A sociedade ingovernável: uma genealogia do liberalismo autoritário 9786586497106

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TRADUÇÃO LETÍCIA MEI

PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA 7

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A gerência vai à guerra Yasmin Afshar

INTRODUÇÃO [ 1] OS TRABALHADORES INDÓCEIS

31 1. Indisciplinas operárias 39 2. Recursos humanos 49 3. Insegurança social 59 4. Guerra aos sindicatos

[ 2] REVOLUÇÃO GERENCIAL 71 5. Uma crise teológica 79 6. Gerencialismo ético 95 7. Disciplinar os gestores 108 8. Catalarquia

[ 3] ATAQUE À LIVRE INICIATIVA 119 9. O cerco ao governo privado 130 10. A batalha das ideias 142 11. Como reagir? 153 12. A empresa não existe 170 13. Teorias de policiamento da empresa

[ 4] UM MUNDO DE CONTESTADORES 189 14. Contra-ativismo corporativo 200 15. A produção da dialogia dominante 209 16. A gestão dos problemas 219 17. Stakeholders

[ 5] NOVAS REGULAÇÕES 241 253 270 290

18. Soft Law 19. Custos/ benefícios 20. Crítica da ecologia política 21. Responsabilizar

[ 6] OESTADO INGOVERNÁVEL 307

22. A crise de govemabilidade das democracias

321 335

23. Hayek no Chile 24. Nas fontes do liberalismo autoritário

349 25. Destronar a política 368 26. Micropolítica da privatização

389

CONCLUSÃO

395 Referências bibliográficas 427 Sobre o autor

PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA A GERÊNCIA VAI À GUERRA YASMIN AFSHAR

Em novembro de 2018, apenas um mês depois da publicação de A sociedade ingovernável, arrebentava na França a revolta dos coletes amarelos (gíletsjaunes). Inicialmente composto de habitantes dos subúrbios de Paris que foram às ruas protestar contra o aumento dos combustíveis, o movimento se alastrou por todo o país e suas reivindicações se avolumaram. o colete amarelo fosforescente, item de segurança obrigatório a todo carro que circula na União Europeia, assinalava a urgência daquela revolta até então invisível. De fato, poucos meses antes, a revista Forbes estampava em sua capa a foto do presidente francês Emmanuel Macron guarnecida do epíteto "O líder dos livres mercados" [The leader of thefree markets]. Egresso do setor financeiro, Macron vinha implementando um programa tipicamente neoliberal - uma vez no cargo, decretou de imediato o fim dos impostos sobre grandes fortunas e deu andamento às reformas trabalhista e previdenciária, recorrendo ostensivamente às forças repressivas para abafar qualquer contestação. Em resposta à rápida difusão e radicalização dos protestos dos coletes amarelos, prometeu "mais humanidade" em seu método de governo, sem, contudo, abrir mão de suas "ambições no plano econômico". Mas os coletes amarelos não abandonaram as ruas. Justo quando a revolta social (não apenas na França) está cada vez mais refratária aos mecanismos de contenção do neoliberalismo, Grégoire Chamayou nos oferece uma nova interpretação sobre a constituição desses mecanismos. Sua "gênese do liberalismo autoritário" chega ao Brasil num momento em que um governo ultraliberal com tendências autoritárias

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implementa um programa sim_ilar ~e Ma,cron - centrado e m reformas trabalhista e prev1denc1ana, alem . de cortes em gastos públicos - e igualmente avesso aos ntos democrático com O presidente brasileiro Jair Bolsonaro, militar reformads. . . I o saudoso da ditadura militar, e o mm1stro Pau o Guedes, eco. nomista oriundo da Escola de Chicago, vê-~e, na prática, que liberalismo e autoritarismo não são conceitos opostos. Chamayou mostra que a imbricação entre esses termos marcou as manobras levadas a cabo em políticas governamentais e também em práticas de gestão empresarial, as quais fizeram do neoliberalismo um regime político-econômico viável. Essas iniciativas foram estimuladas pela necessidade de fazer frente ao que se percebia como ingovernabilidade, permeando os mais diversos setores sociais, dentro e fora das empresas. "Ingovernável" foi o termo empregado por teóricos conservadores no final da década de 1960 para se referir à espiral de reivindicações que pressionava o poder político no Estado intervencionista keynesiano. Nesse período, do qual o Maio de 68 é apenas um símbolo, os representantes patronais pressentiram uma crise de legitimidade das empresas. O clima de contestação atingia o ambiente empresarial tanto por dentro (insubordinação, sabotagem, absenteísmo) como por fora (movimentos de boicote). Mais ainda, os gestores corpora· tivos passaram a perceber que a própria sociedade havia se tornado insubmissa. Essa sociedade "ingovernável" - palavra que remete à história do controle social da infância a partir do século x1x, aludindo ao menor pobre a ser submetido à tutela policial - impunha uma rearticulação do poder. O autor explicita como o espectro dessa ingovernabilidade justifica a deriva autoritária do liberalismo nos anos 1970. Para tanto, Chamayou não só expõe as táticas das elas· ses dominantes para aplainar a crise social, como analisa os discursos corporativos, as técnicas de controle e repressão das empresas, mas também a repressão violenta institucio· nalizada do Estado. Essas manobras foram acionadas corno mei~s de despolitização da sociedade. Despolitizar signific~, a~ui, promover a anulação gradual da capacidade dos ind•· viduos de tomar as rédeas dos rumos da vida coletiva, o que

guarda traços comuns a qualquer concepção autoritária de sociedade. Ele ressalta que essa é uma das marcas do programa polltico neoliberal: tudo aquilo que coloca em risco 0 bom andamento dos negócios é percebido como ameaça a ser combatida, conforme uma verdadeira lógica de guerra. ora, as próprias técnicas de administração surgiram no meio militar basicamente para fazer face a necessidades de gestão da guerra, sendo a logística o melhor exemplo. Essa marca de origem, muito anterior aos anos 1g6o, faz-se presente em enunciados e desenvolvimentos da chamada "administração científica", revestidos de indefectível neutralidade técnica e isenção política. Ao investigar a concepção, por assim dizer, "militarizadan das novas teorias gerenciais e governamentais, Chamayou retoma, de certo modo, o fio condutor de suas pesquisas anteriores. Depois de finalizar seus estudos em filosofia na École Normale Supérieure de Lyon, na França, ele traduziu para o francês os textos clássicos sobre teoria da guerra de Carl von Clausewitz, general prussiano do século XIX. Em 2008, publicou seu primeiro trabalho de mais fôlego, Les Corps viis [Os corpos vis], seguido por Les Chasses à l'homme [As caças ao homem] e Teoria do drone, nos quais trata das relações entre técnica e dominação com base em diferentes objetos de estudo. Nessas obras, expõe os modos brutais de objetificação e aniquilação de indivíduos e grupos ao longo da história, numa abordagem claramente marcada pela influência de Michel Foucault. A ideia de uma sociedade ingovernável subjaz ao liberalismo autoritário, "esse pequeno monstro conceituai", nos dizeres de Chamayou, que pode abranger um amplo espectro político. Desse ponto de vista, há mais coisas em comum entre Macron e Bolsonaro, ou Thatcher e Trump, do que se poderia imaginar. Aqui, o liberalismo autoritário é compreendido sobretudo pela despolitização da sociedade, que pode se realizar tanto pelo desmonte de mecanismos de participação e negociação, como pela retirada de garantias e direitos sociais. Nos anos 1970, essa reorganização do poder patronal e político apareceria como análoga a certo gesto "leninista", "revolucionário", com o sinal trocado, com o objetivo

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de renovar a legitimidade da ordem dominante a qualquer Ou , melhor dizendo, com fins .contrarrevoluci'oná. t c~orios. Aliás, 0 próprio Milton Friedman vinculou sua linha de pensamento econômico a essa ideia: "O nome de Keynes . 0 nome óbvio para associar à revolução. A contrarrevoluç/ . o também precisa de um nome, e ta lvez o mais amplament usado para se referir a ela é 'a Escola ~e Chicago'". 1 As tática: usadas pelos gestores "do andar de cima" nessa contrarrevo. Iução são justamente o objeto do texto a seguir.

Contribuições para o estudo do neoliberalismo

Ao traçar a genealogia do liberalismo autoritário, Chamayou não assume a perspectiva das dinâmicas impessoais do capital e da concorrência, tampouco a dos revoltosos, "os de baixo", mas sim a dos governantes, "os de cima". "Governo" aqui não se limita, é claro, ao Estado, mas se refere a toda forma de exercício de poder soberano, inclusive aquelas que se organizam à margem do poder estatal. O autor trata, em especial, de analisar o governo privado exercido pelos gestores do capital. Tal acepção nos faz associar o texto ao campo de pesquisas aberto por Michel Foucault.2 A esse campo, incorporaram-se as pesquisas de Chiapello e Boltanski,3 Dar· dote Laval4 e, mais recentemente, Browns - só para mencionar alguns trabalhos publicados no Brasil na última década

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Milton Friedman, "The Counter-Revolution in Monetary Theory". Occasional Paper, n.33. London: Institute of Economic Affairs,

1970, p.1.

2 Michel Foucault, Nascimento da Biopolítica, trad. bras. Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2008. 3 Luc Boltanski e Eve Chiapello, o novo espírito do capitalismo, trad. bras. Ivone Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2009. 4 Pierre Dardot e Christian Lavai, A nova razão do mundo: Ensaio sobre a sociedade neoliberal, trad. bras. Mariana Echalar. São Paulo: Boitempo, 2o1 6. 5 ~e ndYBrown, Nas ruínas do neoliberalismo, trad. bras. Mário Manno e Eduardo Santos. São Paulo: Politeia, 2019.

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e que tiveram. uma recepção considerável no pais. , Nessas obras, o neoliberalismo é interpretado nã . o apenas como uma . l'd d I a e, . ,doutrina, econômica . . , mas como um a raciona isto e, uma ~0?1ca subjacente às práticas governamentais. Essa no~m~tIVIda~e n~oliberal consiste na generalização da concorrenc1a nos amb1tos da sociabilidade, linguagem, ordenamento do Estado e subjetividade. A sociedade inguvemável integra-se nesse debate como uma contribuição inovadora, de caráter fortemente político. Uma primeira novidade do ensaio é a abordagem do problema, centrada na empresa como forma de governo. Chamayou define a empresa corno uma entidade corporato-política, ou seja, um ente capaz de criar dispositivos de controle, mas cujo poder depende do consentimento dos dominados e, portanto, precisa ser justificado. Lembrando que, segundo Foucault, uma das consequências do programa intelectual do neoliberalismo é a generalização da forma empresa no interior do tecido social, e Chamayou procura desenvolver uma "filosofia crítica da forma empresa". Poderíamos dizer que essa tarefa consiste na crítica da ética social empresarial, cujas bases foram lançadas por autores como Weber, Sombart e Schumpeter. Como material de pesquisa, ele se vale de artigos, relatórios, declarações e outros registros feitos entre as décadas de 1950 e 1970 por porta-vozes de grandes corporações dos Estados Unidos (diretores executivos, revistas de negócios, teóricos da administração). Ao longo do texto, desmistifica-se o "espírito de aventura" dos investidores, assim como a "capacidade de inovação" dos empresários, entre outros clichês que apelam ao primado da vontade autônoma do gestor. chamayou mostra que conceitos como "liberdade", "responsabilidade" e "diálogo" foram empregados, nã~ ~em antes serem deformados, para esvaziar as demandas poht1cas que obstavam interesses corporativos. . Conforme já apontaram Boltanski e Chiapello, a oposiç~o à rigidez do modelo fordista e as demandas por auto,n~mia, criatividade e flexibilidade foram subsumidas, nas ulumas . d as d o secu , lo xx, pelo capitalismo das redes e dos prod eca .Jetos md1v1dua1s. . . . . Algo d essa recusa à rigidez aparece na fas-

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. ante primeira parte do livro, cujo cm . tema , é a insubmissa1111 operária. Todavia, a ênfase do ensaio não e tanto sobre a cap. tura, por parte da empresa, dos elementos de contestação, mas principalmente sobre o modo pel~ ~uai esses elementos são convertidos, no âmbito do jogo poht1co, em procedimen. tos de neutralização da insubmissão. uma segunda contribuição particularmente interessante refere-se à análise da modulação discursiva conforme urn método genealógico. O autor evidencia como esses discursos, cuja emergência foi possibilitada por conexões, impasses e jogos de força vigentes em dado momento histórico, foram alçados ao nível de evidência e generalidade, constituindo certa racionalidade que orientaria a implementação de novos dispositivos de poder. Não se trata, entretanto, de conceber sua formulação como resultado consciente e coordenado da classe dominante como grupo uniforme; ao contrá· rio, Chamayou sublinha que as táticas emergiram em meio a conflitos concretos. Tampouco se trata de uma genealogia entendida como inventário ou enumeração de concepções teóricas alinhadas que, ao final, apresentasse as políticas neoliberais de hoje como derivação direta do que preconiza· · vam os pais do neoliberalismo. "Nossa era é neoliberal, isso é certo, mas um neoliberalismo bastardo", diz Chamayou, logo nas primeiras páginas. Ao situar os discursos apologéticos na luta política, revela suas necessárias contradições. Ainda que ele pretenda construir uma história da mentalidade patronal, trata-se sempre de mostrá-la como resultado de uma confrontação. Contudo, no interior desse governo privado que é a empresa, política e economia se condicionam uma à outra, em camadas sucessivas de determinação mútua. Seria um equívoco concluir que Chamayou defende 0 primado do político, embora ele exponha a arquitetura ins· titucional que garante a ordem dos mercados - a qual nada tem de espontânea. Por fim, outra importante contribuição para as pesqui~a.s sobr~ 0 neoliberalismo é a explicitação de suas raízes ant1!1• berais e autoritárias. De fato, o debate não é novo: o próprio termo "liberalismo autoritário" retoma o título de um texto

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publicado pelo jurista antifascista Hermann H 11 • . e IS h . ., e er, em polemica com ar c mitt,Ja em 1933. Heller se • , . . contrapos a tese schmittiana de que o bom funcionamento d . . a economia de mercado dependeria de um Estado forte e da des 1. . _ . É , . po itízaçao da sociedade.. .esse ultimo elemento• em especi·a1, o marca. dor do, autontansmo merente a essa vertente do li'be ra1·ismo, . . que so se realiza no esvaziamento da democracia_ ainda ue prescinda do uso explícito da violência. Chamayou ress;lta que, muitas vezes, manobras de despolitização têm sido conduzidas sem que o aparato repressivo precise ser acionado. Essa dimensão schmittiana do pensamento neoliberal está presente na última parte, dedicada ao debate da crise da democracia. Se Foucault havia assinalado a existência de uma crise da governabilidade no interior de diversas instituições (família, presídio, manicômio}, teóricos conservadores como Samuel Huntington denunciavam, como limite do regime democrático, essa mesma recusa em ser governado. Ao longo do texto, o conteúdo anômico da ingovernabilidade transborda, aos poucos, de dentro da empresa para o restante da sociedade, que se revela, ela mesma, ingovernável. Eis o impasse: os impulsos autodestrutivos inerentes ao. capital são em parte contidos pelas políticas democráticas; ao mesmo tempo, toda tentativa de ampliação da soberania popular ou até de regulação social é constantemente percebida pelas classes dominantes como intolerável. Essa ideia não deixa de ser uma reformulação da tese central da obra A grande transformação,• na qual Polanyi afirma que, historicamente, as aspirações dos liberais pelo livre mercado foram sucedidas por ondas de proteção social que as limitaram. Pode-se dizer que, em termos dialéticos, o capitalismo perdura graças à ação contrária a sua expansão e seu aprofundamento por parte da sociedade organizada. Seguindo essa linha interpretativa, os neoliberais teriam impulsionado ~ reação às contestações do final da década de 196o; e aqm

; -Karl Polanyi, A grande transformação: As origens de nossa época, trad. bras. Fanny Wrabel. Rio de Janeiro: Campus, 2000•

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um tt•n·C'iro movimento, un1 llctéan' . • '" 11110 à dinámka dual dt'sn1la por Polany1. i:· preciso ter em mente que o Estado de hcn1-e~ 8 tar soei curopcu foi implementado para garantir a adesão da cl 11 . aaae trabalhadora à 1hw,1 ordem cm um mundo bipolar, e só P6ct durJr cnquanw foi (apa1 ck sustentar a expansão capitalia' .. ta .. . n. l' pacitk~ir o~ con tios sOl"t,11s mternos - Jª que as tensões, os conflitos externos eram pl'rmancntcs. Essa pacificação deu por meio da institucionalização das lutas sociais, coro.se consequente dl'spolitizaçào da socil'dade. Afinal, para que: democracia sl'ja go\'crná\'el, conforme escreve Jacques Donze. Jot, é preciso hawr um declínio das paixões políticas. Impossibilitado de se submeter plenamente às injunções da massa no interior do regime democrático, o poder político a reduz a mero objeto de gestão, mais tarde entendido como "o social".7 Dessa mesma sociedade gerenciada do segundo pós-guerra, surgiriam impulsos de contestação, marcando uma fissura da legitimidade de'>se pacto social. Foi assim que a despolitização engendrou, de certo modo, um processo de repolitização. So fim dos anos 1960, a própria estrutura fordista, de caráter rigidamente hierárquico (incluindo os sindicatos) sofreu um duro golpe. As classes dominantes passaram, então, à via schmittiana: ddinir o inimigo interno (aquele que põe em ~ os negocios; e combaté-lo mediante uma estratégia de divisão, neutralização e supressão, para enfim reestabelecer o monopólio do poder. É nesse terceiro movimento que se constituí o liberalismo autoritário, no qual permanecemos enreda.dos att os dias atuais.

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T~cnologiar. de guerra

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1. INDISCIPLINAS OPERÁRIAS Colocar treze.fichinhas em treze pequenos buracos, sessenta vezes por hora, oito horas por dia. Soldar à mão 67 peças de metal por hora e, um dia, se ver diante de uma n011a engenhoca que erige 110. Trabalhar com barulho[... ] numa neblina de óleo, solvente, poeira metálica. [...] Obedecer sem discutir, sofrer penalidades sem direito a recurso. ANDRÉ GORZ,

Critica da dévisão do trabalho, lcr,J,.

Tommy passa o baseado para Yanagan, que dá uma tragada funda antes de passar para mim [...] Afumaça enche meus pulmões e agita meu sangue. E logo as faíscas que eS11oaçam no ar, o aço incandescente, as explosões na fornalha que nos domina, tudo isso começa a assumir o aspecto Jrit,olo de uma noite de carnaval "The New Steelworkers", 1973.

BENNE'IT KREMEN,

"A jovem geração que já abalou a universidade", advertiu o New York Times em junho de 1970, mostra também sinais de agitação nas fábricas dos Estados Unidos industriais. "São muitos os jovens trabalhadores que exigem mudanças imediatas nas condições de trabalho e rejeitam as normas reguladoras da fábrica."' "A disciplina do trabalho desmoronou", observa um relatório interno da General Motors do mesmo ano.~

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Sapulkas 1970, p. 23. Rothschild 1972, p. 479. Lê-se no The Wall Street)oumal ~ue, na indústria "a confiança caiu drasticamente; há cada vez maJs desacelerações deliberadas da produção, e o absenteísmo exp e Wall Street)oumal 1970 apud Brecher 1972, P· 252).

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Sl' disl·1phna l' "ll'I d,111111ii,1 soh11· ,, ''""I'" dos outro~",., a indisciplina Sl' manifesta inversa.nll'nh• por um impulso . · · . :1, ,.l, ,. .. 1l ..io·· n·'\11 \ITCSISll\l' 1 ll •' 1 •11 '.• ' Sl' deixar cnnt rolar mais., cv a-

dir-se' libertar-se do jugo, retomar o própril~ corpo e corn ele se liberar. ora, é exatamente isso que a fábnca começa a sus. citar massivamente à época, tanto que há na jovem geração operária um "profundo ódio pelo trabalho e um desejo de escapar dele". 4 Na indústria automobilística americana, a rotatividade é enorme: mais da metade dos novos trabalhadores não qualificados abandonam o emprego antes do fim do primeiro ano.s Alguns ficam tão desestimulados no primeiro contato com 0 trabalho na linha de montagem que desaparecem já nas primeiras semanas sem "'ao menos se dar ao trabalho de voltar à fábrica para buscar o pagamento correspondente ao tempo que trabalharam', relatam perplexos os gestores", 6 Na General Motors, 5% dos trabalhadores faltam cotidianamente sem justificativa genuína.' Às segundas e sextas-feiras, essa taxa se multiplica por dois, e no verão, em algumas fábricas, pode alcançar 20%. "Com o que se parece uma segun· da-feira de verão numa fábrica?", indagam a um operário da indústria automobilística em 1973. "Não sei, nunca fui lá numa segunda-feira." "Como é possível que você só venha trabalhar quatro dias por semana?", perguntam a outro operário. Res· posta: "Porque se eu só viesse trabalhar três dias não ganharia o suficiente para viver". 8 "Mas o que você quer exatamente?", indagam a um terceiro. O que eu quero: "ter uma oportunidade de usar meu cérebro", um trabalho em que "a educação que recebi no Ensino Médio sirva para alguma coisa". 9 A fábrica? Foucault [1975] 2004, p. 134. Gooding 1970, em Zimpel 1974, Rothschild 1974, p. 124. . Gooding 1970, p. 63. "O jovem trabalhador" testemunha urn sill· ~icali~ta, "tem O sentimento de não ser don~ do próprio de 5dnO• E por isso que ele tenta escapar na primeira oportunidade" (p, 66), ~ !egudndo um executivo da GM apud Weller s.d., p. 2. pu Weller (a partir do Sunday Telegraph) 1973, p. 2, 9 Apud Aronowitz 1973, p. 2.6.

3 4 5 6

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pris,1o", responde rdinada~. stwrtt"r t" 11 · 1974, pp. 337-ss. 12 Walton 1972, p. 71. 13 Ibid. ~ I~d d · co mo as outr. 15 'Too1e 1972, p. 19. ~os atos de sabotagem, assim ntlitO formas de contestação, são as manifestacões abertas de um. co__ ,., . · · erc1au..entre as atitudes em tr.msformacão dos empreados e 3 iI1 .-e · , ' ~ dOS e5r· org-amzaçoes. Ha uma separação entre o que os emprega s• 13 ram de seus empregos e aquilo que as org-anizações escão pron lhes oferecer" (ibid., p. xi). 16 Cf. Worker Alienation... 1972.

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Mas se a alienação é problemática, isso se explica acima de tudo por razões e~~nômicas, e~ função de impactos negativos sobre a produtIV1dade. Se ha uma lição a aprender com 0 episódio de Lordstown é que "foi muito negligenciada a interação entre os recursos humanos e o capital, a tecnologia".': Qual é efetivamente o interesse "de ter uma linha de montagem 'perfeitamente eficiente' se seus trabalhadores entram em greve em função da opressão e da desumanização que experimentam trnbalhando nessa linha 'perfeita'"?IB se pudessem recomeçar a vida profissional do zero, vocês escolheriam de novo o emprego que ocupam atualmente? Em meados dos anos 1960, a essa pergunta responderam "sim" 9.3'1/o dos professores universitários e 82% dos jornalistas entrevistados, contra 31% dos trabalhadores da indústria têxtil e 16"/r, dos operários especializados da automobilística.•9 Os autores do estudo concluíram que, além do menor desgaste físico, é a autonomia que constitui o principal fator de satisfação no trabalho. Inversamente, há alienação "quando os trabalhadores não têm a possibilidade de controlar o processo de trabalho imediato".'º 17 Wooton et ai. 1975, p. _µ7. O'Toole 1972, p. 16. "A General Motors havia calculado que, se

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cada trablhador em Lordstown trabalhasse meio segundo a mais por hora, a companhia economizaria I milhão de dólares por ano." Só que, evidentemente, "a produtividade - em outras palavras, a P.ro ,-

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sas agremiações. As direções sindicais, apontava . · . A rmstrong na F,ortune, nao pareciam mais ter coi d'll_1ch ard l tçõ

controlar uma base "com estado de esplrito ávido e es de rebeJd cada vez mais tomada por "uma onda crescente de , e•,1 revolta contra a administração, contra seus próprios 1~ºlerae em grande medida, também contra a sociedade".s deres e, Cada vez menos capazes de conter suas tropas, as dir . sindicais já não parecem desempenhar seu papel de eço~s · l. "Os l I'd eres sm · d·1ca1s · que enve l hecem pe dPac,fi· cacào soc1a ' r e~~ a mão? 06 Em suma, eles também enfrentariam urna e . ·- lamentava um executivotise d e governa b 1'l'd 1 a d e. Na ocasiao, indústria automobilística, o interlocutor não era mais O b da crata sindical de costume, mas "um tipo limitado, 0 líder 1:r:iirresponsável".7 Essa tomada de poder pelos "homens sem rosto da base" parecia pressagiar "uma nova era nas relações com o trabalho", possivelmente marcada por greves de amplitude inédita. 8 No pós-guerra, teorizava o sociólogo Michael Burawoyem 1979, os sindicatos americanos se integraram a um "Estado interno" da empresa: por terem se formalizado em um dispositivo regulado de negociação coletiva, renunciando em grande medida ao conflito efetivo, eles mais reproduzem a ordem da dominação do que a questionam. 9 Colaborando com uma forma de "governo privado na indústria",'º assegu·

Armstrong 1970, p. 37. Ibid., p. 41. "O colarinho-azul, ele acrescentava, está[...] descon· tente com seus patrões, aborrecido com o 'sistema', e sensível aos apelos revolucionários do black power" (p. 37). 6 Ibid., p. 41. 7 Apud Armstrong 1970, p. 41. 8 Gart 1966 apud A. Brenner 1996, p. 26. . olí· 9 Recu1,ando uma dicotomia estrita demais entre economi~ e p Ia . e1e procurava teonzar . - · "A formo t1ca, uma "política da pro d uçao . .,, n1za11•, 'Estado interno' refere-se ao conjunto de instituições que orga ro· transformam ou reprimem as lutas referindo-se às relações na poy . . ' (Buraw d uçao e as relações de produção no âmbito da empresa. 1979, p. 110). 10 Jbid., p. 109. 4

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mesmo tempo que as mantêm_ a ord rn - ª O em produti ra b jcação do consenso, a hegemonia do regim d va, a fa r d e e Produvigor. contu o, no exato momento em . que o socióção em arxista desenvolvia suas teses, demonstra d logo m . n o por a . b até que ponto esse regime de dominação er b rna1s aro usto enchia de fissuras por todos os lados." ' este se . . , Do ponto de _vista patronal, o diagnostico era duplo: os . d'icatos são simultaneamente fortes demais e, em certo stn . . . demais. Fortes demais, pois ainda em posiçao . _ 'do fracos t sen 1 , . . de arrancar aumentos sal_ana'.s, ~a~ não mais fortes O suficiente, já que as burocracias smd1ca1s não são mais capazes de disciplinar seus grupos.u Em suma, de que adianta, dizia-se, continuar a fazer concessões às direções sindicais se isso "á não permitia comprar a paz social na base? J uma queda d e b raço era 1mmente, . . mas so' um lado da mesa das negociações se preparara para ela, já que os dirigentes das trade-unions não a haviam previsto. ' 3 Quando afinal eles a compreendem, é tarde e sua reação é amarga. Em 1978, Douglas Fraser, grande figura do sindicalismo americano, bate à porta do Labor Management Group e redige uma carta aberta que soa como um testamento político: "Os dirigentes da comunidade empresarial escolheram hoje, com raras exceções, conduzir este país a uma guerra de classe unilateral - uma guerra contra os trabalhadores, contra os desempregados, os pobres, as minorias [... ]. Nos Estados Unidos, os dirigentes da indústria, do comércio e das finanças romperam e rejeitaram o frágil pacto verbal que sustentou uma era hoje terminada de crescimento e de progresso". 14 Ele refletia sobre o fim de quase trinta anos de relações cordiais, um período ao longo do qual "um

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11 Ver Burawoy 2012. u Cf. Armstrong 1970, p. 38. 13 Cf. Edsall 198~, p. 155 . 14 Fraser 1978 apucl Bowles et ai. 2015, p. 30. Quase inconscte~teffiente, comenta Cowie Fraser entregava uma interpretação instrutiva d 0 menc1onado . ' . que, segund° ele• repousava, comprom1sso . . Portant . bre a toleranc1a 0, menos sobre a pujança do trabalho que so t. . atita e pro visona . . . do capital (cf. Cowte . 2010a, P· 297) ·

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grande número de empresas passou a depender dos sind· 5 · d e esta b'l' •catos como força primordial 1 1zaç ão " .' Essa reviravolta fora preparada no campo da teo . . ria Po uma corrente intelectual cuJas teses, outrora rnino . . t rttár1a 1 serviriam de base para um ataque ançado contra O • s, • . . , . s1ndi calismo, recusado em seus propnos prmc1p1os. Os eco · mistas neoliberais haviam elaborado muito antes Ulll no. . d'1cat os. J'a em 1947, o economista aF Ctj. tica agressiva aos sm . . -d1 Machlup caracterizava a açao e es como uma tentati flt? , · 1·· .. ,6' , vade "fixação monopohst1ca dos sa anos . A mesma epoca, Hen e. Simons, oponente fero~ do ~ew Deal.e mentor do jove~ Milton Friedman, denuncia as anomalias do controle pela associação voluntária": diante da ameaça de instauração de uma espécie de governo sindical, era vital "preservar a disciplina da concorrência".'7 Nos debates estratégicos sobre essa questão, que dividiam a Sociedade do Mont-Pelerin, berço e vanguarda do neoliberalismo, Machlup defendia uma posição bélica: "A paz industrial é algo de que deveríamos desconfiar, pois ela só pode ser comprada ao preço de uma distorção elevada da estrutura dos salários".'ª É essa posição que predomina no início dos anos 1970 nas elites econômicas. A Fortune alfineta, em 1971, "o poder monopolístico do trabalho":' 9 "Autorizados a se organizar como exércitos, os sindicatos recorrem à coerção e à intimi· dação e não hesitam em desestabilizar a economia inteira para alcançar seus fins. [...] A questão não é mais saber se tal força deve ser reprimida, mas como. É crucial compreender que o poder do sindicalismo não é uma necessidade natural. 15 Raskin 1979 apud Cowie 2010a, p. 298. A contradição, explica Michele Naples, estava em que a "trégua" capital/trabalho for.ne· eia o quadro institucional de uma relativa prosperidade econõmic~, · uma prospendade que por sua vez "fornecia[ ... ] o contexto econo·e mico no qual os trabalhadores podiam lutar por seus interesses assim solapar a trégua" (Naples 1986, p. u6). 16 Cf. Machlup 1947. 17 Simons 19441 p. 5. 111 Apud Steiner, em Mirowski et ai. 2009, p. 190. 19 Burck 1971, p. 65.

··--ua ext·ste'ncia depende, na verdade, de uma série de exceç ões . 'Jégios que o governo concede aos sindicatos a fi d priv1 . , . m e e opiciar uma espécte de santuano sem igual em n JheS pr , ossa . dade. Nossa tarefa e derrubar esse santuário".'º socie . d e ares d e a t aques po J'1t1cos . isso se revestm diretos, vindos a mas também de manobras mais locais. A partir d . de cun , . . e os dos anos 1970, desenvolve-se a at1V1dade florescente d rnea . um novo gênero de consultores, os umon busters ou "exterde. dores de sm . d'1cat os "., . rnina S

Jto executivo em uma grande empresa americana, você recebe Aelo correio um folheto com o título "Os sindicatos: como evi-

iá-los, vencê-los e se livrar deles". Anexo, o convite para um seminário de três dias em um grande hotel. Na noite da véspera, você chega e encontra os organizadores. O jeitão do primeiro, um psicólogo do trabalho - barba, camisa aberta, mangas arregaçadas-, inicialmente o faz divagar, até compreender que esse ar descontraído faz parte da panóplia de uma profissão que ele exerce há mais de vinte anos junto a grandes empresas americanas, entre elas IBM, Shell, Dupont e Texas Instruments. o segundo é um advogado nova-iorquino com o uniforme de praxe: terno sóbrio e camisa sob medida. O seminário se desenvolve em três partes: 1) Como impedir a sindicalização?; 2) Como lutar contra uma organização sindical em implantação?; 3) Como "dessindicalizar" uma empresa? O primeiro dia é reservado ao "psicólogo industrial", que vai ensinar "como tornar os sindicatos supérfluos": "Quando uma equipe diretora depara com um sindicato em sua empresa", ele diz, "é porque ela deu motivos para isso". "Diante dos sindicatos, há apenas duas atitudes possíveis: dar uma de cacto ou de ameixa. A ameixa é um alvo fácil [...],já 0 cacto é resistente, e quem procura acha - é preciso criar um ambiente decididamente hostil aos sindicatos.""'

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io D

avenport 1971' p. 52 . Aer Logan, e_m Gall et ai. 2013. • _ , . PUd Georgme 1979, pp. 411-ss. Reconstituo aqui um relato com Pos1to a p . artu de diferentes textos.

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22

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Isso começa já na entrevista de emprego. Você deve der a interrogar os candidatos. Como a lei proíbe fonnutPrt>n. . _ arpe guntas muito diretas sobre as conv1cçoes pessoais do r. · d ' á · d · "Te t b entre vista o, e necess no fazer ro e10s: n e sa er se eles · estã_ . engajados em prol de causas progress'.st:s, se são membros 0 organizações de inquilinos, de associaçoes de consurnid de ores . . ou qualquer atividade que possa reve Iar s1mpat1as sindicais•, . 3 Uma vez recrutados, deixe bem claro aos recém-cheo--. · . d' . "que a empresa funciona sem sm 1cato, e isso não é deº"dos h . · d" · b ~e· [...] Nós não dizemos que os sm !Catos SeJam ons, nern aJi·, · . , as que sejam ruins, apenas não sentimos a neces~1dade de tê-los' em nossa empresa; ora, parece mesmo que nmguém nu sentiu essa necessidade, já que aqui não há sindicato".'4 e nca Também é preciso se familiarizar com a arte de "gerir~~;· interferir": "Não vá trabalhar ao volante de um carro de lux Não se refira às pessoas como_ trabalhadores ou empre(7ad º· _ w o~ não chame os patroes de patroes. Todos devem ser consi·dera. dos parte de uma única e mesma empresa.[ ... ] Dê às pessoas títulos que elas respeitem, como técnico ou engenheiro".'s Em seguida, para fazê-los compreender melhor o mecanismo que movimenta os subordinados, o psicólogo os inicia nos princípios de base da psicologia da aprendizagem. Se, passeando de carro pelo parque Yellowstone, você cruza com um urso e lhe dá uma bala pela janela, "para ele é natural esperar pela segunda.[...] Se você continuar, acabará sem balas - e o urso vai lhe arrancar não apenas o saco vazio, mas também um braço e uma perna. Podemos nos perguntar por que esse urso, animal adorável, aliás, de repente se metamorfoseou em besta feroz. A resposta é simples: o urso foi recompensado e reforçado em suas atividades agressivas, assim como os empregados de algumas organizações em sua ação coletiva".~ Depois do intervalo de almoço, o psicólogo apresenta seu "sistema de alerta precoce de sindicalização" - um calhamaço 23 Ibid., p. 412. 24 Ibid. 25 Ibid. 26 Apud Georgíne 1979 , p. 419 .

. náríos. Os funcionários devem responder a t estes uestto . alidade, oficialmente destinados a "antec1par . erson . . e 7 de P1ver o s problemas relac1ona1s",' mas que na verdad ã .. . . es o 0 res . d s para estabelecer um perfil ps1cologico da forç d iltza o . .. a e utabal h o ,,, visando avaliar a lealdade do empregado" e d et ectr rn base em sinais discretos, os indivíduos mais suscetar · d'1cato.,.. "Perguntem-se quais empre, '.coa se juntar ao sm uveis . I , • . d' serão os mais vu nerave1s se um sm 1cato vier bater à _ ,. . gados rta. Essas pessoas sao rea 1mente 1e1tas para os senhosua Pº . e ,. 1 Talvez sejam mais 1e 1zes em outro lugar. Demitam-nas. r~s. -se daqueles que não têm espírito de equipe."29 Livrem . , E não tenham nenhum remorso, pots e a sua liberdade tá em J. ogo. Quando não há sindicato, "vocês contraque e S q uem querem, pagam o que podem ou o que querem tarn • Ih d . e demitem quando querem. Voces es es1gnam as tarefas ue querem designar. Ora, no exato momento em que assi~am um acordo sindical, [...] tudo isso muda". 30 "Se um sindicato se organiza em uma fábrica, bem, quem vocês acham que vai sair mais prejudicado? Não é o presidente executivo ou os vice-presidentes da empresa. São vocês, senhoras e senhores, os supervisores. Vocês é que vão enfrentar todo dia a presença do sindicato. Vocês é que terão de aguentar o representante do pessoal, as reclamações, as queixas, as operações-tartaruga, o assédio[... ]. A partir do momento em que há um sindicato na empresa, a maneira como se opera é afetada pessoalmente [... ], o controle sobre promoções, cargos, distribuição das tarefas, períodos de experiência, disciplina, férias, aposentadorias, demissões." Com essas belas palavras, o psicólogo encerra o primeiro dia do seminário. de q

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lbid., p. 423. Ibid., p. 421. 2? Essas propostas foram colhidas pela jornalista Nacy Stiefel, que tin ha se infiltrado com seu gravador em uma reunião organizada pelo escritório de advogados Jackson Lewis, Schnitzler & Krupman sobre a arte de lutar contra a sindicalização (apud Farmer i979; reprod. em Pressures in Today's Workplace ... 1979, P· 2 74), 30 Apud Georgine 1 979 , p. 433 , 27 28

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. ulto expõe uma série de lllan . . . o. 0 junscons No dia seguinte, 't irão de um sindicato e retarda a constl u ,, . r bras para entravar . • rofissionais - tat1cas de obstrução . de ele1çoes p . 'b 'd . Também são d1stn m os argumen. 8 ronvocaçao . . da legaltdade. d' no 1tm1te . . delos de cartas e 1scursos pré-redigi. tos antissind1ca1s, mo . d dos aos subordina os. dos endereç.a . fim O advogado divulga, sob o selo de No terceiro dia, en , , . . l'd d absoluta uma paleta de tat1cas de "dessinronfidenc1a I a e ' , . . • " se você pratica (como e prudente fazer) a espiodica11zaçao · . s empregados eis, por exemplo, este conselho· nagem de seu ' _ . · "Sei que as reuniões do sindicato acontecera o no Hohday Inn. Paro meu carro no estacionamento e observo todos os que chegam. Esse é um ato de vigilância. Não devo fazer isso. Se, por outro lado, vou ao Holiday Inn por uma razão qualquer e, por acaso, vejo o movimento das pessoas chegando, estou no meu direito". Uma vez identificados os líderes, é preciso ser capaz de demiti-los de acordo com as formas previstas. Também nesse caso, com a condição de ter se preparado previamente, nada mais fácil: "Se a administração conserva os arquivos detalhados das faltas e das advertências, ela pode dar um jeito para que a demissão de um trabalhador pró-sindi~to assuma um ar legítimo".J• A guisa de lembrete, você pode sair desse seminário com um exemplar autografado do livro escrito por outro desses consultores um · á , · guia pr t1co no qual se encontram, detalha· das pela ementa toda ,, , . , rias"" . ' s as tat1cas e as estratégias necessa· , . para cnar sua guerrilha antissindical. E importante mant . . . vade-mé fi er-se vigilante, lembra esse prec10so cum, car atento · , . , d sindical eme aos sma1s de alerta de uma at1V1da e rgente: quando " . . grupos que têm discussões muito animadas se cal am assim q • quando "picha - h . ue os supervisores se aproximam ' çoes ost1s , d dos banheiros" e a empresa aparecem nas pare es . ' quando es b ·r muna gente" m ses anheiros "começam a atrai esmo quand0 • , i· nao ha, que se saiba, "uma ep

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31 lbid., p, 415 .32 Oe Maria 19&1

,p, 15,

de rnia de gastrenterite, você pode suspeitar que as pes50as reúnem, nos banheiros, para discutir alguma coisa".ll Se O movimento se confirmar, estabeleça uma war roam nos andares da direção, um posto de comando que servir' de "centro de atividade". 34 Você afixará na parede um grand: diagrama listando "o nome de todos os empregados, por departamento, com a menção 'sindicato', 'companhia' ou'?'" _ 0 que lhe dará uma visão de conjunto da lealdade de seus empregados. Todas as informações pertinentes deverão subir cotidiana mente à war room. Assim, informada em tempo real acerca da evolução do campo de batalha, a administração oderá "determinar a estratégia e decidir sobre técnicas efipcazes de contra-a t ague "B . É a sua vez de militar, distribuir panfletos e pendurar cartazes - o manual fornece modelos prontos, basta imprimi-los. Exemplo de dizeres em um cartaz: "Sim, você tem algo a perder votando a favor de um sindicato: a liberdade de resolver seus próprios problemas de maneira individual e diretamente com a administração''. 36 Além de cartazes e panfletos, o manual sugere mandar confeccionarfortune cookies antissindicais para distribuir no refeitório, biscoitinhos chineses recheados de mensagens ad hoc. O assalariado quebra o biscoito e lê: "As contribuições sindicais vão abocanhar sua comida"; ou então: "Lamento, o sindicato não está com nada"; ou ainda: "Cuidado com o dragão que se esconde atrás da lanterna mágica do sindicalismo".J7 Outros procedimento~ ~o tipo: organizar coquetéis gratuitos, quiçá "instituir a pratica de oferecer aos empregados um peru grátis no Dia d~ A~ão de Graças", o que consistirá em "um lembrete econorn,co t · 1 for angive do engajamento do empregador com uma ça de trabalho feliz e satisfeita".J8 Nessa ocasião, entre dois

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33 lbid., p. 209. 34 lbid 35 lb' ., p. 95 · td., p 96 36 lbi . . d., p 153 37 lbºct . . 38 lb: ., p. U6. d., P-130.

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5. UMA CRISE TEOLÓGICA

evolução capitalista, substituindo os muros. e as máquinas de umafia'b ncapor . um szmples pacote de ações, desvitaliza a noção de propriedade. [... ]A apropriação desmaterializada[ ... ] não impõe, como outrora se experimentava a propriedade, uma lealdade moral. No final, não sobrará ninguém para se preocupar realmente em defendê-la.

A

Capitalismo, socialismo e democracia, 1942.

JOSEPH SCHUMPETER,

"Pode-se dizer sem exagero que um novo pensamento corporativo, o gerencialismo, está iniciando uma grande crise teológica, comparável, por sua amplitude, às repercussões da obra de Darwin e às implicações sociais e políticas da Reforma. Na verdade, a ideologia que dominou o pensamento ocidental ao longo dos últimos séculos está vendo seus pilares econômicos e políticos desmoronarem." 1 O evento intelectual determinante nesse contexto, indicava em 1962 o autor do qual tomo emprestadas essas linhas, fora a publicação, três décadas antes, de um livro assinado pelo jurista Adolf Berle e pelo economista Gardiner Means, A moderna sociedade anônima e a propriedade privada. 2 Essa obra, que John Kenneth Galbraith considera "um dos dois livros mais importantes dos anos 1930, ao lado da Teoria geral de Keynes", 3 de fato polarizou os debates sobre a teoria da empresa durante quase meio século. Entretanto, algumas semanas depois do lançamento_,.ª ed·t · 1·1zad a e m questões fiscais, 1 ora, uma pequena casa especia

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Bazelon 1962, p. 293. 2 Berle e Means 1932. . h p 1527. 3 Parafraseado por Hessen 1983, p. 273. Ver Galbratt 1932, .

1

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·t ente voltou atrás e retirou o livro das prateleiras lJ su b1 am · d · tn . da General Motors, horronza o com O qu e 1era execuuvo havia comunicado sua desapro~aç~o aos responsáveis Pela' Corporation Trust Company, agencia de aco~1~elhamento à.s e a Genera1 empreSas da qual a editora era uma das fihais . Motors era, por acaso, um dos grandes clientes, 0 tipo d cliente que ninguém quer perde~. "Descobrind~ a víbora qu: ela havia alimentado em seu se10, a companhia suspendeu . a publicação[... ]. os livros que quest10nam os sistemas de poder", critica retrospectivamente Berle, "recebem uma acolhida brutal por parte do sistema de poder cujas justificatj. vas e fundamentos eles analisam". 4 Essa iniciativa de censura produziu O contrário do efeito esperado. Voltando à circulação por obra da editora Macmillan, o livro contou com uma divulgação muito maior. "Ironicamente", lamenta anos mais tarde um intelectual conservador, "é sobre a General Motors [... ] que recai a responsabilidade pelo lançamento do livro de Berle e Means". 5 O que havia naquelas páginas que incomodava tanto? Ora, os autores identificavam uma discreta mutação nas relações de propriedade, uma revolução que acabava por solapar os princípios da economia capitalista que seus defensores bran· diam havia quase três séculos. Consideremos um cavalo e seu dono. "O proprietário do cavalo é responsável por ele. Se o cavalo vive, ele deve alimen· tá-lo. Se o cavalo morre, deve enterrá-Io." 6 Em que consiste, agora, outra relação, aquela que o acionista mantém com a sociedade cujas ações ele detém? "A uma ação na bolsa não se associa nenhuma responsabilidade desse tipo." O acio· nista não é responsável pela empresa. Talvez ele nunca tenha pisado lá. Tornou-se, para retomar a fórmula de Thorstein Veblen, um "proprietário ausente".7 Não tem mais a posse

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Berle 1962, p. 434. Hessen 1983 1 p. 2ao. 6 Berle e Means 1932, p. 64. 7 Veblen [1923] 2017 , p. 66 . 4

5

. a de um bem, apenas um ''título" - uma propriedade desflstc . 1. da abstrata, uma propriedade de papel. ateria iza ' . ,. . .. 111 lha propriedade-posse era sohda. Ela imobilizava O proAve , . d b' . , . que vivia no cenano e seu o ~eto. O acionista, por r1etart0 , • P não tem amarras. Se a propriedade não lhe convém ua vez, · 1· ã S . le a liquida. Desmatena 1zaç o, fl UI'd'1ficação, e também 111a1s, e . d d . , . . mento da propne a e ac10nana, as ações de uma frac10na · . dade estão dispersas entre milhares de portadores. socie - dO antigo Mas outra coisa tam b'em ocorre: a "d'isso luçao , da propriedade em seus elementos".ª As funções que , . atom0 . riedade privada c1ass1ca reuma em um todo foram cina 'd propem duas· "0 poder, a responsab'l'd 1 1 ad e e a substância d1 as · . • quen O Passado eram partes mtegrantes da propriedade, são transferidos para um grupo separado, em cujas mãos reside 9 0 controle a partir de então". Como o acionista não dispõe de nada além de uma propriedade passiva, é aos gestores funcionários, e não aos proprietários, que cabe o controle ativo da empresa, sua administração concreta. Há, portanto, de um lado, "proprietários sem controle real" e, de outro, "controle sem real propriedade".'º Essa é a tese central de Berle e Means, a da separação entre propriedade e controle. Ao mesmo tempo, a natureza da empresa se transformou. A grande sociedade por ações não tem muito a ver com o negócio do patrão-proprietário. Emancipando-se das fronteiras da propriedade individual ou familiar, concentrando e socializando capitais provenientes de um vasto "público de i~vestidores", a modalidade acionária permitiu o desenvolvtmento de empresas gigantescas, instituições "quase públicas" que põem milhares de trabalhadores sob a direção de uma gestão unificada . 11

. Berle e Means se unem, nesse aspecto, às teses do industrial_ e pol1't1· co a 1emao - Walter Rathenau: "A desm · d'1V1'dua1·1zaçao da p ropne · d ade, a objetivação da empresa, o des1·1ga-

-.. B

Berte e Means

11

lbid ·,P,6.

9 lb. d l ., p. 65 lo Ib' .

ld,, p. 113,

1932, p. 8.

mento da propriedade em relação ao proprietário t a empresa se transformasse [... ] em uma institut~corn qlJe assemelha ao Estado". 12 Liberto de todo ancorarneç O que se mico substancial na propriedade do capital O "c nto ecºl\ô ' ontr 1 · gestão" aparece como um poder de tipo governarne O e Pela uso, para descrevê-lo, de metáforas políticas: os ge:taI. Da( 0 "novos príncipes" à frente de grandes "impérios ind tore~ São A interpretação desse fenômeno foi, de imed· ust tlais•. 1ato rn . ambivalente. Se alguns celebravam a vinda de urn ' Uito d . Poderge8 · tor d esmteressa o, outros temiam o crescimento d • de um novo despotismo gerencial. Na visão mais p º.Poder ess1rn· popularizada em 1941 por James Burnham, em Th 1sta, · l Revol utwn, · 13 os gerentes iam, • gerza como resurnia eOMana· . l t .. 1· . . classe capit rwen d ao 1vu gar suas eses, e 1mmar a antiga 1. ,. . aista l esmagar a c asse operana e orgamzar a sociedade de ' . . , . modo que to d o o po d er e to d os os pnv1 1eg10s econômicos est'tvessem em suas mãos". 14

12 Rathenau 1921, p. 121 apud Berle e Means 1932, p. 309. 13 Burnham 1941. Parece que o neologismo managerialism apa· rece pela primeira vez em uma resenha do livro de Burnham. Mas ele não o empregava, preferindo falar de "sociedade gerencial". Cf. Person 1941. 14 Note-se que Orwell ecoa aqui uma tese à qual ele não adere (Orwell 1986, p. 269). Retomando as ideias de Rizzi em La Bureau· cratísatíon du monde (1939), Burnham reinterpreta a separação entre

propriedade e controle anunciada por Berle e Means como uma cisão entre duas modalidades de controle: os gestores têm o controle num primeiro sentido, enquanto concentram as funções de dir~ção - o que ele chama de "controle do acesso"-, mas os acionistas am~a tê~ o controle num segundo sentido, enquanto reserv~m ~ar~ ma10r parcela na alocação dos lucros - o "controle da d1stnbuiç No entanto, segundo ele, a situação não pode perd urar.. "0 controle . 0 do acesso é decisivo, e, uma vez consolidado, ele arrasta con 51go a . 'b ULçao: · - opera-se. umte' controle d o tratamento preferencial na d1stn dorninan clara mudança da propriedade em prol da nova classe . é ·, ito auvo, (Burnham 1941, p. 59). Esse processo, segundo ele, Jª mu .. ·smº · 1 e transreg1mes: · . sta1mis - · ta , O d1rtgI lhos t ransnac1ona a burocracia ., . . . . tam a seus o 1asc1sta e o mtervenc1omsmo do New Deal represen três versões de um mesmo fenômeno.

:o~.

berta de Berle e Means tinha numerosas 1. 1. . • desc 0 mp 1cações ,. elas uma partJcu 1armente radical no plano t , . , dentre . eonco· "A do átomo da propnedade", afirmavam "d ; . ão disso luç , estro1 0 . fundamento sobre o qual a ordem econo' m· óprlº 1ca repou5 pr últimos três séculos".' sou nos . Na mira deles estava Adam Sm1th_e sua famosa mão invisídas nações , apesar vel. 0 s ri.cos 1 expunha o autor de A nqueza , de terem se preocupado somente com seus "vãos e insaciáveis desejos", paradoxalmente o_pe~am sem querer, por sua cup1"dez privada, para o bem , . pubhco. Como seu interesse egoísta é obter o lucro max1mo_ de su~ propriedade, eles são impelidos a fazer un:ia gestao eficiente dela, que conoorra Para O aumento da nqueza geral e, por conseguinte , da riqueza individual. 16 Contudo, observam Berle e Means, 0 economista pensava num co_ntexto em que "o sistema da livre empresa repousava sobre o mteresse pessoal do proprietário dos bens":'7 "Para Adam Smith e seus sucessores, apropriedade privada era uma unidade que implicava a posse. Pressupunha-se a combinação da propriedade e do controle".LB ora, "atualmente, na empresa moderna, essa unidade foi rompida".'9 Apesar de os acionistas sempre terem sido moti· vados pelo lucro, isso não implica mais que eles façam concretamente "um uso mais eficiente da propriedade, já que abandonaram inteiramente essa tarefa aos que controlam a

Berle e Means 1932, p. 8. Os ricos, "a despeito de seu natural egoísmo e rapacidade, embora pensem tão somente em sua própria comodidade, embora ª ~nica finalidade que buscam, ao empregar os trabalhos de muitos, seJa satisfazer seus próprios desejos vãos e insaciáveis, [...] dividem com os pobres o produto de todas as suas melhorias. São conduzi· dos por uma mão invisível a fazer quase a mesma distribuição das necessidades da vida que teria sido feita caso a terra fosse dividida ~m porções iguais entre todos os seus moradores; e assim sem i[ntenção, sem saber, promovem os interesses da sociedade" (Smith 1759] 1999, p. 226). 17 Be_rle e Means 1932, p. 9. 18 lb1d., p. 304. 19 Ibid.

15 16

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empresa".'º Quanto aos gestores, como eles não são rna· prietários, é difícil imaginar o que .ºs impeliria a dar O s~:Pro. para maximizar os lucros de terceiros. &ue os autores lembram que, ao constatar que os gestore 8 · d a raras no seculo , - - am companhias por açoes XVIII _ das _ . , nao se empenhavam tanto quan t o o pa t rao propnetario ern f , . Ih azer frutificarem os negoc10s que es eram confiados S . . . , rn1th "rejeitava categoncamente a sociedade por ações corno , . . d rneca. nismo para os negoc10s, est1man o que a dispersão da . , 1 f . Pro. priedade tornava 1mposs1ve um unc10namento eficiente",, A doutrina clássica ~revia assim, ela mesma, sua própria dlsfunção no caso particular de uma forma que se tornou do . minante desde então. Sem se dar conta, continua-se a justificá-la inoportunamente com uma teoria que a desqualifica. A menor motivação dos gestores é uma coisa, mas, além disso, nada garante que seu interesse seja convergente com o dos acionistas. Ao contrário, tudo aponta para uma divergência problemática, sobretudo se os gestores recebem a informação de que o modo mais lucrativo de alimentar seu interesse egoísta é, afinal, assaltar a caixa registradora, pois, como descreve Schumpeter, "para além do tratamento e do bônus, nenhum lucro pessoal, nas sociedades, pode ser realizado pelos gerentes, a não ser recorrendo a práticas ilegais ou semilegais" 22 • A ironia da história é que, se os gestores se conformam à máxima do agente econômico racional, o sis· Ibid., p. 9. .. . dmm1s· "Entretanto, sendo que os diretores de tais compan h iasª tram mais o dinheiro de outros do que o próprio, não é de esperar . comaquaJos . . . . ·1·ancia que de1e cmdem com a mesma 1rrequ1eta v1g1 'd do seu, sócios de uma associação privada frequentemente cui am ão Como os administradores de um homem rico, eles têm propensue· a considerar que não seria honroso para o patrão atenderª peq 05 nos detalhes, e com muitas facilidade dispensam esses p~que:te · cu1'dados. Por consegumte, prevalecem sempre e nec essanamedP1i· b . . . • . 1 a neg 1genc1a e o es anpmento, em grau ma10r ou menor' naJ ag6b, nistração dos negócios de uma companhia" (Smith [1 776 19 p. 214.). Ver também Berle e Means 1932, p. 115. 22 Schumpeter [1942] 1972, p. 218.

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eça a desandar; tanto é verdade que "os 1·nt eJllª co rn eresses riedade e do controle são amplamente oposto da prop , . . . . s se os ses deste ultimo denvam pnontariamente do d . interes . , . ,, 23 eseJo o pecuniano . · h degan . Berle e Means nao fazem ~enhuma Objeção à teoria clás. Eles não dizem que Smith estava errado; ao contrári s1ca. . , o, estaria certo, e isso por entrever a poss1vel obsolescênele , . A , . d , . de seu propno teorema. permanenc1a a cntica tecida cial pe os dois , O que explica que ela tenha feito correr tanta tinta , se deve ao fato de tratar-se "do primeiro esforço de enverdura para criticar a estrutura legal da empresa moderna !~s próprios termos das noções econômicas tradicionais que , constitmam seus pressupos t os "24 . se as justificativas fornecidas pela teoria clássica se tomaram ineficazes, não foi porque foram refutadas intelectualmente, e sim porque foram anuladas por uma transformação real. É a tese da "inadequação da teoria tradicional".25 O capitalismo acionário, revolucionando as formas de propriedade, conseguiu, ainda por cima, a proeza de solapar os fundamentos de seu próprio discurso de legitimação. O problema de Berle e Means, ao contrário das reinterpretações redutoras feitas a respeito de suas teorias, não era saber como realinhar a conduta gerencial ao interesse acionário, mas vislumbrar sob novos ângulos a questão das motivações e finalidades da atividade econômica.26 Impunha-se

t

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3 Berle e Means 1932 , p. 115. 4 Manne 1961, p. 56o. 25 Berle e Means 1932, p. 302. 26 "A explosão do átomo da propriedade destrói a base do antigo pressupos tO segundo o qual a busca de lucro estimula o propnetano · · · do bern industrial a fazer dele uso efetivo. Isso questiona, consequentemente, o princípio fundamental da iniciativa individual na ernpres 10 . . . . . ª . d ustnal. E impõe um reexame da força motnz que anuna ªp1ndust · d d na e das finalidades em vista das quais a empresa mo ema ti:n: ou vai ser conduzida" (ibid., p. 9). Essa constatação "não ~uesreat· somente a hipótese da maximização do lucro como descnção · titucionat dlsta do ~omportamento empresarial, mas nega a base ms ª motivação clássica do lucro" (Mason 1958, P· 6).

2 2

77

inicialmente uma questão de legitimidade: se a e moderna não pode mais ser pensada como "a figura a rnp~esa da empresa proprietária clássica", 17 qual será ajustific:~hacta poder gerencial? tva do Berle e Means identificaram uma imensa brech Iogia econômica dominante. Restava saber cornª na ideo. o tap· Alguns não encontraram resposta melhor do que ª·la, conv como grande salvadora, a moral - melhor ainda urn °car, . . ' rn ad'versã o da moral repescada dos fossos de um 1mag10ário e 1eva1,

27

Eells 1962 , p. 16•

6.

GERENCIALISMO ÉTICO

Atualmente não existe teoria empresarial que explique ou justifique de modo satisfatório a existência da grande empresa moderna. Assim Jazem-se esforças para elevar à condição de te~ria da empresa a ideia de responsabilidade social (ou de "consciência corporativa" ou de "boa cidadania). WILBUR HUGH FERRY,

The Corporation and the Econom.y, 1959. Entretanto, por ora elas ainda não conseguiram criar, a exemplo das corporações medievais, uma consciência corporativa no lugar da responsabilidade individual das quaisse empenharam em se livrar justamente em deco"ência de sua organização. KARL MARX,

"British Commerce and Finance", 1858.

No período moderno, observava Charles Fourier, um novo tipo de discurso tomou o lugar da moral e seus sermões. Por não ter se dado conta cedo o bastante de que "a economia política invadia todo o domínio da charlatanice[...], os moralistas caíram no esquecimento e foram impiedosamente incorporados à categoria dos romancistas. Sua seita sucumbiu com o século xvm, morreu politicamente". Os economistas, por sua vez, logo se tornaram fortes demais para precisar ~e aliados - "desdenharam todo meio de aproximação e conti_nuaram a afirmar que eram necessárias riquezas, gra ndes 1

riquezas, com um comércio imenso, um imenso comércio".

..._ t

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Fourier t846, p. 189.

Entretanto Fourier acrescentava, "a queda dos tnorai. 18ta8 ' nva1s. · · Pod e-se aplicar a esses part·d preparava a dos I os l' 1ter4. . e no cadafalso 1· á at d nos a palavra de Danton, qu , ' a oau corrente, diz ao carrasco: gua rd e ª outra ~ara Robespie:ª ele virá logo. Assim, os moralistas podem dizer a seu carrasce; à opinião que os sacrifica: guarde a outra corrente Para o, .• J ,, Os economistas; eles v1rao ogo · , O q ue Fourier não previu, no entanto, e que essa "' · 1 "'ºtte anunciada seria seguida de um smgu ar renascirnent Diante da crise sem precede~tes que abalava a ~outrina d:· Adam Smith no século xx, nao se encon_trou sa1da tnelhor num primeiro momento, na falta de aggzornamento teóf ' b . ico . . ast1dores _, que - ele Viria, empenhavam-se para isso nos eXUm ar antigos ídolos. Com a economia sucumbindo , Por Sua vez sua rival decaída, a moral, voltou com a nova r ' ou. pagem de um gerencia/ismo ético apresentado nos anos 19 0 como a grande solução para o problema da legitimidade 0 poder gerencial.

J

Na visão de mundo do antigo paternalismo industrial, 0 patrão-proprietário reinava sobre sua empresa como se ela fosse um objeto seu. Ele era concebido, ainda no século XIX, em consonância com o antigo "mestre, o dominus, ou seja, o proprietário dos operários que ele emprega".2 Àqueles que questionavam seu poder, ele podia sempre contrapor: "Aqui quem manda sou eu porque estou no meu domínio, porque ele é meu". Um alicerce que a autoridade dos gestores de grandes sociedades modernas não pode mais reivindicar. A separação entre propriedade e controle não apenas desintegrou a antiga justificativa patrimonial da autorida· de; 3 ela também enfraqueceu as pretensões dos acionistas,

-

Périn 1886, p. 49 . 3 O que Macpherson escreve em outro contexto a propósito das contradições da teona · 1I'b era! moderna vale também ' . aqui:· essa teona "dev · .. ' . . 1·15 o . e contmuar a ut1hzar os postulados do ind1v1dua ~ possessivo em um . , . d octemomento h1stonco no qual a estrutura ª s d d d ª e e mercado nao - fiornece mais . . , · que as condições necessanas 2

roprietários passivos, a fim de que "a . pleS P d . empresa se· ornente segun o seu mteresse" 4 0 ap . Ja . ·i:rída s , · arec1ment0 d dtíli,- "S gigantes, "quase publicas", cujas deci·s- . e res~ oes1mpa efllP ·da de todos, "colocou a comunidade em . cJll a v1 posição de ta . e a empresa moderna não esteja soment . igtr qu e a serviço e)( rietários [...], mas de toda a sociedade" 5 dos prop . is interesses devem ser levados em conta na ad . . QUª "D ,, mm1s• das empresas.7 e quem , pergunta Edwin M . traça.o . . ernck "A dd ern 1932 , "os d1ngentes sao mandatários"?6 ~ . ~ da bl. lidade social . .. gestão", . . respondia um presi'dente 0 nsa P tivo arnencano, f01 amphada [...} a administração ., O~U , ~ não represen~a apenas, como antigamente,_ o interesse exclu. 0 da propnedade; ela opera cada vez mais sobre a base de SlV ., • • l ma relação fiduc1ana que a 1mpe e a manter um equilíbrio ~quitativo [... ] entre diferentes grupos".7 Formulava-se assim uma nova "filosofia da direção", "a filosofia do 'fideicomisso' ou administração fiduciária", que apresentava os gestores como mandatários (trustees) de uma pluralidade de • • 8 grupos soc1a1s. No que concerne à separação entre propriedade e controle, do livro de Berle e Means emergiu, por décadas, uma ideologia das responsabilidades sociais do homem de negócios. Em Social Responsabílities of the Businessman, texto seminal dessa temática, publicado em 1953, Howard R. Bowen rejeita a concepção de que "o indivíduo não teria outra regra além stfll

permitem deduzir uma teoria válida das obrigações políticas a partir desses postulados" (Macpherson 1962, p. 275). 4 Berle e Means 1932, p. 312. 5 Ibid., p. 312. 6 Dodd 1932. De modo sintomático, foi do discurso de um diretor corporativo da época, Owen Young, presidente da General Electric, que Dodd tomou emprestado o título de seu artigo. 7. Lewis Brown, presidente executivo da Johns-Manville Corporation ~pud Nourse 19 50 , p. 53. "O gestor", lê-se também em 19~, em La Rev~lution permanente (sic), obra coletiva redigida pelos e~itore: da revista Fortune "tem responsabilidades para comª sociedad t ornada como um 'todo" {Davenport 1951, p. 79). 8 Robinson 1959, p. 72.

81

de perseguir seu interesse pessoal e se eng · , . . . a.iar com em uma concorrenc1a sem misericórdia". 0 h ardor . d• , • Ollletnd efe c10s sem uVIda deve lucrar, mas ele também t e ne"'ó. . ern a obr·1gaçã," d e "levar em conta to d os os mteresses afetados" 0 dades da empresa.'º Pelas ati\rj. Se a autoridade privada legítima era consid . . . erada u b uto do direito de propriedade - a empresa é . tn atti, . . I a - o gerencial' minha e• Por. . d o a d'1rig1t anta, estou autoriza , . . . , IStno éf Justifica de modo nao patrimomal - a Iegitimid d lco a , . 1 . a e do ct·1 . gente, ao contrario, eva em conta interesses nã n. , . . o proptietá nos: e Justamente por nao gerenciá-la para mim · . , que esto autorizado a faze-lo. "Nessa abordagem", analisa Hal D u "a nova irresponsabilidade dos líderes institucion . raP_:r, ais nao controlados não é mais fonte de preocupação, mas prec . dição necessária para liberá-los de influências mesquinhon . as, deformantes, das considerações de maximização dos lucros no curto prazo".ª A autonomização do poder gerencial, a mesma que gerava o temor de uma deriva autocrática, transfigura-se, portanto, milagrosamente, em autonomia moral.A inversão é completa, pois então é possível afirmar, ao contrário de Burnham, que "esse novo gerencialismo não é uma nova forma de ditadura", e que "a ética gerencialista é intrinsecamente benevolente", justamente "porque o gestor não é, em nenhum sentido, um proprietário". 12 Como a arte da lideranca é a arte do "equilíbrio dos interes· ' , · .. sera' a de um "ponto. ses", a posição do "gestor quase anommo de convergência" das inúmeras pretensões que ele com~artI· . vir . t ude do;uste. lhará de modo equitativo, conforme a antiga ' . 'd milieu.'3 No mundo dos negoc10s, concebi o com o "um SIS· g Bowen [1953] 2013, p. 17. 10 Ibid., p. 50 11 Draper 1961, p. 91.

Lakoff 1973, p. 237. , . autocrático, 0 13 "Enquanto seu predecessor era um empresano A partir de gestor tornou-se um mediador" (Lakoff 1973, P·, 23 "capaz de então o gestor-modelo vai. se comportar com 0 arbitro e ele dete

12

?)·

' . . . determmar de modo mdependente o mteresse Público qu pôr em operação" (Romano 1984, p. 938).

rivado","' o patrão troca de pele, metamord govern O P , teJTIª e m uma espécie de "homem de Estado"'5 - "L'Etat ndo-se e " . . fose a . mas eu sou uma corporaçao , escreve 1romcamente à

c'est ,noi,

f nce' s um comentador americano.' 6 ' epoca,e em ra

. , . dos anos 1970, a tese de Berle e Means sobre a , O lfl!CIO • , A.te _0 entre propriedade e controle foi obJeto, como resaraça . . 1· d " . sep iólogo Maunce Ze1t m, e um consenso 1mpresltava o soe . . . sa ,, as ciências soc1a1s amencanas.'7 Ela estava no . nante n st d ma visão gerencialista do capitalismo, fundada em cerne eu 'd , ·e de verdades estabeleci as. umasen • . 0 principal lugar do poder econom1co se deslocou: "O 0 ;~r decisivo na sociedade indust_rial moderna", assegurava ~albraith, "é exercido não pelo capital, mas pela organização; não pelo capitalismo, mas pelo burocrata industrial".'ª 2 • o princípio de maximização dos lucros foi dispensado: "Jamais a ideia de uma motivação pelo lucro", argumentava oahrendorf, "tinha se distanciado tanto das motivações reais quanto no caso dos gestores burocráticos modernos".'9 3. A classe capitalista, esquartejada entre funções acionárias e gerenciais, perdeu toda consistência, dando lugar a uma "estrutura de poder amorfa".2° Berle chegou a evocar um "capitalismo sem capitalistas". 21

º

Bowen 2013, p. 49 . s Selznick 1957, p. 4. Um estudo publicado em 1956 sobre o novo credo dos negocios · · nos Estados Unidos" concluía que "os gestores . importante . assumem um pape1 mais e mais autônomo que o dos agentes dos propnetanos. · , , E· uma função de homem de Estado operara medi - entre os grupos que dependem da empresa satisfa. açao zer as re1vind · - legtt1mas ,. _ icaçoes e preservar a continuidade 'da organl.zaçao" (s utton et ai. 6, p. 195 57 ). 16 Bazelon 1962 p 304 17 A ' • ' PUd Zeitlin 1974 , p· 1 074. A s re1erenc1as " , · a seguu · sao - cita · das Por Zeit!' 1n. 18 Galbraith [ 19 Dah 1967] 1971, p. 19. 20 Ries:ndorf 1959, p. 46. 21 Serie an et ai. 1969, p. 236. 'parafraseado por Ze1t . 1·m 1974, p. 1076.

14 •1

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4. A propriedade privada dos meios de diziam já ter se tornado líquida, evaporou-se dProduçã. 0 efin·1 · 'q11 "A propriedade está desaparecendo" anun . tivarn.e11. e ' c1ava I< te, 1957. 21 "A propriedade privada dos meios de ªYse11. · Produ elll firmava Bell em 1960, "tornou-se, em grand Çào", co . e tnedid 11. ficçao".>a Em suma, havia uma certeza: "O capit 1_ a, ulila mesmo o capitalismo - se autodissolveu".24 ª e Pori880 22 Kaysen 1957, p. 312. 23 Bell 1960, p. 44. 24 Dahrendorf 1959, p. 47. O que a tese da separação e dade e controle permitia em termos políticos era formu~tre Proptiedo controle, abstração feita da questão da propriedade·ar ª questão talismo morto, não restaria nada mais a regular aqui·· com O capj. , ' corno a 1· alem do caso do burocrata. Acha-se a marca dessa refor I coa, . , . d . 1d mu ação no aggzomamento programat1co a soc1a - emocracia europei · d 1 'd b Ih' çar, muito ce o, pe o Parti o Tra a 1sta, o Labour Partya,acomeN . . , aGrã·Bretanha, a tese gerenc1ahsta da separação entre propriedad 8 .. , eecon. . d' M tro1e, m 1ca ason em . 195 , esta . _ aparentemente se tornando um argumento que norteia a opos1çao contra toda a onda suplementar de nacionalização. Se as grandes empresas tendem a se 'socializar' por que o governo deveria se dar ao trabalho de nacionalizá-las?: (Mason 1958, p. 4). Em 1957, a direção do Partido Trabalhista britânico havia publicado uma plataforma que consagrava o triunfo de sua ala direita. Esse documento não estava sob os auspícios de Marx ou de Ruskin, nem mesmo de Bernstein, mas de Adolf B'erle e Peter Drucker. O arquiteto dessa "metamorfose revisionista" do partido, Anthony Crosland, havia lançado suas bases em um livro-manifesto: "A propriedade tem cada vez menos importância para a questão do controle[... ]: primeiramente porque a alienação dos trabalha?~res é um fato inevitável, seja na propriedade 'capitalista' ou col~u~s~ seja, em segundo lugar, porque mesmo a propriedade "capitahSll se divorcia cada vez mais de todo controle efetivo" (Croslaorl i 9s6, . , elhas lutas p. 70). Consequentemente, sena poss1vel esquecer as v .0 sobre a apropriação social o economista americano RoSlOW na · à época·, se enganava a respeito: "Na Inglaterra" - ele comemorava . JislllOi "os socialistas dizem que os gestores já socializaram Ocapita prie-

::i.

de mo~o ~ue se pode. dispensar a incômoda formalidade d~ gis dade pubhca dos meios de produção" (apud Draper 1961 • P eração o correlato político do tema do gerencialismo da autoss~P não! . l'ismo, que Draper criticava: "A propne . d a de púbhCa d o capita . . [lloa0 . , . d capita1is mais necessana para a reforma gradual que leva 0

,, concluia Daniel Bell, "uma sociedade 'deseinhamos' . Locke e Adam Smith que repousava sobre as nhada' por Jo~n dividualismo e da racionalidade de mercado · sas do 10 .ui mos a uma euca ' • ' comuna l , sem, porem, que Premis .e nos d'lílt,· . . [.. ,]. J-lOJ 'dadeJ'á esteja plenamente defimda. Nesse sentido, omun1 l . essa c e nos faz deixar a govemança pe a economia vimento qu l fil ,1, l' . o mo dotar uma governança pe a oso;,a po 1t1ca - e, política par:s:o que tal mudança implica - constitui o retomo . tamente , . 1· t "•s JUS d de pensamento pre-cap1ta 1s a . O . ma observação. Proponho chamar de "gerenciaa um mo cabe aqu1 u . Co ncepção de governança que prevalecia antes 'dade" ague la h ande reviravolta neoliberal, que tanto ecoava como conda gr a noção de governamentalidade. Michel Foucault trastava com . a "governamentalidade liberal" como uma resposta conce b 1a roblema cardinal das modernas artes de governar: como ao p duzi'r a economia no mtenor . . d o Es t a d o.? C orno " exercer .mtro 26 0 oder na forma da economia"? No prolongamento desse p projeto, 0 neoliberalismo procurou anal'1sar " compo rt amentos não econômicos por meio de uma escala de inteligibilidade economicista", sobretudo para fazer a "crítica e a avaliação da ação do poder público em termos de mercado".27 O predecessor, o gerencialismo dos anos 1950 e 1960, sob os aspectos prático e teórico, fazia totalmente o oposto. Seu problema não era introduzir a economia no interior do Estado, mas, ao con"NÓS t

socialismo, pois o capitalismo está se socializando por si mesmo de outras formas. A transferência de poder que se efetua nas empresas e~ prol de gestores responsáveis significa que as formas da propned~d~ privada não são mais compatíveis com nossos objetivos. A ~oci~hzação dessas novas formas de empresa vai prosseguir com a mev1tabilid· - gradual. Em nosso programa, . a d e d e uma progressao a propnedad . bl' . e pu 1ca pode ser guardada no porão, já que o desenvo.1v1mento do novo co let1v1smo · · . por s1. de empresa esta. cumprindo soa tarefa . que, outrora, o movimento socialista acreditava ser sua". 0 caminho em d· · · . , ness ireçao ao soc1ahsmo, conclm Draper, não e outro, , e esquema tica d • se nao o de um processo de "coletivização burocra25 Be~\7undo capitalista" (ibid., pp. 105-06). 26 973, p. 23. Foucau\t [1 ] 27 ld [ 978 2008b, p. 127. · 1 97 8-79] 2008a, p. 339 .

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trário, um análogo do governo político no interior d privada dos assuntos econômicos. Ele não era conceb· ª &est4 0 arte de exercer o poder politico na forma da econo td~ Co111 0 , . como uma arte d e exercer o poder eclllta: "' ao contrano, ·•,as, ,. . d ono"'· sob a forma de uma po11t1ca priva a. A gerencialidade '"1Co "como forma principal de saber" a economia - sua pr;~ote111 epistêmica fundamental visa, antes, para além da éti dileção . e, como veremos, a, estrategia. , . ca, à Po\·,. t1ca Em 1954, em The 20th Century Capitalist Revolution · · d e um ges t or-prmc1pe ' · que adminis' Ber\e pmta a tie1·1z imagem

, . . - "d , 1 d . os negocios em pos1çao e oracu o o mteresse público" tra p • Ode-Se ler esse texto como uma retomada anacrônica em 1 , 1 . d . , , peno secu o xx amencano, o ant1~0 genero espelho do príncipe,>! Berle refere-se a santo Agostmho e sua Cidade de Deus · - mora 1 e fil oso' fi ca [...] guiava inevita. ' em que " uma orgamzaçao velmente, afinal, o poder".29 Ele evoca assim a corte dos Plantagenetas, em que um homem, com frequência um padre, chamado "chanceler", desempenhava o papel de "guardião da consciência do rei". 3º O gestor, o novo príncipe, exercerá também seu poder benevolente com a ética dos negócios para oferecer toda proteção. Único limite imposto ao poder do gestor: sua consciência, limitada pelas sanções informais da opinião pública. 31 Algumas linhas depois, e sem aí ver uma

Nesse tipo de tratado, expunham-se ao soberano ou ao futuro soberano as qualidades morais de um monarca ideal. Oferecendo· -lhe um duplo elogio, esperava-se que ele se decidisse, seduzido por essa projeção potencial de si mesmo, a parecer-se com seu r:flexo. Sêneca que a tradição considera um dos fundadores desse gene~o ' tinha endereçado a Nero em seu Tratado sobre a clemen • eia·· literário, t mostrasse que este livro "desempenhasse a função de espel h o e e ,; 5• . de tOdas assa" a tua pessoa como a que há de vir para a maior • dor , • . o impera ' . cf. fações". Não deu certo. Pouco inclinado a clemencia, as veias. como se sabe, acaba por ordenar ao filósofo que cor 1e Sêneca [55-56 d.e.] 2013, proêmio 1, 1. 29 Berle 1954, p. 178. 30 Ibid., p. 67. . . serie res3~ __Àqueles que julgariam essa garantia bem du~nnuta, dres capa· / ~ o n d e que é preciso crer nas forças do espírito: "Vimospa 28

contradição, Berle afirma que os gestores constiticU 1ar . par "rnicro-oligarqmas que se perpetuam por elas mesmas", tuern .. filosofia tácita dos homens que dela fazem parte" e que ª m "controle real" contra as derivas desse poder.32 arante u , . . 1 . g do muitos eram cet1cos, me usJVe no seio da corcontu , , . cialista: como podenamos, depois de tudo "conote gere n ' re . ·mamente nos gestores para trabalhar pelo bem-estar fiar rnint . . 1 uando não se podia confiar neles nem mesmo para . . . 5octa q . do capital de seus pr6 pnos ac1omstas"?33 cuidar . . que confiar na autoproclamada Mats , . Virtude dos gestores , s propunham moldar o exerc1c10 do poder corporativo atgun . . _ . or uma espécie de const1tmçao mterna - uma carta enunP_ ndo os direitos e deveres da administração. Tratava-se de cia)icar ao poder gerencial "os princípios de governo limitado ap · · 1·'.srno oc1'denta1",34 que são a essência do const1tuc10na Richard Sedric Fox Eells, executivo da General Electric, esclarece em 1962 que perguntar se a empresa possui uma

; ; de intimidar os policiais[ ... ] o filósofo geralmente pode manter o respeito dos políticos. Há razões históricas consideráveis para se esperar que apareça uma liderança moral e intelectual capaz de equilibrar as criaturas de Frankenstein que engendramos" (Berle 1964, p. 187). 32 lbid., p. 180. 33 Bratton e Wachter 2008, p. 131. "Sugeriu-se", escrevia Earl ~atham, "que as empresas - empresas antropomorfas, dotadas de inteligência, de vontade, de personalidade e outros atributos humanos - desenvolveriam - última homenagem a santo Agostinho e a Freud - uma consciência, cujas operações limitariam e controlariam os excessos do poder corporativo e estabeleceriam um novo regime . pleno de benevo l'enc1a: · a nova 'Cidade · de Deus' nada menos. Ma,s,- / se f ' iramos uma lição da política é que o poder só pode ser freado e . ' . controlad 0 1 , . pe o poder, e que isso não se consegue de maneira autotnattca ne trata de' f m. sem que os seres humanos ponham su;J.-mão. [...] Se se trole d rear ~ controlar o poder legislativo da_ efupresa, esse contiv e~e ser mtegrado por construção à própria estrutura corpora· a, e nao so . ,. d ser mente aphcado a ela a partir de fora, tampouco po e confiado' · · de suas autoridades mtemas • (Latham 1 as propensões subjetiv'as · 9 '.34 ~(" 72, p. 228). ./ tller l.96Q, p, -i 569.

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"estrutura 'constitucional"' equivale a colo . cara" da governança corporat1va" 35 - notemos que E 1 , questã . . a ut1·1·1zar o termo, à epoca , primeiros em desu e Is e urn doo so, ne s acepção. Uma empresa certamente é "um prod ssa n0... . . utore 'Q tnbmdor, um fornecedor e um comprador de be urndis. " , b , . ns econô cos , mas e, tam em, outra cmsa, um "centro decis, . lllj. instrumento de poder e de autoridade''.J6 Como tal orio•, "11111 dirigir-lhe outras questões além daquelas feitas ' 1é Poss{Vel . Peosec0 mistas, questoes de governança. "Quem control no. a reaJrn uma empresa? Que poder ele exerce? A quem pre t ente s arn con~-os detentores do poder? E, se necessário, de que ."Ili • 1· · A empresa e uma o 1garqma que perpetua a si mes maneirai· .fi 1 , , . ma, corno a qua11 caram a guns, ou e uma espec1e de repúbiica?"37 Eells apontava que a dificuldade estava no fato de 'd ... -, que o governo pnva o corporativo nao e evidentemente u , . l ma . d emocracia, tampouco e poss1ve para uma grande empresa ser uma autocracia". 38 A via do constitucionalismo corpo35 Eells 1962, p. 161 grifos do autor. 36 Ibid., p. 20. 37 Ibid., p. 17. O cientista político Earl Latham também propõe, no início dos anos 1960, "reconstruir as empresas à imagem do

governo público" e reorganizar essas "oligarquias privadas• para fazer delas repúblicas. Já existe um instrumento jurídico para tanto: a "carta de incorporação" em que o Estado enuncia as condições nas quais autoriza a criação de uma empresa (Latham 1960, P· z(ie 33). Bastaria dar novamente força a esse documento que se t?mou simoles:fu idade, reformular e ampliar seus termos para ~por,. _::.=-:. t Eells me~ uma reforma da gove a corpora_tiva: De ~ua ~ar e, m resas na-se para um processo de a const1tuc1onahzaçao - as e P taiS dotariam a si mesmas de um corpu:; próprio de leis fu nd~menocor'. -· · nabsm sabendo que "o bom fórum para elaborar o consutuci0 ativa "A altero ) porativo [...]éa própria empresa" (Eells P· 324 · masselll que ele propunha", comenta Heald, "era que a emp-r_e,s~s !ºconstillt por si só a iniciativa a fim de autoeditar seus prmeiP'º eia! wialcionais. Mas isso deixava a questão da legitimidade gerenaporiasb ~ente sem resposta" (Heald 1988, p. 296): Na ve rd_ad:~ ªacidade~e ncocheteava: como essa autocracia gerencial, de cuJa p serianiail desenvolver uma consciência responsável se desconfiava, confiável quando se tratasse de Jazer a sua lei? 38 Eells e Walton 19611 p. 381.

, treita: que espaço político lhe resta, sobre a base ·voe es , . ratt d lo diagnostico, entre, de um lado, uma autocracia desse ~PJga insustentável e, de outro, uma democracia que ue eleJU . . q . . 7 Efetivamente, nao mmta c01sa. le rejeita. . , . e atenção, advertia um relatono da fundação RockeJ\lfaS, . . . de "fazer s: se adm1t1mos que temos o d'ire1to feJler em 195 overnos privados perguntas da mesma natureza a esses g . Ias que endereçamos a outros tipos de governo"; se, daque . d , . , b' . to "os ideais emocrat1cos que convem mo 1hzar portan , . . , lgar O Estado podem igualmente servir para avaliar paraJU . , a maneira pela qual a vida dos homens e governada no setor . do" ,39 então em breve teremos um grande problema. pnva "Formulado de modo simples, a empresa é uma forma autoritária de governo industrial no seio de uma sociedade supostamente democrática"; 4º ora, se lhe aplicarem os padrões da legitimidade política, haverá necessariamente contradição entre "a tradição democrática de um governo fundamentado no consenso e os procedimentos inevitavelmente hierárquicos e autoritários dos negócios". 41 Alguns estimavam que nisso haveria grande perigo. Se gritarem aos quatro ventos que "a administração não leva a sério os interesses dos trabalhadores", então - advertia Peter Drucker em 1950 - a administração "só terá legitimidade com a condição de trabalhar esse aspecto". Mas em que medida isso é possível? É muito imprudente fazer esse tipo ~e promessa, como se pôde confirmar "com uma experiência rigorosamente comparável [... ]: a do paternalismo colonial moderno"."' Cometendo o erro de adotar uma retórica de if h . ----- - - - - ~ - ~ er o t e Democratzc Jdea ... 19~ p. 59. 4 Bazelon 1962, p. 297. 41 H:eald 1 88 . / 9 , P· 307. Ver tambez;n Cochran 1956, p. 39. Andrew li k er recorr1·a a' segumte · · nao é ac ana_!5)gia: "Um zelador de zoo l'ogico O

;"'ThePow 0

frescos represe~tante das focªS--p(ir satisfazer sua necessidade de peixes Um -- - . · carcereiro também não é o representante dos detentos Por consult · 1os a respeito . lllod ade suas atividades recreativas. Do mesmo o,ª comun'd d · 1 a e corporativa é desprovida de toda democracia interna" 42 D (H:acker 1958, p. u). rucker 1950, p. 104.

89

···~ "governo para O povo", o discurso colonialista se Pos· . ã d d . . ic1on . em conflito com sua "o b ngaç o e a mm1strar a coJ• . Ott • . lí . on,a função de interesses econom1cos, po ticos e estrat' . elll . . , egicos d metrópolc".-u Tais discursos foram catastroficos,já q a . . ue,ll'la' que "assegurar a única coJSa que importava, a saber f Is • 1 ,. , azet·s• aceitar pelos nativos como um governo eg1hmo" .. 1 , . . , . ' e es co cientizaram os povos colonizados da d1stanc1a entre . ns. os idea· do governo colonial e suas responsabilidades em rela ã 18 •. d a me tropo ' l"44E, . afirma Çoaos interesses econom1cos e · a1 esta, D "T d d . , . h ker uma constante na 1stona: o os os espotismo tuc. ' s esclarecidos acabaram por engendrar a revoluçao", 4 s E se p . . . . , ers1stir nessa via , o "despotismo gerencml esclarecido" não es capará à regra. Era justamente isso que temiam também, no mes · · Mi·1 ton Fne · d man 1ogo acionou O sinal mo penodo, os neo l'b I era1s. de alarme. Em março de 1958, num seminário que acontecia sob as douradas molduras decoradas com grifos do Drake Hotel de São Francisco, o economista de Chicago assumia um tom solene: "Se há uma coisa que destruiria com certeza nossa sociedade livre, que solaparia suas próprias fundações, seria a aceitação generalizada, por parte da administração, de outras responsabilidades sociais além de fazer o máximo de dinheiro possível. Essa é uma doutrina fundamentalmente subversiva". 46 De tanto repetir, por toda parte, que os gestores são "funcionários públicos, mais que empregados de seus

43 Ibid., p. 104. 44 Ibid., p. 104. É o estranho momento em que Drucker com~ç~ ª soar como os pensadores da negritude. A propósito dos "principias

. . " d e 1789, dos quais se paramenta a co Iomzaçao . - francesa, 1morta1s Senghor escrevia: "A infelicidade é que esses princípios não foralll . d os mtegralmente, . . ·a ade é que eles ap I1ca sem hipocrisia; a fehc1 [] "1 oram parcialmente aplicados o bastante para que suas vir· tudes ...as · Jean-Paul ' • esco Ihem dessem frutos. Como diz Sartre, nos do colonizador para voltá-las contra ele" (Senghor 1964, P· 399)· 45 Drucker 1950, p. 282. 46 Friedman apud Diehm 1958, p. 4.

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democracia, cedo ou tarde, eles vão aca. . - "41 . nistas, em uma rdo com técmcas pu, bl'1cas d e ele1çao . 'd 0 s de aco .. 8c10 1 colh s acionistas designam os dmgentes corbar e5 de que o . grO nome . d conselho de administração? Fnedman or meio o . . . rativos P . nhuma just1ficat1va para essa situação Pº - o existe ne . díZ que na aqueles são agentes a serviço destes, e, se exceto que d · · que o d'm· de fato, . tudo desmorona. Ao se a m1tlr · d o d o pu'bl'1co, tal pos tulado cai, . é uma espécie de agente pnva orporativo ,. d . , 1 . aente e 1·amente que "e ma m1sswe que tais ageni, • se necessar conclu•-. [ ] eiam nomeados como são hoje. Se estão de 'bhCOS ,.. S J tes pu . do público, eles devem ser eleitos por meio de . . d o exercer f unçoes fatO a serviçoJ'tico".4ª os gestores, a d m1tm I . d ' . processo po tais expõem-se de mo d o 1mpru ente a' cnt1ca e, vernarnen ' f 1 . d , . go a algo muito pior. Sob o charme a ac1oso a et1ca, em breve, · , · "A d . an imagina as esteiras de um tanque sov1et1co: ouFnedm . l . 1· . - d . . da 'responsabilidade soc1a ' 1mp 1ca a ace1taçao a VIsao trma· 1· ta segundo a qual são mecamsmos · · pol'1t1cos, e nao soc1a 1s mecanismos de mercado, aqueles apropriados para determinar a alocação dos recursos". 49 considerada uma forma de governo, a que se assemelha a grande empresa? Ela causa uma péssima impressão. Aparece como regime em que uma casta de dirigentes não eleitos exerce um poder sem partilha. No começo dos anos 1960, um anarquista britânico disse que a empresa é "um sistema político em que o governo (quer dizer, a gestão) não presta contas a ninguém além de aos acionistas[ ... ] e no qual os que devem obedecer, desprovidos de qualquer cidadania não têm o direito de ele ger os. c h e f es que os governam. Eles' tem , apenas o direito d e1 . . e ormar grupos de pressão (os sindicatos) para tnfluenc1ar o _ governo, eventualmente retirando dele sua colaboraçao (o d' . cham d ireito de greve). Esse sistema[ ...] não merece ser ª 0 de democracia[ ...] mais que o regime oligárquico

-

47 F ·

48 F:~::rnan 1962, p. 134. . rnan retoma (Ffledrnan esses argumentos em uma célebre tribuna '19 lbid 1970, p. 17), ., p, 17,

que reinava na Grã-Bretanha no século xvni" so Nesse sistema, os trabalhadores são privact . . 1' . , os não a d e d1re1tos po 1t1cos, mas tambem de certas libe Penas nhecidas, aliás, como inalienáveis: "Há quase ~:~de~, tec0,. - escre\'ia em 1977 um professor da Harvard Busin secu108, "os americanos tiveram a liberdade de imprensar ess Schoo1, o direito à liberdade de expressão e de associaçã:onh~cida, a procedimentos judiciários adequados, 0 direito', 0 ~lteito vada, à liberdade de consciência[ ... ], mas nas em ª Vida Pri· '" . . . Presas el 1oram pnvados da maior parte dessas liberdades civis [ es partir do momento em que um cidadão americano ...].A . ou d o escntono, . , . das 9h às 1 h, ele ficruzaa porta d a '"'b 1a nca 7 · · O tra b a Ih ador continua simcapra. t1camente sem d"1re1tos. · , nao - aquelas que importam•. ' , a ter l1.berd a d es po l'1t1cas, porem 51 O problema fundamental, a aporia ideológica decisiva . que a teoria democrática liberal não fornece nenhumaj~:. tificativa coerente para essa assimetria de tratamento. , 0 capitalismo" - resume Jaroslav Vanek, o economista favorável à autogestão - "está fundamentado nos direitos de propriedade, enquanto a democracia se fundamenta nos direitos pessoais.[...] Se o mundo ocidental está esquizofrênico a esse ponto, é porque temos, ao mesmo tempo, uma democracia política e uma autocracia econômica". 50 Nos anos 1960 e 1970, ecoando as revoltas operárias, filósofos e economistas críticos elaboram teorias da democracia econômica. A forma de autoridade que ainda prevalece n~ empresa - que Marx descrevia como a de um "legisiadorpn· vado" dotado de um "poder autocrático" 53 - parece-lhes uma ·• de reminiscência de relações de poder arcaicas, um ba5uao tirania que escapou das revoluções democráticas. 54 lo Em Esferas dajustiça, Michael Walzer parte do ex;:pdo de Pullman, uma cidadezinha americana fundada no

Ostergaard 1961 1 p. 44. Ewing 1978, p. 3. 52 "Cooperative Economics ..." s.d. 53 Marx [1.867] 2011, p. 333. 54 Cf. Dahl 19n. 50 51

1 r ico industrial George Pullman. ProprietáJX pe O século" ruções e do solo da cidade, ele acreditava ter o rio daS co~s~vernar" os habitantes "da mesma maneira que direito de g overna sua casa ou sua oficina". 55 Nessa cidade, um homem gurn autocrata privado. Sem eleições, sem liberputlmª~ ~ra rnJ·ustica regular, muito menos o direito a assos c1v1s, se . . . da de ifestação. Estimando que a propnedade de uma . ção e man . , . d eia "incompatível com a teoria e o espmto e nossas · pos • fi m a' situação. · ci"dade .era _ ,, a suprema Corte d e I11·m01s . titulÇOeS ' . ins · de walzer: esse tipo de poder, aplicado aos habi, I . , . d pergunta cidade é incompat1ve com os pnnc1p1os a d tes eu ma ' tan . li'beral· mas o poder que Pullman exercia sobre democracia , balhadores de sua companhia, no fundo, era diferente? os• traele responde. "Se isso e' con d enave ' l no caso d as c1'da d es, 0 Na -' ale também para as empresas e as f'a b ncas. . " 56 Nos d 01s . entaov uma só norma de autodeterminação deve prevalecer. cas Os , "No que concerne ao poder político, sua distribuição democrática não poderia parar às portas da fábrica. Os princípios fundamentais são os mesmos para os dois tipos de instituição. Essa identidade constitui a base moral do movimento operário[ ...] e de toda a exigência de progresso em direção à democracia industrial." 07

As teses de Berle e Means haviam posto em xeque o discurso de legitimação tradicional da ordem capitalista. O problema er~ teó,rico, mas também eminentemente político. "A economia classica" - lembrava Edward Mason - "tinha fornecido não apenas um sistema de análise ou um 'modelo' analítico com o qual se po d"1a explicar . o comportamento econômico, mas tamb, _d em uma defesa - e uma até muito bem calibrada a tese seg d lllo .d un a qual o comportamento econômico provi o [ ] p 1. . . . op ··· e as IIlst1tu1ções de um sistema de livre mercado erava, em sum·1e, para· o m . t eresse pu. bl"1co". Nunca e, d ema1s .

°

.....

55 Walzer 56 lb"ct 1983, p. 296. 57 lb'. .1 p. 301. ld, p 19 ' · 2 98. Ver ta b · 93. Para un . .. m em Pateman 1970; Young 1979; Bowles et ai. la sintese d essas . ct·1scussões, cf. Hsieh 2oo8.

83

ressaltar - ele prosseguia - "que o crescime t lismo do século XIX dependeu em larga medid:; do ~ªPita. geral de uma justificativa sensata do sistema sobª aceitação . pol'. ' Arebase mesmo tempo morais, 1ttcas e econômicas l' 8 ao gerencial vem hoje minar, de modo devastador ~s iteratura . • Pressup tos desse sistema. E o que ele oferece em seu lugar?" 58 os. ou quase nada. Pior, o gerencialismo ético que se · e Nada, . , . es,orço para preencher o vazio da margem, perigosamente à ~ • . dd . gencias e emocracia em uma empresa, fragilizando,sex1. . , . pnnc1pio. . ,. assun . . ·- em seu propno a mstitmçao Do lado dos intransigentes, apelava-se ao repúdio desse . . . .. s discursos antmatura1s para transm1t1r os valores capitalis, tas: "Mais que lutar pela sua sobrevivência efetuando uma série de reformas estratégicas e assumindo a pose do homem de Estado industrial, o mundo dos negócios" - aconselhava Theodore Levitt em 1958, na Harvard Business Review- "deveria lutar como se estivesse em guerra. E, como toda boa guerra, esta deve ser conduzida ardilosa, corajosa e, acima de tudo, não moralmente''. 59

58 Mason 1958, p. 6. 59 Levitt 1958, p. 43·

1.

01scIPLINAR os GESTORES A corrida pelas procurações é, na melhor das hipóteses, um meio de atenuar a autocracia pela invasão.

"Review: The American Stockholder, by J. A. Livingston", 1958.

BAYLESS MANNING,

Jiberais a questão da legitimidade do poder gerenPara os neº ' . . 1 · plesmente não devena ser posta em foco. Os gestores eia sim . - os agentes dos acionistas e ponto final. Acima de tudo, sao ue não se abra a caixa de Pandora. Com a eliminação defiq nitiva dessa incomo d a mterrogaçao, so b rava apenas um problema de ordem técnico-prática: se é verdade que os gestores não dedicam todos os seus cuidados e esforços para maximizar o valor acionário, como impulsioná-los? Eis um novo aspecto em potencial da crise de govemabilidade: após o caso dos trabalhadores rebeldes, o dos gestores preguiçosos. Os economistas que assim reformulavam o problema de Berle e Means se empenhavam, antes de mais nada, em minimizar sua amplitude. "Se eles tivessem de fato o controle da empresa, os atuais gestores da United States Steel poderiam facilmente t ranstenr & • • para si• mesmos digamos cem vezes o seu salário " o 1 ' ' . . · ra, e es nao o fazem, o que prova que sua margem e hmitad u · . _ . a. m presidente executivo com certeza pode aquiescia Tullo k " , . . me c - contratar uma bela secretaria Jmra" smo que el · fas m ª nao SeJa a mais qualificada das datilógra, as, se ele "d ·d· de seu 1 eci isse dedicar, regularmente, a metade s ucros a seria nu . programas de luta contra a pobreza [... ], . "d o de suas funções".' Avaliemos a esco\h md IIlstante d em1t1 equada d ..._ e seus exemplos. Na pior das hipóteses, A

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ck, em Strei 1 suas discuss- ss er 2oo3, pp. 295-ss. Tullock expõe, com base ua teoria ger 1does, ª teoria do amigo Manne, que "nunca escreveu 85 a a empresa". 8

então, pode haver uma gestão não ótima, uma 1 eve 6 1 zelo, pequenos favores sexistas, mas estamos lo e. ta l!e dro criado por alguns, de uma gestão onipotente ~ge do %a. livre, pronta para dilapidar os dividendos dos ri~o:te.Jll\ente dá-los aos pobres. a fill\ ele Eis a que se resume o problema: como os aci . - pelo d"1stanciamento . - "perfeita onistas l'l.ào sao, e d"ispersao, · · " , , cientes em sua supervisao , e passivei que os ge lllente efl. se conformem de todo à determinação de "fazer stºres li.ão . ' I". E n fi m, o que os econolll' o lllázj..., . h e1ro d e d 1n poss1ve ·••o mam de "conflito de agência".' Há uma "relação1stª8 cha. eia" quando alguém (doravante designado "o ag de agên. ente") por algum outro (doravante designado "o pri·n . age c1pal") seu nome e em seu lugar. Denominação erudita elll - tnvia . . l : como ",azer com que seu trabalho para questão . uina seJa fe't1 pelos outros? o O "problema central que os principais enfrentam , . nessas re laçoes e assegurar que o agente aJa efetivamente principal".3 Problema, portanto, como bem formula B~:lo Mitnick, de "monitoramento da agência". O principal recorrer a diversos dispositivos para controlar a atividade d: agente, mas essas "tarefas de vigilância e policiamento têm custos". 4 Daí a questão: como reduzir os "custos de agên· eia"? Como bancar o meganha com gastos reduzidos? Assim, o problema de Berle e Means era, novamente, uma tarefa de policiamento do trabalho gerencial, e todo o desafio consistia em descobrir procedimentos que permitissem disci· plinar com eficiência os gestores oportunistas - e com eles toda a cadeia de comando -, a serviço apenas do valor acionário. Entretanto, esse questionamento só se justifica - obser· vou um crítico - "se, e somente se, se pressuponha que os 1

poi

Ibid., p. 295. , ·5 . fi nance1ros . . dores pró-negocio Os economistas e os h'1stona da eli· reduziram o livro de Berle e Means a uma versão muito tr?,ncabl~!11a minando as questões de poder e reduzindo-o apenas ao pro da agência". Cf. Lipartito e Morii 2010. 3 Mitnick 1975, p. 27. .,.,. p 1149· ' ' h19,-• ' 4 Alchian 1965, p. 35. Ver também Furubotn e PeJOVIC 1

2

a vez restaurado seu poder, vão disciplinar os urn l da sociedade no seu conjunto",5 o que signi~ emPro · stores ''postulado o que devena, ao contrário ser ge "tir com O . ' 1 flCª adrl1 isto é, que o restante da sociedade não teria de . , . ·onado, ' questl com as empresas se sao os propnetános' que as se ~reocu~~{ Mas há algum indício de que a nossa sociedade diílgern: [ ura nas mãos da Ford Motor Company do que 6 e ertamente, no priestá ... ,..ais segral Motors ou d a AT &T7" • . a Gene · · · d nas do patrão-propnetano, a um·da d e d o controle ·ro caso, o - " . d' 'd f!le 1 • 1 ermanece, mas, entao, por quem o m IVI uo P , l " irnonta tr pa familiar é, por sua vez, responsave ? 7 ou O grup~do esse tipo de objeção, os economistas neolibe· Ignora · d os d e "a 1·m h amento d e mcena buscar meto . corneçavam ra1 5 t s a regular a conduta dos gestores com base nos . s"' ap o uvo dos acionistas. Eles tinham a convicção de que as interesses _ "á estavam ali, totalmente prontas. Na verdade, se soluçoes J e mecanismos discretos operando nos bastidonão h ouvess . , . . es ara neutralizar a dmam1ca atualizada por Berle e Means, r s!iedade por ações já teria desaparecido há muito tempo ~a face da Terra, fatalmente destituída por outra mais eficiente no metamercado concorrencial das formas de organização. Na realidade, acredita-se que, se ela perdura, é porque à perda do controle proprietário se contrapõe um "papel disciplinar dos mercados". 9 Paul Sweezy, refutando as teses de Berle e de Burnham, foi um dos primeiros a apontar, já em 1942, um fato simples, porém crucial, que explicava o alinhamento persistente do controle gerencial ao interesse acionário. Ele observou que as pessoas que dirigiam grandes empresas, "apesar de deterem a~enas uma porção diminuta do total das ações, são, apesar disso, quase sempre proprietárias de partes importantes em l. 011 istas,

-

5 Manning 1960, p. 41. 6 lbid., p. 42, 7 lbid, 8

9

Demsetz 1988, p. 151. A.glietta e Rébérioux 2004, p. 47.

87

:alor ~bsoluto, de modo que seus interesses s idênticos àqueles do grande corpo d . .ão, larga,._ . , . os P1 ºPnet · · ·••ent N o micio dos anos 1960 o econo1 . . arios".'• e, M . • 111sta brw . arns, que continuava a crer ferrenham t ~ntco ilob· " d . . en e na td . in a a mmistração goza de considerável liberd eia de q1i na era do "capitalismo gerencial" questioi ade de ação•~ 1: • • 1ava-se e 1 eitos potenciais de uma eventual modifi _ acercado caçao na s das remunerações dos dirigentes. Ele ressalt estt\Jt1ira ouquen d os Um. dos alguns economistas preconizam os Esta. , d 1· . . 1 . . outras fo a 1em o sa ano, me mudo diversas formas d .. ntes . ,, _ e recomp fi nance1ras , entre elas os bonus e as stock oiptio 12 ensas " . t . . . . ns, a firn de sm omzar mais mt1mamente os interesses dos . . gestores a d os ac1on1stas" 13 e "encorajar um 'comportam os ento neocfás. Sweezy 1942, p. 5. De modo geral, "quer os gestore . - d' . s seJam ou nao iretamente estimulados pela 'motivação do lucro' como adesão subjetiva a um valor", lembrava Zeitlin, eles são objetivamente obrigados, em uma econ?m_ia de mercado, ª. se curvar a ele (Zeitlin 1974, p. 1097). Em seu class1co The Power Elite, publicado em 1956 o sociólogo Charles Wright Mills rejeitava o discurso gerencialista' como um "curioso conjunto de noções confusas": "Sustenta-se" que os executivos dirigentes das grandes empresas "são responsáveis pela geladeira que impera na cozinha, pelo carro na nossa garagem, assim como pelos aviões e bombas que preservam hoje os ameri· canos de perigos iminentes". Ele se arriscava, no entanto, a dirigir questões delicadas a esses homens poderosos: "Sobre o que se fim· n.\u li Ul' 1111 J . . ( d ~ tá,, h..it ' 0 r1K1c.lo, mas s~· Jobram Je moJu tau caku a o Jll yuc a · · . . . J. \u,. '-1U1:lla J' prupri,1 ,.upcnunJaJc Ja turi;a aJversa cn>.:;l'll ra di.1..,\ i.L.i · a '-lllc, j.lor c.,c1111,1lu, us abastaJrn, se exibcm cumu )CUJr· Íl'~IJun~ b·1· · · · e JaJusll\U · · · l··· 1 ª 1 1,1adc, da 111ural1J;1Je, Ju J1re1tu •

125

Tal como anunciado por Lynd a . . d a nos centros de conferências ' prunav agita E era de 1 · si'dentes executivos das grandes emp · m toda Parte 9O71> Eo·1 . resas ame . ' s Pte. suas sempiternas assembleias gerais d . ricanasv· . e acion. iralll badas pela mtrusão dos militantes. Essa , •stas Pert " d' · . nova tati ur. os mgentes corporativos, confrontado ca obrio:0 . s~llla bU de uma disrupção completa dessas reu ._ Perspecti... n1oes em ·• empoladas quanto maçantes a exibir sua gera[ tão . ' sarmasd As companhias foram forçadas a imaginar d e guerra, , e anternã táti. cas para conter os manifestantes".24

°,

Em 1970, o Narmic (National Action/Resear h e onthe~n11· tary-Industrial Complex), instituto de pesquisa mT , . 11tante, redi. . giu um pequeno gma pratico expondo diversas táticas .irromper nas reumoes . - d e aciomstas.2 . . para. 5 Em 19 71 uma 1 ~~ zaçao patronal, o Conference Board, publicou seu próprio manual de antiativismo destinado às empresas. Ofolheto,intitulado "Gerir a contestação nas assembleias gerais de acionis, tas", dava preciosos conselhos: efetuar previamente um ·tra· balho de informação para descobrir as intenções dos grupos que se preparam para se manifestar;" 26 controlar a entrada com base em uma lista de admissão nominal; prever grandes galões de água para lavar o chão em caso de ataque com bombas de mau cheiro; 27 gerir a fala da plateia centralizando o contr~I~ dos microfones ("posicionados estrategicamente nos audito. d os a. von tªde",a)·' prever, rios, eles podem ser ligados e desliga ·c1ros conforme necessário, uma cabine de som protegida por vi . blindados; 29 distribuir na sala agentes d e segu rança encarre

desafio de se mostrll· é possível que sempre tenham de enfrentar O • [ JAssim,~ à altura dos próprios 'códigos' ou regras morais.! ·~· na cabeça ate pode se apropriar de suas tábuas da Je1· e dar com e ª

1

morrer" (Alinsky 1989, p. 152). Taylor 1971, p. 75. Westover [1970] s.d. Egerton 1971, p. 2. Ibid., p. 22 Ibid., p. 17. Ibid., p. 18.

24 25 26 27 28 29

oceder à "evacuação firme e rápida de agitadores"JO ,radoS de pr referência à paisana, a fim de evitar "a imagem de l>- t'dosdep . d 'b' (ves I olicial "31); ou, am a, pr01 Ir a presença de câmeras gstadoP . .. ·- se t rans,orme ., urn vistas a evitar que a reumao em sala corn na idiático",P circo rn d acontece um confronto, aconselha Carl Gerstacker, Quan° , , executivo da Dow, a regra numero 1 e "não reaesidente • . fu . pr gero":33 "Talvez voces esteJam nosos, e a maior ·r corn exa . [ ] , . . gi d ezes têm razao para isso, ... porem a pnme1ra arte as v P. ais importante de todas, é manter a calma".34 Nada coisa, a m b d esse caso que uma oa preparaçao, que po e conrnelhor, n ' . . um traíníng voltado para os presidentes . . , executivos. 51 stir em us colaboradores prepararão fichas que, alem das resposse · d'1carao - a lguns "proce d'1mentas-padrão a serem decora d ~n tos para administrar as urg~nc1as que possam ocorrer".35 Sempre respeitar a ordem do dia; recusar, por exemplo, qualquer discussão sobre guerra. Em caso de intervenção intempestiva, podem-se empregar fórmulas do tipo "Isso é uma reunião de negócios, não uma reunião política",36 ou, ainda, "Esse não é o fórum certo para esse tipo de discurso". Em algumas companhias, chega-se a submeter os presidentes executivos a exaustivas (mas talvez bastante prazerosas para alguns) sessões de treinamento em dimensões reais: "Membros do staff desempenham os papéis de agitadores profissionais, de estudantes que protestam e de acionistas agressivos, e impõem ao presidente executivo as piores provações verbais imagináveis. [...] Uma secretária executiva revelou que para seu chefe o treinamento foi mais duro que qualquer reunião ' ' de acionistas". 37

:s,

-

Os gerencialistas dos anos 1950 propunham conceber a

30 lbid., p. 3, 31 lbid., p. 20, : lbid,, p, 23.

Cote 197

34 Ib"d 1

o, p. 59.

,,p. 59.

35 Egerton 1 36 Ibid

971, p. 27.

37 lb" ., p, 31, ld.,p, 28,

127

empresa como um governo privado. A "n , . ova esq anos 1960 acreditou msso. Se esse governo "é .uerqa, do é sobretudo no sentido de uma privação_ 1 ~nvado e\ s e e e 'p . ' e0 obrigação de tornar públicas as contas [...] · 0 asp rivad"'v "· "~ um s oga • . se ncontraram d something we do will touch your life res e . õnico: To ay, . d ., ,3 .., torn ir que &.aze mos vai afetar sua VI u,,. . a · ~ ·e atgo brulham mais o estomago que ver "tfoJ ' ·sas me em •poucas c~l m particular aqueles de certas com, cios de TV, e , . ses anun querem nos fazer crer que sua umca es . etrolíferas que . . ""' P . . é reservação do meio ambiente. Quem Panb1as d existir a P · razão e . seu descontentamento, em 1972, era mnsava assim l , d expres ue Milton Friedman. Qua e a razao e sua ·m rnenos q oitava O economista . - era a gue neo l"b 1 eral nao , a? o que rev . ção do discurso ecologista pelas empresas, nause · . trumenta 11za , . 105 t ário a deturpação do espmto da empresa por mas, ao con r ' . . , . d , . 'l cro de fórmulas hzppies. A nausea de Fne mane seu mvo u . . se tivessem• vergoresas não ousam mais, como que as emp . _ . nha de assumir publicamente a mot1vaçao que as mspira, maximizar os lucros. certamente, reconhece Friedman, "dados o clima reinante na opinião pública, a aversão generalizada pelo 'capitalismo', os 'lucros', 'a empresa sem alma' etc.",'5 é prudente andar de máscara. Alegar servir ao interesse público, nesse contexto, é sem dúvida a melhor maneira de dar prosseguimen~o_ a seus interesses egoístas, e, assim procedendo, a adm'.~istração apenas faz seu trabalho: "Não posso culpar os dmgentes corporativos por dizerem tais bobagens. Na verdade eu os cul . . • pana se nao o fizessem. Considerando o

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13 S/ouans d "'' apu Stevenso 1 . · 198.t, milhares d n 979, P· 59. Na nmte de 3 de dezembro de morr · Pela nuvem tóx· e pessoas d . . eram, surpreendidas em pleno sono expl0 ica e 1soc1anat0 d e meti·1a hberada · sào da fâb . na atmosfera pela 14 ..•·,cciaughrynca da Un ion · Carb1de · India Limited em Bhopal. 15 Friedll\ 1972, p. 8. an 1970, p. 17.

147

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estado de espírito do público em 1 fi . , gera, responsavel é uma forma de a en1 p ngir ser 8 • ·. . tesa au Oc1a1 Enquanto a esquerda denuncia Inentar 0• 1 llieti1 . . . esse tip • \Jc e como h1pocns1a gerencial, Friedman de Pro tos,., , · se Preocu Paga 1 com o contrano. E e teme que esses a Pa exat lida · gentes s ªllte nao ser smceros, que, de tanto repet· e esq11e l\te . Ir essa b Çall\ acabem acreditando no que deveria s s elas p I de er apen a avr de fachada, que se autointoxiquem ,7 F . as uin dis as, · nedrna , cur salvar a hipocrisia. Seu problema não , n e cínico so 'd 1 , eofalsoct· •C\Ue1 me d 1 a em que e e e uma fraude para tscur80 ( "1al sa consc1enc1a "' . (na medida . os outro ) em que el , s , e si"'na .) • a e uma -1 _ .. , a 1 s1 . O fenomeno que o preocupa poderia Usao Para hipercrisia. O hipócrita é aquele que usa umser ~harnact0 de "' · d e Ia. Oh'1percnta ' · é aquele que t ª mascara consc1enc1a . e tetn oma a s1 Próprio

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16 McClaughry 1972, p. 8. Se essa hipocrisia é d ,

. d - po d ena . reprova, 1os - o que não imo interesse dl F ne rnan nao d e es, O

, l l . pe edereserv a t1tu o pessoa , sua estima por aqueles que "desdenh at, táticas que beiram a fraude" (Friedrnan 1970 , p. 17). avam essas 17 Aqueles tornados por essa angústia poderiam ter se t .. . . ranqu1hzado lendo urna enquete qualitativa encomendada em 1974 P . m~ orgamzaçao patronal, The Conference Board. Os investigadores sondaram, ao longo de urna série de entrevistas, o estado de espírito dos gestores americanos na época. Delas se concluía, sobretudo, que, se os empresários se preocupavam com a hostilidade geral e percebiam os ataques contra a motivação do lucro "não somente corno insultos pessoais, mas também como ameaças planando sobre a própria instituição que tornara os Estados Unidos livres e prósperos", muitos não deixavam de "ridicularizar a ideia de 'res· ponsabilidade social' das empresas, identificando esse conceito com elucubrações diretamente saídas da imaginação dos sociolo· · · · pa ra proteger. o senas gos, e de condenar quase todas as tentativas . . , . t e democratizar meio ambiente mudar as praticas de recrutamen o ' . te" - acres· o local de trabalho". Um elemento "mais surpree nd en d r da acerca 0 centa Michael Useem - "é a desconfiança genera iza . . de . . · uwcrauca sistema democrático.[ ... ) Tomados pela eficiencia ª elaadmi· suas próprias instituições, eles sentem apenas desprezo p sideram . . . . l'd de que eles con mstraçao, sua morosidade, sua 1trac10na I a , . da opinião inerentes a um sistema político submetido às va_nações italistade pública.[...] Nesse ponto, parece que 'o autoritansmo ca~3). classe' alcançou proporções massivas" (Useem 1977, P· 5

~ que a consciência da duplicidade .. ra a. q uele ernd de s1. mesma • a hipocrisia , .se l o-séec1e . de profissão de fé amnes1ca ..e.. l'tlásca. ceu,' gsquecen . , esp d esvane a hipercr1s1a., na a si mesmo enganan o os clíflª para homem se enga , los" .a Os "homens de 111 1um - de engana· , qua rn ter a intençao "em geral se acham filosofos. rse F ·edman· d outro~, • - lamenta n t extraoficialmente, d1zen o á(:1os toda par e, , "d d peg' JCpressam em 1· , s podem ser úteis na VI a os g[es se e s absurdos que, a ia 'd eles perdem o equilíbrio esmo erta quan o osrn ·os•,•9 o calo ap no íntimo, naquilo que egóe• çam a acre d"tal'. 1 , li coisas e come os gestores trocassem o autentico das . bl'co ora, se , l" 1 . • • a.1am ern pu or essa verborragia "responsave , t , ·w do cap1tahsmo p espJrl da a orientaçao. pe rderiam to . ,. ma vez que é a própria preservação do . é "ético , u , , o perigo . que se encontra ameaçada. Mas. e .tambem Pitahsta ethos ca Sera, poss1v , el continuar a defender J' ·co. . o. cap1tahsmo por. 0 mu1to P '.ti mais . tempo com valores não cap1tahstas? A contrad1ção é sustentável? . Será que o público, encoraJado a crer, pelo grande esforço publicitário, que o objetivo das empresas é servir à sociedade, não vai "exigir que o mundo dos negócios aja conforme a nova ética corporativa, formulada não somente pelos reformadores, mas também pelos próprios empresários"?'º Começaria, assim, um ciclo de politização da empresa alimentado pelas concessões retóricas dos próprios dirigentes.

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/irados neoliberais é ainda mais inflamada, já que não pa aramanterior de ~lertar desse tipo de discurso na fase enqcontra t osdperigos . ' uan tu o ainda estava constatam, no início dosoan . calmo , . . Quando lllentos tnilit t os 1970, que uma sene de movian es se apropriou d Ih tas Para volta'-1 os contra adir - os d ve os temas gerencialisconfirrnação as empresas, entreveem a É , de seus temoreseçao . . Poss1veJ que a ado ão . soc1a1 tenha "co ç do discurso da responsabilidade rneçado como u .....Jurieu 168 ma manobra estritamente l8 19 l.fcc1 s, p. u7, io Blurn:;hry 197~, p. 8.

149

g 1971, p.

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,, . ,. um meio para "maximizar a duração d d e,ens1va , . e v· . talismo arrancando o mal das críticas pela raiz"" Ida llo cap1 , . d · . , act 'tt ntudo a tática e arnsca a, p01s, assun que lt!iti, LeVJ , co o exe • . e a função fundamental dos negócios , .. Clltivo admite qu e ser . . bl' ,. então "o crítico se lança sobre essa confi vir ao pu 1co , . . ., Ssào na- 0 dissimulado e exclama. Mas ent·%~ co,,, ~~~ ~ _ ervem?' Só que, na realidade, mesmo que O b . r que nao o s _ ,. . Uszn & para •servir' ele nao fara Jamais o suficient ess se es,orce ' . e aos 0 um fracasso anunciado que levar, . lhos d os cn'ti'cos",. · . . .. a inevi mente a opinião públtca a preferir a utilização de meios tav~lcoercitivos à boa vontade ostentada, embora impotenteltla1s pública com qu 'dos gestores. A começar pela regulação e se Pav· . menta O caminho. Haye k preVJa os mesmos desenvo\ . l· · , . Vlmentos, "O efeito no longo prazo con d uz1ra necessariamente · a umcon trole ampliado das empresas pelo poder de Estado".'J · Aqueles que recorrem ao discurso da responsabilid .. .t _ ade social a fi m d e ev1 ar uma regu 1açao governamental . . l .. , . rigorosa" • analisa Manne, a egam que a propna sobrevi've' nc1a. do capitalismo depende da adoção de uma atitude socialmente responsável por parte das empresas".'• Segundo eles "se o público pode ser levado a crer que o business já oper; de modo socialmente responsável, a ameaça política pode ser afastada com menor custo. Ou melhor, a situação pode se tornar vantajosa para os negócios se ela possibilita que a indústria obtenha a autorregulação".25 Essa é, na essência, a

21 Levitt 1958, p. 41. Ibid., p. 49. 23 Hayek, em Anshen e Bach (orgs.) 1960, p. 116. "Nos anos que virão" - anunciava também Ben Lewis - "vamos assistir ao cres· · d o poder dos controles governamentais · con~ cientes e cimento coletivos." Enquanto esperamos, o que fazemos? Inebnadas pela_ "·mfl uenc1a ' · narcotica · · da responsabilidade , · l" , as gra ndes empre socia . · "fi . ·t sos e faceis, sas cam ah plantadas como patos gordos alvos apetl O , . ' . dara a ser con.VJdando o governo a abrir fogo[ ... ]. O convite nao tar aceito" (Lewis 1959, p. 397). 2 4 Manne 1972b, p. 995 . . listas 25 Manne 1972a, p. 96. Apesar de suas diferenças, gerencia . . funda· e neo l'b · estavam de acordo a respeito de urn °b•euvo I erais ' 22

do patronato. Segundo Manne, a estrarna parte ta de u da ao fracasso. . h a par t e " aPos. está co ndena _ 7 "Seria incoerente d a mm ég1a r entao. . t O que faze _ "exortar os dirigentes corporativos a se . iza Friedrn~~ esse retoque de fachada hipócrita por1roll de uul1zar . . ,.5terern . s fundamentos de uma sociedade hvre. ª"ue ele preJ·ud1cad ode exortá-los a assumir . , . uma responsab1q . na ver a , . . . 155o seria,. 1,1,,.6 Para além da piada, essa aut01roma exprime (idade 5º~1ª damental: a incapacidade teórica da doutrina ona fun , . - b. ufllª ª P . l 'beral de pensar, em seu propno am zto, a pos·rn1ca neo ' . . . econ° d ma ação coletiva, de uma mob1hzaçao coordeT dade eu sib11 ses dominantes para defesa de seus interesses. 27 nadadas c1as 1. vitar tanto quanto possível a regulação pública em matéria menta.e - · eram pragmatlcas ·· . 1 ambiental. Suas divergenc1as e no fiundo oc1a e . . 5 a regulação governarem etiam apenas a saber se a RSE exorc1zana . . mental ou a alimentaria. Para os pnme1ros, a promoção das responsabilidades sociais da administração surge como manobra preventiva eficaz. A administração, defende Berle, age "na linha de frente como um amortecedor das ondas de choques sociais". Se ela não ~zess~ nada'. •o impacto seria tal que o governo se veria forçado a mtemr. que o professor Manne considere essa opção a mais · .. DuVIdo deseiave 1" (Ber1e 1962, p. 443). 26 Friedman 1970, p. 17• 27 Os homens de negócios, diz Friedman tê " . . zofrênico": clarividentes em r I ' • m ~m carater esqu1cuno prazo eles s e açao ao que e do interesse deles no • e mostram a maior t d . que se trata de cons,·d par e O tempo rn10pes assim d• erar a questão m · b e sobrevivência dos . . ais a rangente das condições propagando um d' negocios em ge ra l"· e a d a empresa se defende h 1scurso que p · d. omens de negócio ~eJu ica coletivamente todas: "Os sum h' s com frequenc· • · a, a aí um probl - Ia tem impulsos suicidas". Em gos., oud ebempúbl' ema de açao col e t·iva, como dizem os s ··1 do pr· . 1co, como d· oc10 odia t1s1~neiro, o dilema do p ·~demos economistas. Após o dilema , eonza ,. res1 ente e · Púb1· ..,anne "é qu xecutivo. No fundo a tragé1co N h ' e a preserv - d ' iarnais i.n en. uma empresa orient daçao o capitalismo é um bem vestirá a a para a · · ã s oelttern em Preservaça-0 p . max1m1zação do lucro dUai não os a elª mesma" E' • ..01 s os benef'IC!Os · d o investimento · ab assegu · 1s a ,alha. b Usca do . ra por si só a pr . a usca do interesse indivi1ntere ~ad eservação d · a a si "'e sse pessoal A 1• . o sistema que permite ··• sina · og1ca do 151 ' Pode operar por mercado competitivo, deicontrafinalidade para destruir -

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Ela prediz - erroneamente - a impossibilidad tudo, é aquilo que se tornara, para eles i d' e. Ora, iss ' n ispensá o, to11 Vel · Se o mundo dos negócios se colocou em d' Jlen~t. camente, pondera Jeffrey St. John em •ficuJdade 1971 "t · Jloljt' cou uma exposição clara e nítida de seu ~ 01 Porque ~ embromação intelectual".•• Ora a "ci·v·l? nto de Vista tto. ' i IZaçã Po 0 do busin r está destinada a desaparecer se ela for . incapaz d ess de modo intelectualmente coerente co e explj , mo func· car que os homens não compreendem, eles são inc 10na. [, ..] 0' tificar; e o que não podem justificar eles _ ªPazes dei·u , nao d t so que não estão prontos para defender el _ e enderào, e , es nao p d , servar". Se o trabalho de justificativa tem im ,0 em con. , . , Portancia tegica, nao e somente para os outros ma t estra. • s ambérn Não é apenas uma questão de propaganda Para si. . _ . , mas tarnbé autoconVIcçao. E para isso, repete incessante Ili de . d . . mente St )oh am a que sem Jamais trazer o menor resquíci d · n, . 1 &' l , o econteúdo conceitua a essa 1ormu a, e necessário ter uma.filoso" . . , . ~,a, porque, se ced em aos grupos ra d icais, e Justamente ern razão da "falta de uma filosofia". Mas onde encontrá-la? Manne indicava em 1970 por onde começar, o que era preciso destruir para refundar um discurso apologético sobre novas bases. "A fonte intelectual mais importante dos ata· ques em curso contra o big business é a obra clássica de Berle e Means." 29 Era preciso remediar por meios teóricos a vulnerabilidade política da empresa, cujas raízes são teóricas. Para aqueles que aí viam um perigo mortal, era imperativo tomar intelectualmente inarticuláveis os questionamentos sobre suas bases, seu poder e suas finalidades.

•!)i . · dman1970•P suas próprias condições de existência (cf. Fne Manne 1973, p. 710 ). 28 St. John 1971, p. 1. 29 Manne 1970, p. 533.

EXISTE . analiticamente, a empresa Jlístónca e ] m nexo de poder. eser[ ... u . parec R "The corporation LEE LOEVINGE '

"

as a Power Nexus , 1g61.

treítamento, nó, liame [...) .., xo· laço, es 'd,.e . [ ] cair em servi ao. comprometer-se ... Dicionário Latim-Frances, 1871. A

. l "padrinho do neoconservadorismo ·ngKnsto, 0 . t Em 1973, Irvt . "O problema que hoJe se apresen a " lamentava. . . . . aJllencano , . que ela não tem mais a minima e ande empresa e . . . para a~ . 'd de teórica - ou seja, ideológica - no propno Iara legium1 a d' . , .,;; , euadro do capitalismo liberal.[ ...] Com que ireito a gesLClo, - arquia consanguínea, exerce seu poder? Baseada q em essa o11g . que princípios? A essas questões de_ o~dem essencial1:11ente política, a gestão encontra, para resistir, apenas um tipo de resposta, e frágil, de ordem econômica".1 Constatação muito alarmante de um poder sem teoria, intelectualmente desprovido e, por isso, politicamente exposto. À época, os analistas soviéticos que examinavam a vida intelectual americana observavam com interesse as indagações de Kristol, notando com b'dd . so ne a e que ele se revelava "incapaz de propor a mais mfima soluçã0 · construtiva para esse problema específico".2 Quando "a · · Hall crise e profunda - 'orgânica'-", notava Stuart ' retomando a T trabalho l' . s ~na ises de Gramsci, "exige-se todo um po ttico e tde O l · · configuraçõ ogico para desarticular as antigas es e reelabora ,, tempo, Sem e r as novas .J Isso, no entanto leva ontarque n ' ' esse caso, houve atraso na reação. 1

l eo andes figuras de proa dessa corrente - e' fiSChel, du":,~as questões pertinentes a pergunta que """1"" do camP autor• · A



. da assim, quando os economistas neoli'b . A.ln era1s tomam ecirnento dessas reformulações - ainda que b . . h con . . . em tim1das - da te~na do nexo, el~s ~e untam, consideram-nas perigosos desv10s de ,se~s propnos _con~eitos. Nesse momento novo, 0 polo econom1co da conce1tuahdade liberal, recusando a síntese, se volta contra seu duplo, o polo ético, e O nega. Jensen então se lança em uma crítica virulenta à ideia de que os gestores deveriam levar em conta os interesses "não só daqueles que detêm direitos financeiros, mas também os dos empregados, dos clientes, das comunidades e dos responsáveis governamentais, e, ainda, segundo algumas interpretações, do meio ambiente, dos terroristas e dos ladrões".25 Se essa tese fosse aceita, os gestores seriam obrigados a seguir inúmeras obrigações discordantes, cacofônicas, tornando qualquer decisão impossível. Mas, sobretudo, o imperativo de maximização do lucro cairia de seu pedestal. Aos olhQS de Jensen, a teoria das partes interessadas serve de refúgio para antigos adeptos das "economias socialistas e comunistas planificadas de modo centralizador" 26 que hoje se travestem com essa máscara conveniente para continuarª luta. Em suma, a conspiração para destruir os fundamentos

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24 Cf

ma crítica dessas · Freeman et al. (orgs.) 2010, p. 268. Para u tem' · aticas, ver Ireland 1996. 25 Jensen 2002 p 236 26 ' • . lbid., p. 243.

227

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ssegue à sombra da ética eni . ercado pro . d d Pres . do 11vre m . d partes interessa as, enuncia a. at1,11 Admitir a teori~ a;ternberg, equivaleria a "solapa ldeólogíl. 'b ai Elaine . , . r os ,1, neoh er ,, ou seja (pois e a mesma COISa), "subv '-lltei. tos humanos '. da que é essencial para defender erter a . d de priva ' e ex proprie ª . d' 1·duais básicas": "Quando as enip ercer · d des in iv resa as hber ª .céns e desviadas das finalidades fi s São d s como rei, . , . , Xadas toma ª . [ ] os propnetanos tem seus direit Por ·onistas ,·· , , os fu seus aci d [ ] os campeões da etica conven . tida. tais nega os ... . . , . c1ona1 d men . m tratar os proprzetarws como escrav " resa queria os >1 _ .a emp , ·nadmissível, pois, neste mundo, os mestres d eis eve111 0 que e I mestres e os escravos, escravos. permanecer , . to é preciso levar a seno a resposta de J No en t an , . , . ensen , litos· 0 interesse ac10nano não é um int e de seus ac O · eresse ·ai entre outros; é ele que comanda, que deve co""a d SOCI .,, n ar r é necessariamente nao compartilhado N ' Pode e seu . · um sentido, eles têm razão: na_da de plurah~~o real possível em regime de ditadura do capital, nada de etica social autêntica sem O questionamento das relações de propriedade que a negam. se as teorias das partes interessadas têm um mérito, é que fazem aparecer, por reação, se for necessário, 0 caráter tirânico de uma doutrina econômica que não tolera de modo algum essas versões - apesar de muito frouxas - de "liberalismo pragmático". Contudo, provavelmente, conclui um sociólogo voltando a essas controvérsias no fim dos anos 1990 1 na prática nunca se saberá como teria funcionado a nova ética empresarial, pois, "quase no exato momento em que se começava a debater seriamente esse modelo, produzia-se nos Estados Unidos capitalistas uma série de acontecimentos que lhes retiraram todo significado real".28 A contrarreforma neoliberal foi ~evastadora, conseguiu fazer do primado acionário uma rea· hdade mais dominante que nunca. o que adviria então ~o tema das "partes interessadas"? "Além da atenção acadêmI~~ que ele poderia suscitar", ao menos no que concerne aos din·

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27 Sternberg 2009 , p. 40 _ 28 Beaver 1999 , p. B.

ernpresariais, as "partes int ente S eressad g eoor de suas preocupações diante da sempre serão (11 ,,,9 Eles decerto terão de conside q elas dos acionisu:aS· igurnas d e1as, " porem , . rar o Poder d isso nada t e prejuízo d~ a }es prudência",3º em a ver com a ética; é s1Jt1P que os neo l'b · 1 era1s dogmáticos t . 0 eunam em nã , . nder, rnas que os prat1cos gerencial· o com. 1stas capt . pree é que a teona das partes interessad , am muito . as e menos beJtl, uma dou. a rnoral do que um instrumento estrat, . ~or1;Iectual para a ação. egico, um quadro

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ve onde voceAfia la.? , a esquerda costum

. . ava se perguntar anos 1970. Formulei mmha noção de part . nos .. es Interessadas onde Freeman, adotando o ponto de vista d ' res P . . o empresá.0 _ se um grupo ou um md1víduo pode afetar n a empresa ela), então os dirigentes devem s (ou ser afetado por . . e preocupar".31 Essa teor~a estava destmada a "analisar todas as forças fossem elas amigas ou 1·rum·. b e todas as pressoes externas, , . 1gas, a fim de "operar estrategxas em ambientes turbulentos".31 Até então, as teorias da gestão tinham se preocupado sobretudo "com pessoas no interior das organizacões" em

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29 Ibid., p. u. A partir de meados dos anos 1980, assinalam Englander

e Kaufman, os dirigentes das grandes empresas não tinham mais necessidade de se agarrar à antiga ideologia gerencialista da responsabilidade social: "O administrador do novo milênio não seria mais um tecnocrata imparcial, mas um partidário dos acionistas.[...] Para que os gestores abandonassem sua antiga perspectiva tecnocrática, era preciso que encontrassem a ideologia acionária congruente com seus interesses. A reforma de sua remuneração alinhou os interesses dos gestores à teoria da agência". Ao fim desse processo, no início dos anos 2000, o valor das stockoptions distribuídas aos presidentes executivos das grandes empresas americanas representava, em média, 636% de seu salário. Era o "fim da ideologia gerencialistª"· Em 2001, Hansmann e Kraakman concluem igualmente que O modelo-padrão acionário conseguiu assegurar sua "hegemonia ideológica" (Englander e Kaufman 2004, p. 428; Hansmann e Kraakman 2001, PP, 439 e 468).

3° Barry 2000. 31 Freeman et al. 2010, p. 54. 32 Cf. Freeman e Reed 1983, p. 91.

229 ....

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8 tomar os trabalhadores ..... busca par • "'ªIs h ma ('terna . f entainos cont('staçoes extern "rr recon hec · 1 tl tro 0 e- as, p1>r · dentificá-las. outro 1 " . ern conta como parte interessada"? T d QU . u o depende de nos colocamos. Se usarmos os óculos ét" .,. onde d , b icos, o cnteno auta não po era se asear em considerarõ d ern P • . d . " es e poder o no amb1to e uma teona da justira os 5 . . . • fat pe , . . ,. , UJeltos, amda e sobretudo) estepm em posição desfavorável d que ( . . , evem ser . reco n hecidos. Ora, precisamente o que exclui a con s1.d eracao estratégica só tem olhos para os fortes, os grupos suscetivei~ de constituir uma ameaça real, relegando todos os demais à insignificância. De acordo com essa segunda perspectiva, a consideração de uma parte interessada depende do poder de afeição, de seu impacto potencial sobre os negócios da empresa. Quanto mais uma força social representa uma ameaça importante, mais é preciso considerá-la - independentemente de saber se ela é ou não "legítima". A rigor, só conta sua capacidade de prejudicar. Se quisermos ser reconhecidos como partes interessadas, devemos nos constituir como fatores de risco. Há, portanto, dissonância entre os critérios do reconhecimento moral e identificação estratégica. Um grupo conside· rado parte interessada do ponto de vista estratégico pode nào o ser do ponto de vista ético, e vice-versa. Diante desse problema, alguns autores da corrente propuseram uma síntese ético-estratégica dos critérios de reconhecimento. Mitchell e colaboradores propõem cruzar três fatores: o poder do qual os grupos dispõem em relação à empresa, sua legitimidade e

(13 J11C

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· de parte ·mtere ssada 35 Como explica Michael Power, "o conceito . at rai· com efeito por sua mistura moralmente ambivalente de stg· ·5. · · . ue promete ni cados estratégicos e éticos e da ponte pragmatica q .1 est b ' . ª elecer entre as agendas da gestào e da responsa. bitidade sacia das empresas" (Power 2003, p. 152).

231 ----••&""1

·vindicações. Combinados O d" . de suas rei . ' s lfe a urgência a tipologia. Assim, uma catego . tentes à Juz um ria p traços dão õe nesse quadro: a das "partes int teocll ' decomP ere 8 pante se terizadas por terem poder sobre sactas . " carac a ell\ pengosas ' de "legitimidade" mesm~ quando ªPres Ptesa e carecere~ rgentes. Essas partes mteressada enta~ · · d"caçoes u .. s, Pre reivtn i . t ara- 0 "coercitivas e talvez violent Vee~ e mos r as" e, alguns, s . para a empresa".36 ' clara, te pengosas . . men em que se pensa? Ind1stmtamente n E quem ou , as "gr m abotagern do trabalho e no terrorisrn ,, eves Ivagens, na s o .b se . t das "partes interessadas que recorrern , esse modo, na 11s a , . a tá.ti . . ., estão agrupados operanos da General "• coerc1t1vas 1v1otors cas latinhas em blocos de motores para protestar que "So ldam . .. contra a lítica da companhia", ecologistas qu~ pregam grandes po , rvores" para tornar o tronco mutilizável pel Pre. gos nas a _ as serra_. . "terroristas" que poem bombas, se envolvem em ti· . ~ ~~ izam sequestros. Um exemplo? O Congresso Na . rgan 000 ~~ Afri cano {cNA) de Nelson. Mandela, que pertence a essa '" categoria perigosa' por ter feito uso de poder coercitivo" contra 0 regime do apartheid. De fato, no governo Reagan, os Estados unidos inseriram Mandela e o CNA na lista das "organizações terroristas" - o que perdurou até 2008. Mas nossos autores têm uma consciência, uma consciência moral, e isso os atormenta ao escrever essas linhas. Na verdade, será que não é inadequado agraciar tais atores com o selo de "partes interessadas", mesmo quando eles evidentemente ultrapassam os "limites da legitimidade"? Não se corre o risco, assim fazendo, de legitimar os ilegítimos, os "violentos"? "Estamos muito pouco à vontade com a ideia de que agentes perigosos( ... ] possam receber certa legitimidade em virtude da tipologia que propomos( ... ], nós nos sentimos obrigados a identificar as partes interessadas perigosas, mas sem necessariamente reconhecê-las, já que, como a maioria de nossos colegas, abominamos tais práticas. Estamos total· ~ente conscientes de que a recusa em reconhecer uma parte Interessada identificada como perigosa[... ] é uma contrame·

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36 Mitchell et al.1997, p. Bn.

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eficaz na batalha para mante . di da l r a c1vilidad .dentificar essa c asse de parte . e e a civilizaçã Aº 1 s Interess d o. dentemente a essa tática."37 a as, aderim cons os . Identificar não é reconhecer. Qua d · n °se1de tifi ra interrogar e Jogar na cadeia C n l ca, em geral epa · 0 mo os rabalho de ressaltar, a identifica ã . _autores se dão t ao . ç O Pohc1a\ ã · conhecimento moral - aliás, longe d' , n o implica ., , . , isso. E just 0 re amente o trário, lª que a tatlca a qual esses t· . con .. . . e 1c1stas ad . nternente procede 1dent1ficando part . erem consc1e d' . es interessad ·gosas", quer tzer, ilegítimas e Vl·ce as como pe rl • -versa op d ', on o-lhes 3 "recusa de reconhecimento" que auto . uOl . d nzara um desen 1 ·01ento excepc1ona1 a força contra elas em vo VI d . ·1· nome da defesa da "civilidade e a c1V1 1zação". . 0 cNA utilizou o "poder coercitivo" diante d E . . o stado pobial racista que fazia remar o terror na África d S 1 e . o u, e, por consegumte, ele~ co_ncluem, o ~NA era "ilegítimo". "A surpreendente arrogancia dessa posição" - comenta Subhabrata Banerjee - "não só nega anos de luta contra a dominacão colonial, corno também serve para justificar 'a cultura 'e 0 governo que reinava (então) na África do Sul', um argumento tão falacioso quanto anti-histórico, que desvia a atencão do poder coercitivo de que se serviu o CNA em sua resistê~cia (os autores se calam sobre o primeiro, mas é claro que se declaram horrorizados com o segundo).":ia Entretanto, "muito felizmente" - continuam os autores-, "o CNA, adquirindo legitimidade e abandonando o recurso ao poder coercitivo", passou do status de "parte interessada perigosa" ao de "parte interessada dependente" (quer dizer, na classificação deles, uma organização de reivindicações legítimas e urgentes, mas desprovida de poder autônomo), posição que lhe permitiu angariar o apoio de outros atores. Aorganização se tornou "uma parte interessad~ d~pendent~ das empresas multinacionais estabelecidas na Afnca do Sul · Nessa condição, "o CNA pôde receber a proteção (...1de_parte~ · · l dos mvestl.tnteressadas mais proeminentes (em parttcu ar

..... 37 Ibid., p. 878. 38 Banerjee, em Jonker e de Witte 20o6, P· 41·

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tão "o movimento de desin • vesde en ' . . d . vesti dores) . . . 'do pelos acionistas as multinacionais ~ento mundial drnl[l a transformação" do reghne 39 fo1 u...1, · I para · s ·· ~ (orça cructa reescritura da história, foram eguncto · teressante · · & • Port . ·s e seus acionistas, 1ervorosos . ant0 essa in 1fnac1ona1 . lll11it ' as mu 1 . 'd ( . emas um exemplo gntante antes antes · the1 ttv no e annapar ando generosamente sob sua p aso da I) ue tom roteçshel • q 'd libertação "dependente", orquestr llJn ·01ento e . . ararn movi ha de boicote, de desmvestimento e de san õ UltJa camp_a~ a queda do regime. ç es que · ,, 0 Perm1ttram um "grupo pengoso . que fazer? A Tomemos , • · ntes d . d 'dentifica-lo, mas sem reconhece-lo ou . e mais na a, I . . . . ' seJa, se le e esse ataque tomou a forma "de urna concessão aparente". Considerando que seria mais fácil obter consenso entre pares, a administração americana levou a OCDE a redigir seu próprio código de conduta. Mudava-se de arena, optando-se por um fórum mais favorável. Se na ONU os países desenvolvidos eram minoria, na OCDE eles estavam em casa. Lá eles podiam avançar rapidamente. A OCDE levou apenas um ano e meio para elaborar suas "Diretrizes para as empresas multinacionais", recomendações não vinculantes de formulações "amplas e às vezes

depr

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23 lbid., p. 195. 24 lbid., p. 197,

5 lbid.

2

26 Robinson apud Rowe 2005b, p. 128.

247

.. ,...,adas, tm •junho dt" tq~ • ou r:.('Jll .. . • r /IU•. . ,mt> 1iruª~ • 'l!Jll c.,-.m('('a~sr a ('sboçar S('U pr(ip .. ' ~,, 'li.... , qur a o;.,,\., .,,,m,r, . r' J • dcJrto'i. Nc-;,;;1 '-1111:ldo, n'I tJaxar é sempre uma obrigas ora, ele adverte que "será uma intervenção cirúrgica dolorosa, que não poderá se produzir 'organicamente' no sentido de um crescimento lento".'6 Portanto, é preciso também se conformar com a ideia de que "uma despolitização, um afastamento do Estado das esferas não estatais, (...1é um processo político",21 tarefa que requer muito mais que um Estado "mínimo" ou um Estado vigia noturno: "Um Estado que pudesse engendrar tal reorganização deveria, como disse, ser extraordinariamente forte - o ato de despolitização é um ato político particularmente intenso".211 Enfim, a visão liberal clássica, de uma atomística da sociedade civil, em que o Estado só encontraria diante dele agentes econômicos individuais, está ultrapassada. Se o Estado se retira de uma série de funções de direção das relações econômicas, outras instâncias devem assumi-las. Entre o Estado e 24 Schmitt (1931] 2007, p. 119. 25 Cf. Cristi 2000a, p. 1763, nota 69. 26

Schmitt 1933, p. 86.

27 Ibid., p. 87.

Ibid., p. 90. "Como expõe Heinz o. Ziegler, é mister uma autoridade estável para se realizarem as despolitizações necessárias e, uma vez fora do Estado total, resgatar as esferas livres e áreas vitais" (Schmitt (1932 ] 2007 , p. 97). Hayek cita esse trecho de Schmitt, bem como o opúsculo de Ziegler (cf. nota 6, p. 337).

28

341

mercado vai se intercalar um domínio inter"' dº . •..e 1ári pelo autogoverno privado de grandes corpos Pat ~ regiclc:, rona1s.•9

0

Quando, em 1932, o jurista social-democrata He , . . rmann L> le o discurso de Schm1tt para o patronato ale"'· .-.el!er . ºfi d P ... ao, ele muito bem o s1gm ca o. ouco antes de partir capta . na Espan h a no ano seguinte) Para o ex1·1·10 (Heller morreria 1 e deix texto curto que está entre os mais clarividentes 'e d , a um . . d o l vemos, ele ana isa, a mvençao e uma nova cate periocto . · i\1, gona Pol't· 1 1ca, um pequeno monstro conceituai, a quimera d e um ''l"b 1 era. li.smo autoritário". 30 Schmitt, que até então havia dissimulado suas d ver acte· posições "sob negações sofisticadas", escreve Hell iras . . er, recente mente experimentou a necessidade "de expressar um · . as , elaras suas 1ºd e1as . " dº1ante d os industriais . pouco mais 3, "At' . h . d. . e agora ouVIu-se Se m1tt 1zer que o Estado atual era um E _ , . stado fraco, em razao de seu carater 'pluralista' "3• Ora 8 h . • . · , e m1tt entreve a partir desse momento uma solução: o Estado fort autoritário, "qualitativamente total". e, Mas até que ponto esse Estado é forte? Contra quem ele será "autoritário"? Com quem não será? A pedra de toque reside em sua relação com "a ordem econômica": "Na verdade assim que se trata de economia, o Estado 'autoritário' renuncia' à sua autoridade. Seus porta-vozes pretensamente 'conservadores' conhecem um único lema: liberdade da economia em relação ao Estado!". 33 É um Estado forte-fraco, forte com uns, fraco com outros - forte, comenta Wolfgang Streeck, "contra as reivindicações democráticas de redistribuição" social, no entanto "fraco na sua relação com o mercado". 34 Afinal, essa palavra de ordem, prosseguia Heller, "decerto não implica que o Estado pratique a abstinência no que concerne à política de

29 30 31 32 33 34

Schmitt 1933, p. 89 e 90. Heller 1933. Ibid., p. 295. Ibid., p. 296. Ibid., p. 295. Streeck 2015, p. 362.

. concedidos aos grandes bancos às gra d 1d10S , d ' n es empretriais e as gran es explorações agrícolas ·odllS , mas que ele desmantelamento autoritário da poli't· . 58s 1 da a0 1ca social" 0 proce rtidários do Estado "autoritário" abomina . · osPª , .. d mac1made qoe ele observa, e o Esta o de bem-estar".l5 0, todEtn "" um jovem filósofo alemão fumdo do . 19..J"T• t,• nazismo . u na revista da Escola de Frankfurt um longo rt· obhco l"b 1. a 1go p~a luta contra o 1 era ismo na concepção total·~ra •.1. • II . Estado",:i6 no qual anahsava o deslocamento conceituai d ·ficado por Heller. Herbert Marcuse, é dele que falam ·deOtl OS, 1 bétn tinha Schmitt na alça de mira. tstllNa super f'1c1e, . a nova fil osofi a seh m1tt1ana . . do uEstado ' tário total" se opõe ao liberalismo, doutrina odiosa à auto rl ela dirige palavras bem duras. Mas qual é, perguntava qua1 . • . Id . ?,{arcuse, a cons1stenc1a rea esse antagonismo? Assim que 05 interessamos pelo programa deles, percebemos que os nartidários do "Estado autoritário total" não pretendem atinp • . f d . giras relações econ,?m1ca~ un a~enta1s. Esse novo Estado, na medida em que organiza a sociedade sem modificar sua base de maneira decisiva, é apenas uma autotransformação do Estado liberal".37 E se, por sua vez, os liberais professam uma filosofia política totalmente diferente daquela do Stato totalitario dos fascistas, na prática, alguns estão dispostos a aderir a essa opção em casos extremos. Marcuse cita Von Mises, o mentor de Hayek: "Se tivéssemos de resumir o programa do liberalismo em uma única fórmula", ele escrevia em 1927, "seria: propriedade privada dos meios de produção[...]; todas as outras exigências do liberalismo derivam desse princípio fundamental.[...] O fascismo e todos os impulsos similares em direção à ditadura por ora salvaram a civilização europeia. o mérito que o fascismo tirou dela ficará gravado para sempre na história".JB

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35 36 37 38

Heller 1933, p. 296. Marcuse 1934. lbid., p. 195. Ibid., p. 166. A essa homenagem, o mentor de Hayek acres~ ntava, entretanto, importante aditamento que Marcuse nao

Apesar de suas divergências filosóficas . reais correntes concordam num ponto decisivo· ' essas dila relações econômicas capitalistas. "Vê-se· ª Proteção d/ , então" s Marcuse, "a razão pela qual o Estado total . • afirrn.,, . . autontá. .. seu combate contra o hberahsmo no terren d rio sitll,, o as' . .. mundo', porque ele deixa de lado a estrutura fu visões de liberalismo: essa estrutura de base lhe convé nda~ental do . . . m rnu1t0 a mente. [...] Ele d e1xa mtacto o pnncípio que r tnpla. - 39 ege as rel de produçao." ações Contudo, Marcuse logo nuança esse prim . eiro esq num sentido bem menos economicista do qu llern.a e parecia e tamente "a passagem de um Estado liberal para · er. total autoritário se faz com base na mesma ordeum E~tado mas, quando isso acontece, provoca-se uma transfo ' e • • rrnaçào ,· l 1 po 1t1c_a e1et1va: nao uma s1mp e~ "adaptação ideoló ic " Reduzir "a teona do Estado autontário total [ ] ao . g ª · ... simples resultado de uma manobra ideológica" seria um de . , , SVIO. . "Com o Estad o autontano e com os pensamentos que ele s . cita com intuito propagandista, desenvolvem-se forças ultrapassam as próprias formas políticas e que tendem para outro estado de coisas." Ainda que em última instância haja acordo a respeito das relações econômicas fundamentais, isso não significa que ambos, liberalismo econômico e doutrina do Estado total autoritário, sejam idênticos, nem que seja artificial ou negli· genciável a distância de suas visões de mundo. Ainda que o transcrescimento do Estado liberal em Estado total autoritário seja possível, e que, sem ser necessário, o fenômeno não seja acidental, não podemos concluir que o liberalismo seria essen· cialmente um criptofascimo, nem que o fascismo seria a sim· pies continuação da economia liberal por outros meios ideo·

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::-nciona: "Mas, embora sua política tenha trazido a salvação no momento, ela não é capaz de prometer um sucesso durado~ro. O fascismo era um expediente temporário; ver mais que isso sena um erro fatal" (Mises 1927, p. 45). 39 Marcuse 1934, p. 166. 40 Ibid., p. 174.

. uro capitalismo fascista não é O mer , . de 16t,a'!Cos,'buto a um su b strato que permanece id,o acresc1mo .

fll atrt , . . , ent1co sob uma ·ncação acessona na taxonomia. E uma visã0 d od1 . e mundo fll ão apenas isso. Se ela se produz advertia M ' fllas n ., . ' arcuse, que viveu a expenenc1a, tomba-se em outro mundo.

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começavam a em anos 1940, quando os Aliados • pregar ressão "luta contra o totalitarismo" para design a exP .. , . ar sua ofensiva m1htar contra as.pote~c1as do Eixo, alguns intelectuais conservad.ores, no mt~nor dessas "democracias ocidentais", apropriaram-se da formula para criticar os próprios governos, segundo eles, culpados de alimentar imprudentemente em seu seio um totalitarismo crescente. Hayek, em O caminho da servidão (1944); Von Mises, em governo onipotente (1944),41 e Schumpeter, em Capitalismo, 0 socialismo e democracia (1942), denunciam, ao mesmo tempo, os vícios da democracia representativa, por meio de uma mensagem que poderia ser assim resumida: se vocês querem mesmo combater o "totalitarismo", esforcem-se mais, pois na verdade ele transpira no corpo de vocês, defendendo-se de vocês, ele está inscrito como umfatum nos desvios intrínsecos dos sistemas democráticos e do Estado de bem-estar de vocês. Durante a República de Weimar, adverte Hayek, "foram principalmente pessoas de boa vontade que, em razão de sua política socialista, prepararam o terreno para as forças que representavam tudo o que elas detestavam. Poucos reconheceram que a ascensão do fascismo e do nazismo não era uma reação contra as tendências socialistas do período anterior, mas um resultado necessário dessas tendências"."" Eis o cerne do raciocínio: a democracia do bem-estar alimenta um socialismo que conduz diretamente ao fascismo. Mussolini seria, assim, o resultado necessário de Gramsci, e Hitler, por sua vez, o resultado necessário de Rosa Luxemburgo. Esse continuísmo grosseiro, tão falso intelectual como politica-

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Mises 1944. . 42 The Condensed Version ofThe Road... Londres, 1999, P· ~ ~retifico aqui o texto, que contém um erro de transcrição nessa ed1çao).

4l

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mrntc:. !to!'• pndr c.c:r c-nunrit4dn :\ ru • . _ urna democracia ainda ontem ab . ª partir de tao . . om1nada · 0 e te com a estnta condição implícita de I b ' e certafllen ce e rar sob ess h . e e apenas o que ,alguns caracterizam 0 Je como "pós . 0 of1l ocracia", um residuo vazio, uma forma s b . .· .deJJl d . em su stanc 1a ó se compreen e mais a fundo a revi'ra 1 • Mas S , . , vo ta quando ciada a uma nova estrateg1a pohtica que faz· _ asso . 1a, entao, um moV jmento de p1vo. do qual. essa agitação discursi·va era, ao mesmo tempo, o smal e o instrumento. "A crise do Estado .de bem-estar e a frustracão , popular que a acompanhou", teonzava Chantal Mouffe em 1986, "estavam na origem de uma série de reações antiestatais que a direita se apressou em traduzir nos termos da crítica neoliberal. Estabeleceu-se uma cadeia de equivalência entre política= público= Estado = burocracia, o que permitiu aos conservadores apresentar sua ofensiva contra a democracia como uma luta pela democracia, esta última definida pelo ângulo de uma recuperação, pelo 'povo', dos 'direitos' que o Estado confiscara.".,. Entretanto, enquanto a palavra "democracia" era assim ressignificada como o nome de um individualismo liberal oposto ao coletivismo estatal, o demos correspondente foi, ao mesmo tempo, redefinido ou reimaginado de um modo neotradicionalista como um ethnos de identidade ameaçada pela "sociedade permissiva" - outro nome da emancipação social, racial, sexual e geracional que então começava com vigor. A estranha unidade ideológica desse populismo liberal-conservador era indissociavelmente individualista e autoritária, empresarial e tradicionalista. O neoliberalismo econômico, entra nd em ,· . . a um t'1po de nacional-democraPo11t1ca, associava-se assim , · c'b'icos e racistas · E nessa tismo que cheirava a sexistas, homo,o A

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61 Mouffe 1986.

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unidade contraditória e lenta que talvez resid • • E d 1 . a uma d cipats ,ontes as pato og1as políticas atuais d as Ptin. . . as derno l 1ºb erais no Ocidente. cracias Quando Andrew Gamble procura, em 1979 , caracte · programa do thatcherismo, ele o resume com rizar 0 . . esta fó "Economia hvre e Estado forte". 62 Assim ele r t rrnuJa: , . ' e ornava palavra por palavra o titulo do discurso de Carl s h . quase O liberalismo autoritário conhece muitas decli c mitt. vejam bem, declinações diferentes. Afinal não er nações. Mas, ' a ocaso alertava Stuart Hall, do retorno do "fascismo" a' 'como cenapoJ'. tampouco do "despertar dos fantasmas e dos es •tica, . . pectros fa . hares" da esquerda, e sim do advento de outra c . lll101Sa, que preciso compreender em sua especificidade Cab· d era · •a esconfi portanto, de um reflexo de falso reconhecimento· .. 0 ar, ", e 1e esc Jarecia, • .. e, um movimento · . t emos d e exp 1tear eque nós . - a um •popu 1ismo · · , · - uma forma exc m. d1reçao autontano' · 1· , . epc1onat d o Esta d o capita 1sta que, ao contrano do fascismo clás . · 1 · · ( , s1co, d eixou 1 no ugar a parte prmctpa porem não a totalidade) d instituição representativa formal e que, ao mesmo tempo capaz de construir em torno dele um consenso popular ativ~".•, O thatcherismo se apresentava como uma ideologia estranhamente sincrética, uma "nova direita" que podia "parecer ora libertária, ora autoritária; ora populista, ora elitista"... Para

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Gamble 1979. Gamble, que não parece conhecer o texto de Schmitt, toma a fórmula emprestada de Rüstow. Cf. nota 17 p. 338. A própria Thatcher declarava, em 1980: "As atividades do Estado invadiram quase todos os aspectos da vida. Entre outras coisas, o Estado endossou a responsabilidade dos imensos monopólios nacionais que empregam centenas de milhares de homens e mulheres. O problema, já que o Estado se envolve em cada greve, em cada preço ou em cada contrato que afeta uma empresa pública, é que as pessoas tendem a associar o Estado a essas coisas, mais que a seu papel tradicional necessário, que também é mais elevado. Consequente· mente sua autoridade se encontra não amplificada, mas reduzida. Em no~so partido, nós não almejamos um Estado fraco. Ao contrário, precisamos de um Estado forte para preservar tanto a liberdade como a ordem" (Thatcher 1980, apud Christoph 2010, P· 259)· 62

63 Hall 1979, p. 15.

64 Gamble 1988, p. 28.

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·ncoerências aparentes, isso se de . das 1 , VJa ao fato de 1 ..-.a síntese entre 'uma defesa liberal trad' . ee ".,erar u,.. d ,. da .1 livre e uma e,esa conservadora tradicio ic1onal d O I 'co!l ornd Estado". 65 Para alem de uma ideolo