Os Valores da Liberdade

O pensamento ocidental visto através do conhecimento milenar do oriente. A palavra liberdade resume a esperança de muita

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Os Valores da Liberdade

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Capa
Os Valores da Liberdade
Sumário
Introdução
1- Uma Ciência de Valores
2- Alcançando as Profundidades da Consciência
• A Fonte de Toda a Bondade
• O Conhecimento Mais Completo
• O Absoluto e a Realidade
3- Bhakti Yoga é Ciência
• A Consciência Original
• A Origem das Formas
• A Consciência Suprema
4- A Diferença entre Corpo e Alma
• Viajando de Um Corpo a Outro
• Resposta a Muitas Perguntas
• O Processo de Cantar Mantras
5- A Verdadeira Felicidade
• Servos Amorosos
• Técnica da Compreensão
• Os Valores da Liberdade
6- Conclusão
Autor

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poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível."

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Os Valores da Liberdade Onde o Ocidente Encontra o Oriente por

Howard J. Resnick, Ph.D.

Sumário Introdução 1- Uma Ciência de Valores 2- Alcançando as Profundidades da Consciência • A Fonte de Toda a Bondade • O Conhecimento Mais Completo • O Absoluto e a Realidade 3- Bhakti Yoga é Ciência • A Consciência Original • A Origem das Formas • A Consciência Suprema 4- A Diferença entre Corpo e Alma • Viajando de Um Corpo a Outro • Resposta a Muitas Perguntas • O Processo de Cantar Mantras 5- A Verdadeira Felicidade • Servos Amorosos • Técnica da Compreensão • Os Valores da Liberdade 6- Conclusão Autor

Obras de Howard J. Resnick, Ph.D. Guia Completo Da Bhagavad-gita Srimad-Bhagavatam, Cantos 10-12 Iluminação Pelo Caminho Natural Os Valores Da Liberdade O Livro De Soluções A Meta Da Vida Razão e Divindade

Disponíveis em:

sankirtana.com.br

Direitos Autorais © 1984 Bhaktivedanta Book Trust Autor: Howard J. Resnick, Ph.D. Fidelidade: Éneas Guerreiro Compilação e Redação: Aristides Servin Revisão: Ivo Antonio de Moares Arte de Capa: Antonio P. Correia Transcrição: Sérgio Casado Produção: Roberto Lins

bbt.org.br ISBN Primeira edição e-book: Março de 2017 versão final 1.9 - 28.12.17 O pensamento ocidental visto através do conhecimento milenar do oriente. A palavra liberdade resume a esperança de muitas pessoas. Às vezes, porém, na busca de uma saída, as coisas se confudem e os valores se perdem. Num estudo de definições mais fundamentais a respeito de corpo e consciência, uma aproximação entre oriente e ocidente seria válida. Aprenderíamos, assim, valores que oferecem definitivamente toda a plenitude e beleza que o ser humano ambiciona. Fontes sugeridas para o sânscrito no alfabeto latino: Bookerly Amazon Ember DejaVu Sans / Serif

Introdução

A

gora que estamos vivos achamos que nossa cultura é boa. Mas a próxima geração terá outra opinião. Em qualquer momento histórico o que todo mundo gosta "é aceito como verdade". Mas depois os gostos mudam. E as verdades também. Mas este tipo de verdade é muito caprichoso. Podemos ver, no entanto, que, apesar de existirem diferentes opiniões, os elementos da natureza continuam existindo: o sol e a lua, por exemplo. Antigamente, os homens pensavam que o sol girava em torno da terra. Depois disseram que a terra gira em torno do sol. Em ambos os casos, o sol continuava nascendo, desaparecendo, dando luz e calor. O sol nada tinha a ver com essas teorias. Assim mesmo, existe uma realidade objetiva sobre Deus, apesar de qualquer opinião. Apesar de todo o avanço tecnológico e cultural, os problemas apresentados pelos primeiros filósofos ocidentais nunca foram bem resolvidos ou respondidos. Podemos afirmar que pensadores como Sócrates queriam, segundo os eruditos, estabelecer uma ciência de valores absolutos. Foi assim que ele tentou formular um tipo de ontologia, epistemologia, mas o assunto não progrediu muito, devido à críticas posteriores. Observando os recursos religiosos, intelectuais e espirituais do ocidente, poderíamos afirmar que até hoje não há uma verdadeira ciência de valores. Isso está criando caos. Vivemos em uma sociedade sem padrões, sem conduta nem direção, sem um caráter objetivo de bem ou mal. Sem uma autoridade absoluta, o avanço não é possível em nenhum aspecto.

Compreendendo isso, o esforço de alguns filósofos ocidentais, na antiguidade, se resumiu a tentar demonstrar que valores humanos têm uma realidade objetiva. Valores são aceitos por pessoas. E pessoas serão a base de qualquer sistema ou teoria sociológica, filosófica ou de ciência política. Então, pessoas têm uma importância primordial. E visto que todos os valores são humanos, são pessoas que aceitam e possuem valores. Valores se tornam, assim, algo essencial, um dos aspectos primordiais da realidade. Assistimos, hoje, o mesmo conflito que vemos desde o início da civilização. Por um lado, havia os que falavam que valores são relativos, como o filósofo Protágoras, e, por outro, os que insistiam que valores são coisas reais, que existe bem e mal. Este é um conflito perene na sociedade humana. Nós, os devotos do movimento para a consciência de Krishna, estamos trazendo novos recursos para apoiar as pessoas que diríamos sãs, que entendem que existem valores reais de bem e mal. Nós afirmamos que a pessoa, a personalidade consciente, é um átomo espiritual, irredutível, essencial: o eu, a alma. Só com esse tipo de filosofia espiritual, que admite que a pessoa não é simplesmente uma aparência externa, algo mecânico material, átomos e moléculas — mas que insiste nessa realidade primordial da pessoa e de sua existência como alma — é que é possível construir uma sociedade humana que outorgue dignidade às pessoas, demonstrado-lhes o real propósito da vida humana. E é justamente neste ponto em que uma aproximação entre ocidente e oriente é válida para aprendermos definições mais fundamentais acerca do corpo e da consciência. É a este respeito que o Senhor Krishna explica na Bhagavad-gita, em termos simples, que existem duas coisas, energias — potências Suas — que seriam: a potência espiritual, viva, consciente, superior, fundamental e a matéria inerte, que é estudada pelos cientistas.

No caso, nossa existência atual no mundo material seria a combinação destes dois elementos fundamentais: a entidade viva e a matéria. Então, dentro deste padrão deste modelo de energias completamente diferentes em suas características, é que este mundo está acontecendo e que toda a filosofia da Índia se desenvolve. Gostaríamos, agora, de ampliar, nas páginas a seguir, os tópicos aqui expostos sucintamente. — Howard J. Resnick, Ph.D.

Capítulo 1

Uma Ciência de Valores Durante a sua presença no Brasil, Doutor Resnick dedica seu tempo a instrução através de conferências, proporcionando uma visão ampla e científica dos valores essenciais da vida. O que se segue é um excerto de uma conferência no Brasil: “Esta cultura que estamos apresentando aqui e no mundo inteiro tem como finalidade a liberação máxima das pessoas. Liberação ou iluminação não são coisas artificiais, coisas estranhas a nós, que vêm de fora. Elas vêm do coração, porque dentro do coração existe um oceano de prazer, um oceano de conhecimento, porque somos partes integrantes de Deus".

E

m toda condição de vida, podemos observar basicamente, dois estados de existência, que podemos chamar de puro e contaminado. No sistema legal que existe em qualquer sociedade civilizada, por exemplo, encontramos atividades legais e atividades criminosas. Esta distinção entre legal e ilegal esta sempre, em cultura humana, ligada a um conceito de moralidade que proíbe atividades indesejáveis e impuras, protegendo outras que estão dentro de um padrão de legalidade. É de se esperar que estas leis reflitam um conceito de bem e mal, de certo e errado, de falso e real. Esse sentido de bem e mal existe também na religião, na psicologia, na política e em todos os aspectos da vida. A psicologia, por exemplo, baseia sua ciência na ideia de um estado de sanidade mental ou normalidade e na manifestação de uma anormalidade que precisa ser corrigida. Então, não podemos evitar o fato de que toda a existência humana é completamente penetrada por esta tendência de encarar ou compreender a realidade em termos de bom ou mau, de certo e errado.

Cabe-nos perguntar, então, onde nasce este conceito de bem e mal. O famoso filósofo Aristóteles deu o argumento de que não podemos designar ou definir valores sem ter a priori na mente um ponto final de referência. Para dizer que estamos indo para o norte precisamos de um ponto final de referência, o Polo norte. Assim, tudo o que for nessa direção irá para o norte. Da mesma forma, se queremos definir padrões humanos de puro e impuro, bom ou mau, precisamos de um ponto final de referência absoluto, sem o qual não podemos definir valores, e, sem valores, um ser humano não pode agir. Sem definir valores, como podemos compreender nosso verdadeiro dever? E sem compreender nosso dever, como poderíamos ser felizes e progredir em direção ao propósito da vida? Se quisermos estabelecer, sobre um alicerce firme e sólido, esta definição que será a fonte de toda a moralidade, de paz e amor, de vida civilizada — delineando definitivamente o caráter de bondade e maldade que define alicerces reais para valores humanos — devemos entender o bem e o mal absolutos, do qual surgem todos os bons e maus relativos. Esta referência absoluta é Krishna, Deus. Porém, às vezes, alguém gosta de brincar de niilismo. Niilismo pode ser uma boa maneira de mostrar pseudointeligência, negando qualquer doutrina que não gostemos. Mas, na verdade nenhum ser humano é capaz de por em prática este pensamento. Existem também, filósofos céticos que dizem que diferentes sociedades estabelecem diferentes leis de moralidade, sendo todas relativas, não existindo, assim, bem e mal objetivamente. Qualquer tipo de homem que consegue tomar o poder estabelece seu próprio critério de bem e mal. Isso significaria que não há valores reais na vida. Viver ou morrer não teriam um sentido real. Chamar algo de bem ou mal seria apenas um capricho ilusório. Mas, além disto, nossa experiência da natureza da

vida mesma, da natureza da vida humana e da consciência, nos indica que há valores que são reais, que existe bem e mal, propósito e finalidade. Por isso, podemos dizer que nenhum ser humano é verdadeiramente capacitado para colocar em prática esta conduta cética. Não há quem esteja preparado para aceitar as consequências devastadoras e destrutivas de tais pensamentos. Apesar disso, podemos observar que a sociedade contemporânea está completamente contaminada por estes conceitos. Os resultados são práticos e podemos vê-los. Daí a nossa pesquisa — uma tentativa de estabelecer valores reais, imperecíveis, que guiem a sociedade humana. O grande defeito destes sistemas de pensamento é que estão fundamentados em algo material. Isso sempre cria um conceito desequilibrado, porque um ponto material nunca é central. Assim, a conclusão que obtivermos será sempre relativa. Uma conclusão relativa nunca será uma verdade permanente, mostrando-se incapaz, por isso, de definir valores concretos de existência. Porque relativo é exatamente isso: relativo. Não será uma verdade real. Sem ser absoluto, nada pode ser real. Podemos ver, então, que essa referência absoluta da qual falávamos está intimamente relacionada ao conceito de realidade e o conceito de realidade está intimamente ligado a existência da alma e Deus, Krishna. A verdade absoluta é a fonte última de tudo, e o mundo material é uma combinação onde podemos observar dois princípios: o elemento material e o princípio vivo. Já que estes elementos são percebidos por todos, os filósofos também procuram explicar, de diversas maneiras, a presença desses dois fatores. Alguns dizem que a matéria é a fonte da vida, outros dizem que a vida e a matéria acontecem simultaneamente, e ainda outros afirmam que a

vida é a causa da matéria. Existem, então, muitas maneiras de analisar o assunto. Por isso, Krishna conclui na Bhagavad-gita (2.16), que aqueles que são videntes da verdade dizem que, no final das contas, as coisas materiais não podem existir e as coisas eternas não podem parar de existir. Assim, aplicando este conceito à nossas vidas, veremos que o corpo não pode existir e a alma não pode parar de existir. Pelo menos, não pode existir em um sentido final. O passado se estende ilimitadamente. Não há um começo para o passado. Passado e futuro são eternos. O presente é só um ponto arbitrário entre as diferentes classes do tempo infinito. Agora o corpo está aparentemente existindo; porém, no futuro e eternamente, o corpo não existirá. O corpo e as formas materiais não conseguem acompanhar a existência do tempo. Assim, no contexto total de nossas vidas, podemos dizer que um sonho não tem existência verdadeira. As coisas materiais , dentro da expansão total do tempo, não têm existência real. Somente as coisas que podem existir eternamente têm a capacidade de estabelecer valores definitivos, e unicamente a alma e Deus existem dessa maneira. Dessa forma, qualquer definição não relacionada com a alma e a Alma Suprema, Krishna, será um definição passageira, sem valor. Qual será a base dessa definição? Afirmamos então, que bem e mal tem uma íntima ligação com esta distinção entre corpo e alma.

Capítulo 2

Alcançando as Profundidades da Consciência

E

m termos convencionais, falamos de nossa vida pública. Diríamos, assim, que podemos apreciar uma parte externa e uma parte interna de nossa existência — vida pública e privada. A palavra pública indica qualquer parte de conhecimento externa , acessível a qualquer pessoa. Temos uma aparência externa que se refere mais ou menos a nosso corpo: branco, preto, amarelo, mulher, homem, jovem, velho, etc..., ou intelectuais, introvertidos, simples... tudo concernente a nossa personalidade. Assim, podemos afirmar que possuímos um corpo e uma personalidade pública. Desfrutamos, por outro lado, de estados internos que são particulares, não acessíveis a outros. Agora, além desta distinção ordinária entre estados internos e privados e uma aparência externa, podemos ter estados de consciência que chamaríamos de Superficiais. Há momentos em que permanecemos absortos em coisas insignificantes, mundanas, ordinárias, ou podemos pensar também em coisas relevantes, fazendo de nossas consciência algo mais profundo. Isso indica que consciência, assim como objetos físicos, tem a característica da profundidade. Uma profundidade psíquica que se incrementa à medida em que a consciência se libera do mundo físico e submerge na parte espiritual, na alma, no conhecimento do eu, outorgando assim a possibilidade de vivenciar essa característica de profundidade, porém, uma profundidade espiritual. Há pessoas com curiosidade para explorar as profundezas do

mar ou do espaço, mas as pessoas mais inteligentes e sinceras querem alcançar as profundidades do eu, da alma. E chegando no âmago do coração, podemos perceber a existência de duas coisas: a alma e o corpo físico. Agora, o corpo em si não é bom ou mal (o corpo também é uma criação de Deus. Nenhum ser humano pode criar um corpo), mas, ainda assim, podemos ver que há um mal que surge do apego ao corpo. Por exemplo: talvez você possua um carro e, devido à cobiça extrema, alguém o roube. Isso é uma maldade típica: roubar. Então, algum objeto material estimula ou provoca a cobiça na mente. Diremos, assim, que a maldade surge de um mal relacionamento psicológico com um objeto. Podemos assinalar, então, um relacionamento cobiçoso, falso, entre o corpo e o objeto, como a fonte da maldade.

A FONTE DE TODA A BONDADE O que será, então, a fonte de toda a bondade? A alma. A alma é uma centelha de Deus, cuja existência vocês podem entender, felizmente, ouvindo o exemplo do Sol: O Sol existe como um globo celeste, emanando seus raios que são qualitativamente iguais a ele em substância — quentes e luminosos. Apesar dessa unidade qualitativa, há também entre eles algumas diferenças. O Sol tem uma localização, um lugar no céu, e ainda assim seus raios se estendem a todo lugar. Se você vai a praia, diz que há muito sol, indicando que está muito quente, que a temperatura está elevada. Mas não é o sol que está tocando o seu corpo. Isso seria muito grave. São apenas os raios do sol que estão chegando até você. O Sol tem, também, uma forma. Falamos da esfera solar, globo do Sol, etc., porém seus raios, além de sua forma molecular, não têm uma forma específica. Eles assumem a forma quadrada do seu quarto ao entrarem nele. Então podemos definir uma diferença entre o sol e seus raios, apesar de, ao mesmo tempo, serem

iguais e terem basicamente a mesma substância. Deus é o sol supremo, e, nós somos os raios deste sol, somos centelhas, partes, porções integrantes do Senhor Supremo, Deus, Krishna. Voltarmos a essa fonte de existência, Krishna, é o propósito da vida e não, de forma ignorante, identificarmo-nos com algo inferior a nossa verdadeira identidade. O filho de um homem rico, por exemplo, desfruta de muitas oportunidades, mas se esquecer seu pai, esquecerá que tem recursos familiares devido à amnésia e sairá mendigando. É uma pena, mas já conhecemos muitos casos assim. Do mesmo modo, temos esquecido os recursos que possuímos como filhos de Deus. Dentro de nosso coração há um oceano de prazer e conhecimento. A natureza de Krishna é sat-cit-ananda, isso é, Deus é eterno, pleno de conhecimento e bem-aventurança, prazer. E, como no exemplo do Sol, somos parte da potência de Deus e possuímos, em qualidade, as mesmas características — também somos eternos e temos a capacidade de desfrutar de conhecimento irrestrito e prazer sem limites. Essa é a nossa natureza, porque somos parte da natureza de Deus. Agora, porém, nossa natureza transcendental e eterna está coberta. Mas há quem nem pode imaginar ou compreender sua natureza como alma, devido a que está coberto, esquecido, falsamente identificado como parte de um estado, país, comunidade, clube ou profissão. Eu sou doutor, advogado, sou da Silva, sou brasileiro, sou homem, sou mulher. Ou seja, estamos tentando de boas maneiras, colocar nossas identidades dentro de categorias. Todos precisamos, para nossa sanidade, saber o que somos, e por isso estamos constantemente nos identificando com os já citados termos de homem, mulher, brasileiro, etc... Estamos constantemente tentando encontrar nossas identidades em termos universais. Porém, tudo isto está errado, no sentido que é incompleto. Se você diz que dois mais dois são três, sua resposta está errada, apesar de o número três existir dentro da resposta correta que é quatro. Esta característica

de ser incompleta também é uma forma de erro. Assim mesmo, você pode dizer “sou homem”, mas, devido a que é incompleta, está errada. Por isso os devotos da consciência de Krishna são os mais inteligentes; não dizemos isso por arrogância, mas por lógica, porque estamos dando a resposta mais abrangente sobre nossa identidade, dizendo que somos partes integrantes da Verdade Absoluta, do Senhor Supremo, Sri Krishna.

O CONHECIMENTO MAIS COMPLETO É óbvio que, sem conhecer Deus, a definição que acabamos de dar também não passa de uma referência ambígua. Quem possui conhecimento de Deus pode identificar tudo da maneira certa e completa. Sem ter uma ideia clara de como definir as pessoas, vendo-as em relação a Deus, como poderá nossa definição ser correta e completa? Também qualquer preconceito que tenhamos em sociologia, ciência política, sistema religioso ou moral, será incompleto e errado, e assim incapaz de aperfeiçoar qualquer aspecto da educação humana.

O ABSOLUTO E A REALIDADE Hoje em dia existem muitos pseudo-intelectuais que falam muito, apesar de nem cumprir com a verdadeira tarefa de um intelectual — investigar e saber a fonte de tudo, a Verdade Absoluta. Nossa proposta é que, em relação a Deus, podemos adotar três posições negar Sua existência, dizer que não sabemos ou aceitar Sua existência. Dessas três posições apenas uma pode ser estudada cientificamente. Se afirmarmos que Deus não existe, essa afirmação nem pode ser aceita dentro do campo do pensamento racional. Porque, se isso for verdade, se não existe uma verdade

absoluta, a própria afirmação se nega a si mesma. Afirmar que não existe verdade absoluta é por si só uma afirmação absoluta. Negar a existência de um Ser onisciente também nega a possibilidade de afirmações absolutas. Se não houvesse um ser onisciente, quem poderia saber se Deus não existe? Sem conhecer a totalidade das coisas (onisciência), sem possuir tal conhecimento absoluto, ninguém seria autorizado a fazer tal afirmação. Sem conhecimento total das coisas existentes, Deus bem poderia, e de fato está, existindo dentro desse campo que escapa a nosso conhecimento. Podemos ver, então, que negar Deus não é uma afirmação bem pensada, não é racional, não tem força lógica. Também dizer que não sabemos não é uma posição racional, porque ignorância não é racional. Agora, aceitando a existência de um Deus, essa “afirmação, pelo menos cria condições que se prestam à investigação. Se existe realmente um Deus deve haver também um processo de confirmar as afirmações a respeito dEle. Implícito na definição de Deus, temos que aceitar que dentro do caráter absoluto dessa entidade há qualidades como consciência, conhecimento e comunicação. Se Deus existe, deve ser possível saber ou medir isso. Devemos admitir, portanto, que das três posições — Deus não existe, não sabemos, Deus existe — a última é a única que cabe dentro do campo do pensamento racional, uma vez que é a única que cria a possibilidade de investigação e experiência, como qualquer outro campo da ciência ou conhecimento racional. E, desse modo, poderemos estabelecer definitivamente sobre alicerces comportados dentro do caráter científico, o fato da existência de Deus.

Capítulo 3

Bhakti Yoga é Ciência

E

xiste um padrão de experiências científicas para conhecer Deus. Este processo de bhakti-yoga, que estamos ensinando, é científico. Podemos aprender com ele a discriminar entre diferentes categorias, isolar diferentes elementos, definir características e interações, analisar, como em qualquer outra ciência. Serão análises, porém, num campo mais sutil. Isolar a matéria do espírito, estabelecer relações, uma ciência. Infelizmente, no ocidente, a tradição religiosa tem sido por muitos anos, uma coisa muito fanática, emocional, anti-intelectual. Inclusive, na história européia, podemos ver que quando alguém quis estabelecer ciência, teve que lutar contra a igreja para fazer valer suas ideias. Assim temos; por um lado, uma tradição religiosa e por outro, a ciência material, que, pelo menos, possui um processo analítico lógico. É desse modo que todo mundo está querendo aprender a verdade — com base na ciência material. No entanto, vida espiritual também é algo completamente científico. Mas esse conhecimento não existe em nossa cultura. O conceito que temos, aqui no ocidente, é completamente artificial, algo completamente à parte da vida racional. O filósofo alemão Hegel disse que a diferença entre oriente e ocidente é que na Índia não existe separação radical entre a filosofia e a teologia. Uma verdadeira religião deve ser filosófica. Contrariamente, uma filosofia sem Deus não terá validade alguma, não passando de uma simples teoria.

Assim é que precisamos de uma experiência prática de Deus. Hoje em dia as pessoas só acreditam quando podem ver e tocar. Por isso, o Senhor Krishna explica, na Bhagavadgita, que possuímos sentidos espirituais latentes, assim como o impulso sexual, que permanece latente nas crianças, e só desperta na adolescência. Analogamente, existem sentidos espirituais que podemos despertar. Fé sem experiência não serve. A maioria das pessoas não consegue acreditar sem uma experiência prática. Se Deus é absoluto, isso indica que Ele pode estar presente em todos os aspectos da realidade. Presente no campo da visão, da percepção, etc. Assim é que podemos tocar, ver, perceber Deus, e assim por diante.

A CONSCIÊNCIA ORIGINAL Encontramos, em nossa filosofia, o conceito de consciência pura e original. Consciência é um aspecto da cognição. Assim como óculos podem ser limpos quando acumulam poeira, existe um processo para purificar a consciência. Aí se pode perceber Deus. Qualquer pessoa pode ter essa experiência cantando Hare Krishna. No processo de meditação no mantra Hare Krishna, a consciência vai se purificando, e, com consciência pura, pode-se ver Deus. Ver não em um sentido figurado, mas ver com os olhos. Essa é a perfeição. Contudo, mesmo antes disso, começa-se a se ter experiências transcendentais. Antes de o Sol aparecer no horizonte, já podemos perceber a luz. Antes da luz, apenas escuridão. Depois, começamos a perceber formas, cores. Antes de ver o globo solar, já se tem alguma experiência do Sol. Entende-se que o sol está nascendo. Temos consciência espiritual. Temos este conhecimento dentro de nós. Importante é sabermos que ele não vem de

fora. Deus está no coração, dentro de nós. Quando limpamos a consciência, é exatamente como o nascer do Sol. Cada vez mais cores e objetos espirituais. Antes de o Sol nascer, não se pode ver nada, mas, depois, pode-se perceber formas, casas, árvores, pedras. A medida que o Sol vai subindo no horizonte, as cores tornam-se cada vez mais brilhantes. Percebe-se que alguma coisa está acontecendo. Isto até o Sol aparecer, aí você vê tudo. Quando começa o processo, você adquire o poder de ver formas espirituais, depois as cores se tornam brilhantes até ver tudo, ver Deus, ver a alma. Esta é uma experiência comum a todas as pessoas. Todos podem dar esta descrição, que está sendo dada por milhares de anos. Não é como em outros grupos, eu inventei, ele inventou. Não, não é assim. É uma experiência real de ver Deus, a forma suprema de Deus, Krishna.

A ORIGEM DAS FORMAS Tudo neste mundo tem formas. Não podemos assinalar um objeto sem formas. Possuímos forma, e este conceito está presente também na Bíblia. Somos feitos à imagem e semelhança de Deus. Portanto, se Deus está criando tudo, se Deus é a fonte de tudo, e tudo tem forma, seria irracional afirmar que Deus não possua uma forma. Estudando cientificamente o resultado, podemos saber alguma coisa a respeito da causa. Por exemplo: quando um avião cai, os peritos tentam estabelecer as causas do acidente estudando os efeitos. Então, se vemos no efeito da potência de Deus um mundo cheio de formas, isso revela algumas características da fonte das formas. O Sol cria calor, portanto, dizer que o Sol é frio não é lógico, Ninguém pode se aproximar do Sol, no entanto, todos aceitam que o Sol é quente porque sua potência manifesta calor. Assim mesmo, se a potência de Deus está criando tantas e tantas

formas, Deus também deve ter uma forma. Dizer que Deus não tem forma é semelhante a dizer que o Sol pode ser frio. Deus não possui uma forma material, isso é verdade. Quando dizemos forma, identificamos uma categoria, e um membro dessa categoria será a de formas materiais. Mas existem outros elementos dessa categoria que serão as formas espirituais, que são eternas. No momento, possuímos um corpo jovem atrativo, que vai desaparecer, porque a forma material é temporária. Mas as formas espirituais são eternas. Deus possui e é uma forma pessoal e inteligente, Krishna.

A CONSCIÊNCIA SUPREMA Sendo Deus o ser supremo, temos que aceitar que Deus é a consciência suprema, a personalidade suprema. Mesmo estudando desde o ponto de vista mundano da evolução, dizemos que um ser é mais evoluído que outro, no sentido de que possui maior desenvolvimento da consciência, maior desenvolvimento da personalidade. Mesmo os cientistas afirmam que uma criatura é mais evoluída na medida em que seu comportamento é mais complexo, manifestando uma personalidade consciente mais completa. Então, o critério de evolução das criaturas e dos seres é o desenvolvimento da personalidade e comportamentos mais complexos. Segundo esta lógica da ciência moderna, temos que aceitar que Deus, Krishna, em virtude de Suas atividades e potências, é o Ser Supremo. A tentativa de eliminar personalidade da Verdade Absoluta é, em última análise, completamente imperfeita. Quem fala assim é um filósofo imperfeito. Quem afirma que a Verdade Absoluta não possui uma personalidade não pode explicar ou justificar a criação deste mundo. A ação consciente é um fruto de ações psicológicas e físicas. Se você pinta um quadro, podemos observar uma causa física:

o movimento de sua mão; mas antes disso há uma reação psicológica que é seu desejo de pintar. O movimento geralmente teria uma causa física, mas, sem uma causa psicológica, qualquer ação seria impossível. Quando falamos de atividades, geralmente nos referimos a algo que possui uma causa, um impulso físico e psicológico. Então, dizer que este mundo tem uma causa física mas carece de impulso psicológico inteligente é absurdo. Por isso, a causa deste mundo deve incluir, além da potência física, uma motivação consciente. Devemos explicar este mundo não apenas em termos de causas fisicas, esquecendo ou negligenciando o fator mais importante, a causa psicológica. Se negarmos o ego ou personalidade na Verdade Absoluta, como poderemos explicar a causa psicológica deste mundo? Sem esta explicação, uma filosofia não tem validade. Ninguém pode falar que Deus é impessoal. Assim ele se separaria de qualquer raciocínio lógico, uma vez que está mostrando um efeito sem explicar a causa que o originou. Assim é que todos os pensadores experientes aceitam o fato de uma Suprema Personalidade de Deus. É óbvio e natural que, em nossa condição atual, tentemos compreender tudo baseados em nossa experiência. Temos experiência de personalidade, porém apenas com referência a nosso corpo físico. Por isso, quando ouvimos acerca das atividades de Deus, da Suprema Personalidade de Deus, tentamos compreender, utilizando como referência, um corpo físico. Assim é que, enquanto não perceber ou realizar a presença da alma dentro do corpo, você não conseguirá entender que Deus também é alma e que Suas atividades são espirituais e eternas, antagônicas de nossas atividades materiais. Este movimento para a consciência de Krishna está oferecendo a oportunidade de compreender a personalidade de Deus, o corpo de Deus, Suas atividades, Seus amigos e amantes.

Estes tópicos são tópicos avançados, que não podemos compreender até percebermos ou realizarmos que não somos o corpo físico.

Capítulo 4

A Diferença entre Corpo e Alma

P

rimeiro, a pessoa deve compreender a diferença entre o corpo e a alma. Aprender a diferença entre material e espiritual, entre temporário e eterno. Sem esse conhecimento ninguém pode ser considerado sábio. Obviamente não somos o corpo. Se pensarmos bem, ficará evidente que não podemos ser o corpo. Mesmo nesta vida temos a experiência da transmigração da alma. Krishna dá o exemplo, na Bhagavad-gita (2.13), de uma pessoa, uma alma consciente, que está passando continuamente através de diferentes etapas corpóreas (infância, juventude, velhice). O corpo que temos agora não é o mesmo que possuíamos há dez anos atrás. Este corpo já não existe fisicamente. Os elementos que constituíam meu corpo já não existem. Agora tenho outro corpo. E, simplificando, os assim chamados bebês deste mundo não são bebês. Eles têm um corpo infantil, mas dentro do corpo existe a alma eterna. E a manifestação prática da alma é a consciência. Somos conscientes porque somos almas. Consciência não é um elemento físico. Esta consciência é originalmente pura, limpa e transparente, quase que onisciente, por ser parte de Deus. Mas, nesta existência material, a alma é colocada dentro de um corpo e a consciência está sendo filtrada pela tela do corpo. Por exemplo: quando uma luz branca é filtrada por um vidro verde, obteremos externamente luz verde. Analogamente, se colocamos um filtro vermelho, obtemos luz vermelha. Isso significa que, quando filtrada, a

luz adquire as características do filtro. Algo assim acontece com a consciência, que é como uma luz. Quando a consciência se manifesta através de um corpo animal, manifestar-se-á como consciência animal. A alma, dentro do corpo animal, começa a latir com muito ânimo. Quando tinha um corpo de bebezinho, você agia como um bebezinho. Com corpo infantil, você manifestou consciência e atividades de uma criança. A mesma coisa acontece com um corpo de velho, apesar de a alma ser exatamente a mesma. Todos podem entender que somos alma. Qualquer pessoa pode entender que existe uma alma dentro do corpo e que o corpo está modificando a consciência da alma pura. Conseguindo isolar na mente a existência da alma, afastando-a de toda influência material, e deixando-a brilhar com sua própria consciência, em sua condição original, atinge-se o estado de autorrealização. Fora deste estado podemos ver quantas designações erradas derivam do corpo — brasileiro, argentino, libanês, sírio, jovem, velho, mulher, homem — criando inclusive sociedades, clubes, guerras, tudo baseado em conceitos deste corpo que não somos.

VIAJANDO DE UM CORPO A OUTRO Sem aceitar o fato de que a alma é diferente do corpo, não pode existir vida espiritual. Se a alma morresse juntamente com o corpo físico, não haveria tal coisa como vida espiritual ou Deus. Não haveria possibilidade de avanço. O fato de uma alma transmigrar, viajando de um corpo para outro, foi um conceito aceito pelos primeiros cristãos e posteriormente esta filosofia foi retomada pelos albigeneses do sul da França e, antes disso, Platão e Sócrates já haviam aceitado a mesma ideia. Isso indica que, apesar das restrições e dos esforços para reprimi-la, esta é uma ideia que esta sempre reaparecendo no ocidente. A afirmação de que existe uma alma eterna viajando através

de diferentes corpos é algo conhecido e aceito no oriente em geral. Este conceito dá lugar a uma filosofia puramente espiritual, porque de outra maneira, não poderíamos explicar como, apesar de existir um Deus todo poderoso e bom, ainda assim exista sofrimento.

RESPOSTA A MUITAS PERGUNTAS Como é que, apesar de existir um Deus todo poderoso e bom, ainda existe sofrimento? Esta pergunta nunca foi respondida filosoficamente no ocidente. Se aceitarmos a ideia que a alma foi criada agora, juntamente com este corpo, porque Deus da um corpo feio para alguém e um belo e educado para outro? Por que Ele faz com que alguém nasça em um país ateu? Aceitar este fato de reencarnação, da ação do karma, oferece a possibilidade de lidar filosoficamente com este problema do sofrimento dos homens, apesar de Deus ser todo poderoso e bom. Aceitando que a alma tem outras vidas, podemos, então, entender melhor que o sofrimento é a consequência de nossas atividades prévias. Ninguém reclama quando é castigado justamente. Inclusive, existe um certo sentimento de satisfação ao ver o triunfo da lei, da justiça. A filosofia de que a alma é criada e destruída juntamente com o corpo deixa muitas perguntas sem resposta. Por que Deus permite que o mundo sofra? Mas isso não é segredo. Estamos sofrendo devido a reação de nossos próprios pecados. Há um best-seller nos Estados Unidos, escrito por um rabino de Boston, que conta a história de seu filho que sofre de uma doença pela qual uma pessoa envelhece rapidamente. Assim, esse jovem de quinze anos morre como um ancião. Esse rabino ficou completamente chocado e não conseguiu manter nem justificar sua fé em Deus. E assim escreveu em seu livro que existem duas possibilidades: “Que Deus seja bom, mas não

todo poderoso, e assim, apesar de Sua bondade, o controle da dor e do sofrimento estariam fora de Seu alcance; ou, pelo contrário, que Deus seja todo poderoso e não bom e, dessa maneira, Ele abandonaria cruelmente a Sua criação.” E diz que prefere acreditar que Deus seja bom e não todo poderoso. Mas isso é resultado apenas de não entender a reencarnação da alma, de como estamos sofrendo ou desfrutando de acordo com nossas atividades prévias. Aceitar a reencarnação explica muitas coisas, dá soluções claras, filosóficas, porque propõe a existência de duas coisas, uma alma e um corpo físico, que são bem diferentes em sua natureza; que existem interações entre elas, criando, assim, categorias bem definidas. Por outro lado, não existe, na ciência material, conhecimento que possa contradizer esses fatos.

O PROCESSO DE CANTAR MANTRAS O processo de cantar Hare Krishna é um processo científico, pelo qual podemos, de maneira efetiva, alcançar o sucesso na vida humana. Quando dizemos efetivo, queremos indicar a capacidade de alcançar uma meta desejada. Mas, sem conhecimento da meta, não podemos avaliar a eficiência do processo. Se quisermos saber se uma sociedade esta indo bem, se está fazendo avanço, primeiro devemos saber para onde vamos. Assim é que, primeiramente, deveríamos definir a meta da vida e com essa meta fixar propósitos razoáveis para a sociedade e avaliar, em termos de sua eficácia, a validade de um processo espiritual. Primeiramente, seria necessário entender o que é vida, o que é pessoa. Tentando explicar essas duas coisas, diríamos que o principal sintoma da vida é a consciência. Somos conscientes, mas não existe, materialmente, explicação para a consciência no sentido de analisar sua origem. Dizer que, sob certas condições, a consciência se manifesta, não é explicação sobre sua

origem ou causa. Quando, de acordo com alguns arranjos eletrônicos, a imagem se manifesta no seu aparelho de televisão, isso não indica que o aparelho tenha criado o programa. Se a televisão quebra, o programa não acaba. Mas, apesar disso, você já não pode mais vê-lo. lsso indica que certas condições físicas são necessárias para manifestar o programa em sua sala, mas prova que seu aparelho não criou nem o programa nem as pessoas. Assim mesmo, em certas condições atômicas e biológicas, a consciência se manifesta. Se o cérebro se fere, perdemos a consciência. Mas isso não indica nem prova que o cérebro tenha criado a consciência. Nós propomos que o cérebro é apenas o meio através da qual a consciência se manifesta. Hoje em dia se acredita, se diz e se faz pública a informação de que nossa consciência é um produto, uma interação de reações biológicas e neurológicas. A vida não pode ser explicada em termos de átomos e moléculas, que são apenas elementos que acompanham a consciência. Consciência não pode ser reduzida a uma fórmula atômica, ela não é uma combinação de elementos menores que se agrupam para criá-la. Assim como uma casa de tijolos, a vida ou consciência não é produto de elementos menores. A vida é um elemento em si mesmo. E se você pensa bem, deve ver que a consciência, ou vida, deve ser energia de Deus. A existência, a vida em si, todas essas entidades vivas devem ser energias de Deus. Por isso, Krishna diz que a consciência que penetra todo o corpo é sintoma da alma. Porém, apesar deste fato, hoje em dia a ideia popular é, de maneira ignorante, identificar uma pessoa com seu corpo físico. Em outras palavras, temos o costume de compreender superficialmente alguém de acordo com seu corpo, esquecendo a consciência, a alma, que dá vida ao corpo. O corpo não passa de uma máquina, que manifesta a potência da alma na forma da consciência. De acordo com esses conceitos, apesar de sermos almas, estamos em uma condição de misérias que afetam o corpo, a saber,

nascimento, doença, velhice e morte. Assim, podemos dizer que, uma vez que somos almas, o propósito da vida deve ser acabar com esses problemas que surgem da falsa identificação com o corpo. Qualquer outro propósito não passa de algo temporário com a mesma importância dos sonhos e brincadeiras de crianças que imaginam ser soldados, policiais ou bombeiros. Depois eles dormem, esquecendo tudo, e no dia seguinte inventam outra brincadeira. Agora somos almas, aceitamos este corpo durante algum tempo e depois o abandonamos, com a chegada da morte. Então, o propósito da vida não pode ser material. Deve ser algo mais sério, sensato: espiritual. Por isso, Krishna explica na Bhagavad-gita que o propósito da existência é nos rendermo-nos a Verdade Absoluta e assim perceber a realidade de que somos almas e servos de Deus e, desse modo, acabar com os problemas materiais.

Capítulo 5

A Verdadeira Felicidade

Q

uando temos conhecimento da alma, podemos compreender o que é verdadeiramente relevante para nosso bem-estar. Temos informação básica e compreensível para todo ser humano entender o verdadeiro sentido da vida. Informação a respeito da vida, de Deus, deste mundo, deste universo, como está funcionando... Estamos sofrendo devido a nossa presença neste mundo. Alguém pode falar que gosta deste mundo, que quer ficar aqui, mas Krishna explica que este lugar é temporário e miserável. Apesar disso, você pode argumentar que felicidade e miséria são subjetivas. Quem acha que está feliz, está feliz. Seria uma coisa completamente subjetiva. Se alguém diz que se sente feliz, como é possível afirmar o contrário? A resposta é que a felicidade não é apenas subjetiva pois, se assim fosse, seria impossível comunicar sentimentos. O ato de comunicar implica certa objetividade. Uma coisa completamente subjetiva não pode ser transmitida nem comunicada. Por isso, felicidade, até certo ponto, é objetiva. Há sintomas de felicidade que podemos analisar. Agora, se a felicidade é uma criação de Deus, e se Deus é feliz, Sua felicidade é absoluta. E se Sua felicidade é absoluta, então podemos medir qualquer felicidade em relação a esta felicidade absoluta. Teremos, assim, uma referência de felicidade. E quanto mais nossa felicidade se aproxima da felicidade de Deus, mais genuína ela é. E como poderemos saber que um sentimento de felicidade se aproxima da felicidade de Deus? A felicidade de Deus é consciência de Krishna. O próprio Krishna explica que verdadeira felicidade

não é gozo dos sentidos, mas sim consciência de Krishna ou serviço devocional amoroso.

SERVOS AMOROSOS A posição original da alma, com relação a Deus, é a relação de servo, mas um servo amoroso. A mãe está sempre servindo ao filho, e isso lhe dá muito prazer. Tanto é que, se perder o filho, ela nem mesmo quer continuar vivendo. Este processo de servir ao filho é o único prazer para a mãe. O homem também está trabalhando para a esposa e filhos. Com muito prazer, dá dinheiro a eles. Isso também é serviço. Existe um certo prazer neste serviço e assim, podemos dizer que o único prazer neste mundo é esse serviço que se presta por amor. Sem amor a vida é árida, vazia. Quem não pode amar está perdido. O problema é que agora estamos amando aquilo que é limitado. Estamos amando um homem, uma mulher, mas, honestamente, esse sentimento é muito limitado. Um homem ou uma mulher são muito limitados. Seus corpos são muito limitados e muitas vezes ficam velhos. Também sua beleza e inteligência são limitadas, pequenas... Estamos, assim, entregando nosso amor a coisas muito pequenas. Aí, visto que o objeto de amor é limitado a pequeno, nosso amor não pode crescer, e permanecemos pequenos. Há, também, quem ame sua família e feche a porta para qualquer outra pessoa. Estamos amando coisas pequenas. Mas, se amamos à comunidade, somos patriotas, pessoas importantes, porque o objeto de nosso amor é maior. Amando toda a humanidade, ficamos uma alma mais ampla, porque estamos amando algo grande. E assim, tornamo-nos grandes. Podemos dizer, inclusive, que ficamos do tamanho daquilo que amamos. Então quando você oferece seu amor ao objeto infinito, quando aprende a amar o infinito, você fica infinito, seu prazer se torna ilimitado.

TÉCNICA DA COMPREENSÃO Falamos em rendição. Mas, em termos práticos, o que significa isso? Aclarando este ponto, podemos dizer que, quando tentamos entender algo inferior, podemos manipulá-lo ou dominá-lo, com a intenção de compreender. Este é o processo que os cientistas usam em seus laboratórios. Mas, quando se trata de entender algo superior, o processo deve ser rendição e devoção. Porque quem é inferior não pode aproximar-se do superior através da manipulação, e evidentemente somos inferiores em relação a Deus. Isso significa que o único processo será o de nos render. E como fazê-lo? Isso poderá ser entendido através do seguinte exemplo: se um sujeito não paga impostos, o governo pode aplicar-lhe medidas de punição. Mas se você aceita normalizar a situação, e não sabe nem como nem onde fazê-lo, não adianta sair pelas ruas chamando pelo governo enquanto a polícia está chegando para castigá-lo. Analogamente, queremos nos render a Deus... Mas como e onde? Para isso Deus dá Sua informação, assim como o governo dá a sua. A informação védica, que é a mais antiga e efetiva, nos diz que, nesta era de Kali, devemos rendernos através do cantar do santo nome de Deus Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare — e assim lograr a meta da vida.

OS VALORES DA LIBERDADE Temos dissertado sobre vários assuntos, na tentativa de estabelecer, com fundamento lógico, filosófico, o caráter objetivo dos valores. Já falamos sobre a natureza da consciência e sobre o fato de não sermos corpos materiais. Já dissemos também algo sobre a realidade da alma e que

os valores são perenes e somente são válidos quando relacionados à alma. Todos somos qualitativamente a mesma categoria de alma. Com isso, podemos dizer que existe um padrão de comportamentos, leis e propósitos válidos para toda a humanidade, com base na igualdade qualitativa de todos os seres vivos e sua característica como almas. Mas os valores da alma só são valores quando relacionados com Deus. A respeito de Deus, dissemos que Ele é uma pessoa e, por lógica, possui inteligência e vontades particulares. Deus possui uma personalidade suprema. Todos os enunciados expostos nestas páginas foram devidamente apresentados mantendo um caráter lógico e racional. Foi também, devido a necessidade de estabelecer a existência de leis universais, que esclarecemos o fato da existência da Personalidade de Deus, porque leis indicam ordem e vontade. Ordem e vontade são manifestações de personalidade. Existem leis que estão regendo o universo, em relação à vontade de Deus, Krishna. Não leis caprichosas, disparatadas, mas leis que criam harmonia e ordem no universo. Por isso, é mister que os líderes da sociedade conheçam, ensinem e respeitem esta ordem, para que exista sossego e paz verdadeira na sociedade humana. Independentemente de nosso caráter individual e o livre arbítrio que nos é concedido como almas individuais, existe, ainda, um propósito e causa comuns que podem unir e dar um caráter racional à sociedade, guiando-a num avanço concreto para objetivos puros e reais, desenvolvendo, paralelamente, as propensões mais refinadas do ser humano. Assim é que podemos concluir que valores são valores da alma; o caráter definitivo para bem e mal, certo e errado, será aquilo que é bom para a alma, que estimule ou desestimule a consciência original, e que ajude no propósito real da vida, o processo de autorrealização. Com base neste princípio objetivo, pode-se estabelecer padrões

que guiem a sociedade no sentido verdadeiro, em direção ao real propósito da vida. Nesta era, este movimento para a consciência de Krishna oferece a dádiva de Krishna, na forma de Seu santo nome, trabalhando duramente e oferecendo soluções práticas aos problemas da sociedade contemporânea, na tentativa de despertar o ser humano para o objetivo mais sublime — a consciência de Krishna.

Capítulo 6

Conclusão

E

ntão, esta cultura que estamos apresentando aqui no Brasil e no mundo inteiro, tem como finalidade a liberação máxima da pessoa. Liberação e iluminação não são coisas artificiais, algo estranho a nós. Elas vêm do coração, porque dentro do coração existe um oceano de prazer e conhecimento, porque somos partes integrantes de Deus. Deus é eterno, pleno de conhecimento e bem-aventurança. Sendo partes de Deus, somos eternos e temos a capacidade de desfrutar de conhecimento irrestrito e prazer sem limites. Esta é a nossa natureza como partes integrantes da natureza de Deus. Agora, porém, nossa natureza transcendental eterna está coberta. Temos que descobrir a alma dentro do coração. Nós, seres humanos, podemos compreender como e porque nossa alma foi coberta. E retrocedendo assim nesse processo, podemos descobrir como foi que a alma eterna ficou encoberta pela ilusão. Krishna explica na Bhagavad-gita que nossa alma foi coberta devido ao desejo de desfrutar, de explorar a energia de Deus. Esse é todo o problema. Nesta era temos que purificar nossa tendência cantando o santo nome de Krishna — Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare — e assim lograr a meta da vida e tirar a alma dessa ignorância tola de identificar-se falsamente com este corpo material e despertar nosso amor latente por Krishna, Deus.

Autor

H

oward J. Resnick, Ph.D., também conhecido como Hrdayananda Dasa Gosvami, é um dos mais proeminentes propagadores do conhecimento védico no mundo, nasceu em 5 de novembro de 1948, em Los Angeles, Califórnia, nos Estados Unidos. No ano de 1967, ingressou na Universidade da Califórnia, em Berkeley, onde participou das revoluções políticas e sociais na época. Em 1969, começou seus estudos na Bhagavad-gita e outras obras de sabedoria da Índia antiga em uma filial local de estudos védicos. Fluente em sete idiomas, tornou-se o primeiro ocidental na história a traduzir e comentar o canônico Bhagavatapurana, também conhecido como Srimad-Bhagavatam, um dos principais textos da tradição de bhakti-yoga, tendo como base os comentadores clássicos. Sua tradução diretamente da língua sânscrita se deu em conclusão ao projeto inacabado de A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, a edição do Srimad-Bhagavatam mais lida no mundo ocidental. Recebeu o título de doutor em Sânscrito e Estudos Indianos pela Universidade de Harvard, passando a lecionar na Graduate Theological Union, em Berkeley, Califórnia. Também foi bolsista convidado na Universidade da Califórnia, lecionou na Universidade da Flórida e palestrou em várias outras instituições de ensino superior ao redor do mundo. Seus artigos foram publicados pelas editoras de

Harvard, da Universidade da Califórnia e da Universidade de Columbia. Ministrou a disciplina de Religiões da Índia como professor convidado na Universidade da Flórida. Suas aulas foram gravadas, transcritas e serão publicadas em breve na forma de livros acadêmicos. Ávido por alcançar ampla audiência, concluiu recentemente seu primeiro romance e vem trabalhando na produção de alguns livros, entre eles uma criativa trilogia baseada na história central do épico Mahabharata em traduções de caráter acadêmico dos clássicos da literatura sânscrita. Doutor Resnick também é fundador do "Krishna West", um projeto a fim de tornar os ensinamentos de Krishna, como registrados na Bhagavadgita, Srimad-Bhagavatam e obras similares, o máximo inteligíveis para as pessoas do Ocidente. howardjresnick.com