Ensino desenvolvimental: vida, pensamento e obra dos principais representantes russos [1]
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Ensino desenvolvimental: vida, pensamento e obra dos principais representantes russos

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Editora da Universidade Federal de Uberlândia

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Sistema de Bibliotecas da UFU - MG, Brasil E59d

Ensino desenvolvimental : vida, pensamento e obra dos principais representantes russos / Andréa Maturano Longarezi, Roberto Valdés Puentes, Organizadores. – Uberlândia : EDUFU, 2013. 380 p. (Coleção biblioteca psicopedagógica e didática . Série ensino desenvolvimental ; v. 1) Conteúdo: Vida, pensamento e obra dos representantes russos: L. S. Vigotski, A. N. Leontiev, A. R. Luria, S. L. Rubinstein, A. V. Zaporozhets, D. B. Elkonin, L. V. Zankov, A. V. Petrovsky, P. Ya. Galperin, V. V. Davydov, N. F. Talizina. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-7078-323-3 1. Didática. 2. Ensino. 3. Psicologia educacional. I. Longarezi, Andréa Maturano. II. Valdés Puentes, Roberto. III. Universidade Federal de Uberlândia. IV. Série. CDU: 37.02

Editora da Universidade Federal de Uberlândia Av. João Naves de Ávila, 2121 - Campus Santa Mônica - Bloco 1S - Térreo Cep 38408-100 - Uberlândia - Minas Gerais Tel: (34) 3239-4293 www.edufu.ufu.br

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Andréa Maturano Longarezi Roberto Valdés Puentes Organizadores

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Coleção Biblioteca Psicopedagógica e Didática Série Ensino Desenvolvimental v. 1

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Universidade Federal de Uberlândia

REITOR Elmiro Santos Resende VICE-REITOR Eduardo Nunes Guimarães DIRETORA DA EDUFU Joana Luiza Muylaert de Araújo CONSELHO EDITORIAL Alessandro Alves Santana Benvinda Rosalina dos Santos Cibele Crispim Daniel Mesquita Décio Gatti Júnior Francisco José Torres de Aquino Lília Gonçalves Neves Luiz Carlos de Laurentiz Luiz Fernando Moreira Izidoro EDITORA DE PUBLICAÇÕES Maria Amália Rocha REVISÃO DE PORTUGUÊS/ABNT Lília Maria Guimarães PROJETO GRÁFICO E CAPA Ivan da Silva Lima EDITORAÇÃO Max Andrade Duarte

IMPRESSÃO E ACABAMENTO DIGRA - Divisão Gráfica da UFU.

FACED - FACULDADE DE EDUCAÇÃO / UFU GEPEDI - GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM DIDÁTICA DESENVOLVIMENTAL E PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE COLEÇÃO Biblioteca Psicopedagógica e Didática DIREÇÃO Roberto Valdés Puentes Andréa Maturano Longarezi Orlando Fernández Aquino CONSELHO EDITORIAL Prof. Ms. Achilles Delari Junior– Pesquisador Aposentado – Brasil Prof. Dr. Alberto Labarrere Sarduy – Universidad Santo Tomás – Chile Profa. Dra. Andréa Maturano Longarezi - Universidade Federal de Uberlândia - Brasil Prof. Dr. Antonio Bolivar Gotia – Universidad de Granada – Espanha Profa. Dra. Diva Souza Silva – UFU Profa. Dra. Elaine Sampaio Araújo – Universidade de São Paulo – Brasil Prof. Dr. Francisco Curbelo Bermúdez - AJES – Brasil Prof. Dr. Humberto A. de Oliveira Guido – Universidade Federal de Uberlândia - Brasil Profa. Dra. Ilma Passos Alencastro Veiga – Universidade de Brasília - Brasil Prof. Dr. Isauro Núñez Beltrán – Universidade Federal de Rio Grande do Norte – Brasil Prof. Dr. Luis Eduardo Alvarado Prada - Universidade Federal da Integração Latino-americana - Brasil Prof. Dr. Luis Quintanar Rojas – Universidad Autónoma de Puebla - México Profa. Dra. Maria Aparecida Mello – Universidade Federal de São Carlos – Brasil Profa. Dra. Maria Célia Borges – Universidade do Triângulo Mineiro - Brasil Prof. Dr. Orlando Fernández Aquino - UNIUBE Prof. Dr. Reinaldo Cueto Marin – Universidad Pedagógica de Sancti Spíritus – Cuba Profa. Dra. Roberto Valdés Puentes - Universidade Federal de Uberlândia - Brasil Prof. Dr. Ruben de Oliveira Nascimento - UFU Profa. Dra. Silvia Ester Orrú - UnB Profa. Dra. Suely Amaral Mello – Universidade Paulista Júlio de Mesquita Filho - Brasil Profa. Dra. Yulia Solovieva – Universidad Autónoma de Puebla – México SÉRIE 2 “Ensino Desenvolvimental” DIREÇÃO Profa. Dra. Andréa M. Longarezi Prof. Dr. Roberto V. Puentes VOLUME 1

ORGANIZADORES: Andréa Maturano Longarezi Roberto Valdés Puentes

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L. S. Vigotski

A. N. Leontiev

L. V. Zankov

A. R. Luria

A. V. Petrovsky

S. L. Rubinstein

P. Ya. Galperin

A. V. Zaporozhets

V. V. Davydov

D. B. Elkonin

N. F. Talizina

Realização:

Apoio:

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Sumário Apresentação .......................................................................................................9 Andréa Maturano Longarezi Roberto Valdés Puentes Prefácio .............................................................................................................. 15 Achilles Delari Junior Parte I Os precursores da psicologia marxista russa ...................................................45 Lev Semionovitch Vigotski: um estudo da vida e da obra do criador da psicologia histórico-cultural .......................................47 Zoia Prestes Elizabeth Tunes Ruben Nascimento A. N. Leontiev: a vida e a obra do psicólogo da atividade ................................67 Andréa Maturano Longarezi Patrícia Lopes Jorge Franco A. R. Luria: uma trajetória de vida................................................................... 111 Tatiana Akhutina Rubinstein: um grande psicólogo, uma grande personalidade ...................... 137 Elaine Sampaio Araujo Parte II Seus seguidores ............................................................................................... 161 Vida, pensamento e obra de A. V. Zaporozhets: um estudo introdutório ................................................................................... 163 Roberto Valdés Puentes Daniil Borisovich Elkonin: a vida e as produções de um estudioso do desenvolvimento humano .................................................. 203 Lucinéia Maria Lazaretti L. V. Zankov: Aproximações à sua vida e obra ...............................................233 Orlando Fernández Aquino

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Bases conceituais da obra de A. V. Petrovsky: implicações nos processos de ensinar e aprender na escola ..........................263 Maria Aparecida Mello Douglas Aparecido de Campos P. Ya. Galperin: a vida e a obra do criador da teoria da formação por etapas das ações mentais e dos conceitos ............................... 283 Isauro Beltrán Núñez Marcus Vinícius de Faria Oliveira Vasily Vasilyevich Davydov: a escola e a formação do pensamento teórico-científico ......................................................................... 315 José Carlos Libâneo Raquel A. Marra da Madeira Freitas Vida y obra de N. F. Talizina: aportaciones para la psicología y la educación ............................................... 351 Yulia Solovieva Luis Quintanar Rojas Sobre autores ...................................................................................................373

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APRESENTAÇÃO Ensino Desenvolvimental: vida, pensamento e obra dos principais representantes russos é o primeiro livro de uma trilogia que se propõe a divulgar no Brasil e em vários países da América Latina a trajetória histórica, o legado teórico e a produção acadêmicocientífica de importantes expoentes da psicologia marxista e da didática desenvolvimental russas, tais como: L. S. Vigotski, A. N. Leontiev, A. R. Luria, S. L. Rubinstein, A. V. Zaporozhets; D. B. Elkonin, L. V. Zankov, A. V. Petrovski, P. Ia. Galperin, V. V. Davydov e N. F. Talizina. Nos países da América Latina, fundamentalmente no Brasil, há dificuldades de acesso às obras e ao pensamento de grande parte deles. O livro tem, portanto, a finalidade de possibilitar aos pesquisadores e professores desses países uma aproximação inicial com o pensamento de tais autores, muitos dos quais, pela ausência de obras traduzidas e/ ou pelo esgotamento daquelas que o foram ao espanhol e português, são-nos absolutamente novos. A proposta emergiu da necessidade de aproximarmos nossos estudos e pesquisas no campo da didática, aos constructos teóricos elaborados por psicólogos e didatas russos que trazem importantes contribuições para se pensar um ensino que desenvolve. Para isso, o livro reúne um grupo de autores brasileiros, cubanos, mexicanos e russos que tem no enfoque histórico-cultural um marco teórico comum e que vem estudando e sistematizando a vida, o pensamento e a obra de representantes russos, tendo em vista a divulgação desse legado. Posteriormente, dois outros livros, com a mesma proposta, serão lançados em continuidade, com constructos de pensadores que comungam da mesma abordagem teórica. A proposta da trilogia nasceu semanas antes da realização da 34ª Reunião Anual da Anped, realizada em outubro de 2011, na cidade de Natal, Rio Grande do Norte. E nasceu, por um lado, da necessidade de ampliarmos nosso contato com esses pensadores, que representam

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um marco na consolidação da psicologia marxista. Por outro, dos enormes desafios que colocam aos professores e escolas as crescentes dificuldades de aprendizagem que enfrentam os alunos dos diferentes níveis de ensino – fundamental, médio e superior. Aprende-se pouco, aprende-se mal, aquilo que se aprende é esquecido com facilidade e tudo isso interfere minimamente no desenvolvimento integral da personalidade dos estudantes. Gerou-se em torno de tudo isso uma enorme desconfiança em relação ao papel da educação e da escola. Será que temos idealizado um modelo de educação e de escola errado, e nele colocado além de todas as nossas esperanças uma boa quantidade de recursos financeiros, materiais e humanos? A resposta para tal pergunta é sim, pelo menos em parte. Ainda quando os problemas de aprendizagem e insucesso escolar dos alunos não possam ser atribuídos apenas à educação e à escola, temos construído um modelo que, muitas vezes, no lugar de ajudar a ensinar e educar faz um desserviço, pois nem ensina nem educa, pelo menos do modo e com a intensidade que deveria e poderia. E isso se deve, em primeiro lugar, ao fato de atribuirmos à escola uma função que não lhe cabe: o desenvolvimento do pensamento empírico.1 Se se entende que a base desse tipo de pensamento está nas sensações e na experiência do indivíduo, então a escola não é o lugar mais apropriado para formá-lo, porque é nela onde, por razões obvias, o número e a qualidade dessas experiências se reduzem ao máximo. Se a função verdadeira da escola não é a de formar o pensamento empírico, então qual é o seu papel? A teoria marxista, a psicologia histórico-cultural e a didática desenvolvimental afirmam que o verdadeiro papel da escola é o de criar um tipo específico de orientação pedagógica que permita desenvolver no aluno aquilo que fora dela não teria condições de desenvolver: o pensamento teórico. De modo que a função da escola é desenvolver no aluno as funções mentais superiores que o tornam humano tendo como foco o pensamento teórico, pela via da formação dos conceitos científicos e das ações mentais. A formação do pensamento empírico requer uma orientação pedagógica adequada para que ela possa acontecer, mas não surge nem se forma no contexto da atividade de estudo que caracteriza a atividade principal das crianças que estão na escola. Forma-se no contexto da brincadeira como atividade principal que caracteriza a criança da idade pré-escolar e dá-se pelo uso de uma maneira diferente de organização do trabalho pedagógico no qual o desenho, a modelagem e a atividade prática constituem os métodos mais importantes. 1

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Daí a necessidade de intensificar ainda mais o estudo da obra dos principais representantes dessa teoria de base marxista, mas não apenas de L. S. Vigotski, A. R. Luria, A. N. Leontiev, V. V. Davydov e D. B. Elkonin, como tem sido feito de maneira geral até hoje, salvo poucas exceções, mas também de outros autores , sobretudo dos psicólogosdidatas, que têm enriquecido essa teoria no campo desenvolvimental e experimental desde a década de trinta do século XX até nos dias atuais, por exemplo, A. V. Zaporozhets, L. V. Zankov, A. V. Petrovsky, L. Bozhovic, N. Morozova, N. F. Talizina, P. Ya. Galperin, T. V. Dragunova, M. A. Danilov, M. N. Skatkin, M. I. Majmutov, N. G. Salmina, L. A. Venguer, chegando até Tatiana Akhutina e Yulia Solovieva. A proposta da trilogia afina-se a uma das proposições de Rubinstein, a da necessária e importante popularização da ciência. Assim, pretende-se, por intermédio dos três volumes da trilogia, aproximar os pesquisadores, professores e profissionais da educação e da psicologia da vida, pensamento e obra de alguns dos expoentes da psicologia e didática russa. Associado a cada um dos livros serão publicadas Antologias, organizadas com textos dos pensadores estudados que compõem os capítulos da trilogia. A proposta é a de que, após conhecer o autor e suas principais teses, possa-se ter acesso às suas produções por meio da tradução de artigos, capítulos de livros e/ ou manuscritos, os quais possibilitem o estudo pela tradução de seus próprios escritos. Todas essas publicações estão sendo organizadas na Série “Ensino Desenvolvimental”, da Coleção “Biblioteca Psicopedagógica e Didática”, editadas pela Edufu (Editora da Universidade Federal de Uberlândia). Pretende-se publicar, ainda, traduções do espanhol, do inglês e do russo para o português de trabalhos completos desses autores, com o propósito de, a médio e longo prazo, reunir um conjunto de obras inéditas e traduzidas para o português que possibilitem o acesso dos pesquisadores e profissionais das áreas de psicologia e educação. Assim, o projeto prevê três etapas que devem caminhar simultaneamente. A primeira delas é a de publicar estudos sobre os psicólogos e didatas russos que ajudem a compreender quem foram, o que pensaram e produziram, o que resultará na trilogia do “Ensino Desenvolvimental: vida, pensamento e obra dos principais representantes russos”; da qual esse livro apresenta-se como abertura. A segunda etapa consiste na publicação de três “Antologias

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do Ensino Desenvolvimental”, organizadas conforme as trilogias, com traduções inéditas para o português de textos de cada um dos autores tratados na trilogia, selecionados como trabalhos centrais no pensamento dos mesmos. Na terceira e última etapa, pretende-se a publicação de obras completas desses pensadores, de modo a completar o ciclo com o que se procura atender o propósito de popularização da ciência, ou seja, tornála acessível aos estudiosos da área no Brasil e na América Latina, com traduções do espanhol, inglês e russo. Todo esse trabalho está sendo desenvolvido pelo GEPEDI – Grupo de Estudos e Pesquisas em Didática Desenvolvimental e Profissionalização Docente – (www.gepedi.faced.ufu.br), sob a coordenação dos professores doutores Roberto Valdés Puentes e Andréa Maturano Longarezi, do Programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia, junto com pesquisadores colaboradores de diferentes instituições brasileiras e estrangeiras e seus orientandos de graduação, mestrado e doutorado. Mediante os propósitos desse grupo que tem empreendido esforços para concretização desse projeto, o estudo desses teóricos torna-se imprescindível para se pensar um ensino desenvolvimental com ênfase na elaboração de práticas didáticas. Essa é a razão fundamental desse projeto: pensar os problemas da escola e motivar a busca de soluções didáticas pelo estudo dos teóricos e pela pesquisa experimental. Estamos, pois, interessados no ensino e na educação, que têm clara a tese vigotskiana de que ambas as coisas não podem ser pensadas nem tratadas à margem do desenvolvimento. Se para os psicólogos o ensino e a educação entram como condição do desenvolvimento, para a didática o desenvolvimento entra como condição do ensino e da educação. Unem-se áreas que precisam dialogar para fazer da práxis seu território fértil. A psicologia do desenvolvimento, a psicologia pedagógica e a didática formam uma unidade indissolúvel: estudam a criança, o adolescente e o jovem no processo de ensino e educação. Essas circunstâncias fazem que os limites ou fronteiras entre os problemas desses três campos passem a ser convencionais. O GEPEDI, idealizador desse projeto, tem seu foco de atuação e de pesquisa no ensino e na educação, tomando a didática desenvolvimental

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como área de estudo e trabalho. A nossa pretensão, e isso explica a organização dessa obra, é a de entender as teses fundamentais da psicologia e da didática e dialogar com seus representantes. Queremos fazer uma didática interdisciplinar dialogando com as outras ciências que, como nós, têm seu objeto na criança, no adolescente e no jovem. Esses são, portanto, os motivos que nos impulsionaram a realização desse projeto, que tem como objetivos fundamentais: propiciar o debate, a reflexão e a divulgação de pesquisas científicas acerca da temática “Ensino Desenvolvimental: vida, pensamento e obra dos principais representantes russos” entre pesquisadores de diversas instituições de pesquisa em educação do país e do estrangeiro; estimular a discussão sobre a escola, a educação, o ensino e o desenvolvimento na perspectiva histórico-cultural com profissionais da educação, docentes e discentes dos Cursos de Licenciatura e de Pós-graduação em Educação e Psicologia; e promover um espaço de troca de experiências sobre o lugar do ensino desenvolvimental no exercício da docência, seus desafios e suas possibilidades. Por fim, gostaríamos de destacar nessa breve e sucinta apresentação, a ideias de três teóricos importantes, de momentos históricos distintos, que, em parte, explicam a motivação de estudar e entender a didática na sua relação com a psicologia. O primeiro é Ushinski (1824-1870), considerado o pai da psicopedagogia na Rússia, quem no século XIX afirmaria para os professores: Estudem as leis daqueles fenômenos psíquicos que desejam dirigir e atuem considerando essas leis e as circunstâncias nas quais desejam aplicá-las. O segundo é A. N. Leontiev (1903-1979), um dos principais representantes da escola histórico-cultural russa, o qual, 80 anos depois que Ushinski, afirmaria: Se eles (os professores) querem ter êxito no seu trabalho educativo e de ensino, devem observar como tem lugar o desenvolvimento da criança. O terceiro é brasileiro, o professor José Carlos Libâneo, que afirmou: o como se ensina depende de se saber como os indivíduos aprendem... É com esses pensamentos que desejamos a todos uma boa leitura. Andréa Maturano Longarezi Roberto Valdés Puentes Organizadores

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PREFÁCIO Na futura sociedade, a psicologia será em realidade a ciência do novo homem. Sem ela a perspectiva do marxismo e da história da ciência seria incompleta. Entretanto, esta ciência do novo homem será também psicologia. Por isso hoje mantemos suas rédeas em nossas mãos. Não há necessidade de dizer que esta psicologia se parecerá tão pouco com a atual, como, segundo as palavras de Espinosa, a constelação do Cão se parece com o cachorro, animal ladrador (Ética, teorema 17, Escólio). Lev Vigotski (1927/1991, p. 406)

No texto de Vigotski em epígrafe, escrito por volta de 19261927, uma importante constatação nos vem interpelar, cerca de 90 anos depois: a psicologia como ciência do novo homem socialista, ainda está por se constituir e por ganhar sua máxima potência. “A perspectiva do marxismo e da história da ciência” ainda estão incompletas. Não temos ainda as condições para produzi-la. Tanto mais consciência temos disso, quanto mais constatamos a hegemonia do capitalismo em escala mundial, com suas crises e seus modos de esquivar-se delas, transferindo sempre às classes trabalhadoras o ônus de suas atrocidades. Assim, o sentido histórico do projeto de psicologia esboçado por Vigotski e seus colaboradores reside não no passado, mas no futuro, e dele deve extrair sua “poesia”, como diz Marx sobre a “revolução social” (1852/1978, p. 331). Entretanto, a busca pela ciência do novo homem não se inicia nem termina em 1927. Todas as décadas, desde então decorridas, foram acumulando diversas e honrosas conquistas acadêmicas e práticas, as quais a guerra fria raramente nos permitiu acessar. O presente livro, Ensino desenvolvimental: vida, pensamento e obra dos principais representantes russos, mostra-nos o caráter coletivo e diversificado dessa busca, empreendida por muitos estudiosos, de diferentes gerações e locais, no enfrentamento de

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questões cruciais como a da educação de todo um povo e a reabilitação de feridos de guerra. Vigotski, Luria e Leontiev não repetem o mito de “Rômulo e Remo”, fundadores pretensamente isolados de um grande império, nem representam o limite insuperável de tudo que se produziu na psicologia de seu país. Eles tiveram professores, estudaram fontes clássicas, dialogaram com pares de outros países e, sobretudo, contaram com colaboradores, orientandos, estudiosos valorosos que criaram seus próprios constructos, enveredaram por suas próprias linhas de investigação e conceituação científica. Neste processo coletivo, houve críticas, autocríticas e divergências? Sim, houve, mas sem suprimir sua unidade dialética, pois se trata da história da ciência em suas contradições, e não de formas sociais pautadas em dogmas como sua mediatização principal, nas quais não haja espaço para o novo. Seria errôneo pensar que só há continuidade sem rupturas, ou que só há unidade sem diversidade. De todo modo, uma forte unidade na diversidade se desenha neste livro, unidade não só em relação às bases marxistas dos diferentes autores, como também em torno da temática do Ensino Desenvolvimental. É ainda de Vigotski a emblemática afirmação de que a nova psicologia seja um fundamento para a educação em muito maior medida que o era a psicologia tradicional, como tivemos ocasião de mostrar em sucessivas páginas. O novo sistema não terá que se esforçar por extrair de suas leis as derivações pedagógicas nem adaptar suas teses à aplicação prática na escola, porque a solução ao problema pedagógico está contida no seu próprio núcleo teórico, e a educação [vospitanie] é a primeira palavra que menciona (1926/1991, p. 144).

Justamente no núcleo teórico da nova psicologia (psicologia objetiva), tal como Vigotski a pretende propor, estão: (a) a determinação da consciência pela existência social; (b) o caráter mediatizado das atividades sociais que constituem a consciência de cada ser humano singular; (c) o caráter desenvolvimental, isto é, histórico, da origem do psiquismo humano; e (d) a concepção do desenvolvimento da personalidade como “caminho para a liberdade” (Vygotsky, 1932/2010, p.92-93); entre outros princípios fulcrais. Num ensino que promove desenvolvimento no sentido pleno da palavra, vamos ao encontro de uma psicologia que entende que

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não há desenvolvimento sem ensino, sem formação humana – sem o intencionalmente organizado trânsito do patrimônio cultural da humanidade de geração a geração. Não sem motivo, Vigotski (1926/1991, p. 159) dirá que: “Desde um ponto de vista científico, o professor é [...] o organizador do meio social educativo, o regulador e o controlador da interação deste meio com cada aluno”. Por sua vez, “a organização do meio social na escola não significa apenas criar uma constituição da direção escolar e convocar regularmente as crianças para reuniões gerais” (Vigotski, 1924/2003, p. 220). Mais que isso, “a escola deve impregnar e envolver a vida da criança com milhares de vínculos sociais que ajudem a elaborar o caráter moral. Em nenhum outro âmbito possui tanta força a tese geral sobre a educação, ou seja, educar significa organizar a vida. Em uma vida correta, as crianças são educadas corretamente” (Vigotski, 1924/2003, p. 220, grifo nosso). Vemos que se trata não menos do que de uma educação voltada ao desenvolvimento pleno do homem e à formação de um “novo homem”, não em termos genético-moleculares, mas sociais, econômicos, históricos e culturais. Assim, psicologia e pedagogia são indissociáveis na aspirada e ainda não alcançada ciência do novo homem. Sobre isto os sucessivos capítulos deste livro muito terão a nos dizer.1* No capítulo 1, “Lev Semionovitch Vigotski: um estudo da vida e da obra do criador da Psicologia Histórico-Cultural”, escrito por Zoia Prestes, Elizabeth Tunes e Ruben Nascimento, são trabalhadas questões referentes ao percurso das publicações de Vigotski na URSS

Como informação adicional ao leitor, devemos esclarecer que a forma de grafar os nomes dos autores russos pode variar em cada capítulo em função da regra de transliteração adotada, já que originalmente os nomes estão no alfabeto cirílico russo e nos textos estão no alfabeto latino. Ocorre que não há uma norma internacional para transliterar e cada país o faz de acordo com as características de sua língua. Nem mesmo para o português há uma única forma oficializada, dependendo dos critérios de cada tradutor. Выготский, por exemplo, geralmente é transliterado como “Vygotsky” em inglês, “Vigotski” em espanhol, e “Vigotski” em português. Serão mantidas ao longo do livro as diferentes formas adotadas pelos autores de cada capítulo. No prefácio, algumas das formas duplicadas serão colocadas entre parênteses como para Запорожец – “Zaporozhets (Zaporojets)” – a primeira usada em inglês e espanhol e a outra usada em português. Sob o risco de que o leitor não saiba a sílaba tônica dos nomes russos, também optamos por não acentuar estas palavras (embora alguns tradutores o façam), em russo também não há acentuação gráfica. No que diz respeito à bibliografia, assume-se a norma de manter a grafia de cada edição, para facilitar buscas futuras, caso o leitor deseje. ADJr. 1*

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(União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) e no ocidente, destacando a problemática da tradução de alguns conceitos-chave deste autor, tanto quanto suas contribuições ao ensino desenvolvimental. Nascido em 1896, numa família judaica bielorrussa, Vigotski concluiu aos 17 anos, com distinção, sua formação ginasial, tornando-se apto a entrar, pelo sistema de cotas, na Faculdade de Medicina da Universidade Imperial de Moscou, em 1913. Em seguida, transferiu-se para o curso de Direito da mesma universidade. Estudou ainda História e Filosofia na Universidade Popular Chaniavski, um centro de excelência não oficial, no qual lecionavam os melhores professores da época. Lá apresentou como trabalho monográfico de conclusão de curso sua célebre análise de Hamlet, de Shakespeare. Ao final de 1917, retorna para a cidade de Gomel, iniciando seus trabalhos um ano depois, quando o poder soviético se instalou. Assumiu diferentes postos, lecionando e se dedicando a atividades culturais. Organizou também o gabinete de psicologia cultivando ideias que o tornariam reconhecido em 1924, e convidado a compor a equipe de pesquisadores do Instituto de Psicologia de Moscou. Os autores do capítulo tratarão com primor dos diferentes momentos passados por Vigotski desde então até sua precoce morte em 1934, deixando-nos imensas contribuições em psicologia e educação. Um dos aspectos de destaque no percurso intelectual de Vigotski, cuja produção, segundo Lifanova (1996), que chegou a pelo menos 282 obras, sem contar sua correspondência, é o tratamento editorial que elas receberam tanto na URSS, quanto, de modo ainda mais grave, no ocidente. Sob o pretexto da ligação do autor com a pedologia, estudo geral da criança, que caiu em desgraça diante do Estado Soviético, desde decreto de 1936, todas as suas obras foram proibidas deste ano até 1956. E, desde então, todos os honrosos esforços de publicação de Vigotski, mesmo na Rússia, foram permeados por sérias dificuldades tanto quanto ao número de obras publicadas, bem como em relação aos cortes feitos nelas, inclusive no célebre texto “O significado histórico da crise da psicologia”, como se veio a saber recentemente. No ocidente, a situação foi ainda mais grave, em função da redução de textos completos, com o pretexto de “facilitar sua apreensão por parte do leitor”, e de consideráveis erros de tradução. O leitor do capítulo poderá esclarecerse principalmente das dificuldades da tradução do termo obutchenie por “aprendizagem”, quando literalmente seria mais bem traduzido por

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“instrução”. E do que ocorre com o termo zona blijaichego razvitiia, ora traduzido por “zona de desenvolvimento proximal”, “próximo”, “imediato”, mas que teria tradução mais coerente pelos termos “zona de desenvolvimento iminente”. Apresentando-se assim um importante debate: a fidelidade não apenas às palavras, mas ao autor como homem e ao seu projeto científico. Tanto o conceito de obutchenie quanto o de zona blijaichego razvitiia contribuem para a reflexão sobre o Ensino Desenvolvimental (razvivaiuschee obutchenie), “ligado à ideia de que a atividade colaborativa de ensinar promove o desenvolvimento” (Prestes; Tunes; Nascimento, neste volume). Os autores do capítulo destacam a relação do legado de Vigotski com questões indicadas posteriormente por Vassili V. Davidov (1930-1998), eminente representante dos estudos sobre o ensino desenvolvimental. Para este autor, “um dos problemas centrais da psicologia geral, evolutiva e pedagógica é descobrir as conexões entre o desenvolvimento da psique da criança e sua educação e ensino” (Davidov apud Prestes; Tunes; Nascimento, neste volume). Tais conexões são vistas na direção de que: há uma dependência interna entre o desenvolvimento do psiquismo e os sistemas educativos; e, ao mesmo tempo, uma profunda influência do ensino na formação das pessoas. A pesquisa dessas questões procura a melhor organização do ensino e sua maior eficácia, em busca do desenvolvimento integral dos alunos. Desde Vigotski, podem-se encontrar, pelo menos, duas grandes contribuições nesta busca: a visão de que a criança está imersa de um modo ativo e criador nas práticas culturais, isto é, propriamente humanas; e a compreensão de que o desenvolvimento humano é um complexo processo dialético. As práticas culturais demandam a um só tempo: relações sociais entre os homens de diferentes gerações; e o caráter mediado de tais relações. Nesses processos, tem-se o instrumento como mediador entre sujeito e objeto, e o signo como mediador entre um sujeito e outro sujeito. A escola deve proporcionar aos alunos “uma ampla comunicação com o mundo que não esteja baseada no estudo passivo, senão que na participação ativa e dinâmica na vida” (Vigotski apud Prestes; Tunes; Nascimento, neste volume). Tal aspecto de comunicação com o mundo, passa pela relação e comunicação com as gerações anteriores e os processos de mediação semiótica e simbólica que ela proporciona. Além disso, Vigotski destaca-se por definir a complexidade dessas práticas

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culturais como processo dialético. Um processo no qual há: uma complexa periodicidade; uma desproporção entre o desenvolvimento das várias funções; a transformação qualitativa de umas formas em outras; um entrelaçamento complexo entre processos evolutivos e involutivos (gerando crises e saltos revolucionários); o cruzamento, portanto, de fatores externos e internos; e um complexo processo de superação de dificuldades e adaptação (Vigotski apud Prestes; Tunes; Nascimento, neste volume). Ademais, destaca-se no interior das práticas culturais, o desenvolvimento dos conceitos científicos, cujo ensino define o papel da escola. No capítulo 2, “A. N. Leontiev: a vida e a obra do psicólogo da atividade”, as autoras Andréa Maturano Longarezi e Patrícia Lopes Jorge Franco apresentam a trajetória biográfica e intelectual de um incansável pesquisador e educador que, além desses papéis, assumiu também o trabalho direto com pacientes feridos de guerra num dos períodos mais difíceis da história da União Soviética no combate contra o nazi-fascismo. Como os demais pesquisadores de seu tempo, não tinha graduação em psicologia, já que a primeira faculdade desta ciência só seria aberta na URSS em 1966. No entanto, desde uma ampla formação humanística e filosófica, aproximou-se ao Instituto de Psicologia de Moscou, no qual iniciou carreira científica, ainda muito jovem, no início dos anos 1920. Como traço pouco conhecido da abrangência dos interesses culturais e temas de estudo de A. N. Leontiev, pode-se destacar o fato de ter lecionado no Instituto Nacional Estatal de Cinematografia e no Instituto Estatal de Arte Teatral. Sendo o trânsito pelas artes então um ponto a mais em comum com seus colegas Vigotski e Luria, cujo primeiro casamento com a atriz Vera Nikolaievna Blagovidova impulsionou-lhe a uma grande ampliação de seus repertórios artísticos (Khomskaia, 1992/2001). Tendo iniciado com aqueles um grande empenho por revisar todo o conhecimento psicológico até então existente, não deixou de seguir caminho próprio com sua célebre teoria da atividade. As autoras nos fornecem detalhes sobre a complexidade de tal teoria, mostrando-nos, sobretudo, seu caráter dinâmico e não mecanicista, por vezes não compreendido por leitores menos atentos aos conceitos do que a supostos desvios ideológicos. Sua teoria destacase, principalmente, por seu caráter monista, tomando o conceito de atividade como unidade na qual estão contidas as necessidades do

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sujeito e as possibilidades objetivas de serem atendidas, de modo indissolúvel. Um oleiro ao moldar um vaso a um só tempo marca nele suas características pessoais e traz para si a imagem das características objetivas do vaso, num mesmo processo. Simultaneamente, toda atividade propriamente humana é relacionada com a consciência originada nas relações sociais. Nesse sentido, ao homem não basta ter necessidades e objetos que as atendam, mas deve haver um motivo que conduza a atividade da necessidade ao objeto. Nossos motivos, aquilo que nos move, são socialmente constituídos, assim como nossas necessidades não são apenas biológicas, mas sócio-históricas, contudo, podemos estar ou não conscientes deles, dependendo da estrutura da atividade, do seu conjunto de determinantes. É crucial a afirmação de Leontiev (apud Longarezi; Franco, neste volume), de que: “é apropriando-se da realidade que o homem a reflete como através do prisma das significações, dos conhecimentos e das significações elaboradas socialmente”, da qual se deduz que a determinação da consciência como reflexo da realidade pela atividade não é um processo mecânico nem linear. O leitor desse capítulo encontrará o detalhamento dos demais conceitos que dão corpo à estrutura da atividade, a relação necessidademotivo-objeto é um modo macroscópico de abordar o tema. É preciso também saber que, num dado momento da ontogênese, uma atividade entre outras se faz dominante, ou “guia” (veduschaia). É aquela que conduz, e com a qual estão ligadas, as principais mudanças no desenvolvimento em determinado período. Além disso, cabe lembrar que a atividade é composta de ações que a realizam e que se orientam a metas, ou finalidades. Neste processo, o homem, por sua vez, realiza operações, ligadas à maneira específica de conduzir a ação, as quais se subordinam a determinadas condições materiais e simbólicas, gerando também um produto ou resultado material ou simbólico. Tal estrutura é móvel, e o que ora está como atividade pode subordinar-se como ação, uma ação também pode ganhar motivos próprios e se tornar uma atividade em si. Ações também podem converter-se em operações e até mesmo automatizarem-se. Não menos importante é a distinção entre motivos-estímulos e motivos formadores de sentido, sendo estes os que garantem a definição da atividade como tal. Por fim, as autoras elaboram as consequências educacionais da proposta teórica de Leontiev. Sobretudo, cabe destacar o sensível

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tema da atividade alienada, em oposição à atividade que conduz a um desenvolvimento voltado à emancipação humana. Em traços gerais, a alienação ocorre quando a finalidade da atividade, sua própria realização e seu resultado são estranhos aos motivos que antes a guiavam e permitiam fazer dela uma atividade propriamente dita. O que era atividade deixa de ter motivo próprio e passa a se realizar por motivos alheios, converte-se numa ação estranha aos motivos formadores de sentido, reduzida aos motivos-estímulos. Trabalhar, por exemplo, não por realizar o que é próprio da condição humana (transformar o mundo e transformar-se com base em uma orientação a um fim), mas apenas para receber o “prêmio” do salário, bem ou mal pago. Assim também na educação, quando ela deixa de ser atividade guia e presta-se apenas a atender demandas externas à sua função histórica específica (a socialização do conhecimento sistemático historicamente produzido e acumulado), como a pressão por um diploma, ou a de fazer a vontade dos pais ou professores, ocorre um processo de alienação, que deve ser combatido pelo educador crítico, mesmo na adversa conjuntura atual. As sutilezas deste processo são abordadas com rigor pelas autoras. No capítulo 3, “A. R. Luria: uma trajetória de vida”, Tatiana Akhutina, que foi orientanda direta deste autor, relata sua experiência junto a Aleksandr Romanovitch Luria apresentando, em ricos detalhes, sua trajetória biográfica, intelectual e profissional. O proeminente cientista nasceu em 16 de julho de 1902, em Kazan – filho de Roman Albertovitch Luria (1874-1944), reconhecido gastrologista, e de E. V. Luria, odontologista, carreira ainda muito rara entre as mulheres no início do século XX. Sua irmã Lídia, seis anos mais nova, veio a tornarse psiquiatra. A. R. Luria concluiu o ginasial em 1917, ano em que foi cursar a Faculdade de Direito, pouco depois renomeada como Faculdade de Ciências Sociais, formando-se em 1921. Nos anos de estudante, revelou interesse por estudos de Freud e chegou a organizar um círculo psicanalítico. Após a realização de trabalhos científicos no Instituto de Organização do Trabalho de Kazan, sobre “as influências da instrução verbal no tempo de reação” decidiu organizar a Revista Problemas da psicofisiologia do trabalho, para o que contou com o apoio de V. M. Bekhterev (1857-1927). Os artigos de Luria, nesta revista, chamaram a atenção de Konstantin N. Kornilov (1879-1957), diretor do Instituto de Psicologia em Moscou desde 1923, mesmo ano em que convidou o primeiro para o cargo de secretário científico do Instituto. No ano

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seguinte, no II Congresso Russo de Psiconeurologia, Luria conheceria Vigotski, suas ideias e suas qualidades como orador. Em seguida, após breve conversa com ele, dirigiu-se a Kornilov, para convidar Lev Semionovitch para trabalhar em Moscou. Foi o que aconteceu, o convite foi feito e Vigotski o aceitou. Vigotski foi destacado para o grupo de trabalho composto por Luria e Leontiev, que eles mesmos denominaram “troika” (tríade). “Nossa ideia grandiosa consistia na criação de uma nova abordagem sobre os processos psíquicos” (Luria apud Akhutina, neste volume). Em 1926, juntaram-se a eles A. V. Zaporojets, R. E. Levina, L. S. Slavina, L. I. Bojovitch e N. G. Morozova, que, com seu trabalho no instituto, tornaram-se “cinco psicólogos de primeira linha”, nas palavras de Luria (apud Akhutina, neste volume). Nos trabalhos práticos dos novos colaboradores, sobre a memorização mediada, desenvolveu-se o método genético-experimental. Os resultados dessas pesquisas se apresentaram no livro, de Vigotski e Luria, Estudos sobre a história do comportamento. O macaco. O primitivo. A criança, finalizado não depois que no verão de 1929. É importante destacar que o capítulo que coube a Luria sobre o desenvolvimento da criança foi criticado por Vigotski, a partir da posição de que era necessário diferenciar melhor a “bifurcação” entre as linhas de desenvolvimento psicológico-natural e psicológico-cultural. Bifurcação que, segundo Akhutina, o próprio Vigotski reveria em breve. Nesta revisão, foram levados em conta tanto os estudos da linha genética quanto os da patologia. Luria, em meados dos anos 1920, trabalhou com a análise de desintegração do comportamento de pacientes com neuroses. E Vigotski juntou-se a ele para compreender o papel da fala no comportamento humano, realizando pesquisas com parkinsonianos. Em 9 de outubro de 1930, na Clínica de doenças nervosas, Vigotski apresenta o relatório Sobre os sistemas psicológicos que configura uma virada na compreensão das relações entre funções psíquicas elementares e superiores. Estaria equivocada a ideia de “transformação” das funções elementares em superiores. No trabalho O instrumento e o signo isso se esclarece da seguinte forma “são os novos sistemas psicológicos que incluem em si um entrelaçamento das funções elementares que, ao serem inseridas no novo sistema, começam elas mesmas a funcionar segundo novas leis” (Vigotski apud Akhutina, neste volume). Tal mudança é importante na interpretação

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da relação estreita entre os trabalhos de Luria e Vigotski, quando não considerada leva a contradições na psicologia contemporânea. Ao mesmo tempo, é no início dos anos 1930 que a situação no Instituto de Psicologia se agrava. Cartas de Vigotski para Luria e Leontiev, de 1930 e 1931, falam sobre o “esperado debate”. Vigotski escreve a Leontiev dizendo que Luria “fez mais que todos nós em um ano” (apud Akhutina, neste volume). As expedições à Ásia Central trouxeram sucesso a Luria no verão de 1931 e 1932. Contudo, após 1932, Luria foi até mesmo acusado de racismo por estas pesquisas. Nesta época, surgiu a oportunidade da troika transferir-se para Kharkov, porém, Vigotski, responsável por toda sua família, não pôde viajar. Ainda assim, o plano de trabalho para o grupo foi apresentado em reunião por Vigotski, em Kharkov. De dezembro de 1931 a março de 1934, Luria residiu em duas casas, passando mensalmente 20 dias em Kharkov e 10 dias em Moscou. Juntamente com Vigotski voltou a estudar Medicina, ingressando no Instituto de Medicina de Kharkov. Anos mais tarde, Leontiev ditaria a seu filho que havia um confronto de duas linhas de investigação para o futuro: “Minha linha: retorno para as teses iniciais e elaboração delas numa nova direção. Estudo da ação prática; linha de Vigotski: tendências afetivas, emoções, sentimentos” (Leontiev e outros apud Akhutina, neste volume). No desenvolvimento das ideias de Vigotski, Luria seguiu caminho distinto do de Leontiev. Ainda em 1934, Vigotski morre. E uma longa trajetória ainda será percorrida por Luria, desde a dissolução de seu primeiro casamento e o encontro com sua futura segunda esposa, Lana P. Luria, até as dificuldades políticas com a chamada “Sessão Pavloviana”, em 1950, na qual se estabeleceu que a única doutrina correta era a de Pavlov – o que assustou mesmo os legítimos pavlovianos. A psicologia tornou-se persona non grata. E na Plenária da Sociedade de psiquiatras e da Sociedade de fisiólogos, os cientistas tiveram que fazer confissões públicas. Com a morte de Stalin em 1953, a situação viria a se reverter paulatinamente. Durante toda a sua carreira, Luria sempre demonstrou ser um médico muito empático que desenvolvia excelentes relações com os pacientes, dono de uma capacitação técnica incomum, soube aliar o que chamava de “ciência romântica” com a “ciência clássica”, como ninguém. No dia 14 de agosto de 1977, morreu de ataque cardíaco. A. R. Luria costumava dizer: “As pessoas vêm e vão, mas suas ideias e feitos ficam”.

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No capítulo 4, “Rubinstein: um grande psicólogo, uma grande personalidade”, um encontro com este autor nos é proporcionado por Elaine Sampaio Araujo. Serguei Leonidovitch Rubinstein nasceu em 6 de junho de 1889, na célebre cidade de Odessa. Pertencia a uma família de advogados e realizou seus estudos superiores na Alemanha, nas cidades de Marburg, Freiburg e Berlin, nas áreas de Filosofia e Psicologia. Foi aluno de G. Kogen e P. Natorp, os quais, em determinado momento, compuseram o “Círculo de Bakhtin”. Obteve grau de PhD em 1913 e já em 1914 retorna a Odessa, onde trabalhará como professor em institutos ginasiais, lecionando Filosofia, Psicologia e Lógica. Após a revolução, já em 1921, foi eleito para a cadeira de Psicologia na Universidade de Novorossiisk (Новороссийск). Em 1930, a convite de Mikhail Iakovlevitch Basov (1892-1931), ocupará o cargo de diretor da cadeira de Psicologia do Instituto Pedagógico de Leningrado. Basov, que no ano seguinte seria encontrado morto, por “envenenamento acidental”... Em 1942, Rubinstein é agraciado com o Prêmio Stálin pela obra “Princípios de Psicologia Geral”, pela qual, em 1949, sofrerá expurgo do circuito acadêmico, mesmo fazendo retratação pública por seus “erros” como o “apoliticismo”, a “falta de crítica” às psicologias estrangeiras. Deixou suas funções como professor da Cátedra de Psicologia e todas as atividades de pesquisa. Seus livros foram confiscados. Só reassume atividades acadêmicas em 1956 e morre em 11 de janeiro de 1960, deixando vasto legado intelectual, considerado um pioneiro na psicologia marxista soviética, da envergadura de Vigotski e seus colegas mais próximos. Teve como colaboradores Gurianov, Leuschina, Zvonitskaia, Sirkina, Preobrajenskaia e Gorbatcheva. Neste capítulo, a autora opta pelas questões que estabeleçam uma melhor interface “com a proposta de um ensino que conduz ao desenvolvimento” (Araujo, neste volume). Parte, então, da tese básica de que “a consciência condiciona a conduta, a atividade das pessoas; a sua vez, a atividade das pessoas modifica a natureza e transforma a sociedade” (Rubinstein apud Araujo, neste volume). A consciência como atividade reflexa propriamente humana é tratada como da ordem de uma relação dialética sujeito-objeto, a qual, por seu turno, funda-se na atividade prática do homem. A atividade humana por excelência é o trabalho, e a ele estão subordinadas as atividades do jogo e do estudo. Os processos psíquicos são facetas e fatores de tais atividades. São

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suas facetas e fatores e, ao mesmo tempo, as condicionam. Ao tema da consciência está intimamente relacionado o do conhecimento, fundamental para a educação. “O conhecimento é um reflexo do mundo como realidade objetiva. A sensação, a percepção, a consciência, são imagem do mundo exterior” (Rubinstein apud Araujo, neste volume). Assim, é na ação do homem junto ao mundo que o conhecimento se faz possível, processo no qual se faz importante a mediação da linguagem e da fala, que permitem o acúmulo social e a objetivação do conhecimento. Por meio delas, novos níveis qualitativos nas funções psíquicas podem ser atingidos, elas “possibilitam que a experiência social da humanidade se torne experiência de um sujeito” (Araujo, neste volume). O que demonstra uma visão nuançada e não mecanicista do determinismo, entendido como causalidade histórica. As relações entre linguagem, palavra e consciência são relevantes no contexto educacional, particularmente no modo pelo qual Rubinstein trata o conceito de “significado”. “O significado das palavras é o reflexo generalizado de um conteúdo objetivo” (Rubinstein apud Araujo, neste volume). Isto aponta para que, por sua função comunicativa arraigada nas relações sociais e históricas, a linguagem é capaz de refletir o objeto, contribuindo para o salto das relações sensoriais e empíricas com ele para as cognoscitivas e teóricas, embora um componente sensorial sempre continue presente. Pelo ato de falar não só o homem apreende o objeto como também se torna capaz de influir sobre sua própria conduta na transformação do objeto. Ao mesmo tempo, “a linguagem não comunica apenas um pensamento já formulado, mas também implica no processo da formação desse pensamento” (Rubinstein apud Araujo, neste volume) – afirmação esta muito próxima às formulações de Vigotski (1934/2001) para quem a palavra não apenas expressa um pensamento, mas nela ele ganha forma. Claro está que isto tem implicações para a educação voltada para o desenvolvimento. Na palavra está objetivado um percurso dos conhecimentos das gerações anteriores, aos quais o escolar haverá de ter acesso, e apropriar-se da palavra é vir a dominar modos de pensar próprios do conhecimento sistemático, científico. Ademais “sem educar a faculdade de pensar por conta própria, não há nem pode haver educação do homem” (Rubinstein apud Araujo, neste volume). Rubinstein, desde princípios ontológicos marxianos, coloca o homem como sujeito de sua atividade. “Nós percebemos algo, refletimos

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sobre algo, representamos algo ou imaginamos algo. Não é a percepção como tal que a percebe, nem é o pensamento que o pensa; é o ser humano que faz isso, é a personalidade que percebe e pensa” (Rubinstein apud Araujo, neste volume – itálicos na fonte). Para o ensino que desenvolve o ser humano como um todo é necessário “que o socialmente significativo se torne pessoalmente significativo” (Araujo, neste volume). Aqui não cabe o “espontaneísmo”, preso às veleidades do aluno, nem o “formalismo”, preso à definição de termos, mas a aprendizagem do movimento histórico pelo qual o conhecimento é produzido. Daqui decorre “uma das mais importantes contribuições de Rubinstein para o campo da pedagogia: a teoria da generalização científica” (Araujo, neste volume), à qual a autora se dedica em detalhe. Dando continuidade, são apresentados alguns dos princípios educativos extraídos de Rubinstein, os quais se voltam à orientação da prática pedagógica, na perspectiva da “formação da personalidade”: (a) “educação do caráter” – a atividade consciente e a filosofia são necessárias à educação de uma personalidade universalmente desenvolvida; (b) “formação de funções psicológicas” – na educação, as formas primárias e avançadas se articulam dialeticamente; (c) “educação dos sentimentos” – o ensino proporciona não só desenvolvimento intelectual, mas torna os sentimentos mais substanciais; e (d) “função do ensino” – interesses e sua formação são finalidades do trabalho pedagógico. No capítulo 5, “Vida, pensamento e obra de A. V. Zaporozhets (1905-1981): um estudo introdutório”, escrito por Roberto Valdés Puentes, está em foco um autor fundamental da chamada “segunda geração” da psicologia soviética: Aleksandr Vladimirovitch Zaporozhets (ou Zaporojets). Nascido em Kiev, na Ucrânia, em família proletária tradicional na cidade, aos 15 anos de idade manifesta paixão pelo teatro e artes em geral, tornando-se um ator promissor que não seguiu carreira. Puentes estabelece relação entre a afinidade de Zaporozhets com artes e sua futura aproximação a Vigotski, que escreveu monografia sobre Hamlet (1916) e em Psicologia da arte (1925), analisou fábulas, conto e aquela tragédia de Shakespeare. Mudou-se para Moscou, para estudar na Faculdade de Educação. Aproximando-se da psicologia, Zaporozhets compôs a célebre “piatiórka” (os cinco), juntamente com Bojovitch, Morozova, Levina e Slavina, todos sob a supervisão de Vigotski e Luria. Trabalhou no Departamento de Psicologia da Academia de Educação Comunista Krupskaia, sob a direção de Luria. Durante a II

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Guerra Mundial também se ocupou do tratamento de feridos. Grande especialista internacional em Psicologia do Desenvolvimento, o autor é considerado um dos pesquisadores que mais contribuiu à formulação da teoria da atividade, publicando mais de 200 trabalhos. Além de ter assumido importante papel como diretor da edição das Obras Reunidas de Vigotski, publicadas de 1982 a 1984, na URSS. Puentes mostra que os trabalhos de Aleksandr Vladimirovitch em Moscou, Kharkov, e de volta a Moscou, visaram tanto à constituição das bases para a nova psicologia marxista da atividade quanto à contribuição prática para a edificação de um novo sistema de educação pública e de ensino desenvolvimental soviéticos. Todavia, diferente de outros colegas seus, que escreveram obras especificamente didáticas, como Galperin, Elkonin, Talizina e Davidov, o núcleo das preocupações pedagógicas de Zaporozhets está já no interior de sua teoria do desenvolvimento. O que se nota desde sua afirmação de que a extensão da infância representa filogeneticamente uma conquista para o advento da civilização humana. Sendo o homem o animal que ao nascer está mais distante de sua forma adulta. O que implica a necessidade inalienável de que, no interior de sua dependência dos outros, seja introduzido à cultura pelos adultos no espaço de relações sociais historicamente definidas. Isto deu ao autor bases para defender a ideia de prolongar o início da etapa escolar para sete anos. Ademais, criou uma teoria do desenvolvimento sensorial e mental das crianças, destacou a importância da resolução de problemas na educação de pré-escolares e o uso de atividades específicas para cada idade psicológica para o avanço do desenvolvimento. Trabalhando com a ideia de indissociabilidade desenvolvimento e educação, o autor do capítulo sugere organizar sua apresentação ainda em dois eixos, apenas para fins didáticos: “contribuições no campo da psicologia do desenvolvimento” e “contribuições no campo da psicologia pedagógica”. No primeiro campo, parte-se da sólida base materialista de que “há que nascer com cérebro humano para transformar-se em homem” (Zaporozhets; Elkonin apud Puentes, neste volume). Contudo, na dialética do biológico com o cultural, o cérebro é condição necessária, mas não suficiente. “A fonte da evolução histórica da conduta não há que buscá-la no interior do homem, mas fora dele, no meio social ao que pertence” (Vigotski apud Puentes, neste volume). As condições de vida da criança se refletem decisivamente no desenvolvimento de seu sistema nervoso, formando assim a base para

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as novas conquistas. O curso dessas novas conquistas na apropriação gradual do patrimônio cultural da humanidade, não é aleatório e possui “uma ordem de sucessão no desenvolvimento psíquico geral” (Zaporozhets apud Puentes, neste volume). O que conduz à questão da periodização, não com base na maturação, mas em premissas históricas, sociais e culturais – trata-se da “idade psíquica”, não física ou biológica. Duas linhas se entrelaçam: “o desenvolvimento funcional do intelecto” e o “desenvolvimento por estágios”. Na primeira, os conteúdos se apropriam por ações intelectuais e formação de conceitos; na segunda, destacam-se saltos de qualidade e reestruturação do intelecto. O que nos conduz à “psicologia pedagógica”. A apropriação do patrimônio cultural da humanidade ocorre mediante a comunicação social, não de forma reprodutiva e passiva, mas num conjunto de atividades, como a brincadeira, o estudo e o trabalho. São atividades orientadas. Tal orientação se pauta num modelo para os movimentos, mas sendo antecipatória não basta por si, deve ser seguida de exercícios adicionais para a formação do hábito. Zaporozhets estudou a atividade orientadora de mãos e olhos, determinando etapas: a) “caótica”; b) “início da formação do sistema de irritadores atuantes”; c) “ativação verbal”; d) “internalização da atividade verbal”. Isto teve implicações para o trabalho pedagógico: seleção de conteúdos e estruturação de métodos de ensino. Assim, o potencial do aluno é determinado por: sua idade psicológica; o tipo de atividade principal que realiza; e o lugar e papel que desempenha num contexto específico de relações sociais. No capítulo 6, “Daniil Borisovich Elkonin: a vida e as produções de um estudioso do desenvolvimento humano”, Lucinéia Maria Lazaretti nos apresenta a contribuição deste pesquisador muito próximo a Vigotski, protagonista do processo coletivo de criação de um novo projeto para a psicologia do homem, na União Soviética. Relatanos que Elkónin nasceu na aldeia de Peretshepino, em Poltava na Ucrânia, em 29 de fevereiro de 1904 – quase coetâneo de Luria (nasc. 1902) e Leontiev (nasc. 1903). Foi seminarista em Poltava de 1914 a 1920, deixando a atividade por falta de recursos da família. Em 1922, tornou-se ajudante de cursos políticos militares, e foi ainda educador, por dois anos numa colônia de reeducação de crianças e jovens órfãos e ex-delinquentes. Teve um percurso profissional e intelectual denso e diversificado, desde seu trabalho, a partir de 1924, no Instituto Estatal de Pedagogia Herzen (ou Guértsen), em Leningrado, aos estudos de

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fisiologia junto a Ukhtomski, a partir de 1927. Distanciando-se da fisiologia e aproximando-se da pedologia foi vincular-se a Vigotski, que em 1931 e 1932 deu conferências e orientou pós-graduandos em Leningrado. Sua esfera de interesses veio a definir-se pela psicologia e pedagogia infantil. Após a morte de Vigotski, em 1934, manteve ainda contato com seus colaboradores como Leontiev, Galperin, Davidov, Zaporojets e outros. Daniil Borisovitch teve uma biografia turbulenta tal como muitos de seus contemporâneos. Com a perseguição oficial do Estado stalinista à pedologia, perdeu seu emprego e passou por situação econômica difícil, orgulhando-se de ter aprendido a obter “o mínimo para sua sobrevivência [e de sua família] pintando e vendendo tapetes de parede no mercado” (apud Lazaretti, neste volume). Marcante também foi seu serviço militar voluntário na Grande Guerra Pátria (II Guerra Mundial), do qual retorna condecorado, mas depara-se com a morte de esposa e filhas, vitimadas pelo cerco nazista a Leningrado. Após esse período trágico, retornou a seus estudos. E chegou a projetar “a criação de um centro de infância que incluía ensino pré-escolar, escolar, elementar e escola média em uma mesma unidade” (Golder apud Lazaretti, neste volume). Escreveu diversas obras no campo do estudo na idade escolar e da escola primária, na análise experimental do ensino para a leitura, sobre ensino e desenvolvimento psíquico, sobre problemas psicológicos em relação ao “Novo currículo”, entre outros. Faleceu em 4 de outubro de 1984. Tendo produzido por mais de 50 anos em seu país, no Brasil, veio a ser conhecido pela tradução de seu livro Psicologia do Jogo (ou “brincadeira”), em 1998. Atualmente na Rússia, mesmo após a queda da URSS, ainda há pré-escolas que se pautam no sistema Elkonin-Davidov. Após rica exposição biográfica, Lazaretti atem-se ao “desenvolvimento humano” como foco das investigações de Elkonin. Ela inicia afirmando que este autor assume uma dialética entre os aspectos biológicos e culturais do desenvolvimento, indissociáveis na materialidade das relações sociais. Nesse movimento, o desenvolvimento do psiquismo é processo que se dá objetivamente, com base em determinações objetivas. E para entender tal processo de desenvolvimento Elkonin estrutura uma periodização do mesmo, considerada fundamental para a psicologia infantil. Como se deduz dos estudos de Vigotski e Pavel P. Blonski (1884-1941), os períodos de desenvolvimento psíquico, por sua vez, definem-se como processos

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historicamente variáveis, não determinados de antemão pelo genoma, como interpretam os evolucionistas. Para consolidar suas hipóteses o autor recorrerá ainda à teoria da atividade de Leontiev, afirmando a relevância da atividade dominante, ou guia (veduschaia), para a periodização do desenvolvimento. A atividade é uma unidade sujeitoobjeto, logo não se podem definir períodos com base apenas em fatores endógenos, mas em condições concretas da vida social. Os períodos apresentados são os seguintes: “atividade comunicação emocional direta; atividade objetal manipulatória; atividade jogo de papéis; atividade de estudo; atividade de comunicação íntima pessoal; e atividade profissional-de estudo” (Lazaretti, neste volume). Cada uma dessas atividades é dominante, ou guia, com relação ao período, isto é, são aquelas que conduzem, e com as quais estão ligadas, as principais mudanças qualitativas no desenvolvimento e fazem emergir novos períodos. Cada um deles é, portanto, marcado por transformações qualitativas, saltos e crises. Tais saltos e crises estão relacionados ao ponto de culminância no qual se dá uma mudança de necessidades e motivos, no curso das diferentes relações sociais prevalentes, com as mediações específicas que proporcionam. Nos períodos iniciais, como na atividade lúdica protagonizada, o motivo da atividade não é ainda consciente, o que ocorrerá no trabalho e outras formas de atividade. Quando pelo próprio jogo a criança percebe que não é adulta, ganha novos motivos para sê-lo e entrar na escola é uma forma de realizar uma atividade social séria que caminha para isso – assim sua atividade guia passa a ser outra. Contudo, nem todo o ensino, ou instrução, revela-se significativo para o desenvolvimento e sim o “bom ensino”, aquele sistematizado que “eleva o nível do pensamento abstrato e complexifica as operações mentais” (Lazaretti, neste volume). A atividade de estudo, para Elkonin, não é sinônimo de assimilação de saberes, mas abrange “a totalidade da vida da criança” (apud Lazaretti, neste volume). Igualmente, as atividades de comunicação íntima pessoal e profissional-de estudo do adolescente implicam uma ampliação dos laços com o mundo, com a vida social, na direção do trabalho como atividade criadora. No capítulo 7, “L. V. Zankov: aproximações a sua vida e obra”, o leitor encontrará o estudo de Orlando Fernández Aquino sobre o importante estudioso da didática desenvolvimental, Leonid Vladimirovitch Zankov. Nascido em 1901, foi professor, psicólogo,

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defectólogo e pedagogo. A partir do ano de 1918, lecionou em escolas agrícolas na província de Tambovsk. Desde 1929 até 1953 trabalhou no Laboratório de Psicologia do Instituto de Defectologia da Academia de Ciências Pedagógicas da República Federativa Socialista Soviética Russa. Como muitos de seus colegas, no período da Grande Guerra Pátria (II Guerra Mundial), trabalhou com a recuperação funcional de feridos. Segundo Leontiev (apud Aquino, neste volume), com a entrada de Vigotski no Instituto de Psicologia, em 1924, Zankov e I. M. Soloviev migraram para sua linha de pesquisa. Leonid Vladimirovitch está entre os mais importantes colaboradores de Vigotski, assim lembrado também por Luria (apud Aquino, neste volume). Foi um dos pioneiros na concepção e realização de experimentos pedagógicos longitudinais, visando provar teses vigotskianas sobre a relação entre desenvolvimento e instrução escolar. Criou “as bases para os trabalhos posteriores de V. V. Davidov, P. Ia. Galperin e D. B. Elkonin, dentre outros” (Aquino, neste volume). Desde 1955, esteve à frente do Laboratório de Didática Experimental do Instituto de Teoria e História Pedagógica da Academia de Ciências Pedagógicas da República Federativa Socialista Soviética Russa. Faleceu em 1977, deixando um grande número de trabalhos científicos significativos. Dentre as principais contribuições do autor soviético, Aquino destaca obras do campo da defectologia, como: “Psicologia do escolar atrasado mental”, de 1939; “Ensaios sobre a psicologia das crianças surdo-mudas”, de 1940; e, em coautoria com Soloviev, “Vigotski como defectólogo”, de 1973. O próprio Luria, ao tratar da descrição de crianças com retardo mental, cita trabalhos de Zankov, de 1936, e de Zankov e I. I. Daniushevski, de 1940, demonstrando o mérito da obra de Zankov em defectologia. Além disso, ele foi um aplicado estudioso experimental da memória, e seus livros sobre o tema são importante referência até os dias atuais: “Psicologia e pedagogia da memória” (Moscou, 1944); e “A memória” (Moscou, 1949). Entretanto, a maior contribuição de Zankov está no campo da didática experimental, com os resultados de seus “experimentos pedagógicos” de longa duração. O método que utilizou para estudar a relação ensino e desenvolvimento fundamentava-se na dialética materialista, na qual o princípio da “multilateralidade no abarcamento do objeto” tem um lugar central, desde as contribuições de Lenin, para quem o conhecimento correto do objeto exige “abarcar e estudar todos os seus aspectos, todos os

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seus vínculos e mediações. Jamais o conseguiremos por completo, mas a exigência da multilateralidade nos prevenirá contra os erros e o estancamento” (Zankov apud Aquino, neste volume). O capítulo segue com uma elaboração detalhada sobre tais experimentos pedagógicos de longa duração, desde a “fundamentação filosófica do experimento” até uma “breve apresentação dos resultados do experimento”. Dentre os princípios filosóficos marxista-leninistas, um dos quais citados no parágrafo anterior, que constituem tal fundamentação, situa-se a compreensão de Vigotski citada por Zankov (apud Aquino, neste volume): “Aí onde não existe automovimento, não há lugar para o desenvolvimento, no sentido profundo e verdadeiro da palavra”. Por “automovimento” entenda-se que nada há de exterior à história e suas contradições que possa determinar a própria história. Quanto à “fundamentação psicológica do experimento”, podemos também mencionar algumas palavras: como a noção de Vigotski de que a fonte do desenvolvimento histórico do comportamento não deve ser buscada no interior do ser humano, mas no meio social do qual faz parte (Zankov apud Aquino, neste volume). E a de que há um “princípio de etapas” concernentes à idade, uma periodização que se pauta não em bases exclusivamente orgânicas, nem em uma ordem cronológica estrita, mas no critério cronogênico da “idade psicológica”. Também se destaca a formulação de Vigotski desenvolvida por Rubinstein da “unidade entre a consciência e a atividade” – a consciência não é mera contemplação do mundo, mas um processo ativo cujas relações com o mundo-objetivo são íntimas. Não menos importantes são as formulações daquele autor sobre a “zona de desenvolvimento próximo” e o processo de desenvolvimento dos conceitos científicos. Entre outras, as quais o leitor poderá apreciar em detalhe. Aquino apresenta: “o delineamento do experimento”; “os princípios do sistema didático experimental”; e uma “breve apresentação dos resultados do experimento”. Para delinear a ação pedagógica experimental, Zankov recorre ainda à contribuição de Vigotski, colocando o problema científico: “mediante que sistema didático se logra o resultado ótimo no desenvolvimento dos escolares?” (Aquino, neste volume). Deste problema chega-se ao objetivo de buscar o avanço do desenvolvimento integral dos escolares, para além do que se espera pela literatura vigente. O experimento teve três etapas: a) a criação da armação do novo sistema didático, em apenas uma turma experimental; b) a realização em condições variáveis em mais

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de vinte classes em diferentes cidades; c) o estabelecimento de um ciclo trienal de ensino, abarcando cerca de 1200 classes em diferentes regiões da URSS. Os princípios do sistema eram: “o papel reitor dos conhecimentos teóricos”; “o ensino a um alto nível de dificuldade”; “o avanço a grande ritmo”; e “a compreensão pelos escolares do processo de estudo”. Como resultados do experimento, houve: transformações nas “atividades de observação” – há um progresso na captação da diversidade das partes do objeto, método na observação e comparação do observado com outros objetos; transformações na “atividade mental” – na observação de objetos com aspecto comum, há superação na passagem de um objeto a outro e na junção de dois aspectos diferentes; transformações nas “atividades práticas” – atinge-se um alto grau de planejamento da atividade. No capítulo 8, “Bases conceituais da obra de A. V. Petrovsky: implicações nos processos de ensinar e aprender na escola”, temos o estudo realizado por Maria Aparecida Mello e Douglas Aparecido de Campos sobre Artur Vladimirovitch Petrovsky (ou Petrovski), destacado psicólogo soviético pouco divulgado em nosso país. Nascido em 14 de maio de 1924, em Sebastópol, logo cedo se transferiu para Moscou onde viveu até 2 de dezembro de 2006. Assim como Elkónin lutou na II Guerra Mundial como voluntário. Após a vitória sobre o nazi-fascismo, retorna a Moscou para estudar no Instituto Pedagógico e formar-se em Filologia em 1947, o que se assemelha à nossa formação em Letras. Defendeu doutorado, na década de 1950 em História da Psicologia, tratando da obra de Raditchev. Percorreu longa trajetória de pesquisador, detalhada por Mello e Campos, que passa por estudos em Reflexologia, Reatologia, Psicotécnica e Pedologia, e segue até o interesse em aprofundar os estudos da personalidade, desde o final dos anos 1960. Foi membro da Comissão Internacional para o Desenvolvimento da Educação da UNESCO de 1971 a 1972, e vice-presidente da Academia de Ciências Pedagógicas da URSS, de 1976 a 1979. Nos anos 1980, trabalha com seu filho, Vadím Arturovitch Petrovsky (nasc. 1950), que propôs a ideia de “personalização”. Teve proposições avançadas como a crítica de que a personalidade não se resume à psique e ocupou-se do importante tema da psicologia do coletivo. Mello e Campos seguem seu capítulo apresentando simultaneamente importantes obras do autor e suas principais contribuições teóricas. A primeira delas é Psicologia geral: manual didático para os institutos de pedagogia, de 1976. Obra que mostra

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a relevância da psicologia para a prática docente do pedagogo. Nela, faz um levantamento histórico da gênese de conceitos psicológicos e educacionais idealistas e materialistas. Destaca as contribuições de Anton S. Makarenko (1888-1939) sobre as motivações da personalidade. Assinala o caráter reflexo da psique, tal como fizera Lenin em sua obra Materialismo e empiriocriticismo (1909/1982), sem deixar de entender que tal reflexo se forma na atividade humana, não de modo mecânico ou passivo. Também considera importante o papel de Vigotski com sua ênfase no método genético como forma de entender o processo constitutivo das funções psíquicas superiores. Entende que os primeiros motivos para a atividade do homem são suas necessidades, não só as biológicas, mas as sociais e históricas. Nesse sentido, entende que o desenvolvimento da personalidade só pode se dar em sociedade e diferencia os conceitos de “grupos” e “coletividade”. Os grupos podem ser: convencional (ex.: por sexo, idade, profissão, etc.); ou de contato (ex.: a família). A coletividade implica uma parte da sociedade unida por fins comuns, para efetivar uma atividade conjunta submetida aos objetivos da sociedade. Coube a Petrovsky transpor tais conceitos à educação escolar. Personalidade e atividade não são inatas, e cabe à educação um papel fundamental na sua estruturação e formação. O que também fora desenvolvido na obra Psicologia evolutiva e pedagógica, de 1973. Livro que o autor inicia com um resgate histórico do referido campo, contrapondo correntes biogenéticas e sociogenéticas, vendo em Makarenko um pesquisador que resolveu os problemas do antagonismo entre ambas, no âmbito das relações entre o estudo da personalidade e a psicologia pedagógica. Já aqui recorrera a Vigotski para pensar o desenvolvimento das funções psíquicas superiores, sobretudo seu caráter mediado. Disse que: “A formação da personalidade do jovem que vai assimilando a experiência social não transcorre de forma automática, senão através da modificação de seu mundo interior, que mediatiza as influências educativas” (Petrovsky apud Mello; Campos, neste volume). Os valores e ideais do homem, aprendidos socialmente, tornam a personalidade “relativamente independente das diversas influências externas, que se refratam através das condições interiores antes enumeradas” (Petrovsky apud Mello; Campos, neste volume). A aprendizagem depende da estrutura de sua atividade cognoscitiva, determinada por métodos de ensino e conteúdos educacionais, mas isso

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“não quer dizer que se reduz à reprodução de conhecimentos e hábitos” (Mello; Campos, neste volume). Ao fim do capítulo, apresentam-se seis importantes artigos do eminente psicólogo e educador, publicados pela UNESCO. Em Os testes de atitudes? Ensaio às cega”, de 1973, critica a psicometria vigente, dizendo que ela não avalia nada além do que foi aprendido pelo sujeito, mostrando, então, diferenças de educação não de processos mentais. Em Que há por detrás da desescolarização, de 1976, critica a tendência pedagógica ocidental que prega uma sociedade sem escolas e seus malefícios, defendendo a importância da instituição para a humanidade. Em Tratar à criança prodígio como as demais, de 1979, sugere que é preciso ocupar-se mais da interação dos superdotados com a sociedade do que limitarmo-nos à sua vida acadêmica. Em A escola, pedra angular da educação, de 1982, discute a “crise mundial na educação” e analisa suas origens, no “vazio” entre escola e vida. Em Psicologia e prioridades da educação familiar, de 1983, fala sobre tipos de educação da criança e correspondentes estratégias de educação familiar. Por fim, em A educação para a paz na URSS, de 1986, destaca a força negativa da guerra e defende uma educação para a paz. A trajetória intelectual e profissional de Petrovski mostra, assim, uma consistente coerência entre princípios teóricos e tomada de posição política frente aos temas prementes de seu tempo. No capítulo 9, “P. Ia. Galperin: a vida e a obra do criador da Teoria da Formação por Etapas das Ações Mentais e dos Conceitos”, a biografia e a produção deste pioneiro da psicologia soviética são detidamente analisadas por Isauro Beltrán Núñez e Marcus Vinícius de Faria Oliveira. Piotr Iakovlevitch Galperin nasceu em 2 de outubro de 1902, em Tambov, na Ucrânia, em família judaica. Seu pai era médico e professor em Kharkov, então capital da Ucrânia. Ali fez sua escola primária. Como o pai, estudou Medicina, entre 1921 e 1926, tornando-se neuropsiquiatra. Após se formar, trabalhou como voluntário na clínica de Platonov, com pacientes dependentes químicos. Em 1931, começou a atuar no laboratório do Instituto de Psiconeurologia da Academia de Psiquiatria Ucraniana. Em 1936, finalizou sua tese “As diferenças psicológicas no uso de instrumento no animal e no homem”. De 1930 a 1936, desenvolveu estudos como psicólogo do desenvolvimento infantil e da formação de conceitos. É considerado um dos fundadores da célebre “escola de Kharkov”. Sob a direção de Leontiev, junto a L.

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I. Bojovitch, A. V. Zaporozhets, P. I. Zintchenko e outros, participa de um novo ciclo de investigações. Em 1932, alista-se, por um ano, no Exército Vermelho. Com a invasão nazista a Kharkov, o Instituto mudou de função e de lugar, transformando-se num hospital para tratamento neurológico e psicológico, em Tumer, na Sibéria Ocidental. Ali trabalhou como médico de 1941 até o início de 1943. Em março de 1943, vai para Sverdlovski, a convite de Leontiev para chefiar a sessão médica de um centro de reabilitação para veteranos de guerra, ficando até outubro de 1943. Depois, ele e seus colegas foram para a Universidade de Moscou. Em 1944, vincula-se ao laboratório chefiado por Bluma V. Zeigarnik. No mesmo ano, a convite de Rubinstein, inicia docência e investigação na Universidade Estatal de Moscou. Em 1949, deixa o laboratório de Zeigarnik e se vincula à Seção de Psicologia da Universidade Estatal de Moscou até 1966, quando foi criada a primeira Faculdade de Psicologia da URSS. Nela leciona: História da Psicologia, Patopsicologia e Psicologia Geral. Em 1952, formula os fundamentos de sua Teoria de Formação das Ações Mentais e dos Conceitos. Considera-se que, com isso, como continuador de Vigotski e de Leontiev, funda uma nova etapa na Psicologia. Nas décadas de 1960, 1970 e 1980, liderou estudos experimentais nos quais atuaram Elkonin, Davidov e Talizina, entre outros. Em 1965, defende a tese “Principais resultados dos estudos sobre a formação da ação mental e dos conceitos”. Desde então, assumirá diferentes cargos, até sua morte em 25 de março de 1988. É lembrado como cientista de renome internacional, orientador dos eméritos pesquisadores Davidov e Talizina (ambos contemplados em capítulos deste livro), e considerado o último psicólogo que trabalhou diretamente com Vigotski, levando suas ideias e as de Leontiev ao estatuto de investigação experimental intensiva. Os autores do capítulo apresentarão considerações sobre a contribuição teórica de Galperin, organizando-as em quatro tópicos. O primeiro deles é “Fundamentos filosóficos. Contexto da obra”, no qual se destaca a filiação do autor à psicologia histórico-cultural, cuja base filosófica é marxista-leninista. O que estava em conformidade com os fundamentos da edificação da sociedade socialista e a busca de formação de um novo homem, metas da revolução bolchevique de outubro de 1917. O marxismo-leninismo e o materialismo dialético e histórico teriam como suas principais fontes: Hegel, Feuerbach, Marx,

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Engels e Lenin. Tendo sido a dialética materialista definida por Engels como “a ciência que estuda as leis universais do movimento e do desenvolvimento da natureza, da sociedade humana e do pensamento” (Núñez e Oliveira, neste volume). O segundo tópico é “Principais estudos, objetos de pesquisa, referencial metodológico e teórico”, em que se apresenta ampla discussão que permite notarem-se diretrizes contundentes, como a de que não qualquer atividade deve ser objetivo da psicologia, mas sim a “atividade de orientação”. Ademais, Galperin entende que a psicologia soviética era “uma disciplina sobre a atividade de aprendizagem e de ensino orientada para o desenvolvimento dos estudantes” (Núñez e Oliveira, neste volume) e nesta área situam-se suas pesquisas. Em seus mais de trinta anos de pesquisa, formulou diversos programas e métodos de ensino para diferentes áreas, sendo o ensino uma tarefa indissociável da investigação científica em psicologia. Trata-se, sobretudo, de um ensino voltado para desenvolvimento da personalidade integral dos estudantes. No terceiro tópico tem-se “A teoria da formação das ações mentais e os conceitos por etapas”, como principal contribuição de Galperin. O princípio chave para a edificação da sua teoria de assimilação foi o da “unidade da atividade psíquica e da atividade externa” (núñez e Oliveira, neste volume). A atividade psíquica se forma da atividade prática, na dialética externo-interno. Sustenta-se que é possível formar processos mentais por meio de uma atividade externa com um modelo planejado. A formação das ações mentais e conceitos pauta-se no princípio de que são ações objetivas que inicialmente se realizam com apoio de objetos externos, passando por etapas até a realização no plano mental. A estruturação de novas ações é primeiro material, depois verbal e, por fim, mental, possibilitando o desenvolvimento das funções psíquicas. No processo de internalização, pode-se distinguir a “orientação” e a “execução” da ação. A “base orientadora da ação” é uma concepção prévia da ação que se realizará, um modelo da atividade que o professor apresenta como mediação semiótica e pode ser de vários tipos, abordados no capítulo. Finalmente, como quarto tópico se discute “O presente e o futuro da teoria de Galperin”, mostrando que sua proposta não pode ser confundida com tecnicismo, pois comporta o espaço para a negociação de sentidos em elaboração conjunta do aluno com o professor, permitindo aprender de forma criativa. Por fim, entende-se que Galperin nega dialeticamente ideias de Vigotski

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e Leontiev, seguindo-os e acrescentando-lhes elaborações inéditas, ao mesmo tempo. No capítulo 10, “Vasily Vasilyevich Davydov: a escola e a formação do pensamento teórico-científico”, podemos encontrar as elaborações de José Carlos Libâneo e Raquel A. Mara da Madeira Freitas sobre este pensador e educador de primeira importância para a URSS e a Rússia atual. Davydov (ou Davidov) nasceu em 31 de agosto de 1930, filho de pai metalúrgico e mãe trabalhadora têxtil. Ingressou no Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia da Universidade Estatal de Moscou, cursando Filosofia e Psicologia. Formou-se em 1953, iniciando carreira no campo da psicologia pedagógica. Segundo Hedegaard, era “uma pessoa calorosa, gentil e brincalhona” e “um teórico admiravelmente consistente” (apud Libâneo; Freitas, neste volume). Concluiu a pósgraduação em Filosofia em 1958 e obteve grau de doutor em Psicologia em 1970. Durante sua formação, teve como professores Leontiev, Rubinstein, Galperin, Zaporozhets, Sokolov, Talizina e Elkonin, entre outros. Junto com Zintchenko e outros colegas tornou-se colaborador de seus professores. Tornou-se amigo de Elkonin e do filósofo Evald Vasilievitch Ilienkov (1924-1979). No período de 1959 a 1983, trabalhou com Elkonin no Instituto de Investigação Científica de Psicologia Geral e Educacional – da Academia de Ciências Pedagógicas da União Soviética, como chefe do laboratório de psicologia. Nesta época, teve como suas colaboradoras A. K. Markova e A. I. Aidarova. Os autores do capítulo nos mostram que a carreira de Davydov foi longa e frutífera. Em 1973, assumiu a direção do Departamento de Filosofia da Universidade de Moscou. Em 1978, foi nomeado diretor do Instituto anteriormente mencionado. Em 1983, sofre com restrições políticas, sendo excluído do Partido Comunista e demitido da função de diretor do Instituto. Em 1986, foi reintegrado tanto ao partido quanto ao seu trabalho de investigação científica. Veio a desenvolver várias pesquisas com os grupos de Zankov e Elkonin. Ficaram célebres seus estudos junto com Elkonin na Escola Experimental N. 91 de Moscou, ao longo de 25 anos. Pautando-se na premissa de Vigotski de que “a base do desenvolvimento intelectual das crianças é o conteúdo dos conhecimentos assimilados” (Davydov apud Libâneo; Freitas, neste volume), criou-se o sistema didático conhecido como ElkoninDavydov, até hoje utilizado em escolas russas. Também da colaboração destes dois pesquisadores surgiu a formalização da teoria do ensino

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desenvolvimental, por volta de 1970. Tendo assumido, ao longo dos anos, diferentes postos nacionais e internacionais, Davydov viveu até 19 de março de 1998, sete anos após a dissolução da URSS. Seu legado teórico inclui a crítica à pedagogia tradicional, que privilegia o pensamento empírico, contrapondo-a com a concepção inversa de que crianças pequenas podem desenvolver o pensamento teórico, aprendendo o aspecto “essencial dos objetos, ligado ao modo de operar da ciência, como um método geral para análise e solução de problemas” (Libâneo; Freitas, neste volume). Libâneo e Freitas desenvolvem ainda quatro tópicos teóricos. No primeiro deles: a) estão “Os fundamentos teóricos do ensino desenvolvimental e a pesquisa”, partindo da constatação de que pressupostos teóricos de Vigotski são tomados como importantes: como o de que o aprendizado (ou instrução) escolar faz emergir na criança novos níveis de desenvolvimento das funções psíquicas superiores; e o de que este mesmo aprendizado não é idêntico ao desenvolvimento, mas que organizado corretamente o promove. Para Davydov, estas premissas necessitaram de posterior exploração experimental, com o método dos “experimentos formativos”, para formular objetivamente o “ensino desenvolvimental”, isto é, aquele que intencionalmente promove o desenvolvimento integral da personalidade dos alunos. Em seguida, expõem-se os: b) “Conceitos básicos na teorização de Davydov”: Atividade humana, atividade de ensino-aprendizagem – o conceito central da teoria do ensino desenvolvimental é o de “atividade”, na concepção dialética materialista, com a primazia do trabalho e gênese das demais atividades a partir deste, adiciona-se, porém, à estrutura da atividade proposta por Leontiev, o conceito de “desejo”; generalização substantiva e formação de conceitos – para formar-se o pensamento conceitual teórico-científico do aluno o professor deve orientá-lo a generalizações próprias à gênese constitutiva do objeto de estudo, chegando, portanto, a conceitos essenciais que superam aqueles que circundam as aparências do objeto. Na sequência, adentra-se minuciosamente ao tema: c) “Ensino desenvolvimental e atividade de estudo”, entendendo que a atividade de estudo está entre as principais formas de atividade humana, junto com o trabalho e o jogo (ou brincadeira). A atividade de estudo é a atividade principal, ou guia (veduschaia), na idade escolar, ela é a responsável pelas principais mudanças no desenvolvimento neste período. Assim,

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a característica conceitual substantiva da educação escolar é capaz de levar o aluno às formas mais desenvolvidas de consciência social, como a ciência, a arte, a moralidade e a lei – supondo-se uma sociedade com leis justas. “O objetivo e o resultado da atividade de estudo estão na formação de uma postura teórica em relação à realidade: aprender modos generalizados de atuação” (Libâneo; Freitas, neste volume), que permitam lidar com diferentes situações particulares. Cinco “ações de estudo” integradas, a serem realizadas pelos alunos, são exploradas. Por fim, os autores tratam da: d) “Contribuição pedagógica de Davydov”, que está em íntima relação com os princípios expostos anteriormente. Avaliando o sistema de ensino de seu país em sua época, Davydov se viu na necessidade de abordar as questões de estruturação das disciplinas escolares. Sua proposta didática parte de três premissas de Vigotski para chegar a uma abordagem com dois tipos de análise: a lógicodisciplinar, que se refere ao papel dos conteúdos e procedimentos; e a lógico-didática, que se refere ao papel da atividade de estudo. No capítulo 11, “Vida y obra de N. F. Talizina: aportaciones para la psicología y la educación”, os estudiosos Yulia Solovieva e Luis Quintanar apresentam, ao público brasileiro, a carreira monumental e a obra internacionalmente difundida de Nina Fiodorovna Talizina, uma das maiores autoridades em psicologia e educação na URSS e Rússia. Essa cientista e educadora nasceu em 28 de dezembro de 1923, na localidade de Lutchinskoie, pequeno povoado próximo à destacada cidade de Iaroslav, a qual por volta dos séculos XII e XIII tinha mais importância política na Rússia do que Moscou. Os autores nos contam que até os dias atuais, a região do “Anel de Ouro”, onde se localiza Iaroslav, é muito apreciada por visitantes pela natureza, arquitetura e a naturalidade e sinceridade de seus habitantes. Talizina ainda hoje preserva o amor à natureza e ao trabalho no campo. Em Iaroslav realizou sua educação formal. Muito jovem fez parte da frente nacional laboral durante a Grande Guerra Pátria (II Guerra Mundial) de 1941 a 1945. No mesmo período, concluiu a faculdade de Física e Matemáticas da Universidade Pedagógica de Iaroslav, K. D. Ushinski, de 1942 a 1946. Graduou-se como professora de escola secundária. Em 1947, transferiu-se para Moscou para realizar seu doutorado na Academia de Ciências Pedagógicas da URSS, graduando-se em 1950. Desde este ano até hoje, trabalha na Universidade Estatal de Moscou. Em 1961, é nomeada “Docente”. Foi diretora da Cátedra de Pedagogia, da Universidade Estatal de Moscou de 1963 a 1966. Com a Prefácio • 41

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abertura da Faculdade de Psicologia na Universidade Estatal de Moscou, em 1966, tornou-se diretora de sua Cátedra de Pedagogia e Psicologia Pedagógica, permanecendo até 1995. Com a defesa de seu pós-doutorado em 1970, foi nomeada “Professor”. Em 1997, recebe a nomeação de “Professor Distinguido”. Percorreu longa carreira, assumindo cargos acadêmicos importantes e trabalhando na preparação de pedagogos. Na Faculdade de Psicologia, ministrou: “Psicologia Geral”; “Psicologia Pedagógica”; “Teoria da Atividade e do Ensino”; “Teorias Estrangeiras do Ensino”; “Novas Aproximações ao Diagnóstico do Intelecto”; “Ensino Programado”; e “Formação de Conceitos Científicos”, entre outros. Tornou-se membro-correspondente da Academia de Ciências Pedagógicas da URSS desde 1971. Possui destacados graus honoríficos, é membro do conselho editorial de renomadas revistas internacionais, e recebeu várias medalhas de honra ao seu mérito científico e educacional, em seu país e também no exterior. Talizina publicou mais de 400 obras científicas, entre livros, capítulos de livro e artigos. Suas 10 monografias, um manual didático e material prático têm sido publicados em 16 diferentes idiomas. Além de ministrar cursos internacionais em diferentes universidades, inclusive em 15 ocasiões na Universidad Autónoma de Puebla, onde trabalham os autores do capítulo 11. Solovieva e Quintanar mostram que “todo o labor científico de N. F. Talizina se orientou à elaboração e aplicação da teoria da atividade no ensino” (neste volume). Desde já a concepção de atividade de Talizina se apresenta de modo sistêmico e não funcionalista. É irrelevante, por exemplo, estudar a percepção de modo isolado, é preciso compreender o seu papel na estrutura e dinâmica da atividade humana. Esta é estudada por um paradigma que a mostra compondo uma “estrutura invariante”: motivo, operações, objetivo, base orientadora e resultado da atividade. Dentro de tal estrutura, realizam-se as mais diversas atividades, cujos componentes tomados de modo separado levam ao funcionalismo, que sustenta investigações cognitivas que se limitam a estatísticas, esvaziando o sentido do estudo psicológico. Tais considerações teóricas gerais são aplicadas à direção do processo de ensino-aprendizagem. Neste processo, a assimilação de conhecimentos não é passiva, requer a participação ativa do sujeito. Talizina se apoia na teoria da internalização, introduzida por Vigotski, elaborada por Galperin e retomada por Asmolov. O processo psicológico, do externo ao interno, modifica-se: a) do material ao ideal; b) do social ao individual; c) do desdobrado ao reduzido; d) do 42 • Ensino Desenvolvimental

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compartilhado ao independente. Para que a passagem se dê com êxito é necessário organizar a atividade da criança. No contexto da teoria da atividade aplicada ao ensino, uma das contribuições centrais da autora é a elaboração do conceito de “base orientadora da ação”, a qual pode ser de vários tipos, em função de critérios. Consoante à correspondência do conteúdo da ação, pode ser: completa ou incompleta; de acordo com a forma de obtenção: independente ou dependente; de acordo com a possibilidade de aplicação: muito concreta ou generalizada. “Em todos os casos de aprendizagem e atividade independente do ser humano se podem observar todos os tipos de base orientadora da ação” (Solovieva; Quintanar, neste volume). Conforme o tipo que prevalece, a atividade de ensino é favorável ou não aos alunos. Para a pedagogia tradicional as dificuldades são subordinadas a “leis” psicológicas; para Talizina tratase de “uma falta de organização adequada do processo de aprendizagem das crianças” (Solovieva; Quintanar, neste volume). Ela faz uma revisão crítica dos métodos tradicionais de ensino e propõe formas eficazes de ensinar, pois “Se a ciência psicológica não oferece nada novo e só relata o que observa, não é uma ciência” (Talizina apud Solovieva; Quintanar, neste volume). Trata-se do “ensino sobre a base invariante” ou “ensino sobre a base da teoria da atividade”. Nesta proposta, a teoria da atividade e a aproximação histórico-cultural são tratadas como distintas e complementares. Como o leitor poderá observar, ao longo de todo o livro, estas anotações sintéticas aqui feitas sobre seu conteúdo não podem refletir toda a riqueza que cada capítulo traz, cada um deles redigido por especialistas dos mais gabaritados. Nosso desejo é o de que tais anotações sirvam-lhe como convite inicial à leitura e à reflexão crítica sobre as vidas honrosas e obras marcantes dos autores russos aqui apresentados. Tendo como perspectiva um projeto comum para o ensino desenvolvimental, a se realizar ao longo do tempo, com o estreitamento dos laços entre diferentes grupos de pesquisa em diálogo com a sociedade, visando uma práxis transformadora e o esboço de critérios objetivos para a educação futura de um novo homem socialista. Achilles Delari Junior. Umuarama-PR, 15 de junho de 2012.

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REFERÊNCIAS Khomskaia, E. D. (1992/2001) Aleksandr Romanovich Luria: a scientific biography. New York: Kluwer Academic; Plenum Publishers.184 p. Lenin, V. I. (1909/1982) Materialismo e empiriocriticismo. Lisboa: Avante! Moscou: Progresso. 339 p. Lifanova, T. M. (1996) Polnaia bibliografia trudov L’va Semionovitcha Vigotskogo. In: Vopr. psikhologuii. N. 5. 1996. p. 137-157. Marx, K. H. (1852/1978). O 18 brumário de Luís Bonaparte. In: ______. Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural p. 323-404. (Os Pensadores) Vigotski, L.S. (1924/2003) Psicologia pedagógica. Porto Alegre: Artmed 311 p. Vigotski, L. S. (1926/1991) Prólogo a la versión rusa del libro de E. Thorndike “Principios de enseñanza basados en la psicología”. In: ______. Obras escogidas - Tomo I. Madrid: Visor y Ministerio de Educación y Ciencia.p.143-162. Vigotski, L. S. (1927/1991) El significado histórico de la crisis de la psicología: una investigación metodológica. In: ______. Obras escogidas - Tomo I. Madrid: Visor y Ministerio de Educación y Ciencia. p. 257-407 Vygotsky, L. S. (1932/2010) Two fragments of personal notes by L. S. Vygotsky from the Vygotsky family archive (Prepared for publication and with comments by E. Zavershneva). In: Journal of Russian and East European Psychology, vol. 48, n. 1, January-February 2010, p. 91-96. Vigotski, L. S. (1934/2001) A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes. 496 p.

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PARTE I

Os precursores da psicologia marxista russa

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LEV SEMIONOVITCH VIGOTSKI: UM ESTUDO DA VIDA E DA OBRA DO CRIADOR DA PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL Zoia Prestes - UFF Elizabeth Tunes - UnB Ruben Nascimento - UFU

Na idade infantil, somente é boa a instrução que se adianta ao desenvolvimento e o guia. Vigotski A frase em epígrafe foi traduzida por nós da edição argentina da obra Michlenie e retch, de Lev Semionovitch Vigotski (2007). Ela assemelha-se à frase em inglês da edição estadunidense, supostamente, da mesma obra. As duas edições, contudo, diferem em alguns aspectos. Apenas para exemplificar, a frase aparece na seção de número 3, na tradução argentina e na de número 4, na estadunidense. Será que se pode dizer que as duas edições são traduções da mesma obra? Pelos dados apresentados nas primeiras páginas de ambas (copyright, por exemplo) não é possível responder a essa pergunta. Na edição argentina, ela é publicada isoladamente com o título Pensamiento y habla, enquanto, na estadunidense, encontra-se no The Collected Works of L. S. Vygotsky. Volume 1. Problems of General Psychology (1987), que contém o seguinte complemento no título: Including the Volume Thinking and Speech. Mas isso é apenas o começo da história. Se cotejarmos as duas edições referidas com a mais recente que saiu no Brasil (A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2000), a nossa fértil imaginação pode começar a cogitar que ou Vigotski escreveu mais de uma versão de Michlenie e retch ou existiram dois Vigotskis, na mesma época e lugar, com interesses e preocupações semelhantes. A começar pelo título que, nessa edição brasileira, apareceu com a palavra construção, não existente em qualquer outra edição que conhecemos,

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há muitas diferenças. Para ilustração, vamos comparar o pequeno trecho das três edições em que aparece a frase em epígrafe. Иными словами, то, что ребёнок умеет делать сегодня в сотрудничестве, он сумеет сделать завтра самостоятельно. Поэтому представляется правдоподобным, что обучение и развитие в школе относятся друг к другу, как зона ближайщего развития и уровень актульного развития. Только то обучение в детском возрасте хорошо, которое забегает вперёд развития и ведёт развитие за собой (ВЫГОТСКИЙ, 2001, с. 236) En otras palabras, lo que el niño sabe hacer hoy em colaboración, sabrá hacerlo mañana por su cuenta. Por eso es verosímil que la instrución y el desarrollo en la escuela se relacionen entre si al igual que la zona de desarrollo próximo y el nível de desarrollo actual. En la edad infantil, solo es buena la instrucción que se adelanta al desarrollo y lo atrae (Vigotski, 2007, p. 358). In other words, what the child is able to do in collaboration today he will be able to do independently tomorrow. Instruction and development seem to be related in the same way that the zone of proximal development and the level of actual development are related. The only instruction which is useful in childhood is that which moves ahead of development, that which leads it. (Vygotsky, 1987, p. 211). Noutros termos, o que a criança é capaz de fazer hoje em colaboração conseguirá fazer amanhã sozinha. Por isso nos parece verossímil a ideia de que a aprendizagem e o desenvolvimento na escola estão na mesma relação entre si que a zona de desenvolvimento imediato e o nível de desenvolvimento atual. Na fase infantil, só é boa aquela aprendizagem que passa à frente do desenvolvimento e o conduz (Vigotski, 2000, p. 331-332). Em outras palavras, aquilo que a criança sabe fazer hoje em colaboração, saberá fazer amanhã independentemente. Por isso nos parece verdadeiro que a instrução e o desenvolvimento na escola mantêm a mesma relação que a zona de desenvolvimento iminente e o nível de desenvolvimento atual. Na idade infantil, somente é boa a instrução que se adianta ao desenvolvimento e o guia (tradução do original russo de Zoia Prestes especialmente para este artigo).

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Realçamos, em negrito, os vocábulos e expressões, no original e nas quatro traduções, cuja dissimilaridade parece-nos de primeira importância. Deixamos de lado diferenças secundárias. À primeira vista, pode parecer que o emprego da palavra aprendizagem, no lugar de instrução, não traz sérias implicações para o entendimento do pensamento do autor, uma vez que aprendizagem na escola e instrução guardam relação estreita. Todavia, se examinarmos detidamente esses dois termos e levarmos em conta a obra de Vigotski como um todo, veremos que as diferenças entre os dois são suficientemente importantes para conduzir a equívocos na interpretação de suas ideias. Conforme as teorias de aprendizagem, amplamente difundidas no ambiente acadêmico ocidental, a aprendizagem é um processo pessoal, individual. Por exemplo, de acordo com a teoria do reforço, a aprendizagem ocorre no organismo em função das contingências do ambiente. Desse modo, há uma nítida separação entre o que é o ambiente (contingências de reforçamento) e o que ele produz no indivíduo em atividade. A palavra instrução, em português, significa ato ou efeito de instruir ou ato ou efeito de instruir-se; ação ou efeito de transmitir conhecimento ou formar determinada habilidade. Essa palavra pode referir-se ao que ocorre no indivíduo (aprendizagem) ou ao que, externamente ao indivíduo (ambiente), produz essa ocorrência. Ora, todos que estudamos Vigotski sabemos que tipo de análise ele realizava a respeito do desenvolvimento infantil. De acordo com ele, o processo de desenvolvimento ocorre quando há atividade por parte do indivíduo e, para cada faixa etária, há atividades que se sobressaem em termos de sua importância para esse processo. Ele chamou-as de atividades-guia e dedicou muito de seu esforço teórico para compreender como surgem, desdobram-se e qual é o papel de tais atividades no processo de desenvolvimento psicológico da criança. É o caso da brincadeira de faz de conta e da instrução escolar, atividades-guia, respectivamente, da criança pré-escolar e da escolar. A brincadeira de faz de conta propiciaria à criança o “agir em função do que tem em mente, ou seja, do que está pensando, mas não está visível, apoiando-se nas tendências e nos motivos internos, e não nos motivos e impulsos provenientes das coisas” (Vigotski, 2008, p. 29). Por sua vez, a instrução escolar seria o portal da consciência, isto é, propiciaria à criança a formação da consciência reflexiva (Vigotski, 2007). Para

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Vigotski, a atividade é um processo que se transforma, que origina novas necessidades e motivos, gera outras atividades, estruturalmente novas, e propicia a emergência de novas formações psíquicas (a respeito do conceito de atividade na perspectiva histórico-cultural da Psicologia, ver Tunes; Prestes, 2009). O conceito de atividade implica sempre o indivíduo com seus motivos e necessidades e o seu agir de determinado modo no mundo concretamente dado. Por isso, esse conceito carrega a ideia de situação social de desenvolvimento, que o autor define do seguinte modo: A situação social de desenvolvimento representa o momento inicial para todas as mudanças dinâmicas que ocorrem no desenvolvimento, durante um período definido. Ela determina total e completamente as formas e o caminho pelo qual a criança sempre adquirirá características de personalidade mais novas, haurindo-as da realidade social como de uma fonte principal de desenvolvimento, o caminho, ao longo do qual, o social torna-se individual. [...] A situação social de desenvolvimento, que é específica para cada idade, define, rigorosamente e de modo regular, todo o quadro de vida da criança ou sua existência social (Vigotski, 2004, p. 25).

Ainda que o conceito de aprendizagem possa ser definido tal como Hilgard (1966) propôs (“Aprendizagem é o processo pelo qual uma atividade tem origem ou é modificada pela reação a uma situação encontrada”, p. 3), sabemos que a maioria das teorias de aprendizagem desenvolvidas no mundo ocidental tratam o ambiente de forma neutra (Tunes; Tacca; Martínez, 2006), isto é, sem considerar a sua especificidade para cada idade da criança. Eis, pois, uma primeira razão para que não se traduza as palavras obutchenie e obutchatsia, empregadas por Vigotski, no contexto aqui especificado, por aprendizagem, como o faz a tradução brasileira A construção do pensamento e da linguagem. A outra razão, também da maior importância, diz respeito ao próprio sentido dessas palavras, no russo (Prestes, 2010). Na maioria das traduções brasileiras, as palavras obutchenie e obutchatsia aparecem como aprendizagem e aprender. Conforme diz Prestes (2010), após examinar o emprego dessas palavras na obra de Vigotski, dificilmente, ele

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estava se referindo ao aprender e o próprio idioma russo não permite essa interpretação, pois a única palavra russa que recebe um significado mais próximo de aprender é viutchit que, no entanto, tem o sentido de memorizar ou decorar. [Além disso, o verbo aprender, no português, é transitivo e não reflexivo], portanto, não atende a nenhum critério do verbo russo obutchatsia, que é intransitivo e reflexivo. Por isso, a tradução mais correta para as palavras obutchenie e obutchatsia é instrução e intruir-se, respectivamente (Prestes, 2010, p. 85, grifos do autor).

Por fim, resta examinar o conceito zona blijaichego razvitia, traduzido para o português como zona de desenvolvimento próximo (ou proximal) ou zona de desenvolvimento imediato, conforme já apontamos. Talvez, o conceito de zona blijaichego razvitia seja um dos mais difundidos e, ao mesmo tempo, dos mais banalizados. No trabalho Dinamika umstvennogo razvitia chkolnika v sviazi s obutcheniem (A dinâmica do desenvolvimento mental do escolar relacionado à instrução), Vigotski atribui a Owell1 a ideia de que, na infância, somente é boa aquela instrução que ultrapassa o desenvolvimento, ou seja, a instrução que se adianta ao desenvolvimento, desperta-o para a vida, organiza-o e guia-o (Prestes, 2010). Para Prestes (2010), a melhor tradução para a expressão zona blijaichego razvitia é zona de desenvolvimento iminente, pois: Tanto a palavra proximal como a imediato não transmitem o que é considerado o mais importante quando se trata desse conceito, que está intimamente ligado à relação existente entre desenvolvimento e instrução e à ação colaborativa de outra pessoa. Quando se usa zona de desenvolvimento proximal ou imediato não está se atentando para a importância da instrução como uma atividade que pode ou não possibilitar o desenvolvimento. Vigotski não diz que a instrução é garantia de desenvolvimento, mas que ela, ao ser realizada em uma ação colaborativa, seja do adulto ou entre pares, cria possibilidades para o desenvolvimento (p. 169).

Infelizmente, os esforços empreendidos no sentido de encontrar referências sobre este autor citado por Vigotski não lograram êxito. Também não se tem certeza da grafia correta, pois Vigotski cita-o somente uma vez no texto e com letras cirílicas.

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Há vários outros problemas de tradução, organização e publicação das obras de Vigotski, no Brasil e na própria Rússia, que não trataremos agora. Trouxemos apenas esses dois pontos para mostrar ao leitor o quanto se torna árdua a tarefa de interpretação de suas ideias, diante desse quadro. Passaremos, agora, ao exame de algumas razões que acreditamos encontrarem-se no modo como suas ideias foram difundidas, especialmente, no mundo ocidental. Uma pergunta que sempre surge quando se estuda a trajetória de vida e de produção intelectual de Lev Semionovitch Vigotski é: como conseguiu em tão pouco tempo deixar uma obra tão extensa e que, ainda hoje, abre novos horizontes para pesquisadores dos mais diversos campos do conhecimento? Não estaria nesse aspecto a atualidade de suas ideias? Filho de uma família judaica da Bielorússia, Vigotski, com 17 anos, terminou o ginásio com distinção o que lhe deu o direito a participar do sorteio de vagas para Faculdade de Medicina, de acordo com o sistema de cotas para judeus vigente na Rússia tsarista. Além de passar no sorteio, o rapaz prestou exames e foi admitido como estudante da Universidade Imperial de Moscou e, em setembro de 1913, iniciou o curso. Um mês depois, Vigotski se transferiu para a Faculdade de Direito na mesma Universidade e também se matriculou no Curso de História e Filosofia da Universidade Popular Chaniavski. Será que o general Alfonso Chaniavski, militante da educação russa, viu, em seus sonhos agônicos, esse jovem magro de rosto fino para quem criou sua obra, quando, em 7 de novembro de 1905, na última manhã de sua vida, assinou seu testamento histórico, transferindo para a Universidade todo seu patrimônio? Seja lá como for, no momento em que Vigotski chegou a Moscou, a Universidade Chaniavski já funcionava havia cinco anos (aliás, desde 1912, em um prédio construído especialmente para ela na Praça Miusskaia, é ocupado hoje por sua herdeira – Universidade Estatal Russa de Humanidades), abrindo as portas do conhecimento para “filhos de cozinheiras” e outros párias, no caminho de quem a Rússia servil conseguiu construir um complexo sistema de obstáculos e armadilhas. Aqui não havia exames admissionais. Não havia distinção por origem social e credo. Não havia frequência obrigatória: cada um escolhia os cursos e os seminários dos quais queria participar. Bem verdade que o status de Universidade Popular não permitia emitir diplomas

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reconhecidos oficialmente, mas seu corpo docente provocava inveja a qualquer outra instituição de ensino superior na Rússia. E isso também era uma das marcas dessa instituição que servia de centro de gravidade para a intelectualidade científica de vanguarda (Reif, 2011, p. 15).

Segundo o próprio Vigotski, seus estudos em Psicologia começaram ainda na Universidade: “Desde então, não interrompi sequer por um ano o trabalho nessa especialidade” (Vigodskaia; Lifanova, 1996, p. 39). Seu trabalho monográfico de final de curso na Universidade Chaniavski sobre a tragédia Hamlet, de Shakespeare, não é mais um tratado sobre a obra do famoso escritor. Na verdade, parecia anunciar o nascimento de um pensador original, preocupado em fazer uma análise psicológica da obra de arte. E o início de seu texto monográfico já denunciava sua grandiosidade: Existe, no círculo fechado diário do tempo e na infinita corrente das horas claras e escuras, uma hora, a mais nebulosa e indefinida, o limiar inapreensível entre a noite e o dia. Antes do amanhecer, há uma hora em que já é manhã, mais ainda é noite. Não há nada mais misterioso e incompreensível, mais enigmático e obscuro que essa passagem estranha da noite para o dia. A manhã chegou, mas ainda é noite: a manhã parece estar mergulhada na noite esparramada ao redor, parece nadar na noite. Nessa hora que dura, quem sabe, apenas uma fração insignificante do segundo, tudo, todos os objetos e rostos, parecem ter duas existências diferentes ou uma existência dupla, noturna e diária, na manhã e na noite. Nessa hora, o tempo torna-se instável e parece ser um aguaçal que ameaça desabar. A cobertura precária do tempo parece desfiar pelas linhas, desfaz-se. A inexpressividade do mistério aflito e incomum dessa hora assusta. Tudo, assim como a manhã, está imerso na noite que se apresenta e se evidencia por trás da linha da penumbra. Nessa hora, quando tudo é instável, obscuro e inseguro, não há sombras no sentido comum dessa palavra: reflexos escuros de objetos iluminados lançados ao chão. Mas tudo se apresenta como sombra, tudo tem o seu lado noturno. Essa é a hora mais aflita e mística; a hora do desabar do tempo e de rasgar sua cobertura precária; a hora de desnudamento do abismo noturno sobre o qual se ergueu o mundo diurno; hora da noite e do dia (Vigotski, 1998, p. 3232). 2

Infelizmente, os esforços empreendidos no sentido de encontrar referências

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Era o ano de 1917, Vigotski estava com 21 anos. As palavras que usa para se referir à vivência pela alma da hora trágica ao ler ou refletir sobre a tragédia de Shakespeare podem também refletir o contexto em que a Rússia estava mergulhada: tempo de ruptura, tempo em que o velho regime vivia seus últimos dias, mas o novo ainda não havia assumido plenamente seu posto. Vigotski volta para Gomel no final de 1917, mas o regime dos Sovietes se instala na cidade apenas um ano depois, quando ele assumiu diferentes postos de trabalho, lecionando Literatura Russa em escolas, Psicologia Geral, Infantil e Pedagógica nos cursos técnicos de pedagogia e também se dedicando a atividades culturais. E é no âmbito desses cursos que organiza o gabinete de psicologia, espaço em que germinam ideias que serão sistematizadas em relatório que deixará impressionados os presentes no IIº Congresso Russo de Psiconeurologia, em Petrogrado, no início de 1924. Alguns meses depois, ao aceitar o convite para integrar um grupo de pesquisadores no recém-inaugurado Instituto de Psicologia da primeira Universidade de Moscou, em resposta à pergunta “em que área se considera mais útil?”, ao preencher o formulário do Narcompros,3 Vigotski escreve: “no campo de educação das crianças cegas, surdas e mudas”. A esses estudos Vigotski estará ligado até sua morte. Quando volta para Moscou, já com 27 anos de idade e na qualidade de pesquisador, traz na bagagem dois de seus três livros que tratavam de assuntos que perpassam toda sua produção intelectual: arte, educação e desenvolvimento humano. Ao livro Psirrologuia iskusstva (Psicologia da arte), finalizado em 1925 e que nasceu com base em seu trabalho monográfico, o destino reservava um longo período de espera, seria publicado pela primeira vez apenas em 1965. Felizmente, não foi o que ocorreu com o Pedagoguitcheskaia psirrologuia (Psicologia pedagógica). Lançado em 1926, foi o único livro que Vigotski viu publicado e no qual defende a criação de um novo campo científico – a Psicologia Pedagógica. As duas obras, sem dúvida, revelam que a capital russa, agora capital da União Soviética, estava

sobre este autor citado por Vigotski não lograram êxito. Também não se tem certeza da grafia correta, pois Vigotski cita-o somente uma vez no texto e com letras cirílicas. 3 Tradução do russo realizada especialmente para esse artigo por Zoia Prestes.

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recepcionando um jovem pesquisador engajado com as questões que a nova sociedade apresentava. Não demorou muito para Vigotski assumir o papel de líder intelectual na “troika” formada com Luria e Leontiev no novo local de trabalho – Instituto de Psicologia. Mais tarde, a “troika” se transformou em “vosmiorka” com a integração de alguns alunos ao grupo. No entanto, antes disso tudo acontecer, no início dos anos 1930, Vigotski já havia realizado muitos estudos, escrito muitos artigos e relatórios científicos. A Revolução pôs como tarefa primordial a formação do homem novo e de uma escola nova que iria educar esse homem que viveria na nova sociedade socialista. Entre os que pertenciam à intelectualidade russa houve os que “aceitaram” e os que “não aceitaram” a Revolução. Vigotski estava no primeiro grupo e mergulhou de corpo e alma no fluxo das transformações vertiginosas trazidas pela Revolução de Outubro e, entre 1925 e 1930, os estudos da “troika” provocam também uma espécie de revolução na interpretação da consciência. Em sua fala, em janeiro de 1924, em Petrogrado, Vigotski já defendia que a Psicologia deveria estudar os problemas da consciência na organização do comportamento do homem, mas não como faziam os naturalistas e os fenomenologistas que, ao final das contas, selavam um acordo silencioso, como diz Luria (2001), de que as funções psicológicas complexas – as que nos diferenciam dos animais – não se submetem às investigações científicas. O desafio era criar uma nova abordagem dos processos psicológicos estritamente humanos e pôr a psicologia em bases materialistas. E nessa tarefa os estudos de Marx, Engels e Pavlov foram fundamentais, mas não excluíam a importância das contribuições de autores ocidentais contemporâneos como Kurt Lewin, Heinz Werner, William Stern, Karl e Charlotte Buhler e Wolfgang Koller. As discussões são sistematizadas por Vigotski no trabalho Istoritcheski smisl psirrologuitcheskogo krizissa (O sentido histórico da crise na psicologia) que, ainda hoje, guarda uma atualidade, porém também carrega traços característicos da trajetória de vida e obra do pensador. Segundo pesquisas recentes (Zaverchneva, 2009), ainda faltam informações seguras para afirmar com precisão em que data e local ele escreveu esse trabalho. No entanto, sem dúvida alguma, o trabalho que Ekaterina Zaverchneva realizou, indicando os cortes e censuras impostos até mesmo na primeira publicação,

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em 1982, ou seja, aproximadamente mais de 50 anos depois, tem uma importância fundamental e estabelece um marco histórico em direção não só à recuperação dos manuscritos originais, mas de firmar um divisor de águas entre o que é verdadeiro e falso nas inúmeras edições que atribuem a autoria dos textos a Vigotski, seja em seu país ou no Ocidente. Aleksandr Romanovitch Luria foi uma das pessoas que empenhou esforços para que as obras de Vigotski voltassem às prateleiras das bibliotecas e livrarias na União Soviética após 20 anos de censura. Em seu livro autobiográfico, o capítulo sobre Vigotski inicia-se com uma declaração de reverência ao amigo e colega: Não seria exagero chamar Vigotski de gênio. Há mais de cinco décadas na ciência, não encontrei uma pessoa sequer que se aproximasse minimamente dele pela clareza de sua mente, pela capacidade de enxergar a essência de problemas complexos, pela amplitude em muitos campos da ciência e pela capacidade de prever os futuros caminhos de desenvolvimento da psicologia (Luria, 2001, p. 25).

Porém, até hoje, mesmo tendo Luria entre os principais idealizadores do projeto de retomada das edições das obras de Vigotski, muitos de seus escritos ainda não tiveram um destino digno. Censurado desde 1936 até 1956, principalmente, quando se iniciou a perseguição à pedologia, sua produção intelectual passou para o rol de textos proibidas de acordo com a Resolução sobre as deturpações pedológicas no sistema de Narcompros. No entanto, isso já foi resultado de um movimento que começou em 1929 com as acusações de que a teoria histórico-cultural era antimarxista e reacionária. Alguns pesquisadores acreditam que, se Vigotski não tivesse falecido de tuberculose, doença que acometeu vários membros de sua família e também o levou à morte na madrugada de 11 de junho de 1934, ou seja, antes do famoso documento oficial, teria tido o mesmo destino de seu primo, David Vigodski, morto em um campo de trabalhos forçados para onde foi enviado pelo governo stalinista. No entanto, a história lida com fatos reais e o fato é que, mesmo morto, Vigotski era visto como alguém perigoso e, ao longo de duas décadas, seus colegas, amigos e alunos foram proibidos de fazer qualquer referência a seus trabalhos.

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Não conseguindo imaginar a ciência psicológica sem os trabalhos do Professor, eles [seus alunos] eram obrigados a falar sobre suas ideias sem citá-lo e sem fazer referências (imaginem, por um minuto, que os estudos sobre os reflexos condicionados fossem divulgados sem referências aos trabalhos de Pavlov). Em suma, no início de 1950, havia crescido uma geração inteira de pedagogos e psicólogos que sequer conhecia o nome de Vigotski ou que apenas sabia dele por ter ouvido falar (Reif, 2011, p. 8).

O lento e negociado processo de “retorno” de Vigotski ao meio acadêmico e científico permitiu que suas ideias voltassem a ser discutidas livremente, sem temer repressões. Segundo Zazzo, a iniciativa foi de Leontiev, que lhe pediu ajuda para encontrar um editor fora da URSS para a publicação de obras do colega (Iarochevski, 2007). A estratégia era provocar com edições estrangeiras o resurgimento de Vigotski nas prateleiras de livrarias e bibliotecas soviéticas. Porém, Luria antecipou-se a Zazzo e conseguiu que, em 1955, saísse nos Estados Unidos das Américas uma primeira coletânea de textos de Vigotski. Então, um ano depois, em 1956, Moscou edita a coletânea Izbrannie psirrologuitcheskie issledovania (Estudos Psicológicos Escolhidos) e rompe as duas décadas de silenciamento e, até hoje, os estudos realizados despertam grande interesse em diversos campos de conhecimento, principalmente nos da educação e da psicologia. E, se podemos ter acesso a seus trabalhos, escritos, principalmente, ao longo da década de 1920, quando a Rússia pós-revolucionária vivia um período considerado de total liberdade de pensamento e de livre acesso às produções intelectuais estrangeiras, é graças ao trabalho de preservação e de divulgação de suas obras empreendido por seus familiares, colegas, colaboradores, alunos e amigos. Vencidas barreiras, Vigotski reaparece no meio acadêmico, volta a ser estudado e ilumina com a força de suas ideias diferentes estudos. No entanto, para que fossem publicadas mesmo após o “degelo”, foi necessário ceder em alguns pontos. O importante, como afirmou Guita Lvovna, era que fosse publicado e que voltassem a falar o nome de Vigotski. Impossível discordar de Guita, mas da mesma forma é impossível se calar diante dos prejuízos causados por essas edições. Um exemplo claro desses prejuízos é o caso do Brasil, que conheceu Vigotski pelas traduções feitas com base nas versões norte-

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americanas. Desde então, já se passaram mais de 40 anos. Sem dúvida, merecem reconhecimento essas primeiras iniciativas de trazer para o Brasil os estudos de um dos mais importantes pensadores soviéticos do campo da educação e da psicologia do século XX. Porém, atualmente, quando a própria Rússia reconhece a necessidade de recuperação dos originais, daquilo que realmente foi redigido e escrito por ele, urge a necessidade de questionarmos porque se continua indicando, lendo e estudando textos que não são de Vigotski, não foram redigidos por ele e que induzem a interpretações equivocadas de suas ideias.

CONTRIBUIÇÕES DE VIGOTSKI PARA OS ESTUDOS DO ENSINO DESENVOLVIMENTAL4 A teoria de Vigotski deixou importantes contribuições que vão ao encontro de questões indicadas por Vassili Vassilievitch Davidov – um dos principais representantes dos estudos sobre o ensino desenvolvimental. Segundo ele, “uno de los problemas centrales de la psicología general, evolutiva y pedagógica es descubrir las conexiones entre el desarrollo de la psiquis del niño y su educación y enseñanza” (Davidov, 1988, p. 46). Ele diz também que o estudo dessas conexões é necessário para se compreender três questões importantes: a) os vínculos entre o desenvolvimento psicológico e os sistemas educativos; b) a dependência interna que o desenvolvimento da psique tem em relação a um determinado sistema de educação ou de ensino; c) a profunda influência psicossocial da educação e do ensino na formação das pessoas. Afirma, ainda, que compreender essas questões é fundamental para a constituição do Ensino Desenvolvimental. Investigações nesse sentido ajudam a melhor organizar e aperfeiçoar o ensino, buscando-se sua maior eficácia em direção ao desenvolvimento integral dos alunos em formação. De acordo com Vigotski, é preciso pensar uma educação baseada na dinâmica cultural enquanto prática e vivência humana.

Alguns estudiosos soviéticos e russos da teoria histórico-cultural, com base no conceito de Zona de Desenvolvimento Iminente, de Vigotski, desenvolveram o conceito “razvivaiuschee obutchenie” que está relacionado à ideia de que a atividade colaborativa de ensinar promove o desenvolvimento. Esse ensino, por ser orientado para o desenvolvimento, vem sendo traduzido no Brasil como “ensino desenvolvimental”.

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El educador empieza a comprender ahora que cuanto el niño se adentra en la cultura, no sólo toma algo de ella, no sólo asimila y se enriquece con lo que está fuera de él, sino que la propia cultura reelabora en profundidad la composicón natural de su conducta y da una orientación completamente nueva a todo el curso de su desarrollo. La diferencia entre los dos planos de desarrollo del comportamiento – el natural y el cultural – se convierte en el punto de partida para la nueva teoría de la educación. El segundo momento es más importante aún, más esencial. Introduce por primera vez en el problema de la educación un enfoque dialéctico del desarrollo del niño (Vigotski, 1995, p. 305).

Essa afirmação contém duas contribuições importantes para se pensar um ensino orientado para o desenvolvimento: uma visão de imersão ativa, criadora e integral da criança nas formas culturais humanas que “no surgen sólo como simples hábitos externos, sino que se convierten en parte inseparable de la propia personalidade, incorporan a ella nuevas relaciones y crean un sistema completamente nuevo” (Vigotski, 1995, p. 133); e uma compreensão dialética de desenvolvimento psicológico: La tarea que se plantea hoy día a la psicología es la de captar la peculiaridade real de la conducta del niño en toda su plenitude y riqueza de expansión y presentar el positivo de su personalidad. Sin embargo el positivo puede hacerse tan sólo en el caso de que se modifique de raíz la concepción sobre el desarrollo infantil y se compreenda que se trata de un complejo proceso dialéctico que se distingue por una complicada periodicidad, la desproporción en el desarrollo de las diversas funciones, las metamorfoses o transformación cualitativa de unas formas en otras, un entrelazamiento complejo de procesos evolutivos e involutivos, el complejo cruce de factores externos e internos, un complejo proceso de superación de dificultades y de adaptación (Vigotski, 1995, p. 141).

O conceito de mediação é importante para entendermos essas discussões, ele aponta para a relação indissociável e dialética entre a atividade psíquica e o meio sociocultural. Formulada no seio dos estudos sobre o desenvolvimento das funções mentais superiores, a mediação é um conceito fundamental na teoria histórico-cultural, e se refere à “creación y el emplego

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de los signos” (Vigotski, 1995, p. 84). Para Vigotski, os signos são instrumentos psicológicos que regulam, desde fora, o pensamento e a conduta, e influenciam nas relações humanas e na ação do homem num contexto sociocultural. Segundo ele, o desenvolvimento psicológico tem um caráter indireto (mediado), o que define a proeminência das linhas de formação sociocultural na conduta humana e a importância da operação com signos no desenvolvimento de funções mentais superiores (Vigotski, 1995; Vigotski; Luria, 2007). A operação com signos, ou a criação e o uso dos símbolos, é um fator muito importante na visão dialética de desenvolvimento e na apropriação das formas culturais humanas, porque seus efeitos repercutem na memória, na atenção, na percepção, no pensamento e na vontade. Assim sendo, o desenvolvimento psicológico e cultural da criança é fortemente afetado pela operação com signos e pelas interações sociais. A educação escolar participa significativamente desse processo de desenvolvimento, inicialmente por meio do ensino da leitura, da escrita e do cálculo matemático. Essa imersão cultural que a educação formal propicia à criança, desde os primeiros anos escolares, é muito importante para os saltos qualitativos que ela pode vivenciar em seu desenvolvimento psicológico e cultural. A escola deveria possibilitar à criança “una amplia comunicación con el mundo que no esté basada en el estudio pasivo, sino en la participación activa y dinâmica en la vida” (Vigotski, 1997, p. 85). Essa participação da escola no desenvolvimento psicológico da criança, propiciando a apropriação da produção cultural humana, abarca tanto atividades simbólicas quanto semióticas. No primeiro caso, ocorrendo uma mudança qualitativa crucial no desenvolvimento da criança, por exemplo, no processo de alfabetização, “gracias a su domínio del lenguaje escrito, gracias a la posibilidad de leer y por consiguinte, enriquecerse con todas las creaciones del genio humano en el terreno de la palabra escrita” (Vigotski, 1995, p. 198-199). No segundo caso, “en colaboración, bajo lá guia y ayuda de alguien, el niño siempre podrá lograr más y resolver tareas más difíciles que si lo hace em forma independente” (Vigotski, 2007, p. 354), o que envolve a relação e comunicação entre as pessoas, porque “en la escuela el niño se instruye no en lo que sabe hacer por sí mismo, sino en lo que aún no sabe hacer pero está a su alcance con la colaboración y guia del maestro” (Vigotski,

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2007, p. 357). Estes processos são vistos por Vigotski como interligados, pois, na escola, a operação com signos constitui-se também por formas semióticas de cooperação e colaboração entre as pessoas. Atividades simbólicas compartilhadas têm forte impacto no desenvolvimento psicológico, na elaboração de conhecimentos e na formação social da personalidade. Essas são algumas questões ligadas ao processo de ensino, que devem ser dimensionadas na resolução de tarefas escolares e no desenvolvimento da abstração, o que aponta para outra importante contribuição do autor: formação e desenvolvimento de conceitos científicos. Para Vigotski (2007), o desenvolvimento desses conceitos é uma questão primordial no ensino do conhecimento científico. A formação e desenvolvimento de conceitos científicos, comparados à formação e desenvolvimento de conceitos cotidianos, envolvem aspectos do pensamento infantil e o problema de sua sistematização por meio da educação formal. Segundo Vigotski (2007), os conceitos científicos são produzidos nas condições do ensino escolar, e propiciam a formação dos processos de generalização e abstração. O desenvolvimento dos conceitos científicos está fortemente ligado ao significado das palavras, e relacionado com o desenvolvimento da atenção voluntária, da memória lógica, da abstração, da comparação e da distinção – fatores diretamente relacionados com o pensamento teórico e largamente empregados na instrução escolar. A colaboração ou cooperação sistemática do professor com o aluno é fundamental para a promoção dos conceitos científicos. Os conceitos cotidianos são formados com base nas ações concretas da criança em seu cotidiano, de maneira empírica. As concepções de instrução e zona de desenvolvimento iminente, anteriormente analisadas, completam esse quadro de possíveis contribuições de Vigotski que sublinhamos de sua obra, para se pensar um ensino orientado para o desenvolvimento. De acordo com Vigotski (2007), a atividade-guia de instrução ou ensino no âmbito das matérias escolares guia e possibilita o desenvolvimento, promovendo-se saltos qualitativos no desenvolvimento psicológico da criança e em suas formas de abstração da realidade. À educação escolar, à instrução cabe atrair e orientar o complexo e poderoso curso dialético do desenvolvimento psicológico e cultural da criança, que vem fecundado pela vivência humana. Para

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Vigotski (2006, p. 259), “el desarrollo no interrumpe jamás su obra creadora y hasta en los momentos críticos se producen procesos constructivos”. A obra de Vigotski contém outras significativas contribuições para a educação que não destacamos no espaço dedicado a esse trabalho, mas que podem ser conferidas com o estudo cuidadoso de sua teoria. Vigotski apresenta em seus textos uma análise brilhante das metodologias psicológicas produzidas em seu tempo e revela-se um perspicaz investigador das questões históricas e socioculturais que cercam a formação da personalidade e da consciência humana, e um incansável pesquisador e escritor sobre diversos temas, dos quais a educação se destaca (Kozulin, 2001; Rivière, 2002). Rivière comenta que Vigotski, cruzó, como una fúria veloz, la Psicologia científica de nuestro siglo. En un breve período de diez años tuve tiempo suficiente para analizar a fondo las alternativas teóricas de la Psicologia de su tiempo, proponor soluciones originales a algunos de sus problemas más dificiles, diseñar una concepción nueva sobre el origen y la naturaliza de las funciones superiores, escribir alrededor de doscientos trabajos científicos – entre ellos, varios libros – sobre temas diversos, contribuir a la creación y organización de instituiciones de atención a niños deficientes en la Unión Soviética y dejar una larga estela de influencia y un proyecto de futuro para la Psicologia, que aún permanece, en su mayor parte, sin agotar (Rivière, 2002, p. 11).

Ao seu nome, como afirma Puzirei (1989), vincula-se a formação de uma importante escola psicológica (histórico-cultural) que vem influenciando até os dias de hoje a Psicologia e a Pedagogia na Rússia e em outros países. En la actualidad, la evolución de la psicología en la dirección general que dieron los trabajos de Vigotski es extraordinariamente heurística y oferece grandes perspectivas no sólo desde el punto de vista de la elaboración de una serie de problemas metodológicos y teóricos fundamentales, sino también, lo que no es menos importante, en la búsqueda de una solución eficaz para muchas grandes tareas prácticas que la propia vida plantea hoy a la psicología (Puzirei, 1989, p. 3).

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No momento, os arquivos pessoais de Vigotski estão sendo preparados pela família do autor, juntamente com colaboradores, para formarem uma nova coleção de suas obras contendo muitos trabalhos inéditos. Certamente será um acontecimento a publicação dessa obra e uma contribuição nova, sem par, para a ampliação dos estudos sobre seu trabalho científico. Os problemas de tradução e os desafios de acesso e interpretação de sua obra mostram que se trata de uma produção científica complexa, cercada de circunstâncias históricas e editoriais delicadas, que precisam ser consideradas e analisadas por qualquer estudioso de Vigotski. No entanto, mostram também uma teoria rica, ainda em aberto, inovadora em sua época e influente até os dias de hoje, que precisa ser continuamente estudada, divulgada e discutida. Tais desafios e obstáculos devem ser motivadores ou impulsionadores para estudos cada vez mais aprofundados e densos, sobre esse autor que nos deixou um impressionante legado científico.

PUBLICAÇÕES DE L. S. VIGOTSKI A bibliografia completa dos trabalhos de L.S. Vigotski está publicada em Vigodskaia, G.L.; Lifanova, T.M. Lev Semionovitch Vigotski: jizn, deiatelnost, chtrirri k portretu. Moskva: Smisl, 1996, p. 390-418. Suas principais obras foram publicadas nos seis volumes de Obras Reunidas, publicadas na União Soviética entre 1982 e 1984. Os cinco primeiros volumes foram traduzidos para o inglês e o espanhol.

EM ESPANHOL Vigotski, L.S. Obras escogidas. Madri: Editora Visor Dis., S/A, 1991, V. 1. Tradução de José Maria Bravo, 1ª edição. Vigotski, L.S. Obras escogidas. Madri: Editora Visor Dis., S/A, 1995, V. 2. Tradução de José Maria Bravo, 1ª edição. Vigotski, L.S. Obras escogidas. Madri: Editora Visor Dis., S/A, 1995, V. 3. Tradução de Lydia Kuper. Vigotski, L.S. Obras escogidas. Madri: Editora Visor Dis., S/A, 1996, V. 4. Tradução de Lydia Kuper. Vigotski, L.S. Obras escogidas. Madri: Editora Visor Dis., S/A, 1997, V. 5. Tradução de Guillermo Blanck.

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EM INGLÊS VYGOTSKY, L.S. The collected works of L.S.Vygotsky. New York: Plenum Press, 1987, V. 1. VYGOTSKY, L.S. The collected works of L.S.Vygotsky. New York: Plenum Press, 1993, V. 2. VYGOTSKY, L.S. The collected works of L.S.Vygotsky. New York: Plenum Press, 1997a, V. 3. VYGOTSKY, L.S. The collected works of L.S.Vygotsky. New York: Plenum Press, 1997b, V. 4. VYGOTSKY, L.S. The collected works of L.S.Vygotsky. New York: Plenum Press, 1998, V. 5. VYGOTSKY, L.S. The collected works of L.S.Vygotsky. New York: Plenum Press, 1999, V. 6.

REFERÊNCIAS DAVIDOV, V. La enseñanza escolar y el desarrollo psiquico: investigación psicológica teórica y experimental. Tradução de Marta Shuare. Moscou: Editorial Progreso, 1988. HILGARD, E. R. Teorias da aprendizagem. Tradução de N. P. Mejias, H. A. Guedes e C. Rameh. São Paulo: Herder, 1956-1966. IAROCHEVSKI, M. G. L. S. Vigotski: v poiskarh novoi psirrologii. URSS: Moskva, 2007. KOZULIN, A. La Psicología de Vigotski. Tradução de Juan Carlos Gómez Crespo. Madrid: Alianza Editorial, 2001. LURIA, A. R. Etapi proidennogo puti. Nautchnaia avtobiografia. Moskva: Izdatelstvo moskovskigo universiteta, 2001. PRESTES, Z. R. Quando não é quase a mesma coisa - Análise de traduções de Lev Semionovitch Vigotski no Brasil - Repercussões no campo educacional. Orientador: Elizabeth Tunes. 2010, 337 folhas. Tese (de Doutorado em Educação) faculdade de Educação, Universidade de Brasília, Brasíla, 2010. PUZIREI, A. El Proceso de Formación de la Psicologia Marxista: L. Vigotski, A. Leontiev, A. Luria. Tradução de Marta Shuare. Moscou: Editorial Progresso, 1989. REIF, I. Misl i sudba psirrologa Vigotskogo. Moskva: Genesis, 2011. RIVIÈRE, A. La psicología de Vigotski. 5 ed. Madrid: A. Machado Libros, 2002. TUNES, E.; TACCA, M. C. V. R.; MARTÍNEZ, A. M. Uma crítica às teorias clássicas da aprendizagem e à sua expressão no campo educativo. Linhas Críticas, Brasília v. 12, n. 22, p. 109-130, jan./jun. 2006. TUNES, E.; PRESTES, Z. Vigotski e Leontiev: ressonâncias de um passado.

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Cadernos de Pesquisa, São Paulo v. 39, n. 136, p. 285-314, jan./abr. 2009. VIGOTSKI, L.S. Psirrologia iskusstva. Minsk: Sovremennoie slovo, 1998. VIGOTSKI, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2000. VIGOTSKI, L.S. Michlenie i retch. Moskva: Labirint, 2001. VIGOTSKI, L.S. Problema vozrasta. In: Vigotski, L.S. Psirrologuia razvitia rebionka. Moskva: Eksmo, 2004, p. 5-199. VIGOTSKI, L. Pensamiento y habla. Tradução de Alejandro Ariel González. Buenos Aires: Colihue, 2007. Vigotski, L. S. Historia del desarrollo de las funciones psíquicas superiores. Tradução de Lydia Kuper. Obras Escogidas. Madrid: Visor, 1995, v. III, p. 11340. Vigotski, L. S. Acerca de la psicología y la pedagogia de la defectividad infantil. In: Fundamentos de Defectologia. Tradução de Julio Guillermo Blanck. Obras Escogidas. Madrid: Visor, 1997, v. V, p. 73-95. Vigotski, Lev S. Problemas de la Psicología Infantil. Tradução de Lydia Kuper. Obras Escogidas. Madrid: Visor, v. IV, 2006, p. 249-412. Vigotski, L. S.; LURIA, A. R. El Instrumento y el Signo en el Desarrollo del Niño. Tradução de Pablo del Río. Madrid: Fundación Infancia y Aprendizaje, 2007. VYGOTSKY, L.S. The Collected works of L. S. Vygotsky. Volume 1. Problems of General Psychology. Tradução de Norris Minick. Editado por Robert W. Rieber e Aaron S. Carter. New York: Plenum Press, 1987. VYGOTSKY, L.S. The Collected works of L. S. Vygotsky. Volume 5. Child Psychology. Tradução de Marie J. Hall. Editado Robert W. Rieber. New York: Plenum Press, 1998. ZAVERCHNEVA, E. Iu. Issledovanie rukopisi L.S.Vigotskogo “Istoritcheskii smisl psirrologuitcheskogo krizissa”. Moskva: Voprosi Psirrologuii, n°6, 2009.

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A. N. LEONTIEV: A VIDA E A OBRA DO PSICÓLOGO DA ATIVIDADE1 Andréa Maturano Longarezi - PPGED/FACED/UFU Patrícia Lopes Jorge Franco - UFU

O MOVIMENTO HISTÓRICO DE CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO DE A. N. LEONTIEV Descrever a trajetória de um dos importantes fundadores e participante ativo da Psicologia histórico-cultural implica necessariamente percorrer a turbulenta história política e social da ex-União Soviética, no seio da qual emerge a necessidade de se constituir uma nova organização social pautada por princípios e ideais revolucionários marxista-leninistas. A vida, obra e os constructos teóricos de Aleksei Nikolaevitch Leontiev nos possibilitam compreender o cerne das vertiginosas transformações por que passou o campo da psicologia pedagógica soviética, no início do século XX, e no modo como esta buscou analisar e enfrentar os seus problemas no decurso de um determinado tempo. De modo que, não há como dissociar as formulações teóricas conquistadas nesse âmbito e o chão sob o qual ocorreu a Revolução Socialista.2 O texto constitui parte de pesquisas que vêm sendo desenvolvidas com apoio financeiro do CNPq, da Capes e da Fapemig. 2 As fontes consultadas para resgatar a vida e a obra do psicólogo da atividade foram: Shuare, Marta. La psicologia soviética tal como yo la veo. Editorial Progresso. Moscú, 1990. Leontiev A. A. A vida e o caminho criativo de A. N. Leontiev. Jornal de Psicologia Russa e Leste-Européia (Journal of Russian and East European Psychogy), vol. 43, n. 3, May-June 2005, p. 8-69.c 2005 M. E. Sarpe, Inc. All rights reserved. Tradução de Chrysantho Sholl Figueiredo; Golder, M. (Org.) Leontiev e a psicologia histórico-cultural. Um homem em seu tempo. São Paulo: Editora Xamã, 2004; Puzirei, Andrei; Guippenreiter, Yulia – El processo de formación de la psicologia marxista. Leontiev, A. N.; Luria, A. R.; Vigotski, L. S. Editorial Progreso. Moscú, 1989. Traducido Del russo por Marta Shuare. p.397-403; Valsiner, Jaan; Van der Veer, René. Vygotsky uma síntese. São Paulo: Edições Loyola, 1996, p. 204; 315-6; 406. Ver também em Blanck, Guilhermo. Prefácio. In: VIGOTSKI, L. S. Psicologia Pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2003; Tunes, E. & Prestes, Z. Vigotski 1

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Fonte: http://wiki.pippkro.ru/index.php/Деятельностный_ подход_в_образовательном_проекте

Aleksei Nikolaevitch Leontiev (Алексей Николаевич Леонтьев) nasceu em Moscou no dia 5 de fevereiro de 1903 (18 de Fevereiro pelo Calendário Antigo) em um período conhecido historicamente como Pré-revolucionário3 (1870-1916) e no mesmo ano em que ocorreu no II Congresso do Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR)4 a cisão dos seus membros em dois grupos antagônicos e irreconciliáveis, os Bolcheviques e os Mencheviques.5 e Leontiev ressonâncias de um passado. Cadernos de Pesquisa. v.39, n.136, p.285314, jan.\abr.2009. Outros acessos disponíveis em: . 3 A partir dos anos 1970 do século XIX, “a questão da evolução histórica da Rússia transformou-se na preocupação central do pensamento político social russo”. “A ideologia então dominante nos círculos revolucionários era o populismo que [...] acreditava na possibilidade de uma revolução socialista camponesa”. Ver detalhamento In: Ohlweiler, O. A. (1987). Humanidade e lutas sociais. Era do imperialismo. Porto Alegre: Tchê, p.56. 4 Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR) em russo (Росси́йская Социа́л-Демократи́ческая Рабо́чая Па́ртия = РСДРП) foi um partido político socialista russo fundado, em 1898, em Minsk de modo a unir as várias organizações revolucionárias em um partido único. Disponível em: . Acesso em:12 out.2011. 5 Os Bolcheviques (большеви́к, “da maioria” em russo), liderados por Lênin; e os Mencheviques (меньшеви́к, “da minoria” em russo), liderados por Julius Martov. Os Bolcheviques, liderados por Lênin, defendiam que os trabalhadores somente chegariam ao poder pela luta revolucionária. Pregavam a formação

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As bases teórico-metodológicas desse pensamento revolucionário encontram-se nas teses marxistas com a qual Lênin,6 em 1898, afirmou a existência de um vínculo indissociável entre a revolução democráticoburguesa e a revolução socialista-proletária, em contraste com a tese dos mencheviques, de que a “revolução democrático-burguesa devia necessariamente preceder a revolução socialista-proletária” (Ohlweiler, 1987, p.57). Segundo Ohlweiler (1987), Lênin e os bolcheviques compreendiam que: a burguesia russa não podia nem pretendia completar a revolução democrática, já que, por seu temor ao proletariado, ela se colocava a meio caminho da contra-revolução. Ao proletariado é que caberia a missão histórica de completar a revolução democrático-burguesa como prelúdio para realização de sua própria revolução socialista (OHLWEILER, 1987, p. 57).

No cerne do processo revolucionário socialista marxista-leninista, o movimento operário se organizou em torno da construção desse novo modelo. Segundo Cunha (et al., 2010) todos os âmbitos da vida social outrora dizimados e corroídos não só pela situação do caráter econômico feudal e guerras imperialistas, mas também pelos embates no interior da própria revolução, como a guerra civil entre vermelhos e brancos, necessitavam ser reconstruídos sob uma nova base. de uma ditadura do proletariado, na qual também estivesse representada a classe camponesa. Como esse grupo obteve mais adeptos, ficou conhecido como bolchevique, que significa “da maioria”. Trotsky, inicialmente um menchevique, aderiu aos bolcheviques mais tarde. Os Mencheviques, liderados por Plekhanov e por Martov, defendiam que os trabalhadores podiam conquistar o poder participando normalmente das atividades políticas. Acreditavam, ainda, que era preciso esperar o pleno desenvolvimento capitalista da Rússia e o desabrochar das suas contradições, para se dar início efetivo à ação revolucionária. Como esses membros tiveram menos votos em relação ao outro grupo, ficaram conhecidos como mencheviques, que significa “da minoria”. Disponível em: . Acesso em:12 dez.2011. 6 Vladimir Ilitch Uliánov [Lênin] (22/04/1870 – 21/01/1924) nasceu em Simbirsk (depois Ulianovski), pequena cidade sobre o Volga. Membro fundador, principal teórico e dirigente do Partido Bolchevique. Dirigiu o partido e os sovietes à tomada de poder na Revolução Russa de 1917. Fundou a Internacional Comunista, identificou o Imperialismo como fase superior do Capitalismo e enfatizou o papel do partido como vanguarda da revolução. Ver Johnstone, M. (1986/1980) Lênin e a revolução. In: Hobsbawm, E. J. (Org.) História do marxismo. v. 5 - O marxismo na época da terceira internacional: a revolução de outubro / o austro marxismo. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.

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De modo que tal organização somente se daria a partir dos princípios do método materialista histórico-dialético, enquanto instrumento para entender e agir sobre essa realidade, possibilitando a efetivação dessa sociedade socialista, não somente no plano político-econômico, bem como no plano teórico. Conforme palavras de Marx (1983, p. 25): A transformação da base econômica altera, mais ou menos rapidamente toda a imensa superestrutura. Ao considerar tais alterações é necessário sempre distinguir entre a alteração materialque se pode comprovar de maneira cientificamente rigorosa – das condições econômicas de produção e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em resumo, as formas ideológicas pelas quais os homens tomam consciência deste conflito, levando-o às suas últimas conseqüências.

Nesse ínterim, sucederam-se formas específicas de transformação na superestrutura, como salientados em Marx e retomados por Lênin, os enfrentamentos se deram, segundo Cunha (et al., 2010), no plano teórico das ciências em geral, que tinham como mote desenvolver, a partir da base científica do método materialista histórico-dialético, uma série de reformulações não dissociadas das demais lutas sociais, ou seja, da construção de uma nova sociedade: a socialista. Para Shuare (1990, p.24) a transformação radical do modelo de organização social da Rússia acarretou igualmente “transformações das relações sociais, profunda comoção no tecido da consciência social”, e consequentemente, nas consciências individuais. As ideias de V. I. Lenin, M. I. Kalinin, M. N. Petrovski, N. K. Krupskaia, A. S. Makárenko influenciaram inicialmente o processo de formação e desenvolvimento da pedagogia e da ciência psicológica no Período Revolucionário7 (1917) e ao longo do Período PósPeríodo em que se estabelece o Governo Provisório com a vitória da revolução democrática burguesa de fevereiro em 1917, até a sua derrubada com a assunção do partido bolchevique ao poder, efetivando a revolução socialista na Rússia e a Proclamação do Comitê militar-revolucionário de Petrogrado aos cidadãos da Rússia, em 25 de outubro de 1917. Nesse intervalo de tempo, Nadéja Konstantínovna Krúpskaia (1869-1939) mulher de Lénin organiza o programa escolar municipal que previa o ensino gratuito às crianças em idade pré-escolar, e cria-se o Comissariado do povo para a educação - Narkompros. Capriles, R. Makarenko - o nascimento da pedagogia socialista. São Paulo: Scipione. 1989. p. 25-26. Disponível em: . 7

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revolucionário8 (1922-1991) se destacando também os membros da primeira, segunda e terceira geração da Teoria Psicológica HistóricoCultural, tais como L. S. Vigotski, A. N. Leontiev, A. R. Lúria, D. B. Elkonin, A. V. Zaporozhets, P. Ya. Galperin, V. V. Davídov, L. V. Zankov, N. F. Talizina, V. S. Mujina, L. I. Bozhovich, A. Petrovski, P. I. Zinchenko9, entre outros. Em meio ao movimento desse processo revolucionário marcado por instabilidades e por essa démarche histórica, A. N. Leontiev concluiu, na primeira metade da década de 1930, 10 seus estudos na Faculdade de História e Filologia, atualmente denominada Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Moscou, com a orientação de Chelpanov em Psicologia (diretor do Instituto de Psicologia11 até 1923). Acesso em:12 out. 2011. 8 Período em que é oficialmente criada a União das Repúblicas Socialistas soviéticas, com a adoção do calendário gregoriano. Contudo, vale destacar que, embora em 1922 Lenin tenha, por motivos de saúde, afastado-se de seu posto no partido e no governo, e morrido em 1924; Stálin já conquistava postos mais altos desde 1922, progressivamente afastando seus opositores; enquanto Lenin conseguia ter uma postura mais conciliadora mesmo com os divergentes. Disponível em: . Acesso em: 12 out. 2011. 9 Ver Puentes, R. V. e Longarezi, A. M. Escola e didática desenvolvimental: seu campo conceitual na tradição da Teoria Histórico-cultural. Educação em Revista, Belo Horizonte: UFMG, 2013. 10 Há registros de que A. N. Leontiev tenha concluído seus estudos na universidade em 1923. Contudo, a esse respeito em particular, A. A. Leontiev (seu filho) indica a existência de “... informações contraditórias: de acordo com um “certificado” oficial dado a Leontiev pela universidade em 1926, ele ingressou na Universidade Estatal de Moscou (MGU) em 1922 e se formou em 1925, e em 1926 passou nos exames de conclusão de curso (ou “se submeteu aos exames da Comissão Estatal de Qualificação”) e defendeu sua tese (ou “trabalho de qualificação” [qualifying work]). Mas em uma de suas autobiografias, A. N. indica que foi estudante de 1921 a 1923 e que se formou prematuramente no final de 1923. Em formulários preenchidos em 1949 e 1972, os anos como estudante da MGU são informados diferentemente: 1921-24. Em suas memórias orais, Leontiev disse ter sido expulso da universidade na primavera de 1923, e que se formou, então, atendendo aos exames, porém sem comparecer às aulas.” (Leontiev, A. A., 2005, p. 05). 11 Instituto de Psicologia de Moscou que foi fundado e dirigido por Gueorgui Ivanovitch Tchelpanov (1914-1923) em um período anterior à revolução de outubro de 1917, mas que em 1923 passou a ser dirigido por K. N. Kornílov (1923-1930), posteriormente Vigotski e seus colaboradores assumem, por algum tempo, a direção desse mesmo Instituto. Tchelpanov era adepto da psicologia introspectiva de Wilhem Wundt e opositor do behaviorismo, como psicólogo russo criticou as teorias materialistas da mente. Tal posição, na

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Em 1923, o Instituto de Psicologia de Moscou, sob a direção de K. N. Kornilov objetivou construir nova base filosófica diante dos estudos psicológicos, juntamente com os seus demais líderes, tendo em vista sua afirmação como ciência. Esse período marcou o início da vida profissional e científica de Leontiev, sendo convidado por Lúria a trabalhar neste mesmo Instituto, ocasião em que se tornou seu colaborador próximo. Esses fatos coincidiram com a reorganização deste Instituto e o começo da reestruturação da psicologia soviética sob as bases da filosofia marxista, possibilitando a “criação” da chamada “Escola histórico-cultural”. Foto: Leontiev, 1924.

Fonte: http://anleontiev.smysl.ru/b_ocherk.htm#12

Em meados de 1924, instauraram-se no campo da psicologia novas discussões e investigações impulsionadas pelos estudos da “tróika”: A. R. Luria, A. N. Leontiev e L. S. Vigotski. Sendo esse último considerado época, fora combatida numa palestra intitulada “Psicologia contemporânea e marxismo”, proferida por seu ex-aluno, K. N. Kornílov, onde criticou as “bases idealistas” da psicologia de Tchelpanov, e afirmou a inadequação da psicologia fenomenológica que na época fazia sucesso na Rússia e Europa. Sua escola chamada “reatológica” enfatizava as reações simples, a medição precisa da velocidade, forma e duração dessas reações - apresenta semelhanças com o nascente Behaviorismo Americano. Disponível em: . Acesso em: 12 out. 2011.

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um grande estudioso das obras do marxismo, e a partir de O Capital (1867) de Karl Marx, esboçou um dos pontos centrais da psicologia histórico-cultural: a distinção do trabalho humano12 das atividades de todos os demais animais. Além disso, enfatizou que era necessário o uso do método no desenvolvimento teórico da própria psicologia marxista, mediante a análise das necessidades da realidade do mundo práticoobjetivo e do projeto social da nova sociedade socialista. Tendo como ponto de partida a realidade concreta dos estudos e pesquisas desenvolvidas pelas ciências psicológicas nos finais do século XIX e início do século XX13 acerca do comportamento, formação e desenvolvimento das funções superiores, nas suas mais diversas correntes teóricas e filosóficas, o grupo de Vigostki14 sentiu a necessidade de realizar uma ampla revisão da psicologia analisando as Teorias de Pavlov e Setchenov. O mesmo grupo, ainda sob a condução de Vigotski, dedicou-se ao estudo da obra de Piaget Linguagem e o pensamento da criança, uma vez que discordavam da supremacia da base biologizante e da interpretação dada por ele para a relação entre linguagem e pensamento.15 Em decorrência desses estudos e do aprofundamento teórico em torno das teses do desenvolvimento cultural do psiquismo humano, em 1928, Vigotski publica na revista “Pedologia” de Moscou o artigo O desenvolvimento cultural da criança que foi considerado um manifesto da teoria histórico-cultural do psiquismo humano, defendido por ele e seus colaboradores.

Ver detalhamento sobre a concepção marxiana de trabalho humano In: Marx, K. H. (1867/1983) O capital: crítica da economia política. Livro Primeiro (prefácios e capítulos I a XII). São Paulo: Abril Cultural, p.149-150. Coleção “Os Economistas”. 13 Entre elas se destacam: Psicologia da Gestalt, Psicologia Introspectiva, Reactologia, Reflexologia, Condutismo. Para aprofundamento Puzirei, Andrei; Guippenreiter, Yulia – El proceso de formación de la psicologia marxista. Leontiev, A. N.; Luria, A. R.; Vigotski, L. S. Editorial Progreso. Moscú, 1989. Traducido del ruso por Marta Shuare. ISBN 5-0-001254-5. p.397-403. 14 Entre os anos 1925-1926 Vigotski esceveu o Sentido histórico da crise da psicologia no qual discutiu a oposição entre “naturalistas”’ e “mentalistas”. PUZIREI, Andrei; Guippenreiter, Yulia – El proceso de formación de la psicologia marxista. Leontiev, A. N.; Luria, A. R; Vigotski, L.S. Editorial Progreso. Moscú. 1989. Traducido del ruso por Marta Shuare. ISBN 5-0-001254-5. 15 Ver Luria, A. R. (1988) Vigotski. In: Leontiev, A. N.; Luria, A. R.; Vigotski, L. S. (1988) Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone. p. 21-37. 2006. 12

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O grupo de Moscou, nesse período, desenvolveu trabalhos na Academia de Educação de Krupskaia16 e, ao mesmo tempo, vários de seus membros exerceram atividades pedagógicas e de pesquisa na Universidade de Moscou, na Clínica de Enfermidades Nervosas do Instituto de Moscou e no Laboratório Experimental de Defectologia, criado por Vigotski. Leontiev trabalhou também na Clínica de G. Rossolimo, e ministrava aulas no Instituto Nacional Estatal de Cinematografia e no Instituto Estatal de Arte Teatral. O grupo de Moscou, sob a condução teórica de Vigotski em 1928 e 1929, consolidou-se e ampliou suas atividades de pesquisa sendo composto pelos seguintes membros, de acordo com as especialidades assumidas: Leontiev - Psicologia Geral, Teoria da Atividade, personalidade, sentido pessoal; Luria - Neuropsicologia, processos psicológicos superiores, cérebro e psiquismo; Galperin - Teoria da Atividade mental por etapas; Elkonin- Psicologia do jogo; Zaporojets - Periodização no psiquismo humano, psicologia evolutiva; Bojovich - Psicologia da personalidade, em especial do adolescente; Morozova - Metodologia e fundamentos da educação especial (Golder, 2004, p.22-23).

Nesse mesmo período, A. N. Leontiev concluiu a monografia “O desenvolvimento da memória” em 1931, resultado de suas primeiras investigações realizadas no final dos anos 1920 e que foi prefaciado por Vigotski. Na obra, apresentou o resultado dos estudos sobre mediatização instrumental, possibilitando a abordagem do estudo das memórias (como um dos processos psicológicos superiores).

Fundada em Moscou em 1919 preparava professores de estabelecimento de ensino, administrado por trabalhadores da formação popular. De 1923 a 1935, foi o mais alto estabelecimento de estudos pedagógicos da URSS. Em 1934, transferiu-se para Leningrado (antiga Petrogrado). Em 1935, transformou-se no Instituto Pedagógico Comunista N.K. Krupskaia. Em 1942, unificou-se com o Instituto Pedagógico de A. N. Herzen. Disponível em: . Acesso em: 12 out. 2011.

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Foto: Leontiev em seu estudo sobre a memória.

Fonte: http://anleontiev.smysl.ru/b_ocherk.htm#12

Após 1931, as condições político-ideológicas incidiram sobre o campo de trabalho dos vários integrantes do grupo devido ao progressivo fortalecimento da influência direta de Stalin sobre as diferentes instâncias do estado soviético. A. N. Leontiev deixou seu cargo na Academia de Educação Comunista, estabelecendo-se em Kharkov (à época capital da Ucrânia) a fim de assumir a seção de Psicologia Infantil e Genética no Instituto de Psiconeurologia (mais tarde Academia Republicana). De modo que, a mudança para a cidade de Kharkov tornou-se inevitável. Conforme Tunes e Prestes (2009, p. 293-294) nesse período: os parafusos ideológicos começavam a ser “apertados” [...] Na educação teve fim a “escola única do trabalho” criada com os esforços de Krupskaia e Lunatcharski sob a base conceitual elaborada por Blonski e Vigotski. Surgiu uma série de decretos do comitê Central do Partido Comunista da Rússia [...] que retrocediam a escola soviética ao “ideal” do ginásio pré-revolucionário. Na psicologia ocorreu a discussão sobre a “teoria da reactologia”, que resultou na destituição de K.N. Kornilov do cargo de diretor, em 1931. Foram veementes destroçadas, do ponto de vista ideológico, a reflexologia e psicotécnica de Bekhterev (todos os seus líderes em seguida sofreram repressão), o “behaviorismo” de Borovski e, finalmente, a escola histórico-cultural de Vigotski.

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Tais condições evidenciam o pano de fundo que influenciou as escolhas e os direcionamentos dados no campo da ciência psicológica, bem como nas trajetórias de vida e das investigações dos integrantes da primeira geração da escola histórico-cultural. Nesse período, por conta das atividades docentes, de pesquisas e funções diversas em distintas localidades, Leontiev (Kharkov) e Vigotski (Moscou, Kharkov e Leningrado) se distanciaram e sobre esse episódio há diferentes interpretações. Segundo Golder (2004, p. 23) há quem afirme que esse distanciamento se deve ao fato de Vigotski não ter parte ativa no novo grupo que se formou em Kharkov, pois se dedicava ao desenvolvimento de atividades em Leningrado, onde aprofundou seu vínculo com Elkonin, estabelecendo a formação de um novo grupo. Entretanto, em uma carta de A. N. Leontiev, traduzida e publicada por Tunes e Prestes (2009), há dados que indicam que Leontiev convidou Vigotski para trabalhar em Kharkov num posto de trabalho que estava destinado a ele, mas, segundo essa fonte, o próprio Vigotski recusou-se a ir, por motivos ainda não explicitados. Nos manuscritos, nos depoimentos dos familiares da tróika e nas posições dos distintos estudiosos, encontram-se controvérsias sobre as diferenças17 entre Vigotski e o grupo de Kharkov (liderados por Leontiev), todavia, sinalizamos que as divergências e mesmo as rupturas são processos que fazem parte do desenvolvimento do pensamento científico. O fato é que, segundo A. A. Leontiev (2005, p.43), filho de A. N. Leontiev, a essência entre Vigotski e os Kharkovitas Salientamos a existência de controvérsias sobre as razões das diferenças entre Vigotski e Leontiev, bem como das relações conflituosas entre os integrantes da primeira conformação grupal. Ver: Valsiner, Jaan; Van der Veer, René. Vygotsky uma síntese. São Paulo: Edições Loyola, 1996. p. 204; 315-6; 406. Ver também em Blanck, Guilhermo. Prefácio. In: Vigotski, L. S. Psicologia Pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2003. p.15-32. Existem dois extremos, os que dizem que a tróika foi um mito e os que dizem que a sua dissolução é um mito. Além disso, ressaltamos a importância dos relatos de familiares de ambos sobre esse episódio, os quais podem ser consultados para maiores detalhes TUNES, E. & PRESTES, Z. Vigotski e Leontiev ressonâncias de um passado. Cadernos de Pesquisa, São Paulo v. 39, n.136, p. 285-314, jan.\abr.2009; Comentários biográficos de Leontiev: Leontiev. A. A. A vida e o caminho criativo de A. N. Leontiev. Jornal de Psicologia Russa e Leste-Européia (Journal of Russian and East European Psychogy), Moscou, v. 43, n. 3, May-June 2005, p. 8-69.c 2005 M.E. Sarpe, Inc. All rights reserved. Tradução de Chrysantho Sholl Figueiredo; Comentários biográficos de Vigotski. In: Vigodskaia, Guita L. Lifanova, T.M. Lev Seminovitch Vigotski; Jisn, deiatelnost, chtrikhi k portretu. Moskva: Academia i Smisl, 1996. A tradução desse livro pode também ser encontrada em quatro partes. Disponível em: . 17

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de acordo com a carta de 1932 de Leontiev – consistia em uma nova versão metodológica e filosófica da teoria histórico-cultural, numa mudança de ênfase, cujo resultado levou a filosofia e a psicologia ao primeiro plano. (Nós demonstraremos mais uma vez que a abordagem da atividade chegou ao grupo de Kharkov através de Vygotsky!) (Leontiev, 2005, p.43, ênfase do autor). Foto: A.N. Leontiev em Kharkov, com um gesto seu famoso, facilmente reconhecível.

Fonte: http://anleontiev.smysl.ru/b_ocherk.htm#12

Em Kharkov, A. N. Leontiev assumiu uma posição de articulador e organizador das investigações e estudos, juntamente com Luria e outros novos integrantes. Os trabalhos desenvolvidos por esse “Grupo de Kharkov”18 se sobressaíram na primeira metade da década de 1930. Segundo Golder (2004, p. 24-25) o grupo:

18 Segundo diagrama proposto por Delari Jr.(1992-93) com base em estudo de Jaan Valsiner (1988) a partir de 1931 em Moscou o grupo passou a ser constituído por Levina, Slavina e Menchiskaia; em Leningrado ficaram Elkonin e Rubinstein; em Kharkov: Leontiev, Luria, Zaporozhets, Bozhovitch, Galperin e Zintchenko. Vigotski permaneceu em Moscou, mas trabalhava em todas estas cidades, viajando constantemente para dar conferências e orientar trabalhos. Disponível em: . Acesso em: 23 out. 2011. Mais detalhes: Valsiner, J. Developmental psychology in the Soviet Union. Liverpool: The Harvester press limited. 1988.

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desenvolveu uma visão mais pragmática a partir das concepções gerais vigotskianas. Poder-se-ia mesmo dizer que o norte do grupo era a “atividade prática e a consciência”, integraram-se ao grupo alguns participantes da escola de Moscou Zinchenko (pai), Lukhov e Asnin. Nesse grupo, Leontiev procurou consolidar o que chamou “os reais vínculos com o mundo”, isto é, entender o processo comunicativo através da atividade humana e à elaboração sistemática dos problemas da atividade em psicologia.

Nesses momentos, as investigações de A. N. Leontiev objetivaram formulação e elaboração de teses decisivas para o desenvolvimento da teoria da atividade, preocupou-se com os elementos e componentes estruturais da atividade; diferenciou os instrumentos humanos e os meios auxiliares dos animais; identificou a estrutura dos processos psíquicos internos e a da atividade objetal externa; bem como, a estrutura psíquica geral da atividade, etc. Em 1934, A. N. Leontiev assumiu o cargo de chefe do laboratório do Instituto Nacional de Medicina Experimental em Moscou e de professor da Academia de Educação Comunista, voltando a trabalhar no Instituto de Psicologia de Moscou em 1936. Foto: A.N. Leontiev e o grupo de estudos de Kharkov

Fonte: http://anleontiev.smysl.ru/b_ocherk.htm

Nesse ínterim, A. N. Leontiev iniciou o exame teórico e experimental do problema do surgimento da sensação, esquematizou as etapas filogenéticas fundamentais e os níveis funcionais do desenvolvimento da 78 • Ensino Desenvolvimental

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psique. Nesses estudos, ele compreendeu a gênese da estrutura psicológica da consciência humana. Os resultados destes trabalhos foram apresentados em sua tese doutoral O desenvolvimento da psique em dois tomos. Nos anos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o Instituto de Psicologia de Moscou, na época, dirigido por A. N. Leontiev precisou ser fechado. Assim, ele, juntamente com seus colaboradores, buscou estudar em um hospital próximo de Sverdlovsk, como se processava a recuperação das funções motoras alteradas como consequência de ferimentos. Em 1943, regressou a Moscou para dirigir o laboratório e logo a seção de psicologia infantil no Instituto de Psicologia; ao mesmo tempo, lecionou na Universidade de Moscou e no Instituto Pedagógico Militar, onde pôde publicar Desenvolvimento do psiquismo, em 1947. No período de 1945-1947, escreveu vários artigos e livros, alguns deles produto do material clínico obtido em sua estada no hospital de retaguarda, onde realizou trabalhos de pesquisas, tratamento e reabilitação. Em 1948, A. N. Leontiev filiou-se ao Partido Comunista da União Soviética, o que lhe oportunizou a publicação de muitos artigos em jornais e revistas partidárias. Ocupou importantes cargos. Nesse período, foi nomeado membro correspondente da Academia de Ciências Pedagógicas da Federação Russa na qual, logo tempo depois, também ocupou o cargo de vice-presidente. Concomitantemente, exerceu inúmeras tarefas docentes, organizativas, experimentais e partidárias nos distintos espaços em que atuou. Continuou escrevendo e publicando, mas com interesse em direção a novas linhas científicas.19 Ainda nesse mesmo período, ocorreu a discussão acerca de seu trabalho Esboço do desenvolvimento do psiquismo realizado em outubro de 1948, o que lhe possibilitou a sistematização e reorganização de parte da tese de doutorado que havia se perdido na guerra.20 Percebem-se, nas inúmeras obras publicadas na Grande Enciclopédia e na Revista Pedagogia Soviética, do período militar, segundo Golder (2004, p. 30), a questão dos conceitos “sentido pessoal” e “motivação” como objeto de interesse em seus estudos. Nesse período, Os campos científicos aos quais Leontiev se interessou nesse período foram sistematizados em sete diretrizes. Ver detalhamento In: Golder M. (Org.) Leontiev e a psicologia histórico-cultural. Um homem em seu tempo. São Paulo: Ed. Xamã, 2004, p. 32-33. 20 A partir dessa sistematização tornou-se possível, posteriormente, a publicação da obra: Leontiev, A. Problemas do desenvolvimento do psiquismo. Moscou: Universidade de Moscou, 1959. 19

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grande parte de seus artigos também foram traduzidos para diferentes idiomas: romeno, búlgaro, checo, chinês, inglês e o francês. Com a morte de Stalin (1953), a influência de Pavlov diminuiu na URSS e nos anos que se seguiram o conceito de “reflexo” foi superado pelo de “atividade”,21 fato que se constituiu em um aspecto importante na psicologia soviética posterior, e afetou todos os níveis de análise, desde o fisiológico até a psicologia social. As investigações de A. N. Leontiev, neste período, abarcaram um amplo círculo de problemas referentes à natureza; à gênese e à organização sistêmica das funções psíquicas superiores do homem; à teoria das capacidades; à psicologia da engenharia e à pedagógica; à psicologia da arte e à história da psicologia; à psicologia da percepção etc. Entretanto, no centro de sua atenção, sempre estiveram os problemas metodológicos mais importantes da teoria da atividade, os quais se desenvolveram ulteriormente em trabalhos como Problemas do desenvolvimento do psiquismo, publicado em 1959 (1ª edição) que obteve o Prêmio Lênin de 1963. A década de 1960 marcou o período em que a Ciência Psicológica se destacou no mundo acadêmico como Faculdade e não mais como Departamento, Seção ou Laboratórios vinculados às Faculdades de Filosofia já existentes desde o período czaristas. Em 1963, A. N. Leontiev tornou-se chefe da Seção de Psicologia da Faculdade de Filosofia da Universidade de Moscou e desde a criação da Faculdade de Psicologia até os últimos anos de sua vida, foi seu decano permanente. Foto: 24 de maio de 1969, A. N. Leontiev dá uma palestra na universidade.

Fonte: www.psy.msu.ru/people/leontiev/ 21 Ver maiores detalhes In: Bottomore, T. (Ed.) Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor. 1983.

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No período entre 1971-1974, defendeu em seus trabalhos a categoria das necessidades, dos motivos e das emoções. Em 1971, teve artigos publicados na Revista Temas de Psicologia nº 2. Na ocasião do XX Congresso Internacional de Psicologia em Tóquio, em 1972, publicam-se Tese de seus informes. No ano subsequente, escreveu artigos escritos em conjunto com Paul Fraisse e Jean Piaget. Em 1975, publicou Atividade, consciência, personalidade, obtendo o Prêmio Lomonosov, em 1976 e em 1978, já havendo uma segunda edição (Puzirei e Guippenreiter, 1989). O trabalho Psicologia da Imagem, em forma de apontamentos, foi publicado pela Universidade Estatal de Moscou; e mais tarde sob o título de Imagem do Mundo, perfazendo um conjunto de vários manuscritos, apontamentos, esboços, anotações que faziam parte da intencionalidade de ser produzida uma obra contendo a síntese das suas posições básicas sobre o tema percepção e o da capacidade refletora do psiquismo humano. Entre 1973 e 1975, proferiu 52 Conferências de Psicologia Geral,22 que foram registradas e editadas posteriormente, dando origem a uma publicação sob a responsabilidade de D. A. Leontiev e E. E. Sokolova. Em 1976, publicou artigos na Revista Comunista nº 6 e entre 19771978. Já doente escreveu dois trabalhos sobre o tema “atividade”: um informe levado ao Quinto Congresso Nacional de Psicólogos de 1977 e o último trabalho (inacabado) ficou como manuscrito no arquivo pessoal. Em 1978, teve artigo publicado na Revista Conhecimento-força nº 9, e uma publicação post-morten Categoria de atividade na psicologia contemporânea, em 1979. O movimento histórico de produção e trabalho de A.N. Leontiev é, como visto, intenso. Sua participação na construção e consolidação de uma nova psicologia marcou sua vida e a história da época, embora a notoriedade da Ciência Psicológica no mundo acadêmico-científico não tenha ocorrido apenas nas grandes cidades da União Soviética, mas no mundo como um todo. Os maiores expoentes da geração vigotskiana ou pós-vigotskiana, dentre os quais se inclui A. N. Leontiev foram convidados a assumir as chefias das distintas cátedras. Leontiev ocupou a Cátedra de Psicologia Geral até sua morte, em 1979, quando faleceu de um ataque do coração. Hoje contamos com suas contribuições teóricas perpetuadas em suas obras. Algumas dessas conferências foram publicadas no Jornal de Psicologia Russa e Leste-Européia.

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O LEGADO TEÓRICO DE A. N. LEONTIEV Ao longo de sua vida e obra, Leontiev desenvolveu de forma sistemática a Teoria da Atividade, uma de suas principais contribuições para a chamada teoria histórico-cultural. A base sob a qual alicerçou suas ideias está na relação de interdependência que estabelece entre a atividade humana e o desenvolvimento do homem. Para Leontiev, o homem nasce homem enquanto espécie, pois em seu processo de hominização evoluiu biologicamente e desenvolveu as características que assim o constituem. No entanto, para ele, o processo de humanização é que faz do homem espécie, homem humano. o homem não nasce dotado das aquisições históricas da humanidade. Resultando estas do desenvolvimento das gerações humanas, não são incorporadas nem nele, nem nas suas disposições naturais, mas no mundo que o rodeia, nas grandes obras da cultura humana. Só apropriando-se delas no decurso da sua vida ele adquire propriedades e faculdades verdadeiramente humanas. Este processo coloca-o, por assim aos ombros das gerações anteriores e eleva-o muito acima do mundo animal (Leontiev, 1978, p. 282-283).

Esse processo ocorre pelo duplo movimento apropriaçãoobjetivação da cultura: ao apropriar-se do que a humanidade já produziu culturalmente, o homem internaliza a cultura e se humaniza. Da mesma forma, ao agir sobre e em determinado contexto, objetivase culturalmente na realidade e assim a constitui, num movimento dialético. Dessa forma, para Leontiev, o desenvolvimento humano se dá, sobretudo e primeiramente, pela atividade que o homem exerce. Esse é o cerne de toda sua proposição teórica. A relação entre o homem e o mundo objetivo se dá pela atividade, não de forma mecânica como pura reação, mas de forma ativa: atua sobre o homem e o mundo objetivo transformando não apenas os objetos, mas também a si próprio, numa dupla relação de constituição. O que distingue a atividade humana das demais é a intencionalidade presente em suas ações, situação possível pela intervenção da consciência. A consciência, de acordo com Leontiev, é dinâmica e passou por várias transformações ao longo do desenvolvimento da espécie humana. Essas mudanças foram

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governadas pela atividade. Assim, nessa perspectiva, consciência e atividade formam uma unidade dialética. A consciência é, portanto, constituída socialmente, por isso, para estudá-la é preciso estudar como se formam as relações vitais do homem em tais ou tais condições sociais históricas e que estrutura particular engendra dadas relações. Devemos em seguida estudar como a estrutura da consciência do homem se transforma com a estrutura da sua atividade. Determinar os caracteres da estrutura interna da consciência é caracterizá-la historicamente (Leontiev, 1978, p. 92).

Para Leontiev (1978, p. 235), “o desenvolvimento, a formação das funções e faculdades psíquicas próprias do homem enquanto ser social produzem-se sob uma forma absolutamente específica – sob a forma de um processo de apropriação, de aquisição”. Com isso, compreende que a origem das funções psíquicas humanas situa-se no processo de interiorização da atividade externa transformada em atividade interna, o que ocorre mediante a atividade do homem nas suas relações com outros homens e com a natureza, pois para se apropriar dos objectos ou dos fenômenos que são o produto do desenvolvimento histórico, é necessário desenvolver em relação a eles uma actividade que reproduza, pela sua forma, os traços essenciais da actividade encarnada, acumulada no objecto (Leontiev, 1978, p. 268).

Assim, o que permite ao homem passar da consciência social para a individual é o seu processo de apropriação dos conhecimentos humanos produzidos anteriormente pelas gerações que o precederam, que ocorre mediante sua atividade em determinado contexto histórico e social. De acordo com Leontiev (1978, p. 130), a “consciência individual só pode existir nas condições de uma consciência social; é apropriandose da realidade que o homem a reflecte como através do prisma das significações, dos conhecimentos e das significações elaboradas socialmente”. Nesse movimento, objetivo se transforma em subjetivo, uma vez que “qualquer objeto vai aparecer em primeiro lugar de maneira objetiva, nas relações objetivas do mundo objetal; que, em segundo

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lugar, vai supor a existência de uma sensibilidade subjetiva do homem e também da consciência humana (em suas formas ideais)” (Leontiev, 2006, p. 50). Dessa maneira, as investigações de Leontiev demonstraram a unidade entre psique e atividade externa. Para ele, a atividade psíquica interna representa uma forma de atividade material externa transformada. A relação que se estabelece entre o desenvolvimento psíquico do homem e a atividade que ele realiza não se dá sob a forma de qualquer atividade, portanto, “devemos falar [...] da dependência do desenvolvimento psíquico em relação à atividade principal e não à atividade em geral” (Leontiev, 2006, p.63). Em determinado período e dependendo da função social que assume, há uma atividade mais importante que governa o desenvolvimento das funções psíquicas. Essa é considerada a atividade principal,23 atividade que guia o desenvolvimento. As demais atividades são menos importantes nesse processo e, portanto, representam um papel subsidiário. É nesse movimento de atividade humana que se dá o processo de apropriaçãoobjetivação do mundo cultural transformando o homem espécie em homem humano. Baseado na relação bilateral existente entre a estrutura objetiva da atividade humana e a estrutura subjetiva da consciência, Leontiev (1983) concebe uma mesma estrutura geral para as atividades internas – subjetivas, teóricas – e externas – objetivas, práticas. Assim o objeto cultural é internalizado, condição para que este seja socializado sob a forma de linguagem, tornando-se um conteúdo socialmente disponível. Dessa maneira,

Esse conceito pode ser encontrado com terminologias diferentes nas obras traduzidas de Leontiev: Leontiev, A. N.; Luria, A. R.; Vigotski, L. S. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone. 2006, p. 63: “atividade principal”. Leontiev, A. N. O desenvolvimento do psiquismo. Editora Moraes. Título original: Le développment du psychisme. Edittions Sociales. Tradução de Manoel Dias Duarte. [197?]. Lisboa. p. 310-1: “atividade dominante”. Leontiev, A. N. O desenvolvimento do psiquismo, da Editora Horizonte. Lisboa. Título original: Le développment du psychisme. Edittions Sociales. Tradução Manuel Dias Duarte.1978, p. 292: “atividade dominante”. Em sua tese, Zoia Prestes (2010) diz que há aí um problema de tradução e defende que o termo seria o de “atividade guia”. Aqui tomaremos para efeito de discussão do proposto para esse conceito, por A. N. Leontiev, o termo “atividade dominante”, “atividade principal” e “atividade guia” indistintamente.

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la comunicación, en su forma inicial, externa, como aspecto de la actividad conjunta de las personas, es decir, en forma de “colectividad directa” o en forma interna, interiorizada, constituye la segunda condición indispensable y específica del proceso de apropiación, por el individuo, de los logros del desarrollo histórico de la humanidad (Leontiev, 1989, p. 258-259).

É fundamental compreender que por meio da atividade o homem domina não somente o uso de instrumentos materiais, mas, principalmente, o sistema de significações que encontra já pronto, formado historicamente. Los significados tienen una vida doble. Son producidos por la sociedad y poseen su propia historia en el desarrollo del lenguaje, en el desarrollo de las formas de la conciencia social; en ellos se expresa el movimiento de la ciencia humana y sus recursos cognoscitivos y también las nociones idelógicas de la sociedad: religiosas, filosóficas, políticas. En esta existencia objetiva, los significados se subordinan a las leyes históricosociales y, al mismo tiempo, la lógica interna de su desarrollo. [...] aquí permanece oculta su otra vida, su otro movimiento: su funcionamiento en los procesos de la actividad y de la conciencia de los indivíduos concretos, aunque los significados pueden existir sólo gracias a dichos procesos. En esta segunda vida, los significados se individualizan y “subjetivizan”; pero solo en sentido de que su movimiento en el sistema de las relaciones de la sociedad ya no está contenido directamente en ellos, entran en otro sistema de relaciones, en otro movimiento. Y lo notable es que, sin embargo, no pierden en absoluto su natureza histórico-social, su objetividad (Leontiev, 1989, p. 288-289).

As significações estão, portanto, no campo das produções histórico-culturais da humanidade (consciência social), que ao transformarem-se em consciência pessoal constituem-se no sentido que o próprio sujeito atribui a essas significações. Embora os sentidos sejam constituídos em determinadas condições sociais e, por isso, reflitam o social no indivíduo, são resultados das vivências pessoais de cada um e, dessa maneira, estão no campo da pessoalidade. Nesse processo, a linguagem e a atividade coletiva são fundamentais. Pela linguagem o homem se apropria das significações

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sociais e a elas atribui um sentido pessoal associado a seus motivos e necessidades. Dado o seu caráter de pessoalidade e sua vinculação com as vivências particulares, o sentido está diretamente vinculado ao motivo que impulsiona o sujeito ao objeto para o qual suas ações estão direcionadas. De um ponto de vista psicológico concreto, este sentido consciente é criado pela relação objectiva que se reflecte no cérebro do homem, entre aquilo que o incita a agir e aquilo para o qual sua acção se orienta como resultado imediato. Por outras palavras, o sentido consciente traduz a relação do motivo ao fim (Leontiev, 1978, p. 97).

Como motivo e objeto coincidem na atividade, é nela que o homem atribui sentido pessoal às significações sociais, uma vez que sentido sempre “es sentido de algo. El sentido “puro”, inmaterial es tan absurdo como un ser inmaterial” (Leontiev, 1989, p. 291). Em termos gerais, portanto, “la significación es aquella generalización de la realidad que he cristalizado [...] Esta es la forma espiritual, ideal de cristalización de la experiencia social, de la praxis social de la humanidad” (Leontiev, 1983, p.161). Dessa maneira, a significação existe inicialmente independentemente dos sujeitos, tratase de um fenômeno social. Na condição de atividade, se apropriada, passa a fazer parte da constituição psíquica individual dos sujeitos, que a elas atribui um sentido pessoal. O sentido pessoal, por assim dizer, “los liga con la realidad de su propia vida en ese mundo, con los motivos de esa vida” (Leontiev, 1989, p. 291). Por isso está vinculado ao motivo que impulsiona o sujeito, bem como ao objeto para o qual as ações estão direcionadas, tendo em vista que na atividade motivo e objeto coincidem. No contexto da atividade, se o significado social não corresponder ao sentido pessoal, cria-se uma situação altamente propícia à alienação. Esse fenômeno é observável historicamente. Nos primórdios do desenvolvimento filogenético do gênero humano, havia uma coincidência entre significações (sociais) e sentidos (pessoais), primeiro porque não havia uma completa diferenciação das significações e segundo porque o homem vivia em plena harmonia com a sociedade, nessa época, não se distinguia consciência pessoal de consciência social.

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Com o desenvolvimento da propriedade privada, transformamse as relações sociais de produção e, consequentemente, a sociedade. O trabalhador se aliena do produto do seu trabalho, haja vista a “discordância entre o resultado objectivo da actividade humana e o seu motivo” (Leontiev, 1978, p. 122). Essas mudanças trazem implicações para a relação significado-sentido. Como o homem já não está em plena comunhão com a sociedade, o sentido nem sempre se espelha na significação, e a consciência pessoal adquire traços de particularidade que, embora constituída socialmente, não se confunde com a consciência social. Para Leontiev, essa dissociação é uma das formas de expressão da alienação do homem em determinadas condições históricosociais, além é claro, da clássica compreensão de que o homem alienado é aquele desprovido das riquezas materiais e não-materiais produzidas pela humanidade. A não coincidência entre significado e sentido pode ser um sintoma de alienação do homem em relação às produções históricas de determinada sociedade. Se é na atividade que o sujeito atribui sentido pessoal às significações sociais, reiterase a compreensão de que a dissociação entre o motivo da atividade e o seu produto objetivado, condição da ação, leva à alienação. Dessa forma, expressa-se, pois, que a ação contempla situações mais propícias à alienação. Pelo exposto, fica evidente o papel sobremodo significativo que a atividade humana tem no processo dialético de constituição do homem e da humanidade. A atividade, nesse sentido, medeia a relação entre os seres humanos e a realidade a ser transformada (objeto da atividade); e essa relação é dialética, porque não só o objeto se transforma, mas também o sujeito. Com base na compreensão de que é pela atividade externa que se constitui a atividade interna e, portanto, por ela que se potencializa o desenvolvimento das capacidades humanas, podemos apreender que, de todo constructo teórico de Leontiev, o cerne de sua teoria encontrase em torno do conceito de atividade, daí a denominação de suas construções conceituais enquanto Teoria da Atividade. Esse é, então, o conceito central de todas suas análises e proposições. Segundo Leontiev, para que a atividade assim se constitua é essencial que ela seja originária de uma necessidade. Essa é a condição primeira para a configuração de uma atividade, pois ela

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se constitui numa força interna, é nesse sentido a condutora da atividade, embora por si mesma não seja suficiente para provocála. Para isso, é preciso que ela encontre um objeto que lhe seja correspondente, a partir do qual seja possível à necessidade objetivar-se concretamente, abandonando sua forma ideal. O objeto indica para onde a ação é dirigida, é o conteúdo da atividade, o que dirige a ação. Ele pode ser o próprio produto da atividade, um objeto específico natural, uma instituição ou o próprio homem. É o objeto que diferencia uma atividade da outra. A primeira condição de toda a actividade é uma necessidade. Todavia, em si, a necessidade não pode determinar a orientação concreta de uma actividade, pois é apenas no objecto da actividade que ela encontra sua determinação: deve, por assim dizer, encontrar-se nele. Uma vez que a necessidade encontra a sua determinação no objecto (se “objectiva” nele), o dito objecto torna-se motivo da actividade, aquilo que o estimula (Leontiev, 1978, p. 107-108).

Há uma infinidade de objetos que podem satisfazer uma mesma necessidade, o que a torna dinâmica. En el estado de necesidad del sujeto no está registrado rigidamente el objeto que es capaz de satisfacer la necesidad. Hasta que no es satisfecha por primera vez, la necesidad “no conoce” su objecto, debe todavia descubrirlo. Solo como resultado de este descubrimiento la necesidad adquiere su carácter objetal y el objeto percibido (representado, concebido), su función estimuladora y orientadora de la actividad, es decir, se convierte en motivo (Leontiev, 1989, p. 304).

As mudanças e transformações ocorridas tanto nas formas de sua realização, quanto nos tipos de objetos que a satisfazem definem o seu desenvolvimento. Vejamos: se tomarmos como exemplo as necessidades animais, observa-se que “quando aparecem no ambiente novos tipos de alimento e velhos tipos são eliminados, a necessidade de alimento continua a ser satisfeita e, adicionalmente, passa a incorporar em si um novo conteúdo, ou seja, torna-se diferente” (Leontiev, 1983, p. 14). As necessidades humanas são diferentes e, por isso, o percurso de seu desenvolvimento é distinto. As transformações nos objetos que

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respondem a elas acontecem simultaneamente à mudança na forma de seu reflexo psíquico. o desenvolvimento da produção mental gera certas necessidades que só podem existir na presença de um ‘plano de consciência’. Finalmente, forma-se um tipo especial de necessidade- necessidades que são objetivofuncionais, como a necessidade de trabalho, de criação artística, etc. (Leontiev, 1983, p.16).

Por conseguinte, a satisfação de um grupo de necessidades, mediante determinados tipos de atividades, geram novas necessidades. Fica, pois, evidente a relação necessidade-objeto. No entanto, isoladamente, objetos e necessidades não produzem a atividade, há um terceiro elemento aí fundamental: o motivo. A ele cabe impulsionar a atividade, atuando como articulador entre ambos. A atividade só se caracteriza quando esses três componentes estruturais se unem: necessidade, objeto e motivo. Este processo marca o início da transição da atividade do nível material para o nível psicológico. Para Leontiev (2006, p. 68), a atividade se constitui, portanto, enquanto processo psicologicamente caracterizado “por aquilo a que o processo, como um todo se dirige (seu objeto), coincidindo sempre com o objetivo que estimula o sujeito a executar esta atividade, isto é, o motivo” (Leontiev, 2006, p.68). Segundo ele “es el o objeto de la actividad la que le confere a la misma determinada dirección. [...] el objeto de la actividad es su motivo real. [...] de este modo, el concepto de actividad esta necesariamente relacionado con el concepto de motivo” (Leontiev, 1983, p. 62). Esse componente estrutural da atividade é fundamental para entender a distinção que o autor faz entre atividade e ação. Por isso, é preciso compreender o que Leontiev está chamando de motivo. O motivo é o que move o sujeito para satisfação de uma necessidade. Sem motivos e necessidades não existe atividade. A atividade supõe satisfação da necessidade e o motivo está relacionado com a satisfação de uma ou várias necessidades. Portanto, tem sua origem em uma necessidade. Embora a necessidade constitua-se na condição primeira de toda e qualquer atividade, o que move o sujeito para a satisfação dessa necessidade é seu motivo, “esto lleva la necesidad al nível propriamente psicológico” (Leontiev, 1989, p. 269).

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O motivo nasce do encontro entre a necessidade e o objeto, é ele que impulsiona a atividade, uma vez que objetos e ações por si só não são capazes de iniciá-la. Contudo, como a atividade está diretamente associada ao motivo, em muitas circunstâncias, constituise polimotivada, “es decir, pude responder simultaneamente a dos o vários motivos” (Leontiev, 1983, p.119). Isto porque o homem atende a uma série de situações que, às vezes, estão direcionadas à sociedade, outras a si mesmo. Sob esse aspecto, Leontiev (1983, p. 119) alerta, por exemplo, que “la atcividad laboral esta socialmente motivada, mas, es también regulada por motivos tales como, digamos, la remuneración material”. Nesse sentido, do movimento da atividade polimotivacional emergem dois tipos de motivos: motivos-estímulos e motivos formadores de sentido.24 unos motivos, al estimular la actividad le confieren a la vez un sentido personal; los denominaremos motivos dotantes de sentido:

Encontramos algumas terminologias diferenciadas para esse conceito nas obras de Leontiev: Leontiev, A. N. Actividad, conciencia y personalidad. Editorial Pueblo y Educación, Habana. 1983, p.119-120:“motivos dotantes de sentido” e “motivosestímulos”. Leontiev, A. N. O Desenvolvimento do psiquismo, da Editora Moraes. Traduzido do francês por Manoel Dias Duarte, 1ª edição, [197?], p.318: “motivos que agem realmente” e “motivos apenas compreendidos”. Leontiev, A. N. O Desenvolvimento do psiquismo. Editora Horizonte, Traduzido do francês por Manoel Dias Duarte, 1978, p.299: “motivos que agem realmente” e “motivos apenas compreendidos”. Leontiev, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 10ªed. Tradução de Maria Penha Villalobos. Ed. Ícone, 2006, p. 70 “motivos realmente eficazes” e motivos apenas compreensíveis”; Leontiev, A. N. Biblioteca de Psicologia Soviética. El processo de formación de La psicologia marxista: L.Vigotski, A. Leontiev, A. Luria. Tradução de A. Puzierei y Y. Guippentréiter. Editorial Progresso. Moscú, 1989, p. 310: “motivos generadores de sentido” e “motivosestímulos”. A. A. Smirnov; A. N. Leontiev; S. L. Rubinshtein y B. M. Tieplov. Psicologia da Academia de Ciências Pedagógicas de la R. S. S. F. R. Instituto de investigación cientifica. Tradución directa del ruso por Florencio Villa Landa, Cuba, 1961, p.348-349: “motivos eficaces y motivos ineficaces”. Leontiev, A. N. Activity, Consciousness, and Personality 1ª ed. (1978) da Editora: Prentice-Hall. Traudução de Marie J. Hall e Transcrição de Nate Schmolze, 2000. In: www.marxists.org, encontramos a terminologia “senseforming function” e “motives-stimuli”. 24

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Otros, coexistentes con ellos, asumiendo el papel de factores impelentes- positivos o negativos- en ocasiones extraordinariamente emocionales, afectivos, están privados de la función de conferir sentido; los denominaremos convencionalmente motivos-estímulos (Leontiev, 1983, p. 119).

Os motivos formadores de sentido se efetivam na sua relação direta com o objeto da atividade, situação que não ocorre nos motivosestímulos. No primeiro caso, “el objeto de la actividad le da una determinada orientación” (Leontiev, 1989, p. 271), isto é, o motivo encontra-se no objeto. No segundo caso, o motivo não se direciona ao objeto diretamente, mas indiretamente, pois são apenas motivosestímulos tornando, dessa forma, insuficientes por si mesmos de conferir sentido à ação. Por isso, Leontiev em sua proposta afirma, “el objeto de la actividad es su verdadero motivo” (Leontiev, 1989, p. 271). Assim sendo, o motivo formador de sentido garante as condições da atividade, uma vez que, nele, motivo e objeto coincidem. Os motivosestímulos movem, mas por razões diversas, em outra direção que diretamente não se relaciona ao objeto da própria atividade. Leontiev distingue ações de atividade. “Llamamos acción al proceso subordinado a la representación del resultado que debe lograrse, es decir, el proceso subordinado a una finalidad consciente” (Leontiev, 1989, p. 271). O objetivo consiste, pois, na finalidade, é a representação imaginária dos resultados possíveis a serem alcançados com a realização de uma ação concreta. Ele orienta a ação em direção às suas metas. Todavia, a concretização desta finalidade depende de “la delimitación de las condiciones de su logro” (Leontiev, 1989, p. 274). Então, segundo Leontiev, a ação possui seu aspecto intencional “qué debe ser logrado” (1989, p. 274) – finalidade –, e também possui seu aspecto operacional (condições) “cómo, de qué modo puede ser logrado, que no está determinado por la finalidad, sino por las condiciones objetivo-objetales de su logro” (Leontiev, 1989, p. 274). A atividade possui uma estrutura interna e, em sua análise, é preciso observar tais vínculos sistêmicos internos. “Para que a ação surja e seja executada é necessário que seu objetivo apareça para o sujeito, em sua relação com o motivo da atividade da qual ele faz parte” (Leontiev, 2006, p. 69). A atividade constitui-se num conjunto de ações, essas articuladas por uma necessidade.

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Temos aí, a segunda condição da atividade: motivo e objeto precisam coincidir. Contudo, como os componentes da atividade não são estáticos. As ações podem se transformar em atividades e vice-versa. Há uma relação particular entre atividade e ação. O motivo da atividade, sendo substituída, pode passar para o objeto (o alvo) da ação, com o resultado de uma ação transformada em uma atividade. [...] Esse processo é precisamente a base psicológica concreta sobre a qual ocorrem mudanças na atividade principal e, consequentemente, as transições de um estágio do desenvolvimento para outro (Leontiev, 2006, p. 69).

Entendida a relação atividade-ação, bem como suas particularidades, é preciso enfatizar a dinamicidade desse processo. A atividade, originária de uma necessidade, é dirigida a um determinado objeto (que consiste no seu conteúdo); depende dos motivos – o que move o sujeito –; e é constituída por ações – que, por sua vez, dependem dos objetivos –; e são dirigidas por operações – que são os meios ou procedimentos para realizar a ação. Para Leontiev (1989, p. 274), “la accción, como ya se dijo, está correlacionada com la finalidad; la operación, com las condiciones”. Necessidade, objeto, motivos e ações são componentes da estrutura da atividade. Contudo, em seu movimento, a atividade contém, em sua estrutura, outros elementos: sujeito, operações, condições, meios e produto. O sujeito é aquele que realiza a ação, pode ser um indivíduo concreto, um grupo social ou a sociedade; e está inserido nas redes de relações sociais diversas num dado contexto histórico. Operações são as formas pelas quais se realiza determinada ação e, nesse sentido, dependem das condições. Por condições entende-se o conjunto de situações nas quais o sujeito realiza a atividade no contexto social. Elas podem ser ambientais, emocionais e/ou psíquicas. Os meios, por seu turno, constituem-se nos instrumentos, são os mediadores entre o sujeito e o objeto da atividade, possibilitam que as operações sejam realizadas, uma vez que as relações do sujeito com o mundo são mediadas. Os meios podem ser materiais (objetos ou instrumentos) ou ser de natureza informativa ou simbólica. Por fim, o produto é o resultado das transformações ocorridas no objeto. A atividade humana (material ou mental) está cristalizada no seu produto.

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Em seu movimento, a atividade depende do motivo, as ações dos objetivos e as operações das condições. Sujeito, objeto, objetivos, motivos, ações, operações, condições, meios e produto, no contexto da atividade, exigem-se reciprocamente, de tal modo que em certos aspectos podem se confundir, mas têm suas especificidades, conforme observamos acima. De acordo com Leontiev (1989, p. 276), “estas “unidades” de la actividad humana formam su macroestrutura” à qual põe em descoberto as relações internas que a caracterizam, tais relações são suscetíveis a transformações no próprio movimento do desenvolvimento da atividade, fora desta, convertem-se em abstrações. “La investigación da la actividad requiere precisamente el análisis de sus vínculos sistémicos internos” (Leontiev, 1989, p. 277, grifo do autor). Nesse movimento, a atividade diz respeito, então, às formas de relação do homem com o mundo, pois suas ações são dirigidas por motivos. Assim, quando o motivo muda, atividades podem transformarse em ações e ações em atividades, conforme apontado. Na acepção de Leontiev, a atividade não é, portanto, estática, sua dinamicidade se dá fundamentalmente pela movimentação de seus componentes estruturais que podem modificar suas funções. Nessa mobilidade, se uma atividade perder seu motivo, transformase em ação; se a ação ganhar um motivo, torna-se atividade e; em outro sentido, se a ação se torna um meio para atingir certo objetivo, constitui-se em operação. La actividad puede perder el motivo que la ha suscitado y entonces se convierte en una acción que tal vez, hace efectiva una relación totalmente diferente con el mundo, otra actividad; por el contrario, la acción puede adquirir una fuerza impulsora propia y convertirse en una actividad peculiar; finalmente, la acción puede transformarse en procedimiento para alcanzar la finalidad, en operación capaz de efectuar diversas acciones (Leontiev, 1989, p. 277).

Como mencionado anteriormente, para Leontiev, o homem desenvolve vários tipos de atividades, muitas das quais são subsidiárias porque “alimentam” a principal, a que governa o desenvolvimento psíquico. Apenas uma, em determinada etapa do desenvolvimento do homem e sob certas condições histórico-sociais, é a que guia o desenvolvimento, é a chamada atividade dominante. Essa é a atividade

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que governa as transformações mais relevantes nos processos psíquicos e nos traços psicológicos da personalidade e que, portanto, potencializa o desenvolvimento. Na infância, a atividade guia é o brincar. A brincadeira é a atividade externa que governa as atividades psíquicas nessa faixa etária, mediante o lugar social que a criança ocupa, é a partir dela que a criança se apropria da cultura e desenvolve funções psicológicas. No jovem, essa atividade passa a ser a atividade de estudo e no adulto a de trabalho.

APROPRIAÇÕES DE SUA TEORIA PARA O CAMPO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR Analisando o constructo teórico de Leontiev observa-se que sua grande contribuição para a educação escolar reside no seio de sua Teoria da Atividade, partindo da premissa de que é pela atividade que o homem se desenvolve. Pensemos, portanto, sob esse aspecto. A educação numa perspectiva histórico-cultural consiste no processo pelo qual o homem se humaniza pela apropriação cultural. Esse processo não se restringe a uma relação unilateral de mera transmissão desse patrimônio. O homem se apropria da cultura e nela se objetiva. Portanto, esse movimento é dialético, a partir do qual o homem se constitui enquanto humano e, nesse mesmo movimento, constitui a humanidade. Dessa forma, a educação pressupõe um processo de formação e transformação de capacidades e habilidades psíquicas, que fazem do homem um humano em sua plenitude. Nesse sentido, a escola, instituição socialmente definida como espaço de apropriação da cultura, não pode se limitar à transferência do patrimônio cultural, precisa criar mecanismos que possibilite esse desenvolvimento. Para Leontiev, isso acontece especificamente quando os sujeitos encontram-se em atividade. No contexto brasileiro, cujo modelo de sociedade e escola acompanha uma lógica capitalista, observam-se práticas fixadas em ações, a partir das quais não se tem a necessidade como um princípio, e o motivo, em geral, não coincide com a finalidade da ação. Nesse sentido, uma análise rápida para a educação em contextos escolares capitalista permite-nos afirmar que ela se constitui sob a base de ações e não de atividades. Como visto, esse modelo tende a ser propício para a alienação do sujeito, primeiro porque dissocia o sentido pessoal em relação à educação da significação social que,

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sob as bases analíticas apresentadas, deveria prever a apropriaçãoobjetivação cultural do homem para que a humanização se dê para além da alienação. Em segundo lugar, porque o que move o estudante na escola não coincide com o conteúdo da “atividade de estudo”, motivo e objeto não se correspondem. A análise do sistema educacional, nesses contextos, permite-nos, portanto, compreender que a escola está sob as bases de um modelo alienante de educação e, nesse sentido, muito distante do propósito de propiciar novas formações psíquicas no sujeito, situação sine que non para sua condição de humano na perspectiva leontieviana. No contexto escolar, professor e estudante ocupam lugares sociais distintos, logo, têm atividades também distintas. O primeiro, na condição de trabalhador, encontra-se em atividade de ensino e o segundo em atividade de estudo. Estas, então, constituem-se nas atividades guias, as que principalmente dirigem o desenvolvimento de ambos. Dentro da acepção teórica de Leontiev, esses tipos de atividades, assim como outros, precisam se originar de uma necessidade coletiva, além de se constituírem mediante um conjunto de ações articuladas por um objetivo comum, orientadas por operações que, por sua vez, são definidas pelas condições. Contudo, para que a atividade realmente potencialize o desenvolvimento do professor e do estudante, é preciso que o motivo da atividade de ensino coincida com o objeto da ação do professor, seu alvo; e que no caso do aluno também ocorra a coincidência do motivo da atividade de estudar com o objeto da ação do aluno (formar-se). A atividade de estudo, considerada mediante as condições acima apresentadas, é fundamental para que o estudante possa humanizarse no sentido discutido, pois é ela que possibilitará o desenvolvimento de seu pensamento científico, propósito de uma educação escolarizada. Uma vez que “o conteúdo principal da atividade de estudo é a assimilação dos procedimentos generalizados de ação na esfera dos conceitos científicos e mudanças qualificadas no desenvolvimento psíquico da criança, que ocorrem sobre essa base” (Davydov, 1987, p. 324). Nessa perspectiva, a atividade de estudo se realiza mediante determinadas ações que sejam intencionalmente – atividade de ensino organizada pelo professor – planejadas para a satisfação de necessidades coletivas do grupo de estudantes e precisam ser organizadas de modo a que os motivos coincidam com a finalidade da ação, só assim se constituirão atividade para os sujeitos estudantes.

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Sob esse enfoque, portanto, um ensino desenvolvimental tem por finalidade criar as condições objetivas e subjetivas de colocar os sujeitos em atividade de ensino-aprendizagem-desenvolvimento, de tal modo que seja possível a apropriação de conhecimentos científicos como objetivo-meio para que o pensamento teórico seja desenvolvido como objetivo-fim. Esse processo se realiza enquanto unidade apropriação-objetivação, pois se intenciona, não apenas a internalização dos conhecimentos, mas a mudança na forma de pensamento, de modo que o sujeito se relacione teoricamente com a realidade, pense e aja conceitualmente, portanto, desenvolva ações mentais importantes para um novo olhar e uma nova ação sobre o mundo objetivo. [...] Didadicamente trata-se, então, de um processo em que a atividade psíquica do estudante precisa ser mobilizada pelos processos mediacionais selecionados pela atividade de ensino para que o estudante, na atividade de aprendizagem, desenvolva as capacidades psíquicas acima relacionadas. [...] Por isso, a atividade do sujeito é fundamental nas condições apresentadas (Puentes; ongarezi, 2012, p. 19-20).

No contexto escolar, observa-se que ambas as atividades – de ensino: trabalho do professor; e de estudo: atividade do estudante –, embora partam de necessidades distintas, possuam características próprias e, portanto, seus componentes assumam funções diferentes, são absolutamente interdependentes. Enquanto a atividade do estudante depende da atividade de ensino, essa última tem na primeira seu objeto. Nesse sentido, para que a atividade do professor se constitua em atividade para os estudantes é necessário que ela parta da identificação das necessidades preliminares dos mesmos, tendo em vista a construção de necessidades coletivas, primeira condição de toda e qualquer atividade. Nesse processo, demanda ainda educar os motivos para que motivos-estímulos se transformem em motivos formadores de sentido, fazendo com que o que move os sujeitos no contexto escolar coincida com o objeto a que essas ações se dirigem (no caso do ensino desenvolvimental, o ensino-aprendizagem-desenvolvimento), segunda condição para que a ação se efetive enquanto atividade. Esse processo é necessário, uma vez que como necessidades e motivos se constituem socialmente, dependem dos interesses inerentes 96 • Ensino Desenvolvimental

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a determinados contextos sócio-político-ideológicos. Portanto, a escola desenvolvimental, especialmente em países não socialistas, precisará tomar para si o papel de educar os motivos, de modo a construir necessidades coletivas que superem as determinadas pelo sistema mercadológico de países capitalistas como o Brasil. Depreende-se, pois, que a Teoria da Atividade nos possibilita abstrair aspectos sobremodo significativos para uma educação transformadora do homem e da sociedade, pautada nos princípios da formação e do desenvolvimento individual e coletivo da humanidade. Sob essa base teórico-metodológica, encontramos em diferentes estados brasileiros estudos e pesquisas pautados na Teoria da Atividade25 com enfoques no processo de ensino-aprendizagem, na formação de professores,26 no campo da didática,27 bem como das investigações de cunho filosófico e epistemológico28, buscando a superação de práticas formativas alienantes e alienadas em uma sociedade sob a égide do capital. Com efeito, a formação do ser humano, seja este docente em atividade de ensino, ou discente em atividade de estudo precisa ser considerada no seu devir, no decurso do seu desenvolvimento histórico e social. “Razão por que toda a etapa nova no desenvolvimento da humanidade, bem como no dos diferentes povos, apela forçosamente para uma nova etapa no desenvolvimento da educação” (Leontiev, 1978, p. 273). O constructo teórico-metodológico da Teoria da Atividade nos impulsiona aos enfrentamentos de tais condições, no próprio movimento contraditório das relações sociais e culturais que marcam nosso sistema de ensino e a educação escolar no Brasil. Por isso, os Na Universidade Católica de Goiás com José Carlos Libâneo 2002; Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte com Isauro Beltrán Núñez, 1996, 1997, 2009; Na Universidade de São Paulo Faculdade de Educação com Manoel Oriosvaldo Moura, 1996; Na Universidade Federal de Uberlândia com Roberto Valdés Puentes & Andréa Maturano Longarezi, 2011, 2012, entre outros. 26 Consultar Sforni, 2003; Cedro, 2004, 2008; Tavares, 2002; Araújo, 2002; 2003; 2009; Camargo, 2004; Serrão, 2004; Moretti, 2007; Asbahr, 2005; Longarezi, 1996,1997, 2006; Longarezi & Silva, 2009; Longarezi & Nunes & Salge, 2009; Franco, 2009; Longarezi & Franco, 2010; 2011 (a); 2011 (b); 2011 (c); 27 Ver trabalhos orientados por Libâneo e Freitas(2004) da PUC-GO: Sleiman, 2009; Landó, 2009; Rosa, 2009. 28 Destacam-se os trabalhos de Newton Duarte, 2003; 2005; 2008 com discussões pertinentes sobre o trabalho e as condições docentes, tais como formação e alienação no campo da docência. 25

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pressupostos ontológicos deste constructo compreendem o tratamento dessa temática e a construção desse processo de formação “com” os sujeitos, os próprios docentes e discentes incluídos nas relações sociais, como seres capazes de transformar a realidade, atores e criadores da história, capazes de assumirem seus projetos num contexto-cultural.

CRONOLOGIA DE SEUS PRINCIPAIS DADOS BIBLIOGRÁFICOS: AS OBRAS TRADUZIDAS PARA O PORTUGUÊS, PARA O INGLÊS E PARA O ESPANHOL. 29 1924-1925: Primeiro artigo produzido em conjunto com Luria e publicado mais tarde no livro Problemas da Psicologia Contemporânea. LURIA, A.; LEONTIEV, A. N.30 Pesquisa sobre os sintomas objetivos das reações afetivas. In: Problemas da Psicologia contemporânea. Buenos Aires: Cartago, out.1986. 1928-1929: Artigos produzidos e publicados na Revista de Defectologia, Moscou, n.4, 1928 e em Temas de Pedagogia Marxista, t I. Moscou, 1929. (Originais russos). LEONTIEV, A. N. Recordações mediatizadas em crianças com mudanças orgânicas (por enfermidades) do intelecto, 1928; LEONTIEV, A. N. Problemas do método dialético na psicologia da memória, 1929; LEONTIEV, A. N; LURIA, A.R. Exame e Psiquismo, 1929; LEONTIEV, A. N; SURHHOV. Grafologia, 1930; 1931: LEONTIEV, A. N. Desenvolvimento da memória. Pesquisas experimentais dos processos psicológicos superiores. Moscou, 1931. (Original russo). LEONTIEV, A. N. Memória. Capítulo da Grande enciclopédia. 1934: LEONTIEV, A. N.; e VIGOTSKI, L. S. Psiconeurologia. Revista Soviética Psicanálise, n. 5, 1934. (Original russo). 1935-1940: Conclui sua tese de doutorado em dois tomos. 1947-1948: Na ocasião da segunda guerra mundial parte de sua tese foi perdida, tomo I, razão pela qual a primeira edição do Desenvolvimento do psiquismo foi baseada somente no tomo II. Nesse período, Leontiev buscou reconstruir Esboço do desenvolvimento do Psiquismo.

Embora todas as obras tenham sido escritas originalmente em russo, optamos por apresentá-las aqui pelas traduções que tiveram para a língua portuguesa, inglesa e espanhola. 30 Em decorrência do idioma russo possuir um alfabeto distinto do nosso – o cirílico – podem ser encontradas outras formas de grafar o nome desse autor no alfabeto ocidental, como: Leont’ev, Leontyev, Leontiev. Adotamos esta última grafia que é a mais comumente encontrada no Brasil. Porém, respeitar-se-á nas referências bibliográficas, a grafia utilizada em cada edição, quando aqui citadas. 29

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1948: Foram publicados vários artigos seus em jornais e revistas partidárias, por ter se filiado ao Partido Comunista da União Soviética, que foram traduzidos e publicados para diferentes idiomas: romeno, búlgaro, checo, chinês, etc. Dentre eles: Problemas da psicologia infantil e pedagógica; Desenvolvimento psicológico da criança pré-escolar; Desenvolvimento intelectual da criança;Sensações, percepções e atenção em escolares de anos inferiores; Visão materialista reflexológica e subjetivo-idealista do psiquismo. 1948: Artigo publicado na Revista Mensal de Cultura Política “Problemas”, n. 14- outubro/1948. Diretor Mario Marighella, no Brasil, intitulado A Luta entre o Novo e o Velho. Disponível em: http://www.marxists.org/archive/leontev/ index.htm. Imprensa proletária. 1949: Artigo publicado na Revista Mensal de Cultura Política “Problemas”, n. 21- outubro. Diretor: Diógenes Arruda. Brasil. O Plano Marshal à luz dos fatos. Disponível em: http://www.marxists.org/archive/leontev/index.htm. Imprensa proletária. 1950: Artigo publicado na Revista Mensal de Cultura Política “Problemas”, n. 24- jan/fev. Diretor: Diógenes Arruda. Brasil. Novo enfraquecimento do sistema capitalista. Disponível em: http://www.marxists.org/archive/leontev/ index.htm. Imprensa proletária. 1950: Artigo publicado na Revista Mensal de Cultura Política “Problemas”, n. 27- junho. Diretor: Diógenes Arruda. Brasil. A Teoria Leninista Sobre o Imperialismo Desenvolvida pelo Camarada Stálin. Disponível em: http:// www.marxists.org/archive/leontev/index.htm. Imprensa proletária. 1959: É publicada a primeira edição do livro que obteve anos depois o Prêmio Lênin, foi editado novamente em 1965, 1972 e 1981. Cabe destacar que entre a primeira e a segunda edição, houve mudanças na redação. LEONTIEV, A.N. Problemas do desenvolvimento do psiquismo. Moscou: Universidade de Moscou, 1959. 1961: Artigos O Homem e a cultura; Natureza social do psiquismo humano; Utilização da teoria da informação em investigações psicológicas que posteriormente foram publicados no livro Problemas de Psiquismo Humano, Moscou, 1965. 1962: Material produzido para o congresso sobre temas filosóficos da atividade nervosa superior em Moscou, Psicologia humana e progresso técnico; O Homem e a técnica. (Originais russos). 1964: Artigos publicados na revista Temas de Filosofia, n. 4 Moscou. Pensamento; Processo de transformação da informação pelo homem; Problemas da psicologia aplicada à engenharia; Transformação da informação em situação de escolha. (Originais russos). 1965: É publicada a segunda edição de Problemas do desenvolvimento do psiquismo, Leontiev escreve Introdução à Psicologia da arte, de Vigotski; e um artigo Problemas psicológicos do ensino programado, em conjunto com Galperin. 1966: Artigos apresentados no XIII Congresso de Psicologia Científica, Moscou

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Automatização e condução; Conceito de reflexo e seu significado para a psicologia; Necessidades, motivos e consciência; Psicologia da personalidade. (Originais russos). 1967: Artigos publicados na revista Temas de Psicologia n. 2, Moscou. A luta pelo problema da consciência e seu estabelecimento na psicologia soviética; A medição em psicologia (em conjunto com Aokholov); De que trata a psicologia do engenho; Alguns problemas na perspectiva da psicologia soviética. (Originais russos). 1968: Artigos publicados na revista Temas de Psicologia n. 5, Moscou Karl Marx e a ciência psicológica; Cultura, conduta e cérebro humana; A atividade do sistema visual humano; Métodos diagnósticos em investigações psicológicas de escolares. (Originais russos). 1969: Leontiev publica Noção de reflexo e seu significado para a psicologia lido anteriormente no XVIII Congresso Internacional de Psicologia Científica que aconteceu em Moscou no ano de 1966. 1971: Artigos publicados na revista Temas de Psicologia, n.2. Imagens visuais, fenomenologia e experimento; Ergonômica: princípios e recomendações. (Originais russos). 1972: Tese de seus informes ao XX Congresso Internacional de Psicologia de Tóquio, constante do abstract do evento; 1973: Artigos em conjunto com Paul Fraisse e Jean Piaget Pesquisas Psicológicas e Psicologia Experimental. 1976: Artigos escritos em conjunto com outros autores como: LEONTIEV, A. N; LOMOV; KUZMIN. Tarefas atuais da ciência psicológica, 1976; LEONTIEV, A. N; LURIA, A. R. Conformação das posturas psicológicas de Vigostki, 1976; LEONTIEV, A. N. Outubro e a ciência psicológica. Revista Comunista n. 6, 1976. (Original russo). 1977: Primeira edição de Psicologia e Pedagogia - Bases psicológicas da aprendizagem e do desenvolvimento - v. I e v. II, autores LURIA, LEONTIEV, VIGOTSKY e OUTROS. Editorial Estampa, Lisboa. Uma segunda edição desta obra foi publicada no ano de 1991. Tradução de Ana Rabaça. Editora Estampa, Lisboa. 1977-1978: Leontiev retoma parte de suas ideias surgidas na década de 1970 e tenta unificar alguns de seus artigos dos últimos anos sobre estas três categorias: atividade, consciência e personalidade. Gravemente doente, conseguiu escrever outros dois trabalhos sobre o tema “atividade”. Um deles foi o informe levado ao Quinto Congresso Nacional de Psicólogos de 1977 e publicado depois de seu falecimento, dedicado ao tema da atividade e da atitude, às intenções e à formação de hábitos. 1979: Leontiev publica o livro Atividade, consciência e personalidade. A tradução deste livro, em espanhol, aparece três anos depois em Buenos Aires, em meio à ditadura militar, razão pela qual sua venda em livrarias era muito arriscada, podendo ser encontrado nos quiosques das plataformas das estações do metrô. Esse livro obteve um dos prêmios mais relevantes no mundo

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acadêmico “Prêmio LOMONOSOV -nome do criador da Universidade de Moscou, no século XVIII- de primeira magnitude.” 1979: Publicação post-mortem Categoria de atividade na psicologia contemporânea; Imagem do mundo, esboço de uma obra não publicada.

OBRAS EM PORTUGUÊS LEONTIEV, A. N. A luta entre o novo e o velho. Revisado em julho de 2007. Arquivo eletrônico marxista na internet. Responsável pela transcrição e administrador da seção em português: Fernando A. S. Araújo. Disponível em: . Acesso em: 11 dez. 2011. LEONTIEV, A. N. O Plano Marshal à luz dos fatos. Revisado em março de 2008. Arquivo eletrônico marxista na internet. Responsável pela transcrição e administrador da seção em português: Fernando A. S. Araújo. Disponível em: . Acesso em: 11 dez. 2011. LEONTIEV, A. N. Novo enfraquecimento do sistema capitalista. Texto citado pelo administrador do arquivo marxista na internet seção em português: Fernando A. S. Araújo. Disponível em: < http://www.marxists.org/portugues/ tematica/rev_prob/24/index.htm>. Acesso em: 11 dez. 2011. LEONTIEV, A. N. A Teoria Leninista sobre o Imperialismo desenvolvida pelo camarada Stálin. Texto citado pelo administrador do arquivo marxista na internet seção em português: Fernando A. S. Araújo. Disponível em:< http://www.marxists. org/portugues/tematica/rev_prob/27/index.htm>. Acesso em: 11 dez. 2011. LEONTIEV, Alexis N. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Horizonte Universitário. 1978. LEONTIEV, Alexis N. O desenvolvimento do psiquismo. 1 ed. São Paulo: Editora Moraes. [197?] LEONTIEV, A. Problemas do desenvolvimento do psiquismo. Moscou: Universidade de Moscou, 1959. LEONTIEV, A. N. Uma contribuição para o desenvolvimento da psique infantil. In: VIGOTSKI, L. S., LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 10 ed. São Paulo: Ícone, 2006. LEONTIEV, A. N.; LURIA, A. R.; VIGOTSKI, L. S. et al. Psicologia e Pedagogia. Bases psicológicas da aprendizagem e do desenvolvimento. Biblioteca de Ciências Pedagógicas. Lisboa: Editorial Estampa 2 ed. 1991. Tradução de Anna Rabaça. v.1 e v.2.

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OBRAS EM ESPANHOL: LEONTIEV, A. N Actividad, conciencia e personalidad. Havana: Editorial Pueblo y Educación. 1983. A. A. SMIRNOV; A. N. LEONTIEV; S. L. RUBINSHTEIN y B. M. TIEPLOV. Psicologia da Academia de Ciências Pedagógicas de la R. S. S. F. R. Instituto de investigación cientifica.Tradución directa del ruso por Florencio Villa Landa, Cuba, 1961. LEONTIEV, A. N. Sobre la teoria del desarrollo de la psique del niño. In: Antologia de la psicologia pedagógica y de las edades. I. I. IIiasov; V. Ya. Liaudis. Título original de la obra: Jrestomatia pi vosrastmai i pedagoguicheskei. Tradución: Carmen Rodrigues Garcia. Editorial Pueblo y Educación,1986. p. 10-13. LEONTIEV, A. N. Sobre la formación de las capacidades. In: Antologia de la psicologia pedagógica y de las edades. I. I. IIiasov; V. Ya. Liaudis. Título original de la obra: Jrestomatia pi vosrastmai i pedagoguicheskei. Tradución: Carmen Rodrigues Garcia. Editorial Pueblo y Educación,1986. p. 44-54. LEONTIEV, A. N La compreensión del significado por parte del portador de la lengua. In: Antologia de la psicologia pedagógica y de las edades. I. I. IIiasov; V. Ya. Liaudis. Título original de la obra: Jrestomatia pi vosrastmai i pedagoguicheskei. Tradución: Carmen Rodrigues Garcia. Editorial Pueblo y Educación,1986. p. 260-265. LEONTIEV, A. N.; LURIA, A.R.; SMIRNOV, A. A. Sobre los métodos diagnóstico de la investigación psicológica de los escolares. In: Antologia de la psicologia pedagógica y de las edades. I.I.IIiasov; V. Ya. Liaudis. Título original de la obra: Jrestomatia pi vosrastmai i pedagoguicheskei. Tradución: Carmen Rodrigues Garcia.Editorial Pueblo y Educación,1986.p.322-327. LEONTIEV, Alexis. N. Acerca da la importância del concepto de actividad objetal para la psicologia. In: ROJAS, Luis Quintanar.(compilador) La formacion da las funciones psicológicas durante el desarrollo del nino. Universidad Autônoma de Tlaxcala.México.Segunda reimpressão: 2001. Traducción Del russo: Yulia V. Solovieva.

OBRAS EM INGLÊS LEONTYEV, A. N. Problems of the Development of the mind. 1965 (1st. ed.); 1965 (2nd ed.); 1972 (3nt ed.); 1981 (4th ed.); LEONT’EV, A. Activity and Consciousness. 1977. Disponível: Acesso em 26 maio 2012. ALEXEI N. LEONTIEV. Imagem anleontiev ris_13.jpg (237x350). Disponível em:< http://anleontiev.smysl.ru/biograph/ris_13.jpg>. Acesso em: 26 maio 2012. ALEXEI N. LEONTIEV. Imagem anleontiev ris_17.jpg (405x339). Disponível em:< http://anleontiev.smysl.ru/biograph/ris_17.jpg> Acesso em: 26 maio 2012. ALEXEI N. LEONTIEV. Imagem anleontiev ris_19.jpg (242x344). Disponível em:< http://anleontiev.smysl.ru/biograph/ris_19.jpg> Acesso em: 26 maio 2012. ALEXEI N. LEONTIEV. Imagem anleontiev ris_27.jpg (377x400). Disponível em:< http://anleontiev.smysl.ru/biograph/ris_27.jpg> Acesso em: 26 maio 2012. ALEXEI N. LEONTIEV. Imagem small_leontiev 60x3.jpg (235x150). Disponível em: Acesso em: 26 maio 2012. ALEXEI NIKOLAEVICH LEONT’EV. Banco de dados. Disponível em: . Acesso em 13 dez. 2011.

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ALEXEI NIKOLAEVICH LEONT’EV. Banco de dados. Disponível em: < http:// www.psy.msu.ru/people/leontiev/html> Acesso em: 17 abr. 2012. ALEXEI NIKOLAEVICH LEONTIEV. Banco de dados. Disponível em:< http:// psy.1september.ru/article_ext.php?dir=2001/14/&file=4_5.htm> Acesso em: 18 maio 2012. ARAÚJO, E. S. Da formação e do formar-se: a atividade de aprendizagem docente em uma escola pública. 2003. 186 f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003. ARAÚJO, Elaine S. O projeto pedagógico como (des) encadeador do trabalho coletivo. Educação: Teoria e Prática, Rio Claro, v. 26, p.199-211, 2007. Disponível em: . Acesso em 13 abr. 2009. ARAÚJO, Elaine S; CAMARGO, Raquel. M. de; TAVARES, Sílvia, C. A. A formação contínua em situações de trabalho: O projeto como atividade. In: ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO (ENDIPE), 11, 2002. Goiânia. Anais..., 1 CD-ROM. ASBAHR, Flávia da Silva Ferreira. A pesquisa sobre a atividade pedagógica: contribuições da teoria da atividade. Revista Brasileira de Educação. São Paulo, n. 29, p.109-118 maio/jun./ago. 2005. BOTTOMORE, T. (Ed.) Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor. 1983. BLANCK, Guilhermo. Prefácio. In: VIGOTSKI, L. S. Psicologia Pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2003. p.15-32. CAMARGO, R. M. Atividade formadora do professor de matemática de um projeto em parceria numa escola pública. 2004. 150 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004. CAPRILES, R. Makarenko - o nascimento da pedagogia socialista. São Paulo: Scipione. 1989. p. 25-26 CEDRO, W. L. O espaço de aprendiazagem e a atividade de ensino: o clube de matemática. 2004. 171 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004. CEDRO, W. L. O motivo e atividade de aprendizagem do professor de matemática: uma perspectiva histórico-cultural. 2008. 242f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. CRONOLOGIA DA PSICOLOGIA RUSSA/SOVIÉTICA. Banco de dados. Disponível em: . Acesso em 11 dez. 2011. CUNHA, Niágara Vieira Soares (et.al). A revolução Russa de 1917 e seus desdobramentos no âmbito da psicologia histórico-cultural. Revista Eletrônica Arma da Crítica, Ano 2: Número especial. Dez/2010. ISSN: 1984-4735. Disponível em: Acesso em: 13-12-2011.

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DUARTE, Newton. A teoria da atividade como uma abordagem para a pesquisa em educação. Perspectiva Revista do centro de ciências em Educação. Florianópolis. v. 21, n. 02, p. 279-301 jul/dez. 2003. ______. O significado e o sentido. In: Coleção Memória da Pedagogia. Suplemento especial. Viver mente e cérebro. São Paulo: v. 2 Duetto, 2005. ISBN 85-99535-02-1. DUARTE, Rosália Maria. Pesquisa Qualitativa: Reflexões sobre o trabalho de campo. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 115, p.139-154, 2002. Disponível em: . Acesso em: 12 out.2012. FRANCO, Patrícia. L. J. Significado Social e Sentido Pessoal da Formação Continuada de Professores: o caso de Ituiutaba/MG. 2009. 231 f. Dissertação (Mestrado em Educação) Faculdade Universidade de Uberaba (UNIUBE), Uberaba, 2009. GOLDER, M. (Org) Leontiev e a psicologia histórico-cultural. Um homem em seu tempo. São Paulo: Ed. Xamã, 2004. HOBSBAWM, E. J. (Org.) História do marxismo. O marxismo na época da terceira internacional: a revolução de outubro / o austromarxismo. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. v. 5. INSTITUTO DE PSICOLOGIA RAS. Quem é quem na psicologia russa. Disponível em: Acesso em: 17 abr. 2012 JOHNSTONE, M. (1986/1980) Lênin e a revolução. In: HOBSBAWM, E. J. (Org.) História do marxismo. O marxismo na época da terceira internacional: a revolução de outubro / o austromarxismo. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.1980. v. 5. JORNAL NACIONAL DE PSICOLOGIA. Psicólogos MSU. Disponível em: Acesso em: 17/04/2012. LANDÓ, S. L. Z. A atividade lúdica em práticas de ensino com crianças da educação infantil em creche. 2009. 2009. 107 f. Dissertação (Mestrado em Educação). Faculdade. Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 2009. LEONTIEV, A. N. A vida e o caminho criativo de A. N. Leontiev. Jornal de Psicologia Russa e Leste-Européia (Journal of Russian and East European Psychogy), v. 43, n. 3, May-June 2005, pp. 8-69.c 2005 M.E. Sarpe, Inc. All rights reserved. ISSN 1061-0405/2005 $9.50 +0.00. Tradução de Chrysantho Sholl Figueiredo. Disponível em: . Acesso em: 12 out. 2012. LEONTIEV, A. N. Problemas do desenvolvimento do psiquismo. Moscou: Universidade de Moscou, 1959.

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LEONTIEV, A. N. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Horizonte Universitário. 1978. LEONT’EV, A. N. Activity, Consciousness and Personality. 1978a. Disponível:< http://www.marxists,org/achive/leontev/works/1978/index.htm LEONTIEV, Alexis N. O desenvolvimento do psiquismo. 1. ed. Lisboa: Editora Moraes. 1ª edição. [197?] LEONTIEV, A. N. Actividad, conciencia e personalidad. Havana: Editorial Pueblo y Educación. 1983. LEONTIEV, A. N.; El enfoque histórico em el estúdio de la psiquis del hombre. In: PUZIREI, Andrei; GUIPPENREITER, Yulia – El processo de formación de La psicologia marxista Editorial Progreso. Moscú, 1989. Traducido Del russo por Marta Shuare. ISBN 5-0-001254-5. LEONTIEV, A. N. El problema de la actividad em la psicologia. In: In: PUZIREI, Andrei; GUIPPENREITER, Yulia – El processo de formación de La psicologia marxista Editorial Progreso. Moscú, 1989. Traducido Del russo por Marta Shuare. ISBN 5-0-001254-5. LEONTIEV, A. N.; LURIA, A. R.; VIGOTSKI, L. S. et al. Psicologia e Pedagogia. Bases psicológicas da aprendizagem e do desenvolvimento vol.1 e vol.2. Biblioteca de ciências Pedagógicas. Lisboa. Editorial Estampa 2ª edição. 1991. Tradução de Anna Rabaça. LEONTIEV, A. N. Sobre la teoria del desarrollo de la psique del niño. In: Antologia de la psicologia pedagógica y de las edades. I.I.IIiasov; V. Ya. Liaudis. Título original de la obra: Jrestomatia pi vosrastmai i pedagoguicheskei. Tradución: Carmen Rodrigues Garcia. Editorial Pueblo y Educación,1986.p.10-13. LEONTIEV, A. N. Sobre la formación de las capacidades. In: Antologia de la psicologia pedagógica y de las edades. I.I.IIiasov; V. Ya. Liaudis. Título original de la obra: Jrestomatia pi vosrastmai i pedagoguicheskei. Tradución: Carmen Rodrigues Garcia. Editorial Pueblo y Educación,1986.p.44-54. LEONTIEV, A. N La compreensión del significado por parte del portador de la lengua. In: Antologia de la psicologia pedagógica y de las edades. I.I.IIiasov; V. Ya. Liaudis. Título original de la obra: Jrestomatia pi vosrastmai i pedagoguicheskei. Tradución: Carmen Rodrigues Garcia. Editorial Pueblo y Educación,1986.p.260-265. LEONTIEV, A. N.; LURIA, A.R.; SMIRNOV, A.A. Sobre los métodos diagnóstico de la investigación psicológica de los escolares. In: Antologia de la psicologia pedagógica y de las edades. I.I.IIiasov; V. Ya. Liaudis. Título original de la obra: Jrestomatia pi vosrastmai i pedagoguicheskei. Tradución: Carmen Rodrigues Garcia.Editorial Pueblo y Educación,1986.p.322-327. LEONTIEV, Alexis. N. Acerca da la importância del concepto de actividad objetal para la psicologia. In: ROJAS, Luis Quintanar.(compilador) La formacion da las funciones psicológicas durante el desarrollo del nino. Universidad Autônoma de Tlaxcala.México.Segunda reimpressão: 2001. Traducción Del russo: Yulia V. Solovieva.

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LEONTIEV, A. N. Uma contribuição para o desenvolvimento da psique infantil. In: VIGOTSKI, L. S., LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 10 ed. São Paulo: Ícone, 2006. LIBÂNEO, José Carlos. A Didática e aprendizagem do pensar e o do aprender – A teoria histórico-cultural da Atividade e a contribuição de Vasili Davidov. Revista Brasileira de Educação. Rio de Janeiro, n. 27, dez. 2004. Disponível em:http/www.scielo.br/pdf/rbdedu/n27/n27/a01.pdf. Acesso em: 12 out. 2012. LIBÂNEO, José Carlos. Reflexividade e Formação de Professores: outra oscilação do pensamento pedagógico brasileiro? In: PIMENTA, Selma Garrido; GHEDIN, Evandro. Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica do conceito. São Paulo: Cortez, 2002. LIBÂNEO, José Carlos; FREITAS, Raquel A. M. da M. Vygotsky, Leontiev, Davidov – Três aportes teóricos para a Teoria Histórico-Cultural e suas contribuições para a Didática. s/d. Disponível em: http/www.sbhe. org/novo/congressos/sbhe4/individuais-coautoriaiseixo03/Jose%20 Carlos%Libaneo%20e%20Raquel%20ª.%20%M%20Freitas%20-%20textos. pdf. Acesso em: 12 out. 2012. LONGAREZI, Andréa Maturano; SILVA, Jorge Luiz da. Interface entre pesquisa e formação de professores delimitando o conceito de pesquisa-formação. EDUCERE, VIII Congresso Nacional de Educação, Curitiba. ISBN: 978-857292-193-0p. 4.048-4.061, 02/10/2008 Disponível em: Acesso em: 20 abr. 2009. LONGAREZI, Andréa Maturano; NUNES, Ana Teresa Teixeira; SALGE, Eliana Helena Corrêa Neves; PINHEIRO, Nilza Consuelo Alves. A Unidade teoria e Prática no Contexto da formação de professores. Revista PROPEP. Uberaba, v.7, n.15, p.15-29 jan/jul.2007-ISSN 1519-0919. Disponível em: . Acesso em: 20 abr. 2009. LONGAREZI, Andréa Maturano. Uma experiência de formação contínua: avaliando processos e produtos.1996. 130f. Dissertação (Mestrado em educação) – Faculdade, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 1996. ______. Prática educativa e formação de professores. Revista UNIARA, Araraquara, v.1, n. 2, p.55-60. 1997. ______. Práxis e formação de professores: aspectos relevantes para se pensar uma epistemologia da formação docente. Revista & Educação & Linguagem. Programa de Pós-graduação em educação: Universidade Metodista de São Paulo. Ano 9, n. 14, jul-dez de 2006. LONGAREZI, Andréa. M. & FRANCO, Patrícia. L. J. 2010. Os impactos das políticas públicas nas ações de formação docente em Ituiutaba/MG: contribuições para uma análise das políticas e práticas formativas. Revista Eletrônica Gestão e Política Educacional. UNESP- Universidade Estadual Júlio Mesquita. Campus Araraquara, 1º semestre, 2010. Nº08. ISSN 15199029. Disponível em:< www.fclar.unes.br/.../edi8_index.php?id...>

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LONGAREZI, Andréa. M. & FRANCO, Patrícia L. J. 2011a. Elementos constituintes e constituidores da formação continuada de profesosres: contribuições da Teoria da Atividade. Revista Educação e Filsofia, Uberlândia, v.25, n. 50, p.557-582, jul/dez. 2011. ISSN 0102-6801. 2011a . LONGAREZI, Andréa M. & FRANCO, Patrícia L. J. 2011. Elementos teóricometodológicos da teoria da atividade na construção de princípios didáticos para a docência. 2011. X Congresso Nacional de Educação. EDUCERE e I SIRSSE. Pontifícia Universidade Católica do Paraná. ISSN 2176-1396. Disponível em: