Evangélicos em crise: decadência doutrinária na igreja brasileira

Table of contents :
Introdução
1 - A dimensão da crise
2 - Depois do SuperCrentes
3 - O culto à personalidade
4 - Milagres e seus abusos
5 - O evangelho da maldição
6 - Batalha espiritual
7 - Em busca do poder terreno
8 - Os profetas da volta de Cristo
Bibliografia

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Agradecimentos Este livro é dedicado aos mantenedores da Agência de Informações Religiosas - AGIR, às igrejas, aos pastores e demais irmãos e irmãs que, com suas contribuições, têm ministrado ao mundo através do nosso ministério. As palavras são insuficientes para expressar aqui a nossa gratidão a esses heróis anônimos do Senhor. Que a Palavra de Deus fale então por mim: "Porque Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor que evidenciastes para com o seu nome, pois servistes e ainda servis aos santos" (Hb 6:10). Agradeço também à equipe da AGIR a ajuda que me prestou, principalmente ao Joaquim de Andrade, Nelson Wakai e Paul Carden. Suas sugestões foram de grande valor.

Agência de Informações Religiosas A AGIR - Agência de Informações Religiosas, é uma missão evangélica interdenominacional que defende e promove as verdades da fé cristã, e auxilia as igrejas na evangelização de adeptos de movimentos religiosos controvertidos. OBJETIVOS DA AGIR

Pregar o evangelho de Jesus Cristo através de todos os meios possíveis. Defender e ensinar as verdades fundamentais da fé cristã. Alertar a Igreja e a sociedade sobre as manipulações de grupos religiosos controvertidos. Promover o fortalecimento da família segundo os parâmetros bíblicos. Ensinar e promover a ética cristã. Equipar os cristãos para a obra do ministério apologético e evangelístico. OS DESAFIOS O Brasil é um país místico e obcecado pelo sobrenatural. Esta é uma das razões porque muitos movimentos religiosos questionáveis crescem tanto por aqui. Seitas como Testemunhas de Jeová, Mormonismo, Igreja da Unificação do Rev. Moon, Nova Era, Espiritismo e religiões orientais, têm trazido, do ponto de vista bíblico, danos eternos para muitas pessoas. Infelizmente, as seitas estão, com muito sucesso, espalhando seus falsos ensinos em todas as partes do Brasil e do mundo, prejudicando igrejas e famílias. Grande parte dos brasileiros vive correndo atrás da astrologia, adivinhações, consulta aos mortos, duendes, gurus, reencarnação, idolatria e todo o tipo de superstições. A AGIR se esforça para compartilhar Cristo de forma efetiva com toda essa multidão, e ajuda outros cristãos a fazer o mesmo. A Missão entende que é importante promover também o discernimento espiritual entre o povo de Deus. Lembre-se de que enquanto você lê este informativo, almas preciosas estão em perigo. AS ATIVIDADES DA AGIR Evangelismo - Cruzadas evangelísticas em igrejas e demais locais públicos. Seminários - Através de uma equipe de preletores especializados, a AGIR promove seminários sobre seitas, religiões mundiais, escatologia, avivamentos e família. Tem

ministrado também conferências em igrejas e instituições teológicas de várias denominações, em diferentes partes do mundo. Entre em contato para saber como realizar um evento em sua igreja. Boletim Informativo - O Agir News é produzido bimestralmente, e contém artigos sobre seitas e religiões, estudos teológicos, resenhas, respostas às perguntas dos leitores, testemunhos etc. Envie-nos o seu endereço, e lhe enviaremos um exemplar. Literatura - A AGIR produz também livros, folhetos, apostilas e fitas de áudio e vídeo. Mídia - Os pesquisadores da AGIR têm participado de vários programas de rádio e televisão, denunciando os abusos das seitas, além de fornecer informações para revistas e jornais, seculares ou religiosos. Intercâmbio - A AGIR está ligada à várias organizações similares no exterior. Isso facilita a troca de informações e a chegada de notícias com mais rapidez.

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Sumário Introdução 1 - A dimensão da crise 2 - Depois do SuperCrentes 3 - O culto à personalidade 4 - Milagres e seus abusos 5 - O evangelho da maldição 6 - Batalha espiritual 7 - Em busca do poder terreno 8 - Os profetas da volta de Cristo Bibliografia

Introdução Diante do crescimento fabuloso da Igreja evangélica no Brasil nos últimos 40 anos, parece paradoxal falar em crise entre os evangélicos. Em 1950, havia apenas 1 milhão e 700 mil crentes; hoje são 35 milhões. (Jornal O Correio Popular - Campinas, SP, 29 de março de 1995, p. 1.) Vários missiólogos apontam o Brasil como o celeiro de missionários para o mundo. Para algumas igrejas ou para alguns líderes, não é difícil encher um estádio de futebol ou colocar uma multidão de milhares de pessoas marchando pelas ruas das grandes cidades, numa demonstração de fé. O crescimento dos evangélicos em solo brasileiro é festejado por muitos, dentro e fora do país, e tem despertado o interesse de vários teólogos e estudiosos da sociologia da religião. Todo cristão deve desejar e buscar ardentemente o avivamento de Deus para si e para a Igreja. Desejamos ver milhares de conversões, de modo que a sociedade em geral seja atingida pelo trabalho do Espírito de Deus. Foi exatamente isso o que aconteceu nos avivamentos passados, nos dias de João Wesley, George Whitefield, Jonathan Edwards (durante o primeiro Grande Despertamento por volta de 1745, nos Estados Unidos), D. L. Moody Charles Finney e vários outros. Mas a história tem demonstrado que nenhum avivamento pode ser vivido distraidamente. Um dos exemplos vem da década de 1960, marcada pela "revolução de Jesus" e pelo surgimento do movimento carismático, um período de grande entusiasmo pelo Evangelho. Entretanto, foi nessa época que surgiram seitas prejudiciais como os Meninos de Deus, conhecidos hoje como A Família. Os Beatles voltaram-se para a índia em busca dos gurus da Meditação Transcendental e, devido à fama que tinham, contribuíram para tornar tal prática muito popular no Ocidente. Por isso, temos de vigiar todo o tempo, pois quando o inimigo não consegue impedir um movimento de Deus, ele vai então tentar tirar o melhor proveito dele. Não se pode negar a influência do Evangelho na sociedade brasileira atual. Muitos jogadores de futebol e atletas de outras modalidades esportivas estão abraçando a fé evangélica. Vários profissionais do mundo artístico estão se despertando para a fé cristã e cresce cada vez mais a representatividade política evangélica, tanto a nível federal, como estadual e municipal. Uma boa parte da Igreja evangélica faz-se presente hoje na mídia

por meio de programas de rádio e TV Há ainda igrejas e organizações cristãs que, nos últimos anos, envolveram-se nas obras sociais, socorrendo os necessitados. Onde está então a crise? Bem, enquanto temos motivo de sobra para comemorar o crescimento dos evangélicos em nosso país, temos ao mesmo tempo algumas razões para estarmos preocupados. Nossa preocupação não é com o crescimento numérico dos evangélicos, pois esse parece que vai bem, embora ainda haja muito o que fazer, principalmente na área de missões e na área social. Graças a Deus por todas as vitórias e por tudo o que ele está fazendo. Entretanto, na euforia de celebrar as bênçãos, alguns parecem não perceber as questões que continuam desafiando a Igreja evangélica brasileira nos dias de hoje, entre elas, a crise da integridade, ou da ética, e a crise doutrinária. A Igreja brasileira convive há tempos com práticas antiéticas. A própria CPI do Orçamento em 1993 revelou o comportamento nada correto de organizações e políticos evangélicos, mostrando claramente que muitos deles, embora possuidores de um discurso de ouro, têm os pés de barro. O envolvimento de muitos evangélicos na política brasileira tem trazido mais prejuízos do que benefícios para a imagem da Igreja. Isso tem gerado um clima de suspeita na sociedade em relação aos chamados "crentes". Não são todos os brasileiros hoje que estão dispostos a confiar em alguém só porque carrega uma Bíblia ou diz ser evangélico. A minissérie Decadência, produzida e transmitida pela Rede Globo, em setembro de 1995, despertou a fúria de muitos crentes, mesmo antes de ser levada ao ar. Embora ela não retratasse a maioria da Igreja brasileira, não deixou, porém, de denunciar o aspecto doentio e mercenário de alguns grupos evangélicos. Mas este não será um livro sobre a ética cristã. Minha preocupação principal neste momento é com outra crise que assola a Igreja evangélica no Brasil: a crise teológica. Em mais de vinte anos de fé cristã, nunca vi tanta confusão doutrinária no seio do protestantismo em nosso país como vejo hoje. O Brasil é um país místico, obcecado pelo sobrenatural. Certamente esta é uma das razões por que seitas como Testemunhas de Jeová, mormonismo, espiritismo e Nova Era crescem tanto por aqui. Muitas pessoas, por não terem alicerce bíblico ou filtro teológico, têm sido enganadas, passando a viver em escravidão espiritual. Infelizmente, o perigo não vem apenas de seitas totalmente alheias ao

verdadeiro cristianismo, pois aumentam cada vez mais no seio da própria Igreja os desvios doutrinários, na sua maioria importados dos Estados Unidos. São movimentos já analisados e cuidadosamente refutados lá mesmo por pessoas capazes, muitas delas eruditas, que levam a sério o estudo da Palavra de Deus. No Brasil, todavia, tais movimentos continuam a iludir muitos crentes. Por um lado, vejo o crescimento das seitas e a infiltração de heresias em muitas igrejas evangélicas com profunda tristeza. Por outro lado, devo reconhecer que se trata de nada mais que o cumprimento do que diz a Bíblia. Quando esteve em Mileto, Paulo alertou os anciãos de Éfeso da seguinte forma: "Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes que não pouparão o rebanho, e que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando cousas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles" (At 20:29, 30). Na sua primeira carta a Timóteo, Paulo lembrou-lhe: "Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios" (1 Tm 4:1). O apóstolo comentou ainda sobre o triste estado espiritual de muitos quando escreveu pela segunda vez a Timóteo: "Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas" (2 Tm 4:3, 4). Esperamos, pela misericórdia de Deus, que este livro seja útil para edificar os que permanecem firmes nos ensinos da fé cristã e para despertar outros que foram atraídos para um "evangelho diferente" (2 Co 11:3, 4). Segundo a graça do Senhor, estaremos tratando neste livro de vários desvios doutrinários que invadiram a Igreja evangélica brasileira. No último capítulo, trataremos da importância do discernimento espiritual, apresentando algumas sugestões que, esperamos, poderão ajudar o leitor a fazer escolhas sábias quanto ao que crer e como crer neste final de milênio. Meu sincero desejo é que este livro venha oferecer uma humilde contribuição à Igreja do Senhor Jesus Cristo no Brasil. O objetivo não é acusar qualquer pessoa ou ministério. Gostaria de esclarecer ao leitor que muitas das pessoas citadas no livro são meus irmãos e irmãs em Cristo, não estamos de relacionamento cortado e não tenho qualquer problema pessoal com elas. Apenas divergimos doutrinariamente. Portanto, nosso objetivo

principal não é criticar mas prover um pouco de discernimento bíblico ao povo de Deus, num momento da nossa história em que o espaço para a verdade da Palavra de Deus começa a ficar cada vez mais reduzido, até mesmo no arraial dos santos.

1 - A dimensão da crise "Cousa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra." - Jeremias 5:30 Passei cinco anos de minha vida dentro de um seminário católico (Congregação do Verbo Divino), preparando-me para o sacerdócio na igreja Católica Romana. A idéia que eu fazia dos evangélicos era a de que eles só acreditavam na Bíblia, obedeciam à Bíblia e nada mais. Resumindo, o que eu achava é que os evangélicos criam em tudo o que estava na Bíblia e rejeitavam tudo o que estava fora dela. Quando me converti ao Senhor Jesus, minhas suspeitas se confirmaram. Era aquilo mesmo. Mas isso foi no início da década de 70. Hoje, infelizmente, as coisas mudaram bastante. Atualmente, há muitos evangélicos que se comportam exatamente como adeptos de seitas. Tomemos, por exemplo, uma testemunha-de-Jeová: se o Corpo Governante (a liderança da seita) diz uma coisa, muitas vezes através das revistas A Sentinela e Despertai!, e a Bíblia diz outra, já sabemos a quem o adepto vai obedecer. Ele obedecerá ao Corpo Governante e a Bíblia será relegada a um segundo plano. Para nossa surpresa, há muitos crentes fazendo o mesmo hoje em dia. Se a Bíblia diz uma coisa e os pregadores da TV dizem outra (reconheço que nem todos os pregadores de TV fazem isso), já sabemos de antemão a quem muitos evangélicos vão seguir. Eles seguirão os pregadores da TV Como as coisas mudaram!

A importância do discernimento A crise aumenta à medida que diminui o discernimento ou há falta dele por parte de igrejas e líderes cristãos. Temos constatado a carência de orientação e de informações de muitos evangélicos quando viajamos para ministrar cursos em igrejas, seminários teológicos e em outras instituições, em diferentes partes do Brasil. Os fatos a seguir darão uma idéia da dimensão da crise. Alguns deles são chocantes: Há evangélicos que enviam seus dízimos para a LBV (Legião da Boa Vontade), pensando tratar-se de uma organização evangélica. A LBV é uma seita espírita. Pastores evangélicos usam as revistas Despertai! e A Sentinela das testemunhas-de-Jeová para ministrar à Escola Dominical. Outros já usaram a revista Acendedor, da Seicho-No-lê. Algumas igrejas dão seus púlpitos aos mórmons, só porque dizem ser missionários norte-americanos. Um outro fato preocupante é a facilidade com que os adventistas do Sétimo Dia circulam pelos corredores evangélicos com seus conjuntos musicais como o Prisma, Prisminha, Arautos do Rei etc. É lamentável que muitas livrarias evangélicas distribuam com abundância os seus produtos. O programa de TV Está Escrito, apresentado todo domingo de manhã pela TV Bandeirantes, tem feito muito sucesso entre os evangélicos, infelizmente. Ora, o adventismo tem posições doutrinárias inaceitáveis à luz das Escrituras Sagradas, tais como: Jesus é o arcanjo Miguel, Jesus teve uma natureza pecaminosa, o ensino de que os nossos pecados são colocados sobre Satanás, a guarda do sábado tida como prática essencial para a salvação, o ensino do juízo investigativo (Jesus não completou a sua obra na cruz. Ele somente a completou em outubro de 1844) e a autoridade de Ellen G. White como única intérprete da Bíblia Sagrada. O envolvimento adventista com os evangélicos tem um propósito: proselitismo. A literatura adventista está cheia de testemunhos de evangélicos (e até de pastores) que se "converteram" à fé adventista. A Revista Adventista, de novembro de 1993, p. 16, traz uma notícia com este título: "Ex-Pastor pentecostal foi batizado". A revista diz ainda:

Depois de servir como pastor à igreja Assembléia de Deus, durante 33 anos, foi batizado em Manaus o irmão José Lima, juntamente com sua esposa e sogra. Durante o período em que foi ministro de sua antiga igreja, o irmão Lima atuou no Brasil, na Colômbia, na Venezuela, na Bolívia e no Peru. A decisão de ser batizado foi tomada durante uma série de conferências evangelísticas dirigida pelos pastores João Alves Peixoto, departamental de Educação da MCA, e Gileno Hounsell Filho, distrital do bairro Cidade Nova. Dizendo-se "maravilhado" com o que aprendera, resolveu "não mais fugir da verdade". A cerimônia batismal foi efetuada pelo Pastor Hounsell. "Conhecer a Jesus e fazer Sua vontade, pela graça de Deus, foi o maior milagre em minha vida", disse o batizando. Ainda em novembro de 1993, a Revista Adventista (p. 22), publicou a foto de um casal com as seguintes informações: "Vanilda Cristino pertencia à igreja Assembléia de Deus. Conheceu a verdade através do Está Escrito, e foi batizada em Porto Alegre, RS, no dia 21 de agosto, pelo Pastor Jonas Arrais. Seu esposo está se preparando para seguir o mesmo caminho". Reconheço que todo crente tem o direito de mudar de igreja no momento que desejar ou como o Senhor o dirigir, e isso tem acontecido constantemente. Há crentes que saem da Assembléia de Deus e vão para a igreja Batista e vice-versa, outros saem da Presbiteriana e vão para a Metodista, e assim por diante. Entretanto, nunca vi um crente sair de uma igreja evangélica para outra alegando que o fez porque finalmente encontrou a verdade. O mesmo não se passa com o adventismo. A Revista Adventista dá a entender que a verdade de Deus só pode ser encontrada no adventismo e não em outra igreja evangélica. Há muitas outras notícias que revelam o caráter proselitista do adventismo. Do jeito que as coisas estão indo, só Deus sabe a quantidade de ensinos estranhos que passarão a fazer parte da vida de muitos dos nossos crentes. O pior é que fica cada vez mais difícil defender a fé cristã à medida que tantas seitas passam a encontrar mais e mais aliados nas próprias fileiras evangélicas. Há muitos pastores por aí que precisam tomar mais cuidado. A questão ética É verdade que muitas vezes alguém pode ter uma doutrina bíblica

correta mas ter um estilo de vida incorreto. Em outras palavras, é possível na doutrina estar com Deus e na prática, com Satanás. Mas é interessante observar, também, que quando alguém não leva a Bíblia a sério teologicamente, a ética cristã fica comprometida. Temos hoje uma necessidade urgente de mais líderes que nos sirvam como modelos de oração, piedade e integridade. É claro que não são todos, mas há vários precisando muito mais de receber ministração do que em condições de ministrar. Larry Lea, ex-deão da Universidade Oral Roberts, e famoso nos Estados Unidos pelo seu ministério de intercessão, é um exemplo a não ser seguido. Não faz muito tempo a rede de TV ABC nos Estados Unidos mostrou um videoteipe do televangelista informando a seus telespectadores que, quando sua casa foi completamente queimada, ele ficou praticamente sem teto, perdendo tudo o que ele e sua família tinham, exceto a roupa do corpo. Quando o programa da rede ABC mostrou a outra casa de Larry Lea uma mansão cheia de móveis e outros valores que ele não mencionara -, as coisas mudaram. As doações caíram, as igrejas cancelaram seus convites e, para muitos, Lea tornou-se persona non grata. (Christian Research Journal (outono de 1994), p. 8.) Isso ocorre em qualquer lugar do mundo, e não apenas nos Estados Unidos. Lembro-me de que certa vez participei de uma reunião numa instituição evangélica em São Paulo, em que se discutia um plano para ampliar a construção da parte de trás do prédio da organização. De repente, um pastor, líder de uma grande igreja na capital paulista, deu uma sugestão. Foram mais ou menos estas as suas palavras: - Nós começamos numa sexta-feira, fazemos tudo bem depressa, no domingo já está terminado e ninguém precisa ficar sabendo. Perguntei-lhe por que tudo tinha que ser feito tão depressa e por que ninguém poderia ficar sabendo. Ele me disse que tal modificação ou construção era ilegal. Disse-lhe então que se era ilegal não poderia ser feita. Como ficaríamos diante da Palavra de Deus e da ética cristã? Ele respondeume com hostilidade: - Olha aqui, meu filho, no dia em que você dirigir uma igreja como eu, vai jogar a Bíblia e a ética fora. Que absurdo! A cola nos exames escolares tornou-se, infelizmente, uma prática

comum para muitos evangélicos. Quando nos referimos a isso numa igreja, a reação do auditório é de riso e zombaria, como se estivessem dizendo: não exagere, o que é que tem fazer uma colinha? Deus não vai se importar com essas coisas! Geralmente, apresentam muitas outras desculpas. Que Deus nos ajude! Creio que uma das falhas do pentecostalismo (de onde também venho) no Brasil através das décadas foi enfatizar mais o carisma do que o caráter. O importante era ter o poder de Deus, poder para expulsar demônios, operar milagres, pregar e sacudir as massas. Tudo isso é muito bom, mas apenas isso não basta, pois carisma sem caráter leva à destruição. Os puritanos do século passado nos Estados Unidos tinham um provérbio que resume bem este quadro: "O que você é fala tão alto que eu não consigo ouvir o que você diz". Viver a ética cristã de acordo com a Palavra de Deus é o caminho a ser percorrido por nós se quisermos ser o sal da terra e a luz do mundo (Mt 5:13-16). Mas a crise não pára por aqui. Nehemias Marien Talvez nada tenha indignado mais a opinião pública evangélica nos últimos tempos do que o caso Nehemias Marien, revelando que a crise apresenta-se também em forma de apostasia. Nehemias tem excelente formação teológica, pois estudou no Seminário Presbiteriano de Campinas, completando seus estudos teológicos na Inglaterra, França e Estados Unidos; hoje afirma ser pastor presbiteriano da primeira igreja ecumênica do Brasil. Foi no programa de TV, O Céu é o Limite, apresentado por J. Silvestre, que ele alcançou notoriedade. Por seis meses Nehemias respondeu perguntas sobre a Bíblia, passando a ser conhecido como o "Pastor da Bíblia". Apesar do vasto conhecimento bíblico, Nehemias surpreendeu muita gente ao publicar, no início de 1994, um livro extremamente controvertido, intitulado Jesus à Luz da Nova Era. Parece impossível ler uma só página desse livro sem encontrar uma aberração doutrinária ou algo grotesco sobre a fé cristã. No capítulo três, o autor fornece um paralelo de identidade astrológica entre os doze filhos de Jacó e os doze discípulos de Jesus e afirma ainda: "... percebi uma estranha identidade entre eles, como se tratasse aqui de uma reencarnação". (Nehemias

Marien, Jesus à Luz da Nova Era - Rio de Janeiro, Editora Record,1994, p. 78.) A astrologia contradiz a Palavra de Deus em Deuteronômio 4:19 e Isaías 47:13, 14. Já a reencarnação contradiz abertamente uma das doutrinas centrais da fé cristã, que é a salvação pela graça através da fé somente no sacrifício de Jesus na cruz do Calvário (veja Ef 2:8, 9). Mas Nehemias não pára por aí. Observe o que ele diz sobre o espiritismo: "A doutrina espírita é essencialmente cristã e tem o seu fundamento nas Sagradas Escrituras. O espiritismo deve ser entendido como um dos mais caudalosos afluentes do cristianismo". Nehemias não está só em sua posição. O próprio Allan Kardec, o codificador do espiritismo, chegou a afirmar que "o espiritismo e o cristianismo ensinam a mesma coisa". (Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, em O Livro de Allan Kardec, Introdução, VII - São Paulo, SP, Editora Opus, p. 530.) Nehemias, errou novamente, pois o espiritismo nega a doutrina da Trindade, a autoridade da Bíblia como única regra de fé e prática, a divindade do Senhor Jesus, o nascimento virginal do Senhor, os milagres de Jesus, a salvação pela graça através da fé somente no sacrifício de Jesus na cruz, a ressurreição física do Senhor dentre os mortos, a existência do diabo e dos demônios (o que Nehemias também nega), a existência do céu, do inferno e a existência dos anjos. Sobrou alguma coisa? E Nehemias ainda tenta passar a idéia de que a doutrina espírita é essencialmente cristã! Sem chance! Até a seita do Santo Daime encontrou guarida no ecletismo de Nehemias Marien. Ele conta que participou do lançamento da primeira semente do Santo Daime plantada no Estado da Paraíba e relata o desenrolar da reunião: Concentrado no culto, cantei, com o mais vivo entusiasmo, todas as canções de louvor... Vi nocauteada a resistência de muitos que se entregavam relaxados nos colchonetes e poltronas espalhados pela sala. Vi outros se transfigurarem, em êxtase, os olhos vítreos e esbugalhados. Um jovem tomou-me a mão, como um náufrago perdido no mar e, literalmente, urrava como leão. Muitos vomitavam, enquanto outros corriam ao banheiro. Um outro virou uma estátua vibrante, o tempo todo obediente a seus chakras, segundo disse. Então, após o segundo cálice, comecei a sentir as mãos frouxas e uma ligeira cãibra nas pernas, dando-me a impressão de desmaio... Procurei cantar com mais entusiasmo, mas logo percebi ser melhor procurar

um sofá, no qual o meu corpo caiu pesado. Foi nesse instante que, relaxado, rendi-me ao DAIME, sem alucinações, mas com a consciência da purificação espiritual centrada em Jesus... Creio que, também, pelo Santo Daime, pode se contemplar a luz divina e alcançar a purificação do espírito e a cura interior. (Nehemias Marien, Jesus à Luz da Nova Era, p. 119-121.) Nehemias agradeceu a Deus, considerando a experiência daimista uma contribuição marcante para o seu ministério pastoral. De acordo com a revista Veja, o culto ao Daime é uma autêntica religião, possuindo templos, líderes, tem seus mortos veneráveis e uma liturgia que mistura elementos do catolicismo, do judaísmo e práticas semelhantes às da umbanda e do candomblé. O ponto alto da cerimônia é a ingestão de um chá ou alucinógeno extraído de um cipó amazônico, o uasca, misturado com as folhas da chacrona, uma planta também da Amazônia. Após a ingestão do Daime, as pessoas passam a ter alucinações.(Revista Veja (9 de novembro de 1983), p. 88.) Nehemias crê que através do Daime pode-se alcançar a purificação do espírito, contrariando a Palavra de Deus em 1 João 1:7: "Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado". Mas se alguém acha que Nehemias parou por aí vai se surpreender com as informações a seguir. Em defesa de Sodoma Nehemias também conta que dois altos funcionários (do mesmo sexo) do governo federal estavam se amando e desejavam receber a bênção do Senhor. Ele então se pôs de joelhos, pedindo que a luz do divino Espírito o iluminasse. O fato é que, embora tenha oferecido o altar da minha igreja para essa amorável relação, o casal preferiu a discrição de um lar no Posto Seis de Copacabana. A liturgia, bastante doméstica, constou de uma oração pastoral, a leitura da primeira Epístola de Paulo aos Coríntios, capítulo 13, sobre a qual fiz a minha homilia e aspergi em ambos água que eu mesmo colhi no rio Jordão (...) e encerrei impetrando a bênção apostólica (...) Foi uma inédita experiência em minha vida pastoral e não creio que será a última. (Nehemias Marien, Jesus à Luz da Nova Era, p. 142-3.)

Marien diz que "a Bíblia é o mais antigo e ainda hoje o mais atual manual de sexualidade" e que "na homossexualidade se pratica o amor liberto de todas as formas de preconceitos, numa entrega plena e sem restrições. Por isso, mais puro e sincero (...) O homossexualismo é uma prática de amor (...). A Igreja não tem o direito de sonegar a bênção divina a duas almas gêmeas, não necessariamente macho e fêmea, quando estas se encontram no amor". Para defender suas idéias, Nehemias cita a lamentação de Davi pela morte de Jônatas: "O meu amor por ti é superior ao de muitas mulheres"; as palavras de Rute a Noemi: "Aonde tu fores irei eu (...) Só a morte separarme-á de ti" e acrescenta ainda: "Há sensíveis paralelos entre o apóstolo Paulo em relação a Lucas e a Timóteo. E bem assim entre João e o próprio Jesus". Nehemias Marien não é o primeiro a publicar tais abominações. Posições semelhantes são defendidas por John Shelby Spong, bispo de uma igreja episcopal nos Estados Unidos (muitos episcopais não concordam com ele). Num debate público de TV com Walter Martin, fundador do ICP nos Estados Unidos, em 1989, Spong declarou sem hesitação: "Eu espero ser usado por Deus para introduzir o homossexualismo na Igreja evangélica". (Vídeo no arquivo da AGIR.) Davi e Jônatas não foram homossexuais. Há uma declaração do ICP sobre esse assunto: Nada há em 2 Samuel 1:26 que poderia nos levar a crer que fossem. Quando Davi disse que o amor de Jônatas era maior do que o amor das mulheres, não se referia ao amor sexual, mas a uma fraternidade especial que excede qualquer forma de relação sexual. Se Davi e Jônatas fossem homossexuais, teriam sido apedrejados sob a lei levítica. O próprio fato de que Davi falou isso em 2 Samuel, tornando-o público, prova que nem ele nem os hebreus interpretaram essa passagem como descrevendo a sua fraternidade com Jônatas como uma relação homossexual. A Bíblia não escondeu os pecados de Davi, ao contrário, denunciouos com rigor, como comentam Carlos Oswaldo C. Pinto e Luís Alberto T. Sayão num artigo intitulado "A Questão do Homossexualismo": Seu adultério e homicídio são vividamente denunciados pelo profeta (2 Sm 12) (...). Tivesse ocorrido em sua vida uma ocasião que fosse em que a

lei de Moisés tivesse sido tão flagrantemente desobedecida quanto num episódio homossexual, o historiador não a teria deixado passar em branco, especialmente porque, naqueles tempos, isso teria soado muito mais do que escandaloso e absurdo. (Revista Vox Scripturae - São Paulo, SP, Edições Vida Nova, vol. 5, n.1, março de 1995, p. 50.) Como pode ser observado, nem o Senhor Jesus escapou da hermenêutica blasfema de Nehemias Marien. A informação da Bíblia a respeito de Jesus é bem diferente daquilo que pensa e escreve Marien. A Palavra de Deus afirma que Jesus é o "sumo sacerdote (...) santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores, e feito mais alto do que os céus" (Hb 7:26). A Bíblia apresenta ainda o Senhor Jesus como o homem aprovado por Deus (At 2:22). Veja ainda Efésios 4:13. A Palavra de Deus é muito clara ao condenar o homossexualismo em muitos textos. Deus criou Adão e Eva e não Adão e José. Paulo foi claro sobre isso quando escreveu aos romanos: "Por causa disso os entregou Deus a paixões infames, porque até as suas mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas, por outro contrário à natureza; semelhantemente, os homens também, deixando o contacto natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo em si mesmos a merecida punição do seu erro" (Rm 1:26, 27).Aos coríntios Paulo afirma: "Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados, em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus" (1 Co 6:9-11). É óbvio que Deus, enquanto ama os homossexuais, os adúlteros, os ladrões, os assassinos ou qualquer pecador, odeia o homossexualismo, o adultério, o latrocínio, o assassinato ou qualquer outro pecado. A Bíblia ensina que todas as pessoas, independentemente de raça ou preferência sexual, precisam arrepender-se de seus pecados, ter um encontro de salvação com Cristo e estabelecer um relacionamento de amor com Deus através de Jesus Cristo. A exemplo do que ocorreu na época de Paulo, também hoje Deus abre os braços para perdoar, transformar e libertar qualquer pecador dos

seus pecados, e isso inclui o homossexualismo. Ligações perigosas "Alguns católicos e evangélicos buscam união". (The New York Times (30 de março de 1994, seção National Report), p. A8.) Esta foi a manchete de um artigo publicado no The New Yorh Times informando que um grupo de proeminentes católicos e eruditos evangélicos assinou um documento prometendo reduzir os freqüentes conflitos entre suas diferentes tradições cristãs. A idéia de preparar um documento assim surgiu em setembro de 1992 com o Frei Richard John Neuhaus, um teólogo católico que dirige o Institute on Religion and Public Life (Instituto sobre Religião e Vida Pública) em Manhattan, e Charles Colson, um ex-assessor do presidente Richard Nixon que fundou um ministério nas prisões, depois de passar algum tempo encarcerado, devido à sua participação no caso Watergate. O documento, de 25 páginas, foi assinado por 39 eruditos e líderes cristãos. Podem ser citados ainda, além de Colson e Neuhaus, os seguintes: Pat Robertson, presidente do Clube 700, professor J. I. Packer, Dr. Os Guinness, Dr. Kent Hill, Dr. Richard Land, Dr. John White, Dr. Bill Bright, reverendo Avery Dulles, cardeal John O'Connor, arcebispo Francis Stafford, bispo Carlos Sevilla, George Weigel e Michael Novak. Os que assinaram a declaração confessaram: "Nós juntos, evangélicos e católicos, confessamos nossos pecados contra a unidade que Cristo quer para seus discípulos". (Evangelicals and Catholics Together: The Christian Mission in the Third Millennium - Evangélicos e Católicos Juntos: A Missão da Igreja no Terceiro Milênio, p. 2.) O documento diz ainda: "Em muitas partes do mundo, o relacionamento entre essas comunidades é marcado mais por conflito do que por cooperação, mais por animosidade do que por amor, mais por suspeita do que por confiança, mais por propaganda e ignorância do que por respeito à verdade. Isto é assustadoramente o caso na América Latina, crescentemente o caso na Europa Oriental e, muitas vezes, o caso em nosso próprio país". Na seção We Witness Together (Nós Testemunhamos Juntos), o documento condenou a prática de atrair ou ganhar membros já ativos de uma igreja para a outra. Em outras palavras, católicos não devem evangelizar protestantes e protestantes não devem evangelizar católicos, com o propósito de aumentar o rol de membros das respectivas igrejas. Consta

ainda na declaração que "para os católicos, todos os que são validamente batizados são nascidos de novo e estão verdadeiramente, embora de forma imperfeita, em comunhão com Cristo". Nehemias Marien vai um pouco mais além. Ele relata que convidou o cardeal-arcebispo da cidade para a inauguração do templo construído por sua igreja. O convidado fez-se representar pelo Bispo Vigário Geral, "que ocupou o púlpito com ungida mensagem". (Nehemias Marien, Jesus à Luz da Nova Era, p. 23.) Esta é a opinião de Marien quanto à Ceia do Senhor: "A celebração eucarística é considerada por nós uma mesa aberta a quantos têm fome espiritual, inclusive todas as crianças, sendo a ela bemvindos mesmo os que não professam a fé cristã". Nehemias fala também de uma experiência que viveu numa missa ecumênica das Faculdades Notre Dame, em Ipanema. O padre celebrante, seu amigo, atrasou-se e, a pedido da madre reitora, ele mesmo deu início à santa missa. Veja como foi: O coral cantou, oramos juntos o pai-nosso de mãos dadas, fiz a homilia e, quando já iniciava o procedimento sacramental, chegou o padre, esbaforido. Juntos, celebramos então a eucaristia, compartilhando da mesma hóstia consagrada e depois ministrando-a aos comungantes! A mesma semelhança já me envolvera nas igrejas do Sagrado Coração de Jesus e na Divina Providência. Sinto-me muito à vontade onde o Espírito me conduz. Benny Hinn também não demonstra discernimento quando se trata de promover o catolicismo romano. Em seu livro O Sangue, ele descreve, no capítulo final, (Benny Hinn, O Sangue - Venda Nova, MG, Editora Betânia, 1994, p.125-8.) que há cerca de dois anos, durante uma de suas cruzadas, chamou 49 freiras católicas, vestidas em seus característicos hábitos negros e longos, para subirem à plataforma. Elas então entoaram com Benny o hino "Grandioso és Tu!", "dirigindo a congregação num entusiástico cântico de louvor". No final do hino, as freiras "tiraram seu crucifixo de dentro dos mantos e o ergueram para o Senhor. Foi um instante de grande poder, que jamais esquecerei". Depois, as freiras convidaram-no para visitá-las em seu convento, onde, numa capela recém-construída, "elas se puseram a adorar ao Senhor 'cantando no Espírito'. Ficaram bendizendo a Deus durante meia hora". Benny diz que as irmãs "proferiram diversas palavras proféticas que foram de grande inspiração" para ele. E segue contando:

A essa altura eu me encontrava de joelhos, chorando muito, pois sentira a presença do Senhor de forma tremenda. Nunca experimentara tal unção numa celebração da ceia do Senhor, nem mesmo em minha própria igreja. A presença de Deus era tão sensível, tão poderosa, que a única maneira que posso descrevê-la é dizendo que 'Jesus entrou naquele salão'. Quando já encerravam o período de louvor, comecei a experimentar uma espécie de dormência nos braços e no peito. Não percebera que a madre geral tinha ido à mesa e pegado o pão asmo da ceia [a hóstia da missa]. Eu estava ajoelhado louvando o Senhor com as mãos erguidas, e a madre geral veio e colocou o pão [a hóstia] em minha boca. Nesse momento, tive a sensação de que um fogo atravessava todo o meu ser. Em seguida aconteceu algo maravilhoso. Senti que as pontas de meus dedos tocavam um manto, um tecido macio, como seda. Benny passa a narrar que sentiu um corpo físico dentro do manto, que ele afirma ter sido o corpo de Jesus e conclui: "Acredito que me encontrava literalmente ajoelhado aos pés de Jesus". É difícil entender o que se passa hoje no meio evangélico. Apesar da experiência descrita acima e talvez de outras posições aberrantes que ainda venham a surgir, Benny Hinn e outros continuarão sendo considerados por muitos crentes como ungidos de Deus, revelando assim a atitude patética de boa parte dos evangélicos nos últimos tempos: o sucesso tem que vir a qualquer custo. Verdade ou erro, tanto faz. Há uma grande diferença entre o Evangelho pregado pelo protestantismo daquele pregado pelo catolicismo romano. Não há como sustentar, à luz da Bíblia, certos ensinos ou dogmas ensinados por Roma, tais como a crença no purgatório, a assunção de Maria (a crença de que Maria subiu ao céu de corpo e alma), Maria como a mãe de Deus e a mediadora entre Deus e os homens. Isso contraria o ensino bíblico em 1 Timóteo 2:5: "Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem". Há ainda a idolatria, fortemente promovida em toda a América Latina, algo que Deus abomina em sua Palavra, e a veneração aos santos. Quando alguém reza aos santos, está tentando comunicar-se com os mortos, algo que Deus proibiu em Deuteronômio 18:10, 11: "Não se achará entre ti quem (...) consulte os mortos". A esperança de perdão, de purificação, ou de se receber a vida eterna

após a morte através do purgatório, de missas e de orações pelos mortos tem levado multidões de almas preciosas à condenação eterna. Assim, a pessoa não sente de forma alguma a necessidade do novo nascimento, de abandonar todo o pecado, de ter um encontro e um relacionamento de salvação com Deus através do seu Filho Jesus Cristo. Isso traz, ao mesmo tempo, um desestímulo à vida de santificação e de obediência a Deus. A pessoa pode viver o tipo de vida que quiser, não dar a mínima atenção aos valores espirituais, envolver-se com toda a espécie de pecado, pois, após a morte, há uma série de provisões que Roma oferece em prol de sua alma. Tais provisões, por serem contrárias à Palavra de Deus, acabam, portanto, não tendo qualquer valor. Um outro exemplo é o de J. Gordon Melton, que tem dirigido o Institute for the Study of American Religion (Instituto para o Estudo da Religião Americana) em Santa Barbara, Califórnia, Estados Unidos. Melton participou do Congresso para o Estudo de Seitas e Religiões no Brasil, realizado em Recife, na Universidade Federal de Pernambuco, de 15 a 17 de maio de 1994. Apesar de ser ministro ordenado pela igreja Metodista Unida, nos Estados Unidos, Melton compareceu ao congresso para defender A Família, o nome atual do grupo polêmico conhecido como Os Meninos de Deus - uma seita controvertida fundada por David Berg na década de 60. As controvérsias surgiram devido às práticas de relacionamento sexual de crianças com crianças, adultos com crianças e ao proselitismo ou evangelismo através do sexo, conhecido como "pesca-coquete". Gordon Melton não defende apenas os Meninos de Deus. Ele tem defendido também a Igreja Local, de Witness Lee, grupo que publica no Brasil o jornal Árvore da Vida. Há várias posições doutrinárias ensinadas por esse grupo que contrariam os ensinos bíblicos do cristianismo. (O jornal O Mensageiro da Paz, órgão informativo das Assembléias de Deus, publicou, no segundo semestre de 1994, uma série de quatro artigos que analisam e refutam os erros doutrinários do grupo Árvore da Vida.) O grito da reforma protestante de Sola Scriptura, Sola Gracia, Solo Cristus e Sola Fide foi uma convocação para a volta à Bíblia Sagrada como a única regra de fé e prática. Nenhuma experiência, sonho ou visão, pode estar acima do fundamento sólido da Palavra de Deus. Ao contrário, todas as experiências devem ser cuidadosamente avaliadas à luz das Escrituras. Foi por questionar a legitimidade do evangelho pregado por Roma que muitos

crentes no passado sofreram torturas e perderam suas vidas na fogueira e de várias outras formas. É chocante ver hoje os filhos da Reforma protestante de mãos dadas com um Evangelho rejeitado pelos reformadores, muitos dos quais preferiram morrer a aceitar tais doutrinas. A decadência da unidade

Ultimamente fala-se muito em unidade nos círculos evangélicos. Unidade dos pastores, unidade das igrejas e até na unidade dos cristãos em torno de um candidato político. Entretanto, nada talvez tenha jogado mais água fria na caminhada dos evangélicos em direção à unidade, nos últimos anos, do que a minissérie Decadência, levada ao ar pela Rede Globo em setembro de 1995. O trabalho produzido por Dias Gomes, autor da minissérie, não repetiu o mesmo sucesso de outros realizados anteriormente. Um articulista do jornal Folha de São Paulo, Sérgio Dávila, escreveu que Decadência é uma minissérie ruim. Dávila disse ainda que este é o pior trabalho de Dias Gomes . (Folha de São Paulo -16 de setembro de 1995, Ilustrada, p. 5-8.) Eu mesmo não gostei. Achei ridículo representar pastores evangélicos fazendo o sinal da cruz, como mostrou a minissérie. Essa não é uma prática dos evangélicos. Foram repugnantes também as cenas da mulher nua no púlpito da igreja e uma calcinha de mulher sobre a Bíblia. Um tremendo mau gosto. Mas gostos à parte, Decadência conseguiu provocar desastrosos efeitos colaterais para a causa do evangelho. Aquilo que seria uma disputa entre duas emissoras de TV transformou-se num conflito dentro do Corpo de Cristo. Voaram farpas de todos os lados e acusações foram trocadas por muitas pessoas de destaque entre os crentes. A entrevista concedida por Caio Fábio, presidente da AEVB (Associação Evangélica Brasileira), ao jornal O Globo no dia 20 de setembro e a publicação de uma declaração da AEVB assinada por vários líderes evangélicos do Brasil, também no jornal O Globo, do dia 23 de setembro, irritaram muito a liderança da Igreja Universal do Reino de Deus e seus aliados. Em resposta, no dia 1º de outubro de 1995 vários jornais publicaram um manifesto assinado por vários pastores, de dentro e de fora da Igreja Universal. (Folha de São Paulo -1º- de outubro de 1995, p 1-5.) A casa estava, então, visivelmente dividida, o que é muito

perigoso para o Reino de Deus (Mt 12:25). O episódio serviu para revelar o quanto nós ainda somos vulneráveis aos ataques de Satanás. Ao invés de reagir com calma e dentro dos ditames da Palavra de Deus, alguns partiram para a hostilidade, deixando perplexa a Igreja do Senhor. Um dos exemplos foi o que aconteceu na última reunião do Conselho de Pastores de São Paulo, realizada no dia 29 de setembro de 1995, em São Paulo. Após o término da reunião, já na saída, um líder evangélico recusou-se a cumprimentar um outro porque este não estava do mesmo lado que ele em relação à divergência causada pela minissérie da Rede Globo. Lamentável! Este líder e outros que agiram da mesma forma deveriam pelo menos lembrar-se das palavras do Senhor Jesus: "Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e vir chuvas sobre justos e injustos. Porque se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? não fazem os publicanos também o mesmo? E se saudardes somente os, vossos irmãos, que fazeis de mais? não fazem os gentios também o mesmo?" (Mt 5:43-47.) Por ocasião desta reunião, a liderança do Conselho de Pastores de São Paulo preparou um manifesto para ser enviado ao presidente da AEVB, Cáio Fábio. Um dos pastores presentes sugeriu que uma declaração fosse enviada também ao líder da Igreja Universal, Edir Macedo. Uma outra coisa a lamentar nessa crise é que não conseguimos manter e nem resolver a questão entre nós, e o fato de tudo isso ir a público aumentou ainda mais o constrangimento para a causa de Cristo. Foi chocante ver e ouvir até mesmo incrédulos tentando entender e explicar e até oferecendo soluções para a crise que passara a reinar entre os crentes em decorrência da mininovela da Globo. Uns indagavam: "O que está havendo? Mas Jesus não mandou amar uns aos outros?" E também: "Por que estes pastores não param de brigar e vão rezar?" Como poderiam eles entender e explicar tal coisa, se a Palavra de Deus diz que "o homem natural não aceita as cousas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente" (1 Co 2:14). Que o Senhor nos dê um espírito desarmado e muito amor cristão em situações assim, pois outros ataques de Satanás certamente virão e

precisamos estar preparados. O inimigo não é um líder de cá, ou um outro de lá. Não é esta ou aquela igreja. O verdadeiro inimigo é Satanás, e contra ele, sim, devemos nos unir na salvação das almas e edificação dos santos. Unidade e sã doutrina Todo cristão deve desejar a unidade do Corpo de Cristo e orar por ela, pois até mesmo o Senhor Jesus assim o fez: "A fim de que todos sejam um (...). A fim de que sejam aperfeiçoados na unidade" (Jo 17:21, 23). Na carta aos Filipenses, Paulo recomenda que Evódia e Síntique pensem concordemente no Senhor (Fp 4:2). Sem dúvida, uma das maiores armas de Satanás contra o Corpo de Cristo é a desunião. Por outro lado, em nenhum lugar da Bíblia a Palavra de Deus encoraja a união dos crentes em detrimento do equilíbrio doutrinário.A nossa união deve serem torno da verdade, e não do erro, como bem expressou o salmista: "Companheiro sou de todos os que te temem, e dos que guardam os teus preceitos" (SI 119:63). A crise doutrinária que assola a Igreja hodierna no Brasil é séria demais para ser ignorada e colocada de lado, pois heresias e ensinos aberrantes tendem a se espalhar muito rapidamente. Não podemos esquecer também que cada crente é chamado para ser um atalaia no exército do Senhor e soar o alarme toda vez que se fizer necessário (Ezequiel capítulos 3 e 33). Embora desagrade a muitos, os erros devem ser denunciados e a verdade da Palavra de Deus proclamada com amor e obedecida sem distorções. Que o Senhor nos guarde dos ventos de doutrina (Ef 4:14), e nos dê graça para sermos fiéis, tanto a ele quanto à sua Palavra.

2 - Depois do SuperCrentes Há alguns anos, uma corrente doutrinária conhecida como Confissão Positiva ou Evangelho da Saúde e da Prosperidade começou a invadir as igrejas no Brasil. Oriunda dos Estados Unidos, é liderada por Kenneth Hagin e seguida por vários outros pregadores. Tal doutrina ensina que todo o crente deve viver endinheirado, morar em mansão, desfilar em carrões, ficar livre de qualquer tipo de enfermidade durante todo o tempo de sua vida e possuir a natureza divina. Além das posições acima mencionadas, a teologia da prosperidade traz também em seu bojo sérios desvios cristológicos. Há ensinos de Kenneth Hagin e de outros do Movimento da Fé que ultrapassam os limites da heresia, chegando à blasfêmia, como a declaração de que na cruz Jesus recebeu uma natureza satânica. Outros ensinam ainda que a morte de Cristo na cruz não tem valor. O que tem valor é a sua morte espiritual no inferno. A Confissão Positiva passou a representar também um risco à integridade física das pessoas e mostramos como muitas delas perderam suas vidas ao aplicar os ensinos desta teologia. Tais posições não deveriam preocupar um cristão equilibrado? Por esta razão, lancei em 1993 o livro SuperCrentes, onde tais questões foram bem documentadas e tratadas à luz da Palavra de Deus. Creio ser útil, principalmente para os que leram o livro, informá-los aqui sobre as reações e alguns resultados que ele provocou. Foi uma surpresa agradável ver a grande aceitação que o SuperCrentes teve. É claro que alguns não gostaram dele, como já era esperado. Mas isso é até bíblico, pois nem o próprio Senhor Jesus agradou a todos. A verdade é que quando alguém tenta agradar a Deus fica mal com os homens. Quando tenta agradar aos homens, fica mal com Deus. É preciso então decidir de que lado ficar e a quem agradar. Neste capítulo, trataremos de algumas reações provocadas pelo livro e de alguns fatos relevantes acontecidos depois de sua publicação. Assim que o livro saiu, visitei uma livraria evangélica no centro de São Paulo e uma funcionária quis me conhecer. Depois de cumprimentar-me, foi dizendo: "Paulo, peguei o seu livro ontem, já li e quero agradecer pela grande ajuda que me prestou. Meu irmão morreu de câncer há uns 15 dias. Antes da sua morte, porém, os irmãos da Confissão Positiva viviam no meu ouvido dizendo que Deus já o havia curado, que eles já tinham decretado a

cura. Mas ele morreu e, depois, além de ter que suportar a dor da separação, eu tive que suportar também a dor da culpa. Disseram que meu irmão morrera porque eu não tive fé para ele ser curado. Graças a Deus pelo seu livro, que trouxe o esclarecimento de que tanto precisava". Um dos exemplos animadores veio da cidade de Ipatinga, Minas Gerais, onde os líderes da igreja Batista Missionária ficaram revoltados comigo após a primeira leitura do livro. Entretanto, depois da segunda leitura, chegaram à conclusão de que deveriam convidar-me para ministrar entre eles. Assim, estive ali nos dias 7, 8 e 9 de abril de 1995, apresentando a perspectiva bíblica sobre o Evangelho da Saúde e da Prosperidade e o Senhor nos abençoou grandemente. Passei momentos inesquecíveis na presença de Deus com um grupo de irmãos muito preciosos. Foi realmente gratificante ver toda uma igreja renunciando os ensinos questionáveis da Confissão Positiva para se firmar no equilíbrio da Palavra de Deus. Transcrevemos aqui a carta de um pastor recebida por nós em 2 de janeiro de 1995, com o seguinte teor: Prezados irmãos, "Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo." Desejo sinceramente que as bênçãos do céu estejam enriquecendo o vosso ministério e que as vitórias sejam muitas. Desejo comunicar-lhes (se ainda não é do vosso conhecimento) que a Convenção Batista do Tocantins, preocupada com estes movimentos "renovacionistas" que têm prejudicado algumas igrejas, presenteou todas as igrejas da referida Convenção com um exemplar do livro intitulado SuperCrentes, de Paulo Romeiro. Acabo de ler todo o volume e estou lhes escrevendo, também, para parabenizar o irmão Paulo Romeiro por este excelente trabalho. A Igreja Batista do Cordeiro, a qual pastoreio, receberá, nos cultos doutrinários, o estudo deste livro (...) No amor de Cristo, Pr. Arquimedes Oliveira de Castro Um grande número de irmãos, entre eles, muitos pastores, nos escreveram agradecendo a publicação do livro e nos incentivando a perseverar no combate pela fé cristã. Graças a Deus, as vozes a favor

superaram de longe as vozes contrárias. Prosperidade: sim ou não? O livro SuperCrentes levantou algumas questões que não podem ser simplesmente deixadas de lado. A primeira foi quanto à prosperidade financeira. É preciso ser dito que não sou de forma alguma contra a prosperidade financeira do cristão ou de qualquer outra pessoa, pois a vida cristã pode trazer e sem dúvida tem trazido bênçãos materiais para muitos. Não tenho a menor pretensão de sair por ai pregando que, por onde eu passar, os irmãos venham a perder suas casas e carros e que empobreçam. Nunca fiz uma apologia da pobreza. Por outro lado, é preciso parar com esse discurso de que pobreza é do diabo, que é maldição. Jesus nunca disse isso, e isto nem reflete a teologia bíblica. Se fôssemos medir a vida espiritual de alguém pelo tamanho de sua conta bancária, pelo carro que possui ou pela mansão onde mora, poderíamos facilmente concluir que P C. Farias e alguns "anões" do Orçamento têm uma comunhão com Deus fora do comum. Estou convicto de que o caminho não é por aí. Creio que quando uma pessoa tem um encontro de salvação com Cristo, o que envolve paz, alegria e libertação, ela pode receber também saúde fisica e progresso financeiro. É muito gratificante ver a transformação espiritual, social e econômica de uma pessoa ou de uma família que foi tocada pelo Evangelho. Quando isso acontece, só nos resta agradecer a Deus o seu dom inefável e o cuidado que ele tem com seus filhos e continuar orando para que mais e mais pessoas sejam abençoadas da mesma forma. O grande problema da Teologia da Prosperidade não é a prosperidade, mas a teologia, que contém doutrinas heréticas no seu bojo, chegando às raias da blasfêmia. Isto não deveria preocupar um cristão sensato? Creio que ninguém precisa abraçar heresias a fim de viver grandes experiências com Deus. A Bíblia diz que Deus, pelas mãos de Paulo, fazia milagres extraordinários (At 19:11). Nem por isso Paulo abandonou o equilíbrio teológico para que os mesmos acontecessem. Por que muitos insistem em fazer de forma diferente hoje? Alguém já disse que o dinheiro pode tanto ser um ótimo empregado quanto um péssimo patrão. Infelizmente, há aqueles que, quando enriquecem, querem tornar-se independentes de Deus. Não creio que seja da vontade de

Deus prover opulência a alguém incapaz de fazer bom uso dela, que não venha a ser um bom mordomo das bênçãos de Deus. Por que citar nomes? Uma outra questão levantada em relação ao livro SuperCrentes foi quanto à citação de nomes. Eu o fiz por alguns motivos. Primeiro, porque há um precedente bíblico para se citar nomes. Veja o que Paulo fez em 2 Timóteo 4:10. O apóstolo não escreve dizendo: "Porque alguém, tendo amado o presente século, me desamparou (...)". Não, não é isso o que ele faz. Ele cita o nome de Demas que, até algum tempo atrás, tinha sido um fiel companheiro. No seu desabafo, Paulo cita ainda outro nome: "Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras" (2 Tm 4:14). Quando alertou sobre a importância de conservar a fé e manter uma boa consciência na vida cristã, citou nomes de alguns que assim não procederam: "mantendo fé e boa consciência, porquanto alguns, tendo rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé. E dentre esses se contam Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para serem castigados, a fim de não mais blasfemarem" (1 Tm 1:19, 20). Quando se tornou necessário corrigir ensinos distorcidos, Paulo não hesitou em mencionar as pessoas. Observe a sua exortação a Timóteo: "Evita igualmente os falatórios inúteis e profanos, pois os que deles usam passarão a impiedade ainda maior. Além disso, a linguagem deles corrói como câncer; entre os quais se incluem Himeneu e Fileto. Estes se desviaram da verdade, asseverando que a ressurreição já se realizou, e estão pervertendo a fé a alguns" (2 Tm 2:1618). Alguém poderá argumentar que Paulo mencionava apenas o nome de pessoas fracassadas espiritualmente ou que fossem inimigas da fé cristã. Entretanto, isso não é verdade. Na carta aos gálatas (Gl 2:9-11), Paulo apresenta o apóstolo Pedro como uma das colunas da Igreja, algo que ele foi até a morte. Nem por isso Paulo deixou de citá-lo, pois Pedro mereceu ser repreendido: "Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti-lhe face a face, porque se tornara repreensível" (Gl 2:11). Há então um precedente bíblico e uma responsabilidade ao se citar nomes. O segundo motivo é que essa é a responsabilidade do cristão. Imagine

o leitor se há um remédio sendo comercializado, trazendo perigo de morte à população. Certamente as emissoras de rádio e TV não conseguiriam prestar um serviço ao público levando ao ar o seguinte anúncio: "Informamos que há um remédio sendo vendido nas farmácias que poderá levá-lo à morte. Desde que não vamos citar o nome do remédio, tente descobrir por você mesmo". Não seria isso um absurdo? Quando alguém descobrisse que remédio é esse, já seria tarde demais. Um outro aspecto que deve ser levado em conta é que não invadimos a privacidade de qualquer pessoa. Nunca questionamos a moral de qualquer pessoa mencionada no livro SuperCrentes.Tudo o que fizemos foi analisar à luz da Palavra de Deus aquilo que os próprios pregadores da Confissão Positiva já haviam trazido a público, por meio de suas pregações e suas próprias publicações. "Não toqueis nos meus ungidos" Basta alguém questionar a posição doutrinária ou ética de algum líder religioso para que ele ou seus simpatizantes imediatamente lancem mão desta frase para se defenderem. Alguém já disse, com sabedoria, que o poder odeia a crítica, e isto é verdade também no meio evangélico. Ao afirmar isso, não estamos defendendo aqui a crítica barata, vingativa, mas, sim, a construtiva, feita de acordo com a Palavra de Deus. Esta expressão "não toqueis nos meus ungidos" aparece duas vezes na Bíblia: em 1 Crônicas 16:22 e em Salmos 105:15; ambas as referências são a respeito dos patriarcas, Abraão, Isaque e Jacó. As duas passagens não se referem a um questionamento ético ou doutrinário do líder, mas a algum perigo para a integridade física de um ungido de Deus. Observe o que aconteceu com Abraão em Gênesis 20:1-13. Estando em Gerar, mentiu ao rei Abimeleque, dizendo que Sara não era sua esposa, a fim de se proteger. Impressionado com a beleza de Sara, Abimeleque mandou buscá-la para fazê-la sua esposa. Deus, porém, avisou o rei em sonho durante a noite, dizendo-lhe que seria punido se tomasse Sara como esposa, o que o levou a desistir do seu plano. Embora Abimeleque tivesse sido proibido por Deus de tocar no profeta (v. 7) e ungido do Senhor, isto é, de causar-lhe algum dano físico, ele não hesitou em repreender Abraão por ter-lhe mentido. Davi também, quando perseguido por Saul e com oportunidade para

matá-lo, limitou-se apenas a cortar-lhe a orla do manto, explicando com estas palavras o motivo de seu comportamento: "O SENHOR me guarde de que eu faça tal cousa ao meu senhor, isto é, que eu estenda a mão contra ele, pois é o ungido do SENHOR" (1 Sm 24:6). Vemos novamente que o que estava em questão era a vida de Saul e não sua posição doutrinária. No Novo Testamento, a unção não é privilégio apenas de alguns, mas de todos os que estão em Cristo. Na sua primeira epistola universal, João mesmo reconheceu isso ao escrever: "E vós possuís unção que vem do Santo, e todos tendes conhecimento" (1 Jo 2:20). João acrescenta ainda: "Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as cousas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, como também ela vos ensinou" (1 Jo 2:27). É verdade que Jesus disse no Sermão do Monte: "Não julgueis, para que não sejais julgados" (Mt 7:1). Este é um outro texto muito usado de forma seletiva e fora de seu contexto como um escudo contra qualquer tipo de questionamento. O que Jesus está censurando nesta passagem é o julgamento hipócrita, algo que ele deixa bem claro nos versículos 3 a 5: "Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e então verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão". Pode-se constatar que o apóstolo Paulo tinha o cuidado de obedecer às palavras do Senhor Jesus pela sua exortação aos coríntios: "Mas esmurro o meu corpo, e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado" (1 Co 9:27). A Bíblia não proíbe o questionamento, pelo contrário, encoraja-o. Quando chegou a Beréia, Paulo teve seus ensinos avaliados à luz das Escrituras pelos bereanos. É interessante que os bereanos não foram censurados nem tidos como carnais porque examinaram os ensinos de Paulo, mas, sim, foram elogiados e considerados mais nobres que os de Tessalônica (At 17:11). Observe a atitude de João. Apesar de ser conhecido como o apóstolo do amor e de usar termos muito amorosos (como "filhinhos", "amados"), ele não deixou de alertar seus leitores quanto aos perigos de ensinos e profetas falsos com essas palavras: "Amados, não deis crédito a qualquer espírito: antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque

muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora" (1 Jo 4:1). O que veio depois Depois do SuperCrentes, várias aberrações doutrinárias continuaram a fustigar as igrejas, como os desvios na área de batalha espiritual, a quebra de maldições hereditárias e, a exemplo do que já vinha acontecendo, surgiram novas datas para a volta de Cristo. Tais aberrações estão sendo tratadas aqui neste trabalho. Não se pode ignorar ainda um novo fenômeno produzido no início de 1994 por uma igreja de Toronto, no Canadá, denominado "gargalhada sagrada" e que já chegou ao Brasil (tratarei disso no capítulo 4, neste livro, sobre os milagres e seus abusos). Publicações contendo ensinos questionáveis apareceram no mercado evangélico, além de novas práticas estranhas, nada benéficas para o Corpo de Cristo. Vejamos algumas delas. O enigma Benny Hinn Benny Hinn esteve novamente no Brasil no primeiro semestre de 1994 e pode-se dizer que ele continua sendo um enigma. A revista Christianity Today (Cristianismo Hoje), uma das mais importantes revistas evangélicas norte-americanas, publicou uma reportagem sobre Benny Hinn na sua edição de 16 de agosto de 1993, p. 38-9, informando que Hinn havia renunciado à Teologia da Prosperidade, chamando o movimento "Palavra da Fé" de "Nova Era". O artigo dizia que Hinn fora exortado por dois líderes cristãos. Um deles, o evangelista James Robison, disse que havia trazido a mesma mensagem a Jim Bakker, a Jimmy Swaggart e a Larry Lea, mas nenhum deles deu atenção ao aviso. Hinn, afirma Robison, reagiu de forma diferente. Robison acrescenta: "Disse a Benny que toda a vez que eu orava por ele, o Senhor me mostrava que estava descontente com o que ele fazia (...). Eu lhe disse que Deus não o havia ungido para pregar coisas erradas e atuar de forma extravagante e teatral, derrubando as pessoas no chão, sacudindo o paletó e soprando sobre o povo". A reportagem informa ainda que Hinn descreveu o quanto o ensino da fé o prejudicou: "Eu estava muito influenciado por Kenneth Hagin e Kenneth

Copeland. Nenhum deles fala de salvação. Só de fé. A mensagem da fé é vazia sem o Espírito". Hinn comentou também sobre a prosperidade: "A própria palavra foi distorcida e tornou-se de importância fundamental no ministério. Dinheiro, dinheiro, dinheiro. É quase como ir a um cassino jogar!" Apesar disso, só o tempo dirá se Benny Hinn realmente mudou. Sempre que traz a público um ensino controvertido, seus amigos o alertam, e ele se arrepende e pede perdão. Dois ou três meses depois ele faz a mesma coisa, seus amigos o admoestam, ele pede perdão novamente, e assim o ciclo se repete. É lamentável que isso pareça ser uma constante na vida de Benny Hinn. Infelizmente, há outros assuntos que também são motivo de preocupação, como veremos a seguir. Um livro muito estranho Fiquei surpreso ao ver nas livrarias evangélicas um livro intitulado Como Compreender o Seu Potencial, a Descoberta do Verdadeiro Eu, escrito por Myles Munroe e publicado pelo ministério de Robson Rodovalho.(Myles Munroe, Como Compreender o Seu Potencial, a Descoberta do Verdadeiro Eu - Brasília, DF, Koinonia Comunidade e Edições, 1993.) De acordo com o livro, Myles Munroe é professor internacional, palestrante, conferencista, evangelista, consultor, fundador e presidente do Bahamas Faith Ministries International (Ministério Internacional de Fé das Bahamas), uma rede abrangente de ministérios com sede em Nassau, Bahamas. O Dr. Munroe é bacharel em Educação, Belas Artes e Teologia pela Universidade Oral Roberts e é mestre emAdministração pela Universidade de Tulsa. Em 1990 recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Oral Roberts. Como pode alguém com tal currículo escrever um livro assim tão questionável à luz da Palavra de Deus? O livro tem problemas doutrinários do começo ao fim. Muitos deles chegam a ser absurdos. Por falta de espaço, serão tratados aqui apenas alguns para que sirvam de alerta a quem pensa que hoje pode entrar em qualquer livraria evangélica e comprar o que quiser sem precisar se precaver. O que você acha dessas afirmações? "Assim, Deus criou você para ser onipotente" (p. 23). Resposta bíblica: Não encontramos em qualquer parte da Bíblia que Deus tenha criado alguém para ser onipotente. A onipotência é um atributo

exclusivo e incomunicável da deidade. Observe as palavras de Jesus: "Mas ele respondeu: Os impossíveis dos homens são possíveis para Deus" (Lc 18:27). Veja ainda Jó 42:2. "Acreditamos que nós não servimos para nada ou que não temos valor. Jesus disse: 'Nada disso. Eu vim para mostrar a você que você é mais do que você pensa que você é"' (p. 25). Resposta bíblica: Alguém pode até pensar que eu estou sendo chato demais ao destacar esta frase do livro para refutá-la à luz da Bíblia. Entretanto, o autor faz algo extremamente perigoso, exegeticamente falando. Ele coloca palavras nos lábios de Jesus. De onde ele tirou estas palavras? Não há qualquer lugar na Bíblia onde Jesus tenha dito isto. Trata-se portanto de revelação extrabíblica. Ora, se alguém começa a fazer isso e não é questionado, a pessoa poderá ir longe demais e outros seguirem o seu mau exemplo.Aqui vemos que Myles acrescenta ao texto bíblico e isto é biblicamente inaceitável. "A maioria de nós quer ser como Jesus. Isso não é o que Deus quer. Deus quer que nós sejamos como Cristo. Jesus veio para nos mostrar como Cristo se parece quando ele surge em forma humana" (p. 28-9). "Jesus foi a manifestação humana do Cristo celestial" (p. 29). "Quando queremos encontrar Cristo, Deus nos mostrará a Igreja. Entretanto, nós não podemos aceitar isso, porque acreditamos que Cristo está no céu. Não, ele não está. Jesus está no céu" (p. 29). Resposta bíblica: O autor comete erros gravíssimos com as declarações acima. Primeiro, ele divide a pessoa do Senhor entre Cristo e Jesus. Isto está mais para os ensinos da Nova Era do que para a teologia bíblica. Em Cristo há uma só pessoa com duas naturezas: a divina e a humana. A Bíblia diz que Jesus é o Cristo (Lc 2:11) e morreu como o Cristo (Rm 14:9 e 1 Co 15:3). Segundo, ao afirmar que Cristo não está no céu, o autor contradiz a Palavra de Deus em Romanos 8:34 e Colossenses 3:1. "O corpo de Lúcifer foi criado com tubos internos para que toda a vez que ele levantasse uma asa, um som saísse na forma de música (...). Assim que ele começava a abanar suas asas os anjos começavam a cantar" (p. 43).

Resposta bíblica: Que absurdo! Onde está isto na Bíblia? Esta é a falácia da revelação extra-bíblica (um dos exemplos disso tem acontecido nos seminários de batalha espiritual, onde nomes de demônios que não estão na Bíblia são ensinados por revelação) ou do argumento do silêncio (um exemplo aqui é a especulação que alguns fazem sobre a vida de Jesus dos doze aos trinta anos de idade. Desde que a Bíblia não diz qualquer coisa a esse respeito, acabam criando suas próprias histórias). Ora, todas as nossas regras de fé e prática devem estar baseadas nas Escrituras. Onde e quando a Bíblia se cala, devemos nos calar também. "Nós sempre existimos. No estado anterior, éramos invisíveis, mas mesmo assim já existíamos" (p. 82). Resposta bíblica: Esta é mais uma declaração que contraria o ensino das Escrituras. Aliás, os mórmons também crêem na mesma coisa, na preexistência do ser humano. Ao contrário do que diz o autor, a Palavra de Deus declara em Zacarias 12:1: "Fala o SENHOR, o que estendeu o céu, fundou a terra e formou o espírito do homem dentro dele". Veja ainda 1 Coríntios 15:46, que também refuta tal crença errônea: "Mas não é primeiro o espiritual, e, sim, o natural; depois o espiritual". Conversei pessoalmente sobre este livro com Robson Rodovalho no Rio de Janeiro, durante um encontro promovido pela AEVB (Associação Evangélica Brasileira), nos dias 17 e 18 de março de 1994. Disse-lhe que este livro, prefaciado e publicado por ele, estava cheio de heresias do começo ao fim. Robson tornou-se tenso com minhas observações. Disse-lhe então que estava ali como irmão em Cristo para ajudá-lo e que, se ele quisesse, eu faria uma análise por escrito do livro para sua apreciação. Ele gostou da idéia. Sugeri ainda que publicasse algo alertando principalmente o seu público sobre as posições antibíblicas do livro, numa tentativa de desfazer os danos causados pelo texto. Ele deu a entender que também isso era uma boa idéia. Na ocasião, falei-lhe que não concordava com ele sobre o ensino da quebra de maldições hereditárias, por ser também uma doutrina sem base bíblica (veja o capítulo seis neste livro). Terminamos aquele encontro de forma amiga e fraterna. Coloquei-me à sua disposição para ajudá-lo sempre que ele quisesse. Enviei-lhe depois uma carta com a análise do livro ainda no primeiro semestre de 1994. Até hoje não ouvi qualquer reação de sua parte. Pior do que isso, o livro, cheio de

heresias e aberrações, continua sendo comercializado pelo Brasil afora. Se o leitor pensa que acabou, vai se surpreender com algumas informações sobre Jorge Tadeu, um pregador da Teologia da Prosperidade e líder das igrejas Maná, que continua gerando controvérsias em Portugal e no Brasil. Eis os fatos: "Igreja Maná, milagres perigosos" Esta foi a manchete de uma reportagem de capa que a revista Visão, de Portugal (10 a 16 de fevereiro de 1994, nº47), fez sobre a igreja Maná, liderada por Jorge Tadeu naquele país. Tadeu é um engenheiro e alguns de seus livros que promovem a Confissão Positiva circulam também pelo Brasil. Ele já esteve aqui várias vezes, aparecendo em programas de TV ao lado de Valnice Milhomens e promovendo conferências em São Paulo. No livro SuperCrentes, tratei de seus desvios doutrinários e informei, com evidências documentadas, como seus ensinos levaram pessoas à morte em Portugal. Pelo artigo publicado na revista Visão, pode-se ver que o ministério Maná ainda continua gerando muita controvérsia. Na página 58 da revista, há uma declaração de Jorge Tadeu que merece atenção: "Temos de deixar a nossa religiosidade no chão para sermos mais utilizados por Deus. Recebi isto por revelação divina: Deus me disse que hoje o Senhor permite que um homem tenha várias mulheres, desde que com isso sirva mais a Deus" (gravação em vídeo de uma palestra de Jorge Tadeu aos pastores, em reunião realizada em junho de 1992 no Tojal, Loures). E agora, dá para concordar? Se alguém concordar, vai ter que pedir desculpas aos mórmons, (Joseph Fielding Smith, Doutrina de Salvação - São Paulo, SP, Centro Editorial Brasileiro, 1976, vol. 1, p. 65.) muito criticados pelos evangélicos por terem ensinado e praticado a poligamia no passado. O que não dá para entender é que Jorge Tadeu venha a público, faça uma declaração como essa e continue sendo considerado um ungido de Deus. Se alguém discorda destas aberrações, é considerado pelos adeptos da Confissão Positiva como carnal e provocador de divisões no Corpo de Cristo. Ora, uma das grandes causas de divisões no Corpo de Cristo são justamente as heresias (hairesis, no grego. O termo é mencionado na lista das obras da carne em Gálatas 5:19-21).

Mas Jorge Tadeu não pára por aí. A revista portuguesa ainda informa que o dinheiro é o seu objetivo principal e que para alcançar seus alvos financeiros Jorge Tadeu criou um método infalível: os pastores das igrejas de Portugal afiliadas ao seu ministério são obrigados a preencher, de antemão e de uma vez, doze cheques, com as quantias projetadas para cada mês do ano. Se os "alvos de fé" não forem alcançados, o salário dos pastores não é pago. Um ex-pastor da Igreja Maná afirma: Os pastores vivem sob pressão, sabem que se as ofertas não alcançarem os números de Jorge Tadeu são eles próprios que não recebem. Isso faz com que se vá para o púlpito, não para pregar a Palavra de Deus, mas para lutar pela sobrevivência. Outro pastor, segundo a revista Visão, conta ter visto muitos colegas de ministério serem humilhados por Jorge Tadeu, sendo chamados de estúpidos, incompetentes e moleques e que se não tinham dinheiro é porque não tinham fé (p. 57). Uma professora primária de Coimbra declara: Dei todo o dinheiro que tinha e quando já não havia dinheiro, o meu pastor trouxe um recado do pastor Tadeu: disse-me para dar o ouro e as jóias. Eu dei. Fiquei sem nada, à espera de uma bênção financeira que nunca chegou. Só hoje vejo como estava cega, completamente cega. Seria impossível contar hoje o número de pessoas que têm sido vítimas de seitas e ensinos distorcidos, algumas de forma irremediável. O espaço não permite também tratar de todas as aberrações doutrinárias surgidas no seio da Igreja no Brasil depois da publicação do livro SuperCrentes. Essas, porém, foram mencionadas para dirimir dúvidas e responder às perguntas de muitos leitores.

3 - O culto à personalidade O desenvolvimento tecnológico das últimas décadas abriu largas avenidas para a pregação do Evangelho por meio da mídia, principalmente pelo rádio e pela televisão, dando assim acentuada visibilidade a um fenômeno muito antigo e nada recomendável: o culto à personalidade. Isso acontece porque o ser humano é um adorador por natureza e cultuar é uma de suas atividades essenciais. Entretanto, no seu afã de adorar ele tomou, ao longo da história, caminhos espiritual e socialmente tortuosos. Desde jangais da África, desertos da Arábia, até ao frenesi das grandes metrópoles, adoradores podem ser encontrados aos bilhões, ora prostrando-se diante de uma vaca sagrada, de algum amuleto, ou altar, ora diante de algum líder religioso ou guru. O interessante é que, quando o ser humano não adora em espírito e em verdade (Jo 4:23, 24), ele corre o risco de procurar ser adorado. Não faz muito tempo, a revista Isto É publicou um artigo sobre o comportamento dos famosos da música e do cinema com seus fãs. Isso aconteceu durante a visita dos Rolling Stones ao Brasil: Sol inclemente ou chuva constante. Horas e horas parados diante de um edifício. Para um fã não existe limite. Vale tudo para estar perto do seu ídolo. Esta é a única razão para justificar por que a publicitária Rita de Cássia Gemignani, 26 anos, e a secretária Michele Lopes, 25, abandonaram seus empregos e se entregaram à empreitada de chegar o mais próximo possível dos Rolling Stones. Acompanharam os três shows da banda em São Paulo, os dois no Rio de Janeiro e, não satisfeitas, bandearam-se para Buenos Aires, escala seguinte da megaturnê ( ....) A rotina de fãs apaixonadas como Rita de Cássia e Michele, que também adoram os Beatles, é toda organizada em função da vida dos mitos idolatrados. Eles mergulham num mundo paralelo e, por causa disso, à vezes perdem a identidade. Este culto às celebridades costuma chegar à beira da irracionalidade nos Estados Unidos (...) Esta devoção não raramente se transforma em casos patológicos, capazes de ofuscar até mesmo o senso de ridículo (...) A passagem dos Stones pelo Brasil confirmou a modernidade na adoração dos mitos. (Revista Isto É -15 de fevereiro de 1995, p. 42-3.)

Nem os mortos escapam a esse culto, como, por exemplo, Elvis Presley e Raul Seixas. O fator carisma Certamente que essa atração, domínio e, muitas vezes, manipulação do ídolo exercidos sobre o fã têm muito a ver com um fator denominado carisma. O dicionário Aurélio define carisma da seguinte maneira: "uma força divina conferida a uma pessoa ou a atribuição a outrem de qualidades especiais de liderança, derivadas de sanção divina, mágica, diabólica, ou apenas de individualidade excepcional" (p. 354). Geralmente, a pessoa dotada de um forte carisma é conhecida por seu magnetismo irresistível, sua aparência de vencedor e pelo entusiasmo com que defende uma causa, ou apresenta um produto. Tal entusiasmo pode ser visto freqüentemente nos executivos ou no pessoal de liderança da Amway, uma rede internacional de distribuição de produtos que tem atraído muitos evangélicos atualmente, e ainda nos cursos de Lair Ribeiro. Max Weber, sociólogo alemão, fez uma excelente análise, no livro Ensaios de Sociologia, sobre o papel do carisma no relacionamento do ídolo com seu fã: A expressão "carisma" deve ser compreendida como referindo-se a uma qualidade extraordinária de uma pessoa, quer seja tal qualidade real, pretensa ou presumida. "Autoridade carismática", portanto, refere-se a um domínio sobre os homens, seja predominantemente externo ou interno, a que os governados se submetem devido à sua crença na qualidade extraordinária da pessoa específica. O feiticeiro mágico, o profeta... o chefe guerreiro... o chefe pessoal de um partido são desses tipos de governantes para os seus discípulos, seguidores, soldados, partidários, etc. A legitimidade de seu domínio se baseia na crença e na devoção ao extraordinário, desejado porque ultrapassa as qualidades humanas normais e originalmente considerado como sobrenatural. Alegitimidade do domínio carismático baseia-se, assim, na crença nos poderes mágicos, revelações e culto do herói. (Max Weber, Ensaios de Sociologia, Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 1982, 5. ed., p. 340.)

O culto político O culto à personalidade tem-se repetido também ao longo da história no relacionamento entre os senhores feudais e seus vassalos, entre políticos e povo, e entre ditadores e seus seguidores. Michael Green faz uma relevante observação quanto a esse fenômeno: Os fiéis, na verdade, endeusam o líder: ele é supremo e a sua vontade tem que ser obedecida. De fato, sua posição corresponde quase que exatamente àquela do imperador romano que exercia completo poder político sobre o mundo conhecido e era adorado por seus subjugados. Da mesma forma Hitler declarou ser o emissário do Todo-Poderoso e o fundador do reino de mil anos. Os nazistas morriam invocando o seu nome, e sua personalidade era considerada transcendente. O mesmo aconteceu com Mao. Ele não era apenas um líder; ele era divindade. Ele foi adorado. As pessoas se ajoelhavam diante dele. Elas recitavam seus pensamentos. Elas acreditavam que ele as curava através das mãos de um cirurgião. Ele tomou o lugar de Deus.(Michael Green, I Believe in Satan's Down fall - Creio na queda de Satanás, Grand Rapids, Michigan, E.U.A., William B. Eerdmans Publishing Company, 1981, p. 158.) É impressionante como o homo sapiens do final do século vinte, que vive rodeado de uma tecnologia avançada, de um saber multiplicado, ainda se comporta de forma tão ingênua, permitindo que outros o explorem espiritualmente. A seguir, alguns relatos bíblicos do culto à personalidade. Exemplos bíblicos A moda não é de hoje. No Sermão da Montanha, Jesus alertou várias vezes sobre aqueles que davam esmolas, oravam e jejuavam tocando trombeta a fim de serem vistos pelos homens. Ele chamou tais pessoas de hipócritas (Mt 6:1-18). Assim eram os escribas e fariseus, que buscavam sempre o louvor do próximo. Eram eles que praticavam todas as suas boas obras e se vestiam alargando seus filactérios e alongando a franja de suas roupas com o fim de serem vistos pelos homens. Amavam também o primeiro lugar nos banquetes, as primeiras cadeiras nas sinagogas, gostavam de ser saudados e chamados de mestres pelos seus semelhantes (Mt 23:5-7).

Jesus não poupou adjetivos ao repreendê-los por tal atitude, chamando-os de hipócritas, guias cegos, insensatos, serpentes, raça de víboras e sepulcros caiados, que por fora se mostram belos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia (Mt 23:13, 16, 27, 33). O Senhor alertou ainda que, ao fazer o bem, a mão esquerda não venha a saber o que fez a direita (Mt 6:3), bastando apenas ao Pai ficar sabendo, pois é ele quem vai dar a recompensa (Mt 6:4). Sem dúvida, todo cristão deve se envolver em obras sociais a fim de promover o bem-estar do seu próximo. Por outro lado, foge completamente aos ensinos da Bíblia quando um grupo desenvolve uma obra social, como distribuição de cestas básicas ou qualquer outro tipo de socorro humanitário, e fica o tempo todo mostrando isso no seu próprio canal de televisão. É o comportamento dos escribas e fariseus, condenado por Jesus, repetindo-se atualmente. Por isso, admiro o Exército da Salvação, que tem, já por décadas, desenvolvido o seu ministério de socorrer os necessitados sem chamar a mídia para alardear o que faz. Um outro exemplo de culto à personalidade pode ser observado nos eventos que precederam a morte de Herodes. A Bíblia diz que ele foi aclamado pelo povo e comido de vermes (At 12:21-24). O historiador Flávio Josefo relata que Herodes programou um festival na cidade de Cesaréia em homenagem a César. No segundo dia do festival, Herodes apareceu de manhã no teatro vestido de prata, refletindo um brilho intenso devido aos raios do Sol. O povo começou então a clamar-lhe: - Seja misericordioso para conosco; pois embora até hoje tenhamos te reverenciado apenas como homem, te consideraremos de agora em diante como superior à natureza mortal. Diante disso, o rei não os repreendeu nem rejeitou tal ímpia adulação. No mesmo instante, ele sentiu uma dor muito forte no abdome e foi levado para o palácio, onde morreu cinco dias depois. (Flávio Josefo, Josephus, Antiguidade dos Judeus, Grand Rapids, Michigan, E.U.A., Kregel Publications, 1960, Livro 19, capítulo 8.2, p. 412.) Outro exemplo claro é o de Paulo e Barnabé em Listra. Ali, um homem aleijado, paralítico desde o seu nascimento, foi curado depois de ouvir a pregação de Paulo. Quando a multidão viu o que aconteceu, começou a gritar:

- Os deuses, em forma de homens, baixaram até nós. A Barnabé chamaram Júpiter, e a Paulo, Mercúrio, deuses mitológicos. O sacerdote de Júpiter, que tinha um templo em frente da cidade, trouxe para junto das portas da cidade touros e grinaldas para, junto com a multidão, fazer um sacrifício em homenagem aos dois apóstolos (At 14:6-13). Paulo e Barnabé recusaram de imediato e com veemência a oferta ou qualquer reconhecimento quanto ao milagre que acabara de acontecer, pois eram verdadeiros homens de Deus, desprovidos de qualquer ambição. Mas fico pensando em muitos hoje que não hesitariam em receber as homenagens, e certamente iriam até mais longe. Aproveitariam o evento para manipular e explorar ainda mais a massa. Há muitos outros relatos bíblicos que mostram o relacionamento doentio entre uma personalidade e aqueles que lhe prestam adoração, e o espaço não nos permite expandir mais este assunto. Entretanto, vale lembrar aqui as palavras de Moisés usadas mais tarde por Jesus quando foi tentado por Satanás: "Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele darás culto" (Dt 6:13 e Mt 4:10). Nas seitas O culto à personalidade pode ser amplamente observado no relacionamento entre líderes de seitas e seus adeptos. A igreja mórmon, por exemplo, rende louvores ao seu fundador, Joseph Smith, com o hino 108 do seu hinário oficial, intitulado: Hoje, ao profeta louvemos. Os adeptos da seita Moon carregam consigo uma foto do líder, reverendo Moon, para garantir a proteção dos anjos e do bom mundo espiritual (revista Mundo Unificado, maio/ junho de 1984, p. 8). As orações no grupo são feitas em nome dos verdadeiros pais, isto é, reverendo Moon e sua esposa. Já a Palavra de Deus ensina que as orações devem ser feitas em nome de Jesus (Jo 14:13, 14). Moon é considerado dentro da seita como o Senhor do Segundo Advento, o Messias vivo na Terra. Quanta heresia! Os adeptos do Tabernáculo da Fé seguem os ensinos de William Marrion Branham, um controvertido pregador de cura divina nos Estados Unidos, já falecido. Branham declarou ser o anjo de Apocalipse 3:14 e 10:7 e que o arrebatamento da Igreja e a destruição do mundo aconteceriam em

1977. Seus seguidores gostam de exibir uma foto de Branham tirada em Houston, Texas, em 1950, em que aparece uma auréola (que mais parece uma mancha) de luz sobre a sua cabeça, enquanto falava do púlpito. Depois de falecer, em 1965, seus seguidores acreditavam que ele ressuscitaria. Alguns de seus discípulos criam ser ele o próprio Deus, enquanto outros afirmavam que ele havia nascido através de uma virgem (nascimento virginal). Alguns oravam a ele e outros batizavam em seu nome. Branham recebeu muito apoio da Full Gospel Business Men's Fellowship International (Associação Internacional dos Homens de Negócios do Evangelho Pleno-Adhonep norte-americana), mas tal apoio foi se reduzindo à medida que Branham se tornava cada vez mais controvertido, nos anos 60. Uma das controvérsias foi o seu ensino conhecido como "a semente da serpente", onde afirmou que Eva se envolveu sexualmente com a serpente no Jardim do Éden. (Patrick H.Alexander, Editor, Dictionary of Pentecostal And Charismatic Movement - Dicionário dos Movimentos Pentecostal e Carismático, Grand Rapids, Michigan, E.U.A., Zondervan Publishing House, 1988, p. 95-6.) (Tal ensino antibíblico é defendido também pela seita do reverendo Moon.). Diante de tudo isso, é de se estranhar que alguns líderes pentecostais e carismáticos, como Kenneth Hagin, Oral Roberts, Benny Hinn e Marilyn Hickey, ainda hoje considerem ter sido William Branham um grande homem de Deus só por causa dos milagres em torno de seu ministério. O culto à personalidade pode ser notado também na igreja Adventista do Sétimo Dia, onde os ensinos giram em torno das interpretações bíblicas de sua profetisa, Ellen Gould White. Uma das provas disso é que todo o candidato ao batismo deve preencher e assinar um formulário em que declara crer no espírito de profecia e já ter lido alguns livros da senhora White. Para os adventistas, ela possui o espírito de profecia, sendo assim a única capaz de interpretar as Escrituras de forma correta e confiável. Se alguém recusar a autoridade de Ellen White não poderá ser um adventista do Sétimo Dia. Tanto na igreja do Tabernáculo da Fé quanto na igreja Adventista do Sétimo Dia, os livros de William Branham e de Ellen White são colocados numa posição de igualdade com a Bíblia Sagrada. Um dos exemplos mais chocantes dos perigos que cercam o culto à personalidade pôde ser verificado no grupo chamado Ramo Davidiano, de David Koresh, em Waco, Texas, Estados Unidos. Em abril de 1993, o FBI

cercou por vários dias o rancho onde Koresh e seu grupo estavam reunidos, enquan to a sociedade acompanhava apreensiva os fatos pela mídia e aguardava com ansiedade um final feliz. Infelizmente, tal não aconteceu. Depois de perceberem que a polícia estava prestes a fazer uma invasão, Koresh e seu grupo preferiram transformar em chamas o rancho da seita e morrer do que entregar-se ao FBI. No dia 19 de abril de 1993, entre 75 e 85 pessoas morreram, incluindo aproximadamente 25 crianças. Nove pessoas sobreviveram. Por que isso aconteceu? O que ou quais cincunstâncias levaram um grupo de homens e mulheres a obedecer cegamente um líder, mesmo até a morte? Naturalmente são muitos fatores, que, por falta de espaço, não serão tratados aqui. Entretanto, seria interessante conferir o relato de dois autores sobre o caráter megalomaníaco de Koresh, algo relacionado com o assunto do nosso capítulo: No seu cartão pessoal estava impresso "Messias" e ele é citado como tendo declarado em inúmeras ocasiões: "Se a Bíblia é verdade, então eu sou o Cristo". Alguns acreditaram nele. Ele foi capaz de convencer os maridos a entregar-lhe suas esposas, famílias a entregar-lhe dinheiro e filhos. Seu estilo de vida paradisíaco permitiu-lhe viver da renda dos outros. Em 19 de abril de 1993, havia quase cem pessoas dispostas a morrer com ele pela promessa de uma vida no céu após a mortes. (Tobias, L. Madeleine & Lalich, Janja, Captive Hearts, Captive Minds - Corações Cativos, mentes Cativas, Alameda, CA, E.U.A., Hunter House, 1994, p. 81.) As lições duras e amargas, não apenas de David Koresh e Jim Jones (que no fim de 1978 levou mais de 900 pessoas ao suicídio coletivo, na Guiana), estão aí para quem delas quiser tirar proveito. E quem dera que tragédias como essas nunca mais se repetissem! Na Igreja

O culto à personalidade pode ser encontrado também onde menos se deveria: na Igreja cristã. É óbvio que não estou insinuando que tal fenômeno acontece na Igreja com a mesma intensidade e impiedade que nas seitas, como nos exemplos citados acima. Por outro lado, mesmo com uma intensidade menor, e provavelmente sem o perigo de levar ao extermínio de pessoas, ele não deveria ocorrer de modo algum. Estou ciente também de que todos os citados aqui negarão veementemente tal procedimento e afirmarão que não existe em seu grupos qualquer exaltação do ser humano, que seu alvo é glorificar apenas a Deus. Lamentavelmente, as práticas de muitos grupos demonstram o contrário. Muitos estão pegando carona no louvor e adoração a Deus. Esse é o caso de Jorge Tadeu, fundador e líder das igrejas Maná em Portugal e que já esteve várias vezes no Brasil. Ele se autodenomina Apóstolo e escreve cartas semanais aos seus pastores com o título de "St." (São) Jorge Tadeu. Um dos pastores dissidentes garante: "Hoje, a palavra de Jorge Tadeu na igreja Maná é equiparada à Palavra de Deus". (Revista Visão, Lisboa, Portugal, 10 de fevereiro de 1994, p. 56.) O culto à personalidade aparece também na igreja Universal do Reino de Deus, fundada por Edir Macedo. Tenho verificado pessoalmente que quase todos os pastores da Universal, tanto os que pregam nas igrejas quanto os que aparecem na televisão, são fiéis imitadores de Macedo. Os mesmos gestos, as mesmas entonações de voz, e muitas vezes, as mesmas expressões, tais como: "Sim ou não, pessoal?", "É ou não é, pessoal?" e "Amém, pessoal?". Muitas vezes, o fato de ser imitado não é culpa do líder. Muitos de nós gostamos de ter os nossos heróis, de ter um modelo a seguir, e até um certo ponto isso é bom. O apóstolo Paulo até aconselhou: "Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo" (1 Co 11:1). O escritor aos Hebreus também admoestou: "Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram" (Hb 13:7). Assim, somos encorajados a imitar, principalmente, a fé desses irmãos, e não sua entonação de voz ou gestos. Tenho observado que muitos irmãos tornam-se fãs tão ardorosos dos líderes evangélicos mais conhecidos que começam a idolatrá-los, passando a imitar-lhes a voz, as expressões peculiares, os mesmos chavões e os gestos. Muitas vezes, isso pode revelar o resultado de um crescimento espiritual nada

saudável de alguns crentes. Mesmo o rev. Caio Fábio ou o Dr. Russell Shedd, que estão longe de promover tal comportamento ou buscar tal tipo de reação dos seus ouvintes, têm sido cultuados por vários dos que os acompanham ao longo dos anos. Creio que esses homens de Deus ficariam constrangidos se chegassem a constatar tais fatos. É incrível também a pressa com que alguns líderes evangélicos, ministérios e igrejas tratam de explorar a fama de algum astro do futebol ou do mundo artístico. Basta alguém acenar com uma conversão e o novo convertido (se é que houve uma conversão genuína) já estará diante de um grande auditório num ginásio, num estádio ou numa igreja. A pessoa ainda nem conhece o básico da fé cristã, ainda não abandonou por completo a velha vida (em muitas igrejas isso já nem é mais preciso), nem teve qualquer crescimento espiritual e já é promovido à posição de pregador e ungido do Senhor. Infelizmente o que tem acontecido é que, logo depois dos testemunhos e de todo o barulho provocado por tal celebridade, surgem fracassos e fatos embaraçosos, trazendo vergonha e desonra para o Evangelho. É preciso mais cuidado. Exemplos saudáveis Quando Naamã, comandante do exército do rei da Síria, foi a Israel em busca de Eliseu para ser curado de sua lepra, esperava ser bajulado pelo profeta de Deus. Para garantir uma recepção honrosa pelo homem de Deus, Naamã levou consigo dinheiro e presentes. O plano falhou. Eliseu nem saiu de casa para cumprimentá-lo. Enviou-lhe um mensageiro dizendo: "Vai, lavate sete vezes no Jordão, e a tua carne será restaurada, e ficarás limpo" (2 Rs 5:10). Contrariado, Naamã foi, lavou-se no Jordão e foi curado de sua lepra. Em gratidão, voltou à casa do profeta e, com insistência, ofereceu-lhe presentes. Eliseu recusou, mostrando assim que um verdadeiro homem de Deus não busca a glória humana e não faz comércio com o poder e a Palavra do Senhor (2 Rs 5). Ao contrário de Eliseu, lamentavelmente, muitos líderes evangélicos hoje não hesitam em bajular políticos na busca de favores e de explorar, para benefício próprio, qualquer oportunidade que se lhes apresenta. João Batista é um outro exemplo a ser seguido. Ele poderia ter bajulado a realeza, mas não o fez. Depois de anunciar a vinda do Messias, denunciou o pecado de Herodes e Herodias, e foi por isso preso e decapitado

(Mc 6:17-29). Em lugar de buscar seu bem-estar e autopromoção, ele declarou a respeito de Jesus: "Convém que ele cresça e que eu diminua" (Jo 3:30). Que Deus nos dê a mesma atitude de coração de João Batista e o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus (Fp 2:5). Quando Pedro dirigiu-se à casa de Cornélio para anunciar-lhe a Palavra de Deus, foi recebido com muita pompa. A Bíblia diz que Cornélio recebeu o apóstolo e, prostrando-se aos seus pés, o adorou. Mas Pedro recusou a adoração e, levantando Cornélio, disse-lhe: "Ergue-te, que eu também sou homem" (At 10:26). Até mesmo um anjo recusou ser adorado por João na sua visão de Patmos (Ap 19:10 e 22:8). Na segunda vez, o anjo disse-lhe: "Vê, não faças isso; eu sou conservo teu, dos teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus" (Ap 22:9). Seria ridículo o jumento que carregou Jesus na sua entrada triunfal em Jerusalém pensar (isto é, se ele pudesse pensar) que as pessoas que estendiam suas vestes e ramos no caminho, por onde ele passava, o faziam por causa dele, e não por causa de Jesus. Seria ridículo ele pensar que toda aquela aclamação fosse por causa dele, e não por causa do Senhor. Da mesma forma, seria totalmente impróprio achar que, por causa do nosso carisma e habilidade, as coisas acontecem no Reino de Deus. Por esta razão, a Palavra de Deus nos exorta: "...porque Deus resiste aos soberbos, contudo aos humildes concede a sua graça. Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte" (1 Pe 5:5, 6). O profeta Miquéias acrescenta ainda: "Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o SENHOR pede de ti, senão que pratiques a justiça e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus?" (Mq 6:8). Meu professor de Evangelismo e Missões no seminário, Dr. Christy Wilson, contou certa vez que Sadu Sundar Singh, o místico da índia, o apóstolo dos pés sangrentos, chegou um dia a uma vila e alguém lhe perguntou: - Você é Jesus? Sadu respondeu: - Não, é claro que não. Eu sou apenas o jumento de Jesus. Eu levo Jesus a todo o lugar que vou. Que Deus nos ajude a fazer o mesmo!

Não escrevi este capítulo como alguém isento de tais problemas ou livre de todas as tentações nessa área. Por esta razão, preciso ser continuamente lembrado pelo Espírito Santo que, por mais que o vaso seja usado, ele continua sendo de barro. Bem escreveu o apóstolo Paulo ao comentar sobre o ministério cristão: "Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós" (2 Co 4:7). A Deus toda a glória!

4 - Milagres e seus abusos Sempre que um cristão defende a fé cristã e apresenta o cristianismo como a melhor opção de vida para o ser humano, o tema milagre será inevitavelmente mencionado. Isso acontece porque a Palavra de Deus, desde o princípio até o fim, relata uma grande quantidade de eventos miraculosos. A simples existência e sobrevivência da Bíblia ao longo dos séculos já se constitui num milagre. E por mais simples que venha a ser a forma de compartilhar com alguém as boas-novas de salvação, quem o faz certamente falará dos milagres de Jesus. Seu nascimento virginal, seu poder sobrenatural para curar os enfermos, ressuscitar os mortos, dominar as forças da natureza e sua própria ressurreição. É impossível falar de Cristo sem falar em milagres. O Dicionário Aurélio define milagre como um feito ou ocorrência extraordinária, que não se explica pelas leis da natureza. Dentro do contexto religioso, milagre é qualquer manifestação da presença ativa de Deus na história humana (p. 923). A Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã comenta de forma muito interessante: Ao contrário do mundo moderno, o mundo antigo não tinha suspeita dos milagres. Eles eram considerados uma parte normal da vida, embora um pouco extraordinária. Era típico do povo antigo acreditar não apenas que os

poderes sobrenaturais existiam, mas que também intervinham nos assuntos humanos. Os milagres, portanto, não constituíam um problema para os primeiros cristãos, quando estes procuravam explicar sua fé e relacioná-la com a cultura a seu redor. (WalterA. Elwell, Enciclopédia HistóricoTeológica da Igreja Cristã (Edições Vida Nova, 1990), p. 516.) É lamentável que exista tanta confusão doutrinária no seio da Igreja atualmente e que a questão dos milagres jogue mais lenha ainda na fogueira. Desta forma, torna-se indispensável aproximar-se do assunto com muito cuidado, a fim de evitar dois possíveis perigos: um é o ceticismo, isto é, a rejeição total de qualquer possibilidade de os milagres acontecerem hoje. O outro é a disposição descontrolada e irresponsável de se crer em tudo o que aparece, sem qualquer critério de avaliação por parte dos que orbitam em torno dos milagres. Dos dois, o último é o que mais tem gerado controvérsia nos circulos pentecostais, carismáticos, ou renovados e avivados. Não é o nosso propósito apresentar aqui um tratado sobre milagres, por mais atraente que seja o assunto. Também não está em questão se os milagres podem acontecer ou não, pois creio em milagres. Creio no poder de Deus e que o Senhor pode fazer hoje o que fez há dois mil anos atrás. O alvo da atenção aqui não são os milagres, mas os abusos em torno deles; oferecerei algumas sugestões para proteger o Corpo de Cristo dos transtornos que tais abusos têm gerado entre os crentes atualmente. Reconheço que tais transtornos às vezes são causados por pregadores bem-intencionados, que querem ver o poder de Deus em ação e ajudar os que sofrem. Por outro lado, há também aqueles que são mestres em explorar e manipular a boa-fé do público, muitas vezes, infelizmente, por amor ao dinheiro. A exemplo de outras distorções doutrinárias, várias aberrações relacionadas com os milagres de hoje são importadas da América do Norte. Outras surgiram por aqui mesmo, como veremos a seguir. Dentes de ouro As comentadas obturações em ouro parecem ser um fenômeno tipicamente brasileiro. Não há notícia de que tenha acontecido em outros países e, se aconteceu, não foi com a mesma intensidade ou repercussão como no Brasil. Há informações de que tais fatos também ocorram em

centros de macumba, mesmo antes de aparecerem em muitas igrejas evangélicas. Em 1º de dezembro de 1992, o jornal Diário da Manhã, de Goiânia, publicou uma carta do pai-de-santo Firmino Salles de Lima, dirigida à redação do jornal, na qual ele relata que o fenômeno dos dentes de ouro apareceu primeiro na vida da mãe-de-santo Guilhermina de Morais da Rocha, em Salvador, Bahia, em 1985. Outros adeptos do culto afro receberam depois a mesma "graça", atribuindo o milagre aos orixás. Apesar de a onda dos dentes de ouro já estar passando, o fenômeno causou bastante controvérsia e dividiu a opinião dos crentes no país. Enquanto um líder evangélico anunciava que havia recebido obturações de ouro, outro da mesma denominação alertava o seu rebanho: - Se alguém aqui receber, avisem-me para eu expulsá-lo da igreja, pois isso é coisa do diabo. A Igreja Universal do Reino de Deus posicionou-se abertamente contra qualquer possibilidade de alguém receber dentes de ouro. Acredito que Deus tem poder para dar dentes de ouro a quem ele quiser e não sou eu ou qualquer outra pessoa quem vai impedi-lo. Ele mesmo disse em sua Palavra: "Agindo eu, quem o impedirá?" (Is 43:13). Pode até ser que alguém tenha de fato recebido algo sobrenatural de Deus ou que tenha havido alguma intervenção angelical nesse aspecto. Mas que o assunto gerou polêmica, isso gerou. E não apenas polêmica, mas abusos também. Pregadores de cura divina começaram a ir para os cultos com lanterna e espelho para examinar os dentes das pessoas nas reuniões noturnas, já induzindo ou sugestionando, assim, o público a receber o tal milagre. Outros orientavam o povo para que colocassem suas mãos em posição de receber, porque, após sua oração, cairia uma chuva de ouro do céu. É o que chamamos de "culto do garimpo". Já não é mais necessário ir até Serra Pelada garimpar, pois muitos pregadores de cura divina passaram a garantir o ouro em suas reuniões. Admito ser difícil fazer uma avaliação a contento da situação, e o motivo principal disso é o fato de eu não ser dentista. Este foi o problema também nos círculos onde tais fenômenos foram alardeados. É óbvio que muitos pregadores que anunciaram a ocorrência de tais milagres e as pessoas que disseram ter recebido dentes de ouro não estavam em condições de fazer uma avaliação técnica do fenômeno. Como leigos, não poderiam chegar a

conclusões sobre algo relacionado com a odontologia, desprovidos do conhecimento científico necessário para analisar o assunto ou saber se o fenômeno realmente aconteceu. Observe o comentário do dentista evangélico Osiel Cocareli num artigo publicado na revista Ultimato. Ele e outros colegas de profissão examinaram vários casos dos chamados dentes de ouro e verificaram que a maioria deles não provava que houve um milagre. Apenas um caso não foi esclarecido a contento, pois o elo de ligação entre a pessoa que dizia ter recebido o ouro em seus dentes e o seu dentista mais antigo foi perdido. Em outras palavras, o dentista que poderia ter dado uma palavra final sobre o assunto não foi localizado. Osiel acrescenta: "Todos os casos que nos chegaram às mãos já haviam sido ‘diagnosticados’ por leigos e indevidamente ‘autorizados’ como milagre por pessoas no mínimo desqualificadas tecnicamente para fazê-lo. E quando nos chegam, vêm muitas vezes já sugestionadas, porque alguém lhes garantiu o milagre". (Revista Ultimato (julho de 1993), p. 29.) Para que o leitor entenda melhor a importância da verificação objetiva do milagre, tome por exemplo, um paciente de Aids. Às vezes acontece de um aidético ir a um culto, alguém orar por ele, decretar a sua cura e imediatamente anunciar que Jesus já o curou. O lamentável é que, alguns meses depois, a igreja é obrigada a celebrar o seu funeral. Ora, isso não traz glória alguma para Deus. Como pode um pregador afirmar que alguém foi curado de Aids se ele mesmo não está em condições de fazer a avaliação no momento ou depois da oração? É preciso avaliar toda a documentação e informações recomendadas pela medicina para verificar se o que foi curado realmente era portador do vírus da Aids e não de algum outro vírus (como de hepatite, por exemplo). Depois de constatado que o paciente realmente foi portador do HIV, é preciso fazer e avaliar todos os exames num período de tempo exigido pela medicina para constatar que a pessoa ficou completamente livre do vírus. Aí, sim, pode-se anunciar a cura e certamente o nome do Senhor será grandemente glorificado. Cabem aqui as palavras do Senhor Jesus: "...sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas" (Mt 10:16). Com o arrefecimento da onda dos dentes de ouro, só Deus sabe o que vai aparecer ainda em alguns segmentos evangélicos, ávidos por novidades e

incapazes de se contentar apenas com a Palavra de Deus. Que Deus nos guarde! Sensacionalismo No afã de demonstrar o poder Deus e produzir milagres, muitos pregadores partiram para o sensacionalismo, empregando métodos suspeitos e nada ortodoxos em suas atuações. Aparentemente funciona muito bem, pois nada atrai mais uma certa parcela dos evangélicos hoje em dia do que as aberrações produzidas em nome do Evangelho e interpretadas como manifestações do poder de Deus. A maioria desse sensacionalismo vem da América do Norte e é imitada com sucesso por muitos no Brasil. Quando se fala neste assunto, o primeiro nome que vem à tona é o de Benny Hinn, que tem influenciado muitos no Brasil, tanto pessoalmente quanto através de seus livros. Foi com Benny Hinn que vários brasileiros aprenderam a arte de soprar, de jogar o paletó e de derrubar as pessoas. Não há qualquer base bíblica que justifique o ato de Benny Hinn jogar o paletó sobre as pessoas a fim de derrubá-las. Vi Benny fazer isso várias vezes em suas campanhas tanto aqui quanto nos Estados Unidos. Ele já foi até repreendido por seus amigos nos Estados Unidos devido às suas atuações exageradas. Um deles lhe disse que Deus o chamou para pregar o Evangelho e não para apresentar espetáculos (veja o capítulo Depois do SuperCrentes). O único exemplo no Novo Testamento de alguém soprando sobre outros é o de Jesus quando aparece para os discípulos depois da ressurreição. João narrou assim: "E, havendo dito isto, soprou sobre eles, e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo" (Jo 20:22). O verbo soprar que aparece neste versículo (enephysesen, no grego) é empregado de forma semelhante pela Septuaginta (a versão grega do Antigo Testamento) no livro de Gênesis: "Então formou 0 SENHOR Deus ao homem do pó da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente" (Gn 2:7). Um erudito da Bíblia comenta de forma interessante sobre a relação entre esses dois versículos: Deus formou o homem do pó da terra e "soprou nele" o fôlego de vida para que ele se tornasse um ser vivo. Jesus "soprou" sobre os discípulos o sopro da nova criação que lhes deu vitalidade espiritual. Ao primeiro homem

foi dada a responsabilidade da criação material. Mas aos discípulos, a responsabilidade pela nova criação. (Frank E. Gaebelein, The Expositor's Bible Commentary - Grand Rapids, Michigan, E.U.A., Zondervan Publishing House, vol. 9, 1981, p. 193-4.) Assim, pode ser observado na Bíblia que é somente Deus e não o homem quem sopra, não existindo portanto qualquer instrução bíblica para se soprar sobre as pessoas a fim de derrubá-las. O fenômeno de cair Um outro modismo religioso largamente praticado e incentivado entre os neopentecostais e carismáticos é o de cair, mencionado ironicamente por alguns como o "movimento do cai-cai". No inglês, é conhecido como "Slain in the Spirit" (Morto no Espírito). Este fenômeno foi verificado nos Estados Unidos através do ministério de Maria B. Woodworth-Etter por volta do ano de 1885. Ela mesma relata que muitos ímpios e escarnecedores foram os primeiros a cair debaixo do poder de Deus. (Patrick H. Alexander, Dictionary of Pentecostal and Charismatic Movements (Grand Rapids, Michigan, E.U.A., Zondervan Publishing House, 1988), p. 789-90.) Depois dela, muitos outros pregadores seguiram tal prática, como Kathryn Kuhlman (de quem Benny Hinn aprendeu), Kenneth Hagin e muitos outros. Tal fenômeno, disseram e dizem eles, é produzido pelo poder do Espírito Santo. Várias passagens da Bíblia são citadas, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento, para defender o ritual de cair no Espírito. Não há condições de analisar todas aqui, mas vamos às mais comuns. Balaão é lembrado por muitos que tentam defender tal prática, pois a Bíblia diz que ele caiu em êxtase (Nm 24:4). Entretanto, não se pode esquecer de que Pedro se referiu a Balaão como alguém que amou o prêmio da injustiça e perverteu o caminho do Senhor (2 Pe 2:15). Judas fala daqueles que caíram no erro de Balaão (Judas 11). Na carta à igreja de Pérgamo, a referência que o Senhor faz sobre Balaão não é nada recomendável: "Tenho, todavia, contra ti algumas cousas, pois que tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem cousas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição" (Ap 2:14). Foi Balaão quem levou o povo de Israel a prostituir-

se em Baal-Peor (Nm 25:13 e 31:16). Balaão é tido na Bíblia como um adivinho e foi morto pelo exército do Senhor como inimigo de Israel (Js 13:22). Assim, a experiência de Balaão não deve servir de exemplo para qualquer cristão. Um outro episódio é o de Saul na casa dos profetas em Ramá, quando profetizou diante de Samuel e esteve nu, deitado em terra durante um dia inteiro e uma noite inteira (1 Sm 19:23, 24). Quanto a esse incidente, a NIV Study Bible (Bíblia de Estudos Nova Versão Internacional, p. 405), comenta: "Saul ficou tão prostrado pelo poder do Espírito de Deus ao ponto de ser impedido de levar adiante a sua intenção de tirar a vida de Davi". O registro bíblico informa que Saul já havia-se rebelado contra Deus quando viveu essa experiência. O texto diz ainda que Saul ficou nu. Ora, se essa passagem for usada para ensinar que o fenômeno de cair no Espírito deve ser um procedimento normal no ministério cristão, por que as pessoas não ficam nuas também? Outra passagem é a de 2 Crônicas 5:14, que relata sobre a dedicação do templo de Salomão: "...de maneira que os sacerdotes não podiam estar ali para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do SENHOR encheu a casa de Deus". Quando se compara esta passagem com outras semelhantes nas Escrituras (tais como Êx 40:34, 35 e Ap 15:8), torna-se claro que a presença de Deus era tão intensa que os sacerdotes não podiam entrar no templo. Não há portanto aqui qualquer base para se instituir tal prática na Igreja. São usados também os textos que falam dos profetas Ezequiel (1:28; 3:23; 44:4) e Daniel (8:17, 18), em que, devido à manifestação da glória do Senhor, caíram com seus rostos em terra. Entretanto, quando acontecia tal manifestação na Bíblia, ela era geralmente acompanhada de temor, reverência e atitude de adoração. Num dos eventos, a Bíblia diz que os homens que estavam com Daniel sentiram muito medo, fugiram e se esconderam (Dn 10:7). Há alguns exemplos de pessoas que caíram por causa da manifestação do poder de Deus no Novo Testamento. Um deles aconteceu no monte da transfiguração. Ao ouvir a voz que veio da nuvem, os discípulos caíram sobre seus rostos com grande medo (Mt 17:5, 6). Quando ia para Damasco com o intuito de perseguir os cristãos, Saulo de Tarso foi subitamente envolvido por uma forte luz, caiu por terra e ouviu uma voz que lhe dizia: "Saulo, Saulo,

por que me persegues?" (At 9:3, 4 e 26:14). Pode ser que o medo e o fato de serem inesperadamente envolvidos por uma luz mais resplandecente que o Sol tenha provocado a queda de Paulo e dos que o acompanhavam. Mas certamente não é por causa de uma luz como essa que as pessoas estão caindo nas reuniões de Benny Hinn e de alguns movimentos pentecostais e carismáticos. Mesmo no dia de Pentecostes, quando houve uma poderosa manifestação do Espírito Santo através de um vento impetuoso e línguas de fogo pousando sobre os discípulos, não há qualquer informação de que eles tenham caído, pois os discípulos estavam assentados (At 2:1-4). O arrebatamento de Paulo mencionado em 2 Coríntios 12:1-4 também é usado para dar legitimidade ao fenômeno de cair. Mas o relato bíblico aqui nada diz sobre cair. Pode ser que tal fato tenha ocorrido quando ele foi apedrejado e tido como morto em Listra (At 14:19, 20). Por último, vem o exemplo de João na ilha de Patmos, quando o Senhor ressurreto lhe apareceu. João descreve assim o que lhe aconteceu: "Quando o vi, caí a seus pés como morto. Porém ele pôs sobre mim a sua mão direita, dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o último" (Ap 1:17). Esse relato de João é muito parecido com o de Daniel (Dn 10:9). Além de cair, João sentiu medo, pois o Senhor lhe disse: "Não temas". As pessoas que estão caindo, como dizem, pelo poder de Deus, estão tendo visões como João e Daniel? É certo que não. Na Inglaterra, a repórter de um jornal foi levada a cair no Espírito muito contra a sua vontade. Ela não era crente e nem se tornou crente após a experiência. (Sword & Trowel (Londres, Inglaterra, Metropolitan Tabernacle, n. 3, 1994), p. 2.) Ora, não existem na Bíblia exemplos de um homem derrubando o outro. Sempre que o fenômeno acontecia, era o próprio Deus provocando o fenômeno ou causando-o através de um anjo (Mt 28: 24). Um outro fato que não deve ser esquecido é que toda vez que a Bíblia relata de homens que passaram por tal experiência, ela foi acompanhada de reverência, temor e adoração, e eles sempre caíram sobre seus rostos, bem diferente das experiências que acontecem nos círculos neopentecostais e carismáticos, onde as pessoas caem para trás. As Escrituras dão a entender no livro de Isaías que são os ímpios que caem para trás: "...ao qual disse: Este é o descanso, dai descanso ao cansado; e este é o refrigério; mas não quiseram ouvir. Assim, pois, a palavra do

SENHOR lhes será preceito sobre preceito, preceito e mais preceito; regra sobre regra, regra e mais regra; um. pouco aqui, um pouco ali; para que vão, e caiam para trás, e se quebrantem, se enlacem, e sejam presos" (Is 28:12, 13). O mesmo pode ser observado no Novo Testamento quando João narra a prisão de Jesus: "Sabendo, pois, Jesus todas as cousas que sobre ele haviam de vir, adiantou-se e perguntou-lhes: A quem buscais? Responderam-lhe: A Jesus, o Nazareno. Então Jesus lhes disse: Sou eu. Ora, Judas, o traidor, estava também com eles. Quando, pois, Jesus lhes disse: Sou eu, recuaram e caíram por terra" (Jo 18:4-6). O texto diz que os que vieram prender Jesus recuaram e caíram. Isso não provocou qualquer mudança neles. Ao contrário, prosseguiram com a prisão de Jesus. Já Mateus fala que os guardas que vigiavam o túmulo de Jesus tremeram espavoridos e ficaram como se estivessem mortos devido ao terremoto causado pelo anjo que removeu a pedra do túmulo de Jesus (Mt 28:2-4). Há ainda o relato sobre Ananias e Safira, os quais caíram mortos por um castigo de Deus diante do apóstolo Pedro (At 5:5, 10). O fato causou tanta comoção que muitos evitaram envolver-se com os discípulos (At 5:13). Já pensaram se a experiência de Ananias e Safira se repetisse hoje com a mesma freqüência com que se sopra, joga o paletó e se "cai no Espírito"? Seria uma tragédia. Ainda bem que o nosso Deus, o Deus da Bíblia, é muito bom! Alguns tentam relacionar o "cair no Espírito" com os fenômenos ocorridos nos avivamentos passados nas reuniões de João Wesley, na Inglaterra, e de Jonathan Edwards, Charles Finney e outros, nos Estados Unidos. Contudo, Alan Morrison mostra que há uma diferença entre o fenômeno que ocorre hoje e os ocorridos nos avivamentos dos séculos 18 e 19: Os fenômenos daquela época ocorreram como resultado da poderosa pregação da cruz baseada na Bíblia, de um senso esmagador do pecado do homem diante de um Deus infinitamente santo, do chocante reconhecimento da iminente realidade da punição eterna no inferno e de um desejo desesperado de livrar-se da chama ardente do juízo de Deus. Nos verdadeiros avivamentos, qualquer "cair no Espírito" que tenha ocorrido foi resultado de um sentimento de horror ao pecado e tristeza causada a um Deus todopoderoso - certamente uma experiência que ninguém gostaria que se repetisse

consigo mesmo. (Alan Morrison, folheto intitulado Falling For The Lie Caindo para a Mentira. Londres, Inglaterra, Diakrisis Publications, The Manse, Market Place).) E ainda que haja ocorrido tais fenômenos nos avivamentos passados, eles não estão acima da autoridade bíblica e nem servem de base para se estabelecer regras de fé e prática na Igreja. Que a Bíblia seja a única a ditar normas quanto a questões espirituais, e não as experiências vividas por terceiros. Perguntei a alguém por que as pessoas nessas reuniões caem para trás e não com o rosto em terra, como na Bíblia. A explicação que recebi foi que caindo assim tornava-se mais fácil para os que ficam por trás segurá-la no momento da ministração. Mas por que as pessoas caem? J. Lee Grady, diretor editorial da revista Charisma, uma revista que promove o movimento carismático e neopentecostal nos Estados Unidos, acredita que Deus pode realmente tocar alguém de forma sobrenatural. Concordo com ele. Por outro lado, Grady reconhece que existe uma outra razão para tal fenômeno e explica: Trata-se de um comportamento aprendido, uma tradição transmitida pelos precursores pentecostais, como Maria Woodworth-Etter, e pelos evangelistas de cura divina, como a badalada Kathryn Kuhlman. No ministério de Woodworth-Etter no Meio-Oeste, pelo final do século 19, as pessoas que caíam pelo poder de Deus eram consideradas como estando debaixo de uma profunda convicção de pecado. Quando os carismáticos caem no Espírito, entretanto, raramente têm a ver com tal convicção. (J. Lee Grady, What Happened to the Fire - O Que Aconteceu com o Fogo? Grand Rapids, Michigan, E.U.A., Chosen Books, 1994), p. 121.) O próprio J. Lee Grady compartilha seu testemunho pessoal que mostra muito bem alguns problemas oriundos de tal prática: Muitas vezes eu fiquei em pé numa fila de pessoas esperando para um evangelista pentecostal ungir-me ou orar pela cura. Em quase todos os casos, o pregador colocava sua mão suada na minha testa e começava a me empurrar para trás. Como eu me recusava a ceder e cair nos braços dos

pegadores, o evangelista me repreendia brandamente, dizendo: "Não resista ao Espírito". Quando tornava-se claro que eu não iria me juntar aos meus amigos no chão, ele se dirigia para o próximo à minha esquerda e começava a orar por ele, empurrando-o gentilmente, até que ele caísse. Tenho observado também evangelistas derrubando as pessoas no chão através da força bruta, atingindo-os na testa. Apesar de muitos textos bíblicos serem usados na tentativa de se provar a legitimidade de tal fenômeno, o próprio Dictionary of Pentecostal and Charismatic Movements (Dicionário do Movimento Pentecostal e Carismático) reconhece que a Escritura não oferece qualquer apoio ao fenômeno como algo a ser esperado ou buscado na vida cristã normal (p. 790). O Dicionário acrescenta ainda: "A evidência para o fenômeno de ‘cair no Espírito’ é, portanto, inconclusiva. Do ponto de vista experimental, é inquestionável que, através dos séculos, os cristãos têm experimentado um fenômeno psicológico no qual as pessoas caem; além disso, elas têm atribuído o fenômeno a Deus. É igualmente inquestionável que não existe qualquer evidência bíblica para a experiência como algo normal na vida cristã" (p. 791). Reconheço que Deus tem poder para tocar alguém hoje de tal forma que a pessoa venha a cair. De modo algum sou contra a verdadeira manifestação do poder de Deus. Esta não me preocupa nem um pouco, pois quanto mais, melhor. O que realmente me preocupa são os abusos gerados em torno de tal prática. Estes trazem mais transtornos e divisões para o Corpo de Cristo do que edificação espiritual. Passemos agora à última novidade a atingir os evangélicos nos últimos meses, popularmente conhecida como a "unção do riso" ou a "bênção de Toronto". A unção do riso A última novidade a atingir o corpo de Cristo é a "unção do riso". É conhecida também como a "bênção de Toronto", a "gargalhada sagrada" e a "unção de Isaque". Além de alguns grupos pentecostais, isso tem afetado, na América do Norte e Europa, outros grupos denominacionais também como menonitas, batistas, nazarenos, metodistas e anglicanos. A revista Charisma

fala de uma igreja católica em Londres onde seus membros começaram a dar gargalhadas espontaneamente e que a gargalhada continua a se espalhar como um fogo descontrolado pela Inglaterra. (9. Revista Charisma (outubro de 1994), p. 82.) Muitos crêem que a unção do riso tenha começado na igreja Airport Vineyard (A Vinha ou Videira do Aeroporto), localizada numa área industrial perto do aeroporto Lester B. Pearson, na cidade de Toronto, no Canadá. O ministério Vineyard é hoje um conglomerado de igrejas fundado e liderado por John Wimber, com sede em Anaheim, Califórnia, nos Estados Unidos. Wimber ganhou notoriedade devido a um curso controvertido intitulado Signs and Wonders (Sinais e Maravilhas) que ele ensinou juntamente com Peter Wagner no seminário teológico Fuller, na Califórnia. Naturalmente não se pode negar a importância da igreja de Toronto na propagação e exportação de tal prática para várias cidades dos Estados Unidos (Anaheim, Atlanta e Saint Louis) e outros países como Inglaterra, Nova Zelândia, Cingapura, Hong Kong, Brasil e muitos outros lugares. Apesar disso, há indícios de que tal coisa já tenha ocorrido antes, porém numa escala muito menor. A revista The Word of Faith (A Palavra da Fé), do ministério de Kenneth Hagin, por exemplo já havia mencionado o assunto em novembro de 1992, mostrando muitas fotos de pessoas rindo profusamente (p. 14). Algo parecido acontecia de vez em quando nas reuniões de Kathryn Kuhlman. Outros acham que este movimento tem algo a ver com Benny Hinn, pastor do Centro Cristão de Orlando, na Flórida, ou Edgar Silvoso e Claudio Freidzon, da Argentina. Sem dúvida, ninguém alcançou maior destaque no atual movimento denominado "avivamento do riso" do que Rodney Howard-Browne, um evangelista da África do Sul. Rodney Browne se intitula o barman do Espírito Santo, o distribuidor do vinho novo e, apontando para Atos 2:13, convida as pessoas: "Venham e tomem um drink no bar do Joel" (referindo-se ao profeta Joel). (George Wood, The Laughing Revival (O Reavivamento do Riso) (BoonvilleAvenue, Springfield, MO 65802, manuscrito não publicado, 1445), p. 1, 6.) A revista Charisma informa que ele nasceu em 12 de junho de 1961, filho de pais pentecostais em Porto Elizabete, na África do Sul. Rodney cresceu numa atmosfera banhada pela oração e aos cinco anos de idade entregou sua vida a Cristo. Três anos depois foi batizado com o Espírito Santo. Mais tarde, ele mudou-se para Joanesburgo onde conheceu Adonica,

com quem se casou e com quem teve três filhos. Nessa época abriu uma igreja. Depois ele tornou-se um pastor associado da igreja Rema de Joanesburgo por um período de dois anos. (Revista Charisma (agosto de 1994), p. 22-3.) Em 1987, mudou-se para os Estados Unidos, país onde tem realizado reuniões de avivamento desde que ali chegou. Mas foi na primavera de 1993 que a fama lhe bateu à porta depois que um pastor da Assembléia de Deus, Karl Strader, de Lakeland, na Flórida, o convidou para pregar em sua igreja por uma semana. Foi um estouro. Browne estendeu as reuniões por quatro semanas e a multidão encheu os dez mil lugares do santuário. Dali em diante não parou mais. A revista Christian Research Journal (inverno, 1995, p. 5, 6, 43-45) informa que, em 1993, Randy Clark, pastor de uma das igrejas do movimento Vineyard, em Saint Louis, Estado de Missouri, participou de uma conferência de Howard-Browne na escola bíblica de Kenneth Hagin em Tulsa, Estado de Oklahoma. Randy sentiu-se transformado depois que Howard-Browne orou por ele. Na ocasião, ele experimentou sinais e maravilhas e levou a "unção" de volta para sua igreja, onde o fenômeno continuou a se repetir. Algum tempo depois, John Arnott, pastor da Airport Vineyard, em Toronto, ficou sabendo da experiência de Randy e o convidou para dar uma conferência de quatro dias ali, com início em 20 de janeiro de 1994. As manifestações verificadas na ocasião, como gargalhadas, cair no Espírito e embriaguez no Espírito, foram tão poderosas que aquela igreja em Toronto começou a fazer reuniões seis vezes por semana. Desde então, cerca de dez mil pessoas, incluindo seis mil pastores, já estiveram ali para buscar a bênção. Os vôos de Londres para Toronto têm saído muitas vezes lotados. Uma importante igreja carismática anglicana em Londres, a Holy Trinity Brompton (Igreja da Santa Trindade de Londres), foi sacudida por tais manifestações ao ponto de chamar a atenção da mídia na Inglaterra. Gene Preston, pastor da Union Church (Igreja da União), em Hong Kong, explica: "Os cristãos ingleses estão ávidos por encorajamento, não importa de que fonte". (Christian Century (16 de novembro de 1994), p. 1068.) De qualquer fonte? Essa é uma postura extremamente perigosa. As manifestações relacionadas com este movimento incluem gargalhadas, cair no Espírito, passar tempo no carpete (to do carpet time) e emitir sons produzidos por animais tais como urrar como leão e latir como

cachorro. George Wood relata Há exemplos dos avivamentos passados e da história da Igreja em que manifestações peculiares, tais como gargalhada, caracterizaram pessoas sobre as quais o Espírito Santo vinha com grande alegria. Entretanto, tais relatos incluíam tanto o choro como o riso. Os defensores da gargalhada erram ao citar as explosões de riso nos avivamentos passados para justificar a onda atual do riso. 0 que eles sempre deixam de perceber é que tais gargalhadas nos avivamentos aconteceram com a minoria e não com a maioria, sendo a exceção e não a regra de comportamento. (George O. Wood, The Laughing Revival (O Reavivamento do Riso) (manuscrito não publicado).) O programa Fantástico, da Rede Globo, levou ao ar uma reportagem no dia 16 de abril de 1995 em que mostrou o desenrolar de um culto na igreja Vineyard, de Toronto. As cenas foram grotescas. As pessoas riam histérica e descontroladamente enquanto rolavam no carpete. Um homem se arrastava pelo chão, urrando como um leão. É claro que não há qualquer base bíblica para alguém produzir tais sons inspirado pelo Espírito Santo. O próprio John Wimber já admitiu o seguinte: "Eu diria que não existe qualquer base bíblica ou teológica para o fenômeno. Não encontro um lugar no Novo Testamento onde Jesus ou os apóstolos tenham encorajado tal fenômeno. Portanto, penso que esse tipo de coisa deve ser colocado na categoria do ‘não bíblico’ e do ‘exótico’” (John Wimber Responds to Fenomena, 1 A) (Resposta de John Wimber aos Fenômenos, 1A). Alguns citam Isaías 5:29 para defender o urro: "O seu rugido é como o do leão; rugem como filhos de leão, e, rosnando, arrebatam a presa, e a levam, e não há quem a livre". Mas isso aqui é uma metáfora. A própria diretoria da Vineyard publicou uma declaração sobre isso no Board Report (Relatório da Diretoria, setembro/outubro de 1994, p. 1) afirmando: "As metáforas bíblicas (semelhantes àquelas relacionadas com um leão ou uma pomba etc.) não justificam nem fornecem qualquer prova textual para comportamento animal". E ainda tem mais. As pessoas que usam Isaías 5:29 para defender o urro do leão usariam também Isaías 40:31, "sobem com asas como águias", literalmente para tentar sair voando? Acho que não! Para justificar a "unção do riso sagrado", seus defensores citam Gênesis 18:12, em que Sara riu depois de ouvir do mensageiro celestial que ela iria ter um filho. Entretanto, esta passagem nada tem a ver com

gargalhada santa. Além disso, Sara riu de incredulidade, uma atitude nada recomendável para o cristão. Outro texto é o Salmo 126:1, 2: "(guando o SENHOR restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha. Então a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua de júbilo; então entre as nações se dizia: Grandes cousas o SENHOR tem feito por eles". Este texto fala da alegria dos judeus que estavam cativos e que agora estavam voltando a Jerusalém e não serve de justificativa para os abusos produzidos pelo avivamento do riso. Outras passagens como Provérbios 17:22, Eclesiastes 3:4, João 17:13 e Filipenses 4:4 são freqüentemente trazidas à tona para defender a gargalhada sagrada. Entretanto, tais passagens e muitas outras usadas pelos "profetas do riso" não oferecem o apoio bíblico que eles atribuem ao fenômeno. Howard-Browne estava pregando sobre o inferno para quatro mil alunos na Universidade Oral Roberts quando uma ruidosa gargalhada atingiu o auditório, envolvendo a multidão. Quanto mais ele descrevia o inferno aos ouvintes, mais eles riam. (Revista Charisma (agosto de 1994), p. 24.) Há o relato de um outro pastor que, enquanto pregava a respeito do juízo de Deus sobre o pecado de Ananias e Safira (Atos 5), a multidão ria incontrolavelmente. Tais reações são bem diferentes daquela manifestada após a pregação de Pedro no dia de Pentecostes: "Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos?" O verbo compungir (katenugesan) tem o sentido de ferir, dar uma forte ferroada, usado para definir emoções dolorosas, que penetram o coração como um aguilhão. (Fritz Rienecker/ Cleon Rogers, Chave Lingüística do Novo Testamento Grego (São Paulo, SP, Ed. Vida Nova, 1980), p. 197.) Diante da Palavra de Deus pregada poderosamente por Pedro, o clima criado foi de reverência e temor a Deus e não de gargalhadas histéricas. Não posso imaginar Moisés aproximando-se da sarça ardente e caindo na risada após a ordem do Senhor para que tirasse as sandálias de seus pés, pois o lugar em que estava era sagrado (Êx 3:5). Como imaginar Isaías dando gargalhadas diante da visão do Senhor assentado num trono alto e sublime, quando nem os serafins ousavam olhar para a glória de Deus? Ao contrário, cobriam seus rostos com suas asas. Isaías sentiu-se indigno e como que perecendo (Is 6:1-5). Impossível também imaginar Paulo morrendo de rir no caminho de Damasco, quando interpelado pelo Senhor e envolvido por uma

luz muito forte (At 9:1-5). Stephen Strang, editor fundador da revista Charisma, conta uma experiência que viveu ao lado de Rodney HowardBrowne: Quando participei de um culto em Lakeland, Rodney convidou-me para cumprimentar a igreja. Quando disse ao auditório que estava feliz de voltar à cidade onde havia crescido, todos começaram a rir histericamente. Eles riam mais ainda de qualquer coisa que eu dizia, embora eu não estivesse tentando ser engraçado. Fiquei muito confuso. Devolvi o microfone ao Rodney e sentei-me. (Revista Charisma (agosto de 1994), p. 102.) Há informações de que muitas vezes um preletor está ministrando a Palavra de Deus e todos estão ouvindo com atenção, mas de repente alguém explode numa gargalhada, outro faz o mesmo, e depois outro, até que o auditório todo passa a rir histericamente. Em seguida, as pessoas começam a rolar pelo chão, uns chorando, outros urrando e outros ainda latindo. Se alguém questiona, recebe a seguinte explicação: "É que a pessoa acabou de receber o espírito do Leão da Tribo de Judá, por isso está urrando assim". Entretanto, ninguém explica a que se refere o latir como cachorro. Assim, um ambiente que deveria ser propício à pregação e ao estudo da Palavra de Deus é transformado numa arca de Noé ou num jardim zoológico. Não creio que isto glorifique a Deus. A cola do Espírito Santo Rodney Browne fala também sobre a cola do Espírito Santo. Em seu livrete Manifesting The Holy Ghost (Manifestando o Espírito Santo), ele declara: A cola do Espírito Santo. Quando isso aconteceu, eu observei uma mulher no chão rindo incontrolavelmente. Depois ela começou a chorar e a falar em outras línguas. Ela estava deitada de costas, sob o poder de Deus, com as mãos estendidas acima da cabeça. Ela estava colada no chão. Ficou deitada lá desde o meio-dia até às 13h30m embriagada no Espírito. Às 13h30m, tentou levantar-se. Ela queria levantar-se. Tudo o que ela pôde fazer foi agitar as mãos. Assim, ela ficou ali, agitando-se, agitando-se, agitando-se, agitando-se. Ela disse: "Não posso levantar-me. Estou colada no chão". Os

recepcionistas nos disseram mais tarde que às 18h a mulher conseguiu levantar-se do chão. Depois, ela levou mais uma hora para engatinhar do centro da igreja até à parede lateral. Ela havia ficado colada no chão por seis horas. Então eu disse: ‘Traga o fogo, Deus! Faça o que o Senhor quiserem minhas reuniões. Cole as pessoas no chão, no telhado, nas paredes - ou em qualquer lugar’. (Citado no The Quarterly Journal, do Personal Freedom Outreach (outubro/dezembro de 1994), vol. 14, n. 4.) Para justificar tais fatos, Rodney Browne faz declarações que incomodam (ou que pelo menos deveriam incomodar) qualquer cristão equilibrado. Eis uma delas: "Enquanto alguma coisa estiver acontecendo, na verdade não importa se é de Deus, do homem ou do diabo. Eu prefiro estar numa igreja onde o diabo e a carne se manifestam do que estar numa igreja onde nada acontece, pois as pessoas são medrosas demais para manifestar qualquer coisa. Toda vez que há um mover de Deus, algumas pessoas ficam entusiasmadas, exageram e ficam na carne. Outras não gostam, dizendo que não pode ser de Deus. Não se preocupe com isso também. Alegre-se de que pelo menos alguma coisa esteja acontecendo". Que Deus nos guarde e nos dê discernimento para filtrar o que é do homem, rejeitar tudo o que é do inimigo e abraçar com amor e humildade tudo o que é do Espírito de Deus. É óbvio que os cristãos são livres para serem alegres e felizes, para sorrirem e darem gargalhadas de situações engraçadas e do cômico saudável. Se há um povo na Terra que deve ser feliz e demonstrar esta alegria é o povo de Deus, herdeiro das riquezas da graça e da glória. Entendo também que a alegria não é uma opção na vida do cristão, mas uma recomendação da Palavra de Deus (Fp 4:4). Por outro lado, não há base bíblica para se atribuir ao Espírito Santo a prática de gargalhadas histéricas que perturbam a ordem do culto de adoração a Deus. A "cola" do Espírito Santo e as declarações de Rodney Browne são informações extrabíblicas que tal movimento tem criado e por essa razão devem ser rejeitadas à luz da Palavra de Deus. Do jeito que as coisas estão caminhando, daqui a pouco vamos ter conferências para alguém receber a unção da pasta de figo (2 Rs 20:7), a unção da saliva ou do lodo (Jo 9:6), a unção da sombra de Pedro (At 5:15) e muitas outras. Tais atos, praticados por Isaías, pelo Senhor Jesus e por Pedro não se tornaram normas para a Igreja primitiva e nem houve entre os discípulos quem procurasse repetir essas experiências. Devemos, pois,

respeitar a soberania de Deus em tais situações ou épocas e não achar que ele é obrigado a fazer sempre o que queremos, principalmente quando não temos base bíblica para isso. Muitos desses abusos, como soprar para derrubar as pessoas, a gargalhada sagrada, a cola do Espírito Santo e outros, têm sido reproduzidos por muita gente no Brasil. Falcatruas Ao longo dos séculos, a Igreja do Senhor sempre teve que lutar contra os poderes das trevas e contra os falsos ensinos. Para piorar ainda mais a situação, surgiu, nas últimas décadas, o televangelismo, uma verdadeira plataforma que muitos têm usado para introduzir desvios doutrinários, abusando do nome e da Palavra de Deus. Reconheço que não são todos os televangelistas que fazem isso. Existem aqueles que são sinceros e fazem um bom trabalho, que realmente glorifica o Senhor. São sal da terra e luz do mundo. Para outros, entretanto, o sucesso e o dinheiro devem ser produzidos a qualquer custo, nem que seja por meios desonestos. O Senhor Jesus disse que haveria escândalos: "...porque é inevitável que venham escândalos, mas ai do homem pelo qual vem o escândalo" (Mt 18:7). Quando isso acontece, o Evangelho sofre grande prejuízo. Que o Senhor tenha misericórdia de nós! No afã de conquistar grandes multidões, alguns, infelizmente, foram longe demais, tornando-se mestres em manipular as pessoas e enganar as multidões. Note, por exemplo, o caso de Peter Popoff, que se apresentava como um ungido de Deus, possuidor dos nove dons do Espírito e contrabandista de Bíblias para os países da cortina de ferro. Popoff deslumbrou as multidões em suas cruzadas pelos Estados Unidos, dando a entender que os milagres e revelações aconteciam através da palavra do conhecimento (1 Co 12:8). A reunião chegava ao seu clímax quando Peter Popoff começava a apontar as pessoas, mencionando seus nomes e endereços completos, seus problemas físicos e, muitas vezes, até os nomes dos médicos com quem estavam se tratando, como se estivesse recebendo tais informações diretamente de Deus. Popoff informava as pessoas que eram apontadas no meio da multidão que elas estavam sendo curadas de suas enfermidades naquele momento. O deslumbramento era total. Uma mulher da Pensilvânia

testemunhou publicamente numa de suas cruzadas: Cerca de seis semanas atrás, eu não o conhecia. E por acaso, eu liguei no seu programa de TV Não digo que foi "por acidente", pois foi obra de Deus. E eu disse: "Será que isso é verdade? Será que este homem sabe os nomes e endereços?"Assisti a uns três ou quatro programas e fiquei sabendo que você viria a Pittsburgh. Então eu disse: "Bem, na verdade, eu nunca acreditei nisso, mas acho que tenho que ir e ver". E hoje, quando você mencionou o meu primeiro e último nome, a rua onde eu moro, o número e o endereço, eu quero dizer, creiam, gente, Deus é real! Oh! Deus é real! Aleluia! (James Randi, The Faith Healers - Os Curadores da Fé. Muffalo, Nova Iorque, E.U.A., Prometheus Books, 1989), p. 149.) Popoff fez isso em muitos lugares e por um bom tempo. Eu mesmo tenho amigos nos Estados Unidos que viviam me falando sobre a forma extraordinária como Deus "usava" este homem. Mas um dia a máscara caiu e toda a farsa foi descoberta. Em fevereiro de 1986, ele foi exposto publicamente num programa de entrevistas de Johnny Carson, transmitido pela rede NBC de TV (algo parecido com o programa do Jô Soares, no SBT). Ficou provado que Peter Popoff conseguia e passava todas aquelas informações com a ajuda da eletrônica e não de Deus. Tudo veio à tona quando um grupo de pessoas nos Estados Unidos desconfiou de tanto poder espiritual e resolveu investigar os "milagres". Durante uma cruzada, um do grupo aproximou-se o suficiente de Popoff e conseguiu ver um pequeno aparelho no seu ouvido. Restava agora descobrir de onde partiam as informações. Foi então preciso continuar freqüentando as reuniões para se saber a fonte. Não demorou muito e o grupo, munido de equipamentos eletrônicos, interceptou a comunicação entre Peter Popoff e sua esposa Elizabeth. Ela conversava com as pessoas antes de começar as reuniões e, depois, transmitia as informações para seu marido. Antes do início da cruzada, numa certa noite, o grupo conseguiu ouvir a seguinte transmissão de Elizabeth para Popoff: - Alô, Petey. Eu te amo. Estou falando com você. Você pode me ouvir? Se não pode, você está encrencado, porque estou falando. Tão bem quanto eu posso falar. Estou verificando os nomes agora mesmo. Esqueci-me de perguntar. Você vai pregar primeiro ou ministrar primeiro? Alô! Eu te

amo!" O Deus da Bíblia, um Deus onipotente, não precisa desse tipo de ajuda. Depois de ser desmascarado, Peter Popoff colocou a culpa no diabo, dizendo que ele estava querendo destruir o seu ministério. Sem dúvida, um ministério assim merecia mesmo acabar. Peter Popoff não foi o único a abusar da unção. W. V Grant, famoso televangelista de cura divina nos anos 70 e 80, também atuava de forma muito parecida com a de Peter Popoff. Os milagres mais comuns de suas cruzadas consistiam no alongamento de uma perna mais curta do que a outra, revelação dos nomes, endereços e tipos de enfermidade das pessoas no auditório. Mas Grant não usava a mesma sofisticação eletrônica de Popoff. A câmera escondida da rede de TV ABC nos Estados Unidos flagrou Grant e sua equipe circulando informalmente entre as pessoas do auditório antes de começar a reunião, escolhendo a dedo os que seriam apontados naquela noite e perguntando sobre suas vidas pessoais, suas finanças e doenças, fazendo uma anotação cuidadosa daquilo que Grant usaria depois como se os dados lhe tivessem sido revelados pelo Espírito Santo. (Christian Research Journal (outono de 1994), p. 8.) Há também aqueles que, apesar de não usarem equipamentos eletrônicos ou fazerem anotações prévias sobre as pessoas, sabem muito bem manipular os presentes através de "revelações". As "revelações" são proferidas, geralmente, num ambiente com centenas de pessoas, mais ou menos assim: "Há alguém aqui esta noite e seu nome é Jorge. Jorge está com um problema de saúde e Deus vai curá-lo agora. Ontem ele encontrou-se com uma pessoa com o nome tal num certo lugar e esta pessoa lhe disse muitas coisas". Na ocasião, é dito o nome da doença, o nome da pessoa com quem Jorge se encontrou, o que esta pessoa lhe disse e o endereço do local onde se encontraram. Qual é o problema dessa "revelação" acima? Ora, o problema é que em muitas igrejas ou ministérios onde isso ocorre, tais "revelações" nunca são verificadas. Ninguém verificou se de fato havia alguém no auditório com o nome de Jorge (num ambiente com centenas de pessoas poderia haver alguém com esse nome), se o problema de saúde citado está correto, se o Jorge foi de fato curado e se estão corretas todas as informações transmitidas ali por "revelação" por um determinado pregador ou pastor. Não, não há cuidado quanto a tal verificação. As pessoas batem palmas logo após este tipo de

"revelação" e as manipulações, infelizmente, continuam. O profeta Benny Hinn No ano passado, Benny Hinn esteve na cidade de Philadelphia, Estados Unidos, onde ele supostamente "curou" o campeão dos pesos pesados do boxe, Evander Holyfield, de seus problemas cardíacos. Holyfield foi induzido (sutilmente pressionado) por Hinn a doar 265 mil dólares ao seu ministério. Primeiro, quando Hinn pediu que as pessoas contribuíssem com mil dólares para ajudar nas despesas da cruzada, Holyfield levantou sua mão. Em seguida, Benny Hinn passou a pressioná-lo para doar 100 mil dólares e quando isso funcionou, o induziu a doar 265 mil dólares. O jornal Philadelphia Inquirer informa que quando Holyfield concordou em doar os 265 mil dólares para o ministério, Hinn orou para que Deus lhe devolvesse a bênção, ajudando-o a retornar ao boxe para ganhar 200 milhões de dólares. Benny Hinn não parou aí. Disse ainda a Holyfield que a sua futura esposa seria encontrada no culto daquela manhã, pois ele tinha cinco filhos que precisavam de uma mãe. Em seguida, Hinn se ofereceu para celebrar o casamento. (Philadelphia Inquirer(12 de junho de 1994), p. B1 e 135.) Como em toda a profecia, o tempo dirá se um profeta falou ou não em nome do Senhor. Quanto a Benny Hinn, ainda não acabou. Quando esteve no Brasil, em março de 1994, ele não perdeu a oportunidade de abusar dos dons espirituais ao profetizar na igreja Renascer, na Av. Lins de Vasconcelos, em São Paulo. Era uma quarta-feira, dia 16 de março de 1994, quando Hinn proferiu a seguinte profecia: O Deus Todo-Poderoso está me dizendo que esta cidade de São Paulo vai se dobrar ao nome de Jesus. Aleluia! Eu vou profetizar algo para vocês. Eu sei isto pelo Espírito. O Corpo de Cristo nesta cidade verá a destruição de poderes satânicos nesta cidade. Vocês verão isto. Vocês verão isto. Vocês verão isto. Nos próximos seis meses, vocês verão uma mudança no governo de seres espirituais. Vocês vão ver uma mudança no governo espiritual desta cidade. O Deus Todo-Poderoso vai fazer você vencer o príncipe desta cidade. Há um príncipe do mal sobre esta cidade. Há um príncipe demoníaco sobre

esta cidade, e o Corpo de Cristo, pelo poder do Espírito, vai derrubá-lo. Vocês verão isto acontecer. Vocês verão isto acontecer. A atmosfera espiritual desta cidade vai começar a mudar em seis meses. Vocês verão isto acontecer. Eu falo isto pelo Espírito. Para provar-lhes que estou falando pelo Espírito - Sim, Senhor! Jesus, eu te louvo! -, há em sua cidade uma mulher muito conhecida. Não tenho estado na cidade, portanto não a conheço. Uma mulher muito conhecida, que mora nesta cidade e tem enfeitiçado milhares de pessoas. Ela mora nesta cidade. Ela tem enfeitiçado pessoas. Ela tem enfeitiçado alguns de seus líderes políticos. Ela será brevemente removida. E o Espírito Santo vai começar a mover nesta cidade por causa de vocês. Por causa do Corpo de Cristo. Desde o governo até em baixo. Vocês verão líderes políticos na sua cidade nascidos de novo. Nascidos de novo. Aleluia! Você vê, suas mentes têm sido cegadas. Deus brevemente vai remover esta cegueira. E quando isso acontecer, vocês verão muitos deles nascidos de novo. Lembrem-se, eu lhes falei isso. Hoje, quarta-feira, março, dia 16. Hoje eu lhes disse isso. Lembre-se disso agora. Isso vai acontecer. E tudo vai começar em seis meses. Vai começar em seis meses. O processo vai começar em seis meses. E daqui a dois anos, vocês olharão para trás e dirão: Deus tem feito grandes coisas. Vocês vão ler sobre a morte desta mulher nos jornais. Eu não sei quem ela é, nunca ouvi o seu nome e nem nunca pensei sobre ela. Alguns de vocês talvez a conheçam. Talvez não. Ela é uma pessoa muito influente nesta cidade. Você vai ler sobre isto nos jornais. Deus vai removê-la. E quando isto acontecer, este pastor [referindo-se ao pastor Estevam Hernandes], Deus vai usá-lo para ser uma influência poderosa sobre os líderes políticos nesta nação. Não falei nesta cidade, mas nesta nação. Deus vai usar este pastor para influenciar líderes nesta nação. Marquem minhas palavras. Não é Benny Hinn quem está falando. Assim diz o Senhor! (Fitas de áudio nos arquivos da AGIR. O autor transcreveu esta profecia de Benny Hinn muitas vezes diretamente do inglês e não através do intérprete.) Hinn concluiu dizendo que, se isso não acontecesse, os pastores não precisariam mais convidá-lo para ministrar no Brasil. Achei estranho Hinn proferir tal profecia sobre a morte desta mulher. Não seria melhor e mais bíblico orar pela sua conversão? Imaginem o efeito fantástico que tal

testemunho provocaria! Bem, esta profecia de Benny Hinn não se cumpriu e a Bíblia é muito clara quando isto acontece. Veja a instrução que Moisés deu ao povo de Israel quando o profeta profetizava e não se cumpria: "Se disseres no teu coração: Como conhecerei a palavra que o SENHOR não falou? sabe que quando esse profeta falar, em nome do SENHOR, e a palavra dele se não cumprir nem suceder, como profetizou, esta é palavra que o SENHOR não disse; com soberba a falou o tal profeta: não tenhas temor dele" (Dt 18:21, 22). Em outras palavras, não tenha respeito por ele. Apesar de Hinn ter profetizado falsamente, continuará sendo convidado por muitas pessoas, que certamente já se esqueceram do fato e nem se preocuparam em verificar se a profecia se cumpriu ou não. Com certeza a obra de Deus clama por mais seriedade. Embora não tenham acontecido no Brasil abusos de dons espirituais com a mesma sofisticação que na América do Norte, práticas bastante questionáveis continuam ocorrendo em alguns círculos considerados evangélicos no nosso país. Um autor informa a seu público que Deus tem um banco de órgãos no céu. Ao orar por uma pessoa enferma, ela cai num sono profundo. Em seguida, o pregador faz um corte simbólico, mas, segundo ele, muito real na dimensão do Espírito. Depois ele retira o órgão danificado e ministra outro novo e perfeito, que busca no banco de órgãos que Deus tem para seu povo. Observe o que este autor comenta sobre Sara, esposa de Abraão: Jeová Rafá, de maneira extraordinária, contrariando todos os princípios lógicos do homem, retirou de Sara em sua velhice seus órgãos reprodutores (útero, ovários e trompas) e, do banco de órgãos que Ele tem no céu, repôs a Sara novo útero, ovários e trompas. Desta forma, o Senhor que nos cura concedeu a Abraão e a Sara a graça de serem pais de Isaque. (Bráulio Gusmão, Cirurgia Divina (Belo Horizonte, MG., Ministério da Fé Apostólica, 1993), p. 20, 23, 27.) É óbvio que não foi desta forma que Sara concebeu e nem se encontram na Bíblia as afirmações feitas aqui sobre Sara. Infelizmente tem mais. Em alguns cultos faz-se ainda o uso de

enxofre, óleo ungido, rosa ungida, fogueira santa, sal ungido, copo d'água em cima do rádio ou da TV e uma variedade enorme de símbolos e objetos para estimular o fiel a adorar ou a contribuir financeiramente. Tudo isso é bem o contrário do que o Senhor Jesus disse à mulher samaritana: "Mas vem a hora, e já chegou, quando os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade" (Jo 4:23, 24). Assim, a adoração bíblica, pura e simples, não deve estar atrelada a um rosário de símbolos ou objetos. Falsos milagres Mas a manifestação do sobrenatural não é exclusividade apenas dos evangélicos, pois os milagres acontecem em toda a parte. Mesmo as seitas ou grupos que promovem e defendem doutrinas falsas insistem que seus ensinos são verdadeiros e provenientes de Deus, porque entre eles acontecem curas e outros milagres. O próprio Jesus alertou que os falsos profetas também seriam capazes de fazer grandes sinais: “porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos. Vede que vo-lo tenho predito” (Mt 24:24, 25). Nesse caso, não questionamos os milagres, mas a fonte deles. Agora, quem os fez e por que acontecem é algo que precisa ser verificado à luz das Escrituras. A Bíblia não nega que Satanás tem poder, ao contrário, reconhece o seu poder. Observe as palavras do Senhor a Paulo: "para lhes abrir os olhos e convertê-los das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim" (At 26:18). Observe que o texto fala sobre o poder de Satanás. O apóstolo Paulo também transmitiu à Igreja algo muito importante sobre as habilidades de Satanás: "E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros de justiça; e o fim deles será conforme as suas obras" (2 Co 11:14, 15). Assim, se alguém colocar um preço na sua alma, o inimigo estará disposto a pagar por ele. Se é de uma cura, ou de uma mudança de situação ou circunstancia que a pessoa precisa para que ela nunca venha a ter um encontro de salvação com Jesus, o inimigo poderá prover tais coisas.

Moisés deixou a fórmula para o povo de Israel verificar quando um profeta havia ou não falado em nome do Senhor. Se o sinal acontecesse, era um profeta verdadeiro. Se não acontecesse, era um profeta falso. O problema é quando o falso profeta fala e o que ele diz se cumpre. Veja a astrologia, por exemplo. Ela tem uma porcentagem de acerto. Até os magos de Faraó no Egito, apesar de não conseguirem fazer todos os milagres, fizeram muitos deles. Como resolver isto? Creio que a Palavra de Deus pode esclarecer isto a contento outra vez através de Moisés: "Quando profeta ou sonhador se levantar no meio de ti, e te anunciar um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio, de que te houver falado, e disser: Vamos após outros deuses - que não conhecestes - e sirvamo-los, não ouvirás as palavras desse profeta ou sonhador; porquanto o SENHOR vosso Deus vos prova, para saber se amais o SENHOR vosso Deus de todo o vosso coração, e de toda a vossa alma" (Dt 13:1-3). O versículo 2 mostra a possibilidade de o milagre acontecer, mesmo através de um falso profeta. As vezes alguém recebe uma bênção de Deus independente da pessoa que está ministrando. Isso acontece porque a pessoa em necessidade crê na Palavra de Deus, tem fé suficiente para ser atendida, como o homem aleijado em Listra: "Em Listra costumava estar assentado certo homem aleijado, paralítico desde o seu nascimento, o qual jamais pudera andar. Esse homem ouviu falar Paulo, que, fixando nele os olhos e vendo que possuía fé para ser curado, disse-lhe em alta voz: Apruma-te direito sobre os pés. Ele saltou e andava" (At 14:8-10). Outras vezes, a pessoa é atendida porque o nome de Jesus é invocado, e o nome de Jesus tem poder em si mesmo. Vale a pena introduzir aqui a opinião de Robert Bowman sobre esse assunto: Ao afirmar que os falsos mestres podem produzir alguns milagres aparentes, não estou dizendo que todos os milagres relacionados com doutrinas falsas são do diabo. Talvez nem sempre sejamos capazes de afirmar se são ocorrências genuinamente espirituais - em que casos eles devem ser atribuídos aos poderes demoníacos, ou não. Os milagres falsos podem ser truques realizados por charlatães, ou podem ser de fato curas de problemas psicossomáticos. Além disso, existe a possibilidade de que Deus possa curar alguém que ouviu uma doutrina falsa mas não entendeu o seu significado e

cuja fé estava no Deus verdadeiro e no seu poder. Não é extremamente importante que sempre sejamos capazes de fazer tais julgamentos. 0 importante é que não cometamos o erro de pensar que a ocorrência de milagres aparentes coloca um endosso divino em tudo ensinado pelo líder religioso envolvido em tais milagres. (Robert M. Bowman, Jr., Orthodoxy And Heresy (Ortodoxia e Heresia) (Grand Rapids, Michigan, E.U.A., Baker Book House, 1992), p. 39.) Assim, milagre não é diploma de bom comportamento e nem prova da aprovação de Deus quanto ao ministério de alguém. O povo de Israel viu tantos milagres no Egito e no deserto e mesmo assim irritou ao Senhor, de tal maneira que apenas dois deles, dos que saíram do Egito, entraram em Canaã: Josué e Calebe. O Senhor Jesus também alertou sobre isso no Sermão do Monte: "Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! porventura não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi explicitamente: Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade" (Mt 7:22, 23). A atitude do cristão diante do sobrenatural não deve ser de incredulidade, mas de cautela, e alguns critérios devem ser levados em consideração. Primeiro, além de proporcionar o bem-estar, o alívio e fortalecer a fé dos envolvidos na bênção, o milagre deve servir principalmente para a exaltação do nome do Senhor, e para expandir o seu reino na Terra, e não para promover o homem. Infelizmente, há aqueles que não hesitam em tirar proveito de qualquer ocorrência aparentemente sobrenatural na busca de reputação e de status, aproveitando, ao mesmo tempo, a oportunidade para manipular financeiramente as pessoas. Segundo, é importante avaliar se os ensinos em torno do milagre estão de acordo com a Bíblia Sagrada. Muitos líderes defendem suas doutrinas falsas usando as palavras de Jesus no Sermão do Monte: "Acautelai-vos dos falsos profetas que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis (...) Assim toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus" (Mt 7:1517). Dizem eles: Olhem os nossos frutos. E passam a falar das obras sociais e de caridade que praticam (coisas que um cristão de fato deve praticar), do rigoroso código de ética que adotam, além de outras obras que podem

impressionar. Sem dúvida, Jesus está falando, aqui, dos profetas falsos, da árvore má, em contraste com os profetas verdadeiros, a árvore boa. Deve-se levar em consideração que a tarefa principal do profeta de Deus, na Bíblia, não era praticar obras de caridade, obras sociais, construir asilos, mas falar a Palavra de Deus. Assim, ao analisar o fruto da árvore, isto é, do profeta, torna-se imprescindível verificar se o que ele fala ou ensina e a vida que ele vive estão de acordo com a Palavra de Deus. Se estiver, a árvore é boa, e trata-se de um verdadeiro profeta de Deus. Se não estiver, cuidado, pois trata-se de profeta falso, de lobo disfarçado em ovelha. Para seu próprio bem, afaste-se dele. Por último, é importante verificar se o milagre levou alguém a um conhecimento salvifico do Senhor Jesus Cristo, se alguém ou as pessoas envolvidas passaram a ter, como resultado de uma demonstração sobrenatural do poder de Deus, um relacionamento de amor com Deus através de Jesus Cristo. Este, sim, é o maior e o mais fantástico de todos os milagres.

5 - O evangelho da maldição Uma das distorções doutrinárias mais difundidas entre o povo de Deus ultimamente é o ensino das "maldições hereditárias", conhecido também como "maldição de família" ou "pecado de geração". Estes conceitos circulam bastante através da televisão, rádio, literatura e seminários nas igrejas. Muitos líderes, ministérios e igrejas, antes sólidos e confiáveis, acabaram sucumbindo a mais esse ensino controvertido e importado dos Estados Unidos. Os pregadores da maldição afirmam que se alguém tem algum problema relacionado com alcoolismo, pornografia, depressão, adultério, nervosismo, divórcio, diabete, câncer e muitos outros, é porque algum antepassado viveu aquela situação ou praticou aquele pecado e transmitiu tal pecado ou maldição a um descendente. A pessoa deve então orar a Deus a fim de que lhe seja revelado qual é a geração no passado que o está afetando. Uma vez que se saiba qual, pede-se perdão por aquele antepassado ou pela geração revelada e o problema estará resolvido, isto é, estará desfeita a

maldição. Marilyn Hickey, autora norte-americana e que já esteve várias vezes no Brasil em conferências da Adhonep (Associação de Homens de Negócios do Evangelho Pleno), promove constantemente este ensino. Note suas palavras: Se você ou algum de seus ancestrais deu lugar ao diabo, sua família poderá estar sob a "Maldição Hereditária", e esta se transmitirá a seus filhos. Não permita que sua descendência seja atingida pelo diabo através das maldições de geração. Os pecados dos pais podem passar de uma a outra geração, e assim consecutivamente. Há na sua família casos de câncer, pobreza, alcoolismo, alergia, doenças do coração, perturbações mentais e emocionais, abusos sexuais, obesidade, adultério? Estas são algumas das características que fazem parte da maldição hereditária nas famílias. Contudo, elas podem ser quebradas! (Marilyn Hickey, Quebre a Cadeia da Maldição Hereditária (Rio de Janeiro, Adhonep, 1988, contracapa).) Um dos textos bíblicos mais usados pelos pregadores da maldição hereditária para defender este ensino é Êxodo 20:46: "Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem, e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos". (Robson Rodovalho, Quebrando as Maldições Hereditárias - Brasília, DF, Koinonia Comunidade e Edições Ltda., 1994., p. 10. Veja também o livro de Marilyn Hickey, Quebre a Cadeia da Maldição Hereditária, p. 21-2.) É preciso que se leve em consideração o assunto do texto aqui citado. De que trata, afinal, tal passagem? Alcoolismo, pornografia, depressão, ou problemas do gênero? E óbvio que não. O texto fala de idolatria e não oferece qualquer base para alguém afirmar que herdamos maldições espirituais de nossos antepassados em qualquer área das dificuldades humanas. A narrativa do Antigo Testamento nos informa que sempre que a nação de Israel esteve num relacionamento de amor com Deus, ela não podia ser amaldiçoada. Vemos a prova disso em Números 23:7, 8, quando Balaque pediu a Balaão que amaldiçoasse a Israel. A resposta de Balaão aparece no versículo 23: "Pois contra Jacó não vale encantamento, nem adivinhação

contra Israel". Por outro lado, sempre que a nação quebrou a aliança de amor com Deus, ela ficou exposta a maldição, calamidades e cativeiro. É verdade que os filhos que repetem os pecados de seus pais têm toda a possibilidade de colher o que seus pais colheram. Os pais que vivem no alcoolismo têm grande possibilidade de ter filhos alcoólatras. Os que vivem blasfemando, ou na imoralidade e vícios, estão estabelecendo um padrão de comportamento que, com grande probabilidade, será seguido por seus filhos, pois "aquilo que o homem semear, isso também ceifará" (Gl 6:7). Isso poderá suceder até que uma geração se arrependa, volte-se para Deus e entre num relacionamento de amor com ele através de Jesus Cristo. Cessou aí toda a maldição. Não deve ser esquecido também que o autor da maldição ou punição é Deus e que ela é a manifestação da sua ira. Note que, no final do versículo cinco do capítulo vinte de Êxodo, a Palavra de Deus declara que a maldição viria apenas sobre aqueles que aborrecem a Deus, algo que não se passa com o cristão. A Bíblia ensina uma responsabilidade individual pelo pecado, como pode ser observado no livro do profeta Ezequiel: "Veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Que tendes vós, vós que, acerca da terra de Israel, proferis este provérbio, dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram? Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, jamais direis este provérbio em Israel. Eis que todas as almas são minhas; como a alma do pai, também a alma do filho é minha; a alma que pecar, essa morrerá" (Ez 18:1-4). Seria o mesmo que afirmar nos dias atuais: os pais comeram chocolate e os dentes dos filhos criaram cárie. O capítulo 18 de Ezequiel dá a entender que havia se tornado um costume em Israel colocar a culpa dos fracassos pessoais nos antepassados ou em outros. Isso faz lembrar o que aconteceu no jardim do Eden, quando, por ocasião da Queda, o homem colocou a culpa na mulher e a mulher na serpente. Parece ser próprio do ser humano não admitir seus erros, buscando evasivas para não tratá-los de forma responsável à luz da Palavra de Deus. Infelizmente, alguns acham mais fácil culpar os antepassados do que enfrentar suas tentações. O ensino da maldição de família mais escraviza do que liberta. Até crentes que há vários anos viviam alegres, evangelizando, servindo ao Senhor e dando frutos, agora estão preocupados, deprimidos, pensando que talvez as tentações, as dificuldades e lutas pelas quais estão passando sejam de fato

reflexo de pecados ou do comportamento dos seus ancestrais. Não faz muito tempo, numa grande igreja pentecostal, um diácono, que havia participado de um desses seminários para quebra de maldições hereditárias, me procurou para aconselhamento. Tal irmão encontrava-se confuso e deprimido com as informações que recebera e queria saber o que a Bíblia tinha a dizer sobre tudo isso. Depois de uns dez minutos de conversa, ele respirou aliviado. Temos encontrado e ajudado muitos outros em situações semelhantes pelos lugares por onde passamos, em diferentes partes do Brasil. Ora, todo cristão é tentado, de uma forma ou de outra, uns mais, outros menos. Se um cristão enfrenta problemas em relação à pornografia, ao alcoolismo, ao adultério, à depressão ou a qualquer outro aspecto ligado às tentações, os métodos para vencer tais lutas devem ser bíblicos. O caminho para a vitória tem muito mais a ver com a doutrina da santificação, com o cultivo da vida espiritual através da oração, do jejum, da comunhão saudável numa determinada parte do Corpo de Cristo e do contato constante com a Palavra de Deus. O ensino da quebra de maldições hereditárias aparece como um atalho mágico e ilusório para substituir a doutrina da santificação, que é um processo indispensável a ser desenvolvido pelo Espírito Santo na vida do cristão, exigindo dele autodisciplina e perseverança na fé. Doença ou maldição? Um outro aspecto incorreto desse ensino é confundir as doenças transmitidas por herança genética com maldições hereditárias espirituais. Isto pode ser observado nas declarações de Marilyn Hickey: Será que você já observou uma família na qual todos os membros usam óculos? Desde o pai e a mãe até a criança menor, todos estão usando óculos, e geralmente os do tipo de lentes grossas. Essas pobres criaturas estão debaixo de uma maldição, e precisam ser libertas. (Marilyn Hickey, Quebre a Cadeia da Maldição Hereditária, p. 60.) Não se pode construir uma doutrina em cima de uma observação, experiência ou somente porque uma família toda usa óculos! Existem muitas famílias em que apenas um ou outro membro usa óculos. O que aconteceu? Por que só alguns herdam a maldição e outros não? E se as doenças são maldições transmitidas de pais para filhos através dos genes (geneticamente),

por que os pregadores dessa doutrina não quebram, por exemplo, a maldição da calvície, transmitida geneticamente? Até hoje não há notícia de que alguém tenha feito isso. O Senhor Jesus nunca ensinou tal doutrina. (guando perguntado sobre o cego de nascença: "Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?", ele respondeu: "Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus" (Jo 9:2-3). Alguns usam este texto para afirmar que os discípulos acreditavam na maldição de família, procurando dar assim legitimidade a tal ensino. É preciso lembrar que os discípulos nem sempre estiveram certos no período de treinamento que passaram juntos a Jesus. Certa vez, em alto-mar, quando Cristo se aproximava, eles pensaram ser ele um fantasma (Mt 14:26). Felizmente, os discípulos estavam errados em suas conclusões, pois eram humanos, sujeitos a erros. É óbvio que não erraram quando falaram e escreveram inspirados pelo Espírito Santo. Quanto ao cego de nascença, Jesus destruiu qualquer superstição ou crença que os discípulos pudessem ter de que a cegueira fora provocada pelos pecados de seus antepassados, e o próprio Jesus nunca ensinou tal doutrina. Tal ensino não encontrou espaço também nos escritos do apóstolo Paulo. Ao contrário, quando escreveu aos coríntios pela segunda vez, declarou com muita certeza: "E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura: as cousas antigas já passaram; eis que se fizeram novas" (2 Co 5:17). Aos efésios, ele afirma: "Bendito o Deus e pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo" (Ef 1:3). Onde existe espaço para maldições na vida de um cristão diante de uma declaração como esta? Paulo não se deixou prender ao passado. Quando escreveu aos crentes de Filipos, declarou: "Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma cousa faço: esquecendo-me das cousas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus" (Fp 3:13, 14). É importante observar a sugestão do apóstolo Paulo a Timóteo, quando lhe escreveu a primeira carta: "Não continues a beber somente água; usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas freqüentes enfermidades" (1 Tm 5:23). Paulo nunca insinuou que a enfermidade de Timóteo fosse uma maldição de seus antepassados, pois sabia que Timóteo

vivia numa natureza afetada pela desobediência dos primeiros pais (Adão e Eva). Apesar de o Reino de Deus estar entre nós, ele ainda não chegou à sua plenitude, pois até a criação geme, aguardando ser redimida do cativeiro da corrupção (Rm 8:19-23). Paulo apenas sugeriu que Timóteo tomasse um pouco de vinho como um remédio para suas freqüentes enfermidades estomacais e não que fizesse a quebra das maldições hereditárias. A conversão é a solução Ensinar que um cristão tem que romper com maldições ou pactos dos antepassados pedindo perdão por eles é minimizar o poder de Deus na conversão. Isso está mais para o espiritismo ou mormonismo (com sua doutrina antibíblica do batismo pelos mortos) do que para o cristianismo. A Bíblia declara com muita ousadia: "Por isso também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles" (Hb 7:25). O advérbio "totalmente" (panteles, no grego) tem o sentido de pleno, completo e para sempre. Jesus não salva em prestações, mas de uma vez por todas. Marilyn Hickey chega a afirmar que: "Você pode decidir quanto ao destino exato da sua linhagem. Eles ou vão para Jesus, ou vão para o diabo". Nada poderia estar mais longe da verdade. Quantos filhos há que hoje vivem uma vida cristã exemplar, são cheios do Espírito Santo, enquanto seus pais permanecem alheios ao Evangelho, rejeitando constantemente a palavra de salvação e até tentando dificultar-lhes a vida espiritual! Comigo também foi assim. Ai de mim se fosse esperar meu pai decidir sobre o meu futuro espiritual. Não sei onde estaria hoje. É claro que os pais têm grande influência na formação espiritual dos filhos, mas o milagre da salvação é obra de Deus, e é pela graça que somos salvos (Ef 2:8, 9). É o Espírito Santo, o Consolador, quem convence o coração do pecado, da justiça e do juízo, como o próprio Senhor Jesus disse (Jo 16:7, 8). Paulo relatou aos gálatas que foi Deus quem lhe revelou seu Filho (Gl 1:15, 16). Assim, a salvação é uma revelação de Jesus Cristo em nossos corações, e não algo decidido somente pelos pais. Observe o que aconteceu com os filhos de Samuel, um profeta de Deus e um homem íntegro, como pode ser observado em 1 Samuel 3:19 e 12:3. Apesar da integridade do pai, a Bíblia diz que seus filhos não andaram

pelos caminhos dele: "antes se inclinaram à avareza, e aceitaram subornos e perverteram o direito" (1 Sm 8:3). Veja os reis de Israel e Judá. A narrativa do Antigo Testamento revela que muitos deles foram ímpios e tiveram filhos piedosos, enquanto outros foram piedosos e tiveram filhos ímpios. Eis alguns exemplos: Abias foi mau (1 Rs 15:3), mas seu filho Asa "fez o que era reto perante o SENHOR" (1 Rs 15:11). Jotão "fez o que era reto perante o SENHOR" (2 Rs 15:34), porém Acaz, seu filho, "não fez o que era reto perante o SENHOR" (2 Rs 16:2). Jeosafá agradou a Deus (2 Cr 17:14), enquanto Jeorão, seu filho, "fez o que era mau perante o SENHOR" (2 Cr 21:6). Assim, a seqüência de bondade ou maldade que deveria suceder na linhagem dos reis de Israel e Judá, de acordo com o que ensinam os pregadores da maldição de família simplesmente não aconteceu. A esses exemplos certamente não se poderia aplicar o provérbio: "Tal pai... tal filho". Inspirado pelo Espírito Santo, Paulo escreveu aos irmãos de Corinto, na sua primeira carta, uma palavra tremendamente elucidativa quanto a esta questão: "Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados, em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus" (1 Co 6:9-11). Pode-se notar que Paulo não afirmou no versículo onze: "Mas haveis quebrado as maldições hereditárias, mas haveis pedido perdão pelos pecados dos antepassados" ou algo similar. Não, de modo algum, este não é o seu pensamento. Paulo afirma que aqueles que estiveram presos nos pecados haviam sido lavados, haviam sido santificados e justificados, sem qualquer necessidade de quebrar maldições dos antepassados. Cabem aqui algumas perguntas: Qual é a maior das maldições? Sem dúvida é estar fora de Cristo. Qual a maior das bênçãos? Certamente é o estar em Cristo. Como se elimina a maior das maldições? Introduzindo a maior das bênçãos. Os pregadores da maldição hereditária não deveriam pedir perdão pelos pecados da décima, nona, oitava ou de qualquer outra geração, mas deveriam, sim, pedir perdão pelos pecados de Adão e Eva, pois se houve brecha, foi ali, na queda do jardim do Éden, onde as maldições tiveram início. Ali está a raiz do problema. Isso, sim, seria um trabalho perfeito e completo.

O leitor já imaginou se funcionasse? De repente, ninguém mais precisaria trabalhar para ganhar o pão, a mulher não sofreria mais ao dar à luz e os espinhos desapareceriam da Terra. É claro que não funciona, pois tal ensino não tem base na Palavra de Deus. Textos mal-interpretados Espíritos Familiares Para defender o ensino da maldição hereditária, seus pregadores usam a expressão "espíritos familiares", tradução de Levíticos 19:31 e de outras passagens na Bíblia em inglês do Rei Tiago (King James Version). Observe o comentário de Marilyn Hickey quanto a isso: O que são "espíritos familiares"? São maus espíritos decaídos que se tornaram familiares numa família. Eles a seguem, com suas fraquezas pecado físico, mental, emocional - por todo caminho, atacando e tentando cada membro seu naqueles aspectos, pois estão cientes de suas inclinações. "Marilyn, como é que você sabe disso?" Porque o Antigo Testamento fala acerca dos "espíritos familiares" (Versão King James). Usando o mesmo argumento, um certo autor comenta: Nas traduções em português, usamos as palavras necromantes, adivinhadores e feiticeiros. Mas em inglês usa-se o termo espíritos "familiares" e é esta a base bíblica que temos para demonstrar que estes espíritos de adivinhação, necromancia e feitiçaria passam de geração em geração. Há um acompanhamento, por parte destes demônios, sobre as famílias. E eles transmitem os mesmos vícios, comportamentos e atitudes de que temos falado. (Robson Rodovalho, Quebrando as Maldições Hereditárias, p. 12.) Defender um ensino controvertido com base na tradução de uma Bíblia em inglês (Versão do Rei Tiago) é algo inaceitável à luz da hermenêutica e da exegese bíblica. É preciso ter em mente que a Bíblia Sagrada não foi escrita em inglês. Para se entender o texto bíblico, é necessário que se faça a tradução e interpretação com base na língua em que

ele foi escrito. No caso do Antigo Testamento, o hebraico, e não o inglês. Ao afirmar: "Mas em inglês se usa o termo espíritos familiares, e é esta a base bíblica que temos para demonstrar que estes espíritos de adivinhação, necromancia e feitiçaria passam de geração em geração", o autor demonstra exatamente o contrário: não ter base bíblica para tal ensino. Robert L. Alden, Ph.D., professor do Velho Testamento no Seminário Teológico Batista Conservador de Denver, Estado do Colorado, nos Estados Unidos, esclarece: A palavra 'ob aparentemente se refere àqueles que consultavam os espíritos, pois 1 Samuel 28 descreve alguém assim em ação. A famosa "feiticeira" de Endor é uma 'ob. Ao povo de Deus foi ordenado ficar longe de tais ocultistas (Levítico 19:31). A punição por se envolver com tais "médiuns" era morte por apedrejamento (Levítico 20:27). Naturalmente 'ob é incluída na lista de abominações semelhantes em Deuteronômio 18:10,11. Todas essas ocupações têm a ver com o ocultismo. Isaías desconsidera estes "necromantes" e sugere, pela sua escolha de palavras, que os sons dos espíritos assim emitidos não são nada mais do que ventriloquismo: "os necromantes e os adivinhos que chilreiam e murmuram" (Isaías 8:19). (Artigo citado no Theological Wordbook of the Old Testament (Dicionário de Teologia do Antigo Testamento), vol. 1, editado por R. Laird Harris, Gleason L.Archer, Jr. e Bruce K. Waltke - Chicago, E.U.A., Moody Press, 1980, p. 16-7.) É importante observar ainda que a Septuaginta (a versão grega do Antigo Testamento) emprega o termo eggastrímithoi (ventríloquo) para traduzir a palavra 'ob de Levítico 19:31. A Bíblia informa em 1 Samuel 28:3 que Saul havia banido de Israel os adivinhos e os encantadores e não os espíritos familiares. Assim, a palavra hebraica 'ob significa o "vaso" ou instrumento dos espíritos, portanto o médium ou necromante, conforme aparece na maioria das traduções da Bíblia, não oferecendo tal vocábulo base para quebra de maldições hereditárias na vida do cristão. A crença de que a violência é provocada por espíritos familiares também não tem base bíblica. O apóstolo Paulo foi um homem violento. A Bíblia diz que "Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas casas, e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere" (At 8:3). O apóstolo

João, antes de se tornar o discípulo do amor, não hesitava em dar vazão à sua ira. Certa vez ele chegou a desejar que caísse fogo do céu para consumir os samaritanos que se recusaram a receber Jesus (Lc 9:52-54). Como abandonou Paulo sua violência e João deixou de ter um espírito ou temperamento vingativo? Sem dúvida, através da conversão e do viver com Cristo foi que eles foram transformados e libertos, e não através da quebra de maldição de família, algo que nunca fez parte de seus escritos. Arvores genealógicas Embora haja quem sugira às pessoas para que desenhem árvores genealógicas a fim de facilitar a quebra das maldições, (Robson Rodovalho, Quebrando as Maldições Hereditárias, p. 28-31.) tal prática não encontra apoio na Bíblia. É verdade que encontramos genealogias nos Evangelhos de Mateus e de Lucas, as quais tinham a intenção de apresentar a linhagem de Jesus como o Messias de Israel. Não há, depois disso, em todo o Novo Testamento, preocupação com tal ensino. Ao contrário, o apóstolo Paulo até recomendou a Timóteo e a Tito que não se envolvessem com esse assunto (1 Tm 1:4 e Tt 3:9). Os mórmons, sim, na tentativa de resolver os problemas espirituais de seus falecidos através do batismo pelos mortos (uma prática antibíblica), gastam muito tempo e dinheiro com genealogias, contrariando assim as Escrituras Sagradas. Há os que dizem que devemos pedir perdão pelos pecados de P C. Farias e de políticos acusados como corruptos. Outros estão sugerindo que, ao se encontrar uma pessoa negra na rua, deve-se chegar a ela e pedir perdão pelos pecados dos que promoveram a escravidão no Brasil. Há até aqueles que afirmam que os carros roubados no Brasil e levados ao Paraguai são uma maneira de Deus fazer os brasileiros pagarem aos paraguaios pelo mal que lhes fizeram em guerras passadas. Que absurdo! Os que isto sugerem gostam de citar as orações de Esdras (capítulo nove), Neemias (capítulo nove) e Daniel (capítulo nove), em que eles fizeram confissão a Deus, citando os pecados de seus antepassados. Sabemos que as bênçãos do antigo pacto eram condicionadas à obediência do povo de Israel. Quando desobedecia, as maldições de Deus vinham sobre ele. Esdras, Neemias e Daniel de fato reconheceram o pecado de seus antepassados, mas pediram perdão pelos pecados do presente, da geração atual. Embora seja

possível alguém sofrer as conseqüências dos pecados de terceiros, o mesmo não acontece com a culpa. A Palavra de Deus não culpa ninguém pelos pecados dos outros. A Bíblia em nenhum lugar ensina a interceder por quem já morreu, uma vez que após a morte segue-se o juízo, não oração ou pedido de perdão pelos mortos (Hb 9:27). É preciso lembrar ainda que, à luz da Bíblia, ninguém pode se arrepender por outra pessoa. O arrependimento é algo pessoal, que se faz diante de Deus. A idéia de que "temos que até interceder, pedir perdão por pecados que aqueles antepassados cometeram, e quebrar os pactos que fizeram", contradiz a Palavra de Deus, que afirma: "Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus" (Rm 14:12). Provérbios 26:2 Eis aqui outro texto freqüentemente mal usado pelos pregadores da maldição de família. Allen P. Ross comenta que era comum acreditar que as bênçãos e as maldições tinham existência objetiva - uma vez proferidas, produziam efeito. Ele acrescenta: "As Escrituras esclarecem que o poder de amaldiçoar e de abençoar depende do poder daquele que está por trás dele (por exemplo, Balaão não pôde amaldiçoar o que Deus havia abençoado; Nm 22:38 e 23:8). Este provérbio realça a correção da superstição. A Palavra do Senhor é poderosa porque é a Palavra do Senhor - ele a cumprirá". (Allen P. Ross, no The Expositor's Bible Commentary - Comentário Bíblico Expositivo, editado por Frank E. Gaebelein, vol. 5 , Grand Rapids, Michigan, E.U.A., Zondervan Publishing House, 1991, p. 1087.) Nota-se então que não existe base para se usar tal texto a fim de defender a transferência de maldições de geração em geração. Maldição de nomes próprios É o que ensina o livro Bênção e Maldição quando afirma: A verdade é que há nomes próprios que estão carregados de maldição - já trazem prognóstico negativo (...) Por isso não convém dar aos nossos filhos nomes que tenham conotação negativa, que expressem derrota, tristeza, dureza: Maria das Dores, Mara (amargura), Dolores (dor e pesar), Adriana (deusa das trevas), Cláudio (coxo, aleijado), Piedade, Aparecida (sem origem,

que não se sabe de onde veio). (Jorge Linhares, Bênção e Maldição (Venda Nova, MG, Editora Betânia,1992), p. 34-5.) Este é mais um ensino que vem acrescentar cargas desnecessárias sobre os crentes que passam a acreditar nele. Existem muitas pessoas hoje vivendo preocupadas devido ao nome que receberam ao nascer, algo sobre o que não tiveram controle e nem escolha. E, de novo, não há base bíblica para isso. É verdade que há na Bíblia alguns nomes de pessoas que corresponderam às suas personalidades e às circunstâncias em que viveram. O próprio Deus mudou o nome de Abrão para Abraão, que significa "pai de uma grande multidão". ("A mudança de Abrão para Abraão teve por fim reforçar a raiz da segunda sílaba para dar maior ênfase à idéia de exaltação", J. D. Davis, Dicionário da Bíblia, p. 11.) Jacó significa "usurpador", e ele assim se comportou por um bom período de sua vida. O legislador de Israel recebeu o nome de Moisés por que foi salvo das águas. Contudo, não se pode criar uma regra baseada em tais exemplos pelas razões que veremos em seguida. A Bíblia está cheia de exemplos de pessoas ímpias com nomes de bons significados, enquanto outras são boas, mas com nomes de significados nada recomendáveis. Veja o caso de Abias, que quer dizer "Jeová é pai", filho de Samuel, um homem de Deus. Apesar de ter um bom nome e um bom pai, a Bíblia diz que ele não andou nos caminhos de Samuel e se corrompeu (1 Sm 8:3). Já Absalão quer dizer "pai da paz". Embora tendo um nome tão pacífico, ele tentou usurpar o trono de seu pai Davi, teve uma vida turbulenta e morreu de forma trágica (2 Sm 3:3; 13-19). Daniel e seus amigos tiveram os nomes mudados pelo rei de Babilônia (Dn 1:7). Mesmo depois de receberem nomes ligados a deuses pagãos, isso não impediu que desfrutassem da bênção de Deus e permanecessem firmes na fé em Jeová. Logo, pode-se notar que o nome não influiu em nada. Judas quer dizer "louvor", um significado muito piedoso, mas isso não impediu que ele traísse o Senhor (Mt 26:48, 49). Por outro lado, um outro Judas foi fiel e deixou uma carta escrita no Novo Testamento. Bar-Jesus é um nome fantástico, que quer dizer "filho de Jesus".

Apesar do nome, ele era um mágico, um falso profeta, e resistiu a Paulo quando este pregava ao procônsul Sérgio Paulo (At 13). Apenas o nome não faz o homem. Se fizesse, as prisões no Brasil não estariam cheias de presidiários chamados de Abel, Moisés, Isaías, Daniel, Pedro, Lucas, Paulo e outros nomes bíblicos. Há também homens e mulheres na Bíblia que serviram a Deus fielmente e foram vencedores na fé cristã, apesar dos nomes que tiveram com significados nada recomendáveis. Apolo foi um homem de Deus, poderoso nas Escrituras (At 18:24-28), mas seu nome significa "destruidor". Hermes é um dos irmãos a quem Paulo envia saudações cristãs (Rm 16:14), porém seu nome é de um deus mitológico. O interessante é que Paulo nunca instruiu esses irmãos para que fizessem oração de renúncia pelos nomes que possuíam, pois eles terão um novo nome no céu (Ap 2:17). Alguns crentes até dão testemunho em público depois de pensar que foram bem-sucedidos ao amaldiçoar uma pessoa, uma empresa ou organização. Contam, por exemplo, que por não terem sido bem servidos num restaurante, o amaldiçoaram e o restaurante faliu. A Bíblia, porém, ensina que o cristão não deve amaldiçoar, mas, sim, abençoar. Ouçamos o conselho de Paulo: "Abençoai, e não amaldiçoeis" (Rm 12:14). Alguns têm dito que a quebra das maldições hereditárias é bíblica, já que deu certo ou funcionou para um ou outro. O fato de ter dado certo não quer dizer que seja bíblica. Há muita coisa que funciona no espiritismo, na umbanda e na Ciência Cristã que nem por isso é bíblica. Geralmente, as distorções no seio da Igreja são muitas vezes baseadas apenas nas experiências, no subjetivo. Ora, não importa quão maravilhosa tenha sido a experiência; se ela contradiz as Escrituras e não tem base na Palavra de Deus, deve ser rejeitada, prevalecendo somente a Bíblia Sagrada, única regra de fé e prática para o cristão.

6 - Batalha espiritual Talvez nenhum outro assunto tenha fascinado tanto os evangélicos nos últimos tempos quanto o da batalha espiritual. De repente, o diabo moveu-se para o picadeiro e passou a ser o centro do espetáculo. Infelizmente, o fascínio pela guerra espiritual trouxe consigo o desequilíbrio teológico, o sensacionalismo e uma avalanche de revelações extra e antibíblicas em relação a esse tema, deixando profundas feridas no exército do Senhor. Que Deus, por sua graça, venha a usar este trabalho para colocar um pouco de vinho e azeite nessas feridas. A reação da Igreja perante a batalha espiritual tem sido variada. Às vezes, a atitude de alguns é de incredulidade, afirmando que a crença em demônios é coisa da Idade Média ou para pessoas supersticiosas. Outros são indiferentes ou totalmente desinformados a respeito do conflito entre os santos e as trevas. E ainda há aqueles que se tornaram obcecados com o assunto e passaram a fazer da batalha espiritual o tema principal de suas vidas. Certamente o assunto da guerra espiritual é muito vasto, tornando-se impossível tratá-lo a contento no espaço aqui disponível. Por esta causa, a atenção será dada apenas a alguns abusos que o tema tem gerado no seio da Igreja. A realidade da batalha A base bíblica A Igreja não pode ignorar a problemática da guerra espiritual. Primeiro, porque a Bíblia fala muitas vezes sobre tal conflito. Sim, existe uma contínua e intensa batalha entre a luz e as trevas, entre Cristo e Satanás, entre a Igreja e o inferno. Por esta razão, Pedro alertou: "Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar; resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo" (1 Pe 5:8, 9). Há muitos exemplos na Bíblia que demonstram como os espíritos das trevas trouxeram intenso sofrimento às pessoas. Foi Satanás quem

transtornou grandemente a vida de Jó (Jó 1:12-19). O próprio Jesus foi tentado por ele no deserto (Mt 4:1-11). Veja a vida horrenda do gadareno, possuído por uma legião de demônios (Mc 5:1-20), o jovem possesso, que muitas vezes era jogado na água e no fogo (Mc 9:14-22) e Maria Madalena, da qual saíram sete demônios (Lc 8:2). A Bíblia fala também de uma mulher que por dezoito anos viveu curvada devido a um espírito de enfermidade (Lc 13:1113). Ananias e Safira foram enganados por Satanás para que mentissem ao apóstolo Pedro sobre o preço de uma propriedade vendida (At 5:1-10). A Palavra de Deus afirma que ele é tão astuto que pode até se transformar em anjo de luz e que os seus ministros são capazes de se mascararem como ministros da justiça (2 Co 11:13-15). O contexto brasileiro O segundo motivo pelo qual não podemos ignorar a questão da batalha espiritual é o contexto cultural e religioso do país em que vivemos. O Brasil é um país místico, obcecado com o sobrenatural, considerado hoje o maior país espírita do mundo, com cerca de 5.500 centros espíritas espalhados pelo território nacional. (Revista Veja (10 de abril de 1991), p. 40.) O número de terreiros ligados ao culto afro é ainda muito maior. O assassinato do garoto Evandro, em Guaratuba, Estado do Paraná, barbaramente sacrificado num ritual satânico, revela um quadro assustador e doentio de certos segmentos religiosos brasileiros que crescem a cada dia, ameaçando adultos e crianças. (Revista Isto É (15 de julho de 1992), p. 42.) A imprensa não hesita em ligar tais atos sórdidos a certos adeptos do culto afro. Tal situação exige uma ação urgente das autoridades constituídas. A macumba chegou até aos porões da Casa da Dinda, durante a gestão do ex-presidente Fernando Collor. Ali muitos animais foram mortos em rituais satânicos. (Revista Veja (17 de março de 1993), p. 21. ) Em 22 de março de 1993, o jornal O Globo informou que Brasília, conhecida como a "cidade mística", abriga 2.563 casas de candomblé e umbanda. O artigo trazia ainda uma lista de políticos que estão sempre em busca da ajuda dos orixás, tais como: Humberto Lucena, José Sarney, Antonio Carlos Magalhães, Jaime Lerner, Mário Covas, Ibsen Pinheiro,

Espiridião Amin e vários outros. (Jornal O Globo (22 de março de 1993), p. 4.) A atuação de Satanás em solo brasileiro é intensa e variada. Não dá para fechar os olhos ao assassinato dos meninos de rua na igreja da Candelária e à chacina de Vigário Geral, no Rio de Janeiro, à impunidade, à corrupção incontrolável, à imoralidade endeusada e veiculada por grande parte da mídia, à imensa massa humana que corre atrás da astrologia, de toda a sorte de adivinhação, de consulta aos mortos, e que passa a crer em duendes, gnomos, pirâmides, cristais, discos voadores, numerologia, todo o tipo de superstições e idolatria. Esses fatos e muitos outros demonstram o quão espiritualmente enferma se encontra uma significante parcela da sociedade, e o quanto Satanás tem sido bem-sucedido em enganar tanta gente. Tudo isso, sem dúvida, deve despertar o cristão para a realidade da batalha espiritual e para o modo de preparar-se para vencê-la. Em busca do equilíbrio Fascinados pelo mal O apóstolo João alertou com muita propriedade que "o mundo inteiro jaz no maligno" (1 Jo 5:19). Certamente esse avivamento satânico, que afeta tanta gente hoje em diferentes partes do mundo, tem provocado reações em muitos círculos cristãos. Muitos ministérios de libertação começaram a surgir a fim de livrar os crentes de maldições hereditárias, libertar cidades de seus respectivos príncipes infernais, derrubar políticos e governos corruptos e amarrar todo o mal. As livrarias evangélicas foram inundadas por livros sobre batalha espiritual, alguns bons, enquanto muitos outros nada recomendáveis. Creio que o livro de Frank Perreti, Este Mundo Tenebroso (Ed. Vida), lançou mais lenha na fogueira ainda. Seminários sobre batalha espiritual foram e têm sido ministrados em muitas igrejas, tradicionais ou não (quase ninguém escapa), para expulsar demônios de crentes, fazer orações de renúncia, sessões de cura interior e para ensinar uma série enorme de nomes de demônios que jamais poderia ser encontrada na Bíblia. Quando algo não tem base bíblica, ensinase por "revelação divina", dizem os que crêem nessas doutrinas. De fato, o mal fascina. Entre um estudo bíblico sobre a trindade e

outro sobre as atividades satânicas nos dias atuais, o último tópico certamente atrairá um número muito maior de crentes. Em muitas igrejas, obcecadas com o assunto da guerra espiritual, infelizmente, maior atenção tem sido dada ao diabo do que a Jesus. Mesmo no momento do louvor, em muitos lugares, a maioria dos cânticos tem mais a ver com o militarismo, com guerra, com destruição do que com a adoração contemplativa da glória, da face e da majestade do Senhor. Hinos como "Tu És Fiel, Senhor", "Quão Grande És Tu", "Santo, Santo, Santo, Deus Onipotente" deram lugar a cânticos como "Caiam por terra, agora, os inimigos de Deus", "Vem com Josué lutar em Jericó", "Homem de guerra é Jeová", "Persegui o inimigo, o alcancei, o confundi e o atravessei". Embora tais cânticos sejam bíblicos, demonstram a ênfase exagerada que, muitas vezes, alguns grupos cristãos colocam na guerra espiritual. Em certos ministérios, o termo intercessor deu lugar ao termo "guerreiro de oração". Há irmãos em Cristo que, ao iniciar um seminário de libertação, logo na oração de abertura dirigem-se a Deus mais ou menos do seguinte modo: "Senhor, estamos aqui nesta manhã para aprender a tua Palavra. Pomba Gira, eu te amarro em nome de Jesus. Senhor Jesus, queremos glorificar-te no dia de hoje. Exu Tranca Rua, eu te repreendo em nome de Jesus. Vem Espírito Santo, ensina-nos", e voltam a falar nos demônios. Isto é oração? Será que Deus se agrada de tal mistura? Por que essa preocupação obsessiva com os espíritos das trevas, mesmo no momento de falar com Deus? Conheci pessoalmente um pastor de Portland, Estado de Oregon, nos Estados Unidos, chamado Judson Conwell. Ele escreveu vários livros e li alguns deles. Nunca vou me esquecer do que ele ensinou no Let Us Praise (Vamos Louvar). Ele conta que todos os domingos de manhã colocava a congregação em pé e passavam um bom tempo repreendendo os maus espíritos: "Espírito de miséria, sai em nome de Jesus! Espírito de tristeza (...)" e acrescentava muitos outros, como adultério, depressão, vício, fofoca e alcoolismo. Certa vez, ao estar orando e meditando na presença de Deus, o pastor Judson percebeu pelo Espírito Santo que não agia direito. Estava desviando a atenção de sua congregação do Senhor e colocando-a no inimigo. Resolveu parar com aquilo. É como se Deus lhe dissesse: "Não faça mais isso, meu filho. Da próxima vez que você colocar o meu povo em pé na minha casa, diga-lhe que me adore. Não se preocupe com os demônios. Eu cuido deles

para você". E assim foi. Depois que o pastor desenvolveu um louvor dinâmico e bíblico em sua igreja, o ministério cresceu muito. Tive uma experiência interessante na Nigéria, há vários anos. Na última noite que passei naquele país, num culto de despedida, o pastor da igreja colocou-nos de joelho para a oração. Até aí, tudo bem. Depois de um certo tempo, ele pediu que repetíssemos as suas palavras e começou a repreender os espíritos maus: "espírito de tristeza, sai em nome de Jesus! espírito de orgulho, sai em nome de Jesus! espírito de ódio, sai em nome de Jesus", e assim foi por um bom tempo. De repente, percebi que estava fazendo algo errado e pus-me a pensar: "Onde está na Bíblia que eu tenho que me ajoelhar para falar com os demônios?" Interrompi aquela minha oração antibíblica e aguardei sentado pela continuação do culto. Quando tive a oportunidade de falar à igreja, comentei sobre uma parte do Salmo 23: "Preparas-me uma mesa na presença dos meus adversários, unges-me a cabeça com óleo; o meu cálice transborda" (SI 23:5). Disse-lhes que os demônios estariam sempre por perto, mas que Deus tem poder para nos prover um banquete, unção e cálice transbordante, mesmo na presença dos inimigos. Olhemos então para o Senhor, para o banquete, para a unção, para o cálice transbordante, e não para o inimigo! Os ministérios de libertação são bem-vindos e alguns deles têm genuinamente ajudado muitas pessoas. Mas é indispensável que se evitem os excessos, os extremismos, como também os métodos e os ensinos que não são bíblicos. A natureza do conflito Ao engajar-se na guerra espiritual, muitos crentes estão ansiosos por medir forças com o inimigo e fazer demonstrações de poder. John Wimber, fundador da Vineyard (veja capítulo 4, Milagres e seus abusos, p. 77), tem cunhado expressões como power encounter (choque de poder) e power evangelism (evangelismo de poder). Wimber explica: Choques de poder são muito parecidos com isso: quando o Reino de Deus entra em contato direto com o Reino deste mundo (quando Jesus encontra Satanás), há um choque. E, geralmente, isso é desordenado, confuso e difícil de se controlar. (John Wimber, Power Evangelism (Evangelismo de

Poder) (San Francisco, E.U.A., Harper & Row Publishers, 1986), p. 20.) De fato, há na Bíblia exemplos de demonstração de poder em momentos de guerra espiritual. Quando Paulo enfrentou Elimas, este ficou cego pelo poder de Deus operado através das palavras do apóstolo (At 13:612). Por outro lado, tais demonstrações de poder são apenas um aspecto da batalha. Neil T. Anderson comenta com muita propriedade sobre esta questão: O poder de Satanás está na mentira. Jesus disse: "O diabo (...) jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira" (João 8:44). Desde que a arma principal de Satanás é a mentira, a defesa contra ele é a verdade. Tratar com Satanás não é um choque de poder; é um choque de verdade. Quando você desmascara a mentira de Satanás com a verdade de Deus, seu poder é quebrado. Por esta razão é que a primeira peça da armadura que Paulo menciona para ficar firme contra as ciladas do diabo é o cinturão da verdade (Efésios 6:14). (Neil T. Anderson, Victory Over The Darkness (Vitória Sobre as Trevas) (Ventura, California, E.U.A., Regal Books, 1990), p.169-70.) O próprio Senhor Jesus enfatizou a importância da verdade ao declarar: "E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará" (Jo 8:32). Ao orar pelos discípulos, pediu ao Pai: "Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade" (Jo 17:17). Ao comentar sobre a degradação espiritual do gênero humano na carta aos Romanos, Paulo disse que Deus os abandonou, "pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura, em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém" (Rm 1:25). Para Paulo, a Igreja é a "coluna e baluarte da verdade" (1 Tm 3:15). Ao descrever a Timóteo o estado de rebeldia de muitos nos últimos dias, Paulo não poupou adjetivos e concluiu com as seguintes palavras: "... que aprendem sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade. E do modo por que Janes e Jambres resistiram a Moisés, também estes resistem à verdade" (2 Tm 3:7, 8). Satanás procura sempre usar circunstâncias, situações, pessoas, enfermidades e toda a sorte de males para fazer guerra contra os santos. Mesmo que o cristão venha a quase se desesperar num congestionamento de

trânsito, ter seu carro roubado, ou passar muita raiva numa fila do banco ou do hospital, não se pode esquecer de que a natureza da batalha é sempre espiritual, como bem expressou o apóstolo Paulo: "porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e, sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes" (Ef 6:12). É claro que ninguém pode enfrentar o reino das trevas ou expulsar demônios sem estar preparado. É preciso ter autoridade do Senhor, poder do Espírito Santo, vida de oração e, em certos casos, até jejum (Mt 17:21). Uma vida de obediência a Deus é indispensável, pois o inimigo não obedecerá ao desobediente. O inimigo não vai recuar só porque alguém prega bonito, tem profundo conhecimento bíblico, sabe as línguas originais da Bíblia ou porque faz muito sucesso na vida. De modo algum. O inimigo vai recuar, sim, diante de um crente que vive uma vida de submissão a Deus. Pode um cristão ter demônios? Um dos temas mais polêmicos que a batalha espiritual tem gerado é se um cristão pode ter demônios. Muitos ministérios de libertação incluíram algum ritual para expulsar demônios de crentes em seus programas e isso tem acontecido em simpósios de batalha espiritual em muitas igrejas. Alguns teólogos também passaram, nos últimos anos, a aderir a tal posição e muitos deles reconhecem que o assunto é controvertido. De qualquer forma, a Bíblia Sagrada tem a palavra final sobre esta questão ou sobre qualquer outro assunto relacionado com a vida espiritual e o cristão. Merrill F. Unger, um autor lido e seguido por várias pessoas que hoje desenvolvem ministérios de libertação espiritual no Brasil, reconhece a dificuldade de se tratar do assunto, ao declarar: A verdade da questão é que as Escrituras em nenhum lugar declaram que um verdadeiro crente não pode ser invadido por Satanás ou seus demônios. Naturalmente, a doutrina deve sempre ter precedência sobre a experiência. Nem pode a experiência jamais oferecer base para a interpretação bíblica. Apesar disso, se experiências consistentes chocam com uma interpretação, a única conclusão possível é de que há alguma coisa errada, ou com a própria experiência ou com a interpretação da Escritura que

vai contra ela. Certamente a Palavra inspirada de Deus nunca contradiz a experiência válida. Aquele que procura a verdade com sinceridade deve estar preparado para consertar sua interpretação a fim de trazê-la em conformidade com os fatos como eles são. (Merrill F. Unger, What Demons Can Do To Saints (O que os Demônios Podem fazer aos Santos) (Chicago, E.U.A., Moody Press,1991), p. 69.) Unger já ensinou e escreveu, no passado, que somente os incrédulos estão sujeitos a endemoninhamento ou possessão demoníaca. Mais tarde ele mudou de idéia, e diz por que: Em Biblical Demonology (Demonologia Bíblica), publicado primeiramente em 1952, a posição tomada era de que somente os incrédulos são expostos ao endemoninhamento. Mas, através dos anos, várias cartas e relatórios de casos de invasão demoníaca de crentes têm chegado a mim de missionários em várias partes do mundo. Como resultado, em meu estudo sobre a explosão atual do ocultismo intitulado Demons in the World Today (Demônios no Mundo de Hoje), que apareceu em 1971, a confissão é feita livremente de que a posição tomada no Biblical Demonology (Demonologia Bíblica) "foi assim entendida, pois a Escritura não resolve claramente a questão". Há alguns problemas com as declarações de Unger. Primeiro, ele diz que a Bíblia não afirma com clareza que um cristão não pode ser invadido por demônios. Ora, se a Bíblia não diz isso com clareza (o que não é verdade), como pode alguém então afirmar e ensinar sobre aquilo que não está claro na Palavra de Deus? Seria o mesmo que tentar ensinar ou escrever sobre o sexo dos anjos quando a Bíblia nada fala sobre a questão. Se a Bíblia não é clara sobre a possessão de crentes, como pode alguém desenvolver então, biblicamente, uma prática de expulsar demônios de crentes? Simplesmente impossível. Pode-se perceber também que Unger, que no passado ensinava que crentes não podiam ficar possessos, depois mudou de posição. A mudança veio não pela avaliação bíblica, mas, como ele mesmo conta, através de cartas e relatórios de missionários baseados em experiências dos campos de missões. Mas Unger não está só ao basear a possessão de crentes em experiências e não na Bíblia. Veja a opinião de Bill Subbritzky sobre o

assunto: "Pode um cristão ter demônios? A resposta é enfaticamente sim! Se você tem sido informado de que isso não acontece, continue lendo e deixe o Espírito Santo guiá-lo nesta questão. Estou ciente do muito que se tem ensinado a respeito de os cristãos não poderem ter demônios. Contudo, através de minha experiência no ministério há quatorze anos, constatei que tal opinião é totalmente incorreta". (Bill Subritzky, Demônios Derrotados, 2. ed. (Adhonep, 1992), p. 41.) Uma autora no Brasil demonstra ter também opinião semelhante ao declarar: Muitos defendem que, uma vez que o crente é habitação do Espírito (1 Coríntios 6:19), torna-se impossível um demônio habitar onde o Espírito habita (...) o fato de o nosso corpo ter-se tornado o templo do Espírito Santo não quer dizer que jamais poderá ser ocupado por maus espíritos. Não deveria, mas é possível (...) Todos quantos se envolvem no ministério de libertação testemunham a manifestação de demônios em cristãos. (Valnice Milhomens, Batalha Espiritual (Av. Pompéia, 2.110, São Paulo, SP, Palavra da Fé Produções), p. 53.) Certa líder na área da batalha espiritual segue a mesma linha desses autores e conclui: Se partimos do pressuposto de que os crentes não podem ter demônios ou não podem ficar endemoninhados, corremos o risco de deixar muitos crentes opressos dentro da igreja, vivendo uma vida de grande prisão, mornidão, com uma dificuldade tremenda para crescer. Afinal, o inimigo deseja uma vida cristã medíocre. E aqui é preciso esclarecer a questão da terminologia usada. De acordo com dezenas de estudiosos do grego, daimonozomenai significa "ter demônios" e é melhor traduzido pela palavra "endemoninhado", nunca possesso, pois no Novo Testamento não vemos o uso do termo (...) Endemoninhado tem um significado lato, indicando o estado da pessoa que tenha um demônio ou até muitos demônios perturbando ou oprimindo sua vida. Quanto ao local onde ele fica, não é o mais importante. Ele pode ficar no corpo, fora do corpo, na alma da pessoa. (Neuza ltioka, Fechando as Brechas (São Paulo, SP, Editora Sepal, 1994), p. 65.)

Dois outros autores norte-americanos, John e Paula Sanford, acrescentam também: Há aqueles que crêem que o cristão cheio do Espírito Santo não pode ser ocupado pelo poder demoníaco. Temos descoberto que isto não é um fato histórico, ainda que a teologia diga que o Espírito Santo e os demônios não podem habitar a mesma área. É o que tem acontecido. Temos expulsado demônios de centenas de crentes cheios do Espírito Santo, alguns deles não apenas cheios do Espírito Santo, mas poderosos servos do Senhor! Como isso acontece eu não posso explicar, mas tem sido para nós um fato incontestável de muitos anos de experiência exaustiva. (John & Paula Sanford, Healing The Wounded Spirit - Curando o Espírito Ferido, citado no livro Os Deuses da Umbanda, de Neuza ltioka, São Paulo, ABU Editora, 1987, p. 190. John e Paula Sanford são os grandes responsáveis pela infiltração na Igreja de boa parte das distorções doutrinárias relacionadas com cura interior, batalha espiritual e maldição de família.) Este é o segundo problema de Unger e é também o problema dos demais autores aqui mencionados: experiência, experiência, experiência. Na última citação, os autores até informam que nem sabem explicar como pode acontecer a expulsão de demônios de crentes, mas continuam levando tal prática adiante. Terminologia bíblica Existem muitos preletores de batalha espiritual ensinando que um cristão não pode ser possuído por demônios, mas pode ficar endemoninhado ou ter demônios. Eles tomam o verbo daimonizomai, do grego do Novo Testamento, dizendo que a sua tradução correta é endemoninhado, e não estar possuído por um demônio. (Neuza Itioka, Os Deuses da Umbanda, p. 171. Veja também Demônios Derrotados, de Bill Subritzky, publicado pela Adhonep, p. 41.) Apesar de todo o barulho sobre o assunto, existe um consenso entre a literatura acadêmica de que a tradução principal para o verbo daimonizomai deve ser mesmo estar possuído de demônios. Vejamos alguns exemplos: W E. Vine traduz daimonizomai da seguinte forma:

Ser possuído de um demônio, agir sob o controle de um demônio. Aqueles que foram assim afligidos expressavam a mente e a consciência de que um demônio ou demônios habitavam neles. Exemplo: Lucas 8:27. O verbo é encontrado principalmente em Mateus e Marcos: Mateus 4:24; 8:16, 28, 33; 9:32; 12:22; 15:22; Marcos 1:32; 5:15, 16, 18; Lucas 8:36 e João 10:21, "aquele que tem demônio. (W. E.Vine, An Expository Dictionary of Biblical Words (Dicionário Expositivo de Termos Bíblicos) (Nashville, Tennessee, E.U.A., Thomas Nelson Publishers, 1984), p. 283.) No Léxico Grego, de Bauer, a primeira tradução de daimonizomai é "ser possuído por um demônio". (W. Bauer, W. F. Arndt e F. W. Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament - Léxico Greco-Inglês do Novo Testamento, E.U.A., The University of Chicago Press, 1957, p. 168.) Kittel também coloca como a primeira tradução de daimonizomai "estar possuído por um demônio". (Gerhard Kittel, Theological Dictionary of the New Testament, vol. 2 - Dicionário Teológico do Novo Testamento, Michigan, E.U.A., W M. B. Eerdmans Publishing Company, 1964, p.19.) Para Thayer, daimonizomai é "estar sob o poder de um demônio". Thayer acrescenta ainda: No NT, daimonizómenoi são pessoas afligidas especialmente com doenças graves, físicas ou mentais (tais como paralisia, cegueira, surdez, perda de apetite, epilepsia, melancolia, insanidade etc.), em cujos corpos, na opinião dos judeus, os demônios haviam entrado e mantido possessos por eles, não apenas para afligi-los com enfermidades, mas também para destronar a razão e tomar eles mesmos o seu lugar. (Thayer, Thayeer's GreekEnglish Lexicon of the New Testament (Léxico Greco-Inglês do Novo Testamento de Thayer) (Michigan, E.U.A., Zondervan Publishing House, Grand Rapids, 1976), p. 123.) Apesar das vozes em contrário, pode-se perceber que o termo daimonizomai, de acordo com a erudição bíblica, é traduzido como "estar possuído de demônios". Exemplos bíblicos Várias passagens bíblicas são geralmente citadas como prova de que

um cristão pode ter demônios. Uma delas é a que fala de Saul, o primeiro rei de Israel, quando atormentado por um espírito mau (1 Sm 18:10,11 e 19:9,10). Alguns acham que "atormentado por um demônio" é o mesmo que "possuído por um demônio", o que não é verdade. Thomas Ice e Robert Dean explicam por que o caso de Saul não foi possessão demoníaca: 1 - É dito que o espírito mau foi enviado da parte de Deus e não de Satanás (16:14). 2 - O espírito mau saía quando Davi tocava sua harpa (16:23) e não se acha nas Escrituras sobre demônio sair ao se tocar uma música. Ao invés disso, os demônios são expulsos no nome do Senhor. 3 - Saul depois arrependeu-se de seu pecado (26:21). O Novo Testamento apresenta a pessoa possuída por demônio como uma vítima que precisa primeiro de libertação, e não de arrependimento. 4 - O texto hebraico diz que o espírito mau vinha sobre Saul (...) Nunca é dito que ele tenha entrado em Saul, como se esperaria, caso se pretendesse transmitir a idéia de possessão demoníaca. (Thomas Ice e Robert Dean, Jr.,A Holy Rebellion (Uma Rebelião Santa) (Eugene,Oregon, E.U.A., Harvest House Publishers, 1990), p. 125.) Uma irmã em Cristo cita dois exemplos do Novo Testamento para provar que um cristão pode ter demônios: Alguns argumentam que não há caso de cristãos possuindo demônios no Novo Testamento. Só há casos de judeus. Vejamos: 1- Judas Iscariotes. Recebeu um espírito imundo. Satanás entrou nele. Ele agasalhou maus pensamentos e abriu a porta para a entrada do maligno. Judas era um dos doze. Ele esteve envolvido na obra de pregar o Evangelho, curar enfermos e expulsar demônios. 2 - Ananias e Safira. Eram contados entre os crentes, mas entretiveram pensamentos de mentira e abriram seus corações para Satanás os encher. (Valnice Milhomens, Batalha Espiritual, p. 55.) É verdade que Judas foi possesso, pois a Bíblia declara que Satanás

entrou nele (Lc 22:3). Agora dizer que ele foi um cristão é forçar demais o texto bíblico, e nem foi essa a opinião do Senhor sobre ele. O próprio Jesus disse que Judas era um diabo: "Não vos escolhi eu em número de doze? Contudo um de vós é diabo" (Jo 6:70. Claro que Jesus estava falando no sentido simbólico e não literal. É como se Judas fosse o diabo). Jesus fez distinção entre Judas Iscariotes e os demais discípulos ao dizer-lhes: "Ora, vós estais limpos, mas não todos. Pois ele sabia quem era o traidor. Foi por isso que disse: Nem todos estais limpos" (Jo 13:10, 11). A Bíblia afirma ainda que Judas era ladrão (Jo 12:6). Ensinar que Judas foi cristão seria até uma ofensa aos demais discípulos. Mesmo que Judas tenha se envolvido na obra de pregar o Evangelho, curar enfermos e expulsar demônios, isto não faria dele um cristão. O Senhor Jesus ensinou que muitos fariam prodígios e profetizariam em seu nome, sem contudo receber sua aprovação. Veja o que o Senhor disse sobre tais falsos profetas: "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! porventura não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi explicitamente: Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade" (Mt 7:21-23). Quanto a Ananias e Safira (At 5:1-10), tudo indica que eles eram de fato cristãos. Por outro lado, não existe base bíblica para se afirmar que eles ficaram possessos. O texto diz que foi Ananias quem mentiu e teve que assumir toda a responsabilidade pelo seu pecado. Como explicou alguém: Satanás, o "pai da mentira" (Jo 8:44), influenciou o coração de Ananias para mentir. Se Ananias tivesse ficado possuído por um demônio ou Satanás, teria sido Satanás dentro dele quem estaria mentindo, e a solução teria sido expulsar Satanás. Ananias seria apenas uma vítima inocente e não o autor do ato que a Bíblia declara ter ele sido (Atos 5:4). Ananias estava no controle e foi responsabilizado pela sua ação, e não Satanás. Esta passagem deve ser melhor entendida como um exemplo de como Satanás usou o coração rebelde de um cristão como base de operação. (Thomas Ice e Robert Dean, Jr., A Holy Rebellion - Uma Rebelião Santa, p. 126.) Ora, se Ananias e Safira estivessem possessos, por que Pedro não

expulsou deles o mau espírito? O que teria acontecido com Pedro? Ele que expulsava demônios e curava enfermos (Mt 10:1-8 e Lc 10:1-17), agora, depois de Pentecostes, depois da descida do Espírito Santo e de ser revestido do poder do alto não é mais capaz de fazê-lo? Com certeza, se Ananias e Safira estivessem possessos, Pedro teria sido usado por Deus para expulsar o mau espírito. O reverendo Caio Fábio conta que certa vez foi chamado para expulsar o demônio de um pastor que vivia uma vida de desobediência a Deus. Depois de liberto, perguntou o que havia acontecido e se crente fica possesso. Essa foi a resposta do reverendo Caio Fábio: "Expliquei-lhe que pastor fica, crente não; presidente de denominação fica, crente não; gente que dá show em plataforma fica, crente não; crente batizado, selado no Espírito Santo da promessa, habitado pelo Senhor Jesus pode até ficar opresso, pressionado. O diabo pode tentar, induzir, cercar, angustiar, pode tocar na carne, mas possuir a consciência de um ser que foi comprado e lavado pelo sangue de Jesus, nunca! E se você ouvir dizer o contrário, repreenda, em nome de Jesus!" (Caio Fábio, Batalha Espiritual (Niterói, RJ., Vinde Comunicações, 1994), p. 157-8.) A Palavra de Deus informa que Paulo recebeu um espinho na carne, um mensageiro de Satanás, para esbofeteá-lo (2 Co 12:7) e que seus planos podiam ser impedidos por Satanás (1 Ts 2:18). Nem por isso ousará alguém dizer que Paulo em algum momento de sua vida de cristão tenha sido endemoninhado ou possuído por demônios. Assim, a Bíblia não ensina que um cristão pode ficar possesso ou ser habitado por um demônio. Pode, sim, ser atacado, oprimido de várias maneiras por demônios, mas não possuído por eles ou ficar endemoninhado. O inimigo no corpo Para justificar a expulsão de demônios de crentes, vários pregadores da batalha espiritual afirmam que o espírito mau não pode habitar no espírito do cristão, mas pode habitar na alma e no corpo. É o que dizem, por exemplo, Frank e Ida Mae Hammond, no livro Porcos na Sala, ao responder à pergunta: Como é que um cristão pode ter demônios? (...) O Espírito Divino passa a habitar no espírito humano na hora da salvação. Os espíritos

demoníacos estão relegados à alma e ao corpo do cristão. Os demônios afligem as emoções, a mente, a vontade e o corpo físico, mas não o espírito do cristão. A finalidade da libertação é tirar os demônios transgressores da alma e do corpo, a fim de que Jesus Cristo possa reinar também sobre estas áreas. (Frank e Ida Mae Hammond, Porcos na Sala (Mogi das Cruzes, SP, Editorial Unilit,1973), p. 132-3.) Da mesma forma ensina também uma autora, citando as palavras de um autor chamado Paul Tan: Assim como no templo, a presença de Deus estava no Santo dos Santos e não no lugar santo ou no átrio, também o Espírito Santo habita somente em nosso espírito e não em nosso corpo". Ela conclui: "O átrio é impuro (...) Assim como o átrio pode ser dado aos gentios, o corpo pode ser dado aos espíritos imundos. O que acontece nesse caso é que enquanto o Espírito Santo habita no espírito, demônios podem habitar na carne (...) Eles se escondem em algum lugar nos cantos. (Valnice Milhomens, Batalha Espiritual, p. 54.) A posição defendida aqui é baseada num conceito distorcido de Kenyon, o pai da Confissão Positiva, sobre a natureza do homem. Kenyon, Kenneth Hagin e outros da Teologia da Prosperidade ensinam que o homem é um espírito, que tem uma alma e habita num corpo. Tal posição não reflete o que a Bíblia ensina sobre a natureza do homem, pois o homem é um ser integrado de corpo, alma e espírito. Tanto o corpo quanto a alma e o espírito devem ser conservados irrepreensíveis para a vinda do Senhor Jesus. Paulo acrescenta ainda no mesmo versículo: "O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo" e isso inclui o corpo (veja 1 Ts 5:23). Como pode alguém ensinar que o demônio pode habitar no corpo do cristão quando a Bíblia afirma exatamente o contrário? Paulo declarou que o corpo do cristão é o templo do Espírito Santo e que Deus deve ser glorificado também através do nosso corpo (1 Co 6:19, 20 e Fp 1:20). O corpo é tão importante que o Senhor vai ressuscitá-lo um dia no futuro. Não está correto também, biblicamente falando, traçar paralelos entre gentios e demônios, pois a Palavra de Deus está cheia de promessas aos que não são judeus. A Abraão, Deus disse: "(...) em ti serão benditas todas as famílias da terra" (Gn 12:3). Uma das profecias messiânicas de Isaías

anunciou que o Senhor Jesus seria como uma luz para os gentios (42:6). Na carta aos romanos, Paulo fala das promessas de Deus aos gentios (15:8-12). Aos gálatas, ele explica: "Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti serão abençoados todos os povos" (3:8). Aos efésios, Paulo diz: "a saber, que os gentios são co-herdeiros, membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho" (3:6). Ao inaugurar o templo, Salomão orou: "Também ao estrangeiro, que não for do teu povo Israel, porém vier de terras remotas, por amor do teu grande nome, e por causa da tua mão poderosa e do teu braço estendido, e orar, voltado para esta casa, ouve, tu, dos céus, do lugar da tua habitação, e faze tudo o que o estrangeiro te pedir, a fim de que todos os povos da terra conheçam o teu nome, para te temerem como o teu povo Israel, e para saberem que esta casa, que eu edifiquei, é chamada pelo teu nome" (2 Cr 6:32, 33). Não demorou muito, a rainha de Sabá apareceu em Jerusalém para ver a riqueza e ouvir a sabedoria que Deus havia dado a Salomão, talvez até em resposta à oração de Salomão. Depois de tudo o que viu e ouviu, ela glorificou a Deus (2 Cr 9:1-8). Muitos anos depois, chegou a vez do eunuco de Candace, como relata Lucas: "Eis que um etíope, eunuco, alto oficial de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todo o seu tesouro, que viera adorar em Jerusalém, estava de volta, e, assentado no seu carro, vinha lendo o profeta Isaías" (At 8: 27, 28). Quando os demônios entram no corpo de uma pessoa, eles o fazem com a intenção de afligir, perturbar, causar males ao possesso e até de blasfemar, pois são espíritos rebeldes. Isso é muito diferente de um gentio entrando no átrio do templo para adorar, como aconteceu com o eunuco de Candace. Ele foi a Jerusalém com um coração inquiridor e humilde o suficiente para permitir que Filipe, um homem simples, lhe explicasse o texto de Isaías 53:7, 8. Bem comentou um irmão sobre essa questão de Deus habitar no espírito e o demônio habitar no corpo do crente: Quanto à comparação, não é razoável, pois, mesmo sendo certo que os pecadores tinham acesso ao pátio externo, não indica "habitação", nem impunham qualquer resistência a Deus, ou causavam danos, antes eram

purificados pela ministração do sacrifício. Tais pessoas não "ficavam escondidas", mas, pelo contrário, se revelavam como pecadores e buscavam reconciliação. (Trabalho do Major Paulo Rangel, do Exército de Salvação, intitulado O Evangelho da Prosperidade (São Paulo, junho de 1993), p. 4.) D. R. McConnell apresenta um valioso comentário sobre esta questão: O tricotomismo extremado da antropologia da Confissão Positiva, que identifica o "verdadeiro eu interior" do homem como fundamentalmente divino, residindo exclusivamente em seu espírito, num contraste radical em relação ao seu corpo e alma transmutados por poderes demoníacos, é muito mais característica da mitologia gnóstica do que o ponto de vista judaicocristão sobre o homem. (D. R. McConnell, ADiferent Gospel (Um Evangelho Diferente) (Peabody, MA, E.U.A., Hendrickson Publishers,1988), p. 123.) O que aconteceu com a conversão? Uma preletora de batalha espiritual fala num de seus livros de uma senhora, membro de uma igreja evangélica, que quando se convertera ao Senhor, há dez anos, foi com toda fé e entusiasmo a Jesus Cristo, mas não havia feito a quebra de vínculos com entidades a quem serviu no passado, dando todo o direito legal para fazerem da sua vida o que quisesse. Vivia opressa, comprometida com pecados de toda a espécie, especialmente com envolvimento na área sexual: mãe solteira por algumas vezes, vivia na época com uma pessoa que não era seu marido. "No nosso entender", diz a autora, "a falta de quebra dos vínculos fez com que ela não percebesse a gravidade do pecado em que estava envolvida e a levara a crer que ela estava bem". (Neuza ltioka, Fechando as Brechas (São Paulo, SP, Editora Sepal, 1994), p. 62-3.) Essa preletora relata ainda um outro caso: Uma outra senhora, apesar de ter tido um envolvimento profundo com o candomblé e ter até sido "mulher de Belzebu", quando se converteu, não quebrou os vínculos com os demônios (...) Chegou a se casar com um obreiro que logo tornou-se pastor. O marido, pastor que nunca tinha tido problema com o espiritismo, começou a mostrar sinais estranhos de envolvimento com as pombas-giras e começou a se prostituir. Ele enfrentava tentações

sobrenaturais na área de sedução sexual, caindo em adultério devido ao envolvimento pesado de sua esposa com diversas entidades (...) Quando finalmente conseguiu ser ministrada pessoalmente, teve de renunciar a mais de sessenta entidades com quem se envolvera nas suas consultas e conversas, oferecendo sacrifícios, fazendo trabalhos e até tornando-se "cavalo" de muitos deles. Ela quebrou as maldições hereditárias. Nos dois relatos mencionados acima, a autora fala de pessoas que, após a conversão, não haviam quebrado ainda os vínculos com os demônios. A impressão que se tem é a de que muitos que se envolvem no ministério de batalha espiritual estão substituindo a conversão pela libertação. O que é conversão, afinal? Quanto a conversão, um dicionário da Bíblia comenta: A conversão consiste na entrega própria àquela união com Cristo que é simbolizada pelo batismo: união com ele em sua morte, o que concede libertação da penalidade e do domínio do pecado; e união com ele na sua ressurreição dentre a morte, para que o crente viva para Deus por intermédio de Cristo e com ele ande em novidade de vida, por intermédio do poder do Espírito Santo que lhe vem habitar no íntimo. (R. P. Shedd , Editor em português, O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo, SP, Edições Vida Nova, vol. 1, p. 320.) Um certo ministério que atua na área de batalha espiritual afirma numa de suas apostilas: "Sem libertação não há salvação". (Apostila Estabelecendo Um Ministério Local de Libertação, São Paulo, SP, Missão Evangélica Shekinah, p. 6.) À luz da Bíblia, é exatamente o contrário, pois a conversão, ou a salvação em Cristo, é a base da libertação (a menos que haja um caso de possessão demoníaca). Toda pessoa convertida e que está em Cristo foi liberta do império das trevas e transportada para o reino do Filho do seu amor (Cl 1:13). A conversão implica sair das trevas para a luz, e ser convertido do poder de Satanás ao poder de Deus (At 26:18). A Palavra de Deus é suficiente para libertar, como afirmou o Senhor Jesus: "E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará (...) Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres" (Jo 8:32, 36). É muito estranho também a autora já mencionada aqui afirmar que a mulher com problemas espirituais chegou a afetar o marido, ao ponto de ele naufragar espiritualmente, quando a Bíblia ensina exatamente o contrário. Ao

dar instruções sobre a vida matrimonial, Paulo orientou: "Porque o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte os vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos" (1 Co 7:14). Tive o privilégio de levar minha mãe a Cristo e ela tornou-se uma serva de Deus muito fiel, e, devido às perseguições de meu pai, teve que pagar caro para seguir a Jesus. Meu pai se envolveu muitas vezes com o espiritismo, buscando um alívio para sua alma, algo que nunca alcançou ali. Com o passar do tempo, ele começou a desenvolver uma aversão muito grande pelo Evangelho, a ponto de recusar minhas visitas em sua casa e proibir minha mãe de freqüentar uma igreja evangélica. Por cinco anos, tive que ministrar a Ceia para minha mãe de forma escondida, sem que ele soubesse. Meu pai vivia constantemente sob opressão demoníaca e teve uma vida infeliz. Nunca vou me esquecer da firmeza de minha mãe, de sua paciência, de sua perseverança na oração e de sua fidelidade a Deus durante os vários anos de perseguições. Quatro meses antes de falecer, meu pai aceitou a Cristo e naquele breve período de tempo pudemos testemunhar a nova vida que o Senhor lhe deu. Ao contrário do exemplo da preletora de batalha espiritual, não foram as trevas que venceram a luz, mas a luz venceu as trevas, de acordo com a Palavra de Deus: "Filhinhos, vós sois de Deus, e tendes vencido os falsos profetas, porque maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo" (1 Jo 4:4). O Senhor, por sua graça e misericórdia, já me usou para expulsar demônios de alguns freqüentadores de igrejas evangélicas. Contudo, não posso afirmar que eram realmente cristãs. Para usar a frase de alguém: "O fato de uma pessoa estar na igreja não a transforma num cristão, como o fato de estar numa garagem não a transforma num carro". É preciso nascer de novo e viver em Cristo. Muitas vezes ouço alguém dizer que foi pregar num determinado lugar e uma quantidade de almas se converteu. Ora, não vemos conversões e, sim, decisões. Podemos ver as pessoas vindo à frente, ajoelhando-se diante do púlpito e até em lágrimas, mas somente o Senhor pode ver as conversões. A verdadeira conversão levará alguém a produzir os frutos do arrependimento, os frutos do Espírito, e a viver segundo a Palavra de Deus. É totalmente antibíblico expulsar demônio de uma pessoa que nasceu

de novo e que vive em Cristo. A Palavra de Deus dá total segurança ao crente fiel, pois o Filho de Deus se manifestou para destruir as obras do diabo (1 Jo 3:8), e "maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo" (1 Jo 4:4). João disse ainda: "Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado; antes, aquele que nasceu de Deus o guarda, e o maligno não lhe toca" (1 Jo 5:18). Ora, se o maligno nem pode tocar naquele que é nascido de Deus, como vai habitar nele? Biblicamente impossível. Em nenhum lugar a Bíblia fala de expulsar demônios de crentes. A provisão de Deus para o crente vencer a guerra espiritual não é libertação e, sim, resistência, como escreveu Tiago: "Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós" (Tg 4:7). Pedro também nos exorta a fazer o mesmo: "Resisti-lhe firmes na fé" (1 Pe 5:9). "Tá amarrado!" Antes era: "O sangue de Jesus tem poder!" Agora é: "Tá amarrado!". E como gostam de amarrar! Em muitas igrejas, amarram no início, no meio e no fim do culto. Amarram antes e depois de cada cântico. Como disse alguém: "Haja corda!" E não estão amarrando direito, pois a todo o momento o demônio "escapa" e eles têm que amarrar novamente. Assim, vão aparecendo, de tempo em tempo, fórmulas mágicas para derrotar o inimigo. Tal mania foi criada a partir de alguns textos bíblicos malinterpretados. Um deles é o de Mateus 12:22-29: "Ou, como pode alguém entrar na casa do valente e roubar-lhe os bens sem primeiro amarrá-lo? e então lhe saqueará a casa" (versículo 29). Nesta passagem, Jesus curou um homem endemoninhado (versículo 22), o que levou a multidão a dizer: "É este, porventura, o Filho de Davi?" (versículo 23). Isso não agradou os fariseus, que aproveitaram a ocasião para difamar o Senhor, dizendo que ele expulsava demônios pelo poder de Belzebu, príncipe dos demônios. Jesus responde que, se isso fosse verdade, o reino de Satanás estaria dividido e não subsistiria. Se Jesus está destruindo o reino de Satanás, então o que ele faz é pelo poder de Deus, não de Belzebu. Jesus fala sobre amarrar o valente para saquear-lhe a casa. Ora, para que alguém possa amarrar o valente, é preciso ser mais forte do que ele. É aí que entra Jesus. O desenrolar do plano da salvação, o nascimento, a vida, a morte e ressurreição de Cristo mostram a superioridade do Filho de Deus sobre o príncipe das trevas (1 Jo

4:4). Quando Jesus salva, liberta e transforma o pecador, ele está saqueando a casa do valente e Satanás não deixaria que seu reino fosse saqueado por alguém mais fraco do que ele. O propósito do texto é mostrar que Jesus é maior e mais forte do que Satanás e não de ensinar aos crentes que saiam por aí amarrando demônios. O conselho bíblico para o crente não é amarrar, mas resistir (Tg 4:7 e 1 Pe 5:8, 9). Cristo mesmo, o Rei dos reis, o Senhor dos senhores, o Leão da tribo de Judá que venceu, o Deus Forte de Isaías 9:6, e não Pedro, Paulo, Maria ou qualquer outro preletor de guerra espiritual é quem amarra Satanás. Outras passagens usadas são Mateus 16:19: "Dar-te-ei as chaves do reino dos céus: o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus" e Mateus 18:18: "Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra terá sido ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra terá sido desligado no céu". Quanto ao termo "terá sido ligado (...) terá sido desligado", Ryrie comenta: "O céu, não os apóstolos, é que inicia o ligar e o desligar, ao passo que os apóstolos anunciam tais coisas. Em João 20: 22-23, Jesus fala de pecados; aqui ele fala de coisas (i.e., práticas). Um exemplo das práticas determinativas dos apóstolos encontra-se em At 15:20". (A Bíblia Anotada de Ryrie, São Paulo, SP, Editora Mundo Cristão, p. 1208.) Dois outros autores oferecem um bom esclarecimento sobre essa questão de "ligar" (amarrar) e "desligar": O foco das passagens de Mateus 16:19 e 18:18 é sobre a palavra "ligar" (deo). Nesses contextos, a idéia de ligar e desligar tem a força de uma noção judicial de "proibir" e "permitir". Esta frase era usada nos dias de Cristo pelos líderes religiosos de Israel sobre o que era proibido (ligado) e o que era permitido (desligado). Portanto, Pedro e os apóstolos seriam os agentes humanos através de quem a entrada no reino de Deus seria negada ou permitida .(Thomas Ice e Robert Dean, Jr., A Holy Rebellion - Uma Rebelião Santa, p. 101-2) [Quanto a Mateus 18:18, ele acrescenta:] Jesus está dizendo que os crentes podem ter confiança de que quando eles excomungarem, de forma justa, alguém na Terra, estarão cumprindo a vontade de Deus já determinada no céu. Em ambas as passagens, nenhuma palavra se refere à idéia atual de amarrar Satanás ou demônios. Ao invés disso, essas referências têm a ver com o fazer a vontade celestial de Deus na Terra, exatamente como

já tinha sido estabelecida no céu. De fato, a idéia atual de ligar e desligar tem muito mais a ver com os métodos de expulsão e remoção de maldições ligados ao ocultismo do que com qualquer coisa relacionada com o cristianismo bíblico. Não faz muito tempo, um grupo de evangélicos foi até ao Vale do Anhangabaú, em São Paulo, marchou em volta do local, amarrou os demônios e decretou que o Vale era do Senhor Jesus. Mas, por alguma razão não funcionou, pois uns três dias depois, a Legião da Boa Vontade (uma seita espírita) fez ali no mesmo local uma concentração para vinte mil pessoas. Além disso, o Vale continua infestado de assaltantes, trombadinhas e prostitutas. Pregar o Evangelho, puro como ele é, sem acréscimos, foi e sempre será o método para se expandir o Reino de Deus e trazer homens e mulheres ao pé da cruz de Cristo. Espíritos territoriais A ênfase dada atualmente à batalha espiritual trouxe consigo a crença nos espíritos territoriais. Tal ensino defende que há demônios específicos sobre determinada área ou região geográfica que dificultam a pregação do Evangelho e o progresso da Igreja e até de uma cidade ou nação. Torna-se necessário então identificar tais espíritos maus e expulsá-los para que a vitória se concretize. Peter Wagner, professor do Seminário Fuller, em Pasadena, Califórnia, E.U.A., e um especialista em crescimento de igrejas, tem promovido em grande escala a crença em espíritos territoriais e várias outras novidades na área de batalha espiritual. No seu livro Oração de Guerra gastase um capítulo todo (capítulo cinco) defendendo tais conceitos. Wagner tem influenciado muita gente e ministérios nos Estados Unidos, Japão, Argentina e ultimamente no Brasil também. Segundo ele, Satanás delega aos membros de elevada posição da hierarquia dos espíritos maus o controle de nações, regiões, cidades, tribos, grupo de pessoas, vizinhanças e outros grupos sociais importantes de pessoas através do mundo. O principal trabalho deles é de impedir que Deus seja glorificado em seus territórios, o que eles fazem ao dirigir a atividade dos demônios nas posições inferiores.

Observe esta informação fornecida por Wagner: Não sei quantos maus espíritos existem ao redor do planeta Terra. Uma interessante coleção de números vem de Friday Thomas Ajah, um superintendente de Escola Dominical na igreja Assembléia de Deus em Oribe, Port Harcourt, Nigéria. Por nove anos, antes de sua conversão, ele foi um líder do ocultismo de elevada posição, tendo recebido do próprio Satanás o nome de São Tomás, o Divino. Ajah relata que Satanás havia lhe dado controle sobre doze espíritos, e que cada um desses espíritos controlava 600 demônios, num total de 7.212. Ele diz: "Eu estava em contato com todos os espíritos, controlando cada cidade na Nigéria, e eu tinha um santuário nas principais cidades". (Peter Wagner, Wrestling With Dark Angels (Confrontando com Anjos da Escuridão) (Ventura, Califórnia, E.U.A., Regal Books, 1990), p. 76.) Há algo preocupante nesse relato de Peter Wagner, pois a sua fonte de informação é o ocultismo, não a Bíblia. Isso é extremamente perigoso. Seria como alguém deixar a macumba, ir para uma igreja evangélica e tentar incorporar aos ensinos da Igreja aquilo que a pessoa sabia ou fazia antes de sua conversão. Tal sincretismo é inaceitável à luz da Bíblia. Há várias passagens usadas pelos pregadores da batalha espiritual para defender a territorialidade dos espíritos. As mais comuns são as de Isaías 14:12-14 e Ezequiel 28:12-19, em que a palavra dos profetas é dirigida ao rei de Tiro, podendo ser ao mesmo tempo uma referência a Satanás. Efésios 3:10 e 6:12 também estão entre os textos mais citados. Um dos textos usados por Wagner para defender a territorialidade dos espíritos é Daniel 10, que descreve a luta entre os anjos de Deus e o príncipe da Pérsia (Dn 10:13). Esta é a sua opinião: Essa história pouca dúvida deixa de que os espíritos territoriais influenciam grandemente a vida humana, em todos os seus aspectos sociopolíticos. E também mostra-nos claramente que a única arma de que Daniel dispunha, a fim de combater aqueles poderes das trevas, era a oração de guerra. (Peter Wagner, Oração de Guerra, la ed. (Mogi das Cruzes, SP, Editora Unilit), p. 64.) Gerry Breshears, professor de teologia no Western Seminary, em

Portland, Estado de Oregon, nos E.U.A., oferece um interessante comentário sobre a territorialidade dos espíritos: Alguém vai procurar em vão pelo trabalho de estratégia de guerra espiritual nessas passagens - ou mesmo em qualquer lugar da Bíblia. Embora Daniel apóie a idéia de identificação territorial de certos anjos, especialmente no capítulo 10, ele não apóia qualquer tipo de envolvimento humano numa guerra angelical. Longe de encontrar Daniel envolvido em oração de guerra, discernindo e orando contra espíritos regionais, vamos encontrá-lo frustrado pela ausência de resposta à sua oração a Deus. Daniel encontra-se totalmente alheio à batalha angelical até a explicação apologética do anjo para a demora da resposta de Deus à sua oração. A visão de Deus (capítulos 11 e 12) não é de uma guerra nos reinos angélicos, mas do surgimento e queda dos reinos ímpios do mundo até a vitória final de Deus. A visão foi dada a Daniel não em resposta a um pedido ou através de discernimento espiritual, mas em resposta à sua fé pessoal e amor a Deus (...) O papel de Daniel é encorajar o povo, lembrando-os profeticamente de que Deus vencerá as forças do mal no tempo determinado. Esta vitória acontecerá quando o Messias de Deus destruir os reinos ímpios como uma pedra, esmiuçando a estátua e enchendo toda a Terra (2:34, 35), quando alguém semelhante ao Filho do Homem aniquilar o domínio do maligno para sempre (7:10-28). Não há qualquer alusão quanto a discernir, amarrar ou orar contra os espíritos maus cósmicos. (Gerry Breshears, artigo publicado no Journal of the Evangelical Theological Society (março de 1994), p. 14.) O texto de Marcos 5, que relata a libertação do gadareno, é usado por muitos também para defender a territorialidade dos espíritos. Ao serem expulsos por Jesus, os demônios lhe pediram que os não mandasse para fora do país (Mc 5:10). Afirmam os pregadores da batalha espiritual que o fato de os espíritos pedirem a Jesus que os não mandasse para fora do país fornecelhes apoio para o ensino de espíritos territoriais. Ora, o texto de Marcos 5:10 deve ser entendido à luz de um texto paralelo, o de Lucas 8:31. Em Lucas, Jesus ameaçava mandá-los para o abismo e esta pode ter sido a causa de preferirem ficar naquela região. Quanto a Efésios 3:10 e 6:12, Breshears comenta ainda: Efésios 3:10 não ensina que a Igreja anuncia a mensagem a poderes

demoníacos. O verbo principal (gnoristhe, "para que se torne conhecida") é passivo. Ao invés do envolvimento ativo na guerra contra as potestades espirituais, a própria existência da Igreja expõe a impotência do domínio das trevas para impedir o trabalho de Deus. Embora exista a menção de uma variedade de maus espíritos em Efésios 6, não há qualquer insinuação ou estímulo para se discernir hierarquias. A ênfase de Paulo não permite especulação esotérica sobre a natureza, nomes ou funções dessas potestades demoníacas. Sua posição é de que o Evangelho fornece tudo o que é necessário para resistir a atividade tentadora das forças espirituais das trevas. A batalha em Efésios não é territorial, mas pessoal. Mapeamento espiritual A crença na territorialidade dos espíritos introduziu um elemento novo no assunto da guerra espiritual: o mapeamento espiritual. De acordo com um casal de missionários, mapeamento espiritual é a reunião de informações no mundo visível que pode nos auxiliar a entender o que fica abaixo da superfície, nas dimensões espirituais (...) O mapeamento espiritual pode nos ajudar a entender os aspectos invisíveis, tanto do Reino da Luz, quanto do Reino das Trevas. (Lourenço e Estefânea Kraft, Espiando a Terra: Como Entender Sua Cidade. São Paulo, SP, Editora Sepal, 1995, p. 40-2.) Citam também a definição de Harold Caballeros, da Guatemala: "É a revelação de Deus sobre a situação espiritual do mundo em que vivemos. Essa é uma visão que transcende nossos sentidos naturais e, pelo Espírito Santo, nos revela as hostes espirituais das trevas”. Esses autores sabem que o assunto de mapeamento espiritual é controvertido, como eles mesmos declararam no livro: "Muitas pessoas encaram mapeamento espiritual como um tipo de atividade mística, esotérica, quase espírita. Isto tem resultado em muita controvérsia sobre a validade de mapeamento espiritual como um estratagema evangelístico e missiológico". No apêndice 1 do livro, os autores apresentam uma lista de perguntas extraídas de uma obra de Peter Wagner (um autor muito controvertido hoje), para se fazer o mapeamento espiritual. Eis algumas: - Qual o significado do nome original da cidade? - O nome foi mudado?

- Existem outros nomes ou denominações populares da cidade? - Estes nomes significam algo? - Significam bênção? Maldição? - Fazem destacar o dom redentor de Deus para a cidade? - Eles refletem o caráter do povo da cidade? Para defender o ensino de mapeamento espiritual, o casal cita o exemplo da cidade de Parati, no Rio de Janeiro. De acordo com estes autores: A cidade foi fundada como uma plataforma para aventureiros gananciosos em busca de ouro e pedras preciosas em Minas Gerais e em seus cumes hospedavam-se os traficantes de escravos e os comerciantes de tabaco e pinga (...) Nestes dias, mais de trezentos anos depois, Parati ainda é conhecida como a "Capital da Cachaça" do Brasil e certamente do mundo. Infâmia deste tipo pode dar a Satanás a oportunidade de trabalhar em nossas comunidades. Se aplicássemos o exemplo de Parati em Paris, poderíamos dizer que a capital da França e os seus moradores vão muito bem espiritualmente, pois Paris é conhecida como a "Cidade Luz". Poderíamos dizer o mesmo também do Rio de Janeiro, que a cidade não tem os problemas ou os pecados que lhe são atribuídos, pois o Rio é conhecido como a "Cidade Maravilhosa". Salvador, um nome tão bíblico e com um significado espiritualmente fantástico, deveria fazer da capital da Bahia o centro evangélico do Brasil. Entretanto, a cidade tornou-se o centro do culto afro da nação. E o que dizer do Estado do Espírito Santo, cuja capital é Vitória. Com esses nomes, não deveria ser um paraíso de santidade? No entanto, não é o que acontece. Há muitos outros exemplos assim. Uma certa autora diz ainda: A Igreja, como extensão de Cristo, cabe submeter determinadas regiões geográficas ao controle do verdadeiro Senhor. A conseqüência deste ato é a receptividade sem precedente do Evangelho. A sujeição de um determinado local ao Senhorio de Jesus Cristo e o destronamento dos principados e potestades devem ser acompanhados de pregação da Palavra. (42. Neuza Itioka, Fechando as Brechas (São Paulo, SP, Editora Sepal, 1994), p. 56.)

Ora, não se destrona principados e potestades para depois pregar a Palavra de Deus, mas primeiro se prega a Palavra, pois ela, sim, tem o poder para vencer as potestades malignas. Foi por meio da pregação da Palavra de Deus, e não de rituais de destronamento, que Deus realizou uma grande obra em Éfeso (veja At 19:1-20). Os versículos 8, 9, 10 e 20 mostram que a Palavra de Deus prevalece. A idéia de que temos de submeter regiões geográficas ao Senhor Jesus decorre da crença de muitos de que, com o pecado deAdão, Deus perdeu o controle e a posse deste mundo. Entretanto, isso não é correto à luz da Bíblia. De quem é a Terra? A Bíblia responde: "Ao SENHOR pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam" (Sl 24:1). Pertence a Deus porque foi ele quem criou (Jo 1:3; Cl 1:16) e é ele quem sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder (Hb 1:3). Embora Satanás tenha prometido dar a Jesus os reinos do mundo, quem garante que ele estava dizendo a verdade? Jesus disse que ele é pai da mentira (Jo 8:44) e, ao tentar Eva, mentiu quando lhe disse que não morreria se comesse do fruto proibido por Deus (Gn 3:4). Satanás é chamado o deus deste século (2 Co 4:4). De acordo com a Chave Lingüística do Novo Testamento Grego, o termo aion, nesta passagem, "refere-se a toda aquela massa de pensamentos, opiniões, máximas, especulações, esperanças, impulsos, objetivos, aspirações correntes a qualquer época no mundo" (Fritz Rienecker/Cleon Rogers, Chave Lingüística do Novo Testamento Grego (São Paulo, SP, Ed. Vida Nova, 1988), p. 342.) e não ao mundo físico. Quanto a expulsão de demônios de regiões geográficas, o pastor Ricardo Gondim comentou com sabedoria: A expulsão de demônios de uma área geográfica parece muito mais uma ação que acontece através de um avivamento da Igreja que avança com seu poder de influenciar e converter pessoas e sociedades, que uma ordem que se dê aos principados e potestades. (Ricardo Gondim, Os Santos em Guerra (São Paulo, SP, Ed. AbbaPress, 1993), p. 174.) É importante observar que não se encontram tais ensinos no Novo Testamento. O Senhor Jesus nunca instruiu os seus discípulos sobre espíritos territoriais ou mapeamento espiritual quando os enviou às cidades e aldeias para evangelizar (Mt 10:1-14). Nenhum escritor no Novo Testamento deu

qualquer instrução quanto a isso. Veja o apóstolo Paulo por exemplo. Ao escrever aos gálatas, informou-lhes: "Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem; porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo" (Gl 1:11, 12). Quando Paulo esteve em Mileto, mandou chamar os anciãos de Efeso, pois queria falar-lhes. Entre várias coisas, Paulo lhes declarou: "Porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus" (At 20:27). Se o ensino da territorialidade dos espíritos fizesse parte do Evangelho que lhe foi revelado pelo Senhor, ele o teria ensinado, pois, como disse aos anciãos de Éfeso, ele nunca deixou de anunciar todo o desígnio de Deus. Depois de chegar a Filipos, Paulo foi seguido por uma jovem possuída por um demônio que a fazia adivinhar (At 16:16, 17). Ora, se Paulo estivesse envolvido com a crença de espíritos territoriais e se tal ensino fosse bíblico, ele teria orado antes de chegar a Filipos, já teria identificado o espírito mau da região, já o teria amarrado, e teria entrado na cidade sem enfrentar qualquer oposição ao seu labor evangelístico. Porém, não foi isso o que aconteceu. Paulo enfrentou o demônio, expulsou-o e ainda encontrou muita oposição ao seu trabalho missionário em Filipos. Observe que Paulo nunca deu instruções aos irmãos para que descobrissem quem era o espírito territorial de Roma ou de qualquer outra região. Sem dúvida, a crença na territorialidade de espíritos não fazia parte dos ensinos de Paulo. Eric Villanueva foi meu colega de classe no seminário teológico Gordon-Conwell, nos Estados Unidos e viveu uma experiência interessante em relação a esse assunto. Eric conta que foi convidado a participar de uma reunião semanal de oração para amarrar Satanás na área da baía de San Francisco, nos Estados Unidos, para trazer santidade à vida pública daquela região e destronar dali o espírito de homossexualismo através da batalha espiritual. Buscava-se estabelecer a piedade cristã no sistema educacional, na política e na mídia. Eric relata: Fiquei feliz ao aceitar o convite de participar, mas quando saí da reunião, estava perplexo. Havia pensado que seria uma reunião de oração intercessória, mas, ao invés disso, a hora foi gasta em repreender Satanás em todas as regiões celestiais superiores, dirigindo diretamente a ele em voz alta o "amarrar". Um pensamento me assaltou: "Este grupo passa mais tempo

falando com Satanás que com Deus." Desde então, este estilo de batalha espiritual tem proliferado, enquanto o sistema educacional, a política regional, a mídia e principalmente o movimento homossexual têm-se afastado mais e mais dos objetivos deste tipo de reunião de oração. Tanto bíblica quanto historicamente, as batalhas espirituais são vencidas por viver para Deus e falar com ele na mais diligente intercessão, ao invés de falar com Satanás. (Eric Villanueva, artigo publicado no Christian Research Journal (verão de 1992).) Eric tem razão. Nós não temos vivido atualmente nem os vestígios de alguns avivamentos ou movimentos soberanos de Deus acontecidos no passado, seja na Inglaterra com João Wesley, na Nova Inglaterra (E.U.A.) com Jonathan Edwards, em 1745, ou no país de Gales com Evan Roberts, no início deste século. Em todos esses movimentos de Deus, o centro das atenções era o Senhor, não Satanás. Quanto a isso, a Palavra de Deus tem a melhor receita: "olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus" (Hb 12:2). Pode ser dito então que a vida espiritual não consiste em uma preocupação doentia com o inimigo, mas numa contemplação contínua da face do Senhor. Informações extrabíblicas Esse é um terreno extremamente perigoso. Quando alguém, por falta de base bíblica, começa a ensinar, apoiado em revelações, nunca se sabe até onde a pessoa vai chegar. Falando de guerra espiritual, são abundantes as novidades encontradas em livros, cassetes, vídeos e em preleções de simpósios de batalha espiritual sobre Satanás, nomes de demônios, experiências e estratégias de confronto espiritual que nada têm a ver com a Palavra de Deus. Tudo o que Deus quis que soubéssemos em relação a qualquer aspecto da nossa vida espiritual (inclusive batalha espiritual) encontra-se na Bíblia Sagrada. Paulo declarou quando escreveu a Timóteo: "Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra" (2 Tm 3:16, 17). Aos Romanos Paulo diz: "Pois tudo quanto outrora foi escrito, para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência, e pelas consolações das Escrituras,

tenhamos esperança" (Rm 15:4). Por isso, o cristão deve contentar-se com aquilo que Deus revela em sua Palavra sobre Satanás, seus anjos e batalha espiritual. E tudo o mais. A Bíblia apresenta vários títulos que descrevem o caráter e as atividades do inimigo. Eis alguns exemplos: ele é chamado de Lúcifer (em latim, portador de luz), em Isaías 14:12; Satanás (adversário), em Jó 1:6 e Mateus 4:10; diabo (o acusador), em João 8:44; o deus deste século, em 2 Coríntios 4:4; Belzebu (que significa "senhor das moscas", "senhor das alturas" ou "senhor da casa", tido como maioral dos demônios), em Mateus 12:24; Tentador, em Mateus 4:3; Príncipe deste mundo, em João 14:30; Maligno, em 1 João 5:18; Abadom (em hebraico) e Apoliom (em grego), em Apocalipse 9:11, cujo significado é "destruição"; dragão, em Apocalipse 12:9 e a antiga serpente, também em Apocalipse 12:9. Muitos preletores que atuam na área de demonologia parecem não se contentar com o que a Bíblia informa sobre o assunto e estão sempre em busca de novidades ou fatos curiosos sobre o inimigo. Infelizmente, a informação depois é passada para o público como verdade espiritual, gerando assim muita controvérsia no Corpo de Cristo. Peter Wagner relata que entrou em contato com esta forma de guerra espiritual (identificar os espíritos territoriais) quando viajou pela Argentina em companhia de Omar Cabrera. É dito ainda que a natureza altamente intuitiva de Cabrera não permitiu que ele analisasse para Wagner os princípios por trás de tal ministério. (Peter Wagner, Wrestling With Dark Angels - Confrontando com Anjos da Escuridão, p. 84.) "Muito estranho! Como pode Deus revelar (suponhamos que ele tenha revelado) uma arma tão poderosa de guerra espiritual a alguém e essa pessoa não ser capaz de passála a outros? Não faz sentido! Outros autores argentinos, tais como Edgar Silvoso e Carlos Anacondia, já atraíram também vários brasileiros para ensinos nada recomendáveis em relação à guerra espiritual. Nomes nunca ouvidos Peter Wagner menciona ainda Rita Cabezas que, segundo ele, tem feito uma considerável pesquisa sobre nomes nos mais altos níveis da hierarquia de Satanás. Wagner evita descrever os métodos de pesquisa de Rita, mas diz que no início eles estavam ligados com sua extensiva prática

psicológica e de libertação, passando depois a receber palavras de conhecimento por revelação. Peter Wagner relata: Ela descobriu que diretamente sob Satanás estão seis principados mundiais chamados Damian, Asmodeo, Menguelesh, Arios, Belzebu e Nosferasteus. Sob cada um, diz ela, há seis governadores sobre cada nação. Por exemplo, os que estão sobre Costa Rica são Shiebo, Quiebo, Ameneo, Mephistopheles, Nostradamus e Azazel. Os que estão sobre os Estados Unidos são Ralphes, Anoritho, Manchester, Apolion, Deviltook e um anônimo. A cada um desses governadores tem sido delegada uma área do mal. Por exemplo, a lista sob Anoritho inclui abuso, adultério, alcoolismo, fornicação, glutonaria, ganância homossexualismo, lesbianismo, concupiscência, prostituição, sedução, sexo e vício; enquanto sob Apoliom encontramos agressividade, morte, destruição, discórdia, desacordo, rancor, ódio, homicídio, violência e guerra. Nenhum desses acima é considerado como conclusão final, pois a pesquisa ainda está em processo. Achei estranho colocarem Nostradamus em Costa Rica, pois faria mais sentido na França. Outros nomes fornecidos por Peter Wagner no seu livro Oração de Guerra são San La Muerte, Pombero e Curupi. (Peter Wagner, Oração de Guerra, 1☐ ed. (Mogi das Cruzes, SP, Editora Unilit), p. 31.) Muitos desses nomes foram aprendidos depois de submeter os demônios a juramento, perguntando pelos seus nomes. Assim, não se trata apenas de revelação extrabíblica, mas também de revelação demoníaca. Demônios coloridos Uma preletora de batalha espiritual fala até de um demônio de cor grená e de um espírito de aborto em forma de sapo, cor cinza-claro. Ela relata ainda como recebeu informações sobre o demônio Minotauro ou Tauro: Recebemos as revelações no dia 3-11-90, quando fomos fazer um trabalho de libertação na casa de uma pessoa, e o Minotauro e o Centauro dominavam e controlavam outro demônio de casta muito baixa, chamado "Amoran" - tipo de uma lesma que atua nos homossexuais. São destituídos de inteligência (...) Só pode ser exterminado dividindo-se em dois ou queimando com o "Fogo do Espírito Santo"; não se expulsa, pois ele não entende a

linguagem dos humanos. (MatikoYamashita, Batalha Espiritual – apostila Ministério de Libertação El Shadai, sem data, p. 36, 37, 39.) Há outras informações tão grotescas que é melhor não mencioná-las aqui. Alguns "ministros de libertação" ensinam que, ao se expulsar um espírito mau, é necessário saber o seu nome correto para que a libertação se efetue. Se alguém expulsar Maria Molambo (entidade do culto afro) e se não é ela quem está na pessoa, mas, sim, Maria Padilha (outra entidade do culto afro), não funciona. Ora, isso é reconhecer um panteão mitológico, pois à luz da Palavra de Deus, não existe Pomba-Gira, Maria Padilha, Maria Mulambo, Iemanjá, Oxalá ou qualquer tipo de Exu. À luz da Bíblia todos são demônios. Se alguém insiste em crer assim, logo vai querer expulsar também o espírito de Papai Noel, gnomos, duendes, Afrodite, Vênus, Zeus, Marte, Saturno, deuses mitológicos e figuras da superstição popular. (Para um estudo sobre os cultos afros à luz da Bíblia, recomendo o livro O Império das Seitas, de Walter Martin, vol. 4, Editora Betânia, p. 155.) Mas a lista não pára por aí. Há também Brumaus, Tremus, Aurius, Cumba, Ismaichia, Krion, Kruonos, Sinfiris e muitos outros. Tem até demônio com nome de Joaquim. Que ofensa para tantos homens de Deus com o mesmo nome! O incrível é que esses nomes e informações foram obtidos através de entrevistas e diálogos com os demônios no ato do exorcismo. Logo, tratam-se de revelações demoníacas e não bíblicas, não tendo muita diferença com as obtidas numa sessão espírita. Muitas apostilas foram distribuídas por esse Brasil afora e algumas com até trezentos nomes de demônios. Entretanto, tais. informações estão mais para as mitologias gregas, romanas, Cabala (a superstição ou esoterismo judaico), literatura apócrifa ou para os nomes de mestres cósmicos da Nova Era do que para a Bíblia Sagrada. Demônios malcheirosos Outras informações chegam a ser surpreendentes. Tem até aqueles que conseguem sentir o cheiro dos demônios. É o que contam Frank e Ida Mae Hammond:

Uma outra faceta das manifestações demoníacas é a dos cheiros. Lembro-me de uma vez em que estávamos ministrando numa casa pastoral. A casa ficou tomada por um malcheiro parecido com o de repolho cozinhando que, para mim, é um cheiro ruim. Numa outra ocasião, eu estava expulsando um demônio de câncer. Ele saiu acompanhado por um cheiro distinto, igual ao que encontramos num hospital de câncer. Quando os demônios são expulsos, normalmente saem pela boca ou pelo nariz. Os espíritos estão associados à respiração. Sem dúvida, a manifestação mais comum é tossir. A tosse pode ser seca, mas em geral é acompanhada de catarro. Outras manifestações pela boca incluem: choro, grito, suspiro, arroto e bocejo. (Frank e Ida Mae Hammond, Porcos na Sala, Mogi das Cruzes, SP, Editora Unilit, p. 53.) Nota-se aqui mais um exemplo de transformar experiências em verdades espirituais. Relações sexuais perigosas Bill Subritzky diz que freqüentemente observa que os demônios ficam na saliva e, por isso, o Espírito Santo o encoraja a fazer a pessoa cuspir. Mas Bill tem mais ainda para contar: O umbigo é muitas vezes um ponto de entrada para o poder demoníaco. Ele poderá usá-lo, descendo pelo cordão umbilical antes ou durante o nascimento. Os espíritos malignos já me disseram que entraram através de sêmen masculino na mulher, e daí pelo cordão umbilical para dentro da pessoa a quem eu ministrava. (Bill Subritzky, Demônios Derrotados, Adhonep, p. 134, 186.) Isso já é demais! Não há qualquer base bíblica para tal informação. Quem leva a sério a Palavra de Deus não pode crer, ensinar ou publicar algo assim. Ora, se fosse verdade que os espíritos malignos entram na mulher através do sêmen do homem, a solução seria fácil. Bastaria usar preservativo. Invocação de demônios Em alguns círculos ditos evangélicos, os pregadores da libertação

chegam a instigar os demônios para que se manifestem, dando-lhes ordens como: "Comece a manifestar aí, Exu Tranca-Rua, comece a manifestar, Exu Caveira", (...) e uma lista de nomes de orixás da umbanda e do candomblé são mencionados. Parece até ser uma reunião de invocação aos demônios. Não vemos tal modelo na Bíblia. Nem Jesus nem os discípulos mandaram os demônios se manifestarem. As manifestações demoníacas na Bíblia foram espontâneas (veja Mc 1:23, 24; 3:11). A simples presença de Jesus era o bastante para que o inimigo se manifestasse. O mesmo acontecia com os discípulos. Quando esteve em Filipos, Paulo não mandou que o espírito que possuía uma jovem se manifestasse. Muito ao contrário, sentiu-se incomodado com as suas declarações e o demônio foi expulso (At 16:17, 18). Basta a presença do Senhor na Igreja ou na vida do cristão para o inimigo ficar incomodado. O culto cristão deve ser centralizado no Senhor. O objetivo principal do povo de Deus ao se reunir é adorar a Deus em espírito e em verdade. Todo esforço deve ser feito para que haja crescimento no conhecimento do Senhor e da sua Palavra e na comunhão do corpo de Cristo. Sem dúvida, num ambiente cristão saudável deve-se dar atenção a todas as necessidades do ser humano, sejam elas espirituais, emocionais ou físicas, desde que dentro dos limites estabelecidos pela Palavra de Deus. Obras da carne ou demônios? Ao se examinar a lista existente hoje no mercado com os nomes dos espíritos maus, pode-se encontrar nela os demônios da prostituição, imoralidade, ciúme, inveja, alcoolismo, glutonaria, ira, idolatria e vários outros. (Bill Subritzky, Demônios Derrotados, Adhonep, p.134. Veja também a apostila de MatikoYamashita, Batalha Espiritual, p. 41-2.) Ora, isso não são demônios. São atitudes carnais, pecados ou obras da carne, conforme descritos por Paulo em Gálatas 5:19-21. Embora os demônios se aproveitem das brechas que lhes são dadas pelos crentes, não adianta ficar colocando a culpa neles o tempo todo. A vitória sobre o mal é certa através da conversão, da santificação, quando o crente passa a produzir o fruto do Espírito que é "amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio" (Gl 5:22, 23), ao cultivar a vida espiritual e crucificar a carne com

suas paixões e concupiscências. Paulo teve um ministério frutífero e uma vida que serve de exemplo para todo cristão enquanto a Igreja estiver na Terra. Grande parte de suas atividades teve muito a ver com a batalha espiritual. Apesar de Paulo não desconhecer os desígnios ou os ardis de Satanás (2 Co 2:11), pois foi um especialista em guerra espiritual, não há na Bíblia ensinos de Paulo sobre espíritos territoriais, amarrar demônios, nomes extrabíblicos de demônios e muitas outras superstições demonológicas existentes hoje. Bem alertou o salmista: "Ora, destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?" Aqui reside o grande perigo. Se não houver parâmetros bíblicos, nunca se sabe até onde vão chegar os desvios doutrinários e a paranóia da guerra espiritual. Todo cristão precisa terem mente também que a maior batalha espiritual que ele pode desenvolver é manter a sua comunhão com Deus. Salvo por Jesus Nasci num lar tradicionalmente católico e, desde a infância, estive envolvido com a Igreja, ajudando a celebrar a missa e várias outras atividades. Mais tarde, fui para o seminário, onde passei cinco anos preparando-me para o sacerdócio, o que era meu grande sonho. Lembro-me da sede espiritual que me dominava naquela época de seminarista católico. Quantas vezes coloquei pedrinhas dentro de meus sapatos, e rezei ajoelhado em cima de grãos de milho. Dormia debaixo da cama, passava dois ou três dias sem tomar água, fazendo sacrifícios para agradar a Deus, a exemplo dos santos na era medieval. Isso não me foi imposto pelos padres. Era algo que eu fazia espontaneamente. Quando faltavam dois anos para tornar-me noviço, percebi que não era aquilo que eu queria. Foi difícil deixar o seminário, pois tanto os padres como os colegas achavam que eu realmente tinha uma genuína vocação para o sacerdócio. Meu pai nunca foi interessado pelos valores espirituais. Entretanto, houve um tempo em sua vida em que as coisas começaram a caminhar de forma negativa. Ele começou a receber visitas de espíritos, em seu quarto, quase todas as noites. No princípio ele temia essas experiências. Eu o escutava durante as noites falando com os espíritos, e às vezes na manhã seguinte, queixando-se com minha mãe: "Não pude dormir esta noite. Os espíritos vieram e me incomodaram. Não pude dormir".

Com o passar do tempo, meu pai deixou de ter medo dos espíritos. Até começou a conversar com eles, e muitas vezes o escutei dizer algo como: "Quem são vocês? Como se chamam? Que desejam de mim? O que posso fazer por vocês para que me deixem em paz?" Meu pai chegou a ser mais e mais atrevido com esses espíritos. Começou a ser grosseiro e brusco com eles, e com o tempo dizia coisas como: "Deixem-me só! Vão para o inferno!" Já não conseguia trabalhar direito e ficou profundamente deprimido. Isto o levou a envolver-se com o espiritismo. Começou a peregrinar de um centro a outro uma prática que durou cerca de 30 anos. Quanto mais ia a esses centros, pior ficava. Logo comecei a sentir-me afetado também por tudo isso. Comecei a receber visitas de espíritos em meu quarto. Podia escutar seus passos à noite pela casa. Sabia exatamente onde eles estavam na casa - em outro quarto, na cozinha, ou na sala. Podia ouvir seus passos que vinham em direção a meu quarto. Podia escutar abrirem a porta e sentir que havia alguém mais comigo no quarto. Não podia vê-los, contudo sentia claramente sua presença espantosa, diabólica junto a mim. Durante essas ocasiões, um medo paralisante me sobrevinha de modo insuportável. Minha vida chegou a ser dominada pelo temor. Apesar do intenso calor durante o verão, mantinha-me debaixo dos cobertores. Ainda que nessa condição suasse profusamente, mantinha-me assim, tal era o meu medo. Isso durou não apenas algumas semanas, mas por vários anos. Finalmente, tive que mudar minha cama para o quarto de meus pais, pois não conseguia mais dormir a sós em meu quarto. Meu pai e eu começamos então a compartilhar experiências noite adentro. - Você ouviu isso filho? - Sim, eu escutei! - Ouviu isso de novo? - Sim! O relacionamento entre meu pai e mim foi sempre precário. Um dia ele me "convidou" para ir embora de casa. Por causa disso fui para São José dos Campos e lá consegui um trabalho na Embraer, uma fábrica de aviões. Trabalhei ali quase oito anos. Quando comecei meu novo emprego, um rapaz da Assembléia de Deus, o Luiz Cláudio, veio compartilhar comigo as boas

novas do Evangelho. Lembro-me da primeira vez em que ele tentou me evangelizar. Fiz algo para desanimá-lo de uma vez para sempre. Perguntei-lhe: - Você é formado em quê? Estudou teologia e filosofia? Ele me disse que não, e logo passei a humilhá-lo, dizendo: - Você não está à altura de me ensinar religião. Eu passei cinco anos num seminário católico, estudei teologia e muitas outras matérias. Se você quer discutir filmes ou futebol, tudo bem; mas religião não! Você não está à altura de falar-me sobre isso. Naquela noite, o Luiz Cláudio foi a sua igreja, escreveu meu nome num pedaço de papel e entregou-o ao líder da igreja, com a seguinte informação: - Vamos orar pelo Paulo Romeiro. Ele parece um demônio, porém Deus pode mudá-lo. E oraram por mim. Depois eu comecei a ler uma Bíblia católica que minha irmã Terezinha havia deixado no meu quarto de pensão. Houve uma época em que eu lia muito o Evangelho de João, capítulos 13 a 17 e brotou dentro de mim uma sede intensa pela Palavra de Deus. Muitas vezes eu chorava enquanto lia. O Espírito Santo já estava trabalhando em meu coração. Algum tempo depois, Cláudio me convidou para ir à igreja e fui com ele numa quinta-feira à noite. Era uma igreja da Assembléia de Deus e confesso que não gostei do culto devido às manifestações de louvor a Deus. Depois eu quis ir com ele a um culto de Ceia, pois estava curioso para saber como é que os crentes tomavam a "comunhão". No dia seguinte era um domingo e, à tarde, fui ver o filme Ben-Hur. Este filme teve um impacto profundo em mim. Num certo instante do filme, quando um oficial romano levantou o chicote para baterem Jesus por ter dado água a Bem-Hur, Jesus simplesmente olhou para o romano e ele ficou totalmente sem ação. Naquele momento, senti-me sacudido e, enquanto a imagem de Jesus estava projetada na tela, ouvi uma voz – não - audivelmente, mas em meu coração, que me dizia: "Este é o Deus a quem deves seguir". Dessa forma saí do cinema uma pessoa diferente, e considero que aquele foi o meu momento de conversão. No dia seguinte, uma segunda-feira, retornei à fábrica e perguntei ao

Cláudio: - Tem culto hoje à noite? - Não! respondeu-me. - Quando é o próximo culto?- perguntei. - Quinta-feira à noite! - Mas eu quero aceitar a Jesus! - Você tem que esperar até quinta-feira à noite! Esse era o costume naquela época em algumas igrejas. As pessoas só aceitavam Jesus ouvindo um apelo após a pregação e vindo à frente em seguida. Nunca vou me esquecer daquela noite, 11 de novembro de 1971. Fui para casa, jantei, peguei minha Bíblia e segui para a igreja. Cheguei trinta minutos antes do culto. Assim que entrei no templo, caí de joelhos e pus-me a chorar. Não sabia orar, porém assim mesmo me ajoelhei. A única coisa que lembro de ter dito a Deus naquela noite foi: "General, teu soldado está aqui. Se existe um lugar no teu exército, estou pronto para lutar". O resto da noite eu só chorei e chorei. Foi algo fantástico. Depois de aceitar Jesus em meu coração, fiquei possuído de uma "loucura santa". Ria e chorava ao mesmo tempo. Não sabia qual das duas coisas fazer, por isso fazia as duas ao mesmo tempo. Depois, andando pelas ruas, continuava sentindo a presença de Deus sobre mim de forma extraordinária e muitas vezes não conseguia controlar o pranto. Algumas pessoas que passavam, olhavam com pena para mim e diziam: "Coitado, tão novo e já perdeu o juízo". Eles com certeza não tinham idéia do tamanho da bênção. Um mês depois de minha conversão, decidi visitar meus pais. Quando entrei em sua casa, meu pai me perguntou: - Então agora é protestante? - Sim! Isso foi tudo o que eu lhe disse. Estava começando minha vida espiritual. Eu era apenas um bebê no Senhor, e não queria discutir com ele. Naquela noite, minha mãe preparou meu quarto, não com eles, mas separadamente, como dantes. Já não sentia mais medo dos espíritos. Nem

sequer estava pensando neles. Não conseguia pensar em outra coisa a não ser em Jesus. Ajoelhei-me e passei uns quarenta minutos perante Deus em oração, com o rosto banhado em lágrimas de contentamento. Sentia um gozo inefável. Então li algumas passagens das Escrituras, e deitei-me em seguida. Enquanto descansava na cama, não pensava nos demônios. Pensava apenas em Jesus. Porém comecei a sentir medo. Veio sobre mim exatamente o mesmo medo de antes. E a primeira coisa que pensei foi: "Isto não pode ser Jesus! Ele nunca me traz medo. Só me traz alegria". Rapidamente comecei a sentir uma horrenda presença satânica. Havia alguém no quarto comigo, junto a minha cama. Não podia vê-lo, porém podia senti-lo, exatamente como antes. Tentei chamar minha mãe, mas não consegui. Minha boca não se mexia. Tentei mover o braço esquerdo e não consegui. Eu estava totalmente paralisado. Senti um calafrio nos pés que me subiu pelas pernas até a altura do peito. Na verdade não me lembro quanto durou isso - se foram dez segundos, trinta segundos, um minuto ou mais. Só sei que comecei a pensar no precioso sangue de Cristo. Pensei: "O sangue de Jesus está contra você". De repente, a paralisia me deixou. Sentei-me na cama e pela primeira vez na minha vida falei diretamente com o diabo - tão alto que todos na casa podiam escutar-me. Disse-lhe: - Diabo, por muitos anos tu tens atormentado a minha vida. Porém quero perguntar-te algo esta noite. Não podes ver que fui redimido e que estou lavado no sangue de Jesus? Fora! Ai de ti se tu voltares! Naquele momento, o quarto encheu-se de paz e eu dormi um sono tranqüilo. Nunca mais o inimigo voltou para perturbar a minha paz. Sei que neste episódio sofri um ataque do inimigo, uma forma de opressão, mas não de possessão. Ninguém esteve ali do meu lado para expulsar de mim algum demônio. Fiz apenas o que a Palavra de Deus ensina ao cristão: "Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós" (Tg 4:7). Quanto ao adversário, o apóstolo Pedro recomenda "resistilhe firmes na fé" (1 Pe 5:9). Pois bem, foi o que eu fiz, pela graça de Deus e o Senhor deu-me uma grande vitória. Comecei a servir a Deus evangelizando de todas as formas possíveis. Foram muitas as vezes em que eu e outros irmãos tivemos que tratar de pessoas possuídas por demônios, e, pela misericórdia de Deus, vi muitos

casos de pessoas severamente endemoninhadas serem libertas por Jesus. Mas a batalha continua. Todo fim de ano, a AGIR e outros irmãos organizam um trabalho evangelístico, quando vamos à cidade de Praia Grande para evangelizar na noite de Iemanjá. São muitos quilômetros de praia cobertos de terreiros de candomblé, umbanda, quimbanda e outros. Passamos a noite toda intercedendo, evangelizando e aconselhando. Deus, por sua graça, tem-nos concedido grandes bênçãos ali, como conversões, libertações e o nome do Senhor Jesus tem sido glorificado. Que o Senhor sempre nos dê vitória contra o mal e que fiquemos com a Bíblia, o melhor livro de batalha espiritual.

7 - Em busca do poder terreno Nos últimos tempos, principalmente por ocasião das eleições, pudemos ouvir com bastante freqüência e fervor muitos pregadores e líderes evangélicos afirmando que a Igreja deve conquistar o poder político no Brasil e impor sobre a sociedade um governo baseado na Bíblia Sagrada. No entanto, essa idéia não é nada original. Trata-se de mais uma

influência doutrinária oriunda dos Estados Unidos, conhecida como a Teologia do Domínio, que afirma que os crentes devem dominar o mundo antes do retorno de Cristo. A exemplo da Teologia da Prosperidade, tal ensino conseguiu encontrar adeptos e propagadores no Brasil. Robert Bowman informa que dois movimentos na América do Norte prepararam o caminho para essa posição doutrinária. Um deles, chamado Reconstrucionismo Cristão e idealizado por Gary North e R. J. Rusdoony, é baseado na interpretação pós-milenista da profecia bíblica. O pós-milenismo defende a posição de que a Igreja vai conquistar o mundo antes do retorno de Cristo. Assim, o alvo dos reconstrucionistas é o de controlar as instituições do mundo e convertê-lo ao cristianismo. O outro grupo, idealizado por Earl Paulk e Thomas Reid, ficou conhecido como a Teologia do "Reino Agora" ou Teologia do Reino. Paulk é pastor de uma igreja com 10 mil membros em Atlanta, no Estado da Georgia, e prega que a Igreja deve se unir e amadurecer sob a liderança de apóstolos e profetas carismáticos, infiltrando-se nas instituições do mundo como representante do rei Jesus. Bowman acrescenta que a ênfase destes dois movimentos sobre a Igreja exercer o domínio levou-os a serem identificados sob o rótulo de Teologia do Domínio. Mas existem algumas diferenças entre eles. Os reconstrucionistas são calvinistas ortodoxos e, portanto, solidamente evangélicos, mesmo que alguns não concordem com eles na questão do pósmilenismo. Por outro lado, a Teologia do Reino Agora, traz em seu bojo as posições antibiblicas de um movimento herético denominado "Latter-Rain" (Última Chuva), da década de 1940. (Christian Research Journal, outubro de 1988, p. 31.) O termo Latter-Rain (veja Tg 5:7) tem sido usado por muitos dentro do pentecostalismo para se referir ao último derramamento do Espírito Santo antes da volta de Cristo. Os articulistas do Christian Research Journal comentam que o termo refere-se ainda ao movimento que surgiu dentro do pentecostalismo nas reuniões de avivamento promovidas em 1948 pelos orfanatos e escolas Sharon no norte de Battleford, Saskatchewan, no Canadá. O movimento logo se espalhou pelas Assembléias de Deus do Canadá e dos Estados Unidos. Mais tarde, as Assembléias de Deus rejeitaram o movimento devido às suas posições controvertidas. Uma delas é o restauracionismo, que afirma que Deus vem restaurando progressivamente verdades para a Igreja

desde a Reforma Protestante. Há também a crença de que a Igreja restaurada alcançará a imortalidade e uma unidade madura de fé antes do retorno de Cristo, em testemunho para o mundo. Existe ainda o ensino de que a Igreja deve ter todos os ministérios de Efésios 4:11, incluindo apóstolos e profetas, através dos quais a Igreja recebe novas revelações doutrinárias. (Christian Research Journal, inverno/primavera de 1988, p. 12-3.) Um outro termo muito usado dentro desse assunto é "teonomia". Greg Bahnsen, um dos mais brilhantes pensadores do Reconstrucionismo Cristão, define a teonomia como a obrigação de o cristão guardar toda a lei de Deus como um padrão para a santificação e que esta mesma lei deve ser aplicada pelo magistrado civil como Lei de Estado, onde e como a estipulação de Deus designar. (David L. Smith, A Handbook Of Contemporary Theology Um Manual de Teologia Contemporânea, Wheaton, Illinois, A Bridge Point Book, 1992, p. 261-5.) Assim, o alvo passa a ser o de estabelecer uma teocracia, isto é, um Estado regido pelos princípios da lei de Deus. Um pastor na Casa Branca Pat Robertson é o fundador e presidente de uma rede evangélica de TV e apresentador do conhecido programa chamado Clube 700, de grande penetração na América do Norte. Este programa já foi transmitido por um bom tempo aqui no Brasil. Em dezembro de 1984, durante uma conferência na igreja de Robert Tilton em Dalas, no Texas, Robertson declarou: Quero que você imagine uma sociedade onde os membros da Igreja têm domínio sobre as forças do mundo, onde o poder de Satanás é amarrado pelo povo de Deus (...) Nós vamos ver uma sociedade onde o povo de Deus vai ser o povo mais honrado (...) sem vício de droga (...) os que promovem a pornografia não terão mais qualquer acesso ao público (...) o povo de Deus herda a Terra (...) há um presidente cheio do Espírito Santo na Casa Branca, os homens no Senado e no Congresso são cheios do Espírito Santo e adoram a Jesus, e os juízes fazem o mesmo (...) Deus vai nos colocar em posição de liderança e responsabilidade e nós temos que pensar assim (...) marque minhas palavras, no próximo ano, dentro de uns dois, três ou quatro anos, nós vamos ver essas coisas acontecerem e que absolutamente nos desnortearão. Glória a Deus! (Michael G. Moriarty, The New Charismatics - Os Novos Carismáticos, Grand Rapids, Michigan, E.U.A., Zondervan Publishing

House, 1992, p. 164-5.) Em 1986, Pat Robertson anunciou a sua intenção de candidatar-se à presidência dos Estados Unidos e, assim, as propostas da Teologia do Domínio chegaram a fazer parte do seu programa de governo. Michael Moriarty fez a seguinte observação: Aos olhos de muitos crentes, Robertson era o messias político esperado de longa data. O fim do aborto, pornografia, violência e sadismo estava despontando no horizonte. Esta era a oportunidade de a América reavivar uma cultura moribunda. Muitos crentes se reanimaram em torno da perspectiva de um cristão conservador não apenas na Casa Branca, mas assentando-se no seu trono principal. Muitos crentes ficaram empolgados com a idéia e não viam a hora de a Igreja assumir o controle da nação mais importante do globo, para, depois, com o tempo, controlar o mundo. Mas não deu certo. Pat Robertson não conseguiu ser o representante do Partido Republicano na eleição presidencial. O panorama brasileiro No Brasil também se multiplicam as vozes a favor do domínio da Igreja sobre as instituições sociais e políticas da nação. Há alguns anos, surgiu uma frase muito veiculada no programa de TV de Valnice Milhomens: "O Brasil é do Senhor Jesus. Povo de Deus, declare isso!" A mesma frase foi depois parar nos adesivos dos carros. Além de promover tal declaração, Valnice fez ainda algumas declarações interessantes numa conferência que ministrou em Ribeirão Preto, em 14 de agosto de 1992. Depois de comentar que José e Daniel foram homens que ocuparam lugar de destaque na sociedade, ela acrescentou: E, meus irmãos, vocês sabem que a Igreja tem que ocupar os lugares no Brasil? Olha, no ano das eleições do presidente da República, nós estávamos orando em Recife. Íamos orar pelas eleições. Deus me interrompeu no meio da oração: tira os olhos dos candidatos. Levanta os teus olhos para a Igreja, porque a solução dos problemas do Brasil está na Igreja.

Aleluia! E desde aquele dia eu estou na ofensiva, preparando a Igreja. E chegou a hora de a Igreja ocupar os postos de liderança desta nação. Não é só a igreja lá atrás dos quartos orando não. É a Igreja lá nos postos de comando administrando a nação. Depois de afirmar que a economia do Brasil está em bancarrota devido à idolatria e às maldições espirituais do Brasil, Valnice acrescentou: Eu sonho com gente no Palácio do Planalto que teme a Deus acima de tudo. E que não vai depender da sua esperteza, mas que vai buscar os princípios do Reino na Palavra de Deus. É assim que nós vamos erradicar as maldições do país. É na Igreja que está a solução. É na Igreja. Estamos crescendo e vamos explodir, em nome de Jesus. Justiça, justiça só virá pela Igreja. Uma Igreja restaurada. Uma Igreja restaurada. Porque há muitos que começam a entrar na política e deixam a glória, a fama e o dinheiro subir à sua cabeça. Perderam a reputação. Perderam a autoridade. Vêm aí as eleições para prefeitos e vereadores. Cada um devia estar votando num crente. Num crente. Começar a invadir. Comece, irmão, já. Comece agora, nas prefeituras, depois para os governos, até chegar à presidência. Vamos tomar conta do Brasil. Ou vocês não crêem que a Igreja tem que salgar a massa toda, hem? Fica só na defensiva? Não. A Igreja tem que salgar a massa toda. (Vídeo nos arquivos do ICP). Mas não é apenas Valnice Milhomens quem pensa assim O pastor Lamartine Posella Sobrinho, candidato a deputado federal na eleição de 1994, chegou a declarar: A solução para a crise brasileira está no levantamento de homens comprometidos com o Senhor Jesus Cristo - e portanto íntegros aos postos de comando do nosso país, cuja restauração Deus tem pressa de concretizar. Decidi me candidatar a deputado federal por força de um chamado sobrenatural do Senhor corroborado por dezenas e dezenas de confirmações proféticas explícitas trazidas por pessoas dos mais variados tipos (pastores de muitas denominações - inclusive a Pra. Valnice Milhomens, Pr. Estevam Hernandes e um sueco na Coréia do Sul - leigos que não me conheciam e até

incrédulos usados por Deus) (...) Penso que o caos social, político e econômico é decorrência, numa primeira instância, das maldições espirituais que repousam sobre o nosso país (...) a solução para a crise está no levantamento de homens comprometidos com o Senhor e por isso íntegros aos postos de comando da Nação. (Jornal A Trombreta, 4 de setembro de 1994, p. 7.) Apesar do chamado sobrenatural do Senhor e das profecias, o pastor Lamartine não se elegeu. Não creio que a situação política, social e econômica do Brasil seja decorrência apenas da situação espiritual do país. Se fosse assim, o Japão não seria a segunda maior potência econômica do mundo. Ora, o que predomina lá é o budismo, o xintoísmo e o culto aos antepassados. Não podemos esquecer que o próprio Jesus disse que o Pai faz o Sol nascer sobre os maus e os bons, e vir chuvas sobre justos e injustos (Mt 5:45). Embora o pastor Lamartine não se tenha eleito, ele ganhou a suplência e tem grande chance de, a qualquer momento, assumir o cargo. Ele é uma pessoa de muito talento, um excelente comunicador e, de minha parte, preferiria vê-lo empregando toda a sua capacidade e energia somente na pregação do Evangelho. Ao discursar na Assembléia Legislativa de São Paulo, numa manifestação contra a prisão do líder da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo, o Pr. Nilson Fanini disse: "Já somos trinta e cinco milhões de evangélicos no Brasil e está na hora de assumirmos o governo deste país". (Jornal A Raiz , junho/julho de 1992, p. 1.) A Igreja Universal do Reino de Deus tem demonstrado uma avidez enorme por cargos políticos no Brasil. O jornal Folha de S. Paulo (15 de abril de 1995, p. 1-8) informa que "a eleição de pelo menos 200 vereadores nas eleições municipais de 1996 é uma das principais metas da Universal na área política. A igreja já tem seis deputados federais e dez estaduais". O jornal diz ainda que a Universal pretende lançar cerca de 500 candidatos em todos os municípios em que tem templos a fim de ter representantes que defendam os interesses dos evangélicos nas câmaras municipais. Ora, os problemas do Brasil são bastante complexos e não serão resolvidos apenas com a eleição de alguns evangélicos ou de um presidente da República evangélico. E para piorar a situação, pudemos constatar, ao

longo dos anos, que o envolvimento de muitos evangélicos com a política tem produzido resultados desanimadores, um vexame para a Igreja do Senhor. Vários se elegeram porque eram pregadores que ministravam de igreja em igreja, eram capazes de citar versículos da Bíblia um depois do outro, tornando-se, assim, conhecidos do povo. Outros, porque atendiam aos interesses de uma liderança eclesiástica local ou denominacional. Numa situação dessa, a campanha eleitoral só poderia terminarem sucesso. Entretanto, depois que assumiram, perceberam que legislar não é a mesma coisa que contar histórias bíblicas ou dar gritos de glória a Deus. Muitos, por serem portadores de uma ética toda defeituosa ou desprovidos de qualquer ética, sucumbiram aos subornos, mentiram, venderam seus votos e tornaram-se assunto de piada por parte dos incrédulos. A mídia brasileira transmitiu com "gusto" e com bastante detalhes o desenrolar dos escândalos advindos daqueles que deveriam ser o sal da terra e a luz do mundo (Mt 5:13, 14). A ética cristã na Igreja evangélica brasileira está tão comprometida hoje que o risco de votarem crente é muito maior do que votar no descrente. Porque pelo menos, o descrente não trará escândalo para o Evangelho. Sim, concordo com todas as letras que precisamos e devemos ter cristãos envolvidos na política e ocupando cargos de liderança que venham a influenciar positivamente a sociedade no seu todo, e não apenas a igreja ou ao grupo que o elegeu. Cabe aqui uma sugestão do sociólogo Paul Freston: "nossa preocupação tem que ser com a promoção do Evangelho e não com a promoção dos evangélicos". (Paul Freston, Evangélicos na Política Brasileira, Curitiba, PR, Editora Encontrão, 1994, p. 141.) Precisamos de candidato evangélico e não de candidato dos evangélicos. Robinson Cavalcanti alertou, com sabedoria, num de seus livros: "Devemos nos precaver das tentações teocráticas: o governo de um Aiatollah protestante, que dividiria o bolo do Estado entre nós". (Robinson Cavalcanti, A Utopia Possível. Viçosa, MG, Editora Ultimato, 1993, p. 141.) E há ainda outra questão: temo não estarmos ainda preparados para atuar de forma saudável numa sociedade pluralista como a nossa, onde o tamanho das pressões exige dos candidatos evangélicos uma postura que muitos deles ainda não possuem. Lição da história

A união da Igreja com o Estado nem sempre trouxe bons dividendos para a causa de Cristo. Um dos exemplos mais claros foi o de Constantino, imperador romano, que no ano 313 fez do cristianismo a religião oficial do império romano. Moriarty traz um alerta à Igreja atual ao comentar o que aconteceu naquela época: A Igreja foi investida com poder político, e investiu o imperador com poder religioso (...) A Igreja entrou num período de corrupção e desintegração e perdeu muito da sua autoridade moral e dinâmica espiritual. A Igreja deixou de ser uma comunidade zelosa de "ganhadores de almas" e "discipuladores" a fim de levar o Evangelho a um mundo espiritualmente empobrecido para ser uma instituição perseguidora que marcharia sobre o mundo árabe nas cruzadas dos séculos 11 e 12. A Igreja, que uma vez fora uma vítima injusta de perseguição, havia se tornado perseguidora. A Igreja que radiava paz e compaixão havia se tornado corrupta pelo poder e corrupção (...) A Igreja, seduzida pelo poder político e aspirações utópicas, falhou em entender que tais alianças antibíblicas (unindo Igreja e Estado) subverteriam o Evangelho, trazendo sofrimento e morte para muitos. (Michael G. Moriarty, The New Charismatics - Os Novos Carismáticos, p. 183.) Triste e chocante. Por esta razão, é necessário dar ouvido a tal advertência para que a Igreja não venha repetir os mesmos erros. O exemplo guatemalteco No início da década de 80, estive na Guatemala e participei da comemoração do centenário da Igreja evangélica naquele país. Foi uma grande festa. Cerca de 700 mil pessoas desfilaram pelas ruas da capital com muito entusiasmo ao lado de vários carros alegóricos. O evangelista Luis Palau falou à multidão. Mas nada arrancou mais aplausos dos presentes do que a palavra do então presidente, o general Efraim Rios Mont, que havia chegado ao poder através de um golpe militar, causando muita vibração entre os evangélicos na Guatemala. Os crentes esperavam com isso a solução dos problemas, o fim da corrupção e uma era de paz e justiça. Mas o general foi deposto mais tarde e o sonho de muitos não se concretizou. Depois veio a gestão de Jorge Serrano Elias, festejado como o

primeiro presidente evangélico eleito democraticamente na América Latina e, mais uma vez, os crentes esperavam que o seu governo causasse um grande impacto a favor do reino de Deus na Guatemala. Mas Serrano decepcionou a todos, como relata J. Lee Grady: Em 1993, num esforço de acabar com a corrupção, Serrano dissolveu o Congresso, tomou o controle da imprensa, e bajulou os militares para apoiar seu próprio golpe. Mas a corte suprema da Guatemala condenou suas ações, o que também o fez a comunidade internacional. Dentro de uma semana, ele foi forçado a fugir do país. Serrano havia seguido os passos de inúmeros líderes latino-americanos: ele havia se tornado um ditador. Por que todos, inclusive os evangélicos da Guatemala, condenaram o assalto ao poder de Serrano? Porque é impossível reconciliar cristianismo com ditadura, e Serrano tinha aparentemente tentado misturar duas idéias opostas democracia e governo autocrático. Mas a saída de Serrano passou uma outra mensagem: que os cristãos podem ser ditadores. (J. Lee Grady, What Happened to the Fire? - O Que Aconteceu com o Fogo? Grand Rapids, Michigan, E.U.A., Chosen Books, 1994, p. 139-40.) É claro que todos os cristãos gostariam de viver num local onde existisse apenas a religião verdadeira. Entretanto, é só no céu que isso será possível. Enquanto o céu não vem ou a gente não vai para lá, vamos ter que conviver pacificamente num mundo pluralista, caracterizado pela diversidade de religiões. Os cristãos jamais poderão impor a fé cristã sobre outras pessoas ou outros povos. Inspirado por Deus, Paulo aconselhou: "se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens" (Rm 12:18). A Palavra de Deus afirma ainda no livro de Zacarias: "Prosseguiu ele e me disse: Esta é a palavra do SENHOR a Zorobabel: Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz O SENHOR dos Exércitos" (Zc 4:6). Assim como a construção do templo seria concluída por Zorobabel através do poder do Espírito, o reino de Deus se expandirá no mundo também pelo poder do Espírito e não pelas estratégias políticas ou através de qualquer outro poder terreno. Avaliação bíblica Torna-se, portanto, necessário verificar à luz das Escrituras se Deus

realmente ordena ao cristão tomar o domínio ou o controle político das mãos dos ímpios. Um dos textos mais usados pelos adeptos da Teologia do Domínio para defender o que pregam encontra-se no início da Bíblia: "Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, a imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra" (Gn 1:26-28). Vale a pena observar o comentário de Bruce Barron sobre esta passagem: Os reconstrucionistas e escritores do reino agora ligam Gênesis 1:2628 com a transformação das estruturas políticas tão depressa que alguém pode suspeitar que eles se esqueceram que a ordem original deu ao homem o domínio sobre o ambiente, e não sobre os seus semelhantes. (Bruce Barron, Heaven On Earth? - Céu na Terra? Grand Rapids, Michigan, E.U.A., Zondervan Publishing House, 1992, p. 154.) É claro que este não é o único texto usado para se defender a Teologia do Domínio. Mas, por mais que tentem, o esforço será em vão, pois não existe na Bíblia qualquer mandamento para que o cristão conquiste o poder político antes do retorno de Cristo. O apóstolo João relata que, após a multiplicação dos pães, a multidão quis fazer de Jesus um rei. Ele, porém, não aceitou tornar-se meramente um líder político (veja Jo 6:9-15). Na tentação do deserto, Satanás mostrou e ofereceu a Jesus todos os reinos do mundo e a glória deles. Jesus resistiu e desprezou a oferta, não caindo, portanto, em tentação. Muitos crentes hoje não conseguem fazer o mesmo e acabam não apenas aceitando a oferta, mas até se esforçando para possuí-la. Um dos momentos mais solenes da vida de Cristo foi durante o seu julgamento diante de Pilatos. Quando o governador perguntou a Jesus sobre o que ele fizera a seus compatriotas que o haviam entregado (Jo 18:35), o Senhor respondeu: "O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse

deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui" (Jo 18:36). Ao contrário do que afirmou Jesus, há hoje crentes que, mesmo que não afirmem, vivem como se o Reino fosse deste mundo. Um dos textos mais citados pelos adeptos da Teologia do Domínio para justificar os que crêem é Mateus 28:18-20: "Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. lde, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século". Bruce Barron comenta novamente que quando eles dizem que "Fazer discípulos de todas as nações" significa ensinar princípios bíblicos às instituições políticas do mundo, eles estão em terreno duvidoso. De fato, o Novo Testamento, usa "nações" (no grego, ethne) para se referir a entidades políticas (veja Marcos 13:8 e Atos 2:5), mas também, e mais freqüentemente, para grupos de pessoas, especialmente gentios (veja Mateus 6:32; Gálatas 2:9; Efésios 2:11). O último significado parece ser o pretendido em Mateus 28:19, 20, que ordena aos crentes batizar e ensinar as ethne; além de tudo, batizam-se pessoas e não instituições civis. (Bruce Barron, Heaven On Earth? - Céu na Terra?, p. 154.) "O Brasil é do Senhor Jesus! Povo de Deus, declare isso!" Já mencionamos esta frase anteriormente, como ela ganhou popularidade e tornou-se o grito de guerra de muitos crentes no Brasil. Mostramos também que tal frase não expressa uma idéia nova, pois por trás dela está a Teologia do Domínio, adotada, analisada e também já questionada nos Estados Unidos. Há várias frases semelhantes por lá, tais como: "America, a nation under God" (América, uma nação sob Deus), "Washington for Jesus" (Washington para Jesus) e outras, que expressam bem esta corrente doutrinária. Paul Freston conta que o mesmo aconteceu na Guatemala, durante a campanha eleitoral do ex-presidente Serrano. Ele também desenvolveu "uma campanha de Guerra Espiritual chamada ‘Jesus é o Senhor da Guatemala’.

Sendo de igreja de elite, os membros alugavam aviões para exorcizar o pedaço de território que sobrevoavam". (Paul Freston, Evangélicos na Política Brasileira, p. 141.) A gestão Serrano foi um desastre, como já descrevemos anteriormente aqui. O fato de sair por aí declarando frases ou supostas fórmulas mágicas de guerra espiritual não vai de forma alguma introduzir o Reino de Deus na Terra. Apesar das multidões de crentes que saem por aí decretando que o Brasil é do Senhor Jesus, o Carnaval continua a todo vapor, Aparecida do Norte tem recebido mais romeiros nos últimos anos do que nos anos anteriores e o Brasil ainda é o maior país espírita do mundo. A situação moral do país é simplesmente caótica, a ponto de homens de negócios contratarem assassinos profissionais para exterminar crianças. E há muitas, muitas coisas horrendas que nem precisamos mencionar aqui. Entretanto, é preciso entender que vivemos numa natureza e num ambiente afetado pela queda lá no Jardim do Éden, que transtornou tudo: a criação (terremotos, vulcões, maremotos, etc.), os relacionamentos, as emoções e, acima de tudo, a comunhão com Deus. Infelizmente, vivemos na presença do pecado, pois ainda não chegamos à glorificação, o que será viver na ausência do pecado. Mas, para isso, vamos ter que esperar pelo céu. Eu também desejo ver a Palavra de Deus prevalecendo em todos os aspectos da vida nacional. Por outro lado, estou convencido pela Bíblia de que não é através de algumas frases feitas que a Igreja vai promover o reino de Deus, mas, sim, pela pregação constante e ousada da Palavra de Deus, causando conversões e desenvolvendo um discipulado saudável. Não estou querendo dizer com isto que os cristãos não devem se envolver politicamente ou que os crentes não devam ocupar cargos políticos. Precisamos ter bons crentes em posição de liderança e causando influência positiva na sociedade como um todo. A Palavra de Deus mesmo afirma: " (quando se multiplicam os justos, o povo se alegra; quando, porém, domina o perverso, o povo suspira" (Pv 29:2). Sempre que um cristão tiver a oportunidade, ele deve exercer o poder com justiça e com ética cristã, tendo em mente que ele terá que prestar contas a Deus dos privilégios e responsabilidades que lhe forem atribuídas. Não podemos esquecer, porém, que a missão principal da Igreja antes da volta do Senhor é o evangelismo e o discipulado, e não formar cruzadas para tomar o poder ou conquistar o domínio político numa nação ou no mundo.

8 - Os profetas da volta de Cristo A medida que se aproxima o ano 2000, vai-se formando ao nosso redor um clima de expectativa e inquietação. As reações são variadas. Há aqueles que esperam grandes catástrofes para a época, um conflito mundial de grandes proporções, em que explosões nucleares provocariam o fim do mundo. É citado com muita freqüência um "versículo" que não consta na Bíblia: "De mil passará, a dois mil não chegará". Em contraste, vários adeptos do Movimento da Nova Era, também conhecido como a Era de Aquário, acham que o ano 2000 vai inaugurar uma era de paz, prosperidade e harmonia entre os povos. Não é a primeira vez que isto acontece. Quando se aproximava o final do primeiro milênio, o clima também foi de pânico e muitas pessoas pensavam que o fim do mundo estivesse perto. Um autor, Frederick Marten, fornece interessantes detalhes dos acontecimentos daquela época: Os homens perdoavam as dívidas de seus vizinhos, as pessoas confessavam suas infidelidades e más obras (...) As igrejas eram cercadas por multidões em busca de confissão e perdão (...) Os prisioneiros eram soltos e mesmo assim muitos ainda queriam expiar seus pecados antes do fim. (Frederick Marten, "The Story of Human Life and Doomsday" - A História da Vida Humana e o Dia do Juízo, citado no artigo "Millennial Madness - A Loucura Milenar, de Ron Rhodes", no Christian Research Journal , outono de 1990, p. 39.) Ron Rhodes acrescenta outros detalhes: Com a aproximação do Natal (ano 999), houve um derramamento de amor. Os armazéns distribuíam comida. Os vendedores recusavam receber pagamento. No dia 31 de dezembro, o frenesi chegou ao seu clímax. O papa Silvestre II celebrou a missa da meia-noite na basílica de São Pedro, em Roma (...) Depois da missa, um silêncio mortal caiu sobre os presentes. Finalmente, quando o relógio deu a primeira batida depois da meia-noite, os sinos da igreja começaram a tocar. Entre lágrimas e risos, esposos e esposas se abraçaram. Os amigos trocaram o "beijo da paz". Os inimigos fizeram as pazes. Mas logo a vida voltou ao seu ritmo normal. (Christian Research

Journal (outono de 1990), p. 39.) Ron Rhodes cita Marten novamente e relata: Os comerciantes pararam de distribuir suas mercadorias. Os prisioneiros foram recapturados e colocados de volta nas prisões. As dívidas foram lembradas. E a vida continuou como se nada tivesse acontecido. O ser humano é mesmo fascinado pelo futuro. Assim que começou a guerra no Golfo Pérsico entre as forças aliadas e as do Iraque de Sadam Russein, multidões correram às livrarias para comprar livros com as profecias de Nostradamus. A ansiedade para se conhecer de antemão o desenvolvimento e as conseqüências do conflito tomou conta de muita gente. Nostradamus foi um astrólogo e médico francês do século XVI e usou bastante a astrologia e outros métodos de adivinhação do ocultismo, tornando-se, talvez, o mais respeitado profeta ocultista de todos os tempos. Portanto, se um determinado poder sobrenatural tem contribuído para o cumprimento de alguma de suas profecias, esse poder não tem vindo de Deus (Dt 13:1-3 e 18:9-14). Nostradamus chegou a prever o fim do mundo para o sétimo mês do ano de 1999. Muitas das previsões de Nostradamus para o século 20 falharam simplesmente não aconteceram, afirmou Michael di Cicco num artigo publicado no jornal Zero Hora. Alguns acadêmicos, diz Di Cicco, afirmam que as profecias de Nostradamus são tão vagas que, com um pouco de imaginação, podem se adaptar a praticamente qualquer acontecimento. Di Cicco acrescenta: Por exemplo, Nostradamus previu o declínio do poder espanhol no Mediterrâneo durante meados de 1660 e o surgimento da influência da França. Na verdade, ocorreu o oposto. Apesar disso, Nostradamus e suas catastróficas previsões continuam vivos, mantendo credibilidade há pelo menos 400 anos. (Jornal Zero Hora (24 de setembro de 1990).) A astrologia continua sendo um grande sucesso. Os jornais e revistas em todo o mundo vivem saturados de horóscopos e a indústria astrológica tem rendido muitos milhões de dólares anualmente. Muitas outras práticas de adivinhação são usadas em grande escala na busca constante de se desvendar

o futuro. Mas a atração pelo futuro não é característica apenas daqueles ligados ao ocultismo. Vários grupos religiosos têm demonstrado, ao longo dos anos, um fascínio desequilibrado em relação ao assunto, a ponto de até marcar datas para a volta de Cristo ou para o fim do mundo. Houve uma época, por exemplo, em que os adventistas do Sétimo Dia chegaram a acreditar que Jesus voltaria à Terra em outubro de 1844. (Ellen G. White, O Grande Conflito. Santo André, São Paulo, SP, Casa Publicadora Brasileira, 26ª Edição, 1981, p. 409.) Erraram. A Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, nome oficial da organização das Testemunhas de Jeová, tem abusado muito em relação à marcação de datas para o retorno de Cristo ou para uma grande catástrofe mundial denominada Armagedom. Já marcaram tal evento para as datas de 1914, 1918,1925, 1941 e 1975. Erraram todas. Em 1920, o segundo presidente da Sociedade Torre de Vigia, Rutherford, publicou um livro intitulado Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão (foi publicado em 1923, em português). Nesse livro, Rutherford afirmou que os justos do Antigo Testamento ressuscitariam em 1925. A organização chegou até a comprar uma mansão em San Diego, na Califórnia, denominada Beth Sarim (Casa dos Príncipes), para hospedar Abraão, Isaque, Jacó e outros ilustres do Antigo Testamento. Uma foto da tal mansão pode ser encontrada na própria literatura das Testemunhas de Jeová. (Rutherford, Salvação (Sociedade Torre de Vigia, 1939), p. 276.) A profecia falhou. Apesar disso, as Testemunhas de Jeová publicaram recentemente numa de suas revistas um artigo de capa com o seguinte título: "Predições falsas e profecias verdadeiras como saber a diferença?" (Revista Despertai! 22 de junho de 1995.) Como saber a diferença? Em se tratando das previsões da Torre de Vigia, basta ler o que a Palavra de Deus diz: "Se disseres no teu coração: Como conhecerei a palavra que o SENHOR não falou? sabe que quando esse profeta falar, em nome do SENHOR, e a palavra dele se não cumprir nem suceder, como profetizou, esta é palavra que o SENHOR não disse; com soberba a falou o tal profeta: não tenhas temor dele" (Dt 18:21, 22). Como as profecias das Testemunhas de Jeová não se cumprem, elas não podem ser de Deus. A Sociedade ensina que a sua liderança, um grupo de homens sediados no bairro do Brooklin, em Nova Iorque, Estados Unidos, é o único

canal de comunicação entre Deus e os homens. Apesar disso, a Torre de Vigia reconhece que falhou como profeta e tenta dar explicações, embora nada convincentes, para disfarçar as falhas. Por esta razão, a Sociedade não pode ser considerada o canal de comunicação entre Deus e os homens, porque foge aos padrões proféticos da Bíblia. Ora, não existe registro nas Escrituras de que um profeta de Deus teve que sair a público e se desculpar por alguma falha ao comunicar os oráculos de Deus. Infelizmente, as Testemunhas de Jeová não conseguem pensar por si mesmas e usar a liberdade que Deus deu aos homens para questionar e fazer perguntas, como o fizeram os cristãos de Beréia quando o apóstolo Paulo ali chegou. A Bíblia diz que os crentes de Beréia só aceitaram os ensinos de Paulo depois de verificar que estavam de acordo com as Escrituras (At 17:1012). Sem dúvida, um grande exemplo. Também os Meninos de Deus, conhecidos hoje como A Família, entraram no jogo de marcar datas. Em 1973, eles saíram em massa dos Estados Unidos, pois Davi Berg (ou Moisés Davi), o fundador da seita, e a quem consideram como o profeta de Deus do tempo final para o mundo, havia anunciado que o cometa Kohoutek destruiria a América. (William Alnor, Soothsayers of the Second Advent - Os Adivinhadores da Segunda Vinda. Old Tappan, New Jersey, E.U.A., Power Books, 1989, p. 59.) Nada disso aconteceu. Para nossa surpresa, não são apenas as seitas ou grupos periféricos à fé cristã que apresentam posições estranhas em relação à escatologia (o estudo das últimas coisas). Um grupo cada vez maior de pessoas entre os evangélicos afirma saber a data da volta de Cristo, como veremos a seguir. O arrebatamento em 1988 Não faltou ousadia a Edgar Whisenant, um ex-engenheiro da Nasa que se tornou professor de profecias bíblicas e escreveu um livro intitulado 88 Reasons Why The Rapture Could Be In 1988 (88 Razões Por Que o Arrebatamento Poderia Ser em 1988). Nesse livro, Whisenant afirmou que Jesus voltaria durante as Festas das Trombetas, entre os dias 11 e 13 de setembro. Mais de quatro milhões de cópias do livro foram impressas e cerca de 300 mil enviadas gratuitamente a muitos pastores nos Estados Unidos. Milhares levaram a sério as informações fabulosas de Whisenant e seu livro

não parava nas prateleiras das livrarias. Como nada do que havia predito aconteceu, Whisenant mudou a data para três de outubro. Essa data também falhou. (Russell Chandler, Doomsday - Dia do Juízo. AnnArbor, Michigan, E.U.A., Servant Publications, 1993, p. 273.) Whisenant tentou explicar dizendo que havia errado acidentalmente no cálculo da data e vendeu mais milhares de cópias de um segundo livro intitulado The Final Shout: Rapture Report 1989 (O Grito Final: Anúncio do Arrebatamento de 1989). Ele tem publicado este livro desde então, mudando a data para acomodá-lo à chegada de cada ano novo. (B. J. Oropeza, 99 Reasons Why No One Knows When Christ Will Return (99 Razões Por que Ninguém Sabe Quando Cristo Voltará) (Downers Grove, Illinois, E.U.A., InterVarsity Press, 1994), p. 15.) E ainda tem gente que compra e acredita. É demais! Setembro de 1992 Há também um grupo do Rio de Janeiro denominado Alto Clamor, uma facção do movimento adventista e que segue de perto muitas posições ensinadas por Ellen White, a profetisa dos adventistas tradicionais. Num de seus boletins, este grupo anunciou: "No dia das trombetas, 28 de setembro de 1992, o Deus de Israel destruirá todos os seus inimigos com grande demonstração de seu poder." Como muitos podem perceber, falhou. Mas há outras datas interessantes mencionadas por este grupo: - 20 de setembro de 1999 - É o dia do fechamento da porta da graça. - 30 de setembro de 2000 - Quando Deus derramará a sétima e última praga sobre as multidões. Será o livramento do povo de Deus. - 14 de outubro de 2000 - A volta do Messias, quando ocorre a ressurreição dos santos e o arrebatamento dos fiéis vivos. (Boletim Alto Clamor, de 1-09-92 a 28-09-92, nº 14, Caixa Postal 889, Rio de Janeiro, RJ, 20001-970).) E, de novo, quem viver verá. Outubro de 1992 Em 1992, um movimento chamado Missão Mundial Taberah causou

também alvoroço entre alguns crentes, pois anunciava a volta de Cristo para outubro daquele ano. A Missão, procedente da Coréia, era liderada por um jovem profeta chamado Bang-Ik Ha, que nesta época contava com 17 anos. Conheci vários crentes que saíram de igrejas equilibradas para distribuir nas ruas de São Paulo um folheto intitulado "Arrebatamento! Em outubro de 1992, Jesus virá novamente" e esperar a volta do Senhor. O folheto informava que o profeta fora chamado por Deus quando tinha apenas 13 anos de idade e que fora treinado intensa e pessoalmente por Deus. Ele se comunicava constantemente com Deus da mesma forma como Elias, Samuel e outros profetas do Antigo Testamento o faziam. Conheci um irmão que saiu de sua igreja, abandonou o seu trabalho, adquiriu um carro equipado com um alto-falante e saiu pelas ruas do bairro do Brás, em São Paulo, anunciando a volta de Cristo. Conversei com ele. Foi incrível. Ele demonstrou ter muita pena de mim, pois Deus ainda não me havia revelado o mistério do arrebatamento como fizera com ele. Depois que passou o mês de outubro, nunca mais o vi. Mas, como acontece com todos os que marcam datas ou nisso acreditam, ele estava errado. O sumiço do mal "Na quinta-feira, nove de junho, retirarei o mal desta terra." John Hinkle, pastor de uma igreja em Los Angeles, afirmou que no dia 9 de junho de 1994, o mais cataclísmico evento desde a ressurreição de Cristo iria acontecer no exterior e seria sentido no interior. Hinkle teve a oportunidade de divulgar a profecia através da Trinity Broadcasting Network (TBN), uma grande rede evangélica de TV da Califórnia. Paul Crouch, fundador e presidente da TBN, disse num dos programas de TV: John prometeu ser o nosso convidado especial no dia 9 de junho de 1994 - isto é, se nós ainda não tivermos sido levantados para encontrar o Senhor nos ares. Como precisamos de suas orações e do apoio fiel como nunca antes (...) Queridos parceiros - Estamos quase chegando ao lar! Hank Hanegraaff comenta: Nem Crouch e nem o pastor que ele tornou famoso pediram desculpas

pela profecia falsa. Ao contrário, usaram uma tática que já tinha funcionado para a Sociedade Torre de Vigia cerca de 80 anos atrás. A exemplo das testemunhas-de-Jeová, que haviam predito que Cristo voltaria em 1914, eles declararam que sua profecia tinha se cumprido - só que invisivelmente. Crouch já estava tentando se proteger. No dia dois de junho declarou: "Algo pode acontecer invisivelmente". Por sua vez, Hinkle esperou o nove de junho chegar e passar. Depois ele enviou um comunicado à sua congregação: "A princípio, eu e outros ficamos muito desapontados por não ter acontecido como esperávamos. Mas algo realmente começou e continua acontecendo, mas começou primeiro na esfera espiritual". A pretensa profecia de John Hinckle não tinha base bíblica. Quem está em Cristo já está salvo da pena do pecado (o que é a justificação), do poder do pecado (que é a santificação), mas ainda não está salvo da presença do pecado (que será a glorificação). O próprio Jesus afirmou: "Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura; ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem" (Mc 7:2123). Assim, para remover o mal do mundo, toda a humanidade precisaria ser também removida. O apóstolo Paulo, em 2 Timóteo 3:1-7, 13, afirmou que os últimos dias seriam difíceis e não poupou adjetivos para descrever o estado pecaminoso das pessoas no tempo do fim: "Mas os homens perversos e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados" (versículo 13). Ora, quantos enganos, maldade e injustiças já aconteceram nos Estados Unidos e no mundo em geral depois do dia 9 de junho de 1994? Impossível contar! Logo, a profecia de Hinkle contrariou claramente as Escrituras e nunca deveria ter recebido o crédito que recebeu de alguns. Ainda bem que os sensatos não aderiram. Outubro de 1994 O ministério Family Radio (Rádio Família), com sede na Califórnia, Estados Unidos, formado principalmente por evangélicos conservadores, esteve em perigo de autodestruição. O problema surgiu com a publicação de um livro controvertido, com mais de 500 páginas, intitulado 1994?, escrito

por Harold Camping, presidente da organização. No livro, Camping proclamava que Jesus Cristo voltaria em setembro de 1994. Logo na introdução, Camping declarou que "jamais se tem escrito algum livro tão audacioso ou insolente como aquele que prediga a ocasião do fim do mundo, e isso é exatamente o que supõe fazer este livro". Alguém de dentro do ministério chegou a dizer que Harold Camping achou que era um profeta Jonas dos dias atuais e que tinha a missão de anunciar o retorno de Cristo para 1994 a todas as pessoas, especialmente àquelas alcançadas pelo Rádio Família. No seu programa, Forum Aberto na Rádio Família, ele aconselhava as pessoas que telefonavam para não fazerem planos a longo prazo, pois Jesus estaria voltando naquele ano de 1994. Camping explicava a sua maneira de planejar para o futuro assim: "Veja, minha esposa me disse que precisava de um piso novo para nossa cozinha. Eu lhe disse que não se esforçasse ou gastasse dinheiro para fazer isso até outubro ou novembro de 1994 - depois do tempo predito para a volta de Cristo". (Christian Research Journal. verão de 1993, p. 5-6.) Harold Camping, que não tem formação teológica, achava que não estava espalhando qualquer engano ou predições errôneas e ainda advertia: "Quando chegar o dia 6 de setembro de 1994, ninguém mais poderá ser salvo. Chegou o fim" (1994, p. 541). No intuito de defender o seu processo de marcação de data para a volta de Cristo, Camping declarou: Sou um engenheiro, sou metódico. Quando iniciei o estudo da Bíblia cerca de trinta anos atrás, comecei a ver coisas que outros não perceberam. Descobri que Deus tinha uma linha do tempo, desde Gênesis até Apocalipse, e com um cálculo preciso, de tal forma que o fim do mundo pode ser acuradamente determinado. Camping sabia que outros já haviam errado na tentativa de marcar a data do arrebatamento e, para se defender, comentou: "Eles basearam suas predições em sonhos, alinhamento dos planetas e desastres naturais tais como terremotos. Mas eu fundamento minhas descobertas em evidência sólida e bíblica". Mesmo assim, é fácil perceber que as conclusões de Camping estavam cheias de especulações numéricas, tais como o número de porcos

exorcizados do endemoninhado gadareno (Mc 5:1-20) e o número de peixes apanhados (153) pelos discípulos (Jo 21:11). A revista Charisma informa que num de seus programas, transmitido por quarenta estações de rádio, Camping disse aos ouvintes que a tribulação havia começado em 1988, o ano que Satanás tinha sido solto na Terra, e que terminaria em setembro de 1994 com o arrebatamento, quando os cristãos seriam levados para os ares a fim de encontrar Cristo na sua volta. A revista informa também que Camping foi dispensado de sua função como professor de estudos bíblicos da classe de adultos de sua igreja, na cidade de Alameda, na Califórnia, devido aos seus ensinos, rejeitados pelos teólogos evangélicos. (Revista Charisma, outubro de 1994, p. 85.) Apesar de todo esforço e dos trinta anos de pesquisas, o arrebatamento não ocorreu como predito por Harold Camping. Entretanto, o mais lamentável de tudo é o fato de o ministério de Camping ser composto de evangélicos conservadores, e tal prática, doentia e nociva ao Corpo de Cristo, ser promovida dentro da comunidade evangélica. Março de 2005 Um grupo localizado em Brasília e denominado igreja Adventista do Sétimo Dia, o Remanescente, dissidente do movimento adventista, anuncia num de seus folhetos: JOVENS, BOAS NOVAS! JESUS CRISTO ESTÁ VOLTANDO! Vocês estão preparados? Desejam o retorno de Jesus? A porta da graça se encerra para todos em março de 2005! Um outro folheto ainda diz: "O tempo da graça e do selamento com o selo de Deus - o sábado - terminará para a humanidade em 2005 (...) Em março de 1995 ocorrerá uma terrível crise monetária mundial. A idolatria do dinheiro será destruída! Então começará a desolação da Terra!" (Folhetos sem data, IgrejaAdventista do Sétimo Dia, o Remanescente.) A volta de Cristo em 2007 O assunto da volta de Cristo foi enfocado também no programa

Palavra da Fé, de Valnice Milhomens, transmitido em 1990 pela Rede Bandeirantes. Transcrevemos aqui as declarações de Valnice, palavra por palavra, para que o leitor verifique por si mesmo suas posições. A citação é um tanto extensa, mas o fazemos para que ninguém diga que a estamos citando fora de contexto: Deus reservou para nossa geração a plenitude de todas as coisas. Deus reservou para esta geração a explosão de todas as coisas. Esta é a geração que verá cada palavra que está escrita na profecia vindo ao seu cumprimento. Nos próximos dez anos haverá mais profecias se cumprindo do que em todos os anos passados. Na noite de Shabbat Jesus Cristo estará voltando. O homem estará trabalhando na Terra por seis mil anos, mas o sétimo milênio é o milênio do Senhor. Ele mesmo reinará na Terra. A que hora estamos? E naturalmente, no espaço de um encontro deste, é impossível jogar para fora todo o conhecimento que Deus nos tem dado e as revelações sobre estas coisas. Pergunto, meus irmãos: Se Satanás teve dois milênios, Israel teve dois milênios, acham que a Igreja Cristã vai ter mais que dois? Deus já disse: Seis dias trabalharás, mas no sétimo descansarás. O sétimo é o descanso. Resta ainda um repouso sabático para os filhos de Deus. Meu assunto é que o sétimo dia é o dia do Senhor e ele virá no seu dia. Não virá no primeiro da semana. Ele vem é no sétimo dia. É no sétimo milênio. O primeiro já passou, o segundo já passou, já estamos no fim do sexto e no sétimo ele vai chegar. Deus me trouxe isso no espírito agora em Israel quando eu estava às margens do Jordão. Quando um profeta não souber falar, a mula vai falar, mas Deus não ficará sem voz na Terra. Não, não vamos passar mais um milênio aqui não. Não vamos esperar um novo ciclo não. É no sétimo que eu espero Jesus. Mas para eu chegar a esta revelação, irmãos, foi preciso muita revelação noutra área para chegar ali. Porque Deus disse que Israel, embora ficasse separado, embora ficasse de lado, isso só ia durar dois dias. É isso que está na profecia de

Oséias, capítulo seis: Depois de dois dias, Tu nos ressuscitarás. Quando Israel foi restaurado em 48, era apenas o prelúdio, preparar o pano de fundo para o cumprimento da profecia profética de Jesus. Quando chegou o ano de 67, seis e sete se encontraram. 67. E o Espírito Santo começou a ser derramado na Igreja. Êta glória! Na década de 60 foi um derramar e 67 é o pico. Até eu fui visitada lá no seminário, em 67. Por causa do derramar do Espírito, o povo começou a orar em línguas, a interceder em línguas e o Espírito começou a gerar a restauração de Jerusalém sem o povo nem saber. Meus irmãos, a guerra veio sobre todo Israel. E a guerra sobre todo Israel durou quanto tempo? Seis dias. Aleluia! Sétimo é o dia da vitória. Não passará esta geração até que o resto se cumpra. Que geração? A geração que começou no dia sete de junho de 67. Quanto dura uma geração? Quarenta anos. Glória! Uma geração, contando de 67, vai até quando? 2007. Faltam quantos anos para completar uma geração desde a restauração de Jerusalém? 17 anos. A maioria esmagadora das promessas proféticas dentro da Bíblia diz respeito a uma geração que estaria viva quando Israel fosse restaurado. E que geração é esta? Nós somos esta geração. (Vídeo no arquivo da AGIR.) Há alguns pontos nesta declaração de Valnice que merecem atenção. Não há evidência de que o ano de 67 tenha sido o pico do movimento carismático. Só porque ela foi visitada no seminário onde estudou? Eu, por exemplo, não fui, pois nem crente eu era em 67. Mas esse não é o nosso assunto aqui. Valnice usa o texto de Oséias 6:2 para defender que Jesus vem no sétimo milênio: "Depois de dois dias nos revigorará; ao terceiro dia nos levantará, e viveremos diante dele". É possível que a volta de Cristo se dê no sétimo milênio ou a qualquer momento. Por outro lado, não creio que este texto de Oséias forneça alguma indicação clara de que Cristo voltará no sétimo milênio. Esta passagem tem mais a ver com acontecimentos relacionados com Israel naquela época do que com algum evento escatológico futuro. B. J. Oropeza, formado em teologia pelo seminário Fuller, na Califórnia, e articulista da revista Christianity Today (Cristianismo Hoje), comenta:

Oséias 6:2 não aponta para o ano 2000. Nesta passagem, Oséias apela aos israelitas para que se arrependam de seus pecados. Se eles se arrependerem, embora o inimigo (Assíria) os tenha devastado, Deus levantará os israelitas no "terceiro dia". Aqui a expressão "terceiro dia" representa um breve período de tempo. Em outras palavras, Deus imediatamente restauraria a nação arrependida (compare com Deuteronômio 32:29 e Amós 1:3). Isso nada tem a ver com a Segunda Vinda de Cristo dois mil anos após o seu nascimento. E os israelitas, como os judeus ortodoxos de hoje, não seguem um calendário cristão. Assim, a nossa contagem de dois mil anos não tem qualquer significado para eles. (B. J. Oropeza. 99 Reasons Why No One Knows When Christ Will Return - 99 Razões Por que Ninguém Sabe Quando Cristo Voltará. Downers Grove, Illinois, E.U.A., InterVarsity Press, 1994, p. 70.) Como o leitor pode observar, Valnice tomou a data da guerra dos seis dias de Israel, em junho de 1967, e acrescentou-lhe quarenta anos, concluindo assim que a volta de Cristo se dará no ano 2007, num sábado. Ela o fez usando as palavras de Jesus em Mateus 24:34: "Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça". Para Valnice, uma geração dura quarenta anos. Em 1990, ela afirmou que faltavam apenas 17 anos para que se completasse essa geração. Entretanto, há divergências quanto à duração de uma geração na Bíblia. Esequias Soares da Silva tratou disso num livro que escreveu sobre a escatologia das Testemunhas de Jeová e comentou: O que diz a Bíblia quanto à duração de uma geração? Segundo Jó 42:16, é um período de aproximadamente trinta a quarenta anos. O Salmo 26:6 afirma ser uma geração como um povo. Gênesis 15:16 dá a entender que se trata de um período de cem anos. Mateus 1 mostra tratar-se de um período de vida humana independentemente de sua duração. Assim como Davi viveu setenta anos (...), Abraão viveu 175 anos (Gênesis 25:7), Isaque 180 (Gênesis 35:28) e Jacó 147 (Gênesis 47:28). Mateus reputa como sendo uma geração os anos de vida de cada um destes patriarcas. Diante disto, ninguém está autorizado a definir ou dogmatizar o tempo de uma geração. (Esequias Soares da Silva, Testemunhas de Jeová. São Paulo, SP, Editora Candeia, vol. 2, p. 99.)

Quanto à data de 2007, quem viver verá. Nos dias 17 e 18 de março de 1994, participei de um evento promovido pela Associação Evangélica Brasileira (AEVB), no Hotel Guanabara, Rio de Janeiro. Na ocasião, encontrei-me com Valnice Milhomens. Quem leu o livro SuperCrentes ficou sabendo do meu esforço para conversar com Valnice sem qualquer sucesso. Escrevi-lhe várias cartas, mas não obtive resposta. Finalmente conversamos. Valnice foi muito educada e demonstrou uma atitude realmente cristã para comigo. Disse-me que me amava como irmão em Cristo e que respeitava a unção de Deus em minha vida e ministério. Eu lhe respondi que sempre a considerei como irmã em Cristo e que, por duas vezes, me referi a ela no livro SuperCrentes como tal. Acrescentei ainda que havia escrito o livro de tal maneira que nunca precisaria pedir-lhe desculpas. Em seguida, ela me disse que os dados no livro estavam errados. Expliquei-lhe que havia documentado toda a informação transmitida, inclusive a data de 2007 que ela havia marcado para a volta de Cristo. Ela negou imediatamente, dizendo-me que aquilo não era verdade. Disse-lhe que a sua reação era a mesma das pessoas que a acompanham, que me acusam de calúnia, de espalhar mentiras. Falei-lhe então que eu tinha o vídeo na minha pasta (eu havia levado o vídeo comigo, pois já sabia que ela estaria lá). Ela tentou argumentar, explicando que não era aquilo que queria dizer. Em seguida, afirmou crer que Jesus virá na sua geração. - Até nisto você está errada – respondi -, pois conheci pastores, líderes cristãos muito respeitados, que na idade avançada viviam dizendo que não morreriam, mas que ficariam vivos para a volta de Cristo. Ora, eles já morreram e Jesus ainda não voltou. O nosso encontro terminou em paz, apesar de não concordar com várias de suas posições doutrinárias. Se Valnice afirma que não foi exatamente aquilo que quis dizer, deve então dar uma explicação ao seu público, algo que ela ainda não fez. Avaliação bíblica Muitos textos das Escrituras são usados pelos "profetas do arrebatamento" no esforço de determinar a data da volta de Cristo.

Comecemos com Amós 3:7: "Certamente o SENHOR Deus não fará cousa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas". Os que usam este texto para estabelecer a data da volta de Cristo deveriam lembrar-se de que Deus já revelou seu plano aos homens na Bíblia Sagrada e seu plano futuro pode ser encontrado no livro de Apocalipse e nas passagens relacionadas. Este texto de Amós foi bem explicado por Oropeza da seguinte forma: Em Amós 3:7, a palavra plano, em outras versões segredo (sôd em hebraico), não significa que cada detalhe tem que ser revelado. Embora Deus tenha predito a destruição de Samaria pela Assíria (Amós 3:8-15), ele nunca deu a Amós uma data específica para essa destruição. Mesmo no livro de Apocalipse, Deus se recusa a revelar a mensagem dos sete trovões (10:3, 4). Assim, Deus já tem nos dado tudo o que precisamos saber sobre o futuro, mas ele não nos dá todos os detalhes - tal como a data do arrebatamento (Deuteronômio 29:29; Eclesiastes 3:11; Mateus 24:36). Em Amós 3:7-15, Deus não revela a Amós o nome do "inimigo" ou a data exata deste dia de julgamento (3:11, 14). (B. J. Oropeza. 99 Reasons Why No One Knows When Christ Will Return - 99 Razões Por que Ninguém Sabe Quando Cristo Voltará, p. 25-6.) Logo, não precisamos de uma nova revelação, mas, sim, de iluminação para entender o que já está revelado na Bíblia. Mateus 24:36 Por incrível que pareça, uma das passagens mais usadas por vários adivinhos do arrebatamento é Mateus 24:36: "Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão somente o Pai". Argumentam eles que Jesus disse que não se pode saber o dia e a hora, mas o mês e o ano de sua volta sim. Entretanto, tal argumento cai por terra quando observamos as analogias do dilúvio e do ladrão usadas por Jesus para ilustrar o seu ensino (versículos 37-39, 43). Em ambas as situações, o elemento surpresa é predominante. Assim como o pai de família não é capaz de saber a hora, o dia, o mês e o ano em que virá o ladrão, assim também será em relação à volta do Senhor. O mesmo se aplica aos homens nos dias de Noé. É importante observar, ainda neste contexto, a parábola do servo fiel e

do servo infiel (Mt 24:45-50). Se o servo mau soubesse pelo menos o mês ou o ano em que viria o seu senhor, ele não espancaria os seus companheiros e nem se comportaria mal. E, de novo, o elemento surpresa está presente. No seu comentário sobre o livro de Mateus, William Hendriksen foi bastante incisivo ao comentar Mateus 24:36: "O momento preciso daquele grande evento não foi, entretanto, indicado (...) Os anjos, embora tendo um relacionamento muito íntimo com Deus (Is 6:1-3 e Mt 18:10), e embora intimamente associados aos eventos pertinentes à segunda vinda (Mt 13:41; 24:31; Ap 14:19), não sabem o seu dia e nem a sua hora. Na verdade, nem mesmo o próprio Filho, visto do aspecto de sua natureza humana. O Pai, somente ele sabe. Isso prova a futilidade e a pecaminosidade de cada tentativa da pessoa de predizer a data do retorno de Cristo (...)" (William Hendriksen. The Gospel of Matthew - O Evangelho de Mateus. The Banner of Truth Trust, p. 869.) Os discípulos também estiveram curiosos em relação ao futuro: "Então os que estavam reunidos lhe perguntavam: Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel? Respondeu-lhes: Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou para sua exclusiva autoridade" (At 1:6, 7). Jesus já havia dito aos discípulos (Mt 24:36) que apenas o Pai sabe a data de sua vinda e aqui em Atos ele mantém a posição já tomada por ele mesmo no Evangelho de Mateus. O Senhor não quis que a data de sua vinda ou algum interesse patriótico se tornasse o principal motivo de preocupação de seus discípulos, mas, sim, a pregação do Evangelho no poder do Espírito Santo. 1 Tessalonicenses 5:1-4 Outros têm torcido também as palavras do apóstolo Paulo aos Tessalonicenses: "Irmãos, relativamente aos tempos e às épocas, não há necessidade de que eu vos escreva; pois vós mesmos estais inteirados com precisão de que o dia do Senhor vem como o ladrão de noite. Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição, como vem a dor do parto à que está para dar à luz; e de nenhum modo escaparão. Mas vós, irmãos, não estais em trevas, para que esse dia, como ladrão, vos apanhe de surpresa" (1 Ts 5:1-4). Embora os tessalonicenses precisassem de instruções acerca dos irmãos que já haviam

falecido (veja 4:13), Paulo sabia que, quanto aos eventos futuros, eles já haviam sido instruídos. Aliás, Paulo já lhes havia transmitido várias instruções da parte do Senhor (4:2). Leon Morris introduz uma excelente análise desta passagem: Por um lado, o dia é certo e os cristãos devem esperá-lo continuamente. O Senhor vem "sem demora" (Ap 22:20). Mesmo assim, ninguém sabe quando será (Mc 13:32). Ele virá sobre os homens inesperadamente. Ele virá como "um ladrão de noite". A comparação com a vinda de um ladrão é encontrada num outro lugar, mas aqui é o único lugar onde "de noite" é acrescentada. O acréscimo completa a imagem de uma aproximação totalmente desavisada e devastadora em sua imprevisão. Isto anula toda a marcação de data. (Leon Morris. The First And Second Epistles To The Thessalonians - A Primeira e Segunda Epístolas aos Tessalonicenses. Grand Rapids, Michigan, E.U.A., WM B. Eerdmans Publishing Co., 1979, p. 152.) Logo, para os que vivem em santificação, aquele dia não será de surpresa, em contraste com os incrédulos, que vivem nas trevas. Seria bom todo cristão contentar-se com Deuteronômio 29:29: "As cousas encobertas pertencem ao SENHOR nosso Deus; porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei". Existem aqueles que hoje exploram qualquer informação da mídia para causar suspense na Igreja. Basta um conflito em algum lugar do mundo, uma greve, uma guerra nas ilhas Malvinas ou uma investida de Sadam Hussein no Kwait e alguns já correm anunciando o fim do mundo ou marcando a data da volta de Jesus. É o que se chama hoje de Teologia da Mídia ou Teologia do Boato. Muitos pregadores do fim do mundo não hesitam em espalhar tais informações com o intuito de induzir as pessoas a contribuir financeiramente com seu ministério (reconheço que nem todos o fazem com este propósito). Assim, a prática de marcar datas tem trazido sérios transtornos para muitos cristãos. O que fazer diante de tudo isso então? Acho que os crentes fariam muito em evitar qualquer material sensacionalista que trata da volta de Cristo. Os que se deixam levar pela marcação de datas trazem prejuízos para

si e para seus familiares, pois acabam vendendo propriedades, abandonando seus empregos e desistindo de estudar. Além disso, há o prejuízo espiritual, pois quando o previsto não acontece (e não tem que acontecer mesmo), alguns entre os decepcionados passam a não querer acreditar mais na Bíblia. Existe ainda o prejuízo para o testemunho cristão, pois torna-se mais difícil evangelizar quando a credibilidade da Palavra de Deus é questionada pelos incrédulos devido às previsões anunciadas pelos cristãos que não se cumprem. O Senhor Jesus voltará quando ele mesmo decidir e não porque eu creio de uma forma e outro de outra. Ninguém possui uma teologia capaz de determinar quando ele virá. Tudo o que eu sei é que ele virá. Quando e como, já não posso dizer. Só sei também que, se ele tardar um pouco, eu irei, e de qualquer forma vamos nos encontrar. E enquanto ele não vem, temos coisas mais importantes a fazer, como ganhar almas e dar tudo de nós para que o seu nome seja glorificado e o seu reino se estenda na Terra. A preocupação com o futuro diminui quando temos a certeza de que Jesus Cristo já está no futuro nos esperando. Quando lá chegarmos, sua mão e sua presença estarão conosco nos guardando e sustentando, como ele mesmo garantiu aos discípulos: "E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século" (Mt 28:20).

9 - Discernir é preciso Neste capítulo final, pretendo, dentro de minhas limitações, oferecer algumas sugestões que poderão poupar o cristão de envolver-se com manipulações e ensinos falsos. Devido ao fantástico avanço na área das comunicações, nenhuma outra geração na história foi tão bombardeada com a quantidade de informações com que somos hoje. Tais informações chegam quase que ininterruptamente até nós, invadindo nossos lares, escolas, locais de trabalho e igrejas. Parte delas surge de fontes cristalinas, promovendo a glória de Deus e o fortalecimento dos crentes, enquanto outras surgem de fontes insalubres, agredindo a ortodoxia da Igreja e causando prejuízo ao reino de Deus. Pode ser dito que o momento atual vivido pela Igreja é um tanto delicado. Para sobreviver espiritualmente em tais circunstâncias, o cristão, neste final de

milênio, precisa de uma boa dose de discernimento. De acordo com uma enciclopédia bíblica, (Geoffrey W Bromiley Editor. The International Standard Bible Encyclopedia - Enciclopédia Bíblica Padrão Internacional, Grand Rapids, Michigan, E.U.A., Eerdmans, 1979, vol.l, p. 947.) tanto o verbo "discernir" quanto o substantivo "discernimento" ocorrem apenas quatro vezes no Novo Testamento. Três destes termos gregos estão baseados no verbo krino (kritikós, anakríno, diakríno), que basicamente significam "peneirar" ou "distinguir", "selecionar" ou "separar", recebendo também o significado comum de decidir ou julgar. O adjetivo kritikós, denotando "aquele que tem a forma de um juiz, que é capaz de julgar, que tem o direito de julgar, que está engajado em julgar (...)" é empregado para a palavra de Deus em Hebreus 4:12: "Porque a Palavra de Deus é viva e eficaz, (...) e apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração". O verbo anakríno geralmente se refere a algum tipo de exame ou investigação judicial. Diakríno tem muitos sentidos diferentes; em geral, ele tende a reforçar o sentido de kríno. O quarto termo, aísthesis, não está relacionado a kríno e ocorre apenas uma vez no Novo Testamento. Ele é usado no sentido de distinção moral, que capacita alguém a aprovar o que é excelente (Fp 1:9, 10). W E. Vine acrescenta ainda o verbo dokimazo, que significa testar, provar ou esquadrinhar. (W E. Vine. An Expository Dictionary of Biblical Words - Dicionário Expositivo de Termos Bíblicos. Nashville, E.U.A., Thomas Nelson Publishers, 1984, p. 307.) O crescimento espiritual saudável depende do exercício constante do discernimento. O crente deve exercitar a sua consciência, os sentidos e a mente para saber a diferença entre a verdade e o erro, entre o uso correto e incorreto das Escrituras. Além disso, discernir não é uma opção, mas um mandamento bíblico: "Julgai todas as cousas, retende o que é bom"(1 Ts 5:21). Os cuidados do crente O discernimento na vida do crente não é uma opção, mas um mandamento bíblico. João recomendou aos seus leitores que ficassem atentos, pois naquela época o gnosticismo já estava influenciando parte de seus leitores. Esta heresia ensinava que a verdade de Deus só poderia ser compreendida por um grupo especial, privilegiado, além de negar verdades

fundamentais quanto à pessoa de Cristo, como a encarnação e ressurreição. Por isso João então alertou: "Amados, não deis crédito a qualquer espírito: antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora" (1 Jo 4:1). De acordo com o escritor do livro de Hebreus, o discernimento é uma das marcas da maturidade espiritual: "Ora, todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança. Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal" (Hb 5:13, 14). Infelizmente, o cenário espiritual hoje é muito pior do que nos dias da Igreja primitiva, exigindo cuidados constantes do cristão. Nas livrarias evangélicas O crente que entrasse numa livraria evangélica antigamente não precisava tomar tanto cuidado. Na maioria das vezes, ele tinha à sua disposição apenas material equilibrado, refletindo, portanto, sólidos ensinamentos bíblicos. Mas essa tranqüilidade acabou. Para nossa surpresa, muitas livrarias evangélicas hoje parecem um terreno minado. O crente cuidadoso tem que entrar com muita atenção para não comprar livros prejudiciais à vida cristã (é claro que não são todas que fazem isso). É difícil entender por que isso acontece. Talvez muitos proprietários ou gerentes de livrarias evangélicas não tomem cuidado ao selecionar os itens que vendem por falta de informação ou por não conhecerem o conteúdo do material que distribuem. Entretanto, ao visitar algumas livrarias, tenho a impressão de que, por dinheiro, algumas estão dispostas a vender qualquer coisa, sem se preocupar com as conseqüências e o prejuízo espiritual dos clientes. Pasme o leitor, mas há livrarias evangélicas hoje que estão distribuindo, com toda a tranqüilidade, livros e Bíblias católicos. O crente compra uma dessas Bíblias, lê o texto bíblico e depois vai verificar a interpretação nas notas explicativas de rodapé, passando assim a assimilar a posição católica romana daquela passagem. Lamentável! Fico imaginando se os proprietários e gerentes de algumas livrarias evangélicas fossem donos de restaurantes e tivessem com a comida o mesmo cuidado que têm com os livros que vendem. Já pensaram que tipo de comida seus clientes estariam consumindo? Ora, se um restaurante tem que ter o

cuidado de servir uma comida saudável aos seus clientes para não lhes causar um dano físico, muito mais cuidado devem ter nossas livrarias de distribuir somente bom material, que não venha causar aos seus clientes um dano espiritual muitas vezes eterno. A revista Christianity Today (Cristianismo Hoje) informa que, algum tempo atrás, vários livreiros evangélicos começaram um sério boicote aos livros que trazem ensinos controvertidos. Steve Adams, presidente da Evangel, Inc., afirmou que a sua decisão de fazer isso foi uma questão de saber o que a Palavra de Deus diz. "Nossa indústria precisa policiar-se para evitar ensinos não-biiblicos e heréticos. Por isso, tirei de minhas estantes os livros de Copeland, Hagin e Hinn. Seus ensinos são uma aberração." A revista relata que o presidente da associação dos donos de livrarias e da Associação Cristã de Livreiros (Christian Bookseller's Association CBA), Jim Reimann, diz: "Nós [como indústria] precisamos buscar nas Escrituras o que é bíblico e confrontar com o que nos tem sido oferecido para vender em nossas livrarias, e não comerciar aquilo que não for bíblico". Um dos membros da CBA, Winston Maddox, da Evangelical Books and Bibles (Livros Evangélicos e Bíblias), também parou de vender livros com ensinos controvertidos. "Precisamos examinar cada mestre e perguntar a nós mesmos: o ensino que ele apresenta utiliza apenas uma pequena porção bíblica, negligenciando seu contexto global (...) e as práticas por ele ensinadas têm a finalidade de glorificar a Deus ou de exaltar o autor do ensino?" (Revista Christianity Today, 16 de agosto de 1993, p. 38-9.) É bastante animadora a atitude desses irmãos na América do Norte e seria uma bênção para a Igreja do Senhor se os exemplos mencionados acima começassem a ser seguidos também aqui no Brasil. Nas editoras evangélicas Geralmente, as livrarias somente distribuem as obras produzidas pelas editoras evangélicas. Sendo assim, a responsabilidade das editoras em produzir material de qualidade e biblicamente confiável torna-se ainda maior. Damos graças a Deus por muitos livros que têm abençoado grandemente o povo de Deus em diferentes áreas do ministério cristão e da necessidade humana. Por outro lado, lamentamos que algumas editoras não possuam filtro teológico e sejam descuidadas em relação ao conteúdo bíblico daquilo que publicam. Assim, várias editoras freqüentemente publicam material com

conteúdo nocivo à fé cristã e que tenha causado algum sensacionalismo, principalmente no mercado evangélico norte-americano. É incrível que livros devidamente analisados e refutados por teólogos sérios nos Estados Unidos e em outras partes do mundo, infelizmente, acabem encontrando espaço no meio editorial cristão do Brasil. Talvez a Abec (Associação Brasileira de Escritores Cristãos) pudesse servir como órgão orientador nesse aspecto, proporcionando, sem qualquer imposição, critérios para publicação e distribuição de livros. O mais triste de tudo é que há entre os proprietários de editoras e livrarias evangélicas aqueles que, mesmo alertados com amor, continuarão persistindo no erro. Mas eles não podem se esquecer de que são responsáveis diante da Igreja e do Senhor pelo material que produzem e distribuem. Na educação teológica Esta é uma outra área que exige cuidado. Há várias instituições evangélicas no Brasil que oferecem um bom ensino teológico. Em contrapartida, cresce cada vez mais o número de instituições evangélicas e organizações paraeclesiásticas de ensino religioso no país que são verdadeiras aberrações. Ao invés de teologia sistemática, hermenêutica, línguas bíblicas, história da Igreja e outras matérias importantes para o ensino cristão, tornamse obcecadas com batalha espiritual, cura interior, visões e revelações. O triste é que há muitos que são atraídos por esse tipo de coisas. Em se tratando de educação teológica, nada melhor do que consultar a AETAL (Associação Evangélica de Educação Teológica na América Latina), que reúne instituições evangélicas de educação teológica no continente latino-americano, no seguinte endereço: Rua Vergueiro, 3.051, CEP 04101300, São Paulo, SP. A AETAL é membro do Conselho Internacional de Agências de Reconhecimento (ICAA International Council of Accrediting Agencies), órgão da Aliança Evangélica Mundial (WEF - World Evangelical Fellowship), e nesta qualidade, trabalha em cooperação com as demais agências de reconhecimento da educação teológica evangélica internacional (Manual de Reconhecimento, p. 2). Os outros cuidados incluem: - Procurar pessoalmente a escola. - Conversar com ex-alunos para saber suas opiniões sobre a referida

instituição. - Verificar se a posição doutrinária da escola não vai causar conflito com a posição de sua denominação. Há grupos que criam problemas para os formandos, mesmo tratando-se de questões secundárias. - Examinar o conteúdo do programa ou o currículo escolar. - Verificar a duração do curso e o número de créditos que ele concede. - Informar sobre as qualificações do corpo docente. De acordo com o Manual de Reconhecimento da AETAL, "o corpo docente deve ser normalmente constituído de professores que tenham grau acadêmico superior àquele que estão lecionando (...) Para assessorar uma tese, o professor deve ter defendido uma em nível igual ou superior" (p. 25). - Verifique se o acervo da biblioteca é adequado ao programa de ensino oferecido pela instituição (Manual de Reconhecimento, p. 21). - Qualquer pessoa deve tomar cuidado com diplomas de mestrado e doutorado oferecidos em diferentes partes do Brasil, muitas vezes até por correspondência. Há casos em que tais diplomas são oferecidos depois de algumas aulas num dia de sábado. Preste atenção a um alerta da AETAL sobre isso: "FÁBRICA DE DIPLOMAS - Cuidado com escolas e associações que andam concedendo, de maneira totalmente inconseqüente e irresponsável, graus de bacharel, mestre e doutor pelo Brasil afora. Tais instituições costumam mencionar que seus programas educacionais teológicos encontram-se regulamentados por lei federal, faltando com a verdade e enlameando o bom nome dos evangélicos no País". (AETALBRASIL - Boletim Informativo, vol. 1, n. 6, abril de 1995, p. 2.) Na verdade, isso não passa de desonestidade e exploração por parte de alguns. - Verifique se a instituição teológica em perspectiva é reconhecida ou autorizada por outros órgãos sérios no Brasil e no exterior, e se os créditos

adquiridos podem ser transferidos e aceitos por outras instituições de ensino no país, reconhecidas pelo MEC (Ministério de Educação e Cultura). Quanto a isso, a AETAL está à altura para fornecer informações confiáveis aos interessados. Ao escolher uma igreja Devido ao grande número de igrejas e denominações hoje, os crentes devem discernir no momento de escolher o seu local de cultuar a Deus. Aqui vão algumas sugestões: - Verifique se a igreja em perspectiva tem compromisso em ensinar a Bíblia de forma séria e equilibrada. Algumas são muito fracas, oferecendo apenas o "leite" da Palavra de Deus, isto é, apenas ensinos para novos convertidos. A igreja deve estar estruturada para fornecer aos seus membros o alimento sólido da Palavra a fim de levá-los ao crescimento espiritual. George Wood foi certa vez aconselhado por um amigo da seguinte maneira: O que você faz como pastor para atrair as pessoas é o que você terá que fazer para segurá-las. Se você está sempre se valendo da última novidade, vai ter que manter as novidades para segurar o auditório. Mas se você prega a Palavra de Deus e faz de Cristo o centro, então isso é tudo o que você tem que continuar fazendo para segurar as pessoas (...)". [George Wood diz:] Tenho observado freqüentemente que os líderes que embarcam nessas ondas têm a tendência de sempre embarcar nas próximas que surgem, quando a anterior já passou. (George Wood. The Laughing Revival - O Reavivamento do Riso, manuscrito não publicado, p. 10) - Verifique a que grupo ou denominação a igreja em questão está afiliada. Quanto mais eu evangelizo adeptos de seitas, mais eu valorizo as denominações, pois elas sempre estabelecem parâmetros doutrinários para os seus membros. Embora seja possível, por exemplo, que uma igreja batista ou presbiteriana, isoladamente, abrace algum ensino controvertido, seria muito difícil uma denominação toda sucumbir a uma heresia. Naturalmente que uma igreja independente pode ter bases bíblicas sólidas e ser equilibrada em sua atuação, mas isso não dispensa uma avaliação cuidadosa do grupo. - É importante pedir uma declaração de fé ou doutrinária da igreja em

vista. Examine com cuidado as posições da igreja sobre as doutrinas fundamentais da fé cristã. Cuidado com informações vagas e não muito claras. Não hesite em fazer perguntas sobre algo que não entendeu. Afinal, você e toda a sua família passarão a depender espiritualmente do que será ensinado ali. - Lembre-se de que a AEVB (Associação Evangélica Brasileira, Caixa Postal 100.084 - CEP 24001-970 - Niterói RJ) está à altura para fornecer informações corretas e dirimir suas dúvidas quanto a essa questão. Procure também os recursos da AGIR - Agência de Informações Religiosas, que com equilíbrio e dedicação tem auxiliado as igrejas e o público em geral em relação aos problemas doutrinários de seitas e grupos religiosos controvertidos (veja os dados sobre a AGIR no fim deste livro). Outros critérios Antes de envolver-se com alguma igreja ou de apoiar algum ministério, o crente precisa adotar alguns critérios que poderão livrá-lo de desapontamentos e prejuízos espirituais. - Seja um crente bereano (At 17:11, 12). Está na hora de deixar de lado toda a ingenuidade e passar a desenvolver um ceticismo positivo e saudável. Tem gente disposta a crer em qualquer coisa, qualquer história ou testemunho, sem qualquer questionamento. George Wood, um dos líderes das Assembléias de Deus nos Estados Unidos, informa que no fim da era apostólica e no começo do segundo século, uma heresia chamada gnosticismo se desenvolveu dentro do cristianismo. Seu título vem da palavra grega gnosis, conhecimento. Os gnósticos diziam ter revelação extrabíblica e eram profundamente fascinados com o mundo invisível e com hierarquias de anjos. Você não seria considerado "espiritual" a menos que aceitasse o seu tão chamado conhecimento secreto, seu mapeamento do mundo dos principados e potestades" (o grifo é meu). [George Wood acrescenta ainda:] Precisamos estar precavidos sobre este reaparecimento de um novo gnosticismo na Igreja hoje, que leva as pessoas além do sólido fundamento das Escrituras para a órbita de personalidades persuasivas que

promovem e vendem suas próprias idéias e experiências. Os tais não obedecem a admoestação apostólica: "prega a palavra" (2 Timóteo 4:2), preferindo, ao invés disso, impor sobre o Corpo de Cristo, por amor ao dinheiro ou fama, o seu novo elixir espiritual secreto. Da próxima vez que uma nova "onda" de doutrina atingir a sua igreja, pergunte a si mesmo: Se isso é tão importante, por que Jesus não o mencionou? Por que os apóstolos não mencionaram isso? Por que não há qualquer referência ou mandamento sobre isso? Por que tal coisa não parece ter sido ensinada ou praticada pela Igreja primitiva? As perguntas de George Wood aqui valem tanto para a unção do riso (ou unção de Isaque), espíritos territoriais, mapeamento espiritual, quebra de maldições hereditárias, confissão positiva quanto para qualquer outra novidade doutrinária que venha surgir na Igreja do Senhor. Precisamos tomar cuidado mesmo! Não é errado questionar. Quando Paulo chegou a Beréia, já possuía um currículo bem respeitado. Havia estudado com Gamaliel, mestre da lei e acatado por todo o povo. Desfrutava da confiança das autoridades que lhe deram autorização para perseguir os cristãos e havia passado por uma conversão fantástica. Nem por isso os crentes de Beréia foram ouvir o grande apóstolo pregar desprovidos de qualquer senso crítico. Mesmo tendo recebido a Palavra com avidez, na medida em que Paulo e Silas ensinavam, eles examinavam as Escrituras para verificar se as informações estavam corretas. E, ao invés de serem taxados de incrédulos ou duros de coração, a Bíblia disse que eles foram mais nobres do que os de Tessalônica (At 17:10, 11). Que grande exemplo! Mas há outros critérios que não devem ser desprezados. - Verifique se o ministério com o qual você pretende se envolver é responsável financeiramente e se existe prestação de contas. Há muitos, por esse Brasil afora, que são mestres em manipular as pessoas a fim de fazer do dinheiro da igreja o que bem entendem. Se uma instituição não for responsável financeiramente, também não deve ser apoiada financeiramente. - Verifique se a igreja ou o ministério são moralmente confiáveis. Se um líder ou a liderança de uma igreja se envolvem em escândalos morais, é preciso então tratar da situação com amor, de forma bíblica e com firmeza.

Não estamos falando aqui apenas de adultério. Há vários problemas que podem afligir uma organização cristã, como mentira, desvio de dinheiro e outros. É importante também que casos assim sejam tratados de tal forma que venha resultar na restauração e não na destruição dos que falharam. É claro que, dependendo da gravidade da situação, alguém talvez venha perder de uma vez a sua reputação ou posição de líder cristão. É uma grande bênção ser um ministro de Deus. Entretanto, tal posição traz consigo uma grande carga de responsabilidade. Observe então se o grupo em potencial se esforça para praticar a ética cristã e viver a Palavra de Deus. Se a atitude é de displicência e o "jeitinho brasileiro" é tolerado sem qualquer resistência, fique longe de tal grupo, pois não se trata de um ministério sério ou saudável. - Verifique se os métodos de levantamento de fundos do ministério são bíblicos. Um dos grandes males em vários segmentos evangélicos hoje tem a ver com a forma de levantar fundos para o ministério e a administração financeira dos bens arrecadados. Há muitos casos de coerção e manipulação quando se trata de tirar o dinheiro das pessoas. Um dos casos mais notáveis de abuso no levantamento de fundos foi Oral Roberts, nos Estados Unidos. Em 1987, ele disse no seu programa de televisão que Deus iria matá-lo se ele não arrecadasse U$ 8, 5 milhões. Nessa ocasião, eu mesmo vi seu filho Richard Roberts dizendo num programa de TV "Por favor, envie a sua oferta e ajude papai a completar mais um aniversário". A tática de Oral Roberts funcionou. Um apostador de corrida de cães na Flórida contribuiu com uma grande soma e completou o que faltava. Mas, como já vimos anteriormente, nem tudo o que funciona é bíblico ou tem a aprovação de Deus. Outros são tão criativos em adotar símbolos trocados por ofertas que se alguém perder um só dia de reunião, já é o bastante para ficar desatualizado. Há óleo ungido, aliança ungida, rosa ungida, fogueira santa, corrente da prosperidade, corredor dos milagres, corrente dos setenta apóstolos, sal ungido, vale do sal, túnel do amor, lenço ungido, e muito, muito mais. É verdade que o profeta Isaías ordenou que uma pasta de figos fosse colocada sobre a úlcera de Ezequias e ele sarou (2 Rs 20:7). Também os lenços e aventais do uso pessoal de Paulo eram levados e colocados sobre os

enfermos e eles eram curados, enquanto outros ficavam libertos (At 19:10, 11). Entretanto, não há qualquer informação nesses relatos bíblicos de que tanto Isaías quanto Paulo tenham aproveitado a ocasião ou os milagres para levantar ofertas ou recolher os dízimos. John Stewart observou que os mestres da manipulação financeira levam as pessoas a contribuir através de apelos emocionais, da culpa, do medo e até do desespero. O autor acrescenta ainda: A pior violação na prática de levantamento de fundos acontece quando o ministério sugere às pessoas que elas somente terão suas orações respondidas se forem obedientes. Naturalmente que o ministério define "obedecer" como contribuir financeiramente. Esta prática tem criado um tipo de "indulgência" protestante, através da qual uma pessoa bem-intencionada, mas biblicamente desinformada, tenta comprar o favor de Deus. Isso se constitui na pior manipulação espiritual - invocar o nome de Deus para, impropriamente, coagir as pessoas a dar dinheiro. (John Stewart. Holy War Guerra Santa. Enid, Oklahoma, E.U.A., Fireside Publishing & Communications, 1987, p. 200-1.) - Não apóie uma igreja ou ministério centralizados no dinheiro. Há igrejas ou ministérios que não conseguem falar noutra coisa a não ser em dinheiro. É verdade que os crentes devem contribuir com seus dízimos e ofertas por gratidão a Deus, com base num entendimento correto e equilibrado nas Escrituras, procurando sempre ser bons mordomos dos bens que lhes foram confiados por Deus. Infelizmente, os abusos vão continuar porque muitas pessoas permitem o abuso, não conseguem questionar qualquer coisa, e se deixam manipular com muita facilidade. - Importante: Não procure uma igreja perfeita, porque ela não existe. A Igreja, no seu organismo visível, não é perfeita, já que é constituída de seres humanos, que, por natureza, são imperfeitos. Não existe também qualquer grupo que esteja obedecendo à Bíblia de forma infalível, embora haja grupos que se esforcem mais do que outros em fazer a vontade do Senhor. Mas graças a Deus, pois se compadece de nós, abençoa-nos e faz prosperar a sua obra, apesar das nossas imperfeições e de não merecermos. Alguns "mandamentos" do discernimento (Várias idéias aqui foram extraídas do livro Orthodoxy And Heresy - Ortodoxia e Heresia, de Robert

M. Bowman. Grand Rapids, Michigan, E.U.A., Baker Book House, 1992, p. 101-7.) - Aprenda a exercer discernimento enquanto cresce na fé, no amor e na santidade. O discernimento doutrinário deve envolver a oração, a comunhão com outros crentes, e a ministração aos demais irmãos e aos perdidos. - Desenvolva uma compreensão completa e saudável das Escrituras. Quanto mais o cristão compreender a Palavra de Deus, mais facilmente ele poderá distinguir a verdade do erro. Nem todo crente é chamado para ser um erudito da Bíblia, mas todo crente pode e deve estudar a Bíblia em profundidade e adquirir um entendimento adequado dos seus ensinos. Há várias maneiras de se estudar a Bíblia e todas são importantes. Ao ler a Bíblia, faça um esforço para memorizar o maior número de textos possível. Use livros que o ajudarão a entender melhor as Escrituras, tais como enciclopédias e dicionários bíblicos. Estude a Bíblia a sós ou em grupo. Escolha pessoas competentes no ensino da Palavra de Deus e tente aprender o máximo com eles. Seja um assíduo freqüentador da escola dominical. Tenho frisado constantemente nas conferências do Instituto Cristão de Pesquisas que a melhor maneira de combater o falso, isto é, as heresias, é conhecer o original, isto é, a Palavra de Deus. - Aprenda a pensar de forma lógica e sensível. Pensar logicamente significa pensar de tal forma que se evitem falsas conclusões a partir de premissas verdadeiras. O propósito do estudo da lógica é administrar a arte de pensar claramente. É possível ter todos os fatos e chegar a conclusões falsas, se a maneira de interpretar aqueles fatos for incorreta. O raciocínio pobre é um grande problema no campo do discernimento doutrinário hoje. Todos nós precisamos aprimorar a nossa habilidade de raciocínio o mais que pudermos quando buscamos discernir questões doutrinárias. - Estude as doutrinas cristãs de várias tradições dentro do cristianismo ortodoxo. Ao tornar-se familiarizado com as doutrinas básicas da fé, procure conhecer as diversas posições sobre as doutrinas cristãs dentro da família evangélica. É bom saber os diferentes pontos de vista sobre batismo, milênio, dons espirituais, predestinação e outros. Isso vai ajudá-lo a conhecer melhor a

diferença entre o que é básico e o que não é, proporcionando uma posição mais madura e bíblica em relação a tais questões. - Conheça toda informação relevante possível sobre um ensino questionável ou um grupo religioso antes de fazer qualquer juízo. Há várias maneiras de se adquirir informações sobre um grupo. Você pode inquirir sobre a afiliação religiosa - a denominação ou a religião de um líder ou grupo, embora haja casos em que certas organizações ou pessoas neguem as suas afiliações religiosas. Nesse caso, você pode consultar obras de referências, dicionários ou enciclopédias que tragam as informações sobre grupos religiosos e suas crenças. - Não assuma que o emprego de uma terminologia ortodoxa seja a garantia de uma crença ortodoxa. Em casos questionáveis em que nenhuma análise ou avaliação cristã já tenha sido feita, é importante adquirir informações de primeira mão sobre as doutrinas de um grupo. É sempre útil pedir uma declaração doutrinária. Entretanto, tenha em mente duas coisas: Primeira, há grupos que não possuem qualquer declaração doutrinária e mesmo assim são ortodoxos. Segunda, as declarações doutrinárias de grupos heréticos muitas vezes são feitas soando o mais ortodoxo possível para evitar críticas e refutações. Os mórmons, por exemplo, usam terminologias cristãs como salvação, Deus e várias outras. Entretanto, o que eles professam sobre Deus, salvação e outras doutrinas é muito diferente do que ensina o cristianismo. No caso de grupos que são desonestos sobre sua verdadeira doutrina, consiga o máximo possível de informações sobre suas crenças e compare o que eles dizem para o público com o que eles dizem uns aos outros. Talvez seja preciso freqüentar algumas de suas reuniões e fazer perguntas sem parecer crítico, ou obter materiais de dentro do grupo disponíveis apenas aos que são membros. Entretanto, tais pesquisas devem ser feitas apenas por crentes que tenham experiência e treinamento na área de discernimento espiritual. Em alguns casos, ex-membros de grupos heréticos podem ser a melhor fonte de informações e materiais. Além dos "mandamentos" acima, formulados por Robert Bowman, gostaria de sugerir ainda que você nunca receba alguém estranho à porta de sua casa querendo lhe ensinar a Bíblia ou convidando-o para um estudo

bíblico. Sem ser hostil, mas com firmeza, diga ao visitante que você nunca estuda a Bíblia com estranhos, que é somente o seu pastor quem lhe ensina a Palavra de Deus. Isso vai protegê-lo das investidas de testemunhas-de-Jeová, mórmons e outros que constantemente estão indo de porta em porta, espalhando suas doutrinas antibíblicas. Creio ser muito útil também que as igrejas realizem periodicamente seminários de atualização sobre seitas e movimentos religiosos controvertidos. Os que participam de tais eventos serão vacinados contra as heresias que abundam hoje e o rebanho do Senhor ficará mais protegido doutrinariamente.

Uma palavra final Escrevi este livro movido muito mais pela obrigação do que pelo prazer, pois é tarefa, não apenas minha, mas de todo cristão, ser zeloso pela Palavra de Deus. O falecido Dr. Walter Martin, um dos maiores defensores da fé cristã nos últimos anos, disse certa vez, com muita sabedoria: "Controvérsia apenas por amor a controvérsia é pecado. Controvérsia por amor à verdade é um mandamento bíblico". Que Deus nos dê graça para sermos obedientes e nos ajude sempre a batalhar diligentemente pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos (Jd 3). Como fiz no livro SuperCrentes, quero reafirmar aqui que continuo aberto para o diálogo e para ser corrigido se errei em alguma coisa, pois não sou perfeito. Tive o cuidado de examinar toda informação, todas as citações, e tenho toda a documentação de tudo o que foi usado em vídeo, fita cassete ou por escrito. Tantos os editores quanto eu temos o compromisso de eliminar qualquer falha que venha a ser constatada. Tem sido o meu propósito, ao longo deste trabalho, ajudar o Corpo de Cristo a discernir entre a verdade e o erro. Que através dele muitos possam abandonar uma superfé que serve apenas para incentivar o crente à ganância, à sede do poder terreno e a querer exercitar poderes espirituais que as Escrituras nunca lhe conferiram. A Igreja precisa urgentemente deixar de estabelecer doutrinas sobre experiências, interpretações particulares, e ídolos humanos, voltando à fé simples que glorifica a Deus e não ao homem, tendo a Bíblia como a autoridade final, a única autoridade para a nossa vida e fé.

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