Os Filósofos Pré-Socráticos: Histórica Crítica com Seleção de Textos [7 ed.]
 9789723105032

Table of contents :
Abreviaturas
Nota Introdutória
I Os precussores da cosmogonia filosófica
OS PENSADORES JÓNIOS
II Tales de Mileto
III Anaximandro de Mileto
IV Anaxímenes de Mileto
V Xenófanes de Cólofon
VI Heráclito de Éfeso
A FILOSOFIA NO OCIDENTE
VII Pitágotas de Samos
VIII Parménides de Eléia
IX Zenão de Eléia
X Empédocles de Agrigento
XI Filolau de Crotona e o Pitagorismo do Século Quinto
A RESPOSTA DA JÓNIA
XII Anaxágoras de Clazómenas
XIII Arquelau de Atenas
XIV Melisso de Samos
XV Os Atomistas: Leucipo de Mileto e Demócrito de Abdera
XVI Diógenes de Apolónia
Bibliografia Selecionada
Índice dos Excertos
Índice Analítico
Índice Geral

Citation preview

OS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS

G. S. KIRK

,



J. E. RAVEN •

M. SCHOFIELD

,

,

OS FILOSOFOS PRE-SOCRATICOS História Crítica com Selecção de Textos

7. ª Ediç ão

Tradução de CARLOS ALBERTO LOURO FONSECA

FUNDAÇÃO CALOUSTE GU LB EN KI AN Serviço de Educação e Bo l sas

Tradução do original inglês intitulado: THE PRESOCRATIC PHILOSOPHERS A Criticai History with a Selection of Texts by G. S. Kirk, J. E. Raven and M. Schofield © cambridge at The University Press 1983

Reservados todos os direitos de acordo com a lei Edição da FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN Av. Berna / Lisboa 2010 ISBN 978-972-31-0503-2 Depósito Legal n. 314522/10

PREFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO

Mais de vinte anos se passaram já desde que surgiram pela primeira vez Os Filósofos Pré-socrâticos. A partir de então foram muitas vezes reimpressos, com correcções de menor monta, até 1963; as reimpressões posteriores não sofreram qualquer alteração. Durante os últimos anos, G. S. Kirk e J. E. Raven deram-se conta de que em breve seria necessária uma edição basicamente revista, se é que ela não estava já em atraso. Dado que a saúde de J. E. Raven nllo era das melhores e que os seus interesses no campo da investigação se tinham orientado exclusivamente para a botânica, pediu a G. S. Kirk que ponderasse a questão e sugerisse um terceiro membro para a equipa. Ora acontece que a parte do livro inicialmente da autoria de J.E.R. requeria uma profunda revisão, devido aos novos rumos tomados pela investigação; por outro lado, também G.S.K. tinha vindo a trabalhar em outros campos e, nestas circunstâncias, necessitava de um colaborador no auge da tarefa. Em 1977, M. Schofield concordou em participar na empresa, com pleno acordo dos três investigadores sobre o modo como o trabalho deveria ser levado a cabo. Grandes e importantes são as alterações desta nova edição. M. Schofield reescreveu por completo os capítulos respeitantes aos Eleáticos e Pitagóricos, devido principalmente às investigações dos filósofos analíticos no que toca aos primeiros, e às de Walter Burkert ( em particular) sobre os segundos - investigações que requereram uma nova avaliação dos pontos de vista de Cornford-Raven sobre as relações entre as duas escolas. Alcméon foi incluído nestes capítulos. Semelhantemente, M.S. reescreveu por inteiro o capítulo sobre Empédocles, a fim de ter em conta não apenas as reinterpretações de J. Bollack, G. Zuntz e outros estudiosos, como ainda a controvérsia que elas provocaram. Esperamos que a disposição dos fragmentos de Empédoc/es, na sua provável ordem original, resulte mais útil para o leitor. O capítulo sobre Anaxágoras, por outro lado, mantém-se, em grande parte, como J.E.R. o escreveu; M.S. indicou em notas de rodapé (veja-se, a este propósito, o seu An Essay on Anaxagoras, Cambridge, 1980) em que medida as suas soluções poderão ser, num ou noutro ponto, diferentes, mas foi desejo dos três autores que este capítulo se mantivesse globalmente inalterado. Também Arquelau não sofreu modificação, -e

VIII

Diógenes foi ampliado de uma simples nota de rodapé; sobre os Atomistas, M.S. reescreveu as secções respeitantes aos principais metafísicos, aos átomos e ao vácuo, e ao peso dos átomos (para ter em conta as investigações de D. J. Furley, J. Barnes, D. O'Brien e outros), e ainda as secções sobre epistemologia e ética - a parte respeitante à ética foi, em grande medida, obra do Dr. J. F. Procopé, a quem expressamos os nossos mais calorosos agradecimentos. A primeira parte do livro foi inteiramente revista por G.S.K., mas com escassas alterações na sua redacção global. O capítulo 1, sobre os Precursores, sofreu um novo arranjo, tendo sido abreviado e simplificado em alguns pontos, e apresenta secções adicionais relativas ao novo material órfico, ao fragmento cosmogónico de Álcman e à transição do mito para a filosofia. Sobre os Milésios, Xenófanes e Heraclito, tem havido um acervo de publicações no último quarto de século, mas as consequências de tal facto têm sido menos significativas, se as compararmos com as das investigações sobre os Pitagóricos, Eleáticos e Empédoc/es. Tiveram-se em conta as contribuições, em particular, de C. H. Kahn ( sobre Anaximandro e Heraclito), de J. Barnes e W. K. C. Guthrie, mas a interpretação e a apresentação, não obstante numerosas modificações de pormenor, não foram muito drasticamente alteradas. Tudo isto reflecte uma convicção geral de que o livro não devia ser radicalmente modificado na sua abordagem e ênfase das matérias, exceptQ quando estritamente necessário; e bem assim, a opinião, pelo menos de G.S.K., de que apesar de toda a poeira da batalha, os reais progressos no tocante a estes primeiros pensadores têm sido bastante re, quer da ún·a t·gl·rn, q11n de lTnlros 1:11lt11r:iis pró-

ximos de povos de língua grega antes da sua entrada na Grécia, tinham já penetrado no pensamento grego mesmo ao tempo de Hesíodo, e provavelmente muito antes. Estas coincidências são discutidas de forma resumida a pp. 38 e s. As referências homéricas isoladas a respeito de Okeanos como origem de todas as coisas aparecerão também (p. 10 e s.) como alusão provável a ideias mitológicas não-gregas. Nos relatos babilónicos e em algumas versões egípcias, a terra era considerada como estando em vias de secar, ou a emergir, no meio das águas primevas 1. Não é de estranhar que uma tal ideia se tenha desenvolvido na Mesopotâmia, onde a terra se formara certamente a partir dos terrenos pantanosos existentes entre os dois rios; nem no Egipto, onde a terra fértil emergia todos os anos, mal as cheias do Nilo baixavam. A terra que emerge de uma vastidão ilimitada de água primcva continuará a estar rodeada de água. Este facto parece fornecer um motivo plausível, embora não seguro, para a formação do conceito grego de Okcanos. 2 Neste desenvolvimento popular do motivo da ágna primeva, a terra é considerada como solidamente enraizada, uma vez emersa, e a vastidão ilimitada da água (que parece ter sido sempre concebida com um limite superior, uma superfície) é reduzida a um rio, vasto mas não necessariamente ilimitado 3. 1 Cf. a epopeia babilónica da criação, que teve origem, provavelmente no segundo milénio a.C.: tabuinha I, 1~6 (Pritchard. ANET, 60 e s.), «Quando nas alturas o céu ainda não tinha recebido nome, Em baixo a terra firme ainda não tinha sido chamada pelo nome, Nada a não ser o primordial Apsu, que lhes deu o ser, (E) Mummu-Tiamat, aquela que a todos deu à luz, Misturando-se as suas águas como um só corpo~ Nenhurna choupana fora coberta de colmo, nenhum pântano tinha surgido ... >-) (Apsu e Tiamat eram os princípios masculino e feminino da água primeva. Por vezes, mas talvez não aqui, simbolizam o peixe e a água salgada, respcctivamcntc), No que respeita ao Egípto, cf. e,g. o texto do séc. XXIV a.C. proveniente de Hcliópolis, ANET, p. 3: \ (O outeiro primevo foi a primeira porção de terra a surgir das águas ilimitadas; estava situado em centros de culto muito diversos, e é simbolizado pela pirâmide). Veja-se ainda uma outra versão, procedente do Livro dos Mortos (na sua forma actual, da segunda metade do TI milénio): «Eu sou Atum, quando estava sozinho em Nun; eu ~ou Re nas suas (primeiras) manifestações, quando começou a governar aquilo que fizera.» (Atum era o deus..criador adorado em Heliópolis e equiparado ao deus-sol Re. Nun é a vastidão primeva das águas). 2 Originalmente, '!2xeavóç era talvez um termo descritivo, nãoMpessoaI, preM sumivelmente aparentado com o hitita «uginna», que significa ~ (se. ZsVç) d µ~ Nv~ oµfJTeiea Dewv sa&mae avbewv· rrjv ixáµ:r;v cpe'Vyw'P, 6 oe na'Vaar:o xwóµevóç nee· /í.tr:-ro yàu p/Y1 Nvur.l {}ofí ànoDúµm lebot,.

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t· j/,eusl tcr.,nH>ia b1H,:ado do aithcr ao 111,11", p:ira long-c da vist,1. Noih·. drn111111H1ora do:; dew,t·s e dos ho11H'11·•. 11w 111\0 tivt~ssc salvo:,

12 para ela vim a fugir, e Zeus deteve-se, apesar de encolerizado: pois receava fazer alguma coisa que desagradasse à Noite veloz. É este o único passo dos Poemas Homéricos em que a Noite surge com-

pletamente personificada. Uma vez mais, tal como nos dois passos especiais respeitantes a Okeanos, também este ocorre no episódio do Engano de Zeus; e uma vez mais há uma invulgar implicação de poder ou prioridade especiais entre os deuses. O respeito de Zeus para com a Noite, neste ponto, é certamente estranho e sem paralelo algum cm Homero e em Hesíodo. Em face de interpretações posteriores, tal facto podia sugerir que o poeta deste episódio conhecia alguma história referente a Nyx como figura cosmogónica. Não obstante, a referência é isolada, e é possível que não seja mais do que um desenvolvimento poético da ideia implícita na frase N,)~ óµríuiea 0ewv, «a Noite, dominadora dos deuses>>: até os deuses são vencidos pelo sono, por isso mesmo, o a bem dizer todo-poderoso Zeus hesita em ofender a Noite, mãe do sono, com receio de que ela o possa subjugar nalguma ocasião menos oportuna. (ii)

Um com:eito cosmogónico arcaico segwzdo Aristóteles

Aristóteles Mel. N4, 1091 b 4 ... ol bS :n:ot17ra}. oí dexatot raVru óµoíwc,, uai lieXHJI àv(tyeyeaµµéV7J cl>ç Tofi ,Oecpéwç 0V fJarlicos». Estes têm sido descritos como indivíduos que, reunindo, por um Lu!o, elementos procedentes do culto de Apolo KaHáqmoc;, o puriftcador, e d;1:-; crenças trúcias sobre a reencarnação, por outro, pensavam que a alma 11odia sobreviver, se se mantivesse pura, e, para ilustrar esta teoria, elabora1,1111 uma mitologia parcialmente individua], com Dioniso por figura domi11;111k () lr:'!cío Orfeu, com a sua pureza sexual, os seus dotes musicais e o ·.n1 doo1 dl' prorceia apôs a morte, representava a combinação dos dois ele11woln:,: lai:, nl'11ças úrticas !'oram registadas em narrativas sagradas, os 1111oi' ;l1ír111 ( )ra. esta dcsigna(.;;·10 seria certamente vúli,Ovo"_,.. um deus Caos incorpóÉrebo 1 reo

Nilo é possível identificar com segurança estes dois autores. É evidente qtw J );1111.'tscio suspeitou poder tratar-se de uma mesma pessoa, mas é mais provável, por exemplo, que um tcnhn sido o cpitoma.!11r (lo outro. Jerónimo talvez seja O autor 1Li·, ;111tir,11id;11k.•, frukia'>, 11w11don;1d;1·. t·1n Jn::l· A11t. 1, 1)4; um simholo aludo de H e '1tll\O', ;ip;!11T1· l'lll «S;oH h1111Í.1!!1tn1" 1 !l',('·h1n /' 1: e 10, \(1 (vd. p. 16 n.). i)11.111(0 11

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20 velmente de Tarso, escritor órfico mencionado na Suda; o que é mais provável, que tratar-se do logógrafo lésbio do século quinto a.e. 2 êv ro6rou; ,5 Xg6voç q>Ov lyévv1J0EV-, diz Damáscio - i.e., no Aíther, Caos e Érebo. Não se afirma explicitamente que «o deus incorpóreo» proceda do ovo, mas é óbvio que assim seja; compare-se 25, e veja-se a próxima nota a respeito de àacb/WTOÇ.

(iv)

Variante de (iii), de Atenágoras

25 Atenágoras pro Christianis 18, p. 20 Schwartz (DK l B 13) ... ijv yae iíOmq áexr) xar' aVrài• (se. 'Oerpia) ·wíç ÕÀotç, ànO ?38 roV VOm:oç UVç xaréarrr, Ex ôú ÉxarÉew·v éyevnÍ'fJ17 ({[Jov, óeáuwv neoanixpvuvlav lxwv ueq;aÀ'Yjv À.Émrroç, ótà µiaov bl aVr rr,vov yàe aéo "t'OVÇ yáµovç elva, "t'OV"t'q> ae i-i. av /Je I"º' xa'i(!P xal m~vu11?·1. rnfíTtÍ lf'l naeanÀ~awv, -rnv átpíelxvvµt), ou regra normal de comportamento. Deve tratar-se de uma correcção deliberada da máxima de Anaximandro (110), segundo a qual as coisas pagam retribuição umas às outras pela injustiça dos seus abusos alternados nos processos da mudança natural. Heraclito mostra que, se a discórdia - isto é, a acção e reacção entre substâncias contrárias - viesse a cessar, então o vencedor de cada competição entre extremos estabeleceria um domínio permanente, e o mundo como tal seria destruído 1. Co,ltudo, assim como numa batalha há interrupções locais temporárias, 'ou pontos mortos ocasionados pelo exacto equilíbrio das forças que se opõem, assim também Heraclito deve ter admitido que a estabilidade temporária pode ser encontrada aqui e além no campo de batalha cósmico, desde que seja apenas temporária e esteja equilibrada por um estado correspondente noutro lugar. Esse facto não diminuiria a validade do domínio da discórdia (que, como para Anaximandro, fornece uma razão metafóhca para a mudança), mas permite que o princípio seja aplicado ao mundo da nossa experiência real, no qual todas as coisas devem eventualmente mudar, se bem que algumas sejam, por ora, obviamente estáveis. Cf. 213 Aristóteles Eth. Eudem. H 1, 1235 a 25 ual 'Heái noifwewç Kée,ewno; elvai Uyet -rov llv{}ayoeeíov -riJv elç "Atôov ,ea-rá{Jaaiv ,ea/, -rov íeeov ÀÓyov, -rov oe nénJ.ov xai -rà ,CfJaeru av-r:ov; n r} m$r>r v m\fYJ{Nv; 0M1' l x µ~ ~6vro, M. uUwç àyvoeiv Ôo,eofuw- 1/ yà(! ov,efr' 1JV f} nav-reÀãíç vneeyeyrJea,ewç, {lnee ovxi qJaÍver:m. •. l(ll'7't'O't'Ü'f/ç yàe av't'6v, ln n 'H(!hwv WGTtE(! àvf>rieoíç X(! nbe :n:áJ.w biacpvvroç évoç :n:Uov' êxi-e.Uf}ova,, Tfj µev y[yvovm[ U xai OV UV' fl be &aUáaaovm &ap-ceeeç ovbaµà ÂÍJye,, TaVTrJ {)' alev eaatv cÍX[V'YJTOL xai-à XVXI.OV. 1 1 Os versos 7-8 e 10-13 são quase idênticos aos versos 5-6 e 9-12 do fr. 26, que foi igualmente conservado por Simplício em in Phys. 33, 19. O verso 9 do trecho anterior, necessário para que se complete o sentido, é o verso 8 do fr. 26, e foi aqui inserido por Diels.

301 148 Uma dupla história te vou contar: uma vez, elas [i.e. as raízes] n csceram para serem uma só a partir de muitas, de outra vez, separai um-se, de uma que eram, para serem muitas. Dupla é a formação das 1 oisas mortais e dupla a sua destruição; pois uma é geiada e destruída' pola junção do todas as coisas, a outra é criada e desaparece, quando uma vez mais as coisas se separam. E estas coisas nunca param de mudar L ontinuamente, ora convergindo num todo graças ao Amor, ora sepa1undo-se de novo por acção do ódio da Discórdia. Assim, tal como elas ,1prcnderam a tornar-se numa só a partir de muitas, e de novo, quando 11mu se separa, geram muitas, assim elas nascem e a sua vida não é estável; mas, na medida em que jamais cessam o seu contínuo intercâmbio, 11•Nim existem sempre imutáveis no ciclo.

O fragmento de 348 apresenta a principal doutrina da filosofia de Empé-

lodr . No seu começo há ecos deliberados de Parménides, ao mesmo tempo

ttU• provocantemente o contradiz: «uma dupla história» (confronte-se com

lt , 1),

«uma vew (confronte-se com 296, 5), «cresceram» (confronte-se com 8", 1), etc. Não obstante, este mesmo começo culmina (versos 12-13) com \111111 nN,crção que parece destinada a preservar algo da posição metafísica 1 f',mn6nides. O fragmento divide-se em três secções. Os versos 1-5 falam-nos de um ttt11, r~•o dual, constituído pela criação do uno a partir da multiplicidade, e, t1 111111 1 da multiplicidade a partir do uno (versos 1-2; mais amplamente desflh•• nos obscuros versos 3-5). Os versos 6-8 afirmam que este processo h111l •o repete incessantemente e explicam-no como devido a uma acção 1111tl11 do Amor e da Discórdia. Nos versos 9-13 retomam-se estes dois tto11111•, cm contraste com uma conclusão surpreendente e assaz heraclitiana. (M vr, •011 9-11 inferem do duplo nascimento das coisas, que estas nascem 11 (011, mns) não têm uma vida estável ; os versos 12-13, contudo, declaram 1111 1 r 111 virtude da sua incessante alternância entre unidade e pluralidade, IIH 11h11 Nempre imutáveis. flnt porte alguma esta doutrina é discutida por Empédocles. Por con1t111 l11l tl, nflgura-se-nos preferível interpretar este passo como a apresentação 111111 l11pótese cujo objectivo é reconciliar as noções aparentemente contra~lll1rl1111 de que nascimento, morte e mudança em geral existem, e que, no t\1111 111, como sustentou Parménides, o ser é imutável e permanente ou eterno. 11,lu crucial da reconciliação é que, enquanto o processo dual, descrito Mfll Vl'!r11u11 1-5, se repete incessantemente, as coisas nele envolvidas são por •11lr11 tfürr imutáveis. Uma unidade formar-se-á sempre de uma pluralidade vi vrnn; e será sempre a mesma unidade e a mesma pluralidade. (Não fNl111n ,hi vldns de que a escolha da unidade e da pluralidade se deve ao facto lfl III rNl e• os polos mais simplesmente concebíveis, entre os quais pode

•li"

302

ocorrei a mudança). Tal como em Heraclito, «há uma mudança local», para nos servirmos das palavras de Barnes, «mas também uma estabilidade global» (The Presocratic Philosophers II, 13). O conceito de Empédocles acerca da recorrência permanente tem sido por vezes designado pelo seu «ciclo cósmico». Contudo, ele é aqui proposto como uma tese metafüica inteiramente geral. A sua aplicação mais clara e mais importante encontra-se, sem dúvida, na teoria deste filósofo a respeito do nascimento e da morte do universo, mas foi também por ele aplicada ao ciclo vital dos animais (como no fr. 26) 1. 1 Por conseguinte, é, em princípio, errado tentar interpretar os versos 3-5 como especificamente relacionados com a criação e dissolução do universo ou das formações que dentro dele se verificam, como fazem muitos estudiosos. A fortlorl, é um engano basearmo-nos neles, como fez KR e, mais recentemente, D. O'Brien (Empe. docles' Cosmic Cycle (Cambridge, 1969) e M. R. Wright (Empedocles: the Extant Fragments). para apoiar a ideia de que Empédocles postulou a criação e destruição de um único mundo, quando as coisas se tomam uma a partir de muitas (facto a que supostamente se faz referência no verso 4), e a génese e destruição de um outro mundo distinto, quando as coisas se separam uma vez mais da unidade (verso 5). Os versos 3-5 devem ser entendidos à luz dos versos 9-11. Sugerem eles que Empédocles está simplesmente a afirmar que a união de todas as coisas dá origem ao uno e destrói a pluralidade (verso 4), e que, por sua vez, quando se separam, nasce a pluralidade e perece o uno (são os versos 3-5, e não 1-2, que introduzem as noções de nascimento e destruição exploradas nos versos 9-11). Preferível é interpretar njv (verso 4) como um acusativo interno ambfguo, referido tanto a yévea,ç como a dnóÃwp,ç (verso 3), e que deve ser ligado tanto a ·d"Te, como ôU"ei; e·~ (verso 5) deve ser lido de modo semelhante: «O único nascimento [do uno] é originado e [é idêntico à] única morte [da pluralidade, que] é destruída pela reunião de todas as coisas; quando as coisas de novo se separam, dá-se o outro nascimento [da pluralidade] e [é idêntico à] outra morte [do uno, que] perece [/it. voa para longe].» (Cf. Guthrie, HGP 11, 153 ad. loc.). Tem-se, por vezes, defendido a ideia de que Empédocles reserva a palavra «mortal» (verso 3) para os compostos dos elementos que não alcançam a unidade total (e.g. 349, 22; 388, 3), e que teria, em qualquer caso, relutância em descrever o uno (entendido como sendo a Esfera, 357-8, infra) ou a pluralidade (identificada com os elementos) como sendo mortais. Mas em 360, 14, os elementos são explicitamente creditados com a mortalidade; e a Esfera é evidentemente mortal.

(v)

Agentes e substâncias do ciclo

349 Fr. 17, verso 14, Simplício in Phys. 158, 13 (continuação de 348) á.Ã...r ãye ,1..1,v{}wv ,e.Ã.vf}c µáfhJ Yáe TOt