ABC DA MITOLOGIA EGÍPCIA
 9786526607374

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ABC DA MITOLOGIA EGÍPCIA: INICIAÇÃO E MISTÉRIOS
PRÓLOGO - SOBRE O ANTIGO E O ATUAL EGITO.
PARTE I
INTRODUÇÃO HISTÓRICA
Da aspirina ao teste de gravidez
A ciência da mumificação: a preocupação com os mortos revelou importantes segredos do corpo humano.
Circunavegação da África e controle de cheias.
Greves e telhado de vidro
Azul do céu e das tintas sintéticas
As primeiras feministas
ORIGENS DO EGITO
FUNDAMENTOS DA MITOLOGIA EGÍPCIA: O CONCEITO DE MAAT.
PARTE II INICIAÇÃO
O SIGNIFICADO DO MÍTICO E DOS MISTÉRIOS NO ANTIGO EGITO
ANÚBIS E O SIGNIFICADO DA MUMIFICAÇÃO.
Sobre o ritual de iniciação
A ENÉADE PRIMORDIAL, O POLITEÍSMO E O HENOTEÍSMO.
Sobre o microcosmos, o macrocosmos e a questão da eternidade dos deuses
AS DUAS TERRAS
ISIS: A GRANDE MÃE CÓSMICA QUE INSPIROU O MITO DA VIRGEM MARIA
OSÍRIS: A PRIMEIRA E A SEGUNDA MORTE.
A segunda morte.
O SIGNIFICADO DE SETH OU TIFON
PARTE III - DEUSES EGÍPCIOS E SÍMBOLOS
A BELEZA DOS NÚMEROS NA GEOMETRIA SAGRADA EGÍPCIA
DECIFRANDO OS HIERÓGLIFOS: SEU SIGNIFICADO E FUNÇÃO.
A Evolução da Escrita:
Como ler e escrever Hieróglifos?
ALFABETO EGÍPCIO
NUMERAÇÃO EGÍPCIA
SÍMBOLOS RELIGIOSOS EGÍPCIOS
OUTROS SÍMBOLOS EGÍPCIOS
A FERTILIDADE E GAIA: A MÃE CÓSMICA.
ANK: A CHAVE DA VIDA E SEUS SÍMBOLOS E SIGNIFICADOS.
PARTE IV SIGNIFICADO DOS DEUSES
OS PRINCIPAIS DEUSES DO EGITO E SUA HIERARQUIA (Segundo o egiptólogo
B – OUTRAS DIVINDADES ESSENCIAIS PARA A LIGAÇÃO DOS HOMENS COM OS DEUSES (Segundo o egiptólogo W. Budge)
APÊNDICE
TABELA CRONOLÓGICA (ATÉ O FIM DO NOVO IMPÉRIO)
BIBLIOGRAFIA: ABC DA MITOLOGIA EGÍPCIA
SOBRE O AUTOR
PUBLICAÇÕES – 2022-23

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ABC DA MITOLOGIA EGÍPCIA: INICIAÇÃO E MISTÉRIOS

Viktor D. Salis

© C opy r i ght , 2 0 23 , S a l i s , Vi k t o r D .

I S B N : 978-65-266-0737-4

D ad o s par a cat a l o gaçã o

História do mundo 2. Mitologia egípcia. 3 Abc – Iniciação Í n d i c e p ar a c at á l o g o s i s te m á t i co : 027 Bibliotecas gerais 027.626 Bibliotecas para iniciação 028 Leitura. Meios de difusão da informação

Esta obra foi possível com o apoio e patrocínio de: Espaço Cultural Vida Mônica Marchett

Eduardo Mantegazza

Artur Tacla

Caio Augusto Carletti Tehbe

Colaboraram com a elaboração e revisão final: José Adolfo Novato

Wallace Couto Dias

Sumário

PRÓLOGO - SOBRE O ANTIGO E O ATUAL EGITO. PARTE I INTRODUÇÃO HISTÓRICA Da aspirina ao teste de gravidez A ciência da mumificação: a preocupação com os mortos revelou importantes segredos do corpo humano. Circunavegação da África e controle de cheias. Greves e telhado de vidro Azul do céu e das tintas sintéticas As primeiras feministas ORIGENS DO EGITO FUNDAMENTOS DA MITOLOGIA EGÍPCIA: O CONCEITO DE MAAT. PARTE II INICIAÇÃO O SIGNIFICADO DO MÍTICO E DOS MISTÉRIOS NO ANTIGO EGITO ANÚBIS E O SIGNIFICADO DA MUMIFICAÇÃO. Sobre o ritual de iniciação A ENÉADE PRIMORDIAL, O POLITEÍSMO E O HENOTEÍSMO. Sobre o microcosmos, o macrocosmos e a questão da eternidade dos deuses AS DUAS TERRAS

ISIS: A GRANDE MÃE CÓSMICA QUE INSPIROU O MITO DA VIRGEM MARIA OSÍRIS: A PRIMEIRA E A SEGUNDA MORTE. A segunda morte. O SIGNIFICADO DE SETH OU TIFON PARTE III - DEUSES EGÍPCIOS E SÍMBOLOS A BELEZA DOS NÚMEROS NA GEOMETRIA SAGRADA EGÍPCIA DECIFRANDO OS HIERÓGLIFOS: SEU SIGNIFICADO E FUNÇÃO. A Evolução da Escrita: Como ler e escrever Hieróglifos? ALFABETO EGÍPCIO NUMERAÇÃO EGÍPCIA SÍMBOLOS RELIGIOSOS EGÍPCIOS OUTROS SÍMBOLOS EGÍPCIOS A FERTILIDADE E GAIA: A MÃE CÓSMICA. ANK: A CHAVE DA VIDA E SEUS SÍMBOLOS E SIGNIFICADOS. PARTE IV SIGNIFICADO DOS DEUSES OS PRINCIPAIS DEUSES DO EGITO E SUA HIERARQUIA (Segundo o egiptólogo B – OUTRAS DIVINDADES ESSENCIAIS PARA A LIGAÇÃO DOS HOMENS COM OS DEUSES (Segundo o egiptólogo W. Budge) APÊNDICE

TABELA CRONOLÓGICA (ATÉ O FIM DO NOVO IMPÉRIO) BIBLIOGRAFIA: ABC DA MITOLOGIA EGÍPCIA SOBRE O AUTOR PUBLICAÇÕES – 2022-23

PRÓLOGO - SOBRE O ANTIGO E O ATUAL EGITO.

O Antigo Egito é, sem dúvida, o marco maior do início das civilizações, sem, no entanto, desmerecermos as civilizações do crescente fértil, ou seja, as civilizações mesopotâmias. Contudo, o Egito é uma questão um tanto desconcertante, pois é uma terra que impressiona qualquer um e, principalmente, se considerarmos o antigo povo que a habitou por milênios.

É uma terra com imponentes monumentos dedicados aos seus governantes e deuses, cuja glória há muito não se vê. São mais de seis mil anos de história e conhecimento cuja reputação persiste até os dias atuais, dado o desenvolvimento e a capacidade técnica em resolver as adversidades e sua extraordinária religiosidade aliada a uma profunda espiritualidade. Isso tudo fez do Antigo Egito uma nação sem precedentes.

Por outro lado, há de se observar que o atual Egito, mesmo se perfazendo como uma nação autônoma, cheia de gente, comércio ativo etc, não manteve a tradição e a cultura de seus antepassados, ficando todo o legado do Antigo Egito reduzido somente às ruínas largadas ao desgaste provocado pelo vento e pela areia. Das estátuas e monumentos até as múmias e papiros escancarados, indiferentes ao que acontece na atualidade, esta arte e história servem apenas para os turistas e alguns historiadores mais interessados.

Quase nenhum atual egípcio sente simpatia pela Rainha Hatshepsut como outrora sentiam quando ela se vestia com trajes masculinos para melhor incorporar a sua posição de Faraó, ou então, quando se vestia de Osíris nas cerimônias religiosas. Nada do antigo influencia hoje o Egito moderno.

Quéfren, por exemplo, não passa de uma simples estátua antiga no museu do

Cairo, algo que mostra exatamente quem eram os antigos e quem são os atuais egípcios. Isto não desmerece o atual povo egípcio, mas o que se quer mostrar é o que era o Egito Antigo em detrimento do que é hoje, considerando a mesma área geográfica e o mesmo povo, dado que o Egito foi a maior nação em sua época, isto é, uma das mais ricas e detentora da mais alta tecnologia aliada a uma sabedoria espiritual multimilenar.

Portanto, o Antigo Egito, em comparação ao atual Egito, mais parece uma fábula ou historinha para criança dormir e seu legado valiosíssimo foi esquecido e ignorado por seu próprio povo que, no decorrer do tempo, foi sucumbindo às invasões, deixando sua cultura de lado e, por fim, esquecendo que um dia já foi um dos povos mais civilizados na Idade Antiga.

O hilário é saber que, outrora, esse povo sempre procurou a imortalidade e a eternidade - e ficaram eternos, porém, mortos no tempo.

Assim sendo, o Antigo Egito teve um povo que amou, odiou, sofreu, alegrou etc, e hoje somente ficou sua marca e, alhures, vive um povo muito aquém no mesmo lugar, cujos habitantes, em sua maioria, não fazem nem ideia do que se passou ali durante seis mil anos ou mais.

PARTE I

INTRODUÇÃO HISTÓRICA

A herança deixada pelos faraós à humanidade vai muito além de pirâmides e sarcófagos dourados. Eles também nos legaram invenções sofisticadas e costumes curiosos que atravessaram os séculos e continuam vivos. Vejamos as contribuições do povo do Nilo e porque eles foram tão criativos, avançados e misteriosos.

Na sala, pai e filho estão entretidos com jogos de tabuleiro e bebem cerveja em um final de tarde de domingo. A perna engessada de um deles não permitiu que fossem a uma cervejaria. No quintal, as crianças se divertem brincando de amarelinha entre os cães de estimação que correm derredor. Em um dos quartos, duas adolescentes experimentam novos cosméticos e cremes hidratantes, enquanto conversam sobre métodos contraceptivos e o teste de gravidez que a mais velha fará no dia seguinte. No quarto principal, uma mulher divide seus pensamentos entre a contabilidade de sua padaria e o divórcio prestes a se concretizar. Para amenizar a dor de cabeça, ela toma um remédio à base de ácido acetilsalicílico, o princípio ativo da aspirina.

Se alguém perguntasse onde e quando essa cena aconteceu, a resposta poderia muito bem ser o Brasil ou os Estados Unidos há muito pouco tempo. Mas, por mais incrível que possa parecer, se alguém respondesse que a situação se deu no Egito no tempo dos faraós, estaria absolutamente certo. A chance de momentos como esses terem ocorrido durante o reinado de Tutancâmon ou Ramsés é praticamente tão grande quando no Ocidente do século XX.

Escondidos sob a mística de pirâmides e maldições de múmias, os avanços científicos e culturais dos povos do Antigo Egito costumam surpreender mesmo a quem se considera iniciado no assunto. Diversas descobertas atribuídas a europeus pós-Renascimento fizeram parte do cotidiano daqueles que viveram às

margens do Nilo muitos séculos antes de Cristo. O histórico dessa lacuna científica é complexo e rende livros e mais livros, mas o fato é que muitas coisas que se acredita serem méritos de um passado recente na verdade são muito, mas muito mais antigas que as nossas tataravós.

Da aspirina ao teste de gravidez

Uma das revelações mais impressionantes ao estudar a herança do Antigo Egito é seu desenvolvimento em medicina e farmacologia. Em O Legado do Antigo Egito, o egiptólogo Warren R. Dawson, da Universidade de Oxford, cita papiros médicos datados de até mais de 40 séculos atrás retratando procedimentos médicos e remédios usados até hoje por profissionais da área de saúde. Substâncias como óleo de rícino, ácido acetilsalicílico, própolis para cicatrização e anestésicos já eram conhecidas. Os documentos descrevem cirurgias delicadas, o engessamento de membros com ossos quebrados e todo o sistema circulatório do corpo humano.

Antônio Brancaglion, historiador do Museu Nacional do Rio de Janeiro e membro da Associação Internacional dos Egiptólogos, conta que o desenvolvimento da medicina foi motivado, principalmente, pela quebra de um mito em relação à violação do corpo humano. Outros povos da época, como os sumérios e os assírios, acreditavam que se o corpo fosse aberto a alma escaparia. É claro que isso sempre foi um impedimento para experimentos médicos. Entre os egípcios, no entanto, deu-se justamente o oposto.

A religião dos faraós deu uma grande ajuda às descobertas médicas. Eles acreditavam que para alcançar a vida eterna a alma de seus mortos precisava de um corpo. Por isso, desenvolveram o que chamamos genericamente de mumificação. Esta, na verdade, era um conjunto de procedimentos químicos e físicos que visavam à preservação dos corpos e estes processos exigiam a retirada cirúrgica de alguns órgãos internos, que eram separados uns dos outros. Em alguns casos, eram tratados e recolocados no lugar. Com isso, os egípcios passaram a conhecer o interior do corpo humano de uma forma inédita até então. Localizaram cada órgão e estudaram a relação entre eles, embora estivessem errados em algumas de suas conclusões – eles acreditavam, por exemplo, que o

coração comandava nossos pensamentos.

A ciência da mumificação: a preocupação com os mortos revelou importantes segredos do corpo humano.

Os grandes avanços da medicina praticada pelos povos do Antigo Egito devemse, principalmente, aos sofisticados processos de mumificação. Por meio deles, conheceu-se detalhadamente todo o sistema circulatório, as vísceras, bem como o funcionamento do coração, que os egípcios acreditavam ser o gerenciador do corpo e das emoções. Com o objetivo de preservar os cadáveres, eles desenvolveram técnicas de embalsamamento e estudaram profundamente métodos de retirada de órgãos. Para tanto, eles estudaram a fundo a anatomia e criaram instrumentos específicos para cada função, tataravôs dos bisturis, agulhas e pinças encontrados nas mãos dos cirurgiões modernos. Os médicos registravam cada avanço em papiros estudados até os dias de hoje.

Um dos melhores exemplos disso é o conhecimento sobre o sistema circulatório. O corpo de Ramsés II (1279 a 1212 a.C.) teve suas veias e artérias retiradas, mumificadas e recolocadas. O hábito de tomar o pulso do paciente como forma de avaliar sua saúde é descrito no papiro Ebers, datado de 1550 a.C. “O batimento cardíaco deve ser medido no pulso ou na garganta”, dizia o antigo documento, certamente um dos primeiros livros de medicina do mundo. Essa é outra inovação egípcia: eles anotavam tudo nos chamados papiros médicos. Segundo Dawson, o conhecimento médico até então era considerado sagrado e geralmente transmitido por tradições orais. Os registros eram raríssimos. No Egito, a intensa documentação sobre os procedimentos médicos permitiu que esse conhecimento fosse passado com maior exatidão – embora não menos sagrado.

O conhecimento da circulação sanguínea é responsável por um costume que persiste até hoje: o uso da aliança de casamento. Para os egípcios, do coração partiam veias que o ligavam diretamente a cada um dos membros. Na mão

esquerda, essa veia terminava no dedo anular. Acreditando que o coração era o centro de tudo e que ele está ligeiramente deslocado para o lado esquerdo do peito, os casais passaram a colocar uma fita no dedo anular esquerdo como forma de prender o coração do amado. Com o passar do tempo, essa fita foi substituída por um aro de metal que, dependendo das posses do casal, poderia ser o ouro. Bonito, não?

A mumificação mudou muito nos mais de 3 mil anos em que foi praticada. Com ela, evoluiu também o conhecimento que tinham do cérebro. As primeiras descrições do processo indicam que o cérebro era retirado pelo nariz e jogado fora junto com o conteúdo dos intestinos dos mortos. Mas, com o tempo, os egípcios passaram a relacionar o funcionamento do órgão com a coordenação motora. Há descrições completas de procedimentos cirúrgicos intracranianos nos papiros do século XV a.C. No entanto, só recentemente, em 2001, especialistas da Universidade de Chicago, que realizaram tomografias em ossadas encontradas em Saqqara, um dos sítios arqueológicos mais importantes do Egito, conseguiram demonstrar casos em que os crânios abertos cirurgicamente apresentavam indícios de cicatrização, o que leva a crer que o paciente sobreviveu à operação. E melhor: ele não deve nem ter sentido muita dor.

O uso de anestésicos era prática comum dos médicos da época. O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (URFJ) Mário Curtis Giordani cita em seu livro História da Antiguidade Oriental um processo de adormecimento de partes do corpo feito com a utilização de uma mistura de pó de mármore e vinagre. Antônio Brancaglion destaca os anestésicos à base de opiáceos que eram ingeridos. Esses antecessores da morfina só voltaram a fazer parte dos procedimentos cirúrgicos cerca de três séculos atrás, na Europa. Os egípcios dominavam métodos avançados para amputação de membros e cauterização e davam pontos para fechar incisões. Acredita-se que foram os primeiros a utilizar essa técnica. Os médicos eram especializados como nos dias de hoje. Quem cuidava de fraturas não mexia com problemas de pele. A especialização incluiu o aparecimento dos odontólogos. Os dentistas já usavam brocas, drenavam abscessos e faziam próteses de ouro.

E, para quem pensa que a medicina egípcia era coisa para poucos, aí vai uma nova: os trabalhadores braçais – os mesmos que empurraram pedras monumentais para construir as pirâmides – possuíam uma espécie de plano de saúde. Escavações na Cidade dos Trabalhadores – um conjunto de casas encontrado na planície de Gizé, à sombra da grande pirâmide – revelaram múmias com até 4.500 anos que receberam tratamento médico. “Eram pessoas comuns que se curaram e voltaram ao trabalho”, afirma Zahi Hawass, diretor do Conselho Supremo de Antiguidades do Egito.

“Alguns corpos apresentavam marcas de fraturas consolidadas, membros amputados e até cirurgias cerebrais.”

Outro avanço da medicina egípcia foram os métodos contraceptivos. A egiptóloga Margaret Marchiori Bakos, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, diz que a maioria deles consistia na aplicação de emplastros espermicidas na vagina. O papiro Ebers relata como “permitir à mulher cessar de conceber por um, dois ou três anos: partes iguais de acácia, caroba e tâmaras; moer junto com um henu de mel, um emplastro é molhado nele e colocado em sua carne.” Um “henu” equivale a cerca de 450 mililitros. “A acácia continha goma arábica, que com a fermentação e a dissolução em água resulta em ácido lático, ainda hoje utilizado em algumas geleias contraceptivas. O mel, que também aparece no papiro Kahun, pode ter tido alguma eficácia. “Seu efeito tende a diminuir a mobilidade do espermatozoide”, diz Margaret.

Quando havia suspeita de gravidez eram feitos testes com a urina. “A mulher urinava em um recipiente em que havia uma variedade de cevada. Se ela germinasse, a gravidez estava confirmada”, diz Antônio Brancaglion. Para o especialista, independentemente do percentual de acertos, o mais notável é o conhecimento da relação entre a composição da urina e a gravidez.

Circunavegação da África e controle de cheias.

A medicina não foi a única ciência em que os egípcios se desenvolveram. Eles foram engenheiros notáveis em química, construção civil, naval e hidráulica. Nem sempre é possível afirmar que tenham sido precursores nesta ou naquela descoberta, pois a pesquisa nunca termina. Baseando-se no que se encontrou até hoje, pode-se concluir que eles foram os primeiros em diversas tecnologias.

Na navegação, há fortes indícios de que alguns dos louros atribuídos aos fenícios precisam ser divididos com os egípcios. A vela mais antiga de que se tem notícia, por exemplo, é egípcia e foi encontrada dobrada dentro de uma múmia em Tebas, de cerca de 1000 a.C. Os mais antigos modelos de barcos à vela dos fenícios de Tiro e Cartago datam do século 8 a.C. Os egípcios foram os primeiros a projetar barcos pensando previamente no destino que eles teriam. Modelos militares eram diferentes dos cargueiros, que por sua vez não se pareciam com os utilizados para lazer ou cerimônias religiosas. Eles criaram os melhores barcos militares e a frota mais veloz. A chamada nau de Quéops, com 47 metros de comprimento e datada da IV Dinastia (2.589 a 2.566 a.C.), é a mais antiga embarcação desse porte encontrada até hoje. Num barco ainda maior, durante o governo do Necho II (610 a 595 a.C.), eles já haviam realizado a circunavegação da África.

Quem acredita que o primeiro navegador a dobrar o cabo das Tormentas, no sul da África, foi o português Bartolomeu Dias, em 1488, precisa rever seus conceitos.

Os armadores egípcios conheciam as propriedades de expansão da madeira, rigidez e durabilidade. Tais conhecimentos eram vitais na construção de embarcações capazes de sustentar blocos de pedras com mais de 80 toneladas. O

grande mistério da engenharia naval do Antigo Egito não é como os barcos aguentavam tanto peso, mas de que forma as pedras eram colocadas neles. Há diversas suposições, que vão da construção de diques secos até afundamento dos barcos para posterior emersão, no caso de cargas menores. Até agora não foram encontrados registros sobre como eles colocavam uma rocha de 80 toneladas numa balsa sem que ela adernasse durante a operação. Mas que eles conseguiam, conseguiam.

Um dos feitos mais impressionantes dos engenheiros foi a construção de um antecessor do atual Canal de Suez. “Em aproximadamente 2.500 a.C. os egípcios construíram uma eficiente passagem ligando o mar Vermelho ao Mediterrâneo, como os europeus vieram a fazer em 1869.”

O Nilo, artéria que era a própria vida do Antigo Egito, desde os primeiros povos que se instalaram na região, cerca de 7.500 a.C pelo menos, foi também uma importante fonte de pesquisa e avanços científicos. Os egípcios sabiam da importância do rio como via de transporte e de sua relação com a preservação e manutenção das terras férteis ao longo do vale. As cheias eram vistas como benéficas pelos egípcios e não como uma vingança dos deuses, como na Mesopotâmia. O livro do professor Mário Giordani que mostra o uso de instrumentos para medir a variação das cheias (nilômetros), relata os conhecimentos sobre fertilizantes naturais, como esterco, o trabalho das minhocas e a própria lama do Nilo, que era transportada para áreas a princípio estéreis. Foram os primeiros também a utilizar o arado manual.

Por volta de 2.300 a.C. eles já aplicavam técnicas de irrigação artificial, por meio de canais com vazão controlada. Criaram um sistema de bombeamento de água chamado shaduf. Consistia em um processo elevatório que levava a água até locais naturalmente não inundados, para aumentar a área produtiva. O shaduf é usado até hoje, principalmente no bombeamento de pequenas quantidades de água ou situações em que o custo da implantação de sistema automático não é compensador. A roda para bombear água movida a tração animal também vem do Egito, no tempo dos romanos, entre 30 a.C. e 395 d.C.

Greves e telhado de vidro

Na construção civil, os egípcios foram grandes mestres. Construções como as grandes pirâmides, a esfinge e as estátuas no Vale dos Reis estão entre as estruturas mais belas e requintadas da Antiguidade, mas os exemplos do impressionante uso da pedra, da marcenaria e da fabricação do vidro estão por todo o Egito. E, mais uma vez, o modo de vida e a religião estão diretamente ligados ao desenvolvimento de técnicas de construção. Os egípcios queriam durar para sempre e isso fazia parte de vários aspectos de sua cultura. Seus templos eram construídos com a expectativa de serem eternos. As paredes de pedra serviam, ainda, como suporte para sua história, seu contato com o passado.

Os egípcios são considerados precursores do uso de pedras para obras em larga escala. Os primeiros registros datam de quase 5 mil anos atrás. Na Terceira Dinastia, por volta de 2.700 a.C., já se cortavam pedras no tamanho e no formato dos tijolos atuais. As construções em rocha e a precisão nos cortes mostram os conhecimentos geológicos avançados dessa civilização. Eles já sabiam que a dureza das rochas variava conforme sua composição mineralógica e que elas tinham pontos frágeis em sua estrutura, por meio dos quais se aplicavam as técnicas de corte. Nas fissuras eram introduzidos instrumentos de madeira, posteriormente molhados. Expandidos, eles forçavam a quebra da rocha no ponto desejado. Criaram também os primeiros serrotes de metal.

Eram utilizados em rochas menos duras, como o calcário.

Desenvolveram técnicas de polimento com areia e modernas formas de encaixe, tanto da madeira quanto da pedra. Recortes tipo macho e fêmea vieram daí. O pó que sobrava do corte e polimento das rochas era misturado a cal, gesso e água, formando uma massa usada para tapar buracos ou corrigir irregularidades nas

paredes: um antepassado do cimento. Ainda na construção civil, os discípulos dos faraós foram os primeiros a estudar profundamente o solo para a colocação de fundações e a construir sistemas de calhas para escoamento da água da chuva.

A estrutura de dutos e calhas também era montada no campo, para evitar deslizamentos de terra e inundação de áreas férteis pela chuva que escorria das encostas. A primeira barragem pluvial de que se tem notícia data do final da Segunda Dinastia (2.750 a.C.). Tinha 10 metros de altura e 1,5 quilômetro de extensão. Cedeu numa tempestade quando estava em fase final de construção. A engenharia egípcia também foi a primeira a utilizar réguas, esquadros e prumos. Eles foram os inventores do vidro moldado, processo ainda presente em alguns setores da fabricação de vidro opaco. A técnica do sopro foi desenvolvida posteriormente na Mesopotâmia. A base da tecnologia da fundição do bronze e de outros metais no mundo todo também veio do Antigo Egito.

Os egípcios eram caprichosos joalheiros e marceneiros. A técnica de solda e montagem de joias é a mesma dos tempos atuais e, na marcenaria, se destacaram pelos detalhes no entalhamento dos móveis e modernidade dos projetos. Já produziam móveis dobráveis e foram os precursores das camas com estrado. “Os egípcios de classes mais altas foram os primeiros a dormir em camas de madeira com estrado”, conta o especialista do Museu Nacional.

Com tanto trabalho por fazer, era natural que as primeiras organizações entre os operadores dessa incrível máquina de construir se formassem por ali. O Antigo Egito foi palco das mais antigas greves de que se tem notícia. O registro mais remoto de uma paralisação desse tipo aconteceu no Novo Império (entre 1.570 e 1.070 a.C.), durante o reinado de Ramsés III. Os operários da construção de um templo decidiram cruzar os braços por não receber no prazo combinado comida, roupas e maquiagem que usavam para trabalhar. O sacerdote tentou negociar com os grevistas, mas o patrão, ou melhor, o faraó não cumpriu a promessa. Só o fez dois meses depois, quando os operários não apenas cruzaram os braços novamente, mas também ocuparam o templo que estavam construindo.

Se por um lado fizeram greves, por outro criaram técnicas de policiamento utilizadas até hoje, como o uso dos animais na captura de malfeitores. Há registros de policiais fazendo patrulhamento acompanhados por macacos e cenas de babuínos pegando ladrões em mercados.

Azul do céu e das tintas sintéticas

Nem sempre os egípcios foram inventores desta ou daquela tecnologia. Muita coisa feita por outros povos eles aperfeiçoaram. Seu papel no mundo antigo não era o de produtor de matéria- prima, mas o de transformador de tecnologia e exportador.

A criação da cerveja, por exemplo, costuma ser atribuída a eles, mas os mesopotâmicos também conheciam o método de fermentação e fabricavam bebida semelhante. Só que ninguém se aperfeiçoou tanto nos aromas e na variedade de sabores como os egípcios. O que possivelmente tenha sido ideia deles foram as grandes cervejarias, onde as pessoas iam para beber e conversar já em 1.500 a.C. A indústria da panificação também vem dos egípcios, bem como a adição de frutas e temperos aos pães.

Além de estudiosos da Terra, os egípcios gostavam de desvendar os mistérios do Céu. O mapeamento celeste foi feito por egípcios e mesopotâmicos. Aos egípcios coube o reconhecimento das estrelas para contar as horas da noite e a montagem do primeiro calendário solar, com 365 dias em 12 meses. Foram eles também que dividiram o dia em 24 horas, 12 para a noite e 12 para o dia. Identificaram planetas como Vênus e Marte e estrelas como Sirius e Órion e localizaram o norte pelo posicionamento das estrelas.

Os egípcios foram químicos valiosos. Pioneiros na indústria de perfumes e excelentes técnicos na área de cosméticos – a maquiagem tinha uma grande importância para a saúde, pois sua composição protegia a pele dos efeitos do sol –, eles foram os primeiros a fabricar uma tinta sintética. Os artistas usavam tintas com base mineral em vez de vegetal, como faziam outros povos. O branco vinha do cal, o amarelo do ferro, o preto do carvão e assim por diante. Muita gente

pensa que o azul vinha do lápis-lazúli moído, o que não é verdade. Essa rocha gera pó branco e não azul. Para chegar ao azul eles misturavam óxidos de cobre e cobalto com bicarbonatos de sódio e cálcio e fundiam a mais de 700 graus Celsius.

Essa fusão resultava em uma pedra azul que era moída e misturada com um aglutinante natural, como clara de ovo ou goma arábica, e virava uma espécie de guache. Os vernizes criados naquela época à base de damar, uma resina vegetal, são utilizados até hoje. Eles conheciam o betume e usavam uma espécie de piche como selante.

Instrumentos como harpa, flauta, trombeta de metal, oboé e dois tipos de alaúdes, o menor com um som parecido ao do violino, também são originários da terra dos faraós, bem como jogos de tabuleiro e brincadeiras infantis como cabra-cega e amarelinha. Com toda essa herança, por mais que as origens de cada um de nós não passe nem perto das etnias do Antigo Egito, essa civilização faz parte dos nossos hábitos e costumes.

Eles queriam ser eternos. Ordenaram todas as suas energias, corações e mentes para isso. Construíram seus templos de pedra, onde gravavam suas memórias nas paredes, mumificavam os mortos para que seus corpos vivessem até a eternidade e, assim, desenvolveram a ciência, a arte e os costumes.

As primeiras feministas

Afirmar que as egípcias foram as primeiras feministas da história pode parecer precipitado, já que o assunto dificilmente estaria em pauta naquela época. Mas, no mundo dos faraós, elas tinham poder e direitos de dar inveja a diversas sociedades contemporâneas. Dependendo da classe social, pode-se até concluir que tinham mais direitos e papel bem mais expressivo que muitas mulheres do século XXI.

Conquista como o divórcio, que, no Brasil, só aconteceu na década de 1970, era uma prática aceita naquela sociedade, inclusive quando solicitado pela própria mulher, afirma a professora Margaret Bakos. Foram encontrados registros de pedido de divórcio por parte do homem e da mulher no Novo Império (1.555 a 1.090 a.C.).

Há documentos que mostram as preocupações com a situação dos bens do casal em caso de separação, quando a mulher costumava ficar com a casa e com os filhos. A poligamia não era proibida, mas a responsabilidade financeira que um egípcio tinha com suas mulheres o fazia pensar muito antes de ter mais de uma esposa.

A egiptóloga diz que não havia qualquer referência nos papiros em relação à virgindade ou à restrição do sexo apenas com finalidade de procriação. “Os egípcios não eram tímidos em relação ao sexo, tinham consciência de seus prazeres, mas não costumavam tornar o assunto público. Quanto ao aborto, sabese que existia, mas não era prática comum”, afirma Margaret. “Há registros de pessoas que foram incriminadas por terem conduzido um aborto que resultou na morte da mulher.”

A maioria de suas tarefas era voltada para o lar, mas havia sacerdotisas, agricultoras, escribas e donas de seus próprios negócios (padarias, peixarias) e galgavam com méritos próprios posições hierárquicas. Elas casavam cedo, normalmente próximo da primeira menstruação, mas isso não significa que não fossem sexualmente ativas antes da coabitação, lembra a historiadora. Pelos registros encontrados, o valor do pagamento por seus trabalhos era igual ao dos homens. O homem e a mulher tinham posição de igualdade perante a lei. Em suma, a mulher podia herdar, deixar heranças, trocar e vender propriedades e escravos.

ORIGENS DO EGITO

Temos razões para crer que a cultura do Egito antigo derivou de uma cultura anterior a partir de 9.000 a. C., da qual surgiram as tradições do Oriente e do Ocidente e proveio por fim a atual Idade de Ferro, que Hesíodo menciona em sua obra do séc. VIII a. C. – A Teogonia. Algumas evidências dessa cultura mais antiga podem ser encontradas na civilização caldaica, que floresceu ao mesmo tempo em que a egípcia e que se dedicou às harmonias celestiais. Segundo alguns relatos, a civilização caldaica floresceu ao longo de quatro mil e setecentos anos - da época de suas primeiras observações e cálculos astrológicos até Alexandre Magno.

Embora ainda retivesse a unidade inicial entre o mundo celestial e terreno, o Egito ainda permanecia no estágio “pós-dilúvio”. Assim sendo, apesar de sua reverência pelo passado, o Egito preservava o resíduo de uma cultura dotada de maior pureza, numa relação com o passado, na qual o país estava diante do esplendor que um dia fora, do mesmo modo como hoje estamos diante do esplendor que o Egito um dia foi como mera sombra e pálido reflexo sobre as águas. A tradição mítica conta que depois da época do Egito primordial – relatado como o mito da Atlântida – houve um novo dilúvio, uma catástrofe sem precedentes na qual esta civilização foi destruída. A Terra foi separada do céu e os símbolos e mistérios sagrados dos antigos foram condenados e ignorados. Foi uma catástrofe na qual a Natureza passou a ser vista tão-somente como concatenação de matéria e onde a sabedoria teve seu lugar ocupado pela mera razão e pelo fenomenalismo meramente dogmático.

O principal obstáculo ao nosso entendimento da tradição egípcia - em especial e da metafísica tradicional - geralmente é a incapacidade de pensar simbólica e miticamente. Há muitos séculos nossa mente vem sendo condicionada cada vez mais a pensar apenas em termos evolutivos e materialistas, de tal modo que o pensamento simbólico que a metafísica tradicional requer é incompreensível para a maioria das pessoas de hoje. De fato, ele é tão distante de nós que,

confusos, os comentadores modernos tornam literais e triviais os mais importantes mitos, transformando-os em meras histórias infantis – ou contos – em vez de tomá-los como manifestações simbólicas e arquetípicas.

Seja como for, a modernidade tem muita dificuldade em conceber uma época em que a Terra não estava separada do Céu, na qual não havia dualidade entre gênero humano e natureza, entre o sagrado e o profano. No Egito, o próprio mundo era uma realidade divina, que se manifestava em toda parte: como está no ditado hermético (que também nos chega do Egito): “assim como está em cima, assim também está embaixo”.

Pode-se muito bem afirmar que o alvo central da cultura egípcia era prolongar e estender os aspectos que lhes restavam da unidade primordial entre o homem e a natureza, entre o mundo físico e o reino celestial. Com esse fim chegaram ao ponto de embalsamar os mortos - a fim de que a influência do culto destes pelo passado pudesse continuar a emanar sobre a terra também para relembrá-los da natureza da vida mortal, com o corpo sendo uma mortalha, um túmulo.

Os egípcios tinham plena consciência do seu papel mediador na história, a meio caminho entre o passado primordial e o futuro destrutivo, tal como manifesta uma profecia demasiado precisa, encontrada no Corpus Hermeticum (tradução grega da obra egípcia Tábua das Esmeraldas ou Caibalium), atribuída ao deus Hermes (o deus equivalente ao egípcio Toth): “Ali, tendo observado que o Egito antigo é a imagem do céu, é a transferência direta daquilo que governa no céu e santuário do mundo”. O texto prossegue, afirmando: “Sobrevirá um tempo em que se perceberá que o Egito honrou em vão a divindade com mente pia e assíduo serviço, e todo o seu sagrado culto se tornará inútil e vão. Restarão apenas palavras gravadas nas tuas pedras, a fim de contarem teus feitos piedosos. Essas coisas, quando sobreviverem, serão a velhice do mundo, a impiedade, a irregularidade e a falta de racionalidade em todas as boas coisas. E quando tudo isso se tornar realidade, ó Toth, o senhor e pai, o Deus primeiro em poder porá um fim a todos os males, levando de roldão num dilúvio ou consumindo pelo fogo - de modo que Deus fará o Cosmos retornar à sua antiga forma, a melhor”.

Assim é que o faraó egípcio Amasis, segundo Heródoto, fazia parte de uma longa linhagem de reis restauradores notáveis graças à sua maneira peculiar de exercer essa função, que é a mais tradicional de todas. Dizia-se, por exemplo, que Amasis, antes de assumir seu papel de faraó, fora um ladrão que se apresentou a vários oráculos a fim de ser posto à prova e, quando se tornou faraó, apoiou apenas aqueles que o condenaram como ladrão e ignorou os outros. Dessa maneira, ele havia desmascarado os falsos.

O material era o mesmo no homem comum e no rei; mudava apenas a forma e a função. Pouco importa a verdadeira história do caso. Em termos simbólicos, é impecável, visto que nele podemos ver refletida tanto a função divina do rei como restaurador da ordem e agente da união dos reinos superior e inferior. Na realidade, não será essa a essência da transformação alquímica - fazer sair o ouro da escória, ou seja, o divino do aparente? E, de fato, segundo os gregos antigos, essa era precisamente a função do faraó egípcio, tal como era a dos deuses: restaurar a harmonia cósmica. O faraó era divino não por direito de nascimento ou por virtude do cargo que ocupava, mas por fazer-se digno de respeito e veneração.

Os egípcios tinham grande consciência desse papel e eram plenamente cônscios do tênue controle que exerciam sobre o passado, a chamada era primordial (temos aqui novamente o mito da destruição da Atlântida). Dessa maneira, como relata Heródoto, seus sacerdotes mantinham estátuas de madeira de cada um dos faraós por trezentas e quarenta e uma gerações, do primeiro ao último da história. Lembrança visível da sagrada confiança que tinham no passado, que constituía o único recurso da manutenção da paz e da harmonia do reino. Por isso se disse que a duração do Egito (até o tempo dos gregos antigos, bem entendido) estendeu-se por onze mil anos; antes disso, os deuses – o último dos quais teria sido Hórus, o filho Divino de Ísis e Osíris – regiam diretamente a Terra. De acordo com Deodoro da Sicília, os deuses regeram o Egito por cerca de dezoito mil anos, após o que começou o reinado dos faraós divinos. A data tem uma interpretação mais esotérica que literal, mas isso pouco importa; permanece o fato de que cada faraó sucessivo, embora não fosse um deus, trazia

nas veias o sangue de Rá, o divino sol, de quem era o representante vivo na Terra.

E, contudo, o sentido dessa ordem não é a mera estabilidade temporal – se bem que isso foi alcançado no Egito num grau extraordinário, propiciando milhares de anos de paz, mas antes a realização do destino celestial do homem.

E, para os adoradores de Rá, o divino do Sol, significava “liberdade cotidiana”. Aqueles que alcançavam essa libertação despertavam para sua verdadeira natureza em Rá.

Não é possível divorciar uma cultura de seu mundo: a harmonia microcósmica é harmonia mesocósmica e esta, por sua vez, é harmonia macrocósmica.

Esse é a um só tempo, o alvo e a marca da cultura tradicional: que todas as pessoas ajam regiamente, que todos alcancem o divino, cada qual segundo seu merecimento. Dizia-se que a única diferença entre o camponês e o próprio faraó eram os trajes; sua capacidade e sua fala eram uma coisa só. A força de uma cultura mítica reside em seu poder de irradiação, que envolve e unifica todas as pessoas com vista à realização de sua verdadeira natureza.

FUNDAMENTOS DA MITOLOGIA EGÍPCIA: O CONCEITO DE MAAT.

É virtualmente inconcebível entender a religião e a cultura egípcia antiga sem compreender o significado de Maat, pois nela podemos encontrar a própria essência da cultura tradicional e da ordem divina. Maat manifesta-se ora como uma deusa, a consorte de Ptah e outras vezes como os “senhores de Maat”, que são os assistentes do homem em seu julgamento pós-morte, função que também é de Osíris. Maat também se identifica com a ordem e a harmonia. Nos hinos de louvor a Rá, diz-se que: “Homenagem a ti, ó Rá, louvado Sekhen (poder), senhor das jornadas; tu orientas teus passos por Maat, és a alma que faz bem ao corpo; tu és Senk- hra (a divina face da luz), e és, na verdade, o corpo de Senk-hra”.

Maat é associada aqui com a relação entre alma e corpo, com a harmonização celestial da geração, consistindo a essência da alma na orientação dos “seus passos”. Na alma ou psique, essa orientação implica na harmonização das esferas planetárias e dos poderes celestiais. O que é, pois, Maat? É essencialmente um termo que descreve as ações e os pensamentos que agem em favor dessa harmonização. É um equilíbrio que deve manifestar- se tanto na ordem sutil como no mundo temporal, visto que os dois de maneira alguma se encontram em oposição, sendo antes reflexos, aspectos, um do outro. Em suma, o princípio central de Maat é o de reciprocidade entre os deuses e a humanidade: os deuses servem à humanidade do mesmo modo como a humanidade serve aos deuses.

Por meio dos ritos, o céu se manifesta na terra, tal como era na época primordial. Essa é a razão pela qual os egípcios, ao falarem da ressurreição do corpo de Osíris, diziam que em cada local onde foi encontrada uma das partes de seu corpo, depois de terem sido espalhadas por Seth, foi erguido um templo: um sítio sagrado onde era possível encontrar uma escada divina que se estendia da terra ao céu. Na era mais remota, estavam unidos homens e deuses e as pessoas eram como os deuses; mas nos dias do Egito antigo, começaram a separar-se, o que

tornou os ritos necessários para voltar a uni-los, senão em toda parte, ao menos nos lugares em que as escadas - os templos - se localizavam, retendo assim parte da unidade espiritual primordial entre o temporal e o divino. E dizem que, até hoje, certas áreas ressoam com poder primordial - algumas vezes para o bem, outras não.

Maat é um tipo de eixo, que passa pelos vários níveis do conhecimento, sendo a parte de baixo o caos, e a de cima a bem-aventurança. Aqueles que não cumprem suas responsabilidades se perdem e desordenam-se. Contudo, aqueles que meditam acerca da real natureza da existência e que, além disso, veem sua própria e verdadeira natureza, alcançam a libertação. Eis por que Maat – ordem e harmonia – é o princípio que rege a condição humana. Seguir Maat não seria suficiente para nos livrarmos da servidão temporal, mas não é possível prescindir dela. Quem a segue busca conformar-se à ordem divina, ao passo que quem alcançou a libertação irradia Maat espontaneamente.

Assim, o antigo símbolo egípcio para Maat era a pena - representação da asa do anjo - o símbolo tradicional do conhecimento e da realização espiritual: O anjo, que se mantém no alto com suas asas de gaze, é livre, independente das preocupações temporais.

O apelo a Rá para “tornar-me leve” implica por si mesmo que quem deseja elevar-se deve ter atingido a maturidade e a pureza ética. A antiga imagem dos “senhores de Maat” e de Toth ou de Osíris aferindo os pratos da balança é esclarecida pelo reconhecimento de que agir segundo Maat confere “leveza”, enquanto agir contra ele nos sobrecarrega de pesos cármicos.

Por conseguinte, Maat, como princípio de ordenação ou harmonização, existe em três manifestações: para o indivíduo, para a comunidade como um todo e para o cosmo. Cada um desses aspectos reforça os outros.

Na esfera individual, Maat se manifesta por meio de ações éticas, e isso implica purificação do reino da geração, do nascimento e da morte. A abstinência de carne implica da mesma maneira – como observou Porfírio em seu tratado sobre a matéria – a purificação do desejo. Para o indivíduo, todas essas coisas têm como implicação uma “colocação em ordem”: elas não são suficientes em si para nenhuma realização duradoura, mas costumam ser indispensáveis para tal, visto que devem preceder e acompanhar a transcendência.

Na esfera mais ampla da comunidade, Maat implica o cumprimento das responsabilidades de cada um, da função atribuída a cada pessoa no âmbito da cultura: implica a harmonização cultural na comunidade, tal qual faz em bases individuais. E o veículo central para sua transmissão pela cultura como um todo é o rei divino (faraó). Reconhece-se o rei, nas culturas míticas, como uma encarnação ou manifestação de Rá, o sol divino de Aton; por essa razão o rei, no nível cultural, afasta o mal de modo muito semelhante à autopurificação do indivíduo consciencioso.

Os três mundos são: o microcosmo, o mesocosmo e o macrocosmo.

Assim, Maat é o meio essencial de preservação do estado (em todos os sentidos da palavra) da humanidade e da natureza; a responsabilidade humana é, em sua essência, voltada para a conservação, preservando as tradições que vinculam as pessoas entre si, a humanidade com a natureza e todas as coisas com o divino.

Maat é o meio, a manifestação da sustentação explícita às pessoas: “fala Maat; faze Maat” – essa ordem esta implicada em quase todos os antigos escritos egípcios. “Quem reverencia Maat tem vida longa e quem deseja obter conhecimento não tem sepultura”, como disse o vizir Ptahotep. Há, em outras palavras, uma correlação direta entre a longevidade espiritual e a prática de Maat. Tanto o indivíduo como a sociedade que cumpre de modo adequado sua respectiva função têm vida longa – ao passo que aquele que cai em desordem logo perece, se fragmenta e se dissolve. Portanto, a estabilidade temporal é ao mesmo tempo requisito para a elevação e iluminação espiritual e sua irradiação. Como disse o sábio Ptahotep: “Maat é grande, sua eficácia duradoura não foi perturbada desde a era de Osíris. Há punição para quem viola suas leis, mas esta é desconhecida daquele que deseja obter conhecimento somente material e quando o fim está próximo, Maat permanece”. Acrescenta ainda o vizir Akemi: “Faze Maat pelo rei porque Maat é aquilo que Deus ama! Fala Maat ao rei, porque aquilo que o rei ama é Maat”.

É revelador o fato de aqui a divindade e o rei serem virtualmente intercambiáveis. Tal injunção, porém, só pode existir numa época em que Maat já não é espontâneo para a humanidade. É a época na qual as pessoas já não eram como os deuses, capazes de irradiar Maat de maneira espontânea. Deviam esforçar-se por realizá-la, sendo isso por si só um indício de quão distante estava o Egito da unidade primordial, da Idade de Ouro, como está escrito em “Os Trabalhos e os Dias” de Hesíodo.

“O ensino sem palavra e a obra sem ação, raros são os que os compreendem.”

“Quando entram em jogo as palavras, a realidade é obscurecida.”

A partir de que diz Ptahotep, citado acima, podemos ver os principais meios através dos quais o céu e a terra se apartaram cada vez mais. Em outras palavras, a ignorância é a essência do mal, e o mal não é senão a desordem, a ausência de Maat. A ignorância é a cunha que separa a humanidade da natureza, as pessoas entre si e todos do divino.

Em consequência, a irradiação de Maat na terra implica conhecimento espiritual: quem pratica o mal é “quem não conhece a si mesmo”;

“aquele a quem Deus ama ouve; mas aquele a quem Deus odeia não ouve”.

Conclui-se que a antítese de Maat é o prazer dos sentidos, o egoísmo, a ânsia aquisitiva e a cobiça materialista - a própria base da era moderna.

Os mandamentos egípcios de Maat (a deusa da ética por excelência) foram enunciados 5000 anos (pelo menos!) antes dos nossos Dez Mandamentos!

Maat refere-se ao conceito de justiça e de ética egípcio e é, também, o nome dado à deusa egípcia da justiça.

Os 42 princípios de Maat:

1. Honro a virtude

2. Benefício com gratidão.

3. Sou pacífico.

4. Respeito a propriedade alheia.

5. Afirmo que toda a vida é sagrada.

6. Faço ofertas genuínas.

7. Vivo na verdade.

8. Respeito todos os altares.

9. Falo com sinceridade.

10. Consumo apenas o necessário.

11. Ofereço palavras de boas intenções.

12. Relaciono-me em paz.

13. Honro os animais com reverência.

14. Sou confiável.

15. Preocupo-me com a Terra.

16. Sigo os meus próprios conselhos.

17. Falo dos outros de forma positiva.

18. Mantenho em equilíbrio as minhas emoções.

19. Sou leal nas minhas relações.

20. Tenho a pureza em grande consideração.

21. Espalho alegria.

22. Faço o melhor que posso.

23. Comunico com compaixão.

24. Ouço as opiniões contrárias.

25. Crio harmonia.

26. Provoco o riso.

27. Sou receptivo ao amor nas suas várias formas.

28. Aceito o perdão.

29. Sou generoso.

30. Respeito os outros.

31. Aceito os outros.

32. Sigo a minha consciência.

33. Converso com atenção.

34. Faço o bem.

35. Abençoo os outros.

36. Mantenho as águas limpas.

37. Falo com boas intenções.

38. Venero os deuses.

39. Sou humilde.

40. Alcanço com integridade.

41. Evoluo através das minhas capacidades.

42. Eu abraço a todos.

PARTE II INICIAÇÃO

O SIGNIFICADO DO MÍTICO E DOS MISTÉRIOS NO ANTIGO EGITO

Egito é um nome dado pelos gregos para esta terra de iluminados e guardiães das tradições da ressurreição e do voltar a viver, pois todas as religiões pré-judaicocristãs acreditavam que voltaríamos muitas vezes à vida para nos aperfeiçoarmos até alcançarmos a imortalidade perdida. A isto os egípcios chamaram de iniciação e, sem dúvida, conferiram- lhe seu maior alcance. Eles mesmos se denominavam como herdeiros da terra de “Kem” – que significa, em egípcio arcaico, local de iniciação ou preparação para a elevação espiritual. Os gregos denominavam esta civilização como a terra de Ptah; em grego, “Gaia-

Ptah”, daí “Gea-Ptah” e, finalmente, “Egyptah” – Egito. Note-se que Gaia é terra em grego e Ptah é a divindade dos mistérios por excelência. Os árabes, mais tarde, se referiram a eles como os descendentes de “Kem” – Al-Kem, em árabe e daí derivou alquimia.

A mitologia egípcia é a base da mitologia grega e os temas mais caros à tradição grega também repousam na tradição egípcia: por exemplo, os mitos da ressurreição, do enigma da Esfinge, da reconquista da imortalidade e de Hermes (mitos herméticos). Todas as grandes escolas iniciáticas gregas também se basearam na tradição egípcia de Ptah e de Ka – o corpo astral de cada ser. A própria tradição cabalística também tem aí sua origem.

Pitágoras, Sólon, Sócrates, Platão e todos os grandes mestres helênicos se iniciaram na tradição hermética de Ptah. Além deles, diz-se que o próprio Orfeu foi ao Egito se iniciar e trouxe para a Grécia a beleza dessa religião – a primeira religião do amor de que se tem notícia na Europa – e que resultou na maior escola dos mistérios da história, chegando a ter mais de 45 mil alunos; a escola órfico-pitagórica.

Com certeza, a tradição egípcia foi a mais mítica de todas, e sua riqueza e sua visão cosmogônica é a mais distante da nossa civilização ocidental no sentido de que nosso pensamento é discursivo linear, lógico e sistemático.

Quando visitamos alguns locais, percebemos que, por mais que saibamos, o impacto de estar lá é outra coisa. Ao visitarmos tumbas enormes com crocodilos, falcões, vacas e outros animais mumificados, a nossa primeira impressão é: que bobagem! Gastar todo esse tempo mumificando com rituais complexíssimos! Temos a impressão que eles não tinham o que fazer da vida. Mas o erro está em pormos à frente nossos modos utilitaristas e práticos e assim perdemos de vista a visão mítica que eles tinham da preservação da forma como algo sagrado. É o que vemos nas sombras (habitantes do Hades) da tradição grega e que é a busca da manutenção de uma forma como estágio provisório da evolução da alma. Para eles, evidentemente, a busca e a compreensão da morte e a reconquista da imortalidade perdida era o objetivo da vida.

E aí está uma boa pergunta: Qual é nosso objetivo de vida? Porque nós vivemos de modo a nos iludir, ou seja, vivemos aqui na Terra, acreditando que nunca sairemos daqui. Construímos patrimônios com a certeza de que o paraíso será por nós aqui materializado e aqui ficaremos para sempre. Esquecemos a lição hermética de que, quanto mais nos apegarmos, mais difícil será transcendermos, mais difícil será evoluirmos.

Trata-se de uma civilização que fundou os mistérios e a busca deles evidentemente está na compreensão do enigma da morte e da ressurreição.

O deus grego dos caminhos e do voltar a viver, Hermes, tem sua origem no deus egípcio Thot, que é a divindade da ressurreição segundo Édouard Schuré (Os Grandes Iniciados – esboço da história secreta das religiões. Martin Claret: São Paulo, 1986):

“Thot é, talvez, o mais misterioso e menos compreendido dos deuses do antigo ‘Kem’. É o símbolo da Sabedoria e a da Autoridade. É o escriba silencioso que, com sua cabeça de Íbis, a pena e a tabuleta, registra os pensamentos, as palavras e atos dos homens, que mais tarde pesará na balança da Justiça.

Platão diz que Thot foi o criador dos números, da geometria, da astronomia e das letras.

A cruz (Ank, no Egito) que leva na sua mão, é o símbolo da Vida Eterna; seu bastão, emblema da sabedoria divina.

Na Grécia vemo-lo aparecer como Hermes; em Roma como Mercúrio; em nossos dias, como se apresentará?

Na Tábua das Esmeraldas estão os textos com os grandes ensinamentos dos sacerdotes egípcios consagrados a Ptah e que chegaram até os nossos dias. A maior parte desses ensinamentos era transmitido via oral, sendo seu acesso somente permitido aos iniciados, desde que não revelassem seus segredos.

Os Mistérios foram o próprio centrum da cultura egípcia antiga – bem como da Caldéia, Assíria e de outras culturas. Talvez o melhor lugar para começar as nossas observações acerca dos mistérios antigos seja Platão, o qual, em “Fedro”, tem a dizer o seguinte sobre a iniciação e os mistérios:

“Porque, como já se disse antes, toda alma humana contemplou, no percurso da natureza, o verdadeiro ser; essa foi a condição de sua passagem para a forma de homem. Mas nem todas as almas recordam com facilidade as coisas do outro mundo; podem tê-las visto apenas por um breve momento, ou, sendo ímpias, podem ter perdido a lembrança das coisas santas que um dia viram”.

“Houve uma época em que, em companhia dos outros membros do feliz grupo, elas viram a formosura brilhar com resplandecência - nós filosóficos marchando no préstito de Zeus, outros ao lado de outros deuses; e eis que contemplamos a visão beatífica e fomos iniciados num mistério que em verdade pode ser considerado o mais bendito, por que nós celebramos em nossos estados de inocência, antes de termos tido qualquer experiência dos males vindouros. No tempo em que nos foi permitida a visão de aparições numa condição de inocência, de simplicidade, de calma e de contentamento, contemplamos reluzindo em pura luz a nós mesmos antes de sermos entronizados neste túmulo vivo que hoje levamos para lá e para cá. Agora nos encontramos prisioneiros do corpo, tal como uma ostra em sua concha.” “Mas, quanto à beleza, repito, nós a veremos luzindo em companhia das formas celestiais; e vindo para a terra, também a encontramos aqui, resplandecendo por meio da mais clara abertura dos sentidos”.

Os antigos egípcios tinham uma concepção totalmente diversa da nossa sobre a questão da temporalidade e entendiam que podíamos avançar ou recuar no tempo. Esta é a concepção essencial das práticas de magia e do que entendiam por profético, sendo certo que os gregos adotaram essa concepção e esta palavra grega manteve seu sentido: profeta, profético – “pro” (na frente) e “fos” (luz). Portanto, profético é aquilo que avança no tempo, sendo mais rápido do que a luz e que foi chamado luz de Apolo ou “logos apolíneo”. Vemos aqui que logos não tinha, originalmente, o sentido de lógico e racional que lhe foi aplicado e persiste até os dias de hoje; era a intuição iluminante, profética de Apolo.

O profético, como vimos, vem da raiz grega “pro”, cuja expressão exata na língua portuguesa seria “à frente”, seguido de “fos” – iluminação; daí fenômeno, fenomenologia, etc. É o que se adianta à luz, aquilo que se revela na verdade. A derivação “fanes” é aquilo que se mostra, que se revela.

Há uma limitação fundamental, que talvez Aristóteles tenha definido pela primeira vez com maior sistemática dentre todos os filósofos antigos. É a chamada linearidade temporal, ou seja, nosso modo de pensar está preso a uma linearidade do presente, passado e futuro, e isso determina nossa visão de mundo, como se ele fosse algo lógico e racional. Ora, não podemos dominar nem o passado nem o futuro; podemos apenas conhecer o passado e tentamos suplantar a limitação do presente através de um ato mágico que os antigos chamaram de “anamnesis”, que é recordação em português. Por outras palavras, é o fio da memória e o desafio é que ela não caia nas malhas do esquecimento (“lethé” – esquecimento, quer dizer também mentira). A memória recupera essa dimensão da temporalidade em nós e nos permite viajar no espaço e no tempo, ou seja, resgatar o passado num plano coletivo e o inconsciente no plano individual, como tão bem descreveu Freud.

Esta é uma das razões porque a memória tem uma função tão sagrada no pensamento arcaico. Não se trata aqui apenas da memória psicológica, mas de “Mnemosine”, a “memoridade” como divindade – memória cósmica, porque através dela, conseguimos inclusive recordar nossa vida passada. Conseguimos

compreender com ela – vejam a teoria da reminiscência de Sócrates – a recordação e traços daquilo que sentimos, daquilo que é eterno, porque a memória se sustenta somente sobre o eterno. Tudo que é falso é esquecido e por isso o termo “lethé” em grego significa tanto esquecido, quanto mentira. E a palavra “Alethéia” significa seu oposto, ou seja, o verdadeiro e o não esquecido.

O que tem isso a ver com o profético? É claro que o profético é possível no pensamento arcaico porque funda-se no eterno da memória, pois a memória é guardiã da eternidade, de tal modo que tanto os deuses egípcios, quanto os gregos têm ao seu lado uma divindade da memória como guardiã, porque a força eterna dos deuses está no fato de eles jamais poderem ser esquecidos. Ela é a guardiã da eternidade.

Nós, no entanto, não temos acesso à eternidade. Ou será que temos?

Hesíodo, em sua obra “Teogonia”, século VIII a.C., nos lembra muito bem que a tragédia humana não é que os homens são mortais e os deuses são imortais. Morremos de inveja dos deuses, é claro, mas somos mortais e imortais ao mesmo tempo, porque vivemos essa dualidade insuplantável em nós, ou seja, vivemos o mortal e o imortal, o efêmero e o perene constantemente. Então, quando nos aproximamos do profético, temos a vivência de superar a linearidade de espaço e tempo, presente, passado e futuro. Partimos para o outro plano que é o plano do eterno evidentemente. Por alguns instantes, tocamos, segundo os antigos dizem, o plano do sempre. Neste plano, presente, passado e futuro fundem-se e o profeta é um indivíduo capaz de tocá-lo, e ficamos espantados com a sua predição, porque ele tocou em algo inacessível a nós. Não é que ele viajou para o futuro e voltou, mas ele tocou o plano do sempre onde presente, passado e futuro se fundem, daí essa enorme confusão, inclusive, dessas previsões. Mas ele vê tudo ao mesmo tempo por alguns instantes e este plano é raro privilégio de alguns em raros momentos.

Sob este aspecto, a questão do livre arbítrio perde um pouco o sentido para nós

mortais quando se compara com o ponto de vista dos deuses, quer dizer, sempre tivemos o livre arbítrio, mas os deuses sempre souberam o que seria. Não cabe a nós compararmos, se somos uma determinação ao lado de uma indeterminação constante em nossa existência. Não podemos nos livrar da determinação que os deuses nos dão. Não podemos nos livrar da determinação de termos nascido no século XX ou XXI. Está lá a realidade. Esta é a realidade humana para a qual fomos determinados e podemos tergiversar ou até intervir em tantos pontos de nosso destino. Até podemos abandoná-lo, negar nossos talentos, descobrir outras possibilidades, mas o homem sempre lida com a mortalidade e a imortalidade, como ele lida também com a determinação e o livre arbítrio constantemente na sua existência.

Ocorre que esta ambiguidade no plano do sempre não existe, porque aqui as coisas com toda essa eternidade estão no sempre, ou seja, não há presente, passado e futuro. Assim. a questão profética e a questão da determinação perdem o seu sentido.

É quase absurdo abordarmos isso como também o desafio de se avançar no tempo e no espaço como o indivíduo que sai da Terra em viagem interplanetária e retorna um pouco mais jovem. Quanto mais aumentar a velocidade, mais ele se desligará da determinação temporal, a tal ponto de que se ele percorrer um espaço com a velocidade da luz, pode retornar à Terra muito mais jovem e a Terra terá avançado muito mais tempo no espaço e no tempo. Uma vez que aqui será o ano 2050, ele na verdade já deveria ter morrido, mas terá apenas um ou dois anos a mais, porque o tempo é relativo. O tempo está em função do movimento e jamais pode dividir qualquer corpo. Este corpo e este planeta têm um ponto no espaço que lhe são próprios e assim sendo o tempo é que não é uniforme para nós. É claro que ocupamos um espaço próprio, mas o tempo está atrelado a ele. Essa concepção newtoniana de que o tempo é independente do espaço ou da massa que ele ocupa não mais se sustenta e Einstein foi o primeiro a mostrar que isto não é possível, pois cada objeto não ocupa apenas um espaço próprio, mas também um tempo.

Vejamos um exemplo no cotidiano. Quando um automóvel passa lentamente à sua frente, ele tem uma temporalidade longa, porque você pode vê-lo afastar-se. Ele aparece no seu horizonte, se desenvolve e depois lentamente desaparece e isto pode levar horas. Esse mesmo objeto se passar rapidamente no seu horizonte, durará segundos, sendo que a velocidade com a qual passou fê-lo quase desaparecer. Estamos supondo que você está relativamente parado e esse objeto em movimento e se ele passar ainda mais rápido, não será percebido. Por outro lado, no entanto, se formos atrás dele, correndo, até emparelharmos, estaremos num eterno presente, relativamente a ele.

São temporalidades diferentes que existem relativas a nós. Não é do relativismo filosófico que estamos falando, mas do relativismo absoluto, ou seja, tudo sempre será relativo a um objeto e, desse modo, é a relação que é absoluta e não o objeto em si. O que estamos falando aqui depende do ponto de vista de um observador privilegiado, no caso um simples mortal. Estamos falando de Deus aqui parado, eterno, imutável? Não somos eternos e muito menos imutáveis. E, portanto, está havendo uma transformação aqui. Desse modo, onde ocorrem transformações, nasce também uma temporalidade própria. Tudo depende da sua velocidade e de seu movimento e no caso de estarmos fora desse sistema, passamos a sofrer as influências de um outro ponto próprio que não é mais o planeta Terra, seguindo outros parâmetros de velocidade e de tempo-espaço.

Há aqui uma temporalidade própria e nisso até o pobre livre arbítrio é determinado. Não é só de leis da física que estamos falando, mas sim de uma temporalidade da vivência de cada um e que nos traz diferentes sensações. Assim sendo, quando realizamos algo agradável, o tempo voa. Passe, por exemplo, uma noite agradável com o seu amor para ver como a noite voa em um segundo. Agora passe uma noite desagradável numa tristeza de um hospital com angústia para ver como as horas se arrastam e os minutos não terminam num momento difícil. Você vive mesmo várias temporalidades.

Assim como vivemos várias temporalidades, há momentos em que a temporalidade é suspensa; nos tornamos proféticos! É um momento em que

induzimos e nos alavancamos no espaço e no tempo com uma velocidade que assusta: a velocidade da luz. H. Bergson já nos chamava a atenção sobre isso ao comparar a intuição com a razão, pois a primeira viaja como um raio de luz. Você não sabe como chegou àquela conclusão, mas tem a certeza iluminada dessa conclusão. O caminho que antecede a própria profecia é a intuição, a intuição sensível. Nesse sentido, a lógica é uma carroça enferrujada e preguiçosa. Comparemos os raciocínios silogísticos, os argumentos filosóficos e a certeza de quando intuímos e dizemos “nada disso convence”. A intuição se manifesta como um pressentimento e não se sabe como chega às conclusões muitas vezes quase que proféticas. Então, neste sentido, a capacidade de o indivíduo sair do plano empírico e cronológico para a intuição e aproximar-se do profético é que determina sua libertação espiritual em direção a um plano do eterno ou a um plano do sempre.

É neste momento que podemos compreender o sentido do que é profético e ver que a questão do livre arbítrio não entra em choque com isso.

Na Antiguidade, os homens mais sábios eram os profetas e eram eles que consolidavam as tradições religiosas. Mas o que são os profetas senão homens iluminados pelos logos no sentido arcaico. Eles irradiam uma certeza que não é limitada pelo espaço e pelo tempo. Nada os limita senão esta ligação que eles têm com o eterno. Daí seu caráter sagrado, daí seu caráter grandioso. Era considerada a mais alta das sabedorias, a mais desapegada. E por que a mais desapegada? Porque conseguiu ligar o presente, o passado e o futuro e não pertencer mais à roda da vida.

O que se confunde com frequência sobre o profético é que ele tem que estar vinculado obrigatoriamente ao futuro e isto porque nossa angústia é o futuro. Porque nós temos pavor da morte e do que vai acontecer no futuro. Achamos que se formos consultar algum vidente, poderemos dominar o futuro e quem sabe enganá-lo e quem sabe driblar as profecias a nosso respeito. Mas, no fundo, sabemos quais são e o que o destino guarda para nós.

Nossa angústia não está na elucidação de um passado. Poucos são aqueles que vão buscar um auxílio de um psicoterapeuta ou uma investigação pessoal mais iniciática na compreensão de seu passado cósmico e histórico. Nossa grande preocupação é o que vai acontecer e, aliás, só queremos compreender um pouco o passado para podermos ordenar melhor o futuro. Desse modo, torna-se difícil compreendermos o profético neste plano, onde presente, passado e futuro se fundem, porque o verdadeiro profeta não tem a intenção de adivinhar o futuro, mas revelar a verdade e essa verdade desconhece as limitações de presente, passado e futuro. Na verdade, ela nos fala ao mesmo tempo.

O que teremos que engolir goela abaixo é nossa limitação linear do presente, passado e futuro; e teremos que vencê-la para podermos compreender esse plano. Aliás, isto ocorre no desafio para se compreender um mito e quando insistimos que o mito é e não é ao mesmo tempo, sofremos um choque lógico. O que quer dizer isso? As coisas são e não são ao mesmo tempo? Mas a função do mítico é justamente libertar-nos das amarras da linearidade temporal. Sua tentativa é de colocar-nos frente à ambiguidade da mortalidade e da imortalidade, pois, de outra maneira, como poderíamos ter um diálogo com o divino?

Temos ainda outra limitação, pois nosso problema não reside somente na temporalidade. Estamos extremamente viciados em pensar linearmente, onde nossa língua também é linear, nosso discurso idem e aceitamos somente o princípio do terceiro excluído: uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo. Sempre que conceitos dessa natureza surgem, para não ficamos confusos, dizemos: “você não está sendo objetivo, fale claramente.” (SIC!)

ANÚBIS E O SIGNIFICADO DA MUMIFICAÇÃO.

Sobre uma rocha perto de Ptolemaida, monumento consagrado aos Ptolomeus, está gravada a seguinte inscrição: “Zeus, Serápis e Anúbis são Um só”.

É fundamental salientar a natureza fluida dos deuses, lembrando que, embora o reino primordial não mude, suas manifestações se transformaram de acordo com a cultura específica. Esta é a razão porque Anúbis e Toth, o escriba divino, e o deus grego Hermes puderam se entrelaçar com a passagem das eras e, todavia, reter ainda algo de uma identidade distinta, sendo cada um deles um aspecto do mesmo princípio divino.

Está implícita na inscrição essa natureza fluida, incluindo-se aí os três reinos como um. O deus supremo do olimpo, Zeus, que deriva da palavra sânscrita antiga “Dhyeus”, vincula-se com os termos “dhyana” (sânscrito: “absorção meditativa”), “deus” e “deva” (sânscrito: “ser celestial”). Zeus, portanto, implica o reino empíreo do sol, de onde emana Serápis, que representa o reino sutil ou psíquico.

A palavra “Serápis” era a união de Ápis, o touro divino, com Osíris, numa única designação. “Ápis”, segundo Plutarco, “significa um belo e adequado reflexo da alma de Osíris”.

Anúbis, por outro lado, sugere a iniciação individual nos próprios mistérios, trazendo em si os três reinos, das trevas ctônicas (interior da terra) até a luz (olímpico). Por essa razão, Anúbis está “mais próximo” do homem no reino temporal, porque ele partilha de uma qualidade dual, sendo a um só tempo revelador e escriba daquilo que é revelado, ctônico e iluminado (olímpico), ouro e negro, em cima e embaixo.

O kyrekeion (caduceu), o bastão do mensageiro, que Hermes traz em sua mão, em torno do qual estavam entrelaçadas as serpentes gêmeas de Ísis, representa precisamente essa qualidade dual.

O mito conta-nos que Néftis (consorte de Seth ou Tifon) deitou-se ilegitimamente com Osíris. Segundo Plutarco “quando Néftis concebe Anúbis, Isis o adota. Porque Néftis é aquela que está sob a terra e é não manifesta ao passo que Ísis é aquela que está sobre da Terra, sendo, portanto, manifesta. E o círculo que mal a toca, e que é chamado “horizonte”, como algo comum as duas, tendo sido chamado de Anúbis e é comparado ao cão por ter esta característica: o cão tem o uso da visão de dia e de noite”.

Vejamos agora a seguinte frase: “quando Néftis concebe Anúbis, Ísis o adota” porque a importância disso reside no fato de o mito referir-se não a algum evento do passado distante, mas a este instante. Causa dificuldade ao homem moderno compreender o simbolismo mitológico, uma vez que ele não se refere a algum passado histórico, mas a uma realidade supratemporal.

Diz Plutarco a respeito de Anúbis: “É um mistério que não deve ser comentado”, representando a entrada e o mensageiro do reino dos próprios deuses, e, por conseguinte, não se pode falar dele, porque aquele de quem é mensageiro se encontra “acima” do reino da historicidade, das palavras e do próprio tempo. Eis porque Anúbis é também conhecido entre os gregos como Kronos, a divindade primordial que governa a temporalidade estando, portanto, acima dela.

“Porque gera todas as coisas a partir de si mesmo e concebe tudo em si mesmo, e é também chamado de cão (em grego: kyon), pois é a um só tempo ctônico e olímpico”.

Tanto Anúbis como o deus Hermes grego são os mensageiros e os arautos dos deuses. Em consequência, da mesma maneira como os cães guardam as pessoas e lhes são fiéis, assim também Anúbis é fiel aos deuses, protegendo-os. Também é considerado o consorte de Maat, a divina harmonia.

Aqui na terra, é o intelecto que deve mostrar em primeiro lugar os caminhos que levam ao divino, da mesma maneira como nossas ações devem refletir a ordem e a harmonia divina. Anúbis é, antes de tudo, o horizonte, sendo o símbolo do primeiro vislumbre do divino, o intelecto iluminado pela luz do sol e da lua.

Sua emanação também está representada entre os gregos pelo cajado que Hermes traz na mão direta: o kyrekeion, o sagrado bastão em torno do qual estão entrelaçadas as Uraeii (as serpentes divinas), que formam um “O” no centro, com as cabeças formando um “U” para cima, e a caudas fornecendo um par de asas ou os braços de uma cruz embaixo. As asas são as asas da alma, associadas com a consorte de Anúbis, Maat (cujo símbolo é a pena, sem a qual não se pode subir, sendo o constituinte indispensável da subida em direção à ordem ética e à harmonia). O sol no centro é, naturalmente, vinculado a Osíris e Rá; à Lua são atribuídos Osíris e Isis. As serpentes divinas são, por sua vez, associadas, como vimos, a Isis e à energia primordial, ao passo que o próprio bastão não é senão o polo divino representando o eixo dos mundos.

Anúbis, o cão dos deuses, é aquele que guarda os túmulos dos homens, sendo responsável pela limpeza e preparação do corpo dos mortos, pelo seu embalsamamento e preservação. Isso quer dizer que, por meio de Anúbis, a humanidade tem o seu primeiro vislumbre da natureza do divino, sendo-lhe por isso garantida uma espécie de longevidade (no sentido taoísta de “imortalidade”), bem como uma percepção reflexiva da verdadeira natureza de cada pessoa. Quando se fala de “preparação do corpo”, significa “retirar as vestes terrenas” e “vestir os trajes do céu”. Anúbis não pode oferecer ao homem um lugar no barco de Rá por milhões de anos, nem pode anunciar a entrada no reino de Osíris. Como arauto dos deuses ele só pode oferecer uma rápida visão refletida da verdadeira natureza das coisas condensada em seu signo divino.

Entretanto, numa época em que mesmo a compreensão intelectual é cada vez mais limitada e obscurecida, Anúbis permanece como algo que nos faz recordar a verdadeira natureza das artes e das ciências, o verdadeiro sentido e propósito do homem.

Sobre o ritual de iniciação

Em Sáccara e Mênfis, havia animais criados para serem sacrificados e mumificados num ritual de criação e dedicatória aos deuses, mas na grande maioria eram consagrados ao deus da morte Anúbis. Para este ritual de sacrifícios, cada animal era criado por um monge por anos e anos a fio. Para eles, era algo muito importante na sua vida e cada um realizaria uma peregrinação ao santuário onde iria sacrificar e mumificar o animal que ele criara.

Como esta realidade tem mais de quatro mil anos, percebemos que os ladrões não davam valor para estas múmias, sendo esta a razão porque essas galerias foram encontradas praticamente intactas, ao contrário das múmias reais.

São mais de 1800 galerias, mas infelizmente pouco valor os arqueólogos a elas atribuíram.

A preservação do corpo representa o estado de evolução da alma e esta forma é o retrato da mesma e deve ser preservada para poder voltar a viver. Assim, a noção de conservação está dentro da concepção essencial de magia dos egípcios e é um ritual de metamorfose, significando que a manutenção da forma é condição fundamental para o retorno a esta vida. Esta é a base da tradição da magia em todas as mitologias. Exemplo disso é o boneco chamado vodu, que traz a forma da pessoa que se quer prejudicar e ele tem esse poder mágico, reproduzindo e captando sua energia.

Ka é um simulacro de madeira do morto que permanece olhando para ele e é a

garantia de que este corpo voltará à vida com a forma que partiu. Portanto, tratase de um ritual de permanência. Não é que ele voltará com esta configuração, mas serve de memória cósmica, pois achavam que os homens dela participavam, mantendo sua forma primordial.

Trata-se, ainda, de compreender que a forma reflete um estado de evolução provisória do espírito; dessa maneira, Ka serve de recordação do estágio evolutivo provisório que atingimos nesta vida e é, a partir dele, que devemos prosseguir.

A mumificação dos animais era vista como uma maneira de ajudar a natureza a permanecer com tudo o que ela tinha. Lembramos que os egípcios são nossa contrapartida e estavam voltados ao culto da permanência e da eternidade, cultuando tudo o que é estável e seus ritos. Assim, no rio Nilo, todo ano aconteciam as mesmas cheias e a fertilização de suas margens e assim por diante. Da mesma forma, a morte é um ritual de continuidade, devendo ser vista como uma consolidação de permanência por oposição à queda no Caos. Assim, é a luta da ordem contra o Caos que está no seu fundamento e desse modo o homem participa como cúmplice do Criador, procurando manter a forma e a ordem sobre o Caos, inclusive na morte.

Como exemplo temos Hórus, em sua forma de falcão, que representa o olho divino e, por isso, todo iniciado cultua esse pássaro peregrino. Na verdade, todas as pessoas devotas consideravam uma grande honra criar falcões e sacrificá-los para o deus Hórus. Era algo muito importante relacionado com poderes mágicos, pois entendiam que não perderiam a força da magia tendo o falcão ao seu lado. Notem que estamos falando de um povo permeado no dia a dia pela magia e pelo mítico, estando ciência e magia em completa harmonia.

Vejamos agora esta concepção sobre a magia das múmias. É importante compreender que os egípcios não tinham uma visão mórbida do mundo, muito ao contrário, tinham uma visão sensual do mundo, onde os prazeres do cotidiano

estavam sempre presentes. Consideravam seu mundo o local de muitas alegrias, como demonstram as representações que encontramos nos murais das tumbas.

O único momento grave acontece quando ocorre o julgamento do coração do finado perante Maat (deusa da ética e da justiça) e Anúbis (deus juiz dos mortos). Seu coração é pesado numa balança tendo, do outro lado, uma pena (símbolo de Maat); ele está na presença do deus Hórus também, que está vendo o pesar que representa a justiça de sua vida. O que está em jogo é se o coração foi bom ou mau, e este é o momento fundamental de sua existência.

É isto que o faraó representa; ele é o grande iniciador e deve, através de seus poderes, dar continuidade àquele era perdida para todos os homens do Egito. Isto é uma referência ao mito da Atlântida, cuja origem está na base da tradição egípcia, pois estes se consideravam os herdeiros desta civilização destruída pelos deuses devido aos seus desvarios e desmedidas. Por outras palavras, caberia ao faraó resgatar e manter viva, tanto quanto possível, esta tradição iniciática que não era outra senão os princípios de Maat.

Todos os homens e mulheres ambicionavam manter a magia e todo o ritual sacrifical para que essa religiosidade mantivesse essa função, ou seja, a conquista dos poderes que os aproximariam dos deuses e os tornariam coparticipantes da Criação. Encontraremos mais tarde esse mesmo objetivo na Paideia da Grécia antiga.

A ENÉADE PRIMORDIAL, O POLITEÍSMO E O HENOTEÍSMO.

Uma das principais ideias errôneas que as pessoas de hoje tendem a ter daquilo que chamam de politeísmo egípcio consiste em atribuir-lhe uma falsa solidez, uma ordem rígida e fictícia, como se cada deus fosse uma entidade exterior e específica. Isso é naturalmente um reflexo da era moderna, na qual o próprio mundo, aos nossos olhos, “se solidificou”, tendo perdido sua qualidade fluida precedente tornando-se para nós uma mera concatenação de seções quantitativas de objetos sujeitos a “lei científica”. Em consequência disso, tanto a religião como a magia tornaram-se virtualmente inconcebíveis para o homem moderno, pois ele perdeu a capacidade de pensar em termos simbólicos, de compreender de maneira analógica, razão pela qual vê os deuses como personagens semihumanos, quase históricos.

Todavia, essa percepção é errada. No Egito, como em toda cultura mítica, os deuses eram reconhecidos como pertencentes ao tempo primordial; sua ordem era fluida, e não fixa, variando a percepção que se tinha deles.

Os deuses, portanto, não eram meros atores externos de um drama da história como, digamos, se poderia falsamente supor com base nas obras de Homero, mas sim as essências de que o mundo temporal era um reflexo; são, a um só tempo, realidades celestiais vistas “exteriormente” e realidades sutis vistas “interiormente”. A jornada interior, por outras palavras, espelha a criação exterior. A Criação é a emanação do divino, sendo a jornada interior um retorno ao divino. E, circundando o centro de ambas, do próprio mistério, encontra-se a Enéade primordial.

Sobre o microcosmos, o macrocosmos e a questão da eternidade dos deuses

As mesmas essências principais que formam o cosmos em seus movimentos “para fora”, a partir da origem do ser (chamado de reino Celestial pelos egípcios, sendo as esferas dos planetas, da Lua e da Terra), também formam, em seu movimento “para dentro”, o microcosmo do homem; dessa maneira, aquele que passa pela jornada interior da contemplação “reflete” essa ordem vertical transcendente por meio da qual foi criado o macrocosmo, por assim dizer, “invertido”. As essências medianas, de que o mundo temporal é um reflexo, são uma emanação. É aquilo a que damos aqui o nome de “deuses”, que não são, em termos estritos, eternos. Têm seu ciclo vital, incomparavelmente mais longo que o do homem como ser temporal, mas não podem existir para sempre.

No “Corpus Hermeticum” encontra-se a seguinte observação: “Alguém poderia se atrever a dizer que o homem na Terra é um deus sujeito à morte, ao passo que um deus no Céu é o homem imune à morte”. Trata-se apenas de um outro modo de dizer que o homem, como microcosmo, espelha o macrocosmo, que tudo está no interior tal como está no exterior. Em última análise, as essências da humanidade e as essências do cosmo são uma e a mesma coisa.

Ora, dentre os agrupamentos primordiais dos deuses egípcios, o mais antigo de que se tem conhecimento é o da Enéade (nove), a Ogdóade (oito) mais um; e, dentre as cidades sagradas do Egito, a Enéade de Hermópolis é a mais antiga.

Porque os deuses mais primordiais aparecem na forma da Enéade – o grupo de nove? A resposta apresenta um duplo aspecto. Em primeiro lugar, há de fato a primazia da forma triádica a ser tratada: a trindade de deuses é inevitável em toda cultura mítica em geral e, em particular, na egípcia, em que os três pontos representavam de maneira imediata esse trinitarismo universal, que é na verdade

um reflexo do ensinamento mais profundo de que proveio: o ensinamento referente aos três mundos.

No Egito antigo, a divina trindade toma a forma de:

•Osíris, Ísis e Hórus. Corresponde esta tríade ao mundo sutil.

•Seth, Néftis e Anúbis. Representam o mundo inferior.

•Khepera, Chu e Tefnut. É o mundo celestial.

Nas duas primeiras, há um deus masculino mais velho - o pai – e uma Deusa sua consorte - e o filho, que partilha da natureza dos dois. A última e mais elevada relação pode ser esclarecida por meio da referência a um dos mais antigos mitos egípcios, segundo o qual no princípio só existia Rá, Khepera, o sol, de quem emanaram os dois outros deuses- macho e fêmea, Luz e Treva, Essência e Matéria, Chu (Seb) e Tefnut. Esses dois surgiram dele, espontaneamente, deles tendo emanado, aos poucos, os demais deuses. Ora, o que poderemos concluir a partir desse mito?

Acima de tudo, podemos ver que os Deuses não são fixos, mas fluidos, cada uma das sucessivas dualidades sendo a mesma essência manifesta num nível de ser diferente “inferior” ou mais concreto.

São os três mundos - o celestial, o sutil e o fenomenal.

No mundo terrestre - por assim dizer, o mais distante da origem - encontramos Néftis e Tifon, a sizígia (união) reflexo de Isis e Osíris. Contudo, como observa Plutarco, o nome Néftis significa “no fim da terra”, isto é, a matéria mais densa, mais afastada do reino Celestial. No início, na Idade de Ouro, Tifon e Néftis eram benéficos, mas foram se apartando

– Tífon, em particular – e passaram a ser malévolos, dominados pelo caos e pela destruição. Existem, por conseguinte, como “reflexo” de Isis e Osíris, situados no interior do reino psíquico ou sutil.

Assim, Osíris e Isis regem o reino sutil ou psíquico - a atmosfera “entre os mundos”. Encontra-se em Isis e Osíris a essência do crescimento e da deterioração, dos poderes ascendentes do verde, das ervas, dos mundos vivos. Néftis e Tífon representam o inverso, o lado sombrio, da decadência e da dissolução. Como resultado, embora não possam trazer a libertação, Isis e Osíris podem propiciar um vislumbre dos mistérios do mundo sutil. Noutro nível, temos os Deuses da Terra e do Céu - Geb e Nut -, cuja existência é contemporânea da própria Criação: a essência de Geb é a matéria, a Terra, ao passo que de Nut é o reino Celestial; e, quando os dois se mesclam, surge a criação.

Em resumo, podemos ver que a antiga metafísica egípcia não se preocupava tanto com transcendentes como com imanentes, não tanto com a unidade primordial como com os reinos intermediários de ser e, na verdade, talvez só se possa esperar isso, já que historicamente o próprio Egito se encontrava “entre dois mundos”.

Que assim é acentua-o o dito registrado no papiro de Turim, em que Rá revela a Isis seus nomes sagrados, dizendo: “Sou Khepera pela manhã, Rá ao meio dia e Temu ao entardecer”. Embora a plena significação do conto em questão deva esperar até tratamos propriamente de Isis, podemos ver nos três nomes que o próprio Rá se manifesta em três aspectos: os três mundos da manhã, do meio-dia

e da noite, o que empresta aos três um aspecto “horizontal” adicional.

Com efeito, a própria correspondência entre nossos dias e essa última era responsável pela nossa atual incapacidade de apreender a natureza fluida da realidade primordial é indicativa dessa mesma incapacidade; nossa mente, tal como nosso próprio mundo, hoje se encontra, de muitas maneiras, “solidificadas, ossificadas e rígidas”. À parte dessa discussão, contudo, podemos começar a perceber a verdadeira natureza da Criação tal como os egípcios – bem como toda a cultura tradicional – a apreendiam: como refluxo e reflexo da realidade celestial. Como disse Platão, o inteligível é o pai; a matéria, a mãe da Criação. Não há contradição entre os vários deuses que os antigos egípcios adoravam, apesar de suas manifestações na realidade primordial.

A fim de delinear a tradição egípcia com maior clareza no tocante à Enéade primordial, devemos, todavia, voltar-nos para a doutrina tradicional da emanação, cuja natureza podemos começar a vislumbrar mediante o exame da diferença entre Rá e o Sol visível.

Os Egípcios antigos tinham plena consciência das responsabilidades divinas do homem sobre a Terra.

E ao longo do ciclo, o Sol permanece - mesmo nas trevas o Sol subsiste, navegando na “barca de milhões de anos”, trazendo consigo o espírito daqueles que “ultrapassaram a esfera da Lua” e que não obtiveram a “libertação completa”, mas uma “liberdade condicional”.

Cada animal, cada planta, cada lugar tinha um sentido sagrado, sendo em si mesmo uma revelação, uma teofania. De fato, conta-se que, quando um soldado romano matou um gato consagrado a Isis, os egípcios exigiram sua morte, tal a seriedade com quem encaravam o poder simbólico. O significado do gato residia

principalmente naquilo de que ele era manifestação - o mesmo ocorrendo com a víbora, o peixe, a coruja, o falcão, a íbis, o jumento: cada qual trazia consigo uma constelação de sentidos, tal como ocorre com cada um dos deuses.

Foi essa dimensão vertical da criação que gerou em tantas pessoas de hoje uma confusão em torno da simbologia tradicional em geral e, sobretudo da metafísica egípcia, como pode testemunhar a estranha discussão relativa, a saber, se os egípcios eram politeístas, monoteístas ou henoteístas, alegações feitas por vários estudiosos. A resposta a esse dilema está na intricada e insondável inter-relação entre o Uno e o Múltiplo, tal como a formula Plotino em sua Enéade (que leva, significativamente, esse título). O politeísmo e o monoteísmo não estão em oposição entre si: o primeiro é um aspecto deste último – e isto se chama henoteísmo (“henos”: união – “teísmo”: dos deuses), cujo melhor tradução é um princípio divino que unifica todos os deuses.

Nesse ponto, podemos começar a perceber a essência do mistério que a Enéade primordial de Heliópolis, e a própria Criação, revela: apresentar o homem de maneira perene, embora o homem moderno esteja cego e confuso, sem saber onde se encontra.

AS DUAS TERRAS

Podemos dizer, em última análise, o seguinte: as duas terras referem-se não apenas a dois locais temporais como também à terra celestial e à terra temporal, ao acima e ao embaixo herméticos. Em suma, as duas terras são o reino primordial dos deuses e o reino do homem, respectivamente. E o sol – Amon- Rá – no horizonte é a fonte da – e a própria – unidade primordial contida nelas refletida na tradição, no rei e no individuo: Ele é o eixo dos mundos.

Em que consistiam elas? Para essa questão, podemos encontrar várias repostas simultâneas; todos lançam luz sobre a complexidade dessa antiga tradição. Porque parece que não apenas o Egito como um todo era um reflexo da Realidade Celestial, como o próprio Egito dividia- se de fato em duas terras – norte e sul- que refletiam, por sua vez, essa relação mais ampla como a celestialidade.

Assim é que se conhecia Hermonthis como a “Heliópolis do Sul”, havendo indício da existência de uma correlação misteriosa semelhante entre as outras cidades do alto e do baixo Egito. As cidades da terra alta que eram centros do Sol incluíam Tebas, Hermonthis, Coptos, Panópolis, Cause e Hermópolis Magna; na terra baixa, havia Mênfis Sais, Xois, Menfis, Dióspolis e Khemmis, a ilha. O distrito de Na formava a fronteira entre o Norte e o Sul; e, de acordo com um antigo texto “quando estavam dividindo o pais, Hórus e Seth tomaram seus lugares.”

Como resultado, podemos ver na antiga cosmografia egípcia, os três mundos incluindo o que está em cima, o horizonte, e o que se acha embaixo. Como observa W. Marsham Adams, a geografia sagrada do Egito antigo correspondia de modo preciso ao reinos dos mortos, de maneira que as quarenta e duas províncias dos reinos altos e baixos se semelhavam às quarenta e duas províncias

dos juízes dos mortos, aos deuses superiores e aos Deuses Inferiores do horizonte. E tudo isso era a razão para que, ao completar sua jornada pelos labirintos das Pirâmides da Luz e emergir iluminado, o iniciado também havia conseguido dominar e transcender todos os mundos, que tinham seu reflexo no interior das próprias pirâmides. A chave dessa transcendência repousava, na junção entre as câmeras superior e inferior da pirâmide, correspondente à cidade de Menfis, no interior do próprio Egito, que ficava no centro com relação aos dois reinos maiores.

ISIS: A GRANDE MÃE CÓSMICA QUE INSPIROU O MITO DA VIRGEM MARIA

Talvez nenhum deus ou deusa tenha merecido o culto e a celebração de tantas pessoas por todo o mundo antigo – desde as épocas mais remotas até o cristianismo – quanto o dedicado a Isis. Mesmo depois de ter “desaparecido” com esse nome, “aquela de muitos nomes” permaneceu sob a aparência da Virgem Maria. Esta assumiu, por sua vez, muitas funções que Isis cumpria em épocas anteriores. As duas são compassivas e libertadoras dos sofrimentos humanos.

Vejamos, em primeiro lugar, o mito de Isis e Rá encontrado no papiro de Turin, no qual vemos Isis chantageando o deus da luz, Rá, envenenado para que este revele seus mais secretos e sagrados nomes mágicos do poder em troca do antídoto. Isso porque, nessas histórias, podemos ver a essência primordial de Isis: ela é a mediadora entre o celestial e o terreno.

Nada há de surpreendente no fato de que Isis ocupe um lugar intermediário na teogonia egípcia, pois ela, tal como o próprio Egito na época, medeia o passado primordial e o futuro secular e materialista, estando entre o sagrado e o profano. E quanto à própria iniciação? Como diz Apuleio: “Á meia-noite, o Sol luziu em seu pleno esplendor. Eu poderia dizer mais, mas tu não o compreenderias”.

O Sol brilha a meia-noite: nisso vemos a essência do rito negro dos antigos egípcios, ou seja, da entrada na própria morte que está no cerne dos mistérios – porque “a iniciação é uma espécie de morte voluntária, que não tem senão uma ínfima chance de redenção”. De fato, não é Rá quem fica senil, mas sim o homem que se torna cego. Nesta história vemos não a senescência de Rá, mas a do próprio Egito. Assim como a cegueira de Rá é uma cegueira remediada por Isis e esta age como uma intermediária ou uma ponte entre o homem e o Sol, e

este se encontra cada vez mais cego. Em suma, Isis não difere, em termos fundamentais, do Sol; é antes uma manifestação da compaixão divina acessível ao homem numa época de declínio da fé e da sabedoria.

A partir disso, também podemos começar a ver a relação entre Isis e Néftis, sua irmã e consorte de Seth, sendo esta um reflexo e um aspecto de Isis, da mesma maneira como Isis é um aspecto de Rá.

Segundo Plutarco, Isis é aquilo que é manifesto; Neftis é, ou rege, aquilo é imanifesto. Neftis é a parte imanifesta do reino sutil, que está para além do reino temporal, ao passo que Isis é “aquela que tem asas verdes e a lua crescente”, embora inclua Neftis como um dos seus aspectos. Néftis, por outro lado, é a “sombra” de Isis; manifesta os resíduos - ou traços do mundo vivo, representando a decadência, a dissolução.

O sinal de Isis era Sothis, a estrela-cão, que representa o seu poder, já que essa estrela estava associada à subida do Nilo e ao retorno da vida a cada ano. Reforçava essa associação seu companheiro Anúbis, o Mensageiro Divino, que vive entre os reinos divinos e terreno, cuja cabeça de cão é meio negra e meio dourada, e cujo latido distingue o estranho do amigo. O nome Sothis deriva de uma trindade de Deuses: Seth, conhecido pelos gregos como Tifon, poder primordial das trevas, da ignorância, do ódio e da destruição; Osíris; e sua consorte, a própria Isis.

Assim, Isis é a principal força geradora, associada às ervas curativas e aos poderes da medicina, aos crescimentos do milho e do trigo (cujo cultivo marcou o início do próprio Egito, delineando a entrada na atual época histórica), sendo mediadora e, por assim dizer, ponto de encontro entre os deuses e o mundo temporal.

Dela é o poder auto movente da geração que tem a agricultura como manifestação exterior e as asas verdes e a lua crescente como símbolos. “A raiz do seu nome tem estreitos vínculos com a raiz egípcias “pr”, que significa “casa”, ou “lar”, sugerindo ser ela a senhora na casa dos deuses. Ela se reclina com a cabeça para baixo sobre o horizonte noturno. Ademais, um de seus nomes era Isis Pelágia: Isis, a dos mares. Dessa maneira, como Afrodite (Vênus), vemola concebida como aquela que cavalga por sobre o oceano da temporalidade. E, todavia, ela também era Gea-Mater – mãe-terra, que veio a ser, em grego, a deusa Deméter.

Entretanto, uma das mais sugestivas características de Isis é sua relação com as serpentes, ou áspides, enrodilhadas na espada, com as quais sempre foi associada, visto ser sempre, de maneira quase universal, um dos símbolos da força vital: a essência enrodilhada da própria vida que eleva a espada ao topo da cabeça.

Em sua essência, os mistérios egípcios consistem na “repetição” ou “rememoração” da criação do cosmo.

É interessante notar que outro símbolo predominante de Isis é a Vaca (Nut), não apenas porque ela é manifestação da abundância da Terra, mas porque ela é emblemática da passagem para a agricultura tradicional do Egito antigo (baseada no trigo, na cevada e no gado).

Ela, a magna mater, era portadora da cura do homem. Aquela que traz a ressurreição, aquela que vem em socorro dos sofredores e que com eles sofria, sentando-se, “humilde e debulhada em lágrimas”. Ela é o “sanctum” sempre presente da humanidade, a que abria até os portões do inferno para os penitentes.

E nesse ponto residia seu verdadeiro poder religioso, inatacável: não em seu

significado cosmológico, mas na revelação de sua misericórdia divina, de seu amor; em seu papel de quem cura e traz conforto. Era prática comum no Egito antigo dormir em seus templos e, em virtude das influências ali presentes, obter a cura ou conseguir uma visão dela (aspectos da mesma misericórdia).

OSÍRIS: A PRIMEIRA E A SEGUNDA MORTE.

Embora tenhamos dedicado alguma atenção de passagem a Osíris em nossa discussão de Ísis, é essencial abordá-lo já que ao fazê-lo não apenas compreendemos Ísis- de quem ele é inseparável- como também começamos a vislumbrar a natureza dos próprios Mistérios, de que ele e ela são, de fato, indivisíveis. Não podemos entender Ísis e Osíris separados um do outro.

Não obstante, podemos concentrar-nos em determinados aspectos de Osíris– e, sobretudo naqueles para os quais Plutarco foi o primeiro a chamar a atenção. Segundo ele, diziam alguns que Osíris não passava de outro nome para Plutão, da mesma maneira como Perséfone era outro nome para Ísis, e que “Plutão é o corpo”, ao passo que “Dionísio é alma embriagada dentro dele”. “Mas, principalmente, dizia Plutarco, Osíris significava originalmente, “sagrado” ou ‘santo” no Céu e sobre a terra.

Assim, Osíris, tal como Chiva na mitologia hindu, é um “detentor do poder” - o centro radiante, razão por que seus símbolos eram o Olho e o Cetro Real, bem como o Falcão.

Quem é Osíris? “No Hino a Osíris ele é descrito de vária maneiras: como a substância das Duas Terras e aquele que julga o céu e a terra, que dá erva verde e abundância e traz o júbilo e a alegria a todos os lugares; aquele cujas palavras são Maat, e que deu seu poder a todos os deuses”.

Muitos desses são também nomes e atributos de Ísis- e com boa razão sendo os dois aspectos um do outro. Mas o tema central permanece: Osíris é o Centrum, os Espíritos entre os espíritos, de cuja Essência Ísis é força motriz. Essa é a razão por que Osíris é visto como um juiz, já que, depois da morte, o homem não é

tanto julgado quando é juiz de si mesmo. Somos nós que, depois da morte, nos condenamos a nós mesmos; são os seres humanos que, devido à sua própria ignorância e cegueira, fogem da Luz Divina, o Sol (cujo conhecimento é Osíris), o qual é tido pela humanidade decaída à revelia, como “juiz”. Assim é que, na fala ritual dirigida a Osíris, orienta-se o morto a dizer:

Não oprimi membros da minha família [...]. Não pratiquei o mal em lugar de Maat [...]. Não causei à humanidade mal algum. Sou puro. Sou puro. Sou puro”.

Mas aqui temos o centro dos mistérios que é o drama em que Ísis ressuscita Osíris. Porque essa ressurreição do Divino redesperta o vislumbre da realidade divina que ela implica e oblitera as trevas, a confusão e a fragmentação do homem, mesmo aqui no mundo da ignorância, de maneira que, em virtude dos mistérios, transmitidos desde a própria alvorada da humanidade, o homem pode reconhecer a luz que constitui sua essência.

Portanto, Osíris não pode trazer -nem significa- a libertação num sentido definitivo, mas apenas num sentido transitório. Como diz Plutarco sobre Isis no romance de Apuleio, “tenho o poder de prolongar tua vida”. De que maneira? Ao “ressuscitar Osíris”, mediante o “desenrolar do seu poder” [de Ísis], oferecendo assim um vislumbre da realidade divina, do reino inteligível de Osíris.

Por conseguinte, diz-se que Osíris é o Senhor do Mundo inferior da mesma maneira como Rá é o senhor do mundo: Rá é para os vivos- os que habitam a realidade celestial- aquilo que Osíris é para os mortos, aqueles que habitam o mundo fenomênico ou, mais apropriadamente, os reinos sutis que infundem este último.

Osíris é Rá formam uma unidade e Osíris, na qualidade de senhor do mundo

inferior, concede a vida no reino celestial, a terra inteligível. No livro dos mortos egípcios, o falecido ora: “Possa eu ter o poder de organizar meus próprios campos em Tattu, bem com meus próprios grãos em crescimentos, em Anu [...] Que eu seja seguro e forte.”

São esses os aspectos sob o qual as práticas egípcias com relação aos seus mortos, interpretados de maneira tão errônea, ficam claras: porque a preservação do corpo dos mortos era feita não apenas para provocar a lembrança deles, como também para prolongar-lhes certos aspectos de individualidade a fim de permitirlhe purificação no reino celestial regido por Osíris, o que, a par de evitar os renascimentos na temporalidade, irradiava sua influência benéfica sobre as terras.

A destruição do corpo liberta ou oblitera certos aspectos da individualidade que, graças à preservação corporal e ao ritual concomitante, são caminhos depois da morte. As fórmulas, os rituais, as visualizações, as vestes dos ritos funerários não eram, dessa maneira, auxiliares da preservação físicos, mas as essências dos ritos.

A segunda morte.

Para complementar vale notar uma frase que se repete diversas vezes em conjugação com o nome do Deus e, em particular, com a condição póstuma da humanidade, a saber, a “segunda morte”. Devemos iluminar sua natureza, caso pretendamos captar de fato o significado da iniciação osiríaca, visto que, com efeito, a “segunda morte” é a transcendência do reino de Osíris.

A primeira porta do céu é a porta de Osíris: a segunda é a do próprio Rá, abrindo- se para as esferas celestiais. A “segunda morte” refere-se, portanto, à transcendência do reino de Osíris, bem como à passagem do morto para o reino das estrelas, as celestiais – ao passo que quem não foi iniciado neste plano, passa tão-somente para o reino de Osíris no horizonte, o reino sutil, esperando um novo voltar a viver ou uma purificação suficiente para permitir a passagem pela “segunda porta”.

Essa última “segunda morte” é esclarecida no breve tratado de Plutarco, cujo título é “Sobre o rosto que aparece no orbe lunar”. Nele, Plutarco, na pessoa de Sila, observa que o homem é um ser que existe ao mesmo tempo em múltiplos estados, consistindo este nos planos do corpo, da alma e da dianoia, correlacionados respectivamente a Terra, à Lua e ao Sol. Eis que a primeira morte, diz Sila, é a do corpo, na qual este se dissolve outra vez na terra. A segunda morte ocorre em geral depois de um período de alguma duração (de purgatório), em que as paixões da alma são decompostas, levadas ao equilíbrio e, portanto, abandonadas quando a alma se dissolve na esfera lunar e o espírito passa para a celestialidade, libertando o aspecto mais divino do homem, cuja imagem está “no Sol”.

Aqui – apenas como observação colateral - podemos ver o sentido das três

Moiras da Grécia antiga: porque Átropos governava o destino das pessoas perto do Sol; Clotó os tecia no reino da Lua, misturando-os; Láquesis, a que joga os dados, representava o poder acidental da sorte e da impermanência temporal.

De qualquer modo, podemos começar a vislumbrar, a partir dessa intrigante narração transmitida por Plutarco, o sentido daquela “segunda morte” sem a qual a pessoa fica vagando como alma sem corpo, por vezes desordenada e confusa, outras vezes em crescente harmonia, até que, neste último estado, realiza sua natureza divina, subindo da esfera sublunar para a do Sol. É essa a razão pela qual se considerava Osíris “senhor dos espíritos”: a iniciação em seu reino oferecia ao iniciado, por assim dizer, uma “segunda morte” na Terra de maneira que, quando da morte física ele na verdade era - ao menos provisoriamente – libertado, capaz de atravessar o reino sublunar e de penetrar no júbilo supra celestial de seu retorno ao lar. Também aí podemos compreender por que

Pethakoprates, o sacerdote egípcio, disse: “Fui um daqueles que previu na época em que era forte, que recordou sua morte numa época em que ele era forte”. Porque ser “forte” significava, aqui, ter atingido um alto grau de poder espiritual e perceptivo – aquele que “penetrou” a natureza da morte, da existência, da esfera supra lunar do ser e estava preparado para a morte, entendida esta como “apotheosis” (apoteose), como retorno ao Sol divino.

O SIGNIFICADO DE SETH OU TIFON

Ao iniciarmos esta discussão, referimo-nos ao amplo débito de toda a simbologia e de toda a religião ocidental para com o Egito antigo. Com efeito, num grau muito maior do que parece alcançar a percepção de qualquer pessoa, os resíduos da tradição primordial que ainda sobrevivem no Ocidente fluem diretamente do Egito, tendo sido entremeados de modo indelével na urdidura e na trama da nossa tradição judaico-cristã. Poucos são os elementos em que isso está manifesto de maneira mais evidente do que na figura de Tifon, a encarnação do mal no Egito antigo, depois renomeado das mais variadas maneiras como, por exemplo, Lúcifer ou Satanás.

Todavia, Isis e Osíris são quase inseparáveis de uma discussão de Tifon, visto ser esta parte integrante do drama da metafísica da morte, fragmentação e ressurreição de Osíris. Porque, afinal de contas, foi Tifon quem, no mito antigo, matou Osíris, espalhando seus fragmentos por todo o Egito, tendo a enlutada Isis reunido e trazido de volta à vida essas partes ao bater suas divinas asas e soprar dentro dela. Cada local em que uma parte foi encontrada tornou-se, desde então, um templo, um lugar sagrado. Segundo Sinésio, Tifon alcançou o reino do Egito antigo ao enganar Osíris, o rei por direito a quem exilou, tendo instaurado um governo tirânico, onde as “garras das bestas selvagens foram aumentadas, e a cabeça dos pássaros sagrados oprimida”. Isso significava o incitamento das paixões dos homens e, ao mesmo tempo, a redução pronunciada de sua receptividade às influências do divino. De qualquer maneira, são as seguintes as duas principais representações de Tifon de forma mítica: uma delas associava-se à realeza e a outra ao próprio mito primordial. Mas qual a sua significação e que sentido trazia para o mito? Para sabê-lo, devemos concentrar- nos antes de tudo nas etimologias.

A palavra “Tifon” vincula-se, em grego, de modo direto, a Tuplon, que significa “delusão”, “loucura”, “agitação furiosa” (da qual derivou tufão); implica uma condição de desordem e agitação corporal e mental, da qual derivou também a

palavra “tifoide”. Denota um estado de fragmentação e de dissolução física e mental – e a pequena mudança do nome Tifon para Tifos, feita por Sinésio, tinha como alvo acentuar essa implicação, mediante a inclusão da palavra “phos”, cujo sentido é “luz”.

Portanto, “Tifos” implica o obscurecimento da luz, no âmbito do cosmo e no interior do ser humano individual, sugerindo, por conseguinte, que as histórias de Tifon não se referem a alguma antiga história, há muito esquecida, mas sim a nós mesmos, na medida em que a luz que há dentro de nós permaneça oculta. O drama celestial representado pelo triunfo de Tifon sobre Osíris é recapitulado, em consequência, em todo indivíduo. Temos aqui a forma primordial e arcaica do mito da caverna que Sócrates tão bem desenvolveu nas obras de Platão.

Aí reside o verdadeiro significado dos mitos antigos, cuja compreensão correta não pode prescindir de uma perspectiva que considere tanto o interior como o exterior, em cima e embaixo, o presente e o futuro tal como o passado. Nossa vida é um reflexo dos antigos mitos e é um desafio vê-la dessa maneira.

De acordo com Plutarco, “Tifon” ou “Seth” significam um “abalo ou retrocesso violentos”, bem como “violência”, referindo-se os dois sentidos à significação cosmológica de Tifon, como princípios de desarmonia, de oposição violenta, de destruição na qualidade de elementos que se opõe à luz, bloqueando-a.

Outros animais associados a Tifon eram o crocodilo, o javali, o porco e, em especial, o asno vermelho, que devem ser contrastados com os animais celestes: o falcão de Osíris, os cães de Anúbis e de Hermes, a íbis de Toth, o gato de Isis; são todos criaturas que caçam. Os animais de Tifon, pelo contrário, são os caçados, mas têm como características as qualidades da rebelião e da violência (o crocodilo), das paixões (o porco) e da intratabilidade e ignorância (o asno).

A relação entre Tifon e a serpente também é reveladora, porque, como vimos, o poder positivo da serpente é kundali, simbolizado pela áspide sagrada de Ísis. E, todavia, no tocante a Tifon, a serpente significa o logro: a imagem invertida da serpente divina da Criação, representando, em vez disso, o frio, a escuridão, a umidade maligna distante do sol divino.

A natureza de Tifon, Plutarco a explicitou, dizendo:

“Tifon é os aspectos passional, titânico, irracional e impulsivo da alma, ao passo que, do lado corpóreo, é aquele que lida com a morte, pestilento e perturbador, que exibe momentos inconvenientes, uma atmosfera imoderada e ocultamentos do Sol e da Lua”.

Seth ou Tifon significam não apenas constranger pela força, como também “virar de ponta cabeça” e “passar por cima”.

Assim sendo, Tifon indica desordem na esfera sublunar- a própria antítese de Maat, o divino princípio da harmonia e da ordem. Talvez seja mais significativa a expressão “passar por cima”, que implica a tentativa de controlar, dominar, rebelar-se, procura o lugar de Deus. Não é sem razão que Satanás é chamado “o imitador de Deus”.

PARTE III - DEUSES EGÍPCIOS E SÍMBOLOS

A BELEZA DOS NÚMEROS NA GEOMETRIA SAGRADA EGÍPCIA

DECIFRANDO OS HIERÓGLIFOS: SEU SIGNIFICADO E FUNÇÃO.

Do grego:

Hierós = Sagrado

Glyphós = Escrita

Os Hieróglifos eram um meio de comunicação e registro da cultura egípcia. Apenas os sacerdotes, membros da alta realeza e escribas sabiam utilizar a escrita sagrada.

Foram inventados cerca de 7.000 sinais, podendo representar uma palavra, uma ideia, uma letra ou um conjunto de letras, cuja combinação pode trazer diferentes significados.

Os escribas e oficiais usavam a escrita para anotar tudo o que era necessário para governar o país e registrar a cultura egípcia.

A Evolução da Escrita:

Para facilitar a escrita no cotidiano, os egípcios desenvolveram a escrita rápida, chamada de HIERÁTICO.

Essa escrita permitia traçados mais rápidos e descuidados.

Hieróglifo:

Hierático:

Na região do Delta, a partir da Dinastia XXVI, o Hierático tornou-se mais cursivo, dando origem ao DEMÓTICO.

Neste período a língua já convivia com o grego e o latim, através da presença romana.

Demótico:

Trecho em demótico na Pedra de Roseta.

A partir do século II d.C., com a chegada do cristianismo, os escritos egípcios foram considerados pagãos e seu uso foi proibido.

Surgiu, então, uma escrita que mesclava o alfabeto grego com os signos egípcios, o COPTA.

Alfabeto Copta:

Como a Escrita Sagrada foi descoberta e decifrada?

Em 1799 d.C., uma expedição de Napoleão, próximo a Alexandria, encontrou uma estela de basalto com inscrições, chamada Pedra de Roseta.

Percebendo sua importância, Napoleão encaminhou a estela para o linguista francês Jean-François Champollion, que decifrou seu significado.

A Pedra de Roseta contém um decreto de Ptolomeu V Epifânio, escrito em 3 línguas: hieróglifo, demótico e grego.

Champollion tinha seu método baseado em 3 intuições geniais:

1 - A língua Copta representava o estágio final da língua egípcia antiga;

2- Os Hieróglifos tinham um valor misto, tanto ideográfico quanto fonético;

3 – Os Hieróglifos em cartuchos transcreviam foneticamente os nomes dos faraós.

Na Pedra de Roseta, Champollion relacionou os sinais que transcreviam o nome de PTOLOMEU.

Como ler e escrever Hieróglifos?

Os Hieróglifos eram escritos na horizontal e vertical, da direita para a esquerda e da esquerda para a direita.

Sentido da leitura: da direita para a esquerda, de cima para baixo.

A escrita hieroglífica é fonética e ideogramática.

Ou seja, os hieróglifos podem representar uma letra, um som e/ou uma ideia.

Uma transliteração dos hieróglifos para o nosso alfabeto atual encontra-se no painel ao lado.

Os determinativos são hieróglifos que representam ideias.

Eles possibilitam que a mesma palavra tenha significados diferentes!

A palavra “NAA” pode significar:

Desenhar ou colorir

Navegar rio abaixo

O desenho da paleta dos escribas e o desenho do barco, colocados ao final da palavra, transmitem significados bem diferentes!

A palavra “THENF” pode significar:

Beber

Dançar

O desenho de um homem dançando e o desenho de 3 ondas de água, transmitem os significados diferentes!

Os nomes das pessoas da nobreza ou que ocupassem cargos muito elevados eram escritos dentro de figuras denominadas cartuchos, para diferenciá-los dos nomes das pessoas comuns e ficarem destacados nos textos.

A forma mais comum do cartucho é oval, circundada pelo nó de Neith .

A forma do cartucho simbolizava o percurso solar pelo universo.

Representava a eternidade do faraó.

Para se tornar um escriba, um egípcio iniciava seus estudos entre os 7 e os 10 anos de idade. E os concluía por volta dos 20 anos.

Os escribas levavam consigo caixas de madeira ou bolsas de couro com a paleta, os cálamos, os godês de água, as tintas e os suportes.

As tintas eram feitas com ingredientes naturais.

Os ingredientes eram misturados com uma solução fraca de cola, gelatina, cera ou clara de ovo, de forma a endurecerem ao secar.

Cor e seu Ingrediente Natural

Preto – carvão ou fuligem

Vermelho – ocre vermelho finamente moído

Branco – carbonato ou sulfato de cálcio

Azul e verde – combinação de sílica, cobre e cálcio

ALFABETO EGÍPCIO

EXEMPLOS DA ESCRITA EGÍPCIA

NUMERAÇÃO EGÍPCIA

SÍMBOLOS RELIGIOSOS EGÍPCIOS

O escaravelho: o voltar a viver.

O olho de Hórus: a luz da vida.

O papiro: o registro do eterno.

OUTROS SÍMBOLOS EGÍPCIOS

Ua: o fio da vida.

Kheper: o voltar a viver.

Ankh: a chave da vida.

An: a fertilidade - milagre dos peixes.

Shu: a leveza do coração.

Un: a leveza do corpo.

Bat: o canto de viver.

Ra: a luz divina.

Men: a razão.

Ur: a elevação.

Ka: a ambiguidade da existência.

Mer: a determinação do destino.

Ba: a busca de si mesmo.

Gem: o encontro de si mesmo.

Ab: o saber se bastar.

Pa: o voo da juventude.

Up: a superação da força bruta.

Su: a dádiva da natureza.

Nefer: a música; linguagem dos deuses.

Sha: a escrita sagrada; o papiro.

A FERTILIDADE E GAIA: A MÃE CÓSMICA.

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ANK: A CHAVE DA VIDA E SEUS SÍMBOLOS E SIGNIFICADOS.

PARTE IV SIGNIFICADO DOS DEUSES

Note-se que, ao longo dos milênios, houve transformações e sincretismos tanto em seu significado, como na sua manifestação.

Tentamos aqui traçar uma síntese dos significados e funções que mais se evidenciaram ao longo desses milênios.

OS PRINCIPAIS DEUSES DO EGITO E SUA HIERARQUIA (Segundo o egiptólogo

Divindade fundamental que consagrou o henoteísmo egípcio. É um sistema de hierarquização das divindades, onde existe um deus primordial onisciente e onipotente, mas que distribui esta onisciência e onipotência em suas manifestações de divindades a seu serviço. Esta divindade recebeu várias denominações, a saber: Atum (ou Aton), Amon-Rá (ou Rá) ou Ptha.

Atum, também conhecido como Aton, é o mais antigo dos deuses segundo a tradição egípcia. É chamado de deus divino, aquele que criou a si mesmo, aos deuses e aos homens. É ainda aquele que expandiu os céus, aquele que iluminou Tuat com seus olhos, ou seja, o sol e a lua. Simboliza a eternidade, pois já existia quando nada existia; nem o céu, nem a terra, nem os deuses, nem os homens, e nem a morte.

Não se menciona de que forma existia, tendo criado para si mesmo um lugar como moradia – a grande massa das águas celestes que os egípcios nomearam Nun. Aí viveu por longo tempo completamente só, mas com seus esforços consolidou a Criação.

Thot, que é a inteligência ou o espírito de Aton, transformou em palavras as ideias e essências da criação e quando proferiu estas palavras tudo começou a existir.

A Grande Ordem dos sacerdotes de Anu em Heliópolis colocou Aton à frente da assembleia dos deuses e já na época da IV dinastia transformaram Rá, o deus do sol, no usurpador de seu lugar, poderes e atributos. Aton passou a ser representado como o deus do sol ao entardecer e do princípio na noite.

Nun é o nome de se deu à grande massa de água que estaria nos céus. Constituía

a parte material de Aton, criador do universo, dos deuses e dos homens. Nesta massa, cuja profundidade é insondável e sua extensão ilimitada, se encontram os germes de toda a vida e de todas as espécies de vida. A massa aquática seria uma imagem do grande oceano cósmico.

De Nun saia um rio que corria através de Tuat (o outro mundo), dividindo-o em duas partes numa forma que pareceria o Egito. As águas de Nun formavam a morada de Aton, de onde provinha o sol - resultado de um dos primeiros atos de sua criação.

Os primeiros habitantes do Egito acreditavam que o sol navegava sobre as águas de Nun em duas barcas mágicas. O sol avançava na primeira durante a manhã do dia, terminando na segunda.

Também chamado Rá, é o nome dado pelos antigos egípcios ao deus Sol, mas os significados da palavra são desconhecidos. Foi o primeiro ser criado por Aton a partir das Águas Celestes de Nun, sendo considerado o emblema visível de Deus. É o maior dos deuses desse mundo.

Os sacerdotes de Rá proclamavam ter em seu corpo o sangue de Rá e que eram descendentes diretos de Rá concebidos por mães mortais. A crença que Rá descia do céu e se unia a uma mulher mortal, e que todo faraó do Egito era fruto desta união se manteve durante milhares de anos. Rá era adorado nos imensos templos consagrados ao sol - construídos na maioria por faraós da V dinastia. Construíram também os obeliscos coroados por uma pirâmide.

Era chamado “O senhor da Vida”.

A tradição local dizia que ele era o criador do universo, sendo considerado um dos maiores deuses de Mênfis – a capital do antigo império.

Era também identificado com Aton e com Rá, sendo chamado “o deus grandioso que já excedia nos primórdios”, o pai dos pais, o pai do princípio, o criador do ovo cósmico, do sol e da lua. O Senhor de Maat, o deus que pelo rosto criou a sua própria imagem e pelo corpo finalmente criou o disco dos céus que ilumina todo o Egito com todos os seus olhos.

Maat manifesta-se ora como uma deusa, a consorte de Ptah, e outras vezes como os “senhores de Maat”, que são os assistentes do homem em seu julgamento pósmorte, função que também é de Osíris. Maat também se identifica com a verdade, a ordem e a harmonia, o equilíbrio, a lei, a ética e a justiça.

Chu ou Shu

É o primogênito de Aton-Rá. Representava a luz, e o mito conta que levantou o céu (Nut ou Neit) e o separou da terra (Keb ou Geb). Era representado na forma de um homem tendo na cabeça uma ou várias plumas e tendo na mão um cetro.

Simbolizava a luz da sabedoria e a leveza da alma digna e nobre com a pena.

Tefnut (também conhecida como Tefnet) é a deusa que personificava a umidade e as nuvens na mitologia egípcia. Tefnut simbolizava generosidade e também as dádivas e enquanto Shu afasta a fome dos mortos, ela afasta a sede.

Irmã e esposa de Shu, formava com ele o primeiro par de divindades da Enéade de Heliópolis.

Keb ou Gueb

É filho de Chu e Tefnut e esposo de Nut. De sua união nasceram Osíris, Isis, Set e Néftis.

É o deus da terra, simbolizando a matéria.

Era considerado o cuidador das árvores, das plantas e das sementes e de seu plantio. Cuidava também dos corpos enterrados, sendo responsável por levá-los ao julgamento de seu coração frente à pena de Anúbis e Toth.

Deusa da fertilidade, é a grande mãe-terra que tudo fornece. Sua púbis e os seus seios fornecem e são o alimento da vida.

Era considerada como o céu se relacionando com a terra, sendo um símbolo de fertilidade desta união. Seu maior papel, no entanto, era o de grande mãe e doadora da fertilidade da vida. Era das mais reverenciadas da grande Enéade, sendo representada mais do que todos os outros deuses nas cenas dos túmulos.

Segundo a tradição de Heliópolis, é filho de Geb e de Nut. Casou-se com sua irmã Isis e dessa união nasceu Hórus. É o deus do passado e do hoje representando a eternidade. Com o tempo, converte-se tanto em deus dos mortos como em deus dos vivos.

Mas seu papel principal é o de deus dos mortos, sendo ele escolhido como o modelo que o defunto almejava alcançar quando mumificado. Seguindo as fórmulas prescritas e celebradas pelos sacerdotes nas cerimônias apropriadas, seu corpo assim glorificado se apresentaria perante Osíris no céu.

Seria a ele, na qualidade de Senhor da verdade e de Senhor da eternidade a quem o morto pediria que fizesse germinar sua carne e que preservasse seu corpo. Lemos em “O livro dos Mortos”, cap. CLV: saúdo-te, pai Osíris: Vim para que faças germinar esta carne minha. Que meu corpo não pereça.

É a esposa de Osíris e mãe de Hórus. Era denominada como a grande deusa, como a mãe divina e a senhora das palavras poderosas e dos encantamentos. O animal que encarnava era a vaca e por essa razão muitas vezes aparece com chifres ornando sua cabeça.

Está também associada com a estrela Sothis e por isso leva também uma estrela na sua coroa. Era geralmente representada como mãe amamentando seu filho Hórus.

É filho de Geb e de Nut e esposo de sua irmã Néftis.

No início Set representava a escuridão e a noite e até mesmo o deserto, sendo o oposto de Hórus. Eram aspectos ou formas opostas do mesmo deus e às vezes se representavam as cabeças de Set e Hórus sobre um mesmo corpo.

Recebeu o papel da ovelha negra na genealogia dos deuses, pois é a ele que se atribui o despedaçamento de Osíris e por isso mesmo foi considerado o deus do mal, tendo seu santuário e imagens destruídos em muitos locais do Antigo Egito.

Néftis é irmã e esposa de Seth.

Embora Néftis seja muito mencionada nos antigos escritos, ela não parece ter sido objeto de grande culto. Como resultado disso, poucas coisas e poucos mitos podem ser encontrados diretamente relacionados a ela.

No entanto, Néftis tinha um papel importante no culto de Osíris, estando a ele intimamente relacionada, pois existe mesmo a especulação de que Anúbis nasceu deste caso e não era filho de Seth de modo nenhum.

Hórus (filho de Isis e Osíris)

Era chamado de Hórus, o menino, e se converteu no vingador de seu pai.

No texto das pirâmides, o morto se identificava com Hórus e há uma referência ao fato de o deus ser sempre representado com um dedo na boca.

Hórus (o deus-sol)

No princípio, o deus-sol Hórus se distinguia do deus Hórus, filho de Isis e Osíris, mas muito cedo os dois deuses foram fundidos e os atributos de um foram conferidos ao outro.

No início, era vista como um deus celeste, sua representação visível era o falcão e suas principais formas eram:

Hórus, o grande, ou Arueris.

Hórus, o menino ou Harpócrates.

Hórus, o de dois olhos (ou seja; o sol e a lua).

Hórus, o de Ouro.

Hórus, o de dois Horizontes.

Hermakhis, sendo a esfinge sua imagem sobre a terra.

Hórus, o unificador do norte e do sul.

B – OUTRAS DIVINDADES ESSENCIAIS PARA A LIGAÇÃO DOS HOMENS COM OS DEUSES (Segundo o egiptólogo W. Budge)

Anpu ou Anúbis é o deus chacal, filho de Seth e Néftis, e trás em uma das mãos a chave da vida e em outra o garrote com a foice do outro lado, que extermina aquele que não merece voltar a viver. É ainda aquele que segura a balança que pesa o coração do morto com relação à pena da eternidade.

É o deus dos mortos por excelência, preparando a mumificação.

Usualmente é representando em forma canina ou de chacal, sendo o guardião da múmia das forças do mal que imperam na noite.

Seu grande senhor, no entanto, era Osíris, com quem conduzia a pesagem do coração no hall do julgamento divino, frente aos deuses.

Thot representava a inteligência divina, que no momento da criação expressou suas palavras mágicas e que, uma vez pronunciadas, se transformaram nos objetos do mundo material.

Criou a si mesmo e era o grande deus da terra, do ar, do mar e dos céus – ou seja, dos quatro elementos. É ainda o escriba dos deuses, e como tal era considerado como o criador de todas as artes e de todas as ciências conhecidas pelos egípcios.

Alguns dos seus títulos eram:

Mestre da escrita;

Mestre do papiro;

Orador poderoso;

Aquele cuja língua é doce e criadora.

As palavras e as frases que ele recitava a favor do morto preservavam-no da influência das forças hostis do outro mundo.

Finalmente, é o deus da retidão e da verdade.

O deus crocodilo Suchos era especialmente reverenciado no templo de Kom Ombo, também dedicado a esta divindade sob o nome de Haroeris.

Muitos crocodilos mumificados foram encontrados neste templo.

Aparece como um deus misericordioso por mais estranho que isso nos possa parecer para a forma de um deus crocodilo, mas ele representava o animal que limpava e eliminava as víboras que infestavam as margens do Nilo por ocasião das cheias a cada ano.

Apis tinha enorme importância entre os touros sagrados do Nilo.

Era originariamente um símbolo de fertilidade, mas outros atributos lhe foram acrescentados ao longo dos milênios.

O centro de seu culto estava em Mênfis e ela foi incorporada ao deus Osiris, originando a divindade “Serapis”, do original Osíris-Apis.

Apis era também uma divindade mortuária, pois trazia de volta à vida.

APÊNDICE

PROCEDIMENTOS PARA A MUMIFICAÇÃO. DESIDRATAÇÃO

Os corpos e órgãos eram tratados com natrão, um sal mineral comum na região. COLOCAÇÃO DAS ATADURAS

As faixas de linho que envolviam os mortos eram banhadas em resina e goma PROCEDIMENTOS DE LAVAGEM

Fígado, estômago e intestinos eram lavados diversas vezes antes de serem envasados TRATAMENTO DOS ÓRGÃOS E OS CANOPOS

As vísceras eram cuidadosamente retiradas e colocadas em jarros de barro, chamados canopos. Eles eram guardados nas tumbas próximo aos sarcófagos. As tampas reproduziam imagens sagradas

OS PAPIROS MÉDICOS

Os conhecimentos eram registrados por meio de relatos e desenhos em documentos chamados papiros médicos. Tais registros indicavam que os médicos egípcios se dividiam em especialidades. Durante a mumificação os papiros usados eram aqueles que continham trechos das orações encontradas no Livro dos Mortos

PREPARAÇÃO DO CORPO

Os métodos mais sofisticados de mumificação previam a retirada das vísceras antes do início do enfaixamento do corpo. A extração acontecia por meio de cortes precisos, feitos por lâminas afiadas que deram origem a alguns instrumentos cirúrgicos contemporâneos, como o bisturi. O cérebro costumava ser extraído pelas narinas. Graças a essas incisões é que os egípcios conheceram o interior do corpo humano

OS BANHOS AROMÁTICOS

Antes de enfaixar os mortos, os egípcios costumavam besuntar o cadáver com óleo perfumado. As faixas de linho engomadas eram colocadas primeiro na cabeça, depois nas mãos – respectivamente na direita e na esquerda – nos pés, primeiro no direito e posteriormente no esquerdo, e só depois nas outras partes do corpo. Uma múmia podia ter até 20 camadas de tiras de pano sobrepostas

O CHACAL SAGRADO A espiritualidade do ritual era garantida por um sacerdote usando uma máscara do deus Anúbis

TABELA CRONOLÓGICA (ATÉ O FIM DO NOVO IMPÉRIO)

Costuma-se dispor os reis em dinastias. A I e a II dinastias abrangem o começo do Período Dinástico. Segue-se depois o Antigo Império, da III à VI Dinastias. Sucede-se o que agora é reconhecido como o Primeiro Período Intermediário, seguido pelo Médio Império; depois, o Segundo Período intermediário, e o novo Império, que se encerra com a queda da XXI Dinastia.

Começo do Período Dinástico

I Dinastia União do alto e baixo Egito numa única nação,

Aprox. 4 a 3700 a. C. com a capital em Mênfis.

Escrita primordial.

Formação do ritual e do calendário conhecido. Deus Supremo: Hórus como Falcão.

Dinastia O sul e o norte se separam.

Aprox. 2850 a. C. O reino do sul adota Seth como emblema.

Dinastia Restabelecimento do reino unido Aprox. 2780 a. C. construção da primeira fase da teologia Heliopolitana.

Data presumível do desenvolvimento das Lendas de Osíris

Reis sepultados em pirâmides escalonadas Deus supremo: Aton.

Dinastia Era da Grande Pirâmide; concentração Aprox. 2600 a. C. absoluta do poder nas mãos da família real Realizações máximas de arte e arquitetura Deus Supremo: Atum ou Ra.

V e VI Dinastia Os sumos sacerdotes de Heliópolis ampliam Aprox. 2500 a.C. o seu poder

Declínio do poder real e inicio do feudalismo Propaganda do culto de Osíris. Textos das Pirâmides.

Primeiro Período Intermediário

VII a X Dinastia Anarquia, seguida do aparecimento de um Aprox. 2250 a. C. Reino em Heracleópolis e um poder rival em Tebas. Intensa atividade literária Primitivo Textos Funerários.

Médio império

XI a XIII Dinastia Poder tebano vitorioso. Reunificação do Aprox. 2050 a. C. Estado reorganização da monarquia. Fim do Feudalismo desenvolvimento de relações com Ásia e Creta deus Supremo: Amun.

Segundo período intermediário

XIV a XVII Dinastia Os hicsos são expulsos. Restauração da lei nativa Aprox. 1750 a. C.

O Egito torna- se belicoso e imperialista, o Estado mais rico do mundo civilizado

O clero de Amon no auge do poder e influencia o desenvolvimento da teologia de Amon como espírito Universal

Rebelião contra o amunismo por Akhenaton, Em favor de um conceito monoteísta do sol Visível.

XIX a XXI Dinastia Restauração do amunismo

Aprox. 1320 a. C. segundo período de guerra imperialista.

Avanço do Egito para o norte, cortado pelos Hititas

Presença dos israelitas na palestina Invasões dos povos do mar repelidas Atividade Literária: contos e poemas de Amor.

Fusão da igreja de Amon com o Estado.

BIBLIOGRAFIA: ABC DA MITOLOGIA EGÍPCIA

Apollodórou: Bibliothéke; Atenas, Ed. Afon Tolidi O. E., 1984.

Platão: Diálogos-Menon, Simpósio, Fedro; Rio de Janeiro, Ed. de Ouro, 1974.

Hermes Trimegistos: Corpus Hermeticum - A Tábua de Esmeralda; São Paulo, Ed. Mircea Eliade: Mito e Realidade; São Paulo, Ed. Perspectiva, 1986.

Mircea Eliade; História das crenças e das religiões; 6 vols.

Joseph Campbell: As Máscaras de Deus; São Paulo, Ed. Palas Athena, 1992. Édouard Shuré: Os Grandes Iniciados (8 vols.); São Paulo, Martin Claret Ed. 1987.

Vários autores: Revista - La Puerta: Egipto-madre de toda la Tradición; Barcelona, Ed. Obelisco, 1992.

H. P. Blavatsky: A Doutrina Secreta (6 vols.); São Paulo, Ed. Pensamento, 1989. Viktor D. Salis: Édipo: Messias ou Complexo? São Paulo, Edição do Autor, 2002.

T. Rundle Clark: Mitos e símbolos do antigo Egito; São Paulo, Hemus Ed. 1993.

Manfred Lurker: The Gods and symbols of ancient Egypt; Cairo, American University Press Ed. 1995

Byron E. Shafer: As religiões no Egito antigo; São Paulo, Nova Alexandria Ed. 2002. Wallis Budge; O livro Egípcio dos mortos; Routledge & Kegan Ltd. 1923.

Viktor D. Salis; Iniciação e metamorfoses; v. VII, áudio livro; São Paulo, Ed. do autor, 2012

Sobre o mito da Atlântida; v. VIII, áudio livro. 2012.

As escolas dos mistérios da Grécia e do Egito; V. 15, áudio livro.2012.

SOBRE O AUTOR

Psicopatologia Depressão – Síndrome do pânico

Doenças autoimunes; neuromusculares UNIFESP – Professor colaborador Mitologia - Psicoterapia Mítica www.viktordsalis.com.br

Facebook: Viktor David Salis Link: Edições Viktor D Salis Instagram: @viktorsalis

E-mails: [email protected] [email protected]

Tels: 11-3337-3356; WhatsApp: 11-99633-6245;

Breve curriculum e histórico

Nasceu em Atenas, Grécia.

Formou-se em Psicologia em 1971 pela PUC/SP.

Em 1973, iniciou seu primeiro doutorado em Epistemologia Genética com Jean

Piaget, no Instituto de Epistemologia Genética, em Genebra, Suíça.

Em 1977, completou seu primeiro doutorado na Université Sorbonne, em Paris, França, com o título “O desenvolvimento ético e social da criança e do adolescente”.

Em 1981, iniciou seu segundo doutorado em Fenomenologia dos Mitos com Igor Caruso, na Universidade de Salzburgo, Áustria.

Em 1985, completou seu segundo doutorado na Université Sorbonne - École Pratique des Hautes Études, em Paris, França, com o título “A ética dos mitos da Paidéia na formação do homem grego na Antiguidade”.

Dedica-se ao estudo das tradições e mitos das antigas civilizações gregas, egípcias, judaico-cristãs, caldaicas e orientais, para trazer para os dias atuais, a sabedoria, a ciência e a filosofia do melhor dos ensinamentos milenares, que formam a base da nossa educação e cultura.

Por conhecer bem o grego antigo e o moderno, estuda e trabalha com os textos originais, dispensando as traduções e as adaptações.

Domina ainda o inglês, francês, espanhol e lê o latim e o grego antigo.

Escreveu até o momento mais de 50 obras na área de educação – Paideia, mitos e tradições arcaicas. Escreve ainda peças de teatro baseadas nos mitos.

Atua na área da saúde e da educação, buscando recuperar o ideal helênico de formar o “homem-obra de arte, ético e criador”.

É professor colaborador da UNIFESP – Escola Paulista de Medicina – no Departamento de Neuropatologia Muscular.

Participa do Otium - Laboratório de Estudos de Ócio, Trabalho e Tempo Livre, da UNIFOR – Universidade de Fortaleza, coligada com a Universidade de Deusto – Espanha e Universidade de Aveiro - Portugal.

Trabalha como terapeuta num processo que denomina “Terapia Mítica”, que busca o conhecimento de si e do outro através dos mitos arcaicos e permite abrir as portas para a compreensão e a evolução do ser humano, conferindo-lhe o seu sentido cósmico.

Orientação de teses de doutorado e mestrado em diversas universidades do Brasil.

Conferências, palestras e cursos em inúmeras instituições, no Brasil e no exterior.

Realiza trabalhos de treinamento em empresas, para o desenvolvimento ético e criativo de talentos e potenciais.

PUBLICAÇÕES – 2022-23

LIVROS SATTVA EDITORA

1. ÓCIO, CULPA E EXISTÊNCIA: UMA TRAGÉDIA JUDAICO-CRISTÃ.

1ª edição. São Paulo, Sattva Editora, 2018.

2. ÉDIPO: MESSIAS OU COMPLEXO?

5ª edição. São Paulo, Sattva Editora, 2017.

3. PAIDEIA NOS 12 TRABALHOS DE HÉRCULES: CAMINHOS PARA FORMAR UM JOVEM ÉTICO E CRIADOR.

4ª edição. São Paulo, Sattva Editora, 2017.

4. A CRIAÇÃO SEGUNDO A MITOLOGIA GREGA.

3ª edição. São Paulo, Sattva Editora, 2017.

5. EDUCAÇÃO ATRAVÉS DA MITOLOGIA GREGA: PARA FORMAR JOVENS ÉTICOS E CRIADORES.

2ª edição. São Paulo, Sattva Editora, 2017.

6. EROS E PSIQUÊ: A ARTE DO ENCONTRO.

2ª edição. São Paulo, Sattva Editora, 2017.

7. ÓCIO CRIADOR X GANÂNCIA: RAZÕES MILENARES PARA NOSSA CRISE ÉTICA E ECONÔMICA.

5ª edição. São Paulo, Sattva Editora, 2017.

LIVROS EDIÇÕES VIKTOR D. SALIS:

8. PROJETO PAIDEIA: FORMAÇÃO DE EDUCADORES PARA UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO DA CRIANÇA A PARTIR DA DESCOBERTA E REALIZAÇÃO DE SEUS TALENTOS NUM PLANO ÉTICO E CRIADOR.

2ª edição. São Paulo, Edições Viktor D. Salis, 2015. ISBN: 978-85-902910-6-0

9. PROMETEU E PANDORA: A CRIAÇÃO DOS HOMENS.

1ª edição. São Paulo, Edições Viktor D. Salis, 2015. ISBN 978-85-919552-1-3

10. OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES: PARA A EDUCAÇÃO DA ÉTICA E DOS TALENTOS ONTEM, HOJE E SEMPRE.

1ª edição. São Paulo, Edições Viktor D. Salis, 2015. ISBN 978-85-913480-9-1

LIVROS EDITORA NOVA ALEXANDRIA

11. MITOLOGIA VIVA: Aprendendo com os deuses a arte de viver e amar.

Ed. Nova Alexandria, 2003. 5ª Edição

12. ÓCIO CRIADOR, TRABALHO E SAÚDE: Lições da Antiguidade para a conquista de uma vida mais plena em nossos dias.

Ed. Nova Alexandria, selo Claridade, 2004.

13. USE A CABEÇA E O CORAÇÃO: Na escola, uma palestra sobre Mitologia Grega agita a turma! Coleção viagem literária

Ed. Nova Alexandria – 2007.

LIVROS DE OUTRAS EDITORAS:

14. VIDA MORTE E DESTINO: Sobre o sentido da existência. Ed. Companhia Ilimitada- 1992.

ESGOTADO

15. ÓCIO PARA VIVER NO SÉC. XXI.

Organizadores: Manuel Cuenca e J. Clerton Martins – vários autores. Ed. As Musas, 2008.

ESGOTADO

16. ENSAIANDO UMA EPISTEMOLOGIA SOBRE OS TERMOS ÓCIO E TRABALHO. “In”: O ÓCIO NAS CULTURAS CONTEMPORÂNEAS: TEORIAS E NOVAS PERSPECTIVAS EM INVESTIGAÇÃO. Organizador: J.

Clerton Martins e Maria Manoel Baptista – vários autores. Coimbra: Ed. Grácio Editor, 2013. p. 23.

ISBN 978-989-8377-47-0

17. O SENTIDO DA VIVÊNCIA O ÓCIO EM ARISTÓTELES. “In”: REVISTA

DE HUMANIDADES: Vários autores. Humanities Journal. Fundação Edson Queiroz, Universidade de Fortaleza, dezembro de 2010. p. 272.

ISSN: 1414-042X

AUDIOLIVROS

18. SÉRIE INICIAÇÃO E MISTÉRIOS VOLUME 1:

DAIMON: O GÊNIO IMORTAL QUE NOS HABITA. OS ORÁCULOS E O ENIGMA DA ESFINGE.

10 seminários. 12h.

1ª edição. São Paulo, Editora Viktor D. Salis, 2012. ISBN 978-85-913440-2-4

19. SÉRIE INICIAÇÃO E MISTÉRIOS: VOLUME 2

A CRIAÇÃO SEGUNDO A TEOGONIA DE HESÍODO. DO CAOS ÀS ERAS CÓSMICAS.

A HIERARQUIA DOS DEUSES E OS MISTÉRIOS.

17 seminários. 16h e 56’.

ISBN 978-85-913480-4-5

20. SÉRIE INICIAÇÃO E MISTÉRIOS: VOLUME 3.

A EVOLUÇÃO E O VOLTAR A VIVER ATRAVÉS DAS

METAMORFOSES E DAS METEMPSICOSES. A FUNÇÃO DAS MUSAS.

11 seminários. 11h e 12’.

2ª Edição. São Paulo, Editora Viktor D Salis, 2012. ISBN 978-85-913480-3-9

21. SÉRIE INICIAÇÃO E MISTÉRIOS: VOLUME 4. A LOUCURA E A CRIAÇÃO.

LOUCURA, PAIDEIA E DESVARIO

A loucura que destrói e a loucura que recria e abre portas para a criação.

seminários. 12h e 12’.

2ª Edição. São Paulo, Editora Viktor D Salis, 2012. ISBN 978-85-913480-1-5

22. SÉRIE INICIAÇÃO E MISTÉRIOS: VOLUME 5

A FUNÇÃO DO HERÓI NO PENSAMENTO ARCAICO,

O ENTUSIASMO E A PAIXÃO DE VIVER: O PATHOS E O EROS.

Sobre a função do mítico-erótico no cotidiano arcaico e moderno. seminários. 12h e 7’.

2ª Edição. São Paulo, Editora Viktor D Salis, 2012. ISBN 978-85-913480-2-2

23. SÉRIE INICIAÇÃO E MISTÉRIOS: VOLUME 6

DIONÍSIO: DEUS DO VINHO, DO ÊXTASE E LIBERTADOR.

O BODE EXPIATÓRIO QUE MORRE PARA SALVAR O OUTRO. A ORIGEM DA PÁSCOA E OS ALIMENTOS SACROS. DOENÇA E SAÚDE.

11 seminários. 11h e 12’.

2ª Edição. São Paulo, Editora Viktor D Salis, 2012. ISBN 978-85-913480-0-8

24. SÉRIE INICIAÇÃO E MISTÉRIOS: VOLUME 7 INTRODUÇÃO À SABEDORIA ARCAICA: INICIAÇÃO E METAMORFOSES.

7 Seminários. 4h.

2ª Edição. São Paulo, Editora Viktor D Salis, 2012. ISBN 978-85-913440-5-5

25. SÉRIE INICIAÇÃO E MISTÉRIOS: VOLUME 8 SOBRE O HERÓICO MASCULINO E FEMININO:

EM ELECTRA E ORESTES; NA ILÍADA E NA ODISSEIA. SOBRE O MITO DA ATLÂNTIDA.

8 seminários. 7h e 54’.

2ª Edição. São Paulo, Editora Viktor D Salis, 2012. ISBN 978-85-913440-4-8

26.SÉRIE INICIAÇÃO E MISTÉRIOS: VOLUME 9

SOBRE CULPA E EXISTÊNCIA: MISTÉRIOS, METAMORFOSES E A FUNÇÃO DO HEROICO.

6 seminários. 5h e 45’.

2ª Edição. São Paulo, Editora Viktor D Salis, 2012. ISBN 978-85-913440-3-1

27. SÉRIE INICIAÇÃO E MISTÉRIOS: VOLUME 10

A- AS METAMORFOSES E A TEORIA ALQUÍMICA DOS METAIS.

O VOLTAR A VIVER E O MITO DA TRANSMIGRAÇÃO DAS ALMAS EM SÓCRATES E PLATÃO.

B- PROJETO PAIDEIA – UMA INTRODUÇÃO.

PARA FORMAR EDUCADORES E JOVENS ÉTICOS E CRIADORES.

2ª Edição. São Paulo, Editora Viktor D Salis, 2012.

10 seminários. 10h e 26’.

ISBN 978-85-913440-7-9

28. SÉRIE INICIAÇÃO E MISTÉRIOS: VOLUME 11 PROJETO PAIDEIA I:

PARA EXECUTAR AS 12 ETAPAS PARA FORMAR EDUCADORES E JOVENS ÉTICOS E CRIADORES:

OS NOVE PRIMEIROS SIMPÓSIOS.

8 seminários. 6h.

2ª Edição. São Paulo, Editora Viktor D Salis, 2012.

ISBN 978-85-902910-8-4

29. SÉRIE INICIAÇÃO E MISTÉRIOS: VOLUME 12 PROJETO PAIDEIA II:

PARA EXECUTAR AS 12 ETAPAS PARA FORMAR EDUCADORES E JOVENS ÉTICOS E CRIADORES.

OS TRÊS ÚLTIMOS SIMPÓSIOS: HISTÓRICO E UMA REVISÃO.

7 seminários. 7h e 10’.

2ª Edição. São Paulo, Editora Viktor D Salis, 2012. ISBN 978-85-902910-9-1

30. SÉRIE INICIAÇÃO E MISTÉRIOS: VOLUME 13 ESOTERISMO CRISTÃO: ORIGENS DO CRISTIANISMO

14 seminários. 9h e 34’.

2ª Edição. São Paulo, Editora Viktor D Salis, 2012. ISBN 978-85-913480-5-3

31. SÉRIE INICIAÇÃO E MISTÉRIOS: VOLUME 14

O FEMININO RESGATADO: DA ANTIGUIDADE AO SÉCULO XXI

5 seminários. 10h e 23’.

2ª Edição. São Paulo, Editora Viktor D Salis, 2012. ISBN 978-85-913480-8-4

32. SÉRIE INICIAÇÃO E MISTÉRIOS: VOLUME 15

AS ESCOLAS DOS MISTÉRIOS DA GRÉCIA E EGITO

16 seminários. 11h e 37’.

2ª Edição. São Paulo, Editora Viktor D Salis, 2012. ISBN 978-85-913480-6-0

33. SÉRIE INICIAÇÃO E MISTÉRIOS: VOLUME 16 A CRIAÇÃO NA TRADIÇÃO GREGA:

1-A CRIAÇÃO DOS DEUSES E DOS HOMENS NA TRADIÇÃO GREGA

DIONÍSIO (BACO) E DEMÉTER (CERES) E SEUS ARQUÉTIPOS.

OS DEUSES GREGOS NA ILÍADA E NA ODISSEIA.

9 seminários. 9h e 40’.

2ª Edição. São Paulo, Editora Viktor D Salis, 2012. ISBN 978-85-913480-7-7

34. ÓCIO E CULPA NA TRADIÇÃO JUDAICO-CRISTÃ.

5 seminários 10h e 35’.

1ª edição. São Paulo, Sattva Editora, 2017. ISBN 978-85-679772-2-5

35. TRAGÉDIA GREGA EM ÉSQUILO, SÓFOCLES E EURÍPEDES E A COMÉDIA EM ARISTÓFANES.

14 seminários 27h e 50’.

1ª edição. São Paulo, Sattva Editora, 2017. ISBN 978-85-679772-3-2

36. A PSICOPATOLOGIA DOS MITOS: O SENTIDO DOS SINTOMAS, A TERAPIA E A CURA - DO ANTIGO EGITO E GRÉCIA AO SÉC. XXI

Audiolivro duplo. 27 seminários. 28h e 25’.

ISBN 978-85-919552-0-6

37. CURSO DE MITOLOGIA GREGA:

A CRIAÇÃO: ORIGEM DOS DEUSES E DOS HOMENS. INTRODUÇÃO À ILÍADA E À ODISSEIA.

8 Seminários. 9h e 36’.

ISBN 978-85-913440-0-6

38. CURSO DE MITOLOGIA EGÍPCIA:

A TRADIÇÃO DE INICIAÇÃO E OS MISTÉRIOS.

10 seminários. 9h e 35’.

ISBN 978-85-913440-6-5

39. A REPÚBLICA – NO ORIGINAL: “POLITEIA”, OU A CIVILIDADE.

Áudio-livro duplo. 10 seminários. 14h e 50’.

ISBN 978-85-913440-1-4

40. PLATÃO: TIMEU E CRÍTIAS:

Sobre o real significado de civilidade. Sobre o mito da Atlântida

12 seminários. 10 h e 32’.

ISBN 978-85-913440-9-3

41. OS GRANDES MITOS DE AMOR DA TRADIÇÃO GREGA.

Para aprender a arte de viver e amar. 16 seminários. 17h e 20’.

ISBN 978-85-913440-8-6

42. UM ENSAIO SOBRE O NOBRE, O BELO E O JUSTO NA REPÚBLICA DE PLATÃO.

(Áudio – CD duplo)

43. FILOSOFIA PARA INICIANTES:

Uma introdução ao pensamento de Platão- O Banquete. (Áudio – CD simples)

44. EGITO ANTIGO:

Os mistérios Egípcios e a Arte de voltar a viver. (Áudio – CD simples)

45. ASTROLOGIA ARCAICA: O processo de alquimia do homem. (Áudio – CD-MP3 simples)

46. A ARTE DE VIVER: Introdução a Mitologia, Paidéia, os Centros de Cura da Antiguidade e outros temas. (Áudio – CD-MP3)

47. OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES. (Áudio – CD-MP3)

48. ABC DA MITOLOGIA (ÁUDIO – CD)

49. OS 12 TRABALHOS DE HÉRCULES E A PAIDÉIA PARA FORMAR

UM HOMEM OBRA DE ARTE, ÉTICO E CRIADOR. VÍDEO AULAS.

COLEÇÃO DE 10 VIDEOAULAS:

NOVOS LIVROS 2023

50. ESOTERISMO CRISTÃO: ORIGENS DO CRISTIANISMO EDIÇÕES VIKTOR D. SALIS – 1ª EDIÇÃO – SÃO PAULO - 2023

51. ABC DA MITOLOGIA EGÍPCIA: INICIAÇÃO E MISTÉRIOS EDIÇÕES VIKTOR D. SALIS - 1ª EDIÇÃO – SÃO PAULO - 2023

52. AS ESCOLAS DOS MISTÉRIOS DA GRÉCIA E DO EGITO EDIÇÕES VIKTOR D. SALIS – 1ª EDIÇÃO – SÃO PAULO – 2023

53. PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO CRIATIVO: UMA REVISÃO DO CONSTRUTIVISMO DE J. PIAGET.

EDIÇÕES VIKTOR D. SALIS – 1ª EDIÇÃO – SÃO PAULO – 2023

54. POR UMA PSICOLOGIA MODERNA: UMA NOVA ABORDAGEM METODOLÓGICA ARA O SÉC. XXI.

EDIÇÕES VIKTOR D. SALIS – SÃO PAULO - 2023

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56, 57 E 58- PALESTRAS EM VÍDEO QUE PODEM SER ASSISTIDAS NOS MEUS 2 CANAIS DO YOU TUBE E PUBLICAÇÕES NO SITE:

- VIKTOR DAVID SALIS

– MITOLOGIA E A ARTE DE AMAR

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