Hegel: A Ordem do Tempo [2º ed.]

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HEGEL A ORDEM DO TEMPO

paulo eduardo arantes p{Il

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editora hucitec editora polis

PAULO EDUÂRDO ARANTES

HE,GEL A ordem do tempo Tiadução e prefácio de Rubens Rodrigues Torres

2"

ediçáo

EDITORA HUCITEC EDiTORA POLIS São Paulo, 2000

@ Direitos aurorais, 1981, de Paulo Eduardo fuantes. Direiros de publicaçáo reseruados

pela

Editora Hucitec Ltda., Rua Gil Eanes,713 -04601-042 São Paulo, Brmil. Telefones: (11)240-9318, 542-0421 e 543-3581. Vendas: (1 I)543-5810. Fac-símile: (01 l)530-5938. Interner: w.hucirec.com.br E-nail: hucìtec@osite. com. br

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"o

temPo aParece, Pois, como o destino

ea

necessidade

do esPírito." Hegel

Dados Internacionais de CatalogaSo na Publicação (CIP) (Sandra Regina Vitzel Domingues)

4684

Arantes, Paulo Eduardo Hegel: a ordem do tempo / Paulo Eduardo fuanres; tradução Rubens Rodrigues Torres Filho. São Paulo : Hucitec / Polis,

-

2000.

_ (Teoria ;

3)

Bibliografia

ISBN 85-271-0526-8

l.

Filosofia alemí 2. Hegel, Georg lX/ilheim Friedrich I

Título II.

Série

CDD

-193

Índice para catálogo sistemático: 1. Alemanha: Filosofia 2. Filosofia alemã 193

193

Para Otília

SUMARIO

À Grrir" de Prefácio, Rubens

Rodrigues Torres

Filho I I

PRIMEIRA PARTE

A

Potência Elementar do

Têmpo

19

Capítulo I A Espaço-Tèmporalidade 2I Capítulo 2

O Ser-fora-de-si 33 Capítulo 3 Da Articulação Punctiforme do

Têmpo

53

Capítulo 4 Crítica do "Direito Natural" do Agora 65 O presente estudo é uma rese de doutoramenro submetida em junho de 1973 à Universidade de Paris X. Agradeço ao Prof, J. T Desanti, que aceitou orientá-la, e ao Prof, Rubens Rodrigues Torres Fiiho, que a traduziu e prefaciou. Agradeço também à FAPESP e ao Governo Francês, dos quais fui bolsista durante a elaboração desra monografia.

Capítulo 5 O Processo Abstrato 85 Capítulo 6 Da Destinaçáo Objetiva das Coisas Finitas 95 9

Capítulo 7 A Pura Contradição Sendo-aí 105 Capítulo Da

I

Série

129

Capítulo 9 As Duas Muldplicidades 139

À cursa DE PREFÁcro.

Capítulo 10 Egoidade e

Têmporalidade 147

Capítulo 11 O Grau Zero do Conceito 165

"fiur- uma uez adoeceu de hegelismo (...) nunca mais fca completa{ mente curado": assim Nietszche dìagnostica em efigie (na fgura de

Dauíd Strauss,

Capítulo 12

O Gmpo e Seu Duplo 173 SEGUNDA PARTE Os Limires da "Reunião com o Gmpo"

l.'

Extemporànea) o intelectual de seu tempo; mas bem pode-

riamos reconltecer nas linhas mettras do noso (a época das ciências ltumanas e do discurso estrutural) esse mesrno conualescente renitente. Em todn caso, é

rB5

com toda certezít que o estado dessas ciências e da flosofia ltoje parece recomendar cada uez mais uiuamente o empenlto na pesquìsa e na reÍ/rxão sobre

o kgado hegeliano, quando mais não fosse, como tentatiua de diagno*icar o mal pek raiz. E bastaria isso, sem dúuida, para que um nouo estudn sobre

Capitulo I A Prosa da História IB7

Hegel, ainda mais quando uem recomendado peks euidentes qualidades inte-

Capítulo 2 A Gmporalidade Cumulativa 213

três ordzns de questões em que esse interesse se destaca da maneira mais ime-

Capítulo

j

"... O Dia Espiritual do Presente" 303

Conclusão 371

lectuais dn seu autor fosse sempre bem-uindo. Mas qual o interesse espectfco de uma monografia sobre o tempo em Hegel? De antemão, é sufciente referir

diata e que, por sì srjs, dão a medida da complexidade do problema. Em primeiro /ugat ainda no pl"tno externo, a questão de interpretação de Hegel pela posteridadz tardia, que se ltpressa em re/egar (sem deixar dz alpm modo, de re-legar) o chamado "dogmatismo hegeliano" para o campo da metaflsica abstrata, em nome de um "retzrno ao Concreto" sob inspiração

"

Estetextofoipublicado,comotíalo"OTèmpodoConceìto",nareuìstaDíscurson-5,

1974,

ensaio:lOrdre duGmps Essai sur le Problème duTèmps chez Hegel (edição limitada, mimeografada; Paris, 1973). resen/tando a uersãofancesa do presente

t0

l1

de Feuerbach

s

justamente por encontrar em Hegel uma definição do tempo, que redundaria na supressão da "Hisairía".

isS6

linear e quantitatiud

Mas, mesmo se as anrilises da Ciència da Logica (e mesmo da Enciclopédia) situam o tempo como uma ìnstância da categoria da quantidade, jus-

tìfcando, por um lado, essa leitura que uê no tempo hegeliano um todo contínuo e ltomogêneo (a exemplo do tempo aristotélico ou dn da Estética transcendental), resta saber o que, por outro kda, permite a Hegel dar ao tempo

um caráter especulatiuo, reconltecend.o nele a negatiuidadz que é própria do Conceito. Seria tão simplts descartar+e dc Hegel fazenda dcle mais um cubor metaflsico da a-historicidade? Isso conduz à segunda questão, jti interna, de saber como Hegel ekborou a tradição, particukrmente do ifualismo pós-hantiano, para podzr fazer do tempo, até então o termo que a?aga a contradição (haja 'uma coisa não pode ser e uista a formukção dn princípio dc contradição não ser ao mesmo tempo " que contrabandeia, nessa alusão ao tempo, lt

indicação dz uma reconciliação

expbd"e a connadição: o

a

possíuel na sucessão) o próprio lugar onde

instante-limite que trítz sua negação em si mesmo, e jtí originalìdzde dr Hegel, que consiste, afinal, em

negação dzssa negação. Essa

uer no tempo a estrutura do

próprio conceito, traz

a possibilidade da leitura

explicitamente no níuel do projeto, tern consciência; Para arsegurar+e disso, basta obseruar o quanto ganham em clarem atraués do ensaio, ou simPlesmente a resolução e paciência com qile a teoria hegelìana dn tempo é perceguidn em todns os seus meandrot. T/ezentas páginas de anrilises densas e precisas, completadas

por mais dz

uma centena de príginas de notas, são o resubado

desse certame com os problema (diríamos: 'b

textos. Duas etaPas, em que o autor faz fente a primeiro e o segundo tempo"?) rePartem o uolume em duas Partes, que seil

poderíamos cbamari mas Por comodidade al)enat, "dogmática" e "aporética". Mas, antes de elogiar a finura do jogo e da marcação, importa conltecer e

aualiar o score. Na primeira parte, sob o mostrar, com

títub:

'A potência elementar dn

umpo", trata4e dz

a minúcia requerida pek pnipria comp/zxidadz dz tarefa,

como

Hegel dá conta da gênese conceitual dn tempo, em um constante diábgo com a

filosófica mais pnixima, isto é, com Kant e os ptís-kantianos, Para ot quais o problema dn tempo tem o releuo que se sabe, mas caja solução não conuém a Hegel por redundar como este próprio diz naquek 'hha opinião tradxção

sobre o progresso ao

infnito" que é, em suma,

adesão

à md ìnfnitude

limite, que é a impotência dc suprimi-b

'bsse

-recaída

confundir com a tradição metaflsìca, seria Hegel então o primeiro a dar ao tempo um estatutl propriamente

constante sobreuôo dn

flos,lfco, à histórìa uma cidadania especulatiua? E neste ponto que se insere a terceira ordzm dz questões, já no plano sistemtítico: o itinerririo da dialéttca, que consìste no trabalho do Espírito em fazer o em-si aceder ao para+i, não Passa justamente peb tempo, não htí um círcuh especuktiuo a srr percorrido

retomando as pakwas dn autor, de reconstituir o arcabouço dz uma lógica do

oPosta à mencionada

acima: longe de

se

paro que o resubado, enfm, se torne idêntico ao começo? Mas este seria, então, o paradoxo dn sistema ltegeliano: como o fLisofo que introduz a histórìa em

d" 'f*

da história"? Ou, melhor: o que deue ser o flnsofa é também o fihsofo tempo para que, insta/ado no coração da dia/ética, seja ao mesmo tempo negado com o uigor dns textos como o do S 258 da Enciclopédra que afrma a eternidade do Conceito ou como tantos outros, que fazem

-

coincidir o aduento do Saber absoluto com Eis, sumariamente, algumas das questões

da histórìa. com as quais um estudo sobre

o

fm

o

tempo em Hegel teria de se dzfontar e eis, portanto, o quadro onde situar agora o

presente trabalho. Questões releuantes, das quais o autor, embora não as alegue

t2

nele" (cf Lógica, 'A infnitudc quantitatiua",

Obseruação

ea

I).

Perene

Tiata+e, pois,

e, assim, de "pôr em primeira face da teorìa hegelìana dn umpo" euidência os princípios lógicos que presidem a elaboração do conceito da negatiuidadc elementar dn tempo" para mostra,i enfm, "em nome de que impe'

tempo,

'b

ratiuos lógicos o abance fu sua 'potência'se encontra circunscrito"; mas tambénx,

íntima ligação com isso, impõe+e o atendimento à tarefa, cuja importância não é menor, dr indìcar "ao /ado dos Pontos dz ruptura irreuersíueis, os prolongamentos, ot remanejamentos dos temas herdados do Pensamento transcendzntal" (tf p. 135, trad. br., p. 183). Basta acompanhar os thubs dns doze iteru que comPõem esa primeira parte e em

para reconltecer a sufciênca e cuidado com que

é

dcsenuoluida esa "reconstituição

hìsnírica", qre uai, dzsdz a retomada da questão da espaço+empomlidadz a Partir

,la filosofia pós-kantiana, até a compreensãa dn tempo como 'b grau zero do Conceito", mas dialeücamente rednbradp e circunsnito pzr este úbimo (em "O

r3

temPo e seu duplo"). Cuidado quc coruiste, justamente, em não fugir a nenltuma culrnirwr na resolução dc enfentar

das difculdades, que não sãa peqtenas, e uem

até mesmo essa úbìmA ou

sja,

estabelecer

a complÊxa relaçãn entre tempo e Con-

ceito, ou melhor como esttí escrito no texto: de "seguir o isomorfsmo que Hegel

pretende estabelecer entre o conceito e o 77mpo". E isto uem a bem o sabe

-

calhar-

o

autor

para pôr em dificuldaìz as interpretações simplistas ou humanistas

fariam da "inquiztudt" do real, característica do 'dimmismo hegeliano", o simplcs ebgio da "pimazia do dnir sobr o ser", como uma "intuição que é essencialmente a do ltomem, e também essencialmente a do tempo" (A. Kojèue, citado à p. 163, trad. p. 92, nota 6). Citaremos apenas alguns dos resubados importítntes que o leitor pode tirar dzssas análises: fca ckro que, se Hegel usa a expressão "momento", dt origem temporal, para fusignar as etapas dn caminhamento dialy'tico, nãn se trata dc urn uso irrefletido ou metafirico da linguagem, mas de uso hgitimadn pek que

o discurso histórico-fenomenohígico e o discurso lógico-especulatiuo na obra de Hegel. Nesses

resuhadot porém, o autor não se dztém, mas parte dzles para colher

outros, de abance ainda mais amplo, ções dessa

e771

t'!.rna segunda

parte, onde as aquisi-

arguta reconstituição doutrindria da teoria do tempo

-

sa67ia

qus

o autoti com indruida modzstia, considzra 'facilmente defniuel no interior do Sìstema" (p. 135, t nd.

P. 183) - irão seruirpara uma noua e importante úapa: explicar a temporalidadz inédita que constitui a história. Depois de encontrar no Conceito os ambígaos limites da'potência do tempo", trata-te dc mostrar, desta uez, na ambiuahncia da Gegenwârtigkeit hegeliana (que denota tanto o 'Agora" quanto a "eternidadz'), quais são como diz o útulo

dessa segunda

parte

les limites de la "réunion avec le temps".

A noua tarefa é leuada -a efeito em três momentos: 1. A prosa da história; 2. A temporalidade cumuladva; 3. "...O dia espiritual do Presen-

armação hgica quz define a ambol uma uez que 0 tempo é dntadn das caracte-

re". Desta segunda parte, mais extensa do que a outla, e em que são aborda-

rísticas do limite, da relação negatiua, do Simplcs, do Um, dn ser-para+i; mas

rlos alguns dos

por exempb, tirado elzmentos dc uma do tempo, agora entendido como purít contradição, para dzfenomenologia monstrar a uerdadz especulatiua da unidad"e do ser e do não+er: pois, se estd úbima é exemplificada peb deuir peb ser-aí etc., resta a distância e o jogo dialr'tico que há entre a essência e o exempb. Além disso: se há isomorfismo

(a temporalidadz da histórìa, o ardil da razão, as relações entre história e Memória, o 'btimiimo" dialético etc.), temot d.e contentar-nos com A men-

isso não quer dizcr que Hegel tenlta,

da drterminações \ógicas) entïe a egoidadc (tal como é defnida pek flosofa transcendzntal) e a temporalidadz e a pakuraUneil (juízo) (conespondlncia

-

tem efetiuamente Para Hegel a conotação dc parrilha-originária (Ur-tetl), aplicáuel também à cisão (rekção auto-exclusiua) constitutiua do tempo esse co-

-

Pertencimento não permite estabelecer entre ambos, como faz Fichte, uma relação de fundação, nem sua dissociação ulterìor justifca a admissão de

uma temporalidade originária. A eternidadc, enfim, anibuída à

infinitude

do Conceito, por oposição àfnitude daquilo que esttí submetido ao tempo, mantém sim, com a temPoralidade uma relação de supressáo, mas no sentidn da Aufhebung, portanto não de negação simples, mas de negação dupla, em que se deue leuar em conta também o momentz da conseruação do suprimido, Assìm, graças a essa gênese conceìtual da temporalidade, encontram-se aqui ualiosos subsidios para esclarecer por exemplo, as relações entre

t4

problemas mais urgentes para o hegelianismo

e seas sucessores

ção de alguns dos resuhados mais notáueis. Pode-se explirar por que Hegel faz coincidir o nascimcnto da Hisniria com o

úus

Hitúria), pek especifcidadc da de "refzxao": a história só começa pek ciúo dD imedian, pek opwiçãa do F:pírito a si mesmo para tornar-se seu próprio objeto, e por isso a História rcm de nascer subjetiua e objetiuamente ao Tnesmo tempo. Mas, graças ao cstabelecimento anterior da l,igica do tempo, é possíuel esclarecê-/o com redobrado rigor mediante o isomorfismo parcial entre egoidade e tcmPoralidade, que permite mostrar em que medidz o templ se distingue e se ilproxima da hisnirìa, o primeiro como o "deuir inndo", esta úhima como o 'Tleuir interiorizada" (no sentido da Erinnerung que é também Memória); ttssim, é a teoria dn tempo que permite compreend.er essa reconciliação com a caducidadc (a'ïeunião corn o tempo'), que consiste ern referir a negatiuidadz dn ruucimento da hittória escrita (as

"prosm" da

noçãa

rtmpo (como perda e ruína) à do Conceito (como ganho e como história). Haueria um modo de entendzr (ou desentendzr) o 'brdil da razã0", que se

'true das determinações particukres do indiuíduo para cumprir

r5

seus

fins

untuersais' como reÍlexo suspeito de uma teorogia (às uezes teodicéia)

prouidencialista,

e

assim como um rerorno dìsfarçado da metaflsica. Mas quem

dispõe da teoria da negatiuidade do umpo tem recursos para entender a temporalidadc cumulatiua da história atraués dos tuxtos ,* qu, Heger refere a estrutura do 'hrdil" à temporaridade que nasce do traboího, pría mrd4ao dialétba do instrumento: o 'brdir" é a facurdade de interpor -rior-trr*or, , assìm de introduzir o tempo do retardamento, do dìfrri*rrto. Com isso, é possíuel /ançar noua luz sobre muitos tr-r, "fo*oros": ,btimismo,,

o dito

hegeliano, que consiste em tornar possíuer um ponto de uista a-temporar redobrando o tumpo histórico e que pod.e perfeitamente

tema

da "lentidão" da história; ou as cérebres

coexistìr, agora, com o

do ireficio da a dor o poriêrcia e o trabalho do)rgotiro,, expressões

Fenomenolo gia sobre "a seriedade, que não precisam -tento poder explicar mais ser lidns como simples metáforas. E, se é sem)re um um texto f/.osófco sem ,r, forçìdo a tumar ,rui ,rr*o, metaforicamente, não é menos certo que a esta altura o leitor a cada nouo lance, tertí de reconhecer com que 'brdir" já a trabarhosa primeìra parte, aparentemente drscarnada, estaua armando o jogo.

Enfim, o co-pertencimento, a comunicação peÌo interior que

se estaberece

e:tr1o Conceito e o tempo pode serposta em perspectiua sobre o irma especuktiro do rt- da História, como projeto dz neunarização do tumpo. E seruí precisamente a retomada da andlises, em "o tempo e seu duplo,', sobre'as feitas

s76f6n5

-

4 do tempo e a do Conceiro

duas

qo,

prr-itirá

estibelecer a gradação

fguras da presença qu, n-rnquodrom entre estes doisïtremos: ,Agora', de um lado, o Presente finito (a naturalidade, o da duração, como das múltiplas

aboliçãn relatiua) e, de outro, o presente

infnito dì

"eternidade". Assìm, o autor poderá agora reconhecer, em Heger, o úrtimo pensador de uma concepção épìca da temporalidade, na conclusão do ensaio. conclusão, aliás, simples balanço, e não prorrogação. pois bastu assina/ar mais dois pontos marcados, para comprouar que não é preciso mais ,,tempo,, complementar

para decidir

a

,',titr'tlrtrettt: sua orìginalidade

estri em não ter recorrido em nenhum mot,!, ,t!!', /r() (xpor a doutrina hegelìana do teml>o, ítos textos daFenomenologia

.1" 1 .,;rír iro ou, de algum modo, a uTna "experìência da consciência", e em ,;',\r'.\,tn', apesar disso, estabe/ecer com êxito comp/eto a doutrina hegeliana

i.; r,,rftttmliddde. Em segundo lugaa o carriter próprio da flosofa de L rliscurso que deuora seur pressupzstos, é tal, que a alternatiua do

!1..,.,

,,,,rr.rr/r/r/o/ emface dela parece ìrrecustíuel: ou criticrí-/a em nome de critét,,', t\ltt'tÌos, caindo em descrédito diante de um oponeTtte que de antemão i,t ttttrtrt rlessa exterioridade, ou compreendê-lã internamente, mas de tal ,,:,,,lrt tluc,

por efeito das leis internas do discurso, qua/quer tomada de posìt,t,' \('tornl7 problemritica, pelo menos ao níuel do discurso ltermenêutìco, ,, ',, ,,,rrr|,tnça de registro. E o qrc leua a dizer que Hegel "rtão tem por ondt

', ll', /,t{ue". O mérito

,,,/tÌ

deste estudo, considerado sob esse dspecto, ë o de, sem

comuns da interpretação conuencional, que em troca de "rcfiltação" ilusória acaba recaindo por suít L)ez na metaflsica, tornítr ",rr,t t,,tttt//6 os Pontos em que uma uerdadeìra oposiçiío a Hege/ se tornlt ao

"t,

rtr)s lugares

ttttç

/toss/uel.

li,ççítrl-

mãs

por que meios? O ensaio deixa ao menos sugerido que o

l', u\tttlìclÌto dialético, quando (e se...) tomado em todo o rigor que compor!.t. t:tti{oroso o bastante para u/trapassar seupróprio descobridor Jrí quanto

,r ,,t1,,'r em que direção (desta uez, não distorcìda?), 1,t (rlt

fca para a esperan-

Rubens Rodrigues 'Torres Fi/ho

partìda. Ei-los.

Ninguém, até agora, hauia mostrado com sufciente precisão, em Hegel, a possibilidade de uma constituição compreta do tempo sem

o recurso à consciência (seu correlato necessário no interior do idealismo transcendental). Em contrapartida, já a sìmples composição deste estudo o mostra com sufi_ T6

isso

torcida?).

t7

Parte

I

A POTÊNCIA ELEMENTAR DO TEMPO

"Vê como nasce Para como nltsce tudo."

ti

o tempo, e

uerás

Fichte*

Wissenschafslehre 1798 noua methodo, Nachgelassene Schrifien, v. frrenker und DuennhauptVerlag, Berlin, 1937. g i6, p. 136.

II,

ed. H. Jecob,

Capítulo I A ESPAçO-TE

M PORALT

DAD

E

/\ o examinar sucintamente a doutrina kantiana da Estérica trans/-\..nd..,tal, em suas Preleções sobre a Histórìa da Filosofia, o que I lcgel .Ì{

lhe censura é, sobretudo, não indagar,se nunca como e por que

()rìtece ao espírito ter em si essas duas formas puras que deveriam expri-

rrrir a natureza do espaço e do tempo.r Em outras palavras, a dupla exposi(,.r()

metafïsica e transcendenral resulta insuficienre, pois não é a contrapartida

r[ urÌlâ verdadeira

dedução genética do espaço e do tempo. Sob esse aspec-

r,,, I{egel retoma, embora remanejando-o, um tema comum a todos os 1',is kantianos, no qual o que se põe em causa é a heterogeneidade radical , rÌ(r'e o entendimento e a sensibilidade.2 Além disso, prossegue ele, nesse ,r('srno texto, em Kant a determinação do que sáo em-si o espaço e o

Vtrlesungen ìiber dìe Geschichte der Phìlosophie, ìn Wbrke, ed. E. Moldenhauer e K. M. Miclrel, SuhrkampVcrlag, Frankfurt, 1971,v,20, t. III, p. 342-3 (abreviado:VuGPh.).

Na observação finai do Grundriss de 1791, Fichte escrevia: "Kant, ne Crítica da lÌazão Pura, começe naquele momento da reflexáo em que o tempo, o espaço e um tliverso da intuição estão dados e já existentes no eu e para o eu. Nós deduzirnos a 7rìori esses dados e agora eles existem no eu" (SW- I, p.441; trad. Philonenko, Prëcis & ce qui ert plzpre à la Doctrine de la Science, in Oeuures Choìsies de Philosophie Première, Vrin, Paris, 1964, p.238). Bergson adotará o ponto de vista da gênese tle gênese ideal da mâtérie -Também ao censurar à filosofia kantiana o lato de que ela "se -dá o espaço como uma forma acabada de nossa faculdade de perceber, verdadeíro deus t.r machina, do qual não se vê nem como surgiu nem por que- é o que é e não

2l

tempo longe de atender à preocupação de dar resposra à pergunta: "qual é -seu conceito?" consisre merarnenre em decidir a alternativa: 'b

-

o rempo são algo exterior ou imanenre ao espírito?" com efeito, poderíamos acrescentat transportar o espaço e o tempo das coisas para o sujeito não nos levar muiro longe, enquanro nos proibirmos o acesso ao conceito da coisa mesma. Seja, a título de ilustrat'o, a pergunra quanto à limiafo e ilimitafo do espaço e do tempo: "que o espaço e o tempo exprimarn as relações eústentes entre as coisas mesmas ou sejam apenas forespaço e

mas de intuição, isso em nada altera a antinomia que comportarrÌ entre a

limitaso

e a ilimitação".3 veremos, enrreranro, que dessa observação aparentemente sumária não se segue, de modo nenhum, que os resultados da Estética transcendental sejam doravante considerados sem efeiro.

Deixemos de lado por ora o exarrÌe da legitimidade desse juízo de Hegel sobre a Estética transcendental e fixemos nosso ponto de partida na exposição da gênese do conceito do tempo, tal como a enconrramos na

Filosofia da Natureza da Encic/opédia. Essa exposição deveria, em princípio, suprir as lacunas que a de Kant apresenta aos olhos de Hegel; o preço disso é um deslocamenro que não ficará sem conseqüências: abandona-se uma "ciência de todos os princípios da sensibil idad,e a priori"

por uma Naturphilosophie. Para a consideração pensanre (denleende Betrachtung) da Narureza, o tempo não é mais que o rermo final da dialética interna do espaço; mais precisamente, o rempo é a negarividade do espaço "posra para si,,.a Em suma, o tempo é a verdade do espaço. Conseqüentemenre, o primeiro passo na direçáo da conquista de uma noção especulativa do rempo

outra coisa completamente diferente" (L'Euolutìon créanice, ed. do centenário, Paris, 1959, p.669).

puB

Wissensch.af der Logih, ed. G. Lasson, Feiix Meiner, Hamburg, 1g67, v. I, p.232 (abreviado: WdL.); :rad. fr., S. Jankélévitch, Science de la Logiqirc,Aubier, parìs, v. I,

p.256.

,,nsiste em pôr em evidência as relações enrre o espaço e o tempo. A rr'Presenração, afirma Hegel, coloca o espaço e o rempo lado a lado: terrrrs primeiro o espaço e depois também o rempo, e esse "também' pode ,lcsignar tanto uma subordinação quanto uma coordenação extrínsecas. ( )ra, "é esse Gmbém que combate a filosofia' (E"ry., S 257, Zus., p. 4g). l: preciso, pois, fazer com que o espaço e o rempo se comuniquem por .lcntro. Em que medida Kant e os pós-kantianos permaneceram fiéis a .s.sa tarefa conferida por Hegel ao pensamento filosófico? conceberam, scrn dúvida, um cerro tipo de ligação entre o espaço e o rempo, e nisso é 1,.ssível até mesmo distinguir um indício de sua maneira de conrornar o ,lomínio do pensamenro represenrarivo. Entretanro, aos olhos de Hegel,

-

como sempre que se trata de ler as filosofias passadas

a verdadeira relação entre essas duas determinaçóes só aparece nessas doutrinas como

"urna centelha inteiramenre formal", do mesmo modo que Kant apenas pressentira a forma da Tiiplicidade por ocasião do estabelecimento da rábua das categorias. se nos reporrarmos a alguns aspecros do problema rro idealismo transcendental, a tese hegeliana sobre a conexáo essencial ('rìtre o espaço e o tempo se mostrará bem menos surpreendente. Segundo Bergson, "o erro de Kant foi ter tomado o rempo por um meio homogêneo"; exprimindo a duração real pelo espaço, 'a própria distint'o

que ele esrabelece enrre o espaço e o rempo redunda, no fundo, em confundir o rempo com o espaço".5 Depois disso, já foi muitas vezes sublinhado, em Kanr, seja o papel preponderante desempenhado pelo c.spaço,

em derrimento do tempo, seja o fato de rer calcado sua concepÉ.o

tlo tempo sobre a do espaço, emprestando da linguagem da espacialidade os termos necessários para descrever o tempo. fusìm, quando Kant declara, rcpeddas vezes, que o tempo "permanece e não muda', se fará notar que

com isso ele retira da representação do rempo toda idéia de sucessão e de r'udança, despojando-a, desse modo, daquilo que a distingue essencialrnente da do espaço.6 No entanto, é preciso acrescentar que se pode en_

Enzyklopàdie der phìlosophischenlilissenscharten ìm Grundrisse (1s30), ed. F. Nicoli'e .S Pôggeler, Felix Meiner, Hamburg, 19t9, 257, p. 209 (abreviado: En4L). para as

Atlições (abreviado: Zus.) citamos pela ediçáo Suhrkamp dos \y/erke, u. g, 9 r0. Tiaduções:.B. Bourgeois, Vrin, Paris, 1970, para a primeira parre e respecivas adi_ ções; Gandillac, Gallimard, Paris, 1970, pari a segunda. teic.i.a partËs.

.

22

Essai sur les Données Immédiates de

la Conscience. ed. do Centenário, p. I 5 I . M. GuerouÌ t; cf . La philosophie Tianscendantare tre Saromon Maimon, Félix Alcan, Paris, 1929, p. 160.

É a opinião de

23

contrar igualmente, em Kant, o procedimento inverso: "todas as partes do espaço existem simultaneamenre (zugleich) no infinito", lê-se na Estética"7 A presença da palavra zugleich em uma fórmula pertinente à exposição metafïsica do conceito do espaço suscita duas observaçóes: em primeiro lugar, Kant emprega uma determinação temporal ("ao mesmo tempo") para descrever aquilo que é peculiar ao conceito do espaço; em segundo lugar, esse inesperado deslizamento é redobrado por outÍo, pois a noção de "simultaneidade" só será inteiramente elaborada na 3.'Analogia da experiência.8 Será melhor então, em vez de falar de uma "conÊusão" engendrada pela idéia de "meio homogêneo", cogitar de uma interferência recíproca ligando as duas formas puras da sensibilidade. Reieiamos, a esse Propósito, a célebre passagem da Estética: "precisatnente porque essa intuição interior não fornece nenhuma figura, procuramos suprir esse defeito

por analogias e representamos a seqüência do tempo Por uma linha que

infinito e cujas diversas partes constituem uma série que tem somente uma dimensão, e das propriedades dessa linha inferimos todas as propriedades do tempo, com a única exceção de que as partes da primeira sáo simultâneas e as do segundo sempre sucessivas".e Com essa única exceçáo, podemos, pois, passar das propriedades da linha às da série temporal. Assim, Kant reata com uma tradição que remonta a Aristóteles: este já fazia "corresponder" certas propriedades do instante às propriedades exibidas pela geometria da linha.ì0 Essas analogias supletivas, entretanto, não se produzem somente na direção que vai do espaço ao tempo, como o quer Bergson, mas sugerem

se prolonga ao

igualmente

a

existência de uma verdadeira relação de entre-expressão soldan-

,lo, por assim dizer, as duas formas sensíveis. Essa relação, retomada e restituída à sua verdade pelas Provas das Analogias da experiência, será ,lccisiva na Refutação do idealismo. Por certo, o argumento da Refutação consciência de minha l,arece privilegiar o espaço, uma vez que, Para que a t xistência possa provar a existência de objetos fora de mim, é preciso de-

nìonstrar que "nossa experiência ìntertw só é possível sob a suposição da cxperiência exterior".rr Não obstante, é preciso ver nisso, também, a indieeção de uma dupla conexão entre o espaço e o temPo: se estou consciente

,le exìstência das coisas no espaço e fora de mim tão seguramente quanto rcnho consciência de existir eu mesmo no temPo, é porque "a realidade do scntido externo está necessariamente ligada à do sentido interno Para a l,ossibilidade de uma experiência em geral".'2 Se, por um lado, não posso representar-me o tempo sem traçar uma linha reta, sem uma "representaçiro externa figurada do tempo", por outro também não posso pensar rrnra linha sem traçá-la, um círculo sem descrevê-lo, isto é, sou incapaz ,le conceber esses objetos sem uma descrição no espaço (por um ato Puro ,le síntese sucessiva).t3 A Refutação mostra-nos como a determinaçáo da xperiência interna se emaíza na experiência externa; a determinação do ,,Lrjeto geométrico requer a unidade do espaço e do tempo para poder ..

ttrmprir-se. Em uma carta a Rehberg, Kant juntará esses dois aspectos: 'ã uecessidade da ligação das duas formas sensíveis, espaço e temPo' na ,leterminação dos objetos de nossa intuição, de tal modo que o tempo, ,luando o próprio su.ieito se torna objeto da representação, deve ser reprer.'ntado como uma linha, assim como, inversamente' uma linha só pode essa idéia da \r'r pensada como quantum se for construída no temPo lrgeção necessária do sentido interno com

-

o sentido externo na determina-

,,.io temporal de nossa existência parece-me Provar a realidade objetiva das rt'presentações das coisas exteriores (contra o idealismo psicológico)".r4

7 Krìtìh ler reinen Wrnttnrt,

ed. tüil Weischedel, Insel-Verlag, Wiesbaden, 1959, rrad.'ÌÌemesayges et Pacaud, 3.'ed., PUB Paris, 1963, p. 57.

B 40

H Para a discussáo desta dificuldade, que aliás náo vern, de modo nenhum, de uma sinrples qucsrão terminológica, v. G. Lebrun, Ka nt et la Fin de la Ménphysique, Artnand Colin, Paris, I 970, p. 84 seq.

' '

"

Gntaremos precisar, mais adiante, cm que sentido Hegel B i0, A 33; trad. p. 63. avaÌiou esse "defeito" (Mangcl). Cf. p.

ex. Física,

IV, 1I, 220-9

24

.

Crítim da Razão Pura, B 27 5;

tú.

p. 205

.

['relácio da 2.'edição, nota, B XLi; trad. p. 28.

(,f. op. cit., B Ì54; trad. p. 132. A.

!íi

Rchberg, 251911790, citado por

J.

VuíIlemin, Phlsiqut

l'UF, Paris, 1915, p. 44.

')\

et Métaphysìque

Kantìennes'

Fichte, por sua vez, chegaráa resultados semelhantes, uma vez deduzida a inuição: é preciso que o intuído seja dererminado no espaço e a intui-

ção no tempo.

O método genético nos levará, pois, da intuição, ao espaço como condição subjetiva da possibilidade da intuição exrerna. A esta tem de associar-se, necessariamente, uma outra condição subjetiva; com efeito, "se não existe uma ourra forma de intuição, a indispensáver harmonia entre a representação e a coisa, a relação de uma à out.", permane-

cerá impossível, ranro quanro sua oposição pelo eu. conrinuemos nosso caminho, e ele certamente nos conduzirá até essa forma,.15 o gênero de ligação que o ideaJismo rranscendental concebeu enrre as

duas formas da sensibilidade deixa-se enrrever ainda em sua medida comum: só se mede o sucessivo pelo simultâneo, e vice_versa. .,Uma quantidade determinada de espaço", diz Fichre, ..é sempre simub,ânea (zuylzich);

uma quantidade de rempo é sempre sucessiua (nacheinander). É pãr is.o que só podemos medi-las uma pela ourra: o espaço pelo tempo q,r. ,. l.rr" para percorrê-lo; o tempo pelo espaço que nós mesmos ou qualquer outro corpo movendo,se regularmente (o sol, o ponteiro do relólio, o pêndu_ lo) podemos percorrer nele".r6 Fichte, neste ponro, mostra-se avaro em esclarecimenros; varnos buscálos na crítica. Seja o princípio, estaberecido várias vezes ao longo das Analogias: toda determinação à. t.mpo .upõe algo permanenre na percepção, no caso a maréria espacialmente localizada. Conseqüentemenre, a medida recíproca do ..p"ço e do tempo supóe a correspondência de duas ordens, tornada possível, por sua vez,-perahgação necessária entre o sentido externo e o sentido interno; "devemos orà..". no tempo' enquanto fenômenos, as determinações do sentido interno, exa-

tamenre do mesmo modo que ordenamos no espaço as dos sentidos exter_ nos".17

Queremos determinar o comprimenro do tempo (Zeìtkngò ou das

épocas (Zeìxtellzn)? Só

o obteremos a partir daquilo que

as

áir",

16

l/' ì8

Précìs, S 4,

como sínrese de uma série de r,'diçóes; com efeito,'ã síntese das diversas parres do espaço, por meio .le qual o apreendemos, é sucessiva, efetua-se, pois, no tempo e contém