Esboços de Teologia

Table of contents :
OdinRights
índice
Prefácio
Teologia Cristã;
Sua Relação com Outros Ramos do Conhecimento Humano
Origem da Idéia de Deus e Prova da Sua Existência
Os Mananciais da Teologia
, A Inspiração das Escrituras
Comparação de Sistemas
Credos e Confissões
A INTELIGÊNCIA INFINITA DE DEUS
A Santíssima Trindade
98. Qual era a posição daqueles que procuravam dim
Os Decretos de Deus em Geral
Predestinação
A Criação do Mundo
Os Anjos
A Providência
A Constituição da Alma, a Vontade, a Liberdade, etc.
A Criação e o Estado Original do Homem
A Aliança das Obras
A Natureza do Pecado e o Pecado de Adão
O Pecado Original
Incapacidade
A Imputação do Pecado Original de Adão à sua Posteridade
A Aliança da Graça
A Pessoa de Cristo
O Ofício Medianeiro de Cristo
A Propiciação: sua Natureza, Necessidade, Perfeição e Extensão
A Intercessão de Cristo
O Reinado Medianeiro de Cristo
A Regeneração
A Fé
A União dos Crentes com Cristo
O Arrependimento e a Doutrina Católico-Romana das Penitências
A Justificação
A Santificação
A Perseverança dos Santos
A Morte e o Estado da Alma depois da Morte
A Ressurreição
O Segundo Advento e o Juízo Geral
O Céu e o Inferno
Os Sacramentos
O Batismo: Natureza, Propósito, Objetos, Modo, Eficácia e Necessidade
A palavra abençoar oubendizer é empregada nas Escr
índice de Autores e de Assuntos

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ESBOÇOS de TEOLOGIA Archibald Alexander Hodge, D. D. / /:.V •" / ' cProfessor de Teologia Sistemática no Seminário Teológico de Princeton Newjersey, EUA PUBLICAÇÕES EVANGÉLICAS SELECIONADAS Caixa Postal 1287 01059970-São Paulo-SP Título original: F.J.C.S. - Lisboa Primeira edição lançada no Brasil: ■ ’ ":ií 2001 : f ■ ■■ • ■

Linguagem atualizada: Odayr Olivetti e Azená Valim Olivetti Revisão: Antonio Poccinelli Cooperador: José Serpa Capa: H t l * ■ (}\(? t.

Sérgio Menga Impressão: " i Imprensa da Fé • índice Prefácio Teologia Cristã; Sua Relação com Outros Ramos do Conhecimento Humano Origem da Idéia de Deus e Prova da Sua Existência Os Mananciais da Teologia , A Inspiração das Escrituras Comparação de Sistemas Credos e Confissões A INTELIGÊNCIA INFINITA DE DEUS A Santíssima Trindade 98. Qual era a posição daqueles que procuravam dim Os Decretos de Deus em Geral Predestinação A Criação do Mundo

Os Anjos A Providência A Constituição da Alma, a Vontade, a Liberdade, etc. A Criação e o Estado Original do Homem A Aliança das Obras A Natureza do Pecado e o Pecado de Adão O Pecado Original Incapacidade A Imputação do Pecado Original de Adão à sua Posteridade A Aliança da Graça A Pessoa de Cristo O Ofício Medianeiro de Cristo A Propiciação: sua Natureza, Necessidade, Perfeição e Extensão A Intercessão de Cristo O Reinado Medianeiro de Cristo A Regeneração A Fé A União dos Crentes com Cristo O Arrependimento e a Doutrina Católico-Romana das Penitências A Justificação A Santificação A Perseverança dos Santos A Morte e o Estado da Alma depois da Morte A Ressurreição O Segundo Advento e o Juízo Geral O Céu e o Inferno Os Sacramentos O Batismo: Natureza, Propósito, Objetos, Modo, Eficácia e Necessidade A palavra abençoar oubendizer é empregada nas Escr índice de Autores e de Assuntos

índice Capítulos " ' ........ . . Páginas

Prefácio Apresentando este livro ao leitor, tenho a dizer que a concepção e a execução da obra são devidas à experiência que tive de ser necessário tal manual de definições e argumentações teológicas, no meu trabalho de instruir os membros da Igreja da qual fui pastor. Os diversos capítulos foram, em primeiro lugar, preparados e usados por mim como as bases de uma série de discursos dirigidos, sem notas, à minha congregação nos domingos à noite, e no uso que assim fiz delas, achei que estas preparações eram úteis além das minhas esperanças; pois a maior parte da congregação foi induzida a entrar, com muito interesse, no estudo até dos assuntos mais abstrusos. Tendo, pois, esta obra passado por essa prova prática, ofereço-■a, agora, a meus colegas no ministério do evangelho para que dela se sirvam, se quiserem, como um repertório de material digesto para o ensino doutrinário do seu povo, seja em classes bíblicas, seja por meio de discursos no culto público. Ofereço-a também como uma tentativa de prover assim a uma reconhecida necessidade pública, como um resumo de estudo teológico para uso dos estudantes de teologia em geral, e para uso dos muitos laboriosos pregadores do evangelho a quem falta o tempo necessário ou a oportunidade, ou outro meio essencial, para estudarem as obras custosas e elaboradas das quais se colheram os materiais deste compêndio. As perguntas têm sido conservadas formalmente, não com o fim de adaptar assim o livro de qualquer modo ao ensino catequético, e sim, por ser este o modo mais conveniente e perspícuo de apresentar um “esboço de teologia”. Esta mesma necessidade de condensar, espero que sirva para desculpar, até certo ponto, alguns casos de obscuridade nas definições e alguns em que talvez haja falta de ilustrações, casos que o leitor, sem dúvida, notará. No Prefácio da segunda edição desta obra (em inglês), revista e aumentada, o editor ainda diz: O Prefácio da edição original narra, acurada e um tanto circunstanciadamente, a maneira pela qual se originou esta obra. Desde a sua primeira publicação até agora têm se multiplicado as provas de que ela proveu a uma necessidade pública, e grande número de exemplares têm sido vendidos na América do Norte e na Grã-Bretanha. Além disso, tem sido traduzida para a

língua do País de Gales e para o grego moderno, e é usada em diversos seminários teológicos. Desde que saiu a sua primeira edição, o autor tem estado ocupado catorze anos no trabalho prático de instrutor teológico. Tem adquirido mais conhecimentos e também mais experiência como professor, e estes têm sido utilizados nesta nova e aumentada edição, que chegou ao seu tamanho atual mediante os acréscimos feitos durante alguns anos de ensino ministrado às diversas classes do Seminário Teológico. Esta edição contém quase cinqüenta por cento mais matérias que a primeira. As discussões das doutrinas que dividem os diversos ramos da Igreja, têm sido acrescentados extratos dos principais credos, confissões e clássicos escritores teológicos das grandes Igrejas históricas. E o apêndice contém uma tradução do Consensus Tigurinus de Calvino, e da Fórmula Consensus Helvética de Heidegger e Turretino, duas confissões de muito grande interesse doutrinário para o estudante da teologia reformada, mas pouco acessíveis. A obra é outra vez oferecida à Igreja Cristã, não como um tratado completo sobre teologia sistemática para uso dos proficientes, e sim como um simples manual, adaptado às necessidades dos estudantes que tomam suas primeiras lições nesta grande ciência, e à conveniência dos muitos trabalhadores sérios que talvez desejem refrescar a sua memória por meio de uma revisão sumária do terreno sobre o qual passaram nos primeiros anos de seus estudos teológicos. -A. A. Hodge Princeton, Newjersey 06 de agosto de 1878 - l>0,: -l : •

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Teologia Cristã; Suas Diversas Divisões;

Sua Relação com Outros Ramos do Conhecimento Humano 1. Que é Religião? Que é Teologia, no seu sentido cristão? Religião, no seu sentido mais geral, é a soma das relações que o homem sustém para com Deus, e compreende as verdades, experiências, ações e instituições que correspondem a essas relações ou que delas provêm. Teologia, no seu sentido mais geral, é a ciência da religião. A religião cristã é aquele conjunto de verdades, experiências, ações e instituições que se acham determinadas pela revelação que nos é apresentada sobrenaturalmente nas Escrituras Sagradas. Teologia cristã é a determinação, interpretação e defesa científica dessas Escrituras, junto com a história da maneira pela qual as verdades nelas reveladas têm sido entendidas, e os deveres nelas impostos têm sido cumpridos, por todos os cristãos, em todos os séculos. 1 relações orgânicas determinadas por sua gênese e sua natureza íntima. Metodologia teológica é a ciência do método teológico. Assim como cada divisão das investigações humanas exige um modo de tratamento peculiar, e cada subdivisão de cada divisão geral exige certas modificações especiais de tratamento, e que lhe são próprias, assim também a metodologia teológica tem por fim determinar cientificamente qual o verdadeiro método geral e especial, pelo qual convém estudar as ciências teológicas. Isso inclui duas categorias distintas: (a) os métodos próprios para a investigação original e construção das diversas ciências, e (b) os métodos próprios para a instrução elementar nessas ciências. Tudo isso deve ser acompanhado de informações críticas e históricas, e de instruções sobre o modo de tirar proveito do imenso material literário com que essas ciências estão ilustradas. ,?uAÍ tnou msicx/.2 m 3 4 especificamente o calvinista ou agostiniano, e toma como verdadeiros os seguintes princípios fundamentais: Io. As Escrituras inspiradas são a regra e padrão único e infalível de todo o conhecimento religioso. 2o. Cristo e Sua obra são o centro ao redor do qual se dispõe, em ordem, toda a teologia cristã. 3o. A

salvação trazida à luz no evangelho é sobrenatural e provém da LIVRE GRAÇA DE DEUS. 4o. Todo conhecimento religioso tem uma finalidade prática. As ciências teológicas, longe de terem a si mesmas como seu fim absoluto, têm o fim nobre de fazer os homens progredirem na santidade pessoal, de habilitá-los a servir melhor a seus semelhantes, e de PROMOVER A GLÓRIA DE DEUS. As vantagens de agruparmos assim as ciências teológicas são óbvias e grandes. As relações de todas as verdades são determinadas pela sua natureza, donde se segue que sua natureza é revelada pela exibição de suas relações. Essa exibição tenderá também a alargar o horizonte mental do estudante, a incitá-lo a adquirir largueza de cultura, e a impedir que exalte indevidamente ou cultive exclusivamente qualquer ramo especial, pervertendo assim esse ramo por olhá-lo fora de suas limitações e dependências naturais. 4. Quais as perguntas fundamentais a que toda a ciência teológica se propõe a dar respostas e que, por isso, determinam a ordem em que se seguem as diversas divisões dessa ciência geral? Ia. Existiria um Deus? 2a. Teria Deus falado? 3a. Que disse Deus? 4a. Como é que os homens, no tempo passado, entenderam a Palavra de Deus e realizaram praticamente, nas suas pessoas e instituições, as intenções de Deus? 2 e, mais ou menos diretamente, com toda a história humana. E é evidente também que, visto que toda a verdade é um só todo, todas as verdades e deveres revelados se acham ligados indissoluvelmente a todos os ramos do conhecimento humano e a todas as instituições da sociedade humana. Segue-se pois, que a ciência teológica em nenhum ponto pode ser separada da ciência em geral, e que algum conhecimento, de todos os ramos do conhecimento humano, acha-se compreendido necessariamente em qualquer sistema de enciclopédia teológica como auxiliar das próprias ciências teológicas. Algumas dessas ciências auxiliares sustêm relações especiais para com certas ciências teológicas e estão relacionadas muito remotamente com outras. Convém, porém, atribuir-lhes um lugar próprio e separado por constituirem, em geral, uma disciplina preparatória e auxiliar da ciência de teologia considerada como um todo. 6. Quais as principais divisões da classificação proposta das ciências teológicas? . Io. Ciências auxiliares no estudo de teologia.

2o. Apologética - abrangendo as respostas às duas perguntas: existiria um Deus? Teria Deus falado? 3o. Teologia exegética - abrangendo a determinação crítica das ipsissima verba da revelação divina e a interpretação do seu sentido. 4o. Teologia sistemática - abrangendo o desenvolvimento em um sistema completo e conseqüente do conteúdo inteiro dessa revelação, e sua subseqüente elucidação e defesa. 5o. Teologia prática - abrangendo os princípios e leis revelados nas Escrituras para direção dos cristãos: (a) na promulgação dessa revelação divina, assim averiguada e interpretada, e (b) em levarem todos os homens ao cumprimento prático dos deveres nela impostos e (c) na fruição das bênçãos que ela confere. 6o. Teologia histórica - abrangendo a história do desenvolvimento durante todos os séculos passados e entre todos os povos, dos elementos teóricos e práticos dessa revelação: (1) na fé e (2) na vida da Igreja. 7. Quais os ramos principais do conhecimento humano, auxiliar es no estudo de teologia? Io. História universal, que é ramo essencial a todos os demais ramos da ciência humana e, em particular, as histórias do Egito, da Babilônia, da Assíria, da Grécia, de Roma e da Europa medieval e moderna, que são auxiliares especialmente da ciência teológica. .:. ■ i«. 8o. A estética, ou a ciência das leis do belo em todas as suas formas de música, retórica, arquitetura, pintura, etc., os princípios e a história de todas as diversas divisões da arte. 9°. As ciências físicas, seus métodos gerais e especiais; sua gênese, desenvolvimento e tendências atuais; sua relação com a filosofia, especialmente com o Deísmo e com a religião natural, com a civilização e com a história e doutrinas consignadas nas Escrituras. 10°. A estatística, cujo fim é dar-nos elementos completos sobre o estado atual da raça humana no mundo, a respeito de tudo o que se pode sujeitar a

comparações - quanto ao seu número e estado físico, intelectual, religioso, social e político de civilização, comércio, literatura, ciências, artes, etc.; elementos dos quais estão sendo desenvolvidos gradualmente as formas imaturas da ciência social e da economia política. o VÍ . > . , • .

8. Que é que se abrange sob o título de Apologética? Este ramo divide-se em dois títulos: (1) Existiria um Deus? (2) Teria Deus falado? Ele inclui: ■ Io. A prova da existência de Deus, isto é, de uma Pessoa extra--terrena, transcendente e ao mesmo tempo imanente; criando, conservando e governando todas as coisas segundo o seu plano eterno. Isto envolve a discussão e refutação de todos os sistemas antiteístas, como sejam o ateísmo, o panteísmo, o deísmo naturalista, o materialismo, etc. ' .. - . 2o. O desenvolvimento da teologia natural, compreende a relação em que Deus está como Governador moral para com os agentes inteligentes e responsáveis, e as indicações da Sua vontade e propósito e, por conseguinte, dos deveres e destinos dos homens até onde é possível descobri-los à luz da natureza. 3As provas do cristianismo, compreendendo... (1) A discussão do uso próprio da razão nas questões religiosas. (2) A demonstração da possibilidade a priori de uma revelação sobrenatural. ; (3) A necessidade e probabilidade de tal revelação, tomando-se em consideração o caráter de Deus e o estado do gênero humano segundo no-lo revela a luz da natureza. (4) A prova positiva do fato real de que tal revelação foi dada: (a) mediante os profetas do Velho Testamento (b) mediante os profetas do Novo Testamento, e sobretudo, (c) na Pessoa e obra de Cristo. Isto envolve naturalmente a discussão crítica de todas as provas que dizem respeito a este

ponto, tanto externas como internas, históricas, racionais, morais e espirituais, naturais e sobrenaturais, teóricas e práticas; e a refutação de toda a crítica histórica e racionalista que tem impugnado o fato da revelação, ou a integridade dos escritos que a contêm. Muito daquilo que se acha mencionado aqui estará necessariamente compreendido também sob os títulos de teologia sistemática e teologia exegética. > 9. O que a Teologia Exegética compreende? Quando os fatos: (1) que existe um Deus, e que (2) Deus nos tem falado - forem estabelecidos, será necessário ainda responder à pergunta: o que nos tem dito Deus? Teologia exe-gética é o título geral daquela divisão da ciência teológica que tem por fim a interpretação das Escrituras como a Palavra de Deus, deixada por escrito em linguagem humana, e que nos foi transmitida por canais humanos; e para conseguir esse fim, o assunto de Interpretação procura recolher e organizar todo o conhecimento que para isso é necessariamente introdutório. Isso inclui as respostas a duas perguntas: (1) Quais os livros que formam o cânon, e quais as palavras exatas contidas nos registros originais dos escritores desses diversos livros? (2) Qual o sentido dessas palavras divinas, assim averiguadas ? As respostas a todas as perguntas preliminares à interpretação, propriamente ditas, pertencem ao título introdução, e esta se divide em: (1) introdução geral, que inclui toda informação preliminar à interpretação que tem relação com a Bíblia, como um todo, ou com cada um dos Testamentos, como um todo; e (2) introdução especial, que inclui toda a preparação necessária para a interpretação de cada um dos livros da Bíblia, em separado. . ..... A. Introdução Geral compreende: Io. A crítica superior /alta crítica/, ou o exame das provas que existem e de toda espécie, em apoio da autenticidade de cada um dos livros do cânon sagrado. 2o. A crítica do texto/crítica textual, a qual, por uma comparação dos melhores manuscritos e das versões antigas, pelas provas internas, e pela história crítica do texto desde o seu primeiro surgimento até ao tempo presente, procura determinar as ipsissima verba dos autógrafos originais dos escritores sagrados.

3o. A Filologia bíblica, que dá respostas às perguntas: por que foram usadas diversas línguas nos escritos sagrados? Por que as línguas hebraica e grega? Quais são as características especiais dos dialetos dessas línguas realmente usados, e qual a sua relação para com as famílias de línguas a que elas pertencem? Quais eram as características especiais dos escritores sagrados individualmente, quanto ao dialeto, ao estilo, etc.? 4o.Arqueologia bíblica, compreendendo a geografia física e política dos países bíblicos, durante o transcurso da história bíblica e determinando a condição física, etnológica, social, política e religiosa do povo entre o qual se originaram as Escrituras, junto com a descrição de seus costumes e instituições, e da relação em que estes estavam para com os de seus antepassados e contemporâneos. 5o. Hermenêutica, ou a determinação científica dos princípios e regras de interpretação bíblica, compreendendo (1) os princípios lógicos, gramaticais e retóricos que determinam a interpretação da linguagem humana, em geral; (2) as modificações desses princípios apropriadas à interpretação das formas específicas da linguagem humana, e.g., história, poesia, profecia, parábola, símbolo, etc., e (3) as outras modificações desses princípios apropriados à interpretação dos escritos inspirados sobrenaturalmente. 6o. Inspiração bíblica. Depois de ter a apologética estabelecido o fato de serem as Escrituras Sagradas o veículo de uma revelação sobrenatural, é necessário que discutamos e determinemos a natureza e a extensão da inspiração bíblica até onde esta é determinada pelo que as Escrituras mesmas dizem sobre este ponto, e pelos fenômenos que elas representam. 7o. A História da Interpretação, incluindo a história das antigas e modernas versões e escolas de interpretação, ilustrada por uma comparação crítica dos mais importantes comentários. B. Introdução especial, trata de cada livro da Bíblia por si e fornece sobre o seu dialeto, autor, ocasião, desígnio e recepção, toda a informação necessária para a sua interpretação acurada. C. Exegese própria é a aplicação de todo o conhecimento recolhido, e de todas as regras desenvolvidas nas precedentes divisões da introdução à interpretação do texto sagrado, assim como este se acha nas suas conexões originais dos

Testamentos, livros, parágrafos, etc. Seguindo as leis da gramática, o usus loquendi das palavras, a analogia das Escrituras e a direção do Espírito Santo, a exegese procura discernir a mentalidade do Espírito como se acha expressa nos períodos inspirados, arranjados na ordem em que os achamos. Há diversas divisões especiais classificadas sob o título geral de teologia exegética que envolvem, até certo ponto, a classificação e a combinação dos testemunhos bíblicos em tópicos e assuntos, que são a característica distintiva de teologia sistemática. Essas divisões são: Ia. Tipologia, que compreende a determinação científica das leis dos símbolos e tipos bíblicos e sua interpretação, especialmente os do ritual mosaico relacionado com a Pessoa e a obra de Cristo. 2a. Cristologia do Velho Testamento, a exposição crítica da idéia messiânica, como vem desenvolvida no Velho Testamento. ■ • ' : - V. '' i

3a. Teologia bíblica, que investiga a evolução gradual dos diversos elementos das verdades reveladas, desde a sua primeira sugestão, através de cada fase sucessiva, até à sua mais completa manifestação no texto sagrado; e exibe as formas e conexões peculiares em que essas diversas verdades são apresentadas pelos diversos escritores inspirados. 4a. O desenvolvimento dos princípios de interpretação profética, e sua aplicação à construção de um esboço das profecias dos dois Testamentos. Notes on New Testament Litera-ture, por Dr. J. A. Alexander. 10. Que é que se acha compreendido sob o título de Teologia Sistemática? Como o dá a entender o seu nome, teologia sistemática tem por fim reunir tudo quanto as Escrituras ensinam sobre o que devemos crer e fazer, e apresentar todos os elementos desse ensino na forma de um sistema simétrico. A mente humana procura sempre unidade, em todos os seus conhecimentos. A verdade de Deus é una, e o conteúdo inteiro de todas as revelações naturais e sobrenaturais não pode deixar de constituir um só sistema completo em si, cada parte do qual se acha relacionada orgânicamente com todas as outras partes.

O método de construção é indutivo. Tem por base os resultados da exegese. Seus dados são passagens das Santas Escrituras, averiguadas e interpretadas. Esses dados, quando interpretados corretamente, revelam suas próprias relações e seu lugar no sistema do qual a Pessoa e a obra de Cristo são o centro. E, assim como o conteúdo da revelação está em relação íntima com todos os outros ramos dos conhecimentos humanos, a tarefa da teologia sistemática envolve, necessariamente, a demonstração e a ilustração da harmonia que existe entre todas as verdades reveladas e toda a ciência legítima, quer material, quer psicológica, toda a verdadeira filosofia especulativa e toda a verdadeira filosofia moral e filantropia prática. A teologia sistemática compreende: A. A construção de um completo sistema de fé e deveres, composto do conteúdo inteiro da revelação. B. A história desse processo de construção, como ele prevaleceu na Igreja, no passado. C. polêmica. A. A construção de um completo sistema composto do conteúdo da revelação. Isso compreende o tratamento científico de: (a) todas as matérias de fé reveladas; e (b) todos os deveres impostos. No modo de arranjar os tópicos, a maior parte dos teólogos têm seguido o que o Dr. Chalmers denomina - método sintético. Tomando como ponto de partida a idéia e a natureza de Deus, reveladas nas Escrituras, consideram seus propósitos eternos e seus atos temporais nas obras da criação, providência e redenção, até a consumação final. O Dr. Chalmers prefere, porém, o que ele chama - método analítico, e toma por ponto de partida os fatos da experiência e da luz da natureza, e a condição atual e moralmente enferma do homem, e daí vai subindo até chegar à redenção e ao caráter de Deus, como nela é revelado. Quando se segue o primeiro destes métodos, agrupam-se comumente todos os elementos do sistema, sob os seguintes títulos: Io. Teologia propriamente dita: compreendendo a existência, os atributos e a personalidade triúna de Deus, juntamente com os Seus propósitos eternos e os atos temporais de criação e providência. 2o. Antropologia (a doutrina do homem): compreendendo a criação e a natureza do homem, seu estado original, queda e conseqüente ruína moral. Isto abrange a

psicologia bíblica e a doutrina bíblica sobre o pecado, sua natureza, origem e modo de propagação. 3o. Soteriologia (a doutrina da salvação): que inclui o plano, a execução e a aplicação, e os efeitos gloriosos da salvação dos homens. Isso abrange a Cristologia (a doutrina sobre Cristo): a encarnação, a constituição da Pessoa de Cristo, Sua vida, morte e ressurreição, juntamente com a obra própria do Espírito Santo, os meios de graça, a Palavra de Deus e os sacramentos. 4o. Ética cristã: abrangendo os princípios, regras, motivos e auxílios dos deveres humanos revelados na Bíblia, como são determinados (a) pelas relações naturais que o homem tem como homem com os seus semelhantes, e (b) suas relações sobrenaturais como homem remido. 5o. Escatologia (a ciência das últimas coisas): compreendendo a morte, o estado intermediário da alma, o segundo advento, a ressurreição, o juízo geral, o céu e o inferno. 6o. Eclesiologia (a ciência da Igreja): incluindo a determinação científica de tudo quanto as Escrituras ensinam a respeito da Igreja visível e invisível, em seu estado temporal e no eterno; a idéia da Igreja - sua verdadeira definição, sua constituição e organização, seus oficiais e suas funções. A comparação e crítica de todas as modificações da organização eclesiástica que tenham existido, juntamente com sua gênese, sua história e seus efeitos práticos. • ...... B. História das doutrinas: que compreende a história de cada uma destas grandes doutrinas, a investigação de seu primeiro aparecimento e subseqüente desenvolvimento através das controvérsias a que cada doutrina deu lugar, e as Confissões em que se acha definida. C. Polêmica ou teologia controversial: incluindo a defesa do verdadeiro sistema de doutrina, tanto no seu todo como também em cada um de seus elementos constitutivos contra as perversões dos partidos heréticos, dentro do âmbito da Igreja geral. Isso abrange: (a) Os princípios gerais e o verdadeiro método de controvérsias religiosas, (b) A definição do verdadeiro status quoestionis em cada controvérsia e uma exposição das fontes de testemunho e dos métodos defensivos e ofensivos de vindicar-se a verdade, (c) A

história das controvérsias. 11. Que é que se acha compreendido sob o título de Teologia Prática? Teologia prática é tanto uma arte como uma ciência. Como arte, tem por fim a publicação eficaz do conteúdo da revelação entre todos os homens e a perpetuação, extensão e edificação do reino terrestre de Deus. Como ciência, tem como sua província as leis e os princípios revelados da arte acima definida. Por isso, assim como a teologia sistemática baseia-se numa cabal exegese, ao mesmo tempo científica e espiritual, assim também a teologia prática baseia-se nos grandes princípios desenvolvidos pela teologia sistemática, enquanto que a divisão de eclesiologia é terreno comum a essas duas divisões: é o produto de uma delas e o fundamento da outra. Inclui as seguintes divisões principais: 1a. A idéia e desígnio da Igreja e de seus atributos revelados divinamente. 2a. A determinação da Constituição divinamente prescrita da Igreja, e dos métodos de sua administração, com a discussão e refutação de todas as outras formas de organização eclesiástica que existiram ou existem, sua história, e as controvérsias que têm ocasionado. 3a. A discussão da natureza e extensão da descrição que Cristo deixou à Sua Igreja para ajustar os métodos de organização e administração eclesiástica às mutáveis condições sociais e históricas dos homens. 4a. A determinação das condições sob as quais uma pessoa pode fazer-se membro da Igreja, e a relação para com Cristo envolvida no fato de ser membro dela, juntamente com os privilégios e deveres, absolutos e relativos, das diversas classes de membros. A relação das crianças batizadas com a Igreja e os deveres relativos dos pais e da Igreja em relação a elas. 5a. Os Oficiais da Igreja - extraordinários e ordinários; temporais e perpétuos: (1) Sua vocação e ordenação; sua relação para com Cristo e a Igreja. ' à u; • ’ '

(2) Suas funções: ' , ;■ (a) Como mestres, incluindo: (i) Catequese: sua necessidade, princípios e história. (ii) Escolas Dominicais. Os deveres dos pais e da . Igreja quanto à educação religiosa das crianças. ■ / (iii) Retórica sagrada, homilética e elocução do ■ , púlpito. (iv) Literatura cristã. Folhas, periódicos e livros permanentes. ■ , (b) Como diretores do culto, incluindo: (i) Liturgias - seu uso, abuso e história. ■i.iiii (ii) Formas livres de oração. (iii) Salmodia - inspirada e não inspirada, seu uso e história. ■ .j'f,» (iv) Música sagrada - vocal e instrumental, seu uso e história. . . (c) Como regentes: (i) O ofício, qualificação, deveres e autoridade bíblica dos presbíteros regentes. (ii) O ofício, qualificação, deveres, modo de eleição e ordenação, e autoridade bíblica do ofício de bispo ou pastor, do Novo Testamento. (iii) A Junta de presbíteros /Conselho ou Consistório: sua constituição e funções. A teoria, regras e métodos • . práticos de disciplina na Igreja.

(iv) O presbitério e sua constituição e funções. A teoria, regras e precedentes práticos que regulam a ação dos tribunais eclesiásticos, no exercício do direito constitucional de revista e inquirição em tudo o que diz respeito a processos, queixas e apelações eclesiásticos. ; (v) O Sínodoe a Assembléia Geral-sua constituição e funções. Os princípios e modos de proceder de Comissões, Comissionários, Mesas Administrativas, etc. Isso leva às funções da Igreja como um todo, e à autoridade para distinções denominacionais, aos usos e abusos dessas distinções, e às relações em que estão as diversas denominações, umas para com outras. ■ Io. Estatística eclesiástica, incluindo nossa própria Igreja, as outras Igrejas e o mundo. 2o. Economia cristã, social e eclesiástica, incluindo os deveres de administração cristã, consagração pessoal, e beneficência sistemática. A relação da Igreja com sociedades voluntárias: associações de moços cristãos, etc. 3o. A educação do ministério, a direção, constituição e administração de Seminários teológicos. 4o. Missões internas, incluindo a evangelização agressiva, a sustentação de ministros entre os pobres, a extensão da Igreja e a construção de edifícios para Igrejas. 5o. A relação da Igreja com o Estado, e a verdadeira relação do Estado com a Igreja, e a condição real da lei comum e estatuidade em relação à propriedade eclesiástica e à ação dos tribunais eclesiásticos no exercício da disciplina, etc. As obrigações dos cidadãos cristãos. A relação da Igreja com a civilização, as reformas morais, as artes, ciências, cultura social, etc. . '■ - ■< 6o. Missões no estrangeiro, em todos os seus ramos. Veja Lectures on TheologicalEncyclopedia and Methodology, pelo Rev. John Mc

Clintock, D. D., L. L. D., editado por J. T. Short, R. D. Biblioteca Sacra, vol. 1,1844; Theological Encyclopedia and Methodology, pelo Prof. Tholuck, editado pelo Prof. E. A. Park. 12. Que é que se acha compreendido sob o título de Teologia Histórica? Segundo a evolução lógica de todo o conteúdo das ciências teológicas, a interpretação da letra das Escrituras Sagradas e a construção do sistema inteiro das verdades e deveres relacionados que nelas são revelados, precisam preceder à história do desenvolvimento dessa revelação na vida e fé da Igreja, assim como a fonte precede ao rio que dela emana. No estudo, porém, das ciências teológicas, a história as deve preceder e lançar fundamento para todas as demais. E só a história que nos dá as Escrituras em que se acha contida essa revelação, e também os meios pelos quais podemos averiguar, criticamente, os diversos livros canônicos e suas ipsissima verba. A mesma fonte devemos também os nossos métodos de interpretação e seus resultados, como estes se acham ilustrados na imensa quantidade de literatura teológica acumulada até agora e associada aos nossos credos e confissões, os documentos relativos às controvérsias e, por conseguinte, os documentos que mostram como o nosso sistema de doutrina se desenvolveu gradualmente. Na ordem de produção e aquisição, a história vem primeiro, enquanto que na ordem de uma exposição lógica das ciências teológicas constitutivas, ela tem a honra de abrir caminho para a série inteira. ->•\ A teologia histórica divide-se em teologia histórica bíblica e eclesiástica. A primeira tem por fonte, principalmente, os livros inspirados e continua até o encerramento do cânon do Novo Testamento. A Segunda principia onde a primeira acaba, e continua até o tempo presente. A história bíblica subdivide-se em: Io. História do Velho Testamento, e inclui as eras: (1) Patriarcal, (2) Mosaica e (3) Profética, juntamente com a (4) História do povo escolhido durante o intervalo entre o Velho e o Novo Testamentos. 2o. O Novo Testamento, incluindo (1) a vida de Cristo, (2) a fundação da Igreja Cristã pelos apóstolos, até ao fim do primeiro século. Para o estudo da história eclesiástica, como ciência, são necessários diversos ramos preliminares de estudo.

Io. Algumas das ciências auxiliares já enumeradas é preciso citarmos como exigidas específicamente nesta conexão. São: (1) geografia antiga, medieval e moderna. (2) cronologia. (3) antigüidades de todos os povos incluídos na área pela qual se estendeu, em qualquer tempo, a Igreja. (4) estatística -mostrando qual a condição do mundo, em qualquer período dado. (5) o curso inteiro de história geral. 2o. As fontes de onde se deriva a história eclesiástica devem ser investigadas criticamente. (1) Fontes monumentais, como sejam: (a) edifícios (b) inscrições (c) moedas, etc. (2) Fontes documentais, que são: (a) públicas, como as atas de concílios, as breves decretais e bulas de papas; os arquivos de governo, os credos, confissões, catecismos e liturgias de Igrejas, etc.; (b) Documentos particulares, como literatura contemporânea de toda qualidade, brochuras, biografias, anais, e relatórios e compilações mais modernas. 3o. A história da literatura sobre a história eclesiástica, desde Eusébio até Neander, Schaff e Kurtz. Os métodos que têm sido e devem ser seguidos na colocação em ordem do material da história eclesiástica. O método que sempre foi e provavelmente sempre será seguido é uma combinação dos dois métodos naturais: (a) o cronológico e (b) o tópico. O Dr. Mc Clintock diz que o princípio fundamental, segundo o qual se devem arranjar os materiais de história eclesiástica, é a distinção entre a vida da Igreja e sua fé. As duas divisões são, pois: (1) história da vida da Igreja, ou história eclesiástica propriamente dita, e (2) história do pensamento da Igreja, ou história das doutrinas. Ia. A história da vida da Igreja trata de pessoas, comunidades e eventos, e deve ser tratada segundo os métodos ordinários de composição histórica. ■,. . .. 2a. A história do pensamento da Igreja compreende: (1) patrística, ou a literatura dos chamados “Pais” da Igreja; e patrologia, ou a exibição científica de sua doutrina. Esses “Pais” da Igreja dividem-se em três grupos: (a) apostólicos, (b) antenicenos, e (c) pós-nicenos, terminando com Gregório, o grande, entre os latinos, 604 d.C., e com João Damasceno, entre os gregos, 754 d.C. Este estudo

envolve: (a) a discussão do próprio uso dos escritos desses Pais da Igreja, e sua autoridade legítima nas controvérsias modernas; (b) uma história completa de sua literatura e das edições principais de suas obras, e (c) significado, valor e doutrina de cada um desses Pais, individualmente. (2) Arqueologia cristã, que trata dos costumes, culto e disciplina da Igreja Primitiva, e da história do culto, artes, arquitetura, poesia, pintura, música, etc., cristãos. (3) História das doutrinas, ou a história crítica da gênese e do desenvolvimento de cada elemento do sistema doutrinário da Igreja, ou de qualquer de seus ramos históricos, com a história também de todas as formas heréticas de doutrina, das quais a verdade tem sido separada, e a história das controvérsias por meio das quais foi efetuada a eliminação. A isto acompanha naturalmente a história crítica de toda a literatura da história das doutrinas, dos princípios aceitos, dos métodos seguidos e do trabalho feito. (4) Simbólica, que envolve: (a) a determinação científica da necessidade e usos de Credos e Confissões públicos, (b) a história das ocasiões, da gênese e recepção, autoridade e influência de cada um dos Credos e Confissões da cristandade. (c) o estudo do conteúdo doutrinário de cada Credo e de cada grupo de Credos separadamente, e (d) simbólica comparativa, ou estudo comparativo de todas as Confissões da Igreja, e a exibição sistemática de todos os pontos em que respectivamente concordam e discrepam entre si. ' ; (TheologicalEncyclopedia, por Mc Clintock.Notes onEccle-siastical History, por Dr. J. A. Alexander, editado pelo Dr. S. D. Alexander.) : ,'_V ■ V'‘ ! ... . : M ' íi1 Ví!Í< i. '

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1 Que éEnciclopédia Teológica? Que éMetodologia Teológica? Enciclopédia teológica (de um termo grego que significa o círculo inteiro da educação geral), apresenta ao estudante o círculo inteiro das ciências especiais que têm por fim descobrir, elucidar e defender o conteúdo da revelação contida nas Escrituras Sagradas, e procura apresentar essas ciências nas 2 Qual a posição que, numa enciclopédia de ciências teológicas, é preciso dar a outros ramos do conhecimento humano? E evidente que, visto que a revelação sobrenatural que aprouve a Deus dar-nos veio a nós em uma forma histórica, essa história, bem como a da Igreja Cristã, é ligada inseparável SffiUOTFCA ÂÜBREY ÇLARK 13 3 Até onde seria possível a classificação científica de todas as ciências teológicas? E por que é desejável que se procure fazer tal classificação? Tal classificação pode aproximar-se da perfeição só na proporção em que essas ciências se aproximem, elas mesmas, da sua forma final e absoluta. Atualmente toda tentativa nesse sentido só pode aproximar-se mais ou menos de um ideal que não se pode alcançar no estado atual dos conhecimentos, nesta vida. O bom êxito comparativo de cada tentativa separada depende também, necessariamente, da justeza comparativa dos princípios teológicos gerais em que se baseia. É evidente que os que tomarem a Razão, os que tomarem uma Igreja inspirada, e os que tomarem as Escrituras inspiradas como fonte e norma de todo o conhecimento divino hão de, necessariamente, configurar as ciências teológicas nos diversos fundamentos em que as fizerem assentar. 4

O ponto de vista adotado neste livro é o evangélico, e

Origem da Idéia de Deus e Prova da Sua Existência 1. Qual a distinção entre uma definição nominal e uma definição real? E qual a verdadeira definição do termo “Deus”? Uma definição nominal explica simplesmente a significação do termo usado; e uma definição real explica a natureza daquilo a que se aplica o termo usado. A derivação da palavra Deus (em português e latim) e Theos (em grego) tem sido comumente atribuída ao sânscritoDrá -dar “luz”. Mas Curtis, Cremer e outros derivam-na de Thes em thessesthai - “implorar”. Theos é “Aquele a quem se faz oração”. A palavra Deus é muitas vezes usada em sentido panteísta, para significar a base impessoal, inconsciente de toda existência, e por muitos, para designar a causa primária desconhecida e que se não pode conhecer, do mundo existente. E por isso que tantos especuladores, que negam real ou virtualmente a existência do Deus da cristandade, assim mesmo repudiam indignados o nome ateístas, por admitirem a existência de uma substância que existe por si, ou de uma causa primária a que dão o nome Deus, denegando-lhe, porém, a posse das propriedades pessoais que, em geral, lhe são atribuídas pelos que fazem uso desse termo. Mas, como questão de fato, em conseqüência da predominância de idéias cristãs na literatura das nações civilizadas durante os últimos dezoito séculos, o termo “Deus” é empregado geralmente no sentido definido e permanente de um Espírito eterno, absolutamente perfeito, livre, pessoal, que existe por si mesmo, e é distinto do mundo que Ele criou e sobre o qual é soberano. O homem que nega a existência de tal Ser, nega a Deus. - V ; ... . . .

2. Como se pode construir uma “real” definição de Deus? E evidente que Deus pode ser definido só até onde nos é conhecido, e a condição da possibilidade de O conhecermos é o fato de que fomos criados à Sua imagem.

E preciso que toda definição de Deus pressuponha o fato de que, em algum sentido essencial, Ele e Suas criaturas inteligentes são seres do mesmo gênero. Deus é definido, pois, dizendo-se o Seu gênero e Suas diferenças específicas. Quanto ao Seu gênero, é um Espírito inteligente e pessoal. Quanto a Suas diferenças específicas, aquilo que O constitui Deus, Ele é infinito, eterno e imutável, em Sua existência, sabedoria, poder, santidade, e todas as perfeições em harmonia com o Seu Ser. . 3. Até onde se deve à tradição, a idéia de Deus? ' ■ E evidente que se tem chegado à idéia completa de Deus apresentada na definição precedente, somente por meio da revelação sobrenatural que temos nas Escrituras Sagradas. E também um fato que as três únicas religiões teístas que em qualquer tempo têm prevalecido entre os homens (a judaica, a maometana e a cristã) se acham ligadas historicamente com essa mesma revelação. E em vão especular-se quanto ao resultado a que chegariam os homens, independentemente de todos os hábitos herdados e de todas as opiniões tradicionais, porque estamos inteiramente sem experiência ou testemunho a respeito de qualquer espécie de conhecimentos adquiridos ou juízos formados sob tais condições. E, além disso, é certo também que a forma que tomam as concepções teístas, e as associações que a acompanham, são determinadas no caso de cada comunidade, pelas tradições teológicas herdadas de seus pais. Por outro lado, é certo que todos os homens, debaixo de todas as condições conhecidas, e por isso, debaixo de todas as condições verdadeiramente naturais, reconhecem espontaneamente uma existência divina que lhes é revelada, mais ou menos claramente, na constituição e na experiência conhecidas de seus próprios espíritos e na natureza externa. Por conseguinte, a concepção teísta não é mais devido à autoridade, como muitas vezes se diz absurdamente, do que é devido à crença, formada debaixo das mesmas condições de educação, na realidade subjetiva do espírito humano, ou na realidade objetiva da matéria. A existência do Deus automanifesto é reconhecida espontânea e universalmente, o quê é uma prova evidente de serem claras e presentes, em toda parte, as provas da Sua existência, e serem convincentes para todos os homens desenvolvidos normalmente. 4. Seria INATA a idéia de Deus? Sena ela uma verdade INTUITIVA? ' i-.c >,

As respostas dependem do sentido em que tomamos os termos respectivos. É evidente que não há idéias “inatas” no sentido de já ter nascido criança com a concepção do ser divino, ou qualquer outra já formada na sua mente. É certo também que a mente humana, quando desenvolvida em condições puramente naturais e na ausência de toda revelação sobrenatural, nunca pode chegar a uma concepção adequada da natureza divina. Por outro lado, porém, toda a história prova que a idéia de Deus é inata, no sentido de que as faculdades constitucionais do espírito humano são tais que, em todas as condições naturais, chegam ao reconhecimento, mais ou menos claro, de Deus como a causa primária de toda existência e como o Senhor da consciência, automanifestado na alma e no mundo. E inata por serem as provas da existência divina presentes tão universalmente como o é a luz do dia, e por ser constitucional o processo pelo qual se apreendem essas provas. ... .. .. .. Se tomarmos o termo “intuição” no sentido estrito de visão direta de uma verdade, visto à sua própria luz como verdade necessária, por um ato intelectual que é impossível resolver em processos de pensar mais elementares, nesse caso, a existência de Deus não é uma verdade apreendida intuitivamente pelos homens. O processo pelo qual chegamos ao conhecimento desta verdade, quer espontaneamente, quer por meio de um raciocínio elaborado, abrange como elementos muitas intuições indubitáveis, mas ninguém apreende a Deus mesmo por uma intuição direta, porque: Io. Ainda que o reconhecimento da existência divina seja necessário, no sentido de ser uma verdade aceita pela grande maioria dos homens que não podem deixar de crer nela, mesmo quando querem; e embora ninguém possa deixar de crer nela sem que faça violência à sua natureza, contudo não é uma verdade necessária, no sentido de não se poder conceber a não existência de Deus. 2o. Porque Deus não Se nos manifesta imediata, e sim, mediatamente por meio de Suas obras. E, no ato pelo qual a alma reconhece a Sua presença e ação, há sempre, pelo menos implicitamente, uma inferência, uma dedução. 3o. Porque a verdadeira idéia de Deus é muito complexa, e chega-se a ela por meio de um processo complexo, o qual, quer seja espontâneo quer não, envolve diversos elementos que se pode analisar e descrever. Por outro lado, é certo que Deus Se manifesta nas operações de nossas almas e na natureza exterior de um modo análogo àquele pelo qual se nos manifestam as

almas invisíveis de nossos semelhantes, e reconhecemos a existência dEle com a mesma certeza com que reconhecemos a dessas almas. A existência dessas reconhecemos: (a) porque somos genericamente semelhantes aos outros, e (b) porque seus atributos se manifestam em suas palavras e atos. E a existência de Deus reconhecemos: (a) porque fomos criados à Sua imagem, e este fato reconhecemos espontaneamente, (b) pela revelação que Deus faz de Si na nossa consciência, e pelas características do mundo exterior. “Ainda que se possa analisar o processo mental que acabamos de descrever - a inferência teísta - esta é em si sintética. Os princípios dos quais depende achamse ligados entre si, de modo que o espírito os pode compreender todos em um só ato, e inclui e aplica todos eles, necessariamente, na sua apreensão de Deus. A vontade, a inteligência, a consciência, a razão e as idéias que elas fornecem; causa, desígnio, bondade, infinidade, e os argumentos que têm estas idéias por base -tudo isso junta-se nesse grande processo” - Theism, Prof. Flint, págs. 71, 72. ' 5 .Se a existência de Deus é reconhecida espontaneamente por todos os homens, em estado normal de consciência, qual a utilidade de argumentos formais para provar essa existência? E quais são os argumentos geralmente usados? Io. Esses argumentos são de valor como análises e verificações científicas dos processos mentais envolvidos implicitamente no reconhecimento espontâneo das automanifestações de Deus. 2o. São de utilidade também para indicar a legitimidade do processo contra as críticas do ceticismo. . 3o. Confirmam e vivificam o reconhecimento espontâneo, chamando a atenção para a extensão e variedade das provas que atestam a mesma verdade. 4o. Os diversos argumentos são convergentes antes que consecutivos. Nem todos estabelecem os mesmos elementos da concepção teísta, mas cada um deles estabelece independentemente seu elemento separado e assim é útil, contribuindo: (a) como prova confirmativa de que Deus existe, e (b) como prova complementar quanto ao que Ele é. Constituem um todo orgânico, e são a análise e a ilustração do ato espontâneo

em virtude do qual a grande massa dos homens tem sempre reconhecido a existência de Deus. “Se bem que causalidade não pressupõe desígnio, nem desígnio bondade; desígnio pressupõe causalidade, e bondade, tanto causalidade como desígnio. As provas de inteligência são também provas de poder; e as provas de bondade o são também de inteligência e poder. Os princípios da razão que nos obrigam a pensar em Deus, na Suprema Inteligência Moral como um ser auto-existente, eterno, infinito e imutável, suplementam as provas derivadas de outras fontes, e tornam conseqüente e completa a doutrina do teísmo” - Theism, Prof. Flint, págs. 73, 74. Os argumentos comuns serão examinados sob os seguintes títulos: Io. Argumento Cosmológico, ou a prova da existência de Deus como causa primária. 2o. Argumento Teleológico, ou as provas da existência de Deus fornecidas pela ordem e adaptação que reinam no universo. . 3o. Argumento Moral, ou as provas fornecidas pela consciência moral e pela história da raça humana. 4o. As provas fornecidas pelos fenômenos das Sagradas Escrituras e pela história sobrenatural nela registrada. 5o. O Argumentoapriori e o testemunho que a razão dá de Deus como o Infinito e Absoluto. ..... 6. Qual é o Argumento Cosmológico? Pode ser apresentado na forma de um silogismo, assim: Premissa Maior- Tudo quanto principia a existir de novo, e qualquer mudança em qualquer coisa que já existe, teve necessariamente uma causa preexistente e adequada. Premissa menor - O universo, em seu todo e em todas as suas partes, é um sistema de mudanças.

! Conclusão - Logo, o universo teve necessariamente uma causa exterior a si, e a

causa última e absoluta não pode deixar de ser eterna, não causada e imutável. Io. Quanto à premissa maior: o juízo causai é intuitivo e absolutamente universal e necessário. Alguns especuladores, como Hume e Mill, o têm negado teoricamente, mas tem sido empregado por eles e por todos os demais em todos os seus raciocínios sobre a origem do mundo, como também de tudo quanto ele contém. É um juízo inevitável, o contrário do qual nem se pode imaginar. Alguma coisa existe agora, por conseguinte alguma coisa necessariamente tem existido desde toda a eternidade, e aquilo que tem existido desde toda a eternidade é a causa daquilo que existe agora. Tem-se alegado que o juízo causai conduz apenas a uma série eterna e regressiva de causas e efeitos. Isso, porém, é um absurdo. * (1) 0 juízo não é que tudo teve uma causa, e sim, que tudo o que principia a existir e toda a mudança naquilo que já existe, foi causado. Para aquilo, porém, que é eterno e imutável, esse juízo não pede causa. (2) Uma série eterna de causas e efeitos é absurda, porque seria simplesmente uma série de mudanças, que é precisamente aquilo que pede uma causa, e tanto mais imperativamente quanto mais longa é a série. Uma causa real, porém, uma causa que satisfaça absolutamente ao juízo causai, não pode ser nem uma mudança nem uma série de mudanças, e sim alguma coisa não causada, eterna e imutável. Como questão de fato, é inegável que todos os filósofos e homens de ciência, sem nenhuma exceção, postulam estes princípios. Eles todos postulam uma causa eterna, auto-existente e imutável do universo, quer seja um espírito pessoal, quer átomos materiais, quer uma alma mundi inconsciente, inteligente, em união com a matéria. 2o. Quanto à premissa menor: o fato de ser o universo, em seu todo e em todas as suas partes, um sistema de mudanças, é ensinado por todos os princípios e lições da ciência moderna. Todas as descobertas nos campos da geologia e da astronomia, e todas as especulações, como sejam - a hipótese nebulosa e a da evolução - têm esse princípio na sua própria essência.

Mas John Stuart Mill, no seuEssay on Theism, págs. 142 e 143, diz: “Há na natureza um elemento permanente, como também um elemento variável; as mudanças são sempre os efeitos de mudanças anteriores; as existenciais permanentes porém, até onde as conhecemos, de modo algum são efeitos... Há em todos os objetos outro elemento que é também permanente, a saber, a substância ou substâncias específicas e elementares de que eles consistem, e suas propriedades são inerentes. Não se sabe quando essas começam a existir. Dentro do tempo a que remontam, os conhecimentos humanos não tiveram princípio, e por conseguinte, tampouco causa; embora eles sejam as causas ou concausas de tudo quanto sucede”. Sempre que na explicação de um fenômeno físico se remonta à sua causa, acha-se que esta consta de uma certa quantidade de força combinada com certas colocações... A força em si é essencialmente uma e sempre a mesma, e dela existe na natureza uma quantidade fixa que, se a teoria da conservação das forças é verdadeira, nunca aumenta nem diminui. Eis, pois, nas mudanças da natureza material um elemento permanente, que parece ter todas as características daquele mesmo que estamos procurando. E a isso pois que, segundo parece, devemos atribuir o caráter de Causa Primária, se há coisa que mereça essa distinção - Essay on Theism, págs. 144, 145. RESPONDEMOS: (1) A existência de “Energia” ou “Força”, em qualquer de suas formas conversíveis, e separada da matéria, é absolutamente impossível imaginar-se. Este fato é reconhecido como uma indubitável verdade científica por Stewart e Tait (Unseen Universe, pág. 79). (2) E um fato óbvio que toda a luz e calor do sol e das estrelas, salvo uma fração muito diminuta, sai para o espaço e nunca volta para esses corpos. E um fato também que o movimento visível de todos os grandes corpos do universo está sendo retardado gradualmente por alguma coisa que se pode chamar “fricção etérea”, e que afinal tombarão todos juntos e constituirão, por agregações sucessivas, uma só massa. “Enfim, a degradação da energia do universo visível procede,paripassu, com a agregação de massa. O próprio faro, pois, de serem de tamanho finito as grandes massas do universo visível, torna certo que esse processo não pode ter continuado desde toda a eternidade ou, em outras palavras, o universo visível necessariamente teve princípio no tempo”. Porque: (a) ainda há energia em quantidades finitas e não difusa; e porque (b) a matéria do universo existe ainda em massas separadas. Assim pois, a própria lei da correlação de energia ou força para a qual o sr. Mill apela, prova, quando realmente aplicada, que o universo teve princípio e terá fim (Stewart e

Tait, Unseen Universe, pág.166). (3) Também o seu postulado de que a matéria do universo, em seus últimos átomos, é eterna e imutável, não está provado e está em contradição com a analogia científica. Clark Maxwell (em seu discurso como presidente daBritishAssociationforAdvancement of Science, 1870,) diz: “A igualdade exata de cada molécula com todas as demais moléculas da mesma substância, dá-lhe, como bem o disse Sir John Herschell, o caráter essencial de um objeto fabricado; e isso é incompatível com a idéia de ser ela eterna e autoexistente”. (4) Como questão de fato, todas as teorias evolutivas sobre a gênese do universo postulam necessariamente um princípio e uma neblina primordial e luminosa. Mas essa neblina luminosa não pode ser a Primeira Causa que o nosso juízo causai pede, porque não é eterna e imutável. Se fosse eterna, estaria inteiramente desenvolvida; e se estivesse inteiramente desenvolvida, não poderia desenvolver-se ainda para formar o universo. Se fosse imutável, não estaria sujeita a mudanças; e se não é imutável, é, assim como o universo que se desenvolve dela, um estado transitório da matéria, pedindo como todas as outras mudanças, uma causa. 7. Qual o Argumento Teleológico? Teleologia (telos - fim, e logos - discurso) é a ciência das causas finais, ou dos propósitos ou desígnios, como estes se acham exibidos na natureza, na adaptação das partes aos inteiros, dos meios aos fins e dos órgãos aos seus usos. É chamado também argumento baseado no Desígnio; afinal é baseado no reconhecimento das operações de uma causa inteligente na natureza. Pode ser apresentado sob duas formas, baseadas respectivamente nas manifestações mais gerais e mais especiais dessa inteligência. PRIMEIRA FORMA. Premissa maior - Ordem e harmonia universais na operação concorrente de uma imensa multidão de elementos separados, acham explicação só no postulado de uma causa inteligente. Premissa menor - O universo, no seu todo e em todas as suas partes, é uma estrutura da ordem mais complexa e simétrica. Conclusão - Logo, a causa eterna e absoluta do universo é uma mente inteligente. SEGUNDA FORMA. Premissa maior - O ajustamento das partes e a adaptação

dos meios para efetuar um fim ou propósito, podem ser explicados só referindoos a uma inteligência e vontade que tinham em vista esse fim ou propósito. Premissa menor - O universo está cheio de semelhantes ajustamentos de partes e de organismos compostos de partes que concorrem para efetuar certos fins. Conclusão - Logo, a Primeira Causa do universo não pode deixar de ser uma mente e uma vontade inteligentes que tinham em vista esses fins. Se estes argumentos são válidos, provam que Deus é uma Pessoa eterna e autoexistente. Trata-se de um absurdo o postulado de uma inteligência inconsciente ou de uma inteligência que produza efeitos sem que opere vontade alguma. Estas frases não representam nenhuma idéia possível; e inteligência e vontade, quando se acham juntas, constituem personalidade. Quanto à primeira forma do argumento, é evidente que o próprio fato de ser a ciência uma coisa possível, é prova indubitável de ser intelectual a ordem da natureza. A ciência é um produto do espírito humano que é absolutamente incapaz de passar além das leis da sua constituição. As intuições da razão, os processos lógicos da análise, inferências indutivas ou dedutivas, a imaginação, a invenção e todas as atividades da alma é que organizam os processos científicos; e se vê que tudo isso corresponde perfeitamente à natureza exterior. Depois de resolvidos até os mais sutis problemas abstratos da matemática e da mecânica, tem-se achado subseqüentemente que as soluções foram antecipadas na natureza. As leis da natureza são as expressões de harmonias numéricas e geométricas, e exemplos maravilhosos de uma razão superior e do belo perfeito. Contudo, essas leis, embora sejam invariáveis nas mesmas condições, nem são eternas nem inerentes à constituição elementar do universo. As propriedades da matéria elementar são constantes, mas as leis que as organizam são, elas mesmas, efeitos complicados, o resultado de ajustamentos anteriores sob as categorias de tempo, espaço, quantidade e qualidade. A medida que se mudam esses ajustamentos, mudam-se também as leis. E esses ajustamentos são, pois, a causa dessas leis; e os ajustamentos não podem, por isso, deixar de ser o produto ou do acaso, o que é absurdo, ou da inteligência, o que é certo. Esta ordem intelectual da natureza é o primeiro postulado necessário de toda a ciência, e é a essência de todos os processos do universo, desde o agrupamento

de átomos até à revolução dos mundos; desde a digestão de um pólipo até à ação funcional do cérebro humano. Quanto à segunda forma deste argumento - O princípio de desígnio pressupõe a ordem intelectual geral do universo e suas leis, e apresenta já, antecipadamente, a afirmação de que o caráter da Primeira Causa é manifestado mais ainda pelas provas encontradas em toda parte, de serem essas leis gerais obrigadas a concorrer para, por meio de ajustamentos especiais, efetuar certos fins que evidentemente se deviam efetuar. Este princípio é ilustrado pelos ajustamentos mútuos descobertos nas diversas providências da natureza, e especialmente pelos organismos vegetais e animais, e as relações que envolvem de um organismo para com outro organismo, de organismo para com o instinto, e de organismos e classes de organismos para com outros, e as circunstâncias físicas em que se acham colocados. Em muitos casos, a intenção destes ajustamentos e adaptações especiais é evidente de per si e inegável, como, e.g., o caso das diversas partes do olho para produzir a visão. Noutros casos, a intenção é mais obscura e conjetural. Mesmo no estado atual das ciências, podemos compreender só em parte; porém já desde o princípio, as provas de desígnio inteligente têm sido transparentes e abundantes. Um só período num manuscrito é prova de inteligência, mesmo se o contexto for indecifrável. No entanto, todo passo que se dá adiante nas ciências, descobrem-se mais provas espalhadas em área maior e com uma luz mais clara. 8. Quais são algumas das objeções feitas contra a inferência deísta tirada do argumento de desígnio especial, e quais são as respostas? Ia. Hume (.Dialogues on Natural Religion, Pt. 7, etc.) afirma que a nossa convicção de que adaptação é prova de desígnio, é devida à experiência e não pode passar além dela: e a de que o nosso juízo dos organismos naturais implicam desígnio na sua causa é uma inferência tirada da analogia das invenções engenhosas do homem e dos seus efeitos. Diz mais, que essa analogia é falsa - (1) Porque já temos conhecimento prévio do inventor humano como agente inteligente, enquanto que do autor da natureza não temos nenhum conhecimento prévio, e é esse mesmo autor que a inferência deísta procura verificar. (2) Todos os processos da natureza são diversos daqueles por meio dos quais os homens executam as suas obras; e a formação do mundo e a instituição dos processos da natureza são efeitos peculiares, inteiramente dissemelhantes daqueles que temos experiência.

RESPONDEMOS: (1)0 argumento peca por ter como base um falso postulado de fato. Do inventor humano, da sua alma não temos conhecimento prévio nem conhecimento algum, a não ser o que nos dá o caráter das obras pelas quais se manifesta a nós. E é exatamente do mesmo modo e na mesma extensão que chegamos ao conhecimento do Autor da natureza. (2) O argumento baseia-se num falso postulado de princípio. A analogia das invenções do engenho humano não é a base da nossa convicção de que a ordem e a adaptação são provas de inteligência. E juízo universal e necessário da razão que a ordem e a adaptação só podem proceder de uma causa inteligente, ou do acaso; e esta última suposição é absurda. 2a. Alguns cientistas, tendo adquirido o costume de considerar o universo como uma unidade absoluta, cujos processos são todos executados por leis gerais, invariáveis (um modo de pensar em que a teologia agostiniana se antecipou por séculos à ciência), fazem objeção que, tomando como prova de intenção o ajustamento das partes, em certos grupos ou sistemas especiais o teólogo natural toma, por engano, uma parte pelo todo e um efeito incidental de uma lei geral, resultado de condições especiais e temporais, pelo fim real da própria lei. Dizem que mesmo se fosse inteligente a Primeira Causa do universo, os homens cometeriam um absurdo infinito nutrindo a presunção de interpretar o Seu propósito, por meio dos resultados especiais que eles vêem proceder da operação de leis que já têm estado operando desde toda a eternidade, por todo o espaço infinito e sobre um sistema infinito de partes concorrentes. RESPONDEMOS: (1) E evidente que as relações das partes de um todo especial, concorrendo todas para produzir um fim especial, podem ser entendidas muito bem enquanto permaneçam inteiramente desconhecidas as relações desse todo especial para com a totalidade do todo geral; ainda que a razão e a revelação derramem muita luz mesmo sobre esta última parte. Um só osso de um animal de espécie desconhecida dá testemunho inegável de adaptação especial, e pode até, como dizem com toda a razão os cientistas, lançar muita luz para além de si, sobre a constituição daquele todo a que pertenceu, mas do qual não temos outro conhecimento. (2) Confessamos que essa crítica, se bem que falhe quanto ao argumento tirado do desígnio, tem força quanto ao modo pelo qual este argumento tem, às vezes, sido aplicado. Os antigos teólogos naturais, muitas vezes em grau um tanto exaltado, abstraíram organismos individuais do grande

todo dinâmico do qual são tanto produtos como partes. O Dr. Flint (Theism, pág. 159) distingue bem os fins intrínsecos, extrínsecos e supremos de qualquer ajustamento especial. Assim, o fim intrínseco desse ajustamento especial chamado olho, é a visão. Seus fins extrínsecos são os fins úteis para os quais esse órgão serve para o animal que o possui, e os fins úteis para os quais o animal serve para tudo o que está com ele, em relação imediata ou remota. Seu fim supremo é o fim do próprio universo. “Quando afirmamos, pois, que há causas finais no sentido de fins intrínsecos em quaisquer coisas, afirmamos só que as coisas são unidades sistemáticas, cujas partes se acham relacionadas definitivamente umas com outras, e coordenadas para produzirem um resultado comum; e quando afirmamos que há em quaisquer coisas, causas finais, no sentido de fins extrínsecos, afirmamos somente que as coisas não são sistemas isolados e independentes, e sim, sistemas definitivamente relacionados com outros sistemas, e ajustados de modo que são partes componentes de sistemas superiores e meios para produzir resultados mais compreensíveis do que elas mesmas” -Theism, pág. 163 E verdade que um homem não pode discernir o supremo fim de uma parte, enquanto não discerne o supremo fim do todo, e que não pode discernir todos os fins extrínsecos de qualquer sistema especial, enquanto não conhece todas as suas relações para com todos os demais sistemas especiais. Apesar disso, porém, assim como um homem, que não sabe nada das relações que tem uma certa planta ou um animal para com a flora ou a fauna de um continente, pode ter certeza absoluta quanto às funções da raiz ou de uma garra ou unha, na economia da planta ou do animal, assim também poderá entender perfeitamente a maneira por que todas as partes que concorrem para produzir um todo especial são adaptadas para esse fim, sem que, por ora, nada saiba da relação extrínseca em que está esse todo especial para com aquilo que está fora dele. 3a. Certa classe de cientistas tem afirmado, nestes últimos tempos, que o testemunho dado da existência de Deus, pela ordem e adaptação manifestadas nos processos da natureza, fica muito enfraquecido, senão invalidado absolutamente pela probabilidade de ser verdadeira a hipótese alternativa da evolução. Há muitas teorias da evolução, mas o termo, no sentido geral, significa o juízo de que o estado do universo como um todo e em todas as suas partes, em qualquer momento tem sua causa no estado em que se achava o universo, no momento anterior; que as mudanças notadas foram produzidas pela

agência de forças inerentes na natureza, e que se pode notar a operação dessas forças, de momento para momento, sem solução de continuidade causai, durante todo o tempo passado. Todas as possíveis teorias da evolução, consideradas em sua relação com a teologia, podem ser assim classificadas: (1) As que não negam nem obscurecem o testemunho que a ordem e a adaptação observadas na natureza dão da existência de Deus, da Sua imanência nas Suas obras, e do Seu governo providencial sobre elas. (2) As que, embora reconheçam a Deus como a causa original a Quem se deve referir no passado remoto a origem e os ajustamentos primários do universo, contudo negam a Sua imanência e constante atividade providencial nas Suas obras. (3) As que manifestam, ou virtualmente obscurecem ou negam, o testemunho que a ordem e adaptação do universo dão da existência e atividade de Deus, tanto como Criador como também como Governador providencial. .*• ; -v. Para com a primeira destas classes de teorias da evolução, o teólogo natural sente, naturalmente, só o mais amigável interesse. Quanto àsegunda classe, que admite que uma inteligência divina ideou e inaugurou o universo no princípio absoluto, mas nega que qualquer agente semelhante esteja imanente no universo dirigindo seus processos, cabe-nos dizer: (1) Que o ponto que estamos procurando estabelecer agora é a auto-exis-tência de uma Primeira Causa inteligente, e não o modo da Sua relação para com o universo. Este último ponto será elucidado em diversos capítulos subseqüentes. (2) E muito filosófico e mais de acordo com a verdadeira interpretação do princípio científico de continuidade, o conceber-se a Primeira Causa como imanente no universo, e como concorrendo orgânicamente com todas as causas secundárias e não inteligentes em todos os processos que são indícios de poder ou inteligência. Isso é reconhecido por todos os cientistas, e caracteriza a grande maioria deles, que são deístas ortodoxos ou que referem todos os fenômenos do universo físico à ação dinâmica da vontade divina. (3) São incontestáveis as provas que a consciência moral do homem, a história e a revelação fornecem, em favor da imanência e operação eficaz de Deus, em todas as Suas obras. Quanto à terceira classe de teorias da evolução que obscurecem ou negam, quer manifesta quer virtualmente, o testemunho que a ordem e a adaptação do universo são de uma inteligente Causa Primária do universo, como, e.g., a teoria de Darwin quanto à diferenciação de todos os organismos, em virtude de

variações acidentais surgindo durante um tempo ilimitado, cabe-nos dizer: Io. Toda teoria semelhante, quando proposta para explicar o universo atual, deve fornecer uma explicação provável de todas as classes de fatos. Mas é notório que todas as teorias da evolução puramente natural, deixam inteiramente de explicar os fatos seguintes: (1) A origem da vida. Não poderia existir na suposta neblina luminosa, e não poderia ser gerada por aquilo que não tem vida. A decisão madura da ciência de hoje (1878) é a que já se acha expressa no axioma antigo omne vi-vum ex vivo. (2) A origem da sensação. (3) Também a da inteligência e da vontade. (4) Também a da consciência. (5) O estabelecimento de tipos distintos, logicamente correlatados e persistentes, em gêneros e espécies, mantidos pela lei da hibridade. (6) A origem do homem. O Prof. Virchow, de Berlim, no seu recente discurso perante a Sociedade Alemã de Naturalistas e Médicos, em Munich, diz: “Saibam que me ocupo atualmente com especialidade no estudo de Antropologia; mas sinto-me obrigado a declarar que cada passo que temos dado para diante na província de antropologia pré-histórica tem-nos realmente afastado mais de qualquer prova de semelhante conexão (isto é, de ser o homem descendente de qualquer tipo inferior)”. 2o. Mas mesmo se fosse possível provar como fato a evolução contínua, isso de modo algum afetaria as provas que nos fornecem a ordem inteligente e as adaptações notadas no universo. Estabeleceria somente um método ou sistema de meios, porém em grau algum alteraria a natureza dos efeitos ou os atributos da causa real, descoberta por meio desses efeitos. (1) Seria preciso ainda explicar a origem das leis da abiogênese, de reprodução, de diferenciação e reprodução sexuais, de hereditariedade, de variação das leis que, de átomos e energia mecânica, possam desenvolver sensação, razão, consciência e vontade. (2) Leis nunca são causas, mas sempre modos complicados de ação; o resultado da coação de inúmeros agentes inconscientes. Em vez de serem explicações, são elas mesmas efeitos muito complexos dos quais a razão exige uma causa intelectual. (3) Todas as leis físicas são o resultado das propriedades originais da matéria, operando sob a condição mútua de certos ajustamentos complicados. Alterados os ajustamentos, alteram-se as leis. As que executam a evolução ou antes aquelas em que é analisado o processo da evolução, é preciso que se refiram retrospectivamente aos ajustamentos originais dos elementos materiais da neblina luminosa. Esses ajustamentos nos quais, segundo

a hipótese da evolução, devia achar-se latente toda futura ordem e vida, tiveram necessariamente como causa, ou o acaso ou a inteligência. Huxley, em seu Criticisms on Origin of Species, pág. 330, baseia no acaso toda a lógica da evolução, assim: “Tem sido demonstrado que um aparelho, muito bem adaptado para um fim particular, pode ser o resultado de um método de tentativas e erros, executado por agentes inconscientes; como também da aplicação direta de meios adaptados para produzirem esse fim, por um agente inteligente”. Segundo a teologia, cada organismo é como uma bala de carabina atirada diretamente num alvo. Segundo Darwin, “os organismos são como que metralhadora da qual uma bala ou poucas acertam em algum objeto, e as outras caem longe”. A moderna explicação científica dos processos do universo, por meio só de causas físicas à exclusão da inteligência, difere da antiga teoria já há muito abandonada do acaso, somente nos acidentes: (a) do uso enganador das palavras “leis da natureza”, e (b) do postulado de que o acaso, operando durante um tempo in-definido, pode fazer uma obra de inteligência. Todavia, assim como ninguém pode crer que qualquer soma de tempo possa explicar a forma das facas de pedra e as pontas de seta de pedra, sem o trabalho humano; nem que uma coleção de tipos lançados ao acaso mesmo em número ilimitado de vezes possa cair em uma ordem tal que formem os dramas de Shakespeare ou Os Luzíadas por Camões, assim também ninguém pode crer racionalmente que a ordem complicada e tão evidentemente intelectual do universo proceda do acaso. (4) Na criação artificial é o homem que escolhe; na seleção natural (natural selection) é a natureza que escolhe. Por conseguinte, se os resultados são os ajustamentos mais cuidadosos para efetuar um fim determinado, segue-se que essa característica foi estampada sobre os organismos pela natureza e que, por isso, esta foi dirigida inteligentemente: (a) ou por uma inteligência imanente nos seus elementos, ou em seu todo organizado; (b) ou pelo ajustamento original do seu maquinismo, ou por um Criador inteligente. 9. Exposição do argumento moral, isto é, as provas fornecidas pela consciência moral e pela história da raça humana. O argumento cosmológico nos conduziu a uma Causa Primária eterna e autoexistente. O argumento deduzido da ordem e adaptação descobertas nos processos do universo revela-nos que essa grande Causa Primária possui inteligência e vontade, isto é, que é um espírito pessoal. O argumento moral ou antropológico fornece dados novos para inferências, confirmando as conclusões anteriores quanto ao fato da existência de uma Causa Primária pessoal e

inteligente; e, ao mesmo tempo, acrescentando a essa concepção os atributos de santidade, justiça, bondade e verdade. O argumento deduzido do desígnio inclui o argumento deduzido da causa; e o argumento deduzido da justiça e benevolência inclui esses dons e acrescenta ainda um elemento novo que lhe é próprio. Este grupo de argumentos pode ser assim exposto: 10. Consciência de si é a base fundamental de todo conhecimento. Dá-nos imediatamente o conhecimento de nós mesmos como existentes e como sujeitos a certos atributos e agentes em certas formas de atividade. Nossas almas, com todos os seus atributos, precisam de explicação. Não existem desde a eternidade; tampouco podiam ser desenvolvidas de elementos materiais, porque: (1) A consciência dá testemunho da sua unidade, simplicidade e espiritualidade. (2) As leis da razão e o sentimento moral não podem ser explicados como o resultado de transformadas impressões do sentido, modificadas pelas associações divididas pela hereditariedade, segundo Mill e Spencer, porque: (a) são universalmente as mesmas, (b) não podem ser analisadas, (c) são necessárias e (d) soberanas sobre todos os impulsos. Segue-se que a alma humana foi criada, e seu Criador não pode deixar de ter atributos superiores aos da sua obra. -* - 0 ’> ; ; 2o. O homem é essencial e universalmente um ser religioso. Tem os sentimentos de dependência absoluta e de responsabilidade moral inerentes em sua natureza; esses sentimentos são universais e necessários. A consciência implica sempre em responsabilidade para com um ser superior em autoridade moral e, por isso, em caráter moral. Essa responsabilidade está implícita especialmente no sentimento de culpa que acompanha toda violação de consciência. Deus manifesta-Se e é reconhecido na consciência como uma vontade santa, reta, justa e inteligente, isto é, um espírito santo e pessoal. 3o. As adaptações encontradas na natureza, até onde nos é possível examinar as suas relações para com criaturas sensíveis, são caracteristicamente benéficas e dão testemunho de um propósito geral de promover a felicidade e satisfazer o sentimento do belo. Isso implica em desígnio, e desígnio de um especial caráter estético e moral, e prova que a Causa Primária é benévola e amante do belo.

4o. A história inteira da raça humana, até onde é conhecida, descobre uma ordem e um propósito morais que não acham sua explicação na inteligência ou no propósito moral dos agentes humanos que nela figuram; e essa história descobre também uma unidade de plano que abrange tudo, todos os povos e todos os séculos. Os fenômenos da vida social e nacional, da distribuição etnológica, e do desenvolvimento e difusão das civilizações e religiões, podem ser explicados unicamente pela existência de um governador e educador sábio, reto e benévolo dos homens. 10. Como expor as objeções ao argumento moral, e também as suas respostas ? Essas objeções baseiam-se nestes pontos: Io. A inva-riabilidade mecânica das leis naturais, e sua inexorável falta de atenção ao bem-estar das criaturas dotadas de consciência. 2o. Os sofrimentos dos animais irracionais. 3o. A existência geral de males morais e físicos entre os homens. 4o. A partilha desigual dos favores providenciais, e a ausência de toda proporção entre a soma de felicidade concedida e o caráter moral dos que a recebem. Estas dificuldades que de todos provam mais ou menos a fé, são, na maior parte dos casos, os motivos reais do ateísmo cético. John Stewart Mill, em seufjfjqy on Nature (Three Essays on Religion) assevera que é característico da “Natureza” infligir, sem piedade, sofrimentos e a morte; e que, se a causa da natureza é uma vontade pessoal, deve ser um monstro de crueldade e injustiça. Em seuEssay on Theism, Pt.2, argumenta como se fosse uma imoralidade abominável afirmar que o autor da natureza, assim como nós a conhecemos, é onisciente e onipotente, e ao mesmo tempo, absolutamente justo e benévolo; que o único meio de absolvê-10 da acusação de ser cruel e injusto é negar que seja ilimitado o Seu conhecimento ou o Seu poder, ou mesmo ambos. A conclusão que tira das provas que cita, ele apresenta assim: “Um ser cujo poder é grande mas limitado, e limitado de um modo que nem podemos conjecturar; cuja inteligência é grande e talvez ilimitada, mas talvez mais limitada ainda do que é o seu poder; que deseja a felicidade de Suas criaturas e a isso presta alguma atenção, porém, ao mesmo tempo, parece ter outros motivos para Suas ações, e motivos que têm para ele mais peso; e a cujo respeito é difícil crer que tenha criado o universo só para esse fim.” Na sua Autobiography, ch.2, falando de seu pai James Mill, ele diz: “Ouvi-o dizer que foi a leitura da Analogy por Butler que produziu nele uma reviravolta sobre esse ponto. E essa obra, sobre a qual

continuava sempre a falar com muito respeito, o conservou, por um tempo considerável, crente na autoridade divina do cristianismo, provando-lhe que fossem quais fossem as dificuldades que se opunham à aceitação do Velho e do Novo Testamentos como livros que procederam de um ser perfeitamente sábio e bom, ou que estes livros registram os atos de tal ser, as mesmas dificuldades ou maiores ainda se opõem à crença de que um ser de semelhante caráter seja o Criador do universo. Ele considerava os argumentos de Butler como concludentes contra os únicos oponentes aos quais são dirigidos. Os que admitem a existência do Criador e Governador onipotente, e também perfeitamente justo e benévolo de um mundo como este, pouco podem alegar contra o cristianismo que não se possa alegar, com pelo menos igual força, contra eles. Por conseguinte, não encontrando lugar de descanso no deísmo, ficou em estado de perplexidade até que afinal, e sem dúvida depois de muitas lutas, cedeu à convicção de que sobre a origem das coisas, absolutamente nada se pode saber”. RESPONDEMOS: Io. E certo que Deus não criou o universo com o único fim, nem mesmo com o fim principal de promover a felicidade de Suas criaturas. A nossa razão, a observação e as Escrituras Sagradas concorrem em revelar como fins muito mais exaltados e mais dignos da ação divina, a manifestação da Sua própria glória e a promoção da mais exaltada excelência de Suas criaturas inteligentes, por meio da educação e da disciplina. E é evidente que a operação de inexoráveis leis gerais, a miséria e os sofrimentos incidentais desta vida podem ser os meios mais eficazes para promover esses fins. 2o. A intenção direta de todos os órgãos de que se acham providas as criaturas dotadas de consciência é, evidentemente, a promoção do seu bem-estar; a dor e a miséria são incidentais. Mesmo a morte súbita e violenta dos animais irracionais promove, provavelmente, a maior soma possível de alívio no campo dos sentido 3o. A consciência tem ensinado aos homens, em todos os séculos, que os sofrimentos a que estamos sujeitos nesta vida são as conseqüências diretas e merecidas dos pecados dos homens, quer como penas, quer como castigos cuja intenção benévola é o nosso melhoramento moral. 4o. A origem do pecado é confessadamente um mistério, atenuado em parte, porém, pela consideração de que é o resultado do abuso da dádiva melhor e mais

valiosa que nos foi concedida, a agência livre e responsável; e também pelo fato, revelado nas Sagradas Escrituras, de que na providência divina até o pecado terá de servir para manifestar mais plenamente as perfeições de Deus, e contribuir para promover a excelência moral e a felicidade da criação inteligente. 5o. As desigualdades das cotas concedidas pela providência e a desproporção entre o bem-estar e o caráter moral dos homens nesta vida resultam do fato de não ser este mundo lugar de recompensas e castigos, e que os caracteres e destinos diversos exigem disciplina diversa de educação; e essas desigualdades e desproporções apontam para reajustamentos futuros, revelados na Bíblia (Sal. 73, Almeida). 6o. Nem o argumento teleológico nem o moral envolvem a asserção de podermos, no estado atual dos nossos conhecimentos, discernir no universo provas de uma sabedoria ou bondade que fosse infinita ou mesmo perfeita. Estes atributos são indicados como fatos e características gerais da natureza. Mas o nosso discernimento deles é necessariamente limitado pela imperfeição dos nossos conhecimentos. Mesmo no juízo só da razão é infinitamente provável que, quando tivermos adquirido conhecimentos mais adequados, veremos que aquilo que agora nos parece anômalo e incompatível tanto com a sabedoria perfeita como com a bondade perfeita, ilustra essas mesmas perfeições que fomos tentados a julgar obscurecidas por certas anomalias. . Yl. Exposição das provas bíblicas. Sendo o homem criatura finita, culpada e moralmente corrompida, é inevitável que as automanifestações de Deus na natureza sejam imperfeitamente apreendidas por nós. A revelação sobrenatural que Deus manifestou, mediante um processo histórico de intervenções especiais em sucessão cronológica, interpretadas por uma ordem de profetas dotados sobrenaturalmente e registradas nas Escrituras Sagradas, suplementa a luz da natureza, explica os mistérios da Providência e dá-nos os princípios de uma verdadeira teodicéia. O Deus que a natureza encobre, mesmo quando O revela, as Sagradas Escrituras no-10 apresentam descoberto, em toda a perfeição da sabedoria, santidade e amor, na Pessoa de Jesus Cristo. Quem vem a Cristo vem a Deus. A verdade do teísmo é demonstrada na Pessoa de Jesus, e daí por diante não mais será aceita senão por aqueles que lealmente reconheçem Sua soberania sobre a inteligência, a consciência e a vida.

12. Exposição do princípio em que se baseiam os argumentos, a priori, a favor da existência de Deus, o valor desse princípio, e as formas principais sob as quais esses argumentos têm sido apresentados. Argumentos a posteriori são os que, dos fatos da experiência, se deduzem das causas ou dos princípios. Assim, e.g., nós, por meio dos argumentos precedentes mediante os fatos da consciência e da natureza exterior, temos sido conduzidos ao conhecimento de Deus como um espírito pessoal, inteligente e reto, a Causa Primária, poderosa, sábia e benévola, e Governador moral. Argumentos a priori são os que procedem das idéias necessárias da razão e vão às conseqüências necessariamente deduzidas delas, ou às verdades necessárias nelas incluídas. E certo que as intuições das verdades necessárias são as mesmas, em todos os homens. Não são generalizações tiradas da experiência, e sim estão pressupostas em toda a nossa experiência. Levam o cunho da universalidade e da necessidade. Têm validade objetiva, não dependendo do estado subjetivo da consciência pessoal, nem da natureza das coisas, mas anterior e superior a todas as coisas. Que seria, pois, que pode ser a base, o fundamento de verdades eternas, necessárias, universais e imutáveis, a não ser uma natureza infinita, eterna, autoexistente, imutável, da qual seja a essência? . , Temos visto que a nossa razão só se pode contentar com uma causa que não teve causa. Essa causa não pode deixar de ser eterna, autoexistente e imutável. Temos, em nossas mentes, as idéias e intuiçÕes da infinidade e perfeição, como também as da eternidade, autoexistência e imutabilidade. “Estas, a não ; ser que sejam inteiramente ilusórias - suposição que não se pode conceber - devem ser atribuíveis a algum ser. A única j questão é então: de que Ser? Deve ser dAquele quejápro- * vamos ser a Primeira Causa de tudo, a fonte de todo o poder, sabedoria e bondade manifestados no universo. Não podem ser atribuídos ao universo, porque já se mostrou que este não é senão um efeito, e efeito de uma inteligência, uma Pessoa. Isso não pode ser de nós mesmos, nem de coisa alguma ao alcance de nossos sentidos porque nós, e tudo o que os nossos sentidos podem alcançar, somos finitos, contingentes e imperfeitos. Só o Autor do universo, o Pai do nosso espírito, Aquele de quem vem toda a boa dádiva e todo o dom perfeito, pode ser não criado, não condicionado, infinito e perfeito. Isso completa a idéia de Deus, até onde pode alcançar a razão natural, ou esta a pode formar; e dá também

consistência à idéia. As conclusões dos argumentos aposteriori não satisfazem nem a inteligência nem Q coração, enquanto não são ligadas à intuição da razão sobre a infinitude e por esta suplementadas. A concepção de um Deus que não seja infinito, um Deus que não seja ilimitado em todas as Suas perfeições - é uma concepção autocontraditória que a inteligência recusa-se a aceitar” - Dr. Flint, Theism, pág. 291. Io. Anselmo, Arcebispo de Canterbury (1093-1109), em seus tratadosMonologion eProslogion, expõe o argumento assim: temos a idéia de um Ser infinitamente perfeito. Mas existência é um elemento necessário para a perfeição infinita. Por isso existe um Ser infinitamente perfeito porque, de outro modo, faltaria à perfeição infinita, como nós a concebemos, um elemento essencial à perfeição. 2o. Descartes (1596-1650), em suas Meditationes de prima philosophia, prop. 2, pág. 89, o expõe assim: “Não podia ter origem numa fonte finita, a idéia que temos de um Ser infinitamente perfeito, e por conseguinte, essa idéia nos foi comunicada necessariamente por um Ser infinitamente perfeito”. O mesmo filósofo, em conexão com outros assuntos, diz também que essa idéia representa uma realidade objetiva, porque: (1) é idéia muito clara, e as idéias levam a convicção de corresponderem à verdade, na proporção da sua clareza e (2) porque é necessária. 3o. O Dr. Samuel Clarke publicou em 1705 sua Demon-stration ofthe Being and Attributes of God. Seu argumento é que o tempo e o espaço são infinitos e existem necessariamente. Contudo não são substâncias. Logo, existe necessariamente uma substância eterna e infinita da qual são propriedades. AS PRINCIPAIS TEORIAS ANTITEÍSTAS 13. Que é ateísmo? Ateísmo, segundo sua etimologia, significa negação da existência de Deus. O nome foi aplicado pelos antigos gregos a Sócrates e a outros filósofos, para indicar que eles não se conformaram com a religião popular. Foi aplicado também, no mesmo sentido, aos cristãos primitivos. Segundo o uso estabelecido em todas as línguas modernas, o termo significa agora a negação da existência de um Criador pessoal e Governador moral. Se bem que a crença na existência

de um Deus pessoal seja o resultado de um reconhecimento espontâneo de Deus, manifestando-Se na nossa consciência e nas obras da natureza, ainda assim o ateísmo é possível como estado anormal da consciência, produzido por especulações sofísticas ou pela indulgência de paixões pecaminosas, do mesmo modo que o idealismo subjetivo é possível. Existe sob as seguintes formas: 1. Prático. 2. Especulativo. O ateísmo especulativo pode ainda ser (1) Dogmático, como no caso de chegar-se à conclusão de que: (a) Deus não existe, ou (b) que as faculdades do homem são incapazes de averiguar ou verificar a Sua existência (e. g., Herbert Spencer, First Principies, pt. 1). (2) Cético, como no caso de só duvidar-se da Sua existência e de negar-se o caráter conclusivo das provas geralmente apresentadas a favor dessa existência. (3) Virtual, como no caso (a) de se manterem princípios essencialmente incompatíveis com a existência de Deus, ou com a possibilidade de adquirirmos algum conhecimento a esse respeito, e. g., materialistas, positivistas, idealistas absolutos; (b) de se negarem alguns dos atributos essenciais da natureza divina, como fazem os panteístas, e J. S. Mill em seus Essays on Religion; (c) de se adotarem explicações do universo que excluem (i) a agência de um Criador e Governador inteligente, (ii) ou o governo moral de Deus e a liberdade moral do homem, como e. g., as teorias de Darwin e Spencer, e os necessitarianos, em geral. Veja Ulrici, God and nature e Review of Strauss; Strauss, em Old and New; Buchanan, Modem Atheism; Tulloch, Theisrn; Flint, Theism. ,, 14. Que é dualismo? O dualismo (em Filosofia, a teoria oposta ao Monismo) é a doutrina de existirem no universo duas essências genericamente distintas: matéria e espírito. Neste sentido, a doutrina comum do cristianismo é dualista. Todos os antigos filósofos pagãos criam na existência eterna e independente da matéria e, por conseguinte, todos os que entre eles eram também teístas, eram realmente dualistas cosmológicos. A religião de Zoroastro era um dualismo mitológico, que tinha por fim explicar a existência do mal. Segundo ela, Ormuz e Ahriman os princípios pessoais do bem e do mal - emanaram de uma suprema divindade abstrata, Akerenes. Algumas das seitas dessa religião sustentavam o dualismo na sua forma absoluta, e referiam todo o mal à hute, a matéria auto-existente. Este princípio dominava entre as diversas seitas cristãs espúrias e gnósticas, no segundo século da era cristã, e no sistema de Manes, no terceiro

século; e sua influência no mundo oriental manifestou- se na tendência ascética da Igreja Cristã Primitiva. Veja J. F. Clarke, Ten Religions; Hardwicke, Christ and other Masters; Neander’s, Church History; Pressensé, Early Years of Christianity; Tennemann,Manual Hist. Phil. 15. Que é politeísmo ? O politeísmo (polys e theos) distribui as perfeições e funções do Deus infinito, entre muitos deuses limitados. Teve origem no culto da natureza, representado nos mais antigos Vedas dos hindus e que, em tão pouco tempo e radicalmente, substituiu o monoteísmo primitivo. No princípio, enquanto se conservava na Caldéia e na Arábia, consistia em culto dos elementos, especialmente das estrelas e do fogo. Depois tomou formas especiais, segundo as tradições, o gênio e a civilização relativa dos diversos povos. Entre os selvagens mais grosseiros degenerou-se até ao fetichismo, como na África Central e Ocidental. Entre os gregos, tornou-se o veículo para a expressão do seu humanitarismo mais apurado na apoteose de homens heróicos, antes que na revelação dos deuses encarnados. Na índia, sendo aí filho de uma filosofia panteísta, tem-se desenvolvido ao extremo o mais extravagante, tanto a respeito do número quanto ao do caráter de seus deuses. Sempre que o politeísmo esteve ligado a especulações, apareceu como a contra-parte exotérica do panteísmo. Carlyle, Hero Worship; Max Müller, Compar. Myth., nos Oxford Essays; Prof. Tyler, Theology of Greek Poets. 16. Que é deísmo? O deísmo (de deus), se bem que etimologicamente seja o mesmo que teísmo (de theos), tem sido distinguido desde meados do século 16 eéo nome dado ao sistema que admite a existência de um Criador pessoal, mas nega Sua presença diretora no mundo, Seu imediato governo moral e toda a intervenção e revelação sobrenaturais. O movimento começou com os deístas ingleses, Lorde Herbert de Cherbury (15811648), Hobbes (1680), Shaftesbury, Bolingbroke (1678 -1751), Thomas Paine (1809), etc. Passou para a França, onde veio a ser representado por Voltaire e pelos enciclopedistas. Daí passou para a Alemanha, onde teve como representantes Lessing e Reimarus (Wolfenbüttel Fragmentist), e, invadindo a Igreja e a teologia, foi representado essencialmente pela antiga escola dos racionalistas naturalistas que o admitiam com uma forma branda e inconseqüente do socinianismo, e. g., Eichhorn

(17521827), Paulus (1771-1851), Wegscheider (1771-1848). Foi representado na América pelo falecido Theodore Parker, e ainda o é pela extrema esquerda do partido chamado Cristãos Liberais. Na Alemanha, o mero dualismo naturalista cedeu ao pan-teísmo, assim como este cedeu, ultimamente, ao ateísmo materialista, e. g., Strauss. Veja Leland, View of Deistical Writers; Boyle Lectures por Van Mildert; Farrar, CriticaiHist. of Free-thought; Dorner, Hist. Protest. Theology, Hurst,Hist. ofRa-tionalism\Analogy, por Butler. 17. Que é idealismo? “Idealismo é a doutrina de que, nas percepções externas, os objetos conhecidos imediatamente são idéias. Ela tem sido mantido sob diversas formas.” Vt\zReid, por Hamilton, Na seguinte passagem de Lewes, pode-se ver quais são algumas das formas do idealismo moderno, entre os alemães: “Vejo uma árvore. Os psicologistas comuns me dizem que neste fato da vista acham-se implicadas três coisas, a saber: uma árvore, uma imagem dessa árvore, e uma mente que apreende essa imagem. Fichte me diz que sou eu só que existo. A árvore e sua imagem são uma coisa, e esta é uma modificação da minha mente. Isto é idealismo subjetivo. Schelling me diz que tanto a árvore como o meu ego (o eu) são existenciais, igualmente reais ou ideais; mas não são nada menos do que manifestações do absoluto, infinito ou não condicionado. Isso é idealismo objetivo. No entanto, Hegel me diz que todas estas explicações são falsas. A única coisa que existe (nesse fato da vista) é a idéia, a relação. Oewea árvore só são dois termos da relação, e lhe devem sua realidade. Isso é idealismo absoluto. Segundo esse, não há nem espírito nem matéria, nem céu nem terra, nem Deus nem homem. A doutrina oposta ao idealismo é o realismo” Vocabulary of the Philosophical Sciences, por C.P Krauth, D. D., 1878. 18. Que ématerialismo? - : ' Logo que começamos a refletir, ficamos cônscios da presença de duas classes de fenômenos, entrelaçadas em todas as suas partes e, ao mesmo tempo, sempre distintas - formando uma dessas classes, os fenômenos chamados pensamentos, sentimentos e vontade, e a outra os chamados extensão, inércia, etc. Por mais que os analisemos, não podemos nunca fundir os fenômenos de uma classe com os da outra. Os de uma classe conhecemos pela

consciência, os da outra pela sensação; e conhecemos os de uma classe tão direta e certamente como os da outra. E não sendo possível fundir os fenômenos de uma dessas classes com os da outra, referimos uma classe a uma substância chamada espírito, e a outra a uma substância chamada matéria. Os materialistas são uma classe de filósofos superficiais nos quais a consciência moral não está muito viva, e que adquiriram o costume de dirigir sua atenção exclusivamente aos objetos sujeitos aos nossos sentidos, e de explicar os fenômenos físicos por meio de concepções mecânicas. Por isso caem no erro fundamental de afirmar: (1) Que há só uma substância, ou antes, que todos os fenômenos do universo podem achar explicação nos átomos e na energia. (2) Que inteligência, sentimento, consciência, volição, etc., são propriedades da matéria, ou funções de uma organização material, ou modificações de energia conversível. Não foi a inteligência que precedeu e produziu ordem e organização, mas são estas que, desenvolvidas por leis inerentes na matéria, produzem inteligência. Os darwinianos alemães chamam esse sistema o desenvolvimento mecânico causai do universo. Diz Huxley que a vida, e por conseguinte a organização, é o resultado da “mecânica molecular do protoplasma”. RESPONDEMOS: Io. Esta não é nenhuma teoria recôndita, como alguns pretendem a respeito de substância. Se os fenômenos da consciência podem ser resolvidos em modificações de matéria e energia, isto é, em algum modo de movimento, então todas as verdades conclusivas e necessárias são impossíveis, o dever não obriga ninguém; a consciência é uma mentira e a liberdade da vontade é um absurdo. Nesse caso, seriam dissolvidos o dever e a verdade, a honra e a esperança, toda moralidade e toda religião. 2o. A teoria é parcial e sem provas. Como questão de fato, temos conhecimento mais direto e claro da alma e de suas intuições, faculdades e poderes, do que o homem científico tem da matéria. Que é que ele sabe da natureza real do átomo, da energia, força, gravidade, etc.? 3o. A explicação da matéria por meio do espírito, da força e da ordem por meio da inteligência e da vontade, é racional. Mas a explicação dos fenômenos da inteligência, da vontade e da consciência como modificações da matéria ou força, é absurda. A razão pode contentar-se com a primeira, mas não pode contentar-se com a outra. Da alma humana sabe-se que é uma causa absoluta, da

matéria sabe-se que não o é - que é só veículo da energia, e que está num processo de dispersão. Da inteligência, sabe-se que é a causa da ordem e da organização; a respeito destas, porém, não podemos imaginar como poderiam ser as causas da inteligência. Tyndal (Athenoeum, de 29 de agosto de 1868) diz: “É impossível imaginar a passagem da física do cérebro para os fatos correspondentes da consciência. Mesmo concedendo que um pensamento definido e uma definida ação molecular no cérebro têm lugar simultaneamente, não possuímos o órgão intelectual, nem segundo parece, o rudimento de tal órgão que nos habilitaria a passar por um processo de raciocinar de um desses fenômenos para outro... Quando se afirma que o crescimento do corpo é processo mecânico, e que quando pensamos, tem lugar no cérebro uma ação correlativa, parece-me que se tem exposto a posição do materialista, até onde essa posição é sustentável. Creio que o materialista conseguirá, afinal, sustentar essa posição contra todos os ataques; porém não creio que, na constituição atual da mente humana, possa passar além disso. Não creio que tem o direito de dizer que seu agrupamento molecular e seus movimentos moleculares explicam tudo. Na realidade não explicam nada”, i ;i; 19. Que épanteísmo? Panteísmo (panthéos) é monismo absoluto, e mantém que o inteiro universo fenomenal é a forma em constante mudança da existência da única e exclusiva substância universal, que é Deus. Assim, pois, Deus é tudo, e tudo é Deus. Deus é (to on) existência absoluta, da qual cada coisa finita é uma forma diferenciada e transitória. Esta doutrina pode naturalmente tomar formas muito diversas. (1) O panteísmo de uma só substância, de Spinoza. Este sustentava que Deus é a única substância absoluta de tudo; que possui dois atributos -pensamentos e extensão - dos quais, por meio de uma evolução eterna, inconsciente e necessária, procedem respectivamente os mundos físico e intelectual. (2) O panteísmo materialista de Strauss, Der Alte und der Neue Glaube. (3) O panteísmo idealista de Schelling, que mantém a identidade absoluta do sujeito e objeto; e de Hegel, que mantém a identidade absoluta do pensamento e da existência como determinações do único Espírito absoluto. E óbvio que o panteísmo, em todas as suas formas, necessariamente nega, ou a personalidade moral de Deus ou a do homem, ou enfim a de ambos.

Logicamente torna as duas impossíveis. Segundo ele, Deus só chega à consciência de si no homem: a consciência da livre determinação pessoal de si no homem, é uma ilusão; a responsabilidade moral é um preconceito; o sobrenatural é impossível e a religião é uma superstição. Mesmo assim, porém, é tal a flexibilidade do sistema que ele, sob uma forma, toma uma guisa mística e representa a Deus como a pessoa universal que absorve o mundo em Si; e sob a forma contrária, toma uma aparência puramente naturalista e representa o mundo como absorvendo a Deus, e propõe-nos a raça humana em seu desenvolvimento sempre culminando como o único objeto de reverência e culto. O mesmo Spinoza, que Pascal e Bossuet declararam ateísta, é chamado por Jacobi e Schleiermacher de o mais fervoroso e reverente dos místicos. A individualidade intensa das ciências físicas do presente século tem reagido de um modo poderoso sobre o panteísmo, substituindo o idealismo pelo materialismo, afastando Deus e elevando o homem, como se vê na recente degradação do panteísmo para o ateísmo, nos casos de Strauss, Feuerbach, etc. O panteísmo mais antigo, mais persistente e mais espalhado de que temos notícia na história do mundo, é o da índia. Como religião, tem modelado o caráter, os costumes e a mitologia do povo, durante 4.000 anos. Como filosofia, tem aparecido sob três formas principais: a Sanckhya, a Nyaya e a Vedanta. Modos panteístas de pensar formavam, em escala maior ou menor, a base de todas as formas da filosofia grega, e especialmente a da escola neoplatônica de Plotino (205-270), Porfírio (233-305), e Jâmblico (f 333). Tornou a aparecer, no ensino de João Scotus Erigena (nasceu em 800) e no dos neo-platônicos da Renaissance, e. g., Giordano Bruno (f 1600). O panteísmo moderno começou com Benedito Spinoza (16321677), e terminou com os discípulos de Schelling e Hegel. Além do panteísmo puro, tem havido uma variedade infinita de formas impuras de panteísmo virtual. Isso é verdadeiro quanto a todos os sistemas que afirmam a impersonalidade do infinito e absoluto, e que resolvem todos os atributos divinos em modos de causalidade. O mesmo é verdadeiro também quanto a todos os sistemas que representam a preservação providencial como uma criação contínua, negam a eficácia real das causas secundárias e afirmam que Deus é o único agente no universo, e. g.,Edwards on Original Sin, ponto 4,

capítulo 3, e Emmons. A mesma categoria pertence, também, a doutrina fantasiosa das emanações que era a feição principal das teosofias orientais, e o Hylozoísmo de Averrões (f 1198) que supõe a co-eternidade da matéria e de uma anima mundi plástica e inconsciente. Veja Hunt, Essay on Pantheism, Londres, 1866; Saisset,Modem Pan-theism, Edimburgo, 1863; Cousin, Histoire de la Philosophie Moderne; Ritter, Hist. AncientPhilos.; Buchanan,Faith in God, etc.; Dõllinger, Gentile andjew, Londres, 1863; Max Müller, Hist.Anc. SanscritLit. \y - A W j./ ... s

Os Mananciais da Teologia Definição geral de teologia, Capítulo 1, Pergunta 1. 1. Quais as duas grandes seções em que se divide a teologia? Ia. Teologia natural, que é a ciência que se propõe estas duas perguntas: (1) Seria possível estabelecer, por provas satisfatórias, a existência objetiva de Deus como um Espírito pessoal e extra-terreno? (2) Que é que se pode averiguar legitimamente a respeito da verdadeira natureza de Deus em si, e a respeito de Suas relações com o universo, e especialmente com o homem, somente mediante a luz da natureza? Aqui é necessário fazer-se, com cuidado, uma distinção entre o conhecimento a que pode chegar, por meio das provas fornecidas nas Suas obras, a razão humana, independentemente de todas as sugestões fornecidas pela revelação sobrenatural, e.g., a teologia de Platão e a de Cícero; e por outro lado, o conhecimento de Deus que as faculdades humanas podem agora deduzir dos fenômenos da natureza, sendo ajudadas, mesmo sem reconhecerem, pela luz de uma revelação sobrenatural, e.g., a teologia dos racionalistas modernos. 2a. Teologia revelada é a ciência que, pressuposta a teologia natural, compreende como seu campo tudo quanto nos tem sido revelado de diversos modos sobrenaturais a respeito de Deus e Sua relação com o universo, e especialmente com os homens. 2. Que opiniões extremas têm sido admitidas quanto à m possibilidade e validade da teologia natural, e em distinção da teologia revelada ? Ia. A dos deístas ou teístas naturalistas, que negam ou a possibilidade ou o fato histórico de uma revelação sobrenatural, e mantêm que a teologia natural descobre-nos tudo quanto é possível ou necessário que os homens saibam agora a respeito de Deus e Suas relações conosco. Muitos racionalistas sobrenaturalistas alemães, enquanto admitem o fato histórico de uma revelação

sobrenatural, sustentam que esta tem por fim unicamente reforçar e ilustrar as verdades que nos são dadas na teologia natural, e que estas são, de per si, suficientes, precisando ser reforçadas somente porque os homens não lhes prestam bastante atenção. Esta doutrina é refutada abaixo. Perguntas 7 a 10. 2a. Há cristãos que sustentam o extremo contrário, de não existir realmente uma ciência de teologia natural, e que devemos as nossas primeiras informações válidas quanto à existência de Deus a uma revelação sobrenatural. Isso é refutado - (1) Pelo testemunho das Escrituras, Rom. 1:20-24, e 2:14,15, etc. (2) Pelo testemunho da experiência, e.g., o conhecimento de Deus adquirido por alguns dos filósofos pagãos, embora fosse imperfeito. (3) A validade da inferência deísta deduzida dos fenômenos da consciência e do mundo exterior foi vindicada no Cap. 2. (4) E evidente, de per si, que algum conhecimento do ser de Deus já se pressupõe logicamente pelo reconhecimento de uma certa revelação sobrenatural advinda dEle. 3. Quais as principais respostas dadas à pergunta : qual é a fonte ou norma autoritativa do conhecimento em teologia? Ia. A teoria de Schleiermacher e da Escola Transcendental. Ele foi pregador e professor em Halle e em Berlim de 1796 a 1831, autor de Teologia Medianeira, e inaugurou o movimento com seus Discursos sobre Religião, Dirigidos aos Instruídos Entre os que a Desprezam, 1799, e A Fé Cristã sob os Princípios da Igreja Evangélica, 1821. ] Ele tomava a religião como uma espécie de sentimento, e | sustentava que ela se baseia em nossa consciência constitucional 1 de Deus, a qual consiste, segundo ele, do lado intelectual numa \ intuição de Deus, e do lado emocional, num sentimento de i dependência absoluta. O cristianismo consiste naquela forma ■ específica dessa consciência religiosa constitucional que foi j gerada no peito de seus discípulos pelo Deus homem, Jesus j Cristo. E assim como a consciência humana, em geral, é gerada j em cada indivíduo pelas suas relações sociais, assim, a cons- j ciência cristã, em geral, é gerada em comunhão com aquela j sociedade (a Igreja) que Cristo fundou e da qual Ele é o centro j da vida. E assim como as instituições comuns dos homens : são aquilo para o que se apela em último recurso, em todas as questões dos conhecimentos naturais, assim

também a comum consciência cristã da Igreja é aquilo para o que devemos apelar em todas as questões da fé cristã, a qual, na sua totalidade, e não as Escrituras, é a regra de fé. OBJEÇÕES: (1) Esta doutrina não condiz com a natureza do cristianismo que, como sistema remediador, baseia-se em certos fatos históricos, os quais, é necessário que saibamos para que se tornem eficazes, e dos quais podemos ter conhecimento certo só por meio de uma revelação sobrenatural. Nenhuma forma de intuição no-los pode ensinar. (2) Não condiz com a convicção uniforme dos cristãos: de que o cristianismo é um _ sistema de fatos e princípios revelados divinamente. (3) Não ; nos dá nenhum critério da verdade. Se essa doutrina fosse verdadeira, todas as diversas doutrinas dos diversos partidos da Igreja seriam, necessária e tão-somente, outras tantas 1 variações conciliáveis da mesma verdade fundamental. (4) Não condiz com o que ensinam as Escrituras Sagradas, que ela é a Palavra de Deus; nem com o que ensina explícitamente, quanto à sua natureza - que ela é uma revelação, comunicando verdades objetivas; e quanto à necessidade para a salvação das verdades assim comunicadas. 2a. A mística doutrina da “luz interior”, ou da inspiração geral de todos os homens, ou, ao menos, de todos os cristãos, mantida pelos Quacres. Esta doutrina difere do racionalismo porque faz dos sentimentos, e não da razão, o órgão das verdades religiosas, e porque toma a “luz interior” como o testemunho que o Espírito Santo dá ao homem e com o espírito do homem. Difere da nossa doutrina da inspiração, por ensinar a direção prática e a iluminação do Espírito Santo no coração de todos os homens crentes, e não só no dos fundadores oficiais e primeiros mestres da Igreja. Difere da iluminação espiritual que, segundo cremos, experimentam todos os crentes verdadeiramente regenerados, e só eles, porque (1) pretende chegar ao conhecimento da verdade, independentemente da sua revelação nas Escrituras, e (2) afirma que pertence a todos os que queiram prestar-lhe atenção e obedecer-lhe. OBJEÇÕES: (1) Esta doutrina contradiz as Escrituras, (a) Elas nunca prometem uma iluminação que leve os homens além do próprio ensino delas, e os torne independentes desse ensino, (b) Ensinam que a revelação objetiva dada nelas é absolutamente necessária à salvação (Rom: 11:11-18). (2) E refutada pela experiência que (a) testifica que a “a luz interior” não dá nenhum critério por meio do qual se possa determinar a verdade de qualquer doutrina; (b) testifica que essa “luz interior” nunca levou nenhum indivíduo ou comunidade ao

conhecimento da verdade salvadora, independentemente da revelação objetiva; e (c) testifica que essa “luz” produziu sempre uma depreciação irreverente das Escrituras, e no transcurso do tempo, desordem e confusão. 3a. A teoria de uma Igreja inspirada, isto é, inspirada nas pessoas, ou ao menos no ensino oficial de seus pastores e mestres principais. Esta teoria é refutada no Cap. 5. 4a. O postulado comum de todos os racionalistas, de ser a razão a fonte e medida de todo o nosso conhecimento de Deus. Esta teoria é considerada e refutada abaixo. Perguntas 7 a 10. 5a. A doutrina verdadeira e protestante, de que as Escrituras Sagradas do Velho e Novo Testamentos, sendo inspiradas por Deus, são para nós a Sua Palavra, e uma regra de fé e prática infalível e de autoridade, e a única fonte e norma autorizada da teologia cristã, à exclusão de todas as outras fontes e normas. 4. Qual o sentido exato em que o termo “razão” é empregado por aqueles que a contrastam com a fé como a fonte do conhecimento religioso? O termo “razão” é empregado em sentidos diversos pelas diversas classes de racionalistas. Alguns entendem por ela o órgão por cujo meio apreendemos intuições superiores, as verdades necessárias e conclusivas. Tais são a consciência íntima da existência e atributos de Deus, de Schleiermacher, e a intuição do infinito, de Schelling e Cousin, e também os sentimentos morais de intuição, de Newman e Parker. Outros entendem pelo termo “razão” o entendimento, ou a faculdade lógica de observarmos, julgarmos e tirarmos inferências dentro da esfera da experiência. Compreende, por conseguinte, como seu fundamento e norma a massa inteira dos conhecimentos e opiniões hodiernas. Praticamente todos os homens dão o nome respeitável de “razão” ao seu próprio hábito e atitude de espírito, com a inteira massa organizada de conhecimentos, opiniões e preconceitos de que seus ânimos estão cheios. Chamam razoável aquilo que está de conformidade com esse hábito ou essa massa de opiniões por eles aceitas. Nesta controvérsia, porém, designamos com o termo “razão” a inteira faculdade natural que o homem possui para, por meio dela, chegar ao conhecimento da

verdade, e incluímos nela as intuições, o entendimento, a imaginação, os afetos e as emoções, operando em condições naturais e independentemente de auxílio sobrenatural. . « 5. Que é Racionalismo? “Naturalista” é quem sustenta que a natureza é uma esfera completa em si e inteiramente independente; e nega por isso, ou a realidade do que se chama sobrenatural, ou a possibilidade de poderem os homens chegar a ter qualquer conhecimento do sobrenatural, se é que esse existe; nega, por conseguinte, a necessidade ou a possibilidade, ou o fato de uma revelação sobrenatural. O termo “racionalista” é mais geral. Inclui os naturalistas de todos os graus e também todos os que, embora admitam o fato de uma revelação divina, mantêm, contudo, que essa revelação, suas doutrinas, e os documentos em que se acham contidas, devem todos ser sujeitos à razão humana como supremo árbitro, para serem por ela avaliados e acreditados, ou rejeitados e interpretados. Com os racíonalistas, a razão é o último fundamento e juiz da fé. No seu sentido histórico o racionalismo, como uma forma da incredulidade que brotou no meio da própria Igreja Cristã, e que faz uso ilegítimo da razão na interpretação das Escrituras e suas doutrinas, tem sido ativo sempre numa ou noutra forma, e em diversos graus, e manifestou-se, de um modo notável, numa classe dos escolásticos medievais e nos discípulos de Socino. Sua forma moderna e mais extrema teve origem na Alemanha em meados do século passado. As causas a que se deve atribuir foram: (a) O estado abatido em que se achava a religião em todos os países protestantes, (b) A influência da filosofia formal e do dogmatismo de Wolf, discípulo de Leibnitz. (c) A influência dos deístas ingleses, (d) A influência dos incrédulos franceses reunidos na corte de Frederico o grande - rei da Prússia. Semler, professor em Halle, (nascido em 1725, falecido em 1751) foi o pai do racionalismo crítico. Embora pessoalmente devoto, ele examinava arbitrariamente a canonicidade dos livros das Sagradas Escrituras, e sem fazer caso das provas históricas, substituiu-as por suas próprias idéias subjetivas do que convinha. Introduziu, na interpretação da Bíblia, o princípio da “acomodação”, sustentando que, além de muitas verdades positivas, Cristo e Seus apóstolos ensinaram também muitas coisas em “acomodação” às idéias geralmente aceitas entre os seus contemporâneos Hurst, History of Rationalism.

Esta tendência, muito reforçada depois mediante a influência de Lessing e Reimarus o Fragmentista de Wolfen-büttel, penetrou na massa da literatura teológica alemã e culminou nos últimos anos do século 18 e nos primeiros do século 19. Entre os seus principais representantes sobressaem os nomes de Bretschneider, Eichhorn e Paulus na teologia bíblica, e o de Wegscheider na teologia dogmática. Foram especialmente os dois últimos que, admitindo o fato de ser o cristianismo uma revelação sobrenatural, ao mesmo tempo mantiveram que é meramente uma republicação dos elementos da religião natural, e que a “razão” é o juiz supremo quanto aos livros que se devem ter por canônicos e também quanto ao que ensinam. Os milagres, eles rejeitaram como indignos de crédito. As narrações de milagres, registradas nas Escrituras, eles relacionavam à ignorância, superstição ou parcialidade dos escritores, e os milagres relacionavam a causas naturais. A Jesus, tinham em conta de homem bom, e o cristianismo original eles consideravam como uma espécie de socianismo filosófico. E isso o que, na Alemanha, tem sido designado historicamente pelo título dt Racionalismo, e mais especificamente por Rationalismus vulgaris, o racionalismo antigo, ou do senso comum. Depois de levantarem-se as filosofias de Fitche, Schelling e Flegel, receberam novo impulso a especulação teológica e a interpretação bíblica. Isso deu lugar, por um lado, a uma reação para a ortodoxia, por meio da “Teologia da Mediação” de Schleiermacher, e por outro, a uma escola nova do racionalismo transcendental, a base do qual é um modo panteísta de pensar. Nega necessariamente o sobrenatural e postula como princípio fundamental, a impossibilidade de um milagre. Essa escola, cujo quartel-general foi a cidade de Tubingen, tem sido representada proeminentemente por Christiano Baur, com sua teoria de Tendências; Strauss, com sua teoria Mística', e Renan, com sua teoria Legendária, para explicar a origem das Escrituras do Novo Testamento, negando, ao mesmo tempo, sua base histórica de fatos. Essa tendência, com diversos graus de força, tem-se manifestado no caráter da opinião teológica na Inglaterra e América, principalmente na escola de Coleridge, Maurice, Stanley, Jowett e Williams, e entre os latitudinários em geral; na Escócia, em Tulloch; e na América, no falecido Theodoro Parker, na escola dos cristãos liberais e na relaxação geral da fé, que se nota em toda parte. German Rationalism, por Hagenbach, Clarke Edinburgh Library; History of

German Protestantism, por Kahnis, Clarke Ed. Lib.; Criticai History ofFree Thought, por A. S. Farrar, New York, D. Appleton & Co.; Germany: its Universities, Theology and Religion, por Philip Schaff, D. D. History of Rationalism, President Hurst, C. Scribner, New York. 6. Quais as duas classes em que se pode agrupar todas as bases argumentativas de oposição ao cristianismo histórico? Ia. Bases apriori. Estas descansam em idéias falsas sobre a existência e natureza de Deus e de Sua relação com o mundo. Por isso o positivista, que limita os conhecimentos do homem a fenômenos e suas leis de coexistência e seqüência; o deísta, que nega a imanência de Deus nas Suas obras, e nega também ou torna remota ou obscura a Sua relação conosco como Governador moral e Pai espiritual: o panteísta, que nega a personalidade de Deus; e o naturalista científico, que vê na natureza somente a operação de leis físicas que são invariáveis e automáticas: todos negam igualmente a possibilidade e credibilidade de um milagre, resolvem a inspiração em gênio, e de um ou de outro modo, explicam as Sagradas Escrituras de forma que não lhes fica base histórica de fatos. Esta classe de questões já foi discutida acima, no Cap. 2. 2a. Bases históricas e críticas. Estas descansam todas nos defeitos que se alega acharem-se nas provas históricas da genuinidade e autenticidade dos diversos livros do “cânon sagrado”, e nas discrepâncias e erros históricos e científicos que se diz encontrarem-se nas Escrituras. Desta classe de questões trata-se nas seções de Introdução Bíblica e Hermenêutica. 7. Quais os argumentos em prova de que a razão não é, em última instância, a medida das idéias religiosas, de que estas não têm nela sua origem? São, em geral, três: ■ Io. Apriori. A razão, por causa do estado atual do homem, que é estado de ignorância, degradação moral e culpa, não tem as qualidades necessárias para torná-la competente para adquirir, de per si, nem (1) certeza, nem (2) conhecimento suficiente para o governo prático do homem, quanto à existência de Deus, Seu caráter, Sua relação conosco, ou Seus propósitos a nosso respeito.

2o. A experiência universal: a razão, de per si, nunca conseguiu resolver esses problemas, e sempre, quando os homens confiavam nela de um modo indevido, levou-os, apesar de uma revelação desprezada, para o ceticismo e a confusão. 3o. Como questão de tato, tem-nos sido dado um documento infalível de uma revelação sobrenatural, o qual, quando interpretado com o auxílio iluminador do Espírito Santo, nos ensina conhecimentos que são necessários à salvação, e que a “razão” de modo algum podia ter antecipado. Para estabelecer-se este argumento é necessário que se estabeleçam, em sua ordem e separadamente, os pontos seguintes: Io. Uma revelação sobrenatural é necessária para o homem, no seu estado atual. 2o. Uma revelação sobrenatural é possível tanto a parte Dei quanto a parte hominis. 3o. Por aquilo que a teologia natural nos revela, dos atributos de Deus, de Suas relações para com os homens e de nosso estado moral, uma revelação sobrenatural é antecedentemente provável. ,}:t • ' 4o. E um fato histórico que o cristianismo é uma revelação sobrenatural. 5o. É também um fato histórico que o cânon atual do Velho e Novo Testamentos só consta dos documentos autênticos e genuínos que atualmente existem dessa revelação e contém todos esses documentos. 6o. Os livros de que se compõe esse cânon foram inspirados de um modo sobrenatural, de maneira que constituem a Palavra de Deus, e uma regra infalível e autorizada de fé e prática para os homens. « 1 * 8. Provas de que uma revelação sobrenatural é necessária para os homens no seu estado atual. Ia. A própria razão ensina: (1) que, como questão de fato, a natureza moral do homem está em desordem, e (2) que suas relações para com Deus acham-se perturbadas pela culpa e aberração.

A razão pode descobrir o fato de existir o pecado, mas nenhuma sugestão faz, quanto ao modo de remediá-lo. Podemos determinar a priori que Deus está resolvido a punir o pecado, porque isso, sendo matéria de justiça, descansa na Sua natureza inalterável e necessária; mas nada podemos determinar assim quanto à Sua disposição de prover, ou permitir que se ofereça, um remédio, porque isso, sendo matéria da Sua graça, depende da Sua vontade. 2a Um anelo religioso espontâneo, natural e universal, por uma divina automanifestação e intervenção da parte de Deus, e que é manifesto em toda a história humana, prova a necessidade de uma revelação sobrenatural. 3a. A razão nunca, no caso de nenhuma comunidade histórica, conseguiu dar aos homens certeza; satisfazer às suas necessidades e regular a sua vida. ■ 4a. O racionalismo é forte só para atacar e destruir. Nunca mostrou-se muito apto para construir. Não há dois racionalistas proeminentes que concordem quanto ao que sejam os resultados positivos e certos do ensino da razão. ] 9. Provas de que uma revelação sobrenatural épossível da parte de Deus e também quanto ao que diz respeito ao homem. Quanto à sua possibilidade da parte de Deus - se o teísmo ! é verdadeiro - se Deus é uma Pessoa infinita e extra-terrena, que ainda dirige a operação das leis que Ele instituiu como Seu método, e subordinou o sistema físico aos interesses superiores do Seu governo moral - então é evidente que limitá--10 quanto à maneira, ao caráter e à extensão de Suas auto-manifestações a Suas criaturas, é um absurdo. Todas as pressuposições filosóficas alegadas contra a possibilidade de uma revelação sobrenatural da parte de Deus, têm por base princípios deístas, materialistas ou panteístas. O argumento que estabelece o teísmo já expusemos no Cap.2. Para provar que, da parte do homem, há uma impossibilidade de comunicar-selhe verdades novas por meio de uma revelação em forma de livro, os modernos racionalistas transcendentais têm empregado este argumento: as palavras são sinais convencionais que têm o poder de despertar, na mente, só as idéias que, tendo sido apreendidas anteriormente, têm sido associadas convencionalmente a essas palavras. RESPONDEMOS: Io. Admitimos que é necessário que as simples idéias

definitivas que não se pode analisar, sejam primeiro apreendidas por um órgão apropriado num ato de intuição espontânea. Ninguém pode chegar a ter a idéia de cores senão pela função de seus olhos; nem a idéia do que é : direito senão por um ato intuitivo de seu sentido moral. 2o. A revelação cristã não contém novas idéias simples, defi-nitivas, e impossíveis de serem analisadas. Ela pressupõe e envolve a matéria de todas as intuições semelhantes e naturais, e desperta as intuições racionais e morais a um exercício mais ativo e normal pela associação com novos aspectos de nossas relações espirituais; pela maior parte, porém, ela narra fatos objetivos e concretos, explica a aplicação de princípios intuitivos às nossas verdadeiras relações e condições históricas; e faz-nos saber os propósitos, exigências e promessas de Deus. 3o. Até novas idéias simples podem ser despertadas na mente humana, por meio de uma iluminação interior, sobrenatural e espiritual, operando nas mentes daqueles que são os objetos da experiência religiosa. A obra do Espírito Santo, acompanhando a palavra escrita, completa a revelação. Um cristão experimentado, sob o ensino do Espírito Santo aplicando a Palavra de Deus, tem um conhecimento tão claro e certo da matéria compreendida na sua experiência como é o que tem da matéria que percebe por meio de seus sentidos corporais. 10. Demonstrar, pelos dados da teologia natural, que no estado atual da natureza humana, uma revelação sobrenatural é antecedente provável. Como mostramos no Cap. 2, a teologia natural nos ensina que existe um Deus pessoal que é infinito, eterno, sábio, e absolutamente justo, reto e benévolo. Ensina-nos, também, que o homem criado à imagem divina é corrupto moralmente e condenado judicialmente. Revela-nos que o homem precisa da ajuda de Deus, que ele a anela e espera, e que por isso não está incapacitado para ela, como o estão os anjos maus. Por conseguinte, todas as perfeições de Deus e todas as misérias dos homens autorizam a esperança racional de que, em algum tempo e de algum modo, Deus, na Sua graça, esteja disposto a intervir de um modo sobrenatural a favor do homem e a revelar Seu caráter e Seus propósitos mais plenamente para direção do homem. 11. Como se pode provar que, como fato histórico, o cristianismo

é realmente uma estupenda revelação sobrenatural? . ., A este respeito, é necessário referir ao leitor os muitos e excelentes tratados sobre as evidências do cristianismo. As obras por Paley, Chalmers, Erskine e Alexander sobre as Evidências; Criticai History of Free Thought, por A. S. Farrar; Evidences of Christianity, por Hopkins; Evidences of Christianity in the Nineteenth Century, por Albert Barnes; Leading Evidences of Christianity, por G. Wardlaw; Apologetics ofthe Christian Faith, por Hetherington; Grounds of Christian Hope, por Leathes; Supernatural in the New Testament, por Row; Superhuman Origin of the Bible, por Rogers; Modem Doubt and Christian Belief por Christlieb; Historical Evidence of the Truth of the Scripture Records, por Rawlinson; Christianianity and Morality, por Wace; Cautions for Doubters, por Titcomb; Prize Essay on Infidelity, por Pearson; Witness of History to Christ, por E W. Farrar. 12. Como se pode provar que o cânon aceito do Velho e do Novo Testamentos consta só dos livros autênticos e genuínos da revelação cristã e contém todos esses livros? A este respeito também é preciso recomendar ao leitor os melhores tratados sobre o cânon das Sagradas Escrituras. B. F. Westcott, sobre The Canon e sobrelntroduction to the Study of the Gospels; When were our Gospels composed?, por Tischendorf; Historie Ongen ofthe Bible, por E. Cone Bissell; The Supernatural Origin of Christianity e The Beginnings of Christianity, por Prof. George P Fisher. 13. Qual é a natureza e qual a extensão da inspiração das Escrituras Sagradas ? Veja a seguir, no Cap. 4. 14. Qual é o ofício legítimo da razão na esfera da religião? Io. A razão é a revelação primária que Deus fez ao homem, e é necessariamente presuposta em toda revelação subseqüente, seja qual for sua espécie. 2o. Por isso a razão, inclusive a natureza moral, emocional e a experiência, é necessariamente o instrumento por meio do qual apreendemos e recebemos todas

as revelações subseqüentes. Uma revelação dirigida aos irracionais seria tão inconseqüente como a luz para os cegos. Este éousus organicus da razão. 3o. Segue-se que nenhuma revelação subseqüente pode contradizer a razão, operando legitimamente dentro da sua própria esfera. Porque, de outro modo, (1) Deus Se contradiria a Si mesmo, e (2) a fé se tornar-ia impossível. Quando cremos, assentimos que uma coisa é verdadeira; mas quando essa coisa contradiz a razão, vemos que não é verdadeira. Por conseguinte, a razão, julgando pelas evidências, ou interpretando os escritos de uma revelação sobrenatural, tem o ofício de exercer ojudi-cium contradictionis. A razão tem, pois, que determinar duas questões: (1) Seria Deus quem fala? (2) Que diz Ele? Isso, porém, exige (a) a cooperação de todas as faculdades do saber, tanto as morais como as puramente intelectuais; (b) um espírito humilde e dócil; (c) sinceridade perfeita e lealdade à verdade; (d) prontidão para a prática de toda verdade conhecida, e (e) a iluminação e a assistência do Espírito da verdade que nos é prometido. Esta é a antiga distinção entre aquilo que é contrário à razão e aquilo que está acima dela. E evidente que o maior absurdo que podemos cometer é alegarmos, como objeção a uma revelação acreditada por toda espécie de provas, que a nossa razão não pode compreender o que essa revelação ensina, ou que ela contém elementos que parecem inconciliáveis com outras verdades. Porque: (1) Essa objeção pressupõe que a razão humana é a mais exaltada forma de inteligência, o que é um absurdo. (2) Não há outro ramo em que os homens limitem a sua fé por sua capacidade de compreender. Pergunto: o que compreendem ou entendem os cientistas quanto à natureza original dos átomos, da inércia, da gravidade, da energia ou força, e da vida ? No entanto, crêem em tudo isso, e não há momento em que não se vejam obrigados a aceitar o incompreensível como uma verdade e a reconhecer que o inexplicável é certo. ; Toda a incredulidade especulativa tem sua origem no louco orgulho do espírito humano, no desejo insaciável de ver tudo explicado, e, sobretudo, de ver todo o conhecimento reduzido em aparência à unidade lógica. O senso comum e o hábito de reduzir as opiniões à prática conduzem à saúde do corpo e do espírito, e também, à fé religiosa. ; 15. Que é Filosofia, e qual a sua relação com a Teologia?

Filosofia, no seu sentido lato, abrange todos os conhecimentos humanos adquiridos por meio das faculdades naturais do homem, e consiste nesses conhecimentos interpretados e sistematizados pela razão. Ciência é palavra mais específica, que diz respeito a algum ramo especial, reduzido perfeitamente a um sistema. Em nossos dias, o termo ciência está sendo limitado mais e mais definidamente ao conhecimento dos fenômenos físicos do universo. Neste sentido, a ciência tem por alvo a determinação dos fenômenos nas suas classificações de semelhança e dissemelhança, e suas leis ou ordem de coexistência ou sucessão, e não indaga sobre substância, causa, propósito, etc. A filosofia é pressuposta, pois, na ciência como o conhecimento primário e mais geral. Indaga a respeito do âmago das leis do pensar, da intuição e da verdade absoluta, da substância e existência real, da causa absoluta, da natureza absoluta, da força e da vontade, da consciência e do dever. Quanto às suas relações com a teologia, nota-se: Io. Que os primeiros princípios da verdadeira filosofia são pressupostos em toda a teologia, tanto natural como revelada. 2o. Que as Sagradas Escrituras, se bem que não tenham primariamente a finalidade de ensinar filosofia, contudo pressupõem necessariamente e envolvem os princípios fundamentais de uma filosofia verdadeira - não as inferências deduzidas desses princípios agrupados num sistema, e sim os próprios princípios, os que dizem respeito a substância e causa, a consciência e o dever. 3o. A filosofia em voga em qualquer tempo reagiu e necessariamente reagirá ante a interpretação das Escrituras e a formação de sistemas teológicos. Isso foi verdade quanto ao Platonismo, ao Neo-Platonismo do segundo período; quanto à filosofia aristotélica da Idade Média; aos sistemas de Descartes e Leibnitz; de Kant, Fichte, Schelling e Hegel na Europa continental, e de Locke, Ried, Coleridge, etc., na Inglaterra. 4o. O crente devoto, porém, que tem a certeza de ser a Bíblia a própria Palavra de Deus, nunca pode permitir que a sua filosofia, derivada de fontes humanas, domine a sua interpretação da Bíblia, mas procurará com espírito dócil e com o auxílio do Espírito Santo, fazer sua filosofia harmonizar-se perfeitamente com aquilo que é contido implicitamente na Palavra de Deus. Há de procurar, sem

falta, ter uma filosofia que seja serva genuína e natural daquilo que está revelado nessa Palavra. Todo o pensar humano e toda a vida humana são um. Se, pois, Deus fala com qualquer finalidade, Sua palavra deve ser suprema; e até onde diz respeito a qualquer ramo das opiniões e ações dos homens, deve ser aceita nesse ramo como autoridade indiscutível e como a Lei suprema. As diversas seções em que se divide a teologia cristã já foram enumeradas no capítulo 1.

, A Inspiração das Escrituras PRESSUPOSIÇÕES NECESSÁRIAS 1. Quais são as pressuposições necessárias quanto a princípios e questões de fato, que é preciso admitir-se antes de poder afirmar a possibilidade da inspiração ou a inspiração de qualquer livro em particular? Ia. A existência de um Deus pessoal possuindo, em absoluta perfeição, os atributos de poder, inteligência e excelência moral. ,: 2a. Que, em Sua relação com o universo, Ele é ao mesmo tempo imanente e transcendente. Que está acima de tudo, e sobre tudo age livremente, de fora. Que está dentro de tudo e age através de toda parte do interior, no exercício de todas as Suas perfeições, e segundo as leis e modos de ação que tem estabelecido para as Suas criaturas, sustentando-as e governando-as em todas as Suas ações. 3a. Que o governo moral de Deus sobre os homens e sobre todas as criaturas inteligentes, governo que Ele exerce por meio da verdade e de outros motivos dirigidos à razão delas e à vontade delas, recompensa-as e castiga-as segundo os seus caracteres e as suas ações morais, e educa-as benevolamente para o seu destino exaltado, em Sua comunhão e em Seu serviço. 4a. O fato de que a raça humana, em vez de progredir por via de um desenvolvimento natural de uma condição moral inferior para uma condição moral superior, caiu de seu estado e relação originais e está agora perdida numa condição que envolve corrupção e culpa, e é incapaz de salvar-se dela sem intervenção sobrenatural. ; ion v' 5a. A integridade histórica das Escrituras Sagradas, sua veracidade como história, e a genuinidade e autenticidade dos diversos livros que a compõem. 6a. A verdade do cristianismo, no sentido em que este se acha exposto nos documentos sagrados. Todas essas pressuposições necessárias, a verdade das quais está envolvida na

doutrina de serem inspiradas as Sagradas Escrituras, dividem-se em duas classes (Ia) As que se fundam na intuição, e as provas morais e espirituais da verdade divina como sejam, a existência e os atributos de Deus e Suas relações com o mundo e com os homens; o testemunho da consciência moral dos homens de que são pecadores condenados justamente, e incapazes de salvar-se por si mesmos. (2a) As que se fundam em questões de fato, e que dependem do testemunho histórico e crítico quanto à verdadeira origem e ao conteúdo dos livros sagrados. Se se duvidar de qualquer desses princípios ou fatos, deve-se procurar as suas provas nas divisões da teologia que tratam deles especialmente, como por exemplo, no ramo da apologética - o argumento teísta e a teologia natural, as provas do cristianismo, a origem histórica das Escrituras, o cânon, crítica e exegese do texto sagrado. EXPOSIÇÃO DA DOUTRINA DA IGREJA SOBRE A INSPIRAÇÃO 2. Qual o sentido em que a Bíblia é inspirada, segundo o ensino universal da Igreja, e até onde é que se estende essa inspiração, segundo esse mesmo ensino? A Igreja ensina universalmente que os escritores sagrados eram de tal modo influenciados pelo Espírito Santo que seus escritos, em seu todo e em todas as suas partes, são a Palavra de Deus para nós uma revelação de autoridade, que Deus nos fez, aprovada por Ele e enviada a nós como uma regra de fé e prática. Os escritos originais da qual eram absolutamente infalíveis, quando interpretados no sentido em que os autores empregavam as palavras que escreveram com autoridade divina absoluta. 3. Que quer dizer inspiração “plena”? Uma influência divina, plena e suficiente para conseguir o seu fim. O fim conseguido, neste caso, é a perfeita infalibilidade das Escrituras em todas as suas partes, como documento autêntico quanto aos fatos narrados e doutrinas ensinadas; e infalível tanto a respeito dos pensamentos expostos como das expressões empregadas na sua exposição. De modo que, não obstante virem a nós por meio do espírito, coração, imaginação, consciência e vontade de homens, são ainda assim, no sentido mais restrito do termo, a Palavra

de Deus. • • ■. ° 4. Que quer dizer a expressão “inspiração verbal”, e como se pode provar que as palavras da Bíblia foram inspiradas? Quer dizer que, fosse qual fosse a influência divina que assistia aos sagrados escritores naquilo que escreveram, estendeu-se à expressão de seus pensamentos em palavras, como também aos pensamentos. Sendo o efeito disso que, nos escritos originais, a linguagem exprime com certeza infalível os pensamentos que Deus queria manifestar, de modo que as palavras, bem como os pensamentos, são a revelação que Deus nos fez. Que essa influência estendia-se às palavras, torna-se evidenteIo. Pelo próprio desígnio que a inspiração tinha em vista, que não era tornar infalivelmente acertadas as opiniões dos homens inspirados (havia diferenças de opinião entre Paulo e Pedro, Gál. 2:11, e às vezes os profetas não sabiam o sentido daquilo que escreviam), e sim, fazer com que nos documentos fosse consignada infalivelmente a verdade. Todavia um documento consta de palavras. ,i 2o. Os homens pensam em palavras, e quanto mais defmidamente pensam, tanto mais imediatamente se acham seus pensamentos associados com uma expressão verbal exatamente apropriada ao pensamento. Por conseguinte, é impossível conseguir-se ou conservar-se infalibilidade nos pensamentos independentes da infalibilidade na sua expressão verbal. 3o. As Escrituras afirmam a sua inspiração verbal. 1 Cor. 2:13; 1 Tess. 2:13. -v. 4o. Os escritores do Novo Testamento, quando citam o Velho Testamento em apoio de um argumento, muitas vezes baseiam o argumento nas próprias palavras empregadas, atribuindo assim autoridade às palavras, e não só aos pensamentos que as palavras exprimem - Mat. 22:32 e Ex. 3:6,16; Mat. 22:45 e Sal. 100:1; Gál. 3:10 e Gên. 17:7, no original e na Vulgata. 5. Por quais meios produziu Deus, segundo o ensino da Igreja, o resultado acima definido? ■ A doutrina da Igreja reconhece o fato de que as Escrituras são, ao mesmo tempo,

um produto da ação de Deus e dos homens. Os escritores humanos produziram, cada um a sua parte, no exercício livre e natural de suas faculdades pessoais, nas condições históricas em que se achavam. Deus, também, de tal modo operou concorrentemente nesses e por esses escritores que o inteiro organismo das Escrituras e cada parte delas é, para nós, a Sua palavra infalivelmente verdadeira, no sentido em que foi escrita e é de autoridade absoluta. A ação de Deus inclui os três elementos seguintes: Io. Sua ação providencial em produzir as Escrituras. O curso inteiro da redenção da qual a revelação e a inspiração eram funções especiais, foi uma providência especial, dirigindo a evolução de uma história especialmente providencial. Nesta, o natural e o sobrenatural continuamente interpenetravam-se. Mas, como era necessariamente o caso, o natural era a regra e o sobrenatural a exceção; sendo este, porém, tão pouco sujeito a acidentes e tanto sujeito ao desígnio racional de Deus, como o é o natural. Assim, Deus produziu providencialmente, a Seu tempo, os homens expressamente destinados para ocasiões determinadas, revestidos das faculdades, qualidades, educação e experiência da graça necessárias para a produção dos escritos que Deus tencionava fazer aparecer. Moisés, Davi, Isaías, Paulo ou João; gênio e caráter, natureza e dotes da graça, lavrador, filósofo ou rei; o homem e, com ele, todos os sutis acidentes pessoais foram preparados providencialmente no momento próprio como as necessárias precondições instrumentais para a obra que se devia fazer. 2o. A revelação de verdades inatingíveis de outro modo. Sempre que o escritor não possuía ou não podia por meios naturais tornar-se possuidor do conhecimento que Deus queria comunicar, foi-lhe revelado, de uma maneira sobrenatural, mediante palavras ou uma visão. Esta revelação era sobrenatural, objetiva quanto a quem a recebia, e era-lhe certificada como verdade, de origem divina por testemunho apropriado. Foi revelada dessa maneira, diretamente, grande parte das Escrituras - as profecias sobre eventos futuros, as doutrinas peculiares do cristianismo, as promessas e ameaças da Palavra de Deus, etc., mas não foi revelado, de modo algum, todo o conteúdo das Escrituras. . 3o. Inspiração. Os escritores estavam sujeitos a uma divina influência plena chamada inspiração, que atuava sobre e mediante suas faculdades naturais, em

tudo o que escreveram, dirigindo-os na escolha do assunto e em todo o curso de seus pensamentos e no modo de os exprimir em palavras, de maneira que, sem interferência no livre exercício natural de suas faculdades, eles, livre e espontaneamente, produziram os próprios escritos que Deus queria que produzissem, e que possuem assim os atributos de infalibilidade e autoridade, como supra definidos. A inspiração difere, portanto, da revelação - (1) Em que a inspiração é a constante experiência dos escritores sagrados em tudo o que escreveram, e em que afeta a infalibilidade igual de todos os escritos que produziram; enquanto que a revelação, como já dissemos acima, era concedida sobrenaturalmente, só quando era necessária. (2) Em que a revelação comunica, objetivamente, ao escritor, verdades desconhecidas; enquanto que a inspiração era uma influência divina, operando subjetivamente sobre os sagrados escritores, sem comunicarlhes nada, mas dirigindo suas faculdades no seu exercício natural, de modo que produzissem documentos autênticos e infalíveis quanto às matérias de história, doutrina, profecia, etc. que Deus tinha o desígnio de enviar por meio deles à Sua Igreja. Ela difere da iluminação espiritual em que esta é um elemento essencial na obra santificadora do Espírito Santo comum a todos os cristãos. Nunca resulta no conhecimento dç verdades novas, e sim, somente no discernimento da beleza e do poder espirituais das verdades já reveladas nas Sagradas Escrituras. -A 6o. Deus, manifestado na Pessoa de Jesus Cristo, que é a imagem expressa da Pessoa do Pai, exibiu em todas as situações esses mesmos atributos, e também o fez de tal modo que demonstrou sempre ser Deus tão verdadeiramente como era homem. 6. Qual é o sentido dos termos “infinito” e “absoluto”, e qual o sentido em que eles são aplicados à natureza de Deus e a cada um dos Seus atributos? •• •• •" A definição que Hamilton e Mansel dão de infinito é: “aquilo que está livre de toda limitação possível; aquilo que é tamanho que não se pode conceber um maior, e que, por conseguinte, não pode receber atributos adicionais, ou um modo de existência adicional que não possuísse já, desde toda a eternidade”; e sua definição do absoluto é: “aquilo que existe de per si, não tendo nenhuma relação necessária para com outros seres”. Baseados nestas definições, argumentam (1) que aquilo que é infinito e absoluto deve incluir em si a soma total de todas as coisas, o bem e o mal, o atual e o possível; porque, se estivesse excluído dele alguma coisa real ou possível, não seria mais infinito e absoluto e sim, finito e relativo; (2) que não pode ser objeto de conhecimentos, porque aquilo que é conhecido fica, por isso mesmo, limitado, porque fica definido; e é também estabelecida assim uma relação entre o conhecido e a pessoa que o conhece; (3) que não pode ser pessoa, porque a consciência pessoal implica limitação e mudança; (4) que não pode conhecer outras coisas, porque o conhecer implica relação, como já foi dito - Discussions por Hamilton, Art. 1; Limits ofReligious Thought, por Mansel, Lectures 1, 2 e 3. Todos estes devaneios lógicos nascem do fato de tomarem esses filósofos, como ponto de partida, a premissa falsa de um abstrato “infinito” e “absoluto” e substituindo isso pela Pessoa verdadeiramente infinita e absoluta revelada nas Escrituras e na consciência humana como a causa primária de todas as coisas, o Governador moral e Redentor dos homens.

“Infinito” quer dizer o que não tem limites. Quando dizemos que Deus é infinito no Seu Ser, conhecimento, ou poder, queremos dizer que Sua essência e as propriedades ativas desta não têm limitações que envolvam imperfeições de qualquer espécie que seja. Ele transcende todas as limitações do tempo e do espaço, e conhece todas as coisas de um modo absolutamente perfeito. Pode fazer tudo quanto quer por intermédio de meios ou sem eles, e com facilidade e sucesso perfeitos. Quando os homens dizem que Deus é infinito na Sua justiça, bondade ou verdade, isso significa que na Sua natureza inexaurível e imutável possui esses atributos em perfeição absoluta. “Absoluto”, quando aplicado a Deus, quer dizer que Ele é uma Pessoa eterna e auto-existente, que existia antes de todos os demais seres, e que é a causa inteligente e voluntária de tudo quanto mais existiu, existe agora, ou em qualquer tempo há de existir em todo o universo, etc., e que por isso Ele não mantém relação necessária com nada que existia fora dEle. Tudo quanto existe está condicionado a Deus, assim como o círculo está condicionado a seu centro; mas Deus, seja quanto à Sua existência, seja quanto a qualquer dos modos dela, não está condicionado a nenhuma das Suas criaturas, nem à criação como um todo. Deus é o que é porque é, e Ele quer aquilo que quer porque “assim é do seu agrado”. Tudo o que mais existe é o que é porque Deus queria que fosse o que é. Toda relação que Ele sustém para com aquilo que está fora dEle foi por Ele tomada voluntariamente. 7. Quais os diversos modos pelos quais as Escrituras revelam Deus? Revelam Deus - Io. Por meio de Seus nomes. 2o. Por meio das obras que Lhe são atribuídas. 3o. Por meio de Seus atributos. 4o. Por meio do culto que elas requerem que Lhe seja prestado. 5o. Pela manifestação de Deus em Cristo. 8. Qual a etimologia e a significação dos diversos nomes dados a Deus nas Escrituras? Io. JEOVÁ, do hebraicoHayah, ser. Exprime auto-existência e imutabilidade; é o nome incomunicável de Deus que os judeus, por motivo supersticioso, nunca pronunciam, substituindo-o, na sua leitura do Velho Testamento, no original, pelo nomeAdonai, SENHOR. E este último nome substitui o de Jeová também na vulgata e em diversas outras versões. JAH, provavelmente abreviatura de Jeová, é empregado principalmente nos

Salmos. - Sal. 68:4, no original. E a última sílaba da palavra “aleluia” , louvai a Jeová. , A Moisés Deus deu a conhecer Seu nome peculiar - EU SOU O QUE SOU Ex. 3:14, da mesma raiz que Jeová, e com a mesma significação fundamental. 2o. EL, poder, força, traduzindo Deus, e aplicado tanto a deuses falsos como ao Deus verdadeiro - Is. 44:10. 3o. ELOIM e ELO AH, sendo os dois o mesmo nome, o último sendo a forma singular, e o primeiro, a forma plural. E derivado àzAlah, temer, reverenciar. Na sua forma singular é usado só nos livros poéticos e nos menos antigos. Na sua forma plural é usado, às vezes, no sentido plural de deuses; mais comumente, porém, como nmpluralis excellentice, aplicado a Deus. E aplicado também a deuses falsos, mas de preferência, a Jeová como o grande objeto de adoração. 4o. ADONAI, o Senhor pluralis excellentice aplicado exclusivamente a Deus, exprimindo possessão e domínio absoluto, equivalente a Senhor, aplicado tantas vezes a Cristo no Novo Testamento. 5o. SADDAI, onipotente, um pluralis excellentice. As vezes aparece só, como em Jó 5: 17; e, às vezes, é precedido de EL, como em Gên. 17:1. 6o. ELYÔN, o EZEBAexce/so, adjetivo verbal dtâlâch-subir - Sal. 9:2; 21:7. - ■ :ui- --v; ■ 7o. O termo TZEBAOTH, dos exércitos, é usado freqüentemente como epíteto qualificativo de um dos nomes supramencionados de Deus, como: Jeová dos Exércitos, Deus dos Exércitos, Jeová Deus dos Exércitos - Amos 4:13; Sal. 24:10. Alguns tomam isso como o equivalente de: Deus das batalhas. Mas o verdadeiro sentido é: “Soberano das estrelas, dos exércitos materiais do céu, e dos anjos, seus habitantes” - Dr. J. A. Alexander, Com. on the Psalms, 24:10, e Gesenius, Heb. Lex. í -uí; ■ .■

8o. Muitos outros epítetos são aplicados a Deus, em sentido metafórico, para expor a relação que sustenta para conosco e os ofícios que Ele desempenha,e.g. Rei, Legislador, Juiz. Is. 33:17; Sal. 24:8; Sal. 50:6; Rocha, Fortaleza, Redentor:

2 Sam. 22:2,3; Sal. 62:2; Pastor, Agricultor: Sal. 23:1; João 15:1; Pai: Mat. 6:9; João 20:17, etc. -v ..< 9. Que são atributos divinos ? Os atributos divinos são as perfeições atribuídas à essência divina nas Escrituras, ou exercidas visivelmente por Deus, nas Suas obras da criação, da providência e da redenção. Não são propriedades ou estados da essência divina separáveis, de fato ou na hipotética, dessa mesma essência divina, como são separáveis da essência da criatura as propriedades e modos de tudo o que foi criado. O conhecimento de Deus é Sua essência conhecendo; Seu amor é Sua essência amando; Sua vontade é Sua essência querendo; e todos estas qualidades não são capacidades latentes de ação, nem estados que mudam, mas estados coexistentes e eternamente imutáveis da essência divina, a qual, tanto a respeito do estado e modo, como a respeito da existência, é “a mesma de ontem, hoje, e o será por todos os séculos”, e “sem mudança, nem sombra de variação”. A respeito da natureza e das operações de Deus, podemos saber tão-somente o que Lhe aprouve revelar-nos, e em todas as nossas concepções, quer da Sua natureza, quer dos Seus atos, haverá sempre, e necessariamente, um elemento de incom-preensibilidade que é inseparável da infinidade. O Seu conhecimento e o Seu poder excedem tanto à compreensão como à Sua eternidade eimensidade-Jó 11:7-9; 26:14; Sal. 139:5,6; Is. 40:28. Os elementos morais da Sua natureza gloriosa são a norma ou o tipo original de nossas faculdades morais; e assim é que nos é possível compreender os supremos princípios de verdade e justiça sobre os quais Ele opera. A verdade, a justiça e a bondade são naturalmente os mesmos atributos, quer em Deus, quer nos anjos, quer no homem. Ao mesmo tempo, aquilo que Deus faz, de conformidade com esses princípios, é, muitas vezes, uma prova para a nossa fé, e dá ocasião para O adorarmos maravilhados - Rom. 11:33-36; Is. 55:8,9. 10. Que quer dizer o termo SIMPLICIDADE, quando aplicado a Deus pelos teólogos ? O termo “simplicidade” é empregado, primeiro, em oposição à composição material, quer mecânica, orgânica ou química; em segundo lugar, em sentido metafísico, para negar a relação de substância e propriedade, de essência e modo. No primeiro sentido da palavra, a alma humana é simples, porque não é

composta de elementos, partes ou órgãos. No segundo sentido da palavra, nossas almas são complexas, porque há nelas distinção entre Sua essência e Suas propriedades, e Seus modos ou estados sucessivos de existência. Sendo Deus, porém, infinito, eterno, autoexistente desde toda a eternidade, necessariamente sempre o mesmo sem sucessor, os teólogos sustentam que nEle a essência, as propriedades e os modos são uma só e a mesma coisa. E sempre aquilo que é; e Seus diversos estados de intelecção, emoção e volição não são sucessivos e transitórios, e sim coexistentes e permanentes; e Ele é essencialmente aquilo que é, e tão necessariamente como o é a Sua existência. O que há em Deus, quer seja pensamento, emoção, volição, ou um ato, é Deus. Alguns pensam em Deus como passando por diversos modos e estados transitórios, como passam os homens, e por conseguinte supõem que as propriedades da natureza divina são relacionadas com a essência divina como as propriedades das coisas criadas são relacionadas com as coisas dotadas com elas. Outros levam tão longe a idéia de simplicidade que negam ; haver distinção alguma nos próprios atributos divinos, e supõem que a única diferença entre eles está no modo pelo qual se manifestam externamente, e nos efeitos produzidos. Ilustram sua idéia pelos diversos efeitos que o mesmo raio de luz do sol produz em diversos objetos. Para evitar estes dois extremos, os teólogos costumam dizer que os atributos divinos diferem uns dos outros e da essência divina, Io. nãorealiter, ou assim como uma coisa difere de outra, ou de qualquer modo que implique composição em Deus. Nem, 2o. meramentenominaliter, como se não houvesse em Deus coisa alguma que corresponda realmente a nossas concepções de Suas perfeições. Mas, 3o. diz-se que diferem virtualiter, de modo que há nEle base ou motivo adequado para todas as representações feitas nas Escrituras a respeito das perfeições divinas, e para as concepções que por isso nós temos delas Turretino,Institutio Theologicce, Locus 3; Quaes. 5 e 7; e Dr. C. Hodge, Lectures. 11. Quais os diversos princípios segundo os quais se tem procurado classificar os atributos divinos? >4.,- ■ A imensidade do assunto e a incomensurabilidade de nossas faculdades tornam evidente que nenhuma classificação que possamos fazer pode ser mais do que aproximadamente exata e completa. A classificação comum tem por base

os seguintes princípios: _ , Io. Distinguem-se como absolutos e relativos. Um atributo absoluto é uma propriedade da essência divina considerada em si: e.g., auto-existência, imensidade, eternidade, inteligência. Um atributo relativo é uma propriedade da essência divina considerada em relação à criação: e.g., onipresença, onisciência, etc. ■M.uwotiw * 2o. Distinguem-se também como afirmativos e negativos. Um atributo afirmativo é uma qualidade que exprime alguma perfeição positiva da essência divina: e.g., onipresença, onipotência, etc. Um atributo negativo é uma qualidade que nega qualquer defeito ou limitação de qualquer modo nas perfeições divinas: e.g., imutabilidade, infinidade, incompre-ensibilidade, etc. 3o. Distinguem-se como comunicáveis e incomunicáveis. Os atributos comunicáveis são aqueles com os quais os atributos do espírito humano tem alguma analogia: e.g, poder, conhecimento, vontade, bondade e retidão. Os incomunicáveis são aqueles quanto aos quais não há na criatura nada que lhes seja análogo: e.g., eternidade, imensidade, etc. Esta distinção, porém, necessariamente não deve ser levada longe demais. Deus é infinito em relação ao espaço e ao tempo; nós somos finitos em relação a um e a outro. Mas Ele não é menos infinito quanto ao Seu conhecimento, à Sua vontade e à Sua retidão em todos os Seus modos, e nós somos finitos em todos estes aspectos. Todos os atributos divinos que conhecemos ou que podemos conceber são comunicáveis, por terem suas analogias em nós; entretanto todos são igualmente incomunicáveis, por serem todos infinitos em Deus. 4o. Os atributos de Deus distinguem-se como naturais e morais. Os naturais são todos os que Lhe pertencem por ser Ele um Espírito infinito e racional: e.g, eternidade, imensidade, inteligência, vontade, poder. Os morais são os demais atributos, que Lhe pertencem por ser Ele Espírito infinito e reto: e.g., justiça, misericórdia, verdade. Eu proporia, sem muita segurança, a classificação seguinte: (1) Os atributos que qualificam igualmente todos os outros - infinidade, aquilo que não tem limites: absolutidade,6 aquilo que não é determinado, nem quanto à

Sua existência, nem quanto ao modo da Sua existência ou da Sua ação, por coisa alguma que haja fora dEle próprio. Isso inclui a imutabilidade. 'tr . > : .,-1: J . (2) Os atributos naturais: Deusé Espírito infinito, auto-existente, eterno, imenso, simples, livre na vontade, inteligente, poderoso. (3) Os atributos morais. Deus é Espírito infinitamente reto, verdadeiro t fiel. (4) A glória excelsa de todas as perfeições divinas em união: a formosura da SANTIDADE de Deus. A UNIDADE DE DEUS - 12. Quais os dois sentidos da palavra em que UNIDADE é um predicado de Deus ? Io. Deus é único: há um só Deus, com exclusão de qualquer outro. 2o. Embora haja tripla distinção pessoal na unidade da Deidade, essas três Pessoas são numericamente uma só substância ou essência, e constituem um só Deus indivisível. 13. Como se pode provar a proposição de que Deus é um e indivisível? •••’ •"* Io. Parece haver na razão uma necessidade de concebermos a Deus como um só. Aquilo que é infinito e absoluto não pode deixar de ser um só, indivisível em essência. Se Deus não é um só, segue-se que há mais de um Deus. 2o. A representação uniforme das Escrituras - João 10:30. 14. Como se prova pelas Escrituras que a proposição segundo a qual há um só Deus é verdadeira? Com passagens como as seguintes: Deut. 6:4; 1 Reis 8:60; Is. 44:6; Mar. 11:29,32; 1 Cor. 8:4; Ef. 4:6. -

15. Que argumento se tira da harmonia da criação a favor da unidade divina? A criação inteira entre os dois extremos, até onde chega a observação telescópica e microscópica, é manifestamente um só sistema indivisível. Já provamos, porém (Cap. 2), a existência de Deus, pelos fenômenos do universo; e argumentamos agora, partindo do mesmo princípio, que, se um efeito é prova da operação prévia de uma causa, e se evidências de intenção e desígnio provam a existência de quem tencionava, então a singeleza e a unidade de um plano e sua operação nesse desígnio e na sua execução provam também que quem teve o desígnio foi UM SÓ. 16. Sobre este ponto, que argumento se tira da existência necessária de Deus? Diz-se que a existência de Deus é necessária porque desde toda a eternidade tem sua causa em si mesma. É a mesma em todo o tempo e no espaço inteiro. E um absurdo pensar em Deus como não existindo em qualquer tempo e em qualquer parte do espaço, enquanto que, com respeito a todas as demais existências, elas dependem pura e simplesmente da vontade de Deus, e por isso são contingentes. No entanto, a necessidade que é uniforme em todos os tempos e em qualquer parte do espaço é evidentemente uma só e indivisível, e só pode ser a base da existência de um só Deus. Este argumento é lógico, e muitos distinguidos teólogos o valorizam em muito. Parece, porém, envolver o erro de supor-se que a lógica humana pode ser a medida da existência. 17. Que argumento se tira da perfeição infinita para provar que só pode haver um Deus? Deus é infinito em Seu Ser e em todas as Suas perfeições. Mas o que é infinito, por incluir tudo, exclui tudo o mais da mesma espécie. Se houvesse dois seres infinitos, cada um deles incluiria necessariamente o outro, e seria por este incluído, e seriam assim um só e o mesmo ser idêntico. É certo que a idéia da coexistência de dois seres infinitamente perfeitos repugna tanto à razão humana como às Escrituras. ;' J 18. Que époliteísmo? E dualismo?

Poiiteísmo, como indica a etimologia da palavra, é um termo geral que designa todos os sistemas de religião que ensinam a existência de mais de um Deus. Dualismo é o nome que se dá ao sistema que reconhece a existência de dois princípios originais e independentes no universo, um bom e o outro mau, e que atualmente esses dois princípios estão numa relação de antagonismo incessante, esforçando-se sempre o bom princípio por opor-se ao mau princípio e por livrar o mundo da sua intrusão maléfica. A ESPIRITUALIDADE DE DEUS 19. Que é que se afirma, e também que é que se nega na proposição segundo a qual Deus é Espírito? Nada sabemos de uma substância, senão o que se manifesta por suas propriedades. Matéria é a substância cujas propriedades se manifestam diretamente aos nossos sentidos corporais. Espírito é a substância cujas propriedades se manifestam a nós diretamente na autoconsciência, e só inferencialmente por meio de palavras e outros sinais ou modos de expressão, mediante os nossos sentidos. Quando dizemos que Deus é Espírito, o sentido é: Io. Negativamente, que Ele não possui partes nem paixões corporais; que não Se compõe de elementos materiais; que não está sujeito a nenhuma das condições que limitam a existência material; e que, por conseguinte, não pode ser apreendido por nenhum de nossos sentidos corporais. 20. Positivamente, que Ele é um ser racional que distingue com precisão infinita entre o verdadeiro e o falso; que é um ser moral, que distingue entre o bom e o mau; que é agente livre, cujas ações são determinadas só por Sua própria vontade; e, enfim, que todas as propriedades essenciais de nossos espíritos podem também realmente ser asseveradas a respeito dEle, e em grau infinito. Esta grande verdade é inconciliável com a doutrina segundo a qual Deus é a alma do mundo (anima mundi), uma força plástica, organizadora, inseparável da matéria; e também com a doutrina gnóstica da emanação, e com todas as formas do materialismo e do panteísmo modernos.

20. Quais as provas de que Deus é Espírito? Ia. As Escrituras o afirmam expressamente - João 4:24. 2a. Nossa idéia das perfeições infinitas e absolutas de Deus. A matéria é obviamente inferior ao espírito, e dela são inseparáveis muitas imperfeições e limitações. A matéria, consistindo em átomos separados e atuando incessantemente uns sobre os outros, não pode ser “uma”, nem “infinita”, nem “imutável”, etc. E sente-se que a idéia de que a matéria está em união com o espírito em Deus, como é o caso do homem, avilta a Deus e O sujeita às limitações do tempo e do espaço. 3a. Não há em parte alguma nenhum indício de propriedades materiais no Criador e Governador providencial do universo - enquanto que todas as provas da existência de Deus testificam também que Ele é uma pessoa de sabedoria, benevolência, retidão e poder supremos - isto é, que é um espírito pessoal. A RELAÇÃO DE DEUS COM O ESPAÇO 21. Que é que se entende pela imensidade de Deus? “Imensidade de Deus” é a frase empregada para expressar o fato de que Deus é infinito em Sua relação com o espaço, isto é, que a inteira essência indivisível de Deus está sempre presente concomitantemente em toda parte do espaço inteiro e imenso. Não se acha presente assim em virtude de alguma multiplicação infinita do Seu Espírito, porque o Espírito é eternamente um só e individual; nem é isso resultado de alguma difusão infinita da sua essência pelo espaço imenso, assim como o ar está difuso sobre a superfície da terra; porque, sendo Espírito, não é composto de partes, nem se pode estender; mas a Deidade inteira, em Sua essência única e indivisível, está sempre presente igualmente, a todo momento da duração eterna, em todo o espaço infinito e em cada parte dele. 22. Como difere imensidade de onipresença? ■ Imensidade é a característica de Deus em relação ao espaço tomado em sentido abstrato. Onipresença é a característica de Deus em relação

às Suas criaturas como estas ocupam, cada qual por si, certo lugar no espaço. A essência divina (Deus) é absolutamente imensa em Sua própria natureza; é onipresente em relação a todas as Suas criaturas. 23. Quais os diversos modos da presença divina, e como se pode provar que Deus está presente em toda parte quanto à Sua essência? Podemos pensar em Deus como presente em qualquer parte ou com qualquer criatura, de diversos modos: Io. Quanto à Sua essência; 2o. Quanto ao Seu conhecimento; 3o. Manifestando a Sua presença a qualquer criatura inteligente; 4o. Manifestando o Seu poder de qualquer modo na criatura humana ou sobre ela. Quanto à Sua essência e ao Seu conhecimento, a Sua presença é sempre e em toda parte a mesma. Quanto à Sua automanifestação e ao exercício do Seu poder, a Sua presença manifesta-se de inúmeros modos e graus diferentes. Assim, por exemplo, está presente para a Sua Igreja de um modo diverso daquele pelo qual o está para o mundo; está presente no inferno na manifestação e execução da Sua justa ira, e no céu o está na manifestação e comunicação da Sua graça, do Seu amor e da Sua glória. 24. Como provar que Deus é onipresente quanto à Sua essência? Que Deus é onipresente quanto à Sua essência fica provado: Io. Pelas Escrituras (1 Reis 8:27; Sal. 139:7-10; Is. 66:1; Atos 17:27,28). 2°. Pela razão. (1) E conseqüência necessária da Sua infinidade. (2) Pelo fato de que o Seu conhecimento é Sua essência conhecendo, e Suas ações são Sua essência agindo. Contudo, o Seu conhecimento e o Seu poder estendem-se a todas as coisas. 25. Como expor as diversas relações que os corpos (que são espíritos criados) e Deus têm com o espaço? Turretino diz: “entendemos que os corpos existem circunscntivamente no espaço, porque, ocupando certa porção do espaço, acham-se cercados por todos os lados pelo espaço; os espíritos criados não ocupam parte alguma do espaço, nem são abarcados pelo espaço, e, contudo, estão no espaço definidamente, como aqui, e não acolá; Deus, porém, está no espaço repletivamente, porque de um modo transcendente a Sua essência enche o espaço todo. Não está incluído em parte alguma, nem excluído de parte alguma. Inteiramente presente em toda

parte, compreende ao mesmo tempo o espaço inteiro.” O tempo e o espaço não são nem substâncias, nem qualidades, nem simplesmente relações. Eles constituem um gênero separado, absolutamente distinto de todas as demais entidades, e por conseguinte impossível de classificar. “Sabemos que o tempo e o espaço existem; sabemos também, por provas suficientes, que Deus existe; mas não temos meios de saber como o tempo e o espaço se acham relacionados com Deus. v A idéia de “Sir” Isaac Newton - Deus durat semper e adest ubique, et, existendo semper et ubique, durationem et spatium constituit 7 - é por certo uma idéia sublime; porém duvido muito que a inteligência humana possa afirmar ditatorialmente que é uma idéia tão verdadeira quanto sublime” -McCosh,Intuitions ofthe Mind, pág. 212. A RELAÇÃO DE DEUS COM O TEMPO 26. Que é a eternidade? A eternidade é duração infinita; duração despida de todos os limites, sem princípio, sem sucessão, sem fim. Os esco-lásticos chamavam-na punctum stans, isto é, um presente que permanece sempre e para sempre. : Podemos, porém, conceber a eternidade positivamente como duração estendida infinitamente do momento atual em duas direções, para o passado e para o futuro, chamadas impropriamente eternidade a parte ante, ou passada, e eternidade a parte post, ou futura. A eternidade de Deus é, porém, uma só e indivisível. Eternitas est una individua et tota simul. 27. Que é o tempo? Tempo é duração limitada, medida pela sucessão, ou do pensamento ou do movimento. Distingue-se em referência a nossas percepções em passado, presente e futuro. 28. Que relação tem o tempo com a eternidade? A eternidade, o presente sem mudança, sem princípio e sem fim, compreende o tempo inteiro, e coexiste como um momento não dividido, junto com todas as sucessões do tempo à medida que aparecem e passam em sua ordem.

Podemos pensar, porém, só sob as limitações do tempo e do espaço. Podemos pensar em Deus só do modo finito de determinar primeiro e executar depois, de prometer ou ameaçar primeiro, e cumprir depois a Sua palavra, etc. Aquele que habita na eternidade transcende infinitamente a nossa inteligência. Is. 57:15. 29. Quando dizemos que Deus é eterno, que é que afirmamos, e que é que negamos? Afirmamos, Io. que, quanto à Sua existência, nunca teve princípio e nunca terá fim; 2o. que, quanto ao modo da Sua existência, Seus pensamentos, emoções, propósitos e atos, eles são invariáveis, unos e inseparáveis, sempre os mesmos; e 3o. Que Ele é imutável. Negamos, Io. Que Deus teve princípio ou que terá fim; 2o. que há variação nos Seus estados ou modos de ser; e 3o. que a Sua essência, os Seus atributos e os Seus propósitos em qualquer tempo mudarão. - ‘ 30 .Em que sentido é que se fala nos atos de Deus como passados, presentes e futuros? No tocante a Deus, os Seus atos nunca são passsados, presentes ou futuros, senão somente quanto aos objetos e aos efeitos produzidos na criatura. O propósito eficiente, compreendendo o objeto, o tempo e todas as circunstâncias, estavaLhe presente sempre e sem mudança; o evento, porém, sucedendo no tempo, é assim passado, presente ou futuro para nós. 31. Em que sentido é que os eventos são futuros ou passados para Deus? Sendo infinito o conhecimento de Deus, segue-se, Io. que todos os eventos estão sempre igualmente presentes ao Seu conhecimento, e desde toda a eternidade para toda a eternidade; mas, 2o. esses eventos Lhe são conhecidos como realmente sucedem, e.g., em Sua natureza e em Suas relações e sucessões verdadeiras. É, pois, real e verdadeira esta distinção - o conhecimento que Deus tem dos eventos é sem princípio, fim ou sucessão; não obstante, Ele os conhece assim como são em si, sucedendo-se no tempo como passados, presentes ou futuros, em sua relação entre si. ■ A IMUTABILIDADE DE DEUS

32. Que é que se entende por imutabilidade de Deus? Por Sua imutabilidade entendemos que é conseqüência da perfeição infinita de Deus; que Ele não pode ser mudado por coisa alguma fora dEle, e que não mudará por causa de nenhum princípio que haja nEle; que, quanto à Sua essência, à Sua vontade e aos Seus modos de existência, Ele é sempre, de eternidade a eternidade, o mesmo. Assim, é absolutamente imutável em Si mesmo. E é imutável também em relação às Suas criaturas, pois no Seu conhecimento, no Seu propósito e na Sua verdade, como nós os concebemos e nos são revelados, não há mudança nem sombra alguma de variação. - Tia. 1:17. 33. Como se prova pelas Escrituras e pela razão que Deus é imutável? Io. Pelas Escrituras: Mal.3:6; Sal.33:11; Is. 46:10; Tia. 1:17. 2o. Pela razão: (1) Deus é auto-existente. Como não é causado por nada e é a causa de tudo, não pode ser mudado por nada, porém muda tudo. (2) E o Ser absoluto. Nem a Sua existência, nem o modo dela, nem a Sua vontade, são determinados por nenhuma relação necessária que eles sustenham com coisa alguma fora dEle. Assim como Ele precedeu tudo e causou tudo, assim também a Sua vontade soberana determinou livremente as relações que Ele permite que essas coisas tenham com Ele. (3) E infinito em duração, e por isso não pode sofrer variação ou mudança. (4) E infinito em todas as Suas perfeições, em conhecimento, sabedoria, retidão, benevolência, vontade, poder, e por isso não pode mudar, porque ao infinito nada se pode acrescentar e dele nada se pode tirar. Qualquer mudança O tornaria ou menos do que infinito antes, ou menos do que infinito depois. 34. Como conciliar com a imutabilidade de Deus a criação do mundo e a encarnação do Filho? ■ Io. Quanto à criação. O propósito eficaz, a determinação e o poder de criar o mundo residiram em Deus desde a eternidade, mas esse mesmo propósito eficaz era o de produzir efeito no tempo e na ordem apropriados. O efeito foi produzido por Deus, porém isso não implica nem sombra de mudança em Deus, pois nada Lhe foi tirado nem acrescentado. 2o. Quanto à encarnação. O Filho divino assumiu, numa união pessoal conSigo,

uma natureza humana criada. Sua essência incriada não sofreu mudança alguma. Sua Pessoa eterna não mudou, mas só entrou numa nova relação. A mudança efetuada por esse evento estupendo ocorreu somente na natureza criada do homem Jesus Cristo. ' 1 Não se refere à fé da igreja católica romana. . . rom1..-!

2 Acrescentado pela “Sagrada Congregação do Concilio”, 2 de janeiro de 1887.

3 Isto parece um tanto equívoco. Os teólogos luteranos, assim como os das demais denominações protestantes, dizem que a base fundamental (the ultimate basic) de sua teologia é a Bíblia, e não a Confissão de Augsburgo.

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VejaHerzog’s Real- Encyclopedia, Bomberger’s Translation. Artigo,Helvetic ('onfessions.

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Aparecerá traduzida no apêndice.

6 Neologismo usado por Odayr Olivetti para fins exclusivamente técnico--teológicos.

7 Deus dura para sempre e está presente em toda parte, e, existindo sempre e em todo lugar, constitui a duração e o espaço. Em latim no original. Nota de Odayr Olivetti.

A INTELIGÊNCIA INFINITA DE DEUS 35. Em que aspectos o modo de conhecer de Deus difere do nosso? O conhecimento de Deus é, Io. Sua essência conhecendo; 2o. Um só ato eterno, totalmente compreensivo e indivisível. (1) Não é discursivo, isto é, não procede logicamente do conhecido para o desconhecido; e sim intuitivo, isto é, discerne tudo diretamente à sua própria luz. (2) É independente, isto.é, não depende de modo algum das criaturas ou de suas ações, e sim unicamente da Sua própria intuição infinita de todas as coisas possíveis à luz da Sua própria razão, e de todas as coisas atuais e futuras à luz do Seu próprio propósito eterno. (3) É total e simultânaeo, não sucessivo. É um só ato indivisível de intuição, vendo todas as coisas em si mesmas, suas relações e sucessões, como sempre presentes. (4) É perfeito e essencial, não relativo, isto é, Ele conhece todas as coisas diretamente, em suas essências ocultas, enquanto nós as conhecemos só por suas propriedades e em suas relações com os nossos sentidos. (5) Nós conhecemos imperfeitamente o presente e imperfeitamente nos recordamos do passado, enquanto que do futuro nada sabemos. Deus, porém, conhece perfeitamente todas as coisas presentes, passadas e futuras por um olhar total, não sucessivo e totalmente compreensivo. 36. Como os teólogos definem esta perfeição divina? Diz Turretino, Locus 3,2:12 - “A respeito do conhecimento de Deus, deve-se, antes de tudo, tomar em consideração duas coisas, a saber, o seu modo e o seu objeto. O modo do conhecimento divino consiste em que Deus conhece todas as coisas perfeita, imutável, individual e distintamente, e assim distingue-se o Seu conhecimento daquele dos homens e dos anjos. 1. Ele conhece todas as coisas perfeitamente, porque as conhece por Si mesmo ou por Sua própria essência, e não pelos fenômenos das coisas, como as criaturas conhecem objetos. 2. Ele conhece todas as coisas individualmente, porque as conhece intuitivamente, por

um ato direto de cognição, e não inferencialmente, por meio de um processo de raciocínio discursivo, ou pela comparação de uma coisa com outra. 3. Ele conhece todas as coisas distintamente, isto é, não reúne os diversos predicados das coisas por meio de uma concepção diferente, mas vê através de todas as coisas por um só ato muito distinto de intuição, e nada, nem a menor coisa, Lhe escapa. 4. Ele conhece todas as coisas imutavelmente, porque nEle não há nem sombra de mudança, e, permanecendo Ele mesmo imutável, muda todas as coisas, e percebe assim todas as diversas mudanças das coisas, por um só ato imutável de cognição. 37. Como se pode classificar os objetos do conhecimento divino? Io. Deus mesmo, em Seu próprio ser infinito. E evidente que este, transcendendo a soma de todos os demais objetos, é o único objeto adequado de um conhecimento realmente infinito. 2o. Todos os objetos possíveis, quer existam ou tenham existido, quer não existam e nunca venham a existir, vistos à luz da Sua própria razão infinita. 3o. Todas as coisas reais que já existiram, existem agora, ou virão a existir, Ele compreende num só ato eterno e simul-tânaeo de conhecimento, como atualidades sempre presentes a Ele, e conhecidos como tais à luz de Seu próprio propósito soberano e eterno. 38. Qual a designação técnica do conhecimento de coisas possíveis, e qual a base desse conhecimento? Sua designação técnica éscientia simplicis intelligentice, isto é, conhecimento de simples inteligência, chamado assim porque o concebemos como simplesmente um ato da inteligência divina, sem que concorra um ato da vontade divina. Pela mesma razão tem sido chamado scientia necessária, isto é, não voluntária, ou não determinada pela vontade. A base desse conhecimento é o conhecimento essencial e infmitamente perfeito que Deus tem da Sua própria onipotência. 39. Qual a designação técnica do conhecimento das coisas reais, passadas ou presentes ou futuras, e qual a base desse conhecimento?

E chamado scientia visionis, ou seja, conhecimento de vista, e scientia libera, quer dizer, conhecimento livre, porque neste caso entendemos que a Sua inteligência é determinada por um ato concorrente da Sua vontade. A base desse conhecimento é o conhecimento infinito que Deus tem do Seu propósito eterno, todo ele - compreensivo e imutável. 40. Como se prova que o conhecimento de Deus estende-se a eventos futuros que são contingentes? Para nós os homens os eventos contingentes o são por dois motivos: Io. Suas causas imediatas podem ser para nós indeterminadas, como no caso do lançamento de dados; 2o. Suas causas imediatas podem consistir na volição de um agente livre. Mas, para Deus, os eventos da primeira destas duas classes não são, de modo algum, contingentes; e os da segunda Ele “preconhece” como contingentes quanto à causa, todavia nem por isso com menor certeza de que venham a suceder. Que Ele preconhece todos os esses eventos é certo Io. Porque as Escrituras o afirmam -1 Sam. 23:11,12; Atos 2:23; 15:18; Is. 46:9,10. • ’ ^ 2o. Muitas vezes Ele predisse eventos contingentes futuros, e as profecias cumpriram-se - Mar. 14:30. 3o. Deus é infinito em todas as Suas perfeições; por isso o Seu conhecimento deve ser (1) perfeito, e pode compreender todas as coisas futuras como também passadas; (2) independente das criaturas. Ele conhece todas as coisas em si mesmas à Sua própria luz, e de maneira nenhuma depende da vontade de qualquer criatura tornar o conhecimento de Deus mais certo ou mais completo. 41. Como se pode conciliar a certeza da presciência de Deus com a liberdade dos agentes móveis? Note-se, primeiro, a dificuldade que aqui se apresenta: a presciência de Deus é certa; por conseguinte, um evento, um ato, previsto, é com certeza futuro; mas, se é certo que é futuro, isto é, se é certo que se há de praticar o ato, como pode

ser livre o agente quando o pratica? Para evitar esta dificuldade, alguns teólogos negam a realidade da liberdade do homem, e outros afirmam que, sendo livre o conhecimento de Deus, Ele Se abstém voluntariamente de conhecer aquilo que vão fazer as Suas criaturas dotadas de liberdade. Observamos sobre isso Io. Que Deus preconhece com certeza todos os eventos futuros, e que o homem é livre, são dois fatos estabelecidos inabalavelmente sobre provas independentes. E necessário, pois, que os aceitemos como verdades, tanto um como o outro, quer nos seja possível conciliá-los, quer não. 2o. Embora a necessidade seja inconciliável com a liberdade, a certeza moral não o é, como será demonstrado detalhadamente no Cap.l5, Perg. 25. ■ : 42. Que éscientia media? Esta é a designação técnica do conhecimento que Deus tem dos eventos contingentes futuros, e que, segundo supõem os autores desta distinção, não depende do propósito eterno de Deus tornando certo o evento, e sim do livre ato da criatura previsto por Deus mediante uma intuição especial. E chamada scientia media por supor-se que ocupa lugar intermediário entre a scientia simplicis intelligentue e a scientia visionis. Difere da primeira em não ter por objeto todas as coisas possíveis, e sim uma classe especial de coisas realmente futuras. E difere da segunda em não ter sua base no propósito eterno de Deus, e sim na ação livre das criaturas, simplesmente prevista. .43. Por quem foi introduzida essa distinção, e com que fim? Pelo jesuíta Luiz Molina, que nasceu em 1535 e faleceu em 1601, e foi professor de teologia na Universidade de Évora, Portugal, em sua obra intituladaLifcm arbitrii cum gratice donis, divinaprescientia, prcedes tinatione et reprobatione concordia 1 Foi excogitada com o fim de explicar como Deus podia preconhecer com certeza o que as Suas criaturas livres fariam na ausência de qualquer preordenação soberana da parte dEle, determinando as suas ações;

fazendo assim a preordenação divina dos homens para a felicidade ou para a infelicidade depender da presciência divina da fé e da obediência dos homens, e negando que a presciência de Deus dependa da Sua preordenação soberana. 44. Quais os argumentos contra a validade dessa distinção? Io. Os argumentos em que se baseia essa distinção são insustentáveis. Seus defensores alegam - (1) As Escrituras1 Sam. 23:9-12; Mat. 11:22,23. (2) Que essa distinção é obviamente necessária para tornar o modo da presciência de Deus conciliável com a liberdade do homem. Ao primeiro argumento respondemos que os eventos mencionados nas passsagens supracitadas das Escrituras não eram futuros. Ensinam simplesmente que Deus, conhecendo todas as causas, tanto as livres como as necessárias, sabe o que qualquer criatura fará em quaisquer condições. Mesmo nós sabemos que se pusermos fogo à pólvora, seguir-se-á uma explosão. Este conhecimento pertence, pois, à primeira classe das citadas acima (Perg. 38), ou seja, ao conhecimento de todas as coisas possíveis. Ao segundo argumento respondemos que a presciência certa de Deus envolve tanto a certeza do futuro ato livre da criatura como o envolve a Sua preordenação; e que a preordenação soberana de Deus, com respeito aos atos livres dos homens, só torna certamente futuros esses atos, e de modo algum determina que sejam praticados, a não ser pela livre vontade da criatura agindo livremente. 2o. Essa scientia media é desnecessária, porque todos os objetos possíveis do conhecimento, todas as coisas possíveis, e todas as coisas que realmente hão de ser,; já foram compreendidas nas duas classes já citadas (Pergs. 38, 39). 3o. Se Deus preconhece com certeza qualquer evento futuro, então é com certeza futuro, e Ele o preconheceu como futuro com certeza, ou porque já era certo anteriormente, ou porque a Sua presciência o tornou certo. Se a Sua presciência o tornou certo, então a presciência envolve a preordenação. Se já era certo anteriormente, então gostaríamos de saber o que foi que o podia tornar certo, se não foi o decreto de Deus determinando uma de três coisas. (1) Será que Deus mesmo causaria o evento imediatamente? (2) Será que o causaria por meio de alguma segunda causa necessária? (3) Será que algum agente livre o causaria livremente? Só temos a escolha entre a preordenação de Deus e uma

fatalidade cega. 4o. Esta teoria faz o conhecimento de Deus depender dos atos de Suas criaturas fora dEle. Isso é, ao mesmo tempo, absurdo e ímpio, porque Deus é infinito, eterno e absoluto. 5o. As Escrituras ensinam que Deus não só preconhece, mas também preordena os atos livres dos homens. Is. 10:5-15; Atos 2:23; 4:27,28. 45. Qual a diferença entre sabedoria e conhecimento, e em que é que consiste a sabedoria de Deus? Conhecimento é o simples ato da inteligência apreendendo o que uma coisa é, e compreendendo sua natureza e suas relações ou como é. Sabedoria pressupõe conhecimento, e é o uso prático que a inteligência, determinada pela vontade, faz do material do conhecimento. A sabedoria de Deus é infinita e eterna. A concepção que fazemos dela é que Ele escolhe o fim, o mais exaltado possível - a manifestação da Sua própria glória - e que escolhe e dirige, em todas as Suas operações, os melhores meios possíveis para conseguir esse fim. Sua sabedoria manifesta-se-nos de um modo glorioso nos grandes teatros da criação, da providência e da graça. O PODER INFINITO DE DEUS 46. O que se entende pela onipotência de Deus? Poder é a eficiência que, em virtude de uma lei essencial do pensar, reconhecemos como inerente a uma causa em relação ao seu efeito. Deus é a causa primária não causada, e a eficiência causai da Sua vontade é absolutamente não limitada por coisa alguma fora das próprias perfeições divinas. 47. Que distinção se faz entre a potestas absoluta e a potestas ordinata de Deus? . , , As Escrituras e a razão ensinam-nos que a eficiência causai de Deus não está limitada ao universo de causas secundárias e às suas propriedades ativas e às

Suas leis. A frase potestas absoluta exprime a onipotência de Deus considerada absolutamente em si mesma - e especificamente essa reserva infinita de poder que permanece nEle como um livre atributo pessoal, acima e além de todas as forças da natureza e Suas ordinárias operações providenciais sobre elas e por meio delas. Criação, milagres, etc., são operações deste poder de Deus. A potestas ordinata, porém, é o poder de Deus que Ele exerce no sistema estabelecido de causas secundárias no curso ordinário da Providência, e por meio desse sistema. Os racionalistas e os defensores do mero naturalismo, que negam os milagres e toda interferência divina no sistema estabelecido da natureza, naturalmente admitem só esta segunda, e negam a primeira forma do poder divino. «v1 48. Em que sentido o poder de Deus é limitado, e em que sentido não o é? Quanto à nossa eficiência causai, estamos cônscios: Io. De que é muito limitada. Temos poder direto só sobre o curso de nossos pensamentos e a contração de uns poucos músculos. 2o. De que dependemos do uso de meios para produzirmos os efeitos desejados. 3o. De que dependemos de circunstâncias exteriores que nos limitam sempre e sempre nos impõem restrições. O poder inerente na vontade divina, porém, pode produzir quaisquer efeitos que Ele deseje imediatamente, e quando condescende em empregar meios, dá-lhes livremente a eficácia que nesse caso demonstram possuir. Todas as circunstâncias exteriores, sejam quais forem, são criação dEle, e dependem da Sua vontade, e por isso não podem limitá-10 de nenhum modo. Deus não é limitado de nenhum modo que seja no exercício do Seu poder. Ele não pode cometer pecado, nem produzir contradições, porque o Seu poder é a eficiência causai de uma essência infinitamente racional e reta. Por isso o Seu poder só é limitado por Suas próprias perfeições. 49. A distinção que existe entre o nosso poder e a nossa vontade seria uma perfeição ou um defeito? E ela existe em Deus? Objeta-se que, se o nosso poder fosse igual aos nossos desígnios, e se cada voliçâo tivesse como resultado imediato a obra desejada, não estaríamos cônscios de nenhuma diferença entre o poder e a vontade. Admitimos que é um defeito no homem quando seu poder não está comensurado à sua vontade, e que

este nunca é o caso com Deus. Por outro lado, porém, quando um homem está cônscio de possuir forças que podia empregar, mas não quer empregar, está cônscio de que isto é uma excelência, e de que a sua natureza está mais perfeita por possuir essa reserva de forças, do que estaria se não a possuísse. Dizer-se, pois, que o poder não se estende além da Sua vontade de exercê-lo, que não há em Deus nada que não exerça, é o mesmo que dizer que Ele não é maior do que a Sua criação. Os atos de um grande homem nos impressionam, principalmente quando olhados como os indícios de forças muito maiores que ele guarda, em reserva. Assim é com Deus também. 50. Como se pode provar que a Deus pertence a onipotência absoluta? Io. As Escrituras o afirmam-Jer. 32:17; Mat. 19:26; Luc. 1:37; Apoc. 19:6. 2o. Esta verdade está envolvida na própria idéia de Deus, como um Ser infinito. 3o. Embora tenhamos visto apenas parte dos Seus caminhos (Jó 26:14), a nossa experiência estendendo-se, cada vez mais, nos está revelando, constantemente, provas novas e mais estupendas do Seu poder, que indicam sempre uma reserva inexaurível. A VONTADE DE DEUS 51. Que é que se entende pela vontade de Deus? A vontade de Deus é a essência infinita e eternamente sábia, poderosa e reta de Deus exercendo o Seu querer. Em nossa concepção dela é aquele atributo da Deidade ao qual referimos os Seus propósitos e decretos, como seu princípio. 52. Em que sentido se diz que a vontade de Deus é livre, e em que sentido se diz que é necessária? A vontade de Deus é a essência sábia, poderosa e reta de Deus exercendo o Seu querer. Por conseguinte, Sua vontade, em todos os Seus atos, é certa e, ao mesmo tempo, muito livremente, tanto sábia quanto reta. E evidente que a liberdade da indiferença está alheia à natureza de Deus porque a perfeição da sabedoria consiste em escolher, do modo mais sábio; e a perfeição da retidão consiste em escolher do modo mais reto.

Por outro lado, porém, a vontade de Deus é, desde toda a eternidade, independente de todas as Suas criaturas e de todos os Seus atos. 53. Que se entende pela distinção entre a vontade decretatória e a vontade preceptiva de Deus? Pela vontade decretatória Deus detemina eficazmente a futurição certa dos eventos. Pela Sua vontade preceptiva, Deus como Governador moral ordena às Suas criaturas morais que façam aquilo que Ele julga bom e sábio que elas façam nas circunstâncias em que se achem. Nisso não há nada que seja inconciliável. Aquilo que Ele quer como nosso dever pode ser bem diverso daquilo que Ele quer como Seu propósito. Aquilo que Ele permite pode estar bem longe de ser aprovado por Ele, e pode muito bem ser pecado se o fizermos. 54. Que se entende pela distinção entre a vontade secreta e a vontade revelada de Deus? A vontade secreta de Deus é Sua vontade decretatória, chamada secreta porque, embora seja às vezes revelada aos homens nas profecias e nas promessas da Bíblia, na sua maior parte nos fica oculta. A vontade claramente revelada de Deus é Sua vontade preceptiva, que nos é revelada sempre como a regra do nosso dever - Deut. 29:29. 55. Em que sentido os arminianos mantêm a distinção entre a vontade antecedente e a vontade conseqüente de Deus, e quais as objeções contra essa distinção? E uma distinção inventada pelos escolásticos, e adotada pelos arminianos, na tentativa de conciliar a vontade de Deus com a teoria deles sobre a liberdade do homem. Chamam ato antecedente da vontade de Deus aquilo que precede à ação da criatura; e.g., antes de Adão pecar, Deus queria que ele fosse feliz. Chamam ato conseqüente da vontade de Deus aquilo que se segue ao ato da criatura, e que é a conseqüência desse ato; e.g., depois do pecado de Adão, Deus queria que ele

sofresse a pena devida ao seu pecado. É evidente que essa distinção não representa verdadeiramente a natureza da vontade de Deus e Sua relação com os atos de Suas criaturas. Io. Deus é eterno, e por isso não pode haver nos Seus propósitos distinção de tempo; 2o. Deus é eternamente onisciente e onipotente. Se, pois, Ele quer alguma coisa, quer necessariamente desde o princípio os meios de efetuá-la, e consegue assim o fim desejado. Se não fosse assim, Deus teria ao mesmo tempo e em relação ao mesmo objeto, duas vontades inconciliáveis. A verdade é que Deus, por um só ato compreensivo da Sua vontade, determinou eterna e imutavelmente que tudo o que sucedeu com Adão, do princípio ao fim, sucedesse nessa mesma ordem e sucessão em que cada evento ocorreu. 3o. Deus é infinitamente independente. Aviltamos a Deus se pensarmos nEle como alguém que determina aquilo que Ele não tem poder para efetuar, e depois muda de vontade em conseqüência dos atos independentes das Suas criaturas. E verdade que, em conseqüência dos limites naturais das nossas capacidades, concebemos as diversas intenções do propósito único, eterno e indivisível de Deus, como se sustentassem entre si uma certa relação lógica, não temporal, como algo principal e conseqüente. Formamos, assim, a concepção de que Deus primeiro, na ordem lógica, decretou ou determinou criar o homem e depois permitir que ele caísse, e a seguir preparar uma redenção Turretino. 56. Em que sentido os arminianos mantêm a distinção entre a vontade absoluta e a vontade condicional de Deus, e quais as objeções contra ela? Segundo eles, a vontade absoluta de Deus é a que não depende de nenhuma condição fora dEle,e.g., a determinação de criar o homem. Sua vontade condicional é a que depende de alguma condição, e.g., Sua determinação de salvar os que crêem, isto é, sob a condição da fé deles. É evidente que essa distinção é inconciliável com a natureza de Deus como um Ser eterno, auto-existente, independente, infinito em todas as Suas perfeições. Avilta-0 a posição segundo a qual a Sua vontade é simplesmente parte coordenada da criação, limitando a criatura e sendo por esta limitada. O erro é o resultado de destacar um fragmento da vontade de Deus do propósito único, inteiro, e absolutamente compreensivo, eterno. É evidente que, quando

considerado como eterno e um só, o propósito de Deus deve incluir tanto as condições todas como as suas conseqüências. A vontade de Deus não depende de nenhuma condição, mas Ele determina eternamente o evento como dependente da sua condição, e a condição como determinando o evento. Todos admitem que a vontade preceptiva de Deus, expressa em mandamentos, promessas e ameaças, depende muitas vezes de condições. Se crermos, seremos com toda a certeza salvos. Esta é a relação estabelecida imutavelmente entre a fé, como a condição, e a salvação, como conseqüência, isto é, a fé é a condição da salvação. Mas isso é coisa muito diversa do que dizer que a fé que Paulo tinha foi a condição do propósito eterno de Deus de salvá-lo; porque o mesmo propósito determinou tanto a fé, a condição, como a salvação, a sua conseqüência. Veja algo mais no Cap. 10, sobre os decretos. 57. Em que sentido se diz que a vontade de Deus é eterna? E um só ato eterno, não sucessivo, totalmente compreensivo, determinando absolutamente ou efetuar ou permitir todas as coisas, em todas as suas relações, condições e sucessões, que sucederam, sucedem e virão a suceder. 58. Em que sentido se pode dizer que a vontade de Deus é a regra de retidão? E evidente que, no sentido mais elevado, a respeito da vontade de Deus, não se pode considerar essa vontade como a base fundamental de toda a retidão, como igualmente não se pode considerar como a base fundamental de toda a sabedoria. Porque, nesse caso, seguir-se-ia, Io. que não há diferença essencial entre o bem e o mal propriamente ditos, mas somente uma diferença constituída arbitrariamente pelo próprio Deus;2 e 2o. que não há nenhum sentido em que se possa atribuir retidão a Deus; porque seria o mesmo que dizer que Ele quer como quer. A verdade é que a Sua vontade opera conforme a Sua sabedoria infinitamente reta vê estar correto. Por outro lado, porém, a vontade revelada de Deus é para nós a regra absoluta e principal da retidão, tanto quando nos manda fazer o que em si mesmo é indiferente, e assim o torna reto, como quando nos manda fazer o que em si mesmo e essencialmente é reto, porque é reto. :■■ ' M: O

A JUSTIÇA ABSOLUTA DE DEUS ^ Que se entende pelas distinções de justiça absoluta e justiça relativa, rectoral, distributiva e punitiva ou vingadora de Deus? 59.

A justiça absoluta de Deus é a infinita perfeição moral ou retidão universal do Seu próprio Ser. A justiça relativa de Deus é a Sua natureza infinitamente reta, considerada como se manifesta em relação a Suas criaturas morais, como Seu Governador moral. A justiça de Deus é chamada rectoral quando considerada como se manifesta na administração geral do Seu governo universal pelo qual Ele cuida das Suas criaturas e governa as suas ações. E chamada distributiva quando considerada como se manifesta na ação de Deus pela qual Ele dá a cada criatura exatamente aquilo que lhe é devido, como prêmio ou como pena; e é chamada punitiva ou vingadora quando considerada como se manifesta nos atos de exigir e infligir a pena adequada e proporcional por todo pecado, por causa do seu demérito intrínseco. 60. Quais as diversas opiniões a respeito da justiça punitiva de Deus, isto é, quais os diversos motivos alegados para explicar por que Deus pune o pecado? Os socinianos negam inteiramente a justiça punitiva de Deus e sustentam que Ele só pune o pecado pelo bem do pecador individual, e pelo bem da sociedade, unicamente até onde esta possa estar interessada no refreamento ou no melhoramento do pecador. Os teólogos que sustentam a teoria governamental da propiciação (ou da expiação), sustentam que Deus não pune o pecado por causa de qualquer princípio imutável que haja em Si mesmo e que exija a punição dEle, mas simplesmente pelo bem do universo, com base em certos grandes princípios imutáveis de política governamental. Reduzem assim a justiça a uma forma de benevolência geral. Leibnitz afirmava que “a justiça é a bondade dirigida pela sabedoria”. Este princípio pressupõe que a felicidade é o maior bem; que a essência da virtude consiste no desejo de promover a felicidade, e que, por conseguinte, o único fim da justiça pode ser a prevenção da miséria. Este é o fundamento da teoria governamental da propiciação. Veja Cap. 25. Também Park, Atonement (Expiação).

Alguns afirmam que a necessidade de punição do pecado é somente hipotética, isto é, que é tão-somente um resultado do decreto eterno de Deus. A verdade é que a própria retidão eterna e essencial de Deus determina que Ele imutavelmente castigue todo pecado com uma pena proporcional. 61. Como se prova que a benevolência desinteressada não constitui a totalidade da virtude? Io. Algumas manifestações de benevolência desinteressada, e.g., o amor natural paterno, são puramente instintivas, e nada têm de caráter moral positivo. 2o. Algumas manifestações de benevolência desinteressada são positivamente imorais, como, e.g., quando um juiz cede à sua simpatia para com um criminoso, ou cede às instâncias dos amigos deste. 3o. Há princípios virtuosos que não se pode reduzir a benevolência desinteressada, como, e.g., possuirmos na devida consideração prudencial o nosso próprio bem; termos aspirações e empregarmos esforços para alcançar excelência pessoal; termos um santo ódio ao pecado por causa do próprio pecado, e o santo desejo de ver o pecado punido para que fique vindicada a justiça. 4o. A idéia de dever é a idéia essencial constitutiva da virtude. Nenhuma análise possível da idéia de benevolência dará como resultado a idéia de obrigação moral. Esta é simples, irredutível, nítida. O dever é o gênero, e a benevolência é uma das espécies que ele abrange. 62. Quais as provas derivadas dos princípios universais da natureza humana que mostram que a justiça de Deus não pode deixar de ser um princípio fundamental e imutável da Sua natureza, determinando-o a castigar o pecado por causa do demérito intrínseco deste? A obrigação que todo governador justo tem de castigar o pecado, o demérito intrínseco do pecado, e o princípio de que o pecado deve ser punido, são fatos determinantes da consciência moral. Não podem ser reduzidos a outros princípios, quaisquer que sejam. Prova-se isso Io. Porque estão envolvidos na consciência do seu próprio demérito que tem todo

pecador despertado - “...fiz o que a teus olhos parece mal, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares” (Sal. 51: 4.) No seu grau superior, este sentimento vem a ser o remorso, e este só pode ser apaziguado por uma expiação. Por isso é que muitos assassinos não tiveram paz enquanto não se entregaram às autoridades, sentindo então alívio imediato. E milhões de almas têm achado paz na aplicação do sangue de Cristo a suas consciências perturbadas. 2o. Todos os homens julgam assim os pecados dos outros. As consciências de todos os homens bons são gratificadas quando a pena justa caiu sobre o ofensor, e tais homens ficam irados quando ele escapa. - ^ . 3o. Esse princípio é testemunhado por todos os ritos sacrificiais comuns a todas as religiões antigas, pelas penitências que, numa ou noutra forma, são quase universais ainda nos tempos modernos, por todas as leis penais, e pelos sinônimos das palavras culpa, castigo, justiça, etc., comuns a todos os idiomas. 4o. E auto-evidente que a aplicação de um castigo injusto é um crime, não importa quão benévolo seja o motivo que o inspirou, nem quão bom seja o resultado que o segue. E não é menos auto-evidente que é a justiça de um castigo merecido que torna bom o seu efeito na sociedade, e não é este efeito que torna justo o castigo. A execução da pena capital num homem pelo bem da sociedade será um crime, um grave erro, a não ser que essa execução seja justificada pelo demérito do homem. Nesse caso seu demérito será visto por toda a sociedade como o motivo real da sua execução. 63. Como se prova a mesma verdade pela natureza da lei divina? Grotio, em sua grande obra, Defensio Fidei Catholicce de Satisfactione Christi (Defesa da Fé Católica sobre a Satisfação Realizada por Cristo), na qual se origina a Teoria Governamental da Propiciação, sustenta que a lei divina é produto da vontade divina e que, por conseguinte, Deus pode abrandar essa lei tanto nos seus elementos preceptivos como nos penais. Mas a verdade é que (a) a pena é parte essencial da lei divina; (b) a lei de Deus, quanto a todos os seus princípios essenciais do certo e do errado, não é produto da vontade divina, e sim um transcrito imutável da

natureza divina; (c) logo, a lei é imutável e é necessário que se cumpra cada i dela. Prova-se isso - Io. Porque os princípios fundamentais têm necessariamente a sua base imutável na natureza divina, ou (a) doutro modo a distinção entre o certo e o errado seria puramente arbitrária - ao passo que são discernidos pelas nossas intuições morais a serem absolutos e independentes de qualquer volição divina ou humana; (b) doutro modo não teriam sentido as palavras quando se diz que Deus é reto, se a retidão fosse criação arbitrária da Sua vontade; (c) porque Deus declara que “não pode mentir”, que “não pode negar-se”. 2o. As Escrituras declaram que não é possível afrouxar a lei, que é necessário que se cumpra - João 7:23; 10:35; Luc. 24:44; Mat. 5:25,26. 3o. As Escrituras declaram que Cristo veio cumprir a lei, e não afrouxá-la - Mat. 5:17,18; Rom. 3:31; 10;4. 64. Que argumento se pode tirar da independência e da absoluta autosuficiência de Deus para provar que a justiça punitiva de Deus é atributo essencial da Sua natureza? O conceito de que o Ser de Deus é obrigado pelas exigências exteriores da Sua criação a seguir qualquer curso de ação é inconciliável com os Seus atributos essenciais. Existem nEle, necessariamente, tanto o motivo dos Seus atos como os fins que Ele tem em vista-Col. 1:16; Rom. 11:36; Ef. 1:5,6; Rom. 9 :22,23. Se Ele castiga o pecado porque assim o determinam os princípios da Sua própria natureza, Ele age independentemente. Mas se recorre ao castigo somente como o meio necessário para refrear e governar as Suas criaturas, então os Seus atos dependem dos atos delas. 65. Como se pode provar a mesma verdade pelo amor que Deus tem à santidade e pelo ódio que tem ao pecado? Nas Escrituras o amor que Deus tem à santidade e o ódio que tem ao pecado são representados como essenciais e intrínsecos nEle. Ele ama a santidade por amor dela própria, e odeia o pecado e tem a determinação de castigá-lo por causa do seu próprio demérito intrínseco. Ele odeia o pecado nos maus todos os dias - Sal. 5:6; 7:11. “A mim me pertence a vingança, a retribuição, a seu tempo...” - Deut.

32:35. Ele retribui a cada um segundo as suas obras - Is. 59:18; 2 Tess. 1:6: “Se de fato é justo diante de Deus que dê em paga tribulação aos que vos atribulam” - Rom. 1:32: “...conhecendo a justiça de Deus que são dignos de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem”- Deut. 7:5,6; 21:22. 66. Como se pode provar esta verdade pelo que as Escrituras ensinam a respeito da natureza e da necessidade da propiciação de (insto? Quanto à sua natureza as Escrituras ensinam que Cristo sofreu a pena do pecado vicariamente como substituto do seu povo eleito, e que assim expiou a sua culpa, reconciliou-o a Deus e remiu as suas almas dando-Se a Si mesmo como o preço de remissão exigido em lugar deles. As Escrituras em toda parte e de todos os modos ensinam que o desígnio da morte de Cristo foi produzir sobre o Governador do universo moral um efeito expiador do pecado, e não produzir, nem no coração do pecador, nem na consciência moral do universo inteligente, uma impressão moral. Isso tudo será provado detalhadamente nos capítulos 25 e 33. Quanto ànecessidade da propiciação as Escrituras ensinam que era absoluta. Ensinam que era necessário que Cristo morresse ou, doutra forma, os pecadores haveriam de perecer - Gál. 2:21; 3:21. Mas a propriedade de produzir uma impressão moral em cada pecador pessoalmente, ou no ânimo público do universo em geral, não pode ter como resultado uma necessidade absoluta da parte de Deus - visto que Deus, que criou o universo e todos os seus membros componentes, podia naturalmente, se quisesse, produzir neles impressões morais de qualquer espécie, ou sem meios ou servindo-se de quaisquer meios que quisesse. Uma necessidade absoluta precisa estar baseada na natureza imutável de Deus, a qual é a base da sua vontade em todos os seus atos, e a determina. Logo, a natureza eterna de Deus O obriga, imutavelmente, a punir todo pecado. Political Science -“President Theodore D. Woolsey”, vol. 1, págs. 330-335. “A teoria de que a correção é o fim principal do castigo não resiste a exame. (1) O estado não é instituição benévola (humane). (2) Essa teoria não faz distinção entre os crimes. Se um assassino parecesse reformado ao fim de uma semana, ter-se-iam conseguido os fins da sua detenção e ele deveria ser solto; enquanto

que outro ofensor muito menos culpado poderia bem ter que permanecer preso durante meses e anos antes que se manifestasse nele a inoculação de bons princípios. (3) Qual a espécie de correção que se deverá desejar conseguir? Seria uma correção que dê segurança à sociedade da não repetição do crime? Nesse caso é a sociedade, e não o criminoso, que tira proveito do processo corretivo. Ou seria preciso que se procure conseguir uma transformação radical, de modo que o criminoso deixe de ser egoísta e cobiçoso, e que se despertem nele os princípios mais excelsos e puros? Nesse caso será necessário transformar a casa de correção em igreja para o ensino do evangelho. “A explicação de que o Estado protege a sua própria existência, ou os habitantes inocentes do país, infundindo em seus súditos o terror e refreando-os de cometerem crimes pelo medo do castigo, respondemos que, se bem que este efeito é real e importante, ainda não está provado que o estado tem o direito de fazê-lo. E necessário pressupor o crime e que o criminoso merece castigo antes que o senso moral aprove que lhe seja infligida uma pena. E a medida da punição exigida pelo bem público na ocasião flutua muito, e às vezes é até tirânica; além disso, o simples terror, se não se desperta ao mesmo tempo o sentimento de justiça, é tanto uma fonte de ódio quanto motivo para a obediência. “A teoria de que o estado, infligindo castigo ao malfeitor só lhe dá o que ele merece, é a única que parece ter fundamento sólido. Pressupõe que, desobedecendo-se a alguma lei reta e justa, cometeu-se um mal moral, e que, de acordo com uma particularidade que tem o apoio da nossa natureza moral, convém que o malfeitor sofra algum mal físico ou mental, e que em todas as formas de governo exercido sobre criaturas morais deve haver um poder capaz de decidir quanto de castigo deve seguir-se à prática de certas e determinadas transgressões. O estado, como Paulo diz, é realmente ministro de Deus, vingador em ira contra aquele que procede mal (Rom. 13:4). Contudo, somente o é numa esfera muito limitada, e para fins especiais... O Estado castiga atos, e não pensamentos; intenções manifestando-se em atos, não sentimentos; castiga as pessoas dentro de um certo território sobre o qual tem jurisdição, e talvez aqueles seus súditos que cometam crime noutra parte, e mais ninguém; castiga os atos prejudiciais à sua própria existência e à comunidade dos seus súditos; não castiga segundo uma escala exata de merecimentos,

porque, sem uma revelação divina, não pode saber quais são os merecimentos dos indivíduos, nem o que é a culpa relativa que os diversos atos provocam nas diferentes pessoas.” 3 , A BONDADE ABSOLUTA DE DEUS 67. Que distinções são indicadas pelos termos benevolência, complacência, misericórdia e graça? A bondade infinita de Deus é uma perfeição gloriosa que carateriza proeminentemente a Sua natureza, e que Ele, de um modo infinitamente sábio, justo e soberano, exerce para com as Suas criaturas de vários modos segundo as suas relações e condições. Benevolência é a bondade de Deus considerada genericamente. Estende-se a todas as suas criaturas, com exceção das condenadas judicialmente por causa de seus pecados, e faz provisão para o bem-estar delas. A complacência é a afeição aprobatória com que Deus aprecia as Suas próprias perfeições infinitas, e toda imagem e reflexão delas nas Suas criaturas, especialmente nos santificados da nova criação. A misericórdia de Deus, cujas formas mais passivas são dó e compaixão, é a bondade divina manifestada com respeito à miséria de Suas criaturas, sentindoas e fazendo provisão para o alívio delas, e, no caso dos pecadores impenitentes, tratando-os com paciência longânima. A graça de Deus é sua bondade procurando comunicar seus favores e, sobretudo, a comunhão da Sua própria vida e felicidade, a Suas criaturas morais - as quais, como criaturas, necessariamente não têm nenhum merecimento - e proeminentemente Seu amor eletivo, obtendo, mediante um preço infinito, a felicidade deles, sendo que eles merecem positivamente o castigo divino, por serem criaturas pecaminosas. 68. Exponha a definição falsa da benevolência divina feita freqüentemente, e demonstre a sua definição verdadeira. Define-se muitas vezes a benevolência infinita de Deus como aquele atributo em virtude do qual Ele comunica a todas as Suas criaturas a maior soma possível de

felicidade, isto é, a maior medida que são capazes de receber, ou a medida que é compatível com a aquisição da maior soma de felicidade agregada ao universo moral. Mas isso pressupõe que Deus está limitado por alguma coisa fora de Si; que não podia ter assegurado para as Suas criaturas maior felicidade do que a de que realmente gozam. Pressupõe também que Deus considera a felicidade como bem superior à excelência moral. A verdadeira definição da benevolência divina é que é aquele atributo em virtude do qual Deus produz no universo toda a felicidade compatível com os fins supremos que tinha em vista na criação. Estes fins colocam-se nesta ordem: 1. A manifestação da Sua própria glória. 2. A suprema excelência moral de Suas criaturas. 3. A suprema felicidade de Suas criaturas racionais. ..... 69. Quais as fontes do nosso conhecimento de que Deus é benevolente? Ia. A razão. Benevolência é elemento essencial da perfeição moral. Deus é infinitamente perfeito, e por isso infinitamente benévolo. 2a. A experiência e a observação. A sabedoria de Deus manifestada em idealizar, e Seu poder manifestado em executar o Seu desígnio nas diversas esferas da criação, da providência e da religião revelada, foram evidentemente determinadas sempre por intenções benévolas. 3a. As asserções diretas das Escrituras - Sal. 145:8,9; 1 João 4:8. 70. Como se pode provar que Deus é bondoso e está sempre pronto a perdoar o pecado? Nem a razão nem a consciência podem ensinar-nos que Deus quer perdoar o pecado. E evidentemente dever dos homens perdoar-se mutuamente as ofensas que recebem, mas o perdão do pecado como pecado não é da nossa alçada. Parece claro que não pode haver princípio moral que obrigue qualquer governador soberano a perdoar o pecado como transgressão da lei. Tudo quanto a razão e a consciência nos asseguram a esse respeito é que não pode haver perdão do pecado sem uma propiciação. A afeição bondosa que levasse um

governador a preparar uma propiciação seria, de sua natureza essencial, perfeitamente livre e soberana, e só poderia ser conhecida à medida que fosse bondosamente revelada. Por isso o evangelho é boas novas, confirmadas por sinais e maravilhas - Êx. 34:6,7; Ef. 1:7-9. 71. Quais são as diversas teorias inventadas na tentativa de conciliar a existência do pecado com a bondade de Deus? Ia. Alguns argumentam que a ação livre é essencial a um sistema moral, e que a independência absoluta da vontade é essencial à ação livre; que, como objeto do poder, dirigir a vontade de agentes livres não é superior a operar contradições; e que por isso Deus, embora onipotente, não poderia impedir que o pecado entrasse num sistema moral, sem que violasse a natureza desse sistema. 2a. Outros argumentam que Deus, em sua sabedoria infinita, permitiu que o pecado entrasse por ser isso um meio necessário para promover a maior soma possível de felicidade no universo como um todo. Sobre essas teorias dizemos: Io. Que a primeira tem por base uma falsa idéia das condições da liberdade e da responsabilidade humanas (veja abaixo, Cap.15); e mais, que limita de um modo indigno o poder de Deus, representando-O como querendo e procurando fazer o que não consegue efetuar, e também que O torna dependente das suas criaturas. 2o. Quanto à segunda teoria acima, devemos estar sempre lembrados de que a glória de Deus, e não o bem supremo do universo, é o fim supremo de Deus na criação e na providência. 3o. A permissão do pecado, em sua relação tanto com a religião como com a bondade de Deus, é um mistério inson-dável, e todas as tentativas de solvê-lo só servem para misturar palavras com discursos de ignorantes (Jó 38:2). E um dos privilégios da nossa fé, porém, sabermos que, embora a nossa filosofia não o possa compreender, é uma permissão muito sábia, reta e misericordiosa; e que redundará na glória de Deus e no bem dos Seus escolhidos. 72. Como se pode mostrar que não há incongruência entre os atributos de

bondade e de justiça? Bondade e justiça são aspectos diversos de uma só perfeição moral imutável, infinitamente sábia e soberana. Deus não é às vezes misericordioso e outras vezes justo, nem misericordioso até certo ponto e justo até certo ponto, porém é eterna e infinitamente misericordioso e justo. Em relação à criatura, esta perfeição infinita da Sua natureza apresenta diversos aspectos, conforme determinado pelo juízo que a sabedoria infinita faz em cada caso individual. Mesmo em nossa experiência achamos que, em princípio, não há nenhuma inconseqüência nestes atributos da nossa natureza moral, apesar de que a nossa falta de sabedoria e de conhecimento, o sentimento do nosso demérito, e uma simpatia meramente física, muitas vezes perturbam tanto o nosso juízo como o nosso coração quando queremos ajustar esses princípios aos casos individuais da vida. A VERDADE ABSOLUTA DE DEUS 73. Que é a verdade, considerada como atributo divino? A verdade de Deus, no seu sentido mais lato, é uma perfeição que qualifica todos os seus atributos morais e intelectuais. Seu conhecimento é infinitamente verdadeiro em relação aos seus objetos, e Sua sabedoria não está sob a influência nem de preconceitos nem da paixão. Sua justiça e Sua bondade, em todas as suas operações, estão em harmonia com a norma perfeita da Sua natureza. Em todas as manifestações que Deus faz das Suas perfeições a Suas criaturas, Ele sempre age de conformidade com a Sua verdadeira natureza, é sempre perfeitamente conseqüente. Em seu sentido mais especial, esse atributo de verdade qualifica todas as relações que Deus tem com Suas criaturas racionais. E verdadeiro, fiel, tanto para conosco quanto para conSigo; e assim está posto um fundamento seguro para toda a fé e todo o conhecimento. E o fundamento, a base, de toda a confiança que temos, Io. em nossos sentidos; 2o. em nossa inteligência (•intellect) e em nossa consciência; 3o. em qualquer revelação sobrenatural devidamente autenticada. As duas formas em que essa perfeição se manifesta em relação a nós são: Ia. a verdade inteira que Ele mantém em todas as Suas comunicações; 2a. sua perfeita sinceridade ao fazer todas as Suas promessas e Sua fidelidade em cumpri-las.

74. Como se pode conciliar a verdade de Deus com o aparente não cumprimento de algumas de Suas ameaças? As promessas e as ameaças de Deus às vezes são absolutas, e neste caso Ele as cumpre no sentido exato em que foram feitas. Muitas vezes também elas são condicionais, dependentes da obediência ou do arrependimento da criatura Jon. 3:4,10,11; Jer.l8:7,8. Essa condição pode ser expressa explicitamente, e pode também ser condição implícita, por entender-se que o caso individual está naturalmente sujeito ao princípio geral de que o verdadeiro arrependimento e a fé livram de todas as ameaças e alcançam todas as bênçãos prometidas. ... 75. Como se pode conciliar com a sinceridade de Deus os convites e as exortações das Escrituras dirigidas àqueles que Deus não tenciona salvar? Veja acima (Perg. 53), a distinção entre a vontade pre-ceptiva de Deus e a Sua vontade decretatória. Seus convites e exortações Ele dirige de boa fé a todos os homens: Io. porque é dever de todo homem arrepender-se e crer, e a vontade preceptiva de Deus é que todos o façam; 2o. porque não há coisa alguma que impeça o pecador de o fazer, senão a sua própria falta de vontade; 3o. em todos os casos em que alguém cumprir a condição, Deus cumprirá também a Sua promessa; 4o. Deus nunca prometeu habilitar todos a crerem; 5o. esses convites e exortações não são dirigidos aos réprobos como tais, e sim a todos os pecadores como tais, com o fim declarado de salvar desse modo os eleitos. .. A SOBERANIA INFINITA DE DEUS 76. Que se entende pela soberania de Deus? Seu direito absoluto de governar todas as Suas criaturas simplesmente segundo a Sua própria boa vontade, e de dispor delas. 77. Como se prova que esse direito é afirmado nas Escrituras? Dan. 4:25, 35; Apoc. 4:11; 1 Tim. 6:15; Rom. 9:15-23. 78. Em que se baseia a soberania absoluta de Deus?

Io. Em Sua superioridade, em Seu Ser e em todas as Suas perfeições em relação a todas as Suas criaturas. . UUOJ 2o. Estas foram por Ele criadas do nada, e são agora mantidas em existência por Seu poder, para a Sua própria glória e segundo a Sua própria boa vontade - Rom. 11:36. 3o. Os benefícios infinitos que Ele nos concede, e a nossa dependência dEle, bem como a nossa bem-aventurança nEle, são motivos para que nós não só reconheçamos essa verdade gloriosa, como também nos regozijemos nela. O Senhor reina; regozije-se a terra! 79. Haveria algum sentido em que há limites à soberania de Deus? E evidente que, considerada em sentido abstrato, como um dos atributos de Deus, entre outros, a Sua soberania é qualificada por todos os demais. Não pode senão ser uma soberania infinitamente sábia, reta e misericordiosa. Mas Deus, considerado em sentido concreto como soberano infinito, não está limitado por coisa alguma fora dEle próprio. “Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: que fazes?” (Dan. 4:35). A SANTIDADE INFINITA DE DEUS 80. Que se entende pela santidade de Deus? Não se deve entender a santidade de Deus como se fosse um atributo entre outros; antes, o vocábulo é um termo geral que representa a concepção da Sua perfeição consumada e a Sua glória total. E a sua infinita perfeição moral coroando a sua infinita inteligência e o Seu infinito poder. Há uma glória que pertence a cada atributo, considerado por si só, e há uma glória que pertence a todos eles juntos. A natureza intelectual é a base essencial da natureza moral. A infinita perfeição moral é coroa da Deidade. A santidade é a glória total assim coroada. A santidade no Criador é a perfeição total de uma inteligência infinitamente reta. A santidade na criatura não é mera

perfeição moral, e sim perfeição da natureza criada de agentes morais segundo a sua espécie, em união e em comunhão espirituais com o Criador infinito - 1 João 1:3. A palavra santidade, aplicada a Deus nas Escrituras, representa, Io. pureza moral - Lev. 11:44; Sal. 145:17; 2o. majestade transcendentemente augusta e venerável - Is. 6.3; Sal. 22:3; Apoc. 4:8. “Santificar ao Senhor” é fazê-lO santo, quer dizer, declarar e adorar a Sua santidade venerando a Sua majestade augusta em toda parte e em tudo aquilo em que e por que a Sua Pessoa ou o Seu caráter é representado - Is. 8:13; 29:23; Ez. 38:23; Mat. 6:9; lPed.3:15. 1 Harmonia do livre-arbítrio com o dom da graça, a presciência divina, a predestinação e a reprovação. Em latim no original. Nota de Odayr Olivetti.

2 Veja Charles Hodge, Systematic Theology, Cap. 5, § 9s.,pág. 405. Notado tradutor.

3 Esta citação é apresentada de forma resumida.

A Santíssima Trindade ji. .•

1. Quais são a etimologia e a significação da palavra Trindade, e quando foi introduzida na linguagem da Igreja? ' A palavra Trindade (Trinitas) é derivada dttres-unus, tnnus - três em um, ou o um que é três, e os três que são um; não triplo-trinitas e não triplicitas. A palavra não se acha nas Escrituras. Mas os termos técnicos são uma necessidade absoluta em todas as ciências: e, neste caso, tornaram-se especialmente essenciais por causa das perversões sutis que sofreram as exposições simples e não técnicas da Bíblia às mãos dos incrédulos e dos hereges. Esse termo, como definido acima, exprime bem o fato central da grande doutrina de uma só essência subsistindo eternamente como três Pessoas, todos os elementos da qual as Escrituras ensinam explicitamente. A palavra grega que significa trindade foi empregada primeiro nesta conexão por Teófilo, bispo de Antioquia, na Síria, de 168 a 183. O termo latino Trinitas foi usado primeiro por Tertuliano, por volta do ano 220 - Eccl. Hist., Mosheim, vol. 1, pág. 121, nota 7. 2. Qual o significado teológico do termo substantia, e qual a mudança que ocorreu no seu uso? Substantia, no uso atual da palavra, é equivalente à essência, à existência independente. Assim, na Deidade, as três Pessoas são o mesmo em substância, isto é, de uma só e mesma essência numérica, indivisível. A palavra foi utilizada, no princípio, como equivalente à subsistentia ou modo de existência. Neste sentido, enquanto há na Deidade uma só essência, há nela três substantice ou Pessoas. Veja Turretino, Tomo 1, locus 3, perg. 23. 3. Que outros termos são empregados como os equivalentes de substantia, nas definições desta doutrina? Os termos latinosessentia e natura. Em português: essência, substância, natureza, ser. 4. Qual é o sentido teológico da palavra subsistentia?

E empregada para designar o modo de existência que distingue qualquer coisa individual de todas as demais coisas, ou qualquer pessoa de todas as demais pessoas. Aplicada à doutrina da Trindade, subsistência é o modo de existência que é peculiar a cada uma das três Pessoas divinas, e que em cada uma dElas constitui a essência única em Pessoa distinta. 5. Qual o significado que, no Novo Testamento, tem a palavra “hypostasis”? Esta palavra, quanto à sua etimologia, é exatamente equivalente ao termo substância (sub-stare); vem da palavra grega que significa “estar sob” ou “debaixo de”. A palavra é empregada cinco vezes no Novo Testamento: Io. Em sentido figurado, significando confiança, ou esse estado de ânimo em que se está cônscio de que se tem uma base firme e segura: 2 Cor. 9:4; 11:17; Heb. 3:14, que vem da fé, Heb. 11:1. 2o. Em sentido literal, significando natureza essencial -Heb. 1:3. Veja Com. onHeb., de Sampson. 6. Em que sentido a palavra é empregada pelos escritores eclesiásticos? Até meados do século 4 esta palavra foi empregada geralmente, em conexão com a doutrina da Trindade, em seu sentido primário, como equivalente ao termo substância. É empregada neste sentido no Credo publicado pelo Concilio Niceno, em 325, e também nos decretos do Concilio de Sardica, na Ilíria, em 347. Estes concordaram em afirmar que, na Deidade, há só uma hypostasis. Como porém, alguns, naquele tempo, tomassem a palavra no sentido de pessoa, seu uso foi mudado, por consenso geral, principalmente graças à influência de Atanásio e, daí por diante, seu sentido, na linguagem teológica, é o mesmo que pessoa, em distinção da palavra grega que significa essência. Foi transferida para a lingua portuguesa na forma de um adjetivo, para designar a união hipostática, ou pessoal, de duas naturezas no Deus-homem, Jesus Cristo. 7. Que é essencial à personalidade, e como se deve definir a palavra pessoa, em conexão com a doutrina da Trindade?

A palavra latina suppositum - uma existência distinta e individual; e.g., uma árvore ou um cavalo, em particular. Uma pessoa ésuppositum intellectuale, uma existência distinta e individual à qual pertencem as propriedades da razão e da livre vontade. No círculo inteiro da nossa experiência e observação da existência pessoal entre as criaturas, a personalidade descansa sobre a distinção de essência e parece ser inseparável desta. Cada pessoa distinta é uma alma distinta, com ou sem corpo. Esse modo distinto de existência que constitui a única essência divina coordenadamente em três pessoas separadas, é um mistério infinito que não podemos compreender e que, por isso, nos é impossível definir adequadamente, e só podemos conhecê-lo até onde nos é revelado. Tudo o que sabemos a respeito é que essa distinção, chamada personalidade, abrange todas essas propriedades incomunicáveis, que pertencem eternamente ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, separadamente, e não a todos em comum; que ela é a base para Eles Se congregarem em conselhos, para Se amarem mutuamente e para atuarem uns sobre os outros, isto é, para interagirem, como, e.g., para o Pai enviar o Filho, e para o Pai e o Filho enviarem o Espírito Santo, e para o uso dos pronomes pessoais Eu, Tu, Ele, na revelação que qualquer das Pessoas faz de Si e das outras. Gerhard define pessoa assim: “Persona est substantia individua, intelligens, incommunicabilis, quas non sustentatur in alia, vel ab alia”. Em relação a este grande mistério da Trindade divina de Pessoas na unidade de essência, a definição que Calvino oferece é melhor, por ser mais simples: “Por pessoa, pois, entendo, uma subsistência na essência divina -uma subsistência que, embora relacionada com as outras duas, distingue-se delas por propriedades incomunicáveis” -Institutas, Liv. 1, Cap. 13, § 6. . .. .. .. . 8. Que outros termos têm sido empregados pelos teólogos como equivalentes de Pessoa, nesta conexão? Em grego, hypostasis, e prosopon - aspecto; em latim: persona, hypostasis, subsistentia, aspectus; em inglês: person, hypostasis-, em português: pessoa, hipóstase. . 9. Que é que se entende pelos termos: ”homoousios” (da mesma substância) e “homoiousios” (de substância semelhante)?

No primeiro concilio ecumênico da Igreja, o qual, constando de trezentos e dezoito bispos, foi convocado pelo imperador Constantino em Nicéia, na Bitínia, em 325, havia três grandes partidos que mantinham outras tantas opiniões a respeito da Trindade. ■ 10. O partido ortodoxo, que mantinha a opinião, agora sustentada por todas as igrejas cristãs, de que o Senhor Jesus, quanto à Sua natureza divina, é da mesma substância, idêntica, ao do Pai. Esses insistiram em que se Lhe aplicasse o termo específico “homoousios”, composto de (homos) - o mesmo, e (ousia) substância, para ensinar a grande verdade de que as três Pessoas da Deidade são um só Deus, por serem da mesma essência numérica. 2o. Os arianos, que mantinham que o Filho de Deus é a maior de todas as criaturas, mais semelhante a Deus do que qualquer outra, o unigênito Filho de Deus, criado antes de todos os séculos, por quem Deus criou todas as coisas, e divino só nesse sentido. Sustentavam que o Filho era “heteroousion” - de essência diferente, ou genericamente dissemelhante do Pai. 3o. O partido médio, chamado semiarianos, que mantinham que o Filho não é criatura, mas negavam que fosse Deus no mesmo sentido em que é o Pai, afirmavam que o Pai é o único Deus absoluto e auto-existente; e que, ao mesmo tempo e desde toda a eternidade, fez proceder de Si, da Sua própria livre vontade, uma Pessoa divina, com a mesma natureza e as mesmas propriedades que Ele mesmo possui. Negavam, pois, que o Filho fosse da mesma substância (homoousios) com o Pai, mas admitiam que é de uma essência realmente semelhante e derivada do Pai (“homoiousios”, de semelhante, e “ousia”, substância) um só, genericamente, mas não numericamente. Naquele concilio prevaleceram as opiniões do primeiro partido, ou seja, do partido ortodoxo, e desse tempo em diante têm sido representadas sempre pelo termo técnico - opiniões homoousianas. Quanto ao credo promulgado por esse concilio, veja o cap.7. 10. Quais as proposições envolvidas essencialmente na doutrina da Trindade ? Ia. Há um só Deus, e Ele é um só, isto é, é indivisível.

2a. A única essência divina e indivisível existe, como um todo, eternamente como Pai, como Filho e como Espírito Santo; possuindo, cada Pessoa, a essência toda e sendo constituída em Pessoa distinta por certas propriedades incomunicáveis, não comuns a ela e também às outras. 3a. A distinção entre as três é distinção pessoal, no sentido de que ocasiona (1) o uso dos pronomes pessoais Eu, Tu, Ele, (2) uma concorrência em conselho e um amor mútuo, e (3) uma ordem distinta de operação. 4a. Havendo só uma essência divina, e sendo todos os atributos ou todas as propriedades ativas inerentes na essência a que pertencem, e inseparáveis dela, segue-se que todos os atributos divinos devem ser identicamente comuns a cada uma das três Pessoas que subsistem em comum na única essência divina. Entre as criaturas, cada pessoa distinta é uma distinta substância numérica, e possui uma inteligência distinta, uma vontade distinta, etc. Na Deidade, porém, há só uma substância, uma inteligência,uma vontade, etc., e, contudo, coexistem eterna mente nessa única essência três Pessoas, cuja inteligência, vontade, etc., é uma só. Em Cristo, pelo contrário, há dois espíritos, duas inteligências, duas vontades, e, contudo, ao mesmo tempo, só uma indivisível Pessoa. 5a. Sendo essas Pessoas divinas um só Deus, todos os atributos divinos são comuns a cada uma dElas no mesmo sentido; não obstante isso, porém, revelase-nos nas Escrituras que existe entre Elas uma certa ordem de subsistência e operação. (1) Dcsubsistência, de modo que o Pai nem é gerado, nem procede, enquanto o Filho é eternamente gerado pelo Pai, e o Espírito procede eternamente do Pai e do Filho; (2) De operação, de modo que a primeira Pessoa envia a segunda, e opera por meio dEla, e a primeira e a segunda enviam a terceira e operam por meio dEla. Por isso é que se diz sempre que o Pai é a primeira Pessoa, o Filho a segunda e o Espírito Santo a terceira. 6a. Apesar do fato de que todos os atributos divinos são igualmente comuns às três Pessoas, e que todas as operações divinas realizadas ad extra, tais como a criação, a providência e a redenção, são atribuídas ao único ser divino - ao Deus único, considerado em sentido absoluto - e também em separado ao Pai, ao Filho

e ao Espírito Santo, contudo, as Escrituras atribuem algumas operações divinas realizadas ad intra exclusivamente a cada uma das Pessoas divinas, respectivamente, e.g., geração ao Pai, filiação ao Filho, processão ao Espírito Santo; e há também algumas operações realizadas ad extra que as Escrituras atribuem proeminentemente a cada Pessoa, respectivamente, e.g., criação ao Pai, redenção ao Filho e santificação ao Espírito Santo. Portanto, a fim de estabelecermos esta doutrina em todas as suas partes sobre o testemunho das Escrituras, é necessário que provemos, em sua ordem, as seguintes proposições: Ia. Que Deus é um só. 2a. Que Jesus de Nazaré, quanto à Sua natureza divina, era verdadeiramente Deus e, ao mesmo tempo, Pessoa distinta do Pai. 3a. Que o Espírito Santo é verdadeiramente Deus e, ao j mesmo tempo, Pessoa distinta. i 4a. Que as Escrituras ensinam diretamente que há uma j Trindade de Pessoas em uma só Deidade. j 5a. Restará reunir tudo o que as Escrituras ensinam a \ respeito das relações necessárias e eternas que estas três Pessoas 1 divinas mantêm umas com as outras entre si. Essas relações ! podem ser assim distribuídas: (1) A relação que a segunda \ Pessoa mantém com a primeira, ou a geração eterna do Filho; : (2) A relação que a terceira Pessoa mantém com a primeira e a segunda, ou a processão eterna do Espírito Santo; e (3) Suas propriedades pessoais e a ordem da Sua operação ad extra. , 1. DEUS É UM SÓ E HÁ UM SÓ DEUS As provas desta proposição, tiradas da razão e das Escrituras, foram expostas acima, Cap. 8, sobre os atributos de Deus, perguntas 12-18.

A resposta à pergunta: como se pode conciliar com esta doutrina fundamental da unidade divina a existência coordenada de três Pessoas distintas na Trindade, achar-se-á abaixo na pergunta 94 deste capítulo. 2. JESUS DE NAZARÉ, QUANTO A SUA NATUREZA DIVINA, ERA VERDADEIRAMENTE DEUS E, AO MESMO TEMPO, PESSOA DISTINTA DO PAI 11. Quais as diversas opiniões mantidas a respeito da Pessoa de Cristo? \ - r A doutrina ortodoxa a respeito da Pessoa de Cristo é que Ele existia desde toda a eternidade como o Filho coigual ao Pai, constituído da mesma essência infinita e autoexistente que caracteriza o Pai e o Espírito Santo. A doutrina ortodoxa a respeito da Pessoa de Cristo, como Ele Se acha constituído agora, depois da Sua encarnação, vem exposta no Cap. 23. Uma exposição das diversas opiniões heréticas a respeito da Sua Pessoa achar-se-á abaixo nas perguntas 96-99, deste capítulo. 12. Até onde esperavam os judeus do tempo de Cristo que o Messias viesse como Pessoa divina? É certo que, quando Cristo apareceu, a grande multidão do povo judaico já não conservava mais a expectação escritu-rística de um Salvador divino, e desejava que só viesse um príncipe temporal, que fosse, num sentido proeminente, o predileto do céu. Diz-se, porém, que em alguns dos escritos rabínicos achamse espalhados alguns indícios de que alguns dos judeus mais ilustrados e espirituais mantinham-se ainda fiéis à fé antiga. 13. Como se pode provar pelas Escrituras a preexistência de Jesus em relação ao Seu nascimento “de mulher”? Io. Pelas passagens que afirmam que Ele foi o Criador do mundo - João 1:3; Col. 1:15-18. 2o. Pelas passagens que declaram expressamente que Ele estava com o Pai antes de haver mundo; que era rico e possuía glória-João 1:1,15,30; 6:62; 8:58; 2 Cor.

8:9. 3o. Pelas passagens que declaram que “veio ao mundo”, “desceu do céu”-João 3:13,31; 13:3; 16:28; 1 Cor. 15:47. 14. Como se pode provar que o SENHOR (Jeová; Yavé), que Se manifestou como o Deus dos judeus (o Deus da Aliança) sob a antiga economia, era a segunda Pessoa da Trindade, que Se encarnou em Jesus de Nazaré? Este fato não é afirmado expressamente nas Escrituras, mas pode ser comprovado pela comparação de muitas passagens. Veja: Io. Todos os aparecimentos divinos da economia antiga são referidos a uma só pessoa - Cf. Gên. 18:2,3,17,18; 32:9,29; Êx. 3:14,15; 13:21; 20:1,2; 24:1,2; 25:1,21; Deut. 4:32,35,39; Nee. 9:7-38. Essa Pessoa única é chamada Jeová * (Senhor, na tradução portuguesa de Figueiredo (SENHOR, na Versão de Almeida), nome incomunicável de Deus, e, ao mesmo tempo, anjo, ou enviado - Cf. Gên. 31:11,13; 48:15,16; Os. 12:2,5. Comparem também Êx. 3:14,15 com Atos 7:30-35; Êx. 13:21 com Êx. 14:19; Êx. 20:1,2 com Atos 7:38 e Sal. 62:7,11,12. 2o. Mas ninguém jamais viu a Deus Pai (João 1:18; 6:46); nem podia essa Pessoa ser um anjo, ou outro enviado semelhante; todavia Deus o Filho foi visto (1 João 1:1,2) e enviado (João 5:36). . Modernamente descobriu-se que o nome “Jeová” é resultado da leitura do nome por excelência de Deus (o tetragrama inefável, impronunciável) com os sinais vocálicos doutra palavra. Os judeus, por respeito, não pronunciavam o Nome; em seu lugar liam Adonai (Senhor) ou Elohim (Deus). E os massoretas, especialistas judeus que criaram o fabuloso sistema de sinais vocálicos e outros sinais, porque o hebraico escrito só constava de consoantes, seguiram aquela tradição e ao Nome juntaram os sinais vocálicos de Adonai ou de Elohim. Assim é que “Jeová” é nome inexistente no hebraico. Numa tentativa de aproximação, tem sido comum o emprego de Yavé ou Iavé. Na seqüência, manteremos a forma “Jeová”, utilizada na edição original desta obra. Nota de Odayr Olivetti.

3o. Jeová, que era ao mesmo tempo o anjo ou o enviado da economia antiga, foi também exposto pelos profetas como o Salvador de Israel e o Autor da nova dispensação. Em Zac. 2:11,12 vemos que um Jeová é enviado de outro. Veja Miq. 5:2. Em Mal. 3:1 declara-se que “o SENHOR”, “o Anjo da aliança”, virá ao Seu próprio templo; e isto é aplicado a Jesus em Mar. 1:2. Comparem Sal. 97:7 com Heb. 1:6 e Is. 6:1-5 com João 12:41. 4o. Referindo-se a passagens do Velho Testamento, algumas passagens do Novo parecem implicar diretamente esse fato. Compare Sal. 78:15,16,35 com 1 Cor.

10:9. 5o. A Igreja é uma só sob ambas as dispensações, e desde o princípio Jesus é o Redentor e a Cabeça da Igreja; é, por isso, mais coerente com tudo o que nos foi revelado a respeito dos ofícios das três Pessoas divinas na obra da redenção, que se acate a opinião agora apresentada. Veja também João 8:56,58; Mat. 23:37; 1 Ped. 1:10,11. 15. De que forma no Velho Testamento se fizeram as primeiras indicações da existência e da operação de uma Pessoa distinta de Deus e ao mesmo tempo divina? Nos livros mais antigos fala-se em um Anjo, enviado da parte de Deus, aparecendo muitas vezes aos homens, e sendo ao mesmo tempo Deus - Gên. 16:7-13. O Anjo de Jeová aparece a Agar, fala como quem tem poder divino e é chamado Deus -Gên. 18:2-33. Três anjos aparecem a Abraão, e um deles é chamado Jeová, versículo 17 - Gên. 32:24-30. Um Anjo luta com Jacó e o abençoa como Deus, e em Os. 12:3-5 esse Anjo é chamado Deus -Êx. 3:2. O Anjo de Jeová aparece a Moisés na sarça ardente, e nos versículos seguintes esse Anjo é chamado Jeová, e lhe são dados outros títulos divinos. Esse Anjo conduziu os israelitas no deserto - Êx. 14:19; Is. 63:9. Jeová é representado como salvando Seu povo mediante o Anjo da Sua Presença. Assim Mal. 3:1 “...de repente virá ao seu templo o SENHOR (Adon, no hebraico), a quem vós buscais, o Anjo da aliança, a quem vós desejais...”; aplicado a Cristo em Mar. 1:2. 16. Que provas da deidade do Messias apresenta-nos o Salmo 2? O referido salmo declara que Ele é o Filho de Deus e que como tal Lhe será dado o domínio do mundo inteiro e dos seus habitantes. E exorta a todos a se submeterem a Ele e a confiar nEle, sob pena de incorrerem em Sua ira. Em Atos 13:33, Paulo declara que este salmo refere-se a Cristo. 17. Que provas temos no Salmo 45? Os judeus antigos entenderam que este salmo foi dirigido ao Messias, e este fato é estabelecido em Heb. 1:8,9, Nele, portanto, Jesus é chamado Deus, e Seu trono um trono eterno.

18. Que provas temos no Salmo 110? ■ -. Que este salmo se refere ao Messias fica provado por Cristo (Mat. 22:43,44), e pelo autor da Epístola aos Hebreus (Heb. 5:6; 7:17). Nele o Messias é chamado Senhor (Adonai) de Davi, e é convidado a assentar-Se à mão direita de Jeová, até que todos os Seus inimigos se tenham tornado escabelo de Seus pés. 19. Que provas temos em Isaías 9:6? E evidente que esta passagem se refere ao Messias, o que é confirmado por Mat. 4:14-16. Declara explicitamente que o menino nascido é também “Deus forte, Pai do futuro século (Figueiredo; literalmente, Pai da eternidade, ou Pai eterno), Príncipe da paz”. 20. Que provas temos em Miquéias 5:2? Os judeus entenderam que a referência é a Cristo, o que fica confirmado por Mat. 2:6 e João 7:42. A passagem declara que as Suas “origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade”, isto é, desde a eternidade. 21. Que provas temos em Malaquias 3:1,2? É óbvio que esta passagem se refere ao Messias, o que é confirmado por Mar. 1:2. O templo, que era lugar consagrado à presença e ao culto de Jeová, é chamado “seu templo”. E no versículo dois Lhe é atribuída uma obra divina de juízo. * ' f •-». > .

22. Que provas temos na maneira pela qual os escritores do Novo Testamento aplicam a Cristo as Escrituras do Velho Testamento? Os apóstolos muitas vezes aplicam a Cristo a linguagem do Velho Testamento, mesmo quando é evidente que os escritores originais queriam falar em Jeová, e não no Messias como tal. O Salmo 102 é evidentemente uma oração dirigida ao Senhor supremo, atribuindo-Lhe eternidade, criação, governo providencial, culto, bem como atenção às orações e suas respostas. Mas o texto de Heb. 1:10-12 afirma que o salmo foi dirigido a Cristo. Em Is. 45:20-25 Jeová fala e afirma a Sua soberania

suprema. Mas em Rom. 14:11 Paulo cita uma parte da declaração de Jeová a respeito de Si, para provar que teremos todos que comparecer ante o tribunal de Cristo. Compare também Is. 6:3 com João 12:41. 23. Qual o caráter geral do testemunho dado a respeito deste ponto pelo Novo Teestamento? Esta doutrina fundamental nos é apresentada em cada um dos livros e em cada parágrafo separado do Novo Testamento, ou por afirmação direta ou por implicação necessária, como qualquer leitor sincero poderá verificar pessoalmente. A massa inteira deste testemunho é tamanha, e ele se acha tão intimamente entrelaçado com todos os demais temas de cada passagem, que aqui só tenho lugar para apresentar uma amostra geral do testemunho, classificado sob os títulos costumeiros. ^íSUOIVÇa. AUBREY ÇLABi 24. Provas de que o Novo Testamento dá títulos divinos a Cristo: João 1:1; 20:28; Atos 20:28; Rom. 9:5; 2 Tess. 1:12; 1 Tim. 3:16; Tito 2:13; Heb. 1:8; 1 João 5:20. 25. Provas de que o Novo Testamento atribui títulos divinos a Cristo: Eternidade- João 1:2; 8:58; 17:5; Apoc. 1:8,17,18; 22:13. Imutabilidade - Heb. 1:11,12 e 13:8. Onipresença -João 3:13; Mat. 18:20; 28:20. Onisciência- Mat. 11:27; João 2:23-25; 21:17; Apoc. 2:23. . Onipotência-João 5:17; Heb. 1:3; Apoc. 1:8; 11:17. 26. Provas de que o Novo Testamento atribui obras divinas a Cristo: Criação - João 1:3,10; Col. 1:16,17. Conservação e Providência-Heb. 1:3; Col. 1:17; Mat.

28:18. Milagres - João 5:21-26. Juízo - 2 Cor. 5:10; Mat. 25:31,32; João 5:22. Obras da graça, a eleição inclusive-João 1:17; 13:18; 15:19. Santificação - Ef. 5:26. O enviar o Espírito Santo - João 16:7,14; O dar a vida eterna - João 10:28. 27. Provas de que o Novo Testamento ensina que se deve prestar culto supremo a Cristo: Mat. 28:19; João 5:22,23; 14:1; Atos 7:59,60; 1 Cor. 1:2; 2 Cor. 13:14; Fil. 2:9,10; Heb. 1:6; Apoc. 1:5,6; 5:11,14; 7:10. 28. Provas de que o Filho, sendo Deus como é, éPessoa distinta do Pai. Este fato é ensinado tão claramente nas Escrituras, e se acha implícito tão universalmente, que o sistema sabeliano, que o nega, nunca conseguiu muita aceitação. Cristo foi enviado pelo Pai, veio dEle, voltou para Ele, recebeu mandamentos dEle, fez a Sua vontade, ama-O, é dEle amado, dirigiu-Se a Ele em oração, empregou os pronomes Tu e Ele quando falava a Ele ou a respeito dEle. Isso também os títulos relativos, Pai e Filho, implicam necessariamente. Veja o Novo Testamento todo. Ao estabelecer a doutrina da Trindade, no que diz respeito à segunda Pessoa, o ponto principal é provar a deidade absoluta de Cristo, pois tão óbvia é a Sua personalidade distinta que praticamente não há discussão sobre isso. Quando, porém, se quer estabelecer a veracidade da doutrina a respeito da terceira Pessoa, o ponto principal é que se prove a Sua personalidade distinta, por ser revelada tão claramente a Sua divindade absoluta que a respeito dela não há controvérsia. 3. O ESPÍRITO SANTO É VERDADEIRAMENTE DEUS E, AO MESMO

TEMPO, PESSOA DISTINTA. 29. Que seitas sustentavam que o Espírito Santo é uma criatura? A deidade do Espírito Santo é revelada tão claramente nas Escrituras que poucos se têm atrevido a pô-la em questão. As antigas controvérsias dos ortodoxos com os arianos, antes e depois do concilio niceno, 325 d.C., a respeito da deidade do Filho, ocuparam de tal modo os ânimos dos dois partidos que se prestou pouca atenção naquele tempo às questões relacionadas com o Espírito Santo. Diz-se, porém, que Ario ensinava que, assim como o Filho é a primeira e a maior criatura do Pai, assim também o Espírito Santo é a primeira e a maior criatura do Filho. Veja Neander, Church Hist., vol. 1, págs. 416-420. Diz-se que alguns dos discípulos de Macedônio, bispo de Constantinopla, 341360 d.C. sustentavam que o Espírito Santo não é Deus supremo. Essa opinião foi condenada pelo Segundo Concilio Geral de Contantinopla, 381 d.C. Esse concilio definiu e resguardou a fé ortodoxa acrescentando cláusulas definidas à referência simples que o credo antigo fazia ao Espírito Santo. Veja o Credo do Concilio de Constantinopla, Cap.7. 30. Por quem o Espírito Santo foi considerado só como uma energia de Deus? Todas aquelas seitas antigas chamadas geralmente monar-quianas e patripassianas, ensinavam, com algumas distinções subordinadas, que na Deidade há somente uma Pessoa, assim como uma só essência, e que essa Pessoa, em diversas relações, é chamada Pai, Filho ou Espírito Santo. No século 16, Socino, que ensinava que Jesus Cristo era mero homem, sustentava que a expressão Espírito Santo é empregada nas Escrituras como designativo da energia divina quando opera de um modo particular. Essa é agora a opinião de todos os unitários e racionalistas modernos. ■ : ! y f*. •

31. Como se pode provar que todos os atributos de personalidade são atribuídos ao Espírito Santo nas Escrituras? Os atributos de personalidade são os seguintes: inteligência, volição, operação independente. Cristo emprega os pronomes Eu, Tu, Ele, quando fala da relação do Espírito Santo para com Ele ou para com o Pai: “Eu o enviarei”. “Ele

dará testemunho de si.” “A quem o Pai enviará em meu nome.” Assim, pois, Ele é enviado; dá testemunho; recebe do que é de Cristo e no-lo anuncia. Ensina e conduz à verdade. Sabe, tem conhecimento, porque esquadrinha as coisas profundas de Deus. Opera todos os dons sobrenaturais, repartindo-os entre os homens segundo a Sua boa vontade - João 14:17,26; 15:26; 1 Cor. 2:10,41; 12:11. Ele argúi, glorifica, ajuda, intercede -João 16.7; Rom. 8:26. 32. Como se pode provar Sua personalidade pelos ofícios que as Escrituras dizem que Ele desempenha ? O Novo Testamento, em todo o seu ensino, mostra que o plano de redenção envolve essencialmente a operação do Espírito Santo em aplicar a salvação que foi a obra realizada pelo Filho e com a qual Ele visava alcançar-nos. Ele inspirou os profetas e os apóstolos; ensina e santifica a Igreja; escolhe os oficiais da Igreja, preparando-os pela comunicação de dons especiais segundo a Sua boa vontade. É o advogado, e todo cristão é Seu cliente. Traz-nos todas as graças do Cristo assunto ao céu e as torna eficazes em nossas pessoas em cada momento da nossa vida. E óbvio que a Sua distinção pessoal acha-se envolvida na própria natureza dessas funções que Ele desempenha - Luc. 12:12; Atos 5:32; 15:28; 16:6; 28:25; Rom. 15:16; 1 Cor. 2:13; Heb. 2:4; 3:7; 2 Ped. 1:21. ■ 33. Que argumento se pode deduzir da fórmula do batismo a favor da personalidade do Espírito Santo? Os cristãos são batizados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Não seria possível conciliar todas as leis da linguagem e da razão com esse suposto ato de falar em “nome” de uma energia, ou o de associar uma energia coordenadamente com duas pessoas distintas. 34. Como se pode provar Sua personalidade pelo que se diz do pecado contra o Espírito Santo? EmMat. 12:31,32; Mar. 3:28,29; eLuc. 12:10, esse pecado é chamado “blasfêmia contra o Espírito Santo”. Ora, blasfêmia é pecado cometido contra uma pessoa, e nessas passagens distingue-se essa blasfêmia do mesmo pecado cometido contra as outras Pessoas da Trindade. 35. Como conciliar com a Sua personalidade expressões como “dar ” ou

“derramar ” o Espírito ? Essas e outras expressões semelhantes são empregadas figuradamente para indicar a nossa participação nos dons e operações do Espírito. E uma das figuras mais naturais e comuns a de designar o dom pelo nome de quem o dá. Assim é que se fala em “revestir-nos de Cristo”, em sermos “batizados em Cristo”, etc. - Ef. 5:30; Rom. 13:14; Gál. 3:27. ■ 36. Como se prova que os nomes de Deus são aplicados ao Espírito Santo? Comparando-se, por exemplo, Êx. 17:7 e Sal. 95:7 com Heb. 3:7-11. Veja Atos 5:3,4. ■' • r-i >: ■ •

37. Que atributos divinos as Escrituras Lhe atribuem? Onipresença - Sal. 139:7; 1 Cor. 12:13. Onisciência- 1 Cor. 2:10,11. Onipotência - Luc. 1:35; Rom. 8:11. 38. Que operações no mundo exterior as Escrituras Lhe atribuem? A criação - Gên. 1:2; Jó 26:13; Sal. 104:30. O poder de realizar milagres - Mat. 12:28; 1 Cor. 12:9-11. 39. Como fica estabelecida a Sua deidade suprema pelo que as Escrituras dizem da Sua ação na obra de redenção? Dizem as Escrituras que Ele é o agente imediato da regeneração: João 3:6; Tito 3:5; e da ressurreição de nossos corpos: Rom. 8:11. Sua ação na geração da natureza humana de Cristo, na ressurreição dEle e na inspiração das Escrituras foram manifestações do Seu poder divino em preparar a redenção que agora Ele aplica. 40. Como conciliar com Sua deidade expressões como “ele não

falará de si mesmo”? • ■ • Essa expressão e outras semelhantes devemos entender como se referindo à obra oficial do Espírito; do mesmo modo como entendemos o que se diz de Cristo, que “foi enviado” pelo Pai e que Lhe está subordinado. O fim que o Espírito Santo tem em vista em Sua obra oficial nos corações dos homens não é o de revelar as relações da Sua Pessoa com as outras Pessoas da Deidade, e sim simplesmente o de revelar o caráter e a obra mediatárias de Cristo. 4. AS ESCRITURAS ENSINAM DIRETAMENTE QUE HÁ UMA TRINDADE DE PESSOAS NUMA SÓ DEIDADE Í « : 41. Como é ensinada diretamente esta trindade de Pessoas na fórmula do batismo? O batismo em nome de Deus implica o reconhecermos a autoridade divina de Deus, Sua promessa de dar-nos a vida eterna e a nossa obrigação de Lhe prestarmos culto divino e obediência. Os cristãos batizados entram assim numa relação de pacto ou aliança com três Pessoas nomeadas distintamente em sua ordem. A linguagem implica necessariamente que cada um desses nomes representa uma Pessoa; e a natureza do sacramento (da ordenança) prova que cada uma delas é divina. Veja Mat. 28:19. 42. Como é ensinada esta doutrina diretamente na fórmula da bênção apostólica? Veja 2 Coríntios 13:13. Temos aí nomeadas distintamente três Pessoas, e cada uma comunicando uma bênção separada, segundo a Sua própria ordem e maneira de operação. O amor do Pai em idealizar, a graça do Filho em alcançar, e a comunicação do Espírito Santo em aplicar a salvação. São três nomes pessoais distintos de ação pessoal, e cada um igualmente divino. 43. Que prova nos é dada pela narração do batismo de Cristo? Veja Mateus 3:13-17. Aí também são apresentadas a nós três Pessoas nomeadas distintamente e descritas como operando cada uma segundo a Sua própria maneira: o Pai falando do céu, o Espírito descendo em

forma de pomba e pousando sobre Cristo, e Cristo reconhecido como o Filho amado de Deus, saindo para fora da água. jivoaj 44. Veja o argumento apresentado por João 15:26 e seu contexto. Nessa passagem também temos três Pessoas distintas mencionadas ao mesmo tempo, e afirmada a Sua ação relativa. O Filho é a Pessoa que fala sobre o Pai e sobre o Espírito, e que está reivindicando a respeito de Si o direito de enviar o Espírito. O Pai é a Pessoa de quem procede o Espírito. A respeito do Espírito o Filho diz que Ele “virá”, que “será enviado”, que “procede”, que “testificará”. 45. Que dizer sobre aprova da genuinidade de 1 João 5:7? Não disponho de espaço para apresentar um bom resumo dos argumentos a favor e contra a genuinidade da cláusula em disputa. VejaHorne’s Introd., vol. 4, Parte 2, cap. 4, sec. 5. Limito-me a dizer: Io. Que a cláusula em disputa é como se segue: “no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um. E três são os que testificam na terra”. 2o. Entre os homens ilustrados e piedosos há diferença de opiniões quanto à preponderância das evidências; as mais abalizadas inclinam-se contra a genuinidade da cláusula. 3o. A doutrina ensinada nessa passagem é tão bíblica, e é tão íntima a conexão gramatical e lógica da cláusula com o contexto, que, para edificação, e no estado atual do nosso conhecimento, devemos retê-la, mas não devemos citá-la para estabelecer doutrina. 4o. A rejeição dessa passagem de modo algum diminui a força irresistível das provas fornecidas pelas Escrituras a favor da doutrina ortodoxa sobre a Trindade. 46. Que passagens do Velho Testamento implicam existir mais de uma Pessoa na Deidade? Note-se o uso do plural nas passagens seguintes: Gên. 1:26; 3:22; 11:7; Is. 6:8. Confira-se a tripla repetição do nome de Jeová em Núm. 6:24-26 com a bênção

apostólica em 2 Cor. 13:13. Note-se também em Is. 6:3 a tripla repetição da atribuição de santidade. 47. Que passagens do Velho Testamento falam do Filho como Pessoa distinta do Pai e, ao mesmo tempo, como Deus? No Salmo 45:6,7 temos o Pai dirigindo-Se ao Filho como Deus e ungindo-O. Veja também Salmo 110:1 e Isaías 45:6,7,14. Nas profecias fala-se do Filho sempre como uma Pessoa distinta do Pai e, ao mesmo tempo, Ele é chamado “Deus Forte”, etc. - Is. 9:6; Jer. 23:6. 48. Que passagens do Velho Testamento falam do Espírito Santo como Pessoa distinta do Pai e, ao mesmo tempo, como Deus? Gên. 1;2; 6:3; Jó 26:13; Sal. 104:30; 139:7; Is. 48:16. 5. RESTA-NOS CONSIDERAR O QUE AS ESCRITURAS ENSINAM A RESPEITO DAS RELAÇÕES ETERNAS E NECESSÁRIAS QUE AS TRÊS PESSOAS DIVINAS SUSTENTAM ENTRE SI. A. A RELAÇÃO QUE A SEGUNDA PESSOA MANTÉM COM A PRIMEIRA, OU A GERAÇÃO ETERNA DO FILHO.

49. Qual o uso idiomático da palavra hebraica ben (filho)? É usada no sentido - Io. De filho. 2o. De descendente; e aqui, no plural, “filhos de Israel”, em vez de israelitas. Também unida, no plural, ao nome de um lugar ou nação, para denotar seus habitantes ou os cidadãos, como “filhos de Sião”, etc. 3o. De discípulo, pupilo, adorador, como “filhos dos profetas” (1 Reis 20:35); e “filhos de Deus” aplicado (1) a reis, Sal. 2:7; (2) aos anjos, Gên. 6:2; Jó 38:7; (3) ao povo de Deus, Seus adoradores, Deut. 14:1; 4o. Em combinação com substantivos, para exprimir idade, qualidade, etc., como “filho de um ano”, em vez de: com a idade de um ano, Lev. 12:6, no hebraico ; “filhos de Belial”, em vez de malvados, Deut. 13:13; “filho da morte”, em vez de digno de morte, 1 Sam. 20:31; “outeiro, filho da gordura” em vez de outeiro fertilíssimo, Is. 5:1, no hebraico. O mesmo idiotismo acha-se também no grego do Novo Testamento. Veja Gesenius,Heb. Lex.

50. Em que sentido os homens são chamados c