A Guerra na Grécia Antiga

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Marcos Alvito Pereira de Souza,

À GUERRA NA GRECIA ANTIGA

Direção Benjamin Abdala

Junior

Samita Youssef Campedelli Preparação de texto Ivany Ficasso Batista Coordenação de composição (Produção/Paginação em video) Neide

Hiromi

Toyota

Capa Ary Normanha Antonio Ubirajara Domiencio

T

ISBN

&5 08

03078

9

1988

Todos os direitos reservados

Editora Ática S.A. — Rua Barão de Iguape. 110 Tel.: (PABX) 278-9322 — Caixa Postal 8656 End. Telegrafico “Bomlivro” — São Paulo

Sumário 1. A guerra em

um

mundo

diferente.

A presença da violência Fatores econômicos À aceitação da guerra. A dimensão politica

2. Dos

7 7

À questão da religião

heróis aos hoplitas

10 13 17

21

Houve uma Guerra de Troia? A guerra como fundamento do valor aristocrático...

21 23...

O papel diminuto da cavalaria Repercussões sociais da falange hoplitica.

33 34

A “revolução hoplitica”' e a conquista da cidadania 26 Armamento, forma de luta e táticas hoplíticas 30

3. Esparta —

o mito da sociedade

guerreira

38

A “miragem espartana” A Segunda Guerra da Messênia e a transformação de Esparta À educação O exército

38

4. As guerras pérsicas A revolta da Jônia

Maratona

A grandiosa expedição de Xerxes Termópilas e Artemision Salamina — as trirremes e o combate naval Causas da vitória grega

5. O declínio das póleis A Guerra do Peloponeso Os mercenários e as modificações na arte da guerra.

39

41 44

49 49

52

54 56 57 61

63 63 67

6. Macedônia Filipe e Alexandre Cercos. engenhos de guerra e fortificações

f. Conclusão

8. Vocabulário

crítico

9. Bibliografia comentada Ilustrações: Figura

|: A mais antiga representação de uma falange hoplitica Figura 2: Trirreme do século V (possi vel reconstituição) Figura 3: À falange macedônica

62 =

f

Para Fernanda,

Dario e Nã, com todo o amor.

Um agradecimento especial ao

amigo e eterno mestre, Ciro.

] A guerra em um mundo diferente

e de todas O A guerra é o pai de todas as coisas

ens; de uns, rei: de uns fez deuses, de outros, hom ráchto de escravos, de outros, homens livres. (He Efeso)

a

q em

am

E

nado bi

A presença

da violência

certa vez O historiador Arnaldo Momigliano ”, observou as-

fato natural, um mo co rra gue a m va ta ei ac gos gre que os l nada poqua do rca ace te, mor a ou to en im sc na sim como o

deria ser feito. Como explicar isto? nças. O munInicialmente, é preciso delimitar as difere lmente o uso ra mo e a gic oló ide a en nd co s mo ve vi do em que determinado objetir ngi ati a par io me um mo co cia lên vio da igo não O fazia (Isto ant o nd mu O vo. eti col ou l dua ivi ind vo, condição a um era cia lên vio a s poi ), ma Ro a par também vale , 1985, p. 70-1). LEY Fin . (cf o nt me na io nc fu seu ao te ineren NO, A. Studies IA GL MI MO In: hy. rap iog tor his t ien anc ! On causes of war in olson, 1966. Apud FINLEY, Nic & d fel den Wei s, dre Lon hy. rap in historiog 1985, p. 70.

à maior parte da força de trabalho era obtida através de formas de compulsão não-econômicas, o que é caracteristico dos modo

s de produção pré-capita listas, em que ainda não se dera q separação total entre os

trabalhadores e os meios de produção. Em outras palavras, os trabalhadore s, em sua muoria, sofriam coação física (leia-se, violência) no sentido de obrigá-los ao trabalho . Mesmo filósofos como Sócrates tinham perfeita consciênci a de que a utilização da fo rça era indispensável no tratamen to com os escravos, como fica pateme neste dialogo com seu discípulo Aristipo: SOCRATES

mem

— *'.. Ninguém quer mant er em sua casa um ho. que não deseja efetuar ne nh

um trabalho e sim gozar de um estilo de vida caro. Co nsideremos como Se co mportam os senhores para co

m os escravos deste tipo. Não é verdade que controlam qualquer inclin ação (de tais escravos) para a luxuúria fazendo-os passar fome? E que os impedem de roubar tran. cando os

lugares de onde poderiam tirar coisas? E os impedem de fugir acorrentando-os? E os livram da preguiça com espancamentos

? Senão. vejamos. o que fazes quando descobres ter as

alguém sim entre os teus escravos?” ARISTIPO — “Eu o submeto a to dos os castig

os possíveis. até conseguir forçá-lo a servir ad equadamente." (XENOFONTE, Me moraveis, 11, 1. 15-7.)

Decerto que também havia maneiras mais “sutis” (em termos ) de controlar os escravos: Xeno fonte (Oikonomicus,

IN. 5) aconselhava os senhores q tran car a porta que separava as acomodações de escravos e es cravas, mantendo em seu poder a única chave — uma maneira de recompensar ou punir Os escravos. De qualquer forma, a vi olência está na base do sistema escravista. Outras formas de trabalho também repous avam na utilização da força. O caso mais fomoso é o dos hilotas, populações vencidas pelos espartanos, a quem sustentavam com o seu trabalho. Os hilotas não eram escrav os: f ormavam famílias e viviam em comunidades, não perten cendo individualmente a nenhum espartano, mas ao conj unto de cidadãos.

|

e

dos escravos-mercadoria) potencial —

(inexistentes no caso

faziam dos hilotas revoltosos em

eles, de fato, revoltaram-se inúmeras vezes em

ocultos e quietos, distribuídos em

locais fora das

vistas; à noite, desciam para os caminhos e degolavam

todo

hilota que apanhassem. (Vida de Licurgo, XXVII. Trad. de JaiBruna. São Paulo, Cultrix, 1963. p. 38.)

As duas obras mais Importantes da literatura grega (segundo os próprios helenos), e também as mais antigas, estão carregadas de violência: a Ilíada e a Odisséia. A primeira é um verdadeiro desfile de cenas sangrentas no decorrer de lutas e duelos, narradas com o maior detalhe. Mesmo a Odisséia, bem mais -pacífica, tem também um bom grau de violência, como no momento em que os pretendentes são mortos, encharcando de sangue o chão (de terra) do palácio de Odisseus, para a alegria da velha ama Euricléia (XXII, 380-410), que põe-se a gritar, feliz com a vingança; ou, em seguida a este incidente, quando o jovem Telêmaco enforca as escravas que haviam traído a casa de Ulisses (“'misturandose aos pretendentes em conúbio amoroso”, XXII, 420-73). Logo depois, pune-se um escravo arrancando-lhe o nariz, a orelha e os genitais, e lançando tudo aos cães. Lembremos que os primeiros livros a serem lidos pelas crianças gregas eram exatamente os poemas homéricos... Nesta atmosfera violenta, a guerra só podia ser vista com

naturalidade. Era parte da sociedade humana e, quando pra-

ticada contra homens inferiores — isto é, os bárbaros —, vista

mm

me

=]

maneciam

em

... periodicamente, os magistrados espalhavam pelo país, munidos de punhais, de suprimentos necessárics e mais nada, os jovens reputados mais inteligentes; durante o dia, estes per- -

ei

Esparta. Além disto, em número eram pelo menos o dobro dos espartanos. Para quebrantar-lhes a vontade e mantê-los submissos, os espartanos faziam-nos viver sob um regime de terror constante, em que o ritual da criptia — abaixo descrito por Plutarco — desempenhava importante papel:

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AR o

Os vinculos familiares e comunitários

como um meio natural de aquisição par a Aristóteles (PolitiCu 1256b. 23-6). ao lado do pastoreio, da caça, e da agricultura. Aliás, o próprio autor da Política inclui sem problemas

a pirataria como um dos tipos de caça. Pir ataria que grassava como um mal endêmico no Mediterrâneo , tornando as viaeens marítimas muito perigosas. Uma his tória ocorrida com Platão é um exemplo disso: ao voltar da Sicília, depois de uma infrutifera tentativa de transformar o poderoso tirano de Siracusa em um rei-filósofo. Platão é rap tado e vendido como escravo pela tripulação do barco en que viajava. E salvo por um amigo, que paga o seu preço e lhe dev olve a

dade.

Nem

Fatores

todos podiam

esperar ter a mesma

sorte.

liber-

econômicos

Com a ironia e a inteligência habituais. o historiador americano Moses 1. Finley (1985, p. 78 et segs.) faz uma criLica incisiva à muioria dos estudos realizados sobre a guerra na Antiguidade, segundo ele demais preocupados com ““jogos de adivinhação”. voltados para “supostos insights da psicologia e do pensamento dos principais sujeitos” — o que O se explicaria por uma fé exagerada nas fontes antigas. O que Finley propõe é uma espécie de modelo para o estudo das guerras antigas, a partir dos lucros gerados pela guerra e da sua distribuição. As duas questões fundamentais seriam: À quem a guerra beneficiava e quais os setores da população prejudicados? Quais eram as suas consequências politicas? Dentre as variáveis explicativas ele aconselha a distinção entre pequenos e grandes Estados, pois somente os uúltimos lançavam-se de fato às guerras. já que as pequenas poteis (como Egina. por exemplo) evitavam ao máximo os combates, a não ser para defenderem sua existência autônoma. Quanto ao lucro, distingue entre o lucro imediato e O fucro posterior e continuado. A pirataria, as pequenas expe-

11

cadas pelo dições de saque (como as razias de rebanhos evo

capvelho Nestor na Ilíada, IX, 670-84) e, principalmente, a . O saque tura de escravos, proporcionavam lucros imediatos venção para a era tão corriqueiro que encontramos uma con e Cnossos, sua partilha entre as cidades cretenses de Tilissos s entre as datando do século V e, como era usual nos acordo

cidades, inscrita nas paredes de um santuário. A

sem Tá o chamado lucro posterior e continuado deve ser, igo (cf. dúvida, relacionado à questão do imperialismo ant

GUARINELLO, 1987). É lógico que o imperialismo antigo des-

to o das conhecia a prática do monopólio comercial, tan matérias-primas quanto o dos produtos manufaturados, pois strial. não estava ligado à sustentação de uma economia indu ário As diferenças decorrem, basicamente, do papel secund do na do artesanato e do comércio no mundo antigo, centra terra e na produção agricola. Sendo assim, era a terra O pritanmeiro componente dos cálculos de benefícios materiais, to em Atenas como em Roma. Nestes dois casos, a fome leincessante de guerras e conquistas era palpável e, mesmo vando na devida conta as considerações psicológicas ou estratégicas tais como patriotismo, glória militar, interesse nacional, defesa nacional e atê mesmo as esperanças de butim pessoal, havia mais a ganhar no caso dos Estados de conquista como Atenas e Roma: Os benefícios materiais do império. A terra conquistada, transformada em clerquias ou em ager publicus, era um fator primordial, embora na su-

perfície tudo parecesse fruto de mera rivalidade pessoal no interior da elite, por glória e poder (cf. FinLey, 1983, p. 113-4). Afinal, mesmo os antigos tinham consciência de que a guerra não era um fim em si, como nos ensina Políbios (III, 4,10-1): * Apud AUSTIN, M. M. & VIDAL-NAQUET, P, Economia e sociedade na Gré-

p. 169. cia Antiga. Trad. de Antônio Gonçalves. Lisboa, Edições 70, 1986.

Nem

os próprios governantes nem os seus críticos, com efei-

to. veriam o cbjetivo da ação como

quista

homem

e a sujeição

sendo

de todos ao seu

meramente

domínio.

a con-

pois nenhum

de bom-senso entra em guerra contra seus vizinhos pa-

ra esmagar um adversário, da mesma forma que ninguém singra os mares somente para alravessá-los. Na realidade,

ninguém sequer se dedica ao estudo das artes e dos oficios apenas com vistas à aquisição de conhecimentos; todos fa-

rem

tudo por causa

do prazer. do bem ou da utilidade resu!-

tantes. (Trad. de M. G. Kury, Brasília, UnB, 1985. p. 138,

Para Finlev. “ as guerras antigas raramente ocorriam devido ao comércio ou à disputa por mercados e rotas, embora pudessem visar a proteção ao abastecimento e ao transporte de cereais, isto é. para garantir o comércio de importação. Ele também enumera outros motivos, como o desejo de poder e engrandecimento, os incidentes de fronteira, o enriquecimento material atraves do saque. a procura de auxilio externo para dissensões internas e. exclusivamente no caso romano, a expansão territorial, Mesmo assim, neste último caso, faz questão de sublinhar que só havia a cobrança de tributos, e não a exploração econômica típica do mundo moderno. A postura do eminente historiador é clogiável no sentido de ressaltar as diferenças entre um mundo basicamente avrário e as economias industrializadas. Parece-nos, todavia cer radical demais no que diz respeito à quase inexistência de motivações comerciais. Há um episódio narrado por Tucidides (1, 100-1), em que se lê claramente: “... Algum tempo depois os tásios se revoltaram contra os atenienses por causa de uma disputa em torno de entrepostos comerciais e minas no lade oposto da costa da Trácia, cujos lucros eram dos tádos. (Trad. de M. G. Kurv. Brasilia, UnB, 1985.) |

Depois de um sítio que dura três anos, os tásios capitulam (em 462%), sendo obrigados a demolir suas muralhas “Tintevo

M.

d. Ot

“ Todas as datas a Crnido.

DR

gregos antigos. Lisboa,

deste

livro.

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indicação

EaD

Edições em

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70, ! Set.

contrario,

çE!

p. 55 6.

são anteriores

13

atenienses, além de uma e a entregar suas embarcações aos

rem tributos ga pa de cia gên exi da e ro hei din em o indenizaçã

ios tiveram que tás os que er diz o ri sá es ec sn de É . uro fut no (de ouro) em r os entrepostos comerciais e as minas

abandona o não foi çã va ti mo à que r ma ir af s mo de Po mãos atenienses. comercial? seria muique o — i aqu r mi su re s mo ar nt te Ao invés de guerra no munda as ic ôm on ec s õe nç fu as as tod to difícil — é preferível r, ula tic par em ia éc Gr na ou al, do antigo em ger guerra respeitando da o ic ôm on ec do ica nif sig o os rm aborda s marcannça ere dif há , nal Afi . os ad in rm te de tempo e espaço homérico e o seu pao nd mu no rra gue da ão nç fu a re tes ent (ver capítulo 2). pel no mundo clássico, por exemplo

religião da o tã es qu A . ra er gu da o çã ta ei A ac (1, 87), O rei to do ró He de a obr da em ag ss pa ta cer Em ato a ponto de lídio Croisos afirma: “ninguém é tão insens filhos seos paz na s poi , paz a que do rra gue a s mai desejar s sepultam os flpai 08 rra gue na mas s, pai s seu os tam pul lado trágico lhos”. Decerto, esta não é a única expressão do a guerra só era da guerra: em um poema, Pindaro dizia que ud ADCock, (ap m ia ec nh co a não que s ele aqu a par e doc que a guerra é 1962, p. 9) e Tucídides (III, 82,2) assinalava as cidades de da ri pe os pr € paz “na s poi ta, len vio tra mes uma e os indivíduos têm melhores sentimentos”. rra. É óbvio que os gregos não se deliciavam com a gue ural e inevitáEntretanto, viam nela mais do que um fato nat a Insensavel da vida. O mesmo Croisos que afirmara ser um persa Cyros, rei ao ho sel con te uin seg O dá , rra gue a r eja des tez os lídios vique estava preocupado com a possibilidade de suir armas de rem a se revoltar: “... manda proibi-los de pos s mantos e calguerra, e ordena-lhes que usem túnicas sob seu e outros ara cit ar toc a hos fil s seu m ne si en que cem botas,

14

Instrumentos de cordas. e que tenham lojas. Então, rei, dentro de pouco tempo vê-los-às transformados em mulheres em

vez de homens e já não terás receios de sua rebeldia” (He.

RODOTO, |, 155). Em outras palavras, só a guerra forjava homens e estimulava as virtudes necessárias a estes.

Nem historiadores nem filósofos chegaram alguma vez a fazer a pergunta: “Por que a guerra?"", embora depois de Heródoto e Tucídides tenham tentado entender o porquê de um determinado conflito (cf. Fintey, 1985, p. 68-9). Para citar um exemplo célebre, o próprio Sócrates tomou parte em pelo menos duas campanhas durante a Guerra do Peloponeso, Já com mais de 40 anos, e no Banquete (221a-b) Alcibiades elogia a sua coragem: “observava calmamente tanto a amigos

longe.

como

a inimigos, e a todos era evidente,

que aquele homem

se aleuém

mesmo

de

saberia defender-se com bravura

o atacasse””,

Vernant (1985, p. 10) observa que a guerra era vista como parte do agon. isto é do espirito de confronto que presidia não só às relações humanas como à própria natureza; O uson estava presente não só na rivalidade que as cidades mantinham

entre si. mas

nos Jogos (onde havia competições es-

portivas, musicais c literárias), nos processos do tribunal, nos debates da assembléia etc A mesma idéia de confronto, de combate. que Hesiodo (segundo Vernant) colocava nos primórdios do mundo, e que Heráclito celebrava como pai e rei de todo o universo. Não custa lembrar que os deuses olímpicos sÓ conseguem vencer os titãs graças à ajuda prestada pelos Hecatônquiros (Hesiovo, Teogonia, 617-885), “terríveis c poderosos, dotados de força sem igual”, monstros com 50 cabeças e 100 braços. A religião. de fato, demonstra o grau de aceitação des[frutado pela guerra de várias formas (cf. FinLEY, 1985, p. 68): as divindades guerreiras, como Ares na Grécia (ou o bem mais poderoso e cultuado Marte dos romanos) não sofriam q menor concorrência das divindades ligadas à paz. A mito-

15

logia está repleta da satisfação demonstrada pelos deuses com a bravura e os sucessos militares dos seus protegidos mortais. Estes últimos presumiam que o auxilio divino estava sempre disponível para as guerras. Sendo assim, os oráculos ou os sinais divinos (isto é, interpretados como tais pelos gregos), jamais recomendavam

a paz por si mesma,

embora às

vezes advertissem contra uma batalha ou guerra especificas por determinados motivos. A idéia de que os deuses aceitavam plenamente a guerra está presente em uma passagem do famoso “Diálogo de Melos”. A certa altura, os atenienses — que pressionavam os mélios para que estes se tornassem seus aliados — respondem desta forma à acusação de impiedade que lhes é dirigida: Quanto à benevolência divina, esperamos que ela também não nos falte. Realmente, em nossas ações não nos estamos afastando da reverência humana diante das divindades ou do que

ela aconselha no trato com as mesmas. Dos deuses nós supomos e dos homens nós sabemos que, sempre que eles podem eles mandam. (TucibiDEs, V, 105, 12-3. Trad. de M. G. Kury. Brasília, UnB, 1982. p. 285.)

Guerra e religião estavam relacionadas de várias maneiras. Para começar, era normal que os homens buscassem a proteção dos deuses e das forças sobrenaturais ao se lançarem em ações arriscadas. À primeira coisa a fazer era consultar os deuses quanto às possibilidades de vitória. Isto era feito através de oráculos (há dezenas de consultas deste tipo relatadas por Heródoto), adivinhos, pela observação dos sinais divinos (e.g. os eclipses). Depois de fracassar completamente a tentativa de tomar a cidade de Siracusa (em 413), as tropas atenienses, já preparadas para fugir, assistem a um eclipse da lua, que estava cheia na ocasião (cf. TUCÍDIDES, VII, 50). Assustados, resolvem esperar três vezes três dias (o que lhes foi fatal), segundo a prescrição dos adivinhos. Estes últimos eram parte indispensável dos exércitos: em um már-

lh

more do Louvre, hã a lista dos mortos da tribo ateniens e Erectheis entre 459-8, onde. significativamente, os nomes dos estrategos e do adivinho do exército vinham em pri meiro lugar,

antes dos soldados (apud VipaL-NAQUET, in: VERNANT, p.

166).

1985,

Uma vez tomada a decisão e feitos os preparativos, as tropas não partiam enquanto as últimas homenagens aos deuses não fossem prestadas, como na expedição ateniense à Si-

eia

(415):

Quando

as tripulações das naus estavam embarcadas e tudo

que tinha que ser levado na viagem havia sido finalmente pos-

to a bordo. soou o toque de silêncio da corneta e foram feitas as preces costumeiras antes da partida, não em cada nau iso-

ladamente, mas para todas juntas e dirigidas por um arauto; um marinheiro e os oficiais em todo o efetivo da expedição fi-

zeram

as libações com vinho por eles misturado em taças de

ouro e prata. À multidão que permanecia em

terra, composta

de cidadãos e de todos os que foram desejar sucesso aos ate-

nienses, juntou-se aos expedicionários nas preces. Quando os expedicionários acabaram de cantar o peã e terminaram as pre-

ces

as

Na

verdade,

naus

partiram,

navegando

ca...(TucibiDEs. VI. 32. Ibidem,

como

J.

inicialmente

p. 303-4,)

Romilly

em

(in: VERNANT,

fila úni-

1985,

p.

212) nos ensina em um breve mas valioso artigo, tanto a guerra quanto a paz entre as pofeis (cidades-Estados) eram cercadas de formalidades, de costumes (ronriot) sagrados de certa

forma. A Paz era marcada por libações e juramentos em no-

me das divindades mais importantes. Para os cidadãos das poleis envolvidas, assim como para o restante da Hélade, a

paz era assinalada pela existência de estelas de pedra, colo-

cadas não só nas respectivas cidades, mas nos principais santuários pan-helênicos, como Delfos ou Olímpia. A Guerra, por sua vez, também era cercada de formalidades oficiais, destinadas a estabelecer — diante dos olhos dos deuses e da comunidade helênica — o bom direito do atacante (segundo Romillyv). Deste modo, era necessário fazer

|

o E E PE

si

TT

7

constatar publicamente que o adversário havia rompido determinado tratado (cf. TucíbipEs, 1, 88). Antes de (re)iniciar as hostilidades, era preciso enviar arautos com reivindicações e intenções, ou com uma proposta de arbitragem (o que era comum). Desrespeitar uma trégua, não cumprir as formalidades necessárias, era malvisto pela opinião pública e, mais do que isto, considerado um atentado aos deuses. Sendo assim, os lacedemônios, por exemplo, atribuíam as derrotas sofridas durante a primeira fase da Guerra do Peloponeso (isto

é, 431-21) ao descontrole dos seus aliados tebanos, que atacaram

Platéia em

meio a uma

trégua:

Na guerra precedente eles se consideravam

os transgresso-

res, pois os tebanos haviam entrado em Platéia em tempo de

trégua e, embora estivesse estipulado no acordo anterior que nenhuma das partes devia recorrer às armas se a outra se dis-

pusesse a submeter a pendência à arbitragem, eles se tinham esquivado de responder às convocações quando os atenienses os convidaram a comparecer aos debates. Julgavam-se por isto merecedores dos seus infortúnios, lembrando-se do desastre de Pilos e dos outros que lhes aconteceram.(TUCÍDIDES, VII, 18, 2. Ibidem, p. 346.)

EO

Fis

A dimensão

política

Clínias, o cretense: “aquilo que a maioria dos homens chama

de paz é meramente uma aparência; na realidade todas as cidades estão por natureza em um estado permanente de guer-

ra não declarada

Leis, 626a.)

contra todas

as outras cidades".(PLATÃO,

Tudo no regime das cidades-Estados gregas parecia contribuir para um estado de guerra recíproca quase perpétuo: a existência de centenas de póleis, a maioria de tamanho diminuto, extremamente ciosas da sua autonomia, a sonhar com uma impossível auto-suficiência econômica. Atenas, por exemplo, no período que vai de 479 a 338 — isto é, do fim das guerras pérsicas até a derrota frente à Macedônia —, nunca desfrutou de pelo menos uma década

E

de paz ininterrupta; a média era de exatamente dois anos de guerra em cada tres, Deste modo. a paz cra apenas um intervalo entre guer-

ras. era sempre sentida como uma trégua. O texto dos tratados nunca falava em paz, simplesmente, sem dizer por quanto tempo: 50 anos (como a “Paz de Nícias” durante a Guerra do Peloponeso — que não chegou a durar cinco); 30 anos, > anos (lirmada por atenienses e peloponésios em 454, por exemplo).

Exatamente

por ser sentida

como

um

estado latente, a

guerra entre as pofeis cera concebida como uma espécie de torneio, com seus ritos e limites. Aqui, torna-se impossivel diferenciar o político do religioso: como classificar a proteção co respeito aos arautos (já uma realidade no mundo homérico): aos santuários: as tréguas durante as festas pan-helênicas em honra dos deuses: ou para o cumprimento dos ritos funcrários? Sem dúvida, cram ao mesmo tempo interdições prescritas pela religião e pelo sentimento de pertencer a uma mesma comunidade cultural e política (em certa medida), em suma. pelo helenismo. Estas regras. entretanto, têm uma história, tendendo a desaparecer durante o periodo helenístico e, mesmo antes disto. no decorrer da própria Guerra do Peloponeso, na medida em que as póleis se defrontaram com um tipo de guerra cuja amplitude e gravidade elas até então desconheciam. Este aspecto convencional e “civilizado” da guerra, na verdade. já pode ser entrevisto, de certa forma, na Hiada. Francis Vian (in: VERNANT, 1985, p. 56-8) observa o lugar secundário reservado a Ares na Guerra de Tróia, em compara-

cão com o destaque outorgado a Palas Atena, que passa a

ser a divindade guerreira por excelência. Ares simbolizava unicamente a batalha, no que ela tinha de selvagem e brutal, enquanto Palas já representava a ação guerreira em nome de um principe ou de um povo. Vian chama a nossa atenção para algo que já fora notado por M. Nilsson, isto é, que na Gré-

19

cia Ares tinha poucos cultos mas muitos mitos — prova de que ele representava uma concepção primitiva da guerra que aos poucos desapareceu. O papel secundário de Ares na religião grega clássica, onde ele era considerado uma divindade quase marginal, deve ser relacionado à inexistência, nesta mesma época, de uma função guerreira especializada. De fato, nas póleis o exército não se constituía em um corpo especializado, apartado da vida pública. A preparação militar fazia parte da formação do cidadão: os atenienses só estavam em plena posse dos seus direitos cívicos depois da efebia que durava dois anos; em Esparta, como veremos com mais detalhes adiante (ver capítulo 3), os jovens

que tremiam durante os treinamentos ou aqueles (já homens) que davam sinais de covardia na guerra, perdiam parte dos seus direitos de cidadania e sofriam um tratamento humilhante. Na Atenas democrática, os mais altos magistrados ci-vis, eleitos — os estrategos (strategoi) —, eram também os dirigentes máximos do exército e da frota, enfim, da guerra.

Nenhuma decisão a respeito da guerra era tomada fora da assembléia dos cidadãos: era a Eclesia reunida que votava não só pela guerra (ou não), mas era também pelo voto que se fixavam o número e o tipo dos efetivos militares, a estratégia a ser seguida, os tributos excepcionais que se fizessem necessários etc. Desprezava-se o valor militar da surpresa:a tática não podia vir antes da politica. Todos participavam do exército às suas custas: era dever de cada cidadão armar-se como soldado da infantaria pesada (hoplita), o que era conseguido por cerca de um terço dos cidadãos atenienses. Os mais ricos financiavam a construção de navios de guerra (as trirremes) e os mais pobres usavam a força dos seus braços para mover estes mesmos barcos. O exército nada mais é do que a assembléia popular em armas, a cidade em campanha. Em plena Guerra do Peloponeso, remadores e hoplitas atenienses, então na ilha de Samos, reagem contra o golpe

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A

a

21)

oligárquico de 411: reúnem-se en assembléia, destituem os

estrategos suspeitos de simpatia pela oligarquia, elegem no-

vos chefes e decidem

DES,

restabelecer a democracia (cf. Tucípi-

MIT, 72-7). O exército agia como um corpo pol ítico. Esta dimensão politica era tão forte, tão enraizada, que mesmo entre mercenários ela podia aparecer. É o caso dos

mercenários gregos contratados por Cyros, um pretendente

do Irono persa —

então ocupado por seu irmão mais velho

—. que morre durante a batalha de Cunaxa (401): depois do

traiçoeiro assassinato de seus generais, eles elegem novos co-

mandantes e passam a deliberar em assembléia as medidas a tomar. Esta identificação entre a pólis e o exército fica expressa nas cerimônias fúnebres em honra dos soldados mortos na guerra: na Atenas do século V (cf. TucípiDes, II, 34) 0 elogio é pronunciado por um representante da cidade, diante de dez caixões de cipreste, um para cada tribo ateniense.

Como

diz Detienne (in: VERNANT,

1985, p. 128): “nestes dez

caixões, o corpo social, todo inteiro representado, reconhe-

ce a sua própria imagem: quando ela pronuncia o clogio dos hoplitas tombados em combate, é a sua própria glória que a cidade celebra, a única que ela tolera”. O próximo capítulo tratará exatamente do surgimento da pratica e da ética hoplíticas, depois de analisar a guerra no mundo homérico, onde a dimensão politica estava ausente.

Ê Dos heróis aos hoplitas

De tudo os homens se fartam, do amor, do repouso agradável, do belo canto e das danças gracio-

sas de ritmo sereno, coisas que mais do que feros combates a gente deseja. Tudo sacia. Esses teu-

cros, somente, não cansam de lutas. (Ilíada, XLII,

o.

—Õe

e



+

636-40, Trad. de Carlos Alberto Nunes. Rio de Janeiro, Ediouro, s.d. p. 303.)

Houve

uma

Guerra

de

Troia?

Árbitro da disputa entre Atena, Hera e Afrodite, o troiano Páris elege a última como a mais bela das deusas. Despre-

za a oferta feita por Hera: dar-lhe o império de toda a Ásia,

assim como a promessa de sabedoria e vitória nos combates, vinda de Palas Atena. Prefere o amor de Helena de Esparta, a mais bela de todas as mortais. Recebido em Esparta com todas as honras, segundo as tradições da hospitalidade, o filho de Príamo aproveita a partida de seu anfitrião Menelau — que fora assistir aos funerais do avô em Creta —, para seduzir e raptar-lhe a esposa. Com a ajuda do irmão Agamesgega aa frota non, poderoso rei de Micas ic Atos

MARTIN

o

MIDIOIODA

LUTRER

« Gnnopa

Ea

fa

com DIS6 navios (segundo Homero) e, depois de um longo

cerco a citadela, vence e pilha Tróia juntamente com seus alia-

dos. além de recuperar a esposa. A guerra teria durado dez anos. A Guerra de Tróia era um dos episódios centrais da mitologia grega, cuja veracidade não era posta em dúvida por ninguém, sendo aceita até mesmo por Heródoto e Tucidides. Minal, os gregos estavam acostumados a explicar o passado

em funcão de mitos e os poemas homéricos eram provas suficientes e incontestáveis na época.

Existiu, de fato, uma Guerra de Tróia? Não. Esta pare-

ce ser uma

criação

da poesia épica,

fruto da liberdade e do

exagero característicos da poesia oral exemplificada pela Jlradae pela Odisséia.

Provas?

* Em primeiro lugar, os achados

arqueológicos do sitio de Hissarlik, na Turquia atual, onde toram descobertas várias camadas superpostas de assentamentos humanos. que os arqueólogos inicialmente batizaram de

Tróia 1. MM. WI e assim sucessivamente a partir da mais antica e profunda das camadas. A “Tróia” mais rica, a Tróia H. data do terceiro milênio antes de Cristo, quando nem mesmo populações falando “grego” haviam penetrado na penincula Balcânica. mil anos antes da existência de Micenas. Em termos cronológicos, a camada que corresponderia à lenda seria a chamada Tróia VI, uma pequena e pobre comunidade muito diferente da rica e poderosa cidade descrita por Hofosse o saque,

seria inex-

plicável a escolha de presa tão miserável e distante, com tantas possibilidades mais lucrativas ao seu redor. À não ser que aceitemos a romântica mas fantasiosa hipótese de que a guerra tivesse ocorrido em nome do resgate de Helena, desaparecem os motivos. Além disto. há outras evidências Importantes: dentre os milhares de tabletes escritos em linear B, não há “O debate a respeito é interminável. Contra à opinião adotada aqui, que acompanha Finley (1981. ver Kirk (in: VERNANT. 1985, p. 93-117).

ci

o objetivo dos gregos

o edi dd

Caso

e ir ea eq mr

mero.

a (SS

23

um só que contenha referência de qualquer espécie a Tróia ou a uma possível guerra; o arquivo real dos hititas — um povo que controlava a Ásia Menor (costa da Turquia atual) duran-

te os séculos XIV e XIII, composto de milhares de documentos, leis, decretos e tratados, nunca chega a mencionar Tróia. As provas contra a existência da guerra, todavia, podem

ser encontradas nos próprios poemas homéricos. É sintomá-

tico que os troianos descritos nos versos da Iliada sejam semelhantes aos gregos em quase tudo: em sua maioria, têm nomes gregos (cf. WarRy, 1980, p. 12); conversam facilmente com seus inimigos, negociando tréguas (0 que denota cos-

tumes comuns), trocando gritos e ameaças; adotam os mesmos valores guerreiros é heróicos dos gregos. Além do mais, a sociedade descrita pelos poemas, grosso modo equivalente

ao mundo grego dos séculos X e IX, não seria capaz de empreendimento tão grandioso em termos de escala e de organização.

A guerra como

fundamento

valor aristocrático

do

O chamado “Mundo de Ulisses”? ? era pequeno em população, organizado em torno de casas nobres ou oiko!, à frente das quais estava um chefe ao mesmo tempo militar, econômico e religioso: o basileus. Era um mundo em que uma aristocracia de guerreiros disputava ferozmente a glória advinda da participação nas atividades bélicas, que eram mais propriamente pequenas pilhagens e saques dirigidos às regiões próximas do que grandes expedições como a que teria levado os gregos a sitiarem Tróia. * FINLEY, M. 1. O mundo de Ulisses. Trad. de Armando Cerqueira. Lisboa, Presença,

1982.

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ISOSMI

A guerra lundamentava e justificava os privilégios aristocráticos diante do povo comum. Consciente disto, Sárpedon. rei dos lícios e aliado dos troianos, dirige as seguintes enntáos do seu companheiro Glaukos. encorajandoo ao combate: Glaukos, por que nos dão tantas honras na Líci a, residências,

calnes e taças em grande número? como

Por que nos olham todos

deusas? Por que nos atribuem nas margens do rio Xan-

to um imenso dominio próprio para os pomares e para o labor da terra portadora de bom trigo? Não é. pois, preciso desde lego aque hoje nos encontramos na primeira linha dos lícios para tomar parte na balalha ardente, a fim de que os lícios de forte couraça possam dizer: “Eles não são sem glória, os nossos

reis chefes da Lícia, comedores

de gordos carneiros e bebe-

dores do melhor vinho adocicado. Têm também. é certo. a forca dos homens bravos, uma vez que combatem na primeira linha dos lícios”. (Híada, XII, 310-21. Apud AusTIN & VIDALNaouET,. Op. cit. p, 189)

A guerra cra um meio de obter riquezas, principalmente metais c escravos, produtos necessários à auto-suficiência

almejada pelas casas aristocráticas. Mas estas empresas eram muito modestas: roubo de alzuns bois ou cavalos, razias de rebanhos de carneiros, porcos ou cabras, destruição das colheitas cite. Os pristonciros homens eram massacrados e as mulheres cram levadas como escravas: eram incursões rápidas em território inimigo, muitas vezes a partir do litoral, geralmente seguidas de represálias. à guerra nesse tempo era basicamente feita de duelos e do talento individual dos guerreiros nobres, representando para cles a principal ocupação mas também o proprio objeuvo da vida, um prazer presenteado pelos deuses segundo Ulisses (Odisseia, XIV. 216-24), Os nobres buscavam na guerra. além de ricos espoólios cuja parcela principal a eles cabia como comandantes, à honra c a glória. Sendo a sociedade da epoca iletrada. todas as relações — amizade, casamento,

hospitalidade — úunham que ser materializadas, À coragem guerreira era comprovada atraves de troféus, isto é, das ar

25

émaduras dos inimigos vencidos. A ética do guerreiro hom rico era competitiva por excelência e os interesses individuais , predominavam, diante da inexistência de uma idéia nacional objetiou mesmo de uma comunidade organizada com leis € vos coletivos. Deste modo, podemos entender como dois adversários, um a lutar pelos gregos (Diomedes), outro nas fidevido leiras troianas (Glaukos), possam recusar O combate aos laços privados de hospitalidade que uniam as duas famí as lias (Jada, VI, 221 et segs.): descem dos carros e trocam armas em sinal de amizade. A esfera dos interesses privados, familiares ou individuais estava acima da esfera pública, praticamente por nascer. A luta propriamente dita dava-se da seguinte forma: iniciava-se com duelos verbais — provocações, injúrias, gritos de pavor —, tentando aterrorizar O adversário, levá-lo ao pânico (cf. DETIENNE, In: VERNANT, 1985, p. 124); depois, a certa distância, os heróis arremessavam suas lanças €, caso estas falhassem, lutavam corpo a corpo com

suas espadas.

Há também notícia da utilização de pedras, lançadas com a mão. O armamento defensivo era variado, mas os itens mais constantes eram o escudo de couro circular, seguro por uma alça em volta do pescoço e do ombro, que podia ser útil no caso de retirada, com a colocação do escudo às costas; coletes de couro ou bronze, assim como o capacete, € grevas — proteção para as canelas e joelhos feita também de bronze ou couro (uma especialidade grega). Encontramos um reflexo deste mundo violento no Olimpo: inicialmente, Zeus proíbe pela força que os deuses continuem a tomar partido na guerra, ameaçando amarrar OS jnsubmissos em uma corrente “no pico mais alto do Olimpo” (Ilíada, VIII, 5-27). Depois, ao receberem a permissão de Zeus, os deuses descem imediatamente para a batalha, uns a favor dos aqueus, outros a ajudar os troianos (Ilíada, XX, 1-40).

=

A guerra não podia ser uma exceção em um mundo ainda carregado de deuses e superstições, e cada um dos exérci-

20

tos, tanto o grego quanto o troiano, utilizava adivinhos —

como Calcante “que conhecia o passado bem como o presente e o futuro, e que os navios guiara dos nobres acai os para lo (Tróia), graças aos dons de profeta com que Febo

Apolo o brindara” (Hiíada, 1, 68-78). Por mais feroz que fosse a guerra, já havia algumas convenções, como as tréguas pa-

ra à queima de cadáveres (Jliada, VII, 408-1 |). Entre estas

convenções, decerto, não estava o respeito pelas mulheres dos

vencidos, e o experiente Nestor estimula os seus guerreiros a continuarem lutando com as seguintes palavras: “... ninguém mais insista em voltar para a pátria, sem que, primeiro, haja subido ao leito de esposa troiana e ressarcido os trabalhos e o choro por causa de Helena” (Jlíada, II, 354-6).

A “revolução da cidadania

hoplitica”

e a conquista

Efetivamente os primeiros governos instituídos entre os helenos após o fim da realeza eram compostos de soldados (hoplites): em sua origem tais governos provinham da cavalaria, na

qual residia a força e a superioridade na guerra, pois sem uma

formação

regular a infantaria pesadamente armada é inútil, e

como aartee a tática militares não existiam nos tempos mais recuados. a força estava com a cavalaria; à proporção que as cidades cresciam e os hoplitas passaram a ser mais fortes, mais

pessoas

participavam

do

governo.

(ARISTÓTELES,

1297b. Trad. de M. G. Kury. Brasília, UnB,

Política,

1985, p. 149)

|V,

A idéia de uma ruptura, de uma “revolução hopliítica””,

surge a partir dos estudos da arqueóloga inglesa H. L, Lorimer (cf. DETIENNE, in: VERNANT, 1985, p. 120), no final da

década de 1940. Confrontando documentos arqueológicos e

fontes literárias (como a passagem acima citada), ela conclui que todo o novo armamento — capacete, couraça, escudo, grevas — teria sido adotado em todas as regiões do mundo grego simultaneamente, em condições análogas.

21

o, permitiram Novos achados arqueológicos, entretant

lema da ob pr O m re ca lo co re ss ra dg oo Sn A. mo a autores co fato, sabe-se hoje que De . mos ter ros out em ica lít hop e ang fal a, quase todo o seu todos os elementos da armadura do hoplit duplo cabo do do o eçã exc à m co — ivo ens def o nt me equipa há muito gos gre os pel os id ec nh co am er —, o escudo redond (cf. COURBIN, ca ri ét om ge e ca ni cê mi a oc ép a de des tempo, in: VERNANT,

plon (es1985, p. 89-90). O duplo cabo do ho

é apenas um a) lit hop me no o iva der e nd do — o nd do cudo re ido, na veruz od pr co, ógi nol tec o nt me oa iç fe er ap detalhe, um mental. dade, por uma transformação social e sadamenpe a ari ant inf de os ad ld so dos to en im ec O apar grupo € não mais em sa, coe a rm fo de m are lut a s do ma te ar

méricos, teria sido, seindividualmente como nos Tempos Ho

o da parçã ia pl am a ar lic exp a or fat pal nci pri o , uns alg gundo comunidade deiticipação política. Isto é, se a segurança da uma minoria de os mã nas te en am iv us cl ex ar us po re de vava

lio político dos pó no mo O , te en em nt ue eq ns co , tas cra sto ari de ipação crescennobres também era ameaçado por uma partic vam como ta lu que dos te par por ade cid da os unt ass te nos hoplitas. ra seja A questão não é tão simples assim. Afinal, embo s da nova forfácil perceber as repercussões políticas e sociai a. Caso connç da mu da uê rq po o r ta un rg pe e cab a, lut de ma militar a restrário, estaremos atribuindo a uma inovação profundas, ao ponsabilidade por transformações bem mais ico mais tór his so ces pro um de ado ult res o mo co la vêinvés de amplo e complexo. ica não Infelizmente, o aparecimento da falange hoplit Ilíada (JJ, 542 e pode ser datado com muita precisão. Já na referência faz ta poe o que em s en ag ss pa s dua há XIII, 339), seja, invesou as, lit hop dos a ir ne ma à ça lan da o à utilizaçã ssá-la a disme re ar de és inv ao o ári ers adv o tra con tindo-a nte, todavia, são me el av ov pr ; óis her os am zi fa mo co tância provas são €XAs al. gin ori to tex ao es ior ter pos s çõe interpola

28

clusivamente

arqueológicas:

uma

couraça

de bronze desco-

berta em Argos (Peloponeso) e um vaso eubóico representando uma mistura de hoplitas e pré-hoplitas nos permitem

datar o início do processo no último quartel do século VIII.

Por volta de 650, graças a um vaso protocoríntio (chamado de “Vaso Chigi'”, ver figura 1), podemos ter certeza de que a nova forma de combater já estava plenamente desenvolvida. Corinto, Esparta e Argos rapidamente adotaram a nova formação, que não demorou a espalhar-se por toda a Grécia.

Tendo a transformação ocorrido entre 700 e 650, é pre-

ciso situá-la no contexto histórico da Grécia arcaica. Em primeiro lugar, o aparecimento da falange hoplítica deve ser re-

lacionado ao aparecimento da pólis, isto é, ao fortalecimento da comunidade e à defesa de suas fronteiras. A crise agrária também

mantém

relações estreitas com o surgimento da

falange hoplitica: ela é causada, em parte, por um processo

de crescimento demográfico que, aliado à concentração das terras nas mãos de uma minoria e aos graves limites tecnológicos da agricultura de então, leva a um processo de fundação de novas pofeis. O chamado movimento de “colonização '* atua como uma válvula de escape das tensões sociais. Sem duvida, a utilização da falange hoplitica deve ter facilitado a ocupação de áreas coloniais onde a resistência foi maior. Ao mesmo tempo, o comércio com estas regiões fornecia o metal necessário à fabricação do armamento. O contato com outros povos pode ter sido importante: talvez o capacete e o escudo do hoplita tenham origem assíria, possivelmente por intermédio dos cários (cf. HeróDoro, |, 171). A inovação radical, todavia, deve-se aos próprios gregos. O desenvolvimento da agricultura — em detrimento da pecuária, que consistia na principal atividade econômica do periodo anterior — também é uma precondição para a mu-

dança, já que o exército passa a ser basicamente composto

de um campesinato médio (lembremos que os hoplitas tinham de armar-se às suas próprias custas) e porque o principal ob-

o

oe

nai

E

ig

mi

Sa

29

Figura 1: A mais antiga representação de uma falange hoplítica. No centro, uma fileira de hoplitas a empunhar seus escudos com o braço €s-

rda. Proquerdo marcha no ritmo marcado pelo Aulete (flautista), à esque (o “Vaso veniente de um vaso protocoríntio da metade do século VII

y. 5. Chigi'). Fonte: Fonnest, W. G. The emergence of greek democrac ed. Londres, Weidenfeld

& Nicolson,

1978.

p. 92.)

Mi)

Jetivo da falange hoplítica, que exigia lug ares planos como campo de batalha, é exatamente a destru ição dos campos culUvados

da cidade

Armamento,

inimiga.

forma de luta e táticas hoplíticas

Em termos defensivos, o hoplita cra proteg ido por uma

couraça de bronze composta por duas partes (frontal e dorsal, unidas por tiras de couro) inteiriças ou feitas de pedaços de metal, presas a um material mais flexível (geral mente um grosso colete de linho). A couraça era confeccionad a de acordo com as medidas de cada guerreiro, ficando bem justa até a cintura, onde ela se alargava para proporcionar liberdade de movimentos. A tendência ao longo do tempo foi no sentido de torná-las mais leves, a fim de ganhar mobilidade. Um outro item do armamento defensivo era o capacete de bronze forrado de feltro ou couro, o qual protegia quase todo o rosto ec ainda parte do pescoço, embora praticamente impos-

sibilitasse a visão lateral e prejudicasse a audição. O capacete cra encimado por um penacho que, juntamente com o emblema do escudo, servia para que o hoplita reconhecesse os seus companheiros. Grevas também de metal protegiam as canelas e os joelhos. Alguns guerreiros usavam proteções extras para os braços, tornozelos e coxas. Todavia, o que deu nome ao hoplita e aquilo que se constituía na inovação fundamental era o escudo redondo c côncavo — o hoplen. Feito de madeira e bronze (inicialmente so nas bordas, depois a cobrir todo o escudo), era muito mais

pesado do que o escudo anterior (que era de couro, como já vimos): algo por volta dos oito quilos. Ao contrário do seu antecessor. não pendia de uma alça: o hopfon era seguro por

dois cabos, um perto da borda, empunhado com a mão esquerda, o outro, no centro do escudo, por onde passava o cotovelo. Este escudo proporcionava muito mais firmeza, em-

ci e e e

3

e o tipo anterior. Afiqu do l ve já ne ma s no me m be se bora fos viduais a duedi in os ir re er gu re ent is ma va da nal, a luta não se har larc ma a s te en at mb co de s to ac mp lar, mas em blocos co do a lado. tuido de ti ns co era a it pl ho do vo si en of O equipamento metros, com s trê e s doi e tr en o nd di me a ir uma lança de made As estocadas eram . ze on br de a nh ro co a um e ro ponta de fer o (como faoç sc pe o r gi in at o nd sa vi o ix ba dadas de cima para de baixo para cima ou ), i” ig Ch o as “V do os ir re zem os guer órgãos genitais. A s no te en lm ra ge —, a aç ur co — abaixo da o caído ig im in o r ea lp go ra pa a ad iz il ut coronha de bronze era mo defesa conco , ão ch no a nç la à te en em rm fi r ou para planta punhal, um ou a rt cu da pa es a Um a. ri la va tra um ataque de ca idade de a lança al tu en ev na os ad iz il ut am er ro, ambos de fer a de corpo a corpo. lut se es uv ho so ca ou r, ra eb qu cair ou rmada por fo era e ng la fa a , re mp se o nã e, Normalment lunas de largura. Em co o oit r po de da di un of pr de as eir oito fil

do com O er qu es co an fl seu o ia eg ot pr a it pl ho cada fileira o anheiro à esmp co seu do o it re di co an fl o mo co m escudo, assi vez, é que protegia a su r po a, eit dir a su à m me ho o ; querda hoplitas Os a. it pl ho e el qu da o it re di co an fl o com seu escudo cudo, era não es o do an rg la ir fug €, os tr ou s do s un dependiam ção que punha em ai tr de ato um mo co ia rd va co de só sinal 0, p. 37) ob98 (1 y rr Wa hn Jo ; os ir he an mp co os risco todos , aquele que joga te en lm ra te li — s pi as ps ri o rm te o e serva qu

rtor na Grécia de hoje. se de a ic if gn si a nd ai —, do cu es seu o fora era jmediatao, rt mo ou do ri fe e ss fo a it pl ho Caso um

na que marlu co a sm me da o ir re er gu lo pe o íd tu mente substi

— —— 2

o mm

es

——

se sempre comes ec an rm pe as eir fil as e qu ra pa chava atrás, pactas. s até que õe aç rm fo as du s da ue oq ch lo pe va A luta se da

adversário. lo pe a ad at ar sb de e ss fo e se es mp uma delas se ro alguns miva ra mo de a, íd sa de go lo a ri or oc o nã Quando isto s se tornasse trá de as eir fil s da a nd vi o sã es pr a nutos, até que ar reagrupar à nt te el ív ss po im te en am ic at pr a irresistível. Er

formação durante a batalha e, tendo ela se rompido, a maior parte dos hoplitas fugia correndo, apenas tentando salvar a vida e, se possivel, o escudo (o que equ ivale dizer, a honra). Com exceção dos combatentes das primei ras fileiras, relativamente poucos morriam. Não havia perseg uição séria aos adversários derrotados por vários motivos: em termos táticos, para evitar a desagregação da própria falang e vencedora: fisicamente, por causa do peso do equipame nto (30 quilos aproximadamente), difícil de suportar depois de tão can-

sativo combate. A principal explicação, entretant o, reside ver-

dadeiramente no fato de que a luta tinha como obj etivo a destruição dos campos cultivados (de cereal) da cidade adversária, obrigando-a a capitular. O pesado equipamento do hoplita (geralmente carregado até o campo de batalha por um escravo ou auxiliar) seria inconcebivel em um país tão montanhoso quanto a Grécia, não fosse este o objetivo: capturar as planícies onde os cereais que constituíam a base da alimentação eram cultivados.

Desta forma, a luta dava-se sempre em espaços previamente

escolhidos, abertos e planos. Isto impunha severos limites à estratégia e às táticas. Caso um Estado fosse invadido, ele procurava oferecer combate no campo mais próximo das fortificações da cidade, o que reduziria suas perdas em caso de derrota. Todavia, esta estratégia não podia ser adotada caso os campos cultivados ficassem em poder do adversário, obrigando muitas vezes o exército da cidade a avançar para en-

contrar o adversário.

Em

suma,

o que o estrategista podia,

no máximo, fazer, era trazer a batalha para o local plano mais apropriado ao tamanho do seu exército. Como o número de soldados era decisivo — já que o armamento era muito se-

melhante e, na prática, igual —, nem mesmo reservar parte dos homens para uma utilização futura era uma manobra válida; neste caso, quem perdia a batalha perdia a guerra. Uma vez começada a batalha, o comandante perdia virtualmente o controle sobre a sua tropa, podendo apenas lu-

33

e

cidafi ci pe es as ar nt co m Se . os tr ou tar bravamente como os dificuldade de a va va ra ag e qu o o, nt ro ní des deste tipo de co m boa parte va ra ti s te ce pa ca OS e qu de comandar era o fato uso de tromao to is r po o nd ga ri ob , os ad ld da audição dos so 94) con(4 ia pé Se de a lh ta ba Na s. betas ou de sinais manuai de “jantar” l na si o ” am ar oc “t os an rt pa tra Os argivos, os es

reparado. sp de o ig im in o e br so am ír e ca icos que eram ún te en am ic at pr € s vo si ci de Esses encontros o (o inverno, por rã ve no am ri or oc as it pl ho e as batalhas entr a apropriaer o nã —, io fr do ém al — a ser a estação chuvos sa à tempo de reaca ra pa ar lt vo m va ja se de s to do). Os exérci cidade-Estado

eitonas. A az € as uv de ta le co a e ta ei lh co lizar a novamente — pois er at mb co a av nt te o nã l, ra ge derrotada, em nvencional, co o ei rn to de e ci pé es a um a luta era vista como espeito às regras sr de um a ri se a ot rr de a r ti mi em que não ad derrota À . s) ri yb (A a id ed sm de de a, ur e uma espécie de louc am enviados a er s to au ar e qu em o nt me mo era admitida no terrados. A paz loen m re se rã pa os rt mo s do da ra ti pedir a re ramente havia Ra s. õe aç ci go ne de s vé ra at a go era alcançad tra. Passava-se ou r po de da ci a um de ta le mp co a destruição do estado pacífico to an qu z pa à ra er gu da e nt me da tão rapi ntudo, soco , al on ci en nv co e a ad gr re ra er gu ao conflito. Esta erá quase tolv vo en e qu te ba em de an gr o é at brevive apenas (ver capítulo 5). so ne po lo Pe do ra er Gu a : de la Hé da a

O papel diminuto da cavalaria — muito tempo deAristóteles (escrevendo no século IV 40 die -s va na ga en e nt me el av ov pr ) os nt pois dos acontecime prepondee at mb co de a rm fo a o sid a vi ha a ri zer que a cavala sse de um capo a ra bo Em e. ng la fa da ão uç od tr in rante até a status, levando os e a ez qu ri de vo ti in st di al sin um se valo fos estes eram usas, ai im an em ar rt po im es vez por à aristocratas de pouca valia na am er s ma e, nt me al ci so ou a iv dos esport

Ro

euerra de então (antes de se tornar a arma mais importan te do exército macedônico. na segunda metade do século IV, cf. capitulo 6). Isto por vários moti vos: a ferradura não havia ainda sido inventada e os animai s podiam ferir-se ou mesmo ficar aleijjad os em um pais montanhoso como a Grécin: eles pre-

cisavam de forragem e água, nenhuma das duas abundante na Grécia — ainda mais no ve rão, quando se davam as batalhas —. o que tornava os cavalos gregos pequenos e fracos. Somente em regiões com amplas planícies férteis, como a Tessália ou à Beócia, é que havia fo rças regulares de cavalaria. Os cava los deviam ser usados — militarm ente falando — ape-

tds para que os membros da elite ar istocrática chegassem ao campo de batalha, para perseguir (n ão muito) o inimigo em retirada ou, em caso de resultado adve rso, para agilizar a fuga. O uso de tropas ligeiras, como os pelt astas, os arqueiro

s c os tundibulários, também conservo u um papel secundario ate a Guerra do Peloponeso (ver capí tulo 5). Durante dois séculos (meados do VII a meados do V) , a falange hoplitica irá reinar absoluta no mundo grego.

Repercussões

sociais da falange hoplítica

O caráter revolucionário da formação hoplitica reside em ser

uma técnica que. por seu funcionamento. implica em uma certa concepção das relações sociais. Há nas atividades da talan:

ge uma verdadeira exigência igualitária, que decanta, puri fica e força ao novo certas atitudes, certas formas de pensamento, implicitamente contidas no campo ideológico da antiga clas Se guerreira. (DeTISNNE, M. La phalange. Problêmes et contro:

verses.

In: VERNANT,

1985, p. 141.)

Quais os reflexos desta forma de luta, preponderante na

Grécia durante tanto tempo? Em primeiro lugar, os hoplitas cram cerca de um terço da população total de homens adultos livres (e cidadãos), formando exércitos com até alguns milhares de homens. A segurança da cidade passara à depender

3

nidade, mimu co da a iv at ic if gn si te en am em tr desta parcela ex Se como hoplitas, mre ma ar de s ze pa ca es es on mp ca lhares de isto, enfraqueceramm Co . es br no de a en nt ce a um ao invés de de unidato en im nt se um se ond ia cr s, iai ce as distinções soc paço às reivindicaes r ga ne mo Co m. mu co e ss re de, de inte de Sólon (594) a rm fo re A o? nt me mo e st ne ções camponesas não podes, da vi dí r po ão aç iz av cr es a o em Atenas, proibind da função guero çã za ti ra oc em “d a est a a ad on ci ria estar rela reira” (Vernant)? des em

inuida nt co as rt ce r ta on ap s mo de po e qu o rt É ce es que istocrática: Os limites, as convençõ

relação à tradição ar , ligam-se de perto es ng la fa às e tr en e at mb co o am orientav nsão nãome di a um da to Há s. so ur nc co e os aos antigos tornei e os hoplitas: os sons tr en e at mb co no a nd ai te en es pr racional, soldados, os s do to r po o ad to en a pe o , uta estridentes da fla dos elementos to , as nç la s la pe s do gi in at s do cu es o ruído dos a provo€ o up gr O te en am ic og ol ic ps er ec al destinados a fort sinala Detienne as , toa à é o Nã s. io ár rs ve ad nos car O pânico parta, à cidade hoEs em e qu ), 125 PD. , 85 19 T, AN RN (in: VE bia um culce re a) ot rr De oed (M os ob Ph , ia nc lê plítica por exce to público. se preocupe, em Embora Heródoto (e.g. VI, 92) ainda de “heróis” de determe no o r na io nc me em V, lo cu sé o en pl

mais lugar há o nã a ic ít pl ho e ng la fa a m co , as lh ta ba minadas mundo homérico. do co ti ís er ct ra ca al du vi di in r lo va O para Como

p. 44): resume brilhantemente Vernant (1981,

faz do cidadão, uma A falange faz do hoplita, como a cidade lhante a todos 05 OUunidade permutável, um elemento seme e jamais se madev não l, dua ivi ind or vel o ia, ste ari a cuj tros, e manobra de conjunto, nifestar senão no quadro imposto pela os instrumennov sa, mas de ito efe o pel po, gru de pela coesão tos da vitória.

fude e éci esp a um era óis her dos m ge ra co a Enquanto

ide no aures a lit hop do e tud vir à , ses deu os pel ror, inspirado rear os impulref a par o ári ess nec o fri ueang ““s no tocontrole,

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an

SOS Instintivos que correriam

geral da formação”

o risco de perturbar a ordem

(Vernant). Avançar voluntariosamente,

tanto quanto recuar, vacilar ou fugir, eram atitudes prejudiciais. O hoplita tinha que marchar lado a lad o, ombro a ombro com o seu companheiro, em um mesm o ritmo e com a mesma vontade. Os reflexos sociais e até mesm o filosóficos desta noção de igualdade e interdependência, desta valorização do autocontrole (sophrosine), são poderosos . Em certa medida, irão moldar a própria concepção classica de como

um homem

bom deveria ser. *

O agon, o espirito com petitivo, não desaparecera, mui to pelo contrário. Agora, porém, transferia-se do combat e

individual para a eterna rivalidade entre as poleis (Atena s e

Egina, por exemplo. ou Argos e Esparta etc.). No interior das póleis. entretanto, triunfava a ética cooperativa necessaria ao sucesso da falange pesadamente armada e coesa. O treinamento, a disciplina e a coragem (agora expressa no controle de si) espelham-se no aparecimento do flautista e do ginásio. O flautista (aulete) desempenhava um papel essencial: dava ritmo à marcha dos hoplitas, mantinha a coesão da falange e estimulava os soldados a combaterem. Personifica a ordem e a disciplina necessárias ao combate hoplítico. O ginásio, largamente difundido desde o século VI como novo sistema de educação coletivo, acostumava os

cidadãos-soldados

às

evoluções

coletivas

e ordenadas

da

falange. A poesia do período arcaico estava carregada dos novos valores, como pode ser exemplificado por esta passagem de um poema do espartano Tirteu, datando da segunda metade do

século

VII:

E bom para a comunidade, para a cidade e para o povo que

o homem

se mantenha a pé firme frente aos combatentes

e

* Cf. ANDREWES, À. Greck society. Londres, Pelikan Books, 1986. p. 161-2,

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31 idéia de fuga. afaste da sua cabeça qualquer a vida bemcai entre OS combatentes e perde

Mas aquele que us concidadãos € se os , ade cid sua a ria gló de amada, cobre novos € velhos, quando os, tod por o ad or ch ser ao o seu pai, a armadura trespassae do cu es o av nc cô O to, pei o jaz, com sa memória enche a cidaro lo do sua ; eis jét pro os it mu dos por o seu sepulcro €

re os homens de inteira e são honrados ent a a sua linhatod e hos fil us se dos hos fil os seus filhos, e os jamais e, mesmo ue ng ti ex se não me no seu gem; a honra do EGER, W. Paídeia. (JA l. rta imo se nator ra, ter da que jaza no seio 1123.)

1979. p. são Paulo, Martins Fontes,

Gs

fi

a

s a organizaia nc uê eq ns co s ma ti úl às u vo le A pólis que rmos de te em a av ic pl im ela e qu o ção hoplítica, com tudo seguir: Esparta. a s nó r po a ad is al an rá se valores,

Esparta — o mito da sociedade guerreira

Eu não quereria guardar memória dum homem nem falar dele devido à virtude dos seus pés ou a sua destreza na luta, ainda que ele tivesse a for-

ca dos ciclopes e ganhasse em velocidade do trácio Bóreas. E ainda que fosse mais belo que Titono

e mais rico que Midas e Ciniras, mais régio que Pelops, filho de Tântalo, e dotado de uma língua mais lisonjeira do que Adrasto, se tivesse todas

as glórias do mundo,

mas não possuisse o valor

vuerreiro, não quereria honrá-lo. Não dará boas provas de si na luta se não for capaz de encarar

a morte sangrenta na peleja e de lutar corpo a corpo com o adversário. Isto é arete, este e o titulo

mais alto e glorioso que um jovem pode alcançar

entre os homens.

''miragem

espartana”

Fr

A

(C. Mosse)

A idealização de Esparta como uma cidade-modelo começa muito cedo, já na Antiguidade (cf. Mossé. La vérité

sur Sparte.

In: —,

1986, p. 58-76).

Depois da derrota ate-

niense na Guerra do Peloponeso (431-404), os maiores criíticos do regime democrático, como Platão, por exemplo, vêem nas vitórias espartanas a materialização da superioridade da

À Vida de Lio. ic qu ár ig ol me gi re educação rigorosa € do demons, na ma ro a oc ép na já arco curgo, elaborada por Plut er, a *““mili Ol F. e er ef pr mo co ou tra que o mito espartano, Roma imperial. a en pl em vo vi va ua in ragem espartana””, cont mesmo 05 e 89 17 de s io ár on ci lu revo Muitd tempo depois, Os la busne a, rt pa Es ar uv lo m nda iria nazifascistas alemães ai s: OS franto in st di m be s vo ti mo r po cando inspiração, embora igualios pi cí in pr Os la ne o r”' vend ceses da época do “Terro Reich fasI II do s ãe em al OS r, ta an tários que desejavam impl na milili ip sc di da gi rí a e a ni de euge cinados com a procura parta deve-se Es de to ei sp re a s en ag im tar. Tal multiplicação de à malos, mo uí ss po e qu es nt fo ez das primordialmente à escass telligentsia in a st de os it cr es s do es ria delas, aliás, provenient do que com l” ea “r a rt pa Es à m co da helênica menos preocupa representava. a el e qu s co ti lí po e os princípios morais

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39

ssênia e M da a r r e u G a d n u g A Se ta transformação de Espar

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a planície um de ro nt ce no , so ne po Localizada no Pelo s, à descer das ta ro Eu o ri o e rr co de on aluvional fértil, por as meva za li po no mo só o nã a rt montanhas da Arcádia, Espa de encono nt po no se aav tu si mo lhores terras da região co ndo em volmu o m co a ni cô La à m va ga tro das rotas que li etros ôm il qu 46 à va ca fi on ei th ta. O porto marítimo de Gy a Tegéia, ao er e qu — a im óx pr is ma e a cidade (leia-se rival) dois dias de s no me lo pe , ja se OU s, ro norte —, a 57 quilômet iada. eg il iv pr o çã si po a um m, fi marcha. En otar a falange ad a is le pó s ra ei im pr s da Esparta é uma ysiai). (H 9 66 em s go Ar a te en fr hoplítica, depois da derrota r a Segunda se a io ve , to an et tr en , O acontecimento decisivo localizada il rt fé ie íc an pl a um a er ta Guerra da Messênia. Es vinte anos e nt me da ma xi ro ap e nt ra a oeste de Esparta. Du ssênios, conse-

me os am er at mb co os an rt pa es (640-620), os

Lo Gas ido,

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guindo por fm reduzi-los à condição de hilotas, isto é, homens que, Juntamente com suas famílias, trabalhavam lotes de terra distribuidos pelo Estado espartano aos seus cidadãos, devendo os hilotas entregar cerca de metade da produção aos

seus senhores, À vitória espartana só havia sido possível gra-

ças à adoção da nova forma de luta em conjunto. A partir da conquista da Messênia, a sociedade espartana iria assistir a um fechamento progressivo frente ao exterior e à implantacã o de um rigido sistema de educação (agoge) não só objeLivando preparar bons gucrreiros, mas fortalecendo o sprit de corps dos hoplitas. Tal mudança tem uma explicação bastante simples. O sucesso na guerra dependia de dois fatores básicos, o número de soldados e a sua preparação (o armamento, como já apontamos anteriormente, variava muito pouco). Sendo a população de hilotas pelo menos o dobro do número de espartanos. estes últimos necessitavam de um treinamento eficaz desde a infância. O paradoxal é que esta sociedade guerreira visava o controle interno dos hilotas e não os empreendimentos de conquista. Esparta, na verdade, não estava preparada (socialmente) para a guerra no exterior e a vitória sobre os atenienses na Guerra do Peloponeso irá minar as bases sociais e econômicas sobre as quais ela estava assentada, agravando as disparidades de riqueza no interior do corpo de

cidadãos e aumentando cada vez mais o número de '*marginalizados'* do sistema. Este processo, somado às perdas ocasionadas diretamente pelas batalhas, fez com que o número de espartanos caísse vertiginosamente: eles eram 5 000 em Platéia (479) e pouco menos do que um milhar em 371, quando foram derrotados em Leuctra pelos tebanos de Epaminon-

das e Pelópidas. Dois anos depois, os messênios se revoltaram e tornaram-se independentes. A partir daí, Esparta foi uma força secundária no mundo grego. A sociedade ““guerreira”" não resistira à própria vitória. Todavia, durante muito tempo os hoplitas espartanos foram considerados invencíveis e os gregos de todas as cida-

aa

ic

41

mantos verus se s do o sã vi à te en fr des costumavam tremer pois as mulhee, ad id in ul sc ma a a av iz ol melhos (cor que simb a que não ar “p m ia rv se e qu — ) la áres gregas não podiam us dos que eles costuri mp co s lo be ca s do € —, se visse o sangue” is jovens, ma s do so ca no e, a lh ta ba mavam pentear antes da vam O ritmo orta di e qu as st ti au fl de m untar de óleo. Ao so espartanos os , os ad ld so us se s do denado e impressionante nte, onde estaze lu re ze on br de s do cu es avançavam com seus — terai ni mo de ce la de l ia ic in a , a) va inscrita a letra A (lambd riecos. pe s do ia al us se € os an rt pa mo que incluía os es

A educação

ii

ii o

aos sete anos va ça me co os ad ld so s ro tu fu s A educação do sponnos passavam à ficar sob a re

de idade, quando os meni te escolhido en ri pe ex to ul ad um , os om on sabilidade do paid dade, e de um grUri to au de va ta do O e qu , de pela comunida r quando ni pu ra pa es ot ic ch do an rt po po de jovens rapazes ndo Xenofonte gu se s, no ni me s ao o nd po im fosse necessário, grande respeito € “ ), 11 211, , os ni mô de ce la s (República do descalços, r da an a s do ga ri ob am er s no obediência”. Os meni ano (para o do to e nt ra du a up ro de ça usavam a mesma pe e eram submetidos ”) io fr e r lo ca or lh me em ss ra que eles tole aliviara pa ar ub ro a va ga ri ob os e qu a um regime alimentar ra à guerpa os ad ar ep pr s ai “m a av rn to rem a fome; o que os a, mais altos. oc ép da s ça en cr as o nd gu se ra” e, quer adulto al qu e, nt se au e ss ve ti es os om on Caso o paid -los por má conni pu mo co m si as s, no ni me Os podia instruir ores Talh me os , te en es pr to ul ad er qu duta. Não havendo qual , entre OS 16 da ça an av is ma e ad id de a ix fa pazes dentre os da e modo, “os st De . is ve sá on sp re am er ) ai en e os 20 anos (os ir a controlá-los'. ém gu al m se o tã es ã nc nu a rt meninos em Espa se com azi fa o, nt me na ei tr de os an Durante os últimos ém de al , ”” el iv ss po e vr li o mp te r que eles tivessem “o meno

Jd)

submetéos a uma disciplina das mais rígidas, devendo “'man-

ter as suas mãos no interior dos mantos quando em público, andar em silêncio, e não olhar em volta, mas manter seus olhos a fitar o chão”. Segundo Nenofonte, um ateniense que lutou e viveu ao lado dos espartanos boa parte da sua vida,

era mais fácil fazer uma estátua de pedra falar do que conseeuir conversar com um deles, Dos 20 anos. quando findava o treinamento propriamente dito, até os 60, cles se mantinham em atividade militar continua — sendo que os melhores, depois dos 60, ainda podiam ser requisitados para preparar os mais jovens. Entre 20 e 30

anos, embora os espartanos pudessem se casar, deviam morar ainda com seus companheiros, sendo obrigados a visitar “furtivamente” as esposas. Todos os cidadãos espartanos reuniam-se para jantar em grupos de mais ou menos quinze homens. as sissítias — graças às contribuições em cevada, vinho. queijos e figos que cada um entregava mensalmente. A entrada no grupo dava-se através do voto dos participantes, que utilizavam para isto pedaços de miolo de pão (cf. PLurarco, Vida de Licurgo, NH): caso houvesse algum amassado (ou seja, um voto contrário), o pedido era negado. Todo o sistema fortalecia os laços de amizade entre os hoplitas, doem tando o exército espartano de uma coesão desconhecida

outras pofeis gregas.

Dentro de uma sociedade toda voltada para a preparahavia lução militar — técnica, fisica e moralmente -—, não gar para a covardia. Os tresantes, aqueles que haviam tremido praticadurante os exercícios ou em alguma batalha, eram das mente excluídos do corpo de cidadãos: não participavam rerefeições comuns nem das competições esportivas; eram religiosas; legados a funções menores durante as cerimônias quandeviam dar passagem aos cidadãos na rua e levantar-se que era do sentados, mesmo para Os mais jovens que eles (o as grave numa sociedade hierarquizada em grupos de idade); casar-se € mulheres da sua família dificilmente conseguiam

41

eles próprios não podiam

lta fazê-lo, tendo que pagar a mu

à escasdo vi de do ni pu a er e st (e to ba li correspondente pelo ce pulação tendia po ja cu a, rt pa Es va la so as e sez de homens qu a que: rv se ob te on of en YX ). ir nu mi sempre a di

ria pela cidade, nem eg al m co r ea ss pa ve de Ele (tresante) não corretos, caso o faça. o sã e qu s le ue aq ar il im deve tampouco e daqueles melho rt pa r po to en am nc pa es deve submeter-se ao enientes decorrem daco nv co in os nt ta do an Qu . ele res do que

de que os espartanos to ta O m co do en re rp su vardia, eu não me hosa € cheia de on rg ve o tã ia nc tê is ex a um

preferem a morte a

cedemônios, IX, 1-6.) la s do ca li úb ep (R s. õe aç iv pr

e sistema, milist ne es er lh mu às o ad rv se re r Qual o luga outras póde es er lh mu s da o ri rá nt co tar por excelência? Ao sticas, vivendo mé do es ad id iv at às e nt me so leis, dedicadas

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liberdade a um de m va za go as an rt pa quase em reclusão, as es se Os

seriam melhores os lh fi os e qu do an ns ne ““ l: na excepcio as mue qu de e ad id ss ce ne a vi ha , ”* es pais fossem ambos fort ndo Plugu se — s co si fí os ci cí er ex m se as ic lheres também prat tas, arremesso de lu , as id rr co , V) XI o, rg cu Li tarco (Vida de lher vencedora mu a ic ún à e qu m co z fe to Is o. disco e dard sido a ese ss ve ti s co pi ím Ol s go Jo s no de alguma modalidade do os homens an ot rr de , au il es Ag rei do a lh fi partana Kyniska, teles

istó Ar e qu o iv at ic if gn si É 2. 39 em os rr na corrida de ca me esb), ao criticar as falhas do regi

(Política, 1269b-1270 vida) e logo dú m se , ça ea am r io ma (a s ta lo partano, trate dos hi “vivem lias an rt pa es as , ele o nd gu Se . es er depois das mulh de depravação as rm fo as s da to a s ue eg tr en e, cenciosament sobretudo, de man, as aav us Ac . a" en sc ob is ma a e da maneir as viúvas it mu e qu de to fa ao do vi de darem nos maridos, os sobre O it re di os o ig ns co o nd va le e, nt casavam-se novame Separar à vers. ta lo hi s lo pe o ad iv lt cu s) ro lé lote de terra (k qualquer forma, De . so ca e st ne l ci fí di o it mu é a dade da lend enser ve de o nã a an rt pa es er lh mu a posição sui generis da decorrência de a um as en ap é o: çã ra er ab a um tendida como

e a fant me al it os op pr ce ue aq fr en e qu uma organização social

JJ

mila, retirando a força dos vínculos conjugais, fazendo com que os filhos fossem criados pelo Estado. Em suma,

fortale-

cendo a comunidade de guerreiros em detrimento da esfera privada — a implantação radical do ideal hoplítico.

O

exército Toda

a preparação

rigorosa que acabamos

de ver, tor-

nava o exército espartano uma verdadeira máquina de guerra.

Os

homens

eram

convocados

por

grupos

de

idade

e

tribos atenienses). O trabalho de artesãos (provavelmente pe-

riecos) também era requisitado, para evitar problemas de abastecimento durante a campanha. Embora Tucídides e Xenofonte. nossas duas principais fontes a respeito, nos dêem versões conflitantes acerca da organização do exército espartano, podemos reconstitui-lo em seus traços básicos. Descrevendo o exército lacedemônio (incluindo, portanto, esparcontanos e periecos) durante a batalha de Mantinéia (418) que tra atenienses. argivos e mantineus, Tucídides nos ensina 512 ele consistia em sete batalhões de infantaria (lochoi) com (enomohomens cada um: e cada um destes com 16 pelotões cada tiai). compostos por 32 homens (geralmente quatro em fila por oito de profundidade em cada coluna). Xenofonte sete banos dã um quadro um pouco diferente, falando em eletalhões por exemplo: mas ambos enfatizam um mesmo mento: a organização e o comando. Tucídides (um ateniense), não poupa elogios:

E

des dava-se segundo um principio que desconhecemos, mas, ao que tudo indica, procurava-se distribuir por igual os grupos de idade no interior de cada batalhão, companhia e pelotão — ao contrário da maioria dos Estados gregos, que organizavam seus exércitos por tribos, a partir do parentesco ou de uma região geográfica ou administrativa (caso das

o"

divididos em grupamentos de infantaria e cavalaria (esta última, pouco importante). À divisão dos homens por unida-

45

feitos em tem r se de am ri te ) a (em Mantinéi s o v i t a r a mpo alinha: p e e t r p de s u e a S i c n ê m e r ante da p

cada mesmo di a gi ri di is Ág i re o po exiguo, mas ri m ordem; o próp e e e t n e m a d i p a efeito, quanr m o C ram-se i. le da s as prescriçõe o d n as inSu g e dá s e el o t : n e le m de m movi e t r a as ordens p s da to a d n a m o c dantes dos i n a m o c do um re s ao s emarcos, este l o p s estes aos ao , s a s e i õ h ç n a p tru m o c s omandantes da c s ao s te es S€ desejam s, s, ai ci pe batalhõe es s n e d r pelotões. As o s do hegam fas c e t € n a o d t n n a e m i com d e c o r ao mesmo p m e c e d e b o , a m u exército lacedeg o do dar al to e s a u q u destino, pois se 20 ente orgae m t a n c e i m u a q d r i a p r e i h s comandante de e õ p m ens se divio d c r o se s da o o ã môni ç u c e ilidade da ex b a s n o p s e r à e s nizado t., p. 274.) ci . Op . 66 v, , UCÍDIDES de por muitos. (T ra

de manei s a d i t i m s n a r t m a r rdens e simples, e t Como vimos, às o n a t s a b e ss fo o d ra o méto o b m e e, nt ie einaic tr ef e no e a i c rápida n ê i d e b o quia, na r a r e i h Ná s a n e p a o ucídides € T de repousand s o i g o l e s O spartanos. e s o d s i e v á j e outros v n i OS e u q mento , e t s a r t n o ensar, POr c p a m a v e l s o n e nos articue m m Xenofont e s s o f , e s n e i sive O aten u l c n i , s o g e r g gritaria s o t a i m u exérc de s é v a r t a vimentos o m us se m e s s a l u g e ral de trelge l tados e r ve ní m u a v a h l ização espe n a g r o s e d l anos Ta . de a s r u pa conf m u m e a i t pois consis , o x i a b e t n a t s a b rrer das o c e d namento no a d i r i u q d a xperiência e na e r ta li mi nseo o ç c i v r o n a t r de se a p s e o t i c r mente O exé o s e u q é to fa O a direita al da guerras. o ç n a v a : s a nadas manobr i m r e t e d r a s solu e t r e o f i e p OS guia m e s s a t n e omens enfr h s e r o h l e m us se a forr e p m o r para que de s e c n a h c m grandes o c , o i r á s r e v d a do capazes de dados m a r e s o n a t r a p s e hoplitas os só ; a g i m i n i m ataa r o e ã ç o d ma n a u q , as ir le dem das fi r o à e t n e m a d i p a r r mens Semo inverte h s e r o h l e m us se forma que de , as st co s que la o pe g e s r g o cado t i c r é x e o c i Era o ún . o g i m i n i O m a v a t n e a. Mais d i p m pre enfr o r de s i o p e d ge mesmo n a l a f à r o p m à SUo c , e o r ã ç a z i n podia a g r o de namento e i e r t de o ã t s e u q é agoat r a r t do que uma s n o m e d s o m o procura m o c , a n a t r a p s e e d a periorid ociedade. s da o t n e m a n o i c n óprio fu lhas, OS a t a b ra, derivava do pr s a d s e t n a s o d acampa enm a p Nem mesmo quando m a c a us se s o d rea

r: a á na ei tr de m a v a x i e d espartanos

Ji

tos incluia um local para exercícios e uma pista de corridas. O desjejum só ocorria depois dos primeiros treinamentos do dia, seguindo-se um periodo de divertimentos e relaxamento antes do exercício noturno (cf. XenoronTE, República dos lacedemônios, XI, 1-7). Depois do jantar, entoavam hinos aos deuses

e iam

descansar.

A religião. como era característico na época, mantinha

relações estreitas com a guerra no caso espartano. O rei que comandava o exército (havia dois reis em Esparta e o segundo ficava em casa, a vigiar os hilotas) só deixava a cidade com as tropas depois de sacrificar a Zeus. Caso os presságios fossem bons, o fogo do altar era levado até as fronteiras do Estado, onde se realizavam novos sacrifícios, também presididos pelo rei, desta vez para Zeus e Atena. Sendo os pres-

ságios positivos, o exército caminhava com o fogo dos sacri-

fícios — que nunca era apagado —, na frente. À cada dia, antes do amanhecer, eram repetidas as homenagens aos deu-

ces. Segundo Xenofonte (República dos lacedemônios, XHI, 2-8), estas cerimônias davam-se ainda de madrugada no intuito de obter o favor dos deuses antes do inimigo. Terminado o sacrificio, O rei convocava a todos, dando as ordens daquele dia. Quando o inimigo estava à vista, um bode era sacrificado. os flautistas tocavam e os jovens portavam guirdelandas. As prescrições religiosas que cercavam à guerra viam ser fortes, como depreendemos deste episódio relatado por Heródoto (VI, 106): quando instados pelos atenienses a os ajudá-los contra os persas na batalha de Maratona (490), espartanos puseram-se de acordo, mas não partiram imediano tamente “porque não queriam infringir a lei”; estavam só poderiam nono dia do mês e alegaram que, desta forma, tendo partir para a guerra quando a lua estivesse cheia; mesmo por apressado a marcha, os 2 000 lacedemônios acabaram chegar um dia depois da batalha. Este admirável edifício militar, no entanto, repousava cobre bases bastante frágeis. Devido ao rigor da sua consti-

47

renciação econôfe di da o nt me ra ir ac lo tuição, agravado pe f oi sempre os dã da ci de ro me nú O mica entre os esparciatas, altas por o it mu r se am vi de o nã de baixo. As taxas de natalida ário diante nd cu se o ul nc ví um o nt me ser a instituição do casa de mortaxa ta a e os ri tá ni mu co ços do fortalecimento dos la ra do Pelopoer Gu a e nt ra du te en lm lidade era alta, principa conisJa ““ u se do to ei sp de à ana, neso. A diplomacia espart jetivos priob is do a nh ti e da vi ol nv mo'”, era bastante dese O exéra er e qu so io ec pr o nt me stru mordiais: evitar que este in alianças com r te ob e o; ad iz il ut r se cito espartano precisasse ior intenma m co as ad rm fi r se à outras póleis. Estas passam bilaterais com s do or ac de s vé ra at , VI sidade em fins do século oriadores chamam st hi 05 e qu o do an rm fo inúmeras cidades, que dispude e ad rd be li va ti la re A de Liga do Peloponeso. que integrais le pó às o çã la re em — s da nham as cidades alia — é um es ns ie en at Os m co te en am vam a Liga de Delos junt te a seus aliaen fr a rt pa Es de a ci ên nd pe espelho da maior de e aos pro) ns me ho de a ci ên ar (c dos, devido à oligantropia lotas. blemas internos com Os hi os, os espartaad ld so de e nt ce es cr de ro me Devido ao nú mar hiloar a o sm me e s io ár en rc nos começaram a usar me a ameaça um va ia cr to Is . so ne po lo Pe tas, durante a Guerra do de medidas

a despeito a, rt pa Es de ia nc tê is ex a ra frontal pa quando 4, 42 em s: ta lo hi os r za ri ro radicais no sentido de ater cedemônios la OS a, ni cô La à m va ça ea as tropas atenienses am es [hilotas] el re nt de ue “q os m se as gn si pedem àqueles que de ndo que queze di , ra er gu na o ad ud aj or os houvessem melh parciatas sabiam es os ); 80 , IV , ES ID ÍD UC (T ”” riam alforriá-los o d'allh gu or r po e ad rd be li a r ca di in que '*os primeiros à reiv -se””; os 2 000

à sublevar s ro ei im pr OS te en lm ua ig ma seriam foram vistos. is ma a nc nu am ar nt se re ap que se blinhando que su , to fa o a nt me co s de di cí O próprio Tu m OS co i fo re mp se os ni mô de ce la a preocupação essencial dos

EXCCPa su : ta es a er a rt pa Es de o çã hilotas. A maior contradi frequênm co a ad iz il ut r se a di po o nã cional preparação militar

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dn

cia no exterior. A sua vitória frente aos atenienses (ver capi-

tulo 5) — cujas muralhas foram destruídas ao compasso dos flautistas espartanos — desestruturou completamente a socicdade lacedemônia, que não resistiu à diminuição do número de homens c ao crescente desequilíbrio econômico entre os esparciatas.

A s a c i s r é p s a r As guer

Filha de Zeus, ar se justo é honr

hor de todos l e m o é e qu le aque façanha ta es u o c i t a r p m que enas. a de Stm e foi o povo de At o p , " a n o t a r a de Ma ('Sobre à batalh .) mônides de Ceos

A revolta

da Jônia

as da g e r g s o d a t s E s e d as cida , I V o l u c é s o d de s o o t n e m a g Em mead a p o a s a d i ubmet s € s a d a t s i u q n o c o ã depois a i e m € a Ásia Menor s d a c é d eso. Uma r C , a i d í L a d i re l lídio te o ), 53 , tributos pelo (1 o t de Heródo a v i t a r r a n a o d ndar a m a i v e d se (c. 545) segun o d n ergunta p , s o f l e D de o l u lo deu c á r o O , a t consulta O orác s o p s e Como r . s a s r e p 08 a r t n o s desa s r e p OS a r um exército c t n o c m exército u e s s a d n a m e el Creso , a t s o p s e r clara que “se a t s e n fiando n o C . ” o i r é p m i e ime d n a r g O . o truiria um grand d a t o s € é derr a s r e p os a r t n o c ria, como ó t s i h leva suas tropas a n e u q e p O Seu. Esta a r e o d í u r dist s e e d t n a t s a b é , pério a ser o t Heródo e d a r b o á n s n e g sa muitas outras pas

51)

cutivel. Não há dúvida, entretanto, de que a vitória persa te-

ve consequencias graves para o mundo grego. O dominio lídio implicava em pouco mais do que o pagamento de tributos anuais. Havia um processo de assimilação da cultura grega por parte dos lídios e, com exceção de

Mileto. que fez um acordo prévio com os persas, as póleis ercgas pareciam preferir claramente os lídios. Algumas tiveram de ser submetidas à força pelos persas, que implantaram inicialmente um governo direto de sátrapas. Posterior-

mente, confiaram o governo das cidades gregas a tiranos que representavam seus interesses. À tributação não chegava a

ser opressiva e havia liberdade cultural e econômica. Neste momento, o império persa — governado por Daro a partir de 521 — compreendia um imenso território, dividido em 23 satrapias, sendo as mais rendosas as da Babilônia c do Egito, A administração repousava em um sistema de correios e estradas muito bem organizado. Seu poderoso exército bascava-se na cavalaria e na utilização de arqueiros. À frota fonícia. controlada pelos persas, dominava o mar Egeu.

É contra este inimigo quase imbatível que as pófeis gregas da Jônia revoltam-se em 499, lideradas por Aristágoras, tirano de Mileto. A explicação de Heródoto (V, 35) restringe-

sc a motivações pessoais. Um dos maiores problemas da sua

História é exatamente este: atribuir uma importância exagerada ao papel dos indivíduos nos acontecimentos. O mais grave é que a história das guerras entre gregos e persas é conhecida exclusivamente a partir de fontes gregas, sendo Heródoto, de longe, a mais importante de todas elas. Mesmo assim, podemos tentar perceber as causas mais profundas da cublevação jônica. Em primeiro lugar, o comércio jônico fora duplamente atingido pelos persas: com o declínio do entreposto comercial (emporion) de Náucratis, a partir da conquista do Egito por Cambises (c. 525); e pelo controle dos estreitos do Helesponto (Dardanelos atual) e do Bósforo pelos persas (desde 512), restringindo enormemente o comér-

a paz entre as cidades gregas da Ásia Menor e procederam

= O

o controle com e s ano tir de o açã ign des a com vel atí incomp político imposto pelos persas. olta mas Aristágoras vai à Grécia buscar apoio para a rev m ao apelo, ensomente a pequena Eretria e Atenas atende cada uma. Os viando respectivamente cinco e vinte barcos os uniam aos jôatenienses, ao lado dos laços culturais que s no Hesõe ses pos s sud rar egu ass em o ert dec am sav nios, pen o fornecimento de lesponto e, principalmente, em garantir pelos peros lad tro con ra ago s eito estr dos s avé atr do trigo vin cinco naus em sas. Os eretrianos (Heródoto, V, 99) enviam os na guerési mil os pel da sta pre e ent orm eri ant da aju nome da ra contra os calcídios. io de SárA guerra se inicia com à destruição e o incênd a única ação na dis, a capital da satrapia da Lídia. Esta é Grécia logo dequal os atenienses tomam parte, voltando à da Propôntigos gre os am: lic tip mul se o log s sõe ade As pois. os lícios e até de (mar de Mármara), do Bósforo, os cários, não tarda: em os cipriotas. A contra-ofensiva persa, porém, ilha de Chie ant ort imp a ram upe rec io Dar de pas tro as 496 da costa fepre (estrategicamente situada nas proximidades s depois, nícia, coração do poderio naval persa) e, dois ano persas. Miem 494, toda a Jônia é novamente submetida aos a a costa leto é destruída e os sobreviventes são deportados par 2), os persas do mar Vermelho. Segundo Heródoto (VI, 31animais selcapturaram os revoltosos como se caçassem o as Vvirvagens, castrando os mais belos rapazes € levand em as cigens mais graciosas para O rei, além de incendiar a um grego dades e os seus templos. Atitudes aberrantes par guerra do século V, acostumado, como vimos, a um tipo de retornaram sas per os ão, ent de tir par A . nal cio ven con s mai mas tomaao sistema de controle direto através de sátrapas, imularam ram também iniciativas para acalmar os jônios: est

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o). Além cio essencial com o mar Negro (importação de trig máximo, era disto, a autonomia das póleis gregas, seu ideal

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d uma nova medição das terras, talvez permitindo umatr. à butaçã !

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Jônia.

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mad poa Dario logo organiza uma expedição pu nitiva contra Ate nas e Eretria em 492, dois anos depo is de do 1

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desastre

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minada a revol. os navios persas ao .

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sofrem tentarem contornar o monte Atos (litoral norte do Egeu, nã À Calcidica) obriga-os a retornar, pois centenas de naus são des tr uídas e morrem

E.

milhares de homens. O Grande Rei (forma. *

pela qual os gregos chamavam o re; persa, ao lado de Rei, simple

smente), entretanto. não se dá por vencido: dois anos. “A depois organiza uma expedição sob o coma

ndo de Dátise Ar. talernes com 600 trirremes, cuja primei ra missão era a de &s- a cravizar os atenienses e os erctrianos. É ób vio que por detrás .:

da alegada vingança, os persas haviam percebido que a exis. : a

tencia de Atenas ameaçava o seu controle sobre as Cíclades, 1 à Trácia c mesmo a Jônia. Tur Desta vez os navios atravessam o Egeu, evit ando omonte

- )

Atos. Partem de Samos e navegam por entre as Cíclades. Inie à cialmente capturam Naxos, escravizando os habitant es, inc =

cendiando o templo e a cidade. Logo em seguida passam por Delos sem causar nenhum mal à ilha, onde havia um famo so me templo de Apolo. Chegam finalmente à Eubéia, vingando -se o |

dos eretrianos com o saque e o incêndio dos templos — co. mo ordenara o próprio rei —, além de deportarem os habi-

+ |

tantes para o interior da Pérsia, junto a um poço de asfalto, ed sal e petróleo, O próximo passo: Atenas. SA Y

Maratona

À

Os persas, guiados pelo ex-tirano de Atenas — Hípias —, | escolhem para desembarcar na Ática a planície de Maratona a por vários motivos: Atenas possuia um exército temível eo a local era longe o bastante (33 km) para garantir um desem* barque sem problemas; havia praias em extensão suficiente |

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55

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os necessitavi na 00 (6 a ot fr da ra gu se m ge ra — para uma anco ente, por lm pa ci in pr €, ; a) ai pr de km 5 : “nam de pelo menos da cavalaria ão aç iz il ut à l ve rá vo fa is ma a ic At É sro lugar da É = principal arma dos persas. As estimati. as rs pe de ro me nú O a er al qu s "> -Não sabemo mens, senho 0 00 0 12 a 25 de o vã os “yas dos autores modern De qualquer o. er ag ex um e nt me el av ov pr ro “Moo último núme enienses at 0 00 10 s ao es or ri pe su e nt à forma, eram imensame eenses. Os 2 000 at pl l mi m co te en am nt ju m, à queos enfrentara anterior), lo tu pí ca . (cf s mo vi já mo co , os “hoplitas espartan religiosas: Ph

vido a questões thegaram com um dia de atraso de cheia. a lu da s te an ha an mp ca em r à era-lhes proibido sai rosos da ação dos me te e e nt me ca ri me nu os ad iz * Inferior

da ns me ho us se os m õe sp di es ns ie en at À cavaleiros persas, os ada pelos próprios, en-

up seguinte forma: à ala direita é oc Platéia. de os ad ld so s lo pe ta os mp co é quanto à ala esquerda o das extremirç fo re o as: eir fil s no me m co a av “Ocentro cont

E

persas utilizassem os e qu r di pe im de a ir ne ma a um dades cra oblema às tropas gregas. Um outro pr

à

a cavalaria para cercar

itas em pl ho os s ai qu 08 ra nt co , as rs pe s ro ei qu ar À residia nos doto (VI, 112), ao

Heró E marcha ficariam expostos. Segundo as (aprors pe dos os di tá es o oit de a ci ân st di a chegarem a um velocidade em am ir rt pa es ns ie en at OS ), km 1,5 e nt E yimadame que coram ns pe s re do ia or st hi ns gu Al o. ig "na direção do inim ítico teria pl ho o nt me pa ui eq do sa pe o m co cia rer tal distân

que as trode se te pó hi a l ve sí au pl te an st ba É . el “sido impossiv em na zona de alar tr ne pe até do ha rc ma am nh te gas gre 1 pas a partir o nt me mo m), 150 de rca (ce sas per s queiro

“cance dos ar em termos a, rm fo er qu al qu De . rer cor a am ar do qual pass sição às flepo ex de o mp te o ir nu mi di va sa vi da di táticos a me

e teriam pouqu , as rs pe os r de en re rp su de ém al as, mig ini À chas co tempo para se preparar.

BE

vantagem na m va le as rs pe os o nt me mo ro ei im pr Em um

ha grega, lin da ro nt ce o ar at ar sb de m ue eg ns co s BE batalha, poi já vimos. sido propositalmente enfraquecido, como E]



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que havia

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às alas, por sua Vez, ve deem Os persas, acab ando por'cerçãs los e derrotá-los. À lilhar es de persas são mortos esete navios | ca| pturados RE

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ante, todavia, contorna ac abaSã

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Mon e dirige-se por ma r à Aten

às. Os atenienses, por sua voltam rapidamente ez É de Mar atona, chegando a tempo deevi | tar o desembarque pe rs ae

m Faléron. A frota do Grande Rei |

e obrigada a retornar.

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A grandiosa

expedição

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de Xerxes

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Os persas só conseguem apro ntar uma nova expedição dez anos depois. A morte de Da

rio em 486 — substituído po r - «4 seu filho Nerxes —, e pr oblemas internos no Egito enaBabilônia, explicam esta demora. Os

prep da invasão são demorados e minuci arativos para a segun:É osos: quatro anos antes 4 Nerxes manda escavar um canal na Calcídica pa ra evitar'á “|

repetição do desastre do monte Atos; todos os povos do im.

pério são mobilizados: uns contribuem com naus, outros com sold

ados, tropas de cavalaria, provis ões necidos por Heródoto são literalmen te [84-7): mais de cinco milhões de ho mens tos, 5 283 220 homens — incluídos aí contar mulheres, concubinas, eunucos,

etc. Os números for=| inacreditáveis (VII, Re E nadi (para sermos texas os serviçais —, sem É cavalos, animais de + carga, cães indianos...). Os autores modernos são bem mais "88 «+50 [AR modestos: entre 150 e 200 000 homens, sendo aproximada: mente metade deste número composta por tropas recrutadas no coração do império persa. Os números de Heródoto (VII|;| 59) para a frota persa são bem mais razoáv eis: | 207 trirremes, Deixando de lado os números — afinal, Heródoto vivia * To que costumamos chamar de era pré-estatíst ica — 0 que E

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podemos depreender da sua narrativa é que a segunda expedição realmente amedrontou os gregos. O exército persa, tenha ou não demorado sete dias e sete noites para atravessar

o Helesponto em

pontes

feitas com

barcos, era decerto 0:

55

Cônscio s. no le he s lo pe o st vi já t eiro RE maior contingente guer vos € €Ni t a r a p e r p us se te n ertame E disto, Xerxes realizara ab ndo terra € água di pe as eg gr is le pó as s E E a emissários à toda Atenas e Esparta,

ção de ce ex m co — o sã is bm «u da É em sinal de os ad eg rr ca en o ri Da de autos E que haviam executado os ar ntes 7. Muitos helenos aceitaram anos a ns gu al ão ss mi a sm me álios, OS E ss te OS s, io ác tr os es el entre E ver vassalos dos persas, c. et s vo gi ar OS s, no ba te À) mélios, os omposto c e ss fo e el a r o b m e a, É] Quanto ao exército pers E 30 unidades em dividia-se = de pessoas de 46 povos diferentes, persas ou medos, aliás La

a

o

É)

nobres por exclusivamente HE comandadas para cada comandantes havendo BE = de forma bem hierarquizada,homens (Heródoto, VII, 81). Além

dez E dez mil, mil, cem € até persa haexército do diversidade | t disto, por detrás da enorme pela frogarantida Jogística, É yauma f ormidável organização é parecia impossível que

no auge “ta, O império persa estava

. É os gregos viessem à vencê-lo om números bem inferiores aos Os helenos contavam c 7 400 trirrede s o n e m o uc po e as it pl as: cerca de 40 000 ho rs

E pers

s a adeta os sp di Ou s ra ut ne as as greg E mes; sem contar as trop 0 homens. 00 25 de a rc ce r za li ta to à “riraos persas, que deviam pó-

tre as en as el er qu is na io ic ad tr as E Para piorar à situação, exemr po s, vo gi ar os : de la Hé da d leis dificultavam à defesa erna et da a us ca r po os ar rb bá s do plo, preferem lutar ao lado 481 reúnemem m, si as o m s e M . os an rt É rivalidade com os espa rtenpe a ri io ma a su na — os greg se em Corinto 30 Estados a) —, rt pa Es de s do ia al é, o st (i * rentes à Liga do Peloponeso am emvi en e l ra ge z pa a m u m ce le É decididos a resistir: estabe do grego, n u m do s te an rt po im s õe gi “baixadores a cidades € re te para toda en in im go ri pe do e nt ia “d 4 propondo uma aliança o obtêm nã s to au ar s te Es . 5) 14 VII, E | a Hélade” (HERÓDOTO, o, evitam pl em ex r po s, eu ir rc co e s no * muito sucesso: siracusa E. Os espartanos, . co as nh pe um de as rs pe ado os m terra € ápua. ? Os atenienses teriam lanç se as sc bu lá e qu o nd ze di OS jogaram em um poço, por sua Vez,

comprometer-se, manten do-se em uma postura ambíguea traiçocira, prontos para aderir ao lado vencedor, Re

Termópilas

e Artemísion

A estratégia erega era bast ante simples:

j

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Um

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|

tentar impedir o avanço das tropas e da frota bárbaras em dois pontos onde à superior

E

idade persa fosse atenuada ou mesmo neutraliza-. da pela falta de espaço. Em terra, os hele

nos escolheram:o Per desfiladeiro das Termópilas, na Beócia, uma estreita passa cem

entre o mar e as montanhas qu e, em alguns trechos, só. permitia a passagem de um carro por vez. Ao mesmo tempo, ds Naus gregas esperavam os pers as no cabo Artemísion, na extremidade norte da ilha de Eu béia. A contenção da frota persa na quele ponto impedia que Xerxes usasse suas naus para

desembarcar homens atrás das tropas greg as, ando-as,e | criava um problema logístico para o exército ceperc rsa — cuja.

ligação com a frota era essencial. ra Comandados pelo rei espartano Leônidas , os helenos contavam com cerca de 5 000 homens, se ndo aproximada-=' mente 4 000 do Peloponeso. Durante três dias os gregos de- . E

fendem o passo das Termópilas, infligindo perd as sucessivas

dOs persas. impedidos de se valerem da sua superi oridade numérica. Os 300 espartanos escolhidos por Leônid as dentre os. melhores hoplitas de Esparta (somente entre aque les que já

possuiam filhos, ou seja, cuja continuidade de li nhagem não: seria ameaçada pela morte) demonstram to do o valor da sua preparação guerreira; viram as costas aos persas como se es-:

tivessem fugindo, o que animava os bárbaros a pers egui-los: ni) entando, mas, neste momento, os espartanos em formação . cerrada davam meia-volta e abatiam um bom número de per. sas. Nenhuma outra pólis seria capaz de exec utar uma manobra tão dificil e perigosa tão perfeitame nte. Os gregos poderiam ter resistido por mais te mpo, não tosse a descoberta feita pelos persas — graças a um tr aidor —,

57

as só haeg gr as op tr As s. ha an nt mo DE. duma passagem pelas em nãs ar eg ch ao o nh mi ca e st de to conhecimen

4 yum tomado ção si po a r na do an ab er o m até mes hi = Termópilas e pensaram uma tropá ar ix de iu er ef pr as id o. Depois, Leôn

DE por causa dist anha. Os pernt mo la pe o nh mi ca O r A " demil focídios a guarda avistaram r, ce he an am ao e, e it e à no a ss marcharam durant ha, pressioan nt mo da to al O ra pa ram | aa “os focidios; estes fugi para lutar. Os

am ar ar ep pr S€ € , as rs pe s ro ei qu ar “5H: nados pelos a descida m ra ia ic in € a ci ân rt po im aros não lhes deram “E bárb

as tivesse id ôn Le e qu se aul lc Ca gregas. A para cercar às tropas r interceptado pelos per-

se m se r gi fu ra pa s ra ho ês tr de — À cerca e it el de a op tr ê sã m co r ca fi s.O rei espartano decidiu

28 ca

dou embon a m € — s no ba te 0 40 e s io E reforçada por 600 tésp rse de e qu s, no ba te s do o çã ce ex “E raas tropas restantes. Com ram até ta ju as eg gr as op tr as o, ig 2R taram para O lado do inim ópilas uma inscri-

nas Term a vi ha , te en rm io er st Po . te or E am anos. ção a homenagear

os espart

aqui jazemos : e) nt sa as (p o ir ge an tr es , Dize aos lacedemônios

leis. em obediência às suas

a, com cerca de eg gr a ot fr à z, Ve a su r po , Em Artemision A E do eso nd ma co o b so ), es ns ie en at , a +27) navios (a metade destes r três dias. As naus

ente po lm ua ig e st si re , es ad bi ri Eu o an part O das trirrede ta me e qu is po de l su o ra pa “dos helenos cetiram-se e most De s. da ia ar av o sã a) ot fr da E mes atenienses (o coração demonsm ge ra co da e ca ti tá e ad id * doa despeito da superior O exército r, ma no to an qu a rr te em o R tradas pelos gregos tant

Grécia Central. à r di va in ra pa s to on pr m " eafrota persas estava

Salamina

bate m o c O € s me re ir tr as —

naval

persa, ço an av o ar rr ba de ia ég at Tendo falhado a estr cientes do ns co , to fa De . os ar rb bá Atenas ficava à mercê dos m anteco e -s am ar ar ep pr es ns ie perigo que corriam, os aten

AM

cedência

para

resistir à segunda

invasão.

Três anos-antes;

E

quando já sabiam dos planos de Xerxes, os cidadãos de Ate

&

nas são convencidos por Temistocles a utilizar os recursos pro-

A |

porcionados

RAR

minas

de prata

do

monte

Láurio



recém:

Era +

ra de utilizar uma imensa força militar deixada ociosa e sem emprego atc então, composta por cerca de dois terços do po: . vo ateniense, os rhetes impossibilitados financeiramente de.

|

;

naval” de Temistocles deve ser entendida como uma manei-

a

1985, p. 171), a “lei

E

Para Vidal-Naquet (In: VERNANT,

bs

descobertas —, para financiar uma frota de trirreme s capaz de fazer frente aos persas. ;

Ta er Do ES

pelas

a

ac td a”.

se armarem como hoplitas. Em termos estratégicos, a enor=.

a

me dependência de Atenas frente às importações de trigo vin-

Fustcis

L

E

do das costas do mar Negro através do Bósforo e do. Dardanelos, trocado pela cerâmica ática, praticamente obrigava a cidade a desenvolver seu poderio naval, A expedição

de Xerxes apenas apressou o crescimento da frota ateniense, . que praticamente duplica o seu número em uma década: passa

uso da

vela

(que ecra retirada,

assim como

o mastro, antes

das batalhas). A tripulação (segundo inscrição do século IV) era composta por 200 homens, sendo 170 remadores, 13 marujos, 7 “oficiais” e 10 epibates (soldados utilizados princi-

palmente

em

abordagens,

durante

as batalhas

navais e,

também, para pequenas expedições em terra). Estes números variam muito: os remadores deviam ser 150 no século V;

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trirreme era longa (cerca de 36 m) e estreita (5 a 4 m). Seu calado não passava de um metro e a altura máxima até a cobertura por sobre os remadores ficava por volta de 2,2 metros. Bascava-se na força dos remos muito mais do que no.

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antecessores. surgido na segunda metade do século Vle adotado rapidamente em todo o Egeu. Como nau de guerra,a

+

podendo ser utilizado para comércio ou transporte como seus

4

de cerca de uma centena de naus, por volta de 490, a 200 trirremes quando da segunda invasão persa (480). À trirreme era um barco de guerra especializado, não

59

vava 14 hoplitas e 4 le e ns ie en at me re ir tr da em Salamina, ca passam à

to (que an rt po , es at ib ep 18 o nd za li ta É arqueiros, to so). nte a Guerra do Pelopone

E

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ter 10 dura

ou aríete o rã po es O a er s me re ir tr s da ma A principal ar stingui-lo dos enge-

rão para di (iremos utilizar o termo espo feito pela ), IV lo cu sé no os rc ce em hos de guerra utilizados m uma ponco e l ta me r po a id eg ot pr , ha

parte frontal da quil doan et oj pr o, st di ém Al . ua ág da ta um pouco acima do nível l para ferir O ta me de es rõ po es s trê is se a partir da proa, ma o tempo sm me ao , or ri pe su e rt pa na casco do navio inimigo ser utilizados am di Po . te an ac at do oa pr a em que protegiam Warry hn Jo . io ár rs ve ad do s me le 08 4 para destruir os remos ou o de guerra vi na um e qu r ze di ao do tu (1980, p. 32) resume m um esporão do co o vi na um s no me a er do assim construi porão. que um navio instalado num es rreme vem do lari (t s re ie tr é o rc ba e st de o eg O nome gr . O proda ta do e nt me la ip tr ou s mo re s tim), que significa trê egaram a uma ch o nã a nd ai s re do ia or st hi blema é que os s remadores: eram do ma le ob pr do ca er ac va ti ni fi conclusão de três cama), -2 31 P, 62 19 k, oc nc Ap . (cf três para cada remo , P. 30-1), ou 80 19 Y, RR WA . (cf s re do ma re de s “ das superposta culos, não

sé ro at qu ra du já e qu , te ba de O * s? da duas cama

nos parece de grande importância. nobras mais corma As s. ze lo ve e s ve le am er s me re As trir em que — s ou pl ri pe o am er l va na e at rentes durante o comb screvende s, co an fl s lo pe a ig im in a ot fr a se tentava envolver que estas COé at s ia ár rs ve ad us na s da a lt vo do círculos em e o diekplous — —, as tr ou s na as um r te ba a meçassem luna, penetrava co a ic ún a um em , te an ac at a ot fr quando a ebrando qu el ív ss po se a, ig im in a nh li a e tr velozmente por en ando-as pela ac at , ta ol -v ia me va da is po de € , us os remos das na ca defensiva ti tá l pa ci in pr A s. co an fl s lo pe retaguarda ou ver Taillardart (in: o, stã que ta des rca ace são cus dis nte E Para uma excele

| ——

VERNANT,

1985, p. 188 et segs.).

tod)

consistia em dispor as trir remes em um circulo (Aycios) com Os esporóões voltados para fora. Desta forma, as naus gregas

haviam resistido aos persas em Artemision. Os peloponésios davam maior importância à abordagem, seguida do desembarque de tropas. chquanto os atenienses eram mestres no. Uso do esporão, particularme nte no dickplous — que exigia enorme habilidade e experiênci a. à trirreme era uma excelente arma de guerra, mas um barco mediocre. Seu equilibrio er a instável e não resistia a tempestades. Sem a manutenção ad eguada, deteriorava-se rapi-

damente

(em

menos

de

um

ano

as

trirremes

da expedição

ateniense à Sicília em 415 lá faziam água). A superocupação do espaço e à impossibilidade de ca rregar alimentos e dgua

para viagens longas, obrigavam

a uma

navegação de cabota-

gem: à noite, os barcos eram trazidos para a praia e a tripulacão dormia em tendas armadas na areia. Te ndo de manter-se sempre junto à costa, uma frota de trirreme s não podia reali zar um verdadeiro bloqueio marítimo e tinha necess idade de.

contar com o apoio de numerosas bases terres tres (os atenien-

ses, por exemplo. eram obrigados a dominar as ilhas do Egeu). Como já vimos, a frota ateniense em 480 contava com

200 barcos deste tipo. Confiantes no seu poderio naval e certos de que seria impossivel enfrentar o exército persa, os atenienses abandonam a cidade — com exceção de alguns poucos homens —, enviando a população para Troizene, Egina e Sa-. lamina. À estratégia de Temistocles consistia em lutar con: tra Os persas no mar, unica chance de vitória para os helenos: Três meses depois de cruzarem o Helesponto, os persas chegam a Atenas: incendeiam a acrópole e saqueiam os templos. massacrando alguns atenienses que lhes opuseram uma breve resistência. Apesar do dramático esforço empreendido pelos atenienses ao duplicarem a sua frota, os gregos não podiam enfren-

tar os persas em mar aberto. As naus do império, além de

mais numerosas, eram mais rápidas e manobráveis, A solu-

61 ção encontrada por treito de Salamina, da frota bárbara. O sos — dentre eles,

no €sr ta lu : te in gu se a i Temistocles fo locidade ve € o r e m ú n r io ma anulando o nepo lo pe OS r ce en nv co i mais difícil fo iam recuar er ef pr e qu —, os OS espartan

comandante O , e t n e m a s o i c u t s A . para o Istmo € defendê-lo persas, s ao m e g a s n e m a ls fa

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E

o uma ateniense teria enviad gregos. As os vi na s do ga fu el ív a poss alertando-os contra um € os re s do la is do s lo pe am O estreito naus de Xerxes cercar lutar. a s o d a g i r b o m ra fo gos estreito, No se as tr ne pe a rs pe ota Fazendo com que à fr manobras, ra pa ço pa es m se a: ri à vitó os helenos garantiram combade o ã ç a m r o f a su a struturaram os navios persas dese periplous. O m u de o ã ç u c e x e egos à te, permitindo aos gr palhava, gera at os só os ar rb bá s do maior número de naus enos de m , as eg gr s me re ir tr ão. As rando acidentes € confus ou três veas du o r e m ú n m u o ad rrot A0 no total, haviam de imigos. zes maior de barcos in conjurada. O ra fo o nã a nd ai a, vi A ameaça persa, toda sastre de ao o ad iz or rr ho a ir e assist Grande Rei (Xerxes), qu ixa em de s ma , ia rs Pé a ra pa essas de Salamina, volta às pr a pequena el rc pa a m u m o c , s o i dôn solo grego O general Mar oto 300 000 d ó r e H do un eg (s a rs pe to porém poderosa do exérci s € bárbaros o n e l e H . 0) 00 50 a 4Q e t homens — provavelmen 30 000 os o d n a u q a, éi at Pl em vez se enfrentam pela última a, mas venrs pe a ri la va ca la pe os ad gregos quase são derrot o Pausânias. Pean rt pa es i re do l bi há cem graças ão comando tivo de je ob O o ad tr us fr am as vi la segunda vez, Os pers escravizar à Hélade.

a g e r g a i r ó t i v a d s a Caus

ível vanss po A s. no le he s do a ri Não é fácil explicar à vitó facilitava O e qu O — o en rr te o própri tagem de lutar em seu à imensa e -s õe po ra nt co — s e õ ç nica abastecimento e as comu Portonce

= Bibiletesa

1

(>

superioridade numérica dos bárbaros. A autoconfiança excessiva dos persas sem dúvida os levou a aceitarem combater

em espacos favoráveis aos gregos (como em Salamina). Mili-

tarmente talando, a formação hoplítica demonstrou a sua su-

did it Sd

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perioridade frente aos arqueiros e à cavalaria dos persas, Estes, para Heródoto (IN, 63), “eram como homens nus combatendo contra infantes pesadamente armados”.

Figura 2: Trirreme do século V (possível reconstituição). 19B6, p. BB.)

(Fonte: FERRL,

Acima de tudo, não devemos desprezar a motivação das tropas gregas: a despeito de uma construção ideológica acerca da vitoria dos gregos frente aos bárbaros, ? presente em

Esquilo e Heródoto, eles efetivamente lutavam pela sua li-

berdade. enquanto o exército e a frota bárbaros, se não eram constituídos de escravos (como quer Heródoto), eram consrituídos por súditos. Os gregos lutavam por suas mulheres,

por seus filhos. por suas casas e templos. Os bárbaros lutavam pelo Rei, ou mesmo obrigados por ele, caso dos Jônios que "A

tomavam

na

|

frota persa.

respeito, ver 0 artigo de Yvon Thébert: “Reflexão sobre a utilização

do conceito

[7-12.

parte

de estrangeiro”.

In: Didgenes.

Brasilia, UnB,

1985. n.9, p.

A

3

s i e l ó p s a d o i n í O decl

so "A Guerra do Pelopone o muito temnã s ma m, mu co o rç fo es O Bárbaro foi repelido pelo am revoltas, tanto os que Se havi

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ei ad

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po depois os outros heleno ra coligação ei im pr à am ar nt ju se e qu do contra o Rei quanto os com 05 atenienram-se e Se aliaram, uns

contra ele, dispersa s se mosvo po s te es is po , os ni mô ses, outros com OS lacede rra, € O outro nos te em e rt fo , um s, so ro de

traram os mais po o tempo, os lacedemôuc po u ro du a iv ns fe de a mares. À alianç uco depois e, com po m ra de en nt se de Se nios e os atenienses ilizar-se mutuamente, st ho a am ar ss pa s, do ia al seus respectivos nham daí em diante

que se desavi e quaisquer outros helenos o assim, desde nd Se s. do la is do s do um se bandeavam para negociando a paz, a or , tá er gu te en es pr a é at a invasão persa revoltados, OS s do ia al us se ra nt co ou ora lutando entre eles da melhor maneie e nt me ua in nt co am av ar dois povos se prep |, 18. OP. cit., p. 27.) , ES ID iD uc (T . .. ra er gu a ra ra pa

T, 1985, AN RN VE : (in ys ll mi Ro J. sa A historiadora france Peloponeso do ra er Gu à ar am ch de p. 220) chega ao ponto eiraad rd Ve . s” de da ci s da ia éc de “suicídio profundo da Gr a Hélade da to te en am ic at pr e lv vo en mente, este conflito que 31-404), sem (4 lo cu sé de to ar qu um e que dura mais do que eitasp re te en lm ta to a nc nu s égua levar em conta pequenas tr

4

das, revoluciona de forma irreversível o mundo grego, levar SRA do à uma crise que culmina com a derrota frente à Macedo-

ma (338). Em

termos militares, difere totalmente das guerras

anteriores entre as poleis pela sua duração inaudita, pela-mul-

Uplicação das praças de guerra — desde a Sicília até a Ásia Menor e a região dos estreitos —, pelos rec ursos dispendidos, pela devastação causada e, finalmente, pelo papel deci-

stvo desempenhado

secundárias

tundibulários

pelo poder naval e por forças até então

na guerra grega — os peltastas, os arqueiros, os e demais

Na verdade,

tropas

ela nem

ligeiras.

pode ser considerada como uma

euerra entre cidades, mas sim, como

uma guerra entre duas

enormes e poderosas coalizões como fica claro na passagem de Tucídides. De um lado, os atenienses, há várias décadas controlando a Liga de Delos "º — uma confederação maritima que reunia cerca de uma centena e meia de cidades, de inicio aliadas, mas progressivamente obrigadas ao pagamento de tributos que geravam milhares de empregos para os atemenses mais pobres em obras públicas (como o Partenon, por

exemplo) e principalmente na marinha —, do outro lado Esparta e seus aliados, reunidos na chamada Liga do Peloponeso, uma aliança de cunho estritamente militar. O conflito cra inevitável, nas palavras de Tucídides: “os atenienses estavam tornando-se muito poderosos, e isto inquietava os lacedemônios, compelindo-os à recorrerem a guerra” (1, 23). Isto so se da, entretanto, depois que os atenienses envolvemse cm dois incidentes (Córcira e Potidéia), em ambos opondose aos coríntios. os principais aliados de Esparta. Alguns historiadores pretendem inferir a partir daí que a guerra teria sido causada pela ameaçadora expansão ateniense na direcão do Ocidente (e.g. fundação da colônia de Thurioi na Itália meridional c. 444-3), causando inquietação em Corinto, P Yera respeito o livro de Guarinello (1987, p. 14-37).

65

a entre O ri iá ed rm te in de l pe pa O cidade que desempenhava os do movidi ór im pr Os e sd de ia éc Gr “ mundo egeu e a Magna ra do Peloer Gu à a, rm fo er qu al qu mento de colonização. De igarol e ia ac cr mo de e tr en o nt ro poneso tem um caráter de conf ca patente fi to is 6) 22 p. 6, 98 (1 é ss “quia incontestável: para Mo os ocorridos ic qu ár ig ol es lp go is do Os no fato de que, durante acia realizacr mo de da s io ár rs ve ad em Atenas (411 e 404), OS nteúdo ideoco te Es a. rt pa Es de o oi ap ram seus planos graças ao erra civil, gu de s io ód is ep os nt re ng lógico do conflito leva a sa o externo nas duas ava apoi sc bu s õe cç fa s da a um em que cada os. cando os prejuízos causad

póleis rivais, multipli duas fases: O em da di vi di te en lm na io ic A guerra é trad Nícias” de az “P a é at ra er gu da primeiro periodo, do início ica”” (nome âm id qu Ar a rr ue “G de o ad (421), é também cham Ática) e foi

z a ve ra ei im pr la pe de va in e qu do rei espartano mpate”. Ate“e de ar am ch os am ri de po caracterizado pelo que parte r po a ic Át da as iv ss ce su s en ag nas é castigada com as pilh

ros sete anos ei im pr s no e nt me so s ze ve dos espartanos (cinco solre 7, 42 em a rt pa Es e s ba Te da guerra), perde Platéia para milhares ma zi di e st pe à e qu em os horrivelmente com os an e leva o pró— 6) 742 em e nt me va no e de atenienses (430-429 de recuar pae ns ie en at ia ég at tr es da or nt prio Péricles, o me sições no po as su ém nt ma s ma —, ra 0 interior das muralhas perdas aos s da sa pe do in ig fl in a, ir rc Có golfo de Corinto e em Corinto no node a ni lô co a um do an st ui nq peloponésios € co eiro moim pr te Es ). -9 30 (4 ia dé ti Po roeste do mar Egeu — s, com €Xte an rt po im as ri tó vi e ec nh co mento da guerra não 25) — causando (4 s lo Pi em os an rt pa es s do “ceção da rendição utilie qu , es ns ie en at s ao l ve rá vo um impacto psicológico fa ligeira para ia ar nt fa in à z ve ra ei im pr zam praticamente pela nte) —, conia ad s mo re ve o om (c os ni derrotar OS lacedemô em que os ate), 18 (4 a éi in nt Ma de a lh ta trabalançada pela ba rtanos. pa es as it pl ho s lo pe os rt mo nienses perdem mil homens, antes nd ma co is pa ci in pr s do e rt Em 421, depois da mo ateniense do la lo pe n éo Cl , is ol íp fi de ambos os lados em An

Dt

co rei espartano Brásidas, chega-se a um acordo de paz, com

a validade de 50 anos e a reversão à situação anterior, com

exceção de Platéia que ecra mantida pelos tebanos e Niséia (perto de Megara) que continuava em mãos atenienses. Uma parte dos aliados não adere à paz e a guerra sobrevive de forma incipiente até que os atenienses lançam-se à temerosa expedição à Sicilia (415-3), em que sofrem o maior desastre militar da sua história: uma força de 20 000 hoplitas (entre ahados e atenienses) e mais de 200 navios (sendo 134 trirremes) € fragorosamente derrotada e a maioria dos soldados atenienses é posta a trabalhar nas pedreiras exploradas por Siracusa — em condições insalubres (os mais felizes são vendidos a proprietários particulares). O empreendimento revelou as limitações do poder naval ateniense, centrado nas trirremes que, como já vimos, não eram apropriadas para expedições longinquas e sem muitas bases de apoio entre o ponto de origem e a área de operações. Acima de tudo, enfraqueceu decisivamente os atenienses. A segunda e última fase da guerra, portanto, iria mostrar-se fatal para Atenas: a partir de 413 os espartanos conquistam uma posição fortificada em Decéleia, uma pequena aldeia da Ática a somente 23 quilômetros de Atenas. Esta se transforma em abrigo para numerosos escravos fugitivos e, o que é ainda mais importante, fornece uma base aos lacedemônios,. permitindo-lhes assolar ininterruptamente a Ática € não somente no verão, como antes. Pior, cortava o abastecimento de suprimentos que antes vinham por terra da Eubéia c agora passam a ser trazidos por uma custosa € problemática rota maritima, Um outro fator decisivo para a derrota ateniense foi o suporte financeiro proporcionado pelos persas aos espartanos, que permitiu aos lacedemônios construírem e equiparem uma frota capaz de derrotar os atenienses. Em 405, depois

de inúmeras tentativas, Esparta consegue destruir a esquadra ateniense em Egos Potamos (no Helesponto). No ano se-

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dé o a di

am Aterc ce ra ter em s ia ân us Pa € mar por ro and guinte, Lis am seu império, er rd pe s nse nie ate Os ão. laç itu cap a até nas que protegiam s” ro Mu s go on “L dos o içã tru des à assistiram (exceto doze) ios nav os os tod am ar eg tr en eu, Pir o e nas Ate

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co com ajuqui gár oli ime reg o do ta an pl im am vir a Esparta e e alguns meses). nt me so ra (du s ana art esp s çõe rni gua da das póleis greas , sia Pér da rei o pel da sta pre da Em trocá da aju

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baros. gas da Ásia Menor voltavam às mãos dos bár

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helenos. Esparos re ent es or ed nc ve há não e, dad ver Na às pesadas : ia” tór “vi da ois dep a sm me a foi s ta nunca mai

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botim do es nt ie en ov pr os urs rec aos ças gra ios ideais igualitár ana agrava-se de art esp pia tro gan oli A . sas per ios síd sub e dos banos no século IV. forma incurável até a derrota para 05 te as opondo lut das o nt me ra ir ac o pel o ad rc ma á ser ulo Este séc uma interminádemocratas e oligarcas, ricos e pobres, e por o isso tempetud , nas Ate € a rt pa Es as, Teb re ent a put dis vel . rado por intervenções frequentes da Pérsia partilha Embora não haja alusão a reivindicações por a crise agrária de terras ou abolição das dívidas em Atenas, ateniense nas enfrentada pelo mundo grego encontra um €co oneses empoúltimas comédias de Aristófanes, em que camp zes. Sem dúbrecidos e famintos passam a alimentar-se de rai ida por vida, mesmo que a propriedade continuasse a ser det scente da muitos cidadãos, assiste-se a uma concentração cre propriedade fundiária. Incapazes de prover o sustento a seus cidadãos, as póleis ios. vêem milhares dos seus filhos transformarem-se em mercenár

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se à destruição dos rma so m ve , ais eri mat € s na ma hu perdas

Os mercenários e as modificações na arte da guerra Com a lança eu alcanço meu

pão de cevada,

com a lança eu consigo meu vinho ismárico,

K

lança

(Poema

apoiado

eu

bebo

este

de Arquiloco de Paros,

N existência de mercenários

vinho.

século VII.)

era um

fato muito antigo

na Grecia. A utilização massiva destas tropas já no sécu lo vi º mencionada por Heródoto (LI, 154), quando jôni os e caros, a serviço do rei cgipcio Psamético, recebem terras perto do mar como pagamento. Durante o mesmo século, em que o ideal hopliítico nascia e se afirmava (ver capítulos 2 e *) — fundado sobretudo em uma ética cooperativa, solidána —. o pocta e mercenário Arquiloco de Paros, com sua poesia debochada e às vezes vulgar, fornecia um verdadeiro contraponto à ética hoplitica, Além de afirmar que “um mer: cenário so é amigo enquanto luta”, ele não tinha o menor pelo em confessar que abandonara seu escudo em um mataval, acrescentando em uma irônica e divertida paródia das fórmulas grandiosas da poesia épica: No

entanto,

um

escudo, senão um pedaço de pele de boi curtida, com uns

eu

escapei

lá saber deste escudo! adornos

de metal

à morte,

que é o tim de tudo. Quero

Comprarei outro melhor. Que é, afinal,

brilhante. (Fragmento

6D)

Entretanto, embora os mercenários já existissem ha mui-

to. ca partir do século IV que eles cia e. O que é mais grave, não principes estrangeiros ou tiranos, erevas. O montante relativamente

irão multiplicar-se na Grésomente contratados por mas pelas próprias pófeis módico do soldo, que era

de uma dracma por dia no século IV, testemunha um exces-

co de oferta, cuja causa mais profunda deve ser buscada na própria crise econômica que afetava o mundo grego depois da Guerra do Peloponeso. Militarmente falando, as tropas mercenárias possuiam diversas vantagens: calma e experiência, maior especialização. podiam ser usadas para guarnecer fortificações (pois podiam ser continuamente empregadas, ao contrário do exército

E q

na



4

pagau Se c. et s o ã d a d i c à perda de m a v a p u o p ), os dã da rsos prode ci cu re s no e t n e m a c i s a consistia b o, ld co do ém al o, dos como i nt d me n e v os ir ne io is pr captura de da e, qu sa do s te en reni

[

escravos. o da especiaid nt se no é IV lo sécu A tendência geral do nde a €5o , o l p m e x e r po r. Atenas, ta li mi o ã ç n u É da o lizaçã laçamento e r t n e do ta ei rf pe aa prova r e V lo cu sé do ia ég vez mais trat da ca r e d n e p e d à a litar, pass cidade da entre o político € O mi es nt ge ri di OS , enquanto os ad iz al ci pe es is ra estabelecide gene O l a t n e m a d n u f reocupação p o m o c r te a am ss pa erar 05 comp u c e r a s a d a n i t s e d nceiras pófeis, s da mento de politicas fina s o c i m ô n o c e s a Os problem . de da ci da es fr co s crescente balido e d a d i s s e c e n la pe e agudizam-s , m e g a s s a p de e -s ga di da guerra. s ai on si is of pr 5 â0 r prois de recursos para paga ma a nd ai o sã s ca ti ncias polí Todavia, as consequê político o p r o c m u is ma z a-se cada ve rn to to ci ér ex o : as fund VERNANT, : in , é s s o M f. (c de cívica distinto da comunida absolutos de s e r o h n e s , s o i r á n e es merc atrá1985, p. 225), OS chef o m s e m — as nç ia al r para efetua es vr li m a r e , as op tr suas se a desest si As . as ir ge an tr es princesas vês de casamentos com idadãoc do l na io ic ad tr o ã concepç truição progressiva da que res a m r o n s a i r p ó r p s da emente, soldado e, consequent póleis. as e tr en s ra er gu as giam e também no -s va da , m é r o p , ra er gu A transformação da da infanr o i a m z ve da ca ão om à utilizaç c o, ic cn té o ct pe as u se te esta n a r u D . o s e n o p o l e P Guerra do taria ligeira a partir da do son e T . r a l p m e x e é ia ér los e Esfact última, o episódio de Pi ntaria hfa in de as rç fo a te en derrotas fr frido pelo menos duas Etólia da s e s e n o p m a c s ao te e 426 fren geira (429 na Calcídica dos hoplião aç a a av lt cu fi di hosa que — uma região montan mo tipo de s e m e st de o ã m m a ç nses lan tas), em 425 os atenie cedemônios: a l * is ve cí en nv “i o até entã tropa para derrotar Os

indo O tu ti ns co , es ad it Ep r po dadas eiro posto Quando as tropas coman ha, viram que O prim ônios na il grosso dos jacedem

TI

de quarda havia sido aniquilado, e que um exército estava avancando contra elas, alinharam-se e avançaram para atacar os hoplitas atenienses. querendo combatê-los de perto, pois os hoplitas estavam diretamente defronte delas. enquanto as tro: pas ligeiras se localizavam em seus flancos e em sua retaguarda. Não foram capazes, todavia, de entrar em luta com os

hoplitas. nem de valer-se de sua maneira peculiar de combater,

pois as tropas ligeiras atacavam ininterruptamente com projéteis de todos os lados. mantendo-as imobilizadas, e ao mesmo

tempo os hoplitas não avançavam contra eles, permanecendo na expectativo. Os lacedemônios faziam recuar as tropas ligelras sempre que as pressionavam mais de perto em seus ataques, porém elas logo voltavam e continuavam combatendo, por estarem equipadas com equipamento leve e, portanto, pela fa:

cilidade que tinham de atacar no momento

propício, já que O

terreno era acidentado e, nunca tendo sido habitado. era naturalmente difícil. Em tal terreno os lacedemônios eram incapazes de persegui-los por causa de seu armamento pesado.

Passando. portanto. a olhá-los com desdém, lançaram-se con-

tra eles aos gritos. atirando-lhes pedras, flechas, dardos, qual.

quer projétil, enfim, que estivesse ao alcance de suas mãos. Os gritos com os quais os atenienses acompanhavam seus alaques causavam pânico aos lacedemônios. que não estavam habituados a essa maneira de combater; mais ainda, o pó da floresta recém-queimada subia em nuvens para O af, de tal forma que os homens não podiam ver o que estava acontecendo

conà sua frente, às voltas com as flechas e pedras atiradas tra eles em meio a nuvens de pôó.(...) O perigo os cercava por de sal. todos os lados e já desesperavam de quaisquer meios vação naquele combate. (TUCÍDIDES, IV, 33-4. Op. cit., p. 197-8,)

Os contingentes que tanto perturbaram os lacedemônios funem Eslactéria eram formados de peltastas, arqueiros e esdibulários. Os peltastas (cujo nome derivava do pequeno eram cudo em forma de crescente que utilizavam — O pelta) vime infantes levemente armados, com um escudo feito de (ene recoberto de pele de bode ou carneiro, e alguns dardos er tre |. e [.6m). A tática destes soldados consistia em corr emessar OS (em formação aberta) na direção do inimigo, arr

E!

ronto jnnf co o do an it ev , da ra ti re em projéteis e depois bater uma espada o ig ns co am av eg rr Ca . as it pl ho desejado com os idos na Gréam conhec Er s. ia nc gê er em ra pa a, ag curta ou ad

cia desde a época de Pisistrato queiros eram pouco difundidos dos cretenses — cujo emprego mum no século IV. Também

(meados do século VI). Os arno mundo grego, com exceção como mercenários torna-Se Coos citas, bárbaros do mar Ne

rça policial no fo mo co es ns ie en at s lo pe gro, eram utilizados ados na guerra. Os iz il ut m re se de s te an , de interior da cida —, ao contrás de Ro de te en lm ra ge — os fundibulários greg

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2

e seus similares da br so s en ag nt va m va va le s, ro rio dos arquei tinha o dobro os eg gr s lo pe a ad iz il ut bo um Ásia: a bola de ch pelos persas, cheas ad iz il ut as dr pe s da sa pe s do alcance da os de distr me 0 10 até a do za li ca lo io ár rs gando a ferir O adve es belicosas do çõ ri sc in am av eg rr ca te en em nt tância. Freque tipo “Dexa”” (“Tome isto”).

Macedônia

O divórcio que se dá no século [V entre a função politica ca função guerreira anuncia, de fato, O breve desaparecimento da cidade enquanto Esta-

do autônomo. No mundo helenístico, a política será reservada aos reis ca guerra aos mercenários. (Mossée, in: Vernant, 1985, p. 229.)

Filipe e Alexandre Entre o [im da Guerra do Peloponeso em 404 e a ascensão de Alexandre em 336, ocorre uma verdadeira ““revolucão das técnicas militares" no mundo grego. Surge pela primeira vez na Hélade um exército integrado, em que as tropas de infantaria leve e pesada, e a cavalaria, agiam em conjunto. É dificil, na verdade, distinguir os exércitos de Filipe e de Alexandre. sendo possível que a maior parte das inovacões tenham sido introduzidas pelo primeiro. Na maioria das batalhas do periodo helenístico, a cavalaria era a força decisiva. Tanto Filipe quanto Alexandre lutavam geralmente como cavaleiros e o esquadrão real era pessoalmente comandado pelo rei. A cavalaria macedônica

73

(sarissas) as nç la do an eg rr ca , as aç ur co por a lutava protegid kg)

es o bastante (2 lev s ma o, nt me ri mp co de os tr de três me se preciso. À cavalaria era o ''mar-

para serem arremessadas, er as mp ro de a ad eg rr ca en ue oq ch de telo”*, isto é, a tropa e levando-as de as ond da un rc ci el ív ss po se , as fileiras inimig à falange macedônica. ra nt co a, sej ou ”, na or ig “b à encontro atribuída a Filié ão nç ve in ja cu , ca ni dô ce ma A falange e hopliting la fa a e qu do l ve mó s no me e pe, era mais pesada mais especialiica tát ão nç fu a um a nh ti s poi ca tradicional, ilizado paut , os ad ld so de el áv tr ne pe im zada. Era um bloco cavalaria e a inà to an qu en o ig im in O r sa os ac ra enfrentar e os flancos ar ac at s, ha ec br ar cri am av ur fantaria ligeira proc a falange hoplie qu do da un of pr is ma a Er . ou a retaguarda rtanto) po a, di mé da o br do (o as eir fil tica, consistindo em 16 (ver figura 3) com ma ag nt sy O era e at mb co de e a sua unidade tavam armados com es os ad ld so Os ). ns me ho 6 (25 16 colunas m de compril4 de s ai (m a iss sar à , da sa pe e uma lança longa com

punhada em ser e qu a nh ti e qu , kg) 5,5 o mento, pesand as duas mãos. havia corpos a, ri la va ca na to an qu ia ar nt fa in Tanto na einamento era altr de € mo is al on si is of pr de el nív de elite. O eguido por uma TOns co era e qu o al, ger a ir ne ma a um to, de

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formação de combate com 256 sua em , ca ni dô ce ma e ang fal 4 Figura 3: sarissas dos homens das cinco as que er eb rc Pe . ma ag nt sy O homens, p. 172.) -Se à frente. (Fonte: Fern, 1986,

primeiras fileiras projetavam

IN

de

manobras

constanioes.

CNCTCICIOS

com

armas



prepa-

FISICA,

Gadid

Outra

caracteristica importante do exército macedôni-

Mcomsistiu na organização de um sistema de logistica muito

semvolvido, me

inspirado no Oriente Próximo: reduz radical-

o numero

de “auxihares”,

ao requerer que seus ho-

ens carregassem parte do equipamento. Em termos comqurativos, Fermi calcula (1986, p. 182-4) que os suprimentos cessarios para alimentar uma força de 20 000 hoplitas Serescidos dos seus inumeráveis carregadores, escravos, hias etc.) fossem suficientes para alimentar 35 000 soldados acedônicos (mais um número reduzido de servos), Em termos de velocidade, o mesmo exército macedônico de 35 000 Rgodia mover-se cerca de 24 quilômetros por dia, contra apers 16 de um exercito menor com 20 000 hophrtas! Ros O confronto decisivo entre as duas formações deu-se em E

rcronéia (338), quando o exército grego, composto basica-

= a

a pela cidade de Queronéia:

gê «nte de hoplitas atenienses e tebanos, enfrenta as tropas de PR dalipe e do seu filho Alexandre. Os gregos haviam escolhido ja ótima posição defensiva: como não podiam expor seus ncos aos ataques da poderosa cavalaria inimiga, à ala esFr erda. formada de atenienses, estava protegida numa região

e À

aggreita.

enquanto

os tcbanos, na ala

defendiam-se atrás de um rio. Para vencer, Filipe u-

ma que criar um

ponto fraco na linha grega. Ele comanda-

D à falange na ala direita enquanto a ala esquerda, onde Alexanad ava a cavalaria. ficava sob o comando do jovem E. “então com |8 anos. Assim que começou à batalha, Fili-

|s6E ensaiou uma retirada com sua bem treinada infantaria,

-—

estes desaíque atraiu o avanço dos atenienses. Assim que aproveitado n a colina, abre-se um flanco na linha grega,

F

ao r Alexandre, cuja cavalaria decide a batalha. Graças

e à ingamando inteligente. a tropas muito bem preparadas macedóafforação entre a cavalaria e a infantaria, a falange

Re aii

havia se mostrado superior aos hoplitas.

à este poAs conquistas de Alexandre explicam-se graças

macedônico. deroso instrumento de guerra que era O exército duas tradições: resultado da fusão dos melhores elementos de

oriental, a helênica, com sua ênfase na infantaria pesada e a

sistema logistibaseada na cavalaria, nas tropas ligeiras, e num

característico da co bastante desenvolvido. Um outro elemento al para a exarte da guerra no Oriente Próximo foi fundament dos cercos). ia ênc (ci ica cét ior pol à a: nic edô mac são pan

Cercos,

engenhos

de guerra

e fortificações

conquisDurante o século V só havia duas maneiras de seus habidos te par de o içã tra a da: ica tif for ça pra tar uma a rendição pela até io que blo do ra mo de e go lon um ou tes tan uena Platéia fome. Durante a Guerra do Peloponeso, a peq cida pela foresiste por dois anos aos tebanos, até que é ven nienses deme, e Potidéia só se rende (com condições) aos ate ava com pois de três anos de sítio. A vantagem, portanto, est ueiros, a defesa. Isto se devia ao fato de que o ataque — arq osto ao fundibulários, aríetes — era fraco e altamente exp hophicontra-ataque vindo das muralhas. Ao lado disto, os sua tas não eram uma força apropriada para cercos, devido à pequena mobilidade. inA situação irá mudar no começo do século IV com a acutrodução das primeiras catapultas por Dionísio | de Str

sa, que vivia sob a pressão de Cartago. À época de Filipe &

“'cade Alexandre, já haviam sido inventadas as chamadas tentapultas de torção”, utilizando cabos retorcidos feitos de ruturas dão animal ou de pêlos de cavalos, montadas sobre est por de madeira e capazes de lançar pedras de até 25 quilos ém se uma distância de mais de 230 metros. À defesa tamb ias, torna mais sofisticada, com o uso crescente de torres, amc ociar fossos, cancelas e outros elementos que costumamos ass aos castelos medievais.

Em um artigo muito sugestivo, Yvon Garlan (in: VERwant. 1985, p. 245-60) propõe o abandono de uma historia

exclusivamente técnica e factual das fortificações, apontando para o resgate da dimensão social e política. O exemplo utilizado por ele é o da Atenas clássica e dos seus “Longos Muros". Segundo este autor, há sem dúvida uma ligação entre as poleis e as suas muralhas que ultrapassa o plano militar. o que fica claro em uma passagem de Tucidides, na sua “Arqueologia” (]. 8, 3), em que ele vê na ausência de fortificações um sinal de primitivismo, Logo, para Tucidides assim como para Péricles, a muralha urbana, além de ser um sinal de riqueza, caracterizava um estágio particular de desenvolvimento da civilização grega. Da mesma forma, os “Fongos Muros" devem ser associados à democracia ateniense pois: “tendiam

a isolar do continente a asty (centro urbano), cora-

cracia ção da cidade clássica, asseguravam O triunfo da demo que imao reforçar os fatores econômicos. sociais e políticos o caráter pulsionavam Atenas nesta direção; eles acentuam

campos em caurbano da economia, ao prever o sacrifício dos

so de guerra.

identificando

como

de interesse público aque-

ao artesanato, les das classes sociais ligadas ao comércio e a construção de e. afastando a ameaça espartana, autorizam e. logo, o desenum império fundado sobre O controle do mar volvimento do regime democrático.

Em

suma.

até mesmo

a aparentemente

árida temática

um en foque político das fortificações deve ser entendida em e reme(qu an rl Ga de a ul rm fó te gan ele na Ou, e econômico. (e docuos nt me nu mo são não as lh ra mu as , ch) mora M. Blo interrogados. m ra fo não da ain as en ap s. do mu mentos)

q

q Conclusão

as, o rei peril óp rm Te s da a lh ta ba da s te Poucos dias an descobrir ra pa lo va ca a or ad rv se sa Xerxes envia um ob o (cf. Hend ze fa m va ta es e qu o e s no quantos eram OS hele ver todo o exérde po o nã o ir le va ca O . 9) rápoTO, VII, 208fora da de do la do as ad on ci ta es as cito, mas apenas as trop deles fans gu Al . os ni mô de ce la s lo pe as muralha, constituíd seus longos cam va ea nt pe os tr ou to an qu en zjam exercícios, es tudo rx Xe a ou nt co € ou rn to re o ar belos. Surpreso, o bárb amar à sua ch a nd ma i Re de an Gr o , er nd te o que vira. Sem en asião '“hóspeoc na a, rt pa Es de ei -r ex s, to presença Demára dos a ut nd co a a” ul íc id “r u ho Ac o. de”* do rei e seu conselheir respone lh te Es s. to ra má De a s õe aç ic espartanos e pediu expl s pela posse nó ra nt co er at mb co am er vi de: “Esses homens stume é O seco u Se . so is rá pa am ar ep pr se e do desfiladeiro, idam cu es el da vi a ar sc ri ar de o nt guinte: chegado O mome conseguiu o nã rei O e qu a nt me co to do de sua cabeça”. Heró rrer e mamo ra pa am av ar ep pr se ns me ho entender “que esses scamos à tamri ar s no s Nó ”. as rç fo as su tar na medida de mente diversos em os am nh te o nã so ca , er bém não entend anos. rt pa es s do ão aç a ar iz al tu ex elementos capazes de cont e milica si fí de ém al — a ic óg ol ic a sua rígida preparação ps

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tr — para à guerra (como vimos no capítulo 3), que tornava a morte em batalha uma maneira de alcançar a imortalidade (segundo Tirteu): o orgulho de pertencerem a uma elite guerreira

que tinha

nos seus longos cabelos

não

só uma

mar-

ca do cultivado apego espartano às tradições arcaicas, mas também um sinal que os diferenciava de todos os trabalha-

dores, daqueles que viviam imersos no mundo da necessidade. Sem dúvida que poderiamos comparar o ato de pentear os cabelos ao polimento dos escudos ou da armadura para que brilhassem durante a luta, um elemento a mais na com-

posição da elevada moral destas tropas consideradas Invenciveis. Mas parece existir algo além disto, talvez a busca de uma calma tão necessária à sophrosine, ao controle de si mesmo. decisivo para o combate entre hoplitas. De qualquer forma, o que este mínimo exemplo nos leva a pensar é o seguinte: o entendimento da guerra antiga não pode ser separado de um estudo aprofundado da dinãmica social, das estruturas econômicas, dos valores etc. Vimos como a “naturalidade”" com que os gregos encaravam

a guerra deve ser relacionada a um mundo fundado sobre a exploração através da coação física dos trabalhadores, um mundo em que o uso da violência não era condenado. Relacionamos à forma de luta individual dos Tempos Homéricos à manutenção dos privilégios de uma aristocracia fundiária, a qual, por sua vez, será ameaçada pelo nascimento da falange hoplítica. uma etapa na conquista da cidadania pelo povo comum. Analisamos o mito espartano, demonstrando era a fragilidade de uma máquina de guerra que, na verdade, Insmais um “corpo policial” a vigiar os hilotas do que um heleirumento de conquistas. Acompanhamos a luta entre à Helade se que em momento breve este bárbaros. e nos Estudamos encontrava — ainda que parcialmente — unida. para O a Guerra do Peloponeso e suas graves consequências mundo das poleis, com o nascimento de uma especialização da função militar em detrimento da política, personificada

ia cm -

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79

us experimense am av ug al e qu s io ár en rc em milhares de me fosse em qu ra nt co e de on ra er gu tados braços para fazer a stória das muhi a o sm me e qu m, fi r po , preciso. Percebemos s homens ao a ad on ci la re ser ve de é, ralhas deve ter vida, isto am. que as construíram e utilizar da guerra na Grédo tu es o de po o: tã es qu Uma última lugar, em ro ei im pr Em ? mo Co s? nó cia Antiga ser útil para ada, acabamos ss pa e ad ed ci so a um de ca todo o estudo acer neira de ma á ss no a m ra pa se e qu as por perceber as diferenç leiro mo um de s, go ti an os eg gr s pensar e de viver daquela do trabalhados do I, XV lo cu sé no ão iç perseguido pela Inquis campone-

s do , ue oq Ép e ll Be da o ir ne Ja de o res pobres no Ri diferenças as er eb rc Pe . etc sa ce an Fr o a da Revoluçã

ses à époc ssa identidade no no a os rm mi su as , do tu de significa, acima e nos TOqu o nd mu o er nd te en , as vr tempo, em outras pala na Grécia Antira er gu da os ct pe as is do o, deia. Neste sentid à reflexão. e it nv co um e qu mo co , os ga devem ser destacad s romanos), do ém mb ta (e os eg gr s do o ri Embora, ao contrá ndo de hoje tem mu o a, ci ên ol vi da o us o os nós condenem humorado mbe ta er al no , ou o ri óp pr si meios para destruir a ita com paus fe r se i va l ia nd mu ra er gu ta ar de Einstein: “a qu convencional o ct pe as no ar ns pe a va le s no e pedras”. Isto razoavelmente bem e ev nt ma se e qu , is le pó as e tr en das guerras em um munje ho s mo ve vi o Nã . so ne po lo até a Guerra do Pe a conflagração um de es ad id il ib ss po as r ta as af do que pensa dos pena ce en is ra te la bi s do or ac os en nuclear através de pequ Afinal, ca? do an qu é At ?! as ci ên ot rp pe los chefes das duas su para, como oa ss pe só a um á ar st re o nã so algo aconteça, ienses jovens, en at os er úm in de e rt mo a ar nt Péricles ao lame sem primavera. afirmar que o ano havia ficado

Vocabulário

crítico

«Ager publicus: em teoria, terras pertencentes ao Estado romano por direito de conquista. De fato, embora utilizadas para a fundação de colônias ou arrendadas aos cidadãos, foram em boa parte apropriadas pela aristocracia.

Burbaro: bárbaros eram todos aqueles que falavam uma língua ininteligivel para os gregos, aqueles que desconheciam os costumes helênicos. Eram considerados inferiores por natureza, À distinção entre helenos e bárbaros agrava-se depois das Guerras Pérsicas, tornando-se sobretudo poliLica: à Grecia. mundo da liberdade e da cidadania, opunha-

se a Ásia, caracterizada pelo despotismo e pela escravidão.

ara alguns historiadores, isto seria uma construção ideológica ateniense, uma maneira de legitimar sua hegemonia na Liga de Delos em nome do papel desempenhado por Atenas nas Guerras Pérsicas. Clerúquia: misto de colônia militar e agricola, que os atenienses costumavam implantar em territórios conquistados ou em terras confiscadas às poleis aliadas que se revoltavam, Durante o funcionamgnto da Liga de Delos (478-7 a 404), milhares de cidadãos atenienses foram beneficiados por esa

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te mecanismo. As clerúquias, todavia, eram temporárias, e os colonos

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conservavam

a cidadania

ateniense.

Colonização: o movimento de colonização grego (iniciado em meados do século VIII), ao contrário do “colonialismo” moderno, não estava ligado primordialmente a objetivos comerciais, nem havia a dominação política e econômica por parte da ““cidade-mãe””. As colônias eram uma “'válvula de escape” para as tensões sociais existentes no interior das póleis gregas, relacionadas à posse da terra e ao endividamento dos camponeses. A maior parte das colônias eram estabelecimentos agrícolas, totalmente independentes das cidades “fundadoras”, com as quais mantinham laços culturais e religiosos. Eclesia: a assembléia popular de Atenas, da qual todos os cidadãos podiam participar, discutindo, apresentando propostas e, principalmente, votando. A Eclesia ateniense era soberana em todas as matérias: militar, política, financeira etc. Em caso de guerra, cabia ao povo reunido a decisão, assim como a definição dos objetivos a serem alcançados e das medidas a serem tomadas. Efebia: temos poucas informações sobre a efebia ateniense

no século V. À época de Aristóteles, na segunda metade

do século IV, os efebos eram os jovens de 19 e 20 anos,

submetidos ao treinamento militar e encarregados de patrulhar o território da Ática. No século III, a efebia torna-

)

se facultativa — sendo monopolizada pelos mais ricos. Aos poucos, ela se transforma em uma “universidade””, voltada para a filosofia e a literatura. Estrategos: eleitos anualmente pela Eclesia, os dez estrategos eram os mais altos magistrados da Atenas clássica. Acabavam por liderar o demos, embora tivessem que defender suas idéias em assembléia e fossem obrigados a prestar contas dos seus atos diante do povo, podendo até serem condenados à m o, por exemplo, os oito estra-

te

tegos atenienses acusados de negligência durante a bata-

lha naval das Arginusas (406): dois deles fogem, e os seis

restantes são condenados à morte. Temistocles, como estratego, dirigiu Atenas na segunda guerra pérsica. Péricles exerceu o cargo por 15 anos, sendo reeleito anualmente ate a sua morte, em 429. Herois: segundo o mito das cinco idades (cf. Hesíodo, Os trabalhos e os dias), os heróis eram uma raça de semideuses,

gerados por Zeus, precedidos pela Idade do Bronze e anteriores à Idade do Ferro, desgraçado tempo em que o poeta lamentava viver. Os heróis da Ilíada e da Odisséia são um espelho dos valores aristocráticos e uma forma de legitimar os privilégios da nobreza — atribuindo-lhe ancestrais divinos. A ética dos heróis era individualista e competitiva. O que os distinguia do povo comum era O

fato de não precisarem trabalhar para o seu sustento.

Hvbris:

originalmente,

significava

insolência,

orgulho.

Na

verdade. qualquer manifestação de excesso, de desmedida uma da. desequilíbrio, violência, A Aybris era considera

cipalmencaracterística do comportamento bárbaro, prin te dos reis. izam-se pela utiModos de produção pré-capitalistas: caracter excedente, pois do ação extr na ca fisi ção coer da ção liza foram completaos trabalhadores, neste caso, ainda não produção (recurde s meio dos e poss da s nado alie mente etc.). cos naturais, matérias-primas, instrumentos ey (O mundo de UlisFinl de o niçã defi na !): oikot ral (plu os Oik patriarcal, casa “A 55): p. . 1982 , ença Pres ces. Lisboa, se organizava, vida a qual do a volt à ro cent o era o oikos. ão das necessisfaç sati à e ent som não ham vin pro donde também as mas a, ranç segu a o uind incl dades materiais, obrigações € as , ões paç ocu as os, étic res valo normas e os ções com rela as e ais soci ulos vínc os es. as responsabilidad à família; comnte sme ple sim era não s oiko O os deuses. seus haveres”. com casa da oas pess as s toda preendia

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83

ses era consulOráculos: santuários onde a vontade dos deu

Dodona em — s Zeu de o cul orá no : mas for ias vár de tada folhas dos car—, pela interpretação do vento a agitar as ante sanvalhos (árvore de Zeus); em Delfos, mais import va através tuário pan-helênico, o deus Apolo se manifesta da, que fatra ile al loc a es on mp ca a um te men ral (ge a da piti deus), durante zia voto de castidade, pois era esposa do divina), seno açã pir ins ado der nsi (co nse tra de ado um est s bem informado as respostas formuladas por sacerdote uenas questões peq de des o, tud a par os tad sul con m Era dos. s graves decipessoais (casamento, viagem etc.) até as mai sões de um Estado. ns livres, que haPeriecos: formavam comunidades de home de indepenbitavam a periferia de Esparta. Eram privados mas desdência em termos de política exterior e guerra, obrigados ao frutavam de liberdade econômica, não sendo oria agripagamento de tributo aos esparcíatas. Em sua mai e ao artesacultores, dedicavam-se também ao comércio ibidos de nato, atividades que os espartanos eram pro parte exercer. Normalmente, eram convocados para fazer ), emdo exército lacedemônio (em contingentes separados rebora não sofressem a mesma preparação militar. São do crutados em números crescentes a partir da Guerra Peloponeso. que €XPólis (plural: pófeis): era a comunidade de cidadãos, cluía as mulheres, os escravos e os estrangeiros. Em Ate os nas, a partir de 451, só são considerados cidadãos nascidos de pai e mãe atenienses (até então, bastava que o pai fosse ateniense). on Thetes (singular: thes): na classificação censitária de Sól co em Atenas (594), eram aqueles que nada ou muito pou . possuíam, sendo incapazes de se armarem como hoplitas uras € Aos poucos, vão adquirindo acesso às magistrat pela maiores direitos políticos. Graças aos recursos gerados

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Liga de Delos, milhares destes thetes conseguiram empre-

£o como remadores na marinha ateniense, ampliando a participação politica e fortalecendo a democracia ateniense.

Tribo: na Atenas clássica, as tribos eram dez unidades artificiais, criadas no fim do século VI por Clistenes, reunindo clementos das três regiões da pólis: o centro urbano, o litoral e o campo. Foi a maneira encontrada para integrar

os cidadãos atenienses em uma só comunidade, evitando o fortalecimento dos poderes locais. As tribos eram as unidades básicas não só para a convocação do exército, mas também para o sorteio dos cidadãos que tomavam parte no conselho q nos tribunais.

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a d a t n e m o c a i f a r g o i l b Bi

art of war. an ni do ce má d an k ee gr e Th 2. 196 Apcock, F. E.

ss. Berkeley, University of California Pre mundo grecono ra er gu da to ei sp re a ca ssi clá ra Ob s palestras (promacedônico. Resultado de um ciclo de sei intes temas: gu se dos ca er ac 7) 195 em r to au o pel s da nuncia vimento da infanol nv se de O ; ra er gu em o ad st -E de da ci a s e cercos; meios taria:; a guerra naval; cavalaria, elefante nte as batara du o nd ma co € a; égi rat est de an gr da e fins ítulos como os cap s ro ei im pr s trê os s mo ía ar ac st De s. lha melhores. om the Stone Age fr — war of s gin ori The 6. 198 A. , riL Fer Hudson. & es am Th s, re nd Lo at. Gre the r de to Alexan 5) e bem cuida198 de é ção edi ra ei im pr (a e ent rec e tes Sín stórica, dois à da. Dedica um capítulo à “guerra” pré-hi indo aí babiclu (in o im óx Pr e ent Ori do ira rre gue ão tradiç à guerra na Grés trê € ) sas per e os íri ass os, pci egí , ios lôn ilustrado, m Be e. dr an ex Al até co ri mé ho o nd cia, do mu etc., alcança seu as alh bat de as em qu es s, pa ma s com bon em seu aspecto mie nt me so rra gue a r da or ab de ito pós pro ou ao ial soc ao s ada lig es tõ es qu o lad de do litar, deixan econômico.

) Nf

) Fis 1

)

MT,

1981, Lost: The Trojan War. In: —, Aspects

of untiquitv. 2.ed. Londres, Pelikan Books. p. 31-42. Otimo ar tigo (de 1962), onde o autor procura demons trar — atraves da utilização de fontes literárias e arqueolóp i-

)

ção

que a Guerra de Tróia é apenas um

fruto da cria-

Rm

cas —

| —. 1953. Politics in the ancient world. Cambridge, Cambridge University Press, (Em português: 4 política no mundo anSO. Trad. de À. Cabral. Rio de Janeiro, Zahar, 1985.)

——

)

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gueã

)

|

e —

liticas do mundo greco-romano, sem o que fica impossi-

vel compreender

efetivamente

a guerra,

a

Essencial para o entendimento das estruturas é práticas po-

e

|

literária.

1985. War and empire. In: Ancient history — evidence und models. Londres, Chatto & Windus. p. 67-87. Neste instigante artigo, Finley faz um apanhado bastante critico da produção historiográfica sobre a guerra na Antguidade, acabando por propor um modelo para o estu| do da guerrae do imperialismo na Antiguidade, que teria | como ponto de partida os ganhos e a sua distribuição, GuariINEILO, N. L. 1987. imperialismo greco-romano. São | Paulo, Ática. Boa sintese dos aspectos políticos e econômicos do imperialismo greco-romano. Os três primeiros capítulos interessam de perto ao nosso tema, ao analisarem a ligação entre guerrae imperialismo e, particularmente, a forma| ção,a natureza, as motivações e os conflitos do imperialismo ateniense. H ARMAND, J. 1976. La guerra antigua. Madri, EDAF. Tentando fugir ao que chama de “fórmula asfixiante””, isto é, a narrativa em ordem cronológico-espacial (Oriene te. Grécia e Roma), procura analisar a guerra antiga em conjunto, segundo duas grandes questões: por que e como era feita a guerra. O propósito de ser exaustivo, de abarcar quase todos os temas e inúmeras sociedades ao

mm

| —.

7

r exmesmo tempo, acaba por compartimentar € fragmenta

cessivamente o texto. à Eschytle. Mossé, C. 1984. La Grêce archaique d'Homêre

Paris, Éditions du Seuil. ca e arcaiExcelente manual a respeito da Grécia homéri

l, o esca, indicando, de maneira breve mas indispensáve ia ou a tado atual de questões como a Guerra de Tró “revolução” hoplítica.

Seuil. du ns tio Édi is, Par ne. ien Anc ce Grê La 6. 198 org. —

a franColetânea contendo 17 artigos, publicados na revist cesa L'Histoire, entre

1978 e 1985. Vários deles são im-

— portantes para O nosso tema. “Ta vérité sur Sparte” mariClaude Mossé, p. 58-76; “Les galériens d' Athênes:

Guerre ne et démocratie”' — Jean Rougé, p. 145-56; “Ta

n du Péloponnêse”” — Claude Mossé, p. 223-36; “Xeénopho et Podyssée des 'Dix-Mille' *” — Philippe Gauthier, p. 237-53; “Le siêge de Rhodes” — Yvon Garlan, p. 254-69. Os artigos, escritos em linguagem agradável, possuem a vantagem de proporcionar sinteses recentes acerca dos temas tratados, ao lado de indicações bibliográficas minimas. VERNANT, J. P. 1981. Origens do pensamento grego. São | Paulo, Difel. O quarto capítulo deste importante livro (de 1962), intitulado “O universo espiritual da pólis”, é valioso para a compreensão das dimensões sociais e políticas da chamada “revolução hoplítica””. ne. —, org. 1985. Problêmes de la Guerre en Grêce Ancien

Paris, Éditions de "École des Hautes Etudes en Sciences

Sociales. Sem dúvida, um dos mais importantes estudos já publicados sobre o tema. Fruto de um colóquio do Centre de Recherches Comparées sur les Sociétés Anciennes, realizado em 1965, o qual contou com a participação de um destacado grupo de helenistas: M. 1. Finley, G. S. Kirk, M. De-

AM

Lenne, P. Vidal-Naquet, C. Mossé, Y. Garlan, P. Léve que c outros. Os artigos abordam desde a função guer relra na mitologia grega (F. Vian) até a questão das fortilicações (1. Garlan), indo do período micênico (M, Leleune) até a época helenística (P. Léveque). São sempre escritos por alguns dos maiores especialistas de cada te: ma. À despeito do imenso valor da obra, é importante asinalar. entretanto. que o livro abandona toda e qualquer

discussão a respeito do aspecto econômico da guerra, afora

algumas observações casuais. Uma grave lacuna, admitida pelo próprio organizador da obra (J. P. Vernant) em

sta excelente

1 MRRv. d. 1980,

introdução.

Wuntare in the classical world. Londres, Sa-

lamander. A mator virtude desta obra reside em seu aspecto descritivo: como se dava a guerra no mundo greco-romano. Para sto, muito contribui a abundância de recursos gráficos: totos. desenhos (destaque para as “'reconstituições"”), esquemas, mapas etc. Para os apaixonados pelo estudo da guerra nu prática, absolutamente imperdível. Muitas vezes, aceita acriticamente os relatos dos autores antigos (Heródoto. por exemplo), o que é perigoso. |

(6)

unpressão e acabamento por

W, Roih & Cla, Lida.

com filmes fornecidos pela editora