162 69 4MB
Portuguese Pages 325 Year 1969
MÁRIO
HENRIQUE
SIMONSEN
BRASIL
APEC
2001
EDITORA
S.A.
Copyright O by MÁRIO
HENRIQUE
SIMONSEN
Capa MÁRIO
DUARTE
Direitos reservados para todos
os países da língua portuguêsa à APEC
EDITÔRA
S.A.
Av. Churchill, 94 - 6º and. Rio de Janeiro —
1969
INTRODUÇÃO 2
O objetivo do presente livro é o de examinar as condições pera que o Brasil escape às previsões do Hudson Institute, as quais nos vaticinam crescente atraso em relação à renda per capita dos
países mais prósperos. A conclusão básica da análise é a de que podemos nutrir a esperança de que
os fatos desmintam
essas
projeções. Mas
que
isso
depende da nossa racionalidade e do nosso esfôrço, e não da simples e inerte extrapolação das tendências.
O
título
do
livro
deveria
ser BRASIL
ANO
2000, com base nas projeções do Capítulo T. Mas como recentemente foi publicado outro livro com êsse título, apelou-se para o devido substituto cine-
matográfico. Parte do material contido no texto já havia sido divulgada em várias publicações como APEC, Indústria e Produtividade, Boletim Cambial
etc. Todavia, os dados foram atualizados e várias partes intermediárias revistas, de modo a dar ao texto certa continuidade e alguma segiiência lógica. Enquanto o livro estava sendo escrito, a Fundação Getúlio Vargas revia as suas Contas Nacionais. Os resultados dessa revisão ainda não foram publicados e, por isso, não foram incorporados aos 5
quadros constantes do presente parece, a principal conclusão é a
texto. de que
Ao que o desen-
volvimento do setor terciário no decênio de 1950 foi mais brilhante do que se supunha pelo julgamento das antigas estatísticas. Em
essência, isso não altera
nenhuma das principais conclusões do presente texto. Devo agradecer aos professôres Octávio Gouvêa de Bulhões, Augusto Jefferson de Oliveira Lemos
cia
e João
com
original,
que
Paulo
leram
contribuindo
dos
Reis
alguns
com
Velloso
capítulos
pela
valiosas
críticas
Janeiro,
março
do
paciên-
texto
e suges-
tões. Obviamente essa colaboração não os torna solidários com os erros do livro, que correm pela exclusiva responsabilidade do autor.
Rio
de
de
1969
Mário Henrique Simonsen
ÍNDICE CAP.
I —
AS PREVISÕES INSTITUTE Defasagem
A
1.2
O Cenário Quantitativo — O Mundo
Crescente
O Cenário por Países
1.4
Variações
Brasileiras
jeções
Kahn
IH —
............... Dico-
.....ccccccccc erre recreio
1.3
2.1 2.2
CAP.
HUDSON
1.1
tômico
CAP.
DO
de
Quantitativo — As Projeções .......cccccccccerrecrraersa ; e
em
tôrno
Wiener
das
............ ;
A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA DESENVOLVIMENTO: 1920/1967
DE
O Crescimento do Produto Real ........ Composição da Despesa Nacional Bruta
2.3
Industrialização
2.4
O Modêlo Brasileiro de Desenvolvimento — Avaliação e Critica ................ .
WI —
e Estrutura
O PENSAMENTO LISTA Comunicação
Mística
as
Pro-
Ocupacional
ESTRUTURA-
3.1
A
3.2
Problemas de Crescimento no Brasil — A Visão Estruturalista ................
...............
30
CAP.
3.3
O
76
3.4
Crítico ..c.ccisccce secs es A Terapêutica Estruturalista e o Keyne-
3.5
sianismo Prematuro ...................4 Uma Variante Estrutralista ............
83 89
3.6
A
95
IV —
Diagnóstico
Mensagem
A
A Progressão
4.2
O
4.4
Ufanismo
Do
Estruturalista
ARITMÉTICA
4.1 4.3
V — 5.1 5.2
Exame
............ »
COELHOS
Explosiva
................ »
99
..............
102
Malthusianismo
Clássico
ao
Bom-
-Senso Aritmético ..........cccccccc.. Política Populacional e o Fatalismo ..........cccc leo s
A TOLERÂNCIA A
Evolução
da
Taxa
Inflacionária
Raízes
Sócio-Políticas dos Processos Crônicos
As
Distorções
5.4
O
Inflacionismo
5.5
Inflação
zontes
de
Brasileiro
VI —
...........
e a Estreiteza
dos
—
O
119 124 129
Hori-
................
Desenvolvimento
142
Caso
.......ccccclcclcciccr crer
O GARGALO
14
Infla-
..........ccccccc..
Inflacionárias
Programação e
|;
no
.....ciciccccccciicc cc cerca
5.9
105
INFLACIONÁRIA
Brasil cionários
CAP.
DOS
—
Demográfico
Demográfico
CAP.
Estruturalista
145
EXTERNO
6.1
O
........
151
6.2 6.3
O Modêlo dos Três Limites ............ Dívida Externa e Balanço de Pagamentos
Desenvolvimento
161 166
6.4
Exportar
174
ou
Introvertido
Estagnar
..........cc.coo.
CAP.
VII — 71
PLANEJAMENTO, MERCADO, TERVENÇÃO ESTATAL Os
Erros
do
Planejador
7.2 7.8 7.4
a Técnica
Planejamento
e Realismo
O
Crescimento
8.1
Educação
8.2
O
Esfôrço
e
do 181
Setor
Público
189
........ .
192
na Eco-
..........ccccsiicc cr
198
EDUCACIONAL
Cultural
..........
................ e
Estrutura
do
........cccccccicc cicero
A
Pirâmide
8.5
O
Desperdício
8.6
A
Mensagem
do
IX — ANALISE
9.4 9.5
Erros
Orçamentário
Desenvolvimento
8.4
9.1 9.2 9.3
os
Neutra
Quantitativo
Deformação Ensino
CAP.
do
Brasileira
VIII — O PROBLEMA
8.3
e
.........cccisecccercrcrcea
Planejamento,
nomia
CAP.
Mercado
IN-
Desperdício nas
............
Universidades
de Esperança
............
ANTIECONÔMICA
Racionalidade e Política Econômica .... O Nacionalismo Obscurantista .......... O Mito do Subsídio ............c..... A Cibernética de São Tomé ............ As Fórmulas da Cadeia da Felicidade ..
CAP. X — O DESAFIO MENTO 10.1
A
Corrida
10.2
A
Semelhança
da
10.3
Cinco
Grandes
DO Renda dos
DESENVOLVIPer
Modelos
Problemas
Capita ............ ..............
269
APÊNDICES I — H — HI — IV —
V — VI — VIL —
10
ÍNDICE DO PRODUTO REAL — RESULTADOS E DISTORÇÕES ................ O ÍNDICE DE CONCENTRAÇÃO DE LORENZ .........ccicciscctrererecreeado MODELOS DO CÍRCULO VICIOSO DA POBREZA ......ccciiiciicssccererrereero EFEITO DO CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO NUMA FUNÇÃO COBB-DOUGLAS ....cccciiccsic ss cicscrr crer rerrero INFLAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO — VERIFICAÇÃO EMPÍRICA .... DÍVIDA EXTERNA E BALANÇO DE PAGAMENTOS ..............cccss eee. DESENVOLVIMENTO E PROGRESSO TECNOLÓGICO ................ cerrererra
293 299 303
307
CAPÍTULO
AS PREVISÕES 1.1
—
DO
I
HUDSON
A
Defasagem
Crescente
Todo
brasileiro,
ao
tomar
INSTITUTE
conhecimento
das
projeções do Hudson Institute, contidas no livro “The Year 2000” de Herman Kahn e Anthony
Wiener, sente-se decepcionado com o baixo nível de renda per capita que nos é previsto para o fim do século. A valerem tais extrapolações, no ano 2000 estaremos com apenas 506 dólares anuais de renda per capita, enquanto os Estados Unidos terão ultrapassado a casa dos 10.000 dólares, e o Japão, o Canadá e vários países da Europa Ocidental a ordem dos 6.000 dólares. Em têrmos absolutos teremos conseguido algum progresso: os 506 dóla-
res no fim do século representam 81% a mais do que os 280 dólares per capita estimados para 1965
— o que, em progressão: geométrica, equivale a uma taxa anual de crescimento de 1,7%. Em têr-
mos relativos, porém, estaremos ainda mais distanciados do que hoje das nações desenvolvidas. Hoje a relação
entre
a nossa
renda
per
capita
e a dos 11
Estados Unidos é da ordem de 1:12,7. Pelas proje-
ções do Hudson
Institute,
no
vizinho,
a
ano
2000
ela será
de
1:20,1. O Quadro 1 a seguir ilustra êsse problema da crescente defasagem relativa. Até em compara-
cão
ada
com
o
nosso
vez mais atrasados.
Argentina,
QUADRO
estaremos
1
RENDA PER CAPITA DE ALGUNS PAÍSES EM RELAÇÃO AO BRASIL Renda per capita | Número de vêzes a em dólares de 1965 | renda per capita do Brasil
PAÍS
1965
2000
1965
2000
Estados Unidos..
3.557
| 10.160
12,70
20,08
aercarasaa Alemanha Ocidental
1.924 1.905
6.830 7.790
6,87 6,80
13,50 15,40
1,76
2,57
Comadã............
2.464
Japão............. RSS... Ttilia ecc...
857 1.288 1.101
Argentins.......... sil............. Fonie:
Iabn
Entre
4992 280
e Wiener
nós,
—
The
as reações
7.070
8.590 4.650 4.450
1.300 506
Year
8,80
3,06 4,60 3,93
13,97
16,98 9,19 8,79
2000.
quanto
a essas
previsões
se têm dividido bastante. Uma corrente pessimista as toma como um vaticínio fatídico de que o Brasil será o eterno país de um futuro cada vez mais distante. Outra, mais moderada, as encara apenas como uma séria advertência quanto ao que nos poderá ocorrer se não soubermos construir um processo sólido de desenvolvimento. Mais numerosos, talvez, sejam os otimistas, que confiam que mais uma vez fique provado que a economia é a ciência que justifica no presente por que as suas 12
previsões para o futuro fracassaram no passado. N+ boa filosofia do avestruz, vários argumentos são utilizados por essa corrente: o que nega a validade
das comparações internacionais de renda per capita, o que nega a representatividade da renda per capita como indicador da importância e do bem-estar de um povo, e o que nega a viabilidade de qualquer previsão econômica a longo prazo na linha do Hudson Institute. Como êsses argumentos desfrutam de certa popularidade
valem
alguns
comentários.
A principal crítica usualmente oposta às comparações internacionais de renda per capita é a da de
dificuldade de escolha de uma taxa adequada conversão cambial. O método mais simples de
conversão seria dividir a renda per capita de cada país, na sua moeda, pelo preço do dólar no mercado de câmbio. Os resultados, no entanto, poderiam ser bastante distorcidos, pois a taxa cambial corrente não necessàriamente reflete a paridade dos preços internos nos diversos países. O fato de existirem países onde a vida se considera mais cara ou mais
barata
cara
que
é a conseqiiência
óbvia
dêsse
fato.
Admitindo que nos Estados Unidos a vida seja mais do
no
Brasil
êsse
sistema
de
conversão
subestimaria o nosso padrão de vida, colocando-nos numa
escala
Acontece
utilizam
os
indevida
de
subdesenvolvimento.
que êsse não é o critério
economistas
nas
comparações
de que se interna-
cionais de renda per capita. Tais dados são obtidos pela aplicação de determinados coeficientes de ponderação aos índices de produção física por habitante, e não pela simples conversão por taxas cambiais. É claro que existem dificuldades na escolha de um sistema de pesos adequado para diferentes países, e por isso as estimativas internacionais de renda per capita não se podem considerar suficientemente 13
precisas.
Em
todo
o caso
o método
contorna
o pro-
blema das divergências entre as taxas cambiais de mercado e de paridade de poder aquisitivo. Para nos certificarmos dêsse fato, lembremos que em 1965 o produto interno bruto per capita no Brasil era de NCr$ 374,60. Convertido à taxa cambial média do ano (NCr$ 1,92 por dólar) êsse valor corres-
ponderia a 195 dólares per capita. Na Kahn e Wiener partem de 280 dólares —
já leva
em
conta
a correção
de
paridade
realidade cifra que de
poder
de compra. É possível que, alterando os coeficientes de ponderação internacional a nosso favor, conse-
guíissemos
esticar
essa
estimativa
até
320
dólares.
Em todo o caso, o ponto de partida do Hudson Institute parece situar-se dentro da faixa admissível de ordens de grandeza. Quanto à representatividade da renda per capita para a avaliação do desempenho de um país, cumpre não incorrer em exageros num sentido ou noutro. É claro que ela está longe de ser um indi-
cador inequívoco da hierarquia das nações — se tentássemos comparar os países apenas por essas tabelas chegaríamos a resultados absurdos, como
o de que
o Kuwait
é mais
importante
que
os Es-
uma
nação
tados Unidos, ou o de que a Venezuela é o princi-
pal
país
da
América
Latina.
De
fato
pode ser importante por outros fatôres: pela extensão territorial, pela população, pelas tradições culturais etc. Também é óbvio que a renda per capita é um valor médio, por trás do qual se pode ocultar
uma
lembrando
sujeito com
distribuição
aquela
a cabeça
ra, e que na média salvas,
todavia,
injustamente
definição
não
num
de que
forno,
desigual
estatístico
os pés na
—
é o
geladei-
se sente muito bem. Essas resdiminuem
a importância
eco-
nômica das estimativas de renda per capita. Afinal 14
a fonte de recursos pança de um país
para o consumo e para a pou. é a sua produção, cujo valor
médio por habitante equivale à renda per capita. Na realidade, seria próprio olharmos as estatísticas com um unilateralismo eliminatório: uma renda
per capita alta talvez superestime o desenvolvimento
de um
país,
distributivas;
se existirem mas
uma
excessivas
renda
per
desigualdades
capita
baixa
é
sempre um indício definitivo de subdesenvolvimento. Mais uma vez poderíamos voltar à filosofia do avestruz e repetir aquela frase com que os ricos tentam consolar os pobres — a de que dinheiro não dá felicidade. O problema é que a sociedade moderna, cujos desejos aumentam cada vez mais pelo efeito da propaganda e dos meios de comunicação, não parece inclinada a êsse espírito de renúncia material. Diante da revolução das aspirações crescentes deve considerar-se alarmante a hipótese de ficar-
mos cada vez mais atrasados em relação aos povos desenvolvidos. Quanto à viabilidade de projeções econômicas
a prazo longo, como as do Hudson Institute, cumpre mais uma vez evitar os extremismos. É óbvio que os cientistas sociais estão muito longe dos fi-
sicos e dos astrônomos na precisão da sua futurologia, e que a evolução dos fenômenos econômicos é continuamente perturbada por fatôres imponderáveis. Aliás os autores do livro “The Year 2000”
são
suas
bastante
cautelosos
estimativas
Surprise
Free
num
Economic
nesse
capítulo
ponto,
apresentando
intitulado
Projections”.
Daí
“Some é
sen-
sato concluir que qualquer previsão econômica a longo prazo está sujeita a considerável margem de êro, mas não que os exercícios dêsse tipo sejam inúteis. Metodolôgicamente as projeções do Hudson Institute se resumem em simples manipulações de 15
progressões geométricas. Essas manipulações, no entanto, são bastante proveitosas pois nos mostram para onde caminhamos se não conseguirmos inverter determinadas tendências. Apenas para antecipar um exemplo, uma das conclusões mais importantes que se podem extrair da análise é que dificilmente o Brasil recuperará seu atraso em relação aos
países mais
mento
prósperos
se a sua
taxa
de
cresci-
demográfico não se reduzir substancialmen-
te nos próximos
trinta
anos.
Essas observações servem para aliviar a inter-
pretação pessimista, segundo
a qual as previsões
do
Hudson Institute mostram que fatalmente nos atrasaremos cada vez mais em relação aos países
volvidos.
Na
realidade
é possível compor
desen-
diversas
variações sôbre o tema de Kahn e Wiener e chegar a perspectivas mais risonhas para o nosso fim de século. As cifras apresentadas no “The Year 2000”
valem-nos, porém, como advertência, mostrando-nos o que nos poderá acontecer se continuarmos a encarar certos problemas de desenvolvimento com o otimismo do avestruz. 1.2 — O Cenário Quantitativo.
O Mundo Dicotômico
A metodologia adotada por Kahn e Wiener nas
guas projeções econômicas para o ano 2000 é a mais simples possível: os autores projetam independente-
mente o produto nacional bruto (por países e por continentes) e a população, obtendo por divisão as previsões de renda per capita. Em pormenores, as etapas de cálculo são as seguintes: a) compilação das estimativas de população e de renda per capita em dólares para o ano de 1965; b) cálculo do produto nacional bruto em dólares, multiplicando-se as estimativas acima; c) projeção das taxas de cresci16
mento
demográfico
até
o
ano
2000;
d)
estimativa
da população no fim do século com base nessas taxas; e) projeção
da taxa de crescimento
nessa
estimativa
do produto
real até o ano 2000; f) projeção do produto nacional bruto no ano 2000 (em dólares de 1965) com base taxa;
g)
da
renda
per
capita
no
ano 2000 dividindo-se as projeções do produto total pelas da população. Do ponto de vista técnico essa metodologia pode considerar-se bastante rudimentar, praticamente se resumindo numa série de exercícios sôbre progressões geométricas. Os fatôres de crescimento que usualmente integram os modelos econométricos —
a taxa de formação de capital, o progresso tecnológico, os limites do comércio
destacados
na
análise,
exterior etc. —
ficando
não são
implicitamente
en-
globados nas taxas de crescimento postuladas para o produto real. Kahn e Wiener talvez tenham razão
em evitar qualquer metodologia mais sofisticada, pela imprevisibilidade dos seus parâmetros no prazo de um
têrço de século.
Em
todo
o caso isso nos
obriga a admitir em tômo das projeções médias do Hudson Institute, uma considerável margem de dispersão pela acumulação postos.
da diferença
de juros com-
Também, como reconhecem os autores, a projeção da população e do produto total como variáveis independentes é uma escapatória simples para um problema difícil. 'Teôricamente, desde que a produtividade marginal da mão-de-obra seja positiva, o crescimento da fôrça de trabalho contribui positivamente para o aumento do produto real. Sabe-se, porém, que uma explosão demográfica pode exercer certos efeitos que freiam a expansão do produto nacional, como a absorção de vultosas poupanças em obras de infra-estrutura social, e a fregiiente neces17
sidade
de sacrificar
o objetivo
de crescimento
do
produto pelo da expansão do emprêgo. Diante disso talvez o mais prudente seja admitir, como os autores do “The Year 2000” que a relação a longo prazo entre crescimento da população e do produto real
ainda é desconhecida. As taxas medianas de crescimento do produto real projetadas para o último têrço de século com-
põem aquilo que Kahn
e Wiener
denominam
“cená-
rio otimista”. Com ligeiros corretivos, elas se aproximam bastante das taxas médias de crescimento registradas nos últimos quinze anos — uma espécie de Belle Epoque do crescimento econômico mundial — excedendo considerâvelmente as tendências das séries seculares do produto real. Várias razões justificam essa perspectiva otimista. Primeiro, o próprio “culto do crescimento” que se espalhou entre as nações nos últimos anos ensinando-as a formular uma política econômica mais adequada aos objetivos de desenvolvimento. Segundo, a improbabilidade de que o crescimento venha a ser interrompido por depressões profundas (como a do decênio de 1930) devido
ao domínio das técnicas anti-recessivas. Terceiro, o crescimento exponencial da tecnologia exportável. Quarto,
a melhoria
dianas
da população,
nos
arranjos
institucionais
do
mundo — uniões aduaneiras, entidades de assistência técnica etc. Dentro dessa linha, o primeiro exercício apresentado por Kahn e Wiener é o das projeções medo produto
real e do
produto
real per capita por continentes. Os dados, resumidos no Quadro 2, subdividem o mundo em dois grandes grupos — o dos países subdesenvolvidos, compreendendo a Africa, Ásia (exceto Japão) e América
do Sul
(inclusive
Central)
e o das
nações
desenvolvidas, contendo o Japão, a América do Nor18
te e a Europa. Os principais resultados jeções são os seguintes:
dessas pro-
a) Entre 1965 e o final do século a população do mundo deverá expandir-se de aproximadamente 3,3 para 6,4 bilhões de habitantes —
o que equivale
a uma taxa média anual de 1,86%; a renda per capita, de cêrca de 630 para 1.700 dólares (de poder aquisitivo de 1965). b) O crescimento do produto real total nos dois mundos se processará a taxas muito próximas, em tômo de 4,8% ao ano; assim, a relação entre o pro-
duto real total nos dois blocos deverá permanecer
prâticamente inalterada 1:5,9 em 1965).
(1:5,8 no
ano
2000
contra
c) A população do mundo subdesenvolvido de-
verá crescer a uma taxa bem mais rápida (2,15% ao ano) do que a dos países desenvolvidos (1,15% ao ano). Como corolário, a percentagem da população subdesenvolvida no total mundial crescerá de 67,7%
ano 1965 para 74,8% no ano 2000. d) Como consegiiência do hiato demográfico, o atraso relativo dos países subdesenvolvidos se acen-
tuará daqui até o fim do século; a sua renda média
per capita crescerá de 135 para 332 dólares anuais
(2,6% ao ano); a do grupo desenvolvido, no entanto, se expandirá a taxas sensivelmente superiores
— passando de 1.675 para 5.744 dólares per capita (3,6%
ao
ano).
Assim,
a distância
média
relativa
entre os dois grupos se afastará da escala de 1:12,4 para a de 1:17,3. É interessante comentar o aspecto mais chocante dessas previsões —
entre do e uma tico
o do distanciamento crescente
a renda per capita dos mundos subdesenvolvidesenvolvido. Não se trata prôpriamente de conclusão, mas de um simples corolário aritmédas duas principais hipóteses de trabalho de 19
Kahn e Wiener — a de que o produto real dos dois
mundos
cresça aproximadamente
à mesma
taxa, e a
de que a população se expanda bem mais ràpidamente nos países subdesenvolvidos. Contudo essas hipóteses de trabalho (e, naturalmente, o seu corolário aritmético) parecem plausíveis, a menos que se invertam certas tendências atuais. Em matéria de crescimento do produto real, os países subdesenvolvidos levam algumas vantagens e outras
tantas
desvantagens
em
relação
às
nações
mais avançadas. As vantagens residem na possibilidade de absorver um longo percurso tecnológico já trilhado pelas nações mais prósperas (os países subdesenvolvidos não esbarram numa fronteira tecnológica cuja expansão sempre depende de novas invenções); na escassez do capital que, em tese, permite extrair dos investimentos maior produtividade marginal; e na própria consciência, nacional e internacional, de que é preciso abrandar o hiato entre as nações
mais e menos prósperas. Como contrapêso, no entanto, podem
citar-se outras tantas desvantagens:
ficuldade
natural
de sustentação
de uma
a di-
taxa
de
poupança semelhante à dos países desenvolvidos; o agravamento dessa dificuldade pelo impacto dos
meios modernos de comunicação que despertam nos povos subdesenvolvidos o desejo de imitar os padrões de consumo
das nações mais
avançadas
(efei-
to-demonstração); a fregiiência dos erros de política
econômica,
que
parece
correlacionar-se
fortemente
com o inverso da renda per capita; e a tendência a
reproduzir prematuramente
certas conquistas sociais
que só se justificam pelo desenvolvimento econômico (o Brasil, na faixa dos 300 dólares anuais de renda per capita, se orgulha de possuir a legislação tra-
balhista
cumpre 20
mais
adiantada
observar
que
do
mundo).
os países
Além
desenvolvidos
disso,
têm
conseguido desvendar novas fronteiras tecnológicas com tal velocidade que se fica em dúvida se é realmente vantagem econômica estar na retaguarda para
dispor de um horizonte mais amplo de percurso. (Lembre-se, nesse particular, o algo superenfático,
mas sugestivo “Desafio Americano” de Jean Jacques Schreiber). É ôbviamente impossível dar um balan-
co quantitativo satisfatório nessas vantagens e desvantagens. Em todo o caso, o seu simples enunciado confere certos ares de plausibilidade à hipótese de Kahn e Wiener mesma taxa.
de que ambos
os mundos
cresçam à
Quanto à expansão demográfica, é fora de dúvida de que ela hoje se processa a taxas muito mais aceleradas no mundo subdesenvolvido de que no desenvolvido. Os progressos da higiene e da medicina moderna ensinaram como reduzir drâsticamente as taxas de mortalidade. Mas só os países de alta renda per capita parecem
ter apreendido
a reduzir conco-
mitantemente as taxas de natalidade. É possível que o avanço e a simplificação dos anticoncepcionais reduzam essa assimetria. Mas, sem essa inversão de tendências,
justificam-se
as
projeções
de
Kahn
e
entre
o
Wiener. Com o numerador proporcional e o denominador explosivo,
é óbvio
que
a distância
relativa
mundo desenvolvido e o subdesenvolvido aumentará cada vez mais. Trata-se, talvez, de uma conclusão simples demais para que se possa tomar como previsão absoluta. De qualquer forma, o exercício sôbre taxas geométricas vale pelas duas advertências que encerra: a de que os países subdesenvolvidos preci-
sam
esforçar-se
herôicamente
para
aumentar
o seu
produto total; e a de que êsses mesmos países devem encarar com mais racionalidade os efeitos negativos de sua explosão demográfica. 21
8691 S49'T
ce 0'693'6 | TOIST
0'8P8'OT | S9TI'g
OSI9'T | 6080'T
0'688'9 | g'gvg'g
"000% Ivox
FLS 092" + | 6/2706 O;L01 0'8g 0'029'€ | SPLA 0'990'T | 0%
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69g'1 000" 8 1g9'5 158 | 2'90€
0'988 0'g5 0'8L9 0'g2L
c30's 085 + £9c'9 ss 'g 0'6sg'T
'0
|
|
SU] —
e
JonorA O UMEM
Há apenas um lapso em todo êsse raciocínio. Expandir o crédito não significa dar às emprêsas a possibilidade de produzir mais. Representa simplesmente lhes dar o direito
de aumentar
as suas compras,
em têrmos nominais. E quando todos dispõem de mais cruzeiros para adquirir o mesmo volume físico de mercadorias, os preços costumam subir. É a famogsa inflação de procura, inacessível aos adeptos da cibernética de São Tomé, mas facilmente descrita em
qualquer texto elementar de economia. Isso não sig251
nifica que a expansão
de crédito não seja desejável
em épocas de crise de liquidez, ou como compensação a um processo inflacionário de custos. Mas daí
ao direito divino da duplicata vai muita distância. A idéia de que é desejável aumentar salários nominais para fortalecer a procura de bens e serviços é às vêzes desenvolvida com requintes de esquizofrenia. O Govêrno aumentando os salários nominais elevaria a procura de bens de consumo;
com isso, as em-
prêsas venderiam mais; com o aumento das escalas de produção, as emptrêsas poderiam absorver os incrementos salariais pela dissolução dos custos fiXos, e manter os mesmos preços anteriores. Assim, o aumento de salários nominais seria a origem de uma expansão do produto real sem qualquer impacto inflacionário. Por mais imaginativos que sejamos em combinar a escolástica com a matemática (com o mais absoluto desprêzo pela evidência empírica) é difícil construir um modêlo que conduza a essa conclusão. Pois os aumentos de salários nominais provocam um incremento de custos pelo menos
tão grande quanto
a expansão da procura. E, como o que interessa é a
procura em têrmos reais, e não em valôres nominais,
os efeitos se cancelam, pelo menos agregativamente. Isso sem contar com o fato de que um aumento salarial força um incremento na procura da moeda, ao qual dificilmente se poderá responder sem impactos inflacionários. Por certo seria lícito dizer que um aumento dos salários dos funcionários públicos sem reajuste dos impostos expandiria a procura global de bens e serviços. Mas é difícil crer que o aumento do deficit público não exercesse qualquer impacto inflacionário. Do mesmo
aumentos 258
modo, parece razoável afirmar que os
gerais de salários redistribuem a deman-
da, reforçando-a em alguns setores, e enfraquecendo-a em outros. (Nada indica que essa redistribuição se dirija para os setores com capacidade ociosa, aliviando os pressionados pela inflação de procura.) Mas a idéia de que é possível elevar salários nominais eliminando os reflexos inflacionários pelo aumento da produção resultante da expansão da demanda, não passa de um keynesianismo de botequim. Pois Keynes jamais afirmou que êsse aumento seria a fórmula capaz de livrar um país de uma depressão. Cuidando apenas de um contexto muito particular (no qual algumas providências governamentais, 'como o aumento de despesas e redução de impostos podem efetivamente melhorar a todos sem piorar ninguém), o autor da Teoria Geral (que de geral só tem o nome)
limitou-se a uma
conclusão muito mais mo-
desta: a de que a redução de salários nominais, em certos casos, não ajudará uma nação em crise a elevar o seu produto real. À recíproca, todavia, nunca foi aventada. Pois Keynes era bom economista demais para considerar um foco de aumento de custos como capaz de incrementar a demanda real de bens e serviços. 9.6
—
O Antitecnicismo
Outro respeitável capítulo da análise antieconômica
consiste
no antitecnicismo.
É
a tese
daqueles
que rejeitam a teoria econômica tradicional, considerando-a válida para os países desenvolvidos, mas imaplicável no Brasil. “Somos um país diferente. E, nossa infelicidade está em seguir os tecnocratas, que nos impõem os modelos monetaristas importados de outros países. Precisamos de soluções brasileiras para os problemas brasileiros.” 259
Essa idéia da originalidade brasileira é em parte um truísmo, em parte uma sandice. T'ruísmo porque entre dois países quaisquer sempre há certas diferenças. Sandice porque existem leis gerais de comportamento que não parecem variar com a latitude ou com a longitude. Uma analogia esclarece a questão. O Brasil distingue-se de qualquer outro país pelos seus acidentes geográficos. Mas
nem por isso a
lei da gra-
vidade aqui funciona ao contrário, impelindo os corpos para cima; nem o princípio de Arquimedes traga os navios para o fundo do mar em nossas águas terri-
toriais.
De fato, qualquer teste estatístico elementar mostra que as leis econômicas se ajustam com extre-
ma propriedade ao Brasil. A agricultura, a indústria e o comércio respondem com acentuada sensibilida-
de aos estímulos ou desincentivos do sistema de preços e da política de crédito. O consumo e a renda se
correlacionam estreitamente. A taxa de inflação está
perfeitamente vinculada aos deficits públicos, à expansão monetária e aos aumentos salariais, e assim por diante. Basta lembrar alguns exemplos, como a boa reação da agricultura ao crédito rural e aos preços mínimos; a crise habitacional associada à lei do
inquilinato e ao mito do subsídio nos financiamentos imobiliários, e a posterior recuperação da construção civil com a generalização do princípio da correção monetária; a superprodução alta internacional dos preços
do café resultante da entre 1952 e 1954; as
taxas de inflação associadas à política do Govêrno Goulart etc. Os adeptos do antitecnicismo confudem a estrutura geral com os pormenores setoriais da política de desenvolvimento. É claro que os projetos específicos, as minúcias psicológicas 260
institucionais, e mesmo as motivações apresentam certas diferenças de país
para país. Mas as regras básicas do desenvolvimento fundadas na poupança, na racionalidade dos in-
vestimentos,
são as mesma inflação cos, da
e no treinamento
de recursos
humanos
mesmas em qualquer parte do mundo. Da forma pela qual os países só se livram de uma violenta pela contenção dos deficits públiexpansão de crédito e dos reajustes salariais,
e nunca pelo aumento
da produção.
É
certo
que
às
vêzes os técnicos cometem erros. Por piores que sejam, todavia, êles nunca são tão graves quanto os de uma política econômica aleatória. E não se confundam os erros dos técnicos com erros da técnica. No fundo, os adeptos do antitecnicismo ou não conhecem o Brasil ou ignoram os princípios elementares
da
economia,
bem
como
dizer,
ou
ambas
as coisas.
Cientifica-
mente, o antitecnicismo representa o retôrno à idade da pedra. Do ponto de vista psicológico, essa talvez seja uma boa desculpa para os que têm preguiça de estudar teoria econômica, e que aspirariam ao nivelamento geral pela ignorância. Como receita para o desenvolvimento, todavia, essa atitude não pode ser levada a sério. Os adeptos do antitecnicismo, na sua retórica confusa, não têm o que dizer nem sanio Delfim Netto.
como
9.7— O Capitalismo
afirmou
recentemente
Antô-
Tomista
Uma das contradições ideológicas mais espalhadas em nosso meio é a daqueles que são a favor do capitalismo mas contra o lucro. É o que se poderia apelidar de confusão de Santo Tomaz de Aquino com Gibi. Trata-se de importante capítulo de análise antieconômica, sôbre o qual valem alguns comentários. 261
A ojeriza ao lucro é, em parte, subproduto da tradição cultural da península ibérica. Contrària-
mente
aos
países saxzônicos,
que
sempre
associaram
o lucro à inovação e à poupança, temos o hábito de o correlacionar com a especulação e o consumo supérfluo. Basta dizer que em nossa língua, lucro e lôgro parecem ter a mesma raiz etimológica. É possível que isso resulte do fato de que, histôricamente, não fomos um país empresarial. Mostrávamo-nos mais propensos ao mercantilismo, e à valorização dos produtos pela
geração artificial
da escassez,
do
que
ao verdadeiro capitalismo, baseado na inovação e na concorrência. De outra parte, há boa dose de conflito entre a atitude mental do burocrata padrão e a presença do lucro. O funcionário público, em boa parte das vêzes, não escolhe apostolar ao serviço
a sua carreira pela vocação governamental. Escolhe-a pela
estabilidade, pela ausência de riscos, e pela tranqiuilidade do trabalho rotineiro. E, num mundo de rotinas,
sem
inovações
nem
incertezas,
não
haveria
realmente lugar para o lucro. A essa incompreensão
do modêlo soma-se a irritação do contraste, pois o padrão de vida do capitalista bem sucedido não costuma ser acessível ao burocrata.
Nessa linha do capitalismo tomista, uma das idéias mais espalhadas entre nós é a do “lucro justo”, Considera-se que a emprêsa deve ganhar exatamente 10% ao temos dez dedos nas
ano (provavelmente porque mãos), não importando qual
seja a sua produtividade ou a sua capacidade de inovação. De preferência o Govêmno deve tratar de tabelar os preços dos produtos, examinando o custo das emprêsas, e garantindo-lhes a justa margem remuneração (a famosa forma €. L. D.). Caem
262
de
O problema do lucro justo é que se trata de um desastre conceitual, É possível que exista o lucro injusto, o do monopólio, o qual pode ser combatido pela legislação “anti-trust” (que, entre nós, poderia funcionar em boa parte pela baixa das tarifas aduaneiras), e pela regulamentação das tarifas dos monopólios naturais. Mas, uma vez garantidas certas condições de razoável concorrência, é absurdo querer
tabelar uma remuneração que premia o risco e a capacidade inovadora. O lucro é um resíduo do valor do produto, após o pagamento do preço dos fatôres de produção. Esse resíduo deve reger-se pelas leis de seleção natural, e não por qualquer idéia apriorística de justiça.
Um sintoma inequívoco dêsse nosso apêgo à noção de lucro justo está na apreciação corrente do enriquecimento dos empresários. Nos Estados Unidos, o empresário que se expande râpidamente, pela sua capacidade de inovação e organização, é objeto da admiração pública, e do prestígio social. Entre nós, a sua imagem se deforma na do especulador, por cuja honestidade ninguém poria a mão no fogo. Em compensação exibimos incrível ternura para com os concordatários (inclusive para com aquêles que enriquecem pessoalmente
enquanto empobrecem
as suas
emprêsas), achando perfeitamente justo que o Banco do Brasil lhes sustente a caixa — no famoso processo da socialização dos prejuízos. O capitalismo tomista, em geral, e o mito do lucro justo, em particular, contradizem qualquer filosofia viável de desenvolvimento econômico. Em primeiro lugar, conspiram contra a poupança. É importante lembrar que as sociedades anônimas reinvestem, em média, cêrca de 75% dos seus ganhos. O distributivismo prematuro, preocupado em repartir o lucro entre os menos bem aquinhoados, ao 263
invés de fortalecer a sua reinversão, é uma excelente fórmula para a conquista da estagnação. (Seria prudente lembrar que o lucro também existe nos países
comunistas,
como
fonte
primordial
de
pou-
pança, embora lá pertença ao Estado.) Em segundo lugar, a incompreensão do lucro é o melhor meio de perpetuar a rotina e o obsoletismo, desestimulando a eficiência e a capacidade de renovação. Na era da tecnologia, em que as inovações se sucedem com incrível rapidez, e em que temos enorme hiato de conhecimentos a absorver, nada mais insensato do que buscar o nivelamento pela mediocridade. Um país com as dimensões continentais do Brasil, e com a sua multiplicidade de problemas, dificilmente chegará ao pôsto de nação desenvolvida
sem
o
intenso
apêlo
ao
esfôrço
e
à
imaginação individuais. Para tanto, é indispensável compreender o lucro como o parâmetro da seleção natural da eficiência, ao invés de deformar a sua imagem pela da especulação improdutiva.
264
CAPÍTULO
O DESAFIO
DO
X
DESENVOLVIMENTO
10.1 — A Corrida da Renda Per Capita Em síntese, o grande problema que nos deve preocupar coloca-se nos seguintes têrmos: é muito possível que, com um esfôrço normal de desenvolvimento, cheguemos ao ano 2.000 com 800 dólares per cápita, ou seja, 2,5 vêzes o nível atual. Mas é igualmente possível que, no fim do século, 800 dólares per capita sejam um índice de flagrante subdesenvolvimento. Em têrmos absolutos, a questão do crescimento de nossa renda per capita está longe de ser angustiante. A experiência dos últimos cingiienta anos mostra que tivemos suficiente capacidade de poupança para escapar ao círculo vicioso da pobreza no sentido convencional. E não parece excesso de otimismo supor que, nos próximos trinta anos, consigamos elevar nossa renda per capita a taxas supeniores à da tendência histórica, desde que se conserve razoável nível de racionalidade econômica. 265
Ocorre que desenvolvimento é conceito eminen-
temente relativo. O padrão de vida de qualquer nação avançada, há dois séculos atrás, era bem inferior aos nossos atuais 300 dólares per capita, mas
tal comparação constitui um anacronismo sem nenhum interêsse prático. No sentido relativo nada garante que estejamos livres do círculo vicioso da pobreza. Ao contrário, as previsões do Hudson Institute, embora fundamentadas em hipóteses pessimistas para o nosso lado, nos vaticinam um crescente atraso em relação ao padrão de vida das nações mais prósperas. Nos últimos dez anos, precisamente quando caímos naquilo que os estruturalistas denominam a crise do modêlo de substituição de importações, inúmeros países, tanto do bloco ocidental quanto do socialista, com o culto do desenvolvimento, com a melhoria dos métodos de formulação da política econômica e com o progresso dos
arranjos institucionais, conseguiram expandir seu produto real a taxas da ordem de 5% ou 6% ao ano. Livres de uma explosão demográfica comparável à nossa, êsses países vêm expandindo sua renda per capita com admirável rapidez. Se deixarmos que essas tendências se extrapolem chegaremos a um quadro talvez quantitativamente menos dramático, mas qualitativamente equivalente ao que nos é pintado por Herman Kahn e Anthony Wiener. O Quadro 40 destaca êste último problema. Numa lista de 22 países éramos o nono colococado em crescimento do produto real total no período 1950/1960. No período 1960/1965, caímos para o décimo-sexto lugar. Em matéria de renda per capita, no entanto, a nossa posição é bem pior, devido ao intenso crescimento populacional. No decênio de 1950 figurávamos num modesto décimo-terceiro lugar. E no qiiingiiênio seguinte, caímos para o 266
último lugar da lista. Mesmo um país como a Grã"Bretanha, que pouco tem conseguido em matéria de
crescimento
do
produto,
nos
tem
superado
em
expansão da renda per capita, devido à sua quase estabilidade de população. QUADRO TAXAS
40
MÉDIAS DE CRESCIMENTO DO PRODUTO REAL, TOTAL E PER CAPITA (%
no ano)
PRODUTO REAL TOTAL
PAÍSES
1950/1960]
México............
| PRODUTO REAL PER CAPITA
1960/1985]
1950/1960]
6,1
6,0
2,8
33 3,1
4,7 33
1,5 1,1
Chile..............
3,6
43
Japão.............
9,0
anadá..cccec
css
3,9
Estados Unidos. . Argentina
Brasil.............
5,8
Colômbia pe
4,6
encerra
5,5
43
27
45
14
6,4
8,5
5,1
3,6
3,7
4,8
4,4
10,0
4,9
A dates Portugal........... Suécia..........i..
5,7 4,4 3,3
4,2 6,3 50
5,5
Suíça...
4,4
Austrália. .........
3,8
Grã Bretanha mca
Tchecoslováquia Ungrid........o. Polônia............ URSS............. Fonte:
Yearbook Nations).
of
5,1
51.
2,8
383
7,5 6,5 7,6 10,2
2,0 4,5 6,4 6,4
National
11
9,6
79
tália..............
3,1 1,7 2,0
11,1
4,5
2,5
3,6
1,2
Ocidental
eeecerrarao
Alemania
1,2
1960/1965
4,2
Accounts
5,4
6,7
L2
5,7
3,6
5,5 3,9 2,6
3,6 5,4 4,3
24
2,5
3,0 0,6
6,6 5,7 5,6 83 Statistics
3,0 2,2
13 4,1 5,2 4,8 (United
É fácil compreender a gravidade da questão. A humanidade já está longe daquela fase em que cada país podia cuidar introvertidamente de seus 267
próprios problemas
sem
prestar atenção
tôda
condições
ao resto do
mundo. Se as nossas ambições materiais daqui até o fim do século fôssem apenas as de assegurar a a população
razoáveis
de
moradia
dos
padrões
e um bom padrão calórico e proteínico de ção, poderíamos ficar relativamente quanto ao nosso futuro. Sucede que a nível digno de vida evolui ao longo do
função
de
dois
fatôres:
da
expansão
alimentatranquilos noção de tempo em
de consumo das nações líderes, e da rapidez e da eficiência dos meios de comunicação. Ambas essas variáveis deverão, daqui para o futuro, acelerar a revolução das aspirações crescentes.
Os países desen-
volvidos têm conseguido aumentar a sua renda per capita a taxas extremamente velozes, desafiando a fronteira tecnológica e desmentindo qualquer das teorias de saturação do crescimento. Por outro lado, na era dos computadores e dos satélites, poucos ramos do conhecimento humano se têm alargado tão rapidamente quanto a informação e as comunicações. Os países comunistas conseguiram, por longo tempo, conter as aspirações de consumo de suas
massas pela técnica da Cortina de Ferro, mas é de se pôr em dúvida o êxito do sistema diante das ten-
dências do progresso nas comunicações. Não será surpreendente, assim, que, no ano 2000, a noção de mínimo digno de subsistência incorpore o intenso uso de eletrodomésticos, o acesso aos novos Tecursos da medicina,
a minimização
das
horas
de
trabalho
por semana, o acesso a extensos programas educacionais etc. Se nos atrasarmos na corrida da renda per capita, arriscar-nos-emos a virar um barril de pólvora. Uma nação pode viver na trangiila mediocridade do subdesenvolvimento, desde que isolada do resto do mundo pela ruptura das comunicações. 268
Essa,
todavia,
não
parece
uma
hipótese
viável.
O
simples aperfeiçoamento das comunicações, sem alterações nos padrões de vida, já é um fator de explosão social dos países econômicamente atrasados. Se a isso se acumula o crescente hiato relativo das rendas per capita, as frustrações adquirem dimensão alarmante. Esse é o perigo que o Brasil corre. Se, com o nosso ônus demográfico, ficarmos limitados a taxas modestas de desenvolvimento, atrasando-nos cada vez mais em comparação com os países de altos padrões de vida, como prevê o Hudson Institute, poderemos transformar-nos em palco das mais dramáticas eclosões sociais, talvez no decênio de 1980. Corremos o risco de nos associar àquele grupo de países que no desespêro descamba para a irracio-
nalidade, pulando de crise em crise, até encontrar seus próprios caminhos. Mas caminhos que só são divisados após muito sacrifício inútil
perdido. 10.2 —
e muito tempo
A Semelhança dos Modelos
Desde
o início
impressionando
do
século
vários
países
vêm
os cientistas sociais pelo seu excep-
cional desempenho em matéria de desenvolvimento econômico. Primeiro foram os Estados Unidos que, após
a
Primeira
Guerra
Mundial,
conseguiram
ascender à posição de primeira potência do globo. Em seguida a Alemanha, a qual apesar de derrotada nas duas guerras, conseguiu soerguer-se com incrível rapidez, alcançando taxas espantosas de crescimento no decênio de 1950. Depois a União Soviética, cujos sacrifícios de desenvolvimento a transformaram na única nação capaz
de competir com os Esta-
dos Unidos em matéria de vanguarda tecnológica. E por último o Japão e o Estado de Israel, países 269
precáriamente dotados de recursos naturais, mas que, apesar disso vêm sustentando há mais de quinze anos um
crescimento
cionalmente elevado. Por
mais
economistas, tôdas
essas
volável
há
uma
que
série
experiências
do produto
seja de
de
o
real excep-
entusiasmo
dos
desenvolvimento.
Os
traços
comuns
em
contextos jurídicos e políticos foram bastante diferentes mas a técnica, em seus aspectos fundamentais,
se mostrou
a
mesma.
Não
falta
assim
quem
amplos
recur-
diga que, do ponto de vista econômico, a arte de crescimento não passa de um segrêdo de polichinelo. Tomemos o exemplo dos Estados Unidos. A sua ascenção à categoria de primeira potência mundial deveu-se à conjugação de uma série de fatôres que moldaram o seu crescimento no século passado e nos primeiros anos deste século. É claro que a vastidão territorial e a multiplicidade de recursos Daturais ajudaram considerâvelmente tal processo de desenvolvimento, mas essa foi apenas uma das variáveis do problema. Os Estados Unidos puderam contar com uma série de outras condições sem as quais de pouco
teriam
valido os seus
sos naturais. Primeiro, a intensa mobilidade social baseada no sucesso econômico. Contrariamente a outros países onde a tradição e a nobreza constituiam os principais elementos de definição do status social, os Estados Unidos partiram para uma civilização amplamente aberta à imigração, e onde o prestígio e o poder eram baseados na riqueza e no lucro. Isso deu origem a uma sociedade talvez pouco requintada, mas extremamente propensa à poupança, à concorrência e ao espírito empresarial.
O gran-
de impulso para o desenvolvimento do país no século passado ôbviamente proveio da reinversão dos lucros gerados pela concorrência capitalista. E a 270
vantagem conseguida na corrida da renda per capita foi o resultado de serem os Estados Unidos o primeiro país a obter em larga escala a difusão do espírito empresarial e a aplicação do trinômio lucro-poupança-reinvestimento. Em
segundo
lugar
os
Estados
Unidos,
com
sua mobilidade social e a sua absorção de imigrantes, foram o primeiro país a montar uma estrutura cultural pouco humanística e muito técnica, extraordinãriamente capaz de transformar as descobertas científicas em aplicações práticas. Até o decênio de 1930, a contribuição norte-americana no campo da
ciência
pura
não
foi
particularmente
brilhante,
comparada com a de certos países europeus como a Alemanha, a França e a Inglaterra. Em compensação
os americanos
tiveram
como
ninguém
a habili-
dade da inovação, isto é, a de aproveitar as conquistas da ciência pura no lançamento de novos produtos e na implantação de novos métodos de produção. Em terceiro lugar os Estados Unidos conseguiram notável pioneirismo nas técnicas de organização e administração. No fim do século passado, a engenharia começou cada vez mais a impor as economias de escala nos métodos de produção, exigindo a substituição das pequenas e médias emprêsas pelos gigantescos complexos industriais. Para que essa transformação fôsse conseguida, três condições se mostravam indispensáveis. Primeiro, uma formidável imaginação financeira capaz de criar os mecanismos necessários à aglomeração das emprêsas. Segundo, um extraordinário desenvolvimento do mercado de capitais, a fim de que as poupanças pulverizadas de milhares de cápitalistas pudessem congregar-se para o financiamento das grandes unidades. Terceiro, a mudança das estruturas de organização e administração, tornando-as menos here271
ditárias e personalistas, e mais voltadas para a técnica e para a produção em grande escala, Aos três desafios, os norte-americanos soubsram dar as mais brilhantes respostas. Oz famosos “trusts”, “mergers” e, mais tarde, o encadeamento de “holdmgs” foram manobras extraordinâriamente imaginativas que, se geraram muito abuso do poder econômico e muita fragilidade financeira (várias pirâmides de holdings desabaram como castelos de cartas durante a Grande Depressão), serviram como o veículo indispensável à constituição dos grandes complexos industriais, No mercado de capitais, os Estados Unidos conseguiram como ninguém a popularização dos seguros, dos fundos de investimento, das ações e debêntures das sociedades anônimas, às vêzes numa febre especulativa absurda, como a que antecedeu a crise da Bôlsa em 1929, mas sempre com extraordinária capacidade de transferir os recursos dos que tinham potencial de poupança para aquêles que possuíam habilidade para investir. E, em matéria de administração científica, nenhum país até hoje conseguiu igualar-se aos Estados Unidos, que foram os pioneiros de organização, da produção em massa, da pesquisa operacional, do método P. E. R. T., da aplicação dos computadores, da automação etc. Lembre-se mais uma vez a êsse propósito o “Desafio Americano” de Jean-Jacques Schreiber. suas
Vejamos agora o exemplo da Alemanha. Pelas tradições históricas e culturais não é surpre-
endente que se trate de um país altamente desenvolvido, nem que os seus maiores passos no campo econômico tenham sido alcançados depois que Bismarck
conseguiu
a
sua
unificação.
manha
Ocidental
se reconstruiu
O
que
causou
pasmo aos economistas foi a rapidez com que a Aleda Segunda 272
Guerra,
sustentando
após
a
devastação
ao longo
do
de-
cênio de 1950 uma taxa média de crescimento do produto real de cêrca de 8% ao ano. Talvez se possa
lembrar
que,
materialmente,
a reconstrução
é um
processo bem mais fácil do que o desenvolvimento “ex-nihil”, pois nem tôdas as instalações foram
destruídas:
há apenas
uma
multiplicação
de pontos
de estrangulamento, a qual pode ser corrigida com uma relação capital/produto bastante favorável. "Também se poderia dizer que a Alemanha contou com substancial ajuda externa por intermédio do Plano Marshall. Ainda assim, a reconstrução alemã a
após
Guerra
Segunda
Mundial
tudo na auto-ajuda, num exemplo rar os países subdesenvolvidos. O
esfôrço
de
reconstrução
da
baseou-se
que deve Alemanha
sôbre-
inspiteve
como principal apoio a poupança e o trabalho inteligente e árduo. Em todo o período do após-guerra o país sustentou uma taxa de investimentos da ordem de 25% do produto interno bruto, pelo estímulo à poupança individual, à reinversão dos lucros das emprêsas, ao ingresso dos capitais estrangeiros, e pela minimização dos gastos correntes do Govêmo (que, em particular, não mais teve que arcar com despesas militares). A inflação foi vigorosamente debelada pela política de Erhard, em 1948 e 1949, dentro da orientação de que era preferível suportar uma crise de estabilização a curto prazo e conseguir uma moeda estável, a enveredar pelo perigoso caminho do desenvolvimento inflacionista. Em matéria de quadros técnicos, de mão«de-obra qualificada e de espírito empresarial, o país era admiravelmente bem dotado. E, por último, os trabalhadores compreenderam que antes de repartir o bôlo era preciso que êle crescesse. Nos primeiros anos seguintes ao fim da guerra, muitos alemães trabalhavam 14 horas por dia, 10 nas fábricas 273
e 4 nas
atividades de construção
civil,
a níveis
sa-
lariais bastante modestos e sem desfrutar de quaisquer benefícios da previdência social. As conquistas trabalhistas, hoje bastante avançadas nas técnicas de cogestão
e de participação
nos
lucros,
só foram
impostas quando o país já havia alcançado notáveis índices de progresso, e quando já se havia criado
bastante riqueza, e não apenas miséria, para ser dis-
tribuída. Até o término da Segunda Guerra Mundial, muitos cientistas sociais do Ocidente punham em dúvida o êxito da experiência de desenvolvimento da União Soviética, em parte por preconceitos ideológicos, em parte pela falta de informações estatísticas fidedignas. A maior parte dessas dúvidas se dissipou
depois que a Rússia passou a competir com os Estados Unidos na corrida atômica e, sobretudo, após
o lançamento do primeiro Sputnik, em 1957. Trata-se, ôbviamente, de uma experiência de desenvolvimento. Pelos padrões
“sui generis” ocidentais, a
União Soviética é superdesenvolvida em alguns setores, como na indústria pesada e na tecnologia espacial, e subdesenvolvida em outros, como na produção de bens de consumo leve e no suprimento de serviços. Também
a análise superficial dos índices
do produto real parece exaltar indevidamente os méritos do regime comunista nas suas taxas de crescimento. Pelas estatísticas oficiais, reproduzidas no
Quadro
40
a Rússia
teria
conseguido
expandir
seu produto real entre 1950 e 1960 a uma taxa média de nada menos que 10,2% ao ano, taxa que nenhum outro país conseguiu alcançar, salvo o Estado de Israel. Ocorre que os sistemas de ponderação utilizados superestimam (propositalmente ou não) êsse crescimento, atribuindo pesos anormalmente elevados às indústrias que mais rápidamente 24
se expandem, e atrofiando os correspondentes aos setores relativamente inertes. Vários economistas do Ocidente, recalculando o crescimento do produto real soviético no período em questão com um sistema mais ortodoxo de pesos, concluíram que êle não teria sido superior a 6 ou 7% ao ano!). Com tôdas essas ressalvas é fora de dúvida que a Rússia conseguiu realizar um extraordinário esfôórço de desenvolvimento que nenhum cientista social pode ignorar, por mais ferrenho anticomunista que seja. Seria injusto associar binivocamente o desenvolvimento da União Soviética ao regime comunista. Primeiro porque o impulso do crescimento da Rússia começou por volta de 1880, muito antes portanto da revolução comunista. Já não faltava nessa época quem vaticinasse que, pela sua extensão
territorial, pela sua tradição cultural, e pela multiplicidade de seus recursos naturais, a Rússia seria o único país capaz de se transformar, na segunda metade do século XX, no rival econômico dos Estados Unidos. Também em 1917 a Rússia já era um país razoâvelmente desenvolvido, com excelente produção agrícola que deixava boa quantidade de excedentes exportáveis, e com uma produção de aço superior a 4 milhões de toneladas anuais (mais do que hoje produzimos no Brasil). O comunismo (1) Esse
problema,
aliás,
parece
estender-se
a
todos
os
países do bloco comunista, o que torna muito difícil a comparação de suas experiências de desenvolvimento com as das nações do Ocidente, Note-se, nesse particular, que as taxas de crescimento do produto real para os quatro países comunistas listados no Quadro 40, excedem as de tôdas as demais nações do bloco ocidental, exceto Japão e Israel. Note-se também que as taxas de crescimento econômico dêsses países foram muito maiores no decênio de 1950 do que no quinqiiênio seguinte.
276
triunfou
muito
menos
pelas
tensões
econômicas
(a
Rússia, aliás, nunca havia entrado nas cogitações de Karl Marx como o campo experimental para as suas idéias)
do que
pela
desmoralização
citos russos na Primeira Guerra tibieza do Czar Nicolau II. como
Mundial
Em segundo lugar, a revolução todos os movimentos de violência
dos
e
exér-
pela
comunista, emocional,
começou com muito sangue e muita falta de racionalidade. Durante um decênio os comunistas nada conseguiram
fazer
em
matéria
de
senão rever seus dogmas diante do confronto com a prática. Primeiro, aceitar imensas transigências com a talista, com a sua Nova Política 1921.
Nessa nova
1917.
Só mais
ordem,
desenvolvimento
seu fracasso no Lenin teve que ortodoxia capiEconômica em
a Rússia teve
que esperar
alguns anos até recuperar os níveis de produção tarde,
na
época
de
Stalin,
e com
de
a
implantação do primeiro Plano Qiuinqgiienal, é que a União Soviética conseguiu voltar-se para a retomada de desenvolvimento. É provável que, em economia, a Rússia ainda viva à busca de muitos caminhos. O juro foi ideolôgicamente banido, mas continua presente em todos os cálculos de comparação de investimentos, pois o capital ainda não se transformou no fator infinitamente abundante. A mais-valia foi execrada pelos dogmas marxistas, mas o lucro continuou sendo a principal fonte de financiamento de expansão do parque industrial. O mercado negro continua sendo tedricamente punido com a pena de morte, mas entre o rublo oficial e o rublo de mercado continua havendo enorme diferença. E a revolução de Liberman parece ter sido uma descoberta indireta dos méritos do sistema de mercado, com louvável apoio à 276
programação linear, mas com alguns séculos de atraso em relação ao Ocidente. Não obstante, o regime comunista compreendeu dois pontos essenciais, sem os quais a União Soviética jamais teria chegado ao seu pôsto de hoje no concêrto mundial, Primeiro, que nenhum processo de desenvolvimento pode ser construído sem enorme
esfôrço de poupança. Com a Cortina de Ferro, com o
rigor stalinista e com uma ditadura do proletariado que tratava de comprimir os salários ao máximo, a Rússia
conseguiu
sustentar
uma
taxa
de
inves-
timentos em tôrmo de 30% do seu produto interno bruto. Segundo, que o processo de crescimento depende primordialmente da formação de recursos humanos e que nenhum país pode progredir satisfatôriamente em meio ao analfabetismo e à estagnação tecnológica. Nesse sentido temos que absorver a lição soviética. De fato, a Rússia foi dos primeiros países a compreender que o binômio analfabetismo-subdesenvolvimento constitui um circulo vicioso que deve ser rompido pelo ataque do Estado à primeira de suas componentes. E, se
no
campo
das
artes
o
comunismo
parece
ter
transformado a Rússia num país pouco criativo, no campo da ciência e da tecnologia a contribuição so-
viética se alinha entre as mais importantes já regis-
tradas na história da civilização. Ideologia à parte, o grande mérito do comunismo foi o de compreender que a poupança
e a educação
constituem
as armas
fundamentais do desenvolvimento econômico. Vejamos agora o caso do Japão. O seu exemplo é notável pelo desafio que contém a uma estrutura extremamente avara de recursos naturais. O território japonês é uma pequena ilha vulcânica e superpovoada, mas o produto real do país vem crescendo a taxas vizinhas de 10% ao ano há mais de três 277
lustros. Na realidade o milagre japonês é o resultado da poupança, da educação e do trabalho árduo e inteligente. À parcimônia com que vive o povo e a abstenção do consumo supérfluo permitem que o Japão exiba a maior taxa de investimentos do mundo, superior a 35% do produto interno bruto. O analfabetismo praticamente não existe no país, e uma estrutura de ensino extremamente pragmática provê a melhor qualificação da mão-de-obra em todos os níveis exigidos pelo mercado. O trabalho é regido por uma disciplina férrea. Enquanto nós aqui cogitamos da redução das horas de trabalho, o comércio japonês funciona
sete dias,
e o Govêrno
seis dias por semana. Os operários japonêses, nos movimentos de greve, afixam seus cartazes de protesto nas portas das fábricas, mas continuam trabalhando em seus postos. Outra lição admirável oferecida pelo Japão é a de que
é possível conciliar
altos
índices
de
pro-
dutividade com técnicas que usam intensivamente a mão-de-obra. Nesse particular, poucos países mostraram tanto engenho em adaptar a tecnologia a uma
dotação
precária
de recursos
naturais.
Com
a
escassez de terras cultiváveis e com a superpopulação, era óbvio
que
o país deveria
adotar
uma
agri-
cultura “labor-intensive” (o Japão certamente não é o lugar para o desenvolvimento da pecuária). O perigo dêsse tipo de opção era chegar-se a um sistema altamente ineficiente, como o do nosso minifúndio. Mas os japonêses souberam solucionar o problema desenvolvendo uma agricultura extremamente sofisticada, baseada no emprêgo intensivo dos fertilizantes e dos métodos de seleção genética, uma
agricultura que usa muito cérebro e muita mão-de-Obra, mas pouca terra e equipamentos. E, para suplementar as exigências proteínicas, os japonêses 278
souberam adaptar sua dieta alimentar, desenvolvendo uma indústria de pesca sem rival no mundo em
matéria de produtividade.
À liderança japonêsa na eletrônica
(lembre-se
a revolução do transistor) e na construção naval fornecem outro exemplo notável de conciliação do uso
intensivo da mão-de-obra qualificada com os índices excepcionais de produtividade. O Japão, aliás, não cessa de preocupar-se com a renovação tecnológica e com a conquista dos melhores índices de eficiência. As fusões e associações de emprêsas são frequentes para racionalizar a produção e a comercialização. A recente e discutida fusão da Iawata com a Fuji, constituindo um gigante siderúrgico que só fica abaixo da United States Steel, é um bom exemplo dessa busca incessante das economias de escala e da renovação tecnológica. Igualmente impressionante é a agressividade dos japonêses no comércio internacional, um requisito indispensável ao seu desenvolvimento econômico, pois a escassez de recursos naturais exige um volume fortemente crescente de importações. Todos os adeptos dêsse agradável esporte que é o turismo estão habituados a viajar aos Estados Unidos ou à Europa e de lá voltar com uma boa mala de produtos “made in Japan”. Nesse particular os japonêses conseguiram revolucionar as teorias do comércio internacional, demonstrando à farta que a agressividade e a tecnologia são bem mais importantes do que a dotação de recursos naturais na geração das vantagens comparativas. Tome-se o exemplo da siderurgia. O Japão nem possui minério de ferro nem carvão, mas conseguiu colocar-se na vanguarda
internacional
das exportações
de aço.
É
a prova de que um bom aproveitamento das economias de escala, um bom conjunto de cérebros, 279
e um bom sistema portuário são mais importantes do que a disponibilidade de matérias-primas para se alcançar a competividade internacional. O
Estado
de
Israel
oferece
outro
exemplo
no-
tável de como o engenho humano pode compensar a avareza do solo. É claro que a sua experiência de
desenvolvimento (que levou o produto real a crescer em média de 11,1% ao ano no decênio de 1950 e
de 10% ao ano no qiiingiiênio subsequente) possui características “sui generis” que não podem ser Teproduzidas em outros países. Israel, em certo sentido, foi apenas a concentração geográfica de uma nação
valeu uma
que
caso,
que
um
já
existia
considerável
imigração
nenhum
espalhada
afluxo
altamente
outro
o crescimento
pelo
qualificada,
país pode
econômico
mundo.
de ajuda
aspirar. de
Isso
externa
num
Em
Israel,
e
estilo a
todo
o
às taxas
em que se processou, parece um milagre do trabalho e da técnica, sobretudo quando se leva em conta que o país sempre teve que desviar boa parte de seus recursos para objetivos militares, a fim de se defender
das
nações
vizinhas.
A
transformação
de
um solo desértico em terras férteis pela irrigação e pelo uso adequado de fertilizantes foi o produto de um trabalho árduo e inteligente, numa demonstração de eficiência que causa admiração a todo o mundo. E o retumbante sucesso da Guerra dos Seis Dias serviu de prova de que até para fins bélicos mais vale um bom conjunto de cérebros do que um grande exército de analfabetos. Os cinco exemplos citados, o dos Estados Unidos, o da Alemanha, o da União Soviética, o do Japão e o de Israel desenvolveram-se em contextos inteiramente diferentes em matéria de dotação de
recursos naturais, de estrutura política, de ordem jurídica, e de tradições culturais. Todos êles, no 280
entanto, basearam-se
no tripé
“poupança-educação-
-racionalidade econômica e administrativa”. Examinemos cada um dêsses pontos. Todo processo de desenvolvimento resulta de
uma
opção
a favor
do
futuro
e contra
o presente.
Isso torna inviável a tão saborosa idéia do desenvolvimento sem sacrifícios. É verdade que êsses sacrifícios podem ser rápidamente recuperáveis com o crescimento do produto real. Para dar um exemplo, um país que deseje expandir-se
aceleradamente,
não
pode cometer prodigalidades em matéria de política salarial, sob pena de ter mutilada a sua capacidade de poupança. Em compensação, com o aumento geral da produtividade os salários poderão crescer a taxas bastante favoráveis. Embora partindo de uma base mais baixa, em poucos anos êsses salários ultrapassarão os níveis que teriam sido alcançados pela política de maximizar o bem-estar presente em prejuízo do crescimento futuro. É interessante, nesse sentido, contrastar duas experiências recentes, a do Japão e a da Inglaterra. O Japão transformou-se na civilização da poupança e do trabalho árduo. Entre 1961 e 1967 a sua taxa média
de
investimentos
se
manteve
em
36,5%
do
produto interno bruto (Quadro 41). Com isso, o país pôde expandir seu produto real a taxas da ordem de 10% ao ano, e melhorar com incrível rapidez o padrão de vida de seu povo. Veja-se agora o caso da Inglaterra, que optou por um estado social, fortemente voltado para o consumo a curto prazo, e para as conquistas de trabalhismo e da previdência social, Sua taxa média de investimentos no período em análise limitou-se a 18,3% do produto interno bruto, taxa relativamente baixa para o seu nível de renda per capita. Em compensação, o produto
real só cresceu, em média
de 3%
ao ano.
281
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282
O
lerado tativa um
segundo
requisito
de
qualquer
processo
ace-
de desenvolvimento é a adequação quantie qualitativa do sistema educacional. Não
ensino
retórico
e acadêmico,
que
acaba
produ-
zindo, como na Índia, o fenômeno do literato desocupado. Mas uma educação para as massas, voltada para a erradicação do analfabetismo, para a generalização do ensino primário, para a tecnificação do secundário, e para o ajustamento das universidades às exigências do mercado de trabalho. O terceiro requisito é a racionalidade econômica e administrativa. Nenhum país se desenvolve sem bons quadros administrativos, nem enquanto as decisões econômicas se baseiam no emocionalismo ideológico em detrimento da análise pragmática dos fatos. Um país subdesenvolvido não pode partir do objetivo de minimização dos sacrifícios, mas deve esforçar-se por extrair dêsses sacrifícios o máximo de rendimento. Nesse sentido valeria absorver a lição das revoluções comunistas. Numa primeira fase, em que o movimento é guiado por critérios predominantemente emocionais, a economia entra em colapso pela irracionalidade das decisões, como aconteceu na União Soviética nos dez anos que se seguiram
à Revolução
de
1917.
Ao
cabo
de alguns
anos os erros acabam sendo corrigidos pois, afinal, o monopólio da inteligência não está concentrado no Ocidente. Mas, no meio tempo, corre muito sangue e muito sacrifício inútil. Essas observações nos devem pôr em guarda contra aquêle tipo de reformismo histérico, muito do gôsto de esquerdistas e estruturalistas, segundo o qual o principal obstáculo ao nosso desenvolvimento está nas resistências contra a implantação das reformas de base. É óbvio que o desenvolvimento exige mobilidade social e um conjunto ade283
quado
de
gação
em
instituições
sendo reformadas causa
(muitas
desde 1964),
encerra
delas,
aliás,
já
vêm
básicos:
pri-
mas o tipo de pre-
três defeitos
meiro, o de salientar os aspectos mais fáceis, e omitir os mais árduos da política de desenvolvimento; segundo, o de envolver as reformas em critérios ideológicos,
ao
invés
de
orientá-las
numa
direção
pragmática; terceiro, o de recomendar um distributivismo prematuro nocivo ao potencial de poupança e à eficiência do trabalho. Os
exemplos
citados
mostram
que
o desenvol-
vimento acelerado é compatível com várias alternativas institucionais. Mas nenhum quadro institucional leva ao desenvolvimento se não estiver apoiado no tripé poupança — educação — racionalidade econômica, 10.3
—
Cinco
Grandes
Em
suma,
para
Problemas
escapar
ao
circulo
vicioso
da
pobreza relativa precisamos enfrentar e solucionar cinco grandes problemas: o da poupança, o da edu-
cação e tecnologia, o da explosão demográfica, o da exportação e o da racionalidade econômica e ad-
ministrativa. Comecemos pelo problema da poupança. Pelas contas nacionais estimadas pela Fundação Getúlio
Vargas, entre investimentos
1947 e 1964 nossa taxa média de (a preços correntes) limitou-se a
16,35% do produto interno bruto. Isso é bem menos do que aquilo que tem sido sustentado pelos países que se desenvolvem aceleradamente. É verdade que os critérios estatísticos talvez deformem essa comparação internacional, primeiro porque a nossa conta de capital parece
cialização 284
subestimar
embutidas
no
as margens
preço
dos
de
comer-
equipamentos,
segundo porque muitos países, contrâriamente à nossa praxe, levam os gastos de educação à conta
de capital. De qualquer forma temos que nos preocupar bastante com o problema do fortalecimento da poupança.
decênio
Como
de 1950
capital/produto
assinalamos
pudemos
artificial
no Capítulo
contar com uma
e excepcionalmente
II, no
relação favo-
rável pelo estilo extensivo da expansão da agricultura, pelos subsídios cambiais à importação de bens de capital e pelo negligenciamento de certos investimentos
em
no entanto,
infra-estrutura
não parecem
social.
Essas
reproduzíveis
o futuro, o que nos exige maiores
condições,
daqui para
sacrifícios de pou-
pança para um desenvolvimento acelerado. A técnica do fortalecimento da poupança é bastante simples, embora exija extrema austeridade política. Supondo que não se deseje aumentar a carga tributária, que entre nós já é bastante pesada, do lado do Govêrno cumpre comprimir as despesas de custeio, subsídios e transferências, liberando maior parte da arrecadação para o financiamento das inversões públicas. Do lado da emprêsa, prestigiar o lucro e incentivar a sua reinversão. Do lado dos indivíduos, estimulá-los a economizar pela criação de instrumentos atrativos no mercado de capitais (como vem sendo feito nos últimos anos). Do lado externo, a criação de incentivos ao contínuo afluxo
de capitais estrangeiros. E, como base de coordenação de tôda essa política, o entendimento de que a maximização do bem-estar presente, pelo distributivismo prematuro e pela prodigalidade salarial, é incompatível com a maximização futura dêsse bem-estar. O segundo grande problema é o da educação e da tecnologia. O Capítulo VIII examinou em pormenores os progressos alcançados e os vícios rema285
nescentes em nosso sistema educacional. Daqui por diante precisamos partir para a erradicação do analfabetismo, para a generalização do ensino primário e para a ruptura do binômio repetência-evasão; para a ampliação do secundário gratuito; para a redução do seu academicismo pela criação do ginásio polivalente;
e para
valor terminal, técnicos. Dada de professôres, mente dispersa blema envolve de ensino,
a transformação
com
do
secundário
num
com a multiplicação dos currículos nossa extensão territorial, a carência e a massa da população econômicaa ser escolarizada, a solução do proo apêlo a vários métodos pioneiros o apoio
dos
métodos
audio-visuais,
da instrução programada, da rádio e televisão educativas. Quanto ao ensino superior, pelos altos custos êle deve corresponder a um processo seletivo. Nesse particular cumpre reformular o conceito de excedente, mensurando-o pelo deficit das necessidades do mercado e não pelo superavit das inscrições nos vestibulares. E rever a distribuição de verbas no ensino superior, reforçando-as nos cursos técnicos (em
particular
para
a criação
de carreiras
curtas)
e desestimulando a proliferação das universidadesprestígio, a fim de que não venhamos a padecer do mal da Índia, o do literato desempregado. No que tange à adoção de uma tecnologia adequada às nossas necessidades
problema ção
depende
de recursos
de desenvolvimento,
o
em parte da suficiente prepara-
humanos
pelo
sistema
educacional,
em parte de uma opção convenientemente orientada de política econômica. Um país com carência de capitais e abundância de mão-de-obra, como o nosso, deveria em princípio especializar-se nas técnicas de produção “labor-intensive”. Êsse princípio básico, no entanto, arrisca-se a conduzir a soluções simplistas. Às vêzes, as técnicas aparentemente ade286
quadas para um país subdesenvolvido, pelo uso intensivo do fator trabalho, fracassam por três razões: primeiro, por não conseguirem obter um produto com as especificação técnicas desejadas (lembre-se
a
êsse
propósito
a
desastrada
experiência
da produção de aço em fornos de quintal promovida na China de Mao-T'se-Tung; não só o produto foi em grande parte inutilizado pela sua precariedade qualitativa, como a descentralização da produção exigiu gastos incríveis de transporte, para a congregação das matérias-primas e a distribuição dos produtos finais); segundo, por não gerarem um multiplicador suficientemente grande de emprêgo no setor terciário; terceiro, por só se tornarem econômicamente adequadas
ou com uma redução
de salários
reais ou com uma elevação dos custos de capital pouco viáveis do ponto de vista prático. Contudo, o problema está longe de ser insolhável. A experiência do Japão mostrou como é possível conciliar as técnicas “labor-intensive” com a obtenção
de
altos índices
de
produtividade
—
o uso
intensivo do fator trabalho não necessáriamente significa a adesão ao obsoletismo. É importante que pesquisemos alguns caminhos análogos. Para tomar um exemplo concreto, alguns economistas brasileiros, como Julian Chacel e Isaac Kerstenetzky, vêm se preocupando com a pequena taxa de crescimento do
emprêgo
no
setor
secundário,
e
o
excessivo
acúmulo de mão-de-obra nos serviços. Tendo em vista a nossa explosão demográfica, recomendam êsses economistas a adoção de uma tecnologia agricola capaz de reter em maior escala a população nos campos. Não se trataria da reprodução do modêlo japonês, pois possuímos abundância de terras, mas da implantação de uma tecnologia na agricultura que melhorasse a produtividade pelo uso inten287
sivo da irrigação e dos fertilizantes, mas que não repelisse a mão-de-obra para as cidades pelo excesgivo apêlo à mecanização. O problema precisaria ser estudado com maior profundidade empírica, pois, como se assinalou anteriormente, a produtividade do trabalho no setor terciário ainda constitui uma grande incógnita. Mas êsse é o tipo de sugestão digna de análise. Fora isso, é essencial que a política econômica procure incentivar os programas setoriais capazes de absorver vastos contingentes de mão-de-obra,
como
é o caso
do
plano
habitacional,
e poderia ser um plano de turismo. O terceiro grande problema a enfrentar é o da explosão demográfica. Como assinalamos no Capítulo I, o que nos deve preocupar não é a possibilidade de expandir o produto real a taxas superiores à da expansão
mas
populacional,
a recuperação
capita em
relação
conter
taxas
do
o que
parece
atraso
à das nações
de
bastante
nossa
mais
viável,
renda
per
desenvolvidas,
recuperação essa que dificilmente será conseguida sem a redução das taxas de aumento demográfico. Como ninguém cogitará de fechar o país aos progressos de medicina moderna, a solução está em as
de
natalidade.
É
possível
que
se
trate de um problema difícil, mas essa não é uma razão para que fiquemos de braços cruzados aderindo ao fatalismo demográfico “2, Em primeiro (1)
288
Há certa semelhança de posição intelectual entre os adeptos do fatalismo demográfico e aquêles que se queixavam da incapacidade de o setor privado atender à demanda crescente dos serviços de utilidade pública, na época em que as suas tarifas eram limitadas pelo critério da remuneração e da depreciação pelo custo histórico nominal. Inibia-se o mercado por um cuidadoso sistema de desestímulos e daí seepartia para a conclusão de que o mercado não funcionava.
lugar
é
preciso
que
se
reconheça
oficialmente
a
gravidade do problema da explosão demográfica, o que até hoje não foi feito (salvo, de uma forma discreta, pelo Programa Estratégico de Desenvolvimento,
mas
em
contradição
com
alguns
pronuncia-
a ser solucionado.
Como assi-
mentos oficiais). Em segundo lugar cumpre criar postos de assistência e de instrução sôbre a matéria, e livrar os anticoncepcionais da semiclandestinidade em que vivem. Por último, confiemos em que a técnica bioquímica râpidamente evoluirá no sentido da popularização dos anticoncepcionais mais práticos e acessíveis. A expansão das exportações constitui o quarto problema fundamental
nalamos no Capítulo VI, a fórmula do desenvolvimento introvertido pode ser bem sucedida a curto prazo, mas não constrói um caminho permanente de crescimento.
Não
será fácil, para o Brasil, baixar
considerâvelmente o coeficiente de importações nos próximos trinta anos. Isso significa que, se não formos capazes de inverter a tendência declinante das exportações, teremos o nosso crescimento bloqueado pelo gargalo da capacidade de importar. A primeira condição para êsse aumento de exportações é a manutenção de uma política cambial realista e a ampliação
rior
com -dos
(o
dos incentivos
que
vem
sendo
fiscais às vendas
feito
nos
últimos
ao exte-
tempos
bons resultados). A segunda está na melhoria serviços portuários, na desburocratização dos
canais de comércio e no aumento da agressividade das vendas. A terceira consiste na revisão daqueles preconceitos, segundo os quais não é desejável exportar produtos primários, ou que as exportações se devam limitar aos excedentes não absorvidos pelo mercado interno. A quarta condição é a retificação
da nossa estrutura industrial no sentido da melhoria
289
da produtividade
e do
seu
nivelamento
aos
índices
de competividade internacional, retificação essa lastreada no entendimento de que o aumento obsessivo
dos índices de nacionalização muitas vêzes conduz ao desperdício, e não à economia de divisas.
Por último, o grande subcapítulo do problema educacional: uma educação de elites que conduza o país à racionalidade econômica e administrativa
indispensávelao desenvolvimento.
Infelizmente
nem
temos a tradição de pensar a longo prazo nem a de raciocinar pragmâticamente nas questões econômicas. A estreiteza dos horizontes de programação nos levou à perda dos mercados externos pela valorização artificial dos produtos, ao excessivo apêgo
mento
à inflação
desenvolvimentista
internacional
trialização
desordenado,
quantitativamente
e ao
endivida-
e a uma
brilhante,
indus-
mas
em
muitos casos mal dimensionada e excessivamente onerosa. À falta de pragmatismo levou-nos ao desperdício de inúmeras oportunidades de crescimento e ao caos da produção e da moeda por volta de 1963. Ao mesmo tempo ressentimo-nos da falta dos quadros administrativos indispensáveis à boa execução de um programa de desenvolvimento. Isso é verdade no setor privado, onde seria necessário refinar os métodos de decisão dos empresários, e particularmente no setor público, que peca pela excessiva centralização, pelo inútil desperdício burocrático, pela aversão à responsabilidade, e pela mais volúvel descontinuidade das equipes dirigentes. É fora de dúvida que, desde
1964,
melhoramos
consi-
derâvelmente os nossos métodos de formulação da política econômica, a qualidade da administração pública e até a sofisticação dos empresários privados (que tiveram que entender a correção monetária e se preparar para o combate 290
à inflação).
Resta
saber
se alcançamos o equilíbrio estável. Parte de nossas elites ainda se perde em discussões econômicamente irracionais e que nenhum proveito trazem ao crescimento do país. E a racionalidade deve emergir como uma atitude espontânea das elites, e não como uma imposição militar. Nenhum dêsses problemas comporta soluções óbvias. Mas também não houve país que construísse uma grande civilização sem enfrentar os mais árduos desafios. Confiemos em que as previsões do Hudson Institute, segundo as quais estaremos cada vez mais
enredados
no
círculo
tiva, não se cumpram
esfôrço
de
nossa
poderá desmentir.
vicioso
da pobreza
para o nosso lado. Mas
geração,
e não
a inércia,
rela-
que
é o as
991
APÊNDICE
1
ÍNDICES DO PRODUTO REAL — RESULTADOS E DISTORÇÕES O crescimento global da economia de um país mede-se convencionalmente pelo aumento dos índices do produto real. Há casos, porém, em que certos efeitos estatísticos levam essas taxas de aumento a superestimar os resultados reais do desenvolvimento. Tal superestimativa pode ocorrer pela presença de alguns dos seguintes fatôres: a) a queda das relações de trocas com o exteTor;
b) o desperdício de esforços na produção de bens que não são absorvidos pelo mercado; c) a concentração de esforços na substituição de importações com desvantagens comparativas; d)
a introdução
de racionamentos
no consumo
de alguns bens ou serviços. Nos dois primeiros casos é óbvio que os resultados ficam aquém dos esforços. O terceiro caso
pode
ser facilmente compreendido
com um
exemplo.
293
Suponhamos um país hipotético
(bem à moda
dos exemplos dos livros textos)
que produza e con-
Admitiremos
exportar café e im-
suma
apenas
duas
mercadorias:
que o país possa
café
e automóveis.
portar automóveis na razão de 50 sacos de café para
cada automóvel, Suporemos que o país também possa fabricar automóveis mas que agora, por desvantagens comparativas, a relação de trocas interna seja de 80 sacos de café para cada automóvel. Admitamos que os valôres da produção, expor-
tação, importação e de disponibilidade de bens sejam, em dois anos diferentes, os seguintes (admitiremos
sempre o balanço comercial equilibrado a fim de que
a disponibilidade de bens corresponda efetivamente ao resultado obtido pela produção realizada no país): ANO
1: Produção Exportação Importação Disponibilidade
ANO
2: Produção
Exportação Importação
Disponibilidade
294
990.000 sacas de café
+
200
automóveis.
190.000 sacas de café. 3.800
automóveis.
800.000 sacas de café + 4.000 automóveis. 1.030.000
sacas
de
café + 1.400 automóveis.
150.000 sacas de café. 3.000
«automóveis.
880.000 sacas de café + 4.400 automóveis.
Não é difícil perceber que no exemplo anterior o crescimento econômico do país do ano 1 para o ano
2, medido em têrmos do resultado da produção (isto é, no caso, da disponibilidade de bens) foi exata-
mente
de
agregação
10%;
pois
não
o
há
exemplo
aí nenhum foi
problema
construído
de
de
forma
tal que tanto as sacas de café quanto os novos automóveis disponíveis aumentaram exatamente na mesma
proporção.
No entanto, se calcularmos o crescimento do Produto Real a partir de um índice construído se-
gundo as regras usuais chegaremos a uma taxa visi-
velmente superior a êsses 10%. Com efeito, quando calcularmos o índice iremos ponderar café e automóveis
na
razão
dos
preços
internos,
isto
é,
na
proporção de 1 para 80. Designando por L,,, o índice do produto real do ano 2 em relação ao ano 1 resulta: La
=
1.030.000 999.000
+ +
80 x 80 X
Isso significa que, nas condições do exemplo acima, o índice do produto real cresceria de 13,5% do ano 1 para o ano 2. Como se vê, um índice do produto real pode conduzir
a uma
superavaliação
do crescimento
(em
têrmos de resultado) de um país que substitui importações com desvantagens comparativas. Em última análise, êsse tipo de distorção provém das diferenças entre as relações de trocas internas e externas. Como os pesos se baseiam nas relações de trocas internas, o índice do produto real passa a superestimar os efeitos das substituições de importações com desvantagens comparativas sôbre o crescimento econômico do país, desde que se 295
entenda que o crescimento se deve
medir
em têrmos
de resultados e não de esforços. Assim, se um país deixar de produzir determinadas mercadorias de exportação e, em contrapartida, substituir, com desvantagens comparativas, as importações que poderiam ter sido pagas com aquelas exportações, o seu índice de produto real crescerá. Parece pouco sensato, porém, admitir que nessa hipótese o país se tenha desenvolvido. Por último, o crescimento do produto real pode superestimar o aumento do bem-estar coletivo quando o consumo de alguns bens ou serviços é reduzido em virtude de racionamentos. Trata-se de uma su-
tileza teórica
que
merece
ser
analisada.
A teoria do consumidor mostra que um indivíduo que não muda de gostos melhora de situação do período O para o período 1 quando o índice de Paasche das quantidades à sua disposição: P=
Z Pp. q + Z pi do
fôr superior à unidade. A demonstração é bastante simples. Se P >1, então E p; q: > E Pp; qo. Isso significa que as quantidades compradas no período O teriam sido acessíveis ao orçamento do indivíduo no período 1. Se êle preferiu adquirir as quantidades (q)
é porque
elas lhe propiciavam
do que as quantidades
maior
satisfação
(qg,) do período anterior. Em
suma, o consumidor melhorou
de posição.
É fácil verificar que essa demonstração deixa de ser válida se alguma das quantidades relativas ao período 1 diminuir em relação ao período O por fôrça da imposição
de racionamentos.
De
fato, nesse
caso não mais se pode afirmar que as quantidades do período O são acessíveis ao consumidor no perío296
do 1 (pois além das restrições orçamentárias há, agora, as de racionamento). Com o auxílio de fun-
ções-utilidade ou curvas de indiferença é fácil construir exemplos em que o índice de Paasche do consumo é superior à unidade e o indivíduo, pelos racionamentos, piora de posição em relação ao equilíbrio inicial. Esse é o substrato teórico da afirmação de que um índice de produto real pode superestimar os resultados do crescimento econômico quando o consumo de certos bens ou serviços passa a ser Tacionado.
297
APÊNDICE II
O ÍNDICE DE CONCENTRAÇÃO DE LORENZ dição duais
Um dos critérios mais conhecidos para a medo grau de desigualdade das rendas indivié o do
chamado
índice
de
concentração
de
Lorenz. Êsse índice é calculado da seguinte maneira:
a) Classifica-se a população por ordem crescente de rendas; b) calcula-se para cada percentagem da população, de O a 100%, a percentagem da renda por ela auferida no total da renda da comunidade; c) traça-se, correspondente
como a essas
na
figura
abaixo,
percentagens,
a curva
marcadas
abcissas as da população e em ordenadas renda. Obtem-se assim uma curva convexa na figura abaixo);
em
as de (ARC
d) calcula-se a área compreendida entre a curva ARC e a diagonal AC (área hachurada na figu-
ra);
299
e) divide-se essa área pela do triângulo ABC. O resultado obtido é o índice de concentração de Lorenz.
Percentagem
da renda
%
100
id
Bo
c
|
60
ao
20
+
A
dé
20
40
so
2
so
B
100 %
>
Percentagem da população
Embora algo convencional, o índice em questão dá uma idéia do grau de concentração das rendas individuais.
Numa
distribuição
inteiramente
iguali-
tária, a curva de Lorenz se reduziria à diagonal AC, e o índice de concentração seria igual a zero. Se tôda a renda se concentrasse nas mãos de um único indivíduo, a curva práticamente se transformaria no ângulo ABC: o índice de concentração se tornaria igual a 1. Um exemplo simples esclarece a metodologia de cálculo do índice em questão, Admitamos que numa população se encontre a seguinte distribuição de renda: 300
Percentagem da população
Renda
10 20 30 25 10 5
Renda total por grupo
individual 10 30 50 Bo 150 250
100 600 1500 2000 1500 1250
A partir dessa tabela podem-se seguintes valôres acumulados: Percentagem acumulada da população
Renda total acumulada
0 10 30
0 100 700
60
2200
85 95 100
4200 5700 6950
A primeira coluna
da tabela
construir
os
Percentagem acumulada sóbre a renda total 0 1,44 10,08
31,65
60,43 82,01 100,00
acima forneceria
as abscissas e a última coluna as ordenadas da curva de Lorenz. O índice de concentração, no caso,
seria igual a 0,387
(38,7%).
301
APÊNDICE
MODELOS
II
DO CÍRCULO VICIOSO DA POBREZA
Uma das idéias mais popularizadas nos primeiros estudos sôbre desenvolvimento econômico, elaborados
por
Gunnar
Myrdal,
e
outros
economis-
tas, foi a do chamado círculo vicioso da pobreza. Admite-se que um país é pobre porque poupa pouco; e poupa pouco porque é pobre. É interessante desenvolver a idéia com certa sofisticação formal. Quando se diz que um país poupa pouco porque é pobre, admite-se que a taxa de investimentos
s(y)
é função
crescente da renda
per
capita y. Designando por v a relação capital/produto, a taxa de crescimento do produto real se exprimirá por S(Y). Se a taxa de crescimento demov gráfico d é tal que
WD v
a renda
per
capita
do
país
dg realmente
permanecerá
estagnada, dentro da concepção do círculo vicioso da pobreza. Por exemplo, se a taxa de investimentos é de 9% do PI.B. e a relação capital/produto 303
é iguala
3
(medida
em
têrmos
anuais),
a taxa
de
crescimento do produto real total será de 3% ao ano. Com a população se expandindo à mesma taxa, o produto real per capita ficará estagnado. O defeito dêsses modelos convencionados está em esquecer o problema da estabilidade do equilibrio. De fato, mantidas as funções e parâmetros da análise, se a renda per capita se desviar um pouco para cima do nível de estagnação, o círculo vicioso será rompido: a taxa de poupança aumentará, o ritmo de crescimento do produto real ultrapassará o da população e, ao invés do círculo vicioso, teremos. uma espiral lentamente crescente de renda per capita. Reciprocamente, se a renda per capita cair abaixo do nível de estagnação, a tendência será a de uma baixa progressiva, e não a de um retômo à posição inicial. No decênio de 1950, vários economistas, como Harvey Liebenstein e Richard Nelson, procuraram reformular os modelos do círculo vicioso da pobreza, tentando explicar a estabilidade do equilíbrio ao nível da estagnação da renda per capita. Como na análise tradicional, supõe-se que a taxa de investimentos s(y) seja função crescente da renda per capita. Introduz-se, todavia, uma nova relação funcional:
a taxa de crescimento
a
de
demográfico,
ao invés
de se tratar como variável exógena, é considerada também dependente da renda per capita. É importante esclarecer as hipóteses quanto a esta última relação de dependência. Admite-se que taxa
natalidade
seja
função
decrescente
da
renda per capita, caindo levemente nas primeiras etapas do progresso, e mais acentuadamente nas fases subsegiientes
(tendendo
a um
certo
nível mí-
nimo assintótico). Supõe-se igualmente que a taxa de mortalidade caia com o aumento da renda per 304
capita, rápidamente nas primeiras fases e mais lentamente nas posteriores. Como resultado da diferença de velocidades, a taxa de crescimento demográfico variará, de acôrdo com a renda per capita,
conforme a curva AB do gráfico abaixo: até certo nível de renda per capita o ritmo de crescimento demográfico se elevará, pela combinação da rápida queda da taxa de mortalidade com o lento declínio da de natalidade; a partir de certo ponto, as taxas
de mortalidade quase se estabilizam e as de natali-
dade
declinam
mais
acentuadamente,
com
a conse-
qiiente redução da taxa de expansão demográfica.
“Toro de
À
Cestimeno
(o) (produto reol sta)
B (população)
4 SU / N
Q
Fenda per-capita
Em virtude do aumento da capacidade de poupança com o crescimento da renda per capita, admite-se que a taxa de expansão do produto real varie
de
acôrdo
com
a curva
CD
da
figura.
Se
as
duas curvas, a de crescimento do produto real e de população, se cortarem como no gráfico apresentado, o primeiro ponto de intersecção corresponderá a um equilíbrio estável dentro do conceito do círculo vicioso da pobreza: qualquer aumento ocasional de 305
renda
per
capita,
embora
gerando
um
adicional
de
capacidade de poupança, tenderá a ser eliminado pelo aumento mais do que proporãonal da taza de crescimento demográfico, e viceversa, hesm, &
renda per equilíbrio
capita terá um baixo ponto estava ds (ponto N do gráfico) pelo cleo da “em-
madilha populaciona??. O círemlo vigãoso sô podena ser rompido ou por uma contenção frasca da tese
de natalidade, ou por uma elevação Soraia da ta:
de poupança,
ou: então por qualquer estirco em
de desenvolvimento que levasse à tenda qer
então, a taxa de crescimento
tw
do produto
(9)
real con-
vergirá assintóticamente para a taxa de equilíbrio
(9,
Segue-se daí que a taxa de crescimento do produto por trabalhador ativo, convergirá para o limite:
equi,
(1)
7,
-
J
E.
(10)
A observação básica para demonstração do teorema é ade que n,. na será crescente, estacionária ou decrescente conforme seja menor, igual ou maior do que
zero.
326
—
exclusivamente da elasticidade
dependente da taxa de inovações e do produto em relação à mão-de-
-obra. Daí a observação de que seria impossível sustentar permanentemente o crescimento da renda real per capita caso cessasse o progresso tecnológico.
O
ma
circas eum o: cora as aum - ais remo
327