O Mundo da Paz [2 ed.]

Rara digitalização da segunda (e última) edição de "O Mundo da Paz", de Jorge Amado, de 1952.

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O Mundo da Paz [2 ed.]

Table of contents :
Capa......Page 1
Orelha da Capa......Page 2
O Mundo da Paz: União Soviética e Democracias Populares......Page 5
Dedicatória......Page 7
Nota......Page 9
VISÃO DA U.R.S.S.......Page 11
Vamos Sonhar Sem Dormir......Page 13
A Fraternal Família dos Trabalhadores......Page 34
Impor a Paz, Palavra de Ordem dos Povos......Page 40
Primeira Visão de Moscou......Page 65
Todo Um Povo Discute Problemas de Cultura......Page 70
Preços que Baixam......Page 83
A Amizade dos Povos Soviéticos......Page 88
Paraíso das Crianças......Page 101
Visita ao Túmulo de Lênin......Page 113
A Mulher Libertada......Page 115
Solidariedade Internacional......Page 121
Um Homem Soviético......Page 133
Energia Atômica - Vida ou Morte para o Homem?......Page 139
Biblioteca Lênin......Page 148
Os 900 Dias de Leningrado......Page 154
Diálogo na Universidade da Geórgia......Page 160
"O Escritor É Tão Responsável Quanto Um Estadista"......Page 165
Democratização da Cultura......Page 180
Flores para José Diaz......Page 187
As Casas da Arte Popular......Page 189
Os Novos Heróis do País da Cultura......Page 193
Ano-Bom em Moscou......Page 199
Visita a Residências de Operários......Page 204
As Casas Próprias......Page 207
Conversa com Padres......Page 209
Recuperação dos Criminosos......Page 212
Liberdade de Crítica - Os Jornais Soviéticos......Page 218
Kiew Rediviva......Page 224
Stálin, Mestre Guia e Pai......Page 229
Canto À União Soviética......Page 235
AS DEMOCRACIAS POPULARES EM MARCHA PARA O SOCIALISMO......Page 241
Não Há Cortina de Ferro, Mas Há Uma Cortina de Dólares......Page 243
O Pastor nas Montanhas......Page 251
O Sanatório no Castelo......Page 253
História de Madame, a Baronesa, Hoje Lavadeira, em Paris......Page 257
História de Um Castelo na Tchecoslováquia......Page 260
O Entusiasmo Entre as Ruínas......Page 262
Vitrines em Praga......Page 265
Casas de Estudantes em Budapest......Page 269
Extensão da Cultura......Page 272
Dimitrovgrad, a Cidade da Juventude......Page 273
Visão do Passado......Page 275
As 30 Famílias Ciganas......Page 279
"Noroc Bun", Pop Ludovico!......Page 283
Gottwaldov, Antes Zlin......Page 288
Sófia Coberta de Crepe......Page 292
Escritores Operários Discutem......Page 295
Sobre Crianças e Jovens......Page 300
A Alucinante Orquestra......Page 302
A Fábrica W. M. em Budapest......Page 307
Universidade Húngara em Cluj, na Transilvânia......Page 311
Vassili Roiter, Chamava-se Carmen Sílvia......Page 315
Otimismo......Page 316
Poema do Brasil para Varsóvia......Page 318
Paisagem......Page 321
"Desejamos e Necessitamos a Paz"......Page 331
O Trem de Ferro......Page 340
Os Homens Dominam as Máquinas......Page 344
Literatura, Cantos, Teatro e Outras Armas do Povo......Page 351
As Crianças Dormindo......Page 357
Os 4 Heróis......Page 362
O Amor pela URSS, Sentimento Criador......Page 365
O "Comandante"......Page 367
"Falem Nderit"......Page 372
Prefácio a Três Problemas......Page 375
A Nova Cultura......Page 377
O Problema Religioso Ou o Vaticano Põe Cristo a Serviço de Truman......Page 385
Os Traidores Desmascarados......Page 395
Ganhemos a Batalha da Paz......Page 401
ÍNDICE......Page 403
Índice......Page 405
Contra-capa......Page 410
Orelha da Contra-capa......Page 409

Citation preview

JORGE AMADO ·

OAlundo daPaz 1

Vitôria

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,Jo,·gc Amado nos conta nas J•Ílgipas i111p,.rgnntlas de poesia e ele confiança de "O ~ll:c\DO DA PAZ" ns suas admiráveis cxpol'iências vivid,ts naquele muudo de espen,n,as realizadas, naquele mundo de ]'rima vera e de Pnz. Acompanhando o autor ua su:1 empolgante viagem J•dos II o vos caminhos da l ;!Til I L'l"ClllOS uma visão da U.R.S.S., Olllle podemos sonhar sem dormir. Ali Yi rn a . fraternal famHia. dos trabaJtiadores o cresce um homem novo e melhor. Comp1·conde 1emos porque todo um povo , Itya Ehrenburg, .Alexandre Korneichuk, Fedor Keliin e N'icotai Gabinskí

A os meus amigos das democracias populares, nas pess.oas de Ludmfr Ci1>rny, Jan Drda, Jaroslav K1whvàlek, Jerzy Borejsza, Zacarias Stanci, e l on Vitner.

NOTA Passei o inverno de 1948-1949 na União Soviética, a convite da União de Escritores Soviéticos; visitei, nos iiZtimo3 dois atios, vários países de democracia-popular: a TchecosZováqiiia, a, Polônia, a Hungria, a Riimania, a Bitlgária. Junto neste livro algumas observações feitas por mim no dec1trso dessas 1>iagens. Não se trata nem de iim livro de ensaios, nem de ivm estudo poU.tico, tão pouco de 1im volume de reportagens. São simples notas de 'l>iagem, despretenciosas. Escre1>i estas págvnas pensando no tneti povo bmsileiro, sôbre o qiwl uma imprensa reacionária e ,oondiàa ao imperialismo ianque vomita, qiiotidianamente, infamias e calúnias sôbre a URSS e as democracias populares. O povo brasileiro não deseja a gtiet'?·a l lttta contra os que a querem provocar. Escrevendo éste l:ivro, anotações sôbre a vida dos povos so1>iéticos e dos povos das de• mocracias populares - pretendi colaborar para o restabeleci.mente da verdade e para mostrar co1no o trabalho constrittivo da URSS e das democracias populares interessa ao mundo inteiro, é fator essencial na defesa da 'l!ai. Sentir-me-ei alegre se éste meu livro fôr iitil à luta do povc brasileiro contra o imperialismo ianqite, pela stm libertação nacional e pela paz. Oomo uma contribuição à luta pela paz eu o escre1>I e como homenagem de wm escritor brasileiro ao camarada Stalin, no seu 70.P aniversário, sábio dirigente dos p01>0s do mwndo na luta pela felicidade do homem sôbre a tei•ra. J. A.

No Castelo da Unia.o dos Escritores '.l'checoslovacos, Dobris, dezembro de 1949 - janeiro de 1950.

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VISAO DA U. R. S. S. «A cada dia se levanta mais e mais o nosso povo. Não somos hoje os mesmos de óntem, e amanha não seremos os mesmos de hoje. Não somos já 03 russos de antes de 1917, a nossa Rússia já não é a mesma, não é o mesmo o nosso caráter . Modifi• cama-nos e crescemos paralelamente com as gran• di osas transformações que modificaram ràdical• tnente o aspecto do nosso país:1>.

ZHDANOV «Nesta noite escura de turvos assassinos, invoco teti n ome de mariposa e águia, de flo1 [ e tempestade, e quando digo URSS, 01tço o eco dos povo3 [repetitido teu nome traduzido: PAZ significa>.

(De um poema)



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prc gar. upell

A ESTR~LA VERMELHA SõBRE BERLIM

VAMOS SONHAR SEM DORMIR

Na porta do pequeno hotel boêmio de Paris, em frente à Sorbonne, abraçamo-nos, entre risos, o romancista argentino Alfredo Varela e eu. Êle partia para o aeródromo de Le Bourget onde devia tomar o avião para Praga, eu seguia paira o aeródromo de Orly - o destino do meu avião era Moscou. Riamo-nos porque há cinco dias Varela saía todas as manhãs do hotel, num táxi, para o aeroporto e retornava ao .meio dia. A névoa, como um lençol pesado e húmido sôbre a cidade, impedia a partida dos aviões. - Até Moscou ... - diss~-lhe eu, pois êle devia reencontrar-me na URSS, dentro de um mês, após sua visita a Praga e a Sofia. - Até aquí mesmo, ao meio-dia ... - respondeu rindo entre a densa névoa vermelha que nos circundava. Eu ria e pilheriava mas, em verdade, devo confessar que a emoção da viagem me embargava, sentia-me nervoso e impaciente: o destino da minha viagem· era a URSS, sonho acalentado durante anos e anos, desejo :;:empre renovado no andar dos tempos. Bastante tenho viajado e o hábito endurece a pele e torna o coração pouco accessível às emoções. Mas não é todo o dia que se parte para Moscou e eu quase odiava o «brouillard» baixo sôbre a cidade, ameaça à decolage dos aviões. Enquento esperávamos -- 13 -

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aeródromo de Orly, ao lado do grande aparelho soviéti-

co, que o tempo melhorasse, toda a alegria dessa viagem me possuia e eu pesava o que a União Soviética significa, nos dias de hoje, para todos os homens que amam o progresso, a cultura e a humanidade. Há quase vinte anos. pela primeira vez, voltei meus olhos para o novo mundo que se constrói ao leste e desde então não deixei de fitá-lo com esperança e com amor. Eu era naquela época um jovem de 18 anos que iniciava sua vida de escritor. O inconformismo que marcava a geração surgida com a revolução de 30, fazia-me buscar o farol pelo qual me orientar. Um contacto inicial com moços da Juventude Comunista me fez perceber o longínquo brilho da es. trél,a vermelha sôbre o Kremlin. Por uma estrada, nem sempre fácil e cômoda, mas sempre segura e justa, marchei desde então, no rumo traçado por essa luz solar, criadora de vida, educadora de homens. Pensando na imensa ação moral da URSS sôbre o nosso tempo, em sua tão altamente fecunda influénci•a sôbre os homens de todo o mundo, viajei de Paris a Berlim nessa tarde de neblina. O avião soviético era cômodo e de absoluta estabilidade. Os pas&ageiros riam, conversavam, comiam. Amáveis, deram-nos comida e bebida. A névoa nos cercava e só quando já descíamos sôbre o aeródromo militar de Berlim, enxerguei a grande estréia vermelha sôbre suas tôrres. Sôbre as tôrres de Berlim, de onde nos dias de ontem haviam partido as hordas nazistas pa:ra destruir o mundo socialista. Foi para mim insopitada emoção. Era a certeza da fôrça invencível do mundo que Lênin e Stálin haviam criado, do mundo pelo qual lute.mos em nossa pátria. Era a afirmação de que nenhuma força pode destruir o futuro do homem, de que o passado - os restos de um pôdre mundo capitalista jamais poderá vencer o presente soviético. Alí, plantada sôbre a ,orgulhosai cidade onde o capitalismo construira seu bastião mais feroz, erguia-se a estréia dos trabalhadores, a estrêla da paz e da esperanç&. do hom ~m, a estrêla do comunismo. Assim vi nessa tarde d~ dezembro, fria de in-

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verno, coberta de neblina, a cidade de Berlim libertada pelo Exército Vermelho, três anos antes, da escravidão nazista.No avião pensara na URSS, na sua importância para todos nós, milhões e milhões espalhados pelo mundo, militantes do progresso e da felicidade do homem sôbre a terra. Pensara em quanto são vastos os seus limites, não apenas os geográficos, que vão das regiões polares ao centro da Europa, das montanhas do Cáucaso ao mais profundo da Ãsia, mas aqueles que passam pelo coração de cada homem decente, em qualquer país do mundo, por mais distante que êle se encontre das muralhas do Kremlin.

Recordei certa noite, em Paris, pouco depois da minha chegada do Brasil. Entramos, eu e um amigo também comunista, num «bistrot» do «Quartier Latim>. Na mesa em que nos sentamos conversavam duas jovens. Uma delas tinha o ar triste e preocupado, a outra procurava animá-la. Entabulamos conversação e pouco depois falávamos sôbre as eleições italianas, assunto que apaixonava Paris, em março de 1948. O meu amigo era jornalista e sondava as jovens. Desejava sua opinião sôbre o possivel vencedor do páreo eleitoral italiano: a Frente Popular ou os democratas-cristãos? Uma das moças, loira e decidida, falou: Não sei se a Frente vencerá, mas espero que vença ... A outra, antes tão triste, confirmou: - Eu também . . . A conversa se estendeu, em breve sabíamos que éramos os quatro comunistas, e a moça loira disse a sua amiga triste: - Tu vês ? Não há por que temer. . . Nós somos milhões e milhões sôbre tôda a face da terra. . . Milhões e milhões, muito mais do que pensamos .. . E nos explicou que ela era norueguesa, jornalista, militante do Partido Comunista da Noruega, mas sua amiga era norte-americana, chegada recentemente dos -

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Estados Unidos e desesperada com o ambiente de neurose de guerra que o govêrno de Truman cria em seus país. Faltava-lhe confiança, vivia num estado de super-excitação nervosa. Mas agora, ante aqueles homens de terras tão distantes, comunistas êles também, nas vés~ peras das eleições italianas, ela reencontrava a coragem e a confiança. «Milhões e milhões sôbre a face da terr&.». Muitas vêzes tenho pensado nessa frase, principalmente quando leio a imprensa burguesa, cheia de provocações de guerra. Milhões e milhões de simples homens que guardamos, nós também, a integridade da URSS, milhões e milhões prontos a impedir que a ataquem, prontos a lutar com unhas e dentes contra os que ousarem, mais uma vez, violar sua vida de trabalho e construção. A invencibilidade da União Soviética reside no seu sistema de govêrno, na sua economia socialista que transformou a vida e o homem, no apôio incondicional dos seus filhos, dos cidadãos soviéticos, guardas ciosos da nova sociedade, no patriotismo de novo tipo que alí nasceu, na força dos seus soldados, aviadores, marinheiros, mas também na solidariedade munc!ial dos povos - daqueles que, nos países das democracias populares, marcham para o socialismo e daqueles que, nos países capitalistas, lutam contra govêrnos reacionários - no ardente amor dos trabalhadores de todo o universo. Não há sentimento mais nobre nos dias de hoje, no coração de qualquer homem, que o amor pela União Soviética. O amor pela União Soviética é como que o resumo grandioso de tudo o que o homem pode amar sôbre 'a terra, o resumo de todos os grandes sentimentos, dos mais nobres e mais puros. Se alguém uma sua mulher e seus filhos, seu pai e sua mãi, se possui em seu coração o amor à família, o desejo de ver suas crianças crescerem felizes, então tem de amar a URSS, onde a vida das crianças decorre como num paraíso, onde não há velhice desabrigada e infeliz, onde as relações de familia se despiram de qualquer resquício de mesqui, -16 -

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nhez, onde o amor dos parentes pôde ganhar sua integral beleza. Tem de amar a URSS que libertou os pais das quotidianas preocupações sôbre o futuro dos filhos, sôbre como cobrir os gastos de sua educação, da sua alimentação, que tornou mais fortes e profundos os laços que formam a família. E que dizer do patriotismo? Não sei como se possa conceber nos dias de hoje um verdadeiro patriota que não ame ao mesmo tempo, com entranhado amor, a União Soviética. Sei bem que existem homens que condenam êsse amor à União Soviética como se êle representasse uma traição à pátria. Eu mesmo me vi assim acusado na imprensa brasileira e creio que êsse foi um dos pretextos usados para expulsar da Câmara dos Deputados a mim e aos demais camaradas que representavam, no parlamento, os trabalhadores do Brasil. Dizem que nós substituimos o e.mor à pátria pelo amor à União Soviêtica, que a miramos como nossa verdadeira, pátria. Arrotam uma soberba indignação, parecem ofendidos nos seus mais elevados sentimentos patrióticos. Mas, quem são êsses homens, que atitude têm êles perante os grandes problemas de nossa pátria, como se revela o seu tão alardeado e pundonoroso patriotismo? Por que odeiam êles a URSS, por que temem e caluniam os homens que a amam, por que insultam e perseguem os comunistas? Nós sabemos quem são êsses homens. São os que, em nossa pátria - e essa realidade se repete em todos os países capitalistas - possuem os meios de produção, possuem as grandes extensões de terra, dominam o govêrno, dirigem os negócios públicos. Para julgar da qualidade do seu patriotismo, ba~ta lançar um olhar sôbre o Brasil, sôbre a nossa dramática realidade. Êsses pudicos «pat riotas» que condenam nosso 8mor à União Soviética, são os mesmíssimos homens que não se pejam de afirmar públicamente a necessidade de limitar a nossa soberania nacional para melhor facilitar a dominação do imperialismo americano, são os ladrões que -17 -

vendem descaradamente nossa pátria nos balcões de Wall Street, os que entregam nossas riquezas, patrimônio de todo o nosso povo, às potências estrangeiras, os que desejam dar nosso petróleo à Standard Oil e nossas bases aéreas e navais às tropas norte-americanas, os que humilham nosso· Exército ao querer impôr-lhe o comando de generais ianques, os que mantêm nosso povo na miséria e no analfabetismo, os responsáveis pelo nosso atraso como nação, pelas desgraçadas condições de vida do nosso povo, pela mortalidade infantil espantosa, pelo alarmante índice de tuberculose, pelo impaludismo e pela lepra, que comem o nosso interior, são os homens do poder executivo, do parlamento, de uma justiça de classe, são os senhores de terra e os tubarões do lucro extraordinário. A êsses senhores para quem pátria se confunde com o seu estômago, em cujo extranho dicioná• rio «patriotismo» é sinônimo de «negociata» e de egoísmo, a êles, realmente, deve ser incômodo e mesmo aterrorizador que existam no Brasil centenas de milhares de homens para quem patriotismo significa outra coisa, mi• lhares e milhares de homens que sabem ser hoje a União Soviética a maior e melhor garantia da independência e do progresso de todos os povos e de todas as pátrias. A grande Revolução de Outubro modificou a fisionomia do mundo. Não apenas num sentido geográfico e político, mas também num sentido moral. Após a tomada do poder pela classe operária numa sexta parte do globo, após o lançamento dos alicerces de uma sociadade nova, socialista, muitas palavras, assim como diversos sentimentos, adquiriram uma outra significação mais profunda. Ã luz dos fuzis revolucionários, deflagrados nas ma• drugadas de 1917, em São Petersburgo, os povos pude• l'am ver, sob uma cla;ridade antes desconhecida, uma série enorme de coisas. Pode-se afirmar que jamais, no correr dos tempos, nenhum fato histórico educou, tão ràpidemente, tamanhas massas humanas, como a grande Revolução de 1917 e a construção do socialismo nas -18 -

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terras soviéticas. Também o termo «patriotismo» adquiriu uma nova e maís alta significação. Não se trata mais, apenas, de amar a terra natal, o berço onde nascemos e onde crescemos, trabalhamos, amamos e sofremos, de defendê-Ia se ela é atacada. Trata-se disso e de muito mais : patriotismo é o amor pela terra natal, livre de toda a exploração, da exploração estrangeira e da exploração do homem pelo homem, é o amor pela terra natal onde a vida se faz cada dia mais bela e melhor, onde o homem pode construir, não apenas sua família (e com que sacrifícios nos países capitalistas!), mas onde sabe garantida a felicidade de sua família, é o amor pela terra natal à qual já não estamos somente ligados pelo fato de nela havermos nascido, mas por mil outros laços, por ser nosso tudo que ela possui e produz. A União Soviética ensinou os povos do mundo a amar suas pátrias, de uma forma mais nobre, alta e consciente. Por isso mesmo possibilitou o crescimento dos movimentos libertadores em todas as partes do mundo. Sem falar sequer em que foi a URSS, com os seus gloriosos soldados, que novamente deu a independencia, aos países do leste europeu: à Polônia, à Tchecoslováquia, à Bulgária, à Rumâni,a, à Albânia, à Hungria, à Iugoslávia (com cuja independencia negocia hoje, novamente, um traidor), sem falar sequer que devemos ao seu invencível Exército a liquidação do nazismo, ameaça real contra a independência de todos os países, inclusive do nosso, basta lembrer, para amar a URSS, a influência dos ensinamentos da Revolução de Outubro, evidenteme::1.te de porte infinitamente mais amplo que os da Revoluc:ão Francesa:, no seu tempo. Houve um tempo, quando a burguesia ainda era uma classe em ascenção, em que os homens mais progressistas de nosso país, os que, como Tiradentes ou Castro Alves, amavam a liberdade, o progresso e a pátria, falav,am da França coro um carinho semelhante àquele com que hoje falamos da União Soviética, q11e falavam ela França como da sua se~nda pátria. -19 -

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Também os homens da côrte portuguêsa condenaram e executaram Tiradentes, também os lacaios de Pedro II, os senhores de escravos, acusaram de inimigos da pátria aos que saudavam na França revolucionária os generosos sentimentos novos, a marcha inevitável da história da humanidade no sentido do progresso. Também, naquele tempo, os avós dos Dutras de hoje perseguiam como «inimigos da pátria» os que estendiam os ouvidos aos ensinamentos da revolução francesa. Mao-Tsé-Tung, o chefe do povo chinês, em sua luta libertadora, escreveu num artigo recente que, realmente, a União Soviética havia auxiliado a vitoriosa revolução chinesa. Mas, acrescentava êle, não a auxiliou nem com armas, nem corri soldados. Deu-lhe, em verdade, um auxílio muito maior ao dar ao povo chinês, com a Revolução de Outubro e a construção do socialismo, o conhecimento da doutrina de Marx e Enrrels, de Lênin e de Stálin, ao armar o imenso povo chinês, até então impotente em sua escravidão, do conhecimento da teoria revolucionária do proletariado e da expel'iência das realizações da classe operária no poder. Como imo.ginar um chinês, seja êle um operário de Pekim, um estudante de Cha.ngai ou um camponês de um povoado perdido, hoje livre da exploração de uma casta feudal que entravava a marcha do país, livre da exploração imperialista que fazia da independência da China uma sangrenta ficção, livre da pôdre clique governante de Chiang-Kai-Chek, como imaginar um cidadão chinês que não ame a União Soviética, a fraternal visinha de sua pátria, em cujo exemplo o povo chinês encontrou a inspiração e a força mótriz da sua luta libertadora? Eis que êsse exemplo da China é particularmente interessante e útil par a o Brasil, cujos problemas, como na.ção, tanto se assemelham aos do grande país asiático. Como a China, possuímos um enorme território, somos uma semi-colônia vitima da exploração imperialista, nossas terras são dominadas, elas também, por uma casta de senhores feudais, retrógrados e obscurantistas, a

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«elite» governamental atingiu a mesma decomposição, o mesmo cinismo, está tão putiefata quanto a de CbiangKai-Chek. Também na China os comunistas e todos os homens progressistas que amam a União Soviética fo. ram acusados, pelos chefes do Kuomintang, de «inimigos da Pátria», também contra Mao-Tsé-Tung - como hoje no Brasil contra Luís Carlos Prestes - foi lançada a pecha de «traidor», de «vendido ao ouro de Moscou», «ao imperialismo soviético». Como os seus parceiros brasileiros e os de todo o mundo capitalista, os reacionários chineses, serviçais do imperialismo ianque, não encontram outra defesa às acusações dos patriotas senão taxar os comunistas de «agentes do imperialismo soviético». A calúnia, como método de defesa, é a única coisa que lhes resta. Com isso se propõem a separar os comunistas das grandes massas populares, semear entre elas a confusão, prevenir-lhes o espírito contra a URSS. Mas a realidade é tão evidente, tão clara a situação que, mesmo as camadas mais atrazadas da população podem comprovar quais os traidores, quais os vendidos, quais os agentes do imperialismo, como podem comprovar também qual e. política da URSS em relação às demais nações e como difere totalmente, como é exatamente oposta à dos países imperialistas. O que dirige a URSS na sua política internacional, nas suas relações com os demais países, é o respeito absoluto à soberania das nações, à livre determinação de cad-a povo. O primeiro ato da Revolução de Outubro foi liber• tar do jugo tzarista a família das nações soviéticas, antes oprimidas. Quem deu a independência à Finlândia, senão a Revolução de Outubro ? E qual a sua atitude em relação à China ? Abandonar, restituindo ao povo chinês, todos os privilégios concedidos pelos govêrnos anti-nacionais à Rússia too.rista. Essa foi a política da URSS. E depois, quando os Exércitos soviéticos entraram na Mandchúria para expulsar os invasores japoneses, na última gr.ande guerra, não se aproveitaram da sua condição de aliados vitoriosos e mais fortes para -

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impôr ao povo chinês nenhuma espécie de opressão econômica, política ou militar. Os soldados soviéticos, após a vitória, deixaram o solo chinês. Ao mesmo tempo em que o imperialismo anglo-americano intervinha de forma brutal na vida política interna da China, quando os ianques armavam os exércitos mercenários de Chiang-KaiChek para impedir a libertação do país. Hoje, a revolução chinesa está triunfante. Quase 500 milhões de homens, imensa parcela da população humana, libertaram-se do jugo do imperialismo e do feudalismo; iniciam, em meio ao entusiasmo e à alegria, a construção do socialismo em sua pátria. Hoje, uma nova China, distante daquele velho país considerado a mais antiga flôr da decadência humana, considerado o «habitat» de uma informe massa de gente sem vontade e sem possfüilidades, pasto para todos os apetites imperialistas, uma nova China, respeitada, poderosa, jovem, entusiasta, magnífica de poder criador e larga de tôdas as perspectivas, forte de um povo capaz de sacrifícios e de heroismo, armada de soberba vontade, se eleva, criada pela mão dos comunistas, pela mão daqueles que amam a União Soviética, daqueles que aprenderam, com a URSS, a amar de uma forma superior a sua pátria. Quem são então os traidores, quem são então os vendidos? Quem é o símbolo do patriotismo chinês: Mao Tsé-Tung, que libertou seu país, que restabeleceu o sentimento de dignidade de seu povo, que lanr,ou os ,:1Jj .• cerces de uma nova vida para centenas de milhões de pobres, ou êsse pustulento Chiang-Kai-Chek, que não é sequer respeitado pelos seus patrões do imperialismo ianque, que é, mesmo por êles, considerado um negocista sem escrúpulos, um estadista incapaz, um homem desprovido de senso nacional? Sim, não pode haver nos dias de hoje, quando se trava a gr ande última batalha contra os restos do mu.1-do capitalista, quando todos os caminhos conduzem na frase de Molotov - ao comunismo, sentimento mais nobre, mais signüicativo gue o amor à União Soviética, -

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às oausas que ela defende e que são a paz entre as nações e os povos e a felicidade do homem. Já se disse que amanhã a História julgará os -homens do nosso tempo em função da sua atitude atual em relação à URSS. Será essa a medida para separar os homens do progresso dos mesquinhos homens que vivem voltados, exclusivamente, para os seus interêsses pessoais. Para amar a URSS, basta possuir um coração generoso, onde não seja o egoísmo o único sel).timento a medrar, onde também exista o amor ao ser humano. Porque, sómente na União Soviética, o homem - o novo homem socialista - já pôde tomar posse de sua completa dignidade de homem, liberto, finalmente de todas as travas que lhe impõe uma sociedade injusta, produto da divisão em classes, da exploração de uma classe pela outra. Sim, a União Soviética vale como um definitivo divisor de águas. Os sentimentos em relação a ela definem a posição dos homens nos dois campos em que se divide o mundo atual: o campo da paz e do progresso, o campo da guerra e do imperialismo escravagista. Uma terceira posição é impossível, em qualquer domínio humano, da política à arte, da ciência à literatura. Estamos travando a grande batalha final e ninguém poue esquivar-se a dela participar. Ninguém pode, impunemente, alardear sentimentos generosos, princípios socialist as, usar a máscara de ru:nigo do povo e da classe operária, e, ao mesmo tempo, manter uma atitude hostil à União Soviética. O des~ mascaramento é imediato, e não há miais quem acredite nos partidos ou nos intelectuais «terceira posição». Os sociàlistas de direita, os trotskistas de todos os matizes, os intelectuais ditos de «esquerda», que pregam a arte pela arte, a ralé «titista» que é a última moda ianque entre certos escritores e :µ-tistas, todos os que começam se declarando contra o «imperialismo e contra a União Soviética», responsabilizando tanto a um como a outro pelo clima de perigo de guerra em que vivemos, termi-

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nam, num prazo mais ou menos rápido, por mostrar-se na sua triste nudez de agentes imperialistas. Nós, brasileiros, tivemos a possibilidade de ver a verdaaeira füce do Partido Socialista Brasileiro - o partido dos «puros:., dos «mais generosos», dos «verdadeiros socialistas» quando os seus deputados, na Câmara Federal, aprovaram o rompimento de relações entre o Brasil e a União Soviética, ruptura imposta pelo imperialismo ianque . Aceitar a tese de um perigo ianque, e, ao mesmo tempo, de um perigo soviético é fazer pura e simplesmente o jogo do imperialismo. Que mais pode desejar Wall Street, que de melhor podem lhe dar os seus amigos «socialistas», que apresentar ao povo a União SoviéLica como ameaça à nossa independência, às nossas fostituições democráticas, ao nosso desenvolvimento ? Enquanto os mestres-cantores socialistas, com doce voz demagógica, entoam suas árias anti-soviéticas, o imperialismo ianque vai liquidando o que nos resta de independência, transforma a Constituição num farrapo inútil de papel, desencadeia o terror policial, assassina e tortura patriotas, cultiva a miséria e a fome do povo. Mas - dizem os «socialistas» - nós somos contra o imperialismo ianque, nós somos, etc., etc. e tal. . . Apenas, êles estão de tal maneira ocupados em atacar o «perigo soviético», que não têm tempo de falar no perigo, êsse real, dramàtica.mente real, do imperialismo ianque. Mas esta.mos longe do tempo em que era possível enganar indefinidamente o povo. A última guerra muito ensinou às grandes massas populares. A bandeira nazista do anti-comunismo e do anti-sovietismo deixou de impressionar, desde que desceram dai, torres de Berlim os trapos da «swástioa» e se elevaram as estrêlas vermelhas do socialismo. Já ninguém pode apresentar a URSS como um papão de povos porque os exemplos em contrário são agora montões. Basta atentar por um momento nas diferenças que marcam a política da União Soviética na Alemanha e a dos fmnco-anglo-americ:.mos. -

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Stálin, o artífice genial da sociedade soviética e da paz mundial, escrevia em plena guerra, nos primeiros meses de 1942, essas palavras cheias de nobreza, que dão a linha da política seguida pela URSS em relação à Alemanha vencida: «Fala-se, por vêzes, em certa imprensa estrangeira, que o Exército Vermelh0 se propõe a exterminar o povo alemão e a destruir o Estado alemão. Trata-se de u'a mentira estúpida e de uma calúnia imbecil contra o Exército Vermelho. O Exército Vermelho não abriga nem pode e.brigar propósitos tão idiotas. O Exército Vermelho se pMpõe a expulsar de nosso país os invasores aJemães e libertar dos usurpadores fascistas alemães o território soviético. E' muito provável que a guerra pela liberta~ão do solo soviético conduza à expulsão ou à liquidação da camarilha de Hitler. Nós comemoraríamos semelhante desfecho. Mas seria ridículo identificar a camarilha hitlerista com o povo alemão, com o Estado alemão. A experiência histórica nos diz que os Hitler vêm e vão, enquanto que o povo alemão e o Estado alemão permanecem». Essas palavras, de tão nobre conteúdo e de tão profunda beleza, só o chefe de um estado socialista, só o chefe da União Soviética as poderia escrever. Porque só um Estado socialista «não tem " - como afirmou Stálin em outra ocasião - nem pode 1,er objetivos de guerra, como a conquista de territórios de outros países ou a submissão de outros povo~». Aí temos, hoje, a Alemanha dividida e essa cidade de Berlim, em cuja noite hibernal vejo brilhar a Estrêla Vermelha da vitória soviética, sua antiga capital, ocupada por tropas de quatro nações: de três nações capitalistas e da grande nação socialista. Acôrdos foram estabelecidos, em reuniões internacionais, que todos os povos do mundo saudaram, na;queles dias, então, plenos de esperança, em Potsdam, em !alta e Teheran, sôbre a sorte futura da Alemanha. Sua desmilitarize.ção, sua democratização, sua unidade foram os objetos dêsses aoôrdos e os governos dos quatro países assumiram, pe-

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rante a humanidade golpeada pela guerra, a responaabilidade de cumprir e honrar tais compromissos. Dêles tem feito a União Soviética o guia da sua política em relação à Alemanha. A sua antiga zona de ocupação - hoje República Democrática Alemã - foi realmente desmilitarizada, foi realmente democratizada - através de profundas reformas que arrancaram o poder econômico e político à casta que concebera o nazismo -, e em nenhum momento deixou a URSS de bater-se pela unidade da Alemanha. Se esta ainda não se realizou, a culpa é evidente e clara das potências ditas ocidentais. A «tri-zona», ocupada pelos franceses, ingleses e americanos, sob a direção dêstes últimos, não foi democratizada, os nazisms l:lão os homens do poder, o Estado separatista alí criado pelo imperialismo angloamericano é uma pobre caricatura de democracia, onde os velhos nazistas mais responsáveis têm todos os dir eit os e onde os trabalhadores se encontram numa semiilegaJidade política. NovGmente trata o imperialismo de r~armar êsse Estado alemão fantoch~, criando divisões que - segundo os desejos de Truman - devem lutar ao lado dos filhos do povo francês, dos filhos do povo inglês, do belga, do italiano, contra a União Soviética, libertadora da Europa. Nem democratização, nem desmilitarização, nem unidade. A todas as propostas unitárias da URSS, o imperialismo respondeu com a criação do Estado separatista de Bonn. Êstado sem nenhuma independência r eal, E stado da «revanche», da guerra, da ressurreição do nazismo com todo seu cortejo de crimes: a discriminação racial (aliás tão ao gosto ianque), o ódio à cultura, a injustiça. social, os campos de concentração e de morte. Quem o papão de povos ? Quais os provocadores de guerra ? O país socialista que saúda, na magistral carta de Stálin a Wilhelm Pieck e a Otto Grotewohl, chefes do Estado alemão democrático, num~ Alemanha democrática e unida, aliada à URSS, a estabilidade da paz no mundo, ou os chefes do govêrno ianque, que, com a cum-

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plicidaclo anti-nacional dos govêrnos francês e inglês, reairmam a Alema11ha ocidental, que novamente entregam os fuzis do crime aos mesmos nazistas de ontem ? E' idiota querer tapar os olhos do povo quando é tão claro o brilho do sol. 'l'oda a imensa massa de calúnias e injúrias anti-soviéticas que é 31 matéria prima dos jornais, dos rádios, do cinema, da literatura dos países 03,pitalistas, não pode modificar o sentimento de respeito e de amor dos povos pela União Soviética. Os povos do mundo sabem que, se não estão hoje gemendo sob o chicote de Hitler, o devem aos inimagináveis sacrifícios, ao heroísmo impar dos povos soviéticos, sabem que o mundo foi libertado do nazismo pela indômita decisão do Exército Vermelho, apesar de todas as manobras criminosas dos Churchills e dos Chiang-Kai-Cheks. Mas, para o imperialismo agressor e guerreiro, a luta ideológica contra a União Soviética, a tentativa de ' modificar o sentimento dos povos em relação a ela, é uma necessidade. Desde o memorável dia em que Lênin proclamou o Estado soviético, não houve preocupação maior para todos os «donos da vida e do mundo», que o ataque à URSS, sob qualquer forma, da calúnia à invasão armada, o desejo cego e desvairado de querer varrer do maipa a nova esplêndida realidade socialista, exemplo para todos os explorados do mundo. Uma vil conspiração contra a existência mesma do Estado socialista se formou, no dia seguinte àquele em que a URSS nasceu de entre o sangue e o sofrimento. Contm o poder dos trabalhadores se uniram, por cima das suas insuperáveis contradições, os homens de dinheiro de toda a terra. Com suas mãos criadoras, Lênin plantara, nos dias fecundos de Outubro, a árvore do Estado sociaJista. A Revolução era então como um frágil infante, mas o seu berço de trapos estava guardado pelos braços dos trabalhadores das fábricas, os «que não têm n:ada qm, perder e tudo que ganhar» com o socialismo, estava guru·.. dado pelas mãos calosas dos antigos servos da terra, -

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agora donos da terra na imensa extensão da nov& república, estava guardado e defendido por homens tais como nunca jamais o mundo havia visto semelhantes: os comunistas bolcheviques, os filhos mais conscientes e capazes da classe operária, e, à sua frente, encontravam-se dois gênios: Lênin e Stálin. Contra, o frágil berço da criança que era a Revolução, se atiraram as tropas agressoras da. coalisão capitalista, ràpidamente formada para liquidar o perigo de um mundo mais justo surgido no leste. A batalha foi sem tréguas e sem quartel. Para os banqueiros, para os fabricantes de armas, para os donos dos latifúndios, para todos os que exploram o homem e seu trabalho, aquela era uma tarefa fácil ao mesmo tempo que necessária: tratava-se de limpar o mundo daquele grupo de homens rudes e barbudos que ameaçavam o sossêgo dos milionários. O êrro maior de todos os reacionários, de todos os dirigentes, partidos e regimes capitalistas é não acreditar no povo. O povo - e antes que tudo os trabalhadores - não conta para êles. Sua teoria é das «elites», e no povo êles vêem apenas massa amorfa e incapaz. Pensaram que era sómente liquidar um punhado de rudes revolucionários. Não enxergaram nem o gênio atrás dos bigodes e barbas hirsutas dos dirigentes bolcheviques. nem o povo que os apoiava, a massa de trabalhadores que não era nem amorfa, nem incapaz, que se transformou nos germes iniciais daquela força militar, hoje sem parelha no mundo: o Exército Vermelho. Ã margem do rio Volga existe uma cidade antigamente chamada Tsaritsin. Sua história é bela c omo uma legenda antiga, é heróica corno o som de uma clarinada. Foi alí que Stálin barrou o caminho das tropas invasoras em 1918. Os comunistas, ao contrário dos capitalistas, acreditam no homem, acreditam nos trabalhadores, acreditam no povo e contam com êle nos seus cálculos políticos .e militares. Os trabalhadores souberam defender a frágil criança que era a Revolução, soubere.m garantir o crescimento do arbusto que era então o Es-

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ia.do soviético. 'fsaritsin deixou de se chamar assim, ganhou um nome simbólico de vitória : Stalingrado. As fábricas, as chaminés das usinas, nela se elevaram e em todo o pe.ís soviético. Novos campos nasceram, e já não eram terras de um nobre devasso e rico; era a agricultura socialista dos kolkozes. O arbusto cresceu em árvore de sombra e frutos magníficos, e o vento levou aos quatro cantos do mundo as histórias de um país onde só o trabalho conta, as canções que dizem da felicidade do homem realizada : «Gigante imenso é o meu país não há no mundo terra onde o homem seja mais feliz».

Assim, os capitalistas que fizeram a primeira intervenção contra a União Soviética - nos dias iniciais da Revolução - ràpidamente tiveram que se dar conta de um extranho fenômeno: o campo de luta não se limitava mais às fronteiras geográficas do novo Estado. O campo de luta estava no seio de todos os demais Estados: os trabalhadores, todos os homens progressistas, saudavam o nascimento do Estado soviético como um gigantesco passo do ser humano na sua evolução, e se dispunham a defendê-lo. No momento mesmo em que n,asceu a URSS e a conspiração capitalista contra sua existência, nesse momento também nasceu a solid.a.riedade internacional dos trabalhadores para com ela, para com a «pátria dos trabalhadores,'» . Sob o comando de A.'ldré Marty, os marinheiros franceses se recusaram a atacar, no porto de Odessa, a jovem república soviética. Greves de protesto contra a intervenção abalaram todo o mundo. Ao mesmo tempo em que, do seio generoso de Outubro, nasciam em distantes países, como o Brasil, os movimentos operários. Nem a dGrrota da primeira intervenção, nem o assombroso crescimento do novo Estado, terminaram com as esperanças dos que o desejavam destruir. Enquanto preparavam Hitler e seus exércitos, os mesquinhos donos -

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da vide. se empregaram na ignóbil tarefa de insultar e caluniar a URSS. Todos nós sabemos a quant:dade imensa de infâmias e de imbecilidades que se escreveu e que ainda se escreve contra a União Soviética. Desde as histórias ridículas de comunistas se alimentando com carne tenre de criancinhas, até as afirmações do Vaticano sôbre a falta de liberdade religiosa, desde os «folhetins» sôbre as deportações em massa para a Sibéria, ruté as histórias da liquidação intelectual e física de escritores como Ehrenburg e músicos como Shostakovitch. Muito papel, muita tinta e, principalmente, muito dinheiro, gastaram os capitalistas para difamar a URSS, para deformar sua imagem, para apresentá-la aos povos com uma hedionda face de megera, para afastá-la do cálido amor dos trabalhadores e dos homens progressistas. Também essa campanha fracassou. Mais poderoso que êsse oceano de infâmias foi o resplendor da verdade, e o amor dos povos para com a URSS só fez crescer no andar dos tempos. Amor que se afirmou, antes que tudo, no fortalecimento do movimento operário em todo o mundo, na ampliação da luta pelo socialismo em todos os países. Os povos não podiam fioar indiferentes às realizações sociais do novo regime, às vitórias do socialismo na elevação do nível de vida dos povos soviéticos, à milagrosa industrialização de um país antes dos mais atrasados, à düusão da cultura numa extensão e profundicfade como não se vira e.ntes. E não podia tão pouco ficar indiferente à franoa· política internacional da URSS, de mão estendida a todos os demais E staclos para a defesa da paz, para uma leal convivência. Os dirigentes comunistas afirmaram sempre a possibilida(ie da coexistência pacífica dos regiI:1.es socialista e capitalista. Os povos puderam pesar e julgar da política de pa,;: da URSS e da política de guerra dos países capitalistas, quando se levantou contra a humanidade a amea~a do nazismo. -

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Quando, na Liga das Nações, Litvinov, em nome do govêrno soviético, propunha g,arantir a paz através da aliança das nações democráticas, quando Stálin afirmava a Gottwald - parai que êle o repetisse ao presidente Benes - que a URSS estav,a disposta a defender a intependência da Tchecoslováquia - mesmo que a França não cumprisse com as cláusulas do acôrdo q'.le obrigava a URSS -, nesse mesmo momento, Chamberlain e Daladier vendiam ,a Tchecoslováquia, negociavam com sua independência, alimentavam a máquina de guerra de Hitler, na esperança de que a todo momento. «Essa é a «nossa» pátria, essa fábrica «nos» pertence, «nós», êstc ano ultrapassamos o plano, «nossos» novos automóveis «Moscovitas» são belos, econômicos e baratos». E' urna beleza, eu vos digo. Reencontramos nossa língua comum e então conversamos largamente. Qual foram os temas principais da minha conversação com os operários da fábrica «Calibre», quando exgotei o meu curioso e_s~1ie---p~untas sôbre suas vidas? Antes que tudct'ínostrarame os os seus grandes motivos de orgulho : as condecoraçoes e diplomas recebidos pela fábrica, devidos aos seus «records» de produção, antes, durante e depois da guerra; apresentaram-me aos seus operários mais eminentes, portadores do glorioso título de «Herói do trabalho socialista», ou condecorados com o Prêmio Stálin. Nada mais que operários, simples homens do trabalho; de mãos calosas e rudes, mas os novos heróis do mundo do trabalho, os novos «grandes homens», tão diferentes dos «grandes homens» da nossa pátria, dêsses políticos ou milionários cuja grandeza provém apenas do dinheiro acumulado ou do cargo conquistado à custa de intrigas, de sabujices, de sujeiras. A nova «elite», uma elite do trabalho, numerosa cada vez mais, símbolo do que será amanhã todo o povo, na época do comwiismo construído. A fábrica está orgulhosa dêles, todos os operários estão orgulhosos dêlcs, não os invejam - êsse é um sentimento que desapareceu substituído pela emulação, pelo -- í l --

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desejo de superar cada vez mais os «records», de ainda ir mais adiante - buscam neles o incentivo para alcan> pornográfioa nem o dramalhão absurdo. Sabeis, por acaso, como é marcado o preço de um livro no Brasil? Eu vos explico: feitas, pelo editor comercial, as contas de todas as despezas - papel, composição, impressão, revisão~, brochagem,lldireitos de autor, gastos de envio e de escritório - ele sabe quanto lhe custou cada exemplar. Multiplica então esse preço de custo por três e obtêm o preço de venda. Assim, um livro que custa ao editor dez cruzeiros é vendido ao público por trinta. O livro deve enriquecer o editor, o livreiro, 0 proprietário .-

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das oficinas gráficas e o fabricante de papel. Daí o absurdo do seu preço que não beneficia tão pouco o escritor, pois limita a tiragem, limitando assim os seus direitos. Na União Soviética, a indústria do livro deixou de ser um comércio lucrativo para ser uma tarefa social do Estado. O preço do livro está na dependência não da sêde de lucro do editor ou do livreiro, mas exclusivamente da utilidade da sua divulgação, sendo os preços de certos livros, os mais indispensáveis, tão baixos que ficam ao alcance de qualquer salário. As tiragens são eno~es, deixam longe as cifras mais altas de qualquer «best-seller» ianque. Eis algumas cifras: após a proclamação do poder dos Soviets, as obras de Fuskin, até então reservadas ao conhecimento de uma elite de nobres e intelectuais, foram publicadas em 68 línguas dos povos soviéticos, numa tiragem total de 40.548.000 (quarent!l milhões, quinhentos e quarenta e oito mil exemplares). Êsses milhões foram acrescidos, durante as comemorações do 150.9 aniversário do poeta, em 1949, de mais 11.500.000 (onze milhões e quinhentos mil exemplares). Que nação burguesa, mesmo a mais civilizada ou culta, já divulgou assim, em tão vasta esca-la, e em tão pequeno espaço de tempo, a obra do seu grande poeta nacional? Teria a Itália publicado, de 1918 aos nossos dias, sequer um milhão de exemplares da «Divina Co• média», de Dante? Certamente não. Teria a França, flôr da cultura burguesa, impresso e divulgado as obras de Victor Hugo numa quinta parte dessas cifras soviéticas de Puskin? Não só não creio possível, como penso que talvez se tenha editado maiores tiragens de Victor Hugo na União Soviética, nesse período, que mesmo na França. Será que as edições das obras de Shakespeare, na Inglaterra, ou as de Walt Witmann, nos Estados Unidos, chegaram, no mesmo p_eríodo de tempo, a qualquer cifra semelhante? Certamente não, a burguesia está muito preocupada em fabricar armas para a guerra, não se interessa em levar a voz dos seus grandes clássicos ao conhecimento do povo. -

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Se formos compa1ar as cifras das enormes edições soviéticas, com as magras tiragens das editoras capitalistas, veremos como em realidade nenhum país capitaEsta pode hoje folar em cultura. Quando cheguei à França, vindo do Brasil, pareceu-me que éramos, em relação ao nível de cultura francês, um país muito atrasado. A mesma sensação tive, em relação à França, quando regressei da URSS para Paris. A França pareceu-me, em matéria de cultura, terrivelmente atrasada ao compará-la com a União Soviética. · Desejo vos dar um detalhe de como é realizada essa obra de cultura, de como o Estado nela colabora. Tomemos o setor musical. Os discos para vitrolas são muito baratos. Podereis comprar um disco de música popular - canções, valsas, etc. - por 3 rublos. Mas um disco de música erudita, maior, custa sómente 1 rublo e meio. Ou seja, o Estado não só possibilita a compra da melhor música, daquela de mais alta qualidade, como ajuda, com o preço mais baixo, a sua maior difusão. Falei um pouco antes das edições imens~s. Pois bem : es~as imensas edições são insuficientes para a sêde de leitura do povo e um livro de sucesso desaparece imediatamente das vitrines das livrarias por maior que seja a sua tiragem. Visitei várias casas de operários soviéticos, residências de camponeses em kolkozes, e dessas visitas vos falarei aind,a. Porém de um detalhe quero logo contar: em todas as residências que visitei, sem nenhuma excepção, encontrei uma estante com livros. Isso num país onde as bibliotecas se multiplicam, onde cada fábrica, cc.da org,anização, cada fazenda coletiva, cada clube, tem a sua biblioteca, e onde as bibliotecas públicas se sucedem. Sim, é fácil encher a booa com a palavra «cultura», é fácil arrotar das tribunas parlamentares ou das colunas dos jornais um orgulho e um amor pela «cultura», como o fazem nossos parlamentares e jornalistas, nossos homens de govêrno, ao mesmo tempo que as grandes tiragens bras.ileims são de cinco mil, quando as editoras -79 -

abrem falência e as livrarias fecham suas portas, quando o analfabetismo é nossa realidade em matéria de cultura. Mas para sentir realmente o que é a cultura como dom de um povo, como centro mesmo do interêsse de um povo, é necessário ir mais além dos países bur~ guêses mais cultos, mais além da França e da Inglaterra, é necessário ir à União Soviética. :Êsse povo - era a minha impressão cada vez mais forte à proporção que entrava ém contacto com êle - vive para as alegrias da cultura. Quando das discussões sôbre literatura, sôbre filosofia, sôbre música, sôbre biologia, travad~~ na União Soviética, muito se falou no mundo capitalista em escritores, músicos, filósofos e cientistas oprimidos. Recordo que durante o Segundo Congresso Brasileiro de Escritores, reunido em outubro de 1947, na cidade de Belo Horizonte, certos escritores, paulistas de «esquerda» (sic .. . ) pensavam apresentar à aprovação do plenário uma moção de solidariedade para com os «escritores soviéticos perseguidos». Não a apresentarem, faltoulhes coragem, mas o fato serve para mostrar até onde foi a exploração ignóbil feita pela burguesia em redor das discussões estéticas na URSS. Discussões que são, antes de tudo, a melhor prova da liberdade do intelectual soviético, da verdadeira liberdade. Quero chamar a atenção para o fato de que tõdas essas discussões sôbre literatura, atte, filosofia, ciência - não se limitaram em nenhum momento e.os grupos de especialistas. Nelas participou todo o povo soviético; e elas prosseguem, em meio ao povo, em ·relação a todos os livros aparecidos, a t8das as peças de teatro, a todos os filmes de cinema. O povo discute, apaixonadamente, a criação dos seus artistas e escritores, ao aplaudí-los diz-lhes também dos seus defeitos, exige deles uma constante melhoria. E' um público de alto nível de cultura, não se satisfaz com pouco. Conversei com dezenas de pessoas, das mais diversas profissões, -

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sóbre Lais assuntos. 'rodas se interessavam por êles, tinham o que dizer, opinião própria. Isso é alguma coisa de novo, de surpreendente e belo. Existe um hábito popular em tóda a União Soviética. Quando é publicado um novo livro, os leitores das fábrioos, das escolas, dos kolkozes, convidam o autor a vir discutir com êles o seu livro. Dizem do que gostaram e porque, dizem do que não gostaram e porque. Ilya Ehrenburg me afirmava, em Moscou, que mais ainda que a crítica literária, essf:..s discussões com lei.tores, francas e amigas, o ajudaram a apurar sua mestria literária, a trabalhar mais atentamente, a dedicar-se ainda com maior ~enso de responsabilidade ao seu trabalho de romancista e de articulista. Discute-se muito, nos n.eios artístico::: do mundo ocidental, da qualidade da pintura soviética. Pintores abstratos, surrealistas e cubistas rangem os dentes ao falar da arte plástica da URSS. Deixemos de lado a discussão para colocar outro problema: ,a que percentagem de população interessa a arte plástica nos países mais cultos do mundo capitalista? Não falo sequer do Brasil, falo da Franqa, da Itália, da Holanda ou da Espanha, países que possuem uma grande tradição plástica. Onde estão os quadros, onde estão as reproduções dos quadros nesses países? Os originais se encontram ou bem nos museus vasios de visitantes ou bem nas salas dos milionários, um ornamento a mais. As reproduções, tiradas em pequenas edições, são compradas por um pequeno grupo de apreciadores da pintura. E na URSS? Os originais estão também nos museus, mas são museus cheios de visitantes, dia e noite, e as reproduções e cópias dos quadros reputados são milhares e milhares, nós as encontramos não apenas nas mãos de uns po~cos, mas em cada casa de operário, em cada casa de camponês, em cad,a oficina, em cada escritório. O conhecimento da pintura, o interêsse pela arte plástica foi levado a todo o povo. Essa é uma realidade bem mais digna de consideração e de ruscussão -

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do que saber se a pintura soviética é superior ou inferior à francésa, se o método do realismo-socialista é ou não preferível ao abstracionismo e ao surrealismo. Não há muitos dias, li, num,a crítica cinematográfica do conhecido cineasta francês Georges Sadoul, uma curiosa observação, útil para medir-se o nível da cultura soviética em relação ao dos países capitalistas. Falava êle a respeito do magnífico filme colorido soviético «Mitchurin», cujo argumento é a vida do famoso sábio, criador de tantas espécies vegetais novas. Sadoul, ao elogiar as qualidades cinematográficas e ideológicas do filme, fazia, no entanto, notar, que, por vêzes, certos detalhes escapavam ao público francês, pouco familiarizado com coisas da botânica, detalhes que, no entanto, eram perfeitamente compreensíveis para todo o público soviético, ao qual as coisas de botânica não eram estranhas. Sim, êsse povo conquistou o direito à cultura e o utiliza. Aquí não ouvireis falar da guerra, não escutareis discussões sôbre «gangsters», não lereis nos fornais histórias de pavorosos crimes, de àssassinatos passionais, de roubos rocambolescos, os serões familiares não são dedicados a comentar o último casamento da estreb de Hollywood com o boxeur de New York. Mas ouvll'eis falar de Lyssenko e da transformação da natureza com o emprêgo da energia atômica, ouvireis discussões apaixonadas sôbre a última sinfonia de Shostakovitch, o mais recente «ballet» dansado pela maravilhosa Ulanova, o novo livro de Konstantin Simonov. Ouvireis as mais diversas opiniões, ao contrário do que muitos pensam, julgando que na URSS há sempre unanimidade no aplauso ou na crítica. Opiniões as mais diversas, mas sem dúvida com um mesmo ponto de contacto: todo julgamento é feito em função da utilidade da obra. da contribuição por ela trazida ao trabalho de todos, à vida de todos. -

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PREÇOS QUE BAIXAM Durante minha estada na URSS, um dos meus passatempos favoritos era a visita aos grandes armazens onde ,a população adquire suas roupas, os objetos de que necessita, os livros, os alimentos. Os armazens de Moscou são belos, amplos, e me dão sempre certa agradável impressão de festa. Nêles encontrareis a fartura reinante na União Soviética, resultado da sua economia socialista, e encontrareis também ,a cordialidade do povo. Os armazens de alimentos e bebidas - os «Gastronoms», - enormes e limpíssimos, resplandecem de produtos, d€ carnes, peixes e lataria, de garrafas de vinhos da Geórgia, da Moldávia, de frutas, maçãs, peras e uvas, mas também de laranjas e tangerinas. O russo ama comer, o frio exige alimentos gordos, bebidas fortes as carnes de porco, os presuntos, o chocolate, a vodka. Nada falta nos armazens, nenhum produto é racionado. Pode-se comprar de tudo na quantidade que se desejar. Nos armazens de tecidos, de objetos de vestuário, nas casas de peles, nas sapatarias, tão pouco nada é racionado. Antes que qualquer outro país europeu envolvido na guerra, a União Soviética restabeleceu - e logo ultrapassou o nível de produção anterior à guerra. Ainda encontrareis na França, mesmo nes~e começo de 1950, certos objetos e produtos sujeitos ao racionamento. Desde 1947, dois anos após o fim da guerra, o racionamento terminou na URSS. Porém não é êsse o fato mais importante. Na Itália, encontrareis, sem dúvida, grande fartura de produtos, encontrareis lá o melhor café brasileiro, a lagosta magnífica, os belos sapatos, o tecido esplêndido. Resta saber quantos cidadãos italianos podem adquirir êsses produtos. li:les existem mas são caríssimos, à altura apenas da bolsa do milionário ou do turista estrangeiro que a traz repleta de dólares. Os preços sobem dia a dia, sobem -

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numa corrida vertiginosa, acelerada pelo Plano Marshall. Nós conhecemos no Brasil essa mesma situação: temos um enorme rebanho pastoril e o nosso operário não pode comer carne, somos o maior produtor de café do mundo, chegamos mesmo a alimentar com êle as caldeiras das locomotivas e a jogá-lo no mar às toneladas, mas o quilo do café custa um preço impossível, os pobres não podem mais beber nossa bebida nacional. E na URSS? Que acontece na União Soviética ao mesmo tempo em que na França ou na Itália a vida dobra ou triplica de preço? Na União Soviética os preços baixam, os preços, no ano de 1948, por exemplo, baixaram duas vêzes e baixaram de muito. Sei bem que é espantoso, que é difícil para um cidadão habitando num país capitalista, acreditar em tamanha barbaridade: preços que baixam, produtos mais baratos a cada dia, vida mais fácil cada semana. Mas é a verdade simples de um país socialista: o salário aumenta e os preços baixam. O poder aquisitivo da população aumenta sem parar. O espetáculo dos armazens soviéticos não é apenas belo pela variedade de produtos expostos, por essa sensação de fartura, mas, antes de tudo, pela constante multidão de freguezes, de gente que compra, que tem dinheiro para gastar nos armazens. Podereis vêr também nos países capitalistas armazens fartos de comestíveis, rioas lojas de tecidos, elegantes sapatarias. Mas podereis igualmente contar os freguezes que transpõem as portas, os felizes possuidores de um orçamento capaz de lhes permitir gastos além das magras refeições quotidianas. Os armazens e as lojas nos países capitalistas oferecem não só a visão de uma pequena freguezia como de uma freguezia de classe. Não vereis jamais numa loja dos Champs-Elysées, em Paris, da rua Ouvidor, no Rio de Janeiro, da via Nacional, em Roma, da Calle Florida, em Buenos Aires, um operário adquirir um par de sapatos, uma camponesa comprando um corte de fazenda. -

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Ide porém, aos armazens da rua Gorki, no centro de Moscou, aos seus luxuosos (sim, emprego o adjetivo muito propositadamente) empórios, e vereis os trabalhadores, os operários, os camponeses a comprar o melhor tecido, o ótimo s,apato, os manjares finos, o caviar, o peixe. defumado, os caranguejos em lata e as lagostas. Aqui, no país socialista, os trabalhadores podem comprar. Inolvidável espetáculo presenciei muitas vezes, não só em Moscou, como em Tbilice ou em Kiew : camponesas, com su,as roupas típicas, comprando aparelhos de rádio, eletrolas, discos, livros, máquinas de costura. Num empório de Tbilice, na Geórgia, ontem feudal, vi uma camponesa das mont:.m has, vestida com seus trajes de todo pitoresco, a comprar uma máquina elétrica de costura. Era uma velha mulher de mais de 60 anos, vinha ela do tempo em que a Geórgia era uma província explorad•a pelo -império tzarista, quando os camponeses das montanhas não sabiam ler nem escrever, não desciam jamais à capital, eram servos de vida tão desgraçada quanto os nossos trabalhadores nos campos do nordeste ou nas selvas do Amazonas. Talvez ela tivesse desejado durante anos e anos possuir sua máquina de costura, um dia vista, quem sabe ?, no salão da esposa do grande proprietário de terras. Naquele tempo não se fabricavam sequer, em terras do Tzar, máquinas de coser. Eram importadas, só as senhoras ricas as podiam ter. Hoje, a oamponesa georgiana pode comprar tranquilamente sua maquina de costura, movida a eletricidade, produto da indústria russa, elegante e resistente. Custava 900 rublos em dezembro de 1948, de lá para cá o preço já baixou mais uma vez. Qualquer operária não especializada, qualquer camponesa dos kolkozes ganha por mês o suficiente para adquirir sua máquina de coser" Todos êsses objetos são vendidos também à prestação, em módicas mensalidades. Vejo ainda, diante de mim, o rosto feliz da camponesa pagando a dinheiro contado -

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sua máquina elétrica de costura. Ela a acariciava como a um ser muito querido. O preço de um automóvel «Moscovita», pequeno carro de 5 lugares, econômico (7 litros de gasolina para 100 quilômetros), era, em fins de 1948, de nove mil rublos, apenas 7 vezes o salário médio mensal de um operário duas ou três vezes o salário mensal de um stakanovista. Os bens do mundo foram colocados ao alcance dos trabalhadores. A política do govêrno soviético só tem um fim: tornar melhor a vida de todos, aumentar o padrão de vida dos cidadãos. Liquidadas as lutas de classes, a exploração do homem pelo homem, desaparecem também os interêsses mesquinhos que dirigem a ação dos governantes nos países capitalistas, onde êles não fitam o interêsse do conjunto da sociedade, mas apenas o de pequenos grupos, o da classe dominante. Podereis imaginar o seguinte fato no Brasil: o vinho de bôa qualidade, de uva pura com pequena percentagem alcoólica, vendido a preços muito baratos, e a cachaça bastante mais cara que o vinho? E' difícil de imaginar êsse fato no Brasil onde os preços não são fixados em função do interêsse da sociedade e, sim, dos produtores, mas é fácil compreender suas vantagens: o hábito de beber cachaça, bebiçla pouco saudável, e que produz fácil embriaguez, perdendo terreno; o hábito de beber uma bebida saudável, muito menos alcoólica, como o vinho, substituindo-o. Pois isso se passa na URSS, onde uma garrafa de bom vinho de pura uva, com 9 e 10 graus de álcool, é muito barata; enquanto uma garrafa bem menor de vodka, forte de 45 graus de álcool é bastante mais cara. Essa é a política de preços do govêrno soviético, visando também, além da comodidade, a educação dos indivíduos. Eu gostaria que cada um dos leitores pudesse admirar o espetáculo de uma livraria soviética, eternamente repleta de freguezes. Alí podereis ver as edições soviéticas e constatar como são publicados todos os livros de qualquer parte do mundo portadores de um verdadei-

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ro interêsse. E podereis vos comover com o espetáculo s hóspedes, em serviçais curvaturas de espinha. Os anos de socialismo já os haviam modificado em muito, mas ainda restava em alguns aquela afetada maneira de servir ao hóspede como a um seu superior. Em contraste, como eram francos, risonhos, os jovens garçons dos demais hotéis. Não se sentia nêles nenhum sentimento de inferioridade em relação ao hóspede, o que não os impedia de realizar seu trabalho ele garçons de maneira a mais elogiável, garçons ainda melhores que os velhos, e sêres humanos certamente mais cultos e conscientes. Nenhum garçon do nosso pobre mundo capitalista pensou jamais em, terminado seu trabalho no restaurante de um grande hotel, vir dansar com os hóspedes. Se o tentasse fazer, em qualquer hotel -

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do Rio, seria na mesma hora expulso da sala e perderia seu emprego. No hotel de Tbilice, o mais luxuoso da cidade, onde estive hospedado, o serviço de restaurante era efetuado por moças. Eu as vi, várias vezes, dansando com hóspedes, terminado o seu serviço, na mesma sala onde pouco antes, de avental e touca, servi,am à mesa. Mais de uma vez algumas delas estiveram sentadas na minha mesa, após o jantar, a perguntar coisas do Brasil, a se espantarem quando eu lhes disse, cheio de patriótica vergonha, que em minha terra um garçon jamais poderia, terminado seu serviço, sentar-se na mesa do hóspede e com êle con• versar. Porque? perguntavam num assombro. Nós sabemos porque mas como explicar a uma cidadã soviética que, em certos países, o tipo do trabalho honesto executado por um ser humano pode lhe crear uma situação de inferioridatle social ? Essa mesma cordialidade, essa fraternal amizad~, existente entre os cidadãos soviéticos, existe entre os diversos povos da URSS. Bastaria, p,ara a glória de Stálin, mesmo que não fosse êle o grande teórico marxista, o genial construtor do socialismo, o general invencível da guerra civil e da grande guerra contra o nazismo, bastaria a sua política nacional para fazê-lo merecedor da gratidão dos povos do mundo. Nessa imens,a pátria, onde convivem mais de cinqüenta nacionalidades, brancos, amarelos, semitas, homens de pele bronzeada, como os armênios ou os azerbaidjans, onde são faladas cerca de 150 línguas e dialetos, não existe o mais mínimo preconceito racial, nenhum povo explora outro povo, nenhuma nação se considera superior às demais. A política racial do nazismo foi uma das manchas mais dramáticas do nosso tempo, mancha de sangue, agora renovada nos Estados Unidos, onde nascer negro é um crime que se paga com a vida, nos linchamentos, que se paga com um mundo de restrições humilhantes, que se paga com servilismo e miséria. Como bastaria a política de nacionalidade da URSS para fazer a sua glória, basta -

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a política racista das classes dominantes ianques para fazer a sua ignomínia. A União Sul-Africana é, bem certo, uma terra de negros. Porém alí o imperialismo estabeleceu a «civilização ocidental e cristã» - esta em defesa da qual desejam os ianques fazer a guerra contra a URSS, utilizando soldados negros, mulatos, amarelos e judeus - e, com ela, o preconceito racial. O negro vale menos que um animal, possui menos direitos que o oavalo ou a vaca. Leio num jornal francês a seguinte notícia, transmitida pelos telegramas da África do Sul, neste natal de 1949, quando o Papa excomunga os comunistas: na cidade sul~fricana de Klerksdorp, o conselho municipal acaba de ordenar a construção de carros fúnebres diferentes para brancos e negros. O chefe dos serviços de higiene pública (um sábio ocidental e cristão, sem dúvida) escreveu, aconselhando a medida, essas palavras que dão o justo valor de uma sociedade: «Quando eu morrer, ser-me-ia infinitamente desagradável ser levado ao cemitério no mesmo carro fúnebre onde esteve o cadáver de um neg:co». Fala-se, nos meios reacionários, que na União Soviética não há liberdade. Sim, é exato que na URSS não há o direito de dizer e escrever certas coisas, como por exemplo, essa frase escrita pelo chefe dos serviços de higiene pública de Klerksdorp. Ou a frase que ouvi certa vez num bonde, na minha cid&-de da Bahia, de uma velha aristocrática, de «lorgnon» e papada. Era durante a guerra e as restrições à venda livre de gasolina obrigavam aquela velha defensora da civilização cristã a dirigir-se de bonde à sua missa domingueira. No mesmo banco que ela, ao seu lado, sentou-se um negro. A velha afastou-se num brusco movimento de nojo, e disse em voz alta: - Como permitem a êsse coisa ruim sentar-se num bonde? Isso na Bahia, onde a população de côr é uma grande peroentagem, onde não medram, com a mesma intensi-

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dade que nos Estados Unidos e na Ãfrica do Sul, os preconceitos raciais. Frases como essas não poderão ser pronunciadas na União Soviética, não apenas porque trariam como conseqüência o castigo do racista, mas principalmente devido ao fato de ninguém julgar um homem inferior por não ser êle russo puro. Não h:í melhor base de comparação e julgamento entre as duas sociedades que se defrontam - a socialista e a capitalista - que suas respectivas posições ante o problema de nacionalidades. Enquanto o imperialismo colonialista francês ou holandês oprime e trata como a sêres inferiores os homens da Indo-China ou da Indonésia, a União Soviética eleva, liberta, enriquece, dá grandeza e cultura a nações e povos que antes da Revolução eram explorados pela Rússia Tzarista. Pátria multi-nacional, onde côres, línguas, costumes, se contam às dezenas, ela é a mesma mãi generosa para qualquer dos seus filhos. O povo russo deixou de ser o oarrasco dos outros povos para ser se~ irmão mais velho, sempre voltado para o interê:..se e o bem estar dos demais. Antes mesmo de ir à URSS, durante o Congresso de Wroclaw, conversei largamente com o poeta Samed Vougoun, da distante República Soviética do Azerbaidjan. Um homem moreno e alto, risonho e afável. Poeta nacional de seu povo, é também uma glória da moderna literatura soviética. Disse-me êle: - A nação azerbaidjan é um bom exemplo para se julgar da política socialista e capitalista em relação às nacionalidades, já que meu povo se encontra dividido pelas fronteiras que separam a URSS do Iran. Que se vê de um e de outro lado dessas fronteiras, quais as condições de vida do povo azerbaidjan na União Soviética e no Iran? Eu lhe direi: na URSS constituimos uma república, falamos a nossa língua, nela imprimimos nossos livros, representamos nossas peças de teatro. Alí nenhum cidadão é explorado nem por outro cidadão nem por outro povo. Não h:í desemp1·ego nem fome. O analfabetismo foi liqui-

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dado, as mulheres foram libertadas do seu atraso secular, os véus maometanos, que cobriam seus formosos rostos, cairam e com êles a venda de ignorância que cerrava seus olhos. Hoje, essas mesmas mulheres são aviadoras e cientistas, operárias e professoras. No mesmo momento em que lhe falo, a companhia de teatro dramático do Azerbaidjan se encontra em Moscou, representando para os cidadãos da capital da União as peças dos nossos dramaturgos e também peças de escritores russos e estrangeiros, como Shakespeare. E os moscovitas aplaudem nosso teatro, nossas conquistas culturais e as incentivam. Tudo isso só foi possível com a Revolução, com o regime socialista, com a política stalinista das nacionalidades. E no Iran que se passa com os cidadãos azerbaidjans que lá habitam, a maioria do nosso povo, separados da nossa vida feliz pelo pequeno curso dágua do Araks? Lá meus patrícios não podem falar nossa língua, não podem ter escolas em nossa língua, estão privados dos mais elementares direitos, não podem concorrer com os persas a nenhum posto, emprêgo ou trabalho, são tratados como sêres inferiores, e aqueles que protestam são enforcados sem o menor julgamento. Em Moscou fui assistir, no Teatro Cigano, a uma representação de «Bodas de Sangre», a peça célebre de Garcia Lorca, representada em língua cigana. Espetáculo admirável pela montagem e pelos atores ciganos que lhe davam um oaráter .extraordinário. Eu já vira esta peça duas vêzes antes. Em Buenos Aires, pela companhia de Marga1:ita Xirgú, em 1937, e no Rio de Janeiro, pela companhia de Dulcina. Como montagem o espetáculo soviético superava de longe qualquer dos outros dois, mas o impressionante é que, ao meu ver, a velha atriz cigana que fazia o papel de Mãi, superava a própria Xirgú, criadora do papel. Após o espetáculo, estive nos bastidores para cumprimentar os atores e as artistas. Fui recebido com calorosa cordialidade, conversamos. Todos estavam interessa-

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dos em saber dos ciganos brasileiros, que fazem, que vida levam, que hábitos têm. - Lêm a «buena dicha» ... - Respondi rindo. A velha atriz me disse com um certo orgulho patriótico na voz modulada e culta: - Eu também lia a «buena dicha:», essa foi a minha profissão antes da revolução e mesmo depois, nos primeiros anos. Era analfabeta, andava coberta de trapos e de piolhos. . . Agora sou uma atriz, possuo condecorações, foi a revolução quem fez de mim o que sou hoje! Mostrou os demais artistas, reunidos em torno a nós, velhos e jovens, homens e mulheres, todos ciganos. Acrescentou: - Os jovens não conheceram os velhos tempos. Mas aqui, entre nós, existem alguns que, nos tempos do tzarismo eram ladrões de cavalos ou vagabundos das estradas. Hoje são artistas eméritos. Depois foram nos mostrar todo o teatro e a escola. dramática que junto a êle funciona, falaram do repertório admirável que possuem, ouviram com modéstia os nossos elogios. Eu era o mais comovido de todos. Ciganos que deixaram de ser vagabundos . . . . Povos que ontem não possuíam sequer alfabeto escrito e que hoje possuem uma literatura, uma cultura evoluindo a oada dia. Recentemente foram editados, na URSS, em língua yakoute, os Contos de Perrault e «Os Miseráveis» de Victor Hugo. Antes da revolução não existia língua escrita em Yakoutia. Exemplos como êste eu vos poderia citar muitos. Mas prefiro dar a palavra ao poeta tadzhiko M. Tursun-Sade, meu companheiro de Congresso em Wroclaw, a quem novamente encontrei em Moscou, durante a reunião plenária da União de Escritores Soviéticos : - «Meu povo e minha pátria - Tadzhikia - possuem uma cultura muito antiga. Esta cultura havia sido liquidada pelo tzarismo, mas a Grande Revolução Socialista de Outubro permitiu ao povo tadzhiko organizar seu Estado. Antes da Revolução, em nossas terras não se elev,ava o fumo de uma única chaminé de fábrica; hoje exis-

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te nelas uma indústria dotada das máquinas mais modernas. Nas fábricas, nas minas e na indústria de petróleo da República de Tadzhikia trabalham milhares de tadzhikos que são já operários qualificados, engenheiros, técnicos, diretores de empresas industriais. Nossos camponeses se uniram nos kolkozes; conhecem o trator e as máquinas segadoras; constróem enormes obras de irrigação, centrais elétricas. Antes da Revolução, Tadzhikestan era um.a região onde a quase totalidade da população era analfabeta, apenas meio por cento da gente - os latifundiários, os sacerdotes e os funcionários do emir de Bukhará - sabia ler. Atualmente, todas as crianças estudam gratuitamente, temos muitas escolas de ensino secundário, escolas técnicas, institutos de ensino superior. Os tadzhikos engenheiros, homens de ciência, pedagogos, advogados, médicos, arquitetos, pintores e escritores, servem lealmente a seu povo e impulsionam para diante a cultura soviética, a cultura mais avançada do mundo. Estamos inaugurando uma Universidade do Estado, possuímos uma fi. lial da Acadêmia de Ciências da URSS e o pessoal que trabalha em seus numerosíssimos institutos de investigação científica é tadzhiko. O Poder Soviético proporcionou ao povo um novo alfabeto que está ao alcance das amplas massas. Apareceram jornais, revistas, livros. Os tadzhikos lêm em sua língua materna as obras de Marx e Engels, de Lênin e Stálin; de Puskin e Gorki, de Byron e Goethe; nos palcos tadzhikos se representam dramas de Shakespeare; os cantores tadzhikos cantam «A dama de paus» de Tchaikovski e «Carmem» de Bizet ... > Os reacionários de todas as partes não costumam empregar as palavras União Soviética para designar a pátria socialista. :mies gostam de d:zer Rússia tão somente, num saudosismo da velha «santa Rússia», dos tzares e de Rasputin, no desejo de ainda conservar escravos os povos que a Revolução libertou. Dizendo Rússia e não União Soviética êles têm a intenção de esconder a ampla realidade de uma família de povos unida na construção de uma sociedade nova. Em 1919, Lênin escrevia em suas «Res-

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postas às perguntas de um jornalista. americano» : «Ajudamos por todos os meios o desenvolvimento livre e independente de cada nacionalidade, o crescimento e a düusão da literatura em sua própria língua materna». Os dirigentes soviéticos não fazem promessas vãs, suas palavras não decorrem da necessidade de fazer demagogia, como acontece com as promessas eleitorais dos nossos governantes. Assim, as palavras de Lênin tinham um conteúdo verdadeiro, e hoje, nacionalidades como a bashkiria, a kara-kalpaca, a mordova, a tuvina, a jakasa, a oirota, a lesguina, entre outras, possuem uma literatura própria, apesar de que antes da Revolução de 17 não possuíam sequer língua escrita, não possuíam sequer um alfabeto. A Revolução deu-lhes êsse alfabeto, deulhes a liberdade nacional, industrializou suas terras, socializou sua agricultura, possibilitou o livre desenvolvimento da sua vida cultural. No extremo meridional da União Soviética se encontra a República da Turcomênia. Há dez séculos passados as tribus turcomênias a.tingiram essas regiões de desertos sem fim, eram tribus de pastores nômades. Não existia entre elas nenhuma unidade, viviam se dessangrando em lutas fratricidas que faziam mais fácil a dominação estrangeira. Eram um povo pobre, vivendo miserávelmente numa terra sêca e árida de desertos. Isso antes da Revolução de 1917. A Revolução transformou a vida do povo turcomênio e a fisionomia da terra. As tribus disseminadas e rivais se uniram num povo independente e trabalhador. O deserto de Kara-Kum deixou de ser uma terra inimiga e áspera para se transformar em pasto dos rebanhos dos kolkozes, uma nova vida industrial surgiu com a exploraGão do enxôfre, do sal, do petróleo. Nas montanhas de Kuguitan se eleva um poderoso combinado químico. O alfabeto apareceu, com êle os jornais, as revistas, a literatura ê arte. Um escritor da Turcomênia, o fundador da sua literatura em prosa, dessa :iteratura jovem de 30 anos, Berda Kerbabaev, obteve a alta distinção do prêmio -

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Stálin. Seu romance mais célebre, «O passo decisivo», está h oje traduzido não só em russo e em várias das linguas da União Soviética, como em diversas línguas dos países ocidentais, inclusive em espanhol. Qual seria o destino de Berda Kerbaoo.ev, hoje escritor de ressonância internacional, cuja obra é lida e influencia milhões de homens dos mais diversos países, se não houvesse acontecido a Revolução Bolchevique ? Estaria êle ainda sem um alfabeto em que escrever, pastor nômade no deserto, seu poder de criação, sua vocação de escritor irremediàvelmente perdidos para seu povo e pe.ra o patrimônio cultural da humanidade. Podemos imaginar quantos milhares de escritores, de artistas e de cientist as não se revelam devido às condições do mundo capitalista, do mundo semi-colonial ou colonial? Nas fábricas e nos campos, quantas vocações impossibilitadas de florescer, de se realizarem! Os senhores do dinheiro falam de raças inferiores, incapazes de civilização e de cultura. A Revolução de Outubro veiu denunciar, com as provas das r ealizações soviétioa-s, essa infâmia da burguesia. Quantos admiráveis poetas, romancistas, pintores ou físicos não são hoje simples escravos na E tiópia, explorados servos nos campos de. Malásia ou desgraçados camponeses nas plantações do Brasil? No entanto, passai os olhos sôbre os prêmios Stálin de literatura, distribuídos nos últimos anos, e vereis ali, mestres da difícil art e da palavra escrita, da criação da vida e da emo,;ão, filhos de povos que ôntem não tinham sequer alfabeto no qual escrever sua língua materna, de povos que eram considerados pelos aristocratas e capitalistas russos, pelo tz.arismo e pela burguesia, como «incapazes de civilização e de cult ura». Lereis o nome do romancista t urcomênio Kerbabaev e o do romancista aguidees Tembot Kerashev, representante de uma pequena nação que nos dias de 6ntem sequer figurava n,a relação de povos do mundo. Seu r omance premiado, «O caminho da felicidade», é a narração da vida de seu povo antes e depo;r ela n evoluç~o, ontem condenado à ignorância e ao -

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desa]_Xl,recimento, hoje construindo sua cultura nacional, florescente e livre. Máximo Gorki, mestre do realismo-socialista e fundador da literatura soviética, declarava, em 1934, no primeiro Congresso de Escritores da URSS: «Parece-me necessário precisar que a literatura soviética não é somente a literatura de língua russa, -é a literatura de toda a nossa União Soviética». E os Estatutos da União de Escritores Soviéticos da URSS, constituida naquele congresso, marcavam como uma das suas tarefas fundamentais «desenvolver por todos os meios as literaturas nacionais irmãs; prestar-se mútua ajuda, intercâmbio de experiências artísticas entre os escritores e críticos das diferentes repúblicas irmãs; organizar as traduções das obras literárias de uma nacionalidade ]_Xl,ra as línguas dos demais povos da União Soviética». Essa nobre tarefa - reflexo no campo da literatura de uma ação em todos os domínios de atividade - foi e é magnificamente realizada. Nela encontrareis, ao lado de famosos escritores russos - Chólokov, Fadéev, Ehrenburg, Simonov, Leonov, Tikhonov, Gorbatov e Virta - os dos escritores de línguas ontem perseguidas, sob o tzarismo, algumas das quais não possuiàm representação escrita: o letão Upit, o poeta armeniano Isaakian, o poeta azerbaidjan Vougoun, o grande poeta georgiano Leonidse, esplêndida figura humana, o dramaturgo ukraniano Korneichuk talvez o mais popular dramaturgo da URSS, o dramaturgo bi-elorusso Krapiva, a poetisa lituana Salomeja Neris, o escritor estoniano Jakobson, o escritor usbeko Aibek, e muitos outros. Ontem, aos escritores dessas nacionalidades era vedado o direito de escrever em suas línguas maternas. Fazê-lo era um crime castigado por lei, a cultura nacional de suas pátrias estava destinada a desaparecer, asfixiada pela opressão tzarista. Hoje, elas se afirmam pujantes, são elementos de criação de beleza imortal, vêm acrescer o patrimônio da humanidade. Amizade fraternal entre os cidadãos, amizade fraternal entre os povos. Muita gente, ignorante da realida-

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de da União Soviética, falou em milagres ante os feitos do Exército Vermelho na última grande guerra: Todos os milagres têm a sua explicação natural. Os povos da URSS defendiam na guerra suas altas conquistas, sua liberdade, sua vida bela, seus costumes, seu constante progressa. Essa a causa dos milagres assombrosos.

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Stálin escreveu certa vez: «Quem poderia pensar que na velha Rússia tzarista existiam, pelo menos cinquenta nacionalidades e grupos étnicos? Sem embargo, ao romper as velhas cadeias e ao trazer à cena toda uma série de povos e nacionalidades esquecidas, a Revolução de Outubro lhes deu uma vida nova e um novo desenvolvimento». Dessa vida nova, desse novo desenvolvimento, nasc(;lm os sentimentos novos, mais nobres e puros. Nasce essa cálida cordialidade, essa estima entre os cidadãos, êsse respeito entre os povos, êsse ar de grande família feliz da União Soviética. Existe uma epopéia popular, célebre na URSS, cujo texto está hoje publicado na sua íntegra, devido ao esforço persistente dos pesquisadores. Foi ela transmitida oralmente, através os séculos, pelo povo assete, um dos mais oprimidos na Rússia Tzarista. Epopéia nascida ainda no regime do clan, ela registra toda a vida, todo o sofrimento e todas as aspirações do povo ossete. Diz num de seus trechos, após folar da opressão exercida sôbre os ossetes pelo tzarismo russo : « Um tempo virá em que tudo será düerente, os de baixo serão colocados sôbre os nobres . .. Um tempo virá Soslan, quando não mais haverá fome ... Homens e mulheres serão iguais, o ódio não habitará o coração das faxnílias diversas, e estrangeiros poderão vir a ser mais próximos que os parentes . .. »

J!:sse tempo, com que sonhavam os explorados ossetes, chegou com a Revolução de Outubro, trazido por Lênin e Stálin, em suas fecundas mãos cria.doras. -100 -

E hoje a poesia não é canto de dôr ou grito de esperanQa. Ela é a constatação alegre e entusiasta da nova realidade, da vida socialista elevando pátrias e homen.s ontem oprimidos. Assim o diz o jovem poeta bielorusso Kastous Kirienko, em um poema recente sôbre sua república : «Não cligaes de minha república : «- Região de sombrias florestras !»

Vêde, ela brilha, iluminada pelo fogo das usinas. «Nã-0 cligaes de minha república : «- Região de vales silenciosos!» Escutai, e entendereis a voz das possantes turbinas . . . » PARAISO DAS CRIANÇAS Sim, não sei dizer de outra maneira da impressão que me causou a vida das crianças na União Soviética, sinão escrevendo: «paraíso das crianças» . Vi as crianças soviéticas em suas casas, nas escole.s, nos teatros infantis e para jovens, nos palácios de pioneiros, nas créches das fábricas, nos jardins de infância, nos campos de esporte onde faziam ski, nas bibliotecas especializadas, eu as vi estudando, brincando, dormindo, comendo, nas inspeções médicas, nas ruas da cidade. Eu vos direi: cada criança soviética é como um pequeno príncipe, cuidad,a por todo o povo, pelo govêrno e pelo Partido com o mesmo enternecido desvelo com que um velho jardineiro apaixonado cuida das suas flores mais raras. Numa terra onde o homem é considerado o capital mais precioso da sociedade, imaginai como não serão cuidadas as crianças, semente dos homens de amanhã, homens que devem viver numa sociedade ainda mais elevada que a socialista, na sociedade comunista. As crianças são preparadas para a construção dessa vida. Cada criança e todas -101-

as crian~s são motivo de constante atenção e para elas se destina o que de melhor produz o Estado Soviético. Conheço bem a vida das crianças de meu país. Eu vi, na cidade de Estância, no Estado de Sergipe, morrerem diàriamente crianças de menos de dois anos, por falta de alimentação adequada. Dezenas e dezenas. E êsses recordes de mortalidade infantil se sucedem em cada cidade, em cada povoado, nas favelas do Rio de Janeiro e nos campos das margens do São Francisco. Conheço as crianças empapuçadas do sertão, comendo terra por falta de outro alimento, de enormes ventres e faces esqueléticas. Conheço os pequenos demônios que formam os grupos de crianças abandonadas em cada grande cidade brasileira: os «Capitães da Areia», na Bahia, os «Indios Maloqueiros», em Aracajú, os «Biribanos», em Ilhéus, outros são os nomes nas demais cidades, mas o fenômeno é o mesmo, o mesmo produto de uma sociedade injusta; crianças que mendigam e roubam, abandonadas nas ruas das cidades aos vícios e a um futuro de crimes. Conheço também os «reformatórios» onde são jogadas algumas dessas crianças: mais lúgubres que as prisões, mais terríveis que os cárceres, em lugar de educadores, bandidos sádicos que tudo fazem para liquid,ar nos meninos que lhe são confiados qualquer resquício de dignidade. Sôbre êsse problema, escrevi, faz já 13 anos, um romance, resultado da indignação provocada em mim por tal injustiça social. Para escrevê-lo convivi com os «capitães da areia» da Bahia. Ainda hoje sinto pungir o coração ao pensar nessas crianças abandonadas. Vi as crianças soviéticas e jamais a causa do meu Partido Comunista me pareceu mais nobre: fazer das crianças brasileiras donas de uma vida como a das crianças soviéticas. Quando desejo evocar a imagem de uma criança feliz, penso naquela menina de uma escola sovié.. tica de Moscou que me dizia estar no seu amor pelos pais e pela Pátria a explicação de ser ela a primeira aluna de sua classe. Tinha um formoso rosto loiro, uns olhos azues cheios de espanto pelo quadro que eu traçava - para -102 -

a mulher grávida é objeto de cuidados especiais. Ela tem direito a retirar-se antes do parto, gratuitamente, para uma oasa de repouso, a médico e tratamento gratúito, e a 77 dias úteis (35 antes e 42 após o pa,rto, o que com os domingos faz quase 3 meses) de férias, com o salário integral. A maternidade na URSS é objeto do maior respeito dos cidadãos e de prêmios do Estado. As mãis de mais de 5 crianças têm o direito à Medalha da Maternidade, as de mais de sete à Ordem da Gloria Maternal e as de dez filhos ao honroso título de Mãe Heroína. Para dar uma idéia de como são tratadas as crian~s, as mãis com filhos pequenos e as mulheres grávidas, na URSS, basta lembrar que, em cada composição de vagões, no metrô de Moscou, existe um compartimento - o único que difere dos demais por uma ainda maior comodidade - destinada exclusivamente às crianças, às mãis acompanhadas de filhos pequenos e às mulheres grávidas. Conheço os metrôs de Buenos Aires, de New York e de Paris. Não vi neles nada de semelhante. As crianças, as senhoras grávidas, ficam à mercê da gentileza dos passageiros. No metrô de Moscou há para as crianças um compartimento especial. Quando, nascida a criança, a mãi, findo o período de férias pagas, volta ao trabalho, tem à sua disposição na própria fábrica ou no quarteirão em que reside, a créche onde deixar durante o tempo de trabalho, o filho peque,. no. Em cada 3 horas ela tem direito a quarenta e cinco minutos de tempo para ir à créche amamentar a criança. Terminado seu horário de trabalho vai buscar o filho e o leva consigo. Visitei créches de fábricas e de bairros nas cidades soviéticas. Vi a dedicação dos médicos, das enfermeiras, do pessoal encarregado de cuidar das crianças. Alí o filho do cidadão soviético recebe assistência médica, cuidados especiais o cercam. Certa vez, assisti à entrega dos filhos pequenos às operárias que terminavam o trabalho. As crianças estavam lavadas, limpas, alimentadas, era um gosto vê-las. As mãis tomavam nos braços seus filhos, conversavam com , -

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as crian~s são motivo de constante atenção e para elas se destina o que de melhor produz o Estado Soviético. Conheço bem a vida das crianças de meu país. Eu vi, na cidade de Estância, no Estado de Sergipe, morrerem diàriamente crianças de menos de dois anos, por falta de alimentação adequada. Dezenas e dezenas. E êsses recordes de mortalidade infantil se sucedem em cada cidade, em cada povoado, nas favelas do Rio de Janeiro e nos campos das margens do São Francisco. Conheço as crianças empapuçadas do sertão, comendo terra por falta de outro alimento, de enormes ventres e faces esqueléticas. Conheço os pequenos demônios que formam os grupos de crianças abandonadas em cada grande cidade brasileira: os «Capitães da Areia», na Bahia, os «Indios Maloqueiros», em Aracajú, os «Biribanos», em Ilhéus, outros são os nomes nas demais cidades, mas o fenômeno é o mesmo, o mesmo produto de uma sociedade injusta; crianças que mendigam e roubam, abandonadas nas ruas das cidades aos vícios e a um futuro de crimes. Conheço também os «reformatórios» onde são jogadas algumas dessas crianças: mais lúgubres que as prisões, mais terríveis que os cárceres, em lugar de educadores, bandidos sádicos que tudo fazem para liquid,ar nos meninos que lhe são confiados qualquer resquício de dignidade. Sôbre êsse problema, escrevi, faz já 13 anos, um romance, resultado da indignação provocada em mim por tal injustiça social. Para escrevê-lo convivi com os «capitães da areia» da Bahia. Ainda hoje sinto pungir o coração ao pensar nessas crianças abandonadas. Vi as crianças soviéticas e jamais a causa do meu Partido Comunista me pareceu mais nobre: fazer das crianças brasileiras donas de uma vida como a das crianças soviéticas. Quando desejo evocar a imagem de uma criança feliz, penso naquela menina de uma escola sovié.. tica de Moscou que me dizia estar no seu amor pelos pais e pela Pátria a explicação de ser ela a primeira aluna de sua classe. Tinha um formoso rosto loiro, uns olhos azues cheios de espanto pelo quadro que eu traçava - para -102 -

a mulher grávida é objeto de cuidados especiais. Ela tem direito a retirar-se antes do parto, gratuitamente, para uma oasa de repouso, a médico e tratamento gratúito, e a 77 dias úteis (35 antes e 42 após o pa,rto, o que com os domingos faz quase 3 meses) de férias, com o salário integral. A maternidade na URSS é objeto do maior respeito dos cidadãos e de prêmios do Estado. As mãis de mais de 5 crianças têm o direito à Medalha da Maternidade, as de mais de sete à Ordem da Gloria Maternal e as de dez filhos ao honroso título de Mãe Heroína. Para dar uma idéia de como são tratadas as crian~s, as mãis com filhos pequenos e as mulheres grávidas, na URSS, basta lembrar que, em cada composição de vagões, no metrô de Moscou, existe um compartimento - o único que difere dos demais por uma ainda maior comodidade - destinada exclusivamente às crianças, às mãis acompanhadas de filhos pequenos e às mulheres grávidas. Conheço os metrôs de Buenos Aires, de New York e de Paris. Não vi neles nada de semelhante. As crianças, as senhoras grávidas, ficam à mercê da gentileza dos passageiros. No metrô de Moscou há para as crianças um compartimento especial. Quando, nascida a criança, a mãi, findo o período de férias pagas, volta ao trabalho, tem à sua disposição na própria fábrica ou no quarteirão em que reside, a créche onde deixar durante o tempo de trabalho, o filho peque,. no. Em cada 3 horas ela tem direito a quarenta e cinco minutos de tempo para ir à créche amamentar a criança. Terminado seu horário de trabalho vai buscar o filho e o leva consigo. Visitei créches de fábricas e de bairros nas cidades soviéticas. Vi a dedicação dos médicos, das enfermeiras, do pessoal encarregado de cuidar das crianças. Alí o filho do cidadão soviético recebe assistência médica, cuidados especiais o cercam. Certa vez, assisti à entrega dos filhos pequenos às operárias que terminavam o trabalho. As crianças estavam lavadas, limpas, alimentadas, era um gosto vê-las. As mãis tomavam nos braços seus filhos, conversavam com , -

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os médicos (a maior parte dos quais eram mulheres), com as enfermeiras, recebiam conselhos. Muito tempo fiquei a vê-las, a essas felizes mãis soviéticas. Pensava nas mulheres operárias brasileiras, obrigadas a deixar suas crianças ao abandono para ir trabalhar ou bem obrigadas a abandonar o trabalho para cuidar dos filhos, reduzindo ainda mais o já minguado orçamento familiar. Mais crescida, a criança fica no jardim de infância, enquanto a mãi trabalha. Sob a direção de um pessoal competente e devotado - médicos, educadores, enfermeiras - as crianças são os senhores nessas casas magníficas, contornadas em geral de jardins e parques, com seus amplos dormitórios e pequenos leitos, suas salas de refeição com móveis próprios, minúsculas cadeiras, mesas ,anãs, um mundo de brinquedos. Aquí, sob a competente direção de educadores, profundamente devotados à sua obra, começa-se a desenvolver a educação da criança, a revelar-se sua vocação, a fazer-se dela um homem soviético. Aqui ela aprende a amar os animais e as plantas, a despir-se de qualquer egoísmo brincando com êsses grandes cubos que necessitam de mais de uma criança par~ transportá-los, aprende a amar a pátria e aos pais. Aos 7 anos vai à escola, obrigatória até aos 14 anos. Visitei uma das grandes escolas primárias de Moscou: 800 ~unos, dos dois sexos. Classes separadas para meninos e meninas, mas récreios em comum. Tudo que se pode desejar de mais moderno e perfeito em material escolar, em métodos de ensino. Professores dedicados, um clima de grande afeto entre alunos e mestres. Não é sequer necessário dizer que qualquer castigo corporal é absolutamente interdito (ah!, quando penso na palmatória de dona Guilhermina, a minha professora primária em Ilhéus, célebre pela violência dos seus castigos ... ) . Não só aos mestres como aos pais. Conversei largamente com um grupo de alunas (de 10 a 14 anos de idade), após minha visita. Aliás, foram as meninas que pediram para conversar comigo. Queriam perguntar-me coisas sôbre o Brasil. Essa conversação é -

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a mais comovente lembrança que trago da URSS. Pude medir alí o elevado grau de conhecimento de uma criança soviética, se o compararmos a uma criança de escola primária num país capitalista. ~sses conhecimentos não se reduzem às matérias escolares: aritmética, ciências naturais, história, geografia, etc. A criança soviética se interessa por tudo que se passa no mundo, tem horizontes muito mais amplos que os limitados, para as crianças dos países capitalistas, pelas historietas de quadrinhos, ou pelos filmes de «cow-boy». A literatura infantil soviética é qualquer coisa de extremamente sério qualquer coisa de realmente magnífico. A criança soviética, educada num espírito de interêsse pela vida coletiva, de solidariedade para com todos os povos, é ávida de saber o que se passa nos mais longínquos países do mundo. Fizeram-me as crianças dessa escola inumeráveis perguntas: como viviam os operários brasileiros, se existiam no Rio de Janeiro muitos tootros para crianças, se os meninos brasileiros sabiam como vivem e estudam as crianças russas, se tinham palácios de pioneiros, como em Moscou. Respondi às perguntas e vi lágrimas em muitos olhos infantis. Duas perguntas comoveram-me particularmente. Uma crianQa de seus onze anos, pediu-me notícias de Anita Leocádia, ,a filha de Prestes. Respondi-lhe que mais uma vez ela estava separada de seu pai, nosso grande camarada, moais uma vez êle estava perseguido e obrigado a dirigir da ilegalidade a luta do povc brasileiro pela paz e pela independência da pátria. A criança me disse: - «Porque ela não vem para aqui? Nós cuidaremos dela, seremos suas irmãs.. ,» Outra se levantou em seguida e pediu notícias de Pablo Neruda. Naquele janeiro de 1949, Pablo estava ainda no Chile, na ilegG,lidade. ..A.pós ter contado a vida do poeta, eu quiz saber, de uma e outra criança, como conheciam elas a existência de Prestes, de sua filha e de Nerud-a. A que me havia perguntado pelo poeta, respondeu: -

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- «Já li muito nos jornais sôbre :Neruda. E já li também versos dele, traduzidos em russo. Quanto a Prestes e á história de sua família todos nós a conhecemos, muitas vezes lemos sôbre êle e sua luta». E, para meu espanto, aquela criança, de 13 anos, não mais, começou a declamar, em russo, versos de «América, 1948» de Pablo Neruda, poema de combate e de esperança. Nessa conversa encontrei a resposta a uma pergunta que. eu me fizera há alguns anos, quando li «As montanhas e os homens» de Illin. Espantara-me que aquele fosse um livro para jovens, tal a seriedade dos assuntos tratados, dos conhecimentos por êle transmitidos. Na URSS pude ver qual o grau de conhecimentos das crianças soviéticas em idade de escola primária. Uma menina me perguntara pelos teatros para crianças existentes no Rio de Janeiro e nas demais cidades brasileiras e que peças, especialmente escritas para crianças, nelas se representavam. Que resposta poderia eu dar senão que não possuimos nenhum tratro infantil em todo o Brasil, que não possuimos mesmo um teatro para adultos digno de tal nome, que não possuímos uma literatura teatral infantil, que não possuimos mesmo, à excessão de dois ou três autores, uma literatura teatral? Em contraste, em tóda a URSS se erguem os tootros para crianças e para jovens, o número dos escritores especializados em escrever peças para a infância e para a juventude é enorme. Estive em vários desses teatros, quase sempre um dos raros assitentes adultos. Que peças representam nesses teatros, que utilidade têm êles,para a educação da criança, para sua formação? Falar-vos-ei de duas peças, entre as que assisti, uma para crianças, outra para jovens, ambas em teatros de Moscou, destinados exclusivamente à infância e à juventude. A peça infantil, intitulada « O lenço de pioneiro», contava uma história.de pioneiros. Os «pioneiros» são a organização d,a infância soviética, e cada menino é cioso do seu lenço vermelho de pioneiro. Tratava-se do seguinte: um pequeno cujos pais haviam morrido na guerra, vem habi-

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tar em casa cfe um operário, deputado ao Soviet. A mãi da família é engenheira. O casal possui dois filhos: o mais velho é um menino inteligente mas preguiçoso, um pouco suficiente. Tendo, por preguiça, deixado de fazer um desenho para o jornal mural da escola, fôra afastado da organização dos pioneiros, perdera o direito de usar o lenço vermelho. Sua irmã, boa aluna, pioneira exemplar, está triste com o fato. Ela e o órfão, durante o desenrolar da peça, ajudam o ex-pioneiro a vencer sua tendência a não estudar, a não desenhar (êle que revelava um verdadeiro talento de artista), sua auto-suficiência, e a reconquistar seu «lenço de pioneiro». :É claro que dou aquí apenas o fio da história, sendo a peça muito movimentada, com lances dramáticos e cômicos. O elemento cômico é dado por um 0utro pioneiro, um verdadeiro burocrata infantil, ridicularizado pelo autor que, assim, alerta as crianças contra o perigo do burocratismo, do mecanicismo. No mais, a peça mostra às crianças que é necessário ajudar seus colegas preguiçosos, suficientes, vaidosos, a superarem êsses defeitos. Mostra que o bom menino soviético é aquele que não fica satisfeito com seus próprios sucessos no estudo se o irmão, amigo ou colega não está realizando um esforço igual ao seu. Uma bela peça de teatro, cheia de elevados sentimentos, generosa, cálida, portadora dos germes desse humanismo socialista do novo homem soviético. O público infantil acompanhava a peça com grande entusi,asmo. Saudou a recuperação do jovem preguiçoso com estrondosos aplausos e quando o órfão, a quem êle havia duramente ofendido, tardava ,a lhe perdoar a injúria, toda a sala participou do espetáculo gritando: - Perdôa ! Perdôa ! Faz as pazes! Faz as pazes! Os atores eram muito bons, a montagem da peça cuidada. Os teatros infantis são alvo de uma atenção tão grande quanto os melhores teatros de adultos: o Teatro de Arte, o Teatro de Câmera ou o Teatro de Sátira. Aliás uma das belas montagens que ví no teatro soviético foi a do primeiro quadro da peça para jovens sô-- 109 -

bre a qual v0s quero fal,ar. Tratava-se de uma peça sôbre a vida do célebre aviador soviético Gastelo que, durante a última guerra, tendo-se incendiado o seu avião, em pleno combate, e não lhe restando possibilidade de salvar a vida, manobrou com seu aparelho de tal maneira que o fez tombar sôbre um tanque nazista, servindo assim até o derradeiro momento à sua pátria. A peça transmite às crianças os sentimentos de ardente amor à pátria e à humanidade. Os jovens vêm desenrolar-se, através uma série de quadros, a história de Gastelo: estudando aviação, indo depois lutar na Espanha ao lado dos republicanos, servindo sua pátria na grande guerra contra o nazismo. Gastelo é apresentado às crianças como um exemplo de cidadão, de patriota. A peça é toda ela um poema de heroísmo, de generosidade, de amisade entre os povos e as nações, de despreendimento, e, ao mesmo tempo, é um ótimo espetáculo teatral. O início da peça, com o avião de Gastelo em chamas, é realmente inesquecível. Assim se educam na URSS as novas gerações, ensinando-lhes, através dos livros, dos filmes, do teatro, e através da vida coletiva, os grandes sentimentos humanos e os novos sentimentos soviéticos. A vida coletiva das crianças é feita sobretudo através da organização dos pioneiros, que é, por assim dizer, como o partido comunista dos meninos. Para pertencer à organização dos pioneiros, é necessário comprometer-se a ser estudante exemplar. A organização que pràticamente engloba toda 0. infância soviética, forma o espírito coletivo das crianças, proporcionando-lhes uma vida em conjunto por ocasião das férias, nos domingos, nas reuniões diárias nos palácios e casas de pioneiros. na ação desenvolvida nas escolas, na direção da vida de toda a infância. Kalinin, humaníssima figura. de velho bolchevique, presidente do Soviet Supremo da URSS até a sua morte, foi um dos grandes educadores da juventude soviética. Os problemas educacionais das crianças e dos jovens preocupavam-no particularmente, uma parte considerável de -110-

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st, Eis palavras de um canto de campones€s saudando el,

a nova vida no campo, delas desapareceram a amargura

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e a tristeza, agora os oomponeses livres falam da boa colheita, dos tratores, aclamam a República Popular: «E

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viva nossa terra, República Popular! »: < . . . VEM MUNOI GRADINI, OGOARE OU MABINI 81 OU TRAOTOARiil. 81-0 B'AVEM REOOLTA BUNA, TOATA LUMEA BANE SPUNA; 8A TRAIABCA A NOABTRA TARA REPUBLICA POPULARA.

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Os cantos são hoje alegres afirmações de vida e da confiança no futuro. Como os bailados também. Vi na Hungria uma demonstração do corpo de bailado populares do Exército Húngaro. Os temas populares, nas canções e nos bailados, sempre foram realistas: o realismo é a marca primordial da obra de criação popular. E com o mesmo realismo com que descreviam ontem, em seus bailados, o sofrimento de uma vida amarga, os camponeses descrevem hoje suas vitórias e suas lutas. Um dos bailados dansado pelo conjunto do Exército Húngaro era a representação admirável da luta do camponês pobre, apoiado pela classe operária, contra o lrulalc. O sucesso alcançado por êsse bailado popular entre os assistentes, mostra o acêrto do aproveitamento político da arte nascida no seio do povo. Através dos bailados e canções, os bardos do povo não contam apenas sua vida: ajudam também a grande massa a compreender os problemas, a

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buscar as soluções acertadas, a lutar contra o inimigo de classe. Ao mesmo tempo, êsse imenso material recolhido, é posto à disposição dos compositores e teatrólogos profissionais, dando-lhes a necessária base nacional e popular para ,a construção de obras verdadeiramente realista-socialistas: com um conteúdo socialista e uma for ma nad onal. Outra característica a não esquecer do Instituto de Folk-lore da República Rumena é o seu caráter multinacional. Na República Popular da Rumânia habitam, além dos rumenos, homens de diversas nacionalidades: húngaros e gregos, turcos e búlgaros, albaneses e ciganos. 17 línguas são faladas na República. E o Instituto de Folk-lore, r efletindo a sábia atuação do govêrno, baseada na política stalinista das nacionalidades, preocupa-se não apenas com a obra de cri-ação de origem rumena mas com a de tôdas as nacionalidades que habitam o território da República. Foi assim que, terminada a visita ao Instituto, o dir etor me disse ter ainda algo que me mostrar. Fomos a um prédio próximo, propriedade êle também do Ins·}!tuto. Já da rua ouvíamos a música da orquestra mais fantástica que já ouvi. Sabeis dos ciganos soltos pelo mundo na sua vaga' bundagem esfomeada e ladra. Dêles é a vocação musical, as melodias mais românticas, os violinos mais afinados, os instrumentos raros que reproduzem o gorjeio dos pássar.:>'3. Os ricos senhores feudais lançavam moedas a êsses músicos vagabundos quando, nos albergues das estradas, êles vinham, com seus instrumentos, alegrar-lhes os fartos jantares ou as bacanais sem freio. Menos que músicos, eram esmóleres vivendo das migalhas das mesas fa'ttas. O Instituto de Folk-lore da República Popular Rumena arrebanhou, por todo o território da Rumânia libertada, os músicos ciganos, redimiu-os de sua vida vagabunda e humilhante, compôs com êles a mais extraordinária orquestr,a que ouvidos humanos possam ouvir. Eram mais de cinqüent;_a músicos, as faces bronzeadas, trazendo ainda nos olhos a lembrança das paisagens vista do alto das -

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carroças viajeiras, com seus instrumentos diversos, alguns desconhecidos até então para mim. Que maravilha. de rítmos, que calor de execução, que riqueza espantosa. de melodia, uma orquestra alucinante! Escutei os solos dos instrumentos raros, um maestro famoso dedicara-se à direção da orquestra cigana. Eram vagabundos nas estradas, mendigando a gorjeta dos senhores feudais, de latifúndio em latifúndio. Analfabetos na sua maior parte, a música dentro dêles, era tudo que tinham. Hoje têm casa, comida e ordenado, escola que lhes dá os conhecimentos gerais, que alfabetiza os analfabetos e eleva a cultura de todos; hoje se exibem nos grandes teatros, nas fábricas, nas fazendas coletivas, hoje levam sua música às grandes massas do povo. Entre êles estão compositores cujas melodias se perdiam ontem pelas estradas sem destino, e que hoje se popularizam por todo o país. O diretor do Instituto estava sério enquanto a orquestra se desdobrava em ritmos impossíveis. seu rosto parecia distraído e distante. li:le sonhara tudo aquilo entre as grades do cárcere nos dias da opressão, quando era a negra noite do fascismo sôbre o mundo, sôbre as melodias populares, sôbre os ciganos, sôbre a música e a poesia. Talvez houvesse então quem o julgasse louco, sonhador empedernido, mas êle sabia que as raízes do seu sonho estavam fincadas na realidade da classe operári,a marchando para o poder por entre o sangue e a luta. A orquestra se despedaça num gemer de violinos, a voz de uma camponesa se eleva cantando o tempo da felicidade conquistada. Lá fora era o céu azul de Bucarest. A FABRICA W. M. EM BUDAPEST Os operários do combinado metalúrgico Weiss-Manfred (a fábrica W. M. penso que a maior da Hungria), adquiriram no mês de setembro de 1949, sómente no quiosque da empresa, 9.000 exemplares de livros, e, no -

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mês de outubro, a cifra se elevou a 13 mil. O diretor da editora «Szikra», propriedade do Partido dos Trabalhadores Húngaros, contava-me que, por maior que fossem as tiragens, eram sempre pequenas para a sêde de leitura dos trabalhadores. Duas vêzes por ano as editoras nacionalizadas da Hungria realizam, em todo o país, a «Semana do Livro». Nos meses de maio e de setembro. Por tôda a cidade de Budapest e por todas as cidades e aldeias do país se levantam os quiosques nas praças públicas, exibindo os últimos títulos publicados. Especialistas explicam ao povo a importância de cada um daqueles livros, o interêsse da sua leitura. Vi multidões congregadas em torno a êsses quiosques no interior da Hungri,a, em pequenas cidades onde jamais antes existira livraria. Vi camponeses comprando livros de Dickens e Howard Fast, volumes de Puskin e de Balzac, romances de Anna Seghers e as obras completas de Lênin e Stálin. A vida cultural se amplia e se aprofunda à proporção que o nível de existência sobe; que os preços dos produtos descem, que cresce a politização dos trabalhadores. Era num domingo e eu viajava para o Hotel de Gaiateto, antigo centro turístico, hoje oasa de repouso de operários de choque. Flz o automóvel parar em cada vilarejo para contemplar as improvizadas livrarias da «Semana do Livro», para espiar 0, gente que comprava, muitos dêles até bem pouco antes analfabetos. Os operários da W. M. , êsses que adquirem 13 mil exemplares mensais de livros no quiosque da empresa, eu os vi junto dos grandes fornos, forjando o aço, e ao lado das máquinas fabricando instrumentos agrícolas e bicicletas. Almocei com êles no seu restaurante, visitei as creches e jardins de infância da fábrica, o «Foyer de aprendizes Rakosi» para os filhos de camponeses que vêm se transformar em operários industriais, o seu sindicato e a sua secção do Partido. Na fábrica trabalham vinte e quatro mil operários - homens e mulheres - e a tradição revolucionária dêsse combinado é histórica na Hungria, foram êles sempre adversários irredutiveis do regime de -

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Borthy. Hoje, donos da sua fábrioa. imensa, possuem uma orquestra, dois cinemas, uma praça de esportes, um hospital com 180 leitos. Todos os operários têm agora as suas férias garantidas e 7.000 dentre êles vão anualmente às casas de repouso com as despesas quase inteiramente pagas pela fábrica. Duas semanas de férias pelo menos, para todos os operários, técnicos e aprendizes, mas 75% dos trabalhadores da W. M. conquistam com seu trabalho exemplar direito a férias mais longas, e 40% dentre êles, que trabalham aquí há mais de 15 anos, têm agora direito a 30 dias de férias. A W. M. possui duas casas de repouso e para elas parte um trem especial, duas vêzes por mês, levando os operários em férias. Dos 24 mil e duzentos operários, 13 mil quinhentos e cinqüenta e quatro são membros do Partido, grande é a tradição e o prestígio comunista nesta empresa. Não vos falo por aooso dessa tradição revolucionária. Foi ela, dirigindo a ardente vontade dos operários, que possibilitou a rápida reconstrução da empresa após a guerra. Os nazistas, à aproximação vitoriosa do Exército Vermelho, destruíram quase por completo as instalações da W. M ., ao abandoná-la. Os operários, sob a direção dos seus companheiros de trabalho membros do Partido, ocuparam a fábrica quando ainda a luta se processava nos quarteirões e ruas de Budapest, quando ainda os nazistas ocupavam grande parte da cidade. Impediram assim a completa destruição da fábrica e iniciaram sua reconstrução em meio ainda ao rugir dos canhões. Trabalharam dias e dias sem ter sequer pão p,ara comer, sem salário e sem repouso, para salvar a fábrica para os tempos de liberdade que iam começar com o fim da guerra, êles o sabiam! Foi o Exército Vermelho quem lhes deu o primeiro pão que êles comeram após muitos dias. Durante 6 semanas êles haviam trabalhado na reconstrução da fábrica animados apenas pelo patriotismo, pelo desejo de salvar para o povo o maior combinado industrial da Hüngria. Ouço a história desses dias heróicos da boca de um velho trabalhador, militante do partido há muitos anos, evadido -

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da pr1sao durante a batalha de Budapest. Foi um dos animadores dos operários da sua obra de salvação e re. construção da W . M. Hoje êle se encontra num posto de direção do organismo sindical da fábrica, que tem como tarefas primordiais a educação técnica e a educação política dos operários. Um combinado de escolas funciona ao lado da empresa: 3.000 operários ali estudam, aperfeiçoam-se tecnicamente, adquirem os conhecimentos poUticos. Dezenas de homens sáem anualmente da fábrica para ocupar postos de direção responsáveis na administra~ão pública e em outras empresas. O trabalho por emulação - a emulação socialista que se repete em cada empresa das repúblicas democrático-populares - - eleva e melhora -a cada dia a produção da fábrica. Mulheres e homens se empenham em produzir mais e melhor, agora que o aluguel de casa não pode exceder de 10% do salário e ,que as refeições forn~cidas pelo restaurar.te da fábrica são também proporcionais ao salário, variando entre 0,50 e 1 florin o almoço baratíssimo. Nessa fábrica, grande como uma cidade, quando do govêrno reacionário de Horthy habitavam o ódio e a miséria. Ondas de greves se sucediam, atritos com a polícia, o sa:1gue dos operários corria sôbre os pavimentos nas lutas reivindicatórias. Hoje, essa energia, essa força revolucionária, está posta à serviço da construção do socialismo. A classe operária, aliada ao campesinato, transforma a vida da República da Hungria. Os trabalhadores de W . M. estão à frente dêsse tmbalho. Seu jovem diretor fig·ura eminente do :regime - fala com orgulho dos seus companheiros de trabalho, as mulheres e os homens que movimentam os fornos e as máquinas. Conta-me como êles fazem crescer n,a prática a aliança do proletariado com o campe:,.inàto. Todos os sábados, de 500 a 600 operários da W. M . , partem para o campo, - · para ajudar os seus irmãos camponeses a transformar a vida. Os trabalhadores da W . M. tomaram a si o patrocínio da vida cultural de 30 aldeias. Incrementam nelas a cultura, instalam bibliotecas, -

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centros de amadores da arte, cinemas, constróem praças de esporte, ajudam na constituição de equipes esportivas, rcpe.ram os tratores e as máquinas, estendem os fios para a eletricidade, reconstróem escolas e igrejas destruídas durante a guerra. Igrejas, sim, porque a mais ampla liberdade religiosa existe em todas essas repúblicas. Passam a tarde de sábado e todo o domingo nessas trinta aldeias, solidificando, na base dessa ajuda prática, a fraternal aliança dos operários e camponeses. :msse quadro de intenso trabalho, de elevação constante de nível de vida, de novas condições de existência livre, farta e barata, de rápido e profundo desenvolvimento da cultura, não é privilégio do grande combinado W. M. de Budapest. A reprodução desse mesmo quadro, a encontrareis nas demais fábricas. emvresas e usinas dos diversos países das democracias-populares. O povo trabalhador possui, em todas as partes do mundo, idênticas características de força de vontade, de capacidade de realização, de poder criador. Onde quer que êle assuma o poder, a vida se transforma, a miséria cede lugar ao bem estar, a tristeza é substituída pela alegria, o obscurantismo e a superstição são varridos pela cultura. UNIVERSIDADE HúNGARA EM CLUJ, NA TRANSILVANIA Quando, em Buoorest, visitei a casa editora pertencente ao Estado - a «Editura de Stat» - o seu diretor, Ioan Assody, disse-me, ao apertar-me a mão:

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- A primeira coisa para a qual desejo chamar sua atenção é a seguinte : o diretor da Editora do Estado Rumeno é de nacionalidade húngara ... Mostrou-me depois as edições em língua húngara, publicadas pela editora, ao mesmo tempo que as edições em línguas rumenas. :msse problema das nacionalidades utilizado intensa e criminosamente antes da guerra pela -

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burguesia que lançava uns contra os outros os homens de nac10nalidade diversa mas cidadãos do mesmo país, para melhor os explorar - foi resolvido pelas repúblicas populares com a aplicação dos sábios ensinamentos de Stálin sôbre o assunto, com o exemplo do que fôra já antes realizado na URSS. A burguesia aproveita-se das diferenças entre as nacionalidades, aguça-as, com o fim de afastar as massas da luta em defesa de suas reivindicações. Conflitos violentos surgiam entre tchecos e poloneses nas fronteiras do leste, entre húngaros e rumenos na Transilvânia, entre eslovacos e húngaros na Eslováquia, «progroms» e perseguições sangrE,ntas eram realizadas contra os judeus na Polônia. Essa herança de ódio e de lutas fratricidas foi ràpidamente liquidada pelo regime de democracia popular. As línguas oprimidas das minorias nacionais foram libertadas. Como vos disse antes, só na Rumânia se imprimem Jivros em 17 línguas, e eu tenho contratos, para edições em língua húngara dos meus livros, firmados com editoras de Budapest mas também com editoras de Bratislava, na Tchecoslováquia. Na zona fronteiriç,a da Polônia e da Tchecoslováquia, poloneses e tchecos trabalham de comum acôrdo, um tratado entre as duas r epúblicas populares transformou toda uma grande área onde ontem se elevavam o ódio e a desconfiança em fator de crescente amizade entre os dois povos. No Ministério de Educação da Rumânia, vi livros escolar es em turco e em grego, em albanês e em búlgaro. Em Sinaia ; numa casa de «repouso e criação», estive com escritores rumenos de língua húngara que trabalhavam em romances e em peças de teatro que seriam publicados e representadas em húngaro. O regime de democraciapopular libertou as nacionalidades antes oprimidas, deulhes o direito à língua materna, apoia todas as suas manifestações culturais. Percorri a Transilvânia onde rumenos e húngaros se bateram tantas vêzes, derramando inutilmente o sangue humano. O ódio habitava nas ruas da cidade de Cluj, dividindo seus habitantes, eram dois partidos irreconciliã-

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veis: os rumenos e os húngaros. Quando a região se encontrava em mãos rumenas, a vida dos húngaros era um tnferno. Quando eram os húngaros a dominar, os rumenos gavam pelo que tinham feito com altos juros. A burruesia e o imperialismo, os interessados na exploração do homem pelo homem, eram os únicos a tirar vantagens dessa luta sem sentido. Alimentavam êles as fogueiras do nacionalismo burguês - do qual hoje o traidor Tito é O rnáximo representante - para sôbre elas melhor poder construir sua máquina de escravização. Mas a ideologia da classe operária, o marxismo-leninismo-stalinismo, condena o nacioaalismo e, a sua doutrina de ódio racial, opõe internacionalismo proletário, doutrina de amor e de fra0 ternidade. Foi assim que a Transilvânia deixou de ser o teatro de lutas sangrentas, para se transformar num exemplo da harm0nia entre nacionalidades. Os operários e os camponeses rumenos e húngaros marcham unidos hoje n,a Transilvânia, pela mesma larga estrada, para a conquista de idênticos objetivos. Nada mais os pode lançar uns contra os outros, os interessados nessa luta criminosa foram varridos do poder. Antes de 1945, nunca haviam existido ao mesmo tempo uma universidade rumena e uma universidade hungara em Cluj capita' da Transilvânia. Ora uma, ora outra, conforme fossem rumenos ou húngaros os donos do poder. Com o regime de democracia-popular puderam elas finalmente coexistir e, mais que isso, ajudarem-se mutuamente na formação dos novos quadros intelectuais que a classe operária no poder reclama. O diretor da Universidade Húngara de Cluj, que me acompanha no decorrer de minha visita, explica-me: - As realizações da República Popular e os esforços do Partido e dos militantes comunistas fizeram com que de&aparecesse todo o chauvinismo, todo o estreito nacionalismo. Agora os húngaros da Transilvânia, cidadãos da República Rumena, podem estudar em sua língua materna. 9 Faculdades formam essa Universidade em língua húngara na República Popular Rumena. Mil e guinlwntos -

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estudantes enchem suas salas e seus pátios, suas biblio. tecas e seus laboratórios. 50% dentre êles são provindos já da classe operária e camponesa para as quais forain abertas as possibilidades de instruir-se e educar-se. Cin. qüenta por cento dêsses mil e quinhentos estudantes têm bolsas em dinheiro do Estado e quarenta por cento habitam nos «foyers» ligados à Universidade. Duzentos e sessenta professôres e assistentes explicam suas aulas em língua húngara. Em algumas faculdades, como, por exemplo, nas de filologia e de química, a maioria dos alunos é formada por mulheres. O diretor da faculdade de química é uma mulher. Não foram liquidadas apenas as diferenças nacionais, também o foram as de classe e de sexo, como vêdes. O diretor mostra-me os livros de estudo, editados em língua húng,ara: - Evidentemente as tiragens de livros didát icos em língua húngara são menores que as em língua rumena. No entanto, o preço é o mesmo para uns e outros livros, êle não está, como nos países capitalistas, na dependência da tiragem e, sim, do poder aquisitivo dos alunos. Os alunos da Universidade Húngara e os da Universidade Rumena realizam em comum muitas tarefas e trabalhos. Uma ami2íade cada vez mais estreita se estabelece entre êles, e êsse exemplo da juventude se extende a toda a região da Transilvânia. Sob o influxo benéfico da URSS, as relações entre os povos das repúblicas populares se t ornam mais profundQS dia a dia. Operários poloneses vão passar suas férias nas casas de repouso dos operários húngaros, mineiros t checos vão repousar no mar Báltico, camponeses búlg,aros visitam a Rumânia, estudantes albaneses cursam as faculdades das demais democracias populares. O t empo do ódio entre nacion-alidades é passado. Hoje, os povos diversos, as nações diferentes, nos países de democraciapopular, marcham juntos numa ent usiástica colaboração. Uma prova disso encontrareis nos conjuntos de cantos e bailados populares. Seja êle de que pais fôr - da Tchecoes-

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lováquia, da Polônia, da Albânia, da Bulgária, da Hungria, da Rumânia - cantará e bailará ao lado das canções e dos bailados do seu povo, as canções e os bailados dos demais povos que, como o seu, constróem o socialismo. VASSILI ROITER CHAMAVA-SE CARMEN SlLVIA Era uma vez. . . uma rainha rumena dada à literatura. Que classe de má literatura ela escrevia bem o podeis imaginar. Qualquer coisa no gênero dessas crônicas de alta sociedade, de palavrinhas perfumadas e sentimentinhos chôchos. Mas, certamente não lhe faltaram os elogios da crítica oficial, uma rainha é uma rainha, amigos, e a crítica burguesa é bastante sensível ao fulgor que empresta a qualquer estilo uma coroa real e as pedrarias de um trono. A fama da rainha rumena - cujo pseudônimo era Carmen Sílvia - correu mundo e em homenagem à sua glória literária deram a uma cidade balneária do Mar Negro, nas visinhanças de Constança, o seu nome literário. Depois veio o poder popular e a cidade de Carmen Silvia passou a chamar-se cidade de Vassili Roiter, em homenagem a um lutador da classe operária assassinado pela polícia da monarquia. Porém a mudança não se encontra somente na trooa dos nomes. E la foi bem mais profunda, a substituição dos nomes vale como um símbolo. Quando abandonais o porto de Constança - deixando para trás seu pitoresco, seus grandes navios, sua estatua de Ovídio em meio à praça (Ovídio habitou nessa velhíssima cidade) - , seguindo pela costa do Mar Negro, podeis vos dar conta do fausto que era a vida da nobreza e da burguesia rumenas. As residências luxuosas levantam-se na beira da praia, entre elas uma que pertencia ao Rei, com sua praia privada, em cuja areia pé_s plebeus não podiam pisar, pedaço de mar onde não se podiám oanhar outros corpos que os do Rei e os da sua «entourage». -

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Sucedem-se as cidades balneárias, a maior delas é a que levava ontem o nome de Carmen Sílvia e leva hoje o de Vassili Roiter. Podeis fazer a viagem com o coração ligeiro. Não encontrareis mais os nobres a vos olharem com desprezo do alto dos seus títulos, os burgueses a vos olharem com desprezo do alto das suas patacas. Essas casas pertencem agora às fábricas, às emprêsas, aos sindicatos, destinadas aos operários, às crianças, aos camponeses, aos intelectuais. As ruas de Vassili Roiter não exibem.. mais a balofa gordura das senhoras burguesas sobrando dos «maillots», nem as viciosas oarnes das condessas e baronesas. Por elas, caminham agora, em busca das tranquilas águas do mar Negro, operários e operárias, são êles que ocupam as casas, que comem nos elegantes rest,aurantes, que dansam nas salas de baile. Na antiga residência privada do Rei, na sua praia reservada, estão crianças, dezenas de crianças que se beneficiam com o sol das praias, com os banhos de mar. Para que isso acontecesse lutou Vassili Roiter, pela causa do socialismo deu sua vida. Seu jovem coração cessou de bater, parado pelas mãos da mesma policia que sustentava a falsa glória literária da rainha Oarmen Sílvia. Mas a bandeira do socialismo que êle empunhava foi levantada por mil outras mãos operárias. E hoje, vitoriosa, ela se balouça ao vento nessa cidade que os nobres e burgueses construiram para seu prazer, à qual deram o nome literário de sua patrôa, e na qual p,assam agora em direção à praia os seus ~novos donos: o povo da Rumânia,

OTIMISMO Em todas as faces o otimismo. Nos jovens que se atiram à construção de estradas de ferro, de cidades inteiras, de fábricás e usinas. Nas mulheres que se organizam, que participam ativamente da vida social, que -

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dirigem empresas, que emergem do fundo de uma vida feudal para a igualdade com o homem. Nos operários em cujas mãos leais se encontra o poder. Nos camponeses marchando para a socialização da agricultura. Otimismo na nova literatura, na arte nova, otimismo que é uma nota constante em todos êsses países. Muitas vêzes escutei pequenos-burgueses me descreverem seus «dramas» íntimos, sua amargura, sua neurastenia ante a vida. Houve um tempo em que chegaram a me interessar, cheguei a julgá-los motivados e honestos. Quando voltei de uma das minhas viagens pelas democracias-populares, :um brasileiro, recem-chegado do Rio, tentou me interessar numa dessas «tragédias» intelectuais. Ere em Paris e os partidários da paz iniciavam sua luta contra os provocadores de guerra. Eu trazia nos olhos e no coração a paisagem moral dos povos do leste construindo o socialismo. O pequeno-burguês derramou sôbre mim sua angústia literária. A vida parecia-lhe feia, desinteressante, indigna de ser vivida. «Viver para que?» perguntava. E êle mesmo respondia: «A vida já não tem sentido, perdeu sua beleza, só resta o suicídio». Ouvira. a.quilo certamente em qualquer café existencialista do Boulevard Saint Germain. Tive, de súbito, a impressão que não me encontrava diante de um homem e, sim, de um boneco de cartão, em cujas veias circulasse tinta e não o bom vermelho sangue humano. O artificialismo de tôda essa amargura (que faz o fundo das obras literárias burguesas atuais) saltava-me aos olhos, agora que eu vira os novos homens otimistas, que sabem porque vivem e que consideram e. vida bela, cheia de profundo interêsse e de permanente encanto. O otimismo é o clima moral dêsses países da democracia-popular. Nasce da confiança no homem e no seu destino. Não há muito liguei o rádio para uma estação norte-americana. Ouvi durante meia hora falar da guerra como de uma desgraça inevitável, ouvi as vozes dêsse mundo perdido do capitalismo urrando seu desespero, chC'io de ódio, de infâmias, de repugnante13 sentimentos, -

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de criminosos projetos, cheio de medo, de terror do futuro. Virei de pois o dial e ouvi a estação local de Praga fa!ando dos triunfos alcançados na produção, da baixa de preços de produtos a limentares, de livros e exposições. Não ouço aquí falar de guerra. l!:sses povos estão à frente dos que lutam pela paz: êles o fazem, antes de tudo, com seu trabalho pacífico, com sua triunfal marcha para o socialismo. Vão de cabeça erguida, um sorriso nos lábios, dêles é o presente conquistado, é o futuro por êles forjado nas jornadas de trabalho. As infâmias e calúnias não os atingem, a êsses povos libertos da fome e do desemprego, do analfabetismo e do terror polici,al. J!;Ies sabem que os povos do mundo são seus aliados; que êles impedirão que as mãos assassinas dos Trumans e dos Churchills venham impedir o seu trabalho. J!;les sabem que ao seu lado está a União Soviética, cujo nome quer dizer paz, vitóri,a e invencibilidade. :ti':les sabem que nada pode mais fazê-los parar na conquista da felicidade. Dêles é o hoje e o amanhã. E, se os criminosos levant arem as mãos contra êles, apesar da oposição dos povos do mundo, então cada homem e cada mulher dêsses países será um invencível soldado que terá ao seu lado milhões de outros soldados - os trabalhadores de todo o universo, l!:les são otimistas, êles sabem que os povos podem impedir a guerra. E sabem que; se ela fôr desencadeada pelo imperialismo, apes,ar da luta dos povos, as armas se voltarão em todos as partes contra os inimigos do homem, J amais se levantarão contra êsses po~s que constróem o socialismo. mies podem marchar com confiança, seu otimismo não será traído! POEMA DO BRASIL PARA VARSôVIA Para a cidade e a praça destruídas, para as igrejas e as casas em ruínas, para as pedras trágicas do «ghetto», espalhadas sôbre o sangue derramado, para ,a estátua -

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mutilada, para o céu de estrelas, para os novos edifícios começados - tôdas as mais nobres pe,lavras, as de beleza rnais sóbria e mais pesada. Direi em meu poema em teu louvor: esplêndida, ilustre, magnífica, ó cidade cinzenta de Varsóvia, azul ao sol, vermefüa de cartazes. O' cidade sôbre todas mártir, vida sôbre ruínas levantada, ó vermelha cidade comunista, meu coração pra ti se abre em pétalas de sangue e carne viva e de esperança. Porque, do teu passado renascido, nos cerrados punhos dos teus homens conduze::; a estrêla do futuro, a estrêla da manhã pra terra inteira. Quero depositar em teu remanso, no alto das tuas terras destroçadas e nas mãos trabalhadoras do teu povo, a rosa mais vermelha que te trago através um mar distante e perigoso. Rosa de sangue cultivada nas longas prisões das ilhas solitárias, no silêncio da espera, na solene hora da morte, no rumor das multidões nas praças dos comícios solidárias. Nascida da fome, crescida da esperança, mestiça rosa brasileira, eu te trago, Varsóvia, em mãos de amor e confiança. Em teu regaço, Varsóvia, eu a deposito, rosa de amor do povo brasileiro.

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A ALBÂNIA :é'.: UMA FESTA «Um pequeno povo Y Um peqmmo pafs 'I Não. Somos hoje aliados da União Soviética, e, contendo com os povos 80V"iéticos, somo8 dttzentos e um mil11ôes, scmio, invet1cweis>. (FrasB de um campott68 da AZbama)

PAISAGEM Crescem os I bosques de oliveiras pelos vales, sobem pelas íngremes ladeiras num doce verde que me recorda subitamente terras de Espanha e Portugal. O avião voo sôbre ásperas montanhas, em breve alcançaremos o mar, as águas ilustres do Adriático, e tudo é intensamente belo na paisagem em redor. No límpido céu azul fogem farrapos brancos de nuveJls, serpeiam os rios côr de prata por entre a variação mediterrânea do verde, a Albânia se oferece aos olhos num esplendor de luz e colorido. Volto-me para os companheiros de viagem e os vejo de olhos pregados nas pequenas janelas do avião. :ti':sses olhos fixos de búlgaros e tchecoslovacos, de franceses e alemães, de poloneses e húngaros, estão turvados de emoção. Acabamos de sair das terras sofredoras da Iugoslavia, onde vís traidores assental'am seu acampamento. l!'Jsse avião em que vamos é o mais persistente traço de ligação da Albânia com o mundo e contra êle se volta, em mesquinhas represálias, o ódio bovino dos judas titistas. Wanda Jacubowska, com um sorriso comovido, diz: - E' a Albânia! E' belo! Leio a mesma frase em todos os semblantes desses delegados da paz que vão assistir ao Congresso Nacional -

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Albanês pela Paz, em Tirana. Ouvistes certamente falar muitas vêzes em amor à primeira vista. Não sei se acreditais ou não que se possa amar, com intenso e duradouro amor, com o vêr uma só vez. De mim, posso vos dizer que tormo, de há muitos anos, entre os que creem no amor à primeira vista. Assim foi também êsse nosso amor - de todos nós que no bojo daquele avião nos encontrávamos - pela República Popular da Albânia. E logo depois, ao lado da montanha, o mar apareceu e era magnífico espetáculo, sob êsse sol de primavera que doir ava as azas do avião e a distante copa das árvores. E ssa República é pouco maior que o menor dos vinte Estados do Brasil, pouco maior que Sergipe: 27 mil quilômetros quadrados. Um milhão e duzentos mil habitantes, metade da população da cidade do Rio de Janeiro. E que grande . país, que maravilhoso povo, que exemplo para o mundo! Durante quinhentos anos êsse povo amargou sob a mais dura opressão, essas estradas foram pisadas pelas botas dos conquistadores, a terra, o pão e a liberdade foram roubadas aos albaneses. Como u'a negra noite de pesadelo, passaram, sôbre essas mont anhas, turcos, italianos e alemães e para êles eram os frutos da terra fecunda, eram os minérios da natureza rica, eram o petróleo, a beleza da paisagem e 0. doçura do clima. Para os albaneses restava a miséria, a escravidão, o analfabetismo. Nessa noite, longa de séculos, êsse pequeno povo não cessou de acender, com uma temerária obstinação, as estrêlas das suas fuziladas, numa revolta que pode-se dizer foi permanente, da dominação turca à invasão fascista. Durante quinhentos anos êsse povo conduziu pelas éstreitas veredas abertas nas montanhas as armas de luta. O combate pela liberdade e pela independência da Pátria foi a constante da sua vida através cinco séculos e a alegria da liberdade finalmente conquistada podeis lê-la no semblante de cada homem e de cada mulher, nas cidades e nos campos. Nes&as terras, onde ainda há cinco anos era o feudalismo, hoje se constrói o socialismo. 1:• como so o povo albanês tivesse vindo do ontem direta-

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!ilenlc para o amanhã. Como se o pleno meio-dh1. substittússe a noite, sem necessidade da hora do amanhecer. t que essa aurora que precede o claro dia fulgiu nas mont~nhas guerrilheiras durante séculos, vivendo ao mesmo tempo que a noite, se afirmando sôbre ela, mostrando a cada instante aos invasores que seu reino era provisório, que o povo albanês não estava nem dominado nem vencido. ourante 25 anos, o princípe Skenderberg, herói de história bela como uma legenda, nos meiados de 1400, resistiu e derrotou os turcos que ameaçavam a independência da pátria. Depois de sua morte, os conquistadores se estabeleceram durante quatrocentos e cincoenta anos. Ah! não foi uma oalm!l, dominação, um tranqüilo reinado sôbre pastores e lavradores submissos, foi um lutar contínuo contra a contínua sêde de liberdade do povo albanês! As bandeiras da revolta, por vêzes simples trapos sangrentos, ondearam no cume dessas montanhas indomáveis, alçadas pelas mãos dos rudes homens do trabalho. Dominada, mas não vencida, a Albânia conservou, apesar de todas as restrições impostas pelo conquistador turco, sua feição nacional, sua cultura própria, sua personalidade inquebrantavel. E a conservou de armas na mão, pagando-a com o sangue generoso de seus filhos. De Skenderberg a Enver Hodja há uma perfeita continuidade, a tmnsmissão de uma herança de luta pela liberdade e pela independência da pátria que faz de um e de outro, apesar de todas as contingências históricas que os separam, os símbolos do mesmo povo, do seu passado heróico e do seu presente cheio de esperança. Os guerrilheiros que pegaram em armas em 1941, sob o comando do jovem Partido Comunista da Albânia, eram os herdeiros fieis dos soldados de Skenderberg, eram o mesmo povo da Albânia irredutível. A árvore da liberdade e do progresso que cresce sôbre essa.s terras montanhosas tem raízes seculares e foi adubada com sangue de heróis, por isso nenhum inimigo pode mais derrubar, ninguém poderi apagar sua acolhedora sombra sob a qual hoje se akiga o povo -

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albanês. Uma tranqüila confiança no futuro reside no coração de cada homem desse país cercado de inimigos pequeno e ainda bntem terrivelmente atrasado. t:sse~ homens sabem que agora êles são invencíveis, que ao seu lado estão centenas de milhões de homens de todos os países, de todas as raç,as, das mais diversas línguas. Que com a Albânia estão os povos soviéticos, está o proletariado mundial. O direito a essa fraternal solidariedade o povo albanês o conquistou com as armas nessas mon~ tanhas sôbre as quais vôo agora, inebriado pela beleza d-a paisagem que se renova a cada momento. Ã beira de um lago, que como um espelho re~lete a luz dourada do sol, surge a cidade de Shkodra, as casas escondidas pelos altos muros orientais, o povo formigando no mercado. Os olhos de cada viajante se fazem mais agudos no desejo de fixar as figuras que, como miniaturas animadas surgem na paisagem. E' o desejo, intenso em todos 0 ~ companheiros de viagem, de completar a beleza da paisagem com o conhecimento do homem albanês, o desejo de com êle fraternizar. Para mim, a magnificência da paisagem vem apenas emoldurar o amor pela Albânia forte já em meu coração desde que em Wroclaw, no Congresso Mundial de Intelectuais pela Paz, o escritor Sako me falara do seu pais. Amor que cresceu ardente após o cont-acto com outros albaneses, como Monol Konomi, Ministro da Justiça da República e presidente do Comité da Paz, de quem muito ouvi, em Paris, sôbre os feitos dêsse povo. Mas reéordo principalmente uma noite, em Praga, durante o IX Congr esso do Partido Comunista d-a Tchecoslováquia, quando ouvimos emocionados, um camarada brasileiro e eu, Mihal Prifti, então embaixador da Albânia em Moscou, e hoje vice-Ministro do Exterior, contar, numa sobriedade de t ermos que fazia ainda mais dramático seu relato, a luta heróica do povo albanês contra Tito e seus agentes. Eu vos falei antes em amor à primeira vista, mas a verdade é que eu já amava a Albânia, de profundo e ardente amor , antes mesmo de a conhecer. E' uma caracterietica -

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do nosso tempo de construção de um novo mundo, êsse motivado e consciente amor por terras e pátrias que não visitamos jamais. Quantos milhões e milhões, pelo vasto rnundo .afóra, não sentem seu coração estremecer de ternura ao ouvir dizer o nome sô\>re todos bem-amado da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas? Em suas terras, como nas terras das democracias populares, se constrói a felicidade do homem. Por isso todos os corações generosos e todos os que sofrem da exploração, seja na Ásia na América, na Oceânia, na África, na Europa, voltam-se, plenos de amor e confiança, para êsses povos e a êsses países . Os amigos da Albânia são centenas de milhões em tôda a imensa extensão do mundo, sua causa é a de tóda a humanidade. Mas, para os povos ainda sujeitos à exploração capitalista, a Albânia não é apenas objeto de entranhado amor. Ela é ·i.ambém, e antes de tudo, estimulante exemplo. Liberta do jugo turco em H?12, sua independência foi até o fim da última guerra mundial uma das muitas farsas montadas pelo imperialismo às custas dos pequenos povos. Primeiro, deram-lhe um princípe alemão como Rei. Durou apenas seis meses, os albaneses o expulsararp., mas logo depois, com a primeira guerra mundial, as tropas italian,as e gregas ocuparam o sul do seu território, enquanto as austríacas e húngaras penetraram no norte. Só em 1920, os habitantes da região de Vlora viram partir, sob o fogo da sua revolta, os últimos soldados italianos. Uma república foi ustabclecida, mas as bases em que i:c assentava a reação feudal não tinham sido abaladas e não demorou a que um típico representante dos «beys» e dos «aghas» fosse transformado em Rei. O povo albanês aprendeu nesses anos do reinado de Zogú que não havia uma grande diferença entre a opressão turca e italiana e a opressão dos «beys» albaneses, senhores absolutos das terras, das 'aldeias e da vida dos hom'.3~1s. Aprendeu que ni:.o basta libertar a pátria, limpt-:r suas fronteiras dos soldados inimigos, se essa libertação não é acompanhada com a libertação do homem sujeito à opressão de classe. -

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Aprendeu essa lição e não a esquE:ceu. J!!sse povo tantos séculos oprimi.do possui uma extraordinária :...gudeza po. lítica e, ademais, no leste brilha o sol da URSS ensinando aos homens o sentido da verdadeira democracia e do verdadeiro patriotismo. Quinze anos dul'ou o reinado feudal de Zogú e durante êsses quinze anos o país foi sendo vendido ao imperialismo estrangeiro, especialmente ao fascismo italiano. Suas riquezas não eram do povo albanês, apesar da independência do país que o povo havia conquistado. O senha. res feudais e a burguesia traiam a causa da independência transformavam a Albânia num pasto para os apetite~ imperialistas. Nas cidades, os líderes do povo eram suspensos nas forcas como exemplo. O sangue dos patriotas corria em motins, em greves, em levantes contra a tirania d()S «beys» e de seu rei assassino. Mas êsse espírito de revolta, essa decisão de liberdade, não possuíam uma vanguarda organizada que os dirigisse, não havia por êsse tempo Partido Comunista na Albânia. E foi assim que em 1939, numa sextr-feira. santa, sob as bençãos do Papa, as tropas fascistas de Mussolini invadiram o país. Zogú, cuja polít,ica de vende-pátria havia preparado a invasão, fugiu. Foram os operários e camponeses, os que nada possuiam, os únicos a defenderem o solo da Pátria. Os italianos tiveram que empregar uma grande força armada, inclusive uma enorme força aérea, para submeter o pequeno território e esmagar a resistência do povo. Alí se instalaram e avisaram ao mundo que era para todo o sempre. Os magníficos edifícios por êles construídos em Tirana provam que os fascistas pensavam ficar indefinidamente n.a nova terra conquistada. Não contavam êles nem com a invencível vontade do povo albanês, nem com a vitória da União Soviética sôbre o nazismo que mudou a face do mundo. Em 1941, os grupos comunistas espalhados pelas diversas cidades e aldei,as, se reunem num Congresso e fundam o Partido. Eram então apenas duzentos homens, mas eram a vanguarda org.anizada necessária par a orien-

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tare dirigir a ânsia patriótica do povo. Nesse dia começou a luta, a gloriosa e imortal epopéia da libertação da Albânia. li:sses duzentos homens iniciais construiram um Exército de setenta mil homens, e em 1944 tôda a Albânia estava libertada e suas tropas foram ajudar a libertação da Iugoslávia. Os italianos e alemães tinham sido obrigados a manter na Albânia cêrca de cem mil homens para tentar conter a revolta dos guerrilheiros. 53 mil fascistas foram mortos, feridos ou feitos prisioneiros pelos patriotas. :Êsses, por sua parte, pagaram com seu sangue e suas vidas a nova e verdadeira independência dê sua pátria. 28 mil mortos, 12 mil feridos, 45 mil deportados e presos, 37% dae suas casas incendiadas, pontes destruídas, minas e estradas arrasadas. Mas a vida dos invasores tornou-se impossível, os grupos de guerrilheiros transformaram-se num Exército magnífico, e um ex-professor se revelou um gênio militar e político : Enver Hodja. A Albânia surgiu outra vez na comunidade das nações livres. Porém, desta vez não eram mais os «beys» e os «aghas» que dirigiam seu destino, as cadeias obscurantistas do feudalismo tinham sido rompidas, o povo tomara em suas rudes mãos leais o destino da pátria, tendo à sua frente a classe operária conduzida pelo Partido Comunista. Desta vez era uma real independência e, ao surgir no mapa novamente, a Albânia já não era mais aquele pequeno país do qual o mundo tinha notícias devido ao pitoresco dos seus costumes e a um reinado de opereta. A Albânia surgia ao mesmo tempo como membro da fraternal família das nações e dos povos livres da opressão capitalista, e que, sob a bandeira invencível de Marx, Engels, Lênin e Stálin, constróem o socialismo e com êle a felicidade. A Albânia deixou de ser, de súbito, para os homens dos bancos internacionais, para os tubarões da Wall Street e d,a City, para os reacionários de tôda a parte, um distante, pequeno e desconhecido país, um gracioso e original recanto a visitar numa viagem de turismo e férias. Passou a ser um pesadelo, um tema de oalúnias, e contra ela começaram desde logo a se elevar -

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sucessivas provocações. Mas, também para os povos, ela adquiriu um outro significado, diverso daquele anterior: homens que jamais tinham ouvido falar da Albânia ou que dela sabiam apenas que alí as mulheres usavam véus para esconder o rosto, passaram a ver nela um exemplo a seguir: a Albânia nos ensinou, a todos nós que vivemos ainda no mundo capitalista, uma lição de coragem, de confiança e de resolução. Ela provou que mesmo um pequeno país pode derrotar o imperialismo estrangeiro e a reação interna se o povo se dispõe a combater, se possui uma vanguarda esclarecida, se os seus dirigentes são fieis ao internacionalismo proletário e são verdadeiros discípulos de Stálin. A epopéi,a dos guerrilheiros albaneses e coragem política do povo albanês, reafirmada na luta contra a camarilha de Tito, são páginas onde aprender, são um capital de todo o movimento operário internacional. Os rebanhos de carneiros pastam nos vales, a faixa branca das praias circunda o azul do mar, a Albânia se estende sob as nossas vistas. Para trás deixamos a Iugoslávia, essas estr adas que partem de Shkodra se dirigem para o Montenegro. Os olhos cubiçosos de Tito, mísera criatura de Truman e de Churchill, fitam com furiosa raiva as terras albanesas e a êsse povo indomável. Seu ódio contra a Albânia e contra os comunistas albaneses deve ser alguma coisa de terrível: os comunistas dêsse pequeno país souberam conservar-se fieis ,ao internacionalismo proletário quando Tito, cevado pelas gorgetas imperialistas, se afundou de vez no lodo do nacionalismo burguês, traiu os povos da Iugoslávia e o proletariado de todo o mundo. Tito pensava ,amarrar a Albânia n9 seu carro de guerra, oferecê-la de presente aos seus patrões ianques e ingleses. Quando o Partido Bolchevique, guardião sereno da causa do socialismo, enviou ao Partido Comunista da Albânia as cartas trocadas com o Partido de Tito, êle salvou m,ais uma vez a independência dessa pequena pátria. E Tito sofreu amarga derrota, o povo albanês pôde julgar lucidamente da verdadeira face do traidor. -

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Como resposta, Tito em desespero ameaça e provooa a Albânia. Sôbre uma fronteira de 477 quilômetros, ao norte e ao leste, se situam os inimigos titistas. E sôbr~ 200 quilômetros, ao sul, estão os monarco-fascistas gregos, os aliados em troca dos quais Tito abandon ~ a URSS e as democr~wias populares. Os cães do fascismo grego rosnam e provocam, sob o mesmo comando que dirige os gestos de Tito: o imperialismo agressor e guerreiro. Dois únicos países limitam com a Albânia, e os dois governos dêsses países são focos de ,agressão guerreira, são agentes sórdidos da Wall Street e da City: a Grécia mártir e a Iugoslávia traída. Ao oeste, numa costa de 315 quilômetros, o Mar Adriático e o Mar Jónio separam a Albânia da Itália democrata-cristã onde De Gasperi faz reviver o fascismo. Os inimigos da paz, do socialismo e do homem cercam e envolvem a Albânia por completo. Não pode existir situação mais dramática e, no entanto, que serena confiança, que altiva tranqüilidade, que poderoso entusiasmo criador em todo êsse povo, dos seus altos dirigentes aos mais simples camponeses das montanhas! Não ouvireis um albanês vos falar do cêrco terrível, dos perigos que circundam e ameaçam tão pesadamente sua pátria. :mie vos falará, cheio de alegria e de decisão, no trabalho ao qual todo povo se entrega, êle vos dirá dos êxitos na construção do plano bienal, da inestimável ajuda da União Soviética, da fraternal solidariedade das democracias populares, da amizade dos povos do mundo. Não elevará a voz numa queixa, numa súplica, numa lástima. E:Ie confia na luta dos povos pela paz, na sua vitória. li:le confia na luta do proletariado internacional contra a opressão imperialista. :mie confia nos povos grego e iugoslavos. E êle confia sobretudo, com essa confiança feita de certeza absolutamente certa, na União Soviética, baluarte da paz e do progresso, aliada da Albânia. E:sse silêncio do homem albanês sôbre as ameaças que o cercam, não quer dizer nem desconhecimento leviano do perigo nem falta de vigilância. As provocações dos titis-

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tas e dos monarco-fascistas se esboroam ante a firme resposta do povo albanês. O silêncio quer dizer certeza de vitória. O povo da Albânia sabe que está no caminho just o, naquele que leva ao futuro radioso do homem sôbre a terra e não teme nada. Continúa a trabalhar, num esforço heróico de construção, tão heróico que visitar a Albânia é ir de emoção em emoção, é encher o coração de ternura e de admiração, - ele continua a construir o socialismo. As&im êsse povo responde ao cêrco dos seus inimigos. :mie sabe que essas suas fronteiras ameaçadas estão defendidas por centenas de milhões de homens, por todos que lutam pela paz. ll'.:le sabe que os verdadeiros limites da Albânia passam muito além das suas fronteiras geográficas, que êles se estendem, através das democracias populares do leste da Europa e através da União Soviética, até a Mongólia, a Coréia e a China distantes, sabe que êles passam pelas trincheiras dos soldados da República do Viet-Nam, dos guerrilheiros da Malásia, da Birmânia, da Indonésia, das Filipinas, que êles são formados e defendi:. dos pelos trabalhadores de todo o universo, pelos doqueiros franceses e italianos em greve para não descarregar navios de guerra, que êles se prolongam pela, Ãfrica em luta contra o colonialismo, pela América Latina se levantando contra o imperialismo ianque, que êsses vastos limites estão no coração misterioso das selvas do Brasil, onde os camponeses gritam pela divisão das terras. Sim, o povo albanês confia e tem razão de confiar. ll'.:le prossegue sem medo seu admirável trabalho, cumpre suas t arefas e seus planos, contrói uma pátria nova e livre, porque essas fronteiras que o ameaçam são apenas geográficas enquanto as que o defendem são as fronteiras mesmo do homem, da vida e da dignidade do homem e essas são fronteiras invencíveis. Deixamos o mar, as praias de branca areia, transpomos novamente altas montanhas e alcançamos então a cidade de Tirana, num alegre vale, por entre árvores e colinas. Os grandes edifícios modernos crescem magestosos ao lado da velha cidade de pequenas casas de jane-

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Ja~ vermelhas, verdes e azúis que me transportam ao norte do Brasil. O minarete da grande mesquita se eleva ao lado de uma tôrre florentina. Flutuam bandeiras vermelhas nos edifícios. O avião vôa baixo sôbre a cidade, as faixas anunciando o Congresso pela Paz e saudando os delegados estrangeiros ornam as ruas. Uma brigada de jovens passa num jardim, oontando. Seus braçós se agitam saudando 0 avião. Ésse primeiro gesto cordial de acolhida se repete nas janelas das casas, nas praças cheias de gente, nas bandeiras desfraldadas em festa, nessa permanente festa de trabalho e de vida conquistada que é a República Popular da Albâni,a. «DESEJAMOS E NECESSITAMOS A PAZ»

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Na cálida noite, por entre as tortuosas ruas que cercam o bazar, sob uma lua amarela que se derrama por entre os minaretes, vou pensando na solene cerimônia que assisti à tarde, na Assembléia Popular, órgão supremo do poder na Albânia. A noite de Tirana me cerca, perfumada de flores e árvores, passam casais de namorados ao meu lado, o escritor Dhimiter Shuteriqi mostra-me a casa onde funcionou, durante a dominação italiana e alemã, a tipografia clandestina do Partido. E' uma modesta e velha habitação perdida nesse intrincado de ruas pobres, mas dela saiu a literatuta política que alimentou a luta do povo e que possibilitou o espetáculo que assisti hoje na Assembléia. Quando os representantes do povo votaram as resoluções do Comité Mundial dos Partidários da Paz pela interdição da bomba atômica, pela redução de armamentos, pelo entendimento internacional das grandes potências. Êsse ato, solene em qualquer parlamento, o foi especialmente nessa Assembléia albanesa porque aqui paz significa vida. Alí estavam os representantes eleitos do povo. Homens vindos das lutas de guerrilhas, do Exército de liber-

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lação, operarios, camponeses, intelectuais. No presídium da Assembléia vejo as figuras populares e queridas dos dirigentes do govêrno e do partido: Tuk Jakova, vice-primeiro ministro e secretário do Partido, o general Mehmet Shehu, antigo brigadista na Espanha, da qual fala com comovido acento, Bedri Spahiu e o rosto risonho do general Hysni Kapo. A sessão é presidida pelo presidente dos sindicatos, Gogo Nushi, e a seu lado estão o viceprimeiro ministro Spiro Koleka, o general Begir Balluku e a viuva de Nako Spiro, o dirigente vítima do «complot» titista, Liri Belishova. Êsse homem alto e moreno, de face quase infantil de tão humana, é o general Myslim Peza, herói do povo, chefe guerrilheiro nas montanhas, a quem chamaram de «Chapaev albanês». E, ao centro, entusiàsticamente aplaudido ao entrar, sorri o secretário-geral do Partido e primeiro ministro, o legendário Enver Hodja. A primeira coisa a impressionar nesses dirigentes do govêrno a começar de Enver, é a sua juventude. Mas êsse não é apenas um fenômeno do govêrno: êsse país está sendo construido pela juventude, nas suas mãos o povo colocou o seu destino. Toda a Albânia nos dá essa maravilhosa. impressão de adolescência, de juventude esplêndida, cheia da alegria de viver, plena de confiança no futuro. Essa impressão me deixou a face jovem - mas tão responsável - do chefe do govêrno e as faces quase infantis dos operários das fábricas. Aquí se começa tudo do início e são necessárias mãos jovens para erguer o edifício de uma poderosa nação. E' rude trabalho exigindo força e entusiasmo criador. Essa força e êsse entusiasmo que são próprios da juventude. Os deputados se levantam e se encaminham à tribuna. Traduzem-me os seus discursos, êles falam da paz. Cercado de inimigos, visado intensamente pela reação mundial, alvo das provocações imperialistas, para êsse povo a paz é uma necessidade. Êle conhece a guerra e o seu terrível preço. Apesar do rítmo do trabalho de construção e de reconstrução, ainda se pode encontrar, viajando pelo país, as marcas crueis da guerra. Milhares de -

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cidadãos dcíxaram suas vidas nas montanhas, as plantações foram destruidas as casas incendiadas, as pontes explodiram, o pôrto de Durazzo foi arrasado. Dessa guerra vitoriose. contra o nazi-fascismo, a Albânia saiu para a construção do socialismo. Todas as suas energias estão empregadas na transformação de um país, ontem completamente feudal, numa verdadeira pátria para o seu povo, criando-lhe uma indústria antes inexistente. mecanizando uma agricultura antes a mais rudimentar possível e, ao mesmo tempo, socializando-a, elevando a cultura em terras onde antes havia mais de noventa por cento de analfabetos. l'!:sse é um trabalho de gigantes e não é em meio a guerra que se pode pensar em realizá-lo. Os dirigentes e o povo que se entregam a tarefa tão pesada e difícil não podem desejar senão a paz, paz para que possam crescer as fábricas, possam ser estendidos os trilhos· dos caminhos de ferro, possam se levantar as escolas, possam se unir os camponeses nas cooperativas agrárias, possam os escritores escrever os seus livros, os dansarinos bailar os seus bailados. l'!:sse povo não apenas deseja a paz, êle necessita da paz, para êle é como o ar, como a comida e a água, .a, guerra significaria deixar de lado a construção para tomar outra vez das armas. Só mesmo o deslavado cinismo imperialista, ou a monstruosa vilania dos seus agentes titistas ou gregos, poderiam -acusar a Albãnia de ameaçar a paz balcânica. Que pode desejar e reclamar êsse povo, que pela primeira vez conhece a felicidade de ser livre e de poder trabalhar para si mesmo, que vê melhorar dia a dia seu nível de vida, senão a paz propícia ao trabalho? E' isso que repetem os oradores que se sucedem na tribuna da Assembléia. E o repetem em nome de todas as forças vivas da pátria. Falam generais e homens do govêrno, falam mulheres, fala..m operários e camponeses, representantes dos escritores e da juventude. «Desejamos e necessitamos da paz», dizem êles. Não há muitos dias caiu~me em mãos um maço de jornais brasileiros. Jornais reacionários, pagos pelo imperia-

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lismo americano. Reli nessas páginas imw1das as mesmas calúnias de sempre contra a União Soviética e as democracias populares. Como o ladrão perseguido que grita «Pega o ladrão», os imperialistas, desmascarados pelo movimento mundial pela paz, gritam pel,a sua imprensa que é a URSS, que são as democracias populares que preparam a guerra, que impedem o estabelecimento da paz. Nesses jornais lidos por mim últimamente encontro noticias sôbre as provocações gregas e iugoslavas nas fronteiras albanesas. Só que elas são noticiadas como violações pelas tropas da Albânia das fronteiras da Grécia e da Iugoslávia. O jornal não se peja de emprestar à Albânia intuitos conquistadores, de vestí-1,a com o torpe manto próprio aos homens da Wall Street. Essa grosseira mentira fará rir todos aqueles que conhecem a realidade dos fatos, que olhando num mapa podem se dar conta do absurdo de tais afirmações. Mas, infelizmente, essa imprensa vendida penetra em milhares de casas, é por vêzes a única fonte de informações d~ milhares de homens honestos mas distantes dum conhecimento real das coisas políticas. E ' necessário então repetir, repetir até a exhaustão, a verdade por mais primária que ela pareça ser. E a verdade é que a Albânia só pode desejar a paz e não 0. guerra pois só a paz serve o seu govêrno e o seu povo. E, como para a Albânia, essa afirmação é válida para as demais democracias populares e para a União Soviética. 1!::sse desejo de paz não significa medo de uma derrota se o imperialismo fôr às últimas conseqüências nas suas manobras criminosas. Ao contrário, êsse desejo de paz nasce da consciência da força invencível do mundo socialista sôbre o capitalista. Se os imperialistas preparam a guerra é que êles não confiam no regime capitalista, sabem que numa competição pacífica êles serão fatalmente derrotados. Como o serão também se chegarem à loucura da guerra. Não foi apenas na solene reunião da Assembléia Popular da Albânia que senti, como uma coisa tão concreta que quase se poderia tocar com as mãos, êsse desejo de -

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paz do povo albanês. Eu o senti em tôdas as partes, no Congresso pela Paz, nos «meetings» em Tirana e nas cidades do interior, nas conversas inúmeras com albaneses de todas as condições. Naquela mesma primeira noite de Tirana, quando a antecipada primavera mediterânea me conduzia ao azar pelas ruas da cidade, ouvi uma frase útil para dar a medida dessa intensa necessidade de paz. Uma das pessoas que estav,am ao meu lado, quando penetramos nas r uas J(lais pobres da parte antiga da cidade, onde as casas são incômodas e velhas, me disse : - Se você voltar dentro de cinco anos a Tirana, lhe garantimos que não mais verá nenhum bairro pobre, nenhuma velha casa feia, que nossa cidade terá mudado por completo sua fisionomia, será toda ela mais bela ainda que a sua parte nova atual. Fez uma pausa, acrescentou : - Se ganharmos a batalha da paz, se a guerra não vier interromper nosso trabalho ... Se ganharmos a batalha da paz. . . Em nós, partidários da paz de todo o mundo, confiam os albanêses. Quando êles levam para adiante sua heróica tarefa de construção do socialismo, o fazem convencidos da forc;•a do movimento mundial da paz e da sua capacidade de derrotar os provocadores de guerra, da sua vitória fina!. Quando desejo me dar conta da responsabilidade que pesa nesse momento dramático do mundo sôbre os ombros dos povos, penso na Albânia e no povo albanês entregues ao trabalho de construçiio. Penso nos operários da fábrica Enver, nos que levantam o combinado téxtil Stálin, nos Que estendem os trilhos das estradas de ferro, no poeta .Ale:xis Çaçi escrevendo um poema para seu filho recemnascido. Nós somos responsáveis também pela segurança do seu trabalho, pela continuid,ade da sua vida, está em nossas mãos, dos povos do mundo, a felicidade do povo albanês. Todas as vêzes que penso nisso sinto necessidade cb fazer alguma coisci a mais pela causa da paz. -

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Na primeira sessão do Congresso Nacional dos Partidários da Paz da Albânia, Monol Konomi, president e do Comité Albanês pela Paz, em seu informe, caracterizou essa situação: «A luta de nosso povo pela paz, disse êle - faz parte da luta que travam centenas e centenas de milhões de homens, livres e oprimidos, ela é inseparável da luta dos povos da União Soviética e das democracias populares, dos povos da França e da Itália, dos povos da América Latina e da Africa, dos povos da China, do VietN am, da Malásia, da Indonésia, da Birmânia e de numerosos outros povos. A luta de nosso pequeno povo livre faz parte da grande ofensiva que os povos lançaram cont r a a. política agressiva e os planos opressores dos imperialistas anglo-americanos e dos grupos financeiros e militaristas de Washington e de Londres, contra os provocadores de guerra e suas forças ocultas no mundo». E acrescentou: «A luta pela paz estendeu-se por todo o nosso país porque nosso povo quer atingir novos sucessos nq caminho do seu desenvolvimento e do progresso, porque nosso povo não deseja a volta do tenebroso passado, da reação, do fascismo. Nossos operários amam a paz e lutam contra os provocadores de guerra, porque êles são os donos das usinas e das minas que êles mesmos dirigem e onde êles trabalham. Nossos camponeses amam a paz e lutam em sua defesa porque a t erra e o frut o do seu trabalho não são mais propriedades dos «beys» e dos «aghas,», habituados a viver às expensas do povo, mas, ao contrário, a terra e os frutos pertencem aos camponeses. Nossas mulheres amam a paz e combatem contra os que contra ela atentam, porque elas não desejam que o luto as cubra novament e, elas não querem novos sofrimentos, elas não querem se separar ainda mais uma vez de seus filhos, de seus maridos, de seus irmãos. Elas muito sofreram, já muitas lágrimas derramaram durante a segunda guerra mundial. Os nossos jovens amam a paz e defendem a paz, porque os rapazes e as moças da Albânia nova têm todas as possibili,ie.des de desenvolver suas aptidões intelect uais, de preparar um futuro feliz». E concluiu : «Nessa luta contra -

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of. inimigos da paz, a vitória nos pertence, ela pertence à humanidade progressista, porque nossa causa é justa, porque a ela pertence o futuro». Essas palavras dão o tom de todo o Congresso dos Partidários da Paz da Albânia. Todos aqueles cidadãos albanêses que alí falaram, a começar pelo presidente do Congresso, Nexhemie Hodja (presidente da União de Mulheres Albanesas), até o camponês Thamas Thanasi, pai de três jovens guerrilheiros mortos durante a última guerra, r epetiram o desejo e a decisão de paz do povo Ja Albânia. Nos dois dias que durou o Congresso assisti a cenas emocionantes, a discursos comoventes. Ouvi operários de choque contando suas conquistas no trabalho e prometendo maior rendimento ainda, porque, em acelerando o ritmo da construção do socialismo, os operários estão lançando os alicerces fundamentais da paz. Ouvi os camponeses, muitos dêles com seus trajes típicos, falarem da terra agora sua, com amor filial e do seu desejo de fazê-la render ainda mais para que a fartura seja o quotidiano do povo. Ouvi o camponês Selim Koni, da cooperativa «Foice e Martelo», falar da socialização do campo. Ouvi o impressionante discurso da mãe do militante comunista Thanois Ziko, morto no exílio, um dos primeiros homens que levantaram na Albânia a bandeira de Marx e Engels, eu a ouvi relatar seu rapto pelos monarcofascistas gregos, como êles a torturaram durante o tempo em que 0. tiveram em seu poder, como resistiu muda a todas as torturas e como conseguiu voltar a terras de sua pátria. Ela falava também em nome da minoria grega de cidadãos da Albânia, hoje livres de toda a exploração nacional, e seu discurso foi pronunciado em grego, sua língua materna (aliás grego é também Mono! Konomi, ministro da Justiça e presidente do Comité da Paz). Ouvi a voz dos chefes religiosos, de Hafiz Musa, chefe de todos os sacerdotes e crentes mussulmanos (71 % da população religiosa), do arcebispo ortodoxo Paisi Vodica (os ortodoxos são 19% ), do padre católico Lec Sahtchia (os católicos são 10% ) e do chefe da seita mussulmana -

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dos «bektashi», êsse curioso e simpático Muftar Dédé, «bábá» (espécie de Papa) de todos os «bektashi» espalhados pelo mundo, pois os «bektashi» são uma seita universal cuja Roma é Tirana. Muftar Dédé disse porque os sacerdotes e os crentes - aqueles que se apresentam como portadores das palavras de bondade e justiça devem ser os primeiros a lutar pela paz e porque devem apoiar o Estado dirigido pelos comunistas, Estado de justiça social e de felicidade humana. Vestido com seu longo hábito verde, as longas barbas negras caindo sôbre o peito, enormes brincos nas orelhas, êsse chefe religioso chegava das montanhas onde durante quatro anos, de armas na mão, defendera a independência de sua pátria, e sua palavra era ouvida com respeito por todos. Vieram os pioneiros, o futuro risonho do mundo, vieram os jovens, vieram os soldados e marinheiros que guardam contra as provocações imperialistas as fronteiras terrestres e marítimas da pátria. Ouvi a voz grave e culta de Shevqet Mussaraj, Presidente da União de Escritores, em nome dos criadores de literatura. E jamais poderei ~squecer a face severa e nobre de Silla Dura, uma idosa mulher vestida de luto, um chale negro sôbre a cabeça dolorosa, cujo filho, Mihal Duri, foi assassinado pelos fascista.s italianos em Tirana. Seu discurso, simples palavras sofridas de u'a mãe roubada ao carinho do seu filho, era a acusação maior aos provocadores de guerra. Todos êles afirmaram não apenas seu amor pela paz mas também o quanto a paz lhes é indispensável, para o seu trabalho, para a grandeza de sua pátria, para a felicidade de seu povo. Outras vozes, porém, além das albanesas, se fizeram ouvir nesse Congresso pela P.az e elas eram como uma resposta a esta confiança de um pequeno povo, que conquistou seu direito a uma vida livre, na força e na solidariedade dos povos do mundo: as vozes dos representantes do Comité M1mdfo.l elos Partidários ela Pez e de diversos Comités Nacionain. Em nome das centenas de milhões de homens dispostos a barrar o caminho dos agressores, le-

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\rei ao povo albanês a certeza de que a sua causa era a nossa causa, de que a sua luta era a nossa luta, de que a sua vitória era a nossa vitória. Podeis imaginar o que significa para êsse milhão de homens e mulheres, saídos da escravidão fascista para as alegrias do socialismo em construção, essa solidariedade expressada. E podereis assim imaginar o mar de aplausos que cercou o general soviético Gundorov, delegado do Comité de Partidários da Paz da URSS. No momento em que o general Gundorov se encaminhou para a tribuna vi nascerem os sorrisos nas faces dos congressistas, um sorriso de certeza na causa que alí os reunia. Ao aplaudir o general soviético, êles aplaudiam os povos da URSS, g~rantia da paz mundial, o Exército Vermelho, guardião invencível da paz, o Partido Bolchevique, dirigente dos povos que marcham para o comunismo, aplaudiam o camarada Stálin, pai dos povos. Falaram depois os delegados dos povos búlgaro, francês, alemão, tchecoslovaco, húngaro e polonês. Telegramas chegaram dos partidários da paz da Itália e da Rumânia, da Mongólia e da Coréia, da China libertada e agora pesando, com seus quinhentos milhões de filhos, na balança dos destinos do mundo. ~sses discursos e êsses telegramas expressavam a confiança e o amor dos povos Jlela Albânia, vinham lhe dizer que o povo albanês não está só, que êle conta com todos os homens de bem do mundo. Ã noite, nessa mesma sala onde se realizou o Congresso, assisti a um espetáculo de bailado popular albanês. As dansas dos camponeses, dos pastores das montanhas, os trajes típicos conservados através os tempos, os instrumentos musicais característicos, as melodias nacionais, me mostravam como êsse povo soube conservar, apezar da dominação estrangeira e dos duros séculos de opressão, sua personalidade nacional. Novamente sôbre êle pesam hoje as ameaças, novamente os inimigos o cercam, hoje quando êle, livre e entusiasta, constrói vida e beleza. No enhnto, não foi a palavra rrucrra que ouvi na Albânia. A República Popular está colocada sob o signo da paz, da -

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fraternal aliança com a União Soviética, oom as demais democracias populares, com os povos de todo o universo O Congresso pela Paz foi ardente meus-agem de amor , en: viada pelo povo da Albânia, a todos os homens. De amor e confiança. O TREM DE FERRO

Lá vai êle, o trem de ferro puxando os seus vagões repletos. Podereis dizer que, de tão repetida, essa visão de um trem de ferro que corre sôbre trilhos, atravessando c-ampos e montanhas, ela já passou para o ról das coisas triviais, para o habitual da vida de todos os dias, não merece sequer um olhar indiferente quanto mais uma exclamação de surpresa. Eu vos direi que êsse trem de ferro que percorre os trilhos que ligam Durazzo a Peqin e Durazzo a Tirana, vale bem mais que um simples olhar curioso, que uma viva exclamação de surpresa. Êle vale um poema onde o lirismo mais doce se misturasse à mais poderosa epopéia, um poema sôbre a coragem e a confiança de um povo, onde os heróis fossem jovens operários e camponeses, vindos do fundo escondido da montanha para criar o progresso. Para mim êsse trem de ferro correndo sôbre os trilhos em direção a Tirana, vindo do mar para atravessar as montanhas, é pura poesia solta na paisagem, possui todos os elementos de I).ovidade e de surpresa, toda a misteriosa beleza de uma coisa antes desconhecida. E ' preciso fitá-lo com os olhos desses camponeses da Albânia que jamais antes haviam visto uma locomotiva sôbre os trilhos, que não haviam entrado em nenhum vagão de est rada de ferro porque antes da guerra não existia nem um único metro de trilho, nem uma única locomotiva nesse país. E, como sôbre a quase totalidade do povo pesava a desgraça do analfabetismo que os «beys» lhe impunham par a melhor o explorar, nem mesmo nas páginas dos jornais êles tinham aprendido a saber o que é uma estrada de ferro, -

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não conheciam, nem de fotografia nem de ouvir dizer, o espetáculo imponente da máquina lançando fumaça, das rodas correndo sôbre o aço dos trilhos. Muitas vêzes ouvi, no interior distante do Brasil, em melo às plantações feudais, discussões de camponeses sôbre o trem de ferro que passa a dezenas de quilômetros de distância, nas terras mais felizes da costa atlântica, onde a civilização chegou. 11:les o imaginam como um monstro imenso e aterrador, lançando fogo pelas narinas, impaciente de partir numa velocidade diante da qual o mais ágil cavalo se transforma numa tartaruga, soltando, de quando em vez, um tão terrível apito que basta, êle só, para arrepiar os cabelos do homem mais corajoso. E' como que a personificação das antigas lendas do «boi tatá», o imaginário senhor das florestas virgens. De qualquer maneira, porém, essas discussões, que até hoje prosseguem, dos camponeses brasileiros sôbre o trem de ferro, se baseiam em informações daqueles viajantes que o têm visto passar sôbre os trilhos, lançando sua fumarada ao vento. Êles sabem que mais além da prisão da fazenda feudal, onde decorre sua vida de servos, existem as cidades, a água sem fim chamada mar, e o trem de ferro transportando gente, animais e c•arga. Essas notícias tinham chegado aos seus ouvidos, como estão chegando também muitas outras, especialmente aquelas sôbre terras onde o camponês não é propriedade do senhor das plantações, onde não vive pior que as bestas do campo, sôbre países onde um «senhor comunismo» tomou as terras dos ricos e as distdbuiu entre os que as trabalham. 11:les pensam nesse «senhor comunismo» como num bom deus amigo dos pobres e inimigo da injustiça. Até que um dia lhes cái nas mãos um retrato de Stálin e êles personificam sua revolta e seu futuro. Assim sucede com os camponeses brasileiros. Mas os da Albânia não tinham em sua costa adriática nenhum trem de ferro do qual lhe chegassem distantes e deformadas notícias sôbre as quais imaginar nas longe.s conversas sob as estrêlas. Era o completo desoo-

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nhecimento nesse mundo de atraso secular. Locomotiva trilho, vagão, caldeira, eram palavras sem qualquer aigui~ ficação, termos que não haviam atravessado o mar e e.s montanhas, inexistentes na língua dos camponeses da Albânia. Chegaram os novos tempos, após a guerra, quando os fuzis da revolta contra o fascismo cessaram de soar libertada a Pátria. Os destinos do povo estavam na~ mãos dos comunistas, da classe operária, dos trabalhado. res, eram os destinos do progresso e da felicidade. Os trilhos, inimigos dos senhores feudais e dos imperialistas eram necessários à República Popular. A juventude en~ carregou-se de construir os primeiros cinquenta quilõ. metros de via férrea, ligando o porto de Durazzo à ci. dade de Peqin. A notícia logo se propagou por toda o. Albânia. Os jovens operários convidavam os jovens cam. poneses a virem colocar os trilhos, a perfurar os túneis a construir as pontes para sôbre êles correr o trem d~ ferro. Imaginai que epopéia admirável ! Milhares de homens construindo algo que não sabiam sequer o que era, milhares de jovens cujos ouvidos jamais tinham ouvido o apito de uma locomotiva, colocando os trilhos de um caminho de ferro. Contaram•me que velhos camponeses desceram das montanhas para espiar os trabalhos antes de consentir que seus filhos impacientes fossem colaborar na construção. E quando voltavam não enviavam apenas seus filhos, enviavam também qs filhos dos parentes e dos vizinhos, eram propagandistas ativos do trabalhe dos brigadistas. Muito heróico ·feito de trabalho têm os ho• roens das democracias populares para contar, especial• mente os jovens. Mas de nenhum sei que contenha tanta poesia quanto a construção da primeira estrada de ferro na Albânia, feita por homens que não imaginavam sequer o que eram locomotivas e vagões, homens que não só y.¾,mais haviam penetrado numa gare ferroviária mas que nunca haviam visto trilhos em sua vida. E não só cons• truiram êsses primeiros cinquenta quilômetros e mais cinquenta depois, e constróem agora ainda outros cm-

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quenta, mas formaram ao mesmo tempo os maquinistas e foguistas, os chefes-de-trem e os chefes-de-estação, os técnicos todos necessários para o seu funcionamento. Que confiança nos dirigentes do govêrno, que confiança no partido, que confiança no futuro! Êsses milhares de jovens que desceram das montanhas, que deixaram os rudimentares instrumentos da lavoura ou os rebanhos nos seus pastos, vieram transformar por completo sua vida. Muitos e muitos dentre êles trabalham hoje nas fábricas, na própria estrada de ferro, aprenderam a ler e a escrever, a locomotiva não ligou apenas duas cidades, ela atravei;sou e revolucionou aquelas vidas. Podeis agora imaginar sem dúvida porque êsse trem sôbre os primeiros trilhos albaneses leva com êle não só 0 progresso como também a poesia. Porque viajar nele não é simplesmente transportar-se de um ponto a outro, é participar de uma festa. O trem aquí não perdeu ainda, para muitos e muitos, o caráter de novidade. As notícias sôbre êle se propagaram de boca em boca e até hoje camponeses descem das montanhas para vê-lo, para nele viaiar e essa é uma grande e bela aventura, é apossar-se do progresso e da vida. Não será um curioso olhar indife1 ente que lançareis a êsse trem. Ficareis apaixonado por êles pois seus vagões estão plenos de homens rudes em cujos olhos brilha uma chama de emoção. Homens que jamais haviam visto e viajado num trem. Há uma animação enorme nos vagões, a gente se pendura nas janelas para ver a paisagem correr, o ar orgulhoso dos maquinistas e foguistas vos diz que aquí, nesse pequeno país onde habitava o atraso, o terror e o obscurantismo, se constrói uma vida nova e que nenhuma conquista é impossível a êsse povo. Agora êles abrem novos túneis nas montanhas, colocam novos trilhos, dominam máquinas antes desconhecidas. Mas, quando, há apenas quatro anos, êles vieram construir essa estrada, nada entendiam de túneis nem de locomotivas. Traziam com êles apenas a liberdade e a confiança, a certeza de que o socialismo significa fartura e felicidade. -

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Enver Hodja, falando sôbre o trabalho de construção em sua pátria, disse: «A vida nova pertence à juventude, ela a merece inteiramente porque ela e. edifica com seu suor, com sua inteligência e com seu coração». São palavras formosas e verdadeiras como êsse trem de ferro que passa puxando vagões cheios de camponeses sorridentes, libertos da miséria da vida feudal. O poder popular não lhes trouxe tão sàmente o progresso; o poder popular deu-lhes a possibilidade dêles mesmos construirem o progresso . Estou num automóvel que corre pela estrada em direção aos campos petrolíferos de Kuçova. O trem nos acompanha durante algum tempo. Camponeses abanam lenços coloridos nas janelas dos vagões, numa saudação amiga. Suas vozes se elevam, êles gritam seu contentamento. Passamos por uma estação, é como um domingo de festa numa pequena cidade. O trem apita numa curva, os lenços não cessam de nos saudar. A poesia viaja com êsse trem, a poesia de uma vida nova, a ardente e imortal poesia da construção do socialismo! OS HOMENS DOMINAM AS MAQUINAS

Nas proximidades de Tirana começa a se elevar uma nova cidade industrial. Alí funciona a fábrica Enver de construção de peças de máquinas, alí se está levantando um grande combinado téxtil que leva o nome de Stálin. Os edifícios, onde em breve serão instal,ados os fusos que produzirão todo o tecido necessário ao povo da Albânia, sobem ràpidamente: equipes de jovens, de operários, de camponeses, de estudantes, vêm trazer diàriamente a ajuda do seu trabalho gratúito ao esforço do Estado. Mas não são apenas êsses edifícios do corpo da fábrica que se erguem num rítmo acelerado. Visitei os edifícios modernos de apartamentos - as casas onde habitarão os operários do combinado -- cuja construção se termina. Os -

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operários dessa grande fábrica téxtil terão residências novas confortáveis e belas. O edifício da escola, o do cinema' o do teatro, o do clube de cultura, estão em construçã~. Não é um capitalista que lança aquí os fundamentos de uma empresa pensando somente no seu lucro, em gastar o menos possível para ganhar o máximo. E' um Estado popular, em marcha para o socialismo, que constrói uma empresa da qual o povo será proprietário e que pensa, antes de tudo, nos homens que trabalharão nessa fábrica porque, como ensinou Stálin, «o homem é o capital mais precioso». Quando se eleva uma grande fábrica como essa, é toda uma cidade bela e confortável que se eleva em tôrno dela para os operários. Recordo as habitações miseráveis circundando as grandes fábricas do Rio de Janeiro, as «favelas» onde habitam os trabalhadores. Em minha pátria, como nos demais países capitalistas, como que a fábrica esmaga tudo cm redor, inclusive a vida dos que a movimentam. Distante, nos bairros aristocráticos, nas praias de toda beleza, estarão as residências opulentas dos seus proprietários. Mas, em tôrno da fábrica é a fome, é o deprimente espetáculo das choças infames onde se aglomeram famílias enormes. Nas democracias populares - a exemplo do que sucedeu na União Soviética - a fábrica é parte de todo um conjunto arquitetônico de esplêndida unidade: as escolas, as créches, 0.s casas de repouso, os clubes de cultura, as bibliotecas, as residências confortáveis dos operários, os armazens, os jardins de infância, o teatro e o cinema. Montado sôbre as paredes em construção dos edifícios da fábrica, examino a paisagem em redor, ouço as explicações do engenheiro: aquele edifício grande será a escola, aquele outro mais adiante o clube de cultura, todos aqueles, grt!pos de casas são apartamentos para os operários. Fecho os olhos por um momento e vejo, nessa paisagem antes abandonada, a cidade operária de amanhã, formigante de gente os risos infantis dos filhos dos trabalhe.dores ecoando nos jardins de infância, homens maduros que ontem não sabiam ler retirando livros da biblioteca, viajando com êles através do -

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mundo e da ciência, enriquecendo-se com os bens da cultura. Daquí, do alto dêsses pilar es e das paredes pela me. tade, posso enxergar o futuro. E penso, então, no significado da existência da União Soviética para todos êsses povos das democracias populares, para êsse pequeno povo da Albânia. Até mim chegam as vozes dos brigadistas cantando canções populares. Um nome me sôa familiar na língua desconhecida, é 0 nome de Stálin. Explicam-me que a canção albanesa fala dos novos tempos felizes e da gratidão do povo a Stálin seu melhor amigo. Próximo a mim, o engenheiro soviétic~ que dirige os trabalhos sorri com afeto aos seus ajudantes albaneses. E' um homem forte, já de certa idade, os loiros cabelos começando a pratear. O intérprete me traduz suas palavras : - Êle diz que é ~mpressionante como os homens vindos da montanha dominam quase imediatamente a técnica do trabalho . . . Na minha frente, tra1:sformado em pedreiro, está um velho camponês, vestido ainda com seu típico traje montanhês. Sob as suas mãos, acostumadas ao amanho da t erra , crescem agora as paredes. Um sorriso ilumina o r osto do engenheiro soviético. Sinto-me cercado por um cálido sentimento que envolve os edifícios e os homens, que me chega do camponês levantando a parede, do engenheiro soviético, dos brígadistas cantando uma canção em lOl.\VOr de Stálin, de todo êsse mundo nascendo sob os meus olhos: e compreendo que êsse sentimento tão poderosamente presente é o internacionalismo proletário, é a fraternal solidariedade dos trabalhadores posta em prática alí, naquele subúrbio de Tirana. A União Soviética ajuda, intensa e desinteressadamente, o povo albanês a construir uma grande pátria. «A União Soviética - disse Enver Hodja - nos deu a liberdade, nos deu a vitória, e, agora, nos dá a luz e a vidab>. Êsse combinado téxtil que vai, nos dias próximos, fornecer todo o tecido de que necessita o povo albanês, foi enviado pela União Soviética ao povo da Albânia e, com êle, os técnicos necessários -

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parn montá lo, para ajudar a criar os t6c:nicos albaneses.

A Albânia, explorada antes pelo imperialismo italiano,

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atrasada nas mãos dos senhores feudais, sacrificada pela Jonga guerra de libertação, estaria certamente impossibilitada de erguer-se ·econõmic~IY'en1..e, de lançar os fu•1el· mentos do socialismo, se a União Soviética não viesse em sua ajuda, fornecendo-lhe o que ela necessita de mais essencial. A Albânia é ainda pobre e não pode pagar em dinheiro contado, nem em breve praso, as máquinas, o aço, as locomotivas, tudo que lhe envia a URSS. Mas para os povos soviéticos «internacionalismo proletário» não é uma vã expressão. E êles ajudam, de todas as formas o povo albanês que, cercado de inimieos, lança os alicertcs do socialismo e do bem estar. Saímos da visita ao combinado Stálin para a fábrica Enver. Antes da libertação, quando as terras da Albânia eram dominadas por Zogú ou pelos fascistas italianos, não existiam técnicos albaneses nas raras fábricas do país nem nos campos de petróleo. Os técnicos vinham todos rada, humilhada em sua condição humana, as portas c":o futnro fechadas par.1. ela. Como poderia ser então alegre quando sua juventude se estiolava nos serviços domésticos de uma familia rica, quando seu futuro se reduzia a varrer pelos anos afora corredores e salas, a lavar os pratos da mesa farta. dos patrões, tudo isso em troca de casa e comida e de umas poucas moedas? Hoje, são seus os livros e o domínio das máquinas, BS escolas e as conferências, os jornais e o teatro. Faz parte de um coral, de uma célula elo partido, discute e estuda, é um ser humano na posse do seu próprio destino. Ao lado da sua máquina vi dois retratos : o de Enver Hodja e o de Josef Stálin. O diretor da fábrica explica: - E' um dos melhores operários que possuímos. Tem um grande futuro diante de si ... Penso com ternura e gratidão nos homens que lhe abriram as pel'spectivas de todo êsse futuro: Marx e Engels, Lênin e Stálin. Dimitrov- e Enver Hodja. A moça -

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«Faces sorridentes desfilam sucessivamente e o sol1 a lua e as estréias se unem, e uma grande luz invade a nossa terra.» E' a aurora do socialismo. LITERATURA, CANTO, TEATRO E OUTRAS ARMAS DO POVO

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Nesse país - já o notara Ilya Ehrenburg quando por aquí passou após a libertação - tudo acontece «pela primeira vez» : é pela primeira vez que as locomotivas correm sôbre os trilhos nessas terras, pela primeira vez o camponês trabalha terra sua, pela primeira vez um teatro se eleva em Tirana, pela primeira vez existem sindicatos organizados e escolas secundárias. Não direi que também a literatura começou após a libertação e o estabelecimento do poder popular. Não, a literatura albanesa, apesar de jovem, começou a existir nos meiados do século passado, com o aparecimento de Naim Frasheri, o grande poeta da renascença nacional. El,a foi durante êsses cem anos um fator ativo na luta do povo pela independência e pela liberdade. Mas somente agora, depois d-a guerra, a literatura albanesa pode desenvolver-se livremente, pode desempenhar por inteiro seu grande papel -

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de educadora das massas populares, de arma do povo na conquista de uma vida melhor. S6 hoje os escritores albaneses encontram facilit,adas todas as condições necessárias ao amplo desenvolvimento da obra de criação literária. O mesmo pode ser dito em relação aos artistas e aos sábios. Antes não havia propriamente um público. A imensa maioria do povo, noventa por cento em média, e em algumas regiões 95 por cento, era analfabeta, não sabia ler nem escrever. Isso limitava de muito o poder de penetração da literatura, diminuía-lhe sua força de arma revolucionária. Os grandes poemas do renascimento nacional chegavam às grandes massas aos pedaços, na repetição oral feita pelos cantores das aldeias. Muitos escritores estavam distantes da sua pátria, no exílio. Outros, sem a coragem necessária para ficarem fieis ao seu povo escravizado, rendiam-se aos conquistadores turcos, aos senhores feudais de Zogú, ao fascismo italiano. Castravam assim seu poder criador, poder que emana exclusivamente do povo, suicidavam-se como escritores e como cidadãos. Os melhores resistiam, fundavam revistas como essa «Mundo Novo». de Korça, onde aparecem os nomes, hoje nacionais, de Shevqet Mussaraj, Alexis Çaçi e Dhimiter Shuteriqi. Êsses mesmos que iriam depois tomar os fuzís de guerrilheiros, sob o comando de Enver Hodja, e entre êles contava-se um dos heróis mais puros desse povo, o jovem Qemal Stafa,. secretário-geral da Juventude Comunista, morto em luta contra o~ fascistas italianos, em Tirana. E' a fundação do Partido Comunista, em 1941, que vem dar uma verdadeira direção à atividade literária. Da mesma maneira que em torno dêle se congregou todo o povo para expulsar os fascistas italianos e, após, os nazistas alemães, em torno dêle se congregaram os escritores fieis ,a.o povo, aqueles que não haviam cantado nem a opulênda feudal de Zogú nem as camisas negras dos opressores da pátria, aqueles que não foram tentados pelos -

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títulos acadêmicos e fascistas nem pelas facilidades oferecidas pela burguesia. Tomaram os caminhos da montanha quando o povo se levantou em armas sob a bandeira gloriosa do Partido. A nova literatura albanesa nasceu no fogo dos combates dos guerrilheiros, cresceu ao mesmo tempo que o Exército de Libertação Nacional, desenvolve-se, ganha maturidade artística e ideológica ao mesmo tempo em que avança a Albânia no caminho do socialismo. Isso faz com que essa jovem literatura, onde um entusiasmo vital e uma frescura de juventude são as grandes características fund,amentais, não tenha, a entravar-lhe os movimentos, as marcas dos formalismos decadentes, da influência malsã da literatura burguesa ocidental, ainda visível em muitos escritores das demais democracias populares. E la foi concebida pelo povo subjugado e nasceu do povo em armas. Os escritores tomavam da pena para criar seus poemas e seus contos quando silenciava o ruído da batalha. E por vêzes tinham que interromper pela metade uma estrofe porque era necessário novamente tor.1.ar do fuzil, era necessário continuar o ataque. Foi nos órgãos clandestinos e nos jornais dos guerrilheiros que Shevqet Mussaraj publicou grande parte de sua obra poética de então. Foi assim que Dhimiter Shuteriqi compôs seu poema «ó Ptolémé», sôbre seus camaradas tombados em combate, e o seu poema «A Enver». Foi alí que Alexis Çaçi e Zihmi Sako adquiriram sua mestria literária. f\lí, nas montanhas, o fuzil ao lado, Andrea Varfi, Kole J akova, Fatmir Gjata, Gjiki Kuqali encontram suas fontes de inspiração e se fazem escritores. Depois da guerra começou o grande trabalho de construção. O problema da cultura se coloca, num país como a Albânia, como se colocará amanhã num país como o Brasil - países relegados ao obscurantismo por um regime semi-feudal e semi-colonial - , como um problema de profundidade mas antes de tudo de extensão. Antes de tudo é necessário arrancar o povo do analfabetismo, darlhe a carta de ABC para que êle possa chegar e.o poema -

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e ao romance. Na Albânia, antes da guerra, existiam para todo o país 300 e poucas escolas primárias. Mostraramme alguns dos «edifícios» onde funcionavam essas «escolas». Palhoças miseráveis bem mais semelhantes a chiqueiros para guardar animais que a centros de educ,ação para crianças. Hoje, as escolas modernas, quatro mil escolas primárias levantadas pelo poder popular, claros edifícios confortáveis, são os mais belos monumentos em meio à beleza da paisagem. De 300 miseráveis palhoças para quatro mil verdadeiras escolas, além dos milhares e milhares de escolas de alfabetização de adultos, de cursos noturnos, de escolas técnicas, espalhaãos por todo o país, eis como a República Popular extende a cultura, cria condições reais para o desenvolvimento da literatura, da arte, da ciência. Em relação a 1938, o número de escolas secundárias h avia aumentado em 1948. na incrível proporção de 930 por cento. A luta contra o analfabetismo é uma tarefa de todo o povo: aquele que aprende a ler, que descobre de súbito o mundo maravilhoso oue a ignorância lhe escondia, vai êle mesmo ensinar aos seus visinhos e parentes. O fantasma do analfabetismo está sendo liquidado, e o público, inexistente antes, comeca a devorar os livros para cuja produção cresce:.lte as oficinas gráficas albanesas já se revelam pequenas. Antes da guerra, quinhentos ou mil exemplares era a mais alta cifra obtida por um livro publicado nésse país. Hoje, só da História do Partido Bolchevique já se venderam mais de 60 mil exemplares; existem obras de literatura com tiragens de 30 e 40 mil, a tiragem média subiu a 20 mil. E' qualquer coisa de admirável. '.Êsse pequeno país encravado nos Balkans, com seu milhão de habitantes, ainda ontem com noventa por cento de analfabetos, publica hoje, cinco anos apenas após a tomada do poder pelo proletariado, os livros dos seus escritores e estrangeiros em tiragens que são elevadas mesmo para os países capitalistas mais cultos. Quando leio na imprensa burguesa as costumadas infâmias sôbre a «barbárie oriental» dos comunistas, penso nessas cifras albanesas de livros publicados e -

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vendidos, penso nos escritores albaneses que só hoje têm ampla liberdade de criar. Se alguma coisa pode demonstrar o amor à cultura, de um govêrno, é o trabalho roo.lizado pelo govêrno albanês nesse terreno. A União Soviética. e as democracias populares são a pátria do livro, do romance, do poema, são a pátria de. cultura. Já escrevi noutra parte que só o proletaria.do no poder pode dar aos escritores, especialmente nos países de pequena força econômica, um grande público e uma completa universalidade. Durante anos e anos a literatura da Albânia foi desconhecida para o mundo. Hoje, os poemas de Çaçi são publicados em várias línguas, os contos de Mussaraj são lidos por trabalhadores de vários países, tenho na minha mesa de trabalho poemas, contos e ensaios de vários escritores albaneses em tradução francesa. Por outro lado, só hoje o povo albanês pode ler os grandes escritores estrangeiros. Só hoje pode enriquecer-se com a leitura dos escritores soviéticos, antes proibidos como subversivos. Só hoje êle pode ler os clássicos imortais e os contemporâneos ilustres. Só a classe operária no poder leva toda a cultura a todo o povo. Essa jovem literatura albanesa está fadada a um grande futuro. Intimamente ligada à vida do seu povo, ela se encontra diante dos mais apaixonantes motivos de criação literária: os que decorrem da luta pela construção do socialismo. Os escritores albaneses estão conscientes da sua missão. Mussaraj, Shuteriqi, Sako, Çaçi, Mark Ndoja, Kole Jakova, Fatmir Gjata, Llzar Siliqi, Gjercj Komnino, Nonda Bulka, Veis Sejko, muitos outros, fazem da vida do povo, da sua luta heróica pela independência e pela liberdade e da sua luta ardente pela construção do socialismo, o motivo das suas obras, continuando ·a tradição de Momo Meto, o poeta bem-amado pelo povo que deu sua vida na luta contra o fascismo agressor. Recolhem no seio do povo a inspiração mais pura, seus versos e sua prosa estão marcados pela personalidade nacional da Albânia, êles se embebem da forma popular que faz ressaltar ainda mais denso o conteúdo socialista. O govêrno -

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popular criou para os escritores condições de vida que lhes permite dedicar-se, sem problemas econômicos, ao seu trabalho de criação. A nova literatura albanesa, não encontra hoje nenhum obstáculo ao seu desenvolvimento. · Mas não apenas a literatura. Uma das coisas que mais me comoveram na Albânia foi um espetáculo de «ballet» popular, interpretado por crianças, no teatro de Shkod.ra. Vi também os jovens bailarinos do Teatro Nacional de Tirana. As dans-as do povo, como as suas canções ontem exiladas nas montanhas, sem direito de cidadania' desprezadas pelos senhores feudais e pela burguesia, essa~ dan&as e essas canções que não eram consideradas arte, são hoje recolhidas, estudadas, ensaiadas, dansadas e cantadas nos teatros. Uma escola de «balle~> funciona em Tirana, os jovens dansarinos albaneses ganhar am prêmios e alcançaram um sucesso enorme no festival da Juventude, em Budapest. Teatro não existia antes nessas terras. Nem t eatro nem dramaturgia. O govêrno popular criou os teatros, apoia o desenvolvimento da comédia e do drama, do «ballet» e do canto. Hoje, os camponeses das mont anhas quando vão à cidade podem ir ao teatro, novidade t ão grande quanto a locomotiva. Duzentas e trinta e cinco bibliotecas tinham sido fundadas, somente até 1948, nas fábricas e nas cooperativas. Em 1948 já funcionavam noventa e um corais, cento e vinte e um grupos teatrais, vinte e nove orquestras e trinta e sete grupos de «ballet ». Essas cifras cresceram no ano de 1949. Em 1948, mais de cinco mil trabalhadores participavam já das atividades artísticas. Nenhum único museu em toda a Albânia, antes da guerra. Hoje, em Tirana, podeis visitar o exemplar Museu de Arqueologia e Etnografia, o Museu Histórico do movimento de libertação, podeis também visitar o Museu de Shkod.ra. Não havia Biblioteca Nacional, hoje um dos mais belos edifícios de Tirana é uma ativa casa de livros, uma Biblioteca cheia de leitores e de estudiosos. -

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Culturalmente, a Albânia era ontem o nada, hoje é um exemplo para o mundo. Cercada de inimigos, entre provocações repetidas dos servos do imperialismo, não é

para as despesas de armamento, para os ministérios militares que o govêrno reserva a maior parte do seu orçamento nacional. E' para criar o bem-estar e 0, cultura do povo, é para elevar material e intelectualmente a vida dos cidadãos. AS CRIANÇAS DORMINDO

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As casas de Shkodra estão escondidas por altos muros que •a s cercam, guardando-as dos olhos indiscretos. Mas os véus já não cobrem os rostos das mulheres, formosos rostos morenos de camponesas abertos em sorrisos sadios. Sei que mais além do nosso programa oficial desenvolve-se o mercado de Shkodra, onde os camponeses vêm vender os seus produtos, arrancados da terra, mas também o finíssimo tecido feito a mão, os trajes típicos confeccionados em casa, a cerâmica popular, os trabalhos em prata dos sábios artezãos. - Hoje é dia de «bazar» . . . - deixara escapar alguem enquanto os automóveis paravam para uma visita oficial. Quem pode resistir à tentação de um mercado, de uma feira de camponeses e quem o pode fazer quando ela se veste com o nome das mil e uma noites de «bazar»? A tentação de fugir para o «bazar» formiga pelo meu corpo e informo-me, com um ,ar conspirativo, do programa que nos espera. Há coisas importantes, sem dúvida, mas considero que sou um contador de histórias, um escritor de romances, e que, asaim, não tenho direito de me furtar ao «bazar». Nenhum romancista jamais pôde r esistir ao convite de um mercado de camponeses. Arrasto comigo o escritor albanês Dhimiter Shuteriqi, conhecedor desses costumes, familiar dessas pratarias e dêsses tecidos, -

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abandono os automóveis oficiais. O escritor Adjarrosky Ibragirnov, presidente da. União de Escr itores da República Soviética do Azerbaidjan, e o grande artista do cinema soviético Boris Tchirkov advinham minhas intenções e olham-me com evidentes desejos de seguir-me. Más já o programa oficial continua enquanto eu e Dhimiter desaparecemos numa esquina. Ah! a festa dêsse «bazar » com o seu colorido de verduras e tecidos, de cerâmicas e animais, de prata e pão negro! Como a esquecer jamais quando ainda ressôa em meus ouvidos a argentina risad,a da gorda camponesa à qual perguntei onde deixara seu véu maometano. Ela apontou com o dedo qualquer ponto distante na paisagem e me respondeu: - O véu era bom nos tempos de ontem quando s6 .1avi,a coisas feias e ruíns para se ver. Hoje, é um tempo de boas coisas para os camponeses. Não quero tapar meu rosto, assim posso ver melhor ... Sento-me ao pé de uma velha curvada sôbre sua roca primitiva, de onde nasce um finíssimo tecido. Com tecidos assim se vestiram certamente a «Gata Borralheira,», a «Pele de Asno» e as demais heroínas dos contos das mil e uma noites, para as festas encantadas. Os dedos da velha são como dedos de fada, criando a beleza desse pano branco que sugere bodas felizes, bailados no campo, a fartura das colheitas. E la vai fiando e contando. Não existe talvez originalidade em sua história, igual a dezenas de milhares de outras que vos contarão os camponeses das democracias populares, mas a velha possui o dom da narração e vejo desdobrar-se diante de mim, na sua voz cans,ada, o quotidiano de dor da vida dos camponeses da Albânia sob o domínio feudal dos «beys». Como a vida dos camponeses do Brasil nos dias de hoje. O trabalho de estrêla a estrêla, a existência de animais sem nenhum confôrto, o terror dos senhores da terr,a podendo tudo, possuindo todos os direitos, roubando ao camponês todo e qualquer direito . . . Ela conta da miséria da sua casa, das injustiGas sofridas, das amarguras diárias, e do poder, -

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da opulência, da soberba crueldade do «bey», senhor da sua aldeia e das terras onde ela trab-alhava. De súbito sua voz se alteia, já não parece uma cansada voz de velha, há uma exaltação que ilumina seu rosto vincado de rugas. Ela fala agora da guerra de libertação, dos soldados do povo nas montanhas, dos camponeses tomando dos fuzis sob as bandeiras vermelhas. Conta como seus filhos deixaram a tosca cabana pela noite para se juntarem aos guerrilheiros. O «bey» servia aos italianos, serviu aos alemães depois, mas seu corpo apodreceu sôbre a terra, a bala vingadora de um guerrilheiro acabou com êle. A velha se faz quase confidencial para dizer de como certa noite, quando mais áspera era a batalha pelas montanhas, quando os fascistas jogavam milhares de homens em perseguição aos guerrilheiros, o «Comandante» - é assim que o povo chama Enver Hodja - dormira em sua casa pobre, estirado no chão sôbre a manta, e de como ela velara o seu sono. Advinhava que êle personificava os dias melhores para os camponeses, a liberdade para a pátria. Hoje, ela cultiva a terra sua e sabe que o «bey» não voltará jamais. Um dos seus filhos ficou no Exército, os outros trabalham a terra ao seu lado e, ah!, essa terra é rica e próspera em suas mãos. Ela pode trazer todas as semanas ao mercado muitos produtos a vender e já agora seu quotidiano não é de humilhaçções e sofrimentos, as lágrimas não correm mais sôbre os fios na roca primitiva. Seus lábios aprenderam novamente a sorrir e ela me confia um grande segrêdo: está aprendendo a ler, não é tão difícil assim como diziam ... Vejo os objetos de prata, os artezãos que os trabalham, os rendilhados cachimbos de madeira, os trajes típico de uma inegualável riqueza de côr. Passamos entre carneiros e gansos, entre cabras e galinhas. Encantam-me as cintas coloridas que os montanheses levam nas cinturas. Mas encanta-me ainda mais ver em cada rosto um sorriso, sentir a alegria da liberdade nessas faces, desco-

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brir em cada homem e em cada mulher um lutador por uma vida nova. Ao lado dos objetos à venda, em muita& das pequenas barracas, encontro bandeiras vermelhas, retratos dos líderes, e em todos a mesma terna afeição e sincero devotamento aos dirigentes do govêrno e do P-artido. Conversamos com um camponês que at ravessa o «bazaJ:1» montado em seu pequeno e quiet o jumento. Dhimiter o conhece e se envolve numa longa conversa em língua albanesa. O camponês fala demoradament e, por vêzes suas mãos se agitam acentuando com gestos certas frases e seu rosto severo como que se dulcifica. Quero saber de que se trata. Dhimiter me diz que aquele oc.mponês é um velho conhecimento seu, dos tempos da luta na montanha. Agora relata-lhe como a vida mudou na sua aldeia. :fi}le que antes apenas sabia labutar sôbre a terra para o «bey», é hoje autoridade, trata de assuntos de administração, resolve problemas difíceis, participa da vid,a inteira de seu país. . . Assim acontece nos países de democracia popular. Recordo as feiras e mercados do nordeste do Brasil, eu os conheço a quase todos; também são êles pit orescos e coloridos, também alí o gênio criador do povo se r evela nas cerâmicas, nas redes tecidas a mão, nas canções dos cegos violeiros. Mas, ah!, onde a alegria, onde os sorrisos livres, onde as histórias de realizações, de planos, de emulação? Alí são ainda os senhores feudais, iguais aos «beys» albaneses de ontem, alí é a dor e é o sofrimento, é um pitoresco melancólico, é um colorido de miséria! Assim foi ontem também nesse «bazar» de Shkodra mas a estrêla vermelha do socialismo ilumina agora essas barracas e o produto mais exposto, aquele que podeis encontrar mais barato, não custa mesmo nada, é a alegria , feita de confiança no futuro, feita da constatação de que a cada di,a a vida é melhor. , . Saio carregado de tecidos, de chales, de antiga e pesada pulseira de prata, e, ao sair, encontro Wanda J acubowska e o operador de cinema polonês J an Kolasa que se -

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dirigem precipitadamente para d «bazar». Ao ver-me, possuidor de tantas riquezas populares, Wanda lança-me uma única palavra: - Traidor! E precipitam-se na festa do mercado. No dia seguinte, eu haveria de ver com os olhos emocionados a explicação daquela alegria solta no mercado de camponeses, ao visitar a Fazenda de Estado de Sukth, entre Tirana e Durazzo. Essa imensa fazenda, ontem propriedade de uma família, onde os camponeses eram servos, é hoje um «sovkoz» modêlo. Não me demorarei na descrição das instalações, das máquinas que transformam o trabalho agrícola, da consciência dos camponeses que formam o corpo do «sovkoz». Nem vos direi mesmo do almoço que ,alí nos deram, dos discursos que foram trocados. Quero falar apenas de um detalhe: da creche da fazenda. Ela foi instalada na casa onde antes era a residência senhorial dos antigos proprietários. Os berços das crianças ocupam aqueles ricos quartos ontem destinados ao sono farto dos senhores feudais. As mãis estão trabalhando no campo. Ontem eram obrigadas a levar consigo, para o ardor do sol, suas criancinhas, não tinham onde deixálas nem quem as guardasse. Hoje, vejo essas crianças que dormem, gordas, alimentadas e assistidas por enfermeiras, entregues ao desvêlo dos cuidados médicos, tratadas como pequenos príncipes, tratados como não o eram sequer os filhos dos senhores feudais. Senti alí toda a imensa mudança que se tinha operado na vida dos camponeses da Albânia. No campo, as rcães trabalhavam cantando seus oantos populares, as novas canções de saudação dos tempos felizes de agora. Na creche, seus filhos pequeninos dormiam sob o olhar vigilante das enfermeiras e educadoras. . . Pensei na gorda camponesa que arrancara o véu do rosto para melhor exergar a beleza desse tempo socialista em construção, êsse tempo da primavera do homem. -

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Tirana possui oitenta mil habitantes e sessenta mil dentre êles se reuniram no grande «meeting» de encerra. ment o do Congresso dos Partidários da Paz. Jamais vi massa tão entusiasta. O «meetingi» foi encerrado e a multidão permaneceu na praça. A noite caía e o brilho das estrêlas se misturou ao das inúmeras tochas acesas por centenas de mãos. Iluminadas pelo fogo dessas tochas as bandeiras vermelhas da Albânia, da URSS e do pro: letariado de todo o mundo tinham reflexos de vit ória. Sai andando entre o povo, apertando mãos desconhecidas que se estendiam para a minha num gesto fraternal, alimentando-me dêsse entusiasmo do povo a gritar «Viva Enver! Viva Stálin» ! Muitos vinham e paravam diante dos quatro túmulos .alinhados no pequeno jardim, em frente ao edifício do Comité Central do Partido. Ficavam um momento silenciosos e seguiam depois o seu caminho, durante um minuto haviam saudado a memória sagrada dos heróis mortos pela pátria e pelo socialismo. Foi numa clara manhã de domingo que, em companhia de dirigentes albaneses, levei, em nome de Luís Carlos Prestes e dos comunistas brasileiros, uma coroa de flores e a depositei ante os sóbrios monument os que relembram essas vidas dadas em sacrifício. Eram quatro jovens, quatro moços dirigentes comunistas, e foram artífices da realidade de hoje. Eram adolescentes ainda quando começaram a luta e, ao lado de Enver Hodja, ajudaram a construir o Partido, o Exército de Libert ação, a democracia popular da Albânia. O primeiro se chamava Qemal Stafa, foi dos primeiros a levantar na Albânia a bandeira do Partido. Secretário geral da Juventude Comunista, membro do C. C. do Partido, foi também dos primeiros a tombar na luta. Morreu nos dias iniciais de maio de 1942, em Tirana, -

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batendo-se de peito aberto contra os fascistas italianos. Do seu ~angue generoso derramado pelos invasores naaceram dezenas de combatentes, seu exemplo foi fecundo incentivo para todos os patriotas. Êsse jovem era um veterano do movimento comunista, fundara há muitos anos já o primeiro grupo de comunistas da Albânia, juntamente com Ali Kelmendi, morto no exílio em Paris. O segundp se chamava Nako Spiro e foi êle quem sucedeu a Qemal Staf.a na Secretaria geral da Juventude Comunista. Membro do Bureau Político do Partido, cc• mandante de guerrilheiros na montanha, revelou-se depois um brilhante homem de govêrno. Quando os traidores titistas enviaram seus agentes para liquidar o Partido albanês, o poder popular na Albânia e o dirigente fiel ao internacionalismo proletário, Enver, foi Nako Spiro quem contra êle se levantou, ao lado de Enver, defendendo os princípios do leninismo-stalinismo, defendendo a pátris ameaçada, defendendo o poder dos trabalhadores. Os titistas moveram contra êle as campanhas mais miseráveis, levaram-no à morte para afastá-lo do seu caminho. Mas da morte de Nako Spiro os comunistas albaneses souberam tirar as lições para a luta vitoriosa contra Tito e seus agentes. O Partido, formado no exemplo do jovem dirigente, limpou suas fileiras dos agentes do inimigo, conservou-se r eforçado na grande família dos partidos comunistas e operários. Vasil Shanto chamava-se o terceiro, comunista de longa d,ata que atravessara muitas vezes todo o país, ainda no tempo de Zogú, levando de casa em casa, de aldeia em aldeia, a palavra libertadora, o conhecimento dos princípios marxistas que são a chave que abre a porta da vida livre para os homens. Membro do Comité Central do Partido, morreu, como Qemal Stafa, lutando contra os fascistas italianos. Ouvi seu nome numa canção de camponeses onde folavam dêle como de um herói de eterna memória. Também o quarto, aquele que substituiu Nako Spiro 11a secretaria geral da Juventude Comunist a, Alqi Kondi, -

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tem seu nome gravado no coração do povo. Membro do Comité Central do Partido, infatigável trabalhador, quando chegou das montanhas vitoriosas foi para consagrar todo seu tempo às tarefas de construção. Perdeu a vida num desastre, sua juventude radiosa desapareceu das ruas de Tirana, mas o povo não o esquece, a êle que foi um dos construtores do Partido. l'\'.:sses quf>.tro nomes, de quatro heróis do povo mortos na luta armada ou nos trabalhos de construção, Qemal Stafa, Nako Spiro, Vasil Shanto e Alqi Kondi, estão em todas as bocas, repetidos como símbolos da coragem, da lealdade ao povo, da firmeza necessárias à construção da éra socialista. Como muitos outros nomes, de heróis que ficarem nos campos de batalha, de jovens que sacaram seus revólveres contra os fascistas italianos em pleno dia nas ruas de Tirana e os executaram. Como aquele jovem estudante, a quem as moças haviam apelidado de Tarzan, tal a sua força, o ímpeto de sua adolescência esplêndida. Jogava-se êle contra os fascistas, em cada rua e em cada praça e foi assim, de revólver em punho, abatendo os inimigos de sua Pátria, que caiu um dia nesse mesmo lugar onde agora se eleva um monumento a sua memória, símbolo imortal da juventude albanesa. Todas as vêzes que eu vinha para o meu hotel devia passar em frente ao monumento aos quatro heróis comunistas. E e;ada vez que o fazia meu pensarr.ento demorava na lição 0. aprender da luta do povo albanês por sua liberdade e por sua felicidade : a liberdade não é um dom que se receba gratuitamente, é um bem que se conquista. Isso 110s ensinam os quatro heróis mortos pela liberdade da Albânia. Mas nos ensinam também que mesmo um pequeno povo atrasado e por largos séculos oprimido pode lutar e conquistar sua liberdade, se a isso se decide. Não há força de opressão, não há volume de armas, não há terror, que o possa impedir. Qúando êle t em à sua frente a classe operária e sua vanguarda comunista. -

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O AMOR PELA URSS, SENTIMENTO CRIADOR Existem nomes mágicos que estão hoje por sôbre todas as diferenças linguísticas, que unem os homens como irmãos por sôbre as fronteiras, mesmo quando essas são fronteiras colocadas pelo ódio dos donos da vida nos países capitalistas. Se dizeis «Stálin» em Pekim ou nos algodoais do Mississipi, o chinês e o negro americano vos estenderão suas mãos calosas. Se dizeis União Soviética no fundo misterioso do Brasil ou na tórrida Ãfrica equatorial, o mulato, o negro e o branco vos sorrirão com confiança. Se dizeis comunismo em qualquer parte do mundo, encontrareis irmãos. Por vêzes me vi sozinho com cidadãos albaneses que falavam somente a própria língua e bastava que eu dissesse um dêsses nomes para ver o sorriso cordial nascer em sua face. O amor pela União Soviética e por Stálin não é apenas um ardente sentimento no coração de cada albanês, velho ou moço, operário ou camponês, escritor ou dirigente do govêrno. 1!:le é também o mais natural e o mais fecundo dos sentimentos. O mais natural porque o povo albanês sabe que foi a vitória dos Exércitos Vermelhos sôbre o nazi-fascismo que possibilitou a conservação da independência da Albânia, conquistada à base de tão grandes sacrifícios. Sabe que essa independência - ,como o disse Enver Hodja - lhe foi dada novamente pela URSS quando o Partido Bolchevique enviou ao Partido Comunista da Albânia as cartas trocadas com Tito. Sôbre a independência da Albânia se projetava a sombra escravizadora dos traidores titistas. Um passo mais e novamente o pequeno país mergulharia na noite da opressão, todo o sangue derramado na guerra libertadora teria sido em vão. De Moscou, mais uma vez, veio a luz da estrêla do Kremlin que ilumina o caminho dos povos. O povo albanês sabe também que é difícil e duro construir o socialismo e mais difícil e duro quando se é -

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um pequeno povo de um milhão de habitantes, num país atrasado onde não se elevavam as ch aminés das fábricas onde se desconheciam os tratores e as máquinas agrícolas'. Sabe que é a União Soviética, a grande amiga desinteres. s,ada:, quem possibilita, com sua ajuda frat ernal, a caminhada corajosa da Albânia para o socialismo. As provas dessa ajuda de todos os momentos, nós as encontra :Ytos por t oda a Albânia, em t odos os recantos. O povo all:>anês sabe igualmente que a URSS é o sust entáculo maior da paz mundial, dessa paz t ão indispensável à Albânia. :Êsse povo cer cado de inimigos, como um pequeno pássaro rodeado de abutres, sabe que, no seu tratado de aliança com a URSS, reside a força que contém as garras e os assassinos bicos dos abutr es titist as e tnonarco-fascistas. Mais além das front eiras iugoslavas se / estende a pátr ia do socialismo vitorioso. E a sua existência é suficiente para impedir o gest o agr essor de todos os imperialismos que rangem os dentes ao verem um pequeno país libertar-se da escravidão e mar char pelas estradas do socialismo, ao verem um pequeno povo sacudir as algemas do capital estrangeiro e cr iar as bases da sua fartura. União Soviética e Stálin querem dizer para o povo albanês vida e liberdade, fartura e paz, construção e cultura. Como então não deixar que o amor extravasasse do coração nas canções, nos vivas, nas demonstrações mais calor osas ? Sentimento natural mas também fecundo sentimento criador . O povo albanês curva-se sôbre os livr os que contam as experiências e as vitórias soviéticas, o povo albanês segue a mesma estrada. O amor pela URSS faz com que cada um deseje ser digno da sua grande amiga, deseje ultrapassar as normas dos planos, deseje fazer de sua pátria uma terra tão feliz como a grande pátria dos trabalhadores. Com a URSS, a Albânia aprende. Com os povos s oviéticos, o povo albanês aprende. :Êsse amor, que encontrareis expressado em todas as par t es na Albânia, é o mais fecundo dos sentimentos, o que possui nos nosso13 dias maior força criadora. -

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Um jovem albanês, conversando comigo no «hall» do hotel sôbre o cêrco imperialista em torno à Albânia, disse-me : --- Tôdas as vêzes que penso em nosso pequeno território e em nossa pequena população, olho um mapa da TJnião Soviética que possuo em casa. E quando a vejo, enorme e invencível, então sinto que poderemos vencer qualquer inimigo, porque conosco está a URSS e Stálin vela por nós . . . Stálin vela por nós como um pai e como a um pai o amamos. Sim, como a um pai ! O «COMANDANTE»

Durante ,a guerra de libertação, Enver Hodja atravessou por duas vezes, a pé, todo o território da Albânia. Pode-se dizer que êle conhece cada cidadão, dormiu numa enorme quantidade de casas nas cidades e nos campos, compartilhou da mesa pobre de milhares de camponeses, foi por êles escondido enquanto a polícia do fascismo o buscava afanosamente. Era, para cada um, como um filho querido, êsse jovem quase adolescente que chefia va a luta pela libertação da Pátria. Mas era também como o Pai de cada um, aquele que estava construindo o destino de todo êsse povo. Vi, numa recepção, uma velha campones,a de rosto sofrido, vestida de negro, de luto pelos filhos mortos na guerra, tomar a Enver nos seus braços e beijálo nas duas faces como o faria a um dos seus filhos desaparecidos. Simplesmente, como se não estivesse deante do chefe do govêrno e, sim, do filho do povo. E' que êsses dirigentes comunistas, chamem-se Dimitrov ou Thorez, Mao-Tsé-Tung ou Togliatti, Rakosi ou Prestes, são filhos genuínos do povo, cada velha operária ou oamponesa sente por êle um carinho maternal. Jamais êles estão por sôbre o povo, são o próprio coração do povo, sua carne e seu sangue. -

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Um dos mais belos espetáculos da Albânia é sem dúvida, a profunda ligação que existe entre os hom:ns do govêrno e a massa do povo. Os quatro anos de guerra de fraternidade de armas nas montanhas, quando sôbre ~ mesma manta dormiam um leve sono o general de agora o ministro de hoje, e o camponês sem terras de então, fa~ com que cada homem de govêrno, cada dirigente de Partido seja um familiar de todos os cidadãos que lhes conhece o passado, as qualidades reveladas na luta e depois no trabalho de direção de govêrno, que sabe porque confiar nele. Durante o Congresso pela Paz vi o general Hysni Kapo, membro do Bureau Político do Partido, escutar longas conversas de camponeses, seus comandados de ontem que lhe relatavam a sua vida de agora e lhe falavam mesmo dos seus problemas mais íntimos. Na 'Albânia, governo e povo formam um todo único, uma amálgama forjada pela confiança dos cidadãos nos dirigentes, e isso explica de muito a derrota dos agentes t itistas, a vitória da construção do socialismo. Vi Tuk Jakova, vice-primeiro Ministro e secretário do Partido, entre os trabalhadores do petróleo e êle estava alí como em sua casa, cada um daqueles homens não só o conhecia mas cada um o estimava. Vi um cantor de ópera vir conversar com o general Mehmet Shehu, vice-primeiro Ministro e secretário do Partido, falando-lhe de canções e coros populares. Era um jovem homem de largos bigodes, de tez morena e sorriso franco. O dirigente do govêrno e do Partido escutavaatentamente e com amizade. Depois me disse: «êle fez ao meu lado tôda a oampanha de libertação». Nas montanhas, na luta clandestina contra o inimigo fascista. nasceram os laços indestrutíveis que ligam na Albânia o povo ao seu govêrno, que o ligam antes de tudo àquele a quem êles chamam o «Comandante» . E' com essa voz familiar de «Comandante» que êles designam o general do Exército Enver Hodja, Primeiro Ministro e Secretário Geral do Partido. l'.llsse tít ulo recorda os anos de guerra, quando o jovem professor que havia estudado marxismo no exilio, deixou o balcão da pequena

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farmácia onde estava provisoriamente empregado, para tomar das armas e chefiar o povo na sua luta. Vi. nos museus e em casas particulares, fotografias de Hodja nessa época. Era um adolescente quase, de risonhos olhos no belo rosto de cabelos negros, forte como u'a árvore, forte de sua força e da consciência da justiça da sua causa. Vi também os documentos da polícia fascista, as ordens de busca e de captura dêsse «comunista perigoso\», condenado à morte. Onde andava êle, o jovem professor tmnsformado em chefe guerrilheiro, logo depois em comandante do Exército de libertação ? Em que casa de camponês pe:·dida no fundo da montanha dormira nessa noite enquant o a polícia o buscava ? Mas talvez não estivesse na montanha, talvez fosse mesmo em Tirana, quem sabe?, que êle estivesse, dirigindo a confecção dos volantes com as palavras de ordem «incendiárias». Talvez fosse num dos monastério.:; dos «bektashi», ou na própria casa do «bábá», do chefe de todos os crentes «bektashi», de Muftar Dédé que ele se escondesse da polícia nessa noite. Em qualquer parte êle estava e a sua existência representava morte para os invasores, representava a liquidação de comboios fascistas, o saltar de pontes, o estalar das bombas nas amedrontadas casernas italianas ou alemãs. No processo da luta, êle constrói o Partido e educa políticamente o povo, êle mesmo amadurece politicamente ao contacto com os inúmeros e grandes problemas a resolver de ordem .militar, administrativa e política. Forma-se dirigente e homem de govêrno nos campos de batalha; durante êsses quatro anos na montanha êle adquiriu um conhecimento perfeito do seu povo e dos problemas do seu país. E durante êsses quatro anos, o povo aprendeu a admirar e a amar o seu «Comandante». Quando não o tratam de «Comandante», chamam-no pelo seu prénome: Enver. Vi os jovens estudantes o cercarem no teatro de Tirana e êle perguntar a cada um pelos seus estudos. Os operários da fábrica Enver disseramme do seu orgulho e da sua responsabilidade de trabalhar na fábrica que leva o seu nome. E ouvi os seus discursos -

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e ouvi dêle, em três largas conversas, se desprender sua fidelidade ao povo albanês, à União Soviética e ao internacionalismo proletário. Êsse homem tão intimamente ligado à sua pátria e ao seu povo, conhece a verdadeira significação do internacionalismo proletário. Foi em terras estrangeiras que êle começou a se formar como marxista, foi nos caminhos do exílío que enxergou as estradas capazes de conduzit a Albânia à libertação. Eu o ouço ainda falando-me de Prestes, cuja história êle tão bem conhece, e da luta do povo brasileiro. Fala com a mesma apaixonada entonação com que diz da luta do seu povo. E parece-me ver na sala daquele ex-palácio do rei Zogú, no fogo das palavras solidárias de Enver, o povo brasileiro livre, construindo o seu destino como o faz hoje o povo albanês. Depois êle fala da URSS e com que comovido carinho ! E fala de literatura e arte, de poesia e ciência, de tudo que espera ver seu povo construir. Pergunta-me se visitei a biblioteca e os Museus : - E' apenas o comêço. . . - diz - Mas saberemos conquistar a cultura ... Cita cifras das edições dos livros mais recentes, está ao par de tudo que se passa na Albânia, nada escapa ao seu interêsse de maior responsável pela vida da Pátria. E ao mesmo tempo êsse homem sabe rir, um sadio riso alegre, em seu coração não há nenhuma amargura, êle é como o símbolo dêsse povo jovem, corajoso e cheio da alegria de viver. Há um poema de Llazar Siliqi que fala dos antigos e dos novos tempos. na Albânia. 1!:le diz: «Em que estado, em que estado, nós nos encontrávamos ontem, ó camar adas ! Pesada, vazia e estreita nos parecia a vida sôbrc esta terra. Eis que é o dia de ano novo e que poderia eu te desejar, ó meu irmão, além de pão para o amanhã? Que poderia eu te prometer, ó minha irmã? Que nos trás então o ano novo ? Mas hoje, eu e tu, nós não somos mais como ·ontem. Nossa vida é hoje livre e imensa como o mundo, como o mundo sem limites; sôbre os montes, as planícies e os oceanos hoje se estendem nossas mãos. São -

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mãos de amigos, mãos de irmãos, que cerram outras possantes mãos edificando o comunismo. Mãos livres constróem o socialismo, mãos de camaradas que lutam pela liberdade. . . Amanhã é dia de ano-novo. Esta tarde, Enver estará sentado à sua mesa, conversa com seus amigos fieis, marcando com sua mão segura os novos planos . . . » Não é por acaso que êle está presente na poesia dos poetas novos da Albânia como o símbolo da nova vida conquistada. E' que êle foi o coração ardente da luta, foi o cérebro dirigente, foi a coluna mestra da criação do Partido. :©le nasceu do sangue operário derramado nas greves nos anos feudais, nasceu do suor do camponês vertido sôbre a terra que não era sua, nasceu das lutas anônimas de todos os patriotas contra o jugo estrangeiro. Tomou em suas mãos as bandeiras do povo e criou o instrumento capaz de dirigir a revolta do povo: o Partido. E hoje êle é mais que nunca o coração da nova Pátria livre. Quando sobe pelos céus da Albânia a música da construção socialista, quando se erguem os edifícios das fábricas, quando os jovens conquistam a técnica e a cultura, quando se elevam as bibliotecas, as escolas, os clubes de cultura, os cinemas, os teatros, quando os camponeses se reunem em cooperativas e as mulheres arrancam os véus para dirigir os tratores, quando as crianças rerousam nas creches e brincam nos jardins de infância, quando os escritores tomam da pena para criar romances e poemas, quando o trem de ferro apita sôbre os trilhos colocados pela juventude, quando os túneis rasgam as montanhas e os fios elétricos se prolongam pelas aldeias perdidas, quando velhos camponeses se curvam sôbre a car ta do ABC, quando novos navios cortam as águas do Adriá tico partindo de Durazzo, quando novas minas e novos campos de petróleo são explorados, quando a vida do povo se transforma e a pátria cresce em fartura e alegria, alí • estão o PartiC:o e Enver, criadores de vida ! Como um exército do trabalho e da felicidade do homem, o povo -albanês marcha para o futuro radioso. À -

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sua frente val seu iniemerato comandante, o camarada Enver Hodja ! «FALEM NDERIT» Quero, Albânia, pôr a mão direit a na altura do coração, num gesto de tamanha civilidade e gent ileza como o fazem teus filhos, e repetir as palavras de agradecimento : «Falem nderit », muito obrigado. «Falem nderit», muito obrigado, ó muito obrigado Albânia, por êstes dias de intimidade contigo, nas r uas da~ tuas cidades e nos caminhos das tuas montanhas, bebendo o capitoso licôr da tua agreste poesia. «Falem nderit» muito obrigado ,a teus operários, a teus camponeses, a teu~ escritores e artistas. Eu os vi construindo vida, arrancando do nada uma pátria feliz. Muito me ensinaste nesses dias fraternais, uma lição de coragem, de confiança e de decisão. Em oo.da pedra dos teus caminhos há o que aprender, pois sôbre todas elas correu o sangue generoso dos pat riotas. Do alto das montanhas históricas de Kruja, por entre as pedras so,l tas das velhas torres de defesa, na cidadela invencível de Skanderberg, eu vi o teu passado de lutas gloriosas, tua áspera decisão de manter tua independência Vi os velhos fuzis de antigamente coro os quais os t eus filhos lut,::.ram contra os turcos séculos afora numa irredutível revolta. E vi os fuzis r ecentes, aqueles que se levantaram vitoriosos contra o invasor fascista e o opressor nazista. Vi as bandeiras perfuradas de balas, com a águia negra sôbre a tela vermelha à qual se juntou na· manhã da liberdade sôbre as montanhas a estrêla de ouro do socialismo. Ouvi as histórias dessa guerra, apertei a mão dos generais e dos soldados. Ouvi também as histórias -1,a luta contra os imundos traidores, aqueles que venderam seu povo e desejavam vender o teu povo, os repelentes vermes t itistas. Também deste combate saiste -~ 372 -

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vitoriosa, Albânia, e essa tua vitória pertence a cada um de nôs, a todos que desejamos e lutamos pela paz. Vi as fábricas crescendo, sob os nomes bem-amados de Stálin e de Enver. Vi as cooperativas e as fazendas do Estado, os mercados de camponeses e o trem de ferro sôbre os trilhos. Vi a bandeira vermelha tremulando sôbre Tirana. Para mim foi poesia, foi como assistir ao nascimento de um mundo. Na União Soviética, mãe de todos os povos, eu vira a árvore majestosa do socialismo, sob sua sombra descancei de minhas caminhadas, enxerguei os frutos iniciais do comunismo. Em tuas terras, Albânia, eu vi essa árvore socialista sendo plantada com o esforço do homem, regada com o seu suor, adubada com o sangue derramado na guerra. E a vi crescendo, já sua sombra começa a se estender. «Falem nderit», Albânia, pelo novo amor que te tenho, êsse amor feito do con!1ecimento. Amo-te como amei minha primeira namorada adolescente, com a mesma tímida ternura comovida. Amo a tua juventude, risonha adolescente colorida que os anos não envelhecerão jamais. Bem sei que madura és de experiência, adulta na vontade invencível dos trabalhadores, e amanhã madura estarás em teus «kolkozes», nas tôrres de petróleo libertadas, no mar e na montanha conquistadas. Mas adolescente serás p'ra todo o sempre, não há outono para a primavera do socialismo. ms a irmã mais moça nessa família fraternal dos povos livres. E para ti guardamos, no mundo inteiro, êsse carinho reservado para o filho mais jovem. Cada um de nós enxerga em ti o exemplo da vitória de um pequeno povo sôbre os inimigos seculares da felicidade do homem. Também tu iluminas nosso caminho, estás construindo a paz para nós também. «Falem nderit», quero te dizer: foi repetindo essas palavras que errei ao acaso pelas ruas de Tirana na minha última noite em terras tuas. Lutarei ainda mais pela paz depois que te vi construindo a vida por entre o cerco dos homens da morte. Saí mais rico de tuas terras: rico -

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da tua coragem, d,a tua confiança no futuro, da tua ale. gria de construir. Comigo levo a tua imagem, ela me ajuda a combater. Penso em ti e certas palavras vêm aos meus lábios, são palavras claras e vitais : madrugada e orvalhol aurora e alegria, poesia e festa. Porém penso numa outra palavra que resume todas estas nesses nossos dias inquie. tos: é a palavr,a paz, ela é a tua palavra, Albânia !



ONDE O IMPERIALISMO FOI DERROTADO

PREFÃCIO A 'l'Rl!JS PROBLEMAS

Recordo os meus tempos de estudante interno, num colégio da Bahia. O professor de geografia, um padre jesuíta, falava dos países balcânicos e do leste europeu como de algo nebuloso e extremamente confuso: povos semi-selvagens de costumes estranhos, aos quais estava sendo levada aos poucos a civilização pelos «generosos» capitalistas ingleses, alemães, franceses e norte-americanos. Hoje, êsses mesmos países que o jesuíta português, encarregado de nos ensinar geografia econômica e política no internato baiano, tanto desprezava, erguem-se impetuosamente para a vida, já não são olhados como uma confusa massa bárbara, mescla de pitoresco e de ignorância. Hoje, êles estão à frente dos povos civilizados, são exemplo a seguir. E os «generosos» capitalistas que os «civilizavam» pelo estranho processo de roubar suas riquezas e manter a miséria e a ignorância, foram postos além dos limites das suas fronteiras. Não sei se o reverendo padre jesuíta ainda é vivo e se ainda ensina geografia política a outras infelizes crianças. lm.agino o que não dirá êle hoje da Bulgária, da Albânia ou da Hungria, que negro quadro não traçará da vida na Polônia que, aliás, naqueles passados tempos merecia suas simpatias. -

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Bara êsse «professor» e sacerdote, o país onde o homem hav;a chegado à perfeita civilização era o Portugal de Salazar, com seus campos de concentração e com a população morrendo de fome pelos bairros miseráveis de Lisboa . .. :Êsses povos libertaram-se e, se sua libertação foi saudada com alegria por todos os povos do mundo, o mesmo não aconteceu em relação aos imperialistas. :Êles não conseguem engolir essa pílula amarga. A perda dessas antigas semi-colônias não lhes desce na garganta ávida de lucros. :Êles não se contentam em caluniar, em insultar, em ameQar êsses povos com a bomba atômica e a guerra microbiana. Tentam ainda, por todos os meios, arrebatar o poder da mão da classe operária, voltar a estender seus tentáculos de opressão sôbre as terras de petróleo, as minas, as fábricas, as casas. Tentam entregar novamente os govêrnos aos mesmos senhores feudais que dêle foram expulsos após a guerra. No afã de realizar essa louca empresa impossível, usam de todos os recursos, apelam para tôdas as armas, mesmo as mais imundas. Após o fracasso do golpe político de fevereiro de 1948, na Tchecoslováq-,ia, já não lhes restava, em nenhum dêsses países, n. possibilidade de uma oposiGão política ou parlamentar legal. :Êles recorreram então à espionagem, aos traidores, às formas mais sutis çla exploração da literatura e da arte e da religião. Pensaram influir nesze3 povos ávidos de cultura atraves da penetração de uma literatura e uma arte decadentes, pcs~imista e suicidas, pensaram dividí-los levantando entre êles o espectro de uma luta religiosa, pensaram minar seu trabalho e as bases dos governos com os espiões e os traidores infiltrados hàbilmente nos aparelhos do Estado e dos partidos. Mas também 11cssas tentativas ultimas, os imperialistas foram derrotados pelos trabalhadores das democracias populares, foram desmascarados, e dessas lutas contr,a os inimigos externos e internos, os govêrnos operários têm saído reforçados de um apôio popular cada vez maior, de um cada vez maior entusiasmo de todo o povo na construção do socialismo. -

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Porém, denotadoi; e desesperados, os imperialistas fazem desses assuntos a matéria prima para as suas calúnias e suas campanhas de infâmias contra os regimes democrático-populares. Lastimam uma inexistente falta de liberdade de crítica e criação, dizem que êsses povos estão privados dos bons livros e das obras dos escritores eméritos, choram lágrimas (de crocodilo) sôbre a pretendida perseguição religiosa, tentam transformar espiões e sujos traidores em mártires e heróis. Em r ealidade, lastimam e choram apenas o seu fracasso, a derrota de suas tentativas de outra vez atrelar êsses povos livres ao carro do imperialismo. Não o poderão mais fazer. Os povos estão conl,\cientes e vigilantes. A literatura e a arte estão sendo libertadas das influências burguesas, sob o influxo dos novos t emas de criação e do aparecimento de escritores e artistas r.aídos do meio dos trabalhadores, os problemas religiosos estão sendo resolvidos, os espiões e traidores estão sendo julgados e condenados. E a construção do socialismo avança, modificando não só o aspecto exterior da vida, mas modificando também o homem, fazendo-o melhor, dando ao gstado a ,arma que faz a sua invencibilidade : uma sociedade superior. A NOVA CULTURA

Ouço o diálogo numa livraria de Constança. O freguês reclama ao empregado o preço do livro adquirido. Trata-se d,a compra de um volumoso livro de quase 900 páginas, tradução de um romance inglês. Custa 400 lei (mais ou menos quarenta cruzeiros) e o leitor considera caro. No Brasil seria um livro de preço barato, já que um volume de 300 páginas andava, no ano de 1947, pelos 30 cruzeiros. O que mais me admira é o empregado concordar com o freguês: realmente trata-se de um livro caro, diz êle. Mas essa edição foi publicada em 1945, se fosse de 1949 custaria a metade do preço. -

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Sim, é verdade : na República Popular Rumena, um livro de quarenta cruzeiros é um livr o muito caro. A polít ica do govêrno r umeno, assim como a dos demais países das democracias populares, é publioar muito, tudo que existe de mais representativo na cultura mundial, em grandes edições, a preços baixos, a preços inimagináveis para nós que vivemos e lemos nos países capitalistas. Enquanto em nossos países o preço dos livros se eleva a cada dia, nos países libertos do Plano Mar shall, nos países que caminham para o socialismo, o preço dos livros (como, aliás, de todos os produtos) diminui const antemente. Isso marca a diferença de dois mundos, de duas concepções de vida, de duas posições perante a cultura. Já vos falei da União Soviética, onde o livro é tão barato que o seu pr eço chega a ser ridículo. Mas a União Soviética parece viver voltada, na totalidade do seu povo, para ,as alegrias da cultura, e nela nada pode admirar. Seu exemplo está sendo seguido pelos países de democraciapopular. Posso ver e acompanhar o surgimento e o desenvolvimento dessa nova cultura, nascida da classe operária no poder, destinada a êsse novo homem liber to já dos pequenos e imediatos problemas que dificultam e amesquinham a vida do ser humano na sociedade capitalista. Vejo aquí crescer o arbusto que na União Soviét ica já é árvore magnífica. Hoje, os países da democracia- popular podem - à sombra dos galhos cheios de experiência da árvore que Lênin plantou e Stálin cultivou - r ealizar êsse trabalho em condições bem menos difíceis do que aquelas vencidas pelos bolcheviques russos após a Revolução de 17. O novo homem que nasce aquí se 1beneficia de tôda a im'ensa experiência soviética; os escritores e artistas se benefici-am da experiência e das vitórias obtidas pela liter atura e pela arte soviéticas, conquistadas através um difícil caminho. E xist e uma crise da indústria editor ial, que se agrava a cada moment o, em todo o mundo capital_ista. Os editores abrem falência, as livrarias fecham as portas, min-

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guam os compradores de livros, sobe o preço dos exemplares, as edições são cada vez mais reduzidas em número de títulos e na tiragem. Basta lembrar que, somente em 1947, mais de 12 editoras brasileiras faliram ou cerraram suas portas, impossibilitadas pela crise de continuar seu negócio. A indústria editorial brasileira se reduziu de mais de 50% de 1945 a 1949. Ainda há poucos meses, um grande editor francês segredava-me suas dificuldades, as enormes dificuldades atuais de uma antiga e sólida indústria editorial como a da França que se beneficia de um mercado mundial sempre existente para os livros publicados em língua francesa. A indústria editorial argentina, que crescera e se desenvolvera grandemente antes e durnnte a guerra, vive, desde 1947, em meio a problemas insolúveis e casas editoriais que possuíam já uma verdadeira tradição na vida dos países de fala espanhola da América Latina cerraram suas portas, enquanto as livrarias se transformam em farmácias ou em postos de venda de coca-cola. Quem quiser se dar perfeita conta da profundidade da crise editorial nos países capitalistas, deve examinar as tiragens atuais dos livros dos mais famosos escritores burgueses da França. São tiragens de modestos estreantes desconhecidos. Em Milão, um grande editor italiano, sabendo que eu chegava de uma viagem através os países de democracia popul::..r, perguntou-me: - Como se pode explicar o assombroso crescimen1.v da indústria editorial dêsses países quando a nossa se encontra em crise ? Qual a causa dessa crise, dessa falta de leitores? Qual a razão, por outro lado, do crescimento, em número de títulos, em tiragem, da indústria editorial dos países em marcha para o socialismo ? Porque os editores dos países capitalistas se refugiam oada vez mais nas edições de luxo, para bibliófilos? E porque, ao contrário, nas democraci,as populares surgem os «clubes de leitores», as edições populares de dezenas e centenai; de núlhares de exemplares ? (Uma coleção popular de romances - grandes ro-

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mances - é publicada pelo «Rude Pr avo» em Praga, em tiragens de duzentos mil exemplares). E ' claro que a .atual crise da indústria editorial burguesa está ligada à própria crise do regime capitalista, fatal e inevitável. O leitor desaparece porque seu poder aquisitivo não existe mais. Porém, essa crise possui também seus detalhes particulares e alguns deles vale a pena examinar . Antes de tudo, devemos ver que classe de literatura é posta à venda atualmente nas livrarias desert as dos países dominados pela chamada «civilização ocidental». Devemos examinar se essa literatura pode interessar ao grande público, se é capaz de fazer com que êle aperte o cinto, realize milagres de economia no orçament o familiar, para adquirir os volumes que os semi-falidos editores ainda publicam . Evidentemente, se estudarmos a vitrine de uma livraria de Paris ou Roma, do Rio de J aieiro ou de Buenos Aires, concluiremos que somente a um pequeno, a um insignificante público de «snobs» pode interessar a grande maioria da literatura alí exposta: os Sartres, os Gides, os Mauriacs, os volumes de insult os e calúnias contra a União Soviética, as memórias r eacionárias de Churchill, as lamúrias da viuva de Mussolini ou da irmã de Hitler. A violenta interferência do imperialismo - e antes de tudo do imperialismo ianque - na vida cultural dos países ditos «ocidentais» reduz a produção editorial a uma pobreza quase infinita. Raros são os livros progressistas, raríssimas as traduções da moderna literatura s oviética, publicados quase exclusivamente por editoriais dos partidos comunistas. Essa pequena porcentagem de lit eratura capaz de interessar às grandes massas desaparece sob a .avalanche de «best -sellers» iangues e idiotas. São os poetas formalist as, distantes de tudo que pode interessar ao público (realmente em que pode interessar a um operário ou a um cidadão honesto o onanismo intelectual desses poetas int imistas ? ) , são os romancistas do «psicologismo» tentando cri-ar sôbre o mais absurdo artifício, divorciados da r ealidade e, por consequência, do público. -

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Uma literatura 1·eacionar1a, anti-cultw·al, anti-nacional, uma literatura criada pelo imperialismo para servil' aos seus interêsses . Como esperar que o grande público, composto de homens que vivem uma terrível e bela realidade de lutas ásperas contra um sistema de vida inhumano, vá se interessar e p,agar êsse tipo de literatura que é elogio e sustentáculo do regime que o explora? O imperialismo, em sua campanha ideológica para impor sua dominação, sabota, dificulta e limita a divulgação, nos países marshalizados, daquela literatura de luta e construção que é a única capaz de interessar realmente o grande público, formado pela simples gente de todo o mundo. 1!:sse é um dos aspectos mais característicos da atual crise editorial nas nações capitalistas. Basta atentar no que se passa em relação à literatura soviética, a mais interessante e poderosa do mundo atual, repito. Sua tradução e publicação é pràticamente proibida em muitos países onde o imperialismo já colocou no poder ditaduras mascaradas ou não, e encontra, nos países ainda sob uma democracia burguesa formal, todas as limitações. Recordo o entusiasmo com que o público brasileiro recebeu, em 1945, as primeiras traduções de livros soviéticos que se publicavam em língua portuguesa, desde o distante ano de 35. Havia uma verdadeira avidez por bôa leitura - o público mais que saturado do psicologismo do romance francês e do naturalismo desvirtuador do romance ianque - e muito dinheiro ganharam os editores brasileiros traduzindo os romances de Cholokov, de Wanda Wassilewska, de Ilya Ehrenburg. Hoje, nenhum editor se anima, no Brasil, a publicar um romance soviético, receioso da repressão terrorista da polícia da ditadura. Os editores são obrigados a se reduzirem às traduções recomendadas pelos «serviços culturais» dos órgãos ianques de penetração e dominação imperialista. E não encontram, como é justo, lógico e natural, da parte do público nenhuma avidez por essa literatura cosmopolita, -

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de propa,ganda da «filosofia» de vida norte-amerioo.na tão primária, falsa e anti-humana. ' A sabotagem exercida diàriamente contra os verdadeiros valores da cultura, o cêrco de silêncio mantido contra os escritores mais expressivos da realidade dos países capitalistas (a sabotagem dos nomes de AndersonNexo, o extraordinário mestre do romance escandinavo e de Howard Fast, grande romancista ianque, é um exem~ plo típico), a interferência imperialista para impedir que o grande público leia tais escritores, é uma das razões porque os editores se encontram hoje em tão desesperada situação de crise. O imperi,alismo não pode ter interêsse na divulgação da cultura, não pode ter interêsse na elevação do nível cultural das grandes massas, êle é contra a universalização da cultura como é inimigo de suas característ icas nacionais. O imperialismo deseja manter as grandes massas envoltas na ignorância, para êle a cultura é um perigo. Daí a sua política de livros de preço elevado, de livros para uma «elite», contra a literatura popular e progressista, contra toda a literatura verdadeiramente r ealista. Só o proletariado, que luta pelo socialismo, pelo comunismo, pela sociedade sem classes, por um mundo feliz, pode dar realmente à cultura sua completa universalidade e somente êle pode levar a cultura a tôda' a massa, a todo o povo. E' êsse fenômeno que observamos realizado na União Soviética e que vemos nascer e cr escer nas democracias populares. O espetáculo de uma vitrine de livraria em Praga ou em Bratislava, em Varsóvia ou em Budapest, em Bucarest ou em Sofia, difere fundamentalmente da visão melancólica e reacionária de uma vitrine de livros em New York ou Viena. Os aliados literários, através dos quais o imperialismo esperava envenenar os sentimentos dos povos - os existencialistas, os naturalistas, os formalistas de todo o tipo - , desapareceram do catálogo das editor.as. Êsses livros que injetam o pessimismo, a descrença no homem, que falam da inutilidade da vida não -

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têm lugar nas vitrines onde se exibe uma outra literatura: a da confiança no homem, a do amor à vida. Em lugar dêsses tristes representantes de uma decadente estética burguesa, encontrareis tôda a verdadeira cultura universal, dos grandes clássicos de todos os países aos escritores contemporâneos fieis ao povo. Constatareis que à disposição do público das democracias-populares, à serviço da sua elevação cultural, foi colocada toda a riqueza da cultura acumulada através das gerações. Livros de escritores dos países mais longínquos, de países cuja literatura permanecia desconhecida devido ao seu pequeno peso econômico, são traduzidos e seus autores são àvidamente lidos. Os romances soviéticos, que contam as lutas 0 as vitórias do novo homem socialista, atingem tiragens colossais. O proletariado no poder dá aos verdadeiros escritores do povo a, importância e o público que o imperialismo sempre tentou lhes furtar. O imperialismo, na sua luta contra o regime de democracia popular, esperava contar com o apóio da literatura de muitos escritores desses países. Também aí seus planos vieram abaixo. Os escritores, colocados agora sob a imediata vigilância do público, tiveram que se voltar para os assuntos que êste exigia, tiveram que buscar a forma clara em que narrar as novas histórias do trabalho e da vida de operários e camponeses. A nova literatura que surge em cada um desses países - baseada no realismo-socialista - está voltada para a nova vida que se constrói. Por isso ela interessa às grandes massas. Ela não se perde, como esperava e desejava o imperialismo, nas pesquizas infecundas do formalismo, não faz do pessimismo e do intimismo seu conteúdo. Os escritores, nos países de democraci•a popular, tomam consciência da sua responsabilidade, da tarefa educativa que lhes compete, do que espera dêles a classe operária e o povo. Surgem os novos poetas (cuja poesia podeis entender sem necessidade de um dicionário de charadas) que cantam os novos heróis do trabalho, os operários de choque, os camponeses das cooperativas. Surgem os novos roman-

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cistas narrando a luta dos homens para construir a vida feliz em sua pátria. E os novos dramaturgos que trazem para a cena, em vez dos personagens sexuais de O'Neil, os mineiros que ultrapassam a produção prevista nos planos. O novo homem que está sendo construído é o herói dêsses livros, poemas e peças. E' claro que uma tal lite. ratur,a interessa ao grande público, na mesma proporção cm que não lhe interessa absolutamente a literatura bur. guesa, cujos heróis são os últimos remanescentes de um mundo agonizante. Aí está porque há uma crise na indústria editorial do mundo capitalista e há uma prosperidade crescente na indústria editorial das democracias-populares. O Estado facilita, nos países de democraci,a popular, por todos os meios, o trabalho de criação de escritores e artistas. Cria-lhes condições que possibilitam o rápido crescimento de uma nova literatura, de uma nova arte. Comp,arar as condições de vida e de t rabalho dos escritores nos países capitalistas e nos países das democracias populares (sem falar sequer na URSS) é também um meio de medir as diferenças entre os sistemas de govêrno capitalista e democrático-popular, suas diversas posições perante a cultura e os seus criadores. O maior romancista turco, Sabanattin Ali, foi há alguns meses assassinado na prisão e o poeta Nazim Hikmet há doze anos se encontra numa lúgubre cela, condenado a 28 anos de cárcere, pelo crime de escrever poemas. Pablo Neruda viveu quase dois anos na ilegalidade no Chile, é hoje forçado ao exílio. Howard Fast está condenado à prisão. Aragon é privado pela justiça francesa dos direitos cívicos, o romancista argentino Alfredo Varela é torturado pela policia de Peron, o romancista português Pereira Gomes vem de falecer na ilegalidade, na qual viveu durante 6 anos, perseguido. Enquanto isso, nos países de democracia popular, o escritor que dispõe de casas nas montanhas e no mar onde repousar e escrever, o Estado trata de que êle seja cercado de todas as condições propícias à criação de sua -

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obra. Dispõe de todas as facilidades para um contacto profundo com a realidade. Nos nossos países, quando um escritor se misture. com o povo, para conhecer-lhe a vida e melhor poder descrevê-la, passa a ser alvo da atenção da polícia e não raro termina na cadeia como elemento subversivo. A nova cultura das democracias populares é um fator importante na educação do povo e na construção dosocialismo. Em tudo diferente daquilo que o imperialismo desejava e esperava. Ao imperialismo e à reação, derrotados, resta sómente caluniar: derramar lágrimas sôbre a sorte dos escritores dos países do leste, «sem direito a nada, sem poder escrever o que êles desejam». Mas essas calúnias não podem esconder a derrota sofrida pelos que confiavam continuar envenenando, com uma falsa cultura cosmopolita, os povos que se libertaram. A classe operária cria uma nova cultura, superior à burguesa sôbre todos os aspectos, nos países de democraciapopular. O PROBLEMA RELIGIOSO OU O VATICANO PÕE CRISTO A SERVIÇO DE TRUMAN Durante o Congresso de Wroclaw, o ilustre padre católico Abade Jean Boulier, ouviu do conhecido filosofo húngaro George Lukacs, a seguinte declaração: «Nós construiremos o socialismo, nós faremos a República Popular. Nós o faremos com a Igreja se ela quizer; nós o faremos sem a Igreja, se ela não quizer; e nós o faremos contra a Igreja, se assim fôr necessário». Ao mesmo tempo, o presidente Truman diz, referindo-se aos Estados Unidos: «Nós somos um grande país cristão. Nós não toleraremos que aqueles que se nos opõem sejam olhados de outra maneira que como inimigos de Deus e agentes de Satan». Assim, Truman considera haver assinado uma espécie de Pacto do Atlântico com Deus, pelo qual as potências -

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celestes e, antes que tudo, seus representantes na terra devem se colocar a serviço da política criminosa de guerra do imperialismo ianque. O Vaticano, secular baluarte do obscurantismo, eterno defensor da injustiça social, _ cuja história é uma negra sucessão de alianças com todos os inimigos do progresso e da liberdade do homem _ aprovou sem restrições a declaração anti-cristã do Presidente dos Estados Unidos, e à disposição de sua política agressiva e belicista se colocou por completo. O Papa resolveu transformar Jesus Cristo num agente dos serviços secretos americanos, numa espécie de policial do F.B.I. Com sua posição atual, de apôio e sustentáculo dos provocadores de guerra, o Vaticano está desprestigiando a religião em todo o mundo, está abalando os fundamentos da sua força moral, a está opondo aos mais sagrados sentimentos de patriotismo, de amor entre os homens, de paz. Eis porque as palavras e as ordens do Papa, tão encharcadas agora de conteúdo político reacionário, são oada vez menos ouvidas e seguidas por milhões de católicos que preferem permanecer leais aos ensinamentos fundamentais do cristianismo, mesmo sujeitando-se à excomunhão, em vez de engajarem-se na via da morte, da ctor e do luto- com que Trucan ameaça o mundo, com a benção do Papa. Um velho padre tcheco, de 70 anos de idade, o reverendo Kabourek, da ordem de Santo Agostinho, resumiu a situação moral dos católicos e a realidade do momento, na seguinte frase pronunciada num ato realizado, há pouco, na cidade de Usti na Labem: «O Vaticano deveria a todas as horas do dia e da noite lançar apelos pela defesa da paz no mundo. Sem embargo, sucede exatamente o contrário, o Vaticano diz sem cessar que as condições exigem o rearmamento e a preparação da guerra. Enquanto 1/!SO, a voz da Paz se ouve continuamente vinda de Moscou, é a voz do grande defensor da paz, do generalíssimo Stálin». Essas palavras não são de nenhum dirigente comunista, são de um velho sacerdote católico que ama seus -

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fieis e que testemunha o trabalho gigantesco da democraciarpopular tchecoslovaca no sentido de melhorar a vida dos homens. Elas mostrrun como a política do Vaticano a serviço do imperialismo não encontra entre o clero mais próximo ao povo, nas repúblicas populares, o apôio sonhado por Truman. E' a cada dia maior o número de sacerdotes que prestam fidelidade aos regimes democrático-populares, que se colocam ao lado dos lutadores da paz contra os provocadores de guerra. O imperialismo contava muito com a «arma» religiosa para abalar e finalmente derrubar o poder popular nas repúblicas do leste europeu, especialmente naquelas como a Polônia, a Tchecoslováquia e a Hungria - onde a maioria da população é católica. As medid,as tomadas pelo Vaticano ostensivamente - e a excomunhão para todos os sacerdotes e fieis que participassem de qualquer forma, direta ou indiretamente, num trabalho conjunto com os comunistas - e as menos ostensivas de recomendar aos altos prelados, bispos, monsenhores, arcebispos e cardiais, a resistência e a sabotagem ao regime, pareceram 0.0 imperialismo capazes de dividir profunda e irremediàvelmente as populações dêsses países, estabelecendo lutas religiosas, início de revoltas armadas contra o poder. Tudo foi estudado e realizado numa base política, jamais se vira tão sórdida exploração dos sentimentos religiosos de populações inteiras. Já antes o Vaticano tinha desempenhado um triste papel de agente ianque durante as eleições italianas de 48. O Vaticano foi um dos grandes eleitores de De Gasperi, os padres transformaram os púlpitos em tribunas eleitorais, o confessionário foi usado como arma para impôr candidatos. Suja história, sem dúvida, mas de muito sobrepassada com o decreto de excomunhão contra os comunistas e todos aqueles que com êles tenham qualquer colaboração. Decreto dirigido antes de tudo contra os países de democracia-popular, impudicamente politico, transformando a realigião numa nova bomba atômica a ser utilizada pelo imperialismo. Mas, as bombas, nós o sabemos, não têm sido muito úteis aos provocadores de -

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guerra ... Mais ~mportantes que elas é a consciência crescente das massas. O decreto de excomunhão do Vaticano c:escjava colocar os cidadãos católicos das democracias populares, onde os governos são compostos por u'a maioria de comunistas, em luta aberta contra o poder legalmente estabt!lecido em suas pátrias. Isso, ao mesmo tempo em que a alta hierarquia clerical, cujos interêsses se fundiram sempre com os da burguesia rica, conspirava e sabotava. Um e outro :r,lano fracassaram. Nos paíi:,es de democracia-popular do Jette europeu, as du.ãs religiões mais difundidzs s:.ão a católica e a ortodoxa, existindo também (especialmente na Bulgária e fü> Albânia) grande número de maometancs. A ~uestao das relações entre o Estado e a Igreja, em muh.us detalhes, coloca-se de maneira diferente quando se trata do clero ortodoxo ou do clero católico. Evidentemente, t0mado em seu conjunto, o alto clero ortodoxo era tão ligado à burguesia dos seus países quanto o era o alto clm:·o católico. Mas, em compensação, os limites dessas Igrejas ortodoxas se reduzem às fronteiras do próprio Esrodo, não têm elas o mesmo caráter internacional da Igreja católica. Isso, por um lado, e, por outro, a composicão muito mais popular do baixo clero ortodoxo - em gra.nde parte saído do meio dos camponeses pobres -, poJsibilitou que as relaç:ões entre o Estado democrático-pvpular e a Igreja ortodoxa. não fossem entravadas por m,dores dificuldades. O que não quer dizer que não exista.n padres ortodoxos - aqueles antes mais ligados à bmguesia e aos latifundiários - que não tentem entra, ar a marcha para o socialismo. Muitos deles pregam ~ora, no momento mais agudo da luta contra os kulaks. uma pretensa conciliação geral dos camponeses, no uesejo de impedir o processo da luta de classe no ca:..npo, fator essencial para a socialização, mas, tomado e problema de u'a maneira pessoal, não houve diflculdaó.es para os acôrdos entre o Estado popular e a Igreja ortodoxa. Nenhuma autoridade 388 -

superior d-a Igreja ortodoxa, na Rumânia, na Bulgária ou nos outros países, ao que eu saiba, ameaçou seus crentes de medidas punitivas pelo seu apôio ao socialismo e sua colaboração com o govêrno. Em julho de 1949 visitei o celebre 'MonastéríÕ de Rila, nas montanhas dos Balkans, na Bulgaria. Monumento maravilhoso de arte, antigo de mil anos (fundado no ano de 900), nele continuam a habitar os mesmos manjes ortodoxos de antes da instalação do poder popular. Êsse monastério fôra, durante a monarquia, um Estado dentro do Estado. Possuía êle um imenso latifúndio onde trabalhavam centenas de oomponeses sôbre os quais o Monastério exercia não só a autoridade religiosa mas também o poder temporal. O chefe da comunidade religiosa era igualmente chefe absoluto 0.0 qual competia regulamentar e legislar, decidir sôbre todos os aspectos da vida. Com a democracia-popular, o monastério perdeu uma grande parte das suas terras, dividid,as entre os camponeses pela reforma agrária, restando-lhe, no entanto, ainda uma propriedade territorial bastante extensa, m,as não lhe restando nenhum poder temporal - libertos os camponeses das leis especiais que antes regulavam alí vidn. e trabalho. Os manjes se declaram satisfeitos. Podem se dedicar, na mais absoluta liberdade, aos misteres religiosos, têm 0. subsistência garantida, a maravilha de arte que é o monastério, com suas igrejas preciosas, é cuidada com o maior carinho pelo govêrno. Os camponeses também estão satisfeitos. Deixou de pesar sôbre êles uma legislação feudal, têm hoje suas terras e aqueles que trabalham as terras ainda de propriedade do Monastério são pagos segundo os salários estabelecidos pelos sindicatos. No grande gabinete do reitor do Monastério de Rila - um homem ainda jovem, inteligente e culto, - vi um retrato de Dimitrov. O reitor me disse que tinham chegado, sem maiores dificuldades, a um acôrdo com o govêrno sôbre todos os problemas do monastério. Vi padres ortodoxos nas brigadas de trabalho, ajudando com seu -

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esforço gratúíto a construção do socialismo. Vários rne disseram que finalmente tinham chegado os tempos pelos qu,ais Cristo dera sua vida: tempos de abundância, felicidade e justiça para todos. A mesma atitude não teve a alta hierarquia católica que tentou impor à totalidade dos sacerd0tes wna política de oposição ao regime , popul•ar-democrático, que tentou jogar a ma,ssa de fieis contra ps governos. Alguns desses dignatários da Igreja, como o cardeal Mindzenty da Hungria, se dedicaram de cheio, obedecendo às instruções dos serviços secretos ianques, à espionagem e à conspiração. Todos se recordam certrunente do processo Mindzenty em tôrno do qual a reação mundial tentou as maiores ex: plorações. O imperialismo, quando a República Popular da Hungria sentou o cardeal conspirador no banco dos réus, tentou mostrar que se tratava de um santo e de um mártir. Que era um perseguido pela suas idéias religiosas, pelo ardor com que defendera os interêsses extratemporais da Igreja contra a «barbárie comunista». Era o mais puro dos homens, o mais incapaz de um pecado, o mais distante das coisas e assuntos terrenos, voltado exclusivamente para a fé, para o cuidado das suas ovelhas. Assim foi o processo colocado ante os olhos dos leitores pela imprensa burguesa quando foi êle instaurado. Mas, depois, que se viu? Mindzenty não conservou a máscara de santo e de mártir. Diante dos documentos apresentados pela justiça húngara, êle confessou, ,ante um público onde sobravam os jornalistas e observadores ianques, ingleses, franceses, belgas, etc., que realmente conspirara contra o regime, que traçara os planos para derrocá-lo, que empenhara nessa obra a Igreja e suas organizações, que para isso mantivera contacto com os agentes secretos ianques, que dêles recebera instruções e dinheiro, que se dedicara também à lucrativa e pecadora prática do «câmbio negro» de moeda ... Diante de tanta confissão, a imprensa burguesa recorreu à calúnia idiota: disse que o cardeal tinha sido «dopado»,