O conceito de história
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Coleçã o HISTÓRIA & HISTORIOGRAFIA

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Reinhart Koselleck Christian Meier Horst Günther Odilo Engels



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Traduçã o Rene E Gertz

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de relatos particulares, o termo historia ganha, à luz da experiencia moderna, um grau de abstração e generalidade tão elevado que passa a ser capaz de se referir a todas as histórias particulares possíveis. Em consequência disso, na variante alema do moderno conceito de história passa a predominar a forma singular Geschichtc cm lugar da flexão plural die Geschichíe( n) E a tal circunstâ ncia que se refere a categoria gramatical “ singular coletivo ” ( Kollektivsingulat , ) com que o verbete qualifica o novo conceito de historia. Paralelamente, a generalidade do conceito também é reforçada em decorrê ncia de uma outra transformação semâ ntica, através da qual o termo Ges chichte passa a absorver os significados anteriormente reservados ao termo de origem latina Histor í e, que desde a Idade Média tendia a ser associado primariamente à narrativa de acontecimentos e ão aos n acontecimentos propriamente ditos. No moderno campo sem â ntico do termo Gcschichte se encontra , por isso, tanto a noçã o de história como realidade ou síntese do processo de constituição do mundo humano, quanto a referê ncia à história como forma de conhecimento do passado dos seres humanos, isto é, como historiografia.3 O verbete foi escrito no contexto de um dos projetos de pes quisa coletivos que mais fortemente marcou a cena historiográ fica alemã da segunda metade do século XX, os Conceitos his íóírcos fun damentais: Léxico histórico da linguagem político social na Alemanha.4 Editado entre 1972 e 1997 pelo próprio Koselleck em parceria com outros dois importantes historiadores, Otto Brunner e Wemer Conze, o léxico abrigaria no seu segundo volume o verbete sobre o conceito de história. Quando da publicaçã o do verbete de At óer, Engels , G ü nther e Koselleck em 1975, já nao era inédita a tese central de que a ideia

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de hist ória e a prá tica da liistoriografia passaram por transformações fundamentais entre o final do século XV11I e a primeira metade do século XIX . Na verdade , nos anos 1820, Hegel , na introdu çã o à sua Filosofia da história^ já falava na então contemporâ nea transição da “ história refletida ” para a “ hist ória universal filosófica ” , cujo fundador seria ele próprio.5 No influente Mamai do método k ÍstÔricoy de Ernst Bernlieim, publicado pela primeira vez em 1889, sugere se que a transição de uma concepção “ pragm ática ou instrutiva ( lehrhafi )” de história para uma histó ria “ gené tica ou evolutiva ( en twickelnd)” só há pouco se havia consolidado, com a adesão a esta por parte da imensa maioria dos grandes representantes da ciê ncia histórica alemã oitocentista .6 Em 1936, Friedrich Meinecke destacava que por volta do fmal do s é culo XVIII teria se dado “ uma das maiores revoluções espirituais” já vivenciadas pelo pensamento ocidental . 7 A lista de registros poderia ser estendida , mas será suficiente para ilustrar a preexistência da percep ção de que, ao menos no espa ço cultural alemã o, modificaçõ es no conceito de histó ria similares à s descritas no verbete tiveram lugar ao início do que chamamos de Idade Contemporâ nea , Ainda assim é importante sublinhar a originalidade das interpretações de Koselleck acerca da modernização do conceito de história , que sã o marcadas pela preocupa ção em entrecruzar contextos intelectuais, políticos e sociais; pela distribuiçã o bem balanceada de aten ção analí tica entre os grandes e os n ão t ão grandes autores que lhe servem de fonte; bem como pelo emprego inovador de dicion á rios e enciclop é dias , antes largamente ignorados na história das ideias s

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Anteriormente ao verbete dos Gesdrlditlidic Crundbegriffe , tanto a catacteriza ç ao do moderno conceito de história como um termo “ singular coletivo" quanto a teje da absor o çã dos significados do termo Historie pelo termo Gesdmhte j$ haviam aparecido num famoso ensaio de autoria de Koselleck , publicado pela primeira vez em 1967. Ver: KOSELLECK, Reinhart Historia magistra vitae. Sobre a disjoluç Jo do topos na histó ria moderna em movimento. In : Futuro postado* op. cat., p. 41 60 BRUNNER , Otto; CONZE, Werner; KOSELLECK, Reinhart . GeuhUhtlidit Gruitdbtg/ iffe. Historisches Lexikonzurpolkisch - sozlalen Sprache in Deutschland , 8 voh , Stuttgart : KlettCotta, 1972 1997; HOFFMANN, Stefan-Ludwjg. Rdnhatt Koselleck ( 1923-2006): The Conceptual Historian . Gentian History, v. 24 , n 3, p. 475 -478, 2006 (cit . p 476).

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HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Fiiosojia da história Brasilia : Ed . UnjB, 1999 p, 13 -21 , BERNHEIM, Ernst. Handbudi der historiuhen Methodc* l. Au ft. Leipzig: Dunckcr und Humblot, 1889 p. 15 -21. MEINECKE, Friedrich. Ei histor í nsmy su genesis Mé xico: Fondo de CutiuraEconomics, 1943, p. 11. Desde meados da dé cada de 1950, Hans FreyeHnsUt í a nesta ampliação do repert ó rio das fontes. Ele se queixava da hist ó ria das ideias que “ geralmcnte se detém muito em grandes obras que, de fato, s ão representativas mas que se elevam muito acima das cabeças". Freyer toma como exemplo a ser segutdo o eítiido de 1927 de Bernhard Groethuyseo , sobre a formação da visã o de mundo burguesa na Fran ç a , o que ele caracteriza como uma “ história do espí rito an ó nimo" baseada em "sermões, livros did á ticos, cartas, literatura recreativa, documentos do cotidiano casualmente obtidos’ *. FREYER, Hans. 7>

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Jra 18. und fiuhen 19 Jahrhundcrt STOCKHORST, Stcfanic Novus ordo temporum Reinhart KosclJccks These von der Verzeitlichung dei Geschichtsbev/ uBtse í m dutch die Aufkl á rungsliistor íographk in methodenkritischec Perspektive. In: JOAS; VOGT (Hrsg ) Btgriffene Gtuhkhte, op. cit , p. 359-386 (cit. p. 379); FULDA , Daniel Rex ex historia Komodienzeit und verzeitliehte Zeit In ‘Minna von Barnhdrn* DasachtzehntcJahrhimderi, v. 30, n. 2 , p 179 192, 2006 (cit p. 182): ' “ Von SawilUs Kritik bcuoflcn ist niche dieTemporalisieruugsthesc Insgesamt , sondem mu’ Gejchichce ' ' Kollektivsingular ” Kosellecks ihre Stutzung dutch Um depoimento do sociólogo í rancêsjulien Freund , por ocasiao do aparecimento do primeiro volume do l éxico, nos d á uma vaga ideia do modus operatuil estabelecido pelos editores. Depois de presenciar algumas das reunites de trabalho do grupo na Alemanha , Freund escreve que com os pesquisadores encarregados de redigir o verbete Poder "estavam reunidos historiadores, sociólogos, filó sofos, economistas, juristas, cientistas pol íticos , te ó logos , etc (cerca de vinte e , cinco pessoas). (.. ) Seguiu se um grande debate e uma confronta çSo que podia se basear na maior parte, em um volumoso dossi ê composto de trechos fotocopiados de dicion á rios latinos, alero àes, ingleses, franceses, italianos, etc , c que tratava do conceito do sé culo XVI a nossos dias Assim , foram reuni õ es de trabalho em equipo que permitiram ao autor designado para o verbete obter o maior nú mero possível dc dados eruditos , liter á rios o cient íficos" FREUND, , Julien. Compic rendue de 'Geschíchtlichc GrundbegriftV Remte PtanfaUe de Socichgie, v. 15 n. 2 p 287 289, 1974 (aqui p. 287-288)

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verbetes as preferencias e opções individuais tenham sido simples eliminadas, nem que na distribuição das tarefas executadas pelos editores-chefes tetilla havido um perfeito equilíbrio. Se é a Koseíleck, indiscutivelmente, que se deve atribuir centralidade na concepçã o geral dos Geschichtliche Gmndbegiifjc, in ú meros comenta ristas têm sido levados, porém, a ignorar a real importâ ncia de Otto Brunner e Werner Conze. Ocupemo-nos agora com algumas das razões que levaram estes dois historiadores a dividir a editoria do léxico com Koseíleck e com a influência por eles exercida sobre a arquitetura geral do projeto. Dos três, Brunner era , no começo da d é cada de 1970, o mais conhecido. O já septuagen á rio medievalista austr íaco não assumiu praticamente nenhuma tarefa organizacional importante na ediçã o do léxico, tendo aportado um ú nico verbete: "Feudalismo” 3 Se essa ' muito modesta participa çã o se deveu à idade, a alguma idiossincra sia pessoal ou a um possível constrangimento de natureza pol í tica , é uma questã o ainda em aberto. Em todo caso, a importâ ncia de Brunner se d á em outro plano, Seu livro Tena e dominação (1939) é um clássico da moderna história dos conceitos e pode talvez ser considerado uma das primeiras tentativas bem-sucedidas de se in corporar o pensamento político-jur ídico de Carl Schmitt à historiografia . À inova çã o teó rica e metodológica assim promovida se liga, porém, e de forma indissociá vel, uma inegá vel Belastmg polí tica Sabe-se que desde 1937 Brunner estava entre os que acreditavam no advento de uma “ nova realidade ” na Alemanha ap ós a ascensã o do nacional-socialismo. Em consonâ ncia com Schmitt, ele constatava o esgotamento dos conceitos fundamentais at é então vigentes.14 Essa convicçã o é projetada em Terra e dominação, onde se afirma que o aparato conceituai do século XIX deveria ser “ destruído” porque mente

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Dentre os aurores que escreveram verbetes para o lé xico, apenas vinte contribu í ram com mais de 100 p á ginas . A lista é encabeç ada pot Conze e KoseUeck (nesta ordem) . DJPPER, Christof. Die ’ Geschichtliche GrundbegrifiV. Von der Begriflsgesehichte zur Thcorie der historischen Zeiten. In : JOA $; VOGT (Hrsg.) Begrijftne Gothithlt, op. c í t, p. 297. O topos d ? “ nova realidade ” é analisado por OEXLB, Otto Gerhard Wirklichkeit - Kiise der Wirklichkeit Neue Wirklichkeit, Deutungjmuster und Pmdigmenkampfc in derdeutschcn Wissenschafr vor und nach 1933. In: HAUSMANN, Frank Rutger ( Hrsg.) D/e Rolle der Grhteswiutmdiafun im D/ itten Reiá 1933 1945. M ü nchen: Oldenburg, 2002, p. 1 20. -

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n ã o se prestava fosse ao entendimento do presente, fosse ao das instituições jur ídicas e sociais da Idade Média , Nesse sentido, foi particularmente influente para o léxico a sua tese a respeito de uma transi çã o epocal na histó ria do continente europeu . O conceito de “ nova Europa ** ganhara força no â mbito do pensamento nacional-socialista . Brunner adere a ela, desenvolvendo, por oposição, a noçã o de “ antiga Europa ” : nada menos o espaço de tempo que se estende de Homero a Goethe , Brunner propõe, assim, um esquema evolutivo tripartite: “ antiga Europa ” , “ era limítrofe” ( Schwellenzeit ) e “ sociedade moderna *'. Reinhard Blã nkner acredita ser essa a concepção de fundo do léxico: “ sem a antiga Europa de Brunner [...] nem a Sattelzeít , nem o léxico Geschichíiche Grimdbegriffe poderiam ser pensados” .15 Ao lado de Koseíleck, o grande animador do léxico de conceitos fundamentais é Werner Conze. Personalidade admirada por amigos e alunos , Conze vinha de uma família do chamado Bildungsbiirgeríum ~ o segmento da burguesia alemã mais diretamente afeto à educa çã o e à cultura. Seu avô , o arque ólogo Alexander Conze, tinha sido aluno de Leopold von Ranke. Como Koseíleck , Conze lutou e foi ferido na Segunda Guerra mundial . Ambos tinham ainda em comum seu ceticismo em rela çã o à fun ção emancipatória que a geraçã o do maio de 1968 atribu ía à ciê ncia histórica. Para Conze a grande ruptura moderna se dera com o aparecimento de uma cesura e uma crescente polariza çã o entre Estado e sociedade a partir de fins do século XVIII. Até então, um nã o se dissociava nitidamente do outro . Com a Sclnvellenzeit,

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Freycr empregou o neologismo ZtitecfavtlU * praticamente idê ntico à SthwelUnzeil de Brunner. Infelizmente n ü o nos foi possível verificar qual dos dois autores teve preced ê ncia nesse caso. Cf. BLÃ NKNER , Reinhard . Bcgriffsgeschkhte in der Gcschichmvissenschaft Otto Brunner und die Geschichtliche Grundbegrifie. Fotnm lntirdiszipUndre 8egrijfsgesd\i( htet v I , n. 2, p. 101-107 2012 (cit . p. 106); SCHULZE, Winfcied. German historiography from the 1930 to the 1950’s. In: LEHMANN , Harcmut; MELTON, James (eds.) Paths of continuity. Central eu rope an historiography from the 1930’$ to tho 1950’s. Cambridge: Cambridge University Press, 1994, p. 40. Naimrodu çJoao primeiro volume do léxico, Koseíleck afirma que o objetivo ali perseguido era o de investigar o "desaparecimento do mundo antigo c o surgimento do mundo moderno” . KOSELLECK , Reinhart . Einleiiung. In: BRUNNER , Otto, CONZE, Werner ; KOSELLECK Reinhart . ( Hrsg.) Geuhtdiittclte Cnwdiegrlffc: Hhtorisches Lexlkon zur poHtisch -sozialen Spraché in Deutschland , v. 1, Stuttgart: Klett-Cotta , 2004 , p xvi *

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surge a “ sociedade ” . Conze pretendia compensar analiticamente essa divisã o ao promover uma aproximaçã o radical entre ciê ncia hist ó rica e sociolog í a. Sua carreira se inicia na chamada Ostforschungy campo de pesquisas dedicado ao leste europeu e sobre o qual pairou , por muito tempo, a pecha de ser urna especie de ciencia auxiliar do expansionismo alem ã o. Estuda sociologia em Leipzig, tendo como mestres o historiador Hans Rothfels e os sociólogos Hans Prcyer e Gunther Ipsen . 16 Conze se tornou assistente de Ipsen e escreve seu doutorado sobre unia comunidade de lí ngua alemã na Livônia. Depois de aprender russo e polon ês, prepara sua tese de acesso à cá tedra ( Habilitation ) sobre a estrutura agrá ria e populacional da Litu â nia e Bielorr ú ssia. Esses trabalhos n ã o acompanham a tradi ção de alta contamina ção ideológica e geopolí tica da Ostforschung. Em 1938 Conze chega a ter um artigo vetado pela Zeitschrift fií r Volkskunde porque havia sido demasiado isento em suas an á lises.17 Mesmo num ambiente intelectual pouco favorá vel , ele se abriu à influ ê ncia da sociologia norte-americana e posteriormente à obra de Fernand Braudel. Em 1965 funda o Grupo de Trabalho em Histó ria Social Moderna, no qual Koselleck tomará parte entre 1960 e 1965 Tendo marcado época na historiografia alemã do pós -guerra , esse grupo publica nada menos que 43 livros entre 1962 e 1986 . A primeira incursã o de Conze pela hist ó ria dos conceitos se dera antes, num artigo de 1954: “ Vom ‘PobeP zum ‘Proletariat ” , em que mostra quais processos sociais est ã o por detr ás da gradual substitui çã o do termo “ ralé” ( Pòbel) pelo de “ proletariado” « A hist ó ria dos conceitos abre para Conze um acesso novo ao estudo da din â mica histórico-social; ela possibilita um controle lexical que , com o auxílio da hermenê utica , deveria fundamentar historicamente a an á lise cient ífico-social. Koselleck viu nesse estudo de Conze uma verdadeira “ obra de mestre” .

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n Tr¿$ tio mes que Koielteck classificou como “ conserva flores e nacional is tas” KOSELLECK . Reinhart . Vom Stnn und Unsinn der Gesehichte Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2010, p. 324. 11 SCH 1 EDER , Wolfgang. Sozialgeschichte zsvischen Sozlologie und Geschiehte . Das wisjenschaftlichc Lebcnswork Werner Conzes. Geschiehte und Gescliscluft , v. 13, n , 2, p. 244 266, 1987 (p. 254).

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É com razão que se costuma sublinhar a ascendência da socio18 logia dos conceitos de Carl Schmitt sobre os editores do lé xico. Curiosamente, pouco tem sido escrito fora da Alemanha sobre uma figura n ão menos influente que Sclnnitt naquele contexto o já citado Plans Freyer. Da obra desse brilhante sociólogo e historiador, Brunner assimilou o princípio segundo o qual os conceitos usados por um campo do conhecimento sempre estão “ historicamente impregnados” , de que “ mesmo os conceitos mais gerais (...] têm em si este elemento hist órico ” . De suma importâ ncia para Conze foi a tese de Freyer (desenvolvida em obras da década de 1930 e 1950) a respeito do surgimento moderno da oposição entre Estado e sociedade , assim como da “ ruptura histórico - universal de primei 19 ra grandeza ” ocorrida na passagem entre os séculos XVIIl XIX. Apontado por WinfHed Schulze como um dos mais influentes livros alemães da década de 1950, a Teoria da época atual (1955) de Freyer foi adotado por Conze como o ponto de partida dos trabalhos do Grupo de Trabalho em Hist ó ria Social Moderna Nessa obra , Freyer subscreve inteiramente a visã o de Karl Lõwith sobre a filosofia da história como uma forma de escatologia secularizada , e que sabemos 20 ter exercido forte influ ê ncia sobre Koselleck. Não resta d ú vida, contudo, de que foi Reinhart Koselleck o grande propulsor do empreendimento de organização do léxico de história dos conceitos na Alemanha ao qual o texto do verbete “ Geschichte , Historie ” foi originalmente destinado. Por isso, será importante considerar, com especial aten çã o, a sua trajet ória bio gráfica e acad êmica. Segundo o pró prio testemunho , Koselleck cresceu num contexto familiar em que se valorizavam a leitura , a m úsica , as visitas



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As linhas bá sicas de cal abordagem foram desenhadas ainda na d é cada de 1920. Cf, SCHMITT, Cari . Teohgfa política. Belo Horizonte : Del Rey, 2006 , p . 42- 43. FREYER , Hans. La sociolog ía,ciencia de la realidad Buenos Aires , 1944 , p. 23, 108; FREYER , Teoria da tpoca aluai , p. 73. SCHULZE , Winfricd . Deutsche CrschUhtswissenscha/t iiaeh 1945. MU when: DTV, 1993, p . 295-297. A import â ncia da visto de Lõwith para Koselleck e as dificuldades da í resultantes slo analisadas por JOAS , Hans. Die Konlingenz der Sâ kubrisicrung. Ü berlegungen 2 urn Problem derSã kularisierungim Work Reinhart Kosellecks . ln: JOAS; VOGT ( Hrsg.) Bcgnffenc Geschichte , op. cit ., p. 319 -338. Ver també m; OLSEN . History in /Ac Plural. An Introduction to the Work of Reinhart Koselleck . New York : Berghahn , 2012, p . 21-23.

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a museus, a escrita de cartas , O seu pai foi professor ginasial e de institui ções de formação de professores. A mã e , de abastada familia burguesa de origem hugenote, fez estudos superiores em francés, história e geografia, além de ter se formado como violinista de concerto Nascido em 1923, Koselleck n ão escaparia de vivencia diretamente a II Guerra Mundial. Foi recrutado para a artilharia* do exército nacional socialista em maio de 1941 e enviado para a frente leste de batalha, mas um pequeno acidente na marcha para Stalingrado ensejou a sua transferência para operações de suporte na Alemanha e na Fran ça , Em maio de 1945, foi capturado pelo exé rcito sovi é tico e , depois de um curto período de trabalho na desmontagem de instalações da planta da IG-Farben nos arredores do campo de concentra çã o de Auschwitz, foi enviado para um Culag no Cazaquistlo , de onde escaparia , depois de 15 meses, com a ajuda de um médico que fora amigo de um dos seus t ío$~avôs Koselleck teve a vida fortemente marcada pela experiê ncia da guerra e da derrocada da Alemanha em 1945 . O seu irmão mais velho inorreu em combate , enquanto o mais novo faleceu em decorrê ncia de um bombardeio . Uma de suas tias, que sofria de esquizofrenia , foi vitima do programa nacional-socialista de eutanásia.21 Com essa dupla bagagem fornecida pelo universo cultural da burguesia educada e pela experiê ncia da guerra e da prisã o Koselleck iniciaria os seus estudos em 1947, aos 24 anos, na Uni versidade de Heidelberg. Frequentou cursos de importantes figuras da vida acad ê mica de entã o, tais como o soci ólogo Alfred We ber, o jurista Ernst Forsthoff, o mé dico Viktor von Weizsá ckcr, os filósofos Hans-Georg Gadamer, Karl Jaspers e Karl Lõwith e os historiadores Johannes Kiihn e Hans Rotlifels , Contudo, a principal influencia sobre o jovem Koselleck n ão seria exercida por nenhum desses professores; ao contrá rio, por um acad êmico que no contexto da desnazifica çã o operada imediatamente após

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que se desenhou com o final da II Guerra Mundial. Partindo de postulados teóricos desenvolvidos por Carl Schmitt ~ como os de que a soberania é o poder de decidir sobre o que constitui o caso excepcional e de que a polí tica é uma arena marcada por um eterno conflito que não pode ser anulado pela supressão do inimigo, Koselleck pretende chamar a atençã o para a nocividade dos conceitos estmturantes das ideologias polí ticas modernas. A sua critica incide não somente sobre o nacional-socialismo, mas também sobre os dois polos ideológicos da ent ão emergente Guerra Fria ; liberalismo e comunismo. Para Koselleck, a vulnerabilidade propiciada pela afirmação de todos esses “ -ismos” configura uma crise política de dif ícil resolu çã o. Tal crise seria o desdobramento de uma maneira utópica e moralizante de lidar com as coisas polí ticas , iniciada com a cr ítica polí tica no contexto do Uuminismo e cristalizada nas modernas filosofias substantivas da histó ria . No diagnóstico schmittiano assimilado por Koselleck, liberalismo, comunismo e nacional-socialismo seriam 22

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a queda do HI Reich havia se tornado “ maldito” , o jurista Carl Schmitt.22 E com a persona de Schmitt e com o diagnóstico do mundo politico do século XX por ele desenvolvido que se trava o glande diá logo intelectual que estruturou a tese de doutorado defendida por Koselleck em outubro de 1953 e intitulada Crítica e crise: um estudo sobre a patogénese do mundo burgués 2* Esse trabalho é muito mais do que uma erudita e desinteressada investigaçã o do pensamento político moderno com foco no desenvolvimento da crítica iluminista à ordem absolutista. É também, na expressão do próprio Koselleck , urna tentativa de “ explicar a formaçã o da utopia com a qual a sociedade burguesa se rompe” ?4 Trata , assim, tanto do passado setecentista quanto do cená rio presente

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* KOSELLECK , Reinhart ; HETTLING , Manfred; ULRICH , Bernd . Formen der Bü rgerlichkeic . Ein Gesprach mil Remhatt Koselleck . In: HETTLING, Manfred; ULRICH , BcrrtdfHrsg.) Bilrgetlum nach 1945 Hamburg ; Hamburger Edition , 2005, p. 40 - 60 (cit . p. 46 52); OLSEN , Niklas. History in tht Plural, op. cit ,, p. 10 - 16; MEYER , Christian. Gedenhredeauf Reinhart Koselleck . In: BULST, Neithard; STEINMETZ , Willibald (Hrsg.). Rchi Wf Kosdkck 1925 2006 Reden zur Gedenkfeier am 24. Mat 2006. Bielefeld, 2006, p. 7-34 (cit . p. H- I 2) .

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atuou , na prá tica , como um orientador da tese doutoral de Koselleck , ainda que formalmente a orientação tenha sido assumida por Johannes Kiihn. Sobre 3 rela ção entre Kojelleck e Schmitt, ven MEP1R Í NG , Reinhard . BegrifFsgeschichte mit Carl Schmitt. In: JOAS; VOGT, ( Hrsg.) Begriffene Geschichte , op. dt; OLSBN, Niklas. Carl Schmitt, Reinhart Koselleck and the Foundations of History and Politics. History of European Ideas , n. 37, p. 197208, 2011. KOSELLECK , Reinhart . Critica e crise . Uma contribuiçã o à patogê nese do mundo burgu ês . Rio de Janeiro: Contraponto; Ed . PUC- Rio , 1999. KOSELLECK; HETTLING; ULRICH, Formen der Biugerlkhkeit , op. cit . , p. 54 .

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diretos do utopismo íluminista; donde a importancia de se estudar este para se compreender aqueles.25 Nos anos I 960, Koselleck daria continuidade à sua reflexão sobre a natureza e os problemas da modernidade na sua tese de Habilitation sobre a histó ria constitucional e administrativa da Prussia entre 1791 e 1848, orientada por Conze. Publicada em 1967 , A Prussia entre reforma e revolução é fruto de uma investiga çã o cuidadosa em que a abordagem hermenê utica das fontes da época é complementada com an álises de corte estrutural e estatístico, para produzir uma histó ria que abarca nao só conceitos polí ticos, mas também a interface entre intelectuais, instituiçõ es e atores sociais na Prussia da primeira metade do século XIX .26 Logo após publicar este livro, Koselleck se volta para um novo projeto, desta vez um grande empreendimento editorial coletivo que marcaria época na cena historiográfica alemã da segunda metade do século XX Em 1967, publica no Arquivo para a história dos conceitos um artigo , redigido quatro anos antes, detalhando as linhas mestras de um “ léxico dos conceitos polí ticos e sociais da modernidade” ,27 que em 1972, por ocasião da publica çã o do seu primeiro volume, seria rebatizado como Conceitos históricos fundamentais: Léxico histórico da linguagem política c social na Alemanha.

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A fim de adquirir uma compreensão mais ampla do significado do léxico dos conceitos fundamentais para a história da historiografia , deve-se levar em considera ção a evolução da hist ó ria dos conceitos dos seus primórdios at é a d écada de 1970. Esquivar-se de tal tarefa significa de$istoricizá-la , reforçando a impressão de que essa disciplina é a expressão de um fiat ocorrido na Alemanha após

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de Azevedo e Dias Tempo e crise na teoria da modernidade dc Reinhart Koselleck Hist ó da Historiografia , n . 8, p. 70 90, 2012 (cit. p. 81 82); OLSEN, History in the Plural , op cit ., p. 46 48. n KOSELLECK, Reinhart. Pitnatti ¿ivistken Reform mid Revolution , Allgemeines Landrecht , Verwaltung und soziale Bewegung von 1791 bK 1848. M ü nchen: DTV, 1989, p 17. 21 KOSELLECK, Reinhart. Rtchtlinien, op. cit., p. 81 99.

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a cat á strofe da Segunda Guerra Mundial O fato é que a história da histó ria dos conceitos se inicia muito antes. A despeito de algumas iniciativas no século XVIII e XIX, somente em meados do XX a história dos conceitos iria se emancipar e adquirir o estatuto de disciplina autó noma , compreendendo-se , ao longo da maior parte de sua história, como um instrumento heurístico necessário ao desenvolvimento de uma teoria filosófica. Desde a dé cada de 1960 seu programa só fez se alargar, no sentido seja de urna metaforologia , seja de uma tó pica histórica ou uma história dos conceitos científico -naturais. Em nenhum outro campo da historiografia se realizou tã o plenamente a concep çã o pioneira de Ernst Cassirer da história enquanto um ramo da semâ ntica 28 Mas se o conceito é simultaneamente um fator e um indicador, nem por isso se deve supor que seja capaz de produzir milagres. Como sublinhou Gunter Scholtz, a coisa muitas vezes existe antes do termo que a designa - coisas nem sempre são feitas de palavras De fato, e como veremos a seguir, a história dos conceitos se coloca como projeto e mesmo como uma incipiente prá tica disciplinar antes do surgimento do conceito “ hist ória dos conceitos” . Que a história jamais se esgota na linguagem, é algo que o próprio Koselleck nunca deixou de ressaltar.29 Com seu Léxico flosójko (1726) , o teólogo luterano Johann Georg Walch foi o primeiro a insistir que o cará ter “ histórico ” dos conceitos deveria ser estudado à parte do seu cará ter “ dogmá tico ” , de modo a esclarecer os conceitos filosóficos . O esforço de explicação e definição não poderia ser dissociado de uma “ narrativa histórica ” dos conceitos e controvérsias filosóficas. Em 1774, Johann Georg Heinrich Feder (professor de filosofia em Gottingen) , defendia que, para a preparação de um dicioná rio filosófico, seria imprescind ível o estudo histó rico daqueles conceitos em torno dos quais se produziam polê micas. Christoph Gottfried Bardili, em 1788, elaborou urn programa de pesquisa dos principais conceitos

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n CASSIRER , Ernst Antropologiafilosifiea, México: Fondo dc Cultura Económica, 1992, p 287. n SCHOLTZ, Gunter, Begrifisgeschichte ais historischc Philosophic imd phslosophische Historic. liuJOAS; VOGT(Hr$g.) Begrifftm Geuhkhte,op. cit., p.273. Para Koselleck , "Geschichte gehcnie in Sprache auf \ Cf. KOSELLECK , Reinhart Vom Slnn itrJ Unsirtn der Geuhlchfe, op cit., p. 88.

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filosóficos. Para Baidili também era importante investigar a presenç a dos termos filosóficos na linguagem cotidiana , na literatura e ñas religiões. Helmut Meier identifica um evidente “ sotaque hist órico conceituai” percorrendo essas diversas obras, 30 Em 1806, é a vez de Wilhelm Traugott Krug, sucessor de Kant em Konigsberg, estabelecer seu plano de um Dicionário histórico í tico ciajilosofia nestes termos: “ Seria muito instrutivo caso houvesse um dicioná rio dc todos os conceitos e proposiçõ es ( Satzen ) filosóficas » que os colocasse em ordem alfab é tica e indicasse suas origens , evolu çã o, transformações, contestações e defesas, deturpa ções e retifica çõ es, com indicaçã o de fontes, autor e das épocas at é o momento atual ” .31 Em seu Do conceito da história da filosofa (1815) , Christian August Brandis chega ao ponto de conceber a história da filosofia como a história dos conceitos filosóficos. Nao obstante todas essas declara ções de boas inten çõ es, na primeira metade do XIX a história dos conceitos se limitou a poucas iniciativas isoladas, n ã o chegando a conhecer nenhum empreendimento sistemá tico Em 1870 , enfim, Friedrich Adolf Trendelenburg autor cujas marcas se fizeram sentir no pensamento de Dilthey escreveu uma história do conceito filosófico de “ pessoa ” . Com isso, Trendelenburg pretendia entender por que o conceito de persona, que para os antigos evocava uma m áscara, mera aparência, assumirá mais tarde, com e a partir de Kant , o sentido daquela inst â ncia que expressa a essência moral do homem 32 O impulso decisivo só vem em 1872 com RudolfEucken, que ambiciona editar um léxico histórico da terminologia filosófica. Seguindo de perto as concepções de Trendelenburg, Eucken entende que a história dos conceitos não deve ser uma coleção de curiosidades, mas revelar “ a história interna de cada termo específico ” . Somente a pesquisa liistórico-conceitual estará em condi ções de decidir se um determinado termo filosófico deve sua origem a um ato criador

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Guerra, lugar de destaque cabe a Erich Rothacker. Rothacker iniciara seus estudos de filosofia em Kiel e ainda na gradua ção percorrera os livros de Karl Lamprecht e Kurt Breysig, os mais controvertidos representantes da história cultural na Alemanha de fins do século XIX. Entre o$ professores que o marcaram estavam o sociólogo Ferdinand Tõnnies, o historiador da arte Carl Neumann e , em especial , o filósofo Max Scheler. Em sua tese de doutoramento, concluída em 1911, Rothacker se dedicou ao pensamento histórico de Lamprecht . Para a tese de Habilitation, se transfere para Heidelberg e escreve uma Inlroduçdo às ciências do esp írito que é, em Larga medida , uma história da escola histórica alemã. O trabalho n ão deixa de ser notado por historiadores de prest í gio como Georg von Below e Friedrich Meinecke Em Heidelberg, cidade que viria a se tornar um dos principais centros irradiadores da história dos conceitos em sua acepçâo atual, Rothacker chega a atuar algum tempo como Privatàozent > mas seu caminho à cá tedra não parece muito promissor na “ aldeia mundial” de Baden. Em 1926 publica sua Lógica e sistemá tica das ciências do espírito, em que manifesta uma primeira aproximaçã o em rela ção à antropologia filosófica. Corno a obtençã o de um cargo universitá rio n ã o se apresentava ainda como uma possibilidade real, Rothacker vê sua grande oportunidade na inten ção anunciada em 1927 pela “ Sociedade alemã de apoio à ciê ncia” de editar um grande dicionário filosófico cultural . Rothacker abra ça entusiasticamente a ideia . Ele elabora um projeto no qual esse dicion á rio deveria se estruturar em tomo de conceitos filosófico-culturais fundamentais e de uma concepção auténticamente interdisciplinar, uma vez que “ todo o trabalho de esclarecer filosoficamente os conceitos fundamentais não dá em nada caso a filosofia não $e mostre capaz de colocar seus conceitos numa rela çã o viva com os conceitos fundamentais da$ ci ê ncias específicas” .36 Em abril de 1927 esse projeto é enviado ao ministé rio da educaçã o. Para concretizá lo, Rothacker acreditava ser necessário fundar um instituto de pesquisa nos moldes dos Institutos

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Cludo por STÕV/ ER , Ralph. Etlch Rothacker Sein Leben und seine Wmensctuft vom Menschen. Bonn: Bonn University Press 2012, p. 97.

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Kaiser-Wilhelm (atual Sociedade Max Planck ). Seu intento era incrementar o contato entre as diferentes disciplinas nas humanidades e, simultaneamente, preparar o léxico em conjunto com urna equipe sob seu comando. Tal empreendimento, acreditava , seria condiçã o necessá ria para se chegar a uma “ ciê ncia do homem ” assentada em bases histórico -culturais e antropológicas. Seus planos, entretanto, n ã o sensibilizaram as autoridades educacionais prussianas. Ralph Stower acredita que se tenha visto na ideia do léxico e do instituto algo além das possibilidades de um pesquisador que sequer chegara à cá tedra ainda 37 Com sua nomea çã o para a Universidade de Bonn em fins de 1928, Rothacker passa a se dedicar a outros temas, mas o desejo de levar adiante o dicioná rio permanece vivo. Ainda que sejam evidentes os sinais de sua aproxima çã o com o regime nacional-socialista , Rothacker n ã o enfrentou maiores problemas para reiniciai sua vida acad êmica ap ós 1945.38 J á nos anos posteriores ao fim da Segunda Guerra , ele percebe que há um clima favorá vel à retomada do seu antigo projeto. A partir de 1949, tenta viabilizá-lo através da recém fundada Academia de Ciê ncias de Mainz 39 Em 1955, finalmente funda o prestigioso Arquivo para a história dos conceitos , primeiro periódico especializado nessa á rea . Para Rothacker o dicioná rio de Eisler se limitava a um amontoado de cita ções e n ã o oferecia uma “ história do conjunto da terminologia relativa à filosofia e is visões de mundo [que fosse] realizada com esmero histó rico -filológico ” , A nova história dos conceitos deveria aliar o rigor da pesquisa histórica à tradição da história dos problemas (que remontava às pesquisas em hist ória da filosofia de Wilhelm Windelband) , abrindo espa ço nã o apenas para a inova çã o no campo da história das ideias, mas também para uma “ aprofundada crítica da

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STÕ WBR , Erieh Rothctcktr ©p. cu., p. 100 Embora tenha declarado num question á rio preparado pelas forç as de ocupaçio aliadas, em 19*16, que “ a pol í tica es t á , dentre as coisas que me interessam, quase no 12° lugar” , sabe -se que na d écada de 1920 Rothacker se sentia pr óximo do campo conservador. Nã o se sentiu atra ído pelo famoso c írculo intelectual mantido por Alfred Weber e Marianne Weber em Heidelberg, por cons [ der £-!o demasiado liberal e mesmo “ impatrió tico” STÕWER , Eríé Rothacker, op. cit ., p. 53, 78 KRANZ, Margarita. Geistige Kontiauirft? Rothackers Projekt eines begrifTsgeschichtUchen Woí terbu ç hs von 1927 \ md dessen Wiederaufnahme 1949 Forum JnUfdiszipUn ü re Re$i{ ffsgesí híchte, v. 1, n . 2, p 46 48, 2012

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ROTHACKER, Erich. Gelcitwort ArchivJúr BzgiijJigtschichU , v, ) > p 5 ~9, 1955. Citado por TINNER , Walter. Das Umernehmcn ‘Hmorischc Wôrterbuch der Philosophic'. In: POZZO, Ricardo; SGARBÍ, Marco (Hrsg.) Elm T/ pologic der Formen der Btgiljfsgeschhhle Hamburg: Meiner, 2010, p 10.

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condiçã o de editor-chefe ao lado do pr óprio Ritter. As negocia ções fracassam diante do volume dos honorá rios pedidos por Gadamer e de sua demanda de que os direitos do dicion á rio fossem passados aos editores-chefes , e não à editora Schwab.42 Pato é que ao longo das décadas de 1950 e I 960 ocorre uma evidente pluralização de conceitos a respeito da história dos conceitos Em 1965, no seu conhecido estudo sobre a história do conceito de secularização, Hermann Liibbe defende a histó ria dos conceitos como uma história do uso das palavras (Wortgebrauchschichte), vendo nela um instrumento poderoso no sentido de lançar luz sobre aquelas crises recorrentes na história da filosofia e das ciências humanas, situaçõ es “ caóticas” no uso de determinados conceitos. Ela serviria, portanto, como instâ ncia de controle e de antídoto em épocas de anomia conceituai.45 Conclu ído em 2007, o Dicionário histórico da filosofí a abarca o universo de 3,670 conceitos Para tanto, foi mobilizado um exército de 1.500 autores (inclusive um presidente da Rep ú blica: Roman Herzog), a um custo final estimado em quinze milhõ es de euros. Ante os outros grandes projetos similares, como o Léxico dos conceitos político sociais na França e os Conceitos históricos fundamentáis , a marca distintiva do Dicionário histórico da filosofia sua força, mas possivelmente, tamb ém , sua fraqueza radica na não subordina ção a uma tese constitutiva central ou a uma concepçã o unitá ria de história dos conceitos / 4

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3 vM :r : por toda a eternidade, atribuindo a cada um aquilo que o destino lhe reserva , aqueles que registram os acontecimentos comuns do mundo ( ai KOivai ríjç oiKovpè pç npá&K ), como se fossem de urna ú nica cidade, transformam sua representação numa justificativa unitá ria e num ato de administraçã o comum do acontecido ” .*0 Nã o possu í mos um legado suficiente de Posid ônio para verificar em que medida ele transformou esse reconhecimento em programa de sua escrita da História , e como eventualmente colocou isso em prá tica . A “ simpatia ” entre cosmos e Hist ória sugere que esta n ão caminha em dire çã o a um fim. Nesse caso, sua ordem unit á ria deveria antes significar a regra dentro da sucess ã o de fases. Nesse caso, estar íamos diante de uma concepção de Hist ória muito parecida com a de Heródoto. Isso combinaria com o fato de que, na época , a crescente unificação do mundo entã o conhecido sob o domí nio de Roma estava relacionada com a crise crescente da rep ú blica .61 Aparentemente, Posid ônio se restringia, portanto, h histórias - como parte e no â mbito de uma ordem mais geral, que ele postulava filosoficamente. Dessa forma , ele estaria pressupondo mais ordem , mais provid ê ncia , mas menos interconexao entre os acontecimentos do que Polí bio. As coisas se apresentavam de modo um pouco diferente em Roma. A historiografia dali, desde o in ício, esteve concentrada na história de um objeto unitário. Ela deveria explicar os sucessos de Roma, legitimar sua expansão e suas reivindica ções (e , alé m disso , transmitir os exemplos dos pais).62 Para isso, a Histó ria era utilizada , sobretudo, como arsenal . Ela continha a anuncia ção do Rômulo deificado: cáeles( es ita ve He , ut mea Roma caput orbis terramm sil 6* ; alé m disso, lhe cabia fornecer a justificativa histórica para a

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D Í ODOR , 1, I , 3. Of. REINHART, Karl Poseidonios , Munique, 1921, p. 32 e segs.; REINHART, Karl . Kostwsund Sympathk Munique, 1920 , p, 18*1 A tradu ção est ã no anexo em REINHART, e em POHLENZ, Max Dk Stoa Gottingen 4. Aufl , 1970, p 213 e seg. H Cf. STRASBU.RGER , H Poseidonios on problem* of Roman Empire Journal of Roman Studies, n 55, 1965, p. 40 e segs w CELZBK , Kleine Schriften (vol 3), p. 51 « segs , 95 e segs., 258 TIMPB, Dieter. Fabius Pictor und die An finge der ô r ndschen Geschtchwichreibung. In: TEMPORIN 1, Hildegacd (ed.). sUfstitg und NUdeyang derrtmisditn Welt (vol. 1/ 2). Bwiim / New York, 1972, p. 928 e segs 4J LIVIUS, 1 , 16, 7 Cf. 1 , 55, 5 c seg; 5 54 , 7 60

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o império. Para a concepção de “ História” , sobretudo uma das respostas encontradas nessa situaçã o é interessante: a compara çã o com a idade de pessoas. Desde a rep ú blica tardia , h á registros da classifica çã o da História romana de acordo com as etapas de vida de pessoas.67 Elas possibilitavam uma classifica çã o e em especial uma definiçã o da pró pria posiçã o dentro da História romana . Nas versões variantes dessa História abrangente, encarada em si mesma, aparentemente existia uma necessidade para isso. Parece que a comparaçã o com a idade de pessoas também possibilitava uma valorização da pr ó pria idade tardia, valorizando as vantagens da idade, na qual a História

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bondade da constituiçã o romana 64 , e - n ão por ú ltimo - mostrar os in ú meros exempla da virtus e da superioridade de comandantes e soldados , hem como a sabedoria dos homens de Estado romanos.65 O desenrolar da História com essa longa lista de sucessos, com a gradual conquista do mundo, fornecia simultaneamente a confirma çã o sobre a correçã o dessas constatações religiosas, morais e político-militares. Nesse sentido, também a Historie romana no geral se manteve orientada pelos acontecimentos , distinguindo -se apenas pelos interesses especí ficos projetados sobre eles, e pelo fato de enxergar neles e na sua sucessão um sentido especial. Mas foi justamente após os sucessos, e a certeza de sucesso da í resultante,66 que se começou a pensar sobre a interdepend ê ncia da expansã o crescente com a crise e a decadê ncia dos costumes da rep ú blica romana tardia , bem como sobre a transiçã o da constituiçã o romana , que estava no auge de seu prest ígio, para

CICERO, De repubUdt , 2, 1 e segs. Cf , por exemplo, L1VIUS 9, 17 19; ( pratfatb) 9 e segs.; DREXLER , Ha tu . Die morabsche GeschichtsaufTassungdcr Rõroer. Gymnasium , n 61, 1954, p. 168 c segs., em especial p. 172 e segs.; PÔSCHE, Viktor. Die rdmische Auftassimg der Gescbichte. Gymnasium , rt. 63, 1956, p. 190 e segs. Paca os efeitos sobre 3 posteridade, cf. BUCHHEIT, Vinzenz ChristUche Romideologie im Lourentius Hymnm des Prudent í us In: W íRTH, Peter (Ed .). Polyí hrotmn. Festschrift (Ur Franz Dõ lger Heidelberg, 1966, p. 128 e seg3. Cf. LIVIUS, 1, 16, 7 H ÃUSSLER, Rein ha rd Vom Ursprung und Wandel des Lebensahetvetgleichs Hetmes , n . 92, 1964, p. 313 e segs.; V1TTÍ NGHOFF, Zum geschichtlichen Seibstverstandnis..,, p 557 e segs.; TRUYOL Y SBRRA, Antonio. The idea of man and world History from Seneca to O rosins and Saint Isidore of Seville . Oshiers d'histoirt , n. 6, I 960, p. 698 e segs.

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romana chegava à sua perfeição. Nã o se faia da morte de Roma ao menos n ão durante o período pagão.*8 Outra resposta para a suspeita de que se estava ficando para trás

em rela ção ao grande per íodo anterior consistiu na relativizaçã o das vantagens desse tempo a favor de uma avaliação histórica que distinguia entre prós e contras: 11nisi fortes rebus cund ís inest quídam velut orbis, ut qtmmdmodum temporum vices, ita mourn vertantur; nee

omnia apud priores metiora, sed nostra qtioque aetas multa huí di$ ae artium imitanda posteris tulit ” , lê-se em Tá cito.69 Após os temores de desaparecimento da rep ú blica tardia e do per íodo das guerras civis — Lucrecio até pensava que os campos perderiam sua fertilidade70 afirmou-se que Augusto restabele cera a “ aurea aetas” . Virgílio atribuiu a J ú piter a promessa de um " imperium sine fine” , que seria ilimitado, tanto temporal quanto espacialmente. A incumbê ncia de u regere império populas ... pacique imponere morem” \ aparentemente, visava a um dom í nio eterno.71 Já num per íodo anterior, no in ício do século II a. C., tinha sido trazida para Roma outra concepçã o de Hist ória , a doutrina dos quatro reinos, que teve sua expressão mais conhecida no livro de Daniel, a qual, porém, na verdade, parece ter sido desenvolvida entre os persas, sob dom ínio grego, em continuidade ao esquema dos três reinos, dentro do qual o grego Ctésias, no século IV a. C., em Persik á, havia escrito a História assí ria , médica e persa . Em sua forma original, persa e judaica , essa doutrina inicialmente oposicionista fazia especula ções sobre o declí nio do quarto e ú ltimo reino.72 Nã o se pode reconstituir como e em que medida esse final

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Lívio (o qual nao apresenta essa compara çã o) disse, certa vez que se deveria cuidar para que as forças do conjunto de cidad ã os [der BUgentltaft ] , que deve ser imortal, não envelhe çam (6 , 23, 7). TACITUS. Annates , 3, 55, 5; cJf o Dialogas de eiater Ibas. LUKREZ (Titus Lucretius Carusj, 2, 1173 e seg. VERGIL. /letteis , 1, 279; 6, 851 a seg ; a respeito da "atirta actas” , cf ibjd ,, 6, 791 c segs. Cf. LIV1US, 4, 4, 4; 6 23, 7. Kccsias, citado por DIODOR , 2, 1 34. Cf LESKY, Albí n , Qesekfthtt def grUchixhen Uuratar, 3 Aufl., Berna / Munique, 1971, p 697 eseg.; SWAIN,JosefWard The theory of the four monarchies. Classical Philology, n. 35, 1940, p. 1 e segs,; KOCH, Ktaus Spatkraelitbches Geschichtsdenken am Beispifct des Buches Daniel. Hhtonsdic Zcitschrift , n 193, 1961, p. 1 e segs.; LORBNZ, Kurt . UiU â/siichangén xuttt Gttthkhtnvak des Polybios. Stuttgart , 1931, p 15 (a respeko do colaborador judaico da coleçã o sibilina); VITT1 NGHOFF, Zum gescliicht ü chen Selb & tvciifá ndms. , p. 551

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e segs., em especial sobre a continuidade da doutrina em Orósio e em Agostinho. A respeito de Pompcío Trogo: SEEL, Otto. Eítieròmische WcUgesehidile N ü rnberg, 1972 74 Vide o verbete" Portschritt" ( progresso], vol. 2, p. 361 (dc GwhichtUriie Crundbegr í jfe Hntorischcs Lexikon zur politisch-soziale» Sprache in Deutschland , no qual está também o presente texto ( NT.)). 74 MOMMSEN , Theodor E. St Augustine and the Christian idea ofprogress. JoHMrf / of the History of Ideas, n 12, 1951, p 347; V1TT1 NGHOFP, Zum getchichtlklien Selbstverstandnis.. , p 547 e segs ; FUHRMANN, Die Romidcc..., p. 529 c segs. Cf nota 71 74 HIERONYMUS. Bpiituhe, 123 16, 4. ?s VITTINGHOFF, Zum geschictlichtn SelbstverstSudnis .., p. 538, 550 c seg, , 560 e seg.

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foi eliminado no pensamento romano, e em que medida se dava a identificação do imperio romano com o quarto reino , na suposiçã o de que no imperio romano a “ História” $e consumava - ou em que medida essa doutrina visava apenas a urna classifica ção externa da história do mundo. Mas no tempo da monarquia aparentemente se contava em diferentes oportunidades com a consumaçã o da Historia no imperio romano. Essa ideia com certeza estava ligada com a consciencia presente no sé culo II d.C. de que sob os abençoados efeitos da pax Romana se alcançara, em muitas á reas, uma posição que n ão existira nunca antes 73 Essa ideia se vinculava com as v á rias concepçõ es sobre a eternidade de Roma e de seu domí nio, que, numa petrifica çã o ideológica , continuou sendo nutrida e defendida quando, havia muito tempo, os sintomas da decadê ncia do império eram vis íveis por todos os lados.74 Foi exatamente no confronto com os cristãos que se recorreu a ela . Dentro do imp é rio romano, que abrangia todo o mundo (mediterrâ neo), aparentemente a concepção de História se vinculara de tal forma com Roma que dificilmente se conseguia imaginar uma História n ã o romana ou pós- romana . Até para os cristã os, era difícil fugir desse dado fundamental. “ Si Roma peril , quid salimn est?” - perguntou Jerónimo.75 Os crist ã os opunham aos pagã os a finitude da Hist ória . Eles enxergavam na compara ção com a idade dos homens uma confissão sobre o desaparecimento iminente do impé rio romano.76 Mas o ponto de vista escatoiógico foi recuando, no decorrer do tempo, deixando , no m ínimo, algum espaço para a interpreta ção da Histó ria dentro d.a apologé tica crist ã.

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MOMMSEN, St. Augustine and the Christian idea of progress, p. 361 e segs. STRAUB, Johannes. Christliche Geschichtsapologetik in der Krise dei rowischen Reiches. Historia, n. 1, 1950, p, 61 e seg. 55 MOMMSEN , St, Augustine and die Christian idea of progress, p. 3«í $ e scg.; V Í TT1 NGHOFF, Zum geschichdichen Selbstverstandnis.,., p. 554 e scg. t viTTINGHOFP, ZumgeschichdichenSelbstverstandnis..., p. 562; BUCHHEIT, ChrmLiehe Romideologie... (cf, nota 65). ÍS STRAUB, Chrisdiche Geschichtsapologetik ..., p. 75. f* TERTULL Í AN , Á pologetiíum , 19, 7. Cf. FUNXENSTE ÍN, Amos. Htihphm wild naUirikhe Enttoiriilung.Formen der GcgenwartsbesummungimGeschichtsdenken des hohen Mittelalters. Munique, 1965, p. 30. Em Hipólito, manifesta -se - para dar um exemplo ‘'desconfianç a em rela çã o a um impé rio que reivindica uma ecumenickhde que só compete i Igreja”. PETERSON, Erich . Theológlsehe ThtkUtU Munique, 1951, p. 85 e seg. Cf. sua interpret ólo de que o impé rio romano se desmembrará em "dea democracias” , as quais estariam indicadas n ôs dez dedos dos p é s na est á tua do sonho de Nabucodonozor. MA 2 ZAR1 NO, Santo. Das Ende deraniiken Writ. Munique, 1961, p. 38 (tradu çã o de Fritz Jaff é). 81

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messi â nicas ao Imperio Romano.81 Em alguns casos, ele aparece como a concretização do reino de Deus na terra.82 Desde o final do século II , encontramos a doutrina dos quatro reinos, que se encontra em Daniel, de tal forma modificada que Roma constitu ía o quarto reino, a fase final da Historia guiada por Deus, o mréxov da Carta de Paulo aos Tessalonicenses.83 Imaginava-se que esse reino duraria até o aparecimento do Anti-Cristo. Nesse sentido, muitos crist ãos participavam da venera ção pagã a Roma84 ainda que nao conseguissem acreditar seriamente na eternidade de Roma . Através da cristianizaçã o do imperio, sob Constantino, as expectativas depositadas no império romano foram fortalecidas, e a fe na sua determina ção através da providencia certamente se expandiu. Frente as derrotas do imperio, que se seguiram , no confronto com o problema se elas decorriam da ira dos deuses pagã os que foram abandonados, a questã o sobre a direçã o divina da Histó ria foi reavivada . Orósio chegou a integrar os vitoriosos ataques dos germanos e suas conquistas ao plano salvífico de Deus.85 Mas, apesar desses e de outros registros, n ão se deve esquecer que a medita çã o sobre a Histó ria - sobre isso que Tertuliano chamava “ peregrinar no mundo estranho'’ ocupava um lugar limitado dentro da cristandade da é poca .86 Fazendo um balanço, as concepções cristas da Historia não vão muito alé m das concepçõ es pagãs . Em grande parte, as concep ções

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pagas sao assumidas e cristianizadas. O que é novo é a fe de que a História é finita. ísso juntamente com as esperan ç as escatológicas - modifica a posição dos homens dentro da História. Novas são as suposições de uma melhoria generalizada das condições terrenas , de um “ progresso” em Eusebio , Grosius e alguns outros, as quais, durante o período constantiniano, tiveram uma resson â ncia maior, mas que aparentemente já antes de Agostinho começaram a recuar diante da pressã o exercida por evid ências contrá rias. Tamb é m é novo o entendimento de que a Histó ria é obra de Deus. ísso, poré m , levou, na Antiguidade tardia, a uma nova fundamenta ção da concepção pagã de que o império romano seria o ponto final da Hist ória (ao menos na medida em que ela transcorre na terra). Somente com o tempo, resultaria da í um novo potencial para pressupor um sentido.



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Isidoro de Sev í iiia , In: LINDSAY, M W (Ed .) Elytnologiae (vol I ), Oxford , 1911, em especial 1, 41 44 w Konrad von Htrsau In: HUYGENS R. B. C. (Ed .). Dtahgus super auetores. Berchem / Bruxehs 1955, p, 17; cf. também FREISING, Otto von. Gesta Friderici jmperatoris 2 , 41. In: Montuinnta Germantee Seriptoris return Gemtanicamm in usum sdtoin/ ium (vol. 46). 3 ed , 1912, p 150; TYRUS, Wilhelm von Historia return inpartíbits iransmarims gestorum ( Prolojtts); VJZENZ VON BEAUVAIS, Speculum doctrí nale, 3, 127,

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isso, “ história” ( b) como conhecimento seguro do passado, podia ser estendida aos depoimentos de um conhecimento mais antigo.95 Como as fontes reivindicavam a condiçã o de veracidade ou até só eram exploradas por causa disso , (c) també m o próprio objeto do conhecimento fazia parte do conceito: “ historiae stint res vente quaefactae suntAssim , “ historia” era o conhecimento seguro de acontecimentos históricos ou o testemunho do passado, ou o







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à comunicação sobre o acontecimento, se estendeu pata a atividade de comunicar. E se for levado em consideração o fato de que desde o século XII o francés “ geste” (“ chanson de geste” ), em alguns casos, passou para o objeto da canção (“ geste” = “ família” , “ povo” , etc.), então também a identificação de “ historia * deve ser inclu ída nessa pluralizaçao, como parte importante do acontecimento a ser comunicado. Com certeza, nao constitui acaso o fato de que també m desde o século XII novamente se passou a questionar com muito mais ê nfase o conte údo de verdade da comunica çã o. Os conceitos de “ historia” , “ fabula” , “ vita* ,“ chroniqtte” ,“ conte” ou “ roman” podiam significar a mesma coisa , no sentido de um simples relato. Mas já no século XIII , a expressão “ geste” foi sendo desclassificada como relato com fins de entretenimento. A pretensão de apresentar afirmaçõ es coerentes com a verdade foi se restringindo ao conceito “ estoire” ou “ histoire” , urna evolução que naturalmente só chegou a um desfecho depois do século XV. O retorno à restrição t í pica da Antiguidade tardia do significado da palavra “ historia” partiu , portanto, da escrita da História em sentido mais restrito. 9

2. A escrita da História; sua classificação e o horizonte em que ela é experimentada

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a) As “ categorias” . O quadro das categorias da bibliografia historiográfica que possu í mos da Idade Média parece estabelecida de forma inabalá vel. “ Crónica ” , “ anuales” ,“ vita” ,“ gesta ” , “ hist ória popular" e “ poesia histórica” constituem hoje em dia conceitos bem definidos da ciê ncia do ramo.98 A crónica , escrita por um ú nico autor, em geral conhecido pelo nome, e destinada a um p ú blico amplo, tentava abarcar uma mat é ria histórica abrangente , desde o in ício at é o momento em que se escrevia , a partir de uma ideia mestra . Dentro desse quadro geral, existem possibilidades de diferencia ção. Eusebio (ca. 265 a

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Sob alguns aspectos, como imagem invertida em rela ção a , isso está a annalistica. Em geral, redigida por vá rios autores n ão conhecidos nem prevista para uma difusã o mais ampla, a própria construção esquem á tica , classificada por anos, registrava somente notícias contemporâneas e jamais recuava até a $ origens, faltandolhe necessariamente uma ideia mestra que a perpassasse. Nas teorias antigas, a biografia n ã o est á inclu ída na historio grafia , mas independentemente disso foi se infiltrando nas formas de representação da escrita da Hist ória , desde Plutarco e Suet ônio, sob a forma de uma sequência de biografias de governantes. A deficiente fundamenta çã o teórica e a exigência amplamente aceita do autor da Vita Sancti Martinit Sulpício Severo (ca . 363 a ca. 420), de que somente a vida de um santo poderia ser descrita , porque somente seu exemplo direcionaria o olhar do leitor para o alé m ,100

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impediu que na Idade Mé dia ocorresse um desenvolvimento linear da abordagem corrente. Biografias de governantes sao impressionantemente raras na Idade Média.101 E a rica bibliografia hagiográfica nao visava em geral apresentar uma história pessoal no sentido de mostrar o desenrolar de açõ es ou de movimentos ( por exemplo , porque essa forma de representa çã o fosse totalmente desconhecida) - ela procurava justamente mostrar, através de todas as ações do santo, sua voca çã o ã santidade desde o princípio. Mesmo assim, houve sé ries de minibiografias. Sua designação de "gesta” ~ derivada de “ res gesta” indica a inten çã o de registrar acontecimentos. As “ a ções” relatadas concentram-se , poré m, sobre pessoas que ocupam cargos, cuja sucessão, através de vá rias gerações, mostra a interconexao de institui çõ es no longo prazo. Dois aspectos podem ser destacados: ou a enumera çã o de determinadas características da a çã o dos detentores de cargos - repetida como se fosse um catá logo - destaca os aspectos está ticos de uma instituição juridicamente normatizada , o que muitas vezes se d á através da inserção de documentos legais , em cita çã o verbal;102 ou ent ão, a massa de acontecimentos diferenciados destaca a efic á cia das a çõ es desses detentores de cargos, cuja a ção passa , assim, a corporificar a import â ncia da pr ópria instituição. Ambos os casos nao excluem a possibilidade de que a descrição fique cada vez mais detalhada , à medida que se aproxima da atualidade do autor, desembocando, no final, numa ampla biografia. O que há de comum entre a poética de canções populares, cuja perspectiva cronológica, tanto para ouvintes quanto para apresentadores,

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Cf. BEUMANN, Helmut. Die Historiographic a í s Quelle fut dio Idee« g«chichte des Kouigtums. Hittorifche Ztiluhrifi , n ISO, 1955 , p. 456 e segs.; reimpresso cm BEUMANN , Helmut . Id ?¡;:-v

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Qu árido Isíd òro diz que Sal ústio escreveu uma historia e que Éi às de Lívio, Éusébio e Jerónimo se constituiriam de historia e antialesi isso não representava mais que uma concessão a definiçõ es Usuais. É que em outro lugar'04 ele cita a crónica; na tradu ção latina, ela se chamaria tempomm series , a qual teria sido escrita por Eusébio, e Jerónimo a teria traduzido para o latim. Juntar historia e anuales numa mesma obra era , portanto, algo novo, frente ao qual a caracter ística diferenciadora representada pela proximidade cronológica em rela çã o ao autor perdia import â ncia e ia sendo substituída pelo conceito de crónica . A distinção entre cron ística e annalistica, hoje usual, orientada pelo princípio de classificaçã o, aqui, precisamente n ã o era feita,105 portanto h á bons motivos para que se possa designar a annalistica, que foi dominante até o final do século XI, como a forma de representação da Crónica propriamente dita 106 Mesmo assim, a diferenç a entre historia e anuales não se perdeu , e isso numa outra perspectiva, que Isidoro n ã o levou etn considera çã o. Cícero107 e Quintiliano108 haviam caracterizado os anuales como uma forma menos pretensiosa de representação, pelo fato de que se tratava predominantemente de um arrolamento de datas e de nomes Cassiodoro já identificava - sem dizê-lo de forma expressa - a Crónica com a obra dos anuales , já que ele a define como “ imagines historiaram breuissimaeqtte commemorationes temporum’\m A distin ção inclusive é encontrá vel na alta Idade Média . Assim, Gervasio de Canterbury (século XIII) apresenta a seguinte polê mica : “ Crónicas autem anuos et principium quae itt ipsis eveniunt breviter edocet, eventus etiain , pórtenla vel miracula commemorat Sunt autemplurimi, qui crónicas vel anuales scribentes limites sitos excedan! , nam philacteria sua '

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EACROIX, JJhtrioikn eui Aíoyen Àge, p. 34 escgs., em contrapartida, mediante recurso a excitações, tema cristalizar historia , mules c cr ónica como as três categorias propriamente ditas da Idade Média, masse emaranha em dificuldade evidentes, ao tentar tra ç ar os limites entre Cr ó nica e cwnales * Encontra-se dessa forma cm POOLE , Reginald L. Chronicles and Armais A brief outline of thdir origin and growth . Oxford, 1926. 1,7 CICERO, De ontore , 2, 12. QUINTILIAN, 10, 2, 7. ? Cassiudoro. In: MYNORS, R. A. B. ( Ed.). Insiitmionts divinarían et hmtananmi Htlnalum , Oxford , 1963, 1, 17, p. 56.

ammy: dilatare et fimbrias magnificare delectant. Dum enim cronkam compilare

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cupiimt , historiei more incedunt et , quod breviter semoneque hmnuli de no modo scribendi dicere debuerant, verbis ampuUosis agravare conantur” Já que são muitas - como escreve Gervasio se deveria pensar aqui num fenômeno de decad ê ncia , que tenderia a eliminar a íorina

de representação mais compactada ou a mais ampla como sendo as verdadeiras caracter ísticas distintivas entre Crónica /anuales e historia. Naquilo que tange à massa da maté ria e simplesmente por causa do espa ço temporal abordado, Ot ã o de Fresing (ca . 1112 a 1158) teve de fazer uma restriçã o maior na sua Crónica mundial que em sua Gesta Friderici Imperatoris, por é m , em rela ção ao estilo n ão se observam diferenças significativas. Se, apesar disso, a Crónica mundial leva o título original “ historia” e a Cesta o tí tulo “ Crónica” f 1 isso aparentemente ocorre em razão das diferenças no espaço temporal abrangido. A caracterização da abordagem mais ampla como historia permaneceu , mas $e deslocou - e isso não apenas em Otao de Freising de critérios internos para características externas. O genus historiae triádico citado por Isidoro també m n ão era desconhecido na alta Idade Média . Roberto de Torign í (= de Mont Saint Michel, finai do século XII) observa , no prólogo de sua crónica sobre Sigisberto de Gembloux, seu modelo: “ de ducibus Normanonim nihil autparum dicit , Nant tatúen hoc fecit negligente?, sed quia carebat his tribus historiisV 12 Teria sido costume da é poca apresentar a Historia dos duques normandos conforme su a sucessão no cargo. A partir da antiga teoría do princípio de classifica çã o, aquilo que nós hoje costumamos designar com o conceito de“ gesta” ainda nao havia sido incorporado; por isso, Roberto desculpa a falha de seu modelo. Esse exemplo clareia duas coisas, tendo por base as observaçõ es precedentes. A teoria da Antiguidade n ã o foi adaptada às transfor ma ções entrementes ocorridas, procurando-se, pelo contrá rio, com evidente esforço frustrado, enquadrar a realidade historiogr áfica nas



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GcrvSsio de Canwtbury, in Chronica maior (Prologas). In: STUBBS, William (Ed .). The historical warki (vol. 1). Londres, *• d . [1879]; reimpresso, sem indica çã o de lugjr, em 1965, p. 87 e seg, m Pranz Joscf Schmale, em sua introdução a Biuhof Oito von Freising ttnei Rahtwln Die Teten Pfk óiUhf . Darmstadt, Í 965, p. 75 e seg. (teadusido por Adolf Schmidt) m Robeuo de Torigm. In: DESLJSLB, Lé opold (Ed .) ChmUa ( Prologus) (t. 1). Rouen, 1872, p , 94.

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normas transmitidas. Isidoro já tinha aplicado o conceito "amales” a elemento de classificação e de categorizaçao, sem sinalizá-lo, e em Roberto de Torigni vemos os três elementos básicos buscados numa medida de tempo (dia, mês, ano) sumariamente designados por “ historiaeNaquilo que tange ao assunto, se fazia uma distinção clara entre principios de classifica ção e de categoria , mas o mesmo não se fazia na escolha das palavras, com que se teria achado outra explicação para a tentativa da moderna pesquisa histórica de determinar diferenças de categoria , ao menos em parte, a partir da classificaçã o. c) Formas de experiência e capacidades de formatação. Antes que se conclua , de forma apressada, que a continuidade predomina desde a Antiguidade tardia até a alta Idade Média , deve -se dar uma olhada na experiê ncia da historiografia medieval sob o aspecto de sua riqueza , naquilo que tange às suas formas histó ricas, incluindo suas principais ra ízes. A escrita da Histó ria paga da Antiguidade n ã o pensava de forma cíclica , mas sim linear;115 com isso, a introdu çã o de um telos crist ão n ão significou nenhuma ruptura total com a historiografia anterior.11* Aquilo que a crónica mundial de Eusébio/Jerônimo, preocupada com estrutura ordenada de dados, ainda n ão conseguiu fazer, Orósio, o discípulo de Agostinho, conseguiu.115 Nos sete livros de sua “ Historiae adversas paganos” , desvinculou do rei assí rio Ninus, o fundador de Ní nive, o início de toda e qualquer história palpá vel , que tinha sido descoberto a partir do grande impé rio da Antiguidade tardia e, como primeiro, começou sua representa ção com o relato bí blico da criação. Mas ele não conseguiu romper de todo com a visão de que o império romano constituiu o ápice, e com a consequente irrepetibilidade do impé rio mundial romano ou com a invertibilidade da orienta çã o hist órica que existiu até então; ele simplesmente identificou a pax Augusta com uma / Mx Christiana ,

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mantendo -se apegado à congruê ncia de imp é rio e religião, já que a expansão da salvação, segundo o plano da providência divina , só poderia ser garantida peio quarto grande impé rio Somente no imaginá rio de Isidoro de Sevilha , o império universal romano encolheu a um regnum ao lado de outros regna, dando lugar à ecclesia como ú nica unidade que abrangia todos os povos.116 Como consequê ncia , ele retomou no lugar de uma sequ ê ncia de quatro imp é rios mundiais o princípio classificat ório que havia sido concebido por Agostinho com “ aetates” , entendendo-as no sentido de um amadurecimento do corpo da humanidade como etapas da idade do mundo 117 Tamb ém ainda na Antiguidade tardia surgiram listas de pa, em analogia aos antigos fasti consulares , que iam se ampliando pas cora o acr éscimo de dados biográ ficos, transformando se no Liber pon ( ificalis.m Da perspectiva das formas hist óricas, esse protótipo da gesta possui a mesma raiz da mnalislica antiga , naquilo que tange ao objeto » pois representou a continuidade das antigas biografias de imperadores, mas, por causa da forma constante em relação aos dados a serem registrados, se entendia como uma história institucional oficial Com isso , todos os princípios de classificação adotados depois estavam configurados: a sucessã o de quatro impé rios ou monarquias mundiais ou de fases et á rias do mundo, o esquema atmalistico subjacente às eras do mundo e a lista de sucessão dos detentores de cargos. Mesmo assim, nem todos tiveram continuidade óbvia na Idade Média. Beda (672/ 73-735)119 conhecia as Crónicas de Jerónimo e de Isidoro, e utilizou a divis ão em fases da idade da terra. Mas n ã o

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SCHONDORF, Kurt A. Die Geuhkhtstktolegie dei Owíi /f. Munique, 1952 (tese de doutorado);

LACROIX, Benoit. Orne et ses id ées Montreal / Paris, 1965; MARROU, Heitri Ir é n é e . Saint Augustin , Or óse et PAugimhmme his tonque. In: Storiogafia (vol. 1), p. 59 e segá.

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ROMERO, Jos é Luis. San Isidoro de Sevilla. Su pensamiento hist ó rico polí tico y sus relaciones con li historia visigoda Cuadernos de Historia de Espa ña n . 8, 1947, p. 51 o segs 17 Mais do que na Cró nica de Isidoro, esse sentido fita claro nas suas Etyrttc logias, como mostrou Arno Borst em “ Das Bild der Geschichte in der Enzyklop’adie Isidore von Sevilla ” ( Deutsehss Auhiv n 22 1966, p. 21 e segs .) 1,1 BERTOLINI , Ottorino. II “ Liber Pontifiealis" In: Stoticgrajia vot . 1, p. 387 e segs ; MELVILLE , Gett. De gestis jive stands romanorum pontificum ... Rechtssatze in Papstgeschichtswerken. Auhlvum HUtomt Pontifidae , n 9, 1971, p. 377 c segs. 119 Entre os melhores, continua estando LEV 1SON, Wilhelm Bede as historian. In: THOMPSON, A Hamilton (ed .). Bede ,hh life,times and uvitbigs Essays in commemoration of the twelfth centenary of his death . Oxford , 1935, p. UI e sega . (Reimpresso com amplia ções cm LEV ÍSON , W. Aus rheinischer und frankiseher Fr ü hzeit . In: AusgeuKikfte Aiifiãtzâ, Dusseldorf, 1948, p 347 t segs.).

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m Cf VITTINGHOFF, Zum gcschicUtlichen â ndnis (cf. nota 49). Sdbstvent IN MOMlGL Í ANO, Arnaldo. L'et à dei trapajso fia storlografia anttca e storiografta med í evale (320 550) In: La sforiognififl alfomedievak (vol. 1). Spoleto, 1970, p. 89 e segs



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SESI AN, Ernesto , La storiografia dell’í talia í angobarda: Paofo Di á cono. Stonograjia, vol. 1, p 357 e segs Comprovada mente, Pan lo Diá cono també m conhecia o Liber PcnilficaUs t a Hist ória ccleftfsUca do povo inglés de Beda; por essa razao, unia decis ã o a respeito fica em aberto

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uma concep ção de História determinada pela romanidade. A crónica de Regino de Priim (aproximadamente 840-915) já percebe o 121 surgimento dos impérios germanos como uma ruptura decisiva . Paulo Diá cono e Freculfo, porém, tamb ém não eram mais capazes de adotar o esquema classificatório de seu modelo ou de estabelecer outra classifica ção para o material histórico-mundial, que fosse mais adequada ao tema. A Vita Karoli Magni, de Einhard (aproximadamente 770-840), comprova que a razã o para isso não estava na perda demasiada de conhecimentos sobre a educa ção antiga .122 Chama a atenção que o tipo de vida de santo, muito realista , que os missioná rios anglo-saxões haviam difundido no continente, pôde se manter ao lado da “ vita” > que recorria ao postulado de Sulpício Severo e tipologizada para fins lit ú rgicos125, até que na alta Idade Média (com a exceçã o da Á ustria) també m aquela anmíistica que n ão se misturara com outros elementos de classificação novamente desaparecesse. Nessa medida , est á correto enxergar na escrita carolí ngia da Hist ória uma nova abordagem, a qual evidentemente n ã o evoluiu para uma configuraçã o mais ampla. Tanto a vita quanto a annalistica n ão foram capazes de produzir, na alta Antiguidade, uma imagem realista da vida, ou algo mais que uma simples montagem de dados; mas eram exatamente eias que pareciam apropriadas para isso. Aqui parece ter se manifestado o efeito da forma desenvolvida de raiz própria, originalmente imaginada para o registro daquilo que tinha a ver com a atualidade. Somente a partir do final do século XI, se foi retornando gradativamente à reda çã o de crónicas mundiais mais elaboradas. Isso não se devia apenas à leitura de autores antigos, mas também à s novas experiê ncias. No contexto da querela das investiduras, se



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3. Lugar e função da Historie na rede do saber

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m Cf , sobretudo, BOEHM, Der wmensehaftUiche Ort der Historia (cf. nota 94), p. 675 e segs., com abundante bibliografia, ibid., p. 692 e seg. 115

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da prá tica humana, e que, por isso, são dispensáveis ainda que ú teis; e aquelas que o Criador institui a favor do homem , e que, por consequê ncia , n ã o são cambi áveis. Nesse contexto, é verdade óricos se devem a a çõ es humanas, mas que os acontecimentos hist de dentro dada fordo) tempomm quorum e$t uma se concretizam conditor et administrator Deus” . A historia, portanto, pertence aos dois â mbitos, e isso lhe garante uma importâ ncia dupla na expans ão do conhecimento humano em direçã o à verdade eterna. Como corrente de fatos, irreversíveis, portanto dados, ela serve ao aprendiz como auctoritas e como primeira etapa necessá ria no caminho da salva çã o; os exemplos retirados da Hist ória servem de alimento inicial para a alma , para , num patamar superior, ser substituída pela ratio. Quem cria essa auctoritas é a prouidentia Deiy que foi quem deu origem a esses exemplos. Com isso, a historia , no seu conjunto, nao era apenas ú til para a pedagogia salvífica, mas recebeu também um ponto de referê ncia transcendental. Transcurso e concretizaçã o de todas as correntes de acontecimentos não se referiam mais a um objetivo imanente ao mundo - motivo pelo qual se havia acreditado até entã o no cará ter definitivo do império romano mas toda a História da humanidade (també m aquela transcorrida fora de um grande imp é rio) convergia para uma unidade, cujo contexto independia de todo da permanê ncia de fatores imanentes ao mundo.145 Desde ent ã o, a historia (também)146 era “ Hist ó ria da salva ção” e parte imprescind ível do pensamento teológico. Todos os fatos salv í ficos foram enquadrados nela , de fornia sucessiva ; o texto bíblico - como $e pode ver sobretudo emBeda - necessitava, por isso, de uma cronologia segura . E a partir daí , História bí blica e Histó ria geral podiam ser localizadas num mesmo n ível , urna maneira de ver 1

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AUGUSTINUS. De doctrina Christiana , 2, 19 (29), 28 (44). In: Corpus thristí attofum, Setics Latina (voL 32), p. 53 e scg., p. 63. m Cf. KOSELLECK , Reinhart. Geschichte, Gescbichten und fó rmale Zeitstrukturcn. In: KOSEJLLBCK /STEMPJEL, Çwhichít (cf. nota 5), p. 211 , 217 e segs. m Sobretudo a patr ística conhecia i doutrina do sentido diversificado da escrita que, na sua interpretação, admitia certa diferencia ção de momentos mundanos e espirituais de um mesmo acontecimento Ml

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Dentro do antigo triuium, a historia era vista como campo au xiliar tanto da gram á tica quanto da retórica .142 A gramá tica ensina methodice escrever e falar correto, mas histor ice também comentar obras antes lidas. O aspecto hist órico se referia aqui apenas à ocupação com a tradição literá ria no sentido mais amplo, não a uma determinada forma de conhecimento; como o material literá rio provinha do passado , Agostinho podia chamar o grammaticus de custos historiae.m Em contrapartida , a retórica tentava avançar em direção ao bene dicendi, à arte de falar, cuja força de convencimento d e v e r i a ser ampliada . As species nor rationis separavam a historic como relato fiel à verdade, de acontecimentos do passado, do argumentam e da fabula. Mas, como o objetivo ultimo da fala era o sucesso em termos de efeitos , todas as species namtiones podiam ser empregadas, dependendo das necessidades. Diante desse pressuposto, o conhecimento do passado nao ia além dos limites daquilo que era exemplarmente ú til; como vitae magistra a Historie se colocou a serviço de normas gerais de vida. Método e função dos antigos instrumentos educacionais não se modificaram com a cristianização, mas a historia n ã o conseguiu ficar imune frente ao novo objetivo educacional. Se na convic ção de Agostinho era possível avan çar até a verdade eterna atravé s das forças sensoriais e espirituais de uma pessoa, ent ão tamb ém hie rarquia e posiçã o da Historie deveriam mudar. Entre as doctrinae dos

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que desde o sé culo XII vinha ganhando atualidade , Mediante o pressuposto de que toda a História deveria ser vista como uma obra salvífiça de Deus, tamb é m a Sagrada Escritura podia ser entendida como um livro histórico igual a qualquer outro. A repetiçã o verificada em tempos pós- bí blicos de combina ções numé ricas bí blicas ou de acontecimentos an á logos permitiu , então, que a “ intelligent tia spititualis" fizesse uma interpreta ção do sentido da verdadeira realidade total . Assim como a cria çã o teria descido da condiçã o divina através da espiritual até a material , assim tamb é m o olho humano deveria avançar do substancial, através da apreensão de rela çõ es simbólicas, para a imagem do divino.147 Nesse sistema de simbolismo histórico148 - uma variante predominantemente alem ã do in ício da Escolástica n ã o existia História bí blica e História profana, n ão existia realidade natural e realidade sobrenatural , mas apenas uma capacidade de conhecimento nã o crist ã , e outra que era peculiar aos crist ãos. De forma mais evidente que na patr ística tardia, manifesta-se aqui a ausê ncia de autonomia da História , A corrente de acontecimentos vista isoladamente continha pouca verdade, somente como parte constitutiva da realidade total imanente e transcendente é que se abria seu significado pleno. Assim como na Antiguidade, também agora bons exemplos históricos deveriam incentivar a fazer o bem ou a evitar o mal; a apresentação da História pregressa deveria justificar a situa ção atual ou ajudar a corrigi-la ; no fundo, tudo isso não constitu ía nenhuma novidade. Mas o objetivo do conhecimento havia sofrido um deslocamento significativo, na medida em que agora se enxergavam ações de Deus nos acontecimentos históricos Em função disso, até a mutabilidade de transcursos históricos parecia viabilizar o acesso ao

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Dentro dessa perspectiva de conhecimento, todo acontecimento terreno poderia convergir para uma unidade; foi em conexão com o pensamento agostiniano que estavam dadas as pré condições para urna História Universal, mesmo que ela , com 150 isso, ainda n ã o fosse realizável Quando essa forma de ver chegou ao auge no século XII, em 151 obras de grande força criativa, també m já come çaram a aparecer 152 sintomas de sua dissolu ção; um primeiro degrau da compreens ão moderna de Histó ria deve ser localizado aqui . Na trilha da recensão de Arist ó teles, a Escol á stica fundamentou sua atividade de conhecimento na ratio, às custas da auctoritas - sob a premissa de que a ordem do conhecimento e a ordem do ser deveriam ser conformes; para avançar até a verdade eterna , era complicado partir de realidades mut áveis. Isso simplesmente levou a certo desleixo para com as duas artes no trivium. Lidar com a historia n ã o se tornou supérfluo com isso, mas a referência ao objetivo espiritual do seu conhecimento perdeu parte de sua obviedade. Sua função dentro da rede do conhecimento foi por assim dizer secularizada . Como ela deixava de estar a serviço da sapientia > seu objetivo de conhecimento podia ser recuado até aquele limite em que todas as coisas ficam submetidas a lima modificação; liberou -se, com isso, uma disponibilidade para a indiferença religiosa . Além disso, ela foi fomentada com o crescente enriquecimento e a diferenciação das á reas de conhecimento no século XII1-XIV, que começaram a se desvincular de um enquadramento em uma ordo. A posiçã o da historia, no in ício, continuou indefinida ; esta é a contraface teórica da crescente quantidade de t í tulos de livros e de seus novos temas emp í ricos.

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simb ó lica de trabalhar , sem que de próprio tivesse escrito uma representação histórica desse tipo cf. SCHNEIDER , Wilhelm August . GesdiidUc ttnd Ceichiditjphiiosoph11 bet Hugo vow St . Victor. M ü nster, 1933 (tese de doutorado); EHLERS, Joachim. Hugo van St Victor Studien iumGesdiichtsdenken und 2urGeschjchtfcschceibung des 12 . jahrhunderts. Wiesbaden , 1973. 146 BAUER Clemens. Die mktelaltcrlichen Grundlagendeshistorischen Denkens . Hochtawd , n . . 55 , 1962/63, p. 24 e segs .; PUNICBLSTEIN, Htllsplan (cf, nota 86); BERNARDS, MaithHm . Geschichtsperiodischcs Dcnken in der Thcologie des 12 . Jahrhunderts . Kóí rter Domblnlter, n. 26 / 27, 1967» p. 115 e segs .

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O pensamento histórico do in ício da Idade Moderna nao pode entendido enquanto permanecer submetido adequadamente ser ao veredicto do Historicismo, para o qual teria representado uma visã o provisória e insuficiente ou até falsa do mundo histórico. Constitui reflexo de um momento de sua própria crise o fato de que o Historicismo foi incapaz de reconhecer a rica consciê ncia de História de um outro período, manifestada em contrové rsias amplamente documentadas e apaixonadas , travadas com as forças motoras da época, e traduzi-la para seu pr óprio tempo, a fim de utilizá-la como instrumento da própria História. As obras de Dilthey, Troeltsch , Croce , Collingwood e Meinecke empurra ram o início da Idade Moderna para uma Pré-Hist ória - cada vez mais precá ria - do pensamento histórico, enquanto alguns trabalhos cient í ficos bá sicos sobre aquela época conseguiram contornar o preconceito. Ainda que o n ú mero de monografias sobre historiadores e teóricos da Hist ória , bem como os estudos antiqu á rios dos filólogos e dos juristas - sobretudo do século XVI esteja crescendo, continuam faltando pesquisas que tentem interpretar trabalhos e pensamentos hist óricos dentro do contexto da Hist ó ria política e social, em suas funções e em sua proje çã o; e mais, que consigam enfrentar o desafio teórico de representar - ao se preocupar com aquele tempo - o nosso tempo ou , dito de outra 85

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forma, tentar representar no seu objeto “ a forma da Historia como tal ” [Geschichte iiberlumpt ] ' 5i Tã o pouco quanto a tarefa do historiador do pensamento histórico pode ser cumprida aqui , t ão imprescindível é essa perspectiva para uma semâ ntica histórica , uma história do conceito de “ Históxia” ou de “ historia” , que se distinguisse de outros conceitos pelo seu maior grau de generalidade. Ele designa todas as a çõ es e todos os fatos que alguma vez foram relatados ou descritos, ou ainda podem vir a ser, mesmo os da natureza , da qual a Hist ó ria só relativamente tarde se afasta , de forma estritamente terminológica, em todo o mundo visí vel. Essa generalidade do significado faz com que o conceito raramente possa ser utilizado de forma operativa e argumentativa , e, em vez disso travam-se discussõ es no entorno da História e dentro dela em nome dos objetos individuais e das categorias. Por isso, tamb ém as definiçõ es e as classifica ções dos dicion á rios e das enciclopédias transportaram seus elementos cunha dos na Antiguidade e na Idade Média com muito poucas variantes para dentro da Idade Moderna, de forma que suas afirmações muitas vezes ficam inespecíficas e perdem espa ço frente a outras fontes. Na verdade , alguns pressupostos - apesar de todas as modifies ca çõ no conceito, at é o século XVIII - se mantê m relativamente est áveis, mesmo que possam ser objeto de discussão, sob enfoques cada vez diferentes. Encontramos a í, em primeiro lugar, o cará ter escrito e a autoridade que aparentemente da í decorre. Na tradição dos diferentes sentidos da escrita , o “ sensus hist óricas” ou < liltemlis” se refere a esse dado expresso da tradição escrita , que está aberta a vá rias interpreta ções espiritualistas ou que pode ser cumprida de forma figurativa por algo igualmente real, hist órico.154 Assim , muitas vezes , de forma tá cita , até o século XVIII , se transfere autoridade e suposi ção de correspond ê ncia interna dos escritos sagrados

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Akartantc Ausgabe ( vol 4), 1905, p, 41; cf , BENJAMIN, Walter, Literaturgeschichte und Liler â turwissenschâ ft. Die ¡iUrarisdte Wèít, 17/4 /1931 151 LUBAC, Henri de Bxégh ? tnêdlhaU (t. 1) Paris, 1959 passim; AUERBACH , Erich . Figura. In: AUERBACH , Erich . Gtsammtlte AuJsHtet ztir romnisdicn PtMogíc Berna, 1967, p 55 e segs, (editado por Gustav Konrad)

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para as obras imaginadas como corpus de toda Antiguidade , e essa suposição ainda pode motivar a mais dura critica . A historiografia antiga era tida como insuperá vel, e estava vinculada à ideia de que historiografia seria , na essê ncia, descriçã o dos acontecimentos de um tempo que o pró prio autor vivenciou. A ciê ncia histórica via sua tarefa em comentar as obras existentes, através da pesquisa antiquaria sob pontos de vista sistemá ticos - resultando na doutrina jurídica das instituições e na numismá tica e em descrever épocas sobre as quais ainda n ão se tinha nada mais contextualizado.155 Os resumos gerais sobre Hist ória escritos com finalidade did á tica ou de entretenimento são bem menos representativos para o trabalho histórico do que seu grande nú mero pode fazer crer. A consequê ncia foi que a importante pesquisa antiquaria desse tempo e a escrita da Hist ó ria propriamente dita coexistiram de forma impressionantemente paralela , e que a bibliografia metodológica , que visava a fazer a intermediaç ao entre ambas, $e desenvolveu em direção a uma categoria própria, metade retórica , metade teoria e que, sem d ú vida , influenciou o pensamexito histó rico, influ ê ncias que , no entanto, s ã o dif íceis de comprovar, ao menos como determinantes, nas representações históricas que deixaram marcas. Aquilo que é novo e diferente em rela ção à Antiguidade - e de que se adquire consciê ncia cada vez maior - acontece menos na descrição e no encadeamento causal de acontecimentos que podem ser apresentados dentro de um contexto visto sob variados â ngulos entre indivíduos descritos com maior diferenciação, do que através de uma visão perspectivista do passado, possibilitada pelo distanciamento cronológico e através de uma Antiguidade supostamente produzida na reconstru ção de um mundo fechado em si, com o qual se pode fazer uma compara çã o com o próprio mundo. Ver essa Antiguidade em seu percurso temporal, contrapor seus exemplos, suas experiê ncias e instituições, colocálo$ dentro ou contra o pró prio tempo e, a partir daí , planejar sua

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pró pria configura çã o é a primeira coisa que caracteriza o pensamento histórico da Idade Moderna.

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2. Dante e o humanismo

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Dante, de quem Vico diria que “ ele n ão cantava outra coisa senão historias (chepure non canto altro che istorie)” ,15* representa um ponto alto n ão $ó da interpretação figurai do transcurso geral da I ; História , na qual, a partir das circunstâ ncias de abalo contemporâ neas, iifeifcii se projeta um império crist ã o , que deve corresponder ao impé rio • romano do passado. Mas tamb ém representa uma presentificaçao nunca havida antes de indivíduos históricos e de suas ações, os quais . . - r» - -.- ® aparecem na ficção como julgados para toda a eternidade segundo : um sistema de valores tanto teológicos quanto polí ticos muito pessoais , mas que continuam perpetuando, fora do tempo, justamente M NS sua paixão temporal sem arrependimento, sua nostalgia sem fim. A perspectiva de uma Hist ória que começ a com o mundo é partilhada por Dante com contemporâ neos, como seu mestre Brunetto Latim, •• rtf cuja enciclopédia Li livres dou tresor promete uk ele traite dou comencement Si du sieclc, et de Faneieneté des vielles istores et de 1’establissement dou monde et •jfirt; ] s7 de la nature de touttes coses em some” ; a interpreta ção figurai n ã o podia • adquirir, numa segunda vez , uma imagem convincente, a proposta de um mundo visto historicamente a partir da consciência de uma * responsabilidade polí tica se manteve singular por muito tempo, e só no in ício do século XVI algo parcialmente comparável se tornou possível , com base em fundamentos bem diferentes. s rti Caso se encarasse o pensamento histórico pelo esquema de : “ desenvolvimento” e n ão h á d ú vida de que Dante agrega e valoriza a formação do tempo que o antecedeu -, ent ão se deveria lip! constatar a ruptura desse desenvolvimento158 exatamente naquele ff if V •

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w Giambattista Vico , la: NICOUNI , Fausto ( Ed .). LA sdtnxa twova ( 17*14) (vol. 2) . Bari , 1928 , *1> 1 » ti p 6. Ii ? Brunette Lacini . In: CARMODY , P. J . (cd . . Li livres dou iresor Berkeley / Los Angeles , 1948 , 1 , 1 I p. 17. Cf. AUERBACH , E , Utmiwputche md Pubtlkim In der fotdnlsihm SpHumtike and im Mi( leialter. Berna , 1958. p. 242; BECKER , Marvin B. Dame and his literary contemporaries as political men . Speiulupf , n. 41 , 1966, p . 665 esegs.

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MOMMSEN, Theodor E. Petrarch’5 conception of te “ Dark Ages". Speculum , n. 17, 1942, p. 226 e segs.

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PETRARCA . Apologia . In: Opera omnia . Basileia . 1554. p. 1187.

‘ PETRARCA . Familiares. 7, 3. In: ibid . , p. 767.

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KH ALDÜN, Ibn. TheMuqaddimah. An introduction to History (3 vok). Londres, 1958 (versao inglesa de Franz Rosenthal); cf. Encyclopedia of Islam (vol . 3). Londres, 1965 (nova edi ção) , p. 825 fi segs.

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As restrições a aspectos individuais e a representa ção aned ó tica bem como a liga ção tida como evidente da Historie com a ret órica modificam o cará ter exemplar do fato histórico. Enquanto o transcurso geral da História entre a criaçã o e o ju ízo final era considerado como tendo sentido, sem qualquer contestaçã o, a çõ es individuais maldosas podiam ser justificadas como parte da economia do todo, bem como pelas ordens antagónicas nos valores representados pelas duas “ civitates” de Agostinho. Com a dissolu ção da imagem histórica universal , n ã o só figuras hist óricas individuais e seus atos constitu íam exemplos para a fundamentaçã o de princípios é ticos, mas qualquer fato podia , em tese , ser moralizado , E mesmo que a Hist ória pol ítica , que ocupava um lugar de maior destaque, praticamente nao fizesse uso dessa situa çã o, a Historie foi subordinada à filosofia moral, dentro do ordenamento da ci ê ncia que estava em constituiçã o nas escolas e nas universidades, at é o século XVIII, enxergando sua utilidade no fornecimento de exemplos para a retórica - a qual deveria fundamentar decisões - exemplos que, ao contrá rio da poesia , apresentavam o status da factícidade. Contra esse sentido do acontecimento individual de funcionar como exemplo para um princípio geral, a distinção aristotélica entre (simples) verdade histórica e veracidade poé tica (filosófica)163 se tornou inaplicá vel, fazendo com que a longa disputa entre Poesia é Historie perdesse sua base conceituai. Mas a disputa sempre reaparece quando a poesia se apossa da representa ção do real, intrometendose no campo da Historie ou, ent ã o, quando a Historief do alto de sua configuração, faz parecerem irrelevantes os produtos poé ticos e, através da interpretaçã o do acontecido, tenta chegar até o geral. Esse é um problema apenas aparente, mas que n ã o pode ser solucionado por causa da intercambialidade dos conceitos e é apropriado para desencadear a discussão, dependendo se a Poesia ou a Historie conseguem expressar os mesmos interesses fundamentais, ou ent ão apenas tentam fazê lo, quando as obras das duas categorias devem responder pelas pretensõ es da teoria.

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A contradiçã o já est á visível em Valla . Como fil ólogo brilhante, desenvolveu a capacidade de perceber rela ções históricas na tradição literá ria e a utilizá-las de forma erudita, e por mais que não consiga ser convincente como historiador, tenta dar destaque ao papel da historia. Afirmando que Moisés teria sido o primeiro historiador, com que a historia seria mais antiga que a Poesia , e n ã o menos universal que esta (que muitas vezes apenas relata episódios individuais), superaria em termos de sabedoria cidad ã até a Filosofia .164 Mais aceit á vel é a precisão reabilitada e elogiada por Poliziano sobre a exatid ão dos estudos históricos: “ Felix hisioriae Jides renatae“ l65> com esse conceito de “ fides histórica” , os humanistas, de Valla at é Bud é, definem seu objetivo metodológico. Ela se refere à pesquisa sobre a Antiguidade, que se reflete em coletâneas de miscel â nea, tradu ções dos antigos historiadores, e recebendo em Bud é, pela primeira vez, uma unidade na reconstru ção de todo o sistema de moedas da Antiguidade: “ non in unum genus Warn quídam editam aut disciplinaram, aut artium: sed in universum pertinen tem ad antiquitatis ¡nterpretationem, et per cmine prope genus auciorum probiomm atraque linguapatentem' V 66 A Antiguidade clássica , em sua tradi ção escrita em duas l í nguas, colocada à disposição através da coleta e da edi ção dos humanistas, aparece agora como objeto de conhecimento, com a pretensão de ser estudado como um todo. Dessa forma , surge uma forma ção unitá ria, descolada da história bí blica e da duvidosa história oriental bem como do per íodo posterior à Antiguidade, uma entidade que em $ i mesxna , como um todo, constituiu um plano de verifica çã o. N ã o é mais a passagem individual, como no texto sagrado, que possui validade autoritativa, mas apenas na medida em que coincide com o corpus da tradição. Tra çamos essa linha do conceito humanista de História até o in ício do século XVI, quando ele deixou de ser incontestado e quando começam a aparecer diversas concepções bastante diferentes.





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VA ÍXA , Lorenzo. Historia Ferdinand! T egis Aragoniae (Proocmium ). In: Opera ointifo (t , 2) , Paris, 1528 (reimpressio em TUrim, 1962), p. 6. 341 POL ÍZLANO, Angeta. Optra omnia.Basileia , 1553, p 621; cf Valla para FhvioBlondo (Optra cumia [t. 2), p. U9); BU £> Ê, Guillaume. De Asse (1514). In: Opera omnia (t 2) Basileia , 1557, p 66 BUDÉ, De Asse ( Praefatio) Jn: ibid. (t . 2), p 1 iif

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a) Maquiavel e Guicciardini Dois pontos altos de pensamento histórico surgem, a partir de uma consci ê ncia pol ítica , pela primeira vez, novamente comparável a Dante, consciência que representa a frustra çã o de esperanç as pol í ticas - mas mais só brio e secularizado contra toda e qualquer transcend ência após o final da repú blica florentina , a partir de condições criadas pelo humanismo. E isso se d á através de um conhecimento que se desenvolve em duas dire çõ es opostas Maquiavel ainda argumenta totalmente dentro do estilo dos humanistas , recorrendo ao conceito de imita çã o dos exempla retirados das obras históricas ( Istorie) dos antigos, e isso possibilitava a igualdade das características essenciais da natureza humana e dos demais pressupostos do agir. Mesmo assim , ele tem consciência das profundas transforma ções - como na técnica militar, por exemplo no decorrer de poucas gera ções , e demonstra seu senso histórico justamente na constru çã o de formas de transcurso típicas nos acontecimentos históricos, funcionais em rela ção a determinadas situações iniciais e as influ ê ncias corretivas. E , com isso, ele apresenta sugestõ es de a çã o a partir dessa an á lise, que lhe permite comparar, ao menos em parte, a situa ção antiga com a contempor â nea Mas o sucesso dessas ações, por sua vez, . depende de determinadas condiçõ es também históricas. Aqui , no entanto, se pressupõe que experiê ncias podem ser obtidas a partir

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to Maquiavel , ele também n ão d â ao conceito de “ Histó ria ” uma definiçã o determinante; dedicado exclusivamente à s coisas (cose ), alé m do t ítulo, ele praticamente n ão o utiliza. b) A concep ção de História na Alemanha da Reforma. Enquanto, simultaneamente , Commines escreve a primeira obra “ moderna ” de memórias , que sã o expressã o de vivência própria - por mais “ medievais” que nos pareçam hoje suas categorias histó ricas e os crit é rios morais de julgamento e enquanto Sabélico pode redigir uma História universal secularizada de qualquer ordem ou objetivo histórico-salv íficos , resultante de uma incumbê ncia oficial de Veneza, a situa çã o é totalmente diferente na Alemanha , ainda que todos esses escritos sejam lidos e até traduzidos alí, no século XVI . Também na Alemanha , o interesse histórico fora despertado, e se manifestara em crónicas populares e em ambiciosas tentativas de escrever uma Histó ria nacional ( Renano , Wimpheling). Obra representativa foi a Chronica de Carion, escrita sob influ ência de Melanchton , o qual mais tarde a revisou, transformando-a em um manual did á tico utilizado por longo per íodo, ordenando o conhecimento daquele tempo em três eras e quatro monarquias, tentando, através desse material , evidenciar uma Histó ria da Igreja , ou até - na

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que um caminho leva do essencial da Hist ória para o necessá rio na política atual. A outra direção foi tomada por Guicciardini, partindo da decep ção a respeito da possibilidade de uma política sensata para a aná lise dos mecanismos causais e, alé m disso, para a representa çã o objetiva da não explicável instability*7 das coisas humanas. O abalo dos pequenos estados italianos e a invasão de forças externas, fatos que nã o podiam ser fundamentados pela ficção de um impé rio, o levaram a descrever, de forma detalhada , a ação polí tica que se estende para além dos limites do Estado e, sem tomar partido, numa unidade geográ fica bem maior. Algo comparável não se pode imaginar para a Alemanha até o século XVIII. Tanto quan-

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versão de Melanchton - a justificativa para as opiniõ es expressas na doutrina protestante. Na comparação com Otão de Freising, não se constata nenhum avanço na consciência da problem á tica histórica , e, em contraposiçã o à coetâ nea historiografia italiana , chama a aten ção 0 Fato de que os autores ficam cada vez mais inseguros e menos concretos à medida que se aproximam do pró prio tempo. Mesmo que ela forneça em casos concretos exemplos morais, para Melanchton , a abrangência temporal universal se destina â compreensão das profecias bí blicas: “ Ut libri propketí ci melius intelligantur, omnium tempomm historia compleclenda estProfecia, fim do mundo e expectativa de um encurtamento ou de uma aceleração dos ú ltimos tempos , que ocorrerão em benefício da salvação (segundo Mateus, cap. 24), servem como pontos de vista unificadores também da concepçã o de História em Lutero. Ela pode ser atualizada através de uma consciê ncia viva das mudanças temporais e da unicidade de um momento histórico. “ A palavra de Deus e sua gra ça constituem aguaceiro que se desloca , e não volta mais para o lugar onde já es teve... E vocês, alemã es, n ã o devem pensar que a ter ão para sempre, pois a ingratid ão e o desprezo não permitirão que permaneça” .169 A esse modelo da “ translatio" só é relacionada a fé e , na melhor das hipóteses, o destino da igreja, mas o transcurso do mundo de forma alguma é passível de qualquer interpretação racional , pois revelaria a surpreendente ação de Deus: “ que provavelmente se possa dizer que o andar do mundo e sua maravilhosa realidade sao uma m áscara de Deus, atrás da qual ele se esconde, para reinar e rumorejar de forma maravilhosa no mundo” .170 Neste mundo, também atuam leis pró prias, que já foram adequadamente formuladas pelos filósofos pagã os, e nele os crentes aparecem “ como se nao existisse nenhum deus, obrigados a se salvar e a se governar a si próprios” .175 A doutrina

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da Reforma é vinculada aos fatos históricos da Historia da salva çã o, ítica dos “ entusiastas” : “ Os luteranos possuem o que motivou a cr um Cristo hist ó rico / quem secundum literam cognosamt , que elcs reconhecem pela letra, / pelas suas historias, / pela doutrina , / pelos milagres e pelos atos, / não como ele hoje está vivo e age. / Assim como eles tamb é m tem uma fé racionai hist órica e uma justificação histó rica” 172 Consequências profundas foram trazidas pela atualização da doutrina de Agostinho sobre os dois reinos , cuja parte atemporal , mas sempre presente, a civitas Dei, pode se mostrar naquilo que ê historicamente cambiante, a civitas terrena . Mas, com isso, surgiu a tenta ção de - diante de crimes, loucuras e sofrimentos, que $6 podem adquirir sentido quando interpretados como inversão dos valores terrenos justificar acontecimentos individuais relacionando-os com a própria posição de poder ou de posição partid á ria Alé m disso, procurou-se fixar historicamente uma era exemplar que serviria de parâmetro para uma renovação e, como os humanistas fizeram com a Antiguidade, aqui se projetou uma igreja primitiva ainda n ão corrompida , dos primeiros sé culos da cristandade, e aquilo que condicionava sua situa ção de ent ão, em consequência de opressão externa e falta de poder, foi transformado em norma , e toda mudança foi condenada , segundo crit érios morais, como culpa individual Mais problemática ainda foi a muitas vezes tentada, mas nunca esclarecida equaliza ção dos dois reinos com Q mundo interior e exterior, quando a tendência luterana de subordinar o mundo exterior às autoridades sem qualquer questionamento fortalecí a a tendência de, no caso de erros ou de expectativas frustradas, se refugiar na pureza da consciê ncia e dos sentimentos e relegar o mundo histórico-político à irresponsabilidade Isso significou , sobretudo para a Alemanha, que, até meados do século XVIII, a História eclesiá stica garantisse a supremacia. Isso vale para a obra dos Centuriatores de Magdeburgo (1559-1574),

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p 373. “ D atque in libris continetur Per Scíentiam vero, peritiam quaestiones omnes resolvendi, atque adeo inveniendi propria industria itlud omne quod ab humano ingenio in ca scientia potest invemirc; qmm qui habet, non sane multum aliena desiderata atque adeo valde proprie omnápkrjç appclatw*' ,187 E verdade que Descartes blefa sobre quanto ele pr óprio deve à tradição filosófica , mas seu conceito de “ scientia” levar á ainda Vico a escrever uma “ Scienza nuova” em vez de uma teoria da História, e ela caracteriza a situa ção da Historie depois da ruptura metodológica necessária, ainda que n ão

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Cf. WEIS1 NGER , Herbert . Ideas of History during the Renaissance.Journal of the History of n 6, 1945, p. 415 e segs. SHAKESPEARE . Troilus atui Oessiâo 2, 2 , 166. Descartes a HogeJande, em 8 de fevereiro de 1640. In: ADAM , Ciiatles; TANNERY, Paul (Eds.). Oeums (volume suplementar) Paris , 1913, p. 2 e seg.

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. -d i Mycderánte e totalmente convincente, com a autoridade da tradição. “ Newphilosophy calls all in doubt" ym e ela nã o se detém diante da dig£\VV nidade da Historia , que apenas serve como material para utilização / cientí fica e, no mais, como “ depósito”. Esse foi o per íodo de mais ampia pesquisa hist órica ,,s9 mas seu resultado não foi aquilo que mais tarde se chamar ía de “ Historia” , mas uma coleção tendencialmente sistemá tica e completa de “ an tiguidades estatais e privadas” , de restos e de fontes, ajeitados com te V vte exatid ão, sob o ponto de vista antiqu á rio e filológico. Tentou-se preencher todas as seções da extensiva “ historia universalis" , enquan to junto com a coisa també m se perdeu por completo a intensiva " historia universa" ou “ integra" do nosso saber. Mesmo tendo se steg fftjss | S lite tornado metodologicamente dependente, a ampla bibliografia sobre tes; verifica ção histórica e credibilidade ficou a reboque da tentativa jurídica de estabelecer a verdade, sem chegar a princípios próprios siR sSitel de um conhecimento histórico. tetetes® : A historiografia nao melhorou essa impressão. A história an tes tete tiga, que até o final do século XVII foi comentada , mas não re presentada, além da doutrina sobre as instituições elaboradas nas Í /ÍÍ Histórias nacionais mais antigas, haviam , entrementes, perdido . v;? tete w# seu interesse mais substancial , pois aqueles que se dedicavam ao Vstete tete: s- Direito P úblico e os teó ricos da pol ítica faziam suas construções 11® na perspectiva jusnaturalista, em vez de derivá-lo historicamente. Ate : Uma história mais recente das guerras religiosas encontrava se em obras que se contradiziam entre si e eram mutuamente excludentes , M V :¡ cujas fontes em geral n ão eram publicamente acess íveis e cujo fervor m mm confessional parecia torn á-las inócuas, enquanto o brilho literá rio se localizava nas memórias de Retz e até do duque Saint-Simon. sr ®s . SS A Idade Média , umedium aevum ” como, desde Justo Lipsio , se S m. chamava o per íodo cristão a partir de Augusto,190 - n ão se livrava mais do escá rnio, nem mesmo entre os homens mais cultos das V:m tei

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DONNE , John. An anatomic of the wofide, First Anniversary (1611). In: DONNE, John. Poems with elegies on i f t c authors death. Londres, 1633, p. 241 (editado por John Marriotj. I » MOM IGUANO, Time in Ancient History (cf nota 155). I» WEGELE, Franz Xaver v. Geuhiehte dtr dculschen Historhgraphu. Munique, 1885, . 482 p c segs.; VOSS, J ü rgen. Das Mitte falter im hitter ischen Dtnktn FranheUhs. Munique, 1972, pusswi

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ordens religiosas , por causa de seus milagres, suas lendas sobre santos e seus documentos falsificados , cuja comprova çã o antes fora fundamentada pela filologia cient í fica , mas agora reforçava o ceticismo generalizado. Os jesu ítas afastaram a História quase por completo dos planos de ensino obrigat ó rios de seus colégios, em toda a Europa. E as Hist órias universais protestantes nao conseguiram atingir maior prestígio , nem se igualar às de Cariou e Melanchton , quejá eram um tanto anacr ó nicas. A História era - como na imagem emblem ática - uma coluna partida, como na tragédia barroca , onde, em vez do mito antigo, agora fornecia a matéria (uma ruí na, um cen á rio) para a medita ção sobre a decad ência inevitável, que, em cada um de seus exemplos, permitia uma avaliação moral, capaz de uma transfigura çã o recíproca .591 Nã o tratar da História como ciê ncia no novo sentido levaria for çosamente a uma prov í ncia insegura dentro da rep ú blica dos eruditos. A ausê ncia de um cará ter pú blico na a çã o polí tica a empurrou , mais do que at é ent ã o, na dire ção do serviço aos pr í ncipes ou para espaços privados, onde a “ historia literária” , a cole ção de conhecimentos eruditos, se tornou a disciplina mais benquista. A rela ção com a História sacra , que metodologicamente era dif ícil de ser explicada ou só podia ser explicada mediante algum risco , foi t ão problem á tica para os historiadores quanto a “ moral provisória” de Descartes designa um fim temporá rio da retórica , da qual s ó restou a declama çã o. Aqui o Discours sur / 7listoire universelle , de Bossuet , se transforma numa representa çã o grotesca , quando ele , num brilhante serm ã o , ocupa um espa ç o que a pesquisa contemporâ nea nã o conseguiu preencher, fazendoo sem conhecimento e sem ju í zo hist órico , recorrendo a uma teleologí a primitiva para transformar a Antiguidade num veículo para Hist ó rias bí blicas. b) Tentativas de fundamenta ção e quantifica ção do tem po. As tentativas de fundamentar cientí ficamente a História contribu í ram para a redução de seu próprio conceito. Dessa forma , Keckermann quer conquistar para a Historie aquilo que Bodin . BENJAMIN , Walter. Ursprung des deulschen Trattcrspieis. Frankfurt, 1963, p. 197 e segs.

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nao ceria conseguido fazer no Methodus - um tratamento meto dológico, e isso significa para ele um tratamento ló gico.192 Numa filiação rigorosamente binaria, a Historie é apresentada em todas as suas partes tradicionais. Ela é definida como “ explicatio et notitia return singulamm sive indmduomm ” mas deve permanecer como conhecimento imperfeito, 11notitia imperfecta” , porque os fatos sao numericamente infinitos e indefinidos quanto ao género, vagae et “ indefinitae.m Através de induçã o lógica pode se obter ou confirmar sentenças gerais, sobretudo na Etica, mas na economia e na pol í tica elas possuem um cará ter particular.195 Essa determinação conceituai permite reconhecer algumas das principais tend ê ncias que caracterizan! inclusive per íodos posteriores . De forma gené rica , a busca de uma verdade filosó fica foi rebaixada , no conhecimento histórico, para uma corre o çã parcial dos fatos, e sua aplicação passou da mudança pol í tica para o conhe cimento privado. Com isso, a Historie no in ício só faz uso muito limitado do espa ço criado através da despolitiza ção, dentro do qual a nova ciê ncia se desdobra , e s ó ela vai desenvolver conceitos e mé todos cuja validade e cujo alcance ~ que vai muito alé m dela própria permite se servir deles. Assim , a redução a fatos isolados permite sua quantifica çã o e sumariza çao dentro de um tempo de vivência , com que Bacon consegue derrubar a inquestionada autoridade da Antiguidade, definindo-a como juventude e in ício de um transcurso de tempo que vem se sucedendo desde então, o qual s ó lentamente vai desvendando a verdade.196 E certo que toda a Renascenç a e, em especial, Vives, conhece uma clara consciência crescente, na compara ção com a Antiguidade: uquotidie enim aliquid

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Mas 3 perspectiva temporal dupla de uma Antiguidade que Urespectu nostri antiqua et major, respecta mundi ipsius nova et minorJuit” m só foi mostrada por Bacon, o qual també m quanto à amplia ção da His torie para aquilo que ainda precisa ser descoberto e feito - concebe o futuro de forma mais concreta do que em antecipa ções profé ticas m e progn ósticas dentro de um conceito de “ historia experimentali$” Uma concepção semelhante de experiências de um tempo que vai se adicionando e de uma "generado aequivoca” também está na raiz da moderna tomada de partido na “ querelle des anciens et des modernes” Mas, alé m do fato de ser, desde Richelieu , doutrina ofi ciosa, o comprometimento dos dois lados com o paradigma estético trouxe dificuldades consideráveis. Pois se o louvor do presente à s custas do passado era quest ão de gosto, enquanto o Classicismo francês produziu grandes obras, ele se tomou pouco digno de fé desde o começo do século XVIII, tendo em vista seu próprio pas sado. Isso teve como consequ ência a exclusão das artes mecâ nicas e das ciências do sistema de ‘'artes” , sua agregaçã o às ciê ncias da natureza e à matem á tica , que estavam progredindo, enquanto as “ belas artes” foram localizadas numa atemporalidade, que acelerou sua historiciza ção, mas entravou a an á lise histó rico-filosófica . c) O conceito de verdade. Ao mesmo tempo, havia mudado o uso das palavras “ verdade” e “ verossimilhança ” . Se , na tradição aristotélica, a verdade da situação (historicamente) individual se contrapunha à verossimilhan ç a da situa çã o ( poeticamente) geral , essa relação se modificou agora . A verossimilhança histórica , discutida de forma lógica ou jurídica , se confrontava com os limites indicados por Keckermann, os quais Tomásio modificou um pouco: “ De coisas ausentes nunca podemos apreender

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VIVES, Juan Luis. De prima philosophic (liber I). In: Optra omnia (t . 3). Valencia 1782; reimpresso em Londres , 1964, p, 214; cf BARON , Hans. The querelle ofanc í ents and m ódems. Journal of the History of hitas, n 20, 1959, p 13 e seg. m BACON. Novum organon In: Works (vol. Í), p. 190 BACON. Parasceve ad historiam n at u ralem et experimentalem (1620) In: ibid., p. 391 e segs 20 KRISTELL£R , Paul Oskar The modern system of the arts In : KRISTELLER , Paul Oskar. Renaissance thought (vol. 2). New York , 1965, p. 163 e segs.

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E , por isso, na avaliação das coisas verossí meis, tanto aquilo que passou quanto aquilo que vem no futuro deve estar orientado por aquilo que é presente” 202 Conhecimento histórico, portanto , até nã o atinge a simples verdade de urna certeza f á tica , a qual ate então aparecia como objetivo dentro da definiçã o, mas se trata de uma verossimilhan ça que se firma apenas parcialmente como certeza, 203 enquanto, na tradição neoplatônica, a Poesia reivindica uma verdade própria, 204 que, filosoficamente, se refere a algo geral . Assim Diderot afirma , em Eloge de Richardson, de forma enfá tica, "que ’I histoire Ia plus vraie est píeitte de mensonges , et que ton Roman est plein de vèrités. Uhistoire peint quelquers ittdiuidus; tu peins fespèce humaine” .205 A reivindica ção de verdade por parte da Poesia ganha espa ço no século XVIII; a da História dependerá do fato de ser compreendida e interpretada como um todo. Analogamente à prá tica judiciá ria inglesa de uma credibilida de decrescente dependendo do nú mero de etapas de sua tradição, na qual Locke insiste em rela ção àquilo que tange à Hist ó ria,206 ocorreu um curioso cá lculo que resultou numa diminuição, e

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dock seht dnnckei and toufas". Ibid . , 11, §§ 20 23, p 247. " Was de hí tnuh von dan Wcsen des Vergangenen gewlss and deutlidi verstehcl / das ist nhht anden ais cine Et innerting solcher Dinge / die erzuvor aís gigenwàrlig allbireit begrifftn . Undmuss also auch in Envegung der wahrsthmlUken Dingc das Vergangene and Zukiinfdge nath dem Gegenwd / tigen gerUhlet werdtn** Cf. BERNOUILLI, Jakob. Ars conjcetandi. Basileia, 1733, 4, : 1 " probabilifas cslgradas certitudinii et ab fiat differs at pars a loto" 401 Por exemplo, MAÇROBIUS. Sonmiiun jciptonis 1, 2, 7: " modus perJigwentum vera reft rendi , ” *s DIDEROT É loge de Richardson (176Í). In: Oeuvres completes (t. 5) Paris, 1875, p. 221 LOCKE An essay concerning human understanding. In: Works ( vol 3), 1823, 4 , § 10 cseg., p. 108 e scg.

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finalmente num desaparecimento da credibilidade de fatos históricos e também da revela ção crista, numa proporção ao quadrado do tempo,207 a qual somente Hume conseguiu refutar, de forma convincente.208 d ) A caminho do moderno conceito de Histó ria . Como çã o do século XVII no campo da Física , foi necessárevolu na rio recorrer ao infinito e a um modelo que nao era acessível à experiência,209 a fim de abrir o caminho para o conceito moderno de História . Partindo do pressuposto de que o homem “ n e$l produit que pour l’ infinité” , e que sua memória permite a cada um e a todos em conjunto “ tm continuei progrès” Pascal concebeu um ú nico “ homme universel” de todos os homens em toda a sequ ência dos tempos, “ qui subsiste toujours el qui aprend continuellement ” 210 Leibniz , que conhecia esse manuscrito , criou , em continuadas tentativas, um instrumentarlo filosófico para ver o mundo como um processo global din á mico, em constante evolu ção.215 Mas ele n ã o conseguiu transferir esse reconhecimento para o conceito de Historia ou mesmo concretizá-lo em suas obras históricas por meio }

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de interpreta ções individuais harmonizadoras; seu trabalho histórico se restringiu basicamente a aplicar a fontes alemãs os m étodos desenvolvidos por Mabillon e pelos maurinos. A " historia mturalis” desta vez também serve a Spinoza, para submeter a interpretação da Bí blia à razão: “ Nam sicuti methodus interpretandi naturam in hoc poíissimum consistit , in cotuintumda scilicet historia naturae, ex qua , utpote ex certis datis, rerum natimlium defini tioncs concludimus: sic etiam ad Scripturam interpretandam necesie est” .2U E$$a intençã o de uma incansá vel correçã o de opiniõ es erradas , de derrubada de autoridade presumida , foi perseguida por Bayle sem ,

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CRAIG,John. Thcofogíae (iuistianaeprincipia mathematUa.Londres, 1699, passim (parcialmente reimpresso em History and Theory, n 3, separate 4 , em especial , 1969, p. 26). Ki HUME A treatise of human nature. In: Works (vol . 1), 1886 1, 3, 13, p. 441 e seg. y/ } Cf. KOY.RÉ, Alexandre. Études d'histoire de la philosophic. Paris, 1961, p, 239. 2 ,0 PASCAL. Fragment de pré faee pourlc traite du vide. In: STRQWSK!, Fortunat (Ed , ). Oeuvres ( ompUtes (t. 1). Paris , 1923, p. 403. 2.1 Cf. LOVEJOY, Arthur O. The great chain oj being (1936). Cambridge/ Mass., 1966, p. 242 e scg >. 2.2 SPINOZA . Traetatus theologico -politicus 7. In: GEBHARDT, Carl ( Ed.). Opera (t. 3). Heidelberg , s . d., p. 98. 207

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no entanto, enxergar na Hist ória outra coisa do que “ le portrait de la misere de Vhomtne” ,21* E foi a natureza comum dos povos que Vico torna inteligível através do conceito do infinito e da concepçã o de transcurso ideal do tempo, e o apresenta como urna Historia ideal eterna , una storia ideal eterna” , de acordo com a qual as hist órias individuais dos povos - ule stone di tutte te nazioni” transcorrem. Com o salto epistemológico de que ‘77 mondo civile” , que mais tarde se chamada “ mundo histórico” , em contraposição à natureza, e que - por ter sido criado por homens - també m deve ser reconhecido por eles, ja que os principios para isso podem e devem ser encontrados na$ estruturas de nosso espí rito humano, Vico conclui a “ guinada copemicana” das coisas em direção à consciencia. Na História , o homem se compreende a si mesmo e , ao narrada para si mesmo, ele a cria para si mesmo, de acordo com suas pró prias lei$.2 H Por estar preocupado com coisas gerais, com regularidades, Vico consegue interpretar épocas distantes, de cujos in ícios s ó h á uma tradição poé tica , com uma intensidade desconhecida até entã o, ele conse gue reconhecer a verdade de ideias poé ticas, “ universali fantastic?' , e , ao mesmo tempo, transformar a Historie numa ciê ncia filosófica. Vico ficou isolado e praticamente sem influê ncia no seu tempo, mas o mesmo relativismo histórico - apenas em menor escala e numa perspectiva diminu ída - guia Fontenelle em sua tentativa “ de faire Vhistoire de VIustoire même” 2is A mesma acuidade para a multiplici dade de circunstâ ncias individuais e de diversidades, desenvolvida através da “ histoire naturelle” , liga Buffon a Montesquieu e Diderot , e permite distinguir o próprio método do“ point de vue de Vhistoire” de procedimentos estritamente dedutivos ou rigorosamente classifica torios.216 Diderot pode compreender consciê ncia e identidade como uma histoire, produzida pela “ mémoire, (q< ui) lie les impressions qtVil reçoit , forme par cede liaison une histoire qui est cále de as vie, et acquiert concierne

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de luiy\2 X7 A internaliza ção da História na consciê ncia e - em Rousseau o rompimento do espaço hist órico interno, onde a natureza do homem (historicamente corrompida, mas ao mesmo tempo tornada consciente) deve ser reconciliada consigo mesma no mundo histórico, trouxe consigo dificuldades que não podiam ser solucionadas com os meios existentes. A expansão espacial e a exatid ão derivadas da “ histoire naturelle” podiam enxergar “ desenvolvimento” no detalhe - na arte e na ciência e, com isso, uma História com sentido. Mas n ã o eram capazes de compreender História como um todo, por meio do moderno conceito de tempo. Voltaire transforma em objeto de pesquisa hist ó rica - com um singular coletivo -“ Vhistoire de Vespril humain” E, numa analogia cosmológica - correspondente à ordem do universo, que antigamente só podia ser imaginada , mas cujas leis agora teriam sido reconhecidas ele reivindica como objetivo até então n ã o alcançado:“ C’est done Vhistoire de Vopinion qtVilfattut écrire; et par là ce chaos d’événements , de factions, de revolutions, et de crimes, devenait digne d'etre presente aux regards des sages” 219 Na Alemanha, o singular coletivo “ Historia” aparece inicialmente no contexto teológico da justificaçã o do mal , 2 i9 mas permanece como objeto subordinado à capacidade teológica deju ízo, até o Kant já idoso, que pressupõe o conceito de Newton de tempo absoluto e homogéneo. A irrupção de outra experiencia de tempo, junto com a experiencia de uma ação pol ítica modificada, permitiu que se falasse de “ História” num novo sentido, o qual fora preparado e, em alguns casos, quase que coneeitualmente antecipado.

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PATRIZI , Della ftisloria died diabghi (cf. nota 179), p. 34w. Típico para o CíSO é VOSS Gerhard. Ars ( ustótka (1623); 2. c HEGEL. Phanomenoíogie dcjGebtes. In:Samtliche Werke (vol. 2), 1964, p. 620, mJacob Burckhardt. In: OERI , Jacon ( Ed .), WtlfysehUhtlUhe B( ( radU\iH£en. 2. Aufi., Berlim / Stuttgart, 1910, p. 9.

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forma formarum” )Ui e depois o homem em seu posicionamento frente ao mundo: “ et in quocunque loco cuneta mundi statueris entia: in eius opposite abs te collocandus et recipiendus est homoí utsit universonm speculum” .245 No circuito nebuloso de concepções m ágicas, surge

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MOMIGLl ANO, Arnaldo Tradition and the classical historian History and Theory* « 11, p. 297 c segs , em especial p 291, 1972 240 CICERO, De crotore 2, 62 M VOLTAIRB. Verbete “ HistoriogrAphc". In; Oeuvres coniplètcs (i. 19 . ) Í 879, p. 372 542 LUKIAN, Qtiont õdo historio consmbcnda sit, 41, 1: Çé çé vo v toTç fitfiXiQiç* Kai faoXiç, aóxówjioç, “ ó ftaaiXcuwç, oú rí r 3! LUTHER , Vom Abendmahl Christi , Bekenntnís (1528). In: IVehnater Ausgabe (vol . 26), 1909 , p. 410. “ Dtnxt das sacramail addergescfticftt und die u'otl / so man vam sacrament redet / sind zweyahy\ SM HAMANN , Johann Georg. Briefccincj VatersI (emtornode 1755). In: NADLER , Josef (Ed.). Sã rmliche Werke (vol. 4). Vicna , 1952, p. 217; Golg 3 tha und Sclieblemini (1784). SamtlUhe We he (vol . 3), 19S1, p. 304; cf. Sdmtlhhe Wake (vol . 1) 1949, p. 9, 53, 303; SdwtIUhe Wake 11 (vol. 2), 1950 , p. 64.176 , 386 (“ Polemik gegeu den xharfslnnlgen Cldadinius polêmica contra . o sagaz Chhdenius); Siimtliche Werke (vol . 3) , p. 311 , 382 O Piethmo foi um movimento religioso iniciado no s éculo XVI !, LUTHER , 1. Chronlk 30; 29 (Zerbster Hand íchrift , 1523; contagem moderna: 29, 29] . ( n: Wtimter Ausgabc, Deutsche Bibel (vol. 1), 1906, p. 281 e seg. " Die geschkht aber des koniges Datcid beyde die enten and letzun stke die slndgeschrUbtn unter den geschkhten Samuel" , ili MAALER , 1561 , 195 b. " Ein ordenHche ErzeUung und erkkimng Witathafter, grmidllichcr und gddmhur dingen" ; " GtschUhlen undhmidtungén. Acta". Cf GEIGER , Das Wort "Geschkht . ., 14. 311 WINCKELMANN , . . Geschichte der Kunst des AUertums. In: EISfiLEIN , Joseph ( Ed.) . JJ S àmtUche Wetke (vol. 3). Donaueschingen , 1825. 31

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livros históricos357; os poucos t ítulos com " Historie” correspondem numericamente àqueles com o plural “ Gesc.hUh( en” Pls Winckelmann explicou o conceito, que ele entendia como \ mm novo, apontando em especial para as intenções sistemá ticas que mm estariam por tras dele: “ A História da arte da Antiguidade que eu resolvi escrever n ào constitui urn simples relato da sequência de tempo das transforma çõ es da mesma , pois eu adoto a palavra História em seu sentido mais amplo, sentido que ela possui na lí ngua grega, e minha intenção é apresentar uma estrutura doutrin á ria [ Lehrgebàude]” ?* 9 Com isso, Winckelmann citara a segunda fonte de que se alimentava o moderno coletivo singular , O fato de imaginar uma “ História” que fosse alé m da narrativa de transformações represen- I vi; : tava criatividade teórica. Ela fazia com que a realidade da História .-Idesembocasse num “ Lehrgebaude” , numa “ estrutura doutrin á ria” , ¡ nem ria poderia ser reco- ilp 3» sem a qual a hist ó dos acontecimentos nhecida. Somente através da reflexão sobre as histó rias individuais é que “ a Histó ria” poderia ser desvendada. Naquilo que tange à História dos vocá bulos, a “ Historie” deu ' í: sua contribuição, tal qual ela , desde o Humanismo, foi pensada - V-ñí -íó Vli # V: e definida, nos muitos manuais sobre arte e metodologia escritos , por historiadores A “ Historie” como doutrina ou como disciplina científica , desde sempre, pôde ser utilizada de forma reflexiva e sem objeto. A partir de Cícero, o conhecimento reunido sobre as hist órias individuais fora subsumido, coletivamente, no termo . m Quero citar um comprovante :: M . magistra vitae Historia : historia ” “ ” “ a -a historicamente importante das in ú meras variantes que destacam a função pedagógica dessa historia: “ Porro disse Melanchton - non :a alia pars ¡iterarum plus aut voluptad* aut utilitatis adfert studiosis, quam . ÍV

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Melanchton , etn carta a Christoph Stalberg de 1526 In: Corpus rejonnaloium (vol. 1) 1834, p. 837. PUFENDORF, Samuel. Einlcitung zu der Historie der Vomohnsí en Reuhe und Sutafcn. Frankfurt , 1682, p. t' ( Vorrede). 325 POMEY, u Grand Dhticnaue Roya! (c. í) 1715, p. 485 011 ROLL Í N, Charles. Historie dta Zeiton und VtiUktr (vol 12). Dresden / Lcipzig, 1748 p. 22 Í. BÕTT1CER, Hoftat. Erinnerungcn an da$ literarische Berlin im August 1796 In: EBERT, í der Vor und Mitwelt (vol . Friedrich Adolph. OberUt/e rungen zwr GesthUhte, Literalttr und ¡Cunt 2/ 1) Dresden , 1827, p. 42 334 ISELIN, isa a k (Ed .). fiphtnteridin der Menschheit (W parte). 1777 p. 122 e ¡eg., nota 5 1

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se utilizar agora - ao menos numa escrita elegante - a palavra alem ã Geschichte” 327 Claro, seria possí vel interpretar essa constata ção que Adelung certamente també m registrou por razões lingu ístico-pol í ticas de forma puramente onomasiológica , no sentido de que o espaço mm semâ ntico de uma palavra (" Historie” ) simplesmente foi assumido : por outra palavra (“ Geschichte” ). Mas a hist ória vocabular mostrou que tais convergê ncias foram possíveis e corriqueiras, desde . o final da Idade Média. Tamb é m n ã o é decisivo que “ Historie” . j, agora podia ser usada, sem restriçõ es, no sentido de “ Geschichte” , coisa que a Deutsche Encyclopedic [Enciclopé dia alemã] apesar de eruditas diferencia ções - confirma.320 O que é decisivo é que, no ú ltimo terço do século XVIII, foi transposto um patamar. Os três n í veis (situa ção objetiva , a representaçã o dela, e a ciê ncia & >' a respeito) foram reunidos num ú nico conceito: “ Geschichte” . . ; ?í 0 Levando-se em considera ção o emprego das palavras na época , trata-se da fusã o do novo conceito de realidade expresso em "Hist ória como tal ” [Geschichte tí berhaupt] , com as reflexõ es que ensinam a entender essa realidade. Numa formula ção talvez um pouco exagerada , pode-se dizer que " Geschichte” foi um tipo de categoria transcendental que visava à s condições de possibilidade de Geschichten / Históihs. Quando Hegel escreveu: " Geschichte re ú ne , em nossa l í ngua , ñ- tanto o lado objetivo quanto o subjetivo, e significa tanto a histo.> ?» riam return geslarum quanto as próprias res gestas” , n ão considerou : r í| l essa constataçã o como uma "casualidade externa” . As "a çõ es e os acontecimentos propriamente históricos” , que se localizam alé m do ;;©v Vfc espaço pré-histórico de acontecimentos naturais, só teriam surgido V. v< =/. ,

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mediante sua elabora ção por meio da narrativa histórica .329 Uma coisa remete a outra, e vice-versa. Ou como, ruais tarde, Droysen ligou a forma de ser da História à consciência sobre ela: "O conhecimento a seu respeito é ela mesma ” .330 Com isso, o novo conceito de realidade e o novo conceito de reflexão se haviam sobreposto. No campo te órico-científico, essa convergê ncia levou a in ú meras imprecisõ es e d úvidas. Niebuhr - e muitos outros, depois dele - procuraram diferenciar novamente a utiliza çã o das palavras.331 O fracasso desses esforços indica que a “ Hist ória” como conceito social e político cumpriu [uma tarefa] menor ou maior, em todo caso, [uma tarefa] diferente: ele se transformou num conceito abrangente, supracientífico, que precisa incluir a experiência moderna de uma História autónoma na reflexão dos seres humanos que a realizam ou são produto dela .

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w ADELUNG (vol. 2), 1775, p. 600 e seg., 1210 e scg. ni K ÔSTER , Heinrich Martin . Verbete ‘'Geschichte". in; DcuUche E/ uyffap&Ut (vo í 12), 1787, , p. 67; KÕSTBR , Heinrich Martin , Verbete fPhilosophie/ Ph Í!osophic der Historie". In: í bid {vol. 15), 1799, p. 649 Alé m disso, cf. o excurso histórico vocabular de HERTZBERG , Custtiv Verbete "Geschichte". in: ERSCH /GRUBER (V se ção) (vol 62), 1856 p. 343, nota 2, o qual se refere a Wilhelm Wachsmuth ( EtHwurf eiiier Theone der Ctithichte. Halle, 1820, p. 2 e segs.), cujas distinçõ es reaparecem , neste texto, daqui para frente

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2, "A Hist ória* como Filosofia da História A import ância que teve o fato de a nova realidade da "História como tal” [Geschichte ü berhaupt] ter conseguido evoluir para o status de um conceito através da reflexão está indicada pelo surgimento da palavra paralela "Filosofia da História” . O desvendamento da "História como tal ” coincidiu com o surgimento da Filosofia da História . Quem utiliza a nova "expressã o: Filosofia da Histó ria” - escreveu Kõster, em 1790, na Deutsche Encydopddie^ 2 [Enciclo pé dia Alemã] - só deveria “ estar atento para o fato de que ela não constitui nenhuma ciência propriamente dita e especial, como se poderia ser facilmente levado a acreditar, ao primeiro contato com essa expressão. Pois, mesmo que grande parte da Historie ou toda uma ciência histórica sejam tratadas assim , não é outra coisa do que Historie em si mesma ” Ja a escrita pragmá tica da História, que tiraria conclusõ es de experiê ncias próprias e alheias, mereceria esse nome, da mesma forma que a "cr ítica histórica ” , que ensinaria a

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HEGEL, Die Vamtnfl . . (cf, nota 236), p 164 DROYSEN, Hiaorik (cf nota 236), p, 331; alem disso: ibid., p. 325, 357.

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Cf. nota 361.

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distinguir verdade de plausibilidade, podendo , por isso, ser chamada de “ lógica da Geschichte [História] ou teoria da Historie” Com o registro lingu ístico, Koster resumiu a nova constata çã o. Foi gra ças à Filosofia iluminista que a Historie como ciência $e separou da Retó rica e da Filosofia moral , e se livrou da Teologia e da Jurisprud ê ncia , a quem estivera subordinada . Nã o era óbvio que a Historie, que, até ent ão, lidara com o individual , com o peculiar e com o casual, tivesse capacidade para ser “ Filosofia”. Enquanto os métodos histórico-filológicos e as ciências auxiliares já se haviam independizado desde o Humanismo, a His torie só se tornou uma ciência própria , quando na “ Hist ória como . tal ” - conquistou um novo espa ço de experiência Desde ent ã o, ela tamb é m pôde definir publicamente o “ campo de seu objeto” . A configuração da Filosofia da História indica esse processo. Três etapas levaram até ele: a reflexã o esté tica, a moralizaçã o das Histórias e a formulação de hipóteses, que tentava superar uma interpreta çã o teol ógica da História através do recurso a uma Hist ória “ natural ” . a) A reflexã o est é tica. No contexto do surgimento da Filosofia da História, Historik e Literatura sofreram uma nova ordenação recíproca , cuja relação constitu í a tema antigo, sempre retomado, desde o Humanismo. De forma esquemá tica, a relação entre His torie e produ ção literá ria pode ser caracterizada por duas posiçõ es extremas, que permitem construir uma escalada gradativa, para agregá-las.333 Ou se classifica o conte ú do de verdade da Historie em n ível mais elevado que a produ ção literá ria , pois quem se dedica às res factae precisaria mostrar a verdade, enquanto as res Jictae levariam à mentira. Historiadores que defendiam essa posição gostavam de recorrer à met á fora do espelho, que circulava desde Luciano, para definir sua tarefa de descrever a “ verdade nua ” . A Historie mostraria uma “ mtdité si noble et si majesfettse” , escreveu Fé nelon, em 1714, de forma que n ã o necessitaria de qualquer enfeite poé tico.334 “ Dizer

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HEITMANN, Klaus. Das Verh'á ltim von Dichtung mid Geschichtsschrdbmig in altere * Theoiic AHh( ufilr KuUutgtsthiihtt , n 52, 1970, p. 244 e $eg$. 131 FÉ NELON, François de. Lettre à M Dacier $ ur les occupations de EAcademle. hi: Oeuvres completes (t. 6). Paris, 1850, p. 639.

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, ZEDLBR Verbete “ Historie (vol. 13), 1735 , p. 283 ” m LEIBNIZ. Thcodizec, § 148. In: Phllosophlsche Schrifttn (vol 6), p. 198 30 JONES P. S , A list from French prof ( fiction from 1700 to \7S0. New York: Columbia University, 1939, introdujo (tese de doutorado); a esse respeito: PUR.ET, François (Ed ,) Livre ti scctité dam ¡a Fiance tin XVUI* sítele. Parii/ De» Haag, 1970. SOREL , Charles . De la corniaissaixe de bons livres ou Examen de plmieim autheurs (1671). Citado por DULONG , Gustave. Uabbi de Saint Rfal. Etude sur les tapports de Phistoice ot du toman au 17' si ècle (c . 1) Paris, 1921, p. 69.

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categor ías aristotélicas do verdadeiro do provável e do possível * para realizar a comparação entre “ histoire ” e poésie” "Uartpoétique semit done bien avancé, si le Imité de la certitude historique était fait ” 347 E sen Éloge de Richardson [Elogio a Richardson , ] de 1762, mostra como, na mão de Diderot, o conceito de História é libertado de suas peias aristotélicas. A Historie, muitas vezes, estaria repleta de mentiras, mostrando apenas recortes e episodios temporalmente limitados - ainda se pode 1er, em sentido convencional. Algo diferente aconteceria com o romance de Richardson, que trataría da sociedade e de seus costumes, e sua verdade abrangeria todos os espaços e todos os tempos do género humano, “ j’oserai dire que souvent l’histoiré est un mauuais román; et que le roman eomme tu l’as fait, est une bonne histoire” *** Na Alemanha ocorreu uma valorização parecida. Em 1664, Johann Wilhelm von Stubenberg cunhou a expressão GeschichtGedicht [História-Poesia] para o romance, a fim de caracterizar sua religaçao com a verdade. Como dizia , os irm ãos Scudéry tratariam , em sua Cléliet de “ histórias todas acreditadas como verdadeiras em si e para si mesmas [vor md an sich selbst], / para as quais, poré m , inventam e acrescentam acasos / possíveis, / prováveis, / razoá veis, / que lhes d ão oportunidade e razão / para apresentar suas doutrinas de moral e virtude” . Birken , em sua Poé tica , ainda acrescentou a expressão Poesia-História [Gedicht- Geschicht] *9 a fim de distinguir ? a epopeia do romance. Desde então, “ os limites da criação poética e [da criação] provável [aparecem] ... como os limites do mundo historicamente imaginável ” .350 E desde mais ou menos 1700, a expressão “ Geschichte” deslocou o “ romance” , e ainda mais a “ Historie” , dos títulos dos romances alem ães.351

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DIDBROT, Denis. De h poésie dramatique (1758) . In: ÀSSBZAT, , ( ] ed .). Oeuvres completes (t. 7). Par í s, Í 875, p. 335 cf . p. 327 e seg. 58 ’ DIDBROT, Denis. Éloge de Ricardson (1761). In: Otimes{( . 5 , ) 1875, p. 221, cf. p. 215, 218. SCUDÊRY, Madeleine et Georges de. Cletia: Bine rònjische Geschichte (vol 1). N ü rnberg, 166*1 (Zwschrlfl), ( versã o alema de Johann Wilhelm Freiherr von ), citado por VOSSKAMP, Wilhelm . Romanlheorit in Deutschland. Von MartinStudenberger Opitz bis Friedrich von Blanckcnburg, Stuttgart, 1973, p, 11 eseg., onde també m se encontram an á lises mais detalhadas. w VOSSKAMP, Rma uiwiie . tp 13. 511 SINGER , Herbert. Der dcutuhe Roman zmschen Batrock und Rokoko. Colônia / Graz, 1963 ( Bibliographic), p. 182 e segs M7

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Portanto, muito antes que historiadores migrassem do título “ Historie” para “ Geschichte” , os poetas já haviam passado a utilizar o título mais atraente, que prometia um conteúdo de realidade su perior. Em 1741 Bodmer reivindicou que o contexto narrado fosse vinculado a coisas conhecidas. “ Com isso, a poesia e o romance vã o adquirindo gradativamente a dignidade da Historie* a qual consiste no mais alto e no mais extremo grau de probabilidade; já que a louvada verdade histórica não é outra coisa que probabilidade , que é 352 comprovada através de testemunhos coincidentes e unificadores” . Enquanto a arte do romance foi se comprometendo com a realidade histórica , a Historie, inversamente, foi submetida ao mandamento poetológico de criar unidades de sentido. Passou-se a exigir-lhe uma maior arte de representaçã o, em vez de narrar séries cronológicas , ela deveria desvendar motivos secretos, e tentar descobrir uma ordem interna em meio aos acontecimentos casuais. Dessa forma , através de um tipo de osmose recíproca, ambas as categorias levaram à descoberta de uma realidade histórica a que só se poderia chegar através da reflexão. Em 1714, Fénelon havia formulado, diante da Academia, o seguinte programa:“ Laprincipóle perfection d’ une histoire consiste dans ’t ordre e dans ¡’arrangement. Pour porvenir á ce bel ordre, ¡’ historien doit embrasser et poséder toute son histoire; il doit la voir tout entiére comme d’ une seule vue... IIfaut en montrer V unité et tire \) pour ainsi dircy d’ une seule source tons les principaux événetnns qui en dependent ” . Com isso, o leitor teria proveito e divertimento ao mesmo tempo.353 Somente através do trabalho subjetivo do historiador, feito a partir de um ponto de vista , desvenda-se a unidade da História, que, a partir de então, seria cada vez mais evidenciada na pró pria realidade histórica. Quem contribuiu para concretizar essa tarefa foi a perspectiva teológica de uma Histó ria Universal vivenciada pelos cristãos. Bossuet insistia que todas as Hist órias estavam interrelacionadas, de forma que se poderia apreender “ comme d’ un coup y

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BODMER , Johann Jacob. Critfahe BetrathturgM ilber die Poctisdien Gentãlde der Dichttr. Mic ein ô r Vorrede vonJohann Jacob Breitlnger. Zurique , 1741, p. S 48, citado por VOSSKAMP, Romontliroiic.. p. 156. FÉ NELON, Leure a M. Dacier. .. (cf. nota 334), p. 639.

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d’ceil, tout Voyáre des temps” * “ La vraie science de 1 kistoiré est de remar ’ quer dans chaqué temps ces secretes dispositions qui onl prépraré Ies grands chargements, et les conjonctures importantes qui les out fait aniver” .354 Leibniz já recorria à muito discutida metáfora do romance para descrever a unidade interna da melhor História possí vel dos homens: “ Ce román de la pie humaine, que fait Vhistoire uniuersetle du genere humain, s’est troupe tout invente dans Ventendement divin avec une infinité dJau( res” Mas Deus decidiu concretizai somente a sequência efetiva dos acontecimentos (“ ce / te suite d'eocnemens” ), pois eles $e inserem de modo perfeito em tudo o mais.355 Em que medida evidentemente a certeza teológica da providência divina recuou para garantir a unidade da História, em termos cientí ficos, isso se pode verificar no caso de Gatterer, quando, em 1767, falava do “ plano histórico” e da “ decorrente unifica ção das narrativas” . Gatterer se envolveu , de maneira consciente, na discussã o poetológica para fundamentar a tarefa unificadora da Historie, que se via desafiada pelo caos de fontes teimosas. A Historie , que até então se encontrava na sombra da arte poética, “ enxerga agora , entre n ós, uma carreira aberta pelos poetas” . Tudo dependeria do plano e das categorias através das quais a Histó ria deve ser conhecida e representada. A forma mais “ natural ” de proceder seria aquela na qual “ os acontecimentos são alinhados de forma sisté mica . . Acontecimentos que não fazem parte do sistema por assim dizer, não sao acontecimentos, para o historiador ” . Somente com sua intervenção sistematizadora prévia, as relações pragm á ticas s ão desvendadas. Se o historiador é “ filósofo ~ e isso ele precisa ser, se quer manter-se pragmá tico ~ então ele estabelece m á ximas gerais, de como os acontecimentos costumam ocorrer” . Ele reflete sobre as condições da Histó ria possível, e, com isso, o plano histó rico é revinculado à pr ó pria História . A transição é gradativa: o historiador fundamenta, compara, atenta para o cará ter e as motivações, “ e ousa derivar daí um sistema de acontecimentos, uma forç a propul sora ” , que ele ou confirma através de fontes contemporâ neas “ ou

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encontra justificado através de todo o conjunto interconectado da História” . A intervenção teórica prévia , o “ nexus rerum universalis” , é confirmado pela própria História. “ Pois, nenhum acontecimento no mundo é, por assim dizer, insular. Tudo interdepende, é reciprocamente motivado, produz-se mutuamente , é desencadeado, é gerado e motivado , e gera de novo” .350 Assim, a partir do desafio para uma representa ção pragm á tica , que precisava levar em conta o efeito e a utilidade da Historie, surgiu a necessidade de tamb é m enxergar um sistema interno no contexto de eventos pragmá ticos . E merece menção o fato de que à primeira Philosophie der Historie [Filosofia da Historie] escrita na Alemanha foi atestado - supostamente pelo pr ó prio Gatterer - que “ ela não contém nada de novo” .357 Kõster, seu autor, entendia por Filosofia da Historie, isto é, da História , tanto a $ regras da representaçã o quanto da pesquisa, e aplicou o conceito també m ao “ sistema da Htoor/e-Universai ” , que se poderia chamar també m de “ Ontologia ou doutrina básica da História, e à qual não se pode negar o t í tulo de Filosofia da História ” .358 Kõster apenas reuniu as intenções de um Chladenius, um Iselin , um Gatterer ou de um Schlõzer em um conceito comum , que eles próprios ainda n ão haviam utilizado. O plano do autor e a unidade interna que a pró pria História registrava foram se sobrepondo, aos poucos, enquanto pareciam se estimular reciprocamente. Nesse sentidoJustus Moser sugeriu, em 1768, que se atribu ísse ao império alem ão desde 1495, “ o movimento e o poder da epopeia” . Ao seu “ plano” de “ elevar” a História à “ unidade” correspondeu consequentemente “ uma completa Historie do império, que pode consistir ú nica e exclusivamente na História natural de uma unificação” do impé rio. 359 GATTERER , Vom historischcn Plan ... (cf. notâ 223), p. 21, 16, 82 e segs. GATTERER, Rezemion H. M. G. Kõster, Ubzr die Philosophic der Historic (Giessen , 1775). Hittorisckcs Jemnal , n. 6, 1776, p, 165. >ss KÕSTER , Ú btrdte Philosophic , p. 54 , 50, 73 e segj. MOSER , Justos. Osnabcü ckische Geschichte (1768). In: Sam(¡kite Wtrkt (yol. 12 / 1), 1964, p. 34; MOSER , Justus. Vorschlag zu einem neuen Plan der deutschen Reichsgesdiichte. Pmiotische Phautesten. In: SamtlUhe Werkt (vol . 7), 1954 , p. 132 t seg.

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A ruptura filosófica que indicou o caminho foi feita por : : Ü Kant, quando vinculou a questão da rela ção da História com sua adequada representa çã o à tarefa moral, com que historiador : e Histó ria estariam igualmente comprometidos. Com sua “ ideia de uma História mundial [ Weltgeschichie] que possui como que um fio condutor a priori ” , ele n ã o queria dispensar o trabalho empírico dos historiadores. Mas Kant promoveu um avan ço na discussão sobre uma representa çã o adequada, na medida em que vinculou a realidade histórica à s condições transcendentais de A : seu conhecimento. Em tom de aprova çã o, cita Hume, segundo o qual a primeira pá gina de Tuc ídides seria “ o ú nico in ício de toda Hist ória verdadeira” . Por outro lado, Kant se pronunciava contra a met á fora de que se pudesse construir a História teleologicamentc, como um romance. O estabelecimento de uma unidade teleológica é muito menos uma tarefa est é tica que moral. “ No conjunto, pode-se en A xergar a História da categoria humana como a concretiza ção de ' P A A: um plano não revelado da natureza ” , desde que, na prá tica , se age, -i “ através de nossa constituição racional ” , no sentido de “ apressar” AA Ê o futuro que se reivindica . Isso tem consequ ê ncias para a forma da representação. Ao transportar como reivindicara Schlõzer - o “ ÍÜ £í agregado n ão planificado de a ções humanas” para um “ sistema ” da AAQ A História , crescem as chances de concretizar esse sistema . É aí que se localiza a fundamentação hist ó rico-filos ófica de toda História . “ Uma tentativa filosófica de abordar a Hist ória mundial [Weltges& A. chulite] geral segundo um plano da natureza que tenha por objetivo AA- m a unificaçã o civil perfeita no gê nero humano deve ser vista como . A A. possível , e mesmo digna de ser promovida a favor das intenções da natureza ” . Assim , o projeto filos ófico de constituir a História gera efeitos sobre a Histó ria real , O planejamento humano exige mais : que o plano estético: ele se funde na intenção moral prática com 360 o plano secreto da natureza

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A profundidade com que essa virada transcendental entrela ç ara as tarefas da representa çã o com a interconexao dos acontecimentos em uma unidade da Hist ó ria fica clara numa reflexã o de Niebuhr, de 1829, quando justificou o anú ncio de suas preleções a respeito da “ História da era da revolu çã o” . Ele n ão pretenderia falar “ exclusivamente da revolu çã o” , mas ela constituiria “ o centro dos ú ltimos 40 anos; é ela que confere a unidade épica ao todo” , motivo pelo qual ele a tomaria como ponto de partida. Evidentemente a própria revolução constituiria apenas “ um produto do tempo” sobre o qual pretenderia falar. “ Mas falta-nos uma palavra para o tempo em geral, e, diante dessa ausência, permito-me chamá-lo de erà

da revolução” .361 A revolu ção como que criou a unidade a ser exposta, épica , da História , mas por trá s dela est á o tempo em geral, o tema genu í no da Hist ó ria moderna , a qual , na revolu çã o, foi subsumida no seu primeiro conceito, todo ele derivado da experiência. Finalmente, Humboldt - em confronto com Schiller - dissolveu a antiga disputa entre Hi$ (orik e Literatura, ao tentar derivar os par â metros de sua representação da “ Histó ria como tal ” [Geschichte iiberhaupt ] (1821) “ Com a nua separa çã o daquilo que realmente aconteceu ainda não se chegou ao esqueleto do acontecimento. O que $e consegue com isso é a base necessária da História, a substâ ncia para a mesma , mas não a própria História” [Geschichte seí bst ). Para chegar à pró pria História [Geschichteselbst] t haveria necessidade, por um lado , da “ investigação cr ítica do acontecimento” , isto é, da pesquisa hist ó rico-filosófica , por outro lado, da fantasia produtiva , que vincula o historiador ao poeta. Só entã o se poderia desenvolver aquele conceito de “ realidade” que, “ independentemente de sua aparente casualidade, está condicionada por uma necessidade interna” . Graças a esse reconhecimento, a matéria do acontecimento adquiriria aquela forma geral que a estruturava como História . “ O historiador digno desse nome precisa apresentar qualquer episódio como parte de um todo, ou ~ o que significa o

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NIEBUHR , Barthold Georg. GeuhUhU des ZeitaUets der Revolution (vol . 1) . Hamburgo, 1845, p. 41.

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seguindo as §® regras de urna Poética que fornece os critérios formais de uma repte ffkfg senta çao material. Mas, baseado em Kant e em Herder, Humboldt fcÇ? d á o passo decisivo em frente, ao atribuir a rela çã o originalmente invisível de todos os acontecimentos a enigmáticas “ forças atuantes . e criadoras” , que vã o configurando a História , dando -lhe a forma | : Hp que ela tem. O que interessaria , portanto, n ã o seria apenas “ tra zer à tona a forma” que ordena “ os labir Ínticamente entrelaçados acontecimentos da História mundial ” , mas sim “ descolar essa forma WÊ deles próprios” , isso n ã o representaria nenhuma contradiçã o, pois a - | | ¡ § História como uma interconexão din â mica e como conhecimento | | \ v£ fp teria uma base comum, “ já que tudo aquilo que age na História mundial [Wettgeschichte] , também se movimenta dentro do interior Mí do homem” .362 . :@ @ | | | A determinação transcendental da História como uma categof ria da realidade e , simultaneamente, da reflexã o , aparece aqui corno ó Wx f íSfgt resultado de um longo processo envolvendo Literatura e Historik , iSj no qual, ao final, a Estética foi absorvida pela Filosofia da Histó . ria W Agora era possí vel que Schaller, em 1838, nos Hallischc p-g! p § | Jahr . ~. biicher, pudesse constatar, de forma lacónica: “ A História como representação daquilo que aconteceu, na sua perfeição, é, necessat v 363 , riamente tamb ém Filosofia da História” . | í| l f: „Ufe b) Da moraliza ção à processualiza çã o da História . A ta refa poetológica atribu ída à Historie exigira a apresenta ção de uma fefe: 1 interconexão com sentido. Essa interconexão foi atribuída, como responsabilidade, à “ própria Hist ória” [Geschicbte selbst] t graças a reflexõ es histórico-filosóficas, com que ela seria comprovável nela i mesma. A velha tarefa moral da Historie de, através de ju ízos, n ão ¿ só ensinar, mas tamb ém melhorar, sofreu uma mudança parecida . Se originalmente a submissão de uma História real a normas mo- :V& 88 5&’ Si: rais era coisa do historiador, como guardi ão filosófico, ao final do £ '

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Geschkhtjschrcibers (cf. nota 153), p 36, 40 e jeg 47 HaU íuheJdhibucher, n.8Í, 1838, p 641 (Rezension von Hegels Vodesungen

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século XVII Í, o ónus da prova para a moralidade foi transferido para a própria Hist ória. Os historiadores debatiam, de forma animada , se deveriam permitir que seu ju ízo fluísse para dentro da narrativa , ou se deveriam deixar que a própria História falasse. Nesse sentido, Hausen escreveu , por exemplo, que o historiador “ formado de acordo com 364 as regras de Luciano” deveria “ se esconder” . “ A História possui sua própria forma de falar” , já dizia Mosheim , em 1748, motivo 365 pelo qual o historiador deveria “ pintar, mas pintar sem cores” . Pois - como acrescentava Mõser, em 1768 , “ na História , como numa pintura, só [deveriam] falar os atos... Impressão, apreciação 366 e ju ízo devem ser específicos de cada espectador” . Uma posiçã o retó rica preferida dos historiadores - exatamente para obter um efeito exemplar - era a de fazer com que a História falasse por si mesma, uma posição que se mantivera desde Luciano. Do outro lado, por causa do Iluminismo, foi se fortalecendo decisivamente aquele campo que exigia do historiador um posicionamento enfá tico a favor da verdade, em especial pelo ensinamento moral da História . A antiga versã o de que medo ou esperan ç a diante do julgamento hist órico possui efeito regulador sobre o comportamento do mundo posterior já fora aceita no Humanismo, por Bodin , por exemplo.367 A fó rmula de Viperano, segundo a qual o historiador deve ser um“ bonus judex et incorruptas censor’ m , foi tanto mais aceita quanto durante o sé culo XVIII o mundo posterior foi guindado à condição de fórum da justiça , em substituiçã o ao Ju í zo Final. O historiador, “ por assim dizer, est á sobre os t ú mulos e chama o $ mortos” , sem atentar para títulos ou séquitos , ele os contempla, “ aqui com indiferença , lá com olhar



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HAUSEN, Frcye licurthcilung íiher die Wahl, ü ber die Verbindimg, und EinkLejdung der hístorischen Begcbcnheiten , und Vergleichung der neucn Geschichtsscbrcibcc mil den romischen. In: Vtnní sihfe Sahrijtin (cf. nota 279), p 10 345 MOSHEIM , J. L. v. Versuth dní f tuipattUtlitthcn und grfindUthtn K

A13 BT, Briefe, d í e ntueste Litteraiur betreffend , 10, 1761, p. 221, 161 (cam). 3:3 D’ALKBERT, Diseoufsprêliminaite de 'f ntteyclop édie (1751). Hamburgo, 1955, p. 62 (editado por Erich Kohler). 371 Essa é a formulação do conde sueco Tessin; citado por BACON, Francis, Oberdie IViirde and deu Porting der WlsumeUaJUn. Pest , 1783; reimpresso em Darmstadt , 1966, 1. 96 (nota) (versã o alemã de Johann Hermann Pfingsten). 372 HALLÉ ( vol. 1), 1779, p. 521. 373 MORHOP, Daniel Georg. Poí yhí sfo/ ¡itmtius, philosophies ct practicas (t. 1). 2. Aufl., Lnbeck , 1714 , p. 218 (editado por Johann Molter) (1 Aufl.: 1688); cf BOL1 NGBROKE, Henry St. John Viscount. Letters on the study and use of history (1735) Londres, 1870, p. 5 314 ( An ó nimo]. Uber hUtonschc Gerechtigkeit und Wahrhcir, fiudaemoma oder deutsches Votksgí uck. 1 (1795) , p. 307. 349

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jours de la prosperitê et du banker"?1* A sentença histórica se transformou em expectativa hist órica de sua execu çã o. Não mais apenas a Hist ória individual contava como exemplo, mas toda a História foi processualizada , pois se passou a lhe reivindicar uma tarefa de criar Direito e de administrar Direito, Quando Herder editou suas Ideen zar Philosophic der Geschkhte der Menschheit [Ideias sobre a Filosofia da História da humanidade], partiu do princípio de que, como na natureza, tamb ém na Hist ó ria “ vigoram leis naturais que estã o na essê ncia da coisa” . Uma dessas “ regras” dizia: “ O abuso se punirá a si mesmo, e a desordem, com o tempo, simplesmente se transformará em ordem, através da incansável dedicação de uma razão crescente” .376 A moral da Histó ria foi temporalizada em direção à História como processo. O hemistiquio de Schiller, do ano de 1784, se espalhou rapidamente: " Die Weltgeschichte ist das Weltgericht ” [A História mundial é o tribunal do mundo].377 Abrir mão de uma justiça cujas compensações só se fazem no além levou à sua temporaliza ção. A Histó ria hie et mine adquiria um caráter incontornável: “ Aquilo que a gente excluiu do minuto, / nenhuma eternidade devolve” . Em 1822 Humboldt pô de constatar que “ o Direito [garante sua existência e validade] ao longo do caminho inexorável dos acontecimentos que, perpetuamente, vão se julgando e penalizando” .378 Com isso, formulou em termos teóricos aquilo que se transformara em legitima ção histórico-filosófica geral da a çã o pol ítica , quando, por exemplo, se invocava o “ Direito da História mundial ” [ Wellgeschkhte] , que certamente estaria de seu lado. 379 Ou quando Ernst Moritz Arndt exclamou: “ Aqueles que querem levar o Estado para trá s sã o loucos ou moleques. Esse foi o julgamento da longa História ,

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Robespierre, em discurso no Clube jacobino sobre a quest ão da guerra , cm 11 de novembro LEFBBVRB, Georges; SOBOUL, Albert (Eds.) Oumes de 1792 In: BOULOISBAU, (t . 8). Paris, 1953, p. H 5 37f HERDER. Ideen aur Philosophic der Geschichle der Menschheit (1784 /87 ). In: Sàmtliche IVerkc (vol . 14), 1909, p. 244, 249. 3 ?] SCHILLER. Resignation In; Sdkular Ausgabé (vol. 1), s. d , p. 199. 3 HUMBOLDT, Ober die Aufgabe des Geschidmschreibers (cf. nota 153), p. $5. m Citado por ROTHFBLS, Hans. Theodor von Sthõn , Fried rich IViihebn Í V. und die Revolution wii 1848. Halle, 1937, p. 193. 373

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filosófica da História do íluminismo em direção à Filosofia da , História da Era Moderna. ' ¡ Quando, mais tarde, a Escola Histórica se opôs a essa interpretação, nao conseguiu mais anular os rastros da experi ência então vivida. O topos acompanha , desde ent ão, a História Moderna - seja de forma critica, seja de fornia ideológica pois ele indica para a unicidade e a direção das vivências modernas, que vão se 4 :P superando de forma constante. Em 1841, Wilhelm Schulz escreveu no Brockhaus der Gegemvart [Brockhaus da atualidade]383: A açã o “ mM unilateral seguiu imediatamente o castigo da História mundial mm % [ Weltgeschichte] como tribunal do inundo, no qual , para a Restau mm ração, o desmedido salto para o passado se transformou num salto morí ale, da mesma forma que, para a Revolução, se tornara o salto , mm v¡ para o futuro” . Também como palavra de ordem , e destitu ído de qualquer significado hegeliano, a met á fora do tribunal se alimenta da pressu-v . ' posiçã o de uma justiça que se realiza através da História . Por isso - só ¡W . 4 •:

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1924 , quando se defendia contra a acusa ção de alta traição: “ Ainda que nos declarem culpados mil vezes, a deusa do eterno tribunal da História rasgar á sorridente o pedido do promotor e a senten ça do tribunal; pois da nos absolve” .384 c) Da formula ção racional de hip ó teses à razão da His tória. O desafio poetológico frente ao plano histórico levou à unidade interna, ao “ sistema” da Histó ria. O postulado por uma moral da História levou à justiça do processo hist órico. Para os contemporâ neos, ambas as respostas foram resultado de reflexões filosóficas sobre a Historie. A expressão em si (“ la philosophic de Vhistoire” ) vinha de Voltaire, que , em 1765, publicara - sob o pseudónimo de Abb é Bazin - um escrito com esse t í tulo, que logo 383 teve vá rias ediçõ es e reimpressõ es. Três anos depois, surgiu, em tradu ção de Johann Jacob Herder, para o alem ão, Die Philosophie der Geschichte [A filosofia da História].386 O desafio contido no desdobramento do novo conceito foi resumido pelo editor alem ão na seguinte observaçã o: ele não lembraria “ de nenhum livro em que se encontrariam tantas objeçõ es à fé hist órica na Sagrada Escritura quanto na Filosofia da História” .387 E , em notas de rodapé que eram mais extensas que o pró prio texto de Voltaire, procurou refutar os ataques à Bí blia , à História da criação e à fé histórica na providê ncia. A “ Filosofia da história ” , de fato, no in ício, foi um conceito polê mico - se voltava criticamente contra a fé nas Escrituras, e metafisicamente contra a provid ê ncia divina , que , segundo a interpreta ção teológica , criava a conexão interna da História . Voltaire se encontrava na esteira de Simon , Spinoza ou de Bayle , dos pirron ístas e racionalistas, retomando os desafios apresentados por estes contra a Teologia.

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ARNDT, Ernst Moritz . Der Baiutmlemd poUtisch betrmhut Berlim, 1810, p. U 3 PÕLITZ, Karl Heinrich Ludwig. Die IVeltgeschiehie fiirgebildele Ltser tout Studlerende (vol. ). 4 3‘ed ., Leipzig, 1920, p. i. HEGEL. Enzyktopddie derphihsophisdien WisstHxhaften im Gntndrisse (3. Aufl , 1830). Hamburgo, 1959, p. 24, 246 ( Vorworr c § 548) (editado por Frtedhelm Nicolin e Otto Poggder) ili SCHULZ, W. Verbete ^ Zeitgeist" In: (Enciclopédia) Bicekhaust Convcrsations-Lexicon dcr Gegemvart (vol. 4 /2), 1841, p. 462 3SI

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Adolf Hiller, na pahvra final antes da leitura da sentenç a , em 24 de mar ço de 1924. In: Der Hitkf Vnzea vordetn VolksgerUht h M útuhen (parte 2). Munique, 1924, p. 91. 351 BAZ Í N, Abbc (- Voluke). Lú philosophie dc l*histoirc (Amsterdam, 1765). Genebra , 1963 334

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por J. H . Brumfitt). Die Philosophic der GesehUlue da vtrstcukencn Htnn Abies Bazin , Leipzig, 1768 ÇversJo alema de Jph . Jacob Harder). (editado

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No mesmo ato , a Histone se via provocada Pois, se o plano divino deixava de existir, a Historie se via obrigada a desenvolver interconexões, que - caso existissem - deveriam derivar da pró pria Historia , uLa philosophic de Fhistoire est fondé sur les modifications et l'ordre sucessif des fits memes” - como formulou Wegelin, quando, nos anos de 1770 a 1776, apresentou $ ua Philosophie de /7tistoire à Academia de Berlim , 380 Tratava-se de conseguir interpretar de forma filosoficamente consistente a multiplicidade e a sucessão de realidades históricas, eliminando o acaso e os milagres, através de fundamenta ções racionais. Para cumprir essa tarefa, a Historie se serviu cada vez mais de hipóteses , que possibilitavam superar lacunas no conhecimento dos fatos e tirar conclusões sobre o desconhecido a partir do conhecido. Importava como disse Wegelin , recorrendo a uma met á fora de Bacon consertar e complementar Uum quadro meio apagado” , ou “ uma coluna danificada, a partir de algumas partes originais” . O pressuposto te órico da “ pesquisa” histó rica consistia em “ diferenciar entre a ciência histórica possível e a verdadeira” .389 Com isso, tamb ém aqui - em acordo com a hierarquia aristotélica - a Historie se aproximou da Filosofia . No seu Discours, de 1754, sobre a origem da desigualdade humana , Rousseau havia elaborado uma histoire hypotétique, cujas conjectures se transformam em motivos racionais, Uquand elks sont le$ plus probables qu'on puí sse titer de la nature des dioses” Constituiria tarefa da Historie estabelecer relações entre os fatos, Ves à la * philosophie r) son défaut , de determiner Ies fits sembtables qui peuvent les Her” *90 Graças a essa liga çã o entre Filosofia e História , no sé culo XVI Í I a doutrina do Direito natural foi historicizada . Bra preciso se certificar da natureza da História , para conseguir entender in terconexõ es, sem precisar recorrer a razões ou fins supra-históricos. Nesse sentido, estamos diante de uma fundamenta ção antropológica



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w WEGELIN, jakob $ur la philosophic de Phtetoire , NoveaaxHtemõlns d? VÂ cnâé/ní eroyale oito 1770. Berlim , 1772 , p. 362.

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WEGELIN,Jakob, Brie fe (cf. nota 288), p. 4; a respeito, cf, BACON, Francis. The advancement oflearning 2, 2 , I c segs. In: Works (vol. 1) ( reimpreso de 1963), p, 329 c segs. ROUSSEAU. Discours sur 1’origine et le $ fondemen de I’infgalité parmt les homrnes. In: * Oeawcs computes ( t. 3), 1964, p. 127, 162 e seg.

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da Hist ória, quando Iselin - um ano antes do escrito de Voltaire editou, em 1764 , suas Philosophische Mutmassungen iiberdie Gechichte der Menschheil [Conjectura çõ es filosóficas a respeito da Histó ria da humanidade).391 E quando Iselin tentou explicar a História humana , de forma progressiva, a partir de motivações internas, admitiu , de forma sincera: “ As revolu ções que descrevemos neste livro constituem , no entanto, muito mais hipó teses filosóficas que verdades histó ricas” .392 Independentemente de a providência divina ou um plano natural continuarem a agir nos bastidores , foi a coragem de formular hip ó teses que permitiu a elabora ção filosófica de uma nova História . Os historiadores e filósofos morais escoceses, que haviam escrito as histórias universais [Universalgeschichten] sobre a surgimento do mundo moderno, numa linha histórico-social e pr á tica , também formularam esta premissa 393: “ fit examinaiing the history of mankind , as well as in examining ( he phenomena of the material world, when we cannot trace the process by which an event has been produced > it is often of importance to be able to show how it may have been produced by natural causes... To ( his species of philosophical investigation, which has no appro priated name in our language, I shall take the liberty of giving the title of Theoretical or Conjectural Histoty, as employed by Mr. Hume, and with what some French writers have allied Histoire Rai$onée” m *

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També m na Alemanha, foi esse “ eterno burilar uma teoria da História ” - de que foi acusado Gatterer395 - que clareou os princí pios racionais de constru ção necessá rios para o conhecimento do mundo histórico. Friedrich Schlegel resumiu o status de reflexão cient ífico- teórica que havia sido alcançado em torno de 1800,

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ISELIN, Isaak . Philosephischt Muthm assungen. Ueber die Geschichte der Menschheil. Frankfurt / Leipzig, 1764, 2. Auft : Ueber Me GtschUhU étr Mensehheit (2 vol*.) Zurique, 1768. m ISELIN, Utbcrdie Gcschichte der Mtnuhheit (vol. 1), p. 201. MEDICK, Hans. Naturzustand tiudNtUurgeschichtcderbiirgeiVchtn Gcselí schaft.Gottingen, 1973, p, 137, 190, 203, 306 e segs.; a respeito da história da palavra "history*', cf. ibid . , p 154 e seg (nota 55) 200 (nota 84) Ml STBWAfLT, Dugald Account of the life and writings of Adam Smith (1793). In: HAMILTON, William (Ed .). Colhcled Walks (vol. 10). Edimburgo, 1858, p. 34. 5)5 ( Anónimo) . Schreibcn au $ D... an cinen Freund in London viber den gegenwarrigen Zustand dcr historischen Litteraturin Tcutschland. t>¿rTeufsehe Mcikur, vol. 2, 1773, p. 253. Agrídeço a Jü rgen Vojs pela indicaçào.

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da seguinte forma: “Já que se fala tanto contra hipóteses, está na hora de alguém , um dia , tentar come çar a História sem hipóteses. Não se consegue dizer que alguma coisa é, sem dizer o que ela é. Enquanto se pensa neles, os fatos já sao referidos a conceitos, e não é indiferente a que conceitos eles sao referidos” Quem abriria mão da reflexão teórica ficaria entregue a uma escolha aleatória , se vangloriaria de “ possuir sólida empiria pura totalmente (¡ posteriori , ” mas estaria perseguindo, de fato e sem perceb ê-lo, “ uma visão a priori, muito unilateral, muito dogmá tica e transcendental ” - foi assim que Schlegel retomou a crí tica kantiana. 396 Na formula ção de hipóteses, foram unificadas demandas científico-teó ricas específicas da disciplina com reflexões transcendental filosóficas. Assim , a “ primeira pergunta ” que o jovem Schelling fazia “ a uma Filosofia da História” foi a seguinte: “ como uma Histó ria como tal [Geschichte iiberhaupt] seria imagin ável, já que, se tudo aquilo que é, para cada um , só é posto através de sua consciência , tamb é m toda a História passada, para cada um, só pode ser posta através de sua

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vai mostrando aos poucos” .300 “ No conceito da História, [estaria contido] o conceito de uma progressividade infinita” , que age nó : sentido “ de acelerar o progresso da humanidade na construção de . :/ uma concepção geral do Direito” . Por isso, em 1800, Schelling sè : deu por satisfeito com o fato de que “ o ú nico objeto verdadeiro dá - ; Historie só pode ser o surgimento gradativo da constituição civil universal , pois exatamente este é o ú nico motivo de uma História” ; 399 toda e qualquer “ outra História” seria puramente “ pragmá tica” . Depois que a Filosofia havia sistematizado a História , essa História podia retroagir sobre a Filosofia e compreendê-la historicamente. Para Fichte em 1794 , “ a Filosofia... [era] a História 400 sistemá tica do espí rito humano em suas formas gerais de agir” . Assim, “ por motivos racionais, mediante o pressuposto de uma experiê ncia como tal, antes de qualquer experiência determinada anterior, [se poderia] calcular a marcha do gênero humano” . Como filósofo, seria possí vel mostrar quais são os degraus de cultura que uma sociedade deve percorrer, como historiador se estaria perscrutando a experiência para saber que degrau, em determinado tempo, teria sido efetivamente alcançado. Constituiria tarefa simult â nea dos filósofos e dos historiadores reconhecer os futuros meios de satisfa ção das necessidades.401 Para Hegel, a convergê ncia de Filosofia e História fora integralmente alcançada. O autodesdobramento do Espí rito se realizaria tanto na Hist ória quanto na Filosofia - e isso se mostraria tamb é m na historiografia. Tanto em sequê ncia sistem á tica quanto em diacrônica , Hegel classificou a escrita da História em três tipos: a original, a refletida e a filosófica.402 Nesse aspecto, ainda n ão se distinguiu de seus predecessores, quando, para ele, “ a Filosofia da História não [era] outra coisa que a apreciação pensada da mesma” . Era decisiva “ a simples ideia da razã o de que também na História

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SCHLEGEL Friedrich , A í henaums Fragment Nr. 226 \n\ SãmdUht Warke (l1 sc çào, vol. 2), 1967, p 201 e seg. SCHELLING. System des U â nszcndcntalen Idealismu í 4,3 (1800). In : IVcrkc {vol. 2), 1965, p. 590; a respeito, c£ MOL1TOR, .Franz Joseph. Idean zu enter kfit ] f(igen Dyitanuk âtr Qmhhhte. Frankfort , 1805.

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A partir da Filosofia da consciência, o Idealismo alem ão desenvolveu Filosofias da História que incorporaram os pressupostos até aqui descritos da época do Iluminismo, e as sintonizaram entre si. A unidade de sentido esté tica das representa çõ es hist ó ricas, a moral atribuída ou buscada na História e, finalmente, a construção racional de uma História possível - todos esses fatores foram articu lados numa Filosofia da História , que acabou estatuindo a “ própria Hist ória” [Geschichte selber] como racional, e a reconhecia como racional. Aquilo que Kant ainda havia formulado como postulado moral, e elaborado de forma hipotética, foi compreendido agora como emancipa ção do Direito ou do Espí rito ou da Razão, e de suas ideias no processo da Histó ria . Schelling disse mais adiante: “ A História como um todo é uma revelação progressiva , que se

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“ a História” , como coletivo singular de todas as Histórias individuais, n ã o é apenas resultado de reflex ã o racional , mas ela própria constitui a forma em que se manifesta o Espí rito, que se desdobra no trabalho da História mundial “ Esse processo de ajudar o Espí rito a chegar a si mesmo, a seu conceito, é a História0.404 Do ponto de vista de seu conte údo, esse processo constitui uma continuidade no desenvolvimento da liberdade, que se concretiza na humanidade, Evidentemente , para si mesmo, o Espirito, que se exterioriza nas suas formas de manifesta ção históricas, permanece igual Sua concretiza ção crescente no tempo n ã o se perde no infinito de um futuro ou de um passado, mas constitui sempre tempo realizado.

os princípios , as ideias que temos diante nós, são algo presente... Algo histórico, isto é , o passado como tal não existe mais, est á morto. A tendência histórica abstrata de se ocupar com objetos ina nimados difundiu-se muito, nos tempos mais novos” - acrescentou ele. “ Mas se uma determinada era trata tudo historicamente, e, portanto, só se preocupa com o mundo que n ão existe mais, isto é, quando só se frequentam cemit é rios, então o Espí rito acaba com sua própria vida , que consiste em pensar a si mesmo0.405 Hegel, ao reunir no seu pensamento a unicidade de qualquer situação com a determina çã o de toda a História como História da raz ão, antecipou a crítica àquele Historicismo que n ão mais podia lidar com essa tensã o, e se recolheu para o tempo perdido do passado. Por outro lado, a Filosofia da História do Idealismo alemão - com base nas suas premissas iluministas forneceu a estrutura duradoura da qual a Escola Histórica não conseguiu mais desvencilhar-se, independentemente de sua crítica ao car á ter especulativo



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lbid,. , p. 25. 28. 104 Ibid . , p. 72; cL HEGEL. Ewkilung in dieGachMtU du Philosophic . Hamburgo , 1959 (reimpresso de 1966), p. 111 (editado poc Johannes Hoffnieister, 3. Aufl . Resumida; e por Friedhclm Nicolin). 4C 5 HEGEL, Êfiife/Ííi íig..., p. 133 esegs .

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para o próprio comportamento. Schlõzer, cujas an á lises causais haviam “ despido” todos os acontecimentos “ de qualquer casualidade” , coerente, ainda partia do pressuposto Mde que n ã o acontece mais nada de novo sob o sol ” .421 Dessa concepção de que haveria fatores permanentes, é que derivavam o cará ter pedagógico da Histó ria e a previsibilidade do comportamento pol ítico.422 Mas Kant derivou da mesma premissa da const â ncia dos efeitos e contraefeitos” - a conclusã o oposta: “ que as coisas fi“ carão como sempre foram” , motivo pelo qual não se pode prever nada 423 Tal comportamento levaria à “ inaniçã o” , e todo o esforço histórico- filosófico de Kant visava a fundamentar uma previsão de que a “ História da humanidade” , no futuro, seria diferente - e isso em sentido melhor. Se toda a Histó ria é ú nica , tamb ém o futuro deve sê-lo. Assim , a Filosofia da Hist ória levou a uma reversã o do fu turo. Do progn óstico pragmá tico de um futuro possível, surgiu a expectativa de longo prazo sobre um novo futuro, que deveria determinar o comportamento. Essa nova determina çã o temporal teve reflexos sobre o conceito de História: tran $formou-se também num conceito de ação. Evidentemente, a frase muitas vezes citada de Kant de que o homem pode prever os acontecimentos que ele mesmo desencadeia , continha uma conotaçã o iró nica. Ela se voltava contra o anden régitnc , o qual , com sua pol í tica anti-humana , estaria, ele próprio, produzindo as consequ ências que tanto temia. Kant era mais cuidadoso nas suas mediçõ es da História como espa ço de ação moralmente determin ável. A sua pergunta “ como é possível uma Histó ria a priori” , deu uma resposta apenas indireta , pois aquilo que os homens devem fazer eles n ã o o fazem , de forma alguma. Simultaneamente, enxergava no eco moral frente à Revolu ção Francesa um “ sinal da História” (“ signutn rememoralmm , dentomtrativum , progtiostikon” ), que indicaria para uma tendência geral ao progresso. Desde entã o, considerava certo que “ o ensinamento

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experiencia repetida” levaria os homens a promover uma constituiçã o na qual, em consonâ ncia cotn o plano natural » vigorariam a liberdade e o Direito. *24 Enquanto Kant criticava os teólogos naquilo que tange ao passado, dizendo que “ é uma superstição” a afirmaçã o de “ que a fé na História é um dever e que leva à bem aventuran ça” , ele próprio investigou o futuro da História com inten çõ es prá ticas, como sendo planificável.425 “ Vêse: a Filosofia també m pode ter seu quiliasmo” 426 Assim , o tratamento histórico-filosófico da Revolu çã o Francesa conduziu a um novo alinhamento entre experiê ncia e expectativa A diferenç a entre todas as Hist órias at é aqui e a Hist ória do futuro foi temporalizada num processo em que se torna dever do homem intervir com sua a ção. Com isso, a Filosofia da História deslocou de forma fundamental a antiga import â ncia da Historie. Desde o momento em que o tempo adquirira uma qualidade hist óricodinâ mica , n ã o foi mais possí vel - como se fosse um retorno natural - aplicar as mesmas regras de antigamente ao presente, regras que tinham sido elaboradas de forma exemplar até o século XVIII. “ A Revolu ção Francesa foi , para o mundo, um fenômeno que parecia zombar de toda a sabedoria histórica , e diariamente foram se desenvolvendo a partir dela novos fenômenos, a respeito dos quais ficou cada vez mais difícil buscar respostas na História” escreveu Woltmann, em 1799, para tentar fazer algo em sentido inverso.427 Em consequência - em terceiro lugar ~ também a importâ ncia do passado na História se modificou. A História temporalizada e processual í zada como unicidade permanente n ã o podia ser mais aprendida de forma exemplar - “ portanto, o objetivo did á tico é incompat ível com a Historie” . A História deveria, muito mais - como continuou Creuzer , “ ser encarada e explicada de forma nova por cada nova geração da humanidade que est á em progressão” .428 A através da

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KANT. Str« it der FakulCá ten (cf. nota 297), § 2. In : AkadtmU Ausgabz (vol. 7 ), p. 81 c 5 cg., 79 í eg., 84, 88. U p. 65. 124 KANT» Idcc. 8.5au In ; Akademic- Auszabt (vol . 8), p. 27; cf KANT Stre ú dcr Fakult á ten , p. 81. w WOLTMANN, Karl Ludwig (ed .). Geuhkhte und Polilitt Eme Zemeht , í ft Berlim , 1800, p. 3. 4U CREUZER , Hiftorische Kunst (cf noto 413), p. 232 e seg. aJ *

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elaboração do passado se transformou em um processo de educa ção que progredia junto com a Hist ória, e que, por sua vez, tinha efeitos sobre a vida. E , nesse processo, a revolu ção, em sua classifica ção histó rico-filosófica , ocupou o lugar das Hist órias que vigoravam até então . Nas palavras de Gõrres: “ Todo presente deve apostar em si mesmo , pois ele mesmo sabe aquilo que melhor lhe agrada e serve... A História consegue ensinar pouco a vocês. Mas se vocês querem aprender com ela , tomem a revolu ção como mestra , [já que] o andar preguiçoso de muitos séculos acelerou-se com ela , para se transformar num ciclo de anos” .429 A acelera ção, que na época foi reiteradamente destacada , constitui um ind ício seguro da exist ê ncia de forças imanentes à História , as quais dão origem a um tempo histórico próprio e pelas quais a Era Moderna se distinguiria do passado. Para dar conta da unicidade de toda a Hist ó ria e da distin ção entre passado e futuro, importava reconhecer a História como um todo, a realidade, seu transcurso e sua direção, que leva do passado ao futuro. Os esforços dos filósofos da Hist ória se concentravam na solu ção dessa tarefa . Na tentativa de cumprir essa tarefa , a velha Historie perdeu sua utilidade, que consistia em recuperar os achados do passado para a situa ção contemporâ nea. Hegel dizia: “ Aquilo que traz algum ensinamento na Hist ó ria é algo diferente das reflexões dela derivadas. Nenhum caso é totalmente semelhante ao outro... Aquilo que a experiê ncia e a História ensinam é que povos e governos nunca aprenderam com a Histó ria nem agiram de acordo com o$ ensinamentos que ela poderia ter fornecido” .430 Do diagnóstico de Hegel se pode deduzir teoricamente o lugar das novas ciê ncia$ históricas. Como ciê ncia do passado , ela só poderia ser praticada por si mesma - a n ã o ser que ela , pela via da forma çã o histórica , interfira de forma direta na vida. Humboldt deduziu desse diagnóstico exatamente a mesma coisa . Também a Histó ria na compreensão da Era Moderna seria “ aparentada da vida ativa” , pois ela não prestaria mais seu serviço

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“ através de exemplos

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raramente ensinam alguma coisa . Sua verdadeira e incomensurável utilidade está muito mais em avivar e esclarecer o sentido para lidar

com a realidade a partir da forma inerente ao acontecimento do que através de si mesma” .431 Em termos modernos: existem estruturas formais que se mantêm ao longo dos acontecimentos, condições para Hist órias possí veis, cujo conhecimento antes se refere à prá tica do que o conhecimento das condições. Dessa forma , a Filosofia da História explorou um moderno espa ço de experiê ncia através do novo alinhamento de passado e futuro, através da qualidade histórica que o tempo adquirira - e é da í que toda a Escola Hist órica, desde então, busca inspira ção. A unicidade das forças e das ideias, das tend ê ncias e das é pocas que se produziam a si mesmas, mas també m dos povos e dos Estados, n ão podia ser neutralizada através de nenhuma cr ítica de fontes. Era natural que, quanto mais bem sucedido fosse o mé todo históricocr í tico em derivar fatos duros do material encontrado nas fontes, tanto mais forte se tornava a cr í tica à especula çã o hist órico filosófica , de cujas premissas teóricas a Escola Hist órica , n ão obstante, continuava a se nutrir. Por isso, Ferdinand Christian Baur podia dizer, com razão, em 1845: “ Com essa assim chamada cr í tica das fontes, por si só, se avan çou muito pouco , enquanto n ã o se reconheceu que a Hist ória como tal [Geschichte überhaupt ] é cr ítica” . Na História , aconteceria uma mediação entre passado e presente, mas somente na medida em que o sujeito teria consciê ncia cr ítica dessa media ção. Só então o “ processo hist órico externo” se transforma num “ processo mental , através do qual o homem chega ao conhecimento de sua essê ncia . Pois, para saber que ele é, precisa saber “ como chegou a ser ” . A cr ítica é que permite relacionar a objetividade da Histó ria e sua elabora ção subjetiva. “ Na cr ítica , a História por si só se transforma na Filosofia da História” .432

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HUMUOLDT, Di ç Aufgabe des Geschkhtschreibets, p, 40. BAUR , Ferdinand Christian , KritisclieB dirige a Uí Kirchen geschichte der erstenjah thunder te, mil besonderer R íicksicht íiufd íe Werke von Neander und Gieaeler. Theohgixhtit. 4 * 1845, p 207 e seg.

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A História narrativa , o ato de contar [ Erzahlung ] , encontra se entre as formas mais antigas de intera ção humana , e isso ela continua sendo at é hoje. Nesse sentido, seria possível considerar “ História” como um conceito fundamental permanente da sociedade, em especial da sociabilidade. Se, no século XVIII, “ a Hist ória” - cuja fundamentação terminológica e te órica tentamos conhecer até aqui - foi configurada como conceito fundamental da linguagem social e polí tica , isso aconteceu porque o conceito adquiriu o status de principio regulador de toda experiê ncia e expectativa possível. Com isso, se modificou a importâ ncia da “ Historie” como ciê ncia proped ê utica - como se pretende mostrar de forma esquemá tica , a seguir: “ a Historia ” foi abarcando de forma crescente todos os á mbitos de vida , enquanto simultaneamente ia sendo guindada à posi çã o de uma ciê ncia central. As eruditas á rvores geneal ógicas, que desde o Humanismo foram classificando todas as á reas do saber da histeria e ordenando-as num espa ço que admitia algumas variações, utilizavam invariavelmente os mesmos esquemas classificatórios: em primeiro lugar, a historia foi estruturada temporalmente, de acordo com os quatro impérios, por exemplo, ou entã o (forma popularizada desde Celá rio) como História antiga , medieval e moderna433; em segundo lugar, a historia foi classificada em á reas , quando a tripartição em historia divina> civitis, naluralis se tornou a mais usual ainda que crescentemente questionada, desde Bacon; em terceiro lugar, a historia foi determinada por crit é rios formais, como historia universalis ou specialise em quarto lugar, segundo formas de representação, sendo definida , por exemplo, como arte narrativa ou descritiva. É evidente que cada uma dessas redefinições nesses esquemas tivesse reflexos sobre os outros, na medida em que todas as afilia ções da historia se encontravam numa rela ção sistem á tica entre si .



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m Cf o verbete" Zdl¡ ZeUnitcr" [Ao contr á rio do que previa Kosdleck nesta now , o verbete sobre “ tempo” e “ é poca" nao apareceu nos GesdiUhtlUhc Gtunàbtgfffft nem foi por de publicado à parte posteriormente (nota do revisor té cnico))

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A configuração da Historia como conceito que está na base de tudo pode ser mostrada à mão de três processos: [ primeiro], na eliminaçã o da historia naturaiis do cosmos histórico, fato que, no entanto, trouxe consigo a historicizaçã o da “ Historia Natural ” ; segundo , na fusã o da historia sacra coin a Historia Geral; e, terceiro, na conceitualização da Historia mundial [Weltgeschichte] como ciência-mestra, que transformou a antiga Historia universal [Unimsalhistorie]. a) Da ‘' historia natumlis” para a “ Historia da natureza ” [ Naturgeschichte] . Conhecimentos históricos foram considerados, até o século XVIII, como pressuposto empí rico de todas as ciê ncias, assim que Heckermann podia afirmar que devem existir tantas Historien quantas são as ciências.414 Como conhecimento geral das experiências , a Historie tratava do individual, do específico, enquanto as ciências e a Filosofia visavam ao geral. Jônsío escreveu que se saberia que " fundamentam omnis sáentiae esse historiam , observations, exempla, experientiam, e quibus tanquam singularibus , scienlia universa les suas propositions format' ^ , ou , como escreveu , de forma inais enfá tica , Johann Mathias Gesner, em 1774: “ ha Historia est quase civitas magna , ex qua progreâiuntur omnes aliae disciplinas Dentro desse campo de experiê ncia , ainda era ó bvio que o conhecimento sobre a natureza fosse parte t ã o integrante da His torie quanto o conhecimento sobre os homens e suas a ções. Assim , Johann Georg Büsch - com base nos modelos de Reimaro - ini ciou em 1775 sua Encyclopiidie der Wissenschaften [Enciclopédia das Ciê ncias] com o primeiro livro: “ Da Historie como tal [iiberhaupt ] e, em especial, da História da natureza ... Historie ou Geschichte [História] denominamos todas as not ícias daquilo que efetivamente é ou efetivamente foi ” .437 Essa Historie, como um saber sobre a rea lidade, era uma ciência de experiências que, naquilo que tange ao

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presente, se baseava em experiê ncias pró prias , naquilo que tange ao passado, em experiê ncias alheias Desse aspecto temporal duplo i ; - que pressupõe a unidade do mundo da natureza e dos homens -yY Y vV:-. também derivava a velha dualidade da representação, isto é; que à - i ; . . • Historie tanto descreve quanto narra Justus Lipsius foi mais longe;Y ; ’

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contrapondo a historia naturaiis descritiva à historia narrativa , a qual, por sua vez, se estenderia à historia divina e humana *** Foi sobretudo a historia naturaiis , o estudo da natureza, que, até Linné, descreveu situa ções derivadas de observações e de classificaçõ es da terra, dos reinos anima! e vegetal, e do espa ço estelar. També m quando a expressão “ História da Natureza” [ Natur-Geschichte] desbancou a uhistoria naturaiis” - como em Zedler, por exemplo^9 -, essa expressão continuava visando a situa ções da natureza, sem interpretá-las “ historicamente” A historicização da natureza que - em termos modernos - se ia configurando, no longo prazo, isto é, sua classificação temporal de forma que ela mesma ganhasse uma “ História” - n ão se deu sob o tí tulo de “ historia naturaiis” , pois essa expressão estava reservada para a descrição daquilo que est á dado de forma permanente. Bacon - que classificou a historia em apenas naturaiis e civilis ainda compreendera a natureza como a-histórica. Mas ele a definiu como mutá vel, através da arte humana , motivo pelo qual colocava a historia artium na historia naturaiis* , situação que explicava através da expressão experimentalis 441 Mas a investiga ção sobre as causas que levavam à mutabilidade da natureza ele n ão mais inclu ía na historia naturaiis, mas sim entre as ciências teóricas , a Física: “ Etenim in hisce omnibus Historia Naturaiis factum ipsum perscmtaí ur et referi, at Physica itidem causas” 142

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MENKE GL Ü CKERT, Bmil . Die Gesdiichtsschréíbuitg d ( f Rejoitridlion utuí Gegetmfortttfltfcn , Osterwiek / Harz , 1912, p. 131, JONSIUS, Johannes De salptoilbus historic phihsophi^ e, 2 Aufí., Jem , 1916; reimpresso DUsseldorf, 1968, p. 2 (editada por Johann Christoph Dorn ), 4ii GESNER , Johann Matthias. Isagoge In oudílionem universale m (c. 1). Leipzig, 1774, p. 331. B ÜSCH , Johann Georg. Btuydopñdle der hislo/ isdien philosophlsehen mui niathcwiUischen Whsenschaften. Hamburgo, 1775, p.|2. 51

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Tamb ém aqui foi Kant quem , pela primeira vez, havia reivin dicado abertamente a mudança da historia

naturalis de velho estilo para a Historia temporalizada da natureza . “ Por mais se odeie - e com razão - a impertinencia das opiniões, deveque se arriscar uma História da natureza que seja uma ciência separada, que possa progredir, gradativamente, de opiniões para conhecimento” .453 Em 1788, Kant procurou garantir "História da natureza” para a investiga çã o cientí fica, que derivaria a "configuraçã o [atual ] da natureza de causas localizadas em tempos mais antigos, de acordo com leis naturais.. das forças da natureza ” . Essa ci ê ncia deveria $e conscientizar das limita çõ es inerentes a seus princí pios racionais e , por isso, concretizar sua teoria através de hipó teses - ao contr á rio da descriçã o da natureza, que poderia concretizar um sistema com pleto. Kant estava consciente das dificuldades terminológicas que apareceriam em decorrê ncia de sua historiciza ção da "Histó ria da natureza ” , já que "Histó ria” e "Historie” s ã o utilizadas ao mesmo tempo no sentido de narrativa e de descrição. Pata destacar o aspecto temporal decisivo da nova ciência , sugeriu denomina ções alterna tivas, como "fisiogonia” [ Physiogonie] ou na Crítica da faculdade de juízo (Kritik der Urteilskraft] - "arqueologia da natureza 454 . "Mas a dificuldade lingu ística para distinguir não consegue ” eliminar a diferença das coisas” .455 Estava aberto o caminho para as teorias da evolução do século seguinte,456 no qual a Hist ória se mostraria como setor que orientava a pesquisa sobre a natureza . Nas palavras de Biedermann (1862): a História da natureza [ Naturgeschichte] , ao contrário da ciência da natureza [ Naturkunde] , come ç a "somente ali onde aparece uma í nterconexâo, uma permanê ncia , uma ligação

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Depois que a velha historia sacra tinha sido superada pela História da salva çã o, a compreensão do cristianismo sobre si rnésmo .\ entrou numa linha de historiciza ção - tamb ém da metodologia , de forma que, desde ent ã o, vem pendulando . hist órico-cr ítica entre duas respostas extremas. Por um lado, o cristianismo é sim



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OVERBECK , Franz. Chrittentum und Kultu/. Gedanken und Anmerkungon zur inodernen Theologie. Basel, 1919; reimpresso em Darnutadr, 1963, p. 7 eseg. (editado por Cari Albrecht Bernoulli). BARTH, Karl. De / Rdmerbrief. 10’ edi çSo da vetsào reformulada de 1922, Zurique, 1967, p. 32. A “ Teologia federar * entendia a “ Hist ória como a concretiza çã o da gra ça " divina , Hist ó ria que transcorreria em cinco fases, a come ç ar na criação narrada no VeJho Testamento, de forma que a “ História divina se transformaria em um drama com sentido unit á rio” JACOB, P. Foderaltheologie. In: Die Religion in Çcschfchte und Gegenwa / t [RGG ). Tü bingen:J. C. B. Mohr (Paul Siebcck), 1957, col. 1520. [N. T).

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plesmente declarado incompatível com a História . Nesse sentido, Overbeck registra “ o desejo moderno de submeter o cristianismo à História” , deduzindo que, “ deslocado para o terreno da avaliação histórica , o cristianismo está irremediavelmente exposto ao conceito da finitude ou ... da decadência” .478 Ou a História como um todo deve permanecer referida a Deus, de forma que a diferença entre uma História crist ã e uma História n ão cristã desaparece. Nas palavras de Karl Barth: “ Toda História religiosa e eclesiá stica se desdobra por completo dentro do mundo. A assim chamada ‘Hist ória da salva ção’, poré m » só representa a permanente crise de toda a História, nao uma História ou ao lado da História” .479 O componente progressista do conceito perdeu importâ ncia , mas o momento processual , que deriva da presença existencial do ju ízo eterno, se manteve, incluindo um legado da Teologia federal.* ória mundial ” [ W èltgeschic) Da " historia universalis” à “ Hist sacra no processo hise , historia da natureza da o çã incorpora ] A chte ria ó passasse a constituir tó rico geral fez com que o conceito de Hist um conceito-chave da experiê ncia e das expectativas humanas. O conceito de “ Hist ória mundial ” [Weltgeschichte] se adequava muito bem a uma definição desse processo. Na perspectiva da Histó ria vocabular, a transiçã o da “ História universal ” [Univemlhistorié] para a “ História mundial ” [Weltgeschichte] se realizou de forma gradativa e sem muita insistência . No século XVIII, ambos os termos podiam ser utilizados de maneira alternativa. vi

m HOFMANN, Johann Christian Konrad von. Weissaguttg und BrJiiUung m alien und neueu Testamente ( 2 vob ). Nõ rdlingen , 1841/4 4; cf. V/ BTH, Gustav. Die Heibgeuhlihte M ü nchen, 1931, p 81 e segs, ^ GEÍSM AR Martin von (= Edgar Bauer) ( Bd .). Bibliotltek derDtuitehen Au/klàur (vot. 2, separat 5). Leipzig, 1847; reimpresso em Darmstadt, 1963, p 127. m HESS, Moses. Die Heilige Geschtchte dcr Menschhelt . Von cinem JOnger Spinors. In: CORNU, Auguste; MÒ NKE , Wolfgang (eds.). PhUosophische undsoziaUstiutie Schiiften 1837 I 8S0 Berlim , 1961, p. 33.

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A expressão uuerltgeskditen já fora utilizada por Notker (falecido em 1022) - referido à providência divina mas a palavra não conseguira se impon 480 A primeira referencia concreta a unía Historia universalis so é encontrada mais tarde. Em 1304, surgiu uma tal obra, que pouco depois recebeu o certeiro t í tulo de Compendium historiarum.m Historien deste mundo que tentavam unificar urna soma de Hist órias individuais com pretensões universais só surgiram - nas palavras de Borst - quando a imagem do mundo do povo cristão de Deus se esfacelou , Na medida em que a conquista de terras no alé m mar progredia , e a unidade da Igreja se rompia , começam a se multiplicar os títulos histórico-universais, os quais deveriam registrar e unificar as novas e heterogé neas experiências. Nesse contexto, també m ressurge, no século XVII, a desaparecida palavra “ História mundial ” [ Weltgeschichte] , que talvez tivesse sido inspirada na History of the world, de Sir Walter Raleigh.482 Stieler registra Weltgeschichte / historia mimdi sive universalis^ , e, desde o século XVIII , preferem-se formas mistas, como “ Universalgeschkhte” [Historia universal] ou “ Wekhistorie” [ Historie mundial]. Apesar das varia çõ es terminol ógicas, o avanço da expressão “ Weltgeschichte ” [Historia mundial] denota urna profunda mudanç a conceituai. Um sinal disso já fora dado com a tradu ção do Essai zur Vhistoire g énérale de Voltaire, em 1762, por Versuch einer allgemeinen Weltgeschichte [Ensaio de uma Histó ria geral do mundo], quando se tratava de desacreditar a provid ência.484 A forma plural - como as “ mais curiosas Histórias do mundo” [merkwü rdigsle Weltgeschichten ] - estava consolidada desde o final do século XVII, no sentido de Histórias seculares.485 E, por isso,

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SEHRT, Edward H.; e STARCK , Taylor (Eds.). Notkers des DeUlsdicn WoVt Hade 1952, p 33. A respeito , cf. BORST, We í tgcschichten im Mine taker (cf. now 150), p. 452 e segs. 4S * RALEIGH , Sir Walter The hltlory of the world , Londres, 1614 4U STIELER , 1691; reimpressão de 1963, p. 1747. AU Voltaire Essai sur l ' histoire gé né rale et sur les moeurs et Tesprit des nations depuis Charlemagne jusqu 'á nos jours (7 vols .) Genebra , 1756; e alem ão: Atlgoneine WdigtschUhle,\wtlru\en zugUidi die Siittn and das Bfytnt derer Vtilkerschaftcn von C

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    unía Historie mais detalhada” /9* Três décadas mais tarde, em 1790, Kõ ster resumiu , na Deutsche Encyclopdd¡ei o debate entrementes desencadeado, e seu resultado/94 A rela ção entre as Historien geral e especial seria relativa , dependendo da definição dos objetos e, por consequência, “ ambivalente.. Mas existe uma outra Historie universal [Utiimsalhistorie] - simplesmente assim denominada , que tamb ém se chama de História mundial geral [aílgemeine Weltgeschielite ] **. Ela trataría de todo o genero humano, e da “ superficie da terra” corno seu campo de ação. Ela mostraria , “ por que o género humano se tornou aquilo que realmente é, ou aquilo que ele foi , em cada per íodo” No ultimo terço do século XVIII, se estabeleceu certa unanimidade de que essa Historia do mundo seria urna ciencia mestra, que, no entanto, ainda nã o teria sido escrita nas palavras de Kant: ela ainda nao teria encontrado seu Kepler ou seu Newton / 95 Mas , ao mesmo tempo, esses autores constatam e isso indica aquela experiência moderna que só pôde ser explorada através da “ Histó ria mundial ” [Weltgeschichte] - que a escrita de tal Hist ó ria mundial somente agora seria poss í vel. E nisso que consistia a verdadeira superioridade, o ganho de experiência em relação à antiga /96 As mudan ças constitucionais e a expansã o da Europa sobre todo o globo teriam tornado os “ intercâ mbios mundiais” cada vez mais “ entrelaçados” , de forma que n ão seria mais possível escrever a História de Estados individuais, já que a interconexão real perpassaria tudo/97 Em parte, o intercâ mbio europeu sugeria ser aquele “ em que parece se dissolver gradativamente toda a História mundial ” [Weltgeschihte] .m Em 1783, foi possível que uma tese de doutorado apresentada em Mainz iniciasse de forma





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    LUDEN, Heinrich . Uebcr den Vortrag der UmversalgeschiclKc. In: Kteine Awfalzc (vol . 1). G ô ttingen, 1807, p. 281. A respeito de Schiller, cf nota 418. Cf, KESSEL, Eberhard. Rankes Idee dor UnivemlhUtorie. Hiuorltche Zeitahiift , n. 178, 1954 , p. 269 e segs. M NOVALIS. Fragmente und Studien , Nr. 77. In: Cesáitwtclie We ike (vol. 3), p. 566. so< SCHLEGEL. Vorlesungen iiber Umversalgeschichte (1805/ 06). In: Sfatitluhç Wetke (2* se çã o, vol. 14) I 960, p. 3. Wi MARX; ENGELS. Die Deutsche Ideologic. In : MBW [Marx-Engels Weike] (vol . 3), 1962 ,

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    Quando Friedrich Schlegel disse, em 1795, que “ o caminho e a direção da forma ção moderna são determinados por conceitos dominantes” , esse reconhecimento já pressupunha o moderno conceito de História .509 Schlegel se serviu de uma sé rie de determinações atuais de movimento, todas abrangidas pelo conceito , de Histó ria. Nessa medida , valia para a “ História” , em especial Sua : aquilo que Schlegel reivindicava para os conceitos dominantes “ influê ncia é imensamente importante, decisiva” . História somente pôde se tornar o moderno conceito mestre, porque, no per íodo do Iluminismo e através dos efeitos da revolu çã o, todas as ações precursoras até então descritas tinham influenciado esse conceito.

    1. Funçõ es sociais e políticas do conceito de História

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    A configuração do conceito moderno, reflexivo de História se deu tanto através de discussões cient í ficas quanto através de diá logos íveis pol ítico-sociais do cotidiano. Quem fez a liga ção entre os dois n chamada de di á logo foram os cí rculos do Bildungsbü rgertum , a assim , burguesia culta composta por intelectuais de formação acadê mica , mais vez cada seus livros e suas revistas, que foram aumentando , no ultimo terço do século XVIII, sendo seguidos, no século XIX

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    * Cf. TROELTSCH , Hm st. Dert í istorlsmus itttd feint Próbleme. TCibingan, 1922; reimpresso em Aaten, 1961, p. 652, 706; e DILTHBY, Wilhelm, Einlekimg in die Geistessvisscuschafcçn (1922).

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    in: CaiMimeUt Sditifien (vol. 1). Leipzig/Berlim , 1922, p. 93 e segs FREYER, Hans. ÍVeltgetthkhte Europas ( 2 vols.). Wiesbaden, 1948. SFENGLER , Oswald. Der Utturgang des Abendlaruí es Umrisse ehier Morphologic der Wettge5chidue. 52. Aufl ., Munique, 1923, p. 6.

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    de toda História fez com que crescessem as críticas contra projetos :wmÉ m r universais.506 Irrefletidas [as representações hist óricas], continuaram sendo sobretudo aquilo que Hans Freyer subsumiu em 1948, no ' : V : ? conceito “ História mundial da Europa” 507, que só no século XX : começa a transitar para uma “ História mundial propriamente dita” . Com isso, as expectativas que o século XVIII vinculava ao conceito " ! Vforam modificadas, mas não ultrapassadas. A ú nica tentativa efetivamente bem-sucedida para retirar a 'Í História mundial de sua unicidade processual, em constante re í novação, veio de Oswald Spengler, quando derivou a decadência : do ocidente de uma “ morfologia da História mundial, do mundo s#è ií como História” , cíclica, natural.508 Em que medida seus cí rculos ; culturais pluralistas, em sua analogia estrutural, influenciam a futura . >s História do mundo fica, por enquanto, em aberto. : r^mPi :k ÍMi ti

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    por inú meras associações e instituições O surgimento de uma ciência histórica autónoma pode ser atribu ído a essa classe média intelectualizada, a qual, simultaneamente com o desenvolvimento de uma consciê ncia Histórica , se apropriava de sua identidade. Nessa medida, a gé nese do moderno conceito de História coincide com sua função social e pol ítica - sem naturalmente se limitar a ela. Gatterer se orgulhava de ser catedrá tico de Histó ria , sem precisar ser como historiógrafo da corte servo de nenhum pr í ncipe. A despeito de sua autoavaliaçao, as questões teórico científicas que ele formulou continuam tendo validade duradoura . Foi justamente o reivindicado cará ter cientí fico do conceito de Hist ória que reforçou sua força integrativa social e política . A ciência histórica, que alcançou seu auge na Alemanha, no século XIX , reuniu em si duas etapas precursoras. Etn primeiro lugar, a zelosa atividade de colecionar, e a elaboração de ciê ncias auxiliares, que vinham se desenvolvendo desde o Humanismo. Em segundo lugar, a reflexã o teórica e crí tica com que o Iluminismo reagira a seus predecessores. Ambas as etapas encontraram na his toriografia alemã desde Niebuhr, sua frutífera sí ntese. Com isso, a Historie conquistou seu espaço científico, à medida que foi se desligando da função servil nas faculdades de Teologia e de Direito. O resultado desse ganho de autonomia se evidenciou no ú ltimo terço do século XVIII, quando també m o novo conceito de História passou a ser definido.510 Ele indica , por um lado, a con quistada autonomia da ciência histórica. Paralelamente, por outro lado, “ História” alterou sua posição dentro da linguagem polí tica . Enquanto a expressão foi transformada em conceito central da in terpreta ção do mundo, ela também estilizava a consciência daquela burguesia que, nesses decénios, se ampliou de uma burguesia de eruditos, uni Gelehrtenbihgertim, para uma burguesia culta , um

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    Cf. SÇHIBDBR , Theodor (Ed . ). Hunden jahre H ístoriscbc Zeitjchrift 1859- 3959. Beit rage 2 uc Geichichte der Histoflographie in den deutjç hsprachigen Landern. Hislonsche Ztluduift iL 189, 1959; VOSSKAMP, Wilhelm . UflUrsuchtingen xur ZtU JMD Cesthkhtsiusffatitng im 17. Jahthwdttt bei Gtyphha und LoUcnsttin. Bonn, 1967; HAMMERSTE1N, Notkcr. und Historic . Bin Beitrag 2 ur Geschichte des historhchen Denkem an deutschen Universitaten im spSten 17. und im 18. Jahrhundert . Gdttingcn, 1972.

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    Biidimgsbürgertum. A utilidade pragmá tica da escrita da Historia deveria beneficiar todos os estratos - como Abbt já exigira e , no ano de 1765, Christian Kestner fez, em Gottingen , a seguinte pergunta , muito sugestiva: “ Se a utilidade da nova História també m se estende a pessoas privadas? ” Evidentemente “ o historiador deve nos descrever o homem em sua totalidade, e n ão so ñ as raras 551 situações especiais em que ele domina povos e conquista países” . “ A grande destinação” que Schlõzer atribuiu à “ História ” 512 servia para o “ esclarecimento e a felicidade da sociedade civil ” . Da í decorreram as ampliações na organização e na abrangéncia do objeto. “ Toda a escrevinha çao da História” deveria ser encarada como “ urna grande fá brica , composta por uma infinidade de coisas” , na qual colecionar, pesquisar e representar constituem tarefas diversas,513 Do ponto de vista do conte údo, colocaram-se, no sé culo XVIII, ao lado da tradicional Historia das Igrejas e dos Estados, aquelas á reas reivindicadas por Bacon , como Historia da literatura , História da arte e da t écnica, do comércio, a História da ciencia e a História da cultura; enfim - nas palavras de Gatterer a Historia dos povos , que abrangia tudo. “ Portanto, para falar a verdade, só existe uma Historie , a História dos povos” 514 A nova sociedade civil se projeta como povo, como na ção, e, por isso, Krug leva esse fator em consideração, quando uniu o cosmos de todas as ciê ncias históricas parciais - seria “ prejudicial ” separar a Hist ória do Estado e do povo, “ pois, em função da estreita ligaçã o” entre ambos, “ a História de um sem a Histó ria do outro nem pode ser compreendida” .515 Depois que a “ Hist ória” se transformara num conceito sobre o qual se refletia e que - explicando, fundamentando e legitimando estabelece uma ligação do futuro com o passado, essa sua tarefa pôde

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    KESTNER , Christian. Uncersochung der Frage: Ob sichder Nutzen der neueren Geschichte auch auf Pfivatpersgnen erstrecke? In: GATTERER , Ailgemclitt Historísche Bibliothik (vol. 4), 1767, p. 21*1 e segs. 3) 2 Prefá cio de Schldzer a: MABLY, Abb é. Von der Art die Getdiichtt zu sthniben Stra $ $ burg, 178 *1, p. 7 (vetsã o alem ã de F. R. Salzmann). 513 ibí d .t p. 13. 5,4 GATTERER, Vom h ístorischcn Plan... (ef. nota 223), p. 25. 5, 3 KRUG, EnzythpSdit (voi. 1), p. 8L

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    qual possamos encará-la com dignidade ” .520 “ História” , portanto, de forma alguma , era apenas conhecimento especial que se restringia ao passado e à sua memória , ela continuava politicamente ativa e apresentava seu desafio social frente aos contemporâ neos, qualidades que adquirira ao final do período iluminista. Por isso, Jacob Burckhardt fundamentou em 1846 sua famosa fuga “ para o belo e indolente sul ” com o argumento de que esse sul “ morreu para a História” .521 A viagem à Itália , portanto, n ão representou uma fuga para a História , mas, sim, para fora da Hist ória - na medida em que Burckhardt procurou se esquivar da aguda crise polí tica Inversamente, Sybel - com o mesmo argumento recor reu em 1889 às suas “ convicções prussianas e nacional-liberais” . Ele esperava que sua Hist ória da fundaçã o do império [alem ã o], “ como visualiza ção detalhada da doenç a e da crise, pudesse servir 522 para o fortalecimento da sa ú de e da concórdia adquiridas” . De forma mais drástica e sem pejo, Treitschke formulou sua intenção an á loga: “ Minha intenção foi destacar com toda ê nfase, dentro do caos dos acontecimentos, os pontos de vista mais importantes - os homens e as instituições, a $ ideias e as mudan ças de destino - que deram origem ao nosso novo povo” [Volkstuin] 52* “ De maneira ainda m3Ís clara que seu predecessor, o presente volume mostra que a História política da Confedera ção Alemã só pode ser observada a partir do ponto de vista prussiano, pois somente aquele que . 524 está numa posição firme consegue julgar a mudanç a das coisas” Após a fundação do império alemão, a disputa entre Treitschke e Schmoller mostra em que medida pressupostos teórico-científicos - e metodológicos - assumem funçõ es políticas e sociais, e podem influenciar a forma em que sã o percebidas. Treitschke argumentava ,



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    Cf. STERN, Jacques (Ed .). Thlbú tu uttd Savigny. Ein prograriimatiseher Rechtsstrcit auf Grund Hirer Schi Ülen (Í914), Darmstad, 1959 (reimpresao); SCHNEIDER , Friedrich (Bd .) Universafstaat oder Nafionalsfaat Machi und Ende des ç rslen dtntsdicn Retches Die Streitschriften von Heinrich von Sybel und Julius Ficker zur dcutscheo Kaiserpolitik des Mittelaltcrs 2. Auft., Innsbruck, 1943 STERN, Thibaut und Savigny, p 137. SCHNEIDER , Unmna\staat. ,% p. 31 WANDER (vol . 1), 1867, p 1593,

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    LUDEN, Hcintidt Binigs Walt fiber das Studitm der vâtetlõndischen Ceschichle Jeua, 1810; reimpress ã o em Darmstadt , s . d , , p. 11, 5JI Carta dc Jacob Burckhardt 3 Hermann Schauenburg, de 28 de fevereiro de 1846 In: BURCKHARDT, Max (cd .). Britft (vol. 2). Basileia, 1952, p 208. 527 SYBEL, Heinrich von. Die Begrihidimg des dtutsehen Reiches dtmh Wilhelm l (voi. 1). Munique / Leipzig, 1889, p XIII e scg. TREITSCHKE , Heinrich von. Deutsche GeschUhte im IVJahrhundert (vol. 1) (1879). Leipzig, 1927, p. VIII.

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    Ibid , vol. 3 (1885), p. VItl.

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    a partir de pressupostos aristotélicos, a favor de uma estabilidade da domina çao, em confronto com uma social-democracia , que Schmoller, por sua vez, tentava conquistar, a partir de teoremas histórico-social-evolucionistas e reformistas. A utilização política direta da “ Historia” , que atingia um ;üP§ C; , WSwy ‘ ampio p ú blico de ouvintes e leitores, só foi possível porque a Historia foi entendida nao apenas como ciência do passado, mas sim como espaço de experiência o meio de reflexão da unidade de a ção social e polí tica que se tem em vista. “ De modo nenhum ” a ciência histórica lidaria “ só com a máscara mortuá ria dos passa- : í; dos .. Compreendendo e compreendido, sua Hist ó ria representa , m para eles , uma consciê ncia de si mesmos, uma compreensão de :\ si. Assim , nossa ciê ncia vai conquistando sua posição e sua tarefa naquilo que está surgindo; aquilo que acontece ao nosso redor e fi i conosco nao é outra coisa que o presente da Hist ória, a Hist ória - i do presente” .525 Ou , numa formulação singela de Schopenhauer: í: “ Somente através da História um povo vem a se tornar plenamente consciente de si mesmo” .526 vl-f Ví y & Aquilo que é vá lido para a consciência nacional burguesa & Marx e Engels tentaram conquistar tamb é m para a consciê ncia ím ti de classe dos trabalhadores, a ser desdobrada por meio da reflexão histórica. Assim , Engels escreveu em 1850, a respeito da guerra i dos camponeses, na Alemanha: “ As classes e frações de classe, que .Vv $ $ & $$ em 1848 e 1849 foram traidoras, por toda parte, já as encontramos, em 1525, como traidoras, mesmo que ent ã o ainda num n ível mais baixo de desenvolvimento”.527 Marx ironizava aquelas “ invocações • dos mortos da Hist ória mundial ” que apenas serviram para a auto estiliza ção pol í tica . “ A revolu çã o social do sé culo XIX n ã o pode ' buscar sua poesia no passado, mas apenas no futuro. As revoluções de antigamente necessitavam da lembrança da Histó ria mundial , a fim de anestesiar seu próprio conteúdo. A revoluçã o do século Mm '

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    m DROYSEN, Johann Gustav Ctstkkhie der pritwUdun Poliiik (vol. 1). Berlim, 1855, p 11! SCHOPENHAUER, Arthur. Die Welt ais \V¡He und Vo/stcllung (1819). í n: S ãnitlUht Wakt (vol 2). M ü nchen , 1911, p. 507. w? ENGELS, Friedrich , per deutsche Bauernkrieg. in; MEW (vol 7), I 960, p. 329.

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    2. Relatividade histó rica e temporalidade Em 1623 Comenius comparou a atividade dos historiadores com um olhar através de um binóculo que , na forma curva de um trombone, tivesse voltado sua lente para trá s. Assim se tentaria buscar no passado ensinamentos para o presente e o futuro. Mas aquilo que impressionaria seriam as perspectivas retorcidas, que mostrariam tudo sob uma luz diferente. Por isso, de forma algu ma seria possí vel “ confiar... que uma coisa realmente se comporta assim como ela aparece ao observador” . Cada um confiaria nos seus pró prios óculos, e disso decorreriam disputas e desavenças.S3°

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    XIX deve deixar que os mortos enterrem seus mortos, para chegar ao seu próprio conte údo” .528 Mas ele próprio produziu acuradas aná lises contemporâ neas - como O Í 8 Brumário de Luís Bompartc , para instruir o proletariado, a partir dos fracassos de revoluções anteriores , e trein á-lo no “ espí rito da nova linguagem” , Dependendo da posiçã o, diferentes passados serviam - e continuam servindo - para a autodefinição política e social, e para os prognósticos que podem fornecer. Mas esse aspecto multifraturado dessa uma História n ão significa , de forma alguma , subjetivismo desenfreado ou um Historicismo, corno o caracterizou Theodor Lessing, em 1921: ele esconderia dentro de si “ a presun çã o adoidada ... de que o pensar um processo é o pró prio processo” .529 Pelo contrá rio, a relatividade de ju ízos históricos na ciê ncia e na pol ítica faz parte dos reconhecimentos que ajudaram a constituir o conceito de Histó ria . Sem preju ízo para a busca da verdade por parte da História , como ciê ncia , a referencia ção às condições de produção do conhecimento a respeito de uma experiência ajudou a descobrir o mundo da História , no século XVIII.

    MARX , Karl Der achwehnie Brumaire des Louis Boiupmo (1852).!n: MEW (vol. 8), I960, p. 115, 117. 5JS LESSING , Theodor Cí iíhtchu ah Staagebung des Sinnlosen Munique , 1921, p. 21. 535 COMENIUS, Johann Amos . Das Labyrinth der Welt und das Paradics des Herzens (1623). In: KOHUT, Pavel (Ed .) Luzcrna / Frankfurt, 1970, 11, 15, p. 105 e legs (vessao alema de Zdonko Baudnik).

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    A transferê ncia da teoria da perspectiva » vinda das ciencias naturais, para a Historie ganhou evid ê ncia no século das guerras religiosas e de seus libelos confessionais na medida em que os autores estavam dispostos a reconhecer posiçõ es dogm áticas como relativas. Mas isso n ão significava que a nova posiçã o, racional e supraconfessional, fosse relativizável. O antigo topos de que o historiador deveria ser apolist isto é apá trida , para poder servir à verdade e apenas relatar “ aquilo que aconteceu ” 531 perpassa, como postulado científico e é tico, todos os séculos. Bayle e Voltaire estiveram t ã o comprometidos com ele quanto Wieland ou Ranke; “ Tudo interdepende: estudo cr ítico das fontes aut ê nticas, concep çõ es apartidar ías, representa ção objetiva ; o objetivo é que verdade plena se fa ça presente ” , ainda que ela nao possa ser atingida de todo.532 O autoafastamento de uma posição partid á ria historicamente sempre se volta contra partidos concretos mas diferentes. Do ponto de vista epistemológico, encontra-se, por detrás do postulado do suprapartidarismo que visa reproduzir a realidade do passado de uma forma próxima à verdade plena, um tipo de realismo ingé nuo. Nã o foi essa inflexão metodologicamente antiga e imprescindível no procedimento da pesquisa de tentar ser suprapartid á rio que construiu o mundo hist órico. Pelo contrá rio, é a referenciaçã o da História a seus próprios pressupostos de conhecimento que resume a História moderna , tanto no campo cient í fico quanto no pré científico, tanto no político quanto no social. Ainda orientado no ideal realista do conhecimento, Zedler escreveu de forma resignada que “ seria dif ícil , quase impossível, ser um historiador perfeito. Quem quisesse sê-lo deveria , se necessá rio, nã o pertencer a uma ordem , nem a um partido, nem a uma pá tria, nem a uma religião” .533 Foi mérito de Chladenius ter demonstrado que exatamente isso é impossível.



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    ó de H. LUKIAN Wit man Gexkkht* sátdben soil Munique, 1965, p. 41, 148 (ver*2o alent Homeyer). > J1 RANKE. Ernieitung Zu den Atwfekten der engltschen Gesehichte In ; S &mtUche We /ke (vol 21) 3 AufL , 1879, p 114. FaimamuStrach (1572 1649), duele» pot ZEDLER vol 13), 1735, p. 286 {verbete “ Historie")

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    Chladenius partiu do princípio de que a Hist ória e a concepo a çã seu respeito costumam coincidir Mas para poder interpretar e julgar uma Hist ória , seria necessá ria uma separa ção ígida: “ A Historia é uma coisa , mas a concep ção a seu respeito é diferente e m ú ltipla” .534 Uma Histó ria em si [Gesehichte an sich] só seria pensável sem contradições, mas qualquer relato a respeito sofreria quebras de perspectiva. “ Aquilo que acontece na Hist ória é visto de diferentes maneiras por pessoas diferentes” .S3S Aquilo que seria decisivo seria se uma interconexã o de acontecimentos é avaliada por um inte ressado ou um estranho, um amigo ou um inimigo, um erudito ou um leigo » um nobre » um burgu ês ou um camponês, por um revolucion á rio ou um sú dito fiel. A partir desse diagnóstico feito a partir do mundo da vida , Chladenius deduz duas coisas: primeiro, a incontorn ável relatividade de todos os “ ju ízos opinativos” , de toda a experiê ncia. Podem existir dois relatos mutuamente contradit órios que reivindicam ser verdadeiros. Pois , “ existe uma razã o para que reconheçamos as coisas de uma forma e não de outra , este é o ponto de vista sobre uma mesma coisa... Do conceito de ponto de vista decorre que pessoas que encaram uma coisa de diferentes pontos de vista também devem possuir concepções diferentes da coisa...; quot capita, lot sensus” 536 Em segundo lugar, Chladenius deriva de sua análise da testemunha ocular e do seu comportamento o perspectivismo da pesquisa e da representa ção posteriores É claro que , através do questionamento adequado de testemunhos contr á rios e através da busca por evidências, deve -se tentar reconhecer a pr ó pria Hist ória [ Gesehichte selbst ) - corn que tamb é m Chladenius reco nhece um moderado ideal realista de conhecimento mas os acontecimentos do passado jamais poderiam ser reconstitu ídos em sua totalidade, através de qualquer representa ção. Sobretudo aquele historiador que queira relatar uma “ Hist ória com sentido” n ão pode evitar que ela seja reproduzida através de “ imagens

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    CHLADENIUS, BMtltuhg cf nota 262), p. 195 Ibid., p. 185; t CHLADENIUS, Allómeme Cí s àiuhtswlssensdiaft (cf. nota 277) p. 151. CHLADENIUS, EitiUUun# .., p. 188 e scg.

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    rejuvenescidas” .537 Ele ter á de escolher, resumir e se servir de conceitos gerais mas, com isso, se expõ e de forma inevitável a novas ambivalê ncias, que por sua vez necessitam de explicaçõ es. Pois, “ quando um escritor de História escreve imagens rejuvenescidas, sempre visa a algo” - algo que o leitor precisa reconhecer, caso queira avaliar a História em quest ão.538 Desde a História vivida até a História cient í ficamente elaborada , “ História” sempre $e concretiza numa perspectiva que possui sentido e que cria sentido, perspectivas nas quais uma remete à outra . Desde Chladenius, os historiadores estavam mais seguros do que até ent ã o para ver na plausibilidade uma verdade própria, exatamente uma forma hist ó rica de verdade. E como devessem ter seu ponto de vista [Sehepunkt ) , tamb é m tiveram a coragem de assumir aberta e conscientemente um “ posicionamento” [SUmdort] . Assim , estava claro para Abbt “ que a História de qualquer povo na Ásia soa diferente que na Europa” .539 Gatterer escreveu uma Ablumdhmg vom Standort und Gesichtspunkt des Geschich( sschreibers [Tratado sobre o posicionamento e o ponto de vista do historiador), um trabalho de compara çã o, no qual Lívio é avaliado à mão de um possível “ Lívio alemão” , 540 Também Schiõzer, Wegelin , Semler ou KÕster falavam de “ ponto de vista” ou “ posicionamento” . Assim també m Hess, em 1744, escolheu um que lhe possibilitasse uma “ forma de conceber” , “ que considerei a mais apropriada, tanto como retrospectiva em rela çã o às coisas do passado quanto como prospectiva em relação às coisas do futuro” .541 Dessa forma, a visã o de Chladenius se transformou num lugar-comum , “ Bngananvse muito aqueles que exigem que um historiador se comporte como algu é m sem religião, sem pá tria , sem família é '

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    ibid , , p . 221 ;‘' Gesdiichti" aqui ainda é plural! 237.

    ABBT, Thomas . Gesdiidne des niemddidien Geahkdits, soweit seibige ti i Europa bekomit wordtn , vom Atifongc der IVelt bis AUFMMSERE ZeiUn . Aus dem grossen Weike der allgemdncn Welthhtorm lusgezogen . In: Alte Historie (VQ [ , 1 ) , Halle , 1766 , p. 219. ÍW GATTERER, j. C, Abhand lung vom Standort und Gtajduspunkt des Gesc hkhtschrcibers oder der teiusche Livius. In: GATTERER » Allgemehie Historisdit Bibihihek ( vol . 5), 1768, p. 219. 111 HESS . johannj2 kob . Von dim Riithe Gouts , Bin Vctsudi Uberden PUn dergdt í lichen Anstahen und Ofíenbarungen (vol . í). Zurique , 1774, p . XXIV.

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    que n ão se deram conta de que est ã o pedindo algo impossível ” O historiador como o próprio participante - n ão conseguiría evitar de trazer consigo seus pontos de vista , que dependem da origem, do status , dos interesses e da posição, de forma que uma Histó ria post euentum sempre se transforma.542 E Chladenius deu mais um passo adiante ao diferenciar o perspectivismo em rela ção à Hist ória da “ narrativa partid á ria ” , que , contra “ o saber e a consciê ncia” , “ distorce e obscurece, de forma premeditada” , os acontecimentos . Uma narrativa apartidar ía també m não pode significar o relato de uma coisa sem pomo de vista , porque isso, simplesmente, não é possí vel ; e narrar partidariamente n ã o pode significar narrar uma coisa e uma História de acordo com seu ponto de vista , porque , nesse caso, todas as narrativas seriam partid á rias” . Com essa constatação de que a formação de ju ízo perspecti vista e o partidarismo n ão são idênticos, Chladenius traçou uma moldura teórica que at é hoje n ã o foi ultrapassada . Pois a exigê ncia da compreensão, o postulado de que també m os outros e o adversá rio devem ser levados em considera ção, a doutrina que, desde Herder, atribui a cada é poca, a cada povo e a cada indivíduo seu pró prio direito essas coisas todas só podem ser cumpridas quando os cri t é rios da forma çã o do ju í zo e da representa çã o n ã o sã o redut íveis a uma simples tomada de partido. Num outro sentido, Chladenius ficou retido na antessala do mundo histórico, cuja hermenêutica fora o primeiro a delinear: sua crítica e suas metá foras do conhecimento se referiam sobretudo ao espaço. A História transcorrida como tal representava , para ele, um objeto inarred ável, para o qual os homens apenas dirigem seu olhar diferenciado Chladenius ainda n ão conseguiu imaginar que tamb é m o transcurso temporal pode modificar ex post a qualidade de uma Hist ória. O componente temporal do perspectivismo, poré m , vai se impondo rapidamente, justamente motivado por Chladenius Gatterer já ficou em duvida: “ A verdade da História se mantém, no essencial, a mesma - ao menos é isso que pressuponho aqui ..., ainda que eu



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