Real Clube: O futebol amador em causos e frases [1, 1 ed.] 9786586530414

Este livro visa a manter acesos na memória, momentos que vivenciamos no futebol amador entre histórias e frases as quais

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Real Clube: O futebol amador em causos e frases [1, 1 ed.]
 9786586530414

Table of contents :
Futebol amador, frases de futebol, futebol de várzea, nomes de jogadores de futebol.

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Carlos Chagas V. Lima

Real Clube: o futebol amador em causos e frases

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Real Clube: o futebol amador em causos e frases Carlos Chagas V. Lima 1ª Edição – 100 exemplares Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada ou transmitida, total ou parcialmente, por qualquer método ou processos, sem prévia autorização do autor e/ou da Editora. Ilustrações da Capa e contracapa: Francisco Borges de Araújo Neto Revisão: Fábio Augusto Silva Costa ISBN nº: 978-65-86530-41-4 Editor: Francisco José Costa dos Santos Pedidos: Com o Autor (contato no final) [email protected] CNPJ: 31.831.469/0001-04 Tel: (84) 99622-4654 Impresso na Gráfica Express – Assú – RN Ficha Catalográfica L732r Lima, Carlos Chagas V. Real Clube: o futebol amador em causos e frases / Carlos Chagas V. Lima – Natal: Cactus Editora, 2022. 116 f. il.

1. Futebol-História. 2. Real Clube. 3. Time de futebol amador. I. Título. CDU: 796.33(813.2)

Bibliotecário Responsável: Maxwell Lopes da Silva CRB15/421

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pontífice maior do conhecimento; À minha esposa Soliana de Araújo, pelo companheirismo e compreensão dispensados nesta trajetória; À minha mãe, Damares Vilela, que sempre me incentivou à prática do esporte; Ao meu amigo Canindé Dias, fundador do Real Clube; Ao artista Francisco Borges de Araújo Neto, pelas ilustrações; A todos os atletas que vestiram a camisa do Real Clube; Àqueles que contribuíram para a realização deste livro.

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Apresentação O Real Clube é um time de futebol amador, que surgiu em 1995, na cidade de Natal/RN, a partir da ideia do nosso amigo Canindé em organizar uma equipe que fosse capaz de aglutinar os frequentadores de uma igreja da qual fazíamos parte. Naquele momento, não tínhamos a noção do quanto essa parceria perduraria. A verdade é que já se passaram mais de vinte e cinco anos e o time continua ativo. Muitos foram os atletas que vestiram a camisa do clube e que nos permitiram construir laços de amizade os quais extrapolaram os espaços das quatro linhas do campo. Este livro visa a manter acesos na memória, momentos que vivenciamos ao longo desse período entre histórias e frases as quais testemunhamos na prática do nosso futebol e, que gostamos de comentar nos momentos de confraternização. Desta forma, surgiu a ideia de transpor para o papel tudo aquilo que costuma nos divertir nas rodas de conversas, para dividir, com você leitor, as histórias folclóricas que ocorrem nos campos: jogadas, situações e ações de jogadores que, se não fossem registradas, se perderiam no anonimato. 5

O futebol tem o poder de transformar um lugar singelo numa atração dominical, de fazer que jogos, aparentemente simples, representem um espaço sagrado aos atletas inseridos neste universo. Como costuma afirmar um amigo nosso: “Não se trata apenas de homens correndo atrás de uma bola. Tem muito mais coisas envolvidas nesse processo”. Por esta razão, afirmo que as frases e os causos aqui contados podem ter sido vivenciados em outros espaços nos quais ocorre o nosso futebol amador, qualquer semelhança terá sido mera coincidência. O livro está dividido em três partes: os causos, os nomes exóticos de jogadores que encontramos nas peladas e, por fim, as frases proferidas por atletas amadores com os quais convivemos nesses mais de vinte e cinco anos de bola rolando. Ao amigo leitor, o meu agradecimento por abrir estas páginas que foram carinhosamente dedicadas a todos os apaixonados pelo futebol amador. Boa leitura!

O autor.

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Sumário Tempo Técnico..................................................... Árbitro Sensato..................................................... Um jogador de fé.................................................. O cachorro quente................................................ Uma torcedora nada otimista................................ Caso para ortopedista........................................... Pelada frustada..................................................... Esforço zero.......................................................... A volta ao passado................................................ Macaulay Culkin.................................................... Seu Neco: o Matusalém do Seridó........................ Seu Neco: o Rei dos gols de bicicleta................... Seu Neco: o vice-campeão mundial..................... Urubu perfumado.................................................. Diagnóstico médico............................................... O desfalque........................................................... Surprendido pela retaguarda................................ Torneio de crente.................................................. Churrasco fiado..................................................... Chaguinha, o imortal............................................. Ciço, O segundo imortal........................................ Serviço pela metade.............................................. O herói da vitória................................................... As aparências enganam........................................ As aparências sempre enganam........................... Uma sugestão fora de hora................................... O Último Dos Moicanos......................................... Torcedor pé-quente............................................... Jogador perna de pau............................................ Jogador imune a tudo............................................ Golpe baixo........................................................... Jogador internacional............................................ Acalmando o adversário................. ....................... 7

09 11 13 15 17 18 20 22 23 25 27 29 30 32 34 35 37 39 41 42 43 45 47 49 51 53 55 57 59 61 63 65 67

Jogador experiente................................................ Tênis flex............................................................... Um jogador de peso.............................................. Uma vitória injusta................................................. O mágico do time.................................................. O culpado pela derrota.......................................... O segredo revelado............................................... Ausência justificada............................................... Mão de vaca.......................................................... Nomes mais exóticos de jogadores....................... Fatos e frases célebres do Real Clube..................

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Tempo técnico A equipe do Real Clube foi disputar um torneio no interior do Estado. Momento de orgulho, pois saímos de lá com o troféu de campeão. Todo peladeiro que se preza sabe que jogo no interior só é oficial se alguém estiver no recinto vendendo din-din (ou sacolé como alguns costumam chamar). Em mais de vinte anos de clube, nunca fui a uma partida nesses lugares para não ter pelo menos um transeunte comercializando tal produto. Nesse dia, uma mulher bastante simpática estava vendendo dindão, daqueles que só se mede com uma trena. O tamanho daquele dindin não passava despercebido por ninguém. Sávio observou: — “Vamos comprar só um, dá pra dividir pro time todinho. Wiliam na mesma hora retrucou: — “Um dindão desse indo pro Guiness Book não tem quem derrube o recorde.” Canindé afirmou: — “Menino, o cabra chupando um dindão desse duvido que ele almoce.” Em uma das partidas, a mulher gritou para o árbitro: —“Ei, moço, dê um tempo aí pros meninos chupar um dindão.”

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Subitamente, o árbitro esqueceu por um instante a partida, virou-se para a mulher e respondeu em um tom de notória seriedade: — “Minha comadre, pra chupar um bicho desse tamanho, só se o tempo técnico for de duas horas.” Dito isto, até a vendedora do dindão caiu na gargalhada.

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Árbitro sensato O árbitro é, indiscutivelmente, uma das peças mais importantes numa partida de futebol. Esses profissionais que, por vezes, são hostilizados pelos jogadores, comissão técnica e, principalmente torcedores, merecem nosso respeito em razão da dedicação que dispensam no exercício de suas funções. Quando praticamos o futebol amador, a presença desses profissionais produz no ambiente um clima de seriedade dentro das quatro linhas. É no calor do jogo que um árbitro demonstra seu poder de decisão. Em um desses amistosos realizado pelo Real Clube, ocorreu um fato efetivamente inusitado. Na metade do segundo tempo, o jogo transcorria normalmente, quando nós jogadores fomos surpreendidos por uma bufa silensiosa (nome popularmente utilizado como sinônimo de flatulência), daquelas que faz até urubu fechar o nariz. Naquele instante, todos se agitaram em quadra, levando as camisas sobre o rosto na tentativa de minimizar o odor que parecia um golpe de alguém mal intencionado. É curioso notar que a discrição do responsável pelo incidente é de tal modo peculiar que dificilmente

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descobre-se quem é o verdadeiro autor por trás da ação. O árbitro paralisou a partida por cerca de três minutos. Após esse período, chamou os jogadores ao centro da quadra, retirou os cartões do bolso, fez um ar de reflexão e exclamou: — “Bem pessoal, vocês sabem que às vezes um árbitro precisa tomar determinadas decisões. Pois bem, quero deixar claro que havendo reincidência de tal ato que aqui presenciamos e na impossibilidade de encontrarmos o sujeito por trás da ação, serei obrigado a encerrar a partida. O sujeito que solta um negócio desse precisa, com urgência, de cuidados médicos.” É desnecessário dizer que o clima de seriedade foi quebrado por uma gargalhada geral.

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Um jogador de fé Certa vez, o Real Clube foi jogar no Ginásio de Santo Antônio, município de São Gonçalo do Amarante. Foi o tipo de partida que nenhum jogador do nosso time faz questão de lembrar. A equipe adversária possuía caracteresticas de um escrete profissional. Em anos de história, nunca havíamos enfrentado um adversário com tamanha competência. O futebol apresentado era impecável. Eles jogavam com tanta facilidadeque não denotavam esforço algum. A impressão que tínhamos é que o time estava jogando com o dobro de jogadores em relação à nossa equipe. Eram toques tão rápidos que mal pegávamos na bola. Por mais que nos esforçássemos para apertar na marcação, não conseguíamos organizar uma defesa capaz de segurar os ataques tão bem arquitetados por aquela equipe. Faltavam três minutos para o término da partida. A essa altura, perdíamos de 28 a 2 (um placar desse não acontece nem em basquete!). De repente, Mário, numa tentativa de reanimar nossos jogadores, solta o brado retumbante: —

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“Vamos lá, minha gente, vamos nos animar, ainda dá tempo de empatar esse jogo.” Nunca vi um jogador com tamanha fé!

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O cachorro quente Final de jogo, o Real Clube arrancava uma importante vitória (momento raro). Aquele foi um jogo digno de comemoração. Em meio à euforia de uma brilhante apresentação em quadra, alguém repentinamente sugeriu: — “Ei, bora comer cachorro quente?” A aprovação foi unânime. Quando chegamos ao estabelecimento, o homem que nos atendeu, quando viu o elenco do time abriu um vasto sorriso como se em sua testa estivesse escrito: “Hoje eu faturo”. Entre uma conversa e outra, percebia-se que a falta de higiene no preparo do hot dog (como sugeria a placa) era de uma saliência de causar enjoo. O comerciante segurava o pão sem o uso do guardanapo, ao mesmo tempo em que limpava o suor da testa, recebia o dinheiro, passava o troco e a cada dois minutos, coçava os testículos sem se constranger com a presença dos clientes. Em meio à situação, não há como negar, o cachorro quente por ele preparado era extremamente delicioso. A certa altura, o homem, enquanto segurava o pão para o preparo de um novo cachorro quente, sem desprezar o ritual,

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perguntou a um de nossos jogadores: — “Amigo, como é que tu quer o teu?” De súbito, o craque do Real Clube responde: — “O meu é sem coceirinha, por favor.”

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Uma torcedora nada otimista Quando conheci Soliana, o Real Clube já existia há alguns anos. Ninguém mais do que ela acompanhou minha trajetória pelo clube. Nos primeiros anos de casamento, eu chegava em casa e ela perguntava com todo carinho: — Meu filho, de quanto foi o jogo? Hoje em dia, a recepção continua a mesma, mas a pergunta... — “Meu filho, perderam de quanto hoje?”

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Caso para ortopedista Naquela noite voltávamos de mais uma partida que havíamos disputado na quadra do Gaiolão, em Igapó, como fazíamos todas as segundas-feiras. Em meio às conversas, alguém perguntou quantos anos o Real Clube tinha de existência. Quando mencionei que já passava dos vinte anos, perguntaram-me se eu lembrava os nomes de todos os jogadores que já vestiram a camisa do clube. A partir dali comecei a citar aqueles que vinham à memória, iniciando pelo primeiro elenco, fui descrevendo pacientemente a relação dos nossos ilustres atletas. Jefferson nos lembrava sobre aqueles que jogavam conosco nas peladas que realizávamos tarde da noite (houve dias em que jogávamos depois das 23h). Em meio àquela conversa nostálgica, lembreime de Eri (é assim que os amigos se referem quando se fala do nosso atleta Eriberto), neste momento, iniciou-se um diálogo que nos renderia uma boa gargalhada. Passo a descrevê-lo na íntegra: Carlinhos: — “Marcelinho, tu tem notícia de Eri?

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Marcelinho: — Homi, tais sabendo não é? Carlinhos: — Tô não. O que foi? Marcelinho: — Carlinhos, Eri estava jogando uma pelada com a gente, levou uma bolada tão forte que fraturou o testículo. Jefferson: — Que conversa é essa, Marcelinho? Pelo que eu soube não fraturou não, foi só uma torção. Cleyson: — Esse testículo é feito de osso, é?”

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Pelada frustrada Juntamos a turma para bater a pelada de segunda-feira. Isto é muito comum naquelas semanas que não conseguimos adversários para marcar amistosos. Reuniram-se ao todo 16 atletas. Como não tínhamos horário fixo em nenhuma quadra nesse dia, saíamos do Golandim (em São Gonçalo do Amarante) para jogar em uma quadra pública no Conjunto Santa Catarina, na Zona Norte de Natal, sempre depois das 22h (era o único momento em que tínhamos a certeza de encontrar espaço disponível para realizarmos nossas peladas). Naquele dia foram três carros conduzindo nossos peladeiros. No caminho, já íamos montando os times e, como é conhecido no mundo do futebol, as “guerras” eram inevitáveis. Um ligava para o outro (do carro) estipulando quantos gols marcaria, outros já arriscavam o placar, quantos dribles dariam, de modo que no caminho todos foram se enchendo de uma euforia que, a essa altura, era geral. Quando chegamos ao local, a quadra estava vazia, todo mundo animado, distribuímos os coletes. Como já havia sido previamente combinado, todos já sabiam quem eram seus respectivos companheiros de quadra. Os atletas 20

tomados pela empolgação se preparavam para mais uma pelada, pondo seu meião, seu calção e tênis. Na hora de começar a primeira partida, o inesperado acontece: a pelada precisou ser cancelada, porque ninguém trouxe a bola. Voltamos para casa extremamente desanimados. Pense numa decepção grande!

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Esforço zero Essa história é uma homenagem àqueles que acreditam que já viram de tudo no mundo do futebol. O jogo ocorreu em um domingo, pela manhã, no bairro Nova Natal. O campo, um areião, daqueles que só se permite jogar descalço. O sol escaldante, era um clima capaz de fazer o deserto do Saara parecer inverno. Em nós, o que sobrava de vontade em campo, faltava em qualidade e preparo físico. A partida foi dividida em dois tempos de trinta minutos, algo que já se convencionou utilizar nessas partidas em campos não oficiais. Honestamente, não me recordo de quanto saiu o placar. Mas, acreditem, o goleiro do time adversário durante toda a partida não pegou uma única vez na bola. Quando digo não pegou, é não pegou mesmo. Não houve um tiro de meta, nenhum recuo, nem de longe uma ameaça de chute a gol, sequer houve um lateral próximo à área que permitisse ao arqueiro (ou guarda-redes como diriam os portugueses) ter a alegria de participar efetivamente daquele jogo. Se ele tivesse levado uma rede, armaria nas traves e dormiria sem qualquer incômodo.

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A volta ao passado O atleta Ciço, que atuou poucas vezes pelo Real Clube, mas que nos legou boas histórias é conhecido por sua irreverência. Sempre brincalhão, em pouco tempo conquistou o elenco do time pela simpatia. Certa ocasião, Cícero (nome de batismo do nosso centroavante) caiu na besteira de dizer o nome de sua cidade de origem — um pequeno município do interior do estado, que aqui preservaremos o nome — Não demorou para que a turma começasse a zoar: “Que cidade é essa?”, “Tem no mapa?”, “Isso fica em qual país?”. Quando o assunto era o lugar onde nasceu nosso craque, nenhuma história superou a que passarei a narrar agora. Diz-se que quando Ciço saiu de sua cidade para buscar uma vida melhor em Natal, foi acompanhado por um amigo de infância que fez questão de levá-lo à rodoviária (na verdade, um ponto de ônibus, como nos relatou o próprio Ciço). Enquanto a condução não chegava, os dois relembravam os tempos em que eram crianças; gradativamente, a conversa foi se enchendo de empolgação, de modo que quando estavam eufóricos com as histórias ali relatadas, o ônibus dobrou a esquina; sem tempo para 23

concluir, Ciço bradou: — “Meu amigo, agora terei que ir embora, terminaremos esta conversa em outra oportunidade.” Assim, nosso craque tomou o ônibus e veio embora para a capital. Passados 15 anos distante de sua terra natal, Cícero finalmente resolveu visitar seus familiares. Apanhou um ônibus na Rodoviária Nova, na Cidade da Esperança, e seguiu rumo às suas origens. No caminho, ele ficava imaginando quantas mudanças haviam ocorrido, como estariam as pessoas que ali ficaram. Quando chegou, para espanto do nosso craque, a cidade estava exatamente do mesmo jeito, nada havia mudado. Parecia que o tempo não passava naquele lugar, até as cores das casas que ele guardava em sua memória foram mantidas durante o período em que esteve fora. Ao descer do ônibus, o amigo de Ciço, que o despedira de sua cidade 15 anos atrás, estava justamente no mesmo local da última vez em que se viram. Com um sorriso simpático, ele olha para Cícero e exclama: — “Sim, Ciço, como eu estava te dizendo...”

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“Macaulay Culkin” Justiça seja feita: vida de goleiro não é nada fácil. Quantas injustiças praticamos quando reclamamos ou exigimos daqueles que são a peça chave na defesa de qualquer equipe. Já dizia o filósofo Canindé (o maior central que já passou pelo Real Clube. Mas também, é válido lembrar que até agora somente ele atuou nessa posição): “O goleiro quando é bom, o time tem 95% de chance de vencer a partida”. Na função de goleiro, muitos foram os que já atuaram pelo Real Clube, mas nenhuma injustiça se compara a essa: Jogo no ginásio da cidade de Ceará-Mirim, com uma quantidade razoável de espectadores que, obviamente, torciam pelo time da casa. Nossa equipe acumulou mais uma derrota! A partida foi bastante disputada; nosso goleiro nem de longe pôde ser responsabilizado pela goleada. Ele havia atuado muito bem, mas como o time não acompanhou seu ritmo, o resultado foi inevitável. Enquanto voltávamos para Natal, a discussão sobre as razões que nos levaram à derrota estava tão inflamada que não notamos a ausência do nosso goleiro no carro. De repente, o celular toca, era um número que eu

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desconhecia (depois tomei conhecimento de que este havia sido emprestado de um jogador do time adversário); ao atender, a voz de desespero do outro lado da linha compulsivamente exclamava: — “Carlinhos, meu irmão, volta aí pra me buscar. Vocês esqueceram de mim.”

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Seu Neco: o Matusalém do seridó Certa ocasião, fomos convidados a participar de uma programação em uma igreja em Currais Novos/RN e, aproveitando que o evento ocorreria no final da tarde, marcamos um amistoso com um time local para o início da noite, antes de sairmos para jantar com nossas famílias na praça central daquela cidade. O jogo ocorreu no ginásio de uma importante escola da região. Ali, enquanto nos organizávamos para o início do amistoso, tivemos a oportunidade de conhecer a história de seu Neco, que nos foi relatada por um dos nossos adversários (no início de noite daquele sábado). Seu Neco era conhecido por suas histórias exageradas. E, conforme nos foi relatado, certa vez, querendo testar a veracidadede de suas narrativas, os amigos combinaram para ter uma conversa com seu Neco e, na oportunidade lhe perguntaram se ele conhecia o Rio de Janeiro. Ele prontamente respondeu: “Morei lá durante 5 anos”. E São Paulo: “Morei 15 anos”. Seu Neco, e Manaus? “Morei 8 anos”. Curitiba? “12 anos”. Dessa forma, continuavam perguntando por inúmeras cidades e a cada uma delas seu

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Neco respondia a quantidade de tempo que residiu. Ocorre que um dos interrogadores ia anotando o número de anos que seu Neco tinha morado em cada cidade. Ao final da conversa, nosso adversário daquele sábado concluiu que, se seu Neco estivesse dizendo a verdade, ele estaria com exatos 480 anos.

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Seu Neco: o Rei dos gols de bicicleta Curiosos em saber mais sobre seu Neco, retomamos a conversa com nosso adversário o qual nos relatou outra história daquele personagem folclórico do Seridó. Segundo fomos informados, todos que conheciam seu Neco tinham um profundo interesse em saber se ele já havia jogado futebol quando era mais jovem. Questionado sobre o assunto, o mesmo respondeu: — “Joguei pela seleção do Equador (cidade do interior do RN) durante muito tempo. Em certa ocasião, realizou-se naquela cidade um dos jogos mais bonitos, jamais visto em nosso Estado. Uma partida entre o time principal do ABC e a seleção de nossa cidade.” Na mesma hora alguém perguntou: — “E aí, seu Neco, o jogo foi bom?” Seu Neco prontamente respondeu: — “Não foi melhor porque só joguei os primeiros 20 minutos da partida.” Mas o que houve para o senhor não continuar no campo? Alguém questionou. Seu Neco, com a cara mais lisa do mundo, interpelou: — “Não aguentava mais o couro das costas. Tive que sair após marcar 17 gols de bicicleta contra a forte equipe do ABC.”

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Seu Neco: o vice campeão mundial Não é nenhuma novidade para os apaixonados pelo futebol que, em 1950, em pleno Maracanã, o nosso país sofreu uma grande decepção ao ver a seleção brasileira perder a Copa do Mundo para o Uruguai naquele fatídico 2 a 1. Nosso adversário nos relatou que certas ocasiões estavam discutindo sobre a veracidade do número de torcedores que havia no estádio naquela final. Um dizia “— foram 200 mil torcedores, eu vi no youtube”. Outro contestava afirmando que não cabia e que o número sugerido foi manipulação da imprensa. A discussão foi se desenrolando e ninguém chegava a um consenso. Por coincidência, enquanto discutiam o assunto, seu Neco estava se aproximando. Percebendo a presença daquele ilustre ancião, alguém foi logo gritando: — “Seu Neco, nos socorra aqui! O Maracanã em 1950 tinha ou não tinha 200 mil torcedores no estádio?” Nessa hora, seu Neco coloca a mão no queixo, faz aquele ar de dúvida e, sem que ninguém esperasse, ele respondeu: — “Rapaz, quando eu jogava pela seleção eu não olhava pra torcida. Pelo barulho eu sabia que tinha

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muita gente, mas saber a quantidade exata não dava pra saber porque eu estava mesmo era concentrado no jogo, seguindo as orientações do nosso técnico.” Só lembrando ao amigo leitor: Não consta nenhum seu Neco na relação dos jogadores da seleção brasileira que participaram da Copa de 1950.

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Urubu perfumado Era este o apelido de um jogador adversário, contra quem costumávamos jogar nos finais de tarde (aos sábados), na quadra de uma escola pública no Parque dos Coqueiros, onde nosso goleiro Bráulio trabalhava como professor. O codinome daquele atleta fora maldosamente escolhido em virtude do forte odor de suas axilas (popularmente conhecido como sovaqueira) que, expelido pelo atleta, podia ser sentido a quilômetros de distância. O jogador escolhido para marcar Urubu Perfumado foi nosso melhor marcador que, em virtude de sua baixa estatura, era chamado de Baixinho. Por ironia do destino, seu nariz ficava na mesma altura das axilas do adversário. Baixinho, que era conhecido por ser um jogador forte na marcação, sempre demonstrava um baixo rendimento quando jogávamos contra aquele time. Certo dia, após sermos derrotados por dois gols marcados por Urubu Perfumado, no final da partida, todo o elenco do nosso time jogou a responsabilidade do resultado para o Baixinho, que não aguentando a pressão, desabafou: — “Se fossem vocês que passassem quarenta minutos cheirando um sovaco daquele,

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no lugar de críticas, vocês me dariam era um troféu.”

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Diagnóstico médico Nos anos 1990 jogava conosco um atleta que, além de ser conhecido por seu temperamento extremamente forte, ainda possuía uma característica que lhe era fortemente peculiar: o tamanho de seus olhos que era notoriamente acima da média, para não dizer que eram enormes. Certa feita, sem esperar, nosso companheiro de zaga foi atingido com uma bolada do lado direito do rosto que, dado o grau de violência do chute, comoveu a todos. Um dos nossos jogadores se prontificou a levá-lo às pressas, quase desacordado, ao Hospital Walfredo Gurgel em Natal. Ao ser atendido, como é de costume, o médico logo pergunta: — “O que se sucedeu, meu filho?” Nosso jogador, ainda cambaleante, responde: — “Doutor, levei uma bolada na parte superior do rosto e, como o senhor pode ver, meu olho está muito inchado.” O profissional, que a julgar pelos cabelos brancos, possuía uma larga experiência no ramo da medicina, examina nosso jogador e com uma expressão de dúvida, questiona: — “Oh meu filho, me diga uma coisa, como é que a bola conseguiu atingir de uma só vez, os dois olhos?” 34

O desfalque Todo mundo que joga futebol sabe que existe um fundamento primordial para o sucesso de qualquer equipe: o entrosamento. Um time entrosado joga mais fácil, os jogadores se conhecem dentro de campo (ou quadra), e isso facilita o desenrolar da partida, a bola flui, cada um já sabe sua posição e o que fazer durante o jogo. Para se ter uma ideia, quando conhecemos bem aqueles que jogam conosco, somos capazes até de prever onde eles vão estar quando estivermos de posse da bola. Pois bem, o Real Clube havia formado um escrete que alcançara um excelente nível de entrosamento, embora isso não fizesse muita diferença diante dos resultados quase sempre negativos. A verdade é que a equipe acostumara-se a jogar com aqueles mesmos jogadores, era o entrosamento quase perfeito, se não fossem as inúmeras derrotas daquela temporada. A verdade é que se com a equipe entrosada já estava difícil ganhar, imagine se não houvesse essa afinidade entre os jogadores. Passamos um bom tempo procurando alguém que pudesse assumir a parte defensiva do time, até que depois de muitas buscas, finalmente chega o nosso defensor. Era o que

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precisávamos para fechar o elenco do Real Clube. Os demais jogadores estavam empolgados com a presença do atleta recém chegado. Enfrentaríamos um adversário difícil e precisávamos de alguém para segurar a defesa. Preocupado, liguei para o nosso zagueiro, indagando se poderíamos contar com ele naquele dia. Na mesma hora, nosso craque respondeu: — “Eita, Carlinhos, vai dar não, visse! Rapaz é porque ontem eu comi uns negócios meio carregados de modo que hoje amanheci cagando em spray. Homi, eu tô vazando pelo pito.” Depois daquela justificativa, não havia razão para insistir pela presença do nosso jogador em campo naquela partida.

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Surprendido pela retaguarda Era um final de semana de carnaval, não recordo o ano, nossa igreja estava em retiro na Lagoa do Boqueirão, em Touros. Na ocasião, havíamos combinado que após o almoço do domingo jogaríamos uma partida de futebol para relaxar. Terminado o almoço, a turma já estava se organizando para o jogo de logo mais, quando aconteceu um fato inoportuno. Por alguma razão, a comida que nosso atacante tinha acabado de ingerir lhe fez mal. Cólicas apertadas, suor frio, sensação de mal-estar e o pior, ele precisava ir ao banheiro com urgência. Se o amigo leitor já acampou alguma vez na vida, vai se lembrar que toilet nessas circunstâncias é algo muito concorrido, dada a quantidade de pessoas que circunda o local. Ao chegar ao banheiro, nosso atleta se deparou com uma fila enorme. Pelos cálculos, ele sabia que não teria muito tempo. Quando retornou às barracas, encontrou-se com Leozinho. Sem vacilar, foi logo gritando: — “Léo, vem cá, vou aqui pro mato, dá uma olhadinha aí pra certificar de que não vem ninguém pra Lagoa. Se vier, tu me avisa.”

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O plano fora bem arquitetado, se não fosse por um detalhe: Quando os irmãos desciam à lagoa, passavam pelo lado que ele estava, e não pelo lado que Leozinho ficou. Resumindo: Nosso jogador ficou exposto achando que ninguém estava lhe vendo, quando na verdade o pessoal que estava descendo o via sem que ele desse conta. Aliás, a presença dos irmãos só foi sentida quando um garotinho ao contemplar a cena, gritou: — “Olha, mamãe, um homem cagando.” Quando se virou e viu os irmãos, se recompôs; depois disso, nem pelada, nem retiro, nem carnaval, nosso amigo pegou suas coisas e veio embora para casa, desfalcando nosso time na pelada daquela tarde.

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Torneio de crente O Real Clube foi convidado a participar de um torneio de futsal promovido por uma igreja evangélica daqui de Natal. O evento foi realizado em um domingo pela manhã na quadra de uma conhecida universidade particular da nossa cidade. Equipes de várias denominações cristãs compareceram àquela que prometia ser a “grande oportunidade de aproximar os irmãos em Cristo”, como afirmavam os organizadores do evento. No início da primeira partida, o árbitro chama os jogadores ao centro da quadra e expõe as regras básicas que todo peladeiro já conhece com profunda intimidade: respeitar, não bater, evitar discussões etc. Feito isso, os atletas deram as mãos formando um grande círculo para a realização de uma oração inicial. Qualquer ateu ficaria sensibilizado com a poeticidade daquela prece; o clima áureo de fraternidade fazia o cristão sentir-se efetivamente no paraíso. Fora, de fato, palavras inspiradoras. Iniciada a partida, pense numa violência avassaladora. Como se diz na linguagem do futebol: “do pescoço pra baixo era canela”. A pancadaria era gratuita e intermitente.

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De repente, um torcedor exaltado levantase da arquibancada e com sua voz estridente, grita em plenos pulmões: — “Ei, minha gente, vocês oraram pro Cão, foi?”

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Churrasco fiado Terminado o jogo, um convite inesperado. Alguém naquele dia sugeriu que comemorássemos a vitória saboreando aquele delicioso churrasco (o famoso “carne de gato”). O local escolhido foi o “Churrasquinho da Ana”, popularmente conhecido como o “morre em pé”. Ana é conhecida por seu temperamento forte, beirando a uma brutalidade gratuita. Certa feita, alguém maldosamente afirmou que ela era “sutil igual a coice de mula”. Suas respostas repentinas impressionam pela inteligência com que são elaboradas. Embora não possua diploma universitário, somos obrigados a reconhecer: ela é doutora em responder “na bucha”, com uma criatividade excepcionalmente original. Ana atendia ao escrete do Real Clube, enquanto preparava os espetos de carne. Um dos nossos atletas, conhecendo a mansidão daquela comerciante, indagou: — “Ei, Ana, tu me vende um churrasquinho fiado?” Na mesma hora, com sua delicadeza de búfalo, ela retrucou: — “Meu fi, se fosse pra perder os churrascos eu num tava aqui salgando, não.”

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Chaguinha, o imortal Chaguinha: — “Rapaz, fui pescar sozinho, eu estava numa canoa, em pleno rio Potengi. De repente, sem motivo aparente, a canoa virou. Com o solavanco da virada eu apaguei completamente. Vim retornar depois de três dias. Canindé: — Dentro d’água, Chaguinha? Chaguinha: — E então? Fiquei boiando. Quando acordei, notei que não vinha socorro; foi quando eu percebi que a solução era nadar mesmo. Foi o jeito que eu encontrei para escapar. Carlinhos: — Mas Chaguinha, se tu morre, como é que ia ficar a zaga do Real Clube? Chaguinha: — Carlinhos, meu irmão, era só nisso que eu pensava, visse? Canindé: — Rapaz, se eu mentisse como Chaguinha, eu já tava era rico. Chaguinha: — E tu tava lá pra dizer que é mentira?”

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Ciço, O segundo imortal Era um domingo de manhã. A equipe do Real Clube encarava um adversário difícil, o que, aliás, não era raro encontrar dada a ausência de um time que estivesse à nossa altura. O jogo ocorreu no campo do Orlando, no Golandim, em São Gonçalo do Amarante/RN. Enquanto não chegava a hora do jogo, nós ganhávamos tempo jogando uma boa partida de sinuca. Canindé desafiou nosso centroavante Ciço para uma demonstração de forças. Enquanto jogavam, os dois dividiam histórias que prendiam nossa atenção, ora pelos relatos, ora pela qualidade com que ambos apresentavam no manejo com o taco. No entanto, dentre os fatos ali narrados, um em especial nos chamou a atenção. Discutindo sobre viagens e perigos enfrentados por aqueles que encaram as BRs, Ciço passou a Narrar: — “Certa vez, eu voltava de João Pessoa num Fiat Uno. Vinha eu e mais 4 pessoas dentro do carro. De repente, um caminhão entra na contra mão, pelo jeito aquele motorista estava embriagado. Sem alternativa, nosso motorista puxou a direção do carro para o acostamento. Tinha um barranco, o Fiat virou, resultado: morreu todo mundo.” 43

Canindé, que se preparava para encaçapar a bola no canto, parou o taco, levantou a cabeça e repentinamente lançou a pergunta que era a dúvida de todos: — “Ciço, se morreu todo mundo, como é que você está aqui?” Ciço, todo sem graça, respondeu: — “Milagre não se explica, Canindé. Me admira você, sendo crente, me fazer uma pergunta dessa.”

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Serviço pela metade Pouco mais de 15 minutos nos separava do início do jogo. Era uma partida que esperávamos há um bom tempo; naquele momento todos alimentavam a expectativa para aquele que seria o “jogo do ano”. Os atletas estavam se organizando no vestiário, o uniforme do time já havia sido distribuído, respeitando sempre a numeração que já era tradição a cada jogador. Entre uma conversa e outra, surge um fato inusitado: notou-se que um dos nossos jogadores, ao se preparar para vestir o calção, estava somente com uma das pernas depilada. Era notória a diferença entre uma perna e outra, ao passo em que na primeira não havia pelo nenhum, na segunda os pelos sobressaiam de tão volumosos. Ao perceber a situação, todo o elenco caiu na gargalhada; afinal de contas, era uma cena extremamente estranha para se observar em um atleta que estava depilado pela metade. Ao ser indagado sobre o fato, o jogador em questão lançou a justificativa: — “Rapaz, vocês não vão acreditar, eu estava me depilando quando no meio do serviço o estojo ficou cego. Taí o resultado: Só deu para concluir uma perna.”

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O herói da vitória No mundo do futebol ninguém gosta de perder. Mesmo quando o jogo é amistoso, amargar uma derrota nem de longe é uma sensação agradável. O Real Clube, ao longo de sua história, teve derrotas e vitórias como ocorre a qualquer equipe. Alguns arriscam afirmar que tivemos bem mais derrotas. Todavia, existem aqueles jogos que, mesmo perdendo, nos deixam boas recordações. A derrota no futebol, muitas vezes, depende da ação de um jogador adversário que marca o gol no último minuto ou aquele que nesse mesmo tempo salva o time de tomar um gol tirando a bola em cima da linha. Seja como for, aquele que consegue tal façanha torna-se o herói da equipe vencedora e o carrasco de seu adversário. Felizmente, nosso escrete já teve a oportunidade de vivenciar os dois lados. Mas não há como negar que, de todos os adversários que nos tirou a vitória faltando segundos para o fim da partida, nenhum foi mais inusitado que o goleiro César. Jogávamos na quadra do 16º RI, em Natal, o Real Clube perdia por um gol de diferença. Nos instantes finais da partida, o time que enfrentávamos já gritava: “acabou, acabou”.

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O árbitro anunciou que o jogo acabaria no instante em que a bola saísse da quadra. No último lance da partida, surge uma jogada que seria a chance de sairmos com o empate. Alguém rouba a bola e toca para Leonardo que sai frente a frente com o goleiro César. Todos torcíamos pelo sucesso daquela finalização. Ocorre que as traves daquela quadra não eram fixas (eram daquele tipo em que nós podemos mudá-las de lugar). Quando nosso jogador preparou o chute, fez um gesto de quem iria soltar aquela “bomba”. César com medo do chute correu para um lado, na tentativa de não ser atingido pela bola, e Leozinho chutou bem devagar na direção oposta. Na corrida, o goleiro bateu a testa com tanta força na trave que a deslocou o suficiente para a bola ir pelo outro lado para fora. Naquele instante, César caiu apagado. Todos preocupados com sua condição, tentávamos a todo custo acordá-lo. Quando o goleiro retornou, nossos adversários o abraçavam e diziam em tom de comemoração: — “Tu salvou nosso time hoje, César.” Sem entender direito o que tinha acontecido, nosso amigo César respondeu na mesma hora: — “Eu treino pra isso.”

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As aparências enganam Naquela tarde de quinta-feira (era um feriado nacional), enfrentávamos uma equipe de veteranos no campus central do IFRN, em Natal. Jogo equilibrado, as duas equipes apresentavam um bom nível de futebol. Eu havia iniciado a partida no banco de reservas e, como todo bom peladeiro, estava ansioso para entrar em campo. Virou para o segundo tempo e minha expectativa era de entrar logo para fazer minha participação e ajudar a equipe a chegar à vitória. Se aproximava dos 15 minutos do segundo tempo e o técnico me chama para entrar em campo para jogar na lateral direita. Por coincidência, no mesmo instante o técnico adversário chama um jogador deles para também entrar em campo. Nosso técnico olha para mim e diz: — “Ei, Carlinhos, tu vai marcar aquele jogador que está entrando agora, beleza?” Quando olhei o ponta esquerda que estava para entrar, tive na mesma hora a sensação de ter tirado a sorte grande. O jogador não tinha mais do que 1,40m de altura, levando em consideração que tenho 1,61m, já me deixava na vantagem. Além disso, a saliência de sua barriga era percebida a quilômetros de distância, era um jogador

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aparentemente muito pesado, de uma idade avançada, o que me deixaria numa condição confortável para marca-lo. No primeiro lançamento em direção ao lado que estávamos, o baixinho a quem eu marcava deu uma matada genial na bola, coisa de profissional, dominou a pelota com maestria, correu pela nossa lateral em uma velocidade que seria necessário eu ter pelo menos quatro pulmões para alcançá-lo. Na segunda jogada, ele botou a bola na minha frente e mais uma vez deu uma esticada que nem de longe eu conseguia me aproximar dele. A essa altura, nosso técnico começou a me xingar: — “Mas, Carlinhos, como é que tu deixa um jogador desse fazer o que quer contigo, hein?” Outros no banco de reserva bradavam caindo na gargalhada: — “Ei, Carlinhos, segura o baixinho.” Na terceira jogada, percebendo que eu não tinha a mínima condição de marcar o baixinho, pedi para sair. Até hoje não entendo como um atleta naquela condição física podia ter tanto fôlego e preparo para botar um jogador com a metade da sua idade para trás.

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As aparências sempre enganam Era uma noite de quarta-feira e, como de costume, chegamos ao Gaiolão (como assim é conhecida a quadra do Igapó) para enfrentarmos mais um adversário, rotina que se repetia toda semana. Entretanto, naquele dia em especial, jogaríamos com um time que nunca havíamos enfrentado antes. Enquanto nos organizávamos para entrar em quadra, não pude deixar de notar que um dos jogadores adversários, fazendo seu aquecimento com a bola, demonstrava uma habilidade extraordinária. Seu molejo com a bola chamava a atenção pelo estilo, categoria e habilidade com que ele conduzia a pelota. Impressionado, virei-me para o lado e comentei: — “Olha ali. Rapaz, aquele cara joga muito.” Na mesma hora, Canindé retrucou: — “Meu patrão, jogando sozinho, todo mundo é um craque.” Ele estava coberto de razão, com a bola rolando, aquele jogador fez muito pouco em quadra, ganhamos a partida e mais uma vez ficou comprovado: as aparências sempre enganam.

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Uma sugestão fora de hora A pelada daquele sábado iniciara tarde, era aproximadamente 10:30h da manhã quando a bola rolou no minicampo do CONACAN, no bairro de Candelária, Zona Sul de Natal. O sol estava escaldante, a exaustão era visível na face de nossos jogadores. O racha (como chamariam nossos compatriotas pernambucanos) já estava perto de ser encerrado e, àquela altura do campeonato, contávamos cada segundo na esperança de vermos concluída a última partida. Ninguém aguentava mais correr dentro de campo, os toques eram curtos, nem se arriscava fazer um lançamento longo sob pena de forçar os companheiros que, naquele momento, já não conseguiam produzir mais nada dentro de campo. Finalizada a pelada, Mineirinho pediu aos jogadores que não saíssem de campo porque gostaria de gravar um pequeno vídeo para mandar à igreja da qual fazia parte. Segundo ele, o pároco do bairro em que morava era um grande incentivador da evangelização via esporte. Nosso cinegrafista improvisado sugeriu que nós ensaiássemos o grito de guerra. Mineirinho, então, ajeitava um, organizava o

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outro, pediu para declamarmos o grito de guerra que repetimos pelo menos umas quatro vezes; nisso, o tempo passava, e cada vez mais sofríamos com a temperatura que já estava para lá de elevadíssima. O calor estava tão insuportável que ficar ali no meio do sol para gravar um vídeo era um castigo dantesco, a maioria já passando mal, não víamos a hora de sair daquele mormaço. Depois de concluída a gravação, já estávamos saindo do campo, quando Joca sinalizou com a mão e fez uma sugestão que ninguém havia pensado: — “Ei, pessoal, não era melhor ter gravado o vídeo ali na sombra não?”

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“O último dos moicanos” Naquele dia, nos preparávamos para mais uma partida internacional (expressão que usamos para qualquer partida que ocorra fora da Grande Natal), o palco era o Ginásio Poliesportivo de Fernando Pedrosa, no interior do Estado. Nosso goleiro Bráulio havia marcado o jogo com um conhecido daquela cidade, mas deixou bem claro que não reforçasse o time, tendo em vista que nós do Real Clube estávamos indo apenas para dar umas “carreirinhas”, nada de sério. Para nós seria apenas um lazer, uma oportunidade de oferecer ao time um momento diferente das nossas partidas semanais. Ignorando o pedido do nosso arqueiro, o técnico adversário logo pensou que Bráulio estava usando de modéstia e, além de reforçar o time da cidade, ainda contratou um carro de som anunciando que uma grande equipe da capital iria se apresentar em sua cidade. O que nós encontramos naquele dia foi uma imagem que jamais sairá de nossas cabeças: o ginásio estava completamente lotado. Nunca tínhamos jogado na presença de tanta gente na arquibancada. Fomos recebidos

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com tanta euforia, que nos sentíamos jogadores profissionais. Assim que o árbitro apitou, Canindé rolou a bola, eu chutei e em menos de 10 segundos, conseguimos marcar o primeiro e nosso único gol naquela noite. Escutei quando alguém na arquibancada comentou: — “Bem que Zé disse que o time era bom.” Não precisou mais que três minutos de bola rolando para todos perceberem a ausência de qualidade futebolística de nossa equipe. Gradativamente, o público decepcionado foi se retirando, de modo que antes de terminar o primeiro tempo, já não havia mais ninguém, exceto um senhor que ficou sozinho na arquibancada. A partida já caminhava para a metade do segundo tempo, e o “último dos moicanos” continuava prestigiando a partida. Ao sofrermos o 11º gol, o homem se levanta da arquibancada e grita: — “Como é que a pessoa sai de casa pra ver uma misera dessa? Mas antes se eu tivesse ficado em casa pra assistir à minha novela.”

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Torcedor pé-quente Fazia um bom tempo que eu insistia para que meu vizinho assistisse aos jogos do Real Clube. Sempre indisposto, ele inventava mil desculpas para não comparecer. Sempre que conversávamos, eu renovava exaustivamente o convite, mas sem sucesso. Certa vez, para minha surpresa, o nobre colega disse: — “Ei, Carlinhos, hoje vou assistir vocês jogar.” Embora duvidasse, combinei o horário que sairíamos para que ele prestigiasse aquela partida e, embora não acreditasse, ele estava lá me aguardando. Nesse dia, nosso time jogou como nunca. Foi uma partida impecável, ganhamos com folga, embora o adversário possuísse um elenco superior. A verdade é que nós entramos com sede de vitória, os passes, os dribles, tudo se encaixava perfeitamente e sempre sob o olhar atento daquele “torcedor”, que assistia ao jogo com uma concentração digna de um comentarista esportivo. Enquanto retornávamos para casa, meu vizinho (à época) não se cansava de elogiar o Real Clube: — “Mas Carlinhos, você dizia que seu time era ruim. Que nada. Vocês jogam

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muito. Parabéns, foi uma bela partida. Sempre que eu tiver oportunidade irei ver vocês jogar.” Acontece que os jogos seguintes foram um fiasco. Acumulamos pelo menos 11 partidas sem vitória, mudamos até parte do elenco na tentativa de espantar a má fase e nada. Até que um dia, depois de uma sequência de derrotas avassaladoras, meu vizinho mais uma vez resolveu vir assistir pela segunda vez a um jogo que ocorreria na quadra de uma escola privada da Zona Norte de Natal. Mais uma vez, na presença daquele “torcedor”, o Real Clube voltou a sentir o gostinho da vitória. Conseguimos novamente realizar uma excelente partida. Terminado o jogo, meu vizinho bateu em meu ombro e afirmou sem pestanejar: — “Ei, Carlinhos, vocês não perde não, é? Pense num time bom. Duvido que algum time daqui consiga vencer vocês.” Infelizmente, precisei mudar de endereço e essas foram as únicas vezes que contamos com a presença ilustre daquele nosso amigo “pé-quente” com quem tenho hoje pouquíssimo contato, mas uma coisa é certa: sempre que nos encontramos ele não se cansa de elogiar o Real Clube e repetir: — “Rapaz, vocês não perdem pra ninguém não, né?”

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Jogador perna de pau Depois de um certo tempo, a gente acaba adquirindo a percepção que nos faz diferenciar um jogador craque de um perna de pau. O craque demonstra desinteresse quando é convidado para atuar em um jogo, chega sempre desconfiado, sem chamar a atenção, com a chuteira (ou o tênis rasgado) embaixo do braço, não faz questão de jogar de saída, nunca tem meião e, via de regra, é sempre o último a se arrumar. O perna de pau, ao contrário, sempre é o primeiro a chegar (e marca presença, mesmo quando ninguém avisou a ele que teria pelada), tem material completo e impecável (anda até com um Gelol na bolsa). Quando tem pelada, é o primeiro a confirmar presença e quando chega, enquanto se arruma, vai contando histórias mirabolantes que jogou e fez isso, fez aquilo; já está se aquecendo quando todo mundo nem se arrumou ainda e usa sempre aquela frase de efeito: “pode deixar que eu me garanto”. No quesito perna de pau, nesses mais de 20 anos de existência do Real Clube, nenhum jogador superou nosso amigo Ariel. Como o time surgiu com os amigos que faziam parte de uma igreja, nosso lema era não deixar ninguém fora 59

do time (o futebol funcionava naquele momento como uma espécie de instrumento de socialização para nós que fazíamos parte daquela instituição). Paulo Romero (Paulinho) foi logo nos advertindo: — “Pra jogar todo mundo, tem que botar Ariel. Mas já vou logo avisando: ele é muito ruim.” Confesso que não tinha noção do quanto Paulinho estava certo. Para se ter uma ideia, a primeira vez (e única) que Ariel jogou com a gente, quando a bola rolou no meio de campo com saída dada pelo time adversário, ele se aproximou de mim e me perguntou quase sussurrando: — “Ei, Carlinhos, pra que lado a gente ataca?”

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Jogador imune a tudo Naquela noite, o Real Clube tinha uma partida importante a ser disputada na quadra do bairro das Quintas, em Natal. O time a ser enfrentado era o Santos, um forte rival comandado por nosso amigo Bruno, que algumas vezes nos deu a honra de vestir a camisa da nossa equipe. Sempre que ocorria um amistoso entre nossos escretes era promessa de um grande jogo. No último confronto, um empate havia frustrado as duas equipes, que agora estavam ansiosas para se digladiarem sob o olhar atento de alguns curiosos que ficavam nos arredores da quadra para prestigiar o evento. Para o Santos (das Quintas) aquele jogo contra o Real Clube não seria nem de longe fácil, isto porque na oportunidade contávamos com a presença marcante em quadra do nosso pivô Jussier, que desequilibrava com seus dribles fáceis. Um jogador que possuía uma facilidade em armar jogadas e que, rotineiramente, nos favorecia com gols que quase sempre só tínhamos o trabalho de empurrar para as redes.

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No entanto, Jussier estava acabando de se recuperar de uma cirurgia do rompimento dos ligamentos cruzados do joelho direito, um procedimento delicado cuja recuperação ainda não estava totalmente concluída. Bola rolando, o placar nos favorecia com dois gols de diferença, mas de repente o pior acontece. O que menos desejávamos veio à tona: numa jogada aleatória, em um lance despretensioso, Jussier larga a bola e cai com a mão no joelho aos gritos e repetindo incessantemente: — “Ai que dor. Galera, pra mim já deu!” Todos em volta do jogador, naquele clima de preocupação, sabíamos que a partir dali não contaríamos mais com o craque do time. De repente, nosso goleiro Bráulio se dirige ao elenco do Real Clube e lança essa pérola: — “Rapaz, eu não entendo essas coisas, não. Por que um negócio desse só acontece com o melhor jogador? Tem umas perebas nesse time que não jogam nem pedra na lua e não pegam nem gripe. Vá entender um negócio desse. Vocês podem ver que todo jogador ruim tem uma imunidade que parece que tomou uma injeção feita pela Nasa.”

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Golpe baixo Naquela noite de segunda-feira, na Arena Gaiolão, em Igapó, enfrentávamos um adversário difícil. Final de primeiro tempo, o Real Clube ganhava pelo placar de 1 a 0. Nosso maior trunfo em quadra era o goleiro Gleydson que atravessava uma excelente fase e fazia naquela noite uma bela partida. Como se diz na linguagem do futebol: “Não passava nada”. Os jogadores adversários chutavam de tudo que era jeito, mas nosso arqueiro parecia estar inspirado pelos deuses do futebol. Para se ter uma ideia, em um lance de escanteio Gleydson avança a quadra do adversário e acerta um voleio que por pouco não se converte num dos gols mais bonitos que marcaríamos na história do Real Clube. Devia faltar uns cinco minutos para concluir a primeira etapa, quando ocorre um incidente que deixaria todo o nosso elenco preocupado. Numa trombada com o adversário, Gleydson sofreu uma pancada forte no testículo, cai gritando de dor, deixando-nos apreensivos. Ele rolava no chão e alguém observava: — “Gleydson, segure só um pouquinho, já está terminando o primeiro tempo.” Pouco depois ele se levanta e com dificuldade sai para o intervalo da partida. Na volta do segundo tempo, quatro minutos de bola rolando, o adversário chuta “uma bomba”

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em direção ao nosso gol e para a infelicidade de Gleydson, dessa vez é a bola que acerta seus testículos. Começa a mesma agonia. Estávamos com medo de Gleydson deixar a quadra, o que para nós seria uma perda irreparável. A partida foi paralisada por alguns minutos até que nosso goleiro se recuperasse do ocorrido. Retomada a partida, a equipe adversária vira para 2 a 1 e coloca pressão contra nosso time. Naquele momento Wiliam exclamou: — “Ei, vamos jogar por Gleydson, o cara tá se matando no gol e a gente dando mole.” Foi o suficiente para acordar nosso escrete e o Real Clube virar o jogo para 4 a 2. Faltando poucos minutos para terminar a fase complementar, mais um fato inusitado. O jogador adversário bate o escanteio, o pivô acerta um chute de primeira e adivinhe o que acontece: a bola acerta mais uma vez em cheio os testículos de Gleydson. Agora estávamos certos de que ele não terminaria aquele jogo. Foi um verdadeiro alvoroço. Ao final da partida ganhamos pelo placar de 5 a 3. Mas há algo que ouvimos naquela noite que jamais esqueceremos. Ao se recuperar da terceira pancada sofrida nos testículos, Gleydson se levantou com aquela expressão de quem estava sentindo muita dor, e bradou em plenos pulmões: — “Carlinhos, meu irmão, esse time só vai sossegar quando conseguir me capar.”

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Jogador internacional O causo que passo a dividir com o amigo leitor foi contado pelo professor Henrique, de Língua Inglesa, com quem tive a grata satisfação de jogar no Ginásio do Jardim Lola, em um torneio realizado pela escola na qual trabalhamos, na oportunidade em que nosso amigo Henrique acertou um chute perfeito marcando um golaço que levantou a torcida naquela ocasião. Quando ele nos contou a história de Dirran, em nosso ambiente de trabalho, nos rendeu uma boa gargalhada. Ocorre que, por coincidência, alguns dias depois a mesma história também foi compartilhada no grupo do Whatsapp do Real Clube, pelo presidente do nosso time, o amigo Canindé. Sendo assim, passo a relatar tal qual a lemos: “DIRRAN, Jogador do Rio Grande do Norte, meio agalegado, era entroncadinho e tinha as pernas curtas e tortas. Há alguns anos, em uma partida da Copa do Brasil, o narrador da Rádio Poti não cansava de gritar: — Dirran é um craque! Dirran é uma revelação do futebol norte-riograndense!!!. E era Dirran prá cá, Dirran pra lá! 65

No final do jogo o destaque foi o jogador Dirran. Vendo aquele sucesso todo do Dirran, um jovem repórter da Joven Pan foi fazer uma entrevista com o craque na beira do gramado e foi logo perguntando: — Você tem parentes na França? Esse seu nome é de descendência francesa? O jogador, olhando espantado para o repórter, respondeu, para o Brasil todo ouvir: — Não senhor, o meu apelido é Cu de Rã porque eu sou baixinho, mas como num pode falar na rádio, então eles abreveia!”

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Acalmando o adversário Torneio no quartel do 16º RI, não recordo exatamente o ano, mas o Real Clube devia ter um ou dois anos de existência, o que me leva a acreditar que o evento ocorreu entre 1996 e 1997, ocasião em que conhecemos o amigo Geovane, que tempos depois atuaria em nosso escrete e se consagraria como o jogador do chute mais forte que já testemunhamos no futebol de salão. Geovane é a calma em pessoa, mas numa certa ocasião, vimos nosso amigo perder a cabeça. Em um jogo realizado num minicampo em Genipabu, o time adversário estava tirando a nossa paciência, ora com faltas muito duras ora com reclamações excessivas que gradativamente iam nos tirando do sério. Segundo tempo de jogo, perdíamos a partida pela diferença de um gol, quando, no contra-ataque do adversário, Geovane, que jogava na zaga, precisou parar o atacante com uma falta que não chegou nem de longe a usar violência. O jogador, não satisfeito em ver a jogada sendo paralisada, foi para cima do nosso zagueiro no intuito de tirar satisfação. Os jogadores começaram a cercar Geovane e foi

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nesse momento que a calma do nosso amigo foi substituída por uma reação de raiva expressa na frase — “Faça a fila aí, mas não precisa vir de um por um não. Podem vir pra cima de mim de uma vez. Não tenho medo de nenhum não”. Quem estava naquela tarde jamais esquecerá a cena: Todos os jogadores, tanto os que jogavam conosco como os que nós enfrentávamos, fizeram um silêncio absoluto. Nenhum jogador, nem mesmo os mais ousados se atreveriam a atender o convite do nosso jogador. O árbitro da partida, na tentativa de acalmar os ânimos, foi colocando a mão no bolso para retirar o cartão. Nesse instante, alguém na torcida sugeriu: — “Ei, juiz, o senhor tenha cuidado no que vai fazer. O galego aí num tá pra brincadeira não.” O árbitro na mesma hora tirou a mão vazia do bolso, olhou para Geovane e todo sem graça, virou-se em direção ao outro time e exclamou: — “Vocês batam logo essa falta antes que eu amarele o time todinho por fazer cera.” A partir dali o jogo transcorreu sem maiores problemas.

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Jogador experiente A partida acontecia em um campo society no bairro de Capim Macio, Zona Sul de Natal. Nosso time acabara de marcar o segundo gol que resultava no empate entre as duas equipes. O placar estaria em vantagem a nosso favor se não fossem os inúmeros gols que eu havia perdido ao longo do primeiro tempo, ação que voltaria a se repetir durante a etapa complementar. Na verdade, havia uma justificativa para a falha que resultava no desperdício de gols. Quem já jogou em gramado artificial sabe que o campo solta umas borrachinhas pretas que até o presente momento desconheço sua função, tampouco sabem explicar aqueles que jogam futebol comigo. A única resposta que encontrei até hoje é a que estarei expondo nessa história que passo a relatar ao leitor. Naquele dia, minhas chuteiras estavam cheias daquelas borrachinhas, eu mal conseguia correr com aquele indesejado incômodo e, no calor do jogo, que transcorria muito rápido, não dava para eu parar para retirá-las. Numa tentativa de me justificar, cheguei próximo ao defensor do time adversário e confessei: — Rapaz, como é que você consegue

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jogar com essas borrachinhas na chuteira incomodando o tempo todo? Eu tô aqui que não aguento. Na mesma hora o jogador me respondeu: — “Carlinhos, pra que serve essa borracha, eu não sei não. Mas o dia que eu encontrar quem inventou vou dar um abraço nesse cara para agradecer pelo que ele tem feito em meu casamento.” Sem entender direito, questionei: — Como assim? Não entendi. A partir daí, no meio da partida, aquele zagueiro passou a me explicar: — “Homi, quando eu chegava em casa, minha mulher dizia que eu estava mentindo, que eu não estava saindo pra jogar. Aí eu mostrava a chuteira cheia de borrachinha. Ela num instante se acalmava. Teve um dia que eu me abestalhei e limpei a chuteira aqui depois do jogo. Pense num problema grande! Hoje ela nem discute mais, ela vai direito nas chuteiras, olhou as borrachinhas, tá de boa. No dia que minha chuteira não tem borrachinha, eu junto um punhado e jogo dentro das chuteiras. Depois que eu ganhei a confiança dela, jogo bola três vezes por semana. Essa borrachinha é uma bênção!”

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Tênis flex No mundo do futebol amador não é raro encontrar situações nas quais os atletas (sejam lá quais forem os motivos) são impedidos de jogar por falta de um calçado adequado à modalidade, seja ela futsal, futebol de campo ou society. Todavia, em casos como esses, nunca falta um amigo que se disponha a emprestar um tênis ou uma chuteira no intuito de socorrer o companheiro de pelada. Qual é o peladeiro que nunca emprestou ou pediu emprestada uma chuteira para não perder um jogo de futebol entre os amigos? Essa foi a condição do nosso amigo Ricardo, que em uma determinada quinta-feira estava querendo levar seu primo para jogar conosco, mas o mesmo não dispunha de uma chuteira. Sabendo que a presença do parente na pelada estava comprometida por falta de um calçado, nosso atleta resolveu apelar ao grupo no Whatsapp, gerando a seguinte conversa: Ricardo: — “Vou levar meu primo, alguém tem uma chuteira 42 pra emprestar? Agradeço.” André: — Tenho uma 40 que calça 41 e dependendo do pé da "criança", calça 42.

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Carlinhos: — André, essa chuteira é feita de elástico é? André: — É pq ela é 40 com "forma" grande. Calço 41 e ela é 40 e ainda fica um pouco folgada. Ricardo: — Pode levar, eu agradeço. E não se preocupe com a numeração não, pé de pobre não tem tamanho.”

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Um jogador de peso Em uma pelada que jogávamos na Zona Norte de Natal, havia um jogador inusitado. Seu nome era Matias e sua peculiaridade residia em seu excesso de peso. Embora ele mesmo nunca tenha nos revelado, os companheiros de futebol insistiam que nosso ponta direita não tinha menos que 150 quilos. Como sua estatura era mediana, o sobrepeso era notado até pelos jogadores mais discretos. Todavia, enfatizamos que em nenhum momento isso era problema no que diz respeito ao desempenho dentro de campo. Pelo contrário, Matias jogava tranquilo os dois tempos e não apresentava cansaço além daquele que verificávamos em qualquer outro jogador. Certa vez, ele nos contou uma história que passo agora a relatar ao amigo leitor. Matias foi a uma loja de material esportivo em um shopping de nossa cidade e pediu que o vendedor lhe apresentasse uma chuteira de boa qualidade, que fosse capaz de aguentar pelo menos seis meses. O rapaz que o atendeu prontamente apresentou um lançamento recém chegado à loja e garantiu que aquela era uma chuteira de excelente qualidade e ainda assegurou que a loja daria ao nosso atleta uma garantia de três meses, e que, durante os oito 73

anos que ali trabalhava, nunca ocorreu de um cliente voltar para reclamar dos produtos daquele estabelecimento. Mas, como Matias é um jogador diferente, não deu outra. Menos de um mês, ele volta à loja com a chuteira aberta, havia descolado e descosturado. O vendedor muito atencioso, prontamente realizou a troca do produto e renovou a garantia que havia sido feita no ato da compra. A mesma situação se repetiu por pelo menos seis meses. Matias havia se tornado uma figura conhecida da loja. Todo mês, quando a chuteira descolava ou descosturava, lá ia nosso amigo fazer valer o direito de consumidor e buscar outra no mesmo estabelecimento. Numa certa ocasião, quando Matias entrou na loja para mais uma vez realizar a troca, o gerente chamou nosso craque no canto e bem baixinho sugeriu: — “Ei, Matias, na moral, quanto é que você quer pra não aparecer aqui nunca mais? Pra você, meu amigo, só se a fábrica fizer uma chuteira de ferro.” Depois disso, Matias nunca mais apareceu naquela loja e até hoje não sabemos se ele recebeu alguma quantia daquele gerente.

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Uma vitória injusta Domingo pela manhã, acontece no bairro do Planalto, a tradicional pelada organizada por seu Chico, o peladeiro mais experiente que conheci até hoje (ele está com 76 anos, no momento que descrevo este causo). Normalmente, comparecem jogadores suficientes para a formação de três linhas, as quais se organizam de modo que todos jogam a mesma quantidade de tempo e seu Chico, que nunca erra nas escalações, forma as equipes com um equilíbrio impecável. Prova disso são os placares que sempre terminam em resultados apertados, raramente passando de um ou dois gols de diferença. Em um determinado domingo, como de costume, enfrentavam-se as equipes azul e amarela. O time no qual jogava o nosso amigo Isac (equipe Amarela) estava bastante inspirado, tocando a bola com facilidade, atuando com maestria; a defesa empreendida pelos zagueiros, associada aos perfeitos toques de bola faziam com que sua equipe apresentasse um esquema ofensivo capaz de tremer os jogadores adversários. Aqueles que assistiam à partida testemunhavam um dos ataques mais

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avalassadores registrados na história daquela pelada. O grande problema é que durante todo o tempo de jogo, o time de Isac realizava diversas jogadas, era bola na trave, goleiro defendia, zagueiro tirava, chutes fortes que passavam rente à trave, mas gol que era bom, nada. Em resumo, passaram os 25 minutos atacando ininterruptamente. A equipe adversária não conseguia atacar sob nenhuma hipótese. O goleiro da equipe Amarela estava longe de sair suado daquela partida. Mas, como futebol é uma “caixinha de surpresas”, no único momento que os adversários de Isac conseguiram tomar a bola com sensatez e puxar o contra-ataque, ocorre o improvável: fizeram o gol da partida, exatamente no único ataque realizado por aquele time. Resultado: ganharam do time de Isac por 1 a 0 na precisão cirúrgica de um único lance. Ao final, questionado sobre o que aconteceu para justificar aquela derrota, nosso amigo Isac, exalando uma expressão de profundo cansaço e decepção, exclamou: — “O futebol é um esporte muito cruel.” Tendo compreendido o que ele dissera, naquela manhã ninguém mais ousou comentar aquela que ficou conhecida como “A vitória mais injusta” de nossa pelada. 76

O mágico do time Faltavam ainda uns 20 minutos para começar a partida na quadra da Cidade do Sol, Zona Norte de Natal, o time já estava uniformizado e preparando-se para o jogo, quando, de repente, fomos surpreendidos por Jailton que, empolgado, chamou a atenção de todos a se juntarem naquele momento para que ele pudesse nos mostrar uma novidade. Jailton mostrou um pano vermelho e nos contou que estava fazendo um curso de mágica. Naquele momento pediu que olhássemos atentamente, pois faria o pano desaparecer. Mostrou o pedaço de tecido, abriu as mãos e cuidadosamente as fechou, abraçando completamente o pano. Ao mostrar as palmas de suas mãos o pano havia realmente sumido. A equipe ficou impressionada com aquela ação. A pergunta foi quase que unânime: — “Jailton, como foi que tu fizesse isso?” Nosso pivô, que nesse momento estava com a cara mais alegre do que árvore de natal, foi logo dizendo: — “Nem insistam que não vou contar. O mágico quando é bom não revela seus segredos.” Enquanto todos se impressionavam com a mágica, o jogador que fazia a posição de central

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à época nos arrancou uma boa gargalhada com o seguinte diálogo: Jogador do Real Clube: — “Duvido que nesse curso eles ensinem a mágica que eu sei fazer. Jailton: — Que mágica, homi? Jogador do Real Clube: — Passo o mês todinho esperando meu salário. Quando recebo, faço o dinheiro desaparecer mais rápido do que esse pano aí. Mas nem adianta me pedir o segredo que eu também não conto, não.”

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O culpado pela derrota Aquele era um ano especial, o Real Clube estava completando 20 anos de existência e, numa tentativa de festejar o aniversário, encomendamos a confecção de um novo uniforme (ou terno, como também é chamado no futebol amador). As camisas de cor laranja e calções pretos mantinham a tradição da equipe, isto porque, sempre usamos essa primeira opção ou o azul como segunda alternativa. Julgávamos importante a aquisição de um segundo modelo para podermos contrastar com as cores utilizadas por nossos adversários. Ocorre que aquela não foi uma temporada animadora. Nosso time entrou numa sequência de derrotas que parecia não ter fim. Até as partidas que nos comprometíamos em dar o melhor de nós sempre acabavam com pelo menos um empate. Vitória que era bom, nada! Sabíamos que alguma coisa precisava ser feita para reverter aquele quadro; foi quando decidimos fazer uma reunião para discutirmos sobre quais aspectos estávamos errando e o que deveríamos fazer para experimentarmos novamente o gosto da vitória. Seria a marcação? Faltava precisão nas finalizações? A equipe

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precisava demonstrar mais vontade durante os jogos? No calor da reunião estávamos certos de que tudo estava ocorrendo bem com o time, embora o resultado continuasse negativo. Foi aí que alguém apontou: — “Ei, minha gente, eu sei onde tá o problema da gente: é esse terno que nós compramos. Vocês vejam que com essas camisas a gente não ganhou nenhum jogo.” Na mesma hora a opinião contagiou o grupo que, após analisar o enunciado, chegou a mesma conclusão: “a culpa é do terno”. O resultado é que na mesma semana vendemos o uniforme e compramos outro na tentativa de espantar a crise. Ocorre que a sequência de derrotas continuava em alta. Chateado, um dos nossos jogadores, após uma partida, exclamou: — “Quando o time é ruim, não tem uniforme que dê jeito.”

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O segredo revelado O time que enfrentamos em um domingo pela manhã na cidade de Ceará-Mirim era uma equipe conhecida, por muitos, como quase imbatível. O responsável com quem entrei em contato para marcarmos nosso amistoso não se cansava de apresentar os números: — “Carlinhos, nosso time faz 8 jogos que não perde, o time vem embalado pelas vitórias. E aí, bora marcar esse amistoso?” Inicialmente, resisti ao agendamento daquela partida temendo que pudéssemos ser mais uma vítima dessa sequência bem-sucedida por parte desse nosso adversário. Após muita relutância, acabei cedendo e prontamente marcamos a data para realizar aquele que prometia ser um grande jogo. Na ocasião, nos foi pedido que chegássemos bem mais cedo, porque o técnico iria preparar um café da manhã para nossa equipe. Segundo ele, a refeição oferecida aos adversários era uma forma de dar as boas-vindas e se confraternizar com os oponentes antes da bola rolar. O resultado do jogo foi um empate de 7 a 7. Ao contrário do que esperávamos, a equipe adversária não possuía tanta qualidade. Entretanto, nosso time corria em campo com um

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ar de preguiça, parecíamos pesados, sentíamos que o time não estava conseguindo se articular bem em campo. Tempos depois, um áudio divulgado no WhatsApp nos fez entender o motivo de nossa atuação tão baixa naquele dia e, finalmente, descobrimos o segredo da invencibilidade da equipe adversária. Eis a descrição do áudio na íntegra: — “O amistoso tá certo, né? Então, antes do jogo meta cuscuz pros meninos aí ficarem pesados. Não tem quem jogue bem depois de comer dois pratos de cuscuz.”

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Ausência justificada Era uma quarta-feira à noite, o Real Clube jogaria contra um adversário já conhecido, o “Shaktar Igapó”. Quando os dois se enfrentavam, o jogo era sempre muito pegado, marcado por muitas discussões. Na tentativa de amenizar os problemas causados pela rivalidade, decidimos que não jogaríamos a menos que houvesse a presença de um árbitro. Naquele dia resolvemos convidar alguém de pulso firme para desempenhar essa função. O árbitro convidado era conhecido por sua pontualidade e assiduidade, nunca faltava um compromisso, chegava sempre mais cedo para se organizar e estar em quadra no horário combinado. Contudo, chegou a hora do jogo e ele não compareceu. Como já estávamos em quadra, a bola rolou e, como era de se esperar, a partida foi marcada mais uma vez pela tensão que norteava as duas equipes. Pelo WhatsApp, foi registrada a reclamação dos dois times em virtude da ausência da arbitragem naquele jogo. O juiz finalmente apareceu no grupo e disse que não conseguiu chegar porque teve um pequeno incidente enquanto se dirigia à quadra. Muito

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alterado, um dos jogadores o agrediu dizendo: — “Não tente se justificar, você furou.” Na mesma hora, o árbitro explicou: — “Não, amigo, não foi eu quem furou, quem furou foi o pneu da minha bicicleta. Por isso não cheguei a tempo.” Resolvido o problema, no mesmo dia o convidamos para apitar o próximo amistoso que ocorreria na quarta-feira seguinte.

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Mão de vaca O jogador Deda era um craque de futebol. Meio-campista veloz, dono de um chute forte e lançamentos precisos, um atleta completo que passava segurança a todos de sua equipe dentro de campo. No entanto, fora dos gramados, nosso companheiro de pelada tinha um defeito terrível: era um suvino (mão de vaca, muquirana, amarrado ou quaisquer outros adjetivos do gênero). Para se ter uma ideia, dizia-se que se alguém quisesse tirá-lo do time era só pedir a ele alguma contribuição, isso já seria o suficiente para Deda nunca mais aparecer. Diziam que seu dinheiro “era mais escondido que orelha de freira”. Certa feita, Deda estava saindo de casa, quando sentiu uma forte dor no peito que o levou ao chão. Ele começou a agonizar chamando a atenção de todos. Sua mãe desesperada com a cena que via começou a gritar aos transeuntes: “— Por favor, alguém chame um táxi.” Na mesma hora, nosso craque, com a mão no peito, se contorcendo de dor e ofegante exclamou: — “Mamãe, pelo amor de Deus, ligue para o SAMU, eu mesmo não vou pagar táxi, não.”

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Conheça os nomes mais exóticos de jogadores que encontramos no futebol amador Gereba, Nenêm de Nenêm, Ladislau, Catinga de Rato, Birro, Perebinha, Tabacubo, Pimbinha, Sabirila, Pretinho do Bolo, Paulo Queixada (mas não era o original não), Brinquedo do Cão (idem), Wiliam Boner (era ele escritinho), Madona, Chico do Ovo, Carrapeta, Zia, Bebe Óleo, Chupeta de Toicin, Osama Bin Laden, MuamáKadaf, Abu Nazir, Roncali, Barata, Brexó, Marombinha, Bombinha, Piu-Piu, Raul Seixas, Jaspion, Jiraya, Merlim, Galalau, Negueba, Oi de Kombi, Cara de Pandeiro, Boi, Tirana, Cream Cracker, Harry Potter, Lost, Picolé de Toicin, Cara de Jaca, Bauru, Jet Lee, Pantera, Zumbi, Vovô, Biafra, Jerimum Cabôco, Zé Brabo, Touro Manso, Paquito, Chico Doido, Barriga de Soia, Bucho de Tim-Tim, Carniça, Fuba, Babosinha, Canela de Foice, VanVan, Cavalo Marinho, Torreiro, Pipoca, Mata Gato, Orelha de Porco, Pé de Bumbo, Tanajura, Chicovaco, Calango Seco, Gambarrô, Fuleco, Bititiu, Jabulana, Piçarro, Boneca de Estiva, Bodô, Xamirranha, Pedro Catota, Valderrama, Show, Bozó, Itaipava, Zé Buchada, Mané Buchudo, Pé de Pato, Calango Seco, Antõi Preá, Nino do Coco, Júnior Minhoca, Ratito, Cirilo, Chupa Cabra, 86

Biroliro, Jackie Chan, Já Morreu, Dorme Sujo, Tchutchucão, Sérgio Graxa, Cheira Boga, Catita, Ratatui, Sérgio Garapa, Foguinho, Miúdo, Novato (o cara tinha mais de 10 anos no time), Paulo Pimbão, Pé de Bicheira, Nêgo Rôla, Zé da Burra, Dedal, Maneco, Currute, Sorriso, Bruce Lindo, Zé Marreco, Bolotinha, Besouro do Cão, Zé Colmeia, Davi Cuscuz, Magayver, Pimenta do Reino, Pai Vavá, Luís Carestia, Zé Meningite, Papa-Ovo, TimTim Ovado, Gardenal, Chico Chanha, Mestre Splinter, Mestre dos Magos, Pescocinho, Chapa de Burro, Chico Tripa, Miojo, Mão de Alface, Chico Cunha, Tiziu, Buda, Chupa Prego, Tonho da Lua, Sassá Mutema, Lombriga, Paredão, Boca de Surrão, Japoranga, Mocinha, Sarrafo, Avenida, Mamoso, Willy Kitty, Bob Esponja, Caçote, Tutui, Papai Smurf, Socó, Salsicha, Gato Guerreiro, Beiçola, Munganga, Boca de Sovaco, Gorpo, Caixa D’água, Tang, Zé do Bode, Corujito, Bilbal, Barrote, Marreta, Xoxoto, Pelevino, Pequeno, Cunhado, Muriçoca, Cu de Rã, Nêm de Bil, Lady Gaga, Nenca, Peixe Podre, Catatau, Mosquito, Schumacher, Magal, Queixo de Tamanco, Bradock, Michael Jackson, Gardenal, Barra, Careca, Gigante, Caraúba, Pé de Broa, Urubu Perfumado, Briôco, Tchurray, Walking Dead, CaçaRato, Bigode, Boquita, Tantin, Cabeça de Alho, Pikachu, Zagaia, Ratinho, Caixa D’água, Biro-Biro, Cabeleira, Beto Borreia, Canuto, Orelha de Abano, 87

Cara de Fuba, Remelinha, Só Testa, Miolo de Pote, Papangu, Puruca, Paçoca, Nino Calango, Xuxa, Big-Big, Pila, Jamelão, Burrego, Rivotril, Sovaco de Cobra, Jamaica, Barack, Mucuim, Fio Love, Cagayver, Graúna, Jabileu, Rabicó, Maruin, Buiú, Noia, Mun-Rá, Rato Branco, Gabiru, Cabelinho, Galo Cego, Piúba, Redondo, Zumba, Kitute, Boró, Morcegão, Fefo, Vaca Maga, Papai Pig, Babal, Sapo, Samambaia, Juca Bala, Boca de Suvela, China, Peba, Rabisco, Zói, Curió, Badauí, Neblina, Peroba, Cabeça de Roll-on, Macarrão, Bolinha, Olho da Barbie, Verminoso, Mãozinha, Pescoço de Peixe, Assoviu, Mestre Miaguy, Meuzovin, Papada, Mantena, Toddynho, Bibo, Fumaça, Sapulha, Lacraia, Gambiarra, Faísca, Prastada, Colorau, Keké, Fininho, Papa Capim, Pirrita, Fenol, Zaguinha, Pererê, Buchinho, Couro Grosso, Cangaia, Pato Roco, Sarninha, Bituca, Belezinha, Bambino, Ferrugem e Badaró.

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Fatos e frases célebres do Real Clube “Homi, joelho foi feito para encerrar carreira de jogador.” (Jussier) Após dez jogos sem vitória: “Rapaz, do jeito que vai, eu acho que vamos continuar perdendo.” (Bráulio) “Bote uma coisa na sua cabeça: tem dia que tudo dá certo.” (Canindé) Após uma rara vitória: “Tu acha que eu saí de Natal pra perder, foi?” (Sávio) “Carlinhos, esse teu time (Adversário despeitado)

é

uma

chanha.”

“Os caras são mais rápidos do que o coice de um guaxinim.” (Jogador do Real Clube referindo-se a um time adversário)

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“Todo time tem fase boa e fase ruim. A gente só tem uma fase e com certeza não é a boa.” (Jadson) “Tu é ambidestro. Joga ruim com as duas pernas.” (Josué) “Você tem uma boa visão de jogo, o problema é quando tu entra pra jogar.” (Matheus) “Sorte a nossa ele não estar jogando do nosso lado.” (Comentário de um adversário sobre nosso atacante após um amistoso) “Carlinhos, meu sonho é jogar no Real Clube.” (Omiti propositadamente o nome para preservar a identidade desse besta) “Você pra mim é problema seu.” (Jogador do Real Clube no meio de uma discussão com um adversário) Jogador 1: — Esse nosso time é ruim demais. Jogador 2: — É claro que é. Tu joga nele. Deixa tu sair pra ver se num instante melhora. Antes do jogo: “É o seguinte: ou a gente ganha, ou perde, ou então empata.” (Canindé. Eu daria um 90

prêmio Nobel a esse rapaz pela genialidade contida nesta frase)

Pelo telefone: Carlinhos: — Ei, se não chover tem pelada hoje. Jogador: “— E se chover?” (Isso sim é uma pergunta besta) “Jogar contra vocês não dá nem emoção.” (Adversário do Real Clube)

Pelo telefone: Carlinhos: — Meu irmão, Cassiano hoje tá no gol, beleza? Jogador: “—Beleza. Ei, Carlinhos, se liga aí, quem é que vai ser o goleiro?” “O problema não é perder. O problema maior é não conseguir ganhar.” (Fabinho) “Pra jogar no sábado à noite me custa uma semana lavando louça.” (Barney) “Eu só digo uma coisa: vou ficar calado.” (Wiliam)

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“Quando eu chegar em casa vou jantar um ovo empanado.” (Nick Souza) “Futebol é o único esporte que quem não sabe jogar inventa de jogar.” (Josué) “Nosso jogo está confirmado para o próximo sábado. Que vença o menos ruim.” (Thiaguinho) “Canindé, no próximo jogo passe no posto antes pra calibrar o pé.” (Sávio, após Canindé errar o chute ao gol por três vezes consecutivas) Aluno nota 10 em Matemática: “É o seguinte: junta os 7 jogadores, cada um dá 10 reais. Aí, a gente pega os 100 reais e paga a inscrição pro torneio.” (Jogador do Real Clube) Após um erro de finalização: “—Canindé, meu irmão, vai chutar o fiofó duma burra.” (Cleyson) “O chute de Canindé parece o peido de uma véia.” (Jadson) “Hoje nós jogamos como nunca e perdemos como sempre.” (Goleiro Júlio César)

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“Lá em casa uma bandeja de ovo dura dois meses. O segredo é degustar meio ovo por dia.” (Nick Souza) “Se ganhasse ponto por derrota, a gente tinha sido campeão invicto.” (Kallyedson) “Eu perco uma amizade, mas não perco uma pelada.” (Juninho) “Gleydson, se tu não tivesse errado tinha sido gol.” (Canindé) “Aquele atacante corre mais que notícia ruim.” (Badiali) “Ganhar de vocês é mais fácil do que bater em bêbado.” (Adversário do Real Clube) “Bora se esforçar, desse jeito vocês estão me sugando.” (Goleiro Júlio César) “Ei, Carlinhos, aquele gol de Gleydson merecia uma placa, né não?” (Wiliam comentando um dos

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gols mais bonitos que vimos na história do Real Clube) “Vou explicar em uma palavra o que aconteceu: O time jogou ruim.” (Cleyson) “Meu amigo, nem Dragon Ball pegava essa bola.” (Gerílson) “Mas rapaz, logo tu que é o jogador menos ruim do nosso time?” (Reação de Eri, ao ser comunicado que um dos nossos jogadores faltaria ao amistoso) “Carlinhos, esse time de vocês tá muito judiado.” (Cassiano) “Se o time adversário não comparecer a gente ganha. Mas também esse é o único jeito da gente ganhar.” (Ângelo) “Rapaz, eu tenho pra mim que Fabinho tá cagando dentro dos tênis. Só pode ser.” (Luís Carlos) “O problema é que dentro de quadra, às vezes, não é fácil fazer o fácil.” (Wiliam)

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“Vendo ele jogar, parece ser fácil fazer aquilo.” (Adversário após sofrer um drible de Sávio) “Se eu jogasse bem daquele jeito eu não falaria com vocês mais nunca.” (Jogador do Real Clube admirando a habilidade extraordinária de um adversário) “Eu não sou bom, nem sou ruim, eu sou só eu.” (Gerílson) “Nessa nossa zaga, até anão faz gol de cabeça.” (Carlinhos) “Só há um jeito pra gente ganhar: fazer o overlap.” (Canindé) “Uma semana sem pelada é uma semana perdida.” (Erivan) “Futebol é fazer gol.” (Wiliam) Após mais uma derrota: “A gente não ganha, aí os caras vêm e ganham.” (Fabinho)

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“—Ei, Carlinhos, tu não se cansa de perder não é?” (João Pedro pelo Whatsapp) “Não adianta fazer um gol, se a gente sofre dois.” (Sávio) “Esse time da gente é mais fraco do que caldo de batata.” (Chaguinha) “Quando o time erra, a bola não perdoa.” (Jorge) “Essa minha chuteira veio com defeito de fábrica. Eu não consigo fazer nenhum gol com ela.” (Isaque) “Se eu desse uma bicicleta daquela passaria uma semana no Torsilax.” (Carlinhos) “Depois que a gente passa dos 45 anos é normal sentir dor. Na semana que eu não sinto nada alguma coisa está errada.” (Paulinho) “Essa nossa zaga tá parecendo os trapalhões.” (Reires)

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“Um chute daquele, se pega na testa, não tinha SAMU que desse jeito.” (Jogador do Real Clube comentando o chute de Geovane a gol que quase acerta o rosto do goleiro adversário) Após mais uma derrota: “Tudo isso faz parte da festa.” (Canindé) “A gente só ganharia se jogasse contra a gente mesmo.” (Kallyedson) “Se é pra perder, vamos pelo menos perder bonito.” (Chaguinha) “A gente consegue tudo, só não consegue ganhar.” (Mersinho) “O Brasil que é o Brasil perdeu de 7 a 1. Imagine a gente.” (Canindé) “Enterraram um burro nesse time.” (Geovane) “Ei, Carlinhos, eu esqueci como é ganhar.” (Jaminho)

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“Só tem um jeito agora: é marcar jogo só com time fraco.” (Bráulio) “Nosso time é uma comédia.” (Jaminho) “Não sei por que vocês jogam. Vocês nunca ganham.” (Esposa de um jogador do Real Clube) “Com essas histórias do Real Clube dava pra fazer um livro.” (Wiliam) “Esse Bráulio é desenrolado.” (Jaminho) “Cuidado pra não furar a bola, a gente só tem essa.” (Dedé, após o zagueiro adversário afastar a bola da área com a cabeça) “Eu tô mais liso do que bunda de bebê.” (Deda, dando desculpas para não contribuir com o aluguel do campo) ”Existe time ruim, existe time muito ruim e existe a gente.” (Kallyedson)

Pelo celular: 98

Jogador: — Carlinhos, que horas é o jogo amanhã? Carlinhos: — Tá previsto pra começar às 21h” Jogador: — Da manhã ou da noite? “Esse goleiro que Carlinhos arrumou num pega nem gripe.” (Jogador do Real Clube) “Vamos parar de reclamar. Quem ganha a vida com a boca é cantor.” (Raniere) “Sai daí, mão de maionese.” (Rafael, chateado com um de nossos goleiros) “— Ei, Carlinhos, na moral, esses times que perdem pra gente, eu tenho certeza que não conseguem ganhar de ninguém não.” (Jaminho) “O cara que ensinou Canindé a jogar bola, ganhou o dinheiro dele.” (Cleyson) “É só tocar pra mim e correr que a bola chega.” (Josué) “Carlinhos, quando tu for criar um grupo do zap pro nosso time, tu bota o nome ‘As chanhas do 99

futebol’. Pelo menos é um nome que combina com o time.” (Bráulio) “Se ele não tivesse morrido, até hoje estaria vivo.” (Jogador do Real Clube comentando o falecimento de um dos nossos craques) “Futebol é contato, meu amigo. Se você não quer que ninguém te toque, então vá jogar dama.” (Everton) “É só chutar que ele leva.” (Jogador adversário, após perceber a fragilidade do nosso goleiro) James: “—Carlinhos, qual é a tua frase favorita?” Carlinhos: —Por favor, aguarde. Contando cédulas.” “Se eu adivinho que ia comer bem desse jeito, tinha deixado os caras ganhar da gente.” (Comentário de um jogador do Real Clube em um jantar oferecido pelo adversário ao nosso time após um jogo em Poço Branco) “Bráulio jura que sabe jogar bola.” (Jaminho)

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“Eu fui fazer um teste no ABC uma vez, o cara olhou pra mim e disse: — Rapaz, você só tem perfil pra jogador de xadrez. Futebol não é seu ramo não.” (Carlinhos) “Meu patrão, ou eu me aqueço, ou eu jogo. Minha condição física não me permite fazer os dois não.” (Canindé) “É uma ilusão achar que a gente pode ganhar daquele time. Vocês estão ilusionados.” (Jogador do Real Clube) “Um peido desse até urubu tampava o nariz.” (Jogador do Real Clube, após uma conversa pósjogo ter sido interrompida por uma flatulência) “Se a gente botar um cone dentro da quadra no lugar de Canindé, ninguém vai notar a diferença.” (Cleyson) “Coloque um time ruim para enfrentar um bom e você vai entender que nem sempre são 11 contra 11.” (Naldinho)

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“Vai ser ruim assim na caixa bozó.” (Edinaldo, após um adversário do Real Clube perder um gol inacreditável) “— Carlinhos, se liga aí, dá pra jogar com calção térmico no lugar da cueca? Homi, com essa ruma de amistoso, num tem cueca que dê vencimento.” (Jogador do Real Clube) “Esse peido desafia até a lei da relatividade.” (Jadson) “Não vamos esquentar a cabeça, não. Afinal de contas, apesar do placar, ninguém saiu machucado. Estamos todos bem, é o que mais importa.” (Jadson, após uma derrota do Real Clube por 18 gols de diferença) “O nosso time sabe o que deve fazer em quadra, a questão é que a gente não consegue fazer o que sabe.” (Sávio) “Ganhar é bom.” (Canindé) “O ruim de se fazer gol de bicicleta é que a pessoa não vê o gol. A gente dá a bicicleta e quando vê tá todo mundo comemorando.” (Jogador do Real Clube nos anos 1990)

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“Aquele banho que o cabra toma depois de uma pelada eu não troco por um carro do ano.” (Carlinhos) “Vamos entrar em quadra e entortar o bozó.” (Valfran) “A partir de hoje, acabou a brincadeira.” (Jadson, na comemoração da nossa vitória após um jejum de 11 jogos consecutivos de derrotas) “Amizade também é título.” (Frase usada no uniforme de um time de futebol amador) “Tem emoções que só o futebol é capaz de proporcionar.” (Luciano) “Depois do jogo tem a barca. Mas não é só bebida, não. Também tem comida, porque tem uns jogadores em nosso time que comem virado num estopô.” (Luís, em mensagem pelo WhatsApp) “Quando o jogador é ruim, é ruim mesmo. Não tem jeito que dê jeito.” (Seu Chico)

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“Esse time de Carlinhos apanha mais do que pele de pandeiro.” (Naldinho) “Cadencie, pessoal. Cadencie. Time quando está ganhando tem que cadenciar.” (Jogador do Real Clube sugerindo que prendêssemos mais a bola para segurar a vantagem no placar) “Esse nosso zagueiro é um peso morto.” (Wiliam) “Eu fico revoltado com a falta de respeito que hoje o nosso povo tem pela seleção brasileira. Eu converso com o povo mais antigo, num escuto ninguém dizendo que antigamente o povo ficasse no “ZapZap” falando mal de Pelé. Vê se eles ficavam!” (Jogador do Real Clube) “Quando a gente for jogar, só tem um jeito de Bráulio ajudar nosso time: é ficando em casa pra assistir aos Dez Mandamentos.” (Berg) “Será uma honra perder pra vocês.” (Jogador do Real Clube ao cumprimentar um adversário antes de uma partida amistosa) “Um gol é sempre insolente” (Naldinho)

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“Do jeito que vai tô vendo a hora vocês levarem meu marido pra morar na quadra.” (Esposa de um jogador do Real Clube após o time jogar 4 dias seguidos) “Pra ele jogar, eu tive que ligar pra esposa dele e passar o número da minha esposa pra confirmar que realmente ia ter jogo.” (Jogador do Real Clube, explicando a estratégia que utilizou para conseguir a liberação do amigo para participar da nossa pelada) “Sem querer também é gol.” (Gelson, justificando o gol involuntário que fez quando tentava cruzar a bola na área) “Desculpa aí, pessoal. Eu fiz o que deu pra fazer.” (Piçarro, após perder um gol inacreditável) “Esse técnico do nosso time não fala nada que se aproveite.” (Luciano) “Aonde o jogador for, você vai. Não dê espaço. Pise na língua dele.” (Erivan)

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“Até hoje não entendo por que o nome daquele time é União. Os caras só vivem brigando entre eles o tempo todo.” (Matheus) “Se essa pandemia não me matar, a tara é quem vai me matar.” (Jorge, quando foi anunciado o cancelamento dos jogos por causa da quarentena provocada pela epidemia da Covid-19) “Minha chuteira tá ali triste.” (Dyego, referindo-se ao período que estávamos sem jogar por causa da pandemia) “Futebol não é apenas um monte de homens correndo atrás de uma bola. Tem muito mais coisas envolvidas nesse processo.” (Show) “Nesse jogo de hoje, tu tava mais perdido do que o povo de Lost.” (Naldinho) “Eu tomei uma Betatrinta essa semana. Eu só não entendo como é que uma injeção aplicada no bumbum vai entender que o meu problema é no joelho.” (Rafael) “A gente só perdeu porque levamos 5 gols a mais do que fizemos.” (Fabinho)

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“Estou começando a acreditar que realmente existem os deuses do futebol.” (Cleudo) “O primeiro presente que dei ao meu filho foi uma bola de futebol.” (Fernando) “Eu já nasci jogador. Nasci não. Estreei.” (Lucas) “O futebol é o esporte do povo. Hoje eu entendo isso.” (Reires) “Quem souber de um futebol clandestino por aí, é só me avisar, rapaziada.” (Mensagem no WhatsApp, no período da pandemia) “Hoje eu não estou conseguindo acertar nenhum chute.” (Diego) “É fácil reclamar de mim dentro de campo. Mas só eu sei das minhas limitações.” (Zé) “Pra esse menino aí jogar pelo menos ruim ainda tem que melhorar muito.” (David)

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“É muita responsabilidade entrar em campo pra jogar num time fraco. A gente se vê obrigado a fazer milagres.” (Leonardo) “Quando o jogador é ruim só precisa ele tocar na bola pra gente perceber.” (Seu Chico) “Tu viu aquele chute que eu acertei? Eu parecia Zico na copa de 82.” (Dedé) “Não tem profissional em nosso time. Somos apenas um grupo de amigos que se junta pra jogar bola.” (Baruc) “Linha fora é aqui.” (frase de peladeiro) “O importante não é participar, a gente diz que é porque não consegue vencer.” (Eudes) “Nosso time é muito mal diagramado.” (Sérgio) “Tem dia que a bola cisma de não entrar.” (Canindé) “Desses gols que o nosso time leva, a gente não consegue fazer um.” (Diego, reclamando dos gols fáceis sofridos pelo Real Clube)

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“É gratificante demais jogar futebol.” (Reires) “Dava muita raiva quando eu tava jogando mirim no meio da rua, aí mainha aparecia e dizia: — Berguinho, passe já pra dentro de casa.” (Lindemberg) “A alegria do goleiro é impedir que a gente faça o que nos dá alegria.” (Anderson) “Não precisa correr, o que vale é o tapa na bola.” (Alyson Paiva) “É um torneio de futebol como qualquer outro. A única diferença é que não é permitido chamar palavrão.” (Valmir, explicando as regras de uma competição organizada por uma igreja evangélica) “É ruim demais jogar com um jogador ruim que pensa que é bom.” (Isaque) “Dois craques jogando em um mesmo time nunca dá certo. A disputa pela liderança do time é inevitável.” (Cleyson)

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“Se tiver pelada, é só chamar que eu vou na hora. Não penso nem duas vezes.” (Marcelinho) “O que faz do futebol o esporte mais apaixonante entre todos, é a incerteza do resultado.” (Luciano) “O jogo só termina quando acaba.” (Wiliam) “Peladas maravilhosas.” (Bordão usado por Gibeon ao final de cada pelada) “A gente só não consegue fazer os gols. O resto tá tudo certo.” (Érico) “Esse nosso ataque não faz mal a um pinto.” (Joca) “Quando o assunto é futebol, o resultado nunca está definido, a menos que o jogo acabe.” (Luciano) “Odeio corrida. Mas corro para garantir o condicionamento físico pra jogar futebol.” (Érico) “Cada jogo é um jogo. O contrário é verdadeiro.” (Valmir)

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“A gente vai registrar um momento tão importante, aí vem esses palhaços pra estragar a foto.” (Erinaldo, ao perceber que na foto do time havia jogadores fazendo “chifre” nos companheiros) “É claro que eu erro. Se eu fosse perfeito estaria jogando no Flamengo.” (Canindé, chateado com as reclamações do time sobre sua atuação em quadra) “Vocês só veem quando eu erro. Quando eu acerto ninguém fala nada.” (Fernandão) “Vocês viram como eu tô jogando muito? Tem dia que eu me supero.” (Bráulio) “Quem me vê jogando, pensa que é fácil ser eu.” (Josué) “Respeitem o espaço pra bater a falta, tão pensando que a bola é bolo de aniversário, pra ficar todo mundo em cima?” (Erivan) “Esse meu joelho é remendado com dois arames, mas ainda consigo acertar o chute.” (Feluce)

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“Se a bola não chegar em mim não sai gol.” (Damião) “Sempre tem alguém em campo que erra. Se todo mundo fosse perfeito todo jogo saía zero a zero.” (Paulo, explicando a falha que causou o gol da derrota) “Vamos dar o último gás.” (Jaminho, numa tentativa de animar o time nos últimos cinco minutos de uma partida) “Quando entro em campo eu não jogo. Dou aula.” (Alyson Paiva) “Hoje tem pelada, seus pioientos.” (Erivan, no grupo do Whatsapp) “Até um saci joga mais do que tu.” (Osmar) “Hoje tem pelada. É dia d’eu dar aula, deixar os companheiros na cara do gol e gritar: faz, nojento” (Fernando) “Não tenho medo de morrer. Tenho medo de chegar lá no outro lado e não ter futebol.” (Jogador do Real Clube)

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“Se fosse pra trabalhar eu não vinha não. Mas pra jogar bola eu venho.” (Beto) “Tem jogador que passa o jogo todinho parado, só sugando o sangue do time.” (Eric) “A vantagem de ser ruim é que você pode jogar em qualquer posição, a atuação será sempre a mesma.” (Seu Chico) “Jogue sério! Quer brincar? Compre uma boneca.” (Dinho) “Vocês tão achando que eu trabalho na Ceasa, é?” (Sérgio, quando foi convidado para participar de uma pelada às 5h da manhã) “Jogador ruim nem falta, nem chega atrasado.” (João Neto) “Deixe a mão pra roubar na feira.” (Rubens, reclamando do adversário que usou a mão para paralisar a jogada de seu time)

“Tu perdeu 3 gols nessa partida. Vai pedir música no Fantástico, ruindade.” (Daniel)

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“Os erros do nosso time é um jogador a mais pro adversário. Toda vez que a gente erra, os caras fazem um gol.” (Dedé) “Nosso time é mais desmantelado que carreira de pato.” (Todynho) “Quando o jogo acabar eu quero essa camisa de Beto pra ir a uma festa. Ele nem suou.” (Erivan) “O médico olhou a ressonância e disse que eu sou um jogador de 30 anos com um joelho de alguém com 70.” (Valdo) “Vamos cozinhar o galo.” (Expressão usada nas peladas que equivale a segurar a bola para deixar o tempo passar) “Pede pra cagar e sai.” (frase de peladeiro) “Levem dinheiro. Não vou pagar campo pra ninguém jogar, não. Quem tem filho grande é elefante.” (Carlos) “A gente começou a partida ruim e terminamos do jeito que começamos.” (Gabriel)

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“Aproveite o arroto do goleiro. Sempre que a gente chuta ele arrota.” (Piçarro, orientando nosso atacante a se posicionar próximo ao goleiro adversário para esperar o rebote) “Alguém avise a Beto que não tem pelada, pra ver se ele fica em casa hoje.” (Erivan) “Não corram desse jeito, vocês não têm mais idade pra isso.” (Fenol se dirigindo aos amigos de pelada com mais de 60 anos) “Se fosse pra jogar bola, num instante você ia.” (Provavelmente, a frase mais ouvida pelos peladeiros) “Eu estava me sentindo muito mal, parecia que eu estava adoecendo, mas quando foi na hora de sair pra jogar, num instante eu fiquei bom.” (Beto Bigode)

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