Convite à interpretação bíblica: a tríade hermenêutica
 9788527505826

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ANDREAS J. KÕSTENBERGER

CONVITE

A

NTERPRETAÇÃO

BÍBLICA A tríade hermenêutica história, literatura e teologia

VIDA NOVA

O grande mérito desta obra de Kõstenberger e Patterson é sua apresentação tridimensional da interpretação bíblica. Acertadamente, o livro se concentra na história, na literatura e na teologia da Bíblia — o que os autores chamam de tríade hermenêutica. Podemos chamar de hermenêutica em 3D real. O cordão hermenêutico de três dobras não se rompe facilmente, mas sua compreensão se torna fácil com este manual introdutório. Outro mérito é o alerta dos autores de que interpretar a Bíblia não diz respeito apenas à aplicação de um método, mas se trata de uma virtude: a humildade sincera perante o texto divino é tão importante quanto qualquer procedimento intelectual. Kevin J. Vanhoozer, professor da cátedra Blanchard de Teologia, Wheaton College Graduate School Estou tomado de profunda admiração. Aprendi muito com esse livro dinâmico. Trata-se de uma obra de grande clareza e que resume os melhores princípios de hermenêutica geral e de interpretação bíblica. Os alunos dos professores Kõstenberger e Patterson, bem como seus leitores, são privilegiados de ter esse manual tão erudito e perspicaz. ’

E. D. Hirsch, Jr.,

professor emérito de Educação e Humanidades, University of Virginia, e fundador da Core Knowledge Foundation Alguns temas são leitura obrigatória para os que levam a sério o estudo da Bíblia — entre esses, a hermenêutica está em primeiro lugar. Alguns livros são leitura obrigatória dentro de determinado tema — a obra de Andreas Kõstenberger sobre hermenêutica é um desses. Trata-se de um livro claro, conciso e, ao mesmo tempo, profundo, que consegue abranger a maioria das áreas necessárias. Por tudo isso, ele é um guia inestimável para o estudante que caminha pelo labirinto de questões que compõem a tarefa de interpretar a Bíblia, permitindo-lhe preencher a lacuna entre compreender textos bíblicos em seu ambiente cultural original e demonstrar a pertinência desses textos para os leitores modernos. Recomendo-o entusiasticamente. Grant Osborne, professor de Novo Testamento, Trinity Evangelical Divinity School Convite à Interpretação Bíblica está destinado a se tornar o livro-texto padrão de faculdades e seminários em breve. Trata-se da melhor obra disponível na área

de hermenêutica bíblica. É abrangente em seu escopo e profundo em todos os pontos necessários - além de muito bem escrito! Sem dúvida será meu texto de apoio para ensinar hermenêutica bíblica. Daniel L. Akin, diretor e professor de Homilética e Teologia, Southeastern Baptist Theological Seminary Andreas Kõstenberger e Richard Patterson, dois brilhantes e experientes intér­ pretes das Sagradas Escrituras, produziram uma obra de primeira grandeza sobre hermenêutica bíblica. Com abordagem peculiar, cujo foco é a “tríade herme­ nêutica”, esta magnífica publicação tem abrangência enciclopédica, organização magistral e uma competente ênfase pedagógica. As análises claras de cada capítulo, seguidas de bibliografias úteis e informativas, farão deste livro um valioso recurso para estudantes, intelectuais e pastores nos próximos anos. Estou de fato muito entusiasmado com o lançamento de Convite à Interpretação Bíblica. David S. Dockery, professor de Visão de Mundo e Tradição Cristã; diretor, Union University Estou muito impressionado. Esta introdução à hermenêutica abrange todas as bases — todas mesmo. Este livro deixará o leitor bem preparado para a tarefa da interpretação séria. Tremper Longman, professor da cátedra Robert H. Gundry de Estudos Bíblicos, Westmont College A presente introdução à hermenêutica se destaca por vários motivos: leva plenamente em consideração a singular autoria divina da Bíblia; é clara, agra­ dável e sólida no aspecto doutrinário; atende ao estado espiritual do intérprete; dá orientações detalhadas para o entendimento do ambiente histórico, das características literárias e lingüísticas e do significado teológico de cada texto; tem autoria conjunta de um professor de Antigo Testamento e um de Novo Testamento; e enfatiza que a interpretação correta tem de culminar em aplicação para a vida. Um livro excelente e que será amplamente utilizado como manual padrão por muitos anos. Wayne Grudem, professor pesquisador de Teologia e Estudos Bíblicos, Phoenix Seminary

Este livro de interpretação bíblica combina a formação em exegese com um conhecimento fundamental de hermenêutica. Incentiva a análise atenta de questões históricas, literárias e teológicas. No que diz respeito à história, apresenta tabelas cronológicas extremamente úteis e muita informação sobre a história cultural. Seu foco literário inclui cânon, gênero e estilo. O aspecto teológico inclui a aplicação. O gênero é importantíssimo. Por isso, no Antigo Testamento, distinguem-se narrativa, poesia e sabedoria; no Novo, é feita a distinção entre parábolas, epístolas e apocalíptica. A obra explica detalhadamente por que a interpretação responsável exige trabalho árduo e laborioso. O livro foi escrito com muito bom senso, prudência e amor pelas Escrituras. Recomendo-o, sobretudo, a estudantes, professores e também aos pastores, pois ajuda todos nós a usarmos a Bíblia de maneira responsável e produtiva. Anthony C. Thiselton, professor de Teologia Cristã, University of Nottingham Uma tarefa importante — talvez a principal — da hermenêutica é esclarecer o significado dos textos. Esta obra de Kõstenberger e Patterson não apenas tem êxito em elucidar os princípios e os métodos fundamentais da hermenêutica bíblica, mas também é um modelo de como escrever um livro. Sua concepção, organização, desenvolvimento sistemático e aplicações se unem para fazer desta obra a melhor contribuição do gênero para a pesquisa bíblica. A linguagem é leve e despojada do impenetrável “academiquês”. Tanto leigos quanto intelectuais encontrarão neste livro um tesouro de prática hermenêutica saudável e sensata. Eugene H. Merrill, professor emérito de Estudos do Antigo Testamento, Dallas Theological Seminary Não se deixe enganar pelo título; este não é um típico manual de hermenêutica. Você, leitor, tem em mãos uma obra minuciosa que reúne, num só volume, os subsídios para todo o processo exegético e se destina aos mais competentes alunos de seminário, pastores e mestres. Além disso, o compêndio abrange, em detalhes, tanto os tópicos introdutórios quanto os mais avançados; interage não só com os estudos acadêmicos clássicos, mas também com os mais recentes. Particular­ mente notáveis e úteis são as exposições sobre a cronologia do Antigo Testamento, a interpretação de Apocalipse, a análise do discurso, as falácias gramaticais, a teologia bíblica e o método homilético. Recomendo com grande entusiasmo. Craig L. Blomberg, professor emérito de Novo Testamento, Denver Seminary

Esta é uma obra completa, clara e bem escrita, que aborda os princípios de interpretação bíblica para a Bíblia inteira. Pode ser utilizada como excelente livro didático, tanto em um curso avançado de hermenêutica, de nível universitário, quanto em um curso introdutório da disciplina, em nível de seminário. Será tam­ bém de grande utilidade para os pastores, que nela encontram uma visão geral dos princípios interpretativos para as diferentes partes da Bíblia sobre as quais preparam seus sermões. O último capítulo é um precioso recurso para pastores e seminaristas, pois aplica a abordagem interpretativa do livro ao ofício da pregação. Os autores afirmam com propriedade que a hermenêutica deve ser enxergada através da lente triádica formada por história, literatura e teologia. O livro não se propõe a ser um compêndio teórico de hermenêutica, mas sim um guia prático qualificado para interpretar os diferentes tipos de literatura que se encontram na Bíblia. Por isso, cada capítulo termina com uma passagem em que os princípios ali examinados são aplicados e ilustrados, seguida de Questões para aprofundar o estudo e de importantes recursos bibliográficos pertinentes ao capítulo. Esta obra é uma das melhores introduções gerais à interpretação da Bíblia na língua vernácula e uma das mais completas que já li. Ao mesmo tempo que dá atenção aos detalhes do método interpretativo, o livro reflete uma firme convicção na veracidade absoluta da Escritura. Gregory K. Beale, professor de Novo Testamento e Teologia Bíblica, Westminster Theological Seminary O Convite à Interpretação Bíblica, de Kõstenberger, é isso mesmo — um precioso convite para nos comprometermos com as Escrituras como a Palavra de Deus, fazendo uso apropriado de todas as ferramentas disponíveis. Sua abordagem triádica é nova e felizmente não reducionista. É uma obra abrangente e sinto­ nizada com as tendências acadêmicas contemporâneas e, ao mesmo tempo, escrita e produzida de modo muito acessível a estudantes, pastores e professores. Altamente recomendada. Craig Bartholomew, professor de Religião e Teologia, Redeemer University College Na dança do trio história, literatura e teologia, enquanto os três elementos se deslocam pela pista da interpretação bíblica, Kõstenberger e Patterson se sobressaem na seleção e apresentação clara de enorme quantidade de material que abrange um

extenso leque de disciplinas correlatas. Escrito em estilo compreensível, o livro é, ao mesmo tempo, acessível e amplo, prático e informado sobre os estudos contem­ porâneos acerca dessas questões difíceis. Das particularidades da gramática grega e da análise do discurso a introduções proveitosas sobre o cânon, a teologia bíblica e a aplicação adequada, encontram-se aqui orientações bem-vindas e confiáveis, práticas adequadas e ferramentas necessárias para tratar o texto bíblico com a devida responsabilidade e atitude espiritual reverente. Estou impressionado e mal consigo esperar que o livro esteja nas mãos de meus alunos, que encontrarão nele um vasto e precioso recurso, que irá orientá-los durante vários anos. George H. Guthrie, professor da cátedra Benjamin W. Perry de Bíblia, Union University Convite à Interpretação Bíblica aborda a hermenêutica bíblica de uma forma erudita, profunda e reverente para com as Escrituras, assentando os fundamen­ tos para a genuína pregação expositiva. De acordo com a “tríade hermenêutica”, que contempla o ambiente histórico-cultural, os aspectos literários e a men­ sagem teológica do texto pregado, o livro fornece um tratamento equilibrado, mesmo quando investiga a maioria dos temas discutidos na hermenêutica bíblica contemporânea. Apoiado numa boa pesquisa, a obra é bem documentada, bem escrita, bem ilustrada e clara. De fácil uso pelos alunos, este manual não é apenas um excelente texto de hermenêutica bíblica para um seminário, mas também é útií para o estudo independente. Recomendo-o com entusiasmo a todos os que desejam pregar e ensinar a Palavra fiel e corretamente. Sidney Greidanus, professor emérito de Pregação, Calvin Theological Seminary Temos aqui de fato um convite entusiasmado a interpretar a Bíblia de modo responsável, apaixonado e prático. Mostrando aos leitores como investigar o contexto, a literatura e a teologia dos livros bíblicos, os autores fornecem um guia para todas as fases da interpretação. A obra culmina com instruções parti­ cularmente úteis sobre como passar do estudo do texto à elaboração do sermão. Os principiantes não devem desanimar diante do tamanho do volume. Embora seja abrangente em extensão e alcance, o estilo de escrita e os auxílios práticos no final de cada capítulo garantem que os conceitos transmitidos sejam facilmente compreendidos até por leigos no assunto. Se os estudiosos das Escrituras estão procurando um livro único a que possam recorrer para obter ajuda prática na

interpretação, este é o livro que devem adquirir. Agradeço à editora por publicar essa obra para nós. Daniel I. Block, professor da cátedra Gunther H. Knoedler de Antigo Testamento, Wheaton College Este livro concentra uma mina de sabedoria de dois autores experientes cujo conhecimento abarca os dois Testamentos. Os capítulos são atuais sem sucum­ bir à moda. Cuidou-se tanto da teoria quanto da prática da interpretação das Escrituras, obrigatórias em vista do título. Contudo, o elemento novo deste volume é pelo menos duplo: 1) privilegia abertamente a visão de que as Escrituras são um registro da história que produziu literatura, que, por sua vez, transmite a teologia de importância redentora eterna; 2) encontra equilíbrio entre os três elementos com estilo agradável e cativante. Nenhum livro sobre o assunto consegue dar conta de tudo. Este, porém, é um recurso didático inigualável que defende a sua posição em prol de uma leitura triádica num nível que não é nem excessivamente elementar nem utopicamente avançado. Convite à Interpretação Bíblica vai ajudar a aprimorar o ensino dessa disciplina e atrair os alunos para a aventura de navegar pelas águas da hermenêutica. Robert W. Yarbrough, professor de Novo Testamento, Covenant Theological Seminary O campo da interpretação e hermenêutica bíblica é vasto e complicado. Portanto, não se pode culpar os leigos no assunto por acharem que ela transforma qualquer aspiração de ler, entender e pregar a Bíblia num esforço praticamente inútil. Por isso, como amador que sou, fico feliz de poder recomendar este novo livro de Andreas Kõstenberger e Richard Patterson. Em capítulos profundos, mas escritos de forma clara, os autores guiam o leitor pelo bosque cerrado da teoria. Ainda assim, nunca se desviam da tarefa principal de comunicar o conhecimento e as técnicas que tornam a Bíblia mais compreensível e, acima de tudo, mais fácil de pregar. Todos — desde o mais modesto leitor da Bíblia até o pregador mais capacitado — encontrarão neste livro conhecimentos úteis e elementos que os ajudarão a desvendar ainda mais as riquezas da Palavra de Deus para sua vida e seu ministério. Um livro para professores e alunos. Carl Trueman, Decano, Westminster Theological Seminary

Organizado como manual para seminário, este livro é um tratado com excelente pesquisa e máxima atualidade sobre o método e as disciplinas — históricas e canônicas, literárias e lingüísticas, teológicas e aplicativas — da interpretação bí­ blica sólida. É um excelente recurso. Merece um lugar na estante de todo pregador. J. I. Packer, professor da cátedra Lord of Governors de Teologia, Regent College Temos aqui a solução para o estudante que quer os resultados do estudo acadêmico sólido na área da hermenêutica sem ter de passar por todos os debates filosófi­ cos que agora dominam a área. Para o estudante de teologia (e o leitor zeloso da Bíblia) Kõstenberger e Patterson elaboraram e organizaram de forma lógica um guia abrangente, mas não complicado, para interpretar as Escrituras. Este livro não apenas provê um excelente curso básico de hermenêutica, mas também serve de precioso e prático manual de consulta para estudantes, mestres e pregadores da Palavra de Deus. Graeme Goldsworthy, professor visitante de Hermenêutica, Moore College Andreas Kõstenberger e Richard Patterson produziram uma introdução à hermenêutica bíblica ao mesmo tempo abrangente e acessível, repleta de exemplos úteis do processo exegético. Abordando a Bíblia com a “tríade” hermenêutica, constituída de história, literatura e teologia, os autores levam em consideração a natureza das Escrituras como discurso divino proferido por meio de autores humanos, utilizando-se de diversos gêneros, culturas, ambientes e línguas, inte­ grados ao longo da história. O trabalho de pesquisa é muito bom, a obra é bem organizada e bem escrita. É um excelente texto para seminários e cursos univer­ sitários de interpretação bíblica. Mark L. Strauss, professor de Novo Testamento, Bethel Seminary San Diego Visto que as Escrituras são a Palavra de Deus, é imperativo que a interpretemos com fidelidade e precisão. Kõstenberger e Patterson fizeram uma obra abrangente, repleta de sabedoria e bom senso, que dá aos leitores a proficiência para serem intérpretes hábeis das Escrituras. Os autores não apenas explicam as regras da hermenêutica, mas também fornecem muitos exemplos úteis, de modo que o

leitor também assimila uma dose considerável de teologia bíblica neste inesti­ mável livro didático. Thomas R. Schreiner, professor da cátedra James Buchanan Harrison de Interpretação do Novo Testamento, Southern Baptist Theological Seminary É importante entender o que este livro não é. Apesar do tamanho, ele não é um guia exaustivo de hermenêutica avançada. Antes, o tamanho se deve ao fato de se tratar de uma introdução aprofundada e diligente, com muitos exemplos, aos elementos (geralmente) baseados no senso comum que fazem parte da interpre­ tação bíblica fiel. O estudo passo a passo é mecânico demais, se alguém pensa que, na vida real, essas seqüências garantem uma compreensão precisa e amadu­ recida do que a Bíblia diz; mas será uma enorme ajuda para os que estão dando os primeiros passos rumo à identificação dos muitos elementos que compõem o juízo interpretativo correto. D. A. Carson, professor e pesquisador de Novo Téstamento, Trinity Evangelical Divinity School A interpretação bíblica é uma área de estudo muito ampla e de equilíbrio delica­ do. Este volume, repleto de explicações, quadros, diagramas, questionários para aprofundar o estudo, exercícios e exemplos de exegese de diversas passagens, reflete essa realidade. Kõstenberger e Patterson constroem o tratamento do assunto sobre a convicção de que as Escrituras servem para nossa instrução, e a tríade hermenêutica, formada por história, literatura e teologia, fornece a estru­ tura funcional para alcançar esse objetivo. Obviamente elaborada com base nos muitos anos de experiência docente dos autores, esta obra é, de fato, um Convite para que mestres, pregadores e diligentes estudantes das Escrituras desfrutem de um generoso banquete de entendimento da Bíblia. C. Hasself-Bullock, professor emérito da cátedra Franklin S. Dyrness de Estudos Bíblicos, Wheaton College Kõstenberger e Patterson compuseram uma obra notável sobre interpretação bíblica. O livro abrange três áreas importantes da interpretação: o contexto histó­ rico da revelação de Deus, os aspectos literários do texto e a natureza teológica da comunicação de Deus para nós. A observação desses três aspectos abre o mundo

das Escrituras. Os autores fornecem inúmeros exemplos e incentivos para que o leitor penetre no texto. Trata-se de um livro que todos os estudantes da Bíblia gostarão de ler para encontrar a Deus de uma nova maneira, mediante sua Palavra escrita. Willem A. VanGemeren, professor de Antigo Testamento, Trinity Evangelical Divinity School Este livro é mais um presente de um dos meus estudiosos da Bíblia favoritos. Pode haver algo mais importante do que aprender a interpretar e aplicar a Bíblia corretamente? Pastor Mark Driscoll, Mars Hill Church, The Resurgence, Rede de Plantação de Igrejas Atos 29 A tarefa de interpretar a Palavra do Senhor é arriscada, e tem sido assim desde que nossos ancestrais primevos aceitaram a orientação hermenêutica de um demônio. Este livro, escrito por dois dos mais importantes estudiosos da Bíblia no cristianismo atual, é um guia firme e seguro pelos caminhos mais difíceis da leitura, interpretação e comunicação da Bíblia. Leia-o e se prepare para ouvir mais uma vez o Espírito falando nas Escrituras. Russel D. Moore, decano, Southern Baptist Theological Seminary Temos aqui um livro de hermenêutica especialmente voltado para a instrução dos alunos nos fundamentos da interpretação da Bíblia. Ele evita a discussão filosófica e carregada de jargões na relação entre o leitor e o texto. Antes, apresenta ao aluno um método objetivo para descobrir o que um texto significa. Apesar disso, não é apenas um manual “prático”; ele demonstra que cada texto bíblico deve ser lido como uma amostra do mundo bíblico, não apenas como palavras e frases a serem analisadas. Um texto deve ser analisado por uma espécie de triangulação, que o enxerga no seu contexto histórico, literário e teológico. Isso, por sua vez, permite que o aluno compreenda o sentido histórico, literário e teológico do texto. No percurso, Kõstenberger e Patterson apresentam aos alunos uma introdução com­ pleta, mas concisa, aos conceitos que compõem o mundo da hermenêutica bíblica. Duane Garretl, professor da cátedra John R. Sampey de Interpretação do Antigo Testamento, Southern Baptist Theological Seminary

Convite à Interpretação Bíblica tem tudo para se tornar o novo manual de herme­ nêutica padrão para seminários e faculdades evangélicas. Kõstenberger e Patterson guiam com fidelidade os leitores através do terreno vasto e diversificado do cânon bíblico. Com perícia, eles proveem os leitores de todas as ferramentas históricas, literárias e teológicas necessárias para a tarefa da exegese, como parte da jornada interpretativa. No percurso, eles mostram indicadores pertinentes e, vez por outra, fazem uma parada para se aprofundar no texto com percepções apuradas. Come­ çam com o amplo espectro do cânon e, de forma brilhante, entremeiam questões de hermenêutica geral e especial, enquanto constroem uma teoria hermenêutica robusta. Este compêndio de hermenêutica concorre com as respeitadas obras de Fee e Stuart ou de Duvall e Hays, ou quem sabe as supere. Alan S. Bandy, professor assistente da cátedra Rowena R. Strickland de Novo Testamento, Oklahoma Baptist University Os autores nos brindam com um tesouro de informações, métodos, procedimentos e reflexões que vão ajudar qualquer pessoa que queira ler a Bíblia com zelo e se aprofundar em suas riquezas. Provido de muitos exemplos e advertências, o livro conduz os leitores com bom senso durante a tarefa de interpretação, sob a tutela atenta de Kõstenberger e Pattersom moldada por seus longos anos de experiência. John H. Walton, professor de Antigo Testamento, Wheaton College Hermenêutica é sem dúvida uma disciplina difícil de ensinar. Kõstenberger e Patterson tornaram essa tarefa um pouco mais fácil com seu surpreendente livro didático sobre a matéria. O método claro e objetivo que os autores usam para interpretar a Bíblia tem por base a “tríade hermenêutica”, que estuda as Escrituras da perspectiva de seu contexto histórico, seus traços literários e lingüísticos e de sua mensagem teológica. Fácil de consultar e rico em exemplos, Convite à Inter­ pretação Bíblica vai ajudar os estudantes de teologia a serem melhores intérpretes da Bíblia. Uma excelente obra! Terry L. Wilder, professor de Novo Testamento, Southwestern Baptist Theological Seminary Bem concebido e bem escrito, este livro apresenta conceitos introdutórios e avan­ çados de um modo sistemático, o que o torna adequado para uso de seminaristas e

universitários. Os autores são veteranos estudiosos dignos de confiança e mestres do ensino. Recomendo-o com entusiasmo a professores, alunos, pastores e leigos que ensinam na igreja. Paul House, professor de Teologia e Antigo Testamento, Beeson Divinity School Convite à Interpretação Bíblica é uma contribuição bem-vinda para aqueles que procuram ir além dos “fundamentos” da hermenêutica, dedicando-se a um estudo mais reflexivo do texto bíblico. Sua ênfase na “tríade hermenêutica”, constituída de história, literatura e teologia, resulta numa abordagem abrangente da interpretação bíblica que praticamente não deixa nenhum tópico de fora. O livro fornece uma ampla bibliografia e orienta os alunos a criar sua própria biblioteca bíblica e teológica. Por fim, Kõstenberger e Patterson insistem em que o exegeta passe da interpretação para a aplicação e a proclamação — uma boa lembrança de que a hermenêutica nunca deve ser um fim em si mesma, mas uma ferramenta para transformar a vida. Bryan Beyer, professor de Antigo Testamento, Columbia International University Em Convite à Interpretação Bíblica, Andreas Kõstenberger e Richard Patterson condensam seus muitos anos de ensino de hermenêutica num manual de interpre­ tação interessante e fiel. A tarefa de elaborar um livro didático do qual se pudesse extrair o máximo em sala de aula certamente exigiu muita reflexão. Minhas boasvindas a este excelente livro. Robert L. Plummer, professor adjunto de Interpretação do Novo Testamento, Southern Baptist Theological Seminary Os manuais de hermenêutica às vezes ocultam ao invés de revelar o significado da Bíblia. Convite à Interpretação Bíblica esclarece brilhantemente as Escrituras, dando a devida atenção a seus horizontes histórico, literário e teológico. O livro é perspi­ caz, abrangente e escrito com muita clareza. Tenho certeza de que este livro será um texto padrão para muitas universidades, seminários e faculdades de teologia. Heath Thomas, professor assistente de Antigo Testamento e Hebraico, Southeastern Baptist Theological Seminary; pesquisador em Estudos do Antigo Testamento, The Paideia Centre for Public Theology

O grego e o hebraico são ferramentas de valor inestimável para a exegese. Entretanto, sem uma abordagem equilibrada, embasada e coerente da interpreta­ ção das Escrituras, o uso dessas ferramentas pode se transformar em pretexto para a eisegese, ao invés da exegese. Desse modo, o texto passa a ser tudo aquilo que o leitor deseja que ele signifique, e as línguas bíblicas podem ser extremamente mal empregadas. Kõstenberger e Patterson elaboraram uma extraordinária obra, que aproveita os conceitos acadêmicos de livros de hermenêutica avançada e os simplifica para que o seminarista dedicado (e mesmo o aluno de graduação) possa entender. Os autores expõem os conceitos difíceis de modo claro para a exegese séria e eficaz. Este livro deve ser amplamente adotado nos cursos de interpretação bíblica de seminários e bacharelados. Recomendo entusiasticamente. David A. Croteau, professor adjunto de Estudos Bíblicos, Liberty University Kõstenberger e Patterson nos deram um método hermenêutico bem acabado, confiável e inteligente. Tal método explica com clareza os aspectos histórico, lite­ rário e teológico. Trata-se evidentemente do resultado de anos de estudo zeloso e aprofundado. Tanto estudantes quanto pastores encontrarão neste livro um tesouro de sabedoria e conhecimento. Kõstenberger e Patterson nos convidam a estudar a Bíblia, e nossa melhor decisão é aceitar o convite. Benjamin L. Merkle, professor adjunto de Novo Testamento e Grego, Southeastern Baptist Theological Seminary Combinando clareza e elegância, precisão e sensibilidade pastoral, Kõstenberger e Patterson nos brindaram com uma introdução à interpretação bíblica que é firme na convicção, sem ser estridente no tom. A tríade hermenêutica constituída por história, texto e teologia, apresentada de uma maneira que se desloca do contex­ to maior (cânon) para as especificidades (palavras), presumindo assim, desde o início, uma narrativa coerente, unificada e divinamente determinada, alcançará seu objetivo — produzir obreiros que não têm de que se envergonhar, que manejam bem a palavra da verdade. Dane Ortlund, editor-chefe, Crossway Books

Nas páginas deste livro, o leitor encontrará uma impressionante cobertura de fontes primárias e secundárias relacionadas à interpretação da Bíblia, o compro­ misso idôneo com assuntos pertinentes à tarefa hermenêutica e um pacote de fácil utilização pelo aluno e muito prático para o professor. Essa investigação fiel da tríade hermenêutica, composta de história, literatura e teologia, merece ser lida por todos e aproveitada em todos os seus recursos. Jim Hamilton, professor adjunto de Novo Testamento, Southern Baptist Theological Seminary História bíblica, introdução ao Antigo e ao Novo Testamento, análise literária de gênero e forma, método lingüístico, teologia bíblica e aplicação à vida atual — Kõstenberger e Patterson oferecem ao estudante evangélico iniciante tudo isso num único manual competente, conservador e orientado pelo contexto em todas as partes. Mostrando a relação crucial entre história, texto e teologia, o trabalho dos autores fornece um ponto de partida firme e seguro para que o estudante se lance pela primeira vez ao estudo das Escrituras! Scott Hafemann, professor emérito da cátedra Mary F. Rockefeller de Novo Testamento, Gordon-Conwell Theological Seminary

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Angélica Ilacqua CRB-8/7057 Kõstenberger, Andreas J. Convite à interpretação bíblica: a tríade hermenêutica/Andreas J. Kõstenberger, Richard D. Patterson; tradução de Daniel H. Kroker, MarcusThroup, Thom as de Lima. - São Paulo: Vida Nova, 2015. 800 p. Bibliografia. ISB N 978-85-275-0582-6 Título original: Invitation to Biblical Interpretation: Exploring the Hermeneutical T riaJ o f History, Literature, an d Theology 1. Bíblia - Interpretação 2. Hermenêutica I. Título. II. Oatterson, Richard D . III. Kroker, Daniel H. IV. Throup, Marcus Lima, Thom as de

14-0427

C D D 220.601

Índice para catálogo sistemático: 1. Bíblia —Interpretação

ANDREAS J. KÕSTENBERGER RICHARD D. PATTERSON

CONVITE À INTERPRETAÇÃO

BÍBLICA A tríade hermenêutica | história, literatura e teologia | Tradução Daniel Hubert Kroker (páginas iniciais, capítulos 2 -4 , 6, 7 e 10) Thom as de Lima (capítulos 1,5,8, 9 e 11) M arcusThroup (capítulos 12-16, páginas finais)

VIDA NOVA

Copyright ©2011, de Andreas Kõstenberger e Richard D. Patterson Título original: Invitation to Biblical Interpretation: Exploring the Hermeneutical triad o f History, Literature, and Theology, traduzido da edição publicada pela P u b l i c a t i o n s , uma divisão de K r e g e l I n c . (Grand Rapids, Michigan, e u a ). Todos os direitos em língua portuguesa reservados por S o c i e d a d e R e l i g i o s a E d i ç õ e s V id a N o v a ,

Caixa Postal 21266, São Paulo, SP, 04602-970 www.vidanova.com.br |[email protected] 1.* edição: 2015 Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em citações breves, com indicação da fonte. Impresso no Brasil / Printed in Brazil Todas as citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Século 21 (A21), salvo indicação em contrário. Su p e r v is ã o E d it o r ia l

Marisa K. A. de Siqueira Lopes C o o r d e n a ç ã o E d it o r ia l

Daniel de Oliveira Fabiano Silveira Medeiros E d iç ã o

de t ex to

Lucília Marques Wilson Ferraz de Almeida C o p id e s q u e

Lenita Ananias R e v is ã o

de

P ro va s

Gustavo N. Bonifácio Rosa M. Ferreira Pa d r o n i z a ç ã o

Curtis A. Kregness Josemar de Souza Pinto Rosa M. Ferreira Tatiane Souza C oorden ação

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A todos os intérpretes fiéis da palavra de Deus, Agostinho, Lutero, Calvino, Schlatter, e aos nossos colegas e alunos, que se esforçam para dar o melhor de si no estudo, a fim de se apresentarem aprovados por Deus, manejando bem a palavra da verdade (2Tm 2.15).

SUMÁRIO

Prefácio...........................................................................................................................21 Nota pessoal aos professores, alunos e leitores.......................................................... 23 Esboço detalhado.......................................................................................................... 31 Abreviaturas................................................................................................................. 49 PREPARAÇÃO: O QUEM, O PORQUÊ E O COMO DA INTERPRETAÇÃO Capítulo 1: Bem-vindo à tríade hermenêutica: história, literatura e teologia................................................................................................57 INTERPRETAÇÃO: A TRÍADE HERMENÊUTICA P r im e ir a p a r t e — O c o n t e x t o d a s E s c r it u r a s : h is t ó r ia

Capítulo 2: Apresentando o cenário: o contexto histórico-cultural............. 93 S e g u n d a p a r t e — O f o c o d a s E s c r it u r a s : l it e r a t u r a

Un i d a d e i : o c â n o n

Capítulo 3: O cânon do Antigo Testamento: a Lei, os Profetas e os Escritos............................................................................................. 149 Capítulo 4: O cânon do Novo Testamento: os Evangelhos, Atos, as Epístolas e Apocalipse.................................................................. 199 U n id a d e

2: g ê n e r o

Capítulo 5: Uma boa história: a narrativa histórica do Antigo Testamento.225 Capítulo 6: A palavra do sábio: poesia e sabedoria.......................................... 251 Capítulo 7: De volta para o futuro: profecia...................................................... 301

Capítulo 8: Ouvindo as boas-novas: a narrativa histórica do Novo Testamento (os Evangelhos e Atos)..................................... 343 Capítulo 9: Um chamado ao discernimento: parábolas.................................. 393 Capítulo 10: Como manda a carta: as epístolas................................................ 423 Capítulo 11: Visões do fim: literatura apocalíptica (o Apocalipse)..............479 Un id a d e 3 :

l in g u a g e m

Capítulo 12: A importância do contexto: gramática, sintaxe e discurso ....535 Capítulo 13: O significado das palavras: lingüística, semântica e falácias exegéticas.............................................................................579 Capítulo 14: Um modo de falar: interpretação da linguagem figurada..... 615 T e r c e ir a p a r t e — O a l v o : t e o l o g ia

Capítulo 15: Como fazer a associação: extraindo nossa teologia da Bíblia.............................................................................................643 APLICAÇÃO E PROCLAMAÇÃO: A PALAVRA DE DEUS GANHA VIDA Capítulo 16: Pés no chão: utilizando as ferramentas, pregando e aplicando a Palavra......................................................................... 675 Montando uma biblioteca de estudos bíblicos........................................................749 Glossário......................................................................................................................775 índice de assuntos....................................................................................................... 791

PREFÁCIO

E

screver um texto de hermenêutica não é tarefa simples. Tendo ministrado cursos de interpretação bíblica em nível de graduação, mestrado e dou­ torado durante muitos anos, podemos testemunhar que hermenêutica é um dos temas mais difíceis de ensinar — mas também um dos mais importantes. O presente livro é dedicado a todos aqueles que estudam as Escrituras com serie­ dade e estão dispostos a fazer o que for preciso — até aprender as línguas bíblicas, se Deus der oportunidade — para compreender a Palavra de Deus e ensiná-la a outros com fidelidade. Agradecemos todo o apoio e carinho de nossas respectivas esposas, Margaret e Ann, enquanto escrevíamos o livro. Elas têm permanecido ao nosso lado fielmente durante vários anos. A elas, a nossa gratidão! Agradecemos também aos alunos que suportaram com paciência vários estágios de esboços e versões quase finais deste manuscrito. Seus comentários e sugestões melhoraram o livro, que esperamos, seja ainda mais útil para as novas gerações de estudantes. Também somos gratos a Jim Weaver, da Kregel Publications, por autorizar a obra. Eu, Andreas Kõstenberger, gostaria também de expressar minha gratidão a meu estimado colega e amigo Dick Patterson, por embarcar comigo na aventura de escrever este texto. Eu não poderia querer um colaborador melhor, proficiente e ao mesmo tempo comprometido com a análise dos aspectos histórico, literário e teológico das Escrituras. Foi um enorme privilégio trabalhar com você, Dick, e seu saber maduro é um exemplo admirável para outros imitarem. Tenho também uma dívida de gratidão para com aqueles que, pela instrução e pelo exemplo, ensinaram-me a interpretar a Bíblia: meu primeiro professor de hermenêutica, Robertson McQuilkin; meu instrutor de exegese em grego, William Larkin; meu professor de hermenêutica avançada, Grant Osborne; e meu orien­ tador de doutorado, D. A. Carson. Embora eu mesmo tenha decidido que rumo

tomar, o fato de ter me apoiado nos ombros desses gigantes espirituais permitiu-me enxergar mais longe do que se não tivesse essa base. The Hermeneutical Spiral, de Grant Osborne,1 e Exegetical Fallacies, de D. A. Carson,2 sobretudo, causaram um impacto permanente em mim, e em muitos aspectos este volume representa uma homenagem à influência desses homens na minha formação. Eu, Dick Patterson, quero agradecer a meu notável e respeitado colega e amigo, Andreas Kõstenberger, por sua visão, direção e dedicação à conclusão deste texto. Tirei muito proveito da interação com os frutos de seu compromisso com o saber acadêmico e foi um prazer colaborar com ele em nosso interesse mútuo pela “tríade hermenêutica”. Foi um privilégio ser convidado para servir com você, Andreas. Sua ampla experiência e o compromisso com Cristo estabeleceram um alto padrão para todos nós seguirmos. Gostaria também de agradecer ao excelente corpo docente de pós-graduação da UCLA (Universidade da Califórnia) por suas contribuições à minha formação, em meus primeiros anos, em especial a Giorgio Buccellati e ao meu querido mentor e professor de grego e teologia, Marchant King. Cada um deles não só transmitiu conhecimentos essenciais, mas também compartilhou comigo o amor pela matéria que ensinava e a própria vida. Agradeço ainda as contribuições de muitos colegas da Evangelical Theological Society, cujo compromisso com Cristo e sua Palavra tem me servido de exemplo motivador para fazer da Palavra de Deus o manual da minha vida (Sl 119.111). Por fim, nós dois gostaríamos de expressar nossa gratidão a Liz Mburu, Corin Mihaila e Alan Bandy, que escreveram com muita competência os primeiros es­ boços dos capítulos sobre os Evangelhos e as parábolas, as Epístolas e o material apocalíptico. Michael Travers redigiu um excelente primeiro esboço do capítulo sobre linguagem figurada, e Scott Kellum esboçou o último capítulo sobre aplicação (agradecimentos especiais a Scott, que fez isso em prazo muito curto e com esmero). Chip McDaniel contribuiu com material sobre o estudo de palavras hebraicas, e Mark Catlin contribuiu para o capítulo sobre o contexto histórico. Mark também se empenhou e preparou com competência os índices. John Burkett, o diretor de nosso centro de redação, gentilmente leu todo o manuscrito e fez várias sugestões úteis para melhorar o texto. Soli Deo gloria.

‘Edição em português: A Espiral Hermenêutica: uma Nova Abordagem à Interpretação Bíblica (São Paulo: Vida Nova, 2009). 2Edição em português: Os Perigos da Interpretação Bíblica (São Paulo: Vida Nova, 2001).

NOTA PESSOAL AOS PROFESSORES, ALUNOS E LEITORES

E

ste livro procura ensinar um método simples para interpretar a Bíblia. Esse método implica preparação, interpretação e aplicação. O método de interpretação se constrói com base na tríade hermenêutica, que consiste

em história, literatura e teologia. Basicamente, nossa proposta central é: dada uma passagem das Escrituras, você deverá estudar o ambiente histórico, o contexto literário e a mensagem teológica. Antes de falar mais um pouco a respeito da tríade hermenêutica e de como ela funciona na prática, talvez seja útil explicar como este texto se relaciona com os textos de hermenêutica anteriores. Esta é, no mínimo, a terceira figura geométrica usada no contexto da herme­ nêutica. A primeira foi o círculo hermenêutico (a noção de que a compreensão de um texto no todo fornece a estrutura adequada para compreender as partes individuais e vice-versa). Depois veio a espiral hermenêutica (a noção de que “a interpretação bíblica implica uma espiral do texto para o contexto, de seu significado original para sua contextualização ou significado na igreja de hoje”).1 Agora, finalmente, vem a tríade hermenêutica: a proposta de que a história, a literatura e a teologia fornecem a estrutura adequada para a interpretação bíblica. Apesar de ser uma terminologia nova — até onde eu saiba, sou o primeiro a usar o termo “tríade hermenêutica” —, a prática concreta de estudar as Escrituras pela ótica da história, da literatura e da teologia certamente não é. Pelo contrário, o número de estudiosos que discutem o estudo das Escrituras dessa perspectiva é cada vez maior. Tremper Longman e Raymond Dillard, por exemplo, em Introduction 'Definição da p. 22 do livro The Hermeneutical Spiral.

to the Old Testament,2estudam regularmente um dado livro do Antigo Testamento sob as rubricas de “Contexto Histórico”, “Análise Literária” e “Mensagem Teológica”. O mais notável talvez seja N. T. Wright, que em vários de seus escritos, entre eles The New Testament and the People ofG od [O Novo Testamento e o Povo de Deus], usa essa classificação. De fato, Wright é um mestre nisso. Em suas duas obras sobre Jesus e Paulo, ele fundamenta seu estudo em extensa pesquisa histórica sobre o judaísmo do Segundo Templo e do primeiro século. Também fala sempre da “história de Israel” e da “história cristã”, agregando uma enorme quantidade de reflexões de estudos literários recentes; acima de tudo, porém, Wright prioriza a teologia, buscando discernir, em seu estudo, a mensagem divina dos aspectos histórico e literário do texto bíblico. Nesse modo de conceber a tarefa hermenêutica, somos completamente solidários com Wright (apesar de divergirmos em alguns detalhes interpretativos!). Também concordamos com Wright em que o realismo crítico (a noção de que os textos podem representar e representam corretamente os objetos, propriedades e eventos externos) é a melhor maneira de captar a essência da abordagem que se deve usar no estudo bíblico. Kevin Vanhoozer, na influente obra The Drama o f Doctrine [O Drama da Doutrina], escreve; “Primeiro, a fim de fazer justiça a esses textos, precisamos abordá-los em diferentes níveis: histórico, literário e teológico”. Em muitos aspectos, o presente manual representa uma concretização bíblico-teológica da proposta de Vanhoozer da “abordagem canônico-linguística”. Assim, ao falarmos de uma tríade hermenêutica, estamos recorrendo a uma teoria e prática interpretativa consagrada. Essas três propostas — o círculo hermenêutico, a espiral hermenêutica e a tría­ de hermenêutica — não são mutuamente excludentes, nem uma é necessariamente superior às outras. Na verdade, cada figura geométrica comunica uma percepção legítima. O círculo hermenêutico cria o importantíssimo princípio interpretativo de compreender cada parte das Escrituras em relação a toda a mensagem bíblica. A espiral hermenêutica sublinha a importância de transportar o texto antigo para o ambiente cultural de hoje. Sem aplicação, a interpretação não está completa. A tría­ de hermenêutica, por sua vez, indica a estrutura triádica da tarefa interpretativa, observando que o intérprete da Bíblia se defronta com três realidades inescapáveis: a história, o texto (i. e., a literatura) e a teologia (revelação divina). Deus se revelou na história, e os textos bíblicos exigem interpretação especializada, com atenção 2Edição em português: Introdução ao Antigo Testamento (São Paulo: Vida Nova, 2005).

prudente à localização canônica, às características de gênero e aos aspectos lin­ güísticos (entre eles o significado de palavras e as relações gramaticais) do texto. Ao começar com o contexto maior ou categoria mais ampla, o cânon, passando para o gênero (ainda uma categoria muito ampla) e finalmente para o estudo de uma unidade literária concreta em seu contexto discursivo (com atenção especial às palavras específicas empregadas), nosso método incorpora o princípio de interpretar as partes (palavras) em relação ao todo (cânon e gênero). Fazendo todo o percurso a partir da história (a fundamentação histórico-cultural de determinada passa­ gem bíblica) até a aplicação para os dias atuais (o último capítulo de nosso livro), atendemos à maior preocupação dos proponentes da espiral hermenêutica — de que a interpretação não está completa enquanto não aplicamos nossas descobertas interpretativas à nossa própria vida e à de nossa congregação. Dito isso, observe-se que há uma diferença acentuada entre o fluxo adotado em nosso livro e o procedimento convencional. Muitos livros — The Hermeneutical Spiral [A Espiral Hermenêutica] é um exemplo típico — passam da hermenêutica geral à especial, com base na premissa de que, sendo um produto da comunicação humana, a Bíblia deve ser interpretada como qualquer outro texto de comunicação humana: estudo das palavras, análise da sintaxe, exame do contexto histórico e assim por diante (hermenêutica geral). Em seguida, passam à hermenêutica especial: estudo dos vários gêneros bíblicos, tanto do aspecto literário quanto do teológico. Neste livro, viramos a opinião geral de cabeça para baixo: ao invés de passar da hermenêutica geral à especial, passamos da especial à geral. Ao fazer isso, estamos nos baseando na enorme quantidade de estudos recentes acerca da importância do cânon, da teologia, da metanarrativa e das Escrituras como “teodrama”. (Também seguimos o princípio hermenêutico elementar, mencionado antes, de interpretar as partes à luz do todo.) Por conseguinte, não começamos com as palavras; começamos com o cânon. É assim que interpretaríamos também, por exemplo, uma peça de Shakespeare. Não analisamos apenas as palavras de determinada frase; primeiro procuramos aprender mais sobre Shakespeare, seu ambiente histórico-cultural, a época em que ele escreveu, pesquisando suas principais obras, e assim por diante, antes de finalmente nos decidirmos por uma peça em particular. Mesmo nesse momento podemos ler um bom resumo antes de enfim começar a ler a peça. Se nos depa­ ramos com uma palavra desconhecida, não paramos de ler, porque estamos mais preocupados em seguir o fluxo geral do que em identificar significados de palavras

individuais. Portanto, não começamos pela análise dos detalhes do texto bíblico (estudo de palavras); começamos pelo todo (o cânon). Além disso, não começamos fingindo que a Bíblia é semelhante a qualquer outro livro, porque não acreditamos que seja. Antes, nosso propósito aqui não é estudar qualquer forma de comunicação humana; nossa meta é estudar a Bíblia — a inerrante e inspirada Palavra de Deus. Em última análise, este é o cânon de Deus, transmitido em gêneros planejados por Deus, e a comunicação dos discursos de Deus por intermédio das palavras de Deus (sem, obviamente, negar a instrumentalidade, o estilo e a autoria humanos). Por isso, não deixamos para apresentar a noção de que a Bíblia é “especial” em algum momento posterior no processo interpretativo (como se ela não fosse importante nos estágios iniciais da hermenêutica geral), mas a colocamos na frente e no centro da organização do livro. Já outros livros, tais como o clássico How to Study the Biblefor Ali Its Worth, de Gordon Fee e Douglas Stuart,3saltam praticamente direto para a interpretação dos diferentes gêneros das Escrituras, algo que, com toda razão, ocupa uma parte central em qualquer método hermenêutico de interpretação das Escrituras e tam­ bém ocupa uma grande e fundamental parcela do presente volume. Grasping Gods Word [Compreendendo a Palavra de Deus], outro livro didático muito conhecido, de autoria de J. Scott Duvall e J. Daniel Hays, usa a metáfora da jornada interpre­ tativa e adota uma abordagem mais pragmática e mais didática, começando com a identificação de frases, parágrafos e discursos antes de tratar do contexto histórico e literário e do estudo de palavras e finalmente passar para a aplicação. Somente depois disso os gêneros específicos do Novo Testamento e depois do Antigo Testa­ mento são estudados (uma ordem bem idiossincrática). Em nosso livro, também usamos a metáfora de uma jornada interpretativa através do cenário canônico. Entretanto, unimos nossos esforços no sentido de alicerçar nossa proposta de método interpretativo na teoria hermenêutica de for­ ma mais rigorosa, especificamente quanto à importância do cânon e do gênero e à primazia das considerações especiais sobre as gerais, na interpretação das Escritu­ ras. Não que palavras e gramática não sejam importantes — elas são. É mais uma questão de determinar qual a estrutura própria para a interpretação — o cânon e o gênero ou as palavras isoladas e a gramática — e de como traduzir melhor nossa escolha em um determinado método interpretativo. Nesse aspecto, diferentemente da 3Edição em português: Entendes o que Lês? Um Guia para Entender a Bíblia com Auxílio da Exegese e da Hermenêutica, 3.ed. rev. e ampl. (São Paulo: Vida Nova, 2011).

obra The Hermeneutical Spiral [A Espiral Hermenêutica], que passa do estudo das palavras à sintaxe, preferimos passar do discurso bíblico (capítulo 12) para o estu­ do de palavras individuais — o estudo do campo semântico (capítulo 13) —, com base na premissa lingüística comum de que o contexto discursivo é fundamental para se determinar o significado das palavras. Feita essa comparação com outros métodos e apresentada essa brevíssima fundamentação de nosso método próprio, vamos agora definir a tríade hermenêutica mais detalhadamente. O primeiro elemento da tríade hermenêutica é a história. O estudo do contexto histórico nos fornece uma base adequada, visto que toda Escritura está enraizada na história real. Deus se revelou na história, e as línguas e os gêneros em que Deus decidiu se revelar refletem o contexto histórico. Em segundo lugar, vem a literatura. Estudar o contexto literário é o foco do estudo da Bíblia, uma vez que as Escrituras são uma obra literária, um texto que tem três componentes principais: 1) cânon; 2) gênero; e 3) línguas. Ao estudar o aspecto literário das Escrituras, localizamos o lugar de uma passagem no cânon, identificamos seu gênero e a interpretamos de acordo com suas características de gênero, fazendo justiça à linguagem empregada (o que em geral implica esboçar a passagem para identificar seu fluxo de pensamento e realizar um estudo relevante das palavras). Em terceiro lugar está o ápice da interpretação bíblica: a teologia. Embora a mensagem bíblica esteja fundamentada na história e seja comunicada por meio da literatura, estudar a teologia de uma dada passagem das Escrituras é o objetivo principal da interpretação, visto que, como mencionado, as Escrituras são acima de tudo a revelação ou manifestação de Deus a nós. Portanto, o método de sete componentes que estamos propondo pode ser esboçado deste modo: Passo 1: Preparação Passo 2: História Passo 3: Literatura: Cânon Passo 4: Literatura: Gênero Passo 4: Literatura: Linguagem Passo 6: Teologia Passo 7: Aplicação e proclamação Em termos sucintos, a interpretação começa com o intérprete. Isso exige pre­ paração do coração. Para ter êxito, a tarefa interpretativa também exige um método

apropriado. Dependendo da tarefa à mão, o método que estamos propondo tem a maior simplicidade possível e a maior complexidade necessária. Além de começar com o intérprete, a interpretação também termina com o intérprete. Portanto, apesar de tecnicamente não fazer parte da interpretação, a aplicação é absolutamente im­ prescindível. Além disso, uma vez que o intérprete compreendeu e aplicou a Palavra de Deus corretamente, ele não para por aí, mas a ensina ou prega a outros (2Tm 2.2). Testamos os conteúdos deste livro durante anos, em vários contextos. Quere­ mos ajudar os professores na sala de aula, de modo que no início de cada capítulo incluímos um quadro simples da tríade hermenêutica que informa aos leitores exatamente onde eles estão no processo de sete passos mencionado. Um professor que trabalhe com um semestre de quatorze semanas talvez queira combinar os capítulos 3 e 4 (sobre o cânon do Antigo e do Novo Testamento) e/ ou os capítulos 12 e 13 (sobre o contexto discursivo e o significado das palavras), embora isso provavelmente não seja o ideal, visto que esses capítulos são carrega­ dos de conteúdo importante e também demandam que os alunos pratiquem o que aprenderam. Outra opção talvez seja o instrutor pedir que os alunos leiam simul­ taneamente o capítulo 14, sobre linguagem figurada, e o capítulo 6, sobre poesia, ou o capítulo 11, sobre literatura apocalíptica. Basicamente, os professores usarão o primeiro período de aulas para apresen­ tar aos alunos o método do livro (construído com base na tríade hermenêutica). O segundo período de aulas será dedicado ao contexto histórico-cultural (capítulo 2), seguido por duas aulas sobre o cânon do Antigo e do Novo Testamento (capí­ tulos 3 e 4). Desse modo, os alunos primeiro adquirem compreensão do enredo bíblico geral e seu desenvolvimento histórico antes de mergulharem nos detalhes da exegese. Isso também garante que, como mencionado, eles interpretem as partes (a passagem específica) em relação ao todo (o drama das Escrituras e sua estrutura redentora e histórico-salvífica). A maior parte do semestre será ocupada com o estudo dos vários gêneros das Escrituras, em ordem canônica: narrativa histórica do Antigo Testamento, poesia e sabedoria, profecia, narrativa histórica do Novo Testamento (Evangelhos e Atos), parábolas, epístolas e literatura apocalíptica (Apocalipse), que é o conteúdo dos capítulos 5—11. Acreditamos que esse sej a o bloco mais adequado para ser estudado após a visão geral do cânon, apresentada nos capítulos 3 e 4. Depois disso, os alunos aprenderão mais especificamente a ler uma passagem em seu contexto discursivo maior (capítulo 12), a realizar um estudo de palavras, ou melhor, de campo semântico, para evitar as falácias exegéticas mais comuns

(capítulo 13), e a interpretar linguagem figurada (capítulo 14). O livro culmina com um capítulo sobre teologia bíblica (capítulo 15) e outro sobre aplicação pessoal (capítulo 16), que inclui seções práticas sobre como usar as ferramentas de estudo da Bíblia e passar do texto ao sermão, gênero por gênero. Mais um comentário: alguns professores estão acostumados a apresentar o estudo de palavras e a diagramação sintática já no início do processo. Se esse for o caso, não há problema. Pode-se começar com os capítulos 12 e 13 — ou com os capítulos 1 e 2, e depois continuar imediatamente com os capítulos 12 e 13. Os capítulos deste livro são bem independentes, embora nós os tenhamos dispos­ to na ordem que nos pareceu melhor, do ponto de vista intuitivo e metodológico. Os professores e os alunos podem reorganizar os capítulos da forma que desejarem. O importante não é tanto a ordem exata dos sete passos, mas que, no fim, se faça justiça ao estudo e à aplicação de uma passagem específica. Finalmente, perguntas, comentários e sugestões de como melhorar nosso trabalho serão bem-vindos; gostaríamos muito de ouvir os usuários deste livro. Quem sabe, se o livro satisfizer uma necessidade e for bem recebido, poderá até haver uma segunda (e terceira, e quarta) edição, à qual ficaremos contentes de incorporar as sugestões úteis para tornar o livro ainda melhor e mais útil para professores e alunos. Entre em contacto conosco pelo endereço akostenberger@ sebts.edu ou [email protected]. Também gostaríamos de incentivar o uso dos recursos disponíveis no site da Kregel: www.kregeldigitaleditions.com. Ali os leitores encontrarão um plano de curso, questionários de fixação dos capí­ tulos e apresentação de slides no formato PowerPoint (também postados em www. biblicalfoundations.org). Ao longo do livro, usamos a metáfora do nosso método — a tríade hermenêu­ tica — para servir de bússola para nossa jornada interpretativa através do cenário canônico. Agradecemos aos leitores por se juntarem a nós nesta estimulante jornada de descoberta e vivificante aventura. Que Deus abençoe ricamente a todos quantos o servem e estudam sua Palavra. Seus conservos, Andreas Kõstenberger e Dick Patterson

ESBOÇO DETALHADO

PREPARAÇÃO: O QUEM, O PORQUÊ E O COMO DA INTERPRETAÇÃO Capítulo 1 Bem-vindo à tríade hermenêutica: história, literatura e teologia A. Capítulo 1: objetivos B. Esboço do capítulo C. Introdução D. A necessidade de uma interpretação bíblica proficiente E. O preço da interpretação bíblica malfeita F. As características do intérprete da Bíblia G. Propósito e estrutura deste livro H. A história da interpretação bíblica e a tríade hermenêutica 1. O Antigo Testamento, Jesus e a igreja primitiva 2. Os pais apostólicos e os apologistas 3. As escolas de Alexandria e Antioquia 4. Jerônimo e Agostinho 5. O período medieval 6. A Reforma e o Iluminismo 7. O período moderno I. A tríade hermenêutica J. Diretrizes para interpretar a Bíblia: método geral K. Palavras-chave L. Questões para aprofundar o estudo M. Exercícios N. Bibliografia do capítulo

IN T ER PR ETA Ç Ã O : A T R ÍA D E H E R M E N Ê U T IC A P r i m e i r a Pa r t e — O

co ntexto d a s

E s c r it u r a s :

h is t ó r i a

C apítu lo 2 A presen tando o cenário: o contexto histórico-cu ltural

A. Capítulo 2: objetivos B. Esboço do capítulo C. Introdução: história e hermenêutica D. Cronologia 1. Período do Antigo Testamento a. Período primitivo b. Período patriarcal c. Do Êxodo à monarquia unida d. Monarquia dividida e. Exílio e retorno 2. Período do Segundo Templo a. Períodos babilônio e persa b. Período helenístico c. Período macabeu d. Período romano 3. Período do Novo Testamento a. Jesus b. Igreja primitiva e Paulo c. Restante do Novo Testamento E. Arqueologia 1. Antigo Testamento 2. Novo Testamento E Contexto histórico-cultural 1. Fontes primárias a. Literatura do antigo Oriente Próximo b. Apócrifos do Antigo e do Novo Testamento c. Pseudepígrafos do Antigo Testamento d. Manuscritos do Mar Morto e. Outras fontes primárias relevantes 2. Fontes secundárias

G. Conclusão H. Amostra de exegese (Antigo Testamento): IReis 17—18 I. Amostra de exegese (Novo Testamento): Lucas 2.1-20 J. Diretrizes para interpretar o contexto histórico-cultural K. Palavras-chave L. Questões para aprofundar o estudo M. Exercícios N. Bibliografia do capítulo S e g u n d a Pa r t e — O f o c o d a s E s c r i t u r a s : l i t e r a t u r a

U n i d a d e 1: O C â n o n

C apítu lo 3

O cânon do Antigo Testamento: a Lei, os Profetas e os Escritos A. Capítulo 3: objetivos B. Esboço do capítulo C. Introdução D. Cânon e interpretação canônica 1. Cânon 2. Interpretação canônica E. Lei 1. Tipos de lei 2. Expressões referentes à Lei 3. Transmissão da Lei 4. Aplicabilidade da Lei 5. Diretrizes para aplicar a Lei do Antigo Testamento F. O Êxodo 1. O cenário do Êxodo 2. Transmissão do relato do Êxodo 3. O clímax do Êxodo na nova aliança 4. Aplicabilidade do Êxodo 5. Diretrizes para compreender o Êxodo G. Aliança 1. Tipos de aliança 2. Série de alianças principais culminando na Nova Aliança 3. Aplicabilidade das alianças

4. Diretrizes para compreender as alianças do Antigo Testamento H. Harmonizando os temas do Antigo Testamento 1. O domínio de Deus e o conceito de Messias 2. Relação de Deus e do Messias com a Lei, o Êxodo e as alianças 3. Papel do Messias na nova aliança 4. Relação do messianismo do Antigo Testamento com o Novo Testamento 5. Justiça e fé I. Diretrizes para compreender a relevância do messianismo J. Palavras-chave K. Questões para aprofundar o estudo L. Exercícios M. Bibliografia do capítulo Capítulo 4 O cânon do Novo Testamento: os Evangelhos, Atos, as Epístolas e Apocalipse A. Capítulo 4: objetivos B. Esboço do capítulo C. Introdução D. Cânon do Novo Testamento E. Os Evangelhos e o evangelho F. O livro de Atos e a igreja primitiva G. Epístolas, Cristo e as igrejas H. O Apocalipse e a revelação do Verbo I. Conclusão J. Diretrizes para interpretar o cânon do Novo Testamento K. Palavras-chave L. Questões para aprofundar o estudo M. Exercícios N. Bibliografia do capítulo Un id a d e 2 : G ê n e r o

Capítulo 5 Uma boa história: a narrativa histórica do Antigo Testamento A. Capítulo 5: objetivos B. Esboço do capítulo C. Natureza da narrativa bíblica

D. Modos da narrativa histórica do Antigo Testamento 1. Contos (estórias) 2. Narrações 3. Relatos E. Elementos da narrativa histórica do Antigo Testamento 1. Elementos externos 2. Elementos internos a. Ambiente b. Enredo c. Caracterização E Estilo de narrativa 1. Repetição 2. Realce 3. Ironia 4. Sátira G. Amostra de exegese: IReis 19 1. Introdução 2. História 3. Literatura 4. Teologia H. Diretrizes para interpretar as narrativas históricas do Antigo Testamento I. Palavras-chave J. Questões para aprofundar o estudo K. Exercícios L. Bibliografia do capítulo Capítulo 6 A palavra do sábio: poesia e sabedoria A. Capítulo 6: objetivos B. Esboço do capítulo C. Natureza e características da poesia bíblica 1. Paralelismo a. Paralelismo sinônimo b. Paralelismo antitético c. Paralelismo progressivo 2. Concisão

3. Concretude 4. Imagística D. Poesia no Novo Testamento E. Recursos estruturais na poesia bíblica 1. Blocos estruturais 2. Indicadores estruturais 3. Estrutura quiástica 4. Estrutura bipartida E Recursos estilísticos na poesia bíblica G. Literatura de sabedoria 1. A natureza da sabedoria 2. Provérbios 3. Eclesiastes 4. Jó 5. Sabedoria em outras partes do Antigo Testamento 6. Sabedoria no Novo Testamento H. Amostra de exegese: o livro de Jó 1. Introdução 2. História 3. Literatura 4. Teologia I. Diretrizes para interpretar a poesia bíblica J. Diretrizes para interpretar a literatura de sabedoria K. Palavras-chave L. Questões para aprofundar o estudo M. Exercícios N. Bibliografia do capítulo Capítulo 7 De volta para o futuro: profecia A. Capítulo 7: objetivos B. Esboço do capítulo C. Natureza da profecia D. Subgêneros de profecia 1. Anúncios de juízo a. Características gerais

b. Oráculos de “ais” c. Lamento d. Processo de aliança 2. Oráculos de salvação a. Promessa de livramento b. Oráculos do reino c. Apocalíptica 3. Relatos instrutivos a. Debate b. Discursos de exortação/advertência c. Sátira d. Máximas de sabedoria e. Narrativas proféticas 4. Subgêneros variados a. Relatos de visões/sonhos b. Cânticos/hinos proféticos c. Orações proféticas d. Cartas proféticas E. Profecia fora dos livros proféticos do Antigo Testamento 1. No Antigo Testamento 2. No Novo Testamento F. Amostra de exegese: o livro de Naum 1. Introdução 2. História 3. Literatura 4. Teologia G. Diretrizes para interpretar profecia H. Palavras-chave I. Questões para aprofundar o estudo J. Exercícios K. Bibliografia do capítulo Capítulo 8 Ouvindo as boas-novas: a narrativa histórica do Novo Testamento (os Evangelhos e Atos) A. Capítulo 8: objetivos

B. Esboço do capítulo C. Natureza dos Evangelhos D. Gênero dos Evangelhos e de Atos E. Origens dos Evangelhos 1. Por que quatro Evangelhos? 2. O estudo crítico dos Evangelhos 3. João e os Sinóticos 4. A confiabilidade histórica dos Evangelhos F. Princípios hermenêuticos gerais 1. Características dos Evangelhos 2. Contexto histórico 3. Contexto literário a. Elementos externos i. Autor ii. Narrador iii. Leitor b. Elementos internos i. Ambiente ii. Enredo iii. Caracterização de personagens iv. Estilo v. Tempo narrativo 4. Cronologia e organização a. Mateus b. Marcos c. Lucas/Atos d. João 5. Estrutura a. Mateus b. Marcos c. Lucas/Atos d. João G. Amostra de exegese: Marcos 15.33-41 1. História 2. Literatura 3. Teologia

H. Diretrizes para interpretar os Evangelhos e Atos I. Palavras-chave J. Questões para aprofundar o estudo K. Exercícios L. Bibliografia do capítulo Capítulo 9 Um chamando ao discernimento: parábolas A. Capítulo 9: objetivos B. Esboço do capítulo C. Estilo do ensino de Jesus D. Parábolas de Jesus 1. Definição e propósito das parábolas a. Definição de parábola b. Propósito das parábolas 2. História da interpretação das parábolas a. Primeiros pais da igreja (100-500) b. Idade Média (500-1500) c. Reforma (1500-1800) d. Período moderno (1800-presente) 3. Para uma interpretação correta das parábolas 4. As parábolas de Jesus nos Evangelhos Sinóticos 5. Antecedentes e paralelos judaicos 6. A história da salvação e o Sitz im Leben Jesu 7. Características das parábolas E. Diretrizes para interpretar as parábolas E Palavras-chave G. Questões para aprofundar o estudo H. Exercícios I. Bibliografia do capítulo Capítulo 10 Como manda a carta: as epístolas A. Capítulo 10: objetivos B. Esboço do capítulo C. As epístolas do Novo Testamento e a epistolografia antiga

1. Introdução 2. Abertura 3. Corpo 4. Encerramento 5. Tipos de cartas 6. A redação das cartas 7. Pseudonímia e alonimia 8. Conclusão D. Epístolas do Novo Testamento e crítica retórica 1. Introdução: tipos de retórica e provas retóricas 2. Comunicação escrita versus comunicação oral na Antiguidade 3. Conclusão E. Epístolas paulinas 1. O uso que Paulo faz do Antigo Testamento 2. O uso que Paulo faz de tradições cristãs a. Credos ou hinos b. Códigos domésticos c. Lemas d. Listas de vícios e virtudes E Epístolas gerais 1. Hebreus a. O caráter oral da epístola aos hebreus b. Estrutura literária de Hebreus c. Característica atípica: a ausência de uma introdução epistolar formal 2. Tiago a. Natureza judeo-cristã da epístola de Tiago b. Jesus como fonte 3. Epístolas de Judas e de Pedro a. Relação entre Judas e 2Pedro b. Suposta pseudonímia de 2Pedro 4. Epístolas joaninas a. Natureza oral de ljoão b. Estrutura literária de ljoão c. Característica atípica: a ausência de uma introdução epistolar formal em ljoão G. Questões hermenêuticas gerais 1. Ocasionalidade e normatividade

2. Outras questões na interpretação das epístolas H. Amostra de exegese: Romanos 7.13-25 1. Introdução 2. História 3. Literatura 4. Teologia I. Diretrizes para interpretar as epístolas J. Palavras-chave K. Questões para aprofundar o estudo L. Exercícios M. Bibliografia do capítulo Capítulo 11 Visões do fim: literatura apocalíptica (o Apocalipse) A. Capítulo 11: objetivos B. Esboço do capítulo C. Introdução e definição de (gênero) apocalíptico 1. Introdução 2. Definição de (gênero) apocalíptico D. Principais abordagens interpretativas no estudo do livro de Apocalipse 1. Preterista 2. Historicista 3. Idealista 4. Futurista E. Panorama histórico 1. Tipo de perseguição 2. Culto ao imperador 3. O mito do Nero redivivus F. Aspectos literários 1. Característica literárias gerais a. Gênero b. Ambiente c. Estrutura narrativa d. Caracterização de personagens e. Marcadores de transição secundários f. As séries de setes e as relações entre os setes

g. Interlúdios 2. Características literárias especiais a. Análise e interpretação das alusões ao Antigo Testamento b. Tipos de linguagem figurada c. A natureza simbólica do Apocalipse d. Interpretação dos símbolos em Apocalipse 3. Estrutura a. Esboço 1 b. Esboço 2 G. Amostra de exegese: Apocalipse 11.1-13 1. História 2. Literatura 3. Teologia H. Diretrizes para interpretar a literatura apocalíptica I. Palavras-chave J. Questões para aprofundar o estudo K. Exercícios L. Bibliografia do capítulo Un i d a d e 3 : L i n g u a g e m

Capítulo 12 A importância do contexto: gramática, sintaxe e discurso A. Capítulo 12: objetivos B. Esboço do capítulo C. Definição dos termos: gramática, sintaxe e discurso 1. Discurso 2. Mais definições D. Fundamentos gramaticais: rudimentos de grego e hebraico bíblicos 1. Introdução 2. Características básicas do grego do Novo Testamento a. Sistema verbal b. O artigo grego c. O caso genitivo d. O particípio grego E. Ordem das palavras e estrutura da frase: rudimentos de sintaxe grega 1. Ordem das palavras

2. Aspectos sintáticos principais 3. Estrutura da frase a. Assíndeto b. Parêntese c. Anacoluto F. Análise do discurso: visão geral do método 1. Principais etapas da análise do discurso a. Características de limites b. Coesão c. Relações d. Proeminência e. Situação 2. Amostra de análise do discurso: João 2.1-11 G. Análise do discurso: exemplos específicos 1. Identificação da macroestrutura: nível 1 2. Identificação da macroestrutura: nível 2 3. Identificação da microestrutura: nível 3 4. Identificação da microestrutura: nível 4 H. Análise de discurso: seguindo o fluxo de pensamento I. Diretrizes para elaborar o esboço de um livro da Bíblia ou de uma unidade interpretativa J. Palavras-chave K. Questões para aprofundar o estudo L. Exercícios M. Bibliografia do capítulo Capítulo 13 O significado das palavras: lingüística, semântica e falácias exegéticas A. Capítulo 13: objetivos B. Esboço do capítulo C. Lingüística: a natureza do estudo das línguas D. Semântica: a ciência que identifica os significados das palavras E. Contexto e discurso: interpretando as partes à luz do todo F. Do estudo das palavras ao estudo do campo semântico: um caminho ainda mais excelente

G. Falácias exegéticas: armadilhas a serem evitadas na identificação dos sig­ nificados das palavras 1. Falácia 1: falácia etimológica ou da raiz 2. Falácia 2: emprego incorreto de significado posterior ou anterior (ana­ cronismo semântico ou obsolescência semântica) 3. Falácia 3: emprego de significados ou material informativo desconhe­ cidos ou improváveis 4. Falácia 4: interpretação equivocada da gramática ou da sintaxe hebraica ou grega 5. Falácia 5: uso equivocado de supostos paralelos 6. Falácia 6: associação equivocada entre vocabulário utilizado e men­ talidade 7. Falácia 7: pressupostos falsos acerca do significado técnico 8. Falácia 8: distinções errôneas entre sinônimos 9. Falácia 9: uso seletivo ou preconceituoso das evidências 10. Falácia 10: disjunções ou restrições semânticas injustificadas (inclusive a transferência ilegítima da totalidade) 11. Falácia 11: negligência injustificada de características distintivas ou de

H. I. J. K. L.

estilo pessoal 12. Falácia 12: ligação equivocada do sentido com a referência Conclusão Diretrizes para identificar os significados das palavras nas Escrituras Palavras-chave Questões para aprofundar o estudo Exercícios

M. Bibliografia do capítulo Capítulo 14 Um modo de falar: interpretação da linguagem figurada A. Capítulo 14: objetivos B. Esboço do capítulo C. Natureza e características das figuras de linguagem 1. Introdução 2. Como as figuras de linguagem funcionam 3. Figuras de linguagem e significado 4. Figuras de linguagem e contextos 5. Figuras de linguagem e o inexprimível

D. Problemas na interpretação das figuras de linguagem na Bíblia 1. Figuras de linguagem e sentido literal 2. Veículo e teor no significado 3. Conotações e denotações 4. A participação ativa do leitor 5. Contexto 6. Figuras de linguagem e explicações proposicionais Tipos de figuras de linguagem na Bíblia 1. Antropomorfismo 2. Eufemismo 3. Hipocatástase 4. Imagem 5. Metáfora 6. Metonímia F. Amostra de exegese: salmo 18 1. História 2. Linguagem 3. Teologia G. Diretrizes para interpretar as figuras de linguagem na Bíblia H. Palavras-chave I. Questões para aprofundar o estudo J. Exercícios K. Bibliografia do capítulo T e r c e i r a Pa r t e : O a l v o : t e o l o g i a

Capítulo 15 Como fazer a associação: extraindo nossa teologia da Bíblia A. Capítulo 15: objetivos B. Esboço do capítulo C. Natureza da teologia bíblica D. Problemas da teologia bíblica E. Método da teologia bíblica F. História da teologia bíblica G. Enfoques da teologia do Novo Testamento H. Uso do Antigo Testamento no Novo

I. Amostra de exegese: João 12.37-41 J. Diretrizes para estudar teologia bíblica K. Diretrizes para estudar o uso do Antigo Testamento no Novo L. Palavras-chave M. Questões para aprofundar o estudo N. Exercícios O. Bibliografia do capítulo APLICAÇÃO E PROCLAMAÇÃO: A PALAVRA DE DEUS GANHA VIDA Capítulo 16 Pés no chão: utilizando as ferramentas, pregando e aplicando a Palavra A. B. C. D.

Capítulo 16: objetivos Esboço do capítulo Introdução Preparo para o estudo 1. Organização do tempo 2. Recursos a. Traduções da Bíblia b. Ferramentas lingüísticas i. Gramáticas de hebraico e de grego ii. Léxicos iii. Concordâncias de um idioma específico iv. Dicionários teológicos/exegéticos v. Enciclopédias/dicionários bíblicos vi. Atlas bíblicos vii. Introduções ao Antigo e ao Novo Testamento viii. Tabelas ix. Comentários x. Teologias sistemáticas e teologias bíblicas

xi. Ferramentas para o comunicador c. Recursos eletrônicos E. Do estudo ao sermão 1. Narrativas do Antigo Testamento a. Principais erros b. Pregação das narrativas do Antigo Testamento c. Estudo/sermão sobre IReis 17— 19

2. Narrativas do Novo Testamento (Evangelhos e Atos) a. Principais erros b. Pregação das narrativas do Novo Testamento c. Estudo/sermão sobre Lucas 8.22-25 3. Gêneros especiais nas narrativas a. Discursos (falas)/diálogos b. Estudo/sermão sobre João 2.23—3.21 c. Parábolas i. Principais erros ii. Pregação das parábolas iii. Estudo/sermão sobre Lucas 15 4. Literatura não narrativa a. Literatura poética i. Principais erros ii. Pregar os salmos iii. Estudo/sermão sobre o salmo 66 b. Literatura de sabedoria i. Principais erros ii. Pregando Provérbios iii. Estudo/sermão sobre Provérbios 22.6-16 c. Profecia i. Principais erros ii. Pregar a profecia do Antigo Testamento iii. Estudo/sermão sobre Miqueias 6.1-13 5. Literatura apocalíptica a. Principais erros b. Pregar o Apocalipse c. Estudo/sermão sobre Apocalipse 1.9-20 6. Literatura exortativa e expositiva (epístolas e discursos) a. Principais erros b. Pregar literatura exortativa e expositiva c. Estudo/sermão sobre ljoão 1.5-9 E Aplicação 1. O alicerce 2. Complicações G. Diretrizes para a aplicação

1. Passos da aplicação 2. Estudo/sermão sobre Filipenses 1.12-18 H. Conclusão I. Palavras-chave J. Questões para aprofundar o estudo K. Exercícios L. Bibliografia do capítulo

ABREVIATURAS

Versões da Bíblia TM

Texto Massorético

LXX

Septuaginta

Traduções da Bíblia ARA

Almeida Revista e Atualizada

ARC

Almeida Revista e Corrigida

ESV

English Standard Version

HCSB

Holman Christian Standard Bible

NIV

New International Version

NVI

Nova Versão Internacional

Obras patrísticas e medievais Eusébio, Hist. Eccl.

Eusébio, Historia Ecclesiastica

Nicolau de Lira, In Gal.

Nicolau de Lira, Sobre Gaiatas

Periódicos AASOR

Annual o f the American Schools o f Oriental Research

AUSS

Andrews University Seminary Studies

BA

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BAR

Biblical Archaeology Review

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Bulletin o fth e American Schools o f Oriental Research

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Bibliotheca Sacra

BBR

Bulletin fo r Biblical Research

CJ CTR

Classical Journal

EvQ

Evangelical Quarterly

HTR

Harvard Theological Review

Int

Interpretation

IBS

Irish Biblical Studies

JAOS

Journal o f the American Oriental Society

JBL

Journal o f Biblical Literature

JETS

Journal o fth e Evangelical Theological Society

JNES

Journal ofN ear Eastern Studies

JSNT

Journal fo r the Study o fth e New Testament

JSOT

Journal fo r the Study o fth e Old Testament

LW

Living Word

NovT

Novum Testamentum

NTS

New Testament Studies

ST

Studia Theologica

TJ TynBul

Trinity Journal

VT

Vetus Testamentum

WTJ

Westminster Theological Journal

W

Word and World

ZAG

Zeitschriftfür Alte Geschichte

Criswell Theological Review

Tyndale Bulletin

Séries e obras de consulta AB

Assyriologische Bibliothek

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Arbeiten zur Geschichte des antiken Judentums und des Urchristentums

BDAG

Greek-English Lexicon o f the New Testament and Other Early Christian Literature

BDB

A Hebrew and English Lexicon o f the Old Testament

BDF

A Greek Grammar ofthe New Testament and Other Early Christian Literature

BECNT

Baker Exegetical Commentary on the New Testament

BTNT

Biblical Theology of the New Testament

BZAW

Beihefte zur Zeitschrift für die alttestamentliche Wissenschaft

CBET

Contributions to Biblical Exegesis and Theology

CRINT DJG FRLANT

Compendia rerum iudaicarum ad Novum Testamentum Dictionary o f Jesus and the Gospels Forschungen zur Religion und Literatur des Alten und Neuen Testaments

HALOT ICC JSNTSupp JSOTSupp LEC LNT MNTC NAC NIBC NICNT NICOT NIDNTT NIGTC NIVAC NSBT NTOA OBO OTL PNTC SAHS SacPag SBLDS SBLSS SNTSMS SBT

The Hebrew and Aramaic Lexicon o f the Old Testament International Criticai Commentary Journal for the Study of the New Testament Supplement Series Journal for the Study of the Old Testament Supplement Series Library of Early Christianity Library of New Testament Studies Moffatt New Testament Commentary New American Commentary New International Biblical Commentary New International Commentary on the New Testament New International Commentary on the Old Testament New International Dictionary o f New Testament Theology New International Greek Testament Commentary NIV Application Commentary New Studies in Biblical Theology Novum Testamentum et Orbis Antiquus Orbis biblicus et orientalis Old Testament Library Pillar New Testament Commentary Scripture and Hermeneutics Series Sacra Pagina Society of Biblical Literature Dissertation Series Society of Biblical Literature Supplement Series Society for New Testament Studies Monograph Series Studies in Biblical Theology

STL TB

Studies in Theological Interpretation Theologische Bücherei: Neudrucke und Berichte aus dem 20. Jahrhundert

TDNT

Theological Dictionary o f the New Testament

TDOT

Theological Dictionary o f the Old Testament

TNTC WBC

Tyndale New Testament Commentaries Word Biblical Commentary

WUNT

Wissenschaítliche Untersuchungen zum Neuen Testament

O QUEM, O PORQUÊ E O COMO DA INTCHPRETAÇÃO

A. Capítulo 1: objetivos 8. Esboço do capítuto C, Introdução 0. A necessidade de uma interpretação bíbika proficiente E. O preço da interpretação bíblica malfeita F. As características do intérprete da 8fbUa G. Propósito e estrutura deste livro H. A história da interpretação bíblica e a tríade hermenêutica I. A tríade hermenêutica J. Diretrizes para interpretar a Bíblia: método geral K. Palavras-chave L Questões para aprofundar o estudo M. Exercícios N. Bibliografia do capítulo

TEOLOGIA

Capítulo 1

BEM-VINDO À TRÍADE HERMENÊUTICA: HISTÓRIA, LITERATURA E TEOLOGIA

INTRODUÇÃO

V

enha! Pode entrar! E, por favor, permaneça por um tempo! Sinta-se em casa e adquira as habilidades fundamentais para a compreensão do livro mais importante que jamais foi escrito: as Sagradas Escrituras. O livro em

suas mãos o ajudará a desenvolver habilidades fundamentais para a interpretação do texto bíblico. Convidamos você a engajar-se na jornada da sã interpre­ tação bíblica, ou — como ela também é chamada — da “hermenêutica”.1 Como na parábola de Jesus sobre a festa de casamento, este convite se dirige a todos os que têm ouvidos para ouvir. E, como na parábola, as regras não são estabelecidas pelos convidados, mas por aquele que faz o convite e pelo livro a ser interpretado. Em nossa jornada para entender a Bíblia, autor, texto e leitor desempenham papéis fundamentais.2 Todo documento tem um autor, e o texto é moldado pela ‘“Hermenêutica” se refere ao estudo dos princípios metodológicos de interpretação de um texto, em particular o texto bíblico. O termo deriva do nome do deus grego Hermes, arauto e mensageiro dos outros deuses. Constam do seu currículo habilidades relacionadas ao comércio, às viagens, à invenção e à eloqüência. O termo “hermenêutica” foi usado por Aristóteles em sua obra Peri Hermeneias, uma das mais antigas obras filosóficas remanescentes da tradição ocidental que tratam da relação entre linguagem e lógica. 2Veja esp. Grant R. Osborne, The Hermeneutical Spiral: A Comprehensive Introduction to Biblical Interpretation, 2. ed. (Downers Grove: InterVarsity, 2006), apêndices 1 e 2 [edição em português: A Espiral Hermenêutica: uma Nova Abordagem à Interpretação Bíblica (São Paulo, Vida Nova: 2009)].

intenção desse autor. É essa intenção autoral que devemos buscar recuperar. O texto não está “simplesmente ali”, para ser interpretado da maneira que o leitor preferir. Quando minha mulher fala comigo, seria ousadia de minha parte dar às palavras dela meu sentido favorito. As regras da boa comunicação exigem que eu busque entender o sentido que ela desejou transmitir com as palavras que usou. Depreende-se que o texto das Escrituras, do mesmo modo, não é neutro, isto é, passível de uma grande variedade de interpretações, todas reivindicando ser uma leitura igualmente válida de determinada passagem (segundo a proposta de diversas abordagens pós-modernas da interpretação bíblica que dão primazia à reação do leitor).3 O texto não é, tampouco, autônomo; isto é, não é uma lei em si, como se existisse à parte do autor que o concebeu (perspectiva sustentada por várias abordagens interpretativas de caráter narrativo ou literário).4O texto é, antes, um produto planejado e moldado por um autor particular e exige, nesse sentido, uma interpretação cuidadosa e respeitosa. Há, por conseguinte, um aspecto ético importante na interpretação. Temos de exercê-la com responsabilidade, demonstrando respeito, tanto pelo texto quanto pelo autor.5 Não pode haver nenhuma desculpa para a arrogância interpretativa que eleva o leitor acima de ambos. A “regra de ouro” da interpretação exige que tratemos qualquer texto ou autor com a mesma cortesia com que desejamos ver tratados nossos próprios escritos e afirmações. Isso implica respeitar não só a inten­ ção dos autores humanos das Escrituras, mas também, em última análise, o próprio Deus, que decidiu se revelar, por meio do seu Santo Espírito, nessas Escrituras.6 O respeito pelo autor supremo e pelos autores humanos da Bíblia é o alicerce deste livro. Temos o compromisso de levar a sério o texto bíblico e de praticar a herme­ nêutica de ouvidos abertos — uma hermenêutica atenta e perceptiva.7 Levaremos em conta, na nossa interpretação das Escrituras, o contexto histórico concernente a 3A abordagem clássica da validade da interpretação que afirma a primazia da intenção autoral está no livro de E. D. Hirsch Validity in Interpretation (New Haven: Yale University, 1973). 4Veja Kevin J. Vanhoozer, “A Lamp in the Labyrinth: The Hermeneutics of‘Aesthetic Theology’”, TJ 8 (1987), p. 25-56. 5Veja esp. Kevin J. Vanhoozer, Is There a Meaning in This Text? The Bible, the Reader, an d the Morality ofL iterary Knowledge (Grand Rapids: Zondervan, 1998) [edição em português: Há um Significado Neste Texto?Interpretação Bíblica, os Enfoques Contemporâneos (São Paulo: Vida, 2010)]. 6Para uma abordagem introdutória ao assunto, veja “The Nature and Scope of Scripture”, Cap. 1, in: Andreas J. Kõstenberger, L. Scott Kellum e Charles L. Quarles, The Cradle, the Cross, an d the Crown: An Introduction to the New Testament (Nashville: B&H, 2009). [A ser publicado em breve por Vida Nova], 7Máxima proposta pelo teólogo Adolf Schlatter (veja adiante).

cada passagem e atentaremos às palavras, frases e discursos específicos de cada livro. Desejamos ponderar com cuidado a teologia da própria Bíblia e interpretar suas partes à luz do todo canônico.8Finalmente, ao interpretar os livros bíblicos, procederemos de acordo com a estrutura peculiar ao gênero a que cada um deles pertence. Por que devemos gastar o tempo e a energia necessários para aprender a interpretar a Escritura corretamente? Em primeiro lugar, desejamos fazer isso porque estamos em busca da verdade e porque sabemos que, enquanto o erro nos escraviza, a verdade nos liberta.9 Muitas seitas se originaram de interpretações equivocadas da Bíblia.10 Temos, contudo, uma motivação ainda maior: o que nos impele a empreender esta jornada pela sã interpretação bíblica é o nosso amor a Deus, à sua Palavra e a seu povo.11 Se eu e você de fato amamos a Deus, desejamos conhecê-lo melhor, e isso exige que estudemos sua Palavra com seriedade. Na condição de pessoas que buscam a verdade e amam a Deus e ao próximo, portanto, principiamos nossa busca da verdade revelada e da sabedoria bíblica como se partíssemos numa expedição para minerar ouro e pedras preciosas.12 Somos estimulados pela convicção de que a Palavra de Deus é o maior tesouro que existe; desejamos extrair do texto bíblico até o último grão de sentido que consigamos recuperar, não importando quanto esforço ou estudo isso nos custe. Na busca da verdade divina revelada, estamos dispostos a pagar qualquer preço para ouvir o que Deus tem a nos dizer em sua Palavra e por meio dela e para proclamar a outros sua mensagem vivificante, de um modo autêntico e fiel. 8Esses componentes da interpretação bíblica apropriada são a espinha dorsal deste livro. 9Como Jesus disse àqueles que desejavam segui-lo: “Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (Jo 8.31,32). 10Uma ótima ferramenta mais recente para aprofundar esse tema é Ted Cabal, org„ The Apologetics Study Bible (Nashville: B&H, 2007). Veja também Gleason L. Archer, New International Encyclopedia o f Bible Difficulties (Grand Rapids: Zondervan, 1982) [edição em português: Enciclo­ pédia de Dificuldades Bíblicas (São Paulo: Vida, 1998)]; Walter C. Kaiser Jr. et al., Hard Sayings o f the Bible (Downers Grove: InterVarsity, 1996); e o volume a ser publicado Holman Apologetics Bible Commentary (Nashville: B&H). “Veja nesse contexto a defesa que N. T. Wright faz de uma “hermenêutica do amor”, em The New Testament and the People ofG od (Minneapolis: Fortress, 1992). Assim como o amor “confirma a reali­ dade e a alteridade do amado”, em vez de tentar “reduzir o amado a algo que se encaixe nos termos daquele que ama”, a hermenêutica do amor “defende que o texto pode ser ouvido em seus próprios termos, sem ser reduzido à escala do que o leitor pode ou não entender naquele momento” (p. 64). 12Veja as parábolas de Jesus sobre o tesouro e a pérola escondidos (Mt 13.44-46), bem como sua declaração: “Por isso, todo escriba que aprendeu sobre o reino do céu é semelhante a um chefe de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas” (Mt 13.52). Veja também Salmos 9 e 119 e a descrição da sabedoria em Provérbios 1—9.

A NECESSIDADE DE UMA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA PROFICIENTE “Procura”, escreveu Paulo em sua última missiva ao seu principal discípulo, “apresentar-te aprovado diante de Deus, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2Tm 2.15). Num tempo em que enfrentamos uma enxurrada de informações e com dificuldade conseguimos nos manter atualizados e estabelecer prioridades, essa mensagem de Paulo põe em evidência qual deve ser nosso principal objeto de estudo: as Escrituras, “a palavra da verdade”. Como Pedro, devemos dizer: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna” (Jo 6.68). Nossa motivação deve ser a fome e a sede de justiça (Mt 5.6); devemos ansiar pela palavra de Deus, que é “viva e eficaz”, e transformadora (Hb 4.12). Para nos aprofundarmos ainda mais nas palavras de Paulo a Timóteo, preci­ samos trabalhar com afinco na interpretação das Escrituras. Temos de “procurar ser aprovados” como “obreiros”. A interpretação bíblica é de fato um trabalho duro. Quem deseja manejar a Palavra de Deus com maestria deve ser como o aprendiz de um mestre artesão medieval. Com o tempo e a prática, o aprendiz adquire habilidade no manejo de muitas ferramentas. Da mesma forma, o intérprete da Bíblia precisa saber quais ferramentas interpretativas usar e como usá-las. É isso que significa ser um obreiro que “maneja bem a palavra da verdade”. Embora a analogia entre o artesanato e a interpretação bíblica venha bem a calhar, trata-se de uma figura menor ilustrando uma realidade maior. Se é impor­ tante que os artesãos sejam hábeis no manejo de suas ferramentas, quanto mais importante é que os chamados a manejar a “palavra da verdade” de Deus o façam com todo o cuidado e perícia possíveis. Nessa incumbência não se admite nenhum trabalho desmazelado. Tudo deve ser feito na ordem certa e na proporção adequa­ da, visando a um produto final que agrade àquele que comissionou o trabalho. As informações do ambiente histórico-cultural, o sentido das palavras, o contexto das passagens e muitos outros fatores devem ser analisados criteriosamente para se chegar uma interpretação válida. Além disso, nenhum trabalhador age sem considerar a aprovação daquele que o incumbiu da tarefa. E, no caso da interpretação bíblica, prestaremos contas a ninguém menos que o próprio Deus. É a aprovação dele que buscamos, pois, quando ele nos aprova, nenhuma outra aprovação ou desaprovação interessa. Nosso amor a Deus e nossa convicção de que não devemos poupar esforço algum para compreender sua Palavra o mais precisamente possível são nossos mais poderosos motivos para essa

jornada interpretativa. Nossa esperança é que, findo o trajeto, ouçamos as palavras divinas: “Muito bem, servo bom e fiel [...] participa da alegria do teu senhor!”.

O PREÇO DA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA MALFEITA Não só há excelentes recompensas para a interpretação bíblica fiel, como também há um preço considerável a pagar quando esse trabalho não é realizado com a devida diligência. Esse custo também é mencionado em 2Timóteo 2.15. Quem se recusa a adquirir as habilidades necessárias para interpretar as Escrituras com precisão, vai encolher-se de vergonha diante do juízo de Deus. A interpretação bíblica indevida corresponde ao artesanato malfeito, seja por falta de habilidade, seja por falta de zelo. Na área da hermenêutica, a má interpretação resulta em falácias que advêm de práticas como negligenciar o contexto, usar versículos isolados para provar uma proposição, fazer eisegese do texto (atribuir à passagem bíblica o sentido que se deseja em vez de extrair dela, mediante estudo cuidadoso, o sentido adequado), uso impróprio de informações de pano de fundo e outras falhas semelhantes.13 A Escritura está repleta de exemplos de pessoas que falharam na tarefa da interpretação bíblica e foram severamente castigadas por isso, porque esse erro não só trouxe ruína para essas pessoas, mas também aos que foram ensinados e influenciados por elas. Nos versículos imediatamente seguintes a 2Timóteo 2.15, o apóstolo cita dois indivíduos desse tipo, Himeneu e Fileto. De acordo com Paulo, esses homens “se desviaram da verdade”,14“afirmando que a ressurreição já aconte­ ceu” (2Tm 2.17,18). Como Paulo observou, esses falsos mestres “perverteram a fé de alguns” (2Tm 2.18). É interessante notar que Himeneu já havia sido mencionado na Primeira Carta de Paulo a Timóteo, na qual o apóstolo escreve que entregara esse homem a Satanás para que aprendesse a não blasfemar (lTm 1.20). Contudo, infelizmente, ele continuou pervertendo e distorcendo a palavra da verdade. Com isso aprendemos, entre outras coisas, que a interpretação bíblica não é um trabalho individualista. Ocorre, antes, na comunidade dos cristãos, e o malogro ou o êxito nesse empreendimento afeta não só o intérprete, mas também outros cristãos. Observe que, como muitas vezes ocorre nas seitas — em última análise inspiradas por Satanás, o maior pervertedor das Escrituras (v. Gn 3.1-5) —, há um grão de verdade na afirmação de que “a ressurreição já aconteceu”. Cristo de fato 13Veja a discussão sobre falácias exegéticas no cap. 13. I4Cp. esse versículo com a referência à “palavra da verdade” em 2Timóteo 2.15.

ressuscitou dos mortos como “o primeiro entre os que faleceram” (ICo 15.20), e todos os cristãos podem ter a expectativa de serem ressuscitados no futuro (ICo 15.51-53; lTs 4.14-18). A Bíblia, porém, deixa claro que essa ressurreição é um acontecimento futuro, e dizer que “a ressurreição já aconteceu” sugere que a ressurreição dos mortos se restringe ao aspecto espiritual, sendo assim totalmente transferida para o presente. Isso se assemelha mais com a noção grega de imortalidade da alma do que com o ensinamento bíblico da ressurreição do corpo. O problema de Himeneu e Fileto, portanto, parece ter sido a indevida imposição de suas concepções filosóficas e culturais helenísticas ao texto das Escrituras, o que resultou numa “escatologia ultrarrealizada”, que não reconhece a realidade futura da ressurreição corpórea dos cristãos, segundo o modelo da ressurreição de Cristo.15 Esse breve exemplo mostra que os intérpretes do texto bíblico estão incumbidos de uma tarefa sagrada: manejar as Escrituras com apuro. A eles foi confiado um objeto sagrado, a Palavra da verdade de Deus; e a fidelidade ou infidelidade deles resultará na aprovação divina ou em vergonha pessoal. A Palavra de Deus exige o melhor que temos a oferecer, porque em última análise não se trata de palavra humana, mas da Palavra de Deus. Isso quer dizer que nossa missão interpretativa deve se alicerçar em uma doutrina robusta da revelação bíblica e estima elevada pelas Escrituras — como Jesus ensinou, as Escrituras são “a palavra de Deus”, que “não pode ser anulada” (Jo 10.35). Embora seja transmitida por meios humanos, com linguagem e formas de pensamento humanos, elas são, em última análise, fruto de inspiração divina e, portanto, completamente dignas de confiança.

AS

c a r a c t e r ís t ic a s d o in t e r p r e t e d a b í b l i a

Em vez de adotarmos uma posição crítica em relação à Bíblia, devemos, isto sim, nos submeter a ela como nossa autoridade final em todas as áreas da vida. Uma qualidade essencial que o intérprete do texto bíblico deve ter, portanto, é a humil­ dade. Como Adolf Schlatter observou décadas atrás, temos de nos colocar “abaixo” 15Evidentemente, a apresentação que fiz desse assunto é bastante básica. Para discussões mais detalhadas das questões mais complexas envolvidas na interpretação de 2Timóteo 2.17,18 e dessa heresia em particular, veja esp. George W. Knight, Commentary on the Pastoral Epistles, NIGTC (Grand Rapids: Eerdmans, 1992), p. 413-4; William D. Mounce, Pastoral Epistles, WBC 46 (Nashville: Thomas Nelson, 2000), p. 527-8; I. Howard Marshall, The Pastoral Epistles, ICC (Edinburgh: T & T Clark, 1999), p. 750-4 (esta obra apresenta mais referências bibliográficas).

das Escrituras, em vez de afirmar arrogantemente o nosso direito de criticá-las à luz de nossos pressupostos e preferências modernas ou pós-modernas.16 Em vez de aceitarmos apenas os ensinamentos que consideramos aceitáveis, segundo as sensibilidades contemporâneas, temos de estar preparados para conformar nossos pressupostos e preferências aos ensinamentos das Escrituras e agir de acordo com eles. Devemos nos aproximar das Escrituras dispostos a obedecer ao que elas dizem. Parte dessa humildade consiste em reconhecer nossa finitude e a necessidade que temos de instrução e correção. Como Paulo escreve em sua última carta a Timóteo: “Toda a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; a fim de que o homem de Deus tenha capacidade e pleno preparo para realizar toda boa obra” (2Tm 3.16,17). A instrução apropriada e a devida correção, quando necessária, são oferecidas, portanto, pelas próprias Escrituras. No entanto, Deus pode optar por administrá-las por meio daqueles que as interpretam corretamente e as ensinam aos outros (cf. 2Tm 2.2). Note também que a interpretação bíblica não é um fim em si mesma. Con­ tudo, a competência interpretativa capacita o intérprete para “toda boa obra” (2Tm 3.17; cf. Ef 2.10). Não se trata de uma tarefa exclusivamente ou mesmo acima de tudo acadêmica; a interpretação bíblica é dever de todo cristão. Conquanto seja verdade que Deus concedeu à igreja alguns indivíduos cuja função é servir como mestres e pastores (Ef 4.11), ele espera que todo cristão avance para a maturidade espiritual (Cl 1.28,29). Por isso, todos nós devemos assumir a responsabilidade por nosso crescimento espiritual e fazer todo esforço possível para evoluir na capacidade de manejar a Palavra de Deus, de forma precisa e com destreza cada vez maior (2Pe 3.17,18). Outro requisito essencial para o intérprete da Bíblia é ouvir atentamente a Palavra e estudá-la de modo perspicaz. É isso que Adolf Schlatter chama de “hermenêutica da percepção”. Num tempo em que ouvir é, em grande parte, uma arte perdida, e muitos chegam às Escrituras com o propósito principal de validar suas próprias conclusões predeterminadas, esse lembrete é mais que necessário. Schlatter observa que “não é a teologia do próprio intérprete nem a de sua igreja e de seu tempo que devem ser examinadas, mas sim a teologia manifestada pelo próprio Novo Testamento”.17Ele continua: 16Veja o caso contado em Kõstenberger, Kellum e Quarles, The Cradle, the Cross, and the Crown, p. 52. I7AdoIf Schlatter, The History o f the Christ, trad. Andreas J. Kõstenberger (Grand Rapids: Baker, 1997), p. 18 (grifo no original).

É o objetivo histórico que deve reger nosso trabalho conceituai de forma exclusiva e completa, estendendo nossas faculdades perceptivas até o limite. Afastamo-nos decididamente de nós mesmos e do nosso tempo e nos voltamos para o que se encontrava nos homens por cujo intermédio a igreja veio a existir. Nosso prin­ cipal interesse deve ser o pensamento como foi concebido por eles, e a verdade que era válida para eles. Queremos ver e alcançar um entendimento exaustivo do que aconteceu na história e existiu em outro tempo. Essa é a disposição interior da qual depende o sucesso do nosso trabalho, o compromisso que deve ser constantemente renovado à medida que o trabalho avança.18 Nas palavras de Tiago, e seguindo a sabedoria do Antigo Testamento, o intér­ prete deve ser “pronto a ouvir” e “tardio para falar” (Tg 1.19). Como observou o antigo pregador: Sê reverente quando fores à casa de Deus. É melhor aproximar-se para ouvir do que fazer como os tolos, que oferecem sacrifícios sem saber que agem mal. Não te precipites com a boca, nem seja o teu coração impulsivo para fazer promessa alguma na presença de Deus; porque Deus está no céu, e tu estás na terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras (Ec 5.1,2). O contrário dessa atitude, lamentavelmente, é muito mais comum: as pessoas não raro se apressam a exprimir suas opiniões, mas demoram a ouvir a verdadeira Palavra de Deus. Ouvir as Escrituras exige disciplina, domínio próprio, sabedoria e amor a Deus. O último conjunto de atributos desejáveis (essenciais, na verdade) para o intérprete do texto bíblico: ele deve ser regenerado (isto é, ter experimentado o renascimento espiritual), cheio do Espírito e por ele guiado.19O papel do Espírito na interpretação bíblica merece uma abordagem mais extensa,20 mas, para começar, leia o tratamento conciso que Paulo dá ao tema em ICoríntios 2.10b-15: 18Ibidem. 19Quanto ao papel da fé na interpretação, veja Gerhard Maier, Biblical Hermeneutics, trad. Robert W. Yarbrough (Wheaton: Crossway, 1995), cap. 11. 20Para uma abordagem representativa dessa questão, veja Daniel P. Fuller, “The Holy Spirits Role in Biblical Interpretation”, in: W. Ward Gasque e William LaSor, orgs., Scripture, Tradition, and Interpretation (Grand Rapids: Eerdmans, 1978), p. 189-98. Veja também Roy B. Zuck, Basic Bible Interpretation: A Practical Guide to Discovering Biblical Truth (Colorado Springs: David C. Cook, 1991), p. 22-6 [edição em português: A Interpretação Bíblica: Meios de Descobrir a Verdade da Bíblia (São Paulo: Vida Nova, 1994)].

Pois o Espírito examina todas as coisas, até mesmo as profundezas de Deus. Pois, quem conhece as coisas do homem, senão o espírito do homem que está nele? Assim tam ­ bém ninguém conhece as coisas de Deus, a não ser o Espírito de Deus. [...] O homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, pois lhe são absurdas; e não pode entendê-las, pois se compreendem espiritualmente. Mas aquele que é espiritual com ­ preende todas as coisas, ao passo que ele mesmo não é compreendido por ninguém.

Embora Paulo tenha escrito essas palavras para abordar uma questão espe­ cífica da igreja de Corinto de que não podemos tratar inteiramente agora,21 suas observações também são muito relevantes para todos nós que empreendemos a jornada interpretativa. Se não temos o Espírito — ou se temos o Espírito, mas não o ouvimos e não dependemos dele para que nos ilumine espiritualmente quando lemos a Palavra de Deus —, nossas interpretações sempre deixarão a desejar. Só o intérprete que depende do Espírito Santo na busca interpretativa poderá ser bem-sucedido em discernir a revelação especial de Deus, discernida pelo Espírito. Caso um intérprete de fato careça de fé e do Espírito Santo, e mesmo assim entenda um pouco da mensagem das Escrituras, a ele faltará a estrutura, a motivação e o entendimento espirituais para compreender determinada passagem no contexto geral da Bíblia. Não só isso, ele também não será capaz de praticar o que a Escritura exige dele, porque só a regeneração e o Espírito Santo o capacitam para isso. Por essa razão, qualquer um que deseje sinceramente entender a Bíblia vai querer ter certeza de que é o tipo de pessoa que pode receber as palavras da verdade de Deus.22

PROPÓSITO E ESTRUTURA DESTE LIVRO O que fundamenta o projeto deste livro é a convicção de que quem deseja ter êxito na tarefa da interpretação bíblica deve proceder dentro de um padrão interpretativo apropriado, isto é, a tríade hermenêutica, que consiste nos três elementos que o intérprete deve considerar no estudo de qualquer passagem bíblica, não importa qual seja o gênero: o contexto histórico do livro (cap. 2), sua dimensão literária (caps. 3-14) e sua mensagem teológica (cap. 15).23Como o cristianismo é uma reli­ 21Para abordagens competentes e representativas da questão, veja David E. Garland, 1 Corinthians, BECNT (Grand Rapids: Baker, 2003), p. 90-103; Gordon D. Fee, The First Epistle to the Corinthians, NICNT (Grand Rapids: Eerdmans, 1987), p. 97-120. “ Quanto à preparação espiritual para a tarefa sagrada de interpretar as Escrituras, é uma boa ideia meditar em passagens como Salmos 1, 8, 9 ,1 9 ,1 3 9 ou Isaías 57.15; 66.1,2. 23Pode-se definir tríade como a união ou o grupo de três elementos, como um acorde de três notas, por exemplo. No nosso caso, a expressão “tríade hermenêutica” chama a atenção para a estrutura

gião histórica, e todos os textos se inserem em circunstâncias históricas e culturais específicas, é importante fundamentar nossa interpretação das Escrituras em um estudo cuidadoso do ambiente histórico pertinente. Uma vez que as Escrituras constituem um texto de literatura, a maior parte do trabalho interpretativo implica analisar detidamente os vários aspectos literários e lingüísticos do material bíblico. Por fim, sendo as Escrituras não apenas uma obra de literatura, mas sobretudo a revelação de Deus inspirada e revestida de autoridade, o objetivo e o fim da interpre­ tação é a teologia. Empregar a tríade hermenêutica como bússola nessa jornada de interpretação da Bíblia garante que os que a estudam não se desviem do caminho. O intérprete da Bíblia, quando começa a investigação de determinado texto bíblico, primeiro informa-se a respeito de seu contexto histórico (estudando o que em geral se denominam “questões introdutórias”). Tendo fundamentado seu estudo no contexto histórico e cultural da vida cotidiana do mundo bíblico, ele agora se volta para o cenário canônico a fim de situar a passagem bíblica que está inter­ pretando em seu devido contexto soteriológico-histórico. Em seguida, examina o gênero literário da passagem. Ele deve imaginar os diferentes gêneros encontrados ao longo da Escritura como se fossem aspectos topográficos, como vales, cordilheiras ou planícies, cada paisagem exibindo características próprias e exigindo diferentes estratégias de exploração. Finalmente, ele observará mais de perto os aspectos lin­ güísticos específicos do texto — levando em conta o contexto discursivo maior, o sentido de palavras importantes e a linguagem figurada, quando necessário. Será de bom proveito ter alguns mapas para essa jornada, um para cada tipo de terreno encontrado: no Antigo Testamento, narrativa histórica (cap. 5), poesia e sabedoria (cap. 6) e profecia (cap. 7); no Novo Testamento, narrativa (os Evange­ lhos e Atos; cap. 8), parábolas (cap. 9), epístolas (cap. 10) e literatura apocalíptica (cap. 11). A tríade hermenêutica, portanto, servirá de método geral para o estudo de qualquer passagem bíblica. Com isso, o aprendiz da interpretação bíblica estará no caminho certo para se tornar um trabalhador habilidoso, que não tem do que se envergonhar, já que adquiriu as habilidades necessárias para manejar bem a Palavra de Deus. Antes de prosseguir, portanto, apresentaremos a tríade hermenêutica, que consiste em história, literatura e teologia — nossa bússola nesta jornada —, e uma breve recapitulação da história da interpretação bíblica. triádica da interpretação bíblica, que consiste no estudo da história, da linguagem e da teologia.

A HISTÓRIA DA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA E A TRÍADE HERMENÊUTICA Na prática interpretativa, o intérprete da Escritura depara-se com três realida­ des inevitáveis: 1) a realidade da história ou, mais especificamente, da história da salvação, isto é, o fato de que a revelação de Deus aos seres humanos, que é transmitida pelos textos bíblicos, ocorreu dentro do contínuo espaço-tempo no qual nós nos encontramos. O texto das Escrituras, afinal de contas, não surgiu num vácuo, mas foi escrito por pessoas com crenças, convicções e experiências específicas; 2) a existência de textos que contêm essa revelação e que precisam ser interpretados (literatura); por fim, mas não menos importante, 3) a realidade do próprio Deus e sua revelação nas Escrituras (teologia). Essas três realidades compõem a tríade hermenêutica. TEOLOGIA

HISTÓRIA

LITERATURA 1.1. A tríade hermenêutica24

Essencialmente, portanto, a tarefa do intérprete consiste em analisar cada um dos aspectos principais da tríade hermenêutica com o devido equilíbrio, sendo os dois primeiros elementos — história e literatura — a base, e a teologia, o vértice. Ainda que discernir a mensagem espiritual das Escrituras — a teologia — seja o 24Se tomarmos a palavra “theology” (termo do inglês que significa “teologia”), podemos contar com um recurso mnemônico: “THeoLogy”. As letras em destaque nos lembram dos três elementos da tríade hermenêutica: teologia, história e literatura. Se incluirmos ainda gênero, cânon e linguagem (veja adiante), a palavra passa a ser “THeoLoGiCaL” (termo do inglês que significa “teológico”), nos lembrando de que devemos levar em consideração Teologia, História e Literatura, que envolvem Gênero, Cânon e Linguagem.

objetivo final da interpretação bíblica, estudar o pano de fundo histórico-cultural de cada texto e ter a devida compreensão de seus aspectos literários é essencial. Contudo, como mostrará o breve resumo a seguir, a história da interpretação demonstra que os intérpretes bíblicos nem sempre tiveram êxito em dar a devida atenção a cada um desses três elementos.25

O Antigo Testamento, Jesus e a igreja primitiva Os exemplos mais antigos de hermenêutica bíblica se encontram na própria Escritura. Certos autores posteriores do Antigo Testamento, por exemplo, fazem referência a temas mais antigos das Escrituras, desenvolvendo-os.26 Também há exemplos abundantes de interpretação bíblica no judaísmo, que incluem a litera­ tura sectária encontrada em Qumran (os Manuscritos do Mar Morto).27 O Novo Testamento contém copiosas referências a passagens do Antigo Testamento, tanto em citações explícitas quanto em alusões e ecos.28 Embora haja alguma variedade na maneira que os autores bíblicos posteriores se apropriaram dos textos mais antigos — como cumprimento de promessas, tipologia, analogia e, em raros casos, alegoria29 —, o que todas essas referências têm em comum são basicamente dois elementos: 1) o reconhecimento da autoria dúplice, isto é, do fato de que por trás de qualquer autor humano da Escritura está o autor divino, o próprio Deus; e 2) o respeito pela intenção original desses autores, divino e humano, no processo da interpretação e aplicação da passagem. O primeiro desses elementos está associado a importantes doutrinas bíblicas, como a revelação, a inspiração e a inerrância da Escritura, doutrinas que fluem 25Aconselho a leitura do cap. 1 de Kõstenberger, Kellum e Quarles, The Cradle, the Cross, and the Crown, que fornecerá ao leitor uma excelente estrutura para o estudo das Escrituras, considerando as questões essenciais de cânon, transmissão textual, tradução e inspiração. “ Veja esp. D. A. Carson e H. G. M. Williamson, It Is Written: Scripture Citing Scripture (Cambridge: Cambridge University Press, 1988). Veja também Michael Fishbane, BiblicalInterpretation in Ancient Israel (Oxford: Clarendon, 1984). 27Esse é um vasto campo de estudos. Para uma visão geral e bibliografia, veja Kõstenberger, Kellum e Quarles, The Cradle, the Cross, and the Crown, cap. 2. Veja também Richard N. Longenecker, Biblical Exegesis in the Apostolic Period, 2. ed. (Grand Rapids: Eerdmans, 1999), cap. 1. 2SVeja esp. G. K. Beale e D. A. Carson, orgs., Commentary on the New Testament Use o ft h e Old Testament (Grand Rapids: Baker, 2008) [edição em português: Comentário do Uso do Antigo Testamento no Novo Testamento (São Paulo, Vida Nova: 2014)]; Longenecker, Biblical Exegesis in the Apostolic Period. Veja tb. R. T. France, Jesus and the Old Testament (London: Tyndale, 1971); Richard B. Hays, Echoes o f Scripture in the Letters ofP aul (New Haven: Yale University Press, 1989). 29Veja David L. Baker, Two Testaments, One Bible, 3. ed. (Downers Grove: InterVarsity, 2010).

claramente do testemunho da própria Bíblia e estão implícitas no uso que Jesus, Paulo e a igreja primitiva fazem do texto bíblico.30 O segundo elemento envolve questões intricadas quanto ao uso que o Novo Testamento faz do Antigo; nós nos ocuparemos desse assunto em mais detalhes num capítulo posterior.31 A esses dois elementos podemos acrescentar um terceiro, de importância suprema: a promessa da vinda do Messias no Antigo Testamento e o axioma hermenêutico que sustenta todo o Novo Testamento, a saber, Jesus de Nazaré foi esse Messias — Jesus, que nasceu de uma virgem, viveu sem pecado e reuniu os Doze como sua nova comunidade messiânica; Jesus, que morreu, foi sepultado e ressuscitou dos mortos no terceiro dia; Jesus, que foi exaltado, ascendeu ao Pai, agora dirige a missão da igreja por meio do seu Espírito e um dia voltará para reunir o seu povo e julgar o mundo incrédulo, inaugurando o estado eterno.32

Os pais apostólicos e os apologistas Os pais apostólicos — entre eles Clemente de Roma (morto em 101 d.C.), Inácio (35-110 d.C.) e Policarpo (69-155 d.C.), além de escritos como a Didaquê e O pastor de Hermas — basearam-se nesses precedentes bíblicos e afirmaram que o Messias predito no Antigo Testamento enfim viera na pessoa de Jesus de Nazaré.33 Os apologistas — Justino Mártir (100-165 d.C.), Ireneu (c. 130-200 d.C.) e Tertuliano (c. 160-225 d.C.) defenderam o cristianismo contra romanos pagãos, judeus não messiânicos e cristãos sectários ou hereges, como Marcião, que procurava opor o Deus do Antigo Testamento ao do Novo. Basicamente, esses primeiros defensores da fé cristã sustentavam que ambos os Testamentos uniam-se em torno de Cristo, que era o seu centro, e que toda a Escritura devia ser interpretada dentro de um enquadramento cristológico geral. A interpretação bíblica nesse período apre­ senta uma gama ampla de abordagens, que vai da interpretação literal à tipológica “Veja Norman L. Geisler, org., Inerrancy (Grand Rapids: Zondervan, 1980) [edição em português: A Inerrância da Bíblia (São Paulo: Vida, 2003)], esp. o ensaio de Paul Feinberg; D. A. Carson e John D. Woodbridge, orgs., Scripture and Truth (Grand Rapids: Zondervan, 1983), esp. o ensaio de Wayne Grudem; D. A. Carson, Collected Writings on Scripture (Wheaton: Crossway, 2010), que faz referência a uma obra em dois volumes a ser publicada pela Eerdmans, por ora intitulada The Scripture Project. “ Capitulo 15: Como fazer a associação: extraindo nossa teologia da Bíblia. i2Veja esp. a breve abordagem do cânon nos caps. 3 e 4. "Quanto à exegese patrística, cf. esp. Charles Kannengiesser, Handbook o f Patristic Exegesis, 2 vols. (Leiden/Boston: Brill, 2004). Veja também os ensaios pertinentes em Alan J. Hauser e Duane F. Watson, orgs., A History o f Biblical Interpretation, vol. 1: The Ancient Period (Grand Rapids: Eerdmans, 2003).

(correspondência histórica entre um tipo e um antítipo), passando pela interpreta­ ção midráshica (como a encontrada em um midrash — comentário) e a alegórica.

As escolas de Alexandria e Antioquia O proponente mais notável da escola de Alexandria — um grande centro de estu­ dos na Antiguidade, localizado no Egito — foi o pai da igreja Orígenes (185-253 d.C.). Como diretor da escola catequética de Alexandria, Orígenes foi o principal responsável pelo florescimento do método alegórico de interpretação bíblica. Esse pai da igreja dirigia-se sobretudo aos gentios que tinham interesse pela filosofia. Visando demonstrar a supremacia do cristianismo, ele tentou mostrar que Cristo era a suprema fonte humana e religiosa de conhecimento. Segundo Orígenes, o próprio Cristo falara no Antigo Testamento, cuja mensagem prenunciara o me­ lhor da filosofia grega. Outro autor alexandrino, Clemente (c. 150-215 d.C.), fazia distinção entre os elementos histórico e teológico (espiritual; Stromateis Livro I, cap. 28). Embora reconhecesse a natureza histórica das narrativas mosaicas, ele extraía delas interpretações “espiritualizantes” (e.g., Stromateis Livro I, cap. 21).34 A escola exegética de Antioquia, representada por Teófilo, que veio a ser bispo dessa cidade por volta de 169 d.C., e mais tarde por João Crisóstomo (354-407 d.C.), diferia nitidamente da abordagem alexandrina. Aliás, o contraste entre essas duas escolas explica algumas das questões mais fundamentais da interpretação bíblica. Essencialmente, a diferença entre elas girava em torno do modo como elas tratavam o aspecto histórico do texto bíblico. Enquanto a escola alexandrina recorria a leituras alegóricas, nas quais o sentido histórico ficava em segundo plano em relação ao sentido espiritual que o intérprete via em determinado personagem ou aconteci­ mento do Antigo Testamento, os antioquenos procediam segundo a convicção de que o principal nível de exegese era o histórico. Em decorrência disso, enquanto a escola alexandrina deixava de lado o sentido histórico literal quando este conflitava com a sensibilidade moral ou intelectual do intérprete, a escola antioquena se comprometia em interpretar, sempre que possí­ vel, os textos bíblicos de forma literal. Ao mesmo tempo, porém, os antioquenos abriam espaço para um sentido mais pleno, além do histórico, no caso de profecias e salmos messiânicos. Em sua austeridade interpretativa e na primazia que davam 34Veja Klein, Blomberg e Hubbard (p. 38-9), os quais indicam que, assim como Filo, Clemente acreditava que as Escrituras tinham um sentido duplo: “Assim como o ser humano, elas têm um sentido corpóreo (literal) e um sentido da alma (espiritual) escondido sob o sentido literal” (p. 38).

aos níveis histórico e gramatical da interpretação bíblica, a escola de Antioquia foi uma importante precursora da abordagem interpretativa histórico-gramatical, que se propagou no tempo da Reforma.

Jerônimo e Agostinho O grande erudito Jerônimo (347-420 d.C.) foi o responsável pela tradução da Bíblia para o latim, a versão chamada comumente de Vulgata, que reinou supre­ ma na igreja como a tradução oficial das Escrituras durante o milênio seguinte. Tendo vivido em Antioquia de forma intermitente, Jerônimo passou os últimos 35 anos de sua vida em Belém (386-420 d.C.). Em certo sentido, combinou os melhores aspectos das escolas alexandrina e antioquena. Por um lado, “deixou claro para os seus sucessores que o Antigo Testamento era um livro oriental, escrito numa língua oriental e ambientado no passado oriental. Ao mesmo tempo, ele expressava de modo apaixonado a convicção de que a vinda de Jesus atestava que o Antigo Testamento é um livro de iluminação e esperança para toda a humanidade”.35 O pai da igreja Agostinho (354-430 d.C.) se notabilizou principalmente por sua obra-prima teológica, A Cidade de Deus. Nessa obra de referência, escrita pouco depois do saque de Roma pelos godos, em 410 d.C., Agostinho respondeu à crítica pagã de seu tempo segundo a qual a queda de Roma resultara da aceitação do cris­ tianismo por essa cidade e do abandono de seu antigo panteão de deuses. Em sua exposição sobre a cidade terrena e a celeste, Agostinho mantém o mais profundo respeito pela historicidade dos acontecimentos registrados no Antigo Testamento. Como a cidade de Deus na terra, a igreja ainda contém tanto elementos bons como maus, situação que só será sanada na segunda vinda de Cristo. Embora haja exemplos de interpretações espiritualizantes em Agostinho, “o que impressiona em A Cidade de Deus é o fato de que a obra consiste em um esforço de levar o Antigo Testamento a sério em seu aspecto histórico e de refletir como a história secular e a sagrada devem ser interpretadas uma em relação à outra”.36Jerônimo e Agostinho foram figuras portentosas da interpretação bíblica e, ao menos pelos seiscentos anos seguintes, nenhum outro intérprete os haveria de superar. 35John Rogerson, “The Old Testament”, in: The History o f Christian Theology, vol. 2: The Study and Use o f the Bible, John Rogerson, Christopher Rowland e Barnabas Lindars (Grand Rapids: Eerdmans, 1988), p. 46. 36Ibidem, p. 52.

O período medieval Nos séculos que se seguiram, os quais testemunharam as contribuições de Cirilo de Alexandria (arcebispo dessa cidade, 412-444 d.C.), de Gregório Magno (papa, 590-604 d.C.) e de Beda, o Venerável (c. 672-735 d.C.), entre outros, as interpreta­ ções alegóricas e místicas do Antigo Testamento alcançaram seu apogeu. Durante o restante da Idade Média, no entanto, renovou-se o interesse pela interpretação histórica das Escrituras. Esse fato se evidencia particularmente na escola da abadia de São Vítor, em Paris. Entre seus proponentes estão Hugo, que lecionou em São Vítor de 1125 até morrer, em 1142, e seu aluno André, que também lecionou nessa abadia até 1147, voltando a dar aulas ali de 1155 até 1163. Tanto Hugo quanto André buscavam sobretudo o sentido histórico e literal do texto bíblico. Embora o método remonte pelo menos a João Cassiano (360-435 d.C.),37 a exegese medieval é conhecida sobretudo pelo método que consiste em procurar identificar o sentido quádruplo das Escrituras: 1) literal (ou histórico), 2) alegórico (ou espiritual), 3) tropológico (ou moral) e 4) anagógico (ou futuro; do grego anagogê, “levando a”). Nicolau de Lira (1270-1340) cita de modo memorável, por volta de 1330, o seguinte dístico (máxima expressa em dois versos): A letra ensina os acontecim entos; a alegoria, no que você deve crer; O sentido moral, o que deve fazer; a anagogia, aquilo pelo que esperar.38

O sentido literal é o sentido histórico-gramatical. O sentido alegórico (inclu­ sive a tipologia) é o sentido espiritual que se considera haver sob a superfície do texto. O sentido tropológico diz respeito às lições morais que podem ser extraídas das Escrituras. Por fim, o sentido anagógico refere-se às possíveis implicações de determinada passagem em relação ao fim dos tempos. Alguns intérpretes medievais, como o há pouco mencionado Hugo de São Vítor, enfatizavam o sentido literal das passagens bíblicas; já outros, como Bernardo de 37“A Jerusalém una pode ser entendida de quatro maneiras diferentes: no sentido histórico, como a cidade dos judeus; no sentido alegórico, como a igreja de Cristo; no sentido anagógico, como a cidade celestial de Deus, a qual ‘é a nossa mãe’ (G1 4.26); e no sentido tropológico, como a alma humana.” John Cassian [João Cassiano], Conferences, trad. Colm Luibheid(NewYork: Paulist, 1985), p. 160. Veja também, da mesma corrente, Agostinho, De Genesi a d litteram 1.1. 38No original latino: Littera gesta docet, quid credas allegoria, Moralis quid agas, quo tendas anagogia. Nicolau de Lira, In Gal. 4, 3 (Bíblia de Douai, 6, Anvers [1634], p. 506), apud Henri de Lubac, M edieval Exegesis, vol. 1: The Four Senses o f Scripture, trad. Mark Sebanc (Grand Rapids: Eerdmans, 1998), p. 1. Crê-se que o ditado se originou com Agostinho da Dácia (Dinamarca), em seu texto Rotulus pugillaris (1206).

Claraval (1090-1153), privilegiavam uma interpretação mais espiritual. Houve outros ainda, como Tomás de Aquino (1225-1274), que procuraram manter em tensão esses aspectos.39 Em muitos casos, porém, os quatro sentidos eram afirmados uns ao lado dos outros e considerados maneiras viáveis, ainda que diversas, de procurar entender o sentido das Escrituras. Sendo assim, à medida que a preocupação com a intenção do autor era relegada ao segundo plano e o modo de pensar do próprio intérprete passava a dominar a atividade da interpretação bíblica, o sentido textual das Escrituras começou a ser progressivamente obscurecido e a leitura contextual da Bíblia deu lugar a uma espécie de misticismo, que considerava o texto um mero ponto de partida para alvos mais elevados, mais “sublimes”, para o progresso espiritual do próprio intérprete.

A Reforma e o lluminismo A interpretação bíblica no começo do século 16, às vésperas da Reforma, ainda era na maior parte dominada pela noção de um sentido quádruplo das Escritu­ ras. O sentido literal era o histórico, que contava a relação de Deus com Israel e a igreja. Já o sentido espiritual implicava relacionar a mensagem bíblica a Cristo, com os intérpretes buscando extrair dela aplicações morais para a vida cotidiana do povo. Os grandes reformadores, Martinho Lutero e João Calvino, atuaram no início do renascimento dos estudos clássicos, do qual a erudição de Erasmo de Roterdã (1466/69-1536) foi um modelo.40 Lutero (1483-1546) é reconhecido por insistir no princípio da sola scriptura (expressão latina que nomeia a doutrina da suficiência das Escrituras), em oposição à prática católico-romana de dar à tradição da igreja um papel igual em importância (se não maior) ao da Bíblia. Lutero também defendia a ideia de que a própria Bíblia é a sua melhor intérprete (Scriptura sui interpres)-, em outras palavras, para ele, o estudo das Escrituras tinha precedência sobre os comentários patrísticos e a autori­ dade eclesiástica. O reformador também rejeitava a interpretação alegórica medieval, afirmando, com Aquino, que as Escrituras tinham um sentido essencial: o histórico.41 Assim, com essa abordagem distinta de Lutero, o sentido quádruplo busca­ do na interpretação medieval desmoronava: “Se havia um sentido literal que se referia a Cristo, não havia necessidade de sentidos espirituais para encontrá-lo no "'Rogerson, “Old Testament”, p. 70-3. “ Klein, Blomberg e Hubbard citam o famoso ditado do século 16: “Erasmo pôs o ovo e Lutero o chocou” em Introduction to Biblical Interpretation, p. 47. 41Ao mesmo tempo, Lutero adotou a interpretação tipológica encontrada no Novo Testamento. Veja Klein, Blomberg e Hubbard, Introduction to Biblical Interpretation, p. 47.

texto”.42 No Antigo Testamento, Lutero descobriu um rico repositório de histórias de fé capaz de instruir os cristãos na conduta da vida cristã. Ao mesmo tempo, o reformador fazia distinção entre a lei e o evangelho, sustentando que a lei do Antigo Testamento, como lei, não era normativa para os cristãos. Ao interpretar os profetas, Lutero afirmava o sentido literal em que determinado texto se refere a Cristo. Também observou que, como o Espírito Santo guia o intérprete, a inter­ pretação resultante é uma interpretação devidamente “espiritual”. Calvino (1509-1564), por sua vez, era de inclinação mais sistemática que Lutero. Além disso, mostrava maior preocupação em estabelecer o sentido do texto com o auxílio do conhecimento secular. Ao mesmo tempo, como no caso de Lutero, a principal preocupação de Calvino era com o sentido literal e histórico do texto. Ele também declarava a existência de um elemento subjetivo na interpretação, “o testemunho interno do Espírito Santo”.43 Dentro dessa estrutura, a interpreta­ ção do reformador era cristológica. Ele via a diferença entre os dois Testamentos como de natureza principalmente administrativa: o Antigo permanecia incompleto e dependente da revelação do Novo. A lei, para Calvino, principalmente os Dez Mandamentos, continua sendo relevante, porque está de acordo com a lei natural. No Iluminismo, os intérpretes da Bíblia tornaram-se cada vez mais céticos em relação aos elementos sobrenaturais da Escritura, como, por exemplo, os milagres realizados por Moisés e Jesus.44 A própria possibilidade de haver milagres era cada vez mais submetida ao questionamento da razão humana, e o antissobrenaturalismo predominava em grande parte do cenário cultural da época. A nova visão da ciência levou à interpretação do relato da Criação e dos milagres como “mitos”. Isso incluía a ressurreição de Jesus, apesar de Paulo e outros autores do Novo Testamento terem deixado claro que a ressurreição é essencial à fé cristã. Essa mentalidade racionalista deu origem a um nítido ceticismo em relação às informações da Escritura e levou ao desenvolvimento do método histórico-crítico de interpretação do texto bíblico, que con­ tém uma série de diferentes critérios para avaliar a historicidade dos textos da Bíblia.45 “ Rogerson, “Old Testament”, p. 78. 43Para fontes contextuais, veja Klein, Blomberg e Hubbard, Introduction to Biblical Interpretation, p. 48, nota 106. 41Para um excelente registro desse desenvolvimento, veja William Baird, History ofN ew Testament Research, vol. 1: From Deism to Tübingen (Minneapolis: Fortress, 1992). 45Veja Edgar Krentz, The Historical-Critical Method, Guides to Biblical Scholarship (Philadelphia: Fortress, 1975); Roy Harrisville e Walter Sundberg, The Bible in M odem Culture: Theology and Historical-Critical Method from Spinoza to Kàsemann (Grand Rapids: Eerdmans, 1995). Para uma crítica, veja Gerhard Maier, The End o fth e Historical-Critical Method. trad. Edwin W. Leverenz e Rudolph F. Norden (St. Louis: Concordia, 1977).

O período moderno Uma abordagem interpretativa mais detalhada prenunciou a ascensão da crítica histórica, começando com Richard Simon (1638-1712), sacerdote católico romano tido por muitos como o “pai da crítica bíblica”, passando por F. C. Baur (1792 -1860), o líder da escola de Tübingen, por Julius Wellhausen (1844-1918), o principal defensor da hipótese documentária da composição do Pentateuco (ao propor fontes designadas por ele como “J” [Javista], “E” [Eloísta], “D” [Deuteronomista] e “P” [Sacerdotal]), e chegando à escola da “história das religiões” e às várias buscas pelo Jesus histórico.46 Talvez a figura mais importante na interpretação bíblica do período moderno seja o teólogo e filósofo alemão Friedrich Schleiermacher (1768-1834), tido por muitos como o pai da hermenêutica moderna.47 Baseado em sua convicção de que a fé religiosa está enraizada no sentimento que o indivíduo tem de sua dependência de Deus, Schleiermacher argumentava que a interpretação consistia tanto no aspecto objetivo quanto no subjetivo; além do aspecto gramatical do texto bíblico também havia, segundo ele, o psicológico. O aspecto objetivo da interpretação consistia em estudar a mensagem explícita do texto transmitida pelas palavras, pela estrutura das frases e assim por diante. Já o aspecto subjetivo consistia em tentar reconstruir a psique do autor no momento em que produziu o texto. Contudo, o conceito de intenção autoral de Schleiermacher não tem nenhum crédito entre os estudiosos atuais, porque o único acesso ao estado de espírito de determinado autor é o próprio texto que ele escreveu. Isto posto, é muito importante procurar determinar o sentido pretendido por um autor mediante o estudo cuidadoso do texto. Na verdade, quando se exclui a intenção do autor, é praticamente impossível obter uma interpretação confiável.48 Após Schleiermacher, a moderna interpretação histórico-crítica da Bíblia passou a ser cada vez mais caracterizada por um viés antissobrenatural e pelo ce­ ticismo histórico por parte da maioria de seus proponentes.49 Lamentavelmente, 46Quanto a essa última questão, veja o resumo conciso em Kõstenberger, Kellum e Quarles, Cradle, the Cross, an d the Crown, p. 111-6. 47Veja, e.g., Osborne, Hermeneutical Spiral, p. 468. 48Para discussões proveitosas a esse respeito, veja Robert H. Stein, “The Benefits of an Author-Oriented Approach to Hermeneutics”, JETS 44 (2001), p. 451-66; Jerry Vines e David Allen, “Hermeneutics, Exegesis and Proclamation”, CTR 1 (1987), p. 309-34 (ambos os artigos estão também disponíveis online). 49Para estudos sobre a história da hermenêutica, veja Anthony C. Thiselton, The Two Horizons (Grand Rapids: Eerdmans, 1979); idem, Hermeneutics: An Introduction (Grand Rapids: Eerdmans, 2009); Klein, Blomberg e Hubbard, Introduction to Biblical Interpretation, cap. 2; Osborne, H erm e­ neutical Spiral, apêndices 1 e 2 (só o período moderno, começando com Schleiermacher).

essa atitude negativa e crítica em relação às Escrituras, graças à sua tendência de neutralizar as noções de revelação, inspiração e autoridade bíblicas, minou a cre­ dibilidade do registro das Escrituras.50 Para a maioria dos proponentes do método histórico-crítico, o aspecto histórico foi desassociado do texto bíblico, e a questão de saber se determinado acontecimento narrado na Bíblia ocorreu de fato passou a ser a única preocupação desses estudiosos.51 Sendo assim, determinar a historicidade das narrativas bíblicas substituiu a tarefa de estudar o próprio texto das Escrituras, uma mudança de foco que Hans Frei registra de maneira competente em Eclipse o f Biblical Narrative.52Nesse processo, o “método histórico-crítico”, ao dar atenção demasiada ao aspecto histórico do texto, negligenciou o devido compromisso com os aspectos literário e teológico da Bíblia. Na esteira do livro de Frei, contudo, o pêndulo oscilou para o outro extremo. O ceticismo crescente em relação à historicidade dos acontecimentos narrados na Bíblia levou a um estudo meramente literário da Escritura, como se ela fosse um livro como outro qualquer.53Nessa abordagem — que Kevin Vanhoozer adequada­ mente rotulou de “teologia estética” —, os intérpretes da Escritura se concentraram estritamente nos diferentes aspectos literários do texto bíblico, excluindo o aspecto histórico do escopo de sua pesquisa.54 O conhecimento bíblico reduziu-se à crítica narrativa ou a várias outras formas de crítica literária; e, embora esse método tenha rendido insights literários interessantes, o aspecto histórico da Bíblia foi injustamen­ te desprezado, o que resultou, mais uma vez, numa interpretação desequilibrada. O pós-modernismo acirrou essa “guinada estética” sofrida pelos estudos bíblicos ao questionar a própria noção de história objetiva e considerar a ideia da “verdade” uma mera convenção humana sem nenhuma correspondência com os fatos e a 50Mas veja também as críticas competentes a essas tendências por parte de estudiosos norte­ -americanos como B. B. Warfield, W. H. Green, W. J. Beecher e outros. Veja Klein, Blomberg e Hubbard, Introduction to Biblical Interpretation, p. 54. 51É comum os estudiosos do Jesus histórico separarem o “Jesus da história” (i.e., Jesus durante seu ministério terreno) do “Cristo da fé” (o Jesus em quem os primeiros cristãos creram), como se esses dois aspectos de Jesus fossem necessariamente diferentes e conflitantes. Nesse contexto, falou-se muitas vezes na “fé pascoal” dos seguidores de Jesus, alegando-se que sua fé os levou a atribuir aspectos a Jesus que ele nunca afirmou possuir durante seu ministério na terra. Veja, e.g., Martin Káhler, The So-Called Historical Jesus and the Historie, Biblical Christ, trad. Carl E. Braaten, (Philadelphia: Fortress, 1964 [1896]). 52Hans W. Frei, The Eclipse o f Biblical Narrative (New Haven: Yale University Press, 1974). 53Veja novamente Baird, History o f Research, vol. 1, para um relato completo das raízes históricas desse fenômeno. 54Vanhoozer, “Lamp in the Labyrinth”. Veja também Andreas J. Kõstenberger, “Aesthetic Theology — Blessingor Curse? An Assessment of Narrative Hermeneutics”, Faith &Mission, 15/2 (1988), p. 27-44.

realidade.55 Abordagens como a que privilegia a reação do leitor e o desconstrutivismo deixaram de lado a intenção autoral, sustentando que o sentido do texto é determinado subjetivamente pelo leitor, ou negaram por completo a possibilidade de uma noção estável de significado, o que resultou numa pluralidade de teologias e leituras sem nenhum padrão objetivo para determinar qual é a mais apropriada entre diferentes interpretações.56 Outras abordagens abandonaram a questão da historicidade, mas continuaram preocupadas com a teologia, enveredando pelo existencialismo ou por outras corren­ tes.57Os seguidores dessa escola de pensamento defendiam que a verdade teológica não depende da veracidade das descrições e narrativas dos diferentes fenômenos e acontecimentos que o texto bíblico apresenta. A ressurreição foi redefinida como uma experiência existencial de uma nova vida, uma experiência pessoal alcançada por meio da fé e independente da ressurreição histórica de Jesus. A regeneração que se segue à fé em Cristo foi redefinida como resultado de um encontro existen­ cial com Deus ocasionado pela leitura das Escrituras, e assim por diante. Esses são exemplos de abordagens teológicas errôneas que foram edificadas sobre o alicerce do aspecto histórico da Bíblia. Ainda que a teologia, como já dissemos, mereça ser considerada o auge da interpretação bíblica, ela tem de ser elaborada sobre uma apropriada compreensão dos aspectos histórico, lingüístico e literário da Escritura; de outra maneira, não lograremos alcançar uma interpretação legítima e equilibrada do texto bíblico.58 Isso, por sua vez, nos traz de volta à tríade hermenêutica. 55Sobre essa questão, veja Andreas J. Kõstenberger, org., W hatever H appened to Truth? (Wheaton: Crossway, 2005), em particular a crítica aguda ao pós-modernismo feita por J. P. Moreland. Veja também D. A. Carson, The Gagging o f God: Christianity Confronts Pluralism (Grand Rapids Zondervan, 1996) [edição em português: O Deus Amordaçado: o Cristianismo Confronta o Plura­ lismo (São Paulo: Shedd, 2013)]. 56Veja esp. Osborne, Hermeneutícal Spiral, apêndices 1 e 2; Hirsch, Validity in Interpretation. 57Veja, e.g., a tentativa do teólogo alemão Rudolf Bultmann (1884-1976) de “desmitologizar as Escrituras” para salvar uma suposta essência existencialista da mensagem cristã que tivesse um apelo para as pessoas da atualidade. Veja Rudolf Bultmann, New Testament Mythology and Other Basic Writings, Schubert M. Ogden, org. (Philadelphia: Fortress, 1984); Karl Jaspers e Rudolf Bultmann, Myth & Christianity: An Inquiry into The Possibility ofReligion without Myth (Amherst: Prometheus, 2005). “Um desdobramento mais promissor (ainda que não sem alguns problemas) é o movimento que defende a volta à interpretação teológica das Escrituras. Veja esp. Daniel J. Treier, Introducing Theological Interpretation o f Scripture: Recovering a Christian Practice (Grand Rapids: Baker, 2008); Kevin J. Vanhoozer, org., Dictionary fo r Theological Interpretation o f the Bible (Grand Rapids: Baker, 2005). Veja também a breve abordagem inicial ao tema na seção introdutória de Andreas J. Kõstenberger, “Of Professors and Madmen: Currents in Contemporary New Testament Scholarship”, Faith & Mission 23/2 (2006), p. 3-18.

A TRÍADE HERMENÊUTICA Um estudo das Escrituras à altura desse objetivo terá de apresentar um equilíbrio apropriado entre história, literatura e teologia. Como Charles Scobie obser­ vou com propriedade: “Em grande parte da crítica literária contemporânea, o estudo histórico do autor original do texto foi abandonado por não ser conside­ rado relevante”. Scobie prossegue afirmando que, no estudo da Bíblia, abandonar o estudo do contexto histórico “constituiria um desastre de primeira grandeza, porque deixaria o intérprete à deriva num mar de subjetividade”.59 É por essa razão que a tríade hermenêutica, que inclui o estudo do contexto histórico das passagens bíblicas, é um guia eficiente para dominar as competências gerais necessárias à interpretação bíblica, bem como para orientar o intérprete quanto às regras especiais do estudo de cada gênero bíblico. Em vez de se oporem umas às outras, história, literatura e teologia têm cada uma lugar essencial no estudo da Palavra sagrada. Ao estudar qualquer passagem bíblica, o intérprete deve atentar para os seguintes elementos: 1) o contexto histórico; 2) o contexto literário (inclusive questões como cânon, gênero e língua); e 3) a mensagem teológica, isto é, o que a passagem ensina sobre Deus, Cristo, a salvação e a necessidade de responder com fé aos ensinamentos da Bíblia. A interpretação da Escritura, por sua vez, não é um fim em si, mas um meio cujo fim é a aplicação das verdades bíblicas à nossa vida. Saber usar os devidos recursos e ferramentas de interpretação e encontrar um caminho que leve do texto ao sermão, seja qual for o gênero bíblico abordado, são habilidades essenciais. Desse modo, a sã interpretação torna-se o alicerce sólido para a proclamação da verdade bíblica e sua aplicação à nossa vida. A partir das afirmações acima, deriva-se naturalmente um método para a interpretação e aplicação de qualquer passagem das Escrituras. O domínio da utilização desse método permitirá que o intérprete desenvolva uma série de habi­ lidades cruciais, entre elas o seguinte conjunto de competências interpretativas e comunicativas: 1. consciência histórico-cultural; 2. consciência do cânon bíblico; 3. sensibilidade aos diferentes gêneros literários da Bíblia; “ Charles H. H. Scobie, The Ways ofO u r God: An Approach to Biblical Theology (Grand Rapids: Eerdmans, 2003), p. 33.

4. competência literária e lingüística; 5. noção firme e domínio crescente da teologia bíblica; e 6. habilidade de aplicar e proclamar as passagens de qualquer gênero bíblico. TEOLOGIA

HISTÓRIA

LITERATURA

CÂNON

GÊNERO

LINGUAGEM

A n tigo Testam ento

Narrativa histórica d o AT

Contexto discursivo

N o vo Testam ento

Poesia e sabedoria

Significado das palavras

Profecia

Lin gu age m figurada

Narrativa histórica d o NT Parábolas Epístolas Literatura apocalíptica

1.2. A tríade hermenêutica em detalhes

Vale a pena adquirir e aperfeiçoar essas habilidades. Isso trará glória a Deus e excelentes bênçãos ao estudante da Bíblia, que estenderá essas bênçãos também ao povo de Deus. Com esse fim em mente, as “Diretrizes para interpretação da Bíblia: método geral”, delineadas a seguir numa tabela e numa lista passo a passo, serão seguidas ao longo deste livro.60

“ Uma obra excelente que fundamenta a pregação bíblica nos três elementos que constituem a tríade hermenêutica (história, literatura e teologia), é Sidney Greidanus, The M odem Preacher and the Ancient Text: Interpreting and Preaching Biblical Literature (Grand Rapids: Eerdmans, 1988) [edição em português: O Pregador Contemporâneo e o Texto Antigo (São Paulo: Cultura Cristã, 2011) ].

1.3. Diretrizes para interpretação da Bíblia: método geral

I. PREPARAÇÃO Prepare-se para a tarefa da interpretação bíblica identificando de antemão seus pressupostos pessoais. Ore a Deus a fim de que ele abra sua mente para que você possa entender as Escrituras. Desempenhe essa tarefa usando um método adequado para a interpretação bíblica: a tríade hermenêutica. II. INTERPRETAÇÃO 1. Determine o contexto histórico da passagem e identifique os aspectos importantes do panorama cultural (história). 2. Situe a passagem no contexto canônico maior da Escritura como um todo (literatura/cânon). 3. Identifique o gênero literário da passagem e leia-a usando os princípios interpretativos apropriados (literatura/gênero). 4. Leia a passagem inteira com atenção, buscando entendê-la em seu contexto discursivo maior e, se possível, fazendo uma análise completa do discurso (literatura/linguagem/contexto discursivo). 5. Faça um estudo de campo semântico de qualquer termo que lhe parecer significativo na passagem (literatura/linguagem/sentido das palavras). 6. Identifique as figuras de linguagem da passagem, se houver, e leia-as segundo os devidos princípios de interpretação (literatura/linguagem figurada). 7. Identifique o(s) tema(s) teológico(s) principal(is) da passagem e determine a contribuição do texto para o entendimento do caráter e do plano de Deus em relação ao modo em que ele lida com seu povo (teologia). III. APLICAÇÃO E PROCLAMAÇÃO Avalie a relevância da passagem para os nossos dias e aplique-a corretamente à sua vida e à vida da igreja de hoje.

dupla autoria. A autoria tanto humana quanto divina das Escrituras. eisegese. Ler no texto um sentido pessoaf preferido. escola alexandrina. Abordagem interpretativa que preferia a interpretação alegórica à histórica. escola antioquena. Abordagem interpretativa que preferia a interpretação histórica à alegórica. exegese. Extrair do próprio texto a sua interpretação. hermenêutica. Disciplina que trata da teoria e da prática corretas de interpretação textual hermenêutica da percepção. Abordagem interpretativa que valoriza a escuta atenta do texto. método histórico-crítico. Abordagem interpretativa cuja principal preocupação é avaliar a historicidade dos acontecimentos registrados na Escritura, com resultados em geral negativos. S c rip tu ra su iin te rp re s. Máxima da Reforma segundo a qual não há melhor

intérprete da Escritura do que a própria Escritura. sentido quádruplo das Escrituras. Método de exegese medieval que procurava no texto bíblico os sentidos literal, alegórico, tropológico e anagógico. teologia estética. O estudo meramente literário das Escrituras.

1. Por que é tão importante interpretar as Escrituras fielmente? Justifique sua resposta com referências bíblicas. 2. Cite algumas conseqüências de uma interpretação irresponsável da Bíblia. Justifique sua resposta com referências bíbKcas. 3. Cite ao menos três características que o intérprete da Bíblia deve ter. Justifique sua resposta com um texto bíblico. 4. Quais são as três realidades com que o intérprete bíblico se depara e de que maneira elas formam a "tríade hermenêutica*? 5. O que acontece quando os intérpretes negligenciam uni ou dois elementos quaisquer dessa tríade? Ilustre sua resposta com exemplos da história da interpretação bíblica. ...

1. Dê exemplos tirados da Bíblia e de sua experiência pessoal que ilustrem os benefícios de uma interpretação bíblica correta e/ou o custo da interpretação bíblica equivocada. 2. Construa uma tabela que resuma a história da interpretação bíblica, incluindo as principais escolas ou intérpretes individuais, as respectivas datas e as características pertinentes a cada escola ou intérprete. Se possível, suplemente as informações fornecidas neste capítulo com sua pesquisa individual. 3. Discorra sobre a importância de cada um dos elementos da tríade hermenêutica — história, literatura e teologia — , bem como do cânon, do gênero e da linguagem. Mostre que privilegiar um ou outro elemento da tríade em detrimento dos demais resulta numa interpretação desequilibrada e aponte como isso pode distorcer a compreensão correta do texto bíblico. 4. Pondere e comente em detalhes cada uma das seguintes competências que o bom intérprete deve ter: consciência histórico-cultural, consciência do cânon, sensibilidade quanto ao gênero, competência lingüística e literária, bom conhecimento de teologia bíblica e aptidão para aplicar e comunicar a verdade bíblica.

Carson, D. A. Exegetical Fallacies. 2.éd. Grand Rapids: Baker, 1996.

____ .Os Perigos dá Interpretação Bíblica. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2001. Tradução de: Exegetical Fallacies. Grudem, Wayrie A., org. The ESV Study Bible. Wheaton: Crossway, 2008. Klein, William W. Handbook for Personal Bible Study: Enriching Your Experience with God's Word. The Navigators Réfererice Library. Colorado Springs: NavPress, 2008. _____ ;Craig L Blomberg; Robert L. Hubbard Jr. Introduction to Biblical Interpretation. Ed. rev. Nashville: Thomas Nelson, 2004. Osborne, Grant R. The HermeneuticalSpiral: A Comprehensive Introduction to Biblical Interpretation. 2. ed. Downers Grove: InterVarsity, 2006.

____ .A Espiral Hermenêutica: Uma Nova Abordagem à Interpretação Bíblica. São Paulo: Vida Nova, 2009. Tradução de: The Hermeneutical Spiral. Plummer, Robert L. 40 Questions about Understanding the Bible. Grand Rapids: Kregel, 2009. Schlatter, Adolf. The Historyof the Christ: the Foundation of New Testament Theology. Tradução de Andreas J. Kõstenberger. Grand Rapids: Baker, 1997. Tenney, Merrill C., org.; Moisés Silva. Ed. rev. The Zondervan Encyclopedia ofthe Bible. 5 vols. Grand Rapids: Zondervan, 2009. _____ , org.;_____.. Enciclopédia da Bíblia. 5 vols. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. Tradução de: The Zondervan Encyclopedia of the Bible, Vanhoozer, Kevin J. Is There a Meaning in This Text? The Bible, the Reader, and the Morality of Literary Knowledge. Grand Rapids: Zondervan, 1998.

____ .Há um Significado neste Texto? Interpretação Bíblica, os Enfoques Contemporâneos. São Paulo: Vida, 2010. Tradução de: Is There a Meaning in This Text? The Bible, the Reader, and the Morality of Literary Knowledge.

____ ,The Drama ofDoctrine:ACanonical-LinguisticApproach to Christian Theology. Louisville: Westminster John Knox, 2005. [A ser publicado em breve por Vida Nova] Wright, N.T. The New Testament and the PeopleofGod. Christian Origins and the Question of God 1. Philadelphia: Fortress, 1996.

A TRÍADE HERMENÊUTICA

O CONTEXTO DAS ESCRITURAS: HISTÓRIA

1. Levar o aluno a compreender a importância decisiva de conhecer o contexto histórico-cultural de uma passagem bíblica. 2. Dar certeza ao aluno da confiabilidade do registro bíblico. 3. Dirigir a atenção do aluno para a necessidade de identificar o propósito do autor no que diz respeito aos detalhes particulares que ele decidiu registrar. 4. Fornecer um conjunto de diretrizes de interpretação para aplicar os princípios contidos nos dados histórico-culturais da Bíblia aos problemas sociais e políticos do mundo atual.

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Capítulo 2: objetivos Esboço do capítulo Introdução: História e hermenêutica Cronologia 1. Período do Antigo Testamento a. Período primitivo b. Período patriarcal ...... c. Do Êxodo à monarquiaunida d. Monarquia dividida e. Exílio e retorno 2. Período do Segundo Templo a. Períodos babilônio e persa b. Período heienístko c. Período macabeu d. Período romano 3. Período do Novo Testamento a. Jesus b. A igreja primitiva e Paulo c. Restante do Novo Testamento Arqueologia 1. Antigo Testamento 2. Novo Testamento Contexto histórico-cultural 1. Fontes primárias a. Literatura do antigo Oriente Próximo b. Apócrifos do Antigo e do Novo Testamento c. Pseudepfgrafòs do Antigo Testamento d Manuscritos do Mar Morto e. Outras fontes primárias relevantes 2. Fontes secundárias Conclusão Amostra de exegese (AntigoTestamento) iReis 17— 18 Amostra de exegese (Novo Testamento) Lucas 2.1-20 Diretrizes para interpretar o contexto histórico-cultural Palàvrás-chave Questões para aprofundar o estudo Exercidos Bibliografia do capítulo

TEOLOGIA

Capítulo 2

APRESENTANDO O CENÁRIO: O CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL

INTRODUÇÃO: HISTÓRIA E HERMENÊUTICA

P

ara que a interpretação das Escrituras tenha um fundamento seguro, é imprescindível estudar o contexto histórico de uma passagem bíblica, incluindo quaisquer características culturais do contexto. De igual modo, o conhecimento do contexto histórico e cultural é imperativo para a aplicação da mensagem da Escritura. J. Scott Duvall e J. Daniel Hays apresentam bem a questão: Visto que vivemos num contexto muito diferente, precisam os recuperar o signifi­ cado original pretendido por Deus, refletido no texto e emoldurado pelo contexto histórico-cultural antigo. Ao compreendermos o texto no contexto original, podemos aplicá-lo à nossa vida de m odo que seja igualmente relevante.1

Enfatizar a importância das informações históricas não significa, obviamente, que toda informação contextual disponível será pertinente para a interpretação de determinada passagem. A relevância de uma informação contextual precisa ser pesada e avaliada com cautela. Sem dúvida, as informações do contexto nunca de­ vem ser mais importantes do que aquilo que está sendo afirmado explicitamente no texto. Na verdade, a falta de discernimento na seleção de informações contextuais tem levado alguns a menosprezar completamente o uso de informações histórico-culturais na interpretação do texto bíblico (certamente, uma reação exagerada). 1J. Scott Duvall e J. Daniel Hays, Crasping Gods Word, 2. ed. (Grand Rapids: Zondervan, 2005), p. 100.

Para nossos presentes propósitos, a questão hermenêutica mais importante refere-se à relação entre história e literatura, o primeiro e o segundo elementos da tríade hermenêutica. No grego e hebraico antigos, literatura é um conceito que remete imediatamente à noção de textos, diferentemente do que ocorre em nosso entendimento atual dessa palavra, com seu desenvolvimento histórico e cultural particular. Esses textos antigos não apenas exigem a tradução para uma língua que se compreenda hoje (como o português), mas também o estudo de aspectos histórico-culturais neles embutidos, visto que as línguas bíblicas e outros elementos da cultura e história da Bíblia estão inextricavelmente entrelaçados. De fato, em geral se reconhece que é de suma importância estudar as Escrituras no contexto apropriado e que esse contexto, por sua vez, corretamente concebido, consiste em facetas históricas e literárias. Sendo assim, não é preciso justificar a necessidade de pesquisa histórica competente como parte do processo interpre­ tativo. É suficiente dizer que essa necessidade salienta a importância de obras de consulta especializadas, tais como Bíblias de estudo, introduções ao Antigo e ao Novo Testamento, comentários e outras obras de referência consagradas. Entretanto, a reputação da pesquisa histórica foi manchada pelos adeptos do método histórico-crítico, o qual é amplamente embasado num viés antissobrenaturalista, que difama constantemente a historicidade de grande parte do material bíblico.2 Como reação aos excessos do método histórico-crítico, alguns têm defen­ dido uma leitura estritamente literária das Escrituras, deixando de lado a questão do referencial histórico.3 Embora supere a dificuldade de supostas discrepâncias históricas, esse método proposto também não é isento de problemas, porque rompe indevidamente o nexo essencial (na verdade, inevitável) entres os textos bíblicos e seu contexto histórico-cultural.4 2Veja William Baird, The History ofN ew Testament Research, 2 vols. (Minneapolis: Fortress, 1992, 2002). Veja também Eta Linnemann, Historical Criticism ofth e Bible: Methodology or Ideology?, trad. Robert W. Yarbrough (Grand Rapids: Baker, 1990) [edição em português; Crítica Histórica da Bíblia (São Paulo: Cultura Cristã, 2009)]. 3Hans W. Frei, The Eclipse o f Biblical Narrative: A Study in Eighteenth and Nineteenth Century Hermeneutics (New Haven: Yale University, 1980). 4Para uma narrativa cronológica extremamente útil das questões concernentes ao movimento do autor ao texto e ao leitor na área da hermenêutica, veja Grant R. Osborne, “Appendix 1: The Problem of Meaning: The Issues” e “Appendix 2: The Problem of Meaning: Toward a Solution”, in: The Hermeneutical Spiral: A Comprehensive Introduction to Biblical Interpretation, 2 ed. (Downers Grove, IL: InterVarsity, 2006), p. 465-521 [edição em português: A Espiral Hermenêutica (São Paulo: Vida Nova, 2009)].

Contribuindo para a depreciação da análise dos dados históricos, os pós-modernos acreditam que escrever história imparcial e objetiva é impossível. A visão da história como fatos que “realmente aconteceram” foi substituída pela concepção de que toda historiografia é inevitavelmente subjetiva. Além disso, os críticos pós-modernos em geral fazem a acusação de que grande parte da história é escrita pelos que prevaleceram em sua luta por poder e autoridade. Por isso, esses registros históricos são muitas vezes considerados ferramentas de opressão

manejadas pelos poderosos contra os destituídos de direitos. Nesse contexto, toda historiografia, incluindo os registros bíblicos, é encarada com suspeita, e o resultado disso é o ceticismo generalizado.5 Apesar das concepções dos pós-modernos, a história permanece inabalável e não pode ser ignorada. Afinal, o cristianismo é uma religião histórica fundamentada em um fato histórico: a ressurreição de Jesus Cristo (v. esp. os comentários de Paulo em ICo 15). Se a ressurreição de Jesus não ocorreu na história, nós não estamos salvos, mas permanecemos em nossos pecados (ICo 15.16-19). Num memorável

debate nas páginas do Trinity Journal, Carl F. F. Henry e Hans Frei trataram exata­ mente desse problema, e Frei, que propunha um enfoque prioritário no texto, em detrimento da história, para a interpretação das Escrituras, achou difícil afirmar de forma inequívoca que Jesus ressuscitou dos mortos não apenas textualmente, mas historicamente,6

Isso mostra quão importante é não separar indevidamente os aspectos histórico e literário da Escritura, mas mantê-los em equilíbrio apropriado, o que faz parte da tríade hermenêutica adotada no presente livro. O próprio fato de que a tríade consiste em história, literatura e teologia mostra a necessidade de que a pesquisa histórica seja equilibrada pelo foco adequado no texto (literatura) e de que se con­ ceda atenção suficiente à teologia (i.e., a autorrevelação de Deus no texto sagrado, historicamente firmada). O estudante da Bíblia deve evitar tanto os excessos do 'Entre as análises úteis sobre o pós-modernismo se incluem D. A. Carson, The Gagging o f God: Christianity Confronts Pluralism (Grand Rapids: Zondervan, 1996) [edição em português: O Deus Amordaçado: o Cristianismo Confronta o Pluralismo (São Paulo: Shedd, 2013)]; J. P. Moreland, “Truth, Contemporary Philosophy, and the Postmodern Turn”, in: Andreas J. Kõstenberger, ed., Whatever Happened to Truth? (Wheaton, IL: Crossway, 2005), p. 75-92; Millard J. Erickson, Truth orConsequences: The Promise andPerils ofPostmodernism (Downers Grove, IL: InterVarsity, 2001), t a r l F. H. Henry, “Narrative Theology: An Evangelical Appraisal”, T f 8/1 (1987), p. 3-19 e Hans Frei, “Response to ‘Narrative Theology: An Evangelical Appraisal’”, TJ 8/1 (1987), p. 21-4. Veja Umbém Kevin J. Vanhoozer, “A Lamp in the Labyrinth: The Hermeneutics of ‘Aesthetic’ Theology”, 17 8/1 (1987), p. 25-56; Andreas J. Kõstenberger, “Aesthetic Theology—Blessing or Curse? An Assessment of Narrative Hermeneutics”, Faith &M ission 15/2 (1998), p. 27-44.

método histórico-crítico quanto os reducionismos de abordagens literárias abso­ lutas, que se colocam contra a pesquisa histórica.

CRONOLOGIA A leitura da Bíblia revela a enorme distância cronológica entre os acontecimentos nela registrados e os nossos dias; em suas páginas encontram-se não apenas fatos muito antigos, mas também costumes bastante diferentes dos atuais. A fim de com­ preender seu significado, é necessário entender as pessoas, os eventos e os costumes apresentados na Bíblia em seu próprio ambiente histórico.7O restante deste capítulo oferece visões gerais de cronologia e arqueologia bíblicas e pesquisa sobre o contexto histórico-cultural, começando com um quadro histórico geral para interpretar o texto bíblico empregando a cronologia bíblica.8

Período do Antigo Testamento Pelas informações internas da Bíblia, podemos determinar datas para a cronologia do Antigo Testamento. Uma passagem fundamental é IReis 6.1, que menciona o quarto ano do reinado de Salomão, situando-o em 480 anos depois do Êxodo.9 A correlação de informações de fontes externas com o registro bíblico situa essa data em 987 a.C.10 Utilizando outras informações bíblicas, podemos determinar uma 7Entre as melhores fontes estão John Walton, org. Zondervan Illustrated Bible Backgrounds Com­ mentary: Old Testament, 5 vols. (Grand Rapids: Zondervan, 2009); e Clinton Arnold, org. Zondervan Illustrated Bible Backgrounds Commentary: New Testament, 4 vols. (Grand Rapids: Zondervan, 2001). Veja também excelentes Bíblias de estudo, tais como a NIVStudy Bible [edição em português: Bíblia de Estudo N VI (São Paulo: Vida, 2003)], a ESVStudy Bible e a HCSB Study Bible. 8Para uma pesquisa proveitosa e mais detalhada da história bíblica, veja “Biblical History”, de P. E. Satterthwaite, in: T. Desmond Alexander e Brian S. Rosner, orgs., New Dictionary o f Biblical Theology: Exploring the Unity & Diversity o f Scripture (Leicester: InterVarsity, 2000), p. 43-5 [edição em português: Novo Dicionário de Teologia Bíblica (São Paulo: Vida, 2009)]. 9A seguinte visão geral se concentra nas informações internas para estabelecer um enquadramen­ to da cronologia bíblica. Externamente, o quadro cronológico para o antigo Oriente Próximo foi bem determinado com dados de duas fontes: 1) o Cânon de Ptolomeu, geógrafo grego, que lista os nomes dos reis da Babilônia de 747 a.C ao segundo século d.C.; 2) um registro dos nomes daqueles que ocuparam o cargo de limmu (ou epônimo) na antiga Assíria. 10J. Barton Payne, “Chronology of the Old Testament”, in: Merrill C. Tenney e Moisés Silva, orgs., The Zondervan Pictorial Encyclopedia ofth e Bible, 5 vols., ed. rev. (Grand Rapids: Zondervan, 2009), p. 1.846-65; Richard D. Patterson, “The Divided Monarchy: Sources, Approaches and Historicity”, in: David M. Howard Jr. e Michael A. Grisanti, orgs., Giving the Sense: Understanding and Using Old Testament Historical Texts (Grand Rapids: Kregel, 2003), p. 182-3.

cronologia geral bem estabelecida para o Antigo Testamento, que se estende do nascimento de Abraão, em 2166 a.C., ao fim do período veterotestamentário, na última década do quinto século a.C. Uma cronologia correta, portanto, provê ao intérprete o quadro necessário para entender determinada passagem do Antigo Testamento em seu contexto histórico.11

P er ío d o

pr im itiv o

O período primitivo abrange o intervalo de tempo registrado entre Gênesis 1—11, que se estende desde a Criação até o nascimento de Abraão. Ainda que não possamos determinar com precisão nenhuma das datas desse período, Gênesis 1— 11 é uma parte fundamental da história bíblica, pois não reflete apenas reali­ dades textuais, mas também realidades históricas que serviram para configurar o mundo presente. O mundo em que vivemos é o mesmo que Deus criou como sendo muito bom, o qual foi corrompido pela Queda e no qual Deus estabeleceu sua aliança com Noé e fez sua promessa a Abraão. Se tudo isso não é realidade histórica, então a fé cristã é tão somente uma entre muitas concepções mitológicas do mundo. A verdadeira fé está enraizada num texto que não revela apenas uma realidade literária, mas também a realidade histórica. As realidades históricas são comunicadas por meio de um texto, o qual, por sua própria natureza, é seletivo no que registra. Por essa razão, não existe uma história completa de todos os acontecimentos. Antes, os autores bíblicos registra­ ram os fatos históricos mais significativos para que se compreenda quem é Deus, o que ele está realizando no mundo e o que ele convoca a humanidade a fazer em resposta a ele. Desse modo, o texto bíblico fornece o enquadramento interpretativo para compreender a história humana. Além disso, o enredo bíblico se concentra particularmente na história da salvação, isto é, no relato da missão de Deus ao realizar seu plano de redenção para a humanidade pecadora no Messias e por intermédio dele. Esta seção sobre cronologia busca compreender essa história tal como apresentada no texto bíblico. “ Mais informações vêm das fontes mesopotâmicas e egípcias, como anais reais, listas de reis e his­ tórias que detalham acontecimentos específicos entre potências políticas, que podem ser encontradas em: James H. Breasted, org., Ancient Records ofEgypt, 5 vols. (London: Histories &MysteriesofMan, 1988); William W. Hallo e K. Lawson Younger Jr., The Context o f Scripture, 3 vols. (Leiden: Brill, 1997, 2000, 2002); David D. Luckenbill, Ancient Records o f Assyria and Babylonia, 2 vols. (Chicago: Uni­ versity of Chicago Press, 1926); James B. Pritchard, org. Ancient Near Eastern Texts, 3. ed. (Prínceton: Princeton University Press, 1969); Kenton L. Sparks, Ancient Texts fo r the Study o f the Hebrew Bible: A Guide to the Background Literature (Peabody, MA: Hendrickson, 2005).

Embora Gênesis 1 e 2, na qualidade de narrativa de como Deus, o Criador, deu origem ao universo, seja, sem dúvida, uma parte fundamental do propósito do autor, essa narrativa se insere no contexto maior do objetivo dos cinco livros de Moisés (o Pentateuco) como um todo. Sendo assim, o propósito maior dessa nar­ rativa é demonstrar a Israel que seu Deus da aliança, Yahweh, também é o Criador de todo o universo. Nesse contexto, situar a criação do mundo num ponto exato do tempo no passado é secundário em relação a compreender a narrativa da Criação no contexto em que foi originalmente escrita, a saber, os estágios iniciais de Israel se constituindo como nação, como parte de sua relação com Yahweh, o Criador e Deus que firmara sua aliança primeiro com Noé, depois com Abraão e então com Moisés. Logo depois da Criação vem a queda da humanidade no pecado. Apesar de Deus ter criado “boas” todas as coisas, o pecado de Adão traz a morte para toda a criação. Deus, contudo, imediatamente anuncia a possibilidade de vencer a morte e restaurar todas as coisas por intermédio da semente prometida, um filho de Eva que acabaria com o poder do pecado (Gn 3.15). Apesar da promessa de Deus de encerrar o reino do pecado esmagando a cabeça da serpente, esse período primitivo demonstra que a humanidade entrou numa espiral descendente, até que “o Se n h o r viu que a maldade do homem na terra era grande e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era continuamente má” (Gn 6.5). Em meio a este mundo de pecado, Deus mantém um remanescente de pessoas que são fiéis a ele. Na narrativa do Dilúvio, toda carne é destruída, exceto a família de Noé (Gn 6—9); portanto, a promessa da semente continua. Depois do Dilúvio, a aliança com Noé confirma que Deus sustentará o ciclo natural a fim de preparar um firme terreno para a redenção de todas as coisas pela prometida semente (Gn 9). O relato da torre de Babel serve para mostrar a necessidade da redenção de todas as nações (Gn 11). A resposta para a situação da criação e o livramento das nações virá por meio da aliança de Deus com Abraão. P eríodo

patriarcal

A maior parte do período patriarcal situa-se na era arqueológica conhecida como Idade do Bronze Média (c. 2000-1660 a.C.).12 Na literatura bíblica, o período patriarcal começa em Gênesis 12, com o chamado de Deus a Abrão e sua aliança 12Há evidências consideráveis de que os nomes dos patriarcas não são míticos, lendários nem inventados. Em vez disso, eles são bem comprovados pela literatura extrabíblica do período, como os textos de Tell Ebla e as tábuas de Tell Mar. Veja Kenneth A. Kitchen, The Bible in Its World (Downers Grove: InterVarsity, 1978), p. 68.

com ele, prosseguindo ao longo da vida de Abraão, Isaque, Jacó e José até o fim

de Gênesis (2092-1877/6 a.C.). Grande parte da literatura bíblica, incluindo o material que abrange o período patriarcal, foi escrita para demonstrar a fidelidade de Deus às promessas que ele fez a Abr(a)ão em Gênesis 12,15 e 17. O povo hebreu, e, portanto, as promessas da aliança de Deus e a libertação de tudo que Deus havia criado, enfrentou um grande desafio com a escravidão do povo mo Egito (1876-1447 a.C.). O livro de Êxodo começa com os hebreus tornando-se tão numerosos que o faraó egípcio decreta a matança de todas as crianças do sexo

masculino recém-nascidas e, assim, a promessa da semente é ameaçada. Entretanto, “ouvindo os gemidos deles, Deus lembrou-se da sua aliança com Abraão, com Isaque e com Jacó” (Êx 2.24).

Do ÊXODO À MONARQUIA UNIDA No Êxodo do povo hebreu do Egito, indiscutivelmente o mais importante acon­ tecimento para a formação da nação de Israel (1447/6 a.C.),13 Deus relembra sua aliança com Abraão. Com essa libertação e a aliança mosaica estabelecida no Sinai, Deus dá origem a Israel, uma nação separada para ele. Deus então se mantém às suas promessas da aliança ao conduzir o povo na travessia do Jordão para ocupar a terra que ele prometera aos antepassados de Israel (1407/6 a.C.).14A isso se segue o período dos juizes, quando Deus continuamente levanta líderes para conduzir Israel de volta à fidelidade para com a aliança (1367-1064 a.C.).15 Em seguida, tem início a monarquia unida com a unção de Saul como rei (1044 a.C.). “ Para um debate a respeito da data do Êxodo bíblico, veja John J. Bimson, Redacting the Exodus mml Conquest (Sheffield: University of Sheffield, 1981); Ralph K. Hawkins, “Propositions for Evany * r a l Acceptance of a Late Date Exodus Conquest: Biblical Data and the Royal Scarabs from Mt. BmT, JETS 50 (2007), p. 31-46; James K. Hoffmeier, Israel in Egypt (New York: Oxford University f t e s , 1996), p. 164-98; idem, “What is the Biblical Date for the Exodus? A Response to Bryant Wood”, JETS 50 (2007), p. 225-47; Kenneth A. Kitchen, On the Reliability o f the Old Testament fGrand Rapids: Eerdmans, 2003), p. 65-79; Carl G. Rasmussen, “Conquest, Infiltration, Revolt, or Scsettlement”, in; Giving the Sense, p. 143-59; William H. Shea, “lh e Date ofthe Exodus”, in: Giving ÉÊt Sense, p. 236-55; Bryant G. Wood, “The Rise and Fali of the 13th-Century-Conquest Theory”, JETS 48 (2005), p. 475-88; idem, “The Biblical Date for the Exodus is 1446 BC: A Response to James Hoflmeier”, JETS 50 (2006), p. 164-98. “Bryant G. Wood, “The Rise and Fali ofthe 13th-Century-Conquest Theory”, JETS 48/3 (2005), p. 488. “ Para detalhes, veja John J. Bimson, Redating the Exodus and Conquest (Sheffield: University of Sheffield, 1981), p. 223; Eugene H. Merrill, Kingdom ofPriests (Grand Rapids: Baker, 1987), p. 141-88 [edição em português: História de Israel no Antigo Testamento: o Reino de Sacerdotes que Deus Colocou entre as Nações (Rio de Janeiro: CPAD, 2001)]; Andrew E. Steinmann, “The Mysterious Nnmbers of the Book of Judges”, JETS 48/3 (2005), p. 491-500.

Esse período consiste nos reinados de Saul, Davi e Salomão. No que diz respeito à literatura bíblica, esse período revelou-se importante, pois nele vicejaram o livro de Salmos e a literatura de sabedoria, de tal modo que Davi e Salomão se tornaram, respectivamente, o salmista arquetípico e a personificação da sabedoria. O período da monarquia unida também se revelou importante com respeito às promessas da aliança de Deus. Deus fez uma aliança com Davi, afirmando: Quando os teus dias se com pletarem e descansares com teus pais, providenciarei um sucessor da tua descendência, que procederá de ti; e estabelecerei o reino dele. Ele edificará uma casa ao meu nome, e para sempre estabelecerei o trono do seu reino (2Sm 7.12,13).

Essa aliança com Davi manteve a fidelidade de Deus a suas alianças anteriores, especificando que a semente prometida, o Messias de Deus, viria na linhagem de Davi e por meio dela (v. Mt 1.1-17). Posteriormente, Salomão constrói o Templo como o local que Deus havia escolhido para fazer ali habitar seu nome (957 a.C.). Após a morte de Salomão, a nação se divide em Reino do Norte (Israel) e Reino do Sul (Judá). M onarquia

dividida

A época da monarquia dividida vai desde a morte de Salomão até o colapso do Reino do Norte e do Reino do Sul em 722 a.C. e 586 a.C., respectivamente. Esse é um período intenso na história do antigo Oriente Próximo, que presencia a ascensão do Império Neoassírio (745-612 a.C.), do Império Neobabilônico (ou Caldeu) (629-539 a.C.) e o breve renascimento do Egito (644-525 a.C.). A localização de Israel no meio dessas potências concorrentes é fonte de constante pressão sobre os dois reinos. Essa pressão fará com que Israel e Judá violem a aliança, apostatem e passem a adorar outros deuses. Violar a aliança, por sua vez, implica que Israel e Judá incorram na maldição da aliança mosaica — o exílio da Terra Prometida (586-516 a.C.). E xílio

e retorno

Como já foi dito, o Reino do Norte (Israel) é levado ao exílio pelos assírios em 722 a.C., e o Reino do Sul (Judá) tem o mesmo destino, sucumbindo ao cativeiro babilônico. Se o Êxodo é um acontecimento paradigmático da redenção, o Exílio é o paradigma do julgamento. Embora tenha sido a infidelidade de Israel — não de Deus — que tenha resultado em julgamento divino, no exílio os judeus questionam

a fidelidade de Deus à sua aliança. Deus havia prometido que Israel permaneceria na terra para sempre, que o nome dele habitaria o Templo indefinidamente, que o trono seria ocupado para sempre por um filho de Davi e que todas as nações

seriam abençoadas por meio de Israel. Todavia, outras nações levaram Israel cativo e destruíram o Templo. Não obstante, apesar de Israel ter deixado de cumprir sua parte na aliança, Deus se mostrou fiel. No devido tempo, Deus chama o rei persa Ciro para derrotar os babilônios que haviam capturado Israel (Is 44.24—45.7). O rei então publica um decreto que ordena a recondução do povo à Terra Prometida (586 a.C.). Depois disso, o povo começa a

reconstruir o Templo em 536 a.C. Sob o ministério de Esdras e Neemias, a reconstru­ ção do Templo termina em 516 a.C. Deus prova sua fidelidade, e o povo é trazido de volta do Exílio. Apesar de reconstruído, o novo Templo não é tão glorioso quanto o de Salomão, nem a glória de Deus desceu para ratificar ali sua presença novamente. O cumprimento por parte de Deus de suas promessas aguarda um tempo futuro.

2.1. CRONOLOGIA DA BÍBLIA: 2167-430 a.C. ------------ T*-m--- ---------m--- wp fcfcPA TA

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As duas tabelas anteriores apresentam informações sobre Jesus e os Evangelhos, o livro de Atos e as epístolas de Paulo (deve-se acrescentar que o mais provável é que os Evangelhos Sinóticos tenham sido escritos antes da destruição do Templo no ano 70 d.C., enquanto o Evangelho de João data muito provavelmente dos jd o s

80 ou início dos 90). Também é necessário ter em mente um quadro para o

restante dos livros do Novo Testamento.24 A Carta de Tiago, uma obra judeo-cristã escrita por um dos meios-irmãos de )esus, o líder da igreja de Jerusalém, foi redigida provavelmente por volta da época do Concilio de Jerusalém, no início da década de cinqüenta, no primeiro século. A Epístola de Judas, de autoria do irmão de Tiago e meio-irmão de Jesus, também

pode datar dos anos 50. Esta, por sua vez, foi provavelmente usada por Pedro em 2Pedro 2, o que faz supor datas nos anos 60 para as duas cartas de Pedro. É quase certo que o livro de Hebreus tenha sido escrito antes da destruição do Templo de Jerusalém, na década de setenta do primeiro século. É difícil ima­ ginar por que o autor não mencionaria a destruição do Templo se ela já tivesse ocorrido na época da escrita, visto que isso teria fornecido um forte apoio para sua 24Para uma análise de questões introdutórias a todos os livros do Novo Testamento, veja D. A. Carson e Douglas J. Moo, An Introduction to the New Testament, ed. rev. (Grand Rapids: Zondervan, 2005) [edição em português: Introdução ao Novo Testamento (São Paulo: Vida Nova, 1997)]; e Kõstenberger, Kellum e Quarles, The Cradle, the Cross, and the Crown.

argumentação de que o judaísmo antigo agora havia sido superado — e cumprido — em Jesus e na fé cristã. O corpus joanino, por fim, consiste no Evangelho de João, nas três cartas a ele atribuídas e no livro de Apocalipse, muito provavelmente agrupados nessa ordem entre as décadas de oitenta e noventa, com o Apocalipse encerrando todo o cânon das Escrituras. Desse modo, o quadro canônico para a interpretação do Novo Testamento estende-se dos Evangelhos, passando pela narrativa histórica de Atos e pelas epístolas até chegar ao fechamento com o Apocalipse.25

ARQUEOLOGIA Antigo Testamento A arqueologia tem aumentado continuamente o entendimento da história e da cul­ tura do antigo Oriente Próximo, começando com a decifração da Pedra de Roseta no século 19. Essa extraordinária descoberta providenciou a chave para o idioma do Egito Antigo e proporcionou o impulso para que se continuasse a desemaranhar os fios entrelaçados da história dessa região. O espaço aqui disponível não permite uma catalogação de todos os trabalhos pioneiros na arqueologia do Oriente Próximo, mas faz-se necessária uma menção especial a Sir Flinders Petrie, cujas escavações em Tell el Hesi (cerca de 24 km a nordeste de Gaza) lançaram o alicerce de todas as escavações arqueológicas posteriores. Com base nas várias descobertas importantes do início do século 20, a busca pelo conhecimento do antigo Oriente Próximo floresceu entre as duas guerras mundiais. Desde então, um progresso continua ocorrendo regularmente, com a contribuição de estudiosos de muitos países para essa disciplina.26 Embora um grande número de tells, ou montes constituídos de detritos de assentamentos anteriores, permaneça total ou parcialmente ainda sem escavação, a arqueologia contribuiu de forma considerável para o entendimento do registro bíblico. Em alguns casos, as Escrituras do Antigo Testamento são confirmadas pela arqueologia. Em outros, novas informações trazem luz a pontos de difícil entendimento, enquanto, ainda em outros casos, as informações bíblicas são complementadas por constantes descobertas. Algumas dessas descobertas arqueológicas foram mencionadas anterior­ mente no estudo do período patriarcal, da época do Êxodo e do período dos juizes.27 25Veja o cap. 11. “ As descobertas contemporâneas estão regularmente disponíveis nos principais periódicos, como o AASOR, BA, BAR, BASOR, o Near East Archaeological Society Bulletin (NEASB) e Artifax. 27Veja ainda os vários artigos excelentes sobre esses períodos de Richard Averbeck, Carl Rasmussen, Mark Rooker, William Shea e Bryant Wood em Giving the Sense, p. 115-59, 217-99.

No que diz respeito ao período da monarquia unida, a descrição bíblica do lan p lo de Salomão encontra confirmação na escavação de templos dispostos de ■raeira semelhante na antiga Síria-Palestina. Mais informações relacionadas às jüvidades de construção de Salomão vêm das escavações em Hazor, Megido e Gezer. Nesses locais, as fortificações e atividades de construção de Salomão envolviam ■■nos de alvenaria em casamatas, obra de cantaria e portões com seis câmaras, três

é t cada lado. Esse tipo de construção, típica da era salomônica, ilustra a precisão 4o registro bíblico, em IReis 9.15, atestando que foi Salomão quem construiu os ■uros ao redor dessas cidades.28 Com respeito à época da monarquia dividida, numerosas descobertas auxiliam

ao entendimento mais completo do registro bíblico desse período (931-841 a.C.). f b primeira parte desse período, o faraó Sheshonq I, da vigésima segunda dinastia 4o Egito (Sisaque, na Bíblia) invade Israel (lRs 14.25,26). O relato do próprio Sheshonq foi encontrado no grande templo de Karnak. Nesse relato, ele lista mais é t 150 cidades palestinas que atacou e espoliou.29 No período médio da história do Antigo Testamento (841-640 a.C.), o rei assírio Salmaneser III (859-835 a.C.) registra em seu conhecido Obelisco Negro a capitulação do rei Jeú de Israel: “O tributo de Jeú, filho de Onri”. Essa informa­ ção complementa aquela que o registro bíblico fornece a respeito do reinado de Jeú (2Rs 9.1 —10.36). O conhecido relato do cerco de Jerusalém pelo rei assírio Senaqueribe, em que ele perdeu 185 mil homens por causa da intervenção do Senhor (2Rs 19.35,36), também se situa nesse período. A versão de Senaqueribe desse acontecimento na sua terceira campanha tenta pintar um quadro mais positivo, afirmando que Ezequias lhe pagou um pesado tributo para fazê-lo sair de Jerusalém.30 A respeito de Ezequias, Senaqueribe declara: “Quanto a Ezequias, o judeu [...] A ele, como um pássaro engaiolado, em Jerusalém, sua cidade real, eu tranquei”.31 Um dos problemas mais intrigantes referentes à queda do Reino do Norte diz respeito à identidade de “Sô, rei do Egito” (2Rs 17.4). Pelo fato de não haver nenhum faraó listado com esse nome, alguns propuseram que o relato bíblico é a IReis 9.15: “O rei Salomão impôs trabalhos forçados a fim de edificar o templo do S e n h o r , o seu próprio palácio, o Milo, e o muro de Jerusalém, assim como Hazor, Megido e Gezer”. Veja ainda Hoerth, Archaeology, p. 281-8. ” Veja Breasted, org., Ancient Records ofEgypt, 4, p. 348-55. Veja também William Petrie, Egypt and Israel (London: Society for Promoting Christian Knowledge, 1911) e esp. Hoerth, Archaeology, pL 300-2. "Veja Luckenbill, Ancient Records ofA ssyria an d Babylonia, 2, p. 120-1. 31Ibidem, 2, p. 143.

impreciso ou está errado.32 Apresentaram-se algumas sugestões para harmonizar o relato bíblico com os dados egípcios.33 A. R. Green, por exemplo, equiparou o “Sô” mencionado na Bíblia a um certo faraó Piankhy da vigésima quinta dinastia do Egito, cujo crescente poder pode ter chamado a atenção do rei Oseias de Israel, que, por isso, enviou “mensageiros” a ele buscando uma possível ajuda contra os assírios.34 A proposta de Green, como a de alguns outros, demonstra o valor da pesquisa arqueológica e histórica e mostra que os estudiosos não devem desconsi­ derar o relato bíblico tão apressadamente. Outro exemplo é a menção de Daniel ao rei Belsazar da Babilônia (Dn 5). Gerações anteriores consideravam esse fato como um dos erros mais óbvios da Bíblia, pois os historiadores antigos mencionavam Nabonido como o último so­ berano da Babilônia. Entretanto, informações posteriores, descobertas em tábuas de argila babilônicas, provaram não somente a existência de Belsazar, mas também indicaram que Nabonido, seu pai, ausentava-se da Babilônia por longos períodos e deixava os negócios do Estado sob os cuidados de Belsazar. Hoje, a negação crítica da existência de Belsazar praticamente desapareceu. A confirmação do registro bíblico do terceiro período (640-586 a.C.), referente à narrativa do cativeiro de Daniel em poder do rei Nabucodonosor II da Babilônia, em 605 a.C., provém das crônicas babilônicas. Nesse ano, depois de derrotar os assírios e os egípcios em Carquemis, Nabucodonosor marchou rumo ao oeste, mas, por causa da morte de seu pai, Nabopolassar, ele retornou à Babilônia para proteger o trono. Depois disso, reuniu suas tropas outra vez e marchou “sem resistência pela terra de Hatti”.35Essas datas se harmonizam com os relatos bíblicos de Daniel 1.1,2 e 2Crônicas 36.6,7.36 32Veja G. H. Jones, 1 and 2 Kings, New Century Biblical Commentary (Grand Rapids: Eerdmans, 1984), 2, p. 546-7; D. B. Redford, “Studies in Relations Between Palestine and Egypt During the First Millennium B.C.”, JAOS 93 (1973), p. 3-17. 33Veja, por exemplo, Kenneth A. Kitchen, The Third Intermediate Period in Egypt (Warminster, England: Aris & Phillips, 1973), p. 371-6; H. Goedicke, “The End of So, King of Egypt”, BASOR 17 (1963), p. 64-6; J. Day, “The Problem o f ‘So, King of Egypt’ in 2 Kings xvii.4” Vetus Testamentum 42 (1992), p. 289-301. 34A. R. Green, “The Identity of King So of Egypt: An Alternate Interpretation", JNES 52 (1993), p. 99-108. 35Veja Donald J. Wiseman, org., Chronicles o f the Chaldaean Kings (London: Trustees of the British Museum, 1956), p. 69. 36Esdarecimento sobre o avanço babilônico contra Judá em 598-597 a.C. também pode ser en­ contrado nos Óstracos de Laquis, que detalham o avanço dos babilônios ao sul em direção a Judá, e nas crônicas babilônicas que relatam acontecimentos relativos ao fim progressivo de Judá no final do sétimo século e a (segunda) deportação de Jerusalém em 597 a.C.

Os exemplos há pouco mencionados são apenas uma breve amostra dos mui­ tos casos em que o registro bíblico foi verificado, esclarecido ou complementado pda pá do arqueólogo. Por isso, um bom intérprete leva em consideração os dados arqueológicos ao observar o aspecto histórico da tríade hermenêutica.

Movo Testamento Em anos recentes, a arqueologia tem dado uma contribuição significativa para o melhor conhecimento das várias características geográficas e topográficas do Novo Testamento, e temos à disposição informações arqueológicas detalhadas acerca de muitos locais mencionados no Novo Testamento.37 Esta seção trata brevemente de questões históricas, culturais e arqueológicas para a interpretação do Novo Testamento relativas à vida de Jesus, de Paulo e aos escritos neotestamentários.38 Charlesworth alista o que ele considera as sete contribuições mais importantes feitas pela arqueologia para a pesquisa sobre Jesus: 1. evidências arqueológicas de que Jesus foi crucificado sobre a rocha que agora se vê no interior da Basílica do Santo Sepulcro; 2. os restos de um homem crucificado chamado Jehohanan;39 3. o pretório, a residência oficial do governador romano: a casa de Pilatos ficava provavelmente na cidade alta, não na Fortaleza Antônia; 4. o tanque de Betesda, mencionado em João 5.2-9;40 ^Veja esp. “Archeology and Geography”, DJG, p. 33-46; E. Stern, org., The New Encyclopedia o f A nhaeological Excavations in the Holy Land, 4 vols. (New York/London: Simon & Schuster, 1993); E. M. Meyers, org., The Oxford Encyclopedia o f Archaeology in the Near East, 5 vols. (New York/ Oxford: Oxford University, 1997); A. Negev e S. Gibson, orgs., Archaeological Encyclopedia o fth e Hofy Land, ed. rev. (New York/London: Continuum, 2001). Veja também “Archaeology and the BMe”, in: ESV Study Bible, p. 2591-4. MA própria existência de Jesus é inquestionavelmente atestada por testemunhas em geral hostis à Sé cristã. O historiador romano Suetônio se refere à expulsão dos judeus por Cláudio por causa de distúrbios relacionados a “Chrestus” (i.e., Jesus; Cláudio, 25.4; cf. At 18.2). Outro historiador nxnano, Tácito, escreve que “Christus, de quem o nome [cristãos] teve origem, sofreu a pena capital ao reinado de Tibério, nas mãos de um de nossos procuradores, Pôncio Pilatos” (Annals 15.44). fosefo, historiador judeu, refere-se ao julgamento de “Tiago, o irmão de Jesus, que era chamado o Cristo” (Ant, 20.9.1, § 200-3). O Talmude Babilônico declara: “Na véspera da Páscoa, Yeshu [Jesus] fci pendurado” (b. Sanh., 43a). ^Estima-se que o homem tinha entre 24 e 28 anos; seus restos datam aproximadamente da época de Jesus e foram encontrados em Jerusalém em 1968. Cf. James H. Charlesworth, “Jesus and lehohanan: An Archaeological Note on Crucifixion”, Expository Times. 84 (1972-1973), p. 147-50. "Cf. esp. Urban C. von Wahlde, “Archaeology and Johrís Gospel”, in: James H. Charlesworth, org., Jesus and Archaeology (Grand Rapids: Eerdmans, 2006), p. 560-66.

5. o monte do Templo: estruturas monumentais anteriores ao ano 70 d.C., localizadas na parte sul do muro do Templo; 6. os muros e portões de Jerusalém; 7. sinagogas anteriores ao ano 70 em Gamla e Massada, e o Herodium, e possivelmente em Jericó.41 A essas, podemos acrescentar a inscrição de Pilatos (“Pôncio Pilatos, pretor da Judeia) descoberta em 1961 na Cesareia Marítima;42as tumbas de Anás e Caifás, e o ossuário de Caifás (que exibe o nome José Caifás);43 o ossuário de Tiago (que exibe a inscrição “Tiago, filho de José, irmão de Jesus”);44e o grafite de Alexamenos (“Alexamenos adora seu deus”).45Embora os arqueólogos nem sempre concordem na interpretação das descobertas arqueológicas e na relação delas com Jesus, nenhuma descoberta contradisse quaisquer informações relativas a Jesus apresentadas nos Evangelhos canônicos. Em relação a Paulo e aos escritos do Novo Testamento, grandes escavações foram realizadas em muitas das cidades onde Paulo ministrou e onde a missão cristã primitiva se desenvolveu. Entre elas, há locais importantes como Éfeso e Corinto, por exemplo.46 Particularmente importante é a inscrição de Gálio, que nos permite datar o governo de Gálio na província da Acaia entre o verão de 51 e o verão de 52. É mais provável, portanto, que os judeus tenham apresentado acusa­ ções contra Paulo no verão ou outono do ano 51, de acordo com Atos 18.12. Com o ministério de Paulo em Corinto abrangendo o período de 18 meses (At 18.11) e 41Cf. James H. Charlesworth, “Jesus Research and Archaeology: A New Perspective”, in: Jesus and Archaeology, p. 27-37, em referência a idem, Jesus within Judaism: N ew Lightfrom ExcitingArchaeological Discoveries, ABRL 1 (Garden City: Doubleday, 1988), que lista mais descobertas em Nazaré, Caná, Betsaida, o Barco da Galileia, Cesareia Marítima, Jerusalém, a casa de Pedro em Cafarnaum (?) e Séforis. Veja também muitos outros artigos em Jesus an d Archaeology. 42Cf. Andreas J. Kõstenberger, John, ZIBBC 2.165. 43Cf. Zvi Greenhut, “Burial Cave of the Caiaphas family” e Ronny Reich, “Caiaphas Name Inscribed on Bone Boxes”, Biblical Archaeology Review 18 (1992), p. 28-36, 38-44, 76. “^Entretanto, a autenticidade da inscrição é debatida. Estão seguros a respeito dela Hershel Shanks e Ben Witherington, in: The Brother o f Jesus (San Francisco: HarperSanFrancisco, 2003) [edição em português: O Irm ão de Jesus (São Paulo: Hagnos, 2008)]; mais cauteloso é Craig A. Evans, em Jesus and the Ossuaries (Waco: Baylor University, 2003); cético é Charlesworth, in: Jesus and Archaeology, p. 48. 45Cf. Everett Ferguson, Backgrounds o f Early Christianity, 2. ed. (Grand Rapids: Eerdmans, 1993), p. 560-1. “ Sobre Éfeso, veja Helmut Koester, org„ Ephesos: Metropolis o fA sia (Valley Forge, PA: Trinity, 1995); Peter Scherrer et al., orgs., Ephesus: The New Guide, ed. rev., trad. Lionel Bier e George M. Luxon (Selçuk: Õsterreichisches Archãologisches Institut, 2000); sobre Corinto, veja David E. Garland, 1 Corinthians, BECNT (Grand Rapids: Baker, 2003), p. 1-13.

sua partida da cidade em algum momento depois do incidente de Gálio, pode-se datar a chegada de Paulo a Corinto no início dos anos 50. Desse modo, a inscrição de Gálio, como uma das poucas datas razoavelmente estabelecidas na história do Novo Testamento, fornece suporte para uma cronologia absoluta da vida, das cartas e do ministério de Paulo.47

CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL Fazer justiça ao aspecto histórico das Escrituras implica não apenas um estudo atento da cronologia e da arqueologia, mas também envolve sensibilidade a vários aspectos do texto bíblico relacionados ao contexto histórico-cultural. Por exem­ plo, a discussão de Paulo acerca das divisões na igreja coríntia em ICoríntios 1—4 se baseia consideravelmente em escolas retóricas e conceitos de liderança greco-romanos do primeiro século. A compreensão das referências de Paulo à riqueza e à prosperidade, assim como à imoralidade sexual, na mesma carta se toma muito mais clara quando se entende que Corinto era uma próspera cidade portuária onde a imoralidade sexual se alastrava. Considere-se o Evangelho de João, por exemplo. Entre muitos outros aspectos do contexto histórico-cultural, o relato de João inclui um casamento (Jo 2.1-12) e um funeral (Jo 11.1-44).48 Os casamentos judaicos eram ocasiões sociais importantes. As festas em geral duravam sete dias, e a família do noivo era responsável por suprir os convidados durante as celebrações. Caná ficava a cerca de quinze quilômetros de Nazaré, onde Jesus cresceu, o que pode explicar por que Maria, a mãe de Jesus, e o próprio Jesus foram convidados para o casamento. Se Maria era amiga da família 47Veja a cronologia de Paulo mencionada anteriormente. Veja também Ferguson, Backgrounds,

p. 549-50. Outro artefato que corrobora as informações do Novo Testamento é a inscrição de Erasto, que diz: “Erasto, em troca de sua magistratura, construiu [o pavimento] à sua própria custa”, e que a maioria acredita que se refere à pessoa mencionada por Paulo em Romanos 16.23 como o oikonomos da cidade (magistrado?; veja também 2Tm 4.20; At 19.22; para uma discussão proveitosa, veja Gaiiand, 1 Corinthians, 11—12). Muitas outras informações concernentes a funcionários do governo romano mencionados no livro de Atos e a uma variedade de outros dados históricos e culturais mencionados nas cartas do Novo Testamento também são esclarecidas por dados extrabíblicos (veja esp. o Zondervan lllustrated Bible Backgrounds Commentary) e a literatura de comentários perti­ nentes, assim como várias obras de consulta mencionadas na bibliografia no final deste capítulo). Outra fascinante área de estudo é a de moedas que ilustram o contexto do cristianismo primitivo. Veja Jon Yonge Akerman, Numismatic Illustrations o fth e New Testament (Chicago: Argonaut, 1966); R. S. Yeoman, Moneys o fth e Bible (Racine, WI: Whitman, 1961). “ Para análise mais detalhada do contexto histórico-cultural de João 2.1-12 e 11.1 -44, veja Andreas J. Kõstenberger, John, ZIBBC 2.23-7, p. 106-13.

do noivo, isso também pode explicar por que ela interveio quando o vinho havia acabado; ela tentou livrar seus amigos do constrangimento social que resultava de não conseguir prover o vinho para os convidados do casamento. Desse modo, a essência do dilema que se apresenta a Jesus é mais bem compreendida quando se conhecem os costumes da cerimônia judaica de casamento. O mesmo se pode dizer do funeral de Lázaro, em que vemos Maria “sentada” na casa (11.20), de acordo com o costume do luto por um ente querido. Grant Osborne presta um proveitoso serviço ao examinar as áreas de pesquisa envolvidas no estudo do contexto histórico-cultural. Entre elas estão geografia, política, economia, forças armadas e guerra, além de vários costumes religiosos e práticas culturais.49 Sem a presença desse contexto histórico-cultural por trás de um determinado livro das Escrituras, seu estudo quase sempre será incompleto e superficial. Por essa razão é importante que os estudantes estejam familiarizados com a enorme quantidade de fontes primárias e secundárias disponíveis para a investigação do contexto histórico-cultural do Antigo e do Novo Testamentos.

Fontes primárias O lugar de honra com respeito às fontes primárias para o estudo bíblico pertence aos próprios documentos bíblicos. O Antigo e o Novo Testamentos muitas vezes contêm referências à conjuntura histórica de determinada passagem. O livro de Ester, por exemplo, começa com a seguinte introdução: “Aconteceu nos dias de Xerxes, que reinou sobre cento e vinte e sete províncias, desde a índia até a Etiópia. Quando Xerxes reinava em seu trono na cidadela de Susã, aconteceu, no terceiro ano de seu reinado, que ele deu um banquete a todos os seus príncipes e oficiais. Assim, estavam diante dele os poderosos da Pérsia e da Média, os nobres e os príncipes das províncias” (Et 1.1-3). Ao fornecer esse contexto histórico para a história de Ester, o autor bíblico mostra empenho em situar essa história no período seguinte aos exílios assírio e babilônico. Também há algumas fontes extrabíblicas bem interessantes que confirmam e complementam as informações fornecidas no livro bíblico de Ester. Uma dessas fontes é o historiador grego Heródoto (490-425 a.C.), que definiu Xerxes como um “monarca mal-humorado, impaciente e com interesse especial por mulheres”.50 ■^Osborne, Hermeneutical Spiral, p. 161-7. 50Tremper Longman e Raymond B. Dillard, An Introduction to the Old Testament, 2. ed. (Grand Rapids: Zondervan, 2007), p. 216 [edição em português: Introdução ao Antigo Testamento (São Paulo: Vida Nova, 2005)], com referência a Edwin Yamauchi, “The Archaeological Background of Esther”, BibSac 137 (1980), p. 104.

isso mostra que, embora os documentos bíblicos devam permanecer primários, as informações extrabíblicas podem ser usadas conjuntamente e contribuem para ilustrar de forma proveitosa aspectos da história bíblica que talvez sejam subjacentes ao contexto e tenham sido considerados óbvios pelo autor bíblico. Há muitas fontes primárias relevantes para o estudo do contexto histórico-cultural das Escrituras,51 e o estudante da Bíblia não precisa se matricular num cnrso de ugarítico nem se tornar especialista em línguas antigas do Oriente Próximo, porque a maioria das boas Bíblias de estudo, dos comentários e das ferramentas de consulta já fornece as informações importantes do contexto histórico-cultural das fontes primárias. Entretanto, uma visão geral das fontes primárias aumenta o «conhecimento dos tipos de fontes disponíveis para esclarecer o contexto histórico-cultural dos livros do Antigo e do Novo Testamento. L itera tu ra do a n t ig o O rien t e P r ó x im o

Se a intenção do autor é o núcleo do significado, então compreender o contexto em que o autor escreveu seu texto é da máxima importância. Visto que a literatura nasce dentro de uma cultura, bem como forma e molda essa cultura, procurar compreender * cultura antiga por meio de sua literatura e, por sua vez, a literatura por meio de n cultura é imprescindível. A literatura do antigo Oriente Próximo dá acesso ao contexto cultural em que os autores bíblicos escreveram o Antigo Testamento. Sem dúvida, esse acesso é limitado e imperfeito, mas a abundância de literatura do antigo Oriente Próximo à disposição permite esse acesso mesmo assim.52 Os intérpretes fiéis da Bíblia precisam esgotar todos os meios possíveis para compreender o que Deus comunica na Escritura por meio do autor humano a seus leitores originais. De fato, abusos ocorreram, sobretudo na área dos estudos do contexto do Antigo Testamento. Esses abusos, entretanto, não representam interpretações fiéis e diligentes c não devem nos afastar de procurar compreender o antigo mundo das Escrituras. De leis a profecias e de provérbios a narrativas históricas, os textos do an­ tigo Oriente Próximo contêm praticamente todo gênero de literatura do Antigo Parte do estudo a seguir é adaptada de Kõstenberger, Kellum e Quarles, The Cradle, the Cross, mmd the Crown, p. 81-4. i=Os dois textos padrão para ler fontes primárias do antigo Oriente Próximo são Hallo e Younger, Ccntext o f Scripture; e Pritchard, Ancient Near Eastern Texts. Para fontes que contêm textos e análise desses textos, veja Bill T. Arnold e Bryan E. Beyer, orgs., Readingsfrom the Ancient Near East: Primary Sm aeesfor Old Testament Study (Grand Rapids: Baker Academic, 2002); Jeffrey J. Niehaus, Ancient S ta r Eastern Themes in Biblical Theology (Grand Rapids: Kregel, 2008); Sparks, Ancient Texts fo r the Study o fth e Hebrew Bible; e John H. Walton, Ancient Near Eastern Thought and the Old Testament: t^roducing the Conceptual World o fth e Hebrew Bible (Grand Rapids: Baker Academic, 2006).

Testamento, como mostra a breve relação a seguir. Esses textos, que abrangem mais de dois milênios, provêm de todo o antigo Oriente Próximo, como Egito, Mesopotâmia, Anatólia e Pérsia, em línguas tais como ugarítico, acádio, sumério, hitita e egípcio. Os assiriólogos, egiptólogos e muitos outros estudiosos têm realizado um trabalho considerável para tornar muitos desses textos acessíveis tanto ao leigo quanto ao acadêmico. Embora não seja possível aqui uma lista completa de todos os textos do antigo Oriente, o que vem a seguir são alguns textos fundamentais para compreender o Antigo Testamento e uma lista de recursos para aprofundar o estudo dos textos antigos e, portanto, do contexto das Escrituras.53 O Pentateuco

Criação • Enuma Elish • Atrahasis Dilúvio • Gilgamesh Códigos jurídicos • Código de Hamurábi • Leis hititas Alianças/Tratados • Celebração de alianças e tratados em Mari • Tratado entre Mursilis e Dupp-Teshub Textos cultuais •Ritual do rei substituto •Instruções para os oficiantes de culto e funcionários do templo • Festival de Ano-Novo na Babilônia Livros históricos Registros de reis da Mesopotâmia •Tiglate-Pileser III • Senaqueribe • Cilindro de Ciro 53Essa lista segue a estrutura fornecida por Arnold e Beyer em Readings from the Ancient Near East, que classifica eficientemente os textos do antigo Oriente Próximo em relação aos análogos bíblicos. Outras classificações sem dúvida são possíveis. Para uma classificação dos textos de acordo com seus gêneros do antigo Oriente Próximo, veja as fontes listadas anteriormente.

• Crônicas e outras listas historiográficas • Rol de reis sumérios • Crônicas babilônicas Outras inscrições hebraicas • Inscrição do túnel de Siloé Livros poéticos Literatura de sabedoria • Teodiceia babilônica • Instruções de Merikare • Instruções de Amenemope • Hinos e orações • Hino a Enlil • Oração a Ishtar • Salmo a Marduque Livros proféticos Profecias • Profecia de Mari • Profecia de Marduque Lamentações • Lamentação pela destruição de Ur • Apócrifos do Antigo e do Novo Testamento A pó crifo s

do

A ntigo

e do

Novo T estamento

Apalavra grega “apocrypha” originalmente significava “coisas que estão ocultas”.54 Adesignação “apócrifos” também pode referir-se à natureza misteriosa ou esotérica dealgtins conteúdos desses livros ou à sua natureza herética ou espúria (ou ambas), la tre os escritos que compõem os apócrifos do Antigo Testamento incluídos ■essa categoria, há vários gêneros diferentes: 1. livros históricos (lEsdras, 1 e 2Macabeus); 2. romances moralistas (Tobias, Judite, Susana, Bel e o dragão); David A. de Silva, “Apocrypha and Pseudepigrapha”, in: Craig A. Evans e Stanley E. Porter, m ^ ,D ictio n a ry ofN ew TestamentBackground: A Compendium ofContemporaryBiblicalScholarship BDWmers Grove: InterVarsity, 2000), p. 58; veja todo o verbete nas p. 58-64, inclusive as referências KBfiográficas extras [edição em português: D icionário Teológico do Novo Testamento (São Paulo: U f a Nova, 2012) p. 114-122).

3. literatura de sabedoria ou devocional (Sabedoria de Salomão; Eclesiástico; Oração de Manasses; Oração de Azarias; Cântico dos três jovens); 4. cartas pseudônimas (Epístola de Jeremias); 5. literatura apocalíptica (2Esdras). Com exceção de 2Esdras, esses escritos são encontrados na Septuaginta. Os apócrifos também estão incluídos na Vulgata (a tradução latina da Bíblia pre­ parada no século quarto por Jerônimo) tanto como parte do Antigo Testamento como em apêndice, mas que não fazem parte das Escrituras canônicas.55 Por causa de sua inclusão na Vulgata, os livros apócrifos eram considerados parte das Escri­ turas pela igreja medieval. Em 1546, o Concilio de Trento os declarou canônicos, exceto 1 e 2Esdras e a Oração de Manasses.56 À parte os apócrifos veterotestamentários do período do Segundo Templo, também há apócrifos do Novo Testamento que apareceram no século segundo e nos subsequentes da era cristã e consistiam em falsos Evangelhos, Atos e Apocalipses.57 Muitos desses escritos têm em comum a motivação subjacente de preencher as lacunas percebidas nas Escrituras, muitas vezes resultando em ensino heterodoxo 55Somos gratos a Bruce M. Metzger pelo panorama a seguir, “Introduction to the Apocrypha”, in: Bruce M. Metzger, org., The Oxford Annotated Apocrypha, ed. rev. e exp. (New York: Oxford University Press, 1977), p. xi-xxii. Veja também Craig A. Evans, Ancient Texts fo r New Testament Studies: A Guide to the Background Literature (Peabody, MA: Hendrickson, 2005), p. 1-8. “ Sobre questões relacionadas à canonicidade dos escritos apócrifos e pseudepígrafos do Antigo Testamento, veja Norman L. Geisler e William E. Nix, A General Introduction to the Bible, ed. rev. e exp. (Chicago: Moody, 1986), cap. 15 [edição em português: Introdução Bíblica: Como a Bíblia Chegou Até Nós (São Paulo: Vida, 1997)]. 57Veja esp. J. K. Elliott, The Apocryphal New Testament (New York: Oxford Univ. Press, 2005); e William Schneemelcher, org., New Testament Apocrypha. 2 vols., trad. R. McL. Wilson (Louisville/ London: Westminster John Knox, 2003). Contrariamente a Bart D. Ehrman, Lost Scriptures (New York: Oxford University, 2005) [edição em português: Evangelhos Perdidos (Rio de Janeiro: Record, 2008)] e Lost Christianities (New York: Oxford Univ. Press, 2005), que seguiu Walter Bauer, Rechtglaubigkeit und Ketzerei im ãltesten Christentum (Tübingen: Mohr, 1934); Robert A. Kraft e Gerhard Krodel, orgs., ET Orthodoxy and Heresy in Earliest Christianity (Philadelphia: Fortress, 1971), os apócrifos do Novo Testamento não foram colocados junto com os livros canônicos do Novo Testamento e somente mais tarde desqualificados pela igreja católica primitiva. Veja esp. Darrell L. Bock, The Missing Gospels: Unearthing the Truth Behind Alternative Christianities (Nashville: Nelson, 2006) [edição em português: Oi Evangelhos Perdidos: a Verdade por trás dos Textos que Não Entraram na Bíblia (São Paulo: Thomas Nelson, 2007)]; Craig A. Blaising, “Faithfulness: A Prescription for Theology”, JETS 49 (2006), p. 6-9; Paul Trebilco, “Christian Communities in Western Asia Minor into the Early Second Century: Ignatius and Others as Witnesses against Bauer”, JETS 49 (2006), p. 17-44; Andreas J. Kõstenberger e Michael J. Kruger, The Heresy o f Orthodoxy: How Contemporary Cultures Fascination with Diversity Has Reshaped Our Understanding o f Early Christianity (Wheaton: Crossway, 2010) [edição em português: A Heresia da Ortodoxia (São Paulo: Vida Nova, 2014)].

(falso) . Esse é o caso tanto dos textos comumente agrupados como Livros Apócrifos quanto de outras literaturas judaicas do segundo período reunidas sob a rubrica amorfa de Pseudepígrafos.58 PSEUDEPÍGRAFOS DO ANTIGO TESTAMENTO

Entre os pseudepígrafos (depseudos, “falso”, egrapheirt, “escrever”), encontram-se os seguintes tipos de literatura: 1. literatura apocalíptica e relacionada (J e 2Enoque„ 2 e 3Apocalipse de Baruque, 4Esdras, Oráculos Sibilinos); 2. testamentos {Testamentos dos Doze Patriarcas); 3. epístola pseudônima (Carta de Aristeias); 4. sabedoria e literatura devocional (Salmos de Salomão; Odes de Salomão; Salmo 151); 5. expansões de material do Antigo Testamento (Livro dos Jubileus; José e Asenate; Janes e Jambres; Testamento de Moisés; Martírio de Isaías e As­ censão de Isaías); 6. romances religiosos e tratados filosóficos (3 a 4Macabeus).59 A avaliação da literatura do Segundo Templo tem sido diversamente positiva e negativa. Do lado positivo, as informações históricas fornecidas por livros como IMacabeus constituem uma fonte indispensável para esse período particular da história judaica. Além disso, ainda que não sejam inspirados nem revestidos de autoridade, muitos desses escritos refletem as diversas convicções religiosas do povo *Veja James H. Charlesworth, org., The Old Testament Pseudepigrapha, 2 vols. (Garden City,

SY: Doubleday, 1983,1985); Bruce N. Fisk, “Rewritten Bible in Pseudepigrapha and Qumran”, in: Dictionary ofN ew Testament Background, p. 947-53. ®Entre os recursos úteis sobre o conteúdo da literatura apócrifa e pseudepigráfica estão as obras Mguintes. Sobre os Apócrifos, veja as introduções em Metzger, Annotated Apocrypha; cf. Evans, âmrient Texts fo r New Testament Studies, cap. 1; David A. de Silva, Introducing the Apocrypha: Btasage, Context, and Signifxcance (Grand Rapids: Baker, 2002). Sobre os pseudepígrafos, veja as írtroduções em Charlesworth, Old Testament Pseudepigrapha; Evans, Ancient Textsfo r New Testament StÊKÜes, cap. 2. Sobre os dois, veja Michael E. Stone, org., Jewish Writings o f the Second Temple fbriod, CRINT 2 (Assen: Van Gorcum/Philadelphia: Fortress, 1984); George W. E. Nickelsburg, Irm ish Literature Between the Bible and the Mishnah (Philadelphia: Fortress, 1981); Emil Schürer, Wbe History o f the Jewish People in the Age o f Jesus Christ (175 BC—A.D. 135), rev. e org. por Geza fcrn e s, Fergus Millar e Matthew Black, 3 vols. em 4 (Edinburgh: T&T Clark, 1973, 1979, 1986, ■M7), 3.1; deSilva, “Apocrypha and Pseudepigrapha”; e as seções pertinentes em Larry R. Helyer, ÍM fhning Jewish Literature o f the Second Temple Period: A Guide fo r New Testament Students CDowners Grove, IL: InterVarsity, 2002).

judeu no período intertestamentário e, assim, fornecem informações contextuais úteis para o estudo do Novo Testamento. Do lado negativo, estudiosos ressaltam que parte do ensino desses escritos é heterodoxa, isto é, não está em conformidade com a doutrina afirmada nos livros canônicos. Por exemplo, 2Macabeus ensina a orar pelos mortos, e Tobias contém elementos de magia e sincretismo. Isso demanda discernimento e uma clara de­ marcação entre o Antigo Testamento e os escritos apócrifos e pseudepigráficos.60 Nesse aspecto, é interessante observar que a Epístola de Judas, no Novo Testamento, refere-se a alguns escritos pseudepigráficos, sobretudo lEnoque.

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a n u s c r i t o s

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A descoberta dos Manuscritos do Mar Morto constituiu o principal achado ar­ queológico para os estudos bíblicos no século 20.61 Entre os textos de Qumran há tanto manuscritos bíblicos, que são anteriores aos manuscritos mais antigos do Antigo Testamento previamente existentes, e escritos sectários. Entre os pri­ meiros estão todos os livros do Antigo Testamento exceto o de Ester, e entre os últimos se encontram escritos como o Documento de Damasco (CD); Preceitos da Comunidade ou Manual de Disciplina (1QS); Hinos de Ação de Graças (1QH); Manuscrito da Guerra (1QM); Comentário (Pésher) de Habacuque (lQpHab) e o Pergaminho do Templo (llQTemple).62 Os documentos bíblicos descobertos em Qumran, entre eles o famoso pergaminho de Isaías, proveram os estudiosos de textos antigos das Escrituras hebraicas, o que lhes permitiu avançar na determi­ nação do texto original de passagens específicas do Antigo Testamento. “ Veja Kõstenberger, Kellum e Quarles, Cradle, the Cross, an d the Crown, cap. 1. 61Veja esp. John C. Trever, The D ead Sea Scrolls: A Personal Account (Grand Rapids: Eerdmans, 1977). Entre outras obras úteis estão Geza Vermes, The Dead Sea Scrolls: Qumran in Perspective, ed. rev. (Philadelphia: Fortress, 1977); James C. VanderKam, The D ead Sea Scrolls Today (Grand Rapids: Eerdmans, 1994); Florentino Garcia Martinez e Julio Trebolle Barrera, The People o f the D ead Sea Scrolls: Their Writings, Beliefs and Practices, trad. Wilfred G. E. Watson (Leiden: Brill, 1995); os fragmentos selecionados em Barrett, New Testament Background, cap. 9; e Michael O. Wise, “Dead Sea Scrolls; General Introduction”, in: Dictionary ofN ew Testament Background, p. 252-66. “Veja Florentino Garcia Martinez, The D ead Sea Scrolls Study Edition, 2 vols. (Grand Rapids: Eerdmans, 2000); James C. VanderKam, An Introduction to Early Judaism (Grand Rapids: Eerdmans, 2000); Lawrence H. Schiffman e James C. VanderKam, orgs., Encyclopedia o ft h e D ead Sea Scrolls, 2 vols. (Oxford: University Press, 2000); James H. Charlesworth, org., The Bible and the D ead Sea Scrolls, 3 vols. (Waco: Baylor Univ. Press, 2006); Robert A. Kugler e Eileen M. Schuller, The Dead Sea Scrolls at Fifty (Atlanta: Scholars Press, 1999); Schürer, History o fth e Jewish People, p. 380-469; Evans, Ancient Textsfor New Testament Studies, cap. 3; e verbetes relevantes em Dictionary ofN ew Testament Background.

Além disso, os Manuscritos do Mar Morto fornecem um vislumbre fascinante da vida de uma seita judaica que muito provavelmente surgiu no período macabeu, por volta da metade do segundo século a.C., e continuou até a primeira revolta judaica em 66-73 d.C.63 A identidade exata do grupo responsável pela literatura de Qumran permanece incerta. O mais provável é que o estímulo original para a saída do grupo de Jerusalém e o afastamento para a região do mar Morto tenha sido a corrupção do sacerdócio de Jerusalém no período macabeu. É provável que o sumo sacerdote judaico seja mencionado na literatura de Qumran como o “Sacerdote ímpio” em oposição ao “Mestre da Justiça” (v. lQpHab 1.13; 2.2; 8.7; 11.4,5), que, presume-se, foi o fundador da comunidade.64 É importante observar que os Manuscritos do Mar Morto não retratam o judaísmo oficial nem atitudes judaicas desse período. Essa comunidade isolada era uma seita que se definia como contrária às autoridades oficiais de Jerusalém e estabeleceu suas próprias práticas comunitárias e religiosas. Essas práticas incluíam um método particular de interpretar as Escrituras, o método pésher, que se apro­ priava do material bíblico referente à situação contemporânea da comunidade (e.g., o Pésher de Habacuque).65 Também não há referência ao Novo Testamento nem a Jesus nos Manuscritos do Mar Morto. Desse modo, devem-se considerar esses

documentos escritos judaicos, e não cristãos.66 A postura crítica da comunidade em relação ao sacerdócio corrupto de Jerusalém, desse modo, fornece um antecedente para o questionamento feito por Jesus em seu ministério da corrupção do ritual do Templo em Jerusalém (Mt 21.12-17; Jo 2.12-22). O uso das Escrituras pela comunidade também constitui um fascinante precedente da autoidentificação de João Batista como “a voz do que dama no deserto” (cf. Is 40.30). A comunidade do mar Morto se apropriou da mesma passagem para referir-se a si mesma.67A comunidade e os documentos de “Veja Kõstenberger, Kellum e Quarles, Cradle, the Cross, and the Crown, p. 70-3. “ Como mencionado antes, Shürer (The History o f the Jewish People in the Age o f Jesus Christ, toI. 2, p. 587), por exemplo, dá a entender que o sumo sacerdote Jônatas era a pessoa chamada de o “Sacerdote ímpio” nos Manuscritos do Mar Morto. “ Veja Richard N. Longenecker, Biblical Exegesis in the Apostolic Period, 2. ed. (Grand Rapids: Eerdmans, 1999), p. 24-30. “ Ao contrário de afirmações equivocadas de tabloides e da literatura popular, como Dan Brown (The Da Vinci Code [New York: Doubleday, 2003], p. 245) [edição em português: O Código Da Vinci (Rio de Janeiro: Sextante, 2004)], que afirmou que os Manuscritos do Mar Morto estão entre “os ■ais antigos registros cristãos”. 67Veja Andreas J. Kõstenberger, “John”, in: G. K. Beale e D. A. Carson, orgs., Commentary on the New Testament Use o fth e Old Testament (Grand Rapids: Baker, 2007), p. 421,425-8.

Qumran proporcionam um bom quadro para compreender aspectos do Antigo e do Novo Testamento.68

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u t r a s

f o n t e s

p r i m á r i a s

r e l e v a n t e s

Além das fontes primárias mencionadas há pouco, existem alguns outros recur­ sos contextuais relevantes para estudos do Antigo e do Novo Testamento. Entre eles, a literatura rabínica (que inclui a Mishná, os Talmudes e a Toseftá), o filósofo helenístico Filo, o historiador judeu Josefo, os targuns (paráfrases aramaicas do Antigo Testamento), os apócrifos do Novo Testamento e fontes greco-romanas. Há algumas bibliografias úteis e compilações de fontes primárias disponíveis que tornam esses recursos mais acessíveis ao estudante diligente das Escrituras.69

F o n t e s

s e c u n d á r i a s

O intérprete inquisitivo das Escrituras conta hoje em dia com uma abundância de fontes secundárias à sua disposição. As melhores Bíblias de estudo, como a ESV Study Bible, a N IV Study Bible [Bíblia de Estudo NVI] ou a HCSB Study Bible, para citar apenas algumas, são quase sempre um ótimo ponto de partida. Também há vários comentários introdutórios especializados disponíveis com informações contextuais específicas em estilo acessível, como o Zondervan Illustrated Bible Backgrounds Commentary, que abrange tanto o Antigo como o Novo Testamento. Uma excelente fonte secundária muitas vezes é uma boa introdução ao Anti­ go ou ao Novo Testamento, como a de Longmann e Dillard (Introdução ao Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova) ou de Hill e Walton para o Antigo Testamento e a de Kõstenberger, Kellum e Quarles ou a de Carson e Moo para o Novo Testa­ mento (Introdução ao Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova). Além disso, será de grande ajuda aos estudantes consultar comentários de primeira classe, que, além das análises exegéticas, também abrangem o material relevante do contexto histórico-cultural. 68Veja James H. Charlesworth, org., John and the D ead Sea Scrolls (New York: Crossroad, 1990); Kugler e Schuller, Dead Sea Scrolls at Fifty-, Charlesworth, Bible and the D ead Sea Scrolls; e as pro­ veitosas análises em Evans, Ancient Texts fo r New Testament Studies, p. 3-6. 69Veja esp. David W. Chapman e Andreas J. Kõstenberger, “Jewish Intertestamental and Early Rabbinic Literature: An Annotated Bibliographic Resource”, JETS 43 (2000), p. 577-618 (também disponível online em: < http://www.biblicalfoundations.org>); veja também Barrett, New Testament Background-, Sparks, Ancient Texts fo r the Study o fth e Hebrew Bible; Evans, Ancient Texts fo r New Testament Studies.

Com respeito ao uso do Antigo Testamento pelo Novo, o Commentary on the New Testament Use ofthe Old Testament, organizado por G. K. Beale e D. A. Carson, merece lugar de honra.70 Entre outros tipos de fontes secundárias encontram-se atlas bíblicos, enciclopédias e dicionários bíblicos, histórias do Antigo e do Novo Testamento e estudos especiais da vida e cultura na antiguidade. Cada vez mais, há também muitas informações convenientemente disponíveis na internet. Veja o apên­ dice deste volume e outras compilações semelhantes de boas fontes de contexto.71

CONCLUSÃO O cristianismo é uma religião histórica, e a Escritura pressupõe que Deus se re­ velou na história humana. Isso requer que os estudantes da Bíblia sejam sensíveis a fatores históricos, tanto a seqüência cronológica como os costumes histórico-culturais que tenham relação com a interpretação bíblica. Muitas ferramentas úteis podem auxiliar nesse propósito, desde comentários técnicos a manuais bíblicos até o gênero mais recente de comentários do contexto bíblico.72 Embora estudar os costumes histórico-culturais seja muito importante, com frequência o estudante da Bíblia se defronta com a importante questão da relatividade cultural versus a normatividade. Como é que o intérprete moderno deve compreender e aplicar as prescrições bíblicas dadas no contexto de normas sociais que podem não estar mais em vigor? Grant Osborne registra o seguinte comentário proveitoso quando define a tarefa do intérprete de avaliar o contexto histórico-cultural antigo: Portanto, a tarefa do receptor no contexto cultural moderno é recapturar o quadro total da conjuntura em que o autor sacro se comunicou e transferir essa mensa­ gem para nossa época. Os aspectos culturais pressupostos na passagem ajudam o '“Edição em português: Comentário do Uso do Antigo Testamento no Novo Testamento (São Pmlo: Vida Nova, 2014). ‘‘Veja, e.g., Duvall e Hays, Grasping G ods Word, p. 107-16; Kõstenberger, Kellum e Quarles, Cradle, the Cross, and the Crown, p. 97-9; Osborne, Hermeneutical Spiral, p. 167-73. Veja também Antold e Beyer, Readings from the Ancient Near East-, Walter A. Elwell e Robert W. Yarbrough, «cgs., Readings from the First-Century World (Grand Rapids: Baker, 1998); Ferguson, Backgrounds. "^Como ponto de partida, veja a bibliografia no final deste capítulo. Veja também as listas de fontes ■ecomendadas postadas em: < http://www.biblicalfoundations.org>. Uma área do contexto bíblico não se deve ignorar é o estudo de moedas antigas. Veja esp. David Hendin, Guide to Biblical Caõis,5. ed. (New York: Amphora, 2001); Yaakov Meshorer, A Treasury o f Jewish Coins (New York: Anophora, 2001); Kenneth Bressett, Money o fth e Bible (Atlanta: Whitman, 2007).

intérprete a passar das palavras à mensagem por detrás delas, compreendida pelos leitores originais, mas oculta ao leitor moderno.73 O estudante pode muito bem perguntar: “Esses costumes tinham de ser obrigatórios para sempre ou não?”.74 A resposta nem sempre é imediatamente evi­ dente e muitas vezes há certa diversidade de opiniões entre os intérpretes bíblicos. Sugerimos que o estudante siga estas três diretrizes gerais: 1. Algumas questões culturais mencionadas no Antigo Testamento evidente­ mente se aplicam de modo restrito a esse período e não se repetem no Novo Testamento. Por exemplo, de acordo com o livro de Hebreus, entre esses costumes se encontram todo o sistema de sacrifícios do Antigo Testamento e o sacerdócio levítico, os quais tiveram cumprimento em Cristo. 2. Algumas normas culturais se repetem posteriormente na Bíblia e, por­ tanto, continuam sendo válidas. Os Dez Mandamentos, por exemplo, repetem-se no Novo Testamento (exceto o mandamento do sábado) e por essa razão continuam sendo aplicáveis, embora sejam aprofundados pelo Novo Testamento. Pense também nos repetidos mandamentos do Antigo Testamento que ordenam o cuidado para com os pobres. No tem­ po da colheita, os hebreus deviam deixar parte do cereal para os pobres respigarem (Lv 23.22). Do mesmo modo, o Novo Testamento conclama os cristãos a prover para os necessitados (e.g., ICo 16.1; lTm 5.3). 3. Em muitos casos, os costumes bíblicos contêm um princípio subjacente fundamental que permanece aplicável até hoje. O costume bíblico de dar um beijo como saudação convencional, por exemplo (v., e.g., Gn 33.4; 2Sm 19.39; Lc 7.45; Rm 16.16), pode encontrar aplicação no atual aperto de mão ou abraço. Nesses casos, procuramos discernir e aplicar o princípio subjacente envolvido na expressão cultural.

AMOSTRA DE EXEGESE (ANTIGO TESTAMENTO): 1REIS 17— 18 O texto de IReis 17—18 conta uma das histórias mais conhecidas e cativantes de toda a Escritura. Yahweh e seu profeta Elias confrontam Baal e seus profetas. 73Osborne, Hermeneutical Spiral, p. 166. 74Além desses comentários, veja a análise mais detalhada de questões concernentes à aplicação no cap. 16.

Antes do capítulo 17, Acabe se torna rei de Israel após a morte de Onri e “fez o que era mau perante o S e n h o r , mais do que todos os [reis] que o antecederam” (lRs 16.30). Acabe se casa com Jezabel, filha do rei dos sidônios, e assim começou a “cultuar Baal e a adorá-lo. Ele levantou um altar a Baal no templo de Baal que construíra em Samaria” (lR s 16.31,32). O grande confronto entre Yahweh e Baal ocorre na ocasião em que Acabe traz o disseminado culto a Baal para Israel depois de ter-se casado com Jezabel, uma sidônia. Nosso entendimento do conflito entre Yahweh e Baal é consideravelmente aprofundado quando compreendemos Baal em seu contexto do antigo Oriente Próximo. A passagem de IReis 17.1 define a base para o restante da narrativa: Elias, o tesbita, que habitava em Gileade, disse a Acabe: Tão certo como vive o S e n h o r , Deus de Israel, a quem sirvo, nestes anos não haverá orvalho nem chuva, senão por meio da minha palavra. A mensagem essencial das palavras de Elias parece evidente: Deus está vivo e ele cumprirá sua palavra. Entretanto, compreender o contexto histórico-cultural enriquece o significado da passagem. A declaração de Elias não se refere apenas à identidade de Yahweh, mas também trata de modo muito incisivo da natureza de Baal. Baal era um proeminente deus da tempestade no antigo Oriente Próximo e na Fenícia, em particular.75 Assim, a promessa de que não haveria chuva senão pelo poder de Yahweh não era uma promessa arbitrária para mostrar o poder de Yahweh em geral, mas uma declaração mais direta referente ao poder de Yahweh sobre Baal. Como deus da tempestade, Baal deve ser capaz de fazer chover e, assim, produzir vida, a despeito da declaração de Elias. Há textos ugaríticos que apoiam a existência de correlação entre Baal como o deus da tempestade e a afirmação de Elias de que não haveria chuva nem orvalho. Há sete anos Baal está ausente, Oito, o Cavaleiro das Nuvens Nem chuva, nem orvalho Nenhum turbilhão das profundezas, Nenhuma voz de saudação vinda de Baal.76 75Paul R. House, 1, 2 Kings, NAC (Nashville: Broadman & Holman, 1995), p. 215. 76Leah Bronner, The Stories o f Elijah and Elisha: Ai Polemics Against B aal Worship, Pretória Oriental Series, A. Van Selms, org., vol. VI (Leiden: Brill, 1968), p. 68.

Nesse texto, a ausência de Baal provoca falta de chuva (“nem chuva”) e de orvalho (“nem orvalho”). A omissão de Baal se deve à sua morte. O deus Mot, palavra cujo significado é “morte”, consome Baal, matando-o. Enquanto Baal está morto, não há chuva e, portanto, não há vida. O retorno da chuva significaria que Baal reviveu. Por isso, depois que Mot mata Baal, El anseia pelo retorno de Baal para que a terra traga vida mais uma vez: Que dos céus chova óleo, Os uádis se encham de mel, Então eu saberei que B[aal], o mais poderoso, vive, O Príncipe, o Senhor da Terra está vivo.77 A seca significa a morte de Baal. O retorno da chuva implica em que Baal está vivo novamente. À luz desses textos, IReis 17.1 adquire nova importância. A afirmação de Elias não é simplesmente uma declaração do poder de Yahweh, mas também um ques­ tionamento direto do poder de Baal. No meio da seca que virá, Yahweh continuará vivo, mas Baal estará morto. Como se verá na seqüência da narrativa, Baal não provê chuva nem vida; Yahweh provê. Somente Yahweh, o Criador e Sustentador, dá a provisão certa e necessária a suas criaturas. A provisão de Yahweh para Elias durante a seca (lRs 17.2-24), portanto, adquire importância nova. Yahweh ordena que Elias vá à ravina de Querite, onde o profeta beberá do riacho, e corvos o alimentarão. Yahweh controla a natureza. Depois que o riacho seca, Yahweh ordena que Elias vá a Sarepta de Sidom. Não se deve deixar de observar o fato de que Yahweh ordena a Elias ir a Sarepta de Sidom. Jezabel, por meio de quem a adoração a Baal entrou em Israel pelo casamento com Acabe, é filha de Etbaal, rei dos sidônios. Elias entra em Sarepta, o próprio centro do baalismo. Yahweh confrontará Baal no território do próprio Baal. A história prossegue e demonstra que Yahweh é o Deus da vida e reina sobre toda a criação, ao passo que Baal está de fato morto, sem esperança de retorno. Sarepta é um lugar cheio de morte. A seca tomou conta da terra. Elias encontra uma viúva, cuja vida é marcada pela morte. Quando Elias a encontra, ela não tem comida e está preparando sua última refeição antes de morrer. Enquanto Elias está com a viúva, o filho dela morre. Na terra de Baal, a morte reina. Porém, Yahweh, 77Simon B. Parker, org., Ugaritic Narrative Poetry, SBL Writingsfrom the Ancient World 9 (Atlanta: Scholars, 1997), p. 157.

que vive e dá vida, provê a vida a Elias por meio da viúva. Yahweh continua pro­ vendo miraculosamente o alimento para Elias, a viúva e o filho dela com apenas um pouquinho de farinha e de óleo. Yahweh ressuscita o menino por intermédio de Elias. Na morte de Baal, Yahweh dá vida. A vida de Yahweh alude à morte de Baal com a declaração da viúva no versículo

12:

“Tão certo como vive o S e n h o r ” ;

e a de Elias, no versículo 23: “Aqui está! Teu filho está vivo”. Considerada à luz da crença cananeia de que a morte de Baal causou a presente seca, a história não trata apenas da capacidade de Yahweh de oferecer provisão em tempos difíceis. Essa história declara algo muito mais forte: Baal está morto; Yahweh vive. Compreender a história desse modo retira o suspense da luta final entre Yahweh e Baal no monte Carmelo. O confronto começou em IReis 17.1, e o ve­ redicto já fora proferido. A angustiante expectativa é substituída pela confiança e pela fé em Deus. À medida que a narrativa prossegue rumo à exposição pública da superioridade de Yahweh, o leitor não deve se surpreender com a fé e a con­ fiança de Elias em Deus. Yahweh já se mostrara fiel à sua palavra e superior a Baal. A compreensão plena da confrontação que começa em IReis 17.1, entretanto, só é possível com o conhecimento do contexto histórico-cultural. Contudo, o contexto histórico oferece ainda mais para a compreensão da presente passagem. Maior clareza e entendimento a respeito dos eventos no monte Carmelo resul­ tam quando o relato é compreendido em seu contexto histórico-cultural. O desafio que Elias propõe deve ter soado muitíssimo conveniente para os adoradores de Baal, porque cai como uma luva para os poderes de Baal. Como deus da tempestade, Baal podia enviar fogo do céu (raios) para atear fogo ao altar construído por seus profetas. Enquanto os profetas de Baal clamam a ele, invocando-o para despertar e enviar fogo ao altar que eles haviam construído, Elias parece zombar das tentativas desses profetas, ridicularizando o “deus” deles. Elias pode estar ridicularizando o deus deles, mas o texto bíblico não indica que os profetas de Baal se opuseram a essa zombaria. George Saint-Laurent propõe que, embora os profetas tenham parecido ridículos, “Elias tem bons motivos para se referir a Baal como ‘pré-ocupado’ em termos do ciclo de Baal, que descreve um deus muito ocupado de fato, preocupado com uma enorme variedade de problemas”.78 Saint-Laurent mostra que no ciclo de Baal, Anate não consegue encontrar Baal em casa quando este sai para caçar e que 78George E. Saint-Laurent, “Light from Ras Shamra on Elijahs Ordeal upon Mount Carmel”, in: Carl D. Evans, William W. Hallo e John B. White, orgs., Scripture in Context: Essays on the Comparative Method (Pittsburgh: Pickwick, 1980), p. 132-3.

os deuses cananeus realmente dormem e precisam ser despertados.79 Mais uma vez, as palavras de Elias não são arbitrariamente zombadoras, mas concebidas para revelar intencional e claramente que Deus está acima de Baal. Além disso, o fato de os profetas de Baal se ferirem também é uma prática confirmada no ciclo de Baal. Quando os deuses El e Anate descobrem que Baal está morto, eles também se cortam: Então o Benevolente El, o Início, Desce de seu trono, senta-se no escabelo [E] do escabelo, senta-se na terra. Ele despeja poeira sobre a cabeça em sinal de luto, Pó na coroa para se lamentar; Como vestimenta, ele se cobre com pano de saco. Com uma pedra, ele esfrega a pele, Faz dois cortes com uma lâmina. Mutila bochechas e queixo, Faz um sulco em todo o braço. Ara o peito como a um jardim, Como a um vale, entalha as costas. Levanta sua voz e brada: “Baal está morto! O que será dos povos? O Filho de Dagom! O que será das multidões? Após Baal descerei ao Inferno”. Então Anate sai para caçar, Em cada montanha no coração da terra, Em cada monte [no cora]ção dos campos. Chega às agrad[áveis terras d] o interior, Ao belo campo d[o Reino] da Morte; Ela encontr[a] Baal caí [do em te]rra. [Como vestimenta] ela se cobre com [pano de] saco, Com uma pedra ela esfrega a pele, Faz dois [cor]tes [com uma lâmina]. 79Ibidem, p. 133.

Ela mutila bochechas e pescoço, [Faz um sulco] em todo o braço. Ela ara o peito como a um jardim, Como a um vale, entalha as costas: “Baal está morto! O que será dos povos? O Filho de Dagom! O que será das multidões? Após Baal nós desceremos ao Inferno”.80 A morte de Baal gera mais morte, um dos temas de IReis 17—18. Obviamente, em absoluto contraste com as medíocres tentativas dos profetas de Baal de ressuscitar seu deus morto, Elias invoca aquele que vive. Yahweh responde imediatamente a fim de mostrar que é o único Deus verdadeiro. Uma vez que Yahweh demonstra publicamente a sua superioridade, traz chuva para mostrar que não só é superior a Baal, mas também que Baal não é deus coisa nenhuma. Yahweh, não Baal, é o Senhor de toda a criação e o Deus da vida. Yahweh reina na vida, ao passo que a morte reina sobre Baal.

AMOSTRA DE EXEGESE (NOVO TESTAMENTO): LUCAS 2.1-20 O conhecido relato do nascimento de Jesus no Evangelho de Lucas é um excelente exemplo da importância de estudar o ambiente histórico e cultural da Escritura. O texto começa referindo-se a um decreto publicado por César Augusto. Lucas situa deliberadamente o nascimento de Cristo no reinado do imperador romano.81 A pesquisa histórica revela que Augusto (31 a.C.-14 d.C.) foi o primeiro e (creem muitos) o maior imperador romano. Ele presidiu o que comumente se chama de a “Idade de Ouro” de Roma e se orgulhava de ter inaugurado uma era de paz, a chama­ da pax romana (“paz romana”). Augusto foi deificado após sua morte, e há moedas que se referem a ele como Divifilius (“Filho da divindade” ou “Filho divino”).82 “ Parker, Ugaritic Narrative Poetry, p. 149-51. 81Veja também Lucas 3.1-3, em que o início dos ministérios públicos de João Batista e de Jesus são situados no “décimo quinto ano do reinado de Tibério César” (v. 1), imperador que sucedeu Augusto e que reinou de 14-37 d.C. 82Para mais informações, veja Ferguson, Backgrounds, p. 25-30. Na p. 198, Ferguson observa que “desde a época de Tibério os templos eram dedicados ao divinizado Augusto”. Veja também Werner Eck, The Age ofAugustus, trad. Deborah Lucas Schneider (Oxford: Blackwell, 2003).

Essas evidências históricas são muito importantes para uma leitura criteriosa da narrativa do nascimento de Jesus por Lucas em conformidade com sua inten­ ção autoral. É praticamente certo que Lucas, ao situar o nascimento de Jesus sob a égide do reinado de Augusto, procurou estabelecer uma comparação e mostrar o contraste entre Augusto, o imperador romano, de um lado, e Cristo, o Messias judaico, do outro. Jesus também veio para trazer “paz na terra entre os homens”, de acordo com a proclamação dos anjos (Lc 2.14). Enquanto Augusto governava sobre “o mundo inteiro” (v. 1), as boas-novas dos anjos eram para “todo o povo” (v. 10). Jesus, diferentemente de Augusto, era de fato o “Filho de Deus”. Até o termo “Salvador” pode invocar a linguagem imperial romana, segundo a qual o imperador era considerado “salvador” de seu povo. Outro dado histórico interessante fornecido por Lucas é que o censo mencionado na passagem foi o “primeiro recenseamento”, “feito quando Quirino era governador da Síria” (v. 2). De acordo com historiadores antigos, Quirino era procurador para a Síria em 6-9 d.C., depois que Arquelau, o filho de Herodes, o Grande, foi exonerado do ofício (Josefo, Ant., 2 .3 0 ; 3 .2 2 ,2 3 ,4 8 ;

1 8 .1 .1 ,2 , § 1 - 1 1 ;

cf. Tácito, Anais,

Estrabão, Geografia, 12.6.5). Visto que Jesus nasceu no reinado de

Herodes, o Grande (que, de acordo com fontes seguras, morreu em 4 a.C.), alguns dizem que Lucas deve estar errado. Entretanto, é bastante provável que as evidências disponíveis sejam muito limitadas para tirar conclusões firmes. À luz da precisão extraordinária de Lucas onde outras fontes podem confirmar suas informações, é provável que o censo tenha sido realizado antes de Quirino se tornar governador (uma possível interpretação do advérbio traduzido por “primeiro” na A21) ou que Quirino já ocupasse algum tipo de posto de governo antes de assumir oficialmente sua função em 6 d.C.83 Entre algumas complexidades da reconstrução histórica, não se deve deixar passar a observação mais importante que Lucas faz na narrativa do nascimento de Jesus: Deus soberana e providencialmente usou o decreto do imperador romano para deslocar os pais de Jesus, o Messias, de Nazaré na Galileia até Belém na Judeia, o lugar onde, de acordo com a profecia do Antigo Testamento, o Messias iria nascer (Mq 5.2; cf. Mt 2.6). Isso talvez seja uma das mais profundas ironias de toda a história humana: o decreto do imperador romano realizou a vontade de Deus, fazendo que 83Veja “Sidebar 3.1: Luke and Quirinius”, in: Andreas J. Kõstenberger; L. Scott Kellum; Charles L. Quarles, The Cradle, the Cross, and the Crown: An Introduction to the New Testament (Nashville: B&H, 2009); Darrell L. Bock, “Excursus2: TheCensus of Quirinius (2:1-2)”, in: Idem, Luke 1:1—9:50, BECNT (Grand Rapids: Baker, 1994), p. 903-9.

Jesus nascesse em Belém, a “Cidade de Davi” (v. 4,11).84O enredo central da grande metanarrativa da Escritura — a vinda do prometido Messias de Deus para prover salvação do pecado e da morte — portanto, tem seu auge no decreto do imperador e no subsequente nascimento de Jesus na cidade de Davi.85 Mesmo esse breve esboço dos antecedentes históricos do relato que Lucas faz do nascimento de Jesus mostra a recompensa considerável que têm aqueles que pesquisam com diligência o ambiente histórico de qualquer narrativa das Escritu­ ras. Além disso, a narrativa de Lucas que envolve o nascimento de Jesus também é rica em detalhes culturais que precisam ser estudados com atenção. Para começar, os pais de Jesus, José e Maria, foram de Nazaré a Belém. Como qualquer bom mapa da Terra Santa indica, a distância entre essas duas cidades, em linha reta, é de cerca de 95 quilômetros. Se, como era o costume, José e Maria não viajaram pela rota mais direta, através da Samaria, mas viajaram a leste do rio Jordão, a distância seria mais próxima de 145 ou 160 quilômetros. Viajar uma distância grande como essa teria sido uma grande dificuldade para uma mulher no estado de Maria, no fim da gravidez. A referência a Jesus como o “primogênito” de Maria, no versículo 7, também evoca um costume cultural judaico. Darrel Bock propõe cinco possíveis interpre­ tações, observando que “é provável tratar-se de uma referência aos direitos gerais de Jesus como primogênito” (v. esp. v. 23,24).86 Naturalmente, o relato bíblico também indica que Jesus era literalmente o primogênito, no sentido de que Maria, depois de Jesus, teve ainda outros filhos (cf. Mt 12.46,47; Lc 8.19,20). O versículo 7 também contém outras três expressões importantes que são consideravelmente esclarecidas pela pesquisa do contexto histórico: 1) Maria envolvendo Jesus “em panos”; 2) colocando Jesus “em uma manjedoura” (cf. tb. o v. 16, em que isso se torna um importante aspecto de identificação para os pastores); e 3) a afirmação de que “não havia lugar para eles na hospedaria”. Os panos usados para envolver refletem o costume judaico de “pegar faixas de tecido e enrolá-las na criança para manter os membros retos”.87 A manjedoura provavelmente era um cocho para animais, o que dá a entender que Jesus nas­ ceu em algum tipo de abrigo para animais. Podia ser um estábulo ou talvez uma 84Veja também referência à salvação vir da “descendência de seu servo Davi” no cântico de Zacarias em 1.69. “ Davi, por sua vez, foi o destinatário original da promessa de Deus de que ele estabeleceria seu reino para sempre (2Sm 7.12,13). “ Bock, Luke 1:1—9:50, p. 207. 87Bock (ibidem), em referência a outras fontes.

gruta.88 Mas como entender a referência de Lucas à hospedaria? O texto de Lucas 2.11 emprega o mesmo termo para se referir a um quarto de hóspedes numa casa, ao mesmo tempo que se encontra um termo relacionado na “Parábola do Bom Samaritano” em 10.34, o qual denota uma hospedaria formal. Visto que, diferen­ temente de 10.34, Lucas não menciona nenhum dono ou gerente de hospedaria na narrativa do nascimento, talvez a referência no versículo 7 seja a “algum tipo de sala de recepção numa residência particular ou alguma espécie de abrigo público”.89 Visto que não havia lugar ali, os pais de Jesus procuraram abrigo em outro lugar. O que todos esses detalhes contextuais têm em comum é que em conjunto eles indi­ cam as circunstâncias humildes do nascimento de Jesus. Em conformidade com a ênfase constante de Lucas na pobreza e humildade, o evangelista mostra que Jesus se humilhou para dar salvação aos pecadores (v. esp. 19.7; cf. Fp 2.5-8).90 A pesquisa histórica atenta e o conhecimento de costumes culturais antigos são apoios indispensáveis para interpretar determinada passagem das Escrituras em conformidade com seu contexto original e a mensagem pretendida pelo autor. Embora os primeiros leitores de Lucas talvez tivessem mais conhecimento de algu­ mas informações do que os leitores atuais, todos aqueles que querem compreender as Escrituras têm de se empenhar para se apresentar aprovados, aptos na pesquisa e no manejo correto da palavra de Deus (2Tm 2.15). Os detalhes específicos, obviamente, variam de acordo com a passagem em particular, mas na maior parte das vezes a pesquisa histórica é essencial para compreender o significado pleno pretendido pelo autor do texto bíblico. Felizmente, há muitas fontes úteis, sejam elas Bíblias de estudo, bons comentários ou outras obras de consulta, para nos auxiliar nessa tarefa.91

88Veja a análise em ibidem, p. 208. 89Ibidem. 90Veja “Table 6.3: Jesus and the Lowly in Lukes Gospel”, in: Kõstenberger, Kellum, Quarles, Cradle, the Cross, and the Crown, p. 286. f 1liil#6iÉEKjfcí4l|pi^tófateJhijk‘tiÍíllMfftófi6íi