Economia e Investimentos

Table of contents :
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ECONOMIA & INVESTIMENTOS
Sumário
Introdução
Capítulo 1
A Moeda
Capítulo 2
A Economia de Mercado
Capítulo 3
Como os Mercados
Capítulo 4
Macroeconomia
Capítulo 5
Política Fiscal
Capítulo 6
Política Monetária
Capítulo 7
Matemática Financeira Aplicada
Capítulo 8
Começando a Investir
Capítulo 9
A Renda Fixa
Capítulo 10
A Renda Variável
Capítulo 11
Fundos de Investimento E
Bibliografia Recomendada
Sobre os Autores

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Antonio Américo Pereira

Samuel Carvalho

ECONOMIA & INVESTIMENTOS Uma Esclarecedora Introdução Produção Independente 2019 Revisão / Diagramação: Jessyga Tavares Projeto Gráfico: Jessyga Tavares É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem permissão expressa do autor.

Sumário INTRODUÇÃO 4

CAPÍTULO 1 - A MOEDA 7 1. Origem, evolução e tipos 7 2. Os Bancos 9 CAPÍTULO 2 - A ECONOMIA DE MERCADO 16 1. Demanda 16 2. Oferta 22 3. Oferta e Demanda 27 CAPÍTULO 3 - COMO OS MERCADOS SE ORGANIZAM 31 1. Concorrência perfeita 31 2. Monopólios e a concorrência monopolística 33 3. Oligopólios 38 CAPÍTULO 4 - MACROECONOMIA 43 1. Introdução 43 2. Inflação 44 3. O Papel do Governo 49 4. Agregados Macroeconômicos 54 5. PIB 55 CAPÍTULO 5 - POLÍTICA FISCAL 57 1. Taxação 57

2. Gastos Governamentais 62 3. Dívida 64 CAPÍTULO 6 - POLÍTICA MONETÁRIA 67 1. A taxa de juros e a quantidade de moeda 67 2. O Banco Central e o COPOM 68 3. Consequências 70 4. Um pouco de história 70 CAPÍTULO 7 - MATEMÁTICA FINANCEIRA APLICADA 73 1. Taxa de juros 73 2. Juros Simples 75 3. Juros Compostos 76 4. A calculadora HP 12C 78 5. Financiamento 83 CAPÍTULO 8 - COMEÇANDO A INVESTIR 93 1. Rentabilidade, Risco e Liquidez 93 2. Estratégias de Investimentos 95 3. Perfis de Investidor 99 4. Índices e Benchmarks 100 CAPÍTULO 9 - A RENDA FIXA 103 1. Conceito 103

2. Renda Fixa Prefixada x Renda Fixa Pós-Fixada 104 3. Os Investimentos da Renda Fixa 105 CAPÍTULO 10 - A RENDA VARIÁVEL 113 1. Conceito 113 2. Promessas e Opcionalidade 114 3. Ações 115 CAPÍTULO 11 - FUNDOS DE INVESTIMENTO E TORNANDO-SE UM INVESTIDOR               128 1. Fundos de Investimento 128 2. Corretoras e Tornando-se um Investidor 136 BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA 139 SOBRE OS AUTORES 140

Introdução Nós, autores deste livro, gostamos de pensar em economia como a ciência da escassez. Todos os dias, dedicamos grande parte do nosso tempo para tomar decisões que buscam alocar (destinar) recursos invariavelmente finitos. A nível individual, esses recursos podem ser nosso tempo, dinheiro ou atenção. A nível social, podem estar relacionados à força de trabalho, terras agricultáveis, dinheiro público, e muitos outros. Independentemente de quais sejam os recursos a serem alocados, a escassez é uma propriedade comum a todos eles. Não podemos ter tudo o que queremos e é por isso

que precisamos fazer escolhas. Comeremos uma fatia de pudim ou de bolo? Usaremos nosso tempo livre no shopping ou na praia? Compraremos uma calça ou uma blusa? Cabe aos agentes econômicos – sejam eles indivíduos, empresas ou governos – tomar essas decisões em prol da melhor alocação de seus recursos. Entretanto, um ponto importante na economia é que escolhas vêm sempre acompanhadas de custos. Talvez não percebamos tão claramente, mas toda decisão de ter ou de fazer alguma coisa é sempre acompanhada por outra decisão, igualmente importante: a de não ter ou não fazer outra coisa. Por isso, na economia, definimos como custooportunidade tudo aquilo de que abrimos mão para ter algo que queremos. Pense nos custos de ir à praia, por exemplo. Talvez venham imediatamente à cabeça o transporte necessário para chegar até lá, os petiscos para manter seus convidados felizes, a bebida para se refrescar em tempos de calor. Apesar de serem custos genuínos, tratam-se de custos contábeis, não econômicos. Economistas, ao contrário de contadores, pensam em custos como oportunidades perdidas, como coisas que não aconteceram, mas que poderiam ter acontecido. Por esse raciocínio, o custooportunidade de ir à praia é não ir ao shopping, supondo que ir ao shopping seja seu segundo passatempo predileto. Uma outra presunção comum da economia é a de que indivíduos são maximizadores de utilidade, isto é, que atuamos racionalmente com o objetivo de aumentar nossa satisfação. A princípio, essa afirmação pode parecer óbvia. Entretanto, vale destacar o trabalho de um campo emergente na economia conhecido como economia comportamental , responsável por estudar as interessantes sutilezas do comportamento humano. O que uma grande

parte dos estudos de economia comportamental tem mostrado é que nem sempre agimos das formas mais racionais. Imagine, por exemplo, que você está em um buffet que contém todas as comidas do mundo. Você teria dificuldade de escolher o que comer? A resposta é, provavelmente, sim. Uma das conclusões de estudos de economia comportamental é que somos pouco eficientes tomando decisões quando a variedade de opções é muito grande. Outras conclusões apontam para a nossa falta de autocontrole, nossa tendência à procrastinação, nossa capacidade de reagir excessivamente a estímulos, entre outros. Todos esses são fatores que reduzem a racionalidade de nossa tomada de decisões. Você, com certeza, irá vivenciá-los quando iniciar sua vida como investidor. Com isso, podemos perceber que, no estudo da escassez, a economia vai muito além dos agentes econômicos isolados. Mais importante ainda, ela estuda a relação entre esses agentes no dia a dia, tanto entre si quanto com os mercados em que estão inseridos. Entenderemos isso de forma mais aprofundada ao longo das páginas que estão por vir. Como instrumento facilitador, costuma-se dividir o estudo econômico em duas frentes: a microeconomia, que explora decisões pertinentes ao indivíduo ou a empresas, incluindo sua interação em diferentes mercados; e a macroeconomia, que analisa a coletividade de indivíduos e firmas numa sociedade. Neste livro, iremos enfatizar, preliminarmente, um estudo microeconômico. Começaremos pela moeda - o principal instrumento de troca nas economias modernas - e, posteriormente, avançaremos pelos mercados, estudando sobre suas forças e modos de organização. Após construir

uma base sólida em microeconomia, poderemos compreender melhor a macroeconomia. Para isso, estudaremos o tripé e os agregados macroeconômicos, além de analisarmos as principais questões por trás de políticas fiscais e monetárias. Por fim, construída uma forte introdução em economia, partiremos para a fascinante arte dos investimentos. Entenderemos os conceitos de liquidez, volatilidade e risco, as diferentes modalidades de renda fixa e variável, e os principais tipos de fundos de investimentos. Ao terminar este livro, estamos confiantes que você jamais tomará decisões econômicas da mesma maneira. Seja bem-vindo.

Capítulo 1 A Moeda 1. Origem, evolução e tipos Na parte da história que precede o dinheiro, ou mesmo nas épocas de sua escassez, as pessoas utilizaram o escambo, ato de trocar uma mercadoria ou serviço por outra mercadoria ou serviço, para suprir suas necessidades e desejos. Por exemplo, um fazendeiro que possuía três litros de leite podia oferecê-los a um padeiro em troca de trinta pães. Caso o padeiro não precisasse de leite, poderia consultar o colega pedreiro a fim de conseguir um pequeno conserto em sua padaria, em troca dos três litros de leite, que seriam então compensados ao fazendeiro com os trinta pães. Neste exemplo, vê-se que nem sempre era tão simples sobreviver do escambo.

Várias culturas ao longo do tempo utilizaram diversas “coisas” como moeda de troca: conchas, tabaco, metais, pedras preciosas, sal, couro e cigarros são alguns exemplos. Dentre essas “coisas”, o ouro, além de muito atuante como moeda de troca, também foi o grande responsável pelo respaldo econômico de diversas nações e principal motivador da criação do que hoje conhecemos como dinheiro. A ideia do dinheiro como hoje o conhecemos se desenvolveu como alternativa à utilização da moedamercadoria. Como já sabemos, as transações utilizando ouro podiam ser bastante complexas. Devido à sua alta densidade, trata-se de um metal extremamente pesado e de difícil divisão. Os ourives foram os primeiros a oferecer uma solução para esse problema: recebiam ouro em forma de depósitos e emitiam recibos com os valores referentes ao ouro depositado. Não era mais necessário negociar com o ouro em sua forma física, apenas com os recibos. Sempre que alguém que portasse um recibo desejasse, bastava trocá-lo por ouro real. A esse conceito inicial, deu-se o nome de papel-moeda representativo, que foi se firmando com o passar do tempo. Surgiu, então, o questionamento: é necessário que o papelmoeda seja resgatável pelo ouro ou por qualquer outra “coisa”? Então, em 1933, o Presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt assinou uma ordem que transformou o dólar de dinheiro representativo em moeda fiduciária inconversível, que significa o conceito que utilizamos hoje de dinheiro, ou seja, dinheiro em papel ou virtual, que não possui valor, não é resgatável nem tão pouco é respaldado por alguma “coisa”. A moeda fiduciária inconversível, ou simplesmente dinheiro, só é dinheiro

porque os governos assim o afirmam e porque estamos dispostos a aceitá-lo. Na época em que o ouro respaldava o dinheiro, o processo, conhecido como padrão-ouro, foi responsável pela sustentação econômica de vários países durante muito tempo. Na prática, mais moeda só era impressa se houvesse ouro para respaldá-la. Porém, o sistema de padrão-ouro não era perfeito, já que pela sua própria essência limitava o crescimento econômico, dada a escassez do metal. Segundo Adam Smith . “a riqueza de um país não é uma função da quantidade de ouro ou prata que ele possui, mas a soma de todos os bens e serviços produzidos por sua economia”. Faz todo o sentido, então, que a quantidade de moeda corrente na economia de um país, reflita a capacidade deste em produzir riqueza, à medida que se expandem sua indústria e seu comércio. De todas as invenções da humanidade, o dinheiro é uma das mais difundidas. Todos nós, todos os dias, utilizamos ou ao menos pensamos no dinheiro de alguma forma. Desde o escambo ao digital, passando pelo papel moeda, a história do dinheiro abrange grande parte da história da humanidade. 2. Os Bancos 2.1 Função Vamos lembrar que o padrão de moeda fiduciária inconversível, o dinheiro, depende da fé, tendo como premissa que seu valor só existe porque o governo disse e nós acreditamos. Pensando no sistema bancário, precisamos de ainda mais credulidade. Qualquer pessoa pode gastar todo o seu dinheiro depositado em um banco

sem jamais tocá-lo. É possível pagar contas utilizando cartões e aplicativos sem contato nenhum com a moeda em si. Na verdade, não existe no banco uma gaveta com seu nome e seu dinheiro em espécie ali guardado, apenas informações em um sistema de computadores. O dinheiro é imaginário. Por esse e outros motivos, os bancos são essenciais para a economia. Ambiente econômico forte e estabilizado, atuam como locais seguros onde pessoas e empresas armazenam suas riquezas. Além disso, cumprem várias outras funções importantes na economia, fornecendo métodos alternativos de pagamento e, principalmente, reunindo poupadores e tomadores de empréstimos. 2.2 Agregados monetários Confiar que o dinheiro não vai perder seu valor repentinamente e que os governos obedecerão à ordem democrática de alternância de poder é essencial para o bom ambiente econômico de um país. No caso do dinheiro, cabe ao Banco Central da nação controlar com muito cuidado a oferta de moeda a fim de evitar abundância ou escassez. A oferta de moeda é o estoque de moeda disponível para uso da coletividade a qualquer momento, e às medidas quantitativas da oferta de moeda damos o nome de agregados monetários. Os agregados monetários são classificados de acordo com sua liquidez, que é a mensuração da facilidade com que um investimento pode ser revertido em dinheiro, sendo, no Brasil, M1 a forma mais líquida da moeda e M4 a menos líquida. Cabe ainda ressaltar que são cumulativas. Observe: M1: Soma de todo o papel moeda da economia (dinheiro) mais os depósitos bancários à vista (conta corrente e

poupança). M2: Composto pelo M1 , mais os depósitos a prazo no sistema bancário (CDB e CDI, por exemplo, que você conhecerá mais adiante no capítulo sobre investimentos) e a parte dos títulos públicos que não estão em poder dos bancos e de fundos de investimentos. M3: Refere-se ao M2 mais os depósitos em fundos de renda fixa. M4: Abrange o M3 e mais os títulos públicos que estão em poder dos bancos e de fundos de investimentos, além de alguns títulos privados. As mudanças nos agregados monetários são monitoradas pelo Banco Central e atuam como poderosos indicadores da atividade econômica. As mudanças nas proporções dos agregados são indicativos de inflação ou recessão. Por exemplo, se M1 cresce acima do crescimento da produtividade, há o risco de inflação; no entanto, se M2 crescer repentinamente, à custa de M1 , o indicativo é de que a economia caminhe para uma recessão. 2.3 Spread bancário Como sabemos, os bancos recebem dinheiro de poupadores e pagam a esses poupadores uma remuneração pelo uso desse dinheiro: os juros. O dinheiro dos poupadores é emprestado aos tomadores de empréstimo à uma taxa de juros superior à paga aos poupadores, gerando o lucro. A essa diferença entre a taxa paga e a taxa cobrada, damos o nome de spread bancário . Por óbvio, quanto maior o spread , maior tende a ser a lucratividade do empréstimo para o banco.

Por exemplo, José [1] tem o excelente costume de todos os meses depositar uma parte do seu salário em uma aplicação de previdência privada no Banco X, onde obtém rendimento médio de 0,7% ao mês. Esse mesmo Banco X usa parte da aplicação de José e empresta a Pedro, que deseja trocar de carro, pagando taxa de 1,2% ao mês em um financiamento de 36 meses. Nesse exemplo simples, vemos que o Banco X assume o risco de emprestar o dinheiro de José a Pedro, ganhando 0,5% (bruto) de spread mensalmente, fora as taxas. Vale salientar que todos se beneficiam desse processo. O poupador recebe juros em um investimento financeiro seguro e normalmente com alta liquidez. Já o tomador tem acesso a uma oferta de dinheiro normalmente empregado na aquisição de bens, o que gera empregos e crescimento econômico. 2.4 Depósito compulsório Uma parte do dinheiro depositado em um banco é obrigatoriamente retida numa conta do Banco Central vinculada a esse banco. Essa quantia, denominada depósito compulsório , serve de reserva emergencial e oferece ao Banco Central um dispositivo para controlar a oferta monetária e, por conseguinte, a economia. Quando o BC deseja aquecer a economia, por exemplo, ele pode comprar títulos públicos dos bancos e pagar em depósitos nas contas desses bancos. Isso cria um excedente de depósitos, além da quantia obrigatória do depósito compulsório. Os bancos irão então repassar esse excedente para seus clientes na forma de empréstimos, consequentemente aumentando a oferta monetária e acelerando a economia. De forma análoga, quando o BC deseja frear a economia, ele pode vender títulos públicos

aos bancos e receber por essas vendas descontando das contas no BC vinculadas a esses bancos. Isso reduz a oferta monetária, mudança que será acompanhada pela redução da oferta de crédito dos bancos aos seus clientes e logo pelo esfriamento da economia. Essas operações de compra e venda de títulos públicos pelo Banco Central para regular a economia são conhecidas como operações de open market . O depósito compulsório também é um dos custos levado em consideração pelos bancos no cálculo do spread . Podemos citar como outros custos os administrativos, os judiciais, os impostos, o lucro, a taxa Selic (taxa básica de juros da economia – será apresentada em breve) e a inadimplência. Esse conjunto de fatores que influenciam no cálculo do spread acaba influenciando diretamente na economia, uma vez que juros altos inibem o crédito e, consequentemente, o crescimento. 2.5 Fundo garantidor de crédito (FGC) Além do depósito compulsório, outra parte do dinheiro que os poupadores depositam nos bancos, é repassada aos tomadores de empréstimo. Assim, claramente o dinheiro em espécie que os bancos possuem não é suficiente para suprir todos os saldos de todas as contas com liquidez imediata. Na verdade, longe disso. Então, se, por exemplo, um boato de que determinado banco vai falir levar todos os seus correntistas ao desespero e, consequentemente, às suas respectivas agências para sacar seus créditos, teremos um grande problema. Porém, nesse e em qualquer outro banco, quem possuir créditos de montante menor ou igual a R$ 250.000,00 (2019), está seguro automaticamente pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) .

O Fundo Garantidor de Crédito, “é uma entidade privada, sem fins lucrativos, que administra um mecanismo de proteção aos correntistas, poupadores e investidores, que permite recuperar os depósitos ou créditos mantidos em instituição financeira, até determinado valor, em caso de intervenção, de liquidação ou de falência”. (BACEN) Assim, a maior parte das aplicações, independente do grau de liquidez, está protegida pelo FGC até o limite citado. Caso ocorra, como já ocorreu na história algumas vezes, de um banco vir à falência e seu saldo nesse banco não superar esse limite, nem saia do sofá nesse dia. 2.6 Pagamentos e movimentações Apesar de uma grande parte da população ainda padecer nas infindáveis filas bancárias, a presença cada vez maior da tecnologia em nosso dia a dia deve ser uma ferramenta para evitar a necessidade de um correntista ir a uma agência bancária. Os pagamentos, as transferências e os investimentos, praticamente todos os meios de movimentação , podem ser feitos até mesmo pelo smartphone, sem ao menos a necessidade de um computador. A utilização de cheques como meio de pagamento praticamente acabou desde a disseminação do cartão de débito, que muitas vezes acumula a função de cartão de crédito. Aqui vale salientar que os pagamentos efetuados com cartão de débito, como o nome sugere, são automaticamente debitados em uma conta do titular do cartão, seja ela conta corrente ou poupança. Funciona como pagamento à vista, assim que você paga, simultaneamente o dinheiro é transferido da sua conta para a de quem você está pagando.

Na operação de débito ou na emissão de um cheque, caso não haja saldo suficiente, a operação é recusada ou o banco assume o pagamento e você fica devendo ao banco, utilizando, no caso das contas correntes, o chamado limite ou cheque especial. Essa modalidade de crédito é préaprovada e tem disponibilidade imediata, porém costuma ser muito cara, com altas taxas de juros. O uso do cartão de crédito é cada vez mais difundido. Tratase de uma modalidade na qual você possui um limite de utilização para suas compras e/ou pagamentos, que pode ser usado em quase todos os estabelecimentos comerciais. Como uma despesa normal, deve ser quitada uma vez ao mês. Esse meio possui pelo menos duas grandes vantagens em relação aos outros meios de pagamento: permite o parcelamento, as chamadas compras a prazo, e oferece vantagens em programas específicos, como, por exemplo, os de milhas aéreas, nos quais as compras são revertidas em pontos que podem ser acumulados e trocados por passagens. O cartão de crédito, assim como o cheque especial, possui um limite pré-aprovado que é utilizado automaticamente. Isso é uma grande vantagem, porém, repetindo o caso anterior, é caro. Utilizar o cartão de crédito acima da capacidade de pagamento gera uma alta cobrança de juros sobre a dívida adquirida. 2.7 Bancos digitais Como vimos, a tecnologia pode ser nossa aliada, a fim de evitarmos deslocamentos e filas nas agências bancárias. A verdade é que muitos clientes passam anos sem “ir ao banco”. Então, que tal um banco sem agências?

Os bancos tradicionais, que em muitos casos já possuem sua versão digital, têm um custo mensal para o cliente, a taxa de manutenção de conta corrente. Essa taxa é debitada mensalmente em sua conta, normalmente sem contrapartida. Além dela, outras tarifas podem ser debitadas, tais como as cobradas em TED (transferência imediata para outra conta), DOC (transferência para outra conta com crédito no dia seguinte), anuidade de cartão de crédito, aprovação de cadastro, entre outras. Por outro lado, os bancos digitais, que funcionam sem agências bancárias físicas, são instituições que têm se caracterizado principalmente por eliminar esses custos. Com despesas menores, apelam para o baixo custo dos serviços oferecidos a fim de atrair clientes que levam em consideração a economia gerada pelo não pagamento de tarifas. Tendem a ter cada vez mais adesão, não só por esse motivo, mas também pela praticidade. Conclusão Neste capítulo, esperamos que você tenha conhecido um pouco sobre a origem da moeda e sua evolução até se tornar o que conhecemos hoje como dinheiro. Além disso, aprendeu como o sistema bancário funciona em sua essência, como instituição física ou digital. Entendeu, também, que nossa relação com as instituições bancárias pode ser de credor ou devedor, recebendo ou pagando juros. Esperamos, inclusive, que se lembre da importância do Banco Central como moderador econômico, agindo na quantidade de moeda em circulação na sociedade.

Capítulo 2 A Economia de Mercado

O preço do açúcar no supermercado do seu bairro depende, em grande parte, do regime de chuvas em locais a milhares de quilômetros de distância. Um posto de gasolina próximo a você pode alterar bruscamente os preços com a eclosão de uma guerra no Oriente Médio. O serviço de locomoção que você pede em seu smartphone é mais caro em horários de pico do que em horários de baixo fluxo de carros. Todos esses exemplos, embora muito comuns em nosso diaa-dia, são regidos pelas forças de mercado da oferta e da demanda, definitivamente as mais poderosas de toda a economia. Definimos mercados como plataformas de troca, entre vendedores e compradores, de um determinado bem ou serviço. Nessas plataformas, são tomadas inúmeras decisões diárias que orientam constantemente o principal elemento de qualquer mercado: o preço. Neste capítulo, iremos entender melhor os termos oferta e demanda: suas representações, fatores de influência e elasticidade. Pode parecer complexo agora, mas tudo ficará bem mais claro nas páginas a seguir. 1. Demanda 1.1 O Gráfico da Demanda: Preço x Quantidade Demandada Demanda não é nada mais do que a relação entre o preço de um item e sua quantidade demandada. Mas vamos entender esses termos um pouco melhor. A quantidade demandada de um item é a quantidade que seus compradores estão dispostos a comprar por um determinado preço. Digamos que, se o preço unitário do bolo de bacia em uma padaria for R$4,00, por exemplo, os compradores estarão dispostos a comprar, ao todo, 100 bolos de bacia por dia (quantidade demandada). No

entanto, se o valor do mesmo bolo subisse para R$5,00, os compradores estariam dispostos a comprar menos do que 100 unidades. Essa é a lei da demanda : mantendo os outros fatores constantes (cenário conhecido como ceteris paribus ), a quantidade demandada de um bem diminui quando o preço desse bem sobe. Analogamente, se o preço cair, a quantidade demandada irá aumentar. Apesar desse conceito ser intuitivo, suas implicações são fundamentais para o bom entendimento de qualquer mercado. Para entendê-lo melhor graficamente, observe a figura abaixo:

Nesse exemplo, para um preço de R$ 6,00, a quantidade demandada é de 3 unidades. Quando o valor sobe para R$ 8,00, no entanto, a quantidade demandada cai para 2 unidades. Isso corresponde à lei da demanda: preços altos são bem menos atrativos para os compradores de um produto ou serviço. 1.2 Fatores que Influenciam a Demanda Assim como qualquer ciência, a economia não é estática, mas dinâmica. Sistemas econômicos estão constantemente enfrentando mudanças que redefinem alguns de seus

componentes mais importantes. Em sistemas tão complexos como mercados, elementos como a demanda estão em constante atualização. Porém, antes de entrar nos influenciadores propriamente ditos, é importante distinguir “demanda” de “quantidade demandada”. Para tanto, entenda que uma mudança na demanda é uma mudança em toda a relação entre preço e quantidade demandada, conforme pode ser visto na imagem abaixo. Dizer que a demanda aumentou, por exemplo, significa que, para cada preço, a quantidade comprada de um determinado produto é maior. De modo oposto, uma mudança na quantidade demandada é sempre causada por uma mudança de preço, e consequentemente acompanhada por um movimento na mesma curva de demanda.

Portanto, sendo a demanda algo tão complexo, há uma infinidade de fatores que a influenciam. Nesse momento, iremos analisar três dos principais. São eles: I. Renda Se seu salário diminuir, é provável que sua demanda por carne também diminua. Isso significa que, a qualquer preço de carne, você demandaria uma quantidade menor. E isso faz sentido, porque carne é um exemplo do que chamamos

na economia de bem normal , ou seja, um bem cujo consumo é reduzido quando as pessoas recebem menos dinheiro. Menos comuns, mas também existentes, são os bens inferiores , aqueles para os quais sua demanda aumenta quando sua renda é menor. Talvez você esteja se perguntando quando isso pode acontecer. Bem, pense na marca mais barata de um produto, por exemplo. Quando a sua renda aumenta, é provável que você passe a comprar de marcas um pouco mais caras, e deixe de comprar da marca barata. Assim, com um aumento na renda, sua demanda pelo produto da marca barata diminuiu. II. Moda É notável a influência que a sociedade pode exercer em um indivíduo. Dessa forma, gostos e moda são um fator de grande influência da demanda. Imagine, por exemplo, que o mercado de jaquetas jeans esteja passando por tempos difíceis. No entanto, em determinado evento, uma renomada atriz de Hollywood veste orgulhosamente uma jaqueta desse tipo. Nos dias seguintes, é provável que haja um aumento na demanda por jaquetas jeans, isto é, que pessoas passem a comprar mais calça jeans em cada preço. Tudo por conta do poder de influência da moda. III. População Mudanças na população também podem afetar significativamente a demanda por diversos itens. Quanto maior o número de compradores, maior tende a ser a demanda. Analogamente, quanto menor o número de compradores, menor tende a ser a demanda.  1.3 Elasticidade da Demanda

Em busca de um conceito que expresse numericamente a lei da demanda, introduzimos aqui a elasticidade. Como definição, podemos dizer que a elasticidade da demanda não é nada mais do que a sensibilidade da quantidade demandada a algum dos fatores que a influenciam. Para os fins deste livro, iremos estudar exclusivamente a elasticidade do preço na demanda. Para calculá-la, dividimos o módulo da mudança percentual da quantidade demandada pelo módulo da mudança percentual de preço. A fim de entender isso melhor, observe o mesmo gráfico que utilizamos anteriormente, copiado abaixo.

Nesse cenário, vamos escolher dois pontos entre os quais iremos calcular a elasticidade do preço na demanda. Escolhemos os pontos em que os preços são R$ 6,00 e R$ 8,00. Assim, a mudança percentual de preço pode ser calculada por: Mudança Percentual de Preço = ∆Preço/Preço Inicial Nestas circunstâncias, ela irá igualar a 2/6, ou 33,3%. Já para calcular a mudança percentual na quantidade demandada, podemos operar da seguinte forma:

Mudança Percentual na Quantidade Demandada = ∆Quantidade/Quantidade Inicial Usando os dados, irá igualar a -⅓, ou -33,3%. Entretanto, como estamos trabalhando com módulos, descartamos o sinal negativo. Dessa forma, calcularemos a elasticidade do preço na demanda por: E.P.D = ∆Q(%)/∆P(%) = 33,3%/33,3% = 1 Nesse caso, ela igualou a 1, ganhando o nome de elasticidade unitária . Em outros casos, pode ser menor ou maior do que 1. Quando E.P.D. < 1, dizemos que a demanda é inelástica, isto é, pouco sensível a mudanças de preço. Quando E.P.D. > 1, dizemos que ela é elástica, ou seja, muito sensível a mudanças de preço. Isso pode parecer um pouco complicado, mas torna-se simples de entender com exemplos. Pense em um maço de cigarro. Para este produto, a demanda tende a ser muito inelástica. Por quê? Em geral, fumantes tendem a ter dificuldade em abandonar o hábito, e a mudança de preço importa pouco na hora de decidir comprar ou não os cigarros. Opostamente, itens como melancia, por exemplo, tendem a ter demandas elásticas, já que são facilmente substituíveis. É provável que, se o preço aumentar, mesmo que pouco, as pessoas busquem frutas alternativas à melancia, reduzindo bastante a quantidade demandada. A menos que se deseje estudar economia mais a fundo, a parte de cálculo não é tão importante na elasticidade. O importante é entender o seu conceito e desenvolver uma intuição quando se pensar em algum produto, assim, essa reflexão determinará quais itens se encaixam em que categoria (elasticidade unitária, demanda inelástica ou demanda elástica).

2. Oferta 2.1 O Gráfico da Oferta: Preço x Quantidade Ofertada Após estudar o conceito de demanda, será muito fácil entender o tópico da oferta. De fato, como você já pode ter imaginado, oferta não é nada mais do que a relação entre o preço de um item e a sua quantidade ofertada. Nesse contexto, definimos a quantidade ofertada de um bem ou serviço como a quantidade que seus vendedores estão dispostos a vender por um determinado preço. Suponha que o preço unitário de um sonho de goiaba numa padaria é de R$ 5,00, e que, para esse preço, a quantidade ofertada é de 90 unidades. Se o valor dos sonhos subisse para R$ 6,00, certamente os vendedores estariam dispostos a ofertar mais do que 90 unidades. Esta é a lei da oferta: mantendo os outros fatores constantes ( ceteris paribus ), a quantidade ofertada de um produto ou serviço aumenta quando o seu preço sobe. De forma análoga, quando seu preço cai, a quantidade ofertada também diminui. Entretanto, para compreender o conceito de oferta um pouco melhor, observe o gráfico abaixo:

Neste exemplo, quando o preço é R$ 15,00, a quantidade ofertada é de 3 unidades. Já quando o valor sobe para R$ 20,00, ela cresce para 4 unidades. Isso corresponde à lei da oferta: preços altos são atrativos para aqueles que desejam vender um produto ou serviço. 2.2 Fatores Influenciadores da Oferta Assim como a demanda, a oferta é muito influenciada pela dinamicidade dos sistemas econômicos. No entanto, antes de entrar nos fatores que a influenciam, é importante distinguir os termos “oferta” e “quantidade ofertada”. Para tanto, é necessário entender que uma mudança na oferta é uma mudança em toda a relação entre preço e quantidade ofertada, conforme ilustrado na imagem abaixo. Dizer que a oferta aumentou, por exemplo, significa que, para cada preço, a quantidade vendida de um determinado produto é maior. O termo “quantidade ofertada”, pelo contrário, é restrito a um preço específico.

Agora, vamos entender três dos fatores influenciadores da oferta: I. Preços de Matérias-Primas

Se o preço do leite aumentar, será bem menos lucrativo produzir manteiga, e os produtores de manteiga ofertarão menos desse produto a um mesmo preço. Quando os preços de matérias-primas sobem, a oferta diminui. Similarmente, quando eles caem, a oferta cresce. II. Tecnologia Em grande parte das indústrias, é muito mais barato produzir hoje do que há 30 anos. O desenvolvimento tecnológico revolucionou a maneira como produzimos e os custos que temos na produção. Pense na indústria de roupas. Antigamente, sem a máquina de costura automática, produzir uma blusa poderia demorar horas de trabalho. Hoje em dia, com a evolução tecnológica, a produção da mesma blusa pode ser feita em minutos. Por isso, com o advento de novas tecnologias ao longo do tempo, a oferta tende a crescer significativamente. III. Número de Vendedores Assim como o número de compradores pode impactar bastante a demanda por determinado item, o número de vendedores pode impactar a oferta. Se a maior empresa de um determinado setor decidisse parar de fabricar seu produto, com certeza a oferta contrairia, isto é, diminuiria significativamente. Analogamente, se muitos players novos entrassem no mercado, a oferta aumentaria. 2.3 Elasticidade da Oferta A elasticidade do preço na oferta é nada mais do que a sensibilidade da quantidade ofertada a uma mudança de preço. Para calculá-la, dividimos o módulo da mudança percentual da quantidade ofertada pelo módulo da mudança percentual de preço. A fim de entender isso melhor, observe

o mesmo gráfico que utilizamos anteriormente, copiado abaixo.

Vamos escolher dois pontos entre os quais iremos calcular a elasticidade do preço na oferta. Escolhemos os pontos em que os preços são R$ 15,00 e R$ 20,00. Assim, a mudança percentual de preço pode ser calculada por: Mudança Percentual de Preço = ∆Preço/Preço Inicial Aqui, ela será 5/15, ou 33,3%. Já para calcular a mudança percentual na quantidade demandada, podemos operar da seguinte forma: Mudança Percentual na Quantidade Ofertada = ∆Quantidade/Quantidade Inicial Esta, por sua vez, irá igualar 1/3, ou 33,3%. Dessa forma, calcularemos a elasticidade do preço na oferta por: E.P.O. = ∆Q(%)/∆P(%) = 33,3%/33,3% = 1 Nesse caso, ela foi novamente igual a 1, ganhando o nome de elasticidade unitária . Em outros casos, pode ser menor que 1, ganhando o nome de oferta inelástica , isto é, pouco sensível a mudanças de preço, ou maior do que 1,

ganhando o nome de oferta elástica, ou seja, muito sensível a mudanças de preço. Podemos entender esse tópico melhor usando exemplos. Considere a oferta de maçãs. Ela tende a ser muito inelástica. Por quê? Porque a produção de maçãs é agrícola, e depende tanto de quantidade de terra agricultável quanto de clima, componentes muito difíceis de aumentar mesmo com a mudança de preço. No outro lado do espectro, temos produtos como bolo, para os quais a oferta tende a ser muito elástica. Isso acontece porque, se os preços aumentarem, é provável que os boleiros simplesmente passem a comprar mais dos ingredientes e produzam mais bolos, sem grandes dificuldades.  3. Oferta e Demanda 3.1 O Equilíbrio Na figura abaixo, podemos ver um exemplo de curva de oferta e demanda. Preste bastante atenção neste gráfico; ele é, talvez, o mais importante de toda a economia.

Como você já percebeu, há um ponto de encontro entre as linhas de oferta e demanda - denominamos esse cenário de “ponto de equilíbrio”. Nessa interseção, o preço é conhecido como “preço de equilíbrio”, e a quantidade como “quantidade de equilíbrio”. Nela, há um equilíbrio entre as

forças de oferta e demanda - como você pode ver, no gráfico, a quantidade demandada iguala exatamente a quantidade ofertada, não havendo falta ou excesso do item no mercado. Mercados tendem a atingir naturalmente o ponto de equilíbrio. Quando o preço está muito alto, a quantidade ofertada é maior que a demandada, em consequência disso, o item sobra no mercado e os vendedores reagem baixando o valor. Opostamente, quando o preço está baixo, a quantidade demandada supera a quantidade ofertada, e o produto falta no mercado. Como consequência, os vendedores acabam aumentando o valor. Assim, os preços continuam se atualizando em busca do equilíbrio. Esta é lei da oferta e da demanda, fruto da atividade incansável da tão conhecida “mão invisível”, isto é, a força de preços que move o mercado sempre em direção ao equilíbrio. 3.2 Mudanças no Equilíbrio Quando algum dos fatores de influência mencionados anteriormente altera as curvas de oferta ou demanda, o equilíbrio também é alterado. Observe isso na imagem abaixo: 

Imagine que houve uma expansão ou aumento da demanda. Como vimos anteriormente, isso pode ser

causado por um aumento na renda (bens normais), por uma tendência de moda e até por um aumento na população. Independentemente do motivo, a curva de demanda andou para a direita, e o preço de equilíbrio subiu de P para P’. Ao mesmo tempo, a quantidade de equilíbrio saltou de Q para Q’. Nesse exemplo, observa-se uma alteração na demanda que guiou a mudança no equilíbrio. No entanto, em outros casos, essa mudança pode ser gerada por um ajuste na oferta, ou até mesmo por ajustes tanto na oferta quanto na demanda. Mais uma vez, a “mão invisível” mostra sua mágica. Conclusão Esperamos que você tenha conseguido entender melhor as complexidades da oferta e da demanda. Principalmente, você deve ter entendido como preços guiam a alocação de recursos, seja determinando a quantidade demandada, seja determinando a quantidade ofertada. Os conhecimentos obtidos nesse capítulo serão úteis em todo o estudo da economia que virá nas páginas seguintes. Antes seguir o curso da leitura, reflita: você acredita que mercados são boas maneiras de se organizar a atividade econômica?

Capítulo 3 Como os Mercados se Organizam

Mercados são lugares, físicos ou não, onde se reúnem compradores e vendedores. Para que funcionem com a máxima eficiência, é desejável que algumas condições sejam atendidas, como por exemplo a existência de muitos compradores e vendedores, independência das duas partes, informações completas e seguras sobre o que está sendo negociado, e a liberdade de entrar e sair do mercado. O mercado é, portanto, um processo de ações de vários indivíduos, determinado pelo julgamento de valor das partes envolvidas. A força determinante da situação de um mercado é a estrutura de preços, que, quando deixada funcionar livremente (conhecido como livre mercado), é capaz de aprimorar as condições de vida de uma sociedade. Vamos, então, procurar entender como os mercados se organizam.

1. Concorrência perfeita Por mais que isso pareça estranho, devemos começar com uma reflexão baseada em uma forte negativa: a concorrência perfeita é uma situação hipotética que está presente nas falas dos economistas e nas salas de aula, mas não é contemplada em sua integralidade nos mercados. A concorrência perfeita trata-se da ideia conjecturada de que todas as empresas de um determinado setor se comportarão da mesma maneira, desde que estejam em igualdade de condições. Nesse panorama, seriam facilmente identificadas algumas particularidades. Por exemplo, tanto os consumidores quanto os produtores teriam todas as informações sobre determinado produto naquele mercado, o que implica nas

maximizações do lucro (produtor) e da sensação de felicidade (consumidor). Seria necessário também, tratando-se desse cenário, que todas as empresas pudessem sair e entrar do mercado, sem barreiras e sem riscos. Além disso, os produtos seriam equivalentes, baseados em insumo e mão de obra também equivalentes. Nesse universo hipotético, muitos produtores concorrem em um mesmo setor, impedindo que um deles possa estabelecer os preços. Pelo contrário, os preços de um produtor são estabelecidos pelos preços dos outros produtores, já que os produtos são equivalentes. Para entender um pouco mais sobre a concorrência perfeita e sua rentabilidade, vamos considerar que o curto prazo é o período de tempo em que as empresas são capazes de alterar apenas sua mão de obra, a fim de se adequarem ao excesso ou à retração da demanda. Ou seja, se a demanda aumentar, uma empresa não conseguirá se adequar rapidamente para produzir mais, assim como, se a demanda diminuir, a única medida possível será a dispensa de mão de obra. Já o longo prazo, período em que as empresas conseguem entrar e sair do mercado, bem como aumentar ou diminuir sua capacidade produtiva, fazendo com que as organizações passem a depender tão somente das oportunidades de mercado. Imagine, por exemplo, que uma pesquisa feita no Uruguai conclua que o xarope de guaraná é benéfico para a saúde. Com isso, a demanda por esse xarope, no Uruguai, irá aumentar. A curto prazo, isso implica em um preço de equilíbrio maior, dada a impossibilidade do aumento expressivo da produção, gerando maior lucratividade para as empresas produtoras de xarope de guaraná da região.

Todavia, a longo prazo, outras empresas poderão entrar no mercado de xarope de guaraná, que será considerado mais atrativo. Como estamos analisando uma situação no mundo da concorrência perfeita, as vendas ficam diluídas com os novos produtores. Assim, cada empresa vende menos com os mesmos custos, ou seja, com o aumento da oferta ocorre a diminuição do preço de equilíbrio. A tendência natural do mercado seria, por exemplo, a diversificação: novas embalagens e outras variações para o xarope de guaraná seriam lançadas pela empresa X, que ganharia mercado e seria seguida por outras empresas. Não na concorrência perfeita, cenário no qual as empresas apenas equilibrariam a demanda entrando ou saindo do mercado. Um setor que tenha todas as condições necessárias para que a concorrência perfeita seja atendida é improvável. E, fora da concorrência perfeita, a vida não é fácil. Para entrar em um mercado aberto, quase sempre uma empresa enfrenta uma verdadeira odisseia, seja em termos de custos, seja em relação às barreiras governamentais, a famosa burocracia, tão conhecida pelos brasileiros, particularmente. Além disso, na concorrência imperfeita, um mesmo produto é vendido com os mais variados diferenciais, objetivando afetar os preços. E empresas maiores tendem a ter profissionais melhores, com mais acesso a informações. Vejamos, então, os tipos de concorrência imperfeita. 2. Monopólios e a concorrência monopolística A classificação de um mercado se dá de acordo com o seu nível de concorrência, tendo em uma das extremidades os mercados de concorrência perfeita e na outra os

monopólios. Dentro desse espectro, iniciaremos nosso estudo com os monopólios, que influenciam enormemente a vida dos consumidores. Em uma economia de mercado, um monopólio acontece quando uma única empresa produz ou fornece serviço para um determinado setor. Podemos citar, por exemplo, uma cidade de uma região do interior do Brasil, onde, há gerações, a Farmácia Alpha é a única a fornecer serviços desse tipo para a pequena população local. Por óbvio, ela detém o monopólio das farmácias daquela cidade. Controla o mercado desse setor, definindo oferta, preço e até mesmo criando, reduzindo ou eliminando demanda. E, dessa forma, tanto pode tratar bem seus clientes e cativá-los com promoções como pode aumentar preços simplesmente para aumentar o lucro e não se preocupar, por exemplo, com o bem-estar do cliente e até mesmo a higiene do local. Independente disso, a Farmácia Alpha é a única opção e terá mercado. Existem também os monopólios ligados ao poder regulador do Estado. Vamos a dois exemplos clássicos que acontecem no Brasil. O primeiro é o das distribuidoras de energia. Em muitos estados as empresas responsáveis pela distribuição da eletricidade são privadas, em outros, estatais (pertencem 100% ao Estado), mas, em todos, são monopólios. Caso você adquira um imóvel em qualquer estado brasileiro, ao estabelecer a ligação desse imóvel com a rede elétrica, sua única opção será a empresa responsável pela distribuição de energia daquela localidade, à qual cabe, além da distribuição, a manutenção da iluminação pública e a cobrança dos valores devidos. Todo o processo é fiscalizado pelo Governo Federal, que também é responsável por definir os preços pagos pelo consumidor. [2]

Não há outra possibilidade, visto que até mesmo a instalação de um painel solar depende da aprovação, fiscalização e controle da empresa responsável pela distribuição de energia daquela região. Além disso, outras empresas não podem se estabelecer e concorrer com as já existentes, oferecendo opções de preço e qualidade, pela falta de permissão legal. O resultado prático desse monopólio é que, no Brasil, pagamos uma das energias elétricas mais caras do mundo, e os serviços ofertados são, geralmente, de baixa qualidade, difíceis e onerosos. Entretanto, alguns argumentam que, para serviços de utilidade pública, há os chamados monopólios naturais. Isso porque a oferta desses serviços envolve custos fixos tão altos que investimentos só são viáveis em uma escala gigante. A construção de uma rede elétrica ou de saneamento, por exemplo, seria inviável se o mercado estivesse dividido entre várias empresas. Neste caso, concorrência impediria o investimento de cada empresa individual, já que ela só desfrutaria de uma pequena parcela do mercado, e logo haveria um déficit de oferta do serviço. Assim, para muitos economistas, embora monopólios naturais ainda sejam ineficientes, eles correspondem à melhor alternativa, e, portanto, devem existir sob regulação do Estado. De qualquer maneira, é importante ressaltar que o tópico de monopólios naturais é controverso, e não há acordo claro entre economistas. Outro caso de monopólio ocorre com a distribuição de correspondências no Brasil, que é, desde 1978, uma atividade exclusiva de uma empresa Estatal: os Correios. Monopólio assegurado pela constituição e confirmado em processos que tramitaram nas cortes superiores, com o argumento de "favorecer a comunicação privada entre pessoas, a integração nacional e o sigilo da

correspondência" mercado.

,

a

empresa

segue

comandando

o

Mas por que abrir o mercado ou privatizar os Correios? Afinal, uma empresa detentora do monopólio de um setor gigantesco como esse deve estar muito bem. Infelizmente, não. Além dos já citados problemas, o atendimento nas agências não costuma ser uma experiência agradável. Os Correios estão a fundados em dívidas e denúncias de corrupção. O fundo de pensão de seus funcionários foi dilacerado por manobras de investimento inexplicavelmente desvantajosas para os investidores e vantajosas para terceiros. O fato de ser uma empresa estatal fez dela uma moeda de troca entre políticos, nem sempre bemintencionados. Sem a ajuda do Estado brasileiro - entendase dinheiro arrecadado pelo pagamento de impostos de todos os cidadãos e cidadãs brasileiras - a empresa Correios não teria condições de funcionar. Além dos monopólios, existe uma outra estrutura de mercado com muitos compradores e vendedores, mas com características monopolísticas. Para sermos mais claros, quando você deseja comer em um fast-food de algum shopping center , as opções são muitas e variadas. Entre McDonald’s, Bob’s, Burger King, Subway e Pizza Hut, cada cliente opta pelo estabelecimento de sua preferência. Não se trata, então, de um monopólio, certo? Porém, os consumidores entendem perfeitamente as particularidades de cada produto oferecido por cada fornecedor, e fazem suas escolhas baseadas nesse conhecimento. Então, vejamos: existem várias opções de sanduíches equivalentes que são oferecidos, mas somente o McDonald ´s possui o McLanche Feliz – famoso entre o público infantil. O milk shake de Ovomaltine do Bob´s tem uma legião de fãs, enquanto a Pizza Hut atrai muitos clientes com a Edge

Pizza. Opção menos calórica? Vamos de Subway e seus indefectíveis sanduíches milimetrados. A isto chamamos concorrência monopolística: pequenos monopólios entre uma infinidade de compradores e vendedores. O problema nessas estruturas de mercado é que ter um produto diferenciado é um processo eterno. Fortunas são gastas por essas empresas com o intuito de mostrar suas constantes novidades, na tentativa de conquistar e fidelizar compradores. Esse dinheiro gasto em publicidade não está disponível para a produção, logo, essas empresas não produzem tanto quanto poderiam se estivessem em um mercado de concorrência perfeita, o que afeta o consumidor. Além disso, empresas em concorrência monopolística possuem um certo poder de mercado, isto é, podem alterar seu preço sem perder todos os seus clientes. Em uma concorrência perfeita, onde todos os produtos são equivalentes, se uma empresa cobrar um preço mais alto que o preço de mercado, sua clientela simplesmente irá comprar na concorrência. Numa concorrência monopolística, entretanto, os produtos são distintos, e as empresas podem cobrar um certo prêmio por sua diferenciação. Desta forma, concluímos que outra ineficiência da concorrência monopolística, além da quantidade de produção baixa, é o preço mais alto do que seria numa concorrência perfeita. Por outro lado, a variedade trazida pela concorrência monopolística tem forte influência da preferência dos consumidores, o que faz a felicidade compensar o custo de perder o que poderia se ter. Imagine se todos os tênis de corrida fossem iguais, por exemplo. Seria impossível achar o tênis perfeito, aquele mais bem adequado a nossas necessidades. É por isso que estamos dispostos a pagar mais pela variedade.

Quanto ao lucro, nos monopólios, deve ocorrer de maneira natural. Basta a empresa detentora identificar seu custo e posicionar seu preço de venda acima deste. Seria de se supor que, nesse caso, o preço poderia ser qualquer valor, inclusive abusivamente alto, dada a unicidade da oferta. Mas, na verdade, isso não ocorre, pois um preço excessivamente elevado afastaria os consumidores. No fictício caso da Farmácia Alpha, do início do capítulo, poderíamos concluir, por exemplo, que um preço abusivo cobrado por um analgésico faria com que as pessoas que precisassem do remédio esperassem a cura pelo tempo ou por um tratamento alternativo, ao invés de empenhar uma grande quantia para isso. As empresas em situação de concorrência monopolística costumam ter lucro, claro, porém, seus elevados custos não garantem que o lucro resistirá a longo prazo, principalmente pela entrada de novas empresas no segmento em que atuam. Existem muitas empresas em setores de concorrência monopolística, com elevado custo e zero de lucro econômico. Por exemplo, em 2015 a rede McDonald’s anunciou o fechamento de 700 lojas ao redor do mundo. É importante, porém, ressaltar aqui um aspecto contábil: o lucro econômico inclui custos de oportunidade, ou seja, zero de lucro econômico não implica zero de lucro contábil.

3. Oligopólios Muitas das empresas que nós conhecemos não trabalham em um mercado de monopólio ou de concorrência monopolística. Caso você precise de um plano de telefonia móvel, de internet ou de TV a cabo, comprar passagens aéreas, trocar seu carro ou até mesmo comprar um

refrigerante de guaraná, verá que as opções de escolha são poucas e os preços e produtos são semelhantes. Esse tipo de estrutura de mercado, em que alguns poucos grandes produtores têm o domínio, chama-se oligopólio. Nesse mercado, as decisões de um produtor influenciam as decisões dos outros, já que, por serem poucos os produtores e apresentarem pouca variação de preço e produtos, os diferenciais são determinados pela qualidade, pela imagem, pela fidelização e até mesmo pelo serviço pós-venda. Vimos anteriormente como pode ser ruim para o consumidor a relação monopolística. Já no que diz respeito aos oligopólios, a situação melhora para os compradores, pois, apesar de pouca, a concorrência exige serviços melhores. Mesmo assim, é muito mais fácil encontrar alguém que reclame da empresa aérea utilizada na última viagem do que do último sanduíche degustado em um shopping center . Dessa forma, fica fácil perceber o quanto a concorrência é boa para o consumidor e nem tanto para o produtor. Uma característica dos mercados oligopolizados é o preço de equilíbrio elevado, muitas vezes decorrente da política chamada de liderança de preço. Funciona da seguinte maneira: uma empresa forte, normalmente líder de determinado mercado, toma a decisão de preço individualmente, fazendo com que o restante do mercado tenha a oportunidade de praticar um preço maior do que praticaria se todas concorressem diretamente em valor, com prejuízo evidente para o comprador. O melhor é quando as empresas são muito competitivas, criando a guerra de preços, ou seja, o ideal é quando há um rompimento com o modelo de liderança de preço, e as empresas praticam preços menores, com o objetivo de

ganhar mercado. A guerra de preços, todavia, costuma ser breve, tendo em vista que, em algum momento, as empresas retornam ao modelo de liderança de preço. A situação de liderança, apesar de não ser a ideal para o consumidor, é muito mais viável que a chamada formação de Cartel - estrutura presente em alguns oligopólios - que é o conluio feito por um grupo de produtores de um determinado setor que, ao invés de concorrerem entre si, concordam em cooperar-se. Considerada a mais grave lesão à concorrência, a formação de Cartel aumenta os preços e, por vezes, reduz a oferta, prejudicando os consumidores de forma avassaladora. O Cartel mais conhecido é a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Constituída por 13 países, procura manter seus lucros altos, restringindo a produção. Qualquer tentativa de traição ao Cartel sofre forte represália. O maior produtor mundial, a Arábia Saudita, que é também quem detém os mais baixos custos de produção, fica responsável pela retaliação a quem foge das regras do Cartel: libera suas intermináveis reservas a preços inferiores por tempo indeterminado, e ainda assim tendo lucro, o que afeta os demais países, insurgentes ou não, que, por consequência, não têm outra opção senão voltar a obedecer às regras do Cartel. Vale ressaltar que, infelizmente, pequenos cartéis estão muito presentes em nossas vidas. Quando você vai lanchar e percebe que o preço do suco em determinado bairro é o mesmo em todas as lanchonetes; quando você vai abastecer o carro e verifica que em praticamente toda a cidade a gasolina tem o mesmo valor; quando, na feira, o preço do tomate é igual da primeira à última barraca, enfim, essas situações podem indicar a formação desses pequenos

cartéis. Existe, portanto, uma tendência à cartelização, formal ou não, e que deve ser, de alguma forma, combatida. Além dos cartéis, uma outra característica ruim dos mercados oligopolistas é a tendência à monopolização. Conhecido como Truste (do inglês Trust ), consiste na fusão de várias empresas em uma gigante que domine o mercado de determinado setor. Um Trust pode ser horizontal, quando apenas há a fusão de empresas de um mesmo setor, por exemplo Sadia e Perdigão, ou vertical, quando as empresas controlam grande parte da cadeia produtiva, como a Petrobrás com a extração do petróleo, o refino e a distribuição da gasolina, caracterizando, nesse caso, um Truste com chancela governamental. Pelos seus claros efeitos danosos, os Trustes e os Cartéis são fiscalizados e combatidos pelos Governos de diversos países, incluindo o Brasil. O principal órgão de defesa da concorrência, em nosso país, é o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), autarquia vinculada ao Ministério da Justiça. Cabe ao CADE analisar e decidir sobre fusões, aquisições de controle, incorporações e outros atos de concentração econômica entre grandes empresas que possam colocar em risco a livre concorrência, bem como investigar, em todo o território nacional, e posteriormente julgar cartéis e outras condutas nocivas. Por exemplo, a já citada fusão entre a Sadia e a Perdigão, criando a megaempresa BRF, foi aprovada pelo CADE, com várias restrições, em um processo que durou de 2009 a 2011. Mas, se por um lado existe a tendência à monopolização dos oligopólios, é importante ressaltar que eles, muitas vezes, surgem de mercados de concorrência monopolística. Como foi visto, a vida das empresas no mercado não é simples. São muitos fornecedores e muitos consumidores, disputados

por mínimos diferenciais, que devem ser constantemente renovados. Algumas empresas fecham simplesmente por não conseguirem sobreviver, e outras são adquiridas pelas empresas maiores, restando menos empresas, caracterizando o oligopólio. A indústria de chocolates no Brasil, por exemplo, com a aquisição da Chocolates Garoto pela Nestlé, operação feita em 2002, mas ainda com pendências no CADE possui mais de 80% de participação distribuídos entre poucas marcas. Em termos de comparação, a participação de qualquer pizzaria, no mercado das pizzarias de uma grande região, tende a 0%, característica de mercados de concorrência monopolística. Em outros casos, os oligopólios surgem com o auxílio do Estado. Esse intervém em determinado mercado criando custos que partem da aplicação de impostos, legislações, regulamentos, autorizações e alvarás. Empresas menores do setor perdem o fôlego e deixam de atuar, reduzindo o número total de participantes e propiciando a concentração oligopolista , além disso, essa situação provoca o aumento do preço médio para o consumidor. No momento em que novas empresas, muitas vezes vindas de mercados externos, são atraídas para este determinado setor oligopolista, e ameaçam a posição das mais antigas, sucede que estas recorrem ao Estado a fim de se proteger. Nesses casos, o Estado pode optar em abrir linhas de crédito generosas, dar preferência nas compras públicas, aumentar a taxação sobre as novatas, entre outras medidas protecionistas. Na história brasileira, em governos recentes, vimos esse cenário, por exemplo, na indústria automobilística. Quanto ao lucro, as empresas em situação de oligopólio tendem a lucrar, principalmente obedecendo a regra da liderança de preço. No regime de guerra de preços, o prejuízo para algumas é certo. Infelizmente, a melhor opção

para uma empresa em setores oligopolizados é a formação de Cartel, que é o pior para os compradores. Conclusão Esperamos que você tenha entendido como os mercados se organizam, principalmente em termos de concorrência. Você deve ter aprendido que a concorrência perfeita é um ambiente dito utópico, que apenas funciona como parâmetro para estudos e comparações, pois sua existência é altamente improvável. Deve ter em mente, também, que os monopólios são situações de mercado que devem ser evitadas, dado que a concorrência traz inúmeros benefícios aos compradores, enquanto os monopólios tendem a ser estruturas que os penalizam. Já as concorrências monopolísticas, também apresentadas aqui, são bemvindas, vide seu sucesso entre os consumidores. As empresas nessa situação, porém, não têm vida fácil, dada a necessidade de se reinventarem sempre. Além disso, deve ter entendido que os oligopólios, situações em que poucas empresas dominam determinado setor, não configuram o ambiente ideal para o consumidor e podem trazer riscos à concorrência, como, por exemplo, a formação de Cartéis.

Capítulo 4 Macroeconomia 1. Introdução Conforme já estudamos em capítulos anteriores, a escassez é uma condição universal, que se apresenta tão somente porque não há dinheiro, tempo ou bens suficientes para que possamos satisfazer todos os nossos desejos e necessidades.

Sejamos nós ricos ou pobres, a escassez existe para todos, em maior ou menor escala. Se alguns sonham com bens materiais, outros podem sonhar com mais recursos naturais, tudo dependendo não somente da nossa situação socioeconômica, mas também, por exemplo, da região em que vivemos. Mas, se não existisse a escassez, não haveria a necessidade de estudarmos economia. Dessa maneira, a macroeconomia é basicamente o estudo de como países inteiros lidam com a escassez. Na macroeconomia, estudamos como as nações permitem ou criam bens e serviços, obtendo dados que nos auxiliam a entender a empregabilidade, a quantidade de dinheiro e seus efeitos, os impactos dos gastos e investimentos governamentais e, claro, os efeitos desses na economia de determinado país. 2. Inflação 2.1 Apresentação A inflação, uma das palavras mais temidas por todos que têm noções básicas de economia, tem o poder de criar problemas para todos os habitantes de um país. Podendo ser entendida como o aumento geral dos preços ou como a diminuição no poder de compra da moeda, a inflação é sempre sustentada pelo excesso de dinheiro em circulação. Normalmente calculada como um índice percentual de aumento de preços, é gerada pela demanda excessiva ou por aumentos nos custos de produção. 2.2 Brasil No Brasil, em dezembro de 1992, Itamar Franco assumiu a Presidência da República no lugar de Fernando Collor, que havia renunciado, vindo logo depois a sofrer o impeachment . Nessa época, a inflação brasileira acumulada nos últimos

12 meses era de 1.119% (isso mesmo), todavia já havia sido de surreais 6.821% no acumulado de 12 meses em abril de 1990, logo após a saída de Sarney da presidência. Com quase 7.000% de inflação, um automóvel no valor de R$ 42.000,00, após um ano, custaria próximo de R$ 3.000.000,00. Importante entender que, apesar de ser essa uma realidade temporalmente distante para nós, os casos citados acima mostram como o Brasil já conviveu com alguns severos ciclos inflacionários. Eram épocas difíceis! As referências são perdidas. Como ilustração, os funcionários, civis ou públicos, não sabiam de quanto seria seu salário em determinado mês, pois ele dependia da divulgação de inflação do mês anterior, o que acionava um “gatilho” sobre o valor recebido naquele mês, atualizando-o. Vale salientar que os mais prejudicados nesse ambiente são os mais pobres. A eles não resta defesa, tendo em vista que seu rendimento, transformado em dinheiro, é, muitas vezes, seu único bem. Aos de classe média e aos mais ricos, existe a possibilidade das aplicações financeiras com rendimento diário, muito comuns no Brasil daquela época. Era uma maneira de proteger seu capital, porém, gerando mais inflação, já que dinheiro se transformava em mais dinheiro. À maior parte da população, que não tinha acesso a essa capitalização diária, sobrava a possibilidade de gastar seus parcos rendimentos com a maior velocidade possível, pois as perdas eram diárias. Com 80% de inflação ao mês, por exemplo, os gastos mensais, que no dia primeiro eram de R$ 1.000,00, seriam de R$ 1.800,00 dia 30, sem que seu rendimento tenha acompanhado tal evolução. Ou seja, o simples ato de deixar seu dinheiro na conta ou guardado em casa fazia com que ele desaparecesse sem mudar de valor, afinal, os tais R$ 1.000,00 a uma inflação dessa, valiam o

equivalente a centavos em muito pouco tempo, mesmo ainda sendo R$ 1.000,00. Necessitar de crédito nessas épocas então, era um convite à loucura. As prestações fixas, tão utilizadas hoje, por exemplo, no mercado de automóveis, e as prestações decrescentes utilizadas amplamente no mercado imobiliário (a chamada tabela SAC, que também estudaremos mais a frente), são apenas um sonho distante em uma situação de hiperinflação. Os custos do dinheiro, os juros, são tão ou mais altos que os custos inflacionários. Muitos contratos de financiamento no Brasil foram feitos em dólar naquela época, uma maneira de se ter uma referência, mas com altíssima vulnerabilidade, já que a inflação alta também impactava diretamente na flutuação da taxa de câmbio. 2.3 Empresas Para as empresas, igualmente, a vida não é fácil em tempos de hiperinflação. São reajustes mensais em salários, aluguel, água, luz, telefone, materiais para uso diário, impostos, enfim, tudo que atormenta os funcionários atormenta também os empresários, com o agravante de que não se pode garantir que o mercado sustentará os inevitáveis repasses de custos compensatórios. Em outras palavras, os aumentos de preço provocados por aumentos nos custos podem não ser absorvidos pelos consumidores. Sem ter como pensar em investimentos a longo prazo, dada a imprevisibilidade de custos e preços, as empresas têm as suas estruturas de produção contraídas. Com menos produção, temos menos produtos no mercado em relação à demanda, muitas vezes chegando a faltar mercadorias, o que, em conjunto com o acentuado aumento de oferta de moeda, significa preços maiores. A contínua inflação monetária acentua a inflação de preços (mais papel moeda

circulando implica em preços mais altos no mercado), o que contrai ainda mais a produção, reiniciando o ciclo. Os controles e congelamentos de preços, práticas adotadas por alguns governos em épocas de hiperinflação, não são capazes de conter a alta dos preços, apenas podem postergá-los. E o pior: desorganizam a economia, já que comprimem ou até mesmo eliminam o lucro, afetando diretamente a produção. Na verdade, qualquer controle de preços e/ou salários implantado pelo governo, trata-se tão somente de uma tentativa política de responsabilizar produtores e vendedores pela inflação criada por suas políticas monetárias irresponsáveis. Nesse tipo de ambiente, as empresas sobrevivem por pouco tempo. Aumentando-se a gravidade e/ou perdurando-se indefinidamente as condições de hiperinflação, elas se vão. Primeiro as menores, incapazes de se manter, e, em seguida, as maiores, muitas vezes multinacionais que simplesmente deixam de atuar naquele país. Na vizinha Venezuela, cuja inflação no ano de 2019 deverá ser de 10.000.000%, mais de 500 mil empresas fecharam suas portas ou meramente abandonaram o país nos últimos anos, como foi o caso das gigantes Chevrolet, Ford, Pirelli, Bridgestone e McDonald´s. 2.4 Índices de inflação No Brasil, os índices de inflação são calculados por entidades privadas, caso da FGV (Faculdade Getúlio Vargas) e Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), e pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, entidade pública vinculada ao Ministério da Economia). Alguns dos principais índices são o INCC (da FGV), Índice Nacional de Custo da Construção, utilizado na construção civil, o IPA (da FGV), Índice de Preços por Atacado, muito utilizado em

transações interempresariais e agropecuárias, o IPC (da Fipe), Índice de Preços ao Consumidor, que mede as despesas para uma faixa de renda familiar variando de 1 a 20 salários mínimos, e o IGP-M (da FGV), Índice Geral de Preços do Mercado, utilizado em títulos públicos, contas de consumo e contratos de aluguel, trata-se de média ponderada entre os índices IPA, IPC e INCC. O índice oficial de inflação do país, porém, é o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Calculado pelo IBGE, serve de referência para a aplicação da taxa básica de juros, a Selic, e baliza o cumprimento da chamada meta de inflação, que entenderemos ainda nesse capítulo. Seu cálculo é feito com pesquisas nas regiões metropolitanas de todo o Brasil, envolvendo mais de 400 itens de consumo e despesas de famílias com renda mensal de 1 a 40 salários mínimos. De maneira sucinta, afinal esse assunto será tratado mais adiante, a taxa Selic é a taxa básica de juros da economia, referência para a dívida do governo (títulos do tesouro). Além disso, sobre ela são feitas as operações no mercado interbancário, ou seja, os empréstimos diários que ocorrem entre os bancos. Em outras palavras, ela baliza o custo do dinheiro, já que referencia o custo do dinheiro para o banco. Logo, sobre ela são determinadas todas as outras taxas. Por exemplo, ao financiar um carro numa época de Selic a 10% ao ano, pagaremos mais do que se o financiamento fosse feito com a Selic a 8% ao ano. 2.5 Desinflação e Deflação Entendemos por desinflação, uma redução do ritmo de alta dos preços, ou seja, uma redução da inflação. É, claramente, uma situação benéfica para a economia, pois, com os preços mais estáveis, se reduzem as pressões para

aumento de salários, ocasionando a manutenção do poder de compra. Além disso, como veremos adiante, a desinflação implica em menores taxas de juros, o que facilita a tomada de capital e o planejamento. Já na deflação, que é o nome dado ao fenômeno inverso ao da inflação, os preços caem. Isso parece ótimo, mas não é. Vamos lá: com os preços caindo, o poder de compra da moeda aumenta, porém existe a tendência, já observada em alguns países, dos consumidores adiarem suas compras esperando que os preços caiam ainda mais. Essa queda na demanda leva a indústria a suspender a produção, gerando desemprego. Isso acarretará maior queda na demanda e acentuará a deflação. Para nós, brasileiros, que desde 1994, ano da implementação do Plano Real, vivemos um ambiente de inflação controlada (apesar dos percalços), é importantíssimo conhecer a inflação e saber do que ela é capaz. O principal motivo da criação de um ambiente inflacionário é a existência de um orçamento deficitário por parte do governo. Quando esse orçamento é incapaz de cobrir seus gastos apenas com a receita dos impostos gerados pela população, sua única real fonte de receita, a saída é a criação de dívida pública com a impressão de papel moeda. O resultado é o que vimos até aqui. 3. O Papel do Governo 3.1 O Plano Real Como vimos há pouco, em 1993, estávamos em uma situação complicada. O Brasil saía de um processo de impeachment , com a economia depauperada e a hiperinflação corroendo-a ainda mais. O então Presidente Itamar Franco nomeou seu Ministro das Relações Exteriores,

Fernando Henrique Cardoso, para o cargo de Ministro da Fazenda, com a missão de lançar um plano econômico capaz de derrubar a inflação e colocar a economia nos trilhos. Embora não fosse conhecedor da área de economia, Fernando Henrique nomeou uma equipe muito forte, com nomes como: Gustavo Franco, Pedro Malan, Pérsio Arida e André Lara Resende, entre outras importantes referências do mercado. Coube a esse time a criação do Plano Real. O objetivo principal era criar uma moeda que tivesse valor muito próximo ao dólar, se não igual. No início, inclusive, chegou-se a cogitar a utilização da própria moeda americana como moeda oficial do país, assim como fez o Panamá. Poderia ter sido uma boa ideia, mas foi abandonada, primeiramente por nacionalismo, mas principalmente pelo fato de que os políticos brasileiros não quiseram abrir mão da ferramenta do poder de impressão do papel moeda. Assim, em fevereiro de 1994, já com Fernando Henrique eleito Presidente, foi introduzida a URV (Unidade Real de Valor), que nada mais era que o valor do dólar do dia anterior. Esse valor serviria de indexador da economia, ou seja, bens e serviços cotados em Cruzeiro Real (moeda da época) deveriam ser divididos pela URV para se obter os preços em real. Finalmente, em junho de 1994, com o dólar cotado a 2.750,00 Cruzeiros Reais, a nova moeda passou a valer. Ou seja, toda as contas e aplicações em Cruzeiro Real foram divididas por 2.750 e passaram a ter seus valores em Real, nossa moeda. Nascia então o Real, valendo exatamente um dólar.

Com a moeda forte, o dólar controlado e sempre próximo de R$ 1, a inflação caiu drasticamente. Porém, isso teve um preço. Senão vejamos: manter a moeda com valor próximo do dólar implica em compra de dólares no mercado internacional, a fim de abastecer o mercado interno, garantindo manutenção do preço baixo (oferta e demanda). O dinheiro para a compra de dólares e consequente manutenção da inflação baixa vinha da emissão de títulos do tesouro e utilização das reservas internacionais. Porém, economicamente falando, a credibilidade de um país está atrelada à qualidade de sua moeda, que é satisfeita quando M1 (quantidade de ativos de alta liquidez) é menor que as reservas internacionais, garantindo a rápida dolarização de todo o M1 em caso de grave crise internacional. A diminuição das reservas internacionais e o aumento da dívida pública, e da taxa básica de juros (a Selic), a fim de que o investimento em títulos públicos, já não muito seguro, fosse atrativo, eram problemas graves. Nesse ambiente, entre 1998 e 1999, houve a crise Asiática e a crise Russa, abalando fortemente o mercado mundial. Nessas circunstâncias, há uma corrida para os investimentos seguros, principalmente o dólar, consequentemente valorizando-o. No Brasil, na tentativa de segurar o câmbio, o governo aumentou a Selic ainda mais (chegou a passar dos 40%) e utilizou muito das reservas internacionais. Foi aí que o M1 superou as reservas internacionais e, em janeiro de 1999, já com Fernando Henrique reeleito, o Plano Real como o conhecemos inicialmente estava acabado. O Banco Central desistiu de segurar o câmbio (na verdade, não havia mais como fazêlo), e partiu-se, então, para a fase 2 do Plano Real, com a implantação do tripé macroeconômico. 3.2 O Tripé Macroeconômico

Palavras de Armínio Fraga, presidente do Banco Central do Brasil à época, em 14 de junho de 1999: “O que se tem hoje é uma mudança que dá à taxa de câmbio uma função diferente da função que ela tinha antes. Antes o Governo dizia para a taxa de câmbio: ‘Você toma conta da inflação.’ e dizia para a taxa de juros: ‘Você toma conta do balanço de pagamentos.’, que é um regime de taxa de câmbio fixa. Hoje nós estamos escalando o time de forma diferente. Nós estamos dizendo para taxa de câmbio: ‘você toma conta do balanço de pagamentos’ e para taxa de juros: ‘você toma conta da inflação’. Agora, nada disso funciona sem uma boa política fiscal.” Armínio Fraga estava anunciando o tripé macroeconômico que, como sugere a nomenclatura, consiste em três pilares: câmbio flutuante, meta de inflação e meta fiscal. Na prática, houve uma inversão de responsabilidades, como dito. A taxa de câmbio deixou de ter papel principal no controle da inflação, passando a responsabilidade para a taxa básica de juros, a Selic. 3.2.1 Câmbio Flutuante Tipo de câmbio vigente na maioria dos países, o câmbio flutuante caracteriza-se pela não interferência do Banco Central na política cambial, ou seja, no Brasil, por exemplo, o dólar varia diariamente apenas pelo efeito da demanda de estrangeiros pelo nosso Real, consequência, principalmente, da percepção quanto à situação econômica e política do país. Na prática, porém, movimentos bruscos de câmbio, muito comuns em países como o nosso - ainda em desenvolvimento - sofrem influência do Banco Central, com

a finalidade de não trazer grandes prejuízos à economia. Assim, dólar em forte alta é atacado com abastecimento (venda) de dólares no mercado interno pelo Banco Central, com o objetivo de abaixar o preço. Em contrapartida, uma forte - rara - queda implica em compra de dólares pelo banco central, com a finalidade de aumentar o preço. Importante salientar que o dólar impacta diretamente na inflação. Claramente, fica mais caro importar produtos, encarecendo-os. Além disso, dólar mais forte significa real mais fraco, aumentando a necessidade de moeda circulante. Por outro lado, o dólar mais forte significa facilidade de exportação. Para exemplificar: se o dólar vai de 3 para 4 reais, o comprador externo, com um dólar, compra mais produtos do país exportador que antes. 3.2.2 Meta de inflação No Brasil, a meta de inflação fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é vinculado ao Banco Central, para 2019, é de 4,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, ou seja, espera-se que a inflação fique entre 2,75% e 5,75%. O Comitê de Política Monetária (COPOM), também vinculado ao Banco Central, faz reuniões a cada 45 dias com o objetivo de definir a taxa Selic. Basicamente, quando a inflação oscila para cima, ou seja, na direção do alto da meta, a taxa Selic sobe. Em caso inverso, quando a inflação vai em direção ao piso da meta, a taxa Selic diminui. A explicação é simples. A taxa Selic mais alta impacta nos custos de financiamentos e reduz a oferta monetária, já que mais dinheiro é poupado (exatamente para aproveitar os juros mais altos) e menos é gasto. Com menos dinheiro circulando, os preços caem juntamente com a inflação. Por

outro lado, uma redução da taxa Selic impulsiona o consumo, já que reduz o custo de financiamentos e aumenta a quantidade de moeda circulante.

3.2.3 Meta Fiscal (Meta de Superávit Primário) Já sabemos que o governo brasileiro, normalmente incapaz de arcar com suas despesas apenas com a receita de impostos, emite títulos de dívida pública, os títulos do tesouro, a fim de complementar seu orçamento. Isso, porém, cria uma dívida, claro, já que os títulos comprados deverão ser reembolsados acrescidos de juros. Pois bem, a meta fiscal é uma expressão que indica o resultado da execução orçamentária, diferença entre as receitas e despesas não-financeiras, ou seja, sem contar os juros do pagamento das dívidas. Essa meta fiscal é anualmente apresentada pelo governo ao Congresso Nacional, o qual pode ou não a aprovar. E, uma vez aprovada, deve ser cumprida à risca pelo governo sob pena de, não o fazendo, sofrer até mesmo um processo de impeachment . Quando essa diferença é positiva, dizemos que houve um superávit primário, e quando é negativa, ocorreu um déficit primário. Após o pagamento dos juros da dívida, caso o saldo seja positivo, teremos um superávit nominal. Nesse caso, em teoria, o governo teria fôlego para emitir títulos e alocar recursos assim obtidos em áreas de interesse da população. Na prática, porém, estamos muito distantes de um superávit nominal. Na verdade, estamos distantes até

mesmo de um superávit primário, o que é muito ruim. Assim como em uma casa ou em uma empresa, um governo não deve gastar mais do que arrecada, sob o risco de quebrar, ou seja, deixar de pagar a sua dívida decretando moratória, o que levaria o país ao caos. O tripé macroeconômico foi fundamental para que o plano real sobrevivesse. O câmbio flutuante, além de respeitar o mercado, inibe a ação de especuladores. O regime de metas de inflação, controlada principalmente pela taxa de juros, não é, sem dúvidas, o melhor dos mundos, uma vez que os juros altos são um remédio bem amargo, pois estrangulam a economia. O ideal seria que a inflação se auto controlasse, um sonho distante. Já a meta fiscal, essa de nada adianta se governo e Congresso concordarem, ano após ano, em gastar mais do que se arrecada. Nós, autores deste livro, acreditamos que o tão sonhado equilíbrio fiscal se iniciará com a boa prática da redução de gastos, ao invés do aumento de receitas via impostos e dívidas. 4. Agregados Macroeconômicos Denominamos agregados macroeconômicos o resultado da mensuração (em dinheiro) da atividade econômica como um todo, ou seja, os agentes econômicos individuais não são considerados, e sim a soma de todas as movimentações realizadas por todos os agentes, em todo o mercado. Os principais agregados macroeconômicos são o produto, o rendimento e a despesa. Entendemos por produto, a quantidade total de bens e serviços que são produzidos por uma sociedade em um determinado intervalo de tempo. Para produzi-los ou para prestá-los, são pagas remunerações, que, aqui, definimos como renda. Salários, lucros, aluguéis e juros, ou seja, toda a retribuição pela utilização dos serviços de um prestador

na atividade produtiva define uma renda. Já as despesas são formadas pelo total de gastos efetuados na aquisição de bens ou serviços, ou seja, tudo aquilo que se pagou para que algo fosse produzido compõe a despesa. 5. PIB A definição clássica de PIB (Produto Interno Bruto), com pequenas variações, segue a linha: soma de todos os bens e serviços (em dinheiro) produzidos em um país, num determinado período, normalmente de um ano. Alguns conceitos são importantes para um melhor entendimento. Vamos a eles: Consumo (C): compras de bens e serviços finais (entra no PIB, por exemplo, um carro comprado e não o aço gasto para produzi-lo, este um bem intermediário) por indivíduos e famílias. Investimentos (I): compras de novos bens de capital, tais como máquinas e equipamentos, por empresas, bem como compras de novos imóveis por indivíduos e famílias. Gastos governamentais (G): compras de bens e serviços finais pelo governo. Exportações (X): exportações de bens e serviços. Importações (M): importações de bens e serviços. Assim, o PIB fica mensurado pela equação: Y=C+I+G+X-M O PIB, certamente, é um indicativo forte da qualidade de vida de determinado país, mas não pode ser considerado de

forma isolada. Por exemplo, em 2018, o PIB da Finlândia foi de pouco mais de 257 bilhões de dólares, enquanto o da Índia foi de mais de 2,5 trilhões de dólares. A qualidade de vida comparada nesses dois países, entretanto, é bem melhor no representante europeu, que tem um IDH de 0,92 ante 0,64 do país asiático (lembrando que o IDH, Índice de Desenvolvimento Humano, que se baseia em parâmetros de saúde, educação e renda, é tão melhor quanto mais perto de 1 ele está). Essa diferença pode ser bem representada pelo chamado PIB per capita , que é meramente o valor da divisão do PIB de um país pela quantidade de habitantes que ele possui. Como a Finlândia tem menos de 6 milhões de habitantes, seu PIB per capita supera os 45 mil dólares anuais, enquanto a Índia, com quase 1,3 bilhões de habitantes estaciona em 2 mil dólares. Sendo assim, o PIB per capita é uma boa referência da qualidade de vida de um país. Juntamente com o IDH. E o Brasil? Bem, em 2018, o PIB brasileiro ficou pouco acima dos 2 trilhões de dólares, gerando um PIB per capita pouco acima de 8 mil dólares, estando nosso IDH em 0,759. Resumindo, ainda estamos mais para Índia do que para Finlândia, infelizmente. Conclusão Neste capítulo, dedicado à macroeconomia, esperamos que você tenha entendido o que é inflação e como ela pode impactar negativamente na economia, corroendo o poder da moeda e a credibilidade de uma país. Você conheceu também um pouco sobre o plano real e como ele foi decisivo no combate à inflação, principalmente em sua segunda fase, com a introdução do tripé macroeconômico. Você também aprendeu sobre os agregados

macroeconômicos, indicadores essenciais da vitalidade de uma economia, bem como conheceu um pouco mais sobre o PIB e suas variações.

Capítulo 5 Política Fiscal 1. Taxação Todos nós, que somos agentes econômicos, pagamos impostos. Seja pela renda ou pelos produtos que adquirimos, somos diariamente tributados. O Estado nos cobra impostos com a finalidade de suprir nossas necessidades básicas de saúde, educação e segurança, além de manter sua estrutura de funcionamento. Conforme já estudamos em capítulos anteriores, o dinheiro dos contribuintes, em forma de impostos, é a única verdadeira fonte de renda dos governos. Vimos também que aumentar ou diminuir impostos impacta diretamente na economia, na medida em que aumenta ou diminui o dinheiro circulante em poder do consumidor, refletindo diretamente no mercado. É essencial, portanto, que se conheça o quanto um país cobra de impostos de seus cidadãos. Uma boa relação de medida da cobrança de impostos de um país é a carga tributária, que se trata tão somente da porcentagem entre o que um país cobra de impostos e seu PIB. Para ficar bem claro, uma carga tributária alta retira dinheiro da economia, causando retração, enquanto uma carga tributária mais baixa aumenta a quantidade de dinheiro circulante, aquecendo o mercado.

Tomando como exemplo o ano de 2018, a carga tributária no Brasil ficou em 33,58% do PIB, um aumento de quase 3% em relação ao ano anterior. Como comparação, podemos citar os EUA com 26,4% de carga tributária e um IDH bem superior ao nosso. Ou a Dinamarca, com 45,2% de carga, e qualidade de vida incomparavelmente melhor. Bem, os EUA cobram menos e a Dinamarca cobra mais, mas ambos dão retornos bem melhores aos cidadãos. Questionamos: o que acontece com o Brasil, então? Na verdade, os motivos são vários, mas nossos retornos de impostos são baixos, principalmente devido ao fato de que nossos gastos principais são em salários de aposentados e funcionários públicos, em desperdícios, por exemplo, com obras públicas superfaturadas ou desnecessárias, e pagamento de juros da dívida pública. O que sobra – que, na verdade, não sobra, pois vivemos em déficit – vai para a saúde, a educação e a segurança. Nos EUA, a opção feita foi por um Estado menor, dando maior liberdade (e dinheiro) para o cidadão ser cumpridor de suas principais obrigações, sem a interferência estatal. Com isso, o cidadão conta com infraestrutura e segurança para trabalhar e prover, para ele e seus familiares, as necessidades básicas, podendo ascender financeiramente e socialmente a partir de seus esforços. Já na Dinamarca, a opção foi por um Estado maior, com elevada centralização do dinheiro circulante, provendo sua população das necessidades básicas totais de saúde, segurança e educação, em todos os níveis. A desigualdade é mínima e, principalmente pelo elevado nível de educação e probidade da população como um todo, o Estado é extremamente eficiente.

Vale ressaltar que, apesar da carga tributária diferente, tanto os EUA quanto a Dinamarca oferecem liberdade de empreender e inovar muito superiores à brasileira, o que, por si só já impacta positivamente na geração de emprego e renda. Como se vê, o problema não está diretamente ligado à quantidade de impostos que se cobra, mas sim à capacidade de retorno que o Estado arrecadador consegue propiciar aos seus cidadãos. Além disso, existem impostos mais cruéis que outros, como veremos. 1.1 Impostos Diretos e Indiretos São classificados como impostos diretos aqueles cobrados sobre a renda e o patrimônio dos trabalhadores. São assim denominados por serem arrecadados diretamente dos cidadãos pelos três níveis governamentais. Por exemplo, o Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF), imposto federal que incide diretamente e proporcionalmente ao salário dos trabalhadores que ganham acima do valor mínimo delimitado ou o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), tributo estadual arrecadado anualmente de todos os proprietários de automóveis e/ou motocicletas. Podemos citar também o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), tributo municipal arrecadado sobre a propriedade de imóveis. Já os impostos ditos indiretos são aqueles cobrados sobre os produtos e serviços, ou seja, o consumo. São assim denominados porque não são cobrados diretamente pelo Estado ao comprador, mas sim repassados para os preços, pelos produtores ou fornecedores, que são taxados pelos três níveis de governo. Por exemplo, o Imposto sobre Produto Industrializado (IPI), imposto federal que incide sobre produtos que sofreram qualquer tipo de

transformação, beneficiamento, acondicionamento, renovação ou montagem, como é o caso dos automóveis, ou o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), tributo estadual arrecadado sobre a comercialização de mercadorias e serviços, por exemplo, combustíveis. Podemos citar também o Imposto Sobre Serviços (ISS), tributo municipal arrecadado sobre os prestadores de serviços, entre eles as escolas, as clínicas médicas e os profissionais liberais, por exemplo eletricistas e encanadores. 1.2 Consumo e Renda Nos EUA, dos seus 26,4% de carga tributária, 82,57% incidem sobre renda, lucro, ganho de capital, folha salarial e propriedade (impostos diretos), enquanto apenas 17,43% incide sobre bens e serviços (impostos indiretos). Isso significa que quem ganha mais paga mais, já que, ao tributar o consumo, todos são penalizados de forma equivalente. Por exemplo, o imposto que se cobra no arroz é o mesmo para todas as classes sociais, ao passo que o imposto sobre a renda é proporcional ao ganho. No Brasil, quase 52% da tributação ocorre sobre bens e serviços, ou seja, sobre o consumo. Isso ajuda a tornar nossos produtos muito mais caros quando comparados aos similares em outros países. Em resumo, além de alta, nossa carga tributária é extremamente perversa, na medida em que, proporcionalmente, cobra mais de quem ganha menos. 1.3 Curva de Laffer Arthur Laffer, um economista norte-americano especializado em setor público, teve como trabalho mais notável a conhecida Curva de Laffer, considerada uma eficiente

relação entre a arrecadação de impostos e a carga tributária. O princípio de Laffer é de que com a carga tributária em 0% ou em 100%, a arrecadação do Governo com impostos será nula. No primeiro caso, por óbvio, e no segundo simplesmente porque não se produzirá nada para pagar 100% de impostos. Entre esses valores, existirá um valor em que a arrecadação é máxima, acima do qual ou se sonega ou se produz menos, para efeito de compensação. Isso significa que, para um PIB de $100 bilhões e uma carga tributária de 33%, o Governo arrecada $33 bilhões. Mas, um aumento na carga tributária para 40% não garantirá um aumento de arrecadação para $40 bilhões, tendo em vista que poderá haver um aumento da sonegação e/ou uma diminuição da produção, nesse caso, reduzindo o PIB. Estudos recentes mostram que o ponto ideal da curva de Laffer depende do tamanho do Estado de cada país. Porém, um famoso caso de sucesso da aplicação da curva ocorreu durante o governo Reagan, nos EUA, do qual, inclusive, Laffer fazia parte. A redução drástica da carga tributária nesse período não impactou significativamente na arrecadação governamental e proporcionou um grande crescimento econômico. Observe esse exemplo de utilização da Curva de Laffer, com ilustração didática do ponto Brasil nessa curva:

Fonte: Professor Euler

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2. Gastos Governamentais Já sabemos de capítulos anteriores que o Brasil gasta mais do que arrecada há anos, aumentando perigosamente sua dívida pública. Com o objetivo de limitar esse aumento, foi aprovada pelo Congresso brasileiro a PEC 55 (Proposta de Emenda Constitucional número 55), em dezembro de 2016, que limita os gastos públicos, de todos os níveis, ao montante gasto no ano anterior, acrescido da inflação do período considerado. Tal medida foi extremamente benéfica, tendo em vista que não é salutar que o Congresso entregue, ano após ano, um cheque em branco para o Poder Executivo gastar de maneira despreocupada, já que esse gasto gera uma dívida que, em pouco tempo, pode se tornar impagável. E a tentação para aumentar as despesas acima da capacidade de arrecadação é facilmente explicável para um país com cidadãos acostumados a ter seus problemas “resolvidos” pelo Estado. Aumentos do quadro para o

funcionalismo público com salários acima da média do mercado, aumento da abrangência e dos valores destinados a programas de distribuição de renda sem qualquer contrapartida e obras públicas gratuitas que, posteriormente, são subutilizadas, são alguns exemplos de como um governante pode aumentar despesas visando, sobretudo, retorno próprio. A maneira como o Governo gasta o dinheiro do contribuinte faz toda a diferença na qualidade de vida da população. Pensemos em um bem privado simples, por exemplo um picolé que você comprou em um dia de calor. Bem, esse picolé é seu, portanto você pode negar um pedaço dele ao seu colega, excluindo-o. Além disso, se você pretende comprar o último picolé de determinado sabor, seu colega não poderá comprá-lo, ou seja, vocês são rivais. O conceito de “bem público” passa necessariamente pela ideia de nãorivalidade e não-excludência. São não-rivais e nãoexcludentes porque quando uma pessoa o utiliza não impede de outra também fazê-lo, e é muito difícil, ou mesmo impossível, que apenas alguns se beneficiem e outros não. Por exemplo, seria impossível fornecer o serviço de bombeiros apenas para uma parte dos moradores de uma área incendiada. A utilização dos bombeiros, nesse caso, beneficiaria a todos, em igual quantidade, ou seja, seria um serviço prestado sem rivais e sem excluídos, sendo assim um bem público. Os bens públicos são, via de regra, sustentados pelos pagadores de impostos, que somos todos nós. E é importante que assim o seja, tendo em vista que os chamados parasitas ( free-riders ) são relativamente comuns em situações de gastos compartilhados. Por exemplo, se a limpeza de uma determinada rua fosse um bem privado, compartilhado pelos moradores daquela rua,

poderia surgir um morador parasita que deixasse de pagar e continuasse sendo beneficiado pela limpeza. Um governo deve fornecer bens públicos de qualidade e, para isso, deve ter equilíbrio em suas finanças. Porém, alcançar o equilíbrio em um orçamento, qualquer que seja ele, é tarefa das mais árduas. Todos temos desejos e necessidades que devem se contrapor a nossa escassez de recursos. Mas, uma coisa é certa: existem despesas que nos são obrigatórias e outras nem tanto, e todas devem ser tratadas com responsabilidade. Com o orçamento público acontece o mesmo. Parte do orçamento dos governos é formada pelas despesas obrigatórias. Na verdade, a maior parte, já passando de 90%. As principais despesas obrigatórias são o pagamento dos aposentados e do funcionalismo público, além do pagamento da dívida pública, do repasse dos benefícios sociais e das transferências que a Constituição define para estados e municípios. Feitos os gastos obrigatórios, o que sobra - que, repito, na verdade, não sobra, vai para as despesas discricionárias, que são aquelas sobre as quais o Governo tem algum grau de decisão. Importante ressaltar que tais despesas não são irrelevantes ou dispensáveis, pelo contrário, o custeio da máquina pública e os investimentos governamentais, para citar dois exemplos, são essenciais. Apesar disso, todas as despesas discricionárias são passíveis de contingenciamento. A lei de responsabilidade fiscal diz que, ao fim de cada bimestre, sendo observado o risco do não cumprimento do orçamento anual aprovado, seja pelo aumento de despesas obrigatórias ou pela diminuição de receitas previstas, o governo deverá adequar-

se à nova realidade apresentada, reduzindo despesas que não são obrigatórias: as discricionárias. Com mais de 90% do orçamento empenhado em despesas obrigatórias, muitas inclusive vinculadas (em educação, 18%, e, em saúde, 13,2% da arrecadação federal são repasses obrigatórios), e com a dívida pública crescente, fica fácil perceber que a tendência é que os gastos discricionários sejam cada vez menores. Perceba que as necessidades de um país tão extenso e diverso como o Brasil, não são as mesmas para todos. Carimbar 13,2% da receita para a saúde pode não ser suficiente para uma localidade que tenha uma grande parte da população mais idosa. Por outro lado, algumas cidades estão mais bem estruturadas que outas nessa área, necessitando de menos investimentos. Deveria caber aos representantes eleitos a correta aplicação desses recursos nos estados e municípios que, convenhamos, deveriam ser os detentores desse dinheiro. 3. Dívida Já sabemos que a dívida interna é aquela gerada pela emissão de títulos públicos que são adquiridos no Brasil, em reais. Existe, porém, a dívida externa. Na década de 80, ela era um fantasma para a economia brasileira, visto que é atrelada ao dólar e as variações cambiais naquela época tornaram-na insustentavelmente alta. Hoje, porém, principalmente após o plano real, ela encontra-se inteiramente controlada. Na verdade, há uma confusão quando algumas pessoas, às vezes mal-intencionadas, dizem que o Brasil não tem mais dívida externa. O que acontece é que o Brasil é credor em termos líquidos, ou seja, nossas reservas internacionais são

maiores que nossa dívida externa, que está dividida, aproximadamente, em 60% para o setor privado e 40% para o setor público. Na sua composição, entre outros, entram títulos públicos (tesouro) e privados (debêntures), vendidos no mercado externo, em dólar, além de empréstimos contraídos, por exemplo, com o Banco Mundial e o FMI. Ou seja, a dívida externa também é cara, já que cobra juros, e em dólar. Então, por que motivo não usamos nossas reservas internacionais para pagar a dívida externa, ou mesmo a interna? A resposta você já sabe: acabar com as reservas de dólares nos levaria à situação de descrédito internacional, já que a qualidade da moeda de um país está relacionada ao fato de suas reservas internacionais serem maiores que M1 . Porém, o problema não é a dívida. O país com a maior dívida proporcional do mundo é o Japão, devendo mais de 200% do PIB. Mas a qualidade da dívida japonesa é altíssima, pois o país não deve a organismos internacionais e paga juros baixíssimos, dada a confiança em sua moeda, o Iene. Ou seja, essa dívida não impacta negativamente na qualidade de vida do povo japonês. Enquanto isso, a dívida pública brasileira, que paga taxa de juros bem mais alta que a japonesa, já está próxima de 80% do PIB, e espreme cada vez mais nosso orçamento na qualidade de despesa obrigatória, impedindo investimentos. Conclusão Capítulo dedicado aos impostos, às despesas e às dívidas, nele, esperamos que você tenha entendido o que são impostos diretos e indiretos, e como eles impactam de maneira diferente na vida do cidadão. Esperamos também que você tenha entendido o que é carga tributária e como

ela impacta na economia de um país. Falamos também sobre as despesas governamentais, obrigatórias ou não, e o impacto da dívida pública nos investimentos. Por fim, mostramos as diferenças entre dívida externa, dívida interna e reservas internacionais.

Capítulo 6 Política Monetária 1. A taxa de juros e a quantidade de moeda Já vimos que a taxa de juros é o preço do aluguel do dinheiro. Quem toma dinheiro emprestado faz uso temporário dele, pagando os juros pelo tempo correspondente ao empréstimo, tal qual um aluguel. Por outro lado, quem poupa e empresta , está renunciando à liquidez, pois só poderá utilizar o dinheiro quando o receber, acrescido s dos juros compensatórios pelo tempo e pelo risco. Quando as taxas de juros estão mais altas, a tendência à poupança é maior, visando o recebimento de rendimentos mais volumosos. Por outro lado, taxas de juros menores , atraem dinheiro para o mercado, pois estimulam o consumo, principalmente na modalidade de financiamentos. Em resumo: juros maiores implicam em menos dinheiro circulante; juros menores, o contrário. Visando a estabilidade dos preços, que sabemos o quão positiva é para a economia de um país, o Banco Central utiliza os instrumentos de Política Monetária, que nada mais são que ações influenciando no custo do dinheiro (taxas de juros – Selic, em especial). A principal consequência das

alterações da taxa Selic é a quantidade de dinheiro circulante na economia. “O Banco Central do Brasil é o responsável pelo controle da inflação no país. Ele atua para regular a quantidade de moeda na economia que permita a estabilidade de preços. Suas atividades também incluem a preocupação com a estabilidade financeira. Para isso, o BC regula e supervisiona as instituições financeiras.” [4] 2. O Banco Central e o COPOM O Banco Central do Brasil, assim como outros bancos centrais do mundo, é a principal autoridade monetária do país. Além das políticas monetárias, conduz o câmbio, o crédito e as relações financeiras internacionais. Dentre suas principais atribuições, podemos citar: a) Emitir papel-moeda e moeda metálica. b) Receber recolhimentos compulsórios e voluntários das instituições financeiras (quanto maior a parte compulsória, a que sai do mercado e vai para o BACEN, menos dinheiro circulante, como já vimos). c) Empréstimos às instituições financeiras (aumenta o dinheiro circulante). d) Efetuar operações de compra e venda de títulos da dívida pública. e) Fiscalizar as instituições financeiras, bem como estabelecer condições para o exercício dos cargos de direção destas. f) Controlar o fluxo de capitais estrangeiros no país.

Bem, já conhecemos a relação intrínseca entre a taxa de juros e a quantidade de moeda circulante. Uma política monetária expansionista, utilizada em períodos de retração econômica, é baseada na redução da taxa de juros e consequente aumento da moeda circulante, estimulando a economia. Já uma política monetária contracionista, utilizada normalmente para conter a inflação, é baseada em um aumento das taxas de juros, diminuindo a quantidade de moeda circulante, freando o consumo. O órgão do Banco Central do Brasil responsável pela definição da taxa Selic, em reuniões que acontecem a cada 45 dias, é o COPOM. O presidente e os diretores do órgão assistem às apresentações técnicas de funcionários e colaboradores do BC. Assim, de posse de todas as informações que julgarem necessárias quanto à perspectiva de inflação, contas públicas, atividade econômica e cenário externo, definem o valor da taxa Selic. Após a definição do valor da taxa Selic, o Banco Central atua diariamente no mercado, buscando manter a taxa próxima do valor definido em reunião. Essa atuação consiste basicamente nas operações de open market que vimos anteriormente, nas quais a compra e venda de títulos da dívida pública, pelo Banco Central influencia na quantidade de moeda circulante. Outro fator importante da política monetária é a quantidade de papel moeda. Um país em crescimento precisa de mais dinheiro. Como o BC tem total controle do dinheiro que circula no país, já que as operações bancárias são controladas por ele por meio do Sistema de Pagamentos Brasileiro, cabe a ele avaliar se é necessário imprimir mais dinheiro ou não. Porém, todo o cuidado é pouco nessa operação, afinal, impressão de moeda em excesso, como vimos, é causa certa de inflação.

3. Consequências Controlar a quantidade de dinheiro, tarefa do Banco Central, é muito importante para a economia. Excesso de dinheiro circulante, muitas vezes impresso para o pagamento de dívida pública, gera inflação, enquanto a falta dele causa recessão na economia. Podemos imaginar uma piscina que precisa ter água até certo nível para proporcionar diversão confortável e segura. Se a água está acima do nível, qualquer mergulho irá causar transbordamento e consequente desperdício. Por outro lado, água abaixo do nível é desconfortável e inseguro para os banhistas. Assim funciona a quantidade de dinheiro na economia. Dinheiro em excesso causa aumento de preços e, consequentemente, gera inflação, que, como vimos, pode se tornar o maior tormento macroeconômico que existe. Dinheiro em falta gera retração devido à queda da atividade comercial, com consequente desinvestimento. Em ambos os casos, a principal consequência negativa é o desemprego. E o desemprego é um indicador com características singulares, acentuadas em uma economia sui generis como a brasileira. Contratar e, principalmente, demitir, no Brasil, são tarefas hercúleas, além de custosas. Há impostos sobre folhas de pagamentos, ou seja, pagam-se impostos mesmo sem arrecadação, e multas demissionais, que podem ser acrescidas de custos processuais. Por isso, demora-se a demitir em tempos de crise, já que há a esperança de uma melhora que evite os custos inerentes. E demora-se a contratar em tempos de melhora econômica, também evitando os custos incluídos no processo. 4. Um pouco de história

Perceba que estamos, aqui, tratando a quantidade de dinheiro na economia, a política monetária, como função de Estado. Aceitamos, até o momento, a versão de que cabe ao poder público identificar a necessidade de mais ou menos dinheiro circulante, a partir de dados provenientes da economia, que corresponde a 45 dias de remédio administrado pelo próprio poder público. Essa visão de política monetária é muito antiga, da época do Mercantilismo. O mais famoso economista britânico, John Maynard Keynes (1883-1946) porém, pauta até hoje as discussões econômicas fiscais e monetárias. Keynes teve vários estudos macroeconômicos voltados para as políticas econômicas instituídas pelos governos, Segundo ele, cabe ao governo aprimorar o sistema monetário, o comportamento das autoridades do Banco Central e os sinais enviados por elas ao mercado, indicando a previsão de impacto da política monetária sobre preços e juros. Por outro lado, a escola austríaca, liderada por Ludwig von Mises (1881-1973), conhecida pela regra de que as transações comerciais devem ser sujeitas a menor imposição possível de forças governamentais, diz que a inflação é causada unicamente pela política monetária. Mises enxergava que o poder que os governos têm de imprimir moeda é uma grave ameaça à democracia. Para ele, não existe necessidade de crescimento da oferta monetária, nem mesmo com o aumento populacional ou de produção. As pessoas poderão manter maiores saldos monetários, gastando menos, o que fará com que seu poder de compra aumente. O banco central austríaco, até bem pouco tempo, tinha ações negociadas em bolsa de valores, ou seja, não era um órgão de governo. Conclusão

Neste capítulo, esperamos que você tenha entendido melhor como a taxa de juros (Selic), a quantidade de moeda e a inflação estão intimamente relacionadas. Você viu o que é uma política monetária, e como ela baliza a economia, determinando a quantidade de dinheiro que circula entre nós. Aprendeu que a inflação causa recessão que causa desemprego, o mal maior, e que a curva do desemprego demora a reagir. Viu também que, em nosso sistema, Keynesiano, o Banco Central é o responsável pela determinação da taxa Selic, e como ele o faz.

Capítulo 7 Matemática Financeira Aplicada 1. Taxa de juros A taxa de juros é a taxa de lucratividade recebida em um investimento. Pode ser apresentada em bases mensais, o que é mais normal, mas também em bases anuais, semestrais ou diárias, sempre representando o ganho obtido na aplicação de um capital. Por exemplo, uma taxa de juros de 11% ao ano indica que, para cada real aplicado, um adicional de R$ 0,11 de juros deve ser acrescentado , por ano de aplicação. Assim, quando utilizamos um dinheiro que não é nosso, por exemplo, financiando a compra de um automóvel, pagamos uma taxa de juros pelo uso desse capital durante o prazo do financiamento. Já quando aplicamos nossas economias no mercado financeiro, recebemos uma taxa de retorno pelo uso, por parte do mercado financeiro, do nosso capital investido durante o tempo em que ocorrer a aplicação. De maneira geral, toda forma de remuneração de capital pode ser considerada como juro.

Vale ressaltar que, quando fazemos uma aplicação financeira, assunto que você estudará a fundo nos próximos capítulos, recebemos um retorno (juros) proporcional ao risco do investimento. Por exemplo, a caderneta de poupança que tem liquidez imediata e é coberta pelo Fundo Garantidor de Crédito, rendeu apenas 4,68% em 2018. Por outro lado, quando vamos para a bolsa de valores, um investimento sem garantias, ainda em 2018, a ação da empresa Magazine Luíza (MGLU3) cresceu 126,34%, enquanto a da Cielo (CIEL3) perdeu 58,15% do seu valor. Isso significa, grosso modo, que R$ 1.000,00 aplicados em poupança, durante o ano de 2018, gerariam um montante de R$ 1.046,80; em MGLU3, incríveis R$ 2.263,40; e em CIEL3, seus R$ 1.000,00 se reduziriam a R$ 418,50. Assim, cabe a cada investidor analisar sua capacidade de risco e definir seu portfólio de investimentos . Aqui, vale uma observação. Quando citei acima que a poupança, por exemplo, rendeu 4,68% em 2018, estou me referindo à chamada taxa de juros aparente ou nominal, ou seja, aquela que não leva em conta o custo da inflação no período. Mas esse custo existe e deve ser levado em consideração. Assim, descontada a inflação do ano, a poupança rendeu 0,84% de taxa de juros real [ pode facilmente ser obtida, utilizando os rendimentos em decimais, pela fórmula {(1+rendimento nominal)/(1+inflação)-1} ] o que nos leva a conclusão de que os R$ 1.046,80 em 31/12/2018, teriam o poder de compra de R$ 1.038,08 em 01/01/2018. Pois bem, assim como devemos estudar bastante onde investir nosso dinheiro, uma instituição financeira trabalha de forma semelhante ao emprestar capital. Ao financiar um bem que serve de garantia, por exemplo, ao financiar um automóvel que pode ser retomado no caso da falta de pagamento, a taxa média cobrada em 2018 foi de,

aproximadamente, 17% ao ano. Por outro lado, a taxa de juros de empréstimos para pessoa física, ou seja, sem garantias aplicáveis, supera, na maioria dos casos, os 120% ao ano. Essa definição da taxa de juros cobrada ao cliente pela instituição, além de ser influenciada, como vimos acima, pelo risco , que é o grau de incerteza do pagamento da dívida, e pela taxa Selic , amplamente vista nos capítulos anteriores, ainda leva em consideração outros fatores. Existem os custos administrativos das empresas que fornecem o crédito; o lucro , essencial à sobrevivência das instituições; e a perspectiva de inflação , que influencia diretamente nela, a taxa Selic . Importante também lembrar que o dinheiro tem valor no tempo, ou seja, um real hoje vale mais que um real no futuro. Seja pela perda inflacionária ou pelo não resultado de uma possível aplicação financeira, dinheiro parado significa dinheiro queimado. Em 1994, por exemplo, início do Plano Real, um pão francês custava, em média, R$ 0,09, já em 2018, R$ 0,36. O aumento, no período, foi de 300%. No geral, desde 1994 até 2018, a inflação acumulada no período foi de 496,88%. Isso significa que o poder de compra de R$100,00 em 1994 equivale hoje a R$ 16,75. 2. Juros Simples Quando utilizamos o sistema de capitalização simples, amplamente conhecido como juros simples, apenas o capital inicial rende juros. Assim, R$ 100,00 aplicados à taxa de 1% ao mês, renderá R$ 1,00 por mês, durante todo o período de aplicação. O valor desses juros pode ser calculado pela fórmula

em que j representa o valor dos juros, c o capital inicial, i a taxa de juros da aplicação e n o tempo. Perceba que é necessário haver uma compatibilidade entre a taxa e o prazo, ou seja, se a taxa está ao mês o prazo deve estar em meses. Denominamos montante o valor apurado após o término do investimento, ou seja, a soma do capital com os juros do rendimento. Lembra-se do exemplo da aplicação nas ações da Magazine Luíza? Pois é, um capital de R$ 1.000,00 rendeu um montante de R$ 2.263,40. De maneira geral, montante é o equivalente ao capital acrescido dos juros, ou seja: , ou , ou

Mas, nessa obra, nosso objetivo não é a utilização de fórmulas. Além disso, nos meios econômicos e, principalmente, no mercado financeiro, praticamente não se utiliza o sistema de juros simples, ficando este quase que totalmente restrito às salas de aula de educação básica. O reinvestimento dos juros, conhecido como sistema de capitalização composto, juros compostos ou juros sobre juros, é a prática usual e, por uma questão de adequação à realidade, é a que levaremos em conta aqui. 3. Juros Compostos No regime de capitalização composto, os juros formados a cada período são incorporados ao capital inicial, passando também a produzir juros. Assim, R$ 100,00 aplicados à taxa de 1% ao mês, nesse sistema, renderá R$ 1,00 no primeiro

mês. No segundo mês, o 1% incidirá sobre o novo capital de R$ 101,00, rendendo R$ 1,01 de juros. Perceba que a diferença entre os sistemas parece irrisória, e, a uma taxa pequena, durante pouco tempo, realmente é. Porém, quando falamos de grandes períodos, os rendimentos a juros compostos são muito maiores que os rendimentos a juros simples. Para o bem e para o mal. Por exemplo, no Brasil, as taxas cobradas na modalidade “cheque especial” são bastante altas, como vimos, já que se trata de um empréstimo pré-aprovado e sem garantias. Em 2018, por exemplo, superaram, em média, os 12% ao mês. Imagine agora uma situação hipotética: você se formou e foi trabalhar em uma outra cidade, onde abriu uma conta em um banco local. Acontece que, após alguns anos você foi transferido e, na correria, esqueceu a conta aberta, que, por azar, estava negativa (no cheque especial) em R$ 100,00. Após 10 anos, você está de passagem pela cidade quando vê o banco e se lembra que tinha uma conta ali. Sabe qual seria o valor hipotético da sua dívida após esses 10 anos, considerando esse juro médio de 12% ao mês? Algo próximo de R$ 80.568.025,50! Essa mesma situação impactante seria bem diferente no caso do sistema de capitalização simples. Os mesmos R$ 100,00, à mesma taxa de 12% ao mês durante 10 anos, se tornariam bem menos assustadores R$ 1.540,00. Esse é o poder do sistema de capitalização composto: a multiplicação exponencial. Que, repito, serve para o bem e para o mal, ou seja, você paga juros e recebe juros sobre esse sistema. Cabe a você trabalhar seus rendimentos de forma que os juros que você receba sejam superiores aos juros que você paga. Em alguns casos é preferível financiar pagando uma taxa pequena do que pagar à vista. Por

exemplo, se você possui uma aplicação que rende 11% ao ano, e vai trocar o carro, antes de desmontar essa aplicação, procure um financiamento com taxa zero (nunca é zero total, mas normalmente é bem baixa) ou mesmo com uma taxa que não supere seu rendimento. O dinheiro tem valor no tempo, portanto, é importante manter um fluxo positivo de juros entre despesa e investimento. O cálculo dos juros no sistema de capitalização composto pode ser realizado com a fórmula , ou

em que J representa os juros do rendimento, c representa o capital inicial, i a taxa de juros da aplicação, M o montante e n o tempo. Perceba que, também aqui, é necessário haver uma compatibilidade entre a taxa e o prazo, ou seja, se a taxa está ao mês o prazo deve estar em meses. Aplicaremos os conceitos de cálculo de juros com a ferramenta mais indicada para essa situação: a calculadora HP 12C. 4. A calculadora HP 12C A HP 12C é uma calculadora financeira muito utilizada pelos profissionais da área contábil. Tem a facilidade de ser programável e possui uma infinidade de funções relacionadas à cobrança e recebimento de juros. Seu completo entendimento requer, talvez, anos de prática e estudo, mas as funções básicas são simples e incrivelmente usuais.

https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-907081788-calculadora-financeira-hp-12c-gold-original-lacrada-_JM? matt_tool=68742045&matt_word&gclid=CjwKCAiAws7uBRAkEiwAMlbZjl3y2vHLaH8PBptIakpfTAs0SD3f0y7U3zETiS1YrDoIDB28S0mZOxoCX4MQAv D_BwE&quantity=1&variation=20153484543

Seu funcionamento não segue o procedimento das calculadoras “normais”. Perceba que nem sinal de igual (=) ela possui. Sua lógica, denominada RPN (do inglês Reverse Polish Notation , ou Notação Polonesa Reversa), permite uma rápida entrada de dados, ficando o sinal indicativo de operação para o final. Observe os exemplos , e pratique simultaneamente. Não é necessário comprar uma HP, pois existem apps que a substituem. I. 30+40 Calculadora convencional: 30+40 = 70 HP 12C: 30

ENTER

40

+

II. 210.2+35 Calculadora convencional: 210.2=420 HP 12C: 210

ENTER

420+35 = 455 2

x

35

+

A HP 12C permite também o acúmulo de operações irracionais. Observe:

III.

+

Calculadora convencional: HP 12C:

Impossível. 2

ENTER 1 ENTER 3 4 ENTER 5 +

4.1 A HP 12C e o sistema de capitalização composto Antes de fazermos qualquer operação com a HP, principalmente de juros, é aconselhável teclar f seguido de CLX , a fim de limparmos completamente a memória em uso. Após ter feito esse procedimento, observe a parte do teclado que contém o recorte abaixo, com as 6 principais teclas utilizadas no cálculo de juros compostos:

Essas teclas, como praticamente todas da calculadora HP, possuem mais de uma função. Mas vamos sempre considerar as funções escritas em branco, a não ser que algo seja dito em contrário. São elas: n: Abastece ou calcula o número de períodos. i: Abastece ou calcula a taxa de juros.

PV: Abastece ou calcula o valor presente. PMT: Abastece ou calcula o valor da prestação. FV: Abastece ou calcula o valor futuro. Vamos agora pensar na seguinte situação hipotética: você vai adquirir um automóvel que custa R$ 62.000,00, dando uma entrada de R$ 12.000,00. O vendedor lhe apresenta uma proposta de 60 prestações de R$ 1.173,80 para quitar o saldo devedor. Quais são os juros cobrados nesse financiamento? É fácil saber! Utilizando a HP, e abastecendo as informações em qualquer ordem, deixe a tecla correspondente ao que se deseja conhecer, nesse caso a taxa de juros, para o final. Antes de prosseguirmos, você vai observar que, ao pressionar a tecla CHS , que é a abreviação de change signal , o valor passará a ser negativo. Isso é normal e indicativo da operação de crédito. Pense, por exemplo, no caso do financiamento citado, em que você está pegando R$ 50.000,00 emprestado e, por isso, está entrando com -50.000,00. Observe: 50000

CHS

PV

60

n

1173,80

PMT

i

Nesse caso, a resposta será 1,20 , o que indica 1,2% ao mês de taxa. Um detalhe é que estamos, nesse caso, utilizando duas casas decimais. Caso deseje, você pode aumentar ou diminuir a quantidade de casas após a vírgula, basta teclar f e o número de casas desejado. Por exemplo, f 4 indica o uso de 4 casas decimais. Bem, voltando ao exemplo do carro, você resolve ir ao seu banco e tentar uma proposta melhor, com uma taxa menor.

Chegando lá, seu gerente informa que esse saldo devedor de R$ 50.000,00 pode ser quitado em 48 prestações de R$ 1.382,43. Será que essa proposta é melhor? Bem, fazendo 48 multiplicado por 1.382,43, obtemos 66.356,64, enquanto 60 x 1.173,80, valem 70.428,00, o que pode nos levar a optar pela nova proposta. Mas vejamos: 50000

CHS

PV

48

n

1.382,43

PMT

i

Nessa nova proposta, a taxa fica em 1,22% , ou seja, maior que a primeira opção. Apesar do resultado, em reais, ser maior, a taxa é menor no primeiro caso. Podemos, inclusive, utilizar a HP para nos defender em uma negociação, já que em muitas situações de financiamento , a taxa de juros apresentada pelo(a) vendedor(a) não é a taxa real. Conhecida como Custo Efetivo Total (CET), a taxa real de um financiamento inclui tributos, tarifas, seguros, custos relacionados a registro de contrato e outras despesas cobradas na operação. Observe o anúncio a seguir.

Fonte: Ofertas Ford

[5]

Sabemos que o veículo custa R$ 41.990,00, à vista, podendo ser financiado com uma entrada de R$ 33.172,10,

o que irá gerar um saldo devedor de R$ 8.817,90, quitáveis em 18 parcelas de R$ 550,00, com “taxa zero”. Vejamos: 8.817,90

CHS

PV

18

n

550

PMT

i

A tal “taxa zero” equivale, na verdade, a 1,25% ao mês.

Ferramenta importante Com a HP 12C é possível saber a quantidade exata de dias que se passou em um determinado intervalo de tempo. Vamos supor que um investimento em ações no papel VALE3, na IBOVESPA, foi feito na seguinte situação: Compra de 1000 ações, em 21 de maio de 2019, ao custo de R$ 5.086,00 (vamos desconsiderar despesas de corretagem e impostos nessa negociação), seguida de venda em 22 de junho de 2019, no valor de R$ 5.423,00. A quantidade de dias que durou o investimento pode ser obtida da seguinte maneira (observe que a HP segue o padrão MM/DD/AAAA): 05.212019

ENTER

06.222019

g

Iremos obter, então, 32 dias como resposta. Considerando um investimento mensal, de 30 dias, o cálculo da taxa de juros da rentabilidade pode ser feito da seguinte maneira: 5086

CHS

PV

32

ENTER i

30

n

5423

FV

Dessa forma, obteremos 6,19% a.m. de rendimento bruto, no período considerado nesse investimento. Curiosidade

Use a HP 12C e descubra quantos dias você já viveu desde o seu nascimento. Compare o resultado com o de outras pessoas.

5. Financiamento O financiamento é uma operação realizada entre duas partes, em que uma parte cede dinheiro para que outra possa fazer algum investimento previamente combinado. Todos nós utilizamos e/ou utilizaremos algum tipo de financiamento, seja para adquirir um bem móvel, imóvel ou até mesmo uma roupa ou um eletrodoméstico. Um de seus modelos mais simples, e uma característica do mercado brasileiro, é o financiamento oferecido diretamente pelo comércio.

Fonte: Ibyte

[6]

No anúncio em questão, vemos televisões que podem ser compradas à vista, com ou sem desconto, ou a prazo, em 12 prestações fixas. Nesses casos, a empresa que comercializa o produto pode utilizar-se de capital próprio, ou

seja, vende e recebe em prestações, a partir pagamentos efetuados por boleto ou na própria loja.

de

Uma outra opção é a utilização de capital de terceiros por parte da loja. Por exemplo, ao vender via cartão de crédito em 12 vezes, a loja pode optar por receber da operadora do cartão à vista ou em 12 vezes, pagando juros maiores ou menores, respectivamente, conforme for a opção escolhida. Perceba que, mesmo utilizando capital próprio, a loja está pagando juros ao financiar um produto para um consumidor final. Primeiro porque o dinheiro tem valor no tempo e, segundo, ao dedicar uma parte de seu capital para financiar a venda, esse mesmo capital passa a ficar imobilizado, ou seja, sem poder ser aplicado, consequentemente sem que possa gerar algum rendimento. De qualquer forma, o custo financeiro da operação está sempre embutido no valor final do produto. Assim, sempre solicite um desconto para pagamento à vista, quando for essa sua opção. E, caso o desconto seja negado e o preço a prazo seja o mesmo, opte pelo pagamento a prazo e ganhe rentabilidade com isso. Por exemplo, uma compra de R$ 300,00 que não pode ter desconto para pagamento à vista, mas pode ser dividida em 3 parcelas sem entrada e “sem juros”, sairá mais barata nessa segunda modalidade. Explicando melhor: se a inflação mensal média nesses dois meses for de 0,45%, podemos calcular 100

CHS

PMT

3

n

0,45

i

PV

Obteremos, nesse caso, R$ 297,32 como reposta, o que significa que, ao invés de pagarmos R$ 300,00 à vista, nossas 3 parcelas de R$ 100,00 equivalem a um valor ligeiramente menor.

5.1 Financiamento de automóveis No Brasil, o financiamento de automóveis pode acontecer em três modalidades: o consórcio, o leasing e o CDC (Crédito Direto ao Consumidor). Vamos entender qual a diferença básica entre eles. Consórcio Pode ser interessante para quem não tem pressa em receber o veículo e tem dificuldade em poupar sem estar vinculado a um compromisso, pois, nesse caso, um grupo de pessoas paga prestações e, mensalmente, por sorteio ou lance, podem receber sua carta de crédito para ser trocada por um automóvel. Ao retirar seu automóvel, ele fica em seu nome, constando apenas uma observação de alienação fiduciária, que significa que você ainda deve prestações referentes aquele bem, e não pode revendê-lo antes da quitação. Racionalmente, porém, o consórcio não faz muito sentido. Apesar de não cobrar taxa de juros, as administradoras de grupos de consórcio cobram a chamada taxa de administração, ou seja, na prática, é como se você pagasse uma pequena taxa de juros para poupar uma quantia e depender da sorte para ter seu automóvel a curto ou a longo prazo. Ora, caso tenha pressa, você pode optar por pagar juros um pouco maiores e adquirir via CDC ou leasing , como veremos; caso não tenha pressa, você pode poupar mensalmente, ganhando juros ao invés de pagá-los. Além disso, o desempenho do seu grupo pode influenciar na quantidade de carros sorteados e, em casos extremos, no valor das prestações. CDC

Tipo mais comum de financiamento, consiste em uma operação simples de empréstimo bancário. Você financia o carro desejado utilizando o dinheiro de uma instituição financeira, retira esse carro assim que a documentação estiver pronta, e paga, a essa instituição, prestações fixas. Assim como no consórcio, o carro fica em seu nome com alienação. No caso do não pagamento das prestações, a instituição credora pode tomar o carro e revendê-lo. Com o dinheiro apurado na venda, a dívida é quitada e, quando for o caso, a diferença é devolvida ao contratante. Uma grande vantagem do CDC é que as prestações podem ser pagas adiantadamente, com o desconto referente aos juros do período. Por exemplo, se você adquiriu um financiamento em 60 parcelas e, no pagamento da parcela número 10 puder adiantar a parcela número 60, esta poderá sair com um bom desconto, baseado na taxa de contratação e na taxa Selic, da data de contratação e da data de quitação da parcela. A explicação é simples, as parcelas são compostas pela parte referente à amortização da dívida e outra parte referente aos juros (sistema PRICE, que veremos logo mais). Assim, ao pagar a parcela 60 hoje, você obtém o desconto dos juros pela não utilização desse capital durante todo esse tempo. Esse tipo de financiamento permite também sua total quitação antes do prazo previsto. Seguindo o exemplo anterior, ao pagar a parcela número 10, caso seja do seu interesse, pode ser feita a quitação total das 50 parcelas restantes, cada uma delas com o desconto referente ao prazo de não utilização. É claro que, no caso da quitação de parcelas avulsas, quanto mais distante estiver a parcela, maior o desconto. Se for o caso, procure seu banco e evite pagar juros sem necessidade. Leasing

Modalidade menos conhecida por aqui, o leasing em muito se assemelha ao CDC. Na verdade, são diferentes em detalhes. O principal é que o leasing funciona como uma espécie de aluguel, ficando, inclusive, o carro em nome da financeira, enquanto durar o contrato. Por esse motivo, retomar o bem no caso de não pagamento torna-se um processo mais fácil. Além disso, por tratar-se de uma modalidade de aluguel, a retomada do bem não vem acompanhada de um ressarcimento como no CDC. E o leasing não paga IOF, por não ser considerada uma operação financeira. Por esses motivos, a taxa de juros do leasing , geralmente, é menor que a do CDC. No Brasil, ao término do pagamento das parcelas do leasing , o automóvel passa a ser do proprietário, que pode transferir o bem para o seu nome. Antes disso, as regras para adiantamento de parcelas (que também são fixas PRICE), ou de quitação do contrato são diferentes das do CDC, por vezes sem que sejam gerados descontos (não é uma operação financeira) ou gerando descontos praticamente insignificantes. Nos EUA, o leasing funciona quase exatamente como uma locação. Você adquire um percentual de um automóvel, muitas vezes sem entrada, pagando parcelas fixas durante um tempo e por uma quilometragem determinados. Ao final, você pode simplesmente devolver esse bem e adquirir outro, ou pagar o restante da dívida e ficar com o carro. As prestações, claro, são bem mais baixas, tendo em vista a maior racionalidade dessa operação. 5.2 Financiamento de imóveis Sonho de quase todos os brasileiros, a aquisição de uma casa própria é feita, na maioria das vezes, por meio de um financiamento imobiliário. No Brasil, a principal instituição

que atua nesse tipo de operação é a Caixa Econômica Federal, mas não é a única. Outros bancos privados também fazem financiamento imobiliário, além de algumas construtoras terem financiamento próprio. Financiar um imóvel não é como financiar um carro, já que se trata de um compromisso que, normalmente, é mais longo e mais custoso. Assim, antes de escolher um imóvel, é importante ir a uma instituição onde, ao traçar o seu perfil, o funcionário responsável pela área lhe dirá sua capacidade de crédito, ou seja, valor máximo do imóvel que você consegue financiar de acordo com as suas informações financeiras. Superada essa fase, vamos ao financiamento em si. A dívida contraída para a aquisição de um imóvel é de longo prazo, normalmente superior a dez anos. O pagamento de suas parcelas, denominado amortização, pode ocorrer, principalmente, por meio de dois sistemas: o SAC (Sistema de Amortização Constante) e a tabela PRICE (Sistema Francês de Amortização). I. SAC O sistema SAC, que é muito utilizado em financiamentos internacionais, financiamentos de longo prazo e no sistema financeiro de habitação brasileiro, possui as prestações decrescentes, compostas de duas partes: a amortização da dívida em si e o pagamento dos juros, que incluem as taxas e os impostos. A parte da amortização é calculada pela divisão simples do valor do bem a ser adquirido , pela quantidade de parcelas, enquanto os juros são atualizados a cada parcela de acordo com o saldo devedor. TABELA SAC

MÊS

PRESTAÇÃO AMORTIZAÇÃO

JUROS

0

SALDO DEVEDOR

R$8.000,00

1

R$960,00

R$800,00

R$160,00

R$7.200,00

2

R$944,00

R$800,00

R$144,00

R$6.400,00

3

R$928,00

R$800,00

R$128,00

R$5.600,00

4

R$912,00

R$800,00

R$112,00

R$4.800,00

5

R$896,00

R$800,00

R$96,00

R$4.000,00

6

R$880,00

R$800,00

R$80,00

R$3.200,00

7

R$864,00

R$800,00

R$64,00

R$2.400,00

8

R$848,00

R$800,00

R$48,00

R$1.600,00

9

R$832,00

R$800,00

R$32,00

R$800,00

10

R$816,00

R$800,00

R$16,00

R$0,00

R$8.880,00

R$880,00

Observe o exemplo acima. Uma dívida de R$ 8.000,00 foi contraída para ser paga pelo sistema SAC, em 10 meses, a uma taxa de 2% ao mês. A divisão do valor da dívida pela quantidade de tempo resultou na amortização mensal. Os juros são calculados, mensalmente, sobre o valor do saldo devedor. Ou seja: Prestação 1: 800 + 2% de 8.000 Prestação 2: 800 + 2% de (8.000 – amortização 1) Prestação 3: 800 + 2% de (7.200 – amortização 2) Prestação 4: 800 + 2% de (6.400 – amortização 3) E assim sucessivamente. E como o saldo devedor vai sendo amortizado, os juros incidem sobre um valor menor a cada mês, resultando em prestações decrescentes. II. PRICE – Sistema Francês de Amortização Sistema de amortização largamente utilizado, principalmente por permitir que as prestações sejam fixas durante a vigência do contrato. Porém, apesar das prestações terem o mesmo valor, sua composição muda a cada parcela. Nesse sistema, a amortização é crescente durante o período, diminuindo o saldo devedor a cada prestação. Assim, os juros incidem sobre saldos cada vez menores, gerando juros cada vez menores e amortizações cada vez maiores. TABELA PRICE

MÊS

PRESTAÇÃO AMORTIZAÇÃO

JUROS

0

SALDO DEVEDOR

R$8.000,00

1

R$890,61

R$730,61

R$160,00

R$7.269,39

2

R$890,61

R$745,22

R$145,39

R$6.524,17

3

R$890,61

R$760,13

R$130,48

R$5.764,04

4

R$890,61

R$775,33

R$115,28

R$4.988,71

5

R$890,61

R$790,84

R$99,77

R$4.197,88

6

R$890,61

R$806,65

R$83,96

R$3.391,22

7

R$890,61

R$822,79

R$67,82

R$2.568,44

8

R$890,61

R$839,24

R$51,37

R$1.729,20

9

R$890,61

R$856,03

R$34,58

R$873,17

10

R$890,61

R$873,17

R$17,46

R$0,00

R$8.906,10

R$906,12

Nesse exemplo, a mesma dívida de R$ 8.000,00 foi contraída para ser paga pelo sistema PRICE, nos mesmos 10 meses, a mesma taxa de 2% ao mês. Com o auxílio da HP, fazemos: 8.000

CHS

PV

10

n

2

i

PMT

Desse modo, chegamos ao valor da parcela, em fixos R$ 890,61. Sua composição, porém, muda mês a mês. Observe: Prestação 1: 2% de 8.000 +730,61 = 890,61 Prestação 2: 2% de (7.269,39 –745,22) + 760,13 = 890,61 Prestação 3: 2% de (6.524,17 – 760,13) + 775,33 = 890,61 Prestação 4: 2% de (5.764,04 – 775,33) +790,84 = 890,61 E assim sucessivamente. E, mais uma vez, como o saldo devedor vai sendo amortizado, os juros incidem sobre um valor menor a cada mês, resultando em amortizações crescentes sobre prestações constantes. Perceba que a segurança proporcionada pelas prestações fixas, iniciando com um valor menor de parcela, tem um custo. Nos valores finais, o financiamento via tabela PRICE tende a ter um valor de resultado maior do que a tabela SAC. Conclusão Nesse capítulo, buscamos fazer uma abordagem diferente da Matemática Financeira, menos afeita ao trabalho braçal e

mais ao entendimento dos principais componentes matemáticos utilizados no mercado. Você aprendeu um pouco mais sobre a composição da taxa de juros cobrada ao consumidor final, que, além da Selic, se baseia em outros parâmetros. Além disso, teve um conhecimento mais aprofundado sobre a taxa de juros e suas variações nos sistemas simples e compostos e seus impactos nos financiamentos. Aprendeu a utilizar a calculadora HP 12C como ferramenta no cálculo de juros compostos e, finalmente, pôde compreender ainda as principais modalidades de financiamento de automóveis e imóveis que são utilizados no Brasil.

Capítulo 8 Começando a Investir Atrás de toda grande fortuna, invariavelmente, está um histórico disciplinado e consistente de investimentos. Para nós, autores deste livro, investir não é nada mais do que alocar recursos - sejam estes, dinheiro, tempo, energia, ou quaisquer outros - na esperança de um benefício econômico no futuro. Neste capítulo, iremos compreender melhor o universo dos investimentos financeiros, isto é, aqueles que nos trazem benefícios monetários por meio de juros. Juntos, aprenderemos a calcular rentabilidades, balancear riscos e valorizar a diversificação, construindo as fundações necessárias para a sustentação de um grande patrimônio de investimentos. 1. Rentabilidade, Risco e Liquidez 1.1 Calculando a Rentabilidade de um Investimento

A rentabilidade é talvez o principal fator a ser analisado em um investimento. É em torno dela que se consideram riscos, volatilidade e liquidez. Basicamente, rentabilidade não é nada mais que uma medida de quanto dinheiro se ganhou (ou perdeu) em determinado investimento. Observemos o seguinte exemplo. Imagine que o Sr. Reginaldo, gerente de um grande banco, recomendou à Dona Esmeralda um investimento em título de capitalização. Dona Esmeralda, confiante em seu gerente, aceitou a sugestão, investindo R$ 10.000,00. No fim do primeiro ano, ao olhar a conta, verificou que agora possuía R$ 10.400,00, o que representa um ganho de R$ 400,00. Curiosa quanto à rentabilidade de seu investimento, dividiu a variação pelo montante inicial; nesse caso, R$ 400,00 por R$ 10.000,00, e obteve uma rentabilidade de 4% ao ano. Entretanto, deve-se atentar à regra mais importante no mundo dos investimentos: rentabilidade passada não é indicativo de rentabilidade futura. Isso quer dizer que não é porque um investimento rendeu 5% em um ano que ele renderá os mesmos 5% no ano seguinte. Dinheiro fácil e rentabilidade garantida não existem; sempre duvide de quem lhe disser o contrário. No mundo dos investimentos, você ouvirá falar de rentabilidade a todo tempo. Após alguma prática, garantimos, calculá-la irá se tornar algo muito natural. 1.2 O que é Volatilidade?  Outro termo muito usado no mundo financeiro é “volatilidade”. Simplificando o conceito, representa uma medida de quanto a rentabilidade de um investimento variou ao longo do tempo. Pense na Bolsa de Valores, por

exemplo. Em um dia, uma empresa pode subir 5%; em outro, cair 8%. Dessa forma, consideramos a Bolsa de Valores como um investimento de alta volatilidade, isto é, cuja rentabilidade oscila muito ao longo do tempo. De modo oposto, pense agora no exemplo de um título do Governo Federal (explicaremos sobre esse e outros títulos mais a frente) com rentabilidade anual de 6%. Independentemente do tempo ou do cenário econômico brasileiro, você irá receber os mesmos 6% ao ano (a menos que o Governo Federal quebre). Por isso, dizemos que esse é um investimento de baixíssima volatilidade, ou seja, sua rentabilidade não varia ao longo do tempo. 1.3 A Liquidez Provavelmente, você já percebeu que pessoas ligadas ao mundo das finanças adoram usar palavras complicadas. Liquidez é uma delas. Entretanto, apesar do nome, esse conceito é extremamente simples. Diz respeito à facilidade com que certo investimento pode ser resgatado. Vamos entender isso melhor com um exemplo. Suponhamos que Dona Esmeralda comprou uma debênture (você entenderá melhor depois) com vencimento em 2023. Isso significa que ela só poderá resgatar o dinheiro do investimento em 2023. Por isso, podemos dizer que a debênture comprada por Dona Esmeralda possui baixa liquidez, ou seja, se Dona Esmeralda quiser seu dinheiro de volta hoje, não irá consegui-lo. Opostamente, pense em uma ação da Petrobras na Bolsa de Valores de São Paulo. A qualquer momento, é possível vendê-la e, considerando que a Petrobras é um ativo muito negociado na Bolsa, a venda provavelmente aconteceria rápido. Por isso, dizemos que essas ações possuem alta liquidez.

Mas você pode estar se perguntando: por que a liquidez é tão importante? Afinal, se uma pessoa se compromete a um investimento, é provável que ela não precise desse dinheiro em um futuro próximo, não é mesmo? Bem, nem sempre é assim. A vida é cheia de imprevistos e, por isso, é fundamental manter alguns investimentos com alta liquidez. Em caso de necessidade, deles virá o dinheiro para pagar quaisquer contingências. 2. Estratégias de Investimentos 2.1 Reserva de Emergência Todo investidor deve possuir em seu portfólio uma reserva de emergência, isto é, algum dinheiro alocado em investimentos de baixa volatilidade e alta liquidez . Por quê? Porque a vida é cheia de imprevistos, e é fundamental ter dinheiro para situações emergenciais. Em geral, sugere-se que o tamanho da reserva de emergência seja equivalente ao que você gastaria em 6 meses. Dessa forma, se você ficar desempregado ou impossibilitado de trabalhar, terá condições de manter seu padrão de vida enquanto se recupera ou procura um novo emprego. Para calcular quanto dinheiro seria necessário em sua reserva de emergência, basta multiplicar o valor que você gasta mensalmente por 6. Logo, uma pessoa que gasta R$ 5.000,00 por mês, por exemplo, deverá ter uma reserva de emergência de R$ 30.000,00. Mas talvez você esteja se perguntando por que a reserva de emergência deve estar alocada em investimentos de baixa volatilidade e alta liquidez. Bem, vamos por partes. Primeiro, a baixa volatilidade é necessária porque, se for necessário resgatar o investimento a qualquer momento, é importante que ele esteja em um valor razoável comparado

ao que foi investido. Pense em uma reserva de emergência na Bolsa de Valores, por exemplo. Por causa da alta volatilidade desse tipo de investimento, é possível que haja tempos ruins, em que seu dinheiro se desvalorize significativamente. Como é impossível saber com certeza se uma ação irá se desempenhar bem ou mal no futuro, e por causa da alta volatilidade do mercado acionário, não é recomendado construir uma reserva de emergência na Bolsa de Valores. Isso nos leva à primeira lição: reservas de emergência requerem segurança de rentabilidade. Por último, vamos à alta liquidez. Imagine que Dona Esmeralda tenha comprado a debênture que mencionamos anteriormente como reserva de emergência. Nesse caso, se ela precisasse do dinheiro em algum imprevisto, não conseguiria resgatá-lo. Portanto, a debênture não é uma boa reserva de emergência. Isso nos leva à segunda lição: reservas de emergência requerem possibilidade de rápido resgate. 2.2 A Diversificação Talvez você já tenha recebido alguma recomendação para “nunca colocar todos os ovos na mesma cesta”. Esse provérbio ilustra perfeitamente o conceito de diversificação. Essencialmente, quando investimos, nunca temos certezas, e por isso é importante ter uma variedade de ativos. Assim, se um ou dois desses ativos for mal em determinado período, não estaremos condenados à baixa rentabilidade. Suponha que Dona Esmeralda tenha sido convencida pelo seu gerente, Sr. Reginaldo, a colocar todo seu dinheiro num Certificado de Operações Estruturadas [7] . Em determinado ano, esse ativo caiu 20% e, com ele, foi embora 20% do dinheiro que a Dona tinha poupado ao longo do tempo!

Em outro cenário, Dona Rosália, mais experiente e conhecedora da diversificação, investiu apenas 10% do seu patrimônio no Certificado de Operações Estruturadas (COE), aplicando os outros 90% em uma série de outros ativos que rentabilizaram 9% no ano. Nesse cenário, a rentabilidade do patrimônio de Dona Rosália será calculada pela seguinte média ponderada: (Rentabilidade do Investimento 1 * Peso 1) + (Rentabilidade do Investimento 2 * Peso 2) + ... (-20%) * 10%  +    9% * 90% -2%   +  8,1% = 6,1% Nesse caso, o conhecimento de diversificação proporcionou à Dona Rosália uma rentabilidade muito maior que a de Dona Esmeralda. Isso mostra que, independentemente da confiança que você tenha em um determinado ativo, nunca coloque todo o seu dinheiro nele - você pode estar enganado. 2.3 O Equilíbrio entre Segurança e Risco Todo bom investidor sabe que é necessário achar um meio termo entre segurança e risco para fazer seus investimentos. Para que você entenda isso melhor, é importante lembrar que investimentos mais arriscados podem trazer rentabilidades mais altas, mas também podem trazer rentabilidades muito mais baixas do que investimentos mais seguros (é justamente esse o risco). Como não existe rentabilidade garantida, correr riscos pode tanto dar muito certo quanto dar muito errado.

Pense na Bolsa de Valores, por exemplo. No curto prazo, dizemos que se trata de um investimento de alto risco, porque embora possa gerar altíssimos retornos, é também possível que gere retornos negativos. No longo prazo, esse risco diminui, já que a tendência é que a maioria das boas empresas cresçam seus lucros ao longo do tempo. Diz um sábio que “estar na Bolsa é arriscado no curto prazo, mas que não estar na Bolsa é arriscado no longo prazo”. Não é que se deva investir apenas na Bolsa ou em investimentos mais seguros - é fundamental achar um ponto de equilíbrio entre os dois. Mais importante que isso é entender o quanto você está disposto a arriscar; essa é uma característica pessoal e que depende de uma série de fatores. Sabemos que existem diferentes perfis de investidor, e é sobre isso que iremos tratar no próximo tópico.

3. Perfis de Investidor Como já sabemos, é importante balancear segurança e risco. Mas até que ponto devemos arriscar? Bem, isso vai depender de qual é seu perfil de investidor. Por isso, sempre que abrir uma conta numa corretora de investimentos, ela indicará que você responda a um questionário de suitability , isto é, um questionário de identificação de perfil. Em geral, consideram-se 3 perfis de investidor: I. Conservador: é aquele com menor disposição a riscos. Geralmente, tem preferência pela renda fixa (explicaremos melhor mais à frente), investindo em títulos com baixa volatilidade e alta liquidez. Está disposto a perder um pouco de rentabilidade por maior segurança.

II. Moderado: equilibra segurança e risco. Geralmente, possui a maior parte da sua carteira em renda fixa, com uma pequena parcela em renda variável. Possui certa tolerância à liquidez baixa e à volatilidade elevada. Tenta equilibrar uma boa rentabilidade a um nível grande de segurança. III. Agressivo (ou, como preferimos chamá-lo, arrojado): possui alta disposição a riscos. Geralmente, possui uma porcentagem relevante da carteira alocada em renda variável. Não sente muita dor no estômago com volatilidade alta e liquidez baixa. Busca maximizar os retornos a longo prazo, mesmo que seja necessário abdicar da segurança. Vale destacar que não há perfis certos ou errados - tudo irá depender das suas condições específicas. No entanto, enquanto você ainda está aprendendo sobre investimentos, não recomendamos tomar muitos riscos. Afinal, lembre-se: para o investidor iniciante, a linha entre o arrojado e o imprudente é bastante tênue. 4. Índices e Benchmarks Para facilitar a análise dos investidores, é recorrente o uso de índices benchmarks na hora de calcular a rentabilidade de um investimento. Benchmarks não são nada mais que parâmetros que utilizamos quando vamos falar de investimentos. A seguir, vamos conhecer melhor alguns deles e como se adequam à rentabilidade de diversos investimentos. I. Taxa Selic e CDI Como vimos no capítulo 7, a cada 45 dias, o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne para definir a taxa básica de juros do Brasil, também conhecida como Taxa

Selic. A Selic é a taxa-mestra da economia brasileira: ela influencia todas as outras taxas de juros do país, sejam elas de empréstimos, de financiamentos ou de aplicações financeiras. Uma taxa que anda muito próxima à Selic é o CDI, isto é, o Certificado de Depósito Interbancário. Só por uma questão de referência, em maio de 2019, a Selic era 6,5% ao ano e o CDI 6,4%. A diferença é explicada porque a Selic é a taxa de juros aplicada aos títulos públicos (emitidos pelo governo), e o CDI é a taxa média de juros aplicada aos títulos da iniciativa privada. No entanto, ambas essas taxas caminham juntas, e é impossível entender uma delas sem entender a outra. Esse tópico é importante porque o CDI é o principal benchmark utilizado em aplicações financeiras. É possível que você, ao se deparar com um investimento, descubra que sua rentabilidade é “110% do CDI”. Ao olhar isso, você deve pensar “vou ganhar 10% a mais do que eu ganharia nos investimentos mais seguros do país (títulos públicos e de grandes bancos)”. A partir desse raciocínio, você pode avaliar se correr o risco adicional vale a pena. Também poderíamos falar que a rentabilidade seria de 7,04% (considerando o valor do CDI de 6,4%), mas isso não seria nem de perto tão fácil de comparar quanto quando dizemos “110% do CDI”. É bem mais prático falar na língua dos benchmarks. II. IPCA O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), como vimos, é a medida oficial de inflação no Brasil. Todos os anos, o IBGE calcula o aumento de preço de uma cesta de bens pré-definida, estimando, assim, a alta geral dos preços na economia brasileira.

Em muitos investimentos, é útil utilizar o IPCA como benchmark porque ele indica se estamos ganhando ou perdendo poder de compra ao longo do tempo. É possível, por exemplo, encontrar em NTN-Bs (espécie de título público) uma rentabilidade de “IPCA + 4,5% ao ano”. Isso indica que, em um ano, você aumentará em 4,5% seu poder de compra. NTN-Bs podem ser bons investimentos por serem protegidos contra a inflação. Opostamente, se você se deparar com um investimento que rende menos que o IPCA, não o faça. Você perderá seu poder de compra ao longo do tempo. Pode até parecer que você está ganhando dinheiro, mas esse ganho não será suficiente para cobrir o aumento geral de preços na economia. Como resultado, você irá conseguir comprar cada vez menos itens ao longo do tempo. III Ibovespa O Ibovespa (IBOV) é o índice que mede a oscilação da bolsa de valores de São Paulo, a B3. Ele é composto por uma carteira fictícia que inclui as maiores ações listadas na B3, dando a cada empresa um determinado peso, de acordo com sua representatividade na Bolsa de Valores. Vamos pensar em um exemplo. Em janeiro de 2020, a Petrobras (código PETR na Bolsa) era a empresa de maior valor da Bolsa de Valores brasileira. Enquanto uma valorização da Petrobras influencia bastante o resultado do Ibovespa, uma valorização de uma empresa pequena não o influencia tanto assim. Comumente, utilizamos o Ibovespa apenas para avaliar investimentos em ações. Olhando para um investimento que rendeu 50% do Ibovespa, por exemplo, podemos pensar: bem, era melhor ter seguido apenas a carteira genérica da Bolsa, e não valia a pena ter feito esse

investimento em ações. Quando escolhemos ações específicas, é porque acreditamos na capacidade delas de superar o IBOV ao longo do tempo. Caso contrário, seria melhor replicar a carteira do IBOV, então teríamos muito menos trabalho.

Conclusão Neste capítulo, você construiu as bases sólidas que sustentam grandes investidores. Estudou os conceitos de volatilidade, rentabilidade e liquidez, entendendo seus conflitos e implicações. Aprendeu a importância da reserva de emergência e da diversificação e refletiu a respeito do seu perfil de investidor, além de examinar o quanto de risco vale a pena tomar para buscar altos retornos. Finalmente, você entendeu o que são os índices e benchmarks , comparando diferentes rentabilidades e analisando seus custos e benefícios. No próximo capítulo, começaremos a colocar todos esses conceitos em prática. Iremos entender quais são os tipos de investimentos disponíveis, quais suas vantagens e desvantagens, como decidir aplicar seu dinheiro ou não. Não será uma jornada fácil, mas você está agora munido de todas as ferramentas para enfrentá-la.

Capítulo 9

A Renda Fixa A renda fixa é uma modalidade muito importante para a manutenção de um portfólio sustentável de investimentos. Ela inclui vários títulos e possibilidades, os quais exploraremos em mais detalhes neste capítulo. Antes de tudo, pedimos que você analise todos os investimentos aqui apresentados com a mentalidade da diversidade, isto é, refletindo sobre os prós e os contras de cada um e lembrando-se de nunca colocar todos os ovos na mesma cesta. Dito isso, comecemos! 1. Conceito Chamamos de renda fixa todos os investimentos nos quais é possível prever ou estimar a rentabilidade futura com relativa precisão. Dentro dessa categoria, é possível encontrar tanto títulos com rentabilidades definidas por percentuais mensais (e.g. 0,8% ao mês) quanto títulos com rentabilidades indexadas a algum benchmark (e.g. 110% do CDI). Por ter uma rentabilidade previsível, dizemos que a renda fixa é um investimento relativamente seguro. Geralmente, ao começar a investir, fazemos mais investimentos em renda fixa do que em outras modalidades, já que não é aconselhável para um iniciante correr grandes riscos. Além disso, antes de partir para outras modalidades de investimento, é importante formar uma reserva de emergência na renda fixa - ela estará lá sempre que nós precisarmos. 2. Renda Fixa Prefixada x Renda Fixa Pós-Fixada

Em geral, dividimos os títulos de renda fixa em dois tipos principais: prefixados e pós-fixados. Os títulos prefixados são aqueles que possuem uma rentabilidade acordada na compra e que não variam com os acontecimentos do mercado. Se eu compro um título que rende 8% ao ano, por exemplo, trata-se de um título prefixado - ele renderá os mesmos 8% independente de quaisquer oscilações externas. Geralmente, os títulos prefixados são comprados por aqueles que imaginam que a Selic vai cair no futuro. Isso porque, quando a Selic cai, os juros de todos os outros títulos também caem. Ou seja, o pensamento do investidor é: vou garantir minha rentabilidade agora que os juros estão altos e, quando eles caírem, não serei afetado. Outro tipo de renda fixa é o pós-fixado, isto é, aquele cuja rentabilidade está indexada a um benchmark , assim oscilando ao longo do tempo.  Imagine que eu comprei um CDB (iremos conhecê-lo posteriormente) que rende 115% do CDI, por exemplo. Se o CDI variar, a rentabilidade do CDB também irá variar. Por isso, trata-se de um título pósfixado: a rentabilidade não é definida com extrema precisão na hora da compra. Mas agora você pode estar se perguntando: mas se eu não consigo estimar uma rentabilidade precisa, por que então é renda fixa? Bem, é uma ótima pergunta. Chamamos de renda fixa porque a rentabilidade ainda é definida, mesmo que indexada a um indicador variável. Nos títulos de renda fixa pós-fixados, pelo menos nós sabemos que não vamos perder dinheiro, e que estaremos sempre no mesmo patamar do CDI. Em títulos de renda variável (assunto do próximo capítulo), a rentabilidade futura é uma total incógnita. Não sabemos sequer se vamos ganhar ou perder dinheiro. Geralmente, os títulos pós-fixados são comprados por aqueles que acreditam que a Selic vai subir no futuro. A mentalidade desses investidores é fundamentada na seguinte suposição:

se o CDI subir, a minha rentabilidade (115% do CDI) também irá subir. 3. Os Investimentos da Renda Fixa Há duas vertentes principais de títulos possíveis de serem comprados na renda fixa: os públicos e os privados. Em seguida, iremos compreender melhor a variedade de ambas essas vertentes. 3.1 Títulos Públicos Títulos públicos são aqueles emitidos pelo Tesouro Nacional, órgão federal subordinado ao Ministério da Economia. Quando compramos títulos públicos, estamos emprestando dinheiro ao Governo Federal, que irá nos devolver esse dinheiro no futuro acrescido de juros. Podem ser ótimos investimentos, já que contam com a segurança do Estado Brasileiro (chance baixa de receber um calote). Vamos conhecê-los. I. Poupança A poupança é, talvez, o investimento mais conhecido do Brasil. É simples de entender, fácil de aplicar e bastante segura. A sua rentabilidade é calculada dependendo da Selic. Se a Selic estiver abaixo de 8,5%, a poupança irá render 70% dela. Se a taxa básica de juros for 6,5% ao ano, por exemplo, a poupança irá render 70% disso, ou seja, 4,55%. Por outro lado, se a Selic estiver acima de 8,5%, a poupança irá render 0,5% ao mês + Taxa Referencial (também popularmente conhecida como Taxa Ridícula, é geralmente muito próxima de 0). No entanto, vale lembrar que a poupança ainda é um investimento pré-fixado. Isso porque, quando o investidor compra a poupança, ele sabe exatamente o rendimento que

terá (se eu contratei a poupança quando a Selic estava 6,5%, por exemplo, receberei sempre os mesmos 4,55% por ano, independentemente de a Selic subir ou descer durante o período que mantiver o investimento). Atualmente, porém, a poupança não é vista como um bom investimento. Isso porque a sua rentabilidade é muito baixa, e podemos achar títulos de segurança similar que rendem significativamente mais. Vale a pena pensar nisso olhando os investimentos a seguir. II. Tesouro Prefixado O Tesouro Direto Prefixado é um dos investimentos mais populares do Brasil. É seguro e possui rentabilidade superior à poupança. Divide-se em dois tipos de títulos: as LTNs e as NTN-Fs.  Ambos os tipos são muito similares, distinguindo-se apenas pela liquidez. Mais especificamente, as LTNs só possuem liquidez no vencimento, enquanto as NTN-Fs oferecem liquidez semestral. Vamos entender isso melhor com um exemplo. Imagine que o Sr. Geraldo comprou R$ 10.000,00 de uma LTN com vencimento em maio de 2023 e rentabilidade de 9,82% ao ano. Todos os dias (a rentabilidade do Tesouro Prefixado é diária), Sr. Geraldo poderá ver seu dinheiro rendendo. Ao final de um ano, terá acumulado R$ 10.982,00. No entanto, esse valor permanecerá investido. Se ele quiser resgatá-lo antes do vencimento (maio de 2023), a única solução será vender os títulos e receber o dinheiro todo.  Ao mesmo tempo, Sr. Fernando comprou R$ 10.000,00 de uma NTN-F com vencimento em maio de 2023 e rentabilidade de 9,68% ao ano. Todos os dias, assim como

Sr. Geraldo, Sr. Fernando poderá ver seu dinheiro rendendo. No entanto, no caso das NTN-Fs, receberá juros a cada 6 meses. Ou seja, a cada seis meses, receberá o montante equivalente a um semestre de um ano a 9,68%.  Por que então eu investiria numa LTN? Não seria melhor simplesmente investir numa NTN-F e receber dinheiro a cada 6 meses? Bem, lembre-se que, geralmente, as rentabilidades das NTN-Fs são mais baixas que as das LTNs. A liquidez é boa, mas ela não vem sem um custo. Portanto, cabe a você considerar: estou disposto a abdicar desse dinheiro semestral por um pouco mais de rentabilidade?

III. Tesouro Pós-Fixado O Tesouro Pós-Fixado é uma das melhores modalidades de investimento para o longo prazo. Isso porque eles se adaptam às condições do mercado, sendo sempre indexados a um benchmark como a Selic ou o IPCA. Dividem-se em dois tipos de títulos: as LFTs e as NTN-Bs.  As LFTs, também conhecidas como Tesouro Selic, possuem rentabilidade muito parecida com a taxa de juros básica da economia brasileira, a Selic.  São bastante seguras, fáceis de entender e apresentam volatilidade baixa - ótimas alternativas para os investidores que estão deixando a poupança. Além das LFTs, há as NTN-Bs, bastante atrativas entre os investidores mais experientes. Isso porque apresentam rendimento indexado ao IPCA, funcionando como ótimas protetoras contra oscilações na taxa de inflação. Em outras palavras, ao comprar um título desta modalidade,

garantimos a evolução de nosso poder de compra ao longo do tempo. Uma NTN-B que rende IPCA + 4,5%, por exemplo, oferece ao investidor um ganho anual de 4,5% em seu poder de compra.  Há dois tipos principais de NTN-Bs: as NTN-Bs principais e as NTN-Bs com juros semestrais. Elas são bastante parecidas, com a diferença de que o segundo tipo paga os juros semestralmente para os investidores, enquanto o primeiro só paga os juros no vencimento. Assim como vimos anteriormente com as LTNs e NTN-Fs, os juros semestrais vêm ao custo de uma rentabilidade um pouco mais baixa não é diferente nas NTN-Bs. 3.2 Títulos Privados De forma análoga aos títulos públicos, emitidos pelo Tesouro Nacional, também existem os títulos privados, emitidos por empresas e instituições financeiras. Aqui, analisaremos três tipos: os CDBs, as Debêntures e as Letras de Câmbio. I. Certificados de Depósito Bancário (CDBs) CDBs são títulos de renda fixa emitidos por instituições financeiras. Neles, podemos emprestar dinheiro a essas organizações, que irão usá-lo para desenvolver suas atividades e depois devolvê-lo a nós com o pagamento de juros.  E como os bancos ganham dinheiro com isso? A resposta é simples. Eles recebem o seu dinheiro emprestado e o emprestam aos clientes do banco com uma taxa de juros muito mais alta. A diferença entre essas duas taxas de juros, a que você empresta ao banco e a que o banco empresta a terceiros, é conhecida como spread bancário, como já vimos em capítulos anteriores.

CDBs podem ser tanto prefixados quanto pós-fixados. Enquanto os prefixados geralmente possuem uma taxa fixa (e.g. 9% ao ano), os pós-fixados são indexados a um benchmark (e.g. 110% do CDI). Ainda podem ser híbridos, combinando as duas modalidades (e.g. IPCA + 4,5%). Outro ponto a observar nesses investimentos é a liquidez. Para entender isso melhor, é importante ficar atento a duas expressões: prazo de vencimento e prazo de carência. O prazo de vencimento é o dia em que se expira um CDB. Nele, você receberá automaticamente todo o dinheiro aplicado mais o montante pago em juros. Já o prazo de carência é o tempo (contado a partir da aplicação) em que você ainda não pode resgatar esse título. A partir do fim do período de carência, o título pode ser resgatado a qualquer momento pelo investidor. Como exemplo, imagine um CDB com vencimento em maio/2025 e prazo de carência de 1 ano. Se você fizer um aporte nesse título no dia 01/janeiro/2021, poderá resgatar seu dinheiro apenas no dia 01/janeiro/2022 (fim do prazo de carência). Se você decidir mantê-lo, receberá seu dinheiro e juros integralmente no dia acordado em maio de 2025. O principal risco de um CDB é o risco de crédito. O que isso quer dizer? Ao investir em um título desses, você está confiando que a instituição financeira será capaz de retornar seu dinheiro no prazo acordado. Se o banco falir antes do vencimento, por exemplo, você possivelmente terá dificuldades para receber seu dinheiro de volta. Por isso, um alerta: pode ser muito empolgante olhar para um CDB de um banco pequeno com uma rentabilidade elevada, mas se lembre que a rentabilidade é mais alta justamente pelo maior risco de crédito desse banco. Dessa forma, bancos grandes, com menor risco de não devolver seu dinheiro, pagarão rentabilidades mais baixas em seus CDBs. 

No entanto, vale destacar que, para amenizar esse risco de crédito, há uma instituição no Brasil conhecida como FGC (Fundo Garantidor de Crédito). O FGC, como vimos anteriormente, é um fundo formado por várias instituições financeiras privadas e que garante crédito em caso de um banco não conseguir pagar seus credores. Em investimentos de até 250 mil reais, o FGC assegura a devolução. Dessa forma, você pode ficar tranquilo em investir em CDBs de bancos menores (e com maior risco de crédito) se seu investimento for abaixo de R$ 250.000. Mesmo que esse banco não consiga pagá-lo de volta, o FGC estará logo ali para lhe salvar. II. Debêntures Debêntures são títulos de renda fixa em que você pode emprestar dinheiro a empresas, que irão usá-lo para se desenvolver e posteriormente devolvê-lo com o pagamento de juros. Assim como os CDBs, as debêntures podem ser tanto prefixadas quanto pós-fixadas. Nas prefixadas, a rentabilidade é fixa, e nas pós-fixadas é indexada a um benchmark . Ainda podem ser híbridas, combinando uma parte prefixada e outra pós-fixada. Uma coisa importante a mencionar sobre as debêntures é que algumas delas, conhecidas como debêntures incentivadas (geralmente de empresas de infraestrutura), são isentas de Imposto de Renda (IR). Todos os investimentos que falamos anteriormente envolvem pagamento de IR em uma tabela regressiva, como pode ser visto na imagem abaixo. Já as debêntures incentivadas, por contribuírem para um setor de interesse público (infraestrutura), recebem um incentivo do governo e não possuem impostos. Portanto, sempre considere isso na hora

de escolher entre uma debênture incentivada e outros títulos - a isenção de imposto pode fazer uma grande diferença. Tempo do Investimento Alíquota de IR

Até 180 dias

22,5%

De 181 até 360 dias

20,0%

De 361 até 720 dias

17,5%

Acima de 720 dias

15,0%

Outro ponto a ressaltar é que elas geralmente possuem prazos mais longos de, no mínimo, 2 anos. Também estão sujeitas a risco de crédito, ou seja, uma empresa pode não conseguir pagar o valor devido. Por isso, tome cuidado, e só escolha debêntures de empresas em que você confia, mesmo que elas paguem um pouco menos do que empresas não muito confiáveis. Ao contrário dos CDBs, as debêntures não possuem cobertura do FGC. Se a empresa falir, você irá perder todo o seu dinheiro. Por fim, atenção: você pode se deparar com os termos “simples” e “conversível” ao investir em debêntures. Enquanto as debêntures conversíveis podem ser convertidas em ações da empresa, as simples não podem. Se você acreditar que a empresa irá evoluir significativamente nos próximos anos, pode fazer sentido investir numa debênture conversível.

III. Letras de Crédito As letras de crédito, divididas em LCIs e LCAs, são títulos de renda fixa emitidos por instituições financeiras. Os recursos que os bancos levantam com esses títulos são usados para financiar o setor imobiliário, no caso das LCIs, ou para o agronegócio, no caso das LCAs. As empresas beneficiadas irão usar esse dinheiro emprestado e depois devolvê-lo aos bancos e, consequentemente, aos investidores, com pagamento de juros. As letras de crédito podem ser tanto prefixadas, possuindo uma rentabilidade fixa (e.g. 9% ao ano), como pós-fixadas, possuindo rentabilidade indexada a um benchmark (e.g. 95% do CDI).  Também vale ressaltar que elas são investimentos de médio prazo e não possuem liquidez a qualquer momento, geralmente apresentando um prazo de carência. Dessa forma, você só poderá resgatar seu dinheiro após o fim da carência, que, via de regra, é de 90 dias. Uma grande vantagem das letras de crédito é que elas são isentas de imposto de renda, assim como as debêntures incentivadas. Dessa forma, é sempre importante ficar atento e lembrar, toda vez que se deparar com uma letra de crédito, que suas rentabilidades podem parecer mais baixas se comparadas a outros títulos, mas isso se deve à ausência de IR. Quando o efeito do imposto é bem analisado, esses títulos podem ser boas opções para se investir. Além disso, ao contrário das debêntures, as letras de crédito possuem cobertura do FGC, isto é, você tem sua aplicação garantida em investimentos abaixo de 250 mil reais.

Portanto, o risco de crédito não é significativo para pequenos investidores.  Conclusão Neste capítulo, você pôde conhecer mais sobre uma modalidade de investimento muito importante: a renda fixa. Simples de entender, com rentabilidades constantes e riscos relativamente baixos, ela é a modalidade mais indicada para investidores iniciantes. Independentemente de seu apetite a riscos, é recomendado que você mantenha uma parte do seu patrimônio na renda fixa. Esperamos que, da próxima vez que se deparar com investimentos de renda fixa, sejam eles pré ou pós-fixados, públicos ou privados, você seja capaz de fazer análises críticas e tomar decisões conscientes, pautadas nos princípios de liquidez, rentabilidade e expectativas macroeconômicas. Bons investimentos!

Capítulo 10 A Renda Variável A renda variável é uma modalidade de investimentos fundamental para sustentar boas rentabilidades no longo prazo. Cheia de oportunidades, ela inclui investimentos como ações, câmbio, fundos imobiliários, COEs e derivativos. Neste capítulo, você terá a oportunidade de conhecer melhor o principal deles: as ações. Mais uma vez, pedimos que você mantenha a mentalidade da diversidade, ou seja, sempre lembrando que é com variadas apostas que um investidor consegue manter retornos elevados no longo prazo. Dito isso, vamos à renda variável!

1. Conceito Chamamos de renda variável aqueles investimentos cuja rentabilidade futura não pode ser estimada com precisão. Em outras palavras, quando aplicamos em ativos de renda variável, nunca podemos ter certeza se aquele ativo irá se valorizar ou se depreciar ao longo do tempo. Por este motivo, geralmente dizemos que os investimentos em renda variável são muito mais arriscados (pelo menos no curto prazo) do que os em renda fixa.  Além disso, os ativos de renda variável geralmente possuem volatilidades elevadas. Uma grande parte deles, como as ações, fundos imobiliários e commodities, são cotados diariamente, e podem apresentar mudanças bruscas de valor simplesmente por movimentos especulatórios ou mudanças no ânimo do mercado. Por isso, é importante tomar cuidado: nunca invista em renda variável o dinheiro que você poderá precisar no curto ou médio prazo. Uma ação pode valer, daqui a uma semana, metade do que vale hoje. Dessa forma, antes de partir para investimentos em renda variável, assegure que você já possui uma boa reserva de emergência na renda fixa. Agora, é possível que você esteja se perguntando: por que, então, alguém investiria em renda variável? A resposta é simples. Ao mesmo tempo em que ela apresenta riscos e volatilidades elevados, também apresenta potenciais de retorno altíssimos, não encontrados na renda fixa. Embora não seja uma modalidade para amadores ou aqueles muito preocupados com o dinheiro de amanhã, a renda variável é um mar de oportunidades - neste capítulo, aprenderemos a desbravá-las. 2. Promessas e Opcionalidade

Antes de começarmos a estudar as ações, um alerta importante: cuidado com as promessas de dinheiro fácil. Ao adentrar o mundo da renda variável, você provavelmente irá se deparar com uma série de messias charlatões traders de Instagram, coaches de investimentos, recrutadores de pirâmides financeiras, entre outros. Embora não seja possível generalizar que todos esses profissionais são enganadores, é possível oferecer uma máxima: as únicas pessoas que ganham dinheiro fácil são aquelas que vendem dinheiro fácil para as outras. Nunca aceite promessas de “ganhos exponenciais com baixo risco” sem antes ter um olhar bastante cético. Também damos um conselho: no seu início, jamais considere investir em ativos como COEs (Certificados de Operações Estruturadas) e derivativos. Esses são produtos altamente complexos, e geralmente possuem uma série de emboscadas e taxas escondidas. Portanto, de amigo para amigo, pedimos que fique longe deles. Como regra de bolso, tenha sempre em mente o conceito de opcionalidade, apresentado por Nicholas Nassim Taleb em seu livro “Antifrágil”: oportunidades com ganho potencial ilimitado e perda potencial limitada. O que isso quer dizer? Vamos entender melhor com um exemplo. Pense que um investidor está considerando investir numa startup promissora. Se o investimento der certo, os ganhos são ilimitados, e o capital pode facilmente se multiplicar por dezenas de vezes; se der errado, entretanto, a perda financeira estará limitada ao dinheiro investido. Isso é a opcionalidade. Qual a sua vantagem? Ao investir em ativos com opcionalidade, você não precisará estar certo na maioria das vezes - basta estar certo algumas poucas vezes, e os ganhos desses acertos irão mais que cobrir as inúmeras vezes em que você esteve errado. 

3. Ações Ações são talvez o investimento mais conhecido de renda variável. Em teoria, são muito simples de entender: ações não são nada mais do que pequenas fatias de uma empresa. Ao comprar uma ação, portanto, você está se tornando sócio da empresa, e assim passando a integrar sua distribuição de lucros. Se a geração de caixa da empresa evoluir ao longo do tempo, a tendência é que a ação da empresa também se valorize. Entretanto, na prática, ações são um pouco mais complicadas do que na teoria. Muitas vezes os seus preços não refletem a qualidade dos fluxos de caixa de uma empresa. Isso acontece porque, na maior parte do tempo, os preços são afetados por especulações ou ruídos de mercado, apresentando distorções em relação ao seu valor real: empresas estão frequentemente mais baratas ou mais caras do que realmente valem. E é nessas distorções que há possibilidade de ganhar dinheiro: se o mercado está precificando uma empresa mal, a tendência é que, mais cedo ou mais tarde, ele evolua para corrigir essas distorções, e, portanto, para dar dinheiro àqueles que já entendiam e apostavam no valor verdadeiro da empresa. Entendemos que isso pode parecer um pouco abstrato agora, mas com a prática você irá entender cada vez melhor o funcionamento dos mercados de capitais. A seguir, tentaremos fazer um resumo dos pontos mais importantes a se considerar ao comprar (ou vender) uma ação.

3.1 Ações Ordinárias x Ações Preferenciais Há dois tipos principais de ações de uma empresa: as ordinárias (ON) e as preferenciais (PN). Qual a diferença entre elas duas? Vamos entender melhor. As ações ordinárias são aquelas que dão ao acionista direito a participação nas decisões da companhia. Isso quer dizer que, ao comprar uma ação ordinária, você terá direito a votar na Assembleia Geral da empresa. Entretanto, tenha em mente que o poder de voto é proporcional à quantidade de ações ordinárias, e que os pequenos acionistas ordinários acabam não exercendo muita influência na companhia, já que há tantos acionistas maiores. As ações preferenciais, por outro lado, não oferecem direito a voto, mas sim preferência na hora da empresa distribuir dividendos (lucro) aos seus acionistas. Dessa forma, os acionistas preferenciais sempre são os primeiros a receber parcelas de lucro da empresa. Geralmente, essas são as ações com maior liquidez, isto é, as com maior negociação no mercado de capitais. 3.2 Growth ou Value? Há duas escolas principais de investimentos em ações: o growth investing e o value investing. A diferença entre elas é bem simples. Enquanto um investidor de growth busca investir em empresas com crescimentos de lucro expressivos ao longo do tempo, um investidor de value tende a priorizar empresas com bons fundamentos (entenderemos melhor o que eles são em seguida) e que estão com preços descontados no mercado. Neste capítulo, iremos focar nos princípios do investimento de valor, o value investing. Iremos seguir os ensinamentos de nomes como Benjamin Graham e Warren Buffett, os mais

famosos representantes da escola de value. Entendemos que essa é a melhor escola para construir uma base no mercado de capitais, e também a escola com resultados mais expressivos no longo prazo. É provável, por exemplo, que Warren Buffett seja o investidor mais bem-sucedido de toda a história. Entretanto, é importante entender que essas duas escolas não são mutuamente excludentes, isto é, é possível adotar princípios tanto de growth quanto de value investing ao fazer investimentos. Por isso, também recomendamos que você pesquise sobre nomes como John Templeton e Philip Fisher, dois dos principais nomes do growth investing. No final, quanto mais informações e perspectivas, mais robusta será sua estratégia de investimentos, e maiores tendem a ser seus retornos no longo prazo. 3.3 Boas Empresas a Preços Justos x Más Empresas a Preços Baixos O megainvestidor americano Warren Buffett disse certa vez que “é muito melhor comprar uma ótima empresa a um preço justo do que uma empresa justa a um preço ótimo”. Concordamos com ele. Ao analisar empresas, você irá muitas vezes se deparar com empresas não tão boas a preços descontados. Elas podem parecer atraentes à primeira vista, mas tome cuidado: se a empresa for duvidosa, é muito provável que ela não apresente valorização expressiva ao longo do tempo. Por isso, sempre buscamos investir em empresas boas e sólidas que, por um motivo ou outro, acabaram ficando descontadas ao seu real valor. Aqui cabe fazer uma importante distinção entre os termos valor e preço . Valor é o que você recebe; preço é o que você paga. Dessa maneira, fazer bons investimentos é uma questão de

identificar empresas que possuem um valor mais alto que seu atual preço no mercado. A tendência é que, ao longo do tempo, o mercado corrija essa distorção, fazendo com que o preço acabe aumentando e se aproxime do valor. Mas você pode estar se perguntando: o que, afinal, são boas empresas? É isso que iremos entender nos tópicos a seguir. 3.3.1 A Importância da Boa Gestão Um dos fatores mais importantes para distinguir boas de más empresas é a gestão, isto é, a maneira pela qual uma empresa se organiza para atingir seus objetivos. Ao analisar uma empresa, devemos sempre buscar entender o quão eficiente é a sua gestão. Como fazer isso? Há uma série de maneiras. Disse um sábio que a principal vantagem competitiva de qualquer boa empresa são as suas pessoas. Isso é verdade. Ao analisar a gestão de uma empresa, é fundamental entender quem são os seus colaboradores: as pessoas que estão trabalhando todos os dias para transformar a sua estratégia em realidade. Busque sempre saber quem são os principais executivos, como CEO (Chief Executive Officer) e diretores, de uma empresa antes de investir. Embora a maioria das empresas geralmente tenha alguma página em seu site dedicada a apresentá-los, sempre é interessante tentar buscar outras formas independentes, como pesquisar seus nomes em ferramentas como Google e LinkedIn. É sempre bom procurar informações como histórico (quais os resultados que essas pessoas já apresentaram em experiências passadas) e formação (essas pessoas estão preparadas tecnicamente para lidar com as mudanças constantes do mercado?) dos executivos. Outro fator importante a se considerar é como a empresa gerencia suas equipes: os colaboradores possuem liberdade para inovar

ou estão engessados em burocracia? A empresa oferece possibilidade de ascensão para funcionários do baixo escalão ou os prende no mesmo cargo por muito tempo? Todas essas são perguntas boas de serem feitas. Por último, consideramos fundamental avaliar a clareza operacional de uma companhia. Busque saber: essa empresa possui metas claras e ambiciosas para o futuro? As suas ações no passado têm sido condizentes com essas metas? Para fazer isso, busque ler os últimos relatórios da empresa e quaisquer notícias recentes sobre ela. Avalie: há compatibilidade entre os dois? 3.3.2 Liderança de Mercado  Warren Buffett costuma dizer que boas empresas são como castelos com fossos profundos ao redor. O que isso quer dizer? Em geral, as melhores empresas são aquelas pouco ameaçadas pela concorrência, aquelas que possuem liderança consolidada no mercado. Por quê? Como vimos no capítulo 3, a concorrência diminui significativamente as margens de lucro de uma empresa. Quanto menor sua concorrência, mais ela pode se dedicar ao planejamento estratégico e à sustentação de lucros consistentes no longo prazo. No entanto, não queremos dizer que você só deve investir em empresas líderes incontestes de seus mercados - muitas vezes elas podem estar a preços altos quando comparados a seu valor. Entretanto, recomendamos que no início você priorize sim as empresas com menor competição e maior poder de barganha em seus mercados. Geralmente, são nomes que vêm logo a mente: Itaú, Ambev, Raia Drogasil, Kroton, etc. 3.3.3 Saúde Financeira e os Perigos da Alavancagem

Uma das coisas mais importantes a se avaliar em uma empresa é a sua saúde financeira, isto é, o seu nível de endividamento. Ao pesquisar uma empresa listada na Bolsa de Valores, você irá rapidamente encontrar a sua demonstração de resultados: um resumo de todas as operações que ela realizou em um determinado período de tempo. Para analisar o endividamento de uma empresa, recomendamos olhar para dois indicadores: dívida líquida e EBITDA (calma, vamos entender isso melhor logo). Dívida líquida não é nada mais do que a diferença entre tudo o que uma empresa deve (dívidas) e quanto ela tem de caixa e aplicações financeiras para quitar essas dívidas (disponibilidades). Se uma empresa possui mais disponibilidades do que dívidas, dizemos que ela está com caixa líquido . Caso contrário, dizemos que ela possui dívida líquida. O outro indicador, EBITDA (do inglês Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization), é também conhecido em português como LAJIDA (Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização). Esse indicador será bem fácil de encontrar na demonstração de resultados da empresa, e essencialmente é usado para medir a geração de caixa operacional da empresa, isto é, a sua capacidade de gerar dinheiro com a operação. Para analisar o endividamento de uma empresa, portanto, costumamos usar a medida Dívida Líquida/EBITDA. Se você pensar um pouco, verá que faz sentido: é a razão entre as dívidas que uma empresa possui além da sua capacidade atual de pagar (dívida líquida) e o dinheiro que ela gera na operação e que pode ser usado em parte para pagar essas dívidas (EBITDA). Quanto maior o DL/EBITDA, maior é o endividamento relativo ou alavancagem de uma empresa.

Nós, autores deste livro, sempre buscamos investir em empresas com boa saúde financeira, isto é, que correm baixo risco de não conseguir pagar suas dívidas (ir à recuperação judicial ou falência). Por isso, utilizamos como regra de bolso um máximo de Dívida Líquida/EBITDA de 3,0. Dessa forma, evitamos empresas cuja dívida líquida é mais de 3 vezes maior que sua geração de caixa operacional. Entendemos que isso pode parecer complicado a princípio: releia esse tópico quantas vezes for necessário para entender melhor. No entanto, ao olhar uma demonstração de resultados, tudo ficará mais fácil. Por isso, convocamos um pequeno exercício: escolha uma empresa que você gosta, vá até o Google e procure sua demonstração de resultados. Tente calcular a Dívida Líquida/EBITDA dessa empresa. E aí: ela parece saudável financeiramente? 3.3.4 Rentabilidade de uma Empresa Um outro fator importantíssimo a se considerar em uma empresa é a sua rentabilidade, isto é, a sua capacidade de gerar lucro a partir de seu patrimônio. Para analisá-la, gostamos de olhar para dois indicadores: lucro líquido e patrimônio líquido. Vamos entendê-los melhor. Lucro líquido é o resultado final do exercício de uma empresa durante um determinado período de tempo. Ele é calculado subtraindo-se todas as despesas de uma empresa do seu faturamento total: é o que sobra de dinheiro para uma empresa após pagar todos os seus custos. Novamente, seu valor pode ser facilmente encontrado na demonstração de resultados de uma empresa (publicada obrigatoriamente no site da Bolsa de Valores para empresas listadas). Patrimônio Líquido, por outro lado, é todo o capital possuído pelos acionistas de uma empresa. Ele é calculado

subtraindo-se o passivo (todas as obrigações que uma empresa tem que pagar a terceiros) do ativo (todo os bens e direitos dos quais uma empresa poderá desfrutar de benefício econômico no futuro). O Ativo inclui elementos como caixa (quanto dinheiro uma empresa tem em suas contas bancárias), contas a receber (o que uma empresa tem a receber de clientes no futuro), imóveis e quaisquer outros bens e direitos. Já o passivo inclui elementos como dívidas, obrigações com fornecedores e funcionários, impostos a pagar, etc. Portanto, ao subtrair o passivo do ativo, podemos saber quanto uma empresa possui de ativo dos seus acionistas (já que o passivo é o que ela possui de terceiros). O Patrimônio Líquido de uma empresa pode ser facilmente encontrado em seu Balanço Patrimonial, outro documento que é obrigatoriamente publicado no site da Bolsa de Valores para empresas listadas. Para entender a rentabilidade de uma empresa, portanto, utilizamos o seu ROE (do inglês Return on Equity , em português Retorno sobre o Patrimônio Líquido). Ele é uma medida calculada dividindo-se o Lucro Líquido pelo Patrimônio Líquido. Quanto maior o ROE de uma empresa, maior é sua rentabilidade, isto é, sua capacidade de trazer retorno aos acionistas sobre o seu capital. Ao contrário da Dívida Líquida/EBITDA, não há um número mágico para definir o que é um bom ROE. A rentabilidade varia por indústria, região, período, e uma série de outros fatores. Entretanto, é sempre importante comparar o ROE de uma empresa com o de seus concorrentes: empresas que possuem rentabilidades mais baixas que seus concorrentes são um grande alerta. A menos que haja uma explicação boa para essa rentabilidade baixa, busque empresas que apresentam ROEs maiores que a concorrência.

Novamente, sabemos que esse tópico pode parecer muito complicado, mas asseguramos: com o tempo, ele se tornará segunda natureza. Mais uma vez, recomendamos que busque uma empresa que você goste e calcule seu ROE: ela está apresentando rentabilidade superior ou inferior a suas concorrentes? 3.3.5 Fatores Intangíveis O grande investidor brasileiro Florian Bartunek sempre ressalta a importância de se considerar fatores intangíveis na hora de entender o que significa uma boa empresa. Certa vez, em dúvida entre qual rede de faculdades privadas iria investir, decidiu fazer o seguinte teste: matricular-se no ensino à distância de redes distintas, parar de pagar e ver o que acontece. Em uma das empresas, ele teve o acesso cortado e não ouviu mais falar da faculdade. Na outra, recebeu ligações de atendentes comerciais buscando entender suas dificuldades e atender melhor às suas demandas e capacidade financeira. Não precisa nem dizer qual empresa ele escolheu. Essa é uma anedota, mas ilustra bem que devemos ir além do óbvio para entender o que é uma boa empresa. Em geral, as melhores empresas estão sempre ao nosso redor, mas às vezes nem as percebemos. Está cada vez se tornando mais comum avaliar fatores como responsabilidade social, sustentabilidade e satisfação dos consumidores na hora de distinguir empresas boas de empresas medíocres. Fique atento a essas tendências. 3.3.6 O Fator Psicológico Na maioria dos casos, o maior inimigo de um investidor de ações é ele mesmo. Bons investidores devem saber

distinguir o que é ruído ou especulação de mercado e o que é informação que realmente impacta o valor de uma empresa. Excelentes investidores são aqueles que agem de acordo com essas distinções. Hoje em dia, notícias fluem cada vez mais rápido, e ruídos de mercados são cada vez mais presentes. O que são ruídos? São informações que podem afetar o preço de uma empresa no curto prazo, mas que jamais afetarão o valor de uma empresa no longo prazo. Vamos dar um exemplo. Imagine que o CEO de determinada companhia acabou de ter seu caso extraconjugal exposto na mídia. É possível que, em resposta a essa revelação, muitos especuladores (frágeis aos ruídos) passem a vender as ações da empresa, assim abaixando seu preço. Entretanto, um bom investidor sabe que o affair do CEO não afeta em nada o valor justo da empresa, isto é, sua capacidade de gerar caixa no futuro. Embora muitas pessoas vejam essa distinção como óbvia (entre ruído e informação de verdade), são raros os investidores que agem de maneira conforme. À medida que uma ação começa a cair, muitos investidores ficam desesperados e resolvem vender suas ações, mesmo sabendo que não houve mudança alguma no valor justo. Cabe a você, um grande investidor em formação, manter seus nervos de aço: se o valor da empresa permanece o mesmo, não reaja a ruídos e mantenha sua posição alguma hora o mercado irá mover o preço da ação novamente em direção a seu valor justo. Fundamentalmente, em momentos de grandes baixas no mercado, lembre-se que não fazer nada é uma decisão, uma tomada muitas vezes por investidores de sucesso. 3.3.7 Quando vender uma ação?

Talvez você esteja se perguntando agora: quando, então, devemos vender uma ação? Não há uma resposta fácil. Em teoria, o melhor prazo para vender uma ação seria nunca. Mais uma vez, usemos Warren Buffet: “Se você não está disposto a manter uma ação por 10 anos, nem pense em têla por 10 minutos”.  Boas empresas deveriam permanecer boas empresas ao longo do tempo, mantendo fluxos de caixa bons e gerando valor aos seus acionistas. Entretanto, na prática, isso nem sempre acontece. Muitas vezes, as coisas mudam (de verdade; não estamos falando de ruídos), e é quando essas mudanças acontecem é que devemos tomar atitudes. Em geral, consideram-se 4 cenários em que a venda de uma ação é recomendada: I. Melhor Oportunidade Assim como todos os nossos recursos, nosso dinheiro é limitado. Não teremos capacidade de comprar todas as boas oportunidades que aparecem no mercado. Por isso, devemos alocar nossos recursos da melhor forma possível, direcionando-os às melhores oportunidades. Portanto, recomenda-se a venda de uma ação quando surge uma oportunidade melhor. Lembre-se: a qualidade de sua carteira de ações é a média de todas as ações que estão nela. Pode parecer óbvio, mas são poucas as pessoas agem pensando nisso. Se uma oportunidade melhor do que a pior ação do seu portfólio aparecer, venda a pior ação e compre a melhor - é assim que você aumentará a qualidade da sua carteira. II. Análise Errada Como humanos, cometemos erros frequentemente. Isso não é diferente no mercado de ações. Muitas vezes, analisamos uma empresa de forma errada, seja por má interpretação de

seus números/estratégia/gestão ou por não conhecer fatores que influenciam o valor da ação. E não há problema nisso. A trajetória de todo investidor de sucesso é marcada por várias cicatrizes no mercado. Embora erros sejam comuns, o que diferencia investidores excelentes de investidores medíocres é a maneira como lidam com o erro. Enquanto investidores excelentes sabem reconhecer seu erro, aprender com ele e corrigir sua posição, investidores medíocres tendem a persistir nas posições erradas. Não seja um investidor medíocre. Quando você entender que cometeu um erro na análise de uma empresa, reavalie: esse erro é suficiente para impactar negativamente o valor da empresa e torná-lo mais baixo que o preço atual? Se sim, não tenha dúvidas: evite a sangria e venda sua posição. III. Mudança na Empresa Empresas são organismos dinâmicos, sempre em transformação. Portanto, não é raro ver casos em que uma empresa sofre mudanças (em campos como gestão, estratégia, concorrência) que impactam negativamente seu valor justo. Nessas situações, cabe a você avaliar: essas mudanças são suficientes para impactar negativamente o fluxo de caixa futuro que a empresa pode gerar, alterando o seu valor justo e, portanto, seu raciocínio de investimento? Se a resposta for sim, liquide sua posição e busque novas oportunidades. IV. Preço muito alto O último motivo para vender uma ação é talvez o mais óbvio: quando ela fica cara demais. Isso geralmente acontece porque a empresa teve uma valorização expressiva nos seus papéis ao longo do tempo, fazendo com

que seu preço de mercado se aproximasse cada vez mais do valor justo. Nesses cenários, já não há mais uma oportunidade significativa na companhia. Quando a margem de segurança da diferença entre preço e valor justo fica pequena, chegou a hora de vender uma ação e investir em outras oportunidades. Conclusão Neste capítulo, você pôde entender um pouco mais sobre renda variável e sobre os princípios mais importantes do investimento em ações. Sabemos que o conteúdo apresentado foi desafiador, mas não há nada fácil em investir em ações. Por isso, recomendamos sempre que, antes de fazer qualquer investimento em renda variável, leia e aprenda bastante. Boas fontes para estudar mais sobre ações são as cartas anuais do Warren Buffett e livros de nomes como Philip Fisher, Peter Lynch, Décio Bazin e Joel Greenblatt. Talvez também tenha ficado a pergunta: como calcular o valor justo de uma empresa? Novamente, não há resposta fácil. Há toda uma área de estudo conhecida como valuation , a ciência de entender o valor de ações. Para começar, recomendamos o livro “Valuation - Como Avaliar Empresas e Escolher as Melhores Ações” do Professor Aswath Damodaran. Como você pode ver, há um longo caminho pela frente. Entretanto, asseguramos (ou talvez essa seja apenas a opinião de dois maníacos do mercado): renda variável é um tópico altamente fascinante e recompensador. Dedique-se, estude, e ganhe do mercado ao longo do tempo.

Capítulo 11

Fundos de Investimento E Tornando-se um Investidor Fundos podem ser veículos extremamente interessantes de investimento, principalmente para investidores iniciantes, que não possuem tanta experiência no mercado e gostariam de manter rentabilidades acima do CDI sem muito esforço. De diversos tipos e com diferentes estratégias, oferecem uma fácil oportunidade para que o pequeno investidor consiga investir de maneira profissional. Neste capítulo, iremos estudá-los mais a fundo (sem intenção de fazer trocadilhos), entendendo suas variantes, nuances e armadilhas. Além disso, explicaremos, de forma prática e direta, os primeiros passos que você precisa tomar para se tornar um investidor de verdade. Mostraremos como escolher uma corretora de investimentos e como se manter alerta às pegadinhas que elas podem apresentar. Ao final deste capítulo, você estará finalmente munido das ferramentas e conhecimento necessários para começar a investir. Sem mais delongas, vamos ao que interessa. 1. Fundos de Investimento Imagine que você conheça um dos melhores investidores do país. Ele lhe faz uma oferta: você empresta parte do seu dinheiro e ele irá investi-lo com toda a experiência e expertise; em troca, você pagará um pouco para que ele faça isso (taxa de administração) e também uma taxa que varia com a performance (quanto mais os investimentos que ele fizer renderem, mais você irá pagar de taxa pelo trabalho que ele realizou). Pareceu uma boa oferta? Bem, isso é um exemplo de fundo de investimento.

Alguns dos melhores investidores do Brasil aproveitam-se de suas habilidades e acabam montando as chamadas “gestoras de investimento”, nada mais do que administradoras de dinheiro de terceiros. Você coloca seu dinheiro nas gestoras; elas investem para você; você paga uma taxa para que elas façam isso. Simples, né? É uma excelente opção para aqueles que estão começando e ainda não entendem muito bem sobre investimentos. 1.1 Fundos Ativos vs. Fundos Passivos A descrição que fizemos acima é dos fundos de investimento ativos (os que fazem mais sentido de se investir). Entretanto, também há os fundos de investimento passivos, que não possuem uma gestão atuante. Geralmente, esses são fundos que compram algum índice, por exemplo o IBOV. Como não há necessidade de uma equipe robusta de gestão, as taxas são muito mais baixas do que nos fundos ativos. As opiniões sobre fundos passivos são bastante mistas. Alguns argumentam que, se você for usar uma estratégia de investimento passiva, não há necessidade de um fundo. Um fundo do índice IBOV, por exemplo: basta você comprar IBOV diretamente na bolsa, sem pagar as taxas (mesmo baixas) que um fundo passivo cobraria.               Entretanto, há casos em que pode valer a pena comprar um fundo passivo. Por exemplo: imagine que você quer investir no setor de infraestrutura, mas não quer escolher uma empresa apenas e não tem dinheiro para comprar as ações de todas as empresas do setor. Bem, nesse caso, um fundo passivo de infraestrutura pode fazer sentido para você. Além disso, vale a pena ressaltar que são poucos os investidores que conseguem superar o mercado de forma

consistente ao longo do tempo. Por isso, muitos especialistas argumentam que é melhor evitar o trabalho e simplesmente investir de forma passiva, muitas vezes obtendo retornos similares a longo prazo. 1.2 A Taxa de Administração Pense em um condomínio: todos os meses, os condôminos têm que pagar uma taxa para quitar as despesas do condomínio nesse período. Nos fundos, grandes condomínios de investimento, não é diferente: todos os dias, será descontada uma pequena taxa dos seus rendimentos, que ao final do ano irá equivaler à taxa de administração anual do fundo. O percentual pago como taxa de administração irá variar conforme a sofisticação do fundo. Em fundos com estratégias de investimento mais simples, por exemplo, as taxas de administração deveriam ficar abaixo de 1,0% ao ano. Já em fundos com estratégias mais sofisticadas, costumam beirar os 2,0%. 1.3 A Taxa de Performance Imagine um fundo que tem como benchmark, ou índice parâmetro, o CDI. Para estimular seus gestores a obter maiores rentabilidades, é criado um incentivo: de tudo que o fundo render acima do CDI, os cotistas (pessoas que possuem dinheiro no fundo) pagarão uma taxa de 20%. Por exemplo, se o fundo render 10% no ano, e o CDI for 6,5%, os cotistas pagarão uma taxa de 20% sobre o retorno excedente de 3,5% (10,0% - 6,5%). Essa é a chamada taxa de performance. Vale ressaltar que a taxa de performance não necessariamente irá incidir sobre o retorno excedente ao CDI - ela irá incidir sobre o retorno excedente ao

benchmark, não importa qual ele seja. No caso da maioria dos fundos de ações, por exemplo, o benchmark usado é o IBOV: a taxa de performance incidirá sobre o retorno que o fundo alcançar acima dele. Embora nós, cotistas, frequentemente reclamemos das taxas de performance, não há como negar que elas servem como um incentivo para que os gestores façam um bom trabalho. Se elas não existissem, não haveria nenhum incentivo direto para que os gestores alcançassem retornos acima do benchmark. E como elas só incidem quando o retorno do gestor é muito bom, acaba que pagamos não tão insatisfeitos assim, não é mesmo?

1.4 O Prazo de Resgate Uma pergunta que pode ter surgido na sua cabeça sobre os fundos de investimento é: qual a liquidez deles? A resposta é que ela varia - fundos com investimentos mais complexos geralmente possuem uma liquidez um pouco menor, demorando alguns bons dias para receber seu dinheiro de volta. Portanto, ao investir em fundos, é importante ficar sempre alerta ao prazo de resgate. Você frequentemente irá se deparar com dois tipos de prazo que compõem a liquidez de um fundo: o prazo de cotização e o prazo de liquidação. Podem parecer termos difíceis, mas na verdade são bem fáceis de entender. Pense: quando você resolve resgatar o dinheiro de um fundo, isso vai interferir nos investimentos do fundo inteiro, correto? Portanto, o fundo precisa de um tempinho para adaptar as cotas à sua saída e transformar suas cotas em dinheiro: esse é o prazo de cotização. Já o prazo de liquidação é o

tempo necessário para esse dinheiro efetivamente entrar na sua conta. Dessa forma, o prazo total de resgate de um fundo é a soma de seus prazos de cotização e liquidação. Se um fundo possui prazo de cotização D+4 (dias corridos) e de liquidação D+1 (dias úteis), isso significa que você receberá seu dinheiro após a passagem de 4 dias corridos para converter suas cotas em dinheiro e posteriormente 1 dia útil para transferir esse dinheiro para sua conta.

1.5 Os Tipos de Fundos de Investimento 1.5.1 Fundos DI Os fundos DI, também conhecidos como Referenciados DI, são fundos de renda fixa, que aplicam pelo menos 95% do seu patrimônio em títulos públicos indexados à taxa SELIC (principalmente os títulos LFT, os quais discutimos no capítulo 10). Vale lembrar que esses títulos são pós-fixados, ou seja, variam de rentabilidade conforme o CDI. Em geral, os fundos DI rendem aproximadamente 100% do CDI, variando um pouco com o uso que fazem dos 5% remanescentes, não investidos em LFT. Além disso, possuem liquidez diária, podendo ser uma forma de aplicar sua reserva de emergência. Entretanto, tome cuidado: evite investir em fundos DI com taxas de administração maiores que 0,5% - há alternativas muito melhores. Por último, uma reflexão: será que vale mesmo a pena comprar os fundos DI, podendo optar por comprar diretamente o Tesouro Direto a taxas mais baixas? Bem,

cabe a você decidir. Às vezes é mais fácil comprar o fundo DI, já que a plataforma do Tesouro Direto é um pouco menos intuitiva; além disso, as LFTs só possuem liquidez imediata apenas nas quartas-feiras, dia em que o Tesouro Nacional garante a sua recompra. Entretanto, as taxas dos fundos DI merecem um olhar cuidadoso: elas podem corroer uma parte do seu retorno no longo prazo. 

1.5.2 Fundos de Ações Como o nome deixa claro, fundos de investimentos em ações (FIAs) investem seus recursos no mercado acionário, podendo operar tanto no Brasil quanto também em mercados de outros países. Esses fundos podem ser uma ótima alternativa para quem quer ter uma parte do seu capital em renda variável, mas que não entende muito bem de ações ou não tem tempo para analisá-las. Também podem atender àqueles que não possuem capital suficiente para diversificar sua posição em ações de algumas empresas diferentes. Vale ressaltar, porém, que, assim como investir diretamente em ações, esses são fundos bastante voláteis e arriscados no curto prazo: jamais invista neles um dinheiro que pode lhe fazer falta em breve. Também devemos mencionar que é sempre importante analisar a estratégia de uma gestora de ações antes de investir em algum de seus fundos: Ela adere a escola do growth ou do value? Prefere investir em empresas pequenas (small caps) ou em empresas grandes mais consolidadas? Tudo isso varia de gestora para gestora estude e escolha sabiamente. Por último, um alerta de reforço: rentabilidade passada não significa rentabilidade futura. Jamais escolha um fundo de

ações apenas porque ele rendeu bem nos últimos anos. Esse retorno pode facilmente não se repetir no futuro. Ao invés disso, procure gestoras com pessoas capacitadas e de históricos comprovados, cuja estratégia de investimentos é compatível com o que você está procurando. Só assim você terá confiança e não resgatará seu dinheiro na primeira queda grande que o fundo tiver. 1.5.3 Fundos Imobiliários Os fundos de investimento imobiliários (FIIs) são um tipo bastante específico de fundos de investimento. Primeiramente, eles investem apenas em ativos ligados a imóveis. Podem ser de dois tipos principais: os fundos de tijolo, aqueles que são verdadeiramente donos de imóveis, como empresariais, residenciais, hospitais, shopping centers e galpões; e os fundos de papéis, que compram ativos financeiros como LCIs, títulos de recebíveis imobiliários e cotas de outros fundos imobiliários. Outro elemento curioso dos fundos imobiliários é que você não os encontrará na página de “fundos de investimento” da sua corretora. Ao contrário de outros fundos, são negociados em bolsa: você terá que comprá-los como se fossem ações, a valores diferentes cada instante e através do home broker (plataforma de compra e venda da corretora de valores). Além disso, um fato interessante dos fundos imobiliários é que eles possuem rendimentos mensais, ou seja, todo mês você receberá dividendos provenientes do aluguel dos imóveis. Além disso, como ações, suas cotas podem se valorizar ao longo do tempo, acompanhando a valorização dos imóveis ligados ao fundo. Portanto, ao mesmo tempo que fundos imobiliários podem ser interessantes no longo

prazo, valorizando suas cotas, também são confiáveis de dinheiro recorrente todos os meses.

fontes

E o melhor de tudo: os rendimentos mensais dos fundos imobiliários são isentos de imposto de renda. Você terá que pagar imposto apenas quando for vender a cota do fundo imobiliário, e só se tiver tido ganho de capital. Entretanto, lembre-se que nem todos os fundos imobiliários são iguais. Ao investir neles, você deve considerar algumas variáveis específicas, como taxa de vacância (que porcentagem dos imóveis estão desocupados, inadimplência (observar se os inquilinos estão pagando os aluguéis) e qualidade dos imóveis que estão dentro do fundo. Priorize sempre fundos imobiliários com imóveis bons, baixa vacância e baixa inadimplência. 1.5.4 Fundos Multimercado Deixamos os fundos de investimento multimercado (FIMs) por último propositalmente: como o nome sugere, eles são fundos que investem em uma mistura de vários dos ativos mencionados anteriormente. Fundos multimercado podem possuir posições no Brasil e no exterior, tanto em renda fixa, englobando títulos públicos e privados, quanto em renda variável, com ações, câmbio, commodities, derivativos etc. Fundos multimercado são excelentes formas de diversificar seus investimentos, tanto em modalidades quanto em geografia: pode ser muito difícil para um investidor pequeno construir uma carteira sólida no exterior.  Além disso, você tem a oportunidade de contar com a expertise de uma equipe de gestão formada por vários especialistas até em áreas menos intuitivas para o investidor iniciante, como câmbio, commodities e derivativos.

Entretanto, talvez ainda mais do que outras variantes de fundos, excelentes fundos multimercado são aqueles com excelentes gestores. Como a liberdade de investimento é muito alta, fica difícil de justificar más rentabilidades. Nomes como Luis Stuhlberger, André Jakurski e Rogério Xavier ficaram imortalizados no Brasil como alguns dos maiores gestores de fundos multimercados. Por isso, vale muito a pena, ao escolher entre fundos dessa variante, estudar a fundo os seus gestores: Quais foram as suas principais operações no passado? São mais arrojados ou conservadores? Gostam mais de “juros” ou de ações? 1.6 Fundos de Investimentos em Cotas É provável que, ao explorar fundos de investimento, você se depare com o Fundos de Investimentos em Cotas, os FICs. O que são? Nada mais do que fundos de investimento que investem em outros fundos de investimento. Por exemplo, um FIC FIM é um fundo de investimento multimercado que investe em fundos de investimento multimercado. Similarmente, um FIC FIA é um fundo de ações que investe em outros fundos de investimento em ações. Simples, né? 1.7 Cuidado com os Bancões! Para finalizar essa seção de fundos de investimento, um alerta: em seu banco, é provável que você se depare com um gerente de investimentos esperto: ele irá lhe oferecer os produtos que dão mais dinheiro para... o banco! Por isso, tome cuidado: nunca aceite sugestões de seu gerente (ou de qualquer gerente) sem um bom grau de ceticismo. Eles não necessariamente querem o melhor para você. E como isso se encaixa com fundos? É aí que estão boa parte das armadilhas. Ao olhar as alternativas de fundos de um banco grande, você provavelmente verá fundos DI,

aqueles que rendem aproximadamente a taxa SELIC, com taxas de administração abusivas, entre 1,5 e 2,0%. Ora, essas são taxas pagas para fundos com estratégias de investimento bem mais sofisticadas, como multimercados e FIAs! Num fundo DI, basta fazer uma conta simples para ver que, com uma taxa dessas, a rentabilidade líquida acaba sendo pior que a poupança: uma SELIC de 6,5% menos uma taxa de administração de 2,0% = 4,5% (sem contar o Imposto de Renda, do qual a poupança é isenta). Portanto, sempre priorize as corretoras independentes na hora de escolher fundos de investimento (ou de tomar qualquer outra decisão de investimento). É para o seu bem. Ah, e falando de corretoras… 2. Corretoras e Tornando-se um Investidor Agora, que você já estudou bastante, resta apenas começar a investir. Como fazer? Bem, o primeiro passo é abrir uma conta em uma corretora de valores. Corretoras são instituições financeiras que negociam títulos financeiros, intermediando a relação entre os vendedores/emissores do título e seus compradores. Para efetivamente investir, você precisará de uma corretora. Resta saber qual se adequa melhor a suas necessidades. 2.1 Escolhendo a corretora Há dezenas de corretoras no Brasil, as quais atendem a perfis muito diferentes de investidores. Enquanto algumas corretoras cobram taxas mais altas e oferecem um atendimento personalizado a cada investidor, há outras que cobram taxas mais baixas, não oferecendo um atendimento tão individual. Há corretoras que são melhores para o Tesouro Direto, outras que são melhores para a compra de ações. Há algumas voltadas para investidores maiores, outras voltadas para investidores pequenos. Por isso, para

fazer escolhas, é muito importante que você tenha clareza sobre o que está procurando em uma corretora. Entretanto, assumindo que você não começará como um investidor grande, sempre fique alerta às taxas que uma corretora irá lhe cobrar: custódia, taxas de aplicação e resgate, corretagens etc. Atualmente, há um movimento forte de corretoras cortando taxas. Entretanto, tome cuidado: muitas vezes esses “cortes” são meramente armadilhas para esconder as taxas do investidor. Outro fator importante a se considerar é a variedade e a qualidade dos produtos oferecidos. Enquanto algumas corretoras terão uma quantidade ofertada de fundos e títulos privados grande, outras terão uma variedade muito menor. Fique atento para não ter que escolher entre alternativas ruins. Algumas corretoras famosas no Brasil são XP, Genial, BTG Pactual Digital, Banco Inter, Modalmais, Clear, Rico, Toro, entre outras. A única sugestão que fazemos é que você tenha preferência por corretoras independentes, não ligadas a grandes bancos. Isso porque, muitas vezes, as corretoras de bancos grandes tentam a qualquer custo lhe vender os produtos de seus bancos, com baixa variedade e taxas altíssimas. Mantenha-se alerta. 2.2 Abrindo a conta e Começando a Investir Uma vez escolhida a corretora (ou corretoras), o próximo passo é abrir sua conta. Hoje em dia, esse processo costuma ser bem rápido e fácil. Basta você inserir seus dados pessoais, enviar cópia de alguns documentos, um comprovante de residência e pronto! A conta está aberta. Você também terá que definir sua assinatura eletrônica, uma espécie de senha única de 8 dígitos que será usada

para autenticar suas transações na corretora. Vale lembrar: não compartilhe sua assinatura eletrônica com ninguém! Agora, você está finalmente pronto para operar. Resta apenas escolher em que você vai investir, utilizando os princípios aprendidos neste livro, e aplicar seu dinheiro. Você é finalmente um investidor. Ao longo do tempo, permaneça sempre monitorando seus investimentos, avaliando acertos, erros e, se necessário, fazendo novas compras e vendas. A longo prazo, estamos confiantes: você tem tudo para ser um investidor de sucesso. Conclusão Após conhecer os fundos de investimentos em suas diferentes variantes, concluímos nossa jornada de introdução aos investimentos. Agora, você está livre para iniciar a operar em uma corretora. Lembre-se da importância de escolhê-las corretamente: podem ser grandes aliadas ou obstáculos no caminho para você se tornar um investidor de sucesso. Pedimos que, na hora de investir, preste sempre atenção aquilo que explicitamos ao longo deste livro: compare riscos e retornos, entenda sua experiência (ou falta dela), avalie sua necessidade de liquidez, pense nos impostos, acompanhe seus investimentos de perto. Por último, uma recomendação: não faça desse o fim do seu ciclo de aprendizado sobre investimentos. Continue estudando, ganhando conhecimento, aprendendo a fazer investimentos mais certeiros. Sabedoria só se constrói ao longo do tempo. Agora, chegou finalmente a hora de colocar a mão na massa: vá em frente e comece a investir. Você merece, e nós acreditamos no seu potencial. Boa sorte!

Bibliografia Recomendada Princípios de Economia - N. Gregory Mankiw Princípios de Economia - John B. Taylor, Akila Weerapana Fora da Curva: Os Segredos dos Grandes Investidores do Brasil - Florian Bartunek Pioneering Portfolio Management - David Swensen O Investidor Inteligente - Benjamin Graham Tudo o que você precisa saber sobre economia - Alfred Mill Guia de análise da economia brasileira - Estêvão Kopschitz Xavier Bastos Curso de finanças empresariais - Jerry Kato Axiomas de Zurique - Max Gunther 3000 dias no bunker - Guilherme Fiuza

Sobre os Autores

Samuel Carvalho é graduando em Engenharia e Economia na Stanford University (EUA). Durante o Ensino Médio,

realizou um intercâmbio na Suíça e participou por dois anos consecutivos do programa de verão de Harvard. Foi selecionado em 2019 como Líder e Bolsista da Fundação Estudar.

Antonio Américo Pereira é licenciado em Matemática pela UFES/Cesat, possui pós-graduação em Gestão Escolar pela FIJ-Rio e atualmente cursa MBA em Gestão de Negócios. Trabalha desde 1992 como professor de Matemática em escolas e faculdades da rede privada, no início em VitóriaES (sua terra natal) e atualmente em Recife-PE, onde reside desde 2010.

 

[1] Nossos exemplos, salvo algo dito em contrário, são sempre fictícios. [2] Depende, por exemplo, da quantidade de chuvas, já que a maior parte da energia consumida no Brasil vem das hidrelétricas. [3]

http://professoreuler.com.br/eureflito/alta-carga-tributaria-e-o-risco-da-desobediencia-civil/

[4] Definição retirada do site BCG https://www.bcb.gov.br/acessoinformacao/legado? url=https:%2F%2Fwww.bcb.gov.br%2Fpre%2FportalCidadao%2Fbcb%2FbcFaz.asp%3Fidpai%3DLAIINSTITUCIONAL

[5]

https://www.ofertasford.com.br/ka/s-10-2019?utm_source=google_search&utm_medium=cpc&utm_content=domain-ad_always-on-maioinstitucional-genericas_87769_intention&utm_campaign=varejo_maio&searchid=87769%7cgoogle%7csearch%7cdomain-ad%7calways-on-maioinstitucional-genericas%7cvarejo-maio%7cintention&gclid=CjwKCAjw0tHoBRBhEiwAvP1GFZowQVeO6Cq0bWpY8KJzYwbggM522Qu2SIYqOdvH8ltLEW4U73ZqRoCcJwQAvD_BwE&gclsrc=aw.ds

[6]

https://www.ibyte.com.br/tv-audio-e-video/tvs/smart-tv.html?&gclid=CjwKCAjw0tHoBRBhEiwAvP1GFXxgaOnslvyioxJIAVMJHtn4405T7Fdba4jT--FvlRI1n3ql1tCwBoCw2sQAvD_BwE . Acesso em 27/06/2019

[7] Certificado de Operações Estruturadas são investimentos de alto risco e recomendados apenas para profissionais do mercado financeiro. Por enquanto, aconselhamos que você evite esses ativos.