Técnicas de Redação em Jornalismo. O Texto da Noticia - Volume 2 [1 ed.] 8502086588, 9788502086586

Técnicas de Redação em Jornalismo procura fornecer bases para produção de textos eficazes do ponto de vista da comunicaç

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Técnicas de Redação em Jornalismo. O Texto da Noticia - Volume 2 [1 ed.]
 8502086588, 9788502086586

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Técnicas de redação em

Jornalism oO texto da notícia

Patrícia Ceolin do Nascimento Magaly Prado (org.)

M agaly Prado (Organizadora)

TECNICAS DE REDAÇAO EM JORNALISMO O te x to d a n o tíc ia P a tríc ia C e o lin d o N a s c im e n to

E d ito r a

S a ra iv a

çmsssm Rua Henrique Schaumann, 270 — CEP 05413-010 Pinheiros — Tel.: PABX (0XX11) 3613-3000 Fax: (OXX11) 3611 -3308 — Televendas: (OXX 11)3613-3344 Fax Vendas: (0XX11) 3611-3268 — Sào Paulo - SP Endereço Internet: http://www.editorasaraiva.com.br F ilia is:

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SÀO PAULO Av. Marquês de São Vicente, 1697 — Barra Funda Fone: PABX (0XX11) 3613-3000 / 3611-3308 — São Paulo ISBN 9788502121829 CIP - BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE ___________________________________________ SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ. C374i v.2 Nascimento, Patrícia Ceolin do Técnicas de redação em jornalismo: o texto da notícia, volume 2 / Patrícia Ceolin do Nascimento; Magaly Prado (org.). - São Paulo: Saraiva, 2009. Inclui bibliografia ISBN 9788502121829 1. Redação de textos jornalísticos. 2. Redação técnica. I. Prado, Magaly. I. Título. 09-4385.

Copyright © Magaly Parreira do Prado (projeto e organização), Patrícia Celion do Nascimento 2009 Editora Saraiva Todos os direitos reservados.

Diretora editorial: Flávia Helena Dante Alves Bravin Gerente editorial: Mareio Coelho

CDD: 808.06607 CDU: 808.1:070.41

Editoras: Rita de Cássia da Silva Juliana Rodrigues de Queiroz Produção editorial: Viviane Rodrigues Nepomuceno Suporte editorial: Rosana Peroni Fazolari Marketing editorial: Nathalia Setrini Aquisições: Gisele Folha Mós Arte, Produção e Capa: Casa de Ideias

Foto da autora: ® Juan Esteves

Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora Saraiva. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei n. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Para meus filhos, Pedro e Anna.

SOBRE A AUTORA

P a tríc ia C eolin do N ascim ento

Eprofessora de redação nos cursos de jornalism o e publicidade e propaganda da U niversidade Bandeirante de São Paulo. Na m esm a instituição, orienta trabalhos de conclusão de curso de jornalism o e m inistra aulas de análise de discurso aplicada às mídias nos cursos de pós-graduação em jornalism o cultural e com unicação televisiva. G raduada em jornalism o pela U niversidade Estadual Paulista (U nesp), é mestre e doutora em ciências da com unicação pela Escola de Com unicações e A rtes da U niversidade de São Paulo (ECA-USP). Desenvolve pesquisas na área de mídia e linguagem e, com o jornalista, trabalhou no jornal “Folha de S. Paulo”, sucursal Cam pinas, e nos jornais de bairro “JB V ” (“Jornal da Bela Vista” ) e “Jornal Higienópolis”, em São Paulo. Em televisão, trabalhou com o repórter noticiarista no SBT. Atua ainda com o m ediadora no Program a de Formação Continuada a Distância em M ídias na Educação (M EC), coordenado pelo N úcleo de C om unicação e Educação (NCE), da USP. E autora de “Jornalism o em revistas no Brasil: um estudo das construções discursivas em ‘Veja’ e ‘M anchete’” (A nna-Blum e, 2002).

SO B R E A O R G A N IZ A D O R A M agaly P rad o r

E d o u to ra n d a em com unicação e sem iótica pela PUC-SP, m esm a instituição pela qual fez m estrado em tecnologias da inteligência e design digital. É pósgraduada em com unicação jornalística pela Faculdade C ásper Libero, onde cursou jornalism o. Na graduação, m inistra aulas de produção de rádio, jornalism o especializado e segm entado e linguagem televisiva em cursos de rádio e TV e jornalism o, na Faculdade Cásper Libero e na Universidade Bandeirante de São Paulo. M inistra aulas tam bém na pós-graduação em tecnologias digitais e autorias na rede, na PUC, e em jornalism o cultural, na Uniban. Trabalhou no Grupo Folha em vários cargos e funções. Foi colunista dos jornais “ Folha da Tarde” e “A gora São Paulo”, do site Pensata, da Folha Online, e do caderno Ilustrada, da “ Folha de S. Paulo” . Na Folha Online, editou os sites Equilíbrio Online, Turism o, Pensata, entre outros. Foi gerente com ercial da A gência Folha/Folha Imagem. C oordenou a equipe do Folha Informações, serviço jornalístico interativo por telefone sobre esporte, econom ia, cultura etc. Colaborou em jo rn ais com o “O Estado de S. Paulo” e “Jornal da Tarde” e em diversas revistas. Publicou o livro “Produção de rádio: um manual prático” , pela editora Cam pus/Elsevier, em 2006. Desde maio de 2004, m antém um blog no portal UOL (). Contato com a organizadora: magalyprado@ editorasaraiva.corn.br

PREFÁCIO

FE R R A M E N TA S E B R IN C A D E IR A S Um convite, quase um apelo, à liberdade de criação jornalística O p e n s a d o r, educador e poeta brasileiro Rubem Alves trabalha com a ideia de que toda pessoa tem à disposição, na vida, duas caixas, am bas igualmente importantes. Uma é a caixa das ferram entas, na mão direita, e a outra, a dos brinquedos, na esquerda. A caixa das ferram entas pode ter um m ontão de significados. Representa, por exem plo, o lado sapiens do ser humano; a razão, a ciência e a técnica; os conceitos, as normas, os m étodos... coisas das quais ninguém consegue ficar sem ou viver sem nunca usar. M as o risco existe, e é real, de a pessoa, principalm ente quando adulta, esquecer no fundo do porão, cheia de teias de aranha, a outra caixa, a dos brinquedos. Nesse caso, a vida se torna chata, porque lhe falta nada mais nada m enos que esse lado lúdico, da intuição e da criação, da liberdade e do prazer. O texto jornalístico, quando é só um produto da pura técnica, esfria. As vezes, congela. D esum ano, perde o vigor. Torna-se intragável. A caixa dos brinquedos pode tam bém significar um montão de coisas. Representa, por exem plo, o lado deniens do ser humano, o não racional, incluindo desde a poesia - que “não se cria, se dá cria” (Renata Carraro) - até a lágrim a de em oção (palavra perigosa, quando a caixa dos brinquedos fica jogada no porão!) que lhe rola pela face, senhor e senhora jornalista, em tantos m om entos de seu agir pelos becos, ruas e praças do mundo (e não, por favor, só na frente de monitores, teclados e botões!). Aí vem a dúvida, m uito legítima: o livro de Patrícia Ceolin do N ascim ento é caixa de ferram entas ou de brinquedos? Parece caixa de ferram entas. Já o título - “Técnicas de redação em jornalism o” - leva qualquer um a pensar no how to do da construção do texto: “ Lá vem de novo alguém oferecendo o feijão com arroz da redação jornalística!” , pode-se objetar. Engano. U m grande engano, aliás. Inteligente e sensível, além de com petente no assunto, a autora sabe que razão e lógica, o método, a régua e o esquadro, o conceito e a norm a são ferram entas necessárias. Mas que não podem , em m om ento algum, esconder ou negar o fato de que “existir não é lógico” (Clarice Lispector), pois a vida, com o lembra o filósofo Tomás de Aquino, “ultrapassa o conceito”. Assim, A poio (o deus da razão, da lógica, do argum ento) e Dioniso (o da sensibilidade, da farra e da festa, do prazer da criação) se fazem de vários m odos presentes neste livro. Eles dialogam - e às vezes, de certo modo, até se desentendem e brigam com o costum am fazer os deuses do Olimpo.

Chegam a um bom acordo no final. Em suma: você, aprendiz de feiticeiro e feiticeira, ou tam bém jornalista de muitos quilôm etros andados, encontra nas páginas deste livro um arsenal com pleto de boas dicas, ensinam entos e conceitos. Eles situam a obra num terreno bem acim a de uma pura e sim ples “ introdução". O melhor, no entanto, é que, onde for necessário, o texto tira a ferram enta da caixa, mas sem nunca se esquecer de que brincar, transgredir, criar... com unicar é fundamental. Porque jornalism o não é só técnica. Não é mesmo!

C A IX A DE FER R A M EN TA S A caixa de ferram entas, com o já dissemos, é variada e bem sortida. Traz um bom tanto daquelas coisas que um a tradição de dois ou três séculos de jornalism o desenvolveu e gramaticalizou. Entre os instrum entos, há de tudo um pouco. Há o conceito: lide é ... pirâm ide invertida é ... Há o how to do: nota e notícia se fazem assim ... Com entário, artigo e crônica se produzem desse m o d o ... Há m uitas dicas simples e preciosas, com o estas: “O texto jornalístico precisa, em prim eiro lugar, ser entendido pelo leitor, o que significa clareza na construção e na escolha de palavras." “U sar parágrafos curtos" e “dividir os parágrafos em períodos". “U tilizar palavras de uso corrente, comuns, que possam ser entendidas pelo m aior núm ero de leitores, e explicar os term os técnicos, quando for necessário aplicá-los." “ Buscar sínteses linguísticas" e “preferir a ordem direta da frase". “A abordagem jornalística é sempre mais rica quando for possível ouvir, além dos 'd o is' lados, outras ‘vozes’ representativas do fato abordado, não necessariam ente em contraste, mas que forneçam visões diferentes sobre uma m esm a questão.” A caixa de ferram entas traz exem plos (m uitos!), exercícios (tam bém inúmeros, e que dão gosto de fazer), lembretes, quadros, resumos. Faz uma síntese didática de cada capítulo. Dá sugestões. Envereda com leveza por tem as que a sisudez de certos m anuais evita ou descarta, habituada a lançar uma pá de terra sobre o túm ulo das coisas que só a estreiteza de espírito im agina inúteis. E o caso de assuntos com o jornalism o literário, livro-reportagem e a fértil relação entre linguagem jornalística e linguagem literária. O manual de instruções de Patrícia Ceolin - as ferram entas - nutre em cada linha a esperança de que a lição não termine, jam ais, no lide e na pirâm ide invertida. “A dica é sempre encontrar espaço para o ‘gosto de ler’", ela escreve. Porque “ só é bom leitor quem lê, e m uito, por toda a vida". Passeando pela “trilha da literatura", a autora lista um conjunto de obras que, seguramente, deve enriquecer o repertório do bom jornalista e m exer com sua alma, lá onde ferram entas e brinquedos dançam ao som da liberdade textual e da com unicação que acontece. Porque o signo da com unicação não é, ele acontece. “A fim " não é o mesm o que “a fim ", ensina a autora, em “A poio gram atical". U m a coisa é “passar um cheque", outra é “a riqueza dos xeques", e outra, ainda, é quando alguém diz: “Cheque as inform ações!".

Por fim, a caixa de ferram entas oferece os instrum entos básicos para a com preensão e uso do que m uda com o A cordo Ortográfico estabelecido entre os oitos países de língua portuguesa, que, no Brasil, passou a vigorar a partir de janeiro de 2009. U m “Pequeno glossário do texto jornalístico" fecha este pequeno grande livro, m as os m ais exigentes ainda poderão consultar e fazer m uito bom uso da generosa ferram enta das “Referências", um a verdadeira biblioteca de autores e obras preciosos para o estudo e a prática da redação jornalística.

C A IX A DE B R IN Q U ED O S O im portante ofício de produção de informações da atualidade se movimenta, pois, por um lado, pelo universo da técnica. Mas ética e estética precisam fazer parte desse processo. E, para continuar utilizando a im agem das duas caixas, o leitor deparará com essa exigência na igualmente bem sortida caixa dos brinquedos oferecida por este livro. O am biente “ lúdico" está bem representado na obra. Constitui o espaço para o não racional, a intuição e a criação, com o tam bém para a responsabilidade ética e o cultivo das virtualidades estéticas do texto jornalístico. Aqui tam bém os exem plos são muitos. A liás, já a epígrafe que abre o prim eiro capítulo sintoniza o leitor nessa frequência, com um poem a de Clarice Lispector que trata do “ato criador". As dem ais epígrafes tam bém enquadram - ou, antes, em balam - os conteúdos dos capítulos, de algum modo, nas artes do fazer poético. M as há nesse âm bito uma virtude do livro que merece ser destacada, de modo especial. E lá onde a autora situa o fazer jornalístico no am plo terreno da linguagem e da comunicação. Q uando o jornalista entende desse modo ou situa nesse contexto seu ofício, torna-se mais fácil, para ele, abandonar a ideia de ator ou protagonista isolado, quando não de herói ou super-herói, com o aqueles dos quadrinhos. Patrícia Ceolin o convida a se sentir solidário com um a m ultidão de outros atores-protagonistas-autores que narram , de diferentes maneiras, os acontecimentos, o mundo, a vida. Q uando escrevem os, ela sublinha, “exercem os continuam ente nossa capacidade de escolher e de com binar estruturas; delineam os, a partir daí, identidade, autoria, em m eio a tantos ‘outros’ textos, a tantos ‘outros’ escritores, a tantas outras escolhas e com binações, a tantas outras possibilidades". A autora continua, em texto denso, sobre o qual é preciso parar para refletir, aprofundar, aprender e praticar: “A relação texto e com unicação é, nessa perspectiva, a de um elo indissociável entre um ‘eu ’ e um ‘outro’, uma vez que a escrita é sempre im pulsionada por um projeto de partilha, de com unhão, ou, ainda, por um desejo de ‘tornar com um ' as significações que apreendem os do mundo". Eis aí uma belíssim a defesa de uma linguagem dialógica e do mais original e puro significado de com unicação. N ão há textos sem intertextos. Não há falas ou sentidos isolados neste m undão de Deus. Convém citar ainda, para encerrar, essa parte feliz do texto que fala da reinvenção do próprio sujeito, escritor que se escreve ou narrador que se narra no mesm o ato de narrar o mundo: “Dessa maneira, todo texto deve ser pensado com o um ato de com unicação, em que significações se m ovim entam e são capturadas por olhares m últiplos, dada sua am pla capacidade de reconstrução e, por que não, de recriação. A cada texto que lemos e a cada texto que escrevem os, reinventam os a linguagem e, com o somos feitos de sentidos, de signos, nos reinventam os junto.”

O P O D E R DA NARRATIVA E por tudo isso que este livro oferece uma enorm e abertura para o entendim ento da ação jornalística com o exercício da ancestral e imortal disposição hum ana de contar e recontar historias. Sempre que possível, com o sugere a autora, com engenho e arte. Cuidando de contar o que acontece, o jornalism o, a seu modo - com o rigor da técnica e o vigor da ética e da estética, de preferência - , não faz outra coisa senão construir e reconstruir continuam ente o m apa do presente imediato. Um bom mapa, aliás, possui a função prim eira de orientar os viajantes. E possibilitar aos viajantes essa orientação sem pre foi entendido com o uma das funções principais do jornalism o - ontem com o hoje, em tem pos de mídias digitais de altíssim a velocidade e hipertrofia de informações. N ada m elhor do que conceder mais uma vez a palavra à autora, no ponto em que ela, no final do livro, volta a cham ar a atenção para o fato de que o exercício do jornalism o exige uma dose m uito grande de espírito crítico e de não conformism o: “Ao com unicador cabe, assim, desconfiar dos modelos, questionar seu texto, reinventar sua expressão, dialogar com o mundo a sua volta e, principalm ente, consigo mesm o” . O apelo é claro: rom per com lugares-com uns da profissão, chavões, normas e técnicas, enferrujadas tanto pelo longo uso com o pela preguiça de quantos preferem o mais fácil, não o que mais intensamente comunica. A liás, esse apelo vale igualmente para o adm irável mundo novo das novas tecnologias da inform ação e da com unicação, com seus am plos espaços para o exercício da cidadania informativa. Com o vale para todo e qualquer canto em que a ação jornalística se vê cerceada pelo jo g o nefasto dos puros interesses financeiros ou ideológicos. O jornalism o, lembra Patrícia Ceolin, não se configura além, nem m uito m enos acim a da sociedade. “Tampouco exerce a função de ‘puro’ m ediador entre a inform ação/o fato e o público leitor. A ntes, ocupa um lugar de agente social, recortando e organizando as significações do m undo.” A narrativa jornalística - para usar uma expressão cara à jornalista e pesquisadora Crem ilda M edina - constrói o cosm os em meio ao caos. O jornalista-autor ajuda a pôr ordem no edifício dos sentidos e das interpretações. Atento à polifonia e à polissem ia do mundo, jam ais levantará cercas nem delim itará latifúndios no terreno aberto das significações. A autora está de novo com a palavra: “Nesse cenário, o jornalista, esse ‘ser que produz os textos’, não se reduz a um m ero feitor de lides ou a uma peça m anipulável em um jogo de poder. M ais do que nunca, em um mundo de informações fragm entadas e múltiplas, o jornalista deve se assum ir com o produtor do próprio texto, com o aquele que se responsabiliza eticam ente por aquilo que ‘dá a v e r’ (e por aquilo que não se m ostra), assim com o pela forma com o faz isso, o que inclui preocupação com as ‘vozes’ presentes na m atéria, com as pesquisas realizadas, com a apuração das inform ações e, finalm ente, com a função com unicativa que exerce.” Está bem dito.

Dimas A. Künsch Doutor em ciências da com unicação pela USP, é professor de graduação e de pós-graduação e coordenador do program a de pós-graduação da Faculdade Cásper Libero (SP), onde coordena tam bém o grupo de pesquisa C om unicação, Jornalism o e Epistemologia da Com preensão. Form ou-se em filosofia pela Faculdade N ossa Senhora M edianeira, no Brasil, e em teologia pela U niversidade de Innsbruck, Áustria. E mestre em Integração da A m érica Latina pela USP.

Renata Carraro E mestre em com unicação pela U niversidade M etodista de São Paulo. E bacharel em direito pela Faculdade de Direito de Curitiba (PR) e em jornalism o pela U niversidade Federal do Paraná. E escritora e professora. A tualm ente leciona nas Faculdades Integradas Rio Branco (SP). Já foi coordenadora do curso de jornalism o (2001-2004) da Uni S an fA n n a (SP).

SUMÁRIO

CA PÍTU LO 1 Texto e com unicação 1.1 Diferentes intenções de comunicar: as funções da linguagem 1.2 Lógica e legibilidade: coerência e coesão textuais 1.3 Variações de linguagem 1.4 Denotação e conotação Para lem brar - breve retom ada do C apítulo 1 Propostas de atividades CA PÍTU LO 2 As três form as de redação: descrição, narração e dissertação 2.1 Descrição 2.2 Narração 2.3 Dissertação Para lem brar - breve retom ada do C apítulo 2 Propostas de atividades CA PÍTU LO 3 O discurso jornalístico 3.1 Dicas textuais - clareza e força expressiva 3.2 Form as narrativas e argumentativas em jornalism o impresso 3.3 Suíte, perfil e entrevista 3.4 O bjetividade e subjetividade no texto jornalístico 3.5 Estilo e recursos de linguagem

3.6 Jornalism o e literatura Para lem brar - breve retom ada do C apítulo 3 Propostas de atividades CAPÍTULO 4 Ler e escrever: as duas faces de um bom texto 4.1 Na trilha da literatura: algumas sugestões de leitura Para lem brar - breve retom ada do C apítulo 4 GLOSSÁRIO REFERÊNCIAS ANEXO A poio gramatical A cordo ortográfico - o que mudou

TEXTO E COMUNICAÇÃO — C A P IT U L O

1

C o m o ê que começa em você a criação, p o r uma palavra, uma ideia? E sempre deliberado o seu ato criador? Ou você de repente se vê escrevendo? Comigo é uma mistura. E claro que tenho o ato deliberador, mas precedido p o r uma coisa qualquer que não ê de modo algum deliberada (...)

Para mim a arte é uma busca (...)

O que importa realmente é estar diante do papel em branco à espera das palavras que exprimam. (Clarice Lispector, "Entrevistas ”)

OBJETIVOS___________________________________________________________ A presentar os com ponentes do processo de comunicação. A presentar as seis funções da com unicação: definições e exemplos. Definir coerência e coesão textuais e apresentar os principais m ecanism os coesivos do texto. A presentar as principais variações de linguagem, em língua portuguesa. A presentar os conceitos de denotação e conotação.

Escrevem os por vários m otivos, alguns previam ente definidos, planejados, outros que se constroem no m om ento mesm o da escrita; em outras ocasiões, temos, ainda, a sensação de que o texto vai se construindo quase sem sujeito, com o se o texto nos escrevesse (e não o contrário), num ato surpreendente de pertencim ento à linguagem que nos antecede. A relação com a escrita tam bém se dá de forma diferencial para cada falante da língua: para alguns, escrever pode ser uma verdadeira batalha, um estorvo; para outros, um penoso m as instigante desafio a ser ultrapassado; e há tam bém (acredite) aqueles que fazem da escrita um exercício constante de experim entação e diálogo. De uma maneira ou de outra, é impossível ficar alheio à linguagem. Q uando escrevem os, exercem os continuam ente nossa capacidade de escolher e de com binar estruturas; delineam os, a partir daí, identidade, autoria, em m eio a tantos “outros'' textos, a tantos “outros” escritores, a tantas outras escolhas e com binações, a tantas outras possibilidades. Assim, escrever é, de certa forma, assum ir a palavra para si, deixar m arcar-se pela letra, essa tatuagem invisível que nos projeta, que nos define e que nos faz falantes, com unicadores natos. A relação texto e com unicação é, nessa perspectiva, a de um elo indissociável entre um “eu” e um “outro” , uma vez que a escrita é sempre im pulsionada por um projeto de partilha, de com unhão, ou, ainda, por um desejo de “tornar com um ” as significações que apreendem os do mundo. D essa maneira, todo texto deve ser pensado com o um ato de com unicação, em que significações se m ovim entam e são capturadas por olhares m últiplos, dada a sua ampla capacidade de reconstrução e, por que não, de recriação. A cada texto que lemos e a cada texto que escrevem os, reinventam os a linguagem e, com o somos feitos de sentidos, de signos, nos reinventam os junto. Por ser ato de comunicar, a escrita não se faz, com o muitas vezes pensam os, apenas com um “eu” que escreve, uma língua “de base” e um papel (ou uma tela) em branco. Há outros elem entos envolvidos nesse processo, dos quais nem sempre nos dam os conta: com o dissem os anteriorm ente, o “eu” não é uno e desdobra-se (dialoga) em um “outro” ; além disso, a língua tam bém perm ite “arranjos” variados e conseguim os efeitos diversos a partir da forma que imprimimos ao texto; o m eio de com unicação utilizado influencia, ainda (e por vezes determ ina), as significações do texto (um “m esm o” texto visualizado em uma tela de com putador e em uma página m anuscrita de papel será de fato o “m esm o” texto?). Enfim, quando escrevem os, quando nos expressam os, colocam os em funcionam ento uma rede de com petências e de peças (somos uma delas) que ora se encaixam , ora necessitam de ajustes, em um com plexo sistema de construção e reconstrução de sentidos. Tradicionalm ente,1 o esquem a básico da com unicação fornece os seguintes elem entos com o constituintes:-

Emissor (ou destinador): fonte em issora da mensagem; pode ser um indivíduo ou um grupo (um repórter, uma em issora de televisão etc.). I Receptor (ou destinatário): fonte receptora da mensagem; pode ser tam bém um indivíduo ou um grupo (o professor a quem se entrega um trabalho acadêm ico, o público-alvo de determ inado veículo de com unicação etc.).

M ensagem : é o próprio objeto da com unicação; considera-se aqui seu aspecto formal: título, tipo de texto (por exem plo: uma notícia, um anúncio publicitário etc.). Pergunta-se: que texto é esse? A Canal (veículo ou contato): é o meio, a via de circulação da m ensagem (voz, escrita, rádio, televisão, Internet etc.). I Código : é o conjunto ordenado de signos e as regras de com binação desses signos (os idiomas, o código de surdos-m udos, o código gestual etc.).

I Referente (ou contexto): situação, objeto ou assunto aos quais a m ensagem se refere (por exem plo, a lei seca, a violência nas grandes cidades, a história do rádio no B rasil...). Pergunta-se: do que trata esse texto? Tais elem entos devem ser pensados com o com ponentes discursivos que se rearranjam a cada ato de com unicação. A ssim , cada com unicação marca-se pela singularidade: não se pode repetir um mesm o processo de com unicação (acontece apenas uma vez). Além disso, há que se considerar que em issor e receptor trocam de lugar constantemente. E o que garante o retorno (feedback/reaYimenXaçào do processo) e o que assinala a ocorrência de decodificação (com preensão do código). (Veja a Figura 1.1.) FIGURA 1.1 |------O alo dc comunicar

Código Relerente Mensagem Canal «—

No entanto, é preciso lembrar que todo processo de com unicação está sujeito a problem as, ou seja, nem sem pre acontece a com preensão desejada; denom inam os esses “problem as” de ruídos (tudo o que perturba a transm issão da m ensagem ), que podem ser os mais diversos: falta de referente (contexto) para pleno entendim ento da m ensagem , não com partilham ento ou o não dom ínio do código, problem as técnicos no canal etc. Para com bater esses ruídos, a linguagem dispõe de m ecanism os de repetição denom inados redundância. E redundante todo dado que não traz nenhum a inform ação nova à m ensagem . N o entanto, a redundância não deve ser considerada um fator negativo na com unicação, pois avalia-se que as línguas em geral apresentam cerca de 50% de redundância, para que a m ensagem seja entendida com clareza. A simples estratégia de “explicar de novo com outras palavras” o que já foi registrado anteriorm ente no texto configura-se um método eficaz de evitar desentendim entos acerca da informação transm itida. Por exemplo: “O Brasil é um país profundam ente desigual quanto à distribuição de renda; em outras palavras , aqui a m aior parte da população vive com baixa renda e apenas uma pequena parcela detém grande parte da riqueza”. Para ler e analisar - elementos que constituem o processo de comunicação: Jornalistas e sua formação (Por Eugênio Bucci - artigo publicado no jornal “O Estado de S. Paulo" em 25 de novembro de 2008) Na quarta-feira da semana passada houve um ato público na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Está no site do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo: “Mais de duzentas pessoas, entre dirigentes sindicais, profissionais, professores e estudantes de jornalismo de todo o país, participaram hoje (17/9), em Brasília, de um ato público em defesa da formação específica em jornalismo e da regulamentação profissional da categoria". Segundo a nota, a intenção dos manifestantes foi “sensibilizar os ministros (do Supremo Tribunal Federal) que devem julgar, ainda este ano, o recurso extraordinário (RE/511961), ação que questiona a constitucionalidade da legislação que regulamenta a profissão no Brasil”.

(...)

Ainda sobre exigência do diploma, é bom que se saiba que, na prática, ela ajudou a elevar o padrão da profissão no Brasil. Pesa contra ela, no entanto, o fato de ter sido imposta pela ditadura militar (o decreto-lei é de 1969) e, agora, surge com força essa alegação de que ela agride princípios constitucionais, dúvida que só pode ser dirimida pelo Supremo. De todo modo, não é aí, nessa formalidade abraçada por interesses corporativos, que se encontra o âmago do debate. O que deve falar mais alto, nessa matéria, não é a defesa sindical de uma categoria, mas o direito à informação, de que todo cidadão é titular. Essa é a pedra de toque. O que se deve buscar não é o conforto dos que hoje estão empregados, mas o melhor sistema para assegurar qualidade à mediação do debate público. Por isso é que se pode afirmar: o ponto dramático repousa sobre a qualidade das faculdades. Onde elas são boas, seus formandos têm lugar no mercado. Mesmo em países que não dispõem de nenhuma obrigatoriedade de diploma, como os Estados Unidos, a Alemanha, a França e outros, nota-se a preferência dos empregadores por jovens que tenham cursado uma boa escola de Jornalismo. (...) No trecho do artigo reproduzido o em issor é o autor, Eugênio Bucci, e os receptores são os leitores do jornal. O canal de transm issão é o jornal “O Estado de S. Paulo” (considerar, ainda, a escrita im pressa) e o código utilizado é a língua portuguesa. Quanto à m ensagem , trata-se do artigo (formato textual) intitulado “Jornalistas e sua form ação” . Seu referente é a discussão relativa à obrigatoriedade do diplom a de jornalista no Brasil, vista do ponto de vista educacional, sublinhando a necessidade de uma boa form ação para aqueles que pretendem atuar nessa área. E im portante salientar que esses seis elem entos constitutivos do processo de com unicação existem a um a só vez; a “ segm entação”, contudo, responde à necessidade de planejam ento que deve acom panhar o texto. A ssim , é prioritário que, antes de escrever, essas questões estejam respondidas: Q uem é esse “eu” que escreve? Q ual o papel (ou papéis) que exerço na produção do texto? A luno? Professor? Jornalista? Funcionário? Amigo? Para quem eu escrevo? Qual é o perfil desse “outro” a quem se destina a escrita? Eu escrevo sobre o quê? Q ual assunto ou fato o texto vai abordar? Tenho conhecim ento suficiente sobre isso? Qual o m elhor veículo ou canal a ser utilizado para a “transm issão” da m ensagem ? Devo usar a Internet, o telefone? Qual o form ato adequado de texto? Q ue texto será esse? U m artigo? Uma carta? U m e-mail? I E qual o código a ser utilizado? Devo usar a língua portuguesa? Em um registro mais coloquial, mais inform al ou mais form al? E interessante utilizar outros códigos, com o o fotográfico e o gestual? Q uanto à leitura do texto, por outro lado, deve-se ser capaz de restabelecer (apreender) sua unidade a partir de uma base interpretativa, o que significa refazer seus laços, “escutar” o que as palavras dizem , interagir, criticar. Isso implica desconfiar de tudo o que o “esquem a” possa lhe fornecer, ir além dele: quem “assina” o texto é o nom e próprio que está registrado ou é, por exem plo, a linha editorial assum ida pelo veículo em que o texto foi publicado? Existe em issor sem receptor e vice-versa? N ão seriam em issor e receptor a m esm a entidade discursiva a existir apenas no texto e nunca fora dele? Há com o desvencilhar canal de mensagem? M ensagem e referente constituem -se separadam ente? São questionam entos com o esses que servem de “passagem ” para as teorias que colocam o próprio texto com o única materialidade possível; a partir dessa perspectiva, dada pelo cam po conhecido com o “ciências da linguagem ”,3 a com unicação é sinônim o de linguagem, uma vez que a diferença e a interação estão no fundam ento do hum ano e este só se constitui com o “ser de linguagem” . A ssim , o ato de escrever é, antes de tudo, uma prática de nossa

construção com o sujeitos, com o sujeitos em um mundo em que a palavra “com unicação” ganha cada vez mais sinônim os, de troca, de tecnologia, de conhecim ento, de informação. O cam po que aí se abre é extrem am ente vasto e plural e, igualmente, perm ite abordagens várias e instigantes.

LINGUAGEM, LÍNGUA E FALA A tribui-se ao linguista genebrino Ferdinand de Saussure o papel de fundador da linguística geral, ciência considerada m atriz para os modelos teóricos que se desenvolveram no século X X em torno das ideias do “ hum ano”, de sua constituição e de sua com unicação. Tal marco se dá com a publicação, em 1916, do livro “ Curso de linguística geral”, realizado por Charles Bally e A lbert Sechehaye, alunos de Saussure que, a partir de anotações de aula, organizaram essa importante obra, apresentando as bases da ciência linguística. Três conceitos-chave podem ser observados com o introdução ao estudo da produção saussuriana: linguagem, língua e fala. Por linguagem, entende-se a capacidade inata do ser humano em significar, em perceber o mundo, o outro, com o universos de significação. Implica com unicação e existência, uma vez que é a linguagem que nos constitui humanos, seres significantes. Já o conceito de língua refere-se a um sistem a ordenado de signos, de caracterização social e convencional, enquanto a fala. na perspectiva saussuriana, rem ete à realização da língua pelo falante e m anifesta-se, assim, com o um produto individual, característico de ocorrências específicas de comunicação.

1.1 D IF E R E N T E S IN T E N Ç Õ E S DE COiM UNICAR: AS FU N Ç Õ E S DA L IN G U A G E M Q uando nos com unicam os, diferentes “ intenções” guiam nossas expressões: em alguns mom entos, querem os apenas nos expressar; em outros, precisam os explicar algum a coisa a alguém ; em outras ocasiões, querem os convencer o outro a aceitar o que dizemos; em outras ainda, querem os apenas m anter contato. São várias as funções atribuídas ao ato de com unicar e refletir sobre qual função determ inado texto cumpre, qual o seu papel e por que é escrito pode ser uma importante estratégia tanto para a leitura com o para a redação. A partir dos seis elem entos participantes do processo de com unicação, o linguista russo Roman Jakobson,4 pensando na linguagem poética como m odalidade específica da linguagem verbal, estabeleceu estudos sobre a com unicação vinculando a cada um desses elem entos uma função, uma finalidade ordenadora. Assim, quando o ato com unicacional está voltado ao emissor, por exem plo, a m ensagem m arca-se por sua presença, seja como opinião ou com o emoção. De outro modo, se é o receptor o foco, a m ensagem m olda-se em função desse “outro” , cham ando-o, persuadindo-o. D essa forma, o funcionam ento e a estrutura verbal de uma m ensagem dependem da função predom inante em cada com unicação. Q uando o destaque é o emissor, a função predom inante é a em otiva ou expressiva; quando o destaque é o receptor, é a função conativa ou apelativa; no caso do canal, a função é a fática; quando o foco é o referente, temos a função referencial; quando o destaque é o código, há a função m etalinguística; e, por fim, quando o foco está na própria m ensagem , ocorre a função poética. (Veja a Figura 1.2.)

FIGURA 1.2 |------ Funções de linguagem -------------------------- ►

X \ \ EMOTIVA Emissor

1 / /

METALINGUÍSTICA Código REFERENCIAL Referente POÉTICA Mensagem

/ i

CONATIVA Receptor

\

FÁTICA Canal

1Função emotiva ou expressiva: foco no emissor; 1Função conativa ou apelativa: foco no receptor; 1Função fática: foco no canal; I Função referencial: foco no referente (ou contexto); I Função metalinguística: foco no código; I Função poética: foco na mensagem. (1) Função em otiva ou expressiva - é centrada no em issor (rem etente ou com unicador) da m ensagem . Exprime a atitude e o sentim ento do emissor perante o que está sendo com unicado e revela sua personalidade. E m arcada, frequentemente, pelo em prego da prim eira pessoa do singular “ eu” e dos possessivos “meu” , “m inha”, m as pode tam bém m arcar-se em terceira pessoa, quando o em issor registra, no texto, sua opinião, seu julgam ento, sua crítica. Exemplo: Talvez o último desejo (Por Rachel de Queiroz - trecho extraído do livro “ Um alpendre, uma rede, um açude: 100 crônicas escolhidas”) Pergunta-me com muita seriedade uma moça jornalista qual é o meu maior desejo para o ano de 1950. E a resposta natural é dizer-lhe que desejo muita paz, prosperidade pública e particular para todos, saúde e dinheiro aqui em casa. Que mais há para dizer? Mas a verdade, a verdade verdadeira que eu falar nào posso, aquilo que representa o real desejo do meu coração, seria abrir os braços para o mundo, olhar para ele bem de frente e lhe dizer na cara: Te dana! Sim te dana, mundo velho. Ao planeta com todos os seus homens e bichos, ao continente, ao país, ao Estado, à cidade, à população, aos parentes, amigos e conhecidos: danem-se! Danem-se que eu nào ligo, vou pra longe me esquecer de tudo, vou a Pasárgada ou a qualquer outro lugar, voume embora, mudo de nome e paradeiro, quero ver quem é que me acha.

(...)

Me deitar numa rede branca armada debaixo da jaqueira, ficar balançando devagar para espantar o calor, roer castanha-de-caju confeitada sem receio de engordar, e ouvir na vitrolinha portátil todos os discos de Noel Rosa, com Araci e Marília Batista. Depois abrir sobre o rosto o último romance policial de Agatha Christie e dormir docemente ao mormaço. (2) Função conativa ou apelativa - tem com o foco o receptor (ou destinatário). O rienta-se pelo “outro”, a quem o texto se dirige, pelo “tu” . É expressa, principalm ente, pelo uso do vocativo e do imperativo; e procura, dessa forma, atingir o receptor da m ensagem , convencê-lo a respeito daquilo que está sendo transm itido. E a função típica dos discursos persuasivos, com o o publicitário e o político. E com um , tam bém , em textos institucionais, que solicitam ação por parte do leitor. Exemplo: Por que contribuir? (Trecho extraído do site Doutores da Alegria - disponível em: ) Ao colaborar com os Doutores da Alegria, você ou sua empresa tem a oportunidade de se tornar corresponsável pelo sorriso de milhares de crianças. A gente sabe que um sorriso nào tem preço, mas, com a sua contribuição, podemos ampliar a quantidade de visitas a crianças hospitalizadas. (...) Convidamos você a participar de um projeto social reconhecido no terceiro setor, que em 2008 ultrapassou a marca de meio milhão de visitas. Contribua e dissemine a alegria. (3) Função referencial - tam bém denom inada denotativa. Tem com o ênfase o referente (ou o contexto) e m arca-se por uma abordagem objetiva, procurando apagar os sinais do em issor e do receptor no texto. Desse modo, valoriza a inform ação que se pretende m ais impessoal, sem utilização de estratégias explícitas de persuasão ou de opinativos; o texto, assim, m antém -se na terceira pessoa do verbo. O foco é o objeto ou o contexto a que a com unicação se refere. O discurso jornalístico, o discurso científico e as redações técnicas nas m ais diversas áreas apresentam essa função com o predominante. Exemplo: Governo do Amazonas apresenta plano de prevenção ao desmatamento (Por Amanda Mota, repórter da Agência Brasil - notícia publicada no site da Agência Brasil, 5 de novembro de 2008) Manaus - O governo do Amazonas apresentou hoje (5), em Manaus, o Plano Estadual de Prevenção e Combate ao Desmatamento. Criado para promover ações de preservação das áreas de floresta no estado, o plano foi divulgado durante a abertura da 1- Conferência Latino-Americana de Mudanças Climáticas e Serviços Ambientais e será encaminhado ao ministro do Meio Ambiente, Carlos Mine. Entre as ações propostas estão a valorização dos serviços ambientais e florestais, a implementação de projetos de energias limpas e o fortalecimento da gestão ambiental. A intenção é que o plano possa contar com recursos do Fundo Amazônia, criado pelo governo federal no mês de agosto para investir na redução de desmatamento da Amazônia. (...)

A 1- Conferência Latino-Americana de Mudanças Climáticas e Serviços Ambientais será realizada até sexta-feira (7) e é promovida pela Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do estado. De acordo com a secretária Nádia Ferreira, a conferência vai garantir a ampliação das discussões relacionadas ao tema e também viabilizar a criação do Fórum Amazonense de Mudanças Climáticas.

(4) Função fática - ênfase no canal (meio ou contato). O objetivo principal, nesse caso, é iniciar ou m anter a com unicação; privilegiar o próprio contato. E a função típica dos cum prim entos: “oi, tudo bem ?”, “bom dia” , ou de m om entos de “ manutenção” de diálogo: “né”, “tá”, “entendeu?”, “sa b e ...” . N esse caso, o mais im portante é o vínculo, é a própria com unicação em sua função social, e não o que se diz, uma vez que nos trechos m arcados por essa função, m uitas vezes, percebe-se apenas o “ ruído”, o som das palavras, a troca, em detrim ento a um silêncio que é, para muitos, incômodo ou solitário dem ais diante de sua condição de seres “ falantes” (basta lembrarmos das conhecidas “conversas de elevador”, quando se fala para “ser educado” , para “ rom per o silêncio” , o que dá origem a diálogos m uito rápidos a respeito das condições do tempo ou do trânsito, por exemplo). N o texto a seguir, o cronista M ário Prata ilustra a intenção fática com uma série de ocorrências observadas na com unicação entre as pessoas. Exemplo: Puxando conversa (Por Mário Prata - crônica publicada no jornal “O Estado de S. Paulo”, 28 de outubro 1998) Já notou como brasileiro gosta de puxar conversa? Em qualquer lugar, a qualquer hora. Tá lá uma pessoa quieta no seu lugar, logo vem o brasileiro tentando puxar conversa. O brasileiro nào consegue ficar só na dele. Quer ficar na do outro ou outra, também. (...)

Mas a gente gosta de puxar um papo. E o mais doido é que o outro ou a outra (em sendo brasileiro) sempre entra nesse nosso assédio amigável. E o brasileiro já desenvolveu assuntos para todas as situações. No táxi, por exemplo, é moleza: “Frio, hein?” Basta isso para que o taxista fale duas horas. Sem parar. Ou: “Trânsito, hein?” No spa, basta a sucinta pergunta: “Quantos quilos, já?”, para que a gorda e risonha amizade seja logo consolidada. Na fila do banco, não precisa nem falar. Basta fazer um ar de tédio, de saco cheio, balançar um pouco a cabeça que a conversa já foi puxada. Se nào der certo, pode tentar um “já notou que a fila da gente nunca anda?” No campo de futebol, balance a cabeça e diga: “Esse cara é burro!” E pronto. Concordando ou discordando, o torcedor ao lado já é seu íntimo. No bar, para a garota do lado: “Já notou que todo garçom é surdo?” Na sala de espera da maternidade: “E o primeiro?” No cartório, com aquele papelzinho numerado na mão: “Eu nào acredito!” Na Internet: “Tem alguém aí?” No ponto de ônibus: “Demorar nào é nada; o pior é que vem cheio”. (...)

No elevador, o tempo é curto e o começo de papo nào deve ir além do calor que está lá fora. Nunca pergunte, por exemplo, sobre política ou religião. Aliás, nào existe nada pior do que a religião para puxar conversa. (...) No aviào: “Mora lá ou aqui?" (...)

Me lembra também o jovem do romance Encontro marcado, do Fernando Sabino, parando uma moçoila na rua:

- Sozinha? - Não. Com Deus. E ainda aquele bêbado que entrou num velório e perguntou para um desconhecido: - Morreu do quê? - Suicídio. - Tiro? - Veneno. - E bom, também! (5) Função m etalinguística - orienta-se pelo código. O corre quando há utilização do código para explicar o próprio código, quando a linguagem se volta a si m esm a (a m etalinguagem ) - a poesia que se refere à poesia; a palavra que explica a palavra (dicionário); o film e que trata de produção cinem atográfica; a fotografia que apresenta o próprio ato de fotografar; a canção que se refere à expressão musical. Veja: M úsica para ouvir no trabalho/M úsica para jo g a r baralho/M úsica para arrastar corrente/M úsica para subir serpente/M úsica para girar bam bolê/M úsica para querer m orrer/M úsica para escutar no cam po/M úsica para baixar o santo/M úsica para ouvir/M úsica para ouvir/M úsica para ouvir. (“M úsica para ouvir” , com posição de A rnaldo Antunes) No meio jornalístico, a revista “ Im prensa”, que aborda as questões relativas à produção m idiática no Brasil, tam bém é um exem plo de função m etalinguística (a im prensa falando dela m esm a). Pode-se considerar, assim, a função m etalinguística em um sistema de autorreferência (o código utilizado na m ensagem refere-se a si mesmo): textos em língua portuguesa que tratam de seus próprios signos ou de suas “ regras de com binação” (dicionários, livros de apoio gram atical-or-tográfico são, ainda, exem plos de predom ínio da função metalinguística). Exemplo: Patrimônio & matrimônio (Por Hélio Consoiaro - publicado no site Por trás das letras - disponível em: Ovww.portrasdaslerras.com.br> Na redação da “Folha da Região”, repórteres vieram me perguntar por que Páscoa se escreve com letras maiuscula e “carnaval” com minúscula, conforme determina o vocabulário ortográfico oficial. Como ele foi feito em 1943, havia ainda a predominância da Igreja Católica, que não havia passado pela reforma do Vaticano 2-, portanto, bem conservadora. Como “carnaval” é uma festa pagã, do capeta, letra minúscula. O mesmo acontece com Deus e “diabo”. Se as palavras representam dois polos de uma antítese, ambas deveriam ser grafadas com letra maiuscula, mas não é isso que determina o vocabulário oficial. A palavra “matrimônio” vem da raiz “mater”, que significa mãe. Já “patrimônio” tem origem em “pater" (pai). Pela origem dessas duas palavras, pode-se ler a história do relacionamento homem & mulher em nossa sociedade. (...) (6) Função poética - tem com o foco a própria mensagem. Para Jakobson, prom ove “o caráter palpável dos signos” . Aqui, o ritm o, a sonoridade e a estrutura da m ensagem são mais proem inentes do que aquilo que a m ensagem traz com o referente, com o informação: Este é tem po de partido.

Tempo de hom ens partidos (...) Este é tem po de divisas, Tempo de gente cortada. De m ãos viajando sem braços. Obscenos gestos avulsos. (Carlos Drum m ond de Andrade, “A ntologia poética") A pesar de ser dom inante na poesia, não se restringe a ela; pode ser observada tam bém em textos publicitários ou em textos m arcadam ente voltados ao estilo, com o as crônicas, por exemplo. Exemplo: Ai de ti, Copacabana! (Por Rubem Braga - trecho extraído do livro “Ai de ti, Copacabana”) 1. Ai de ti, Copacabana, porque eu já fiz o sinal bem claro de que é chegada a véspera de teu dia, e tu não viste; porém minha voz te abalará até as entranhas. 2. Ai de ti, Copacabana, porque a ti chamaram Princesa do Mar, e cingiram tua fronte com uma coroa de mentiras; e deste risadas ébrias e vãs no seio da noite. 3. Já movi o mar de uma parte e de outra parte, e suas ondas tomaram o Leme e o Arpoador, e tu não viste este sinal; estás perdida e cega no meio de tuas iniquidades e de tua malícia. 4. Sem Leme, quem te governará? Foste iníqua perante o oceano, e o oceano mandará sobre ti a multidão de suas ondas. 5. Grandes são teus edifícios de cimento, e eles se postam diante do mar qual alta muralha desafiando o mar; mas eles se abaterão. 6. E os escuros peixes nadarão nas tuas ruas e a vasa fétida das marés cobrirá tua face; e o setentrião lançará as ondas sobre ti num referver de espumas qual um bando de carneiros em pânico, até morder a aba de teus morros; e todas as muralhas ruirão. (...)

22. Pinta-te qual mulher pública e coloca todas as tuas joias, e aviva o verniz de tuas unhas e canta a tua última canção pecaminosa, pois em verdade é tarde para a prece; e que estremeça o teu corpo fino e cheio de máculas, desde o Edifício Olinda até a sede dos Marimbás porque eis que sobre ele vai a minha fúria, e o destruirá. Canta a tua última canção, Copacabana! A respeito das funções da linguagem, é im portante ressaltar que, em dada m ensagem , não existe apenas uma função, mas há uma considerada predom inante (ou principal), que dialoga com outras (secundárias) na com posição do texto. E a função que ocupa a posição de dom inante que definirá o perfil da m ensagem , seu objetivo e sua caracterização. De acordo com Jakobson:5 Embora distingamos seis aspectos básicos de linguagem, dificilmente lograríamos, contudo, encontrar mensagens verbais que preenchessem uma única função. A diversidade reside não no monopólio de alguma dessas diversas funções, mas numa diferente ordem hierárquica de funções. A estrutura verbal de uma mensagem depende basicamente da função predominante. Observe, no trecho a seguir, qual é a função predom inante e se podemos perceber outras funções, secundárias:

A torre de marfim e o risco de macaquear o evolucionismo (Por Mauricio Tuffani - blog Laudas críticas - disponível em: ) O recente confronto entre criacionistas e evolucionistas no Brasil está rendendo nos meios de comunicação muitas manifestações que pouco colaboram para um debate de ideias. Mas também têm acontecido algumas interessantes e pedagógicas contraposições de argumentos. Na praticamente absoluta falta de iniciativas acadêmicas para um embate entre os dois lados dessa polêmica, a imprensa, os blogs e outros espaços na Internet se tornaram o meio viabilizador para ele. Ninguém espera que essas discussões cheguem a um consenso. Mas, independentemente da posição de cada um nessa polêmica, para aqueles que se esforçam em manter um mínimo de honestidade intelectual, essa é uma oportunidade para aprender o que é e o que não é válido em questões que envolvem ciência e religião. Além disso, e muito mais importante, é o caso de se considerar o risco de que o persistente afastamento da comunidade científica desse debate público possa levar a reveses maiores do evolucionismo em um período de ascensão de muitas crenças religiosas. Esse confronto teve início na primeira metade do século XX nos Estados Unidos e teve vários episódios posteriores. Foi reacendido em 30/11 pelo jornalista Marcelo Leite em seu blog Ciência em Dia e sua coluna homônima da "Folha de S. Paulo”, com a notícia de que o Colégio Presbiteriano Mackenzie, com sedes em São Paulo, Barueri e Brasília, passou a ensinar criacionismo em suas aulas de ciências. (...)

No texto anterior, a função que predom ina é a em otiva ou expressiva, pois há m arcas opinativas que revelam a postura do em issor diante do assunto abordado - no caso, o debate entre criacionistas e evolucionistas e sua repercussão na imprensa: “m uitas m anifestações que pouco colaboram para um debate de ideias”, “ na praticam ente absoluta falta de iniciativas acadêm icas”, “e, m uito m ais importante, é o caso de se considerar o risco de que o persistente afastam ento da com unidade científica desse debate público possa levar a reveses m aiores do evolucionism o em um período de ascensão de m uitas crenças religiosas”. Com o função secundária, pode-se identificar a função referencial, na medida em que o autor apresenta, não só no trecho reproduzido, m as no decorrer de todo o texto, dados sobre esse debate na im prensa brasileira, a partir da notícia de que o Colégio M ackenzie teria incluído o ensino do criacionism o em suas aulas de ciências. Assim, com o percebemos, é com um encontrarm os mais de uma função em uma m ensagem , mas é a função que ocupa a posição dom inante que determ inará o perfil do texto e organizará, a partir dela, o diálogo com as dem ais funções presentes. A identificação da função de linguagem predom inante no texto é um dado im portante a ser considerado no trabalho interpretativo.

1.2 L Ó G IC A E L E G IB IL ID A D E : C O E R Ê N C IA E C O E SÃ O T EX TU A IS Texto, do latim textu , tecido. Produto e, ao m esm o tempo, o processo de sua produção, de sua feitura, de seu entrelaçamento. Um texto deve ser pensado, então, com o uma teia, fios conectados que form am um todo. Dizemos que é essa noção de totalidade, de sentido, que constitui todo e qualquer texto; sem isso, o texto, propriam ente dito, não existe. A ssim , afirm ações do tipo “este texto não tem sentido” já sepultam qualquer possibilidade de existência do texto - texto que não traz sentido não é texto; é, com o alguns professores sentenciam , apenas “ um am ontoado de frases” . A coerência é o conceito usado para m arcar essa noção de todo; desse modo, ela é a unidade de sentido de um texto. O texto coerente é aquele que prom ove significação, que não traz falhas lógicas, de planejam ento e construção, que não coloca em pauta em um mesm o “todo” ideias contraditórias, de

impossível convivência, ou, ainda, é o texto que apresenta relação entre as ideias expostas; a coerência opera, desse modo, na base cognitiva do texto. Por exem plo, leia o enunciado a seguir e verifique se “faz sentido” : Há muitos problemas no Brasil: desigualdade social, escassos recursos educacionais, violência, corrupção e há motivos de sobra que exaltam o orgulho de ser brasileiro, como nossas paisagens, nossa música, nossa riqueza cultural. Qual é o problem a desta sequência? Fica claro que aqui temos dois “olhares” diferentes para o país, olhares que não se relacionam nos enunciados apresentados, uma vez que não propõem unidade da forma que foram expostos. Por outro lado, tais visões poderiam ser relacionadas se o texto apresentasse uma base comum: “O Brasil é um país de contrastes. Problemas crônicos da sociedade brasileira convivem com a ideia de uma nação culturalm ente rica e recep tiv a...” . Para a redação de um texto coerente, a prim eira lição a se observar é seu planejam ento, sua existência em “pensam ento” . O thon Garcia, já no subtítulo do livro “C om unicação em prosa moderna: aprenda a escrever aprendendo a pensar” ,0 adverte para a im portância do exercício de pensar o texto antes de escrevê-lo. Desse modo, buscar as ideias pertinentes, relacioná-las de forma clara e eficaz, definir estratégias de com posição, de tudo isso dependerá a capacidade de significação que um texto traz; se o pensam ento não se organiza, terem os com o resultado bastante provável um texto também desorganizado, confuso, difícil de ser com partilhado. N esse trabalho de construção de sentido no texto, a coesão tem papel fundamental. São os coesivos que prom ovem os entrelaçam entos responsáveis, na superfície do texto, pela coerência, ligando palavras e ideias. Para Platão e Fiorin, coesão é “a ligação, a relação, a conexão entre as palavras, expressões ou frases do texto” . O bserve o exem plo a seguir: A palavra filosofia é grega. E composta por duas outras: philo e sophia. Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer dizer sabedoria e dela vem a palavra sophos, sábio. Assim, filosofia indica um estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita. (Marilena Chaui, “Convite à filosofia'') As palavras destacadas no trecho evidenciam as relações de sentido entre os enunciados: o verbo “é” recupera, por elipse (apagam ento) “ a palavra filosofia” expressa anteriorm ente; “duas outras” rem ete a “philo e sophia ”, que aparecem posteriorm ente; “philo” e “sophia ” reiteram as mesm as palavras já enunciadas antes (m as não são simples repetições, uma vez que retom am term os que “carregam ” a significação para outros lugares do texto); “dela” recupera “ sophia ”; “assim ” marca uma relação conclusiva parcial ao retom ar o trecho anterior; “ isto é” abre para a redefinição/explicação do termo anterior “am a” ; já as três ocorrências de “o ” utilizadas na últim a linha retom am “o conhecim ento” . Tais palavras ou expressões são cham adas de conectivos, elem entos de coesão ou articuladores. São vários os m ecanism os coesivos que prom ovem as relações textuais, suas costuras, seus entrelaçam entos. K och,8 a partir de considerações acerca de obras de autores que se tornaram referência para o estudo dos recursos coesivos, propõe a existência de duas grandes modalidades para se obter a coesão: a referenciação (ou a rem issão) e a sequenciação. A coesão referencial ou rem issiva acontece quando um com ponente do texto rem ete a outro elem ento, seu referente. Esse “encam inham ento” pode acontecer por antecipação: (a) Isto é tudo: M ariana estava triste - em que “tudo” antecipa a frase que vem depois; ou por retom ada: (b) O presidente da em presa assinou hoje o acordo salarial com os em pregados. Ele garantiu que cum prirá as determ inações previstas no docum ento - em que o pronome

pessoal reto “ele" retom a “o presidente da em presa". No prim eiro caso, quando há antecipação, temos catáfora ; no segundo, quando há retomada, temos anáfora :

A Catáfora - antecipação do referente: “Tudo foi isso: tive m edo!" (João Guim arães Rosa, “G rande sertão: veredas") Anáfora - retom ada do referente: “ De repente pareceu mesm o a M artim que até agora ele andara em cam inhos superpostos. E que sua verdadeira e invisível jornada se fizera na realidade em baixo do cam inho que ele julgara palmilhar. (Clarice Lispector, “A m açã no escuro") A coesão referencial é realizada por m eio de form as gram aticais e de form as lexicais. Ao prim eiro grupo (form as gram aticais), correspondem : os pronomes pessoais de 3- pessoa (ele/ela; o/a; lhe); os pronomes dem onstrativos (este/isto, esse/isso, aquele/aquilo, tal); os pronomes possessivos (meu, teu, seu, nosso, vosso, dele/deles); os pronom es relativos (que, o qual, cujo); certos advérbios e locuções adverbiais (lá, aqui, ali, nesse momento); artigos definidos (o, a) e indefinidos (um , uma); num erais (cardinais e ordinais); elipse (quando a retom ada é feita por apagam ento do referente - “A funcionária saiu m ais cedo./Disse que iria ao m édico."). O bserve alguns exemplos: a) As crianças passaram o final de sem ana na casa da avó. Lá, elas brincaram muito. b) Eram muitos os cachorros recolhidos pela prefeitura. O de Joana, no entanto, destacava-se pela coleira de prata. c) O visitante registrou sua reclamação na secretaria do parque. Afirmou que a funcionária não tinha a inform ação correta sobre o valor do ingresso. d) O atendente ainda não entregou o relatório solicitado pelo gerente, mas deve fazer isso até amanhã. Ao segundo grupo de coesão sequencial ou remissiva, o das form as lexicais, correspondem : 1 os sinônimos;

1 os nomes genéricos (ex.: coisa, pessoa, fato); 1 os hiperônimos e hipónimos - quando referente e coesivo m antêm uma relação todo-parte (hiper) ou parte-todo (hipo); ex.: felino é hiperônimo de gato, grupo que identifica, contém , gato; gato é hipônim o de felino, está contido no grupo dos felinos; I as expressões nominais definidas - quando o referente é identificado por expressões capazes de incluir significados extralinguísticos, m uitas vezes de alto teor opinativo; ex.: “Os sem -terra invadem terras, desrespeitam as leis e enfrentam a polícia. ( ...) E, no entanto, esses marchadores do atraso são popularíssim os" (“Veja", 16 de abril de 1997); I as nominalizações - quando form as predicativas são retom adas por form as nominais; ex.: Os lucros das em presas nacionais citadas no estudo caíram 2% no último trimestre. A queda tem relação direta com a crise financeira internacional, indicam especialistas. Outros exem plos de coesão referencial por form as lexicais: a) M ianm ar ainda sofre os efeitos do ciclone que atingiu o país no último dia 3. A tragédia deixou m ais de 23 mil mortos. b) O objetivo do evento é arrecadar arroz, feijão e macarrão para os desabrigados. Esses mantimentos devem ser entregues na entrada do G inásio de Esportes.

Já a sequenciação, ou coesão sequencial, estabelece relações entre segm entos do texto (parágrafos, enunciados, partes de enunciados). Apresenta-se por dois m ecanismos: a sequenciação parafrástica e a sequenciação frástica. A parafrástica ocorre quando há recorrência, ou seja, quando há reaparecim ento, reiteração, repetição. A recorrência pode ser: janela/que dá para o outro miindo/deste mundo .../u m mundo isento de rum ores” (“Poem a para uma exposição, A cor do invisível”, M ário Quintana). Já a repetição sem justificativa sem ântico-estilística deve ser evitada (ex.: O presidente chega hoje de uma viagem à África. O presidente viajou para firm ar acordos com erciais com países africanos); de estruturas - quando uma m esm a estrutura sintática se repete. Ex.: “ N ão quero am ar,/N ão quero ser am ado./N ão quero com bater,/N ão quero ser so ld ad o ./- Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples” (“ Belo, belo, Lira dos cin q u en f anos” , M anuel Bandeira); de conteúdos semânticos - quando recupera significações anteriores; recurso tam bém denom inado paráfrase (ex.: Dem ocracia significa governo do povo, ou seja, é um sistema governamental regido pela soberania popular); de tempos verbais - a m anutenção do tem po verbal fortalece a coesão do texto; as alterações devem ser feitas com base na intenção com unicacional atribuída a cada segm ento textual. A utilização de tempos verbais distintos em um mesm o segm ento pode com prom eter a coesão (ex.: A Internet é, hoje, a “fonte” de pesquisas mais utilizada pelos estudantes brasileiros; no entanto, educadores questionaram se, de fato, o acesso era sinônim o de conhecimento);

A e de recursos fonológicos - destaque para aspectos sonoros: ritm o, rima, aliteração etc. Ex.: “Ah, se já perdem os a noção da h ora/S e juntos já jogam os tudo fora/M e conta agora com o hei de partir/Se, ao ‘te ’ conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios/Rom pi com o mundo, queim ei meus navios/M e diz pra onde é que fcinda’ posso i r ” (“ Eu te am o” , Tom Jobim e C hico Buarque). A sequenciação frástica, por outro lado, realiza-se por meio da “manutenção temática” e dos “encadeam entos” . O prim eiro caso, manutenção temática, refere-se, principalm ente, ao uso de palavras pertencentes a um m esm o cam po de significação para obter, desse modo, a identificação e a progressão tem áticas por parte do leitor. Ex.: O circo estava novam ente na cidade. Palhaços, malabaristas e mágicos desfilavam pelas ruas, convidando a população a participar do espetáculo. Já os recursos responsáveis pelos “encadeam entos” têm com o função principal prom over a progressão do texto, que tanto pode acontecer com os cham ados “sequenciadores”, em especial os que definem relações tem porais (antes/depois, prim eiro/em seguida/fm alm ente) e espaciais (atrás/na frente/no meio, à esquerda/à direita), com o por m eio de conectores, que, além de ligarem trechos do texto, pontuam diferentes relações lógicas entre eles. As relações sem ânticas podem ser de diversos tipos: I oposição (mas, contudo, porém , entretanto, to d avia...);

A causa (porque, por isso, em razão disso, uma vez que, pois, visto qu e...); A condição (se, caso, contanto que, desde que, a não ser que, a m enos q u e...); A finalidade (para, a fim de, com o intuito de, com o objetivo d e ...); A conclusão (portanto, logo, então, assim, desse modo, dessa form a...);

I adição (e, tam bém , ainda, além disso, mais uma questão a ser considerada..

entre outros.

Acom panhe, a seguir, diferentes exem plos relativos à coesão sequencial frástica. Procure observar os “elos” proporcionados pelos term os ou expressões em destaque: a) Resolveu ficar até mais tarde no escritório, uma vez que o trânsito estava péssim o àquela hora. b) As novas tecnologias da inform ação trazem muitos benefícios à educação, no entanto, devem ser utilizadas com responsabilidade e crítica por parte dos educadores. c) M uitos profissionais buscam especializações, a fim de aprim orarem -se em determinado cam po de atuação. d) Caso volte a chover na região, novos deslizam entos de terra podem ocorrer. e) O jogador primeiro cum prim entou as pessoas que o esperavam no aeroporto; depois, seguiu para a sede do clube. R elação coesão/coerência Vale ressaltar que a coerência pode existir independentem ente da coesão, uma vez que esta é um dos fatores daquela, m as não é o único, tam pouco é indispensável ao sentido. Leia o texto a seguir, do escritor Ricardo Ramos, e perceba com o o sentido se estabelece; note que não há coesivos no texto. Circuito fechado 1 (Por Ricardo Ramos - publicado em “Circuito fechado". Rio de Janeiro, Record, 1978) Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Agua. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, telefone, agenda, copo com lápis, caneta, blocos de notas, espátula, pastas, caixa de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras, cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro. Da m esm a forma, o fato de o texto trazer elem entos coesivos não é garantia de coerência, pois a coerência depende de referências contextuais e cognitivas que não se situam apenas na superfície do texto. Verifique o trecho seguinte: O paciente teve alta na manhã de ontem. No entanto, esse paciente era vizinho de uma apresentadora de televisão. Além disso, o médico que o atendeu foi vencedor do prêmio Nobel.

Há, com o podem os perceber, marcas de coesão (palavras e expressões em destaque) presentes nesse trecho, mas isso não é determ inante para que exista sentido, que, com o vimos, não somente pontua conexões na superfície do texto, m as coloca em jo g o relações lógicas, relações entre as ideias presentes. Não é o que acontece aqui; dizemos, então, que não existe coerência no segm ento acima.

1.3 V A RIA ÇÕ ES DE L IN G U A G E M A língua portuguesa, assim com o qualquer idioma, existe em diversidade, ou seja, com porta variações e diferenças que a m oldam a situações e a falantes (ou grupos de falantes) específicos. Ainda que todos falem a m esm a língua no Brasil, é inegável que o português falado no Norte seja diferente do português falado no Sul, ou que o texto que escrevem os em uma situação profissional seja diferente do texto que escrevem os para um amigo, em uma situação mais informal. U m a prim eira variação pode ser percebida na expressão oral e na expressão escrita da língua. E evidente que as exigências que devem ser observadas na escrita não são as mesm as que aquelas presentes na oralidade. Na fala, há mais espontaneidade, as repetições são frequentes e há m enor preocupação com as regras gramaticais. Já a escrita exige m aior elaboração, m aior riqueza de vocabulário, para evitar as repetições, e as regras gram aticais/ortográficas devem ser obedecidas. O bserve no quadro a seguir as principais diferenças entre essas duas form as de expressão:

Oral

Escrita

Espontaneidade

Elaboração

Vocabulário mais restrito e repetições Presença de frases inacabadas M enor preocupação com as normas gramaticais

Vocabulário m aís am plo e maís preciso Frases com pletas e bem construídas O bediência as normas gram aticais-ortográficas

Existem , ainda, variações relacionadas ao uso regional do idioma. São as variações geográficas ou dialetos, que incluem não só diferenças no “modo de falar" (sotaques) de cada região, com o tam bém diferenças gram aticais e vocabulares. Por exem plo, a palavra m andioca é tam bém conhecida pelos nom es de aipim e macaxeira, dependendo do lugar do país; garoto é tam bém piá, guri, criança. Para você ter um a ideia, existem dicionários específicos que procuram contem plar as palavras ou expressões de determ inada região brasileira; só para citar alguns títulos: “ Dicionário de baianês" (de Nivaldo Lairu), “Dicionário do dialeto caipiracicabano" (de Cecílio Elias N etto), “ Dicionário de cearês" (de M arcus G adelha), entre outros. Por outro lado, a partir de um recorte sociolinguístico,9 definem -se três registros (ou níveis) de linguagem: o registro form al ou culto, o registro com um ou coloquial e o registro inform al ou popular. O registro culto representa a língua padrão escolarizada, pois implica conhecim ento gram atical-ortográfico e vocabulário rico, diversificado. E o registro propício ao discurso científico-acadêm ico e à literatura. Observe o exem plo: “A saída para o crônico estado de passividade em que se encontra grande parte da hum anidade diante de intempéries clim áticas é, indubitavelm ente, a conscientização de que todos, sem exceção, são responsáveis pela im plem entação de medidas salutares em benefício desse com plexo e m agnífico sistem a que é a vida no planeta Terra. Caso contrário, perecerem os todos na insipiência e no obscurantism o".

O registro comum ou coloquial , por sua vez, corresponde a uma variante m enos form al, mas tam bém pressupõe conhecim ento gram atical, ainda que adm ita m aior espontaneidade e graus diferentes de coloquialism o, ora aproxim ando-se mais do formal, ora aproxim ando-se do informal. E o registro utilizado pela mídia, por exem plo, que precisa atingir um público amplo e, ao mesm o tem po, adequar-se a situações específicas de com unicação. Veja: “A Secretaria de Cultura de São Paulo prom ove, a partir da próxim a segunda-feira, atividades de incentivo à leitura em todas as bibliotecas municipais da cidade. A program ação inclui espetáculos teatrais, shovvs m usicais e contação de histórias” . Por fim, o registro informal ou popular corresponde à língua não escolarizada (ou de pouca inferência norm ativa); é m ais com um na oralidade e o vocabulário apresenta-se m ais restrito. A não obediência às regras gram aticais, por exem plo quanto à concordânciac verbal e à colocação pronom inal, é com um nessa m odalidade. Leia o exemplo: “Tava todo mundo chateado. N inguém viu ela por ali. N um era possível que tantos dias se passasse sem ela voltar”.

É im portante ficar atento, tam bém , à necessidade de adequação do texto ao público-alvo, a quem se dirige. As diferenças no “ linguajar” , no jeito de se expressar, de cada faixa etária, devem ser observadas. A com panhe o trecho a seguir, de um texto voltado às crianças: Certo dia, lá nas costas da Noruega, duas crianças inventaram de nadar nas águas geladas de um lago (você sabe onde fica a Noruega? Lá é tudo gelado!). E sabe o que foi que elas encontraram por lá? Um barco caindo aos pedaços! Ei, e qual é a graça disso? (...) (Disponível em: . Acesso em: 2 dez. 2008) Podemos notar que o texto carrega nas marcas expressivas e de interatividade (interrogações e exclam ações) e apresenta proxim idade com a língua oral (“ inventaram de nadar”, “ caindo aos pedaços”, “ei”), Essas foram, sem dúvida, estratégias que o autor encontrou para se aproxim ar do público em questão.

1.4 D EN O TA Ç A O E CO N O TA Ç A O As significações das palavras podem ser expressas em dois planos: o denotativo e o conotativo. A denotação identifica o sentido dito “prim ário” das palavras, o significado mais estável e convencional dos vocábulos de uma língua. Assim, diz-se que a frase a seguir apresenta-se em sentido denotativo: “O médico curou o doente” , pois os term os considerados estabelecem uma relação referencial, padronizada. Leia outros exem plos de enunciados em situação denotativa:

A A criança chorava porque estava com fome. Todas as lâmpadas estavam acesas, o que deixava o am biente m uito iluminado. A guerra entre os dois países durou seis anos. As paredes eram azuis. Agora, perceba o sentido atribuído ao mesm o verbo “curar” , em outro contexto discursivo: “O que pode curar uma sociedade tão desigual?” Neste caso, é o sentido conotativo que prevalece no enunciado. A conotação é a significação “figurada” das palavras, aquela que se estabelece em uma relação

não estável, não convencional, entre os termos, e que só pode ser resgatada no próprio ato de com unicação, na com posição e na expressão do enunciado, uma vez que apresenta a palavra em sua m ultiplicidade, em sua latência de sentidos. Leia outros exem plos de enunciados em situação conotativa: Era uma pessoa atenta ao mundo: tinha fom e de conhecimento Sem dúvida, a presença de uma criança iluminou sua vida. A guerra contra a dengue já com eçou em todo o país.

A N aquele dia, sua alma am anheceu azul.

PARA L E M B R A R - B R EV E R E TO M A D A DO C A P ÍT U L O 1 O texto é um produto de com unicação. A ssim , deve ser pensado em seu processo de produção, tanto do ponto de vista da escrita, quanto do ponto de vista da leitura. Para escrever bem , é importante que você pense “para quem escreve” , “qual é o papel discursivo que você exerce enquanto escreve”, “ sobre o que escreve”, “qual o canal a ser utilizado” (é um texto para ser lido, para ser ou v id o ...), “qual é sua intenção ao escrever o texto”. São seis os elementos constitutivos do ato de com unicar: emissor, receptor, canal, código, referente (ou contexto) e mensagem. A produção textual com porta diferentes funções, diferentes intenções de comunicar. Cada uma dessas funções vincula-se a um dos elementos do processo de comunicação: A função emotiva ou expressiva : prioriza o em issor da mensagem;

A função conativa ou apelativa : prioriza o receptor da mensagem; A função fá tic a : prioriza o próprio canal, o contato, pelo qual a m ensagem se estabelece; A função referencial: prioriza o referente (aquilo a que a m ensagem se refere); A função metalinguística: prioriza o código pelo qual a m ensagem se organiza; A função poética: prioriza a própria m ensagem , com o produto, com o materialidade. O texto é um todo de significação e não uma m era “junção” de frases desconectadas. O pressuposto para a existência de um texto é sua coerência, sua unidade de sentido, que deve ser entendida com o uma am arração lógico-cognitiva, que possibilita o entendim ento por parte do leitor. A coesão é o mecanismo que possibilita a am arração linguística do texto, e opera na superfície textual, estabelecendo conexões entre as partes do texto (palavras, frases, parágrafos) em relação ao todo representado pela coerência. A coesão textual atua em duas grandes m odalidades: a coesão referencial e a coesão sequencial. A língua portuguesa apresenta variações, com o os dialetos e os registros de linguagem: culto, coloquial e informal.

Denotação é a significação estável das palavras; conotação é a significação “ figurada" das palavras, e depende do contexto linguístico para sua expressão.

PR O PO ST A S DE ATIVIDA DES 1. Identifique no trecho a seguir os seis elem entos que com põem o processo de com unicação (emissor, receptor, canal, código, m ensagem , referente ou contexto): O teatro mais significativo feito hoje no Brasil passa pelos núcleos artísticos estáveis. Uma estabilidade que está longe de ser financeira, como nos países europeus, mas que se reflete na manutenção de trabalhos voltados às pesquisas cênica e dramatúrgica. A cidade de Sào Paulo serve como parâmetro dessa tendência, seja por possuir instrumentos mínimos de políticas públicas que incentivam a produção teatral, seja em virtude de inúmeros grupos que atuam à própria custa. Formado em 2005, o Núcleo Experimental do Teatro Augusta vai se afirmando pela consistência. Seu primeiro espetáculo, R&J, destacava a excelente preparação do elenco, quatro rapazes a revezar os papéis de Romeu e Julieta na descoberta do amor, conforme a versão do americano Joe Calarco para a tragédia de Shakespearc. Agora, no seu segundo trabalho, Mojo (expressão africana para amuleto com poderes mágicos), é como se o idílio adolescente daquele clube do Bolinha cedesse à brutalidade. Até então inédita no país, a peça do autor inglês Jez Butterworth se passa nos anos 50, nào por acaso no pós-guerra, e diz muito aos dias de hoje. Sugere o ambiente underground da explosão juvenil do rock, mas se detém mais nos bastidores de um bar incensado pelo sucesso do cantor da casa, um certo Silver Johnny. Não demora, a trama ganha ares de thriller policial. O dono é assassinado. Seu filho trabalha ali e entra em conflito com os funcionários. O espectador vai tecendo as relações de poder conforme o nível de testosterona e o consumo compulsivo de anfetaminas em jogo. (...) (Sobre meninos e lobos, por Valmir Santos, “Bravo!", agosto de 2007) 2. Para discutir em aula: qual a relação entre os papéis de em issor e de receptor do discurso jornalístico? Com o se influenciam? Com o acontece o “retorno" do receptor no jornalism o impresso? 3. Redija um parágrafo com predom ínio da função em otiva ou expressiva de linguagem com base na seguinte afirmação: “As vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data" (Luís Fernando Veríssimo). Ao final, justifique o uso dessa função (por que o parágrafo que você redigiu tem a função em otiva ou expressiva com o predominante?) 4. Identifique, nos trechos a seguir, as respectivas funções de linguagem. Procure perceber, em cada um, qual é a função predom inante e quais são as funções secundárias. a) Jornalismo e Literatura: dois irmãos que se rejeitam (Por Hélio Consolaro - publicado no site Por trás das letras) No início, todos os conhecimentos humanos ficavam juntos, nào havia a especialização. A Matemática, por exemplo, era objeto de estudo da Filosofia. No setor da informação, acontecia o mesmo. Emile Boivin, em sua “Histoire du Jornalisme" afirma que Homero foi o primeiro repórter que a história da humanidade registra ao narrar em “Ilíada" os combates gregos e troianos. No entanto, com a evolução da mídia, sabe-se que a obra grega é Literatura, nada tem a ver com o jornalismo na concepção moderna do termo. No Brasil, as manifestações literárias do primeiro século estão mais para o jornalismo que para a literatura, embora seja um capítulo dos estudos de Literatura Brasileira, pois começa com a “Carta de Pero Vaz de Caminha", que é um cronista do reino, e passa por relatos de viajantes. (...) Na verdade, o jornalista é o profissional do seu tempo, vive o cotidiano efêmero, com prazo de validade; enquanto o poeta, o romancista, o ensaísta está no plano

da perenidade, querendo ser eterno. (...)

b) Campanha de solidariedade para Cuba e Haiti (Site da revista “Caros Amigos”, novembro de 2008) Estimados companheiros e companheiras. Certamente vocês têm acompanhado as calamidades climáticas dos dois furacões que se abateram sobre os países do Caribe, em especial Haiti e Cuba. As notícias que chegam de nossos amigos, e movimentos sociais que lá vivem, são trágicas. Mais de dois milhões de pessoas afetadas. A agricultura totalmente destruída. Mais de 500 mil casas atingidas. Em Cuba, graças às medidas preventivas tomadas pelo governo, morreram apenas 7 pessoas. Mas no Haiti é impossível quantificar e se fala de 500 a 700 mortos. Os movimentos sociais, as pastorais e as pessoas de boa vontade estão se articulando aqui no Brasil para poder recolher ajuda humanitária. O Governo brasileiro também vai enviar donativos. Mas ainda será pouco. (...) Se você quiser contribuir, com recursos financeiros, pode fazê-lo depositando na conta da Associação Ação Solidária Madre Cristina, que foi fundada por intelectuais, personalidades e movimentos sociais justamente para promovera solidariedade, baseando-se no exemplo da querida Madre Cristina. 5. A partir do exem plo dado, relacione as frases a seguir, utilizando os m ecanism os de coesão que julgar necessários. Exem plo: (1) Não é fácil conseguir uma alim entação saudável no dia a dia; (2) Uma alim entação saudável é essencial para uma vida melhor; (3) U m a alim entação saudável fortalece o organism o e o protege de doenças. Resposta: Embora não seja fácil conseguir uma alim entação saudável no dia a dia, esse hábito é essencial para uma vida melhor, pois fortalece o organism o e o protege de doenças. a) (1) O turism o é um im portante aliado na luta contra o estresse provocado pela vida moderna; (2) O turism o propicia uma quebra no cotidiano; (3) As pessoas, ao visitarem locais diferentes de seus lugares rotineiros, tendem a esquecer as preocupações do dia a dia e sentem -se mais dispostas física e mentalmente. b) (1) Os veículos de com unicação nem sempre prezam pela ética e pela responsabilidade; (2) Os veículos de com unicação, por vezes, publicam informações distorcidas ou parciais, na busca por m aiores audiências ou m aior adesão do público; (3) Os veículos de com unicação exercem importante papel em uma sociedade democrática. c) (1) São preocupantes as deficiências apresentadas pelos estudantes brasileiros no que se refere à leitura; (2) Os estudantes brasileiros têm dificuldades para entender ideias básicas em um texto; (3) Os estudantes brasileiros não conseguem entender pontos de vista contraditórios em um mesm o texto; (4) O M inistério da Educação deve im plem entar medidas para com bater as deficiências apresentadas pelos estudantes brasileiros no que se refere à leitura. 6. Qual o nível ou registro de linguagem utilizado nos trechos transcritos a seguir? Justifique. a) “Calçou os chinelos, tirou uma garrafinha oblonga da gaveta de sua mesa de cabeceira e abriu a porta. Exatamente diante de si viu, ao pálido clarão da lua, um velho de terrível aspecto. Seus olhos eram vermelhos como carvões em brasa; longos cabelos grisalhos caíam-lhe sobre os ombros em mechas ardentes, suas roupas eram de corte antiquado, estavam sujas e rasgadas e de seus pulsos e artelhos pendiam pesadas algemas e enferrujados grilhões.” (Oscar Wilde, “O fantasma de Canterville”)

b) “Na Zona sul. Zona Sul, Zona Sul, Zona Sul Hoje choveu nas Espraiadas Ah Polícia sai do pé, polícia sai do pé Mas mesmo assim ninguém sabe de nada Ah Polícia sai do pé, polícia sai do pé que eu vou dar um pega no... O Rap é compromisso, nào é viagem se pá fica esquisito, aqui Sabotage favela do Canào, ali na Zona Sul Sim, Brooklyn (...) por aqui, só fizeram guerra toda hora acontecimentos vem revela vida do crime nào é pra ninguém nem quanto houver desvantagem só ilude um personagem, é uma viagem a minha parte, não vô fazer pela metade nunca é tarde, Sabotage esta é a vantage.” (Sabotage, “Rap é compromisso") 7. Identifique, no texto a seguir, os m ecanism os coesivos utilizados e a função de linguagem predominante. Os grandes livros contribuíram para formar o mundo. “A Divina Comédia", de Dante, por exemplo, foi fundamental para a criação da língua e da nação italianas. Certos personagens e situações literárias oferecem liberdade na interpretação dos textos, outros se mostram imutáveis e nos ensinam a aceitar o destino. (...) Estamos rodeados de poderes imateriais, que nào se restringem aos chamados valores espirituais, como os das doutrinas religiosas. Também é um poder imaterial o das raízes quadradas, cuja rígida lei resiste aos séculos e aos decretos, não só de Stálin, mas do próprio papa. E entre esses poderes eu incluiria também o da tradição literária, isto é, do complexo de textos que a humanidade produziu e produz, nào com fins práticos, mas “gratia sui”, por amor a si mesma, e que são lidos por prazer, elevação espiritual ou para ampliar os conhecimentos. (...) Mas para que serve esse bem imaterial, a literatura? Eu poderia responder, como já fiz noutras vezes, dizendo que ela é um bem que se consuma “gratia sui" e que portanto nào serve para nada. Mas uma visão tão crua do prazer literário corre o risco de igualar a literatura aojogging ou às palavras cruzadas, que, além do mais, também servem para alguma coisa, seja manter o corpo saudável, seja enriquecer o léxico. Do que estou tentando falar é, portanto, da série de funções que a literatura tem na nossa vida individual e social. A literatura mantém a língua em exercício e, sobretudo, a mantém como patrimônio coletivo. A língua, por definição, vai para onde ela quer, nenhum decreto superior, nem político nem acadêmico, pode interromper seu caminho nem desviá-lo para situações que se pretendem ótimas. (...) (Umberto Eco, A literatura contra o efêmero, tradução de Sérgio Molina, “Folha de S. Paulo", Caderno Mais, 18 de fevereiro de 2001.) 8. Identifique os seis com ponentes do processo de com unicação (emissor, receptor, canal, código, m ensagem e referente) no texto a seguir: Os filmes do cineasta italiano Michelangelo Antonioni, morto em julho, aos 94 anos, são a um só tempo um instante único do cinema, um marco para a cultura do século XX e uma fonte para artistas das mais diferentes áreas. Nas imagens criadas em seus 17 longas, Antonioni apresentou um universo no qual a disposição espacial (o modo como seus personagens estão em uma cena ou cenário) é parte essencial para evidenciar, ilustrar e comentar os sentimentos de homens e mulheres (...). (A aventura de Antonioni, “Bravo!", setembro de 2007)

9. A nalise os enunciados a seguir, identificando o plano de sentido que prevalece: denotativo ou conotativo. Justifique sua resposta. a) A lama cobria toda a casa. A chuva do dia anterior foi m uito intensa. b) A poluição é grande nas metrópoles. c) Corrupção é o mal que faz as instâncias políticas do país se cobrirem de lama. d) N o corredor do hospital, um cartaz solicitava silêncio. e) A alm a do poeta m ais urna vez estava muda, quieta, silenciosa. f) O m onstro do desem prego ataca novamente. g) A atriz brilhou na festa de entrega do prêmio. h) Segundo o colecionador, o diam ante encontrado ontem em ite um brilho intenso. i) A econom ia brasileira está saudável, disse o ministro. j) Flores nascem tam bém dentro da gente, basta saber regar no tem po certo. k) Os produtores com em oraram : a colheita deste ano foi a m elhor da década. l)

Se quiser colher bons sentim entos, respeite as pessoas a sua volta.

m ) Tinha medo de sair à rua e a casa havia se transform ado em prisão. 10. Redija um texto inform ativo sobre a dengue e sobre as form as de com bater o m osquito Aedes aegypti voltado às crianças do prim eiro ao quarto ano do ensino fundamental. Procure ser claro em suas explicações e faça as adequações necessárias para que seu texto seja bem com preendido por leitores dessa faixa etária.

AS TRES FORMAS DE REDAÇAO: DESCRIÇÃO, NARRAÇAO E DISSERTAÇAO — C A P IT U L O 2

l i o des começo era o verbo. Só depois é que veio o delírio do verbo. O delírio do verbo estava no começo, lá onde a criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos. A criança não sabe que o verbo escutar não funciona para cor, mas para som. Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira. E pois. Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fa zer nascimentos O verbo tem que pegar delírios. (Manoel de Barros, “O livro das ignorãças ”)

OBJETIVOS_______________________________________________________________________________________________________ A presentar as principais características dos três m odos básicos de redação: descrição, narração e dissertação. A proxim ar essas form as redacionais da produção jornalística. Na com unicação cotidiana, utilizam os maneiras diferentes de expressar nossos pensam entos, nossos desejos, nossos sentim entos, nossas opiniões, nosso conhecim ento, nossa criatividade. Há m om entos em que discutim os sobre algum assunto da atualidade; há outros em que contam os o que aconteceu durante o dia; em outros, caracterizam os determ inado local ou pessoa.

No texto escrito, tam bém existem diferentes arranjos para a construção do sentido. São três os m odos fundam entais que orientam a prática redacional: a descrição, a narração e a dissertação - três form as diversas de escrever, que colocam em jo g o diferentes habilidades textuais.

2.1 D E SC R IÇ Ã O De acordo com O thon Garcia, descrição é a apresentação verbal de um objeto, ser, coisa, paisagem (e até de um sentimento: posso descrever o que eu sinto), através da indicação de seus aspectos mais característicos, dos seus traços predominantes, dispostos de tal forma e em tal ordem, que do conjunto deles resulte uma impressão singularizante da coisa descrita, isto é, do “quadro", que é a “matéria" da descrição.1 Assim, o texto descritivo explora os detalhes da coisa descrita e acentua as qualidades de observador do escritor, uma vez que, para provocar efeitos visuais/sensoriais no leitor, quem redige deve ser capaz de perceber, de im aginar seu objeto de descrição em múltiplos porm enores antes de com partilhar o “quadro" por m eio de palavras. Leia o trecho a seguir e procure visualizar o quadro descrito: Sentaram-se os dois junto à janela aberta. A calma da tarde imobilizava as coisas, dando-lhes a tranquilidade, o repouso e a fixidez das pinturas. Nessa hora a natureza excedia a si mesma, tomando a expressão serena da arte. Os primeiros perfumes dos matos da redondeza desciam para embalsamar o panorama, e sombras leves vinham envolvendo o mundo. Os dois imigrantes contemplavam em silêncio, e uma saudade estranha, segredando-lhes, explicava o mistério dos quadros sonhados e nunca vistos, a nostalgia das ilusões que ali se realizavam agora ... (Graça Aranha, “Canaà") Com o principais características textuais, a descrição apresenta:

Figuratividade: os elem entos apresentados devem ter referência concreta, capazes de prom over a percepção im agética/sensorial daquilo que é descrito (ex.: janela, perfum es, mato). Simultaneidade : a descrição realiza um “congelam ento" tem poral; não relata m udanças de situação, mas sim propriedades dos objetos descritos. Como em uma fotografia, o texto descritivo fornece um olhar “congelado" da cena, com o se o tempo, naquele m om ento, parasse. Predomínio de atributos : adjetivos e qualificativos em geral constroem uma im agem da coisa descrita, sua identidade e sua singularidade. A Uso preferencial dos verbos de ligação : por realizar um “recorte" tem poral, a descrição é feita principalm ente por verbos de ligação ou que apontam estado (ser, estar, permanecer, ficar etc.) em detrim ento aos verbos de ação. Emprego frequente de comparações, metáforas e outras figuras de linguagem : com o estratégias descritivas, é comum a utilização de recursos linguísticos que forneçam subsídios à im aginação do leitor (por exem plo, no trecho anterior, com parar a cena de fim de tarde que os dois personagens contem plavam a uma pintura). Há que se observar, ainda, que existem dois m odos diferentes de descrever: o narrador pode privilegiar, em certos m om entos, inform ações mais objetivas, m ais físicas, em sua descrição; ou, por outro lado, pode enfatizar inform ações m ais subjetivas, carregadas de im pressão ou em otividade, acerca

da m atéria da descrição. No prim eiro caso, temos a descrição realista ou objetiva; no segundo, a descrição im pressionista ou subjetiva. Verifique os trechos descritivos reproduzidos a seguir. a) Peri trazia um pequeno cofo, tecido com extraordinária delicadeza, feito de palha muito alva, todo rendado; por entre o crivo que formavam os fios ouviam-se uns chilidos fracos e um rumor ligeiro que faziam os pequenos habitantes desse ninho gracioso. (José de Alencar, "O guarani") b) Essas salas baixas não têm dianteira, nem vitrina, nem vidraças; são profundas, escuras e sem ornamentos externos ou internos. A porta abre-se em duas partes inteiriças, grosseiramente ferradas, das quais a superior se recolhe e a inferior, provida de uma campainha de mola, vai e vem constantemente. O ar e a claridade chegam a essa espécie de furna úmida ou pela abertura superior da porta ou pelo espaço compreendido entre a abóboda, o assoalho e a pequena parede de meia altura à qual se adaptam sólidas adufas, retiradas de manhã, repostas e mantidas à noite com barras de ferro cavilhadas. (Honoré de Balzac, “Eugenia Grandet") Podemos perceber que, no trecho (a), há a presença de elementos pessoais e interpretativos na descrição do objeto (extraordinária delicadeza, palha m uito alva, ninho gracioso), o que possibilita uma im agem subjetiva do cesto apresentado. Já em (b), percebem os um outro tipo de descrição, caracterizada pelo predom ínio de detalhes objetivos (salas baixas, escuras, sem ornam entos, a porta abre-se em duas partes). Assim, pode-se reconhecer a descrição subjetiva ou im pressionista pela ênfase na im pressão pessoal do observador em relação à coisa descrita; refletem -se, nesse tipo de texto, o estado de espírito do observador, suas preferências, suas opiniões, suas sensações. A descrição subjetiva é rica em conotações e adjetivos. A descrição objetiva ou realista, por outro lado, utiliza-se de detalhes que transm item m aior nitidez ao quadro descrito, por meio da busca por exatidão na escolha das palavras, destacando detalhes da forma, do tamanho, da cor, do peso, do cheiro etc. N esse caso, predom ina o sentido denotativo das palavras. Na expressão diária, é com um encontrarm os esses dois tipos de descrição, alternando-se as perspectivas física e mental na apreensão do objeto descrito. N esse texto, de base fortem ente sensorial, o redator explora sua capacidade de sentir o mundo, de sentir as coisas do mundo, seja interior ou exterior. Dessa forma, o ato de descrever configura-se com o um rico exercício de redação, de percepção e de criatividade. Experimente descrever objetos variados. I Eleja, de início, algo que você vê, em presença, algo que esteja a sua frente; p o r exem plo, um am biente de sua casa: qual a disposição dos m óveis, qual a cor da parede, há janelas, portas? Depois, procure descrever pessoas que você conhece: com o são físicam ente, com o se com portam , qual é o seu “olhar" sobre elas? Por fim, redija um pequeno texto descrevendo algo que você está im aginando ou algo com o que você sonhou: um am biente, um ser ficcional, um objeto “inexistente". Procure realizar essas apresentações de forma criativa, usando palavras, “ im agens", inesperadas, sem pre que possível; assim você praticará redação, m em ória e criatividade.

D escrição e jo rn alism o No discurso jornalístico, a descrição é com um , principalm ente nas editorias ou nas publicações voltadas ao turism o, ou nos textos de publicações especializadas que requerem apresentações de produtos ou am bientes (revistas de arquitetura, de autom óveis ou de moda, por exemplo). Você tam bém já pode com eçar a redigir suas matérias: registre suas viagens, lugares interessantes que você visitou, fotografe (com im agens e com palavras). Leia o texto jornalístico a seguir e perceba as características da descrição presentes. Conheça a fazenda que virou zoo a céu aberto (Caderno Turismo, “Jornal da Tarde”, 11 de setembro de 2003) Duas torres naturais levantam-se em meio ao cerrado do extremo sudoeste goiano e demarcam a área em que está a Reserva Particular de Proteção Natural Pousada das Araras. As formações rochosas se distinguem na paisagem, desde a estrada que liga a acanhada Serranópolis, cidade rural com menos de 6 mil habitantes, ao mundo. De rara beleza cênica, a reserva natural vive do turismo, sem abrir mâo do trabalho conservacionista de importância vital para a biodiversidade do cerrado, um dos ecossistemas mais frágeis e ameaçados do planeta. Das duas, uma: se houver vaga, a melhor opção é hospedar-se em um de seus dois chalés. Se não, há que se contentar com um dia de exploração, com caminhadas na mata e banho na piscina natural. (...) Espécies típicas do cerrado estão em todo o percurso. Uma infinidade de plantas, muitas com nomes e aspectos curiosos, são enumeradas pelo guia, que, de quebra, cita suas propriedades terapêuticas. Angico, barbatimào, boca-boa, coroada, gravatá, indaiá, jatobá, mangaba, maminha-cadela, marmelo, murici, pau-doce, pau-terra, peito-de-moça, pequizeiro, sucupira e unha-de-vaca são apenas alguns dos exemplos. Mas o espetáculo maior tem como protagonistas as estridentes ararasvermelhas e araras-canindé (azuis de peito amarelo).

2.2 N A R R A Ç Ã O A habilidade de contar histórias, sem dúvida, participa da cultura humana de forma intrínseca, decisiva. A existência da hum anidade (e a de cada um de nós, “pobres m ortais” em busca dos fios das próprias histórias) debruça-se sobre esse ato prim eiro de ordenação temporal: Com o “com eçam os”? Qual a origem da hum anidade? Quais as origens dos povos? Lendas, mitos, parábolas fornecem o fundam ento cultural de que o ser hum ano dispõe para se enxergar neste mundo com o ser de ação, de construtor de sentidos. Edward Said, que pensou a relação sociedade-narrativa pelo viés político-cultural, aponta a ação da narrativa com o decisiva na prática imperialista (questão central em seus estudos).“ Para o autor, para quem “as próprias nações são narrativas” ,-' o im perialismo realizou-se não só pela disputa de terras, m as tam bém por m eio de uma intensa expressão cultural responsável por sua justificativa simbólica: “com o as narrativas desem penham um papel notável na atividade imperial, não surpreende que a França e (sobretudo) a Inglaterra tenham uma tradição ininterrupta de rom ances, sem paralelo no mundo” .4 Said salienta, ainda, que o romance com o form a narrativa fornece um “sistem a inteiro de referência social”, a partir do qual é possível vislum brar o próxim o e o distante, o “ nós” e o “eles”, que, em uma referência im perialista, contribuiu para uma “concepção cultural departam ental do mundo” : “ o rom ance de um modo geral e a narrativa em particular possuem uma espécie de presença social reguladora nas sociedades euro-ocidentais” .5 Já para W alter Benjamín, no texto “O narrador”, é a narração que “ instituiu a tradição que transm ite o acontecido de geração a geração”0 e é na narração que se situa, para o autor, grande parte de nossa capacidade com unicacional.

Com o m odalidade redacional, identificam os a narração com o forma de texto no qual contam os um ou mais fatos, que acontecem em determ inados tem po e espaço e envolvem personagens, estes considerados agentes da narração. Leia o trecho a seguir e observe com o o texto com põe a ação, ou o encadeam ento de ações, com o elem ento central. Passeio noturno (Por Rubem Fonseca - publicado no livro ‘‘Feliz ano novo”) Eu ia para casa quando um carro encostou no meu, buzinando insistentemente. Uma mulher dirigia, abaixei os vidros do carro para entender o que ela dizia. Uma lufada de ar quente entrou com o som da voz dela: Não está mais conhecendo os outros? Eu nunca tinha visto aquela mulher. Sorri polidamente. Outros carros buzinaram atrás dos nossos. A avenida Atlântica, às sete horas da noite, é muito movimentada. A mulher, movendo-se no banco do seu carro, colocou o braço direito para fora e disse, olha um presentinho para você. Estiquei meu braço e ela colocou um papel na minha mâo. Depois arrancou com o carro, dando uma gargalhada. Guardei o papel no bolso. Chegando em casa, fui ver o que estava escrito. Angela, 287-3594. O acontecim ento é o “encontro” fortuito do narrador com uma mulher, que ocorre na avenida, quando o carro dela encosta no dele. Claramente percebem os aqui uma sequência na qual o fato se situa: um antes e um depois, em relação ao encontro. A narração pode ser exposta em prim eira ou terceira pessoa do verbo. Q uando em prim eira pessoa, tem os, em relação ao foco narrativo, o narrador personagem , que participa da ação; em terceira pessoa, tem os o narrador observador, que não participa da história, relata os fatos de fora do cam po da ação. Exem plo de narrador personagem: Vaguei pelas ruas e recolhi-me às nove horas. Nào podendo dormir, atirei-me a ler e escrever. As onze horas estava arrependido de não ter ido ao teatro, consultei o relógio, quis vestir-me, e sair. Julguei, porém, que chegaria tarde; demais, era dar prova de fraqueza. Evidentemente, Virgília começava a aborrecer-se de mim, pensava eu. (Machado de Assis, “Memórias póstumas de Brás Cubas”) Exem plo de narrador observador: Pegou um lenço, tapou o nariz. O lenço veio molhado de sangue. Inclinou a cabeça para trás como lhe haviam ensinado. Aproveitando para olhar as vigas do teto. O líquido escorria morno e o aposento cheirava a sangue. Assim ficou, sem impaciência, arquejando um pouco. A boca emudecida pelo pano, os olhos engrandecidos. Afinal afastou o lenço. Entre o nariz e a boca o sangue secara dando ao rosto um ar imundo e infantil. Mais uma vez ela voltara ferida. (Clarice Lispector, “A cidade sitiada”) Com o principais características textuais, a narração apresenta: I Ênfase factual : é em torno do fato ou de um conjunto de fatos (acontecim entos) que se ordena o texto narrativo.

Progressão temporal’, os fatos se organizam em uma linha temporal (antes, durante, depois); há transformações, mudanças. Figuratividade: assim com o na descrição, predom inam os elementos concretos na com posição do texto. I Predomínio dos verbos de ação: são os verbos que “ traduzem ” movimento, m udança de situação, opostos aos verbos de ligação ou estado.

á Presença de personagens, tempo e espaço : a ação está sem pre vinculada a determ inados agentes da narrativa (personagens) e acontece em determ inados tempo e espaço (orientação factual-tem poral-espacial). E n red o O enredo (tram a ou intriga) é a história propriam ente dita, o conjunto das ações apresentadas, movidas pelo conflito (ou conflitos) que alim enta (ou alim entam ) a narrativa. O enredo com preende quatro fases progressivas: apresentação (ou exposição),

Á complicação, A clímax, desfecho. Na apresentação, ocorre a identificação de algumas personagens e do contexto (referências de tem po e espaço - em que época e em que lugar a história vai acontecer). N a com plicação, inaugura-se a tram a propriam ente dita, o encadeam ento de ações, o conflito. Já o clím ax é o m om ento de maior tensão de uma história e o m arco de que a partir desse ponto o relato cam inha para seu fim, para seu desfecho, que é a resolução dos conflitos. Veja: A lebre vivia a se gabar de que era o mais veloz de todos os animais. Até o dia em que encontrou a tartaruga. - Eu tenho certeza de que, se apostarmos uma corrida, serei a vencedora - desafiou a tartaruga. A lebre caiu na gargalhada. - Uma corrida? Eu e você? Essa é boa! - Por acaso você está com medo de perder? - perguntou a tartaruga. - E mais fácil um leão cacarejar do que eu perder uma corrida para você - respondeu a lebre. No dia seguinte a raposa foi escolhida para ser a juíza da prova. Bastou dar o sinal da largada para a lebre disparar na frente a toda velocidade. A tartaruga nào se abalou e continuou na disputa. A lebre estava tão certa da vitória que resolveu tirar uma soneca. “Se aquela molenga passar na minha frente, é só correr um pouco que eu a ultrapasso" - pensou. A lebre dormiu tanto que nào percebeu quando a tartaruga, em sua marcha vagarosa e constante, passou. Quando acordou, continuou a correr com ares de vencedora. Mas, para sua surpresa, a tartaruga, que nào descansara um só minuto, cruzou a linha de chegada em primeiro lugar. Desse dia em diante, a lebre tornou-se o alvo das chacotas da floresta. Quando dizia que era o animal mais veloz, todos lembravam-na de uma certa tartaruga... Moral: Quem segue devagar e com constância sempre chega na frente. (Jean de La Fontaine, A lebre e a tartaruga, “Fábulas de Esopo", adaptação de Lúcia Tulchinski) Na fábula transcrita anteriorm ente, a apresentação está restrita à situação da lebre, que “vivia a se gabar de ser o mais veloz de todos os anim ais”; o conflito ou a com plicação inicia-se com o desafio da tartaruga (a aposta para uma corrida); o clím ax situa-se na “ ultrapassagem ” da tartaruga enquanto a lebre dormia; o desfecho é a vitória da tartaruga.

Elementos da narrativa Além do enredo ou da tram a da narrativa, consideram -se elementos estruturais: I As personagens: exercem as ações previstas na intriga. Podem ser identificadas quanto ao papel: protagonistas (centrais), antagonistas (opõem-se aos protagonistas) e secundárias; e quanto à caracterização: planas (possuem traços fixos, ex.: o malandro, a fofoqueira etc.) e redondas (apresentam m aior com plexidade de traços, de personalidades - são personagens que podem surpreender o leitor e sofrer mudanças de perfil no decorrer da tram a).7

A Espaço : lugar (ou lugares) em que acontecem as ações. Ex.: São Paulo, M inas Gerais, a casa de uma das personagens. I Tempo: pode ser cronológico, quando predom ina o sentido progressivo das ações (com eço, meio, fim), ou psicológico, quando o foco da narrativa não está no ordenam ento das ações a partir de uma linha do tempo, m as sim a partir do “fluxo de consciência’' das personagens, suas memórias, suas im aginações (ex.: “ M emórias póstum as de Brás Cubas” , de M achado de Assis). O tem po designa, ainda, quando o conflito narrativo ocorreu: em que época, em qual período, qual foi sua duração.

Foco narrativo: é representado pela figura do narrador que, com o entidade ficcional, não deve ser confundido com o autor. Como foi assinalado antes, o narrador pode apresentar-se em prim eira pessoa - narrador personagem - ou em terceira pessoa - narrador observador.

Sobre as análises da narrativa Os estudos sobre a narrativa são fartos e diversificados. Convém aqui apenas apresentar uma referência sobre a natureza da narrativa como acontecim ento discursivo a partir de um percurso por autores que, de uma forma ou de outra, trazem contribuições ao que se convencionou denom inar “análise da narrativa” . O livro “M orfologia do conto m aravilhoso” ,8 do russo V ladim ir Propp, sem dúvida, representa o m om ento inicial desse percurso, uma vez que se constitui com o m arco para a narratologia: “ o prim eiro a dar uma dem onstração convincente de que era não só desejável, m as possível elaborar-se um m odelo teórico com preensivo, de base científica, para o estudo da ficção”.9 Na citada obra, Propp apresenta um estudo sobre os contos populares russos tendo com o norteadora a investigação sobre a estruturação desses relatos. E o que se assinala na palavra “morfologia” presente no título: “ obterem os com o resultado uma morfologia, isto é, uma descrição do conto m aravilhoso segundo as partes que o constituem , e as relações destas partes entre si e com o conjunto” .10 Assim, a ênfase do autor recai sobre os elementos invariáveis, constantes, da narrativa, a que ele denom inou “funções”, e cujo conjunto constituiria a “fábula” . Essas invariantes, segundo Propp, localizamse no nível das ações dos personagens. Por outro lado, ao conjunto de elem entos variáveis corresponderia o “enredo” (ou trama): Nos casos citados encontramos grandezas constantes e grandezas variáveis. O que muda são os nomes (e, com eles, os atributos) dos personagens; o que não muda são suas ações, ou funções. Daí a conclusão de que o conto maravilhoso atribui frequentemente ações iguais a personagens diferentes. Isso nos permite estudar os contos a partir das funções dos personagens.11 A partir daí, o autor assinala 31 funções sequenciais que, por sua vez, agrupariam -se de form a lógica em sete esferas de ação. São elas: do antagonista (ou vilão, malfeitor), do doador (ou provedor), do auxiliar, da princesa (e seu pai), do m andante, do herói e do falso herói (ou impostor), consideradas

classes de personagens no conto de magia popular russo.1D esse modo, Propp concebeu dois modelos relacionados de análise da narrativa: um pelo viés das funções invariantes presentes nos relatos; e outro pelo viés das esferas de ação, que caracterizariam sete classes de atores. Outra referência im portante é a de B arthes,15 que propõe o estudo da narrativa integrado em três níveis: das funções, das ações e da narração, apontando que a significação não está em apenas um deles, m as os atravessa. Q uanto às funções, o autor as identifica com o certos segm entos investidos de caráter funcional, “que faz destes unidades” e que operam tanto no mesm o nível (distribucionais), quanto de um nível a outro (integrativas), correspondendo, respectivam ente, às funções propriam ente d ita s14 e aos índices. No prim eiro caso, teríamos narrativas com predom ínio de relações metoním icas (funcionais) e, no segundo, narrativas com predom ínio de relações m etafóricas (indiciais).15 Assim, um pequeno agrupam ento de funções form aria uma sequência significativa, por exem plo, traição, vingança, contrato etc. Q uanto ao nível das ações, Barthes localiza aí a questão das personagens, não definidas com o essências psicológicas, m as sobretudo como agentes/atuantes narrativos, em referência direta ao modelo greim asiano (veja adiante). Dessa maneira, a proposta é descrevê-los não pelo que são (ou quem são), m as pelo que fazem. Já o nível da narração, segundo o autor, representa a narrativa com o com unicação, ou seja, com o enunciação (ação), e não só com o enunciado, consideradas, assim, todas as circunstâncias discursivas para seu acontecim ento: “o nível narracional é, pois, ocupado pelos signos da narratividade, o conjunto dos operadores que reintegram funções e ações na com unicação narrativa, articulada sobre seu doador e seu destinatário” .16 Outra leitura do processo narrativo pode ser extraída de B rem ond,17 cuja ênfase recai sobre o acontecim ento narrativo disposto em sequências elem entares ou tipos narrativos elem entares, que corresponderiam, de acordo com esse autor, a form as narrativas prim ordiais e, de certa forma, universais: Este engendramento dos tipos narrativos elementares é ao mesmo tempo uma estruturação das condutas humanas agentes e pacientes. Elas fornecem ao narrador o modelo e a matéria de um devir organizado que lhe é indispensável e que seria incapaz de encontrar em outro lugar. Desejada ou temida, seu fim comanda um encadeamento de ações que se sucedem, se hierarquizam, se dicotomizam segundo uma ordem intangível. Quando o homem, na experiência real, combina um plano, explora na imaginação os desenvolvimentos possíveis de uma situação, reflete sobre a marcha da ação empreendida, rememora as fases do acontecimento passado, ele narra para si mesmo as primeiras narrativas que poderíamos conceber. (...) Aos tipos narrativos elementares correspondem, assim, as formas mais gerais do comportamento humano. A tarefa, o contrato, o erro, a cilada etc., são categorias universais. A rede de suas relações mútuas define a priori o campo da experiência io possível. A inda segundo Bremond, o circuito da narrativa com pleta-se em três movimentos básicos: m elhoram ento (demeritório, malfeito), degradação (em duas direções: m erecida e m eritória, castigo e benefício) e reparação (recom pensa). Desse modo, as narrativas oscilariam no entrem eio de dois princípios que se repetem: queda e penitência, desm érito e m érito, sendo esse encadeam ento ao mesm o tem po livre (a escolha da continuação da narrativa pelo narrador) e controlado (o narrador só pode escolher entre dois term os de uma alternativa). A esse respeito, Bremond questiona a linearidade do modelo funcional proppiano e apresenta, no lugar, uma proposta multilinear, uma vez que considera a probabilidade do acontecim ento em algum as zonas desse percurso narrativo (a escolha entre ato e não ato). Assim, as sequências elementares

apresentam -se com o encadeam ento e com o cruzam ento das funções que continuam aqui a se configurarem com o o nível m ínim o da narrativa, ao mesm o tem po que realizam o que Bremond denom ina “sequência com plexa",19 assum indo, dessa forma, uma posição mediana. G reim as20 ao refletir sobre os m odelos narrativos, afirm a, retom ando Propp, que as personagens se definem por certas esferas de ação que se repetem, não apenas no gênero conto popular (objeto de estudo de Propp), m as tam bém no âm bito mais geral da narrativa. Para G reim as, tal “ inventário" proposto por Propp em relação ao conto popular russo confirm a sua interpretação em relação às narrativas: “ um núm ero restrito de term os actanciais basta para dar conta de um m icrouniverso sem ântico".21 No entanto, o autor atenta para o fato de que as esferas assinaladas por Propp, que recobririam “ num erosas funções", servem m uitas vezes apenas para resumir, o que implica generalização de sua significação, e não para retratar, de fato, ações diferenciadas.22 Greimas propõe, assim, seu modelo com quatro actantes:22 sujeito, objeto, destinador e destinatário, além de duas categorias actanciais: do adjuvante e do oponente, tendo com o base a relação de “desejo" (m anifesto sob a form a da procura) entre sujeito e objeto e considerando que a categoria do adjuvante age no sentido do desejo, trazendo auxílio, enquanto a categoria do oponente age contra a realização do desejo, criando obstáculos (no universo mítico, essas categorias são representadas, segundo o autor, pela dualidade forças benfazejas e forças malfazejas). Há que se considerar, ainda, que na narrativa dois dom ínios diferentes se cruzam, na perspectiva do autor: o dom ínio social, da ordem e da organização contratual da sociedade, e o domínio individual, da procura dos valores individuais.

Narração e jornalismo Na prática jornalística, é a narração a form a redacional predom inante, uma vez que o discurso jornalístico move-se em torno dos fatos da atualidade; é sua abordagem factual que lhe confere identificação e valor inform ativo. D iariam ente, abrim os jornais e revistas, acessam os sites de notícias para saber o que aconteceu, quais foram os fatos relevantes que a m ídia nos apresenta com o informações. São relatos, histórias, e, com o tais, configuram -se pela forma narrativa. A inda que o relato jornalístico procure se calcar em bases “científicas" e objetivas na busca pela inform ação, há que se considerar que a estruturação narrativa lhe é inerente, o que equivale a dizer que seu potencial ficcional tam bém o é. O pesquisador francês Louis Q uéré traduz o “duplo" perfil desse relato na afirm ação de que a inform ação jornalística constitui uma “ciência-ficção",24 uma vez que, ao mesm o tempo que busca um modelo de veracidade sem elhante ao da ciência, apresenta-se por meio da narrativa, form ato característicam ente ficcional. Assim, o jornalista, que se apoia nos fatos e em seus desdobram entos (veja a Seção “ Lide", no Capítulo 3) para exercer sua função inform ativa, ocupa, ao mesm o tempo, esse papel de “contador de histórias" da atualidade e lida, às vezes inadvertidam ente, com personagens, conflitos e expectativas que escapam a qualquer tentativa de enquadram ento do objetivo da realidade. Podemos dizer, ainda, que as narrativas jornalísticas encenam determ inados valores da sociedade, uma vez que têm com o atribuição retratar, relatar fatos que se destacam no dia a dia não só por seu valor factual propriam ente dito, mas, por vezes, por esses fatos darem visibilidade a certos “arranjos”, a certos “protagonistas" da cena social, em detrim ento de outros que perm anecem invisíveis. Sobretudo, as informações interessam justam ente por constituírem -se nesse m odelo narrativo, confundindo-se, por vezes, com “arranjos" que beiram o entretenim ento. O articulista M ário Sérgio Conti assim se refere aos escândalos políticos em destaque na im prensa brasileira, em m enção que, de certa

forma, repercute a hipótese anterior: Os escândalos, pois, devem ser apreciados pela sua lógica, pela sua forma. Criticá-los é comentário estético. É avaliar desempenhos, consistência interna, seus tênues laços com a vida social. Os escândalos atraem atenção nào porque se referem à política. Sua dimensão verdadeira é a da estética. Eles têm narrativa. Eles têm dramas, mistérios, suspense, personagens em conflito, golpes de cena. Parece que se vai descobrir algo importantíssimo. No fim, nào dá em nada. Vida que segue. Mas, enquanto durou, foi divertido. (Estética: escândalos e affaires, por Mário Sérgio Conti, disponível em: . Acesso em: 3 fev. 2007) E certo que o texto noticioso é regido por normas específicas de linguagem e princípios éticos que lhe garantem credibilidade e veracidade, conforme verem os adiante (Capítulo 3), m as uma leitura crítica do discurso midiático deve considerar, tam bém , aspectos relativos à sua com posição. Como exercício de análise, leia a notícia a seguir e procure esquem atizar seus elem entos narrativos: Quais são as personagens? Qual é o fato central? Em que lugar aconteceu? Q uando aconteceu? Qual é o foco narrativo? Pirata da Somália se diz herói e detalha operações no Indico (“O Estado de S. Paulo”, 22 de novembro de 2008) O pirata somali Asad ‘Booyah' Abdulahi, 42 anos, disse em uma entrevista publicada pelo jornal inglês “The Guardian" neste sábado que o grupo liderado por ele é composto por heróis e que luta contra a pobreza. O corsário disse que pratica pirataria desde 98 e que era pescador na Somália antes de começar a sequestrar navios. No texto, narrado em primeira pessoa, Abdulahi se recusa a nomear sua atividade como pirataria. “Não vemos os sequestros como um ato criminoso, mas como um pedágio, uma vez que nào há governo central que controle nosso mar", diz. A Somália vive uma crise institucional desde 1991. (...) O pirata também conta como aborda as vítimas. O grupo atira perto do navio para atrair atenção. Se necessário, invade a embarcação com escadas feitas de corda. Depois de reunir e contar a tripulação, faz o pedido do resgate. Abdulahi negou usar a violência contra os reféns e diz que até costuma fazer refeições com eles.

2.3 D ISSERTA ÇÃO O texto dissertativo traz com o principal m arca discursiva a abordagem temática (trata de tem as, e não de fatos ou “quadros" descritivos, com o vimos antes), a partir de uma base argumentativa. Assim, nesse tipo de texto, o redator expõe ideias sobre determ inado tem a e argumenta; segue um caminho que vai do questionam ento e da identificação de seu ponto de vista à busca por argumentos válidos, consistentes, para que o texto apresente veracidade e fundam entação lógica, qualidades essenciais nessa composição. E importante, tam bém , estabelecer as diferenças entre tem a e assunto, para um m elhor planejam ento do texto. Falamos em assunto para nos referir a um universo mais abrangente de conhecim ento; é um prim eiro recorte, um a prim eira seleção, mas o assunto, sozinho, não serve com o orientação para a produção do texto dissertativo. Im agine a dificuldade que você teria ao deparar com propostas de redação tão abrangentes com o “escreva sobre a violência", “escreva sobre o preconceito"; esses são assuntos, não temas. Os tem as aparecem quando delim itam os os assuntos; por exem plo, para a prim eira proposta acim a, teríam os com o possibilidades temáticas: “a violência contra a m ulher no Brasil", “a violência no futebol”, “ a violência sofrida pelas crianças nos am bientes dom ésticos" etc. Feita a delim itação temática, é preciso, ainda, definir a tese que orientará seu texto, a ideia que você vai defender a respeito do tema proposto. Por exem plo, quanto ao tem a “a violência no futebol", poderíam os ter com o tese, com o enunciado de base, a ser explorado no texto, o seguinte: “as torcidas organizadas têm se pautado por ações que prom ovem a violência no futebol" ou, em outra perspectiva, “a violência observada no futebol espelha a

violência social”. Quanto ao tem a “a violência contra a m ulher no Brasil”, poderíam os propor a tese de que “a violência sofrida pelas m ulheres tem raízes profundas no poder patriarcal que formou a sociedade brasileira”. Essas são, enfim , possibilidades de encam inham ento do texto. O próxim o passo é a busca por argum entos que sustentarão a tese. E aqui que entram em cena o conhecim ento prévio sobre o tem a (aquele do qual você já dispõe - o que já leu a esse respeito, o que já discutiu sobre essa questão, o que acum ulou com o “saber” ) e a pesquisa propriam ente dita (o roteiro de busca por novas inform ações, fatos, dados estatísticos, dados históricos, que fornecerão m aior capacidade argum entativa ao texto).

SINTETIZANDO A Assunto : aquilo a que a dissertação se refere de forma m ais abrangente. A Tema: a delim itação do assunto, um a perspectiva mais específica em relação às possibilidades propostas pela escolha do assunto. A Tese: aquilo que você defende a respeito do tem a; é o enunciado de base que norteará a produção do texto, que lhe garantirá coerência. A Argumentos’, são as inform ações que sustentarão a tese proposta; que lhe conferirão legitim idade e veracidade. Com o principais características textuais, a dissertação apresenta: I Um ponto de vista, um juízo, sobre determinado assunto : um posicionam ento claro sobre o tem a abordado é a exigência para um texto coerente.

Abordagem temática : diferente da abordagem figurativa-concreta, o texto dissertativo caracteriza-se por seu valor abstrato (a partir do vínculo tema-lógica). Organização lógica : por m eio do exercício argum entativo, busca-se com o efeito de leitura um raciocínio que possa ser partilhado, reconhecido pelo leitor. Predomínio de sentido denotativo-referencial: utilização de argumentos no texto, em geral apresentados de forma objetiva (no sentido de priorizar a argumentação em torno do objeto, e não em torno do sujeito), principalm ente pelo uso da terceira pessoa do verbo (“a desigualdade existe”, e não “eu acho que a desigualdade existe”, por exem plo); em alguns casos, adm ite-se a prim eira pessoa do plural, “nós”. A redação do texto dissertativo-argum entativo exige clareza de raciocínio e conhecim ento sobre o tema abordado, o que, em muitos casos, depende de pesquisas prévias que auxiliem no processo de fundamentação. Desse modo, deve-se aliar capacidade crítica, conhecim ento de mundo e prática de pesquisa. Leia o texto a seguir e procure perceber: Do que trata o texto? Qual é o ponto de vista, a ideia defendida pelo autor? Quais argumentos estão presentes no texto? Negros em situação marginal na mídia (Por Henrique Costa - site do Observatório da Imprensa, 21 de novembro de 2008 - disponível em: ) O dia 20 de novembro. Dia da Consciência Negra, que celebra a morte de Zumbi dos Palmares em 1695 como símbolo de resistência à escravidão, é tradicionalmente marcado por marchas e protestos realizados pelo movimento negro. Este momento, utilizado para dar visibilidade ao debate sobre a igualdade racial no Brasil, é válido também para uma reflexão sobre como essa questão é retratada nos meios de comunicação, das notícias às novelas, e qual é a influência que estes conteúdos geram no imaginário popular em nosso país.

Um dos exemplos mais gritantes é a afirmação de estereótipos existente na teledramaturgia brasileira. Resistem na TV as velhas situações de inferioridade impostas aos negros e negras: a doméstica, a mulata sambista, o malandro delinquente. Mais recentemente, o político corrupto da novela “A favorita", da Rede Globo, surgiu para "comprovar" a doutrina da emissora de que a ascensão social pela iniciativa individual é possível, mas que mau-caratismo não tem cor, mesmo que um só exemplo baste. E, de qualquer maneira, sintomático que os rostos vistos nos telejornais e programas de auditório sejam quase sempre brancos. "O dado é que existe uma invisibilidade do negro nos meios de comunicação", afirma Márcio Alexandre Gualberto, militante do Coletivo de Entidades Negras do Rio de Janeiro. A resposta das emissoras - que operam em regime de concessão pública, nunca é demais lembrar - à demanda dos negros e negras, quase metade da população do país, refere-se a casos de integrantes deste segmento em posição de destaque, como os jornalistas Glória Maria e Heraldo Pereira, trajetórias que podem ser consideradas exceções, que servem apenas de confirmação à regra. (...)

Percebe-se, a partir do trecho reproduzido, que a dissertação, para ser eficaz, deve se pautar em um posicionam ento claro por parte de quem escreve; isso garante, em grande medida, a coerência textual, uma vez que fornece subsídios para uma pesquisa mais rica sobre o tema e orienta o desenvolvim ento argumentativo do texto, propondo relações claras entre as ideias expostas e o fio condutor da dissertação, que é sua tese.

Argumentação Q uando pensam os em argumentar, pensam os em convencer outros a respeito da validade, da “verdade", daquilo que expressam os. N o texto dissertativo, essa capacidade de convencim ento se traduz nos argumentos utilizados, em sua forma de exposição. São considerados argum entos válidos aqueles que se apoiam em provas e no raciocínio lógico. Constituem -se provas no texto: I os fatos, no sentido geral do term o (tudo que é dado com o “acontecido": fatos históricos, fatos noticiados pela m ídia etc.); I os exem plos, casos específicos, representativos de uma situação mais abrangente (exem plo do bom desem penho do alunos da escola pública “X", depois que a escola se tornou um espaço aberto à com unidade para representar que seu envolvim ento com a com unidade pode trazer bons resultados educacionais); I os dados estatísticos, inform ações obtidas por meio de métodos m atem áticos, validadas por instituições de pesquisa (por exem plo, “a Pesquisa M ensal de Em prego realizada pelo IBGE constatou que as mulheres representavam , em outubro de 2008, a m aioria da população em idade ativa, 53,5% , enquanto os homens, 46,5% "); I testem unhos autorizados, inform ações obtidas por meio da “voz" de especialistas, pesquisadores, estudiosos de assuntos específicos e que adquirem legitim idade para falar em nom e de determ inada área de conhecim ento; tais testemunhos podem vir de indivíduos ou de instituições (por exem plo, “ de acordo com o professor M uniz Sodré, uma das funções da imprensa é denunciar e é um direito público reivindicar o acesso à inform ação”). Há, ainda, que se considerar as estratégias, os recursos utilizados na apresentação dos argumentos. São quatro os recursos básicos para argum entar no texto.

1. Explicitação : situa-se no cam po da dem onstração - explicitar é mostrar, explicar, tornar claro; é obtida por m eio das definições, da busca de causas e efeitos, das paráfrases-' (quando apresentam os o m esm o argum ento já dado com outras palavras, para m elhor entendim ento por parte do leitor). M arcadores textuais: isto é, ou seja, ou melhor, em outras palavras, de acordo com, segundo, entre outros. Ex.: “ Lugar, papel, função, dever e vir-a-ser do hom em e da máquina estão em jogo; eles cingem o sujeito, o objeto (ou os objetos), sua qualificação e a distribuição de tarefas no interior do grupo. Em outras palavras, a técnica, essa atividade que invade até os menores arranjos da vida cotidiana, está ligada à visão global, simbólica, das relações hom em /m undo” . (Lucien Sfez, “C rítica da com unicação") 2. Exemplificação : procura ancorar o ponto de vista apresentado no texto por m eio de casos específicos, representativos. M arcadores textuais: por exemplo, considerando o caso, é o caso de, entre outros. Ex.: “ Entre os diversos ofícios, os que exigem m ais arte e talento são aqueles em que existe o m ínim o de acaso; os mais pesados, os que mais deform am o corpo do trabalhador; os mais servis, os que m ais necessitam da força física; os m ais degradantes, aqueles que exigem o m ínim o de m oral./Aliás, vários autores têm escrito sobre essa matéria. Carés de Paros, por exem plo, e A polodoro de Lem nos escreveram sobre agricultura (lavra e plantação) e outros sobre diferentes gêneros de trabalho". (A ristóteles, “A política") 3. Comparação : por meio de analogias (sem elhanças) e contrastes (diferenças), busca-se fortalecer a tese exposta no texto; considera-se a comparação um método eficaz de partilhar raciocínio e estabelecer conhecim ento sobre algo, uma vez que, por m eio do reconhecim ento daquilo que é parecido ou oposto, obtêm -se efeitos de abrangência e de mem orização. M arcadores textuais: da mesma forma, tal como, assim como, ao contrário de, por outro lado, em oposição a, entre outros. Ex. 1: “ Para os índios, a vida era uma tranquila fruição da existência, num mundo dadivoso e num a sociedade solidária. Claro que tinham suas lutas, suas guerras. Mas todas concatenadas, com o prédios, em que se exerciam , valentes. (...) Para os recém -chegados, m uito ao contrário, a vida era uma tarefa, uma sofrida obrigação, que a todos condenava ao trabalho e tudo subordinava ao lucro". (D arcy Ribeiro, “O povo brasileiro") Ex. 2: “ As abelhas e as formigas tam bém agem sobre a natureza e sabem transform á-la adm iravelm ente. M as fazem isso com o uma extensão do corpo, não da consciência. N ão se separam reflexivam ente da ‘coisa’ que produzem e, consequentem ente, não atribuem significado ao que fazem. Não re-criam o que criam. O hom em - sujeito que produz a cultura - define-se m ais por significá-la com o um ato consciente de afirm ação de si mesm o, senhor do seu trabalho e do mundo que transform a, do que por sim plesm ente fazê-la de modo m aterial". (Carlos Rodrigues Brandão, “ A educação com o cultura") 4. Enumeração : é o recurso utilizado quando o autor apresenta uma sequência previam ente definida de elem entos que provam a tese; os argumentos são apresentados de forma segmentada, dividida, no texto. M arcadores textuais: em primeiro lugar, em segundo, por último, antes, depois, entre outros. Ex.: “ Em prim eiro lugar, já deu para perceber que os adultos se encontram , de modo geral, com a agressividade descontrolada. Vemos isso nas brigas no trânsito, entre vizinhos, nas filas etc. Passou a ser “ norm al" receber ou dar cotoveladas, no sentido literal ou figurado, quando frequentam os o espaço público. O ra, tal atitude inviabiliza a convivência social! (...) Em segundo lugar: os sentim entos têm merecido nossa atenção na educação? Q uando uma criança explode por raiva ou se descontrola por ciúme, ela precisa conhecer o sentim ento que a assaltou e saber que ele é legítimo, m as que sua expressão precisa ser controlada porque incide sobre o outro. Finalmente, que valor e sentidos tem os dado às leis? Para que cum pram o papel de nos proteger, é necessário ensinar a obediência a elas. Não

a obediência cega e passiva, é claro. É preciso, tam bém , aprender a se rebelar contra algumas leis e a analisá-las criticam ente, mas a transgressão pura ou o confronto truculento e irresponsável não costum am ser os m elhores cam inhos para isso. Temos tratado sobre isso, ñas escolas, principalm ente?” (Rosely Sayão, “Agressividade sem controle”, Blog da Rosely Sayão; disponível em: D issertação e jo rn alism o No texto jornalístico, a form a dissertativa-argum entativa pode ser percebida nos espaços opinativos, nos editoriais, nos artigos assinados, nas resenhas. E o modo redacional presente nos textos que fornecem ao leitor análise e avaliação dos fatos. Leia o texto a seguir e identifique o ponto de vista da fonte em issora e os argumentos utilizados. O trágico sistema de cotas (“O Estado de S. Paulo”, 22 de novembro de 2008) Desde que se instaurou o debate sobre a adoção de cotas raciais para o ingresso nas universidades públicas brasileiras, este jornal se tem manifestado inequivocamente contrário à iniciativa - e não vê motivos para mudar de opinião pelo fato de a Câmara dos Deputados ter acrescentado ao projeto que estabelece nas faculdades federais uma reserva de vagas para negros e indígenas, oriundos da escola pública, uma subcota para estudantes com renda familiar per capita de 1,5 salário mínimo, qualquer que seja a sua autodeclarada etnia. (...) Assim vai em frente um esquema não apenas equivocado como tentativa de promover a democratização do acesso à educação superior, mas, principalmente, tóxico do ponto de vista das relações sociais entre os brasileiros. Equivocado porque o suposto remédio para a iniquidade não ataca o foco do mal que a origina: a péssima qualidade do ensino fornecido pela escola pública brasileira, depois de vencida a etapa da universalização do ensino, confirmada pelos resultados do último Enem, por coincidência divulgados ontem. (...) Se a ideia é promover a população negra, promova-se - mediante a melhora radical da educação pública - a população pobre de que ela é parte. São negros, afinal, mais de 2/3 dos que recebem até 3 salários mínimos. E serão eles os maiores beneficiários da boa escola gratuita, quando e se o Estado conseguir proporcioná-la. Além de equivocado, o esquema é tóxico por separar os brasileiros por raças: em nome da reparação de um passado atroz, erige-se a etnia como credencial de acesso a uma hipotética via expressa para o progresso. Isso se chama discriminação racial - às avessas, mas discriminação do mesmo modo. E certo que a busca da igualdade de oportunidades, a pedra de toque das sociedades decentes, pressupõe o nivelamento do terreno da competição. Quando se dá a um estudante a garantia de ascensão por ele pertencer a uma “raça”, aumenta-se o desnível. (...) Pode-se perceber que a postura defendida pelo jornal é claram ente contrária ao sistem a de cotas, que na opinião do veículo é equivocado do ponto de vista dem ocrático e social e não representa “ igualdade de oportunidades” na educação, uma vez que não enfrenta sua m aior causa: a falta de qualidade no ensino público. O bserve que o texto marca sua coerência em torno da tese a que se propõe: afirm ar para o leitor que a adoção das cotas, além de não resolver o problem a de acesso ao ensino superior público, na visão do jornal, prom ove, ao contrário, o “desnível”, a desigualdade entre os estudantes. A proveite o tem a e responda: qual é o seu ponto de vista sobre o sistem a de cotas para ingresso nas universidades públicas brasileiras? Redija um pequeno texto expondo sua opinião; pesquise e utilize argum entos convincentes para sustentar sua tese.

PARA L E M B R A R - B R EV E R E TO M A D A DO C A P IT U L O 2 A descrição é o tipo de texto em que apresentam os um ser, um objeto, um am biente, um lugar, por m eio da exposição de seus aspectos característicos, dos seus detalhes. E a partir deles que o leitor com põe o quadro figurativo-sensorial próprio da descrição. A narração é a form a de redação pela qual contam os urna historia, relatam os fatos. Tem com o elem entos estruturais: o próprio fato (ou o encadeam ento de fatos - tram a, enredo, intriga), as personagens, o tem po, o espaço e o narrador (o foco narrativo). A dissertação-argum entação é o texto em que expom os ideias e defendem os determ inado ponto de vista. Desenvolve-se a partir de um plano argum entativo e sustenta-se no princípio da verossim ilhança. Os principais recursos argum entativos no texto são: exem plificação, explicitação, enum eração e comparação.

PR O PO ST A S DE ATIVIDA DES 1. Leia os textos a seguir e responda se são descritivos, narrativos ou dissertativos. Justifique suas respostas. a) A casa de Luís Cam pos era na Rua Direita. Um desses casarões do tem po antigo, quadrados e sem gosto, cujo ar severo e recolhido está a dizer no seu silêncio os rigores do velho com ércio português. Com punha-se do vasto arm azém ao rés do chão, e mais dois andares; no prim eiro dos quais estava o escritório e à noite aboletavam -se os caixeiros, e no segundo morava o negociante com a m ulher - D. M aria Hortênsia, e uma cunhada - D. Carlotinha. A mesa era no andar de cima. Faziam -se duas: uma para o dono da casa, a família, o guarda-livros e hóspedes, se os havia, o que era frequente; e a outra só para os caixeiros, que subiam ao número de cinco ou seis. (Aluísio A zevedo, “Casa de pensão") b) Um professor do ensino fundam ental ganha, por mês, entre RS 300 e RS 800 nas escolas paulistas e paulistanas. Q ualquer um que tenha um carrinho de cachorro-quente na frente da escola, não aprovado pela vigilância sanitária, ganha mais que isso. A vida na escola é insuportável, no Brasil. O aluno adolescente am eaça fisicam ente o professor. Se vier a se defender, o professor tem contra ele o juiz, o pai, o delegado, a m ãe, o Conselho Tutelar do M enor e, enfim e mais decisivam ente, a gangue à que o garoto pertence. ( ...) O professor brasileiro não tem incentivo financeiro, ou mesm o de outra ordem, para crescer intelectualm ente na atividade central de sua vida, que é kdar au la’. Para ganhar m ais ele só tem dois cam inhos: a porta da rua ou a porta da sala - am bas para fora. Se não sai da profissão, é para ser diretor de escola ou supervisor de ensino ou, então, para fazer m estrado e ir para o ensino superior, ou seja, para sair da sala de aula. Ficar na sala de aula e m elhorar intelectualm ente e, então, ser prem iado financeiram ente por isso não é uma prática no Brasil. Isso faz da atividade um tédio. Esse tédio mata nosso ensino. Esse tédio é o que regra uma boa parte de nossa vida, uma vez que gastam os m uito tempo sob tal situação, pois, se não som os professores, todos nós fom os alunos. Sendo ou não professores, som os vítim as disso, dessa desconsideração pela vida. ( ...) (O tédio m ata nosso ensino, por Paulo G uiraldelli, “O Estado de S. Paulo” , 11 de março de 2006) c) Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se, porém, do negócio, e viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem , alcançou o em prego de que o vem os em possado, e que exercia, com o dissem os, desde tempos remotos. Mas viera com ele no m esm o navio, não sei fazer o quê, uma certa M aria da hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa,

saloia rechonchuda e bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tem po de sua m ocidade mal-apessoado, e sobretudo era maganão. Ao sair do Tejo, estando a M aria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A M aria, com o se já esperasse por aquilo, sorriu-se com o envergonhada do gracejo, e deu-lhe tam bém em a r de disfarce um trem endo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de nam oro cerrado; ao anoitecer passou-se a m esm a cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco m ais fortes; e no dia seguinte estavam os dois am antes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos. Q uando saltaram em terra com eçou a M aria a sentir certos enojos: foram os dois m orar juntos: e daí a um mês m anifestaram -se claram ente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois teve a M aria um filho, form idável menino de quase três palm os de com prido, gordo e verm elho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem largar o peito. E este nascim ento é certam ente de tudo o que temos dito o que mais nos interessa, porque o m enino de quem falam os é o herói desta história. (M anuel Antônio de Almeida, “ M emórias de um sargento de m ilícias”) d) A História m ostra que se leva tempo para perceber a dim ensão revolucionária de inovações radicais. A té a invenção do telefone foi inicialm ente considerada irrelevante por muita gente. Só era possível telefonar para quem tam bém tivesse um aparelho - ou seja, quase ninguém, nos prim eiros anos. E afinal, para que conversar a distância naqueles tempos sossegados, em que as pessoas podiam falar pessoalm ente com a m aioria de seus conhecidos? N ovas tecnologias de com unicação, dizem os estudiosos, não transform am apenas hábitos, m as m oldam a nossa maneira de pensar. E a tendência é que nos prendam os aos padrões m entais moldados por tecnologias anteriores até que aprendam os o “ idiom a” do novo meio. Foi assim na m igração da m ídia im pressa para o rádio. E tam bém no salto da mente “gutenberguiana” para o cinem a e a TV. Passaram -se décadas antes de roteiristas e diretores se darem conta de que a linguagem da telona e da telinha embutia uma semântica própria processos de codificação e decodificação específicos. Parece ser o que acontece agora com a Internet, que apenas engatinha com o mídia. Enquanto se expandia com o teia silenciosa nos anos 90, a web foi praticam ente ignorada por com unicadores e criativos form ados na mídia de massa, ou tratada com o descaso reservado aos meios below the line. A gora que a escala dos números coloca o digital no centro do palco - não dá para ignorar os 59 m ilhões de internautas no país - , surgem de repente especialistas, regras e certezas por todos os lados. O debate é mais do que bem -vindo e já chega com atraso ao Brasil. (Na curva de aprendizado, de Selm a Santa Cruz, do Grupo TV1 C om unicação e M arketing, publicado no jornal “ M eio & M ensagem ”, 18 de agosto de 2008) e) Era uma galinha de domingo. A inda viva porque não passava de nove horas da manhã. Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. M esmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio. Foi, pois, uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto voo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a m urada do terraço. Um instante ainda vacilou - o tem po da cozinheira dar um grito - e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro voo desajeitado, alcançou um telhado. ( ...) A final, num a das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. A inda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo

depois, nascida que fora para a m aternidade, parecia uma velha m ãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal, porém, conseguiu desvencilhar-se do acontecim ento, despregou-se do chão e saiu aos gritos: - M amãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! Ela quer o nosso bem! (Clarice Lispector, “ Laços de família”) f) Por toda parte, as universidades são doentes, senão moribundas, e isto é grande coisa. Os iniciados bem sabem que não é esta uma questão para os pedagogos especializados. D as universidades depende a vida espiritual das nações. O fim das universidades seria um fim definitivo. O abism o entre o progresso material e a cultura espiritual aum enta de dia para dia, e as arm as desse progresso nas mãos dos bárbaros é fato que clama aos céus. Os edifícios das universidades resistem ainda, e neles trabalha-se m uito, dem ais, às vezes, m as o edifício do espírito, esta catedral invisível, está am eaçado de cair em ruínas. (...) Q uem é o culpado? Evidentem ente, é inadmissível sim plificar uma discussão de tal envergadura. A cusa-se o Estado por ter-se intrometido, e acusa-se o Estado por não se intrometer. A cusam -se os professores por m ergulharem nos ensinos profissionais e descuidarem -se da ciência desinteressada, e acusam -se os professores por m ergulharem na ciência pura sem saberem ensinar. Aqui, queixam -se de as universidades não fornecerem elites, de que a nação tem necessidade; ali, queixam -se de que as universidades fornecem elites dem ais, um proletariado intelectual. A bundam os rem édios propostos. Desejam salvar as universidades pela separação entre as instituições puram ente científicas e os institutos de ensino, o que agravaria o problem a em vez de resolvê-lo: a ciência seria, assim, afastada da vida, e o ensino entregue à rotina. Falham, igualmente, as tentativas m ais bem pensadas de curar a doença infundindo uma nova crença ou uma velha fé: terem os os mesmos estudantes, os mesm os bacharéis, os mesm os doutores que antes, e as suas boas crenças não resolverão a doença da universidade. Porque não cabe à universidade form ar crentes nem sequer sugerir convicções, m as dar ao estudante capacidade para escolher a sua convicção. Já abundam os hom ens cegam ente convictos, m uito “práticos”, “úteis” para os serviços do Estado, da Igreja, dos partidos e das empresas comerciais. Pode ser que todas essas instituições lamentem, em breve, a abundância de hom ens convictos e a falta de hom ens livres. Então, acusar-se-á am argam ente o utilitarism o das universidades modernas. O utilitarism o é o inimigo m ortal da universidade. (A ideia de universidade e as ideias das classes médias, Otto M aria C arpeaux, em “A cinza do purgatório”) 2. Redija um texto dissertativo-argum entativo a respeito do tem a “ a im portância do voto consciente” . Faça, antes da escrita, um planejam ento para o texto, pesquise e defina uma tese a ser defendida. 3. Redija um texto descritivo sobre você. Procure ser criativo e abusar das metáforas, ironias e outras figuras de linguagem. 4. Redija um texto narrativo em prim eira pessoa do singular, relatando um acontecim ento im portante de sua vida. 5. Qual é a forma de redação que caracteriza o texto a seguir: descrição, narração ou dissertação-argum entação? Por quê? O texto trata de quê?

O marrom e o rosa no jornalismo esportivo (Por Tiago Figueiró - site Observatório da Imprensa, 18 de março de 2008) Com o se não bastasse a pecha de palpiteiros, muitos jornalistas esportivos parecem não tem er a possibilidade de serem taxados de integrantes das im prensas rosa e marrom. G rande parte desses profissionais lança mão do sensacionalism o - tipo de postura editorial adotada regular ou

esporadicam ente, caracterizada pelo exagero, pelo apelo em otivo e pelo uso de im agens fortes - na cobertura dos fatos jornalísticos. E o leitor brasileiro, com placente, lê, agradece e estimula a m ultiplicação das m atérias pobres em conteúdo. O Código de Ética dos Jornalistas é enfático: “O jornalista deve com bater a censura e o sensacionalism o” . Deve evitar prom over a imprensa m arrom , ou seja, o sensacionalism o que busque alta audiência e vendagem por m eio da divulgação exagerada de acontecim entos apelativos, e a imprensa rosa, nom e que se dá ao jornalism o acostum ado a cobrir o cotidiano das pessoas, principalm ente as celebridades. No jornalism o esportivo não é diferente. Não se deve alim entar rumores, boatos e fofocas. ( ...) Se os boatos e fofocas não são evitados, os veículos tornam -se verdadeiras revistas de celebridades, focadas na vida íntima de pessoas conhecidas na sociedade, com o os jogadores de futebol mais famosos. (...)

O DISCURSO JORNALÍSTICO — C A P IT U L O

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K á na vida tanta coisa, Tanta coisa e um só olhar! Toda a tristeza dos rios É não poderem parar... As vezes tudo se ilumina de uma intensa irrealidade E é como se agora este pobre, este único, este efêmero instante do mundo estivesse pintado numa tela, sempre... (Mário Quintana, “A cor do invisível”)

OBJETIVOS_______________________________________________________________________________________________________________ A presentar as principais características do texto jornalístico. Definir lide. Identificar os diferentes tipos de produção jornalística no m eio impresso, a partir da segm entação textos narrativos e textos argumentativos: definições e exemplos. Identificar as fontes jornalísticas. A bordar a crônica com o gênero jornalístico. A presentar a suíte, o perfil e a entrevista com o tipologias textuais em jornalism o. Discutir os conceitos de objetividade e subjetividade no texto jornalístico. Identificar e definir os recursos estilísticos mais com uns no discurso jornalístico.

A presentar as bases do cham ado “jornalism o literário”. Q uando se questiona acerca do elem ento caracterizador do discurso jornalístico, parece ser já consensual a percepção de que é a inform ação seu objeto de busca, sua razão de ser. O corre que esse inform ar reveste-se de características específicas na prática m idiática, das quais as m ais representativas são: atualidade (é um discurso que se organiza em torno do presente, aí está seu palco de atuação), veracidade (é um discurso calcado no estatuto da verdade) e universalidade (considerado aqui o caráter de “ interesse público” atribuído à inform ação jornalística). E certo que não é de hoje que estudos relacionados ao discurso jornalístico repensam essas características, em especial aqueles que discutem o “ interesse público” de certas inform ações veiculadas nos m eios de com unicação, e a relação do jornalism o com a “verdade”, esse suposto valor absoluto que se reproduz na crença de registrar os fatos “ reais” , da form a que aconteceram, o mundo “real” , com o ele é, as falas “reais”, da maneira que as pessoas a proferiram durante um a entrevista, e assim por diante. No entanto, tais “desconfianças” não invalidam a prática jornalística com o prática discursiva-profissional; antes, a recolocam no cenário social a partir de uma perspectiva mais fecunda de discussões (e, diga-se de passagem , menos “obscura”) a respeito de seu papel político, de seu poder com o formadora de opinião, da ética (ou da falta dela, com o frequentem ente presenciam os) em seu exercício, de sua força narrativa e, principalm ente, de sua imensa capacidade de “ recortar” (leia-se editar) e reorganizar as significações do mundo. Assim, buscarem os, neste capítulo, tratar o texto jornalístico tam bém em sua diversidade, em suas plurais possibilidades (afinal, o texto objetivo noticioso não é a única opção para o jornalista). C om o foco, considerarem os aqui os textos publicados em meios im pressos, em bora algum as orientações se m antenham para o texto radiofônico, para o texto televisivo e para os textos jornalísticos veiculados na Internet.

3.1 DICAS T E X T U A IS - C L A R E Z A E FO R Ç A EXPRESSIVA Para cum prir seu papel inform ativo, o texto jornalístico precisa, em prim eiro lugar, ser entendido pelo leitor, o que significa clareza na com posição e na escolha de palavras. A lém disso, o jornalista deve ser capaz de capturar e m anter o interesse pela leitura do texto (é certo que inicialm ente o olhar do leitor volta-se a aspectos gráficos e im agéticos da página, m as é a qualidade do texto que determina, de fato, o processo de leitura, a apreensão da informação). Para N ilson Lage, o jornalism o, ao “processar inform ação em escala industrial e para consum o im ediato”, 1 deve se valer de um texto enxuto e rico de conteúdo referencial, o que significa priorizar o acontecim ento, aquilo sobre o qual se fala, apresentando, na medida do possível, dados “ concretos” sobre o fato e sobre os envolvidos, e não adjetivações ou inform ações abstratas. A ssim , dizer, por exem plo, que um concurso estudantil foi “m uito” concorrido é m enos inform ativo do que dizer quantos estudantes participaram da prova, quais foram os estudantes, qual o seu perfil, de que escolas vieram etc. De form a geral, o discurso jornalístico pode ser caracterizado com o um discurso que se marca pela atualidade, pelo caráter factual, pela universalidade e pela verossim ilhança. Envolta por esse estatuto da universalidade, a “verdade” insere-se no cam po jornalístico de form a determ inante e, ao mesm o tempo, com o uma im possibilidade, dadas a relatividade desse valor e as inúmeras “angulações” a respeito da inform ação, com o citam os anteriormente. E a verossim ilhança, assim, que garante, se não a verdade, o “efeito de verdade” necessário à veracidade atribuída a essa prática. O texto é verossímil quando apresenta argum entos e provas suficientes para a manutenção da credibilidade do leitor em relação às inform ações expostas pelo veículo de

com unicação. Desse modo, para tornar seu texto verossímil, pesquise, ouça o m aior núm ero possível de pessoas envolvidas no caso (às vezes, tam bém há a necessidade de entrevistar “especialistas” na questão abordada), vá ao local, ou locais, em que o fato aconteceu (quando isso for possível), cheque todas as inform ações (o cuidado com os detalhes é extrem am ente im portante para obter a credibilidade necessária ao texto), redija cuidadosam ente, de forma organizada e interessante, e leia seu texto várias vezes (idealizando, ou ao m enos “uma” única vez, considerando a pressa reinante em m uitas redações) antes de atribuir a ele um ponto final. Q uanto à escrita específicam ente, há sugestões im portantes que auxiliam seu trabalho. As orientações a respeito da redação do texto jornalístico em meios im pressos podem ser resumidas nos seguintes procedim entos textuais: usar parágrafos curtos - além de facilitar o reconhecim ento do tópico de cada parágrafo, escrever parágrafos de m enor extensão é graficamente desejável quando o texto se organiza em colunas, disposição usual no jornalism o, pois um parágrafo longo, nesse arranjo, ocuparia m uitas linhas; dividir os parágrafos em períodos - período é a subdivisão do parágrafo e é marcado por ponto final ou sinal equivalente, com o de interrogação ou exclamação. O período pode ser sim ples, quando é formado por uma oração, ou com posto, quando é formado por mais de uma oração. Exemplo: “ Dois dias depois do início dos ataques a Mumbai, capital financeira da índia, forças de segurança invadiram um centro judaico e encontraram os corpos de seis reféns. U m m ilitar e dois terroristas m orreram na ação. O saldo de civis mortos nos atentados, que atingiram dez lugares frequentados por ocidentais, chegou a 160, sendo ao m enos 22 estrangeiros”. (“ Folha de S.Paulo” , 29 de novem bro de 2008) N esse parágrafo, há três períodos: o prim eiro, que vai do início a “reféns”. O segundo, de “ um militar” a “ação”; e o terceiro, de “o saldo” até o final “estrangeiros” . O uso de períodos longos, constantemente, é motivo de dificuldade de leitura ou até mesm o de incom preensão por parte do leitor. Leia o trecho a seguir, redigido em um único período: a) Especialistas em finanças afirm am que o melhor destino para o 13- salário é o pagam ento de dívidas, que deve ter prioridade em relação a com pras de final de ano ou investimentos, pois os ju ro s decorrentes de em préstim os, em especial, de cheque especial e cartões de crédito, são altos e, além disso, com a crise financeira instalada em todo o mundo, a orientação é econom izar e livrar-se o quanto antes do pagam ento de dívidas que consom em parte considerável dos salários de muitos trabalhadores brasileiros. Agora, acom panhe a leitura do mesm o trecho, dividido em mais períodos. Perceba que esse procedim ento facilita a leitura: b) Especialistas em finanças afirm am que o m elhor destino para o 13- salário é o pagam ento de dívidas. A quitação de em préstimos e financiam entos deve ter prioridade em relação a com pras de final de ano ou investimentos. A justificativa é que os juros decorrentes de em préstim os, em especial de cheque especial e cartões de crédito, são altos. A lém disso, com a crise financeira instalada em todo o mundo, a orientação é econom izar e livrar-se o quanto antes do pagam ento de dívidas que consom em parte considerável dos salários de muitos trabalhadores brasileiros. utilizar palavras de uso corrente, com uns, que possam ser entendidas pelo m aior número de leitores, e explicar os term os técnicos, quando for necessário. Por exem plo, durante a fase mais crítica da cham ada “crise econôm ica m undial”, entre os m eses de setem bro e novem bro de 2008, ouvim os repetidas vezes no noticiário econôm ico que a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) havia acionado o Circuit breaker , mecanismo utilizado para interrom per negociações nas Bolsas de Valores, quando há registro de variação brusca nos indicadores (na Bovespa, o mecanismo é acionado quando a baixa alcança os 10%); a interrupção dura 30 m inutos e os negócios são retom ados a seguir. Em uma inform ação com o essa, tal explicação é necessária para que o leitor ou ouvinte entenda o que está sendo dito;

buscar sínteses linguísticas - quando for possível utilizar m enos palavras para exprim ir a m esm a inform ação. Ex.: a recom endação é válida só para os meses de inverno —» para o inverno; os índices vão ficar ultrapassados —> ficarão ultrapassados; preferir a ordem direta da frase - sujeito, verbo e com plem ento pois ajuda a prevenir eventuais problemas de entendim ento do enunciado. Leia os enunciados a seguir e observe qual traz a inform ação de maneira mais direta: “ Inaugurou, o prefeito, duas novas escolas na periferia da cidade” ou “O prefeito inaugurou duas novas escolas na periferia da cidade”? A segunda opção deve ser a utilizada, uma vez que traz a inform ação de maneira direta: sujeito (o prefeito), verbo (inaugurou), com plem ento (duas novas escolas na periferia da cidade); escrever o significado das siglas utilizadas no texto: o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), a O rganização das Nações Unidas (ONU), por exemplo; apenas aquelas m uito conhecidas ou vinculadas a nom es de em presas ou partidos podem dispensar a explicação (ex.: Petrobras, INSS, PT, PSDB etc.). Outros detalhes im portantes a respeito das siglas: não use pontos entre as letras (MST, e não M.S.T; M AM , e não M .A.M ); use o significado por extenso apenas na prim eira menção; nas dem ais ocorrências, use apenas a sigla; use letras m aiusculas para siglas até três letras (CIA, FBI, HC); para siglas com mais de três letras e que podem ser lidas com o uma palavra, use m aiuscula apenas na prim eira letra (Unesco, Petrobras, Bovespa, Ibope, Infraero) - quando a leitura se faz letra por letra (não forma uma “palavra” ), m antenha a m aiuscula em todas as letras (IBGE, FGTS, INSS); utilizar as form as discursivas de terceira pessoa (a diretora, os sem -terra, os funcionários etc.); a regra é não utilizar marcas de prim eira pessoa (eu, m inha opinião, para m im etc.), exceto em textos m arcadam ente subjetivos (a crônica, por exem plo), com o verem os adiante, ou em coberturas consideradas excepcionais, que privilegiem a vivência e a im pressão do jornalista no local, com o coberturas de guerras e catástrofes; I com o o texto jornalístico é m arcadam ente testem unhal (vale-se da voz, do depoim ento de outros), deve buscar, sempre que possível, mais de um “olhar” sobre o fato ou assunto abordado; é nessa m ultiplicidade de vozes, no seu aspecto “polifónico”, que o texto ancora sua veracidade. Vale ressaltar que tal m ultiplicidade não se restringe ao clássico “contra versus a favor”. E certo que em casos polêm icos, que envolvem posições contrárias a respeito de algum a questão, ou acusações diretas a alguém ou a alguma instituição (ser contrário ou favorável a determ inado projeto político, por exem plo, direito de resposta a algum a acusação etc.), dois “ lados” se m arcam de forma m ais definida, mas a abordagem jornalística é sem pre mais rica quando for possível ouvir, além dos “dois” lados, outras “vozes” representativas do fato abordado, não necessariam ente em contraste, m as que forneçam visões diferentes sobre uma m esm a questão; usar aspas para m arcar a voz do entrevistado. Ex.: “ Uma alim entação saudável é essencial para viver bem”, afirm a a nutricionista; para a grafia de números, utilizar a form a por extenso de um a dez, e algarism os a partir de 11 (quando é início de frase, escreva o núm ero por extenso - ex.: Doze pessoas ainda estão desaparecidas); para horas, use algarism os seguidos de “h” e os m inutos correspondentes (às 14h30, às 22h45), ou “horas” para horas inteiras (às 9 horas ou 9h depende da padronização do veículo em questão - , à 1 hora). A abreviação correspondente a m inutos “m in” só deve ser utilizada quando houver necessidade de especificar os segundos (por exem plo, para cronom etragem esportiva: Ih20min25s); escreva sempre antes do nom e o cargo ocupado pelas pessoas citadas na matéria: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva; o ministro da Educação, Fernando Haddad; o presidente francês, N icolás Sarkozy; quando a identificação do cargo ou da atividade exercida for m uito longa, é comum

escrever antes apenas a profissão e depois do nome, com o aposto, a atividade que vincula a pessoa ao fato abordado; por exemplo: a professora Aline Reis, presidente da Com issão de Ajuda às V ítim as das Enchentes em M ontes do Sul, disse ontem que não use palavras estrangeiras em excesso - procure utilizar as form as correspondentes em português ou se restringir àquelas que já são consagradas pelo uso contínuo (outdoor, punk, Réveillon, show etc.). Lem bre-se de que o estrangeirism o é um “vício de linguagem ” e se caracteriza pelo uso inadequado, indevido, de palavras ou expressões estrangeiras. Assim, não escreva coisas do tipo: “o prefeito não deu nenhum feedback até agora” , “a entrevista será durante o coffee-break” , “as lojas ‘X ’ anunciam 50% o ffe m todos os produtos”, entre outras; não se esqueça de checar rigorosam ente núm eros de telefones, endereços, preços, horários de funcionam ento e outras inform ações de serviço ao leitor.

N Ã O use fo rm a s red u n d a n te s, clichês o u p a la v ra s q u e dificu ltem a leitu ra: Cada um, individualmente

—> cada um

A bola saiu para fora do campo

—> a bola saiu do campo

A cabam ento final

—* acabamento

Eles conviveram juntos por 11 anos

—> conviveram por 11 anos

Ambos os dois

—> ambos

Abono adicional de

—>abono de

A razão é porque

—►a razão é

Fatos reais

—>fatos

Sintom a indicativo

—* sintoma

Planos futuros

—►planos

Conclusão final

—>conclusão

Elo de ligação

—>ligação

Regra geral

—►regra

Inaugurou o novo hospital

—> inaugurou o hospital

Sucessivam ente, um após o outro

—►um após o outro

M anteve a m esm a atitude humilde

—►manteve a atitude humilde

Enfrentou de frente os problemas

—* enfrentou os problemas

Na m inha opinião pessoal

—* na m inha opinião

O jovem , na flor da idade

—>jovem

Fechou com chave de ouro

—> term inou com

Foi uma surpresa inesperada

—>foi uma surpresa

Com erário público

—> com recursos públicos

E consenso geral

—* éco n senso

D espediu-se da vida

—> morreu

E salutar

—►é bom para a saúde

Agradeceu pelos relevantes serviços

—►pelos serviços

Incansáveis esforços

—>esforços

O paciente esperou im paciente por

—►esperou por

Todos os países do mundo

—> todos os países

O paradeiro é desconhecido

—> está desaparecido

A viúva do falecido Fulano de Tal

—>a viúva de Fulano de Tal

D etém m onopólio exclusivo

—►detém monopólio

A medida salvaguarda o consumidor

—> protege o consum idor

Prurido intenso

—>coceira

A polícia realizou diligências

—►realizou buscas

Concom itantem ente

—>ao mesm o tempo

Lide O lide, forma aportuguesada para lead , em inglês, que significa “guiar”, “conduzir”, é o form ato preferencial utilizado na abertura de textos noticiosos e, para ser construído, deve responder às seis perguntas que envolvem o fato:

Onde? Como? Por quê? O lide é considerado a principal estratégia textual no relato noticioso e se pauta pela objetividade, sim plicidade e pela hierarquia de informações, a partir dos critérios de atualidade e interesse público. Observe o lide reproduzido a seguir: Os parentes das vítimas do acidente com o Airbus da TAM, ocorrido em julho de 2007, em São Paulo, fizeram, na tarde deste domingo, uma manifestação no aeroporto de Congonhas para lembrar o 162 mês do acidente que matou 199 pessoas. Durante o ato, os manifestantes caminharam por todo o saguão do aeroporto carregando faixas e cartazes com as fotografias dos familiares e protestaram em frente aos balcões de check-in da TAM. Para homenagear as vítimas, eles desenharam um coração com pétalas de rosas e cantaram no saguão principal do terminal. (“Folha de S. Paulo", 26 de novembro de 2008) N esse exem plo, temos: Quem? Os parentes das vítim as do acidente com o Airbus da TAM; O quê? Fizeram uma manifestação; Quando? Na tarde deste dom ingo; Onde? No aeroporto de Congonhas; Por quê? Para lembrar o 16- m ês do acidente;

A Com o? Cam inharam pelo saguão do aeroporto carregando faixas e cartazes com as fotografias dos fam iliares e protestaram em frente aos balcões de check-in da TAM; tam bém desenharam um coração com pétalas de rosas e cantaram. Leia outros exem plos de lide a seguir; procure identificar seus componentes: O governo do Estado de São Paulo vai adiar por um mês o prazo de pagamento de 50% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), referente ao mês de dezembro. Isso vai significar um reforço de RS 2 bilhões no capital de giro das empresas, segundo o governador do Estado, José Serra. O anúncio da medida foi feito ontem, pelo governador, ao sair de uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto. “Essa é uma medida para ativar a economia e manter o nível de emprego', declarou Serra" (“O Estado de S. Paulo", 29 de novembro de 2008) A Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos (FTC, na sigla em inglês) rescindiu na quarta-feira uma norma emitida há 42 anos e que permitia que a indústria do cigarro fizesse alegações sobre teores de alcatrão e nicotina em seus produtos. A indústria usa um teste chamado Método do Filtro de Cambridge, e a Comissão chegou à conclusão de que esse processo apresenta falhas. (“O Estado de S. Paulo", 29 de novembro de 2008)

A II Corrida Baiana Zumbi dos Palmares, parte das comemorações do mês da consciência negra, acontece neste domingo (30), na capital baiana. A corrida é promovida pela Associação Cultural Ilê Ayé e pela Associação Comunidade Negra Ações Culturais. A largada será em frente ao Elevador Larceda, na Praça Municipal, às 7h30, com chegada prevista para a Praça da Sé, no busto de Zumbi, um trajeto de 6 km. A corrida deverá reunir cerca de 250 atletas amadores. (“Correio da Bahia", 29 de novembro de 2008) Um avião bimotor B-52, fabricado pela Beechcraft, caiu ontem à noite logo após a decolagem, no Aeroporto JK, em Anápolis (GO), a 55 quilômetros de Goiânia (GO). Seis pessoas estavam a bordo. Quatro pessoas morreram carbonizadas e duas sobreviveram, mas estão internadas em estado grave. O acidente, segundo testemunhas, supostamente teria sido provocado por falha humana. Durante a trajetória da decolagem, o avião perdeu velocidade, precipitou de barriga sobre a pista, e com o impacto explodiu. (“Jornal do Comércio", 29 de novembro de 2008) Percebe-se, com base nesses trechos, que nem sempre as seis questões correspondentes ao lide são respondidas nas prim eiras linhas. E com um que o “com o” e o “porquê” sejam respondidos no decorrer do texto. O uso do lide, no texto jornalístico, vincula-se à técnica da “pirâmide invertida”, que representa a maneira de apresentar as inform ações de forma decrescente no texto. Iniciando pelo lide, a m atéria garante as inform ações centrais a respeito do fato; a partir daí, desenvolve as inform ações secundárias (apresenta as vozes dos entrevistados, recupera dados anteriores e traz inform ações adicionais, se for o caso). A “pirâm ide invertida” é o procedim ento de organização textual mais usado em textos noticiosos, com o objetivo de oferecer de maneira direta o que se considera m ais importante acerca do fato; com bate o cham ado “nariz de cera”, abertura tradicionalm ente vetada para textos noticiosos por não trazer o fato de forma rápida e direta. O “nariz de cera” é identificado por uma introdução geralm ente longa, que apenas “ronda” o elem ento factual, m as não o apresenta diretam ente. Por exemplo: “O investim ento em educação é uma das metas do governo federal, segundo consta no planejam ento de gastos para este ano. Para discutir esse assunto, estiveram presentes em um Simpósio ocorrido em Belo Horizonte, ontem, o ministro da Educação e representantes da Federação N acional de Educação. Durante o evento, o ministro divulgou dados sobre as metas de investimento para este ano no setor. De acordo com o ministro, o orçamento para educação em 2009 está previsto em R$ 42,7 bilhões e a m eta é que o investim ento na área passe a 5% do PIB até 2010” . O bserve que a informação central aparece somente no final do parágrafo; antes disso, há apenas dados vagos; dificilm ente o leitor seguiria até esse ponto para “descobrir” a inform ação relevante.

3.2 FO R M A S NARRATIVAS E A RG UM ENTATIVAS E M JO R N A L IS M O IM P R E S SO A produção textual no jornalism o im presso pode ser dividida, do ponto de vista estrutural, em tipos narrativos e tipos argumentativos. Aos tipos m arcadam ente narrativos correspondem a nota, a notícia e a reportagem. Já os argum entativos são representados pelos artigos, resenhas críticas e editoriais.

Tipos narrativos: nota, notícia, reportagem Entre nota, notícia e reportagem, pode-se dizer que a diferença está não só na extensão (do m enor ao m aior texto), com o tam bém na forma de apresentar o fato. O detalham ento e a profundidade das inform ações apresentadas variam em cada texto, uma vez que respondem de forma diferente aos objetivos de com unicação, às expectativas por parte dos leitores.

Nota A nota é considerada urna “noticia curta", m ais enxuta; restringe-se ao lide e, frequentem ente, ocupa apenas um parágrafo. É tam bém com um ser form atada em colunas e costum a ser utilizada para inform ar sobre acontecim entos que, em bora dignos de “ interesse público", não são considerados de grande relevância por parte da redação do veículo. Veja o exemplo: A China vai propor que os países ricos destinem 0,7% de seu PIB em ajuda aos países emergentes para que possam combater as mudanças climáticas e promovam uma reforma de seu parque industrial com tecnologias verdes. A proposta é apoiada pela índia e será apresentada na semana que vem na Polônia durante a conferência mundial para se negociar um novo acordo sobre corte de emissões de CO2 . A China já emite hoje mais CO2 que os Estados Unidos. (“O Estado de S. Paulo", 28 de novembro de 2008)

Notícia Já a notícia, apesar de tam bém prender-se ao aspecto factual e ter o lide com o núcleo narrativo, não se restringe a este últim o, trazendo depoim entos e informações adicionais. De acordo com Erbolato,- deve ser “recente, inédita, verdadeira, objetiva e de interesse público". A notícia é considerada a m atéria-prim a do jornalism o, especialm ente em mídia jornal, pois é o texto que carrega a identidade da narrativa jornalística e, m uitas vezes, é a partir dela que as outras modalidades textuais em jornalism o se constroem , ora aprofundando seus dados (com o na reportagem , por exem plo), ora avaliando seus efeitos e dim ensionando sua im portância (com o nos artigos). A tualidade e ineditism o são suas principais características e servem de parâm etro ao trabalho do repórter, que precisa estar atento ao que é realmente relevante e novo em determ inados acontecim entos. Por exem plo, ao cobrir a participação de um ministro em uma palestra, o jornalista deve perceber o que, na fala do ministro, tem potencial noticioso e não noticioso. Caso contrário, corre o risco de relatar o que não é novo ou relevante para o leitor. Q uanto à estrutura, a notícia obedece ao esquem a da pirâm ide invertida, oferecendo em prim eiro lugar a inform ação central para, em seguida, apresentar dados adicionais a respeito do fato, assim com o as falas dos envolvidos no acontecim ento. Leia o exem plo a seguir: A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) vai iniciar em 2009 a cobrança individualizada de água nos condomínios de todos os 364 municípios atendidos pela empresa. Com isso, a conta deixa de ser rateada entre os moradores do prédio e cada condômino passa a pagar apenas por aquilo que gastar. Para isso, basta a aprovação da assembleia condominial. A expectativa é de que quem fizer o convênio agora receberá a primeira cobrança em fevereiro. Os prédios mais novos, com dez anos ou menos, já estão adaptados para receber os sistemas via cabo ou radiofrequência. Há 370 mil unidades autônomas nessa situação. E as adaptações mais significativas, que vão atrasar o processo, ocorrem em prédios antigos. Segundo o presidente da companhia, Gesner Oliveira, essa solução normalmente é bem recebida pelos consumidores. Hubert Gebara, diretor do Grupo Hubert, especializado na área imobiliária, considera que a economia na tarifa de água será de pelo menos 20%. O motivo é que, com o custo sendo dividido entre todos os condôminos, é comum alguns consumidores não se preocuparem em economizar. Com a individualização, cada um vai pagar pelo próprio consumo. (...) (Os ganhos: 20% no bolso e 30% para o ambiente, por Marcos Burghi, “O Estado de S. Paulo", 17 de dezembro de 2008)

Reportagem Outro tipo narrativo em jornalism o impresso é a reportagem, que difere da notícia por apresentar base interpretativa do fato, um a vez que se pretende mais com pleta e mais profunda. Assim, a reportagem exige m aior capacidade de observação e de investigação por parte do jornalista, que deve, ainda, explorar os mais diversos ângulos sobre o que está sendo relatado: busca de “personagens”, falas de especialistas, índices ou dados estatísticos relacionados ao fato etc. M uitas vezes, a reportagem parte de assuntos já recorrentes e conhecidos e, a partir de determ inado “gancho” factual (o novo), que lhe garante atualidade, “torna-se” texto jornalístico (por exem plo, o “gancho” D ia M undial do Com bate à Aids, com em orado em 1 de dezembro, para com posição de uma reportagem sobre o assunto: número de infectados, novos tratam entos, expectativas da ciência, a vida dos portadores do vírus, o preconceito, a Aids no Brasil etc.). Há que se considerar que na reportagem, em especial nas revistas, o “ novo” pode surgir da própria percepção do jornalista. E o caso de m atérias relacionadas à saúde, à educação ou ao com portam ento de modo geral. C onstantem ente, percebem -se tem as recorrentes, que são “atualizados” por uma nova pesquisa, uma nova descoberta, um debate na novela. Experimente realizar buscas por m atérias a respeito de problemas cardíacos, colesterol, depressão, deficiências no ensino brasileiro, filantropia, ou outros tem as considerados “com uns” . Você se surpreenderá com a quantidade de reportagens, mesm o se fizer um recorte apenas em revistas sem anais de inform ação, por exemplo. Q uanto à apresentação do texto, é com um que a reportagem seja elaborada em mais de uma retranca, ' ou seja, que apresente subdivisões, textos com plem entares associados ao texto principal, aquele que traz o “gancho” jornalístico. Em sua produção, a reportagem, por ser um texto m ais longo, exige uma pauta bem elaborada, um roteiro de busca de inform ações que indique não só o tem a/fato a ser abordado, com o tam bém as estratégias possíveis para essa abordagem: nom es e contatos de entrevistados relevantes à matéria, fontes de pesquisa, indicações de outros textos já publicados a respeito pela imprensa (muitas vezes, uma pesquisa prévia realizada no próprio arquivo do veículo para o qual o jornalista realiza a reportagem ), eventos relacionados ao tem a que possam ser acom panhados pelo repórter (coletivas, simpósios, reuniões com unitárias), assim com o indicações de locais a serem visitados pela reportagem. Na reportagem , exige-se ainda m ais a sensibilidade do repórter. A lguns cham am isso de “faro jornalístico”, outros de “capacidade de estar antenado” . E certo que estar atento ao mundo, ao que acontece à sua volta, não é dom divino, tampouco é exclusividade de jornalistas, mas para estes deve ser essa uma atitude constante, uma busca diária. Vale lem brar que essa percepção vai m uito além de saber o que é fato, o que dará manchete, o que interessará ao editor. O exercício inclui (principalm ente) percepção hum ana, sensibilidade e afetividade. Quem não se interessa pelos “outros”, pelo mundo que o rodeia, dificilm ente será bom repórter. A inda existem aqueles que acreditam que o bom jornalista é aquele que não se deixa “afetar” pelo fato, que consegue m anter a distância necessária para im prim ir mais objetividade ao texto. Confundem profissionalism o com insensibilidade. Não pode ser considerado um jornalista com petente aquele que, na cobertura de uma guerra ou de qualquer outro conflito social, por exem plo, mantenha-se impassível e neutro. Seu relato carecerá, sem dúvida, de vivência, de percepção e de humanidade. Q uanto ao estilo textual, a reportagem costum a assum ir um tom mais subjetivo e envolvente, mais marcado no caso de reportagens publicadas em revistas. A com panhe o texto de abertura da reportagem M ães-M enininhas: elas não brincam em serviço, sobre o trabalho infantil no Brasil, publicada pela

revista “ M arie Claire”, em m arço de 2004 (outras cinco retrancas com punham a reportagem): M ã e s - M e n in in h a s : e la s n ã o b r in c a m e m s e rv iç o ( P o r D a n ie la C h i a r e tt i e I o ia n d a H u z a k - “ M a r ie C l a ir e ” , m a r ç o d e 2 0 0 4 )

O título desta reportagem é o de um cartaz de uma ONG de Recife que combate o trabalho infantil doméstico, o cotidiano perverso de mais de 500 mil crianças e jovens brasileiras. As páginas que seguem mostram a história de quatro dessas meninas. Cíntia, Juliana, Gisele e Vanessa passaram a infancia brincando de casinha para que os pais pudessem sustentar a família - só que, na brincadeira delas, as Barbies eram as irmãs mais novas e a papinha, o feijão que cozinhavam na panela. Do dia em que estas fotos foram feitas até hoje se passaram 8 anos e as meninas agora são mulheres. Uma entrou na faculdade, outra virou mãe. Todas continuam correndo atrás dos sonhos. Todas sobreviveram com garra a seu destino de exclusão. Esta é uma história sem fim no Brasil. Passa de mãe para filha e da filha mais velha para a irmã mais nova. Dados do IBGE gritam o que todo mundo sabe e que tem a ver com nossa herança escravocrata e machista - são milhares de meninas de 5 a 17 anos de idade lavando, passando, arrumando, cozinhando todos os dias, na própria casa ou na de outros. Não são crianças dividindo tarefas, que fazem a própria cama ou ajudam a tirar a mesa, mas é um batalhão de gente pequena que ganha pouco ou nada para fazer trabalho de gente grande. (...) Trabalho doméstico não tem jornada. Essas meninas se acostumaram a acordar cedo e dormir tarde, depois de dar um duro danado. A vida acontece ali, nas redondezas, elas se deslocam pouco. Nos últimos tempos, a paisagem melhorou - os ônibus são mais novos, as ruas começam a ser pavimentadas, os projetos de mutirão fazem prédios mais bonitos. Cíntia, Juliana, Vanessa e Gisele foram estruturando suas vidas. Não sentem que perderam nada, não se ressentem pela infancia roubada. Aqui, a trajetória delas é contada em vários tempos, ao longo de oito anos, como numa ficção. Só que é tudo verdade.

A GRANDE REPORTAGEM Dá-se esse nom e às reportagens m ais densas e m ais extensas, que costum am ocupar várias páginas de jornais ou revistas e exigem do repórter grande capacidade de planejam ento e pesquisa, assim com o um tem po m aior de produção e redação. As grandes reportagens aliam com petência narrativa, descrições ricas e envolvim ento com o assunto abordado. Para isso, é im prescindível que o jornalista tenha um roteiro organizado em mãos (até mesm o para ir além do roteiro, se for o caso), que leia m uito sobre seu “ objeto” antes de ir a campo, visite os lugares que servem de cenário ao relato, vivencie experiências, converse com o m aior número de pessoas, registre o maior núm ero de informações. A grande reportagem, m uitas vezes, aproxim a-se da com posição literária no que se refere à linguagem inovadora e à form a criativa de contar uma história. E, assim, um texto “de autoria” , o que significa que o repórter, nesse caso, assum e m ais livremente o papel de autor, atribuindo-lhe identidade e emoção. U m a referência a esse tipo de texto jornalístico são as grandes reportagens publicadas pela revista “Realidade”, lançada pela editora A bril em 1966 e considerada sinônimo de jornalism o investigativo no Brasil. A revista circulou até 1976 e chegou a atingir 500 mil exem plares. “ Realidade”, em dez anos de existência, encarou temas polêm icos para a época, com o o celibato de padres, o racismo e o uso de drogas. Um exem plo, nesse sentido, foi uma reportagem sobre a m ulher brasileira, publicada em janeiro de 1967, que incluiu em sua produção 1.200 entrevistas e levou três meses para ser finalizada. Em novem bro de 2007, o jornal “O Estado de S. Paulo” lançou a revista “Grandes Reportagens” , com uma prim eira edição voltada à Amazônia. Durante quatro meses, cinco repórteres e três fotógrafos foram enviados à região; no total, o projeto envolveu 25 profissionais que buscaram e apuraram

as inform ações necessárias. A revista, de 124 páginas, veio encartada no jornal do dia. Em agosto de 2008, saiu a segunda edição de “ Grandes Reportagens", intitulada “ M egacidades", dessa vez com m atérias voltadas às grandes cidades do mundo.

Fontes de informação As inform ações chegam às redações ou aos jornalistas de maneiras diversas. U m a delas é por meio da observação do próprio repórter, que testemunha um acontecim ento de form a direta (por exem plo, quando o repórter está em uma avenida no m om ento em que ocorre um acidente de trânsito). Essa, no entanto, é a maneira m enos usual de se ter acesso à notícia. O outro cam inho, mais comum, é por meio das fontes de informação. As fontes em jornalism o com preendem pessoas e instituições que podem fornecer inform ações a respeito de determ inado fato ou assunto, seja por seu aspecto testem unhal (por ter vivenciado ou presenciado esse fato), seja por seu aspecto de especialização (profissionais, pesquisadores ou instituições especializadas em determ inados tem as). Há que se considerar aqui, tam bém , o trabalho de em presas e organizações jornalísticas que atuam na produção e na divulgação de conteúdos noticiosos: assessorias de imprensa e agências de notícias. De acordo com N ilson Lage,4 as fontes são classificadas em oficiais, oficiosas e independentes. As oficiais são aquelas vinculadas ao poder público (m unicipal, estadual ou federal), às em presas e associações de classes e às instituições religiosas. As oficiosas, segundo o autor, são aquelas que, de certa forma, margeiam as oficiais, por estarem ligadas a elas, m as não gozam da legitim idade atribuída a essas últimas, pois não falam em nom e delas. Por isso, existem apenas em anonim ato, em “o f f \ Já a expressão “fontes independentes", conform e explica o autor, vem do jornalism o estadunidense e, no Brasil, representa especialm ente as cham adas “organizações não governam entais", as ONGs, ou “entidades sem fins lucrativos", que, na opinião de Lage, não trazem , afinal, nada de independentes, uma vez que costum am ser profundam ente engajadas em suas respectivas causas e financiadas por grandes grupos econômicos. Assim, qualquer que seja a fonte, é importante salientar que é responsabilidade do repórter conferir a veracidade das informações, avaliar a necessidade de com plem entar dados, entrevistar outras pessoas. Em suma, o passo inicial é sem pre desconfiar da inform ação que chega, evitar valer-se de uma única fonte e se cercar do máxim o de inform ações a respeito de um acontecim ento. Se “a verdade" não há (com o já discutim os antes), a pluralidade de pontos de vista e as diferentes versões sobre um fato são sempre as m elhores opções para exercer eticam ente o fazer jornalístico e com por narrativas que perm itam conhecim ento e leitura crítica por parte dos leitores.

Tipos argumentativos: editorial, artigo, resenha crítica Os textos dissertativos-argum entativos, em jornalism o, podem ser observados, principalm ente, nos editoriais, nos artigos e nas resenhas críticas, com posições que se m arcam pelo viés interpretativo e pela capacidade de avaliação. E com um que esses textos dialoguem com o material narrativo publicado pelo veículo de com unicação e lhes façam referência, uma vez que, apesar de o elem ento factual não ser o foco nesses casos, m antém -se o vínculo com a atualidade, o que lhes garante interesse jornalístico.

Editorial O editorial é um texto opinativo que apresenta, explicitam ente, o ponto de vista do veículo, da em presa de com unicação, sobre fatos e assuntos da atualidade, abordados pelo jornal ou revista em outros “espaços” discursivos, com o notícias e reportagens. Dizemos que é a linha editorial que determina esse “olhar” exposto no editorial, contudo, não é apenas neste últim o que ela pode ser percebida, urna vez que a linha editorial representa a postura ideológica do veículo, exercendo “recortes” e angulações no decorrer de todo o tecido informativo. E a linha editorial, por exem plo, que define o que será publicado, com o será publicado, qual o grau de visibilidade que determ inada notícia terá na página, quais im agens serão utilizadas nas matérias, qual será o tratam ento gráfico-visual de identidade do veículo. E, assim, um elem ento ordenador das significações que o discurso jornalístico constrói em sociedade (sua coerência, sua lógica, daí advém ) e, ao contrário do que alguns em presários de com unicação buscam m ostrar (ao reafirm arem a todo custo sua suposta “neutralidade”), não é algo a esconder: o leitor não deve ser ingênuo a ponto de crer que a voz do jornal (ou da revista) é a voz da verdade (da única verdade), a exalar dos signos ali dispostos, com o um “espelho” dos fatos do mundo. Os editoriais, nos grandes veículos de com unicação, frequentem ente não vêm assinados5 e são publicados nas prim eiras páginas dos jornais (em geral, nas páginas 2 e 3). N as revistas, é com um que o editorial privilegie a apresentação das m atérias que o leitor vai encontrar naquela edição, ao mesm o tem po que declara sua avaliação sobre os fatos e assuntos abordados ou sobre o material jornalístico oferecido pela revista. Textualmente, os editoriais trazem marcas opinativas, argum entos para sustentação do ponto de vista defendido pelo veículo, assim com o perfil analítico, a partir de fatos relacionados à questão em pauta: J u s t i ç a f a lh a (“ O E s ta d o d e S. P a u lo ” , 20 d e m a io d e 2 0 0 8 ) Se no âmbito do Executivo tem havido avanços em matéria de combate às operações de lavagem de dinheiro, utilizando o sistema de inteligência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) para coibir o crime organizado e os esquemas de corrupção incrustados na máquina governamental, no Judiciário as ações criminais abertas pelo Ministério Público contra tráfico de influência, chantagens e malversação de recursos governamentais praticados por servidores da administração direta e indireta continuam tramitando lentamente. Há, inclusive, casos - raros, ainda bem - de magistrados que chegam ao disparate de se negar a julgá-las. E o caso da Justiça Federal no Rio de Janeiro, onde o juiz titular da 3- Vara Criminal, Lafredo Lisboa, até hoje nào decidiu a ação em que 13 auditores fiscais sào acusados de terem dado um desfalque de R$ 3 bilhões nos cofres públicos. O escândalo, que ficou conhecido como ‘Propinoduto 4 \ eclodiu em agosto de 2002, quando a Procuradoria de Justiça da Suíça abriu uma investigação sobre depósitos suspeitos no valor de US$ 33,4 milhões feitos no Discount Bank (atual Union Bancaire Privée) por quatro auditores federais e quatro fiscais de renda do Rio de Janeiro. O órgào enviou um relatório à Procuradoria-Geral da República e, em 2003, a Polícia Federal abriu inquérito para investigar o caso. (...)

Casos como esse desmoralizam a Justiça. Custa acreditar que chegamos a ponto de as instâncias superiores da Justiça Federal terem de estabelecer prazos para que as instâncias inferiores julguem ações como a do Propinoduto 4.

Artigo O artigo é um texto assinado, que reflete a opinião de quem o escreve. Tem base argumentativa e exibe a visão do articulista a respeito de acontecim entos variados da atualidade, m uitas vezes dialogando com o material inform ativo divulgado no m eio de com unicação em que é publicado. Pode ser escrito por m em bros da redação do jornal ou revista ou por pessoas externas à redação (colaboradores diversos, políticos, especialistas, escritores etc.). Q uando tem caráter regular no veículo, é cham ado de coluna. Q uanto às características textuais, apresenta-se geralmente em terceira pessoa e defende uma perspectiva vinculada à percepção e ao conhecimento dem onstrado pelo articulista. A inda que, com o o editorial, exija base argum entativa-analítica, o artigo exibe, de form a mais direta, marcas pessoaisestilísticas de quem o redige: A s v e z e s , o p e tr ó le o e x p lo d e o p a ís ( P o r M a rc o s S á C o r r e a - “ IstoÉ '% 12 d e s e te m b r o d e 2 0 0 8 )

Mirar-se no exemplo da Nigéria deveria ser exercício obrigatório no Brasil do pré-sal. O Atlântico pode separar no mapa os dois países. Mas a história, nem tanto. Ela também foi um polo vigoroso do comércio internacional de escravos africanos - no caso, como exportadora de ódios tribais sob a forma de mercadoria humana. Tem um futebol que acaba de ganhar medalha de prata, numa Olimpíada da qual os brasileiros voltaram trazendo bronze. Sem falar que é rica em petróleo. (...)

O resultado de tamanha malversação aparece, como sempre, em escolas sucateadas, postos de saúde sem médicos ou remédios e subnutrição no interior. Mas transformou Lagos num inigualável laboratório de sua patologia. A capital da República é hoje uma cidade de 15 milhões de habitantes, engrossada anualmente por 600 mil imigrantes, onde vale rigorosamente tudo. Nela se trafica qualquer coisa, a começar por gente e proteção contra a violência, um dos grandes negócios da megalópole nigeriana. Tudo isso graças ao impulso do petróleo, que empurrou a Nigéria para a frente antes que ela decidisse aonde queria ir.

Resenha crítica A resenha crítica, ou apenas critica, com o é conhecida no m eio jornalístico, é o texto assinado, que fornece julgam ento a respeito de produtos culturais diversos (livros, filmes, peças de teatro, exposições de artes plásticas etc.), ou seja, é um texto que se faz a partir da “ leitura" de outra produção, considerada objeto de análise/avaliação. Na resenha crítica, as capacidades de síntese, avaliação e critica se aliam para a produção de um texto que tem a dupla função de apresentar ao leitor a obra em questão e fornecer a ele um julgam ento válido (apoiado em argumentos) sobre esse objeto cultural. Vale lembrar, ainda, que resenhar significa detalhar, apresentar minuciosam ente. A ssim , o resenhista pode com por sua apreciação considerando tanto a obra com o um todo quanto aspectos que ju lg ar relevantes. O texto é escrito em terceira pessoa e se constitui de: I introdução (identificação da obra e da tese do resenhista sobre a obra); I apresentação (do material a ser julgado - do que trata, qual história é apresentada, qual assunto é abordado); I apreciação (espaço argum entativo propriam ente dito, análise e julgam ento da obra); e

A conclusão (finalização do cam inho argum entativo traçado antes, às vezes recom endando - ou não - a obra avaliada).

N ote que essas “ partes” não devem aparecer de form a segm entada no texto; desse modo, não escreva, por exem plo, parte 1 - introdução, parte 2 apresentação, e assim por diante. A resenha deve apresentar fluência na leitura, criatividade e conhecim ento por parte do crítico: C r ític a : u n i film e d e n t r o d e u m film e ( P o r M a rc e lo R e z e n d e “ B r a v o ! ” , d e z e m b ro d e 2 0 0 7 )

Diante de “Império dos sonhos”, o retorno de David Lynch aos cinemas cinco anos após o golpe de mestre de “Cidade dos sonhos” (um filme radicalmente autoral e ainda assim atraente para o grande público), a melhor estratégia é se manter preparado para três horas nào apenas de cinema. Lynch convida o público a participar de uma experiência artística, e se a oferta for aceita, ele propõe momentos inesquecíveis. Se a questão ainda são sonhos (e pesadelos), o que ele iniciou em “Cidade” aprofunda em “Império”. No primeiro, personagens parecem viver duas histórias diferentes. Em ambos os casos há um crime e Hollywood como cenário - são atrizes aspirantes, e quem pode ser a vítima na primeira parte do filme se torna a possível assassina no instante seguinte. Já “Império dos sonhos” - seu primeiro longa realizado com câmera digital-não trabalha com dois planos apenas. Lynch os duplica, triplica, criando um real labirinto. (...)

Lynch ama Hollywood. E odeia Hollywood. Toda sua filmografia se move em meio a essa tensão. Seu cinema é composto de múltiplos cinemas (terror, policial, suspense, faroeste, dramas conjugais), como se ele estivesse refilmando as produções hollywoodianas e incorporando a elas um tom negro, no qual personagens mudam de identidade por nào suportarem as pressões de uma existência medíocre ou de um desejo nunca satisfeito. Algo simbolizado, para Lynch, nas mulheres, objetos de culto, devoção, e agentes da infidelidade, mentira e traição. Hollywood é essa mulher, como mostra “Cidade dos sonhos”, que David Lynch nào consegue perdoar ou abandonar.

Crônica A pesar de ser considerada, frequentem ente, em sua expressão narrativa, a partir de sua raiz de “relato”, a crônica é um gênero híbrido, que pode assum ir tanto a form a de “ história breve”, quanto form as mais “ soltas”, com o com entários críticos sobre acontecim entos divulgados pela imprensa, ou prosas carregadas de lirismo, com perfil fortem ente intimista por parte do cronista. E, de qualquer modo, um tipo de texto que se situa entre o jornalism o e a literatura, e que genericam ente define-se com o um texto que versa, de forma subjetiva, pessoal, sobre fatos atuais, m arcantes ou até m esm o corriqueiros do cotidiano. Para Antonio Cândido, é do miúdo, do banal, que m uitas vezes a crônica se alim enta e tira do detalhe a grandeza do ser humano: Por meio dos assuntos, da composição aparentemente solta, do ar de coisa sem necessidade que costuma assumir, ela se ajusta à sensibilidade de todo o dia. Principalmente porque elabora uma linguagem que fala de perto ao nosso modo de ser mais natural. Na sua despretensão, humaniza.0 Com o características, a sim plicidade, a brevidade e o estilo são as que m elhor definem a crônica. G eralm ente escrita em prim eira pessoa, ela pode ser considerada terreno aberto às percepções e ao espírito crítico do cronista, aliados à sua capacidade textual criativa, com binação esta que resulta em um texto bastante subjetivo e fértil de possibilidades diversas de escrita, distante de padronizações formais. Assim, recursos estilísticos com o a ironia, a metáfora, a m etonim ia,7 e outras figuras de linguagem, ou, ainda, a presença de neologism os,8 são usuais nesse tipo de construção discursiva. A crônica, com o foi dito antes, pode assum ir diferentes perfis, desde textos que com entam , m uitas vezes de forma irônica, fatos do dia a dia, até textos explicitam ente narrativos, que contam , constantem ente de maneira hum orística, ou em ocionada, pequenas histórias sobre personagens ou sobre o próprio

cronista. Leia, a seguir, um trecho da crônica de Fernando Sabino, em que ele explora, de início, com o uma m etalinguagem , o próprio ofício do cronista, para, na sequência, oferecer seu registro atento e sensível de mais uma cena do cotidiano. A ú ltim a c r ô n ic a ( P o r F e r n a n d o S a b in o - p u b lic a d a n o liv ro “A c o m p a n h e ir a d e v ia g e m ” ) A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: “assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica. Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome. Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. (...) São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “Parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso. Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.

3.3 SU ÍTE , P E R F IL E EN TR EV ISTA Suíte é a sequência de uma notícia já publicada anteriorm ente e que m ereceu acom panham ento por sua relevância. Só se justifica se houver novas informações a respeito do caso abordado. C om o se refere a um fato anteriorm ente divulgado, exige uma pequena retom ada do que foi noticiado antes, para que o leitor do dia possa acom panhar qualquer novidade sobre o acontecimento. O perfil é um texto baseado na descrição ou apresentação de determ inada personagem ou lugar. No perfil, o jornalista explora o detalhe e se vale de sua percepção para com por um quadro verbal leve e criativo a respeito do lugar ou pessoa retratada. M uitas vezes, o perfil pode ser publicado com o parte de uma reportagem. A entrevista, além de ser parte do trabalho do repórter nas notícias e reportagens, pode, ainda, constituir-se com o texto “autônom o", de caráter noticioso. Algum as publicações trazem espaços reservados exclusivam ente a esse tipo de texto, que pode assum ir duas form as de apresentação: a entrevista corrida ou a entrevista pingue-pongue.

Na entrevista em texto corrido, o repórter apresenta as falas do entrevistado, intercalando discurso direto (“Foi contra a ditadura”, disse) e discurso indireto (D isse que foi contra a ditadura). O texto, aqui, recebe, geralm ente, o m esm o tratam ento que a noticia, iniciando pelas declarações mais relevantes, m as a carga de subjetividade p o r parte do jornalista (que apresenta as falas) costum a ser mais expressiva (pode aproxim ar-se, assim , do perfil ou, ainda, servir-lhe de base). Na entrevista pingue-pongue, por outro lado, aparecem , com o o nom e sugere, perguntas e respostas sequencialm ente, m as isso não significa que dispensem organização jornalística quanto à hierarquia das informações. Em geral, o título traz referência à declaração considerada de m aior carga inform ativa por parte do repórter e, antes do registro das perguntas e respostas, o jornalista deve redigir uma pequena abertura, de caráter introdutório, à entrevista que o leitor acom panhará em seguida. Há, assim, uma condução sugerida na leitura, com o em qualquer outro texto jornalístico; não se trata, pois, com o alguns podem pensar, de um texto neutro, em que o leitor tem acesso às palavras “ literais” do entrevistado, sem interferência do repórter. A edição se faz necessária não só para que o texto m antenha sua função noticiosa, mas tam bém para que a leitura se torne mais clara. Dessa forma, repetições devem ser suprim idas e explicações longas geralmente resumidas no texto que será publicado. Q uanto à realização das entrevistas, existem algumas dicas im portantes, válidas tanto para aquelas que serão publicadas separadam ente com o para as feitas para a com posição de notícias e reportagens, que fazem parte do trabalho de apuração e buscas de informações. Em prim eiro lugar, nunca é dem ais lem brar que uma entrevista, assim com o qualquer estratégia com unicacional, exige bom senso e preparação. E sem pre mais difícil realizar uma boa entrevista quando se “ cai de paraquedas” bem em frente a alguém que deve responder “algum as coisas” para você. Imagine o problem a que você enfrentaria se, sem saber praticam ente nada de econom ia, tivesse que entrevistar um reconhecido econom ista para tratar dos efeitos da crise econôm ica mundial que explodiu em 2008. Certam ente surgiriam durante a conversa term os e dados que você não dom inaria, a entrevista seria subaproveitada quanto ao potencial inform ativo, você não teria condições de conduzi-la (acabaria “conduzido” pelo entrevistado) e, pior, ficaria o tem po todo com aquela cara de “não sei o que estou fazendo aqui” . Para evitar situações constrangedoras com o essa, o m elhor cam inho é conhecer o máxim o sobre seu entrevistado, sobre o assunto que será abordado, ter clareza quanto à intenção da entrevista (o que essa pessoa pode trazer de inform ação, o que interessa à matéria, o que você precisa saber dela) e rascunhar um pequeno roteiro para guiar a entrevista. Lem bre-se de que o roteiro deve fornecer algum as linhas de condução, m as não pode “aprisionar” a entrevista. O repórter não pode prestar mais atenção no roteiro do que no entrevistado; se isso acontecer, ele pode perder inform ações im portantes ou mesm o perguntar algo que o entrevistado acabou de responder. A ideia é aproxim ar ao máxim o a entrevista de sua matriz, que é o diálogo, o colóquio (como a conversação entre duas ou m ais pessoas), m as pode-se dizer que os procedim entos adotados pelo repórter variam para cada situação. De acordo com N ilson Lage,9 as circunstâncias de realização das entrevistas podem ser:

A ocasional : quando não é program ada e a abordagem se dá de forma não planejada - no encontro eventual com alguma pessoa de expressão pública, por exem plo (políticos, líderes religiosos, artistas etc.); A confronto : principalm ente nos casos em que o entrevistado é objeto de algum a denúncia, o repórter assume, nessa situação, o papel de acusador, com base em docum entos e informações coletadas anteriormente; A coletiva : situação em que o entrevistado responde às questões de vários repórteres, de diferentes veículos de com unicação, em local e horário previam ente agendados pelo próprio entrevistado ou por sua assessoria de imprensa. N esse caso, o diálogo é m enos perceptível, uma vez que a

participação dos jornalistas em geral se restringe a poucas perguntas, para que o m aior número de repórteres possa fazer seus questionamentos; I dialogai : é a entrevista propriam ente dita, quando entrevistador e entrevistado, tam bém em local e horário previam ente agendados, desenvolvem uma “conversa” que tem por objetivo obter as inform ações detidas pelo prim eiro a respeito de si próprio ou de algum assunto que dom ina ou fato que testemunhou. A base para esse tipo de entrevista é a presença “física” dos dois participantes, mas é cada vez mais com um a realização de entrevistas po r m eio da Internet, via chats, por exem plo, ou e-mails. Tais “recursos” são válidos e bastante dinâm icos, em especial quando o encontro face a face não foi possível, no entanto, a entrevista presencial conserva algumas vantagens, principalm ente a possibilidade de perceber “ informações adicionais” a partir de alterações de voz ou expressões faciais, que podem fornecer indícios para confirm ar ou desm entir o que está sendo dito pelo entrevistado. QUADRO 3.11------Resumo dos tipos de textos jornalísticos

T ipos n a rra tiv o s

T ipos arg u m en tativ o s

Nota: breve texto de perfil noticioso, geralmente com posto de um único parágrafo.

Editorial : texto opinativo que reflete o ponto de vista assum ido pelo veículo de com unicação.

Notícia : relato de um fato atual e tido com o socialm ente relevante; matéria-prima do jornalism o.

Artigo : texto assinado, que reflete a opinião do autor a respeito de algum fato ou tem a da atualidade.

Reportagem : relato de m aior densidade e profundidade que a notücia, de caráter investigativo.

Resenha crítica : texto que apresenta análise e crítica sobre determ inada obra cultural-científica.

Crônica : texto m arcadam ente subjetivo, muitas vezes escrito em prim eira pessoa, que registra a visão do cronista a respeito de fatos do cotidiano; aproxim a jornalism o e literatura. Suíte : m atéria que apresenta inform ação atualizada sobre uma notícia já publicada em dias anteriores e que se m antém relevante. Perfil : texto que apresenta uma personagem ou um local. Entrevista : apresenta a voz do entrevistado em texto que pode ser corrido ou no form ato “perguntas e respostas” .

Para discutir “classificações” Vale ressaltar que existem num erosos estudos a respeito das “classificações” de textos em jornalism o. Citarem os, apenas a título de introdução, três trabalhos de autores brasileiros considerados representativos dessa discussão. O prim eiro deles é o estudo proposto por Luiz B eltrão,’ 10 que classificou o jornalism o impresso em três categorias: inform ativo (notícia e reportagem ), opinativo (editorial, artigo, crônica e opinião do leitor) e interpretativo (reportagem em profundidade). O segundo refere-se à proposta de José M arques de M elo,11 que divide a produção jornalística em duas categorias: inform ativa (que inclui a nota, a notícia, a reportagem e a entrevista) e opinativa (que inclui o editorial, o artigo, o com entário, a resenha, a coluna, a carta, a crônica e a caricatura).

Em outra perspectiva, a proposta de M anuel Carlos C haparro1" apresenta as produções jornalísticas a partir dos gêneros relato e com entário. O prim eiro é identificado, textualm ente, pela espécie narrativa, que engloba os formatos: nota, notícia, reportagem , entrevista e coluna (de viés factual); o segundo, o com entário, é identificado pela espécie argum entativa e inclui, para o autor, a crônica, o artigo, a carta, a resenha, o editorial e a coluna (de viés argumentativo). Na prática cotidiana do jornalism o e na leitura atenta que se faz desse discurso, percebe-se, no entanto, que as “indefinições classificatórias" são constantes e os limites entre um form ato e outro, ou entre um gênero e outro, m uitas vezes, não existem de form a clara. Além disso, seria mesm o possível separar opinião de inform ação? A inform ação tam bém não acontece a partir da opinião de outro? E o que dizer acerca da separação entre texto inform ativo e texto interpretativo? A esse respeito, leia o trecho do texto a seguir, publicado pelo site Observatório da Imprensa: O s g ê n e r o s s ã o r e a lm e n te n e c e s s á rio s ? ( P o r J o ã o V ic e n te K u r t z - s ite O b s e r v a tó r io d a I m p r e n s a , 18 d e n o v e m b ro d e 2 0 0 8 )

Mais uma madrugada de insônia. Apanho um papel e uma caneta e rabisco as primeiras palavras deste texto. Elas se tornam frases que aglutinam ideias, que organizam parágrafos. Uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão. Paro e penso: o que, afinal, escrevo? Uma rápida esticada de braço até o monte de livros acumulados ao lado da cama há meses (um amálgama curioso que reúne desde Aristóteles até Baudrillard) me revela: o texto que escrevo é um artigo. (...) Me dou por satisfeito e tento fechar o livro, mas meus olhos pairam sobre o texto de outra página: a angulagem do artigo é “determinada pelo critério de competência dos autores". São duas linhas de texto que abalam minha autoestima: serei eu competente o suficiente para escrever um artigo? Acredito que sou, se comparado a estudantes do ensino médio, porém não devo ser tão bom ou experiente quanto alguém com doutorado. E agora? Meu texto é um artigo para uns e para outros não? Seria então um comentário? Artigo, comentário, crônica ... (...) Essa variedade de textos me leva a uma observação: classificar gêneros em espécies fixas e dizer que qualquer coisa nova é espécie híbrida é transformar o jornalismo em uma estátua de gesso. A Internet, por exemplo, trouxe novas formas de se escrever que as teorias não cobrem. (...) D esse modo, é im portante envolver-se com os textos em suas diferentes configurações, porém , tais reconhecim entos não devem se tornar modelos fixos de escrita, modelos que aprisionam o prazer de escrever. E certo que ainda hoje determ inados veículos de com unicação priorizam recortes pretensam ente mais “científicos" na ocupação do espaço em jornais e em revistas, estabelecendo lugares objetivos e lugares subjetivos para a existência dos textos; contudo, ainda assim, a diversidade se m antém , não só em relação aos meios (diferenças redacionais entre o texto em revista e o texto em jornal), m as tam bém nas diferentes editorias (política, econom ia, cultura etc.).

3.4 O B JE T IV ID A D E E SU B JE T IV ID A D E N O T E X T O JO R N A L ÍS T IC O A objetividade, apontada com o uma das principais virtudes do jornalism o, já há m uito vem sendo questionada por aqueles que produzem e analisam o discurso midiático. Entre objetivo e subjetivo, teríam os uma espécie de “filtro" entre os objetos da realidade (objetivo —►relativo a objeto) e o sujeito que apreende esses objetos (subjetivo —►relativo a sujeito). N o jornalism o, a diferença estaria, por um lado, em priorizar a inform ação (os “acontecim entos do m undo"), e, por outro, m arcar a postura do jornalista, ou da em presa jornalística, diante da inform ação. No entanto, tal distinção não pode ser pensada em termos absolutos, dada a sua im possibilidade: claro está que não é o fato (“com o ele é") que transborda das páginas de jornais e revistas; é a um relato do fato que

o leitor tem acesso (um a representação, portanto). Esse relato, contudo, não é “qualquer relato’'; para ser jornalístico, deve portar um valor de verdade que o sustente, que o torne verossímil; daí advém sua credibilidade. D esse modo, o discurso jornalístico cerca-se de estratégias que lhe garantem credibilidade e que devem ser observadas desde a produção de determ inada matéria: planejam ento, pesquisa, busca por diferentes pontos de vista a respeito do acontecim ento, clareza textual. Esses procedimentos, ainda que vinculados à ideia de objetividade, não “apagam ” , porém , as marcas de subjetividade de um texto (e nem poderiam fazê-lo - basta lem brar que “aquele que escreve” e “o mundo sobre o qual escreve” são entidades indissociáveis, uma vez que participam de um mesm o todo de significação, a linguagem). O jornalista “ fala” a partir de determinado lugar discursivo e é desse lugar que todo o relato se organiza. Escrever em terceira pessoa não faz com que o “eu” desapareça do texto, pois as m arcas de subjetividade podem ser identificadas em outras form as linguísticas, com o na escolha dos verbos declaratorios utilizados para “dar a voz” a algum entrevistado: Para tentar retomar o controle dos presídios, o governo resolveu jogar pesado. “Agora será como em Araraquara: os presos terão de ficar nas unidades destruídas enquanto durarem as reformas”, a v is a o secretário da Administração Penitenciária, Antonio Ferreira Pinto. (Confinados como animais, “Veja", 12 de julho de 2006) N esse caso, o verbo em destaque pode ser tom ado com o um indício da postura da revista, que, de certa forma, interpreta a fala do entrevistado, uma vez que “avisar” , nesse caso, pode ser lido no cam po da “am eaça” , considerado o trecho anterior “resolveu jo g a r pesado”, decisão atribuída ao governo, de quem o entrevistado é porta-voz. Assim, subjetividade e objetividade não devem ser percebidos com o conceitos excludentes; antes, devem ser pensados com o as duas faces da informação. E certo que iluminar uma ou outra dessas faces trará efeitos de sentido diferenciados, m as tanto em uma configuração quanto em outra (e am bas têm espaços garantidos no jornalism o) im portam os princípios éticos a guiar essas produções.

3.5 E S T IL O E R E C U R S O S DE L IN G U A G E M Q uando pensam os em “estilo” de texto, pensamos tam bém em subjetividade, na marca que o sujeito imprime à sua escrita, ao seu “dizer”. A área que estuda os recursos de linguagem que prom ovem o estilo recebe o nom e de Estilística. No discurso jornalístico, os recursos estilísticos (ou figuras de linguagem), são mais com uns nos textos publicados em revistas e naqueles com nítida definição subjetiva, com o artigos, crônicas e críticas (veja Seção 3.2), m as podem tam bém ser observados em reportagens e textos noticiosos em geral. Além de trazer mais “pessoalidade” ao texto, os recursos estilísticos conferem à redação m aior expressividade e, não raro, m aior carga inform ativa, uma vez que são capazes de dotar a escrita de singularidade e propiciar m aior envolvim ento por parte do leitor. Entre os recursos estilísticos m ais observados na prática jornalística estão: a ironia, a m etáfora, a m etonim ia e a antítese. A ironia consiste em m arcar no texto uma voz divergente, que não é assum ida de forma explícita pelo enunciado, m as, ao m esm o tempo, pode ser percebida pelo “outro” da com unicação, a partir de indícios que podem sinalizar tal divergência, com o o uso de aspas, m udanças no tom de voz, gestos etc. Veja os exem plos: “ Ele estava ‘tão ’ feliz que o m elhor presente que poderia receber seriam caixas e caixas de lenços de papel”, “ Sem dúvida, o

presidente da em presa era um ser hum ano da m elhor qualidade: para que seus funcionários precisariam de mais benefícios, se já possuíam tanta riqueza espiritual?”, “A cidade está cada vez melhor: m ais assaltos, m ais poluição, mais trânsito - o que im porta é ser fcm ais’ em tudo” . A metáfora, por sua vez, opera uma substituição de base com parativa entre dois term os que com partilham uma m esm a característica. O corre que na m etáfora essa com paração é im plícita, o que a diferencia de uma com paração simples: Com paração simples: O planeta é “redondo com o se fosse” uma bola. M etáfora: O planeta é uma bola. Já a metonímia estabelece uma substituição com base na contiguidade, e não na com paração entre termos. Por contiguidade entende-se a relação de proxim idade, de contato, que um term o estabelece com outro. Por exem plo, pensam os por contiguidade quando, ao sinal de fumaça, lembramos de fogo. Dessa forma, fumaça e fogo são term os contíguos, assim com o copo e bebida (ex.: bebeu dois copos de cerveja), ou garfo e com ida (ex.: ele é um bom garfo - com e muito). Há vários tipos de metoním ia; as mais com uns são:

o autor pela obra : “O diretor apreciava M achado de Assis” - a obra de M achado de Assis; I a parte pelo

todo : “ A quelas fam ílias não tinham nem mesm o um teto” - uma casa para morar; “Pernas se cruzavam no barracão da escola de samba depois do resultado de vencedora do C arnaval” - pessoas se cruzavam; o continente - o que contém - pelo conteúdo - o que está contido : “ Estava faminta; antes do banho, queria um prato de sopa” - a sopa que estava dentro do prato; o abstrato pelo concreto ou o concreto pelo abstrato : “Ela é a força da com unidade” - o abstrato “força” identificando a própria pessoa;

A o fabricante pelo produto : “ A recom endação era de que não esquecesse de colocar duas colheres de Nescau na calda do bolo” duas colheres de achocolatado em pó na calda do bolo; “Precisava urgentem ente de uma G illette” - de uma lâm ina de barbear. Por fim, a antítese ocorre quando uma relação de contraste ou oposição se estabelece entre dois term os em um mesm o enunciado. Exemplos: “O bom e o mau investidor” , “O elefante e a form iga no cenário político m undial” , “A minoria bem nascida e a m aioria enfraquecida” . A quebra de “fórmulas fixas” (frases am plam ente conhecidas em determ inada sociedade, que já fazem parte de sua m em ória linguístico-cultural, com o provérbios, frases feitas, clichês), apesar de ser recurso m ais com um no texto publicitário, é tam bém utilizada no discurso jornalístico, em especial nos títulos, para im prim ir ao texto m aior expressividade, e muitas vezes vincula-se a outros recursos estilísticos, com o a ironia e a metáfora. A quebra pode ocorrer a partir de alterações na frase ou expressão original (“Som bra e água quente”, com o título para uma matéria sobre a cidade turística de Caldas N ovas, G O , conhecida por suas águas quentes, por exem plo, em referência à conhecida com posição “ sombra e água fresca”), ou a partir de um novo contexto linguístico, quando a frase ou expressão já conhecida é reaproveitada (atualizada) em um contexto discursivo que sugere outras significações (“A ocasião faz o ladrão”, com o opção de título para um a matéria sobre uma rede de corrupção, investigada pela Polícia Federal). Outros dois recursos estilísticos com uns na linguagem cotidiana e que fornecem diferentes efeitos de leitura ao texto são: a hipérbole e a personificação. A hipérbole consiste no exagero atribuído a determ inadas expressões ou frases. Exemplos: “O film e fez todos m orrerem de rir”, “A fome era tanta que com eria um boi”, “Já falei m il vezes a m esm a coisa e ele não entendeu” . Já a personificação (ou prosopopeia) acontece quando

características hum anas são atribuídas a anim ais ou seres inanimados: “A floresta chora’', “A casa do escritor era sim pática e charm osa", “ Para o investigador, até as paredes falam ”. Recursos sonoros, com o a rima e a onom atopéia, tam bém podem ser observados no discurso jornalístico. A onomatopéia refere-se ao uso de palavras ou expressões que im itam sons ou ruídos. Exemplos: “O bangue-bangue está de volta", “O blá-blá-blá de todo ano no C ongresso", “ Discussão? Não. Só zzzzzzzz", “Pingue-pongue com especialistas em trânsito". A rima, por sua vez, consiste na repetição de um m esm o som no final de duas ou mais palavras que se encontram próxim as. Exemplos: “Viver para com er", “O show biz que está por um triz", “ Portugal e Brasil: am igos antigos?". Q ualquer que seja o recurso utilizado, buscar o próprio estilo de redação é um exercício primordial para uma escrita mais criativa e mais prazerosa, que vá além de padronizações e seja capaz de exprim ir, em palavras e em arranjos inovadores, toda a riqueza da linguagem, aliada à identidade e à personalidade do falante. Para exercitar “estilo" e criatividade, procure fugir das form as óbvias, dos clichês, dos “arranjos" esperados dem ais; experim ente form as diversas para elaborar uma m esm a frase; por exem plo, elabore títulos criativos para seus textos; procure expressar em versos uma sensação, um sentim ento, uma ideia; explore seu vocabulário. U m bom exercício para isso é a associação: eleja uma palavra de “base", por exem plo, “m ar", e a partir daí busque o máxim o de associações que você puder vincular a essa palavra (em um procedim ento palavra-puxa-palavra): sol, praia, onda, vento, liberdade, azul, maré, navio, nau, marejar, m ontanhas, areia, castelo, am igos, crianças, brincar, brincadeiras, im aginação, olhar, grandiosidade, nascente, poente, água, calor, barco, estrelas, peixes, claridade, e tantas outras palavras que vierem à sua cabeça (as associações dependem da referência de cada falante). A partir daí, você pode, como desafio, redigir um pequeno texto poético em que figurem essas palavras. Procure utilizar metáforas e m etonim ias para com por as frases (exem plos: “o m ar marejou meu olhar", “castelo de areia, am igos-crianças a navegar em nau de imaginação"). A linguagem é terreno fértil para encontros, para novidades, para descobertas; e as possibilidades são infinitas ... Procure encontrar “seu" estilo, procure encontrar-se no texto.

3.6 JO R N A L IS M O E L ITE R A T U R A A inter-relação jornalism o e literatura carrega uma história de aproxim ações e afastam entos, afinidades e rejeições. No Brasil, o jornalism o, no final do século XIX, estava fortem ente calcado nas produções literárias, especialm ente com a publicação de folhetins, que faziam bastante sucesso à época. Obras literárias com o “O guarani" (em 1857), de José de Alencar, e “ M emórias de um sargento de m ilícias" (em 1853), de M anuel Antônio de Almeida, foram conhecidas antes pela imprensa (a prim eira no “ Diário do Rio de Janeiro" e a segunda no jornal “Correio M ercantil") para depois serem publicadas com o livro. Boa parte do que era colocado nos jornais dessa fase constituía-se de certo hibridism o literatura/jornalismo; é só a partir do início do século X X que o discurso jornalístico passa a esboçar um terreno próprio, com a tentativa de separação entre essas duas áreas: “as colaborações literárias com eçam a ser separadas, na paginação dos jornais: constituem m atéria à parte, pois o jornal não pretende mais ser, todo ele, literário".1' A partir da década de 1950, a separação se torna mais radical, com a criação e a adoção dos manuais de redação pelos jornais brasileiros. O primeiro manual de redação jornalística, no Brasil, foi lançado pelo jornal “D iário Carioca". A idealizada busca por objetividade e neutralidade, que de certa forma pautou o trabalho nas redações até as décadas de 1980/1990 (em bora algumas a persigam até hoje), inscreve-se justam ente com a difusão do lide, peça-

chave dos manuais. É im portante salientar que, no segm ento revista, os m anuais não tiveram a m esm a inserção; revistas que se tornaram marcos do jornalism o no Brasil, com o “ O Cruzeiro", “D iretrizes" e “ Realidade", destacaram -se no gênero reportagem (ou mesm o na grande reportagem ) e, por vezes, traziam aos seus leitores textos de teor interpretativo-subjetivo, com traços explicitam ente literários, com o descrições abundantes e presença de recursos de linguagem. Do final do século X X até agora, temos presenciado várias mudanças no fazer jornalístico, em especial no que se refere às novas possibilidades abertas pela Internet quanto à produção e à divulgação de informações. Os blogs dedicados ao jornalism o, por exem plo, incluindo aqueles de jornalistas vinculados a grandes em presas de com unicação, proliferam na rede e se tornam espaços inovadores de inform ação, espaços subjetivos e interativos, como é próprio dessa mídia. Em muitos casos, vislum bram os crônicas, textos opinativos, textos em prim eira pessoa, perguntas diretas. Deixam de ser “jornalism o" por causa disso? E claro que não. A inform ação só tem a ganhar com tam anha m ultiplicidade e, em num erosos exem plos, com melhor qualidade de texto, com relatos m ais criativos e “ assum idos”, desde que, obviam ente, mantenha-se a ética, o cuidado na apuração e na divulgação do que quer que seja. Entra aqui, tam bém , a atenção do internauta ao navegar em busca de inform ações: o exercício prevê seleção crítica, variedade, questionam ento, desconfiança ... (atitudes que, aliás, devem igualmente ser observadas para o jornalism o impresso). N as produções im pressas, m esm o os m aiores jornais do país tam bém têm investido cada vez mais nos conteúdos opinativos-interpretativos, com a publicação de artigos, crônicas, contratação de novos colunistas, sendo muitos deles escritores. Isso acontece porque o leitor tem procurado m ais que o factual nos jornais, um a vez que existem outros meios (Internet, televisão, rádio) pelos quais recebe de forma mais rápida a informação. O jornal do dia, cuja edição fechou na noite anterior, já chega defasado às m ãos do leitor se observarm os som ente seu caráter de ineditism o, de novidade. O cam po que se abre, e está aí seu diferencial, é o da interpretação, da análise, da opinião e da diversidade, exigências nas quais o leitor ancora sua escolha e sua identidade. Pode-se dizer que esse cenário, m ais m aleável e m enos preocupado com o imediatismo, em que se encontra o jornalism o impresso, propicia novos encontros com a literatura, da qual, afinal, nunca se apartou de fato. Prova disso são as contribuições e os cruzam entos entre essas duas áreas que se fizeram presentes nas obras de vários dos nossos m ais conhecidos autores, ora trabalhando em jornais e revistas ou escrevendo assiduam ente para eles, ora buscando na prática jornalística sua razão de escrever. Só para citar alguns deles: M anuel A ntônio de Almeida, M achado de Assis, A luísio Azevedo, Euclides da Cunha, Lima Barreto, M ário de Andrade, Raquel de Queiroz, G raciliano Ramos, Clarice Lispector, Carlos Drum m ond de Andrade, Fernando Sabino, Rubem Braga, Nelson Rodrigues, Ruy Castro, João Ubaldo Ribeiro, Ignácio de Loyola Brandão, M ilton H atoum , M oacyr Scliar, entre outros.

JORNALISMO LITERÁRIO E LIVRO-REPORTAGEM A expressão jornalism o literário é utilizada para identificar iniciativas m arcadam ente subjetivas e interpretativas na produção jornalística, em que a construção do relato privilegia o traço do autor e sua criatividade ao com por o texto. N os Estados Unidos, é com o new journalism , a partir da década de 1960, que a aproxim ação jornalism o/literatura se faz mais definitiva, com as produções inovadoras dos jornalistas-autores Gay Tálese, N orm an Mailer, Tom Wolfe e Trum an Capote. E de autoria deste últim o o conhecido livro “ A sangue frio", publicado em 1966, considerado o m arco do gênero, em que o autor conta a história do brutal assassinato de uma família ocorrido em uma pequena cidade dos Estados Unidos, em 1959.

No Brasil, a história do jornalism o literário vincula-se à trajetória de jornalistas com o Joel Silveira e José Ham ilton Ribeiro,* considerados ícones desse tipo de texto por aqui. A ntes deles, porém , Euclides da Cunha já havia nos dado a base da aproxim ação jornalism o/literatura, com o clássico “Os sertões'', em que narra o trágico episódio da G uerra de Canudos, no sertão da Bahia, a partir de profundo olhar testem unhal. O escritor foi enviado pelo jornal “O Estado de S. Paulo" para cobrir o conflito, em 1897. Q uanto ao form ato textual, pode-se dizer que é o livro-reportagem sua m elhor form a de expressão, no qual se destacam autores com o Fernando M orais (autor de “Corações sujos", “O lga", “Chatô: o rei do B rasil", “A ilha", entre outros), Caco Barcellos (autor de “Rota 66" e “Abusado: o dono do M orro Dona M arta", entre outros) e Ruy Castro (autor de “ Chega de saudade: a história e as histórias da bossa-nova", “ Estrela solitária: um brasileiro cham ado G arrincha", entre outros). No livro-reportagem , juntam -se observação aguda da realidade, amplo trabalho de pesquisa, investigação e apuração de dados, capacidade interpretai iva, sensibilidade e escrita criativa. Não se trata, assim , apenas de uma “reportagem m uito grande”, um texto de m aior extensão, ou, ainda, de um texto noticioso em outro suporte (do jornal ou da revista para o livro). R edigir um livro-reportagem é, antes de mais nada, um exercício de investigação e de estilo, que exige percepção do mundo e domínio de linguagem, intim idade com o próprio texto, com a letra. Há que se ressaltar, ainda, o valor testem unhal dessa narrativa, seja no contato direto do repórter com a história que está contando, transformandose m uitas vezes em narrador-personagem , seja no testem unho indireto, por meio do acesso a docum entações reveladoras ou da realização de entrevistas com aqueles que vivenciaram os fatos, em um trabalho de verdadeira reconstrução da memória. Para a produção do livro “Chatô: o rei do Brasil”, por exem plo, que conta a história de Assis Chateaubriand, criador do poderoso grupo de com unicação Os Diários A ssociados e fundador do M useu de Arte de São Paulo (M asp), o autor, Fernando M orais, entrevistou 184 personagens e contou com a ajuda de uma equipe de 19 jornalistas e pesquisadores na busca por informações. Já para fazer o livro “ Abusado: o dono do M orro D ona M arta", que retrata a vida do traficante M arcinho VP e a atuação do Com ando Vermelho na favela, o jornalista Caco Barcellos levou cerca de quatro anos em um extenso trabalho de investigação e apuração. O livro ganhou o prêmio Jabuti, em 2004, na categoria Reportagem e Biografia. O repórter José Hamilton Ribeiro, enviado para cobrir a Guerra do Vietnà, em 1968, para a revista "Realidade", perdeu a perna esquerda ao pisar em uma mina terrestre. A imagem do jornalista ferido foi publicada na capa da revista, cujo título “Nosso repórter viu a guerra de perto” chamava para a reportagem escrita por ele ainda no hospital. Um dos maiores grupos de comunicação do Brasil, que chegou a totalizar 34 jornais, duas importantes revistas (“O Cruzeiro" e “A Cigarra"), 36 emissoras de rádio, 18 emissoras de televisão (foi Chateaubriand que fundou a primeira emissora de televisão do Brasil, a TV Tupi, em 18 de setembro de 1950) e uma agência de notícias.

PARA L E M B R A R - B R EV E R E TO M A D A DO C A P ÍT U L O 3 O texto jornalístico deve ser correto, claro e expressivo. O uso de ordem direta da frase, divisão do parágrafo em períodos curtos, uso de palavras coloquiais e utilização de testemunhos estão entre as recom endações para a escrita do texto informativo. O lide é a abertura com um ente utilizada no texto jornalístico de caráter noticioso, espaço em que o redator procura responder às seis questões que cercam o fato: quem , o quê, quando, onde, com o e por quê.

A No jornalism o impresso, podem os identificar tipos textuais de estrutura narrativa e tipos textuais de estrutura dissertativa-argum entativa. Aos prim eiros correspondem a nota, a notícia e a reportagem. Aos segundos correspondem o editorial, o artigo e a resenha crítica.

A crônica é um gênero híbrido, que estabelece a ponte jornalism o e literatura. Como principais características, apresenta: brevidade, simplicidade, atualidade e estilo pessoal. A inda que o espaço discursivo em jornalism o privilegie, tradicionalm ente, produções que se pautem pela objetividade, há que se considerar, tanto em sua construção, quanto em sua análise, a carga subjetiva que carrega, ainda que de forma não explícita. Os recursos estilísticos propiciam m aior expressividade ao texto e indicam subjetividade na produção discursiva. Os m ais usuais em jornalism o são: a ironia, a metáfora, a m etonim ia e a antítese. A relação jornalism o e literatura faz parte da história do jornalism o, ao originar cruzamentos e influências no trato narrativo, base dessas duas form as de expressão, que têm no texto sua manifestação.

PR O PO ST A S DE ATIVIDA DES 1. Qual é o “ gancho jornalístico" presente no trecho transcrito a seguir? Uma pesquisa mundial, realizada pelo Programa de Mulheres Líderes do Fórum Econômico Mundial, mapeou as disparidades entre homens e mulheres em quatro pilares fundamentais: participações política e econômica, saúde e educação. O estudo aponta que a desigualdade está presente até mesmo no primeiro mundo. No Brasil, não há muito o que comemorar. O país ocupa o 672 lugar e perde para Uruguai, Paraguai, Venezuela, Argentina e Colômbia, entre outros, na classificação geral. (“O Estado de S. Paulo", 18 de março de 2007) 2. Redija um artigo a respeito das pesquisas com células-tronco no Brasil. Pesquise sobre o assunto. Opine - você é contrário ou favorável às pesquisas? - e só depois escreva seu texto. 3. A partir dos dados a seguir, redija o lide de uma notícia. O bserve as exigências do texto jornalístico, com o ordem direta da frase, parágrafos e períodos curtos, vocabulário coloquial e clareza: um incêndio; no Parque N acional da C hapada dos Veadeiros; desde o último domingo; 40 mil hectares de vegetação já foram devastados; 90 bom beiros + 20 brigadistas voluntários de Goiás no local; I a Polícia Florestal investiga as causas do incêndio. 4. Identifique, no texto a seguir, as m arcas de subjetividade presentes: A s ir m ã z in h a s e os m e r n iã o ( P o r N ir la n d o B e ir ã o - “ C a r t a C a p i t a l " , 19 d e s e te m b ro d e 2008)

E para iludir os protagonistas - e a equipe técnica - com o fugaz alento para a penosa jornada que os aguarda, meses a fio. Já houve Veneza e Amsterdã, em exagero de barcos e de canais. São Petersburgo, para um retoque imperial. Londres e Paris, menção ao clássico. Lisboa, afetuosamente familiar. Nova York, com aquele skyline que, se fosse cobrar Copyright, quebraria Hollywood assim como a Rede Globo. E, num rasgo de exotismo, a Marrakesh de “O clone", em moldura tão

forçada que nào há um escasso marroquino que se identifique com aquilo lá. Parece caricatura forjada nos galpões do Projac. Xangai está a caminho, ou Hong Kong, sabe-se lá - com Miguel Falabella fazendo-se passar por Wong Kar-Wei. "Três irmãs”, que estreou esta semana, excursiona por praia ainda mais remota. Nem Bali nem o Havaí. Trata-se de um mundo fictício, que se assemelha remotamente com o que o Rio de Janeiro já foi e nào é mais: paraíso de surfistas dourados e de criaturas indecorosamente felizes, típicos daquelas páginas coloridas de "Manchete" nos otimistas anos JK. (...) As três irmãs do título são umas belezinhas, mas só mesmo a presença de Regina Duarte, em surto de Viúva Porcina, e de Marcos Caruso, para quem fazer rir é que nem coçar, pode antecipar a expectativa do humor meio escrachado. Como diz a própria Regina, novela é bom para quem não tem o que fazer. 5. Identifique na notícia a seguir o lide e principais características do texto jornalístico: N o P A , 107 e m p re s a s ir ã o r e s p o n d e r p o r d a n o a m b ie n ta l ( P o r C a r lo s M e n d e s - A g ê n c ia E s ta d o , 12 d e d e z e m b r o d e 2 0 0 8 )

Nove procuradores da República no Pará ingressaram hoje na Justiça Federal com ações coletivas, cobrando mais de RS 2 bilhões de indenização por danos ambientais e morais causados à floresta amazônica, além de fraudes e outras irregularidades, contra 107 empresas e 202 pessoas acusadas pelo desvio de 1,7 milhão de metros cúbicos de madeira. O que foi derrubado e retirado ilegalmente equivale a 71 mil carretas usadas no transporte de toras pelas estradas da região. Caso sejam condenados, os acusados serão também obrigados a reflorestar uma área desmatada de 364 km“, o mesmo tamanho da cidade de Curitiba. As empresas, que até o ano passado deviam as maiores multas aplicadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Estado e algumas se beneficiaram do esquema criminoso conhecido como Ouro Verde II. do qual trinta pessoas foram presas pela Polícia Federal (PF) por adulterações no sistema eletrônico de créditos florestais do próprio Ibama, são os principais alvos das ações do Ministério Público Federal (MPF). (...)

6. Redija uma crônica com entando o fato relatado no trecho da matéria transcrita a seguir. É p r o ib id o m o r r e r e m B ir itib a - M ir im ( P o r I s r a e l T a b a k e J o s ie J e r ó n im o - J B O n lin e , 9 d e d e z e m b r o d e 2 0 0 5 )

Prefeito avisa que moradores deverão cuidar da saúde "para nào falecer" (...)

Mais de 30 anos depois, em tempos democráticos, o tucano Roberto Pereira da Silva, prefeito de Biritiba-Mirim, um município de 29 mil habitantes que produz hortaliças, a 80 quilômetros de São Paulo, também recorre à sátira para expor, ao seu jeito, as mazelas que pontuam a ausência de planejamento nas grandes e pequenas cidades brasileiras. Se Odorico Paraguassu vivia o drama de nào ter a quem enterrar - ninguém estava morrendo na cidade - , Roberto Pereira da Silva enfrenta problema inverso: não há mais vagas no cemitério local e o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) proíbe a construção de mais um cemitério na cidade, quase toda considerada área de proteção ambiental. Provavelmente inspirado no personagem imortalizado por Paulo Gracindo, o prefeito tucano apelou paro o grotesco, tentando chamar atenção para o problema de Biritiba-Mirim, município que abastece de hortifrutigranjeiros a capital paulista: ele enviou à câmara local um projeto de lei que decreta no artigo primeiro: “Fica proibido morrer em Biritiba-Mirim". O parágrafo único também faz rir: “Os infratores responderão pelos seus atos". Os demais artigos avisam que os habitantes da cidade deverão "cuidar da saúde para nào falecer", enquanto nào se constrói um novo cemitério. (...)

7. A nalise o trecho do editorial transcrito a seguir: qual é o ponto de vista defendido no texto? Quais são as marcas de subjetividade presentes? O s a m e r ic a n o s e le g e ra m o s o n h o ( P o r C a r lo s J o s é M a r q u e s , d i r e t o r e d ito r ia l - “ I s to É ” , 12 d e n o v e m b ro d e 2008)

Barack Hussein Obama é o mais puro e genuíno retrato do sonho do líder americano Martin Luther King, que queria viver numa nação onde as pessoas nào seriam

julgadas pela cor da pele. Sua eleição como 44- presidente dos EUA consagra a luta de outro histórico compatriota, Abraham Lincoln, que aboliu a escravatura no país. Sua condução ao poder reaviva na memória dos americanos a lembrança do presidente Franklin Delano Roosevelt, que ao tomar posse após o crash da bolsa em 29 lançou o “New Deal” e em dez anos converteu os EUA na potência que são hoje. Poucos foram os líderes que mudaram a roda da história daquele país e, por consequência, do mundo. Barack Hussein Obama tem essa chance. (...) A façanha é, na essência, um marco revolucionário, que realinha o rumo da nação, traz à baila a figura do líder redentor e pode enterrar de vez as diferenças que há quase 150 anos provocaram a Guerra Civil Americana. Quando Barack Obama nasceu, a segregação restringia o voto do negro e era crime o casamento inter-racial. Quis a ironia do destino que fosse ele filho da miscigenação e ganhasse a maior de todas as eleições majoritárias. O conjunto de improbabilidades que o colocou na posição de homem mais poderoso do planeta assume inúmeras facetas. No próprio sobrenome, inclusive. Com o seu Obama, que lembra o terrorista Osama Bin Laden, e Hussein, de Saddam Hussein - dois dos principais inimigos dos EUA - , Barack estaria mais perto de provocar a ira americana. Conseguiu o contrário. Uniu a todos, revoltados com a era Bush. (...) Nunca antes naquele país um negro foi tão longe. “Sim, nós podemos”, foi o mantra que Barack Obama, o agora presidente eleito, conduziu durante toda a sua campanha. Resta o mais difícil: cumprir a promessa que fez após o resultado das urnas. “A hora da mudança chegou para a América”, disse. Ninguém espera menos. 8. Reescreva a nota a seguir, tornando-a mais clara e seguindo os princípios do texto jornalístico. Faça as adequações que julgar necessárias: Há mais de duas semanas, uma coisa muito importante aconteceu em uma das unidades do Sesc da cidade de São Paulo, o Sesc Pinheiros: um dos mais conhecidos autores em língua portuguesa, o escritor português José Saramago, esteve lá para o lançamento do seu último livro, que tem o nome de “A viagem do elefante”. Essa unidade do Sesc fica na Zona Oeste da cidade de São Paulo. 9. Redija uma nota com base no poem a de M anuel Bandeira, reproduzido abaixo: João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número. Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. (Poema tirado de uma notícia de jornal, publicado no livro “Libertinagem”) 10. Faça uma reportagem sobre “ música independente no Brasil” . Procure dados a respeito, converse com bandas que se definem independentes, pesquise a respeito da indústria fonográfica no Brasil, procure exem plos, faça entrevistas com músicos que produzem e com ercializam suas com posições, converse com produtores que atuam na cena independente. Redija um texto e um título criativos e confira todas as informações utilizadas. 11. A nalise os títulos abaixo quanto aos recursos estilísticos empregados. “Feito de aço, mas com coração de manteiga” (“Veja”, 12 de julho de 2006) “A cenografia da maldade” (“Veja”, 12 de julho de 2006) “Mar de greves” (“Nossa história”, maio de 2005) “Terras entre a cruz e a espada" (“Nossa história", maio de 2005) “Uma baixinha gigante” (“Época”, outubro de 2006)

“O último dos românticos” (“Bravo!”, janeiro de 2007) “A decolagem do biocombustível” (“Brasileiros”, julho de 2007) “Reunião de líderes na Bahia: rir para nào chorar” (“Veja”, 24 de dezembro de 2008) “O baú de Darwin” (“IstoÉ”, 24 de dezembro de 2008) 12. Entreviste um “especialista” em algum tem a de seu interesse (pode ser um professor, um profissional que você conheça; você pode escolher temas com o “as novas tecnologias em educação”, “a qualidade da program ação televisiva”, “a ditadura da beleza” , “o jornalism o digital”, “ o jornalism o cultural”, entre outros). Faça antes um roteiro para sua entrevista, pesquise sobre o assunto a ser abordado e redija o texto em formato de entrevista pingue-pongue (perguntas e respostas). Não se esqueça de fazer um a pequena abertura antes de iniciar o registro das falas no texto.

LER E ESCREVER: AS DUAS FACES DE UM BOM TEXTO — C A P IT U L O

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ensar letras sentir palavras a alma cheia de dedos no céu, minguante na água, cheia cresce lua nova (A lice Ruiz, ' ‘D esorientais') O B JE T IV O S _________________________________________________________________________ Discutir a relação leitura e escrita. Dar dicas sobre procedim entos im portantes para a correção gram atical-ortográfica do texto.

“Para quem quer escrever bem , nada m elhor do que ler m uito.” Q uem ainda não ouviu esse conselho? M ais que um conselho “ certeiro”, o binômio leitura-escrita é determ inante na aquisição de conhecim entos a respeito do idiom a e a respeito de si próprio. Q uando lemos, partilham os palavras (sua ortografia), estruturas sintáticas, ritm os de texto, significações. N a leitura, ativam os nossa memória visual do código e apreendem os novas palavras e construções de linguagem. Q uando escrevem os, vivenciam os a língua, exercitam os nossa memória, reinventam os o código apreendido, buscando novas com binações, novos efeitos. E essencial que, nesse processo, a leitura não se torne “apenas” m ais uma obrigação, um ato m açante e com pletam ente esvaziado de prazer. Se isso acontece, a escrita tam bém vai se tornando mecânica, restrita, sem rumo. M esm o com todas as indicações obrigatórias de leitura com as quais tem os de lidar (para um trabalho acadêm ico, para um concurso, para uma apresentação profissional etc.), a dica é sem pre encontrar espaço para o “gosto de ler” (às vezes, mesm o na obrigação, podem os ter ótim as surpresas de leitura). A liás, questionar-se sobre o gosto pessoal de leitura (tem as, estilos, autores, tipos de textos) é um passo im portante em direção a uma escrita tam bém mais prazerosa, e m ais inquietante - quando o texto deixa de ser “aquilo que está escrito no papel” e passa a ser um pouco do que som os, do que percebem os, do que sentimos.

Vale ressaltar que o aprendizado da leitura é constante e renovável. N ão é algo que a gente aprende e ponto - só é bom leitor quem lê, e muito, por toda a vida. A m esm a coisa ocorre com a escrita: quanto mais se pratica, m ais se renova o conhecim ento linguístico e mais possibilidades se abrem quanto às form as de expressão. Para o jornalista, com o profissional do texto, esse exercício é cotidiano e não deve se restringir apenas às regras redacionais estipuladas pelas em presas de com unicação. Além de saber com por corretam ente um lide, expor coerentem ente as falas dos entrevistados na matéria, escrever com clareza, entre outros procedim entos corriqueiros na redação jo rn alística,1 o redator deve desafíar-se diariam ente quanto à busca de estilo próprio, quanto à criatividade e quanto à adequação do texto a diferentes públicos (um bom exercício, nesse sentido, é redigir uma m esm a inform ação direcionada a mais de um perfil de receptor - por exemplo: noticie a aprovação, pela Câm ara dos Vereadores de sua cidade, de um projeto que prevê a proibição de oferecer produtos industrializados nas m erendas escolares; redija um texto voltado ao público infantojuvenil e outro voltado aos profissionais da educação). O com unicador deve, ainda, cuidar da correção gram atical-ortográfica do próprio texto. Para isso, dicionários e m ateriais de apoio gram atical (como manuais de redação jornalística e livros sobre as principais dúvidas do portuguê2) são essenciais no dia a dia. Esse tipo de consulta lhe dará maior segurança ao escrever e m aior proxim idade com o português. A orientação vale, sem dúvida, para os estudantes, que devem sanar qualquer tipo de dúvida no m om ento da escrita (seja diante do com putador, seja na sala de aula). Dúvidas que são proteladas para outro dia, outra hora, com o sabemos, frequentem ente não são respondidas. O utra orientação: leia seu texto, sempre, depois de escrevê-lo, e procure ser crítico - se algum trecho não está exatam ente com o você deseja, reescreva, busque outra solução. D esse modo, leitura e escrita convergem para o cam po da produção de sentidos em linguagem , lugar de encontros, de trocas, entre um eu e um outro, sujeitos críticos, que se constroem a cada enunciação. Ao com unicador cabe, assim, desconfiar dos modelos, questionar seu texto, reinventar sua expressão, dialogar com o mundo a sua volta e, principalm ente, consigo mesm o. Afinal, o jornalism o não se configura além da sociedade (ou acima dela, com o às vezes se insinua); tam pouco exerce a função de “puro" m ediador entre a inform ação/og fato e o público leitor. Antes, ocupa um lugar de agente social, recortando e organizando as significações do mundo. N esse cenário, o jornalista, esse “ser que produz os textos" não se reduz a m ero feitor de lides ou a uma peça m anipulável em um jogo de poder. M ais do que nunca, em um mundo de informações fragm entadas e múltiplas, o jornalista deve se assum ir com o produtor do próprio texto, com o aquele que se responsabiliza eticam ente por aquilo que “dá a ver" (e por aquilo que não mostra), assim com o pela forma com que faz isso, o que inclui preocupação com as “vozes" presentes na matéria, com as pesquisas realizadas, com a apuração das inform ações e, finalm ente, com a função com unicativa que exerce.

4.1 NA T R IL H A DA L IT E R A T U R A : A LG U M A S SU G E ST Õ E S DE L E IT U R A I “O guarani", de José de Alencar: m arco da vertente nacionalista-indianista da produção romântica no Brasil, apresenta a visão heroica e idealizada do índio e o contato com o branco, por m eio das figuras de Peri e Ceei; “M em órias de um sargento de milícias", de Joaquim M anuel de Almeida: inicialm ente publicado em folhetins, entre 1852 e 1853, no jornal “Correio M ercantil", no Rio de Janeiro, o livro apresenta uma “ crônica de costum es" da sociedade carioca no tem po do rei D. João VI; “M em órias póstum as de Brás Cubas", de M achado de Assis: considerado o prim eiro romance do Realism o psicológico na literatura brasileira, o livro traz estrutura e linguagem inovadoras para apresentar a história do narrador, Brás Cubas, que, com um tom bastante irônico, aproveita-se de

sua condição especial, de ser um defunto-autor, para contar sua vida a partir de sua morte; “D om Casm urro”, de M achado de Assis: o livro, publicado em 1900, conta a história de Bentinho, o narrador, e Capitu, sua am ada, a quem se atribui um dos maiores enigmas da literatura brasileira: Capitu traiu ou não Bentinho? O terceiro personagem que com põe esse “duvidoso” triângulo am oroso é Escobar, m elhor am igo de Bentinho. C om talento, o autor m antém a dúvida até o final da tram a e estabelece com o leitor uma cum plicidade que se atualiza a cada leitura; I “O cortiço”, de A luísio A zevedo: com descrições precisas, o livro é tido com o a obra mais representativa do Naturalism o no Brasil. A o retratar a vida em um cortiço no Rio de Janeiro no final do século XIX, o autor m anifesta uma das abordagens centrais da vertente naturalista: apresentar o ser hum ano com o produto do m eio social; I “Os sertões”, de Euclides da Cunha: apresenta, em três partes (O homem, A terra e A luta), um relato m inucioso (de caráter jornalístico, uma vez que foi enviado pelo jornal “O Estado de S. Paulo” com o correspondente) sobre a G uerra de Canudos, que ocorreu entre 1896 e 1897, na Bahia; I “Triste fim de Policarpo Q uaresm a”, de Lima Barreto: a partir da figura ingênua do m ajor Policarpo Q uaresm a, o autor faz uma crítica à sociedade brasileira, em alusões constantes ao patriotism o doentio dem onstrado pelo protagonista - a obra faz parte da fase Pré-M odernista da literatura brasileira; “M acunaíma: o herói sem nenhum caráter”, de M ário de Andrade: clássico do M odernismo, o livro traz referências folclóricas e épicas para com por a história do brasileiro M acunaíma;

A “Vidas secas” , de G raciliano Ramos: narra, em terceira pessoa, a difícil luta pela sobrevivência no N ordeste brasileiro, a partir das figuras de Fabiano, Sinhá Vitória, os meninos, “mais velho” e “ mais novo” (filhos do casal), e a cachorra Baleia, que fogem da seca e da m iséria a que estão condenados. O livro, de 1938, é considerado obra-prim a da literatura nacional; A “A rosa do povo”, de Carlos D rum m ond de Andrade: com posto por 55 poem as, o livro, de 1945, m arca com intensidade o diálogo do poeta com o tecido social, naquele m om ento às voltas com a ditadura Vargas, no Brasil, e com os horrores da Segunda G uerra M undial; I “O rom anceiro da inconfidência” ;, de Cecília M eireles: uma das mais conhecidas obras da autora, reúne poem as de sensibilidade e capacidade crítica raras em torno do sistema colonial e da Inconfidência M ineira - publicado em 1953; “Prim eiras estórias” , de João Guim arães Rosa: as 21 pequenas “estórias” que com põem esse livro, entre elas a conhecida A terceira margem do rio, são, para muitos críticos, a m elhor forma de com eçar a ler a obra rosiana, em toda a sua diversidade e em toda a sua capacidade de surpreender o leitor; “Grande sertão: veredas”, de João G uim arães Rosa: na história narrada em prim eira pessoa, o jagunço Riobaldo conta, em memória, sua trajetória pelo sertão, m ovida pelas guerras e, essencialm ente, pelo seu am or por Diadorim - livro é considerado um clássico da literatura universal;

A “Estrela da vida inteira”;, de M anuel Bandeira: publicado em 1966, o livro reúne as poesias dos vários livros do autor recifense, considerado um dos m aiores poetas do verso livre em língua portuguesa, com o A cinza das horas. Carnaval, Estrela da tarde. O pus 10, Libertinagem e M afuá do M alungo;

“Sala de arm as”, de N élida Piñón: reúne 16 belos contos da autora, que é tam bém professora e jornalista. N o livro, m esclam -se lirismo e ironia, em narrativas que retratam a com plexidade e a riqueza do universo humano;

A “A hora da estrela”;, de Clarice Lispector: a alagoana M acabéa, que chega ao Rio de Janeiro para “tentar a vida” ;, é a curiosa protagonista do livro - historia é narrada por Rodrigo e é por sua “voz” que a autora traça uma discussão metalinguística sobre o ato de escrever; A “200 crônicas escolhidas”, de Rubem Braga: no livro, estão reunidas eró nicas que retratam o cotidiano, sob o olhar atento e sensível desse que foi um dos m ais conhecidos cronistas brasileiros - Rubem Braga tam bém trabalhou com o correspondente durante a Segunda G uerra, acom panhando a atuação da FEB para o “D iário Carioca” .

PARA L E M B R A R - B R EV E R E TO M A D A DO C A PÍTU LO 4 Ler é essencial para escrever bem. A leitura, além de trazer conhecim ento e propiciar a am pliação do vocabulário, tam bém perm ite que o leitor apreenda as estruturas sintáticas da língua. O redator é responsável pela correção gram atical-ortográfica do próprio texto. O uso de dicionário e a consulta frequente a manuais de referência gram atical para as principais dúvidas do português são im prescindíveis a quem quer aprim orar a escrita e ter mais segurança quanto à qualidade da redação. O com unicador, que lida diariam ente com a produção textual, deve m anter uma relação prazerosa com a própria escrita; o texto não pode se configurar com o uma form a de aprisionamento, ou de limitação da criatividade, restrito a regras intransponíveis de com posição.

G L O S S Á R IO

A rtig o : texto dissertativo-argum entativo, assinado, que expressa a opinião de quem escreve. C h a m a d a : resum o (ou apenas frase indicativa), que consta na capa de jornais ou revistas, dos textos que o leitor encontrará no corpo dessas publicações. C o lu n a: espécie de artigo regular, que trata de tem as específicos (moda, política, social etc.) e é assinado por um mesm o jornalista. C rô n ic a: texto subjetivo, geralmente escrito em prim eira pessoa, que trata dos fatos do cotidiano, de forma pessoal. E d ito rial: texto dissertativo-argum entativo em que se apresenta a opinião, o posicionam ento do jornal sobre um fato ou assunto da atualidade ou, ainda, que apresenta o conteúdo de dada publicação (procedim ento mais utilizado em editoriais de revistas). In te rtítu lo : título intercalado no corpo do texto jornalístico; em geral, sinaliza para o com plem ento da inform ação que vem a seguir e é utilizado em textos maiores, para facilitar a leitura. L ide (iead): abertura do texto noticioso, em que são respondidas as seis questões centrais do fato: quem , o quê, quando, onde, com o e por quê. L in h a ed ito rial: determ ina a postura político-ideológica do veículo, sua identidade. M an ch ete: é o título principal, que indica a inform ação de m aior destaque. Nos jornais, há a m anchete que figura na capa e há as m anchetes vinculadas a cada caderno. M a té ria : nom e dado de forma genérica a qualquer material produzido com o objetivo de divulgação jornalística. N a riz d e c e ra : introdução considerada desnecessária (e por vezes confusa) à inform ação jornalística; ocorre quando não há acesso direto ao fato. N ota: pequeno texto noticioso, geralmente construído em um parágrafo, que visa uma inform ação rápida. N otícia: texto que relata um fato considerado relevante da atualidade; procura m arcar-se por im parcialidade e frequentem ente inicia-se pelo lide. O lho: pequeno enunciado retirado do texto, que recebe destaque gráfico na diagram ação, e funciona, muitas vezes, com o uma “entrada" à matéria. P a u ta : roteiro para produção de uma notícia ou reportagem, com indicações de entrevistas, locais, e, às vezes, cam inhos de abordagem e investigação.

P irâ m id e in v e rtid a : form a decrescente de apresentar o fato, partindo das inform ações consideradas mais im portantes para, na sequência, acrescentar seus detalhes ou com plem entos, tidos com o de m enor relevância. R ep o rtag em : tipo de texto jornalístico, de base investigativa, que não só relata um fato, m as procura contextualizá-lo (razões, efeito, entrevistas, personalidades, referências históricas etc.). A presenta m aior profundidade que a notícia, quanto à informação. R esenha crític a (ou crítica): texto de base argum entativa que avalia obras culturais em destaque no cenário social (lançam entos de livros, film es, CDs, estreias de shows ou espetáculos teatrais, exposições etc.). R e tra n c a : identificação da matéria (por exem plo, “N atal” para identificar um texto que trata de vendas no Natal); pode significar, ainda, um texto que traz informações com plem entares em relação a um texto principal, muitas vezes aprofundando-o (com um em reportagens mais extensas e profundas que a notícia). S o b retítu lo : frase colocada acima do título. S u b títu lo : título secundário, colocado abaixo do título principal. S uíte: texto que atualiza informações sobre um fato já divulgado pelo veículo, geralm ente considerado de grande im portância (ou apelo) para a opinião pública. S uplem ento: são os cadernos que não têm periodicidade diária e caracterizam -se, geralmente, p o r tratar de assuntos específicos (inform ática, vendas de imóveis ou veículos, arquitetura, literatura etc.) ou por ser voltados a públicos específicos (mulheres, crianças etc.). T ítulo: frase que sintetiza a inform ação divulgada. Nos jornais, apresenta-se em linguagem referencial, objetiva, e tem no verbo sua função central (ex.: “Copom divulga nova taxa básica de ju ro s”). N as revistas, pode assum ir um tom m ais indireto e configurar-se em form as nom inais, sem a presença do verbo (ex.: “O bê-á-bá dos rankings” - “Veja”, 1 out. 2008; “ Chuva, lama e dor” - sobre enchentes em Santa Catarina, “IstoÉ”, 3 dez. 2008).

R E F E R Ê N C IA S

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ANEXO

A P O IO G R A M A T IC A L a, há: U se “a" para referência no futuro e para distância (ex.: Daqui a dois dias, o funcionário voltará ao trabalho; O hospital fica a duas quadras daqui) e “há” para referência no passado (ex.: Há um m ês, os policiais estão em greve). O bservação: não use “há um mês atrás” , pois é um pleonasm o; a norm a culta não aceita essa forma - você deve escrever “ há um m ês” ou “um mês atrás” .

a distância: Não existe crase quando a distância estiver indeterm inada (ex.: Os policiais ficaram a distância). Q uando for determ inada, existe crase (ex.: Os policiais ficaram à distância de 10m). afim. a fim: “A fim de” tem o m esm o sentido de “para”, “ com o objetivo de” (ex.: Lúcia foi ao laboratório a fim de coletar duas am ostras de sangue). O adjetivo “afim” significa afinidade, sem elhança (ex.: O resultado da pesquisa foi acom panhado por professores e interessados afins), à m edida que/na medida em que: “ A m edida que” significa “à proporção que” (ex.: A medida que se aproxim a o inverno, aum enta a procura por blusas de lã). Já a expressão “na m edida em que” traz a ideia de causa e pode ser substituída por porque, pois, uma vez que (ex.: A tragédia ocorrida em Santa Catarina sensibilizou todo o país na medida em que mais de cem pessoas m orreram e m uitas ficaram desabrigadas),

ao invés de/em vez de: “Ao invés de” significa “ao contrário de”; assim, essa expressão só pode ser utilizada quando relaciona ideias opostas (ex.: Diante da crise financeira m undial, algum as em presas, ao invés de perderem capitais, saíram no lucro). Q uando não há oposição, utilize “em vez de”, que significa “em lugar de” (ex.: Em vez de consultar textos publicados sobre as técnicas de construção dos diques, resolveu viajar para os países baixos). a princípio, em princípio, por princípio: A princípio significa “no início” , “no com eço” (ex.: A princípio pensava assim ; depois, mudou de ideia). Em princípio significa “ em tese” (ex.: Em princípio, todos são inocentes até que se prove o contrário). Por princípio significa “ por convicção” (ex.: Por princípio, separava o lixo da casa para reciclagem).

aspirar: quando significa “pretender”, “alm ejar”, deve ser utilizado com a preposição “a” (ex.: O funcionário aspira a esse cargo desde o ano passado; O tim e aspira ao prim eiro lugar no cam peonato). Q uando significa “respirar” ou “ sugar”, não adm ite preposição (ex.: Os paulistanos aspiram diariam ente um ar poluído; Foram necessárias m áquinas para aspirar a água da sala). assistir: quando significa “estar presente” , “testem unhar”, “ver” , deve ser utilizado com a preposição “a” (ex.: Q uero m uito assistir a esse filme; você assistiu à novela ontem?; A ssistim os ao espetáculo do grupo teatral). Em bora m enos utilizado, o verbo assistir tam bém pode significar

“ajudar”, “auxiliar”, “ socorrer”. N esse caso, é transitivo direto e não é seguido de preposição (ex.: O m édico assistiu o doente; O voluntário assistiu os pobres na noite de Natal). à toa: “A toa” pode funcionar com o advérbio ou com o adjetivo; na função adverbial, significa “ ao acaso” (ex.: Na tarde daquela segunda-feira, a m ulher andava á toa pela m ovim entada avenida); quando tem função de adjetivo, significa “desprezível” , “fácil” (ex.: Ele se sentia uma pessoa à toa). O bservação: com a reform a ortográfica de 2009, deixa de existir a form a “à-toa” (com hífen).

barato/caro: C om a palavra preço, use “baixo” , e não “barato”, “alto” , e não “caro” . “ Barato” e “caro” já incluem a ideia de preço - assim, “os alimentos estão mais baratos” (é incorreto escrever: “os alimentos estão com os preços mais baratos”). O utro exemplo: “ Este superm ercado tem preços baixos normalmente, m as os produtos de higiene pessoal estão caros”. N ão variam quando são advérbios e equivalem a pouco/muito respectivam ente (ex.: De acordo com o Procon, no período de início do ano letivo, os materiais escolares custam mais caro). cheque/xeque: “Cheque” é a ordem de pagam ento, o impresso bancário (ex.: Antonio entregou o cheque e, em seguida, pegou as chaves do carro); “xeque” rem ete ao lance do jogo de xadrez - xeque-m ate; “pôr em xeque” significa “colocar em dúvida” (ex.: Toda a argum entação favorável à absolvição foi posta em xeque); “xeque” significa, ainda, “soberano” entre os árabes (ex.: “M esmo por toda riqueza dos xeques árabes, não te esquecerei um dia” - Djavan). N ão se esqueça, ainda, de que o verbo checar (= conferir) conjuga-se com “qu” : “cheque todas as inform ações antes de publicar a m atéri” . descrição/discrição: “discrição” é própria de pessoas discretas, reservadas (ex.: Paulo se m ostrou bastante discreto ao perguntarem sobre a prem iação); já descrição refere-se ao ato de descrever (ex.: A nna descreveu detalhes da cerim ônia de premiação). despercebido: é a form a correta (ex.: A criança passou despercebida pelos convidados); não use desapercebido, que significa desprevenido, dia a dia: “dia a dia” significa diariam ente (ex.: Dia a dia, a mulher, já idosa, subia a ladeira) e a expressão tam bém pode ser usada com o sinônimo de cotidiano, rotina (ex.: O dia a dia do trabalhador é bastante estafante). O bservação: com a reform a ortográfica de 2009, deixa de existir a forma “dia-a-dia” (com hífen).

em cores: o correto é “em cores” , e não “a cores”. esse(a)/este(a); isso/isto: a regra é que “este” , “ isto” são utilizados para indicar o que está próxim o à pessoa que fala e “esse”, “ isso”, para indicar o que está próxim o à pessoa com quem se fala. N o entanto, no m om ento da escrita, nem sempre essa relação “visual” é suficiente para sinalizar o uso correto dessas palavras, então, lembre-se: use este(a) sem pre que você fizer referência ao “ presente” a partir do ponto de vista de quem escreve, o tem po em que se está (dia, semana, m ês, ano). Por exem plo, se o redator está no ano de 2009, deverá usar “este ano”, “neste ano” para se referir a esse período. O mesm o vale para outras referências temporais: esta semana - só para a semana em que se está; este dia - só para o dia em que se está; este m ês - só para o m ês em que se está. Para indicações passadas ou futuras, use esse(a) (ex.: Em 2001, entrou para a faculdade; nesse ano, m uitas coisas aconteceram em sua vida). Use, tam bém , este(a) para se referir ao próprio texto que está escrevendo (ex.: Este trabalho tem o objetivo de ...; esta m onografia estuda ...); para citações de outros textos, use esse(a): o livro “x” do autor “y ” é im portante para entender a comunicação; nesse livro, o autor discute ... Este(a) é utilizado, ainda, para antecipar o que será dito (ex.: A verdade é esta: ela m entiu) ou para retom ar o último term o em uma sequência anterior (ex.: Encontrou, na porta do cinema, M ariana e Luísa. Esta lhe pediu um chocolate). Por fim , use “esse(a), isso” para retom ar o que já foi dito no texto (ex.: A violência faz muitas vítimas no Brasil. Esse é, sem dúvida, um dos m aiores problem as do país).

fazer (concordância): quando significa tem po passado ou fenômeno da natureza, não varia; deve perm anecer no singular (ex.: Faz cinco minutos que eu a encontrei na cozinha; Fez dias frios no último inverno). grama: é palavra m asculina quando significa peso (ex.: C om prei trezentos gramas de presunto na padaria) e é fem inina quando significa relva, capim (ex.: A gram a ficou mais verde depois das chuvas da últim a semana). haver (concordância): quando significa existir, o verbo perm anece no singular, pois é impessoal (ex.: Havia apenas um aluno na sala; Havia 11 alunos na sala). A regra tam bém vale para locução - o verbo auxiliar fica no singular (ex.: Segundo as autoridades, deve haver mais desabrigados nas cidades atingidas).

implicar: é verbo transitivo direto e, por isso, não deve ser usado com a preposição “em ” : “A decisão implicou ’em ' mais gastos" (errado) —►“A decisão implicou mais gastos" (correto). Significa, nesse caso, “trazer com o consequência", “acarretar". intervir: é derivado do verbo vir e conjuga-se da m esm a forma; assim, se usam os “se ele vier", tam bém devem os usar “se ele intender"; da mesma forma: “o consulado interveio no caso" (e não “ interviu"), “ eu intervim " (e não “ intervi"), “nós intendem os" (e não “ intervimos"), junto a: significa “ao lado", no sentido físico (ex.: O prédio ficava ju nto à Biblioteca M unicipal; Ficou junto ao filho todo o tempo). Não use “junto a" em frases que não justificam seu uso: “A m ulher pediu em préstim o ju nto ao banco" (errado) “pediu em préstim o ao banco" (correto); “O jogador negocia seu passe ju nto ao Palm eiras" (errado) “negocia com o Palm eiras" (correto).

mal/niau: é só lem brar que mal é contrário de bem , e mau é contrário de bom (ex.: Os candidatos tiveram um m au/bom desem penho na prova; Os alunos foram m al/bem avaliados pelo professor). mas/mais: “m as" equivale à ideia de oposição (ex.: A econom ia cresceu nos últim os anos, m as a desigualdade social perm anece no país); “mais" equivale à ideia de adição (ex.: M ais um argum ento foi apresentado pelo promotor).

meio/meia: M eio é invariável quando equivale a mais ou menos, um pouco (ex.: A m enina estava meio aborrecida com aquela conversa). Quando acom panha um nome, um substantivo, varia (ex.: Pagou meia entrada no cinem a; com prou m eia dúzia de laranjas). Observação: use meio-dia e meia (meia hora). mesmo/mesma: não use “ o(s) m esm o(s)", “a(s) m esm a(s)" para retom ar substantivos. A norm a culta condena frases como: “A m oça saiu cedo de casa. ‘A m esm a’ foi trabalhar", “Entregue os docum entos ainda hoje, pois ‘os m esm os’ devem ser enviados ao setor de recursos hum anos". Prefira outras soluções, como: “A m oça saiu cedo de casa e foi trabalhar" ou “A m oça saiu cedo de casa. Ela foi trabalhar". Com o sentido de “idêntico, igual", use normalmente: “A m ulher está na sala; sem dúvida, é a m esm a pessoa que esteve aqui ontem ", “ Eu tinha os mesm os problem as que você"; quando equivale a “próprio(a)’’, a concordância deve ser observada: “ Ela m esm a assinou os docum entos" (ela própria), “ Eles mesmos fizeram o jantar" (eles próprios).

milhão, bilhão: são palavras m asculinas e a concordância segue a regra (ex.: Dois m ilhões de pessoas entregaram a declaração do imposto de renda até agora - e não “duas" milhões). nenhuni/nem um: “N enhum " é o contrário de “algum " (ex.: N enhum jo g ad o r atuou conform e o treinamento). “N em um " equivale a “nem um sequer", “nem um único" (ex.: Estava impassível: nem uma gota de suor escorria pelo seu rosto; Resolveu que não esperaria nem um dia a mais pela decisão do juiz).

onde/aonde: use “onde” apenas para fazer referência a lugar. Assim : “Este é o parque onde eu brincava” ; “A casa onde o escritor viveu foi tom bada pelo Património Histórico” . Não use “onde” em frases do tipo: “ Em 1991, onde a entrevistada ainda era uma criança” (correto: “quando”), “Foram vários encontros, onde os convidados discutiam política e cultura brasileira” (correto: “ em que”). Já “aonde” inclui a preposição “a” e só pode ser utilizado com verbos que são regidos por essa preposição (ex.: ir a, chegar a, levar a): “A onde você vai agora?” ; “Não sabia aonde chegaria, m as continuava cam inhando” ; “ A onde devo levar o docum ento?”. Nunca use “aonde” com verbos que não indicam movimento: “Aonde você m ora?” (correto: “O nde você mora?” - quem mora, m ora “em” algum lugar, e não, “a” algum lugar); “A onde você está?” (correto: “O nde você está?”. - estar “em ” e não estar “a”. A por que, por quê, porque, porquê: use por que para as perguntas (ex.: “ Por que o funcionário faltou ao trabalho?”) e quando estiverem claras ou subentendidas as ideias de causa, razão, m otivo (ex.: “N inguém soube por que o funcionário foi em bora” —>N inguém soube por que razão o funcionário foi em bora). Tam bém é utilizado quando substitui as form as “ pelo qual” e “para que” (ex.: “ Era o cam inho por que sempre veio” - pelo qual; “Torcia por que retornasse logo” - para que); use por quê quando encerrar o período, tanto nas perguntas, quanto nas afirm ações (ex.: “Ficou chateado o dia todo sem saber por quê” ; “Você foi em bora cedo. Por quê?”); use porque nas respostas (ex.: “O ministro fez a declaração em rede nacional porque julgou o tem a im portante”) e nas perguntas em que houver form ulação de hipótese (ex.: “ Ela faltou à reunião porque estava doente?”); use porquê quando for substantivo e puder ser substituído por motivo, causa, razão (ex.: “N inguém sabe o porquê de tal atitude” —►Ninguém sabe o motivo de tal atitude; “Todas as pessoas têm os seus porquês” —►Todas as pessoas têm as suas razões),

porcentagem (concordância): prefira a concordância do verbo com a expressão que vem depois do num eral (ex.: “ 80% da população aprova desem penho do presidente” ; “C erca de 30% dos moradores estão desabrigados” ). Q uando não houver referência e só existir a indicação da porcentagem na frase, a concordância se faz pelo núm ero (ex.: “30% votaram a favor da proposta, 1% pediu revisão da provà’).

preferir a: o correto é preferir uma coisa “a” outra; assim, não use frases do tipo “Prefiro viajar do que poupar dinheiro” ; use “Prefiro viajar a poupar dinheiro”, “Ele prefere banana a mamão” , “O econom ista disse ser preferível conter gastos públicos agora a esperar que a crise se agrave” , quis/quiser: não erre a grafia, escreva sempre com a letra “s”. responder a: use a preposição “a”, quando significa dar resposta a alguém ou a algum a coisa: “O deputado respondeu ao pedido da Comissão” , “o hom em responde à acusação de traição” , “eles responderão à denúncia de corrupção”. Q uando significa “dizer em resposta”, é transitivo direto: “Respondeu que não iria à reunião” . Há, ainda, a dupla possibilidade “responder algum a coisa a alguém ” : “Respondeu ao secretário que viajaria hoje mesm o” .

se não/senão: “ Senão” pode ser substituído por “do contrário”, “de outra forma” (ex.: “A econom ia precisa crescer; senão, a taxa de desemprego pode aum entar”), “ a não ser”, “com exceção de” (ex.: “Ela não pensava em outra coisa, senão em sua aposentadoria”). Tam bém pode ser substituído por “m as”, “ mas sim” , “ mas tam bém ” (ex.: “O hom em sabia que o filho não havia dito aquilo para aborrecê-lo, senão, para alertá-lo”). Já “ se não”

equivale a “caso não" ou “ quando não" (ex.: “ Se não puder vir, por favor me avise"; “Este é um dia, se não inesquecível, pelo m enos m uito agradável para toda a família").

um dos que: inverta a expressão para entender a concordância correta: “dos que" (verbo no plural) X foi “um". Desse modo: “ Ele foi um dos que mais trabalharam no projeto" (Dos que trabalharam , ele foi um); “U m a das que reclam aram do atraso foi Joana" (D as que reclam aram , Joana foi uma). As vezes, o “que" ou o “um " pode ser omitido, m as o raciocínio perm anece o mesmo: “Ele foi um dos hom enageados m ais simpáticos durante o evento"; “José é um dos sobreviventes"; “ M aria não é das que agem assim "; “Ele não é desses com unicadores que só se pautam pela audiência". N Ã O C O N FU N D A ab so lv er: inocentar, perdoar a b so rv e r: consumir, aspirar a c e n d e r: pôr fogo, fazer queim ar ascen d e r: subir a p re ç a r: perguntar preço, dar preço a p re s s a r: acelerar, tornar rápido a p re n d e r: conhecer, m em orizar a p re e n d e r: apropriar-se por m eio judicial, assim ilar acen to : sinal gráfico assento: lugar de sentar-se ace rc a de: sobre, a respeito de cerc a d e: aproxim adam ente a te rir: conferir, avaliar (aferição) a u fe rir: obter, colher afim : que tem afinidade, sem elhança (“ métodos afins") a fim de: para, com a finalidade de am o ra l: sem moral, privado de moral (nem contrário nem conforme) im o ral: contrário a moral, libertino a sso a r: lim par o nariz a s s u a r: insultar com vaias, vaiar

b u ch o : estômago bux o : espécie de arbusto c a ç a r: perseguir animais c a ssa r: tornar nulo ou sem efeito cald a: xarope cau d a : rabo cavaleiro: que sabe andar a cavalo cav alh eiro : hom em educado cela: pequeno quarto de dorm ir (nas cadeias, nos conventos) seta: arreio de cavalgadura censo: conjunto de dados estatísticos sobre os habitantes de um país, um estado ou uma cidade senso: juízo, raciocínio c e rra ç ã o : nevoeiro denso s e rra ç ã o : ato de serrar, cortar cesto: pequena cesta, balaio sexto: num eral (“sexto andar”) chá: bebida xá: título do ex-soberano do Irã co n serto : reparo co n certo : sessão musical coser: costurar cozer: cozinhar cheque: ordem de pagamento xeque: lance de jogo no xadrez d e la ta r: denunciar d ila ta r: alargar, ampliar desap erceb id o : desprevenido d espercebido: sem ser notado descrição: ato de descrever, expor d iscrição : reserva, qualidade de quem é discreto

d e sc rim in a r: tirar o crim e, inocentar d isc rim in a r: diferenciar, distinguir, especificar desp en sa: onde se guardam alimentos d isp en sa: ato de dispensar, desobrigar discente: referente a alunos docente: referente a professores em inente: ilustre im in en te: que está para acontecer e m e rg ir: vir à tona, mostrar-se im e rg ir: mergulhar, afundar e m ig ra r: deixar, sair do país im ig ra r: chegar, entrar em um país estranho para nele viver esp erto : inteligente, arguto ex p erto : experiente, sabedor e sp ia r: espionar, observar ex p ia r: padecer, cum prir pena estático: imóvel, parado extático: em êxtase, admirado e stra to : faixa ou cam ada da população, cam ada de rocha ex tra to : o que foi extraído, retirado, fragmento fla g ra n te : evidente, manifesto fra g ra n te : perfum ado, aromático flu ir: verter, correr em estado líquido fru ir: possuir, tirar proveito, usufruir in certo : impreciso in serto : introduzido, inserido incipiente: principiante, que está no início insipiente: não sapiente, ignorante, insensato inflação: aum ento geral de preços in fraç ão : violação, transgressão

infligir: aplicar pena, castigo in frin g ir: violar, desrespeitar um a lei intercessão: ato de interceder, de intervir in terseção : ato de cortar, corte, cruzamento laço: nó lasso: cansado, fatigado (lassidão) m a l: antônim o de bem m a u : antônim o de bom m an d ad o : ordem judicial m a n d ato : período de governo, por meio de voto popular, procuração ótico: relativo ao ouvido óptico: relativo à visão paço: palácio passo: m archa, andam ento peão: servente, condutor de tropa pião: brinquedo de rodar p ro ced en te: proveniente, oriundo p reced en te: antecedente ra tific a r: confirm ar retifica r: corrigir seção: repartição, divisão (“ seção de brinquedos da loja") sessão: duração de uma reunião ou espetáculo (“ sessão de cinem a") cessão: o ato de ceder (“durante a cessão dos bens, em ocionou-se") sexta: num eral (“ganhou pela sexta vez o cam peonato") cesta: utensílio para guardar ou transportar objetos sesta: descanso depois do almoço s o rtir: abastecer s u rtir: produzir efeito ta c h a : pequeno prego ta x a : tributo

ta c h a r: acusar, censurar, pôr defeito ta x a r: estipular tráfeg o : trânsito, fluxo tráfico : com ércio, negócio (tam bém com ércio ilícito) v a d e a r: passar ou atravessar a pé ou a cavalo v a d ia r: vagabundear, estar sem ocupação viagem : substantivo (“a viagem foi perfeita") viajem : forma verbal (“ espero que elas viajem hoje") vultoso: que faz vulto, volum oso vultuoso: com a face inchada e verm elha x á c a ra : narrativa popular em verso c h á c a ra : pequena propriedade no campo

A C O R D O O R T O G R Á F IC O - O Q U E M UDOU Já está em vigor o novo A cordo Ortográfico da Língua Portuguesa que, no Brasil, altera a grafia de aproxim adam ente 0,4% das palavras. O Acordo, assinado em Lisboa em dezem bro de 1990, vale para os oito países que têm o português com o língua oficial: Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde, M oçam bique, G uiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Em território brasileiro, as m udanças passaram a valer a partir de janeiro de 2009 e o período de adaptação vai até 2012. Em Portugal, as alterações devem entrar em vigor em seis anos. As principais m udanças na ortografia brasileira foram:

Trema (ü) Deixa de existir, exceto em palavras estrangeiras e em nom es próprios (ex.: Bündchen, M üller etc.). A ssim , o sinal que diferenciava a vogal “u” pronunciada da vogal “u” muda, nos grupos gue/gui/que/qui, fica abolido. Veja alguns exemplos: A ntes (com o era)

A g o ra (com o fica)

agüentar

aguentar

aqüífero

aquífero

argüir

arguir

argüição

arguição

bilingüe

bilíngue

bilingüismo

bilingüismo

conseqüência

consequência

conseqüente

consequente

delinqüência

delinquência

delinqüente

delinquente

desagüe

deságue

eloqüente

eloquente

ensangüentar

ensanguentar

ensangüentado

ensanguentado

enxágüe

enxágue

freqüéncia

trequência

freqüents

frequente

lingüiça

linguiça

pingüim

pinguim

qüinquagésimo

quinquagésimo

qüinqüenal

quinquenal

qüinqüénio

quinquênio

saqüi

sagui

seqüéncia

sequência

seqüestro

sequestra

tranqüilo

tranquilo

A lfabeto Passa de 23 para 26 letras - há a inclusão (oficial) das letras K, W e Y: ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ Hífen 1. Não se usa mais quando o prefixo term inar em vogal e o segundo elem ento com eçar com “r” ou “s” , e deve-se dobrar essas consoantes na atual grafia. Anteriorm ente, a regra era usar hífen antes de “r” e “s” com os prefixos, ou partículas que podem funcionar com o prefixos, term inados em vogal: ante, anti, arqui, auto, contra, extra, infra, intra, neo, proto, pseudo, semi, sobre, supra e ultra (ante-sala, anti-racista, arqui-rival, autosuficiente, contra-senso, extra-sensorial, infra-som , intra-renal, neo-realismo, proto-revolução, pseudo-revelação, sem i-selvagem , sobre-saia, suprasum o, ultra-som ). A regra agora unifica a grafia das palavras com postas por prefixos term inados em vogal e que têm o segundo elem ento iniciado por “r” ou “s” , consoantes que se duplicam ( r r e ss). Dessa forma, você deve escrever, por exemplo: antessala antessentir antirrábico antirracista antirradar antirradiação antirradical antirreform a antirreligioso antirruga antissemita antissocial arquirrival arquissecular autorregeneração autorretrato autosserviço autossuficiente

autossustentável biorritmo contrarreform a contrarregra contrarrevolucionário contrassenso extrassensorial infrarrenal infrassom intrarrenal macrorregião m icrossegundo minissaia m inissérie m ultirracial neorrealista neorromántico neossocialismo protorrevolução protossolar pseudorrepresentação pseudorrevelação pseudossábio pseudossensação semirreal sem irreta sem isselvagem sobrerronda sobressaia sobressaturar

suprarrenal suprassum o ultrarradical ultrarromântico ultrassom ultrassonografia 2. Não se usa hífen quando o prefixo term inar por vogal e o segundo elem ento com eçar por uma vogal diferente. Escreva: aeroespacial antiaéreo autoadesivo autoanálise autoaprendiz autoescola autoestrada coautoria extraescolar extraoficial infraestrutura pseudoam or sem ianalfabeto sem iárido semiescravidão ultraelevado 3. Q uando o prefixo term inar em vogal, você deve usar o hífen se o segundo elem ento com eçar pela m esm a vogal. Exemplos: anti-im perialista anti-inflacionário anti-inflamatório arqui-inim igo auto-observação

auto-oscilação contra-argum ento contra-ataque micro-ondas micro-ônibus semi-integral semi-internato 4. Com os prefixos “circum " e “pan", utilizar hífen antes de vogal, “h”, “m” e “n” : circum -navegação, pan-am ericano, pan-helenism o etc.

Lembretes: não se usa hífen quando o prefixo term inar por vogal e o segundo elem ento com eçar por consoante (apenas ligação simples quando as consoantes não rorem “ s" ou “r” , conform e vim os no item: antidem ocrático, autopeça, autoproteção, contram ão, extrajudicial, infravermelho, intramuros, m icrocom putador, neoliberal, pseudofelicidade, sem icírculo, sem ifinal, seminovo, ultradireitista. m antém -se o hífen antes de “ h”: anti-herói, anti-higiênico, anti-histam ínico, anti-histórico, auto-hipnose, contra-harm onia, extra-hum ano, hiperhum ano, infra-hepático, infra-hum ano, neo-helênico, proto-história, pseudo-herói, sobre-hum ano, super-homem, ultra-humano.

A com os prefixos “ aquém ", “ além ", “ex", “pós", “pré", “pró", “recém ", “sem " e “ vice", a regra é usar o hífen: aquém-mar, além-mar, ex-marido, exprefeito, ex-aluno, ex-governador, pós-operatório, pós-fixado, pós-graduação, pré-datado, pré-fabricado, pré-nupcial, pré-vestibular, pró-socialista, recém -casados, recém -em pregado, sem -terra, vice-rei, vice-prefeito, vice-presidente, vice-m inistro, vice-líder, vice-cam peão, vice-reitor. O bservação: é conveniente consultar os dicionários para a grafia de palavras com esses prefixos, pois há exceções (ex.: posposição, posposto, predeterminar, predispor etc.) quando o prefixo term inar em consoante, use hífen se o segundo elem ento com eçar pela m esm a consoante: hiper-racional, inter-relação, inter­ regional, super-requintado, super-resistente. Com as dem ais consoantes, não há hífen: hiperm ercado, hipertensão, intermunicipal, interseção, superproteção. Também não há hífen se o segundo elem ento com eçar por vogal: hiperacidez, hiperativo, interamericano, superestrutura, superoferta. I com o prefixo “sub", além do hífen antes de “b" (vide regra acim a - m esm a consoante), há tam bém o hífen antes da letra “r": sub-base, sub-região, sub-reino. A centuação 1. Os ditongos abertos “ei" e “oi" deixam de ter o acento agudo nas palavras paroxítonas (aquelas que possuem o acento tônico na penúltim a sílaba):

Antes (como era) apóia (do verbo apoiar)

Agora (como fica) apoia

assem bléia

assem bleia

bóia

boia

epopéia

epopeia

estréia

estreia

geléia

geleia

heróico

heroico

idéia

ideia

jibóia

jiboia

paranóico

paranoico

O bservação: a m udança é válida apenas para as paroxítonas. O acento se m antém nas palavras oxítonas (aquelas que possuem o acento tônico na últim a sílaba) e nos m onossílabos tônicos: anéis, dói, rói, herói, papéis, pastéis etc. 2. O acento agudo tam bém deixa de existir nas vogais “i” e “u” que form am hiato nas paroxítonas quando são antecedidas de ditongo:

Antes (como era)

Agora (como fica)

baiúca

baiuca

bocaiúva

bocaiuva

feiúra

feiura

O bservação: nos dem ais casos, o acento se mantém, com o previsto na regra anterior (“acentuam -se o ‘i’ e o 4u' tônicos dos hiatos quando estão sozinhos na sílaba ou seguidos de 4s ’” ). Assim: baú, conteúdo, faísca, gaúcho, heroína, país, Piauí, reúne, saúde, veículo, etc. 3. O acento agudo desaparece da letra “u” nos grupos gue/gui/que/qui de form as de verbos com o apaziguar, arguir, averiguar, obliquar:

Antes (como era)

Agora (como fica)

apazigúe

apazigue

argúi

argui

averigúe

averigue

obliqúe

oblique

4. O acento circunflexo (A) desaparece das form as de terceira pessoa do plural dos verbos crer, dar, ler, v er e seus derivados (“ eem ”), e as palavras term ina as em hiato “oo” (s):

Antes (como era)

Agora (como fica)

crêem

creem

dêem

deem

lêem

leem

revêem

reveem

vêern

veem

abençoo

abençoo

enjôo

enjoo

perdoo

perdoo

vôo

voo

zôo

zoo

O bservação: o acento se m antém na terceira pessoa do plural dos verbos ter e vir e de seus derivados (“eles têm fé” , “elas vêm para a reunião”, “poucos detêm o poder”, “ as regras convêm aos funcionários”). 5. O acento diferencial é abolido das form as pára/para, péla/pela, pêlo/pelo, pêra/pêra, pólo/pólo:

Antes (como era)

Agora (como fica)

Ele pára no sem áforo vermelho

Ele para no sem átoro vermelho

O pêlo do cachorro é marrom

O pelo do cachorro é marrom

G osta de pêra

G osta de pera

Ela sabe jogar pólo

Ela sabe jogar polo

O bservação: o acento diferencial é mantido no infinitivo do verbo “pôr” (o que o diferencia da preposição “por” ) e no pretérito perfeito do indicativo do verbo poder (“pôde”, para diferenciar de “pode” , no presente do indicativo). Exemplos: “ Disse para pôr os docum entos na gaveta“/“Contou um por um” ; “ Ela não pôde vir no últim o encontro”/ “Sentenciou: pode ir” . O acento é facultativo em “fôrm a”, para diferenciar de “ form” .

1 A partir da constatação de que a tríade de base desse esquema - emissor/mensagem/receptor - ordenou grande parte dos estudos em teorias da comunicação (teoria hipodérmica, teoria funcionalista. teoria crítica e as correntes voltadas ao papel do receptor, a partir das pesquisas em “estética da recepção", em literatura - só para citar alguns desses referenciais teóricos). Para saber mais, consulte: MATTELART, A. e M. H is tó r ia d a s te o r ia s d a c o m u n ic a ç ã o . São Paulo: Loyola, 1999; e WOLF, M. T eorias d a c o m u n ic a ç ã o . Lisboa: Editorial Presença, 1999. ■ Foi Aristóteles, na Antiguidade, o primeiro a fornecer as referências a esse campo, com seus estudos sistematizados sobre retórica e formas de persuasão. Para ele, a retórica é a “faculdade de observar os meios de persuasão disponíveis em qualquer caso dado. O caráter pessoal do orador alcança a persuasão quando ele nos leva a crer no discurso proferido". Desse modo. estavam já aí, em pauta, questionamentos a respeito de quem fala. de quem ouve e do discurso que se pronuncia (ARISTÓTELES. R e tó r ic a . São Paulo: Rideel, 2007, p. 23). ■' A esse respeito, consultar DUCROT. O.; TODOROV, T. D ic io n á r io e n c ic lo p é d ic o d a s c iê n c ia s d a lin g u a g e m . São Paulo: Perspectiva, 1988; e FREITAS. J. M. M. Paulo: Escuta, 1992. 4 Conferir o capítulo “Linguística e poética” em JAKOBSON. R. L in g u ís tic a e c o m u n ic a ç ã o . São Paulo: Cultrix, 1974. 5 JAKOBSON, 1974, p. 123.

6 GARCIA, O. M. C o m u n ic a ç ã o

e m p r o s a m o d e rn a :

aprenda a escrever aprendendo a pensar. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1997.

PLATÀO, F.; FIORIN, J. L. L iç õ e s d e tex to : leitura e redação. São Paulo: Ática, 2003, p. 370. s KOCH. I. G. V. A c o e s ã o te x tu a l. São Paulo: Contexto. 2005. Conferir PRETI. D. S o c io lin g u is tic a : os níveis de fala. 9. ed. São Paulo: Edusp, 2000.

C o m u n ic a ç ã o e p s ic a n á lis e .

São

] GARCIA, 1997, p. 231.

2No livro em questão. C u ltu r a e im p e r ia lis m o (São Paulo: Companhia das Letras, ocidental, como O

c o r a ç ã o d a s tre v a s , de Conrad,

3

Referência ao crítico indiano Homi K. Bhabha, que no livro N a tio n

4

SAID, 1995, p. 24.

5

Idem, p. 113. BENJAMIN, W. "O narrador". In:

6

1995), Said aborda as relações cultura e império a partir do estudo de narrativas tidas como clássicas na cultura

e A id a , de Verdi.

T exto s e s c o lh id o s .

a n d n a r r a tio n

(Londres: Routledge, 1990). sustenta que o sentido de nação é discursivamente construido, é narrativizado (p. 13).

São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. 57.

Para saber mais sobre a análise da narrativa, consulte GANCHO, C. V. C o m o a n a lis a r n a r r a tiv a s . São Paulo: Ática, 2004. PROPP, V. I. M o r fo lo g ia d o c o n to m a r a v ilh o s o . Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 19S4. 9

LOPES, E. A

10

PROPP, 1984, p. 25.

id e n tid a d e e a d ife r e n ç a :

raizes históricas das teorias estruturais da narrativa. São Paulo: Edusp, 1997, p. 243.

11 Idem,

12 13

p. 25. Idem, p. 73-74.

14

BARTHES, R. "Introdução à análise estrutural da narrativa". In: BARTHES, R. et. al. A n á lis e PROPP, 1984.

15

Conferir a Seção 3.4, "Estilo e recursos de linguagem", sobre metáfora e metonimia.

16

BARTHES. 1973, p. 47.

17

BREMOND, C. "A lógica dos possíveis narrativos". In: BARTHES. R. et. al. A n á lis e 18 BREMOND, 1973, p. 134. 19 20

21 22 23 24 25

Idem. p. 35. GREIMAS, A. J. "Reflexões sobre os modelos actanciais". In: S e m â n tic a

e s tr u tu r a l,

e s tr u tu r a l d a n a r r a tiv a

e s tr u tu r a l d a n a r r a tiv a

(trad. Maria Zélia B. Pinto). Petrópolis: Vozes, 2008.

(trad. Maria Zélia B. Pinto). Petrópolis: Vozes, 2008.

pesquisa e método. São Paulo: Cultrix e Edusp. 1973, p. 230.

GREIMAS, 1973, p. 230. Idem, 1973, p. 9. O termo "actantes", utilizado pelo autor, corresponderia às funções narrativas. QUERE, L. D é s m ir o ir s e q u iv o q u e s : aux origines de la communication modeme. Paris: Aubier-Montaigne, 1982. A palavra é aqui utilizada apenas como procedimento de retomada de sentido da frase ou trecho anterior. Para saber mais sobre a paráfrase como forma de intertextualidade, consultar SANT'ANNA, A. R. P a ró d ia , p a r á f r a s e e c ia . São Paulo: Ática. 2000.

]

LAGE, N. L in g u a g e m jo r n a lís tic a . Sào Paulo: Ática, 1993, p. 35.

2Conferir ERBOLATO, M. T é c n ic a s d e c o d ific a ç ã o e m j o r n a l is m o : redação, captação e edição no jornal diário. Sào Paulo: Ática,

1991. 3 Retranca é a identificação da matéria; pode significar, ainda, a divisão de uma matéria maior em textos menores, que a compõem, complementando o texto principal. Veja o Glossário, ao final do livro. 4 LAGE, N. A r e p o r ta g e m : teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro: Record. 2001. 5 A responsabilidade pelo editorial geralmente é atribuída ao Conselho Editorial ou Corpo Editorial, grupo de pessoas que, de certa forma, fornecem o “lastro" de credibilidade ao veículo. Em outros casos, é o próprio editor quem assina os textos. i' CÂNDIDO, A. “A vida ao rés do chão". In: A c r ô n ic a : o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. Campinas/Rio de Janeiro: Editora da Unicamp/Fundaçào Casa de Rui Barbosa, 1992, p. 13. 7 Conferir Seção 3.5 “Estilo e recursos de linguagem", mais adiante neste capítulo. 8

Palavras ou expressões “novas" em uma língua, muitas vezes resultantes da criação poética em determinada obra (ex.: “O senhor é um homem soberano, circunspecto. Amigos somos. Nonada. O diabo nào há! E o que eu digo, se for ... Existe é homem humano. Travessia". João Guimarães Rosa, G r a n d e s e r tã o : vered a s).

9 LAGE, 2001. 10 De BELTRÀO. consultar os livros A im p r e n s a i n fo r m a tiv a ’, técnica da notícia e da reportagem no jornal diário (Sào Paulo: Folco Masucci, 1996), J o r n a lis m o Alegre: Sulina, 1980) e J o r n a lis m o o p in a tiv o (Porto Alegre: Sulina, 1980). 11 MELO. J. M. J o r n a lis m o o p in a tiv o : gêneros opinativos no jornalismo brasileiro. Campos do Jordão: Mantiqueira, 2003. I_ CHAPARRO, M. C. S o ta q u e s d ’a q u é m e d 'a l é m m a r: percursos e gêneros do jornalismo português e brasileiro. Santarém: Jotejo, 1998. 13 SODRÉ, N. W. H is tó r ia

d a im p r e n s a n o B r a s il.

Rio de Janeiro: Mauad. 1999.

in te rp r e ta tiv o :

filosofia e técnica (Porto

Rever Capítulo 3. O mercado editorial fornece vários títulos a esse respeito; só para citar alguns: **1001 dúvidas de português" (José de Nicola e Emani Terra), “O dia a dia da nossa língua" (Pasquale Cipro Neto), “Tirando dúvidas do português” (Odilon Soares Leme), “Tira dúvidas de português" (Maria da Conceição Tavares), "Manual de redação e estilo" (“O Estado de S. Paulo"), "Manual de redação" (“Folha de S. Paulo"), “Manual de redação e estilo" (“O Globo”), "Manual de estilo Editora Abril: como escrever bem para nossas revistas".