpo se lhe arrepiou,

e o lume lhe fugiu dos olhos, e ouviu ao dito vulto articular estas palavras = Aonde vaz = ese levantou logo um pé de vento tão grande que ela cuidava a deitava por terra... O curioso de seu depoi-

mento espontâneo é que sugere crença então dif undida, reveladora

de aspecto curioso do imaginário feminino: “e sabendo ela que o

demônio torpe tem cópula com algumas mulheres, e que toma a fi-

gura de homens conhecidos, ela em toda a ocasião que consumou o pecado de cópula carnal fosse com qualquer homem que fosse sempre se benzeu primeiro, para que não sucedesse ser a cópula com O demônio, na forma que ouve a costuma ter com mulheres, o que ouvia dizer comumente... Há certa lógica na fantasia, pois relações 138

a o derav consi como a, ficad quali ou es simpl cação rorni sexuais —

quali nesta a es pr , grave do peca santo Ofício — constituíam dade, ao reino de Satã, sempre pronto e apto à ocultar-se por detrás no deido suger tica , disso Além . cidos conhe Os o mesm de homens, poimento de Marcelina Maria o temor ante o universo masculino,

nal. infer o taçã cono nto, porta ndo, toma idade « alter

Um ano antes, na mesma cidade de Lisboa, uma outra escrava

negra, anãzinha, é acusada de bruxa Junto à Inquisição. Chamavase Catarina Maria, tinha quinze anos € não aparentava mais que treze; nascera nos matos de Angola,

fora batizada no Rio de Janeiro

« afinal dera em Lisboa, levada por um soldado que a vendera. Na época de sua prisão, servia na casa de José Machado, beneficiado

na igreja de Azambuja e cantor na igreja patriarcal da cidade; o próprio senhor a denuncia, pois a casa toda a odiava e tinha medo dos feitiços e malefícios de que era capaz. Semelhante em tantos pontos

ao caso de Marcelina, este dele difere na confissão de cópula demo-

níaça e na profusão de detalhes com que é narrada. A escrava anã endossa e repete todos os estereótipos demoníacos correntes na época, conhecidos da população e presentes na literatura demonológica

em que os inquisidores se apoiavam para seus interrogatórios. Desta forma, referenda que o ato sexual era penoso — “'lhe fez grande dor, e deitou sangue do seu vaso natural” — e, apesar disso, longo; que o corpo do diabo era frio e áspero; que o Maligno só aparecia à nolte, “e sempre a cópula de noite na cama, e quando ela se deitava nela, e era das dez horas para diante”, como verdadeiro Príncipe das Trevas. Era ainda negro, fato que reforça certas versões européias acerca do Diabo mas que, seguramente, encontraria eco no imaginário de Catarina Maria por ser elá negra também. Apesar do defeito físico e da cor, o diabo a valorizava: da crueza desagradável de sua confissão, ressalta um certo tom delicado quando diz que, ocorrendo-lhe que devia se casar com algum preto como ela, “o Diabo lhe disse que bastava só ele para marido, e não havia mister outro, nem houve preto nem branco e nenhum homem nunca teve, nem procurou ter cópula com ela, só o demônio é que a tinha, e sempre na figura de preto...44 E de 1727 um caso muito interessante, que engloba elementos presentes nas histórias de Marcelina e Catarina Maria — o trato dolorido, prolongado e desagradável com o diabo; seu corpo frio, as-

sim como o membro viril; sua exclusividade como amante, sempre

exigente da fidelidade das concubinas; a solicitude com que ajudava

nos afazeres domésticos, uma vez saciados os torpes apetites — €

139

» € Não negra:

qual era a verdadeira | diversas vezes, diz ela, o demônio se mostrava

na forma de Cristo S enhor Nosso na Cruz com os pés de cabra, ele procurava esconder, que e encobri-los, e lhe apar ecia também com a cruz às costas com pés de gente mas à cabeça com dois COrnOSsItos, que procurava encobrir com um a cabel eira; também lhe aparecia na figura de Nossa Senhora, que vin ha com seu capelo vestida de seda vermelhada, e também lhe via uns corn itos na cabeça que ela proc urava encobrir com o capelo, e no braç o trazi a à forma de um menino , mas não lhe via a cara: e também lhe aparec ia na forma de sacerdote quando vai reve

stido para o altar, com pês de cabra, para os quais muitas vezes olhava, procurando encobri-los, e suposto trazia mãos. de gente, as un has

não lhe pareciam serem de forma humana,

des e descompostas...

porque eram muito gran-

O quarto caso, entretan to, Telativiza a idéia-de que teria havido “ausência de ambigiiidade n O século xvi lI, comprovando, uma vez

mais, que os fenômenos de mentalidade perdem-se, qua se sempre,

na longa duração. Além disso, apresenta-se como verdadeiro repositório de crenças po pulares

acerca da natureza do divino e do de mo-

niaco. Refere-se à sentença de soror Maria do Ro sário, chamada no século de Maria Teresa Inácia, religiosa domini cana que, devido à

vida pouco edificante que levava, viu-se expulsa do conv ento do Sacramento de Alcântara de Lisboa por seu provincial . Deus lhe dera chagas, Nossa Senhora lhe ofertara o Menino Je sus por esposo, que, ne

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140

colo., “lhe fizera [...] mil carícias, pondo-lhe | a mãoE m colo vez em seu dizendo-lhe que ela era a sua amada e querida esposa”. e o

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se de a tav gos e cia, salí espo nça alia uma dera nca lhe

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“Basta já de mãos postas”, queixava-se, “pois

ro recostar em teus braços, enchendo-te de doçura e alegria

7 .. meu. todo é Já esse coração, que Maria de ios ane dev nos is stia cele s gen ima Mas nem tudo eram

iimag e dess ca típi tão , ício supl O com ão do Rosário. Havia a obsess erminação det por rga ilha na iam rec apa lhe que gas cha nário. Nas diviná, pululavam bichos, que ela não podia tirar. Quando entrava

ca o, fund to mui rão uei boq um a abri lhe “se , cela sua em » noite

a o tinh que em o que r luga s mai e livr r fica sem , fogo de a via chei

casa uma para o-a and ast arr os, ôni dem os vári o entã am rri aco corpo”; apalhe “e o, rost o he m-l ava anh arr as: cad pan de ndo moe a e escura

recia muita diversidade de bichos e monstros horrorosos”. Ao se abor-

recer com ela, Satanás lhe mostrava ““uma grande roda de navalhas

com muita gente despedaçada, ameaçando-a e dizendo-lhe que o mesmo que via lhe haviam de fazer a ela”. Por fim, fecho inequívoco da união demoníaca, Maria do Rosário, como Catarina Fernandes, concebera e parira sete vezes do demônio: três cachorros, monstros, gatos. As gestações duraram três meses, é os frutos delas, “'os levava o demônio, não sabe para que

parte'.4?

AMORES SACRÍLEGOS Amores de padres também eram pecaminosos; de certa forma, somavam o divino e o demoníaco, tornando-se como que um emblema desta junção. Padres namorados houve-os aos montes, sobretudo na colônia brasileira, onde as disposições do Concílio de Trento se implantaram tarde, sendo de 1707 as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia.* Em Salvador, na década de 30 do século xvilr, andou um certo frei Luís de Nazaré, frade curandeiro e exorcista que aproveitava das sessões privadas com suas fiéis e pacientes para delas obter favores amorosos, declarando que tais práti-

cas eram essenciais às curas.* Em Minas, na época da Inconfidência, o comportamento do

clero nada tinha de exemplar. Os bispos ordenavam visitas pastorais ão interior, fundaram o Seminário de Mariana, escreviam a Roma relatórios decenais que falavam de seu esforço mas insinuavam que [41

uno a históri a. pelo menos POr Enquanto. O Os telhetinhos am curioso orosos raia que o padre n

o

o er ec er of s e d o p e lh € sa es ser COM mais pr «im de a r o h n e s és e qu be sa e r, ado «e há de faze a h n i m s u e d a € , o ã m a tu na a or “está ag pe ”. vo ti ca o t u m , vo ti ca e só u rudo. Te

que quisemim e de adoração,

: a ç o m da o t n e m a t r o p m o c o ta di € e st si in , jo se de lo pe Mondido

ser er qu sé er, viv de s mo ve ha e qu em lei se me mande dizer à

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e , mo ti es O m si as cu m, te diz e qu O não ter susto, e Gar-mt

o os d sp n re a a su à r e p s e co fi r; ja se de ê rc Me a ss Vo cer O mais cedo que ser tua € quero cu r: ze di ás ar nd ma me e qu m si as rá se o lg ta. que ju

que O r da te de o st go de an gr o nh te eu e, qu le mo u me o r se de ru hás ... já € , go lo r se de há < , le de r do ce re me ho ac ti à só e qu eq tenho,

: ça mo la pe as st po es ad ld cu fi di Há momentos de raiva ante as

a vit à vem cê Mer sa Vos e es dad sau de do ren mor cu , bem meu vo, Bra

e não vem à minha casa, e agora manda cá o crioulo, e escreve e não julgo ser cereu o, dev lhe nto qua no to cer vivo já eu a; nad em (ala me

o O meu pensamento, que cedo espero; e não a quero enfadar mais.

Adeus, regale-se.

Há instantes de abandono, quando antevê os momentos que pascarão juntos: “eu lhe quero muito, amo-a sem segunda, e desejo estar nos seus braços para gosar da formosura e para que assim melhor sejas senhora, não só de mim como de tudo o que é meu, e adeus”, Há ainda a exigência da decisão: Meu amor, é chegado o tempo de ver e conhecer se me queres bem

e me tens amor, fico esperando ver o que obras com quem tanto te

quer, ama e deseja servir-te; manda-me dizer se tua mãe foi ou quando vai fazer a jornada, e de tudo quero ter as notícias e tuas ordens, e juntamente saber sc necessitas de alguma coisa, porque sabes tudo fica às tuas determinaç ões, e adeus. Teu só € só.

Não

fosse a violência do desfecho, o padre galante se transfor-

mando num estuprador brutal, o episódio seria engraçado e desmis-

tificador. Padres também namoravam, teciam fantasias, pregavam mentiras

para conquistar amores, apesar de serem os sacerdotes de Deus, os oficiantes do culto, os intermediários que ligavam os homens ao campo religioso. Mas no século xvrit, nas vésperas da Re-

volução Francesa, quando mesmo em Minas outros padres já fala-

vam de independ e deênci liberdaa de, lendo os filósofos ilustrados, — Como o cônego Luis Vieira da Silva, de Mariana —, amores de padres cram amores de homens, e concubinas de padres nunca se

diriam santas ou bruxas. Lament pela ari violência am sofrida, pela honra que rolava por terra, pelo bom partido que, eventualmente, 143

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4 dimensão pelo despedaçamento do corpo atinge as representações de animais.

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batia asas. Pod i am, talvez, ter med O reminiscência de Virar d O tempo em AUC amores il vam Monstros íc; , como

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os Paridos po Abeça — r-Catar: indício de tr pe dO Universo aços de lon da ão, be a r cavam mais e das Mentalida os des. mac dres, ou, deflo eiálicas, f rad as, Proce upia Mistifi. à ssavam-nos .

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Maria do Ros ário,

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me principe des sentiments, et siêge de la raison, et tempestant, et troublant par le dedans les humeurs, obstruant les organes, picquant les meninges, oppilant les nerfs, et ses esprits, et ainsi le corps tombe en convulsion gênêra-

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H vient comme un vent matlin, à attaquer le cerveau, com-

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MENTES E CORPOS Os assaltos do diabo

le, et palpitante, et demeurent les possedez tous esvanouys,

et troublez.

Le plus souvent je remarquais três bien que j"étais la cause premiére de mes troubles et que le démon n'agissait que selon les entrées que je lui donnais,

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Jean Taxil, 1602

DO SÉCULO XVIII

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NA PRIMEIRA METADE

DE UM FRADE BAIANO



AVENTURAS EXORCÍSTICAS

Durante a década de 30 do século xvirr, vivia em Salvador frei Luis de Nazaré, carmelita calçado que beirava os sessenta anos. Tudo

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Joana dos Anjos, c. 1634

indica que gozava de certa estima social; seu pai era o capitão Miguel

lhas do Santo Ofício, era pregador renomado, comissário dos tercei-

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dara pelos sertões como missionário; na época em que caiu nas ma-

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todas as ordens”: subdiácono, diácono, presbítero. Na juvent ude, an-

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taria que viera de Tânger, de onde procediam também os avós paternos, para morar na Bahia; a mãe era meio portuguesa, meio baiana; tendo aprendido latim, moral e filosofia, o frade era “'ordenado de

Nm

Rebello Machado, cavaleiro do Hábito de Cristo e capitão de infan-

ros

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do

“mo e tin ha pe Emiss tando-o, para ão p ar tal, Vários m e mbros do secul ares, clero « Ser como Antôn opolitan io Fu "ado “4 O presbíte M , anuel pj ro fulano Gr am acho: f Par. O sey pre lado, frei Man uel À bia, então Jd , Luis Alva re s de Figuc iredo 2 Entr l d-se anda uma v ásta g e Seus clie ama de indivi í “dpateiros | , carpinteiros | a , Ourives — ciais de várias p aos homens atentes de | E

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a v a t n e s e r p a es or id is inqu s o n m a v a p u c o e r p l a m ani conventículos e, pasobes ”

s do a ur it le a , pa ro coloração retro Eu e s o f r o m a t e m e os Vô ár podeuqanuíssimo tavam aos alertas que esri » ãO pacto demoníaco. Na maio oraia d dos processos, era a prpreeoocupa eci m o ção co

pacto ou com o reconh ecimento de Satanás por Deus que

tesEa de tudo, ' a

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Plicidade de De

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eh Diabo. O mito do sabá, com

Ss, parecia alheio ao universo dos iai

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João v Manuel da Piedade ne n a s c e r a no Brasil, na ci rara em muitos dade da Bah lugares

acompanhar seu s enho

da Colônia e do Reino

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Os outros dois negros, Jo sé Francisco Pereira é José Francisco Pedroso, eram

naturais de Judá, Costa da Mina , e tinham morado no Brasil durante algum temp o, lá rece

bendo o batismo e à crisma. Em Portugal, haviam também se envolvido no comércio de bolsas de mandinga, preparando-as ritu alisticamente, enterrando-as de noite, em encruzilhadas, para terem mais po der. Ambos foram torturados, confessando comparecimento a ass embléias noturnas e adoração do demôni

o, Mas suas confissões diferiram, variando os elementos da demonologia que incorporaram. Francisco Pedroso an dava em corre rias com o demo pelos campos, e com ele aprendia a preparar a mandinga. Das suas confissões, ressalta o demônio na for ma de súcub o, “'mulher bem vestida e bem

[70

bizarra”. FO

-l nesta forma que compareceu nã assembléia noturna que

descreve na

noite

de

são João do ano passado, nos olivais de São Bento, foi

to José Francisco € pela meia-noite aonde acharam o demôde mulher, e tanto ele como o José Francisco se abraçacom O Pl”

nio em Da

com o demônio; e lhe [sic] prometeu entregar-lhe a sua di com efeito lhe entregou na mesma noite do São João, apesrsda ha Deus € como tal o adorou pondo-se de joelhos diante do rã demônio, batendo nos peitos, beijando o chão...

|

na ca áti sab ão ns me di ia hav ia, opé eur r la pu po ão Na imaginaç de a uos est inc e el cru ido lib da ima vít ta ofe “pr o, Joã São de te noi

ginário, o demônio era o mago da metamorfose: aparecia-lhe na fi-

gura de homem branco e preto, mas com pés de pata ou de lebre; na figura de mulher, mas com os pés revirados; na figura de bode preto, na de burrinho, na de galinhas com pintinhos, na de lagarto,

cágado, sapinho, gato pintado. Presidia assembléias concorridas em Val de Cavalinhos, o mesmo lugar registrado duzentos anos antes nos processos analisados por Bethencourt, e onde todos se postavam de joelhos para adorá-lo.?? Convocava seus asseclas para os encontros fazendo com que o galo cantasse às dez horas da noite, € neles se apresentava na figura de homem, mas “de instante a instante mudava de cores, tanto no rosto como no vestido”; servia passas

e vinho de sabor insosso, e copulava com todos os presentes, exigindolhes adoração.3º Apesar de negro e africano, José Francisco Pereira mostra ímpressionante familiaridade com o imaginário europeu do sabá, Estdo presentes na sua confissão a assembléia noturna, o coito insatis-

tatório e frio, sodomítico em grande parte das vezes, seguido de dores € até de derramamento de sangue; as comidas insípidas; a metamorfose constante do demônio, que, em certa passagem, quando muda também

de cor, sugere até proximidade com o diabo de De Lancre,

igualmente cambiante, iluminando o sabá com seu corno. Sob a 171

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o demônio íncubo, que o sodomizava, e relações com o demônio súcubo, sempre insatisfatórias dada a frialdade do coito.” No seu ima-

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ticas que o companheiro, entrou num delírio de loquacidade após prováveis sessões de tortura, confessando relações homossexuais com

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te carga mágica: era solstício de verão, quando o céu mais se abria e mais se aproximava dos mortais. Francisco Pereira, que inicialmente confessara as mesmas prá-

Tm»

Herodíade”.” Por outro lado, a noite de 23 de junho continha for-

pressão inquisitorial, a crença na virtu de das bolsas de de certas raízes brasileira

s cede lugar a ma europeu, com o quaEal talvez adquiroisse UM IMaginário baço,Sic Rã familiari a dridade no próprio Ut cere do Santo Ofício. TO cár. O quarto processo deste bl oco teve lugar em 1735. A ré ria de Jesus, negra de Luanda que fora cativa m as Se achava Cra Ma. '

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nd;

le momento, livre e recolhida no Hospital de São Fran cisco PP boa. Tivera trato com o demônio desde os doze anos , M Lis.

aprendendo feitiços e malefíc ios e, em troca, adorando-o de joelh Certa feita, o diabo

lhe dera uma ti gelinha com 05 , u n g i i :e e n t i d o r i n d h b o 5] um vidrinho de óleo, ensinanddo| Tanço o-a

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Maria de Jesus contava com o diabo

canos, alguns com passagem pe lo Brasil, se mostrado mais permeável à concepçõ es européias milenares do que o de Outros réus portugueses do Santo Of ício? Seria porque, ao fim e ao cabo, o sabá era então um discur so banalizado, um estereótipo desprovido de conteúdo, ridicularizado pelas elites ilustradas da Europa — passível, nesta qualidade, de ser de slocado para outros contex-

tos?** Qu a adesão de José Francisco a elementos do mito sabático se deveria antes à crescente familiaridade que adquirira com o diabo dos colonizadores — o diabo onipresent e, inspirador das práticas mágicas de africanos e ameríndios, pintado se mpre de cores aterradoras para melhor intimidar os colo nizados?

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IMPASSES DA INQUISIÇÃO ENTRE SATÁ E SEUS AGENTES

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fim, tendo cópula sexual.2 Além da companhia no * diabólic

nos afazeres domésticos mais le ves: ajudava-a a varrer e lavar à casa e o hospital, mas nunca aparec ia nos serviços “de maior trab alho, como era amassar, peneirar e joeira r'33 ? Por que curiosos mecanismos acul turadores teria o imaginário desses negros afri

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ii

e em camisa, passou então a sair com o companheiro | a levava para “além do mar”* na Mouta, onde, numas contravam com outros demônios e com mulheres, “ nham a bailar com castanholas” , abraçando-se, bei)

Durante o século XVIII, aprofundaram-se, no mundo lusobrasileiro, as trocas culturais entre os universos distintos que compunham o Império Lusitano, dos quai s, aqui, interessam a colônia

brasileira, a costa atlântica da África e a metrópole européia. É desta época, ao que tudo indica, a ma ioria dos casos de feitiçaria origle

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a d r e v ã n , re d a p O . s a r i he n a p m o c i s m a i r r t c u n i s o s à o ã s s i f n o c o d n a g e n om c , o i n ô m e d O ra falar com é m m m a a v í a a t s a a “ m que , ainda s r e a t h n c e t n o c à não , e u m q o nadas por c € , o d a o t t i r c r a i p , o r t do ei i f s i u m q n i a i O v a . h s a n otur n quem s a ç n o, t a n d e m n a a g l u s j a n r s o p o en s o n a e t e s u o r e au e esp a r — a s s e a f f n e o s c o J e u e q d o d o t i u m e d , o as hesitações s es c o r p o a d i h r n e a r p r o m c o e c d a º n N s a n e p a s o t n e m esquecendo-se, a t a n v u a j s a n e s p o a e u a a 1 q “i é r e r & e g u e S s r , e i b u a q s a a , i o r — que ndo. O coletiv

a b m e a i a s e s do diabo ou

ou , o t i m o d s a v i t u t i st n o c s a ç n e r c m a r o f sou s e f n o c a m a r t o e f s o J e d e u e q s O m a v nta e s e r p a , o i r á n i g a m i u e s o n , e u q m , a s h a c n i i r v é f i à r e u q , a ele pe s e r e h mul o c n i c s a r t u o e d a i h o s o r i e h c l a m o desconexa. EM compan t n e u g un m u m o c s a l i x a às a r a n e d n o o p m buscar em casa, friccio a c m u a r te o d in , s e r a s o l e p o d n a o v s e t i s a r t u o e saíra por doze no r o P . s o i n ô m e d S O m o c a v a l u p o c se e s o d a l i e n se realizavam ba a j € s a t r o p e d s é v a r t ndo a a s s a p , o i n ô m e d o m o c ó s vezes, andara € — e l e e r p m e s s — o h n i l a v Ca e d l a V a r a p o d n a m u , r s a d a h las fec , o d a l m , u e r s o p o d n a h n i z .) Avi s a h n i c n a i r c e d e u g n a s o o d n chupa n A s e n d e g a v l e s s e n s i c e z o d s , o tes i o n e z o d as r — a l u p o p O I R O E E s o c i t é n e r f m e s o t a p a a seus s a n a o H o a a o v i da rismo, constitut a a a T 36 s e d a pri d pró i de autonomiae especific s R a Re t s E n i R m to Joseta alude ao a t a p d S o i i a . s a t E n i t e s a r i d t i n e E rt ciais repae o s crença bem n ama t a m r o f a n a j e s — s a l e n a r j a s s e v a r t a e e d d a d i c a p a ta Ronan ndss e r a m p é a b m a o t h — n a m o a d t n e i d u ja na animal, dimin





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no mito sabático.

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ga que fazia, punha das; que se “ONSUmassem penas SOb sun vinte ado SUS Atos * COM sexuais, Perfurava has para, anlogicamente, bonee; Provocar-lhes doenças. This Me so Pedi presentes na culi "Um tu. UPA popular Curopéia Ximadas q prát icas de € origem tricana! : confessou Fess Mas de O altam sem dúvi utras dueTA da à lação mentados do co Az in cur Opéi mplexo sabático a € og ec os . T o d o s os sOrtilép do diabo, que ios tinham a costumava lhe Ajuda aparecer nas en de bode, a nepra cruzilhadas o chamando de + CM vulto “ M e u rei barbado” do “Cr sua. Mata € lhe prometen ra uma criança, entrando SM Seu da Janela, transf quarto pela aii ormada em borbole ta, e chupando-lhe lo nariz; depois, de o Sangue pe. senterrara seu cadáv er, tomando-lhe os b nas e miolos para co raços, per. nfeccionar feiticos « poções, Ainda no Brasil, c omo se disse, Luzia fora torturada POr senhores, Foram e seus les que, durante a tortura, insistiram fazia mingaus com em que ela miolos de crianças d efuntas; para tentar S livre do suplício, a es e ver crava concordara com q Sugestão, confessan tudo quanto se lhe p do erguntava, Num de se us relatos desesperad confessara ter feito pa os, cto com o diabo quand o, estando num cam. po, “lhe aparecer a umas luzes que lhe and avam à ronda, depois do que lhe falou o demô nio, e perguntou se queria se r sua”! Na ses. são de Exame, já nos cárc eres do Santo Ofício lisboe ta, o inquisidor alude ao sabá, o que era mui to pouco comum nos interro gatórios daquele tribunal, Mesmo ass im, O que ressalta da pergunt sob a re a assembléia é, como sempr e, o rastreamento do pacto demo níaco C da adoração ao diabo: “perg untada se se achou elá ré em alguns ajuntamentos donde visse, e conhe cesse pessoas, que com ações, ou palavras invocassem o demô nio, e lhe pedissem ajuda para a lgum tm, e por algum modo o adorass em..' + Aqui como em outros episódios análogo não h +

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á recurso à palavra sabba. A cla pref s, eria-se conventículos ou ajuntamentos: tanto o mito quanto o vocábulo eram as-

sim pouco q

familiares ao contexto português,

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LAZIA , s a r i e l i s a r b as h n u m e t s e L s irição da nela viu Um vitima

e u q , o i c í f O cre jo Santo A , a i n ô l o C a d vos a r c s e e d s e r o h n e s

l a u q e D . o i n ô m adorara O de foi ni r-: m e o v n i d s , e o | õ t c ç a p | p e c n a r o e c z i f s a s qui i c o l n e u p n s o a d l o e c m S O a r t s u f cn 8980 ” . m itou que a da i d n u f 8€ , s e s vez

quer forma

E vada

dos

a m u g l a €, m a h n u p r e ca co sup

os o d n i r e g u s e lh € r a h n ventos de adivi

cada achaque.* » 50 s a m , a s o i g a t n o c a er s u lund a c s do ” a ç n e o d “ à a, zi Lu Para lmente à ““ne-

e v a v o r p a cl a: li mí fa a m s e bretudo entre membros da m a t s e f i n a m a r i e m i r p a o d n e t , e t en gara” de uma tia, involuntariam o, nt sa a di m u n a ss mi a vi ou , á r aba ção quando, em Minas, na vila de S m es-

e v e lh o d n a u q e u q r o p , “ l a r u t a n e r Calundu era ainda coisa sob €sm u g l a r po u cé no s ho ol os m o c a d a ta”, dizia a negra, “fica par , ia es rt co o d n e z a f a ç e b a c a xa ai ab al paço de tempo, no fim do qu r ve vi de o hã e qu os o, tã , en e c e h n o c e logo olha para os doentes, € s ai qu s ao m te o nã e qu m os é b m a t , e e tem remédio na sua queixa

tra vez a ou d n a m , s os o € m r e f n e us se r po ta ei ac o por cesta razão nã

levar pelas pessoas que os trouxeram.” íju u se de ra a fo o s s e a p a av ix l a de e r u qu t a n e r Uma doença sob ar, t s e f i n a m a se i d o , p só ro tu fu er o ev a pr r é ora nd cu a ta 70, habili o d e n i rt u fo t i , t a s c n o a c i n o m e l, d ão ia aç r or po it is qu segundo a ótica in indício de pacto com o diabo, Luzia não confessou nem mesmo apos a h c o , r e a f c n e e d a d o a t i u c a m n e e t i n e , p iu to sa e a sessão de tormen o ã h c o no íd va ca ca fi e o p qu r o o e c ã o tr ç a en r a . p e ra s ei A ic it da por fe

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i o l t a u i s e f a n , e o u ã q h e , c a i no esid r p e u q a s o t i r 5 0 eus D e d a t r t b t a o e v f a e r a d e r d i i e s d n Con a r cu e d a m a f a r a e j n a r G . s u d n u l a c m a v a quem e a p h e c d c i c é p qua se s e a m da nu a t n e m s a v a r u c o r à p em r a t n s a o c t e n e COS, e atendia os que m u r t s em in r a c o t s u s e e s t n a d u j o nd a a d n a m e s r. a t x a e a t l v o a a d o a u n d j a a p co n i a s c i s ú m . A o p m e t s “O ça por largo espa co de be ca la pe he -l trando en , o” íz ju u se de ra fo Luzia ficava “como remédios adequados para

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n u n e d o c i t s á i s e l c o Juízo E o c a i z u L . o n i e R O ra a p o ã ç o m e r a u s nciou e d i v o O r a p h n i e t u q e u q , u o o i c s í s f e O f n o o . C Sant 3 4 7 1 e d o ç r a m m a c d a g o r r e a de t ç n n i a r e h e e , a r e d e h l |meçou qs s eu D e u q ” o n i t s e d “ r o p r o d r í a a h c a n v i a v c i i f o p r d o a c u e s , e es õ i s a € 0 dom d s a t r e c 19 m e : s o n a c i r l . a s e s r a i s lug o i r á v a a a l , e o t i seus ances ra r í p s e m e , o t n a u g n e , o t mor n-

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va a c i t a r p a i n ô l o € negra da a r t u o , a c o açmo p cn é de Né m a m a u a m s e m o 4 c s a t Es l o v as m a r a gmennte te na loc o c 05 € s e r o d i s nqui i 0% sada u m c a i a r i a d r n c u f n a t n i P a i z cu u L , s o t n i t s i d rais u t l u c s. a s r o u s t r u e f v i s n a U s i de o c r preve € r a r u c a r a p njões noturnas ciou-a do

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Natural do b ispado d: Com o demô nio dl “UNOS, € por recera Juntamentos divorca. AGIR. dade r e a l i z a do: di de lestejos mona com tambores iões* DOui e v i o l a s , Senta, entre meio inúmeras Pess elas dois padr oas — 17) e ais de SEs. s —. ajustavam entornar o vi os malefícios nho das adepas Dor fazer: , chupar o Catarina con f sangue de crian essando ter Pro ç a s, à Própria v o c a d o a morte de delas, Mas nada cer ca de treze disso impression ntas ou OS Juízes d deraram que tinh à Inquisição: a “prande falta conside juízo” — UM não merccia cré a embusteira dito — e determ que i n a r a m que fosse solta denação,4 sem con. Vinte e cinco “nos antes, um homem acusado de feiti çar supliciado em au t ia fora o-de-fé no Convent o de São Domingos Chamava-se Franci e m Lisboa. sco Barbosa, tinha cerca de sessenta ANOS pedreiro de profissão. E era A condenação deste homem em 1735, com pena capital, é muito estranha, Seus crime s envolviam o curandei rismo, a adivinhação c práticas libidinosas de abuso sexual com mulhere s. Fazia lavatóros com infusões de ervas, jactava-se de descobrir teso uros ocultos guardados por mouras encant adas, dizia saber o que se passava em terras distantes, no caso o Bras il. Não há nenhuma apenas a confissão de pacto e a doração do demôni

alusão a o, Da

406; ia

época, ou de períodos anteriores são dezenas de processos aná pr que não conheceram desfecho tão trág ico, Francisco Barbosa, O E de Massarelos, foi o único homem que r ecebeu da doi aE a capital por feitiçaria em todo o século Xv im, € talvez da de ia is ríodo de funcionamento do Tribunal. Nove anos d epois dele, 176

lha e v A I M , s o g n i m Do o ã S e d o t n e v radorai o m ocal, DO con , a o h c a r r o H a

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l a D o m e d o orar d a e d a n i r a v a s cu Frio a c i r u m o i c i f O Santo O , l a g u t r o P à b e , e u q a XOCU c C i d A U n S i , i lo s s a o m s çaria, Me j

eiti f te + e m i r c já o ã t n e , “m por a p o r u E a d | mas i t l ú s a d A M U ênero, no g

le mancira

bem

unidornoe,

S E Õ S U L C CON

o n s a h c e s s a s u e s e | Satã e d a ç n e s e r p a r e reend p m o c , a c a t r o n h o l m e d o ã s Para me s e s b o ar a , r a s € p e e s t o s o i n c r e e r i p d e l l c i n e s l a t r n b «a e m o s a u i j r o o t i a r á g n i br o o mar j ã s o ã n s e l , E á b a s o € s lexos, p m o c e t os malefício n a t s a b e s o strand o m , o d i t n e s e t s e N , nte e m e t n os arranjos a n o i s s e r p m i , dia bo a o ç d n e s e r , p e t a n á e h m a r i e m i Pr s e d a d i c s a d s e o p m a c ano dos i d i t o c o n r a t o n a i z a f sc a da. Ela

ac r p a o l d e s n a r e p s s o e r i e h l a p m m a e portuguesas: diabos que dormi m a v a g , a s v o t p e d s a o v o n a e t d i re p s e a N , e u q , U s O i a t r o m s o m o c s s o to d i c e h o n d s n o i a c a c t o n l e u q . e s fr nelos arrabaldes das grandes cidade s e o , N a t u , o a M i v o t o C s a o d p , m s o a C por todos: Val de Cavalinh un No m

n a r o p r o , c a n z i e r u t r a e t n a r ve b m u a a s v r a a h p l a , o b n a i r r t a m a r t l u o d o ã ç a r i p s n , m i s a a n e r g E a v s l do-se nas feras estranhas e nos homen se s a s o i g i l e os tur d o c i s a g c á i m t á r s p , , a s a d a j e i s r u t o a maior das idol ô m , e t o d t l v u x c o . é n s s e o l n p m a c E s i o r v af pis e, depois, dos escra s o l l l u t c a t í n t e t n s à , e s v e n d o l s c e o b n s e o o r l d o os c nios eram chama vas de rebelião. o x e l p o € plum d o n c e o u s s m m e e s n r e p m m o e i O diabo não fo s . a v a g s i a À iconor r b e u a u o t s q e l a s u n l a c ê e i s g p n e a o t l r e e e p ral, het o da América e, cert n e m i r b o c s e m a a d , r o o i e t c é u s q p o o a m grafi cur e s u o , n o s s r ã a e o u ç n r t e a e o a e z p c h d i o n n c a , o e g l t o m n c e o a m c a t cada vez mais negro: O Inferno, quadro de um anônimo português ” . a i c n ê u l Paf a t n m l o s i e ta l e , e a b u i t r d v a c i a x é e o t d s me da prim rece mesmo correto afirmar com Certeau que o mundo das práticas a mágicas americanas influenciou no fortalecimento da demonologi curopéia, chegando a alimentar a construção da feitiçaria sabática. s dai o t u m d a o r r a p s i o r a , o v m u d a s g a s u y ê i r . v c é s n i L a a r r s f u e O t d l a u d c i i c c e i p s e s VÃ AR é a juestrado pelos caraíbas um equivalente do sabá. Os

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A bruxa subjaz a outras representações, colorindo, no imaginário europeu, toda uma gama de terrores difusos.

mas vários outros, sobretudo de mulheres, relatam com impressionante uniformidade os encontros demoníacos em vales ou montanhas, coloridos por danças, refeições insossas e coroados pela orgia

sexual. Tais narrativas populares não chegaram, porém, a impressionar de forma mais viva os juízes do Santo Ofício. Empirismo ou

pobreza imaginadora?*! Difícil responder. Talvez parte do aparente ceticismo lusitano possa ser creditada à secular experiência com culturas diversas e com ritos estranhos: o convívio com diferentes populações da África, da Índia, do Brasil relativizaria ou deslocaria

O pavor ante o outro, indubitavelmente cristalizado, por grande parte da Europa,

no mito do sabá.

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Epilogo

|

o i r á n i g a m i O e s e d r a m i u G o Bernard demonológico

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S A R E F N I S A I C N Ê T S I S R E P

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oeur to, tan por , iga ant a gi lo no mo de da m va ri de o, eir sil bra o ginári péia; são indícios da longa duração de tais crenças, e de seu vigor.

É sabido que “Orgia dos duendes” circulou em regiões de Mi-

nas Gerais na forma de cantiga, os versos iniciais sendo entoados arrastada e monotonamente até pelo menos o começo deste século.

Eu mesma conheci essa versão, que minha avó paterna aprendeu em Barbacena com os mais velhos, e cantava para os netos pequenos que ouviam, se lembro bem, sem medo nenhum.

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araç eng ia oes “*p ou er id ns co ac Bil vo Ola , bo” Dia “O re rência sob díssima”, creditando-lhe o registro sertanejo de tradições sabáticas ou, em outras palavras, de “cerimônias da demonologia brasileira””. per as ess das “to a: ent esc acr a, em po do ens sag pas er rev nsc tra s Apó sonagens de que fala o poeta, e cuja tradição ainda hoje anda tão espalhada pelo interior do Brasil — o lobisomem, O galo preto, O sapo inchado —, são figuras da demonologia antiga”. De certa forma, Bilac atirou no que viu e acertou no que não viu. A primeira afirmação é ambígua e sujeita a equívocos: como se as lendas do nosso sertão tivessem tradição sabática própria. A segunda ajusta a primeira: tais personagens, disseminadas no ima-

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feproduzia bons versos data “A orgia dos duendes”, que, na con

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ta ren qua dos ta vol por até or val m gu al de ta poe se fos ra bo Em o ud et br so do ra mb le é 82) 25(18 s ãe ar im Gu do ar anos de idade, Bern da ain que em ca épo Da al. ion reg € ial soc o nh cu de es por romanc

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O Diabo está desmoralizado. Só os poetas — as eternas crianças — ainda acreditam, ou fingem acreditar nele. Olavo Bilac

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DOS DUENDES Bernardo Guimarães

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Os terrores atávicos da cultura qu e destruição.“ Vejamos o poema:

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Meia-noite soou na floresta No relógio de sino de pau;

É a velhinha,

rainha da festa,

Se assentou sobre o grande jirau, Lobisome apanhava os pravetos É a fogueira no chão acendia Revirando os compridos espetos, Para a ceia de grande folia.

182

pd

ta bo a i d o h n i h l e v m u le de o t Jun Que saíra do antro das focas, , bo ra lo pe u a p m u n o d a r u d n Pe . s a c o p i p a v a r r o t o h l a r r o b o N Tuturana, uma bruxa amarela,

Resmungando com ar carrancudo, Se ocupava em frigir na panela Um menino com tripas e tudo. Getirana com todo o sossego A caldeira da sopa adubava

Com sangue de um velho morcego,

Que ali mesmo co'as unhas sangrava. Mamangava frigia nas banhas Que tirou do cachaço de um frade Adubado com pernas de aranhas, Fresco lombo de um frei dom abade. Vento sul sobiou na cumbuca, Galo-preto na cinza espojou; Por três vezes zumbiu a mutuca, No cupim o macuco piou. E a rainha co'as mãos ressequidas O sinal por três vezes foi dando,

À coorte das almas perdidas Desta sorte ao batuque chamando: “Vinde, ó filhas do oco do pau, Lagartixas do rabo vermelho, Vinde, vinde tocar marimbau, Que hoje é festa de grande aparelho.

Raparigas do monte das cobras, Que fazeis lá no fundo da brenha? Do sepulcro trazei-me as abobras,

E do inferno os meus feixes de lenha.

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Xa b um QEe ue mTeO dedm u ” minh| a lia en M“arselha, E dUe dos ventos da Ú Ote sussurr endurada no q CO

-da-velha,

Onde estás, que inda oi rali Esquel to gamenho

aqui nã dO te

e gentil? Eu dusera ac ordar-te Cum beijo Lá no teu ten ebroso covil

Sapo-inchado, Onde

ai

ve nda

Galo-preto da torre da mo rte, Que te aninh à s em leito d e brasas, Vem agora e Sq uecer tua sort e, Vem-me e mM tôr no d rrastar

E

bi

a mão

tuas

asas

que moras na cov a

do defunto

enterrei,

Tu não| sabe7 s que hoje é lu a nova, Que é o dia das d anças da lei?

Tu também, ó gentil Cr ocodilo, Não deplores o suco das uvas: Vem beber excelente rest ilo Que eu do pranto extraí da s viúvas, Lobisome,

Que

Como

Quem

que lazes, meu

bem,

não vens ao sagrado batuque? tratas com

tanto

desdém,

a c'roa te deu de grão-duque?” HH

Mil duendes dos antros saíram Batucando e batendo matracas, E mil bruxas uivando surgiram,

Cavalgando

em compridas estacas.

Três diabos vestidos de roxo Se assentaram aos pés da rainha, E um deles, que tinha o pé coxo, Começou a tocar campainha.

184

a r i e v a c é , a c o t que

, Campainha o, r r u b e d o c s a c de o l a d a b Com a t l r e u r o u g A o g a a v l e s da o i e n 1 o n e Qu rro. u s s u s o h n o med Vai fazendo

s o h l a g s o n s o d a p e Capetinhas tr

, u a p o n o d a l o r Com o rabo en , s o h l a c o h c s o r o n o Uns agitam s . u a b m i r a m r a c o t e à Outros

póem-s

apo p o n a v a c n o r o l i d Croco ; r o g a r f e d n a r g e d o d í u Com r E na inchada

barriga

de um

sapo

r. Esqueleto tocava tambo

o nt fu de co se um de a aç rc ca Da E das tripas de um velho barão, to De uma bruxa engenhosa o bestun Armou logo feroz rabecão.

Assentado nos Lobisome batia Co'a canela de Inda um pouco

pés da rainha a batuta um frade, que tinha de carne corruta.

Já ressoam timbales e rufos, Ferve a dança do catereté; Taturana, batendo os adufos,

Sapateia cantando

— o le rê!

Getirana, bruxinha tarasca, Arranhando fanhosa bandurra,

Com tremenda embigada descasca A barriga do velho Caturra. O Caturra era um sapo papudo Com dous chifres vermelhos na testa, E era ele, a despeito de tudo, O rapaz mais patusco da festa.

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Mas

se minha

fraqueza foi tanta,

De um convento fui freira professa : Onde morte morri de uma santa: Vejam lá, que tal e sta peça.

GETIRANA Por conselhos de um côn ego abade

Dous maridos na cova so gquei; E depois por amores de um frade Ão suplício o abade arrastei.

Os

amantes,

a quem

despojei,

Conduzi das desgraças ao cúmulo, E alguns filhos, por artes que sei, Me caíram do ventre no túmulo. GALO-PRETO Como

frade de um

santo convento

Este gordo toutiço criei; E de lindas donzelas um cento No altar da luxúria imolei. 166

iço t é c s a e d a t a e b a id Pa Mas nã v , ei ju Je I, Z& Te to ri nt Mui co

o

apoplético ue aq at de «a | que um d Té urel. to es o n r e f n i do Nos abismos

ESQUELETO Por fazer aos Mil fogueiras Quantos vivos 14 eu mesmo

mortais crua guerra no mundo ateééi; queimei sobre a terra, contá-los não sei.

Das severas virtudes monásticas Dei no entanto piedosos exemplos; E por isso cabeças fantásticas Inda me erguem altares e templos.

MULA-SEM-CABEÇA Por um bispo eu morria de amores,

Que afinal meus extremos Meu marido, fervendo em

De ciúmes, o bispo matou.

pagou; furores

Do consórcio enjoei-me dos laços, E ansiosa quis vê-los quebrados, Meu marido piquei em pedaços, E depois o comi aos bocados.

Entre galas, veludo e damasco Eu vivi, bela e nobre condessa: E por fim entre as mãos

do carrasco

Sobre um cepo perdi a cabeça.

CROCODILO Eu fui papa; e Para o inferno E também por Té nas hóstias

|

ima

aos meus Inimigos mandei c'um aceno: servir aos amigos botava veneno.

187

LOBISOME

Eu fui rei e dOS vassalos f iéis Por Chalaça m andava enforc ar: É sabia Por mo dos cruéis As esposas e fil has roubar Do

meu

reino e de

minhas

cidades

O talento é à virtud e enxotei: De michelas, carrascos e frades, De meu trono os degrau s rodeei. Com sangue Diverti-me e Para enfim, Vir ao demo

e suor de meus povos criei esta pança, urros dando e COrcovos, servir de pitança.

RAINILA

Já no ventre Minha mãe, E a meu pai Em seu leito Um

irmão

materno fui boa; ao nascer, eu matei; por herdar-lhe a coroa co'as mãos esganei.

mais idoso que ceu,

C'uma pedra amarrada ao pescoço, Atirado às ocultas morreu Afogado no fundo de um poço. 188

os t i e j e h c a m u h n e 1 , S E m M I U Em marido I c a h n i t Uma

to i e l o d s a ch l o c s a ' g o nolte € se m u x i e u q re os

p m e s á r a p i e Apaf

o ç a p o d e r r o t a d , o d n u AO seg ; l a e l s e d r e s e m r o p i e ço a nespenh r b a m u n m i f f o p o r i e c al. h n u p Ao ter m u Pelas

e

-lh i e v a r c s costa

s e r o d i v r e s s u me e d a b r u a Entre ; a i d m u e d tes n a m a s u e m i e Recrut es r o v a f s o i g é r s u e m a v a z o g m Que umia. Nos abismos

se s

do mar

úria x u j a d l a n r e f n i No banquete a, v a g e h c s o i b á l 5 0 Quantos vasos ia, r ú f a s o j e s e d 5 0 2 satisfeita a. v a r b e u q s o s i o p e d Sem piedade as h n a m a t s a z c o r p a ic at pr Quem , a h n i u q s e m € a ac fr r Cá não veio po E merece por suas façanhas . a h n i a r r se s vó e tr en o m s e m Inda IV

Do batuque infernal, que não finda,

Turbilhona o fatal rodopio; Mais veloz, mais veloz, mais ainda Ferve a dança como um corrupio,

Mas eis que no mais quente da festa Um rebenque estalando se ouviu, Galopando através da floresta Magro espectro sinistro surgiu, Hediondo esqueleto aos arrancos Chocoalhava nas abas da sela; no a Morte, que vinha de tranco montada numa égua amarela.

189

E nos E

ramos

saltavam

as aves

brincavam

as auras

suaves

orjeando Canoros q ueixumes,

Entre

as flores colhendo

perfumes.

E na sombra daquele arvore do, Que inda há pouco viu tantos ho rrores, Passeando sozinha e sem medo Linda virgem cismava de amores. Sem ser mencionado, é o sabá das bruxas a personagem central do poema de Bernardo Guimarães — da mesma forma que o cotejo

com outras obras de Goya, das representações dos aquelarres à série dos Caprichos, torna óbvia a filiação dos velhos que comem sopas à antropofagia e às feiticeiras. Numa clareira da floresta, à meia-noite,

personagens sobrenaturais — homens e mulheres — se reúnem, às danasqueroso s, alimento s Prepara m diabos. vários sessorados por

çam

»

de vícios, desasorte a toda sobre discorre m desenfreadamente,

190

a n o l e m u s i a m m i s é as ” s e d n e u d s o d «Orgia abá:> no poema, €s-

o s d e s p i l e a m u z a f +ana que to. ri o d s O o t n a u q o do mit

parece” e

bruxas

s a g n a m a M a d a , s a i n l a a r n a i t , Ge o s o i r u f o t i c r xé e do r a n e l i m o ã ç i d a r t A . me. co al “m s na me a so ad bi at tr re se atr on nc ta es s a d i r p m o c m e o d n a » “cavalg

"60

a

e l e , o m s i f r o m o o O z . s o c i t í m s e t n e ro OS compon . s a x u r b s a d s e m o n sabá, mostra-se Nos or C , o d a h c n I o p a S , ra, Galo-Preto

apreço

s do a ns te m e g a u g n i l Ná sa es pr ex se ão rs ve in a el que la E ada , p

que, ia pl am is e ma d a d i u g i b m a nã ou ' e, qu batu unas, és eleitor de batuque,

, os gã pa ! en ci de e o m s i g a m imaginário impregnado de : o c a i n o m e d e o ad gr sa e tr en as ) Ze À m frequência, as fronteir co o fumaçã a foi freira pro

contrários, O sagrado

n a r u t a T s, do en rr ho s do ca pe de ARO sob o peso

en nv co o nt sa m u de e ad fr i ét santa; “como: de e rt mo u «e fessa, € MOT étiie op ap ue aq at , de ar ur to es é at ta ce as o m o u c ve to ro” Galo-Pre vi

, ão aç st va de e € t r u o o m h l a p o s e et el qu s; co, nos abismos infernai Es

: pa pa i fo o l i d o c o r C s; lo mp te € s re » mesmo assim lhe ergueram alta om c , se uvi , us cé s do e av ch da or ad rt po , da Cristo em vi

vigário de do so er iv un no a nd ai m, fi r . Po os rn fe in s o a morte, arremessad ao ia n ex r u t ia o n lé mb se as la os pe ad ic at es pr or rr mito, a galeria dos ho

ós se enp s. A bu ta s ra do , eb va qu a ti ti pe te re en € st si a in rm fo be, de

tregar a amores sacrílegos e ver o amante-bispo assassinado pelo marido ciumento, Mula-sem-Cabeça matou o marido, picou-o e o comeu “aos bocados": por artes ocultas que dominava, Getirana dava cabo dos rebentos gerados ainda no ventre; Taturana se iniciou nos prazeres do amor com o próprio pai, dele tendo um filho. A rainha do conventículo terrível relata, com irônicas inflexões de linguagem (“Já no ventre materno fui boa;/ Minha mãe, ao nascer, eu matei..”).,

como se tornou matricida, parricida, fratricida e assassina dos váa maridos que, barba-azul de saias, foi acumulando numa vida aos Bernardo Guimarães esgravata, portanto, os recônditos alia . ql ais tenebrosos . da cultura, pondo a nu a antropofagia. , o in fantici-

dio, o incesto, 3 , O s ae ir e pedaços do corpo dos cadávere — a mão do defunto

ga de a o “seco defunto”, a canela de frade ““que tinha/ * POUCO de carne corruta”” — integravam as práticas rituais d

E





à

ri ná à magia européia, sendo gi as | im io tecido em ár in parte importante do imag o do sabá dae rnE to R a as bruxas. As alusões a tais fragmentos são recorMa, assim como à sopa adubada com sangue de mor-

191]

|

Ê

cego, ao lombo de abade ou ao ''menino com tripas e tudo” se frigiam na pancla, à “caveira/ com badalo de casco de by ge que servia de campainha. A dança frenética, o rodopio fatal e e

4

ginoso é alusão explícita à dança sabática, invocada num

mero de tratados demonológicos e processos movidos cont ra as ni sumidas bruxas. Como a atestar o enraizamento, intuído por Bilac

|

do imaginário demonológico milenar em sertões brasileiros, Bernardo Guimarães acrescenta elementos dos ritos indígenas à sua assembléia: a fogueira c a bandurra, ou cabaça, centrais nas cerimônias tupis ce exaustivamente registradas pelos cronistas e viajantes estrangeiros

1

desde o século xvi;º ““a dança do catereté”, praticada nas regiões ru-

E |

|

4

rais do Sudeste brasileiro, de origem duvidosa — africana para uns, indigena e lusitana para outros — mas, de qualquer forma, alheia ao universo em que se constituiu o sabá;? a embigada, ou umbiga-

|

da, quase sempre identificada às danças de roda africanas apesar de

|

presente também

=

em

mom

ind

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is

o ei

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SS

|

|

em manifestações portuguesas como o fandango

e o lundu.!” No poemas curiosamente,

umbigada e cateretê desip-

nam o corrupio sabático, ilustrando, sem dúvida, essa preocupação em mostrar a acomodação local do fenômeno. Tal intuito é reforçado pelos objetos específicos ao contexto brasileiro: o jirau sobre que

se assenta a “velhinha, rainha da festa”; a cumbuca na qual assobia o vento sul; o marimbau tocado ora pelas lagartixas de rabo vermelho, ora pelos “capetinhas trepados nos galhos”! As duas primeiras partes do poema contêm, na verdade, elemen-

tos de ironia que ajudam a entender a leitura que dele fez Bilac. E

quando o poeta descreve o rito, qualificando-o de “festa de grande

aparelho”, “grande folia” ou apenas “festa”; entretanto, conforme

desentranha

as personagens de regiões profundas,

vai assinalando

sua filiação infernal e tenebrosa: é do “antro das focas” que sai O vermelho diabo, do “tenebroso covil”” o Esqueleto, da “cova” o Sapo Inchado, do “fundo das brenhas”

as “raparigas do monte das co

bras”, encarregadas de trazer ao narrador abóboras do “sepulcro

e, do “inferno”, feixes de lenha. Na segunda parte já se pode cons

tatar certa mudança de tom: há mau agouro nos sussurros da selva

e nas estrofes entoadas, “ruído de grande fragor"” no ronco do Cro-

codilo, A alusão à dança, ao sapateado, aos rodopios imprimem ão a frenesi O é parte terceira a vertiginoso; ritmo um poema

dessa farra, quando cada uma das personagens narra atos mano

3 mítico universo do profundas camadas as para leitor o arrasta e veis po É neste nível que o poema adquire tonalidade tenebrosa

início No torna, se batuque o sinistro, relato o Terminado voca. 192

a d a d a g e h c à a r a p e r p e u q o ã x e la s a findo: infl , a h l a n ca a t n e j o n “ à e obrigando r f o x n e à e t n e d n a** rece “ | deveria ter saia c n u n e d n o e d inoas s a m l a s a s s e o n r «17 Para o infe

adiado pr

a

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, e t n e i c s n o c n i o d e a r u t l u c a d os l e d a s , e p s o S i O g s í o d d o a r c p | l a s c o end | r vez re r o h e d e t i o n a s s e d ; / a a i “ l o nf a f a s o s a o e n u m i asquer € o | etere , a z e r u p e d l a c a d n i fície o sonho 1d L m e e s do/

E aflora à super

ndo a e s s a P “ : o i c í v do e e n r a c da as sm ra s”. e r o m a e d a v a m virgem cis

sozinha

me

ico t s á t n a f o d n u m O m o nte c e d i v e s ai m a i g o l a n a m o c a d Apresentando a t n e s e r p re i fo a i tiçar i e f a e d n o , h c s o B o m i e x l e místico de Jerôn e p m u o d n a g l a v a c e, sal qu ca o , o l p m e x e r po e, -s re mb frequência — le to Antão

n a s e d s e õ ç a t n e T s a d a m u n á b a voador, se desloca para O s epr a i d é g a r t e a i n o r i e r t n e o ã s n e t existentes no Museu do Prado —, à to n e m a t a r t o a d n i a a r b m s e e l ã r a m i sente no poema de Bernardo Gu n i h p c s o B “ e a u l q a n i s s a a j o r a B o r a o C dado ao tema por Goya. Juli pe i l i r F o e d u a q z i l a r o m € o o v pi i t e j b o m o c tava para censurar, € foi s a i o o s d a ã t ç n a a l s f a p d m e t n o c e, a rd s ta i a s; m la u te as o r su p m o c Il eu v i a v y . o ” G s o i p m í s e s io o m fr s a c r a s s e a t i n r a a t artista genial susci

|

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o t i r í p s e o d a m r a r a a n r o t r se o m u h quando o

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dos, caçoar a r t s u s l o i t n a o t m o c A N D dica em — mSI “ e a u s q o r e d o p a r b o a m o d u n a x i e a RÉ nÃO o tiso. e À Do d a a a A N R g i u n a e n o p a n A + m o a volt c CRE dedo 1 a as oitenta águas-fortes que int TEA

s. s o ig h (f c i r p a C s o e d ri sé m a a r g e é 12 entre as pp. 68 e 69), a da d a i t ç í n n e s e u r o p t a c e t a e j d o r a B o ar A l e de nt ia vi feitiçar em es õ ç i d a a r d t a Hi a d às r i t v s ú u d a l m e i ic s é a ít y cr o a G d LR populares, Desde O a s o e c i d t á m e t a s m e co si , fí it o xv l u c é s e monstraram, graças ao e d a S s a f e * s d o a d d i l a e , r l r a i t a n e m i r e 05” da bruxaria, expli método exp ER s ão UE

buídos à esfera sobrenat, uraalnd:o sumbusittiotusiu-dsoes, fnea nbôemleanofórmatuléa endte Robeedrt | Mandro 4, UMa “oni

r po o ab Di do e us De de al ur at en br so ça esenda existência”, restituiu-se ao Home pe pr is ma ão vis a UM i rac al on ci Natureza “ym

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, s i a t n e m s e t n e o d m e ca possessa

abrindo ,

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intelectuais como Herder e os Irmãos Grimm se em

peração do universo popular europeu, encontra-se igualment € Entre os ilustrados a tendência a ridicularizar as tradições popul as bruxas, como disse Lynn Thorndike, não tinham

bibliotes

OTais.

que persistem nesse tipo de crença são chamados de ns | Os ES “incultos”, ou referidos como “essas pobres pessoas” Um marco na ndicularização burlesca da bruxari a e dos ma. nuais demonológicos é o livro do abade Bordelon, Histoire des ima ginations extravagantes de monsieur Oufle (anagrama

de Leo)

e

publicado em 1710 e que, segundo Baroja, estaria para a demonol

Se

gia assim como

o Dom

Quixote de Cervantes está para as nBvelE

de cavalaria. '* Cerca de meio século depois, detecta-se num texto de Voltaire movimento complementar:

a tendência a transformar a fei.

tiçaria em ficção, inscrevendo-a num tempo encantado e idílico, próprio aos contos de fadas: tempo de mistério, a nobreza curando 0 tédio dos longos serões de inverno com histórias de fantasmas, bru. xas e aparições, como as da Fada Melusina no castelo de Lusignan: “todas as damas queriam tirar a sorte; os possessos corriam pelos

campos, todo mundo tinha visto o Diabo, ou esperava vê-lo”, “Hoje”, conclui o ilustrado, ““joga-se insipidamente o baralho, e é uma

pena' que sejamos descrentes”!

O texto de Voltaire acusa uma inflexão: entre o tempo de Luís

XIII — que adormecia ouvindo os Contos de Mamãe Ganso — e O de Luís xvI, as histórias de fadas se viram banidas do universo adul-

— ig e

to, refugiando-se no mundo dos simples e das crianças.!* A bruxaria se tornara assunto de médicos, motivo de chacota, argumento para ficção, derivativo para crianças: medicalizado, ridicularizado, ficcionalizado, infantilizado, o discurso sobre a feitiçaria acabara pri-

sioneiro de vários cárceres — maneira compensatória, talvez, com que os mecanismos da cultura estancaram a ferida profunda das per-

seguições em massa. Durante o século xIx, passados duzentos anos do pico de perseguição às bruxas, quando o terror que por tanto tempo paralisara as populações européias refluíra para o universo infantil, o sabá se tornou tema constante da literatura. Victor Hugo numa balada famosa da década de 1820 — a Balada xrv —, Théophile Gautier em ““Albertus ou "'âme et le péché”” marcam a primeira e a segunda metade do Oitocentos, seguindo a seara aberta pela “Noite de Walpurgis” de Goethe e modulando, em tons diversos, a negatividade comum àâ0s

românticos.!? Juntamente com outros membros do romantismo paulistano, Bernardo Guimarães se atrela, portanto, a uma tradição; cà194

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s o l e p r o d n e p o p , 0 6 2 ; 4 0 5 1 e 0 ntre 184 qaaue, pêl, lo ea Ri enidade.?? .

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o d a a p t n . é e e c i e h d l r e o v t i e a r d r o e g r r o h a O s a p o s s i m a o e s d E n da e m o , o c i h t t a “ b a s ; cos Sé o t s a p i e n r â E t o d s , s a a x u r é b a d a c i f á E r o a s r o t D e r o Se € a , ” s e d n e u d s o d a i g r O « ; a DI SO s i 1 , a a i d c n a ê r r f i c é T a com a m r o f e d , e r r o c s i d à o , r s a a r c i e c i e t t i n e r me l s a a d u g i , i o D t s e r e a, de nimalidaç : s o p i t ó e r e t s e S O em revista

ca umor h

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e c l a t , z e v l a t xas, deplorando, m u m o c e d a d i r a i l i fam n e u d s o d a i g r o A “ de fadas. Em e r t n e e d a d i u g i b m a a jador é profundas que, sob ân-

o ã t s e s a l E o. vr li e t s e d o g n o l dO r a t c e t e d e s u o r u gulos diversos, proc . s a x u r b de a i g r o é e d a d r e v na e u q , ” s e d n e u d s do a i todas na “Org à r e r r o c e r m e a i c n ê t s i s n i a ia r e S ? se ip el à z, ve a m u is ma e, qu Por ? a r i e l i s a r b o s u e l d a d i l a t n ela característica da me

r, fo a z de i n o m r a a h m e o p a o t n i r c s e s d a x A assembléia de bru o d n e d n e t s a n r e i e — l i s s a a r i b é € p o s r e , u õ e ç e ma impressionant tradi se, por tal, o cruzamento complicado das diversas culturas que, de um lado e de outro do Atlântico, se entreteceram durante séculos Bernardo Guimarães atesta, na longa duração, a persistência snes AE E EES imaginárias, e sobretudo o fascínio pelos ele-

e LET e

aims

qse quando se deseja falar do outro, externo ou de SR os europeus desterravam seus demônios pa-

antico, travestindo-os em astecas, incas ou tu+ Mas, ao mêsmo tempo, fazendo com

rados na tradição demonológica do emanci

-

Vi

o

Eno Continente. Na segun-

da metaadme do século xix. cismav em demônios een+ Mas rea ig m a i r r s velhos o c o m s s o e a m | Por . estereótipos - FOT ISSO, Creio Cimo a et po O ” S s S e O d N n » e u a d e i d g r O “ a u o s e l a b Serve m de bom fecho a este a

195

NOTAS

A: Primeira parte — MAC RODEMONOLOGT ME O DIABO NAS MALHAS DO ANTIGO REGI

1 O CONJUNTO: AMÉRICA

DIABÓLICA

(pp. 21-46)

Uma primeira versão deste trabalho foi apresentada na Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (sspc), São Paulo, 17/ 7/92. Uma secunda versão, bem diferente da primeira, foi publicada pela revista Tempo Brasileiro, nº 110, 1992. Estão aqui incorporadas partes de um artigo escrito em 1988, apresentado inicialmente como conferência na Universidade de Southampton em dezembro desse ano e posteriormente publicado em Portuguese Studies, vol. 6, 1990, pp. 85-93. O presente estudo, na forma como se encontra, é bem mais amplo do que as versões anteriores, e inédito; para esta versão definitiva, foram imprescindíveis a leitura e sugestões feitas por Ronaldo Vainfas e Maria Manuela Carneiro da Cunha.

des dos ReméMen ed. as, Obr in , as” fad das to “Au ver e, ent Vic Gil a Par (1) Coimbra, França Amado, 1912, t. 11, pp. 293-5. Luís de Camões, Os lusíadas, a anto v, Belo Horizonte, Itatiaia/Edusp, 1980, pp. 192-3. a Zurara, ver Fortunato de Almeida, História da Igreja em Portugal, ed. miados “grs eres, Porto, Portucalense Editora, 1967, 4 vols., p. 368. Para João de Barprimeira década, 4º ed. rev. e pref. Antonio Baião, Lisboa, Imprensa PE asa da Moeda,

reimpr.

1988, Livro

1, cap. 2, p. 14.

Pero de Góis, ver Raimundo Faoro, Os donos do poder, 2º ed., Porto gi aa vol. b p. 143. Para a citação de d. João 111, referente ao RegiMente e

il, Bras do as uít jes ros mei pri dos tas Car , g.) (or São Paulo, Co ver Serafim Leite, 8. |. Paulo, 1954, t. 1, p. 5. (4) Ver

des in Brian University “a

a

do 1v Centenário da Cidade de São

Stuart Clark, “The scientific status of demonology” : Occult & scientific mentalities in the Renaissance, Cambridge

co dual scienivi ind se tho ..] ““[. -3: 352 s ina pág Nas 74. 351pp. , 984 ais tists who c any sense of incongruity t hou wit y log ono dem with Of Of the com a Nifo, Gio

vanni dAtiania pç

of their criteria of rational inquiry: from Agostino

Joe, Mor ry Hen to y Ital ry ntu -ce nth tee six in Andrea Cesalpino Seph Glanvill é dp and Robert Boyle in later seventeenth-century England. Others noi

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ton, and society (c. 1520-c 16 pm engt Ãpersa Modern Eu= ropean :wite NDe =30)"se+ nmn“ se faca nkarloo e Gustav Hennin. gsen, Early 1990, pp. 48-81. peripheries, Oxford, Clarendon Press,

(5) Para as implic

lhante ensaio de a

riEa

re

ti

,a

vi and

; ra aftr witche ”, in Wit

ama retigion, the politics of popular belief, Oxford, Basil Blackwell, 1985. Es Stuart Clar

k, “King James's Daemonologie: witcheraft and king ship”, in Sidney Anglo (ed.), Fhe damned art: essays in the literature of witchc raft, Londres, 1977, pp. 156-81. Para Bodin, ver Jean Bodin. Atas do Colóquio Interdisci plinar de Angers (24-27 maio 19584), Angers, 1985. Ver também Christopher Baxter, “Jean Bodin's De la Démono-

manie des sorciers: the logic of persecution”, in Na página 102: **In political and religious theory sing principle above the conflicts which had torn the République, in the concept of sovereignty. He in the FHreptaplomeres, in the strict monotheism of

Sidney Anglo, op. cit., pp. 76-105. alike, Bodin sought for a synthesihis country apart. He found it, in found it, in the Démonomanie and his system of daemonic Judaism”

cador unifi ípio princ um u busco Bodin iosa, relig na to quan ica [Tanto na teoria polít O encontrou, Ele país. seu oçado destr am tinh que itos confl que pairasse aci ma dos si

na DR trou, encon 0 Ele ania. sober de ito conce no na République, uso e de ma siste seu do to estri Heptaplomeres, no monoteísmo cas ato cf E o nie, noma | Démo a ra Nicole Jacques-Chaquin, ticas «

g a h n i l a n m e b e t n itame

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à tout e. r d r o ' J e u q n i v i d i s s tout au me ru st in |' ns ne do | d es adésordre mons !o absoluto, & quem não apenas inai s, il| nen'en n reste pas crmo an voirs extraordinaire mor

omanie é exatamente

198

es como é cabível alterar, a cada momento,

ilagr m S O s o d o veis r hamamos qu. O que e

a lei que ele próprio

Satã . ordem a o quant divino tão nto porta é desordem de ser, Com 1Sso, O insdeixar sem ários ordin extra es poder de r spo i d m e b o t i q], Nicole Jacques-Chaquin, “Nynauld, Bodin et les autres: les enpode mu , hose textuelle”, in De /a lycanthropie — transformation et extarumento de au a édition critique augmentée d'études sur les Iycanthropes et jeux d une Frénésie Éditions, 1990, p. 22. Pensando ainda na ambigiil«aa se des sorcie politica, Trevor-Roper economia da e o Estad do o teóric to les loups-garo na) in, demonólogo, a frase: “In those years of apparent ilumination there was at least dade de Bod escreveu uma bel t” of the sky in which darkness was positively gaining at the expense of ligh o de aparente iluminação, as trevas estavam à ganhar terreno sobre a luz E witch-craze of an ope Eur The , per -Ro vor Tre H. , céu] do to quar um ia Ta p. 8 [trad. port.: 1988, n, gui Pen res, Lond s, urie Cent th een ent Sev the Sixteenth and

Religião, reforma e transformação social, Lisboa, Presença/Martins Fontes,

1972, p.

73]. Para Hélene Merlin, a posição singular de Bodin se devia ao fato de ahar, paradoxalmente, duas perspectivas em uma: à visão voluntarista de Deus e do Diabo: “Aussi

peut-il à la fois élaborer, sur le modêle divin, la théorie de la souveraineté et de I'absolutisme royal, et attribuer à Satan un pouvoir exorbitant"” (p. 70) [Com base no

modelo divino, ele pôde elaborar, simultaneamente, a teoria da soberania e do absolutismo real, e atribuir a Satã um poder exorbitante]. Hélêne Merlin afirma ainda

que a política impõe sua existência, ao lado do direito e da teologia, a partir das guerras

de Religião, e “nasce sob o signo do demoníaco" (p. 71), “Le devenir démoniaque du corps politique sous les guerres de Religion", Frénésie, Sorcellenes, nº 9, 1990, pp. 57-75.

(6) Baseio-me aqui no estudo de Maria Tausiet Carlés, “Le sabbat dans les traités espagnols sur la superstition et la sorcellerie aux xvi* et xvnº siêcles”, Colóquio

Internacional Le sabbat des sorciers en Europe, Saint-Cloud, 4-7/11/92, texto mimeo. esperando a publicação das atas. A autora considera como mais diretamente ligados à problemática demonológica os seguintes tratados: Martín de Andosilla, De Superstitionibus, Lyon, 1510; Martin de Castafiega, Tratado muy sotil y bien fundado de las superstitiones y hechicerias Y vanos conjuros y abusiones y otras cosas al caso toc anies y de la possibilidad y remedio dellas, Logrono, 1529; Alonso de Castro, De Sortilegiis ei maleficiis et eorumque punitione, Lyon, 1558; Pedro Ciruelo, Reprov ami de las supersticiones Y hechicerias, Salamanca, 1538; Martín del Rio, Disquisi-

Eng pi ig 1599; Benito Perer, Adversus fallaces et superstitiosas aii HS 5 E Ra de observatione somniorum et de divinatione astrologica, Iniai o E a aa ae Lanuza, Combate de demonios y patrocinio de angeles, San odiar se : TR Navarro, Tribunal de supersticion ladina, Huesca, 1632; sig a e ? Ibera y Andrada, Magia natural v artificial, 1632 (obra da qual quibiisia tuto); Francisco Torreblanca Villalpando, Epitomes delictorum in Perta, vel oculta invocatio daemonis interventi, con su Defensa en favor de los li

bros catolicos de la Magia, Sevilla, 1618. (7) Maria Tausiet Carlés, op. cit., p. 3.



(9) Gini

mas cultura; E

E Certeau, “Travel narratives of the French to Brazil; Sixteenth to cs , Representations, “The New World”, nº 33, 1991, pp. 221-6€e 225. nciani,

1, nº 21, 19*90-» Revista 1, p. 22,

O maravilhoso como critério de diferenciação entre siste-

Brasileira de História, São Paulo, ANpuH/Marco Zero, vol. | 199

.

re

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de Lan cre' A

1990,

pp.

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23-31.

des



Mauvais

ESychiatr le —

d s anges et des a P Sychanalyse

jê ES

Sorcelór E

7

Ambivalent conquests — Ma ya and Spaniards in Yucatan, ISI7-ASTO, Cambridge Univer sity Press, 1991, pp. 24 ss. Nelas, a autora mostra como Os espanhóis viram no Yucatán apenas os aspectos da vida nativa que lhes interessavam, deixando de registrar ou captar a porção menos visível ou evidente das relações de autoridade. (15) “The European experience profoundly influenced its Andean counterpart: the ideology of the demon hunters in Europe shaped the ideology of the extirpators in the New World; and, as in Europe, the trials to eliminate idol worshippers had re e effect on the social and religious life of those groups caught in the E pio bro E ivo ae seu o profun dament e influe nciou europé ia [A experiência a AEE logia dos caçadores de demônios na Europa moldou a ideologia ts | Novo Mundo; e, como na Europa, os processos voltados para a eliminaç Ividos na dos grupos envo fundos sobre a vida religiosa e social d witches — gender ideologies latras teve efeitos pro

man

a às bruxas],

Irene Silverblatt, Moon, sun an ia!

Peru,

Princeton University Press, 1987, p. |

59. Serge ia!

“Mais demonol e ogia: ido entre lat ação ria trd s colonia and !“ Inca in and class traduique fait savnit S E R relação à mostrou sensível tn clei idolátrie puis celle-ci en sorcellerie

VEglisesen serait encore tenue 4 Ev ae

a

gm do diabolique récupére obsun um suscite tour son à stianisa tion dr exp que mesure à et fur monia; que.e Au Festations traditionelles, la christ coidentale.

ce les croyances et les pique

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uécs, oq év t n e e m e d ê c é r p s ne ge + avec les expériences indi Igreja a s a M [ ” e” am tr la re co en e tu consti

ja divinité en ças € en cr as o id uz ad tr s a n e p a e ss Dad zo defensiva caso tive a. Á c a í n o m e d ia ar iç it fe em ma nd e a seguir, esta últi ma s da e rt pa r io ma , à e t n e m a d ses bólica recupera, obstina ias ria inédita go te ca a a explicaçã a um it sc su Z, VE a su , r ão po aç “ cristianiz medida aque Eae ea m relação o té l. nã as a ta El i en g o id l oc o n o m s e a d m e da u q s e o et s id õe ad tr nifestaç

na co am tr o a d n a u o q m e, s e nt m me or ri te s a an d a a Apenas evoc

de aparições Cê

sri ch et s n o i s i V “ r . Ve e) ad nd vi di nto com à e m a t n o r f a ai a e p com às nes, vien di in s on si Vi , n n a m l l a S el ch a mexicaine”, «n Jean Mi r u . 117-49 e 123. pp , 92 19 r, pu s, ri , Pa nt tianisation: / pj ie sc on de Vinc s e átrie et l o n o es: l m u é D q “ , n o o g r a R a re h er Pi de s go n sio me no interessantíssimo arti Revue ”, le êc si i* xv au e n i a c i x e m on ti sa li e recherches sur la civi es sç . 1988, pp. 163-81, particu-

, abr.-jun XY , XX e n t. i a r o p m e t n o C et démono 08” pe tre deen es çõ la re as e br so r to au do as éi a “Cudiozasméite muitas das id a o, ver nt ta ra . Pa as nh mi as m o m c e d i c n ricanas coi gas Sê ap práticas religiosas ame ““The devil in Brazilian history”,

a nd ai € uz Cr a nt Sa de a rr te a e o ab di olá qudido O 3. s, vol. 6, 1990, pp. 85-9 Portuguese Studie

. (17) Pierre Ragon, op. Cit., P. 175

|

|

|

, in a” ic er Am al ni lo co in c gi ma of n io us ff di he “T (18) Ver Gustav Henningsen, V. Jo-

ed. Jens Christian d, ar ga ns ee St ls Nie of ur no ho in ays ess Clashes of culture:

ss, 1992, Pre ty si er iv Un se en Od , rg bo ns ev St ik nr He e en ers Pet g hansen, Erling Ladewi tafiega: “il est Cas e s mo Ol re ent o açã rel a faz ém mb ta i sk in uz Gr ge Ser . pp. 160-78

osition d'un traité significatif que "ouvrage de Olmos ait été la pure et simple transp de Fray Martín de Castaega consacré à la sorcellerie espagnole. Un livre auquel le missionaire apporta peut-être sa collaboration quand en 1527 1l participait à la chasse

aux sorciers en Pays basque"” [é significativo que a obra de Olmos não tenha sido senão a transposição pura e simples de um tratado de fray Martín de Castafiega dedicado à feitiçaria espanhola, livro com o qual o missionário talvez tenha colaborado quando

participava, em 1527, da caça às bruxas no País Basco]. Ver ““Visions et christianisa-

ton: Vexpérience mexicaine””, in Jean-Michel Sallmann, op. cit., p. 123. a qi Odegardo, Los errores y supersticiones de los indios, in CoEe referentes a la historia del Perú, 2º sér., vol. 3, Lima, Ro Pure Gado iris id abine MacCormack, ''Demons, imagination and the Inpeito e » Aepresentations, “The New World”, 1991, pp. 121-46, particularmente p. 136 in reima?d'un voyage faict dans la terre du Brésil, ed. Paul (20) Jean de e Lé Lery, Histoi Gaff dia Alphonse Lemerre Éditeur, 1880, 2 vols., vol. 2, p. 71. Examino

mais

21) E EA relação no capítulo 8 deste trabalho.

Jean-Mich Pud

(22) Pierre ção

di E Aa

in Gruzinski, “Visions et christianisation: lexpérience mexicaine”,

e

op. cit., p. 132 (chel Salimann, Ragon, op. ci És D 170)

23

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era

E!

a w CDA A

sobre a conversão do gentio, ed. Serafim Leite, Lisboa,

Edi-

E Sia

pat o Hélêne

(24) Yves dPEvr Iv Centenário da Fundação de São Paulo, 1954, p. 16. Clastres, Paris Pa cux, Voyage au Nord du Brésil fait en 1613 et 1614, ed.

fausses Prophéties já 1985, cap. “Comme le diable parle aux sorciers du Br sil, leur a Au » Idoles et sacrifices”, pp. 221 ss. (25) Idem. = . E : LE Ibidem, autres cérémonies diaboliques a : quées par les Sorciers du Brésil” po

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(26) Carta do padre Azpiúcueta Navarro aos

Jesuítas de Coi in padre Serafim Lente, Momumenta Brasiliae, Roma, E Mbra, 287 3/ cietatis

Jesu,

1956,

vols.

| a 4, p.

178.

(27) Apud 3. T. Toríbio Medi na, Historia del Tribuna! del Santo Oficio Inquisición de Lima (1569-1820), Sa ntiago, Imprenta Gutemberg, 1887 tedio expedido contra , tm, de la astrólogos, judiciários e feiticeiros), "Po (28) Miguel de Estete, “ Relación de la uista del Perú”, in Colección de bros y documentos referentes a la historia deiconq Perú, 2º sér., vol. 8, Lima, 1928 j. 3-9, Ver a respeito Sabine MacCo Presentatíons, “The Nem World”,rmack, “Demons, imagination and Lhe Incas” E 1991, pp, 121-46, especialmente pp . 129:30. (29) João de Barros, Ásia — do s feitos que os Portugueses fize ram no descobri. mento * conquista dos mare s e terras do Oriente — Prim eira década, 4º cd. rey, e pref. Amonio Baião conforme ed. princeps, Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moe. da, I98E, Livro vw, “C | um temporal na paragem do Ca.

DO

A

cd

-

e terra a que comument e chama.

- Robert Southey estranha mais que de costume, é ma JUE cra razodvel; em vez de atri is do buí-la ao triun fo de Satã, O hist oriador inglês credi. 'a à mudança ao fato de o nome de Brasil en contrar-se em voga en tre os geógrafos desde o último quartel do século xv. Lembra também a existência, en tre vários povos, da trad

ição relativa a uma ilha encant ad a chamada Brasil, defend endo a estranha tese de um nome em busca de um lugar: “Era pois natural que apenas aparecesse um pais à que se pudesse aplicar, se fixasse n ele este nome, que até entã o andava vago * INSETIO, E daqui provavelmente veio o ter ele prevalecido sobre a deno minação oficial, e até samiificada pela sanção religiosa”, Robert Southey, Histór ia do Brasil, trad., Belo Horizonte. Hatizia; São Pa ulo, Edus P, 1981, vol. 1, pp. 878, nota 27, (30) “A historiografia brasileira se im cia realmente com a obra de Pero de Magalhães Gândavo”, José Honóri o Rodri gues, História da história do Bras il, Primeira pare — Historiografia colonial, São Paulo, Nacional, 1979, p. 426 ,

(31) Pero de Magalhães Gândavo, História da provín cia Santa Cruz, Rio de Janetro, Edição do Anuário do Bra sil, s. d., pp. 79-R0, (32) Frei Vicente do Salvador, História do Bra sil — 1500-1627, 3º ed, rev. Capistrano de Abreu e Rodolfo Uarcia, São Paulo, s. d,, p. 15, Gândavo € frei Vicente

parecem ser os únicos “historiadores” dos primeiros tempos coloniais a abraçarem à tradição.

Gabriel Soares de Souza, tão afeito ao maravilhoso nas descrições da flora, dos bichos, dos monstros, mostra-se, ao tra

tar do descobrimento do Brasil, eminentemente pragmático, Ver Notícia do Brasil , introd., coment. e notas prof. Pirajá da Sil

va, São Paulo, Martins, 5. d., PD: 65: "Esta terra se descobriu aos 25 [sic] dias do mês de abril de 1500 anos por Pedro Álv ares Cabral, que neste tempo ia por capitã o» mor para a Índia por mandado de El-Rei D, Manuel, em cujo nome tomou posse desta província

a vila de

, onde agora é a capitania do Por to Seguro, no lugar onde já esteve Santa Cruz, que ass

im se chamou por se aqui arvorar uma muito gra nde,

Por mandado de Pedro Álvares Cabral, ao pé da qual mandou dizer, em seu dia, à 3 de maio, uma solene missa com muita festa, pelo qual respeito se chama a vila do mesmo nome, e a província por muitos anos foi nomeada por de Santa Cruz [...]". Mero registro de fatos, nenhum a alusão ao pau-brasil infernal.

(33) Rocha Pita é lacônico, mas atesta conhecimento da referida tradição: “Este foi o primeiro descobrimento, este o pri meiro nome desta região, que depois esq ue-

202

á

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o

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ai

ti

Tica, por Ameri

, quando sil Bra do víncia

do

pelo capitão Pedro Álvares Cab

pe acompanhado de muitos Portugueses saltaram em

hecer ali o abrigo de seus pagiores traba-

1500. “atoSeguro, por recon demaram Porto Seg es do mar) aos três dias do mês de Maio, cha

no ano

(a qual

Amer

mena m i t l u € , o i c ú p s e ico V

pora c i r é m A a d a i , r r ó o t s i i r H supe oduz”, r p e u q , as ítulo (ão as br de 1880, a, lv Si da o, ou co h r l u t e r m A r o e c s v au Franci Tio sa or P a t s e n z u r C á t s a rev. c anot. J a S a a ve nerad menos foi “Não enfático: mais é e ral foi descoberto este EstaSc chamou

gu O Peregrino do

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e

lhos, depois

como afirma

tração de gran

uve pregação, de alegria, 5€ celebrou a Missa, € ho

a

a

Dicvincia m por nome a terra tão formosa, ra se ; pu e da ma i c n i v o r P da Ar depois converteu a cobiça, € os interesses do mundo em de artilharia que “+ título,

A entra do nBr aasi,

dE O

rs

êndio lgarmente hoje se chama”, Nuno Marques Pereira, Comp ia nao América, 6º ed., Rio de Janeiro, Publicação da Academ

E 90. Sobre a idéia de inferno, purgatório c paraíso na obra

autor, ver Patrícia Albano Maia, “Do paraiso ao purgatório:

a AMADA

de

eo

ne

nicação mu co , a” ic ér Am da o in gr re Pe do o iv at rr na Marques Pereira no Compêndio 92. apresentada ao Congresso América 92: Raizes € Trajetórias, São Paulo, ago. 19

, nsa Gá € ue ug rt po ua ng lí co da si ás , cl os rr Ba de ão Jo o lid ter de a po eir s Per ue Marq

sboa. davo, que teve sua História da província Santa Cruz publicada em 1576, em Li já frei Vicente permaneceu inédito por mais de dois séculos, apesar de conhecido e noticiado por intelectuais setecentistas como Barbosa Machado ou Jaboatão. Ver a respeito José Honório Rodrigues, História da história do Brasil, op. cit., pp. 493-4. (34) Padre Jerônimo Rodrigues, “A missão dos carijós””, in Serafim Leite (org.), Novas cartas jesuíticas (de Nóbrega a Vieira), São Paulo, Nacional, 1940, p. 123, (35) In Serafim Leite, op. cit., p. 174. (36) Para a referência a Alfredo Bosi, ver História concisa da literatura brasileira, São Paulo, Cultrix, 1970, p. 26. Para todo o resto, valho-me do belo artgo de

“O aferidRoT o

Décio de Almeida Prado, “O teatro como instrumento de catequese””, Nossa Améri-

conciliábulo — o concílio do Mal. Não

é aa

mais, dando-lhes a palavra coma a certo ORE nhores intercséndos , momento

e

E

o que quatro diabos, reunidos em RS am,RRparecendo setodos sece sentRE

em resolver problemas práticos através da livre di ã Pos que O ato de sentar, quando a persona NO PI m ge da na m te o contudo er, a nd diz ve de freah |

requente em tal tipo de peça, re solvendo, para o autor, o

âmicas, de tanta vivaci em POSIÇÃO tão estática — Na do teatro Oc idental”. (37) Alonso de Zorita, Hi nº t-

59, fis. 245-60,

Apud

Ss provenientes do Inferno, bos sentados de toda a histó-

|

(40)

Pº ara

tal infleao xão

no

discurso

:

Méxi '

0, Porria S.A

Up. Cit,

Pp

166.

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jesuítico, ver Adriana Romeiro, “Ty , caminhos levam ao céu”, dissertação de mestrado, irem-Unicamp, 1991 (8 05 cavadores de almas”, passim, ; (41) Ragon, op. cit., pp.

+ Ap

170 ss. Stuart Clark,

À, “Os

Inversion, must ule and the mea

ning of mitcheraft?, pp. 98127. (42) Diego DurTAM, án, His é toria de las Indias de Nuevova Esp E ana e isla 1 me, ed, Angel Maria Garibay K., México, Porrúa S. A., 1967,2 v ols,, vol, a 4tum toda esta parte reterente àE inversão e à desordem, | vali-me da análise | + De 236,

de Ragon, op. cit., p. 174.

(45) Para à carta de Luís da Grã, ver padre Serafim Leit e (org),

inteligente

Nov

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ET

—"—=

+

jesuíticas, p. 163. Padre Fernão Cardim, Tratados da terra e gente do Brasil, e dão Paulo, Nacional/mec, 1978, pp. 185-6. A simbol ogia do fogo ocupa a | É, trai na feitiçaria: ver Nicole Jacques-Chaquin, ““F eux sorciers — quelanes véia sur Vimaginaire démonologique (xvº-xvn* siêcies)", Terrain, nº 19, out, 1992, pp aê

acima

(44) Para à linguagem dos contrários, valho-me aqu i da análise de Stuart Clark

mencionada, (45) Robert Ricard, La conquête spirituelle du Mexique. Essai sur | apostolat et tes méthodes missionaires des ordres mendiants en Nouvelle Espagne de 1523-1524 à 1572, Paris, Institut d'Ethnologie, 1933, pp. 100-1, nota 75.

(46) Dentre os historiadores, é Serge Gruzinski quem dá a mais sofisticada e

completa definição de idolatria, “dimensão secreta [...] que invade o essencial da existência indígena”, sistema integrado, verdadeira cosmovisão. A idolatria, por um lado, se manifesta no âmbito restrito da domesticidade; por outro, se generaliza e dissemina por toda a vida cotidiana. A ênfase em tal bifrontalidade imprime à idolatria caráter vasto e abrangente: o fenômeno é analisado no âmbito multifacetado da cultura, acentuando-se-lhe o caráter simbólico em detrimento do mecânico (práticas mágicas). Para Gruzinski, as práticas mágicas passam a se destacar no contexto da idolatria quando esta, atraída pela magia curopéia, soçobra nela, se mecaniza, perde a dimensão cósmica. La colonisation de "imaginaire — sociétés indigênes et occidentalisation dans le Méxique espagnol — XVF-XVIIF sitcle, Paris, Gallimard, 1988, sobretudo pp. 189-238, e pp. 239-61. Muito interessante também é a tipologia criada por Ronaldo Vainfas, que vê nas Américas idolatrias ajustadas e idolatrias insurgentes. Ver “Idolatrias e milenarismos: a resistência indígena nas Américas”, Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 5, nº 9, 1992, pp. 29-43.

(47) André Thevet, Les singularitez de la France Antarctique, ed. Paul Gaffa-

rel, Paris, Maisonneuve & Cie, 1878, p. 168. (48) Notar como esta afirmação de Acosta se aproxima à de Pierre de Lancre, que interessa que será desenvolvida na conclusão deste trabalho. A obra de Acosta

para a sua definição final de idolatria é a Historia natural moral de las Indias (1590). Ver Pierre Duviols, Op. cit. (49) “Colóquios de 1524, colecionados por Bernardino de Sahagún em 1564, e sábios, sobrenos quais os doze franciscanos expõem aos líderes político-religiosos A conquista viventes da conquista do México, a nova ordem cristã”, in Paulo Suess, Voespiritual da América espanhola — 200 documentos — século XVI, Petrópolis, e : É se zes, 1992, pp. 429-75, especialmente cap. x1, “Onde se diz como

encarregaram os diabos de andar sempre enganando os homens na terra PP. pe a aborrecedo e cap. xiv, “Onde se diz como os diabos são muito invejosos, muito das pessoas”, pp. 4715.

204

e

de las cosas de Nueva Espana, ed. Angel Maria Garibay K



: cit, Op , k c a m r o C c a M e n i t..! é Sab ai P O n, go Ra m e e Os-m alhos de Ruiz ab tr Os (50) Base io 2. 1. 19 . Pp t, ci m uzinski, op. r G e rg Se to ci p s e r rsticiones Y cos pe su las de o (51) Ver & ad at Tr te en am i v i t c e p na, res r e S a l e d o t n i r a os de r € t s nc J i ó n i m e d l a u n a 1629) e M ( de Alare . s o i d n i s o l e e u r q t n viven e não foram y tlicas o , m h 6) 65 é (1 R as el de s n o ió ac r rp b ti qun de sus idolatrias Y ex to en mi ci no co 4 Agui€ de z he a nc Sa r de a s p te an rt po s im o s no i me md trabalhos 05 Já H; xv o ul éc os ectivamente sp re s: ze li Fe is ma m publicados n ra fo re € Ricardo Villavicencio ob al ls Ba de o as... rí at ol id s ta A de a N ic nt O té G au ón ct jar, ri, 1619), Rela ad (M es or lt cu m ru lo do ri ntr . (Pue.. as ri at ol id de o rr ie st de y s ra at Informe co ól Y método de confesar id z u L , ) 6 5 6 (México, 1

2) Relação

bla,

ectplina

discipa”

€ dos



etnográfica de Bernardino de Sahagún sobre a degeneração dain

”, as ri at ol id as su de ão iç ru st de la pe ystumes indígenas causada .

OP. ClL, , ) . g r o ( s s e U u S o Paul

“pp. 217-24, citações à página 218.

|

P. 105. , t. ch . Op , d r a c i R en, (53) n n i d n e l C a g n I d u p , a n á t a sas de Yuc o c s la n de ó i c a l e R , a d n a L de (54) Diego books which were se the s wa it .J “f. a: nt me co ra to au a fato, op. cit., PD. 70. Sobre o have been st mu h ic wh m is al nd va of act an friars: later systematically destroyed by the the essential horror of monstruously

h is I suppose unintelligible to its victims, whic

des te en am ic at em st si m ra fo is po de e qu ros vandalism”, p. 134 [ [...] são esses 05 liv mente inin= sido monstruosa ter e dev que mo is al nd va de ato (ruídos pelos frades; um vandalismo). do ial enc ess or rr ho O , ver u me a é, e qu telipível para suas vítimas, o (55) Ver Gruzinski, Op. Cit., Pp. 235. (56) Inga Clendinnen, op. cit., p. 80. a Clendinnen, op. Ing de il sut e nte lha bri udo est ao vez a um s mai to me Re ) (57 cit., p. 77 e passim.

(58) Apud

Duviols, op. cit., p. 35.

(59) Ricard, op. cit., p. 359. (60) Serge Gruzinski, op. cit. (61) Nancy Farris, Maya society under colonial rule — the collective enterprise of survival, Princeton University Press, 1984, p. 286. (62) Serge Gruzinski, op. cit., p. 241. (63) Irene Silverblatt, op. cit., p. 195. A citação anterior se encontra à página 173.

(64) Serge Gruzinski, Op. cit., p. 215. (65) “Soustraite en partie au contrôle des autorités ecclésiastiques, la fabrica| tion d'images chrétiennes, de peintures, de statuettes, d'ex-voto remplit Iunivers indigêne de représentations qui scandalisêrent fréquemment le clergé. En 1585 des voix demandêrent au nº Concile mexicain d'interdire la figuration des démons et des ani-

maux au côté des saints car les Indiens les adoraient 'comme auparavant”. En 1616 un prêtre s'en prit aux 'statues du Christ, aux images peintes sur bois ou sur papier Sen; les factures étaient si laides et d'allure si vilaine qu'elles rassemblaient davantapantins, à des gribouillages ou à une autre chose ridicule'* [Parcialmente subE sb ga

ao controle das autoridades eclesiásticas, a fabricação de imagens cristãs, de

a Ro E ig

de ex-votos preenche o universo indígena de representações

o clero. Em 1585 ergueram-se vozes pedindo ao mt Conpn cid cê a representação eutatisa de demônios e de animais ao q se doidas como outrora”. Em 1616, um padre n e os adoravam x a RR COLE e Cristo, imagens pintadas em madeira ou papel cuja as Ccucda Eana aspecto tão desagradável, que mais pareciam títeres ou gantujas dorqie sui oisa], Serge Gruzinski, op. cit., p. 243.

205

pio,

1958,

Para a polêmica

| à do jusnaturalismo, ver Lewis Hanke

The

ç

Pa TO,

|

Wo, Nacio. Jo

E

Olym.

for justice tn the conquest Stru Í of America, 2º ed,, Boston /T or 1965. 3. 5. Silva Dias, “A revolução dos mitos e dos conc onto, Little Brown O

eitos"! ;

Õ,

+ Im Og des rimen. tos e a problemática cultural do século XV T, Coimbra, Universidade de Coimbrcob a, 1971

pp.

1977-276.

(664) Valho-me aqui da análise de Sophie Houdard, “ ronti ére et altéritá dans le Tableau de Vinconstance”, op. cit., p. 24. Ver também, dam es ma autora, Les s ciences du diable — quatre discours sur la sorcellerie, Paris, Cerf, 1 99 2, cap. IY, Pp, 161216, “Pierre de Lancre et le diable Protée”, (67) Prerre de Lancre,

Tableau de !inconstance des mauvai aus anges et des dé.

a

——

a

oo MR

mons ou 1d est amplement traité des s orciers et de la sorcelterie, introd. crit e . notas Nicole Jacques-Chaquin, Paris, Aubier, 1982, Livro |, dis curso 11, “Qu'il ne se fau etonner puisqu'il y a un si grand nombre de mauvai s Anges, qu'il y ait tant de Magi. ctens Devins et Sorciers, et pourquoi ceux du pay s de Labourd ont tant d"inclination, et courent si fort à cette abomination”, pp. 69-88 e 79. A associação entre os selva. gens e os bruxos do Labourd me foi suge rida pela leitura de Sophie Houdard, op. CHt., p. 27: “On comprend micux aussi 'i nterprétation sémantique que le conseiller donne alors à "espace basque: les labourdins son t comme les sauvages de |'ile espagnole; comparés, traduits en termes de sauvagerie , ils forment un espace nettement autre” [Compreende-se melhor também a interpreta ção semântica que o conselheiro faz então do espaço basco: os laburdinos são como os selvag ens da ilha espanhola: com. parados, traduzidos em termos de selvageria, form am um espaço cuja natureza é cla. ramente outra).

(65) Utilizo propositalmente concepções diversas que discorrem sobre um mesmo fenômeno, a constituição do sistema colonial e das relações entre Europa e Aménea. Para a colonização como sistema — formulaçã o de Jean-Paul Sartre —, ver Fernando A. Novais, Portugal e Brasil nos quadros do antigo sistena colonial, 1777-1808, São Paulo, Hucitec, 1979: para 0 processo de oçiden talização, ver Serge Gruzinski, Op. cit. (69) Penso aqui no capítulo de Marx intitulado ““T eoria moderna da colonização”, in O capital, trad., Rio de J aneiro, Civili zação Brasileira, s. d., vol. 1, p. 883. (70) De Lancre, Tableau,.., discurso 1, p. 80. (71) Tal afirmação foi feita por Michel Meurger no Colóqu io Internacional Le sabbat des sorciers en Europe, Saint-Cloud, 4-7 /11/92: no momento, não tenho condições de precisar em que fontes se ba seia. (72) Carlo Ginzburg, Storia notturna — una de cifrazione del sabba, Turim, Einaudi, 1988 (trad. História noturna — de cifrando o sabá, São Paulo, Companhia das Letras, 1990). Ver também sua comunicação “Sur les origines du sabbat”, Colóquio Internacional Le

sabbat des sorciers en Europe, Saint-Cloud, 47/11/92, texto mimeo. esperando a publicação das atas.

(73) Charles Zika, “Body parts, Saturn an d cannibalism: visual representations ot witches” assemblies in the Sixteenth Ce

ntury”, comuni cação apresentada no Colóquio Internacional Le sabbat des sorciers en Europe, Saint-Cloud, 4-7/11/92, texto mimeo. esperando a publicação das ata s, p. 15. A análise brilhante de Zika mostra que, malgrado referências textuais mediev ais ao canibalismo das bruxas, este só começa à ser representado pela iconografi a na segunda metade do século xvi, o que su gere descompasso entre q figuração escrit a e a visual no tratamento do tema. “Thi s

206

a

cd., São

nal, 1969. Guberto Freyre, Casa-grande& sentala, 9º ed., Rio de Jane

ci

Visão do Paraiso, 2º

E

(66) Sérgio Buarque de Holanda,

idnidians n i r e m A f o s n i o picti e d l a u s i v Í O y t » the begin430s and

especially

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es, Simon Grace

Brar were also E d a

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seemuller,

uorks by André Thevet and others from

bastian Munster :

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itions of Hans ger cannibalistic imagery he main elements O 4 ians from the early Indians f Brazilian Ge

tin the depiction O

ate 15505, a0

qe

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n's illustrated account.

nen identífie 1 y dily (der ith such deeds. 1 .

rea-

and especially nar dp

cas.

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to America put o fisto soderia ter sido facilitado pela popularidade

; and 1620s'

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betwesã

*

dação 3

canibais por volta de 1530

“« dos ameríndios como selvagens cânive és e toda d cultos xvi, leitoresCan século do início No a at1550. de gorraios Sá ? especi e da Américas, das 3 nati vas é E je e. sobretudo, àP prontamente as populaçõesO canibalis dentificartam rasil, com tais práticas. a Europa iden ustrado de il to la s re õe iç do ed as l ri mente Os ! vá com as rári o s o m a f e nt me ar ul ic rt i ao ço poa- qpa a pp s pai nci pri os am ir un re ho bás tornar bal tra te des n. As ilustrações

sons

das

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cena 1 a

havia se tornado elemento básico na representaçã

rimeiros anos do século e tinham sido amplamente retrataWaldseemuller, Lorenz Fries, Simon Grynaeus, Sebastian

O canibalismo dos tupis foi também representado graficamente em ou nç ca al e 0, 155 de da ca dé da al fin no ros out e vet The é dr os de An nda re Gi a meme a nas narrativas européias de viagem à América emplemente IR na coletânea ilustrada de Theodore de Bry e seus filhos entre as décadas 1590 e it., p. 15 (grifo meu). r “89 Espa temas ligados a Saturno, ver, entre outros, R. Klibansky, E. Panofsky e E. Saxl, Saturne et la mélancolie, trad., Paris, Gallimard, 1992.

dos nos rpsinto

(75) Nuno Marques Pereira, op. cit. No prefácio da obra, Nuno Marques Pereira diz que resolveu escrever o livro para ““avisar e denunciar”” vícios e pecados que

ocorriam no Brasil, “levado pelo zelo e amor de Deus e da caridade do próximo,

e por ver e ouvir contar da geral ruína e feitiçama e calundus nos escravos e gente vagabunda, no estado do Brasil, além dos pecados, superstições e abusos [...]”. Remeto novamente à comunicação de Patrícia Albano Maia, “Do paraiso ao purgatóHo...”. Discurso Histórico e Político sobre a sublevação que nas Minas houve no ano de 1720 — No fim do qual se explicam as razões que o excelentíssimo senhor conde general teve para proceder sumariamente ao castigo, publ. J. P. Xavier da Veiga, 4 revolta de 1720 em Vila Rica, Ouro Preto, Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1898.

D

É CULTURAS E CRENÇAS — BRASIL, 1543-1618 (pp. 47-57) é

vo, n$ 1, 1993, pp.

IS ligeiramente diferente em Historica — Revista do Arqui-

(1) Capistrano de Abreu

SOS e povoamento do Brasil, ei “«Ar : as | + in Caminhos antipen eR dem , don tic - da Sociedade Capistranoajá de Abreu, Rio de Janeiro,

207

| ivraria Hriguiet, 1930, pp, 35-50: à citação está na página 45. e n publica-se, em grafia modernizada, O interrogatório de E de Tube Páginas 46.50 o imterrogatório global, ver “Inquyrycam que ho vigairo desta via de 1550, Pary

vrou jumtamente com ho padre Manuell Collaço c Pero Anes Vcs

õ

o Tt

sobre as heresias e blasfemeas que Pero do Campo Tourinho Governad Sh Ma EO tanya dyzya e fazya contra Deus noso Sniior", Arquivo Nacional da or dh Capy.

Inquisição de Lisboa, proc, nº 8821, apud Carlos Malheiro Dias (org). Jr OTbo voor colonização portuguesa à do Brasil, Porto, Litografia Nacional vel

a

di q—

-

——

I9ZA, v 21-65. Falam ainda de Tourinho os autores seguintes: E A, Varnhagen a ral do

e

Et

TOM VeBUro

ini

Brasil antes de sua separação

Garcia,

São

e independência

de Portugal

'

4º é ed,

.

e

fev. a

a Hs

o e

Paulo, Melhoramentos, 1948, Lt, pp. 22041. 3, FE, de Almelda tado, A Bahia e as capitentas do Centro do Brasil ( 1530-1620), São Paulo, Nacioi |

e

1945, 11, pp. 204-T8. Sérgio Buarque de Holanda (org,), História geral da luiz

ção

brastigira,

ral, São Paulo,

f

A

epoca

colonial



[o

Do

descobrimento

à expansão territo

Difel, 1960, caps, “O regime das capitanias! e MA instituição do po verno geral”, pp. 102 e 12), Na História da colonização portuguesa, ver ainda vol,

m, cap. v Pedro Azevedo, "Os primeiros donatários”, pp. 203.5, (4) Peter Burko, Popular culture in Early Modern Europe, Londres, Temple Sith, ITA, po MA cultura popular na época moderna, trad,, São Paulo, Companhia das Letras,

Para um ótimo estudo da cultura o religiosidade populares o

Hrasil

=

quinhentista, ver Adriana Romeiro, “Todos os caminhos levam ao cóu”, dissertação de questrado apresentada ao jrenUnicamp, Campinas, 199, (1

-—

o ie

Te o

1988),

Eúlágio

Franco

Jr,

Peregeinos,

monges

é guerreiros — feudo-elericalimo

e relisiosidade em Castela medieval, São Paulo, Hucitec, 1990, p. 614, A blasfêmia ema citada vo lado do homicídio, do adultério, da prostituição, do furto, da avareza

e de outros pecados. A própria besta do apocalipse é descrita como tendo "sete cabe

ças, dez chifres e nomes de Ilasfomia”. Cal idoso para com pobres e doentes, não Luls

mandou “queimar com ferro em brasa os lábios de um burguês parislense que havia blastemado contra Cristo", Franco dr, dem, Ibidem, 14) CHI

Vicente,

Obras

Livraria S4 da Costa (9

Primeira

completas,

Editora,

Visitação do

pre,

e notas

1942, vol, 1, pp. Santo

Gficio

prol,

195245,

de partos

do

Marquesa

Brasil.

Hraga,

Lisbon,

Confissões de Per

nambuco, ed. 1 A. Gonsalves de Mello, Recife, Universidade Pederal de Pernambi co STO, po JAM Ver também José Antonio Gonsalves de Mello, Ciente da nação — cristãos novos e Judeus em Pernambuco < [5421654 Recife, Fundação Joaquim Na: puro e Editora Massangana, 10N9, po xvi, onde se reproduz a gravura cm questão. da Ba (4) Sevunda Visltação do Santo Ofrio ds partes de Brasil Contissdes hu, inteod. Eduardo d'Olivelra França e Sonia Siqueira, qão Paulo, Anais do Museu Paulista, mv qu 170, pero (idem, po V/A, nclações da Denu l Basi do es part dx io Ofic o Sant do o taçã Visi (49 Primeira do, 1945, pi 10 od, Pra lo Pau ed. o, Paul São eu, Abr de o ran ist Cap o, intr Hei,

da Bahia, ões iaç unc 1hon si Bra do es part às io Ofic to San do (9) Segunda Visitação do Rio de Ja:

lioteva Nacional inirod. Rodolto Garcia, Rio de Janeiro, Anali da Wib neiro,

1927,

vol.

49, po

100,

: e (10) Idem, po tada, es da Be sõ is nf Co . sil Bra do tes par ds elo Oft o nt Sa O Primeioa Visitação do 3h

1945, pps ot, jgud 1h o, eir Jan de Rio eu, Abr de o ran ist Cap l, nia o IAOIASOS, pro 185.0, e 2 Primeiro Visitação. Denunetaçães eta Baba, Pr



(

12)

Ver

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eai!

Hucites a

ú

cimene s a n e H o m e Média e d a d I a n r ula A cultura pop 126. aveuant t. ' í onologis r h , c a u q 1987, F rgar a C ris, a P d n a r , g s u o u d l l l e horrificqu aníves pou

r Je a p p vie tres e u q i x e l et Paos e nt ve en introduction bl sa ya E pa Crargantua t n e m m o C : -H 90 pame -L, Saulnic68, PP: e r t s o N o s i l g e V de es cloches res o o d a d u l a ao s , s a r i e c i l e = f 1987. , , a t t r r e u b o A c c n e O peth | tas s e d , s a a o d b a s s u i c L a d ai 45 mais XVI, + e Gulonar € 6), 9 4 P P , a t h a H des da . 59 po , d i h a H a onfissões d c P P , t l o v o çã , ta s a si t e Vi l p m ra o « ei Obras , s a d a f s u d o t u a da a m a Ne h c a s r u p e t n L, e c Oi [B V s a n 1 i g á ha p i(Umd) Ro e t n e m a v i t c e sp 299. MM). e r . p ' p , a i h a H e a õ ações d i Citaç c n u n a fele d D l . . e p o a ã p ç d a o t i s q a i r V a P po Bh , a i g (18) printeíra a m a d o i r á ris a in d g a m o i s u o e t t , e t r m n e o r c t n the cl Ven e r ó i c r o s a (19) francisco pe p " Palla, s, Auto o é t s n o r J a v s a é a S t i ó r i a c o m S s l e a l d n Ve o entino, ongrés Nati c C º i 5 v 1 1 o jo r t a e t eng o e é ' ” ; M . s u a d h l r A u o r ot auj e s i e I l c a t ll Vicente”, c o C e p o a f o f héatr e e e e r t i t e je thóati t s u o s M 04 8/4/1990, paE poe s e r 1991, PP: 165075. , oa ", sb ce Li de isição na qu r In t a n r r e v a H , Cl o b m o T e Ag ional da Torre do P

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(20) Arquivo Nac

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no

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encontrados s e s e u g u t r o p s sabá

por

Francisco

Hetheneonr!

rela m o c s io sv de € eculiaridades p as ri vá s, iá al m o c as , o tr d n ou a t n m e o s c e r e p t a n e m a t para O séculoloXV!I = €0 de Margarida Lourenço, que, jun 007 1 . pp a, gi ma cão no mode da o i r O imaginá s, ho in al av € de l Va da abo em al nt ie or a st co da , as ic pantielras, ha Ler vom o di has atlânt Il s da s io ár in ig or os gr r o diabo, ua lt cu ra pa No século xvith, alguns Ne s o h n i l a Cav s (41) Mem dos porco

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mpanhia o ' € o, ul Pa o Sã e, ru € Santa de a rr te à e o ab di O A, e trabalho, st de H Laura de Mello € SOUZ lo tu pí ca O a ad local, ver at te es e br So 9, +4 P , 80 Nóbrega e a , s das Letras, 19 n i t r a M r o n o e L m é b m a r s Cajada, (22) Além de Maria Gonçalve nam» r e P s de e ã ç a l c n u n e D .. o. çã meira visita i r P r Ve . es ar li mi fa tra am e m ri i te r a P € , 4 3 2 4 . sua Filha Joan pp a, hl ções da Ba a l e n u n e D .. o. çã ta si Vi a Duo pp. TORO, Prlenetr inglesa, ia ar iç tt fe de da da ci fi ci pe es à . 012. Para Visitação. é onfissões da Halta, Pp ar beliefs in

África e do Hail

l u p o p in s ie ud st — c i g a m ine of ct de e th & on gi li Re , as t om r e Hh b o R ; 80 , 19 E Kalth n o s l o h c i N d an o a Wald n a o A d ro mo m d ja ad tve áperspectivare"! p

doHi n gl Hoen mnph e a c i t

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omnpaEruaroo MInodc si Vrgi r e (o ), Early

0, 19 16 : pp , 93 19 s, es Pr n o d n e r a l C xford, ; eg et e À; ê i i ra ei im Pr (33) :0. 23 . pp , o c u b m a n r e P de lações traglcomedia de Calisto y Melibea, cd. Ra ! | ) R de o d n a m mia (2t4)udPoor Dana x o í ( Rn o lh ve O e, nt ce Vi l Gi , 80 19 a, dr te s Cá ne io Ea , Edic TR gba aid e.m ra ei ic lt Je O de Ã Ç A U I B R D O R s Ra da a f O A N ur le S DA el s re d iê da a rc e so s Le , diterrânic ja ro Na o r lio Ca Ju r ve , po 72 19 d. an im ll Ga bá sa do o ip monde, trad. Paris. ót re te es O ra Pa , 20 pp. 116ver OR:

man Cs oh,

, 72 19 , d r a m es ar de li e s o mi i fa n o Los dem

Robert Muchembled, “Lautre cô é | é

Bu

Burojpo trad MAE,

Jav E Ea AAUÍNAES BETA

1978)

s le el ur lt és cu it al ré a u q a an t : AMX vit eU vit sibeles"!, Ann : a Eonrodrs m nº 2, mar-abr, 1985; Carlo Ginz, dO o an , C S E — es o d a r t [ 89 Eis» i, 19 ud o na ra , Ei [t m i r u , T a b b a ' ne s l io de ag fr ci de a un E São Pa trad, , ba ]. sa 91 o 19 , as o tr d n Le a s a da i h n de tr a p m o C o, ul deito 209

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(25) No primeiro caso, trata-se do s anseios de certa dona Lianor: n uma mulher de alcunha a Boca To rta, Primeira Visitação... Denunc iaçõ pp. 343

e 412. (26) Primeira Visitação... Denunc iações da Bahia, p. 295. (27) antT, Inquisição de Lisboa, proc . nº 3382 (“ mulher parda casada com João da Cruz Ourives nat ra na da Bahia de todos os santos pa rtes desta cidade de Lisboa"), (28) Segunda Visitação... Confissõ es da Bahia, Pp. 447 e 448, (29) “Imquyrycam que ho vigairo..' , pp. 281 e 283 respectivame nte. (30) ant, Inquisição de Lisb oa, proc. nº 12 231. Apud Sonia Siqueira, A In. quisição portuguesa e a sociedade colonial, São Paulo, Ática, 1978, p. 223, (31) Primeira Visitação... Co nfissões da Bahia, respecti vamente PP. 282 e 331. (32) Primeira Visitação... Confissões da Ba hia, Pp. 79. A melhor fo nte conhecida para o estudo da Santidade do Ja guaripe é 0 proc esso do senhor de engenho Fernão Cabral de Taíde, antTT. In quisição de Lisboa, proc. nº 17 065. Quem melhor e mais sistematicamente tem estu dado este movimento é Ronald o Vainfas. Ver “Tdolatras € milenarismos: a resistência in dígena nas Américas”, Estudos Histór icos, Rio de Janeiro, vol. 5, nº 9, 1992, PP. 29-43, e sobretudo ““Idolatrias luso-brasileiras : “sandades" e milenarismos indígenas” , in Ronaldo Vainfas (org.), Améric a em tempo de conquista, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1992, pp. 176-97. Cabe regist rar o trabalho pioneiro de José Calasans, Fernão Cabral de Ataíde e a Santidade do Jagu aripe, Bahia, 1952. A problemática das font es sobre a Santidade será retomada no capítulo seguinte, “*Por fora do Império: Gi ovanni Botero e o Brasil” (33) Baseio-me aqui no Prefácio de Capi strano de Abreu à Primeira Visitação... Confissões da Bahia, PP. I-xxix. Ver tamb ém Ronald Raminelli, “Tempo de Visitaçõe s — cultura e sociedade em Pernambuco e Ba hia — 1591-1620”, dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de História da FFLCH-USP, São Paulo, 1990, pp. 206 ss. (34) Para a quantificação das transgressões c uma abordagem sociológica das delações e confissões, ver Ronald Raminelli, op. cit., pp. 69-101, (35) Primeira Visitação... Confissões da Bahia, p. 89. (36) Idem, p. 167. Foram frequentes na América os casos de “mestiçagem cultural" — que podia ou não coincidir com a étnica — do tipo da de Tomacaúna. Quando Fernando Cortés desembarcou em Cozumel, na costa da península de Yucatán, teve conhecimento da existência de dois náuf; ragos esp anhóis, Gerónimo de Aguilar e Gonzalo Guerrero, sobreviventes de um naufrágio ocorrido em 1ISII. Aguilar conservara a identidade espanhola, mas Guerrero decidiu permanecer como nativo, casado com india, andando tatuado com brincos de guer reiro nas orelhas. Sobre O episódio, observa Inga Clendinnen: “What it was that held Aguilar to his Span ish and Christian sense of self, yet allowed Guerrero to identify with native ways, is mysterious” [São

misteriosos os motivos que levaram Aguilar a permanecer iden tificado com o seu self de espanhol e cristão, enquanto Guerrero se identificava com os costumes dos nativos], Ambivalent conquests = Maya and Spaniards in Yucatan, 1517-1570, Cambridge University Press, 1991, p. 18. (37) Por volta de 1606, intensifica-se a prática inquisitorial de enviar degredados para o Brasil.

Ela atinge seu ápice em meados do século, « declina no primeiro | quartel do século xvur, quando as ilhas atlânticas passam a ser o local preferido para o degredo. Consultar anrr, Inquisição de Lisboa, Manuscritos da Livraria , nº 959, Trato do degredo no capítulo 4 deste trabalho.

210

ação z i l a t n e d i c o à staque e d á d e s e u q em Clendinnen,

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ds le Mexique espagnago! — X poa

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n o c e d e u q o z d i t a m e d s i a m tos 'imasation de l em

-88 58-88) (ppBRASIL O E BOTERO GIOVANNI ;MPÉRIO: + POR FORA DO Rowland - go Robert de concurso o sem (o poderia ser escri s. Rowland colocou-me em contato com Este capítulo não de ofício e amigo prasil; Vainfas auxiliou-me no

naldo Vainfas, colegas

to às fontes utilizadas por Botero no tocante à a

shi

parte das Relazion” a

nhamento da po

= aRs

a ia da carta ânua de 1585. Cabe destacar ainda o aux LO Iniciação Científica de um Projeto do tipo Laboratório ferênci

as odio: qua iai iunto dO CNPq, coordenado por Ronaldo Vainf ete a parte das Re-

a

u para disqu l 5 Ap Integrado de Pesquibsaminha orientação, Rodrigo passou P

“ini

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Ego aqui o Boter de gens passa as entre cotejo no ou auxili e Brasil relativa ao

fruto ser ulo capít deste nto, porta r, Apesa tas. entis quinh as jesuít Os e grupo, sou inteiramente

da

resem lho traba do o enciouiNdá bolsa e de ter se beneficiad pelas idéias € pelo desenvolvimento da argumentação. Ê es cardeal Borro(1) “Minhas obrigações para com à benignidade do ilustrissimo meu, meu senhor, são infinitas; mas entre as demais, não é de pequena importância

esta, que tendo-me Sua Senhoria Ilustríssima (movido pela piedade e zelo que tem

da glória e serviço de Deus) imposto que eu descrevesse o estado em que se encontra

hoje a religião cristã pelo mundo, proporcionou-me ocasião, para fazê-lo, de lançar

quase uma visão geral sobre a Europa, Ásia, África e o novo mundo, e às ilhas espa-

lhadas pelo Oceano «e pelo Mare Nostrum””, apud Federico Chabod, “Giovanni Botero”, in Escritos sobre el Renacimiento, trad., México, Fondo de Cultura Económica, 1990, p. 268, nota 179. A estadia romana parece ter sido fundamental para que Bote-

ro acumulasse informações acerca do Novo Mundo. Como procurarei mostrar, creio

ter sido então que leu as cartas jesuíticas enviadas do Brasil; mas é preciso lembrar ro dg desempenhado pela Itália em geral, e por Roma em particular, na vei-

pra viagemVer Numa Bt La gdogranhe de Renas :

(2) Enciclopedia cattolica. Vati

u crHS, 1986, p. 33.

(GH. Trevor-Roper “Rejiciao rr OTença, Sansoni, 8, d., vol. 11, Ép.-1965, Religião, reforma etra Call) idrim

Pia iransforma ção social, trad., LisboaEP a er a

literaria"' de la

aa

635.80. Ver também

Cultural histo

a

Ti

e secularizati On

cut



aaa e

Presença/Martins Fontes ; a

bi

1972 » PD. 39-40.

de Véloquence —

et “res de F'époque classique, Genebra,rhétDroroziq, ue1980 , pp.

p e society”,

Controriforma: contributo alla

in 4 usab!

€ 121, autor Es Berkeley/Los Angeles » University of às Observações sobre secularização.

21!

1934, p. 61, apud William 3

ºCali Past — essays in European a opa Dans 990, pp. 112-28

j

politi | (6) “Venice and the political educatio 5». op. cit., pp. 266-91 é 273, n of Europe”, in William J. Bouws cd Enciclopedia cattolica, p. 1965 A ) Em o

Botero, ETO,

Chabod

nota “ reconhecimento | i do val

pq, inclusive perante às doutrinas consagradas pelos si do caperiênçia dos oria”, Ver Federico Chabod, “Giovanni Botero”, op. cit eFra e StrES da sabe. , 249 p. DE a tringant ue r

dizE q quex no oceano, coincidem a experiência concreta do navegado e e Les

ia cosmoCor se não o, pl em ex , por et ev e, Th ll se er ie iv un ph ra og sm Co sua na a, ic graf representa co= commóigraro diante de seu mapa, mas no seio dele: “Tout ce que discours vous Je quelle de ou Paris, de escoles és point recite, ne s'apprend des universisoit ce a le soubz'la navire d'un chaize la en ains Europe, tez de 1 vor CSA Venho, ella Dinda en est le Cadran et Bussole, tenans ordinairement VAs trolabe devant le cler du Soleil"! E god Euclá feio ros io

de Paris, ou escolas nas aprende se não asa d j do unive outra em qualquer na cátedra de um navio, na aula dos rsidade da uropa, mas o pena são o quadrante e a bússola, observando-se o astrolábio à luz do ;

sol], Frank Lestringant, Vatelier du cosmographe, Paris, Albin Michel, 1991, p, 31 Cosmografia e experiência andariam juntas, no século xvi: veja-se a própria definição de Leonardo Fioravanti, bolonhês, em 1564: “A cosmografia é uma ciência que jamais homem nenhum pôde aprender ou conhecer senão por meio da experiência...”

p. 35. cit., op. Lestringant, Frank apud 1564, Veneza, universale, scienza di spechio Lo (9) C. Gioda, La vita e le opere di Giovanni Botero, Milão, 1894; este trabalho

mas infelizmente não tive, Chabod, por requência f com citado e é muito importante do trabalho de A. acerca mesmo o digo consultá-lo; de até o momento, condições della statistiche e delta origine te e Botero G. di universali” Magnaghi, Le “Relazioni de Chaconsiderações das muitas baseiam se qual no anthropogeografia, Turim, 1906, vindas edições sucessivas as entre Botero por bod. Para as modificações introduzidas Botero”, Op. Cil., Giovanni de “Apéndices 4 luz entre 1591 e 1596, ver F. Chabod, pp. 329-30, nota 2. sucedia que, 30 “Também 277. PCit. Op. (10) F. Chabod, “Giovanni Botero”, discurso, seu de tom o também distintas fontes, variava das caracteres os ojá, variarem geográfico, e econômico sentido pleno de Guicciardini, Ludovico cápor ora, guiado aparição do demônio, pretendia diversas pela cores em Acosta, de seguindo J osé mesma

E fã admiração A América. da índios pobres os eci ps: e laços barb com de car conceitos a conferir outro valor aos Da E que o havia induzido tradicionais, das doutrinas retorno um a ijência freg dava lugar com O VOCAU & Vezes, muitas quais, das por causo

cias literárias e eruditas,

ligio re e t n e m a v i s u l tão c s x e e u o q d a c a i t f s i E n g i . s 9 do 8 9 2 ir , pp. t. ci . op , voltava a se revest o r e t o B i n ver an v , o i o G r “ e t o B , d o e b d a h C a r b , da o édia"

s o o u t i e f e d o desde a Idade M e r b o s Ainda . e t n a i d a a d a m o t e r da barbárie será nese divise in quatro parBe tero o B i n n Chabod, pp. 300-1. a v o i G rrette, in Veco di € ” e, at mp ta is os RD (11) Le “Relazioni universaliime Tavole, novamente pt u S piosisst co e d e du a & z n , e c re i l gu Fi le n ti, con , co I I v C p M , i r e i l e g n tino A s o g A o s s e r p A , netia uila, q P. “774 n a r t ; l; Cl a d i v . p o a n , e o r a e t j o ênci d u r p ã n a 12) Gijovanni B v sa i t t n e e i s u s q a e se d a r ” e e f d u s à «virt a “atmo m , u o r e e t d o B o ã a r ç a a P i a s, à cr a r b o s a u s s a s m toda e , o t i e f a o d n e o autor s encon e u q o ã ç a à a l e de renúinncci or ter à

p o d u t e r b o s o r Bote r o p o d a r i m d a reino tão

mo mora

muros a , r i u g e s s o r p ra

e r b o S , 5 8 2 ginda Pção a r t s u re J p [ a e s a, da o r ote p ai , ã p o r u E l r a , o e [ etidos ná art, p e n u ' d ant s i d intention: ) o s s e je d |

n Vextrême Di

+ PP.

104-25.

, da o m s i l a r u t a n s u bre O j o s a n r e d ra B êmic r o p s o d i d n e def — s o n a c i r e m a e, índios k n a H s i w e L e d sicos s á l c S O r e V . s o to, n o r con hecid o T s / i n a m o t s s o o d B ed., º 2 — é um , a c i r e m À f o est o, u c q i n x o é c M e , h a t t n s i i e u c q i n t jus la Co e d a i f o s o l i F , a l nquiso C la e , e de Sílvio Zava D , s a l a S Picóno n a i r a M a d n i a dis; ver a 7 L 4 9 “ ] 2, . , p a a c c i , 4 m 4 ó 9 1 n a Eco ica, m ó n o c E a r u t l u C Fondo de Cultur e ondo d F , o c i x é M , a i c aala Independen tero, 5-52. o 3 B r . o P P p s a , d ” a a t e s d i r u a q l n gens, a a i v s i e v í cussión de la co s s o p e d o mpact lava de i a f o a z 1, i l v i e t o a l n e a r M d s o o b l a r (19) Ch na dedicatória a Ca cap- :, , o s í a r a P o d “cão

otero, B m ações é n b i m r g a e T r “ e p : s s a e t õ s ç a i v r c s s e a d u eza que s sobre suas t r e c m o c s o m e b sa as', € e el r ri b o óp s pr s o s t e i õ r ç a c n s i E r g e in r e p , ” s o «vasta Boter i n n a v o i G de s e c i d n é p e em s os!”, “A i a e v h l a a c o l os o vr c li , s e a t br s i so t n m e ra h n fo os qui f a r g ó m s o c os e r t n E . 40 r sua e v e r c s e r o h l e m Renacimiento, p. 376, nota ] a r ja a p viajar o ã n ou a i r e v e d a ç goln e m a r i v se rmeos ispoalêmi PA > , o te l p m Ee e x e orest, por

ERES

Ena

e

E

polêmica,

E e François de Bellef

ne de l va ri n o s à r e h c o r p e r “Outre le plagiat, Thevet semble dans sã cham-

1les araignées ler 'fi ir vo er de il t n a t n e t n o c ,vetse pa paTys n so té deiit r qu te ir a c e n h u n , de io ág to pl fa o do l va bre” * [Além surar em seu ri n e c e c e r a p u N r co V Ve . '] o” rt ua . ) u " se o t m r e m a e u r q e c anhas te 1º ntentando-se em ver “'as ar

. 90 p. , t. ci . op , oc Br ma o Botero, Op. cit., p. 69

á h n o p a f r o d n i u d a m on! u i z a r l e e o R r s e a t d o e B t r . a 8 p 6 a t , n i u m q na i a ri , a 2DCidRemE,R tii is do que à portuguesa” di nota 185 a) (21) Idem, ib

1, 28 p. , t. ci nte e . m op o s o ã , t r ” a o s r i e l t a o n B a e “a s u o t i m E dRap od li b e a h qu C , a c o i N r é m 2) A (2 à o i a cara S in da o c i p í t o l p m e x e m porciona u o r p s o n e escri fluência que, de vez Ea quando, exerciam sobre Botero os distintos SA agi s a c No . a” concep se remeti as í nã s su a a je n m e o o p t é a or e o l it e D cr : o, O es íta Acosta. es científicas

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25) José de Anchieta, “Informação do Brusho c de a suas capitanias (1584)", in = Cartas, informações, fra ementos his E

tóricos e sermões,

pp. 320-1. 4

romeu

Roma”,

São Paulo, Itatiaia/Edusp, L98S,

.

RE) Haver ia em Nóbrega dois momentos distintos na percepção do

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Ted fácil de moldar e de escrever imcialmente, vê o índio como papel branco, numa nele; q segunda fa se, entretanto, é a antropofagia que ressalta de seus escritos. Ver Adriana PARAR Romeiro,

“Todos

os caminhos levam ao céu"; Maria da Gloria Porto Kok. “Os vivos e os mortos no Brasil colonial”, dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de História da rricH-usp, São Paulo, 1993, cap. 2, “Entre a cruz c a água do batismo”. Segundo Gloria, “a esperança de cristianização limitava-se a partir de

ISSO ao círculo dos meninos, pois os adultos eram, na ótica jesuítica, muito inconsapegados aos costutantes em relação à doutrina cristã ao mesmo tempo que muito parao inmes tribais”, p. 7 (numeração provisória). A pedagogia jesuítica, voltada cartas do padre algumas considerar também devendo-se diozinho, tem igual inspiração,

Colóna jesuítas os e infância à branco, papel “O Priore, del Anchieta. Ver Mary Brasil, São Paulo, Contexto, da criança no História (org.), Priore del Mary in nia””, 1991,

rodo é) | . SãO il, as Br do 7) Botero, op. cit., p. 72 as rt Ca in ”, 7) 55 Brasil (1 do ta ar “C , a g e r b ó N nuel da is Maia/Ed es... ps 49. se usp, 1988, p. 159. Hatia

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(30) Idem, ÇÕES «es P- B9.

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€ ao s ito háb hos vel nos s ia a ua car Botero”, (34) Anchieta, “Carla pla — 2 mentado em u c o d s€ i as m e x e s tra ao o sad rs cu . (35) O re ““Giovann d, bo n co en — "! al ev di me | . Ver + Ca e md gina 04%

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€ 335-41. 8 2 2 3 . pp t. ci | Botero”, OP. i n n a v o i G haC a e r a d p , e s s s i e d i c s e i r d z «A pén Botero talve de o t i r é m a OS Tev maio! a g l u O v i d . € 5 7 a e i 1 t m u n s e P r| neame a t ibidem, l u m i s e u serecen4 do f o * s a d a z ompilador, q i r a l u c i t € relações par s a c s u b , s n e g a e vi ntim, e “ a rr te nã às coisas m a r e o m o c de caber acerca da a o i s b o a j s e s e se d e u q o c O i Y am “públ dio de tudo n ê p m o c m o b o”, OP. r e t o B 4 onstituil um i n A n a v o i G ices de d n é p A a “ , I” XV o l u di nal do séc fi no | s | o a | “ eágog Seus p rerr ainda, €. , ry Lé e t e v e . h 180 e 38 xtos de T te 4 s do e n g i a t n ”, in Mo ) 0 8 e 5 1 br ( so " s e ia l nc a b uê i fl n n in q 'Des Ca i sa es |' ua (4- um a : e n g i a t n il de Mo és Br e l “ r Ve , a i f já3-de . da cosmogra pp , e g a v u a s | t ef te o n e u g u h ' L | , t n onclusões. c i Frank Lestringa a c i l ó b a i d a c u grande i o r é o m n A e u q e : p o t n de u j ja n o Se (43) “O c es guerreiras, õ ç i d e p x e s a d o v i t e ) O cat . | . a c i l b ú (44) “O principal obj p ã ç a r p m midos e o c e s o d a t u c e x e m e r se oneiro a i r a s p i r s p o v i do t o a ã c ç r u c ze e fa x e a er porte, ldeãs. [...] A a r e t n i s e õ ç a l e r s a n l entra conjuntos mul“ — s e r o i a m vo [...) tinha um papel c s e d a em unid is ca lo s o p u r g OS , to an o, de ss di m é l a , se aav at Tr permitia articular, port inimizade. à ou a nç ia al a o d n a m r tiva: uma espedu ro rp pe ticomunitários —, reafi su e rt mo só ngança, tornando uma vi à mo xi má ao ar iz al ci so to central da en ev o a er o ig im in um publicamente r ta Ma . al tu ri o lh ba ra et br pinambá tu cie de so a ur lt cu e ia ór st hi de s to to, “Fragmen us Fa os rl Ca , á” mb na pi Tu ial soc vida rico”, in Mató is -h no et to en im ec nh co de o crítico — da etnologia como instrument PEsSP/CoOMFA o, ul Pa o Sã , il as Br no os di ín ória dos nuela Carneiro da Cunha (org.), Hist citações à p. 391. , 96 138 . pp , 92 19 a, ur lt Cu de l pa panhia das Letras/Secretaria Munici r things s fo or ph ta me ya Ma y of it al rn ca t en st si in (45) “I have already noted the r example. Cer, fo he lc ba ed cr sa e th r " Fo er ht ug da my of d oo bl n vegetable — the gree ltural cycle, cu ri ag e th to in ed ck lo re we s, im ct r vi io rr wa of tainly Maya killings, even sistente carnalidade in e a br o so çã en at a ei am ch á [J ir om g fr in an me pr rm

ra o blache pa a” lh a fi nh mi e de rd e ve gu an “s o is — ta ge ve ra s pa ia ma cam oras ma ea exemplo.

Algumas das execuções maias, mesmo

quando as vítimas eram

ado], Inga Clenic if gn si u am se af tr ex le , de e la co rí ag o cl ci no m gr re pi dada 0, Cam57 -1 17 n, 15 ta ca s Yu rd in ia an Sp d an ya s Ma st — ue nt nq le co va bi , Am Ei | ter in D; . an 180 p. 1, : 199 s, cs ty es Pr si te ge Univer também Az r ve , ra to au a sm me Da . 0 8 1 U 91, p. itual: the “R 10, pretation, Cambrid p. ca e nt me ar ul ic rt pa , iversity Press, " 1991 world tr ansformed, gethe Un edd”, pp. 236-63. al ve d re rl wo le ca (46) Di ão iç Ed , oa sb Li e, o it sã d Le m er fi nv ra co Se a e , br ed , o so io og nt ál ge Di ) do ; Comemorativa do ivo dd q entenário da Fundação de São Paulo, 1954, p. 54,

r Ba da es sõ is nf Co , il as Br do es rt pa às io íc Of hia, 1891-1892, pref Cais da ves a , 1935, p. 108. et ui ig Br F. o, ir ne Ja de o Ri u, re Ab e ç i d ii pa Parece-me na iá ir tal ingestão, à comeeuu carne humana, a menção à de porco servinisitaçã

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pareçe ter rejcitado o Novo Mundo, e desde a inspiradora obra de tino: ciçacom

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o oeste; hipótese que aliás endosso". Mais preocupados

“selvagens internos”

e com a consolidação do terrível Estado absolutista,

os franceses se preocupariam pouco com figuração nos balés e operetas de corte — Luís xiv em Versalhes etc. Tendo a pensar de portância para O reequacionamento

o que era estrangeiro, transformando-o em os tupinambás enfeitando o Carroussel de diferente: que à América foi de grande imcertos aspectos do imaginário guropeu,

uaria imbatível, pai in nt co e nt ie Or do vo ati atr o e qu e, nt considerando-se, evidenteme França na es tor lei € as tur lei : ca ore, “Améri Pri del ry Ma r Ve r. na le porque mi s

iten Cam 1 , 10 nº , ro ei il as Br o mp Te na”, s3) Ver Francisco Iglésias, Prefácio à — E

ção, ; foda

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1, n le + 3,

Jorge Zahar, 1992, p. 151. (68) Para os processos dos incrirminados,

ver mais uma vez Ronaldo Vainfas,

op. cit., passim.

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,

un, Lis (62) Serafim Lete S. 1. História da Companhia de Jesus no Brasil, t. nota Livraria Portugália /Civilização Brasileira, 1938, pp. 23-4, ser des choses plus memorables advenues tant en Indes ER a Ditos nao des Portugais. Bordéus, 5. Millanges, Imta seda e Cdiide

cotar

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(70) Sezafi (71)

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, 2º parte, lívro us, pp. 319-23, Esta referência,

saldo Vaintas, que tanto colaborou na realização deste

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sao 44) € 49),

o Brasil, vo. E, po 253, Optel pela paráfrase de

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a Santidade do Jaguari E ao se futuro teabralho de Bomaldo Vainfas sabre ». sã a fria de VSHS, ver Annude Litera Novlonatio tos, Roma, Collegio |

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fo publi. XVII”, A primeira cada pelas atas do Congresso: 1º Congresso Luso BrasO ilei | ro sobre 1989 boa, Lis. a a Qu ria: e PP, a 56. A segunda foi publicada em Histó Gini

"a da Associação Paranaense de História), ano7, nº 13 dez. 198 dass 1986;/Dp 2528, À ; Do Abs Dee atual versão é inédita,

à pe a cen

di y Conselho Geral do Santo Ofício, 436. É muito pobre a bibliografia sobre degredo no Brasil, Sem falar nas observações esparsas em

obras como a de Gilberto Freyre (Casa-grande & senzala), Paulo Prado (Retrato do Brasil), Thales de Azevedo (Povoamento da cidade do Salvador), só existem dois trabalhos que tratam mais especificamente do degredo: Emília Viotti da Costa, “Os pri1956, jul-set. xi, vol. vit, ano História, de Revista Brasil”, do meiros povoadores portugueses no Brasildegredados 08 — bruxas e heréticos “Vadios, Geraldo Pieroni, da

Sociais Ciências em Mestrado ao a apresentad Colônia”, dissertação de mestrado e pesquisa ão sistematizaç de esforço meritório um apresenta urna, 1991, Este último

a seus av nd ma al documental digna de relevo. ug rt Po , as ni lô co edo nas gr de de a em st si m u r ia renunrei O e o (3) Antes de cr j e En cs un 05 jm 21 as rr zios, te mi ho de os ut co 05 ra pa det E elementos indesejáveis o as it mu o nd dicial se ju e d a d i r o t u a à , os ut ib ciava a cobrar tr 1ã2 am di po o nã os gi ré t OP: C] it, po Sl, s te en ag OS , to an rt po o Pieront, al no século to. Nessas terras o resto do territ al. Gerald on | ci r ó t i na io ór | Portus em e ad ed ci so da ia ór , Hist bo Lo a st Co a a lv si Ê ' : aa ( a RE ro, i e n a J e d o i R , lo XVUI r

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tre den e s e õ ç a l e r s a a r 13. Pa . p , . d cs. , a o b s e Li pitaa d C , s m a a i i l l r i W á i ic Er c r n ve e iro, deia penit 1975. cap. 1. Para a “fundana

o porária e montagem Do comp: ir EO e o, Th ir , ne s e Ja h g u de H n “ t r e b o R r ve , s o d egreda ervid? d de l na pe ia ôn ol a o Ri . pf, 1987. ad o n K A. vidão, tr ed fr Al , rk Yo gredo, a a v o N . me Cor lia inicialmente lismo €



dos ia ór st Hi , éu rl Ba ar sp Ga ud ap , ge an de Or

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b o £g0so es rt pa s ra ut no e il as anos no Br to oi e nt ra du os ad ic bl o, ir ne Ja (6) Cartê do a de o Ri | ., ad tr , etc., u a s s a N de e d n o C aurício M ão Jo E é ' n e m e t n feitos rece sem il as Br O ra pa os vi na o partam nã e Qu *“ 7: 4 15 de ; x - de agosto MEC, op. Clt., P. 76. i, on er Pi do al l". Apud Ger A vel” o a casa do Cive sique, as Cl e Ag [ à e lt fo la stoire de Hi : lt au uc Fo r ta ci Gallimard, ms pico s, ri Pa , on is pr ta de e nir — naissanc ard, 1976; im ll Ga s, ri Pa , lr vo sa de é nt lo vo Paris, Gallimar , 1 seu Titê = T = fa o çã ra tu ul ac da se te a do vi Ea m desenvol te , os rs ve di s trabalho 1975; HistoNê ne ités, moeurs il ib ns se — e rn de mo me om "h do ih em erno: L'i] nventioon de Robert M uchembled, mod Jus re, cie Sor 8; 198 , ard Fay is, Par , ime Rég cien encetada pelo pe Hlectifs sous V'An s pio- | a alho Os trab a nd ai Ver 7. 198 | o, ag Im is, Par s, cle siê 17º et et comportements 16º | , 1973; y v e L n n x a u a m l a té C ié , s oc i r a Í ad., P

/ oeurs, tr m s e d n o i t a s | i l i v a ci vineiros: de Norbert Elias, , L 1985. , n o i r a m m a l F s,

., Pari ad tr nco , en ur s co õe aç de er id é ns ét co ci s ta es a La so se ba iram de rv se e qu o ed gr de de s so es oc pr Os (9)

iii as od (t s ta co s te in gu se s sob as do ca fi si as cl : oa sb Li EM , TT tram-se no AN 20; 12616; ; 70 ; 11 76 7; 55 ; 44 47 8; 35 11 4; 83 2; Inquisição de Lisboa): nº 1579; 1124 Brasil O ra pa os ad ed gr de 05 o, pi cí in pr Em 74: 7095; 4912; 7840; 6308: 6005; 5723. pinas, Lili Fi es çõ na de Or as o nd gu se , os an o não o seriam por tempo inferior a cinc ta cláusues do la pu ti es am nh te s na pi li Fi es çõ vro w, Título cxL. “Embora as Ordena mpo de três Brasil pelo te O ra pa os ed gr de os ri vá r ta ta ns co ja, na realidade pode-se

anos”, Geraldo Pieroni, op. cit., p. 106.

nta Cruz, Sa de a rr Te a e o ab di O a, uz So e o ll Me de a ur (10) Ver a respeito La

são Paulo, Companhia

e 210.

1986,

das Letras,

passim.

, pp. 199 60 19 F, PU s, ri , Pa il és Br es au in ca s ri on af gi li ré s e, Le id st (11) Roger Ba

(12) Ver O diabo e a terra de Santa Cruz, pp. 194 ss. (13) Ver Marlyse Meyer, Maria Padilha e toda a sua quadrilha, São Paulo, Duas

Cidades, 1993,

€ (14) Ordenações Filipinas, Livro v, título exL, 8 8º. Ver a respeito Geraldo Pie-

rom, op. cit,, p. 107. (15) anrT, Inquisição de Lisboa, proc. nº 7020.

(16) anrT, Inquisição de Lisboa, proc. nº 6308,

à

47) anrT, Inquisição de Lisboa, proc. nº 4565. aqui na discussão sobre certos aspectos ambíguos da e

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reconheço que, em

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apontados pelo Prólogo de Carlo Ginzburg a

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Companhia das Letras,

1987). Acato

grande

anticlassista do conceito de mentalidade, mas

as mentalidades apresentam, inequi-

idão muito maior — Pa q e sã mudam com velocidade diferente — uma lent mentálités — une histoire ambi som! ecida por outras estruturas. Ver Le Goff, “Les shi [" e de ir , Fa ra re No er Pi e ff s Go ue Le cq Ja in e, ux gu i ea ob uv No — II re — loi

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219

Tee

Jets, Paris, Gallimard, 1974, pp. 76-94. Philippe Aries,

inas,

1983, e N

Goliardica,

Sae 1

ice é doutorado ap Fara a literatura d e di fdÀ.

excelentes edições críticas Sa cretaria 7 de Estado di Li

ufrágio,

nais i e d n a c i r e m t a n o i z Erina

1984

h

nso,

da vs Milão, , Cisal pino/La |

4

iç ção de Lisboa, proc. nº 4564 s i u q n I Tal (22) tre o Inquisição de Lisboa ; S A E D I P o O ã ç nº i s i . u (23) anTT, Inq ição de Lisboa, ' proc TIS IAS

(21)

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308 6 º n . c o r p , a o b s i L de isb o ã ç º L . o 8 ã e 5 2 d ç 3 i 1 1 s i proc nº (25) antT, Inqu , a o a 72 3 4 º . n c , o a r o p b o s ã i ç L i e s d i u q n , I T 26) anT (a

(24)

l eas n D e s à a r a p d , m é R b E m a t er V . 4 6 5 4 º n . (28) ANTT fá ra c o r p dos i d e , p 9º sboa s i n L u m e o c o d i s r T te D cem e r a d P r i . b 9 4 º n a c , 6 e 1 t 2 o i . l r alguns cx b e p , m Bi a o o r b r s o i c L r o P e “ . o n r e t n = i o de ““asubs:tiittuuiiççãão - do degredo externo por degred à ara que levassem recados p ' s a t i e p € s o g o r “ s e h do-l n m 2) e e c , o e d r a e n f e o d n , o o c ã € ç o i s s e i r u p q i Luis fo l e u g i M , oficiais da In o i c í f O o t n , pois, a d s do Sa a e t r u e m c o c r á i c fo s a o n e n p o a s u e S r um p Brasil, O a r a p o d e r g e d e arim, d M s o o r t n s a a C s ê r m t e a s o , n 3 a 8 5 o 1 r r quat o p o d a d de janeiro de e r g e d r e s edo r g eriu e f d e r u p se l o n e u g o i id M , o ã ç através de peti ter o r u g e s s i a m € r lho e lônia m o c o t a i m u u m a , r e a l p e r a i r Pa part e u q o n i e R o d entro d r a u n i t nusitad n j o c o s a C mas , 5 3 P: Cit. » p O , i n o r e i P ta”, Geraldo que e b m a r a S “ O , l a r a m à 1 A o r d a g r u e p Leit 1 ara p u i d e p , iam que O conhec mais nad o d a t a c a r e t io Santo Ofíc

(29) ANTT, MN P o tub , T T N e, A t n a ) 0 i d (3 a , r e : v 8 o l u t í p a º c N , a d a h l ta

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Má o | nquistç: p | , s n t h a g º i n b s AV] r o o r p Culto P a d a , j fá ição é LiLsibsobao,a Pros no Anda, Poniten s i u q n I ro a r ( o d e r p (o e d do d tao A o anos c n i c à a (33) ANO d CtR a n as e sIÇe d n o c UU ! fo a h ri n u u M c l a e | d s o + n e | u q à br to i hos pe l i f , u o GOA m a t e t o c r b s Tr e que ti E d m e o s o r o a d p n m e a v s a ha r n o h gando O de e a u l f, s a o ] c a s i c o e r 2 r o c Men os Po Lá m, € e v o P j O h o l A t t o u r m e l P her ggalêdo O o r ç d i m u r n p a r A se i . a s 2 a Br nl 447 proc. no 473 oc , conómica

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a € r u t l u C , l i n o t n A d. s. , l a n o i c (43) André Jodo a N , o l u a P São , a v a r b a n tlia as C br € er ff pi s a n e a ic t i Al l o p s o ta r e no cias sot í t o n nas, introd. e de o ã ç a l i p o c e lhena, R i V s o t n speito a re S a s do r Ve is Lu , 22 (44) 19 , cial do Estado sa Ofi n e r p m I , a i h a B , l a ar il — as Br no cas, notas Brás do am o ã ç a v o n i de s , Atitude Carlos Guilherme Motta pp. 28-37. ”, as ni lô co em r ve vi “onte. 1970, cap. 11, “O

$. RELIGIÃO POPULAR Este capítulo Brasileiro dna

rl1789-1801, Lisboa, Ho

(pp. 105-24) E T A B M O C AQ SE TA EX DO E POL ÍTICA:

baseia-se

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em a ad ic bl pu i fo alint o xt me te e br do so ão i u ça q c uma primeira vers n ema d ky ns vi No A. g. são or es , pr te ar Ex e o, a ul Pa o Sã , dade, heresi ro ei rn Ca i eM. L. Tucc y a , o À , 92 19 p, us Ed a/ ur lt e Cu mta r, sa as nn é Be om ol . rt to Ba en im ec nh co os eles, meu re E hétiiiesenta Ra es er lh mu s sa es e qu ha ac ê oc “V perganua a o aç Ra a g a s e a Após o sã as nt cas sa não, mas sem fundamentar.

O

refletir por cinco is do grande E

a raca

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der à questã on sp re a, it fe re te en lm ta com esta versão to

(1) Ver Biblioteca Na E e Jesus, Terceira de certa A

e

de Luzia de Jesus ess

. Respondi que

; Luzia a de nç te en “S , 49 nº 6, 21 . cx s, sm , oa sb Li -

nº 4564, “Pro . oc pr , oa sb Li de ão iç is qu In , TT : AN

ho natural l a m a R as ar Di sp Ga a de lh m fi de a or rt ce i e ir Le de de da ra ci € morado na sboa”; ANTT, Li ão de iç is qu In da es er rc cá s no a es ja pr

221

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1992

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Editora, 1947

Sob etstó ne ari

de RR Lis! boa, Livraria Sá da Costa, 1968, pp. 255.9], Es profunda ligação econômica entre Portug al e Es Ra mesmo antes da União das Coroas, era dio ripinhada À tina ão E nhola no pequeno reino luso, ocorrendo bilingúis mo nas Had dom Ai as camadas populares, entretanto, considera que vicejava “declarada host lid ade” ante a Espanha. Acredito que, se havia tal hostilidade, não significa, todavia, que não hou:

vesse sobre o povo influência cultural da Espanha. Ver p. 258. (3) A expressão é de H. Brémond. Apud Jean Delumeau, Le catholicisme entre Luther et Voltaire, Paris, pur, 1971, p. 95. p. 748. (4) Marcel Bataillon, Erasme et FEspagne, Paris, Droz, 1937, Porto, LelXVI, o sécul do ses ugue port cos Mósti , Costa (5) Dalila L. Pereira da

1 |

Ai ad] E SE RR O o

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Dr

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lo & Irmão, 1986, p. 350. zionario dei sanDi o, an ss Ro ro et Pi ; t. ci . op (6) Ver Dalila L. Perei ra da Costa,

. 89 19 a, Te i ar on e can zi r Di la | ca , o, dã li so ti, Milão na e -s ar l é sent ve zí ra ap é o at gr o ã u q storicos”, hi s o t s e “Judão saudável, u p u S “ Castro, o c i r é m A d u p A . s i p m e diria K »* ! s u e e D d m i o c , 50, ar ' 1982, rs | ve |

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sansa io or gl ta es a ve ti e r emp o motivo o amor que s peque-

beatificada.

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io fez já fazer-lhe o seu ofíc

Novas, lhe es rr To de to en nv co o ss prior em O No eu o nd se E: a . s o a an há uma solene m e r co r e o el c a e a u id q az tr , no em O altar maior, s pô se e u q Ú , m e ag Fran: o Sã a rc ia tr Pa do mandei fazer suma in as os gi li Santo de Re to ri pí Es do to en nv co do iu sa Padre Frey do e nt ta procissão ql je li Mi sa re Te , o" mã vésperas € sei as im ss ni le so s e t n a o d cisco, haven strissimo, iu dO , oa sb Li de l ra tu na a da observância, it el rm Ca as ag Ch s da 4 Mano a Metropolitano, or Ev de o sp bi ce Ar o ll Me de or D om Joseph e reverendissimo Senh , 1630. ro ei nh Pi s eu th Ma r po , oa sb Li com todas as licenças necessárias, steiro como mo o ra pa ff Go Le s ue cq Ja de e (20) Inspiro-me aqui na bela anális o da culEPT

erudit € r la pu po is ve ní os e tr o en nt me na io ac espaço privilegiado de inter- rel n-Age”, in laires des voyages dans Vau-delã au Moye

tura; “Aspects savants et popu voqueé in a n . “O 19 310 . pp , 85 d, 19 ar im ll Ga s, ri Pa , is Limaginaire médiéval — Essa é et d'échanges it il ab ci so x de cu li s e de mm , ue co iq bl e pu ac pl t la ou la taverne et surt d par les monastéres. ar ég t ce à ué jo le rô le r er su st si in e. ut fa Ag 1 nye s Mo el au ur lt cu és” de ir et s ll re 'i mb , me rt e pa un s' d' ré tt es “e in e mo ts tr en or pp t en ra les em Non seul re, mais surtout sans la familia monastique et hôtes également “rustiques" du monasteé doute les relations entre |"“élite” des moines appartenant socialement et culturelement

aux couches dominantes (et exerçant les fonctions d'autorité dans le monastére) et simples" moines à demi illettrés ont dã fournir un terrain exceptionnellement favoraetudo da prabr a so € rn e ve -s ta da ou br em [L 15 N R dia. É neMé de ún n u r á j o ç a l i e o ss ir, ne ist io ins ár cess e sobre o si desem penhado pelos ErORATE: HO apenas pac ae má red

espraçs

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monástica e hóspedes igual sebos o!icos" ed y E rúst dó strdacsar ent E nadas dôminanites (e exercendo bo nç monges semiletrados devem ter ai

, membros

iletrados””

da familia

do mosteiro, mas, sem dúvida, sobretuaenE às Ch: primoeirçe: social e GU es de autoridade no mosteiro) e “simples

rmecido terreno excepcionalmente favorável a essas E formas de acul ennv a s co it no a ud os er gi a li ur re ão lt aç cu da tr ne ). e pe a ão br aç So ur lt cu tos, Je; an-Michel Sallmann diz que taal!is mulhe eres eram analfabetas, mas não ignoran» *t

223

Poca Moderna, São Paulo o

ANTT, Inquisi ção de ANTT, Inquisiç ão de (26) ANTT, Inquis ição de

OS rituais adequad

es

velha negra) (trad E

mpanhia das Letras

1989)

Lisboa, Lissbboa, mb Lisboa LA

Les réformateuis et la superstition”, in Un chemin d"histoire, Paris, Fayard, 198].

(27) ant, Inquisição de Lisboa, proc, nº 4564,

(28) ant, Inquisição de Lisboa, mç. 52, proc. nº 557,

p,67

OA

(29) Le carholicisme entre Luther et Voltaire, Paris, run, 197], p. 108. (30) “Inácio de Loyola reúne em si o gosto pela especulação mística e a ciência da organização prática em sua luta contra a heresia”, observa Pierre Francastel ao

analisar o Barroco como tensão entre ação e contemplação, “A Contra-Reforma e PersPaulo, São figura tiva, realid A ade in xvi”, sécul o do fim no Iália na as artes

A A 9. 40 € 1 -42 371 pp. 3, 197 p, us Ed a/ iv pect 0108. pp. 19, a 11 s. cap a, vid ta de o br Li 31)

|

sensi, Midei e cin ofi Le in e”, bil ssi fle e le mol o Piero Camporesi, “Sugoso, A | nti, 1985, pp. 180-2. 6! e ent alm tot as nci stâ cun cir em sil Bra se ter ao fos ela e qu s qui o in st de geo

a d a d í u t i t s e d e a i r a x u r b versas, degredada por

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557 a , mg.' 52, proc nºleitur

Cdi “SSttroraeattééggpiies de VAncien

:— s e r i a l u p o p É s N e lecmteur, aris, Seul

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Idem,

de livros, ou melhor,

: licida a multip Ed oie

a m e crito, inspiro-me urs 0a e t c e l et s e r u s 1530-1660",4 in Lec a

a

95. . p e m s i c i Le cathol is fíce sãEo diq o o it ír en aia m do es or ri te in E «ng Or QU » S S E f n ntendaNm e s a i d a a t s s a e s s m e do r p x e a À ) Us 1 (4 ma que r o f de o -l zê fa INES é iense, 1987, P000 is difiaricl cil il as Br o l u a P ta Te—reisá can o t « nda ma pisia sa rontetra entre f na te uentemen SãO eq )., fr s ce multiplicando S€ pos impuros es sõ vi de dese dade das nana , asantas s0bP9/0 «nô judith Browh, f dá de do ão ns te ex da APESAr o. sm ni e pág s boa pá bina n sdo o ã n + ; : en México — 15 opo | [ever

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(44) Idem, p. 169.

voyages dans I!'au-delã des aires popul €l ts savan (45) Jacques Le Gof f, “Aspects

au Moyen-Age”, in L'imaginaire médiéval, p. 119.

(46) antT, Inquisição de Lisboa, proc. nº 10 198. Renascimento, no e a di Mé e ad Id na r la pu po a tur cul A n, hti Bak l (47) Mikhai is e a história do rila be Ra ““ 1, s. o cap ud et br so Ver 7. 198 c, ite Huc lo, Pau trad., São so": 2, “O vocabulário da praça pública na obra de Rabelais": e 5, “A imagem gro tesca do corpo em Rabelais e suas fontes”, (48) Idem,

a

p. 68.

(49) ant, Inquisição de Lisboa, proc. nº 11 358. (50) Bakhtin, op. cit, p. 23, o Fã pes aids dictionary of Saints, 2º ed., Oxford, Oxo

de 1590 Heitor a Ea E E : e ET Uma blasfêmia denunciada por volta OE hs ici xa ai na Visitação de Pernambuco associa mulheres Aos o oma andavam as mulheres com os peitos descobe caes | DERA issem carnalmente,

,

santos concediam indulpênc por respei : Desa

À aos vomens que com cupidor

speito de com isso divertir aos homens de fazer o pecado

nefando”, Primeiraeira ViVis itaçã cã o do Santo Ofício às partes do Brasil. Confissõ sita es de Per-

uco, ped,3) J, A. Gonsalve namb1970, co, ionsalves de Mello, Recife, Universidade Federal de Pernambutiin, Op. Cit., khht (52) ) Baak rmambuco, + p. P. 24. 24. S 50

pp.

j

163-9.

Ve

r também Primeira Visitação... Confissões a afetivo da religião, ver Gilberto Freyre, Casagrande & Senzala — UIRIO or a família brasileira sob o regime de economia Iriarcal, 93 ed. paRio “* Janeiro, José Olympio, 1958, vol, | 343 (53) ANTT, Ing ! uisição de Lisboa, mç. 2, proc. nº 557 e T de Pe

225

ani

+ “A tutela do sagrado: a prot eção dos santos adroe i í do da Restauração” padroeiros no perío

, in Francisco Bethencourt e Di

É

4

Curto (org.),

do Gabinete de Estudos de Sinii À mem E-), Fund ; açãória da nação, Colóquio realizado na

a ReR 79/10 106) Tib,Liraiabi

Editora, 1991, pp. era,O

(60) Lucrécia de Leon, profeta e visionária espanhola que atuou nos anos 80

do século xvt, também se comparava a Joana d'Arc, jactando-se de defender a Espanha contra os inimigos. A santa francesa era então conhecida na Espanha como

adirum, sancto Flos s, Villega de so Allon de obra à s graça ia” Franc de lla “sta Ponze

ciones a la tercera parte, Toledo, um

como aparecendo em obras muito conhecidas

do Renascimento,

típico

motivo

1588, vida 198. A imagem da donzela guerreiraé

Pi ra à Ver ). (15992 mayor Monte de Jorge Los siete libros de Diana, de o da a dei in ecy proph and dreams — politics

L. Kagan, Lucrecia's

ade A ne 192, e 74 pp. 1990, Press, ornia Calif of keley, University 1979, iliense, : Cf quen “Fre en Brasili o, Galvã Paulo, ira São Nogue , ce Ensaio Walni + de : zela guerreira, ver € «nr

Almanaque

Botelho

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1642, e mi

Antônio EM sagrado.

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,



Cadernos de Literatura

1662. Sobre IStO,

imaginário da Resta

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capitão ao glorioso Santo Antonio na ocas luos am ar ud aj e qu os nt sa de ão iç ad tr à la re at o se cidade”, fls. 19-19v. São Sebastiã rfo de s, to la re os me or nf , co do ua at o nd , te al ri pe o im ri de sitanos a afirmarem seu po

a no século xvi: a nd ar ai ab an Gu de ía ba s se da ce an fr s ão do ls pu ex va na isi ma dec o, € “Ficaram os nossos desassombrados, atribuindo o caso a favor de São Sebastiã

muito mais quando depois viram que os Tamoios perguntavam: “Quem era aquele soldado tão gentil-homem, que andava armado no tempo do conflito, e saltava intrépido em suas canoas, e lhe meteu tal temor que foi a maior causa de fugirem?” ””, in D. Manuel de Meneses, “Crônica do muito alto e muito esclarecido Príncipe D. Sebastião décimo SEXtO Rei de Portugal que contém os sucessos deste Reino e conquisai sua menoridade' , apud Jacinto do Prado Coelho (org.), O Rio de Janeiro na

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1965, p. 39. Devo estas duas últimas indicações a E)



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Bicalho, que, sob minha orientação, desenvolve tese de dou-

a cidade do Rio de Janeiro no período colonial. 65 er FO hand mçci de Azevedo, 4 evoluçã-o do sebastianismo, passim; Eduardo a Portugal na época da Restauração, São Paulo, 1951, pp. 223 ss.

são européia do sebastianismo, Yves-Marie Bercé, Le roi caché — sau-

thes politiques yard, te cap. L Cole 1990, “Principalmen sis “Sébie asti

,

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en de Portugalte, le roioderna perdu”, pp. 17-81. Sirtcenth am » “Me dissianic t hemes in Portuguese and Braz ilian literature in the NI Tho d Sevente nth Centuries” , Luso-Brazilian Review, xxv rir, 1, 199] pp mas Cohen, » “Mi Millenarian t pri o ti «em Via razilian Review, *xvur, 1, 1991, pp ER

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(66 ) João Lúci ic o de Azevedo, Op. cit., pp. 71 ss

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NEM Lúcio inquisdeição de o, Lisboa mç. pp. $2, proc. 17 ss. nº 557, Para a análise das tro. Op., cit., Azeved João

(73) anTT,

(74) Para

Inquisição de Lisboa, proc. nº 4564.

Joana da Cruz, antT, Inquisição de Lisboa, mç. 52, proc. nº 557; para Jesus, ANTT, 1. L., proc. nº 4564, e ainda Biblioteca Nacional de Lisboa,

Luzia de sms, cx. 216, nº 49, “A previsão dos destinos individuais, naturalmente, não estava mobidesligada da previsão dos destinos coletivos, sobretudo numa época de grande desempelidade social e geográfica, onde a expansão comercial-marítima º a guerra

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nhavam um papel fundamental na organização da vicia cotdiana : images | court, O imaginário da magia — feiticeiras, saludadores e nigromam Lisboa, Projeto Universidade Aberta pa f seno houve, na mesma época, mãaprophecy and “Politic s, Kagan, e rotini á a pn PR nifestações milenaristas € proféticas. Ver si 105

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e ediçõeEs, z n i u q e v r e o t t i A l R o itado de feitiçaria de U. M e CaIçÇÕ n a % a 5 1 r t e , o 0 7 9 8 5 4 e 1 (4) Entre 1 ferentes € i d e r b s o ue s r õ b ç a s r a s t a d e s d a u a l d i i e v d e i i t r é a s s a es cenas da O o:cont ao com um de s i a m o d a t i ed i l e fo g entre 1509 e 1527; à Histoe p s s e n z e e i v a L e e v z e n n o e er ais dRae p vezes entre ç ai E ibus, de l a n e o c i e r h t n n o ve cdie c t o i p n t n e e s , g s u o n e m g d i a a a n gé ri í m de ho eu no a c e h n E é m ros t u m o a e r s o e e 5 u s 5 q o 5 r 1 o v i d e l r t n des e s desdsoes que duas vinh enos ocbrreenteo tema; n u g l A ; . 0 7 5 1 , e s 5 s o 5 5 n 1 s e m a a m t v e a o te t n n u o e as msais ui apres ' ss n io quatro] rla , e d f nam a i que uma tiragem 1 1 a d í i é d n a e csoémcpurleo peida , xv o l u c é s iá b o Ta d o a l a n i xem laaarreessf eé que, iniciando s e o t an Xe c e i h 4 Cx t n a i r u p q / o s r o e t m n ú ce n e s l ta e pod ência u l f n i a d o ã s n mente dobrou, e t x e | liidéia da r o o p a d o i i c r s r á e e t n x s i e e i i d ros sóbie o itores. Ver J, | K; Kadaner-Lec e l s FebvrTee n e i c u L P t. ci , 9 . 2 p 3 o , g e HT iMariMairtin, Lappariti e Epa e,r 1958, p. l c e ara i l b e l A h > c , i s i M r . a P in = ' à ndaddou lpiovrre, G o i t i r a p p a L » d m e dios abordag o tratamento 10Va o Baroja a Ema PP,

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cidente Argentina, 1947, princi

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(6) anci a “Ainsi dans les d anses macabres | ort és plusla anciennes, boi nouvelle ic c'est à peine si la m siêDans touchait le vif Pp pour V'averti avertir et le désigner. e iconographie du xviº

[Na elle le viole” [Nas cle, EM danças macabras mais antigas, visando a io do iconografia nova Na desi gná-lo, a morte mal tocava o vivo.

adverti-lo e

la], Essais sur Phistoire de la mort en Occident du Moyen-Age Pepe ad Seuil, 1975, PP- 46-7. Para um equacionamento geral da problemática, ver ainda Alberto Tenenti, dl senso della morte e "amore della vita nel Rinascimento (Francia e Halia), 2º ed., Turim, Einaudi, 1989, principalmente cap. v, “La sensibilitã macabra”, pp. 121-47. a

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Moderne, Paris, Albin Mi"Epoque à Occident en Lamour Solêé, (7) Jacques para as relações entre análoga interpretação tem chel, 1976, p. 128. Kadaner-Leclereq cit., p. 58. Op. sadismo, e erotismo maneirismo e macabro, sous les 'obéissance de — supplices des Le temps (8) Ver Robert Muchembled, esar de suAp . im ss pa , 92 19 n, li Co d n ris, Arma Pa , le êc si IF VI X V X ler, em perspec-Sais ar ur oc rois absolus. pr de to ri mé O autor tem do ho ; al ab tr O O £ e qu l, ve o tá im es : ss nt co tí € an rt l po ia im ic rf pe fenômeno o , a c i r í p m e a s i u q s e sólida p m o c e a c i r ó t s i h tiva

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Lello € Irmão, BrowDs h t h it ud 27) apud J

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mpletas, Pp. 3. o c s a r b O , s ú s nha, o l o B , o i g n g e a ta Teresa de Je v v e l S e s d n e n a a p h t 1 n e e esi, the sixt f o e z a r c h (31) Piero Campor c t i w opean r u E e h T , r e p o R r 329 H.R. Trevo . 50-1. : Plon, is, Par , cle siê IF XV au ; ce E P | n& ran He F s, en dre rs ie iesa,ndrLon rc so f . ef jeenth Centur s i a , DO entan ou, Magistr s a m a c i m ê d (33) R. M a c a s i a umental m c o d a s i u q s e p à m o c a uais: t n e v n o c es sõ es ss po 1968. Descomprometid s O período da e br so a n o m r a C el ch 88. 19 , rd ya Fa s, LO, útil, é a síntese de Mi ri Pa u, ie el ch que sous Ri ti li po et sorcellerie — Les diables de Loudun icismo”, in Jesus Imirlst mi o ls fa (34) Francisco de Encinas, “Un ejemplo de 77, p. 38. 19 , al on ci Na a or it Ed ri, Mad zaldu (org.), Monjas y beatas embaucadoras,

Cruz (35) “Carta dando relación sobre Madalena de la

tencia de (36) (37) ns do

”, op. cit., p. 47; “Sen-

Magdalena de la Cruz”, op. cit.,/p-. 53: “Relación sobre Teresa de la Concepción”, op. cit., pp. 268-72. A esse respeito, ver meu artigo “Do êxtase ao combate: visionárias portuséculo XVII”, in Inquisição — ensaios sobre mentalidade, heresta e arte,

e Cultura/ Edusp, 1992, pp. 162-84, que ampliado e reescrito RENTE oa pítulo anterior deste trabalho. Para uma tipologia das visões e sua filiaen ois sistemas básicos de taxionomia — o de Ricardo de São Vitor e o de santo| çi

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4 PrOC. nº 631. “Processo de Marcelina Maria à pretos escravos, natural do Rio de Janeiro e

moradora nesta cidade em casa de seu senhor João Eufrásio de Figueiredo” (44) antTT,

Inquisição de Lisboa, proc. nº 628. ““Proces so de Catarina Maria mulher preta, escrava do Beneficiado J osé Mac hado, natural dos matos do Reino de Angola, e moradora na cidade de Lisboa Oriental” (45) anTT, Inquisição de Coimbra, proc. nº 7235. “Processo de Catarina Fernandes solteira filha de Pedro Fernandes Severo de alcunha Lavrador natural do lugar de Mairos termo da Vila de Monforte bispado de Miranda ”” Curiosamente, a sende outr aa o de Lisboa, sob a form em outro ao tença deste processo se encontra

rocesso:

Inquisição de Lisboa, nº 16 516.

(46) Sobre os

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efeitos da devassidão materna sobre os rebentos, e sobre bebés

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iore.

Ao sul do corpo — condição feminina, mnpastaaano cri prisd, ver MapBrasil E, j o de Ja José ir ne Olympio, 1953, o, Rio al, oni col no es ad id al nt me e es ad maternid Ci Cá Ê . o” “Pesadelos do úter CS SET ça mn Se a, eir Mor o eçã Col , sus , boa Lis 47) Biblioteca Nacional de te a Moré es o eir tic Fei , g.) (or o Reg a nh Cu ne on : 1. 2, fls. 295-309 - Apud Yv ição, Esios? see A “S sa en pr Im , boa Lis , se ue ug rt po s go — textos anti pi E

al nt co en se to tex do es açõ cit As » pp. 103-37. isição

de

nas páginas 106, NÉ,

niciação | O o t r e b u o Enc r u o s e T “ o ismos c r o d o x e 5 0 4 o caso, n , € s o d n i r fe «IrÉglisc

: m a i u g e s n o c 2 e muitos Os qu r

es que leu r t s eme m | à t n m e t t e m ment e g e g u a esurer au dé j je €& e c . ge la scien a p t E n o d f et s JA anger, d " r t t s u o t t n e d e m e i g r , ju pab g n u e d , o s I i m u o s à põ€ s r sont o u e l l a i r u o q m s a r c o l a uizo J ujo alto v m c as a e u s r e a r m d a r n o “ f i zes de n a ô p m a e c d o O ã s , r a o t t n n e e r im e devant| t s i arefa de enf c r o x e snria e discern I s uart, q a M . x F. , ] s lie m metido r a | C s e d u t E s e L que lhes são cub . an, 5. 1.1 t a S , s e r o L u a s o ). u e m Vári o f i r g n ( 9 , ” 8 s 2 e 3 u q i áginas diabol p s a n o ã ç a t i c , 8 4 manifestations 8 teme , PP- 12 s 8 4 9 e 1 d 17 r, we à u o o p r s B i b e e d mo arc o c se s o p u o «ines chez Desclêe m o t o eired Vide, u g i da F e o d r i s e e t r n a o v m l Á o ã s i í t u (2) D. L d. Sebas à u e d e c u S . s i o p e do pri r z anos d o d de a z o i d n n a e g c e r l o a f € a , i 25 h a 17 bro de do da B a p s i b e c r A do s a r i e ntes rim a P s l i e s õ a ç r i B u t o i d t s l n o ra C ge s a da i o autor n, Histór e g a h n r a V s. ai ni lo co terras ntos, e m a r o h l e M , o l u a P o meiro sinodo havido em ã , 3º ed., S al ug rt Po de a i c n ê d n e p ero colocl O rã nt co s o de sua separação e inde e n â r o p m e t s de con xa ei qu as as er úm in o Sã vidi m u é , s e õ ç i u sd. t.w p. 378. t i t s n o C s publicação da e nt úe eg ns co à m co , 07 17 ja no re Ig nial, e o sínodo de da o ss pa de an gr ro ei im nde ndo 20 pr po es rr co o, id nt se e si ne s ua ág | sor de s diocesanas € ta si vi s “A , hi sc Bo io Ca or ve çã naliza sentido de firmar sua institucio . 1987. o g a r a m 4, nº 7, l. , vo ia ór st Hi ileira de a Inquisição nz Colônia”, Revista Bras ; a e concubi-

o — Iggrreej os al nd ca es co € li úb , “P io of nd Lo es rr do To Ver também oFe nrnan do & esentada ao Depar a r o t u o d , de se o” te ir ne Ja de o o Ri do ad sp

nato no antigo bi

tamentCso de Hicias stór d da Ra caia N

quisição processo, | 4) 5)

odas

AR 7 617 São Paulo, 1992, pp. o de € 185.frei cess

sno pro e as õ id ç nt a co o m tã r es o f n s i

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E nte EpE e S a tr da ca d i a i a e este re u ta q ci r o o . Nã 23 37 de Lisboa, proc. nº eg ad tem as páginas o nã , os tr Ou os it mu radas. e m COMO u e n t n e m a d a u 23 37 Inquisição de Lisboa, proc. nº por Examan

is

relarões

iate

À

p. 182. e a Terra de Santa Cruz, Pã lumezu, Le

EPE : o a cr se s da r Jcan De pode e h a E re, París,a l 8 24 vos 1971, p.

Foltai

;

” r e €1 h t u catholicisme entre L

Laí à )lã Há bastante semelh Jança | entre O caso (6 ima mercedário de origem portuguesa que se psscascaens APERTE

manter a av ur oc pr r, za ci or ex ra pa ammeadndoara que abrisse “cinco frangões” chco ka : re re. Em outra ocasião, exorciCCOZando

Certa Maria

233

Para

naD PNa

Raro

o d n a u Q . o ã h n a r a M do có ad esotamdoas pacíenies, < a uma dec

a nd ai e, ss - os puse Ea já

vi

VIVOS, sodrse

=

Joaquina, “em meio a seus costumei-

à

a a ros tocamentos, disse que cla “padecia tantas queixas porque não casava ne M tinha ajuntamento carnal com homem" e que 'queria ter có pula com ela”. Diunte do espan-

to da moça,

tranquilizou-a

dizendo

que

|

“assim fazia a todas as benzidas, qUe ass im

lhe ensinavam os seus livros" “. Apud Lana Lage da Gama Lima, “A confissão pelo avesso — o crime da solicitação no Brasil colonial ”, tese de doutorado aprese Ma d ao Departamento

de História

da rrcm-usr,

São

Paulo,

1990,

|

a

pp. 616-B8.

(1) Nos casos de Santena, no Piemonte, anal isados por Giovanni Levi, re Corria-s e muitas vezes ao médico para, depois, recorrer ao exor cist Os próprio + médicos acon.-

|

|

selhavam

que

se procurasse

Uma

vez

impotentes

houve guerra entre medicina « exorcismo pelo men , os campones e citadino, mas uma fort s e olidariedade de lho modelar de Levi, marco na micro-his tória, e que varias passagens deste capítulo; Le pouv oir au village te Piémont du NXVIF siécle, trad, Paris, Ga llimard,

na

cura

do

mal:

“Não

a cotidiana do mundo

|

(8) Enspiro-me nas considerações de Gilberto Velho em “Indivíduo e religião na cultura brasileira — sistemas cognitivos e sistemas de crenças”, Novos Estudos Cebrap, nº 3, out, 1991, pp. 121-9, Na pág ina 125: [...] não se trata de defender

,

ditá immateriale. 19N5).

| |

O exorcista,

na prátic

autojustificação”, Ver q traba. me inspirou na concepção de — histoire d'un exorciste dans 1985, p. 46 (em italiano: Vere. Carriera di un esorcista nel Piemonte del set cento, Turim, Einaudi,

a tese da existência de uma

vasta € indiferenciada

“religião popular” onde a crença

em espíritos constituíria a base é cixo detinidor es, fazendo com que as particularidades se diluissem, Pelo contrário, as diferentes to rmas de definir, classificar, represcntar eadentificar as relações com o mundo dos espíri tos, guias, santos, orixás EXpres» sum fronteiras cuja importância é enfatizada pel os grupos em pauta"; E mais adiante: “Lodo transe, a possessão, q mediunidade criaram um espaço social com valores culturais de conotação específica. Obviumente não surgem do nada, de um vácuo absoiuto, Estão coladas a outras experiências que pode m se articular ao que chamamos

(

de sistema cultural, (9) Certeau usa à expressão referindo-se À proble mática bastante particular da

inística: a “violência selvagem do descio” é O que se imiscui, em meados do século Xvn, c q ação,

por si sÓ tradicional no campo

da espiritualidade: “Les bonnes actions cl Fobser vance des régles se décollent, comme une apparence”, d'une 'réalité” intéricure qu'une attention miguisée découvre avec horreur et inquiétude: la violence suuvage du désir" " [As boas ações e à observância das regras se despreendem, como “aparências”, de uma “realidade” interior que uma atenção aguçada descobre com horror e inquie tação: a violência selvagem do dese. jo). Michel de Certeau (org, e coment), La pos sesston de Loudun, 2º ed. Paris. GallimardSulliard, 1990, p. 147, 40) Estudando a incidência do crime de sol icitação no Brasil colonial, Lana Lage da

|

|

Gama Lima viu que, entre o clero regular, O segu ndo posto era ocupado pelos frades carmelitas (26,40%), que só perdiam para os franciscanos (19,800), Entretanto, mais do que os membros das ordens, for am os padres seculares os grandes solicitadores de mulheres no ato da confissão (58,199). Ver “A confissão pelo aves-

so", pp. 490 e 492,

(UM D. frei José Delgarte chegou ao Maranhão em 1717. Iulecendo em 1724, Varmhagen, op. cit. p. 386. (12) Biblioteca da Ajuda (ma), “Notícia que dá o Iustrissimo Bispo do Maranhão Dom Prei José Delgarte Padre Vigá rio da Ordem da Santíssima Hrindade, de uma célebre energúmena a que assistiu na Inquisição da Corte de Lisboa”, “Tesouro

234

À 1

entre os motivos

E

já existente distinção

e

na

;

,

Encuberto”,

vol.

a compreender

1, 51-11-29,

fls. 266-7.

O Sínodo

Nacional de | Reims de 1583 ajuda

por que frei Delgarte gozava de posição privilegiada para contar a | vant que le Prétre entre prenne história de Mariana: “De d'exorciser, il doit diligem-

ment s'enquérir de la vie du possédé, de sa condition, de sa reno mmée, de sa santé et autres circonstances; et en doit communiquer avec quelques gens sages, prud ents

et bien avisés, car souventes fois les trop crédules sont trompés et souvent des mélancoliques, lunatiques et ensorcelés trompent |'exorciste [...]"" [Antes de começar a exor-

cizar, o padre deve diligentemente informar-se acerca da vida do possesso, de sua condição, de sua fama, de sua saúde e de outras circunstâncias: e tudo comunicar a alguma s

pessoas sábias, prudentes e bem avisadas, pois muitas vezes os demasiadamente cré. dulos são enganados e amiúde os melancólicos, Junáticos e en feitiçados levam o exorcista a se enganar), E X. Maquart, “Vexorciste devant les manifestations diaboliques" ,

op. cit, po 330, (13) A juventude de Mariana vai contra a visão popular da brux a velha, des.

mistificada por De Lancre, por exemplo; “C'est un conte de dire que toutes les sorcitres soient vicilles,.” [E balela dizer que todas as feiticeiras sejam velhas,..|], Pierre de Lancre, Lincrédulité et Mescréance du sortilêge plainement convalncue.., Paris, 1622,

p.

dl.

(14) na, “Tesouro Encuberto”, fls, 251-6,

(15) Compêndio narrativo do Peregrino da América (1728), 6º cd. Rio de Janeiro, Publicação da Academia Brasileira, 1929, Sobre a relação entre diabo é ator, Piero Camporesi, “Calcagnantes, trufatores et malagentes, La famiglia di Margutte”, am HH paese della fame, Bolonha, || Mulino, 1985, pp. 52-4, Para à condenação jesuítica ao teatro, G, D, Ottonelli, Della christiana moderatione del theatro, Florença, Alle Scale di Badia, 1652, 1v, pp. 438-9; “il primo che trovô Parte del ciarlatáno tu dl diavolo, quando nel paradiso terrestre fece cinque cose; la prima si mascheró, prendendo la forma del serpente; la seconda sal sullarbore: la terza disse gran bugia Nequaquam mortemini la quarta ingannô à primi genitori nostri con quelPavviso Eritis steut Di, e la quinta tende loro il pomo da Dio victato, E queste cinque condizioni

esprimono | ciarlatani tristi, come seguaci del diavolo, poiché si mascherano, salgono

in banco, dicono bugie, ingannano | semplici e vendono mercanzia” [o primeiro que descobriu a arte do charlatão foi o diabo, quando no paraíso terrestre fez cinco colsas; a primeira, se mascarou, tomando a forma da serpente; a segunda, subiu na úrvore; à terceira, disse grande patranha Nequaquam moriemini; a quarta, enganou nossos primeiros pais com aquele aviso Eritis sicul Diije a quinta, deu-lhes o pomo por Deus

proibido. E estas cinco condições revelam os charlatães tristes, como sequazes do diabo, pois se mascaram, sobem no banco, dizem patranhas, enganam os simples e vendem mercadoria], (16) “Des noms propres créent des repéres et decoupent des régions dans Hanonymat neutre du diabolique”” [Os nomes próprios criam referências e delimitam regiões no seio do anonimato neutro do diabólico], Michel de Certeau, op. cit., p. 62. Sendo sempre sete, os demônios de madre Joana dos Anjos, a superiora do convento de Loudun acossado pelo Inimigo entre 1632 e 1634, variaram no tempo; em um documento, aparecem os seguintes nomes; Astaroth, Zabulon, Cham, Nephtalon, Achas, Al: lix e Uriel; já nas “Listas” sobre as possessas — que Certeau chama de “Atas diabólico” — são diversas as designações: Leviatã, Amã, Isacaron, Balam, Asmodeu, Behemoth (o sétimo demônio não consta da lista). Nas aludidas Listas, são inu-

meros os nomes dados aos demônios, sendo poucos os que aparecem mais de uma

235

“o VCL.

pp.

Behemorh, Cérbero, Asmodeu. Para os nomes de diabos, ver Certeau, op. cit.

34-5; 61-2;

136-40.

(17) ma. “Tesouro Encuberto””, fl. 265. (18) na, “Tesouro

Encuberto”,

4

fis. 256-7.

(19) “La langue du diable est une autre langue, ou Ion ne s'introduit pas grãce

ão diabo é uma outra lingua, na qual não é possível ser iniciado por meio de um aprendizado. Por essas palavras, deve-se ser “possuído”, sem compreendê-las]. Ver Certeau, op. cit., p. 64. As possessas de Loudun chegam a falar tupi! “Elles ont aussj épondu en langage topinambou que leur paria Monsieur de Launay Razilly..”” [Elas responderam também em lingua tupinambá, na qual se dirigiu a elas Monsieur de Launay Raziliv...). Apud p. 179, Lettre du docteur Seguin à M. Quentin, 14/10/1634; a carta foi publicada no Mercure françois, 1634. Durante os exorcismos, diz Certeau, a linguagem é ao mesmo tempo o lugar e o objeto do combate. Acreditava-se que os melancólicos tinham especial aptidão em falarem línguas desconhecidas. Ver Jean Céard, “Foliz et démonologie au xvr” siêcle”, in Folie et déraison à la Renaissance, Colloque international tenu en novembre 1973 sous les auspices de la Fédération Internationale des Instituts et Sociétés pour |'Étude de la Renaissance, Bruxelas, Éditions de "Université de Bruxelles, 1976, pp. 129-47. Na página 141, cita L. Lemnius, Les secrets miracles de nature, trad. de A. Du Pinet, Lyon, Jean Frellon, 1566: “Que les mélancoliques, maniaques, phrenetiques, et qui par quelque autre cause sont espris de fureur, parlent quelquefois un language estrange qu'ils n'ont jamais aprins, et toutefois ne sont poinct demoniaques”' [Que os melancólicos, maníacos, frenéticos, € quem quer que por outro motivo estando tomado de furor, fale às vezes uma língua estranha que eles nunca tenham aprendido, e apesar disso não são demoniacos]. A relação entre melancolia, doença mental e bruxaria era fundamental na época: ver, a respeito, Sidney Anglo, “Witchcraft and melancholia: the debate between Wier, Bodin and Scott”, in Folie et déraison à la Renaissance, pp. 209-28. (20) “Et lorsqu'on lui fit dire: 'Mon Dieu, prenez possession de mon âme et de mon corps', le diable par trois fois la prit à la gorge, lorsqu'elle voulut dire; *De mon corps”, la faisant hurler, grincer les dents, tirer la langue” [E quando fizeram-na dizer: “Meu Deus, tomai possessão de minha alma e de meu corpo”, o diabo por três vezes a tomou pela garganta, quando ela quis dizer: “De meu corpo”, fazendo-a urrar, ranger os dentes, botar a língua]. Apud Certeau, op. cit., p. 30. (21) “En

un sens, c'est aussi un un dehors du language commun,

“baroque' si 'on veut, celui des sens, celui

des frémissements et des sueurs, des surfaces changcantes de la peau et des mouvements contradictoires du geste. Cette géographie reçoit, dans la littérature et Vexpérience, le même róle que celle des continents inconnus décrits par les explorateurs. Les cartes du corps ou les “théatres” de "Amérique s'opposent également aux cosmologies ou aux 'gtographies' traditionnelles. Un savoir nait de la pratique, contestatai-

re, exploratoire mais codifié, lui aussi” [Num certo sentido, é também uma exterioridade ante a linguagem comum, exatamente como o latim ou o hebraico. Inscreve-se

na corrente mais ampla que opõe, à intelectualidade recebida, o inventário de um mundo novo, “barroco” se quisermos chamá-lo assim, o dos sentidos, dos frêmitos e dos suores, das superfícies cambiantes da pele e dos movimentos contraditórios do gesto. Esta geografia assume, na literatura e na experiência, o mesmo papel que a dos contipentes desconhecidos descritos pelos exploradores. Os mapas do corpo ou os “tea-

236

,

Í

tout comme

le latin ou "hébreu. Il s'inscrh dans le courant plus large qui oppose à Vintellectualité reçue linventaire d'un nouveau monde,

ni

à un apprentissage. De ces mois, on doit être “posséde”, sans les entendre'” [A língua

;

À

|

tros”” da América se opõem igualmente às cosmologias e às “geografias" tradicio-

nais.

Um

saber

nasce

da prática,

codificada]. Certeau, op. cit., p. 68.

contestadora,

exploratória

mas,

ela também,

(22) Ba, “Tesouro Encuberto””, fl. 273. (23) Ver, entre outros, Norman Cohn, Los demónios familiares de Europa, trad., Madri, Alianza Editorial, 1975. (24) Ba, “Tesouro Encuberto”, fls. 259. O problema da platéia é central na sociedade de Antigo Regime, constitutivo do “homem público” que as ““tiranias da intimidade”” baniram no século xix, com o advento da sociedade e da cultura indus- . trial. Ver o trabalho sugestivo de Richard Sennet, O declínio do homem público —

as tiranias da intimidade, trad., São Paulo, Companhia das Letras,

1988, sobretudo

“O mundo público antes do Antigo Regime”, pp. 65-155. (25) “La tragédie démoniaque n'atteint que la religion publique”, Certeau, op. cit., p. 131. Para relação entre piedade e publicidade, ver p. 311. Para uma bela análise das relações complexas e complementares entre a possessa e a assistência, ver O caso de Elizabeth Knapp, desencadeado em 1672 na Nova Inglaterra: a possessa que-

ria ir para Boston, “o maior palco que a Nova Inglaterra lhe podia oferecer”. John

Putnam Demos, Entertaining Satan — witchcraft and the culture of Early New England, Oxford University Press, s. d., cap. 4, “A diabolical distemper”, pp. 97-131. (26) pa, “Tesouro Encuberto”, fl. 251. Para a hierarquia dos sentidos na Épo-

ca Moderna, ver Lucien Febvre, Le problême de l'incroyance au XVI siecle — La religion de Rabelais, Paris, Albin Michel, 1947, pp. 471-3. Para Febvre, há um “atraso” da visão no século xvi, O principal sentido sendo a audição. Robert Mandrou

endossa a posição de Febvre: Introduction à la France Moderne— 1500-1640, Paris, Albin Michel, 1974, pp. 76-82. (27) Ba, “Tesouro Encuberto”, citações respectivamente nas folhas 254 e 261.

É o olhar atento quem capta as mudanças fisionômicas da possessa: “Ce qui est en-

core surprenant et fait voir que ce changement provient d'une cause intérieure de possession, c'est que, durant qu'il dure, la possédée ne fait aucune grimace, mais son visage demeurant en son état naturel semble néanmoins tout autre, par le moyen des veux dont la couleur et la lumiêre sont changées en un instant" [O que é ainda surpreendente e permite ver que tal mudança advém de uma causa interior de possessão é que, enquanto dura, a possessa não faz nenhuma careta, mas seu rosto, conservando sua expressão natural, parece todavia diferente devido aos olhos cuja cor e cujo luzir mudaram num átimo). Carta de 26 de julho de 1634; Paris, Bibliothêque de ['Arsenal, ms. 4824, fl. 17, apud Certeau, op. cit., p. 141. (28) na, “Tesouro Encuberto”, fl. 264, (29) Idem, ibidem, fl. 278. (30) Idem, ibidem, fls. 264-5. (31) Idem, ibidem, fl. 277. (32) Idem, ibidem, fls. 288-9. (33) Idem, ibidem, fl. 270. (34) Para a relação entre demonologia e reflexão sobre a causalidade, ver Stuart Clark, “The scientific status of demonology”, in Brian Vickers (org.), Occult & scientific

mentalities in the Renaissance, Cambridge University Press, 1984, pp. 351-74.

(35) “Le tentateur subtil, qui multiplie les ruses et les habiletés de sa dialectique pour séduire un Faust diffêre du diable des possédés autant que le Lucifer orgueilleux qui entreprend avec ses démons la lutte contre Dieu. Les diables des possédés sont puls familiers et plus vulgaires. IIs restent à la mesure de "homme”” [O tentador sutil,

237

«e as habilidades de eua dialética para seduzir um Fausto,

que multuphea-a os estratagema

orgulhoso que, com seus dema. Lúcifer 0 quanto tanto ostse p s o Os diabos dos possessos são mais comezinhos d o b a i d difere do uta contra Deus manecem na medida do homem], Jean Vinchon, “Les as. nios, empreende Em c mais vulgares | E tos dive “gts de possesston”, In Satan, pp. 464-71, pects = aa n aberto “vol. 1, 51-1-29, fls. 266-7. : ni ec

(MI

ato BA, Ra

di id

e concílio de Constantinopla em 543 e 553, a eter.

de Latrão, em 1215; mas foi com Concílio pelo ear foi a f o i s rea! a n ue, ao colocar um ponto final na claboração nidade das pe teológica do q o Th ui Aq Õe Iornas samio ( rorpes agnuuíe =” Minais, Histoire des enfers, Paris, Fasd As ganhou desta ja) quesaÃo

inferno,

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no tor| men, to

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sua

visão

interno, | e não

pas un spectacle; il est intéricur à "âme, le moi éclate

sans un instant éternel; comme si la conscience Ctail figée pour toujours

ea

a moment de ta dernitre fraction de seconde avant la noyade ou Vécrasement. Per. conne n'tra plus loin dans le sens de Fhorreur absolue"” [O inferno terestano não é ch está no interior da alma,

um espetáculo,

o eu explode e sufoca

num

instante eter-

ao: como se 4 consciência se imobilizasse para sempre no momento da última fração

de segundo que antecede 0 afogamento ou o aniquilamento, Ninguém irá mais longe no sentido do horror absoluto), Georges Minois, Histoire des enfers, p. 237.

(19) Na lália, a superposição entre suspeitos de feitiçaria e de possessão diabó-

lica (91 característica da atuação inquisitorial c eclesiástica na época da Reforma caiohica. Ver Giovanni Romeo, Inquisitori, esorcisti e streghe nel" Halia della Controriforma,

Ihorença,

Sansom,

1990,

(45) Para a microfísica do poder, ver Michel Foucault, Mtcrofísica do poder,

trad. org. cintrod.

Roberto Machado, 2º ed,, Rio de Janciro, Graal, 1981; 4 verdade

cas formas jurídicas, trad., Rio de Janeiro, Cadernos da puc, 1974. Para a pedagogia do medo, ver Bartolomé Bennassar, “VInquisition ou la pédagopie de la peur”, in Bartolomé

Bennassar

(org.),

Elnquisition

Espagnole



XV-XIX*

siécle,

Paris,

Hachette, 1979, pp. 105-41, | (41) "[...] on serait tenté d'opposer deux types de sociétés: celles qui pratiquent Fanthropofagie, c'est à dire, qui voient dans Vabsorption de certains indivídus détenleurs de forces redoutables, le scul moyen de neutraliser celles-ci et même de les mete.

pd a mo la soultion

Ara

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| un a em e dá ai sero ces êtres rédoutables hors du corps social

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Fumante,

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sociedades: as que praticam a antropof: r | ria Pensador opor dons Eponas mic ié antropofagia, ou seja, que vcem na absorção de certos indivíduos, detentores. de forças temíveis o único e: a : aproveitá-las; e as que, como à nosss = | mico meio é de neutralizá-las e inclusive poemia (do grego spread, ne a o que poderíamos chamar de antro—— q medpils

=

ram a solução inversa. consisáinão det

ai

fes tropiques, Paris, Plon, 1955,

do mesmo problema, escolhe-

ANTT

'

Incuisi

p praia a este fim], Claude Lévi-Strauss, Tris-

;

: Nição de Lisbo a

' proc 0, nº (43) Ver Rober Mandrou, Magistrais ei so

a

E css min

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DO social é mantê-los Lemporária ou feftiivare as E berniveis para forw/do'cur nte isolados, sem contato com à humanidade, em es tabelecime ntos destj : (42)

a

a

238

172

ERRA

re

ssão”, 11, 26, Feers en Confi France qu XVIF siêcle, Pa-

|

pi, gi gi

Salem possessed — the social origins Chadwick Hansen, Witchcraft at SaRobinson, The devil discovered — SaBooks, 199]. Gilberto Velho: “Transe, possessão €

asse

Loudun. (44) Paul Boyer e Stephen Nissenbaum, of witcheraft, Harvard University Press, 1974. tem, Londres, Arrow Books, 1928, Enders A. tem witehcraft, 1692, Nova York, Hippocrene (45) Remeto mais uma vez à análise de

is

ris. Plon, 1968, sobretudo à segunda parte, “La crise du satanisme: les procês seanaaleux”, pp. 193-363. Michel Carmona, Les diables de Loudun — sorcelierie et polide rique sous Richelieu, Paris, Fayard, 1988; Michel de Certeau (org.), La possession

p. 124. Fu ndamentais na construção da identidade e da noção de indivíduo, esses fenômenos são igualmente responsáveis pela construção do que Clifford Geertz chamou de “'rede de significados”, Velho, op. cit., p. 126. Para Geertz, ver À interpretação das culturas, trad., Rio de Janeiro, Guanabara, 1989, (46) Endosso aqui a argumentação de Giovanni Levi, op. cit., pp. 46-7. Nos

sistemas naturalistas, explica-se a doença em termos impessoais, como se os elemen-

vos físicos que compõem o corpo se encontrassem em situação de desordem, de equi líbrio perturbado, e como se a causa de tal situação fosse totalmente explicável em termos naturais. Nos sistemas personalistas, a doença pode ser o efeito da intervenção, mais ou menos ativa ou intencional, de um agente dotado de sentido (seja divino, sobrenatural ou humano), a pessoa doente sendo vista como objeto de uma agressão (e às vezes de auto-agressão) e de uma punição que a consideram como pessoa cspecífica: estes sistemas se ocupam do doente e do porquê, « não apenas do como (p. 42). As formulações do autor são muito interessantes, indo em sentido diverso ao de Keith Thomas em Religion and the decline of magic — studies in popular beliefs in Sixteenth and Seventeenth Century England, 4º ed., Londres, Weidenfeld and Nicholson, 1980 (trad. Religião e o declínio da magia, São Paulo, Companhia das Letras, 1991) o declínio do elemento mágico na explicação das doenças não foi consegiên-

cia da difusão das práticas e conhecimentos médicos; teria antes havido um longo período de coexistência « reforço recíprocos explícitos, ao menos no plano ideológico, entre cuidados naturais e cuidados sobrenaturais. '“Tal coexistência não se deu apenas numa fase inicial confusa, mas também ao longo do período em que se isola-

vam as explicações de tipo naturalista da nova cosmologia médica produzida pelo racionalismo" (p. 45) — caso curioso de evolução lenta « não conflituosa da inovação, diferente das rupturas bruscas que seriam características, posteriormente, às transformações técnicas (p. 46).

8. EM TORNO DE UM MITO: A ELIPSE DO SABÁ (pp. 160-80)

Parte deste capítulo foi apresentada no Congresso Internacional Le sabhat des

sorciers en Europe, Saint-Cloud, 4-7/11/92; na forma final, entretanto, é inédito.

(1) São incontáveis os trabalhos sobre feitiçaria na Época Moderna, portanto

destacarei apenas os que julgo maís significativos para o estudo do sabá c suas variaes Carlo Ginzburg, Storia notturna — é o de ções. O mais recente e sofisticado del una decifrazione del sabba, Turim, Binaudi, 1989. Fez época o livro de Margareth

Murray, defensora da filiação do sabá aos cultos de fertilidade: The witch-cultin Wes. tern Europe, Londres e Oxford, 1921,

vos encontram-se em Robert M

Balz

led,

o a

mediunidade são fenômenos relígiosos recorrentes na sociedade brasileira”, op, cit.,

sorcitres ct ses causes”, in Marie-Sylvie Dupont-Bouch at et alii, Prophêtes ei Sorciers dans les Pays-Bas — XVI -XVIIF siecles, Paris, Hachette, 1978, pp. 1-38, e também em Gustav Henningsen, The witches' advocate — Basque witchc raft and the Spanish Inquesition (1609-1614), Reno, University of Nevada Press, 1990, estudo ale ntado que

fornece ainda elementos importantes para a análise do sabá. Uma vis ão mais geral

do fenômeno sabático se trad.. Paris, Gallimard. de Europa, irad., Madri, gantes, numa vasta arca

encontra em Julio Caro Baroja, Les sorcieres et leur monde, 1972. De Norman Cohn é o belo Los demónios familiares Alianza Editorial, 1975. Para diversas interpret ações instigeográfica, ver os seguintes trabalhos: Eva Pócs, “Po pular

toundarions of the devil's pact and sabbath in South Eastern Europe”, comunicação apresentada no Congresso Witch beliefs and witch huntin g in Central and Eastern

Europe, org. pelo Erhnographical Institute of the Hu ngarian Academy of Sciences e Eotvos Loránd University, Budapeste, 69/9/1988: Mar gareth M. McGowan, “Pierre à

Lancre's

Tableaou de linconsiance des mauvais anges et des démons:

the sabba!

ensattonalised”, in Sidney Anglo (ed.), The damn ed art: essays in the literature of witcheraft, Londres, 1977, pp. 122-201: Stuan Cla rk, “Inversion, misrule and the meamng of witchcraft”, Past & Present, nº 87, maio 1980, pp. 98-127: Gustav Henningsen,

“The ladies from outside: the sicilian fairy cul t as a prototype of the witches” Sabbath", ex. datilografado. Para a idéia da perseg uição e do sabá como produto da

demonologia e do pavor das elites letradas, ver Robert Muchembled,

““Lautre coté

cu mirorr: mythes sataniques et réalités culturelles aux xvif et xvif siécles”, Anna: les, ESC, ano 40, nº 2, mar.-abr. 1985. Para a com preensão das peculiaridades da a

ga

e

res

jensçaria inglesa, ver o trabalho incom parável de Kei th Thomas, Religion and the decline of magic — studies in popular beliefs in Six teenth and Seventeenth Century Engiand, 4* ed., Londres, Weidenfeld and Nichol son, 1980. Para a especificidade das assembléias de bruxas na Escócia, Christina Larner , Enemies of God — The witchhunt in Scotland, Londres. Basil Blackwell, 1983; da mesma autora, ver a instigante codeânea Witchc raft and religion — the politics of popular belief, Londres, Basil Black-

well, 1985, notadamente os artigos “Crimen exce ptum: the crime of witchcraft in Europ”, pp. 35-67, “Witch beliefs and accusations in England and Scotland", pp. 70-8 E Wiichcraft past and present", pp. 79-9]. Para O fenômeno no contexto italiano, ves Coovanni Romeo, Inquisitori esorcisti e streghe nell"Halia della Controriforma, Finença, Samsoni, 1999, sobretudo o capítulo 1, “1588: un addio al sabba”?””, pp. 3-24. (2) Ver “O conjunto: América diabólica » Sob o título “A aproximação com o modelo sabático” .

(3) André Thever, Paris, Maisonneuve & (4) Idem, ibidem, (5) Idem, ibidem,

Les sngularitez de la France Antarcti que, ed. Paul Gaffarel, Cie, 1878, p. 146. p. 169. pp. 172-3.

(6) Carta do padre Azpilcueta Nava rro dos jesuítas de Coimbra, 28 /3/1550. In padre Serafim Leste, Monumenta Bra sihiae, Roma, Ed. Monumenta Historica Socie-

tuts Jesu, 1956, vols. 1 à 4, p. TE. (7) Michel de Certeau, “Ehno-grap hie- Poralsté, ou Vespaçe de Vautre: Lérv”, Em Lécrisure de Fhistoire, Par is, Cralimard. 15, pp. 21 5-48 Ver sobretudo pp. 243 *ez ota so, uz É ta itt -4, érature dy voyage m'a malheureusement pas enc matiquemnes Suite comme ore Cté sysiévn

oie. ne

ano ructure

immense complément e: dépl acement dela démono| FrOUvEn pourtam"* (A litera

tura de viagem infelizmente nda não fo VEemsiicamente estudada como um imenso comple mento €

240)

Do

deslocamento da demonologia. Apesar disso, as mesmas estrut uras estão presentes em ambas).

|

(8) “Le haut mal”” é a designação dada à epilepsia: Léry será provavelment e

|

um dos primeiros a fazer a associação entre ritos amer índios e manifestações epilépti-

cas. Mais um ponto de aproximação com a feitiçaria e com o sabá: a partir do século xvis, tal

associação será feita com freqiiência pelos ilus trados europeus. Ver R. Mandrou, Magistrats et sorciers en France au XVIF siêcie, Paris, Plon, 1968. (9) Jean de Lêry, Histoire d'un voyage faict dans la terre du Brésil, ed. Paul

Gaffarel, Paris, Alphonse Lemerre Editeur, 1880, 2 vols., vol. 2, pp. 67-73.

(10) Michel Foucault, Histoire de la sexualité — 1 — La volonté de savoir, Pa-

ris, Gallimard,

1976, pp. 78-83.

(11) A alusão à erva defumada e aspirada num contexto de demoni zação dos

briaguez alcoólica e até à luxúria). (12) A edição de Léry usada por mim é a segunda, a de 1580, impressa em Genebra por Antoine Chuppin e tomada como base por Paul Gaffarel para a sua edição

DO mo rm 1 mma

E e e

définitive, à Véquivalent de l'ivresse alcoolique et même à la luxure” feles [os curopeus) condenavam os alucinógenos por serem instrumentos de Satã mas igualmente por conduzirem à desrazão, à loucura, passageira ou definitiva, ao equivale nte da em-

e

com alucinógenos. Ao lado do canibalismo e dos sacrifícios humanos, elas foram as grandes responsáveis por uma interpretação demoníaca das culturas do Novo Mundo. Ver, a respeito, as páginas brilhantes de Serge Gruzinski, “La capture du surnaturel chrétien”', in La colonisation de l'imaginaire — sociétés Indizene s et occidentalisation dans le Méxique espagnol — XVE-XVIIF siêcle, Paris, Gallimar d, 1988, pp. 263-97. Na página 282, diz: ““TIs [os europeus) reprochaient aux hallucinogên es d'être Vinstrument de Satan mais aussi de conduire à la déraison, à la folie passagere ou

o

ritos indígenas reflete a repulsa e o pânico europeu ante as experiências americanas

| | |

de 1880. Ver Paul Gaffarel, “Notice Bibliographique”” a Histoire d'un vora ze.,

p. xIv ss. Nas edições posteriores, como na terceira, de 1585, Léry tornaria ainda mais

explicita a associação entre os ritos tupis e o sabá, incorporando a polêmi ca demono-

lógica ocorrida entre Jean Bodin — cuja obra, Démonomanie des sorciers, se publicara em 15—80 e Jean Wier. Diz Léry: “*j'ai conclut, que le maistre des unes estoit le maistre des autres: assavoir, que les femmes Bresiliennes et les Sorciere s par-deçã

|

|

estoyent conduites d'un mesme esprit de Satan: sans que la distance des lieux, ny te

long passage de la mer empesche ce pere de mensonge d'opperer ça ct lã en ceux gui

luy sont livrez par le juste jugement de Dieu” [conclui que o senhor de uns era O

mesmo

que o dos outros: ou seja, que as mulheres brasileiras e as feiticeiras daqui

conduziam-se segundo um mesmo espírito de Satã; sem que a distância dos lugares,

nem a longa travessia do mar impedisse tal pai da mentira de agir aqui e lá sobre Os que lhe foram entregues pelo justo julgamento de Deus]. Apud Frank Lestringant,

[huguenot et le sauvage, Paris, Aux amateurs de livres, 1990, p. 50, nota 21. Lestrimgant observa muito a propósito que o capítulo xw de Léry — onde se faz a analogia

entre ritos tupis e sabá — contrasta fortemcom enote tom do rest da obra o , Ver L'hu-

guenot et le sauvage, pp. 49-50.

(13) A respeito, ver o meu O diab e a terr o a de Santa Cruz, São Paulo, Companhia das Letras, 1986. Mais recentemoen capí tulo te , 1 deste trabalho.

(14) Francisco Bethencoun, O imaginário da magia — feiticeiras, saludadores

é nigromantes no século XVI, Lisboa, Projeso Universida Aberde ta, 1987, sobretudo PP. 165 ss. Laura de Mello € Souza, «Witcheraft, sabbath and popu lar belicfs in Co-

!

|

|

s

(15) Refiro-me aos casos de Simão Pinto e Margarida Lourenço, registrados nós processos nº 8206 da Inquisição de Évora e 1] 642 da | nquisição de Lisboa, ambos

no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, apud op, cit,, pp. 165.9. Ver também Fran. cisco Beahencour, “Witchcrafi and Enguisition in Portugal”, ex, datilografado, (16) Penso em particular no caso de Clara Signorini anal isado por Ginzbura

em “Fertsçaria c predade popular: notas sobre um Processo modenense de 1519"! in Mitos, emblemas, sinais. Morfologia e história, traG., São Paulo, Companhia das Le; 1 b tras, + rempr. 1990, pp. 15-99. Para Ana Antônia do Boco, ver avr, Inquisição de Lisboa, proc nº 31 242, (17) À gestnalidade da ir cação desmonia ca Jusitana era mar cada , DO caso das mulheres, pela nudez e pelos cabelos sois. ver, a respeito, o capity lo 2 dest e trabalho, (16) aserr, Encquísição de Lisboa. proc. nº 13 242, (19) ser, Inquisição de Lisboa, proc. nº 35 29. Luis Mott utiliz a este Process) cm contexto diverso. Ver Escravidão, homosserualidade é demo nologia, São Paulo, Ícone, 1988, po. 1324,

(23 A retertncia a velas é constante nos Drocsos que sludem ay sabá, No “náy. rats” (espécie de resumo) de

interrogatório de Giles Cochet, em 16, há esta reto. rência: “Es apres on 2 presemé é chac un um chandeiie nojre allumée, e apre s, cha. com intra sa chandelic à cexe Deste fem cavalo), «x peis chacun s'en alio it”, Archives eaticmcdes, 12, SG, 14 jul 164), Ap ud Alfred Soman, “Le sabbat des sOTCiers: pres. “e furidique”, comunicação apresentada no Congresso Internacional Le sabias des once en Esmoge rv Ts gy gate s Saint Lens, 47/11/92, texso datilo grafado perasão « pufiicação das atas, p. 17. Se no episódio de Leonor Fernan des as velas 540 axubladas e reendem cnzotre, ne sta citação, como em gande parte de qutras des CruçÁDES, às velas são neyras Toi UA UÇÃãO, exi no à enxofre, remete 20 Diabo, € à inversão da camas — onde ve acen dem velas 20x santos e 4 Deus, CA Para mena tipologia do tabá, ver Crsstav Henningsen, op. cit., cap. 5, “The wicctonde"”, po. 66.54, AGA, 62 cp Estaria senta iz forme du e corbeas eles om volé, croack, sensto s la forme Sum serpest, rasppé, e: gota fz form e d'va chat vont entrées par des trou s pesits et eme proporcionnez 2 la grrenr du Corps Sum vray chat,.” (Quando pois as issticeiras dizer nas vuzs comissões GU + transformaram esm corvo, pega s, iodo, PORCOS, GALO

, TALO E serpentes, ou cutras arienás se rmehiantes, € que estandna o fornau de corvo dias vaca, gresmaram, na focena de ver peme rastejaram, e na forma de

Ge vem g286 verdades.À, Je de z Nyna e nid, De se des sorciero — 615, tsibrys critiq ue qugmentte 4 rudes sur les Iycant ropes es tes oepa-garmas, Paris, Fréstiho Es

titicos, 95, p. 67. (23) num, Incuúsição de Lisboa, proc. nº 2559, Semença, Pude ler este docuMRENTO Graças é qencrmidade de An

s-hisoriador Lists Mo arqunro particulas de docyment os inauisice taí sl

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es campos de Champaignes próximo do T hloa, morand o ENTÃO na casa de Nils Godel 0 jovem, € lhe teria feito muito ma! , jaldade e

dores, como se lhe tivessem posto espinhos es

prannes

quinze dias doente] (A. D Me M B 2543 nº por Robin Briggs c distribuída durante sesa Comunicaç ão “Le sabias des sorcdiers en

Lorraine”, que teve Jugar no Congresso Internações! 16 sabbar des sorcíers en Euro. pe (xvTC-prntTo mécies

), Saímt-Cloud, 47/11/99. (24) Os réus dos seis processos 4 que aba di sã de, José Francisco Pedroso, José Francisco Pereira, Joneta de Jesus, Catarina Dias c Jovla Maria, adequadamente citados mais adiante (25) astra, Inquisição de Lisboa, pro c, nº 972.

(26) nsert, Inquisição de Lisboa, proc. nº 1) TIA.

(21) Piero Campores, “Carnerale 3 sabba””, in Fl paese delia fame, Bej ert ua 185 6. pp. 198 5, Mul 1 ino,

(25) Em minha tese de doutorad o, dediquei algumas páginas a este episódio, analisando-o, entretanto, de forma di versa e menos reaciornada é dereatfegã a. () diabo e u terra de Santa Cruz, pp. 25940) € NG9, Lsks Miss Lariréem dude ao pts dio em “Etnodemonologia: aspecm da vida sexual do dido no mundo ne ro armericano (séculos 171 20 mv)", im Escrav idão, homos serust e de imo d no aog dia e, pp. 126 e 128-31. (25) A persistência de Val de Cavalinhos como local de s2bá é bastante curicns, < dcmandaria um es

udo específico, Em comentário à múnka CPTE RIR AÇÃO, De presta Geste texto no Cológuio de Saint Cloud, Claude Caiprees cugeriu anglogia exere 2 designação de Cavalínhos e o hábito carnavales co de montar caralinios de eau em pandegas. Caberia verificar se 14] hábito tem enraiz amento português. Para a Fresça, ver Jean laude Schmitt, * Jeunes' es danse des chevauz de Dois — ie Loliiore sméri.

dional dans la lntérature des “exemplo (ant -xsvf ve ces”, Cahiers de Farjeguys, q“ 13, 5976, pp. 127-56. De qualquer forma, outros lugare s, como Campos dz Coxeríva,

I Í

dc Badorviller, dizia em 156! que no salsá por ela freiicntado “1 avo it des men esFez aves pf tabourins e

instrument cui les Laisoiens dansser e quant elle retos -

Fcnem incomtinent se trouvoyens en leurs maisons”, A. D, Vosges S 196 Yodbezu, viúva de Nic

1OUS

olas Demenge Richard, de Ayócilies depunha, em 1615, “au audi soar dansojen t au som dus

tambour et d'une fiuie cui estotent sonnez par desx par-

ticulicrs d'entre cux,.”, Cho, mais uma vez, conforme transcrição feita pelo histcnria- Ap

dor britânico c distribuída durante sua comun no i supc racita adoçcon ãgre osso.

ae rege a Ml

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4» cananholas de Maria de Jesus — são uma constante nos process de Sei siçaria que aludem ao sabá. Na Lorena estud poa rd Rovain Brigas, AlidesMon sici ogne niz,

Da

nes dont une est enflameinte«4 sert & allumer tous les fesx de la résgion”. (32) Danças € instrumentos musicais — os pandeirinhos de Leonor Fernandes ,

e

D- 188: “Satan sous la forme d'un bouc es assis sur ps tróse dorts À porte daa cor-

— ie

cap. 32, “Les grand procks du pays basque au debut du grs vicio”. principalmente

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Julio Caro Basoja, Les sorcíeres et leur monde, vtaô., Pasis, Calbeasã, VI72,

e

bém

'

(30) aver, Inquisição de Lisboa, proc. nº H 767. (31) Ver Pierre de Lancre, Tableau de Vinconstance des mau vais unges ex des démons, introd, crt. e notas Nicole Jacques Chaquin, Paris, Aedvier, 1962. Na págs na 142; “elle 1a vu souvent en forme dhomene, tam! rou ge, temia mes”, Vez tem

uam

permanecem igualmente consiantes durante 1sês século s como lc de cerréncia ds sabá.

| (33) ANTT, Inquisição de Lisboa, proc. nº 2279. Foi Luís Mott quem me permi. uu a Jeitura deste documento. Há analogia curiosa entre os afazeres domésticos da negra Maria de Jesus e os de outra escrava, Marcelina Maria, que em 1734 diz ter

contado com

a ajuda

do diabo

para amassar

'“dois alqueires de pão de trigo”, “e

em meia hora o tal pão se amassou e levedou [...) fazendo grande bulha, como que era bem amassado... anTT, 1. L., proc. nº 631. Mas, branca e portuguesa, Catarina Hernandes também

se valia dos préstimos do diabo para serviços domésticos em ge-

ral: em trajes de donzela, “lhe ajudava a fazer o serviço da casa”, anti, Inquisição de Coimbra, proc. nº 7235,

(34) E Alfred Soman quem, numa interpretação brilhante, vê o sabá como dis-

curso que se banaliza e que, no decorrer do século xvr1, acaba se tornando mera curio-

sidade. Conforme diminui a pena de morte para a feitiçaria — conforme ela se descrimina —, aumentam as descrições de sabá. Ver “Le sabbat des sorciers: preuve juridique”, pp. 14, 15 e 16. Para o estudo da descriminação da feitiçaria francesa, ver Alfred Soman, 1992.

Sorcellerie et justice criminelle (16º-18º siêcles), Bath, Variorum,

(35) antrr, Inquisição de Lisboa, proc. nº 4964.

(36) Para analogias, em outro contexto, entre bruxaria e vampirismo, ver “The

decline of witches and the rise of vampires under the Eighteenth-century Habsburg

Monarchy””, in Gábor Klaniczay, The uses of supernatural! powers — the transformaion of popular religion in Medieval and Early-Modern Europe, Princeton University Press, 1990, pp. 168-88. (37) Ver O diabo e a terra de Santa Cruz, passim. Ver, entre outros, Raoul Manselli, La religion populaire au Moyen-Age — problêmes de méthode et d"histoire, Montréal-Paris, Publications de I' Institut d'Études Médiévales Albert le Grand, 1975; lean Delumeau, Le catholicisme entre Luther et Voltaire, Paris, pur, 1971. (38) antt, Inquisição de Lisboa, proc. nº 11 163.

(39) A crença de que o espírito se desprendia do corpo durante o sono é central no caso dos henandanti estudados por Carlo Ginzburg, 1 benandanti — stregoneria

e culti agrari tra Cinquecento e Seicento, Turim, Einaudi, 1966. Encontra-se também nos kresniks e táltos eslavos e húngaros. Ver Gábor Klaniczay, “Shamanistic elements in European Witcheraft”, op. cit., pp. 129-50,

(40) Notar aqui a similitude do papel de instrumentos musicais, mais exatamente de percussão, no desencadeamento dos êxtases tupis relatados por Léry € no dos de Luzia, africanos na origem. Cabe ressaltar que, nos ritos de umbanda e candomblé contemporâneos, tal papel ainda se conserva. Mário de Andrade chamou atenção para o papel exorcizador dos instrumentos de percussão, diferentes, por exemplo, dos de sopro, que são antes invocadores. Ver Música de feitiçaria no Brasil, São Paulo, Martins, s. d., pp. 36-8.

(41) antT, Inquisição de Lisboa, proc. nº 252, mç. 26. (42) A respeito das discussões sobre separação entre alma e corpo, ver Nicole Jacques-Chaquin, “Nynauld, Bodin et les autres; les enjeux d'une métamorphose LeXtuelle”, in De /a tyeanthropie — transformation et extase des sorciers — 1615, pp. 1 ss. (43) antt, Inquisição de Lisboa, proc. nº 1 974. Mais uma vez, devo a leitura deste documento à generosidade de Luís Mott. (44) antT, Inquisição de Lisboa, proc. nº 4222. (45) antK, Inquisição de Lisboa, Manuscritos da Livraria nº 959. Cabe dizer aqui que ambos os executados eram reincidentes. A Inquisição costumava ser mais dura com estes, mas conheço outros casos de reincidentes que não foram queimados,

244

|

e sim degredados: Domingos Álvares (axrt, Inquisição de Évora aiii

7759), Maria Barbosa (antT, Inquisição de Lisboa, proc. (ANTT, Inquisição de Lisboa, proc. nº 1377). (46) Tal quadro se encontra no Museu Nacional das alguns atribuem-no a Jorge Afonso, que o teria pintado Broc, La géographie de la Renaissance, Paris, Les Éditions

E

nº 289) a +» Proc, nº ' 2362), Antônia Maria

Janelas Verdes, em Lj boa: por volta de a a oa; du CTHS, 1986, p 208 Ei

autor afirma ter sido fraco o impacto da descoberta da América sobre a ; ii dê ea

tura”' eu ropéia, regist rando, entretanto,

tecundações; dentre estas, destaça as verifi-

cadas em meio português: “On signale pourtant dês 1505, une Adoration des mages

de I'école portugaise dont un des protagonistes, coiffé de plumes et portant une flê-

che tupinamba, serait le premier Indien d'Amérique figurant sur une peinture européenn e..* (p. 208) [Registra-se uma Adoração dos magos da escola portuguesa, já em

a

5

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1505, onde um dos protagonistas, com cocar de plumas e trazendo flecha tupinambá, seria o primeiro índio da América a figurar em um quadro europeu...]; “Finalement, le seul pays européen dont Part reflête partiellement "aventure d'outre-mer est le petit Portugal qui pendant pres d'un siécle a eu le sentiment d'etre le centre du monde” (p. 210) [Finalmente, o único país europeu cuja arte reflete parcialmente

a aventura ultramarina é o pequeno Portugal, que durante quase um século teve o

1

E

sentimento de ser o centro do mundo]. Os exemplos dados pelo autor são os painéis de Nuno Gonçalves em São Vicente de Fora e o manuelino em geral, com destaque para a célebre janela do convento de Tomar (p. 210). (47) Ver Stuart Clark, “Inversion, misrule and the meaning of witehcraft”, Past & Present, nº 87, maio 1980, pp. 98-127. (48) Francisco Bethencourt, “Witchcraft and Inquisition in Portugal”, ex, datilografado. Maria Cristina A. S. Corrêa de Mello, “*Feiticeiras ou feiticeiros? Bruxos

.—

º

|

Luiza e feiticeiros processados pela Inquisição de Evora”, in Anita Novinsky e Maria

e arte, São Paulo, as heresi e, lidad menta sobre os ensai : sição Inqui ), (ores. iro Carne Tucci Edusp/Expressão e Cultura, 1992, pp. 750-61. VO % RgRRA estudo o mente livre preto inter ão, deraç consi esta (49) Para fazer a “positiva ca: Améri na ção eliza evang da vias duas das a acerc Gustav Henningsen

a

os e a “negativa”, ou seja, a que transplanta para O Novo Continente

4

mostra ainda ngsen Henni . Diabo de ntal ocide idéia a ele, para traz, do Cristo e a que

do uso 0 mente ifica espec mais — os ican amer os hábit como certos

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que psi te — acabaram penetrando no universo dos espanhóis

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das crenças:

relas ula pop erso univ ao io alhe que, tou sta con s Póc a húngara Eva Pia!

| xas na Europa do Sudeste, o pacto acabou se misturando

ta: “The notion of the devil's pact can be regarded pru

Orthodox demonology and the legend literature + “S

devil's pact and sabbath in South Eastern EuTóPC ar"SeMA gresso Witch beliefs and sá

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Budapeste, 6-9/9/1988, Pp. Jó, ex. mimeo. esperando e (51) Empirismo e pobreza

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o in s essay e: cultur of es Clash in ca”, Ameri ial colon in c magi of diffusion ig en cri Erling Ladew Peters é Hen B sen, Johan V. tian Chris Jens ed. ard, nsga Niels Stee 160-78. Stevnsbore, Odense University Press, 1992, pp: e acto parecd : i lia ic cabe não Que s, sima quís anti s raíze de ar Apes (50) o Rs ter maior parentesco com as formas eruditas de ver as quest àà terennomada foleIclori t lori orisststa

o, it ud o, it er ud o e er d a h l a t e d | do tu es m u ria do que o mito do sabá. N

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das alas.

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as mes- caia

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tras das interpretações de Joaquim Barradas de Carvalho em A ta recherche de la specificiré de la Renaissance Portugaise — Le Esmeraldo de Situ Orbis de Duarte Pacheco Pereira et la littérature des vovages à Vépoque des grandes découvertes; Contribution à Vétude des origines de la pensée moderne, Paris, 1963, e Sérgio Buarque de Holanda em Visão do Paraíso — os motivos edênicos no descobrimento e coloni-

seção do Brasil, 2º ed., São Paulo, Nacional, 1969. O problema do ceticismo pode

encobrir situação bastante complexa. À semelhança de outros europeus, talvez OS portugueses não acreditassem no caráter concreto de ações das bruxas como o vôo e a metamorfose, ainbuindo-as a ilusões demoniacas, e se aferrassem mais ao pacto, que

confusamente poderia aparecer, ora como concreto, ora como me aqui na leitura da demonologia batava feita por Marcel dic theologians” views of witcheralt and the devil's pact”, in e Willem Frijhoff, Wischorqft in the Netherlands from the

ilusório também. InspiroGielis, “The NetherlanMarijke Gi) swijt-Hofstra Fourteenth to the Twen-

rieth Century, s. 1., Universitaire Pers Rotterdam, 1991, pp. 37-52. Nos Países Baixos, a demonologia filiada ao Malleus não encontrou seguidores, vigorando as concep-

ções agostinianas e tomistas no tocante às coisas do diabo, Seguidor do Malleus e

publicando seu Disquisironum Magicarum Libri Sex (1599-1600) na Holanda, Mar-

tin del Rio não convenceu neste país. Entretanto, é preciso não esquecer que, ao que tudo indica, foi Del Rio o autor preferido dos inquisidores portugueses. No estágio atual dos estudos, fica, portanto, suspensa esta questão: qual a crença efetiva dos juízes do Santo Oficio no tocante ao caráter real ou ilusório dos atos mágicos e, sobretudo, do pacto?

Epilogo: PERSISTÊNCIAS INFERAS (pp. 181-95) (1) Olavo Bilac, “O Diabo”, in Conferências literárias, Rio de Janeiro/ São Paulo/ Belo Horizonte, Francisco Alves, 1912, pp. 131-69, 150 e 152. (2) Antonio Candido, Formação da literatura brasileira — momentos decisivos,

4º ed., São

Paulo,

Martins,

s. d., 2 v., vol. 2, p. 237.

(3) Ver reprodução à p. 179. (4) Ver Carlo Ginzbureg, Storia notturna — una decifrazione del sabba, Turim, Einaudi, 1989, passim (trad. História noturna — decifrando o sabd, São Paulo, Companhia das Letras, 1991). (5) Ver a respeito o capítulo 8 deste trabalho, “Em torno de um mito: a elipse do sabá””. (6) Além da já citada Storia notturna, ver também [ benandanti — stregoneria e cult agrari tra Cinquecento e Seicento, 3º ed., Turim, Einaudi, 1979, cap. n1, “Le processioni dei morti”” (trad. Os andarilhos do bem — feitiçarias e cultos agrários nos séculos XVI e XVII, São Paulo, Companhia das Letras, 1988). (7) Para uma análise brilhante da linguagem dos contrários, ver Stuart Clark, “Inversion, misrule and the meaning of witcheraft”, Past & Present, nº 87, maio 1980, pp. 98-127, (8) Ver, no capítulo 8 deste trabalho (“Em torno de um mito: à elipse do sabá”), a descrição feita por Léry das cerimônias tupis. Para os significados da cabaça

na Santidade do Jaguaripe, ver Ronaldo Vainfas, “Idolatrias luso-brasileiras: “santi-

dades" e milenarismos indígenas”, in Ronaldo Vainfas (org), América em tempo de conquista, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1992, pp. 176-97. (9) “Stradelli crê o cateretê indígena. Artur Ramos, africano. Ezequiel, citado

246

E por Teófilo Braga, deduziu-o como a dança do século xvi que se cham sm

Portugal”, Luís da Câmara Cascudo, Dicionário

Gs

NL,

1954, p. 163.

Ps No CT do folelore brasileiro, Rio de Ja-

(10) Luís da Câmara Cascudo, op. cit., pp. 627-8. Do mes; no au tor, ver também Made in Africa (pesquisas e notas), Rio de Janeiro, Civilizaçã o

Brasileira, 1965, pp.

132-44, onde diz ter a umbigada sido introduzida no Brasil p elos bant os ocidentais, sendo, no século xIx, incorporada até pelos índios; Cascudo ressalta ainda sua re lação com ritos propiciatórios,

(1 1) Essas palavras f oram utilizadas pelo autor devido ao caráter genuinamente brasileiro, e delas anotou o significado, explicando-o: de jirau, por exemplo, disse: “é uma palavra brasileira que significa um leito grosseiro de pau, armado entio a ramos das árvores”. Ver Poesias completas de Bernardo Guimarães. Org., introd., cron

e notas Alphonsus de Guimaraens Filho, Rio de Janeiro, mec-int, 1959, p. 473. > (12) Julho Caro BArOJA: Les sorciêres et leur monde, trad., Paris, Gallimard, 1972,

cap. “La sorcellerie dans V'art et la littérature”, pp. 241-51, citações nas páginas 243, 247 e 248. (13) Ver a relação das águas-fortes em Caro Baroja, op. cit., p. 247, nota 4.

Plon,

(14) Robert Mandrou, Magistrats et sorciers en France au XVIP siêele, Paris,

1968, pp. 539-64. (15) Para o interesse ilustrado pela cultura popular, ver a boa síntese de Peter

Burke, Popular culture in Early Modern Europe, Londres, Temple Smith, 1978, cap. |, “The discovery of the people”, pp. 3-22. Para a formulação de Lynn Thorndike, ver A history of magic and experimental science, Nova York, 1929-34, 4 vols. (16) Ver Caro Baroja, op. cit., cap. xvi, “A grande crise”, e cap. xvir, “O século das Luzes”, onde, na página 235, se encontra a consideração sobre monsieur Oufle. (17) Voltaire, Dictionaire philosophique, Paris, 1821, Iv, pp. 343-4, verbete “Boue”. (18) Para a mania da sociedade francesa pelos contos de fadas, ver Philippe Ariês,

CVenfant et la vie familiale sous VAncien Régime, Paris, Seuil, 1973, pp. 95-9. Na página 99, diz o autor: “Ainsi les vieux contes que tous écoutaient à "époque de Colbert et de Mme. de Sévigné, ont été peu à peu abandonnés par les gens de qualité, puis par la bourgeoisie, aux enfants et au peuple des campagnes. Celui-ci les délaissa à son tour quand le Petit Journal remplaça la Bibliothêque Bleue; les enfants devinrent alors leur dernier public...” [Assim, os velhos contos que todos ouviam na época de Colbert e de Mme. de Sévigné foram, aos poucos, abandonados pelos nobres, de-

pois pela burguesia, às crianças e à gente dos campos. Estes, por sua vez, os abando-

naram quando o Petit Journal substituiu a Bibliothêque Bleue, as crianças se tornaram então o seu último público...). (19) Victor Hugo, Odes et ballades, Paris, 1862, Balada x1v, pp. 356-61 (a obra

é de 1823-8); Théophile Gautier, “Albertus”, in Poésies completes, Paris, 1896, 1, PP: 177-83, estrofes cvm-cxx. Caro Baroja, Op. cit., p. 249. J. W. Goethe, Ent trad. Agostinho d'Ornellas, introd. Paulo Quintella, Lisboa, Clássicos Relógio d'Água, 5. à,

noite de Walpurgls OU ds gn daho “Noite de Walpurgis”, pp. 179-91, e “Son

cias de Oberon e Titânia”, pp. 193-9. Para uma tradução mais livre, mas sem d di Livraria Clássica Edimeti E mais bela, Fausto, trad. Antonio Feliciano de Castilho, Lisboa, Livra ATberan € Alber tora, 1919, “Noite de Santa Valburga”, pp. 35787; “ Áureas núpcias de

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Titânia ou os Cincoenta anos de casados”, pp. 393-406. O discurso € a cidade, in + (20) Ver Antonio Candido, “A poesia pantagruélica pantagruélica”” a i s e o m * São Paulo, Duas Cidades, 1993. Neste ensaio, O autor vea

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HM

dos paulistanos de meados do século passado como manifestação do ““anfiguri”, caracterizado, na definição utilizada, como “composição em prosa ou verso, de sentido absurdo ou disparatado”. (21) Para os temas do erotismo e da sexualidade, ver o livro pioneiro de Mario Praz, La carne, la morte e il diavolo nella letteratura romantica, 3º ed. aum., Florença, Sansoni, 1948,

3e4. Ao lado, o registro, talvez, de mudança de mentalidade do suplicio para o exame meticuloso da dissecção cientifica, que + iição de anatomia de Rembrandt, abaixo, assinalaria cerca de um século e meio depois.

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a dentro do universo do suplício, esta bela Judith neutr aliz 4o horror da cabeça d ecapitada.

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7. O suplício de são Sebastião é tema frequente nas representações da época.

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8 e 9. A obsessão pelo despedaçamento do corpo atinge as naturezas-mortas.

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10. A imagem do diabo mostra sua presença em Portugal.

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1. A obsessão pelos suplícios impregna a iconografia européia da época do Renascimento.

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2. A retalhação dos corpos indiça a presença do suplício no cotidiano e no imaginário moderno,

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laura de Mello e Souza é, sem

dúvida, pesquisadora de ponta em nossa historiografia, e uma das primeiras a adotar a perspectiva das mentalidades e da história cultural na investigação das religiosidades coloniais luso-brasileiras. Demonstrou isso em O diabo e a Terra de Santa Cruz (Companhia das letras, 1986), estudo dedicado às representações e vivências do sagrado nos primeiros séculos brasileiros, examinando sincretismos que, aos olhos da Inquisição,

se transformariam em feiticaria e cultos diabólicos.

Em Inferno Atlântico a historiadora aprofunda a problemática do livro anterior, adensando, por um lado,

Fa análise das relações entre crenças religiosas e colonialismo,

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misteriosa e quase invisível, ento

o divino e o demoníaco na cultura européia, irrigada, sem clúvides,

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Inferno Alléntico é, por tudo 550, s no em a ci ân rt po Im de an gr de obra

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historiografia, livro capaz de Ilumina áreas de sombra de nossas religiosidades a a originalid de

de nossa cultura.

Fonaldo Volntos

e verticalizando, de outro lado,

o estudo microscópico da religiosidade

cotidiana. Descortinando representações populares e eruditas do Diabo europeu, quer na colônia, quer na metrópole, laura produz, uma vez

mais, um livro instigante, a provocar a imaginação do leitor e a contribuir para o conhecimento de nossas raízes culturais. Na primeira parte, a autora insere as religiosidades no amplo quadro do sistema colonial e das mudanças por que passava a Europa no século XVI. Nela se destacam o estudo comparativo entre as imagens do diabo na América

Portuguesa e Hispânica, as

ressonâncias das crenças tupis na ltália, g diversidade das práticas religiosas na colônia e o notável estudo do degredo como mecanismo de difusão cultural

no mundo ibérico. No segunda parte, lavra se dedica

q temas microscópicos: os aspecios

contestatórios da religiosidade popular

nos êxtases dos visionárias; as

“interpenetrações da linguagem sagrada e da erótica na vivência religiosa; as possessões e exorcismos; a elipse do = os

87]

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loura de Mello e Souza nasceu em São Paulo, em 1953, tendo leito toda a sua formação acadêmica, da graduação à livre-docência, no Departamento de História da Universidade de São Paulo, onde é

professora de História Mo: lema desde

1983. E autora de Desclassilicados do ouro (Graal, 1982) e O diabo e à Terra de Santa Cruz (Companhia das Letras,

1986).