Frutos do Espírito Santo

Este livro foi escrito em atenção a um pedido especial do Sr. Al Bryant, editor chefe de Word Books, que aguardou pacien

210 62 763KB

Portuguese Pages 128

Report DMCA / Copyright

DOWNLOAD FILE

Polecaj historie

Frutos do Espírito Santo

Table of contents :
OdinRights
Introdução
Os da Beira do Caminho: Imprestáveis
Os do Terreno Cheio de
Amor, a Vida de Deus
Alegria na Vida do Crente
A Paz e os Pacificadores
Paciência
A Fé e a Fidelidade do Cristão
Domínio Próprio: Temperança, Moderação

Citation preview

DADOS DE ODINRIGHT Sobre a obra: A presente obra é disponibilizada pela equipe eLivros e seus diversos parceiros, com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudíavel a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo.

Sobre nós: O eLivros e seus parceiros disponibilizam conteúdo de dominio publico e propriedade intelectual de forma totalmente gratuita, por acreditar que o conhecimento e a educação devem ser acessíveis e livres a toda e qualquer pessoa. Você pode encontrar mais obras em nosso site: eLivros.

Como posso contribuir? Você pode ajudar contribuindo de várias maneiras, enviando livros para gente postar Envie um livro ;) Ou ainda podendo ajudar financeiramente a pagar custo de servidores e obras que compramos para postar, faça uma doação aqui :) "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível."

eLivros

.love

Converted by ePubtoPDF

W Phillip Keller

, 11/ . Editora Betânia Título do original em inglês: A Gardener Looks at the Fruits of the Spirit. Copyrigh © 1979, W. Phillip Keller. Publicado originalmente em inglês por Word Books, Waco, Texas, E.U.A. Tradução de Myrian Talitha Lins Primeira edição, 1981 Todos os direitos reservados pela Editora Betânia S/C Caixa Postal 10 30.000 Venda Nova, MG E proibida a reprodução total ou parcial sem permissão escrita dos editores. Composto e impresso nas oficinas da Editora Betânia S/C Rua Padre Pedro Pinto, 2435 Belo Horizonte (Venda Nova), MG Printed in Brazil

Para Ursula, minha corajosa companheira, nos ásperos caminhos da vida.

índice PRIMEIRA PARTE — Quatro Tipos de Terreno 13. Domínio próprio: temperança, moderação . . 141 Introdução Os da Beira do Caminho: Imprestáveis Os do Terreno Cheio de Amor, a Vida de Deus Alegria na Vida do Crente A Paz e os Pacificadores Paciência A Fé e a Fidelidade do Cristão Domínio Próprio: Temperança, Moderação

Introdução Este livro foi escrito em atenção a um pedido especial do Sr. Al Bryant, editor chefe de Word Books, que aguardou pacientemente que ele fosse preparado. Dou muitas graças a Deus porque ele usou a matéria ora apresentada nas páginas que se seguem, quando a expus à minha igreja, levando muitos de meus ouvintes a uma comunhão mais íntima com Cristo. Espero que o mesmo se dê com o leitor. Existem publicados vários livros, panfletos e artigos acerca dos frutos do Espírito de Deus. Todos foram de grande proveito para os crentes, e contribuíram para enriquecer a vida de quantos desejavam conformar-se à imagem de Cristo. Meu desejo sincero, e minha oração a Deus é que o mesmo aconteça com esta obra. A abordagem que fazemos do assunto neste volume, longe de ter uma ênfase doutrinária, toma um aspecto mais prático, tratando diretamente da produção de frutos na vida do crente, pela perspectiva do como e do porquê. Como no caso de outros livros nossos, tais como Nada me Faltará, Meditações de Um Leigo Sobre o Pai Nosso, Meditações de Um Leigo Sobre o Bom Pastor e Suas Ovelhas, a linguagem empregada é simples; linguagem de leigo. O estudo que aqui fazemos baseia-se no ensino do Novo e Velho Testamentos, onde o povo de Deus é comparado a um jardim cultivado com muito carinho. Trata-se de um terreno cuidado e lavrado com muito amor. Ele é regado, cercado e trabalhado com uma dedicação total. O nosso Agricultor é o próprio Deus por meio do seu Espírito, em Cristo. E ele vem ao jardim á procura de frutos. Por vezes, ele consegue uma colheita farta. Outras vezes, o retorno que obtém pelos seus P A A •

esforços e mínimo. E são as causas disso que analisamos com detalhes, nos quatro primeiros capítulos, reunidos sob o título geral de Quatro Tipos de Terreno. Essa

parte fundamenta-se nos ensinamentos do Senhor, apresentados na Parábola do Semeador, que encontramos nos quatro evangelhos. Depois, na segunda parte, As Nove Facetas do Amor de Deus, examinamos os frutos do Espírito, individualmente, e a maneira como são produzidos. A matéria desta parte foi inspirada nos escritos de Paulo, principalmente nas conhecidas passagens de 1 Corín-tios 13 e Gálatas 5, onde ele nos oferece uma lista dos frutos. Em ambas as partes, o atributo do amor de Deus, de sua própria vida, é analisado sob três perspectivas: 1. Sua posição no caráter de Deus, e a maneira como isso determina suas atitudes e ações com relação a nós. 2. A produção deste fruto em nossa vida, e seu efeito tanto para Deus como para os que nos cercam. 3. A maneira como podemos incentivar seu cultivo em ampla medida. Pelo que dissemos acima, pode-se ver que o estudo que fazemos da produção de frutos na vida do crente abrange tanto a questão da qualidade como da quantidade. Nosso interesse sincero é instruir o leitor quanto aos princípios básicos da produção do fruto espiritual. Gomo Henry Drummond já afirmou claramente, faz muito tempo, assim como as flores e frutos não crescem meramente por um capricho da natureza, assim também os frutos do Espírito não se produzem em nós acidentalmente, ou por simples capricho. Não há efeitos sem uma causa determinada, e isso se dá tanto no reino da natureza, como no plano espiritual. E quando começamos a aplicar esse conceito na vida cristã, abrese diante de nós toda uma nova e maravilhosa perspectiva de uma vida como a de Cristo. Como há milhões de pessoas (no interior ou mesmo nos grandes centros) que são jardineiros ou hortelões, elas entenderão perfeitamente as idéias aqui ventiladas. Aqueles que, como eu, gostam de trabalhar no solo, apreciam jardinagem, têm prazer em cuidar de plantas e folhagens, roçados e árvores, lerão essas páginas com muita facilidade e também com satisfação, espero. Mas, acima de tudo, que este livro possa enriquecer abundantemente a vida

do leitor, em Cristo.

PRIMEIRA PARTE Quatro Tipos de Terreno

Os da Beira do Caminho: Imprestáveis Naquele encantador romance do Velho Testamento, “Cantares”, a Bíblia nos fornece uma idéia de como Deus vê o seu jardim. Ele chama o povo escolhido, a Noiva, a Igreja, eu e você, de seu jardim. Ali, numa linguagem poética, forte e bela, ele traça um quadro verbal do grande prazer e da satisfação que ele tem com seu jardim, suas folhagens e especiarias, suas flores e frutos. Ele anseia que esse jardim seja uma fonte de satisfação para ele, que nos ama e cuida de nós com eterno amor e diligência: “Jardim fechado és tu, minha irmã, noiva minha, manancial recluso, fonte selada. Os teus renovos são um pomar de romãs, com frutos excelentes: a hena e o nardo; o nardo e o açafrão, o cálamo e o cinamomo, com toda a sorte de árvores de incenso; a mirra e o aloés, com todas as principais especiarias. Es fonte de jardins, poço das águas vivas, torrentes que correm do Líbano! Levanta-te, vento norte, e vem tu, vento sul; assopra no meu jardim, para que se derramem os seus aromas. Ah! venha o meu amado para o seu jardim, e coma os seus frutos excelentes.” (Ct 4.12-16.] Gomo acontece com muitas coisas nesta vida, isto aí é o ideal supremo, que há no coração de Deus, com respeito a nós. Esse é o anseio mais profundo de seu Espírito para nós — para o qual ele dirige grande parte de sua energia e atividade de vida. Ele busca em nós os frutos, os perfumados atributos que resultam do seu labor, no cultivo de nosso caráter. Algumas vezes, ele fica profundamente decepcionado. Não há fruto. Ou quando há, é escasso e enfermiço.

Apesar de ele haver empregado diligentes esforços, ocorre uma queda na produção. Aliás, várias e várias vezes, ele lamenta o desenvolvimento insuficiente da planta, e a floração inconstante, que resultam em frutos escassos, mirrados e ressequidos. Em certas ocasiões, aparecem no jardim de nossa vida, plantas bravias: uvas silvestres e ervas daninhas. Em outras, simplesmente não há colheita. Por quê? Basicamente, isso ocorre porque existem terrenos improdutivos e de beira de caminho. Destes, o primeiro tipo que o Senhor mencionou, foi o da beira da estrada: a faixa de terra que fica à margem do caminho e que se torna endurecida pelo contínuo transitar daqueles que por ele passam em suas viagens. Aqueles que conhecem a África, Oriente Médio e Extremo Oriente entenderão bem essa figura. Nesses lugares, milhões e milhões de pessoas vivem lutando para arrancar seu magro sustento de pequenas glebas de terra. E essas pequenas roças, espalhadas pelo interior do continente num traçado irregular, são cortadas e recortadas por uma teia de minúsculos caminhozi-nhos. E, ao longo desses estreitos trilhos, homens e mulheres cortam o interior, de um lado a outro, carregando seus fardos. Também, ao longo dessas estradinhas primitivas de terra batida e endurecida pelo passar de inúmeros pés, crianças correm, brincam e se divertem. Por esses trilhos passam, de uma lado para outro, jumentos, mulas e camelos, bem como tropas de mercadores. E foi nesses caminhos que, quando menino, eu também corri, descalço e despreocupado, criado sob o sol da África. E mais tarde, foram esses mesmos caminhos que eu percorri, atravessando o país à procura de caça para alimentar minha família. Eram caminhos que me conduziam a lugares novos e a grandes aventuras, nas colinas que me acenavam à distância. Aquele solo palmilhado pelos meus pés e pelos de outros milhões e milhões de passantes, havia-se endurecido como tijolos, estava sólido como concreto, e impenetrável para as tenras raízes de qualquer planta que ali fosse

semeada. Jesus mesmo viajara muitos quilômetros em estra-dinhas assim, sob o sol inclemente do verão. Seus pés haviam ficado empoeirados pelo pó fino que se levantava do chão, ao contato de suas sandálias. E ele vira muitas sementes espalhadas ao longo dos caminhos, soltas na superfície da terra. Ali ficaram, sem germinar, sem vida, improdutivas. Era um desperdício de semente; um desperdício de energias para o lavrador que as semeava num terreno assim. Era esperança perdida, pensar que ali ele obteria uma safra. Uma terra assim era imprestável, boa apenas para as aves, que ali avistavam facilmente os grãos espalhados, descobertos. Não lhes era difícil voar até o chão e arrebatá-los. O resultado final era que a terra ficava infrutífera. Jesus disse que a vida de algumas pessoas era como aquele terreno. Denominou-as “beira do caminho”. O jardim de suas vidas, em alguns pontos, fora pisado pelo constante passar de outras pessoas e outras influências, e assim ficara endurecido. Ele não deu muita explicação sobre quem seriam esses viajantes e visitantes. Está claro que não poderia enumerá-los todos. Esses passantes variam de um jardim para outro. Mas há certas pessoas e influências que passam na vida de todos nós, criando esses trilhos de terra batida. Damos abaixo alguns deles. Todos podem endurecer tanto nosso coração, que a atenção que poderíamos dar à Palavra de Deus ali plantada é mínima ou nenhuma. Os primeiros são: 1. Nossos amigos e conhecidos. Podemos fazer a seguinte pergunta: “Quais são as pessoas que, com mais freqüência, caminham pela minha vida, formando esse trilho de terra batida?” Qual a influência delas em minha mente? Será que estão endurecendo meu coração contra Deus? Estão comprimindo e pressionando minhas convicções, para que se tornem contrárias a Cristo?

Estão lentamente solidificando meus sentimentos, para que se voltem contra o Espírito de Deus? São questões muito legítimas e certas, que todos devemos encarar. E bem possível que, sem que o saibamos, nossa alma esteja sendo manobrada, para que se coloque contra Aquele que cuida de nôs com tanto carinho e ternura. Mas Cristo vem, em sua compaixão, para implantar em nós a semente de sua Palavra. E procura cultivar o terreno de nossa vida, pela operação interior de seu Santo Espírito. Mas então encontra resistência de nossa parte. O solo ficou endurecido pelo palmilhar constante de milhares de outros passantes. A estradinha criada em meu espírito pelos pés dos passantes foi formada pelas ideologias e conceitos do mundo. Eu me torno condicionado pela cultura da sociedade em que vivo. Assim, quando o pensamento de Deus acerca de tudo é apresentado ao meu coração, quando seus apelos são feitos à minha alma, minha primeira reação, na maioria das vezes, é negativa: — Impossível! Isso é coisa para passarinho! É por isso que, sempre que tenho a alegria de ganhar alguém para Cristo, minha primeira preocupação é fazer com que logo forme um novo círculo de amigos crentes. Já não é possível permitir que qualquer estranho venha a caminhar em sua vida, e formar ali aquele caminhozinho batido. Mas, se eles o permitirem, as conseqüências serão desastrosas, tanto para eles como para Deus. Aqueles que não conhecem a Cristo podem condicionar sua visão das coisas de uma tal forma, e forjar uma mentalidade tão contrária ao Salvador, que, quando a Palavra de Deus lhes for apresentada, sofrerá uma forte resistência por parte deles. Não existe aquela cálida reação de obediência aos toques do Espírito de Deus. E assim o terreno de suas vidas permanece infrutífero, improdutivo. Em condições assim, a boa semente da Palavra de Deus não pode germinar. Tudo que lhes é dito é logo arrebatado pelo inimigo de nossas almas. Portanto, não há produção de frutos. A atitude deles é de total indiferença.

— Isso tudo não passa de um amontoado de tolices. Deixe prá lá. E coisa de idiotas. 2. A literatura que iemos; os programas de televisão a que assistimos. A segunda influência forte, que cria aquele caminho em nossa vida, é aquilo que lemos ou assistimos, e que pode afetar nossa mente e emoções. Que tipo de livro lemos? Que tipo de revistas, jornais, boletins, etc., estamos introduzindo em nossa mente? A que tipo de programa de rádio ou televisão estamos assistindo seguidamente? Nessas questões, geralmente, agimos por força de hábitos. Formamos certos apetites insaciáveis e certas preferências por determinadas publicações, por certos programas ou artistas. Por vezes, essas coisas se tornam quase uma mania. Permitimos que os veículos de comunicação em massa nos manobrem, tornando-nos como barro nas mãos de escritores, diretores e produtores. Somos “batidos” e comprimidos por forças incansáveis, que atuam sobre nós, até que nossas convicções se endureçam como concreto. A maioria dos homens que dirigem esses meios de comunicação, seja nas publicações ou nos programas, não é crente. E alguns deles são violentamente contrários a Deus. Esses se lançam num trabalho sutil, mas firme, com o objetivo de minar e destruir a fé tranqüila do povo de Deus. Por meio de sugestões maliciosas, de dúvidas, descrédito e desespero, eles procuram de toda forma abalar nossa confiança em Cristo. E o mais lamentável de tudo é que certos modos de pensar do mundo, sua ideologia e filosofia, estão estabelecendo um caminho em nossa vida, sólida e firmemente. Como escreveu Salomão, aquele grande sábio, há muitos séculos atrás: “Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte.” (Pv 14.12.) No jardim de nossa vida interior, essa morte é a total falta de frutos. As idéias divinas, sua economia, sua visão da vida, seus padrões de comportamento e suas prioridades simplesmente não conseguem penetrar no coração endurecido. Não há jeito de a boa semente da sua Palavra germinar e criar raízes num terreno tão obstinadamente voltado contra ele. E no fim de tudo, somos a soma total das decisões que tomamos. Afinal, somente eu posso decidir a respeito daquilo que deverá influenciar minha

mente, minhas emoções, minha vontade e meu espírito. Se eu serei, nas mãos de Deus, maleável ou endurecida, dependerá, em grande escala, das pessoas ou coisas que estão estabelecendo um caminho em minha vida. 3. As músicas que estamos constantemente ouvindo. Essa é outra área problemática. Talvez alguns leitores se choquem quando eu lhes digo que, se ouvimos o tipo de música inadequada, isso endurece nosso coração. Há vários tipos de música altamente recomendáveis. Algumas das primeiras músicas a serem tocadas em nosso planeta foram compostas sob a inspiração do próprio Espírito de Deus. Os majestosos sons das ondas sobre a areia das praias, das cachoeiras estrepitosas ou das pequenas cascatas. A suave melodia do vento nas copas das árvores, e das brisas soprando pelas campinas. As doces notas do gorgeio de um pássaro; os insetos zumbindo no mato; o riso alegre de uma criança; o assobio sentido e triste de um velhinho — todas essas coisas podem soerguer-nos o espírito. Mas, ao mesmo tempo, existe música mais áspera, estridente. Produzida por indivíduos de uma cultura convulsionada, homens distantes de Deus, ela retrata e reflete as emoções violentas e o terrível desespero de homens em trevas. Com seu ritmo incessante, ela provoca grande stress e emoções descontroladas naqueles que a ouvem. Além disso, esse tipo de música, quando as condições lhe são favoráveis, penetra até na personalidade das pessoas. Utilizada por homens iníquos, ela pode causar graves danos à mente e emoção dos jovens. Um martelar contínuo dessa música “louca” pode destruir as convicções mais nobres e os sentimentos mais elevados. Um dos seus piores perigos é que ela afasta o interesse das pessoas para longe das coisas do Espírito de Deus. Em vez de buscarem ao Senhor, as pessoas se tornam fascinadas pelos aspectos da velha vida natural. Suas emoções são despertadas; suas paixões, inflamadas. E assim, toda a personalidade do indivíduo pode seguir uma linha de conduta contrária aos melhores desejos de Deus para o seu povo.

Infelizmente, algumas dessas músicas estão sendo aceitas entre os filhos de Deus. Mal sabem eles como foram iludidos e como isso é grave. Suas emoções estão-se tornando presas do inimigo, e sua vontade está-se endurecendo contra Deus. 4. A busca do prazer. Podemos afirmar com certeza que nossa sociedade ocidental é, em larga escala, uma sociedade hedonista, composta de pessoas totalmente dedicadas à busca do prazer, tranqüilidade e luxo. Muitos fizeram do prazer o interesse máximo de sua vida. Já se tornou mania entre nós a pessoa entregar-se a algum tipo de prazer sexual. E como acontece com a música, o mesmo se dá com o prazer. Alguns aspectos dessa busca são elevados, aceitáveis e inspiradores. Entretanto, outros podem ser definidamente degradantes e destrutivos. O pai ou mãe que faz carinhos a rm filho experimenta um tipo de satisfação com isso, e beneficia tanto a si próprio como à família. Mas aquele que gasta o dinheiro que ganha em jogo, prejudica toda a sua casa. O prazer, em seus vários tipos, pode tornar-se uma obsessão para o indivíduo. Desse modo, ele passa a controlar nosso tempo e a dominar nossos dias. As constantes exigências de satisfação começam a formar aquela estradinha batida sobre a curta duração de nossa existência. Esses prazeres exigem tanto de nossas energias, pensamentos e de nossos meios, que os aspectos de nossa vida que eles controlam tornam-se territórios perdidos para Deus. Se todos os recursos desse mundo que são carreados para o prazer fossem consagrados a Cristo, ficaríamos grandemente admirados. As igrejas cresceriam e se desenvolveriam. Os templos estariam sempre cheios. O número de missionários se multiplicaria. Os pobres receberiam auxílio. Os abatidos seriam soergui-dos. O sofrimento de muitas das pessoas da terra seria amenizado. E, como fez nosso Mestre, muitas pessoas iriam caminhar por este velho mundo cansado, praticando o bem. Nosso Pai, o Agricultor de nossa vida, está procurando solos mais friáveis, nos quais possa produzir frutos assim. Mas, infelizmente, por vezes, nossos dias são tão cheios de prazeres, que passam sem que se produza um único

fruto bom, que perdure pela eternidade. Estamos sempre muito concentrados em outras coisas. 5. Nossas ambições pessoais. Essa questão de anseios pessoais, particulares, constitui um sério problema para muitos crentes. Eles lutam incessantemente com o objetivo de harmonizar seus próprios desejos com a vontade de Deus. E no coração deles há um conflito entre servir a Cristo e seguir o impulso de buscar atingir suas próprias metas. Um anseio correto — colocar Deus em primeiro lugar em todas as nossas atividades e procurar, acima de tudo, agradá-lo ao mesmo tempo em que servimos a outros — ê um instrumento poderoso nas mãos dele para a produção de muito fruto, tanto em nossa vida como na vida de outros. Isso quebranta o coração endurecido, voltado apenas para a consecução de seus fins ogoísticos. Redireciona nossas energias e entusiasmo para o rumo certo, colocando-os a serviço de esferas mais úteis. Do mesmo modo, aquele que tem fortes ambições pessoais voltadas para si mesmo, logo se acha laborando em sentido contrário a Deus. Esse princípio é real-inente inexorável: qualquer ambição estabelecida firmemente no centro de nossa vontade, torna-se a bússola que orientará todas as nossas decisões. Todas as decisões que tomarmos, consciente ou inconscientemente, são dirigidas para esse fim. Ela se torna a consideração predominante, que forma um caminho em todas as nossas atividades. Tudo o mais passa a ter importância secundária, até mesmo os direitos que Cristo tem sobre nós. Foi por isso que a palavra do Senhor, dita por intermédio de Jeremias, é a seguinte: “E procuras tu grandezas? Não as procures.” (Jr 45.5.) E as seguintes palavras do Senhor apresentam um contraste marcante com essa atitude: “Buscai, pois, em primeiro lugar o seu reino e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas.” (Mt 6.33.) 6. Nossos pensamentos particulares Alguém já disse: “Somos aquilo que pensamos quando estamos a sós; e não

o que fingimos ser em público.” É uma afirmação muito profunda, que nos humilha bastante. Ela arranca nossa máscara, nossas falsas aparências. E desse modo que Deus, nosso Pai, nos vê. Ele já examinou detidamente e analisou e esquadrinhou todos os cantinhos do jardinzinho de nossa vida. Tendo já percorrido todo o terreno, só ele sabe que há algumas áreas, alguns trilhos batidos, onde ele não pode plantar uma única semente de sua preciosa vida. E é bem possível que o solo da nossa mente, com suas formas de raciocínio tão persistentes, seja o terreno mais duro que ele já teve que lavrar. Alguns de nós possuem pontos onde há mágoas e ofensas não perdoadas, e que se foram endurecendo com o passar dos anos. Nem mesmo a dinamite do seu Espírito Santo consegue quebrar os compactos torrões do escárnio, da censura e da cruel hostilidade que endurecem nosso coração. Há pessoas nas quais a animosidade, o espírito belicoso e o rancor forjaram uma estradinha batida, durante tanto tempo, que nem uma das boas sementes ali lançadas pelo Espírito de Deus consegue germinar. Aqueles constantes pensamentos infelizes endureceram sua alma como concreto. Se, por acaso, alguém nos aconselha a mudar essa atitude interior, essa animosidade, resmungamos qualquer coisa contrariados, e rejeitamos a idéia com um comentário rude: — Isso é bobagem! Deus afirma categoricamente: “Gomo imagina em sua alma, assim ele é.” (Pv 23.7.] Aqueles que abrigam idéias solidificadas, possuem um terreno endurecido, que não cederá ao arado de Deus. Somente uma operação profunda do Espírito de Deus sobre essa alma, um trabalho de convicção e que-brantamento, pode começar a modificar o estado desse solo. E enquanto isto não se der, o terreno não produzirá nenhum fruto divino. 7. As pisadas do Mestre Existe um velho dito, entre os agricultores, que reza o seguinte: “O melhor

fertilizante que um jardineiro pode utilizar em suas terras são as marcas de seus passos.” Um bom agricultor, atento e dedicado, não faz como os estranhos e descuidados, que se limitam a andar apenas pelos trilhos já batidos. Seus pés não passam constantemente pelos mesmos lugares, marcando a terra. Não. Ele anda cuidadosa, mansa e ternamente por todos os cantos do terreno. Conhece cada planta, cada árvore, cada arbusto e flor que cresce em suas terras. E, com seu amor, ele faz com que produzam rica e abundantemente. Se alguém tem que caminhar pela minha vida, que seja aquele que cuida de mim, que me ama, que conhece tudo a meu respeito e deseja aperfeiçoar mais e mais o meu jardim. E este não é outro senão o próprio Deus. É ele o grande, o bom jardineiro, o Agricultor que me ama. Isso é uma figura de Jesus Cristo. Com seu bondoso e precioso Espírito ele se move em nossa vida, comunicando-nos sua própria vida. Derramando sobre nós sua graça e suas bênçãos, ele opera bem no fundo de nosso espírito, no sentido de nos quebrantar, tornando-nos receptivos à sua boa semente. Ele nos capacita a receber bem a implantação de sua nova vida. E quando ele próprio coloca os belíssimos frutos de sua personalidade no solo lavrado de nossa alma, ali eles se enraízam e se desenvolvem. A decisão com relação à pessoa ou coisa que deverá predominar no jardim de nossa existência depende em grande parte de nós mesmos. Não ê Deus quem escolhe, por exemplo, nossos-amigos, as coisas que le-mos, as músicas que ouvimos, nossos prazeres, ambições e pensamentos. Somos nós. Então a pergunta a ser feita é a seguinte: “Quero ou não quero ser uma pessoa da ‘beira do caminho’?’’ Vou permitir que as pisadas do Mestre enriqueçam o lerreno de minha alma? Ou será que prefiro que os caminhos do mundo venham endurecer meu coração, a ponto de rejeitar sua vontade para minha vida?

Os do Terreno Pedregoso: Sem Raízes Profundas

O segundo tipo de solo que o Senhor mencionou foi o pedregoso ou rochoso. Na terminologia moderna, nunca diríamos que este tipo de terreno é imprestável. Trata-se de um tipo de solo que, mesmo sendo preparado e cultivado com altos custos, geralmente tem produção muito irrisória. Isso acontece porque ele é pedregoso. Encontramos terrenos assim em todas as partes da terra. Em minhas viagens pelo mundo — já fui a quarenta países — sempre me causa pena ver os árduos esforços dos camponeses para limpar e arar os terrenos pedregosos e ali fazerem seu ropado. Presenciei isso no Oriente Médio, em regiões da África, ao longo do litoral do Mediterrâneo, nas Ilhas Britânicas, nas províncias do leste do Canadá, no México e até no arquipélago havaiano, para citar apenas alguns. Pequenos bolsões de terreno pedregoso são cercados de verdadeiras muralhas de granito, as quais são retiradas da terra à custa de enormes esforços, muito suor e trabalho de seus proprietários. Cristo conhecia muito bem cenas como estas. Muitas vezes, viajando pelo interior da Palestina, ele caminhara pelas estradinhas poeirentas que cortavam as colinas rochosas, onde os lavradores lutavam para arrancar da terra seca míseros punhados de cereais. Ele deve ter visto, muitas vezes, uma área de terra crivada de pedras ganhar uma cobertura verdejante, com a promessa de uma colheita abundante. Todavia, alguns dias depois, ou talvez passadas algumas semanas, a plantação secava, queimava e esturricava sob o sol inclemente do verão. Não possuindo raízes profundas, a roça morria, deixando ao cansado lavrador apenas esperanças frustradas e um produto muito insignificante. Sem dúvida alguma, quando trabalhava ainda em sua carpintaria de Nazaré, ele, o Artesão Mestre, muitas vezes fora solicitado a consertar ou refazer arados de madeira quebrados de encontro aos penedos das pedregosas colinas. Cercado de tantos lembretes vivos, os terrenos rochosos, ele deve ter meditado nos belos textos do Velho Testamento, nos quais, por intermédio dos profetas, Deus comparava seu povo a terrenos pedregosos. “Dar-vos-ei coração novo, e porei dentro em vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro em vós o meu

Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis. Habitareis na terra que eu dei a vossos pais; vós sereis o meu povo e eu serei o vosso Deus. Livrar-vos-ei de todas as vossas imundícias; farei vir o trigo, e o multiplicarei, e não trarei fome sobre vós. Multiplicarei o fruto das árvores e a novidade do campo, para que jamais recebais o opróbrio da fome entre as nações. Então vos lembrareis dos vossos maus caminhos, e dos vossos feitos, que não foram bons; te-reis nojo de vos mesmos por causa das vossas miquida-des e das vossas abominações. Não é por amor de vós, fique bem entendido, que eu faço isto, diz o Senhor Deus. Envergonhai-vos, e confundi-vos por causa dos vossos caminhos, ó casa de Israel. “Assim diz o Senhor Deus: No dia em que eu vos purificar de todas as vossas iniqüidades, então farei que sejam habitadas as cidades e sejam edificados os lugares desertos. Lavrar-se-á a terra deserta, em vez de estar desolada aos olhos de todos os que passavam. Dir-se-á: Esta terra desolada ficou como jardim do Êden; as cidades desertas, desoladas e em ruínas, estão fortificadas e habitadas. Então as nações que tiverem restado ao redor de vós saberão que eu, o Senhor, reedifiquei as cidades destruídas, e plantei o que estava desolado. Eu, o Senhor, o disse, e o farei.” (Ez 36.2636.) Aqui, numa linguagem imponente, em tons comoventes, o grande profeta de Deus predisse o que o Senhor faria por aqueles a quem se referiu como sendo seu jardim. A terra que estivera desolada seria redimida, restaurada e voltaria a ser produtiva. O solo pedregoso de seu coração seria trabalhado e se tornaria tenro e maleável. Uma incrível transformação teria lugar no terreno compacto de seu coração endurecido. No futuro, esse terreno estéril iria florescer como o maravilhoso jardim do Éden. Quando o Senhor meditava nessas grandes profecias, ele sentia que elas iriam se concretizar. E não poderia ser de outra forma, estando eles debaixo dos cuidados diligentes do divino Agricultor. E foi ele quem viu a produtividade em potencial, em estado latente, na terra desolada do coração humano. Somente Jesus poderia transformar a alma mais endurecida num jardim luxuriante. E sendo ele o grande Agricultor, achava-se preparado para encetar essa tarefa, por causa de seu nome. Sua reputação estava em jogo nesse projeto.

Essas eram as idéias que passavam pela mente do Senhor, quando declarou francamente que alguns de nós eram pessoas duras, pedregosas. E a razão por que não há quase fruto nenhum em nossa vida é simplesmente que a nossa alma é um terreno rochoso. Mas alguém pode indagar: “O que ê uma alma pedregosa? Quais são as características de um caráter rochoso? Que tipo de conduta ou de comportamento revela a existência de rochas abaixo da superfície da terra, numa vida improdutiva? Quais são as características dessa terra imprestável, que indicam a probabilidade de uma colheita fraca? Antes de analisarmos essas dificuldades que existem em nossa vida, precisamos abrir um breve parêntese para refletirmos sobre a visão divina acerca da necessidade imperiosa de seu povo produzir fruto. Em diversas ocasiões, o Senhor deixou bem claro para seus ouvintes que o critério pelo qual seus filhos seriam reconhecidos seria a produtividade. “Assim pois, pelos seus frutos os conhecereis.” Ele narrou várias parábolas nas quais focaliza o cuidado, o amor e a perícia com que o divino Agricultor lida com seu pomar, sua vinha, seus campos e plantações. Deu muita ênfase ao fato de que o agricultor vai ali à procura de frutos. Se não os encontrar, toda a obra pode ser considerada um fracasso total. E uma colheita fraca é coisa que não se tolera. Mas a experiência cristã, a Igreja em geral, tem ignorado essa verdade. Existe uma tendência muito visível para se deixar de lado essa questão, empenhando-nos em atividades que, segundo cremos, irão encobrir nossa esterilidade. Não somos identificados — nem por Deus nem pelo mundo cético que nos rodeia — como cristãos que se baseiam naquilo que dizem acreditar. Tampouco somos identificados com Cristo apenas pela religião que professamos seguir. Também não somos reconhecidos como jardim de Deus por uma experiência sobrenatural que talvez tenhamos tido. Nem mesmo um profundo conhecimento bíblico ou uma grande compreensão das Escrituras nos tornam de alguma valia na economia divina. Somos identificados e reconhecidos somente pelo tipo de fruto que produzimos, pela qualidade e quantidade daquilo que produzimos em nosso caráter, nossa conversa e conduta diárias. Não existe outro critério maior

para a avaliação dos crentes. Essa é a marca suprema do povo de Deus. Assim sendo, o que é, então, o terreno rochoso, o solo improdutivo? Como se dá na natureza, assim também acontece em nossa vida. Há três tipos principais dessa terra. O primeiro deles consiste de uma fina camada de lerra, cobrindo um vasto leito de pedras. Milênios e milênios de um contínuo trabalho climático acabaram por cobrir aquele terreno de formações rochosas com uma fina camada de solo pobre. A semente que cair nesse tipo de solo brotará rapidamente. As pedras retêm tanto o calor como a umidade. Assim, nesse terreno aparentemente favorável, as sementeiras parecem brotar imediatamente. Infelizmente, esta vegetação de aparecimento tão rápido dura muito pouco. As frágeis raízes da planti-nha logo encontram a resistência das pedras. Não podem se desenvolver. Não têm espaço para se expandir — não há um solo rico e profundo, do qual possam retirar alimento. Não há espaço para que as raízes se expandam. Sob o calor intenso do sol da primavera e os quentes raios de luz, as tenras planiinhas logo morrem. Murcham; começam a ficar cinzentas, depois amareladas, queimam, e, afinal, esturricadas e maltratadas pelo calor, elas morrem — e a colheita fracassa. Jesus afirmou que alguns de nós somos assim. A boa semente de sua Palavra é semeada na fina camada de terra de nossa alma superficial. Parece um bom terreno. A princípio, existe uma reação positiva, muito boa. Parece que estamos progredindo. Nossos novos amigos crentes, nossa terna comunhão de amor, nossas experiências, até certo ponto arrebatadoras, nossos constantes contatos resultam num repentino e abundante desenvolvimento que, da mesma forma súbita como surgiu, murcha e seca-se. De repente, percebemos que aquilo não passou de uma experiência superficial, um fato apenas de aparência. O processo todo foi dolorosamente patético. Aquela pessoa que começara tão bem, tão promissora-mente, agora mirrou e desapareceu. Parecia possuir um imenso potencial para a produção de fruto, mas parou a meio caminho. Ficamos espantados, e Deus,

o bom Agricultor, fica decepcionado. Qual é o problema básico dessa questão? Qual é a dificuldade que se encontra abaixo da superfície de nossa vida, aparentemente espiritual? Pode ser expresso numa única palavra: incredulidade. A incredulidade é um dos assuntos mais difíceis, para ser abordado num livro como este. Ela constitui um desafio, pois, como as enormes formações graníti-cas que jazem no subsolo de terras marginais, acha-se fora da vista, escondida. E, no entanto, encontra-se presente em tantas vidas. Vamos fazer aqui uma tentativa de mostrar o que a incredulidade é, e como ela nos torna mirrados e ressequidos. Existem três importantes dimensões da incredulidade, as quais nos permitirão perceber como é realmente o nosso terreno espiritual, se as compreendermos. A primeira delas é a seguinte: quando temos os primeiros contatos com o cristianismo, inicialmente nossa fé não se centraliza realmente em Cristo, mas na igreja. Quando digo igreja, refiro-me a pastores, pregadores, evangelistas, conselheiros, congregação, liturgia, a comunhão com outros, as amizades, as experiências, os testemunhos, o amor por outros crentes e a aceitação e interesse da família de Deus. Todas essas coisas são ótimas em si. Cada uma tem o seu papel nesse processo pelo qual chegamos a Cristo. Todas contribuem para alimentarnos, como a recém-nascidos. Mas nenhum desses elementos é, nem por ser, um substituto do próprio Deus. Se investirmos nossa fé, nossa crença e nossa confiança somente na igreja, em seu povo e seus programas, acabaremos desiludidos, desanimados e desesperados. Nossa fé, nossa confiança, nossa crença têm que ser fundamentadas em Deus. Ele é nossa única base para salvação, libertação, esperança, paz, e até para nossa existência. Muitas pessoas estão com as raízes de sua fé firmadas no solo raso da vida

social da igreja a que pertencem. Sem dúvida serão abaladas. Pregadores e professores podem ser bastante imperfeitos. O apoio e a amizade de outros crentes podem ser falsos. A liturgia da igreja e atividades sociais podem dar em nada. E corno nós próprios somos parte dessas coisas, logo se verá que o solo espiritual de nossa vida também é uma camada fina. Quando as coisas vão mal, ficamos amargos e cínicos. Começamos a endurecer o coração contra tudo que é santo. Em geral, coisas assim acontecem porque nossa esperança, confiança e fé não estavam em Cristo, mas na igreja. E muitas vezes, quando o calor aumenta, a igreja simplesmente não consegue fortalecer-nos para suportarmos as pressões de nossa sociedade e de nossos dias. Mas, por outro lado, Cristo nunca faltou para com aqueles que colocaram nele a sua confiança. Ele sempre faz valer a fé e a confiança que depositamos nele. No entanto, muitos simplesmente não acreditam neste fato, nem nele. E por isso, é tão difícil para ele produzir seu fruto em nossa vida. Cristo está constantemente nos falando pelo seu Espírito, apelando a que confiemos nele implícita e totalmente. Mas muitas vezes nos recusamos a fazer isso. Relutamos em confiar nele — mesmo no que diz respeito aos menores detalhes de nossa vida. E mais fácil confiarmos ou procurarmos solução em outras pessoas ou coisas — mas nele não. Essa camada rochosa de incredulidade para com a Pessoa do Deus vivo é que torna impossível a produção de frutos eternos e duradouros em nós. A segunda dimensão da incredulidade é nossa recusa em crer realmente na Palavra de Deus. Na verdade, não cremos que a Bíblia seja uma válida e certeira declaração da verdade e por isso questionamos sua credibilidade. Recusamo-nos a reconhecê-la como uma revelação sobrenatural da integridade espiritual. Muitas pessoas comparam a Bíblia a outros escritos de origem humana. Estão supondo, ingenuamente, que têm a opção de aceitá-la ou rejeitá-la. Não acham que ela tem um caráter de mandamento, não sendo, portanto, necessário receber suas declarações com uma ação imediata e positiva. A conseqüência básica dessa atitude é que, todas as vezes que ela nos fala e

nós não respondemos como devemos, a incredulidade de nosso coração (ou vontade) provoca um endurecimento de nossa parte. Não é de se admirar que as Escrituras falem tanto acerca da dureza do coração do homem e do seu total desinteresse em cooperar com Deus e concordar com seus desejos e vontade. É simplesmente aterrorizante essa enorme resis-Lência subterrânea de nosso subconsciente e nossa vontade para com as melhores intenções de Deus para nós. Não admira que algumas vidas apresentem uma colheita fracassada, apesar de todo o cuidado e preocupação de Deus. Vejamos uma ilustração. A Palavra de Deus nos admoesta a termos paz com todos, até onde for possível. Isso é mencionado várias e várias vezes na Bíblia. Mas, se, numa atitude de desobediência a essa palavra, resolvermos manter uma briga contínua com alguém, não haverá paz. Assim sendo, este fruto do precioso Espírito de Deus não estará presente em nossa vida. Será um fracasso total. Não porque Deus seja um agricultor incompetente, mas, sim, devido à resistência de nossa vontade endurecida. A terceira dimensão da incredulidade é nossa terrível preocupação com o eu. Desde a mais tenra infância aprendemos que temos de ser pessoas autoconfiantes, autônomas, pessoas que procuram sempre promover a si mesmas. Eu, mim e meu constituem um epicentro triúno, em torno do qual gira nossa existência. Planejamos toda a nossa curta permanência na terra sobre a premissa de que eu sou a pessoa mais importante deste planeta. A conseqüência básica disso é o egocentrismo, um mal de proporções estarrecedoras. Seguindo em direção diametralmente oposta, acha-se o apelo de Cristo para que nos esqueçamos de nós mesmos [percamos nossa vida), para que o sigamos (isto é, para que o coloquemos no centro de nossos interesses), e consagremos nossa vida alegremente ao serviço de outros. Isso é totalmente contrário à nossa natureza. Podemos não dizer a ninguém, mas, interiormente, estamos convencidos de que seria como tomar a estrada que leva ao esquecimento e à auto-anulação. Não acreditamos realmente que Deus, em Cristo, é o único que pode oferecer-nos a fórmula certa para uma vida feliz e abundante.

A simples conseqüência disso é que, embora mental e, talvez, emocionalmente afirmemos crer em Cristo, bem no fundo de nossa vontade, nossas disposições e espírito, não cremos. Consideramo-lo apenas um idealista que na verdade não merece toda a nossa lealdade, consagração e confiança. Num coração pedregoso assim, em cujo interior há uma incrível incredulidade, é em vão que o Espírito de Deus luta para produzir os frutos inerentes ao seu maravilhoso caráter. Mas há três coisas muito simples que podemos fazer, sob o dinâmico impulso do Espírito Santo, para quebrar as pedras da incredulidade. 1. Peça a Deus sinceramente que se revele a você. Peça-lhe que se revele, e você possa vê-lo como realmente é. Quando você compreender que ele é o bom Agricultor, que o ama imensamente e deseja muito tornar sua vida mais produtiva, isso quebrantará o seu coração de pedra. 2. Peça a Cristo que, pelo seu Espírito, lhe revele sua própria condição e a dureza de sua vontade interior. Quando você vir que realmente sua atitude é de desobediência, e como você é obstinado, isso abrandará seu coração, preparando-o para uma operação mais profunda de Deus. 3. Peça a Deus que, pelo seu Espírito, lhe conceda uma grande fé — fé para confiar nele sem reservas; uma fé que tem confiança total em Cristo e em seus altos desígnios para nós; a fé da obediência, pela qual você fará aquilo que ele lhe disser por intermédio do seu Espírito ou da sua Palavra. O segundo tipo de terreno rochoso é o que geralmente chamamos de solo pedregoso. Trata-se de uma terra juncada de pedrinhas ou matacões de diversos tamanhos, desde os do tamanho de um ovo graúdo até blocos que pesam centenas de quilos. Geralmente, este tipo de solo é muito fértil, mas é preciso muito trabalho e dinheiro para limpá-lo e prepará-lo para o cultivo. *

A casa onde morei na infância, no centro da Africa, ficava num tipo de terreno assim. Meu pai havia comprado cento e dez acres de terra, uma terra desér-lica, no alto de um morro. E foi com muito esforço e trabalho que ele conseguiu preparar a terra, tirando dela milhares de pedras, utilizando juntas de bois. Eram lantas, que dariam para ele construir as

paredes de todas as construções que ele ergueu na propriedade. E onde antes tinham estado as pedras, ele plantou milhares de árvores de todo o tipo — fruteiras, cafezais, árvores ornamentais e madeira para lenha. Também havia jardins e hortas e luxuriantes pastagens para o gado, naquele lugar que antes era terra desolada e abandonada. Na verdade, aquilo foi uma ilustração muito prática da profecia de Ezequiel. Era um jardim do Eden, florescendo onde antes não havia nada a não ser pedras, espinheiros e uivos de chacais no deserto. Na vida cristã também existem dessas regiões áridas. Existem áreas de solo pedregoso, nos quais foi semeada a boa semente da Palavra de Deus. Ela germina, desenvolve-se por um breve espaço de tempo, mas depois encontra resistência nas pedras e se seca, dando em nada. Qualquer aspecto de nossa vida onde preferimos desobedecer a Deus, seguir nosso próprio caminho e fazer nossa própria vontade é um solo pedregoso. E isso cue significa ter um coração duro. E um tipo de terra que dá muita tristeza e muito trabalho ao bom Agricultor, quando este quer cultivar alguma coisa ali. Essas áreas, que obstinadamente recusamos submeter a Cristo, constituem solo estéril, cheio de rochas. Impedimos a operação de seu Espírito em nossos negócios, estorvando a ação de sua Palavra. Ali não há desenvolvimento. Não acontece nada. Nossa alma fica empobrecida e nossa vida fenece. E não havendo um desenvolvimento contínuo, não haverá fruto. Mas Deus, pelo seu poderoso Espírito, deseja limpar o solo pedregoso e obstinado de nossa alma. Deseja plantar os pés de sua própria justiça exatamente nos pontos de onde retirou as pedras da desobediência. Nosso divino jardineiro quer cultivar um jardim vicejante onde antes só havia matacões secos de franca resistência à ação de sua Palavra. Mas para que isto aconteça, é preciso que o queiramos. Pela fé em Cristo, precisamos crer que ele realmente pode trabalhar no terreno árido de nossa vida e transformá-la num jardim de Deus. Temos que pedir a ele que nos mostre, que nos dê uma visão, um vislumbre do que ele pode realizar em um coração endurecido, em uma vontade pétrea e uma atitude de teimosia e desobediência. Talvez ele nos mostre o milagre de transformação que

operou no caráter de outra pessoa. Foi mais ou menos o que sucedeu comigo, quando era jovem. Minhas impressões mais antigas de meu pai eram a de um homem duro e muito exigente. Era exigente consigo mesmo e com os outros, uma pessoa difícil para Deus. Mas, com o passar dos anos, o Senhor, em sua maneira própria de agir, persistente e poderosamente, foi limpando o terreno pedregoso da alma de meu pai, da mesma forma que ele estava removendo as pedras de seu terreno na encosta do morro. O resultado foi que, durante os anos de minha adolescência, pude presenciar, grandemente espantado, a transformação que se operou no caráter de papai. De uma forma gradual e constante, ele foi-se transformando num dos homens mais ternos que já conheci. Ele se tornou uma pessoa gentil, amorosa, paciente, cheio de consideração pelos outros. Sua vida desprendia a fra-grância do fruto maduro do Espírito de Deus. Se realmente quisermos essa mudança de caráter, ela se dará. Sincera e decididamente, vamos tomar a deliberação de fazer a vontade de Deus, submetendo-nos aos mandamentos de Cristo. Vamos sintonizar nosso espírito com o de Deus, para ouvirmos bem a sua voz, quando ele nos falar por meio da sua Palavra, e iremos meditar nela. Vamos ler a Bíblia com seriedade e atender ao chamado de Cristo. Vamos abrir o coração, tornando-nos abertos à operação de Deus em nós. Vamos ficar admirados de ver como cresceremos nas coisas de Deus. "Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade. " [Fp 2.13.) O terceiro tipo de solo rochoso é o que conhecemos como terreno cascalhado. E o solo onde a terra está intercalada de camadas de cascalho e areia. Em muitos casos, a verdadeira condição do terreno ê encoberta por uma fina camada de terra pura. As sementes que germinam neste tipo de solo e as plantas que ali medram, em geral, brotam, rapidamente. Apresentam um desenvolvimento súbito e admirável. Mas, após alguns dias de sol escaldante e ventos, elas são destruídas e se secam. Aquela subcamada de cascalho e areia atua como uma peneira, por onde escoam as águas e os elementos nutritivos da terra. As raízes secam e morrem. Resta apenas desolação.

Nosso Senhor muitas vezes viu campos deste tipo. Kra muito comum na crista dos morros ou nas encostas de terras improdutivas, cujos proprietários, muitas vezes, acabavam pobres. Ele disse que alguns de nós éramos como esse solo cascalhoso. Nele pouco ou nada pode ser cultivado. Qual é o paralelo disso em nossa vida? Há dois. Essa camada de cascalho que se acha abaixo da superfície da alma de muitos de nós é o terreno de nossa ingratidão. É essa mania de resmungar, tão profundamente arraigada no homem, e que muitos de nós possuem. Reclamamos contra Deus, pela maneira como ele manobra nossa vida e dispõe as circunstâncias. Impertinentes, protestamos contra a sorte, achando ruim a estrada pela qual ele nos guia e os lugares em que nos coloca. Naturalmente, a maioria das pessoas não exibe essas mágoas mesquinhas em público. Pelo contrário. Quase todas preferem mostrar uma fachada boa, e fingem que, por trás dela, tudo vai bem. Mas, abaixo da superfície, por baixo dos sorrisos de fachada, estão duras e resistentes atitudes de ressentimento contra Deus, pela forma como ele dispôs as coisas, e, por vezes, essas atitudes assumem um tom de desafio. Isso tem um efeito altamente mortal para o desenvolvimento espiritual. Entristece o precioso Espírito de Deus. Ele simplesmente não pode produzir seu fruto num terreno assim cascalhoso, feito de queixas e lamúrias. Deus nos adverte, em Hebreus 3.1219, que não endureçamos o coração pela murmuração. Foi o que a nação de Israel fez, logo após ter sido liberta do Egito. Eles provocaram a ira de Deus. A camada de areia em nossa vida é aquele hábito de apontar erros, criticar e censurar todo mundo. Se não formos alertados quanto a isso, esse mal acaba-se tornando crônico. Forjamos em nós mesmos uma estrutura mental que invariavelmente enxerga apenas o lado escuro e difícil das coisas. Depois de condicionados e acostumados a essas duras atitudes de condenação, que, constantemente, nos levam a ver apenas o lado mau das pessoas, tornamo-nos exigentes, rigorosos e rudes. E isso não é um terreno

bom, no qual o divino Agricultor possa cultivar seus belos frutos. Mas ele vem até nós e apresenta diversas medidas que podemos tomar para resolver essa questão da murmuração contra Deus e da nossa crítica aos outros. Em vez de nos revoltarmos contra Deus pela maneira como ele determina nossa vida, procuremos considerar, detidamente, as bênçãos que ele derrama sobre nós. Pegue uma folha de papel, procure um lugar tranqüilo, sente-se ali, e escreva, uma a uma, todas as coisas boas que ele lhe proporcionou — as alegrias e os prazeres. Escreva tudo — o som de uma música bela, o riso de uma criança, o nascer do sol, a fragrância de uma rosa, o aperto de mão de um amigo, a lealdade de um cachorro, etc. Quem for sincero, verá que essa lista não tem fim. É um exercício espiritual que acabará com nossa murmuração, deitará nosso orgulho no pó e humilhará nosso coração endurecido diante de um Deus cheio de amor. Devemos procurar e, deliberadamente, ressaltar os mais nobres, belos, elevados e positivos aspectos da vida. Procuremos ver o melhor nos outros. Em Filipen-ses 4, Deus manda claramente que façamos isto. Em último lugar, ponhamos em prática as três grandes palavras que indicam crescimento espiritual. 1. Reconhecer — “Ó Deus, tu és nosso Deus. Tu sabes exatamente o que estás fazendo em minha vida, e tudo é para o meu bem. Tudo está bem.” 2. Aceitar o domínio dele — Este é o segredo da paz e sossego. Não vou mais resistir nem me aborrecer pela tua operação em minha vida. Tu és o bom Agricultor. 3. Aceitar a maneira como Cristo determina as coisas em nossa vida — Teu desejo é que eu me torne frutífero. E, sob a tua direção, isso acontecerá. Graças te dou por tudo. Isso transforma a lamúria em louvor; murmu-ração em gratidão. E o segredo para que todas as energias do Espírito Santo operem plena e livremente em nossa vida diária. Ele irá fazer inifinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos. [Ef 3.19-21.)

Os do Terreno Cheio de Espinhos: Perdidos Entre as Ervas Daninhas O terceiro tipo de terreno que o Senhor mencionou como um tipo de solo improdutivo, é aquele cheio de espinhos. Essa terra estava infestada de ervas daninhas e espinhos. Qualquer jardim ou horta que estiver coberta de plantas nocivas é sufocado por elas e simplesmente não pode produzir nada... Devido à variada topografia e geologia da Palestina, parte dela semi-árida, a região era conhecida pela enorme variedade de espinhos, cardos e urzes. Mais de duzentas espécies de ervas indesejáveis tomavam conta das terras cultivadas, competindo com as plantações obtidas com tanto esforço. O agricultor tinha que lutar incessantemente para ter uma boa plantação e conservar seus campos livres de ervas estranhas. No texto hebraico do Velho Testamento e no Novo Testamento grego aparecem mais ou menos dezessete palavras que são empregadas para descrever esse tipo de vegetação espinhenta, indesejável. Em nossa língua também há uma grande variedade de termos usados para identificar o sentido delas. Temos substantivos tais como: espinhos, cardos, urzes, abrolhos, etc., que aparecem no relato bíblico. Quase sempre o quadro apresentado em conecção com a agricultura fala do enorme problema que representa o crescimento dessas ervas indesejáveis. Jesus conhecia muito bem a luta daquelas pessoas para conseguir uma safra de cereais ou frutos, sofrendo a competição dos espinhos e cardos nas plantações. Ele utilizou parábolas bem incisivas para ilustrar o fato. No seu poderoso Sermão do Monte, ele fez a seguinte pergunta: “Colhem-se, porventura, uvas dos es-pinheiros ou figos dos abrolhos?” (Mt 7.16.) Quando uma vinha estava coberta de espinheiros, o lavrador não poderia esperar dali uma abundante colheita de uvas. E mais do que claro que ou era um ou outro. Essas ervas — espinhos, abrolhos, cardos e urzes — possuíam a horrível

capacidade de se multiplicar demasiadamente, e sufocar a plantação de tal forma, que ela ficava mirrada e abafada. E, praticamente, não havia produção de fruto. O Senhor disse claramente que a vida de alguns de nós é assim. Ela se acha tão infestada de plantas nocivas, que não há possibilidade de colheita. Ao contrário das modernas técnicas de agricultura, onde usamos toda a sorte de herbicidas para destruir o mato das plantações, os povos primitivos só contavam com um remédio para esse mal. E isso era uma tarefa quase impossível. Às vezes, as sementes dos espinheiros eram trazidas de muito longe, pelo vento. Os passarinhos, que se alimentavam de frutinhas e cardos, depositavam o esterco em qualquer plantação, e com ele as sementes nocivas. Os animais selvagens, e mesmo os domesticados, transportavam em sua pele todo tipo de carrapichos e sementes de matinhos, ao vagarem pelos campos. Portanto, era impossível ter uma plantação constantemente livre dessas ervas. Somente com cuidado incessante e muito esforço é que o agricultor conseguiria um terreno belo e produtivo. E mesmo assim, a despeito de todo o seu trabalho, esses invasores ainda apareceriam para impedir uma frutificação plena. Jesus comparou nossa alma a esse tipo de terreno infestado de mato. Ele afirmou francamente que uma cultura assim simplesmente era infrutífera. Portanto, a pergunta que cada um precisa dirigir a si mesmo é muito séria e profunda: “Que tipo de planta está crescendo no terreno da minha vida?” Vamos fazer a mesma pergunta de outra maneira: “O que está ocupando mais espaço em minha vida? O que está tomando a maior parte de meu tempo e interesse? O que está sendo colocado em primeiro lugar, nas coisas a que dou prioridade? Qual é a principal cultura e produto, de um modo geral, em minha vida? Qual é o saldo liquido do meu viver — matinhos inúteis ou bons frutos de valor eterno?” Cristo deixou bem claro que existem três tipos de ervas daninhas: 1. Os cuidados, ansiedades e preocupações ou interesses deste mundo. 2. O engano das riquezas; o fascínio da prosperidade.

3. A ambição das coisas; o magnetismo do mate-rialismo. Devido à forte competição que essas influências representam para as coisas espirituais, nossa vida se revela um fracasso de produtividade por ocasião da colheita. A boa semente da Palavra de Deus, que em nós é plantada pelo seu precioso Espírito, simplesmente dá em nada. Ela é sufocada pela tremenda e feroz competição que lhe é imposta por outros ideais. Desses ideais, o primeiro que Jesus mencionou parece ser o menos perigoso. 1. Cuidados do mundo Como a morte e os impostos, os cuidados da vida são apenas um aspecto da constituição da existência. Estaremos nos enganando se pensarmos que os filhos de Deus se acham isentos das pressões e problemas comuns à família humana. Os pregadores e mestres que parecem dar a entender que a vida cristã pode ser uma vargem sem percalços, na verdade estão-nos prestando um grande desserviço. Isto simplesmente não é verdade. A Palavra de Deus ensina claramente que ‘‘muitas são as aflições do justo” (SI 34.19). O Senhor Jesus declarou abertamente: ‘‘No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” (Jo 16.33.) Todos nós, sem exceção, tomamos sobre os ombros a responsabilidade de lutar por uma vida boa, da melhor forma que pudermos. Seja qual for nosso destino, somos constrangidos a trabalhar com diligência e dedicação. Sentimos que temos de sustentar nossa família adequadamente, e temos que pagar os impostos, a fim de nos situarmos dentro de um padrão de pessoas ordeiras, respeitadoras da lei. Já definimos claramente os princípios estabelecidos pela Palavra de Deus sobre como deve ser nosso comportamento dentro da comunidade humana à qual pertencemos. Podemos concluir, portanto, que a vida nos impõe certas exigências. Se quisermos ter uma vida equilibrada, estável e produtiva, precisamos atender às responsabilidades que nos são impostas por Deus e pelo homem. E como fazemos isso? Como evitamos nos tornar em excêntricos ascetas, que desejam retirar-se do convívio da sociedade e dos desafios que ela nos apresenta? Como evitamos nos envolver tanto com o mundo, para não sermos engolfados e sufocados pelas suas enganosas ideologias e filosofias?

O Senhor Jesus abordou esta questão, no seu maravilhoso Sermão do Monte, em Mateus 6, com grande riqueza de detalhes. Ali, ele assegura ao coração ansioso que o Pai celestial conhece nossas necessidades e as exigências que a vida nos impõe. Ele sabe que precisamos de alimento, abrigo, bebida e vestuário. E como ele sustenta os pássaros e os lírios do campo, assim também ele sustenta seu povo nesse planeta. O ponto crucial da questão é minha preocupação com os cuidados da vida, que me pressionam. Será que eu realmente creio que o Pai celestial cuidará de mim, se é que creio nele? O que vem em primeiro lugar para mim, neste quadro? Minha atenção está centralizada em ganhar o sustento pelo meu suor e meus esforços — ou na fidelidade da palavra de Deus? Gostaria de narrar aqui minha experiência nesse sentido, com uma palavra de testemunho pessoal quanto ao fato de que o Senhor merece toda a nossa confiança. Até mais ou menos a idade de quarenta anos, eu me preocupava constantemente com o sustento de minha família, preocupava em ganhar a vida, em obter sucesso naquilo que empreendia, em providenciar uma segurança para o futuro. E mesmo quando todas essas coisas estavam asseguradas, minha querida esposa dizia: — Phillip, se você não tiver nada com que se preocupar, você logo inventa uma coisa. E foi com essa idade já avançada, que, com uma experiência terrível que não vou descrever aqui, vi-me praticamente destituído de tudo que conseguira com tanto esforço. Então, com uma entrega total de mim mesmo, e com uma fé infantil, lancei-me aos cuidados e desvelos de meu Pai celestial. Esses últimos vinte anos têm sido uma poderosa demonstração da sua boa-von-tade em suprir, de maneira notável, todas as minhas necessidades, em todas as áreas da vida. Digo isso não para me gloriar, mas para agradecer a Deus, de todo o coração, pela sua fidelidade. Tudo é, na verdade, uma questão de prioridades. No momento em que uma pessoa resolve colocar Cristo no centro de sua vida, e dar-lhe toda prioridade e consideração, nesse momento ela já está começando a sair dos embaraços. Já não está perdida no matagal da preocupação e da ansiedade. O terreno de sua vida já está sendo limpado dos confusos emaranhados em que se encontram seus contemporâneos. Agora, já há tempo e espaço para

produzir fruto de valor eterno para Deus. O segundo aspecto que precisamos descobrir nessa questão dos cuidados do mundo é o fator tempo. Cristo deu muita ênfase ao fato de que cada dia tem suas próprias dificuldades. “Basta ao dia o seu próprio mal.” (Mt 6.34.] Não vale a pena darmo-nos à fantasia de trazer para o hoje os males de ontem ou de amanhã. Não podemos permitir-nos sentir as tristezas do amanhã. Não podemos deixar que as alegrias de hoje venham a ser prejudicadas pelas incertezas do futuro ou pelos remorsos estéreis do passado. Na verdade, só possuímos mesmo o hoje. O ontem já passou, para sempre. E não existe nenhuma garantia de que teremos um amanhã. Portanto, na realidade, nós nos achamos encerrados dentro de um conceito de tempo-espaço restrito a um dia. Então, nossa opção é a seguinte: ou passamos esse dia todo preocupados, ou nos regozijamos e nos deleitamos com este espaço de tempo que o Pai nos proporciona. Um dos pensamentos de que mais gosto é o seguinte: “Viva intensamente cada momento.” Este é o dia que o Senhor me deu para viver, por isso vou me regozijar e me alegrar nele. (Ver SI 118.24.] Viver nessa atitude de confiante despreocupação nos liberta das tensões e pressões dos cuidados do mundo. Gomo o cuidado contínuo de um jardim o conserva livre de matinhos e ervas daninhas, assim também essa prática diária de nos rejubilarmos na fiel provisão de Deus para nós, torna nossa alma cada vez mais livre. À medida em que vivemos dessa maneira, as sempre presentes ervas da preocupação, ansiedades e inquietação com cuidados tolos secam-se e morrem. Elas deixam de dominar a nossa vida diária. Passamos a concentrar-nos mais e mais nos grandes e maravilhosos propósitos de Deus para este planeta e para o seu povo. O foco de nossa atenção é desviado das nossas necessidades para as necessidades dos outros. E em tudo isso há sempre muitas oportunidades para sermos produtivos, úteis, magnânimos. Nas mãos do grande Agricultor, até mesmo o menor de nossos esforços se torna frutífero, produzindo acima do que esperávamos, mesmo nas estimativas mais otimistas.

A terceira maneira de arrancarmos de nossa vida os matinhos da preocupação, acha-se muito bem resumida no seguinte versinho: “Darei a Deus o melhor de mim; o resto ele fará.” Seja o que for que a vida coloque em nossas mãos para fazer, façamo-lo bem. Façamos tudo da melhor maneira que pudermos, e depois deixemos os resultados com Cristo. Não cabe a nós resolver ou determinar qual será o saldo líquido da nossa existência. É ele quem faz a contabilidade eterna. Só ele pode definir o que é e o que não é de valor para sua economia. Entretanto, devemos regozijar-nos pelos dias que podemos viver para ele; de todo o coração e mui humildemente, dar-lhe graças pelo seu grande cuidado, e viver numa constante “atitude de gratidão”. Viver desse modo é viver à luz do sol da sua presença; é viver em sincera dignidade e força; é viver em uma simplicidade tranqüila; é viver acima do alarido e das confusões de uma sociedade complexa que poderá sufocar e afastar nossa produtividade para Deus. 2. O Engano das Riquezas Alguns cristãos possuem uma idéia muito errada acerca das riquezas. Em si, a riqueza não é errada. Não é obrigatoriamente uma coisa maligna. A prosperidade nem sempre é pecado. Ter muito dinheiro não é necessariamente iniqüidade. Se assim fosse, Deus certamente nunca teria dado riquezas a homens como Abraão, José, Salomão, Jó e Ezequias, sem mencionar alguns dos modernos heróis da fé. O grande problema jaz em nossa atitude para com as riquezas. Como são empregadas? Para que propósito são acumuladas? A que fins são consagradas? Para a maioria das pessoas, o grande problema é que as riquezas enganam o coração. Elas têm a capacidade de torcer nosso raciocínio; elas nos cegam para os valores eternos; e também têm a terrível propriedade de dominarem nossos desejos. Pela sua própria natureza, o dinheiro nos leva a colocar nossa confiança

nele, e não Naquele que nos deu a capacidade de ganhá-lo. As riquezas insinuam, sutilmente, que são elas que nos garantem segurança e tranqüilidade. Mas, na verdade, elas fazem justamente o contrário. Já percebi que, em muitos casos, as pessoas mais ricas se acham entre as menos seguras e tranqüilas. Elas ficam constantemente preocupadas com a possibilidade de perderem as riquezas. Isso gera preocupação, ansiedade e descontentamento intermináveis. Muitas pessoas ricas, quando não se preocupam com a possibilidade de perderem as riquezas, preocupam-se em aumentá-las. Não basta termos apenas um carro — precisamos de dois! Uma casa apenas não é suficiente. Precisamos de uma casa de campo também. Um milhão de dólares não chega. Ê melhor termos dois ou três milhões! Portanto, essa agitação contínua não tem fim. Jesus sabia de tudo isso. Ele contou parábolas para ilustrar a inutilidade de nossos esforços na busca constante daquele veio de ouro. Ê uma busca inútil, patética, infrutífera. Lembra-se do rico fazendeiro que resolveu construir maiores e melhores celeiros, a fim de armazenar sua colheita? Acabou mendigo, pois nunca tinha aberto um crédito com Deus. Não possuía uma colheita de valor duradouro na economia divina. Todos os seus esforços haviam dado em nada, no que dizia respeito a Deus. Ele era um louco, ludibriado pelo seu próprio desejo insaciável de riquezas. Sua vida sempre estivera cheia de mato, perdida na selva do “ajuntar, ajuntar, ajuntar”. A filosofia do mundo é a seguinte: “O que posso tirar dessa vida?” Em contraste marcante, Jesus vem e nos dá um mandamento claro, distinto, cortante: ‘‘Dê tudo que puder à sua geração.” Seguir a primeira é emaranhar-se na vegetação rasteira de um viver egoísta e egocêntrico. Seguir a Cristo é arrancar do terreno de nossa vida as ervas sufocantes, que desejam enrolar-se em nós, nessa busca das riquezas, por amor às riquezas. É óbvio que não podemos consagrar nossos dias apenas a ganhar dinheiro e ao mesmo tempo dedicá-los ao serviço de Deus. A questão toda se resume numa coisa: ‘‘Quem manda em mim, Cristo ou as

riquezas?” Quem está no controle? Com respeito a isso, para o filho de Deus só existe uma maneira correta de agir: qualquer riqueza que eu possa ter me é confiada pelo Senhor. Não me é dada para ser usada, investida ou esbanjada descuidada-mente. Também não tenho o direito de afirmar que sou uma pessoa que venci por mim mesmo. Isso é um orgulho monstruoso, uma afronta a Deus. Tudo que temos: a capacidade de pensar, as forças para trabalhar e os meios para acumular riquezas nos vem de Deus. E um dom dele. Portanto, com humildade e simplicidade, assumo a condição de mordomo de tudo que ele me confiou. Uso esse dinheiro com sabedoria e moderação, para atender às minhas próprias necessidades; e, generosa e liberalmente, para atender às necessidades de outros. Administrar o dinheiro dessa forma é ser um pomar frutífero para Deus. Usá-lo de qualquer outro modo é permitir que minhas idéias, opiniões e conduta sejam sufocadas pelo negro comercialismo de uma sociedade atéia. Em última análise, agindo assim, perderei minha alma, e não haverá fruto para o grande Agricultor. De passagem, quero lembrar aqui, principalmente aos jovens, que, se Deus vir que você foi fiel no pouco que ele lhe confiou, a princípio, prontamente ele lhe confiará maiores riquezas. São poucas as pessoas a quem Deus pode dar grande riqueza. Na maioria dos casos, isso sobe à cabeça delas. Não sabem controlá-las. Mas os que sabem, podem usar o dinheiro e as riquezas de forma poderosa, para produzirem muito fruto para o Senhor. São elas que dão roupa ao que está nu, alimento ao que tem fome, que curam os enfermos, educam os analfabetos, levam as boas-novas aos perdidos, alegram os que se acham desalentados, e saram os males de um mundo doente e em sofrimento. “Sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.” (Mt 25.40.) 3. O Poder de Atração do Materialismo Jesus expôs o fato sem rodeios: “Mas os cuidados do mundo, a fascinação das riquezas e as demais ambições, sufocam a palavra, ficando ela

infrutífera.” (Mc 4.19.) O que dissemos sobre a riqueza dizemos dessas outras coisas — muitas delas, em si mesmas, não são iníquas. Mas o desejo de obtê-las e a determinação de consegui-las a todo custo é que desviam nosso coração das coisas mais importantes: as coisas eternas, os valores divinos. Geralmente nos contentamos com os valores de secunda classe. Estamos preocupados com figurinhas de papel prateado, em vez de procurarmos alcançar as estrelas de verdade. Tendo sido criado no exterior e sendo minha família muito simples, vivendo numa casa humilde, acostumei-me a um tipo de vida bastante espartano. Ainda não me adaptei perfeitamente à prosperidade e aos luxos com que se vive aqui nos Estados Unidos. Durante os anos da minha formação, cresci entre africanos, pessoas que subsistem com muito pouco. Suas posses eram mínimas, seus anseios, muito poucos, e, apesar disso, sua alegria, boa disposição e contentamento eram contagiantes. Em meio àquela simplicidade toda, com um modo de vida que nós no Ocidente consideraríamos excessivamente frugal, aprendi experimentalmente a verdade básica contida nas palavras do Senhor com relação a esta questão: “Tende cuidado, e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui.” (Lc 12.15.) Entretanto, em nossa cultura, tudo vai contra esse conceito. A civilização ocidental já não está baseada sobre as grandes verdades da Palavra de Deus. Hoje não se pode mais dizer: “Confiamos em Deus.” Pelo contrário. Toda a nossa sociedade transferiu seu apoio e confiança para duas pilastras: a produtividade de sua indústria e o poder aquisitivo de seu povo. É por isso que nos encontramos diante de um desastre iminente. Em toda a história humana, nunca houve outra civilização que melhor utilizasse sua mente, energia e en-genhosidade para inventar, manufaturar e vender tal multiplicidade de coisas. Basicamente, sou uma pessoa de poucas necessidades e ambições. Por isso, essa quantidade de aparelhos, de pequenas maravilhas, e as vitrines esplendorosas de nossas lojas me assustam um pouco. Esse excesso de extravagância me deixa

nervoso. Essa interminável exibição de alimentos, vestuário, móveis e eletrodomésticos, máquinas e aparelhagem doméstica, tecidos e outros artigos que inundam o comércio, proveniente de nossas fábricas, me faz ficar meio inquieto. Isso tudo me dá vontade de sair logo das lojas, e respirar um pouco de ar puro, e ver os raios do sol. Não preciso desses dez mil objetos para que minha vida valha alguma coisa, ou para que meu lar seja feliz. Mas nossa cultura não quer me deixar em paz, com minha vida simples. Dia e noite, os meios de comunicação, revistas, jornais, livros, outdoors e folhetos que são colocados em minha caixa de correspondência, já bastante atravancada, berram nos meus ouvidos para comprar isso, procurar conseguir aquilo, adquirir aquilo ali, possuir isso aqui. Incessantemente estou sendo pressionado, tanto por meios gritantes e mais ousados, quanto por meios mais sutis e camuflados, sofisticados truques de vendagem para que eu compre mais coisas do que preciso, todas elas bem acima de minhas posses. Naturalmente, as pessoas que nasceram e se criaram nessa cultura achamse condicionadas por ela. Aceitam essa maneira de viver construída em torno de coisas, como sendo a melhor que pode haver no mundo. Aliado a isso tudo está o sistema de crediário. Por ele, qualquer pessoa, pondo apenas a assinatura num pedaço de papel, pode comprar quase tudo que desejar. Desde um par de botas até um carro de luxo, pode-se comprar tudo que o coração aspirar, mesmo que isso nos deixe tão endividados, que levemos vinte anos para nos recuperar. A conseqüência final de tudo isso que introduzi• 1 * • • 1 A

mos em nossa vida e que a maioria das pessoas se veem inexoravelmente preocupadas com o fascínio do mate-rialismo. Não estamos apenas hipnotizados pela atração das coisas, mas também emaranhados e envolvidos pelas dificuldades em liquidar nossas dívidas. E como se isso não bastasse, mais tarde percebemos que essas coisas não contribuem quase nada para nossa felicidade, e que, na maioria dos casos, tornam-se um problema para nós. Não as possuímos, elas é que nos possuem. Ficamos escravizados, aprisionados no torve-linho de uma economia baseada no

desperdício e no desuso. Jesus ensinou claramente que esse tipo de aquisição iria sufocar a boa Palavra no terreno de nossa vida. Comparada com as tolas exigências de nossa sociedade toda voltada para o consumo, a Palavra de Deus, às vezes, parece até absurda. O mundo está gritando insistentemente: “Compre! Adquira! Possua!” E Cristo vem depois e diz: “Dê! Dê! Dê!” O mundo diz que nossa felicidade está nessas coisas, desde sexo a espaguete. Cristo diz que nossa paz é conhecê-lo. O mundo nos diz: “Conquiste a atenção de todos, mostre que você tem sucesso pelas coisas que possui — todos ficarão impressionados com você. Mas Cristo vem a nós e diz que o maior de todos será aquele que estiver disposto a ser servo. Quem está com a verdade? Onde está a resposta certa? Será que podemos mesmo produzir muito fruto para Deus, apesar de todas as pressões que sofremos? Ou será que deixaremos essa insidiosa ideologia invadir nossa vida como sementes de carrapichos trazidas pelo vento para esse terreno que foi cultivado com tanto carinho? Será que vamos permitir que as falsas filosofias de uma sociedade humanística sufoquem a plantação de valor eterno que Deus, pelo seu Espírito, deseja produzir em nossa vida? Onde está meu coração? Nas coisas ou em Cristo? Onde estão centralizadas minhas emoções? Nas coisas que possuo ou em Deus? Quais são minhas prioridades? São as ambições, ou a cooperação com a operação do Espírito de Deus em mim? A que apelos está atendendo minha alma? Aos clamores do mundo contemporâneo, ou ao chamado de Cristo, o bom Agricultor? Só sei de duas maneiras pelas quais podemos ser libertos da tirania de nosso tempo, dessa maligna e des-truidora obsessão pelas coisas. Só elas poderão limpar de nossa vida as ervas daninhas do engano humano, e poderão fazê-lo mais prontamente que qualquer outra coisa. São as seguintes: 1. Deus criou o homem para si, para ser seu filho. Ao criar-nos deu-nos a incrível capacidade não somente de comungar com ele, mas também de

conhecê-lo intimamente — de sermos companheiros seus, conformados ao seu caráter. Todo aquele que dedicar sua vida, tempo e interesse a um objetivo inferior a esse, mesmo que seja grandioso, nobre e atraente, errou completamente, perdendo todo o sentido da vida. Quando permito que minha vida fique atulhada de coisas, escravizada a elas, o resultado é que o terreno do meu ser fica atravancado e sufocado por valores transitórios — enquanto que eu poderia estar produzindo frutos de duração e conseqüências eternas. É uma troca muito infeliz. 2. Somente depois que atendo prontamente e de modo positivo às reivindicações de Cristo, apresentadas à minha vida e caráter, é que compreendo que só ele está com a verdade. Só ele possui o segredo da paz — concedendo-me força e estabilidade numa sociedade tão instável. É pela presença do poder expulsivo dessa nova afeição por Cristo, que a atração e o fascínio do mate-rialismo irão perdendo a sua força. Só então meu jardim se verá livre das ervas daninhas, e poderá produzir seu maravilhoso fruto.

Os do Terreno Bom: Frutíferos Em acentuado e dramático contraste com os três tipos de solo improdutivo e estéril que Jesus mencionou, acha-se o que ele descreve como sendo a boa terra. Ele afirmou que, quando a boa somente é plantada nesse solo bom, pode-se obter um jardim luxuriante, cheio de frutos. Em alguns casos, o retorno obtido seria da ordem de trinta vezes o que fora semeado; em outros, seria sessenta e em outros, cem vezes. Isso é realmente produtividade, e é esse tipo de retorno que o agricultor espera conseguir como resultado de seus esforços e de seu trabalho na terra. Ê importante que reconheçamos o fato de que os terrenos rochosos, ou infestados de mato e ervas daninhas, bem como os que ficavam às margens dos caminhos, eram considerados improdutivos. Esses tipos de terreno simplesmente não podiam, em sua condição natural, produzir uma safra. Não que fossem um pouco produtivos ou parcialmente produtivos. Eles não davam nada. Eram terrenos perdidos. Não havia plantação ali.

Somente um trabalho penoso e um cuidado amoroso por parte do diligente agricultor poderiam alterar a condição deles. Seria preciso um esforço tremendo com parelhas de animais e ferramentas, para que ele conseguisse arar a terra dura, retirar as pedras, roçar e cultivar a terra cheia de mato. Os torrões de terra endurecida, que sob os pés dos passantes adquirem uma consistência quase que de concreto, precisariam ser esmigalhados com arados, grades e enxadas. O terreno cheio de pedras teria que ser limpado, e as pedras teriam que ser removidas, para darem lugar à plantação. As raízes secas e os tocos de madeira da vegetação rasteira e espinhosa teriam que ser arrancados do solo; o matinho teria que ser amontoado a um canto e queimado, para que o lugar fosse preparado adequadamente e pudesse receber a semeadura. Assim, vemos que, para se transformar um terreno inculto e agreste em terra boa para o plantio, era necessário muito trabalho. Até mesmo o melhor tipo de terreno tem que ser revolvido, para que se torne depois um lugar belo. Somente ontem à tarde, ao calor brando de um entardecer do final de setembro, foi que comecei a trabalhar na preparação de uma horta, num terreno inculto, numa terra virgem onde, até esse momento, só havia espinheiros e a detestada centáurea. Nunca antes uma pá penetrara nessa terra, e ao trabalhar ali, eu senti o suor escorrer pelas minhas costas. Mas aquele trabalho foi feito com muito amor. Gosto muito da terra. Sou homem afeito às coisas da terra. Uma das grandes alegrias da minha vida tem sido pegar um terreno marginal, seja em longas extensões de campos, em grandes fazendas, ou em hortas e jardins caseiros, e colocá-lo em condições de máxima produtividade. Isso exige muito trabalho e habilidade. Mas é uma atividade altamente gratificante e empolgante. Ontem, aquele pedaço de terreno em que comecei a trabalhar talvez fosse o menos promissor de minha propriedade que fica às margens de um lindo lago. Fora invadido por matinhos. Imensos pedaços de granito despontavam aqui e ali na sua superfície. Estava cheio de emaranhadas raízes de roseiras silvestres, e um es-pinheiro grassava por toda a parte. Durante anos e anos aquela terra fora pisada por caminhantes passeando pelo lugar. Mas, a despeito de todos esses problemas e dificuldades, comecei a roçar. Trabalhei ali com alegria e esperança. Rocei aquela terra com um cântico no coração, pois não via as pedras, o mato, as

raízes secas e a terra endurecida. O que eu via era uma horta verde-jante ali, na próxima primavera. E eu transpirava abundantemente ao cálido sol do outono. Meus músculos se retesavam e se distendiam, enquanto eu revirava a terra dura. Tive de empregar muita força, dar muitos puxões para arrancar algumas raízes do solo. Logo,, logo ajuntei uma boa quantidade delas para serem queimadas. Várias vezes, minha pá bateu em pedras abaixo da superfície. Daquele pequeno pedaço de terreno, tirei vários carrinhos de mão carregados de pedra. Tive que escavar e remover o entulho acumulado durante muito tempo. Mas quando terminei o trabalho daquele dia, dei um largo sorriso. Pois uma boa área de terra já estava cuidadosamente preparada, arada, limpa e lisa, pronta para ser semeada na primavera. Dessa terra morna, no próximo verão brotará uma grande abundância de vegetação, que produzirá cestas e cestas de verduras e frutas. Haverá uma colheita mais que suficiente para nós e nossos amigos. É isso que Deus, o grande, o bom Agricultor tem que fazer em nossa vida. Por natureza, não somos “boa terra”. Mas seu olhar vai além de nossa dureza e impiedade, e ele vê o potencial de nossa alma empedernida. Ele opera em nós, cheio de amor e esperança. Nenhum de nós é duro demais para ele. Apesar de toda a nossa iniqüidade, orgulho e poluição, ele pode transformar-nos, de terra árida e desértica, num jardim bem regado. E devemos querer que seja assim. Essa transformação não é um processo fácil. Não ocorre da noite para o dia. E pode ser que a escavação, a limpeza e o cultivo nos pareçam devastadores; a disciplina a que minha alma é submetida parece severa demais. Entretanto, mais tarde, esse terreno produzirá os frutos pacíficos que ele plantou. (Ver Hebreus 12.10,11.) Existem muitos crentes que se contentam em continuar sendo terra inculta e desértica. Muitas vezes preferimos não ser tocados pela boa mão de Deus. Aliás, ficamos temerosos pela possibilidade de nossa vidinha tranqüila ser remexida pela operação profunda do seu Espirito, nos convencendo de pecado. Não desejamos passar pelas podas, cortes e penetrações poderosas de sua Palavra, com a finalidade de expor-nos à luz de sua presença. Preferimos continuar sendo o terreno cheio de mato, o solo pedregoso —

ou então os patéticos terrenos da beira do caminho. Enganamo-nos a nós mesmos, fazendo-nos crer que nosso caráter natural e nossas disposições podem produzir uma boa colheita, mesmo sem sofrer transformações. Mas não pode. Não se pode colher uva de abrolhos, nem figos de espinheiros. O bom agricultor nem vai ali à procura de fruto. Numa condição assim, não há, absolutamente, colheita. É uma perda total, tanto para nós como para Deus. O Senhor descreveu de maneira bem específica os aspectos espirituais das pessoas produtivas. São os seguintes, nas próprias palavras dele. 1. São pessoas que ouvem a Palavra e tudo o que há nela. 2. São pessoas que recebem e aceitam essa Palavra. 3. São pessoas cuja vida produz o fruto do Espírito de Deus, em seu caráter, conduta e conversação, por causa dessa Palavra. Assim sendo, devemos estudar detidamente cada um desses aspectos, para compreendermos o que foi exatamente que Cristo quis dizer. O primeiro é ouvir a Palavra. Durante o tempo em que o Senhor esteve na terra entre os homens, uma de suas grandes tristezas foi essa questão de o povo “ouvir” sua Palavra. Várias vezes, ele reiterou o fato de que “Tendes ouvidos mas não ouvis”. Ou, expressando o mesmo sentimento com outras palavras, ele afirmava que o “ouvir” tem sempre que estar associado ao “fazer”. Não bastava simplesmente uma pessoa estar diante da verdade. O ouvinte precisava dar uma resposta positiva. Para que a Palavra de Deus se torne frutífera e produtiva em nós, são necessárias três medidas bem definidas e deliberadas. São as seguintes: 1. Tenho que reconhecer que quem fala ali é Deus. Se não ouvirmos a Palavra de Deus com grande respeito, considerando-a divina, simplesmente estamos nivelando-a com a palavra de outros homens. Somente depois que chegamos a um ponto em que temos grande respeito

pelo que ele diz, é que sua Palavra pode tornar-se uma energia capaz de produzir fruto em nossa vida. Somente depois que eu realmente passo a levar Deus a sério é que sua Palavra se tornará Espírito e vida [sobrenatural) em mim. Só depois que eu admitir que aquilo que estou ouvindo é realmente uma revelação divina dada por Deus, objetivando o meu bem, é que eu a ouvirei como Palavra que vem do alto. Deus resolveu comunicar-se comigo de quatro maneiras: por meio do universo natural, criado por ele, pelo mundo que nos cerca; por meio de sua Palavra, expressa por homens inspirados por ele, e que a colocaram em linguagem humana, que posso ler e compreender; por meio da pessoa de Jesus Cristo, o Verbo que se fez carne, a palavra em forma humana; e por meio de outros homens e mulheres humildes, nos quais ele con-descendeu em habitar, pelo seu bendito Espírito. E ele pode falar-me, distinta e deliberadamente, por qualquer um desses meios, ou por todos eles. E então fica a meu cargo reconhecer isto e dizer: “O Deus, tu estás te comunicando comigo. Eu ouvirei. Reconheço que tua voz está falando comigo.” 2. Em segundo lugar, ouvir sua Palavra implica em que eu devo responder positivamente a ela. Em outras palavras, devo tomar a decisão de agir de acordo com ela. Tenho que pôr de lado seja o que for que ocupa minha atenção naquele momento, e voltar todo o meu interesse para o Senhor. De nada adianta eu dar só metade da minha atenção a Deus. Ele exige toda a minha concentração na mensagem que ele está'-me transmitindo no momento. Ele sabe que se eu der menos que isso, o resultado será menos consagração. Se não agirmos assim, a semente da Palavra será simplesmente arrebatada pelas aves. Não estaremos realmente crendo nela. Ela caiu em solo rochoso. Ou então, achamo-nos muito envolvidos por outros interesses, que a sufocam. 3. A terceira medida para realmente ouvirmos o que Deus fala implica em

que pronta e rapidamente corramos para fazer aquilo que ele determina. Uma resposta positiva resulta em ação imediata. Sua vontade é feita. Seus desejos são executados; são obedecidos com alegria. Suas ordens também são executadas sem demora e sem discussões. Em resumo, eu faço aquilo que ele me pede para fazer. Isso é fé ativa — é a fé da obediência. *

E o portão de entrada para o bom terreno do jardim de Deus. Isso é ouvir a Palavra de Deus e fazê-la brotar. E Deus implantando a boa semente de suas boas intenções no solo quente, aberto e preparado de minha alma. E essa semente germinará. As plantinhas vingarão e crescerão bem vigorosas. E produzirão muito fruto, segundo a vontade dele — uma colheita que alegrará o coração de Deus e será bênção para os outros. A segunda característica marcante da terra boa, segundo Jesus, é que ela recebeu a Palavra. O termo “receber”, é um dos que empregamos demasiadamente nos círcu|los evangélicos, sem parar para ver o que ele realmente significa. Falamos sobre “receber” perdão. E da mesma forma falamos sobre “aceitar” Cristo, ou “aceitar” a salvação, sem compreender bem todas as suas implicações e as responsabilidades envolvidas nisso. Na maioria das vezes, “receber” e “aceitar” traduzem a idéia de pegar da mão de alguém algo que ele nos oferece de presente. Mas a verdade é que receber ou aceitar, no sentido espiritual, ultrapassa em muito este conceito limitado. Primeiro, isso significa que devo ter uma atitude receptiva, aberta e responsiva para com Deus e sua Palavra. Não pode haver nem relutância nem resistência de minha parte.

Isso significa que minha mente, emoções, disposição e espírito acham-se abertos à operação divina — significa que sou um solo friável, preparado por uma operação interior, profunda e diligente do Espírito de Deus, pronto para receber e aceitar a semente de sua Palavra que ele lança em mim. Se sou uma pessoa de mente fechada, de fortes preconceitos, com dúvidas difíceis e profundas, com idéias preconcebidas acerca das verdades eternas, está claro que não me encontro preparado para receber a revelação divina. A Palavra de Deus, plantada em mim, dará em nada. Será esperdiçada, levada pelas aves da incredulidade, do ressentimento pedregoso ou pelas ervas daninhas do mundanismo. Então, receber a Palavra de Deus significa acolhê-la no coração. Tenho que estender a mão da fé e pegá-la, aceitá-la ansiosamente — pronto para assimilá-la, incorporando-a ao solo de minha vida diária. Ela não é uma filosofia peculiar, rebaixada ao plano de um ritual religioso, praticado uma ou duas vezes por semana. Não. Essa palavra vital é uma semente que deve germinar logo no solo bom de minhas experiências diárias com Cristo. A idéia de receber a Palavra de Deus está associada também com uma total disponibilidade de minha parte para com ela. Todo o terreno da minha vida precisa estar ao alcance dela. Numa boa horta ou jardim, não pode haver pontos onde ainda restem pedras. Não pode haver cantinhos diferentes do resto, ainda infestados de mato, sufocando a plantação. Não pode haver trilhos de terra batida onde nada cresce. O terreno todo tem que ser arado e revolvido. Todo o solo tem que estar preparado para produzir fruto. Isso leva tempo, mas tem que ser feito. O Espírito de Deus é muito persistente. O bom Agricultor tem que ter total liberdade para controlar o local. Cristo vem e ocupa toda área que pode ser arada. O que revela até que ponto um bom terreno recebeu e reagiu positivamente à boa semeadura é a quantidade de solo que ainda se encontra à vista; quanto menos, melhor. Toda a área semeada deve ficar coberta, tomada por uma luxuriante vegetação. Quem olhar para ela verá, não o solo, mas a abundante produção dele.

O mesmo se aplica à nossa vida. Se verdadeiramente recebemos a boa Palavra, e a vida de Cristo está crescendo em nós, o que ficará visível aos outros é o fruto de seu caráter, o aroma de sua conduta. É certo e adequado, num livro como este, fazermos um parêntese aqui para explicarmos rapidamente e em linguagem simples, o que queremos dizer quando falamos em receber a Cristo. Pois ele foi e é o “Verbo Encarnado”, isto é, “o Verbo de Deus manifesto, expresso visível e audivelmente em forma humana”. O amado apóstolo João, já idoso, escrevendo aos cristãos, no crepúsculo de sua existência, afirmou o seguinte: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus.” (Jo 1.11,12.) Desde aquele momento dramático da história humana, em que Adão, o cabeça de toda a raça humana, se recusou categoricamente a realizar os melhores anseios de Deus para ele, toda a humanidade ficou contaminada por um mal, a vontade própria, que a leva a pecar. Mas apesar do nosso orgulho, iniqüidade e impureza, que resultam de nosso pecado e do nosso egoístico egocentrismo, Deus veio a nós para salvar e reconciliar consigo homens e mulheres desviados. Todos os esforços e tentativas do homem para regenerar-se e colocar-se novamente em presença de um Deus infinitamente santo, justo, reto e amoroso ficam aquém do objetivo, e por isso ele é incapaz de obter sua própria redenção. O próprio Deus teve que intervir em nosso favor. Ele resolveu atuar ele mesmo como o supremo substituto, o único que poderia redimir nosso erro e expiar nossos pecados. E ele fez isso na pessoa de seu Filho, Jesus Cristo, o Salvador do mundo. Ele ê a Palavra, a expressão visível de um Deus invisível. Esse “Deus encarnado” veio ao mundo para viver, andar entre nós, servir e morrer — para depois ressuscitar e voltar à sua antiga glória. Esse “ato perfeito” e a “morte perfeita” de Deus em Cristo, pois que era o ato e a morte do Infinito Deus, bastam para todos os homens, mesmo que sejam bilhões e bilhões de seres humanos.

A boa-nova de nossa salvação, perdão e aceitação diante de Deus consiste no fato de que o próprio Deus fez tudo o que é necessário para livrar-nos do problema que nossos pecados e vontade própria constituíam para nós. Pelo seu sangue derramado, seu corpo partido e pelo sacrifício completo, realizado em nosso favor, ele pagou o preço de nossa iniqüidade, orgulho e impureza. Não importa qual a área de nossa vida em que pecamos. No Calvário, aquele que era Deus, o verdadeiro Deus, morreu por nós fisicamente, a fim de expiar os pecados que praticamos na carne. Morreu moralmente. Ele que não conheceu pecado, foi feito pecado por nós, a fim de que pudéssemos nos tornar moralmente justos, pela sua justiça; e morreu espiritualmente, experimentando uma separação total de seu Pai, que significou para ele provar a hediondez do inferno, a fim de expiar nossos erros espirituais, e solucionar o problema de nossa separação de um Deus amoroso. E é com base nessa transação gigantesca, que se encontra acima da capacidade de compreensão de qualquer homem, que somos chamados a recebê-lo como o rei divino. Somos insistentemente chamados a aceitá-lo como único meio de nos reconciliarmos com um Deus amoroso. E nós o recebemos como nosso Salvador. Esta é a obra suprema e objetiva de Deus, feita em nosso favor, para que sejamos justificados em sua presença. Ele atuou na História em nosso favor. Agora ele pede que o recebamos, acolhamos e o aceitemos, que creiamos e confiemos nesse Cristo vivo, que se deu a si mesmo por nós, por sua morte, a fim de que pudéssemos viver pela sua justiça. Por causa de sua generosidade, a sua justiça nos é imputada (isto é, nos é creditada). Entretanto, Deus não fica só nisso. Ele vem até nós, no presente, e nos conclama a recebê-lo como rei. Deus, o verdadeiro Deus em Cristo, pelo seu Espírito, vem a nós e solicita o privilégio de entrar em nossa vida, e nela permanecer como o Residente real. “Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele e ele comigo.” (Ap 3.20.) A pessoa que assim recebe, aceita e convida a Cristo para que, pelo seu Espírito, entre em sua vida, deve também reconhecê-lo como Senhor de sua vida, e recebê-lo como seu Soberano.

E o soberano Espírito do Deus vivo, residindo em nós, que realiza sua suprema obra subjetiva em nossa vida, remodelando-nos. E ele quem nos renova e nos recria. Isso constitui a base para o nçvo nascimento e a nossa santificação diante de Deus. É uma alegria, uma grande satisfação para ele conformar-nos à imagem de Cristo. Ele, o bendito Agricultor, é quem realiza uma obra profunda em nossa vida a fim de produzir em nós os frutos e atributos de seu próprio caráter. Foi a isto, a esta operação interior, que Jesus se referiu, quando disse que o terceiro aspecto da boa terra era: “estes frutificam”. Isto significa que há reprodução. Na verdade, Deus reproduz no caráter humano os atributos de sua própria personalidade. Por exemplo. Sabemos que ele é o Deus misericordioso. Segue-se, portanto, que no momento oportuno a misericórdia se tornará uma característica do homem ou mulher em quem ele habita, e no qual opera. A Bíblia nos diz, por exemplo, que a boa semente do amor de Deus (altruísmo] é derramada em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi outorgado. (Ver Romanos 5.5.) Assim sendo, é certo e perfeitamente válido esperarmos que esse tipo de amor altruísta e abnegado brote na vida do crente, e nela se manifeste. f

E importante observarmos, também, que Deus espera que esse amor seja parte integrante de nosso caráter. Gomo já afirmamos anteriormente, neste livro, o principal critério pelo qual Deus e os homens podem saber se somos ou não verdadeiros cristãos são os frutos que produzimos. A base pela qual podemos obter uma evidência prática de que uma pessoa recebeu a Cristo como seu Salvador e Senhor é a reprodução dos frutos do caráter de Deus na vida dessa pessoa. Simplesmente tem que haver algo da imagem de Cristo nela, como prova de que Deus está realmente operando em seu coração. É por essa razão que essa sociedade cética, muitas vezes, acusa a Igreja de hipocrisia. Ela procura ver, naqueles que se dizem cristãos, atitudes de caráter e de comportamento semelhantes às de Deus. Se não as vê, então conclui, naturalmente e com certa razão, que aquele indivíduo, embora freqüente uma igreja, é hipócrita, é um falso cristão.

Foi por isso que o Senhor teve uma atitude tão severa e dura ao denunciar os escribas, fariseus e sadu-ceus de seu tempo. Eles fingiam ser tão santos. Contudo, interiormente, achavam-se moralmente podres pela corrupção, ambição e orgulho. A vida deles era totalmente falsa. Não eram uma boa terra. Não havia fruto de santidade neles. Jesus disse o seguinte a Nicodemos, um religioso fariseu: “Você precisa nascer de novo — ser refeito, recriado.” Na segunda parte desta obra, iremos examinar detidamente cada um dos frutos do caráter de Deus. Veremos como cada um se manifesta no modo como ele trata conosco, e veremos os efeitos deles em nossa vida — em nosso relacionamento com outros e com o próprio Deus. Estudaremos, também, os meios e métodos que o Senhor emprega para reproduzir em nós cada um deles. Mas antes de vermos isso, é importante enfatizarmos aqui que o elemento essencial para que a boa terra se torne produtiva sob a operação de Deus é a obediência, a submissão de nossa parte. A obediência não é um assunto muito bem aceito em nossa sociedade permissiva, desordeira e indisciplinada. A maioria das pessoas prefere fazer o que tem vontade, viver sua própria vida, seguir seu próprio caminho. Isso é o egocentrismo em seu pior aspecto. Essa atitude é absolutamente fatal para a frutificação. É a receita certa para a esterilidade, e seu fim é desolação e desespero. E bom notar que o Espírito de Deus só é concedido àqueles que lhe obedecem (At 5.32). Ele não entra na vida de quem se acha em atitude de rebeldia ou ressentimento contra ele, e tampouco habita nesse coração. Ele é soberano e espera de nós, busca em nós, conta com nossa total cooperação e submissão às suas ordens, em todos os aspectos de nossa vida. Se realmente amamos a Cristo e a Deus, não somente nos esforçaremos para realizar todos os seus desejos e vontade para nós, mas também desejaremos profundamente a mesma coisa. Leia-se João 14 e 15 para comprovar isso. A verdade é que, cinco minutos de obediência a Deus, em qualquer momento de nossa vida, produzirão mais frutos para uma existência reta do que cinco anos de discussões teológicas ou doutrinárias, que somente resultam no manuseio indevido da verdade.

Minha parte nessa obra é permitir, sem resistência nem impedimentos, que ele faça sua vontade em mim, sempre que ele revelar novos aspectos de minha vida nos quais desejá operar. E, à medida que ele for obtendo mais e mais terreno, cada vez mais firme e seguramente, a colheita produzida irá aumentando gradualmente de trinta, para sessenta e para cem por um. Quanto maior for a área de obediência que eu der a ele para que seja cultivada, maior será a produtividade. Assim poderá haver uma abundante colheita de fruto divino, pela grande habilidade do Agricultor e minha humilde, simples e sincera submissão à sua operação em meu interior.

SEGUNDA PARTE As Nove Facetas do Amor de Deus

Amor, a Vida de Deus Há tanta coisa escrita sobre o amor de Deus que quase hesito em abordar esse assunto mais uma vez. Alguns dos maiores santos de Deus já estudaram diligentemente esta questão, e tão bem o fizeram, que me parece que tudo quanto poderíamos dizer, já foi dito. Entre essas obras, talvez a mais bela e poderosa seja a de Henry Drummond, The Greatest Thing in The World (a coisa mais grandiosa do mundo). Qualquer um que se empenhar em ler esse trabalho atentamente e em oração, uma vez por semana, durante três meses, verá seu caráter transformar-se e ganhar nova cor, pela operação do Espírito Santo de Deus. Amor, o Primeiro Fruto Apesar de tudo que já se disse e se escreveu sobre o amor de Deus, precisamos examiná-lo aqui. E o primeiro e mais importante dos frutos do Espírito. Ele não é apenas “um dos frutos”. É mais que isso; muito mais. Na verdade, ele constitui a essência da vida de Cristo, que se expressa nos nove frutos relacionados tanto em Gálatas 5.22,23, como em 1 Coríntios 13.1-7. O amor de Deus é a própria vida dele. E essa vida, se tiver condições de desenvolvimento na boa terra do solo bem cultivado de nossa alma, irá prosperar e frutificar de várias maneiras. Nem sempre ela se expressará exatamente da mesma forma, e com a mesma intensidade. Cada um de nós é diferente dos outros em sua maneira de manifestar a vida divina. Entretanto, a presença dessa vida em nosso interior é sempre demonstrada pela produção de fruto sobrenatural, em nosso exterior. Esse fruto procede do alto, e só do alto. Não é algo que posssamos fabricar, por nós mesmos. A vida de Deus, que se resume no amor dele, só se origina em Deus, e sempre nele. Como uma boa semente plantada no solo bom de uma horta, ele procede de uma fonte exterior à horta. Ele não brota, nem pode brotar, espontaneamente do solo de nossa alma e espírito.

Talvez alguns teólogos e mestres queiram dizer-nos que existe no homem uma semente de bondade que, se for adequadamente cultivada e cuidada, poderá desenvolver-se aos poucos, até que, afinal, atinja o nível do divino. Isso pode até agradar nosso orgulho humano, e satisfazer nosso egoístico interesse de autode-senvolvimento. Mas não é o que a Palavra de Deus ensina. Nem é uma teoria endossada pelo Senhor. Em toda a Bíblia, o Espírito de Deus está sempre afirmando que nossa natureza humana não é reta e que não somos pessoas naturalmente boas que poderiam, se assim o desejassem, produzir frutos bons. O quadro de nós mesmos que ela nos apresenta mostra, em linguagem bem clara, que a vida divina do Deus vivo tem que ser implantada em nosso espírito. A semente da própria vida de Cristo pode germinar em nosso ser, desenvolver-se e dar fruto excelente, se assim o permitirmos. “O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.” (Jo 6.63.) Logo que a boa semente do Espírito de Deus germinar no terreno da minha vida, ela irá desenvolver-se e amadurecer. Eventualmente, o fruto produzido amadurecerá. Em algumas pessoas, a produção será de trinta, sessenta e até cem vezes a quantidade plantada. O Amor Está na Raiz. O admirável amor de Deus foi produzido sobrenaturalmente no ser humano, pela operação divina. Deus contempla o trabalho e esforço de sua alma e fica contente. Ele obteve uma boa colheita. O homem do mundo olha para aquilo e é obrigado a confessar consigo mesmo: — Este aqui é filho de Deus! Ele é diferente — definida e distintamente diferente. Precisamos reafirmar aqui que podemos ter o amor de Deus em nós, na medida em que temos em nós o próprio Deus. Ele não concede os frutos do Espírito separadamente de si mesmo. Em outras palavras: só possuo o amor de Deus, se Deus estiver vivendo sua vida em mim, por meu intermédio. Ele não me dá seu doce fruto como se fosse presente, envolto em papel brilhante, belamente embrulhado. Pode ser

que alguém ore para que isso aconteça, pensando que acontecerá. Mas não acontece. Está enganado quem pensa que isso se passa dessa maneira. Quando pedimos a Deus que nos dê os benditos frutos de seu Espírito, ele no-los concede sempre e apenas com a presença de sua pessoa em nós, em medida sempre crescente. Quanto mais eu tenho de Cristo, tanto mais tenho de seu amor. Quanto mais tenho Deus em mim, tanto mais tenho sua bondade. Quanto mais tenho o Espírito Santo, mais tenho da sua perfeição. E toda a justiça, perfeição e bondade da vida de Deus encontram expressão plena em mim, de uma forma ou de outra, nas nove facetas de frutificação relacionadas pelo apóstolo Paulo em Gálatas 5.22,23. Permitam-me dar uma ilustração, a fim de explicar exatamente o que quis dizer com isso. Uma espiga de trigo, cevada ou aveia pode conter nove grãos distintos e separados. Cada grãozinho difere dos outros em formato, tamanho e conteúdo. Entretanto, todos os nove procedem da mesma fonte. E todos são trigo, cevada ou aveia, dependendo da planta que os produziu. Um pode ser um grão redondo, sadio; outro pode ser um pouco mirrado e seco. Mesmo assim são grãos de aveia ou de trigo ou de cevada, pois brotaram todos do mesmo pé, originando-se todos da mesma semente. Podemos fazer uma ilustração semelhante com um cacho de uvas. Se o cacho contém nove bagos, todos são a mesma fruta, mas cada um será diferente dos outros, ainda que apenas ligeiramente, em tamanho, formato e gosto. Uma uva pode estar totalmente madura, suculenta e doce, bonita e saborosa. Mas no mesmo cacho pode haver várias uvas que talvez ainda não estejam bem maduras, mas meio verdes, azedas, e talvez até murchas ou ressequidas. Mesmo assim, são todas uvas, que brotaram de um mesmo galho, da mesma parreira. O mesmo se dá com a vida de Deus, com o amor de Deus, que talvez tenha brotado no pé da vida do Espírito em nós. A uva da alegria, por exemplo, pode estar plenamente desenvolvida e madura em mim, ao passo que a da paciência se acha mirrada, azeda e murcha.

Com esta idéia em mente, vamos analisar agora o amor de Deus, examinando-o por uma luz prática, que o retira do plano da teoria pura e simples, do plano da Teologia, da torre de marfim da doutrina. Vejamos a vida de Deus retratada em realidades práticas, da vida diária, que podem produzir frutos de um viver íntegro (santo) e reto (justo). Amor é Autonegação. Para começar, é muito importante mostrarmos aqui que o amor de Deus, tantas vezes mencionado no Novo Testamento, é autonegação. Ele é autodoação. E auto-sacrifício. Implica em prejuízo próprio. É desprendimento. E dedicação a servir a outros. Esta forma de amor teve sua mais elevada e sublime expressão na vida e morte do Senhor Jesus Cristo. Ele foi a manifestação visível, de um Deus invisível, para a humanidade. Ele foi, na verdade, uma demonstração objetiva do amor de Deus. Sua extraordinária vida revelou ao mundo a verdadeira natureza de Deus. Não havia melhor modo de ele manifestar seu caráter. Ficou então demonstrado que o amor e a vida de Deus são uma coisa só. Um não pode existir separadamente do outro de maneira alguma. É por isso que o apóstolo João não hesita em dizer: “...Deus é amor” [1 Jo 4.8). Esse tipo de amor, um amor dessa qualidade, não pode ser confundido com amor erótico. Nem pode ser comparado ao amor filial. Esses dois tipos também têm sua origem em Deus. Foi ele quem os criou e fez deles aspectos da maravilhosa inter-relação familiar, que tornam a vida em família uma experiência tão maravilhosa e agradável. Mas o amor de Deus, que no grego é identificado pela palavra agape, é essencialmente desprendimento, e toma corpo em nove facetas distintas. Objetivando maior simplicidade e clareza, vamos transcrever esses nove frutos de um mesmo cacho ou de uma mesma espiga, da seguinte maneira:

GÁLATAS 5.22,23 1 CORÍNTIOS 13.1-7 1. Amor 2. Alegria 3. Paz 4. Longanimidade 5. Benignidade 6. Bondade Não busca seus próprios interesses, não é egoísta ou egocêntrico. O amor não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade. O amor não se exaspera, mas é sereno e estável. O amor é paciente; é benigno. O amor é misericordioso, interessado, tem consideração pelos outros; não inveja. O amor é maravilhoso, cheio de graça, generoso; é bondoso e terno. O amor não é malicioso, mas tem fé em Deus e nos outros. 7. Fidelidade 8. Mansidão 9. Domínio próprio O amor é humilde e meigo; nunca se exalta a si mesmo. tf

O amor é disciplinado e controlado. Não se porta inconvenientemente. Basta um exame superficial do conteúdo do amor de Deus para que constatemos que nos achamos diante de um importantíssimo princípio de vida. Estamos vendo a dimensão divina da vida, um modo de vida radical. Deus afirma que poderá brotar dentro de nós um enorme e irresistível

desejo de nos tornarmos semelhantes a ele, que ê amor... para que se reproduza em nós o fruto de sua vida. O Amor é a Própria Vida de Deus. Se parássemos por um momento a fim de refletirmos sobre os resultados de tal amor em nosso mundo, isso já poderia ser a primeira semente com um embrião espiritual a ser lançada no solo de nossa alma. Transcrevo aqui um trecho de um outro livro meu, Rabboni. “Em todos os empreendimentos a que se dedica este triunvirato, sente-se no seu planejamento uma perfeita coordenação de conceito e uma suprema unidade de propósito. Ao contrário dos empreendimentos humanos os seus nunca se caracterizaram pela discórdia. Não existem conflitos ali, simplesmente porque não há interesses egoístas. No relacionamento de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, o amor fluía incessantemente em sua forma mais sublime. Aliás, esse amor possui uma tal pureza, que constitui a substância de seu ser. É a essência de seu caráter. “Nós, humanos, não podemos imaginar um relacionamento tão sublime, sem o menor traço de auto-afirmação, e sem motivos secundários ou autosatisfação. Mas esse é o segredo da força de Deus. Nele está demonstrada a força irresistível do desprendimento total. E é nessa total autodoação de um para os outros, neste profundo interesse pelos outros, que se acha o amor eterno. Isso é amor em seu mais alto nivel; amor em sua origem mais elevada. Isso é amor, a fonte original de toda energia. “Assim como no interior de um átomo existe um fabuloso volume de energia devido à interação dos nêutrons, prótons e elétrons, assim também havia uma energia ilimitada na Trindade, devido à inter-relação entre o Pai, o Filho e o Espírito. E a essência dessa energia é amor. “Nesse mundo exterior, na força motriz, a energia que inspira cada ação é o amor. O amor representa as fibras que, tecidas, formam cada aspecto da vida de Cristo. Aliás, ele foi a matéria-prima utilizada para a formação e criação de todas as outras matérias. “Isso pode parecer um pouco confuso para o leitor, ou meio difícil de acreditar. Mas se pararmos um pouco para encontrarmos paralelos em

nosso planeta terra, logo veremos este conceito em termos práticos. Qual é a força mais irresistível da terra? O amor! O que destrói completamente os preconceitos e edifica ligações eternas? O amor! O que une as pessoas numa devoção indestrutível? O amor! “Em que se baseiam todas as ações generosas e atos de bondade? No amor! Qual é a fonte de energia para homens e mulheres que alegremente vivem e morrem um pelo outro? O amor! O que realmente mobiliza o coração e a mente do homem em seus mais nobres e elevados intentos? O amor! E se isso pode ser dito acerca de homens mortais, egoístas, quanto mais da própria vida de Deus, que é a vida de Cristo?” Obviamente, esse amor não é algo insípido e sentimental. Ê forte como aço; resistente como tungstênio e eterno como um diamante. Ele é a essência do eterno. O amor de Deus é nada menos que a vida de Deus em nós derramada abundante e constantemente. É ele que dá energia ao cosmos. Só poderemos sentir e saber que nos achamos imersos na grandiosa vontade de Deus, quando nos encontrarmos em plena harmonia com seus objetivos. Somente então é que provaremos a satisfação de estarmos nos movendo firme e fortemente na direção dos supremos desígnios de Deus. Aí, até os menores detalhes da vida passam a ter um sentido, um propósito para nós. Minha Experiência O leitor poderá indagar como se pode chegar a um ponto em que se recebe esse amor — como se pode abrir a vida para deixar que essa outra vida, essa vivi-ficação divina em um plano mais elevado, entre no solo de nossa alma. Talvez, se eu narrar minha experiência, alguns possam entender um pouco melhor. Quando já me aproximava dos quarenta anos de idade, começou a penetrar em meu espírito uma forte sensação de que faltava algo de muito importante em mim. Mas não era nada da esfera do material ou moral. Eu tinha uma linda esposa, a quem amava profundamente. Tinha filhos sadios, inteligentes e muitos bons. Os negócios em que investia minhas forças e energias estavam indo muito bem. Já conquistara minha independência financeira e material. Todas as metas que eu me propusera na juventude já

haviam sido alcançadas e até ultrapassadas. Mas, apesar de todo esse sucesso aparente, bem no fundo de minha alma havia uma iniludível certeza de que eu estava errando no que era essencial. O objetivo principal pelo qual eu fora colocado neste planeta estava sendo ignorado. Eu simplesmente não estava seguindo a corrente da vontade de Deus para mim, que era o melhor que poderia fazer. Foi então que se iniciou em meu interior a luta para descobrir qual era o problema. Qual era a dificuldade? Talvez devido à minha forte vontade própria, meus fortes impulsos, ou mesmo à lentidão de minha alma rochosa, parecia que eu não conseguia perceber que vivera, até ali, seguindo objetivos bastante egoísticos e egocêntricos. Eles tinham controlado minha vida até então. Meu mal se originava na falta dè^imor — do amor de Deus — na ausência de desprendimento e auto-doação para o Senhor e para os outros. Mas logo que percebi em mim este grande vácuo espiritual, um vazio interior pela ausência da vida divina — do amor de Cristo — brotou em mim um forte e insaciável desejo de que o Espírito Santo penetrasse em minha alma. Somente ele poderia satisfazer esse grande anseio de frutificação e produtividade. A crise ocorreu num cálido dia de outubro, quando me encontrava no sopé das Montanhas Rochosas. Eu fora dar um passeio a pé, sozinho, sentindo o espírito angustiado. Pus-me a caminhar à beira de um precipício, sobre altos penhascos. Lá nas profundezas dele corria um regato de águas límpidas e frias. Ele nascia nas montanhas que brilhavam ao longe, para o oeste, brotando de seus picos cobertos de neve, de suas geleiras. — O Deus! clamei das profundezas do meu coração. Vem inundar meu espírito, minha alma, todo o meu corpo e meu ser. O Cristo, entre em mim como este rio de neve derretida, que vem lá do alto e penetra pelo vale a dentro. O Espírito do Deus vivo, derrama-te no solo seco e estéril de minha alma. Derrama abundantemente, em mim, a vida de Deus — o amor de Cristo. Transforma-me em boa terra, na qual a semente de tua Palavra possa germinar, criar raízes, desenvolver-se e prosperar. Aquele foi o clamor de meu coração, um grito de total desespero. Fiquei

caminhando naquele trilho estreito à beira do abismo durante cinco horas, numa total angústia de alma. E se alguém já teve fome e sede da justiça — da vida justa de Deus — esse alguém fui eu, naquele dia. E a resposta do Senhor, terna e bendita, embora me deixasse atônito, foi uma surpresa para mim. — Se você concordar com meus desejos, se obedecer às minhas ordens, se cooperar com os meus desígnios, então me darei a você abundantemente. Eu darei a mim mesmo, minha vida, meu amor, meu Espírito completamente àqueles que me obedecerem. Isso significava que eu teria que modificar minha ordem de prioridades. Não poderia mais viver para mim, mas para ele e para seus interesses. Ali começava um relacionamento totalmente novo com Deus. E na medida em que fui concordando com seus desejos em todos os momentos da minha vida diária, a vida e o amor dele inundaram-me a fim de produzir fruto eterno e duradouro. Analisando agora todos esses anos que se passaram de lá para cá, fico maravilhado com a generosidade de Deus. Ele tomou uma vida estéril e improdutiva, e, pela sua infinita graça, tornou-a abundantemente produtiva. E ele fará o mesmo a todos aqueles que se dispuserem a abrir o coração com seriedade e sinceridade, possibilitando a sua presença neles.

Alegria na Vida do Crente Na grandiosa e profundamente tocante profecia de Isaías, foi predito que quando Cristo viesse ele daria a seu povo “óleo de alegria”, em vez de pranto (Is 61.3). A alegria sempre foi uma das mais importantes características do povo de Deus. E uma qualidade de caráter, muito peculiar, que às vezes ê confundida com felicidade. Alegria e felicidade não são a mesma coisa. Cada uma brota de uma fonte totalmente diversa da outra. Uma procede do mundo que nos cerca. A outra origina-se diretamente do Espírito do Deus vivo. A felicidade é contingência daquilo que nos acontece, e, muitas vezes,depende das circunstâncias. Acha-se indissoluvelmente ligada à conduta de outras pessoas, com a seqüência dos eventos de minha vida, ou com as circunstâncias nas quais me encontro. Se essas coisas estão indo bem, de uma forma ou de outra, posso dizer que sou “feliz”. Mas, se por outro lado as circunstâncias me são adversas, as pessoas dizem que sou “infeliz”. Na maior parte das vezes, “feliz” ou “felicidade” são palavras que estão bem de acordo com o mundo. Raramente são usadas nas Escrituras (cerca de seis vezes no Novo Testamento e umas dezesseis no Velho). E geralmente quando são empregadas têm o sentido de afortunado, bendito. Um exemplo disso é o texto do Salmo 144.15: “Bemaventurado (feliz) é o povo cujo Deus é o Senhor.” A Natureza da Verdadeira Alegria Por outro lado, a palavra alegria aparece na Bíblia sob diversas formas, tais como “gozo” ou “regozijo” (cerca de oito vezes mais que felicidade). Ela como que palpita nas Escrituras, como uma profunda e maravilhosa qualidade de vida que fica acima dos eventos e infelicidades que possam rondar a vida do povo de Deus, que transcende essas coisas. A alegria é uma dimensão de vida divina, que nunca ê abalada pelas circunstâncias.

Ela brota na vida de alguém devido à presença de Deus nele. Várias vezes ela é designada pela expressão “a alegria do Senhor”, ou “alegria no Espírito Santo”. Ela não depende absolutamente das pessoas que nos cercam, nem do curso dos acontecimentos de nossa vida, nem das circunstâncias em que nos encontramos, quer sejam felizes ou calamitosas. A alegria é um dos grandes atributos do próprio Deus. É parte integrante de seu caráter. Ela é como um rio cristalino de benevolência que corre no meio de sua natureza. Sendo ele o Deus de todo o gozo, ele se regozija em todas as suas realizações. Quando compreendemos que Deus, nosso Pai, é realmente assim, ele se torna ainda mais querido para nós, de uma forma muito agradável. Ele não é aquele juiz austero, severo, temível, que se acha tão distante e separado de nós, na agonia de nossa angústia humana. Mas ele é uma pessoa que se interessa por nós, anseia por nós, que nos procura, e, quando nos encontra, ele nos arrebanha para si, com inexprimível alegria. Ele é o bom agricultor que trabalha em nós, e cuida de nós com um carinho constante. Depois ele espera pacientemente que produzamos fruto. Ele se alegra ao plantar, e aguarda ansiosamente a colheita. E é com grande alegria que recolhe os frutos. Em tudo que ele faz há profunda alegria. Em tudo que ele empreende, há grande entusiasmo. Em todas as suas realizações, há uma doce satisfação. E a sua vida, sua energia vital, seu entusiasmo e sua força nos são diretamente transmitidos pelo Espírito Santo que em nós habita. E o que garante minha alegria é justamente o conhecimento que ele tem de mim, é o tratamento cuidadoso do solo do meu ser, e o seu interesse pelo meu bem-estar, o cultivo do meu caráter pela sua mão de amor, sua constante presença no jardim de minha vida. E pouco a pouco vou descobrindo que ele é digno de toda a minha confiança. E então aprendo que, por mais imprevisíveis que sejam as pessoas, ou mais irritantes que sejam os acontecimentos, ou por mais esmagadoras que as circunstâncias possam parecer, ele está sempre ali (aqui], e é totalmente digno de confiança.

E assim, pela sua total integridade, absoluta honestidade e amor constantemente demonstrado por mim, como filho dele, sinto-me inundado de alegria. A Associação Alegria-Amor Ê disso que Paulo está falando ao escrever sobre o amor, em 1 Coríntios 13: C é 4• • 1 1 9 t

O amor regozija-se com a verdade. Esse é o amor de Deus, a vida de Deus fundamentada e alicerçada sobre seu caráter infalível. Ele não pode trair nem a si mesmo, nem aos que se encontram aos seus cuidados. Ele tem sempre que tirar o melhor de cada vida que se encontra sob seu cuidado. Isso absolutamente não pode ser de outra forma. E é nisso que reside nossa alegria. Ele faz tudo bem. Ele pode fazer muito mais do que aquilo que pedimos ou imaginamos. Ele pode transformar em bem aquilo que nos parece mal. Ele pode transformar nossa vida árida e desértica num glorioso jardim. Ele sente alegria em realizar essa obra de amor. E é em meio a esse processo divino de derramar em nós sua própria vida, que a alegria brota do solo pedregoso, endurecido, e cheio de ervas daninhas: a alegria de saber que ele está operando em mim e que me acho sob seus cuidados. Lenta, mas seguramente, a semente de sua boa Palavra começa a germinar no solo de minha vida. Assim brota, na aridez de minha alma, uma vida nova, com valores novos, princípios e conceitos novos, todos baseados na verdade, nas realidades de Deus em Cristo. Coisas que antes pareciam tolices e inutilidades à minha mente formada segundo o mundo, de repente começam a fazer sentido. Verdades espirituais que me são transmitidas e plantadas em meu espírito pelo Espírito de Deus, criam raízes e se desenvolvem. Meu espírito ê inundado por uma enorme alegria em Deus, a alegria de haver encontrado a verdade, de haver

descoberto a verdadeira dimensão de vida, uma vida profundamente satisfatória, expulsando o ceticismo e o cinismo de antes. Talvez seja bom pararmos aqui para explicarmos por que as pessoas, distanciadas de Deus, se tornam céticas. Alguns não entendem por que a maioria dos homens e mulheres não possuem uma alegria genuína, apesar de a humanidade sempre buscar a felicidade. Um indivíduo pode alcançar pleno sucesso na vida e ainda assim sentir-se frustrado interiormente. Essa pessoa não encontrou alegria, o elemento duradouro que transcende em muito a felicidade transitória desta vida. Alegria Versus Felicidade A felicidade é uma coisa extremamente vulnerável. E incerta e insegura. Na melhor das hipóteses, ela se firma em terreno imprevisível e inseguro. A felicidade que temos nas pessoas pode ser desfeita como um frágil envólucro. Até mesmo os nossos familiares, os amigos queridos e nossos colegas nos negócios podem enganár-nos. Há casos de pessoas que se amavam muito, mas depois passam a odiar-se e desprezar-se mutuamente. A confiança passa a ser desconfiança. Uma felicidade que se baseia em riquezas e posses ou propriedades é muito sujeita a riscos. Tudo nesse mundo (com exceção de Deus) acha-se sujeito a variações e flutuações dos costumes e da moda. As forças inexoráveis da deterioração, desvalorização e depreciação operam em toda parte. Muitas vezes, uma pessoa emprega todo o seu tempo, energias e idéias em acumular posses, somente para vê-las se esboroarem diante de seus olhos. Em muitos casos, em vez de ela possuir as coisas que tanto trabalho teve para conseguir, acaba percebendo que são essas coisas que a “possuem”. Esse tipo de indivíduo acha-se escravizado. Ele fica cansado e esgotado pela preocupação de poder vir a perder aquilo que adquiriu. A felicidade que se baseia em uma boa saúde e vitalidade também é ilusória. O tempo se faz sentir mesmo para os homens mais simpáticos e para as mulheres mais belas. O vigor físico decresce; a beleza se desvanece; os reflexos ficam mais lentos; os olhos perdem o brilho; a audição diminui; os dentes caem; a memória falha; e a vitalidade do corpo fica reduzida.

A felicidade que se fundamenta em sucesso profissional ou em extraordinárias realizações sociais geralmente dura muito pouco. Logo, logo uma nova estrela surge no céu, para empanar o brilho de nossas melhores realizações. Os recordes estão sendo batidos a cada ano. Nomes e rostos, antes famosos, são prontamente esquecidos, e desaparecem por entre as brumas do esquecimento. E essa lista poderia continuar interminavelmente. A soma de todos os empreendimentos e iniciativas humanas são como a névoa noturna que desaparece com o romper do sol. Eventualmente, passam a ser uma simples sombra — uma mera recordação. E àqueles que as possuíram resta apenas um constante ceticismo e desilusão. No subconsciente, eles se sentem traídos, enganados. E é em vão que o homem do mundo se volta desesperadamente para cisternas rotas e águas barrentas, querendo beber delas, pensando que poderão saciar sua sede de alegria. Mas elas o desiludem. Pois é somente em Deus que podemos encontrar a verdadeira fonte de alegria. Surpreendido Pela Alegria Mas do outro lado, em marcante contraste com esse homem, aquele que permite que Deus, em Cristo, pelo seu Espírito, penetre em seu espírito, vêse maravilhosamente surpreendido pela alegria. O generoso, doce e bendito Espírito do Senhor o vitaliza. E que ele chegou à própria fonte da vida. A influência revivificante da presença divina permeia todo o seu ser. Uma dinâmica dimensão de vida, totalmente nova, penetra sua vida, de modo que sua alma (mente, emoção e vontade), bem como seu corpo (sua constituição física) nascem para o bendito Espírito do Cristo ressuscitado, que agora habita nele. Isso é reconhecer que agora Deus governa sua vida; é experimentar de fato o controle de Cristo na sua conduta e conversação. Ê sentir a soberania do Espírito de Deus colocando ordem na confusão, dando uma direção a movimentos desordenados e desesperados, e transformando a desolação em alegria. Milhões de homens e mulheres, através dos séculos, testificam sobre uma transformação dessa em sua vida. E isso que Paulo quer dizer, quando afirma, em Romanos 14.17: “Porque o reino de Deus não é comida nem

bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo”. Deus está aqui! Ele está vivo! Ele se acha no comando de tudo! ■ 1 • • • | / I I • A • 1 T * • » i •

Foi essa a irresistível dinamica da Igreja primitiva. E ainda é a experiência de quem realmente permite que Deus entre no jardim de sua vida. Essa pessoa sente-se invadida pelo entusiasmo e por uma profunda alegria. Seus esforços têm uma direção certa, por mais seculares ou triviais que sejam. Todos os detalhes de sua vida têm um propósito e um significado profundo. É que um pedaço de barro como qualquer outro, humano como todos nós, se colocou sob as mãos do divino Agricultor. E o fruto da alegria brota do solo daquela alma. Não é uma alegria como a que vem de interesse próprio, ou pelo que sou. Antes, é a alegria de finalmente conhecer a Deus e saber que ele me conhece. Ela reside na agradável surpresa de perceber como sua presença é generosa e cheia de gozo. A Alegria do Perdão Aliadas a isso tudo, acham-se a doce consolação e a belíssima alegria de saber que, pela sua bendita redenção, meus pecados foram perdoados, minha culpa acabou, e fui aceito na sua família. Com uma ação profundamente purificadora, seu Espírito perpassa todo o meu ser para assegurar-me de que estou em paz com Deus, e ele comigo. Estou também em paz com os outros, bem como eles comigo. Meu espírito é dominado pela profunda certeza de que tudo está bem até mesmo entre mim e meu ego. Isto é ter e conhecer a alegria do Senhor. E ela se torna uma força tremenda, incorporada â constituição de minha existência. Na verdade, ela é uma grande luz que ilumina todo o meu interior, dissipando as trevas e o desespero que antes dominavam meus anseios mais profundos. Tudo isso acontece por que ele está aqui. Cristo veio à minha vida. Seu Espírito habita em mim. Deus está no jardim de minha existência.

Alegria Falsa Por um senso de responsabilidade para com o leitor, quero dizer aqui que existe uma alegria falsa. Uma das tragédias da cristandade é o fato de que, muitas vezes, as pessoas buscam sensações agradáveis, pensando, implicitamente, que a satisfação do desejo sensual é conhecer a alegria do Senhor. E um terrível engano, que muitas vezes leva a vítima a um desespero e desânimo ainda mais profundos. É perfeitamente possível criar a ilusão de alegria em grupos de pessoas, utilizando-se a chamada música “soul”, ritmos sincopados, aquela “batida” trepidante; tudo isso pode criar no indivíduo profundas reações emocionais que podem ser confundidas com alegria. O mesmo acontece com o sensacionalismo na pregação — pelo uso de ilustrações excessivamente sentimentais, ou pela exageração dramática da experiência de alguém. Estamos confiando mais no prazer sensual do que no Espírito de Deus, para convencer, iluminar e converter as almas. Da mesma forma, em reuniões de “testemunho”, onde se dá ênfase demasiada ao contato físico entre as pessoas, onde elas são incentivadas a se abraçarem, beijarem, rir ou chorar, existe também o perigo de a pessoa ser ludibriada pela alegria falsa. O que aquela pessoa experimenta no momento é apenas um tipo de felicidade provocada pela música, ou pela pregação feita com esse fim, ou acha-se contagiada pela disposição mental dos presentes. Estri-bando-se nas pessoas que a cercam ou nos eventos, ela não está gozando realmente da alegria do terno Espírito de Deus operando em seu interior. Essa alegria falsa é uma sensação passageira, intensa e imprevisível, que, por alguns momentos, transcende um instante de desânimo e tristeza. Procurar essa alegria é beber de uma fonte de prazer que deixa o ansioso espírito ainda mais insatisfeito, desepcionado e desesperado. Conhecer a verdadeira alegria do Senhor, que sempre está presente num poder profundo, calmo, pela presença dele em nós, é ser capaz de transcender, triunfantemente, e com energia, os tumultuados dias que vivemos.

A Fonte da Alegria Mas alguém pode perguntar como se obtém essa grande alegria. Ela só nos vem juntamente com aquele que é o Deus de toda alegria. A quantidade de alegria que tenho é porporcional à porção do terreno de minha vida que ele estiver ocupando. Se Cristo estiver no controle de minha carreira, meus negócios, meus passatempos, meu lar, minhas amizades, meu serviço cristão e meus interesses, sejam quais forem eles, nessas coisas eu terei alegria. E praticamente impossível estar em desarmonia com Deus em uma área da vida e ter alegria nessa área. A alegria é resultante do fato de eu estar em harmonia com ele nas minhas atividades. No instante em que me coloco de acordo com seus desejos para mim, meu ser é sinamizado pela sua alegria. No momento em que estou em conflito com seus desejos, a alegria se desvanece, e a fé vacila. Quando Cristo entra em nossa vida e interesse, sua vontade é que nossa atenção e interesse fiquem focalizados nele. E ele quem opera em nós o querer e o realizar segundo a sua boa vontade (Fp 2.13). Muitas vezes nos preocupamos mais com o processo de produção de fruto, deixando de centralizar nossa atenção na pessoa do bom Agricultor, que é o responsável pela nossa frutificação. Muitas vezes, ficamos mais interessados em buscar alegria, quando devíamos estar olhando para Jesus Cristo. Nossa alegria se acha nele. Nossa força está na capacidade que ele tem de produzir alegria. E quando ele opera em minha vida, cultivando-a, cuidando, amando cada cantinho dela, ele irá pedindo que eu corresponda à sua ação. E se eu o obedecer com simplicidade, submetendo-me a ele, perdendo minha vida por amor a outros, em meu espírito brotará a alegria de seu Espírito. "Foi Deus, e não nós, quem fez crescer a lavoura em seus corações." (1 Co 3.6 — NTV.)

A Paz e os Pacificadores Em todo o mundo, para todos os homens — cristãos ou não — a paz é vista como um dos valores supremos, dentre os que se deve alcançar. Na tumultuada história do século XX, nenhum outro assunto tem sido objeto das esperanças, sonhos e aspirações dos homens, mais do que a paz. Ela está sempre no pensamento e na conversa de todos. Tem sido o anseio mais profundo de milhões e milhões de pessoas. Nas profundezas da alma humana, ela é o bem mais cobiçado, e, no entanto, quase sempre está ausente. Por quê? Por que a paz é tão ardentemente desejada e tão poucas vezes encontrada? Por que são tão poucos os que encontram os caminhos que levam à paz? Por que aBlblia tem tanta razão quando diz que os homens clamam: “Paz, paz, quando não há paz”? (Jr 6.14;8.11.) A Natureza da Paz A resposta a essa pergunta acha-se, em grande parte, num problema básico do ser humano: o fato de ele não entender perfeitamente o que seja a paz e nem como pode obtê-la. Quando o Senhor Jesus estava entre nós ele deu tanta importância à paz, que disse uma coisa admirável: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.” (Mt 5.9.) Portanto, ê perfeitamente correto procurarmos saber o que é realmente paz. Enquanto estivermos laborando numa idéia falsa com relação ao verdadeiro caráter dela, ela nos fugirá às mãos. Primeiramente, paz não é mera passividade. Não ê estagnação. Não é esterilidade, nem uma atitude negativa de não-envolvimento. Para que haja paz, é necessário uma ação enérgica e bem definida por parte do pacificador. O caminho da paz que, segundo a Palavra de Deus, devemos seguir, não se acha juncado de pétalas de rosas. Pelo contrário, é um trilho

árduo, que deve ser palmilhado com um coração humilde e espírito submisso, apesar das duras pedras da adversidade. Paz é o amor de Deus, um amor altruísta, dadivo-so, abnegado, desprendido, sacrificial e tranqüilo, a despeito de todos os reveses da vida. E o amor que permanece calmo, forte e firme, apesar de todos os insultos, antagonismos e ódios. Paz é o que resulta de o espírito e alma de uma pessoa estarem tão embebidos da presença de Deus, que ela não se irrita com facilidade. Ela não é uma pessoa susceptível. Não se exaspera. Não fica enraivecida à toa. Seu orgulho não fica ferido por qualquer coisi-nha. Essa pessoa não está sempre com os pelos eriça-dos, como um porco-espinho, com suas defesas alertas em atitude de autoproteção. Na verdade, paz é exatamente o contrário disso. E uma atitude de serenidade, calma e força, uma atitude positiva que responde a um ataque de outrem com bom ânimo, tranqüilidade e grande quietude de espírito. Para vermos e entendermos bem essa qualidade de vida em seu melhor aspecto, temos simplesmente que dar as costas aos que nos cercam e voltar nosso olhar para Cristo... que é Deus, o verdadeiro Deus. O Deus de Toda a Paz O Senhor é chamado de o Deus de toda a paz. Só ele é a fonte e o doador da paz. Só ele pode produzir em nós esta qualidade de vida, atuando diretamente em nossas atitudes e ações. Vemos pela história humana que Deus sempre procura aproximar-se do homem em paz. Ele sempre vem a nós com boa-vontade. Esse fato foi vivenciado na noite do nascimento de Cristo, e expresso na maravilhosa declaração dos anjos: “Paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem.” (Lc 2.14.] E essa tem sido a atitude generosa, magnânima de Deus ao buscar contato com a humanidade, apesar do ódio mesquinho que o homem revela para com ele e do seu antagonismo às suas demonstrações de boa-vontade. Não importa se o Espírito de Deus está tratando com um homem ou com uma mulher, sua atitude é sempre de paz. Não importa a hediondez do pecado, a ne-gridão da mancha do pecado e a dureza do egoísmo de nossa alma —

Cristo sempre nos procura em atitude de paz. Ele sempre tem em mente a nossa redenção e a suprema renovação de nossa vida. O supremo objetivo de seus atos é nosso reingresso na família divina. Ele vem a nós de braços abertos, olhos marejados, que nos fitam com anseio, e seu Espírito transbordando de boa-vontade. “Eis que lhe trarei a ela saúde e cura, e os sararei; e lhes revelarei abundância de paz e segurança. “Restaurarei a sorte de Judá e de Israel, e os edifi-carei como no princípio. “Purificá-los-ei de toda a sua iniqüidade com que pecaram contra mim; e perdoarei todas as suas iniqüi-dades, com que pecaram e transgrediram contra mim. “Jerusalém me servirá por nome, por louvor e glória, entre todas as nações da terra, que ouvirem todo o bem que eu lhe faço; espantar-se-ão e tremerão por causa de todo o bem, e por causa de toda a paz que eu lhe dou.” (Jr 33.6-9.)

Esta é a verdadeira natureza e caráter de Deus, revelados em seu trato com os homens, pessoas difíceis e hostis a ele. Jesus, um Homem de Paz Mesmo quando esteve entre nós, ele veio em paz. E foi o impacto dessa paz que tocou e transformou pessoas endurecidas como cobradores de impostos, prostitutas e rudes pescadores. Foi o incrível impacto dessa paz, esse amor em ação, que fez com que Cristo exclamasse, em meio à sua terrível agonia: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!” (Lc 23.34.) Ele estava em paz com seus inimigos. Eles se achavam em guerra contra ele. E ele próprio, para explicar esse enigma, já afirmara claramente, em certa ocasião, o seguinte: “Não vim trazer paz, mas espada.” (Mt 10.34.) Pois a sua vinda, em si, já provocara a polarização das pessoas. Aquelas cujo espírito reagiu positivamente às suas demonstrações de amor e paz, tornaram-se ardorosos admiradores dele. Aquelas que olharam com repulsa sua verdade e integridade, o odiaram com uma terrível intensidade, resolvidos a destruí-lo. E ainda hoje é assim. Deus não muda. Cristo não modificou sua maneira de buscar o homem. Seu maravilhoso Espírito sempre se aproxima em paz, a fim de convencer do pecado, corrigir e converter os homens. A reação do

homem a essa ação do Espírito revela se ele realmente aprecia a paz, ou se prefere ficar envolto em sua hostilidade. A Fonte da Paz Se a nossa vida estiver aberta para receber a presença divina do Cristo ressurreto, ele entra falando de paz, exatamente como o fez, quando apareceu mais de uma vez, aos seus transtornados discípulos, após sua ressurreição, dizendo: “Paz seja convosco!" Ele entra em nossa vida para derramar nela um novo amor, a sua própria vida, que se manifesta em paz. Depois que ele se incorpora à nossa vida, que penetra em nossa personalidade e se torna soberano em nosso espírito, então passamos a ser homens de paz. E aí que começamos a saber o que significa estar em paz com Deus, com os outros e com nós mesmos. E à medida que vamos dando a ele o controle de nossa vida, toda a estrutura de nosso caráter, conduta e conversação vai-se modificando. Descobrimos que ele pode mudar-nos de uma forma drástica. Paz, boa-von-tade, bom ânimo e serenidade tomam o lugar de animosidade, amargura, hostilidade, beligerância, ciúmes, mau gênio, brigas e rivalidades. E, a propósito, devemos mencionar que essas últimas acham-se listadas em Gálatas 5.19,20, e indicam claramente a existência da antiga personalidade não transformada. As pessoas que exteriorizam tais emoções e revelam possuir tais sentimentos e atitudes não são pacificadores — antes, são “geradores de problemas”. Elas provocam muito sofrimento, tanto para si mesmas como para outros. Afastam de si amigos, familiares e colegas, erguendo tremendas barreiras de má-vontade entre si e os outros. Elas magoam, ferem e entristecem aqueles que as cercam. Muitas vezes, quem mais sofre são seus mais queridos amigos e familiares, por causa do desespero, das trevas e perturbação criada pela sua ira. E é justamente essa ira forte, viva, voltada contra os outros que constitui o oposto da paz. Em vez de um amor altruísta, o que há é um forte egocentrismo, uma preocupação consigo mesmo, inflamada e voltada para a autodefesa e auto-afirmação.

A Paz Produz a Cura Por outro lado, a paz de Deus, que é autosacrificial e abnegada, corrige essa situação. Ela opera no sentido de sanar feridas, derramar o bálsamo da consolação, dar descanso e calma; ela tranqüiliza a alma conturbada, fala de paz a espíritos atormentados. Essa paz só procede de Cristo e é um dos sinais genuínos e indiscutíveis da presença de Deus na vida do indivíduo. Da mesma forma, podemos dizer com igual certeza, que, se na vida de uma pessoa não há paz, está claro que Cristo ainda não entrou nela. É um engano pensar ou acreditar que uma pessoa é crente, se sua vida for caracterizada por constantes brigas, amarguras e dissenções. Paulo coloca isso de forma muito clara quando diz: "Não herdarão o reino de Deus, os que tais cousas praticam.” (G1 5.21 — grifo meu.) Aquele que pensa seriamente neste assunto deve entender isso muito bem. "Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo.” (Rm 14.17.) Para que o leitor não fique confuso, é importante esclarecermos aqui que o fato de Cristo entrar em nossa vida não significa que não venhamos a ter inimigos, nem que passamos a viver numa utopia, onde tudo é paz e a vida se torna um lago sereno e tranqüilo. A Palavra de Deus não nos garante isso em nenhum momento. Pelo contrário; ela nos adverte seriamente de que o povo de Deus deve estar preparado para enfrentar aflições, hostilidade da parte de outros, tribulações, e para ser odiado por um mundo adverso. Quando eu era jovem, durante muitos anos, abriguei a falsa idéia de que, se fosse bondoso e generoso, todos iriam me amar. Em parte, esse engano deveu-se a um ensino errôneo. A verdade nua e crua é que até Deus, o Deus de paz, quando veio viver entre nós, sendo um homem perfeito, foi desprezado e rejeitado pela humanidade. Pouco antes de sua morte, ele declarou enfaticamente, falando ao pequeno grupo de seguidores seus: “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim.” [Jo 15.18.) Mas alguém pode indagar: como então a paz entra aqui? É uma pergunta válida, que merece uma resposta franca. E a melhor resposta para ela encontra-se na declaração de Salomão que se

acha em Provérbios 16.7: "Sendo o caminho dos homens agradável ao Senhor, este reconcilia com eles os seus inimigos.” "Quando um Não Quer...” Não temos garantias de que não teremos inimigos. Eu sei que os terei. Nossos inimigos são aqueles que se colocam no pólo oposto, devido à presença do Espírito de Deus em nossa vida, Mas, até mesmo esses, como aquele empedernido centurião romano que chefiava os soldados, quando da crucificação de Cristo, terão que reconhecer: “Verdadeiramente este era (um pacificador) Filho de Deus.” (Mt 27.54.) O ponto que precisamos entender aqui é muito importante. “Quando um não quer, dois não brigam.” Se um dos dois está com o coração cheio de boa-vontade, bom ânimo e dá de si mesmo, com amor desinteressado, este está em paz. Pode até acontecer de ele ser injuriado pelo outro, ser odiado e maltratado, mas só esse ê que terá problemas, ficará desesperado e interiormente em trevas. Sendo povo de Deus, pacíficos, não precisamos ser envolvidos pelos nossos inimigos. Podemos ficar em paz com eles, como Cristo fez, mesmo que *se oponham a nós. Deus nos conclama a ser grandes, fortes, serenos, firmes, rijos, do calibre dele. Não devemos deixar que nos arrastem para os becos do ódio, animosidades e difamações destrutivos. Existe um provérbio inglês muito antigo, muito singelo, mas de grande efeito que diz: “Quem atira lama nos outros, está perdendo terreno.” E como isso é verdade se o aplicarmos ao jardim de nossa vida. É certo que teremos de enfrentar tormentas de tensões e pressões, que se abatem sobre nós, mas se a boa planta da natureza pacífica de Deus estiver grassando abundantemente no solo de nossa alma, ela não sofrerá erosão, nem será levada pela tempestade de ódios ou ventos de adversidade que podem sobrevir-nos. Passos Para se Chegar à Paz Talvez a melhor coisa que podemos fazer aqui, agora, seja explicar, em

termos bem simples, como a paz de Deus pode tornar-se um fruto da minha alma, e um dos mais importantes. Para isso precisamos dar três passos. 1. Primeiramente, tem que haver uma disposição de nossa parte para nos enxergarmos exatamente como somos. Se eu sou uma pessoa briguenta, sempre discutindo, acusando os outros, criando dificuldades tanto para mim como para o meu próximo, tenho que reconhecer isto. Preciso admitir a séria e humilhante verdade de que o ódio, a beligerância e a animosidade brotam diretamente de minha velha natureza egoística e egocêntrica. Não se trata aqui de nos entregarmos a uma in-trospecção mórbida, mas, sim, de tomarmos uma atitude séria com relação ao nosso comportamento, diante de Deus e de nós mesmos. Temos que aprender a odiar nosso ódio. É totalmente sem sentido tentarmos levantar uma cortina de fumaça, dando desculpas infantis tais como: “Não posso fazer nada; já nasci com esse gênio ruim.” Ou então: “Sou uma pessoa muito franca e sempre digo o que penso, sem me importar com as conseqüências.” Ou então: “A culpa é só deles; são eles que estão errados; eles me fazem ficar com raiva.” E centenas de outras desculpas semelhantes. Esse método não traz paz, mas, sim, um terrível perigo. O que devemos fazer, em vez disso, é clamar a Deus, com toda sinceridade do coração e dizer-lhe: “Ó Deus, transforma-me, por Cristo. Vem a mim, pelo teu Espírito Santo. Que a maravilhosa semente de tua Palavra seja plantada no terreno rochoso de meu coração endurecido pelo ódio. Que possa brotar em minha alma, mente, emoções e vontade a capacidade de amar como tu amas; de dar-me aos outros, em paz, como tu te dás a mim.” 2. Se essa oração for feita com absoluta sinceridade, vão começar a acontecer coisas maravilhosas. Deus vai acreditar em nós. Imediatamente ele começará a tocar em nosso terrível orgulho egocêntrico, pois ele é a raiz do ódio, da má-vontade e da animosidade que nasce da inveja. As ervas daninhas da auto-afirmação, do auto-engrandecimento, da autosatisfação, da autovalori-zação excessiva e auto-confiança devem ser extirpadas. Todos os antigos conceitos do mundo sobre a nossa própria grandeza, que tão facilmente dominam nosso pensamento, terão que ser esmagados pelo arado, nu-

ma operação profunda do bom Agricultor. Será um processo doloroso. Ele irá demolir meu ego enfatuado e minha avantajada imagem própria. Este orgulho pessoal pode expressar-se de vários modos, a maioria dos quais pode parecer válida. Mas sempre que nos sentimos orgulhosos com relação a alguma coisa, também é quando somos mais susceptíveis. Quando estamos satisfeitos com nós mesmos, também ficamos mais sensíveis. Então Deus terá que arrancar essas ervas daninhas que ocupam o lugar dele. E ele lança mão de vários métodos para humilhar-nos. Pode permitir que a broca da adversidade toque em nossa saúde, lar, família, amigos, carreira, finanças, grandes realizações, derrubando tudo e reduzindo ao pó. Pois é a pessoa humilde, a que não exalta a si mesma, que finalmente encontra descanso e sossego. Ela não se encontra mais naquele pedestal, do qual poderia ser derrubada a qualquer momento. Agora, ela vive em termos práticos, e tem um relacionamento com Deus, com os outros e consigo mesma em bases mais realistas. 3. Com o passar do tempo, muitas vezes, temos a tentação de pedir a Deus para abrandar um pouco o processo. Há momentos em que somos tentados a pedir-lhe que pare de arar a terra, que pare de limpá-la, que cesse com um cultivo mais profundo de nosso caráter. Não façamos isso. A operação divina tem por objetivo o nosso bem e a produção de frutos. Só temos paz, depois que o orgulho se vai. A paz toma o lugar da arrogância. Ela só medra onde já não existe animosidade. A pessoa de coração humilde e espírito contrito, nas mãos do Agricultor, é uma pessoa que tem muita paz. Nossa vida pode ser um Jardim do Éden, bem regado. Não precisa ser obrigatoriamente um campo sangrento onde se travam as batalhas da amargura. O mundo lá fora pode estar em pé de guerra. Mas, em nosso interior, a presença de Deus, a sua vida e o seu Espírito produzem paz, tornando-nos pacificadores.

Paciência A palavra “paciência”, com o sentido em que é empregada no Novo Testamento, na verdade, não possui um equivalente exato em nossa língua. Ela não significa absolutamente ter uma atitude sempre plácida e fleumática, como muitas pessoas pensam. A paciência é realmente a tremenda capacidade que tem o amor altruísta de sobreviver por muito tempo num clima adverso. É aquela elevada capacidade de ficar firme, sem esmorecer, diante de pessoas difíceis e circunstâncias adversas. Isso significa que a pessoa que a possui tem um certo grau de tolerância para com coisas intoleráveis. E uma disposição generosa de procurar entender as pessoas mais estranhas e os eventos mais problemáticos que o Pai permite em nossa vida. E mais que tudo isso, a paciência é aquele atributo poderoso que capacita um homem a permanecer firme, quando lhe sobrevêm uma dificuldade, não apenas de pé, mas seguindo adiante. Paciência é a forte perseverança que produz resultados positivos naquele que a possui, mesmo quando este se acha em sofrimento, e sofrendo oposição. É o amor, um amor maravilhoso, altruísta, que segue em frente, suportando dificuldades por causa da bênção que isso trará a outros. E uma disposição tranqüila que, vigilante e alerta, aguarda o momento certo de dar o passo certo. O que Não é Paciência. Ser paciente não é ter uma atitude sempre fleumática e letárgica. Não é ser indolente e indiferente. Tampouco é ter uma atitude fatalística diante da vida, sentando-se num canto para ficar de braços cruzados e dizer: “O que tem de acontecer, acontecerá.” A paciência não tem nada de fraco, insosso e flácido. Ela é uma força de enorme potência, de grande influência, um atributo divino que, quando manifestado por ele, nos deixa pasmados e perplexos. Na maioria das vezes, nós, seres humanos, ao enfrentarmos uma advertência, em vez de exercitarmos paciência, preferimos escapar da adversidade. E nessa tentativa de fugirmos de situações difíceis, tentamos evitar as pessoas mais estranhas a nós, e nos separamos totalmente delas.

Nós nos debatemos e esperneamos, querendo sacudir fora os arreios e romper qualquer coisa que possa amarrar-nos ao sofrimento. Entretanto, a paciência de que fala o Novo Testamento é exatamente o contrário disso. Na verdade, ela dá a idéia de uma besta de carga que se acha totalmente subjugada. É um boi jungido a um arado, trabalhando para sulcar o campo de seu dono. Mesmo que o arado vá de encontro a pedras, tocos de madeira ou torrões mais duros, o paciente animal continua puxando o arado. Não importa a inclemência do sol de verão, a importunação dos insetos, os ventos gelados, aquele animal continua sulcando a terra para o seu amo. A paciência de que falam os escritores do Novo Testamento é a de um pequeno jumento carregando um enorme fardo de lenha, sacos de cereais, ou qualquer outro produto para o seu dono. Entra ano, sai ano, ele está sempre ali transportando com segurança e firmeza os bens de seu dono, de um lado para outro, em tranqüila obediência à vontade dele. Esta paciência é a de um camelo, cavalo ou boi amarrado a uma roda de moinho. E ali ele fica, hora após hora, dia após dia, andando sem parar, tirando água para regar um pequeno terreno ressequido. Pode ser ainda que esteja moendo trigo, a fim de alimentar todo um povoado. Tudo isso é parte de um trabalho sofrido para se atingir um objetivo digno. Cristo, a Imagem da Paciência Essa qualidade de caráter foi muito bem ilustrada para nós no exemplo do Senhor Jesus. Ele, o Cristo, veio ser, entre os homens, o Servo sofredor. Veio, não para ser servido, mas para servir. E a maravilhosa perseverança com que ele suportou todas as adversidades e maus tratos dos homens, por nossa causa, para que fôssemos salvos, faz nossa alma vibrar. Se não fosse pela longanimidade e paciência de Deus em seu tratamento conosco, pessoas tão difíceis, onde estaríamos a essa hora? Há muito tempo que a raça humana teria sido aniquilada, devido à iniqüidade, ao orgulho e à impureza de nosso caráter. Se não fosse pela generosa paciência de nosso bendito Deus, o homem não poderia subsistir, nem por um minuto, na presença de um Ser perfeito e totalmente justo.

Somente depois que compreendemos e apreciamos essa verdade completamente é que nos prostramos diante dele humildes, e suplicamos seu perdão. Só a sua paciente disposição de Pai generoso, pronto a nos suportar, compreender e esperar um pouco mais é que nos dá grande esperança e bom ânimo. Quando olho para trás e examino meu passado, tremo só de pensar onde eu estaria, se não fosse pela terna paciência de Deus, em seu trato comigo. Como seu Espírito foi incansável, acompanhando-me pelos caminhos tortuosos e emaranhados que eu próprio escolhera. Como ele suportou meu orgulho e iniqüidade em minha auto-suficiência. Só de meditar nesse incrível atributo de Cristo, em seu amor por mim, sinto meu orgulho desfazer-se, e meu coração se cala diante dele. Isso é o amor de Deus em ação — essa calma, forte e incansável determinação divina de fazer apenas o bem para mim. Durante muitos anos, o bendito Espírito de Deus buscou a minha alma com grande interesse e amor. E apesar de minha obstinação, minha ignorância, desvios e confusão, ele nunca desistiu. Nunca se cansou. Na verdade, foi sua paciência quem prevaleceu. Ela destruiu minha resistência. Um dia, este meu espírito embotado, marcado pelo pecado, entendeu que ele realmente me amava, que ansiava muito por essa carcaça de homem, desejando enchê-la com sua vida abundante, para fazê-lo reviver. É dessa qualidade do caráter de Deus que estou falando aqui; um atributo do imenso amor que ele deseja ansiosamente dar ao seu povo. Aliás, esse é um dos frutos do Espírito que ele deseja ansiosamente cultivar em nossa vida, se permitirmos que o faça. Ele vem ao jardim dos seus filhos, esperando encontrá-lo. Muitas vezes, esse fruto é bastante escasso. Isso é muito estranho, considerando o quanto ele tem sido paciente conosco. Para ilustrar essa verdade, Jesus contou uma parábola. Está registrada em Mateus 18.21-33. Um homem devia a outro uma enorme quantia, e pediulhe que tivesse paciência e esperasse até que ele pudesse pagar. Entretanto, ao sair dali, exigiu de outro, que lhe devia uma quantia insignificante, que lhe pagasse imediatamente a dívida.

Muitos de nós somos assim. Mas esse não é o amor de Deus. Temos a tendência de “retalhar” as pessoas. Somos exigentes e rudes. Queremos receber o que nos devem; não aceitamos fracassos por parte dos outros. Exigimos resultados imediatos, e não damos tempo aos outros, uma segunda chance, para ver o que Deus pode operar em suas vidas. Não perseveramos em oração por eles. Em caso de dificuldade, ou de circunstâncias adversas, queremos logo escapar. Logo que encontramos uma saída, passamos por ela, a fim de nos livrarmos de uma situação desagradável. Chegamos até a orar fervorosamente para que Deus nos salve de todas as expe• Ai * i i

riencias dinceis e adversas. Tudo isso constitui o oposto do amor. Amar significa avançar em frente a despeito dos obstáculos. Amar significa estar disppsto a sofrer e suportar com paciência as pedradas da vida. E o amor é perseverante, mesmo que se defronte com obstáculos terríveis, e faz isso simplesmente continuando firme. E quando uma centelha de sua graça se enraíza em nós, pela operação do Espírito de Deus, coisas espantosas acontecem, para nós e para aqueles que nos cercam. O Efeito da Paciência Talvez o mais admirável deles seja o fato de que nossa conduta gera esperança e otimismo nos outros. Até mesmo uma pessoa profundamente problemática, que esteja mergulhada em desespero, perdida em seu egoísmo e egocentrismo, terá novas esperanças, se encontrar uma pessoa paciente, que persevere com ela, que ore por ela incessantemente. O próprio fato de saber que alguém a ama o suficiente para insistir no interesse por ela, poderá convencê-la de que nem tudo está perdido neste mundo. A presença da paciência no povo de Deus é um dos sinais mais certos de que

nele há algo da natureza de Deus, o que pode ser constatado até mesmo por um não-crente. Mais que qualquer outra virtude cristã, essa atitude tem a possibilidade de derrubar o preconceito do não-crente. Ele ficará convencido, persuadido de que o cristianismo não é apenas uma bela teoria. Os Benefícios da Paciência O cultivo da paciência apresenta dois grandes benefícios para o filho de Deus. Primeiro, ela produz em seu próprio caráter uma imensa força e resistência. Talvez a melhor palavra a se empregar aqui fosse “dureza” — não dureza no sentido de insensibilidade e aspereza, mas no sentido de capacidade de suportar pessoas e situações problemáticas, com serenidade e firmeza. Em segundo lugar, quando nos portamos com paciência diante das adversidades, conhecemos a grande fidelidade de Deus para conosco, em cada situação. Aos poucos, vamos aprendendo a realidade da grande afirmação de Paulo em Filipenses 2.13: “Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade Ter Paciência é Ganhar Experiência. Este fruto do Espírito de Deus não é algo pelo qual oramos, esperando que Deus o faça surgir em nossa vida como se fosse um presente graciosamente embrulhado em papel brilhante. Se orarmos pedindo ao Senhor esse dom, ele fará com que venham ao nosso encontro pessoas e circunstâncias que exigirão a presença e o exercício da paciência dele, para que as possamos suportar. Desse modo, aprendemos a praticar a paciência na fornalha ardente da aflição. Logo aprendemos que não podemos seguir pela vida lutando contra as pessoas e problemas que surgem em nosso caminho — não podemos combater nem nos queixar daquilo que a vida nos reserva. Tampouco devemos tentar escapulir das situações difíceis que se nos apresentam. Não somos daqueles que sempre querem o assento mais macio, o canto mais confortável. Pelo contrário, enfrentamos as situações que Deus, nosso Pai, arranja para nós, quaisquer que sejam elas, considerando-as como a sua provisão para nossa vida. Aceitamo-las, sabendo que constituem a grande e boa mó,

com a qual Deus nos irá transformar em farinha, a fim de alimentar seu povo faminto. Reconhecemos que nossas provações são a prensa divina, pela qual nossa vida será espremida para que de nós brote o vinho do alívio para o mundo cansado e sedento. E é dessa atitude de submissão que nasce a paz, mas, além dela, temos também paciência. Não uma paciência cheia de lamentações, uma forma ressequida de estoicismo, mas, sim, um grande contentamento pela operação divina do grande Agricultor. Na verdade, são as “enxadadas” e o profundo sulcar do arado divino que, eventualmente, irão produzir o abundante fruto de sua paciência em nosso caráter. Não existe outra forma. E em meio a tudo isso, enquanto conservarmos na mente o fato de que ele, o verdadeiro Deus, usa para conosco da paciência e perseverança, teremos o coração e o espírito prontos para nos regozijarmos. E descansamos na firme certeza e no conhecimento de que ele faz tudo bem, tanto por minha causa como pelo seu nome. E é quando a consciência plena da presença de Cristo em nossa vida penetra em nosso espírito, que nos silenciamos diante dele. Sentimos que seu maravilhoso Espirito pode transmitir ao nosso caráter a paz de Deus, em meio a adversidades, e a sua paciência, em meio a situações difíceis. Conhecer isso é conhecer algo do contentamento de Cristo. Não nos sentimos mais inclinados a abrir caminho por entre os espinheiros e obstáculos da vida à força de combate e luta. Permaneceremos firmes, seremos fortes, sabendo que “todas as cousas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” (Rm 8.28.) É Deus quem nos capacita a enfrentar com otimismo e bom ânimo a febre de viver. Pois ele está conosco em meio às alegrias e às necessidades extremas. Então, tudo vai bem. Podemos sentir-nos em paz e também ser pacientes. E todos nós gostamos de saber disso.

Benignidade: Amor Revelando Misericórdia De todos os frutos do Espírito, talvez seja este o que melhor conhecemos.

Esta faceta do amor nos tem sido revelada de maneiras maravilhosas. E nós, por nossa vez, também temos vivido ocasiões em que pudemos manifestar beniginidade para com outros. A benignidade acha-se invariavelmente associada á misericórdia. É impossível uma pessoa ser benigna sem ser misericordiosa. Por outro lado, ser misericordioso é o mesmo que ser benigno. Isso implica sempre em ter um profundo interesse pelos outros. E um interesse misto de compaixão e misericórdia. Somos levados a agir com benignidade porque nos interessamos por outrem. O interesse pelos outros é a essência do amor altruísta de Deus, expresso para com o nosso próximo. A benignidade também se acha estreitamente ligada à sinceridade e respeito. A idéia de benignidade abrange por inteiro o ideal de se tratar outras pessoas com profunda integridade. Tratamos os outros com benignidade porque os consideramos e respeitamos como indivíduos, qualquer que seja sua cultura, fé religiosa, cor ou posição social. Procuramos ser úteis e compreensivos, porque temos por eles um interesse verdadeiro. Mas, surpreendentemente, os seres humanos são extremamente sensíveis nessa questão do relacionamento pessoal. Eles conseguem perceber imediatamente se estamos agindo com uma atitude condescendente ou paternalista. A verdadeira benignidade não contém laivos de altivez. Ela implica num nivelamento com nosso semelhante, pelo amor, estendendo a mão para ajudá-lo naquilo que precisar. O Preço da Benignidade Esta faceta do amor deve custar-nos um alto preço. Expressar benignidade não é enganar pessoas desesperadas, nem fingir um falso interesse por sua situação. A verdadeira benignidade vai muito além do fingimento, dos suspiros simulados e das lágrimas de crocodilo. Implica em nos envolvermos profundamente com o sofrimento e dificuldade de outrem, ao ponto de seu problema fazer-nos sofrer — sofrer mesmo — e causar-nos alguns inconvenientes. A pessoa realmente benigna é aquela que não se retrai ao ver que a manifestação da benignidade lhe custará alguma coisa. Ela sacrifica suas

próprias preferências, a fim de oferecer auxílio e conforto a outrem. Ela paga o preço do trabalho, incômodos, privações, e, silenciosamente e sem alarde, procura proporcionar satisfação a outrem. Sensível à dor e sofrimento de uma sociedade cheia de problemas, ela se propõe a fazer o que puder para aliviar esse sofrimento. E tenta fazer do mundo um lugar melhor e mais feliz para os que se acham mergulhados em dor e agonia. É essa a qualidade da benignidade que caracteriza Deus, o Pai. Ele de fato se importa conosco; e sofre por nós. Nosso Pai celeste vem a nós em absoluta sinceridade e franqueza. Ele entrega sua vida por nós, dá-se sem hesitação, para que fiquemos mais ricos. Identifica-se conosco, em nossos problemas. Sendo plenamente misericordioso, compassivo e auto-sacrificial, ele tem sempre em mente o nosso bem, o nosso proveito. Em sua segunda carta à igreja de Gorinto, o apóstolo Paulo explicou essa verdade nos seguintes termos: “Pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que pela sua pobreza vos tornásseis ricos.” (2 Co 8.9.) A Grande Benignidade de Deus Por toda a Bíblia o tema da incansável benignidade de Deus palpita como o pulsar de um grande coração. “Porque mui grande é a sua misericórdia para conosco” (SI 117.2) é o refrão constante. Isso é reiterado várias vezes, para relembrar-nos que a misericórdia, compaixão e benignidade de Deus jorram para nós abundante e liberalmente, em rios de refrigério, todos os dias. A benignidade de Deus nos atrai para ele com laços de amor, mais fortes que o aço. A misericórdia do Senhor nos cativa com enorme gratidão e reconhecimento. A compaixão generosa e o cuidado terno do seu bendito Espírito são como alimento que nos fortalece, renovando-se a cada dia que passa. É imensamente difícil expressar em papel e em linguagem humana, a incrível bondade do Pai. Parece-me que, por mais que alguém tente, fica sempre muito aquém. Ê uma dimensão de generosidade que ultrapassa nossa capacidade humana de transmitir idéias uns para os outros. É um fato que pode ser conhecido em experiência, mas não pode ser descrito em palavras.

É a benignidade de Deus, expressa em Cristo e revelada a nós pelo seu Espírito, que nos optorga a salvação. É a sua benignidade que faz a provisão ao custo de sangue para o perdão de nossos pecados e do egoísmo. É ela também que perdoa nossas faltas e nos acolhe em sua família, como a um filho muito querido. É ela que nos possibilita estar em sua presença, isentos de nossos erros, totalmente justificados. A benignidade de Deus remove toda a nossa culpa, e assim podemos ser um com ele e com os outros, em paz. É a benignidade de Deus que torna possível essa doação dele para nós, no santuário interior de nosso espírito, alma e corpo. Sua benignidade possibilita nossa transformação, e assim podemos ser recriados, remodelados, conformados à sua imagem e semelhança. Ela confere enorme significado e grande dignidade a esta vida, e eterna satisfação à vida por vir. É essa constante, eterna, imutável benignidade de Deus que nos dá todos os motivos para nos regozijar-

mos e nos deleitarmos com a vida... toda a vida... esta e a próxima. “Toda boa dádiva e todo dom perfeito é lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação, ou sombra de mudanças.” (Tg 1.17.) É a benignidade de Deus que nos enriquece e nos fornece energias, não só espirituais, mas também morais e físicas. Estamos cercados, por todos os lados, pela atmosfera de sua grandiosa benignidade, que jorra para nós sob milhares de formas, procedendo da fonte de seu amor. Tudo que temos e experimentamos é expressão dessa benignidade. E o que é mais maravilhoso, mais admirável, é que tudo isso ocorre apesar de nossos desvios, erros, obstinação e iniqüidade. Nada humilha e quebranta mais nosso coração endurecido do que saber disso. Mas, embora possa parecer estranho, muitas pessoas não desejam nem admitir nem receber essa benignidade. Com toda a arrogância e uma suposta auto-suficiência, elas ingenuamente acreditam que devem tudo quanto são a si mesmas, e orgulhosamente proclamam sua independência. Temerosas de que talvez venham a ficar em débito para com ele, não desejam ser depositárias da benignidade de Deus. Não querem que o divino Agricultor interfira no terreno de suas vidas. E é assim que aquele que lhes

concedeu a própria vida é mantido à distância, ou assim pensam elas. Mal sabem essas pessoas o quanto estão perdendo. Um Novo Tipo de Benignidade. Mas, se em vez disso, o Senhor pudesse penetrar livre e plenamente na vida delas, os resultados seriam espantosos. Talvez o mais palpável resultado deles fosse o modo como ali seria produzido um novo tipo de benignidade. Digo isso com certa cautela, porque benignidade não é um fruto limitado apenas ao caráter cristão. Alguns dos mais tocantes gestos de benignidade de que já fui alvo, procediam de pessoas totalmente desconhecidas, e algumas não eram nem crentes. Entretanto, existe uma diferença marcante, e o Senhor fez menção dela em seu majestoso Sermão do Monte, em Mateus 5.43-48. Ali ele diz que os gentios amam aqueles que os amam; são educados com aqueles que podem retribuir seu cumprimento, e agem com benignidade sempre que ela puder ser recíproca. Mas seu conselho para nós é que nossa benignidade tenha a capacidade de amar até os inimigos, abençoar aqueles que nos amaldiçoam, fazer o bem àqueles que nos odeiam, orar por aqueles que nos desprezam e perseguem. E ao agir assim, estaremos demonstrando que realmente somos o seu povo. Assim como ele dá os seus dons tanto aos bons como aos maus e derrama suas bênçãos sobre crentes e incrédulos, ele pede que façamos o mesmo. Mas é preciso muita coragem para viver dessa forma. Isso significa que alguns daqueles a quem manifestaremos benignidade se voltarão contra nós. Significa que muitas vezes seremos tratados com frieza ou sofreremos zombaria, e que nossas boas intenções às vezes, serão mal interpretadas. Depois que a boa semente da vida de Deus germina e cria raízes no solo de nossa alma, abandonamos a idéia do “olho por olho, dente por dente”. Já não pensamos em dar amor apenas para recebê-lo de volta. Não queremos mais ser bondosos apenas para recebermos elogios e para que os outros pensem bem de nós. Não procuramos dar apenas visando o que podemos lucrar com aquilo. Isso tudo acabou — essas táticas terminaram. O impulso

vital de nossas ações agora não é mais aquela egoística auto-satisfação. O Outro Lado da Benignidade Quando Deus, pelo seu bendito Espírito, começa a produzir o fruto da benignidade no jardim do nosso caráter, o crescimento dele provém da própria benignidade do Senhor. Deus é benigno porque ele não poderia ser de outra forma. É um elemento essencial de sua natureza. Assim também a benignidade se torna um elemento integrante de nossa nova natureza, concedida por ele. Ser benigno passa a ser parte de nossa conduta, caráter e conversa — não pelo que possamos lucrar com isso, mas pelo que pudermos fazer pelos outros. É muita tolice praticar abenignidade para com outrem esperando que ele a retribua. Na maioria das vezes, os outros não revelam nenhuma gratidão. Portanto, a não ser que nossa benignidade seja de origem divina, acabaremos frustrados e desiludidos. O que devemos fazer é deixar os resultados inteiramente nas mãos do Senhor. Ficaremos surpresos ao descobrir que o amor, afeição, gratidão e benignidade que dispensarmos a outros, nos voltarão, sim, mas, muitas vezes, de fontes totalmente inesperadas, de pessoas estranhas, com as quais nunca usamos de benignidade antes. Deus está sempre atento para que o princípio da semeadura-colheita nunca falhe. E com base na sua fidelidade para conosco, podemos estar perfeitamente certos de que os atos de benignidade que praticarmos para com alguém, em misericórdia e compaixão, eventualmente voltarão para nós, numa compensação rica e abundante. Colhemos aquilo que plantamos. E quando, em oração, semeamos a bondade no canteiro de nossa vida, podemos ficar certos de que haverá uma colheita farta, tanto para nós como para os outros. Desse modo, a vida pode tornar-se pródiga em benefícios para nós. A Benignidade a Tudo Influencia. A benignidade deve ter uma amplitude tal, que abranja toda a nossa vida. Ela deve abranger os ani-maizinhos domésticos que nos cercam; nosso gado, as folhagens, árvores, relva, as flores de nosso jardim, florestas, lagos, animais selvagens, e os recursos da natureza confiados ao nosso cuidado.

Todos devem ser tratados com benignidade. Deus, pelo seu Espírito, ê o criador do mundo, e o maior conservacionista. Fomos criados à imagem e semelhança dele, por isso devemos agir como ele. Aqueles que sempre possuem uma atitude de benignidade, compaixão, misericórdia e interesse por todo e qualquer espécie de vida, geralmente são pessoas de muita luz interior. Parecem refletir um grande brilho, uma radiação de entusiasmo e bem-estar. Delas emanam calor humano, afeição e boa disposição. É a manifestação da vida e do amor de Deus. Esse tipo de benignidade dissipa a escuridão, remove fardos, fala de paz e reanima os desalentados. Talvez nenhum outro fruto do Espírito tenha maior alcance que esse. Ele surge sem alarde e ostentação, realiza sua obra sublime quase em segredo, e depois se vai sem ser visto. Entretanto, seus benefícios permanecem testificando da obra divina, nesse velho e cansado mundo. Sempre me recordo do terno e bondoso David Livingstone. Com seus fabulosos safaris, ele viajou milhares e milhares de quilômetros, alcançando territórios ainda não mapeados, entre tribos selvagens e estranhas. E onde quer que tenha deixado suas pegadas, ali ficou também um legado do amor de Cristo, manifesto pela sua humilde benignidade para com os nativos. Muitos anos depois de ele haver morrido e de ter ido para o “lar celestial”, ainda era lembrado no continente negro como “o médico bondoso”. Que elogio melhor um homem poderia receber? A Falsa Benignidade Antes de estudarmos o modo como essa benignidade é produzida em nosso caráter, precisamos dar um esclarecimento acerca da falsa benignidade. Benignidade e misericórdia não são uma indulgência balofa e sentimental. Tampouco trata-se de uma tolerância para com os erros e pecados de outros. Vejamos um exemplo. Um pai que deixa o filho cometer erros deliberadamente, não está agindo com benignidade. E a correção do erro vai custar algo ao pai e também ao filho. Ignorar o erro de alguém, deixar aquilo de lado,, fingir que não o vê, rfão é benignidade. Quem assjm age presta um desserviço à pessoa em questão.

Amar sempre nos custa alguma coisa. Implica em sofrimento. O médico bondoso é aquele que lanceta o tumor, expreme o pus, retirando o mal ali contido, limpa o ferimento, e assim promove a cura de seu paciente. Aquele que simplesmente aplica a pomada sobre a ferida, enquanto embaixo da superfície a infecção continua sua obra mortal, esse é um charlatão. Portanto, benignidade implica em coragem, integridade e altruísmo. E o que é mais notável com respeito a esse tipo de benignidade é que Deus confere um grande valor a ela, em sua Palavra. Vemos por toda a Bíblia que ele espera que a benignidade seja uma característica de seu povo, e procura vê-la em nós. É um fruto que deveria estar sempre sendo produzido abundantemente no jardim de nossa vida. Então, como ele é cultivado? Gomo fazemos para incentivar essa cultura, para que crie raízes, produza e cresça forte em nós? Primeiramente, precisamos reconhecer a importância dela para Deus, para os outros e para nós. Grande parte da obra de Deus nesse mundo é realizada pela misericórdia e compaixão. Ter Benignidade é Interessar-se. Gomo povo de Deus, temos nas mãos a felicidade de outros. Os sentimentos de valor próprio, dignidade pessoal e auto-estima, tão necessários ao bemestar do ser humano, dependem, em larga escala, da benignidade que recebem por parte de outros. Está em nossas mãos enriquecer a vida de nosso próximo, interessando-nos por ele, de uma forma toda pessoal, significativa, como Cristo o fez. Mas isso toma tempo, toma muito tempo. Não pode ser feito apressadamente, de passagem, sem respeito humano. Vai exigir muito de nosso tempo — isto é, tempo que poderíamos gastar com nós mesmos —

fazer visitas, prestar pequenos favores, escutar os desabafos do coração de outrem, prestar alguns servicinhos, auxiliar alguém em seu trabalho, ajudálo a carregar suas cargas, orar por ele, partilhar de suas alegrias e tristezas, escrever-lhe, dedicar a ele nosso tempo, energias e recursos, procurar descobrir formas de alegrar e iluminar sua vida. Somos na maioria por demais ocupados. Ao que parece, aquela velha arte de sentar-se ao lado de alguém, calmamente, por uma ou duas horas, para uma conversa tranqüila, já está esquecida. Certa noite convidamos um casal idoso, pessoas amadurecidas pelos muitos anos de árduo trabalho para Cristo, para passarem algumas horas em nossa casinha. Após um delicioso jantar preparado com amor e carinho pela minha esposa, sentamo-nos ali, junto a um fogo crepitante de lenha de cipreste que eu havia apanhado no morro, ao entardecer. Os alegres estalidos da lenha, o brando calor do aposento, o ambiente suave da sala enfeitada com galhos de flores vermelhas encheram de paz o coração daqueles velhinhos. Com o rosto brilhando de satisfação, aquele senhor idoso recordou o passado, lembrando a infância na Pennsylvânia, onde ele também costumava ir pelos morros procurar lenha de ciprestes, em dias especiais. E enquanto passavam as horas, ficamos a falar de livros, quadros, arte, e demos boas gargalhadas. Depois, minha esposa, que está aprendendo a tocar órgão, ofereceu-se para tocar alguma coisa. O espírito deles cantava. Para minha surpresa, daí a pouco, aquela senhora também estava sentada ao instrumento, tocando órgão pela primeira vez em sua vida. Agora, quando viajamos, o órgão fica com eles, proporcionando-lhes horas e horas de grande alegria. Quando saíram de nossa porta para voltarem para casa, eram duas pessoas que, pelo menos no decurso de uma noite, haviam recuperado a alegria da juventude. Seus olhos brilhavam de satisfação, e seus passos revelavam novo vigor. Àbenignidade não precisa ser nada de grandioso ou complicado. Mas é algo que realmente exige tempo, consideração e amor. A segunda e grande maneira de promover sua presença em nossa vida é nos

recordarmos muitas vezes da grande benignidade de Deus para conosco. Tenho a convicção inabalável de que, quando a Palavra de Deus nos instrui claramente a termos momentos de comunhão com Cristo, meditando em seus mandamentos, essa ordem está basicamente relacionada com sua misericórdia, compaixão e benignidade para conosco. Aquele que freqüentemente tem instantes de reflexão sobre essas coisas se achará vivendo e movendo-se numa atmosfera de humildade e gratidão a Deus, com uma atitude condizente. E constantemente brotará de seu espírito um sublime sentimento de gratidão e amor a Deus, por todos os benefícios a ele concedidos pelo terno Senhor. Assim, impulsionados e constrangidos por esse amor — a vida de Cristo comunicada à nossa vida — poderemos sair por esse mundo infeliz e sofrido, dispensando benignidade a outros. Por onde quer que passemos, ali ficará um legado de amor. Pois bondade e misericórdia nos seguirão todos os dias de nossa vida.

Bondade: Graça e Generosidade bondade 1 parece ser um dos mais óbvios frutos do Espírito de Deus. Entretanto, é dos mais mal entendidos e mal interpretados. A bondade sempre foi considerada uma qualidade que pertencia essencialmente a Deus. Era tão válido dizer que “Deus ê bom”, como era dizer “Deus é amor”. Naturalmente, daí se conclui que “o amor é bom”, da mesma forma que bondade é uma faceta da manifestação do amor. Esse tipo de bondade procede de Deus. Ele dá uma enorme ênfase a ela. Ele a exalta. Quando esteve entre nós, diziam, com grande simplicidade: “Ele ia a toda a parte fazendo o bem.” O impacto dessa bondade, que se movia em ondas de ímpeto irresistível, atravessou os séculos, e circundou todo o globo, de modo que até hoje a bondade de Cristo nos atinge com grande poder. Ela nos espanta e nos deixa

atônitos. Também faz vibrar até as profundezas de nossa alma fatigada pelo pecado. A Atitude do Mundo Para com a Bondade Contudo, numa antítese direta para com a bondade de Deus, o mundo muitafe vezes deprecia essa virtude. Quando desejam menosprezar ou zombar daqueles que estão buscando servir a Deus, chamam-no de “santar-rão”. O epíteto de “santinho”, que as crianças às vezes usam para insultar umas às outras, é um dos mais maliciosos e contundentes que elas usam. Para o mundo, a bondade é algo insípido, fraco, que deve ser desprezado e depreciado. Aliás, quando o Senhor esteve entre nós, até mesmo sua bondade foi difamada pelos seus antagonistas. Isso acontece, porque o bem e o mal se excluem mutuamente. A bondade de Deus e a malignidade do inimigo acham-se em pólos totalmente opostos. O incessante antagonismo que existe entre esses dois elementos explica o caos e as intermináveis chacinas que caracterizam a história humana. Mas quero relembrar ao leitor que a bondade de Deus, por fim, prevalecerá sobre o mal. O amor vencerá o desespero. A luz dissipará as trevas. A vida suplantará a morte. Se isso não ocorre em nossa vida diária, no presente, terá que ocorrer algum dia, segundo os propósitos de um Deus terno e bom. Foi ele quem veio habitar entre nós, e ser nosso Salvador, a fim de que isso fosse possível. “Cristo, que não conhecia o pecado, foi, por assim dizer, levado por Deus a ser pecado por nossa causa para que em Cristo possamos ser feitos bons com a bondade de Deus.” (2 Co 5.21 — Cartas às Igrejas Novas.) O preço que ele pagou para realizar isso foi enorme, e, por isso, a bondade é uma qualidade do caráter de Deus a que muitos de nós não sabem dar o devido valor. Com que freqüência nos deixamos ficar em sua presença, pasmados, admirados, assombrados, quebrantados e humilhados diante de sua bondade? Quantas vezes pedimos ao Senhor deliberada e decididamente que nos dê essa sua bondade? Quantos de nós realmente desejam, acima de tudo, “ser feitos bons segundo a bondade de Deus”? Muitas pessoas oram pedindo a Deus amor, paz, paciência e até benignidade, mas raramente ouvimos um clamor de coração quebrantado,

que parte das profundezas de uma alma partida e manchada pelo pecado, *

cansada do mal, que diz: “O Deus, peço-te que me tornes bom.” A Verdadeira Natureza da Bondade A bondade de Deus não é uma indulgência sentimental, fracote, sem vigor, em sensualidade. Não é também uma disposição de humor passageira que nos faz “sentir tão bem”. Tampouco é um clímax de bem-estar emocional, em que a realidade se dilui num róseo clarão de mágica mística. Abondade é a dura realidade de Deus em confronto com a hediondez do pecado. A bondade é o invencível poder de Deus derrotando o mal. A bondade do Senhor é a grandeza do seu amor, que dissipa nosso desespero, e, de nossa morte, ergue sua própria vida. É a sua generosidade e graça operando em nós, pelo seu bendito Espírito. É a enorme energia de sua luz e vida extinguindo o mal que há em nós e que nos cerca. Abondade de Deus é a forte e pulsante atuação do bem em meio a todo o erro que está a nossa volta. Aquele que é verdadeiramente grande, também é verdadeiramente bom. E a pessoa realmente boa é sempre grande. É um indivíduo de ideais elevados, de propósitos nobres, de caráter forte, de conduta irrepreensível, em quem se pode confiar. É um plano bastante alto. São poucas as pessoas que podem dizer que possuem tais credenciais. Entretanto, esses foram os atributos mais clara e obviamente demonstrados por Jesus Cristo. E por isso que as pessoas ou o amavam demais ou o odiavam intensamente. Era a bondade de Deus, existente em sua vida, que atraía a si todo o povo, como um ímã irresistível, mas, por ela mesma, os falsos, superficialmente santos, eram repelidos. A bondade de Cristo polarizava os indivíduos como se estes fossem limalhas de aço num camço eletromagnético. Ou eram a favor ou contra ele. ) O mesmo se dará com qualquer pessoa que realmente o siga. O Espírito de Deus operará poderosamente em sua vida, e todos os que o cercam serão polarizados. Eles serão ou atraídos ou repelidos pela bondade de Deus, manifesta na

vida daquele discípulo. A Bondade de Deus e Sua Graça A inerente bondade de Deus sempre se acha lado a lado com a sua graça. Aliás, podemos afirmar que a graça de Deus, aliada à sua santidade (bondade e integridade) é que faz com que sejamos atraídos para ele. Sua bondade é temperada pela graça, tornando-o um Deus accessível. É o “bom” Deus que também é cheio de graça para conosco. Ele se aproxima de nós com infinito amor e compaixão. Ele nos ama profundamente. Por isso, sua bondade e retidão não nos mantêm à distância. Pelo contrário, ele vem ao nosso encontro, ansioso para envolver, em seus grandes e fortes braços de amor, nossa alma cansada, por causa de sua bondade e graça. Ele não nos adula, nem nos cobre de elogios indevidos. Não procura enganar-nos. Ele vê nosso pecado, e reconhece que somos impuros. Mesmo assim, ele procura uma confrontação com nosso espírito maculado pelo pecado. Assim como aconteceu ao filho pródigo, quando voltou diretamente do chiqueiro para casa, assim também, para nossa mão suja de pecado, há um anel de ouro; um manto branco para cobrir nosso corpo manchado de suor; sandálias novas para os pés sujos de estrume; e beijos para nosso rosto marcado de lágrimas. Que bondade a de nosso Deus! Que maravilhosa graça a do Senhor! Que generosidade a de nosso Cristo! Essas qualidades de vida acham-se exemplificadas pela bondade de Deus. Quando dizemos: “Deus é bom”, é a elas que estamos nos referindo. A Bondade Tem um Preço. Ser reto e bom custa um alto preço. Parte desse preço é a autoprivação.

Num mundo, onde a corrente do pensamento humano flui em direção oposta à bondade, graça e generosidade, temos que pagar um alto preço para possuir estas coisas. A generosidade, que também é uma faceta da bondade, essencialmente, é uma disposição de nossa parte para partilhar com os outros aquilo que possuímos. Mas isso se aplica a tudo que é meu, e não apenas aos meus bens. Ser generoso não é apenas enviar um cheque polpudo para uma organização de caridade; é mais que isso. Na verdade, a generosidade ultrapassa o ato de dar aos outros daquilo que me sobra. Quando Deus, pelo seu precioso Espírito, começa a sulcar profundamente o solo de minha alma, ele implanta nele um novo e divino impulso de ser realmente generoso e dadivoso. Essa altruística autodoação não pode ser apenas a doação de nosso dinheiro; ela implica em mais que isso. Deus apontará para nosso tempo talentos, interesses, forças, energias e capacidades, pedindo que contribuam para o enriquecimento de outras vidas. Ele pedirá que eu ponha de lado meus próprios interesses, a fim de contribuir para outros. Em essência, foi isso que ele fez, quando esteve aqui entre nós. Nunca revelou o mínimo interesse em uma retribuição para si. Tudo que ele era e possuía, ele distribuiu generosamente para o bem daqueles com quem entrava em contato. Ele andou entre os homens, entre as multidões, entre as turbas, entre homens e mulheres com grande energia, dignidade e autocontrole. E sempre ajudando e abençoando a todos, quer em particular quer coletivamente, com sua bondade, graça e generosidade. Tudo que ele tinha era dos outros. Tudo que possuía, achava-se à disposição deles. Ele se doou ao povo, com genuína bondade. A Influência da Bondade Quando o Espírito de Deus entra em nossa vida, para ali derramar abundant em ente o amor de Deus, do qual a bondade é ump das facetas mais importantes, nós nos transformamos em outra pessoa. A presença de Cristo em nosso jardim modifica e refaz todo ele.

Percebemos realmente que, sob a influência de sua vida e sua operação em nós, somos recriados. E essa plantação produz um novo fruto — um fruto bom. “E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura (criação): as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas.” (2 Co 5.17.) Existem três razões para isso. A primeira é que a culpa dos pecados cometidos é apagada. Depois de perdoada e purificada pelo derramamento da vida divina em Cristo, no seu coração, a pessoa se acha liberta do passado, e pode começar uma vida nova, de retidão positiva e poderosa. Não há sentido em se ficar preso ao lamaçal de nossos erros. Não estamos mais embaraçados pelos matinhos e preocupações de nossa antiga conduta desprezível. O terreno de nossa alma já foi roçado, e agora está livre dos temores e tristes presentimentos de nossa vida anterior. Essa bondade que começa a brotar do solo de nosso espírito não é realmente nossa, mas de Deus, Já não fingimos ser santos. Não existe em nós nenhuma atitude de fingimento e encenação. O que há agora é uma simples, sincera e genuína bondade, um produto sobrenatural da vida de Cristo em meu interior. Não é forçada nem artificial, mas a pura manifestação da bondade e graça do Espírito de Deus que em nós opera. Quando isso acontece, percebemos que uma segunda grande atitude de graça para com outros se manifesta também. Não somos mais aqueles falsos santos, empoleirados em nossos altos pedestais, olhando com grande condescendência para o nosso próximo, que se acha abaixo de nós. Pelo contrário. Agora somos humildes peregrinos, andando pelos caminhos da vida, prontos, ansiosos mesmo para estender a mão e ajudar outros que se encontrem nesse mesmo caminho, enfrentando lutas e dificuldades. Todo sentimento de orgulho ou paternalismo para com outros desaparece. Sabemos que, se não fosse pela misericórdia de um Deus amoroso e sua graça infinita para conosco, nós também nos encontraríamos nos becos do desespero e da degradação. È a pessoa boa, a alma cheia de graça e misericórdia, o coração generoso que auxilia os oprimidos deste mundo. São eles que vão por esse mundo afora recompondo vidas partidas, libertando prisioneiros, cuidando dos que se acham marcados pelo pecado, levantando os caídos, transmitindo o óleo

da alegria àqueles que sofrem, espalhando luz e gozo onde há trevas, alimentando os famintos, e testemunhando as boas-novas do grande amor de Deus para com os perdidos. Tudo isso pode ser feito sem ostentação nem alarde. A bondade não precisa ser alardeada nem divulgada. Ela não precisa de um departamento de relações públicas, pois ela própria é a sua melhor propaganda. A pessoa que manifesta a genuína bondade de um Deus cheio de graça nada tem a temer, nem a esconder, nem a salvaguardar. Ela não precisa desculpar-se por aquilo que faz. Suas ações brotam espontaneamente, como a floração das frutas, provenientes da vida divina que há no coração do indivíduo, atingindo sua perfeição suprema na maturação do caráter que se torna como o de Cristo. Esse tipo de caráter dá origem, naturalmente, ao terceiro aspecto da vida recriada, isto é, a sua generosidade. E são essas pessoas — simples, francas, puras — que possuem rostos francos, coração grande e mãos abertas. Com grande boa-vontade e alegria, elas compartilham tudo que possuem com outros. Estão sempre dando, espontaneamente e satisfeitas, e com grande contentamento. Tudo que possuem ou venham a possuir seguram com a mão aberta, considerando aquilo uma dádiva que lhes foi confiada pelo Pai celestial, e não uma coisa exclusivamente sua, que devem agarrar e amar avaramente. É algo que lhes vem diretamente de Deus, para ser dado a outros que estiverem em necessidade. Seja o que for que possuirmos, em maior ou menor quantidade, se o colocq/rmos alegremente nas poderosas mãos de Deus, pode ser abençoado e multiplicar-se em mil, e vir a enriquecer inúmeras vidas. Mas se nos agarrarmos àquilo, temerosamente, a dádiva acabará ficando mirrada, tornando-se em nada, e se perderá. A Verdadeira Bondade E preciso que se diga que a verdadeira bondade de Deus é muito diferente das chamadas “boas obras’’, praticadas com o objetivo de obter méritos diante dele. A primeira origina-se diretamente da presença do Espírito de Deus em nós;

a outra nasce de um desejo egoístico da pessoa que deseja ser elogiada pelos outros. Acham-se em pólos opostos. Essa última, a justiça própria, foi que o Senhor deplorou com tanta veemência entre os orgulhosos escri-bas, fariseus e saduceus. Suas acusações mais severas foram justamente contra a falsa imagem de religiosidade daqueles “santinhos”. Seus elogios mais generosos e belos foram dirigidos ao desprezado samarita-no que demonstrou verdadeira bondade para com seu próximo. Gomo então podemos nos tornar bons, segundo a bondade de Deus? Resumidamente, vamos citar aqui algumas providências para a produção deste fruto. 1. Volte ao Calvário. Passe algum tempo em contemplação da cruz. Leia em atitude de oração o relato da crucificação. Medite sobre o quanto nossa salvação custou a Deus, em Cristo. Na fornalha da aflição, ele consumou um ato deveras gigantesco; foi feito pecado para que eu e você pudéssemos ser tornados justos e bons, segundo a sua justiça. Aceite o oferecimento que ele nos faz. Agradeça-lhe por isso. Que ele torne essa verdade real ao seu coração quebrantado. Deixe que ele a implante no solo rochoso de sua alma. 2. Clame a ele para que virtualmente ocupe o terreno de sua vida. Peçalhe que seja o bom Agricultor, que venha lavrar e cuidar de sua alma. Dêlhe liberdade para amar você, dominar, cultivar sua vida, e dar-lhe da sua grande generosidade. Com muita alegria, ele se dará a você, com terno amor e cuidado, para que você, por sua vez, possa fazer o mesmo por outros. 3. Vivendo ele em nós, temos que manter o terreno de nossa vida limpo, livre, desimpedido. Confesse imediatamente, com genuíno arrependimento, qualquer pecado que possa colocar em risco sua operação interior. Não entristeça seu Espírito. Permita-lhe realizar sua vontade em você. Obedeçalhe prontamente, com alegria e simplicidade, para que se aplique em sua conduta diária o que ele opera em seu interior. Veja Filipenses 2.12-15. 4. Lembre-se sempre de que somos meros receptáculos de todos os dons, dádivas e atributos que possuímos, e não os originadores deles. Tudo isso vem de Cristo. Seja sempre profundamente grato a ele por sua grande generosidade. Saia por esse mundo cansado, e, com coração alegre, espalhe a bondade divina. Que o impacto da bondade de Deus passe a outros

por nosso intermédio... alcançando almas aflitas. Ficaremos grandememie surpresos com os resuiiados! 1 A palavra bondade é usada neste capítulo em seu sentido mais amplo, abrangendo também os aspectos da retidão, graça e generosidade de Deus.

A Fé e a Fidelidade do Cristão Juntamente com o amor, a fé é a mais estudada e discutida faceta da vida cristã. Tanta coisa já foi dita e escrita sobre o assunto, que realmente não há nada de novo para se acrescentar. Mas talvez o leitor se surpreenda ao saber que a fé, longe de ser algo à parte do amor, na verdade é parte integrante dele. Não somente é concedida ao crente como um dos frutos plenos do bendito Espírito de Deus, mas também como um dom especial de Deus, para a realização de atos poderosos, no seio da família de Deus (1 Co 12.9). Para entendermos bem a fé que nos vem de Cristo, é importante lembrarmos, uma vez mais, que, como ela faz parte do amor de Deus, é uma faceta do altruísmo. Em outras palavras, quando uma pessoa exercita a fé, e esta se manifesta em sua conduta, em seu viver, tal pessoa dá também uma demonstração de autonega-ção. Ter fé, pela sua própria natureza, implica em ver o bem nos outros. Isso pode dizer respeito a Deus, e nesse caso, como dissemos no capítulo anterior, o bem é personificado, ou pode dizer respeito a outras pessoas. Esse ato de ver, apreciar e reconhecer algo de valor em outrem significa que estou saindo de mim 1 / • ri • • P*

mesmo, para ver o bem no meu proximo. Signmca que não sou mais tão egocêntrico, tão voltado para mim mesmo, que enxergo o bem apenas em mim mesmo, como se eu fosse o único possuidor dele. A simplicidade desse conceito pode parecer até absurda ao leitor. Pode até haver uma reação subconsciente nos seguintes termos: “Mas é lógico que Deus e os outros também possuem o bem!” É verdade. Então, por que tantos parecem relutantes em reagir positivamente a isso? Por que deixamos de nos entregar a esse bem com alegre liberdade de espírito? Afinal, isso é exercitar fé.

Fé é uma deliberada e positiva reação minha para com o bem que há em outrem, ao ponto de eu agir em favor dele efetivamente. Essa atividade de minha parte significa que estou plenamente disposto a investir algo de mim mesmo em outra pessoa, e que estou pronto a empenhar minha vida em todos os seus aspectos — tempo, energia, atenção, talentos, meios, força, afeição e aceitação — em outra pessoa. Significa que darei o melhor de mim em favor de outra pessoa, ativa e dinamicamente. Falar em fé que não seja isso é mera crença. É falar em jargões religiosos que não produzem nenhum efeito. E, em verdade, essa espiritualidade superficial constitui o grande mal do cristianismo. Centenas de milhares de pessoas afirmam crer em Deus, declaram ter fé em Cristo, proclamam ser crentes, e, no entanto, a vida delas e sua conduta pessoal negam isso, pois são uma mera caricatura da verdadeira fé. A razão dessa minha afirmação é a clara e terrível ausência de fé que se evidencia por toda a parte. Quando o Senhor se encontrava entre nós, procurava continuamente essa confiança dinâmica, essa aceitação dele. Sempre que encontrava um pouco de fé, mesmo que fosse um pequeno fragmento, ficava maravilhado. Várias vezes, ele comentou, com alegria, que, aqui e ali, a fé era exercitada por pessoas em quem era menos de se esperar. A Fonte da Fé Esta fé do bendito Espírito de Deus só pode provir da fonte do amor generoso de Deus, que é derramado em nosso coração. Tendo sua origem nele, ela jorra liberalmente para nós. Torna-se atuante em nosso interior, e depois sai de nós, pela nossa autodoação, para ele e para outros. Foi isto que o escritor da carta aos hebreus quis dizer quando declarou no capítulo 12.2: “Olhando firmemente para o autor e consumador da fé, Jesus.” Esta fé é a faceta do amor de Deus que faz com que eu me dê aos outros em fidelidade e confiança incessantes. Ela se expressa por um constante e contínuo investimento de tudo que temos e somos, tanto para Deus como para os homens. Acredito em Deus e nas pessoas de tal forma, que estou pronto a entregar minha vida a eles.

Se quisermos ver este tipo de vida exemplificado claramente, não podemos olhar para os homens. Precisamos olhar para o próprio Deus. A fé divina tem sua expressão mais plena e sublime em sua fidelidade para com nós, os mortais. Assim como seu amor, bondade, paciência e generosidade emanam dele numa fonte de bênção para nós, assim também sua grande fidelidade jorra para nós, em fluxo constante, diariamente. E não poderia ser de outra forma, por causa da própria natureza de Deus. A Palavra de Deus está cheia de afirmações sobre a fidelidade de Deus. Apenas como exemplo, vejamos o Salmo 36.5-9, onde, inspirado pelo Espírito de Deus, Davi, o grande poeta e cantor de Israel, exclama: “A tua benignidade, Senhor, chega até aos céus, até às nuvens a tua fidelidade. A tua justiça é como as montanhas de Deus; os teus juízos, como um abismo profundo. Tu, Senhor, preservas os homens e os animais. Como é preciosa, ó Deus, a tua benignidade! por isso os filhos dos homens se acolhem à sombra das tuas asas. Fartam-se da abundância da tua casa, e na torrente das tuas delícias lhes dás de beber. Pois em ti está o manancial da vida; na tua luz vemos a luz.” (SI 36.5-9.)

Ê válido perguntarmos, então, como Deus, o verdadeiro Deus, que é todo justiça, cujo caráter é imaculado, pode ter fé em nós, fracos seres humanos, com nossas falhas e nossa insensatez? Como ele, que transcende tanto nossa vida mortal, com a grandeza de sua generosidade, pode ser fiel a nós? Por que ainda se dá ao trabalho de doar-se a nós e conceder-nos todos os benefícios que nos dá? Como pode ser tão generoso e cheio de graça para com seres imprevisíveis, que tantas vezes são infiéis a ele e a outros? São perguntas que realmente nos humilham e nos quebrantam. Se as analisarmos seriamente e nelas meditarmos, no recôndito de nosso espírito, elas poderão abater nosso orgulho. Há duas respostas bem simples. A Natureza de Deus A primeira e mais importante é a própria justiça, retidão, integridade e santidade de Deus. Nosso Deus é tão santo, tão bom, tão sem egoísmo, que não pode deixar de ser fiel. Ele é fiel devido à sua própria constituição. E se não houvesse outra razão, ele teria que ser fiel a si próprio. Ele é a verdade, e, portanto, não pode agir senão de boa fé. Assim sendo, isso

explica por que ele se aproxima de nós em boa vontade e paz, ansioso para derramar esse atributo em nossa vida. Ele anseia transmitir essa capacidade de autodoação a nós, pessoas egoísticas e egocêntricas. Com um profundo anelo, ele espera ver este fruto brotar em nós. Espera pacientemente que ele cresça e amadureça, tornando-se uma fé viva e ativa, uma obediência que atua para ele e para os outros. A razão de ele estar disposto a realizar tudo isso não se acha basicamente em nós, como somos. (“Não há quem faça o bem, não há nem um sequer” — SI 14.3. “Pois todos pecaram e carecem da glória (caráter) de Deus” — Rm 3.23.) Mas ele age com base naquilo que nós podemos nos tornar. Ele vê em nós a possibilidade de sermos conformados ao seu próprio caráter. Ele, que nos criou, sabe que sob a orientação do seu Espírito e a instrução de sua Palavra podemos nos tornar filhos e filhas adotivos, incorporados à sua família, crescendo espiritualmente, conformando-nos à imagem de Cristo. Isso não é mera teoria teológica. Não é apenas doutrina divina. Isso realmente acontece no coração e vida dos homens. Nós podemos renascer. Podemos ser recriados, transformados em homens e mulheres cujo caráter, conduta e conversação sejam como os de Cristo. [Ver 2 Coríntios 5.15-17.) E como tudo isso ê possível, Deus tem enorme satisfação em ser fiel a nós. Ele tem confiança no que pode realizar e conseguir quando opera no jardim de nossa vida. Ele pode arrancar os velhos espinheiros e abrolhos; pode limpar a terra retirando as pedras da incredulidade; pode revolver a terra batida dos caminhos; pode abrir nosso coração para recebermos a boa semente de sua maravilhosa Palavra. E ele o faz com inesgotável boa-vontade e infinita fidelidade. No princípio, Deus criou o homem em amor, para ser seu filho amado, e antes mesmo que a terra fosse criada, ele já o elegera. E embora a humanidade tenha sido devastada pela praga do pecado e do mal, só ele sabia que, pela sua fidelidade à criação, a luz poderia dissipar as trevas; a vida poderia derrotar a morte; o amor poderia afastar o desespero, e a fé (sua fé) poderia tomar o lugar de nossa infidelidade. Tudo isso faz vibrar as profundezas de meu espírito. Desperta minha confiança em Cristo, e aviva as reações de minha alma aos toques de sua mão. Isso produz no jardim de minha vida uma condição climática

favorável à germinação da fé genuína. Começo a perceber que, como ele é fiel a mim, posso ser fiel a ele> e aos outros. Como ele me amou primeiro, eu posso amar (1 Jo 4.4-19). O resultado mais imediato da manifestação desta fé é que o próprio Deus fica feliz. A Bíblia afirma claramente que sem fé é impossível agradar a Deus (Hb 11.6). Deus fica satisfeito quando damos uma resposta positiva de todo o nosso ser, resolvendo fazer o que ele pede; quando em fé calma e simples, concordamos em fazer sua vontade e seus desejos; quando, com alegria, nós lhe damos liberalmente a nós mesmos e tudo quanto possuímos; quando de bom grado investimos tudo que temos em seu trabalho, sabendo que nossa vida não poderia ser gasta de maneira melhor. Ele se alegra porque encontrou fé. Ele vê que uma boa safra de confiança, lealdade e fidelidade está brotando no campo de nossa vida, o qual ele cuidou e lavrou com tanta diligência e fidelidade. É para ficarmos surpresos de que ele se alegre tanto? O Impacto da Fé em Outros A segunda grande conseqüência de a fé florescer em nós é o impacto que ela causa naqueles que nos cercam. Apesar de as pessoas serem tão imprevisíveis e sua conduta tão inconstante, começamos a procurar nelas o bem. A despeito de serem insinceras e insensatas, começamos a acreditar nelas. Apesar dos fracassos e fraquezas humanas, começamos a vê-las como Deus nosso Pai as vê. Olhamos para elas do mesmo modo que o Pai olha, e começamos a enxergá-las como o Espírito de Deus as enxerga. O amor de Deus está sendo derramado em nosso coração, e por isso podemos perceber e discernir o potencial latente em cada pessoa. Nossa fé não se concentra em suas peculiaridades, mas em suas possibilidades. Pela fé, cremos e conhecemos e temos a certeza de que, pelo poder de Deus, elas podem tornar-se grandes e nobres. A fé exercitada dessa maneira produz milagres naqueles que nos cercam. Esse tipo de fé consegue enxergar a melhor faceta de cada situação, e procurar a aura prateada, mesmo nas nuvens mais escuras. Ela procura o menor indício de honra e dignidade. Ela crê que, para Deus, tudo é possível. Por isso marcha em frente, permanece firme, continua leal, mesmo em meio

a reveses e decepções. Essa fé é estável, mesmo em face de experiências abaladoras, pois seu olhar está fixado naquele que é fiel, e não no caos e confusão das circunstâncias que nos cercam. É nessa atmosfera de confiança em Cristo que o fiel (uma pessoa cheia de fé) vive tranqüilamente com energia, serenidade e equilíbrio. Ele não se deixa abalar por ventos tempestuosos, nem pela instabilidade de conduta daqueles que o cercam. Com toda a calma, mansidão, sem alardes, ele simplesmente se dá continuamente a Deus e aos outros. E ele faz isso por meio de centenas de pequenos atos, sem ostentação, nos quais sua vida é gasta em favor dos outros, porque crê neles e no que Deus pode fazer. Em sua obra clássica sobre o amor de Deus, The Greatest Thing in the World (A maior coisa do mundo), Henry Drummond aborda esse conceito em linguagem comovente: “Se pensarmos um pouco, veremos que as pessoas que nos influenciam são aquelas que acreditam em nós. Numa atmosfera de suspeitas, as pessoas ficam mirradas; mas, onde há confiança, elas se expandem, encontram incentivo e têm uma relação mais construtiva. É maravilhoso saber que, aqui e ali, nesse nosso mundo duro e descaridoso, ainda existem pouquíssimas pessoas que não pensam sempre o pior a nosso respeito. Essa é a verdadeira espiritualidade. O amor ‘é benigno’ , não vê segundas intenções nos atos; enxerga sempre o lado positivo das coisas, e dá sempre a melhor interpretação a tudo. Que maravilhosa atitude mental para se ter continuamente! Que estímulo e bênção será encontrá-la, mesmo que seja apenas por um dia! Ser alvo da confiança de alguém, é ser salvo. Se tentarmos influenciar ou soerguer outras pessoas, veremos que o sucesso delas cresce em proporção à confiança que depositamos nelas. O principal fator para a restauração do respeito próprio que alguém perdeu é justamente o respeito de outrem por ele. O ideal que temos acerca de uma pessoa torna-se para ela um modelo, um alvo a ser atingido.” Essa fé remove as montanhas da inércia e da maldade nos outros. Destrói preconceitos e impossibili-dades. Essa fé é um fruto do bendito Espírito de Deus, que opera no sentido de adoçar este nosso mundo amargo. Ela remove a suspeita e a desconfiança, colocando em seu lugar a amizade, esperança e alegria. Faz com que nossos amigos, familiares e até conhecidos ocasionais se sintam soerguer. Leva o cínico e

cético a abandonar seu cinismo e caminhar para a salvação. Infelizmente, temos de reconhecer que não há muito dessa fé no mundo de hoje. Aliás, esse atributo está-se tornando bastante raro. Seja onde for que o procuremos — em casa, em familiares, nos negócios, na igreja, em nações ou indivíduos — ela é rara. As virtudes da lealdade profunda, da confiança mútua e fidelidade constante, que são facetas da fé em ação, estão desaparecendo rapidamente de nossa sociedade. Não nos surpreende nem um pouco o fato de o Senhor haver levantado essa questão: “Quando vier o Filho do homem, achará porventura fé na terra?” (Lc 18.8.) A fé se manifesta — ou não se manifesta — nas mesmas proporções que a abnegação. E realmente essa é a verdade. Se estivermos preocupados apenas com nossos interesses egoísticos, o amor [o amor de Deus), com o resultante atributo da fé, não operará. Por outro lado, se a fé for ativa em nós, afetará toda a nossa existência. Seremos como mordomos, a quem foram confiados tempo, talentos, meios e interesse, a serem utilizados em favor de Deus e de nosso próximo. A nós foram confiadas imensas responsabilidades, que poderão beneficiar e enriquecer a geração em que vivemos. Espera-se de nós que sejamos fiéis mordomos de tudo que foi colocado à nossa disposição, para o soerguimento e encorajamento de nossos contemporâneos. Temos o alto privilégio e a satisfação de nos dar a nós mesmos e aquilo que temos a um mundo em desespero. Tudo isso é parte prática e integrante da fé viva em ação. Esse tipo de fé provém de Deus. Se não a possuímos, devemos pedi-la a ele. Ele insiste em que o busquemos ousadamente, pedindo-lhe os seus preciosos dons (Lc 11.9-13). E ele concede realmente seu Espírito àqueles que solicitam sua presença, e se acham preparados para obedecer de todo coração à sua vontade. (At 5.32.) Ele não sonega nenhum bem àqueles que buscam sua fé com toda a sinceridade. Ele é fiel! E à medida que vamos vendo essa fidelidade demonstrada para conosco, diariamente, pelo Pai amoroso, em milhares de situações, a nossa fé nele também se fortalece e aumenta. Da mesma forma, ela nos motiva a termos fé naqueles que peregrinam conosco pelas estradas pedregosas da vida. E nos poremos lado a lado com eles, ajudando-os a carregar seus fardos, alegrando-lhes o espírito e inspirando-os.

Esse tipo de fé brota de uma consciência pura. Se nossa visão de Deus for clara e límpida, a imagem que fazemos dos outros não será distorcida e embaçada. Veremos claramente nossa responsabilidade tanto para com ele como para com os homens. E em harmonia com essa visão, agiremos sempre em boa fé. Não permitindo que nada se interponha entre nós e os outros, andaremos sempre na luz, como ele está na luz. Em cada situação que se nos apresentar, poderemos contar com a presença fiel e vigilante de Deus, para guiar-nos e capacitar-nos na tomada de decisões e nas ações. Aquele que prometeu: “Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação do século”, será fiel à sua palavra, a si mesmo e a nós.

Humildade: Mansidão e Brandura Na crueza e confusão de nosso escabroso século XX, a humildade mal pode ser considerada uma virtude. Atributos tais como mansidão e brandura não são qualidades que as pessoas procuram, se desejam vencer na vida. Somos um bando de gente apressada, dominadora, permissiva, que, desde o berço (se é que ainda existem berços) já está empurrando, berrando, lutando para passar à frente dos outros — e fincar o pé no topo da escada do sucesso. Brigamos bravamente pelos nossos direitos, acreditando na estranha ideologia de que a melhor coisa desse mundo é ser grande, corajoso e ardoroso. Adotamos a idéia de que, já que ninguém vai tocar nossa trombeta, nós mesmos a tocaremos, bem alto, e por bastante tempo. Estamos plenamente convencidos de que, se não deixarmos nossa marca no mundo, seremos esquecidos na multidão — apagados da lembrança do mundo, pelas massas que circulam ao nosso redor. Desde o instante em que damos o primeiro passo, vacilantes, ainda bebezinhos, recebemos a ordem: “Fique de pé sozinho’’. Somos incentivados a “vencer por nós mesmos’’, a tomar nossas próprias decisões. E assim nos ensinam a ser agressivos, autoconfiantes e a nos auto-afirmarmos. E Ficamos certos de que todos esses atributos nos levarão ao sucesso e à grandeza. Assim sendo, recebemos um grande choque, quando ouvimos o Senhor

declarar: “Aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus.” (Mt 18.4.) Parece que nossa sociedade pensa que humildade e grandeza são duas coisas que se excluem mutuamente. Por isso, muitos crentes se vêem diante da necessidade de fazerem alguns ajustamentos de ordem mental, emocional e volitiva, nessa questão. De que lado está a verdade? Onde está o segredo do sucesso? Vamos adotar a posição de nossa cultura, ou a difícil proposta de Jesus Cristo que afirmou claramente: “Mas o maior dentre vós será vosso servo”? O texto de 1 Coríntios 13.4,5 não usa de rodeios para dizer que o amor “não se ufana, não se ensober-bece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses”. A natureza do amor de Deus, que é abnegado e modesto, impede que ele fique pavonean-do e exibindo-se pomposamente. Ele não tem nada a ver com esse tipo de atitude. Não é orgulhoso, arrogante, nem se ufana de sua própria importância. A Essência da Humildade Esta qualidade de vida que produz a verdadeira humildade no espirito humano nos dá uma visão equilibrada de nós e dos outros. Enxergamos a grandeza e a bondade de Deus e dos que nos cercam. Da mesma forma, ela nos capacita a nos vermos a nós mesmos como realmente somos. Vemos nossa insignificância, em relação à grande massa da humanidade, mas, ao mesmo tempo, percebemos que temos grande valor para Cristo, que nos chamou das trevas para a luz do seu amor. Vemos a nós mesmos como pecadores, mas ao mesmo tempo como aqueles que foram salvos do desespero, para se tornarem filhos de Deus. Então, é a generosidade de Deus, a bondade de Cristo, e a paciente perseverança do seu Santo Espírito que nos levam para ele, e humilham nosso coração altivo. É a intensidade da compaixão de Cristo que esmigalha a dura crosta de egoísmo que se forma em torno de nosso caráter. Ê a penetração de seu terno Espírito em nosso coração que remove dali a arrogância e a constante preocupação com nós mesmos. E assim ficamos carregados de frutos de humildade e mansidão. Há um velho ditado entre fruticultores que diz o seguinte: “Os galhos mais

carregados de frutos também são aqueles que ficam mais baixos.’’ Na conduta humana acontece o mesmo. Fraqueza, Não; Mansidão Homens mansos não são homens fracos. As pessoas mansas são agradáveis, tratáveis e de fácil convivên♦ TI m 1 * / | P / • J I A ■ •

cia. Esses indivíduos ataveis, de bom gemo, conquistam amigos em toda a parte, pois se negam a forçar os outros ou pisar neles. Não ganham batalhas pela força bruta ou pela luta. Conquistam um lugar no coração das pessoas e nos lares, com o passaporte de um espírito humilde e terno. A singularidade de seu caráter é a mansidão. Essa qualidade de vida não se origina de uma atitude de fraqueza e incapacidade, mas de uma enorme força e serenidade interior. Somente um espírito forte e firme pode condescender em ser manso. É o sublime Espírito do Deus vivo quem nos concede a capacitação para expressarmos um interesse e compaixão genuínos pelos outros. É a autodoação abnegada dele que nos permite tratar os outros com cortesia e consideração. E essa atitude ultrapassa o mero verniz da educação superficial e da conduta adequada. Mas esse tipo de humildade, mansidão e brandura custa um alto preço. Não se trata de uma mera conveniência de que lançamos mão, a fim de alcançarmos nossos objetivos egoísticos. É a essência de uma vida dedicada, consagrada, vivida para os outros. A Mansidão de Deus em Cristo Se quisermos ver o melhor exemplo de humildade, complacência e mansidão, temos que olhar para o Senhor. Em Filipenses 2.1-11, o apóstolo resumiu esse tipo de vida em versos curtos, diretos e admiráveis. “Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros. Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o

nome que está acima de todo nome.” (Fp 2.4-9.) Uma complacência e autodoação tão grandiosas fazem com que o nosso espírito se cale em sua presença. Até que ponto ele foi, para identificar-se conosco, pobres mortais que vivemos nos debatendo no lamaçal do pecado! Até onde ele desceu, para livrar-nos do desespero! Que humilhações suportou voluntariamente, a fim de resgatar-nos e redimir-nos, tirando-nos das garras do inimigo de nossa alma! É verdade! Conhecer e experimentar a verdadeira humildade custa um alto preço para aquele que se propõe a isso. Para a maioria das pessoas é um preço proibitivo. Elas simplesmente não querem pagá-lo. Ali ocorre o fenômeno da “resistência de consumidor”, e com isso a mansidão e brandura que deveria haver entre nós sofre uma diminuição. Simplesmente não desejamos perder nosso bom nome. Não queremos a parte do “servo sofredor”. Recusamo-nos a ser um “capacho”, onde os outros possam limpar os pés sem a menor consideração. Não nos entusiasma a idéia de nos envolvermos com os fracos e infelizes. Não nos sentimos atraídos pelo “homem de dores”. Ele não possui nada de atraente. Como fazem tantos outros, temos a tendência de rejeitar e desprezar essa atitude de submissão. Em conseqüência, no jardim de nossa vida, brota uma mistura de frutos do mato. De um lado, há partes de nossa conduta que são marcadas pela presença do orgulho, auto-afirmação, arrogância, auto-satisfação e áspera agressividade. Essas coisas, muitas vezes, subjugam os frutos do Espírito de Deus, que são mais tenros. Elas se alastram por eles, quase os sufocando e matando. Se não mantivermos os olhos sempre fixos na vida e caráter de Cristo, sucumbiremos à eterna tentação de viver como nossos contemporâneos — pagando olho por olho e dente por dente, brigando pelos nossos direitos, exigindo o que nos é devido, pisando em quem nos ofender, e procurando sempre ganhar proeminên-cia e reconhecimento. Essa é a maneira de agir do mundo. Mas Cristo nos conclama a seguir suas pisadas. Ele nos diz para

negarmos a nós mesmos diariamente (desistirmos de nossos direitos). Pede que tomemos nossa cruz continuamente (e isso acha-se diametralmente em oposição a meu egoístico interesse próprio) e que cortemos de nossa vida o grande “eu”, para que tenhamos paz. Nada disso é agradável nem atraente. É contrário à textura de nossa natureza. Não é nem belo nem romântico. Os Benefícios da Mansidão Entretanto, seus frutos trazem três benefícios fantásticos, que a maioria das pessoas nunca vem a conhecer. São os seguintes. 1. A humildade é a única base da qual pode brotar a fé. A alma orgulhosa, pomposa, segura de si, não vê necessidade de Deus ou dos outros em sua vida. Essas pessoas “vencem por si próprias”, ou pelo menos é o que ingenuamente pensam. Só têm fé em si mesmas. Acabam desiludidas, egocêntricas, solitárias e sua própria autocompaixão zomba delas. Mas a pessoa humilde clama pelo auxílio de Deus em quebrantamento e contrição de espírito. Busca em Cristo a restauração e a cura de seus males. Exercita a fé em outros, pois reconhece que precisa tocar alguém que é maior que ela, Da mesma forma, procura outros a quem possa servir, e, em seu trabalho sofrido, encontra auto-realização e liberdade para a alma. 2. É a essas almas que Deus se dá liberalmente e com alegria. Ele se aproxima daqueles que se aproximam dele. Ele se deleita em habitar com os de espírito quebrantado e contrito. “Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado (humilde]; e salva os de espírito oprimido (manso).’’ (SI 34.18.) A razão disso é tão óbvia, que a maioria das pessoas não a enxerga. Deus, que é um ser de amor desinteressado, só pode sentir-se bem e estar em harmonia com uma pessoa que também tem espírito al-truístico. Assim não poderá haver conflitos. Tudo ê paz; tudo está bem. A Bíblia nos diz que Deus resiste ao soberbo, mostrando um vivo e marcante contraste com a situação acima exposta. Ele não apenas tolera, ou

tem complacência para com a alma arrogante, mas ele se opõe a ela ativamente. É um fato estarrecedor, que deve fazer estremecer todo indivíduo egocêntrico e orgulhoso (ver Tiago 4.4-10). Gomo é triste compreender que, pelo nosso orgulho, estamos sofrendo uma resistência de força diametralmente oposta, por parte de nosso Deus, que é tão altruísta e abnegado. E essa situação é inevitável, pois as duas coisas se excluem mutuamente, e sistematicamente se opõem uma à outra. Gomo é terrível descobrir que, em vez de seguir pela vida auxiliados por Deus, estamos aqui lutando e sofrendo a “oposição” dele. Não admira que não obtenhamos sucesso. 3. Mas em forte constraste com isso, a terceira realidade surpreendente acerca da humildade é o impacto que ela produz sobre o nosso próximo. A pessoa realmente humilde conquista amigos e atrai para si um círculo de companheiros amáveis. Essa qualidade atrai os outros, assim como o mel de uma flor atrai as abelhas. A pessoa mansa e de bom gênio é alvo da afeição de todos. Os outros a abençoam. Ela é cumulada de amor, cercada de compaixão. Onde quer que vá, portas e corações se abrem de par em par, numa acolhida afetuosa à sua bela presença. Mas o orgulhoso, arrogante e altivo tem poucos amigos, se é que os tem. Ele fica ali, de pé sobre o seu pequeno pedestal de orgulho, em triste e miserável solidão. Os outros o deixam sozinho. Ignoram-no deli-beradamente.Já que é tão independente, que viva sua vida; que siga seu caminho; que sofra a agonia de seu próprio egoísmo. A Humildade é Uma Prática Diária. Tenho sempre em minha carteira, um velho e amarelecido recorte de jornal, que me acompanha em minhas viagens pelo mundo há trinta anos. Nele lêse o seguinte: “Pode ser que a velha ordem se modifique para dar lugar à nova, mas, alguns princípios fundamentais deverão permanecer, com a passagem do tempo.” Um leitor enviou-me um trecho de um livro intitulado Quite a Gentleman [Um cavalheiro}, escrito há cem anos atrás. Diz o seguinte: “Eis aqui uma lista de pequenas características pelas quais

podemos distinguir um cavalheiro entre a multidão de homens comuns. Ele se preocupa com detalhes; responde imediatamente às cartas que recebe; reconhece prontamente um ato de bondade que lhe é dirigido; é grato por pequenos favores; nunca se esquece de pagar suas dívidas, nem de apresentar um pedido de desculpas, quando necessário. É pontual, ordeiro, e tudo o que pega para fazer, faz da melhor maneira possível e de todo o coração.” O leitor pode indagar: “O que pontualidade tem a ver com o fato de ser cavalheiro?” Ou então: “O que responder cartas imediatamente tem a ver com amor e com o fruto do Espírito chamado mansidão?” Vou explicar. Depois de tudo dito e explicado, veremos que os frutos do bendito Espírito de Deus devem expressar-se através dos fatos simples de nossa conduta diária. Eles não são apenas teoria e teologia. A pessoa que sempre chega atrasada em tudo está revelando com isto que não se preocupa com os inconvenientes que pode causar a outrem. Com esse ato, ela está dizendo, não em palavras, mas com seu comportamento: “Meu tempo é mais importante que o seu! Você pode esperar! Pode perder tempo. Não tem importância!” Vemos aqui o egoísmo, egocentrismo, orgulho e arrogância dirigidos para outrem, numa conduta leviana. É exatamente a antítese do amor de Deus. A pessoa irresponsável com relação á resposta de sua correspondência é igualmente egoísta. As desculpas que dão normalmente são muito reveladoras: “Não tive tempo. Estava muito ocupado. Não consegui dar um jeito para responder. ” Note como o eu aparece com freqüência. Com essas palavras, essas pessoas estão dizendo o seguinte: “Não me importo quanto tempo você tenha de aguardar. Não me importo se você se preocupar com a falta de notícias minhas. Estou tão ocupado comigo mesmo, que não tenho tempo para você. Não me sinto responsável pela sua paz de espírito. ” Muitos crentes têm a idéia de que os frutos do Espírito são algo de místico, mágico, uma espécie de clarão super-espiritual, que penetra em nossas emoções e mente, tornando-nos pessoas super-espirituais. Não é verdade. Os frutos do Espírito de Deus são semeados no terreno de nossa alma pelo seu Espírito. E aquilo que ele operou em nosso interior, temos que manifestar no exterior. Aquilo que ele nos revela como certo e adequado,

temos obrigação de pôr em prática. Não somos santos feitos de gesso. Como pessoas que livremente resolveram fazer a vontade de Deus, nós concordamos em realizar seus desejos. Deliberamos buscar sua face — servir a outros e negar a nós mesmos. Temos que considerar o custo disso — temos um preço a pagar. Temos que morrer diariamente para o nosso eu. Se precisarmos de um incentivo e de uma inspiração para vivermos essa vida consagrada, devemos olhar apenas numa direção: para Aquele que nos amou e se deu por nós. “Nisto conhecemos o amor, em que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos." (1 Jo 3.16.) É um caso mais que claro de causa e efeito, e não uma fórmula ou técnica complicada. Aliás, somente depois que todo o impacto da entrega que Cristo fez de sua vida consegue atravessar a dura crosta que cerca nosso coração egoísta, é que a humildade poderá tomar o lugar de nossa desprezível e constante preocupação com nós mesmos. Somente então é que a força da presença da humildade em nós remove o egoísmo, dando-nos a capacidade de sair por esse mundo ferido, sofrido e sangrento, na função de servos sofredores. A humildade de Cristo, a mansidão de seu precioso Espírito e a brandura de nosso Deus, só poderão ser vistas, sentidas e experimentadas por esse mundo endurecido através da vida do povo de Deus. Se quisermos que a sociedade do século XX encontre a Deus, terá que ser pela operação na vida de seus filhos. É neles que seus frutos devem crescer abundant emente. É neles que eles devem ser vistos. Quando meditamos demoradamente na grande generosidade de Deus em Cristo, humilhando-se por nossa causa, nosso coração frio deve se aquecer e ser inundado com o calor de seu amor. E com um enorme, transbordante e espontâneo senso de gratidão, devemos viver perante os outros em humildade e mansidão, servindo-os com sinceridade e verdadeira simplicidade. Assim como o Pai enviou o Filho ao mundo, assim também ele nos envia a servir uma sociedade enferma pelo mal. E podemos fazê-lo sem pompa e sem segundas intenções. Podemos fazê-lo andando com Deus, humilde, calma e mansamente. Talvez isso espante uma

sociedade cética. Afinal, não é esta a atitude normal. Não conquista aplausos nem medalhas. Mas pode muito bem ganhar algumas almas para o Salvador. Não será uma vida suave e sem tropeços. Mas é a menos cansativa; é a vida de paz. É a melhor vida. “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” (Mt 11.28-30.)

Domínio Próprio: Temperança, Moderação Domínio próprio, temperança, moderação, autocontrole — todos estes termos são empregados para definir o último dos nove frutos do Espírito, listados em Gálatas 5.22,23. Para expressar isso na terminologia de 1 Coríntios 13.1-7, citaríamos as frases: “Não se conduz inconvenientemente”, ou então: “Não age de maneira inadequada ou imprópria.” Pode parecer muito simples e um tanto pomposo, mas é muito difícil de se colocar em prática na vida diária. O domínio próprio pode ser a última faceta do amor de Deus mencionada na lista, mas isso certamente não quer dizer que seja a menos importante. Sem dúvida, podemos dizer com toda justiça que é um dos aspectos da conduta, caráter e conversação cristãos que apresenta maior dificuldade para a maioria das pessoas. Dos frutos que deve haver no pomar de nossa vida, talvez este seja o mais cheio de manchas, de irregularidades e de produção mais incerta. Em algumas situações, nos comportamos da maneira mais exemplar e elogiável possível. Mas em outras ocasiões, nos conduzimos de modo pior que os animais. Há dias em que parecemos agir sempre decente e dignamente. Em outros, parecemos mais um vulcão em erupção, soltando veneno e violentas injúrias. Se nos examinarmos com muita sinceridade e um espírito imparcial, veremos que, muitas vezes, como explica o apóstolo Tiago com tanta ênfase, da mesma fonte interior procedem água doce e amarga. Ou então, para empregar a linguagem do Senhor Jesus, a terra de nossa personalidade produz uvas e abrolhos, figos e espinheiros. Quantas vezes a coerência e credibilidade não são tão visíveis em nós. Ou, como expressou o profeta da antigüidade, o agricultor veio à sua vinha, desejando encontrar uvas doces, e, em lugar disso, encontrou apenas uvas bravas: “Agora cantarei ao meu amado, o cântico do meu amado a respeito de sua vinha. O meu amado teve uma vinha num outeiro fertilíssimo. Sachou-a,

limpou-a das pedras e a plantou de vides escolhidas; edificou no meio dela uma torre, e também abriu um lagar. Ele esperava que desse uvas boas, mas deu uvas bravas.” (Is 5.1,2.) Esse tipo de fruto só serve para irritar a gente. Colocando isso em linguagem simples, em linguagem de leigo, poderíamos dizer que, em vez de sermos o povo de Deus, povo que fala as palavras dele, e faz as obras dele no mundo, freqüentemente nos colocamos fora do controle dele, vivendo segundo a nossa própria vontade, seguindo nossos próprios e errados caminhos. O Caráter do Domínio Próprio O que as Escrituras querem dizer quando falam em domínio próprio? O que é a verdadeira temperança? Qual é o significado da genuína moderação na vida do homem? Ela pode ser produzida nele? Pode ser cultivada? Ou seria tudo apenas uma dessas enganosas fantasias que nos aparecem na vida diária, onde nos defrontamos com milhares de tentações para deixarmos as auto-restrições, e vivermos à larga? Antes de respondermos a essas perguntas, precisamos esclarecer bem uma coisa. O que chamamos “domínio próprio” não é o mesmo conceito do que o mundo chama de estoicismo. Não se trata de uma severa atitude espartana. A idéia aqui não é a amarga e rígida tese de cerrar os dentes, e suportar a vida com frio cinismo, nem é aquela concepção de “agüentar firme”. O autocontrole proposto ao filho de Deus não implica em uma autodisciplina severa para que ele possa controlar sua conduta. Não, não, não. Não é isso, não. O domínio próprio do cristão significa que todo o seu “eu”, seu ser, seu corpo, alma e espírito, encontram-se sob o controle de Cristo. Significa que ele é uma pessoa totalmente governada por Deus. Toda a sua vida, cada aspecto dela — espiritual, moral ou físico — acha-se sujeito à soberania do Espírito de Deus. Significa que ele é “um homem sob autoridade”. O controle de seus interesses, atitudes, ações, constitui um direito que ele cedeu e entregou ao Espírito de Deus.

Para explicar isso usando a figura do jardim, diremos que o bom Agricultor entrou pelo portão. Todo o solo de nosso jardim pertence a ele, para fazer o que quizer. Ele tem o direito de produzir o que quizer, da maneira que quiser, sem quaisquer empecilhos. Ele é o único que tem o direito de controlar a produção da plantação. É ele quem decidirá o que irá ser plantado em cada área do terreno. Cristo — um Homem sob Controle Se quisermos ver como opera esse princípio do controle divino, seu melhor exemplo não se acha em outros seres humanos. Até mesmo os melhores crentes, por vezes, apresentam problemas nesse sentido. O melhor dos homens tem pés de barro. O maior dos santos, às vezes, tem atitudes mesquinhas. Devemos olhar para o próprio Deus. E a melhor manifestação de Deus é Cristo. Quando ele esteve aqui entre nós, disse claramente: “Quem me vê a mim, vê o Pai.” (Jo 14.9.) Foi ele quem afirmou várias vezes que se achava completamente sob o controle do Pai. Ele veio à terra para fazer, não a sua vontade, mas a do Pai. As palavras que disse não eram suas, mas do Pai. As obras que realizou eram as obras de Deus. E justamente por causa desse “controle interior”, por sua vez, ele sempre se achava no controle de todas as situações que enfrentou. Onde quer que Cristo fosse, quem quer que encontrasse, em quaisquer circunstâncias, o mais notável fato de sua vida é que ele sempre estava no controle da situação. Nunca foi pego desprevenido; nunca foi apanhado numa crise. Nunca foi manobrado contra sua vontade; nunca esteve à mercê da turba. Mesmo durante os momentos terríveis, desesperadores e diabólicos que marcaram suas últimas horas, desde o instante da traição até aquele em que seu corpo ferido pendia de uma horrível cruz romana, ele agiu sempre com uma energia calma, com enorme dignidade e com majestosa força interior. Perante os fariseus, sadu-ceus, escribas, mesmo perante Judas, o traidor, perante os sumos sacerdotes, o sinédrio, perante o ardiloso Rei Herodes, e o oportunista Pilatos, os cruéis soldados romanos, as multidões sedentas de sangue nas ruas de Jerusalém, Jesus de Nazaré, o Cristo de Deus, sempre esteve em perfeito controle da situação.

E isso aconteceu porque era controlado por Deus. Em meu livro fíabboni, escrevi a respeito desse assunto mais prolongadamente. Por isso não irei alongar-me aqui. Mas é preciso que se diga, com muita ênfase, que se não sabemos por que nossa vida se acha tão emaranhada, se não sabemos por que parece existir uma selva em nosso interior, e se o solo de nossa alma parece estar coberto de uvas bravas, que crescem des-controladamente, é simplesmente porque não permitimos que nossa vida seja colocada sob o controle do bom Agricultor. Simplesmente não queremos que ele interfira na cultura do terreno de nossa vida. Preferimos seguir a * • 1 r * / « •

nosso propno caminho, torjar nossa propna carreira, fazer o que nos agrada, cultivar nossas uvas bravas, viver perdidos entre os espinheiros e abrolhos da autodeterminação. Em nossa insensatez, achamos que podemos controlar, nós mesmos, nosso destino, mas acabamos descobrindo que nossa vida não passa de um grande fracasso. Entretanto, eu gostaria de fazer uma pausa aqui para lembrar ao leitor que, apesar de nossos extravios voluntários, Deus não nos risca de seu livro, como se nos considerasse irremediavelmente perdidos. Não. Ele não nos afasta desgostoso, nem nos espera com fortes injúrias pelos nossos pecados. Ele não retribui nossos pecados com maus tratos e maldade. Leia o Salmo 103. Se ele o fizesse, onde estaríamos a essa hora? Em vez disso, ele se aproxima com seu maravilhoso e generoso autocontrole, querendo penetrar em nossa alma confusa e assumir o controle de tudo. Ele deseja ansiosamente uma chance de governar nossa vida como Deus, e Deus verdadeiro. Está ansioso para colocar ordem no caos de nosso caráter. Ele deseja tornar-se nosso Senhor, Mestre, Rei, o único que pode controlar devidamente os incultos terrenos de nossa vida. Ele, o maravilhoso Espírito do Deus vivo, irá entrar de bom grado no terreno do nosso ser, para ali exercer sua grandiosa soberania, de forma que possibilite a realização de seus propósitos para nós, como filhos dele.

Em tudo isso há uma imensa esperança. O domínio de nosso ego não é um mero sonho. Pode concretizar-se. Pode irse tornando, pouco a pouco, nosso modo de viver. Controlado por Cristo Todo o nosso espírito, intuição, consciência e comunhão com Cristo pode ser colocado sob o controle do bendito Espírito de Deus. Toda a nossa personalidade — mente, emoções e vontade — pode ficar sob o domínio de Cristo. Todo o nosso corpo — com seus apetites, impulsos, desejos e instintos — pode vir a ser governado por Deus. É possível termos uma vida santa, com moderação e temperança nos momentos de provação. Mas há um preço a ser pago. A paz interior e a energia exterior custam um alto preço. Justiça e retidão em nosso relacionamento com Deus, com os outros e com nós mesmos não é algo que ocorre naturalmente. Não é algo que simplesmente acontece a uma pessoa. O processo pelo qual uma pessoa passa da antiga vida de comportamento desordenado e descontrolado, para uma vida de serenidade e estabilidade é bastante severo. Isso implica em desistir de nossos direitos. Não basta apenas sonhar em se ter uma personalidade agradável. É algo que afeta nossas bases, quando desistimos de governar a nós mesmos e nos entregamos a Deus, irrevogavelmente. Num livro como este, não temos a intenção de entrar em todos os detalhes relativos a uma entrega desse tipo. Todos nós logo descobrimos quais as áreas de nossa vida que ainda não entregamos totalmente a Deus, para que ele tenha controle absoluto. Mas vamos analisar, rapidamente, pelo menos, a alma, isto é, nossa mente, emoções e vontade (disposição). Nossa mente e imaginação pode se tornar um verdadeiro monstro dominador. As vezes permitimos que ela monopolize toda a nossa visão da vida. Formamos idéias tão contrárias ao que é bom, que nem mesmo Deus penetra em nossa mente. Ele fica impedido de entrar em nosso raciocínio, e nas tolas e por vezes ímpias imaginações a que nos entregamos.

Os dominadores de nossa mente são o orgulho e a preocupação com nosso eu. Nossos dias e até mesmo alguns de nossos sonhos são totalmente devotados a objetivos e ambições egoísticas. O bendito Espírito de Deus não pode dar nenhuma contribuição ao nosso pensamento. E no entanto a Palavra de Deus deixa bem claro que nossos pensamentos, mente e imaginação devem e precisam ser renovados (Rm 12.1-3). Nós mesmos não temos capacidade de nos aperfeiçoarmos nisso. Temos realmente que entregar a Deus esse trecho do jardim de nossa vida. Ele é quem deve entrar nele e efetuar as mudanças. Ele pode alterar completamente a direção de nossa mente. Uma Oração de Submissão É perfeitamente correto fazermos uma petição verbal em voz alta, nos seguintes termos: “Senhor, estou aqui com meus pensamentos confusos e minha imaginação desordenada. Eu os entrego a ti. Toma-os sob teu controle. Ocupa esse terreno de minha vida. Apodera-te deste pedaço de terra tão problemático. Eu o entrego a ti, para que tu o governes. Domina-o, Senhor. Que eu passe a ter os teus pensamentos. Faz com que meus interesses se concentrem em ti. Que minha atenção se fixe naquilo que é belo, verdadeiro, digno e elevado. Reforma-me conforme desejares!” Não é uma oração simples e fácil, se for feita com sinceridade. Esse monstro que é a nossa mente pode rebelar-se contra esse pedido. Mas se fizermos essa entrega total, genuína e • i «• A • ~ *11

smceramente, as conseqüências serão maravilhosas. Cristo tomará o controle dela. Ê preciso que se diga aqui que toda e qualquer área de nossa vida que entregarmos a Cristo sinceramente e de todo o coração, ele a tomará para si. Isso não significa que sempre haverá mudanças súbitas e drásticas. Mas é certo que haverá um crescimento em santidade, gradual e brando. Frutos e flores não brotam e crescem de um dia para outro. O processo é lento, mas constante, havendo primeiro a floração, depois a formação do fruto, e

depois o amadurecimento dele. Assim como um belo cacho de uvas roxas não é produzido em uma semana, assim também a nossa mente não amadurece de um momento para outro. O controle do Espírito também é essencial na esfera de nossas emoções; é absolutamente necessário. Se não for pela sua preciosa presença em nós, nossos sentimentos podem ser verdadeiros tiranos. Devido ao constante fluxo e refluxo dos inter-relacionamentos humanos, as tensões causadas por pessoas mais imprevisíveis tornam nossa vida um completo labirinto de emoções. Na verdade, nunca podemos saber com certeza quais os novos e difíceis problemas que cada dia nos trará. Sempre estamos nos relacionando com pessoas desconhecidas e situações novas. Muitas vezes, nossas ações e reações não são governadas por Deus, mas pefo nosso egoístico interesse próprio. Podemos estar abrigando todo tipo de atitude negativa apenas com o objetivo de proteger nosso orgulho, nossas posições ou propriedades. Essas atitudes talvez se exteriorizem em hostilidade, ira, crítica, amargura, ciúmes, ódio e inúmeros outros sentimentos e emoções mais sutis. Esse tipo de vida não é aceitável no povo de Deus. A Bíblia nos ensina e nos adverte, em Gálatas 5 e mais claramente em Romanos 8, que esse tipo de comportamento, na verdade, constitui o amargo fruto silvestre da antiga vida, a vida egoística. Tais coisas são chamadas de “as obras da carne” (G1 5.19-21]. São exatamente o oposto dos frutos do Espírito de Deus. Aqueles que produzem tais frutos, obviamente, não se acham sob o controle de Cristo. Não estão sendo governados por Deus, nem se acham sujeitos à direção, soberania e orientação de seu Espírito. Sendo crentes, ndo podemos viver sob a tirania de nosso temperamento. Vivemos pela fé no poder de Cristo para controlar nossas emoções mais turbulentas. Assim como é com a nossa mente, deve ser com nossos sentimentos. Temos que colocá-los nas mãos de Deus, decisivamente. Então, é certo fazermos aqui uma oração sincera, como a que fizemos com relação à nossa mente: “O Deus, essa vida é por demais complexa, muito cheia de tensões e

problemas, para que eu possa suportá-la sozinho. E facilmente perco o autodomínio. Minhas emoções têm a tendência de sempre inclinarem-se para o erro. Como uma vegetação bravia, cujo desenvolvimento não é detido, elas prontamente sufocam aquilo que plantaste, impedindo seu crescimento. Entra em mim, Senhor, e toma em tuas mãos o controle de meu temperamento. Domina esse tumulto interior que há em mim. Rega-me com tua presença e faz-me saber que estás aí. Opera em meu coração aquilo que não posso fazer eu mesmo. Dá-me poder para amar e viver, e negar meu “eu”, como fizeste quando andavas pelas estradas poeirentas deste mundo cansado. Que minhas emoções se tornem como um jardim, oferecendo refrigério a ti e a todos que me encontram.” A Vontade Controlada por Cristo Depois vem a esfera da vontade. Ela é o ponto central de meu querer. É nela que são tomadas as profundas e permanentes decisões de minha voligão. Em meu livro Nada me Faltará, alonguei-me bastante sobre essa questão da vontade. Basta dizer que, se quisermos ser de alguma valia para o reino de Deus, a área estratégica que Cristo deve ocupar é a nossa vontade. Ê totalmente absurdo pensar ou supor que a pessoa que está resolvida a fazer a sua própria vontade, pode agradar a Deus. Somente depois que nossa vontade se acha em perfeita harmonia e submissão à vontade dele é que descobrimos o segredo do poder e da produtividade divinos. Toda essa questão pode ser resumida numa sentença curta, incisiva, que denota autonegação: “O Deus, não se faça a minha vontade, e, sim, a tua.” Não existe oração mais poderosa. Aquele que faz esta oração, e que realmente é sincero, e já resolveu que vai fazer a vontade de Deus, custe o que custar, verá com alegria que: “Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar.” [Fp 2.13.) Essa pessoa move-se, vive e tem sua existência em Cristo. Ela sabe o que é domínio próprio, e o experimenta em sua vida. Nela o amor de Deus é manifestado em S r* * /V • J m*

magmtica e magnamma moderaçao.

Tudo que dissemos aqui, com certa riqueza de detalhes, em relação à alma, pode ser igualmente aplicado ao nosso espirito, bem como aos aspectos da vida física. Isso o leitor pode fazer por si mesmo, se desejar realmente esse tipo de relacionamento com Deus e com os outros. Basta fazer um exame longo e severo do jardim de nossa vida. O que ele está produzindo? Que tipo de colheita está sendo feita nele? O Mestre está satisfeito? Ele está retirando o que esperava? Seus esforços têm sido em vão, ou há ali uma colheita farta? Nossa margem de frutificação acha-se diretamente relacionada com a medida de nossa rendição. Quanto mais nos entregarmos, tanto mais atuante ele pode tornar-se em qualquer aspecto de nossa existência. Falando sobre sua relação com Cristo, João Batista fez uma declaração forte e pungente: “Convém que ele (Cristo) cresça e que eu diminua.” (Jo 3.30.) Se desejamos obter um aumento na produção dos frutos do Espirito em nossa vida, precisamos saber que isso só pode ocorrer dessa maneira. Não existe nenhuma outra fórmula para a frutificação. É a presença dele em nosso coração, e só essa presença, que pode garantir-nos boa produção em grandes proporções. Mas, para que o leitor não fique desalentado, é bom que se diga aqui que, assim como ocorre numa horta ou pomar, a produção de fruto espiritual em nossa experiência cristã não acontece em meio a grande alarido, barulho e dramaticidade. O processo todo — desde que se abre a primeira florzinha sob o sol de primavera, até o amadurecimento final do fruto já formado, ao calor do céu de outono — caminha serena e firmemente. É a presença do Espírito de Deus em nosso interior que produz o crescimento, o amadurecimento e a conformidade com a imagem de Cristo. E a operação do bom Agricultor em nós processa-se de forma tão branda e gradual, que muitas vezes nós mesmos não estamos conscientes das mudanças que ocorrem em nosso caráter, conversação e conduta. Mas as pessoas que nos cercam o notam. Elas percebem as transformações que estão acontecendo, e vêem os frutos do Espírito que estão amadurecendo em nós. E por essa evidência elas reconhecem que esse jardim está sendo colocado sob o controle de Cristo. Este é o teste supremo — o teste do ácido — para aqueles que se declaram cristãos.

Nós, que antes éramos mato bravio, podemos tornar-nos o jardim de Deus! Minha vida é um jardim, A tua também. Será que está estéril, destratada e agreste? Como uma criança sem restrições, indisciplinada? Ou é um solo bom, sob as mãos do Mestre? Será minha alma uma terra que ele ama? Será que está coberta de mato e espinheiros? Ou será que nela foi semeada a boa semente? Que tipo de colheita está produzindo esta vida? Bondade e amor, ou ódio e contendas? *

O Senhor, toma este meu terreno rochoso. Que ele seja todo, completamente teu. Só então ele poderá dar os frutos bons de um campo santo. Amém e Amém. Naquele dia dirá o Senhor: Cantai a vinha deliciosa. Eu, o Senhor, a vigio, e a cada momento a regarei; para que ninguém lhe faça dano, de noite e de dia eu cuidarei dela. [Is 27.2,3.)

fkytos do fspíKíto Santo Os frutos do Espírito não acontecem por mera acaso. Eles podem e precisam ser cultivados em sua vida. À medida em que você se desperta para esta verdade, sua vida cristã adquire uma perspectiva de

t ' em sua Est ensinando-o a cultiva»' nele os inatos do E Santo, e a consolidar um caráter cristão ma! equilibrado.

W Phillip Keller é autor do eonhecu NQÜQ ME FALTARÁ, 5025