Mato Grosso do Sul, a construção de um estado: poder político e elites dirigentes sul-mato-grossenses [2, 1 ed.] 8576132325

481 47 80MB

Português Pages 255 Year 2009

Report DMCA / Copyright

DOWNLOAD FILE

Polecaj historie

Mato Grosso do Sul, a construção de um estado: poder político e elites dirigentes sul-mato-grossenses [2, 1 ed.]
 8576132325

Citation preview

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

Marisa Bittar

l~ollora Cdlia Maria da Silva Oliveira

MATO GROSSO DO SUL

Vice-Reitor Jorio Ricardo Filgueiras Tognini

a construção de um estado

Obra aprovada pelo CONSELHO EDITORIAL DA UFMS Resolução n• 38/99

Volume2

Poder político e elites dirigentes sul-mato-grossenses

CONSELHO EDITORIAL Dercir Pedro de Oliveira (Presidente) Antônio Lino Rodrigues de Sá Cfcero Antonio de Oliveira Tredezini É/ela Esnarriaga de Arruda G/ancario Lastoria Jackeline Maria Zani Pinto da Silva Oliveira Jéferson Meneguin Ortega Jorge Eremites de Oliveira José Francisco Ferrari José Luiz Fornasieri Jussara Peixoto Ennes Lúcia Regina Vianna Oliveira Maria Adélia Menegazzo Marize Terezinha L. P. Peres M ônica Carvalho Magalhães Kassar Silvana de Abreu Tito Carlos Machado de Oliveira

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Coordenadoria de Biblioteca Central - UFMS, Campo Grande, MS, Brasil)

B624m

Campo Grande-MS 2009

Bittar, Marisa Mato Grosso do Sul, a construção de um estado, volume 2 : poder político e elites dirigentes sul-mato-grossenses/ Marisa Bittar. Campo Grande, MS : Ed. UFMS, 2009. 494 p. : il.; 21 cm. ISBN 978- 85-76 13-232-5

1. Mato Grosso do Sul - História. 2. Mato Grosso- História. 3. Mato Grosso do Sul- Política e governo. 1. Título.

INVESTIMENTO

F1wdotk lr1rahmo1fo1

CDD (22) 98 1.7 1

•Cultunm d~,l!S

r-saed ~?o~~~l~I~!

--- --- ---------------------- . Prefácio

ossa época vive sob o signo da crise e da mudança acelerada. Tudo parece convulsionado e em efe1vescência, ainda que muita coisa não mude e que p artes enormes da população mundial vegetem em um universo d e miséria e horror. As sociedades avançam de forma me io "despolitizada", sem densidade cívica, com muita democracia, mas p o uco espírito republicano. O que é afinal o "mundo público" hoje, para a maioria das pessoas e dos atores sociais? Um local onde todos podem fazer o que bem entendem, em que tudo p ertence a todos e a cada um, ou um a mbie nte d e regras vinculatórias claras, que fixam direitos, mas també m impõem obrigações e deveres? O futuro parece hoje suspenso no ar, tragado pela diluição das esperanças e das utopias, pela reiteração incessante das desigualdades e dos poderes que ferem mesmo quando não conseguem ser produtivos. Na base desse processo, p orém, continuam a correr os rios da vida, impondo novidades e desafios sem cessar, mantendo ativa a positividade das experiências humanas. Nesse contexto, a figura do int~lectual ganha peso e relevância estratégica. Como o mundo ficou complicado demais,

8

MATO GROSSO DO SUL: A CONSTRUÇÃO OE UM ESTADO

surpreende e confunde, chega mesmo a atemorizar, ele precisa SL' r pe nsado, traduzido, explicado em suas múltiplas determinarol..'S e c m se us difere ntes ritmos, mediante su as distintas racio nalidades e sensibilidades, de modo a que seja concebido como um Lodo, e não apenas como um somatório de fragmentos. i'.: d ifícil imaginar a construção do futuro sem a dedicação intensiva dessa figura qualificada p ara esclarecer, educar, agitar idéias e v:1lorcs, totalizar. Isto vale esp ecialmente p ara aquele segmento que p odemos chamar de intelectual público, que não deseja dialogar somc nle com seus pares nem se trancafiar em instituições distanciadas dos tormentos e paixões da vida real, mas que deseja, como falava a poesia de Milton Nascime nto e Fernando Brant, "ir aonde o p ovo está". Ele se dedica a articular em um único corpo o ideólogo e o especialista, o técnico e o humanista , o Leórico dos princípios abstratos e o educador que esclarece. Este 6 o intelectual que um marxista italiano das primeiras décadas do século XX, Antonio Gramsci, definiu com precisão e força cvocató ria: um age nte de atividades gerais que é portador de conhecimentos específicos, um especialista que também é político e que sabe não só superar a divisão intelectual do trabalho como também reunir em si "o pessimismo da inte ligência e o olimismo da vontade". O intelectual públ ico somente pode se realizar a partir da perspectiva da política. Mas não da p olítica como sinônimo de poder ou de mundo dos profissionais da política, mas como campo o nde se disputam as idéias a respeito do viver coletivo e onde sv c.ldine a maior ou menor virtuosidade da convivência entre as pv~so:is e os grupos. Es pecialmente nos estudos históricos e sociológicos - mas 11:10 some nte ne les - , uma pesquisa científica revela sua grandeza v .-.u:1 r ·l,,..,it·os, complexos e desafiadores em si mesmos.

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROS SENSES

9

Ela precisa, antes ele tudo, atender à expectativa de descobrir algo novo, ou seja, alcançar interpretações que modifiq uem o modo d e p e nsar a resp e ito de certos fatos e realidades . Precisa, também, suste ntar uma boa dose de originalidade, d emarcar d e algum mod o uma nova fronteira teórica, revelar aspectos e nuances malco n hecidos, ou mesmo desconhecidos, contrib uindo , desse mod o, p ara avanços e revisõ es. Precisa, p o r fi m, but not least, refletir a máxima busca de rigo r, tanto no que diz resp e ito à obje tivid ade quanto e m termos d a a doção de procedime ntos metód ico s, lógicos e con ceituais re co nhecidos como válidos pela área de conhecimento em questão . E, claro, fazer isto sem prod u zir u m texto hermético demais, inacessível ou incompreen sível. Su a força também depende da sua escrita . Deve haver nela um mix bem-sucedido de convicção, ousadia e determinação. O p esquisador trabalha com hipóteses que pretende confirmar, e que o desafiam , muitas vezes o iludem e o distraem. Esbarra em valores e convicções cristalizadas - em si mesmo, no mundo que o cerca e no próprio objeto que investigará - , que muitas vezes se manifestam como demônios que o cegam e confundem. Deve, p or isso, enfrentar com ousadia as barreiras que a ele se antepõem, disp or-se a contestar e contrastar opin iões consolidadas, correr o risco de morrer na praia e pregar no deserto . Sap ere aude é o dístico que melhor adorna o p órtico de sua morada. Os dois volumes com que Marisa Bittar mergulha na história de Mato Grosso do Sul preenchem com folga e brilhantismo esses requisitos. São o resultado de uma p esquisa p ortentosa, dedicada, minuciosa, à qual a p esquisadora dedicou muitos anos de trabalho - de excitação, d úvidas, revelações e descobertas, sofrime nto, empenho e prazer - , no correr dos quais tomou conta, soberana e inequivocamente, do problema instigante a que se prop ôs.

10

MATO GROSSO DO SUL: A CONSTRUÇÃO DE UM ESTADO

Atuando como competente historiadora, Marisa Bittar definiu com clareza o foco de sua p esquisa. De que maneira as classes dominantes cio sul ele Mato Grosso se organizaram para dese nhar e co nstruir uma estrutura político-administrativa que refletisse seu poder e seus interesses? Como atuaram politicamente as e lites dirigentes sul-mato-grossenses, ao longo de mais de um século, para reforçar a condição econômica daquelas classes, compor uma hegemonia e, por fim, criar seu próprio estado? A "saga divisionista" foi por ela acompanhada quase passo a passo, mediante um exaustivo trabalho de manuseio de fontes - jornais, arquivos p essoais, papéis variados, livros, revistas, entrevistas detalhadas. Marisa pôde, assim, colocar às claras o peso específico elo regionalismo, os interesses e valores que sustentaram a batalha pela formação do novo estado, os traços de psicologia social que animaram o quadro geral, a contribuição decisiva da geopolítica militar que, no âmbito do sistema de rivado da ditadura de 1964, acabou por decidir a favor da criação ele Mato Grosso do Sul em outubro de 1977. Uma de suas conclusões expõe por inteiro o eixo de sua investigação: "O sentime nto de que o sul deveria se separar do restante do então estado de Mato Grosso pareceu ser aos sulistas a solu ção, mas nunca ch egou a se consenso nem mesmo e ntre a classe social que a enge ndrou: os grandes proprie tários ela terra". A sua foi uma pesquisa de história política, mas em sentido amplo. Há muita, e boa, sociologia nela. Há muita, e boa, teoria política. Há muita elegância estilística e vigor literário nela . Marisa Bittar é historiadora por vocação e convicção, não tanto por formação especializada, ainda que tenha muito disto também. Em decorrê ncia, seu texto tem sabor o riginal, seduz o leitor logo nas primeiras linhas, levando-o pelo cenário quase épico de uma longa construção política e cultural. Ao percorrê-lo, vamos descobrindo um Mato Grosso e um Mato Grosso do Sul que pare-

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

11

c iam ocultos p e lo silêncio ou p e lo desconhecimento, mal concatenados em uma explicação totalizante e reveladora. O percurso que vai "do Sul de Mato Grosso a Mato Grosso do Sul" e se completa no livro 2, com o estudo das elites dirigentes e de suas práticas políticas, é contagiante e esclarecedor. Com ele , aprendemos a conhecer a estrutura desse importante pedaço do Brasil e muita coisa da própria história brasileira. Penso, como Marisa Bittar, que há uma recompensa adicional no fato de sua pesquisa ser publicada no momento mesmo em que Mato Grosso do Sul completa 30 anos de existência. As e femérides cumprem a função de chamar a atenção para os tempos longos - para os processos lentos, tensos e contraditórios de que é feita a História-, como se quisessem nos lembrar de que as coisas não começaram ontem nem caíram do céu, mas têm raízes profundas e personagens ele carne e osso, que merecem ser resgatadas e precisam ser conhecidas. A publicação deste belo livro, em um momento emblemático da história do estado, é a melhor forma que a inteligência teórica e o intelectual público encontraram de se fazer presentes nos debates e reflexões que deverão abrir o futuro de Mato Grosso do Sul. Conhecendo e admirando Marisa Bittar há mais de 25 anos, creio poder imaginar como ela se sente: com a consciência de estar realizando a missão do intelectual (aquele de Gramsci, a quem ela, como e u, prestamos tantos tributos), missão esta que se materializa toda vez que se põem ao alcance do público novos e mais rigorosos conhecimentos a respeito daquilo que faz a vida ser vida. Marco Aurélio Nogueira Professor de Teoria e Política da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista - UNESP, Campus de Araraquara

Linha do Tempo Volume 1

Fatos po ntua is da histó ria de Mato Grosso do Sul nos ma is d e ce m anos q ue antecede m a sua criação em 1977. Tema desta o bra em seu primeiro volume: '·Regio nalismo e divisio nismo no sul de Mato Grosso".

14

ldd:i~ e anseios divi:-,io nbta:, surgem no~ confrontos armados e ntre n >1om·is no sul de M:110 Crosso.

1892 até primeira década do século XX

MATO GROSSO DO SUL: A CONSTRUÇÃO DE UM ESTADO

No contexto das lutas tenentistas, proposições de redivisão territo rial do Brasil contemplam o sul de Mato Grosso. Década de 1920

Vespasiano Barbosa Martins e Bertoldo Klinger

João Ferreira Mascarenhas (Jnngo Mascarenhas)

Assembleia Nacio nal Constituinte rejeita a proposição sobre a divisão ele Mato Grosso.

Criação do Território Federal de Po nta Po rã 1946

1932

O sul de Mato Grosso adere à Revolu ção Constitucionalista Paulista. Berto ldo Klinger nome ia, em Campo Grande , Vespasiano Barbosa Martins chefe do Governo Constitucional ele Mato Grosso em apoio a São Paulo.

Outubro-Dezembro de 1932

15

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

Getú'.io Vargas em visita à região da Mate Laranjeira. Território Federal de Ponta Porã.

Deputados sulistas, e ntre os q uais ltalívio Coelho e Oclécio Barbosa Martins, propõem à Assemb le ia Constituinte Estadual que a capital ele Mato Grosso pudesse ser transfe rida de Cuiabá em caso de "calamidade pública" . A pro posição é e ncarada como clivisionismo e rejeitada.

Criação da Liga Sul-Mato-Grossense, que propõe a divisão de Mato Grosso.

Oclécio Barbosa Martins

16

MATO GROSSO DO SUL: A CONSTRUÇÃO DE UM ESTADO

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

V 11:Dla PA\RA IM U ll..TIPLICAR

f

YiMENIO CiVIS!=ittSTA CE11,\IO GR055~_,

1959

O candidato à presidência da República, Jânio Quadros, sul-mato-grossense ele nascimento, rejeita apoio à divisão ele Mato Grosso.

1960

Golpe de Estado. Os militares assumem o poder. Governava Mato Grosso Fernando Co rrêa da Costa (CDN-sul).

1964

Pedro Pedrossian (PSD-sul) é eleito governador ele Mato Grosso derrotando o candidato Lúclio Martins Coelho (UDN-sul).

1965

Estudos geopolíticos do general Golbe1y do Co uto e Silva embasam decisão do presidente Ernesto Geisel de dividir Mato Grosso. O gove rnado r José Fragelli é no tificado.

1974-75

17

• Criada Comissão Especial para supe rvisionar divisão de Mato Grosso e instalação de Mato Grosso do Sul. • Em Ca mpo Grande, Paulo Coelho Machado reativa a Liga Sul-MatoGrossense p ara apoiar a decisão de Geisel.

1977

Sulistas d ivulgam cartaz sobre a divisão de Mato Grosso .

Fernando Corrêa da Cosia (de frente, ao centro) e Pedro Pedrossian (3° da esquerda para a direita).

Jânio da Silva Quadros em Campo Grande. Década de 1960.

Pedrossian (à direita) toma posse na Assembleia Legislativa de MT.

1• reunião da Comissão Especial da Divisão de Mato Grosso

Paulo Coelho Machado preside, em Campo Grande, reunião da Liga Sul-Mato-Grossense. Aesquerda, Aurélio Cance Jr.. vereador eleito pelo MDB e um dos fundadores do PT-MS.

18

MATO GROSSO DO SUL: A CONSTRUÇÃO DE UM ESTADO

---------------------------- . SUMÁRIO

Presidente Ernesto Geisel assina a lei da divisão de Mato Grosso, ern Brasília.

1977 14 de setembro

Aprovado no Congresso Nacio nal o Projeto ele Le i sobre a divisão ele Mato Grosso.

1977 PREFÁCIO.

11 de outubro Geisel assina a Lei ela Divisão ele Mato Grosso.

LINHA DO TEMPO - Volume 1

13

O estado nascido em 1977 1° de janeiro de 1979

Instalação do primeiro governo ele Mato Grosso do Sul. Nomeado por Geisel, Harry Amorim Costa to ma posse como primeiro governador. Divisionista comemoram, em Campo Grande, a criação de Mato Grosso do Sul.

7

"Mato Grosso cio Sul eleve tudo ao boi". . , Concentração fund iária e problemas sociais

33 43

Elites agrárias e p oder político em Mato Grosso do Sul Origens ela relação entre grande propriedade rural e poder político em Mato Grosso do Sul . . . . . "E foram todos trabalhar e m suas fazendas". . . . . "Eu era um fazendeiro de manual". . . "Lo nge da civilização, já adivinhavam o que isto iria se tornar". "Eu monte i um impé rio" . . . . . . . . . . . . . . "Essa classe política poderosa nunca me e ngoliu". . . . . . . .

61

64 71

74 83 91

Na falta de consenso, a "solução técnica" Já empossado como governador, Harry Amorim (à direita), ao lado do presidente Geisel, saúda a população no estádio Morenão, em Campo Grande.

As disputas internas na ARENA e a nomeação do primeiro governador . . . . . O pre ferido pela ditadura o u a "solução técnica"? . A ARENA e o MDB nas eleições de 1978 . . . . . .

108

113 ....

142

20

MATO GROSSO DO SUL: A CONSTRUÇÃO DE UM ESTADO

1977-2007: Chegando aos trinta anos

O s igno ela c rise (1979/ 1982): manobras, articulações e golpes /\s mano bras que derrubaram o governador Hany Amo rim Costa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A d estituição do governador Marcelo Miranda Soare s . . . . . O quad ro político-partidário de Mato Grosso do Sul em 1980 /\ estratég ia continuísta do regime militar e o go verno Pedro Pedrossian . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

21

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

158 179 194

Fim das oligarquias? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Crise financeira, base econômica e indicado res sociais . . Mato Grosso do Sul: pa lco de todos os povos e naçõe s? . Uma revolução silenciosa . . . . . . . . . . . . . . . . .

377 394 410 4 15

CONCLUSÃO . . . . . . . .. . . . . . . . .. . . . . . .. . .. 423

200 CADERNO DE IMAGENS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 443 FONTES E BIBLIOGRAFIA . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . 451

Mato Grosso do Sul no contexto da transição democrática Wilson Barbosa Ma rtins e a o p osição ao regime militar . . . . . . . . . . . A p rime ira e leição para governado r em Mato Grosso do Sul (1982) . . . . . . Wilso n Barbosa Martins e Marcelo Miranda Soares na campanha do PMDB ( 1986) . . . . . . A aliança de Lúdio Martins Coelho e Pedro Pedrossian na campanha do PTB (1986) .

ÍNDICE ONOMÁSTICO . . . . . . . . . . . .. . . . .. . . . . . 483 225 244 25 2

A política sul-mato-grossense n a década de 1990: e ntre o passado e a perspectiva de mudança A tese do "pacto po lítico" de Pe dro Pe clrossian (1994) . . . . . Novame nte entre Ped ro Pedrossian e Wilson Barbosa Martins? A clualiclade que vinha de lo nge . . . . . . . . . . . . . . . . . . O fim ela p olaridade política en tre Ped ro Peclrossian e Wilson Barbosa Martins . . . . . . . . . . .

280 298 307 313

. .

...

Mapa 1 - Municípios de Mato Grosso (1977) . . . . . . . . . . .

28

Mapa 2 - Municípios de Mato Grosso do Sul (1977) .

. . . . . . .

29

Tabela 1 - População urbana e rural de Mato Grosso do Sul (1970-2005) .

43

Tabela 2 - Número de estabelecimentos rurais em Mato Grosso do Sul (1970-1 985) .

48

Tabela 3 - Áreas ocupadas pelos estabelecimentos rurais em Mato Grosso do Sul

(1 970-1 985) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tabela 4 - Eleição para senador em Mato Grosso do Sul (1978) . .

. . . . .

Tabela 5 - Eleição para a Câmara Federal em Mato Grosso do Sul (1 978)

147

Tabela 6 - Eleição para a Assembleia Constituinte de Mato Grosso do Sul (1978) .

148

Tabela 7 - Governadores nomeados de Mato Grosso do Sul .

.

.

192

.

332

Tabela 11 - Eleição para senador em Mato Grosso do Sul (1982) . . .

232 233 233 233

Tabela 12 - Eleição de 1986 para governador em Mato Grosso do Sul .

256

341

Tabela 13 - Eleição para senador em Mato Grosso do Sul (1 986) . . .

257

Tabela 8 - Eleição de 1982 para governador em Mato Grosso do Sul .

.

Tabela 9 - Deputados federais eleitos em Mato Grosso do Sul (1982) .

O Partido dos Trabalhadores no estado do latifúndio A maio ridade cio estado e o "Movimento Muda MS" . . . . . . "Ca ititu fora do bando é comida de o nça ": a de rro ta da esquerda na e leição municipa l de Campo Grande em 2000 . A r(;;c!e ição de J osé O rcírio Miranda d os Santos ao gove rnv estadual em 2002 . . . . . . . . . . . . . . . . . /\ derro ta do PT para a prefe itura de Campo Grande e m 2004 . /\ d errota do PT e a volta do PMDB ao Exe cutivo esta dual nas ele ições de 2006 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

49 145

.

Tabela 1O - Deputados estaduais eleitos em Mato Grosso do Sul (1982)

259

Tabela 14 - Deputados federais eleitos em Mato Grosso do Sul (1 986) .

346 354 360

.

260

Tabela 16 - Eleição de 1990 para governador em Mato Grosso do Sul . . .

269

Tabela 17 - 12 turno da eleição presidencial em Mato Grosso do Sul (1989) .

271

Tabela 15 - Deputados estaduais eleitos em Mato Grosso do Sul (1986) .

22

MATO GROSSO DO SUL: A CONSTRUÇÃO DE UM ESTADO

Tabela 18 - 2• turno da eleição presidencial em Mato Grosso do Sul (1989) . . .

271

Tabela 19 - Deputados federais eleitos em Mato Grosso do Sul (1990) .

273

.

Tabela 20 - Deputados estaduais eleitos em Mato Grosso do Sul (1990) .

273

Tabela 21 - Eleição para governador em Mato Grosso do Sul (1994) . . .

291

Tabela 22 - Senadores eleitos em Mato Grosso do Sul (1994) . . . .

292

Tabela 23 - Deputados federais eleitos em Mato Grosso do Sul (1994) . . . . .

293

Tabela 24 - Deputados estaduais eleitos pela Frente Partidária (1994) . .

293

Tabela 25 - Deputados estaduais eleitos pela Frente Popular (1994) . . . .

294

Tabela 26 - Deputados estaduais eleitos pela Frente de Esquerda (1994) . .

294

Tabela 27 - 1• turno da eleição presidencial em Mato Grosso do Sul (1994) .

295

Tabela 28- 1• turno da eleição presidencial no Brasil (1994) . . . .

296

Tabela 29 - Governadores de Mato Grosso (1947-1965) . . . . . .

309

Tabela 30 - 1• turno da eleição para prefeito de Campo Grande (1996) .

313

Tabela 31 - 2• turno da eleição para prefeito de Campo Grande (1996) .

313

Tabela 32 •- Prefeitos de Campo Grande (1983-2008) . . . . . . .

314

Tabela 33 - 12 turno da eleição para governador em Mato Grosso do Sul (1998) .

316

Tabela 34 -2• turno da eleição para governador em Mato Grosso do Sul (1998) .

317

Tabela 35 - Eleição para senador em Mato Grosso do Sul (1998) . . . .

318

Tabela 36 - 1• turno da eleição presidencial em Mato Grosso do Sul (1998) .

318

Tabela 37 - Deputados federais eleitos em Mato Grosso do Sul (1998) . . . .

318

Tabela 38 - Deputados estaduais eleitos em Mato Grosso do Sul (1998) . . .

319

Tabela 39- Eleições para governadores em Mato Grosso do Sul (1982-1994) .

330

Tabela 40 - Eleição para prefeito de Campo Grande (2000) • . . . . . . . Tabela 41 - 1• turno da eleição para governador em Mato Grosso do Sul (2002) .

343 .

346

Tabela 42 - 1• turno da eleição presidencial em Mato Grosso do Sul (2002) .

347

Tabela 43 - Eleição para senador em Mato Grosso do Sul (2002) . . . .

347

Tabela 44 - Deputados federais eleitos em Mato Grosso do Sul (2002) . . .

349

Tabela 45 - Deputados estaduais eleitos em Mato Grosso do Sul (2002) • . .

350

Tabela 46 - 2• turno da eleição para governador em Mato Grosso do Sul (2002) .

352

Tabela 47 -2• turno da eleição presidencial em Mato Grosso do Sul (2002) . . .

353

Tabela 48 - Eleição para prefeito de Campo Grande (2004) . . .

356

. . . . .

Tabela 49 - 1• turno da eleição para governador em Mato Grosso do Sul (2006) .

.

365

Tabela 50- 1• turno da eleição presidencial em Mato Grosso do Sul (2006) .

367

Tabela 51 - 1• turno da eleição presidencial no Brasil (2006) . . . . .

368

Tabela 52 - Eleição para senador em Mato Grosso do Sul (2006) . . . . .

368

Tabela 53 - Deputados federais eleitos em Mato Grosso do Sul (2006) . . .

369

Tabela 54 - Deputados estaduais eleitos em Mato Grosso do Sul (2006) . .

370

Tabela 55 - 2• turno da eleição presidencial em Mato Grosso do Sul (2006) .

373

Tabela 56 - 22 turno da eleição presidencial no Brasil (2006) . . . . . .

373

Tabela 57 - Governadores eleitos de Mato Grosso do Sul (1982-2006) .

382

Tabela 58 - A crise financeira de Mato Grosso do Sul (1995-2006} .

397

Tabela 59 - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Brasil e Mato Grosso do Sul, 2007) . . . . . . . . . . . . .

400

Tabela 60 - Dados sobre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (2006) . . . . Tabela 61 - População urbana e rural de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul .

402 .



407

-----------------------------.

Capítulo 1

O estado nascido e1n 1977 o livro anterior a este tratamos da trajetória divisionista ocorrida no sul de Mato Grosso uno que, depois de quase um século, resultou na criação de Mato Grosso do Sul. Sua origem remonta à própria formação histórica do sul de Mato Grosso, uma vez que o regionalismo foi a sua característica intrínseca, consistindo na causa mais remota que transformou o sul de Mato Grosso em Mato Grosso do Sul. Pelas condições nas quais se forjou, o regionalismo recrudesceu e acabou se tornando um divisionismo que poderia ou não dar certo: o dia 11 de outubro de 1977 foi a sua vitória. Entretanto, o divisionismo era apenas uma das possibilidades do processo histórico, pois nada assegurava que ele tivesse força suficiente para fazer dessa região um novo estado da federação brasileira, conforme demonstramos. Mas por que, então, a sua vitória? Desde que começou o processo de povoação do sul de Mato Grosso por mineiros e paulistas, no século XIX, o regionalismo esteve presente. Isolados da capital do estado, especialmente com dificuldades para legalizar suas p osses, esses povoadores passaram a empregar a expressão "norte" como si-

24

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

nô nimo d14, orgulha-se o a utor. Mas a m odernização n ão p arou no trato r. A p artir da década de 1950, segundo Re nato Alves l{ibeiro, o fazendeiro pantaneiro, considerando a inexistê ncia de estradas tran sitáveis, teve que apelar para o transporte .16reo. Dois deles, Laucídio Coelho e Etalívio Pereira , "desc iam e m qu ase todas as fazendas, quer tivessem campo d e .1viação o u n ão" 15 . A "onda aviatória" fez co m que logo se construísse um campo de p ouso na Fazenda Taboco e no início dos anos de 1950, seu irmão Fernando comprou um avião. O autor, logo depois, comprou o seu, o que aumentou o tráfego aéreo na f':izenda: / Também senti necessidade de ter o meu avião para a compra de gado, que estava iniciando com grande entusiasmo L..]. Esse entusiasmo pela aviação, essa onda aviatória contagiou também alguns pequenos criadores16•

Por "pequenos criadores", o autor cita o caso de um fazendeiro que possuía 500 vacas no Pantanal. A família Alves Ribe iro exerceu influência na política mato-grossense desde o final do século XIX, quando o coronel J ejé se d estacou como poderoso chefe político no sul do vstado aliando-se a Generoso Ponce para combater os seus adversários na região. Igualmente o filho, José Alves Ribeiro, rnro nel Joselito, ou simplesmente Zelito, distinguiu-se na atividade política. No início do século XX, em 1915, logo del•I ALVES RIBEIRO, Renato . Tabaco 150 anos. balaio de recordações, p . 182. l 'i ALVES RIBEIRO, Renato. Tabaco 150 anos: balaio de recordações, p. 189.

13 ALVES RIBEIRO, Renato. Tabaco. 150 anos, p. 86.

16 ALVES RIBEIRO, Renato. Tabaco 150 anos: balaio de recordações, p.

l')1-193.

68

PODER POlÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

pois de casar-se com a filha d e Pedro Celestino Corrêa da Costa, duas vezes preside nte de Mato Grosso 0908-1911 e 1922-1924) 17 , engajou-se no combate à "revolu ção do Gomes", em Bela Vista, fronteira com o Paraguai, onde se exilou por haver perdido a primeira batalha. No exílio, recebeu recursos do sogro, inte ressado e m derrotar o cau dilho opositor do govern o estadual. Assim, orga nizaram-se as forças que, d e volta ao Brasil, venceram os rebeldes em 1917. A partir de e ntão, José Alves Ribe iro praticam ente aba ndo n ou a atividade p ecuarista de dicando-se integralmente à p o lítica, conforme narra seu filho: Assim, retornou a paz ao Estado e foram todos trabalhar em suas fazendas. Essa luta veio acender nele Uosé Alves Ribeiro) o gosto pela política, passando daí a tomar o lugar do seu velho pai na chefia do partido em Aquidauana e adjacências. Numa elas eleições fez-se Deputado Estadual(...). Tomando gosto pela po lítica, essa passou a ser a sua principal atividade, deixando o Taboco entregue ao compadre Luiz, seu cap ataz (...) 18.

Notamos que as lutas políticas e m Mato Grosso eram protagonizadas por grandes proprietários rurais, quando o autor menciona que , retomada a paz, "foram todos trabalhar em suas fazendas". Quanto ao título de "coronel", do "qual tinha muito orgulho", foi-lhe outorgado por haver combatido "a famosa Coluna Prestes" 19 na região sul do estado, conforme Renato Alves Ribeiro. Em 1930 apoiou Getúlio Vargas e permaneceu-lhe fiel, inclusive colocando-se contrário ao movimento de 1932: 17 Considerado por Renato Alves Ribeiro o maior chefe politico de seu tempo. Para Paulo Coelho Machado, Pedro Celestino foi ·'um constante amigo de Campo Grande [...) sem pendor para a 'cuiaba nidade', q ue ta nto e ntravava o progresso sulino e do próprio Estado". MACHADO, Paulo Coelho. A rua velha, p. 185.

1 LITES AGRÁRIAS E PODER POLITICO EM MATO GROSSO DO SUL

69

Voltou o Coronel Joselito a ser novamente o coronel incontestável de Aquidauana . Mandava e desmandava na política local. Nomeou o seu amigo e parente, Manoel Alves de Arruda prefe ito municipal e o seu velho e leal correligionário, Juca Mota, o delegado de polícia. Com a revolução de 32 em São Paulo, o papai, getulista, apoiou o Gove rno Central e o do Estado de Mato Grosso, instalado em Cuiabá [.. .]. Em trinta e sete ainda continuava apoiando a situação20 •

Assim, em 1932, e le não ap oiou a adesão do sul de Mato 0 GONÇALVES, Valdomiro. Entrevista. Campo Grande, 28 fev. 1996. '\ 1

Peleja. O Estado de São Paulo, São Paulo, 5 jul. 1996. Caderno A, p. 6.

'\2 Eram elas: Santa Lurdes, 8.782 hectares; Estância Tara, 7.892 hectares; Faz.

\ límoso, 5.013 hectares; Pingo de Ouro, 1.576 hectares; Harmo nia, 12.858 hlTlares e Po ntal do Sossego, 2.000. Receita Federal. Campo Grande, 1986.

84

PODER POLITICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

1 I ITI S AGRÁRIAS E PODER POLITICO EM MATO GROSSO DO SUL

da região foram seu pai Laucíclio Coelho e seu tio Etalívio Pere ira, irmão de sua mãe, conforme relembrou ele o começo da família em Mato Grosso: Meu avô veio ele Minas muito pobre. Naquele te mpo vinha ele carreta, ele carro ele boi. O destino das famílias era a Vacaria, os campos, porque mata não tinha valor. Era campo nativo pra gado. Eles vieram e pararam na região ele Paranaíba. Meu pai nasceu em Paranaíba. Eles paravam dois, três anos, fazendo roça, colhiam cereais. A roça era derrubada no machado, né. De lá, eles vieram pra cá. Aqui em Campo Grande ficou um pouco da família Pereira. Eu sou Pereira. Minha mãe era Pereira. Ficou aqui na beira desses "corgos" [córregos]. Aqui não existia Campo Grande. E o restante foi para a região ela Vacaria, lá no Passatempo onde hoje é uma usina de álcool. Lá o meu avô era muito pobre . Ele não tinha nada. Fizeram uma posse e depois venderam pra um Barbosa, o pai do Emílio Barbosa [... ) e o me u avô veio para a fazenda Bela Vista, ali peito da Nova Alvorada, no entroncamento, 15 quilômetros para a direita. Lá ele começou a posse. O meu pai foi pra Cuiabá, pegou o barco aqui em Aquidauana [...] levou seis meses pra ir e voltar em Cuiabá. Foi lá pra legalizar as terras, a posse 53 .

Após essa legalização, as posses foram aumentando rapidamente, seja no sul do estado seja no norte. Uma parte dessas propriedades, porém, foi vendida durante a crise econômica do pós-guerra para saldar dívidas. A família, de doze filhos, segundo seu relato, "progrediu bastante" às custas do trabalho de todos eles, incluindo as irmãs mais velhas, "que ficaram solteironas porque cuidaram das crianças mais novas", e a mãe, semianalfabeta. Sobre a infância, o fato de ter conhecido a cidade aos 14 anos de idade e a pouca formação escolar, contou: Nessa época é que a mamãe aprendeu a ler e escrever. Ela nunca esteve na esco la. O papai escrevia e ela não. Um tio meu, o tio Film ino, ensinou. Ela escrevia muito mal, coitadinha, muito mal [chora). Nós

53 COELHO, Lúdio Martins. Entrevista. Campo Grande, 15 fev. 1996.

85

nascemos os d oze filhos lá na fazenda Bela Vista. Fizemos o curso primário lá[. ..). Eu fui conhecer a cidade eu já estava com quatorze anos. Nós fomos criados no mato. Nós trabalhamos em tudo que é trabalho, tudo que é serviço[...]. Eu fui fazer o ginásio em Campinas e estudar Veterinária em Viçosa [...] o clássico chamava-se Complementar [...) havia um senso de responsabilidade muito grande porque aquilo e ra caro. Caro pro governo. O aluno, na medida em que não ia tendo média, ia embo ra [. ..] nós éramos dezessete, passaram dois. Eu e ra o terceiro [...]. Cheguei aqui falei pro papai: "não deu, eu não estudei". E eu disse que se ele aceitasse e u queria ficar trabalhando com ele. E fiquei. Então eu só tenho o ginásio. Não tenho mais nada54 .

Percebemos que o fato de haver trocado os estudos pelo , .,mpo, onde então permaneceu, é a razão de considerar o prep .11 0 feito no próprio campo como aspecto fundamental para o •,uccsso da sua atividade, coisa diversa dos Barbosa Martins, que lrn,t m "estudando" e "indo pra cidade". O aumento das posses , 1, ·vcu-se, .segundo suas palavras, a "um nome muito bom" e ao 11.1halho de todos os membros da família. A propósito, no livro l ,111cídio, um desbravador, o autor Antônio Barbosa de Souza publica documentos atestando as propriedades de Laucídio em l1n-; de 1941, nos quais se pode constatar a movimentação de , ompra de fazendas e de gado, desde 1924. No município de 1 Bertin, de Lins, SP, considerado o maior processador de , .1rne bovina congelada do país. Em Mato Grosso do Sul, pos,11 i a Fazenda Santo Antônio, invadida em março de 1997, por 1 v rc:a de 2.000 sem-terra, que reivindicavam uma área excedenh' ele 5.000 hectares, pois, segundo o Movimento dos Semii'rra, o registro do imóvel no INCRA certificava 19.900 hecta11",, e mbora a fazenda ocupasse 25.500. Durante a ocupação, 11111 dos sócios disse: Não podemos falar e nem mesmo pensar em perdas porcentuais. Se você perder 1% num dia em que foram abatidos 900 bois, você perdeu 9 bois; num mês com 22 dias de abate, o p rejuízo será de 198 bois 62•

Outro grupo da moderna agroindústria brasileira, o Nova \111(·rica, quinto maior produtor de açúcar do país, também protl 11 1, gado de corte em Mato Grosso do Sul. Seu rebanho é com111 1•,to de 54 mil cabeças e o rodízio de pastagens garante mais ljlll los de carne por hectare, portanto, maior produtividade. A 111 11ic:a permite rendimento até 20% maior do que em manejo • , 1v nsivo, com os bois soltos no pasto . "O grande lance do 1111•1r:1do é o giro rápido da mercadoria, no caso, o boi gordo", li e t )EJ.1 10,

Lúdio Martins. Entrevista. Campo Grande, 15 fev. 1996

1 t t )l(U-IO,

Lúdio Martins. Entrevista. Campo Grande, 15 fev. 1996.

, ' 1 ,111: nda 1 ,

Santo Antônio faz parte de grupo-modelo. O Estado de São Paulo.

1•,1ulo, 23 mar. 1997. Caderno A, p. 29.

90

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

explica o gerente elo empreenclimento 63 . Será a manutenção elo manejo extensivo, com os bois soltos no pasto, rendendo 20% menos, uma elas formas ele "incompetência ela gente" e fator explicativo ela substituição elas "grandes fortunas" ele Mato Grosso, que, segundo Lúclio Martins Coelho, "estão sendo substituídas [. ..] pela gente ele fora"? Mas o nosso objetivo aqui não é a "gente ele fora", portanto, voltemos ao tema que nos interessa, qual seja, a base econômica sobre a qual se estabeleceu o domínio elos dirigentes políticos sul-mato-grossenses até 1998. Concentrando nossa atenção para o concerto político orquestrado em Mato Grosso uno, encontraremos teias de relações tecidas entre as famílias desses mesmos dirigentes. A de Lúdio Martins Coelho, por exemplo , ligou-se, por laços matrimoniais, à família de Rachid Saldanha Derzi, de origem árabe, economicamente poderosa, famosa pela excelência ele seu gado nelore, e politicamente influente até o final ela década ele 1990. Rachicl, cunhado ele Lúdio, acumulou, até 1994, data em que perdeu as e leições para senador, 50 anos ele vida pública, elos quais 42 consecutivos64 . Foi deputado estadual e federal (UDN), além ele senador (ARENA). Após o impeachment que afastou Fernando Collor ele Mello ela presidência ela República, em 1992, ele e o filho, o deputado federal Flávio Derzi, foram investigados e absolvidos pela Comissão Parlamentar ele Inquérito (CPI) do Congresso Nacional, por denúncias de envolvimento em irregularidades relativas ao Orça-

111f l.S AGRÁRIAS E PODER POLÍTICO EM MATO GROSSO DO SUL

91

111vnto da União. Flávio era acusado de sonegação fiscal, uso 111clcvido de recursos elo Orçamento e exploração ele prestígio 11.1 obtenção de empréstimo no Banco do Brasil. Seu nome chegou a constar do rol ele 17 deputados indicados para cassação. 1 >vstes, seis perderam os mandatos; quatro renunciaram 65 . A CPI 1·, d uiu Rachicl Saldanha Derzi ela lista, concluindo que ele era um homem muito rico". Suas declarações ele renda incluíam ,ll0m ele mais de dez fazendas, 42 mil cabeças ele gado" e fll•gócios "com fazendeiros ela Argentina e do Paraguai"66 .

"Essa classe política poderosa

nunca me engoliu" Em meio a esses grupos dominantes, cuja origem, como , 11nos, remontava aos primeiros tempos do povoamento não índ 10 no sul ele Mato Grosso, começaram a chegar na reaião mais , b ' 110 final elo século XIX, a~ levas ele imigrantes estrangeiros. Dessa 1111portante corrente povoadora surgiu aquele cujo ingresso no 1 vnário político mato-grossense foi anunciado como um fato con11.1 rio às oligarquias que dominavam Mato Grosso. Foi sempre 1 ",ll' o discurso sustentado por Pedro Pedrossian, o que, em parte,

C:tssados: Fábio Raunhetti (PTB-RJ), Feres Neder (PTB-RJ), Carlos Benevides Ibsen Pinheiro PMDB-RS), Raquel Cândido (PTB-RO) e José Gel lido Ribeiro (PMDB-MG). Renunciaram aos mandatos: Cid Carvalho (PMDB\ 11\ l, Genebaldo Correia (PMDB-BA), João Alves h

H.1chicl ajuda CPI a descobrir fraudes. Con-eio do Estado. C. Grande, 8-9 jan.

1'11) 1, p. 2.

92

PODER POLÍT ICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

como veremos, é verdadeiro. Em 1978, após ter sido eleito senador, assim discursou ele sobre as oligarquias que derrotara em 1965 quando se elegeu governador de Mato Grosso: Um dos objetivos da preservação do Poder pelas oligarquias tradicionais, em Mato Grosso, até o ano de 1965, quando fui eleito Governador do Estado, era a manipulação de terras públicas em benefício ele interesses pa1ticulares. A questão fundiária matogrossense chegou a atingir situação de verdadeira calamidade pública. A história do Dep artamento de Te rras do Estado de Mato Grosso registra o desmonte da máquina de favorecimento, justamente no meu governo. Meus antecessores, com honrosa exceção, d istribuíram, através daquele famigerado departamento, milhões de hectares de terras públicas, q uase sempre a parentes e apaniguados políticos. Usava-se, para isso, documentação duvidosa, títulos ''frios" e até mesmo títulos assinados em branco para serem, posteriormente, preenchidos pelo favorecido [...). Minha primeira providência governamental, foi o fechamento incontinenti do Departamento de Terras [.. .). Fechar aquele Departamento [...] foi ferir, mortalmente, os interesses do clã político que se revezava, encastelado no Poder (grifo do autor)6".

Como lemos, Pedrossian alude aos seus antecessores que, "com honrosa exceção", beneficiaram parentes e amigos na concessão ele terras públicas. Vejamos, em rápida síntese, como isso transcorreu no período, lembrando, de início, a informação contida no capítulo anterior segundo a qual a p olítica de concessão de terras nessa época favoreceu o aumento dos grandes imóveis rnrais. Pois bem, o governador Arnaldo Estevão ele Figueiredo (PSD/ sul), eleito em 1947, e que "não pôde fazer obra ele relevo"68 por haver preferido não concluir o mandato para concorrer a uma vaga ele senador, deu início à criação de colônias agrícolas, momento em

1 1 ITES AGRÁRIAS E PODER POLÍTICO EM MATO GROSSO DO SUL

93

quc houve "uma corrida em busca de terras devolutas do Estado, l o m a valorização que estavam conquistando", disso resultando "o povoamento de regiões até então desconhecidas, mas também o 1 k-spertar de ambições na sua aquisição, para negócios lucrativos, propiciadores de enriquecimento fácil"69 . Já o governo de Fernando Corrêa da Costa (UDN/ sul) que, p:1ra Demósthenes Martins, foi "inegavelmente um governo de povoamento das terras do Estado"7º, "impulsionou a exploração 1k L erras, instituindo o plano de reserva de grandes áreas devolutas, q ue eram concedidas a empresas, exclusivamente pessoas jurídicas, que se comprometessem a colonizá-las, dividindo-as em loLcs que não poderiam ter área superior a 2.000 hectares"71 • Essa diretriz, segundo o autor, sofreu crítica violenta de seus opositores políticos, que alegavam desrespeito à Constituição, que proibia a ,oncessão de terras de mais de 10.000 hectares sem licença do Sl:nado Federal. O mesmo Demósthenes, todavia, transcreve men•,,1gem do então governador justificando a lisura das concessões, pois os títulos expedidos a colonos não ultrapassavam 2.000 hec1.1res, e, segundo ele, o que se consumava era um contrato de 1 !lio nização em que as empresas se obrigavam a colocar nas 1vrras os colonos que as viessem povoar. Já no governo seguinte, 1, c.le João Ponce de Arruda (PSD/ norte), ainda de acordo com o .1uLor no qual estamos nos baseando, "voltou a vigorar o velho processo de venda das terras devolutas do Estado a qualquer 1vquerente, indiscriminadamente. O sistema instituído pelo seu ,11H\.'cessor foi proscrito. Grandes áreas se alienaram a adquirentes q11c Linham por preocupação única negócios imobiliários futuros, p,1ra fácil enriquecimento"72 .

h'l MA RTINS, Demosthenes. História de Mato Grosso, p. 120. ri MARTINS, Demosthenes. História de Mato Grosso, p. 121.

67 PEDROSSIAN, Pedro . Um plebiscito da dignidade e da honra. Brasília, 1978. p. 15.

' 1 MA RTINS, Dem osthenes. História de Mato Grosso, p. 120.

68 MARTINS, Demosthenes. História de Mato Grosso, p. 120.

'! MARTINS, Demosthenes. História de Mato Grosso, p . 126.

94

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

Arrolando desse modo os governos da época, Demósthenes fornece elementos para constatar que, de fato, a concessão de terras devolutas constituía um sério problema e reforça a análise segundo a qual a política empregada no período não contribuiu para a desconcentração fundiária 73. De acordo com as suas informações, a questão tinha origem no governo de Arnaldo Estevão de Figueiredo, tendo se agravado no de João Ponce de Arruda. Mas aqui, todavia, não dispomos de elementos suficientes para uma análise minuciosa sobre a acusação de Pedrossian. Quanto ao "clã" político que se revezava no poder estadual, conforme as suas palavras, eram exatamente os grupos ligados à União Democrática Nacional e ao Pa1tido Social Democrático. Os primeiros com inserção maior no sul enquanto os últimos, no norte. Pedrossian afirma ter desbancado os dois, o que não deixa de ser verdadeiro, embora tenha iniciado pelas mãos do PSD. Mas, uma vez no poder, criou um dos fenômenos mais duradouros da política sul-mato-grossense: o pedrossianismo. Em um quadro extremamente polarizado na política mato-grossense de 1945 a 1964, e no qual Pedrossian era ausente, é de se perguntar: qual a origem desse fenômeno? Voltemos à história. Enquanto se consolidava o povoamento do sul de Mato Grosso por meio de levas migratórias mineiras e paulistas, de um lado, e mato-grossense do norte, de outro, começaram a adentrar, no final do século XIX, as primeiras correntes de imigrantes estrangeiros, sobretudo, japoneses, italianos

73 O autor não menciona a questão da terra no segundo governo de Fernando Corrêa da Costa (eleito em 1960). Descreve-o como um período de realizações educacionais, destacando-se a expansão do número de escolas e a criação da Faculdade de Odontologia e Farmácia, em Campo Grande. Aplaude, ademais, a sua postura favorável ao 31 de março de 1964. Quanto ao governo ele Pedro Peclrossian (1966-1971), igualmente, não cita questões relacionadas a terras. Cita os seus contrastes, admitindo ter realizado "construções notáveis". MARTINS, Demosthenes. História de Mato Grosso, p. 129-137.

1 1ITES AGRÁRIAS E PODER POLÍTI CO EM MATO GROSSO DO SUL

95

t • :í rabes.

Paulo Coelho Machado relata, por exemplo, que durante .1 guerra da Tríplice Aliança uma colônia italiana já tinha presen~ .t '> hábitos culturais dessa corrente tornar-se-iam muito fo1tes em c·,1mpo Grande. Também de grande expressão é a colônia árabe, da qual se '>obressaíram os libaneses. Ignoradas as distinções entre nacionalidades, no Brasil, todos, árabes e não árabes, passaram a ser , ll:unados de "turcos". No caso dos armênios, porém, essa deno11 ii nação não deixa de surpreender se considerarmos que eles li ,ram vítimas da guerra desencadeada exatamente pelos turcos 1•111 1915, o que causou grande êxodo de sua população. A explii .1ção para o fato de aqui serem chamados de "turcos" talvez 1,·-,ida em uma contingência insólita, ou seja, eles terem deixado a \ t mênia munidos de passaporte do Império turco, uma vez que o 11,tís era dominado por ele. Em 1918, com a vitória da revolução

livro sobre o cinquentenário da imigração japo nesa no Brasil, um memfamília Guenka, numerosa em Campo Grande, conta os sofrimentos \lv 1d os nesse trabalho, além do medo "das onças", da fadiga causada pelo , \ t•L'mo calor e outros. A família, ao chegar na América do Sul, entrou primei'" 11: 1 Argentina , mas acabou transferindo-se para o Brasil por acreditar em um ll ll uro melhor". Eis o que diz Guenka: "Atendendo a um agenciador de bra~11•,, q ue procurava trabalhadores para a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, oi,· 1 do Sul começava a preocupar e a constar das maté rias do rreio do Estado, que revelava clara prefe rê ncia pelo grupo de 1\:drossian.

Eis uma d elas:

Canale é inimigo pessoal de Pedro Pedrossian. Mas Fragelli, ninguém entende sua posição: foi Pedro Pedrossian quem foi buscá-lo em Aquidauana, já afastado da política por insucessos anteriores, para: levá-lo ao governo de Mato Grosso, o maior sonho de todos os políticos. O que se esperava era gratidão, ou, na pior das hipóteses, uma posição defensiva, mas nunca agressiva (. ..] passa-se então a acreditar que Fragelli gostou do governo e está lutando, embora incorretamente, para voltar ao poder. Fragelli esteve na semana passada com o chefe do SNI, Figueiredo, cotadíssimo para substituir Geisel, para abrir baterias contra Pedrossian. Jamais um político teve a vida tão devassada quanto Pedro Pedrossian. O SNI vasculhou sua vida de cima abaixo até durante um dos períodos mais críticos da Revolução que punia todos os com1ptos, mas foi absolvido das acusações. Canale

,> - . ., ··:~,~ C'n .

5 Fragelli confirma cisão da ARENA do MS. Correio do Estado. dez. 1977, p. 3.

' i\lACI !ADO,

Paulo Coelho. Entrevista. Campo Grande, 4 jan. 1996.

~.

PODER POLITICO E ELITES DIRIGENTES SUL·MATO-GROSSENSI:',

114

e Fragelli duvidam da honestidade dos dirigentes que conduziram ª" investigações e inocentaram Pedro Pedrossian8 •

A alusão à "vida devassada" diz respe ito ao fato de quv Pedrossian, quando exerceu o cargo de governador de Mato Grosso (1966-1971), fora indiciado em processo de corrupção e demitido do cargo de enge nheiro da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, a bem do serviço público. O processo referia-se ao período em quv ele ocupara nela o cargo de diretor-superintendente da mesma, em Bauru (SP), de 1961 a 19649 • O resultado foi a sua exclusão cio quadro do funcionalismo ferroviário por ato da Presidência da República, em 1967. Eis o teor do ato: O Presidente da Re pública, tendo em vista o que consta do p rocesso da S.S.N n. 470, de 1967, referente à Estrada de Ferro Noroeste cio Brasil, do Ministério da Viação e Obras e Públicas, resolve DEMI11R, de acordo com o artigo 207, ite ns I, VI e X da Lei Nº 1.711, de 28 d. 1ALTA DE CONSENSO, A "SOLUÇÃO TÉCNICA"

Golbe1y não nomear Pedro Pedrossian. O Dr. Fernando era um homem engraçado e falou: "Golbery, vocês nomeiem o homem como embaixador em Paris, mas não o ponham lá no governo de Mato Grosso do Sul porque se vocês o puserem lá é a mesma coisa que entregar a chave do cofre pra ele!". O Golbety achou muita graça, ele era um homem interessantíssimo, que cabeça que ele tinha! Aí, quando nós íamos saindo, ele chamou assim: "Fernando, ô Fernando!" Aí nós todos nos viramos e ele disse rindo: "Fernando, então não pode, né?" fazendo com a mão o gesto de abrir o cofre 27 .

A tentativa de obstrução de seu nome pelo governador José e;,1rcia Neto levou-o ao Planalto onde se defendeu das acusações, 1.d como registra o Dicionário histórico-biográfico brasileiro: As divergências entre as facções arenistas levaram o ex-gove rnador ao Palácio do Planalto em fevereiro desse ano (1978] para entregar ao presidente da República um documento em que se defendia das acusações que lhe eram feitas pelo governador José Garcia Netto, pelo ex-governador José Fragelli e pelo senador Antônio Mendes Canale. Estas acusações caracterizavam sua administração como um período de irregularidades administrativas, com apropriação de terras públicas e importações de materiais que não chegavam a ser utilizados, e afirmavam ainda que fora demitido da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, em 1967, por corrupção28 •

O grupo de Fragelli conseguiu apenas retardar a nomeação 1 k- Pedrossian. E isso enquanto Geisel foi presidente porque o seu •,1 ,ccssor, além de acreditar qu e ele era o único capaz de evitar 11 1rn1 vitória da oposição sul-mato-grossense em 1982, tinha uma 1·..,pécie de dívida moral para saldar proveniente de homenagens 1>1'l'Stadas por este ao falecido pai de Figueiredo, Euclydes 1 1gueiredo. Consta que João Baptista Figueiredo era inimigo de 1 ilinto Müller por este ter reprimido seu pai em 1932. Desejoso de

25 Respectivamente em matérias dos dias 4 e 10 de jane iro de 1978. 26 Marcelo : que democracia é esta? Correio do Estado. Campo Grande, 15 jan. 1978, p. 2.

123

•/ l·IMGELLI, José M. F. Enti·evista. Aquidauana, 4 nov. 1995. 'H l'cdro Pedrossian. Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro, p . 4492.

124

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

reabilitar a sua memória, recorrera a Pedrossian quando este governava Mato Grosso, à mesma época em que Filinto era senador e, em troca de apoio, solicitara ao então governador o reconhecimento da memória do p ai. Sobre esses episódios discorreu 0 de putado Valdomiro Gonçalves, historicamente vinculado a Pedrossian, citando as homenagens que este prestara a quem havia combatido ou denunciado a ditadura Vargas à qual Filinto se1vira: O Filinto precisava de recebe r um troco do João Figue iredo porque o Filinto prendera o pai do Figueiredo, o Euclydes Figueiredo, e dize m que bateu, espancou e exilou o Euclydes para a Argentina, na Revolução de 1932. Aí, o que é que o Figueiredo fez? Falou pro Pedro: "Eu quero que você faça alguma coisa pra mim em memória do meu pai". O Pedro foi e colocou numa sala da universidade o nome de David Nasser, que escreveu Falta alguém em Nuremberg. Depois, ali na usina do Mimoso ele pôs o nome Assis Chateaubriand, que mandava no David Nasser. Aí, o lha só o que o Pedro fez! O Pedro pôs o nome na avenida, da universidade pra lá, pôs o nome do pai dele , do Figueiredo. Euclydes Figueiredo. Tudo isso e m represália ao Filinto e em o bediência à orie ntação do Figueiredo29 .

De fato, desde então, Pedrossian cessou a lealdade a Filinto Müller, graças a quem fora candidato a governador de Mato Grosso em 1965. Conforme dissemos, ele havia sido eleito em oposição aos militares, pelo PSD com apoio do PTB, mas como a extinção dos partidos ocorreu ainda em 196530, inclusive como resultado dessas eleições, ao tomar posse no cargo de governador, já ade-

29 GONÇALVES, Valdomiro. Entrevista. Campo Grande, 28 fev. 1996.

NA FALTA DE CONS ENSO. A "SOLUÇÃO TÉCNICA"

125

1ira ao regime e se filiara à ARENA. Sobre a candidatura e a , itória relatou Valdomiro Gonçalves: O Pedro estava sem emprego, havia passado por processos administrativos, aquela coisa toda, inquéritos policiais. O Pedro estava sendo cogitado para ser vice do Lúdio Martins Coelho porque nas orige ns do Pedro, lá nas raízes de Miranda, o seu velho pai era ligado à UDN. Então ele não era homem pessedista, de formação pessedista. Não e ra um pessedista autêntico. Ele estava sendo cogitado para ser o vice do Lúdio, estava sendo armado este esquema, mas havia uma relutância, uma oposição silenciosa em Cuiabá porque o vice te ria que ser de Cuiabá, como acabou por ser. Mas o Lúdio tentava angariar o apoio do Pedro como vice porque aí fortaleceria em muito aqui no sul, né? Foi quando o Philadelpho, o Waldevino, o próprio Canale [...] e várias lide ranças do PSD daqui do sul indicaram pro Filinto Müller o nome do Pedro. E o Filinto falou: "Mas quem é esse moço?". Aí foi que surgiu a candidatura do Pedro. Mas quando o Pedro assumiu, ele começou a se opor ao Filinto porque o Filinto mandava no estado. Era presidente da ARENA, presidente do Senado e se indispôs com o Pedro aqui no governo31 .

A candidatura do "moço", que não era "p essedista autêntico", derrotou a de Lúdio Martins Coelho, caracterizada pelo PSD de "candidatura das oligarquias" mato-grossenses. Também estreante !la política, Lúdio atribui a sua derrota ao fato de Pedro Pedrossian, 11:tquele momento, estar desvinculado "da revolução" de 1964, ao 1 o ntrário dele. Interessante comparar seu depoimento com o ante, ior porque o contradiz em alguns aspectos. Valdomiro afirma que l.údio desejava Pedro como seu vice, pois sendo os dois do sul, lrntaleceriam a chapa, enquanto Lúdio diz o contrário, pois, segun1 lo ele, o seu vice teria de ser do noite:

?º _o

A eleição do Pedro foi interessante. Foi uma candidatura complicada. Em 1965. Ele não tinha vinculação política. Ele residia em Bauru.

Ato Institucional Nº 2, de 27 de outubro de 1965, decre tou eleições md1retas para presidente da República e extinguiu os partidos políticos existe~tes dentre os quais os principais eram o PTB, o PSD e a UDN. PEREIRA, Ra11nundo; CAROPRESO, Alvaro e REY, José Carlos. Eleições no Brasil pós-64, p. 120-121. \1

e;oNÇALVES, Valdomiro. Entrevista. Campo Grande, 28 fev. 1996.

-r

126

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

Naquela época, a Noroeste cio Brasil tinha uma influência grande nessas cidades daqui ela beira ela Noroeste e eu não sei por que razão o Filinto não quis ser candidato. O Canale e ra prefeito de Campo Grande e também não quis. O Pedro queria ser meu vice, mas eu não aceitei. Nós discutimos juntos com o Figueiró. O Horácio Lemos e o Pedro até a uma hora da manhã na minha casa [. ..]. Eles insistindo em que eu aceitasse o Dr. Pedro como vice e e u dizendo a eles que não podíamos sair com-um candidato a governador e um vice-governador aqui do sul porque seríamos estraçalhados no norte. A coisa foi, foi... e acabo u sendo o Pedro o candidato pelo PSD. Eu era revolucionário e o Pedro era contra a revolução. A revolução de 64, muito popular no começo, depois começou a cair em descrédito por e rros cometidos [. ..] e a minha candidatura foi caindo. Eu estava muito bem no começo. Fui caindo até perder a eleição. Perdi louco da vicia. Aqui em Campo Grande, de cada três votos, dois foram dados ao dr. Pedro. Ele, naquela época, não conhecia Cuiabá e e u morava mais lá do que aqui no sul. Eu conhecia tudo, eu vivia em Cuiabá32 •

NA I ALTA DE CONSENSO, A "SOLUÇÃO TÉCNICA"

127

Provavelmente o fato de que Pedrossian "não conhecia Cuiabá" e nem era conhecido pelos políticos tradicionais do estado a ponto de Filinto Müller ter indagado "quem é esse moço?" foi um ingrediente forte e bem explorado por ele, que construiu a sua imagem de político contrário às oligarquias e que representava a mudança. Lúdio afirma não saber a razão p ela qual Filinto Müller não quis sair candidato na eleição de 1965, mas o motivo era de ordem política : considerado como aquele que "mandava no estado", como assinalou Valdomiro, Filinto desfrutava de enorme prestígio nacional, mas todo esse p oder não foi suficiente para lhe angariar a vitória mais cobiçada da sua carreira, isto é, ser governador de Mato Grosso. Possivelmente ek guardasse a frustração de já ter sido derro tado duas vezes ern pleitos p ara tal cargo. Em ambas as eleições (1950 e 1960) perdeu

p.1ra Fernando Corrêa da Costa (UDN) mesmo sendo o PSD o p.1rlido hegemônico na política nacional, o que evidencia a força da o ligarquia sul-mato-grossense. Fo i essa força sulista que impedi u a realização do sonho de Filinto Müller governar o seu estado. 1 ksse modo, tudo indica que ele não desejasse correr o risco de , vr novamente derrotado na eleição de 1965. Optando por não ser t I candidato, criou espaço para Pedrossian e sua vitória conduziu m:1is uma vez o PSD ao governo estadual e mostrou uma Cuiabá 11:10 refratária ao sul, ao contrário do que d ivulgava a retórica divisionista, pois, como narrou Lúdio, Pedro sequer conhecia a ca pital enquanto ele "morava mais lá do que no sul". Além disso, no mapa político nacional a surpreendente \' itó ria colocou Mato Grosso ao lado de Minas Gerais e da ( ; uanabara, estados em que o governo militar perdeu as eleições d · 1965. Aliás, ~~o de Pedro Pe9 rossian ter sido o candidato de oposição a9 regime é atribuído como razão principal de sua vlcição, tal como declarou o próprio governador e líder da UDN · / mato-grossense na época, Fernando Corrêa da Costa, para quem ., derrota não era nem sua nem de Lúdio, pois o povo votara :=---"contra aguilo que representávamos, o governo revolucionário/ A ~,\ vsquerda decidiu o pleito em Mato Grosso" 33 . A esquerda aqui mencionada se referia ao Partido Trabalhista Brasileiro, bem como :io Partido Comunista Brasileiro (PCB), existentes no sul e que, de fato, decidiam o resultado p orque a disputa era polarizada entre .1s duas principais forças (UDN e PSD), e o candidato que conseguisse obter o apoio desses p artidos cuja atuação gravitava por l'ora da bipolaridade hegemônica, levava vantagem em qualquer vleição. A propósito, Lúdio Martins Coelho computa a vitória do l'SD "à população, que reagiu ao movimento revolucionário de

32 COELHO, Lúdio Martins. Entrevista. Campo Grande, 15 fev. 1996.

i;i Governador Fernando fala sobre resultado das urnas. Correio do Estado. ( :11npo Grande, 8 out. 1965, p. 1.

r\'-

128

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

1964" e ao PTB que, no caso de Mato Grosso, tinha "uns 25.000 votos e quando apoiava um dos dois [UDN ou PSD) decidia a eleição" 34 . O fato de que a esquerda decidira o pleito, bem como as acusações de corrupção, colocou em risco a posse de Pedrossian, conforme registro de Juracy Magalhães em O último tenente:

(

Certa manhã, fui chamado pelo comandante do 1º Exército, general Ururaí, que desejava conversar comigo sobre assuntos muito sérios. Compareci ao seu gabinete, onde encontrei o general Affonso de Albuquerque Lima, o coronel Ferdinando de Carvalho e vários oficiais. O assunto não poderia ser mais delicado. Ururaí queria me convidar para organiza1mos juntos os dispositivos destinados a impedir a posse dos governadores eleitos ela Guanabara, Minas Gerais e Mato Grosso - respectivamente,j'.'e_g rão de Lima, Israel Pinheiro e _fedro Pedrossian. Logo argumentei que não admitia tal hipótese, até porque recebera instruções expressas do presidente Castello Branco para garantir a posse de todos esses governadores. Mas Ururaí não se conteve e retrucou:G:os-três são conupto~ subversivos e comunistas. Temos aqui uma farta documentação comprovando o _que lhe _d~ E chamou o coronel Fe rdinando de Carvalho para me fazer uma demonstração. O oficial puxou três calhamaços imensos, auto~ do Inquérito Policial Militar por ele mesmo presidido, exibindo, entre outros papéis, algumas fotografias de Negrão de Lima ao lado ele ,.__ líderes do Partido Comunista35

Analisando as eleições ele 1965 sob o prisma ela política estadual, Novis Neves, por sua vez, afirma que Pedrossian foi o primeiro político eleito governador que rompeu os arranjos partidários dominantes no período ele 1947 a 1965 em que prevaleciam os velhos chefes do PSD e da UDN. Aliás, faz sentido essa versão segundo a qual Peclrossian representou a mudança na política estadual, talvez porque ele se elegera em oposição à

NA FALTA DE CONSENSO, A "SOLUÇÃO TÉCNICA"

129

d itadura, obtivera apoio da esquerda e ainda porque era um político estreante, sem vínculo orgânico com as oligarquias e l 'O m os dois principais partidos que polarizavam o cenário polí1ico mato-grossense, além de ter rompido também com o próprio chefe que apadrinhara a sua candidatura, Filinto Müller. Vale lembrar que o lema da sua campanha fora "o tostão contra o milhão" .iludindo ao fato de Lúdio Martins Coelho ser um dos maiores proprietários de terra na época, enquanto ele, um opositor das n ligarquias. Quanto ao estilo de Pedrossian, Novis Neves afirma ncvan de Matos, por exemplo, criticando os gastos do governo t\,b rcelo Miranda com a Sea·etaria de Comunicação Social, destinada ,1< > genro de Pedrossian, dizia, em 1979: "Não é isto que os sul-matog1ossenses esperam deste Governo, deste Estado que está nascendo 20 p,11: 1 o País, o Estado que seria a esperança do País" . Quando foi 1 k:posto Marcelo Miranda Soares, o deputado Sergio Cruz, dono de v~tilo contundente contra "o con-ompido pedrismo", discursou: Que motivos políticos tão graves teriam provocado a sua cassação? São perguntas respondidas pelo ato que nomeará o Senhor Pedrossian, cuja obsessão pelo Poder constituiu-se na grande doença. A grande d oença que, ao se tomar um mal crô nico, poderá vitimar definitivamente este Estado, que se tornou livre, que se emancipou, que se libertou do jugo cuiabano, não para ser u ma "Província Hereditária" do decadente e corrompido "pedrismo", mas para ser um modelo de um novo "Fedcracionismo Republicano", como sonharam seus fundadores21.

Nessa altura dos acontecimentos, parece-nos cada vez mais claro que Mato Grosso do Sul estava muito distante daquilo com que '·sonharam seus fundadores", conforme expusemos no livro anterior. Já o deputado Sultan Rasslan caracterizava a divisão como um "presente" para os grupos políticos dominantes em 1977: O momento em que vivem os tem sido um dos mais terríveis para o mato-grossense-do-sul, mais vergonhoso, porque domina este novo Estado a corrupção, a mentira. Domina este novo Estado L..] a hipocrisia, as perseguições e mais nada. As promessas são tudo. Dividiu-

20 MATOS, Onevan de. Pronunciamento. ln: Assembléia Legislativa de Mato Grosso do Sul. Ata N'2 005, 16 ago. 1979, fl. 34. 21 CRUZ, Sergio. Pronunciamento. ln: Assembléia Legislativa de Mato qross_o . do Sul. Ata N!! 123/A, 30 o ut. 1980, fl. 006. , :• .. ~

228

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

se o Estado para oferecer de presente aos grupos políticos o domínio, e aqueles que correram nos últimos tempos para a divisão do Estado não teriam nada mais do que o poder. E caminha Mato Grosso do Sul e padece o seu povo. Um Estado que surgiu com promessas encantadoras, espetaculares L..J. Chegamos hoje a duvidar até das nossas riquezas e do nosso potencial econômico (. .. )22 .

Na Câmara Federal, entre 1980 e 1982, o deputado Ruben Figueiró discursou várias vezes para denunciar atos arbitrários de Pedrossian, a quem chamava de "personagem que teatraliza o governo estadual" ou "governador de plantão". Em pronunciamento de setembro de 1981, apresentou matérias de jornais que condenavam "um governo que não paga ninguém", "um governo que acoberta a corrupção" 23, sendo aparteado pelo deputado João Câmara, que discursou: Um Estado que nasceu para ser inclusive modelo para a redivisão territorial deste País, e que hoje [. ..] é comentado não somente na imprensa falada do meu Estado, mas também na de todo o País. Infelizmente, hoje, Mato Grosso do Sul, devido ao fracasso total do seu governador, é motivo de chacota24 •

O deputado parece não ter exagerado ao considerar que Mato Grosso do Sul era "motivo de chacota", pois um parlamentar de outro estado aproveitou para perguntar sobre o motivo de "tanta desgraça": Seu Estado já passou pela nomeação de três Governadores. V. Exa. e os seus coestaduanos, que tanto lutaram pela independência daquele Estado, hoje, como Castro Alves, têm que gritar: "Basta, senhor. E

~•ATO GROSSO DO SUL NO CONTEXTO DA TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA

229

teu potente braço, através dos astros e do espaço, perdoe pelos crimes meus··. Que crimes haverão de ter cometido seus conterrâneos para merece r tanta desgraça?25 .

Além elo sentimento de frustração com o "estado-modelo", 1' l'SSa via indireta revela um traço marcante da política brasi-

1\

e,< )NÇALVES, Valdomiro. Entrevista. Campo Grande, 28 fev. 1996.

244

PODER POLÍT ICO E ELITES DIRIGENTES S UL-MATO-GROSSENSES

leira: nos momentos de ameaça de ruptura institucional, os grupos dirigentes, não p odendo evitá-la, incorporam bandeiras p opulares de modo não ap enas a liderar a condução do processo, mas, principalme nte , a mantere m a direção política na nova ordem a ser estabelecida. O término da ditadura por essa via fortaleceu o conservadorismo político em Mato Grosso do Sul. Assim, a sucessão ao governo estadual em 1986 provocou uma recomposição das forças políticas hegemônicas, assinalando o fim de um período no qua l Wilson Barbosa Martins esteve mais próximo da esquerda e do grupo "histórico" do antigo MDB . Isto p orq ue as alianças estab elecidas a p artir daí aproximaram-no das forças p olíticas que haviam apoiado o regime militar. Já no campo rival ocorreu a aproximação de antigos adversários de 1965: Pedro Pedrossian e Lúdio Martins Coelho ingressaram juntos no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), em 1986. Entretanto, essas trocas não seriam definitivas. Nas eleições de 1994, se reaglutinaram, de um lado, antigos comp anheiros da época da ARENA (Marcelo Miranda, Levy Dias, Rachid Saldanha Derzi e Pedro Pedrossian) e, de outro, Lúdio Martins Coelho, que se recompôs com Wilson Barbosa Martins formando a coalizão PMDB-PSDB ap oiada por José Fragelli.

Wilson Barbosa Martins e Marcelo Miranda Soares na campanha do PMDB (1986) Em 1986, quando o PMDB iniciava os debates sobre a sucessão de Wilson Barbosa Martins, este, surp reendentemente, defendeu a indicação de Marcelo Miranda Soares. A sua p osição provocou polêmica e dissidência, pois duas correntes do partido reagiram: a dos "históricos", à qual se filiava o próprio governador, e um grupo mais próximo do prefeito da capital Lúdio Martins

)O 1>0 SUL NO CONTEXTO DA TRA NSIÇÃO DEMOCRÁTICA

11

,

245

q 11c havia sido indicado para o cargo pelo então chefe do

1111\ n l·:stadual. e i,, "h istóricos" a legavam inc omp atibilid ade com o s 1 11 1 l1:,1as" , q u e h aviam a d e rido ao PMDB p o r razõe s , 111111111.iis. Aliás, eles se queixavam, já no transcorrer do go1,1, \; ilson Barbosa Martins, de não terem merecido o espaço 1lv 11Lc à sua resistê ncia contra a ditadura, preterida em 1111 dos interesses hegemônicos do grupo de Marcelo Miranda esse respeito, Plínio Barbosa Martins assinalou: 11 , ,,

I""

Nn primeiro governo Wilson ele auxiliou muito o Marcelo. Procurou rngrandecê-lo e conseguiu, a ponto de fazê-lo governador [. .. ). Eu 1111 lia muita dificuldade em pôr a minha linha política, para os meus , ompanheiros pa1ticiparem. Eu quase não tive participação. Eu não t 1w espaço. Era a facção do Marcelo Miranda que trabalhava contra a po nto de eu perder muita força política44 •

lotivos mais concretos para opor-se aos "marcelistas" tinha , 1 111. 10 secretário de Educação Leonardo Nunes da Cunha, que a 1, , ,tll'ibuía os obstáculos à democratização do ensino p úblico ,, , ►\' , l ' fl10 Wilson Barbosa Martins. Insensíveis à demanda por , 1I I k mocratização nesse setor, os secretários vinculados a Mar' 111 1iranda e ditavam as m esmas práticas burocráticas e , 111 1,il izadoras adotadas anteriormente pela ARENA e PDS, cons11111 1, ido oposição à política educacional da época, como pode111, 1•, lvr neste documento de 1985: ( )s setores técnicos do governo, que deveriam representar os meios n~cessários para a nossa atividade-fim, causam constantes embarai:os ~1 nossa ação, principalmente pela falta de sensibilidade política [. . .]. Agora, quando temos uma assembléia estadual de professores 1. .. ) marcada para hoje , justamente para tratar dos vencimentos da categoria, com ameaça de greve, a Secretaria de Fazenda e de Admi-

11 Il i

lfflNS, Plínio Barbosa. Entrevista. Campo Grande, 9 jan. 1996.

246

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

1

247

,, O 00 SUL NO CONTEXTO DA TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA

nistração não demonstram nenhuma sensibilidade para o fato e ainda fazem declarações à imprensa de que a área ela Educação será a última a receber os salários [. ..]40 •

histórico com a luta da sociedade brasileira pela mudança de po,tura do homem público. ão será, portanto, alguém comprometido 48 1 , 1111 o passado que irá prosseguir a obra de Vossa Excelência (. ..) .

Apesar de colocarem em risco as políticas sociais, os setores econômico-financeiros do governo, p or estarem livres da demanda por democratização, permaneciam preservados de críticas enquanto secretarias, como a da Educação, viviam pressionadas. Por isso o secretário de Educação divergia. A princípio pelos canais internos, sem dar publicidade à polêmica. Depois, solicitou exoneração do cargo. A correspondência enviada por ele ao governa. 46 1 d or e, 1·1ustrattva . Ne a argumentava, por exemplo, que a candidatura de Marcelo Miranda Soares não estava em consonância ~om as mudanças exigidas pela sociedade e, por esse motivo, colaborava p ara que o PMDB perdesse a sua identidade, conquistada em vinte anos contra o arbítrio, confotme lemos:

nos depois o ex-secretário Leonardo Nunes da Cunha con11111111 que:.: o seu afastamento do PMDB e do governo Wilson 11h11•,.1 Martins foi motivado pela escolha de Marcelo Miranda 11, ..,, que considerava comprometido com "o autoritarismo e 111 , ,.., métodos administrativos repudiados em 82":

Julgo válida a colaboração de todos os segmentos políticos nesta fase de transição democrática, entretanto, não posso concordar que depois de tanto sacrifício, entreguemos o governo do Estado justamente àqueles companheiros desvinculados de nossos compromissos com o povo para que exerçam o poder em nosso nome . Isso levaria inexoravelmente o PMDB ao descrédito popular, reservando-nos dias sombrios no futuro 47 . "Não bastará a eleição de um sucessor para Vossa Excelência oriundo das hostes do PMDB. Há necessidade ele alguém que tenha o compro45 CUNHA, Leonardo Nunes da. Carta ao govemador Wilson Barbosa Ma rtins. Grande, 20 fev. 1985.

C.

46 Na época, o secretário de Educação Leonardo Nunes da Cunha cedeu-me cópia das caitas e ofícios enviados ao governador Wilson Barbosa Martins sobre as dificuldades q ue enco ntrava, como dirigente da educação sul-mato-grossense, para levar avante a proposta de de mocratização do ensino. Deste tema, especificamente, tratamos no livro Estado, educação e transição democrática em Alfctlo Grosso do Sul. (BIITAR, Marisa. Campo Grande, Editora UFMS, 1998.) 47 CUNHA, Leo nardo Nunes da. Carta a Wilson Barbosa Martins. C. Gde., 5 dez. 1985, p. 2.

1111, -..0

11me afastei do governo e do PMDB inclusive, por ocasião da esco-

11

111:1do candidato a governador. Nós [os "históricos"] sempre entende-

11,os que deveria ser assegurada a continuidade do nosso trabalho, d:is nossas propostas, das pro postas do PMDB histórico. E já que o governador era cio nosso bloco político, não podíamos entregar o ~overno. Eu acho que Marcelo era o menos indicado por tudo que de representava, por ser comprometido com o autoritarismo e com o, métodos de ação administrativa repudiados em 82 [.. .l. Marcelo vi :1 visto por nós, dentro do PMDB histórico, como aliado, mas não l 0 1110 companhe iro49.

pesar de p o nderar em favor das "propostas do PMDB 111 1n1iro" e de não aceitar "entregar o governo" a Marcelo Miranda , 11, ·-., que era "um aliado e não um companheiro", Leonardo 11111•-, da Cunha rejeitou quem tinha vínculo com o autoritarismo, 1111, .1poiou o utro nome que também não provinha daquele au1, 111 11 o PMDB. Ao deixar o governo, passou a defender a candi11t111,1 de Lúdio Martins Coelho por ente nder que era "uma pes, 1 ,di nacla com o programa do PMDB ao realizar uma adminis11 11 ,ln voltada para as causas sociais""º.

1 1 1 Nl IA, Leonardo Nunes da. Carta ao governador Wilson Barbosa Martins. 1985.

, 11,11){1 elo eleitorado sul-mato-grossense, fator que p ode ter pesado na sua futura determinação de não concorrer a uma vaga de :-.cnador nas eleições de 2006 quando a candidata do PSDB seria exatamente Marisa Serrano. Outro aspecto a ser mencionado consiste em que, nos bastidores da política sul-mato-grossense, a versão mais recorrente diz respeito a um acordo que teria sido fi rmado entre o próprio José Orcírio dos Santos e o então prefeito de Campo Grande André Puccinelli por ocasião ela definição e.las candidaturas. André, em franca ascensão política, era o cand idato mais provável para concorrer com o governador, mas, inseguro quanto à possibilidade de ganhar e exercendo o seu segundo mandato de prefeito, teria desistido visando à reeleição c.le José Orcírio e a sua futura ele ição em 2006. Para reforçar essa tese, os comentaristas de bastidores se socorrem do pouco empenho do prefeito à então candidata ao Executivo estadual. Já para presidente, o eleitorado sul-mato-grossense, confirmando a preferência por Lula, votou assim: ,._

Mato Grosso do Sul. Eleição para presidente (2002) Segundo turno Candidato

Partido

Votos

%

Lula

PT

593.939

55,14

José Serra

PSDB

483.196

44,86

-

Elaborado pela autora com dados do T RE.

Os números mostram que Lula obteve no estado porcentual um pouco superior ao de José Orcírio, portanto, fica evidente que o cenário político estadual não lhe era tão favorável como e m 1998, pois, em se tratando de uma reele ição coincidente com a vitória de um presidente do seu partido, com a sua força política e eleitoral, além de seu forte carisma, os votos que o bteve, ante os de Marisa Serrano, foram um claro recado de uma eleição difícil, talvez vitoriosa unicamente pelo fato de se

354

PODER POLITICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSI

tratar de uma reeleição, e que o seu segundo governo não co meçaria bem. Aliás, a própria realização de um segundo turno nessas eleições sinalizou essa perspectiva op osta à de 1998.

A derrota do PT para a prefeitura de Campo Grande em 2004 As ele ições municipais de 2004, no caso de Campo Grande, eram consideradas estratégicas pelo PT p ara impedir a vitória peemedebista em 2006. Inicialmente, as divergências internas quanto ao candidato a ser lançado levaram o partido a contar com três postulantes: Pedro Kemp, Jurandir de Oliveira e Vander Loubet. O primeiro contava com militantes interessados em uma "retomada histórica" do partido, mas desistiu da candidatura em favor do deputado federal Vander Loubet; o segundo, um antigo militante petista que con correra ao cargo na década de 1980; finalmente o terceiro, sobrinho e candidato do governador, contava com a máquina partidária e, por essa razão, como era esp erado, foi vitorioso na consulta interna do partido. A desistência de Pedro Kemp, que frustrou a pouca militância que ainda resistia à ingerência governamental no partido, foi assim explicada por ele mesmo, justificando que perderia no voto se tivesse de concorrer com Vander internamente : Aqui em Campo Grande a nossa corrente é minoritária no partido. A nossa pré-candidatura só teria viabilidade dentro de um processo de entendimento. Seria muito difícil se viabilizar pelo voto interno e não que remos ser empecilho para esta unidad e do PT30.

José Orcírio, o grande responsável por esse desfecho, no dia seguinte à realização das prévias, em dezembro de 2003, ante30 Kemp re nuncia para apoiar Vander. Correio do Estado. Campo Grande, 9 dez. 2003, p. 3 A.

l PARTIDO DOS TRABALHADO RES NO ESTADO DO LAT IFÚNDIO

355

,pava "a declaração de guerra eleitoral" ao PMDB-PSDB, afir,;,ando que "temos de tirar da garganta aquele osso atravessado e ,nal explicado de 96"; para ele, em particular, a derrota do canditb to de André Puccinelli seria uma qu estão de honra , e para o PT, ,,ma conquista perseguida há muito tempo . Para tanto, conclamava , 1 militância: "Se nós formos para os b airros, se todo mundo tirar 1 lo baú a bandeira , se todo mundo estiver motivado para colar a vstrelinha no peito, nós tomamos a e leição de assalto e não tem disputa capaz de nos b recar nesta caminhada"31. Referindo-se à :-iLuação de Mato Grosso do Sul anteriormente a 1998, completava: "Vamos ter todos os argumentos para comparar o que era este Estado antes de 1998, quando viveu a peste do PMDB e cio PSDB, e o que é este Estado depois de 1999" 32 . Nessa mesma linha, no começo de 2004, determinou que o PT deixasse as difere nças de lado e se unisse p ara derrotar o candidato de André Puccinelli: "Vamos encurralar o PMDB. Vamos embretar O André de maneira que ele não possa se mexer de jeito nenhum. A luta é grande porque os adversários quere m pegar O Estado de volta"33, conclamou ele, utilizando o verbo cmbretar, que significa colocar o gado e m brete, encurralar, sitiar. Embora a candidatura de Vander aprofundasse as divergências internas do PT, o discurso inicial de campanha era o de que o partido reeditaria, em âmbito municipal, o "Movimento Muda MS". Apenas retórica porque nada d isso se confirmou. O PDT lançou Dagoberto Nogueira, antigo correligionário de Marcelo Miranda. Quanto ao PPS, embora não lançasse candidatura própria, optou por apoiar Nelsinho Tracl e concentrar esforços na

1

3 1 Para Orcírio, e leição de 96 está entalada em sua garganta. Corre io do Estado. Campo Grande, 16 dez. 2003, p. 3 A. 52 Para Orcírio, e le ição de 96 está e ntalada em sua garganta. Con•eio d o Estado. Campo Grande, 16 dez. 2003, p. 3 A. 53 Orcírio manda encurralar PMDB e embreta r André. Correio do Estado. Campo Grande, 8 fev. 2004. p. 3 A.

356

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

eleição de um vereador com o objetivo de voltar a ter re presentação na Câmara Municipal, o que resultou na recondução de Athaíde Nery àquele legislativo e sinalizou a futura opção do PPS para 2006. Dessa forma, ficou evidente a impossibilidade de se reagrupar os partidos que haviam formado a coligação de esquerda vitoriosa em 1998. A opção p or Vande r Loubet revelou-se a pio r possível para enfrentar qualquer candidato do PMDB, urna vez que, fosse quem fosse, contaria com a herança de uma capital bem administrada, com ótimo índice de autoestima da sua população, cuja expectativa era a de continuidade do padrão implementado por André Puccinelli. E o s resultados foram previsíveis: Nelsinho Trad , o deputad o e stadual (PTB) mais bem votado e m 2002, agora corno candidato do PMDB, impôs uma derrota humilhante ao PT, que sequer chegou ao segundo turno, conforme demonstram os números: Campo Grande. Eleição para prefeito (2004) -

Candidato

Partido

Votos

%

Nelsinho Trad

PMDB

213.1 95

55,7

Vander Loubet

PT

87.981

22,99

Dagoberto Nogueira

PDT

52.929

13,83

Antônio Cruz

PTB

23.952

6,26

Suei Ferranti

PSTU

4.675

1,22

Elaborado pela autora com dados do TRE·MS.

Os 43.658 votos que Nelsinho Trad obteve a mais que os seu s quatro concorrentes juntos decidindo a eleição n o primeiro turno foram portad ores de um claro recado: o e le itorad o campo-grandense, ao votar nele, estava sinalizando o desejo de votar em André Puccinelli para governador em 2006 e , o que era pior, manifestava a sua rejeição a Zeca do PT. Portanto, contra-

O PARTIDO DOS T RABALHADORES NO ESTADO DO LATIFÚNDIO

357

riando inteiramente a intenção de "encurralar o PMDB e embretar André", as urnas deixavam distante o sonho de vingar a eleição de 1996, além de reduzir drasticamente as cha nces de o PT continuar governando Mato Grosso do Sul por mais oito anos, como pretendia José Orcírio . Prosseguindo a tendência ele eleger p essoas desconhecidas do partido, a candidata Thais Helena foi campeã de votos da legenda para a Câmara Mu nicipal de Campo Grande, batendo veteranos como Alex do PT, e deixando p erp lexa, mais uma vez, a esquerda histórica de Mato Grosso do Sul. A sua vitória como a q uinta mais bem votada dos 21 vereadores da capital foi descrita pela imprensa como demonstração de "força eleirorai"! E assim, de eleição em e le ição, em pobrecendo o cenário político sul-mato-grossense, o PT das ruas e dos movimentos sociais foi sumindo e dando lugar ao PT da máquina eleitoral. Igualando-se aos d emais partidos, o antigo PT su cumbia ao PT da máqu ina p artidária e do governo . Enqu anto isso, a política das elites, combatida em discurso pelo governador, ia repondo seus quadros, preocupada em reabilitar a sua hegemonia. Desse modo, nessa mesma eleição, além de um filho prefeito , outro filho do deputado federal Nelson Trad bateu recorde ele votos: Marquinhos Trad (PMDB), com 11.045 votos para a Câmara Municipal, superava a marca ele Tereza Name (PSDB) que , estreante, obtivera 10.472 votos em 2000. O governador, logo após o desastre eleitoral, em entrevista ,1 TVE, criticando as elites de Mato Grosso do Sul, justificou a d1.:rrota afirmando que o eleitorado da capital e ra conservador e , 1inha preconceito da sua origem social.jOra, tal análise não levar\ a e m conta que a sua vitória, em 1998, fora possível exatamenlv porque contara com parcela significativa ele votos dessas mes111as elites. Lembremos, por exemplo, elas palavras de José Fragelli .,, ,hre a sua satisfação pela vitória cio PT além do artigo de Abílio 1 lv l3arros, anteriormente citado, sobre os seus amigos que vota-

358

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL·MATO-GROSSENSI

ram no PT. Além disso, o governador esquecia que naquelas me..., mas eleições ele conquistara mais votos em Campo Grande do que Ricardo Bacha (PSDB) e, depois, em 2002, sua votação ante :1 de Marisa Serrano na capital foi superior nos dois turnos: 159.2r contra 153.785 e 190.644 contra 169.005, ou seja, no segundo turno de 2002, ele aumentou a sua vantagem eleitoral sobrv Marisa em Campo Grande. Assim, era injusto rotular o eleitorado campo-grandense de conservador, transferindo para ele uma culprt que cabia unicamente à própria estratégia do PT. Nessas eleições municipais, o PT e seus aliados (PDT, PJ., PTB) elegeram 427 das 721 vagas nas Câmaras Municipais dv Mato Grosso do Sul, além do que, foi o PT o partido que mai1, e legeu prefeitos em todo o estado: 18 de um total de 54 ela su:1 coligação ante 22 da oposição (PMDB, PSDB e PFL)34, o qul· evidencia também que, apesar de a eleição de 1996 estar "enta !ada na garganta", ele priorizou o interior e deixou Campo Grande em segundo plano . Mas como a política não é mera somn aritmética, o partido caminhou enfraquecido para as eleições de 2006, principalmente porque, além dos desgastes ocorridos no segundo mandato do governador José Orcírio, o partido vinh~1 e nfre ntando, nacionalmente, desde 2005, a grave turbulêncb que mergulhou o governo Lula em crise profunda, arrastando o sistema político consigo. O escândalo que levou à cassação do mandato de deputado federal de José Dirceu, seu então Chefl· da Casa Civil, revelou um esquema de apropriação de recursoipúblicos para favorecer o partido, cujo início remontava ao governo Fernando Henrique Cardoso, pois, segundo apuração da Polícia Federal, o esquema para desviar recursos públicos par~, 34 Ein~ora t~nha perdido em cidades importantes como Campo Grande, Po n ta Para e Tres Lagoas, o PT elegeu 18 p refeitos no estado ante 11 ele 2000 Incluindo os seus aliados - PDT (16); PL ( 11) ; e PTB (9) , somou 54 prefeitura, Essas eleições abriram vaga para três suplentes na Assembleia Legislativa, po1, fo'.·am eleitos prefeitos, além de Nelsinho Tracl, Simone Tebet (Três Lagoa:-.) 1 , l'lav10 Kayatt (Ponta Porã).

O PARTIDO DOS TRABALHADORES NO ESTADO DO LATIFÚNDIO

359

ca mpanhas eleitorais ficou comprovado na eleição de políticos do PSDB de Minas Gerais, em 1998, incluindo o senador Eduardo Azeredo (PSDB). Analisando a crise do "mensalão", nome pelo qual ficaram conhecidos aqueles episódios, Marco Aurélio Nogueira advertiu para O fato de que ela, na verdade, expunha, tanto as consequências das opções feitas pelo PT e p elo governo Lula, quanto certas características negativas do sistema político brasileiro e das "más tradições" da história nacional, além da extraordinária força do poder econômico e do dinheiro. Assim sintetizou os elementos da complicada trama: Na base de tudo, inúmeras denúncias e investigações judiciais dando conta de que se armara, no governo, por dentro dele e sob seu patrocínio, uma ampla e complicada rede de corrupção associada parcialmente às eleições presidenciais de 2006. Vieram a público, com a força de um tomado, indícios claros de que se fazia uso regular ele pagamento em dinheiro a parlamentares, de que se repassavam recursos financeiros não declarados a partidos e a políticos e de que certas instâncias estatais e ram usadas para arrecadar fundos eleitorais e obter apoio político no Congresso. No centro de tudo, a cúpula dirigente do PT (sua Executiva Nacional), deputados petistas e diversos operadores governamentais, muitos dos quais renunciaram35.

Imerso em profunda crise é tica, Lula entrou no seu terceiro ., no d e governo ameaçado até de e nfrentar processo d e IIII/Jrica divisionista, nasceu Mato Grosso do Sul rejeitando os 11·1-ríveis políticos de Cuiabá", pregando a necessidade de "con, u rê ncia p olítica", tal como conclamavam panfle tos da década d,· 1930. Mas, conforme exam inamos nos capítulos anteriores, a p1.1liG1 das elites dirigentes sul-mato-grossenses, uma vez apar11cl:1s de "lá", editaram "aqui" exatamente o qu e criticavam: a , 1nddência dos mesmos grupos no poder estadual. E com um t 11.1vante: a ausência de um projeto para o estado que eles 1111 -.mos criaram. Depois de trinta anos, estão afastados desse 1 • 11 lvr Pedro Pedrossian e Wilson Barbosa Martins, os nomes 11 11-. 1:mblemáticos dessa recorrência e da polaridade que per1111 :tté 1998. A e leição de Zeca do PT, marcando o fim dessa , l .11 idade, foi um dos momentos mais marcantes, bonitos e

376

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

significativos da história política de Mato Grosso do Sul. Mas depois de oito anos de governo p etista, iniciados com a vitória do "Movimento Muda MS", que simbolizou a luta da esquerda desde o final da década de 1970 contra a ditadura militar, volta ao governo estadual o PMDB. Nova dualidade no cen ário político sul-mato-grossense? Para o então governador José Orcírio dos Santos (PT), em alusão aos resultados eleitorais de 2006, a política estadual amadureceu. Tratando do assunto no aniversário de 29 anos de Mato Grosso do Sul, ele considerou que desde a sua criação o estado teve o seu desenvolvimento socioeconômico "engessado" e quanto ao revezamento político, ressaltou: Foram 20 anos ele pedrismo e wilsismo na política de Mato Grosso do Sul e isso nos deixou em uma situação de atraso em relação às demais regiões brasileiras, principalmente se compara rmos ao Mato Grosso. O Estado ficou no ostracismo e no estancamento regional por conta da política retrógrada estabelecida nestes governos 1 .

Para ele, a sua eleição em 1998 foi um marco e o fim desse período. E apesar de ter declarado muitas vezes que o PMDB era o partido do retrocesso, disse acreditar que André Puccinelli (PMDB) teria melhores condições para trabalhar, ao assumir o governo, do que e le na ocasião de sua posse, e concluiu com uma consideração instigante: "Dep ois que e u fui ele ito como o primeiro governado r da esquerda p ara coma ndar este Estado, q ualquer pessoa pode ser"2 . Será que p ode mesmo? Busquemos pistas n o quadro atual da p olítica sul-matogrossense.

1 Para governador, política estadual amadureceu. Correio do .Estado. Campo Grande, 11 out. 2006, p. 3 A. 2 Para governador, política estadual amadureceu. Correio do Estado. Campo Grande, 11 o ut. 2006, p. 3 A.

1977-2007: CHEGANDO AOS TRINTA ANOS

377

Fim das oligarquias? Em julho de 2004, durante a convenção municipal do PSDB 1.:m Campo Grande, Lúdio Martins Coelho , presidente de honra do

partido, ao tecer conside rações sobre as eleições municipais que :-.e avizinhavam, afirmou que era hora de "a velharada sair". Para de, que concluíra o seu mandato de senador em 2002 e já estava apo entado politicamente, "a velharada toda" estava indo embora. "Uns morrendo, outros se aposentando. Eu mesmo não sei o q ue l'Stou fazendo aqui"3 . Entre os "aposentados", já se incluíam o ex-governador Wilson Barbosa Martins, que se recolhera em 1998, e Pedro Pedrossian, derrotado na disputa para o governo, em 1998, e para o Senado, c m 2002. Os filhos deles, porém, ainda postulavam mandatos políticos. Celina Jallad havia sido eleita deputada estadual, mas não conseguiu a reeleição em 2006, ficando como p rimeira suplente do PMDB. Já Pedro Pedrossian Filho, o Pepê, fora eleito deputado federal em 1998 (PFL). Com uma atuação muito fraca, não consegu iu se reeleger em 2002, ficando como primeiro suplente da sua coligação . Em agosto de 2006, Pedrossian se dirigiu aos eleitores apresentando-o assim: Desde os primeiros passos de minha vida pública, exercendo o mandato de senador e três vezes o de Governador, Pepê acompanhou e assistiu toda a minha luta, para melhorar a vida d e todos e d esenvolver os dois Estados, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Com o seu apoio já se elegeu Deputado Federal e agora p reciso novamente dos amigos para que Pepê possa se eleger deputado estadual. Com o seu apoio que nunca me faltou, receba o meu fraternal abraço. Pedro Peclrossian4 •

'\ Para Lúdio, é hora de a "velharada" sair. Correio do Estado. Campo Grande, .!.., jul. 2004, p. 4 A. 1

PEDROSSIAN, Pedro. Carta política. Campo Grande, ago. 2006.

378

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

A carta, ao informar que Pepê "acompanhou e assistiu toda a minha luta", atesta que a sua principal credencial política era ser filho de Pedrossian, o que não lhe garantiu a eleição. Dessa forma, após as eleições de 2006, os dois antigos rivais da política mato-grossense e sul-mato-grossense ficaram sem descendentes diretos na arena política estadual. Pedro Pedrossian, que escrevia o seu livro de memórias quando o entrevistamos, ao tratar dos herdeiros políticos que nem ele nem Wilson deixaram, assim se referiu ao tema, verbalizando um entendimento corrente: "O Wilson não deixou porque ocupou o lugar que não era dele. O lugar era realmente do Plínio Barbosa, irmão clele"5 . Essa versão segundo a qual Wilson Barbosa Martins teria usurpado o lugar do irmão, conforme mostrado anteriormente, não corresponde aos fatos, mas o que o ex-governador Pedrossian não disse é que o seu rival não deixou herdeiros porque, na sucessão de seu primeiro governo, prestigiou as forças ligadas à ARENA. Sobre si próprio, considerou: Nunca fui cacique, não tenho partido, não tenho rádio, não tenho jornal, não tenho nada. Olhem, o meu patrimônio hoje é menor do que era há trinta anos atrás. Eu disputei o Senado há três anos [2002] e até hoje não consegui pagar as contas de campanha, fiz campanha com recursos próprios6.

É interessante notar a sua alusão ao fato de não dispor ele qualquer meio de comunicação porque este tem sido um dos principais caminhos para se chegar ao poder nos dias que correm, evidenciando uma nova época da política sul-mato-grossense. Por sua vez, o ex-governador Wilson Barbosa Martins também repete uma determinada visão sobre o seu adversário político . Para ele:

5 PEDROSSIAN, Pedro. Entrevista. Campo Grande, 26 ago. 2005. 6 PEDROSSIAN, Pedro. Entrevista. Campo Grande, 26 ago. 2005.

1977-2007: CHEGANDO AOS TRINTA ANOS

379

Pedrossian teve uma importância grande. Peitudo, mas irresponsável. Um populista, demagogo. Não dou valor moral nenhum a ele, embora tenha criado inovações, como universidades. Criou o Parque dos Poderes, mas não pagou indenizações a ninguém: e u as paguei. Pedro Pedrossian nem é honesto nem é democrata7 .

Em 2006, aos 89 anos de idade, tecendo comentários sobre a história de Mato Grosso do Sul e sobre si próprio na política sulmato-grossense, Wilson Barbosa Martins pediu: "Gostaria de ser lembrado como um homem que sempre lutou pela democracia. Fui um governador de mãos limpas, nunca retirei dinheiro do Estado, não p ersegui funcionários, sempre respeitei meus adversários"ª. l)e fato, o ex-governador, pessoalmente, é considerado um homem honrado até pelos seus adversários. Ele mora na mesma casa da Rua 15 de Novembro, rua esta que concentrou uma geração de políticos que o acompanharam na histórica vitória de 1982. Tanto é assim que, para alguns, simbolicamente, a sua eleição representou a ''chegada da Rua 15 ao poder"9 • Mas a honorabilidade que o caracteriza não se estende ao conjunto do seu segundo governo. Quanto à sua postura de democrata, é significativo que em 1967, quando o então governador Pedro Pedrossian corria o risco de ter seu mandato cassado pelo regime militar, o deputado federal pelo IDB Wilson Barbosa Martins considerou que apoiar tal ato seria o mesmo que caminhar em direção a uma tentação golpista, embora vnfatizando que seu partido não fizera acordo com o governador vlcito, que já se alistara nas fileiras da ARENA. Na época discursou: "O nosso Pattido já estava diante de uma opção: ou orientava a sua h:incada a votar de acordo com a ex-UDN e caminhava na linha do go lpe, ou a orientava para dar sustentação política ao Governador

' J\'li\RTINS, Wilson Barbosa. H MARTINS, Wilson Barbosa. 1 / 11m. Campo Grande, 11 out. ,, FO 'SECA, Când ido Alberto

Entrevista. Campo Grande, 14 fev. 2006. '·Fui um governador de mãos limpas". Folha do , 2006, p. 6 A. da. Entrevista. Campo Grande, 11 jan. 2007.

...

380

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

e iria enquadrar-se dentro das normas estatutárias" 1º. Ou seja, ele não apoiou a posição dos deputados da ex-UDN, pa1tido ao qual era filiado até 1964, por entender que cassar um governador eleito nas condições já aqui analisadas seria golpismo. Aliás, pela sua posição contrária à ditadura militar, quem acabou sendo cassado pouco depois foi o próprio Wilson Barbosa Martins. É interessante notar, porém, que esse fato relativo ao passado político de ambos seja desconhecido no cenário estadual. Quanto a Lúdio Martins Coelho, este havia encerrado a sua carreira em 2002, mas, acreditando que faltava "sangue novo" no cenário político, lançou um sobrinho de 18 anos, Edmar Neto (PSDB), que foi eleito o vereador mais jovem do Brasil nas eleições municipais de 2004. Ficando implícito que parentesco era garantia de vitória, foram ele itos outros filhos, irmãos, netos, esposas e outros, de políticos conhecidos. Engrossando o grupo dos jovens novatos, também conquistaram vaga na Câmara Municipal de Campo Grande Marquinhos Trad (PMDB) e Grazielle Machado (PL). No que diz respeito a essa última família, além da filha, o presidente da Assembleia Legislativa Londres Machado elegeu também a sua esposa Ilda Machado, prefeita de Fátima do Sul. Ao afirmar que "os velhos todos estavam indo embora", certamente Lúdio Martins Coelho tinha em mente a sua geração de p olíticos, tanto a que participou quanto a que se beneficiou politicamente com a divisão de Mato Grosso. A propósito, os três grupos que compunham a ARENA e que haviam estado na origem da criação de Mato Grosso do Sul praticamente inexistiam quando do comentário de Lúdio. Dos principais líderes "ortodoxos" - José Fragelli, Rachid Saldanha Derzi, Antônio Mendes Canale -, apenas o ex-governador José Fragelli está vivo , mas

10 MARTINS, Wilson Barbosa. Pronunciamento. Câmara dos Deputados. Diário do Congresso Nacional (Seção 1). Brasília, 25 ago. 1967, p. 4801.

1977-2007: CHEGANDO AOS TRINTA ANOS



381

aposentado. Aos 90 anos de idade, ele assim contou sobre a sua rotina, em 2006: Depois que saí do Senado, me afastei da política nacional. O PMDB se tornou, no sul de Mato Grosso [MS] o partido mais forte contra o partido cio governo, dos militares. Então eu me afastei. A certa altura a gente deve saber se aposentar, e foi o que eu fiz. Fiquei em Aquidauana tratando da minha vida, dos meus pequenos negócios [. . .]. Fico em casa lendo. Eu estou ruim das pernas, mas da cabeça ainda não; então eu leio bastante. Leio muito as memórias de um cuiabano, o Roberto Campos11 .

Outro dos chefes políticos mais emblemáticos que Mato Grosso e Mato Grosso do Sul tiveram, Rachid Saldanha Derzi morrera em dezembro de 2000 depois de quarenta e dois anos consecutivos de mandatos políticos. Logo depois, em 2001, seu filho e herdeiro político Flávio Derzi faleceria inesperadamente. Outro desfalque ~,fetou essa geração de políticos, pois, em novembro de 2006, falece u o senador Ramez Tebet (PMDB) depois de vinte anos de luta contra o câncer. Tido como conciliador, Ramez, ainda deputado estadual, viera da ARENA para o MDB, fora eleito vice-governador de Wilson Barbosa Ma1tins, em 1982, assumiu a Governadoria quando este saiu para disputar uma vaga de senador em 1986 e estava em seu segundo mandato de senador quando faleceu. Deixou como herdeira política sua filha Simone Tebet, ex-deputada estadual, eleita prefeita de Três Lagoas nas eleições municipais de 2004. Já Marcelo Miranda Soares, outro ex-governador, e João l.c: ite Schimidt (PDT), considerado uma "raposa" da política sulrnato-grossense, oriundos do grupo "independente", rival de José Fragelli na ARENA, estão enfraquecidos eleitoralmente e quase 11c nhuma influência exercem na política estadual, especialmente "l' considerarmos as suas derrotas, em 2000, como candidatos a 11 Aos 90 anos, Fragelli relembra MT uno. D iário de Cuiabá. Cuiabá, 8-9 abril, 1 006, p. 6 A. (Entrevista).

382

PODER POlÍT ICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

p refeito, em Paranaíba e Coxim, respectivamente, mas projetarain o fiel correligionário Dagoberto ogueira (PDT), eleito dep utado federal em 2006. Esse grupo da ex-ARENA, vinculado a Pedrossian, gan hou fôlego no governo de Zeca do PT, que prestigiou Marcelo Miranda. Inicialmente mais próximo d ele, Zeca do PT, gradativamente, fortaleceu sua aliança com Londres Machado (PL). Ainda dentro d os quadros da antiga ARENA, digno de nota é o caso de Juvêncio César da Fonseca que, após ter exercido o cargo de prefeito da capital por duas vezes e um mandato de senador, não conseguiu se eleger deputado estadual em 2006. Nesse sentido, é curiosa a recente definição do presidente da Câmara Municipal de Campo Grande, vereador Edil Albuquerque, alinhado ao grupo político de Juvêncio: "Tenho orgulho de pertencer a uma casta p olítica que de u certo. E neste time o nosso comandante, o senador Juvêncio César da Fonseca sernpre esteve à frente de todas as ações, seja política, seja adrninistrativamente" 12 • GOVERNADORES ELEITOS DE MATO GROSSO DO SUL Ano/Eleição

Nome

Partido

1982

Wilson Barbosa Martins

PMDB

1986

Marcelo Miranda Soares

PMDB

1990

Pedro Pedrossian

PTB

1994

Wilson Barbosa Martins

PMDB

1998

José Orcírio Miranda dos Santos

PT

2002

José Orcírio Miranda dos Santos

PT

2006

André Puccinelli

PMDB

A política sul-m ato-grossen se, como mostramos, foi marcada, até 1998, p ela recorrência de dois nomes no poder Executivo estadual, o mais visível para a sociedade. Talvez por 12 ALBUQUERQUE, Ed il. "Peitenço a uma casta política que deu certo". Correio do Estado. Campo Grande, 21 jan. 2007, p. 5 A. (Entrevista).

1977-2007: CHEGANDO AOS T RINTA ANOS

383

• essa razão, tenha passado pouco percebida uma outra reincidência tão ou mais grave: a do comando da Assembleia Legislativa. Ora, desde que Mato Grosso do Sul existe, a direção efetiva daquela Casa foi exercida p elo deputado Londres Machado (PL). Foi ele o primeiro presidente desse Poder após a divisão de Mato Grosso, tendo assumido o Executivo estadual por ocasião dos golpes que derrubaram os dois primeiros governadores nomeados pela ditadura militar. Iniciou a su a trajetória na ARENA; depois, com a extinção dessa sigla, ingressou em outros partidos, conforme as conven iências regionais e as mudanças na conjuntura nacional. Em 1998, por exemplo, foi eleito deputado pelo PSDB, mas no primeiro governo Lula ingressou no Partido Liberal (PL) do vice-presidente José de Alencar. O ápice de seu poder provavelmente tenha sido a inusitada composição com o ex-governador Zeca do PT, que, em nome da governabilidade, logo após a eleição de 1998, se apressou em viabilizar a sua ascensão à presidência daquela Casa, condição desfrutada nos oito anos de seu mandato. Mas que governabilidade é essa se não estávamos sob ameaça de rompimento da ordem institucional, se o Estado de direito democrático funciona normalmente desde o fim da ditadura militar? Na verdade , nesse aspecto, a história política de Mato Grosso do Sul tem se caracterizado por uma sequência de acordos entre o Executivo e o Legislativo, evidenciando a falta de independência e a deliberada opção do Legislativo em anular a sua própria função , a sua razão de existir, que não é outra senão a de representar os interesses da sociedade e não os do Executivo. Essa postura, ao mesmo tempo em que submete o Legislativo à lógica do Executivo, subtraindo-lhe o dever fiscalizador, amesquinha a sua existência, uma vez que ele passa a viver em função de si próprio. A cada legislatura, atuando para atender aos interesses do Executivo estadual e assim garantir as condições para a conquista de novos mandatos, os parlamentares, com raríssimas ex-

11

384

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

ceções, transformaram a Assembleia Legislativa num "sindicato de deputados" 13. No caso específico de Londres Machado, deputado desde a época de Mato Grosso uno e presidente do Legislativo estadual por 14 anos, o que mais surpreendeu no referido acordo foi o fato de que ele fizera a sua carreira política servindo ao autoritarismo, tornando-se o emblema da política retrógrada e fisiológica no estado que nascera para promover a "concorrência", isto é, a renovação de lideranças. Como presidente desse Poder, colaborou tanto com governos de direita quanto com o de Zeca do PT. Para atestarmos que a dita renovação se reduz a quase nada, basta observarmos que, excetuando-se o primeiro governo de Wilson Barbosa Martins 0983-1986), quando o seu partido (PMDB) perdeu para o PDS as duas eleições para a presidência do Legislativo, em todos os demais governos a mesa diretora da Casa foi definida por acordos com o Executivo, ou seja, sem disputa. E mesmo quando a presidência recaiu sobre outro nome que não o de Londres Machado, verificou-se ausência de distinção programática. Dessa forma, não surpreende que a atuação da Assembleia Legislativa nesses trinta anos de história, do ponto de vista dos interesses da sociedade, tenha sido medíocre. Apenas para ilustrar: ficou subserviente às destituições dos dois primeiros governadores de Mato Grosso do Sul; combateu as eleições para diretores escolares em 1983, pois essa proposta, inovadora para a época, restringiria a ingerência político-partidária nas escolas estaduais. Hoje continua assumindo posturas contrárias aos anseios de aprofundamento da democracia, corno o demonstra um caso recente e emblemático. Toda a imprensa nacional divulgou e criticou a aposentadoria vitalícia que a Assembleia Legislativa de

13 Expressão empregada por Demé trio Magnoli em artigo publicado em janeiro de 2007 no jornal O Estado de S. Paulo com esse título.

19 77-2007: CHEGANDO AOS TRINTA ANOS

385

Mato Grosso do Sul concedeu ao governador Zeca do PT, em dezembro de 2006, findos os seus oito anos de governo. Aprovada em duas sessões secretas, a proposta de emenda constitucional do deputado A1y Rigo, apresentada por Onevan de Matos (PDT), ambos parlamentares da base governista, recuperou o benefício que estava proibido pela Constituição estadual de 198814 • A plateia que acompanhava a votação vaiou os deputados; já uma pesquisa ele opinião apresentou 93% ela população contrária ao privilégio, mas nada disso os abalou e, assim, Mato Grosso cio Sul, que nasceu criticando privilégios e "a politicalha" praticada "no norte", voltava a se incluir entre as 17 unidades federativas que pagam pensões vitalícias a ex-governadores. A emenda constitucional solicitada pelo próprio governador jogou uma pá de cal sobre as questões éticas defendidas pela esquerda, pois o benefício, simbolicamente, sintetiza todas as demais discrepâncias que ela sempre criticou15 . Especialmente nesse caso, pois reforça a tradição ca1torial do Brasil com uma aberração que corrói a essência do regime democrático e que surgiu de um casuísmo da ditadura militar quando o marechal Arthur da Costa e Silva sofreu isquemia cerebral e teve de ser afastado da presidência da República. Outra recente postura negativa da Assembleia Legislativa foi o seu apoio à intenção do governador Zeca do PT de instalar usinas de álcool no Pantanal, o que resultou no suicídio, em plena manifestação pública, do ambientalista Francisco Anselmo de Barros, de 65 anos, que, em 2005, ateou fogo ao próprio corpo, chocando a opinião pública. Lembremos que, no final da década de 1970 e início da seguinte, um dos movimentos mais 14 Na primeira votação, o placar foi de 16 votos a favor, 7 contra e 1 abstenção. Na segunda, foram 18 votos a favor e 6 contra. 15 O ex-governador continuará a receber mensalmente 22,1 mil. Já o ex-governador Pedro Peclrossian, atualmente com 78 anos de idade, recebe pensão tanto ele Mato Grosso quanto ele Mato Grosso cio Sul, somando quase R$ 36 mil.

386

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

amplos e marcantes da história política de Mato Grosso do Sul fora exatamente em defesa do Pantanal, contra a instalação dessas mesmas usinas. Mas o governo do PT, apoiado pela sua base de sustentação na Assembleia Legislativa, não se sensibilizou com esse passado do qual ele próprio fizera parte. O mesmo governo e os mesmos parlamentares, aliás, que, a despeito da rejeição da população, defendiam a mudança do nome de Mato Grosso do Sul para Estado do Pantanal. O suicídio, em um dos pontos mais tradicionais de manifestação p olítica de Campo Grande, em frente ao "Bar do Zé", trouxe a ministra do Meio Ambiente Marina Silva a Mato Grosso do Sul, onde declarou p osição inteiramente contrária ao projeto. Acusando-a de não conhecer a região, o governador defendeu veementemente o projeto, demonstrando não pretender retirá-lo da Assembleia Legislativa. Matéria jornalística da ép oca afirmava: José Orcfrio dos Santos aparentemente mantém um bom relacionamento com as usinas de álcool. Entre os cinco maiores doadores oficiais de sua campanha ao governo, em 2002, três são usinas de álcool e uma é distribuidora de combustível. Esta é a terceira vez que ele tenta aprovar a mudança da lei16 .

1977-2007: CHEGANDO AOS TRINTA ANOS

387

lação das usinas. Portanto, foi necessária uma tragédia para que 17 dos 24 parlamentares estaduais rejeitassem o projeto de lei de auto ria do Executivo. Em síntese, para o ex-presidente da OAB-MS, Carmelino Rezende, há uma crise ética na atuação da Assembleia Legislativa que sofre a pressão de um poder "quase imperial", o Executivo: É preciso ter claro que nenhum deputado que se elege é um mal-

feitor declarado. E não está lá para votar contra os interesses da população. Ora, se o governo lidera uma agenda perante a sociedade, evidentemente que não precisa comprar apoio. Agora, isso é complicado e difícil de executar porque o Executivo exerce quase um poder impe rial na estrutura do Estado. O Executivo não quer ter paciência de liderar uma agenda propositiva, uma proposta de desenvolvimento junto com a sociedade. Ele quer impor e para isso acha que precisa comprar deputados. E aí vem o blá-blá-blá da govemabilidade, que tudo depende do apoio incondicional do apoio dos deputados da base governista, etc [. . .]. Todo mundo sabe que os deputados barganham o seu voto através das emendas. Mato Grosso do Sul não tinha essa prática. Essa prática de dotar em orçamento de uma parcela de verba para cada um dos deputados estaduais, a exemplo do que acontece nacionalmente, só mesmo no governo do PT. Estamos fazendo um outro tipo de mensalão. Aliás, nós estamos sempre na frente. A turma lá de Brasília fala em R$ 30 mil. Eles não conhecem o mensalão daqui. Todo mundo comenta

Algumas manchetes nacionais veiculadas no jornal O Estado de S. Paulo são ilustrativas: "Ambientalista ateia fogo ao corpo em protesto no MS" (13.11.2005); "Morte de ambientalista faz ministra agir contra projeto" (15.11.2005); "Viúva de ambientalista morto recebe promessa de ministra" (16.11.2005); "Zeca do PT acusa ministra de desconhecer o Pantanal" (17.11.2005); "Deputados de MS e nte rram projeto de usinas no Pantanal" Clº.12.2005). Essa última matéria é bastante significativa, pois mostra que a mudança de p osição da Assembleia só ocorreu após o suicídio de Francisco, embora deputados do próprio PT fossem contrários à insta-

Apesar de grave, essa crítica caiu no silêncio. Quanto à prática do acordo para compor a Mesa Diretora, continua recorrente, pois, em 2007, ao se iniciar o governo de André Pucinnelli (PMDB), a presidência da Assembleia foi garantida para o deputado Jerson Domingos, do seu partido. Mas os demais cargos de direção foram acordados e ntre vários outros partidos, incluindo o

16 ZECA do PT acusa ministra de d esconhecer o Pantanal. O Estado de S. Paulo. São Paulo, 17 nov. 2005, Caderno Vida&, p. A 22.

17 REZENDE, Carmelino . "A história avança com as crises". Correio do Estado. Campo Grande, 3 jul. 2005, p. 5 A. (Entrevista).

que é de R$ 50 mil 17 .

388

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

PT. Diferentemente do que desejava o novo governador, foi eleito A1y Rigo (PDD como primeiro-secretário da Mesa Diretora, em detrimento do seu próprio candidato, Reinaldo Azambuja (PSDB). Assim, venceu mais uma vez a articulação conduzida pelo atual presidente Londres Machado, que imp ôs o nome de Ary Rigo com quem é afinado desde a época ela ARENA, partido ao qual eles pertenceram. Em síntese: depois de intensas articulações, comentários de bastidores naquela Casa sinalizavam que o estilo autoritário de André encontrou no poder de maneio de Londres situação mais complexa que aquela com a qual se defrontava na sua relação com a Câmara Municipal de Campo Grande, pois é ele quem continua controlando o Legislativo estadual. Por sua vez, a bancada federal, avaliada periodicamente, tem tido desempenho abaixo da média. Com exceção cio senador Delcídio do Amaral (PD, que se projetou nacionalmente, Mato Grosso do Sul não tem tido presen ça significativa n o âmbito d o Poder Legislativo. Para exemplificar, o senador Ramez Tebet era presidente ela Comissão de Ética e do Decoro Parlamentar do Senado em 2000, quando foi realizada uma pesquisa sobre os parlamentares mais influentes do Congresso Nacional, e foi o ú nico de Mato Grosso do Sul a chegar perto de entrar nessa classificação. Segundo o coordenador da pesquisa, ele não conseguiu um lugar "entre os cabeças" porque "a sua imagem ficara um pouco arranhada com o episódio Luiz Estevão"18, referindo-se, entre outras coisas, às alterações nos prazos dados pela comissão à defesa cio senador acusado de desviar verbas do Orçamento. Essa mesma pesquisa, ao constatar que a "bancada de MS tem desempenho abaixo da média", citou, além de Ramez, os deputados Nelson Trad (PTB), Marisa Serrano (PSDB) e Flávio Derzi (PMDB). Segundo os dados:

18 Senado r fica perto de obter espaço. Correio do Estado. Campo Grande 17 ,

ju l. 2000, p. 3 A.

1977-2007: CHEGANDO AOS TRINTA ANOS

389

Eles tinham pequenas chances de assegurar um lugar entre os mais influentes do Congresso, mas Trad deixou a liderança do seu partido na Câmara; a tucana Marisa pecou por se afastar dos assuntos relacionados à educação, área em que vinha se destacando, e Derzi, que presidiu a Comissão de Meio Ambiente e Defesa do Consumidor, perde u espaço ao solicitar afastamento para tratamento de saúde 19 .

Dessa forma, nenhum deles preencheu os atributos necessários para tal destaque, que eram: capacidade de conduzir debates, negociações, votações, articulações e formulações; facilidade para tomar decisões, elaborar propostas e projetá-las para o centro do debate. Esse fraco desempenho, entretanto, não tem sido óbice para que uma significativa parcela dos parlamentares sul-mato grossenses inicie seus parentes na vida política institucional. Mas, passando-lhes como herança os seus nomes, praticam exatamente o que era criticado pelos divisionistas, para quem, não havia re novação na política mato-grossense porque ela era dominada por grupos de privilegiados. Vejamos o caso de Nelson Trad, por exemplo. Seu filho Nelsinho Trad (PMDB) foi vereador, deputado estadual, e, mais recentemente, elegeu-se prefeito de Campo Grande (2004); nessa mesma eleição, seu irmão Marquinhos Trad foi eleito o vereador mais bem votado da capital. Sem concluir o mandato, na eleição de 2006 foi o quinto mais votado para deputado estadual. Mas a presença dessa família na política de Mato Grosso do Sul não cessa aí: no final de 2006, Fábio Trad, outro filho de Nelson Trad, foi eleito presidente da OAB-MS. Já o deputado estadual Londres Machado, no seu décimo mandato, depois da esposa, em Fátima do Sul e do filho como vereador em Campo Grande, investiu na filha Grazielle Machado. E até parlamentares

19 Bancada de MS tem desempenho abaixo da média. Correio do Estado. Campo Grande, 17 jul. 2000, p. 3 A.

390

PODER POLITICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

que eram considerados próximos da esquerda não resistiram à tentação: Roberto Orro, por exemplo, elegeu seu filho Felipe Orro como prefeito de Aquidauana, dando continuidade ao secular p oder da família naquele município no qual se destacaram os coronéis Zelito e Tico Ribeiro, conforme mostramos no livro anterior a este. Lembremos ainda da eleição para prefeituras municipais dos filhos de Ramez Te bet e Valter Pereira. A propósito dessa tendência, interpretou Amarilio Ferreira Junior: Há um fenômeno que está chamando muito a atenção em Mato Grosso do Sul. Muitos políticos por aqui estão transformando membros de suas famílias em novos políticos. A sociedade sul-matogrossense ainda p agará um preço caríssimo por estar aceitando acríticamente esse processo, sem grandes questionamentos. Hoje temos um conjunto de chefes políticos, com suas respectivas famílias, se reproduzindo na cena pública com uma imensa carga ele patrimonialismo. Esse é um traço que chama a atenção desde a criação de Mato Grosso cio Sul, mas que vem se acentuando assustadoramente desde a última década2°.

Esse traço da política sul-mato-grossense também chama a atenção de jornalistas. Matéria publicada no jornal Correio do Estado, em 2004, intitulada "Eleições indicam o fim da oligarquia" em Mato Grosso cio Sul, citava os "tradicionais líderes que comandaram a política do Estado", dentre os quais, Londres Machado e Ramez Tebet. Sobre Wilson Barbosa Martins, afirmava que "a deputada Celina Jallad é o que sobra de um dos principais ícones da oligarquia estadual". Quanto ao "clã" de Lúdio Martins Coelho, a matéria lembrava que o ex-senador e ex-prefeito ela capital não tinha familiares para herdar seus votos, uma vez que o filho Ludinho havia sido sequestrado e assassinado em setembro de 1976, época em que tinha dois tios senadores: Italívio Coelho e Rachid Saldanha 20 FERREIRA JR., Amarilio. "A elite brasileira domesticou o PT". Correio do Estado. Campo Grande, 7 ago., 2005, p . 5 A. (Entrevista).

1977-2007: CHEGANDO AOS TRINTA ANOS

391

Derzi. Já na família Peclrossian, "outro exemplo do caciquismo", pai e filho haviam sido postos "para escanteio" nas eleições de 2002. Mas escapou aos jornalistas o fato de que, se tais "líderes" estavam desaparecendo do cenário político, configurando "o fim da oligarquia", isto, por si só, não significa renovação. Ao contrário: chegamos aos trinta anos de Mato Grosso do Sul convivendo com esse inquietante fenômeno das relações de parentesco determinando a política, além da enorme interferência do poder do dinheiro na conquista de mandatos, da eleição ele parlamentares sem qualquer vínculo com causas públicas, que parecem representar unicamente a si mesmos e , ainda, da substituição de nomes a cada legislatura configurando uma situação que comumente é tida como sinônimo de renovação quando, na verdade , significa exatamente a manutenção de velhas práticas. Desse modo, concluímos que o fim da era marcada pela polarização entre Pedro Pedrossian e Wilson Barbosa Martins não equivaleu ao fim das oligarquias em Mato Grosso do Sul, embora possa ter significado o fim de um determinado tipo de predomínio. E com exceção da eleição de José Orcírio governador, em 1998, mesmo a experiência petista de poder, não inaugurou a p ossibilidade daquilo que chamaríamos de socialização da política, uma vez que, na prática, está interditado ao "cidadão comum" chegar a ser um vereador, deputado ou senador, por exemplo. Isto porque, a própria esquerda não valorizou os seus quadros formados na militância política de décadas, oriundos de movimentos sociais representativos, aderindo, ao invés disso, à prática de eleger nomes obscuros como parlamentares despolitizados. A propósito, levantamento realizado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), informa que os deputados federais eleitos em outubro de 2006 arrecadaram em média R$ 780,69 mil durante a campanha, enquanto os senadores R$ 2,95 milhões. Essas cifras indicam que há algo de errado no sistema eleitoral brasileiro.

392

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL·MATO·GROSSENSl ',

Assim embora em 2006 tenham sido derrotadas família-. emblemáticas como os Sarney, no Maranhão; Antônio Carlos Ma galhães (PFL), na Bahia; e antes, em Mato Grosso do Sul, onde :1 imprensa nacional noticiara algumas vezes que "o caciquismo impera no MS", também havíamos assistido ao fim de um ciclo parecido, não podemos afirmar que o coronelismo acabou, sc entendermos por coronelismo a redução da esfera pública e m detrimento da expansão e do domínio de interesses privados. Mesmo em um país que se urbanizou, novas oligarquias vão se formando pelo voto, embora ele forma distinta à que prevalecia no passado, quando estavam mais restritas a um contexto rural. Ho je, especialmente a partir da década de 1990, no contexto da hegemonia do neoliberalismo, que investe contra a própria política, esse fenômeno inviabiliza projetos e ações das forças democráticas e de esquerda. Em Mato Grosso do Sul, a esquerda também contribuiu para esse panorama preocup ante. O antigo PCB (atual PPS), que dispunha de quadros bem preparados porque investia na sua educação política, adotou uma política de alianças que se afastou da sua tradição de esquerda, anulando a possibilidade de ser alternância na política sul-mato-grossense. Vítima de seguidas repressões e clandestinidades, quando conquistou a legalidade após a d itadura militar, não soube ser um partido de massas. Inversamente, o PT seguiu o caminho que o levou ao poder estadual. Mas, ali chegando, esse mesmo poder anulou os seus autênticos líderes. Ben-Hur Fe rreira, um nome promissor do PT, abdicou do seu mandato de deputado federal para se candidatar a prefeito de Campo Grande; depois da derrota, assumiu a Casa Civil do governo Zeca do PT e, finalmente, acabou se desligando do PT. Tal como Antônio Carlos de Oliveira, Ben-Hur acabou sendo outro político de expressão e de forte liderança no campo da esquerda que não cumpriu as expectativas nele depositadas.

1977-2007: CHEGANDO AOS TRINTA ANOS

393

Finalmente, quanto à questão da renovação, Mato Grosso do Sul, desde a instalação do seu primeiro governo, em 1979, foi governado p or todas as principais forças p olíticas que tiveram papel proeminente na vida nacional das últimas décadas: de um lado, a ARENA, que representava a ditadura militar e que foi beneficiada com a criação de Mato Grosso do Sul; de outro, o MDB e o PT, que a combatiam. O MDB em Mato Grosso do Sul, embora contrário à ditadura, abrigava forças provenientes da elite agrária representadas por Wilson Barbosa Martins, que foi o seu fundador. Já o PT, ascendeu combatendo tanto a ditadura quanto essas elites, mas, uma vez no Executivo, também incorporou as suas práticas. Hoje, o governo estadual retorna ao PMDB, provocando a re flexão sobre uma nova polarização política e sobre um cenário no qual a tão propagada re novação de lideranças ainda é um desafio. Suplantados os dois chefes p o líticos que exerceram a hegemonia até 1998, podemos dizer que o ciclo de poder representado pelas oligarquias agrárias terminou, p ois a rivalidade passou a ser praticada entre Zeca do PT e André Puccinelli, representantes de outras forças sociais. Se nos reportarmos à expectativa de renovação que existia fora do antigo dualismo entre Pedro Pedrossian e Wilson Barbosa Martins, constataremos que a liderança de André, embora não proveniente daquelas oligarquias, não se opunha a elas. Ele construiu a sua identidade política no PMDB posteriormente à derrota da ditadura; antes de ser prefeito da capital havia sido secretário de Saúde no prime iro governo de Wilson Barbosa Martins, depois foi deputado estadual e federal. Já a liderança de Zeca do PT, um ex-sindicalista, foi a que nasceu por fora dessa dualidade e contrária a ela. Entretanto, por ter se aliado às forças da antiga ARENA, sacrificou a chance histórica de gerar novos quadros não comprometidos com aquela hegemonia. O mais grave é que essa esp erança frustrada atingiu em cheio o próprio PT e de tal modo que o governo de André Puccine lli,

394

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSLN

pelo menos em seu começo, não se defronta com oposição 01g,1 nizada. Essa perspectiva é ruim, como escreveu Marco Au rvl1,, Nogueira sobre a necessidade de uma referência consiste nte vrn termos de esquerda democrática: O Brasil parece ter ingressado numa fase em que os pa1tidos polítirn., não mais coordenam a sociedade nem orientam os processos de mu dança. l\fantêm-se como personagens impo rtantes do mundo político, capturadores de votos, mas não de consensos, até porque têm pouca-. idéias a oferecer. No formato atual, os partidos já não dão conta da complexidade naciona l nem se mostram capazes de agir com deter mi nação refonnadora e disposição de organizar a sociedade. Para ten tarem se reconst1uir como atores positivos dependem fortemente das medidas que vierem a ser tomadas em termos de reforma política. Ou seja, ficaram mais vinculados ao &tado que à socieclade21 .

Considerando que as práticas aqui analisadas reforçam o entendimento segundo o qual existe uma tendência a se amesquinhar a política, torna-se mais problemático o cenário, pois, voltando ao autor citado, o mais preocupante ainda é que, no contexto de uma hegemonia na qual predomina a visão despolitizada da política, estariam ainda mais agravadas as possibilidades de realização de um projeto das forças democráticas e de esquerda22.

Crise financeira, base econômica e indicadores sociais Chegamos aos trinta anos do estado sonhado deparandonos com notícias sobre o seu brntal endi vidamento e sobre investigações de corrupção eleitoral praticada em 2006. Denúncias

21 NOGUEIRA, Marco Aurélio. Espaço desguarnecido. O Estado de S. Paulo. São Paulo, 25 nov. 2006, p . 2 A. 22 NOGUEIRA, Marco Aurélio. Um Estado para a sociedade civil, p. 90-116.

1077-2007: CHEGANDO AOS TRINTA ANOS

395

.1puradas pela Polícia Federal recaem sobre deputados eleitos, rnmo é o caso de Jerson Domingos (PMDB), em torno do qual tra nscorreram os acordos entre Executivo e Legislativo, em janeiro de 2007, para a presidência desse segundo poder. Essas denúncias reforçam a nossa constatação sobre a necessidade de melhoria no padrão ético da política institucional sul-matogrossense. Já no que diz respeito ao endividamento, mal se processou a transmissão de cargo de José Orcírio dos Sa ntos (PT) para André Puccinelli (PMDB), Mato Grosso do Sul passou a ocupar manchetes dos principais jornais de circulação nacional dando conta de que não havia dinheiro em caixa para pagar os salários de dezembro de 55 mil servidores estaduais. Ao lado d isso, as contas bancárias do novo governo foram momenta neamente bloqueadas por falta de quitação pelo estado de parcelas de dezembro de dívidas ren egociadas com a União, o que levou o governador a obter do presidente Lula u ma prorrogação de dez dias para pagar a quantia de R$ 47 ,9 milhões. Mato Grosso do Sul está mergulhado em dívidas: este foi o tema presente no cotidiano da população ao começarmos o ano em que ele completa as suas três décadas de existência. E qual é a sua origem? o contexto estadual, o assunto é sempre envolto nas considerações sobre Wilson Barbosa Martins ser o pagador oficial das dívidas deixadas por Pedro Pedrossian. Segundo essa versão, o primeiro assumia o estado em situação falimentar, pois o segundo deixava sua marca nas grandes obras e nos gigantescos desastres financeiros. Ademais, ante a falta de realização de Wilson, os pedrossianistas sorriam acusando-o por incompetência para tocar obras ou pelo menos para continuá-las. Em termos concretos, os estados que tinham dívidas com bancos internacionais submeteram-se a uma renegociação durante o governo de Fernando Henrique Cardoso que os obrigou a vender ativos para

396

PODER POLITICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

pagar, pelo menos, 20% do total de seus débitos. Esta foi uma precondição para que as dívidas fossem renegociadas pela União com taxa de juro ele 6% ao ano mais correção monetária pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna UGP-ID), o índice de inflação da Fundação Getúlio Vargas. Na época, essa taxa de juro era inferior ao que os estados pagavam por suas dívidas ao mercado. Se o pagamento inicial de 20% não fosse feito, a taxa seria elevada para 9% ao ano mais IGP-DI. Os contratos de renegociação foram, na prática, verdadeiras cartas ele intenções dos estados e municípios com a União, pois os governadores e prefeitos passaram a se comprometer com medidas de austeridade, como a redução de gastos com pessoal e a obtenção de superávits primários. Em janeiro de 2007, na transmissão de cargos entre ex-governadores e novos governadores eleitos, um balanço nacional da situação financeira mostrava que o alto grau de endividamento, gastos elevados em pagamento de pessoal, custeio da máquina pública e serviços da dívida impediam que os governos encontrassem recursos para aplicar em obras e infraestrutura. No caso de Mato Grosso do Sul, em 2006, era o seguinte o valor ele seu orçamento e o da sua dívida· em bilhões de reais: orçamento 5 bilhões; dívida 6,1 bilhões. Mato Grosso, ao contrário, apresentava orçamento superior à sua dívida (6 ante 5,7). A situação alarmante gerou análises sobre a crise financeira do estado, como podemos ler nessa matéria, que atribui ao segundo governo de Wilson Barbosa Ma1tins ter "emplacado um mau negócio: 15% da rece ita líquida da arrecadação''. Depois de 1996, a situação se agravou ainda mais e como resultado dos altos juros a dívida foi triplicada, conforme podemos ler: A valorização cambial de dezembro de 1998 de R$1,20 para R$1,79 no período de um ano , alterou conside ravelmente o valor por causa do atrelamento da dívida ao câmbio, que varia de 4% a 8% ao ano; em 1999, o Estado incorporou a dívida de conta garantida da Enersul

-----

-

--

-

397

1977-2007: CHEGANDO AOS TRINTA ANOS

e Sanesul assumida pelo Estado em 1998; no ano de 2000, assumiu a dívida imobiliária do Previsul; novamente, em 2001, a valorização do dólar elevou o valor da dívida do Estado com a União [. ..); em 2002 0 reajuste teve redução por causa da queda do dólar, de R$3,55 para R$2,89; o reajuste no ano de 2003 foi, basicamente, em função da inflação interna (IGP-ID) e capitalização de encargos; a inflação negativa e a queda do dólar ajudaram a desacelerar o crescimento da dívida e o aumento da receita que contribuiu para o pagamento maior da principal, cerca de R$ 7.532.457,80, pagos em janeiro de 2006; em 2006, a queda do dólar e a baixa inflação influíram para que a dívida crescesse, mas o aumento da receita do Estado contribuiu para o pagamento maior da principal23.

Para melhor compreensão do leitor, expomos no quadro seguinte a origem da crise financeira de Mato Grosso do Sul:

A ORIGEM DA CRISE FINANCEIRA

~ - - - - - - , ~ - - -- ---, ~ - - -- - --, 1995

1996

1999

2006

Neste ano, Mato Grosso do Sul contraiu a primeira divida.

O governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) assumiu as dívidas dos estados com os bancos e negociou o pagamento com as unidades da Federação. Wilson Barbosa Martins acordou pagar 15% do líquido da arrecadação estadual.

Zeca do PT assume o governo de Mato Grosso do Sul.

R$ 347 milhões foram amortizados da dívida com a União neste ano, o último da gestão de Zeca do PT.

R$ 1,5 bilhão foi quanto pediu de empréstimo o então governador Wilson Barbosa Martins (PMDB) a bancos internacionais para construir rodovias para escoar a produção.

R$ 2,258 bilhões era a dívida. R$ 1,989 bilhão foi quanto pagou em seus 8 anos de mandato.

R$ 154,8 milhões foram destinados a quitar os juros e as correções monetárias. R$ 6 bilhões é a dívida atual de Mato Grosso do Sul assumida pelo novo governador.

Fonte: o começo dos problemas. O Estado de S.Paulo. São Paulo, 9 jan. 2007, p. A 5.

23 BRUNO, Beatrice. Dívida de MS foi triplicada com altos juros. Correio do Estado. Campo Grande, 7 jan. 2007, p. 4 A.

398

PODER POlÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSI •,

O que se depreende dos números é que Mato Grosso do Sul chega aos seus trinta anos com a capacidade de investime nlo comprometida e com uma dívida ''impagável", segundo esp eci::i listas no assunto, pois, o estado assumiu índices incompatíveb com a sua condição financeira. Em 1999, quando José Orcírio dos Santos assumiu o seu primeiro mandato, a dívida era de R$ 2.257.781.755. Em oito anos ele saldou R$ 1.989.416.000 bilhões, quase o total, porém os índices e juros que recaem sobre a dívida elevaram o seu valor para mais de R$ 6 bilhões. Outro aspecto preocupante : e m 2006 , o pagame nto da dív ida foi de R$ 329.290.665. Para investir no estado, o governo teve nesse mesmo ano cerca de R$ 360 milhões, ou seja, o valor destinado ao pagamento da dívida foi quase o mesmo para ser empregado em obras que fomentariam o desenvolvimento dé Mato Grosso do Sul. Além dos problemas do Executivo, a impre nsa nacional noticiou que o Legislativo estadual também descumpre a Lei Fiscal: a folha de pagamento da Assembleia e do Tribunal de Contas do Estado (TCE), resp onsável p elo julgamento das contas do governo, supera os 4,5% da receita líquida do estado, quando o limite legal é de apenas 3%. Até hoje, rnntudo, nenhum TCE enquadrou um governador por contrariar a Lei Fiscal. Aliás, Mato Grosso do Sul parece ter herdado de Mato Grosso a prática de considerar o Tribunal de Contas do Estado um confortável órgão público no qual se encerram carreiras políticas. Mais uma vez, assim, a população e os servidores são penalizados pela mudança de governo, embora o governador José Orcírio tivesse prometido coisa diferente quando, em 2003, assinalou que o pior já havia passado, revelando os seus dois grandes sonhos: Os meus dois grandes sonhos sempre foram os seguintes: queria começar o meu governo há cinco anos atrás como nós vamos entregar o Estado em 2006. Estou convencido de que vamos entregar o

1977-2007: CHEGANDO A OS TRINTA ANOS

399

Estado bonito. Com dinheiro em caixa, o salário em dia. Até brinco: quem será que vai ser o afo1tunado? O segundo, é que vou me sentir realizado com isso21 .

Infelizmente, isto não aconteceu. Além de salários atrasados, o ano letivo dos 551,4 mil estudantes da rede pública sulmato-grossense25 ficou comprometido, começando mais tarde por causa do atraso no repasse de R$ 5 milhões para custear as despesas do transporte escolar. O quesito educação, como mostramos no livro anterior, era um elos mais criticados pelos divisionistas quando comparavam os investimentos que "o governo de Cuiabá" realizava no setor "prejudicando o sul", o qual, segundo eles, "raramente recebia um tinteiro do Estado"26. Por essa razão, demos destaque ao tema em alguns momentos, como aqui, com o intuito de constatarmos, em linhas gerais, a prática do governo do "sul" em relação a essa fundamental política pública. Nesse sentido, não podemos negar os seus avanços, especialmente no tocante à gestão escolar e às condições físicas. Pesquisa realizada pelo IBGE (2006) sobre o investimento em esporte nas escolas públicas brasileiras citou os cinco melhores estados dentre os quais Mato Grosso do Sul ocupava o primeiro lugar no quesito "escolas públicas estaduais dotadas de instalações esportivas", ou seja, das suas 398 escolas estaduais, 83,2% tinham essa condição. Os outros quatro estados destacados como melhores apresentaram os seguintes porcentuais: São Paulo (82,8%), Mato

24 SANTOS, José Orcírio dos. "Estou decidido a ficar até o fim". Correio do Estado. Campo Grande, 23 nov. 2003, p. 5 A. (Entrevista). 25 Conforme o Censo Escolar de 2006, Mato Grosso do Sul contava com 551,4 mil estudantes, dos quais, 312,9 mil na rede estadual (dos quais 77,4 mil em Campo Grande). Nas escolas municipais estudavam 238,4 mil alunos, sendo 72,7 mil somente em Campo Grande. 26 LIGA Sul Matogrossense. Representação dos sulistas ao Congresso Nacional Constituinte, p. IV; Liga Sul Matogrossense. Resposta ao general Rondon, p. 27.

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

400

Grosso (80,3%), Paraná (79,2%) e Santa Catarina (63,5%) 27 . Mas apesar das adequadas propostas contidas no programa de governo do "Movimento Muda MS", o quadro ainda é insatisfatório no tocante à qualidade de ensino ministrado nas escolas, aos salários pagos aos professores e aos índices de alfabetização. A propósito, pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Pedagógicas (INEP) sobre o Índice de Desenvolvimento ela Educação Básica (IDEB) mostra que Mato Grosso do Sul está abaixo dos números nacionais relativos ao rendimento escolar e à média de desempenho cios alunos (aprovação, reprovação e abandono), estes, por sua vez, abaixo do índice de países desenvolvidos (6) conforme mostra o próximo quadro:

1977-2007 : CHEGANDO AOS TRINTA ANOS

401

Quanto ao salário dos professores, é igualmente lamentável constatarmos que o assunto se arrasta há quase um século, se nos repo rtarmos ao relatório redigido pelo então presidente de Mato Grosso Joaquim da Costa Marques, que em visita aos municípios do sul do estado, assim registrou sobre a sua passagem por Campo Grande em 1913: enhuma das escolas públicas alli creadas estava funcionando, por falta de professores; no entanto já é bem numerosa a sua população escolar. O ensino primário era ministrado em duas escolas patticulares. A falta de professores para as escolas d 'esta villa e de outras do Sul do Estado se explica pela carestia da vicia n'esses lugares, em 28 desproporção com os vencimentos que percebem .

Transcorridos quase cem anos desse relatório, eis como a FETEMS caracterizou os governos que não respeitaram as ques-

Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (2007) Brasil

Mato Grosso do Sul

Anos iniciais do Ensino Fundamental

4 ,2

4

Anos finais do Ensino Fundamental

3,8

3,5

Ensino Médio

3,5

3,4

Elaborado pela autora com dados do INEP

De acordo com os números, em uma escala de 1 a 10, a média brasileira está abaixo de 4 quando a dos países desenvolvidos situa-se em 6 Clª a 4l! séries). Já a média de Mato Grosso do Sul é de 3,3, o que o coloca em 9n lugar no ranking nacional, ficando atrás de Minas Gerais, Santa Catarina, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Distrito Federal e Roraima, revelando um nível muito ruim de ensino, o que, portanto, constitui um aspecto frustrante pois constatamos que a educação não foi considerada como política pública essencial para a construção de Mato Grosso do Sul durante esses trinta anos. 27 Os cinco piores foram: Espírito Santo (24%); Rio Grande do Norte (18,8%); Alagoas (17,9%); Ro raima (14,3%); Acre (11%).

tões salariais da categoria: Governo Marcelo Miranda: foi um governo de desmandos e de perseguição aos direitos adquiridos dos servidores. Sofremos a cassação do nosso piso salarial. Tivemos o nosso Estatuto destruído e, no final, vivenciamos quatro meses de salários atrasados. Fomos obrigados a ocupar a governadoria por quarenta dias, denunciando ao Brasil inteiro tamanho desrespeito. Marcelo Miranda não saiu do governo pela porta da frente. Governo Pedro Pedrossian: um governo de autoritarismo, da falta de diálogo, cio arrocho salarial, do desvio de verbas ela Educação para obras faraônicas e, a exemplo do anterior, dos salários atrasados. Governo Wilson Ma1tins: um governo que manchou a história do n osso Estado pela corrupção, pelo sucateamento dos se1viços públicos, pelo desvio de verbas da Educação - só do FUNDEF foram mais de R$ 15 milhões. Ficamos com quatro meses de salários atrasados, sem décimo terceiro e sem ne-

28 MARQUES, Joaquim da Costa. Mensagem dirigida à Ass;!mbléa Legislativa e m 13 de maio de 1913. ln: AYALA, S. Cardoso; SIMON, F. Album Graph1co do h'.çtado de Matto-Grosso, p. 396-397.

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

402

nhuma conquista. Governo Popular: foi um governo que mobilizou a nossa esperança e a nossa utopia. Já tivemos impo1tantes vitórias: pagamento de quatro folhas de salários atrasados; pagamento cio décimo terceiro do governo passado; aprovação do Estatuto do Magistério; reajuste salarial médio de 23%; concurso para professores; aplicação correta dos recursos da Educação. Mas isto não basta. O pagamento em dia dos salários é um compromisso que deve ser honrado. É a prioridade das prioridades. Esperamos que o Governo Popular em setembro pague os salários até o quinto dia útil. Caso contrário, a Educação vai parar29 .

Em novembro do mesmo ano, a FETEMS voltava a emitir p anfletos indagando "E os salários? Até quando esse drama vai durar?" Em acréscimo à questão educacional, é oportuno observarmos alguns dados sobre desenvolvimento e qualidade de vida dos dois estados que aqui nos interessam. Dados comparativos sobre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (2006) o

'"'"'

(.),

"5

a. o a.

oô, -(1) c,o Q) .e E= "'.o ~w

ex: E~

"'"' a,,o - "' " ' Q)

a..c

sembléia Legislativa. Ata n 11 123 da 1ª le._Q,islatura da Assembléia Legislativa de Mato Grosso do Sul. C. Gra nde, 30 o ut. 1980.

OLIVEIRA, Antônio Carlos de. Mato Grosso do Sul ou a realidade de muitos sonhos. Brasília. Centro de Documentação e Informação, 1977. 13 p.

MATO Grosso cio Sul. Assembléia Legislativa. Ata n !I 137 da 1° legislatura da Assembléia l egislatim de Mato Grosso do S11l. Campo Grande, 19 n~w. 1980.

ORRO, Roberto Moaccar. Pronunciamento. ln: Ata 005. Assembléia Legislativa. Campo Grande, 16 ago. 1979, fl. 28.

MATO Grosso do Sul. Assemblé ia L!.:!gislativa. Ata n fl 140 da primeira legislatura da Assembléia Leg islatica de Mato Grosso do Sul. Campo Grande, 25 nov. 1980.

PARTIDO do Movimento Democrático Brasileiro. Discurso de Wilson Barbosa Martins na Convenção do PMDB. C. Gde., 03 jul. 1982.

MATO Grosso cio Sul. Secre ta ria do Planejamento. .1-fa to Grosso do Sul e o desenvoll'imento nacional, maio 1979.

PAR.IlDO do Movimento Democrático Brasileiro. Programa de governo: diretrizes. Campo Grande, set. 1994. 48 p.

MATO Grosso do Sul. Secretaria de Planejame nto e Coorde nação Geral. Municípius de Mato Grosso do Sul: informações gerais. Campo Grande. 198'i. 190 p.

PARTIDO cios Trabalhadores. Programa ele governo para Campo Grande (eleições 1996). Campo Grande, PT, 1996. 94 p.

MATO Grosso do Sul. Secretaria de Planejamen to e Coorde nação Ge ral. o Centro-Oeste e a retomada d o desenvolvimento nacional: proposições de l'l1ato Grosso do Sul ao l P.Vl), .\7? da A'orn República . Campo Gra nde , 1985. 11 7 p.

PARTIDO dos Trabalhadores. Nota de esclarecimento à população. Campo Grande, 13 dez. 1996. PARTIDO dos Trabalhadores e Partido Popular Socialista. Esta terra ainda vai cumprir seu ideal. Informativo do PT & PPS. C. Grande, jun. 1996, p. ~~ \~_::~·,,,...,

456

MATO GROSSO DO SUL: A CONSTRUÇÃO DE UM ESTADO

PARTIDO cios Trabalhadores. Programa de Governo. Campo Grand e, set. 1998. P~RTIDO ela Social Democracia Brasileira. Bancada do PSDB contesta senador Ludio Coelho. Campo Grande, 26 out. 1998.

PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

457

REZENDE, Carmelino de Arruda. Campo Grande, 29 maio 1995. RODRIGUES, José Barbosa. Campo Grande, 27 fev. 1996. SERRA, Eliophar de Almeida. Campo Grande, 26 fev. 1996

PARTIDO Trabalhista Brasileiro. PTB apóia Zeca do PT. Campo Grande, 19 out. 1998. PEDROSSIAl'\I, Pedro. Carta política. Campo Grande, ago. 2006. RASSLAN, Sultan. Pronunciamento . ln: Ata NJJ 110. Assembléia Legislativa ele Mato Grosso do Sul, 09 out. 1980, fl. 02. RONDON, Alberto e outros. Comunicado à população. campo Grande 14 abr. 1994. ' ROND?~• ~ntônio e outros. A divisão de Mato Grosso: resposta ao general Rondon. Maracaiu, Liga Sul-Mato-Grossense, 1934. 35 p . SOARES, Marcelo Miranda. Palestra aos oficiais superiores da FAB Campo Grande, 14 maio 1987. ·

Bibliografia sobre Mato Grosso e Mato Grosso elo Sul ANDRADE, Arlindo. Erros da federação. São Paulo, s.n., 1934. 205p. AYALA, S. Cardoso; SIMON, Feliciano. (orgs.) Álbum Grapbico do Estado de Matto-Grosso. Corumbá; Hamburgo [s.n], jan. 1914. AZEVEDO, Fernando. Um trem corre para o oeste; estudo sobre a Noroeste e seu papel no sistema de viação nacional. 2ll ecl. São Paulo : Edições Melhoramentos, s.d. 222 p. BACHA, Jussimara Barbosa da Fonseca. Chico Carvalho, na estrada do nelore. Campo Grande: Editora Ruy Barbosa, 2005. 108 p.

Entrevistas BIFFI, Antônio Carlos. Campo Grande, 29 abr.1991. COELHO, Lúdio Martins. Campo Grande, 15 fev. 1996. CUNHA, Leonardo Nunes da. Campo Grande, 20 ser. 1991. FIGUEIRÓ, Ruben. Campo Grande, 08 jan. 1996. FONSECA, Cândido Alberto da. Campo Grande, 11 jan. 2007. FRAGELLI, José Manoel Fontanillas. Aquidauana, 04 nov. 1995. FRAGELLI, José Manoel Fontanillas. Campo Grande, 24 out. 1996. GONÇALVES, Valdomiro. Campo Grande, 28 fev, 1996. LEME, Leocádia Aglaé Petry. Campo Grande, 23 fev. 1994. RODRIGUES, José Barbosa. Campo Grande, 27 fev. 1996. MACHADO, Paulo Coelho. Campo Grande, 03 a 10 jan. 1996. MACHADO, Paulo Coelho. Campo Grande, OS ago. 1997 MARTINS, Plínio Barbosa. Campo Grande, 09 jan. 1996. MARTINS, Wilson Barbosa. Campo Grande, 02 jun. 1991.

BARBOSA, Emílio G. Os Barbosas em Mato Grosso. Campo Grande: Editora Correio do Estado, 1961. 70 p. BARBOSA, Emílio G. Esboço histórico e divagações sobre Campo Grande. Campo Grande, s/ n., 1964. 56 p. BARROS, Abílio Leite de. Opinião. Campo Grande: Sindicato Rural de Campo Grande, 2004. 133 p. BITTAR, Mariluce. A face oculta da assistência. Campo Grande: Editora UCDB/ CECITEC, 1994. 138 p. BITTAR, Marisa. Estado, educação e transição democrática em Mato Grosso do Sul. Campo Grande: Editora da UFMS, 1998. 223 p. CABRAL, Paulo Eduardo . Formação étnica e demográfica. ln: CUNHA, Francisco Antônio Maia da. (Org.) Campo Grande: 100 anos de construção. Campo Grande: Editora Matriz, 1999. p. 27- 62. CAMPESTRINI, Hildebrando; GUIMARÃES, Acyr Vaz. História de Mato Grosso do Sul. 3 ª ed . Campo Grande: Academia Sul-Mato- Grossense de Letras & Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul , 1991. 194p.

MARTINS, Wilson Barbosa. Campo Grande, 12 set. 1995.

CAMPESTRINI, Hildebrando; ROSA, J. Pereira da. Vespasiano e a saga da divisão. C. Grande: Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, 1989. 20 p.

MARTINS, Wilso n Barbosa. Campo Grande, 14 fev. 2006

CAMPOS, Fausto Vieira de. Retrato de Mato Grosso. 2ª ed. São Paulo, s.n., 1960. 286p.

PARAGUASSÚ NETTO, Aleixo. Campo Grande, 22 fev. 1996. PEDROSSIAN, Pedro. Campo Grande, 26 abr. 2005.

CHINZARIAN, Muxeque. Armênios. ln: CUNHA, Francisco Antônio Maia da. (Org.). Campo Grande, 100 anos de construção. Campo Grande: Editora Matriz, 1999. p. 327-329.

458

MATO GROSSO DO SUL: A CONSTRUÇÃO DE UM ESTADO

CORRÊA, Afonso Nogueira Simões. A criação de Mato Grosso do Sul. ln: Cll NHA, Francisco Antônio Maia da. (Org.) Campo Grande: 100 anos de constm ção. Campo Grande: Editora matriz, 1999. p. 63-70. CORRÊA, Valmir Batista; CORRÊA, Lúcia Salsa. História e historiografia de uma região. Corumbá, s. n., 1985. 94p. CORRÊA, Valmir Batista. Coronéis e bandidos em Mato Grosso. Campo Grande: Editora UFMS, 1995. 189p. CORRÊA FILHO, Virgílio . História de Mato Grosso. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1969. 783 p. CORRÊA FILHO. Virgílio. A propósito dos novos territórios: comentários despretensiosos. Rio de Janeiro: Jornal do Commercio, 1944. 49 p. COSTA e SILVA, Paulo Pitaluga. Governantes de Mato Grosso. Cuiabá: Edição do Arquivo Público do Estado de Mato Grosso, 1993. 68 p . CRüZ, Sergio. Guerra ao contrabando: depoimento de um sobrevivente. Brasília: Thesaurus Editora, 1984. 143 p. CUNHA, Francisco Antônio Maia da. (Org.). Campo Grande, 100 anos de construção. Campo Grande: Editora Matriz, 1999. 418 p. FERRETRA Jr., Amarilio. Professores e sindicalismo em Mato Grosso do Sul 19791986. Campo Grande: Edito ra daUFMS, 2003. 154 p. GALETTI, Lylia da Silva Guedes. O estigma da barbárie e a identidade regional. Recife, XVTII Simpósio Nacional de IIistória - ANPUH, jul. 1995. GALETTI, Lylia d a Silva Guedes. Grande sertão, fronteira: visões do Oeste brasileiro nos séculos XIX-XX (O Mato Grosso). Relatório de qua lificação. São Paulo, USP, s/ d. 182 p. GARCIA, Philadelpho . A ve,·são e o fato. Lo ndrina: Edditora branco & preto, 1994. 330 p. JORGE, Stella Maris F. Filinto Muller-. memória e mito (1933-1942). São Paulo. USP,1993. 202 p. Dissertação de mestrado em História. FFLCH, USP, 1993. KOKICHI, Guenka. Um japonês em Mato-Grosso (Subsídio para a história da colonização japonêsa no Brasil). São Paulo: Gráfica Siqueira, 1958. 159 p. LIMA, Asturio Monteiro de. Mato Grosso de outros tempos: pioneiros e heróis. São Paulo: Editora Soma, 1978. 179 p. LINS, Anto nio Lopes. Eduardo Olímpio Machado: o homem, o meio, seu tempo. Cuiabá: Fundação Cultural de Mato Grosso, 1976. 147 p. MACHADO, Paulo Coelho . Arlindo de Andrade. Campo Grande: Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, 1988. 54p. MACHADO, Paulo Coelho . A rua velha. Campo Grande: Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, 1990. 206 p. MACHADO, Paulo Coelho. A rua barão. Campo Grande: Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, 1991. 108 p.

PODER POLÍTICO E ELIT ES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

459

MARTINS, Demosthenes. História de Mato Gmsso. São Paulo: Vaner Bícego Editora, s.n . 204p. MARTINS, Demosthenes. A poeira da jornada. Memórias. São Paulo: Editora Resenha Tributária, 1980. 397 p. MARTINS, Demosthenes. Camp o Grande: aspectos jurídicos e políticos do município. Campo Grande: Grá fica Alvorada, 1972. 62 p. MARTINS, Nelly. Vespasiano, meu pai. Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal, 1989. l 00p. MARTINS, Oclécio Barbosa. Pela defesa nacional: estudo sobre redivisão territorial do Brasil, s.l., s.n. 1944. 146 p. MARTINS, Wilson Barbosa. Prefácio. In: PEDRO SA, Ledi r Marques. Origem histórica e bravura dos Barbosas. 2'. ed. C. Grande, s.n., 1986. MELO e SILVA, José de. Canaã do oeste (Sul de Mato Grosso). Campo Grande: Tribunal de Justiça, 1989. 174p MENDONÇA, Estevão de. Datas mato-grossenses. Cuiabá: Casa Civil do Governo de Mato Grosso, 1973. v I, 336 p. v. II, 377 p. MENDONÇA, Rubens de. Dicionário biográfico mato-grossense. 2ª ed. Goiânia: Editora Rio Bonito, 1971. 165p. MENDONÇA, Rubens de. História das revoluções em Mato Grosso. Goiânia: Edito ra Rio Bonito, 1970. 205 p. MENDONÇA, Rubens de. História do jomalismo em Mato Grosso. São Paulo: Gráfica da Prefeitura, 1951. 104 p. MENDONÇA, Rubens de. História do poder legislativo de Mato Grosso. O caso Pedrossian. 2ª.ed . Cuiabá: A.Legislativa de Mato Grosso, 1974. 460 p. MENDONÇA, Rubens de. História de Mato Grosso. 2•. ed. Cuiabá, s.n. , 1979. METELLO Eduardo Machado. A cidade e o boi. ln: CUNHA, Francisco Antônio Maia da. (Org.) Campo Grande: 100 anos de construção. Campo Grande: Editora matriz, 1999. p. 83- 94. ' MO'n'A Elias de Oliveira. As eleições de 1978 em Mato Grosso. ln: CARVALHO, Orlando (Coord.) As eleições nacionais de 1978. Brasília: Fundação Milton Campos, 1979. v. II. p. 149-173. MO'n'A Elias de Oliveira. As e le ições de 1978 em Mato Grosso do Sul. In: CARVALHO, Orlando (Coord.) As eleições nacionais de 1978. Brasília: Fundação Milton Campos, 1979. v. II. 175-191. NOVIS NEVES, Maria Manuela Renha de. Elites políticas: competição e d inâmica partidário-eleitoral (caso de Mato Grosso). Rio de Janeiro: Vé1tice & IUPERJ, 1988. 228 p. PEDROSA, Ledir Marques. Origem histórica e bravura dos Barbosas. 2ª. ed. Campo Grande, s.n. , 1986. 257 p. PONCE FILHO, Generoso. Generoso Ponce, um chefe. Rio de Jane iro: Pongetti Editora, 1952. 563 p.

460

MATO GROSSO DO SUL: A CONSTRUÇÃO DE UM ESTADO

PÓVOAS, Le nine. História de Mato Grosso. Cuiabá , s.n., 1985. 131 p. PÓVOAS, Le nine. Mato Grosso: um convite à fortuna. Rio de Janeiro: Guavira Editores, 1977. 166 p. PÓVOAS, Lenine. História da cultura matogrossense. São Paulo: Editora Resenha Tributária, 1982. 226 p.

PODER POLÍT ICO E ELITES DIRIGENTES SUL•MATO•GROSSENSES

461

TSUKÂNOV, Oleg Petróvitch. Perspectivas do Mato Grosso do Sul. Estudos MS _Revistado programa de estudos regio nais. Campo Grande: UFMS, n. 1, ano 1, jun . 1995. p. 16-20. VALLE, Pedro. A divisão de Mato Grosso. Brasília; Royal Court, 1996. 227 P·

PÓVOAS, Nilo. Galeria dos varões ilustres de },fato Grosso. Cuiabá: Fundação Cultural de Mato Grosso, 1977. v.01, 119 p. v. 02, 135 p.

VALENTE Frederico. Mato Grosso do Sul, o caos financeiro, e a perspectiva ~e u m gove/no da cidadania. Estudos MS - R~vista do programa de estudos reg10nais. Campo Grande: UFMS, n. 1, ano 1, iu n. 1995 p. 04-06.

QUEIROZ, Paulo R. Cimó. Breve roteiro das transformações recentes no campo sul-mato-grossense. s.l., s.n., 1989. 19 p. (Mimeogr.).

WEINGARTNER, Alisolete Antônia cios Santos. Mo.vimento divisionista em Mato Grosso do Sul (1889-1930). Porto Alegre: Edições Est, 1995. 83 p.

QUEIROZ, Paulo Roberto Cimo. Uma ferrovia entre dois mundos. A E. F. Noroeste d o Brasil n a p rime ira me tade do sécu lo 20. Bauru: EDUSC; Campo Grande: Editora da UFMS, 2004. 526 p. RODRIGUES, José Barbosa. isto é Mato Grosso do Sul. São Paulo: Vaner Bícego Editora, 1978.139 p . _ _. O primeiro jornal de Campo Grande. Campo Grande: Fundação Barbosa

Rodrigues, 1989. p.50.

_ _. História de Mato Grosso do Sul. São Paulo: Editora do Escritor, 1985.

Músicas SÁ.TER , Almir; SIMÔ ES , P au Io . S o n hos. guaran is. In: Prata da Casa. Campo Grande: UFMS & TV More na, 1982. SIMÕES, Paulo; ROCCA, Geraldo. Trem do Pantanal ln: Prata da Casa. Campo Grande: UFMS & 'IV Morena, 1982.

RJBEIRO, Lélia R. de Figueiredo. O homem e a terra. Campo Grande, s. n., s.d. RIBEIRO, Renato Alves. Taboco 150 anos. balaio de recordações. São Paulo: Prol ed itora, 1984. 236 p. ROSA, Pedro Ângelo da. Resenha histórica de Mato Grosso: fronteira com o Paraguai. Campo Grande: Livraria Ruy Barbosa, 1962. 91 p.

Artigos de jornais e revistas A esquizofrenia das obras abandonadas. O

SILVA, ) ovam Vile la da. A divisão de Mato Grosso: uma visão histórica (1892-1977). Porco Alegre, PUC-RS, 1982. 138 p. Dissertação de mestrado em História. Po ntifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 1982.

out. 1995, caderno A, p. 03.

SOUSA, Maria Cecília Guerreiro de. inventário de documentos histól'icos sobre o centro-oeste. Cuiabá: UFMT, s.d. 04 volumes.

À margem dos resultados finais.

SOUZA, Ni lso n Araújo de.; MOURA e SILVA , Luisa Ma ria de. O desenvolvimen to de Mato Grosso do Sul e a integração nacio na l e latino-americana. Estudos MS - Revista do programa de estudos regionais. Campo Grande: UFMS, n° l , a no 1, p . 07-15, jun. 1995. SOUZA, João Batista de. Evolução histórica sul Mato Grosso. São Paulo: Organização Simões, 1960. 168p. SOUZA, Antônio Barbosa. Laucídio Coelho, u m desbravador. Campo Grande [s.n], 1966. TAUNAY, Viscon de de. De Campo Grande a Aquidaban. São Paul o: Cia. Melhoramentos, 1929. 221 p. TAUNAY, Visconde de. Em Matto Grosso invadido (1866-1867). São Paulo: Cia. Melhoramentos, 1929. 152 p.

Estado de São Pauto. São Paulo, 10

A hora do espanto. Correio do Estado. Campo Grande, 07-08 jan. 1995, P· 02. A obra de Pedrossian em Campo Grande. Correio do Estado, 21 dez. 1982.

Correio do Estado. Campo Grande, 14 dez. 1982, p. 02. A PECUÁRIA vai bem. Os criad ores, me lhor ainda. Correio do Estado, Campo Grande, 18 nov. 1980, p. 05. A solução é Lúd io Coelho mesm o!

Correio do Estado, Campo G ran de,

04 ago. 1965, p . 01. A ma rcha ela vitó ria de Lúdio Coelho. Correio do Estado, Campo Grande, 29 set. 1965, p. 01. À ma rgem dos resu ltad os fi n a is. Correio do Estado. Ca m po Gran de, 14 dez. 1982, p. 02. AÇÃO do governador provoca renúncias em Sidrolãndia. Correio do Estado. Campo Grande, 17-18 jul. 1982, p. 03. ACORDO garante saída de sem-terra d e ã rea em •MS • O listado de São Paulo. São Paulo, 05 abr. 1997. Caderno A, p. 26.

462

MATO GROSSO DO SUL· A CONSTRUÇÃO DE UM ESTA DO PODER POLÍTICO E ELITES DIRIGENTES SUL-MATO-GROSSENSES

AGRIClJLT( ' RA. a pasta para Harrr . Cor-reio do Hstado. Ca mpo Gra nd e, 0'> nov. 1980, p. 03.

463

CAMPANHA reaglutina o pedrossianismo. Correio do Estado, Campo Grande, 04-05 jun. 1994. p.03.

AMANHÃ e m Campo Grande e Bra:.ília. a g rande f,·.sr-• (la h I d. · ~ " son a( a 1v1t-ao. Correio do Estado, Campo Grande, 10 out. 19-.,_ p.01.

CAMPO Grande: cidade moderna. Revista Interior. Brasília , nov. 1977, p. 40.

AMORIM Cot-ta continua cami nhada pelos municípios mato-grossenst::... Diário da Serra. C:impo Grande. 31 our. 19.,8. p. 06.

CAPES anuncia curso de mestrado d irigido à formação profissional. Jornal da Ciência Hoje. Rio de Jane iro, 23 fev. 1996, p. 04.

A!\iACHE que r mec!alh:i Filinto Mi.iller. Correio do .Estado. Campo Gra nde, 2-; abr. 1991, p. 02.

CAPITAL sedia e ncontro nacional de produção do novilho precoce. Correio do Estado, Campo Grande, 15 jul 1996, p. 12.

APESAR do vexame, PPS seria opção. Correto do Estado. Camp o G rande. 2 out. 2000, p. •-Í A.

CASSAÇÕES : P e d ross ia n evita pro nunc ia m e nt o. Corre io do Esta d o, Campo Grande, 24-25 out. 1966. p.01.

APESAR das crises . MS se consolida. Folba de São Paulo. São Pau lo, 13 out. 198➔• p. 09.

COMEÇA hoje o governo de Marcelo Mira nda. Diário da Serra. Campo Grande, 28 jun. 1979, p . 01.

A_R~NA 1~rde_re líderes q ue te nham votos e q ue possam kva r vitoria. Correio do Estado. Campo Gra ndt:, 16 jan. 19.,8, p. 08.

pa rtido ft

COMISSÃO exige conclusão de 100 obras inacabadas. Correio do Estado. Campo Grande, 13 nov. 1995, p . 05.

ARE,'.\;A deplora e ve ntual nomeação dt: a lie n ígena. Correio do E5tado. Campo Grande, 06 mar. 1978, p. 02.

COMUNISTAS infiltram-se no MDB de Campo Grande, denuncia vereadora Nelly Bacha. Correio do Estado. Campo Grande, 06 dez. 1978, p. 01.

O

CORONEL e cacique. Correio do Esta do, C. Grande , 22 out. 1996, p. 03.

ASSEMTlLÉIA aprova piso do profe~5or. Correio do Estado. Campo Gra nde, 21 no v. _198'>, __p. O•t e \X'ilso n propcie reaju s te e piso aos p rofe ssores. Corrmo do l:.stado. Campo Grande, l -1 ago . 1985, p. 01.

CORRUPÇÃO na Secretaria de Ed ucação. Jornal da Cidade. Campo Grande, 07-13 ago. 1983, p . 01.

Correio do Estetdo.

CORRUPÇÃO n a Educação é to d a revelad a . Corre io do Estado. Campo Grande, 05 ago. 1983, p . 03.

BANCADA de ,\1S tem desempenho abaixo da média. Correio do Estado. Campo Grande. P jul. 2000, p. 3 A.

CPI dec ide h o je cassação de pa rl a m e ntares. Correio do Estado. Campo Grande, 21 jan. 1994, p. 02.

Al'MENTA a fru stração n o Estado : Canal e . Campo Grande, 02 jul. 1982, p. 03.

BANDEIRA rus.'