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Portuguese Pages 238 Year 2014
Fonologia e Morfologia do kwanyama (R21) Por ZAVONI Ntondo
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FONOLOGIA E MORFOLOGIA DO KWANYAMA (R21) Zavoni Ntondo, PhD Sobre o Autor Zavoni Ntondo, é natural de Mbanza Mabubu, Munícipio de Damba, Provincia do Uige. É Licenciado em Língua e Literatura Francesas, pela Universidade Nacional do Zaire (UNAZA), Campus de Lubumbashi cujo TFC intitula-se La Thématique dans Chiquinho de Baltazar Lopes. Mestre em Linguística Africana pela Universisdade Livre de Bruxelas (ULB-Belgica), tendo defendido, em 1991, uma Dissertação intitulada Éléments de Description du kwanyama (R21), langue bantu d'Angola.Obteve, em 2003, o titulo de Doutor (PhD) em Ciências da Linguagem, opção Linguística Africana, pela Universidade Lumière-Lyon 2 (França), com a defesa de tese intitulada Éléments de Description du Ngangela. - Professor Titular do Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED/Luanda) onde lecciona as cadeiras de Introdução aos Estudos Linguísticos, Fonologia das Línguas Africanas, Sintaxe das Linguas Africanas, a nível de Licenciatura. Ministra, igualmente, nos Cursos de Mestrado em Ensino da Lingua Portuguesa a cadeira de Linguística Africana. - Colaborador na UCAN (2004-2007), UNIPIAGET (2007-8) e actualmente na Faculdade de Letras onde lecciona as cadeiras de Sintaxe das Línguas bantu na licenciatura e a nível do Mestrado Linguística Africana e Língua e Linguística do Kikongo. - Director do Instituto de Línguas Nacionais (1999-2004); - Vice Decano para Assuntos Científicos e Pós Graduação (2006-2010); - Presidente do Júri do Prémio Nacional de Cultura e Artes durante três edições (2010, 2011, 2012); - Conferencista em vários eventos científicos nacionais e internacionais e autor de vários artigos nos Jornais e Revistas nacionais e internacionais; - Co-autor com Joao Fernandes do livro Angola: Povos e Linguas, Nzila, 2002; - Publicou o livro Morfologia e Sintaxe do Ngangela (2006) que ganhou o Premio Nacional de Cultura e Artes, disciplina de Investigação Científica, em 2006.
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Zavoni Ntondo, é natural de Mbanza Mabubu, Munícipio de Damba, Provincia do Uige. É Licenciado em Língua e Literatura Francesas, pela Universidade Nacional do Zaire (UNAZA), Campus de Lubumbashi cujo TFC intitula-se La Thématique dans Chiquinho de Baltazar Lopes. Mestre em Linguística Africana pela Universisdade Livre de Bruxelas (ULB-Belgica), tendo defendido, em 1991, uma Dissertação intitulada Éléments de Description du kwanyama (R21), langue bantu d'Angola.Obteve, em 2003, o titulo de Doutor (PhD) em Ciências da Linguagem, opção Linguística Africana, pela Universidade Lumière-Lyon 2 (França), com a defesa de tese intitulada Éléments de Description du Ngangela. - Professor Titular do Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED/Luanda) onde lecciona as cadeiras de Introdução aos Estudos Linguísticos, Fonologia das Línguas Africanas, Sintaxe das Linguas Africanas, a nível de Licenciatura. Ministra, igualmente, nos Cursos de Mestrado em Ensino da Lingua Portuguesa a cadeira de Linguística Africana. - Colaborador na UCAN (2004-2007), UNIPIAGET (2007-8) e actualmente na Faculdade de Letras onde lecciona as cadeiras de Sintaxe das Línguas bantu na licenciatura e a nível do Mestrado Linguística Africana e Língua e Linguística do Kikongo. - Director do Instituto de Línguas Nacionais (1999-2004); - Vice Decano para Assuntos Científicos e Pós Graduação (2006-2010); - Presidente do Júri do Prémio Nacional de Cultura e Artes durante três edições (2010, 2011, 2012); - Conferencista em vários eventos científicos nacionais e internacionais e autor de vários artigos nos Jornais e Revistas nacionais e internacionais; - Co-autor com Joao Fernandes do livro Angola: Povos e Linguas, Nzila, 2002; - Publicou o livro Morfologia e Sintaxe do Ngangela (2006) que ganhou o Premio Nacional de Cultura e Artes, disciplina de Investigação Científica, em 2006.
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FONOLOGIA E MORFOLOGIA DO KWANYAMA (R21)
ZAVONI NTONDO Prefácio de Mbyavanga Fernando
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Copyright: © Zavoni
Ntondo/Mayamba Editora, 2014
Colecção: Educação. Lingística Título:
FONOLOGIA E MORFOLOGIA DO KWANYAMA (R21) Autores:
Martinho Júnior e Leopoldo Martinho Baio Edição: Mayamba Editora, 2014 Editor Arlindo Isabel Rua 3, n.º 231, Urbanização Nova Vida Município de Kilamba Kiaxi – Luanda-Sul/Angola Cx. Postal 34 62 E-mail: [email protected] Site: www.mayamba.com
Paginação: Capa: Impressão e acabamento: Damer Gráficas, SA 1.ª Edição: Luanda, Janeiro de 2014 Tiragem: 1 600 Exemplares Depósito legal n.º ___________ ISBN: 978-989-8528-___-____
Toda a reprodução desta obra, por fotocópia ou por outro qualquer processo, sem prévia autorização escrita do Editor, torna-se ilícita e passível de procedimento judicial
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Dedicatória
Dedico esta obra primeiro à minha família (esposa Mayasongwa Madalena e aos nossos filhos); À minha grande amiga Delfina Necongo; À minha cara aluna Fernanda Estela Abraão; Enfim a todos os meus estudantes de licenciatura e/ou Mestrados, assim como a todos os linguistas e amantes da linguística africana.
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Agradecimentos
Em primeiro lugar pensamos ao Cósmico que é o doador desta vida terrestre que levamos e inspirador da iniciativa e criatividade pela qual conseguimos erguer esta modeste obra. Dirigimos também os nossos agradecimentos aos colegas que nos encorajaram a levar a cabo este empreendimento tao nobre como também àqueles que consagraram o seu precioso tempo para ler este trabalho e fazer-nos parte das suas úteis observações. Pensamos à Professora Amélia Mingas, ao Professor Mbiavanga Fernando e Professor Lukombo Joao Baptista Nzatuzola. Não podemos esquecer aqueles que com quem passamos uma boa parte de tempo nas discussões cientificas sobre a linguística africana e no fornecimento de material oportuno que enriqueceu a nossa obra. A todos e todas que de uma maneira ou de outra conseguiram encorajar-nos a prosseguir neste caminho cientifico para a nossa projecção científica. Enfim, a Dra IRENE GUERRA MARQUÊS não só para a revisão linguística como também para algumas considerações achadas pertinentes.
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Índice…………………………………………………………………………... 9 Prefácio de Mbyavanga Fernando 9 Introdução……………………………………………………………………. PRIMEIRA PARTE: FONOLOGIA……………………………………….
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Capítulo I: Fonologia Segmental…………………………………………..
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1.1.- Plano Paradigmático……………………………………………………
12
1.1.1.- Vogais…………………………………………………………………
12
a).- Quadro fonético…………………………………………………………
12
b).- Quadro fonológico………………………………………………………
12
c).- Comentários…………………………………………………………….
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d).- Realizações Fonéticas……………………………………………………..
13
e).- Identificação de fonemas vocálicos……………………………………..
15
f).- Definição de fonemas…………………………………………………….
18
g).- Comprimento vocálico…………………………………………………..
19
1.1.2.- Consoantes……………………………………………………………
20
a).- Quadro fonético………………………………………………………….
20
b).- Quadro fonológico……………………………………………………….
20
c).- Comentarios………………………………………………………………
21
d).- Escolha de /v/…………………………………………………………….
21
e).- Distribuiçao complementar……………………………………………...
21
1.- Consoante fricativa bilabial surda [ɸ]……………………………………
21
2.- Consoante oclusiva apicoalveolar aspirada [tʱ ]…………………………
22
3.- Consoante fricativa laringal oral [h]…………………………………….
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4.- Consoante oclusiva apicoalveolar palatalizada [tᶣ ]……………………
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5.- Consoante africada palatal sonora [ʤ]………………………………..
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6.- Consoante oclusiva labiovelar surda [kʷ ]………………………….........
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7.- Consoante labiovelar nasalizada [ŵ]……………………………………
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8.- Consoante oclusiva labiovelar [gʷ ]……………………………………..
27
f.- Análise de sequência consonânticas NC……………………………….
28
1.- Caso de [mb]……………………………………………………………
29
2.- Caso de [nd]…………………………………………………………….
29
3.- Caso de [ŋg]……………………………………………………………..
30
4.- Caso de [mh], [nh], [ŋh]…………………………………………………
30
g.- Identificaçao de fonemas consonânticos………………………………
32
h.- Definiçao de fonemas consonânticos…………………………………..
39
1.2.- Plano sintagmático…………………………………………………….
41
1.2.1.- Sílaba…………………………………………………………………
41
1.2.2.- Restrições nas combinações…………………………………………
41
a).- Vogais……………………………………………………………………
41
b).- Consoante Nasal………………………………………………………..
42
c).- Consoante + Vogal………………………………………………………
43
d).- Consoante + Consoante + Vogal………………………………………
44
e).- Consoante + Consoante + /y/ ou /w/ + vogal………………………….
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Capitulo II: Fonologia Supra- segmental………………………………..
47
2.1.- Fonética………………………………………………………………..
47
2.2.- Fonologia Tonal………………………………………………………
49
2.3.- Realizações alofónicas de tonemas…………………………………
50
2.4.- Oposições fonológicas………………………………………………..
51
Capitulo III: Morfofonologia……………………………………………
53
12
3.1.- Generalidades…………………………………………………………
53
3.2.- Regras morfofonologicas…………………………………………….
53
Capitulo IV: Análise Diacrónica…………………………………………
80
4.1.- Aspectos sincrónicos do kwanyama…………………………………
80
4.2.- Aspectos diacrónicos do kwanyama………………………………..
80
4.3.- Reflexos das consoantes não nasais…………………………………
82
4.1.1- Reflexos de *b………………………………………………………
82
4.1.2.-Reflexos de *d………………………………………………………
82
4.1.3.- Reflexos de *g……………………………………………………..
84
4.1.4.- Reflexos de *j……………………………………………………..
84
4.1.5.- Reflexos de *p…………………………………………………….
85
4.1.6.- Reflexos de *t……………………………………………………..
86
4.1.7.- Reflexos de *k…………………………………………………….
87
4.1.8.- Reflexos de *c……………………………………………………..
88
4.2.- Reflexos das consoantes nasais e pre-nasalizadas………………..
89
4.2.1.- Reflexos das consoantes nasais……………………………………
89
a).- Reflexos de *m…………………………………………………………
89
b).- Reflexos de *n………………………………………………………….
89
4.2.2.- Reflexos das prenasalizadas…………………………………………
89
a).- Reflexos de *mb………………………………………………………..
89
b).- Reflexos de *ng…………………………………………………………
90
c).- Reflexos de *nj………………………………………………………….
90
d).- Reflexos de *nd…………………………………………………………
90
e).- Reflexos de *mp
91
13
f).- Reflexos de *nt……………………………………………………………
91
g).- Reflexos de *nk…………………………………………………………..
91
SEGUNDA PARTE: MORFOLOGIA………………………………………
92
Capitulo I: Substantivos……………………………………………………..
94
1.1.- Classes substantivais…………………………………………………….
94
1.1.1.- Aumento………………………………………………………………
95
1.1.2.- As classes……………………………………………………………..
95
1.1.3.- Valores dos prefixos…………………………………………………..
103
a).- Semântico………………………………………………………………..
103
b).- Numérico…………………………………………………………………
104
1.1.4.- Substantivos simples………………………………………………….
104
1.1.4.1.- Substantivos com um prefixos…………………………………….
105
1.1.4.2.- Substantivos com dois prefixos…………………………………..
107
a).- Substituição…………………………………………………………….
107
b).- Adição………………………………………………………………….
108
1.1.4.3.- Substantivos desclassificados……………………………………
109
1.1.5.- Substantivos complexos……………………………………………
110
1.1.5.1.- Substantivos compostos…………………………………………
110
a).- Substantivo + substantivo……………………………………………..
110
b).- Substantivo + tema adjectival…………………………………………
111
c).- Radical verbal–a + substantivo………………………………………..
111
d).- Radical verbal (kálà) + verbo infinitivo……………………………….
112
e).- kwá e/ou mwá………………………………………………………….
112
1.-Ps + kwá + substantivo…………………………………………………..
112
14
2.- Radical verbal + na + substantivo………………………………………
113
3.- Ps. + kwá + ná + subst………………………………………………….
113
4.- Ps + ná + subst…………………………………………………………
113
f.- Substantivo possessivo……………………………………………….
113
1.1.5.2.- Substantivos derivados…………………………………………
114
a).- Derivaçao prefixal…………………………………………………..
114
b).- Derivaçao deverbativa……………………………………………..
116
Capitulo II: Os prefixos de concordância e os índices pronominais……
121
2.1.- Quadro de prefixos de concordância…………………………………
121
2.2.- Quadro dos índices pronominais……………………………………..
124
Capitulo III: Pronomes……………………………………………………
127
3.1.- Pronomes pessoais……………………………………………………
127
a).- Participantes ou interlocutores………………………………………..
127
b).- Classes…………………………………………………………………
127
3.2.- Pronomes não pessoais………………………………………………
129
Capitulo IV: Os Acompanhantes dos substantivos……………………..
131
4.1.- Conectivos……………………………………………………………
131
4.2.- Os Qualificativos……………………………………………………..
133
4.2.1.- Lexemas primários…………………………………………………
134
4.2.2.- Lexemas secundários………………………………………………..
137
4.3.- Os Demonstrativos……………………………………………………
138
4.3.1.- Demonstrativos simples……………………………………………
138
4.3.2.- Demonstrativos complexos…………………………………………
142
4.4.- Os Possessivos…………………………………………………………
144
15
4.4.1.- Estruturas……………………………………………………………..
144
4.4.2.- Quadro dos Possessivos……………………………………………..
145
4.5.- Os Numerais…………………………………………………………..
146
4.5.1.- Numerais acordáveis………………………………………………
146
4.5.2.- Numerais não acordáveis…………………………………………
149
4.5.3.- Substantivos numerais…………………………………………….
149
4.5.4.- Numeral ordinal……………………………………………………
149
4.6.- Os Interrogativos……………………………………………………..
150
4.6.1.- Interrogativos acordáveis………………………………………….
150
4.6.2.- Interrogativos não acordáveis………………………………………
151
4.7.- Os Quantificadores……………………………………………………
152
4.7.1.- Totalizador………………………………………………………….
152
4.7.2.- Individualizador…………………………………………………….
153
4.7.3.- Distributivo……………………………………………………………
153
4.7.4.- Pluralizador…………………………………………………………..
154
4.7.5.- Partitivo indefinido…………………………………………………..
155
4.8.- O Lexema para "outro"………………………………………………..
155
Capitulo V: Verbo…………………………………………………………..
157
5.1.- Os morfemas verbais………………………………………………….
157
5.1.1-As pré-iniciais (af. e neg.)…………………………………………….
157
5.1.1.1.- Variantes secundarias de ì-………………………………………
158
5.1.2.- As pré-iniciais temporais……………………………………………..
159
5.1.2.1.- Variantes secundarias de *tá- e *ná-……………………………..
160
5.1.3.- O índice pronominal do sujeito……………………………………..
162
16
5.1.4.- A Pós-inicial………………………………………………………..
166
5.1.5.- O Formativo………………………………………………………
167
5.1.5.1.- Formativo da conjugação afirmativa…………………………
167
5.1.5.2.- Formativo da conjugação negativa…………………………..
167
5.1.6.- Limitador………………………………………………………….
168
5.1.7.- O Índice pronominal Objecto/Reflexo…………………………..
168
5.1.3.1.- Indice pronominal objecto………………………………………..
169
5.1.3.2.- Indice reflexo………………………………………………………
169
5.1.8.- A Base verbal ou tema verbal……………………………………….
169
5.1.8.1.- Radical verbal……………………………………………………..
169
5.1.8.2.- Radical verbal canónico…………………………………………...
169
5.1.8.3.- Radical verbal defectivo…………………………………………..
171
5.1.9.- Extensões……………………………………………………………
172
5.1.9.1.- Sufixos derivativos……………………………………………….
172
5.1.9.2.- Alargamentos…………………………………………………….
180
5.1.10.- A Final verbal……………………………………………………..
180
5.1.10.1.- Variantes………………………………………………………..
180
5.1.11.- A Pós-Final………………………………………………………..
183
5.2.- Conjugação…………………………………………………………..
185
5.2.1.- Conjugação Simples……………………………………………….
186
5.2.1.1. Verbos regulares……………………………………………………
186
a.- Modo Indicativo…………………………………………………………
186
b.- Modo Imperativo…………………………………………………………
193
c.-.Modo Conjuntivo………………………………………………………..
194
17
5.2.1.2.- Verbos irregulares…………………………………………………..
196
5.2.1.3.- Quadro da conjugação simples…………………………………..
197
5.2.2.- Conjugação composta……………………………………………..
200
Capitulo VI: Os Invariáveis………………………………………………
203
6.1.- Índice associativa nà…………………………………………………
203
6.2.- Índices altenativos……………………………………………………
203
6.3.- Advérbios……………………………………………………………..
204
6.3.1.- Lexemas primários…………………………………………………
204
6.3.2.- Advérbios secundários………………………………………………
205
6.4.- Ideófones………………………………………………………………
206
6.4.1.- Ideófones de sensação………………………………………………
206
6.4.2.- Ideófones de acção………………………………………………….
207
6.4.3.- Ideófones de maneira………………………………………………..
208
Conclusão Geral……………………………………………………………….
210
Bibliografia……………………………………………………………………
211
Anexo: Léxico…………………………………………………………………
212
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Siglas, Abreviaturas e Convençoes de Apresentação Bv
Base verbal
Con.
Conectivo
El.
Elocutivo
Fv
Final verbal
For.
Formativo
IpO
Indice pronominal do objecto
IpS
Indice pronominal do sujeito
Lim.
Limitador
Dem.
Demonstrativo
Inter.
Interrogativo
Num.
Numeral
Pia
Pré-inicial afirmativo
Pin
Pré-inicial negativo
P
Pronome
Pp
Pronome pronominal
Pn
Prefixo nominal
Pd
Prefixo dependente
Poss.
Possessivo
Qual.
Qualificativo
Suf. Prim.
Sufixo primário
Suf. Sec.
Sufixo secundário
Subst.
Substantivo
Quant.
Quantificador
Rdv
Radical verbal
19
Rds
Radical substantival
Pit
Pré-inicial do tempo
Poi
Pós-inicial
Vogal assimilada
Pof
Pós-final
Var.
Variante
Tf
Tom flutuante
Tv
Tema verbal
Vs
Variante secundária
−
Limite de morfema
+
Limite de tema (radical)
≠
Limite de palavra
#
Limite de frase
÷
Limite especial que impede todo o contacto vocálico
*C
Consoante reconstruída (proto-bantu)
20
Prefácio Sob o título Fonologia e Morfologia do Kwanyama, Zavoni Ntondo apresenta ao público o seu segundo livro a título pessoal. O livro retrata, na essência, o perfil profissional e engajamento do seu autor no estudo das Ciências Sociais e Humanas, na intelectualização das línguas angolanas e, finalmente na promoção da cultura nacional. A cultura é o conjunto de hábitos, regras, língua, religião, tradições de um povo. Um povo é diferente do outro porque tem uma cultura diferente. A língua sempre despertou interesse e debates entre as pessoas, relativamente ao uso e à forma como ela é utilizada por diferentes pessoas, em diferentes tempos e lugares. As pessoas, em geral, comentam e fazem observações sobre a maneira de falar “sotaque” e as “palavras diferentes” utilizadas por outras pessoas. Os falantes de uma língua são capazes de identificar, pela forma de falar de uma pessoa, a região geográfica que ela representa; por esta razão, a língua é um património imaterial que está intimamente ligada ao nosso ser. A presente obra reveste-se de uma importância inquestionável por duas razões: primeiro, numa altura em que o país clama pela necessidade de inserir, com maior urgência, as línguas nacionais no sistema de ensino, verifica-se pouca produção científica sobre as línguas nacionais. Segundo, no âmbito da ciência de Linguística, as informações sobre a natureza e as propriedades morfofonológicas da língua Oxikwanyama e das línguas africanas de Angola, no geral, são escassas. Desta forma, as abordagens feitas e que evidenciam grande vitalidade deste livro, mostram uma preocupação de interpretação linguística que contribuiram para o conhecimento tácito de aspectos morfofonológicos da língua em referência.
A fonologia trata dos elementos fónicos, tendo em conta o seu valor distintivo e funcional. Ao estudar a maneira como os elementos fónicos se organizam dentro de uma línguae ao classificá-los em unidades capazes de distinguir significados chamadas «fonemas». Os fonemas são as entidades capazes de estabelecer a distinção entre as palavras. Por isso, Troubetzkoy, definia a fonologia como o estudo que [...] “deve procurar que diferenças fónicas estão ligadas, na língua estudada, a diferenças de significação, como se comportam entre si os elementos de diferenciação (ou marcas) e segundo que regras podem combinar-se uns com os outros para formar palavras e frases”. Por sua vez, a morfologia define-se tradiciolamente como a parte da gramática que estuda a palavra do ponto de vista da forma. Contudo, ambos os termos são indeterminados, para além de comuns à linguagem técnica e quotidiana, em diferentes visões do fenómeno linguístico. Por exemplo, na gramática clássica, a morfologia concentra-se na flexão; o objeto de estudo seria o paradigma ou o esquema de variações da forma da palavra na expressão de categorias gramaticais. Entretanto, a partir do século XIX, a palavra deixa de ser a unidade mínima de análise linguística; a comparação de elementos gramaticais como base em hipóteses de relação genética entre línguas favorece a adopção de um modelo de descrição que reconhece formativos comoa raiz e a desinência. O estruturalismo herda esta situação de segmentação ou desmembramento da palavra, sendo, portanto, natural o estabelecimento do morfema como unidade básica da morfologia. O objeto de estudo da morfologia no estruturalismo é, portanto, o morfema e seus padrões de combinação. Em consequência, a palavra passa a ser menos relevante como unidade estrutural. O livro tem uma secção sobre a morfofonologia. Na teoria gerativa e no estabelecimento do modelo da Fonologia Gerativa padrão pelo modelo de Chomsky e Halle (1968), conhecido como SPE, a interação entre fonologia e a morfologia era tratada de forma minimizada, com maior destaque para as
21 operações fonológicas, propriamente ditas. Por se aplicar a segmentos já formados, entendia-se que todos os processos fonológicos deveriam aplicar-se a estruturas morfológicas estabelecidas e, dessa forma, assumia-se que as operações morfológicas se aplicavam previamente às fonológicas. A ordem dos morfemas, por sua vez, era dada pelas operações sintáticas. Somente nos casos de alomorfes mais radicais é que se recorria às regras de reajuste (Spencer 1991). Por conseguinte, a descrição da interação entre morfologia e fonologia era somente explicada na descrição de regras que se aplicavam à fronteira de morfemas e à fronteira de palavras por meio de símbolos limítrofes (+, # e ##). Na década de 1980, (Kyparsky 1982), entre outros, surgiu, então, a Formação Lexical, uma teoria que tem como objeto de estudo a interação entre a estrutura morfológica de uma palavra e as regras fonológicas que a ela se aplicam. Em linhas gerais, esse modelo acredita que o léxico de uma língua deva estar estruturado em estratos ou níveis que são domínios para as regras fonológicas e morfológicas que podem ocorrer e re-ocorrer simultaneamente em um mesmo nível. A partir dai, abandona-se a ideia segundo a qual toda a morfologia precede a fonologia como se fazia no SPE. Para além da interação entre as operações morfológicas lexicais e as operações fonológicas, prova-se que estas últimas podem aplicar-se também às operações pós-lexicais, após a estrutura sintática de uma frase. E na década de 90 abriu-se um debate sobre o papel da morfologia em modelo designado por «o modelo em T» para a arquitetura da gramática. Até então, a morfologia era tida como extensão da Fonologia Lexical ou da Sintaxe, no âmbito das teorias “Government and Binding” (GB), Chomsky (1981), e “Minimalist Program” (MP), Chomsky (1995) sem que a morfologia merecesse uma atenção exclusiva na arquitetura da gramática.
Entretanto, estudos anteriores sobre as línguas africanas de Angola pouco aplicavam uma análise precisa e sistemática ao vocábulo mórfico e fonémico e a sua interação, dificuldade essa que remonta à gramática greco-latina, de cuja técnica se nutriram muitos dos seus autores. Nesta obra, verifica-se uma conceituação dos elementos constitutivos do vocábulo, veiculada pelos princípios da linguística africana, examina-se e apresenta-se uma discussão da análise fonológica e morfológica da língua Kwanyama, bem como a interação entre os dois componentes à luz da nomenclatura proposta pela linguística descritiva. É, certamente, um livro que veio colmatar a escassez de obras nesta área e, que a comunidade académica saberá tirar proveito da mesma.
Luanda, 09 de Setembro de 2013 Mbiavanga Fernando, Ph.D. Instituto Superior de Ciências da Educação
22
Fig.1:Ethnologue.com
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Introdução Após ter sofrido uma revisão a partir de observações feitas por pessoas habilitadas, decidimos publicar esta obra que certamente irá colmatar o vazio no plano investigativo no domínio das Ciências Humanas e Sociais, particularmente no da linguística africana que carece de obras descritivas. Com efeito, a língua para a qual nos propomos dar o nosso modeste contributo é falada no Sudoeste de Angola, localizada administrativamente na Província de Kunene e no Norte da Namíbia. Na classificação referencial das línguas bantu proposta por Malcom Guthrie (1971), o kwanyama é classificada na zona R, grupo 21. Por outro lado, o kwanyama, com a predominância na Ovamboland na Namíbia, já foi objecto de alguns estudos, levados a cabo sobretudo por missionários alemães e recentemente pela NIED, instituição de investigação para o Desenvolvimento da Educação da Namíbia, que produziu vários trabalhos sobre as línguas da Namíbia, apoiada pela importante rede de publicação de manuais. Em Angola, o Instituto de Línguas Nacionais empreendeu estudos sobre seis línguas nacionais entre as quais o kwanyama, o que permitiu dar a conhecer as estruturas funcionais destas línguas. O problema maior que enfrentam as línguas nacionais consiste na difusão, divulgação, promoção e seu desenvolvimento. Todas essas línguas sofrem da concorrência da língua portuguesa que, dada a sua posição de língua transétnica, sufoca as línguas nacionais, mesmo na sua própria área de difusão, desenvolvendo o auto-ódio linguístico que obriga o seu abandono, o seu desconhecimento, sobretudo pela juventude. Pensamos que sendo o kwanyama uma das línguas vivas e activas, pois os seus utentes assumem a sua utilização tanto na sua área de difusão como fora dela, merece um tratamento adequado para a sua difusão, promoção e o seu desenvovimento. O que nós motivou, como amante da cultura genuina e especialista em linguística africana, a levar a cabo este estudo. Este trabalho conheceu mudanças significativas na sua abordagem e o seu conteúdo foi enriquecido e amadurecido em função das observações que nos foram feitas e à recolha e inserção de novos dados. Todavia, utilizamos o método descritivo herdado dos nossos mestres da secção de linguística do Museu Real de África Central. Assim, no nosso trabalho examinaremos três grandes áreas, a saber: - Fonologia - Morfofonologia - Morfologia. A Fonologia permitiu estabelecer o sistema fonológico da língua. Introduzimos o capítulo sobre a análise diacrónica onde exumamos os reflexos consonânticos do kwanyama. Na Morfofonologia extraímos regras fonológicas dos morfofonemas; a Morfologia ofereceu-nos
24
a oportunidade de estudar os morfemas que entram na construção das diferentes categorias gramaticais assim como das unidades que as compõem.
O kwanyama é uma língua tonal, todavia não aprofundámos este aspecto por nos aparecer muito complexo. Por outro lado, convém lembrar o nome da linguista Riika Halme cujo trabalho de doutoramento assentou neste aspecto tonal. Em suma. O nosso trabalho apresentar-se-á como um apoio metodológico que visa ajudar estudantes e estudiosos desejosos de levar a cabo o estudo sobre as estruturas funcionais das línguas bantu em geral e bantu angolanas, em particular, para o seu desenvolvimento e a sua promoção. Com este esforço, o nosso objectivo principal consiste em tirar as nossas línguas do bloco da tradição oral, colocando-as no das línguas de tradição escrita, de que o Ministério da Educação sera o grande beneficiário.
25
PRIMEIRA PARTE: FONOLOGIA
26
CAPÍTULO 1: FONOLOGIA SEGMENTAL Da língua kwanyama identificamos vinte e três (23) unidades reunidas em dois quadros fonológicos, a saber: o quadro das vogais que conta com cinco vogais fonológicas e o quadro das consoantes que apresenta dezoito unidades fonológicas. Assim, essas unidades serão examinadas em dois planos, a saber: o plano paradigmático e o plano sintagmático. 1.1.- Plano Paradigmático 1.1.1.- Vogais a).- Quadro n°1: fonético PONTO DE ARTICULAÇÃO Grau de Abertura ANTERIOR
CENTRAL
POSTERIOR
Fechado
[i
i:
u
u:
Semi-fechado
e
e:
o
o:
Semi-aberto
ε
:ε
ɔ
a
Aberto
ɔ:
a:
]
b).- Quadro n°2: fonológico PONTO DE ARTICULAÇÃO
Grau de Abertura
ANTERIOR
POSTERIOR
1°Grau
i
u
2°Grau
e
o
3°Grau
a
27
c).- Comentários 1.- Este quadro foi modificado em relação ao quadro fonético. Em relação ao grau de abertura, reduzimos os graus fonéticos de quatro para três graus fonológicos na base de complementaridades que serão descritas em baixo.
2.- Embora a vogal /a/ exerça uma influência a nível morfológico (cfr. Regras n°11, 12 e 14 ) sobre as vogais do primeiro grau anterior /i/ e posterior /u/, escolhemos descrever /a/ como uma vogal do 3° grau. Esta escolha foi efectuada por motivos de economia, pois permite eliminar o traço central do sistema fonológico.
d).- Realizações Fonéticas 1.- O fonema /e/ O fonema vocálico anterior do segundo grau /e/ apresenta uma realização fonética semiaberta: [e] aparece quando é imediatamente antecedido no interior da palavra por uma vogal anterior do primeiro grau [i], ao passo que temos [ε] noutros contextos. [e]/ vogal anterior 1°garu/ i/ Seja: /e/ [ε]/ noutros contextos Quadro n°3: distribuição do fonema /e/ /e/
V(i)-
Noutros contextos
[e]
+
-
[ε]
-
+
Exemplos (1). /òshìlémò/
[ɔ ʃ ìlémɔ ]
7
“Nuvem”
(2). /òshìvélà/
[ɔ ʃ ìvélà]
7
“Ferro”
28
(3). /ónyófì/
[ɔɲɔɸì]
9
“A estrela”
(4). /èpépè/
[ὲ pέpὲ ]
5
“ombro”
(5). /òm’èdú/
[ɔ m’ὲ dú]
18+5
“na terra’
2.- O fonema /o/ O fonema vocálico posterior de segundo grau /o/ apresenta um alofone semi-fechado [o] e um alófone semi-aberto [ɔ]. As condições de aparecimento destes alófones são definidas pelos contextos seguintes: - a alófone [ɔ ] aparece quando é imediatamente antecedido no interior da palavra por uma vogal de primeiro grau; - o alófone [o] aparece noutros contextos [ o ] / Vogal 1° grau _ /i, u/ Seja: / o / [ ɔ ] /noutros contextos Quadro °4: distribuição do fonema /o/ /o/
Vogal 1° grau _
Noutros contextos
[o]
+
-
[ɔ ]
-
+
Exemplos
(6). /òmìdó/
[ɔ mìdó]
4
“raízes”
(7). /òkùyólà/
[ɔ kùyólà]
15
“rir”
29
[ɔʃ ìŋgŏ:Ɩ òdò]
(8)./òshìngŏlòdò/
“cobre”
7
e).- Identificação de fonemas vocálicos 1.- O fonema / i / - posição inicial: /ìnyá/ dem. cl.8: “aqueles”, cl.9: “aquele” - posição interna: /èpítò/ 5 “porta” - posição final: /ònhútí/ 9 “pombo” (9)/i/
vs
/e/
/ìnyá/
/ènyá/
8,9
Dem.
8
Aqueles
9
aquele
6
Dem. aqueles
(10) /i/
2.- O fonema /e/
vs /u/
/òmwídì/
3
“erva”
/òmwédì/
3
“mês”
/òmítò/
4
“cinzas”
/òmútò/
3
“cinza”
/òdílà/
9
“pato”
/òdúlá/
9
“chuva”
/òmbúdì/
9
“gatuno”
/òmbúdú/
9
“frio”
30
- posição inicial: /èkálà/
5
“carvão”
- posição interna: / òmùtémò/ 3
“luz”
- posição final: /òngòbé/
“boi”
(11). /e/
vs
/i/
(12)./e/
vs
/a/
(13)./e/
vs
9
/o/
Ver /i/
/e/
/òmédì/
9
“bezerro”
/òmàdí/
9
“perna”
/òkùtétà/
15
“cortar”
/òkùtátà/
15
“obter”
/èdílà/
5
“abutre”
/òdílà/
9
“pato”
/òŋhámbé/
9
“cavalo”
/òŋhámbò/
9
“curral”
3.-O fonema /a/ -posição interna: /òlùvádì/ -posição final:
11
“relâmpago”
/òmùlóngà/ 3
“rio”
(14)./a/
vs
/e/
Ver
(15)./a/
vs
/o/
/òtólí/
“comes”
/òtálí/
“come”
3
vs
/a/
/wòyé/
Poss.
“O teu”
/wàyé/
Poss.
“a sua”
4.- O fonema /o/ -posição inicial: /òmòngwá/
/e/
“sal”
31
-posição interna: /èkódì/
5
“gavião”
-posição final:
9
“pescoço”
/òfíngò/
(16)./o/
vs
/e/
Ver
/e/
vs
/o/
(17)./o/
vs
/a/
Ver
/a/
vs
/o/
(18)./o/
vs
/u/
/òkùyólà/
15
“rir”
/òkùyúlà/
15
“estar molhado”
5.- O fonema /u/ -posição inicial: /únèné/
14
“muito”
-posição interna: /ònhúlù/
9
“peito”
-posição final:
5
“ceu”
/èúlù/
(19)./u/ vs /i/
Ver /i/ vs /u/
(19)./u/ vs /o/
Ver /o/ vs /u/
A oposição /i/ - /a/ e /u/ - /a/ é pertinente, mas estes casais de fonemas opõem-se por mais de um traço. Escolhemos para definir os fonemas opor, quer o grau de abertura, quer o ponto de articulação. Assim, esquematizamos no quadro n°5 a maneira como procedemos para chegar a estabelecer o sistema vocálico apresentado Quadro n°5: Esquematização do sistema vocálico PONTO DE ARTICULAÇÃO
ABERTURA
ANTERIOR
POSTERIOR
1° Grau
i
u
2° Grau
e
o
3° Grau
a
32
f.- Definição de fonemas vocálicos - O fonema /i/ O fonema /i/ é definido como: - primeiro grau: i/e - anterior:
i/u
- O fonema /e/ O fonema /e/ é definido como: - segundo grau: e/i, e/a - anterior:
e/o
- O fonema /a/ O fonema /a/ é definido como: - terceiro grau: a/e, a/o - anterior:
a/o
- O fonema /o/ O fonema /o/ é definido como: - segundo grau: u/o - posterior:
o/e
-O fonema /u/ O fonema /u/ é definido como: - primeiro grau: u/o - posterior:
u/i
g.- Comprimento Vocálico À primeira vista, o comprimento vocálico determina oposições fonológicas em kwanyama. Todavia, como as vogais que levam dois tons são sempre longas, escolhemos analisar os fones vocálicos longos como alofones de fonemas vocálicos levando, em sucessão dois tonemas idênticos ou diferente Quadro n°6: Exemplos de oposição entre vogais breves e vogais longas /í/ ~ /ĭ/
/è/ ~ /ȅ/
“/à/ ~ /ă/
/òshímà/
[ɔʃ ímà]
7
“cágado"
/òshĭmà/
[ɔʃ ĭ:mà]
7
“coisa”
/èdílà/
[ὲ dílà]
9
“pato
/ȅdílà/
[ἓ :dílà]
/òmàdí/
[ɔ màdí]
“abutre”
9
‘perna”
33
/ó/ ~ /ŏ/
/ù/ ~ /ŭ/
/òmădì/
[ɔ mă:dì]
9
“gordura”
/òkùkólà/
[ɔ kùkóƖ à]
15
“espremer fruta
/òkùkŏlà/
[ɔ kùkŏ:Ɩ à]
15
“Limpar a lavra”
/òkùyá/
[ɔ kùyá]
15
“ir”
/òkŭyà/
[ɔ kŭ:yà]
15
“vir”
1.1.2.- Consoantes a) Quadro n°7: Fonético Ponto
de Articulação
Bilabial
LabioDental
A- A+.
ApicoAlveolar A- A+.
Retroflexo
Palatal
Velar
LabioVelar
Laringal
AA+
Modo de Articulação
Nasal Oclusivo
Oral Fricativo
Sdo Sro Sdo Sro
m mh p b ɸ
ɲ
n nh t tͪ d
ʃ
f
β
Χ
Nasal Oral
Prenasalizado
Sro
Lateral
Sro
mb
kʷ h
ʤ
Africada Conínuo
ŋ ŋh k
ɲʤ
nd
l
Ɩ
ŋg
ŵ w ŋgʷ
34
b).- Quadro n°8: Fonológico PONTO DE ARTICULAÇÃO MODO DE ARTICULAÇÃO
Nasal
Labial
Dental
Posterior
m
n
ɲ
Surdo
p
t
ŋ k
Sonoro
b
d
g
Surdo
f
ʃ (sh)
h
Sonoro
v
Oclusivo
Fricativo
Contínuo
w
Lateral
y
l
c).- Comentários O quadro n°8 acima apresenta dezassete fonemas consonânticos. Procedemos a uma redução das unidades fonéticas para reunir os fonemas e defini-los segundo os traços fonológicos pertinentes. Assim, os traços bilabial e labiodental foram reagrupados num só traço labial; os traços apicoalveolares e retroflexos foram reunidos num traço dental; e os traços velar, labiovelar e glotal foram reagrupados num único traço velar. d).- Escolha de /v/ Tendo em conta que a língua atesta um fonema fricativo labial surdo /f/, não parece oportuno colocar um fonema /β/. Para preservar a coerência do sistema, colocamos o fonema /v/ que é sonoro e oposto a /f/ conservando assim o paralelismo surdo/sonoro que caracteriza geralmente o sistema consonântico da língua. Este fonema opõe-se não só ao seu correspondente surdo /f/, como também a outros fonemas da série labial. (20)
/v/
vs
/b/
/òndóbà/
9
"mamilo"
/òndóvà/
9
"sujidade"
35
(21)
/v/
(22)
vs
/v/
vs
/p/
/f/
/òkùvákà/
15
"roubar"
/òkùpákà/
15
"por"
/èvélè/
5
"Seio, mama"
/èfélè/
5
"cem"
e).- Distribuição Complementar 1.- A consoante fricativa bilabial surda [ɸ] A consoante fricativa bilabial surda [ɸ] apenas aparece diante das vogais do primeiro grau e as semivogais correspondentes; ele é em distribuição complementar com a consoante fricativa labiodental surda [f]. O que nos permite reunir as bilabiais e os labiodentais num só traço labial e eliminar um traço de articulação no quadro fonológico. [ɸ]/ --Vogal 1° e Semivogal /y, w/ Seja: /f/ [f] / --Noutros contextos Quadro n°9: Distribuição do fonema /f/
/f/
V 1°grau /–i, -u/ e SV:/–y, -w/
Noutros contextos
[ɸ]
+
-
[f]
-
+
Exemplos (23)
/òfíŋgò/
[ɔɸíŋgò]
9
“pescoço”
(24)
/òkùfyá/
[ɔkùɸyá]
15
“morrer”
36
(25)
/èfúmà/
[ὲ ɸúmà]
(26)
/òshalándìfwá/
[ɔʃ àlándíɸwá]
(27)
/èfó/
[ὲ fɔ]
5
“sapo” “foi vendido/a
5
“folha”
ͪͪͪͪͪͪ 2.- Oclusivo apicoalveolar aspirada [tͪͪͪʰ ] A consoante oclusiva surda apicoalveolar aspirada [tͪ] está em distribuição complementar com a consoante oclusiva oral apicoalveolar surda [t].[tʰ ] aparecendo apenas diante da vogal posterior do primeiro grau [u]. [tʰ] / ---Vogal /u/ Seja: /tʰ / [t] / ----noutros contextos Quadro n°10: Distribuiçao do fonema /t/ /t/
---V u
Noutros contextos
[tʰ]
+
-
[t]
-
+
Exemplos (28)
/òlútù/
[ɔlútʰ ù]
11
“corpo”
(29)
/òshìkútù/
[ɔʃ ìkútʰ ù]
7
“roupa”
(30)
/ètémò/
[ὲ tέmɔ]
5
“lavra”
(31)
/ètángò/
[ὲ táŋgò]
5
“sol”
(32)
/òŋhútí/
[ɔŋhútᶣ í]
9
“pombo”
3.- Consoante fricativa oral laringal [h] A consoante fricativa oral laringal surda [h] apresenta duas variantes das quais [χ] presente diante da vogal /u/ e a semivogal /w/ e [h] noutros contextos.
37
[χ]/- /u, w/ Seja: /h/ [h]/ noutros contextos Quadro n°11: Distribuiçao do fonema /h/ /h/
- /u, w/
Noutros contextos
[χ]
+
-
[h]
-
+
Exemplos (33)
/òkùhómbòlà/
[ᴐkùhómbòlà]
15
Casar
(34)
/òhánì/
[ᴐhánì]
9
Lua
(35)
/òhòndè/
[ᴐhòndè]
9
Sangue
(36)
/hé/
[hé]
1a
Pai
(37)
/hùpì/
[χùpì]
(38)
/òhúhwà/
[ᴐχúχwà]
9
Galinha
(39)
/ȅhwíkì/
[ἓ χwíkì]
10
Cabelo
(40)
/òkùhúmbàtà/
[ᴐkùχúmbàtà]
15
Levar
Adj.
Curto, baixo
4.-Consoante oclusiva apicoalveolar palatalizada [tᶣ] A consoante oral apicoalveolar palatalizada surda [tᶣ ] aparece quando está seguida da vogal anterior do primeiro grau [i] situada em posição final. [t] e [tᶣ ] estão em distribuição complementar. [tᶣ] /-- Vogal /i/ Seja: /t/ [t] / - Noutros contexto
38
Quadro n°12: Distribuiçao do fonema /t/
/t/
-V i
Noutros contextos
[tᶣ]
+
_
[t]
-
+
Exemplos (41)
/òmùtí/
[ɔmùtᶣ í]
3
“árvore”
(42)
/òshĭmátì/
[ɔʃ ĭ:mátᶣ ì]
7
“fruta”
(43)
/òmùtémo/
[òmùtέmɔ]
3
“luz”
(44)
/òshìkútù/
[ɔʃ ìkútͪù]
7
“roupa”
(45)
/ònhátá/
[ɔnhátá]
9
“lama”
5.- Consoante africada palatalizada sonora [ʤ] A consoante africada palatalizada é composto de dois sons [d + ʒ] dos quais o primeiro [d] é um fonema da língua, ao passo que o segundo [ʒ] é atestado apenas na língua como constituinte da africada more [ʤ]. Como a sequência [ɲʤ] não é atestada e como depois da vogal, os sons [dy] e [ʤ] alternam livremente, o som [ʒ] pode ser analisado como o alofone do fonema /y/, obrigatório depois da sequência /nd-/ e facultativo depois de /vd-/. Seja a regra fonológica seguinte: V [y] ou [ʒ]
d___V =
/y/
[ʒ] /nd__V Exemplos
39
(46)
/èndyádyà/
[εɲʤádyà]
5
“intestino”
15
“vestir”
ou [εɲʤáʤà] (47)
/òkùdyálà/
[ɔkùdyálà]
6.- Consoante oclusiva labiovelar surda [kʷ] A consoante oclusiva oral labiovelar surda [kʷ] aparece somente diante da vogal posterior do segundo grau /o/ e está em distribuição complementar com [k] que aparece diante de outras vogais. As duas consoantes constituem realizações fonéticas do fonema /k/. Seja a regra fonológica seguinte:
[kʷ] / __ V. post. 2° grau /o/ /k/ [k] / noutros contextos.
Quadro n°13: Distribuição do fonema /k/ /k/
__V. post. 2° grau /o/
Noutros contextos
[kʷ]
+
-
[k]
-
+
Exemplos (48)
/shíkòndóbòlò/
[ʃ íkʷ òndɔ bɔƖ ɔ]
7
“galo”
(49)
/òlùkákù/
[ɔƖ ùkákù]
11
“sapato”
(50)
/ȅhwíkì/
[ἓ χwíkì]
10
“cabelos”
40
(51)
/òmáké/
[ɔmákέ]
“mãos”
6
7.- A consoante labiovelar nasalizada [ŵ] A semivogal contínua nasalizada velar [ŵ] aparece em final da palavra, quando é antecedida de uma consoante nasal e seguida de uma vogal qualquer. Está em distribuição complementar com a semivogal oral labiovelar [w] que aparece em contextos diferentes. São alofones do fonema /w/. [ŵ] / N___V Seja: /w/----[w] / noutros contextos
Quadro n°14: Distribuiçao do fonema /w/ /w/
N-V
Noutros contextos
[ŵ]
+
-
[w]
-
+
Exemplos (52)
/òshìnwí/
[ɔʃ ìnŵí]
7
“suor”
(53)
/òmìnwé/
[ɔmìnŵé]
4
“dedos”
(54)
/òkùnwá/
[ɔkùnŵá]
15
“beber”
(55)
/náwà/
[náwà]
(56)
/òmwàlíkàdí/
[ɔmwáƖ íkàdí]
“bem” 1
“mulher”
8.- A consoante pré-nasalizada labiovelar [gʷ] A consoante pré-nasalizada labiovelar [gʷ ] aparece diante da vogal posterior do segundo grau /o/. Este fone está em distribuição complementar com a consoante pré-nasalizada velar [ŋg] que é atestada em outros contextos.
41
[gʷ] / vogal posterior /-o/ Seja:----[g] / noutros contextos. Quadro n°15: Distribuiçao do fonema /g/ /g/
V. post. /-o/
Noutros contextos
[gʷ]
+
-
[g]
-
+
Exemplos (57)
/òshìŋgŏlòdò/
[ɔʃ ìŋgʷ ŏ:Ɩ òdò]
7
“cobre”
(58)
/òmùkóŋgò/
[ɔmùkʷ óŋgʷ ò]
1
“caçador”
(59)
/òndúŋgù/
[ɔndúŋgù]
9
“poço”
(60)
/òndúŋgé/
[ɔndúŋgέ]
9
“inteligência”
(61)
/ònàŋgá/
[ɔnàŋgá]
9
“semente abóbora”
de
f.- Análise de sequências consonânticas NC Há que considerar um grupo consonântico (NC) como uma sequência de dois fonemas ou como um fonema único? Sobre esta discussão os pontos de vista divergem: uns optam por uma análise monomorfemática (1), outros pela bifonemática (2). Todavia, todas essas opções são válidas. Pensamos que na perspectiva de redução do número de fonemas, vamos privilegiar a última opção. Esta tendência não é nova, pois N.S. Troubetzkoy (1964) já a tinha colocado as suas bases. Na sua obra, “Principes de Phonologie” escreve o seguinte: “um grupo fónico (…..) deve ser considerado como uma realização de um fonema único se isto restabelece um paralelismo no inventário de fonemas”. .
André Martinet (1956) retomou o problema sugerindo que “uma análise bifonemática quando cada parte constituinte de uma articulação complexa pode comutar com outra coisa incluindo com zero”. Por outro lado, Denis Creissels (1989) abordando no mesmo sentido escreve:
42
“(…..) A análise de NC como sequência de dois fonemas tem pelo menos a vantagem de colar com a realidade fonética simplificando o inventário de fonemas”. A este argumento fonológico, ele junta uma outra consideração de alcance morfofonológica: “quando se adopta o ponto de vista da morfofonologia constata-se, muitas vezes, que a análise monofonemática das sequências homorgânicas NC está em contradição com o facto que nas unidades com iniciais NC pode aparecer uma fronteira morfológica entre N e C”.
Com a força deste argumento, para o tratamento das sequências consonânticas NC, optamos pela análise bifonemática. Prestaremos a nossa atenção às articulações complexas seguintes: [mb] [nd] [ng] [mh] [nh] [ŋh] 1.- Caso de [mb]
/b/ vs /Ø/ [mb] /b/ vs /h/
Exemplos
__________ (1). A escola belga fez sua esta tendência monomorfemática, baseando-se nos princípios fonológicos que exigem a economia de traços. (2). Uma boa parte de linguistas considera a realidade linguística sem ter em conta os princípios fonológicas de redução de fonemas. Esta tendência é adoptada pela escola francesa
43
(62)
(63)
/òmbúdì/
9
“gatuno”
/òmùdí/
3
“raiz”
/òmbádì/
9
“botão”
/òmhàdí/
9
“perna”
A comutação de /m/ com /Ø/ afigura-se difícil tendo em conta a distribuição reduzida de /b/.
2.- Caso de [nd]
/d/ vs /Ø/ [nd] /n/ vs /Ø/
Exemplos (64)
/òndóvà/
/ònòvá/
(65)
9
“cal, cor”
9
“lama”
9
“copo”
4
“anos”
/òmíndó/
/òmìdó/ 3.- Caso de [ŋg]
A consoante oclusiva velar [g] tem uma distribuição muito reduzida. Aparece apenas antecedida da nasal velar [ŋ-]. Embora as possibilidades de oposições pertinentes sejam muito reduzida, encontramos, todavia, pares minimais em que /g/ se opõe a outros fonemas incluindo zero. Assim, com o objectivo de analisar todas as articulações complexas comportando uma nasal da mesma maneira, com a preocupação de preservar a correlação surdo/sonoro para as
44
oclusivas no sistema da língua, assim como o de reduzir o número de fonemas retidos, escolhemos o /g/ como fonema inteiro, mas com uma distribuição restrita. Com esta escolha, privilegiamos a coerência do sistema em detrimento da realidade do emprego.
/g/ vs /d/ [ŋg] /g/ vs /Ø/
Exemplos (66)
(67)
/òngángà/
9
“feiticeiro”
/ònángá/
9
“semente de abóbora”
/òngúdù/
9
“grupo”
/òndúdù/
9
“curandeiro”
4.- Os casos de [mh], [nh], [ŋh] Sempre na perspectiva da redução do número de fonemas do sistema fonológico da língua e tendo em conta que as consoantes oclusivas nasais bilabiais [m], apicoalveolar [n] e a consoante fricativa laríngea [h] são atestadas na língua com um estatuto de fonema, escolhemos um tratamento bifonemático para essas sequências de sons. Assim, [mh], [nh] e [ŋh]serão analisadas como sequências de dois fonemas:
4.1.- Caso de [mh]
/m/ vs /Ø/ [mh] /h/ vs /Ø/
45
Exemplos (68)
(69)
/òmháfò/
9
“pestanas”
/òmàfó/
6
“folhas”
/òmhánì/
9
“escada”
/òhánì/
9
“lua”
4.2.- Caso de [nh]
/n/ vs /Ø/ [nh] /h/ vs /Ø
Exemplos (70)
(71)
/ònhá/
9
“viscosidade”
/òná/
9
“piolho”
/ònhúlò/
9
“peito”
/èhúlò/
5
“acto de mamar”
4.3.- Caso de [ŋh] O fone [ŋ] apresenta lacunas na sua distribuição, pois aparece apenas diante de [g] e [h]. Contudo, diante de [g] é inteiramente previsível, ao passo que diante de [h] não o é, pois temos também [m] e [n diante de [h]. Por isso, estamos obrigados de dizer que [ŋ] é um fonema e que [ŋh] constitui uma sequência de dois fonemas /ŋ + h/ onde cada um dos constituintes se opõe a outros fonemas como também a zero. (72)
/ònáŋgá/
9
Semente de abóbora
46
(73)
(74)
/ònháŋgà
9
lodoso
/òŋháŋgà/
9
Perdiz
/òŋgáŋgà/
9
Feiticeiro
/ònáŋgà/
9
Semente de abóbora
/ònháŋgà/
9
lodoso
g.- Identificação de fonemas consonânticos 1.- O fonema /b/ O fonema /b/ apresenta uma distribuição lacunária. Obrigações de distribuição impedem o aparecimento de alguns pares minimais. - posição interna: /òngòbé/ (75)
(76)
/b/ vs
/v/
/b/ vs
/d
“boi”
9 /òndóbà/
9
“mamilo”
/òndóvà/
9
“sujidade”
/òndúbà/
9
“multidão”
/òndúdà/
9
“casinha”
/òkùpyá/
15
“queimar”
/òkùfyá/
15
“morrer”
/òkùpónà/
15
“engolir”
/òkùmónà/
15
“ver”
/òkùpákà/
15
“depor”
/òkùvákà/
15
“roubar”
2.- O fonema /p/ - posição interna: /èpúmùnú/ (77)
(78)
(79)
/p/
/p/
/p/
vs
vs
vs
/f/
/m/
/v/
5
“perú”
47
(80)
/p/
vs
/d/
/òkùpúlà/
15
“pedir”
/òkùdúlà/
15
“despir-se
3.- O fonema /m/ - posição inicial: /mémè/
1/0
“a minha mãe”
- posição interna: /òmédí/
9
“ touro”
/m/
vs
(81)
/p/
/m/
(82)
/m/
(83)
/m/
(84)
/m/
vs
vs
vs
vs
/f/
/v/
/n/
/d/
ver
/p/ /m/
vs
/òmúlè/
1
“feiticeiro”
/òfùlé/
9
“herói”
/òmánà/
9
“passo”
/òvánà/
2
“crianças”
/òmánga/
9
“ramo”
/ònángá/
9
“semente de C
/òkùmánà/
15
“acabar”
/òkùdánà/
15
“dançar”
4.- O fonema /f/ - posição inicial: /fyě/ - posição interna: /òfíngò/
Pron. Pers. Elc. Pl. 9
/f/
vs
/m/
ver
/f/
vs
/p/
ver
(85)
/f/
vs
/v/
/èfélè/
“nós” “pescoço” /m/ /f/ /p/ /f/ 5
vs vs “cem”
48
(86)
/f/
(87)
vs
/f/
(88)
vs
/f/
vs
/w/
/t/
/ʃ /
/èvélè/
5
“mama, seio”
/òkùfá/
15
“cavar”
/òkùwá/
15
“cair”
/òmùfí/
1
“cadáver”
/òmùtí/
3
“árvore”
/òkùkófà/
15
“dormir”
/òkùkóʃ à/
15
“lavar”
Poss. cl.2
“os seus, as suas”
5.- O fonema /v/ -posição inicial:
/vàyé/
- posição interna: /èvávà/
5
“asa”
Exemplos de oposição de /v/ com /b/, /p/ e /f/ foram dados no ponto d).- Escolha de /v/, na página 18. /v/
vs
/m/
ver
/m/ /v/
vs
6.- O fonema /w/
- posição inicial: /wàngé/
Poss. cl. 1, 3, 14
- posição interna: /òwàwá/
cl.1
/w/
ver
/f/ /w/
/òkùwá/
15
“cair”
/òkùyá/
15
“ir”
/wètù/
Poos.cl.1, 14
(89)
(90)
vs
/f/
/w/ vs
/w/ vs
/y/
/ʃ /
“o meu” “ele caiu” vs
3, “o nosso”
49
(91)
/w/ vs
/l/
/ʃ ètù/
Poss.cl.7
“o nosso”
/òwàwá/
cl.1, 3, 14
“ele caiu”
/òlàwá/
cl.5
“ele caiu”
7.- O fonema /n/ - posição inicial: /nénà/ - posição interna: /òmùnínò/ /n/
vs
(92)
/m/ /n/
(93)
vs
/n/
(94)
vs
/n/
vs
“hoje”
Quase-nominal
“garganta”
8 Ver
/t/
/d/
/l/
/m/
vs
/òkùnúkà/
15
“saltar”
/òkùtúkà/
15
“voar”
/ònìndó/
9
“inchaço”
/òdíndò/
9
“cal, cor”
/òkùdánà/
15
“dançar”
/òkùdálà/
15
“dar a luz”
8.- O fonema /t/ - posição inicial: /tátè/
1/Ø
- posição interna: /òmùtémò/ /t/ /t/
(95)
vs vs
/n/ /f/
/t/
vs
3
Ver Ver
/d/
“o meu pai” “luz” /n/ /f/
vs vs
/t/ /t/
/òmùtí/
3
“árvore”
/òmùdí/
3
“raiz”
/n/
50
(96)
(97)
/t/
(98)
vs
/t/
vs
/l/
/v/
/òkùtálà/
15
“olhar”
/òkùdálà/
15
“dar a luz”
/òkùlótòkà/
15
“correr”
/òkùlólòkà/
15
“estar cansado”
/òkùtálà/
15
“olhar”
/õkùválà/
15
“”
9.- O fonema /d/ - posição inicial: /dàyé/
Poss.cl.4, 10
- posição interna: /èdínà/
5
“os seus, as suas” “nome”
/d/
vs
/b/
ver
/b/
vs
/d/
/d/
vs
/p/
Ver
/p/
vs
/d/
/d/
vs
/v/
Ver
/v/
vs
/d/
/d/
vs
/n/
Ver
/n/
vs
/d/
/d/
vs
/t/
Ver
/t/
vs
/d/
(99)
(100)
(101)
/d/
/d/
/d/
vs
vs
vs
/ʃ /
/l/
/y/
/dàngé/
Poss.cl.4, 10
“os meus”
/ʃ àngé/
Poss.cl.7
“o meu”
/dènì/
Poss.cl.4, 10
“os(as) vossos(as)
/lènì/
Poos.cl.5
“o(a) vosso(a)”
/dàyé/
Poss.cl.4, 10
“os(as) seus(ua)s”
/yàyé/
Poss.cl.8
“os(as seus(uas)”
10.- O fenema /ʃ/ - posição inicial: /ʃ ètù/
Poss.cl.7
“o nosso”
51
- posição interna: /òʃ ìkúlyà/ /ʃ /ʃ /ʃ /ʃ
/ / / /
vs vs vs vs
(102)
/f/ /v/ /w/ /d/ /ʃ /
(103)
vs
/ʃ /
vs
cl.7
“comida”
Ver Ver Ver Ver /l/
/y/
/f/ /v/ /w/ /d/
vs /ʃ / vs /ʃ / vs /ʃ / vs /ʃ /
/ʃ ènì/
Poss.cl.7
“o(a) vosso(a)”
/lènì/
Poss.cl.5
“o(a) vosso(a)”
/ʃ òyé/
Poss.cl.7
“o(a) teu (tua)”
/yòyé/
Poss.cl.8, 9
“os(as) teus(tuas) “o(a) teu(tua)”
11.- O fonema /l/ - posição inicial: /lènì/ - posição interna: /òlíngà/ /l/ /l/ /l/ /l/ /l/
vs vs vs vs vs
(104)
/w/ /n/ /t/ /d/ /ʃ /
/l/
vs
Poss.cl.5 9
“o(a) teu(tua)” “anel”
ver ver Ver Ver Ver
/y/
/w/ /n/ /t/ /d/ /ʃ /
/l/ /l/ /l/ /l/ /l/
/lòyé/
Poss.cl.5
“o(a) teu (tua)”
/yòyé/
Poss.cl.8, 9
“os(as) teus(tuas)” “o(a) teu(tua)”
12.- O fonema /y/ -posição inicial: /yàngé/
vs vs vs vs vs
Poss.cl.8, 9
“os(as) meus, minhas” “o(a) meu, minha”
- posição interna: /òkùyófà/
15
/y/
vs
/p/
Ver
/y/
vs
/d/
Ver
/y/
vs
/w/
Ver
“assar” /p/ /y/ /d/ /y/ /w/ /y/
vs vs vs
52
/y/
vs
/ʃ /
Ver
/y/
vs
/l/
Ver
(105) /y/
vs
/k/
/ʃ / /y/ /l/ /y/
vs vs
/yènì/
Poss.cl.8, 9
“os(as) vossos(as)” “o(a) vosso(a)”
/kènì/
Poss.cl.7
“o(a) vosso(a)”
13.- O fonema /k/ - posição inicial: /kènì/ - posição interna: /èkódì/ /k/
(106)
vs
/k/
(107)
/y/
vs
/k/
/h/
vs
/t/
(108)
(109)
/k/
(110)
vs
/k/
vs
/f/
/l/
Poss.cl.7 5
“o(a) vosso(a)” “abutre”
Ver
/y/ /k/
vs
/òkùkálà/
15
“estar”
/òkùhálà/
15
“querer”
/òkwàfyá/
“ele é morto”
/òtwàfyá/
“somos mortos”
/òmáké/
6
“mãos”
/òmáté/
6
“cuspo”
/èkúmà/
5
“muro”
/èfúmà/
5
“sapo”
/òkùfúdìkà/
15
“enterrar”
/òkùfúdìlà/
15
“soprar”
14.- O fonema /h/ - posição inicial: /hé/ - posição interna: /òhúhwà/ /h/
vs
/k/
1/Ø
“o teu pai”
9
“galinha”
Ver
/k/ /h/
vs
53
(111)
(112)
(113)
/h/
/h/
/h/
vs
vs
vs
/ʃ /
/y/
/v/
/òkùhángà/
15
“encontrar”
/òkùʃ ángà/
15
“escrever”
/òkùhólà/
15
“saborear”
/òkùyólà/
15
“rir”
/òkùhálà/
15
“querer”
/òkùválà/
15
“contar estórias”
h.- Definição de fonemas consonânticos As oposições entre fonemas consonânticos permitiram mostrar os seus traços pertinentes: - O fonema /b/ é definido como: - labial - oclusivo - sonoro
b/d b/v b/p
- O fonema /p/ é definido como: - labial - oclusivo - sordo
p/d p/f, v p/b
- O fonema /m/ é definido como: - labial - nasal
m/n, p, h m/p, f, v, d
- O fonema /f/ é definido como - labial - fricativo - surdo
- O fonema /v/ é definido como: - labial - fricativo
f/t, s, n f/p, w f/v
v/d, s, n v/b, p
54
- sonoro
v/f
- O fonema /w/ é definido como: - labial - contínuo
w/s, l, y w/f
- O fonema /n/ é definido como: - dental - nasal
n/m, p n/t,d, l
- O fonema /t/ é definido como: - oclusivo - dental - surdo
t/l t/f, v t/d
- O fonema /d/ é definido como: - oclusivo - dental - sonoro
d/n, s, l, y d/b, p, v d/t
- O fonema /ʃ / é definido como: - fricativo - palatal
ʃ /d, y ʃ /v, w, f
- O fonema /l/ é definido como: - lateral - dental
l/n, t, d, ʃ l/y, w
- O fonema /y/ é definido como: - palatal - contínuo
y/w, d, ʃ , l, k y/p
- O fonema /k/ é definido como: - oclusivo - velar - surdo
k/h k/y, t, f k/g
55
- O fonema /h/ é definido como: - fricativo - velar
h/k h/ʃ , y, v
- O fonema /g/ é definido como: - oclusivo - velar - sonoro
g/Ø g/d g/k
1.2.- Plano Sintagmático 1.2.1.- A sílaba A sílaba é um grupo de fonemas geralmente constituído por uma consoante e uma vogal. O kwanyama apresenta a particularidade de ter uma sílaba mínima composta quer por uma vogal, quer por uma consoante nasal. A vogal pode ser antecedida de uma, duas ou três consoantes; quando há duas consoantes, a primeira é uma consoante nasal ou se a primeira for uma consoante oral, a segunda será /y/ ou /w/. Quando há três consoantes, a primeira é uma consoante nasal e a terceira é /y/ ou /w/. A consoante nasal pode ser também seguida de uma outra consoante nasal. O kwanyama apresenta as seguintes estruturas silábicas: -V ou CN -CV -CCV (Cons.Nas.CV ou CSV) -CCCV (Cons.Nas.CSV) 1.2.2.- Restrições nas combinações e exemplos a.- VOGAIS Todas as vogais podem constituir uma sílaba quando estão situadas em posição inicial. Exemplos: (114)
/únèné/
14
“muito”
(115)
/úhàpú/
14
“muito mais”
(116)
/èpyá/
5
“lavra”
(117)
/èdí/
Dem.cl.4, 10
“estes/as”
(118)
/áwá/
“quem cai”
56
(119)
/òtányíkà/
(120)
/òmùtúmìní/
“ele cheira” 1
“chefe, quem manda”
A língua atesta a sucessão de duas vogais diferentes que se combinam para formar uma palavra ou que se associam a outras sílabas no interior de uma palavra. As combinações afectam todas as vogais. 6
“ovos”
(121)
/òmàí/
(122)
/òhàìlí/
(123)
/òmàúlù/
6
“pernas”
(124)
/èí/
5
“ovo”
(125)
/òùnónà/
14
“criança”
(126)
/òmàókò/
6
“braços”
(127)
/òìpútè/
8
“ferida”
(128)
/èúlù/
5
“céu”
“eu como”
b.- CONSOANTE NASAL É um tipo particular de consoante nasal que leva um tonema e não pode ser imediatamente seguida de uma vogal. Constitui por si própria uma sílaba. Exemplos; (129)
/òn’twé/
1
“cabeça”
(130)
/òm’píkà/
1
“escravo”
(131)
/òn’nwé/
3
“dedo”
(132)
/òm’mátì/
1
“rapaz, moço”
Essa nasal silábica constitui uma das duas formas dos prefixos de classes 1 e 3, mù-, funcionais na língua, cuja utilização depende do locutor. No caso presente, o apóstrofe é a
57
indicação de que a vogal foi eliminada. Assim, a nasal torna-se homorgânica em função da consoante a seguir. c.- CONSOANTE + VOGAL A consoante oclusiva velar /g/ apenas aparece antecedida da nasal velar [ŋ] e não pode, deste facto, aparecer numa estrutura silábica de tipo CV. Exemplos (133)
/òŋgáŋgà/
9
“feiticeiro”
(134)
/òndúŋgù/
9
“poço”
(135)
/òŋgòbé/
9
“boi”
(136)
/òshìlóŋgò/
7
“trabalho”
A consoante oclusiva labial /b/ no início do tema apenas aparece precedido da nasal labial /m/. Na posição interna, ela aparece no contexto seguinte: NCV –V. A sílaba que constitui o ataque deve, por conseguinte, ser necessariamente precedida de uma sílaba de tipo NCV - . Exemplos (137)
/òmbélè/
9
“faca”
(138)
/òmbúdú/
9
“frio”
(139)
/òmbábí/
9
“veado”
(140)
/òŋgòbé/
9
“boi”
Por outro lado, todas as consoantes podem ser directamente seguidas de vogais, mesmo /y/ ou /w/. Contudo, para esses últimos casos, apenas as sequências /y+i/ e /w+u/ não são atestadas: Exemplos (141)
/òkùyá/
15
“ir”
(142)
/wìnyá/
Dem.cl.3, 14
“aquele/a”
(143)
/òwàwá/
cl.1, 3, 14
“ele caiu”
(144)
/èyúlù/
5
“nariz”
)145)
/òkùyólà/
15
“rir”
58
d.- CONSOANTE + CONSOANTE + VOGAL A sequência de duas consoantes seguidas de uma vogal é atestada em dois casos: - a primeira consoante é uma nasal homorgânica da consoante oral sonora seguinte: Cons. Nas. + Cons. Or. Sonora = vogal. Exemplos: (146)
/òndúŋgé/
9
“mentalidade”
(147)
/òmbábí/ /òŋgómá/
9
“veado”
9
“batuque”
(148)
- a segunda consoante é /y/ ou /w/: Cons. + /y/ ou /w/ + vogal Com a semivogal palatal, apenas as sequências /ly/, fy/, /py/, dy/ são atestadas: Exemplos: (149)
/òkùlyá/
15
“comer”
(150)
/ȅfyá/
10
“morte”
(151)
/òkùpyá/
15
“queimar”
(152)
/òkùdyálà/
15
“vestir”
Com a semivogal labial /w/, as sequências /ʃ w/ e /vw/ não são atestadas: Exemplos: (153)
/òmwífì/
3
“fumo’
(154)
/òkùtwí/
15
“orelha”
(155)
/òhúhwà/
9
“galinha”
(156)
/òkùnwá/
15
‘beber”
(157)
/òlùkwá/
11
“floresta”
59
Quando os fonemas semivocálicos são antecedidos ou não de u fonema consonântico, sseguem a regra seguinte: - /( c ) y/ não pode ser seguido de /i/ - /( c ) w/ não pode ser seguido de /u/ Exemplos:
/óúlúvy’òwàdyámò/ “o cerébro saiu”
(158) (159)
/ókútwì òkwàólà/
(160)
/òhòndé yòyè/
“a orelha apodreceu” “é o seu sangue” 5
(161)
“intestino”
/èndyádyà/
e.- CONSOANTE + CONSOANTE + /y/ ou /w/ + VOGAL Neste tipo de sequência apenas a sequência /ndy/ é atestada e a vogal seguinte não deve ser /i/: Exemplos: (162)
/èndyádyà/
5
“intestino”
(163)
/òndyábà/
9
“elefante”
(164)
/òndyédì/
9
“barba”
Neste tipo silábico Consoante + Consoante + /w/ + vogal, apenas as sequ6encias /vw/ e /ʃ w/ não são atestadas e nas sequ6encias atestadas, a vogal seguinte nào deve ser /u/: (165)
/òmbwá/
9
“cão”
(166)
/òndwí/
9
“poeira”
(167)
/òŋgwé/
9
“leopardo
60
CAPÍTULO 2: FONOLOGIA SUPRA-SEGMENTAL Nesta parte, analisaremos os fonemas supra-segmentais a dois níveis: - Fonético - Fonológico. 2.1.- Fonética O kwanyama caracteriza-se por três níveis de altura, a saber: - o nível alto [´] - o nível baixo [`] - nível abaixao ['] Por outro lado, a combinação do nível baixo e do nível alto produz realizações tonais moduladas, montante [ˇ] e descendente [^] segundo que se encontrem na ordem citada ou na ordem inversa. a).- Os tons baixo e alto A curva melódica, na realização destes tons varia segundo está em presença de um tom baixo ou de tom alto. O nível alto apresenta uma curva melódica mais elevada que o nível baixo. Exemplos - [ɔɲʤáƖà]
-
-
- [ɔmùŋgúŋgúmò]
“”
61
- -
-
- -
-
- -
[ɔmútʷè ɔwàdέŋgȧ mέkumá]
“a cabeça bateu no muro” “bateu a cabeça no muro”
b.- Os tons montantes e descendentes Os tons montantes e descendentes resultam da cominação respectiva de tons baixo e alto. São notados respectivamente pelo acento circunflexo invertido [˅] acento circunflexo normal [^]. São caracterizados pela subida ou descida da curva melódica. Exemplos
-
-
[ɔmă:dì]
6
“gordura”
-
[ɔʃî: màtʸì ɔʃàpyá]
“a fruta está madura”
c.- O tom abaixado O nível abaixado, para o qual se adopta a notação convencional seguinte [ ‘ ], é um nível intermédio entre os dois níveis extremos, baixo e alto. O nível abaixado é sempre precedido de nível alto. Exemplos
62
5
[ὲƖámbò]
- -
“buraco”
- - -
[ɔɲɔɸì
-
ɔtáìβémà]
O tom alto seguindo um abaixado é realizado ao mesmo tempo que o alto.
d.- O tom sobre abaixado O nível sobre abaixado, notado [↓V] é um nível mais baixo que o baixo e antecede sempre o nível baixo. É realizado mais baixo que o primeiro baixo. Exemplo - -
-
-
-
[ɔmúdy
ɔwàdyá
mὲ↓dù ]
2.2- Fonologia tonal A análise tonológica do kwanyama fez aparecer um tonema baixo (B) notado ( ` ) e um tonema alto notado ( ‘ ). Cada tonema é geralmente levado por uma vogal mas também por uma consoante nasal. Dois tonemas podem aparecer seguidos para constituir sequências de tonemas baixo-alto e alto baixo ou sequências de tonemas idênticos. 2.2.1.- Realização alofónica de tonemas
63
De uma maneira geral, os tonemas altos / A / e os tonemas baixos /B/ são realizados pelos seus alófonos respectivos [ A ] e [ B ]. Todavia, alguns contextos favorecem o aparecimento das realizações fonéticas particulares: 1.- O tonema alto colocado entre um ou uma série de tons altos e um limite final de frase é realizado pelo seu alófono alto-abaixado: Seja: / A /=>[ Ab ]/ A Exemplos (168). /óndyàlà òhàídípâ òvánhú/ [ɔ nʤàƖ à ɔ hàídipà: ɔ vánhu]
“a fome das pessoas”
(169). /óhàmbà òtáìyándy’èpángéló/ [ɔ hàmbà ɔ táìyánʤ’èpáŋgéƖ ɔ]
“o rei autoriza a administração”
(170). /ómûlù òyàválùl’ómúnhú/ [ɔ mû:lù ɔ yàβáƖ ùƖ ’ɔ múnhu]
“o pacaça feriu um homem”
2.- O tom baixo antecedido de um tom alto e seguido de um outro alto é realizado pelo seu alófono alto abaixado: Seja: / B / => [ Ab ]/A---A Exemplos 171. /ómúlòŋgà òwàkúkùtá/ [ɔ múƖ òŋgà ɔwàkúkutá ]
“o rio secou”
172. /ónyòfì òtádìvémà/ [ɔ ɲòΦì ɔ tádìβémà]
“a estrela brilha”
173. /óshímbùngù òtáshìlí ómúfì/ [ɔ ʃ ímbùŋgù ɔtáshìƖ í ɔmúΦì] “a hiena come o cadáver (morto)”
64
3.- O tonema baixo antecedido de um outro tonema baixo pelo menos e seguido do limite final de frase é realizado pelo seu alófono sobre a abaixado: Seja: / B / =>[↓`B]/B – Exemplos: 174. /éyùlù òlìn’ óshìpùtè/ [έyùƖ ù ɔ Ɩ ìn’ ɔ ʃ ìpù↓tè]
“o nariz feriu”
175. /ómúdy’ òwàdyá mèdù/ [ɔ múdy’ ɔwàʤá mè↓dù]
“a raiz saiu da terra”
176. /òlwènyá l’ókàdìlà/ [ɔƖ wèɲá l’ɔ kàdì↓Ɩ à]
“a pena do pássaro”
2.2.2.- Oposições fonológicas 1.- A identidade fonológica de tonemas simples A e B saem de pares minimais seguintes: Exemplos: 177. /òhàìpónà/ /òhàípónà/
“Eu engolo” “Eu engoli há muito tempo”
178. /òhàìlí/ /òhàílí/
“Eu como” “Eu comi há muito tempo”
2.- A identidade fonológica de tonemas em sucessão aparece nas oposições seguintes, onde um tonema se opõe a dois tonemas em sucessão: 179. /èdílà/ /ȅdílà/
5 10
“pato” “abutres”
180. /òkùkólà/ /òkùkǒlà/
15 15
“espremer a fruta” “limpar a lavra”
181. /tùlá/ /tûlá/
“ponha” “abra”
65
CAPÍTULO III: MORFOFONOLOGIA 3.1.- Generalidades: 1.1.- A morfofonologia procura apresentar relações de alternâncias entre fonemas. Uma mesma unidade significativa pode, com efeito, segundo o contexto, apresentar realizações variáveis ainda que tenham uma certa similitude fonológica e a realização de dadas unidades significativas podem encontrar-se mais ou menos amalgamadas a das unidades adjacentes. De uma maneira geral, a morfofonologia estuda as regras de representação de morfofonemas segmentais e supra-segmentais a nível fonológico. Nesta parte apresentamos as regras de representação de morfofonemas supra-segmentais e segmentais. Essas regras aplicam-se numa determinada ordem. A complexidade do sistema tonal do kwanyama não nos permitiu formular certas regras de maneira que sejam comuns a todos os temas substantivais da mesma estrutura de tons, o que nos obrigou a colocar regras menores para aplicarem-se a certos temas substantivais da mesma estrutura tonal e a que outros não se submetem. 1.2.- Utilizamos, para separar os morfemas, unidades de limites convencionais que podem ser encontradas na rubrica Siglas e Abreviaturas. A fonologia permitiu-nos estabelecer o sistema fonológico do kwanyama; a morfofonologia permitiu formular regras de representação fonológicas de morfofonemas; a morfologia estudou as diferentes categorias gramaticais assim como unidades que as compõem. O kwanyama é uma língua tonal, contudo, admitimos dificuldades para encontrar o caminho que nos leva ao exame desta matéria, muito complexa. Em suma, o trabalho foi uma oportunidade de expor o método de análise descritiva de uma língua africana, neste caso, bantu.
3.2.- Regras morfofonológicas As regras apresentadas são provisórias. A sua formulação, embora incompleta, pode ser adaptada ao tratamento das sequências A- PN+Tema, verbos conjugados e enunciados SV(C). A sua numeração é dada a título indicativo, como se as regras relativas a essas sequências constituissem um conjunto isolado do resto do sistema, pois é do nosso conhecimento que o kwanyama é uma língua tonal. Regra 1 Quando dois morfofonemas idênticos são colocados em sucessão directa ou separados unicamente por um limite -, +, , o primeiro não é representado e o tonema que leva, junta-se ao morfofonema a seguir: é1 (+) è1 → ê
66
Exemplos ò – kà + ánà A Ps.12
Rds
Ø ă
R1 òkănà
“criança”
ò – shì + ŋgòólòdò A Ps,7
Rds
R1
Øŏ òshìŋgŏlòdò “cobre”
ò – kù + úlù A Ps15 Rds
Øŭ
R1 òkŭlù
“perna”
ò – n + mùúlù A Ps9
Rds
R1 R26
Øŭ ø /òmŭlù/ “pacaça”
ò – mà + ádì A Ps6
Rds
67
Ø ă
R1
/òmădì/ “gordura”
| èè – n + gòbé - ` | Ps10 +Ps9
R1
Rds
Tf
Øȅ
R6
óè ŋ
R22
/ȅŋgóbè/ "boi"
|#èè – n + kákù ò – dì –à + ú – ìl – à mù è + lámbò #| Ps10 + Ps9
R1
Øȅ
R2
ẽ
Pia Ips10- For. -Rdv-Suf.-Fv –Ps18 – Ps5 - Rds
Rdn
R3
à
R15
Ø
R16
Ø
R19 R22 R27
w ŋ h /ẽŋhàkù òdàwílàm'èlámbò/ "Os sapatos caíram no buraco"
|# èè – n + bwá *dì – tànó #| Ps10 +Ps9 – Rds
Pd.Va Rd.num.
68
Rv
n
R1
Øȅ
R20
m
R27
h /ȅmbwá nhànó/ "cinco cães"
Regra 2 O morfotonema baixo de A e PN de substantivos no início do enunciado torna-se alto. (è)(C)è + → éCé +
Exemplos |# ò – shì + kómbò ò –shì – à + lánd – ìf – ù – à #| A Ps7
R2
ó
Rds
Pia Ips7 For Rdv
Suf Suf Fv
í
R3
ò
R16
Ø
R19
w / óshíkòmbò òshàlándìfwà/ "o cabrito foi vendido"
|#ò – n + dúdù è – í ò – ì – à + kwát – ù – à #| A
R3 R3
Ps.9 Rds
V-PdDem. Pia –Ips9 For. Rdv
ó ù
R19
y /óndùdù èí òyàkwátwà/ "o curandeiro foi preso"
w
Suf. Fv
69
Regra 3 O morfofonema alto precedido de um ou mais tonemas altos de que é separado pelo limite + e seguido de um tonema baixo e de limite , torna-se baixo. (è)(C)è + CéCè → (é)(C)é + CèCè
Exemplos |# ò – shì + kómbò ò – shì – à + lánd – ìf – ù – à #| A
R2
ó
Ps7
Rds
Pia Ips7
For Rdv
Suf. Suf, Fv
í
R3
ò
R16
Ø
R19
w /óshíkòmbò òshàlándìfwà/ "o cabrito foi vendido"
|# ò - Ø + ndúdù ò – ì – à + lánd – ìf – ù – à #| A Ps9a Rds
R2
Pia Ips9 For. Rdv
Suf. Suf. Fv
ó
R3
ù
R16
Ø
R19
w /óndùdù òyàlándìfwà/ "o curandeiro foi preso"
Regra 4 Um morfotonema alto flutuante, substitui o tonema baixo que lho precede, de que é separado pelo limite – e, seguido da sequência de tipo
, separado pelo limite +,
70
(C)è - ´ + CéCè ≠ Cé ≠ → (C)é + CéCè ≠ ou Cé ≠
Exemplos ò – mà – ù - ˊ+ lúvì A
Ps6 Ps14 –Tf - Rds
R4
ú
R10
Ø òmàúlùvì "cérebros"
ò – mà – lù - ˊ + ényà A
Ps6
Ps11- Tf Rds
R4
ú
R10
Ø
R19
w òmàlwényà " asas "
| ò – mà - ´ + té | A
R4 R10
Ps6 – Tf Rds
á Ø /òmáté / "saliva"
| ò – mà - ´ + ké | A - Ps6 – Tf - Rds
71
R4
á
R10
Ø /òmáké/ "mãos"
Regra 5 O morfofonema baixo flutuante, precedido de uma sequência de tipo (+, -) CV- e seguido de limite #, substitui o tonema alto precedente: Cè – Cè - ´ + Cé - ` ≠ → Cè ≠
Exemplos | ò – lù - ´ + tú - ` | A – Ps11 – Tf Rds - Tf
R4
ú
R5
ù
R10
Ø
Ø
/òlútù/ "corpo"
ò – mà – kà - ´ + nyá - ` A - Ps6 Ps12 – Tf – Rds - Tf
R4
á
R5
à
R10
Ø òmàkányà "bocas"
Regra 6
Ø
72
Quando é precedido de sequência de tipo um tonema baixo flutuante seguido de limite substitui o tonema alto precedente e este substitui por sua vez o tonema baixo que o precede. +(C)è(C)é - ` ≠ → (C)é(+)Cè ≠
ò – mà + ùmbó - ` A – Ps6
Rds
R6
ú
Tf
ò
R10
Ø òmàúmbò "casas"
| èè – n + gòbé - ` | Ps10 – Ps9 – Rds
R1
Tf
Øȅ
R6
ó è
R10
Ø ŋ
R22
/ȅŋgóbè/ "boi" Regras 7 Um morfotonema baixo flutuante precedido de tom alto de que é separado pelo limite – e seguido imediatamente de um tonema alto transforma o tom alto precedente em tom baixo. +CéC - ` é ≠ → + CèC
Exemplos | ná – á + lím - ` é | Pit – For. Rdv – Tf -Fv
73
Rv
Ø
R7
ì
R10
Ø /álìmé/ "que cultive"
| *ì - *ndì – á + lím - ` ílè | Pin -Ips.el.sg.-For. Rdv Tf - Fv
Rv
hà Ø
R7
ì
R9
Ø
R10
Ø
R 12
é
R25
n /hálìmínè/ "eu não tinha cultivado"
Regra 8 Um morfotonema baixo flutuante precedido imediatamente de um tonema alto e de um tonema alto de que é separado pelo limite + transforma o tom alto precedente em tom baixo. Cé ` +CéC- → Cè
Exemplos | ò - tà – tù - ´ - ká ` + pón – à | Pia
Rv R5 R8
Pit. Ips for. Lim. Rdv
há ú à
Fv
74
R10
Ø
Ø
/òhátúkàpónà/ "vamos beber"
Regras 9 Quando dois morfofonemas idênticos são separados por um limite de morfema – ou limite de palavra ≠ ou ainda ., o primeiro não é representado e o seu tonema é eliminado. è1 - é2 → é2
|≠ ì - *ndì – á + lím - ` ílè ≠| Pin Ips.el.sg. For. Rdv Fv Rv
hà
ø
R7
ì
R9
Ø
R10
Ø
R 12
é
R25
n /hálìmínè/
"eu não tinha cultivado"
| ì – nà – à - ´ + pón - *à | Pin Pit – Ips.del.sg.-For.-RDv-Fv
Rv
`à
R4
á
R7 R9 R10
ò Ø Ø
Ø
75
/ìnápònà/ "ele não tem engolido"
Regra 10 Os tons flutuantes são eliminados ´
` → /Ø/
Exemplos | ò -*tà – tù - ´ - ká ` + pón – à | Pia Pit Ips For. Lim- Rdv
Rv
há
R4
ú
R8
à
R10
Ø
Ø
/òhátúkàpónà/ "vamos beber"
| ò – mà + ùmbó - ` | A
Ps6
Rds
R6
ú
R10
Tf
ò Ø
/òmàúmbò/ " casas"
| *ná – á + lím - ` é | Pit For. Rdv
Rv
Ø
Tf Fv
Fv
76
R5
ì
R10
Ø /álìmé/ "que cultive"
| *ì - *ndì – á + lím - ` ílè | Pin Ips.el.sg. For
Rv
Rdv Tf Fv
hà Ø
R5
ì
R9
Ø
á
R10
Ø
R25
n /hǎlìmínè/ "eu não tinha cultivado"
Regra 11 O morfofonema |i| é representado pela vogal/e/ quando precedido da vogal /a/ de que é separado por um limite -, +. |i|→/e/| (C)a (-, +) –
Exemplos | ò – mù – kwá + ìnì | A
Ips1
Rd
Pof
R11
ê
R18
Ø
/òmùkwénì/ "pessoa de vossa geração"
77
Regra 12 O morfofonema |i| torna-se /e/ quando o radical possui uma das vogais seguintes: e, o, a. Esta regra diz respeito aos sufixos derivativos –il-, -ik- e a final verbal –ílè |i|→/e/|Rd e, o, a –
Exemplos | ò – kù + hól – ìk - à | Pia Ps15 Rdv Suf, Fv
R12
è /òkùhólèkà/ "esconder" | ò – kù + yél – ìk –à | Pia Ps15 Rdv
R12
Suf. Fv
è /òkùyélèkà/ "medir"
| ò – kù + páŋg – ìl – à | Pia Ps15
Rdv
R12
Suf. Fv
è /òkùpáŋgèlà/ "arranjar"
Regra 13 O morfofonema |u| torna-se /o/ quando o radical possui uma das vogais seguintes e, o, a. Esta regra diz respeito aos sufixos derivativos –ul-, -uk-. Exemplos |u|→/o/|Rd e, o, u –
78
| ò – kù + hól – ùk – à | Pia Ps15 Rdv
R13
Suf. Fv
ò /òkùhólòkà/ "descobrir"
| ò – kù + lóŋg – ùlùl – à | Pia Ps15 Rdv
R13
Suf.
Fv
òò /òkùlóŋgòlòlà/ "desarrumar"
Regras 14 O morfofonema |u| precedido da vogal /a/ de que é separado pelo limite de morfema – tornase /o/. |u|→/o/|a - Exemplos | ì – há – ú – ká + pón - *à | Pin – Pit Ips.al.sg For. Rdv
Rv
`à
R5
ò
R10
Ø
R14 R18
Fv
ó Ø /ìhókápònà/ "tu não tens engolido há muito tempo"
| ì – tá – ú - ká + pón – à |
79 Pin –Pit –Ipsal.sg.- For. Rdv
R14
Fv
ó
R18
Ø /ìtókápónà/ "não engoliras"
| *ì – kù – á + lí hà – ú + lí - *à | Pin Ips
Rv
For Rdv Pit Ips Rdv Fv
kà
Ø
R14
Ø
R18
Ø
R19
w /kàkwálí hólí/ "não comeras"
Regra 15 O morfofonema |u| precedido de uma consoante e seguido das vogais /o/ e /e/ de que é separado por um limite -, +, não é representado e o tom que leva combina-se com o tom da vogal seguinte se for diferente e é eliminado se for idêntico. |u|→ /Ø /|(C)o,e( - +) Exemplos: | ò – mù + òŋgwá | A
Ps3
R15
Rds
Ø
/òmòŋgwá/ "sal"
|# kù # è + pyá #|
80 ps17 Ps5 Rds
R15
Ø /k΄èpyá/ "para a lavra"
|# mù # ò – Ø + ndúdà #| Ps18
R15
A Ps9a Rds
Ø /m΄òndúdà/ "em casa"
Regra 16 O morfofonema |i| precedido de uma consoante e seguido da vogal /a/ de que é separado por um limite – não é representado. Esta regra diz respeito ao índice pronominal do sujeito. |i|→/Ø/|(C)a - Exemplos |# èè – n + kákù ò - dì – à + ú –ìl – à mù è + lámbò #| Ps10 Ps9 Rds
R1
Øȅ
R2
ẽ
R3
Pia Ips10 For Rdv Suf. Fv Ips18 Ips5 Rds
à
R15
Ø
R16
Ø
R19 R22
w ŋ h /ẽŋhàkù òdàwílà m'èlámbò/ "os sapatos caíram no buraco"
81
|# ò – shì + kómbò ò – shì – à + lánd – ìf – ù – à #| A
R2
Ps7
ó
Rds
Pia Ips7 For. Rdv
Suf. Suf. Fv
í
R3
ò
R16
Ø
R19
w /óshíkòmbò òshàlándìfwà/ "o cabrito foi vendido"
│≠ è + kípà ≠ lì –à ≠ ò – Ø + mbwá ≠│ A
Rds
R16
Con.5
A Ps9a Rds
Ø
R18
Ø /èkípà l’òmbwá/ "o osso do cão"
Regras 17 O morfofonema |i| precedido da sequência tu+ de que é separado pelo limite de tema + não é representado. Esta regra é excepcional. |i|→/Ø/ tu + Exemplos | à – tù + ìshé | A
Ips
R17
RdQ
Ø /àtùshé/ "nós todos (exclusivos)"
82
| à – tù + ìshé : ènì | A
Ips
RdQ
R9
Pof.
Ø
R17
Ø /àtùshènì/ "nós todos (inclusivos)"
Regra 18 O morfofonema |a| precedido de uma consoante e seguido das vogais /o/ e /e/de que é separado por um limite -, +, não é representado e o tom que leva é eliminado. |a|→ /Ø/|- (-,+,≠) e, o Exemplos | pà ò – Ø + mbàdà | Ps16 A Ps9a Rds
R18
Ø /p΄òmbàdà/ "em cima"
| ò – mù – kwá – ìnì | A
Ps1
Rd
Pof
R11 R18
ê Ø
/òmùkwênì/ "pessoa de vossa geração"
Regra 19
83
Os morfofonemas |i| e |u| são respectivamente representados por semivogais /y/ e /w/ quando são seguidos de uma vogal de que são separados unicamente por um limite – ou + e o tom que levam é eliminado. |i, u| → /y, w/ |-, + V≠ Exemplos: 1.- | ò – ì + óŋgì | A Ps8 Rds
R19
y
/òyóŋgì/ "reuniões"
| ò – ì + úndà | A
R19
Ps8 Rds
y /òyúndà/ "currais"
| ò – ù + íkè | A Ps14 Rds
R18
w /òwíkè/ "necessidade"
Regra 20 A nasal dental N passa à nasal labial /m/ quando é seguida de um limite + e de uma consoante labial. |N| → /m/| - + b, p, v Exemplos:
84
| N + válì | Pd10 Rd.Num.
R20
m
R21
b /mbálì/ "dois"
| ò – N + bàbí | A Ps10 Rds
R20
m /òmbàbí/ "veado"
| ò – N + pépò | A Ps9 Rds
R20
m
R27
h /òmhépò/ "vento"
Regra 21 A consoante labial |v| precedida da consoante nasal bilabial de que é separada pelo limite +, torna –se /b/. |v| → /b/|N + Exemplo | N + vàlì | Ps10 RdNum.
R20 R21
m b
85
/mbàlì/ "dois"
Regra 22 A nasal dental N passa à nasal velar /ŋ/ quando é seguida de um limite + e de uma consoante velar. Tendo em conta que a regra se aplica com mais regularidade aos substantivos deverbativos, optamos estendê-la aos substantivos com a mesma configuraçao morfológica inicial. |N| → /ŋ/|- (+), k,g Exemplos: | ò – N + gàdú | A Ps10 Rds
R22
ŋ /òŋgàdú/ "jacaré"
| ò – N + kòshí | A Ps10 Rds
R22
ŋ
R27
h /òŋhòshí/ "leão"
|≠ò – N + kùtí ≠| A Ps10 Rds
R22
ŋ
R27
h /òŋhùtí/
86
"pomba"
│≠ ò – n + kálà ≠│ A
Ps9 Rdv
ŋ
R22 R27
h /òŋhálò/ "estado"
│≠ ò – n + kúŋgà ≠│ A
Ps9 Rdv
ŋ
R22 R27
h /òŋhúŋgò/ "vómito"
│≠ ò – n + kóŋgà ≠│ A
Ps9
Rdv
ŋ
R22 R27
h /òŋhóŋgó/ "caça"
Regra 23 A consoante lateral l torna-se d, quando é precedida da nasal dental de que é separada por um limite +. |l| → /d/|N+-
87
Exemplos | ò – N + lánd-ò | A Ps10 Rdv F
R23
d /òndádò/ "preço"
| ò – N + lúnd-ù | A
R23
Ps10 Rdv F
d /òndúdù/ "montanha"
| ò – N + lónd-ò | A
R23
Ps10 Rdv F
d /òndódò/ "degrau, escada"
Regra 24 A vogal i e a semivogal y precedidas de consoante nasal N de que são separadas pelo limite +, tornam-se africadas. |i e y| → /dj/| N + Exemplos: | ò – N + yélèk-ò | Pia Ps9 – Rdv R24
dj /òndjélèkò/
F.
88
"medida"
| ò – N + yóf – ù - à | Pia Ps9 – Rdv – Suf. Fv R24
dj /òndjófwà/ "coisa assada"
| ò – N + íkíl - ílè | Pia Ps9 Rdv - Fv
R24
dj /òndjíkílílè/ "pessoa habituada"
Regra 25 O morfofonema |l| é representado por /n/ quando o radical contém uma nasal. Esta regra concerne àos sufixos aplicativo –il- e reversivo –ul-, quando se associam aos radicais contendo uma nasal. l →/n/|Rdv(N) + Exemplos: | ò – kù + túm –ìl – à | Pia Ps15 Rdv
R25
Suf. Fv
n /òkùtúmìnà/ "enviar para"
| ò – kù + níŋg – ìl – à | Pia Ps15
Edv Suf. Fv
89
R25
n /òkùnìŋgìnà/ "entrar"
Regra 26 1.- O morfofonema nasal dental seguido de uma consoante nasal ou de uma consoante fricativa surda não é represenrado. Exemplos: N → Ø/ - +N, Cs Exemplos: | ò - N + mwé | A Ps9
R26
Rds
Ø /òmwé/ "mosquito"
| ò – N + shí | A Ps9 Rds
R26
Ø /òshí/ "peixe"
| ò – N + shílì | A Ps9
R26
Rds
Ø /òshílì/ "verdade"
90
Regra 27 As consoantes surdas oclusivas p, t, k tornam-se /h/ quando antecedidas da nasal homorgânica da qual são separadas pelo limite +. Esta regra concerne sobretudo aos substantivos deverbativos tendo como inicial temáticos essas consoantes. p t
→ /h/ | N + -
k Exemplos: | ò – N + pépò | A Ps9
R20
Rds
m
R27
h /òmhépò/ "vento"
│≠ ò – n + pólèkà ≠│ A
R22
Ps9 Rdv
m
R27
h /òmólè/ "maneira de amarrar"
│≠ ò – n + pépùlà ≠│ A
R22
Ps9 Edv
m
R27
h /òmépè/ "joeira"
91
│≠ ò – n + tútùmà ≠│ A
Ps9
Rdv
R27
h /ònhútù/ "espuma"
│≠ ò – n + tóŋgòlà ≠│ A
Ps9 Rdv
R27
h /ònhóŋgò/ "maneira de separar"
| èè – N + kákù | Ps10 Ps9 Rds
ŋ
R22 R27
h /ȅŋhákù/ "sapatos"
│≠ èè – n + kál - ò≠│ Ps10
R22
Ps9 Rds
ŋ
R27
h /èèŋhálò/ "estado"
92
CAPÍTULO IV: ANÁLISE DIACRÓNICA Este trabalho incipiente tem por objectivo expor os reflexos das consoantes do kwanyama relativamente às do bantu comum. Para a realização desta tarefa recorremos às seguintes fontes: Léxico por óos recolhido para a elaboração do presente trabalho, Bantu Lexical Reconstruction de A.E. Meeussen (1980) e Comparative Bantu de M. Guthrie (1971). No plano metodológico, limitamo-nos às reconstruções fiáveis e consideramos sistematicamente os meios fonológicos e morfológicos, cuja importância foi determinante. Assim examinamos sobretudo a evolução das consoantes situadas no início do radical e em poucas ocasiões as consoantes situadas no interior do radical. O exposto articula-se em dois eixos, saber sincrónico comportando um quadro fonológico das consoantes do kwanyama, indispensável para a compreensão dos fenómenos sincrónicos e um eixo diacrónico onde expomos o conjunto de reflexos repertoriados. 4.1.- Aspectos sincrónicos do kwanyama O sistema fonológico do kwanyama apresenta 21 consoantes, a saber: Nasal: m n ŋ(ngh) ɲ(ny) Oclusivo: p/b, t/d k/g Fricativo: f/v ʃ (sh) h Continuo: w y Lateral:
l
4.2. Aspectos diacrónicos do kwanyama No quadro abaixo resumimos as correspondências com as consoantes do bantu comum e que ilustramos de seguida com exemplos; para facilitar a leitura e compreensão do texto que se segue, resumimos em siglas o que representam os diferentes elementos do mesmo:
*C: consoante do Pro-bantu (Pb) (consoante reconstruida) /C/: consoante do kwanyama (reflexo da consoante do Pb)
93
*į
*ᶙ
*i
*u
*e
*o
*a *p
p
p
p/m
p/v/m
*b
d
v/Ø/d
*t
f
*d
d/l/Ø
-
-
Ø/m
b/Ø
t
t
t
-
t/n
d/l
Ø
l
*k
f/∫
ŋͪ
*g
d
Ø
*c
-
∫
*j
Ø/y
Ø/ɲ/n
*m
m
*n
n
*mp
*nt
l/f k
p d d/s k
g
-
h/f
h/∫
ʤ
ʤ/ɲ
y/n
f/h g/Ø
h/∫
g
Ø
m
m
m
m
m
n
n
n
n
n
n
mh
mh
nͪ
*nd -nd/-d -nd/-d * ŋk
l
g/Ø
-mb/-b
-nʤ/-ʤ-nʤ/-ʤ -nʤ/ʤ -nʤ/ʤ nͪ
p/f/m
k/ŋͪ
-
*mb -mb/-b -mb/-b -mb/b *nj
-
ŋͪ
nͪ
-nd/-d -nd/-d
ŋͪ
*ŋg
ŋ/ng ŋ/ng
*nc
Øh
Øh
ŋͪ ŋ/ng Øh
ŋ/ng
-mb/-b -nʤ/ʤ nͪ -nd/-d
-mb/-b -nʤ/-ʤ nͪ -nd/-d
-mb/-b
-nʤ/-ʤ nͪ -nd/d
ŋͪ ŋ/ng
ŋ/ng
ŋ/ng
94
4.2.- Reflexos das consoantes não nasais Reflexos de *b
a).- *b > /v/ *-dubi 14
ouluvi 14
Cérebro
*-bùbìdì
òùlúvìlúvì 14
Aranha
*-binga 9
òlùvíngà 11
chifre
*-bù 9 (172)
-wé 9
Mosquito
*-bòd- 15 (153)
-ól- 15
Apodrecer
*-boko 15 (158)
-okwókò 15
Braço
*-bíì adj. (97)
-ìí adj.
mau
-món- 15
ver
*-bᶙda 9 (225)
odùlá 9
Chuva
*-bįmò (229)
edímò 5
Barriga
*-dį 3 (591)
omudi 3
Raiz
*-dįmb- 15 (620)
-dímb-u- 15
Esquecer
b).- *-b > /Ø/
c).- *b > /m/ *-bón- 15 (164)
d).- *-b (ᶙ) ou (į) > /d/
Reflexos de /d/ a).- *-d > /d/
95
*-dᶙud- 15 (730)
-dúl- 15
Despir-se
*-gádį 6 (767)
-omáádì 6
Gordura
*-kádį 1 (986)
omwàlíkàdì 1
Mulher
*-pàdí 9 (1416)
omhàdí 9
Pé, perna
*-jadį 9
oluvádì 11
Relâmpago
*-jod- 15 (2073)
-yól- 15
Rir
*-dubi 14 (682)
oulúvì 14
Cérebro
*-dí 15 (550)
-lí 15
Comer
*-dóngà 3 (662)
omulóngà 3
Rio
*-dúm- 15 (696)
-lúm-at- 15
Morder
*-du 15 (675)
-lù- 15
Lutar
*-daį adj.
-lé adj.
Comprido
*-(j)údu 5 (2151)
eyúlù 5
Nariz
*-tàmbud- 15 (1656b)
-támbùl- 15
receber
*-kįdà 3 (1053)
omushila 3
Cauda
*-gįdà (825)
okadílà 12
Pássaro, ave
*-déet- 15 (546)
-ét- 15
Trazer
*-dįbá (605)
òmévà 6
Água
*tùndù (1808)
òshitúnù 7
colina
b).- *-d > /l/
c).- *-d > /Ø/
Reflexos de *g
96
a).- *-g > /Ø/ *-gí- 15 (811)
-í- 15
ir
*-gí 5 (809)
èí 5
Ovo
*-gú- 15 (863)
-u-
Cair
*-gàdí 6 (767)
òmàádì 6
Gordura
*-gùdù 15 (884)
òkùúlù 15
Pé, perna
*-gumbo 3
èùmbó 5
Casa
*-gad-uk- 15 (759b)
-álùk- 15
Voltar
*-gend-15 (806)
-end- 15
Ir, andar
*-gùdú 5 (880)
èùlú 5
céu
*-gína 5 (831)
èdínà 5
Nome
*-gįda (825)
òkàdílà 12
Ave, pássaro
*-jįno 5
èyóó 5
Dente
*-jóka 9 (2112)
éyókà 5
Serpente
*-(j)údu 5 (2151)
èyúlù 5
Nariz
*-jód- 15 (2073)
-yól- 15
Rir
*-jįg-ud- 15 (2038b)
-yùúlul- 15
Abrir
b).- g + i ou į > /d/
Reflexos de *j a).- *j > /y/
a).- j > /ny/
97
*-júki 9
ònyíkì 9
Abelha
*-jàdà 9
ò(pa)nyálà 9
unha
*-jótį
ònyófì 9
Estrela
*-jana 1 (1922)
-òkáánà 12
Criança
*-(j)átò 14 (1949)
-òwàtò 14
Canoa
*-jįco 5 (2030)
èíshò 5
Olho
*-jican- 15
-ífan- 15
Chamar
*-jįki (2054)
òmwífi 3
fumo
b).- j > /Ø/
Os reflexos de /j/ em /d/ e /n/não são regulares, pois os exemplos em que aparecem esses reflexos são muito reduzidos: *-jįpag- 15
-dípa- 15
Matar
*-jing-id- 15
-ningin- 15
Entrar
*-pá 15 (1404)
-pá- 15
Dar
*-pák- 15 (1418)
-pák- 15
Depor
*-pèèp- 15 (1489)
-pép- 15
Soprar
*-píka 1 (1517)
òmùpíka 1
Escravo
*-piá adj. (1505)
-pé adj.
Novo
*-pitó 5
èpíto 5
Porta
*pį 15 (1502)
-pí- 15
Queimar
Reflexos de *p a).- *p > p
98
*-pú- 15
-pú-
Acabar
*-pútá 9 (1608)
òshìpútè 7
Ferida
*-púì Adj. (1510)
-pyú Adj.
quente
èvávà 5
asa
c).- *p > v *-papá 5 (1450)
d).- *p > Ø *tapi
1636
òshìtáì 7
ramo
Reflexos de *t a).- *t > t *-teet- 15 (1721)
-tét- 15
Cortar
*-tí 3 (1729)
òmùtí 3
Árvore
*-tád- 15 (1638)
-tál- 15
Olhar
*-tá 8 (1630)
òìtá 8
Guerra
*-témò
òshìtémò 7
Flor
*-túè 3 (1808)
òmùtwé 3
Cabeça
*-túì (1813)
-òkùtwí 15
Orelha
*-kòtį 5 (1163)
èkófí 5
Nuca
*-tįkù 14 (1751)
òùfíkù 14
Noite
*-tįku 5 (p.352)
èfíkù 5
Dia
b).- *t > f
99
*-tįítú (1767)
òshìfítùkútì 7
Animal selvagem
*-kadį 1 (986)
òmwàlíkàdì 1
Mulher
*-ká 5
èké 5
Mão
*-kòtį (1163)
èkófi 5
Nuca
*-kongo 1
òmùkóŋgò 1
Caçador
*-kóc- 15
-kó∫- 15
Lavar
*-kįngó (1086)
òfíŋgò 9
Pescoço
*-kᶙo 5 (1256)
èèfyá 10
Morte
*-kį- 15 (1074)
-fi- 15
Morrer
*-kᶙú (1251)
òmùfí 1
Cadáver
*-kokį 9 (1102)
òŋhóshì 9
Leão
*-kįda 3 (1053)
òmùshílà 3
Cauda
Reflexos de *k a).- *-k > k
b).- *-k > f
c).- *k > ʃ (sh)
A sequência /k + ᶙ /produziu também um reflexo aspirado /h/, tal como ilustra o exemplo seguinte: *-kᶙpi (1274) Adj.
-hupi -Adj.
Curto, baixinho
100
Reflexos de *c a).- *-c > h *càŋg- 15
284
-háŋg- 15
Encontrar
*conde
òhòndé
Sangue
*canį 9
òhánì 9
Lua
*cakud- 15
263
-hákùl- 15
Curar
*cu 6
390
òmàhú 6
Urina
*-kócód- 15
1100b
-kóhòl- 15
Tossir
*cucua 9
125
òhúhwà 9
Galinha
*cùkí
411
ȅhwíkì 10
Cabelo
b).- c => /ʃ/(sh) *-jįco 5 (2030)
-èíshò 5
Olho
*-kóc- 15
-kósh- 15
Lavar
*-cᶙì (429)
òshi 9
peixe
*-cini 6
òmàshínì 6
Leite
Os reflexos de /c/ em /f/ e /k/ não são regulares, pois aparecem em número muito reduzido de palavras, como atestam os exemplos que abaixo discriminamos: *-c + a > f *-jican- 15
-ifàn- 15
Chamar
òmùká 3
Formiga
*c + u > k *-cúá 9 (392)
4.3.- Reflexos das consoantes nasais e prenalizadas
101
4.3.1.- Reflexos das consoantes nasais Reflexos de *m *-bįmò
229
èdímò 5
barriga
*-dúm- 15
696
-lúm-at- 15
morder
òshìtémò 7
flor
múŋhìmá 1
macaco
-ífàn- 15
chamar
*-témò *-kímà
1058
Reflexos de *n *-jican- 15 *-gína
831
èdínà 5
nome
*-jana 1
1922
òkănà 12
criança
òmùnwé 3
dedo
*-nùé 3
4.3.2.- Reflexos das consoantes pré-nasalizadas Reflexo de *mb mb > mb *mbungu 9
206
òshimbungu 7
hiena
*tàmbud- 15
1656 (b)
támbul- 15
receber
èùmbó 5
casa
1137
-komb- 15
varrer
*gòmbè 9
849
òngòbé 9
boi
*jàmbá 9
924
ònʤábá
Elefante
*gumbo 3 *kómb- 15
mb > b
102
Reflexo de *ng *ng > ng *gàndú 9
783
òngàdú 9
jacaré
*gòmbè 9
849
òngòbé 9
boi
*guè 9
866
òngwé 9
leopardo
*ò(n)guá 3
456
òmòngwá 3
sal
*dóngà 3
662
òmùlóngà 3
rio
òmùkóngò 1
caçador
*kóngò 1
Reflexo de *nj *nj > nʤ *jàmbá 9
924
ònʤábà 9
elefante
*jàdà 9
917
ònʤálá 9
fome
*jèdᶙ 9
930
èènʤédí 9
Barba
òhòndé 9
sangue
806
-énd- 15
Ir, andar
*-gàndú 9
783
òngàdú 9
jacaré
*-dùnd- 15
704/705
òndúdù 9
montanha
Reflexo de *nd a).- *nd > nd *-conde *-gendb).- *nd > d
103
*-dònd- 15
654/655
òndódò 9
degrau, escada
*-dànd- 15
491/492
òndádò 9
Preço
*-púkù
1590
òmhúkù 9
rato
*-pàdį
1416
òmhàdí 9
pé
*-pépò 9
1493
òmhépò
Vento
*-túdò 9
1822
ònhúlò 9
peito
*-ntù 1
3005(1)
òmùnhú 1
Pessoa
èèŋhákù 10
sapatos
Reflexo de *mp *mp > mh
Reflexo de *nt *nt > nh
Reflexos de ŋk ŋk > ŋh *-kàkù 10 *-kádá 9
581
òŋhálà 9
caranguejo
*-kímà
1058
múŋhímà 1
macaco
*-kokį 9
1102
òŋhòshí 9
leão
104
Segunda Parte: MORFOLOGIA
105
Generalidades As línguas da zona R caracterizam-se pela presença nos prefixos substantivais de uma vogal, chamada aumento. Esta vogal é, na sua maior parte, a vogal "o". Contudo, a classe 5 diferencia-se das outras classes pela presença da vogal "e" que é ao mesmo tempo o prefixo dos substantivos desta classe. Por outro lado, o Kwanyama, para além dos substantivos, particulariza-se pela presença, nos morfemas dos verbos conjugados, do aumento; o que não se verifica noutras línguas da zona. Esta particularidade dificulta a apreensão dos morfemas contidos numa forma verbal. Assim, nesta segunda parte examinaremos os seguintes pontos: -Morfologia nominal, -As formas verbais; -Os pronomes pessoais e não pessoais -Os acompanhantes do substantivo: - Conectivos - Adjectivos - Numerais - Quantificadores - Possessivos - Demonstrativos - Interrogativos Os invariáveis: - Relatores - Advérbios - Ideófones
106
CAPÍTULO 1: SUBSTANTIVOS Os substantivos do kwanyama, como de outras línguas bantu, organizam-se em classes definidas pelos prefixos. Um sistema de emparelhamento dessas classes nominais permite distinguir as formas do singular das do plural. Apresentaremos em primeiro lugar as classes nominais (a que chamaremos classes substantivais) acompanhadas de exemplos. Depois exporemos os sistemas de concordância. 1.1.- Classes substantivais O kwanyama dispõe de 18 classes definidas pelos prefixos antecedidos de aumento, como o ilustra o quadro a seguir: Quadro n°17: Classes substantivais Classes
Prefixos
1
òmù-
1a
Ø-
2
òvà-
2a
òò-, Ø-
3
òmù-
4
òmì-
5
è-
6
òmà-
7
oshi-
8
òì-
9
òØ-
10
èè-
11
òlù-
12
òkà-
13
òtù-
14
òù-
107
14a
òù-
15
òkù-
16
pà-
17
kù-
18
mù-
1.1.1.- Aumento Todos os prefixos são antecedidos de uma vogal, a que chamamos aumento, excepto nas classes 1a, 2a, 5, 10 e nos prefixos de classes locativas (16, 17, 18). A presença de aumento nas classes 1a, 2a, 5 e 10 não pode ser interpretada como representando aumento, mas simplesmente prefixos. Exemplos n°1 Classes
Exemplos- Kwanyama
Português
1a
tàtè
pai
2a
òòtàtè
pais
5
êdílà
Abutre
10
èèmbwá
Cães
1.1.2.- As classes Classe 1: òmù-, òm´Esta classe reúne substantivos cujos lexemas designam seres humanos. É, com a classe 2, as classes mais estáveis conceptualmente: Exemplos n°2 òmùpíkà
escravo
òmùlímì
lavrador
òmwàlíkàdì
mulher
108
òmwéndà
hóspede
òmùmátì
rapaz
Classe 1a: ØA maioria dos substantivos encontrados nesta classe faz parte do conceito que indica o parentesco: Exemplos n°3: tàtè
pai
háìlwá
camarada
nákùdàlà
mãe
Classe 2: òvà Esta classe forma o plural dos substantivos pertencentes à classe 1. Exemplos n°4 òvàpíkà
escravos
òvàlímì
lavradores
òvààlíkàdì
mulheres
óvàéndà
hóspedes
òvàmátì
rapazes
Classe 2a: òòExemplos n°5 òòtátè
pais
òòhàílwà
camaradas
òònákùdàlà
mães
109
Classe 3: òmùEsta classe reúne substantivos designando diversas realidades, entre outras vegetais, animais, partes do corpo e objectos diversos: Exemplos n°6 òmùdó
ano
òmùlúngà
lábio
òmòngwá
sal
òmùnwé
dedo
òmwédì
mês
òmwíyà
armadilha
Classe 4: òmìEsta classe constitui o plural dos substantivos pertencentes à classe 3. Exemplos n°7 òmìdó
anos
òmìlúngà
lábios
òmìnwé
dedos
òmìíyà
armadilhas
Classe 5: èEsta classe reúne substantivos designando diversas realidades humanas, vegetais, animais e objectos diversos. Exemplos n°8 èfíkù
dia
èòngá
lança
èùmbó
casa
110
èwí
som
èké
mão
Classe 6: òmàEsta classe além de ser a classe do plural dos substantivos de classe 5, tem a particularidade de reunir substantivos que exprimem noções e realidades não quantificáveis, não contáveis que não conhecem o singular: Exemplos n°9 òmààdí
gordura
òmévà
água
òmàhínì
leite
urina
urina
Classe 7: òshìEsta classe engloba substantivos exprimindo diversos conceitos: Exemplos n°10 òshìlóngò
pais
òshĭmà
coisa
òshóngì
reunião
òshítì
pau
òshĭmàtì
fruta
Classe 8: òìExemplos n°11 òìlóngò
países
òìlóngò
coisas
òyóngì
reuniões
111
òĭtì
paus
òĭmàtì
frutas
Classe 9: Esta classe oferece matéria para futuras investigações, pois duas opções ocorrem, dependendo do tipo de análise fonológica a optar, isto é, monofonemática ou bifonemática. A primeira opção leva a considerar a presença concomitente de dois prefixos oN- e Ø- cuja utilização, quer de um quer de outro depende do contexto morfológico; a segunda opção adopta o prefixo zero Ø- como único prefixo independentemente do contexto. Tendo em consideração a nossa opção de análise fonológica bifonemática pelos motivos que apresentamos na parte fonológica, pensamos ser relevante utilizar a primeira opção que abaixo apresentamos: Classe 9: òNA classe 9a reagrupa substantivos deverbativos e alguns não derivados, cuja pluralização na classe 10 obriga a presença de NExemplos n°12 òndúdù
montanha
òndádò
preço
òndjèlékò
medida
òndjódì
sono
òŋhwápà
axila
òmhépò
vento
òmhépè
joeira
ònhútù
espuma
ònóŋgò
maneira de separar
òŋhálò
estado
òŋhúŋgò
vómito
ȅŋhákù
sapatos
112
Classe 9a: oØReune todos os substantivos não derivativos e alguns com consoante surda no início do radical. Exemplos n°13 òmbílì
paz
òmbwá
cão
òndìbá
lebre
òdílà
abutre
òngòbé
boi
òdùlá
chuva
òmbúdù Dos lexemas com inicial consonântico surdo ou nasal: Exemplos n°14 òshí
peixe
òshílì
verdade
òmwé
mosquito
òtwílá
pus
ònátá
lama
ònélè
lugar
Classe 10: èèÉ a classe do plural de todos substantivos de classe 9. Exemplos n°15 èèshí
peixes
èèmbwá
cães
113
èèmwé
mosquitos
èèndíbà
lebres
èèngòbé
bois
èèmwédì
meses
Classe 11: òlùOs substantivos de classe 11 são numericamente reduzidos: Exemplos n°16 òlwéndò
viagem
òlútù
corpo
òlwényá
pena
òlùdálò
raça
Classe 12: òkàOs substantivos pertencentes a esta classe designam conceitos diversos: animais de pequena dimensão, os substantivos diminutivos e realidades abstractas, substantivos desclassificados: Exemplos n°17
òkănà
criança
òkàdóná
rapariga
òkàkú
soluço
òkàándà
celeiro
òkàŋhwényènyè
sarampo
Classe 14: òùEsta classe reúne substantivos que designam realidades diversas, qualidade e abstracção:
114
Exemplos n°18 òùdíyò
veneno
òùtá
Arma. espingarda
òwátò
canoa
òùfíkù
noite
òwíkè
necessidade
Classe 14 a: òùForma a classe do plural de alguns substantivos da classe 12: Exemplos n°19 òùnónà
crianças
òùkádóná
raparigas
òùdílà
passarinhos
Classe 15: òkùEsta classe é verbo-nominal, pois reúne a totalidade de verbos e uma parte dos substantivos, indicando as partes do corpo: Exemplos n°20 òkùtwí
orelha
òkwókò
braço
òkŭlù
perna
òkùníngà
fazer
òkwímbà
cantar
Os prefixos de classes 16: pà-, 17: kù- e 18: mù são locativos e antepõem-se ao aumento do prefixo substantival e forma, ao escrever o substantivo, um corpo, pois a sua vogal desaparece.
115
Classe 16: pàExemplos n°21 p΄okuningina kw΄étàngò
Ao pôr do sol
òngòbé òílí p΄ópépì n΄épyà
O boi está próximo da casa
Classe 17: kùExemplos n°22: Esta classe indica a direcção tùyè k΄éùmbò
vamos para a casa
k΄òmbádá y΄óshítááfùlà
em cima da casa
Classe 18: mùExemplos n°23: òkúlí m΄óndùdà
está no quarto
óshíkòmbó òshílí m΄óshùúndà
o cabrito está no curral
1.1.3.- Valores dos prefixos a.- Semântico As classes têm afinidades evidentes com os diferentes tipos de conceitos. Contudo, as classes 1 e 2 são as únicas mais estáveis, pois enfermam substantivos que apenas indicam seres humanos, embora alguns substantivos com significado humano se encontrarem em outras classes. Exemplos n°24 òmùpíkà
escravo
òmùkóngò
caçador
òmùkéngèlì
homem rico
òmùlúmènù
homem
116
As classes 1a Ø- e 2a òòØ- são reservadas para substantivos que indicam o grau de parentesco. Exemplos n°25: mèmé mùmwàyìná wà mémè
Tia materna
tàtè mùmwàyìná wà tátè
Tio materno
tátè
pai
As outras classes reúnem categorias conceptuais diversas. Existem substantivos que designam seres humanos, mas que morfologicamente não pertencem às classes semânticas de seres humanos. As classes 16, 17, 18 veiculam a noção de lugar, especifica e respectivamente a de superfície, direcção e interioridade. b.- Numérico De maneira geral, os prefixos participam na oposição singular-plural, comutando os prefixos em função do contexto: Exemplos n°26: òmù-/òmì-
òmùnwé/òmìné
dedo(s)
è-/òmà-
èvélè/òmàvélè
seio(s)
Alguns substantivos rompem com a regularidade da comutação substitutiva optando pela adição de prefixos. Exemplos n°27 òù-/òmà+ù-
òùtá/òmàùtá
espingarda(s)
òlù-/òmà+lù-
òlwènyá/òmàlwényà
pena(s)
òkà-/òmà+kà-
òkànyá/òmàkányà
boca(s)
1.1.4.- Substantivos Simples Os substantivos simples são de uma maneira geral formados por um lexema ao qual se associa um prefixo, formando assim um constituinte nominal, unidade, apta a assumir uma
117
função sintáctica num enunciado. Todavia, uma boa maioria funciona com dois prefixos comutáveis, indicando o singular e o plural respectivamente; outros aceitam apenas um prefixo que pode ser do singular ou do plural. 1.1.4.1.- Substantivos com um prefixo Os substantivos com esta especificidade não perdem a sua funcionalidade como constituinte nominal, apenas se subtraem do sistema flexional que obriga a comutação dos prefixos. Todos os prefixos do singular podem criar binómios, acasalarem-se com outros prefixos do plural, mas também podem ignorar a funcionamento flexional e manterem-se apenas numa classe: a).- Classes do singular Exemplos n°28 Classe 3: òmù-
Classe 5: è-
Classe 7: òshì-
Classe 9: òN-
òmùkhú
ar
òmòngwá
sal
òmwìídì
capim
òmwífì
fumo
òmùdímbì
chuva prolongada
èdìló
sujidade
èlòlókò
cansaço
èfìmánèkò
respeito
òshílì
verdade
òshàlí
dar graça
òshíshò
preocupação
òshìtwá
Pontada
òndúbò
inveja
òdìnó
desrespeito
118
òmbílì
paz
òŋháyì
pobreza
òhólè
Amor
òhánì
lua
òlúngù
lixo que sai do massango
òlùhódì
aspecto de quem chorou
òlùvádì
relâmpago
òlwíshò
ambição
òkákù
soluço
òkàtílì
chantagem
òùpyú
calor
òútàlàlà
frio
òúwè
azia
òùshóshò
excremento de boi
òùnyúnì
universo
òmàté
cuspo
òmàshínì
Leite
òmàádì
gordura, óleo
òmévà
água
Classe 11:òlù-
Classe 12: òkà-
Classe 14: òù-
b).- Classe do plural Exemplos n°29 Classe 6: òmà-
119
Classe 8:òì-
Classe 10:èè-
òìtá
guerra
òìhúnà
Paixão
èèŋhálì
óbito
éènàngù
discussão
éèŋhàmà
nome da dança
1.1.4.2.- Substantivos com dois prefixos Uma boa parte de substantivos da língua funciona com sistema de comutação de prefixos, isto é, a distinção entre singular e plural. Estes substantivos formam casais; trata-se de um mesmo lexema que admite a associação de dois prefixos exprimindo o número, singular ou plural. Esta associação obedece a dois processos: a).- Substituição A comutação é a operação pela qual o prefixo da classe do singular comuta com a do plural, formando um casal: Quadro n°19
1/2
òmwàlíkàdì/òvàlíkàdì
mulher(es)
1a/2a
tátè/òòtátè
pai(s)
3/4
òmùlóngà/òmìlóngà
rio(s)
3/10+3
òmwíyà/èèmwíyà
5/6
èpépè/òmàpépè
ombro(s)
7/8
òshíímà/òyímà
fruta(s)
9/10
òŋhòshí/èèŋhòshí
leão/leões
11/6+11
òlútù/òmàlútù
corpo(s)
120
12/14a
òkàdílà/òùdílà
passarinho(s)
12/6+12
òkànyá/òmàkányà
boca(s)
14/6+14
òùfíkù/òmaùfíkù
noite(s)
15/6
òkùúlù/òmàúlù
perna(s)
b.- Adiçao Processo pelo qual um prefixo junta-se ao substantivo para marcar a pluralização. Uma parte ínfima, utiliza este processo. Isto é o caso dos substantivos das classes 3, 11, 12 e 14. Quadro n° 20: 3/10+3
òmwílwà/èèmwílwà
assobio(s)
òmwíyà/èèmwíyà
cinto(s)
òlwènyá/òmàlwényà
pena(s)
òlútù/òmàlútù
corpo(s)
12/6+12
òkànyá/òmàkányà
boca(s)
14/6+14
òùfílà/òmàùfílà
fuba(s)
òùfíkù/òmàùfíkù
noite(s)
11/6+11
Estes substantivos com dois prefixos serão chamados contrariamente aos primeiros de substantivos biclasses que em baixo ilustramos os emparelhamentos a que são submetidos.
121
Quadro n°21: Esquema de emparelhamento Classes do singular
Classes do plural
1.-mù-
2.- và
3.-mù-
4.-mì-
5.-è-
6.-òmà-
7.-òshì-
8.-òì-
9.-òN-
10.èè-
11.-lù-
12.òkà
14a.-òù-
14.-òù-
15.-òkù-
1.1.4.3.- Substantivos desclassificados A classe 1 é reservada aos substantivos que designam seres humanos, contudo, nem todos os substantivos com conceito de ser humano figuram nesta classe. Temos exemplos de substantivos que semanticamente designam seres humanos e que morfologicamente levam o prefixo de uma outra classe que não a classe 1. A estes substantivos chamamos substantivos desclassificados.
122
Quadro n°22: substantivos desclassificados Classe 5
èhéngù
Pessoa estéril
Classe 7
òshìvélì
Primogénito
òshìxwángà
prostituta
òshìkúmbù
solteira
òŋhélò
último filho
òŋhòlwé
bêbado
òmbúvì
pessoa viciada
òndúdù
curandeiro
òhámbà
rei
òmbùdí
gatuno
òfìyé
órfão
òkàánà
criança
òkàdónà
rapariga
Classe 9
Classe 12
1.1.5.- Substantivos Complexos Os substantivos complexos compreendem os substantivos compostos e os substantivos derivados. 1.1.5.1.- Substantivos compostos Os compostos substantivais são formados por dois termos cujos significados particulares encontram-se diluídos, transparecendo um novo e único significado, tendo numa tradução literal relações com o significado evidenciado. As unidades que entram na formação de
123
compostos substantivais aparecem justapostas. Em kwanyama, a formação destes compostos substantivais obedece às estruturas diversas que apresentamos: a.- Substantivo + substantivo No caso, o segundo substantivo perde o aumento. Quadro n°23: mwèné + èùmbó (dono + casa)
mwènèùmbó
Dono da casa
òshìfítù + òkútì (animal + mata)
òshìfítùkútì
Animal selvagem
òvàkóndjèlì+èmàngùlùkó (lutadores + libertação)
òvàkóndjèlìmàngùlùkó
Revolucionários
òvàfípì + òhòndè (chupadores + sangue)
òvàfípìhòndè
Exploradores
kànyámàhòlá
Cagador massango
òndjàbàmévà
Hipopótamo
kànyá + òmàhòlá (cagador + grãos massango) òndjábà + òmévà (elefante + água)
de
b.- Substantivo + tema adjectival Quadro n°24 hè + kúlù (seu pai + velho)
hèkúlú
O seu avô
nyókò + kúlù (sua mãe + velha)
nyókòkùlú
A sua avó
c.- Radical verbal - a + substantivo Quadro n°25 +fíta + òndákà (entupir + voz)
òmùfítòndàkà
1
Mudo
+fíyà + (òmù)kádì
òmùfíyèkàdì
1
Viúva
de
grãos
de
124
(deixar + esposa) +tóngà + (òmù)lùmé (separar + homem)
òmútóngòlùmé
1
Gigante
+pómbà + (òmù)lùmé (dormir + homem)
òmùpómbòlùmè 1
Divorciado
+lándwà+(èè)mbóngò (ser comprado + dinheiro)
èlándwámbòngò 5
Mercenário
+lúkà + (è)dínà (designar + nome)
òshìlúkàdìnà
7
Alcunha
+pítà + (è)fímbò (passar + tempo)
èpítàfìmbó
5
Passatempo
d.- Radical verbal (+kálà) + verbo infinitivo Quadro n°25 òkùkálà+(ò)kùwánìfwá (estar + ser completo
òshìnákùwànìfwà
Tarefa
òkùkálà + (ò)kùlóngwà (estar + ser feito)
òshìnákùlòngwà
Trabalho
e.- –kwá- e/ou –nà- e -mwá Alguns substantivos compostos provem de associação de –kwá- preposto ao substantivo que pode ser seguido ou não do índice associativo –nà. Contudo, o –nà- aparece apenas diante do substantivo. Conseguimos extrair três estruturas: 1.- Prefixo substantival + kwá + substantivo Quadro n°26 +kwá-(ò)shílì Alguém verdade
òmùkwáshìlí
1,2
+kwá-télì k´òméshò Alguém na aldeia
òmùkwátèlí k´òmèshó
guia
+kwá-énì Alguém vosso
òmùkwénì
Pessoa da sua geração
1,2
Pessoa honesta
125
+kwá-étù Alguém nosso
òmùkwétù
1,2
Pessoa de nossa geração
+kwá-(ò)mévà Algo líquido
òshìkwámèvà
1,2
Líquido
+kwá-èpátà Alguém familia
òmùkwépàtà
1,2
Pessoa da família
+kwá-ìlóngà Algo trabalho
òshìkwáìlóngà
7,8
Instrumento de trabalho
2.- Radical verbal + na + substantivo Quadro n°27 +éndà + nà + òndjílà (andar + com +caminho)
òmwéndánàndjìlà 1
viajante
3.- Prefixo substantival + kwá + nà + substantivo Quadro n°28 -kwá-nà-n+gòbé Alhuem com boi
1,2
pastor
òmùkwánàngóbè
-kwá-nà-ì+lóngà Alguém com pais
1,2
estrangeiro
òmùkwánàílòngà
-kwá-nà-shì+bwíyù alguem
7,8
gémeo
òshìkwánàbwìyù
4.- Prefixo substantival + nà + substantivo Quadro n°29 òmùnáùdù
Doente
òmùnáshìlí
Pessoa honesta
òmùnáìlòngò
Estrangeiro
òmùnáùmbò
Morador
126
òmùnánámwèngù
Louco
f.- Substantivo possessivo. Os substantivos possessivos são formados a partir de um substantivo precedido de –mwá-. Este composto substantival obtido designa tanto o parentesco como as relações sociais: Aumento - Prefixo substantival + mwá + substantivo Quadro n°30 ò-mù+mwá+ìnà
òmùmwáìnà
1
O seu irmão/a sua irmã
ò-mù+mwá+mémè
òmùmwámèmè
1
O meu irmão/a minha irmã
ò-mù+mwá+nyókò
òmùmwányókò
1
O seu irmão
ò-mù+mwá+hé
òmumwáhé
1
O seu irmão, a sua irmã paterno(a)
1.1.5.2.- Substantivos derivados A derivação constitui um processo proveitoso de enriquecimento do léxico de uma língua. Ela procede da adjunção de afixos ao lexema. Este processo pode fazer-se de duas maneiras: a derivação prefixal e a derivação deverbativa e denominativa. a).- Derivação prefixal A derivação prefixal consiste na criação de substantivos através da comutação ou adição de prefixos. 1.- Adição de prefixos Temos a presença de substantivos depreciativos através de prefixos de classes 7/8: Quadro n°31 òmùnhú
1
pessoa
òshìmùnhú
7/8+1
Pessoa sem valor
òmbwá
9
Cão
òshìmbwá
7/8+9
Cão que não ladra
127
As classes 5/6 podem ser utilizadas para indicar o aumentativo; são geralmente seguidas pelos prefixos de classes 1 para as pessoas e 3 para as não pessoas. Quadro n°32 òkádònà
12
moça
è(mù)kádònà/òmàkádònà
5/6+1+12
Moças grandes
òmùkúlùkádì
1
velha
èmùkúlùkádì/òmàmúkùlùkàdì
5/6+1
Velha(s) grande(s)
òshìkómbò
7
cabrito
èmùkómbò/òmàmùkómbò
5/6+3
Cabrito(s) grande(s)
ònyálà
9
unha
èmùnyálà/òmàmùnyálà
5/6+3+9
Unha(s) grande(s)
òmhàdí
9
pé
èmùmádì/òmàmúmhádì
5/6+3+9
Pé(s) grande(s)
èpépè
5
ombro
èmùpépè/òmàmúpèpè
5/6+3
Ombro(s) grande(s)
èpítò
5
Porta
èmùpítò/òmàmùpìtò
5/6+3
Porta(s) grande(s)
b).- Substituição O processo de substituição leva à formação de substantivos diminutivos e termos abstractos através da comutação de prefixos originais com o prefixos de classe 12 e 14: - diminutivo Quadro n°33 èùmbó
5
casa
128
òkàúmbò
12
Casinha
Shìkóndòbòlò
7
galo
òkàkóndòbòlò
12
Pequeno galo
- termos abstractos Quadro n°34 Classe 1: òmù-
=>classe 14:òù-
òmùlúvà
òùlúvà
Pessoa avara/avareza
òmùfyóónà
òùfyóónà
Pessoa pobre/pobreza
òmùlódì
òùlódì
feiticeiro/feitiço
òmùpómbòlùmè
òùpómbòlùmè
solteiro/condição de solteiro
òmùpáànì
òùpáànì
ateu/ateísmo
òmùnóngò
òùnóngò
artista/arte
òmùnhú
òùnhú
homem/humanidade
òmùnyáshà
òùnyáshà
jovem/juventude
b).- Derivação deverbativa Assim, a derivação deverbativa permite criar unidades novas a partir de bases verbais. A derivação procede, por um lado, da adjunção de elementos finais (morfemas derivativos) e, por outro, da adição de morfemas pré-radicais. Examinaremos as estruturas de substantivos formados:
Aumento – Pref.Subt. + Radical Verbal – Afixos - final
O kwanyama possui quatro morfemas derivativos (finais) que entram na formação dos deverbativos: -i, -u, -a, -o 1.- Morfema derivativo –ì
129
O morfema derivativo –ì junta-se a um radical verbal para formar um derivado substantival designando o agente de uma acção; Podemos encontrar derivados formados a partir do morfema causativo –ìf- (tema verbal) e do morfema derivativo –ì indicando também um agente de acção: Quadro n°35 + díng- ì
1,2
jogador
òmùdéngì/òvàdéngì
+ ímb- ì
1,2
cantor
òmwìímbì/òvàímbì
+ síng-ì
1,2
condutor
òmùsíngì/òvàsíngì
+ lánd-ì
1,2
comprador
òmùlándì/òvàlándì
Tema verbal + morfema derivativo - Radical verbal + ìl – ì Quadro n°36 + túm – ìl - ì
1,2
chefe
òmùtúmìnì/òvàtúmìnì
+ kál – ìl –ì #pò
1,2
delegado
òmùkálèlìpò
- Radical verbal + ìf – ì Quadro n°37 + lánd – ìf - ì
1,2
vendedor
òmùlándìfì/òvàlándìfì
+ lóng – ìf - ì
1,2
professor
òmùlándìfì/òvàlándìfì
2.- Morfema derivativo –ù O morfema derivativo –ù associa-se ao radical verbal para designar um objecto, uma realidade: Quadro n°38 + lúnd- ù
9,10
montanha
òndúdù/èèndúdù
+ shél- ù
12,14
Relâmpago
òkàsélù/òùsélù
130
O morfema derivativo –ù pode ser seguido da final –a para designar agentes e objectos: Quadro n°39 + túm-ù-à
1,2
enviado
òmùtúmwà/òvàtúmwà
+ túng-ù-à
9,10
grande cesto
ònhúngwà/èènhúngwà
3.- Morfema derivativo –ò O morfema derivativo –ò é associado ao radical verbal para designar um derivado que indica o agente da acção, a acção, o lugar, o resultado de uma acção. Pode juntar-se a um tema verbal (radical + sufixos derivativos –ùl-, -ùk-, -ìl-, -ìf-): 3.1.- Morfema derivativo –ò Quadro n°40 + kóng- ò
1,2
caçador
òmùkóngò/òvàkóngò
+ lónd- ò
9
Degrau, escada
òndódò
+ shíng- ò
5
Acção de conduzir
èshíngò
+ lánd- ò
5
venda
èlándò
+ lóng- ò
5
ensino
èlóngò
+pép- ò
9
vento
òmhépò
+túk- ó
9
Acto de roer
ònhúkó
+tóŋh-òl- ò
9
Maneira de separar
ònhóŋgò
+kál- ò
9
estado
òŋhálò
+kóŋg- ò
9
caça
òŋhóŋgò
3.3.- Tema verbal + morfema derivativo –ò -Radical verbal + ìf – ò Quadro n°41 + lú – ìf - ò
8
armamento
òìlwífò
131
+ lóng – ìf - ò
7
utensílio
òshìlóngìfò
+ lóng – ìf - ò
5
uso
Èlóngìfò
+ lánd – ìf - ò
5
compra
èlándìfò
- Radical verbal + ìf – ìl – ò Quadro n°42 + lánd – ìf – ìl - ò
7,8
marcado
òshìlándìfìlò
+ lí – ìf – ìl - ò
14
pastagem
òùlífìlò
- Radical verbal + ìl – ìl – ò Quadro n°43 +díng– ìl – ìl - ò
3,4
círculo
òmùdíngìlìlò/òmìdíngìlìlò
4.- Morfema derivativo –à O morfema derivativo –à associa-se ao radical verbal para formar derivados, marcando o agente de acção, a acção ou objecto: Quadro n°44 + énd - à
1,2
viajante
òmwèéndà/òvàéndà
+ énd - à
14
viagem
òwèéndà
+ lì - à
8+15
comida
òìkúlyà
+ nù - à
8+15
bebida
òìkúnwà
+ lóng - a
8
trabalho
òìlóngà
Em kwanyama o diminutivo pode realizar-se também com a presença de sufixo particular ònà não obstante a presença do prefixo diminutivo de classe 12: Quadro n°45 òkádìlà
òkàdílònà
12
Passarinho
132
òkákómbò
òkàkómbwènà
12
cabritinho
òkàndjábà
òkàndjábònà
12
elefantezinho
5.- Morfema derivativo -è +pól-ìk- è
9
Maneira de amarrar
òmhólè
+pép-ùl- è
9
joeira
òmhépè
espuma
ònhútù
6.- Morfema derivativo –u +tútùm- ù
9
133
CAPÍTULO II: OS PREFIXOS DE CONCORDÂNCIA E ÍNDICES PRONOMINAIS Com esta designação pensamos associar todos os morfemas que são regidos pelos prefixos independentes ou prefixos substantivais. Esses prefixos são de dois tipos: por um lado, temos os prefixos dependentes os que se associam aos lexemas possessivos, demonstrativos, quantificadores, interrogativos acordáveis, numerais acordáveis e outros lexemas omniclasses e, por outro, os índices pronominais. Com efeito, os índices pronominais marcam as funções do sujeito e/ou de objecto, de circunstante e reflexividade numa forma verbal. 2.1.- Quadro de prefixos de concordância Quadro n°46 PS
Classes
Prefixos Dependentes (Pd)
Série I
Série II
Série III ì-
1
òmù-
mù-, u-,
ù-
1a
Ø-
mù-, ù-
ù-
2
òvà-
và-
và-
và-
2a
òòØ-
và-
và-
và-
3
òmù-
ù-
ù-
ù-
4
òmì-
ì-
ì-
ì-
5
è-
lì-
lì-
lì-
6
òmà-
mà-
à-
à-
7
òshì-
shì-
shì-
shì-
8
òì-
ì-
ì-
ì-
9
Ò(N)-
ì-
ì-
ì-
10
èè(N)-
dì-
dì-
dì-
11
òlù-
lì-
lì-
lì-
12
òkà-
kà-
kà-
kà-
14
òù-
ù-
ù-
ù-
134
14a
òù-
và-
và-
và-
15
òkù-
kù-
kù-
kù-
16
pà-
pà-
pà-
pà-
17
kù-
kù-
kù-
kù-
18
mù-
mù-
mù-
mù-
Comentários Série I:- Adjectivos - Quantificadores - Conectivos Série II: -Demonstrativos - possessivos
Série III - numerais acordáveis - interrogativos acordáveis Exemplos | ò – mù + lúmènhù mú + nèné ò – *à – à + fád – ùk – à pà ò A
Ps1
Rds
Pd1
RdAdj
Pia Ips1 For. Rdv Suf. Fv
Ps16 F.
| Rv R2 R3
kù ó
ú ù
R18
Ø
R19
w /ómúlùmènhù múnènè òkwàfádùkàpò/ "o grande homem fugiu"
135
| è + kípà lí – à ò – Ø + mbwá | Ps5 Rds
R16
Con5 . A Ps9
Rds
Ø
R18
Ø
R20
m /èkípà l΄òmbwá/ " o osso do cão"
| ò – mù + kómèshò ú – à : áŋgè | A
Ps1
Rds
Con.1
R9
PpPoss.el.sg
Ø
R19
w /òmùkómèshò wáŋgè/ " o meu chefe"
| ò – mà + í á - à + ìshé | A
Ps6 Rds A Pd6 RdQ.
R9
Ø
R11
è /òmàí áèshè/ "todos os ovos"
| èè – n + kákù *dì + vàlì | Ps10 Ps9 Rds
Rv R1 R20
Pd.10 RdNum.
n Øȅ m
136
R21
b
R22
ŋ
R27
h /ȅŋhákù mbàlì/ "dois sapatos"
| ò – Ø +ndúdù è – í ò – ì – à + kwát – ù – à | A Ps9 Rds
R2
A Pd9 Pia Ips9 For. Rdv
Suf. Fv
ó
R3
ù
R19
y
w
/óndùdù èí òyàkwátwà/ "o gatuno foi preso"
2.2.- Quadro de índices pronominais Quadro n°47 CLASSES
INDICES Sujeito
Objecto
1
kù
-mù-
2
và
-và-
3
ù
-ù-
4
ì
-ì-
5
lì
-lì-
6
à
-à-
7
shì
-shì-
8
ì
-ì-
Sufixado
137
9
ì
-ì-
10
dì
-dì-
11
lì
-lì-
12
kà
-kà-
14
òù
-ù-
14ª
và
-và-
15
kù
-kù-
16
pà
-pò
17
kù
-kò
18
mù
-mò
No verbo, a posição do índice pronominal é fixa. O kwanyama comporta quatro paradigmas de índices pronominais: - índice pronominal do sujeito coloca-se depois das duas pré-iniciais (afirmativa, negativa e do tempo, respectivamente) antes da pos-inicial e formativo. - índice pronominal objecto antecede directamente o radical verbal; - índice pronominal reflexivo coloca-se antes do radical: não aparece quando o índice pronominal objecto está no lugar; - índice pronominal sufixado, corresponde com a pós-final numa forma verbal que pode ser um objecto ou circunstante. Exemplos | ò - *á + wétè | Pia Ips1 Rdv
Rv
kù /òkùwétè/ "ele vê"
| ò – kù – shí – mù + p - à |
138 Pia Ps15 IpO7
IpO1 Rds Fv
/òkùshímùpà/ "dar-lho"
| ò – *á – à – lí + fìdìm – ík – à pà è + dú | Pia Ips1- For IpRf Rdv
Rv
Suf Fv Ps15 Ps5 Rds
kù
R18
Ø /òkwàlífìdìmíkà p΄èdù/ "inclinou-se com o rosto no chão"
| *à – twál – à : àŋgè kù – ò | Ips1 Rdv
Rv R9
Fv- Pp.el.sg Pd17 F
Ø Ø
R12
è
R15
Ø /twálèŋgèkò/ "leva-me lá"
139
CAPÍTULO 3: PRONOMES (Pm.) É pronome, toda a unidade que num enunciado pode ocupar o lugar de um substantivo, pois o substantivo em bantu corresponde a um constituinte nominal, cujo papel é o de recordar este substantivo que pode estar presente. Distinguimos três tipos de pronomes: - pronomes pessoais - pronomes não pessoais - pronomes enfáticos 3.1.- Pronomes pessoais Os pronomes pessoais que representam as pessoas são de dois tipos: a).- Os participantes: - 1ª e 2ª pessoas do singular - 1ª e 2ª pessoas do plural
Quadro n°48 1ª Pessoa
2ª Pessoa
ámè
óvè
fyèé (exclusivo)
nyèé
SINGULAR
PLURAL
fyèèní (inclusivo) b).- As classes: 3ª pessoas do plural fazem parte das classes 1 e 2: Classe 1: yèé Classe 2: vòó Variantes secundárias de pronomes pessoais de 1ª e 2ª pessoa do singular Estes pronomes apresentam cada um as seguintes variantes secundárias:
140
ámè àngé òvé kù Essas duas variantes usam-se na formação de temas possessivos; a variante secundária da 1ª pessoa do singular é também usada como objecto e é então posposta ao verbo; a variante canónica ámè usa-se como sujeito. Exemplos |#yèè ò - *á – à + pá – àŋgé ò – n - bànànà#| Ppdel. Pia Ips1 For Rdv IpO
Rv
A
Ps9 Rds
kù
R1
Øȅ
R2
ẽ
R18
Ø
R19
w
R20
m
/yẽ òkwàp´ àngé ómbànànà/ " ele deu-me a banana"
|#ò – mù + hákùlì ò - *á – à + tét – à àŋgé #| A Ps1
Rds
Rv
Pia Ips1 For Rdv Fv
IpO.el.sg
kù Ø ȁ
R1 R2
ó
R3
ú à
R19
w
/ómúhàkùlì òkwàtét´ ȁngè/ "o médico me cortou"
- Variantes secundárias dos pronomes de 1ª e 2ª pessoas do plural Os pronomes pessoais de 1ª e 2ª pessoas do plural apresentam as seguintes variantes secundárias:
141
fyèé ìtù nyèé ìnì As duas variantes secundárias usam-se na formação de temas possessivos, assim como na formação dos substantivos possessivos. As variantes canónicas usam-se noutros contextos. |# nyèé ò – tá – mù + lí - *à ò - lù + òóshò #| Pp.al.pl.
Pia Pit Ips.al.pl. Rdv Fv
Rv
A Ps11
Rds
Ø
R1
Øě
Øǒ ẽ
R2 R19
w
/nyẽ òtámùlí ólwǒshò/ "estais a comer o arroz"
| ò – mù – kwá – ìnì | A Ipsalp. Part. Pp.al.pl.
R11
è
R 18
Ø ê
/òmùkwênì/ "pessoa da vossa geração"
3.2.- Pronomes não pessoais Os pronomes da classe 3 até à classe 18 representam os não humanos: Estes pronomes não pessoais aparecem apenas nas classes e respondem à seguinte estrutura:
Pd - òó
Quadro n°49 Classes
Singular
Classes
Plural
142
3
wòó
4
dòó
5
lòó
6
òó
7
shòó
8
yòó
9
yòó
10
dòó
11
lòó
12
kòó
14a
wòó
14
wòó
15
kòó
16
pò
17
kò
18
mò
143
CAPÍTULO 4: OS ACOMPANHANTES DOS SUBSTANTIVOS 4.1.- CONECTIVOS O conectivo compõe-se de um prefixo dependente e de um formativo –a. Assim, temos a seguinte estrutura do conectivo:
Pd - a
Tendo em conta os substantivos que se pospõem ao conectivo começam por uma vogal que, na maioria dos casos é o aumento o-, excepto nas classes 5 e 10 em que os prefixos são ao mesmo tempo aumentos e prefixos, a saber: è- e èè- respectivamente, o formativo –a desaparece em contacto com essas vogais iniciais dos substantivos (ver regra de representação 18). Na escrita em uso o conectivo é confundido com o substantivo. Só uma análise das estruturas de base pode distinguir as duas unidades. Noutra escrita que aconselhamos, o desaparecimento deve ser visível através de uso de apóstrofe. O conectivo marca a relação entre o determinante e o determinado, isto é, indica que um substantivo é complemento de um outro substantivo. Semanticamente indica, muitas vezes, uma relação de posse. Exemplos │≠ è + kípà ≠ lì – à ≠ ò – Ø + mbwá ≠│ Ps5 Rds
Con.5
R16
A
Ps9a Rds
Ø
R18
Ø /èkípà l’òmbwá/ "o osso do cão/
│≠ ò – Ø + ŋgòmá ≠ ì – à ≠ ò – mù + tí ≠│ A Ps9a Rds
Con9a A
R18
Ø
R19
y /òŋgòmá y’òmùtí/
Ps3
Rds
144
"batuque de madeira"
│≠ ò – lù - ´ + tú - ` ≠ lì – à ≠ ò – shì + fítù ≠ è – shí ≠│ A Ps11 Tf Rds Tf Con11 A Ps7
R5
V RdDem7
ú
R6 R10
Rds
ù Ø
Ø
R16
Ø
R18
Ø
R19
w /òlútù l’òshìfítwèshí/ "o corpo deste animal"
Quadro n° dos conectivos Classes
Pd + a
Formas
1
u+a
wa
2
va + a
va
3
u+a
wa
4
di + a
da
5
li + a
la
6
a +a
a
7
shi + a
sha
145
8
i+a
ya
9, 9a
i+a
ya
10
di + a
da
11
li + a
la
12
ka + a
ka
14, 14a
u+a
wa
15
ku + a
kwa
16
pa + a
pa
17
ku + a
kwa
18
mu + a
mwa
Observações: A classe 11 com o prefixo substantival –lù- apresenta um prefixo de concordância morfologicamente idêntico ao da classe 5 –lì-.
4.2.- OS QUALIFICATIVOS (Qual) O kwanyama, como a maior parte das línguas bantu, apresenta um paradigma reduzido de lexemas adjectivais. O inventário de adjectivos qualificativos é numericamente fechado, pois nem todos os lexemas que os qualificam adjectivos. Dividimos os lexemas qualificativos em dois grupos: - lexemas primários; - lexemas secundários.
146
4.2.1. Lexemas primários Os lexemas primários reúnem unidades que consideramos como adjectivos puros. O seu inventário é muito reduzido e as unidades são contáveis: Quadro n°50 +nèné
grande
+lé
alto, comprido
+hùpí
baixo
+wà
belo, bom
+vì _ì
mau
+lìlì
diferente
+hèfí
descuidado
+dyùù
difícil, pesado
+pù
fácil
+nyènyé
doce
+nòngó
hábil
+nìnì
pouco, miúdo
+pè
novo
+xòná
pouco
+pèpí
próximo
+pyù
quente
+ù
mau
+ná
mau
Esses lexemas para sua actualização permitem a seguinte estrutura:
147
Substantivo - Pd + lexema adjectival
O lexema adjectival é omniclasse. No plano sintáctico, o adjectivo toma os acordos do substantivo que o rege. Exemplos: |# è + lápì è – lí lí + hùpí #| Ps5
Rds
A -Pd5dem Pd5 RdAdj.
/élápì èlí líhùpí/ "Este pano é curto"
|# ò - mù + lúmènhú mú + nèné#| A
Ps1
Rdv
Pd1
RdAdj.
/òmùlúmènhú múnèné/ "o grande homem"
As unidades qualificativas em kwanyama têm uma função predicativa verbal, predicativa não verbal e cópula. Estas distintas formas são reconhecidas pela forma que tomam as unidades na frase. Embora seja do domínio sintáctico, uma vez que o nosso trabalho se limita ao exame da morfologia, sentimos a necessidade de expor alguns exemplos para esclarecer esta situação. Exemplos /ólúdìlò l’òmúŋhìmà wìnyá òlítòká/
òkùtókà: ser branco
"o pêlo daquele macaco é branco"
/éùmbò lítòká òmwápítà òìkúmwìfà/ "a casa branca promoveu espectáculos"
/óímbòdì èí òílùlà/
òkùlúlà: ser amargo
148
"este medicamento é amargo"
/òndìhòlé óìnìmà ílùlà/ "gosto do sabor amargo"
/fá élàmbò lílè/
-lé: profundo, comprido
"cave um buraco profundo"
/ódìyò y’ómèvà òílè únènè/ "o poço de água é muito profundo"
/óndjìlà òíshònà únènè/
- shónà: pequeno, estreito
"o caminho é muito pequeno, estreito"
/mékùlù òkùná ókànyà káshònà/ "o avô tem uma boca pequena"
/ómúkùndà wâŋgè òwákùlà/ òkùkúlà: ser grande "a minha aldeia é grande"
/òndàlándà ólìŋgà yákùlà/ "comprei um anel grande"
Uma observação breve mostra que o aumento que levam as unidades qualificativas jogam um papel importante na identificação de tipos de construção qualificativa, que pode ser predicativa verbal, predicativa não verbal ou frases com cópula. Será objecto de exploração futura em sintaxe.
149
Os lexemas adjectivais podem ter um funcionamento adverbial uma vez associados ao prefixo de classe 14. Quadro n° 51 +nèné
ùnèné
muito
+hàpú
ùhàpú
muito
Pode-se também utilizar o lexema adjectival para criar substantivos por adjunção do aumento e prefixo de classe 14: Quadro n° 52 +wá
ùwá
beleza
+lé
ùlé
profundeza, comprimento
+pí
ùpí
novidade
+hùpí
ùhùpí
pequenez
4.2.2.- Lexemas secundários São constituídos de lexemas de verbos que têm a particularidade de qualificar. Repartem-se em dois grupos sintacticamente: a.- Verbos que indicam o estado: Quadro n° 53 +kùlú
òkùlúlùpà
Ser velho, antigo
+yélà
òkùyélà
Ser limpo
+xímà
òkùxímà
Ser sem jeito, imperfeito
+kùkùtú
òkùkùkùtá
Ser seco
+làùlá
òkùláùlà
Ser escuro
+fìké
òkùfíkà
Ser igual
+kùtùlá
òkùkútùlà
Ser interessante
150
b.- Verbos que indicam a sensação, as cores Quadro n° 54 +twìmà
òkùtwímà
Ser amarelo, verde
+lùlà
òkùlúlà
Ser amargo
+tòká
òkùtókà
Ser branco
+tìlyàná
òkùtílyànà
Ser encarnado
+làùlá
òkùlàúlà
Ser preto
4.3.- OS DEMONSTRATIVOS (Dem.) Existem dois tipos de demonstrativos: os demonstrativos simples e os demonstrativos complexos. Os dois tipos diferenciam-se segundo o grau de proximidade ou de afastamento, correspondendo a estas formas, este, esse, aquele. 4.3.1.- Demonstrativos simples Os demonstrativos simples funcionam numa estrutura de três tipos, a saber:
- formativo (Pré-inicial) – Prefixo Dependente + - tema
4.3.1.1.- Pré-inicial O morfema pré-inicial caracteriza a estrutura dos demonstrativos próximos e afastados. É de tipo V-. Nos demonstrativos próximos é a seguinte: ò- nas classes 1, 3, 14, 15, 17, 18; è- nas classe 4, 5, 7, 8, 9, 10; à- nas classes 2, 6, 12, 16. Nos demonstrativos afastados é ò- em todas as classes.
151
4.3.1.2.- Prefixo Dependente (Pd) O prefixo Dependente (Pd) tem um tom baixo em todas as classes com uma variante secundária alta. A sua estrutura é de tipo: V-: nas classes 1,3,5,,6, 8, 9; CV-: nas classes 2, 4, 7, 10, 11, 15, 16, 17, 18. O Demonstrativo tem três tipos: - Demonstrativo próximo (perto de mim); - Demonstrativo afastado (perto de ti); - Demonstrativo mais afastado (longe de mim)
4.3.1.3.- Estrutura do Demonstrativo tipo I - Demonstrativo próximo: V – Pd – O - Demonstrativo afastado: O – Pd – O - Demonstrativo mais afastado: Pd – ìnyá
4.3.1.4.- Emprego Os demonstrativos têm de uma maneira geral o sentido deitico e colocam-se depois dos substantivos com os quais estão em concordância. No sintagma nominal precedem; Podem igualmente ser usados como substitutos dos substantivos. Exemplos |# ò – Ø +ndúdù è - í ò – ì – à + kwát – ù – à #| A Ps9 RdS
R2 R3
A - Pd5dem Pia - Ips9 -For. Rdv Suf Fv
ó ù
R19
y /óndùdù èí òyàkwátwà/ "este curandeiro foi preso"
w
152
|# ò – ì + kúlyà ò – ì – ó #| R19
y
/òìkúlyà òyó/ "essa comida" |# èè – n + kákù dì – ìnyá #| Ps10 Ps9 Rds Pd10dem. RdDem.
R1
Øȅ
Ø ŋ
R22 R27
h
/ȅŋhákù dìnyá/ "aqueles sapatos"
Aos demonstrativos associamos o grau relativo pelo facto de o mesmo utilizar como substituto o demonstrativo. Os dois tipos que caracterizam o relativo, a saber: o relativo subjectivo e o relativo objectivo, tanto no afirmativo, como no negativo, utilizam o demonstrativo próximo como relativizador. Este serve de ligação entre o antecedente e a relativa. Às vezes pode ser omitido em certos contextos e neste caso o índice pronominal do sujeito funciona como substituto relativo. Exemplos Na relativa subjectiva o índice pronominal do sujeito está em concordância com o antecedente. No entanto, o relativizador é o sujeito do verbo da relativa. |# ò – kà + ánà à – ká tá – ká - fˊ - à è – lámbò #| A
R1
Ps12
Rds
A Pd12 Pit For. Rdv Fv
Ø ă
R2
ó
R3
á â
R18 /ókânà àká tákáfˊèlámbò/ "a criança que caiu no buraco"
Ø
A
Rds
153
Na relativa objectiva, o índice pronominal do sujeito é o sujeito do verbo da relativa.; no entanto o relativizador concorda com o antecedente. |# ò – và – nhú à – vá tá – tù – ká + támbùl - à#| A Ps2
Rds
Rv R2
A Pd2Dem Pit Ips.el.sg For. Rdv
Fv
há ó /óvànhú àvá hátùkátámbùlà/ "os homens que recebemos"
Quadro n°55: Demonstrativos simples Classes
V-Pd.
V-Pd-V
Pd-ìnyá
1
òú
òó
wìnyá
2
àvá
òvó
vènyá
3
òú
òó
wìnyá
4
èdí
òdó
dìnyá
5
èlí
òló
lìnyá
6
àá
òó
ènyá
7
èshí
òshó
shìnyá
8
èyí
òyó
ìnyá
9
èyí
òyó
ìnyá
10
èdí
òdó
dìnyá
11
èlí
òló
lìnyá
12
àká
òkó
kènyá
14
òú
òó
wìnyá
15
òkú
òkó
kwìnyá
154
16
àpá
òpó
pènyá
17
òkú
òkó
kwìnyá
18
òmú
òmó
mwìnyá
4.3.2.- Demonstrativos complexos O demonstrativo complexo caracteriza-se também por três graus; contudo, o terceiro grau apresenta uma forma composta. Expomos abaixo a estrutura deste tipo de demonstrativo:
Pré-In.-(y) – Pref.Dep. Pré-In. – Pref.Dep. +
Pré-In.–Pd.–Pre.In.-Pd.-Form.
Pref.Dep. + tema (ìnyá)
4.3.1.- Estrutura de Demonstrativo complexo Tipo I: V- Pd. + V-Pd. Tipo II: V-Pd + V-Pd.-V Tipo III: V-Pd. + Pd.-ìnyá
Quadro n° 56: Demonstrativos complexos Classes
V-Pd (y)+ V-Pd.
V-Pd + V-Pd -V
V-Pd + Pd-ìnyá
1
òyóú
òyóó
òyòwìnyá
2
òvàvá
òvòvó
òvàvènyá
3
òyóú
òyóó
òyòwìnyá
4
òdèdí
òdòdó
òdèdìnhá
5
òlèlí
òlòló
òlèlìnyá
155
6
òyáá
òyóó
òyàènyá
7
òshèshí
òshòshó
òshèìnyá
8
òyèyí
òyòyó
òyèìnyá
9
òyèyí
òyòyó
òyèìnyá
10
òdèdí
òdòdó
òdèdìnyá
11
òlèlí
òlòló
Òlèlìnyá
12
òkàká
òkòkó
òkàkènyá
14
òwòú
òwóó
òwòwìnyá
15
òkòkú
òkòkó
òkwòkwìnyá
16
òpàpá
òpópó
òpàpènyá
17
òkòkú
òkòkó
òkwòkwìnyá
18
òmòmú
òmòmó
òmòmwìnyá
O demonstrativo complexo funciona sempre como predicado não verbal independente ou inserido numa frase. Os exemplos abaixo indicados ilustram o facto: Exemplos
|# ò-lù + kákù lì -ìnyá ò – lì-è-lì - ìnyá ndí – à + fíy-à kù + ìnyá #| A- Ps11
Rds
Pd11 RdDem. A-Pd5 A-Pd5 RdDem-
R1
Ips.el
For. Rdv Fv
Pd17 RdDem.
Ø
R2
ó ú
R3
à
R19
y
w
/ólúkàkù línyá ólyèlìnyá ndáfìyà kwìnyá/ " aquele sapato é aquele que eu deixei lá"
|# ò -ì + pútè è-í tà÷ìvél - è ù-nénè ò-i-è-í ì-lí kù ò-mù+twè #|
156 A Ps8
R2
Rds
A-PdDem8 Pit- Rdv-Fv Pd14- RdAdj A -Pd8 A-Pd8 Ips8 RdDem Ps17 A Ps3 Rds
ó í
R3
ù
R15
Ø
R19
y
/óípùtè èyí táívélé ùnèné òyèí ìlì kˊòmùtwè/ " as feridas que doem mais são as que estão na cabeça"
4.4.- OS POSSESSIVOS (Poss.) 4.4.1.-Estrutura O possessivo é constituído pela sequência amalgamada do conectivo e do pronome pessoal ou não pessoal. Funciona com a seguinte estrutura:
Conectivo + Pronome pessoal ou não pessoal
Temos assim:
Quadro n° 57 Elocutivo singular
Pd. + a. + àngé
O meu/a minha
Alocutivo singular
Pd. + a. + òyé
O teu/a tua
Classe 1
Pd. + a. + yèé
O seu/a sua
Elocutivo plural
Pd. + a. + ìtù
O nosso/a nossa
Alocutivo plural
Pd. + a. + ìnì
O vosso/a vossa
Classe 2
Pd. + a. + và - ó
Os seus/as suas
Exemplos |# ò – mù + kómèshò ù – à. + àngé #| A Ps1
Rds
Con1.
Pp.el.sg.
157
R1
Ø
R19
w
/òmùkómèshò wàngé/ " o meu chefe"
|# ò - mù + hé ù –à. + ìnì ò – tá - ká + fík - à #| A
Rv
Ps1
Ø
Rds Con1. Pd.al.pl Pia Pit For. Rdv Fv
Ø
R11
è
R15
Ø
R19
w
/hé wènì òtákáfìkà/ "O vosso pai chegará"
4.4.2.- Quadro Quadro n° 58: Possessivos Elocutivo Singular
Alocutivo Singular
Classe 1
Elocutivo Plural
Alocutivo Plural
Classe 2
wàngé
wòyé
wàyé
wètù
wènì
wàvò
vàngé
vòyé
vàyé
vètù
vènì
vàvò
wàngé
wòyé
wàyé
wètù
wènì
Wàvò
dàngé
dòyé
dàyé
dètù
dènì
dàvò
làngé
lòyé
làyé
lètù
lènì
làvò
àngé
òyé
àyé
ètù
ènì
àvò
shàngé
shòyé
shàyé
shètù
shènì
shàvò
yàngé
yòyé
yàyé
yètù
yènì
yàvò
yàngé
yòyé
yàyé
yètù
yènì
yàvò
158
dàngé
dòyé
dàyé
dètù
dènì
dàvò
làngé
lòyé
làyé
lètù
lènì
làvò
kàngé
kòyé
kàyé
kètù
kènì
kàvò
wàngé
wòyé
wàyé
wètù
wènì
wàvò
wàngé
wòyè
wàyè
wètù
wènì
wàvò
kwàngé
kwòyé
kwàyé
kwètù
kwènì
kwàvò
4.5.- O NUMERAL (Num.) Distinguimos dois tipos de numerais: por um lado, temos numerais acordáveis e, por outro, numerais não acordáveis. 4.5.1.- Numerais acordáveis 4.5.1.1.- Estrutura O numeral é formado por um prefixo dependente e de um tema numeral. Cinco temas numerais são atestados na língua e que compreendem os números de um a cinco:
Pd + mwé vàlì tàtú né tànó
4.5.1.2.- Variantes secundárias 4.5.1.2.1.- Variantes secundárias do prefixo dependente Os prefixos dependentes das classes 4 e 10 aparesentam variantes secundárias seguintes: - Pd, cl. 4 : i- e n- Pd, cl. 10: n-
159
A variante i- do prefixo dependente da classe 4 aparece diante das formas numerais designando os números "três", "quatro" e "cinco" : Exemplos |# ò – mì + tí dì + tàtú #| A
Ps4
Rds
Pd4 RdNum.
Rv
ì /òmìtí ìtàtú/ "três árvores" |# ò – mì + nwé dì + né #| A
Ps4
Rds
Rv
Pd4 RdNum.
ì /òmìnwé ìné/ "quatro bocas"
|# ò – mì + lóngò dì + tànó #| A
Ps4
Rds
Rv
Pd4
RdNum.
ì /òmìlóngò ìtànó/ "cinco dezenas" "cinquenta"
A variante secundária n- aparece diante da forma numeral designando "dois" : Exemplo: |# ò – mì + lóngò dì + vàlì #| A
Ps4
Rds
Pd4 RdNum.
Rv
n
R20
m
R21
b
160
/òmìlóngò mbàlì/ "duas dezenas" " vinte"
A variante secundária n- da variante canónica do prefixo dependente da classe 10 aparece tanto diante das formas numerais, designando "dois", "três", "quatro", "cinco", como na numeração absoluta. Exemplos |# èè – n + kákù dì + vàlì #| Ps10 Ps9 Rds
Rv
Pd10 RdNum.
n
R1
Øȅ
R20
m
R21 R22 R27
b ŋ h
/ȅŋhákù mbàlì/ " dois sapatos"
4.5.2.- Numerais não acordáveis A obtenção dos números seis (6) até nove (9) faz-se adicionando cinco com os números um, dois, três e quatro: 6: nànó nà ímwè (5 + 1) cinco com um 7: nànó nà mbálì (5 + 2) cinco com dois 8: nànó nà nàtú (5 + 3) cinco mais três 9: nànó nà né (5 + 4) cinco com quatro
Os números superiores a dez obtêm-se por adição, utilizando o relator "na" que simboliza a operação de adição.
161
Exemplos òmùlóngò nà ímwè
Uma dezena mais um = onze
òmùlóngò nà mbàlì
Uma dezena mais dois = doze
A expressão de dezenas é obtida através da operação de multiplicação onde apenas os números acordáveis (1 a 5) são sujeitos aos acordos dos determinado: òmìlóngò mbàlì
Duas dezenas = vinte
òmìlóngò ìtànó
Cinco dezenas = cinquenta
òmìlóngò ìtàtú
Três dezenas = trinta
4.5.3.- Substantivos numerais Os números 10 (òmùlóngò), 100 (èfélè) e 1000 (èyóvì) são substantivos que se submetem à comutação dos seus prefixos para distinguir o singular do plural, uma vez multiplicados. Quadro n°59 èfélè
Centenas = cem
òmàfélè àválì
Duas centenas = duzentos
òmùlóngò
Dezena = 10
òmìlóngò ìtàtú
Três dezenas = 30
èyóvì
Mil
òmàyóvì àválì
Dois mil
4.5.4.- Numeral ordinal A expressão de ordem é formada por um prefixo dependente, de pos-inicial –tí- e de um tema numeral ordinal, excepto para as expressões "primeiro", "último". A sua estrutura é a seguinte:
Pd – tí + tema numeral ordinal
162
Exemplos |# ò – kà + ánà kà – tí + tétè #| A
Ps12 Rds
Pd12 Part. RdNum.
Ø ǎ
R1
/òkàánà kàtítèté/ "a primeira criança"
|# ò – mù + àlíkàdì mù –tí + tétè #| A
Ps1
Rds
Pd1 Part. RdNum.
ˋn
Rv /òmwàlíkàdì ˋntítètè/ "a primeira mulher"
O numeral marcando a expressão de ordem pode ter um emprego absoluto e neste caso, utiliza então o prefixo dependente de classe 11: òlùExemplos lù – tí + tètè
terceira vez
lù –tí + vàlì
segunda vez
4.6.- OS INTERROGATIVOS (Inter.) Distinguimos dois tipos, uns acordáveis e outros não acordáveis. Os acordáveis utilizam o prefixo dependente de acordo com o determinado. 4.6.1.- Os interrogativos acordáveis: Exemplos -ngápì?
quanto?
- lìpí?
qual?
Exemplos
163
|# ò – mí + tì dì + ŋgápì ? #| A
Ps4
Rds Pd4 RdInter.
/òmìtí dìŋgápì?/ "quantas árvores?"
|# ò – ù + tá ù + lìpí? #| A Ps14 Rds Pd14 RdInter.
/òùtá ùlípì?/ "qual espingarda?"
4.6.2.- Os interrogativos não acordáveis
ngálìpí?
Como?
òlyé?
Quem ?
Exemplos |# ò – há + twì ŋgálìpí kù – ó – mù + kúndà? #| Pia PriT Rdv
RdInter. Ps17 A Ps3
R15
Ø
/òhátwí ŋgálìpí k'ómùkúndà ?/ "como é que vamos à vila?"
|# ò - lyé è - lì pà ò - ndjè ? #| A RdInter A Pd5 Ps16 A RdAdv
R18
Ø
/òlyé èlì pˋóndjè?/ "quem está ali fora?"
Rds
164
4.7.- OS QUANTIFICADORES (Qor) 1.- A expressão "quantificadores" é preferida para designar unidades que indicam a quantidade, embora não seja uma quantidade precisa. Na gramática tradicional essas unidades são conhecidas pela designação de determinantes indefinidos. Discriminamos cinco (5) unidades quantificadores: 4.7.1.- Totalizador O kwanyama utiliza o lexema –ìshé para exprimir a noção de totalidade que funciona sob a seguinte estrutura:
á – Pd + ìshé Exemplo |# ò – mà +÷ í á – à + ìshé #| A
Ps6
Rds A
R1
Pd6 RdQ
Ø â
R11
è
/òmàì âèshé/ "todos os ovos"
| à – tù + ìshé | A Ips.el.pl. RdQ
R17
Ø /àtùshé/ "nós todos" (exclusivo)
| à – tù + ìshé - ènì | A Ips.el.pl. RdQ Pof
R
Ø ê
R17 /àtùshèní/
Ø
165
"nós todos " (inclusivo)
4.7.2. individualizador Existe um lexema especifico para designar esta expressão, -ké que responde à seguinte estrutura:
Subst. – á – Pd + ké
Exemplos |# ò – mù + nhú à ÷ èké #| A
Ps1
Rds
A RdQ
/òmùnhú àèké/ "uma pessoa sozinha"
|# á – ndì + èké #| A Ips.el.sg - RdQ
/ándìké/ "eu sozinho"
4.7.3.- Distributivo Para exprimir a distribuição, o kwanyama utiliza o lexema kèshè que pode anteceder ou seguir o determinado, com a seguinte estrutura funcional:
(kèshè -) subst. (- kèshè) Exemplo | késhè ò –mù + ntú | RdQ
R27
A
Ps1 Rds
h
166
/késhè òmùnhú/ "Cada pessao"
|# ò – mù + nhú ≠ kèshè #| A
Ps1
Rds
RdQ
/òmùnhú kèshè/ "cada pessoa"
4.7.4.- Pluralizador A expressão utilizada para exprimir a pluralização em kwnyama é o lexema – hápù que concorda directamente com o seu determinado, respondendo à seguinte estrutura funcional:
Subst.Cl.x - Pd.Clx + hápù
Exemplos |# è – lólà ò – kù – à + lí lì + ná èè-Ø + mbúlùlù dí + hàpù #| Ps5
Rds
Pia. Ips1 For. Rdv -Ips5 Rdv Ips10-Ips9 – Rds
R1
Pd10 RdQ.
Øȅ
R2
é
R3
ò
R19
w
/élòlà òkwàlí lìná ȅmbùlùlù díhàpù/ "o pneu teve muitos furos"
|# ò – mù + lùmènhù ò – kù – à + dípà-à ≠ ó – và + ntú và + hàpù #| A
Ps1
Rds
Pia Ips1 For.
Rdv Fv A Ps2
Rds
Pd2 RdQ.
167
R1
Øȁ
R2
ó
R3
ú ù
R19
w
R27
h
/ómúlùmènhù òkwàdípȁ òvànhú díhàpù/ "o homem matou muita gente"
4.7.5.- Partitivo indefinido Para exprimir o partitivo indefinido , utiliza-se o lexema –mwe que concorda com o prefixo do determinado, utilizando a mesma estrutura que o pluralizador. Exemplos |# ò – ndì + ná èè – Ø + mbóŋgò dí + mwè #| Pia Ips.el.sg Rdv - Ps10-Ps9 Rds R1
Pd10 RdQ.
Øȅ /òndìná éémbòŋgò dímwè/ "tenho algum dinheiro"
|# ò –ndì + wétè ò – và + lúmènhú và + mwè ku + ìnyá #| Pia- Ips.el.sg.- Rdv
A Ps2
Rds
Pd2 RdQ.
R19
Pd17 RdDem.
w
/òndìwétè óválùmènhù vàmwè kwìnyá/ "vejo alguns homens lá em baixo" 4.8.- O LEXEMA PARA "OUTRO" O kwanyama utiliza o lexema –kwàó para exprimir "outro". O lexema é omniclasse e funciona como o adjectivo propriamente dito. Apresentamos a sua estrutura funcional:
168
Subst. - Pd + kwao
Exemplos |# ò – kà + ánà ká – kwàó ò – kà + vél - à #| A Ps12 Rds
R1
Ø
Pd12 Rd
ă
/òkănà kákwàó òkàvélà/ " a outra criança adoece"
Pia Ips12 Rdv Fv
169
CAPÍTULO 5: O VERBO A estrutura geral do verbo em kwanyama compreende os afixos e o radical verbal. Distinguimos dois tipos de afixos: os afixos de comjugação e os afixos de derivação. Com excepção da final e da pós-final, os primeiros são prepostos ao radical verbal. São as préiniciais, o índice pronominal do sujeito, a pós-inicial, o formativo, o limitador e o índice pronominal objecto. Os segundos são pós-postos ao radical verbal e são eventualmente seguidos da pós-final. A combinação do radical com os afixos de derivação produzem o tema verbal. De uma maneira geral, a estrutura do verbo em kwanyama compreende os seguintes morfemas: - a pré-inicial afirmativa ou negativa; (Pia/Pin) - a pré-inicial própria do tempo; (Pit) - o índice pronominal do sujeito; (Ips) - a pós-inicial;(Pos) - o formativo; (for.) - o limitador; (lim.) - (o índice pronominal objecto (IpO)/índice pronominal reflexo)(Ipref) - o radical verbal; (Rdv) - os sufixos; (Suf) - a final; (Fv) - a pós-final.(Pf)
5.1.- Os Morfemas verbais 5.1.1.- As pré-iniciais afirmativas e negativas (Pia/Pin) Um ou outro desses morfemas está presente em todos os tempos do indicativo. Contudo, a pré-inicial afirmativa não aparece, nem no imperativo nem no conjuntivo. A pré-inicial afirmativa é ò-. A pré-inicial negativa é ì-. A alternância desses morfemas diferencia o afirmativo do negativo. A pré-inicial negativa ì- apresenta duas variantes secundárias das quais a utilização é previsível.
170
5.1.1.1-Variantes secundárias de ìA pré-inicial negativa ì- atesta duas variantes: kà- e hà-. A variante secundária kà- aparece nos dois tempos do passado: o pretérito perfectivo e pretérito imperfectivo. No pretérito perfectivo, o elocutivo singular utiliza todavia a variante secundária hà-. No pretérito imperfectivo, sendo um tempo composto, a variante kà- coloca-se diante do auxiliar. Exemplos |# *ì - ú – á + pón - ` ílè #| Pin –Ips1 For. Rdv Tf Fv
Rv
kà
R7
ò
R10
Ø
R12
é
R18
Ø
R19
w
R25
n
/kwápònénè/ "não tinhas engolido"
|# *ì – kù – á + lí hà ì + pón – à #| Pin Ips1 For. Rdv Pit -Ips.el.sg – Rdv - Fv
Rv
kà
R19
w
/kàkwálì hàípónà/ "eu não engolia"
| *ì - *ndì – á + lím - ` ílè | Pin Ips.el.sg – For.-Rdv Ft Fv
Rv
hà Ø
171
R1
Ø
á
R7
ì
R10
Ø
R12
é
R25
n
/hálìmínè/ "eu não tinha cultivado"
| *ì – *ndì – á + pón –` ílè | Pin Ips.el.sg-For. Rdv Ft- Fv
Rv
há
R
Ø
Ø ă
R7
ò
R10
Ø
R12
é
R25
n
/hăpònénè/ "eu não tinha engolido"
5.1.2.- As pré-iniciais temporais (Pit) As pré-iniciais temporais aparecem, tanto na ordem afirmativo, como na negativa. É atestado nos diversos modos e tempos da conjugação: Presente: - temporal: - afirmativo: hà- habitual: - afirmativo: hà- negativo: hàFuturo:
- afirmativo: *tà- hà-
172
Passado: - Proximo: - afirmativo: - negativo: nà- afastado: - afirmativo: hà- negativo: hàImperativo:
- afirmativo: - negativo: ná-
Conjuntivo:
- afirmativo: ná- negativo: ná-
5.1.2.1- Variantes secundárias de *tá- e *náA pré-inicial temporal tá- atesta uma variante *tá- há-. A variante secundária há- aparece diante dos participantes elocutivos singular e plural no presente progressivo e no futuro da ordem afirmativa. |# ò - *tá - *ndì + pón – à #| Pis
Rv
Pit Ips.el.sg. Rdv Fv
há
ì
/òháìpónà/ "estou a engolir" |# ò - *tá – tù + lí - *à ò – lù + òóshò #| Pia Pit Ips.el.pl – Rdv – Fv A Ps11 Rds
Rv
há
Ø Øǒ
R1 R19
y
w
/òhátùly`ólwŏshò/ "estamos a comer o arroz"
|# ò - *tá - *ndì - ´ - ká ` + nú - *à #| Pia Pit Ips.el.sg. For Lim.- Rdv Fv
173
Rv
há
R5
ì í
R8
à
R10
Ø
Ø
R19
w
/òháíkànwà/ "vou beber"
|# ò - *tà – tù - ´ - ká ` + pón – à #| Pia Pit Ips.el.pl.-For.-Lim Rdv Fv
Rv
há
R5
ú
R8
à
R10
Ø
Ø
/òhátúkàpónà/ "vamos beber"
A pré-inicial temporal *ná- atesta uma variante secundária *ná- Ø-. A variante secundária Ø- aparece no conjuntivo presente exprimindo desejo. Exemplo |# *ná – á + lím - ` é #| Pit For Rdv Ft Fv
Rv
Ø
R7
ì
R10
Ø /álìmé/ "que cultive"
5.1.3.- O Indice pronominal do sujeito (Ips)
174
O índice pronominal do sujeito é uma marca formal de acordo com o sujeito. É presente em todas as classes e em todas as pessoas. Atesta formas secundarias que vamos examinar.
5.1.3.1- Variantes secundárias (Vs) 5.1.3.1.1- Variantes secundárias secundarias dos interlocutores (participantes) a)- Variantes secundárias do elocutivo singular (el.) O elocutivo singular apresenta duas variantes que abaixo apresentamos: *ndì ì-, ØA variante secundária ì- aparece nos tempos seguintes: - presente progressivo; - presente intemporal; - futuro; - perfeito afastado. Trata-se, no segundo caso, do tempo que têm um tom flutuante como formativo no afirmativo. |# ò - *tá – *ndì + pón – à #| Pia Pit Ips.el.sg. Rdv Fv
Rv
há
ì
/òháìpónà/ "eu engulo"
|# ò - *tá - *ndì - ´ + lí - *à ò – lù + òóshò #| Pia Pit Ips.el.sg.-Ft Rdv Fv
Rv
há
ì
A Ps11 Rds
Ø
R1 R5 R10 R19
Øǒ í Ø y
w
175
/òháíly´ólwŏshò/ "estou a comer o arroz"
A variante secundária Ø- aparece no pretérito perfectivo negativo. Exemplos |≠ *ì - *ndì – á + pón - ` ílè ≠│ Pin Ips.el.sg. For. Rdv – Ft- Fv
Rv
hà Ø
R7
ò
R10
Ø
R12
é
R25
n
/hápònénè/ "eu não tinha engolido"
|≠ *ì - *ndì – á + lím - ` ílè ≠| Pin Ips.el.sg. For. Rdv Ft Fv
Rv
hà Ø
R1
Ø
R7
ă ì
R10 R 25
Ø n
/hălìmínè/ "eu não tinha cultivado"
b).- Variantes secundárias do alocutivo singular e plural Os índices pronominais dos sujeitos alocutivos do singular ú- e plural mù- apresentam cada um uma variante secundária Ø- que é utilizado no imperativo.
176
Exemplos |# *ú + vák – à #| Ips.el.sg. Rdv
Rv
Fv
Ø /vákà/ "rouba"
|# mù + lánd – à = èní #| Ips.al.pl. Rdv
Rv
Fv
Pof
Ø
R18
Ø
/lándèní/ "comprais"
c).- Variantes nas classes c.1.- Classe 1 O índice pronominal do sujeito de classe 1 à- apresenta uma variante secundária kùusada: a).- diante dos verbos defectivos (li : ser, na : ter, wétè : ver); b).- nos tempos do passado que têm um formativo segmental (perfeito próximo, pretérito perfectivo). Exemplos |# ò - *á + wétè #| Pia Ips.del.sg. Fv
Rv
kù /òkùwétè/ "ele vê"
177
|# yèé ò - *á – á + lúk – à à – pà ò #| Pp.del.sg. Pia Ips.del.sg.-for. Rdv Fv A Pd16 F.
Rv
kù
R1
Øě
R2
ẽ
Ø
R18
Ø
R19
w
/yéé òkwálúkàpò/ "ele acordou"
|≠ ò - *á – á + nú - ` ílè ≠| Pia Ips.del.sg. For. Rdv Ft Fv
Rv
kù
R7
ù
R10
Ø
R19
w
w
R25
n
/òkwánwìnè/ "ele tinha bebido"
c.2.- Classe 6 O índice pronominal do sujeito de classe 6 à- atesta uma variante secundária kù- que aparece diante dos verbos defectivos, assim como nos tempos do passado tendo um formativo segmental. Trata-se do pretérito perfectivo e perfeito próximo. Exemplos |# ò – mà + twí ò - *à – à + ól – à #| A Ps6
Rv
Rds
Pia Ips.del.sg. For. Rdv. Fv
kù
178
R2
ó
R25
w
/ómàtwì òkwàólà/ "o ouvido apodreceu"
|# ò –mà + yúlù ò - *à + ná ò – ì + pútè #| A Ps6
Rds
Pia Ips.del.sg. Rdv A Ps8 Rds
Rv
kù
R2
ó
á
R3
ù /ómáyùlù òkùná òìpùtè/ "os narizes têm feridas"
5.1.4.- A Pós-inicial (Poi) A pós-inicial é um morfema de negação atestado no conjuntivo se onde associa ao limitador –ká- para marcar uma acção não realizável. É igualmente utilizado para formar o infinitivo negativo. Exemplos |≠ ò – kù – há + pón- à ≠| Pia Ps15 Poi
Rdv Fv
/òkùhàpónà/ "não engolir"
|# *ná – tù – há – ká ` + pón – à #| Pit Ips.el.pl. Poi – Lim. Ft Rdv
Rv R7 R10
Ø à Ø
Fv
179
/tùhákàpónà/ "que não engolamos mais" "que não vamos engolir"
5.1.5.- O Formativo (For.) O formativo é um morfema que, associado à final verbal e pré-inicial, marca o tempo. Tem uma estrutura segmental ou supra-segmental (tom flutuante). No negativo todos os tempos apresentam um formativo supra-segmental que é um tom flutuante, excepto o pretérito perfectivo que tem um formativo segmental de tom alto –áExaminaremos em primeiro lugar os formativos próprios ao afirmativo e de seguida, os formativos que caracterizam o negativo. 5.1.5.1.- Formativos da conjugação afirmativa Conseguimos identificar quatro formativos dos quais dois segmentais, um supra segmental e um formativo zero: - ′ - : presente intemporal Presente habitual - ká : futuro próximo - ká` - kà: futuro longínquo - à - : perfeito próximo - á - : pretérito perfectivo 5.1.5.2.- Formativos da conjugação negativa Dois formativos foram identificados dos quais um formativo segmental e um supra segmental: - á - : pretérito perfeito - ′ - : presente intemporal Presente habitual Futuro Perfeito próximo Perfeito afastado
180
5.1.6.- O Limitador (Lim.) O limitador é um morfema que se coloca entre o formativo e o índice pronominal objecto eventual. Tem uma estrutura segmental - ká` -. Exprime o deslocamento e quando é utilizado com o formativo – Ø -, marca o futuro. Essas duas noções estão semanticamente ligadas. Exemplos |#ò - *tá – tù – ká ` + nú - *à #| Pia Pit Ips.el.pl. Lim. Ft Rdv Fv
Rv
há
R R7
à
R10
Ø
R19
w
/òhátùkànwà/ "vamos beber"
|# ò - *tá – tù - ká + nú - *à #| Pia Pit Ips.el.pl. For. Rdv Fv
Rv
há
R19
w
/òhátùkánwà/ "beberemos"
5.1.7.- O índice pronominal Distinguimos dois tipos de índices pronominais, a saber: índice pronominal objecto e índice pronominal reflexo que são exclusivos, isto é, a presença de um exclui a do outro. 5.1.7.1.- Indice Pronominal objecto. Conhecido pelo nome de infixo objecto (designação que rejeitamos por motivo óbvio), o índice pronominal objecto é um morfema classificador que, quando está presente, coloca-se directamente diante do radical. Tem por função substituir um substantivo em função do objecto.
181
Em kwanyama, pode ser complemento do verbo ou do sufixo. Nos participantes, não é atestado no elocutivo singular. Está mesmo ausente nas classes locativas (16, 17, 18) onde a sua função é preenchida por substitutivos pós-postos à forma verbal. Nos participantes onde aparece, tem a mesma estrutura que prefixos dependentes, excepto no alocutivo singular onde é –kù- e nas classes 1, 2, 12, 15 onde apresenta a mesma estrutura que o prefixo nominal. Leva um tom alto nas classes e nos participantes. A lista dos índices pronominais está presente no quadro dos classificadores. 5.1.7.2.- Indice pronominal reflexo O kwanyama, como outras línguas da zona R, utiliza o morfema –li- como índice pronominal reflexo. A sua presença exclui a de índice pronominal objecto e inversamente. 5.1.8.- A Base ou tema verbal (Bv ou Tv) A base verbal reúne o radical verbal e os sufixos. Apresenta a seguinte estrutura:
Tema verbal – Radical verbal + Sufixos de derivação
5.1.8.1.- O Radical verbal (Rdv) O radical verbal é um morfema lexical ao qual podem ser associados mais sufixos. Existem dois tipos de radical verbal, o radical verbal canónico e o radical verbal defectivo. (Coupez) a).- O radical verbal canónico a.1).- Tipo +V-
+ú-
Cair
+í-
ir
a.2).- Tipo +C+f-
Cavar
182
+ny-
defecar
+p-
dar
a.3).- Tipo +CV+fí-
Morrer
+nú-
beber
+lí-
comer
+pí-
queimar
+dí
sair
a.4).- Tipo +CVC+lím-
cultivar
+yól-
rir
+núk-
saltar
+món-
ver
+mán-
acabar
+hól-
saborear
+pón-
engolir
a.5).- Tipo +CSVC+mwén-
Calar-se
+hwík-
queimar
+dyál-
vestir
a.6).- Tipo +CVCV-
183
+pópì-
Falar
+dípà-
matar
+dímbù-
esquecer
+húhù-
urinar
a.7).- Tipo +CVNC+sáng-
Escrever
+níng-
fazer
+túng-
construir
+díng-
bater
a.8)- Tonalidade Do exame dos diferentes tipos de radicais verbais em kwanyama, constata-se que têm uma tonalidade única que é alta. Alguns radicais conhecem modificações de estrutura tonal. O número destes é limitado. b).- Radicais defectivos Um radical defectivo é um radical que aparece apenas em alguns tempos ou modos da conjugação ou aparece apenas acompanhado de alguns sufixos ou que não têm certos morfemas de conjugação, tal como a final. +lí`
estar
+fí`
ser
+ná
ter
+páng-ìl-
fabricar
+húmb-àt-
levar
+lúm-àt-
morder
+támb-ùl-
receber
+fúd-ìk-
enterrar
184
Há dois radicais que designam simultaneamente "ver", que são defectivos e complementamse. Trata-se dos radicais: +món+wétNo presente apenas aparece wét- e +món-nos outros tempos. 5.1.9.- Extensões O radical verbal pode acrescentar extensões das quais, umas, sufixos derivativos, cujo papel é de modificar o seu sentido, outras, alargamentos cuja papel é juntar-se aos radicais verbais defectivos semanticamente para lhe atribuir o sentido que lhe falta. 5.1.9.1.- Sufixos de derivação (Suf.der.) O nosso corpus permitiu-nos identificar 15 sufixos. Nove de entre eles têm uma estrutura simples –vc- e um sufixo é –v-. Quatro sufixos têm uma estrutura reduplicada e um apresenta uma estrutura –vvc-. Os sufixos identificados são produtivos. Vamos reuni-los em duas categorias convencionais: - Os sifixos primários; - Os sufixos secundários. a.1.- Os sufixos primários (Suf.Pr.) Esse sufixos são chamados quattuor (Coupez) e comportam quatro sufixos que participam simultaneamente a duas oposições: positivo – reversivo e transitivo – intransitivo. São organizados da seguinte maneira: Intransitivo
Transitivo
Positivo
-àm-
-ìk-
Reversivo
-ùk-
-ùl-
Exemplos +hól-ùl-
descobrir
+hók-ùk-
aparecer
185
+hánd-ùl-
irritar
+hánd-ùk-
zangar-se
+hól-ìk-
esconder
+yél-ìk-
medir
+káŋh-àm-
prender
+út-àm-
emagrecer
a.2.- Os sufixos secundários (Suf.Sec) Os sufixos secundários são aqueles que tem um valor produtivo. a.2.1).- Sufixo aplicativo –ìlO sufixo aplicativo indica que a acção se faz a favor de alguém ou num objectivo claro. +lánd-ìl-
Comprar para
+lím-ìl-
Cultivar para
+óng-ìl-
Reunir com o objectivo de
+lí-ìl-
Comer para
+sáng-ìl-
Escrever para
+fí-ìl-
Morrer por causa de
+níng-ìl-
Fazer para, entrar
+túm-ìl-
Enviar para
+ú-ìl-
cair
O sufixo –il- submete-se a uma assimilação à distância sob a influência da vogal do radical e apresenta os seguintes alomorfos que apresentamos:
Depois de segmento não Depois de segmento nasal nasal
186
Depois de i, u
-il-
-in-
Depois de e, o, a
-el-
-en-
Exemplos:
-níng – ìl - à
Fazer para
-túm – ìn - à
governar
-mán – èn - à
Acabar por
-páng – èl - à
Arranjar, concertar
a.2.2).- Sufixo causativo –ìfO sufixo causativo indica que se faz fazer uma acção ou que se contribui para fazer. Exemplos +lánd-ìf-
vender
+lóng-ìf-
ensinar
+món-ìf-
aparecer
+dyál-ìf-
fazer vestir
+tíl-ìf-
ameaçar
A vogal do sufixo causativo –ìf- em associação com –àn- conhece a influência da vogal –a do sufixo –àn-. Exemplos |# ò – kù + úd – ìf – àn – à #| Pia Ps15
R1
Ø
Rdv Suf. Suf Fv
ǔ
R12 /òkǔdàfànà/
àf
187
"fazer ver"
|# ò – kù + níŋg – ìf – à #| Pia Ps15 Rdv
Suf. Fv
/òkùníŋgìfà/ "mandar fazer, fazer com"
|# ò – kù – kìf – à #| Pia Ps15
Rdv Fv
R12
è
/òkùkéfà/ "cortar com"
|# ò – kù – lánd – ìf – à #| Pia Ps15 Rdv
suf. Fv
/òkùlándìfà/ "fazer comprar, vender"
a.2.3.- Sufixo recíproco –ànO sufixo recíproco –àn- exprime uma noção de reciprocidade no decorrer da acção. É frequentemente associado a outros sufixos. Exemplos
+pát – àn a.2.4.- O sufixo passivo –ùIndica que o agente se sujeita à acção. Exemplos
discutir
188
+lím – ù -
ser cultivado
+ímb – ù -
ser cantado
+nú – ù -
ser bebido
+dípá – ù -
ser morto, assasinado
+lí – ù -
ser comido
+kúl – ù -
ser curado
Exemplos |# ò – shì + kómbò ò – shì – à + lánd – ìf – ù – à #| A Ps7
R2
ó
Rds
Pia Ips7 For Rdv
Suf. Suf. Fv
í
R3
ò
R16
Ø
R19
w
/óshíkòmbò òshàlándìfwá/ "o cabrito foi vendido"
|# ò – shì + pútè ò –shì – à + hák – ùl – ù - à#| A
R2
Ps7
ó
R3
Rds
Pia Ips7 For. Rdv Suf. Suf. Fv
í ù
R16 R19 /óshípùtè òshàhákùlwà/ "a ferida foi curada"
Ø w
189
a.2.5).- O sufixo contactivo – àt – O sufixo de contacto –àt – como o seu nome indica é usado para exprimir a ideia de contacto. Exemplos +húmb – àt –
Levar
+lúm – àt -
morder
+kú – àt -
Tomar, prender
+lák – àt -
queimar
a.2.6.- O sufixo de duração – ààn – O sufixo de duração – ààn – exprime a duração de uma acção ou a prorrogação de uma acção. Exemplos +íŋg – ààn -
flutuar
+twín – ààn -
Subir mais
a.2.7.- Os sufixos de estrutura reduplicada Trata-se de sufixos que marcam a ideia de repetiçao, de intensidade de acção. 1.- O sufixo – ùlùl – Este sufixo reduplicado indica que a acção se repete; Exemplos +fíŋg – ùlùl -
Torcer, trançar
+lúnd – ùlùl -
Trocar, mudar
+túŋg – ùlùl -
destruir
Este sufixo apresenta o seguintes alomorfos:
190
Depois de um segmento não Depois de um segmento nasal nasal Depois de i, a, u, e
-ulul-
-unun-
Depois de o
-olol-
-onon-
Exemplos +púl – ùlùl - à
perguntar de novo
+túng – ùlùl - à
desfazer
+táng – ùlùl - à
desenrolar
+lóng – òlòl - à
desarrumar
2.- O sufixo – ìlìl – O sufixo – ìlìl – exprime a ideia de intensidade. Exemplo +póp – ìlìl -
falar rapidamente
a.2.8.- Combinação de sufixos 1.- Combinação de dois sufixos - ìl Combinação - ìf - ìf – Exemplos (lì) + lóng – ìf – ìl -
estudar para
+lím – ìf – ìl -
fazer cultivar para
+lánd – ìf –ìl -
fazer vender - ùk -
191
Associação – ùl – - ìl – +lúnd – ùl – ùk -
mudar
+lónd – ùl – ùk -
descer
+dímb – ùl – ùk -
lembrar-se
+lómb – ùl – ìl -
dizer à
Associação –ùk – ùl – Exemplos +àm – ùk – ùl -
responder
Associação – ùk – ìl – Exemplos +tík – ìk – ìl -
Ser primeiro
Associação – ìf – àn – -ù– Exemplos +món – ìf – àn -
aparecer
+pá – ìf – àn -
fazer-se dar
+lánd – ìf – ù -
ser vendido
+tál – ìf – àn -
olhar-se
5.1.9.2.- Alargamentos
192
Essas extensões lexicalizadas são de duas ordens: umas homomorfas aos sufixos derivativos, outras heteromorfas aos sufixos derivativos. a.- Alargamentos homomorfos aos sufixos derivativos +pángìl -
Fabricar
+támbùl -
receber
+fúdìk -
enterrar
b.- Alargamentos heteromorfos aos sufixos derivativos +húmbàt -
levar
+dyáàt -
guardar água na boca
+kwát+mbwátàlàl -
tomar, prender
+mbwátàlàl -
não prestar atenção
+pákàlàl -
ficar atento a ouvir
+nyángàdàl -
mexer em todos os lados
+pámàdàl -
apalpar
+wángàdàl -
mexer em todos os lados
+ndjángùmúk – u -
ser activo
+kéndàbàl -
tentar
+nyényét -
lamentar
+lyáàlùlùl –ùk -
sublevar
estar plano
5.1.10.- A final verbal (Fv) Tres finais verbais são atestadoas na língua; trata-se de: - *à: caracteriza um grande número de tempo da conjugação:
193
- presente imediato, continuativo; - futuro; - perfeito próximo e afastado; - o modo imperativo (alocutivo singular); - `é: caracteriza o conjuntivo. - `ílè: é atestado no pretérito perfectivo
5.1.10.1- Variantes A final verbal *-à apresenta três variantes secundárias: - ` à: perfeito afastado afirmativo - `á: perfeito afastado negativo - (vogal assimilada): presente progressivo, habitual; A variante secundária –à aparece -em todos os participantes e na classe 2, excepto na classe 1 e no alocutivo singular.~ -no perfeito afastado afirmativo e negativo; -no perfeito próximo negativo. Exemplos | ò – hà – tù + ´ pón – à | Pia Pit Ips.el.pl. Ft Rdv Fv
Rv
`à
R7
ú
R8
ò
R10
Ø
Ø
/òhàtúpònà/ "temos engolido há muito tempo"
| ì – hà – mù + ´ pón – à |
194 Pin Pit Ips.al.pl. Ft Rdv
RV
Fv
`à
R7
ú
R8
ò
R10
Ø
Ø
/ìhàmúpònà/ "não tendes engolido"
|# ì – nà – tù + ´ pón – à #| Pin Pit Ips.el.pl. Ft Rdv Fv
Rv
`à
R7
ú
R8
ò
R10
Ø
Ø
/ìnàtúpònà/ "não temos engolido há muito tempo"
A variante secundária -`á aparece na classe 1 e no alocutivo singular do perfeito afastado e próximo do negativo e no imperativo. Aparece também diante dos radicais verbais de tipo – CV-
Exemplos |# ì – há – ú - ´ + pón – *à #| Pin Pit Ips.al.sg. Ft Rdv
Rv
`á
R8 R9 R10
Fv
ò Ø ó Ø
Ø
195
/ìhópòná/ "tu não tens engolido há muito tempo"
|# ì – nà – à - ´ + pón – *à #| Pin Pit Ips.del.sg. Ft Rdv Fv
Rv
`á
R7
á
R8
ò
R9
Ø
R10
Ø
Ø
/ìnápòná/ "ele não tem engolido"
A variante secundária - aparece geralmente quando o radical verbal não comporta extensões no presente progressivo e no habitual. Exemplos |# èè – Ø + fíŋgò ò – tá – dì – Ø + níŋg – *à dí + lé #| Ps10 Ps9 Rds
Pia Pit
Ips10 . For. Rdv Fv
Rv
ì
R1
Øȅ
R2
ẽ
R3
Pd10 RdAdj.
ì /ééfìŋgò òtádìníŋgì dílé/ "os pescoços tornaram-se compridos"
5.1.11.- Pós-final (Pf) O kwanyama atesta vários morfemas pós-finais, saber: -èní que caracteriza o modo imperativo no alocutivo plural e o modo conjuntivo no elocutivo plural.
196
-pò, -kò, -mò, locativos respectivamente das classes 16, 17, 18 como circunstante -àŋgé (me) -xi como circunstante -xa como objecto
Exemplos |# *mù – Ø + ímb – à : èní #| Ips.al.pl. For. Rdv Fv Pof
Rv
Ø
R18
Ø
/ímbèní/ "cantais"
|# *mù – Ø + vák – à : èní ò – ù + átò #| Ips.al.pl. For. Rdv
Rv
Fv Pof
A Ps14 Rds
Ø
R18
Ø
/vákèní òwátò/ "roubais a canoa"
|# tù – Ø + pón – à : èní #| Ips.el.pl. For. Rdv Fv Pof
R18
Ø
/tùpónèní/ "Que engolemos"
|# ì – ná – tù + pópì – à : èní #|
197 Pin Pit Ips.el.pl. Rdv Fv. Pof.
R18
Ø
R19
y
/ìnátùpópyèní/ "Que não falemos"
|# *ù – Ø + twàl –à . àŋgé kù - ò #| Ips.al.sg. For. Rdv Fv IpO.el.sg Pd17 F
RV
Ø
R1
Ø
R15
Ø
/twàléŋgékò/ "leva-me"
|# *ù – Ø + p – à : àŋgé pà – ò shá #| Ips.al.sg. For. Rdv Fv Ipo Pd.16 F Ipo7
Rv
Ø
R9
Ø
R18
Ø
/pèŋgépóshá/ "dá-me uma coisa entre outras"
5.2.- Conjugação Vamos estudar sucessivamente a conjugação simples, pois é a mais documentada, para depois abordar a conjugação composta e a conjugação irregular do verbe "ser". Para a conjugação simples, abordaremos a ordem afirmativa e a ordem negativa. Para cada ordem, examinremos os três modos que tínhamos identificado, a saber: os modos indicativo, conjuntivo e o imperativo. 5.2.1.- Conjugação simples
198
5.2.1.1.- Verbos regulares A.- Modo Indicativo O modo indicativo compreende apenas um grau que é igualmente utilizado nas relativas. O modo indicativo comporta três aspectos: o presente, o passado e o futuro. Cada aspecto tem um ou mais tempos. A.1- Presente O presente conta com três tempos, a saber: o presente habitual, intemporal. a).- Presente habitual Funciona com as seguintes estruturas:
Afirmativo:
ò – hà – Ips - ´ + tema - *à Negativo:
ì – hà – Ips - ´ + tema - *à
Exemplos |# ámè ò – hà - *ndì - ´ + lí - *à ò –ù + fíkù #| Rv
ì
R7
í
`á
R8
ì
R10
Ø
Ø
/ámè òhàílì òùfíkù/ "eu costumo comer à noite"
|# ì – hà - *ndì - ´ +lím - *a #| Pin Pit Ips.el.sg. Ft Rdv
Rv
ì
Fv
ì
progressivo e o
199
R7
í
R10
Ø
/ìhàílímì/ "eu não costumo cultivar"
b).- Presente Progressivo O presente progressivo indica que a acção decorre no momento em que se fala. Apresenta as seguintes estruturas:
|# ò – mù + píkà ò – tá – á –Ø + lóŋg - *à #|
Afirmativo: ò – tá – Ips - Ø + tema - *à Negativa: ì – tá - Ips – Ø + tema - *à
A Ps1 Ips1 For. Rdv
ó
ú
R3
ì /ómúpìkà òtálóŋgò/ "o escravo está a trabalhar"
|# ì – tá – *ndì – Ø + lím - *à #| Pin
Pit Ips.el.sg. For. Rdv
Rv
ì
Pia Pit
Rv ò R1
R2
Rds Fv
Fv
ì
/ìtáìlímì/ "não estou a cultivar" c).- Presente intemporal Indica uma verdade de alcance geral. Funciona com as seguintes estruturas:
Ø
200
Afirmativo: ò – hà – Ips – ´ + tema - *à Negativo: ì – tà – Ips - ´ + tema -|*à
Exemplos |# ò – shì + téndà ò – hà – shì - ´ + vém – à #| A
R2
ó
Ps7
Rds
Pia Pit Ips7 Ft Rdv
Fv
í
R3
è
R7
í
R10
Ø
/óshítèndà òhàshívémà/ "o ouro brilha"
|# ò – shì + téndà ì – tà – shì - ´ + kósh – *à ò – Ø +ndílò #| A
Ps7
Rds
Pin Pit Ips7 Ft
Rdv
Fv
ò
Rv R2
ó
í
R3
è
R7
í
R10 /óshítèndà ìtàshíkóshò óndìlò/ "o ouro não custa caro"
A.2.- Futuro
Ø
A
Ps9 Rds
201
Conseguimos encontrar apenas no nosso corpus um futuro no afirmativo como no negativo. Funciona com as seguintes estruturas:
Afirmativo: ò - *tá – Ips – (ká)(ká`) + tema – à Negativo: ò – tá – Ips – (ká)(ká`) + tema -à
Exemplos: |# ò - *tá – tù – ká + pón – à #| Pia Pit Ips.el.pl. For. Rdv Fv
Rv
hà / òhàtùkápónà/ "engoliremos"
|# ì – tá – ú – ká + pón – à #| Pin Pit -Ips.al.sg. For. Rdv
R14
Fv
ó
R18
Ø
/ìtókápónà/ "não engoliras"
| ò - tá –tù – ká ` + pón – à | Pia
Rv
Pit Ips.el.pl. For. Ft Rdv Fv
hà
R7
à
R10 /óhàtùkápónà/
Ø
202
"vamos engolir"
A.3.- O Passado O passado compreende três tempos, a saber : o prefeito próximo, o perfeito longínquo, o pretérito perfectivo
a).- Perfeito Próximo O perfeito próximo indica que há um traço de acontecimento passado no presente. Funciona com as seguintes estruturas:
Afirmativo: ò – Ips – à + tema –à Negativo: ì – nà – Ips - ´ +tema - à
Exemplos. |# ò – ndì – à + pón – à #| Pia Ips.el.sg. For. Rdv Fv.
R16
Ø
/ òndàpónà/ "engoli agora"
|# ì – nà – tù - ´ + lí – *à #| Pin
Pit - Ips.el. Ft Rdv Fv
Rv R7
`á ú
R8 R10
ì Ø
Ø
203
R19
y
/ìnàtúlyá/ "não temos comido"
b).- O Perfeito longínquo O perfeito longínquo indica que a acção decorreu num passado longínquo. Funciona com as seguintes estruturas:
Afirmativo: ò – hà – Ips - ´ + tema - à Negativo: ì – hà – Ips - ´ + tema - à
Exemplos: |# ò – hà – mù - ´ + pón – à #| Pia Pit Ips.al.pl. Tf Rdv
Rv
Fv
`à
R7
ú
R8
ò
R10
Ø
Ø
/òhàmúpònà/ "tendes engolido há muito tempo"
|# ì – hà ì - ´ + pón – à #| Pin
Pit Ips.el.sg. Ft - Rdv Fv
Rv R7
`à í
204
R8
ò
R10
Ø
Ø
/ìhàípónà/ "não tenho engolido há muito tempo"
c).- O pretérito Prefectivo O pretérito perfectivo indica uma acção que decorreu num tempo longínquo e que terminou. Funciona com as seguintes estruturas:
Afirmativa: ò – Ips – á + tema – ` ílè Negativo: ì – Ips – á + tema - ` ílè
Exemplos: |# ò – ndì – á + pón – ` ílè #| Pia
Ips.el.sg. For. Rdv Ft Fv
R8
ò
R10
Ø
R12 R16
é Ø
R25
n
/òndápònénè/ "eu tinha engolido"
| *ì ú – á + lí – ` ílè | Pin Ips.al.sg. For. Rdv Ft Fv
205
Rv
kà
R8
ì
R9
Ø
R10 R18
Ø Ø
R19
w
/kwálìlè/ "tu não tinhas comido"
B.- Modo Imperativo O modo imperativo é atestado apenas no presente afirmativo, no alocutivo singular e plural. No negativo toma a estrutura do conjuntivo. Funciona com a seguinte estrutura:
Afirmativo: *Ips - Ø + tema – à: (èní)
Exemplos: |# * ú – Ø + lánd – à #| Ips.al.sg. For. Rdv Fv
Rv
Ø /lándà/ "compre"
| *ú – Ø + vák – à | Ips.al.sg. For. Rdv Fv
Rv
Ø /vákà/ "roube"
206
| *mù – Ø + lánd – à: ènì | Ips.al.pl.
Rv
For. Rdv
Fv. Pof.
Ø
R14
Ø
/lándènì/ "comprai"
|# *mù – Ø + vák – à : ènì #| Ips.al.pl. For. Rdv
Rv
Fv Pof.
Ø
R18
Ø
/vákènì/ "roubai"
C.- Modo Conjuntivo O nosso corpus forneceu apenas um tempo do conjuntivo que é o presente, atestado tanto no afirmativo como no negativo. Funciona com as seguintes estruturas:
Afirmativo: *ná – Ips – Ø + tema – ` é (èní) Negativo: ì – ná – Ips – Ø + tema – à: (èní)
Exemplos | ndì – Ø + lím – ` é | Ips.el.sg. For. Rdv
R8
ì
Ft Fv
207
R10
Ø
/ndìlìmé/ "que eu cultive"
| ná – á + pón – ` é | Pit
Ips.al.sg. Rdv Ft Fv
R8
ò
R9
Ø
R10
Ø
/nápòné/ "que tu cultives"
|# ì – ná – tù – Ø + pópì – à : èní #| Pin Pit Ips.el.pl. Fv Rdv
Fv Pof.
R18 R19
Ø y
/ìnátùpópyèní/ "que não falemos"
5.2.1.2-- Verbos irregulares As noções de "ser", "estar" e "ter" são exprimidas por verbos irregulares e defectivos. Trata-se dos seguintes verbos: + lí - "estar" +kál - "ser" + ná : "ter"
a.- O radical + lí –
208
O radical +lí - aparece apenas com prefixos de classes. Nos interlocutores para exprimir a noção de ser, emprega-se o substitutivo reduplicado. Exemplos ámè âmè
estou
óvè ôvè
estas
yě óyè
está
fyě ófyè
estamos
nyě ónyè
estais
vŏ óvò
estão
Quando se quer exprimir a noção de ser um homem, recorre-se ao índice pronominal do sujeito elocutivo singular antecedido da pre-inicial afirmativa ò -. Trata-se sem dvida de uma forma trocada da cópula. Exemplo: òndì múlùmènhú
Sou um homem
O radical +lí – é atestado no pretérito imperfectivo, tempo que não existe na conjugação simples. Para "estar", existe para todos os interlocutores e para todas as classes. Exemplos òndálí
ò – ndì - á + lí
Eu estava
òwálí
ò – ú – á + lí
Tu estavas
òkwálí
ò - *á – á + lí
Ele estava
òtwálí
ò – tù – á + lí
Nós estávamos
òmwálí
ò – mù – á + lí
Vós estáveis
òválí
ò – và – á + lí
Eles estavam
209
No futuro, o radical +lí- é substituído pelo radical + níŋg – significando "fazer, tornar-se" ou pelo radical + kál – que exprime a noção de "ser". No perfeito longiquo, oradical +kál – é o único a ser utilizado.
b.- O radical + ná O radical + ná exprimindo a noção de "ter" aparece apenas no presente. Admite os interlocutores e os índices pronominais do sujeito em todas as classes. Exemplo yȅ òkùná éyùlù lílé
Ele tem um nariz comprido
5.2.1.3.- Quadro de conjugação simples 1.- Verbos regulares 1.1.- Modo Indicativo a).- Presente Tempo
Ordem
Estrutura
Exemplos
Afirmativo
ò-hà-Ips-´Rv-*à
òhàílì
Negativo
ì-hà-Ips-´Rv-*à
ìhàílímì
Afirmativo
ò-*tá-Ips-Ø+Rv*à
Òháìlóŋgò
Negativo
ì-tá-Ips-Ø+Rv-*à
ìtáìlímì
Afirmativo
ò-hà-Ips-´+Rv-*à
Òhàshívémà
Negativo
ò-tà-Ips-´+Rv-*à
ìtàshívémà
Habitual
Progressivo
Intemporal
b).- Futuro Tempo
Ordem Afirmativo Nrgativo
Estrutura ò-*tá-Ips-ká+Rv-à ì-tá-Ips-Ká-Rv-à
Exemplos òhátùkápónà ìtókápònà
210
c).- Passado Tempo
Ordem
Estrutura
Exemplos
Afirmativo
ò-Ips-à +Rv -*à
òndàpónà
Negativo
ì-nà-Ips-´+Rv-*à
ìnàtúlyà
Afirmativo
ò-hà-Ips-´+Rv-*à
òhàínù
Negativo
ì-hà-Ips-´+Rv-*à
ìhàípònà
Afirmativo
ò-Ips-á+Rv-`ílè
òndápònénè
Negativo
*ì-Ips-á+Rv-`ílè
kwálìlé
Prefeito proximo
Perfeito longínquo
Pretérito perfectivo
1.2.- Modo Imperativo Tempo
Ordem
Estrutura
Exemplos vákà
Presente
Afirmativo
Ips-Ø+Rv-à(èní) vákènì
1.3.- Modo Conjuntivo Tempo
Ordem
Estrutura
Exemplos
Afirmativo
*ná-Ips+Rv-é(èní)
ndìlìmé
Negativo
ì-ná-Ips+Rv-à (èní)
ìnátùpópyènì
Presente
2.- Verbos irregulares 2.1.- Indicativo Tempos
Formas
211
Presente
Futuro
ámè âmè
Eu estou
óvè ôvè
Tu estás
yě óyè
Ele está
fyě ófyè
Nós estamos
nyě ónyè
Vós estais
vŏ óvò
Eles estão
òndì múlùmènhú
Sou um homem
òù múlùmènhú
És um homem
ò múlùmènhú
É um homem
òtù válùmènhú
Somos homens
òmù válùmènhú
Sois homens
ò válùmènhú
São homens
Òháìkánìŋgà
Tornar-me-ei Tornar-te- ás Tornar-se-á
òtókànìŋgà òtákànìŋgà
Futuro
Imperfectivo
òhátùkánìŋgà
Tornar-nos-emos
òtámùkánìŋgà
Tornar-vos-eis
òtávàkánìŋgà òháìkákàlà
Tornar-se-ão Serei
òtókàkàlà
Seras
òtákàkàlà
será
òhátùkákàlà
seremos
òtámùkákàlà
sereis
òtávàkákàlà
serão
òndálì
Estava
òwálì
Estavas
òkwálì
Estava
òtwálì
Estávamos
òmwálì
Estavais
òválì
estavam
òhàndíkàlà
Fui
212
Perfeito longíquo
òhókàlà
Foste
òhákàlà
Foi
òhàtúkàlà
Fomos
òhàmúkàlà
fostes
òhàvákàlà
foram
5.2.2.- Conjugação Composta a.- Generalidades O kwanyama atesta uma conjugação composta formada do auxiliar verbal + lí "estar" seguido de um verbo conjugado no perfeito longiquo. O auxiliar apresenta uma forma única que acompanha a forma composta. Esta combinação traduz o pretérito imperfeito. Apresentase tanto no afirmativo como no negativo. b.- Estrutura
Afirmativo: okwali + verbo conjugado no perfeito longínquo
Negativo:
kawali + verbo conjugado no perfeito longínquo
Exemplos |# ò – kù –á + lí hà – ì – ´ + pón – à #| Pia Ips.del.sg. For. Rdv Pit Ips.el.sg. For. Rdv Fv
R7
í
R10 R19
Ø w
/òkwálì hàípónà/ "eu engolia"
|# ò – kù – á + lì hà – á - ´+ pón - à #| Pia Ips.del.sg. For. Rdv Pit Ips.del.sg. For. Rdv Fv
213
R7
á
R9
Ø
R10
Ø
R19
w
/òkwálì hápónà/ "ele engolia"
|#*ì – kù – á + lí hà – ú - ´ + lí - *à #| Pin Ips.del.sg. For. Rdv Pit Ips.al.sg. For Rdv Fv
Rv
kà
Ø
R9
ó
R10
Ø
R18
Ø
R19
w
/kàkwálì hólí/ "não comeras"
|# *ì – kù – á + lí hà – tù - ´ + món - *à #| Pin Ips.del.sg. For. Rdv Pit Ips.el.pl. For. Rdv
Rv
Fv
ò
kà
R7
ú
R10 R19
Ø w
/kàkwálì hàtúmónò/ "não víamos" Tonalidade: o tom alto do auxiliar torna-se baixo.
214
CAPÍTULO VI: OS INVARIÁVEIS Sob esta designação, reunimos todos os elementos que não são analisáveis no plano morfológico. Trata-se de: - índice associativo nà "com" -indice alternativo ile ou ilo "ou" - advérbios - ideófones.
6.1.- Indice associativa na O índice associativo na, com o sentido de "com" Exemplos: /òtókàyà n’ àmè k'òlúvàŋgò/ "irás comigo a Lubango"
/fyȅ náfyè òhàtúnù óíkùnwà/ "nós também beberemos a bebida"
6.2.- Índice alternativo ilo Uma das características do kwanyama neste aspecto consiste no facto de a língua permitir a ligação de palavras como de frases pelo índice alternativo, conforme indicam os exemplos seguintes: Exemplos: /ngéŋgè wákàlá n'òndyálà ìlò n'ènótà kùfà késhè òshĭmà m'òkílò/ "se tiver fome ou sede tira qualquer coisa da geleira"
/ìndá k'òshìtàndà, làndá ĕshí ìlò òmbélélà/ "vai à praça, compra peixe ou carne"
215
/kàlá òmútùmbà ìlò òhàíhàndùkà/ "Fique sentado ou zango-me"
/nwá òmàshìnì ìlò ùlyé ĕshì/ "beba leite ou coma peixe"
6.3.- Advérbios Temos dificuldade em atribuir a designação de advérbio às unidades que à partida consideramos como derivadas, adjectivos ou numerais, mas às quais a língua pode recorrer para desempenhar a função adverbial. É sabido que o advérbio é uma forma invariável especializada na determinação do verbo ou adjectivo. Na língua kwanyama, segundo observamos, existem poucas formas que desempenham este papel. No nosso trabalho levantamos duas bases lexemáticas que podemos considerar como cobrindo a categoria adverbial: lexemas primários e alexemas secundários 6.3.1.- Lexemas primários São aqueles que, por natureza, são invariáveis e respondem à definição que demos em cima. mbélà
talvez
nókùlì
já
nátàŋgò
ainda
dìvá
imediatamente
Exemplos /ìlà dìvá/ "vem imediatamente"
/òkwàfíkà nókùlì/ "já chegou."
/óúkânà úhènà ȅdùlá nátàŋgò dáfìkà mónòŋgò/
216
"es criança, não tens ainda dez anos"
/óúnòná mbèlà òvélìmònènè ŋgòó ná kwàò ókò/ "as crianças talvez se tenham encontrado com a outra lá"
6.3.2.- Lexemas secundários São aqueles lexemas, por natureza variáveis, aos quais a língua atribui uma função adverbial. Essas unidades provêm, quer dos adjectivos quer dos numerais. 6.3.2.1.- Unidades derivadas de adjectivos -shónà
pequeno
kàshónà
Um pouco
-nìnì
pequeno
kànínì
Um pouco
-wá
bom
náwà
bem
-nénè
grande
ùnénè
muito
Exemplos: /Yéé òhàpópì nàwà élàkà/ "ele fala bem a língua"
/yéé òkùná éyùlù lákùlá únènè/ "ele tem um nariz muito grande"
/yéé òkùná ŋgó káshòná èèndùŋgè/ "ele tem um pouco de juízo"
6.3.2.2.- Unidades derivadas de numerais -tètè
primeiro
em primeiro lugar
217
-vàlì
dois
mais
Exemplos /mó tètè òhàíkùndù òshìwánà áshìshè/ "em primeiro lugar saudo todo o povo"
/ómúmàtì òkùná vàlì ȅŋhónò édùlé òkàkádònà/ "o rapaz tem mais força do que a rapariga"
6.4. Ideófones São vocábulos que transmitem uma impressão sensorial ou moral complexa. (Pierre Alexandre:1967:52). No seu primeiro sentido, o termo de ideófone refere-se às palavras apresentando características fonológicas excepcionais que realçam o carácter particularmente expressivo do seu significado. Não se trata de interjeções, pois as interjeções têm, às vezes, possibilidades de expansão limitadas, mas utilizadas tipicamente isoladas enquanto que os ideófones são utilizados marginalmente isoladas e participam normalmente na construção de frases. Uma característica dos ideófones é a ausência de flexão, o que seguindo a prática tradicional dos gramáticos levaria a colocá-los entre os advérbios (Creissels:2006:257). Tentamos reunir esses tipos de palavras em três grupos descritivos:
6.4.1.- Ideófones de sensação twììtwíí
-twímà
Estar azul-verde
tòòtóó
-tókà
Estar branco
fòkòfòkó
-làùlà
Estar preto
Tyèpà tyèpà
-tílyànà
Estar vermelho
Mbóó mbóó
-tàlàlà
Estar frio
shèkèshékè
-yélà
Estar limpo
mòtáùlà
moto
Barulho do pé na lama
pwàtàpwátà
-pwàtúkà
Dor de cabeça
218
Exemplos /éùlù òlàtwímà twììtwìì/ "o céu está azul"
/ómbìyà òyàláùlà fókò fókò/ "a panela está muito preta"
/ómèvà òkwàtálàlà mbóó mbóó/ "a água está muita fria"
6.4.2.- Ideófones de acção báfù
-báfùlà
Golpe no chão
dèpù
-dépùlà
Pedra ao cair
fèkù
-fékùlà
Chapada
fèndù
-féndùlà
chapada
kàpù
-kápùlà
cacetada
kòlò
-kólòkà
Ave de rapina ao descer
kòŋhò
-kóŋhòlà
Golpe na cabeça
Kùlù búlù
-kúlùkà
Escapar cair na marcha
Exemplos: /kó ókănà èdù báfù/ "a criança caíu no chão"
/ёŋhàvà mókănà fékù/
219
"deu chapada na criança"
/ndélè kóŋhò mómùtwè/ "e logo apanhou um golpe na cabeça"
6.4.3.- Ideófones de maneira lànù
-lánùlà
Caminhar com pressa
lùpù
-lúpùkà
Saída rápida do ninho
màkù
-mákùkà
Movimento dos maxilares
tùnyùtúnyù
-túnyàúkà
Andar a mexer as nádegas
pàshù
-páshùlà
Fechar e abrir os olhos
pèlùpélù
-pélàúkà
Andar atirando-se de um lado para o outro
shììshíí
-shíshà
Suar ao cair
shènù
-shénùkà
Esquivar-se de um projéctil
vàndù
-vándùkà
Abanar a cabeça à maneira da largatixa
Exemplos /òmàíshò pàshú/ "abriu e fechou os olhos"
/ló émànyà shèkú/ "esquivou a pedra"
/ómùnù vàndú ŋgáshì òshìnyéŋgèlè/
220
"o homem abanou a cabeça como a lagartixa"
Como se pode reparar, os ideófones são bem conhecidos na língua kwanyama, e uma análise dessas unidades poderá levar os utentes a distinguir os advérbios dessas palavras puramente impressivas, utilizadas sem conhecer a sua natureza. Confundem-se com os advérbios pela sua posição na frases que, muitas vezes, ficam pós-postos ao verbo com a característica de determinar o verbo. Um campo de estudo por explorar.
221
Conclusão geral Após uma análise do funcionamento estrutural dos fonemas e morfemas da língua kwanyama notamos a riqueza que esta língua possui sobretudo nos morfemas e nos elementos que muitas vezes são confundidoa com os advérbios e interjeçoes. Com efeito, repartimos a nossa abordagem em quatro partes que são a fonologia, a morfofonologia, a análise diacrónica e a morfologia. Cada parte apresenta-se dividida em capítulos. Na primeira parte consagramos a nossa atenção à análise dos fonemas e das suas realizações fonéticas. Na análise dos fonemas consonânticos fizemos uma escolha entre duas opções analíticas e optamos pela análise bifonemática, porque quisermos ser coerentes com a análise feita a nível das vogais, simplesmente para que os nossos estudantes tenham também conhecimento da existência e do funcionamento da análise bifonemática. Incluimos no nosso estudo a abordagem da morfofonologia que nos permitiu examinar as estruturas de base de morfemas e sobretudo para que os nossos estudantes conheçam desta vertente de análise. Neste plano, fizemos questão de apresentar regras de representação de morfemas e dos elementos supra segmentais nele contidos. Não foi uma tarefa fácil, pois o estudo de tons requer uma formação específica e solída. Exploramos também de forma superficial, a fonologia diacrónica para examinar os reflexos lexicais do kwanyama a partir do bantu comum. Foi um ensaio interessante na medida em que conseguimos pelo menos, a partir dos fonemas do bantu comum encontrar os seus reflexos consonânticos na língua kwanyama Na parte morfológica, abordamos todos os aspectos ligados à morfologia. Examinamos os substantivos simples e complexos, os acompanhantes do substantivos o funcionamento do verbo assim como as palavras impressivas, conhecidas por ideófones que muitos confundem com os advérbios, até mesmo com os adjectivos por desconhecimento. Essas palavras necessitam de exploração e aperfeiçoamento.
222
BIBLIOGRAFIA ALEXANDRE, P., 1967, Langues e Langages en Afrique Noire, Payot, Paris. 1.- BASTIN, Y, (1990-91), Grammaire Comparee des langues bantoues, Morfologie I e II, Cours, ULB; 2.- DIARRA, B, 1990, Gramatica da língua Kwanyama, Luanda, Instituto de Linguas Nacionais; 3.- BOUKA, L., Y, 1989, Eléments de description du kaamba, langue bantoue (H 17) du Congo, Memoire, ULB;~ 4.- BRINCKERS, P., H., 1891, Lehrbuch dos Oshikwanyama (Bantu-spresche in deutchsudwest – Africa) – Stuttgard e Berlin, 136 p. 5.- CREISSELS, D. -1989, Aperçu sur les structures phonologiques des langues negroafricaines. Grenoble; -1979, Unités et categories grammaticales.Reflexions sur les fondements d'une théories générale des descriptions grammaticales, Grenoble. -2006, Syntaxe générale, une introduction typologique 1: categories et constructions, Hermes Science, Paris.
6.- COUPEZ, A. 1989, Description du Ruanda, Cours, ULB, 1989, Grammaire du Sanga, Cours, ULB 7.- GLEASON, H., A., 1969, Introduction à la linguistique , Linguistique, Paris; 8.- GRÉGOIRE, C. –1989, Principes de description des langues africaines, Cours 1989, Description de maninka de Kankan; 1990, Description du sangu, langue bantoue du Gabon, Cours, ULB; "Les voyelles alternantes dans les langues bantoues" 9.- GUTHRIE, M., 1971, An Introduction to the Comparative Linguistics and Prehistory of the Bantu Languages, Gregg International Publishers Ltd, London. 10.- HASHEELA, P. Oshikwnyamamenena, Gamsberg, Windhoek. 11.- NASSE, M. 1989, De la phonologie à la morfologie du nzebi, langue bantoue (B52) du Gabon, These de Doctorat, ULB; 12.- NTONDO, Z., 2003, Eléments de description du ngangela, Thèse de Doctorat, Université Lumière-Lyon II.
223
13.- MARTINET, A., 1970, Eléments de linguistique Générale, Armand Colin, Paris. 14.- MEEUSSEN, A., E., Bantu Grammatical Reconstruction, Tervuren; 15.- ONDO, P., 1988, Description du sangu, Mémoire, ULB. 16.- TONJES, H., Lerhbuch der Ovambo-spreche osikwnayama, Berlin, Druck und verlag von georg Reimer 235 p.; 17.- TOBIAS, MC, MA and TURVEY B., H., C., 1976, English-kwanyama dictionary, Witwatersrand University, press, Johannesburg; 18.-TROUBETZKOY, N., S., 1970, Principes de Phonologie, Klincksieck, Paris 19.- TWILINGIYIMANA, C. 1994, Eléments de Description du DOKO, MRAC, Annales – Serie n° 8 – Sciences Humaines, n°116- Tervuren 20.- VANHOUDT, B., 1987, Eléments de description du leke, langue bantoue de zone C, Annales, Vol. 125 – Sciences Humaines – Tervuren
224
ANEXO 1: LÉXICO Kwanyama – Português +ádì
6
Gordura, óleo
+àlíkàdì
1
Mulher
+álùkà
15
Regressar, voltar
+ánà
12/13
Criança
+ányà
15
Recuara, negar
+átò
14/6+14
Canoa
+bábì
9/10
Veado
+bádyè
9/10
Chacal
+bélè
9/10
Faca
+bèlélà
9/10
Carne
+búdì
9/10
Gatuno
+búdù
9/10
Seca
+bwá
9/10
Cão
+dábò
9/10
Encovado
+dálà
15
Dar a luz
+dánà
15
Dansar
+déŋgà
15
bater
+dí
3/4
raiz
+dílà
12/13
Ave, passaro
+dílà
5/6
abutre
+dílà
9/10
pato
+dílàdílà
15
pensar
+dímbùlùkà
15
Lembara-se
225
+dímbwà
15
esquecer
+dínà
5/6
nome
+dímò
5/6
barriga
+dípȁ
15
matar
+dó
3/4
ano
+dóbà
9/10
mamilo
+dóvà
9/10
sujidade
+dú
5/6
Terra, sol
+dú
7/8
febre
+dúbà
9/10
Monte
+dúdà
9/10
casa
+dúdù
9/10
curandeiro
+dúlà
15
Despir-se
+dùlá
9/10
chuva
+dúŋgè
9/10
mentalidade
+dúŋgù
9/10
poço
+dwí
9/10
poeira
+dyá
15
sair
+dyábà
9/10
elefante
+dyábàmévà
9/10
hipopótamo
+dyálà
15
Vestir-se
-+dyédì
9/10
barba
+dyùú
Adj.
Difícil, pesado
+édì
3, 3+10
Mês
+éfà
15
permitir
226
+étà
15
Trazer
+éndà
15
andar
+éndàéndà
15
passear
+ényà
11, 6+11
pena
+fádùkà-pò
15
fugir
+fí
1/2
Cadáver
+fíkù
5/6
dia
+fíkù
14, 6+14
+fímà
3/4
fonte
+fímbì
1/10
Cameleão
+fímbò
5/6
Tempo
+fíŋgò
9/10
Pecoço
+fíŋgònònà
15
Torcer
+fítùkútì
7/8
Animal
+fó
5/6
folha
+fúdà pò
15
Reposar-se
+fúdìkà
15
Enterrar
+fúdìlà
15
Soprar
+fúmà
5/6
sapo
+fyá
10
Morte
+fyá
15
morrer
+gáŋgà
9/10
feticeiro
+gádù
9/10
jacaré
+gòbè
9/10
boi
+gúdù
9/10
Grupo
227
+gúlà
9
Manhã
+gwé
9/10
Leopardo
+hákùlà
15
curar
+hálà
15
Querer
+hámàmà
9/10
buchecha
+hànánà
9/10
Bebé
+háŋgà
15
Encontrar
+hánì
9
Lua
+hákùlì
1/2
Quem cura, médico
+hàpù
Adj.
Abundante
+hék-à
15
Mentir
+hélùkíl-à
15
Curvar
+hépà òùnónà
15
Contar (história)
+hólà
15
Diminuir
+hólèkà
15
Cobrir
+hómbòlà
15
Casar
+hòndé
9
Sangue
+hóngì
1,2
Quem fabrica
+hú
6
Urina
+húhwà
9,10
Galinha
+húmbàtà
15
Levar
+hùpì
Adj.
Curto, baixinho
+hwíkà
15
Queimar
+ìí
Adj.
Mau
+í
5,6
ovo
228
+ídì
3
Erva
+ídìlà
15
Fechar
+ífànà
15
Chamar
+ífì
3
Fumo
+ímàtì
7,8
Fruta
+íngânà
15
Voltiger
+íshò
5,6
Olho
+ívà
6
Água
+dònà
12,13
Rapariga, moça
+kálà
5,6
Carvão
+kálà
9,10
Caranguejo
+kálà
15
Estar
+kàlà náshà
15
Obter
+kàlà òmùtúmbà
15
Estar sentado
+kálì
14
Vida
+kákù
11, 14
Sapato
+kámbè
9,10
Cavalo
+kámbò
9,10
Curral
+kángàlà
5,6
Lagarto
+kángà
9,10
Borboleta
+káshùlìfò
7,8
Enxada
+kàúmè
1/Ø
Amigo
+ké
5,6
Mão
+kílì
9,10
Tartaruga
+kípà
5,6
Osso
229
+kíyà
5,6
Espinho
+kófì
5,6
Nuca
+kóhòlà
15
Eternuer
+kólò
3,4
Tosse
+kómbà
15
Varrer
+kómèshò
1,2
Chefe
+kóngò
1,2
Caçador
+kónò
10
Força
+kóshà
15
Lavar
+kóshì
9,10
Leão
+kúfà
15
Extrair
+kófà
15
Dormir
+kúfàmà
15
Expulsar
+kúkùtà
15
Secar
+kúlà
15
Crescer
+kúlùpà
15
Envelhecer
+kúlùkàdì
1,2
Velhota
+kúlyà
8
Comida
+kúmà
5,6
Muro
+kúndà
3,4
Aldeia
+kúpùlà shì
15
Deitar
+kútì
9,10
Pomba
+kútù
7,8
Roupa
+kúwà
15
Gritar
+kwá
11, 6+11
Mato
230
+kwátà
15
Prender, capturar
+lákà
5,6
Língua
+lámbò
5,6
Buraco
+lándà
15
Comprar
+lándìfà
15
Vender
+lándìfìlò
7,8
Mercado
+lé
Adj.
Comprido, profundo
+lémò
7,8
Nuvem
+léngìfà
15
Castigar
+léshà
15
Ler
+lílòngìfà
15
Estudar
+límà
15
Cultivar
+língà
9,10
Anel
+lókà
15
Chover
+lólòkà
15
Estar cansado
+lómbòlà
15
Conversar
+lómbwèlà
15
Anunciar
+lóndólòkà
15
Descer
+lóngà
3,4
Rio
+lóngà
7,8
Trabalho
+lóngà
15
Trabalhar
+lóngíkìtà
15
Arrumar
+lóngò
7,8
Aldeia, país
+lótòkà
15
Correr
+lúmàtà
15
Morder
231
+lúmèntù
1,2
Homem
+lúvì
14, 6+14
Pequeno cérebro
+lúvìlúvì
14, 6+14
Aranha
+lyá
15
Comer
+lwá
15
Lutar
+mánà
15
Acabar
+màdì
9,10
Perna
+mángà
9,10
Ramo
+málìwà
7,8
Moeda
+mányà
5,6
Pedra
+mátì
1,2
Moço
+mbálè
5,6
Chapeu
+mbíshì
1/Ø
Gato
+mbódì
7,8
Medicamento
+mbúngù
7,8
Hiena
+médì
9,10
Touro
+míndò
9,10
Copo
+mófì
10
Sono
+mónà
15
Ver
+múkà
15
Formiga
+múnkìmà
1/Ø
macaca
+mŭlù
9,10
Pacaça
+mwénà
15
Calar-se
+ná
Adj.
Mau
+nángà
9,10
Semente de abóbora
232
+nángàlà
15
Estar estendido
+ndángálàtì
5,6
Tronco
+ndíbà
1/Ø
Lebre
+ndyándyà
5,6
Intestino
+nélè
9.10
Lugar
+nènè
Adj.
Grande
+nínì
Adj.
Pequeno
+ngápì
Inter.
Quanto
+ngŏlòdò
7,8
Cobre
+ngúngúmò
3,4
Trovoada
+ntú
1,2
Pessoa
+núkà
15
Saltar
+níngà
15
Fazer, tornar-se
+níngìnà
15
Entrar
+nínò
3,4
Garganta
+nótà
5,6
Sede
+nwá
15
Beber
+nwé
3,4
Dedo
+nwí
7
Suor
+nyá
12, 6+12
Boca
+nyálà
9,10
Unha
+nyámúkùlà
15
Responder
+nyángà
9,10
Cebola
+nyènyè
Adj.
Doce
+nyíkà
15
Cheirar
233
+nyíkì
9,10
Abelha
+nyófì
9,10
Estreala
+ókò
15,6
Braço
+ólà
15
Apodrecer
+óngèlà
15
Reunir
+óngwà
3
Sal
+pá
15
Dar
+pákà
15
Depor
+pálà
7,8
Cara
+pándà
11,10
Agradecimento
+pángèlà
15
Fazer
+pányàlà
7,8
Unha
+pé
Adj.
Novo
+pépà
15
Soprar
+pépè
5,6
Ombro
+pépò
9,10
Vento
+píkà
1,2
Escravo
+pítò
5,6
Porta
+pítílìlà
15
Ultrapassar
+pómbòlà
15
Rasgar
+pónà
15
Engolir
+pópyà
15
Falar
+pú
Adj.
Fácil
+púkù
9,10
Rato
+púlà
15
Pedir
234
+púmùnù
5,6
Peru
+púpùlù
8
Mentira
+pútè
7,8
Ferida
+pwá
15
Terminar
+pwálákàtà
15
gronder
+pwílíkìnà
15
Escutar
+pyá
15
Queimar
+pyú
Adj.
Quente
+shámànè
1,2
Velhote
+shángà
15
Escrever
+shí
9,10
Peixe
+shíndà
15
Insultar
+shĭvà
15
Saber
+shìkóndòbòlò
1/Ø
Galo
+shíkùlà
15
Acompanhar
+shílà
3,4
Cauda
+shílà
15
Puxar
+shílì
14
Verdade
+shínì
6
Leite
+shíshà
15
Verter
+tá
8
Guerra
+tàì
7,8
Ramo
+tálà
15
Olhar
+támbùlà
15
Receber
+támèkà
15
Iniciar, começar
235
+tángò
5,6
Sol
+tángùnà
15
Discutir
+tátà
15
Obter
+tátà
9,10
Lama
+té
6
Saliva
+témò
5,6
Plantação, lavra
+témò
3,4
Luz
+témò
9,10
Flor
+téndà
7,8
Ouro
+téngì
3,4
Carga
+tétà
15
Cortar
+téyà
15
Partir
+tí
3,4
Árvore
+tílìfà
15
Ameaçar
+tó
3,4
Cinza
+tú
11,6+11
Corpo
+túkà
15
Voar
+túkùlà
15
Desligar, desamarrar
+túlò
9,10
Peito
+túmà
15
Enviar, mandar
+túngà
15
Construir
+túnù
7,8
Colina
+twé
3,4
Cabeça
+twí
15,6
Orelha
+vádì
11, 6+11
Relâmpago
236
+vákà
15
Roubar
+válùlà
15
Ferir
+vávà
5,6
Asa
+vélà
7,8
Ferro
+vélà
14, 6+14
Doença
+víngà
11,10
Chifre
+úlù
15,6
Perna
+úlù
5,6
Céu
+ùmbó
5,6
Casa
+ùyà
15
Vir
+wá
15
Cair
+wá
Adj.
Bom
+mwé
9,10
Mosquito
+yá
15
Ir
+yádèkà
15
Encher
+yándyà
15
Dar
+yévà
15
Caçar
+yòó
5,6
Dente
+yófà
15
Assar
+yólà
15
Rir
+yókà
5,6
Serpente
+yúlù
5,6
Nariz
+yŭlúlà
15
Abrir