Ceticismo e idealismo alemão 9788515045976

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Ceticismo e idealismo alemão
 9788515045976

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LEITURAS

FILOSÓFICAS

JOÃOSINHO BECKENKAMP

CETICISMO E IDEALIS ALEMÃO tom tradução do texto de Hegel ''Relação do (;fticisrno com filosofia" (1802)

Dados lnter~acionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Beckenkamp, Joãosinho ,,

C:'.ticisrno ~ .idealismo alemão · com tradução do texto de Hege l

~elaçao do cet1:1smo com a_filosofia" (1802) / Joãosinho Beckenkamp. __ Sao Paulo. Ed,çoes Loyola, 20 19. -- (Coleção leituras filosóficas) Inclui bibliografia ISBN 978-85-15-04597-6 1. Ceticismo 2. Hegel, Georg Wilhelm Friedrich, 1770-1831 3 Idealismo alemão 1. Título. li. Série.

19-26806

·

RBREVIRTURRS1

CDD-149.73 -1 93 Índices para catálogo sistemático:

1. Ceticismo : Filosofia 2. Idealismo alemão: Filosofia

149.73 193

Cibele Maria Dias - Bib liotecária - CRB-8/9427

Preparação: Ellen Barros Capa: !nês Ru ivo Diagramação: Adriérna Vegas

Revisão: Maria de Fátima Cavalla ro

AA - Kant, Gesammelte Schriften GA - Fichte, Gesamtausgabe der Bayerischen Akademie der

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Wissenschaften GW - Hegel, Gesammelte Werke KFSA - Fr. Schlegel, Kritische Friedrich Schlegel Ausgabe KpV - Kant, Kritik der praktischen Vernunft KrV - Kant, Kritik der reinen Vernunft KU - Kant, Kritik der Urteilskraft StA - Hõlderlin, Samtliche Werke Werke - Hegel, Werke

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ISBN 978-85-15-04597-6

© ED IÇÕES LOYOLA, São Paulo, Brasil, 20 19

1. As obras desta lista são eiradas entre colchetes por sua abreviatura seguida do vo lume e das páginas. Exemplos: [GW vol., pág.] ; [Werke vol., pág.]; [StA vol., pág.]. ·



SUMÁRIO '

Introdução CETICISMO E IDEALISMO ALEMÃO . .. . . .. . . . . . . .. . . . .. .. . .. .. .. .. . .. 9 Capítulo 1 KANT E CETICISMO .............................................. ... .. .. .. .. 11 1.1. Kant e o ceticismo antigo ........................................ 11 1.2. Kant e Hume ........ .................................................. 21 1.3. Filosofia crítica e ceticismo ................................... 33 Capítulo 2 REVISÃO DR RELAÇÃO DR FILOSOFIA COM O CETICISMO R PARTIR DE KANT ....................................................... Lll 2.1. Dogmáticos, céticos e críticos .. ....... .... ...... ............ Ll2 2.2 . Ceticismo e filosofia .... .. .... .. .... ... .... ..... .. .... .... . . . ..... 52 2.3. Fichte e ceticismo ... .. .. .. .... .. .. .. .. .. .... .. .. . .. .. . . .. .. . .. .. .. 6Ll



Capítulo 3 HEGEL E CETICISMO ... ... .................. .... .... ....... .. ............. 77 3.1. Retomada do ceticismo antigo 78 3.2. Crítica ao "ceticismo" de Schul;~ ............................ . .......................... . 97 3.3. Filosofia e ceticismo em Hegel ... .... .................. .. ... 110

BIBLIOGRAFIA

····· ·· .. · ···· ··· ............................ ................ 129

Introdução

CETICISMO E IDEALISMO ALEMÃO

TRADUÇÃO: HEGEL, "RELAÇÃO DO CETICISMO COM A FILOSOFIA" (1802) ...... ................... .. ..... ..... ................ 135

No prefácio à coletânea A tradição cética em torno de 1800 (1996), Richard H. Popkin conta uma anedota que ilustra bem por quanto tempo os conhecimentos básicos sobre a relação entre ceticismo e idealismo alemão foram ignorados. Ainda em 1984, na primeira conferência sobre a história do ceticismo, realizada em Wolfenbüttel, na Alemanha, Popkin teria surpreendido seus colegas com a menção de nomes como Hamann, Maimon e Schulze: "De fato, na conferência d.e Wolfenbüttel, Myles Bumyeat expressou a opinião de que, depois do feito de Kant, o ceticismo deixou de ser um problema filosófico. Eu repliquei que a solução de Kant durou apenas poucas semanas até ser atacada e desafiada ceticamente por Maimon, Hamann, Schulze e outros. Burnyeat ficou surpreso e perguntou se alguém mais além de Popkin conhecia algo destas figuras" 1• Ora, como se verá ao longo deste trabalho, os três mencionados por Popkin são figuras importantes não só por terem

1. R. Popkin, em prefácio a Van der Zande, Johan; Popkin, Richard H. (eds.). The Skeptical Tradition Around 1800: Skepticism in Philosophy, Science and Society, XI.

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levantado objeções céticas contra o novo idealismo em formação a partir de Kant, mas sobretudo por terem estimulado, com outros nomes que serão considerados aqui, o próprio desenvolvimento desse idealismo, que hoje conhecemos como idealismo alemão. Passando em revista os resultados da pesquisa sobre a relação entre ceticismo e idealismo alemão, constata-se a existência de três grandes blocos em que esta relação se apresenta. O primeiro se forma em torno de Kant, cuja filosofia crítica foi a principal responsável por uma aproximação ao ceticismo sem precedente no âmbito da filosofia alemã. Sob a influência ~a filosofia crítica kantiana, segue-se uma etapa em que o cetictsmo, sobretudo de inspiração humiana, passa a estar presente nas reflexões filosóficas de boa parte da comunidade acadêmica interessada nos destinos da filosofia. É nesta fase que entram em cena figuras como Maimon e Schulze, mas também Platner, Reinhold e Fichte. Finalmente, a partir de meados da década de 1790, assiste-se a uma retomada do ceticismo antigo, num processo que culminará na preferência dada a este ceticismo em detrimento das pretensões do ceticismo moderno; preferência q_ue caracteriza a relação de Hegel ao ceticismo em geral e, particularmente, no artigo aqui traduzido.

Capítulo 1

KANT E CETICISMO

O ceticismo ocupa um lugar proeminente tanto na gênese quanto na execução da filosofia crítica de Kant, a ponto de ser justo dizer que não se pode entender corretamente o programa da filosofia transcendental kantiana sem levar em consideração o desafio cético lançado por Hume à filosofia moderna. Mas, ao lado da influência marcante de Hume sobre Kant, destaca-se ainda uma influência não menos importante do ceticismo antigo na constituição do próprio projeto de uma crítica da razão pura e na concepção do método que deve nortear essa crítica. Essa última influência não foi explicitada por Kant, mas ela transparece discretamente sempre que se trata da dialética da razão pura em suas diversas esferas. Cabe, pois, tornar explícita também a herança do ceticismo antigo neste tratamento negativo da razão pura e de suas pretensões.

1.1. Kant e o ceticismo antigo

Muito já se conjecturou sobre o que Kant pode ter lido de Hume. Uma questão semelhante poderia ser colocada acerca 10 1 Ceticismo e idealismo alemão

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de uma event~al leitura de Sexto Empírico, a quem remontam tópicos tradicionais tão relevantes para Kant, como o uso de hipóteses contrárias com propósito polêmico; a refutação de uma fundamentação apontando para um regresso ao infinito; a suspensão do juízo diante das disputas e contradições dos filósofos, ou seja, da antitética etc. Mas em relação a essa questão, há de se concordar com a resposta dada por Giorgio Tonelli, em seu artigo "Kant e os céticos antigos": "De fato, não temos razões para admitir que Kant tenha mesmo lido Sexto Empírico" 1 . Isto explicaria, aliás, o motivo pelo qual Sexto Empírico não é mencionado quando Kant trata do ceticismo, cabendo tal honra apenas a Hume. Nunca tendo consultado o texto original, Kant não teria também tido consciência de que uma série de seus temas e termos favoritos tem sua origem em Sexto Empírico, particularmente nas Hipotiposes pirrônicas. Como se pretende mostrar adiante, esta série é bastante considerável. O que leva à questão que efetivamente cabe colocar aqui: como Kant entrou em contato com a temática cétic.a da tradição pirrônica? Também a esta questão, o artigo de Tonelli forneceu o delineamento de uma resposta, ao apontar para os manuais escolásticos amplamente utilizados nas universidades alemãs da época de Kant. Apesar de seu comprometimento com a tradição racionalista, ou talvez precisamente por causa dele, boa parte dos autores de manuais antes e depois de Wolff se ocupa ocasionalmente também do ceticismo, recapitulando sua história desde Pirro até Bayle, com o propósito óbvio de neutralizar seus 1. G. Tonelli, "Kant and the Ancient Sceptics", 87. D e posição contrária é M. Forster, mas sua construção de uma relação com o pirronismo em Kant é inteiramente arbitrária, quer dizer, sem a devida base textual. Assim, por exemplo, vê Kant em plena crise pirrônica já nos Sonhos de um visionário (cf. M. Forster, Kant and Skepticism, 18-19), de 1766, p eríodo para o qual não há base textual para afirmar que Kant fosse além dos manuais dos wolffianos em suas considerações sobre o ceticismo.

12 1 Ceticismo e idealismo alemão

ataques. Desta forma, praticamente todos os temas pirrônicos importantes se encontram espalhados nesses manuais, sejam dicionários, tratados de metafísica ou, sobretudo, tratados de lógica. Para fins de ilustração, uma das primeiras ocorrências em cexto publicado por Kant é de um termo empregado por Sexto Empírico para caracterizar os pirrônicos; termo que Tonelli encontrou em nada menos do que vinte 2 manuais. No anúncio de suas aulas para o semestre de inverno de 1765-1766, Kant diz que "o método próprio do ensino na filosofia é zetético, como chamavam alguns antigos (de sYJtdu), isto é, investigativo, . 0 tornando-se dogmático, isto é, decidido, tão somente numa razão já treinada em diversas partes (NEV, AA 02, 307) . Ora, esta é uma das designações dadas à escola cética, de acordo com Sexto Empírico 3 • Em todos os manuais listados por Tonelli, as designações referidas por Sexto encontram-se repetidas, bem como nos léxicos de Walch (1736) e de Zedler (1733-1750) é apresentado o verbo grego utilizado por Kant, o que faz deles as fontes mais prováveis. Um pouco mais tarde, encontramos Kant praticando o que virá a chamar de antitética, termo com que Sexto caracteriza 0 método cético. Numa reflexão de meados dos anos d e 1770, Kant se reporta ao ano de 1769: "Inicialmente, vi este sistema como num crepúsculo. Eu tentava muito seriamente demonstrar 2. Veja-se a lista em G. Tonelli, "Kant and the Ancient Sceptics", 87-89. 3. Cf. Sexto Empírico, Hipotiposes pirrônicas, 1, 3, 7: "A filosofia cética é denominada 'zet ética' devido à sua atividade d e investigar (