O que é Cultura [110]
 8511011102

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Jose Luz dos Santos

O OUE E

GULTURA

editora brasiliense

d N EAICOAO

EEREREE IETURAS.

LULS

Colecao Primeiros Passos

A Consciëncia Puritana ea Sexualidade Moderna Edmund Leites

O ague é Cinema Jean-Claude Bernardet

O gue é Contracultura Carlos A. M. Pereira

O gue ê Cultura Popular Antonio Augusto Arantes

Freud, Pensador da Cultura Renato Mezan

O ague é Industria Cultural Terxeira Coclho

A Moderna Tradicao Brasileira Renato Ortz

O ague é Literatura Marisa Lajolo

Nietzsche, Das Forcas Césmicas

O gue é Misica ]. Jota de Moraes

a0os Valores Humanos Scarlet Marton

A Razao Cativa As lus6es da consciëncia de Platdo a Freud

Sêrgio Paulo Rouanet

Teoria Critica Onutem e boge Barbara Freitag

Re

Cultura Brasileira e Identidade Nacional Renato Ortiz

EE

Brasil

ma

Aspectos da cultura popular no

O gue é Arte Jorge Col

O gue é Teatro

Fernando Peixoto

Sam

Conformismo e Resistência

Jose |uiz dos Santos

OOUEE CULTURA 11* edicdo

editora brasiliense

Copyright @ by José Luiz dos Santos Nenhuma parte desta publicacao pode ser gravadun, armazenada em sistemas eletrbnicos, fotocopiada, reproduzida por meios mecênicos ou outros guaisguer sem autorizacao prévia do editor.

ISBN: 85-11-01110-2 Primeira edicao, 1983

brasiliense

Revisao: José WW. S. Moraes e Tereza G. Aguiar Capa e ilustracoes: Alfredo Aguino

Av. Marguês de Sao Vicente, 1771 01139 - Sao Paulo - SP

Fone (011) 67-9171 - Fax 826-8708 Telex (11) 33271 DBLM BR

IMPRESSO NO BRASIL

| |

PEN

INDICE — Cultura e diversidade

— — — —

ss se ss . .. ..ss

O gue se entende por cultura ..... sesse A cultura em nossa sociedade ....... ss ses ss . Cultura e relacêes de poder .... .se ses ses Indicacées para leitura ....

7

21 D1 si0) O/

dia

Para Ayako

CULTURA

Cultura

bem

éë

uma

E DIVERSIDADE

preocupacêo

contemporênea,

viva nos tempos atuais. E uma

preocupacio

em entender os muitos caminhos due conduziram OS grupos humanos as suas relaces presentes e Suas perspectivas de Tuturo. O desenvolvimento por contatos e esta marcado da humanidade conflitos entre modos diferentes de organizar a vida social, de se apropriar dos recursos naturais e transforma-los, de conceber a realidade e expressdla. A historia registra com abundência as transformacoes por due passam as culturas, seja movidas por suas forcas internas, Seja em conseguëncia desses contatos e conflitos, mais fregtientemente por ambos os motivos. Por isso, ao discutirmos sobre cultura temos sempre em mente a humani-

dade em toda a sua formas de existência.

ridueza e multiplicidade de Séo complexas as realidades

José Luiz dos Santos

dos agrupamentos humanos e as caracteristicas gue os unem e diferenciam, e a cultura as expressa. Assim, cultura diz respeito 4 humanidade como um todo e ao mesmo tempo a cada um dos povos, nacoes, sociedades e grupos humanos. Ouando se considera as culturas particulares aue existem ou existiram, logo se constata a sua grande variacëo. Ssaber em ague medida as culturas variam e guais as razOes da variedade das culturas humanas S$êo0 aguestOes due provocam muita discussio. Por endguanto dguero salientar aue é sempre Tfundamental entender os sentidos ague uma realidade cultural

faz

para

aagueles

gue

a vivem.

De fato,a

preocupacao em entender isso é uma importante CONAUISta Contemporanea. Cada realidade cultural tem sua |6gica interna, a agual devemos procurar conhecer para aue facam sentido as suas praticas, costumes, concepcêes e as transformacOes pelas auais estas passam. E preciso relacionar a variedade de procedimentos culturais com os contextos em due sêo produZidos.

As

variacOes

nas

formas

de

familia,

por

exemplo, ou nas maneiras de habitar, de se vestir ou de distribuir os produtos do trabalho nio sêo

gratuitas. Fazem sentido para os agrupamentos humanos due as vivem, Séo resultado de sua historia, relacionam-se com as condicêes materiais de

sua

existência.

Entendido

assim,

o estudo

da

cultura contribui no combate a preconceitos, oferecendo uma plataforma firme para o respeito

9

O gue é Cultura

ea dignidade nas relacbes humanas. Notem,

porém,

ague o convite a due se considere

cada cultura em particular nêo pode ser dissociado

da necessidade de se considerar as relacOes entre as culturas. Na verdade, se a compreensdo da cultura exige ague se pense nos diversos povOS, nacëes, sociedades e grupos humanos, ê pordgue

eles estio em interacdo. Se nao estivessem ndo motivo nem ocasiao haveria necessidade, nem para gue se considerasse variedade nenhuma. A rigueza de formas das culturas e suas relacêes

falam bem de perto a cada um de nos, ja due convidam a due nos vejamos cComo seres soclals, nos fazem pensar na natureza dos todos socials de aue fazemos parte, nos fazem indagar das razes da realidade social de aue partilhamos e das forcas gue as mantêm e as transformam. Ao trazermos a discussao bDara to perto de nos, a aguest3o da cultura torna-se tanto malis concreia aguanto adauire novos contornos. Saber se hê uma realidade cultural comum a nossa sociedade torna-se uma auestêio importante. Do mesmo modo evidencia-se a necessidade de relacionar as manifestacêes e dimensies culturais com as diferentes classes e grupos due a constituem. Vejam pois aue a discussêdo sobre cultura pode nos ajudar a pensar sobre nossa propria realidade social. De fato, ela é uma maneira estratégica de

pensar sobre nossa sociedade, e isso se realiza de modos

diferentes

e

as

vezes

contraditêrios.

A

|

10

José Luiz dos Santos

minha preocupacao principal para esclarecer esse assunto.

adui

é

contribuir

Fspero tê-los jé convencidos de gue o tema & importante e ague vale a pena estudd-lo e seguir

seus desdobramentos.

Ë também um tema repleto

formacdo de uma civilizac&o mundial.

O desenvolvimento dos grupos humanos se fez segundo ritmos diversos e modalidades varidveis, nao obstante a constatacdo de certas tendências globais. Isso se aplica, por exemplo, &s formas de utilizacêo e transformacio dos recursos naturais

disponiveis. Nêo sê esses recursos s&o heterogêneos ao longo das terras habitêveis, como ainda territOrios semelhantes foram ocupados de modo diferente por populacëes diferentes. Apesar dessa varlabilidade sêo notêrias algumas tendências

N EE m ETE EE mm si

grupos humanos foi fregiiente, mas a intensidade desses contatos foi de forma a permitir muito isolamento, e muitas histêrias paralelas marcaram o desenvolvimento dos grupos humanos. O aceleramento desses contatos é recente, e os grupos isolados vêo desaparecendo com a tendência a

“EE” —E ER EE EE

ocupando praticamente a totalidade dos continentes do planeta. Nesse processo, o contato entre

--

progressivamente,

de

se expandiram

-

humanos

-

grupos

e

de eguivocos e armadilhas. Convém desde jê due situemos um de seus principais focos de conTusAO: o de por ague as culturas variam tanto e de guais os sentidos de tanta variacëo. A partir de uma origem biolégica comum, Os

1H

O gue é Cultura

dominantes.

Assim, por exemplo, em varios lugares

e épocas grupos humanos inicialmente nomades e dependentes da caca e da coleta para sua sobre-

vivência passaram a se sedentarizar, Isto éê, a vliver em aldeias e vilas, acompanhando o desenvole a domesticacao de da agricultura vimento animals. Nao apenas os recursos naturais devem ser considerados guando se pensa no desenvolvimento Mais importante ainda @ê dos grupos humanos.

observar due o destino de cada agrupamento esteve marcado pelas maneiras de organizar e transformar a vida em sociedade e de superar OS conflitos de interesse e as tensOes geradas na vida social.

Assim,

Dor

exemplo,

a

sedentarizacao

due mencionei antes ndo é uma simples resposta as condicêes dos recursos naturais. ËEla SO se tornou vidvel porague os grupos humanos envolvidos conseguiram reorganizar sua vida social de modo satisfatorio, criando novas possibilidades de desenvolvimento, e ao Tfazer 'IS$O conseguiram

inclusive alterar as condicêes dos recursos naturais, como a domesticacio de animais e plantas o

Drova. So também variadas as formas de organihê aagui modo ZacBSo social, mas do mesmo tendências dominantes, como a de formacao de poderosas sociedades com instituicOes politicas centralizadas. Muito ja se discutiu sobre as maneiras de ordenar essas culturas de tanta variacado. Para muitas delas,

|

|

12

José Luiz dos Santos

COMO para a europêla ou a chinesa, pode-se tracar longas seguêëncias histêricas e localizar etapas

dade burguesa na Europa, mas nio é suficiente para dar conta de culturas aue por longo tempo se desenvolveram fora do Ambito dessa civilizac&o.

Vamos pensar um pouco mais sobre isso. Até aagui estamos falando de cultura como tudo aauilo due caracteriza uma populacio humana. Nesse caso, duas $êo as possibilidades bdsicas de relacionarmos diferentes culturas entre si. No primeiro CaSO, pensa-se em hierardguizar essas culturas

segundo algum critério. Por exemplo, usando-se o critêrio de capacidade de producëo material

pode-se

dizer

aue

uma

cultura

é mais

avancada

EEN Oe Ta

unico e rigido esguema de etapas n30o foram, no entanto, bem-sucedidos.. Apesar da existência de tendências gerais Constatêveis nas histérias das sociedades, nio é possivel estabelecer seguëncias fixas capazes de detalhar as Tases por due passou cada realidade cultural. Cada cultura é o resultado de uma histêria partiCular, e (isso jnclui também suas relacêes com outras Cculturas, as guais podem ter caracteristicas bem diferentes. Assim, falar, por exemplo, nas etapas humanas da selvageria, barbêrie e civilizac&o pode ajudar a entender o aparecimento da socie-

EE

mostrando as transformacêes nas relacêes da sociedade com a natureza e principalmente nas relac6es de seus membros entre si. Os esTOrcos para colocar todas as culturas humanas num

13

O gue é Cultura

do

aue

outra.

Ou

entêo,

Se compararmos

essas

culturas de acordo com seu controle de tecnologias

especificas,

como

por exemplo as tecnologias de

metais, poderemos pensar ague uma ê mais desenvolvida do ague a outra. Na segunda possibilidade de relacionar diferentes culturas, nega-se due seja vidvel fazer aualguer due. cada aaui Argumenta-se hierarguizacêo. cultura tem seus prêprios critérios de avaliacdo

e gue para uma tal hierardguizacdo ser construida é necessêrio subjugar uma cultura aos critêrios de outra. Por exemplo, vamos pensar em duas culturas

primitivas, uma nomade praticando a caca e a coleta, outra habitando em vilas e praticando a agricultura. Segundo aguele argumento, ja ague a domesticacêo de plantas da aual a agricultura ë resultado nêo faz parte da primeira cultura, nao haveria como julgé-la menos desenvolvida aue a

segunda com base nesse critério de comparacdo.

Cultura e evolucao No século XIX foram Tfeitos muitos estudos procurando hierarguizar todas as culturas humanas, existentes ou extintas, e essa segunda perspectiva Tfortemente. criticou-as acima mencionei gue Segundo as versêes mais comuns desses estudos, a passaria por etapas Sucessivas de humanidade

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José Luiz dos Santos

evolucêo social gue a conduziria desde um estagio primordial onde se iniciaria a distinc&o da ESDÊCIe a

Civi-

liZacêo tal como conhecida na Furopa ocidental de entêo. Todas as sociedades humanas fariam necessariamente parte dessa escala eVolutiva, dessa evolucëo em linha Gnica. Assim, a diversidade de sociedades existentes no século XIX representaria estêgios diferentes da evolucao humana: sociedades indigenas da Amazênia poderiam ser classificadas no estigio da selvageria: reinos africanos, no estégio da barb4rie. Ouanto a Europa classificada no estêgio da civilizac&o, considerava-se gue ela jê teria passado por agueles OUtros estagios. Nêo foi dificil perceber nessa CONCEPCSO de evolucdo por estégios uma vis&o européia da humaNidade, uma visio ague utilizava cCOnNCEPEOES euUroOpéias para construir a escala evolutiva,e gue alêm do mais servia aos prop6sitos de legitimar o proCesso due se vlvla de expansio e consolidacio do dominio dos principais paises capitalistas sobre os POVOS do mundo. As concepcêes de evolucao linear foram atacadas com a idéia de due cada cultura tem sua prêpria verdade e due a classificacêo dessas culturas em escalas hierarguizadas era impossivel, dada a multiplicidade de Critêrios Culturais. Tais esforcos de classificac&o de culturas nio Implicavam apenas a justificac&o do dominio da s

ER

até

Eg EE

animais

ER Be Me

espécies

ie

outras

MR

de

Mer, n

humana

O gue é Cultura

|

sociedades capitalistas centrais, gue nagueles esguemas globais apareciam no topo da humanidade, sobre o resto do mundo. ldéias racistas tambêm se associaram aagueles esforcos; muitas vezes

OS

pDOVOS

nao-europeus

foram

considerados

inferiores, e Isso era usado como justificativa para seu dominio e exploracëo. Estudos sistematicos e detalhados de muitas culturas permitiram destruir os falsos argumentos dessas concepcoes preconceituosas. No existe relacdo

|

15

necessarla

grupos

humanos

guebra

da

tampouco

a

e

entre

suas

caracteristicas

multiplicidade

unidade

formas

biolêgica

das

fisicas

culturais,

culturas

de

nem

implica

da espêcie humana.

A diversidade das culturas existentes acompanha a variedade da historia humana, expressa possibilidades de vida social organizada e registra graus e fTormas diferentes de dominio humano sobre a natureza. A idéia de uma linha de evolucdo Unica para as socledades humanas é, pois, iNgênua e esteve ligada ao preconceito e discriminacëo raciais. Por outro lado, a relativizacio total do estudo das culturas desvia a atencêo de indagacêes importantes a respeito da histêria da humanidade, COMO & Oo caso da constatac&o de regularidades nos processos de transformacëo dos grupos humanos e da importência da produc&o material na historia dessas transformacêes.

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José Luiz dos Santos

(ultura e relativismo Em

outras palavras, substitui-se um eduivoco por outro. Consideremos um pouco mais este segundo. ÉEle deriva da constatacëo de aue a avaliacëo de cada cultura e do conjunto das culturas existentes varia de acordo com a cultura particular da guai se efetue a observacëo e analise: (SO diria respeito a agualguer caso e nêo sê ao da visdo européia de evolucëo social Gnica dos grupos humanos; poderia ser aplicado por exemplo &aguela COmMparacao entre duas sociedades primitivas de gue falei atras. Verifica-se assim gue a observacëo de cultura alheias se faz segundo pontos de vista definidos pela cultura do observador, gue os critérios

due se usa para classificar uma cultura so também culturais. Ou seja, segundo essa visêo, na avaliacëo de culturas e tracos culturais tudo é relativo. Passa-se assim da demonstracio da diversidade das culturas para a constatacdo do relativismo cultural. Observem o aguanto essa eguacëo é enganosa. SO se pode propriamente respeitar a diversidade cultural se se entender a inserc&o dessas culturas particulares na histêria mundial. Se insistirmos em relativizar as culturas e sê vê-las de

dentro

para

fora,

teremos

de

nos

recusar

a

admitir os aspectos objetivos gue o desenvolvimento historico e da relac&o entre povos e nacdes impoe. No hê superioridade ou inferioridade de

17

O gue é Cultura

culturas

ou

tracos

de

culturais

modo absoluto,

ndo ha nenhuma lei natural gue diga gue as caracteristicas de uma cultura a facam superior a outras. Existerm no entanto processos histOricos due as verdadeiras marcas e estabelecem relacionam e concretas entre elas. O absurdo daauela eaguacëo acima referida se manifesta no fato de due enguanto a ciëncia social dos paises capitalistas centrais elaborava teorias

relativistas

truindo

povos

avancava

| |

da

conauistando

(implacavelmente, e nacOes,

civilizacao

Sua

cultura,

tendo

como

e

des-

instrumento

uma capacidade de producado material aue ndo é nem um pouco relativa. Vemos, pois, ague a duestio nao ê $O pensar na evolucao de sociedades humanas, mas fundamena historia da humanidade. talmente entender

O século XIX, em

aue esse confronto

indicava se consolidou, civilizZacao mundial em

os due

de idéias

de uma caminhos as muitas culturas

humanas deveriam inevitavelmente encontrar o seu destino, auando no seu fim. Ja agora a compreensao dessa civilizacdo mundial axige o enten-

dos

multiplos

estéril guando

se depara

dimento

percursos

ague

levaram

a ela. O estudo das culturas e de suas transformacoes é Tundamental para isso. ËEnfatizar a relatividade de critérios culturais é uma auestdo com

a histêria concreta,

ague faz com due essas realidades relacionem e se hierarguizem.

|

culturais

se

| |

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José Luiz dos Santos

As culturas e sociedades humanas se relacionam de modo desigual. As relacêes internacionais registram desigualdades de poder em todos os sentidos, os aguais hierarguizam de fato os DOVOS e nacoes. Este é um Tfato evidente da histêria contemporanea e nio hé como refletir sobre cultura ignorando essas desigualdades. É necessério reconhecê-las e buscar sua superacfo.

(ultura e sociedade Ha muito em comum entre essas discussêes sobre as relacêes entre culturas de sociedades diferentes guando se pensa sobre a cultura de uma sociedade particular. Também af a variedade de formas culturais se manifesta,e sempre se coloca a guestdo de como tratar esse assunto. Pensem, Dor exemplo, numa sociedade como a brasileira. A sociedade nacional tem classes e grupos sociais, tem regloes de caracteristicas bem diferentes: a pPopulacëo difere ainda internamente segundo, por exemplo, suas faixas de idade, ou segundo seu grau de escolarizacëo. Além disso, a populac&o nacional Tfoi constituida com contingentes originarios de vêrias partes do mundo. Tudo isso se reflete no plano cultural. Existem realidades culturais internas & Nnossa sociedade aue podem ser tratadas, e muitas

N “ie.

O gue é Cultura

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vezes Oo Sao, como se fossem culturas estranhas. Isso se aplica no so as sociedades indigenas do territorio brasileiro, mas também a grupos de pessoas vivendo no campo ou na cidade, sejam

lugares isolados de caracteristicas peculiares ou agrupamentos religiosos fechados aue existem no interior das grandes metrépoles. Pode-se tentar demonstrar suas |Ogicas internas, sua capacidade de emitir pronunciamentos,

de interpretar a realidade

dgue as produz, de agir sobre essa realidade.

Ë importante

interna

a nossa

considerar a diversidade cultural

sociedade:

isso é de fato essencial

para compreendermos melhor o pafs em gue vivemos. Mesmo porgue essa diversidade nëo éë sO Teita de idéias; ela estd também relacionada com as maneiras de atuar na vida social, é um elemento due faz parte das relacëes sociais no

pais.

A

diversidade

tambêm

se

constitui

de

maneiras diferentes de viver, cujas razêes podem ser estudadas, contribuindo dessa forma para eliminar preconceitos e perseguicëes de aue sêo vitimas grupos e categorias de pessoas.. Observem due também no -estudo de uma sociedade particular nio faria sentido considerar de maneira isolada cada uma das formas culturais diversas nela existentes. Elas certamente fazem parte de processos sociais mais globais. Assim, um

grupo religioso, por exemplo, por mais particulares gue sejam suas concepcêes e praticas de vida social, existe no interior de uma sociedade dinêmica,

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José Luiz dos Santos

a mudancas em sua forma de viver e as introduz a NoVas concepcoes de vida, a novas técnicas, a Um novo idioma e a novos problemas. De modo ague, no estudo da cultura em nossa sociedade, valem as mesmas observacêes Tfeitas atrêas em relac&o ao relativismo. Observem gue vivemos numa sociedade aue tem uma classe dominante cujos interesses prevalecem. Se fOssemos relativizar os critérios culturais existentes no interior da sociedade acabariamos por justificar as relacêes de dominac&o e o exercicio tradicional do poder: eles também seriam relativos. Assim, tanto no estudo de culturas de sociedades diferentes guanto das formas culturais no interior de uma sociedade, mostrar due a diversidade existe ndo implica concluir gue tudo é relativo, apenas entender as realidades culturais no contexto da historia de cada sociedade, das relacêes sociais dentro de cada agual e das relacêes entre elas. Nem tudo ague é diverso o é da mesma forma. Nio hd razdo para auerer imortalizar as facetas culturais ague resultam da miséria e da opressio. Afinal, as culturas movem-se no apenas pelo ague existe, mas também pelas possibilidades e projetos do ague pode vir a existir.

TE

c

ap

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cujas caracteristicas e cujos problemas ele nio pode evitar. Mesmo as sociedades indigenas mais afastadas têm seu destino ligado & sociedade nacional due em sua expans&o as envolve, coloca em risco sua sobrevivência fisica e cultural, conduz

O OUE SE ENTENDE POR CULTURA Desde o século passado tem havido preocupaces sistemdaticas em estudar as culturas humanas, em discutir sobre cultura. Esses estudos se intensifi caram na medida em due se aceleravam os ContatOS, nem sempre pacificos, entre povos e nacêes. AS preocupacêes com cultura se voltaram tanto para a compreensêo das sociedades modernas e

Industriais aguanto das gue iam desaparecendo ou perdendo suas caracteristicas originais em

virtude dagueles preocupacdo néo

contatos. Contudo, toda essa produziu uma definic&o clara e

acelta por todos do gue seja cultura. Por cultura

se entende muita coisa, e a maneira como falei dela nas paginas anteriores é apenas um entre muitos sentidos comuns de cultura.

Vejamos alguns desses sentidos comuns. Cultura

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José Luiz dos Santos

esta muito associada a estudo, educacëo, formacio escolar. Por vezes se fala de cultura para se referir unicamente

as

manifestacêes

artisticas,

como

o

teatro, a musica, a pintura, a escultura. Outras vezes, ao se falar na cultura da nossa época ela é dguase ague identificada com os meios de comunicacdo

de

televisao.

massa,

Ou

tais

entëo

como

cultura

o

rddio,

o cinema,

diz respeito

a

as festas

e cerimOnias tradicionais, as lendas e crencas de Um pOoVO, ou a eu modo de se vestir, a sua comida,

entdo cercar o assunto, localizar os sentidos b4sicos da concepcao de cultura, mostrar como eles se desenvolveram. A partir disso ns poderemos

entender

afinal

o due é cultura

as nossas discussêes.

e dar andamento

AS duas concepcêes basicas de cultura As vêrias maneiras de entender o gue é cultura

am ER

genêrica, preocupado com tudo o gue caracteriza uma populacdo humana. No hê por due nos confundirmos com tanta variacëo de significado. O aue importa é gue pensemos sobre os motivos de tanta variacêo, aue localizemos as idéias e temas principais sobre os duais elas se sustentam. Vamos

as

mais

aa ME OE

a seu idioma. A lista pode ser ampliada. Jê eu tenho falado de cultura de maneira

O gue é Cultura

s

N

23

ind HA

A primeira concepcio de cultura remete a todos os aspectos de uma realidade social: a segunda refere-se mais especificamente ao conhecimento, as idéiase crencas de um povo.

José Luiz dos Santos

derivam de um conjunto comum de preocupacêes ague podemos localizar em duas concepcOes basicas. A primeira dessas concepcoes preocupa-se com todos os aspectos de uma realidade social. Assim, cultura diz respeito a tudo aduilo gue caracteriza a existência social de um DpovO ou nacao, ou entao de grupos no interior de uma sociedade. Podemos assim Tfalar na cultura francesa ou na cultura xavante. Do mesmo modo falamos na cultura camponesa ou entao na cultura dos antigos astecas. Nesses casos, cultura refere-se a realidades sociais bem distintas. No entanto, o sentido em gue se fala de cultura é o mesmo: em cada caso dar conta das caracteristicas dos agrupamentos a due se refere, preocupando-se com a totalidade dessas caracteelas respeito as maneiras de digam risticas, conceber e organizar a Vvida social ou a Seus aspectos materials. Embora essa concepcao de cultura possa ser usada de modo genérico, ela é mais usual guando se fala de povos e de realidades sociais bem diferentes das nossas, Com os aguais partilhamos de poucas caracteristicas em comum, seja na organizacao da sociedade, na forma de produzir o necessêrio para a sobrevivência ou nas maneiras de ver o mundo. Mas eu disse gue havia duas concepcêes basicas de cultura. Vamos & segunda. Neste caso, guando falamos em cultura estamos nos referindo mais as idélas e ao conhecimento, especificamente Crencas, assim como as maneiras como eles existem

|

O gue é Cultura

25

na vida social. Observem gue mesmo aaui a referência a totalidade de caracteristicas de uma realidade social estd presente, jé ague nio se pode falar em conhecimento, idéias, crencas sem pensar na sociedade a dual se referem. O ague ocorre é gue ha uma @nfase especial no conhecimento e dimensOes associadas. Entendemos neste caso gue

a cultura diz respeito a uma esfera, a um dominio,

da vida social.

De acordo com esta segunda concepcêo, auando falarmos em cultura francesa poderemos estar fazendo referência a lingua francesa, & sua litera-

cCOomo uma realidade estangue, parada. O esforco de entender as culturas, de localizar tracos e

caracteristicas

gue

as

distingam,

pode

acabar

Ee

" maa” ENE

bleem” oa mi

ri

he

ma

RE

SERE

.

EE

Devo alertê-los de ague ambas as concepcëes levam muitas vezes a due se entenda a cultura

FIT

tiva, e da mesma forma seus meios de divulgacio.

A

tambêm as instituicêes associadas, como lojas de produtos naturais e clinicas de medicina alterna-

mm

lidade. Ao se falar em cultura alternativa inclui-se

ME

mais de perto associadas a eles. Outro exemplo comum desta segunda concepcio de cultura é a referência aê cultura alternativa, compreendendo tendências de pensar a vida e a sociedade na aual a natureza e a realizacio individual sêo enfatizadas, e due tem por temas principais a ecologia, a alimentacao, o corpo, as relacêes pessoais e a espiritua-

Tr”.

Tfiloséfico, cientifico e Franca e as instituicdes

oe RE

tura, ao conhecimento artistico produzidos na

26

ke

José Luiz dos Santos

levando a ague se pense a cultura como algo acabado, fechado, estagnado. Como j4 disse antes,

as

culturas

humanas

sêo

dinimicas.

De

fato,

a

principal vantagem de estudé-las é por contribuirem para o entendimento dos processos de

transformacêo

por

due

passam

as

sociedades

contemporaneas. Esse é um ponto muito importante. Como veremos a seguir, as préprias concepcoes de cultura estëo ligadas muito de perto a @SSES Drocessos.

Desenvolvimento das preocupac6es com cultura A constatacëo da variedade de modos de vida entre povos e nacoes é um elemento fundamental das preocupacêes com cuitura. Tanto assim gue é impossivel discutirmos sobre cultura sem fazerMOS referência a ela. Essa é sem duivida uma

cConNstatacao registrada entre muitos povos desde a antiguidade. Sabe-se também aue de longa data se (Indagou sobre as razêes ague explicavam a existência de costumes, modos de vida, praticas e crencas de povos diferentes. Pode-se encontrar reflexOes sobre esses temas em autores da Grécia, Roma e China antigas, por exemplo.

As preocupaces sistematicas com a guestio da cultura sao, porêm, bem mais recentes. Desenvolaa ee

ed Ee ia

y

|

O gue é Cultura

27

veram-se a partir do século XVlll na Alemanha. Cultura era entêo uma preocupacio de pensadores

engajados em interpretar a histêria humana, em compreender a particularidade dos costumes e crencas, em entender o desenvolvimento dos povos no contexto das condicêes materiais em gue se

desenvolviam. notem

due

a

Ë

muito

Alemanha

importante era

entio

due

uma

vocës

nac&o

dividida em vêrias unidades politicas. A discuss&o

sobre cultura tinha assim um sentido muito especlal: ela procurava expressar uma unidade viva daaguela nac4o n&o unificada politicamente, servia para falar de todos os alemëes na falta de uma

Organizacao politica comum. Caminhou-se dessa maneira

para consolidar as modernas preocupacêes com cultura, procurando dar conta sistematicamente de uma diversidade de maneiras de viver ague jé havia sido motivo de reflexdo por séculos. Observem porém due se essa preocupacdo jê existia, a palavra cultura percorreu um longo caminho até adauirir esse sentido. Cultura é palavra de origem latina e em seu sIgnificado original est4 ligada as atividades agrficolas.

Vem do verbo latino col/ere, gue guer dizer cultivar.

Pensadores romanos antigos ampliaram esse slgnificado e a usaram para se referir ao refinamento pessoal, e isso est4 presente na express&o cultura da alma. Como sinênimo de refinamento, sofisti-

cacdo

cultura

pessoal,

foi

educacio elaborada

usada

constantemente

de uma

desde

pessoa,

ent&o

e

28

José Luiz dos Santos

Oë até hoje. Mas retornemos ao significado moderno de cultura. Essas preocupacêes gue cultura passou a eXpressar tornaram-se 'tanto mais 'importantes guanto a partir do sêculo XIX foi-se intensificando Oo poderio das naces européias frente aos povos do mundo. Aumentaram ent&o os contatos entre as nacoes da Europa, industrializadas e sedentas de NOovos mercados,

e populacêes do resto do mundo.

oociedades antes isoladas foram subjugadas e incorporadas ao Ambito de influência européia. Foi nessa época gue a preocupac&o com cultura se generalizou como uma duestio cientifica: foi a partir de entêo gue as ciëncias humanas passaram a tratar sistematicamente dela.

E preciso considerarmos dois aspectos principais

a0S duais a consolidac&o das preocupacêes com Cultura esteve associada. Em primeiro lugar, foi no sêculo XIX due se tornou dominante uma visëo laica,

aguer

dizer,

n#o-religiosa,

do

mundo

social

e da vida humana. Até entdo,o cristianismo tivera forca para se impor na definic&o de prêticas e COmbportamentos: a visdo de mundo

crist& oferecia

a Europa os modelos principais gue ordenavam o conhecimento e a interpretacdo do mundo e das relacdes sociais. A ruptura com essa visêo religiosa se fez através de preocupacOes com o entendimento da origemee transformacao da sociedade e também das espêcies de vida. Nesse sentido, as novas teorias

O aue é Cultura

29

biologicas e sociais desse século culminaram com uma visdo da humanidade firmemente ancorada

numa

teorla da evolucëo

vida;

numa

das espêécies, ou seja, da

humanidade como uma espécie animal produzida por transformacêes a partir de outras formas de

tambêm

humanidade

com

uma

vida

social

sujeita &.evoluc&o em virtude de fatores

materlais gue podiam ser estudados. Isso ia contra as idélas anteriormente dominantes de cunho religioso, e gue pregavam ter sido o homem criado diretamente pela divindade, uma divindade ague atuava também na histéria das sociedades humanas. Nesse contexto de discussëo sobre eVvolucao,

cultura

servia

tanto

para

diferenciar

populacies

humanas entre si guanto para distinguir o humano de outras formas animais. Dai derivam muitas das dificuldades em definir cultura. Assim, guando se COMDParaVa pOVOS diferentes, cultura era uma palavra usada para expressar a totalidade das caracteristicas e condicêes de vida de um DOVO. Trata-se de uma idéia muito ampla, Como vocês podem ver. Além disso, como cultura estava ligada

a distincêo

entre

o

humano

e o animal,

ha

um

sentido em gue tudo aue é cultural é humano, e tudo due é humano é cultural. Novamente, a idéia é muito genérica, dificil de precisar. O desenvolvimento dessas teorias clentificas sobre a vida e a sociedade é de fato muito IMDOrtante para entendermos as preocupacêes sistemdaticas com cultura. Lembrem Ogue varias veze s

30

José Luiz dos Santos

associeli a discussio sobre da variedade dos povos e SO por isso, nN#o teria tantos sêculos para ague a

cultura com a modos de vida. sido necessrio discussio sobre

guest&o Se fosse esperar cultura

se Tfirmasse, pois além de a prépria Europa ser diversificada em povos e nacêes, contatos com POVOS muito diversos eram antigos e as conauistas coloniais ja tinham estabelecido relacêes sistemêati-

cas com outras culturas desde o século XV. E gue

até entêo essas guestêes podiam ser respondidas, podiam ser enaguadradas pela interpretacëo de cCunNo religioso. As preocupacëes sistematicas com Cultura nasceram associadas a novas formas de conhecimento. Assim,

este

é um

dos

aspectos

principais

com

due a consolidacdo das preocupacêes com cultura esteve associada: a sua vinculacêo com as novas preocupacbes de conhecimento cientifico do sêculo XIX. Hê um segundo. Lembrem-se gue as entio em encontravam-se potências européias

marcado processo de expansêo, incorporando nacoes e territorios em outros continentes e submetendo suas populacêes a seu mando politico

e controle militar. A discussêo sobre cultura estava ligada as preocupaces de entender os povos e nacoes ague se subjugava. Ela era alimentada por essa eXpansao politica e econêmica das sociedades industrializadas, ague Ihe fornecia campo de observacdo e possibilitava o acesso a material para estudo.

O gue é Cultura

j|

Nesse sentido, as preocupacoes com cultura contribuiram para delimitar intelectualmente a

POSIC4O internacional do Ocidente. Essa DOSic4o se realizou através da dominac&o politica e econê-

mica, e também da imposicëo de suas Droprias conCEpcOes culturais aos povos sob dominio e controle. Lembrem-sageue o debate intelectual ao gual as preocupacêes com cultura estavam associadas fornecia 'interpretacëes, como na visZo de evolucdo linear das socledades, due permitiam fosse considerado superior tudo gue fosse ocidental. As preocupacêes com cultura tinham essa marca de

legitimadoras da dominacio colonial.

Assim a moderna Preocupacao com cultura nasceu assoclada tanto a necessidades do conhecimento guanto as realidades da dominac#o politica. Ela faz parte tanto da histêria do desenvolvimento

clentifico guanto

da histêria das relacêes interna-

cionais de poder. Esta é uma relacdo muito intima . De fato, o préprio entendimento moderno do due seja uma nac&o tem muito a ver com as dicussêes sobre cultura. Vamos pensar um DOUuco mais sobr e

ISSO, ja gue é importante para discutir sobre Cult ura em paises COmo o nosso.

Cultura e nacao Jê vimos

antes

gue em

seu desenvolvimento

a

32

José Luiz dos Santos

conceprao de cultura esteve relacionada as particularidades da nacêo alemê. Assim, na Alemanha dos sêculos XVIll e XIX a idéia de aue havia uma cultura comum unindo as vrias unidades politicas due constituiam a Alemanha servia para estabelecer um plano objetivo de unidade, na falta de uma unidade politica comum. No caso, cultura podia ser Vista como a expressêo de uma nacëo gue nao tinha Estado. Nos Estados Unidos da América do Norte e na América latina, as preocupacêes com cultura tém feito parte constantemente das reflexêes sobre a realidade desses paises. Essas discussêes estio mesmo ligadas ao processo de constituicio de nacoes modernas. Sêo discussêes aue procuram saber o aue hê na cultura de especificamente estadunidense ou peruano ou brasileiro, por exemplo. Elas servem de referências no processo de incorporacêo as sociedades nacionais de populacoes nativas dominadas pela conduista européia e de imigrantes de toda parte do mundo ague para as Americas vieram. Assim, nas Américas do sêculo XX, diferentemente da Alemanha dos séculos

anteriores,

as

discussêes

sobre

cultura

eXpressam projetos de nacado em Estados derivados

da cColonizacao européia dessas terras. Para citar ainda outro exemplo dessa relac&o entre cultura e nacëo, podemos mencionara

Russia do sêculo XIX, um impêrio contendo uma diversidade de povos e gue estava igualmente

O gue é Cultura

33

continuou mesmo apês a revolucio comunista de 1917 e esteve presente na definicëo da politica das nacionalidades do Estado soviëtico. Notem ague em todas essas experiëncias histêricas em due a discussêo sobre cultura foi parenta da guestdo da nacêo houve um importante ponto em comum: tratavam-se de unidades politicas ague guerlam definir o gue Ihes era préprio, especifico, em relaGao as nacêes politica e economicamente dominantes. Foi assim na Alemanha do século

XVlil, periodo em gue a Inglaterra e Francaeram

econOmica, politica e intelectualmente as mais poderosas nacêes européias. Assim foi na Ruissia do sêculo XIX, um pais em posicëo inferior as potências européias. O mesmo pode ser dito da Améêrica Latina, e dos Estados Unidos antes gue este pais atingisse a condicëo de potência dominadora oue hoje ocupa. Nestes casos todos a realidade de cada pais foi pensada tendo por referência a cultura dominante no (Ocidente, tanto

no

seu

aspecto

material aguanto de formas de conhecimento concepcoes sobre a vida e a sociedade. Na America

e

Latina, e o Brasil é bem um Caso, as

culturas de povos e nacêes due habitavam Suas terras antes da conduista européia foram sistematicamente tratadas como mundos a& parte das culturas nacionais ague se desenvolveram. Sua

E

cultura

EE EE

ai

1

entendendo-se

oi

wn

EE

Ee

ve

-



aa

NN

preocupado em estabelecer uma realidade cultural comum. De fato, a preocupacio com cultura

José Luiz dos Santos

Importência para essas culturas nacionais sê costuma

ser reconhecida na medida em ague contribuem para esta ultima, em aue fornecem elementos e caracteristicas gue dêo a esta carêter particular, tais como comidas, nomes, roupas, lendas. Da mesma forma sdo tratadas as contribuicêes culturais das populacoes gue vieram para cé como imigrantes de outras partes do mundo, ou gue para c4 foram trazidas COMO escravas. Assim, é comum due na América Latina as discussêes sobre cultura se refiram a uma histêria de contribuices culturais de mutlipla origem, as guais tém por polo de integracëo os processos gue sdo dominantes no mundo ocidental no ague concerne a produc4o econêmica, 4 organizacio da sociedade, a estrutura idéias, concepcies e

E preciso cautela

paises Ccomo

da familia, ao direito e as modos de conhecimentos.

com essa tendência a entender

o nosso como

uma

mistura de tracos

culturais. Como veremos numa sessêo posterior, o importante para pensarmos a nossa realidade cultural é entendermos o processo histêrico aue

a

produz,

as relacêes

de

poder

interesses dentro da sociedade.

e o confronto

de

Preocupacêes da cultura Ha algumas preocupacêes por assim dizer embu-

O gue é Cultura

35

tidas nas discussêes sobre cultura aue vêm de longa data e convém mencionar agui. Cultura pode por um lado referir-se & alta

cultura,

a cultura

dominante,

e por outro, a agual-

guer cultura. No primeiro caso, cultura surge em Oposicao a selvageria, &4 barbdrie: cultura é entio

a propria marca da civilizac&o. Ou ainda, a alta cultura surge como marca das camadas dominantes da populacao de uma sociedade; se ope & falta

de dominio da lingua escrita, ou & falta de acesso a ciëncia, a arte e a religiëo daauelas camadas dominantes. No segundo caso, pode-se falar de cultura a respeito de gualguer povo, nacio, grupo ou sociedade humana. Considera-se cComo cultura

todas as maneiras de existência humana. Essa tensêo entre referir-se a uma cultura dominante ou a agualguer cultura permanece, e explica em parte a multiplicidade de significados do aue seja cultura, gue mencionei anteriormente. Notem dgue ê no segundo sentido ague as ciëncias sociais costumam Tfalar de cultura, e é neste sentido gue tenho falado dela aagui. Nas transformacOes da idéia de cultura durante os sêculos XVlll e XIX, a discussio sobre cultura

Surgiu

|

associada

a

uma

tentativa

de

distinguir

entre aspectos materials e nio-materiais da vida social, entre a matéria e o espirito de uma sociedade. Até due o uso moderno de cultura se sedimentasse, cultura competiu com a idéia de civiliZacao, muito embora seus conteidos fossem

36

José Luiz dos Santos

freguentemente trocados. Assim, ora civilizac&o, ora cultura servliam para significar os aspectos materlais da vida social, o mesmo ocorrendo com

o universo de idêias, concepcêes, crencas.

Com o passar do tempo, cultura e civilizac&o ficaram aguase sinbnimas, se bem due usualmente se reserve clivilizacio para fazer referência a sociedades poderosas, de longa tradic&o histêrica e grande ambito de influência. Além do mais, usa-se cultura para falar nêo apenas em sociedades, mas tambêm em grupos no seu interior, o due nêo ocorre com clvilizacao. Ouanto aguela preocupacëo em distinguir aspectos da vida social, ela permaneceu assoclada as discussOes sobre cultura. Embora esta seja com freaguência entendida como a dimensêo nio-material da sociedade, a preocupac&o COm OS aspectos materials nio a abandonou. Apesar de todas as variacêes na maneira de conceber cultura, guero ressaltar gue sua discussêo contém tendências fortes e (importantes, agual seja,

dade dar

ague a discussido

como

conta

referência

de

sobre cultura tem

e ao mesmo

particularidades

de

a humani-

tempo cada

procura

realidade

cultural. Pensem tambêém gue essa humanidade nao &ê sê uma idêia vaga, pois, com o processo de eXpansdo dos centros de poder contemporêneos, de conduista e incorporacio acelerada de povoS e nacoes, do estabelecimento de relacêes perduraveis de interdependência e de processos comuns de mudanca politica, a humanidade surge com

RS RE

|

ee

|.

O gue é Cultura

37

forca no panorama civilizacdo mundial

da histêria comum a todos, da gue cada vez mais toma corpo.

E importante ainda lembrar gue essas discussêes

|

sobre cultura firmaram-se no mesmo periodo em gue outras abordagens se preocupavam em estudar criticamente as caracteristicas internas da sociedade capitalista, em estudar as condicêes para a Sua Superacdo e contribuir para as lutas operdrias. FStudava-se assim a natureza das classes sociais

e sua dinamica,

do capitalismo e seus

a expansio

fundamentos. Os dois planos de estudo, o da Cultura e o da sociedade de classes, andam muitas vezes separados, mas nada impede gue os pensemos conjuntamente.

Relacbes entre as duas concepcêes basicas de cultura Como

mUito

as

tempo

paginas

anteriores

as

preocupaces

sugerem, com

desde

cultura

orientam-se pelas duas concepcies bdsicas gue ja haviamos discutido: ou tratam da totalidade

das caracteristicas de uma realidade social, ou dizem respeito ao conhecimento due a sociedade, DOVO, Nacado ou grupo social tem da realidade e

a

maneira

pacao

cepcao

com

cCOmMOo Oo a

expressam.

totalidade

de cultura

da

Assim,

sedimentou-se

ciëncia

do

sêculo

a preocuna

XIX.

coOn-



38 José Luiz dos Sa ntos.

a assoclacao

de cultura com

conhecimento

é mais

antiga, vinda da ieiacBo de cultura com erudicao, refinamento pessoal.

E do relacionamento entre essas duas concepcêes

Dasicas

oue

cultura,

aus

se

origina

pode

ser um

a

maneira

de

instrumento

entender

de estudo

das sociedades contemporëêneas. Vejamos como ISSO OCOrre. Falar da totalidade das caracteristicas de um POVO,

|

nacdo,

sociedade,

para cultura, algo muito

Cionalizar. estao em

distintas,

muito

podem

êé uma

idéia muito ampla

vasto e dificil de opera-

Apesar disso, é uma idéia Gtil dguando comparacëo realidades Sociais muito

resultados

diferentes. diferir

de

experiëncias

Sociedades

assim

fundamentalmente

em

histêricas

comparadas sua

orga-

|

NIZacao da vida social, nas maneiras de definir as relacOes de parentesco entre seus membros, de regular o casamento e a reproducio, na producëo

do necessarlo para a sobrevivência, nas técnicas, nos intrumentos e nos utensilios, nas Suas CON-

cCepcoes, crencas e em tantos Preocupar-se com a totalidade

outros aspectos. dessas caracteris-

ticas ê inevitavel em casos assim, j4 ague é tudo IS$O ague torna cada uma das sociedades diferente. Mas o encontro entre sociedades assim vai-se tornando raro. Com a acelerac&o da interacio entre poVos, nacoes, culturas particulares, diminui a possibilidade de falar em cultura como totalidade, polis a tendência 4 formac&o de uma civili-

d

oo

EE

|

||

39

Por mais diferencas gue possam existir entre os palses, todos partilham processos historicos comuns e contêm importantes semelhancas em sua existência social.

40

José Luiz dos Santos zZacao mundial faz com due os povos, nacoies, culturas particulares existentes partilhem caracteristicas comuns fundamentais. Falar de culturas isoladas e Unicas vai perdendo a vlabilidade, pois ndo

seria

essa

realidade

comum,

a

Civilizac&o

mundial, gue vai poder distinguir suas experiëncias particulares. Assim, por exemplo, por mais diferencas due possam existir entre palises como o Brasil, o Peru, Ouënia e Indonésia, todos eles partilham processos histêricos comuns e contêm Importantes semelhancas em sua existência social, buscam desenvolver suas economias dependentes, superar desigualdades sociais internas e atingir padroes 'internacionais de gualidade de vida. EF uma situac&o bem diferente, vejam bem, dos contatos iniciais da sociedade inglesa com sociedades nativas da Oceania ou com reinos da Africa, Ou da sociedade brasileira com sociedades indigenas da Amazonia. No éê de se estranhar, pois, gue prevaleca nas preocupacoes com cultura aguela tendência a procurar localizar e entender os aspectos da vida social nêo diretamente materiais. Lembrem-se de dgue a discussêo de cultura estd muito ligada a constatacao da diversidade. E é nesses aspectos nao-materiais ague a diversidade se expressa com mais vigor. Mas notem aue a preocupacio em entender toda a vida social nio foi abandonada nas discussOes sobre cultura: ela foi transformada. De Tato, cultura tende a se transformar numa

dl

O gue é Cultura #rea

de

reflexëo

sobre

a realidade

onde

aguelas

duas preocupacêes bdsicas se mesclam. Assim, cultura passa a ser entendida como uma dimensao , lal ter -ma nëo êo ns me di a , ial soc ade lid rea da uma dimensêo totalizadora, pois entrecorta os

vêrios aspectos dessa realidade. Ou seja, em vez de se Talar em cultura como a totalidade de caracteristicas, fala-se agora em cultura como a totalidade de uma dimensêo da sociedade. Essa dimensio é a do conhecimento num sentido ampliado, é todo conhecimento gue uma sociedade tem sobre si mesma, sobre outras sociedades, a pri pro a re sob e e viv gue em al eri mat o mei o sobre existência. Cultura inclui ainda as maneiras cComo

esse conhecimento é expresso por uma sociedade, como é o caso de sua arte, religlao, esportes e

da

cultura assim compreendida volta-se para as maneiras pelas aguais a realidade due se conhece ë as, avr pal de s avé atr , ade ied soc a um por a cad ifi cod e s ra ei um st co as ic êt pr s, ria teo s, na ri ut do , ias idé rituais. O estudo da cultura procura entender o sentido aue fazem essas concepcêes e praticas para olenv des seu do an sc bu e, viv as aue e ad ed ci so a vimento na historia dessa sociedade e mostrando como a cultura se relaciona as forcas socials due movem a sociedade. Uma maneira mais complicada de apresentar essa dimensêo é dizer aue a cultura inclui o estudo de processos de simbolizacao, ou seja, de processos

WEE

O estudo

EE

politica.

mik

ciëncia,

WE

tecnologia,

ETE

jogos,

42

de substituic&o de uma coisa por ad uilo gue a significa, gue permitem, por exemplo, gue uma idêia expresse um acontecimento, descreva um

sentimento

ou

uma

paisagem:

ou

ento

due

a

distribuicëo de pessoas numa sala durante uma conversa formal possa expressar as relacêes de hierarguia entre elas. Assim, a idéia de uma divindade tnica pode ser vista cormno signif icando a unidade da sociedade: nas brincade iras infantis tradicionais numa sociedade como a Noss a pode-se MOStrar a presenca simbêlica de mecan ismos de

competicdo e hierarguia do mundo dos adulto s De Tato, os processos de simbolizac&o sêo muito importantes no estudo da cultura. É & simbolizac&o ague permite due o conhecim ento seja

condensado,

cessadas,

due

as

due a experiëncia

Informacêes

acumulada

sejam

pro-

seja trans-

mitida e transformada. N&o se entusiasmem muit o, porém, com os exemplos acima, a ponto de sairem

por ai localizando significados ocultos em cada pratica cultural, em cada elemento da Cultura, em cada produto cultural. Isso pode atrapalha-los, ao invés de contribuir para Oue vocës conheca m sua socledade. Vejamos por auë. Em primeiro lugar, cultura diz sempre respeito 4 processos globais dentro da sociedade, e ficar enfatizando relacêes mitdas de significado pode fazer com due vocës percam de vista adguel es. Na verdade tais elementos sê fazem sentido dentro daaueles. Assim, sê se pode entender a Importên cia

O gue é Cultura

A3

das brincadeiras infantis estudando toda a formacëo Cultural aue se da as criancas e localizando-as dentro desta. Da mesma maneira, mais importante

due

localizar

o significado

da

divindade

Unica

entender o due significa a religiio numa sociedade,

ë

estudar o conjunto de suas concepcêes, ver como ela se organiza, aue conflitos carrega, due interesses exXDressa. Em segundo lugar, uma ënfase desse tipo pode desviar. a atencao do fato de aue cultura estê

assoclada a conhecimento, o dual tem uma caracteristica fundamental: o de ser fator de mudanca

soclal, de servir nio apenas para descrever a realidade e compreendë-la, mas também para apontarhe caminhos e contribuir para sua modificacio. Ou seja, reduzindo a cultura ao estudo do simbolismo de seus elementos pode se acabar entendendo cultura como uma dimensêo mecanica da vida social, algo due sempre expressa apaticamente

|

alguma outra coisa, e com isso obscurecer o cardter

transformador do conhecimento. Em terceiro lugar, esse tipo de énfase simbolista pode 'induzir vocês a entender cultura como uma dimensao neutra, cujos elementos expressam,

por exemplo, a desigualdade porague existe desigualdade na vida social. No entanto @é preciso

motivo de

conflito de interesses nas sociedades contemporêneas, um conflito pela sua definicëo, pelo seu controle, pelos benef icios gue pode assegurar.

ER

é um

ER.

cultura

RE EE

ague a propria

ME SEER EE

considerar

José Luiz dos Santos

Vemos

assim

ague cultura esté sempre associada

4 OoUutras preocupacoes do estudo da sociedade, leva a pensar nas relacêes de poder, exige gue se considere a organizac&o social. Isso faz com gue as

duas concepces basicas de cultura de ague Ihes falei permanecam presentes: ao Tfalarmos de cultura nos referimos principalmente 4 dimensio de conhecimento de uma sociedade, mas sempre temos em mente a sociedade como um todo.

O

estudo

da

cultura

exige

aue

consideremos

a

transformacëo constante por gue passam as sociedades, uma transformacëo de suas caracteristicas

e

das

relacêes

entre categorias,

grupos

e classes

soclals NO Sseu interior. A essa transformacio constante me referi falando de processo social.

Entao, o gue é cultura Cultura

é uma

dimensêo

do processo social, da

vida de uma sociedade. Nêo diz respeito apenas a um conjunto de praticas e concepcêes, como por exemplo se poderia dizer da arte. No é apenas uma parte da vida social como por exemplo se poderia Talar da religiëdo. No se pode dizer ague cultura seja algo independente da vida social, algo ague nada tenha a ver com a realidade onde existe.

Fntendida dessa forma, cultura diz respeito a todos os aspectos da vida social, e nêo se pode

As

O gue é Cultura dizer due ela exista em alguns contextos e nao em OutroS. Cultura é uma construcdo historica, seja como do processo dimensdo Sseja como cONCEPCAO, social.

é uma

Ou

seja, a cultura

decorrência

de

no

é algo

leis fisicas ou

natural,

nao

biol6gicas.

Ao contrêrio, a cultura é um produto coletivo da vida humana. Isso se aplica nao apenas a percepcio da cultura, mas também a sua relevência, a importência gue passa a ter. Aplica-se ao conteudo de cada cultura particular, produto da historia de cada sociedade. Cultura é um territorio bem atual das lutas sociais por um destino melhor.

Ë uma

|

realidade e uma concepcêo due precisam

ser apropriadas em favor do progresso social e da liberdade, em favor da luta contra a exploracao de uma parte da sociedade por outra, em favor da superac#o da opressêo e da desigualdade. As preocupacêes contemporêneas com cultura estio muito relacionadas com a civilizacêo ocidental. Nela se desenvolveram, com Seu crescimento se espalharam. A discussêo de cultura ndo tem, por exemplo, a mesma relevência nas socledades tribais gue tem nas sociedades de classe, da mesma maneira gue o prêprio estudo da sociedade tribal é mais relevante adui do aue lê. Em ambos OS casos, tanto na discussêo sobre cultura, guanto na preocupaG&o em estudar sociedades diferentes, OS impulsos se localizam na civilizacêo dominante.

É pelos olhos dessa civilizacio ague a ciëncia vê fa Me EE Ed EER

ee

46

José Luiz dos Santo s

o mundo e procura compreender a ela ea SEUS destinos. Por exemplo, o estudo de SOcCieda des e culturas estranhas é também uma forma de, po r COMPparacdo, entender o due é mais de pert o conhecido. Notem due se pensarmos em cultura COMO dimensêo do processo social podemos também falar em cultura numa sociedade primitiva, em cultura das sociedades indigenas brasileiras, por exemplo. Mas notem também aue nem cultura é a mesma coisa la e agui, nem seu significado & Igual em ambos os casos. Apenas nesse sentido genêrico de serem dimens&o do processo social é ague se pode falar igualmente em cultura. Como se tratam de sociedades com caracteristicas gue as diferenciam bastante, o contetido do due ë cultura, a dinêmica da cultura, a importência da cultura — tudo isso deve variar bastante. Mas vejam due essas sociedades indigenas

encontram-se

dade

nacional,

em

interacdo

passam

crescente com

a participar

de

a sOcie-

processos

SOClals Comuns, a partilhar de uma mesma histêria. Nesse processo suas culturas mudam de conteido e de significado. Elas podem ser marcas de resis-

téncia & sociedade gue as guer subjugar, tomar suas terras, colocê-la sob controle. Ao mesmo tempo, é inevitavel due incorporem novos conhecimentos para due possam melhor resistir, gue suas culturas se transformem para gue as sociedades sobrevivam. Assim, discutir sobre cultura implica sempre

mt Em

a mesma coisa. Assim, o carnaval brasileiro, por exemplo, tanto se transformou do inicio do sêculo para Sio

cê, auanto se realiza de modo diverso em Paulo, Rio de Janeiro, Salvador ou Recife.

O fato de aue as tradicles de uma cultura possam ser identificavelis ndo duer dizer gue no se transformem, due ndo tenham sua dinamica. Nada do gue é cultural pode ser estandgue, porgue a cultura faz parte de uma realidade onde a mudanca é um aspecto fundamental. No entanto, as vezes Tfala-se de uma cultura como se fosse um produto, uma coisa com comeco, meio e Tim, Com caracteristicas definidas e um

ponto

a

`

final.

cultura

encontramos

Facilmente

grega,

a



cultura mm

EE

MERE

germênica,

MEE

referências

Ma

&

cultura

OE ER EE OT RE RE ER ER

é comum due cultura seja pensada como alge parado, estêtico. Vejam o caso de eventos tradlcionais, aue por serem tradicionais podem convidar a Serem vistos como imutaveis. Apesar de se repetirem ao longo do tempo e em varios lugares, nao se pode dizer due esses eventos sejam sempre

RA

Ouero insistir na idéia de processo. Isso porague

RE

pode ser entendida sem referência a realidade social de gue faz parte, a historia de sua sociedade.

AA

due sempre ameaca extravasar para outras disCuSSOES e pDreocupaces. Lendas ou crencas, festas Ou jogos, costumes ou tradicêes — esses fenêmenos nao dizem nada por si mesmos, eles apenas o dizem enduanto parte de uma cultura, a agual nao

ee

discutir o processo social concreto. E uma discussêo

HE

N

NN Er

47

EE

O gue é Cultura

d8

José Luiz dos Santos

francesa e tantas outras. Nesses cCasoS, o ague se faz é extrair da experiëncia histêrica de um povo produtos,

com

estilos,

@épocas,

formas,

e

constréi-se

isso um modelo de cultura. Essas construcëes

podem

servir a fins politicos, como,

por exemplo,

tornar ilustre a imagem de uma potência dominadora. AG mesmo tempo, é comum due os interesses dominantes de uma sociedade veiculem uma definicdo para a cultura dessa sociedade gue seja de seu agrado.

E preciso considerarmos

aue nem

todos esses

modelos se esgotam nesses fins. Eles podem também servir para due se meca o desenvolvimento das sociedades humanas e suas direces. Esses modelos podem registrar desenvolvimentos partiCulares, por exemplo na arte, na agricultura, na ciëncia: e ser também matêria de reflexdo sobre a historia. Podem, enfim, ser maneiras de formacao de um repertêrio universal de conhecimento humano. Elementos de uma historia da humanlidade gerados no processo de formacao de uma Civilizacio mundial.

Ouase no preciso dizer gue mesmo esses modelos mudam: nao se entende o due é cultura grega hoie do mesmo modo due no sêculo passado, por exemplo. ËE @ê claro aue esses modelos nao sao a cultura como a estamos entendendo adaui; sao eles mesmos

entendidos amplo.

elementos

em

culturais,

relacdo

ao

due

processo

podem

social

Ser

mais

49

ae,

Wa

O gue é Cultura

mn

mie

arme.

asie enge

eer Ee ri an TE,

OE WEEN

Hê outras maneiras correntes de falar sobre cultura, as auais Sao diferentes da due estamos desenvolvendo aaui, e iniciei esta parte mostrando vêrias delas. Antes de concluir, guero registrar mais uma para ague o sentido em due vamos continuar

separacio

um

de

conjunto

tratada

sobras,

de aspectos tratados como

como

resultado

um

ME

Tfreaguëncia

EE

com

da

mais impor-

NE

residuo,

é

ER ED

Cultura

"N

falando de cultura figue, por contraste, bem claro.

om

tantes na vida social. Assim, extrai-se das atividades

diretamente ligadas ao conhecimento no sentido amplo as areas da ciëncia, da tecnologia, da edu-

RENEEET

politico, as vezes a religlêo e os esportes.

mm Mm main.

sistema

do sistema juridico, do

TT

cacio, das comunicacêes,

|

MEE EE

|

T

O gue sobra é chamado de cultura. E como se fossem eliminados da preocupacêo com cultura

|

| |

ma

TV

todos os aspectos do conhecimento organizado tidos como mais relevantes para a |êgica do sistema produtivo. Sobram, por exemplo, a musica, a pintura, a escultura, o artesanato, as manifestacoes folclêricas em geral, o teatro. Mulitas vezes as

politicas oficiais de cultura sêo especificamente voltadas para essas atividades, jê ague para as outras Areas da vida social ague ns estamos adui considerando

como

parte

politicas especificas. Essa

maneira

da

cultura

desenvolvem-se

de tratar a cultura,é

para nos ela

mesma um tema de estudo, revela um modo pelo gual se atua sobre a dimensêo cultural, indicando, no caso, um dos sentidos da atuacdo dos Orgêos

|

Jo$é Luiz dos San OS

publicos,

um

da dimensêo

sentido fregtientemente fracionador

cultural, ague trata de modo diferente

a varlos aspectos desta. Oue figue entfo claro gue

para n6s a cultura é a dimensëo da sociedade aie

inclui todo o conhecimento num sentido ampliado e todas as maneiras como esse conhecimento é

expresso. mesma

em

E uma dimensêo dinimica, criadora, ela processo,

uma

dimensio

das sociedades contemporêneas.

fundamental

|

TOESTEL re PA EE EE EE Be

grande

diversificacêo

interna.

A

diferenciacê&o

bêsica decorre do fato de aue a populacëio se posiciona de modos diferentes no processo de producao. Basicamente hê setores due sêo pro-

Drietêrios das fabricas, fazendas, bancos, empresas em geral, e ha aagueles due constituem os traba-

Ihadores dessas organizacOes. Ouando se fala sobre classe social éê freguentemente a respeito dessa diferenciacao aue se est Tfazendo referência. Essas classes sociais tem formas de viver diferentes, enfrentam probiemas diferentes na sua vida social. A diferenciacëo &ê, no entanto, mais complexa,

pois no

sejam

se pode

homogêneas

dizer ague as maneiras de viver nem

dentro

da classe trabalha-

EER,”

EE

Uma das caracteristicas de muitas das sociedades contemporaneas, inclusive a nossa prêpria, é a

EE

A CULTURA EM NOSSA SOCIEDADE

José Luiz dos Santos

dora nem dentro da classe proprietria. A realidade soclal enfrentada por trabalhadores rurais e suas familias é diferente em muitos aspectos daaguela enfrentada pelo operariado dos setores industriais

de

ponta,

ou

entëo

dos

comercidrios.



dife-

rencas de renda, de estilos de vida, de acesso as iNstituicêes publicas tais como escola, hospital, centros de lazer. Da mesma forma, a diversificac&o acompanha a variedade de paisagens regionais do pais. Aléêm do mais, as distincêes entre as classes sociais nem sempre s&0 to nitidas na vida cotidiana como podem ser na definicëo acima. Isso pode ser exemplificado pelo fato de gue as grandes concentracêes urbanas costumam registrar uma larga faixa de camadas sociais intermediërias, de limites imprecisos e caracteristicas variadas, as aguais sado rotuladas de classes médias. Estou falando isso para gue possamos iniciar uma reflexao sobre como tratar a dimensêo cultural em nossa prêpria sociedade. Se a cultura é dimensio do processo social, ela deverê ser entendida de modo a poder dar conta dessas particularidades. Observem due os pardgrafos acima podem ser ainda mais detalhados; basta gue aproximemos o foco de nossa atencio do colorido da vida social concreta. Poderemos ent&o notar a diferenciacdo na vida social entre homens e mulheres; criancas, jovens e velhos. Poderemos nos indagar sobre as diferenciacêes ague se notam segundo as afiliacêes e prêticas religiosas, ou EE

Ee

|

O gue é Cultura

segundo A lista

53

as no

praticas médicas, teria fim, mesmo

ou alimentares. porgue teria de

incluir as variacêes de cada um desses recortes no tempo. Nesses recortes da realidade social COmuMm, podem ser localizadas maneiras de ver o

mundo due prevalecem mais em alguns do gue em outros; ou entado localizadas maneiras diferentes

acima,

na

cultura

dos

jovens,

dos

cat6licos,

dos

bancarios, das mulheres de classe média. Ou guem sabe dos jovens bancarios catolicos, ou das mulheres de classe média Algumas

na regiëo Sul na década de 1960.

preocupacoes sêo, contudo, mais fregtiien-

tes do due outras e vamos

centrar atencdo

nelas.

Assim, ao estudarmos cultura no Brasil, podemos

nos preocupar em saber o due seria a cultura nacional, ou dual seria a importência dos meios de comunicacao de massa na vida do pais, ou inda-

garmos sobre a cultura das classes sociais ou sobre

a Cultura popular.

AE EE EE

A nossa auestdo é discutir o gue tem tudo isso a ver com cultura. Ser ague cultura se resume em eXDressar esses peaguenos mundos? Notem gue logo se poderia aguerer falar, a partir do exposto

s

exemplo, na da amizade,

aa

por ou

PP

de se relacionar socialmente, Oorganizacao da vida Tamiliar, ou da vizinhanca.

od

José Luiz dos Santo s

Popular

X

erudito

Comecemos por esta Gltima indagacëo, a gual é bem antiga na historia das Preocupacoes com cultura

Ë gue, a partir de uma idéia de refinamento pessoal,

Cultura se transformou na descric&o das form as de conhecimento dominantes nos Estados nacion ais due se formavam na Europa a partir do fim da ld ade Média. Esse aspecto das preocupacies com a cultura nasce assim voltado para o conhecimen to

erudito ao agual sê tinham acesso setores das classes dominantes desses paises. Esse conhecimento erudito se contrapunha ao conhecimento havido pela maior parte da populac&o, um conhecimento

gue

se supunha inferior, atrasado, superado,

e ague

AOS DOUCOS passou também a ser entendido como uma forma de cultura, a cultura popular. As preocupacêes com cultura popular Sao tentativas de classificar as formas de pensamento e acdo das populacêes mais pobres de uma sOocledade, buscando o ague h4 de especifico nelas. procurando entender a sua légica interna, sua dinêmica e, principalmente, as implicacêes politicas ague possam ter. Aaguela origem antiga dessas preocupaces continua a influencid-la, e a cultura popular é pensada sempre em relac&o & cultura erudita, a alta cultura, a aual é de perto associada tanto no passado como no presente as classes dominantes.

O gue é Cultura

SS

De Tato, ao longo da histéria a cultura dominante desenvolveu um universo de legitimidade prépria, expresso pela filosofia, pela ciëncia e pelo saber produzido e controlado em instituicées da socledade nacional, tais como a universidade, as

academias, as ordens profissionais (de médicos, advogados, engenheiros e outras). Devido & prépria

natureza da sociedade de classes em due vivemos, essas InstituicOes estao fora do controle das classes dominadas. Entende-se entao por cultura popular as manifestacOes culturais dessas classes, manifestacOes diferentes da cultura dominante, gue estio fora de suas instituicêes, gue existem independente-. mente delas, mesmo sendo suas contemporaneas.

E importante ressaltar gue é a prépria elite cultu-

ral da sociedade, participante de suas instituicOes dominantes, due desenvolve a concepcao de cultura popular. Esta é assim duplamente produzida pelo

conhecimento dominante. Por um formacdo

muitas

lado poraue, na

de seu proprio universo de leaitimidade,

manifestacoes

culturais

so

deixadas

de

fora. Por outro lado porgue é o conhecimento domi-

nante gue decide o gue ê cultura popular. Vejamos como a cultura eruditaea cultura popu-

lar podem ser relacionadas nessas preocupacêes. Elas se desenvolvem a partir da polarizac&o entre

Oo erudito e o popular, a agual transfere para a dimensdo cultural a oposic&o entre os interesses das classes soclals na vida da sociedade. Assim, como a existência das classes dominadas denuncia

José Luiz dos Santos

as desigualdades sociais e a necessidade de superdlas,

sua

cultura

pode

conteudo transformador.

ser vista

como

Da mesma

tendo

um

forma, Como

a Cultura erudita é desde sempre associada com as classes dominantes, sua expansio pode ser vista COMO uma expansdo colonizadora: a ampliacio de seus dominios como, por exemplo, através da

eXxpansdo da rede de escolas e de atendimento medico, pode ser entendida como uma ampliacëo das formas de controle social, aue mantêm as desigualdades basicas da sociedade em benefifcio da minoria da populacëo. Logo se nota ague a polarizacao entre cultura popular e cultura erudita pode levar a conclusêes complicadas. Ha sempre uma preocupacao de localizar marcas politicas guando se opera esse tipo de polarizacéo entre as duas concepcOes de cultura. Nesse sentido, Oo due se busca na cultura popular é seu carater de resisténcia a dominacdo, ou seu carater revolu-

cCionario em relacao a esta. Para ser pensada assim, a cultura popular tem de ser encarada nao como uma criacêo das instituicOes dominantes, mas como um universo de saber em

Si mesmo constituido, uma realidade aue no depende de formas externas, ainda due se opondo a elas. Pode-se a partir dai considerar cComo as religiées populares podem servir aos propOsitos de defender os interesses das classes oprimidas, ou como

Tfestas

manifestacdo

populares

“Na

podem

repulsa

dos

ser

momentos

oprimidos

de

contra

|

enten-

dendo a cultura como uma dimensêo do processo soclal é para nos 6bvio ague a luta politica tem manifestacêes

culturais.

Parecem

no

entanto

tênues os argumentos a favor desse tipo de #nfase na cultura popular e seu poder revoluciondrio. Vale a pena pensarmos mais um pouco Sobre essa duestao.

Ouando se procura estudar a cultura popular, a primeira dificuldade é a de como trat4-la. Na maior parte dos casos estado ausentes instituicOes e

nucleos

de

sistematizacêo.

Assim,

por

exemplo,

COmOo comecar a discutir o gue possa ser medicina popular? Vocês sabem por sua prêépria experiëncia de vida ague ha uma vasta gama de prdticas e concepcdes de cura no pais, e apenas algumas delas

tém o beneplacito da aprovacëo oficial. Serd ague tudo ague sobra é medicina popular? Essas praticas e

concepioes

sdo

dificeis

de

caracterizar,

de

esbocar com clareza. Entre outros motivos porgue

elas nêo dizem da doenca e

praêticas comida, idade

religlosas, com modos de interpretar a com as relacbes entre pessoas de sexo e

diferentes

rentes; seus

da

vida

eer

respeito sê & cura, ou 4 explicacëo Seu curso: estio associadas com

limites

social. mm

ou

———m

E,

de

posicêes

se perdem

familiares

dife-

na complexidade

fundamentalmente,

nio

sêo

ET

Ge

estamos

ee

e como

EE

contemporëneas,

ad

soclais

f

contra os opressores ê um fundamento das ciëncias

m

OS Opressores. O poder transformador da .-luta dos oprimidos

TR

57

O gue é Cultura

58

José Luiz dos Santos

homogêneas nas classes oprimidas. A Unica maneira de tratd-las é a partir de classificacêes gue fazem

sentido na cultura dominante. Criam-se assim modelos de religiëo, literatura, medicina Populare s. Outro problema é gue é muito difici numa sociedade como a nossa estudar manifestac êes culturais gue n#o estejam relacionadas as pPoderosas instituicées dominantes e suas COncepcOes. Isso vale para a medicina, para a religiëo, para a literatura, para a musica. Essa constatac&o pode levar d due nessas preocupacOes de gue estamos falando se busgue o mais popular do popular, Oue se tente localizar na cultura o popular mais DUro, Um popular intocado e definitivamente original, ague contenha ele sim o carêter revoluciondrio do saber Popular em seu estado mais absoluto. O aue devemos reter dessas discussêes é o

duanto as concepcoes de cultura e o préprio conteudo da cultura estiveram sempre associados as

relacbes entre as classes sociais: a Oposic&o entre cultura erudita e cultura popular é um produto dessas relaces. Notem aue essa OPOSICAO permanece mesmo mudando o contetido do ague pode ser considerado erudito ou popular. Assim, o dominio

da

mais

considerado

escrita

e da

leitura,

outrora

restrito

a setores das classes dominantes, tende a se generalizar, deixando de ser um privilégio e nio podendo ser

erudito.

De

fato,

nao

faria

sentido taxar de eruditas as exigências das classes trabalhadoras de alfabetizac&io e de educac4o

hee Re gee

O aue é Culfura

universal e gratuita, objetivos ainda longe de serem adeaguadamente alcancados em paises cComo Oo nosso. O mesmo se pode dizer a respeito do conhecimento

da

historia,

da

matematica,

das

ciëncias fisicas e biolêgicas, antes privilégio indis-

cutivel de peauenas elites. Isso tudo nos leva a pensar duiëo enganosa pode ser a polarizacao entre cultura popular e cultura erudita. Ela cria problemas falsos, e Se esvazia em confronto com a realidade social. Ela se sustenta em bases frageis, pois as preocupacOes com a cultura popular Sao preocupacOes da cultura dominante e suas eiites, o gue mina na base aaguela polarizacao. Surgem associadas ao processo politico e representam projetos para as classes domilnadas aue partem das classes dominantes. AS confusêes gue esse tipo de polarizacêdo podem provocar nos convidam a considerar a cultura nos processos sociais comuns desta sociedade de tantas

|

contradicêes e conflitos de interesse. As classes dominadas existem em relacao com as

dominantes,

classes

partilham

um

processo social

comum, do dual nao detêm o controle. A producao cultural, toda a producao cultural, é o resultado

dessa existência comum, é um produto dessa historia coletiva, embora seus beneficios e seu controle se repartam desigualmente. Este sim @ê o cerne da dguestao da cultura em nossa sociedade. Desfaz-se assim a idéia fragil de ague uma parcela

to fundamental EE

EE

da sociedade possa ser vista como

60

José Luiz dos Santo s

uma realidade isolada no plano cultural.

O popular na cultura Deixando assim para trds essas preocupacé es polarizadoras, uma aguestio permanece: o gue é Ou pode ser considerado popular na cultura? Os cultos afro-brasileiros, como a umbands e O candomblê, s&o populares? E o carnaval? E o futebol? E o sistema escolar, hospitalar, e a justica — Oo gue disso tudo é popular? Vemos pelo siroples anunclado das guestêes ague a indagac&o sobre o due ê popular na cultura deve ser considerada Com Cuidado. Pode-se dizer ague as auestêes acima dizem respeito a dimensêes de nossa vida social due têm origens histêricas diferentes. Assim, serd notado due o carnaval e os cultos afro-brasileiros desenvolveram-se a partir de tradicêes das Dopulacêes trabalhadoras, com marcas muito fortes das origens africanas dessas populacêes. Nesse sentido pode-se estabelecer um contraste com, Dor exemplo, o sistema escolar, hospitalar e juridico, estes de origem européia, tanto em sua organizac&o interna duanto em suas concepcêes, e introduzidos pelas

elites. Esse medida em

entre

nossa

tipo de constatacëo é importante na due nos leve a considerar as relacOes

cultura

e

nossa ee

histêria, NN



e

nos

dd

O gue é Cultura

61

indicacbes de como a populac&o oprimida emerge na cCultura com expressêes fortes, prêprias, generalizadas e reconhecidas.

Mas é claro due nem o carnaval nem os cultos afro-brasileiros podem ser entendidos exclusiva-

mente da Otica dessa origem ague se pode chamar de popular. Afinal é obviamente como parte do processo historico da sociedade como um todo gue

ambos

encontram

condicêes

de

generalizac&o.

Consolidam-se com o crescimento das cidades do pais, encontram forte expressêo nos centros politicos e econdbmicos mais importantes, como é O caso de Sêo Paulo e Rio de Janeiro. Transformam-se com o pais e deixam de ser exclusivamente assoclados a uma parte da populacëo, seja na sua pratica, seja na sua organizac8o. De fato, se a origem do ague existe na cultura fosse tdo determinante, o futebol de origem inglesa e introduzido no Brasil por setores de elite no comeco deste século n&o teria jamais conseguido a generalizacio gue tem. Apesar de sua origem, ndo sei bem como se poderia insistir em

gue o futebol nêo é popular no Brasil. Raciocinios

parecidos poderiamos fazer em relac&o ao espiritismo e a homeopatia, introduzidos no século passado entre setores das classes dominantes e

provenientes da Franca. Da mesma forma, as instituicêes dominantes de origem européla, COomo as citadas anteriormente, transformaram-se com o processo de transformacio

José Luiz dos Sa ntos

lacëo. E se a educacëo, a saude, a justica n&o atendem aos interesses de toda a POopulacëo, isso nao se deve & sua Origem, mas as desigualdades. sOClais gue marcam a nossa sociedade. Retomemos agora aaguelas guestêes com as guais iniciei esta parte, auando fale i sODre as relacêes entre aspectos da vida social ea cultura, para indagarmos a respeito de dual é ex atamente

o recorte da vida social ao gual cultura popular se

refere. A categoria povo, a dual a expres sio faz mencdo, ê ainda mais dificil de definir do aue Classe social de ague falamos no inicio. Em certo sentido, povo pode ser entendido como sendo toda a Populacao de um pais; em outro, como a DO PUlacêo mais pobre; em outro, alnda, como toda a populacëo trabalhadora, 'incluindo-se 'nela os pedguenos proprietêrios rurais ou urbanos. S&o

populacbes

bem

diversas, como

se vé. É comum

due cultura popular diga respeito a esta Gltima parcela da populacëo, mas nem Sempre é esse O Caso. Para tentar reter o gue é popular na cultura, NOS poderiamos procurar entender Ouais Sao as exXpressoes culturais dos processos sociais vividos pelas classes dominadas. Mesmo com toda a falta de homogeneidade de gue j4 falei, n6s poderiamos considerar due essas populacêes têm algumas caracteristicas bdsicas derivadas de sua DOSicAO comum de inferioridade nas relacêes de poder na ee

ee

da

63

| Oaue é Cultura

sociedade.

Ao

falarmos

entio

do

popular

na

cultura nos tentariamos ver em due medida essas caracteristicas

enfim

como

se

manifestam

a opressdo

culturalmente,

e a luta para

ver

superd-la

marcam a esfera cultural. Notem due isso é bem diferente de inventar uma cultura popular oposta a uma cultura erudita. NOS nao estariamos esperando encontrar formas de conhecimento e instituicêes necessariamente separadas de acordo com as classes sociais, ns esta-

riamos enfatizando, isso sim, as caracteristicas sociais basicas da sociedade, buscando sua manifestacao nos processos culturais comuns.

Observem

ague uma insistência em opor popular

e erudito acabaria por operar as avessas: ao invés de nos preocuparmos com a realidade cultural de um Setor da populacao, definiriamos o setor da populacio de acordo com a realidade cultural. Assim, levando aaguela polarizacêo ao limite, teriamos de separar do popular os setores operdrios

ague

atravêés

de

suas

lutas

conseguiram

acesso

a

escolarizacao, a satde publica, 4 habitac&o etc. Isso produziria apenas confusêo, nunca entendi-

mento da vida social. Ao contrêrio, sê tem algum

sentido falar em popular na cultura para marcar tudo due tenha a ver com o crescimento e fortalecimento das classes dominadas. De modo due para resgatar essas preocupacêes com cultura popular serd necessêrio relaciond-las sempre Com os processos sociais gue so prêprios

José Luiz dos Santos

as populacOes as aguais se referem, processos ague exigem sempre due se refira & sociedade como

um todo. Julgo ague essa atitude bd4sica deva ser mantida guando se pensar em cultura em relac&o a outros recortes da vida social. Pode-se assim discutir o gue

seja cultura

risticas da

de classe,

cultura

procurar

operdria.

localizar caracte-

Ë preciso assinalar,

porêm, gue nem todo recorte da vida social tem o mesmo significado para a andlise cultural. Falar, por exemplo, em cultura popular ou cultura de classe pode ter implicacêes diferentes. Pode revelar preocupacoes due no so as mesmas, indicar visOes diversas da sociedade e da vida politica. Assim, falar em cultura popular pode implicar uma @nfase no modo de ser e sentir gue seja

tipico

de

uma

populac#o,

gue seja caracteristico

dela, gue seja mesmo um patrimênio seu. A mensagem politica pode ser a de preservar e valorizar esse patrimonio. A discussio sobre cultura de classe pode ter uma nfase diferente; pode implicar a cConsideracdo da relac&o das classes sociais entre si, entender como se realiza a desigualdade social, como se dd Oo exercicio do poder na sociedade. A mensagem politica pode ser af a da transformac&o dessas

relacbes sociais.

Ë preciso ressaltar gue nem sempre as preocu-

pacoes com cultura popular ou cultura de classe tém exatamente essas implicacêes politicas e de

65

O gue é Cultura

vis30o da sociedade. De aualguer modo, devemos ficar atentos para o fato de due o modo como se pensa a cultura de uma sociedade estê sempre ligado a outras preocupacêes e as manelras cComo se julga poder agir sobre ela. Apesar das diferencas gue pode haver entre as duas preocupacêes, falar em cultura de classe tem dificuldades em comum com o estudo da cultura

popular.

Ë dificil elaborar um rol de suas caracte-

risticas due seja acabado, definitivo, due seja homogêneo para toda uma classe social. AS proDrias classes sociais, como ja disse, demonstram grande variac&o interna, têm contormos imprecisos na pratica. O ague se pode fazer ao falar em cultura de uma classe social é procurar localizar os nucleos de sua existência social, as mais importantes relacêes ague definem

essa existência, procurando a

expressêo cultural deles. Mas essa é sempre uma preocupacio limitada. A aguestio é entender a dimensdo cultural da sociedade de classes como um todo, pois sê assim se poderd esclarecer os significados das vêrias particularizacêes de cultura.

Tenho insistido em aue ao pensar em cultura é preciso considerar os processos sociais ague dizem respeito & sociedade como um todo. A cultura mantém

relacêes complicadas

com a sociedade de

gue faz parte. Ela é produto dessa sociedade, mas também ajuda a produzi-la, tanto porague esta ligada a& manutencao de concepcoes e de formas de organizacêo e de vida, auanto porague estê

66

ligada a transformacao destas. Assim, a cultura nio é um mero reflexo dos outros aspectos da sociedade, nao é um espelho amorfo. Na dimensêo

ir AE gese

José Luiz dos Santos

A auestêo principal aaguié saber como as caracteristicas centrais da sotiedade como um todo podem ser detectadas no plano cultural.

A comunicacdo

de massa

No caso das modernas sociedades industrializadas

é comum dades

de

due elas sejam consideradas como sociemassa,

onde

as instituicêes

dominantes

aue

desenvolvem

mecanismos

tém de prover e até mesmo criar as necessidades de multidêes e de seus participantes anênimos, da mesma

forma

eficazes para controlar essas massas humanas, fazé-las produzir, consumir e se conformar com seus destinos e sonhos. Uma

sociedade assim exige mecanismos culturais

EE

— EL PERE

com estas relacêes fundamentais.

N EE AE EE

fato gue mantém

EE

forca das outras dimensêes da sociedade, tambêém é

"Mee 8, mg ETE Vaal

produto. Elas também têm sua dinêmica proépria. A cultura é criativa. Vlas se a Cultura nao est presa a uma camisa-de-

Re

cultural eë sempre possivel antever e propor alteracdes nas condicêes de existência da sociedade. As manifestacdes culturais nio podem ser totalmente reduzidas as relacêes sociais de due $Zo

ME 4

O gue é Cultura

A indistria cultural parece homogereizar a vida € visao do mundo das diversas populaces.

67

6

José Luiz dos Santos

adeguados, capazes de transmitir mensagens com rapidez para grandes aguantidades de pessoas. Costuma-se considerar ague ela exige uma cultura capaz de homogeneizar a vida e a visdo de mundo das diversificadas populacêes due formam essas ultrapassando

sociedades,

barreiras

classe

de

social e facilitando, por essas razêes, o controle das massas. Tais instrumentos seriam principalmente o rêdio, a televis&o, a imprensa e o cinema. Essa 'teria o niveladora, homogeneizadora, cultura

niacleo de sua existência num setor especifico de Ela seria uma atividade, a 'industria cultural. caracteristica vital deste século, uma marca indisaue se forma. cutivel da civilizacêo mundial Examinemos um pouco essas duestoes. Nio h4 divida de aue a industria da cultura, centrada nesses meios de comunicac&o de massa, um elemento muito importante dessas sociedades O ritmo acelerado de producao e modernas. cConsumo, principalmente nos periodos de expansao das economias desses paises, anda acompanhado de uma comunicacio rapida e generalizada. As mensa-

informacêes

gens

e

é ela

mesma

compativel sociedades. com

com

velocidade

com a dos produtos materials dessas Além do mais, a industria cultural

inversêes

de-obra

circulam

uma de

esfera de atividade econmica,

capital,

especializada,

recrutamento

desenvolvimento

de

de

novas

técnicas, producao de bens e servicos. Da mesma forma, esses meios de comunicacio sêo elementos

ae

ER

NEER

|

mao-

/

69

O gue é Cultura

social,

organizacao

prépria

da

fundamentais

estio sem duivida associados ao exercicio poder e 4 ordenacao da vida coletiva. Por todas

de

cac3o

essas

massa

razOes,

fazem

esses

parte

meios

e

do

de comunli-

paisagem

social

Eles tambêm

difun-

da

moderna. Eles penetram em todas as esferas da vida social, no meio urbano ou rural, na vida profissional, nas atividades religiosas, no lazer, na educacëo, na participacdo politica. Tais meios de comunicac&o nêo sê transmitem informacdes,

nao

mensagens.

s6 apregoam

dem maneiras de se comportar, propem estilos de vida, modos de organizar a vida cotidiana, de arrumar a Casa, de se vestir, maneiras de falar e de escrever, de sonhar, de sofrer, de pensar, de lutar, de amar. So meios de comunicacao poderosos. Na sua producdo ha muita padronizacao de formas e

controle do conteido do aue é transmitido. Parecem dirigir-se a cada individuo particularmente, embora Suas mensagens sejam comuns a todos e procurem gerar necessidades e expectativas massificadas. A lOgica de sua maneira de funcionar

é a homogeneizacao da sociedade, é o amaciamento

dos conflitos sociais. No entanto, a cultura na sociedade contemporanea nao se reduz ao conteido

dos meios de comunicacêo de massa, nem a lêgica do funcionamento riamente

uma

da sociedade.

7

da industria cultural é necessa-

descricdo

da

dimensado

cultural

70

José Luiz dos Santos

A

propria

industria

cultural

ndo

ê imune

as

contradicoes da vida social, a comecar do fato de ague nela mesma os conflitos entre proprietdrios e

|

| | |

empregados sao comuns. Do mesmo modo, o controle sobre as mensagens transmitidas, ainda dgue muito forte, ndo @ë absoluto. Hê também. gue considerar due as populacêes a gue esses meios de comunicacio se dirigem estêo expostas a dificuldades sociais concretas e as tensdes da vida cotidiana. E certo ague os meios de comunicacao tambêm trabalham sobre essas esferas e procuram dar-Ihes explicacêes e solucêes. Mas

por

mais

$do

marcadas

homogêneo

due fosse seu contetido,

nio

Pparece gue sejam capazes de produzir uma massificacdo têo eficaz a ponto de substituir totalmente a percepcao due seus consumidores têm de suas relacbes sociaise de suas vidas. Assim, com todo suposto poder de homogeneiZaCao aue têm os meios de comunicac&o de massa, essas socledades continuam fortemente diferencliadas internamente, e suas histêrias recentes por

conflitos

de

interesses

entre

classes e grupos sociais diversos. Assim, essas sociedades 'industriais têm mudado, apesar do SUposto monolitismo e da suposta eficdcia totalitêria da cultura gue produz para as massas. Mesmo assim, nêo h4 divida de gue essa cultura

voltada para as massas é um elemento importante da discussdo a respeito de cultura na sociedade moderna. Sua presenca produz consegiëncias me

O gue é Cultura

objetivas nas visêes de mundo das vêrias camadas da populacêo, em seus planos de vida, em Seus modos de agir. Mas para entendermos adeguadamente a sua importência é preciso considerarmos

OS melos

de comunicacio

de massa cComo elemen-

tos da vida social, elementos gue néo s&o absolutos, mas due se realizam em contextos sociais mais

amplos.

Se

nio

Tfizermos

isso, corremos

o risco

de nos enganarmos, estudando apenas as mensagens due esses meios de comunicac&o expressam, e acreditando ague a cultura da sociedade COnNtemporanea estê sintetizada naguilo ague esses meios dizem. As mensagens da induistria cultural, com propositos de homogeneizac&o e controle das Populac6es, podem ser um projeto dos interesses dominantes da sociedade, mas n#o s&o a cultura dessa sociedade.

(Cultura nacional Se é entdo para considerarmos cultura em relacao a sociedade como um todo, como uma

dimensdo

medida

da sociedade e de sua histêria, em

podemos

falar

de

cultura

nacional?

ague Jê

vimos gue entre cultura e nacêo hê relacêes antigas;

ambas

sdo

assocladas

areas

de

de

perto

preocupac&o

em

seu

falamos disso exemplificando EE

ee

aue

estiveram

desenvolvimento; com



a Alemanha, a aa

José Luiz dos Santos

72

Russia, cultura

os paises das Américas. Nesse sentido, é um conteudo do aue se entende por

nacao: a maneira como as nacdes modernas so concebidas é indissocidvel de preocupacêes com suas cCaracteristicas culturais.

Mas a relacao entre ambas é mais ampla do gue isso. Gultura e nacao so dimensêes de referência necessarias para se entender o mundo contemporaneo. Observem due mesmo o confronto entre as

classes soclals e Seus interesses tem a cultura e a nacao como marcos e panos de fundo inevitdveis, jê aue ambas Ihe fornecem arenas institucionais, cOdigos de acao, projetos de desenvolvimento. Do mesmo modo nao se pode compreender as tendências constataveis na atualidade de fortalecimento de vinculos internacionais e de formac&o de uma civilizacao mundial, sem levar em Consideracao a ambas. Podemos observar com firmeza

ague o confronto entre as classes so€iais transforma tanto a cultura aguanto a nacdo, mas nao se pode dizer

aue

prescinda

delas,

ague

as

possa

ignorar.

Antes, a transformacêo da sociedade exige sempre due o potencial tanto da cultura guanto da nacê&o seja considerado. Como as nacêes so unidades politicas da

historia

contemporanea

e como

temos

entendido

acgui a cultura como uma dimensio do processo social, podemos tranguilamente pensar em cultura nacional. Ela é assim resultado e aspecto de um processo historico particular: o modo como se da

73

O gue é Cultura

Oo processo histêrico garante gue a cultura nacional

assim descrita nê&o seja uma invenc&o. E uma reali-

dade

historica, resultado de processos seculares de

trabalho e producëo, de lutas sociais, conseguência das formas como a nacao se produziu. A cultura

nacional éê, portanto, mais do aue a lingua, OS costumes, as tradicoes de um povo, os aguais de resto sado também dinêmicos, também sofrem alteracOes constantes. Pode-se, assim, entender a cultura nacional como a cultura comum

dimensao

SOS

dinamica

(nternos

de uma

dessa

sociedade

nacional, uma

e viva, importante nos pDrocessociedade,

importante

para

entender as relacOes internacionals. Mas, entêo, o ague faz parte da cultura comum?

Pode-se argumentar ague se cultura é dimensao do processo social, a pergunta nêo se justifica muito:

todas as manifestacOes dessa dimensêo fazem parte

da cultura comum. No entanto, nao é assim ague as cCoiIsas se passam: ao se falar em cultura brasileira, Dor exemplo, hê uma disputa para saber aguais manifestacoes

dessa

dimensêo

cultural

devem

ser

consideradas como fazendo parte dela. Isso porgue no faz sentido discutir sobre cultura sem explicitar

a visdo due se tem da sociedade e as opiniëes gue

se tem sobre seu futuro.

E hoje em dia comum gue ao se falar em cultura

brasileira

se faca

referência

a certos

comporta-

mentos, os guais sempre dizem respeito a situacdes

envolvendo desigualdade social ou politica. Supos-

7a

José Luiz dos Santos

tamente os brasileiros driblam as regras e exigências dos poderosos dando um jeitinho, e alguém poderia concluir due por serem capazes de burlar as relacoes de poder nêo estio muito preocupados em modificê-las. Essa visio de brasilidade descreve

assim uma realidade estêtica, desigual, mas due tem

mecanismos prêprios de eguilibrio. Hê ainda toda uma tradicêo de falar no espirito conciliatêrio do brasileiro, e isso sugere gue é sempre possivel acomodar os interesses mais dispares e contraditOrios. Notem gue para todas essas definicoes de brasilidade se pode encontrar exemplos. Mas nio hê por ague obscurecer o fato de Oue as praticas conciliatorias nêo dguerem dizer conversas entre pares, mas implicam sim o reconhecimento de uma ordem de poder, de uma hierarguia entre eles.

E uma

aceitac&o de aue tanto as Dosicées nessa

ordem guanto a prépria ordem nio estao, ao menos provisoriamente, sujeitas a transformacao. Esses dois exemplos aue dei podem assim vir acompanhados de uma visëo conservadora da socledade, e sua #nfase pode levar a ignorar as lutas sociais em prol de uma vida melhor para a populacao. No passado foi muito comum atribuir valoree diferentes as contribuicëes dos grupos humanos

due

entdo

constitufram

certa

a populacëo

disputa

sobre

brasileira,

havendo

o grau de importência

de europeus, indigenas e africanos na formacëo da cultura brasileira. No entanto um aspecto foi

O gue é Cultura

1S

comum: a tendência a minimizar a importência das populaces de origem africana, apesar de sua presenca macica na populacëo durante sêculos.

E claro ague isto est ligado a uma maneira de ver

a sociedade enfatizando suas elites. Por razOes diferentes as elites brasileiras deram muito valor

no

Isso

passado se

deu

a heranca

independência

peu,

e esteve

indigena

acompanhando

a

de nossa cultura: consolidac&o

da

de diferenciacëo

em

do pais do dominio

ligado a busca

relacao as sociedades por isso as populacêes guiram garantir a posse Vejam, pois, gue hê

colonial euro-

europëias. Notem gue nem indigenas existentes consede suas terras. problemas para saber agual

O contetudo de uma cultura nacional, para delinear Suas caracteristicas, para definir os aspectos gue a

fazem unica. Essa discussêo implica sempre como se entende os destinos de uma sociedade. As definicoes sobre o gue venha a ser a cultura brasileira Sao, portanto, sempre valorativas, valorizam de modo diferente aspectos da dimensêo cultural: estao sempre ligadas a uma maneira de encarar a sociedade. A discussio sobre cultura nacional tem sido um 'terreno Tfértil para a legitimacio das relacêes de poder na sociedade. Discutir sobre a cultura comum pode da mesma forma ser uma maneira de tentar alterê-la, de mudar seu desen-

volvimento. Seja como for, hê sempre uma selecio ou rejeicêo de elementos de dentro da experiëncia historica acumulada. mmm

ma

j€

José Luiz dos Santos

É enganoso, pois, pensar ague a cultura comum sei um conjunto delimitado de caracteristicas consagradas, pois a delimitagao desses conjuntos

ea $Sua pr6pria consagracêo fazem parte de movimentos contemporëneos. Estio sempre ligados ao confronto de interesses em curso. Da mesma forma é enganoso pensar ague a historia da socledade seja irrelevante para entender a sua cultura. O conhecimento

um

produto

e suas manifestacOes sao

acumulado

histérico da vida de uma sociedade e

de suas relacêes com outras sociedades. E a histêria

de cada sociedade ague pode explicar as particularide

dades

cada

as

cultura,

maneiras

COmoO

Seus

setores, suas concepcêes, formas, produtos, técnicas, instituicdes se relacionam, formando uma teia gue condiciona seu proprio desenvolvimento.

As disputas no interior de uma sociedade a respeito das alternativas para sua existência tanto

se expressam

na dimensdo

cultural como se bene-

ficiam de sua rigueza. E dessas disputas gue fazem parte

os

comum.

modos

diferentes

de entender

a cultura

E aue o legado cultural comum é um bem

do aual tendências diferentes dentro da sociedade procuram se apropriar. Ele é uma das bases da

continuidade e da transformacao de uma sociedade.

Ao

pensarmos

lecer entre ela relacionamento.

sobre

cultura,

e a sociedade Ha aspectos

podemos

estabe-

vêrios planos de importantes, por

exemplo, das relacêes entre a cultura e a sociedade no Brasil ague sdo comuns a outros paises seme-

|

Ti

O gue é Cultura

Ihantes. Assim, podemos notar gue nas sociedades de classe se opera uma dissociacio entre a producdo

material e o conhecimento, aue sêo transformados em esferas de atuacëo separadas dentro da socieessa consolidam 'instituicêes Poderosas dade. Assim, por exemplo, nas universidissociac3o. dades e centros de pesduisa, o conhecimento em

geral, a ciëncia e a tecnologia em particular sdo objeto de trabalho, matéria de producëo. Essas instituicêes sdo controladas pelas classes dominantes da sociedade. Isso é muito importante nessas sociedades e temos em sua cultura.

de considera-lo

ao pensarmos

Ë importante ressaltar gue a ciëncia e a tecno-

logia s&o aspectos da cultura por causa do impacto

direto ague têm nos destinos das sociedades atuals.

O seu controle é um dos aspectos das relacOes de poder contemporêneas. A tendência a pensar na cultura como algo meio separado do processo produtivo leva a ignorar essa aguestêo importante. Notem ague nesse sentido o controle do conheci-

mento é relevante nêo sê para pensarmos as relacoes

entre as classes sociais no interior da sociedade, mas também para pensarmos as proprias relacoes internacionais, posto aue h4 uma concentracao

de desenvolvimento cientifico e tecnol6gico nas nacées mais poderosas. Entre a cultura e & sociedade hê também planos

de relacionamento mais especificos, como vimos ao

desta

longo

ms

parte,

e aue

derivam

da

historia de

78

José Luiz dos Santos

cada sociedade particular. Voltemos a eles. Assim, as maneiras como a ciëncia e a tecnologia existem no pais sio também resultado de outros fatores além dos mencionados acima; de decisoes tomadas no passado, das instituicêes existentes e de sua dinêmica, dos setores em due a capacidade e a necessidade de investigacêo mais se desenvolveram. diferente bem exemplo para dar um Apenas daauele plano de relacionamento: o espiritismo e Oo espiritualismo têm uma presenca bem marcada na

vida

cultural

do

Brasil,

diferentemente

de

outros paises, resultado de um sêculo de existêncila no pais. Nesse periodo, desenvolveram uma rede

|

de instituices religiosas, de ensino, de caridade, editoriais e outras. Competiram com o catolicismo

e as religiëes afro-brasileiras no plano religloso, mas também com os sistemas publicos de educacdo, de atendimento 4 doenca, aos menores abandonados, por exemplo.

Expressaram

uma

mensagem

de

progresso lento e inevitêvel de larga aceitacao pelas camadas sociais aue se formaram no panorama

urbano brasileiro no ultimo sêculo. Desenvolveram

sistemas adeguados de divulgacao de suas idélas e formacijo em suas doutrinas. Para entender o seu Crescimento no pais tudo isso precisa ser levado em Consideracao. Hê outras maneiras de estudar a cultura, é claro, Ooutros recortes a Tfazer, outras @nfases a dar.

Eu mesmo diversidade

iniciei esta parte mostrando due a da vida social poderia sugerir uma

one

ee ee

|

|

79

O gue é Cultura

multiplicidade de manifestacêes da cultura, como por exemplo de grupos, categorias de pessoas. Nunca é demais ressaltar aue nenhum grupo no interior de uma Sociedade tem uma cultura

autênoma

ou

isolada.

E sempre necessdrio fazer-

mos referência aos processos sociais mais amplos ao discutirmos guesties culturais. A discussêo de cultura sempre remete ao proCEsso, 4 experiëncia historica. Nao ha sentido em ver a cultura como um. sistema fechado. Isso nao duer dizer gue ndo possamos estuda-la. Podemos, por exemplo, indagar auais os processos proprios dessa dimensdo cultural, como cada uma de suas areas e manifestacOes se desenvolve, tem Ssua dinamica: guais as instituicoes a ela ligadas mais de perto, as concepcies nela presentes, as mensagens

politicas aue contêm.

Podemos

indagar sobre as

tendências dessa dimensao cultural e discutir as propostas para seu desenvolvimento ou 'transformacao. A cultura em nossa sociedade nao é imune as relacoes de dominacaAo due a caracterizam. Mas é ingénuo pensar due, se a cultura comum é usada para Tfortalecer os (interesses das classes domi-

nantes,

ela deve

interessa @é due gue a opressêo

ser por

isso jogada fora. O ague

a sociedade se democratize, e politica, econêmica e cultural

seja eliminada. A cultura é um aspecto de nossa realidade e sua transformacdo, ao mesmo tempo

a expressa e a modifita.

de

“EP

Ed

CULTURAE RELACOES DE PODER Podemos entender cultura como uma dimensao do processo social e utiliza-la como um instrumento para compreender as sociedades contemporaneas. O ague no podemos fazer é discutir sobre cultura ignorando as relacOes de poder dentro de uma sociedade ou entre sociedades. Notem bem: o estudo da cultura nao se reduz a Isso, mas esta é uma realidade aue sempre se impêe. Assim éë poraue as proprias preocupacêes com cultura nasceram associadas as relacbes de poder. E também poraue, como dimensêo do processo social, a Cultura registra as tendências e conflitos da histêria contemporanea e suas transformaces sociais e

politicas. Alêm disso, a cultura é um produto da historia coletiva por cuja transformac&o e por cujos beneficios as forcas sociais se defrontam.

iia

81

O aue é Cultura

Por tudo isso, a auestio um pouco mais sobre ela.

merece

due

pensemos

Saber e poder O due auer dizer due as preocupacêes com cultura desenvolveram-se associadas as relacêes de poder? Lembrem-se ague elas se consolidaram

junto

com

o

processo

de

formacao

de

nacOes

modernas dominadas por uma classe social; junto alnda com uma marcada expansê&o de mercados das principais potências européias, acompanhando o desenvolvimento (Industrial do sêculo passado. Por outro

lado, consolidaram-se integrando a nova

clência do mundo contemporêneo, due rompia com o dominio da interpretacêo religiosa, transformando a sociedade e a vida em esferas aue podiam ser sistematicamente estudadas para gue se pudesse agir sobre elas. As preocupacOes com cultura surgiram assim associadas tanto ao progresso da sociedade e do conhecimento duanto a novas formas de dominacdo. Notem aue o conhecimento nio é sê o contetido basico das concepcêes da cultura: as préprias preocupacêes com cultura sio instrumentos de conhecimento, respondem a necessi-

dades de conhecimento da sociedade, as guais se desenvolveram claramente associadas com relacêes



Jose Luiz dos Santos

de poder.

Hoje em dia os centros de poder da sociedade se

preocupam com a cultura, procuram defini-la, entendê-la, controld-la, agir sobre seu desenvolvimento. Ha (instituicOes publicas encarregadas disso; da mesma forma, a cultura é uma esfera de atuacdo econbmica, com empresas diretamente voltadas para ela. Assim, as preocupacêes com a cultura Sao institucionalizadas, fazem parte da propria organizacao social. Expressam Seus conflitos e interesses, e nelas os interesses dominantes da sociedade manifestam sua forca.

Ë uma caracterfstica dos movimentos sociais contemporêneos a exigência de due esse setor da

vida social seja expandido e democratizado. Isso ë particularmente importante guando se considera

as

mazelas

COmOo,

por

culturais

exemplo,

de

um

DOVO

COmO

o analfabetismo,

Oo nosso,

o controle

do conhecimento e seus beneficios por uma peaguena elite, a pobreza do servico publico de educacdo e de formacao intelectual das novas geracoes.

Como

vocês podem

ver, as preocupacêes

com a cultura mantêm sua proximidade com relacbes de poder. Continuam associadas com formas

sendo

de

dominacao

'instrumentos

progresso social.

na Sociedade,

de conhecimento

as as

e continuam

ligados ao

O gue é Cultura

83

(ultura e eguivoco Com tudo isso, nêo é surpresa constatar gue o modo de conduzir a discussio sobre cultura possa ser entendido pela associacSo gue tenha com essas relacoes de poder. Nesse sentido podemos constatar como os interesses dominantes da sociedade podem ser beneficiados por tratamentos eguivocados da cultura. Vimos como o relativismo pode servir para encobrir aspectos mais candentes da Organizacêo social e da relac&o entre poVvos e nacoes, pois se encararmos o due ocorre na dimensao cultural como relativo a cada cultura ou a cada pegueno contexto cultural, entëo nio shavera como emitirmos juizos de valor sobre o gue ocorre na historia: também a opressêo, também o sofrimento das populacêes oprimidas serëo vistos Ccomo relativos. Da mesma forma, a cultura pode ser tratada cCOomo

uma

realidade

estanague,

de

caracteristicas

acabadas, capaz de explicar a vida da sociedade e Oo comportameto de seus membros: se a cultura nio mudasse nêo haveria o ague fazer sen&o aceitar como naturais as suas caracteristicas, e estariam

justificadas assim as suas relacêes de poder. Vimos

como

a discussêo

sobre

cultura

pode conduzir a

falsas polarizacêes, como no caso da oposic&o entre erudito e popular, ou a uma idéia de ONIDO-

tência dos interesses dominantes, como

pode ser o

4

José Luiz dos Santos

Caso com a maneira de encarar a industria cultural ou as instituicoes publicas diretamente ligadas a cultura. Também os aspectos da histéria comum

de um povo podem ser selecionados e valorizados,

COmO ocorre em discussêes sobre a cultura nacional, de modo a ressaltar interesses estabelecidos.

Ë

importante

eduivoco

esta

na

insistir

maneira

no

de

entanto tratar

em

due

o

a cultura,e

nem sempre nos temas e preocupacOes due essas maneiras revelam. Assim, podemos reter da comparacdo entre culturas e realidades culturais diversas, a compreensao de due suas caracteristicas nio sêo

absolutas,

néo

respondem

a

exigências

naturais,

mas sim due sêo histêricas e sujeitas a transformacao. Da mesma maneira vimos gue as preocupacoes com a cultura popular podem ser resgatadas

se evitarmos a polarizacêo com o erudito e ressaltarmos as relacêes entre as classes sociais, e

due os melos de comunicacêo de massa e as instituicbes publicas de cultura so elementos importantes da cultura contemporënea. (Ouanto cultura nacional, nao ha por ague deixar ague dela se apropriem as forcas conservadoras da sociedade.

Cultura e mudanca A

cultura, como

social

temos visto, é uma

producëo

coletiva, mas nas sociedades de classe seu controle

O gue é Cultura

85

As preocupacoes com a cultura $4o institucionalizadas e fazem parte da propria organizacio social.

GM

'

TE ET

me

EE

EE

José Luiz dos Santos

86

e beneficios nio pertencem a todos. Isso se deve ao fato de ague as relacêes entre os membros dessas

por desigualdades

pro-

fundas, de tal modo aue a apropriacao dessa producio comum se faz em beneficio dos interesses gue dominam o processo social. E como cConNseguência disso, a propria cultura acaba por marcas de desigualdade. poderosas apresentar O aue nesse aspecto ocorre no interior das sociedades contemporaneas ocorre também na relacao entre as sociedades. Ha af controle, apropriacêo, desigualdades no plano cultural.

É por isso gue as lutas pela universalizac&o dos

beneficios da cultura $io ao mesmo tempo lutas contra as relacdes de dominacao entre as sociedades contemporaneas, e contra as desigualdades basicas das relacOes sociais no interior das socie-

dades. Sao lutas pela transformacëo da cultura. Elas se dao no contexto das muitas sociedades exXistentes, as dguais estdo cada vez mais interligadas pelos processos histêricos gue vivenciamos. Retomamos assim os temas com due iniciamos

este trabalho.

Ê bom

gue seja dessa forma, Dois

podemos conclui-lo afirmando due num sentido mais amplo e também mais fundamental, cultura é olegado comum de toda a humanidade.

mr)

sociedades sêo marcadas

INDICACOES PARA LEITURA Séo jnumeros os textos gue tratam de temas abordados neste trabalho. A relacêo a seguir destina-se agueles aue

estAo-se

iniciando

'nessas

preocupacêes.

ËÉ uma

relacëo

peguena, e procurei indicar trabalhos gue me parecem de facil acesso. Eles incluem maneiras diferentes de tratar os temas da cultura, e vocës poderëio constatar aue nem sempre expressam opiniëes coincidentes com as apresen-

tadas aaguIi. Dentre os inclufdos na Colecê&o Primeiros Passos, destaco

OS seguintes: O gue é cultura popular, de Antênio Augusto Arantes Neto e O gue é ideologia, de Marilena Chaul. Sugiro também:

Antropologia

Estrutural

(I,

de

Claude

Lévi-Strauss,

Editora Tempo Brasileiro. Coletinea de trabalhos do antropologo francés, da aual destaco o texto intitulado “Raca

e Historia”.

Escrito para

a UNESCO

e destinado a

José Luiz dos Santos

um publico geral, discute as diferencas entre as culturas humanas e as maneiras de ordenê-las. Os Brasileiros: 1. Teoria do Brasil, de Darcy Ribeiro, Editora Vozes. Interpretacëo abrangente da formacio do pais, Seu povo e cultura. Situa o Brasil em relacëo aos paises das Améêricas e discute suas estruturas sociais e de poder. Diridido a um publico amplo. As dificuldades aue

Oo texto pode oferecer aos ague se iniciam nessas reflexOes Sao Superaêveis através de uma leitura dedicada.

O Cardter Nacional Brasileiro, de Dante Moreira Leite, Editora Pioneira. Contém uma sessao de discussao teorica das concepcêes de cultura nacional, e outra, de leitura mais acessfvel, onde desenvolve uma andlise sistematica das

concepcBes

sobre

o Brasil e o carêter nacional brasileiro

desde o século XVI, procurando desvendar seus conteudos ideol6gicos. Carnavais, Malandros e Heris, de Roberto da Matta, Zahar Editores. Interpretacëo do Brasil a partir de uma anêlise de sua cultura, onde o estudo dos carnavais ocupa posic&o

de

partindo

relevo,

de

uma

comparacdo

com

as

paradas e as procissêes. Séo também analisados dois herois da cultura a partir de fontes literdrias. Dirigido ao publico universitario. A Cultura do Povo, organizado por Edênio Vale e José Oueiroz,

Cortez

e

Moraes

Editores.

Contém

textos

de

vêrios autores sobre as aguestêes da cultura popular, cultura de classes e suas relacêes. Os textos têm graus variados de complexidade. Maridtegui, organizado por Manoel Bellotto e Anna Maria Correa,

Editora Atica. Coletênea de textos do pensa-

O gue é Cultura

89

dor e poliftico peruano, agrupados em 4 sessêes: ideologia, politica americana, politica internacional, arte e educacao. SSo textos no geral claros e de fêcil leitura. O Negro no Mundo dos Brancos, de Florestan Fernandes, Difus3o Européia do Livro. Analise aprofundada da formacëo da sociedade brasileira, centrando nas relacêes entre as desigualdades raciais e sociais do pals, reunindo escritos de épocas diferentes. A compreensêo do texto pode ser dificultada se o leitor n&o tiver familiaridade com a linguagem sociologica. Para Inglêés Ver, de Peter Fry, Zahar Editores. Coletênea de ensaios abordando temas da cultura brasileira, preocupados com identidade e politica, e focalizados em aspectos da influência africana no Brasil. Os textos têm linguagem especifico vocabulêrio acessivel, ainda ague contendo

oi

al

mas ER ma

ELE

EA

al

me”

er”

ao meio acadêmico.

Sobre o autor

Nasciem Santos, SP, em 1949. Fizmeus estudosd e Ciëncias Sociaise Antropologia nas universida des de Sao Paulo, Estadual de Campinase de Londre s. Sou hê vêrios anos professor de antropologia na Unicamp, tendo passado alguns periodos NO Museu Paraense Emilio Goeldi e no Museu do INdi o. EE

Caro leitor:

ee

NN

As Opini6es expressas neste livro s&o as do Ou to r, PodEM NA

o ser As suaSs. COSO VOCË ache aguevalea PENO EsCrever UM OUIro IIVro sobre o mes mo tema,

NOS estamos

dispostos a estudar sua efflellfefefefele

Com o mesmo Ttulo Como “segunda vis&o”

A Moderna Tradicao Brasileira - Cultura

brasileira e indistria cultural

Renato Ortiz, 224 pp., I4 x 21 om.

Afirma-se normalmente gue `o Brasil mudou” nos ultimos anos. Mas em gue senti-

do? E a partizr desta pergunta gue Hienato Ortiz retoma a problemdatica da cultura brasileira, para a gual as idéias de modernizacao e de modernidade jd nao mais se apresentam como um projek — como nos anos 40, 50e 60 — Mas como uma realidade gue se impée Como tradicao.

O Carnaval das Imagens Michélle e Armand Mattelart

Como um pais de Terceiro Mundo como o Brasil consegue uma produc&o internacionalizada capaz de competir com sêries norteamericanas? Ao tratar da nossa ficcao televisiva, este livro lanca um olhar de “estrangeiTO” sobre a sociedade brasileira. Primeiro mostrando como o produto televisivo se insere no mercado internacional e depois levantando o dilema sobre o monopoélio da televisêo — Estado ou mercado?

Aspectos da cultura popular no Brasil Marilena Chaui - 14 x 21 cm - 184 pp.

Neste livro, Marilena Chaui demonstra co-

ERG

-d

CONFORMISMO E BESISTÊNCIA..

|

ONFDRMISMO

mo se manifesta a cultura popular no Brasil:

BY EG

te, ela se caracleriza por um misto de conformismo € resistência.

welshare pedv wrd EE

aceitando ou recusando a cultura dominan-

Fi

y

N

RESISTENCIA

ANTROPOLOGIA DA COMUNICACAO VISUAL Massimo

Canevacci

massimo canevacci

antropologia da

Neste livro — um estudo das sociedades avancadas — Massimo Canevacci privilegia o gue considera seu centro propulsor: a cCoOmunicacêo visual, to presente e impactante na nossa vida. Do mesmo autor: Dialética do Individuo, Dialética da Familia e Antropologia do Cinema.

COMUNICACIAGD

O Texto na TV - Manual de telejornalismo Vera Iris Paternostro, 104 pp., 14 x 21 cm.

Otelejornalismo é um processo dgile dinêmico gue evolui to rapidamente guanto a prdpria televisio. Uma linguagem gue Vera Iris Paternostro revela neste manual de redacêo telejornalistica. Um manual gue introduz o leitoz & histézia da televisio no Brasil e no mundo, e gue apresenta um vocabuldrio completo com o jazg&o especitico dos protisSlonais da drea.

TELENOVELA: Histéria e Producdo

De Renato Ortiz, Silvia Helena Simaêes Borellie José Mêrio Ortiz Ramos 212 paêginas

O livro vem guebrar otabu de aue ofenêmeRo da telenovela brasileira nunca foi tratado com a seriedade devida. Fruto de uma pesguisa feita pela PUC de Sao Paulo e coordenada por Renato Ortiz, os autores analisam as raizes da telenovela, para depois estuda-

la enguanto um bem de consumo da indus-

tria cultural. Desde j4 uma referência obri-

gatéria para os estudiosos do tema.

HISTORIA

E FRODUCAO

pe

ARTT AT TA TOT ET

TT PT

TOET Pa

ar

-

Familia: Dinéimica e Terapia (Uma abordagem psicanalitica)

Luiz Meyer, 184 pp., 14 x 21 cm

gf.

Seguindo as pistas de Melanie Klein, o psicanalista Luiz Meyer investiga impoztantes aspectos do intercémbio familiar, levantando temas decisivos para a compreensio do gue vem a ser familia. Um trabalho baseado em uma pratica de terapia familia de orientacao psicanalitica.

VAR

Ts Ark

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NAAM

DIN

MA

ML]

JA

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Evas, Marias, Liliths... As voltas do feminino Vera Paiva

O

ague

é

tornaram gue hoje respostas entao uma

ser

mulher?

As

mulheres

ague

se

adultas apés a “revolucao feminina””, estao na faixa dos 30, nêo encontram deiinitivas para esta guestêo. Surge fugaz nostalgia pelo tempo das avdés,

onde os padrêes eram claros e precisos. Apoiada na psicologia analitica e em suas fontes

essenciais como a mitologia, a arte e a religiao, a

autora analisa o relato de diversas mulheres, destacando temas mais -citados, como amor, sexo, Hilhos, trabalho...

il,

A FUNCAO DO ORGASMO - Problemas econêmico sexuais da energia biolégica Wilhelm Reich/lraducao de Maria da Gléria Novak 328 pp. -l4dx 21 cm

Nesta sua obra maior, o austriaco Wilhelm Reich, um dos génios da psicologia, faz uma biogralia sintética de 20 anos de desenvolvimento do seu pensamento cientifico e filosdfico. Expoe o seu `'principio do prazer"”, se-

gundo o gual o orgasmo é uma necessidade

biolégica

mixima.

Um

livro fundamental

para a compreensio e o estudo da moderna psicologia. ]

1980/92 e guase 260 titulos mais de 6 milhêes de exemplares vendidos Antropologla/Religiëo

Benzecdo 142 Budismo 113 Candomblé 200

Capoeira 096

Comunidade Eclesial de Base 019 Espiritismo 055

Espiritismo 2* Visao 146

Etnocentrismo 124 Folclore 060 Futebol 237

lgreja 032

Islamismo 041

Lingua 239

Mito 151 Musica Brasileira 238 Pastoral 069 Pentecostalismo 188

Religiao 031 Supersticao 234

Tabu 223

Teologia da Libertacao 160 Umbanda 097

Politica

Agraria, a guestao 018 Alienacao

141

Anarguismo 005 Autonomia Operêria 140 Capital 064 Gapital Internacional 071 Capitalismo 004

Cidadania 250 Comiss6es de Fabrica 047 Comunismo 002 Gonstituinte 143

Cooperativismo 189

Democracia 219 Deputado 178 Desobediëncia Civil 090 Dialéêtica 023 Direitos da Pessoa 049 Ditaduras 022 Eleicoes 225 Estrutura Sindical 194

Geopolitica 183

Greve 202 Guerra 236

ldeologia 013 Imperialismo 035

Liberdade 006 Mais-Valia 065 Marxismo 148

Materialismo Dialêtico 206 Nacionalidade 120 Nazismo 180

Palestina, a duestêo 076

Parlamentarismo 087

Participacêo Politica 104

Poder 024 Politica 054 Politica Cultural 107 Politica Nuclear 083 Politica Social 168 Positivismo 072

Propaganda Ideologica 077 Reforma Agraria 033 Revolucêo 025

Sindicalismo 003 Socialismo 001 Stalinismo 034 Trotskismo 040

Sociologia

Alcoolismo 205 Cidade 203

Suicidio 127 Tortura 121 Toxicomania Trabalho 171 Transito 162

Transporte Urbano 201

Violência 085 Violência Urbana 042 Direito Constituinte 143

Diplomacia 221 Direito 062 Direito Autoral 187 Direito Internacional 058 Direitos da Pessoa 049 Direitos Humanos 229

rlabeas-Corpus 153

Justica 105 Nacionalidade 120 Poder Legislativo 056

Economia/Administracao

Comunidade Eclesial de Base 019 Crime 207

Bolsa de Valores 213 Burocracia 021 Economia 227

Cultura Popular 036 Familia 050 Feminismo 044 Fome 102 Homossexualidade 081 lgreja 032

Empresa 181 Estatistica 195 FMI 245 Funciondrio Publico 214 Inflacao 198 Mais-Valia 065 Marketing 127 Mercado Comum Europeu 256 Multinacionais 026 Ouestao Agraria 018 Recessêo 030 Recursos Humanos 066 Reforma Agraria 033 Subdesenvolvimento 014 Taylorismo 112 Trabalho 171

Cultura 110

Lazer 172

Literatura Popular 098

Loucura 073 Menor 152

Moradia, a guestêo da 092

Morte 150 Musica Brasileira 238

Musica Sertaneja 186

Negritude 209

Nordeste Brasileiro 119

Participacao 095

Pessoas Deficientes 089 Politica Social 168

Pornogratia 128 Psicologia Social 039

Punk 076 Racismo 007

Seguranca do Trabalho 242 Servico Social 111 Sociologia 057

Sociologia do Esporte 235

Empregos e Salérios 028

Educacéo

Adolescência 159

Bringuedo 138 Crianca 204 Educacêo 020 Educacêo Fisica 079

Escolha Profissional 212 Filatelia 132 Leitura 074 Literatura Infantil 163

Menor 152 Metodo Paulo Freire 038

Pedagogia 193

Universidade 091

Filosofia Dialêtica 023

Etica 177 Existencialismo 061 Filosofia 037 ldeologia 013 Imoralidade 249 Logica 215 Materialismo Dialético 206 Moral 244 Morte 150 Natureza 243 Poder 024 Realidade 115 Teoria 059 Utopia 012 Zen 254

Histéria/Geografia

Documentac&o 174

Geografia 048

Histéria 017 Historia das Mentalidades 253 Materialismo Dialético 206 Museu 182 Numismatica 147 Pantanal 233 Patrimênio Histérico 051

Psicologia

Aborto 126 Adolescéncia 159 Aids 197 Alcoolismo 205 Amor 088

Corpo 170 Corpollatria) 155 Crianca 204 Erotismo 136

Escolha Profissional 212 Loucura 074 Morte 150 Neurose 241

Parapsicologia 122 Pênis 220 Prevencêo de Drogas 252 Psicandlise - 12 visdo 086 Psicandlise - 23 visdo 133

Psicodrama 228

Psicologia 222 Psicologia Comunitaria 161

Psicologia Social 039 Psicoterapia 224 Psicoterapia de Familia 240 Psiguiatria Alternativa 052 Tabu 223 Toxicomania 149 Violência 085 Viver Alternativo/Medicina Acupuntura 145 Alguimia 248 Astrologia 106 Aventura 196 Baralho 257 Contracepcao 173 Ecologia 116 Esperanto 185 Hipnotismo 175 Homeopatia 134 Magia 078 Medicina Alternativa 084 Medicina Popular 125 Medicina Preventiva 118 Natureza 243 Parapsicologia 122 Psiduiatria Alternativa 052 Remédio 199 SUupersticdo 234

Artes/Comunicacêes Aca0 Cultural 216

Arguitetura 016 Arte 046 Ator 190 Beleza 167 Biblioteca 094 Cinema 009 Comunicacêes 067 Comunicacêo Poëtica 191 Comunicacêo Rural 101 Contracultura 100 Cultura 110

Cultura Popular 036

Design 211 Documentacêo 174 Editora 176 Esperanto 185

Fotografia 082 Gesto Musical 255 Histéria em Ouadrinhos 144 Industria Cultural 008 Jazz 093

Jornalismo 015

Jornalismo Operdrio 208 Museu 182

Musica 080 Musica Brasileira 238

Musica Sertaneja 186

Politica Cultural 107 POS-Moderno 165 Retorica 232 Rock 068 Teatro 010 Teatro Nê 114 Urbanismo 246 Video 137 Literatura

Gomunicacao Poëtica 191

Conto 135 Direito Autoral. 187 Editlora 176 Escrita Feminina 251 Ficcao 156 Ficcao Cientifica 169 Leitura 074 ngua 239 Lingiistica 184 Literatura 053 Literatura Infantil 163 Literatura Popular 098 Neologismo 117 Poesia 063

Português-Brasileiro 164 Romance Policial 109 Semiotica 103 Traducao 166 Vampiro 179 Ciëncias

Exatas/Biolégicas

Astronomia 045 Cibernética 129 Ciëncia 220

Cometa Halley 157 Computador 247 Darwinismo 192

Energia Nuclear 011 Estatistica 195

Fisica 131 Informatica 158 Informatica 2% Visio 210

Inteligência Artificial 230 Logica 215

Matematica 231 Natureza 243 Pantanal 233 Ouimica 226 Radioatividade 217

Zoologia 154

1980/1992 — chegando aos 260 titulos mais de 6 milhêes de exemplares vendidos

A historia do homem é marcada pela coexistência de multiplas culturas. Essa variedade ê muito importante, pois observando as praticas e tradicoes de outros povos somos levados a refletir sobre a coletividade a aual pertencemos. Afinal, sera due S&O gratuitas as diferentes formas de organizar a vida social, de conceber e expressar a realidade?

Areas de interesse:

Antropologia, Artes, Filosofia, Historia, Sociologia,

brasiliense

Politica

ISBN: 85-11-011 10-2