Do mundo antigo aos novos mundos: humanismo, classicismo e notícias dos descobrimentos em Evora (1516-1624) 9728325681, 9789728325688, 9728325614, 9789728325619

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s d e s c o b r i m e n t o s p o r t u g u e s e s n ã o s e fi z e r a m s ó p o r m a r . M a i s d o q u e i s s o . E l e s a p e n a s c o n s t i t u e m d a t as d a h i s t ó r i a d o m u n d o p o r q u e , regressados os m ar i n h e i r o s à terra, o u t r o s t o m a ra m o s seus relatos, o s s e u s s a b e re s , o e s p í r i t o n o v o q u e o s m o l d ava e , p o r fi m , o s p r o d u t o s q u e t r a z i a m . Tu d o i s s o s e i n c o r p o r o u n u m e s p í r i t o d e é p o c a d a E u r o p a d e e n t ã o , c a r a c t e r i z a d a p e l o ethos d a i n o v a ç ã o i n t e l e c t u a l . M a s e s s e e s p í r i to d e época também é s eg u r a m e n t e t r i b u t á r i o d o s resultados das n avegações po r t u g u e s a s . C i d a d e s e m m a r, m a s c o m c o r t e e c o m u n i v e r s i d a d e , É v o r a fo i u m d o s c a d i n h o s d e s s e s n o v o s s a b e r e s e m q u e s e revi a m h u ­ m a n i s t a s e e x p e rim e n t a l i s t a s . E m v á r i o s r e g i s t o s - d o s l i v r o s a o s o bj e c t o s p r e c i o s o s , d o s t e x t o s l e g a i s à s r e p r e s e n t a ç õ es p i c t ó r icas - o O r i e n t e chegava a e s te mar d e te ' r ra a p l a n í c i e a l e n t e j a n a . A e x p o s i ç ã o Do Mu ndo

A n tigo a o s No v o s lV/u n dos - Hu m a n is m o , CLassicis m o e No tIcias dos Desco b ri m e n tos e m Évora (1 5 1 6-1 624) p r e t e n d e i n i c i a r o g r a n d e público

nos

C Ont o r n o s

dessa

ave ntura

i ntelectual portuguesa e europeia. C o m o Presidente da C o m issão dos Descobrim en tos c o n g r a t u l o - m e com o ê x i to desta e m p r e s a c o m u m c o m a Univer s i d a d e e a C â m a r a de Évo ra e agradeço a o s d a casa e a o s d e fo r a , n o m e a d a m e n t e a o c o m i s s á r i o d a e x p o s i ç ã o , D r . F e r n a n d o A n t ó n i o B a p t i s t a Perei ra , todos os c o n t r i b u t o s q u e a to r n a r a m p o ss ív e l .

António Manuel Hespanha C o m i s s á r i o-Ge r a l d a C o m i s s ã o Na c i o n a l p a ra a s C o m e m o rações d os D e s c o b r i m e n t o s P o r t ugue s e s

o m a e x p o s i ç ã o D o Mu n do A n tigo a o s No v o s Mu n dos - Hu m a n is m o ,

Class i c is m o e No tícias d o s Desco b r i m e n to s .e m É v o ra (1 5 1 6-1 624), p. r o s s e g u e m

a

Com issão

Nacional

p a ra

as

C o m e m o rações

dos

D e s c o b r i m e n t o s P o r t u g u e s e s e a C â m a r a' d e É v o r a a s é r i e d e g r a n d e s e x p o s i ç õ e s q u e n o a n o t r a n s a c t o s e I n i c I o u c o m a n o t áv e l m o s t r a e m t o r n o da o b ra d o p i n t o r F r a n c i s co H e n ri q u e s . E s t e c i c l o a q u e s i g n i fi c a t i v a m e n t e c h a m á m o s Évora - Os Desco brimentos n u ma Cidade

sem Ma r h á - d e c o n t i n u a r c o m o u t r a s d u a s g r a n d e s e x p o s i ç õ e s , u m a c e n t r a n d o - s e n a U n i v e r s i d a d e e o u t r a n a fi g u r a d o e r u d i t o a r c e b i s p o D . F r e i M a n u e l d o C e n á c u l o V i l a s ­ - B o a s , t o d a s c o m a i n d i s p e n s áv e l c o l a b o ra ç ã o d a U n i v e r s i d a d e d e Évo r a e d a A r q u i d i o c e s e e o apoio da D e l egação de Évo r a do M i n i s té r i o da C u l t u r a . E s t a e x p o sição q u e , c o m o a a n t e r i o r, s e e x i b e n o a n t i g o C e l e i r o C o m u m , rev e l a , a o s n o s s o s o l h o s , o p e r c u r s o d a c' i d a d e n u m s é c u l o d e h i s t ó r i a q u e v a i d e D . M a n u e l a o P e r í o d o F i l i p i n o , c o n d u z i n d o - n o s d o t e m p o dos n av e g a d o r e s e h e r ó i s m i l i tares aos a d m i n i s t r a d o r e s e eva n g e l i z a d o r e s d o I m p é r i o . É v o r a fo i , n e s s e p e r í o d o , p a r t i c u l a r m e n t e c o m D . J o ã o I I I , a c a p i t a l p o l í t i c a d o n d e e r a gerido o vasto i m pério q u e do' B rasil ao Extremo O ri e n te reproduziu modelos culturais, a r t ís t i c o s e i d e o l ó g i c o s q u e n a s c e r a m e m Évo r a o u a q u i a t i n g i r a m a m a t u r i d a d e . O p e r í o d o a b a r c a d o v i u , e m Évo r a , o e s p l e n d o r c u l t u r a i à v o l t a d e D . J o ã o I I I o n d e p o n t i fi c o u o e b o re n s e A n d r é d e R es e n d e , o n a s c i m e n t o d a m á q u i n a d a I n q u i s i ç ã o e a a fi r m a ç ã o d a s i d e i a s d a C o n t r a - Re fo r m a e d o C o n c í l i o d e Tre n t o , à v o l t a d o A r ce b i s p ad o d e D . H e n r i q u e , I n fa n t e , C a r d e a l e I n q u i s i d o r, e , j á n o P e r í o d o F i l i p i n o , d o i s Arc e b i s p o s d a C a s a d e B r a g a n ç a a a l i m e n t a r e m a g r a n d e z a d e s s a l i n h a r e a l e a p r e p ar a r e m a a s c e n s ã o ao trono libertado. A q u i s e i m p ô s a o b r a d a C o m p a n h i a d e J e s u s , n a U n i v e r s i d a d e e n a p ro d u ç ã o teo l ó g i c a q u e l e g i t i m o u a e v a n g e l i z a ç ã o d o U l t r a m a r, a p a r d a a fi r m a ção d o u t r i n al de D o m i n i c a n o s e Ago s tin h o s . A E s c o l a d e M ú s i c a d a S é e a I m p re n s a d a U n iv e r s i d a d e s ão n ú c l e o s p r o d u to re s d e c u l t u ra q u e , a i n d a h o j e , faz e m e c o a r o n o m e d e É v o r a n o m u n d o d a c u l t u r a . P o r i s s o , é com orgulho que a C â m a r a d e Évo r a p a r t i c i p a neste relevan te aco n tecim e n to c u l t u ral q u e aj u d a a c i m e n ta r a a u r a d e P a t r i m ó n i o da H u m a n i d a d e q u e tanto n o s o rg u l h a . N e s t e p e r í o d o d e c o m e m o r a ç ã o e r e fl e x ã o s o b r e o n o s s o p a p e l n a a b e r t u r a d o M u n d o , a c i d a d e a s s o c i a - s e , as s i m , à E x p o s i ç ã o U n i v e r s a l d e L i s b o a , p o n d o à d i s p o s i ç ã o da c i d a d e e d e q u e m n o s v i s i t a u m ace rvo a r t í s t i c o e b i b l i o g r á fi c o d e a l t í s s i m a q u a l i d a d e , s ó p o s sível d e r e u n i r com a c o l a b o r a ç ã o p re s t i m o s a d e m u i t a s i n s t i t u i ç õ e s e p a r t i c u l a r e s a q u e m a c i d a d e fi ca g r a t a . Abílio Dias Fernandes Presid e n t e da Câmara M u n icipa l de Évora

Do

Mundo An tigo aos Novos Mundos Humanismo) Classicismo e Noticias dos Descobrimentos em Évora (1516-1624)

ndicE'

DO MUNDO ANT I GO AO S NOVOS MUNDOS O CONCE ITO E A EXPOS I çÃO

15

Fernando António Baptista Pereira

NO PORTUGAL QU INH ENTISTA

27

Maria Leonor Carvalhão Buescu

AS HUMAN I DA D E S EM ÉVORA

43

Joaquim Lavajo

SUA C I DA D E DE ÉVORA

77

Ivo Carneiro de Sousa

O HUMAN I S MO PORTUGUÊS E O O R I ENT E

119

Rui Manuel Loureiro

137

Rui Vieira Nery

155

José Alberto Seabra Carvalho

171

Fernando Jorge Artur Grilo

191

Joaquim Oliveira Caetano

219

Manuel J. c.

HUMAN I S MO E L I T E RATURA

DUAS V I DAS E U M P EQUENO LIVRO QU E AN D RÉ DE R E S EN D E O F E R E C EU

À

A MÚ S I CA NA SÉ DE ÉVORA COMO IN STRU M ENTO DOUT R I NAL F R EI CARLOS E O OUTRO PROPOSiÇÕES SOBRE A PINTURA DA OFICINA DO ESPINHEIRO N I COLAU CHANT E R EN E UM ESCULTOR DO RENASCIMENTO EM ÉVORA O LO G RO DE PANTA S I L E IA O PALÁCIO DOS CASTROS EM ÉVORA RENAS C I M ENTO, MAN E I R I S MO E EST I LO CHÃO EM ÉVORA

Branco

atálogo

A

Conquista de Uma Nova Cultura 250

A

Experiência dos Limites 340 Construindo o Futuro 454 BibliograFia 511

D O MU N D O A N T I G O A O S N O V O S MU N D O S

-

O CONCE I TO E A EX POSiÇÃO Fer n a n d o A n t ón i o Ba p t i s t a P e r e i r a

a s e q u ê n c i a d o P r o g r a m a C u l t u r a l " Év o r a - O s D e s co b r i m e n to s n u m a C i d a d e s e m M a r " , q u e s e i n i c i o u , n o a n o p a s s a d o , c o m a e x p o s i ção m o n o g r á fi c a d e d i c a d a a o l u s o - fl a m e n g o F r a n c i s c o H e n r i q u e s ( Fra n cisco Hen riqu es,

Um Pintor em Évora no Tempo de D. Man u el) , e i m p l i c o u a r e c u p e ração d o a n t i g o M u s e u d o A r t e s a n a t o , i n s t a l a d o n u m m a g n í fi co c e l e i r o setecentista, a Com issão Nacional p a r a a s C o m e m o rações d o s Desco b r i m entos Portugueses e a C â m a r a M u n i c i p al de Évo r a v o l t a m a a s s o c i ar-se e , e m c o l a b o ração c o m d i versas o u tr a s e n t i d a d e s locais (a U n i ve r s i d a d e , a A r q u i d i o c e s e e a D e l e gação R e g i o n a l do M i n i s t é r i o d a C u l t u r a ) , a p r e ­ s e n t a m a s e g u n d a exposição do c i cl o , i n t i t u l a d a Do Mundo

A n tigo aos No vos Mu ndos - Hu m a n is m o, Classicis m o e Notícias dos D esco brimentos em Évora (1 5 1 6-1 624). C o n t a n d o , p ri n c i p a l m e n t e , com o b ras provenien tes d a c i d a d e de Évo r a e a i n d a a c t u a l m e n te n e l a conse rvadas ( B i b l i o teca, A r q uivo e M u s e u s ) , a que se j un t am peças hoj e no M u s e u Nacional de Arte Antiga, n a B i b l i oteca N a c i o n a l d e L i s b o a ou em a l g u m as c o l e c ç õ e s p a r t i ­ c u l a r e s , a e x p o s i çã o r e ú n e , p e l a p r i m e i r a v e z , u m ace rvo de e x c e p c i o n a l v a l o r d o c u m e n t a l e a r t í s t i c o , c o n s ­ t i t u i n d o u m a o c a s i ã o ú n i c a p a rá o fr u i r . D a d a a s u a i m p o r t â n c i a c o m o m o r a d a p re d i l e c t a d e d i v e r s o s m o n a r c a s d a d i n a s t i a d e Av i s o u c o m o s e d e d a c o r t e a r q u i e p i s c o p a l d o c a r d e a l - i n fa n t e D . H e n r i q u e , m e c e n a s d e v o t a d o e r e fo r m a d o r d e i n s t i t u i ç õ e s e e s t r u t u r a s u r b a n as , É v o r a l o g r o u c o n s t i t u i r , a o l o n g o d e Qu i n h e n t o s , u m a u t ê n t i c o m i c r o c o s m o s d a c u l t u r a r e n a s c e n t i s t a e h u m a n i s t a , p r ó x i m o d o i d e a l h o r a c i a n o d a a u rea m edio critas e s u fi c i e n t e m e n t e d i s t a n t e d a c i d a d e d e M e r c ú r i o q u e e r a a c a p i t a I d o 1m p é r i o p a r a l h e n ã o s o fr e r a d i s t r a c t i v a a t r a c ç ã o p e l o l u c r o fá c i l , m a s b e n e fi c i a n d o d a s n o v i d a d e s c u l t u r a i s q u e , d e v a r i a d a s p a r t e s , n e l a a p o r t av a m .

15

E n q u a n t o a e x p o s i ç ã o a n t e r i o r, c e n t r a d a n a é p o c a m a n u e l i n a e n a o b r a d e r e c o n s t r u ç ã o e o r n a m e n t a ç ã o r e t a b u l a r d a i g r e j a d o C o n v e n t o d e S ã o F r a n c i s c o , i l u s t r ava as v i a s d e i n t r o d u ç ã o d o g o s t o fl a m e n g o n a p i n t u r a p o r t u g u e s a , e s ta n o v a m o s t r a e l e g e u u m o b j e c t o m u i t o m a i s a m p i o t e m á t i c a e c r o n o l o g i c a m e n t e : a a fi r m a ç ã o e d e s e n v o l v i m e n t o , n a c i d a d e d e Évo r a , d e u m a c u l t u r a r e n as c e n t i s t a e h u m a n i s t a , n o s m a i s d i v e r s o s c a m p o s , a b e r t a ao c o n h e c i m e n t o dos novos m u n d o s , e n t r e 1 5 1 6 , a d a t a d e p u b l i cação do

Ca n ci o n eiro Gera L d e G a r c i a d e Re s e n d e , u m a n o a n t e s d a p r o fi s s ã o d o m o n g e - p i n t o r F r e i C a r l o s n o C o n v e n t o d o E s p i n h e i r o , e 1 6 2 4 , a n o e m fo r a m d a d o s à e s t a m p a o s

Discursos Mo ra is e Po Llticos d o c h a n t r e d a S é M a n u e l S e v e r i m d e F a r i a , o b r a e m q u e s e fa z u m a p r i m e i r a av a l i a ç ã o b i o g r á fi c a e c u l t u r a l d e L u í s d e C a m õ e s . O c o n c e i t o g e r a d o r da exposi ção p r o p õ e , ass i m , u m a l e i t u r a i n tegrada d e m a r c a n tes t e s t e m u n h o s l i t e r á r i o s o u d o c u m e n t a i s ( c e r c a d e c e n t o e t r i n t a ) e d e u m s i g n i fi c a t i v o n ú m e r o d e n o t á v e i s o b j e c t o s a r t í s t i c o s ( e m b o r a fra n c a m e n t e m e n o r : c e r c a d e s e s s e n t a ) , b e m c o m o d a s t e i a s d e s i g n i fi c a d o s e m e m ó r i a s d a í d e c o r r e n t e s , c o n d u z i n d o o v i s i t a n t e na redesco b e r t a d e u m d o s m a i s exaltan tes pe ríodos d a g é n e s e da m o d e r n i d a d e , e m q u e a r e i n v e n ç ã o d e u m a c u l t u r a e s c r i t a e fi g u r a t i v a d i fe r e n t e , o a c h a m e n t o d e n o v a s t e r r a s e d e n o va s g e n t e s , a fo r m a l i z a ç ã o d e u m o l h a r o u t r o s o b r e o m u n d o e o A b s o l u t o , o u o c o n s u m o e d i v u l g a ç ã o d e n o v o s s a b e r e s e p r o d u t o s i a m a p a r, c o n s t i t u i n d o , a fi n a l , fa c e t a s d i fe re n t e s d a m e s m a r e a l i d a d e .

Humanismo, Classicismo e Notícias dos Descobrimentos em Évora (1516-1624) O s a u d o s o P r o fe s s o r L u í s d e Al b u q u e r q u e , n o s e m i n á r i o d e d i c a d o a o s D e s c o b r i m e n t o s e a o Re n a s c i m e n t o P o r t u g u ê s q u e t e v e o c a s i ã o d e r e g e r, n a F a c u l d a d e d e L e t r a s d e L i s b o a , n o s i n íc i o s da década d e o i t e n t a , g o s tava d e chamar a atenção d o s s e u s j o v e n s a d m i r a d o r e s e fu t u r o s h i s t o r i a d o r e s p a r a u m a c e r t a d i c o t o m i a e x i s ­ t e n t e , n a c u l t u r a p o r t u g u e s a d e Qu i n h e n t o s , e n t r e a r e c u p e r a ç ã o d o M u n d o A n t i go e a c u l t u r a e m e rg e n t e d o d e s c o b r i m e n t o dos Novos M u n d o s , ou s e j a , e n t r e o l e g a d o d o s l i t e r a t o s d o H u m a n i s m o e a c u l t u r a c i e n t í fi c a e t é c n i c a dos Descob r i mentos, campos que, j á antes, B arradas de Carvalho conside rara o p o s t o s . S e m n e g a r e s s a con trap osição, i n ev i t á v e l t e n d o e m a te n ç ã o a s r a d i c aç õ e s s o c i a i s e i n s t i t u c i o n a i s , os d e s t i n a t á r i o s e os o b j e c t i v o s , em q u a s e t u d o c l a r a m e n t e d i fe r e n c i a d o s , h á q u e p e n s a r, a n t e s , n a c o m p l e m e n t a r i d a d e fu n ­ 16

c i o n a l d o s e m p re e n d i m e n t o s e a t é n a co m u n hão d e r e s u l t a d o s n o q u e t o c a à

g é n e s e d a m o d e r n i d a d e , e m t e r m o s fi l o s ó fi c o s , c i e n t í fi c o s , a n t r o p o l ó g i c o s e e s t é t i cos . Pens a m o s q u e e s t a e x p o s i ç ã o e , s o b re t u d o , e s t e c a t á l o go , n o s e u e s fo r ç o d e a p r o fu n d a m e n t o c i e n t í fi c o d o t e m a , o d e m o n s t r a m cabalmente. O m i c r o c o s m o s c u l t u r a l e b o r e n s e é , d e fa c t o , u m a p e r fe i t a i l u s t r a ç ã o d e s s a c o m p l e m e n t a r i d a d e e d a c o n t a m i n ação fr u t u o s a e n t re d i s t i n t o s campos

do

s a b e r,

da

experiência

es tética

e

da

acção

de

t r a n s fo r m a ç ã o c u l t u r a l e e s p i r i t u a l d a r e a l i d a d e e d a s o c i e d a d e . O r a , t a l c o m o o t í t u l o e o s u b t í t u l o i n d i c a m , a e x p o s i ç ã o p r e t e n d e p ô r e m r e l evo a í n t i m a r e l a ç ã o e n t re a c u l t u r a renasce n ti s ta e h u m an i s t a de i n t e l e c t u a i s e a r tistas d e Qu i n h e n t o s ( a recup eração e rei n terp retação .da c u ltura da A n tiguidade Clássica) e o p r o gr e s s i v o c o n h e c i m e n t o d o m u n d o q u e o s D e s c o b r i m e n t o s P o r t u g u e s e s t o r n av a m p o s s ível e o s r e l a t o s i m p re s s o s d i v u l gavam ( n o ticias dos No vos Mu ndos,

a O riente ou a Ociden te) . Ass i m , a l g u m as d a s p r i n c i p a i s o b ras- pri m a s d o m o n g e - p i n t o r d e o r i g e m fl a m e n ga F r e i C a r l o s e d a s u a o fi c i n a , i n t e i r a m e n t e c o n fo r m e s a o g o s t o c l á s s i c o t r i u n fa n t e n o s c í r c u l o s m a i s e x i g e n t e s e e s c l a r e c i d o s d a s o c i e d a d e p o r t u g u e s a d e e n t ã o , o u a l g u m as das e s c u l t uras d e ixadas n a c i d a d e p o r N icolau C h a n ­ terene, o m a i o r escul t o r do Renas c i m e n t o no Port ugal q u i n h en ti s ta, são o b s e r v a d a s n u m c o n t e x t o c u l t u r a l q u e t a n t o s e d e fi n i a p o r u m i n t e n s o e s t u d o d o s a u tores c l á s s i c o s , c o m o P l a tã o , A r i s t ó t e l e s , Cícero o u T i t o Lív i o , c o m o e r a m a r c a d o p e l a e x p l o s ã o d a c r i a t i v i d a d e a o n ív e l p o é t i c o , l i t e r á r i o e a r t í s t i c o , p e l a c u r i o s i d a d e fa c e às d e s c o b e r t a s c i e n t í fi c a s , a n t r o p o l ó g i c a s e c u l t u r ais p r o p o r c i o n a d a s p e l o e n c o n t r o c o m o s N ovos M u n d o s , a O r i e n t e e a O c i d e n t e , o u a i n d a p e l a r e o r g a n i z a ç ã o d o e n s i n o e pela acção m is s i o n á r i a n o a l é m - m ar. E s s e a m b i e n t e ú n i c o é r e p r e s e n t a d o p e l a s o b r a s fu n d a m e n t a i s d e a l g u n s d o s m e l h o r e s e s c r i t o r e s q u e d e fi n i r a m o s é c u l o

XVI,

d e G i l V i ce n te ou G arcia de Resende a J o ã o de

B a r r o s o u C a m õ e s , d e C l e n a r d o o u A n d r é d e R e s e n d e a G a r c i a d e O r t a o u. a o s m e s t r e s j es u ítas L u í s d e M o l i n a e S e b a s t i ão B a r ra d a s . P o r o u tro l a d o , a cons t atação d e s s a a u t ê n t i c a e x p e r i ê n c i a d o s l i m i te s , t a n t o no c o n h e ­ c i m e n t o d o h o m e m e d o m u n d o c o m o n a i n v e n ç ã o d o s c o n c e i t o s e d a s fo r m a s , a t r av é s d a s i m ag e n s e d o s t e x t o s q u e a c u m u l a r a m o s a b e r e a e x p e r i ê n c i a , t a n t o d a q u e l e s c o m que se p a r t i u p a ra a ave n t u r a m a r í t i m a c o m o d o s que os r e g i s t a r a m n o p rocesso de fi x a ç ã o , j u s t i fi c a a a p r e s e n t a ç ã o d e g r a n d e s m o n u m e n t o s d a c a rt o g r a fi a , d a c i ê n c i a náutica o u da li teratura de viagens que s e conservam em Évora. Alguns dos desenhos

17

c o m q u e P e d r o B a r r e t o d e R e s e n d e i l u s t r o u o c é l e b r e L ivro das Pla n tas de t o das as

Fo rtalezas, Cidades e Po voações do Estado da Índia Orien tal, d e A n t ó n i o B o c a r r a , n o m e a ­ d a m e n t e a Persp ectiva d e Baçai m , d o c u m e n t a m o c o n c e i t o d e c i d a d e id e a l o u p l a n i fi c a d a d o R e n a s c i m e n t o q u e, e m c o n j u n t o c o m s o l u ç õ e s m a i s e s p o n t â n e a s , fo i a m p l a m e n t e ensaiado na expansão portuguesa. As e m p r e i tadas d e p i n t u r a n o s g r a n d e s co nven tos e b o r e n s e s , e n c o m e n d a d as a g r a n d e s m e s t r e s l i s b o e t a s c o m o G r e g ó r i o L o p es, G a r c i a F e r n a n d e s o u D i o g o d e C o n t r e i r a s o u a u m m e s t re r a i a n o c o m o L u í s d e M o r a l e s , s ã o e v o c a d a s a t r avés d e a l g u ns d o s s e u s m e l h o res exe m p l o s . A obra d e u m o u t ro p i n to r radicado em Évo ra - Francisco de C a m p o s -, a u t o r d e u m c o n j u n t o d e fr e s c o s n o P a l á c i o d o s C o n d e s d e B a s t o , é o b j e c t o d e p a r t i c u l a r a t e n ç ã o , a s s i m c o m o l u g a r d e d e s t a q u e é i g u a l m e n te d a d o à n o t á v e l t r a d i ç ã o m u s i c a l d a S é d e É v o r a , g r a ç a s à e v o c a t i v a s e l e c ç ã o d e i l u mi n a d o s e d e i m p r e s s o s q u e s e a p r e s e n t a , a s s i m c o m o à s a l fa i a s l i t ú r g i c a s q u e o u t r o r a e n r i q u e c e r a m o c u l t o n a s i g r e j a s e c o n v e n t o s d a c i d a d e e a r r e d o r e s . D o c u m e n t a n d o a ev o l u ç ã o d o g o sto a rtís t i c o a o n í v e l d a o u r i v e s a r i a s a c r a , a l g u m a s d e s s a s p e ç a s s ã o e x e m p l i fi c a t i v a s d a c h a m a d a p r a t a chã, c o e v a d o e s t i l o a r q u i t e c t ó n i c o h o m ó n i m o q u e t e m u m d o s s e u s p o n t o s d e p a r t i d a n a a cti v i d a d e c o n st r u t i v a d e a l g u n s m e s t r e s a c t i v o s , n a c i d a d e , n a s e g u n d a m e t a d e d e Qu i n h e n t o s, q u e " n o r m a l i z a r a m " o e n t u s i a s m a d o e x p e r i m e n t a l i s m o classicizante de meados do século. A fa m o s a e d i ç ã o e b o r e n s e d a n ov e l a Sa u da des o u Men i n a e Moça d e B e r n a r d i m R i b e i r o , o s e s c r i t o s d o l ati n i s t a e a r q u e ó l o g o A n d r é d e Res e n d e o u o i m p o r t a n t e Tra tado das

Co usas da Ch i n a d e fr e i G a s p a r d a C r u z , o p r i m e i r o a d i v u l g a r , n o O c i d e nte , u m a i m a g e m d o I m p é r i o d o M e i o , fr u t o d a a c t i v i d a d e d i p l o m á t i c a e m i s s i o n á r i a d o s P o r t u g u e s e s , a s s i n a l a m , p o r s e u tu r n o , a i m p o rtâ n c i a d o i m p r e s s o r A n d r é d e B u r g o s e dos seus continuadores em Évora. A fu n d a ç ã o d o c o l é g i o j e s u í t a d o E s p í r i t o S a n t o , q u e r a p i d a m e nte s e t r a n s fo r m a r i a n a s e g u n d a u n i v e r s i d a d e c r i a d a e m s o l o n a c i o n a l , fo i , fi n a l m e n t e , o p r e t e xto p a r a a a b o r d a g e m da acção d e s s a s i n s t i t u i ç õ e s e dos g r a n d e s m e s t r e s q u e n e l as l e c c i o n a r a m , q u e r n o p l a n o d a r e n o v a ç ã o c u lt u r a l e p e d a g ó g i c a e a t é c o n s t r u t i v a q u e r n a fo r m a ç ã o d e u m a c o n s e q u e n t e e i n fo r m a d a r e t a g u a r d a d a a c ç ã o a c u lt u r a d o r a d a E x p a n s ã o e e m p a rti c u l a r d o s missionários. P a r a d a r c o r p o a e ste a m b i c i o s o p ro g r a m a te m á t i c o , q u e s e l e c c i o n o u p e r t o d e d uz e n t o 's 18

a o s i l u m i n a d o s e i m p r e s s o s, p a s s a n d o p o r a l fa i a s l it ú r g i c a s o u a r t e s

d e c o r a t i v a s ) , d i v i d i m o s o p e r c u r s o e x p o s i t i v o e m três p a rtes, q u e p a s s a m o s a desc rever. Essas divisões e os s e u s s u b c a p í t u l o s (sem q u e n e s t a o r g a n ização se c e d a à t e n t a ç ã o , i n fe l i z m e n t e t ã o c o m u m , d e p e n s a r o s g u i õ e s d a s ex p o s i ç õ e s c o m o í n d i c e s d e l i v r o s . . . ) , d ã o s e n t i d o à m o s t r a , m i n o r a n d o , g r a ç a s à ex c e l e n t e m o n t a g e m , o p e s o da d o c u m e n tação escrita e v a l o r i z a n do os t e s t e m u nhos v i s uais q u e g a n h a m n o v a s e i n s u s p e i t a d as l e i t u r a s e m c o n fr o n t o c o m a q u e l e s . O c a t á l o g o s e g u i u r i g o r o s a m e n t e o p e r c u r s o e s t a b e l e c i d o , s e n d o a n t e c e d i d o p o r fe l i zes v i s õ e s d e s í n t e s e o u a t e n t o s e s t u d o s m o n o g r á fi c o s d e d i c a d o s à s t e m á t i c a s d e m a I O r r e l evo a b o r d a d a s a o l o n g o d a e x p o s i ç ã o , p e r m i t i n d o o i n d i s p e n s áv e l e a b r a n g e n t e a p r o fu n d a m e n t o c i e n t í fi c o q u e as fi c h a s c a t a l o g ráfi c a s i n d i v i d u a l i zadas c o m p l e t a m pontualmente.

A

Conquista de Uma Nova Cultura O Re n as c i m e n t o e u r o p e u d o s s é c u l o s

xv

e

XVI

r e p r e s e n t a a a fi r m a ç ã o

d e u m a n ov a c u l t u r a q u e a m b i ci o n av a r e a l i z a r a s í n t e s e e n t re o l e g a d o fi l o s ó fi c o e e s t é t i c o d a A n t i g u i d a d e C l á s s i c a e a t r a d i ç ã o d a e s p i r i t u a l i d a d e c r i s t ã . Essa nova c u l t u r a , q u e c o m e ç o u a ganhar as consciências em P o r t u g a l' a i n d a n o s fi n a i s d e Q u a t r o c e n t o s , e xp r i m e o s v a l o r e s d e u m a s o ciedade p ro gressivam e n te i n d i v i d u a l i s t a e m e rc a n t i l izada, d o m i n a d a por p o d e res

laicos e religiosos que,

no

decurso

d e d i ve r s a s

c o n fl i t u a l i d a d e s ( q u e a t r a v e s s a r a m p o r v e z e s r a d i c a l m e n t e t o d a a E u r o p a) , a p r e n d e r a m a d e l i m i t a r m e l h o r a s s u as e s fe r a s d e a c t u a ç ã o . D e s t e m o d o , o E s t a d o e o P e n s a m e n t o fo r a m-s e a u t o n o m i z a n d o p r o gressivamente de e s t i o l a n t es c o n s t r a n g i m e n tos a n te r i ores . A afi r m a ç ã o d o s v a l o r e s r e n a s c e n t i s t a s p r e s s u p õ e u m a n o v a c a t e go r i a o i n d iv í d u o - q u e co n s t i t u i , à s e m e l h a n ç a do i de a l c l á s s i c o , o c e n t r o e m e d i d a d e t o d a s a s c o i s a s . É p a r a o i n d i v í d u o e e m fu n ç ã o d e l e q u e u m n ov o t i p o d e s e n s i b i l i d a d e é t i c o - r e l i g i o s a d e s p o n t a e s e g e n e r a l i z a a t o d o s o s g r u p o s s o c i a i s , i n t e r p e l a n d o as c o n s c i ê n c i a s e as i n s t i t u i çõ e s p o r t o d a a E u r o p a , graças a u m a c u l t u ra i m pressa que, p ro gressivamente, vai t o m ando o l ugar da a n t e r i o r c u l t u ra m a n u s c r i t a e s ub s t i t u i n d o o s q u a d r o s p e rc e p t i v o s . Na l i t e ra t u r a e n a p o e s i a , o i deal d a i m i tação da N a t u reza o u o regresso aos

'9

p a r a d i g m a s t e m á t i c o s e fo r m a i s d o s c l á s s i c o s i n fo r m a m um n o vo t i p O de exp r e s s ã o c a d a vez m a i s c o n fe s s i o n a l d o s s e n t i m e n t o s ( n a l í r i c a ) o u a e n c e n a ç ã o d e n u n c i a d o r a de v í c i o s e v i r t udes d o s p r i n ci p a i s tipos h u m a n o s e d o s e s ta d o s s o c i a i s (no t e a t ro ) . Po r o u t r o l a d o , a c o n s c i ê n c i a d a d e s o r d e m i n s taur a d a n o s v e l h o s q u a d r o s m e nta i s p e l a n o v a c u l t u r a d e s e n c a d e i a e s fo r ç o s n o r m a l i z a d o r e s d e c r e n ç a s e c o m p o r t a m e n t o s p o r p a r t e d e i n s t i t u i ç õ e s c o m o a I g r ej a o u o E s t a d o , n a p r o c u r a d e u m n o v o e q u i l í b r i o s ó c i o - c u l tu r a l . E m É v o r a s e d e s e n r o l o u b r i l h a n t e m e n t e u m i m p o rt a n t e e p i s ó d i o d e s s e m o v i m e n t o d e p r o fu n d a r e n o v a ç ã o c u l t u r a l d a p r i m e i r a m e t a d e d e Qu i n h e n t o s , a s s I m c o m o n a cidade e n a di ocese s e e n s a I a r a m p re c o ce m e n t e as t e n tativas de ree q u i l í b rio e n o r m a l i z a ç ã o i n s t i t u c i o n a l e r e l i g i o s a q u e c a r a cte r i z a r a m a s e g u n d a m e t a d e d o s é c u l o . N e ste p r i m e i r o s e c t o r d a exp o s i ç ã o a p r e s e n ta m - s e o s t e s te m u n h o s v I s u a I s e e s c r i t o s d e s s a l e n t a m a s fi r m e c o n q u i s t a d e u m a n ov a m a n e i r a d e e s t a r n o m u n d o p e r a n t e o s h o m e n s , o s a b e r, o p o d e r e o A b s o l u t o . Exe m p l o s c i m e i r o s d a c u l t u r a c l e r i c al e d a n o va s e n s i b i l i d a d e éti c o - re l i g i o s a m a i s i n d i v i d u a l i z a d a , n o m e a d a m e n te b e l í s s i m o s i l u m i n a d o s , a s s i m c o m o t e s t e m u n h o s d o e s p í r i t o l a i c o e m e r g e n t e s ã o t u t e l a d o s p o r rep r e s e n t a ç õ e s , a l g u m a s j á t o c a d a s p e l o g o s t o c l á s s i c o , d e fi g u r a s s a g r a d a s ( c o m o o s Ev a n g e l i s t a s o u o s s a n to s d a s O r d e n s M e n d i c a n t e s ) q u e a n o v a cultu r a e r i g i a c o m o p a r a d i g m a s visuais do estudo das H u manidades. F i n a l m e n t e , s e o C l a s s i c i s m o fo i a m a i s e m b l e m á t i c a e x p r e s s ã o p l á s t i c a d a n o va c u l t u ra , h á q u e r e c o n h e c e r q u e a s u a recepção n o n o s s o p a í s , a p e s a r do i n c r e m e n t o i n i c i a l d a d o a i n d a dura n t e a é p o c a m a nuel i n a , n o m e a d a m e n t e g r a ç as à v i n d a d e p i n t o re s e e s c u l t o re s fl a m e n g o s , c a s t e l h a n o s e fr a n c e s e s , s ó s e g e n e r a l i z a d u r a n t e o r e i n a d o d e D . Jo ã o I I I , q u a n d o o g o s t o a r t í s t i c o

ao romano

se implantou en tre

a s s u c e s s i v a s g e r a ç õ e s d e a r q u i te c t o s , e s c u l t o r e s o u p i n t o r e s n a c i o n a i s o u e s t r a n ge i r o s q u e s e r a d i c a r a m e n t r e n ó s . E m É v o r a , d e p o i s d a s n o t áv e i s e m p re i t a d a s p i c t ó r i c a s n a S é e e m S ã o F r a n c i s c o , d e r e s p o n s a b i l i d a d e fl a m e n g a m a s n ã o c o m p l eta m e n t e a l h e a d a s d e i n e s p e r a d a s s u gestões itali a n i z a n t e s , o g o s t o c l á s s i c o i m p õ e - s e d e fi n iti v a m e n t e c o m a o fi c i n a l o c a l d o m o n g e - p i n t o r F r e i C a r l o s ( a c t i v i d a d e c o n h e c i d a e n t r e 1 517 e c e r c a d e 1 5 5 3 ) e s e u s c o l a b o r a d o r e s , s e d i a d a n o C o nv e n t o d o E s p i n h e i ro , a i n d a s u b s i d i á r i a d a t r a d i ç ã o q u a t r o c e n t i s ta d as o fi c i n a s g a n t o - b r u g e n s e s m a s a t e n ta à r e n o v a ç ã o d e p a r a d i g m a s n o s e nti d o d o r o m a n i s m o o r i u n d a d e A n t u é r p i a . Re v e l a n d o u m a i n fo r m a ç ã o a i n d a m a i s e r u d i t a , g r a ç a s a o s e u i n te n s o c o nvívio c o m o s h u m a n i s t as r a d i c a d o s na c i d a d e , o e s c u l t o r fra n c ê s N i c o l a u C h a n t e r e n e ( q u e "ti r o u do 20

n a t u r a l " o fa m o s o h u m a n i s t a fl a m e n g o C l e n a r d o ) d e i x o u e m d i v e r s a s o b r a s

espalhadas p e l a cidade, realizadas e n t r e 1 5 3 3 e 1 5 4 0 , exce p c i o n a i s testem u n h os d e u m s o fi s t i c a d o e e vo I u t i vo e n t e n d i m e n t o d o C I a s s i c i s m o , p r i n c i p a I me n te n a t u m uI á r i a , mas t a m b é m n a e s c u l t u r a m o n u m e n t a l de i m p o r t a n te s conve n t o s ( G r a ç a , P a r a í s o , S ã o D o m i n g o s ) e a t é n u m a p e q u e n a e s t r u t u r a r e t a b u l a r. No campo da a r q u i te c t u r a , a exposição r e l e m b r a , e n t r e o u t ros, F rancisco de A r r u d a , c o m o Aq u e d u t o d a Á g u a d e P r a t a , t ã o c e l e b r a d o e m e p i g r a m a s l a t i n o s d a s e g u n d a m e t a d e d o s é c u l o , M i g u e l d e Arr u d a , c o m a Igrej a d a G r a ç a , e M a n u e l P i re s, c o m a i g r e j a d o C o l é g i o d o E s p í r i t o S a n t o , s e m e s q u e c e r as i g r e j a s - s a l ã o do C l a s s i c i s m o , c o m o S a n to Antão , o u e s s a m a r a v i l h a m i n i a t u r al q u e é o C o n v e n t o d e Va l v e r d e , i n s p i r a d o n a t r a t a dis t i c a i t a l i a n a . To d a s e s s a s o b r a s d e fi n e m a s p r i n c i p a i s e t a p a s d e c o n q u i s t a e a p e r fe i ç o a m e n t o d e u m a g r a m á t i c a c l á s s i c a q u e i r i a t e r g r a n d e fu t u ro n a a r q u i t e c t u r a e n o u r b a n i s m o p o r t u g u e s e s e u l t r a m a r i n o s de toda a centúria seguinte.

A

Experiência dos Limites A r e v o l u ç ã o c u l t u r a l q u e fo i o

Ren asc i m e n t o a s s i m c o m o o m o vi m e n t o

c o n t e m p o r â n e o d o s D e s co b ri m e n t o s m a r í t i m o s a l a r g a r a m d e s m e s u r a d a m e n t e o c a m p o d a p os s i b i lidade, t e n d o c o n s t i t u í d o , p o r i s s o m e s m o , u m d o s m a i s m a r c a n t e s m o m e n t o s d e exp eriên cia dos lim i tes q u e a H u m a n i d a d e v i v e u até à era da comunicação global e da exploração espacial. Em escassos s e s s e n ta anos a i m a gem do m u n d o m u d o u radical m e n t e . O u n i v e r s o c u l t u r a l r e n a s c e n t i s t a r e o r g a n i z o u t o d a a fo r m a ç ã o básica

impondo

uma

atenção

redob rada

concedida

às

Humanidades e, naturalmente, a toda a recuperada mito l ogia greco - l a t i n a . E m c o n s e q u ê n c i a , e r a l e v a d o a cabo um a t u rado e s t u d o dos a u t o r e s c l á s s i c o s como P l a t ã o , A r i s t ó t e l e s , C í c e r o , O v í d i o , Vi r g í l i o , H o r á c i o o u T i t o L í v i o ( m as t a m b é m a l g u ns i m p o r tantes escritores árabes c o m o Avicena) , cuj a l ição t e x t u a l fo i m u i t a s v e z e s i n t e g r a l m e n t e r e fe i t a e e x p u r g a d a de corruptelas. Por i s s o , m u ltos h u m a n i s tas v i a m c o m o seu p a t r o n o S ão Je r ó n i m o , o a u t o r d a Vu lga ta, p e l o s e u e s fo r ç o d e t r a d u ç ão e. fi x a ç ã o dos t e x t o s d a B í bli a S a g r a d a . F i n a l m e n t e , uma nova

21

c o n c e p ç ã o e p eri o d i z a ç ã o da h i s t ó r i a h u m a n a l e v o u i g u a l m e n te os h u m a n i s t a s a i n t ere s s are m - s e p e l a arq u e o l o g i a ro m a n a, c o m o fe z A n dré d e Re s e n d e c o m a s o r i g e n s d e Év ora e d a pró pri a L u s i tâ n i a . C o m o a c e n t u o u o m a t e m á ti c o P e dro N u n e s, o s D e s c o bri m e n t o s d o s p o v o s i b ér i c o s p ar t i r a m d e u m a re a v a l i a ç ã o d o l e g a d o c l á s s i c o , ára b e e c a t a l ã o , n o s c a m p o s d a n á u t i c a, d a a s tro n o m i a, d a g e o gra fi a, d a c a r t o grafi a e d e o u tro s ra m o s d o s a b er, q u e a s n o v a s c o n d i ç õ e s p r o p o rc i o n a d a s p e l a s v i a g e n s s e e n c a rre g ar i a m d e c o n fi r m ar, d e s m e n t ir o u a l arg ar. A n e c e s s i d a d e de d i v u l g a ç ã o e u r o p e i a d a s d e s c o b er t a s c i e n t í fi c a s , a n tro p o l ó g i c a s e c u l t ura i s pro p o rc i o n a d a s p e l o e n c o n tro c o m o s N o v o s M u n d o s, a O ri e n t e e a O c i d e n te, s u s c i to u n ã o a p e n a s o d i v e rs i fi c a d o r e g i s t o d e s s a n o v a m a s s a d e c o n h e c i m e n t o s e m m a p a s, d e s e n h o s o u e m o bras d e d e s cr i ç ã o , re fl e x ã o e e s t u d o, m a s t a m b é m a s e x i g ê n c i as d e c e l e bra ç ã o , h i s t ori o grá fi c a o u é p i c a , p or c o m p ara ç ã o c o m o s fe i t o s d o s h eró i s d a A n t i g u i d a d e . A a c u m u l a ç ã o d e s a b ere s e e x p eri ê n c i a s , d e p a r c o m o re t orn o à p ure z a d a s l í n g u a s c l á s s i c a s e a re s t a ura ç ã o d o e s p l e n d o r d a re t ó r i c a c o m o re n o v a d a e s tr a t é g i a d o p e n s a m e n t o e d a r e fl e x ã o , l i b er t ara m a c a p a c i d a d e d e c o n c e p t u a l i z a ç ã o q u e i r i a e s t ar n a g é n e s e d a c i ê n c i a m o d ern a . A re c e p ç ã o e re i n v e n ç ã o d o s m o d e l o s c l á s s i c o s n a s ar t e s e n a l i t e r a t ura for a m s e g u i d a s d e u m a d i vers i fi c a d a e x p eri m e n t a ç ã o a o n í v e l p o é t i c o , l i t erári o e ar t í s t i c o q u e c o n d u z i r i a à s fro n t e ir a s d o M a n e iri s m o e a t é d o B arro c o . Em meados do século

XVI,

n o t a v a Fra n c i s c o d e H o l a n d a q u e , q u a n d o

re gre s s ara d e R o m a, o n d e c o n vivera c o m M i g u e l  n g e l o n o c írc u l o h u m a n i s t a d e V i t t o r i a C o l o n n a, "n ão a ch e i p edreiro o u p i n t o r q u e não

dissesse que o a n tigo (a que eles cha m a m m o do de Itá lia) que esse le v a v a a tudo ". N u m a c ar t a d i ri g i d a a o h or a c i a n o S á d e M ira n d a , P êro d e A n dra d e C a m i n h a, u m p o e t a d a m e s m a g era ç ã o e i v a d a d e c u l t ura h u m a n i s t a e c l á s s i c a q u e n o s d ar i a u m C a m õ e s, e l o g i ar a , j á a n t e s, o s "edifícios a n tigos e m o dernos " d e L i s b o a, s u s c i t a n d o a i n e v i t á v e l e m u l a ç ã o d o s s e n h o re s n o b r e s e d o c l ero q u e fa z i a m d e É v ora u m a segunda capital. O s e d i fí c i o s c o n v e n t u a i s q u e s e re e d i fi c aram o u c o n stru íram d e raiz i m p l i cara m avul t a d as e m pre i t a d a s d e p i n t ura e n c o m e n d a d a s a gra n d e s m e s tres l i s b o e t a s , c o m o o p i n t or r é g i o Gre g ó r i o L o p e s , fa v ori t o d o g o s t o o fi c i a l d a c or t e j o a n i n a , o i t a l i a n i z a n t e G arc i a 22

F ernan d e s, g e nro d o fl a m e n go Fra n c i s co H e nri q u e s q u e re a l i z ara o s retá b u l o s m a n u e l i n o s

d e S ão F r a n c i s c o , o u a i n d a D iogo d e C o n t r e i r a s , o m a i s c o n s e q u e n t e i n tr o d u to r d a " m a n e i r a i t a l i a n a" n a p i n t u r a d e m e a d o s d a c e n t ú r i a , s e m e s q u e c e r o i n o v a d o r m es tre Luís de Morales, activo n a Estremadura espanhola e na área raiana . A s o b r a s s e l e c c i o n a d a s d e s t e s m e s t r e s a n u n c i a m , u m a s m ais t i m i d a m e n t e d o que o utras, e em p l uralidade de vias, novos caminhos d e experimen tação p l ás t i ca n o s d o m í n i o s d o d e s e n h o , da l u z e d a c o r e , c o n s e q u e n te m e n t e , a c r i' s e d o s m o d e l o s c l á s s i c o s e a t r a n s i ç ã o p a r a o a r t i fi c i a l i s m o d o M a n e i r i s m o o u p a ra o n a t u r a l i s m o do B a r r o c o . Fo i , c o n t u d o , a o b r a d e u m p i n t o r r a d i c a d o e m Évo r a - F r a n c i s c o d e C a m p o s - q u e m e l h o r i n t e r p r e t o u o e n t u s i a s m o p e l a s n o v i d a d e s d o c l a s s i c i s m o h u m a n ista, não a p e n as n o s a d e r e ç o s e r u ínas c l á s s i c as q u e p o v o a m o u e n q u a d r a m a s s u a s c o m p o s i ç õ e s , m a s , p r i n c i p a l m e n t e , n o c o n j u n t o d e fr e s c o s r e a l i z a d o s e m t r ê s s a l a s d o P a l á c i o d o s C o n d e s de B a s t o , n u m a d e l a s i n s p i r a d o s nas Meta mo/fases d e O v í d i o e em F i l o s t r a t o . F e c h a m e s t e s e g u n d o n ú c l e o a s a l fa i a s l i t ú r g i c a s e m " p r a t a chã" , a s s i n a l a n d o igualmente a m u dança de paradigmas estéticos no s e n ti d o d e u m Classicismo d e p u r a d o e " d es o r n am e n tado" o u " ch ã o " , q u e a s s i s t i u a o p a r a l e l o fl o resci m e n to d a n o t á v e l t r a d i ç ã o m u s i c a l p o l i fó n i c a d a S é d e É v o r a , e v o c a d a e m b e l o s a n t i fo n á r i o s i l u m i n a d o s e n o s t r a t a d o s i m p r e s s o s d e c a n t o c h ã o e d e m ú s i c a d e ó rgão d e Mateus de A r a n d a o u d e António F e r n a n d e s . 23

Construindo o Futuro A fi g u r a do i n fa n t e D . H e n r i q u e ( 1 5 1 2 - 1 580 ) , p r í n c i p e de fi n a e d ucação h u m a n i s t a , fi l h o d e D . M a n u e l e i r m ã o d e D . J o ã o I I I , a r c e b i s p o d e Évo r a de 1 5 4 0 a 1 5 78 ( c o m u m a i n te r r u p ç ã o d e d e z a n o s ) , c a r d e a l d a I g rej a R o m a n a , i n q u i s i d o r- g e r a l e , fi n a l m e n t e , r e i d e Po r t u g a l , a p ó s a m o r t e d e D . S e b a s t i ã o , d o m i n o u , a p a r t i r de m e a d o s d e Qu i n h e n t o s , a a c t i v i d a d e c o n s t r u tiva e a acção c u l t u r a l e m Évo r a , s u b s t i t u i n do o p a p e l mecenático que havia sido desempenhado pela c o r t e d o P i e d o s o e p reparando o fu t u ro da c i dade, n ã o a p e n a s ao n ív e l de c e r t a s i n fr a - e s t r u t u r as b ás i c a s , mas, s o b r e t u d o , c o m o i m p o r t a n t e sede i n s t i t u c i o n a l do s a b e r e r e t a g u a r d a d a a c ç ã o m i s s i o n á r i a . O fo r t e a p o i o d o c a rd e a l - i nfa n t e ao

c í r c u l o d e m e s t re s h u m a n i s t a s q u e s e e s t a b e l e c e r a m à s o m b r a d a s u a s e d e e p i s c o p a l e , fi n a l m e n t e , à C o m p a n h i a de J e s u s , c u l m i n a r i a n a fu n d a ç ã o d o c o l é g i o i n a c i a n o do E s pírito S a n t o , t r a n s fo r m a d o em U n i v e r s i d a d e logo em 1 5 5 9 . H e r d e i r o s q u a l i fi c a d o s d o m o v i m e n t o d e r e c u p e r a ç ã o d a c u l t u r a c l á s s i c a e d e a c t u a l i z ação d e s a b e r e s e d e m é t o d o s levado a cabo pelo H u m a n i s m o d e Q u a t r o c e n t o s e d a p r i m e i r a m e t a d e d e Qu i n h e n t o s , o s J e s u í t a s , c u j o s n o v e fu n d a d o r e s e r a m t o d o s g r a d u a d o s p e l a U n i v e r s i d a d e d e P a r i s , d e d i c a r a m - s e p r i n c i p a l m e n t e às t a r e fa s d e e n s i n o e fo r m a ç ã o , r e a b i l i t a n d o a i m a g e m d a I g r e j a C a t ó l i c a j u n t o d a s e l i t e s e u r o p e i a s e o fe r e c e n d o a l t e r n ativ as s ó l i d a s à p o l é m i c a t e o l ó g i ca a g i t a d a p e l o s p r i n c i p a i s refo r m a d o res p ro t e s t a n t e s . P a r a fa c i l i t a r a t a r e fa d o s e s t u d a n t e s , o s m e s t r e s j e s u í t as c o m p u s e r a m o b r a s d i d á c t i cas , c o m o a D ia léctica d e P e d r o d a F o n s e c a o u a Gra m ática d e M a n u e l Á l v a r e s , q u e c o n h e c e r i a m i n ú m eras e d i ç õ e s e r e p e rc u s s ã o m u n d i a l . O u t r o s , i g u a l m e n t e a q u i r e p r e s e n t a d o s , e s p e c i a l i z a r a m - s e n a r e n o v a ç ã o d o p e n s a m e n t o a r i s t o t é l i c o , na e x e g e s e b í b l i c a ou n a s p o l é m i cas s o b re v a l o r e s fu n d a m e n t a i s d a p e s s o a h u m a n a , c o m o o l i v re - a r b í t r i o e a j us t i ç a , q u e as n ovas r e a l i d a d es deco r re n tes d a e x p a n s ã o i b é r i c a c o l o c avam à c o n s c i ê n c i a m o r a l d a E u r o p a c u l t a . A acção missionária desenvolvida pela Compan hi a de Jesus no vasto es paço c i v i l i z a c i o n a l p o r t u g u ê s t e v e p r o fu n d a s c o n s e q u ê n c i a s c u l t u r a i s e a r t í s t i c a s . A r e d e d e c o n t a c t o s e n t re o s c o l é g i o s u l t r a m a r i n o s d o O r i e n t e e d a s Am é r i c as com a s r e t a g u a r d a s e u r o p e i a s p r o p i c i a va o c o n s t a n t e i n t e r c â m b i o d e n o t í c i a s e d e s a b e re s o u a r e a va l i a ç ã o d e e s t r a t é g i a s d e e v a n g e l i z a ç ã o . Ac e l e r o u - s e o c o n h e c i m e n t o m ú t u o e n t re p o v o s e c u l t u r a s d i s t a n t e s , g r a ç a s à d i v u l g a ç ã o n e s s a s l o n g í n q u a s p a r a g e n s d a c u l t u r a e u ro p e i a e às t e n t a t i v a s de fo r m a l i z a ç ão e t r a d u ç ã o das l í n g u a s e t e x t o s a u t ó c t o n e s d o O r i e n t e e das A m é r i cas . C e d o o s J e s u í t as s e v i r a m fo r ç a d o s a a d o p t a r , p r i n c i p alm e n t e n o O r i e n t e , u m a p o l í t i c a d e a d a p t aç ã o d o C r i s t i a n i s m o à s c o n d i ç õ e s c u l t u r a i s e n c o n t r a d a s . D e s s e e s fo r ço a c u l t u r a d o r n a s c e u t o d a u m a n ova e x p r e s s ã o a r t í s t ica m i s c i g e n a d a n a Í n d i a , n a C h i n a e n o J a p ã o q u e fr u t i fi c a r i a n o s s é c u l o s s e g u i n t e s . C o m a l g u n s e x e m p l o s m a r c a n t e s d e s s e e n c o n t r o d e c u l t u r a s n a a r t e d o m a r fi m , na p o r c e l a n a e n a s l a c a s se e n c e r r a a e x p o s i ç ã o .

24

Agradecimentos Uma exposição desta envergadura e complexidade não é fruto, nem na concepção nem na realização, de um trabalho individual.

Há que prestar o devido tributo a todos os que - e foram muitos - nos ajudaram a

idealizá- Ia e a concretizá-Ia. Gostaria de começar por felicitar a Comissão dos Descobrimentos, na pessoa do seu Comissário­ -Geral,

Professor António Manuel Hespanha, por ter abraçado, com o maior empenhamento e em

ano particularmente marcado pela dispersão de actividades e de recursos,

este projecto difícil

e diferente, que, estou certo, constitui um contributo sério para a renovação do algo esgotado modelo das exposições de história da arte em Portugal.

Idênticas felicitações dirijo à Câmara

Municipal de Évora e ao seu Presidente, Abílio Fernandes, pelo acolhimento entusiástico, pelo constante e eficaz apoio, assim como pela activa promoção da iniciativa junto dos diversos públicos. Em seguida,

não posso deixar de agradecer a Mafalda

Soares da Cunha a tenacidade e

clarividência com que coordenou brilhantemente toda a complicada operação de financiamento, organização e montagem da exposição,

à frente da maravilhosa equipa da Comissão dos

Descobrimentos, em que tenho de mencionar Rita Garnel, Maria do Carmo Telles de Freitas, Maria da Conceição Amaral, Pedro Moreira, Luís Campos, Rui Patarrana e Fernando Rui Branco, que, uma vez mais, demonstrou o seu elevado profissionalismo. Não quero, todavia, deixar de lembrar o papel de António Camões Gouveia, que connosco concebeu, em "996, todo o ciclo dedicado a Évora. A diversificada rede temática coberta pela exposição

exigiu

um

especial

trabalho de

acompanhamento por parte de todo o Comissariado Científico e não só: a criteriosa escolha de obras artísticas foi colectivamente realizada com José Luís Porfírio, José Alberto Seabra ou Dagoberto Markl Ce, ainda, com a colaboração de outros técnicos do Museu Nacional de Arte Antiga, como Leonor d'Orey, Sérgio Andrade e Maria João V. Carvalho) e o apoio local, em Évora, de Manuel Branco Ce do antigo Director do Museu de. Évora,

Dr. Artur Goulart);

mas os meus colegas historiadores de arte permitir-me-ão que aqui homenageie Isabel Cid e Joaquim Lavajo pelo notável trabalho de selecção de cerca de cento e trinta obras literárias e documentos sem os quais a exposição teria pouco sentido. Recordo, com muito carinho, as numerosas e enriquecedoras sessões de trabalho em

Évora, com estes dois eruditos

amigos, graças às quais a exposição ia tomando forma. A belíssima e original arquitectura da exposição ficou uma vez mais a dever-se ao modo genial como Pedro Ravara e Baixa Atelier interpretaram o nosso guião e o puseram de pé em escassos quarenta dias, contando neles com a conhecida eficácia das Construções Sampaio na realização material das estruturas expositivas, fora utilizado na exposição

Francisco

Henriques.

em que se adaptou muito do que antes Mas não teríamos conseguido instalar os

cento e trinta livros e documentos nas vitrinas durante os escassos três dias que nos foram concedidos se não fosse a extraordinária colaboração e dedicação inexcedível das duas técnicas do Museu

Nacional de Arte Antiga, Maria da

Trindade Mexia Alves e Graça

Lima.

A sofisticada luminotecnia de Vítor Vajão desempenha um papel determinante no êxito que a exposição tem junto do público, o mesmo se podendo dizer de todo o elegante e sóbrio design de comunicação, da responsabilidade da equipa da 2&3D, Design que também assina

a original e delicada concepção gráfica do Catálogo. Last but not least, é forçoso reconhecer a total disponibilidade das muitas entidades públicas

e privadas que cederam peças para a exposição. A todos os meus mais sinceros e profundos agradecimentos.

Por último, gostaria de dedicar a exposição

memória de Túlio Espanca, esse incansável

investigador a quem a arte e a cultura da Renascença no Alentejo tanto devem, e à de dois grandes historiadores da cultura dos Carvalho e Luís de Albuquerque.

Descobrimentos

Portugueses,

Joaquim

Barradas de

2S

H U M A N I S M O E L I TE R A TU R A N O P O R TU G A L QU I N H E N T I S T A M a r i a Leonor C a rv a lhão B u e s c u

e p o l s d a l e n t a e v o l u ç ã o c u l t u r a l o p e r a d a na I d a d e M é d i a , q u a n d o o s h o m e n s pouco a p o u co s e l i b e r t avam d a b a r b á r i e e m que as invas õ e s , ao m e s m o t e m p o q u e s u b m e r g i a m o I m p é r i o Ro m a n o , h a v i a m m e r g u l h a d o a E u r o p a , v e r i fi c a - s e u m m o v i m e nto c u l t u r al q u e , b a s e a d o n o c o n h e c i m e n t o e n a i m i t a ç ã o d o s c l á s s i c o s ( l a t i n o s e g r e go s ) , t r o u x e u m a n o v a c o n c e p ç ã o d e h o m e m , encarado n a sua i n t egrali d a d e , e veio a b r i r novos h o r i z o ntes à H um a n i d ade e r a s g a r o s c a m i n h o s d a I d a d e M o d e r n a - fo i o Renas c i m e n to. E x i s t e m , p o i s , no Re n a s c i m e n t o d o i s a s p e c t o s a p a r e n t e m e n t e c o n t r a d i t ó r i o s : p o r u m l a d o , a i m i tação das c u l turas c l á s s i c a s ; p o r o ut r o , d e certo m o d o , a s u a c o n testação, a o d e s v e n d a r , a t r avés d a e x p e r i ê n c i a , as r e a l i d a d e s h u m a n a s e c i e n t í fi c a s q u e v ã o c o n d u z i r ao espírito moderno. C o m e fe i t o , a o· r e c o n h e c e r a s u p e r i o r i d a d e a r t í s t i c a e l i t e r á r i a d a s c i v i l i z a ç õ e s a n t i g a s , os homens do século

xv

fo r a m l e v a d o s a i m i t á - l a s , m a s , a p a r t i r d e l a s , a c o n c e b e r u m a

n o v a n o ç ã o q u e o s a n t i g o s a p e n a s h a v i a m p r e s s e n t i d o : a n o ç ã o d o Ho m e m i n tegra l, c o m p l e x o h a r m o n i o s o d e c o r p o e de e s p í r ito . A e s s e n o v o i n t e r e s s e p e l o H o m e m , s e r v i d o p e l o e s t u d o a p r o fu n d a d o d a s l etras e d a s a r t e s , s e d e u o n o m e d e H u m a n i s m o . O H um a n i s m o P o r t u g u ê s , i n s e r to n o H um a n i s m o E u r o p e u , revestiu, c o n t u d o , aspectos p a r t i c u l a r e s , s o b r e t u d o p o r u m e n r i q u e c i m e n t o e x t r a o rd i n á r i o p rov e n i e n te d a e x p e r i ê n c i a t r a z i d a p e l o s D e s c o b r i m e n t o s , a s s u m i n d o , p o r t a n t o , u m a fi s i o n o m i a e s p e c í fi c a , fo r m u ­ l a n d o - s e a t r a v é s d e u m a a n á l i s e c o n t /"as ti v a d o r e a l . A m e n s a g e m t r a n s m i t i d a p e l o s d e s c o b r i d o r e s v i n h a s e r, a fi n a l , a p r o v a d a s t e o r i a s h u m a n í s t i c a s : n e m s ó r a ç a b r a n c a , nem só civilização europeia, nem s ó as religiões até e ntão conhecidas - o cristianismo, o j u d a í s m o , o m a o m e t i s m o e a s p r ó p r i a s l í n g u as e u r o p e i a s d o s r a m o s j á i d e n t i fi c a d o s ( r o m â n i c a s , g e r m â n icas e e s l a v a s ) - e x i s t i a m n o m u n d o , q u e p e l a p r i m e i r a v e z s e r e v e l ava e m t o d a a s u a v a s t i d ã o e d i ve r s i d a d e . I s t o c o n fe r e a o H u m a n i s m o Po r t u g u ê s u m a fe i ç ã o d e p recurs o r q u a n t o à n o ç ã o d e rela ti­

vida de d a s c o i s a s h u m a n a s e d a p r ó p r i a v i v ê n c i a d o rela ti v o . S o b re o que pode considerar-se a a m b i g u i dade do Renascimento i b érico e p o r t u g u ê s , e s c r e v e M e n é n d e z y P e l a y o : "So lo en el siglo

XVII!

[ . ] se c o m enzó a esta b elecer a q u í . .

27

(en Espana) la di vergen cia )' el a n tago n is m o en tre la tradición clds ica )' la p op u la r [. . . ] . Fué, p u es, la fa lsa an tigu edad, e l seudo clasicis m o, q u ien p o r p ri m e ra vez declaró gue rra a la gen uina poesía esp a n o la, resp etada )' defen dida siemp re p o r los in teJpretes de! clasicis m o v erdadero [ . . . ] .

"I

E s t a r e fl e xão c o l o c a o p r o b l e m a n o s t e r m o s e m q u e s e d e fi n e a e s t é t i c a

r e n a s c e n t i s t a n o c o n t e x t o d a l i t e r a t u r a p o r t u g u e s a . O Re n a s c i m e n t o n ã o c o n s t i t u i , c o m e fe i t o , u m a r u p t u r a e m r e l a ç ão a o s m o d e l o s t r a d i c i o n a i s , m a s a n t e s u m a b u s c a de c o n c i ­ l i ação en tre esses m o d e l o s e a e s c o l a i ta l i a n i z a n t e . D e s t a c o n c i l i a ç ã o , o u deste c o m p r o m i s s o n ã o p o l é m i c o , e m e r g e , e fe c t i v a m e n t e , u m a l e i t u r a a u t ó n o m a d e u m m o v i m e n t o c u l t u r a l c u j o s d e n o m i n a d o res c o m u n s p r o d u z e m a g r a n d e u n i d a d e c u l t u r a l d a E u r o p a i t a l i a n i z a d a . Ta m b é m n e s s e s e n t i d o p a r e c e s i g n i fi c a t i v a a r e fl e x ã o d e G e o r g e s l e G e n t i l : "A lo J'S q u e

chez n o u s D u Bella)' et Ro nsa rd la nçaient l 'a n a th e m e c o r ltre les gen res p ér i m és d u /Vlo)'en Age, les p o etes de CO ll r, au Po r t ugal, ne v o u la i e n t rien a bdiq u e r d 'u n passé e n c o re v i va n t. !ls c u lti v a i e n t s i m u lta n ém e n t deux fo r m es de p o esie [. , , ].

"2

Assi m , e n q u a n to os po etas d a P lê i ad e , em F r a n ç a , tratam s o b r a n c e i r a m e n te os antigos m o d e l o s e os arredam da p o s s ível i m i taçã0 3 eis q u e S á d e M i randa - e l e p r ó p r i o i n tro d u t o r d o v e r s o i t a l i a n o - e , mais t a rd e , C a m õ e s , não r e n u n c i a m à m edida v e lha n e m a o s c o n t e ú d o s p o é t i c o s d a t r a d i ç ã o a n t e r i o r . E l e s s ã o , de c e r t o m o d o , c o n d i c i o n a d o s p o r t r o p i s m o s de r e g r e s s o . A " m e d i d a v e l h a" é , p o r e x e m p l o , u m c a s o n o t á v e l d e s o b r e v i v ê n c i a p r o du tiva, d e s s a c a p a c i d a d e d e d o v e l h o fa z e r n o vo ; d e s d e o Ca n ci o n eiro Ge ra l a t é às Quadras

ao Gosto Pop u la r d e F e r n a n d o P e s s o a e a o s p o e t a s d a c o n t e m p o r a n e i d a d e mais p róxima, esse metro poético não deixo u de ser p rodutivo. O " a r i s to cra t i s m o " de A n t ó n i o F e r r e i r a p ar e c e , n e s t e c o n t e x t o , u m caso q u a s e i s o l a d o : " Vejo v i r c la ro lu m e d e Tosca n a .

/

Neste a r ç o ; a a n tiga Espanha

deixo a o p o v o ."4 Se, no entanto, a conciliação de m o delos e o comprom isso estético, g a r a n t i n d o c o n t i n u i d a d e s , d e fi n e m , p o r a s s i m d i z e r , o u n i v e r s o c u l t u r a l do século

XVI,

não é menos verdade que ele é também u m mome n to de

r u p turas, e, m a I S , de r u p tu ras operadas ao nível de u m a consciência e s p e c t a n t e . A Misc e lâ n ea d e G a r c i a d e R e s e n d e ( n o s e n t i d o d a e u fo r i a ) e o Tr i u nfo do I n v e r n o d e G i l V i c e n t e ( n o s e n t i d o d a d i s f o r i a ) p a r e c e m ­ - m e p r e c l O S o s e s i g n i fi c a t i v o s t e s t e m u n h o s d e u m a V l l' a g e m q u e , n o e s p a ç o d e p o u c o s a n o s , v a i fa z e r a p a r e c e r u m a 28

i m agem nova do Homem no cenário

I 2

M e n é n d e z y P e l a v a , His t ó ria de las Ideas Estéticas en Espana, I , G e o rges

le Gentil,

3 " L ã d a n e,

Ca m o e n s ,

Paris,

Hatier-Boivin,

1954.

p . 728. p. 107.

Fra n ça is , m a rc h e z c o u r a g e u s e m e n t v e rs c e t t e s u p e rb e

cité Romaine /

..

l" O . D u B e l l a y. " C o n c l u s i o n d e To u t [ ' ce u v re " , i n

D é fe n s e) . 4 António

L us i t a n o s .

F e r re i r a ,

"Ca rta a

D.

Simão da Silveira",

ln

Poemas

n o v o d o M u n d o , q u e fa z e x p l o d i r a s Fro n t e i r a s g e o g r á Fi c a s e , e m s i m u l t â n e o , a s Fro n t e i r a s d o s a b e r . As s i m , a c o n t e x t u a l i z a ç ã o d a l i t e r a t u r a d o s é c u l o

XVI

t e m c o m o fu n d a m e n t a ç ã o u m

d u p l o r e g i s t o : u m a " h e r a n ç a c l á s s i c a" , c o r r e s p o n d e n t e à e m e r g ê n c i a d e e l e m e n t o s q u e , p o r v i a i ta l i a n izante e , m a i s tarde, p o r v i a di recta, t r a n s m i t e m u m d o s parâmetros que v ã o fu n c i o n a r n a c o n s t r u ç ã o d o e d i fí c i o c u l t u r al d o R e n a s c i m e n t o , i s t o é , a c u l t u r a d a A n ti g u i dade greco - l a t i n a ; a " h e rança m e d ieva l " c o r re s p o n d e r á a essa o u t ra z o n a de ele­ m e n t o s a p r o v e i t a d o s q u e , p r o v e n i e n t e s d e u m a t r a d i ç ã o a n t e r i o r , fu n c i o n a m q u e r autonom a m e n te , como no caso d e G i l Vice n t e , q u e r em s i m b i o s e com os elementos clássicos, como no caso de S á de M i r a n d a , e até de B e r nardim Ribeiro, mais tarde de > x

C a m õ e s . E s s a h e r a n ç a m a n i fe s t a - s e , p o i s , d e d o i s m o d o s : p r o d u z i n d o c o m p o s i ç õ e s e s t r i t a m e n t e m o ldadas s o b re o s m o d e l o s ( c a n t i g a s , v i l a n c e t e s , e s p a r s a s , e tc . ) o u d a n do

o "C

o r i g e m a c o m p o s i ç õ e s " h í b r i d a s " , c o m o é o c a s o d a c a r t a e d a é c l o g a q u e , res u l t a n d o d e p a d r õ e s c l á s s i c o s , q u a n t o à fo r m a , u t i l i z a m o m e t r o t r a d i c i o n a ! , i . e . , a m e d i d a v e l h a , c u j a p r o d u tividade é , portanto, n o tável .

'"

E

o.

Parece - m e s e r e s t a " s u p e ração d o s m o d e l o s " q ue e ng e n d r a a a u t o n o m i a d o H o m e m e , c o m e l a , o "adve n to d o m o d e r n o" . C o m e fe i t o , a p a i s a g e m c u l t u r a l d a E u r o p a , v i s t a n o s e u c o n j u n t o , d e s p e r t a , q u a n d o o b s e r v a d a , u m a fo r t e i m p r e s s ã o d e u n i d a d e . D e s c o b r e - s e e n t ã o c o m o d e n o m i n a d o r comum,

aquilo

que,

e m b o r a i m p e r fe i t a m e n ­ te, podemos designar por

h e r a n ç a cldss ica,

in tegradora e europelzan te. Essa herança erige-se ao mesmo tempo c o m o fa c t o r d e p r e s ­ tígio e como modelo n o r m a t i v o . Ass i m , por exe m p l o , quanto aos conceitos

de

Hu m a -

n i ta s , O t i u m e lmp e­ I'l u m e q u a n t o a o d e l i n e a m e n t o d o p e r fi l d o

He r ó i .

29

E s s e s c o n c e i t o s , a l i á s , e d u m p o n t o d e v i s t a e s t r i t a m e n t e l ó g i c o , p o d e r i a m p a re c e r i n c o n c i l i áve i s : c o m o c o n c i l i a r o c o n c e i t o d e Oti u m e o c o n c e i t o d e lmp eriu m ? O p r i m e i r o , a p o n t a n d o p a r a u m a fr u i ç ã o p r a g m á t i c a , o s e g u n d o p a r a u m a e x i g ê n c i a h e r ó i c a ; o p r i ­ m e i r o r e q u e r e n d o u m s e d e n t a r i s m o , o s e g u n d o u m a d i l a t a ç ã o g e o g r á fi c a ? As s i m , H o r á c i o e V i r g í l i o i n s t a u r a m - s e como os d o is m e n t o r e s ou os dois p ó l o s d o m o de l o cláss i c o . S á d e M i r a n d a é o p r i m e i r o "p o e t a h o r a c i a n o " , p a r a q u e m o p o e t a l a t i n o , m a i s d o q u e o m o d e l o p u r a m e n t e fo r m a l , fo i o fo r m u l a d o r d o s t ó p i c o s d u m a r e fl e x ã o e d u m a m e d i ­ tação existen c i a l . O p r a g m a t i s m o l a t i n o - e , p o rque n ã o , o pragmatismo p o rtuguês a s s e n t a n o q u e p o d e m o s c h a m a r u m a " fi l o s o fi a d e a c ç ã o " q u e , l i b e r t a da e s p e c u l a ç ã o p u r a , p r o c u r a fo r n e c e r e s q u e m a s d e v i d a , n o q u a d r o d a e x i s t ê n c i a : v o l t a d a p a r a o I m e ­ d i a t o , r e j e i t a n d o a a b s t r a t i z a ç ã o d o s c o n t e ú d o s , fo r m u l a n d o u m d i s c u r s o o bj e c t i v o , e m r e l a ç ã o à r e a l i d a d e c i r c u n d a n t e . É , p o r t a n t o , o r e fe r e n t e i m e d i a t o q u e , n a p o e s i a d e S á d e M i r a n d a e n a d o s e u d i s c í p u l o m a i s p r ó x i m o , A n t ó n i o F e r r e i r a , s u r g e c o m o m o t i vo p a r a a a c t u a l i z a ç ã o da r e fl e x ã o e s t ó i c o - e p i c u r i s t a de H o r á c i o . A m b o s p a r a fr a s e i a m o p o e t a l a t i n o , a m b o s o i m i t a m e a m b o s o r e fo r m u l a m . A p r o p o s t a é a d e u m a fi l o s o fi a d e m o de ração , a a u rea mediocrÍfas, q u e , a p a r t i r d o Otium, p e r m i t i r á a s c e n d e r à Human itas. N a " C a r t a a M a n u e l de S a m p a i o " , A n t ó n i o F e r r e i r a t e m p r e s e n t e a a p o l o g i a h o r a c i a n a d a v i d a d o c a m p o e t e m p r e s e n t e s t a m b é m , p o r q u e l h e s a s s i s t e , o s fe n ó m e n o s a b s e n t i s t as da s o c i e d a d e p o r t u g u e s a d o s é c u l o

XVI :

"D itosa, ó quam ditosa a q u ela ge n te / Que, em

s u a simp rez, sã rusticida de, / A n o ite trds o dia v ê c o n t e n te! / Quam triste e du ra vida a da Cidade [ . . . }. " N e s s e m e s m o t e x t o , a e x p r e s s ã o q u a s e b l a s fe m a , "o tes o u ro, s e u deus ", é o r e g i s t o d u m a p r o fu n d a c o n t e s t a ç ã o , s o b r e t u d o v i s t a e m r e l a ç ã o a o c o n t e x t o e m q u e s u r ge e m o p o s i ç ão e c o m o i m p e d i m e n t o da a c t i v i d a d e c r i a d o r a , em s u m a , da Hu m a n i tas, p e r m i t i d a e p r o p i c i a d a p e l o O ti u m . O t i u m , o u " q u i e t a ç ã o " , o p o s t o a o Nego t i u m é o q u e p r o c u r a , n u m a c o e r ê n c i a v i ve n c i a l , S á d e M i r a n d a , a o a fa s t a r - s e , c o m o o s e u m o d e l o , H o r á c i o , d a a g i t a ç ã o fe b r i l d e L i s b o a . N o s e u r e t i r o d a Tap a d a , e m D u a s I g r e j a s , e l e e n c o n t r a o c e n á r i o p r o p i c i a d o r d a r e fl e x ã o e d a m e d i t a ç ão c r i a d o r a s , d e s c r i t as d e m o d o e x p r e s s ivo na " C a r t a a A n t ó n i o P e r e i r a , S e n h o r d e B as t o " e d e m o d o m a i s a r i s t o c r á t i c o na " O d e I " d e António Ferreira. Ta i s m e d i t a ç õ e s , u l t r a p a s s a n d o o m e r o l u g a r l i t e r á r i o , fa z e m p a r t e d a c o n s c i ê n c i a d o h o m e m co m u m d o s é c u l o

X VI .

E i s u m t e s t e m u n h o p re s e n c i a l : "[

. . .

} era u a m edo nha

e las ti m osa rep rese n tação v e r a c o nfu sa o rdem com q u e a des a v e n t u ra tinha t u do a q u ilo o rde n a do e q u e b a s ta va a m e m ó ria da q u ele p asso p a ra não ser h a v ida a p o b reza p o r 30

ta m a n h o m a l q u e, p o r lhe fug i r, deix e m o s a D e u s e a o p ró x i m o , p á tria e p a is, i rm ãos e a m igos, m u lh e res e fi lhos e, troca n do ta n to s gostos e q u i e tações p e los s o b ejos q u e cá

f..I c a m .

"

5

Qu a n t o a o s gén eros e a i n d a q u a n t o à s fo rmas e a o s m etros i m p o r t a i d e n t i fi c ar, a p a r t i r d o s p r ó p r i o s t e x t o s , a " o r t o d o x i a" e a " h e t e r o d o x i a" r e l a t i v a m e n t e a o s p a d r õ e s c l á s s i c o s : a h i s t ó r i a e as v a r i a n t e s d o decassíla b o e a c o n s t r u ç ã o d o s o n eto p o r t u g u ê s , b e m c o m o a s a p r o x i m a ç õ e s t e ó r i c a s d e m o n s t ra t i v a s d a t u t e l a l i t e r á r i a e x e r c i d a p o r H o r á c i o , a t r a v é s d a A rte Po ética p o r s u a v e z v i n c u l a d a à Po ética d e A r i s t ó t e l e s . E i s a l g u n s p a r a l e l i s m o s s i g n i fi c a t i v o s :

A n t ó n i o F e r r e i r a , " C a r t a a P ê ro A n d r a d e d e C a m i n ha"

H o r á c i o , A rte Po ética

"L imae la b o r et m o ra . . .

" Vejo teu verso b ra n do . . . /

"

/ Só q u eria temp o e lima . . .

"

H o r á c i o , i bidem

A n t ó n i o F e r r e i r a , i b idem

"Seribendi recte sap e re /

"Do b o m escrever, s a b e r p ri m eiro é fo n te . . .

/ est et p rincip i u m et fo ns . . .

"

5 " N a u fr á g i o

D M a t e u s e S ã o J o ã o ( p o r m e n o r) , cal. n . ' 5

b o a , M u s e u N a c i o n a l de Arte A n t i g a

"

da

Nau

S.

Bento",

in

H is t ó ria

Trági c o · M a rít i m a .

6 C f . A u t o da F e i r a , Farsa d o s A l m o cr e v e s , A u t o da L us i tâ n i a , e t c . 7 C f . A u t o d a B a rca d o P u rga t ó ri o , B r e v e S u m á rio d a Histó ria d e

A s o b r e v i v ê n c i a , ou m e l h o r , a c o n v l -

D e u s , N a u d e A m o re s , e t c .

v ê n c i a d o s m o d e l o s t r a d i c i o n a i s I n s c re v e - s e e m t r ê s z o n a s q u e , e m b o r a t e o r i c a m e n t e d i fe r e n c i a d a s , n a p rá t i c a s e i n t e r p e n e t ram e por vezes c o n fu n d e m . D i fí c i l é, p o i s , d i s t i n g u i r a m a t é r i a dos c a n c i o n e i r o s m e d i e v a i s da t r a d i ção p o p u l a r e , a t é , d u m a t r a d i ção q u e e u diria a m b ígua por denu nciar e m si m e s m a u m c e rt o n ú m e r o d e c o n t a m i n a ç õ e s : a p o e s i a p a l a c i a n a . S e , n o s fr a g m e n t o s d e p a r a l e l í s t i c a s G e n a s c a n t i g a s , r o m a n c e s e v i l a n c e t e s q u e s e m e I a m a o b r a d e G i l V i c e n t e ? s e m a n i fe s t a c l a r a m e n t e o q u e c h a m a r i a u m refl e x o " d i r e c t o " d a p o e s i a m e d i e v a l , p o d e m o s , p o r c e r r o , d e t e c t a r u m r e fl e x o " i n d i r e c t o " n a t r a d i ç ã o s a t í r i c a d o " D e s c o n c e r t o " q u e , r e m o n t a n d o à p o e s i a t r o v a d o r e s c a , p a s s a p e l a c rí t i ca a u s t e r a d e Sá d e M i r a n d a e c u l m i n a nas c é l e b r e s r e d o n d i l h a s d e L u í s d e C a m õ e s . E i s , a t í t u l o d e b r e v e e x e m p l i fi c a ç ã o :

" Vei ' e u a s ien tes a n da r reu o lvendo e m u da n do agi n h ' os co rações do q u e p o e n an tre sy a i u ra ções; e id m 'e u a q u esto v o u ap rendendo e o ra cedo m a)/s ap rende re)'.' a q u en p oseI' p re)/to m en tir-lh o - ey, e ass)/ )lrey m e lh o r gua recen do ! "

[ P ê r o M a fa l d a , n . O

4 3 5 CA; 3 2 0 C B ]

"Assi vão tempos p e rdidos: que os m a us são le v a n tados e os b o n s são dest r u ido s " [ S á d e M i r a n d a , Éclog(/ MOllt(/lIo]

"Os b o n s

VI.

semp re passar

n o m u n do gra ves to rmen tos; e, p a ra m a is m 'esp a n ta l', os m a us vi semp re nada r em m a r d e co n te n ta m e n tos

� ce

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� 32

[ Luís de Camões, "Es parsa do Autor ao D e s c o n c e r t o d o M u n d o " , i n Rill/(/s]

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III

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D e s e n h a - s e assim u m verdadei ro " m u n d o ao revés " , u m d o s t ó p i c o s d e m a i o r p ro du ­ tividade do século

XVI,

de que encontramos n u m erosos l ugares n a o b ra de G i l Vice nte,

n o m e a d a m e n t e n a Tragico m édia da Serra da Estrela n a fi g u r a d o F r a d e q u e d e fi n e o s s e u s ideais a o i n v é s d o s p r e s s u p o s t o s d o c ó d i g o s o c i a l e m q u e s e i n s e r e : "Eu desejo de

h a b i ta r / n u a erm ida a m e u p razer, / o n de p u desse fo lga r /" e t c . C o m e fe i t o , o t ó p i c o d o m u n do ao revés, q u e p o d e s e r o b j e c t o d e t r a t a m e n t o b u r l e s c o o u n ã o , insere-se num tipo de discurso s i m u l t a n e a m e n te c o n s ervad o r e renovador. D i z Yv e s - M a r i e B e r c é : "L e myth e d e l 'in vers i o n app a raZt co m m e u n fa n ta s m e d e menace so cial

[. . . } . L es déco uvertes des n o 1t veaux m o n des o n t rela tivisé les p rin cip es. " 8 A i n v e r s ã o a p a r e c e , p O I S , c o m o g a r a n t e d e sim etria e , a o m e s m o t e m p o , c o m o p r o v a " v i s í v e l " e " v i ve n c i a l " d a v e r d a d e d o invero s í m i l , m a t e r i alizada n a evidência d a e x i s tê n c i a d o s a n t í p o d a s . N ão '" M

s e t r a t a , n o e n t a n t o , d e p e rversão m a s d e v e r d a d e i r a e l e g í t i m a " i n v e r s ã o " . S e C u r t i u s c o n s i d e r a r a e s t e tópos d e r i v a d o d o s imp ossibilia, v e r i fi c a - s e q u e , a p a r t i r d a í , o i m p o s s ível

., o

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s e t o r n a p o s s í ve l , ou m e l h o r, o i n v e r o s í m i l t o r n a - s e p o s s í ve l . A t r a d i ç ã o p o p u l a r, p o r v e z e s i n d e s t r i n ç á v e l d a t r a d i ç ã o p a r a l e l í s t i c a , i n d i v i d u a l i z a - s e - e c o m p r o d u t i v i d a d e n o t á v e l - n a r e c u p e r a ç ã o d a " c a n t i ga v e l h a" , p r e s e n t e n o s m o t e s g l o s a d o s p o r Sá de M i ra n d a , D i ogo B e r n a r d e s e o u t r o s p o e tas d e e s t i r p e c l á s s i c a e p e tr a r q u i s t a :

"Na q u ela serra me

l i"

q u ero a m o ra l';

33

q u e m m e q u iser b e m q u e m m e b e m q u iser lá me irá b usca r " [ S á d e M iranda]

"Co ifa d e b eira m e n a m o ro u Joa n e " [Camões]

Re l a t i v a m e n t e à t r a d i ç ã o c o r t ê s p r o v e n i e n t e d a p o e s i a p a l a c i a n a e r e p r e s e n t a d a p r i n ­ c i p a l m e n te p e l a p o e s i a d o Ca ncion eiro Gera l, e l a i n s c r e v e - s e s o b re t u d o n o v e c t o r p e t r a r ­ q u i s t a , e n o e m p r e e n d i m e n t o d a e x p l o r a ç ã o d o eu e d a ave n t u r a p s i c o l ó g i c a e s e n t i m e n t a l . N a m e d i d a e m q u e coloca os p ro bl e m a s , c o n c e b e a s a s p i r a ç õ e s e fo r m u l a a s d ú v i -

8 L ' I mage d u M o n de R e n v e rs é e i s e s R ep ré s e n t a t i o n s L it t é ra i re s e t

P a ra - li t t é ra ires d e l a Fin d u XVle S i e c l e a u M i l i e u d u XVlle, P a r i s ,

Vrin. '979. p.

11.

d a s q u e a s u a p r ó p r i a e x p e r i ê n c i a v I e r a fa z e r s u c e d e r às a n ti g a s c e rte z a s , o d i s c u r s o d o século

XVI

e r i g e - s e c o m o u m d i s c u rso a b e r t o e i l u m i n an t e , q u e i n t erroga o r e a l recém­

- i n v e n t a d o , c o m o ú n i c o i n t e r l o c u t o r . Ao a c o m p a n h a r o p e r c u r s o m e n t a l d e s s e s h o m e n s , e n c o n t r a m o - n o s c o n fr o n t a d o s c o m a p r ó p r i a a b e r t u r a d o s e u d i s c u r s o , e p o d e r e m o s p e r g u nt a r s e , d e fa cto , e s t a r e m o s p e r a n t e u m a r e v o l u ç ã o e p i s t e m o l ó g i c a , c o n d i c i o n a d a p e l a p r ó p r i a a ve n t u r a d a e x p e r i ê n c i a . O c a nto

V

d e O s L us ía das é , d e s s e p r o b l e m a , u m

p r e c i o s o t e s te m u n h o . C o m o s ã o t a m b é m , d o m e s m o p o e m a , o s p a s s o s d o s c a n t o s IX

VI

e

q u e a p o n t a m p a r a u m p e r c u r s o p l e n a m e n t e p e r c o r r i d o : d a Hu m a n itas ao H u m a n i s m o ,

o q u a l a t r a v é s d a a s s u n ç ã o p l e n a d o c o n c e i t o r e c é m - a p r e n d i d o d a r e l at i v i z a ç ã o d a s c o i ­ s a s , c o n d u z a u m a n t r o p o c e n t r i s m o d e c e r t o m o d o t r i u n fa l i s t a , q u e , t a l v e z p a r a d o x a l ­ m e nte , s e e x p r i m e atr a v é s d e c o n c e p ç õ e s c l á s s i c a s c o m o a d a a p ot e o s e d o s h e r ó i s e d a i m o rt a l i d ad e :

" Vistes, e a i n da v e m o s cada dia, S o berbas e i n s o lên cias tais, q u e tem o Que do Mal' e do Céu, em p o u cos a n os Ven h a m D euses a ser n ós, h u m a n o s " [ Os Lusíadas,

VI,

29)

O r a , e s t e c o n c e ito te m , n o t e x t o c i c e r o n i a n o So n h o d e Cip ião, u m a d a s s u as m a I s b e l a s e x p r es s õ e s . E s s e t e x t o c o n s t i t u i , i n d u b i t a ve l m e nte , u m a d as m a i s b e l a s nekuias, i s t o é , "evocação d o s m o r t o s " d a l i t e r a t u r a a n t i g a . L i t e r a r i a m e nte , o s e u m o d e l o d i s c u r s i v o d e n o t a u m a n o t á v e l p e r fe i ç ã o e e q u i l í b r i o e s t r u t u r a l , ainda que, p o rv e n t u r a , m o l d a d a sobre exemplos a n t e r i o res 9 . É , p o r é m , o s e u co nte ú d o o u , s e q u i s e r m o s , a s u a m e n s a g e m , q u e n o s p a r e ce d e s u b l i n h a r, s e tive r m o s e m c o n t a q u e e s s e c o n t e ú d o s u b j a z , n ã o s ó a o e p i s ó d i o c a m o n i a n o d o " S o n h o d e D . M a n u e l " [ Os L u s íadas, I V , 68- 7 5 ] c o m o ( a i n d a q u e s u ma r i a me nte) fo i a p o n tado p o r fre i Rebelo G o n çalves 1 0 , mas t a m b é m e s o b retudo a o s e nti d o g l o b al que o p o e t a atr i b u i à tota l i d a d e do P o e m a . O m o d e l o e s tr u t u r a l d o S o n h o é s i g n i fi c a t i va m e n t e s e m e l h a n ­ te : C i p i ã o E m i l i a n o m e r g u l h a n u m s o n o p r o fu n d o e o s o n o fa v o r e c e e i n te n s i fi c a a s s u a s 34

p r e o c u p a ç õ e s . A s i t u a ção I n l -

9 C f. F r a n c i s c o R e b e l o G o n ç a lv e s , " O S o n h o n a P o e s i a C l á s s i c a " . i n

Filologias e L it e r a t u ra , S ã o P a u l o , ' 9 3 7 . p p . 8 5 - 1 ° 9 . t O " O S o n h o d e D . M a n u e l " , i n Dissertações Ca m o n ia na s , S ã o P a u l o ,

1937,

p p . 6 3 - 9 0 . A fi r m a o a u t o r :

1ft

n a t u ra l m e n t e

c i c e ro n ia n a a

l a t i n idade q u e aí se d e s c o b re e n o s deslu m b ra , p o is n ã o c u s ta a crer q u e Ca m ões e s t i v e s s e l e m b ra n d o o q u a dro do S o n h o de Cipião, c u i da n do n a a l t u ra c e l e s t ia l o n d e r e m o n ta ra o filho de Pa ulo E m ílio, e a i n da no seu e n c a n t o de v e r b e m p e rt o o doss e ' dos as tr05, n o s e u vasto c o s m o ra m a. n o s e u o lh a r s o b ra n c e iro à terra " ( p p . 7 9 - 8 0 ) .

c i a l , d e t e r m i n a d a p o r d o i s t ó p i c o s , o s o n o e a p re o c u p a ç ã o , é r i go ro s a m e n te i d ê n tica e m O s L us ía das [ I V , 6 8 ] : "Esta n do ja deitado n o a u reo leito, I r. . ] O s o lhos lhe ocup o u .

o sono aceito, I Sem lhe desocup a r o coração ". A s e q u ê n c i a n a r r a tiva a p r e s e n t a paralelismos s i n gulares: o E m i l i a n o é elevado a grande altura pelo

Afr ica n o, e a í l h e é a p r e s e n t a d a a c i d a d e d e C a r t a g o . Q u a n t o a D . M a n u e l : "A q u i s e lh e ap res e n ta q u e s u b ia I tão a lto, q u e t o c a v a

à p rima Esfera, I Donde dian te vdrios m u n dos via, r. . }" [ ibidem, .

o

IV,

69] .

carácter mân tico do s o n h o é , n u m e n o u tro cas o , evide n t e , j á que

e m a m b o s s e a n u n c i a m fa c t o s fu t u r o s . O e q u i l í b r i o e s t r u t u r a l d a n a r r a t i v a é a s s e g u r a d o p o r u m a s i t u a ç ã o fi n a l q u e r e m e t e p a r a a s i tuação i n i cial j á d e s c r i t a e a r e s t i t u i : n o texto l a t i n o , é d i to q u e o

Africa n o s e a fa s t a e o s o n h a d o r d e s p e r t a . E i s c o m o é e n c e r r a d a a n a r r a t i v a c a m o n i a n a : "Não disse m ais o Rio ilu s tre e san to, I Mas a m bos

desap a recem um m o m en to. I A co rda Ema n u el com n o vo esp an to I E gran de alteração de pensa m en to " [ ib idem ,

IV,

7 5 ] . A o r g a n i z a ç ã o fo r m a l d as

d u a s n a r r a tivas p a re ce - n o s , p o i s , s i n g u l a r m e n t e p a r a l e l a . M a s , e n q u a n t o o S o n h o d e Cip iã o i m p l i c a , p o r s i s ó ,

um d e t e r m i n ad o c o r p o

d o u t r i n á r i o , n ã o c r e m o s q u e s e j a e s s e o caso d o " S o n h o d e D . M a n u e l " , q u e s e n o s a p r e s e n t a c o m o u m b e l o e p i s ó d i o , s e m d úv i d a , c o m u m a certa dimensão alegórica, admitimos, mas despoj ado do sentido e s c a t o l ó g i c o q u e c o n s t i t u i o n ú c l e o s i g n i fi c a t i v o d a n ek u ia c i c e ro n i a n a . Esse s e n t i d o escatológico, se em última i n s t â n c i a r e m o n ta a Platão, tem que ver c o m o pensamento estóico e t a m b é m com o p i tagorici s m o que, s e g u n d o Carco p in o l l , se i n stala como u m dos vectores em certo m o m e n to d o m i n a n t e s d o p e n s a m e n t o r o m a n o , p o r i n te r m éd i o d e Posi d ó n i o , p o r u m l a d o , e d e P a n é c i o , p o r o u t r o . Afi r m a a i m o r t a l i d a d e , p r é m i o p a r a a q u e l e s q u e s e t o r n a m e m i n e n t e s p e l a s p ró p r i a s a c ç õ e s p r a t i c a d a s p a r a o b e m p ú b l i c o : "Mas p era q u e t u , Africa no, sejas m a is

alegre em conservar a Rep ú blica, to m a isto, q u e todos os q u e a p dtria co nservarem, ajudarem e acrescentarem, têem certo e determinado lugar no Céu, o n de os bem aven­ turados gozam p e ra sempre. " M a i s a i n d a , s i t u a e s s a i m o r t a l i d a d e n u m l u g a r q u e é a s s e m b l e i a d o s d e u s e s , l u g a r d e p r i n c í p i o e d e r e t o r n o . E s s e t e m a d e fu n d o , i s t o é , a " i m o r t a l i d a d e a s t r a l " q u e , n u m A lém c o s m o g ó n i c o a g u a rd a o s g r a n d e s h o m e ns p ú bl i cos e os heróis, aqueles a quem a posteridade

1 1 J . C a r co p i n o ,

L a B a s i f i q u e P y t h a go ricie n n e d e la P o rt e Maje u re,

Paris, '926, p. '90.

35

p o d e r á c h a m a r " p a i s d o s p o v o s " e , p o r q u e n ã o , " d e u s e s " , r e e n c o n t r a - s e e m Os L usíadas de fo r m a s u fi c i e n t e m e n t e l í m p i d a p a r a q u e n ã o s e j a m o s l e v a d o s p e l o p r ó p r i o t e x t o a e n c o n t r a r - l h e p a r en tesco e , a t é , fi l i a ç ã o . E s s a i m o r t a l i d a d e , s e m d úv i d a p r e s e n t e , p o r v e n t u ra , a i n d a que s u b t e r r a n e a m e n t e , nas a p o t e o s es d a Roma i m p e r i a l , i d e n t i fi c a - s e c o m u m a c o s m o g o n i a q u e d i r í a m o s " d i n â m i c a " , n a m e d i d a e m q u e c a d a n o vo h e r ó i s e i m o r t a l i z a r á n o m u n d o e s t e l a r, s e g u n d o u m p ro c e s s o d e c r i a ç ão c o n t í n u a , n u m u n i v e r s o e m m o v i m e n t o e e m e x p a n s ã o . C r e i o , e fe c t i v a m e n t e , q u e o s e n t i d o e s c a t o l ó g i c o d o So nho d e Cip iáo fo i p l e n a m e n t e c a p t a d o p o r L u í s d e C a m õ e s , c a p t a ç ã o , a l i á s , t a l v e z r e fo r ç a d a p e l a s u ge s t ã o d o s c o m e n t á r i o s d e M a c r ó b i o , e q u e s e c o n fi r m a , ao l o n go d o P o e m a , e m a p a r e n t e m e n t e fr a g m e n t á r i as r e fl e x õ e s , a q u e o s e n t i d o t o ­ tal do P o e m a , n o e n t a n t o , é afe c t o . A d i v i n i z ação d o s h u m an o s , n a s p al av ras de B a c o : "[. . . } tem o

/

Que do Ma r e do Céu, e m p o u cos a n os,

Deuses a s e r [ . . . } " [ Os L usíadas,

VI,

/

Ven ha m

29J ; a conquista d a imo rtali dade pela

p a r t i c i p a ção a m b r ó s i a e do n é c t a r, a l i m e n t o d o s d e u s e s [ ib idem,

x,

1 -4J .

P o r o u t r o l a d o , e s t á t a m b é m p re s e n t e , n o t e x t o c a m o n i a n o , c o m o n o de C í c e r o , a d i m e n s ão e s tó i c a d o h e r ó i , faz e d o r d e "tra balho I m enso q u e se

chama

/

Ca minho da virtude, alto e fragoso,

deleitoso, " [ ibidem,

IX,

/

Mas, no fim, doce, alegre e

9 0 J c a p a z d e s o fr e r "temp estades e o n das cruas ", v e n ­

c e r "os torp es frios n o regaço

/

d o Sul", e n g o l i r "o corrup to m a n ti m e n to

Temperado com u m drdu o sofrim e n to " e , e n fi m , "fo rçar o rosto [. . . } cer segu ro, ledo, in teiro,

/

Para o p elo u ro a rden te [. . . } " [ i bidem,

VI ,

/

/

A p a re­ 9 7 - 98J .

O r e l a t o d a a p o t e o s e h e r ó i c a p a r e c e s e r, d e r e s t o , u m a d a s l e i t u r a s g l o b a i s p o s s í v e i s d e Os L usía das: as d u a s ú l t i m a s e s t r o fe s d o c a n t o

I

constituem

o i n í c i o d u m p e r c u r s o o u d u m p r o c e s s o m e t a m ó r fi c o , q u e v a i i n c i d i r s o b r e a i m a g e m d e g r a d a d a d o fraco h u m a n o , o b i c h o da te rra , s e r p r i m o r d i a l , a m o r fo e i g n o r a n t e q u e v a i a s s u m I [ a d i v i n i z a ç ã o p r o j e c t a d a d e s d e o i n í c i o . A s e s t â n c i a s 14 2 e 1 4 3 d o c a n t o

X

ap res e n t a m - n o s a

m e t a m o r fo s e j á r e a l i z a d a : n o m í t i c o e s p a ç o d a I l h a d o s A m o r e s , m e r cê d e "altos m a nja res excelen tes, igu a rias s u a ves e divinas, v i n h o s o do rífe ros

q u e acima estáo da a m b rósia q u e Jo ve ta n to esti m a ", e m e r c ê , a i n d a , d a s n ú p ci as h i erag â m i c a s , o

"

b i c h o t e r r e n o " a I c a n ç a , fi n a I m e n t e , o e s t a t u t o

d i v i n o e t e m a c e s s o a o n o b re m a n ti m e n to , a l i m e n t o d o s d e u s e s s o b e r a n o s e s e n h o r e s . Tr a t a - s e , p O I S , a m e u v e r , d u m a s í n t e s e d o H u m a n i s m o a n t r o p o c ê n t r i c o q u e d e fi n e o t r i u n fo d a c o n s c i ê n c i a d o H o m e m , n o l i m i a r d a e r a m o d e r n a .

A t e n tos p e r a n te o real recen t e m e n te e n c o n t r a d o , e m p re e n d e n d o u m a nova l e i t u r a da e x i s t ê n c i a , eis que se i n s t a u ra u m a nova s u p re m a c i a - a s u p re m ac i a do Real - q u e , se vem, por u m , abalar as estru t uras da a u toridade, por o u tro ( talvez e m coerên cia) es tabel ecerá a t i r a n i a d o veros í m i l . É e s s e o s e n t i d o , s e g u n d o c r e i o , da i n s i s tê n c i a em c o n t r a p o r o r e a l a o fa b u l o s o , o ve r d a d e i r o ( n ã o o v e r o s í m i l ) a o fa l s o ( n ã o i n v e r o s í m i l ) p o r q u e p o r v e z e s o verdadeiro e o in verosfm il:

" O u vi: q u e não vereis com v ãs façan has, Fa n tdsticas, fingidas, m e n tirosas, L o u va r os v o ss os, c o m o n a s estra n has Musas, de engra n decer-se desejosas: A s verdadeiras vossas são ta m a n has, Q u e excedem as s o n ha das, fa b u losas . . .

[ Os L usíadas,

I,

"

1 2]

E ainda:

"Ca n ta rei (disse) s e m q u e m e rep re n da m D e co n ta r c o u s a fa b u losa o u n o va. [ i b idelll,

VI, 4 2 ]

E s s e c o n fr o n t o com o Real e x p r i m e - s e p o r s o n d a g e n s c a d a v e z m a I S p e n e t r a n t e s d o

eu i n d i v i d u a l l ev a n d o a u m a e x a l t a ç ã o o u , p e l o c o n t r á r i o , a u m a r e fl e x ã o a u t o d e s t r u t i v a que se desenvolve s e g u n d o um j o go con t r a d i t ó r i o : c a m i n h o p a ra o M a n e i r i s m o ? Nesse s e n t i d o , a l í r i c a c a m o n i a n a o fe r e c e , e v i d e n t e m e n t e , u m v a s t o c a m p o d e e x e r c í c i o e d e e x p l o r a ç ã o , j á q u e o e u c o l e c t i v o , a a fi r m a ç ã o o u e x a l t a ç ã o n a c i o n a l i s t a p ô d e e n c o n t r a r e x p r e s s ã o a t r a v é s d a v o z é p i c a d o p o e t a , d a n d o r e a l i z a ç ã o a o s i n c i t a m e n t o s p r o fe r i d o s d e s d e G a r c i a d e Re s e n d e [ " P r ó l o go " d o Ca n ci o n eiro Gera l] a t é A n t ó n i o F e r r e i r a [ " C a n a a A n t ó n i o d e C a s t i l h o " e " O d e I " , i n Po emas L usitan os] . A av e n t u r a g e o g r á fi c a d o s é c u l o XVI e n c o n t r a u m d u p l o r e g i s t o - c o n t r a d i t ó r i o - n a e u fo r i a e n a d i s fo r i a . A s s i m , a c o n q u i s t a d o s e s p a ç o s p r o d u z , p o r u m l a d o , a a p o l o g i a ( d e c e r t o m o d o i n g é n u a ) d e G a r c i a d e R e s e n d e n o " P r ó l o g o " d o Ca n c i o n e i ro Gera l e a s c o m p a s s a d a s r e fl e x õ e s d e P e d r o N u n e s , p o r e x e m p l o : " O s Po rtugu eses o us a ram c o m eter

o gra n de Ocea n o {. . . ]. D esco b ri ra m n o vas ilhas, n o vos m a res, n o vos p o vos, e, o que m ais

37

é, n o v o céu e n o vas estrelas " [ Tra tado da Sph e ra] ; v i s ã o e u fó r i c a , s e m d ú v i d a , a q u e , t o d a v i a , n ã o fa lto u o s e u c o ntr a p o nto d i s fó r i c o , d e q u e s e r ã o , d e e n t r e o s m a i s s i g n i fi c at i v o s teste m u n h o s , a s c a rtas d e S á d e M i r a n d a e d e A n tó n i o F e r r e i r a : " C a rta a A nt6 n i o P e r e i r a , S e n h o r d e B a s to " , " C a rta a M a n u e l d e S a m p a i o " e " C a rta a D . J o ã o d e L a n c a str o " . A í s e d e n u n c i a a a m e a ç a d a c a n e l a e d a b u s c a d a fa z e n d a , c o m o fa cto r e s d a r u í n a d e q u e S á d e M i r a n d a s e t o r n a p r o feta . E s s e s r e g i sto s s ã o , e fe cti v a m e nte , r e s u l t a n t e s d u m a a u to - a n á l i s e ( até m e s m o u m a a utocríti c a ) de q u e os texto s s ã o u m teste m u n h o i m e d i ato . D a í d e r i va a i n c i d ê n c i a s o b r e o s m ito s d e Í c a r o e L ú c i fe r , é m u l o s d e Pro m ete u , o s q u a i s s e d e s p e n h a m p o r a m b i çã o d e s m e d i da o u , ass alta ntes d o s d e u s e s , r é u s da m a i o r i n fr a c ç ã o ( hy b ris) i n c o r r e m na m a i s tr á g i c a p u n i ç ã o . S á d e M i r a n d a e C a m õ e s s ã o , d e n ov o , o s teste m u n h o s m a i s s i g n i fi c ativo s . O s textos I n s c r e ve m - s e , a S S i m , e m t r ê s r e g i s to s : a i m i tação dos m o delos

cldss i cos, a p re s e r v a ção e c o n v e rgê n cia dos m o delos tradicio n a is n a c o n st r u ç ã o d o u n i v e r s o p o ét i c o , e , fi n a l m e nte , a s up e ração dos m o de los, atr a v é s de d e s c o b e r ta s , d a m et a m o r fo s e e da i n sta u r a ç ã o d e fi n i t i v a d o s c o n c e i t o s d e o r i g i n a l i d a d e e s u b j e ct i v i d a d e . O s p r o b l e m a s d a r e p r e s e nt a ç ã o , e m r e l a ç ã o c o m a m l m e s e a r i stoté l i c a , e n q u a n to p r o j e cto d o e m p r e e n d i m e n t o l i te r á r i o , s ã o r e s o l v i d o s e m fu n ç ã o d o p r i n c í p i o c e nt r a l d o H u m a n i s m o , o u s ej a , a Im itatio. E sta i m p õ e , i n d i s c u t i v e l m e n t e , o p r i n c í p i o da a u to r i d a d e d o s c l á s s i c o s ( e nte n d e n d o c o m o s e u s p a res i ta l i a n o s - B e m b o , S a n n az a ro

-

e

o s caste l h a n o s - B o s c á n ,

G a r c i l a s o ) e e s s e p r i n c í p i o q u e p o d e r i a te r a l c a n ç a d o u m c a r á ct e r c o m p u l s 6 r i o , s e n ã o t i v e s s e actu a d o t a m b é m c o m o c o nt r a p o nt o , u m p r o j e cto d e o r i g i n a l i d a d e , v a i r e g e r a p r o d u ç ã o l ite r á r i a q u i n h e ntista e m P o rtu g a l . As s i m , o s tóp o i q u e h a v i a m s e r v i d o d e g u i ã o a o s a uto r e s d o p a s s a d o , to m a d o s c o m o m o d e l o s , s ã o r e to m a d o s , a i n d a q u e m o d e l a d o s s e g u n d o v e cto res d e r e n o v a ç ã o . D e e ntre o s tóp o i d e m a i o r p r o d utivi d a d e , c o n s i d e r e - s e o d a s "A r m a s e Letr as" d a "A rte e N atu r e z a" (A rs v e l Natu ra) e d o s "Ant i g o s e Modernos". A i n d a q u e o d e b ate e ntre a s A r m a s e a s Letr a s r e m o nte à A n t i g u i d a d e e te n h a e n c o n t r a d o u m d o s s e u s d o ut r i n a d o re s ( u m a v e z m a i s ) e m H o r á c i o , reto m a d o p o r ital i a n o s , c o m o n o II CO l'tigiano, a v e r d a d e é q u e e m Portugal ( e E s p a n h a ) e s s e tóp os c o rres p o n d e a u m a p r o b l e m ática

s ó c i o - c u l t u r a l d e n o t áv e l vivê n c i a . A i d e ntifi c a ç ã o d a g l ó r i a d o p o e t a c o m a ú n i c a g l ó r i a p e r d u r á ve l , e l a p r ó p r i a g a r a n t e d a g l ó r i a d o s h e r ó i s , r e e n c o n t r a - s e , p o r e x e m p l o e m O v í d i o , n o " Ep í l o g o " d a s Meta m o /foses :

"Ia m q u e op u s exegi q u o d n e c Io v is ira { . . . ] p o terit { . . ] a b o lere [. . . ]. " .

( "A ca bei de e rigir u m a o b ra q u e nem o fu ror de Júp iter, nem o fogo, n e m o ferro, nem a v elhice devo ra do ra p o de rão des t r u i r. ") É r e e n c o nt r a d o t a m b é m e m S a l ú s t i o , a o a fi r m a r , n a His t ó r i a da

Co nj u ração de Ca tilina: "Pu lch r u m est b e n e, dicere h a u d a bs u rdum est ". ( "É belo p ra ticar acções a fa v o r do Estado, m a s tam bém o é lo u v d - lo p o r p a la v ras " ) . F i n a l m e nte , t a l v e z o m a I O r d o s h i n o s a nti g o s e m q u e s e c e l e b r a a ete r ­ n i d a d e p e r e n e d a a r t e l i t e r á r i a c o m o a r t e " fa l a n t e " q u e , p o r e s s a r a z ã o , r e s i sti r á m a i s q u e a p r ó p r i a e d i fi c a ç ã o i n d e s t r u t í v e l d a s P i r â m i d e s , m o n u m entos m u d o s , é a o d e

xxx

III

d o livro

d e H o r á c i o , c u j o c o nte ú d o

teve n o t á v e l p a r e n t e s c o c o m o s o n e t o d e S á d e M i r a n d a " I n d a q u ' e m Vo s s a A l t e z a a m e n o s p a r t e " e a " C a r t a a o C a r d e a l I n fa nte D . A n r i q u e 39

R e g e nte" d e A ntó n i o F e r r e i r a . O s e g u n d o d o s tóp o i, A rs vel Natura, t e m c o m o a p a r e l h o teó r i c o a " C a rta a D i o go B e r n a r d e s " d e Antó n i o F e r r e i r a , d e r i v a d a da A rte Po ética d e H o r ác i o . Extre m a m e n te s i g n i ficativo é t a m b é m o s o n e t o d e S á d e M i ra n d a "As s i q u e m e m a n d áv e i s a t r e ve r " , e m q u e a i m a g e m alta m e n t e e x p r e s s i v a d a u r s a , l a m b e n d o e a c o m o d a n d o a fo r m a d o s "filhos mal p rop orcionado s " é , t a m b é m , u m a h e r a n ç a p o nt u a l d o s a n t i g o s , e s e r e e n c o n t r a n o u t r o s l u g a r e s , n o m e a d a m e n t e e m D u B e l l a y : " { . . ] en m a n iere des o u rs, à fo rce .

de léchel', Leu r do n n er fo rme et façon de m e m b res { . . . ] " 1 2 . A q u e st ã o d o s A n t i g o s e M o d e r n o s p a r e c e s e r o c o r o l á r i o d o s d o i s a n t e r i o re s , n a m e d i d a e m q u e o p r o b l e m a d a Im itação e d a p e r fe i ç ã o fo r m a l , r e s u l t a n t e d o " t e m p o e l i m a" , d a c r í t i c a d o " a m i g o d o u t o " e d o l o n go t e m p o d e i n c u b aç ã o m e d itativa, é , e m ú l t i m a a n á l i s e , fi l t r a d o , p o r a s s i m d i ze r, p o r u m fo r t e i m p e r ativ o : a b u s c a d a o r i g i n a l i d a d e e d a a uto n o m i a c r i a t i v a . 1 2 D é fe n s e , c a p . X I .

As s i m s e i n s t a u r a u m a p r á t i c a d e c o n c i l i a ç ã o , c r i a n d o - s e a é c l o g a p o r t u g u e s a , e m red o n di l h a , e cuj o c o n t e ú d o d i a l é ctico a l t e r n a ( o u h e s i ta) e n tre a c r í tica s o c i al e a a n á l i s e s e n t i m e n tal e p s i co l ó g i c a . A m e s m a s i t u ação conci l i a t ó r i a en tre a fo r m a e o c o n t e ú d o s e v e r i fi c a n a s c a r t a s d e S á d e M i r a n d a . P a r a l e l a m e n t e , e m c o e x i s t ê n c i a , a s fo r m a s p u r a s c l á s s i ca s e t r a d i c i o n a i s : o soneto, a can ção, a écLoga ( c l á s s i c a ) , a o de, a p a r da can tiga, esp a rsa, tro va . S e o c o m p r o m i s s o e s t é t i c o e a c o n c i l i a ç ã o d e m o d e l o s d e fi n e m u m a c e r t a fa c e d o u n i v e r s o c u l t u r a l d o s é c u l o

XVI

e as ca tego rias mentais

de L u ís de C a m õ e s , s e u m a i s c l a r o r e p r e s e n t a n te, não é m e n o s c e r t o , e é e s s e o s e n t i d o d a n o s s a r e fl e x ã o , q u e a d i s s i d ê n c i a e a s u p e r a ç ã o desses m o d e l o s s ã o tes t e m u n h o s de u m a viragem que, n o es p a ç o d e m e i o s é c u l o , fe z e m e r g i r u m a i m a g e m n o v a d o H o m e m n o c e n á r i o n o v o d o M u n d o e , a o faz e r e x p l o d i r a s fr o n t e i r a s g e o g r á fi c a s , a l a r g o u , e m s i m u l t â n e o , a s fr o n t e i r a s d o saber e d o sen tir. As s i m , c o m e fe i t o , s e e n ge n d r a a a u t o n o m i a d o H o m e m e c o m e l a o a d v e n t o d o m o d e r n o .

R e t ra t o d e S e b a s t i ã o B a r r a d a s ( p o r m e n o r ) , c a l . n . ' 1 6 0 É v o ra , U n i v e r s i d a d e d e É v o ra

1I I

I B L I O G RA F I A

BATA I L L O N , M a r c e l , Era s m o y Esp a íi a . Estudios so b re la

Historia Espiritual deI Siglo XVI, M éx i c o , B u e n o s A i res, 1 9 6 6 B O X E R , C.

R.,

O Império Co l o ll i a l Po rtuguês, L i s b o a ,

E d i ções 7 0 , 1 9 7 7 B U E S C U , M a r i a L e o n o r C a r v a l h ã o , A Herallça Clássica lia

Cultura Portuguesa, L i s b o a , B i b l i o t e c a B re v e , I n s t i t u t o d a C u l t u r a Po r r u ge s a , 1 9 7 9 CARVA L H O , J o a q u i m d e , O b ra Completa, voto I, Filosofia

e História da Filosofia , L i s b o a , F u n d a ç ã o C a l o u s t e G u l ­ benkian , 1 97 8 CAS T R O , A n í b a l P i n t o d e , Retó rica e Te o rização L iterária

elll Portugal. D o Hu m a l/ i s m o a o Neoclass icismo, C o i m b r a , Centro de Estudos Românicos, 1 973 C I D A D E , H e r n â n i , A L itera t u ra Portuguesa e a Exp a llsão,

Ultra m a rilla. A s Ideias. Os Factos. A s Formas de A rte, v o l .

I,

C o i m b r a , A r m é n i o A m ad o , 1 9 6 3 D I A S , J o s é S . d a S i l v a , O s Descobrim elltos e a Pro blemática

Cultural

do

Séc u lo X VI,

Coimbra,

Un ivers idade

de

C o i m b ra , 1 9 7 3 c « '" «

'" "

'" c o u

'" Z

K O H U T , K a r l , Las Teo r/as L i terarias ell Esp a íi a y Portugal

du ra I/ te

los

Siglos XV y X VI,

Consejo

Superio r

de

I n ves t i g a c i 6 n C i e n t i fi c a MARTINS, J o s é V. de P i n a , Humallismo e Erasmismo lia Cultura

Portuguesa do Século X VI. Estlldos e Te.\'tos, P a r i s , C e n tre C u l t u re l Po r r u g a i s , F u n d a ç ã o C a l o u s t e G u l b e n k i a n , 1 9 7 3

'" o

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M E N É N D EZ Y P E L AYO , M a r c e l i n o , His toria d e las Ideias

Estéticas el/ Esp a íia, 2 v o l s . , M a d r i d , C o n s e j o S u p e r i o r d e I n ves t i g a c i 6 n C i e n t i fi c a , 1 9 7 4 R O C H A , A n d r é e C r a b b é , Asp ectos d o Ca ll c i o ll e iro Gera/, Co i m b ra , C o i m b r a E d i t o ra , 1 9 4 9 S I LVA, V í t o r M a n u e l A g u i a r e , Ma ll eiris m o e Barroco I/a

Poesia L írica Po rtuguesa, C o i m b r a , C e n t r o de E s t u d o s Ro m â n i c o s , 1 9 7 1 S I LVA, V í t o r M a n u e l A g u i a r e , L u ís de Camões,

L a b irilltos e Fascíll ios, L i s b o a , C o t o v i a , 1 9 9 5

41

AS H U MA N I D A D ES EM

ÉVO RA Joaq u i m Lavajo

Introdução s t á a i n d a p o r fa z e r a h i s t ó r i a a p r o fu n ­ d a d a d o e n s i n o h u m an i s t a em P o r t ugal, q u e p r e s s u p õ e o l e va n t a m e n t o s i s t e m á tico

da

oogem,

evol ução,

o b j e c tivos

e

p ro g r a m as

c i e n t í fi c o - p e d ag ó g i c o s d a s e s c o l a s . O m e s m o p o d e d i z e r - s e e m r e l a ­ ç ã o a Évo r a . Tr ê s fo r a m a s i n s t i t u i ç õ e s q u e , a o l o n g o d o s s é c u l o s

xv

e

XVI,

fi z e ­

r a m d e Évo r a a s e g u n d a c i d a d e n o c a m p o d a c u l t u r a e , n o m e a d a m e n t e , d o e n s i n o : a I g r e j a , a c o r t e e a U n i ve r s i d a d e . A c o n v e r g ê n c i a e c o l a ­ b o r a ç ã o c o n j u n t u r a i s d e s s a s t r ê s fo r ç a s c o n t r i b u í r a m p a r a faz e r d e l a u m a cidade p i o n ei r a n o campo d o e n s i n o , d a arte e d o H u m an i s m o . A p e s a r d e s e r d i fí c i l s e p a r a r a a c t u a ç ã o c o n c r e t a e e s p e c í fi c a d e c a d a

43

uma d e s s as i n s t i t u iç õ e s , n a m e d i d a e m q u e a l g u n s d o s r e s p e c t i v o s a g e n t e s c u l t u r a i s s e s i t u ar a m e m m ai s q u e u m a d e l a s , c o m o fo i , p o r e x e m p l o , o c a s o e m b l e m á t i c o d o c a r d e a l - i n fa n t e D . H e n r i q u e , s i m u l ­ t a n e a m e n t e m e m b r o p r o e m i n e n t e d a I g r ej a , d a c o r t e e d a U n i v e r s i ­ d a d e , v a m o s t e n t a r o d e s e n vo l v i m e n t o t r i p a r t i d o d o t e m a , c h a m a n d o a a t e n ç ã o para a i n t ervenção p o n t u a l d e o ut r as e n t i d a d e s , c o m o a Câm ara de Évor a .

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A

Igreja

A n t e s d a d o m i n ação á r a b e , É v o r a , t a l c o m o as d e m a i s d i o ce s e s p o r t u g u es a s , i n tegradas nos r e i nos visigótico e s uévi c o , s e g u i a as o rien tações t raçadas pelos concílios provinciais, p ri n c i p al ­ m e n t e p e l o s d e To l e d o e B r a g a , d e q u e h o j e c o n h e c e m o s m u i to s d o s t e x t o s . A p re o c u p a ç ão p e l a c u l t u ra e s t á p r e s e n t e em q u a s e t o d o s e l e s , s o b r e t u d o a p a r t i r d o I V C o n c í l i o d e Tol e d o , r e a ­ l izado em 6 3 3 , de que o b i s p o de Évora assi n o u a s a c t a s e s e co m p r o m e t e u a e x e c u t a r o s c â n o n e s , j u n t a m e n te c o m o s d e B ra g a , L a m e g o , G u a rd a , Lisboa, Porto, Viseu e d e m u i tas o utras dio ceses h i s p â n i c a s . N e s s e c o n c í l i o fi c o u d e c r e t a d a a i n s ­ tituição de escolas, j un to das catedrais, onde os j ovens deviam receb e r uma ed ucação intelectual, religiosa e moral que os tornasse idóneos para '" "O

abraçarem o estado eclesiástico.

'" .c u '"

"Po r ca usa disso, esta belecemos q u e, s e e n tre os clérigos h o u ver a do lescen tes o u [jovens} n a

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idade da p u berdade, h a b item todos n u m s ó edificio do rec i n to eclesidstico, p a ra passarem

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os anos da idade resva ladiça, não n a luxú ria, m as nas discip li n as eclesidsticas, co nfiados

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a um a n cião m u ito exp e ri m e n ta do, a q u e m ten h a m p o r mes tre na do u trina e p o r teste m u ­ n h o de vida ". I Passados o s s é c u l o s o b s c u ros d a d o m i n a ção i s l â m i c a , à m ed i d a q u e a reco n q u i s ta devol­ v i a ao C r i s t i a n i s m o o s t e r r i t ó r i o s h i s p â n i co s e era r e s t a u r a d a a vida eclesial das d i o ­ c e s e s , o s c a b i d o s d a s c a t e d r a i s , s o b a o r i e n t a ç ã o d o s b i s p o s , a s s u m i r a m a t a r e fa d a fo r ­ m a ç ã o e s p i r i t u a l e i n t e l e c t u a l d o s c l é r i go s , c r i a n d o o u res t a u r a n d o a s e s c o l a s c a t e d r a l í c i a s , d e t ã o a n t i gas t r a d i ç õ e s n e s t a s p a r a g e n s . C o n q u i s t a d a a o s M o u r o s , e m 1 1 6 5 , a c i d a d e d e É v o r a fo i i m e d i a t a m e n t e c o n s t i t u í d a s e d e d a d i o c e s e e n t ã o r e s t a u r a d a . E m A b r i l d e 1 1 6 6 , D . S o e i r o a s s i n av a j á o fo r a l d e É v o r a , n a q u a l i d a d e d e b i s p o d a m e s m a c i d a d e . C o m o n ã o p o d i a d e i x a r d e s e r, a n ov a d i o c e s e fi c o u s u j e i t a à l e g i s l a ç ã o e c l e s i á s t i c a g e r a l , n o m e a d a m e n t e à s d e t e r m i n a ç õ e s d o s c o n c í l i o s I I I e IV d e Latrão, realizad o s , 44

respectivamente, em 1 1 79 e 1 2 1 5 , e à

l

" I V C o n cí l i o d e To l e d o " . c a p . X X I V , i n C o n c i l i a s Vis igó ticos e H i s -

p a n o · R o m a n o s . e d . d e J o s é V i v e s , B a r c e l o n a/M a d r i d , ' 9 6 3 , p . 2 0 1 .

c a r t a Sup e r Sp eculu m d e H o n ó r i o I I I , d e 1 6 d e N o ve m b r o d e 1 2 1 9 , q u e d e t e r ­ m in a r a m a c r i a ção d e escolas n a s catedrais 2. A a u s ê n c i a d e d o cu m e n to s n ã o n o s p e r m i t e s a b e r qual o a c o l h i m e n to que a dio cese de Évora d e u , ao lo ngo do século

XII,

à s r e fe r i d a s n o r m a s c o n ­

c i l i a res e p a p a i s e , m u i to c o n c r e t a m e n t e , à c r i ação d a e s c o l a c a t e d r a ­ l í c i a , n e m à i n s t i t u i ç ã o d o r e s p e c t i v o m e s t r e - e s c a l a d o . A s d i fi c u l d a ­ des de n at u reza e s t r u tural, eco n ó m i ca , social e cultural com q u e a d i o c e s e s e d e b a t e u a o l o n g o d o s p r i m e i r o s d e c é n i o s n ã o fa v o r e c e r a m a o r g a n i z a ç ã o d o c a b i d o e d o e n s i n o . O p r i m e i r o fo i i n s t i t u í d o n o ano de 1 2 00 pelo bispo D. Pai o . E m relação ao ensino n a Catedral, mesmo a partir dessa altura, s ó nos são p e r m i t i das s u p o s i ções mais o u m e n o s p rováve i s . O c a n t o r o u c h a n t r e e r a j á n e s s a a l t u r a u m a d a s d i g n i d a d e s cap i t u l a ­ r e s e t i n h a p o r m i s s ã o e s p e c í fi c a e n s i n a r o s m o ç o s q u e s e r v i a m a o a l t a r, não a p e n as a c a n t a r e a e x e c u t a r c o r r e c t a m e n t e a s n o r m a s l i t ú r g i c a s , m a s t a m b é m a l e r, c o n d i ç ã o p a r a t e r e m a c e s s o a o s t e x t o s . P a r a fa z e r fa c e à s d e s p e s a s i n e r e n t e s à s u a m i s s ã o , fo r a - l h e a t r i b u í d a u m a p r e b e n d a e c o ­ n o mi c a m e n t e corres p o n d e n te à de uma conezia dupla, tal c o m o acon tecia nas o u t ras sés p or tu g u e s a s , n o m e ad a m e n t e na d e C o i m b ra, cuj o texto d e organiza­ ç ã o c a p i t u l a r , a p r o v a d o p e l o b i s p o D . P a t e r n o ( 1 0 8 0 - 1 0 8 8 ) , fo i t o m a d o c o m o 45

m o d e l o d o d a Catedral de Évo r a . C o m o t e m p o , a s t a r e fa s i n i c i a l m e n t e a t r i b u í d a s a o c h a n t r e c o m p l e x i fi c a r a m - s e d e t a l m o d o q u e fo i n e c e s s á r i o i n s t i t u i r u m a n o v a fi g u r a c a t e d r a l í c i a , o m e s t r e ­ -escola, para tomar a seu cargo o ensino literário e m usical dos moços do coro, d o s c a n d i d a t o s a o s a c e r d ó c i o e d a s c r i a n ç a s p o b r e s q u e q u i s e s s e m fre q u e n t a r o s e s t u d o s . H á d o c u m e n t o s q u e m a n i fe s t a m i n e q u i v o c a m e n t e a e x i s t ê n c i a d o m e s ­ tre-escola da S é de Évo r a , pelo menos a partir do i n ício do século

XIV.

- O Catdlogo das Igrejas o r d e n a d o p o r D . D i n i s r e fe r e - s e e x p l i c i t a m e n t e a o m e s ­ t r e - e s c o l a , o q u e n o s l eva a p e n sa r que, e m 2 2 de A b r i l d e 1 3 2 1 , m u i to antes d a s u a i n s t i t u i ç ã o c o m o d i g n i d a d e , j á e x i s t i a u m r e s p o n s áv e l p e l o e n s i n o g r a ­ t u i to d o s c a n d i d a tos ao sacerd ó c i o e dos j ov e n s p o b r e s , o q u a l , e m v i r t u d e dos s e u s fr a c o s r e n d i m e n t o s , fi c o u i s e n t o d a t r i b u t a ç ã o r e a l e n t ã o i m p o s t a à s i g r e j as e e n tidades eclesiásticas 3 .

2

J o a q u i m C h o r ã o L a v a j o , "A s E s c o l a s U r b a n a s e o

Renascimento

C u l t u r a l d o S é c u l o X I I " , i n Eborensia, n . o s 1 9 - 2 0 , 1 9 9 7 . p p . 1 4 9 e s e g s . 3 " 0 5 a p ré s t im o5 do m e s t re - e s c o la d o , fora d o c o m u m , t a m b é m n ã o

fo ra m t a x a d o s , p o r dísp e n d e r t u d o q u a n t o r e c e b e e m ga s t o s p re ­ cis o s "; c f. F o r t u n a t o d e A l m e i d a Ce d . ) , H i s t ó ria da Igreja e m P o r­ t u g a l , v a I . I V , n o v a e d i ç ã o , P o r t o/ L i s b o a ,

tora, 1971, p. 133.

Livraria Civilização Edi­

- Um documento de 1 33 6 , assinado pelo bispo e p e l o s cónegos da Catedral, que eXigia o paga­ m e n t o d o fo r o d a s p r o p r i e d a d e s d o c a b i d o a o s c a p i t u l a r e s q u e d e l a s u s u fr u í s s e m , r e fe r e e x p l i ­ citamente a ausência d o s c ó negos A n d r é D i as e G o n çalo M a r t i n s , que ass i n aram p o s t e r i o r ­ mente, n a p r e s e n ç a d o b isp 0 4 , O segundo d e s s e s cónegos é caracterizado c o m o mestre-escola,

� '" -o

o que denota q ue esse cargo era exercido p o r

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u m m e m b r o d o c a b i d o , a i n d a q u e n ã o u s u fr u ­ ísse da dignidade que mais tarde viria a ser

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bO '''' "-

instituída,

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- O L i v ro das D espezas do P,'ioste d o c a b i d o d a

::;: ci ;;; '" �

S é d e Évo r a r e s p e i t a n t e a o s a n o s d e 1 3 4 0 - 1 3 4 1 i n c l u i o m e s t r e - e s c o l a e n t r e o s p r e ­ b e ndados da Catedral c o m d i re i t o a p it a n ç a s , a p a r t i r d e 25 d e Julho d e 1 34 0 5 ,

'" u

A d i g n i d a d e c a p i t u l a r d e m e s t r e - e s c o l a fo i o fi c i a l m e n t e i n s t i t u í d a p e l o b i s p o D , M a r ­

o -o � '"

t i n h o , e n t r e 1 3 7 6 e 1 3 8 3 , d a t a d a m o r t e d a q u e l e p re l a d o G •

E :.

O fa c t o d e h a v e r d o c u m e n to s ? q u e a t r i b u e m a o m e s t r e - e s c o l a a p e n a s a p r e p a r a ç ã o m u s I ­ caI d e q u a t ro m e n i nos d e coro e a c e l e b ração das m i ss a s da Catedral nos d i as da Anun­ c i a ç ã o , d a I m a c u l a d a C o n c e i ç ã o , d a N a i t e d e N a t a l e d a C i r c u n c i s ã o , n ã o s i g n i fi c a , c o m o p r e t e n d e u J ú l i o C é s a r B a p t i s t a , q u e a q u e l e d i g n i t á r i o n ã o e x e r c e s s e a fu n ç ã o d e e n s i n o , j á q u e faz i a p a r t e d a s a t r i b u i ç õ e s q u e e s p e c i fi c a m e n t e l h e e r a m c o m e t i d a s p e l a l e g i s l a ç ã o c a n ó n i c a u n i v e rs a l 8 , Ao v i s i t ar c a n o n i c a m e n t e a S é d e Évo r a , e m 1 5 3 7 , o cardea l - i n fa n t e D , A fo n s o v e r i fi c o u q u e j á a í n ã o fu n c i o n av a a e s c o l a catedralícia e que alguns cónegos nem s eq u e r s a b i a m l e r, c a n t a r e c e l e b r a r m i s s a correctamente, Preocupado c o m a eleva­ ção d o n ív e l c u l t u r a l d o s e u b i s p a d o , c o m a p re p a r a ç ã o d o s c a n d i d a t o s a o s a c e r d ó c i o e com o b r i lho das celeb rações l itúrgicas, o c a r d e a l i n s t i t u i u , a l é m de u m a e s c o l a d e c a t e c i s m o , p a r a c r i a n ç a s , o e n s i n o de c a n ­ t a c h ã o , d e c a n t o d e ó rg ã o e d e g r a m á t i c a ,

4 ASE,

CEC 4-11,

fI.

27;

c f_

I s a ía s d a

R o s a P e r e i r a . Esta t u t o s do

C a b ido da S é d e É v o ra. p _ 5 7 4 5 A S E . L i vro das D e s p ezas d o Prios t e . C E C 2 - I - B . f I . l V . A p a rt i r d e

1 d e J a n e i r o d e 1 3 4 1 ( f i , 5 ) , o m e s t r e - e s c o l a d e i x a d e a p a re c e r. para voltar d e novo, ano. A ausência em cargo não

e isoladamente, em

13

d e Maio d o mesmo

a lgumas d istribuições não é

sinónimo

de o

e s t a r o c u p a d o . p o i s fre q u e n t e m e n t e e s t ã o a u s e n t e s

o u t ro s p r e b e n d a d o s . A s p i t a n ç a s n ã o e r a m s e m p r e i g u a l i t a r i a m e n t e d i s t r i b u í d a s p o r t o d o s o s p re b e n d a d o s . p o i s h a v i a o u t r a s fo n t e s d e r e n d i m e n t o p a ra c a d a u m d e l e s . 6 Cf. J ú l i o É v o ra ,

C é s a r B a p t i s t a , A F o rm a çã o do C l e r o n a D i o c e s e d e

tv o r a . 1 9 7 9 .

pp.

1 1 - 1 2 ; S e b a s t i ã o M a rt i n s d o s R e i s ,

L ivro

da Faz e n d a da Mesa E p is c o p a l d o Bispo de Évora nos S é c u l o s XIV e X V. � v o r a . 1 9 6 7 . p,

2 5 . n_ 2 5 - J o s é A u g u s t o A l e g r i a a t r i b u i e r r a ­

d a m e n t e à b u l a d o p a p a B o n i fá c i o I X . d e 4 d e S e t e m b ro d e 1 3 9 5 . a c r i a ç ã o d o l u g a r d e m e s t re - e s c o l a ; c f . D Colégio dos M o ç o s do Coro da S é d e É v o ra . L i s b o a . F u n d a ç ã o C a l o u s t e G u l b e n k i a n . 1 9 9 7 .

p- 247

Documento

de

D.

Va s c o

Perdigão.

8 B a p t i s t a . o p _ cit o . p p . 1 6 - 1 7 ,

de

1450;

ASE.

EE.

15

b.

P a r a p a s s a r d a l e i a o s fa cto s , i n s titu i u o c a r g o d e m e s t r e d e g r a m át i c a , q u e c o n fi o u a L u í s Á l v a r e s , e i m p ô s a o s r e fe r i d o s c ó n e g o s o p r a z o d e s e i s m e s e s p a r a a d q u i r i ­ r e m o s c o n h e c i m e n t o s n e c e s s á r i o s 9 . À e s c o l a d e G r a m á t i c a , c o m u m cu rricu lu m d e q u a t r o a n o s , ti n h a m a c e s s o , g r at u i t a m e n t e , o s o i to m o ç o s d a C ate d r a l , o s c r i a d o s d o c a r d e a l e d o s c a p i t u l a r e s d a S é , "to do llos p ro ves da cida de e do b is-

p ado " e a i n d a o s "q u e n a m s ej a m n a t u ra es do dito b ispa do se n elle v i verem e istiv er e m " l o . A l é m d e s t e s a l u n o s , o m e s t r e d e G r a m át i c a d e v i a e n s i n a r o u t r a s p e s s o a s , m e d i a nte o p a g a m e n t o a n u a l d e q u i n h e n t o s r e a i s 1 1 . E m s í nt e s e , a e s c o l a d e G r a m át i c a d a C ate d r a l e s t a v a a b e r t a "pa ra i n s i n a r t o da p essoa q u e

q u iser ap ren de r "

12.

E m r e l a ç ã o a o s m o ç o s d e c o r o , é este o texto q u e l h e s c o n fe r e o d i r e i t o d e , após a m udança de voz, aos 1 5 a n o s , p o derem p ro s s e g u i r os s e u s e s t u d o s e assegurar o a p o i o l it ú r g i co - m u s i cal à C a t e d r a l , graças à q u i l o q u e h o j e cha­ maríamos uma bolsa de estudos.

"Fazemos s a b e r a q u a n tos esta v irem q u e c o ns idera n do n 6s c o m o esta See seja b e m ser­ vida de p essoas q u e ha m i lh o r s a i b a m s e r V I l' e co m o n e lla h á q u a tro m o ços do coro e q u a ­ t r o d a stan te, h o s q u a es dep oys d e s a b erem ca n ta r ca n to chão e can to do rgão e a c a b a m o s e u temp o e p o r n a m terem d e q u e s e s os te n ta r dep oys d e s e rem e n s i nados s e v ã o fo ra da die ta See e se p e rdem do q u e app ren de ra m e a igreja n a m fica p ro v ida de p essoas q u e em ca n to chão e c a n to do rgão e n o m ays h a say b a m ser vir : q u er e n do a ysto p ro v e r p o r 47

s e r v iç o d e D e u s b e m da dita Igreja h a ve m o s p o r b e m do rde n a r p e ra o s ditos oyto m o ços do co ro e s ta n te que assi sa írem da dita See dep oys de e n s i n a dos oyto p o rções p e ra se p o derem sostenta r e app re n derem gra m a tica co m h o Mestre de gra m a tica que temos o rde­ n ado p a ra e n s i n a r a e lles e a o u tras p essoas p o b res p era h o s q uaes o rdena m o s q u e aja cada h u m delles doze c ruzados em din h ey r o em cada h u m a n n o, e h u m m oyo de trigo q u e fazem e m s o m a n o di n h eyro tri n ta e oyto m i l e q u a trocen tos r s E oyto Moyos de trigo a todos em cada h u m a n n o. E m a is h u m a r o up a a m o do de Togas cõ m a ngas de p a n o p a r­ dilh o : e assy cada h u m s e u ba rrete p reto em cada h u m a n n o a cada h u m r . . } Ho .

q u a l o rden a do a u e m os p o r bem q u e aja m p e r espaço de q uatro a n n os: n o q u a l tip o a basta p e ra serem sofficien tes n a Gra m a ­ tica. Pera q u e a c a bados h o s ditos Q u a tro a n n os e n t ra rem o u tros ta n tos dos ditos m o ços da s ta n te e do co ro.

"13

9 A S E . " A V i s i t a ç ã o d o C a rd e a l D o m A fo n s o a XX I I I d e 8 b '0 d e 1 5 3 7 " ,

C E C , 5 x . e d . d e I s a ía s d a R o s a P e r e i r a , i n S u b s íd i o s p a ra a His­ t ó ria da

Igreja

Eb o r e n s e .

S é c u l o s XVI e X VI I ,

P a r i s , Arq u i v o

do

C e n t r o C u l t u ra l P o r t u g u ê s , v a I . I V , F u n d a ç ã o C a l o u s t e G u l b e n k i a n , 1972. pp. 210-211. 10

"A V i s i t a ç ã o " , p p . 2 1 0 - 2 1 1 .

11

José Augusto Alegria, "A Música em

É v o ra

A Cida d e d e É v o r a , n . o s 7 · 8 , ' 9 4 4 , p p . 2 5 - 4 5 . 12

"A V i s i t a ç ã o " , p p . 2 1 0 - 2 1 1 .

"

"A Visitação", pp. 207' 208.

n o S é c u l o XVI " . i n

S o b re o mes tre d e G r a m á t i c a i m p e n d i a a o b rigação d e e n s i n a r d i a r i a m e n t e , d u r a n te s e i s h o r a s , e x c e p t o n o s d o m i n g o s , n o s d i a s s a n t o s e n a s fé r i a s , q u e o c o r r i a m n o m ê s d e A g o s t o . Rece b i a o v e n c i m e n t o anual d e v i n te mil reais e dois m o i o s d e trigo ana­ fi l , a o s q u a i s e r a m a c r e s c e n t a d o s m a i s q u a t r o m i l re a i s , d e s t i n a d o s a o a l u g u e r d a c a s a 1 4 . L u í s Á l v a r e s t i n h a c o m o a d j u n t o o b a c h a re l p a d re F r a n c i s c o A fo n s o , q u e e x e r c i a o c a r g o d e r e p e t i d o r, c o m o v e n c i m e n t o d e q u a t r o m i l e o i t o c e n t o s r é i s . A s s i m s e c u m p r i a o p e d i d o fe i t o d o i s a n o s a n t e s a D . J o ã o I I I p e l o s p r o c u r a d o r e s à s C o r t e s d e É v o r a , p a r a q u e o i r m ã o , o c a r d e a l - i n fa n t e D . A fo n s o , l e v a s s e a c a b o o s e s t u d o s e n c e t a d o s p e l o s e u a n t e c e s s o r, D . A fo n s o d e P o r t u g a l , q u e r e g e u a d i o c e s e e n t r e o s a n o s d e 1 4 8 5 e 1 5 2 2 : "Que haja p o r b e m d e m a n da r a o Ca rdea L q u e se a c a ­

b e m os Est u dos q u e o b isp o q u e Deus haja, D . Afo n so, t i n h a c o m eçados p o r n o b reza e p ro L c o m u m da dita cida de, e n ã o se Le v a rá ta n to din heiro fo ra dos seus rein os, c o m o Le vam os est u da n tes. " 1 5 Paralel a m e n te a o e n s i n o d a g r a m á t i c a , o cardeal i nc r e m e n t o u e i n s t i t u c i o ­ n a l i z o u o e n s i n o t e ó r i c o e p r á t i c o d o "ca n to do rgã o e ca n to c h ã o ", c o n ­ fi a d o , d e s d e 1 5 2 8 , a o c é l e b r e m e s t r e - d e - c a p e l a M a t e u s d e A r a n d a e d e s t i n a d o e s p e c i a l m e n te a o s e c l e s i á s t i c o s , a o s m o ç o s d e c o ro e a o s c a n t o res d a Catedral. A Escola d e M ús i ca da Sé d e Évo r a t o r n o u-se em breve a mais puj ante de Portugal. Dela saíram, ao longo dos séculos

XVI

a

XVI II,

c o m p o s i t o re s , m u ú c ó l o g o s e m ae s t ro s p a r a m u i tas o u tras s é s e i g rej as d o País e d o e s t r a n g e i r o . De e n t r e o s m ú s i c o s e b o re n s e s d e m a I O r e n ve r ­ gadura salie ntam o s , além de M a teus de A r a n d a , F i l i p e de Magalhães, D u a r t e L o b o , fr e i M a n u e l C a r d o s o , E s t ê v ã o L o p e s M o r a g o , F r a n c i s c o Martins e D iogo D ias Melgás . A p r o j e c ç ã o d a E s c o l a d e M ú s i c a d a S é d e Évo r a n ã o fo i c r i a d a a p a r t i r d o z e r o c o m a v i s i t a ç ã o d o c a r d e a l D . A fo n s o . H av i a m u i t o t e m p o q u e a m ú s i c a l i t ú r g i c a a í s e r ev e s t i a d e u m e s p l e n d o r q u e fa z i a i n vej a à c a p e l a real. O cronista G arcia de Resende narra um episódio ocorrido aquando d e u m a v i s i t a d e D . J o ã o I I à c i d a d e e à C a t e d r a l d e Évo r a , e m 1 4 9 4 . I m p re s s i o n a d o p e l o b ri l h o das c e r i m ó n i a s a í real izadas, decid i u organ izar l i t ú r g i c a e m u s i c al m e n t e a c a p e l a r e a l s e g u n d o o m o d e l o e b o re n s e : "E eLrey

c o m o era Ca thoLico, e m uyto deu o to e a m igo de D eos, p o r se os officios di­ u i n o s fazerem com m a is p e /feiçam, esta n do a q uy em Eu o ra n este a n n o, o rde­ n o u e fez q u e todos os seus cap eLLães, ca n to res, e m o ços

14 "A V i s i t a ç ã o " ,

pp.

210-211.

1 5 "A p o n t a m e n t o s d a C i d a d e d e

� v o r a p a ra a s C o r t e s d e É v o r a d e

' 5 3 5 " , i n A Cida d e d e É v o ra , n . " 4 8 ' 5 0 , É v o r a ,

'965"

967,

p. 275.

da cap el!a rezassem as O ras s o len n e m e n te em s u a cap el!a c a n ta das c o m o em Igreja Ca th edral, e assi m a n do u logo p e ra isso fazer seus co ros, e assen tos, e m uytos o rn a m e n tos, e todas as co usas n ecessa rias, m uy p eJfeitas, e em gran de a b o n da n ça [. } . " 1 6 . .

P o s t e r i o r m e n t e , D . M a n u e l q U I s d i g n i fi c a r a i n d a m a i s o c u l t o n a S é d e Év o r a , o r d e n a n d o a c r i a ç ã o d u m a scho lla cantorum - "[Orde­

n o u q u e} o u u esse m usicos c a n t o res q u e n e lla s e r u is e m n os dias solemnes e festas do a n n o, e p o r o Rendim e n to da fa b rica da mesma See o p oder ja perm itir, lh e m a n do u da r delle c o n u e n i e n tes pa rtidos c o m que p o desem ser aju dados a viver e p o derem sent ir a See. " 1 7 O s u c e s s o r d o c a r d e a l - i n fa n t e D . A fo n s o n a s e d e e p i s c o p a l d e É v o r a , o s e u i r m ã o D . H e n r i q u e , p r i m e i r o a r c e b i s p o d a q u e l a c i d a d e , fo i , c e r ­ t a m e n t e , o m a i o r d i n a m i za d o r c u l t u ral de Évora n o s é c u l o

XVL

A ele

s e d e v e o g r a n d e i m p u l s o q u e t r a n s fo r m o u a c a p i t a l d o A l e n t e j o n o p r i n c i p al p ó l o d o Re n a s c i m e n to e m Po r t u g a l , e m c o n t a c t o d i re c t o c o m os g r a n d e s h u m a n i s tas e u ro p e u s . A g r a n d i o s a o b r a c u l t ural q u e l e g o u a É v o r a fi c o u a d e v e r - s e , s o b r e t u d o , a t I' ê s q u a I i d a d e s q u e e x o r n a v a m a sua personalidade: a visão h umanista do homem e da sociedade, que o levava a colocar os in teresses da c o m u n idade acima dos pessoais; o generoso e abnegado espírito de mecenas, concretizado na partilha dos bens materiais pelas causas que considerava s u periores; e a política des­ c e n t r a l i z a d o r a , q u e o fa z i a r o d e a r - s e d e h o m e n s c a p a z e s d e p r o l o n g a r a s u a acção até onde ele não podia chegar. A v i n d a d o s h u m a n i s t a s N i c o l a u C l e n a r d o e J o ã o Va s e u p a r a Évo r a , r e s ­ p e c t i v a m e n t e e m 1 5 3 3 e 1 5 4 0 o u 1 5 4 1 , e a a u l a p ú b l ic a d e h u m a n i d ades q u e A n d r é d e R e s e n d e a b r i u j u n t o a o Ro s s i o , a p a r t i r d e 1 5 4 0 , c o n t r i b u í ­ r a m d e c i s i v a m e n t e p a r a activar a v i d a c u l t u r al d a c i d a d e . N ã o c o n h e c e m o s a r e g u l a r i d a d e c o m q u e fu n c i o n o u a e s c o l a d e H u m a n i ­ d a d e s d e Res e n d e , p o i s e l e c i r c u l av a d e m o r a d a m e n t e p o r C o i m b r a e L i s ­ b o a . É p o s s í v e l q u e , a p ó s a p a r t i d a d e Va s e u , e m 1 5 5 0 , t e n h a r e t o m a d o o e n s i n o d as h u m a n i d a d e s n a s u a c i d a d e , m a s p o r p o u c o t e m p o , p o i s , n o a n o s e g u i n t e , acei tava o c o n v i te d e D. João I I I para l e c c i o n a r n o C o l é g i o das Artes de C o i m b r a , onde permaneceu até à e n trega dessa i n s ti t uição aos Jesuítas, em 1 5 5 5 . Nessa altura regress o u n o v a m e n t e a o e n s i n o e b o re n s e . A í s e

1 6 G a r c i a d e R e s e n d e , C r ó n ica d e D . J o ã o I I e M i s c e l â n e a , L i s b o a ,

I m p re n s a N a c i o n a l - C a s a d a M o e d a , 1 9 7 3 . p . 2 6 2 . 1 7 C o rp o D ip l o m á ti c o P o r t u g u ê s , v a I .

XI,

Lisboa, 1898, pp. 291-222.

49

m a n t e v e a t é à fu n d a ç ã o d a U n i v e r s i d a d e , em 1 5 5 9 . A p e s a r de o c a r d e a l D . H e n r i q u e l h e t e r o fe r t o o e s p e c i a l p r i v i l é g i o d e p o d e r m a n t e r a b e r t a a s u a e s c o l a , o h u m a n i s t a d o m i n i c a n o d e c i d i u e n c e r r á - I a d e fi n i t i v a m e n t e e e n t r e g a r - s e e m e x c I u s i v i d a d e à s i n v e s t i ga ç õ e s a r q u e o l ó g i c as

18.

J á v i m o s q u e , e n t r e t a n t o , e m 1 5 4 0 o u 1 5 4 1 , o c a r d e a l h a v i a t r az i d o J o ã o Va s e u de B raga, onde substituíra N icolau Clenardo, após a sua partida para o Sul d e E s p a n h a e M a r r o c o s , e m 1 5 3 8 . Va s e u p e r m a n e c e u e m É v o r a a t é 1 5 5 0 , en tregue a o e n s i n o da gramática e d a retórica. D . João I I I apreciava de tal m a n e i ra o seu v a l o r que lhe a t ri b u i u os p ri v i l é g i o s e li berdades de q u e u s u fr u í a m o s c a t e d r á t i c o s d a U n i v e r s i d a d e d e C o i m b r a 1 9 . S a b e m o s p o r N i c o l a u C l e n a r d o q u e Va s e u r e c e b i a u m a a v u l t a d a s o m a 20, o q u e é c o n fi r m a d o p e l o L i u ro da Fazenda do Infa n te D . A n1l'i­

q u e, q u e , ao r e l a t a r os a n o s de 1 5 4 9 e 1 5 5 0 , r e fe r e q u e l i a "gra m a ­ tiq u a e o u tras ciemçias da cida de de u o ra ", c o m u m v e n c i m e n t o a n u a l de cem mil réis 21 . A i n d a s e g u n d o o m e s m o l iv r o , M a n u e l F e r n andes e r a encarregad o , em

1 5 4 8 , d o "Co légio dos m i n in o s " 22 e , a p a r t i r d e 1 5 5 2 , o e n s i n o d a g r a ­ m á t i c a n o s E s t u d o s d e É v o r a e s t a v a c o n fi a d o a d o i s m e s t r e s : Afo n s o M a n e l ã o , e n c a r regado d o s p r i n c i p i a n te s , com o v e n c i m e n to de dezas­ seis mil réis; e o l e i t o r de Gramática D o mingos Simões, que rece­ bia a n ualmente vinte e cinco m i l réi s e u m m O l o d e t r i g o a n a fi l . Havia ainda u m clérigo

R e s e n de ,

q u e , p e l l a m ui t a v e n e ra ç ã o ,

fic a s s e a

sua

livre,

e l l e re n u n c i o u h e roica m e n t e o p rivilegio, c o m p o r A n ti g u i d a d e s

do

q u e s e t i n h a a o M e s tre

e excep t u a da ,

des ta

ley u n i v e rs a l ,

e s e c o ns agro u t o d o a

R e y n o e da P a tria.

que

d e p o is

da s u a

que rece b i a q u a tro m i l

m o rt e s e i m p rimirão c o m t a n t a g l o ria s u a , c o m o e da n a ç ã o L us i·

réis anuais para ensinar

A s s is t ê n cia d e P o r t uga l, t o m o I , v a I .

a d o u t r i n a c r i s t ã às c r i ­ a n ç as n a S é d e Évo r a 2 3 . P a r a l e l a m e n t e ao e n s I ­ no

d e s e n vo l v i d o ,

volta da Catedral, tamb é m os m o s t e i ro s , d e acordo com a s respect i va s

regras,

fana" (Fra n c i s co

manti-

Rodrigues,

H i s t ó ria

da II,

C o m p a n h ia

de J e s u s n a

p p . 3 1 7 ' 3 1 8 ) ; c f. M a u rí c i o .

op. cit., pp. 2 5 7 - 2 5 8 . ' 9

C f. ) . S . S i l v a D i a s , A Po lítica C u l t u r a l da Ép o c a d e D . J o ã o III,

vaI.

II,

C o i m b ra , Fa c u l d a d e de L e t ra s , ' 9 6 9 , p. 4 6 1 ; S o u s a V i t e r b o ,

" E s t u d o s s o b re D a m i ã o d e G ó i s " . l n O I n s t i t u t o , v a I . X LV I I , C a i m · b ra , ' 9 9 0 , p . 3 8 0 .

ao

l o n go dos séculos, à

50

u E a i n da

18

N i c o l a u C l e n a r d o , " C a r t a a Va s e u " , F e z , 2 1 d e A g o s t o d e 1 5 4 1 , i n M a n u e l G o n ç a l v e s C e re j e i r a , O R e n a s c i m e n t o e m P o r t uga l . Cle· n a rd o e a S o c i e d a d e P o r t u g u e s a do seu Tempo, C o i m b r a , C o i m b ra

E d i t o r a , ' 9 4 9 , p. 3 6 7 . 21

B P E , L i vro d a Faz e n da d o I n fa n te D . A m rique Q u e C o m e ç o u e m

Ja n e iro d o A n o d e Q u in h e n to s e Trinta e O i t o , c ó d . C V I I/1 - 2 9 , f i . 2 1 9 .

" B P E , L i vro da Fa z e n da do I n fa n te D o m A m ri q u e , c ó d . CV l l h - 2 9 , fls.

1 8 7 V e 2 4 t r ; c f . p o r L u ís d e M a t o s , " E b o r a H u m a n i s t i c a " , i n

A Cida d e d e É v o ra , n . o 5 9 , É v o r a , ' 9 7 6 , p . 1 3 . '3 B P E ,

L i vro d a Fa z e n da d o I n fa n te D o m A n rique, c ó d . CV l l h - 2 9 ,

f l s . 2 5 'V, 2 5 2 e 2 2 7 .

n h a m a b e r t a s a s s u a s e s c o l a s , o n d e o s a l u n o s p o d i a m I n i c i a r as p r i ­ m e i ras letras e c o n t i n u a r o s s e u s e s t u d o s até às m a i s altas l u ­ c u b ra ç õ e s t e o l ó g i cas , p a s s a n d o p e l as a r t e s l i b e r a i s . O s mais antigos e mais i m p or tantes m o s teiros eborenses n o c a m p o d o e n s i n o fo r a m o d e S ã o D o m i n g o s , fu n d a d o e m 1 2 9 1 , e o de São Francisco, que remonta a meados do século

XII I .

Acerca do p r i m e i r o , o n de v i ve r a m , e n tre

o u t r o s , e r u d i t o s d a e n v e r g a d u ra de André d e Re s e n d e , J e r ó n i m o de A z a m b u j a , L u í s d e G r a n a d a , D i o g o d o Ro s á r i o e B a r t o l o m e u d o s M á r t i r e s , d i z o c r o n i s t a j e s u í t a A n t ó n i o F r a n c o : "Há n elle No viciado, e Est u -

dos de Filosofia, e Teo logia, que p o r mais de do us sentlos sup rirão a falta da Un iversidade Ebo rense, e fo rão officina, a escola em q u e debayxo da discip lina do gra n de D. FI'. Ba rtholo m e u dos JvIa rtyres se fo nna rão, e ap ren derão a s letras os p rim eiros Padres da Co mp a n h ia de Jes u , q u e fu n da rão o Co l!egio, e Un i v e rsidade .

" 24

E m r e l a ç ã o a o C o n v e n t o d e S ã o F r a n c i s c o , r e fe r e o m e s m o c r o n i s t a : " Ti n h a o c o n v e n to a n tiga m e n te

do is cla u s tros e u m a gra n diosa li v ra ria; e ra casa de est u dos.

A

51

"25

corte e a Câmara

C o m a r e c o n q u i s t a c r i s t ã , a c i d a d e de É v o r a r e c u p e r o u a I m p o r ­ t â n c i a q u e t i v e r a n o t e m p o d o s Ro m a n o s e h av i a fi c a d o u m t a n t o o bs c u r e c i d a d u r a n t e as d o m i n a ç õ e s v i s i g ó t i c a e á r a b e . O s r e i s da p r i m eira dinastia comp reenderam bem a p o s i ção e s tratégica da c i d a d e c o m o o c a m i n h o d e m a i s fá c i l a c e s s o a o A l g a r v e , s o b r e t u d o a n t e s d e 1 2 1 7 , q u a n d o a s fo r ç a s i s l â m i c a s , a q u a r t e l a d a s n a p r a ç a ­ - fo r t e d e A b u D a n i s ( A l c á c e r d o S a l ) , i m p e d i a m a c i r c u l a ç ã o p e l a o rl a m a r í t i m a . A p e rm a n ê n c i a d o s reis e m Évo r a , i n i c i a d a p o r D . A fo n s o H e n r i q u e s e c o n t i n u a d a

2 4 A n t ó n i o F ra n c o ,

E v o ra I l u s tra d a , v a l o I , t o m o

Livraria Nazareth, 1945 . p. 342. 2 5 Fra n c o , o p . cit., t o m o I V , c a p . X I , p . 3 4 8 .

IV,

cap.

XII,

É v o ra ,

p e l o s s e u s s u c e s s o r e s , p r i n c i p a l m e n t e p o r D . Afo n s o I I I , q u e a í fi x o u r e s i d ê n c i a em 1 2 6 2 , e p o r D . D i n i s , q u e t a m b é m fez d e l a s u a m o r a d a , em 1 27 9 , t o r n o u - s e m a i s fre q u e n t e a partir d e D. Afo n s o IV. P o r s e u t u r n o , D . J o ã o I n u n c a e s q u e c e u o d e n o d o c o m q u e a p o p u l a ç ã o de É v o r a s e b a t e r a p e l a s u a c a u s a c o n t r a as fo r ç a s p r ó - c a s t e l h a n a s , l i d e r a d a s p e l o a l c a i d e Á l v a r o M e n d e s d e O l i v e i r a . N ã o e r a s e m r a z ã o q u e s e o r g u l h a v a d e a c h a m a r a s u a "m u i n o b re

ci

'" "C

e semp re leal cidade ".

u �

A partir de D . João I I ,

'" Q.

por

vo l t a

Évora

de

1 490,

tornou-se

segunda

cidade

a do

rei n o , ao arrebatar a San tarém o ho n roso epíte to de cidade real. D . M a n u e l reco n h ec e u explicitamente

essa

prerrogativa à cidade do Giraldo, quando, nas C o r t e s de L i s b o a de 1 498, lhe chamou

"a s egu n da destes r e i ­ n os

em

dign i da de e

p ri n c ip a l n os fa c to s " e a

reconheceu

sua

s uperioridade em relação à p r ó p r i a c i d a de d e L i s b o a 2 6 . O R e i Ve n t u r o s o m a n i fe s t o u r e i t e r a d a m e n t e a s u a p a i x ã o p o r É v o r a , o n d e p a s s o u l o n go s p e r í o d o s do seu r e i n a d o . Aí s e d e t eve d e s d e 1 4 9 6 até 1 4 9 9 , e m

1 5 0 3 e 1 5 0 6 e , d u r a n te m e s e s s e g u i d o s , n o s anos d e 1 5 0 9 , 1 5 1 1 , 1 5 1 2 e 1 5 1 3 . D e 1 5 1 4 a 1 5 1 9 , passou l á q uase todo o tempo . F i n a l m e n t e , D . J o ã o I I I t i n h a p l e n a c o n s c i ê n c i a d e q u e a "cidade de Évo ra é u a das

m ais p rin cip a is cidades dos rei n os de Po rtugal e do A lga rve, e de ma is p o voação de gen te n o b re e de p o v o, tira n do L is b o a " 2 7 . 52

P o r i s s o , fe z d e l a a s e d e q u a s e p e r m a -

26

"Os

O r i g i n a i s d o C a rt ó r i o

A Cida d e d e É v o ra ,

d a C â m a ra

n . o, 4 5 ' 4 6 ,

Municipal de Évora", ln

Évora, ' 9 6 2 " 963,

p . 4 0 9 ; c f. R u i

d e P i n a , Cró n ica d e E I - R e i D . J o ã o II, C o i m b r a , A l b e r t o M a r t i n s d e Carva l h o , ' 9 5 0 , p. 117 . 27 " C a r t a d e O . J o ã o t i l a o E m b a i x a d o r e m R o m a " , e m 1 5, 4 0 , s o b re a e l e v a ç ã o d a S é d e É v o r a a i g r e j a m e t r o p o l i t a n a , l n Corpo D ip l o ­ m á ti c o P o r t u g u ê s , v a I . I V , L i s b o a , 1 8 7 0 , p .

340.

n e n t e d a c o rt e . A í s e i n s t a l o u , e m F e v e r e i r o d e 1 5 2 2 ; a í p a s s o u q u a s e t o d o o a n o d e 1 5 2 4 e l o n gas t e m p o radas d e 1 5 2 5 a 1 5 2 9 ; aí

.4

;í&�/t7P.v �?.4Út1�c;�

s e fi x o u , q u a s e i n i n t e r r u p t a m e n t e , d e s d e M a i o d e 1 5 3 1

a A g o s t o d e 1 5 3 7 e d e s d e M a i o d e 1 5 4 4 a t é fi n a i s d e 1 5 4 5 .

C o m e l e , a c a p i t a l a l e n t e j a n a t o r n o u - s e d e fa c t o a c a p i t a l d o r e i n o , e s t a ­ t u t o q u e o s e b o r e n s e s t e n t a r a m , e m v ã o , t r a n s fo r m a r e m q u e s t ã o d e d i r e i t o . C o m e fe i t o , a v i d a d e P o r t u g a l c o n t i n e n t a l e u l t r a m a r i n o , b e m

-" o

c o m o a d i p l o m a c i a i n t e r n a c i o n a l p o r t u g u e s a , p a s s a r a m a g i r a r, c a d a v e z

'" 'O

u C.

com m a i o r c o n s t â n c i a , à v o l t a de É v o r a . Era a p a r t i r da c i d a d e do

"'

G i raldo que o rei dirigia a política portuguesa nacional, u l tramarina

'Í\Í"Õ'NN'''[ I S A L ACIEN SIS DE ARTE '

P E T R I

A T Q..Y E a A T I O N Il N A V I G A N O J

e i n t e r n a c i o n a l . E r a a í q u e re c e b i a o s g r a n d e s d o r e i n o e o s e m b a i x a -" o '" c

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- v o z e s m a i s a c t i v o s d e s t e m ov i m e n t o q u e parece ter sido suportado pelos poderes municipais e pelos estamentos sociais superiores da sociedade eborense, Com e fe i t o , s e g u i n d o u m a o u t r a c a r t a d e G a r ­ c i a d e Re s e n d e q u e , a p e s a r d o i n t e r m e d i á r i o , s e d i rige c l a r a m e n te ao m o narca, escrita a i n d a n o calor d a estada d a c o r te r é g i a e m Évo r a , a m p l i a - s e c o m u m n í t i d o conteúdo senhorial o p rograma relvlnd ic a t i v o q u e e s t a m o s a t e n t a r aco m p a­ n h a r , s u b l i n h a n d o -,s e q u e "cá estão o s

20

U m a c a r t a d e G a r c i a d e R e s e n d e , i n t e g ra d a n o p r o c e s s o d e p re ­

p a ra ç ã o d a s C o r t e s d e É v o r a d e 1 5 3 5 . e x p l i c i t a v a j u n t o d a C â m a ra d a c i d a d e as

ideias e

r e i v i n d i ca ç ões a s s i n a l a d a s :

"f. . . ] eu e s t o u

t a m m a il s e n ti d o , q u e n a m p o s o h yr a c h a m a do de v a s a s m e rçes, o que m uy t o folgara d e faz e r; e por yso p e dy por m e rçe ao S ã r A n dre B o to q u e fose da r e s ta e s c u s a p o r m y . E l h e dyse q u e l e n b ra s e a v o s a s m e rc e s , q u e , o q u e m e p a re ç e q u e d e v i a m de r e q u e ­ r e r p e ra s e r e m n e s ta s C o rt e s , e r a m o s S e n h o re s Cra veyro e Fra n c i s c o d e Myra n da , q u e p o r s u a s n o b re z a s de s a n g u e , v e r t u d e s e b o m s a b e r o fa ra m m u yto b e m . E q u e d e v e m de re q u e re r a e l R e y, n o s o S ã r, q u e p o lo s m uy t o s m e re ç i m e n t o s d e s ta c i d a d e , c o m o eu c o m p ri da m e n t e m o s trarey; e p o l o Prin c e p e , n o s o S ã r, e os S e n h o ­ r e s / fa n t e s d e la s e r e m n a t u r a e s , q u e o P r i n c e p e , n o s o S ã r, a q u i foy c o n ç e b yd o {", } q u e s u a A l teza fa ça m e rc e a e s ta ç i d a d e d e t o d o l o s p r e v e lejios,

q u e t e m e t e v e r a c i d a d e d e L ix b o a .

E que

fa ça n e la e m c a d a h u m a n o h u m a feira fra n ca , p e ra s e t o rn a r a r e s ta u r a r de q u ã p e rdida e s t a a . E a s y q u e p a s e a q u y os Es t u do s j e ra es, p e ra a çida d e s e p o v o a r; e is to, S e n h o res, m e p a reçe n e çess a ri o , c õ o m a is que a v a s a s m e r c e s p a r e c e r bem; e b e ij o a s m ã os a v a s a s m e rc e s . G a rcia d e R e e s e n de [. .. }". E s t a c a r t a e n c o n t r a - s e em

BPADE, Arquivo

da

Câmara

de

Évora.

L i v r o I X d e O ri g i n a i s ,

f I . 5 5 1 , e f o i p u b l i c a d a e m A n s e l m o B r a a m c a m p F re i r e , " E m V o l t a d e U m a C a r t a d e G a r c i a d e R e s e n d e " , i n A rq u ivo His tórico P o rt u ­ g u ê s , v a I . I I I , n . os 1 - 2 , 1 9 0 5 . p . 4 6 . 21

A c a r t a q u e n o s c h e g o u d e F r a n c i s c o d e M i r a n d a c o m p ro v a e s t a s

re i v i n d i c a ç õ e s , d e s e n v o l v e n d o m e s m o u m a e s t r a t é g i a a rg u m e n t a ­ t i v a q u e a s s e n t a n u m a e v i d e n t e d i c o t o m i a e n t r e É v o ra e L i s b o a , e m q u e a p ri m e i r a c o m p a re c e c o m o u m a e s p é c i e d e " t e r ra p r o m e tida":

" ..

[ . } d o u n o va s a V. A . d a vasa cydade a q u a l l e s ta d e m a n e ira

q u e q u e m na vyr n u m ca seja d e la hyra p e ço a D e u s n o s o s e n h o r q u e m e d e vida a te v e r Vasa A . e da h i p e ra dia n te s eja h o q u e e l e q u ij e r a R a i n h a n o s a S e n h o ra n ã o s e i s e h e j a c o n vertida a n o sa fe d E v o ra q u e m e d iz e m q u a q u e v a y ja c o n h e c e m do a m a ll­ dade dese lugar e a n o s a v e r d a d e p o rq u e mui c o n t e n t e d e v e s e r R a i n h a d E v o ra s e m o u tra c o u s a n e n h u m a b e ijo a s m ã os de V. A . a q u e p e ço q u e p o r s u a vida e s a u de e de v a s o s fil h o s e c a s a s e tire da h y e s e v e n h a p e ra e s ta t e rra d a p r o m i s s a m d E v o ra a o s xxbj d a b rill d e b cxxxbiij a n o s . Fra n ci s c o d e Mirãda . " O o r i g i n a l d e s t a c a rt a e n c o n t ra - s e e m A N/ T T , C o r p o C r o n o l ó g i c o , p a r t e

I,

maço 61,

n .o 5 1 . e e s t á p u b l i c a d o n o e s t u d o a n t e ri o r m e n t e re fe r i d o d e Braa m c a m p F r e i re , p . 6 0 .

excelen tes p'rín cip es e m u ito a ltos infa n tes. Cá ten des o sen h o r du q u e e m u itos o u tros senhores. A q u i está a real co rte. A q u i tendes to u ros, canas s a raus e n o b res da mas. Se qui­ serdes p assea r, tendes terreiro

e

rocio e ta m ­

b ém ho rtas c o m o lá, e ruas largas e bem chãs, cidade bem ass o m b rada com s o lenes m ostei-

3

'" � Uj

ros. Se saírdes fo ra, aqui estão os verdes cam-

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Q. �

pos cheios de toda llas caças e, se pesca r, pes­

'"

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panhas a r q u e o l ó g i ca s , t e n t a n d o c o m p ro ­

o

.; � � .!!!

E

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,

v a r q u e , a fi n a l , D . J o ã o I I I s e " l i m i t ava"

,.€. .

Apud Ct'fh3rdum Grcucnbruth •. AnDO M , DC. X I I I.

a restaurar a h i s tó r i a da urbe, a d i g n i ­ dade d o seu p as s a d o l at i n o e c r i s t ã o ,

=>

� '" {' .. c. '" w .. i '" '" c E o .. o c.

e n c o n t r a n d o - s e a s u a acção " a c t u a l " p l e namente legitimada pela sua "antigui­ d a d e " . Tal v e z fo s s e a c o n s e l h ável e n ce r rar

o u

este e s t u d o com a c o m p r e e n s ã o d a q u a ­ l i d a d e e d o s s e n t i d o s d o s e r v i ç o c u l t u ra l d e A n d ré d e Res e n d e , r e p r e s e n t a n d o u m a e s p é c i e d e " m o r a l " d a História da A n tiguidade

da Cidade de Évora. No 'e n t a n t o , h e s i t a m o s : t a l v e z se d e v a m a i n d a i n t r o d u z i r a l g u n s fa c"5

t o r e s d e " i m o r a l i d ad e " . .. R ev o l v e n d o , d e n o v o , a s t r a d i ç õ e s b i o g r á fi c a s d e A n d r é d e R e s e n d e , u m d o s a s p e c t o s m a i s r e a l ç a d o s p e l a o b r a d o s e u a m i g o e d i s c í p u l o D i o g o M e n d e s d e Va s c o n c e l o s j u l g a - s e s e r, q u a s e i n d i s c u t i v e l m e n t e , a a d m i r a ç ã o c o m q u e o h u m a n i s t a e r a r e v e r e n c i a d o , n ã o a p e n as p e l a s s uas q u a l i d a d e s de c u l t o r c o m p e t e n t e d a s l e tr a s c l á s s i c a s m a s a i n d a , p r i n c i p a l m e n t e , p o r v i v e r e m p e r fe i t a c o m u n h ã o c o m o m u n d o a n t i g o . O j a r d i m , p o r e x e m p l o , d a m o d e s t a c a s a r e s e n d i a n a e n c o n t r a v a - s e p ej a d o d e c o l u n a s a n t i g a s , c h e i o d e m á r m o r e s r o m a n o s e a c u m u l a v a g r a n d e q u a n t i d a d e d e s s e s fa m o s o s " l e t r e i r o s " q u e t ã o g e n e r o s o s s e h a v i a m m o s t r a d o n a s u a História35 . . . A s u a a c t i v i d a d e a r q u e o l ó g i c a e r a t a m b é m fa m o s a : t i n h a c o n s e g u i d o , n o m e a d a m e n t e , s a l v a r v e s t í g i o s r o m a n o s a b u n ­ d a n t e s a q u a n d o d a c o n s t r uç ã o do C o n v e n t o de N o s s a S e n h o r a d a G r a ç a , d e s c o b r i r a t a m b é m , n o s a r r e d o res d e Évo r a , o s r e s t o s d a p r i m i t i v a B as í l i c a d e S ã o M a n ç o s e , c o m o p r i n c i p al c o r o a d e g l ó r i a , revel a r a a s r u í n as d o a q u e d u to r o m a n o de S e r ­ t ó r i o , a c h a n d o m e s m o a p l ac a q u e c o m e -

3 5 S e g u i m o s a t r a d u ç ã o d a " V i d a d e L . A n d ré d e R e s e n d e " , e s c r i t a

p o r D i o g o M e n d e s d e Va s c o n c e l o s p a r a a i n t ro d u ç ã o d o s L i b ri Q u a · t u o r de A n t i q u i t a t i b u 5 L us it a n i a e , q u e s e e n c o n t ra e m B e n t o J o s é

de

Sousa

1785,

p.

Fa r i n h a , 28.

C o l l e ç a m das A n tiguida des de

É vora.

Lisboa,

m o rava esse empreend i m ento cl áss i c o . C o m u n gava,

36 Ferre i r a . " N o t í c i a s " , p p . 2 0 5 - 2 0 6 .

d e fa c t o , o n o s s o h u m a n i s t a t ã o i n t e n s a m e n t e c o m o m u n d o c l á s s i c o que p r o c u r o u , n a t u r a l m e n t e , c o m o e r a q u a s e n o r m a , i m i t á - l o . E , e n t r e o u t r a s c o m p e t ê n c i a s , d e s e nv o l v e u a e x trao r d i n á r i a c a p a c i d a d e d e i m i ta r os monumentos

e p i g r á fi c o s

r o m a n o s , t r a n s fo r m a n d o -se num exímio construtor de i nscrições

a p ó c r i fa s ,

q u e s e r i a m r á p i d a e n u m e­

.1a.1 l n nu:f qin.s

rosamente solicitadas, compondo mesmo o h umanista

gm:U ln ltl Cll ltl lnbu

v á r i as p l acas co m e m o ra­

111ftutnt ut �tt t .1 grto nu nCl1nttrpt fifiJ nu 111 c.ln'Lln Ollf�(� lO ttU l11 t� JlT p.lft1 on r flU S tt ," {ccn l �TO refi t rrmo ú; �Ol �l1 1 1 JX!tllI Cl11 1ur:p cunron xpin 00: J 1 0 . � 111 J

t ivas l a t i n as q u e p a s s a r a m a g l o r i fi c a r , i m i t a n d o o s testem unhos

clássicos,

v á r i o s e d i fí c i o s i m p o r t a n ­ t e s e b o r e n s e s , c o m o fo i o caso d a I g r ej a d e S an t o A n t ã o 3 6 . . . As s i m , e m c o n sequência, vários eruditos e i nv e s t i g a d o r e s p ro cu r a ram discernir quais os t e s t e m u n h o s e p i g r á fi c o s que André de Resende a c h o u d e fa c t o e q u a i s o s que construiu pelas suas p r ó p ri a s m ã o s . E x i s te a t é u m a fo r t e i n c l i n a ç ã o e m v á r i as o p i n i õ es e r u d i t a s no sentido de i ntegrar, por exem p l o , essa tão o p o r t u n a i n s cr i ç ã o c o m e ­ m o r ativa da c o n s t r ução do aqueduto de Évora 116

por Sertório na segunda

��;;;;.�----

---- -----

-

F ó l i o s do Livro de Horas, c a t o n , o 3 É v o r a , B i b l i o t e c a P ú b l i c a de É v o r a

c a t eg o ri a 3?

A s e r verd a d e i ra e s t a c o n s t a t a ç ã o , v e m o - n o s c o n s t r a n g i d o s a te r m i n a r

e s t e e s t udo c o n c o r d a n d o e s u b s creve n d o i n te i ra m e n t e e s t a d e c l a r a ç ã o de N i c o l a u Clen a r d o , e s c l a r e c e n d o , n u m a d a s s u a s fa m o s a s c a r t a s , q u e , s e a l g u m a v e z c h e g a s s e a papa, invadiria i m ed iatamente Port u g a l e o r d e n a r i a , e n tre o u tras m e d i d a s , " q u e a R es e n de

fi q u e i n terdita du ra n te u m a n o inteiro a arte p o é­ tica e a agri c u lt u ra e ser- Lh e - á p ro i b ido a n da r a de cifra r esses m á r m o res veLh o s " 3 8 . . .

p r t�tn'b n 11! .l� cr:� �� -I� -m l1�tt U;:' ILt"'; m n:1t nl pl nl 0p tO .tP' 111 11 1.1 J.l'f rpfU ll1 ,ru m .

fa!Cl fit nr rt(ltl Cl pfo n c tttt11 cft nld,n l . nor ( tlun ctt 111 tJ.h lura,CI .. '1 tum (Tat Lnr fxll n ln\\ ·1 (l\( nl ml 11�t t ·

117

37

Espanca,

op.

cit.,

pp.

Ve j a - s e ,

principalmente,

Pereira,

Estudos

t ó ria

Eborenses.

e A rq u e o l o g i a

m a n a) ,

10-1l. G a b riel

(Ép o c a

His­ Ro­

Évora. 1 9 1 6 . Alg u m a s s u ­

g e s t õ e s q u e s e d e v e m l i g a r, c o m v a n ta g e m , a e s t a d i s c u s s ã o p o d e m encon trar-se

em

Raul

Rosado Fernandes.

Miguel

M é t h o d o logie

e l His t o ire d a n s

" D e A n t i q u i ta ti­

b u s L u s i t a n ia e "

d 'A n dré

de

Re-

s e n de , P a r i s , C e n t ro C u l t u r a l P o r -

tuguês. 1984. ) 8 Tra t a - s e d e u m e x c e r t o d a c a r t a

d e N i c o l a u C l e n a rd o a J o ã o P e l i t , e n v i a d a d e Fez, e m 2 1 de Agosto d e ' 5 4 ' . e p ís t o l a p u b l i c a d a e m M . G o n ç a l v e s C e re j e i r a , mento

em

Po r t u ga l,

vaI. '. '974. p . 3 3 5 .

O R e n asci·

C o i m b ra ,

o

H U M A N I S M O P O RTU G U Ê S E O O R I E N TE R u i M a n u e l L o u r e i ro

s n av e g a d o r e s p o r t u g u e s e s l a n ç a r a m - s e n a e x p l o r a ç ã o s i s t e m á t i c a do o c e a n o A tl â n t i c o e do l i t o r a l o c i d e n t a l de Á fr i c a l o g o nas p r i ­ mei ras décadas do século

xv.

A i d e i a de t e n t ar a l c a n ç a r o fa b u -

l o s o O r i e n t e d a s d r o gas e d as e s p e c i a r i a s p o r v i a m a r í t i m a d i r e c t a , c o n t u d o , p arece s ó t e r surgido p o r volta de 1 47 5 , quando os n o s ­ s o s n av I o s j á p e r c o r r i a m d e fo r m a r o t i n e i r a a s á g u a s d o g o l fo d a G u i n é e a exper i ê n c i a n á u t i c a e n tretanto a c u m u l a d a s u g e r i a a p o s s i b i l i dade d e circum­ - n av e g a r o c o n t i n e n t e a fr i c a n o . O p r o j e c t o fo i e s p e c i a l m e n t e a c a r i n h a d o p o r D.

J o ã o I I , q u e d e fo r m a m e t i c u l o s a p r o c u r o u l e v á - l o a b o m t e r m o , r e u n i n d o

c o m p e rs is t ê n c i a os e s s e n c i a i s r e c u r s o s m at e r i a i s , q u e i n cl uí a m a m a i s avan­ ç a d a a r t e d e n av e g a r e o m a i s a c t u a l i z a d o s a b e r g e o g r á fi c o e n t ã o d i s p o n í v e i s n a E u r o p a . E m 1 4 8 7 , e s t e m o n a r c a d e s p a c h av a s i m u l t a n e a m e n t e d u a s e x p e ­ d i çõ e s e x p l o r a t ó r i as r u m o à s Í n d i a s , u m a p o r v i a t e r r e s t r e , a c a r g o d e Afo n s o d e P a i v a e d e P ê ro d a Covilhã, o utra p o r v i a m a r í t i m a , c o m a ndada p o r B ar­ " 9

t o lo m e u D i a s . A m b as o b tiveram excele n t e s r e s u l t a d o s , pois P ê ro d a Cov i l h ã j o rnadeou demoradamente p elas m argens do Í n d i c o O c i d e n t a l , v i s i t a n d o vários e i m p o r t a n t e s p o r t o s m e r c a n t i s , e n q u a n t o B a r t o l o m e u D i a s c o n t o r n ava e m p r i n c í p i o s d e 1 4 8 8 o t e m ív e l c a b o d a s To r m e n t a s , ú l t i m o o b s t á c u l o q u e i m p e ­ d i a o a c e s s o d i r e c t o d o s n av i o s l u s i t a n o s a o s m a r e s o r i e n t a i s , e q u e a p a r t i r de então passou a ser conhecido como cabo da Boa Esperança. O proj ecto i n d i a n o , c o n t u d o , a p e n as s e r i a l e v a d o a b o m t e r m o durante o r e i ­ n ad o d e D . M a n u e l I , q u e , p o r u m a a u s p i c i o s a c o m b i n a ç ã o d e c i r c u n s t â n c i a s , e m 1 4 9 5 h e r d o u d e s e u p r i m o e c u n h a d o o t r o n o d e P o r t u g a l . Tr ê s a n o s m a i s tarde, a 2 0 de M a i o de 1 4 9 8 , u m a p e q u e n a a r m a d a p o rt u g u e s a c o m andada p o r Vas c o d a G a m a a p o r t a v a fi n a l m e n t e a o l i t o r a l d a Í n d i a , n o t e r m o d e u m a d e m o r a d a v i a g e m q u e s e i n i c i a r a m u i t o s m e s e s a n t e s n o e s t u á r i o d o r i o Tej o . O primeiro p ortuguês desemb arcado e m Calecute, a o s e r i nterpelado p o r gente da terra sobre as i n tenções dos recém-chegados, res po nderia com a co nsagrada fó r m u l a "vimos b uscar cristãos e esp eciaria ", q u e n o s fo i t r a n s m i t i d a p e l a Relação

da Viagem q u e a n d a a t r i b u í d a a Á l v a r o Ve l h o [ Ve l h o , 1 9 8 9 , p . 5 1 ] . Os P o r t u g u e s e s , c o m e fe i t o , e s t a v a m i n t e r e s s a d o s n o n e g ó c i o d e p r o d u t o s a s i á t i c o s d e l u x o - c o m o a p i m e n t a e a c a n e l a , o g e n g i b r e , o c r av i n h o e a n o z- m o s c a d a , a s e d a , a s p o r c e l a n a s e as p e d r as p r e c i o s a s -, u m a p a r t e d o qual p r e t e n d i a m c a n a l i z a r d i r e c t a m e n t e p a r a a E u r o p a , via cabo d a Boa E s p e r a n ç a . E b uscavam t a m b é m eve n t u a i s c o m u n idades cristãs, com as q u a i s s u p u n h a m p o d e r t r a v a r u m d i ál o g o p r i v i l e g i a d o e e s t a b e l e c e r e s t r a t é g i c a s a l i a n ­ ç a s . A s p o s s i b i l i d a d e s m e r c a n t i s o fe r e c i d a s p e l o m u n d o o r i e n t a l , c o m o o s n o s s o s h o m e n s d e s d e c e d o c o n s t a t a r a m , e x ce d i a m d e fo r m a a s s o m b r o s a a s s u a s m a i s o p t i m i s t a s e x p e c ­ t a t i v a s . Qu a n t o à c o m u n i d a d e c r i s t ã i n d i a n a , c o m o m a i s t a r d e s e v e i o a v e r i fi c a r, e x i s ­ t i a real m e n te , m a s , p a r a a l é m d e s e r d e c r e n ç a n e s t o r i a n a , era m i n o ri t á r i a e m a r g i n a l , n ã o d i s p o n d o d e q u a l q u e r p o d e r p o l í t i c o e fe c t i v o n o s u b c o n t i n e n t e i n d i a n o . Va s c o d a G a m a c h e g o u a L i s b o a e m fi n a i s d e A g o s t o d e 1 4 9 9 , d e p o i s d e u m a á r d u a j o r n a d a d e r e g r e s s o , s e n d o t r i u n fa l m e n t e r e c e b i d o p o r e l - r e i D . M a n u e l , q u e o c u m u l o u d e b e n e s s e s , p o i s o s e s t r a te g a s r e a i s , c o m b as e n a s i n fo r m a ç õ e s e n as m e r c a d o r i as t r a z i d a s p e l a a r m a d a g â m i c a , l o g o s e a p e r c e b e ra m d a s i m e n s a s p o t e n c i a l i d a d e s d a v i ag e m d a í n d i a . A s i n i c i a i s i n t e n ç õ e s m e r c a n t i s r a p i d a ­ m e n t e d a r ã o l u g a r a u m a m b i c i o s o e c o n c e r t a d o p r o j e c t o d e c a r a c t e r í s t i c as i mperiais. Os Portugueses começam p o r conquistar Goa e Malaca, estabele­ c e n d o a i n d a u m d u r a d o u r o p r o t e c t o r a d o s o b re O r m u z . A p a r t i r d e s t a s b a s e s , as viagens d e e x p l o r a ç ã o m u l ti p l i c a m - s e , d e s d e o m a r Ve r m e l h o a t é às M o l ucas, à C h i n a e a o J a p ã o , s u r g i n d o em m u i t a s d e s t a s r e g i õ e s e n t r e p o s t o s m a i s o u m e n o s fo r t i fi c a d o s . E s t e d i s p e r s o E s t a d o d a Í n d i a é g e r i d o a p a r t i r d e G o a p o r u m fu n c i o n a l i s m o c r e s c e n t e m e n t e e s p e c i a l i z a d o , q u e é e n c a b e ç a d o p o r u m gove r n a d o r o u u m vice-rei. E n t r e Lis b o a e C o c h i m estabele ce-se a car­ r e i r a d a Í n d i a , a t r av é s d a q u a l s e g u e m a n u a l m e n t e p a r a o re i n o a r m a d a s c a r ­ r e g a d a s d e v a l i o s a s m e r c a d o r i a s . O s n av i o s p o r t u g u e s e s , e n t r e t a n t o , c o b r e m o s mares o r i e n tais c o m u m a densa rede d e r o t a s regulares, pois, p a r a l ela­ m e n te à s i n i c i a t i v a s d a C o r o a , o s n o s s o s a v e n t u r e i r o s p r o c u r a m i n t r o d u z i r ­ - s e n o s l u c r a t i v o s t r á fi c o s r e g i o n a i s , a p r o fu n d a n d o o r e l a c i o n a m e n t o c o m o O riente. E m m e a d o s d o s é c u l o XVI a n d a r i a m m a I s d e c i n q u e n ta m i l p o r t u g u e s e s d e r ­ r a m a d o s e n t r e o c a b o d a B o a E s p e r a n ç a e o a r q u i p é l ag o n i p ó n i c o , p r e s t a n d o s e rv i ç o m i l i t a r n a s n o s s as fo r t a l e z a s o u p a t r u l h a n d o o s m a r e s a b o rd o d e p o s s a n t e s n av i o s , t r a b a l h a n d o n a a d m i n i s t r a ç ã o r é g i a o u d e d i c a n d o - s e à m e r­ 120

c a n c i a p o r c o n t a p r ó p r i a , d e s e n v o l v e n d o a c t i v i d a d e s m i s s i o n á r i as ou p e r e -

g r i n a n d o s e m r u m o c e r t o . E s t a l i g a ç ã o i n t e n s a ao O r i e n t e , o b v i a m e n t e , teve p e s a d a s e v a r i a d a s c o n s e q u ê n c i a s em Po r t u g a l [ vd. Ru s s e l l - Wo o d , 1 9 9 2 ] . O s fl u x o s d e h o m e n s e d e m e r c a d o r i a s i n t e n s i fi c a m - s e , c o m a c o n s e ­ q u e n t e a l t e r a ç ã o d o s m o d o s d e v i d a d e u m a s i g n i fi c a t i v a c a m a d a d a p o p u l ação nacional, q u e passa a e s t a r l i g a d a à m e rc a n c i a ou a acti­ v i d a d e s d e l a s u b s i d i á r i a s . O s u s o s e c o s t u m e s o r i e n t a l i z a m - s e , m o rm e n t e a n ív e l d a a l i m e n t a ç ã o , d o v e s t u á r i o , d o c o n fo r t o d o m é s t i c o e das p rá t i cas d e s o c i a b i l i d a d e . A l í ngua p o r tu g u e s a e n r i q uece-se c o m a m a c i ç a i m p o r t ação d e vocábulos p e regri n o s . E os c o n h e c i m e n t o s g e o g r á fi c o s e e t n o g r á fi c o s d i l a t a m - s e d e fo r m a e x t r ao r d i n á r i a , p r ovo c a n d o e n t re o s P o r t u g u e s e s , e l o g o m a i s n a E u r o p a , u m e n o r m e e d e s e s t r u t u r a d o r i m p ac t o n a t r a d i c i o n a l visão d o m u n d o . O s c o n t a c t o s i n t e n s o s e d u r a d o u r o s d o s P o r t u g u e s e s c o m o O r i e n t e , fa c i l i t a n d o a o b te n ç ã o d e i n fo r m a ç õ e s s o b r e g e n t e s , t e r r a s e m a r e s , d e r a m l u g a r a u m a i n e ­ v i t á v e l p r o l i fe r a ç ã o d e r e l a t o s m a n u s c r i t o s , q u e p r e t e n d i a m d i v u l g a r r e a l i d a d e s a n t e r i o r m e n t e i g n o r a d a s o u p o u c o c o n h e c i d a s . A s n o t í c i as d i s p o n í v e i s e m P o r ­ t u g a l a n t e s d a v i a g e m d e Vas c o d a G a m a , d i fu n d i d a s p o r r e l a t o s m e d i e va i s c o m o o L i vro das Marav ilhas d e M a r c o P o l o , a p e n a s t r a n s m i t i a m u m a i m a g e m p á l i d a e d e s a c t u a l i z a d a d a s c o m p l e x a s r e a l i d a d e s u l t r a m a r i n a s . N i n g u é m , e m Po r t u g a l , i m ag i n a r i a q u e a o l o n g o d o l i t o r a l a fr i c a n o e d a s r e g i õ e s m a r í t i m a s a s i á t i c as e x i s t i a m t a n t o s e t ã o d i v e r s i fi c a d o s p o v o s e c u l t u r a s , p ar a não fa l a r d a q u e l e s q u e s e estendiam p a r a zonas m ai s i n te r i o r e s . Ass i m , m ercadores e ave n t u r e i r o s , s o l d a d o s e fu n c i o n á r i o s r é g i o s , e t a m b é m m i s s i o n á r i o s d e v a r i a d a s d e n o m i n a ­ ç õ e s , t o d o s v ã o c o n t r i b u i r, n a m e d i d a d a s r e s p e c t i v a s p o s s i b i l i d a d e s , p a r a u m m e l h o r c o n h e c i m e n t o d o m u n d o o ri e n t a l . O s n o s s o s o b servadores c o m e ç aram p o r p re s t a r a t e n çã o a o s d a d o s d e c a r á c t e r m a i s u t i l i t á r i o , l i g a d o s a o s c o n d i c i o n a ­ l i s m o s p o l í t i c o s e m i l i t a r e s , a s s i m c o m o a o m u n d o m a i s i m e d i a t o d a n av e g a ç ã o e d a m e r c a n c i a . M a s , d e p o i s d e p r e e n c h i d o s o s v a z i o s i n fo r m a t i v o s m a i s u r g e n ­ t e s , o s v i a j a n t e s a m p l i a r i a m a s u a g r e l h a d e q u e s t õ e s , p r o c u r a n d o o b t e r i n fo r ­ m e s c a d a v e z m a i s d e t a l h a d o s s o b r e u s o s e c o s t u m e s , e t a m b é m s o b re c r e n ç a s e p r á t i c a s r e l i g i o s a s , d e m o d o a fo r m a r e m u m a i m a g e m g l o b a l m a i s r i g o r o s a d o O r i e n t e . E s t e p r o c e s s o d e r e c o l h a d e n o t í c i a s fo i r e l a t i v a m e n t e r á p i d o , p o i s p o r volta de 1 5 1 6 estavam concluídos os dois p rimeiros tratados portugueses de g e o g ra fi a o r i e n t a l , a Suma Orie n ta l d e To m é P i re s e o L i v ro das Co usas do Oriente d e D u a r t e B a r b o s a , q u e n a é p o c a n ã o c h e g a r a m a s e r i m p r e s s o s e m Po r t u g a l .

121

O s h u m a n i s t a s p o r tugueses, claro está, n ã o s e p o d e r i a m alhear de toda esta s i tu a ç ã o , e n v o l v e n d o - s e d e s d e c e d o c o m a s cousas o ri e n tais . E s s e r e l a c i o n a m e n t o , q u e n u n c a fo i e x a u s t i v a m e n t e a b o r d a d o [ vd. G i l , 1 9 8 9 ; M a t o s , 1 9 9 1 , v o l . I I ] , m a s q u e e m a n o s m a i s r e c e n t e s t e m m e r e c i d o r e n ov a d a a t e n ç ã o d o s e s p e c i a l i s t a s [ L 'Hu m a n is m e Po rtugais, 1 9 8 4 ; Ra m a l h o , 1 9 9 3 J , a s s u m i u a s m a i s d i v e r s a s m o d a l i d a d e s . O s h u m a n i s t a s , e m p r i m e i r o l u g a r, e g r a ç a s à v i v a c u r i o s i d a d e q u e o s c a r a c t e r i z a v a , e s t a v a m a t e n t o s a t o d as a s n o v i d a d e s d e o r d e m c u l t u r a l , e m o r m e n t e à s m u i t a s i n fo r m a ç õ e s c h e g a d a s a L i s b o a , p e l a r o t a d o C a b o , s o b r e a g e o g r a fi a e a e t n o g r a fi a d o l o n g í n q u o O r i e n t e . D e p o i s , a l g u n s d e s t e s h o m e n s , p o r fo r ç a d e c o n c r e t o s c i r c u n s t a n c i o n a l i s m o s e x i s t e n c i a i s , v ã o p a s s a r às p a r t e s d a Í n d i a , n o e x e r c í c i o d e fu n ç õ e s v a r i a d a s , n e m s e m p r e l i g a d a s a o r e s p e c t ivo 122

e s t a t u t o i n t e l e c t u a l . E m t e r c e i r o l u g a r, os h u m a n i s t a s , c o m o h o m e n s d e c u l t u r a s u p e -

1'1 0 r, i n t e g r a d o s q u e e s t a v a m n u m a v a s t a r e d e i n t e r n a c i o n a l , s e r ã o o s g r a n d e s re s p o n s áv e i s p e l a d i fu s ã o p e l a E u r o p a d e n o t í c i a s s o b r e o m u n d o o r i e n t a l e s o b r e as a c t iv i d a d e s u l t r a m a r i n a s d o s Po r t u g u e s e s . P o r ú l t i m o , o c o n h e c i m e n t o e a e v e n t u a l v i v ê n c i a d o O r i e n t e , t r a n s fo r m a n d o - s e e m fo n t e s d e i n s p i r a ç ã o , v ã o i n fl u e n c i a r o p e n s a m e n t o e a p r o d u ç ã o t e x ­ t u a l d e m u i t o s d o s n o s s o s h u m a n i s t a s , q u e r a n ív e l d e t e m a s a b o rd a ­ d o s q u e r a n ív e l d a p r o b l e m a t i z a ç ã o d o s c o n t e ú d o s d o s a b e r [ vd. B a r ­ reto, 1 9 86; Dias, 1 9 82] . o

fa c t o d e o H u m a n i s m o s e r u m a c o r r e n t e d e p e n s a m e n t o h e t e r o g é n e a ,

c o m m ú l t i p l o s c a m b i a n t e s , n ã o fa c i l i t a a e l a b o r a ç ã o d e s í n t e s e s d i v u l ­ g a t i v a s . Val e r á a p e n a r e fe r i r, d e q u a l q u e r m o d o , q u e o H u m a n i s m o fo i u m m o v i m e n t o i n t e l e c t u a l n as c i d o e m I t á l i a n o s é c u l o X I V , q u e a p o u c o e pouco s e espalhou por toda a Europ a , chegando eventualmente a Por­ t u ga l d u r a n t e a s e g u n d a m e t a d e d e Qu a t r o c e n t o s . E s s e movi m e n to a s s e n ­ t a v a n a i d e i a b á s i c a d a s u p e r i o r i d a d e d a a n t i g a c u l t u r a greco - I a t i n a e n a u r g e n t e n e c e s s i d a d e d e a r e d e s co b r i r e d e a re a b i l i t a r . A a p r e n d i z a g e m das l í nguas clássicas aparece desde logo como uma condição i n d i s p en ­ s á v e l d e a c e s s o à A n t i g u i d a d e . O l a t i m t r a n s fo rm a - s e m u i to r a p i d a m e n t e e m l í n g u a v e i c u l a r d o s c u l t o re s d o H u m an i s m o , fe n ó m e n o q u e fac i l i t a a c i r c u l a çã o d e s t e s h o m e n s p o r t o d a a E u r o p a , p o s s i b i l i t a n d o , a o m e s m o t e m p o , o d e s e nv o lv i m e n t o d e u m a v a s t a r e d e d e c e n t r o s i n t e l e c t u a i s , l o ca l i z a d o s s o b re t u d o e m e s t a b e l e c i m e n t o s d e e n s i n o s u p e r i o r e e m c o r ­ t e s r é g i as o u p r i n c i p e s c a s [ vd. , a t í t u l o c o m p a r a t i vo , G i l , 1 9 9 0 ] . A s s e n ­ > o

>

to '"

.a

E

'"

DO o

::t:

V> " U V> U c

'" '" :-; '" c

-o

o

u

tes estes pressupostos básicos, deverá constatar-se que a tipologia dos h u m an i s t a s , a i n d a e m c o n s t r u ç ã o , p a r e ce n ã o t e r l i m i te s , p o i s c a d a fi g u r a i n t e l e c t u a l a d o p t a r á p o s i ç õ e s d i s t i n t a s a r es p e i t o d a v a s t a h e r a n ç a c l á s s i c a , u t i l i z a n d o p o rç õ e s d e l a d e fo r m a a s s a z I? e s s o a l e e m fu n ç ã o d e o b j e c t iv o s m u i to p r ó p r i o s . Evi d e n ­ t e m e n t e , o i t i nerário individual de cada h u m anista será modelado não só pela respectiva

'"

o r i g e m s o c i a l , t e m p e r a m e n t o e fo r m a ç ã o , m a s t a m b é m p e l o e n v o l ve n t e c o n t e x t o h i s t ó ­

""

r i c o [ vd. , a t í t u l o d e c o m p a r a ç ã o , G i l F e r n á n d e z , 1 9 9 7 ] .

u-

V>

" C " '" '" V>

" '§ o '" '" '" "O

A p r i m e i r a r e fe r ê n c i a d e u m h u m a n i s t a p o r t u g u ê s a o O r i e n t e p a r e c e t e r s u r g i d o e m 1 4 8 5 , a i n d a a n t e s d a v i a g e m i n a u g u r a l d o G a m a , n a Ora ção de O b ediên cia p r o fe r i d a e m Ro m a p o r Va s c o F e r n a n d e s d e L u c e n a p e r a n t e o p a p a I n o c ê n c i o V I I I e l o g o I m p r e s s a n a m e s m a c i d a d e . O d o u t o e n v i a d o d e e l - r e i D . J o ã o I I , c o m e fe i t o , s u g e r i a a d e t e r m i ­ n a d o p a s s o q u e a s n av e g a ç õ e s p o r t u g u e s a s t i n h a m j á c h e g a d o a t é "perto do Pro m o n tó rio

123

E = o

-e .. .. :;( iS

" .. -;;; ..

Prasso o n de c o m eça o Go lfo A rd b ico " [ L u c e n a , 1 9 8 8 , p. 2 4 ] . E m b o r a p r e c o c e , o m o t e

"'-

e s t a v a d a d o , e e m a n o s s e g u i n t e s as o r a ç õ e s p r o fe r i d a s n a S a n t a S é c o n t e r ã o r e g u l a r ­

... " ""

m e n t e m e n ç õ e s a t e m a s o r i e n t a i s , c e n t r a d a s , l o g i c a m e n t e , n as v i t ó r i a s o b t i d a s c o n t r a o

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P a c h e c o , n u m a Oração de Obediên cia d i r i g i d a a J ú l i o I I r e fe r i a as "fo rtíssimas cidadelas "

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s o b a é g i d e d o p a d r o a d o p o r t u g u ê s . As s i m , p o u c o s a n o s m a i s t a r d e , e m 1 5 0 5 , D i o g o

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o ri en t a l , e s c r i to p o r G arcia d e O rt a , u m h o m e m d e fo r m a ç ã o h u m a n i s t a , m a s c o m l o n g a e x p e r i ê n c i a u l t ra m a r i n a . D a m i ã o d e G ó i s , a u t o r d e r e n o m e i n t e r nacional, p u b l i caria e m 1 5 6 6 - 1 5 6 7 , em Lisboa, a sua v o l u m o s a Ch ron ica d o Felicissimo Rei D o m Ema n u el, e m q u e , m u i t o o bv i a m e n t e , a t r i b u í a e n o rm e d e s t a­ que à expansão oriental d o s Portugueses, que durante o r e i n a d o d o Ven t u roso a b a r c a r a u m a i m p r e s s i o n a n t e e x t e n s ã o g e o g r á fi c a . E m 1 5 7 0 , s a í a d o s p r e l o s d e

É v o r a o Tratado das co usas da China, b r i l h a n t e m o n o g r a fi a d o d o m i n i c a n o fre i G a s p a r d a C r u z , q u e , d e p o i s d e u m a b r eve v i s i t a e fe c t u a d a a l g u n s a n o s a n t e s a C a n t ã o , d e c i ­ d i r a s i s t e m a t i z a r t o d a s as i n fo r m a ç õ e s o b t i d a s p e l o s P o r t u g u e s e s s o b r e aquele p o deroso i m p é r i o . D o i s a n o s volvi d o s , e m 1 5 7 2 , J e r ó n i m o Osór i o , o m a i s fa m o s o d o s n o s s o s l a t i n i s t a s , d av a à e s t a m p a o s d o z e l i v r o s d e De Reb us, Em m a n u elis Regis L usita n ia e ln v ictiss i m i Virt u te et A u sp icio

Gestis, q u e se b a s e a v a m p a r c i a l m e n t e na a n t e r i o r c r ó n i c a g o i s e a n a . E s t a 128

o b r a , q u e c o n heceu u m estrondoso sucesso e u r o p e u , decerto p r o p o rc i o -

n a l a o s m é r i t o s l i t e r á r i o s d o s e u a u t o r , fo i a p r i n c i p a l r e s p o n s á vel p e l a d i fu ­ s ã o n a Europa de n o tícias s o b re o s desco b ri m e n tos e a expansão m a n u e l i n a nas partes do Oriente. Pouco depois, em 1 5 7 3 e 1 5 7 4 , respectivamente, o c r o n i s t a An t ó n i o d e C a s t i l h o p u b l i cava e m L i s b o a o Co m e n ta rio do Cerco

de Goa e Cha u L e J e r ó n i m o C o r t e - Re a l , q u e p r e s t a r a s e r v i ç o na Í n d i a , fa z i a i m p r i m i r, a i n d a n a c a p i t a l p o r t u g u e s a , o Su cesso do Seg u n do Cerco de D i u , l o n go p o e m a é p i c o b as e a d o e m r e l a t o s d e t e s t e m u n h o s p re s e n c i a i s . Em 1 5 9 0 , fi n a l m e n t e , e r a i m p re s s o n a t i p o g r a fi a j e s u í t a d e M a c a u o D e Missione L ega-

to r u m lap o n ensiu m ad Ro manam Cu ria m, d o p a d r e D u a r t e d e S a n d e , e x t e n s o e d o c u m e n ­ t a d o relato da viagem q u e q u a t r o p rí n c i -

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p e s j a p o n e s e s h a v i a m fe i t o à E u r o p a .

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A l i s t a g e m n ã o é e x a u s t i v a [ c f. G a r c i a ,

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1 9 9 4 , pp. 1 9 5 - 2 1 6] , mas dá bem uma i d e i a d a vas ta p r o dução l i te r á r i a relacio­ nada

com

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O ri e n te

que

fo i

sendo

I m pressa ao l o n go da segunda m e t ad e d o s é c u l o XV I , fr e q u e n t e m e n t e p o r p e r s o n a ­ l i d a d e s q u e d e a l g u m a fo r m a - p e l o s a n t e­ cedentes

curriculares,

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posições

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L E G A T O RV'M I A P' O N E N .fium·aJ R;mal,lam curíam, rebu[q; in· . Europa)lé:Íótió.i.tináe;aním;\c!uerfis .: . '

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p ú b l i cas o u pelas i d e i as expressas - p o 129

demos associar aos meios humanistas. O p o n to m a i s alto do r e l a c i o n a m e n t o d o H u m anismo com o O ri e n te , evidentem e n t e , fo i a l c a n ç a d o e m 1 5 7 2 , c o m a P r I ­ m e i r a e d i ç ã o d e Os L us ía das d e L u í s d e C a m õ e s , v a s t o e a d m i rável p a n e g í r i c o d o s

!n }".lacacnfi portu Sinicí regni in domo . . ,� .. :

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prdínarij, & Superíorum. . �nno 1 5 9 0.

Societatis I E S V cum facultate

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fe i t o s u l t r a m a r i n o s d o s P o r t u g u e s e s , d e s d e o s d i a s d e Vas c o d a G a m a a t é m e a d o s d e Qu i n h e n t o s . O c é l e b r e p o e t a , q u e m i l i t a r a e m t e r r a s e m a r e s o r i e n t a i s d u r a n t e l o n g o s a n o s , i l u s t r ava b e m o p a r a d i g m a d o h o m e m d e a r m a s q u e n ã o d e s d e n h a v a d e d i c a r - s e t a m b é m à s l e t r a s , o "b raço a a s a rmas feito " e a "m e n te a a s Musas dada " [ C a m õ e s , 1 9 7 2 , fI . 1 8 6 v ; vd. Re b e l o , 1 9 8 2 , p p . 1 9 5 - 2 4 0 ] . M u i t o e m b o r a C a m õ e s b u s c a s s e i n s p i r a ç ã o p a r a a s u a e p o p e i a na A n t i g u i d ade Clássica, s o b re t u d o a n ível d e m o delos e de a r t i ­ fí c i o s l i t e r á r i o s , O s L us íadas a p a r e c e m c o m o a g r a n d e c e l e b r a ç ã o é p i c a d a e x p a n s ã o o r i e n t a l d o s Po r t u g u e s e s [ vd. D i a s , 1 9 8 1 ; L a c h , 1 9 7 7 , v a I . I I , t o m o

II,

pp. 1 49-1 60] .

B a s t a r i a c i t a r , a t í t u l o d e i l u s t r a ç ã o , a s e s t r o fe s e m q u e a n u n c i a m "as n o vas pa rtes do

Oriente / Que V O S O U tl'OS ago ra ao m u n do da is, / A b rindo a p o rta a o vasto m a r p a ten te, / Q u e com táo fo rte peito n a u egais " [ C a m õ e s , 1 9 7 2 , fI . 1 8 3 v ] . E m j e i t o d e c o n c l u s ã o , v a l e r á a p e n a d e s t a c a r q u e o c o n t ac t o c o m o O r i e n t e teve u m i m p a c t o m u i t o s i g n i fi c a t i v o n o p e n ­ s a m ento e na p ro d ução l i te r á r i a d o s nossos h u manistas, não a p e n a s d a q u e l e s q u e a c i m a fi c a r a m r e c e n s e a d o s , m a s t a m b é m d e m u i to s o u t r o s : c o m o o m a t e m á t i c o P e d r o N u n e s , q u e n o s e u Tra tado d a Sph e ra, p u b l i c a d o e m L i s b o a e m 1 5 3 7 , l e m -

l; V S I A D A S o s

de Luis de Ca· ,.. moes.

b r ava q u e o s P o r t u g u e s e s , n a s s u a s n av e g a ç õ e s , t i n h a m d e m o n s t r a d o "se r a terra m o I' q u e o m a l': e aver hi A n ti­

p o das: q u e a te os Sa n ctos du v i da ra m " [ N u n e s , 1 9 4 0 , vaI . I , p . 1 76 ] ; o u c o m o o d r a m aturgo J o rge Ferreira

R E A L.

d e Va s c o n c e l o s , q u e n a Co m e dia Eufrosina, p r i m e i r o i m p r e s s a e m C o i m b r a e m 1 5 5 5 , faz i a s i s t e m á t i c a s refe ­

i . elll Lishoa , cOIII /icel/ça d"

Il/tj//lJi!tro, (9' do O..dil/llo rio : flll caJa de Amol/io GOíalrte;zImprcfJor. '57

l.

rências, n e m t o d a s p o s i tivas , é certo, à nossa expan­ s ã o o r i e n t a l ; o u a i n d a c o m o fre i A m a d o r A r r a i s , q u e n u m d o s s e u s D i a logos I m p r e s s o s e m L i s b o a e m 1 5 8 9 , d e d i c a d o p r e c i s a m e n t e à "gló ria e triu nfo dos L usita-

n os ", a fi r m av a q u e a "co n q u ista dos m a res, e terras do O rien te, m e rece maio res lo u vo res q u e os q u e lh e p u dera , �

da r a lfngu a de Ma rco Tú lio, Prfn cip e da elo q u ê n cia

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Romana" [Arrais, 1 9 8 1 , p . 7 7 ] .

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t a r d e a n o m e a ç ã o p a r a u m c a r g o u n i ve r s i t á r i o p r e c i s a m e n t e v i r a d o , n o essencial, p ara a p r o -

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d u ç ã o t e ó r i c o - m u s i c a l . Tr a t a - s e d o Tra c tado

Galharde, respectivamente e m 1 5 33 e 1 5 3 5 ,

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s e n d o o b r a s d e r e fl e x ã o o r i g i n a l , o u s e q u e r d e t r a t a m e n t o p a r t i c u l a r m e n t e p r o fu n d o d o s

a u t o r, r e p r e s e n t a n d o s o b r e t u d o u m a e x p l i c a ç ã o c l a r a e u m a c o d i fi c a ç ã o o r g a n i z a d a d o c o rp u s d e c o n h e c i m e n tos teóricos indispensáveis a u m m ú s i co prático qui­ n h e n t i s t a , d a s b a s e s d o s o i to m o d o s g r e g o r i a n o s a o s s i s ­ t e m a s d e n o t a ç ã o d o c a n t o c h ã o e d a m ú s i c a p o l i fó n i c a , e d e s t e s a o s fu n d a m e n t o s d a e s c r i t a c o n t r a p o n t í s t i c a , Para u m cantor, para u m instrumentista, o u mesmo para u m c o m p o s i t o r, n a d a m a i s e r a c o n s i d e r a d o n e c e s s á r i o que não deco rresse da p ró p r i a exp e r i ê n c i a p rá t i c a q u o ­ t i d i a n a d a e x e c u ç ã o d o r e p e r t ó r i o m o n ó d i c o e p o l i fó ­ n i co n o s e i o da li t urgi a , M a t e u s d e A r a n d a deve r á t e r t i d o , n o e n t a n t o , u m a c a p ac i d a d e d e t r a b a l h o exc e p c i o n a l p a ra a s s i m c o n s e g u i r a s s e ­ g u r a r a t o t a l i d a d e d a s fu n ç õ e s e r e s p o n s a b i l i d a d e s c o m e ­ t i das ao M e s t re d e Capela da S é de Évo r a , e à data da s u a p ar t i d a p a ra C o i m b r a , em 1 5 4 4 , o C a b i d o dec i d i u s u b d iv i d i r essas o b r i g a ç õ e s , deixando a o 6 E d i ç õ e s f a c · s i m i l a d a s c o m p re fá c i o d e J o s é A u g u s t o A l e g r i a , r e s ·

p e c t i v a m e n t e , L i s b o a , P o lyp h o n i a S c h o la Ca n t o r u m , 1 9 6 2 (t r a t a d o d e 1 5 3 3) e L i s b o a , de 1535),

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Fundação (alouste Gulbenkian, 1978 (tratado

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b e m , c o n t u d o , a p re o cupação pedagógica c e n t r al do

t o d a s a s fu n ç õ e s l i g a d a s à g e s t ã o d a p r á -

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r e s p e c t i vos t e m a s , a m b o s o s vo l u m e s d o c u m e n t a m m u i t o

Mestre de Capela, p ro p riamente d i t o ,

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t i c a m ú s i c o - l i t ú r g i c a e c r i a n d o um novo c a r g o , o de M e s t r e da C l a u s t r a , ao q u a l s e r i a m a t r i b u í d a s a s fu n ç õ e s p e d a g ó g i c a s . C o m e x c e p ç ã o d e u m a a c u m u l a ç ã o t e m p o r á r i a d e a m b o s o s c a r g o s n o M e s t r e d e C a p e l a M a n u e l Re b e l o , s ó j á n o fi n a l d o s é c u l o

XVII

eles

s e V I l' l a m a r e u n i r n a m e s m a p e s s o a , o c o m p o s i t o r D i o g o D i a s M e l g á s . P a s s a m o s a repro d u z i r o q uadro s i n ó p tico d a s u cessão d o s M e stres d a C a p e l a e d a C l a u s t r a e b o re n s e s q u e se s u c e d e r a m a A r a n d a ao l o ngo dos séculos

XVI

e

XVI I ,

t a l c o m o fo i c o m p i l a d o p o r J o s é

NI$SA VE.NJ D

A u g u s to Alegria?:

MESTRES DA CAPELA

M ESTRES DA CLAUSTRA

Manuel Dias (1 544- 1 563)

Francisco Velez ( 1 544- 1 57?)

André Nunes (1 563- 1 57?)

Manuel Mendes ( 1 578- 1 589)

Cosme Delgado ( 1 57?- 1 596)

Filipe de Magalhães ( 1 5 89- 1 604)

Manuel Rebelo ( 1 596?-1 647)

António Pinheiro ( 1 604- 1 608) Domingos Martins ( 1 608- 1 6 1 ?) Diogo Dias de Vilhena ( 1 6 1 ?- 1 62?) António Rodrigues Vilhalva ( 1 633-1 642)

António Rodrigues Vilhalva ( 1 647- 1 678)

Bento Nunes Pegado ( 1 642- 1 663)

Diogo Dias Melgás ( 1 678-1 700)

Diogo Dias Melgás ( 1 663- 1 700)

D e s t e s n o m e s h á a d e s t a c a r m u i t o e s p e c i a l m e n t e , e m p r i m e i ro l ugar, o do Mestre da C l a u s t r a M a n u e l M e n d e s , q u e chegou a Évo ra em 1 5 7 4 , n a q u a l i d a d e d e Mestre d e C a p e l a p e s s o a l d o C a r d e a l - I n fa n t e D . H e n r i q u e , q u a n d o e s t e i n i c i o u o s e u s e g u n d o t e r m o c o m o Arce b i s p o d a q u e l a d i o c e s e , a p ó s t e r s e r v i d o e m i d ê n ­ tica dignid ade n a de Lisboa d urante dez anos. Ao contrário do q u e sucedera e m i d ên t i cas c i r c u n s tâ n c i as c o m Pedro d o P o r r o , Manuel M e n d e s i n te g r o u - s e r a p i da m e n t e n a e s t r u t u r a i n te r n a da própria Sé, o n d e en tretanto t o m o u ordens, e quando D . H e n r i q u e r e g r e s s o u a L i s b o a e m 1 5 7 8 p a r a o c u p a r o t r o n o n a s e q u ê n c i a d a t r a gé d i a d e A l c á c e r Qu i b i r a s s u m i u fo r m a l m e n t e a s fu n ç õ e s d e r e s p o n s á v e l p e d a g ó g i c o p e l a a c t i ­ vidade m usical da Catedra l . O nze anos mais tarde, e m 1 5 8 9 , passaria este cargo a um dos seus m e l h o res a l u no s , F i l i p e d e 144

Magalhães, mas continuaria, na prática,

7 J o s é Augusto Alegria,

His t ó ria d a Es c o la d e M ú s i c a da S é d e

É v o ra , L i s b o a , F u n d a ç ã o C a l o u s t e G u l b e n k i a n , ' 9 7 3 , p . 1 2 7 .

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a t é à s u a m o r t e , e m 1 6 0 5 , a d e s e m p e n h a r u m p a p e l fu l c r a l n a v i d a

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mesmo indisciplinada, quebrando a cada m om e n t o regras essenciais d a E s c o l a Ro m a n a como a da

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p r o i b i ção de saltos melódicos

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tinguindo-se os dois prImeIrOS,

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t a m b é m e l e s , c o m o p o l i fo n i s ­ t a s l a t i n o s , deve s u b l inhar-se o papel de Correia como impor-

t a n t í s s i m o a u t o r d e o b ras e m v e r n á c u l o , n ã o só v i l a n ci c o s sacros c o m o i n c l u s i v e t o n o s h u m a n o s p r o fa n o s 1 6 , 151

R e c a i r i a j á fo r a d o â m b i t o c r o n o l ó g i c o d e s t a e x p o s i ç ã o e d a n a t u r e z a m e r a ­ m e n te i n t r o d u tó r i a do p r e s e n t e texto u m a a n á l i s e m ais d e t a l h a d a d a p r o d u ­ ção m u s ical da Escola d e Évo r a , s o b re t u d o d a q u e l a q u e se p r o l o n g a j á p e l a segunda m e tade do século

XVI I .

Va l e a p e n a m e n c i o n a r , i s s o s i m , u m a I m p o r ­

t a n t e o b r a d e Te o r i a M u s i c a l , q u e d e c e r t o m o d o r e p r e s e n t a p a r a o i n í c i o d o século

XVII

o q u e s i g n i fi c a r a m , fu n c i o n a l m e n t e , o s t r a t a d o s d e M a t e u s d e

A r a n d a q u a s e u m s é c u l o a n t e s : a A rte de Música d e A n t ó n i o F e r n a n d e s l ? , d i s ­ c í p u l o d e D u a r t e L o b o , m a n u a l exce l e n t e d e i n i ci ação teó r i co - m u s ical q u e será o t e x t o e s c o l a r d e r e fe r ê n c i a p a r a a fo r ­ m a ç ã o d e m ú s i c o s p r o fi s s i o n a i s n o P a í s d urante mais de meio século. N a s c i d a n o c o r a ç ã o d a C o n t r a - Re fo r m a e d o M a n e i r i s m o , n o q u e s e refe r e , r e s p e ctiva m e n t e , ao c o n texto h i s tó ri co - r e l i g i o s o

15

R o b e rt S t e ve n s o n

Musica", vat. 1 6 e f. ,

XXIX,

(e d . ) ,

Lisboa,

VUa n ci c o s P o rt ug u e s e s ,

" Po r t u g a l i a e

Fundação Calouste Gulbenkian,

1976.

p a r a M o r a g o , a e d i ç ã o i n t e g r a l d a s s u a s o b ra s p o r M a n u e l

Joaquim no volume

IV

d a s é r i e " P o rt u g a l i a e M u s i c a " ( 1 9 6 1) , e p a ra

Brito i d ê n tico t r a b a l h o p o r M i g u e l Querol Gavaldá n os v o l u m e s

XXI

e x x x ( 1 9 7 2 e 1 9 7 6) d a m e s m a s é r i e . N o q u e r e s p e i t a a f r e i M a n u e l C o r re i a h á t o n o s h u m a n o s s e u s e m M i g u e l Q u e r o l G a v a l d á ( e d . ) . M usica B a rroca Esp a n o /a , v a I .

I,

P o l i fo n í a P r o fa n a , B a r c e l o n a , C o n ­

s e j a S u p e r i o r d e I n v e s t i g a c i o n e s C i e n t í fi c a s , I n s t i t u t o E s p a n o l d e Musicología,

1 9 7 0 , e v i l a n c i c o s s a cros e m Steve n s o n ,

P o r t u g u e s e s , op.

Vila n c icos

cito

1 7 E d i ç ã o f a c s i m i l a d a com p re fá c i o de J o s é A u g u s t o A l e g r i a ( É v o r a , Delegação

R e g i o n a l d o A l e n t e j o d o M i n i s t é r i o d a C u l t u ra , 1 9 9 6) .

1 8 e f. , a e s t e re s p e i t o ,

R u i V i e i ra N e ry e P a u l o F e r re i ra de C a s t r o ,

S ín te s e s d a C u l t u ra P o rt u g u e s a : H i s t ó ria d a M ú s i c a , L i s b o a , E u r o ­

e à s r e fe r ê n c i a s e s t i l í s t i c a s , a E s c o l a d e

p á l i a /l m p re n s a N a c i o n a l - C a s a d a M o e d a . 1 9 9 2 . p p . 7 6 - 7 9 .

É v o r a m a n t e r - s e - á a r r e i g a d a m e n t e fi e l a a m b as as r a í z e s , r ej e i t a n d o , a t é à r e s p e c t i v a i m p o s i ç ã o p o r D . J o ão

V,

a impo rtação Slm-

pies dos novos modelos barrocos italianos n o p l a n o da escrita o p e rática e concertante e n t r e t a n t o s u r g i d o s , e d a s m a n i fe s t a ç õ e s d e s t e s n o s e i o d a m ú s i ca l i t ú r g i c a e u r o p e i a a p a r ­ t i r d o i n í c i o d o s é c u l o . N ã o fi c a r á , c o n t u d o , a b s o l u t a m e n t e e s t a n q u e a e s t a s n ovas r e a l i -

d a d e s , e é i n t e r e s s a n t e v e r c o m o m u i ta s d a s i n ov a ç õ e s e m c a u s a - c o m o o sej a m a m o n o ­ d i a a c o m p a n h a d a , a e s c r i t a co n ce r ta n t e , o u s o d o s i n s t r u m e n t o s o b ligati, a t r a n s i ç ã o d o q u a d r o p u r a m e n t e m o d a l p ar a u m a l i n g u a g e m p r é - h a r m ó n i c a e p ré - t o n a l - , d e s e n q u a ­ d r ad a s d o r e s p e c t i vo c o n texto fo r m al d e o r i g e m , n o s v ã o s u r g i n d o i n co r p o r a d a s , p o u c o a p o u c o , n a p ro d u ç ã o e b o r e n s e s o b u m a a p a r ê n c i a d e c o n t i n u i d a d e i n a l te r a d a 1 8 . P ó l o d e d e s e nvolvi m e n t o c o n t í n u o d e u m a l i n h a d e c r i a çã o m ú s i c o - l i t ú r g i c a i n i n t e r ru p t a ao l o n g o '52

d e quase dois séculos, o s seus p ri ncípios permanecerão, deste m o d o , assumidamente tri-

dentinos, p roduzindo um repertório q u e s e pretende a s i próprio, de algum modo, como veículo de catequese e c o m o c o m p o n e n te fu n c i o n a l d a l i t u r g i a , m a s q u e c o n ­ s i d e r a i g u a l m e n t e q u e a s u a p r ó p r i a e fi c á c i a e n q u a n t o t a l d e p e n d e d a s o l i de z e d o r i g o r d o s e u fab r i c o , d a s u a capacidade d e c o m u nicação e s e d ução , e d a convicção

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e a u t e n t i c i d ad e d o s e u g e s t o c r i a d o r . Talvez s e j a e s te o s e g r e d o d o fas c í n i o q u e o s e u l e ga d o m u s i c a l , q u a n d o c o m e ç a a s e r d e n o vo e x e c u t a d o e m l a r g a e s c a l a p o r i n t é r p re te s q u a l i fi c a d o s , a i n d a h oj e e x e r c e s o b re n ó s .

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'5 3

F R EI C A R L O S E O OU T R O

-

PROPOSiÇÕES SOBRE A PINTURA DA OFICINA

00

ESPINHEIRO

José Al b e r t o S e a b r a C a r v a l h o

o i ní c i o d o s é c u l o

XVI,

p o uco d e p o i s de co nclu ídos os retábulos para a

I grej a de S ã o F r a n c i sco s o b d i recção d e F r a n ci sco H e n r i q ue s , p i n t o r c o n t r a t a d o fo r a d a c i d a d e , É v o r a p a s s o u a c o n t a r c o m u m a i m p o r ­ t a n t e o fi c i n a d e p i n t u r a a g o r a r e s i d e n t e n o s e u t e r m o , e m c o n v e n t o próximo d a urbe. A co m u n i d a d e j e r ó n i m a d e N o s s a S e n h o r a d o E s p i n h e i r o a c o l h e u , e m 1 2 d e A b ril d e 1 51 7 , u m p r o fe s s o m u i t o e s p e c i a l , e m b o r a d e l e a p e n a s s e s a i b a , a p a r ­ t i r d o i n í c i o d o d o c u m e n t o a u t ó g r a fo l a v r a d o n a o c a s i ã o - "Eu frey ca rlos de

L is b o a fra m engo faç o p roffisa m . . . " -, o n o m e r e l i g i o s o q u e a d o p t o u ao a s s u m i r a co n d i ç ã o m o n á s t i c a e u m a r e fe r ê n c i a, e x c e p c i o n al , à s u a n a c i o n a l i d a d e fl a ­ m enga. Era e ntão regra, em sinal de desprendimento do passado e bens mun­ d a n o s , o n o v o p r o fe s s o a b a n d o n a r o a p e l i d o d e b a p t i s m o e a d o p t a r o d e s i g n a ­ t i vo d a t e r r a , c o n ce l h o o u p a r ó q u i a , d e o n d e p rovi n h a . Ass i m , e n ã o o bs t a n t e o u t r a s l e i t u r a s q u e e n t r e t a n t o s e a va n ç a r a m a p r o p ó s i t ol, c r e i o q u e p e l o d o ­ c u m e n t o fi c a m o s l o g o a s a b e r q u e F r e i C a r l o s e r a o r i u n d o d e L i s b o a e q u e p e r ­

155

t e n c i a à " n a ç ã o " d o s fla m e n g o s - c o n d i ç õ e s q u e , e n t r e n ó s e n a s p r i m e i r a s d é c a ­ d a s d e Qu i n h e n t o s , e q u i v a l i a m m u i t as v e z e s a u m a a c t i v i d a d e p r o fi s s i o n a l l i g a d a à s a r t e s . D e fa c t o , o s c r o n i s t a s h i e r o n i m i t a s c o n fi r m a m q u e o n o vo p r o fe s s o s e t r a t a v a d e u m p i n t o r, q u e p a s s o u a t r a b a l h a r n e s t e c o n v e n t o s o b r é g i a p r o t e c ­ ç ã o e n e l e s e t o r n ar i a 'fa m oso " d o t a n d o - o c o m v á r i o s r e t á b u l o s , a l é m d e t e r fe i t o o u t r o s , a l g u n s d o s q u a i s e x e c u t a d o s p a r a m o s t e i r o s d a o r d e m c o m o S a n t a M ar i n h a d a C o s t a , e m G u i marães ( d e o n de d e s ap arece u , no s é c u l o p as s a d o , u m

Enterro d e Cristo q u e c o n s t a t e r a s s i n a d o e d a t a d o d e 1 5 3 5) , o u S ã o J e r ó n i m o d o M a t o , p r ó x i m o d e A l e n q u e r , c uj o o b i t u á r i o r e g i s t a a s u a s e p u l t u r a e m d a t a a n t e r i o r a 1 5 5 3 , s e m c o n t u d o e s p e c i fi c a r o a n o d o fa l e c i m e n t o . N ã o h á , p o r c o n s e g u i n t e , b i o g r a fi a d o m onge-p i n t o r do E s p i n h e i ro q u e se possa d e s e n h a r c o m t a l r a r e fa ç ã o d e d a d o s , e s tes q u a n d o m u i t o s i t u a n d o a s u a a c t i -

1

E m c o n t e x t o i n v e st i g a t i v o d e a l g u m e n t u s i a s m o p a t rió t i c o e d e

valorização i de ntitária da chamada

p i n t ura p r i m i t iva p o r t u guesa,

J osé d e F i g u e i r e d o l e u a p r ofiss ã o d e F r e i C a rlos d e o u t ra m a n e i ra : " r... } n a s c ido e m L is b o a , fi l h o d e p a is fla m e n g o s " ( "o u n e to " c o m o a i n d a a v e n t a ra

L u c i a n o F r e i re . . . ) . Assi m s e j u l g a v a d e v e r c o n s a ­

g r a r, s e m n e c essi d a d e , u m a g e n u í n a n a c i o n a l i d a d e p o rt u g u esa p a r a o d i t o e p a ra o p a t r i m ó n i o q u e n o s l e g o u .

v i d a d e c o n h e c i d a e n t r e 1 5 1 7 ( a n o d a s u a p r o fi s s ã o r e l i g i o s a) e 1 5 3 5 ( d a t a d a t a l p I n ­ t u ra d e G u i m a r ães). Peças ce n tr a i s n e s s e i n t e r v a l o d e t e m p o s ã o d u as p i n t u ras d a t a d a s q u e se a p re s e n t am n e s t a e x p o s i ção e q u e p r o v ê m do m o s t e i ro e b o re n s e [ c a r . n . o 5 1 ] , d e 1 5 2 3 , e Apa rec i m e nto de Cristo

à

-

A nu nciação

Virge m [ c a r . n . o 5 2] , d e 1 5 2 9 . A m b a s

d e m o n s t r a m c l a r a a s c e n d ê n c i a " fl a m e n g a " n o p r o c e s s o c r i a t:i v o d a o fi e i n a q u e as p r o ­ d u z i u e p r o v a m , p e l a i n c o n fu n d í v e l q u a l i d a d e d e e x e c u ç ão , a l g o q u e o s d o c u m e n t o s n ã o d i z e m e m b o r a s e j a e v i d e n t e , i s t o é , q u e F r e i C a r l o s a n tes d e s e r m o n g e j á e r a p i n ­ t o r - p o s s ive l m e n t e e m L i s b o a , de o n d e v i e ra p a r a Évo r a , e c e r t a m e n t e j á a n te s , a l g u ­ res n o s Países B a i x o s , o n d e a p re n de r a a p i n ta r d e s t a m a n e i r a .

Paradigmas S i na i s d o s e u p e r c u rso a n tes de t e r p a s s a d o a m o n g e , e l ogo a a d j a c e n t e q u e s t ã o d o s p r ó x i m o s a n teceden t e s n e s t a p i n tu r a q u e n o s s u rge e m É v o r a j á a d u l t a e p l e n a m e n t e caracterizada, constituem uma i nterrogação maior que se continua a tentar eluci­ d a r n a p r o c u r a d e e v e n t u a i s p r o t ó t i p o s e m o d e l o s d e i n fl u ê n c i a , m a i s o u m e n o s d i r e c t a, n a g a l e r i a d o s m e s t r es fl a m e n g o s q u e s e r v e m d e r e fe r ê n c i a e m a t r i z c r i a ­ t i v a à v a s t a p r o d u ç ã o d e i m a g e n s p i c t ó r i c a s n o N o r t e d a E u r o p a ( We y d e n , B o u t s , Va n d e r G o e s , M e m l i n g , D a v i d , M e ts y s ) . E m v a g o s e x e r c í c i o s d e fi l o l o g i a fo r m a l e c o m p o s i t i v a d a o b r a q u e l h e e s t á a t r i b u í d a , t e m - s e a c e n t u a d o u m p a r e n t e s c o d e F r e i C a r l o s c o m a s o fi c i n a s d e B r uges e e m p ar t i c u l a r com modelos d e M e m l i n g , decerto atendendo à p o s e l i t ú r g i c a , a o s t r a ç o s fi s i o n ó m i c o s e p r o p o r ç õ e s d a s fi g u r a s , "de e xp ress ão calma

e s u a v e ", q u e s e a d m i r a m n o s p a i n é i s d o E s p i n h e i r o , p a r e c e n d o as p e r s o n a g e n s d e s l o c a r - s e "co m a de m a nes s i mp les e sere no s " e m a t i tu d e s ''fo rte m e nte imp regna ­

das de do ce m isticis m o "2 . E s t a i d e i a , q u e a p e n a s p r o c e d e d e u m a a n á l i s e d o s c o m p o n e n t e s d a p i n t u r a e n q u a n t o i m a ge m , j á t i n h a s i d o s i n t e t i z a d a , e d e m o d o q u e j u l g o s u b t i l m e n t e m a i s fe l i z, p o r u m a i l u s t r e v i s i t a n t e d o M u s e u N a c i o ­ n a l d e A r t e A n t i g a q u e, p e r a n t e e s t a s o b r a s , s u g e s t i v a m e n t e c h a m o u a o p i n t o r

"u m Me m li ng m ais h u m a no . . . "3, q u e r e n d o t a l v e z d i z e r , n e s t a fo r m u l a ç ã o i n t u i ­ t i v a , q u e e l e s eg u e o m e s t re d e B ruges mas parecendo recusar a v i n c a d a e s t i li z a çã o e i m po nd e ­ r á v e l p r e s e n ç a d a s s u a s f i g u r a-

2

E s t a s a p re c i a ç õ e s s ã o de

Fláv i o Go nça lves e d e J o ã o C o u t o , o

p r i m e i r o n u m p e q u e n o t e x t o p a r a a r e v i s t a O b s e rvador ( 1 9 7 1 ) e o s e g u n d o n o s e u e n s a i o A Pin tura Flamenga em Évora no S é c u l o XVI. Variedade de Estilos e de Técnicas n a Obra A trib u ída a Frei Car­ {os. s e p a ra t a de A Cidade d e Évora. É v o r a . ' 9 4 3 . 3 A f r a s e é d a r a i n h a d a B é l g i c a , c e rc a d e 1 9 2 0 , p ro v a n d o q u e S u a M a j e s t a d e p e rc e bi a d e p i n t u r a .

Lame nta ção, Q u e ntin M e t s ys , pa i n e l c e n tral d e um trípt i c o para a Catedral de Ant u é rpia. 1 5 0 8'1511 A n t u é rp i a , M u s e u

de An t u é r p i a

ç õ e s . E é e s s e a c e n t o de h u m a n i d a d e , t a n g í v e l n u m a o b r a P I C ­ t u r a l q u e c o n s e r v a a l i m p i d e z e t r a n s p a r ê n c i a d a fo r m a d a n d o à s p e r s o n a g e n s u m a " r es p i r a ç ã o " e s p a c i a l n o a m b i e n t e q u e i m e ­ d i a t a m e n t e as e n v o l v e , q u e c r e i o p o d e r o b s e r v a r - s e m e l h o r n a s p r i' m e i r a s o b r a s d e M e t s y s , o u s ej a , n ã o e m B r u g e s m a s e m A n t u é r p i a , p o u c o a n t e s d e o m e r c a d o e d e u m n o vo g o s t o t e r d a d o a í e n s e j o à e x p l o r a ç ã o d e fó r m u l a s c o m p o s i t i v a s e d e t é c n i c as d e m o d e l a d o e m r u p ­ t ura c o m a g r a n d e t r a d i ç ã o d a p i n t u r a a n t e ­ r l O r, c o n fo r m a n d o o q u e h o j e , a i n d a e m a l , s e continua a designar por "maneirIsmo antuerp iano" - e que, em boa p arte, é um retorno a o d e c o r a t i v i s m o g ó t i c o c o m g r a m á t i c a s fo r ­ mais actualizadas em tónica classicista. Co m o j á n o t a r a J o s é d e F i g u e i r e d o , é n a t r a n s ­ p arência de certas tonalidades l u m in osas e n o s m a c i o s c o n t r a s t e s d e c o r q u e F r e i C a rl o s está m a i s p e r to de M e tsys que de q u a l q u e r o u t r o . Ta m b é m p o r v e z e s , d i r i a e u , p o r u m e n t e n d i m e n t o c o n s t r u t i vo d a h o r i zo n ta l i d a d e d o s vo l u m e s d a s fi g u r a ç õ e s q u e , e m d r a p e a ­

'57

dos e poses de grande consistência i nterna e d o ç u ra p lástica, m arcam p l a n os que expan­ d e m l a te r a l m e n t e a e s p a c i a l i d a d e d a c o m p o s i ç ã o s e m c o n fl i t o e s t r u t u r a l c o m l i n h a s d e

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n u m d o s p a i n é i s d o R etá b u lo da Virgem das D o res ( M u s e u N a c i o n a l d e A r t e A n t i g a )

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q u e d e A n t u é r p i a v e i o p a r a o M o ste i r o d a M a d r e d e D e u s d e X a b r e g a s n a d é c a d a d e

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1 5 1 0 , c o m o o u t r o s d a í v i e r a m , p o r e s s a é p o c a , p a r a S a n t a Cl a r a d e Co i m b r a o u o

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J e s u s d e S e t ú b a l . I n t e r r o g o - m e a i n d a s e u m a m u i t o e s q u eci d a p i n t u r a ( d e p r e d e l a? )

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E o u

Em p ar a l e l o c o m esta e m p re i t a d a d e S a n t a C r u z , C h a n t e r e n e t r a b a l h a p ar a o b i s p o ­ - c o n d e D . J o r g e d e A l m e i d a . O m a g n í fi c o m e c e n a s i r á e m b e l e z a r a s u a S é c o m o b r a s d e a rte 1 5 que c o r r es p o n d e m c l a r a m e n t e a um g o s t o e c l é c t i c o t í p i co d e s te p e r í o d o d o Renas ci me n t o e m Po r tu g a l , m a s q u e t r a d u z e m i g u a l me n t e as l iç õ e s d a I t á l i a q u e o p re l a d o t ã o b e m c o n h e c i a d e s d e o s t e m p o s e m q u e p o r l á e s t a n c i av a d u r a n t e o s s e u s e s t u d o s . A t e m p o r a d a q u e p as s a j u n t o d o i m p o r t a n t í s s i m o c a r d e al D . J o rge d a C o s t a

1 6,

e m Roma, assim como os contactos com o mundo

c u l t u r a l e m q u e e s t e n o t á v e l p r e l a d o s e m o v i m e n t av a d e v e m s e r c o n s i d e r a d o s c o m o u m a fo n t e e s s e n c i a l p a r a c o m p r e e n d e r a s u a a c t u a ç ã o c u l t u r a l u m a v e z regressado a Portugal . E m s e q u ê n c i a d a c a m p a n h a q u e d o t o u a S é d e u m n o vo e m a g n í fi c o a l t a r- m o r, ·ocasião para que mestre Olivier de Gand e Jean d 'Ypres venham para Portugal, e d a i m p o s i ç ã o d o fo r r o d e a z u l e j o s h i s p a n o - á r a b e s q u e m e s t r e O l i v i e r s e e n c a r ­ r e g a d e e n c o m e n d a r e m S e v i l h a , o b i s p o e n c o m e n d a a N i c o l a u C h a n t e r e n e a fe i ­ t u r a d o r e t á b u l o da C a p e l a d e S ão P e d r o . D e s t a fe i t a , o r e t á b u l o e n t ã o r e a l i z a d o n a d a t e m q u e v e r c o m o g o s t o fl a m e n g o e h i s p a n o - á r a b e q u e o p r e l a d o d e m o n s t r a r a e m a n t e r i o r e s m a n i fe s t a ç õ e s , a n t e s e s c o l h e n d o para esta e m p re i t a d a o ú n i c o a r tista que em Portugal p o d e r i a exe­ c u t a r u m r e t á b u l o q u e s e as s e m e l h a s s e , p e l o d i s c u r s o e s t é t i c o e q u a l i d a d e e s c u l ­ t ó r i c a , aos q u e havia v i s t o e m I t ál i a . 175

A i n d a n a c i d a d e d o M o n d e g o o m e s t r e fr a n c ê s c o n t r a t a c o m D . L e o n o r d e Va s ­ concelos, a b adessa do m o s te i ro ciste r c i e n s e d e Celas, a r e a lização d e u m t ú m u l o , q u e , a i n d a e m fa s e d e e x e c u ç ã o , a p r ó p r i a e n c o m e n d a d o r a p re fe r i u v e r t r a n s ­ fo r m a d o n u m p ó r t i c o

17.

D e n ov o n o â m b i t o d o s m o n g e s j e r ó n i m o s , N i c o l a u e x e c u ta p a r a A i r e s G o m e s d a S i lv a e s u a m u l h e r D . G u i o ma r d e C a s t ro o r e tá b u l o d o M o s t e i r o d e S ão M a rcos

18,

onde pela primeira vez o escul­

t o r o rg a n i z a u m g r a n d e r e t á b u l o , i n c l u i n ­ d o uma e s t r u t u r a de raiz a r q u i tectó n i c a e r e l e v o s n u m a m o n t a g e m c e n o g r á fi c a d e n o t á v e l m o d e r n i d a d e , i n fe l i z m e n t e d e s ­ fe i t e a d a p e l a s v á r i as p o l i c r o m i a s q u e a revestem e p e l a p rovável p a r t i c ip ação d e a l g u n s m e m b r o s d a s u a o fi c i n a .

1 5 S o b re e s t e a s s u n t o v e r i fi c a r A u g u s t o M e n d e s S i m õ e s d e C a s t r o ,

" O B i s p o d e C o i m b ra D . J o r g e d e A l m e i d a e s u a M a g n ifi c ê n c i a p a r a c o m a S u a C a t e d ra l " . i n O I n s t i t u t o . v o l . xx, C o i m b r a , 1 8 7 6 , e t a m ­ b é m A n t ó n i o d e Va s c o n c e l o s , Sé Velha de C o i m bra, v o l . b ra, ' 9 3 0 ,

I,

Coim­

p. 5 9 , Fra n c i sc o P a t o d e M a c e d o , " O R e t á b u l o d a S é

V e l h a d e C o i m b r a " , i n A A r t e d e P o r t ug a l e Esp a n h a e n tre a E u ro p a e A l é m - Ma r, C o i m b r a , 1 9 8 8 . •6

M a r i a J o ã o G r i l o , A C a p e l a S e p u l c r a l do C a r d e a l D. l o rg e da

C o s t a - Um Exe m p l o de M e c e n a t i s m o E c l e s i á s t i c o R e n a sc i m e n t o , 3 v a i s . , d i s s e r t a ç ã o d e

m e s t r a d o em

na

R o m a do

H istória da

A r t e , L i s b o a , F a c u l d a d e d e L e t ra s d a U n i v e rs i d a d e d e L i s b o a , ' 9 9 3 . . , C f . B e r n a r d o d a A s s u n ç ã o , M o s t e i r o d e Celas, Index d a Faz e n da , C o i m b r a , 1 9 2 1 . p . 1 7 ; P r u d ê n c i o Q u i n t i n o G a r c i a , A rtistas de C o i m · b ra , C o i m b ra , ' 9 2 3 , p p . 1 6 0 - 1 6 1 ; e t a m b é m grino, op. cit.,

D i a s,

O Fídias P e r e ­

p. 115.

1 8 J o a q u i m M a r t i n s Te i xe i ra d e C a rva l h o , O Moste iro d e 5 . Ma rcos,

C o i m b r a , ' 9 2 2 , p p . 3 0 - 3 ' ; D i a s , O Fídias P e regrino, o p . cit. , p. 1 0 7 .

Retá b ulo da Pena , N i co l a u C h a n t e r e n e Sintra, P a l á c i o Na c i onal d a Pena

C o m e s t e p e r c u r s o e s t i l í s t i c o j á b e m e s t a b e l e c i d o e n a fu n ç ã o d e i m a g i n á r i o r é g i o , e m 1 5 2 8 , N i c o l a u C h a n t e r e n e v a i a S a r a g o ç a c o m p r a r a l a b a s t r o à s a fa ­ madas p e d r e i ras d e G e l s a . D o s c o n tactos a r t í s t i c o s que m a n teve e das i n fl u ê n c i a s e s t i l í s t i c a s q u e r e c o l h e u t r a t a r e m o s n o u t r o l o c a l , n a s e q u ê n Cia d o que já Pedro D i as deixou exp resso 1 9 . N o regres s o , N i c o l a u C h a n terene e s c u l p e e s s e a l a b as t ro no no tável r e t á b u l o d o M o s t e i ro d e N o s s a S e n h o r a d a Pena e m q u e , a par de u m a o rg a n ização c o m p o s i tiva d o s s u p o rt e s , a que já n o s havia h a b i ­ t u a d o n a s o b r a s d e C o i m b r a , e n c o n t r a m o s o m e s t r e fr a n c ê s a t r a b a l h a r d e u m m o d o n o t áv e l o r e l e v o e as fi g u r a s d e v u l t o q u e c o n s ­ t i t u e m as d i v e r s a s c e n a s , c o m u m e s p e c i a l r e a l c e p a r a a i m a g e m d e N o s s a S e n ho r a c o m o M e n i n o q u e o rg a n iza à s u a v o l t a t o d o o d i s ­ c u r s o i c o n o g r á fi c o e c o m p o s i t i vo .

A

introdução do Renasc imento a rt íst ico em Év o ra

A t e r c e i r a fa s e d a a c t i v i d a d e p r o fi s s i o n a l d e N i c o l a u C h a n t e r e n e i n i c i a - s e com a sua chegada a Évora e pode ser datada de 1 5 3 2 , acompanhando a corte de D . João

III,

no seio d a qual se manti nha desde a no meação como 177

i m a g i n á r i o r é g i o a u fe r i n d o o s b e n e fí c i o s d o s e s c u d e i r o s d a c a s a r e a l . N ã o d e v e r á t e r s i d o a p r i m e i r a vez q u e o e s c u l t o r v i s i t o u a c a p i t a l d a Tr a n s t a g â n i a p o i s , q u e r a o s e r v i ç o d o Ven t u roso q u e r a o s e r v i ç o d e D . J o ã o I I I , p o r v á r i as o c a s i õ e s 2o l á p o d e r i a t e r e s ta n c i a d o , a c o m p a n h a n d o a co rte e t a l ­ vez exec u t a n d o algumas das o b ras q u e a í l h e andam a tr i b u í d a s . C o m o é d o c o n h e c i m e n t o g e r a l , u m d o s p e r í o d o s m a i s i m p o r t a n te s d a h i s t ó r i a d e É v o r a , e n q u a n t o e n t i d a d e c u l t u r a l e a r t í s t i ca , d e v e s e r b a l i z a d o à c e n t ú r i a d e Qu i n h e n t o s , d e u m m o d o g e r a l ao p e r í o d o q u e s e c o n ve n c i o n o u d e n o m i n a r R e n a s c i m e n t o . D e fac t o , d u r a n t e e s t e p e r í o d o , e m e s p e c i a l n o s r e i n a d o s d e D . Manuel

I

e d e D . João I I I , Évo ra é d e facto o centro do H u m an i smo e m Portuga l .

É o Loells a m en o s o n d e s e r e ú n e m a l g u m a s d a s m a i s i m p o r t a n t e s p e r s o n a l i ­ d a d e s d a época q u e c o n s t i t uem u m a e l i te q u e s e r á r e s p o n s á v e l p e l o d e s e n vo l v i ­ m e n t o do pensamento e da prática lite­ r á r i a . A s u a i n fl u ê n c i a c u l t u r a l e s t e n d e r -

1 9 C f . D i a s , O Fídias P e regri n o , o p . c i t . , 20 C o m o

pp. 49 e 191-196.

n o s a f i r m a L u ís d e M a t o s , o p . c i t . , p p .

5 - 21, D. Manuel

e s t e v e v á r i a s v e z e s e m É v o r a t e n d o p a s s ado q u a s e t od o o a n o d e 1 5 2 0 n e s s a c idad e . Ta m b é m D . J o ã o p a s s a ndo a

III

e s t á em Évora e m 1 5 2 4 . aí

m a i o r p a rt e do a n o , a s s i m c o m o

e m 1 5 2 9 a í p a s s a l o n go s m e s e s .

no ano seguinte e

- s e - ,l t a m b é m , a o q u e j u l g a m o s , a o q u a d r o d a e v o l u ç ã o e s t i l í s t i c a q u e m e s t r e N i c o l a u C h a n te re n e reve l a e n q u a n to e s t á n e s ta c i d a d e . E m Évo r a , s o b a é g i d e d o

e da

Piedoso

s u a c o rt e , f l o r e s c e r a m o s e s t u d o s d a s l í n g u a s c l á s s i c a s e c i r c u l a r a m l i v r e m e n t e o s i d e a i s e r a s m i a n o s s o b a i n fl u ê n c i a d e t e r m i n a n t e d e A n d r é d e R e s e n d e e d e N i c o l a u C l e n a r d o , o l o uv a d o m e s t r e d a Un i ve r s i d a d e d e Lova i n a , q u e n e s ta é p o c a v e m p a r a Po r t u g a l 2 1 . P r i v a n d o c o m a p l ê i a d e d e e r u d i to s q u e c o n s t i tu ía m a co r re j oa n i n a , mestre N i c o l a u t e v e o c a s i ã o d e s e r p o r e l e s p r o fu n d a m e n t e c o n s i d e r a d o , c o m o C l e n a r d o b e m r e v e l a , em

l 536,

n u m a e p í s t o l a d i r i g i d a a o h u m a n i s t a A l e a n d r o , b i s p o d e B r i n d i s i 2 2 . Tu d o

s e p a s s a c o m o s e a s s i s t í s s e m o s , n e s t a r e l a ç a o exc e p c i o n a l , à c o n c re t i z a ç a o d o s i d e a i s d e L e ã o B a t i s t a A l b e rr i 2 3 , s o b r e a n e c e s s á r i a i n t e rl i g a ç ã o c u l t u r a l e n t r e h u m a n i s t a s e a rr i s t a s , n U lll a c O Il S c i e n t e e d e s e j a d a r e l a ç ã o a b e m d a r e v i v e s c ê n c i a p r á t i c a d o s i d e a i s c l áss i c o s . N i co l a u C h a n teren e , p e l a exce l ê n c i a d a s u a exp ressão p l á s t i c a , p e l o s e u s u perior en tend i m e n to das g r a n d es q u estões c u l t u ra i s que en tão se co l o cava m , e r a o ú n i c o a rt i s t a , n a q u e l e c o n t e x t o , c a p a z d e s e r e v e l a r o v e r d a d e i r o i n t é r ­ p r e t e d a n o v a a r t e . Ta n t o n a c o n c e p ç a o d a s fo r m a s d e c o r a t i v a s c o m o n o t r a ­ t a m e n t o d a fi g u r a h u m a n a ,

III

e s t I' e N i c o I a u e r a i n o v a d o r e n ã o t i n h a p a r a ­

l e I o n o u t r o s a rt i s t a s , o q u e n a t u r a l m e n t e n ã o p a s s o u d e s p e r c e b i d o a q u e m c o m e l e c o n v i v i a e a q u e m c o n t r a t a v a a s s u a s c a p a c i d a d e s a rt í s t i c a s . Na década de

30

d o sécu l o

XVI

a ss i s t i m o s a u m a ve r d a d e i r a â n s i a d e c a d a vez

111 a l s r e a l i z a r a p o n t e c u l t u r a l e n t r e o s t e x t o s e a v i v ê n c i a d i á r i a , q u e A n d r é de R e s e n d e e s e u s a m i g o s b e m c o m p r e e n d e m , o q u e t o r n a n a t u r a l q u e os h u m a ­ n i s tas de e n tão v i s s e m e m C h a n te re n e o ú n i c o a r t i s ta q u e p o d e r i a trad u z i r p l a s t i c a m e n t e o i d e a l d e b e l o , d e h a r m o n i a e d e s u a v e i d e a l i za ç ã o q u e c a r a c ­ t e r i z a v a a a rt e d o s a n t i g o s . As s i m s e e x p l i c a a fe i ç ã o c l a r a m e n t e c l a s ­ s i c i z a n t e das p r i m e i ras o b ras q u e N i co l a u exec u t a e m Évo r a , as s i m c o m o s e ex p l i ca a a c e i t a ç ã o q u e o a rt i s t a t e m n o s m e i o s e r u d i tos e cortesãos da cidade. pintura,

É que a

pela s u a l igação a uma ico no­

g r a fi a j á p e r fe i t a m e n t e e s t a b e l e c i d a , n ã o serviria tao c l a r a m e n te os p r o p ós i tos d e rev i ve s c ê n c i a d a A n t i g u i d a d e ; e r a a e s c u l ­ t u ra q u e devia c u m p r i r essa fu nção e s e

2 1

M . G o n ç a l v e s C e re j e i ra , O R e n a s c i m e n t o e m P o r t ug a l , C l e n a r d o

e a S o c i e d a d e P o rt ug u e s a , v a I . 22

"[ . . . )

I,

C o i m b r a , 1 9 7 1, _

d u ra n t e u n s d o is a n o s fui a q u i c o m e n s a l d o a rc e diago d e

É v o ra {. . . ] . V i v i a t a m b é m c o n n os c o , a s e g u i r a u m a d o e n ça , o i l u s ­ t r e e s c u l t o r Nic o la u C h a n t e r e n e .

E s t e a r t is t a ,

logo

que sarou e

t o m o u c o n n o s c o l ug a r à m e s a , r e p r o d u z i u a i m a g e m de n ó s a m b o s

a o c u l ta s . s e m q u e d é s s e m os p o r iS5 0 , p r o v a v e l m e n t e p a ra exp e ­ rim e n t a r c o m q u e fa cilida d e e ra capaz d e reproduzir u m a fig ura e e x p res s ã o t e o lógica

[. . . }.

E a g o ra o artista dizia q u e fa lta va a in da

a ú l t i m a d e m ã o e p o r c o n s eg u i n t e q u e ria q u e eu v i e s s e a lg u m a s v e z e s p a ra a m e s a c o m o m e u m e l h o r fa to e b a rr e t e - fri o /e iras

[ . . . }.

Mas ele dep o iS v o lta com e s t a , é p re ci s o imagin a r a lg u m a s e n ­

t e n ça n o t á v e l p a ra s e gra v a r à m a rg e m . o u u m a divisa esp e cia l q u e c o s t u m e is Llsar

f .. . j "

(" C a rta a o R e v e r e n d ís s i m o D . J e r ó n i m o A l e a n d r o ,

A r c e b i s p o de B r i n d i s i i l u s t r e e r e r v o r o s o c u l t o r d a s t r ê s l í n g u a s , N i cola u 1 3

C l e n a rd o

saúda",

in

Cerejeira.

op.

cit.,

pp.

271 274).

L e ã o B a t t i s t a Al b e r t i , D e R e A e difica t o ria ( 1 4 5 2 ) , M i l ã o , 1 9 6 6 .

., c

� !! c '"

-'= u

b e m v e r i fi c a r m o s as o b r as c o n ce b i d a s p o r C h a n ­

" '"

t e r e n e n a c a p i t a l d a Tr a n s t a g â n i a e s p e l h a m

o u

Z

o c .,

E

o

!?;

�

�

i n s o fi s m a v e l m e n t e a n o v a m e n t a l i d a d e e o d e s e j o d e fa m a d e s t e s h o m e n s .

� >

o

O s t ú m u l o s q u e C h a n t e r e n e i d e a l i z a , t a n to p a r a

'UJ

., "C

D . Á l v a r o d a C o s t a c o m o p a r a D . A fo n s o d e

"

., c. �

., "C

., '" '" '"

�

P o r tu g a l o u p a r a D . F r a n c i s c o d e M e l o , e s p e ­

>

l h a m b e m a i m p o r t â n c i a c o n fe r i d a

'" o

'UJ

à

imortali-

d a d e d a i m a g e m e a p r oj e c ç ã o d a vil'tlí d o e n c o ­ m e n d a d o r n o fu t u r o , a t r avés d a c o n c e p ç ã o c e l e b r a t i v a d o t ú m u l o , c o m u m a m a g n i fi c ê n c i a q u e n u n c a a n te s h a v i a s i d o fe i t a e m Po r t u g a l . N ã o s e t r a b a l h a j á a o m o d o m a n u e l i n o , c o m o n o s t ú m u l o s d e D . A fo n s o H e n r i q u e s e d e D . S an c h o I , n o M o s teiro d e S a n t a C r u z d e C o i m b ra , m as d e u m m o d o n ovo e m q u e se c o n c i l i a todo u m d i s c u rso c l á s s i c o q u e s e reco n hece d e s d e a i n s e rção dos e p i ­ t á fi o s a t é

à

t i p o l o g i a d a p ró p r i a e s t r u t u r a c o m p o s i t iva c o n c l u i n d o - s e n a o rg a n i zação

decorativa. No entanto, apesar do que deixamos dito a trás, podemos concluir que já an tes de ter tra b a l h a d o e m É v o r a e d e t e r c o n t a c t a d o c o m o e x t r a o r d i n á r i o a m b i e n t e c u l t u r a l aí r e u n i d o a o l o n g o d a d é c a d a d e 3 0 d e Qu i n h e n t o s , N i c o l a u C h a n t e r e n e s e c a r a c t e r i z a v a pela a p r o x i m ação s i s t e m á t ic a e a p l i c ação c o n s c i e n te d e m o d e l o s que c a m i n h a m d e c l a­ r a d a m e n t e c a d a v e z m a i s p a r a a e s fe r a d a I t á l i a d o Qua ttl'o e d o Cin q ll ec e n to, fa z e n d o n a s s u a s o b r a s a s í n t e s e p o s s í v e l e n t r e o g o s t o p e s s o a l , a i n fo r m a ç ã o a rt í s t i c a d i s p o n í v e l , rec o l h i d a e m t r a t a d o s , m o d e l o s gravados o u e m d e s e n h o s , e o gosto d o m i n a n tem e n t e d e i n s p i r a ç ã o n ó r d i c a e x i s t e n t e n a s c o rr e s m a n u e l i n a e j o a n i n a . O c o n t a c t o c o m h o m e n s c o m o J e a n Pe t i t , a r c e d i a g o d a S é e fu t u ro b i s p o d e C a b o Ve r d e , A n d r é d e Rese n d e , r e p u t ad o h u m a n i s ta , a m i go d e Eras m o e c l a r o i m p u l s i o n a d o r d o s estudos clássicos que, pela sua actuação, se constitui como u m cen tro aglutinador dos m a i s i m p o r t a n t e s h u m a n i s t a s d a é p o c a n a c i d a d e , s e r á d e c e rt o u m e s t í m u l o fu n d a m e n t a l para a sistematização de uma prática artística claramente i t a l i a n izante. S e n d o e x t r e m a m e n t e c u l t o , v i v e n d o n a c o r t e e a í t e n d o c e r t a m e n t e c o n s t i t u í d o fa m í l i a , a u fe r i n d o b e n e fí c i o s q u e o p o d e r r é g i o l h e o u t o r g a e q u e l h e p e r m i t e m v i v e r c o m d e s a fo g o e c o n ó m i c o , m e s t r e N i c o l a u v ê , e m 1 5 3 5 , o s e u m é r i t o n o v a m e n t e r e c o n h e ­ cido q u an d o é n o m e a d o para o dese m p e n h o d e u m cargo exc l u s ivo e de e n o rme pres­ t í g i o n a c o r t e . A partir d e s t a data t o r n a - s e Ara u t o G o a e é a s s i m a l ç ado ao c í r c u l o res­ t r i t í s s i m o d o s o fi c i a i s h e r á l d i c o s .

17 9

N e s t a é p o c a o e s c u l t o r t r a b a l h a u n i c a m e n t e n u m a e s t r e i t a fa i x a m e c e n á t i c a , c o m o a l i á s aconteceu d u r a n te toda a s u a carreI ra, n un c a , ao q u e se saiba, tendo realizado q u a i s ­ q u e r o b r a s fo r a d o c í r c u l o res t r i t o d a fa m í l i a r e a l o u d a m a i s a l t a a r i s t o c r a c i a c o m e l a a p a re n t a d a . Ta i s c i r c u n s t â n c i a s , q u e n ã o s e c o n j u g a m e m n e n h u m o u t r o a r t i s t a d a é p o c a 24 , c o l o c a m - n o c o m o u m caso c o m p l e ta m e n t e à p ar t e d o co n texto dos a r t i s t a s , a s s i m s e j u s t i fi c a n d o o d i s t a n c i a m e n t o q u e o fr a n c ê s m a n t é m c o m a c o m u n I ­ d a d e a r t í s t i c a n a c i o n a l , e m b o r a s e j a m e v i d e n t e s a s s u a s r e l a ç õ e s c o m D i o go e J o ã o d e C a s t i l h o , c o m J o rge A fo n s o , C r i s t ó v ã o d e F i g u e i r e d o , M i g u e l de A r r u d a e a t é c o m A n t ó n i o d e H o I a n d a e o s e u fi l h o F r a n c i s c o 2 5 e n t r e o u t r o s a r t i s t a s à data na cidade.

A

o bra de Nicolau Chanterene em Évora

As o b r a s q u e a q u i c o n s i d e r a m o s c o m o p e r t e n c e n t e s à a c t i v i d a d e d e N i c o l a u C h a n t e r e n e e m Évo r a n ã o e s t ã o d o c u m e n t a d a s , d i fi c u I d a d e c o m q u e s e d e p a ­ raram o u tros a n tes d o nosso e s t u d 0 26. N o e n t a n t o , a s o b r a s q u e s ã o t r a d i c i o n a l m e n t e a t r i b u í d a s a o m e s t r e fr a n c ê s e m Évo r a a p r e s e n t a m t r a ç o s c o m u n s q u e n o s l e v a m a fi l i á - l a s n u m a m e s m a a u t o ­ r i a e s e n s i b i l i dade a r t í s t i c a , a l é m d e q u e a cro n o l o g i a h o j e d o c u m e n t a l m e n t e c o n h e c i d a p a r a a l g u m a s d e l a s , n o m e a d a m e n t e p a r a a s o b r a s d a I g rej a d a G r a ç a , e a q u a l idade e s c u l t ó r i c a e e s t i l í s t i c a q u e p a te n te i a m não permi tem quaIsquer d ú v i d a s q u a n t o à i n t e rv e n ç ã o de N i c o l a u C h a n tere n e .

24

O esc u l t o r chega à ci dade n o decorrer de 1 5 3 2 o u i n ícios de

1 5 3 3 , vindo de Sintra,

tendo começado de i mediato a trabalhar para D. Álvaro da Costa que lhe encomenda a d e c o r a ç ã o d o r e fe i t ó r i o d o Conve n to do Paraíso, p ara e m s e g u i d a o e n c a r regar d a con­ 180

cepção

escul tó rica

do

seu

É u m fa c t o q u e u m e s t a t u t o d e e x c e p ç ã o e r a d e t i d o p o r o u t r o s

artistas deste Holanda;

período,

alguns

fo r a m

t a i s c o m o G re g ó r i o

Lopes ou António de

nobilitados ou até

lhes

fo i

p e rm i t i d o

o

i n g r e s s o e m o r d e n s m i l i t a re s , m a s n u n c a a r e l a ç ã o c o m o a m b i · ente h u manista

fo i t ã o e s t r e i t a n e m t ã o e v i d e n t e n a c o n j u n t u ra

g l o b a l d a s u a a r t e c o m o a p a re c e n a o b ra d e N i c o l a u C h a n t e r e n e . C f. V i t o r Se r r ã o , P o rt u g u e s e s ,

O M a n e iris m o e o Esta t u t o S o c i a l dos P i n t o re s

Lisboa,

I m p re n s a

Naciona l-Casa

da

Moeda, 1983. e

t a m b é m J o a q u i m O l i v e i ra C a e t a n o , " G r e g ó r i o L o p e s , P i n t o r R é g i o e C a v a l e i r o d e Sa n t i a g o " , i n A c ta s d o I I E n c o ntro s o bre Orde n s M i l i ta re s (Res u m os das C o m u n ic a ç õ es), P a l m e l a , C â m a r a M u n i c i p a l de Palmela, 1992 (policopiado). 2S

F ra n c i s c o d e

Holanda,

o i m p o rt a n t e a r t i s t a e t e ó r i c o q u e , e m

R o m a , fre q u e n t o u a i n d a q u e b r e v e m e n t e o s r e s t r i t o s c í r c u l o s c u l ­ t u ra i s d e V i t t o r i a C o l o n a e c o n t a c t o u c o m M i g u e l  n g e l o . n ã o c i t a N i c o l a u C h a n t e re n e u m a ú n i ca v e z n a s o b r a s q u e e s c r e v e . P e l o c o n ­ t r á r i o , p a re c e i g n o r a r d e l i b e r a d a m e n t e a s o b r a s q u e e s t e m e s t r e re a l i z o u e q u e , s e m q u a l q u e r s o m b r a d e d ú v i d a , e r a m a s q u e m a i s ' s e a p r o x i m a v a m d o q u e o j o v e m F ra n c i s c o h a v i a v i s t o e m R o m a o u e m q u a l q u e r d a s o ut r a s c i d a d e s q u e v i s i t o u na p e n í n s u l a i t á l i c a . Tere m o s o c a s i ã o d e b r ev e m e n t e v o l t a r a e s t e p r o b l e m a . 26 D i a s ,

O Fídias P e regri n o , o p . cit.

t ú m u l o , q u e hoj e se encontra n o Museu de Év o r a , S o b r e a co ncepção g l o b a l do programa d e c o ra t ivo e i c o n o g r á fi c o d o r e fe i t ó r i o do Convento do Paraíso n ão sabemos

'" c '" '" c "'

a c t u a l m e n t e o s u fi c i e n t e p a r a se p o d e r

.c U

p r o p o r u m a r e co n s t i t u i ç ã o , e m b o r a

" "' :3

p e l o s ves tígios q u e chegaram a t é n ó s ,

z

as t rês p i l as t r a s q u e p o d e m s e r a d m i ­

�

o u

"'

"O

� "' > .;:( c:i '" -o

�

radas no M u s e u d a c i d a d e 27, s e possa

:" o

� '"

s e g u r a m e n t e a fi r m a r que c o n s t i t u i ­

�

o c l a s s i c i s m o d a s s o l u ç õ es e m p regues

-o

" '" '"

r i a m u m co n j u n t o i m p o n e n te o n d e

" "' o '" > E

f--

n o s a p o n t a p ar a um p r o g r a m a d e c l a ­

'W

r a d a m e n t e d i fe r e n t e d e t u d o q u a n t o e x i s t i a n a c i d a d e e a t é d i fere n te d e t u d o q u a n t o h a v i a s i d o c o n c e b i d o a n te r i o r m e n t e e m Po r t u ga L D a t a d as d e 1 5 3 3 , estas p i l a s t r a s revel am - s e também i n ov a d o r a s por a l g u n s p o r m e n o r e s i n t e r e s s a n t í s s i m o s d e a fi r m a ç ã o d e l i c e n c i o s i d a d e a r t í s t i c a a p a r de u m a co n c e p ç ã o d e c o ra t iva c l a s s i c i z a n te q u e p o d e s e r a n t ev i s t a n a s b a s e s , 181

c o m a r e p r e s e n t a ç ã o d e p e r fi s c l á s s i c o s c o n c e b i d o s à an tiga, p r o v av e l m e n t e i n s p i rados em m o delos gravad o s 28, N i c o l a u C h a n t e r e n e s e r á e n t ã o o i n t é r p r e t e p e r fe i t o do m o m e n t o c u l t u r a l q u e s e v i v i a n a c i d a d e , re a l i z a n d o u m a o b r a q u e fo i t a m b é m a o e n c o n t r o do e s t a t u t o s o c i a l e p o l í t i co d o e n c o m e n d a d o r. D o a c e r t o d o c a m i n h o e s t é t i c o e n t ã o t r i l h a d o fl u i a e n c o m e n d a s e g u i n t e p o i s D , Á l v a r o d a C o s t a e n c o m e n d a - l h e o s e u t ú m u l o , c r o n o g r a fa d o d e 1 5 3 5 , também concebido para a igrej a do desaparecido convento d o m i n i ­ cano de Nossa Senhora do Paraíso, A qualidade composi tiva do artista fr a n c ê s e v o l u i c l a r a m e n t e , p a r a o q u e p o d e t e r co n t r i b u íd o a l e i t u ra a t e n t a d a s JvJedidas d e ! R o m a n o d o t o l e d a n o S agredo, sendo de assi n a l ar a s propo r­ ç õ e s q u a s e p e r fe i t a s d o t ú m u l o e a s u a o rg a n ização

p r e do m i n a n te m e n te

ar-

27

o

P r o fe s s o r P e d r o D i a s i n fo r m a - n o s q u e , e m 1 9 9 5 . f o i v e n d i d a

e m l e i l ã o u m a b a s e d e p i l a s t ra q u e , com t o d a a certeza, p e rt e n ­ cia a este conjunto, pelo q u e não podemos ter a certeza d e q ua n ­ t a s p e ç a s c o n s t i t u i r i a m o c o n j u n t o c o n c e b i d o p e l o e s c u l t o r fra n ­ cês .

P a ra

uma

provável

reco n s t i t u i ç ã o

c f.

R a fa e l

Moreira,

A

A rq uitectura do R e n a s c i m e nto no S u l de P o rtuga l. A E n c o m e n d a R égia e n tre o " M o d e rn o " e o " R o m a n o ", 2 v a i s . , t e s e d e d o u t o ­ r a m e n t o e m H i s t ó ri a d a Arte, L i s b o a , U n i v e r s i d a d e Nova d e L i s b o a , '992. p. 318.

28 A e s t e

p r o p ó s i t o c f. D i a s ,

O Fídias P e regri n o , o p . cit. ,

p. 139-

q u i tectó nica. No e n tanto, N i c o l a u c o n t i n u a a a fi r m a r - s e e s s e n c i al m e n t e c o m o e s c u l t o r, t a n to n a c a t e g o r i a p l á s t i c a p a t e n t e n o s to n do s das enj u n tas e nos relevos c o m o a t é n a c o n c e p ç ã o vo l u ­ métrica

e

d e c o r a t i va

dos

capitéis. É

p rovável

que

o

m e s t re

t i vesse i n te r ro m p i d o a exe­ c ução do t ú m u l o de D . ÁIv a r o , U Il1 a v e z q u e , e m J a " :" c " o � .,;; c "

'w

ção decorreria e ntre 1 5 3 6 - 1 5 3 7 e 1 5 4 0 , Chanterene e M i g u e l d e A r r u d a r e a l i z a r a m u m ve r d a d e i r o m a n i fe s t o d e u m g o s t o e s t é t i c o n o vo , d e u m a o u s a d i a c o m p o s i t i v a r a d i c a l q u e s ó p o d e s e r a t r i b u í d a à e r u d i t a e d u c a ç ã o a r t í s t i c a d o m e s t r e fra n c ê s , q u e co n t i n u a m e n t e r e fl e c t e e r e fo r m u l a a s u a p rá t i c a a r t í s t i c a . D i v i d i d a e s s e n ci a l m e n te e m d o i s r e g i s t o s q u e servem de

V> o

s u p o r t e a u m a m i s c i g e n a ç ã o d e fo r m a s e vo l u m e s o r g a n i z a d o s l i v r e m e n t e d e

o

a c o r d o c o m valores d e claro-escuro e de v o l u m e t r i a p ró p ri o s d a e s c u l t u r a , esta

E '" u o "O

fa ch a d a i n t e g r a c l a r a m e n t e o s e l e m e n t o s e s c u l t ó r i c o s q u e a c o m p õ e m n u m d i s ­

t:

t r i b u e m i g u a l m e n t e p a r a o e fe i t o c o m u m . E s t a v e r d a d e i r a a p l i c a ç ã o p r á t i c a d a

,'"

o 00-

c u r s o u n i t á r i o e m q u e t o d o s o s e l e m e n t o s , p o r m a i s d í s p a r e s q u e s ej a m , c o n ­

e s t é t i c a a l b e r t i n i a n a , t a l c o m o R a fa e l M o r e i r a a d e fi n i u a p r o p ó s i t o d o d i s c u r s o d e D . F r a n c i s c o d e M e l o n a i n a u g u r a ç ã o d a s C o r t e s d e 1 5 3 5 34 , é b e m r e v e l a dora d a c o n s t a n te evo l u ção d e mestre C h a n t e r e n e , que n ã o teme u l trapassar a e s c a l a h u m a n a d a e s c u l t u r a e c o n c e b e r o s m o n u m e n t a i s " m e n i n o s d a G r a ç a" q u e s ã o , n o d i z e r d e Pe d r o D i a s , " as p ri m e i ras escu ltu ras m a n e i ristas p o rtugu esas, a

u m tempo filhas da t e r r i b i l i t a m iguela ngelesca e p o rtado ras de u m p rofu n do s e n ­ tido classicizan te, e e v o cado ras d a especificida de desse m o m en to d e glo rificação da gesta n a c i o n a l" 3 5 . D a s u a a u t o r i a s e r i a m t a m b é m o s a n j o s q u e l a d e i a m a c r u z n o t o p o d o fr o n t ã o , c o m r i t m o s d e p a n e j a m e n t o s q u e fa z e m l e m b r a r a P e n a e a s e s t á t u a s q u e o r n av a m o s n i c h o s q u e l a d e i a m a p o r t a p r i n c i p a l d e s t a I g rej a , q u e T ú l i o E s p a n c a i d e n t i fi c a c o m o t e n d o r e p r e s e n t a d o S a n t a M ó n i c a e S a n t o Ago s t i nho 36, mas q u e i n fe l i zm e n te s e p e r d e r a m .

3 3

Branco,

34

C f . M o re i r a ,

35

Dias, O

)6 T ú l i o

op.

cit., op.

Fídias

p. 234. cit. ,

vaI. I , p. 211.

P e re g ri n o ,

op.

cit. ,

P 144.

Espanca, "Nicolau Chanterene", pp. 107-116.

18S

O u t r a s o b r a s d e v e m s e r t a m b é m r e l a c i o n a d a s c o m a a r t e e a i n v e n t i o t í p i c a s de m e s t r e Nicolau Chanterene, n o m eadamen te o m o n u m e n tal po rtal do ce m i té r io da cidade, aí m o n ta d o cerca de 1 8 4 0 37 , prove n i en t e d e u m a n t i g o conve n t o , t a l v e z d o d e S ã o D o m i n g o s o u d o c e n ó b i o fr a n c i s c a n o , a m b o s j á d e s a p a rec i d o s . E s te p o rt a l a p re s e n t a u m a e s c a l a n o táve l , e u m conj u n to de relevos d e exc e l e n te q u a l i d a d e , tanto nas t a b e l a s das p i lastras como n o s p l i n to s . P o r i s s o tem d e s e r relac i o n ável a o l a b o r d o m e s t r e fra n c ê s , c e r c a d e 1 5 3 7 , ex e c u t a d o

., '"

'" 'O '" => '"

'"

v a t e r r a de M a g o s e n a C a p e l a das O n ze M i l V i r g e n s , d e A l c á c e r d o S a l , t u d o o b ras m i n i a t u r a i s e fr u t o d o m e c e n a t o d a c o r t e e d a a l t a n o b r e z a e à s q u a i s i n e v i t a v e l m e n t e s e vão a s s o c i a n d o o s n o m es d o s a r q u i t e c to s r é g i o s e de m a i o r p r e s t í g i o - M i g u e l de A r r u d a , D i o g o d e To r r a l v a , M a n u e l P i r e s , F r a n c i s c o d e H o l a n d a e A n t ó n i o Ro d r i g u e s 8 7 . A t é h o j e n ã o fo i p o s s í v e l fi x a r , c o m c o n c o r d â n c i a u n â n i m e , a a u t o r i a d o p r o j e c t o d o B o m J e s u s d e Va l v e r d e , s e n d o c i n c o a s h i p ó t e s e s r a z o a v e l m e n t e c o n s i s t e n t e s m a i s v e z e s a v a n ç a d a s : M a n u e l P i r e s , D i o g o d e To r r a l v a , M i g u e l d e A r r u d a , F r a n c i s c o d e H o l a n d a e o p r ó p r i o arce b i s p o D . H e n r i q u e 88 .

Maneirismo e ((estilo chão" C o m a s a í d a d e D . J o ã o I I I d e É v o r a , e m 1 5 4 5 , i n i c i a - s e u m n o vo c i c l o n a v i d a c u lt u r a l da c i d a d e , m arcado i n egave l m e n t e p e l o p ap e l d o j ovem cardeal e arceb i s p o d a c i d a d e , i n fa n t e e i n q u i s i d o r - g e r a l d o S a n t o O fí c i o , D . H e n r i q u e , q u e n o fi m d a v i d a s e r á r e l o Arce b i s p o d a c i d a d e , desde 1 5 4 0 até 1 5 7 8 (com uma i n terrupção de d ez a n o s ) , l ig a d o a Évo r a d e s d e a m e n i n i ce , D . H e n r i q u e é o verda d e i ro m e ce­ nas e p a t r o n o c u l t ur a l da c i d a d e d u r a n t e q u a t ro d é c a d a s - que nos l ev a m d a mais aguda s e n s i b i l i d a d e renasci m e n tal , evi d e n c i a d a e c o r p o rizada, n a a r q u i t e c t u r a , p e l a G r a ç a e p o r Va l v e r d e , a t é a o d e s p o j a m e n t o a d v o ­ gado p e l o s p receitos t r i d e n t i n o s que t e r i a a p l i c a d o , n a cidade, em duas o b r a s p a r a d i g m á t i c a s : S a n t o A n t ã o , t a l v e z a m a t r i z d a s n o s s a s Ha lle n ­

k irchen, e o E s p í r i t o S a n t o , m o d e l o j e s u í t i c o d e e n o r m e e p l u r i c o n t i ­ nental s ucesso. A c o n s u l t a d o s arquivos e b o r e n s e s , o u a Évo r a rel a t i v o s , d e s t e p e r í o d o , dá­ - n o s , fa c i l m e n t e , a d i m e n s ã o d o p a p e l d e s e m p e n h a d o p o r D . H e n r i q u e n a v i d a d a c i d a d e - c o n s t r ó i , fu n d a i n s t i t u i ç õ e s , c o l o c a p e s s o a l s e u e m a l t o s cargo s da a d m i n i s t r aç ã o , c o n t r o l a o a r ce b i s p a d o e a I nq u i s i ção , i n tercede j unto do rei e da Câmara local. B o m e x e m p l o d e s t a i n t e n s a a c ç ã o é a s u a i n t e r fe r ê n c i a s e g u r a n a c o n s t r u ­ ç ã o d e t r ê s fo n t a n á r i o s p ú b l i c o s d e g r a n d e a p a r a t o q u e a i n d a h o j e s ã o o m a i s n o t áv e l m o b i l i á r i o p ú b l i c o d o P a í s - a s t r ê s fo n t e s " t e r m i n a i s " d o Aqueduto da Água da Prata. To d a s d e m á r m o r e d a r e g i ã o ,

87 V e r re s u m o d a s a t r i b U i ç õ e s e m B ra n c o ,

são três belos espécimes de

B o m J e s u s d e Va l v e r d e ·· . p p . 4 8 ' 4 9 .

"

A Fundação d a Igreja d o

8 8 Ver res u m o d a s a t ri b u i ç õ e s e m B r a n c o , " A F u n d a ç ã o da

B o m J e s u s d e Va l v e r d e " . p p . 4 2 ' 4 3 .

I g re j a d o

fa c t u r a r e n a s c e n t i s t a - m a n e i r i s t a . A m a i s a n t i ga, erguida em 1 5 5 6 , no Largo da Porta d e Moura, p rovave l m e n t e da traça d e D i o g o d e To r r a l v a ( p o r q u e , e n t ã o , m e s tre das o b ras d a comarca do Alentejo e c o n s e r v a d o r d o a q u e d u t o ) , é u m a p e ç a d e l i c a d í s s i m a , c o m c h a fa r i z e t a ç a r e c t a n g u ­ l a r e s p a r a a b a s t e c i m e n t o p ú b l i c o e b o j o e s fé r i c o . F o i p a g a p e l o s v i z i n h o s , e n t r e o s quais o duque d e B ra g a n ç a 89 e o i m p re s s o r André d e B ur g o s 9 o . A fo n t e d a P r a ç a d o G i r a l d o , s u b s t i t u i u , e m 1 5 7 1 , a p r i m i t i v a o n d e d e s d e 1 5 3 7 c o r ­ ria a Água da Prata. Para a sua colocação

fo i

demolido

um

arco

t r i u n fa l

8 9 Espanca,

I n v e n tário,

op.

cit.,

p.

107:

o duque,

D . Te o d ó s i o

I.

p a g o u o i t o m i l re a i s .

romano, a mando do cardeal D. Henri­

9 0 B P E , C o n v e n t o d a G r a ç a , l i v ro 2 5 , f l s . 2 5 5

q u e e , t a l c o m o a t r a ç a d a fo n t e , s o b

d e m i l r e a i s p e l o i m p r e s s o r q u e à d a t a d a fe i t u ra d a fo n t e v i v i a n a

o r i e n t a ç ã o d o a r q u i t e c t o A fo n s o Á l v a ­ r e s , m e s tre das o b r a s da c o m ar c a do Alen tej o e do cano reaJ 9 1 .

(inéd ito). É pagame nto

R u a d o E s p í r i t o S a n t o , " p e ra a agua d a p ra ta d a p o rta d e m o ura p e r h u m a l u a ra d e l i R e y p e r q u e p a g u a r a m t o dos os vezyn h o s ". m e n t o f o i fe i t o e m ' 3 d e S e t e m b r o d e ' 5 5 7 ,

O

paga­

quando A n d ré d e B u r·

g o s j á m o ra v a c o m a m u l h e r, I l e n a R o d r i g u e z , na

R u a da S e l a r i a , à

q u i n a da t ra v e s s a q u e a i n d a h o j e t e m o n o m e d o s i m p r e s s o r e s : R u a

Peça d e m u i t o m a i o r a p arato d o q u e a d a

d e B u rg o s - cf. B P E , C a b i d o d a S é , C E C 6 · 1 1 , f I . 5 0 ( i n é d i t o ) .

Po r t a d e M o u r a , t e m u m a a r c a p i r i fo r m e

9 ' P a d re M a n u e l F i a l h o , Évora Ilus trada ( B P E , c ó d . CXXX/" 9 , f I . ' 5 6v 9 .

d e e x ce p c i o n a i s p r o p o r ç õ e s e c o r o a i m p e ­ r i al q u e , s e g u n d o a l e n d a , t e r á c a u s a d o engulhos ao i m p erador Filipe I I I quando a

VIU,

9 1 E s p a n c a , I n ve n t á r i o , o p . c i t . ,

p. 249.

93 E s p a n ca ,

I n ve n t á ri o , o p . c i t . , p . 2 7 8 .

d e É v o ra " ,

in A

94 Rei naldo dos Santos,

"Miguel d e Arruda e a Igreja de Santo Antão

Cida d e d e É v o ra ,

n.o

21-22,

É v o ra ,

1950,

p. 20.

9 5 V i t o r S e r r ã o , Sa n ta ré m , L i s b o a , E d i t o r i a l P re s e n ç a , 1 9 9 0 , p p . 6 2 - 6 5 _

e m 1 6 1 9 92 .

A t e r c e i r a d a s fo n t e s q u i n h e n t i s t a s q u e a b a s t e c i a m a p o p u l a ç ã o d a c i d a d e fo i e r g u i d a à P o r t a N o v a e t r a s l a d a d a p a r a o L a r g o d e S ã o D o m i n g o s n o fi n a l d o s é c u l o X I X e p a r a o L a r g o d e Av i s j á n a t e r c e i r a d é c a d a d e s t e s é c u l o . É p o u c o p o s t e r i o r à d a P r a ç a do G iraldo e de muito m e n o r aparato, mas de talhe p i rami dal mais manei rista e segur a m e n t e t a m b é m d a a u t o r i a d o c o n s e r v a d o r d o c a n o , A fo n s o Álvares 93. F e c h a n d o a P r a ç a d o G i r a l d o , n o t o p o fro n t e i r o à s c a s a s d a C â m a r a , a I gr e j a d e S a n to A n t ão é o u t r a d a s o b ras q u e se deve ao querer de D. Henrique. A sua traça p o d e ser de 1 5 4 8 , a acre­ d i t a r m o s q u e d e u fr u t o , l o g o n e s s e a n o , a e n c o m e n d a d o c a r d e a l a o s e u a r q u i tecto M i g u e l d e A r r u d a 94. A d e s c o b e r t a d e q u e é de A r r u d a , e d e 1 5 5 9 , o p ro j e c t o d a M i s e r i c ó r d i a d e S a n t a r é m 9 5 d á fo r ç a a e s t a h i p ó t e s e . C o n s e l h e i r o d i r e c t o d a c o r t e d e s d e o s i n í -

CIOS dos anos 40, a Arruda se devem, s e g u r a m e n t e , as o r i e n tações e o p çõ e s b ás i cas d a n o s s a a r q u i te c t u r a , t a n t o r e l i giosa (como vimos) , como civil (paços d e X a b r e g a s ) , c o m o m i l i t a r ( p a r a e l e fo i criado, em 1 5 4 8 , o cargo de mestre das fo r t i fi c a ç õ e s d e t o d o o r e i n o ) . A s u a c o n s t r u ç ã o , a u m e n t a n d o a v e l h a IgreJ I­ n h a de S a n to A n t o n i n h o , e q u e reorde­ n o u u r b a ni s t i ca m e n te esse lado d a p raça, i n i c i o u - s e j á c o m M a n u e l P i re s , e m 1 5 5 7 , e es tava p r o n t a em 1 5 6 3 . I grej a - s a l ã o d e t r ê s n a v e s à m e s m a a l t u r a , VIU

a abóbada cair logo em 1 5 6 8 , p o r

e fe i t o d e u m t r e m o r d e t e r r a . A r e c o n s t r u ç ã o , p o r A fo n s o Á l v a r e s , s ó t e r m i n a -

S a n t o A n tão i n au g u r o u , ao que t u d o i n d i c a , u m n ov o t i p o d e i g rej as q u e t e r i a e n o r m e s u ces s o , s o b r e t u d o n o A l e n tej o (Santa Maria do Castelo, em Estremoz; M a t r i z d e Ve i r o s ; M a t r i z d e A l c á ç o v a s ; M a t r i z d e M o n s a r a z . . . ) e q u e i n fl u e n c i a ria d e c i s i v a m e n t e as n ovas s é s ( L e i r i a , Po r talegre, M i randa do D o u ro ) . Estas i grej as p r o l o n gam a h e r a n ç a g ó t i ca d e a b o b a d a g e m d e fo r t e i m p l a n t a ç ã o n o A l e n t ej o ; com a o rd e m c o l o s s a l n a c o l u n a g e m , c o m a e s t r u t u r a " l i m p a" , d e salão, em quadrado o u rectângulo e com a desornamen tação dos m u ros i nterior e s e e x t e r i o r e s r e v e l a m u m " re n as c i -

m e n to s u i g e n e r i s " 9 7 ; r e c u p e r a m a s t o r o

res , agora quase s e m p re e m b e b i d as nos c a n t o s d a fa c h a d a , a p r e s e n t a m g r a n d e s

96 E s p a n c a ,

I n v e n tário,

97 S e r r ã o , o p . cit. ,

op.

p. 65.

cit.,

pp. 207-209.

'� c ..: o

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fiu!lt.'1jlllarnflll'lIt"O.m IInll?]l iC\lvmllI11Ii llll(l1ii1::)1I111'1Tll t·IULt ••lll'ol,....cIRinl./!l"'.. l ·\)f ' " '(. (ul .

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11'Ilir if.lllnllli;;lcf}'I)/mlt,thm.).'Cr '\. IOlr �'IICII 110'" IIn\Uut'Uh\ttiCI119I/\b 'lUitlmlmfil"'I'lHlIllOIII(l,\'m\\,dtr l,nmi lf111,.,ullmll':I"\J'Otk1LUfllJll1I"( n:WIIl,i.\)11fh'VlrmuIICl·,·'1111tmlllt' 111\01i :mllllnirJ! nnt)ltllt filie 1'1"\1\\ {lIIII..... l!\llêllh l .ltlOI'mU lfliln'itilll: ttmllllt'lll1{1liICllt\\Jt1(1)'I't'tllllrro,',W

d o h o m e m , o p e c a d o d e Adão e Eva e c o n ­ sequente revolta da Nat ureza, s i m b o lizada LUÍS , I s a b e l [Missa l} Começa:

"Be n edictio a q u a e . . .

por u m l e ão que ataca o s h o m e n s , a Res­ s urreição d e C r i s to c o m a c r uz-estandarte

1481

d a v i t ó r i a , e n q uanto o s s o l dados romanos

M a n u s c r i t o , t r u n ca d o n o i n í c i o , e m p e rg a m i n h o , c o m c e r c a de 3 4 x 2 4 c m , [ 1 9 ] + 2 4 2 + [ 2 ] fól i os c o m d iversas n u m e ra ç õ e s , b e l as i l u m i n u r a s , s o b re t u d o n o c a s o d e u m a R e s s u r r e i ção, c a p i t a i s o r n a m e n t a ­ das e c o l o r i d as e m v e r m e l h o e a z u l d e m u i t o h á b i l execução, p e q u e nas m i n i a t u ras d e c o r a tivas c o m e l e ­ m e n t o s n a t u r a l i s t as e fi g u r a s h u m a n as d e r o s t o s m i n ú s c u l os e a l g u ns g r o t e s c o s d e m u i t o i n t e r e s s e , e s c r i t a d a é p o c a a verm e l h o e t o m n a t u r a l . E n c a ­ d e r nação e m p e l e d e c o r a d a a s e c o c o m e l e m e n t o s g e o m é t r i cos, d a é p o ca, c o m r e s t o s d e fe c h o s . M u i ­ to n e c e s s i tado d e r e s t a u r o . D i z n o fim : "Este livro h e d o lII osteiro d e Jes/( E es­

d o r m e m a s o n o s o l t o . O d í s t i c o "Su rrexi

crveo Isa b e l Luys freira do dito Co n ve n t u . A ca b o u -se

d'escre ver f fe ria v" xv"

[sic]

dias de fe vereiro. Era

do n a c i m e n to de Nosso Se n h o r Jesu Christo de m i L

nne Lxxxj. Sit n O lllen do m i n i b e n edi t u m iii s e c ula " .

C o n t é m trec ho s m u s i cais e m n o tação q u a d rada, s o ­ b r e o p e n tagrama. C o t a : B P E , Ma n uscritos, c ó d . 1 1 5 ( M a n i zo l a ) . R e f. : C a t á l o go d a c t i l o g r a fa d o d o fu n d o M a n i z o l a e x i s t e n t e na B i b l i o teca P ú b l i ca d e Évora, p . 1 6 5 .

et adh u c tecum mm aLLeluia" s i g n i fi c a q u e , após a morte, Cristo ressusci tou e conti­ n u a p re s e n t e n o m e i o d o s h o m e n s a rea­ l iz a r o m is té r i o d a s u a s alvação . O M i ss a l o u Livro d e M i s s a era i n i c i a l me nte s i n ó n i m o d e sacramentário. No sent i d o m o de r n o , o M i ss a l é o livro q u e con tém t o d o s o s textos necessários à celeb r ação da M i ss a , i s t o é , as o ra ç õ e s , os p re fác i o s , o c â n o n e , a s l e i t u r a s e , n o r m a l m e n t e , os trechos m us i cais p r ó p r i o s da 5chola

ca n to r u m . A p ó s o C o n c í l i o Va t i c a n o I I , o M i s s a l fo i l i b e r t o das l e i turas b í b l i ca s , q u e

fó l i o q u e a p r e s e n t a m o s ( XC l l l ) I n ­

p a s s a r a m a c o n s t i t u i r o Lec c i o n á r i o .

t r o d u z o Ofí c i o d e P ás c o a . N e l e p o -

Os missais p l e n o s , i s t o é , com todos os

demos contemplar uma síntese da histó­

textos da M issa, são distintos, portanto,

r i a d a s a l v a ç ã o : a fe l i c i d a d e p a r a d i s í a c a

dos sacram e n t ários, que devem ter surg i d o n o s é c u l o x . A q u e l e s s u rgiram c o m o e x i g ê n c i a d a m i s s a p r i v a d a . Qu a n d o o s s a ­ c e r d o t e s c o m e ç a r a m a c e l e b ra r em p e quenas igrejas rurais o u e m casas privadas, e m que não t i n h a m à mão todos os l ivros n e m o a p o i o l o gí s t i co e p e s s o a l das gran­

f.lfI.t \1tfilntO.lhl.l .t1I:I..IU· " D1ir.pl\lIhlllflRlJllIl1

.

262

111111 III� hlll1g1101lIlh !l11i " 111:11111":1 t n1hmltli.1nr: mc.nu. 61l�I.l Il!I. lDúl

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pli'in-

-Q-Nts: ..-1=1..LCrpUIJJ.\lt-

d e s i g r ej a s u r b a n a s e c o n v e n t u a i s , s e n t i u - s e a necessi da d e de r e d u z i r os l ivros d a c e l e b r a ç ã o , c o n ce n t ra n d o o s respectivos c o n t e ú d o s n u m s ó . O m e s m o fe n ó m e n o , a i n d a q u e p o r r a z õ e s d i v e rs a s , v e r i fi co u ­ - s e n a s g r a n d e s c o m u n i d a d e s c o n ve n t u a i s ,

e m q u e h o uve n ecess i d a d e d e d o ta r cada

Co m e n tá r i o s a o s c ó di c e s i lu m i 1l a do s

c a p e l a d a i g r e j a c o m u m l i v r o q u e C O IH i ­

n , OS 2 , 3, 4 , 7, 8 , 9 ,

10

e

11

v e s s e os t e x t o s c o m p l e to s d a s m Is s a s . A evo l ução h i s t ó r i ca m o s t r a - n o s q u e ao

o

n ú cleo i n icial d a q u i l o que hoj e i n tegra

c e s q u e s ã o a p re s e n t a d o s p e r ­

nova m e n t e o M i ssal s e acres ce n ta r a m o s

mi te-nos e n t e n d e r as d iversas

cantos e , d e p o i s , os Evang e l h o s , q u e o

c o r r e n te s a r t í s t i cas q u e s e d e ­

s a c e r d o t e d e v i a c a n t a r o u a c o m p a n h a r,

senvolveram

e n q u a n to o d i á c o n o o u o a c ó l i t o c a n t a ­

c u l o X I V a t é a o s é c u l o XV I .

v a m . F i n a l m e n t e , fo r a m i n t e g r a d a s a s

Neste l o ngo período, pode­

e p í s t o l a s , q u e i n i c i a l m e n te , t a l c o m o h o j e ,

m o s t a m b é m v e r i fi c a r a e v o ­

eram l id a s por u m c l é r i go l e i tor. N o i n í ­

l u ção da arte da i l u m i n u ra

cio do século X I I I , o M issal

tinha j á

desde o seu apogeu até ao

a d q u i r i d o a c o n fi g u r a ç ã o d e M i s s a l p l e n o .

s e u decl í n i o , n a s regi õ es em

A p a r t i r de 1 5 4 3 , com o i n ício do C o ncí­

que ainda permaneceu com

l i o d e Tr e n t o , fa c e à i n t r o d u ç ã o d e t e x t o s

algum vigor mesmo depois

d u v i d o s o s e à p r o l i fe ra ç ã o d e r i t o s a u t ó ­

d a i n t r o d u ç ã o d a i m p re n s a .

n o m o s , fe z - s e s e n t i r a n e c e s s i d a d e d e u m a

S ã o evi d e n tes três o r igens

r e fo r m a e u n i fo r m i z a ç ã o d o M i s s a l . A s u a

p a r a e s t e s c ó d i c e s . A i n fl u ê n -

e fe c t i v a ç ã o fo i c o n fi a d a ao p a p a P i o I V,

C I a fl a m e n g a n o l i v r o d e h o -

n o fi n a l d o C o n c í l i o , e , a p ó s a s u a m o r t e ,

ras

e m 1 5 6 5 , fo i l e v a d a a c a b o p o r P i o V. C o m

fi n a i s d o s é c u l o x v e q u e

e s s a r e fo r m a , o n o v o M i s s a l , s e g u n d o o

a p r e s e n t a , ao n ív e l d a s t a r j a s ,

r i t o r o m a n o , i m p ô s - s e a q u as e t o d a a

e l e m e n t o s fi t o m ó r fi c o s q u e

I g rej a . P o r fo r ç a d a b u l a Quo Pri m lt ln, d e

evo l u í r a m d o s go lden scro lls

1 4 d e J u l h o d e 1 5 7 0 , s ó fo i p e r m i t i d o à s

de princípios da centúria e

I greps

mIssaiS

que caracterizam a maneIra

quando tivessem u m a a n t i g u i d ade m í n i m a

fra n c o - fl a m e n g a . N o e n t a n t o ,

d e d uzentos a n o s .

n e s te m e s m o l i vro d e p a r a m o s

E n t re o s c o n c í l i o s d e Tre n to e Va t i c a n o I I ,

com a curi osíss i m a represen­

o M i s s a l fo i o b j e c t o d e a l g u m a s p e q u e ­

t a ç ã o d e S ão J o ã o em P a t m o s ,

nas

Cle­

m u i to p ró x i m a , p e l a s u a c o m ­

mente VIII ( 1 604) , Urbano VIII ( 1 634)

pos ição , d e u m painel com o

e Bento XV ( 1 920) .

mesmo tema que está atrib uí-

manter

os

m o d i fi c a ç õ e s

r e s p e c t i vo s

pelos

p ap as

I C!J L

c o n j u n t o d o s p re C I O S O S c ó d i ­

desde

[ c a r . n . o 3]

o

sé­

datável de

do à Escola Holan desa e que

h o j e s e e n c o n t r a no M u s e u B oy m a n s - Va n

to res neerlandeses da l i n h a d e B o u t s , e m

B e u n i n g e n , de R o t e r d ã o . E s s a s e m e l h a n ç a

e s p e c i a l n a fi g u r a d a V i r g e m d a P i e d a d e .

in dica, com alguma probabili dade, um ar­

O t r a j e d o d o a d o r , n o fó l i o c o n t r a p o s t o

tista de origem neerlandesa.

ao d a Virgem d o L e i t e , i n s p i rada n o pro­

P a r t i c u l a r m e n t e s i g n i fi c a t i v o é o l i v r o d e

t ó t i p o d e R o g e r v a n d e r We y d e n , p e r ­

ho ras [cat. n . o 2 ] que s e enquadra n a no-

m i te-nos datar esta i l um i nura de i n ícios

t á v e l c o r re n t e g a n t o - b r u g e n s e , d i fu n d i d a

d o s é c u l o XVI . É , s e m d ú v i d a , obra d e um

p e l a o fi c i n a d o s B e n i n g , q u e t e m c o m o

d o s m u i t o s m e s t r e s q u e l a b o r a r a m n a o fi ­

p a r a d i g m a o c é l e b re B revi á r i o G r i m a n i ,

cina d o s B e n i n g , talvez u m s e g u i d o r de

d a B i b l i o t e c a M a r c i a n a d e Ve n e z a . P e r ­

Gheeraert H o re n b o u t .

t e n c e a e s t a m e s m a " e s c o l a" o l i v r o d e

O n ú c l e o fr a n c ê s d e s t a e x p o s i ç ã o I n i C i a - s e

h o ra s , d i to de D . Fernando, do M u s e u

c o m a B í b l i a L a t i n a ( Vu lgata) [ c a t . n .

N a c i o n a l d e A r t e An t i g a . N a q u e l e c ó d i c e ,

d a t ável d o s é c u l o XIV, como n o - l o atesta

s e n t e - s e , d e n o v o , a i n fl u ê n c i a d o s p i n -

o

Cristo

C r u c i fi c a d o

°

1 0]

[caL n . o 1 0 B ] .

o

m o n g e , t a l v e z o d o a d o r, c o l o c a d o fo r a

d a zona i l u m i n ada, recorda o e s t i l o d e SANTO D O M I N I CA N O NÃO I D E NT I F I CA D O

Jean Pucelle ( ? - 1 334) . H á d e p o i s u m a s e q u ê n c i a d e c ó d i ce s [ c a t . n . os 7 - 9 ] , t o d o s d a t r a n s i ç ã o d o s é culo

p a ra o X V I e , p r ovave l m e n te , fr a n -

xv

ceses .

D e s t acamos

no

livro

de horas

[ c a t . n . o 7 ] a i l u m i n u r a da Anunciação

Portugal P r i m e i ra m e ta d e do s é c u l o X V I Pedra ( v e s t í g i o s de p o l i c r o m i a ) 65 cm Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga I n v. n . O 1 1 0 3 Doação (Colecção V i l h ena)

e m q u e o anJ o a p arece à d i r e i t a , p rograma

em o s t e n t a r a t r i b u t o s e s -

i c o n o g r á fi c o t i p i c a m e n t e fr a n c ê s e c u j a s

p e c í fi c o s p a r a a l é m d o h á -

tarjas e a capitular estão só esb oçadas, o

b i t o d o s fr a d e s p r e g a d o r e s d a O r ­

q u e n o s p e r m i t e e n t e n d e r a fo r m a d e t r a ­

dem

b a l h o n a s o fi c i n a s d e i l u m i n u r a .

b á c u l o d e c r o s s a fl o r i d a e d o

o

conj u n to de códices de p rovável au-

de

S ão

Domingos,

l i vro s a n t o s us t e n tado na

toria portuguesa, a que voltaremos no

m ã o d i r e i t a , é d i fí c i l

fi n a l d o c a t á l o g o , I n i c i a - s e c o m u m c a s o

i d e n t i fi c a r c o m p r e c I ­

a s s a z p r o b l e m á t i c o : r e fe r i m o - n o s a o m l s -

são o herói dominicano

sal de 1 4 8 1 que ostenta a segui n te i ns ­

q u e e s t a i m agem d e a l ­

c r i ç ã o : « Este Li v r o h e d o m os te ir o d e Jes u

tar rep rese n t a . O hie-

E escreveo Isa b e l L UJ1s fre ir a n o dito c o n ­

ratismo com que o

v e n t u . A c a b o u - s e c/ 'es c r e v e r ffe ria Vil x v ll

a r t í fi c e i m p r e g n o u

dias d e fe v e re i ro . Era d o n a c i m e n to d e

a fi g u r a ,

No s s o Se n h o r Jesu C h r i s t o d e m i l i i i i

se mos tre c u i dado

Ixxx) . S i t n o m e n do m i n i - b e n e di t u m i n

na

s e c lt la . "

das

E s t a l e g e n d a l eva- n o s a p e n s a r q u e s e n d o

capa d o hábito e

a fr e i r a I s a b e l L u y s a e s c r i b a d o t e x t o d o

na relativa i n d i -

missal, este devia ter sido i luminado em

vidual ização

P o r t u g a l . To d a v i a , o r e q u i n t e d a e x e ­

cabeça, p ouco es­

c u ç ã o d a t a rj a n ã o e n c o n t r a a n t e c e d e n ­

clarece

tes na iluminura nacional coetânea. Obra

atribuição possí­

d e u m fl a m e n go r a d i c a d o e n t r e n ó s ? A h i ­

vel às mãos mais

p ó t e s e fi c a e m a b e r t o p a r a p o s t e r i o r

personalizadas

i nves t igação.

d a e s cu l t u ra p o r DLM

embora

distribuição p re g as

tuguesa

da

da

sobre

do

a

sé-

do

c u l o XVI , s u g e r i n d o a n tes o e n q uadra­ mento estil ís tico numa l i nha vernácula em que só pontual e paulatinamente i n t e r v ê m a s p e c t o s d a c o n c e p ç ã o fi ­ g u r a t i v a i n fl u e n c i a d o s p e l o s n o v o s modos renascentistas. A i c o n o g r a fi a r e m e t e - n o s , p o r é m ,

Medita ç õ e s s o b re h a 0 1'aça lll do Pa tel' No s t e r, Vis t o e ap l'o va do p o r frey F1'a n c is c o FO l'e i r o dep u ta do do Sa n to Offic i o Évo r a , s , i m p " 1 5 5 7 C o t a : B P E , Res. 3 0 2 - C . Ref. : A n s . 1 0 8 6 .

p a ra u m s i s t e m a c u l t u r a l e m q u e a O rdem de São D o mingos e os seus ilus tres varões desempenham u m pa­ pei quotidiano que já dilatou a ori­ g i n á r i a m i s s ã o d a e s p i r i t ualidade d o s fr a d e s p r e g a d o re s d a s o r i ge n s m e d i e ­ v a i s , fo r t a l e c i d a p e l a l u t a c o n t r a a heresia albigense, para se associar agora à intensa actividade proseli­ tista desenvolvida através do ensino e d a I nquisição. Foi por intermédio da utilização emblemática das mais p re s t i g i a d a s fi g u r a s d o m i n i c a n a s q u e se construiu um património icónico q u e , desde 1 5 3 6 , p o d e r á s e r a s s o c i a­ do à viragem cultural e mental que c o r r e s p o n d e à i n t r o d u ç ã o d o Tr i b u ­

'(

n a l d o S a n t o O fí c i o n o n o s s o p a í s . Os círculos dominicanos detinham uma legitimidade n a argumentação

266

t e o l ó gica c o n s t r u í d a ao l o ng o de

teólogo dominicano port uguês

toda a vida anterior da ordem que

fr e i F r a n c i s c o F o r e i r o n a s c e u e m

s e o fe r e c i a a g o r a c o m o b a s e s e g u r a

Lisboa, e m 1 5 2 2 , e morreu em Almada,

p a r a a i n s t i t u c i o n a l i z a ç ã o d a d e fe s a

em 1 5 8 l .

d a fé c o n t r a a s p r á t i c a s d a l e i m o -

Te n d o - s e d e d i c a d o d e s d e m u i t o n o v o a o

saica e os desvios à ortodoxia cató-

e s t u d o d a s l í n g u as l a t i n a , grega e h e ­

lica romana.

b r a i c a , p r o fe s s o u n o C o n v e n t o d e S ã 'o MjVC

Domi ngos de Lisboa, em 1 5 3 9 .

Mandado p o r D . João I I I para Paris es­ t u d a r Te o l o g i a , r e g r e s s o u a o r e i n o cerca de 1 54 0 , t e n d o sido encarreg a d o d a e d u c a ç ã o d o fu t u r o p r i o r d o Crato, D . Antó n i o , e n o m e a d o p regador r é g i o . Em

1 56 1

será

enviado

por

D . S e bastião ao Concílio d e Tr e n t o , c o m o t e ó l o g o r é g i o , o n d e s o b re s s a i r á n o s s e r m õ e s q u a r e s m a i s p re g a d o s a o s p a d re s c o n c i l i ares, e o n d e alguns d o s

VICENTE, Gil Ty to llo q u e p o s h u u m h o m em s o b re s u a s ep o ltu l'a C o m e ç a : "Pergll ll ta - lII e q ll e lll fu i ell . . .

"

M a n u s c r i t o , e m p a p e l , c o n s t i t u ído p o r d o i s fó l i os e m c o l e c t â n e a com capa d e p e rgam i n h o . C o t a : B P E , c ó d . C X I VI l 4 1 , fl s . 6 2 - 6 3 . Ref. : C i d , Gil Vicellte e a 511a Épo ca, Évora, 1 9 9 2 , p. 2 5 . -

s e u s p o ntos d e v i s t a s us c i tarão v i o l e n t as d i s c u s s õ e s . Te r m i n a d o o C o n c í l i o d i r i g i u ­ -se a Roma, onde o papa soli­ citava

a

sua

aj u d a

para

a

p re p a r a ç ã o d o Índice dos L i v ro s

Proi bidos, d o M i s s a l e d o C a tecismo romanos . Vo l t a a L i s b o a e m 1 5 6 6 , s e n d o dois

anos

mais

tarde eleito

dos

d o m i n i ca n o s

p rovincial portugueses.

A s Meditações que aqui s e expõem são um c u r i o s o l i v r i n h o , de p e ­ queníssimo tamanho, e p ortanto

s t e m a n u s c r i t o é a t r i b u í do a G i l

extremamente portátil, certa­

V i ce n t e , e m bo r a a acei tação d e s t e

m e n t e d e s t i n a d o a o u s o p e s s o al .

fa c t o n ã o s e j a u n â n i m e . N o e n t a n t o ,

Este exemplar é considerado

s e n d o a l e t r a do s e u tempo, a hipótese

p o s s i ve l m e n t e ú n i co p o r A n ­

permanece . t e m a e s t á g l o s a d o e m n o v e e s t r o fe s d e

selmo, que atribui a sua Im-

o

p r e s s ã o p r o v av e l m e n t e a A n d r é

s e t e v e r s o s , fo c a n d o a s p e c t o s l i g a d o s à

de B urgos.

morte. I C/J L

I C/J L

foi convidado a dar aulas aos pl'lmelrOS

(D., frei) Cathecis1llo ou Doutrina Christaií e Praticas spirituaes

MÁRTIRES, Bartolomeu dos

Braga: António de Mariz "empressor do Senhor Arc.ebispo e com licença de sua S.R.",

1564

Cota: BPE, ReL 329. ReF.: Alls. 840.

q ua t r o a lu nos j e s u ítas d e Teo I o gi a e a D. António, filho do infante D. Luís, que haviam transitado de

Coimbra.

esses alunos contavam-se Afonso Barreto e o futuro Aristóteles Português,

"

Catheci[mo OuO'outri na Chriflaã & Praticas fpirituaes.Orde..' .nado por Dom Frey Bartholameu dos Mart}'res Arcebifpo & fenhor, " de Braga Primas das . 4_:> ...., . Efoanhas &c. . '" .

{;J.:f�-- P�

bJt

(1562-

-1563), tendo sido o primeiro prelado da

. '

vu#F ' q�

Pedro

da Fonseca. Participou no Concílio de Trento

.

Entre

fV�'�iN � Ú.:,.�

Cristandade a executar os decretos tridentinos, no sínodo diocesano de Também celebrou, em

1564.

1566, o IV Con-

cílio Provincial Bracarense, para adaptar às necessidades da província os decretos conciliares. E, apesar das inúmeras opo­ sições, implantou energicamente na sua igreja a reforma. Na sua acção apostólica, considerava de capital importância as visitas pastorais,

.

'.. .

.

.

em que passava a maior parte do ano.

'

. ' Em Brag�: ' �or Antonio de Maris Emprelfor dó Scnhoi �rcebiCpo�E cõ Iicen�a de rua S. R. ' .'

Para realizar a reforma da Igreja, consa­ grou-se especialmente à formação do clero,

,�­

.

l· iq. . !�X�4�?f4fd� �!����i��!����/�

.�.

à i nstI' U ç ã o e mo ra I i z aç ã o dos fi é i s e à administração rigorosa dos bens eclesiásticos, de modo a reparti-los equitativamente.

\{@

De grande rigor na defesa da primazia arcebispo de Braga, D, Frei Bar-

bracarense, que discutiu no Concílio, dis-

tolomeu dos Mártires, nasceu em

tinguiu-se pela sua caridade, pela preo­

1514, e morreu em Viana do

cupação com o ensino da juventude e pelo

Lisboa, em

Castelo, em

1590. 1528 e

Faleceu com fama de santidade, o que lhe

dedicou-se ao ensino até ser eleito arce-

valeu a publicação do decreto sobre a he­

Entrou na ordem dominicana em

bispo, em

1558.

No final de 268

desejo de formação do clero.

1552, quando se encontrava

no Convento de São Domingos de Évora,

roicidade das suas virtudes em

1845.

A obra que agora se expõe foi escrita em

1564,

na

sequência

do

Concílio

de

Tr e n t o e d e s t i n a v a - s e a s e r u s a d a p e l o s a b a d e s , re i t o r e s , v i g á r i o s e c a p e l ã e s do arce b i spado d e B raga, n a s u a doutrinação

das

po pulações.

Curiosamen te, d iz-se na i n trod u ção , a s s i n a d a p e l o a rce b i s p o , o segu inte:

"[. . } o s Recto res .

A Z P I L C U E TA NAVA R R O , Martinho de Cap i t u lo v ey n te y o c h o d e las a ddi c i o n es de I Ma n u a l de Co nfesso res, d e I D o c to r Ma 1,tin de Azp ilc u e ta Na v a 1'1'o a ií a dido p o r e l m is m o a u t o 1', Co n su ta b la Évo r a : e n c a s a d e A n d r e s d e B u r g o s ,

q u e fo re m do u to s n a Sagrada

1 57 1

Es c r i t u ra, Th e o logia o u Ca -

C o t a : B P E , Século X V!, 5 2 9 5 . Ref. : A n s . 4 Q 3 ( e m b o ra n ã o refi ra o exe m p l a r d a B i b l i o te c a P ú b l i c a d e É v o r a ) .

n a n es, n a m s e ra m o b r igados le r p o llo li v ro ; mas p o derão com v i va v o z tra ta r e p ra ti ­ ca r o q u e se co n tém n o cap it u lo q u e resp o n de a cada h u m dos ditos dias, a li p rega r o u ­ tras cousas q u e lh es pa rece rem n ecessárias. flias o s o u tros q u e n ã o o u ve r e m estu dado a s s o -

mpzcrro (tt

b reditas sciencias, sera m o b ri -

eo cara de Andrcs de Burgos.

g a d o s a l e r p o llo li v r o da

Coo licencia dos [efiorei Inquífldores.

m a n e ir a q u e a c i m a decra ra m os . " E r a , p o r t a n t o , u m t r a b a l h o d e s t i n a d o s o b re t u d o a o s m e n o s h a b i l i ta d o s , c e rtamente para s u p ra as suas d e fi c i ê n c i a s d o u t r i n a i s . N o t e - s e q u e o ex e m p l a r e x ­ p o s t o , da p r i m e i ra e d i ç ã o ,

"

' �'''i''

"\. , .

considerada m u i to rara, pertenceu, como se i ndica em n o t a m a n U S C r i ta a p o s ta no seu r o s t o , ao Colégio da O r ­

célebre canonista M artinho de

d e m de S ã o Paulo P r i m e i ro

Azpi lcueta, conhecido p o r Nav a r r o , n a s c e u e m B a r a s o a i n , e m Nav a r r a ,

Ere m i t a . I CIJ L

e m 1 4 9 2 , e m o r r e u e m Ro m a , e m 1 5 8 6 .

270

P r i m o de S ã o F r a n c i s c o X av i e r, e s t u d o u

m e n t o s , o s S e t e S ac r a m e n t o s , o s p e ca d o s

e m A l c a l á e To u l o u s e e e n s i n o u e m C a ­

m o r t a i s e as o b ras d e m is e r i có r d i a .

h o r s , To u l o u s e , S a l a m a n c a e O v i e d o .

D e p o i s , t r a t a d a s p e s s o as , fa ze n d o

A p e d i d o de D . J o ã o I I I , v e i o p ara a U n i ­

u m a r a d i o g r a fi a d a d i m e n s ã o

versidade de Coimbra, de 1 5 3 8 a 1 5 5 5 ,

m o ra l d a actuação d o s vários

c o m fa m a d e g r a n d e m e s t r e .

estratos s o c i a i s . Coloca-se

M a i s t a r d e v i aj a r á p a r a Ro m a , o n d e g o ­

n u m a p e rs p e c t i v a m a i s u r -

z a r á do m a i o r p r e s t í g i o j u n t o d o s p a p as

bana do que rural e dá es-

P i o V, G r e g ó r i o X I I I e S i s t o V, e o n d e

pecial

p e r m a n e c e r á a t é à m o r t e , t e n d o fi c a d o

fo r e n s e e c l e r i c a l : o s s e -

e n terrado n a I greja de S a n to A n t ó n i o d o s

n h o re s , o s j u í z e s , o s a d v o -

Po r t u g u e s e s .

gados,

Nos seus estudos sobressai como j u rista,

réus, a s testemunhas, os ta-

s e n d o n o tável a d i v u l gação a ti ng i d a p e l a

beliães, os d o utores, os mé-

s u a o b r a Man u a l de Co nfess o res.

d i c o s , o s t u to re s , o s c l é r i g o s

C o m o r e fe r e o a u t o r, no p r ó l o g o , a o b r a

de ordens sacras, os bene-

d e s t i n a v a - s e t a n t o a o s c o n fe s s o r e s , a

fi c i a d o s e o s p r e g a d o r e s .

q u e m p r e t e n d i a aj u d a r a d i s c e r n i r a n a ­

Na úl t i m a p arte considera

t u reza e gravidade dos p e c a d o s , como

o s p e c a d o s e a s r e s p e c t iv a s

aos penitentes, aos quais incutia a cons­

p e n as c a n ó n i c a s e m q u e i n -

c i ê n c i a d a fe a l d a d e d o p e c a d o e d a b e ­

c o r r e m o s i n fr a c t o r e s : a e x -

l eza d a v i r t u d e .

comunhão, a s uspensão, o

Depois de uma análise teo lógico-moral

i n terdi t o , a i r re g u l a r i d ad e ,

das p artes da penitência, isto é , da con­

os pecados reservados ao

t r i ç ã o , c o n fi s s ã o e s a t i s fa ç ã o , r e fe r e a s

p a p a e a o b i s p o . Te r m i n a

q u a l i d a d e s d o c o n fe s s o r, s u b l i n h a n d o a

c o m u m a r e fl e x ã o s o b r e o

p r u d ê n c i a d e q u e s e d eve m u n i r p ar a

v a l o r das b o a s o b ra s da-

questionar e instruir o penitente.

queles que se encontram

O corpo da obra é uma análise em pro­

em pecado grave.

fu n d i d a d e d o o b j e c t o d a c o n fi s s ã o . P a s s a

O exe m p l a r que agora se

e m revis ta o c o m p o rt a m e nto dos p e n i ­

expõe pertenceu ao Con­

t e n tes em relação à r e l i gi ã o e à m o ra l , e

vento do Bosque, como se

es tabelece o s p arâmetros j urídicos em q u e

·l ê e m n o t a m a n u s c r i t a n o

e s s a a c t u ação s e d e s e n r o l a . A s s i m , s uc e ­

seu rosto.

d em - s e o s e s t u d o s s o b re o s D e z M a n d a -

relevo

às

e s fe r a s

os a c u s a d o r e s , o s

I C! J L

1 5 3 5 , teve graves p r o b l e m as de s a ú d e e u m a p r o fu n d a c r i s e e s p i r i t u a l , q u e t e r ­ J E S U S , Te r e s a d e T1' a tado q u e e s c 1' Í v i o la m a d1'e Te resa de Jes u s . A la s h e 1' 11l a n a s R e ligiosas de la o rde n de ll u es tra S e n 0 1'a dei Ca r m e n dei Mo n a s te ri o dei S e n o 1' sa n c t Jo s ep h D e A v ila [. . . ] Évo r a : " e n c a s a d e l a V i u d a M u g e r q u e fu e d e A n d r e s d e B u r go s , q u e s a n c ta g l o r i a aya" , 1 5 8 3 C o t a : B P E , Res. 2 6 4 .

R e f. : A n s . 4 2 3 .

minou com uma conversão religiosa e o início de uma experiência mística ( 1 5 5 4 - 1 5 8 2 ) , d e q u e res u l t o u a re­ fo r m a d o C a r m e l o . D e s d e a i n s t i t u i ç ã o d a s C a r m e l i t as Descalças, o seu itinerário religioso s e g u i u d u as v i a s : u m a , i n t e r i o r, aco m p an h a d a d e e x p e r i ê n c i a s m í s ­

:'QYi�ETt A. T A M,À'.I n:itiJti ' 'E S;� R I V l o

tA ' . ..:.FáEfa de 1 ES V S• . .'\ las htymariàs

. .. ,R�íigioras clda·(wden. denuefrra

'

t i cas e d e a c t i v i d ad e d e e s c r i t o r a , ,

.

'. Sznor.a dei Car,men dH Mone. . Cte.rio d�l Sefi9r (àn(t� - , .i Iõrepf�D�' A �ila de.do nde.ãla · ' , ;.'::��-:';}"\\:\ , ' fazon era < •

l'dóra

t��adO),i {;:.{, �" • .

"

.:

. � .;', . ��� ) ,

"'ArtllOI 'iii'III!III1! (p/ei,a : IIIlIfIOIIlJl!!(.,piltlhll'! (mlCl\liiG biffillilt (1Ir.!:qllíOIIGAllifl1I16 �"'"AllII' (0IllplllG:a860tllflAl"� 'iiifcpoffífa",S....

"'::�[:�� 6íioUai �� ����:�r�(;�,'��r:t'���r'!:::����B��,�����a11'�(�� D(rolrnula"os cfploUbtl co

«

c:retlllulual1uI11Ib,t,n,lZ.lbtrll.ucll1iIslrlil.SlllCCC ::�,'::�?n�� (ld(land� . ����II��I(�I'o�i�:�'��II�a?����i��\II�;. ����re{letc :�f�������llfTUCluorcl)OrtcUlmme poml. vnur�rQ) (uanl vuam a o go�,����:�'r:6�,?t::lJ��:Qfj(no�r�,�r���::�}::�t��:!i�,;Ji�� lHô lClJlolltlltOlcflloBllloluao.OfClfrii cãdrlCll9VtllrrablllorcnfCB nlll úPfids VII( modb90r.ol1ffimltJ 5cdcl1ftnBUO i .,'U nOrlcllllilla *lullb9 rupmfo(Joularc profftm':'I rildl poRllãe vllõ róoc vlrlilfa:'l QCo� mulla '91111 rnnpfrcmi;)frl\ mercilmur.cr lÜul1'ruol,Cnilr(j 'Ie. lHltllbcrfIllUulofllbCT6tnccCl)(:folmulabot1(nc'Of1c:I)(:(lIt?(ublrlJ crovulI'Il'C'ICilUrllõ Vjrú dl.eull crgo:c:p IrflqulllruOI X'rurrueordlna Ico:Q (mlicl06 pboJ (llpItl6o((afprr fCil:q1liJllVlrlUIÚ .trlu'''a l)OmOo t1dOlOll9 00 l7o"rnoli.'fllc 'l bUOIl1nr,fcUmlU' GlolltÍ poml' RUcnfre ([j}onu� Alllt plilllO 'fl pm8mfia. ,li>

'1» ", .., .

\

D I R I G I D O , L O V N O, Y L O O T R O, • Hornando de Voga Cotes y

p rogram a s .

-

Fonfe," , PrcúJell_ Conf,j� de las InJias.

357

358

d e Ro m a n o a n o 8 d a e r a c r i s t ã , a p r e ­

mengo F r a n c i s c o d e C a m p o s e x e c u t av a

t e x t o d a i m o ra l i d ade d o s s e u s versos em

o s fr e s c o s d o s t e c t o s d o P a ç o d e S ã o M i ­

A rs A m a to ri a .

g u e l , c u j a t e m á t i c a , d e n a t u reza m i to l ó ­

A p o e s i a o v i d i a n a d e s t e p e r í o d o r e fl e c t e

g i c a e p r o fa n a , s e I n s p i r a v a n a o b r a

a v i d a s o c i a l da aris tocracia e da alta b u r­

o v i d i a n a [ c f. t e x t o d e J o a q u i m O l i v e i r a

guesia coevas, ricas e desocupadas, em

C a e t a n o n e s te c a t á l o go ) .

ambiente de luxo e despreocupação.

A i n fl u ê n c i a d e O v í d i o n a l i t e r a t u r a p o r ­

A s o b r a s A m o res, A rs A m a to ria e Rem edia

t u g u e s a , t a n to e m p ro s a c o m o e m vers o ,

A m o ris, fo c a m s o b r e t u d o t e m a s a m o r o ­

fo i p r o fu n d a a o l o n g o d e t o d a a I d a d e

s o s . A s Meta m o /fo s es, q u e a g o r a s e a p r e ­

M é d i a . As v i n t e e u m a cartas amorosas

s entam

são

d a He r ó i des d e i x a r a m e c o s p r o fu n d o s e m

c o n s i d eradas a s u a o b ra - p r i m a e c o m ­

o b r a s c o m o a G e n e ra l Es t o r i a , d o s é ­

p endiam poeticamente a tradição m i to­

c u l o X I I I , q u e c e d o fo i t r a d u z i d a d o c a s ­

l ógica greco-Iatina, desde o Caos até à

t e l h a n o para p o r t ug u ê s e v e i c u l o u q u a s e

apoteose de J úl i o César.

l i teral m e n te t e x t o s d a o b ra o v i d i a n a . E n ­

E m o s Tristia, as Ep isto la e ex Po n to e Ib is,

t r e e l e s , n a c a r t a d e Pe n é l o p e a U l i s s e s ,

e s c r i t o s m a i s t a r d e , p o d e m o s o b s e rv a r u m

a p a re c e a l e n d a d a fu n d a ç ã o d a c i d a d e d e

h o m e m m a i s d e s e n g a n a d o , m a i s res i g n a d o

L i s b o a ( U l i x b o n a)

com a sua sorte, mais velho.

g r e g o d a G u e r r a d e Tr ó i a . A G e n eral Es ­

A i n fl u ê n c i a d e O v í d i o n a s l i t e r a t u r a s

t o ria r e c o l h e u t a m b é m m u i t a s p e r s o n a ­

o c i d e n t a i s fo i m u i t o fo r t e . E m Po r t u g a l

g e n s d a s Me ta m o /fo s es .

fo i c o n h e c i d o d e s d e a I d a d e M é d i a e

A i n fl u ê n c i a " a m o r o s a" o v i d i a n a e s t á l a r ­

gozou de grande estima p o r parte dos nos­

g a m e n t e pres e n t e e m v á r i o s p o etas d o

s os l i teratos, s obretudo a partir do sé­

Ca n ci o n e iro Geral. J o ã o R o i z d e S á e J o ã o

c ulo XVI .

Ro i z d e L u c e n a v o l t a r a m a g l o s a r a c a r t a

E m É v o r a , a s M e t a m o lfo s e s d e O v í d i o

d e P e n é l o p e c o m g r a n d e fi d e l i d a d e a o

e r a m b e m c o n h e c i d a s n o s b a n co s d a U n i ­

texto original, b e m c o m o as cartas d e

v e r s i d a d e . E I a s fi g u r a n1 e n t r e a s o b r a s

E n o n e a P á ris e d e D id o a E n e i a s .

q u e o p adre C i p riano Soares p r o p ô s a

O u tro mediador entre Ovídio e a l i tera­

t o d a a Companhia de Jesus p ara serem

t u r a p o r t u g u e s a fo i a Co nfessio A m a n ti s

estudadas no curso de Humanidades, em

d e J o h n G ow e r, t r a d u z i d a p a r a p o r t u g u ê s

1 5 6 6 . Em 1 5 7 4 , os p relos de André de

n o t e m p o de D . João I e c i t ada p o r

B urgos e d i t a v a m a t ra d u ç ão cas t e l h a n a ,

D . D u a r t e n o L e a l Co nselheiro [ d. M a r ­

q ue e r a u m a r e i m p re s s ã o d a e d i ç ã o d e

t i n s , 1 9 8 3 , v o I . I I I , p p . 8 5 e segs . ) .

em

t r a d u ção

espanhola,

S e v i l h a d e 1 5 5 0 . E m 1 5 7 8 , o p i n t o r fl a -

p e l o c é l e b re heró i

I C!J L

OVÍD I O NAS Ã O , P ú b l i o Ep isto la e O v id.ii c u m c o m e n to L u g d u n i : J o a n n e s D av i d a l 's l a m ouche, 1 52 8

J

J-f:

C o t a : B P E . Sécu lo X VI. 9 1 7 . R e f. : L ivros i mp . 110 séc u lo XVI existelltes IIfl B. P A . D. E. 1[[ Tip ogrnfia Frall cesn. n . O 9 9 7 .

VAS C O N C ELO S , D i o g o M e n d e s d e L i b ,'i Q u a tu o r d e A n tiquita tibus Lusita n ia e a L u cio A n drea Res e n dio o lim i n ch o a ti e t a [a c o b o Men o e tio Vas c o ncello recogniti a tque a b s o lu ti [. . . ] Évo r a : Ex c u d e b a t M a r t i n u s B u r g e n s i s a c a d e m i a Typ o gr a p h u s , 1 5 9 3

m n d o , b i o g " fi , , , b i b l i o g " fi ,

C o t a : B P E , Res. 2 3 6 ( a B i b l i o t e c a P ú b l i c a d e É v o r a p o s s u i o u t r o exe m p l a r, o R e s . 2 3 7 , t r u n c a d o ) . R e f. : A n s . 4 3 1 .

de Ovídio já lança das n a en trada

c o n s a g r a d a à s L a s Tra nfo r m a cio n es, a p e n a s

l O g O M e n d e s d e Va s c o n c e l o s n a s ­

c o n v é m l e m b r a r q u e a s Ca rtas r e fl e c t e m

ceu em Alter do Chão, em 1 52 3 ,

j á n ã o a s u a fa c e t a e r ó t i c a e a p a i x o n a d a

t e n d o fa l e c i d o e m É v o r a , e m 1 5 9 9 .

d o s p r i m e i ro s t e m p o s , m a s u m a u t o r b a ­

F o i cón ego n a C a t e d r a l d e Évo r a , d o u t o r

n i d o , d e s ej o s o d e v o l t a r

em ambos os direitos e grande cultor da

a

Ro m a , i n t e r e s ­

s a d o n a l í n g u a d o s n a t u r a i s d e To m i s p a r a

língua latina.

n e l a escrever u m p o e m a s o b r e a apoteose

N e s t e l i v r o p u b li c o u u m e s t u d o d e A n ­

d e Aug u s t o . U m homem, p o r t a n t o , m a i s

dré d e Rese n de, tendo a sua execução s i d o

velho, mais resignado com a sua sorte. O s p ro g r a m as d o c u rs o de H u m a n i d a d e s d a U n i v e r s i d a d e d e Évo r a i n c l u í a m t a m b é m e xp l i c i t a m e n te o e s t u d o d as o b r a s ovidianas

De

Tr i s t i b u s ,

De

Fa s tis

D

ANTIQVITATIBVS L V S I T A N I .&

L IB R I QfAr rVOR

e

D e Po n to . A p r i m e i r a j á t i n h a s i d o o b j e c t o

do e n s i n o na co r te pelo h um a n i s t a C a t a l do S íc u l o . O e x e m p l a r d a s Ca r tas q u e s e e x i b e p e r ­ t e n c e u à L i v r a r i a d a C o n g re g a ç ã o d o O r a ­ t ó rio de Estremoz, tendo ainda outra i n d i c a ç ã o d e p o s s e : M a rc o s P e r e i r a , c o m o s e co n s t a t a p e l a s n o t a s l a n ç a d a s n o r o s t o . N o ú l t i m o fó l i o h á a i n d a o s n o m e s d e António Mendonça, António Mendes e a r e fe r ê n c i a " d o r e i t o r " , t a l v e z t a m b é m a n t igos possuidores d a o b r a . IC!JL

E

A L.Andrça Hdcpuio inchoati,a lacobo Mcn­ uc�. de Va(concellos abJol t i ; & eodem confcriptus ,

n

Cllm ,rlijr OPll[CII/is , 'lJcljibllr, f! [u/llla ol'�tiol/c ab coelcm /.,cobo Mellelez ele Vajcollrdlur,!IJ,c!Jade c" bcelio, ó- .A/IIol/io. c((bCl/io cI�bol'l,ti1 , . '

� x tll11Uil col �c.gi{, cnKuJauit;.J.c Typis lil(luna jl1dij­ ,

flri.l COIHllllllt Doéll ope rCI'I IIOlclltll llll C.J;In: hCIII�.Pt CIII1,� l�ec",í( qui'i)i:; ClInI finltJnl p: r/bu? l1o!h Qblfl�t� Ulnlt rc rco b.1lmcrit:nõ raí IIclJlilJ� 110 pigcrqJopc eclln"o(�uU1��ogooc3'O:llllocJôJrroo (III nsp,illlciras qIl9frO�cgd!J9 O;t fil� 'lUis, oos (cftoa que: 09 1�)lIIgLll!'r('9 fiStrll tll noDeli " (oIJ�jl1l'IO'T(OII#!,,J I-')H '

�C:°!'%����1��I�����I���lr��: IIMlIAjndu11rialjulll.1na ,eQ J"ii'lJat't UI cm fi mcfma tmll)úil\1irrudc.g(l f _� ��� �I:C:::: �I�AK1�:�I�� i�gt���r��!�:rr��a���::�(�� I npccliJ. eR9 oocn�e(OUri!oq,,)j1J(!U" OOlJO t>JnA lÚd.asnu rua p�ria um \'iUJ9'lCClfiftr fll((P,lIIita (cjrOG'l OUO:09 bumanos ,(fi.,)\) P01.ptil,dolio.a Grou dce f,no" que rc f'l'-" '" 110 ula ooballtlfillo. a::,pitolo;lj•.

1109 0Illeo(." oot)lroll1cst>� '&Q}'O/ClII bíi oOllllngo for o p:II1(lpeb3uti� �===u l,do na Se/oe l!.lfboa COIII gr,"�, r0110 Idade .

:n

n o r i z a d a e e m p e n h a d a m e n t e , o fa u s t o s o

Co nheceu m u i tos dos erudi tos do seu

c a s a m e n t o d o s i n fa n t e s D , A fo n s o , fi l h o

t e m p o , e n tre os quais se con tava o céle-

h e r d e i r o d e D , J o ã o I I e D , I s a b e l , fi l h a

b re cardeal P e d r o B e m b o ( 1 4 7 0 - 1 5 4 7) , a

d o s Re i s C a t ó l i c o s , O b r i l h o q u e e m -

quem dedicou este livro,

p re s t o u à n ar r a ç ã o e o s p o r m e n o re s d e

C o m o r e fe r e o t í t u l o , e s t e l i v r o é u m c o -

q u e a d o t o u c o n s t i t u e m p á g i n as l i terárias

m e n t á r i o a o s fe i t o s d o s P o r t u g u e s e s n a

d e fi n a e I e v a ç ã o e d e a c e n d r a d o a m o r à

Í n d i a , e m 1 5 3 8 , N o t e - s e q u e fo i p u b l i -

sua terra,

c a d o em Lova i n a , p o r u m I m p re s s o r e s -

F i cou s e p u l t a d o , e m I ugar reco l h i d o , n a

t r a n g e i r o , O fa c t o d e t e r s i d o r e d i g i d a

pequena capela da cerca do Conven to do

e m l a t i m d e n o t a q u e a o b r a s e d e s t i n av a

E s p i n h e i r o , tão c é l e b re no seu s é c u l o ,

n ã o a p e n a s a u m a c i rc u l a ç ã o n a c i o n a l m a s

q u e r p e l o s hóspedes reais que nele esta-

também, e talvez sobretudo, a uma di-

gi a r a m q u e r p e l as m arcas a r t ís ticas q u e o

v u l gação a n ível e u r o p e u ,

e m belezara m , p r i n c i p a l m e n t e as p i n t u ras

N o r o s t o d e s t a e s p é c i e i n d i c a - s e " Co i m ­

de Frei Carlos e sua escola,

b ra ", o q u e d e m o n s t r a t e r p e r t e n c i d o p ro ­

A espécie q u e s e apres e n t a é u m exe m p l a r

vave l m e n t e ao c o l é g i o d o s J e s u í t a s dessa

m uito raro da primeira edição, desconhe-

cidade, que normalmente i n d icavam as

cida de Barbosa Machado e de B runet, a

suas o bras deste m o d o ,

q u e fa l t a o r o s t o , m a s i n c l u i t o d a s a s o u ­

I Cfj L

t r a s p a rtes e n u m eradas p o r I n ocênci o , 397

I Cfj L

êê)

DAMIANVS

A GOES EQ.VES 'LVSITANVS Petro Bembo facrofané1a: Eccldia: Romana: Cardinall S. P. D.

G Ó I S , D amião d e C0 11l 11l e n ta l'ii Re1'1t 11l Gestll l'U 11l i n ln dia cit1'a Gangem a L u s i ta ll is a n n o 1 53 8 r . . . } Lov a i n a : Ex o ffi c i n a lR u t g e r i R e s c i i , 1 539 C o t a:

R e f. : H o e fe r, v o l .

B P E , Res, 4 0 9 , pp, 1 3- 1 4,

XXI,

amião de Góis, tendo vivido nas cortes d e D , M an u e l e d e D , João I I I , viaJou ao serVIço d a Co roa p o r t uguesa p o r diversos p aíses europeus,

Q

VID tibi pro amdua tuaín me dignifl'í_ Cardi nalis huma'llltafe'ih !liferis tlIis pl'oxime ad me ri1iffis;oltenfa;referaht,liüius 'tem poris noneft·) ' dabitu'ralíquaiiclo'itixta 'nolham tenuitateri1 . , Nunc vero 'mitto i d,quod grátum feio libi fore, hiRoriá!tp hobiliffima: Rdpu b. Ve , me

nela: , quari1 ClJIiúnaxiilla'fua adfututa 'gloria;in manibus, hab�s', forrai! etiam coaptabile . Q.yan tum deltél:eris gdHs no�roruml;ill1tanorum non me filgit:;p'i'a:fertim illis· ;qua q;ro bono racro � fanêtá!'flc!ej"ilollr� gerunlür. td fane quod filds, tanquaih' bOliilS fldufql patrícius Venetus fads, non ighêii'ans aritiqua:hoHraliuri1 cum'Veltris fce dera;ainiéitias;et behefldahihê índe v'idffim coI lata. Veih'aril �;tch'i Ch'ri!l:iaili hoinines" in'(uff Ceh tentiam'ii'eiit" & C'x anÍtilo il'làgis 'rebus 'noflds , q; faciuIlt·,'failerent , ae opíflllai'fIl tu i' • a'tq; vti" Ilam nOI1 opítulatititur·, 'modo l1e offida Jlc , !Cd qllod RCX;i1olti'icp:cupiút , odoros re'!ped1itorcs­ pr�bcal1t, Ílltcriíi1 dum l10ltri (um Miiitris Tur�

A

ii

cir�

Triunfo e

C rise

do

Classicismo

ADORAÇÃO DOS PASTORES Gregório Lopes 1544

Pilltllr�l sobre madeira 1 83xll8cm Pro\'ellicnre do Convenro de Vnlverde (Évora) Évora, Museu de l:vora lnv,

11, °

1521

Humanista

A existência, ao que parece frequente, desta espécie de móveis revela a impor­

ESCRITÓRIO DE ESTRADO Porrllg,1 Século XVI G3,5x80X31 cm Lisboa, Colecção Francisco Hipólito R,poso

tância que tinha a prática do xadrez no Portllgal de Quinhentos. A origem deste jogo remonta, segundo al­ guns historiadores, ao século VI, e terá

I]E,

ste escritório de "estrado, obra por-

surgido na índia sob a designação de

tuguesa do século XVI, pertence a

turrrnga, que signi fica chatu (q uarro) e

um tipo de móveis de que se encontra um

rangrr (part es), e que corresponde à d ivi­

exemplar no Museu Nacional de Arte An­

são quadripart i da dos exércitos indianos:

tiga (inv. n.O

297), provenIente do Con­

os elefantes, a cavalaria, os navios de

vento de São Bento de Viana do Castelo.

guerra e a infantaria. Assim, neste remoto

Ambas as peças têm no tampo um tabu­

antepassado do actual jogo, as peças, em

leiro para a prática do xadrez, sendo que

menor número do que as actuais, distri­

a do Museu

Nacional de Art e Antiga é

buíam-se pelos quatro cantos do tabu­

revestida com uma decoração incisa pre­

leiro e correspondiam a quatro exércitos

enchida com massa escurecida, enquanto

(amarelo,

que a da Colecção Hipólito Raposo tem,

O jogo era disputado por quatro jogado­

para além do mesmo processo decorativo,

res emparceirados dois a dois.

uma part e de embutidos.

Da Índia, o xadrez passou para

O escritório cie estrado em estudo ostenta

no reinado de Chosroes I

uma curiosa inscrição que, adiante, ana-

se designou por

lisaremos:

pouco a pouco, sofrendo alterações e aca­

POVQVO VALE A DILIGENCIA

ONDE DESFALESE A VENTVRA.

vermelho,

verde

e

Chrr­

negro).

a

Pérsia

(531-579) onde

Shatrang. O jogo foi,

bou por tomar uma forma semelhante à

399

400

a c t u a I . É j á so b e s t e a s p e c to q u e os Á r a b es

b l' o e da Imp a ra re G i o c h a re a S c a c h i e t

o d i v u l g a m p o r t o d o o N o r t e d e Á fr i c a

dele Pa l' t i te d e d i c a d o a o go nfa lo n ie re elel

e , a S S i m , c h e g o u à Pe n í n s u l a I b é r i c a . S e ­

p op o lo ( p o r t a e s t a n d a r t e d a c i d a d e d e

gundo o historiador espanhol Ricardo

Roma) G i a n G i o rgio Cesarini. O autor

C a l v o o x a d r e z fo i i n t r o d u z i d o n a P e ­

d e s t a o b r a fo i o e n i g m á t i c o D a m i a n o Po r­

n í n s u l a , v i a C ó rd o v a , p e l o c o m p o s i t o r

togese (assim assina erradamente a sua

m us ical e c a n t o r Ziryab (Abul H a s s a m

o bra) . Alguns dizem-no, sem qualquer

A l i N a fi ) n o a n o d e 8 2 2 . A p a r t i r d a q u i ,

fu n d a m e n t o c o n h e c i d o , b o t i c á r i o e n a ­

o j o g o fo i d i s s e m i n a d o p e l a E u r o p a d o

t u r a l d e O d e m i r a . A s u a o b r a é , t o d av i a ,

S ul . A s u a i n t r o d u ção n o N o r t e e C e n ­

m u i to i m p o r t a n te no c o n t e x t o d a h i s tó­

t r o d e s t e c o n t i n e n t e fi c o u a d e v e r - s e à s

ria do x a d rez m o d e r n o .

rotas comerciais d a Ás i a C e n tral, M e n o r

O u tro x adrezista e tratadista p o r ruguês

e d o s B a l c ã s . O s p o v o s e s c a n d i n av o s , n a s

fo i u m t a l S a n t a M a r i a , c u j o n o m e p r ó ­

s u as v á r i a s i n c u r s õ e s p e l a R ú s s i a , t r o u ­

p l' l O s e d e s c o n h e c e , m a s q u e d e v e r á t e r

xera m - n o p a r a a I s l â nd ia e p a r a o s p a í ­

s i d o u m fr a d e . O s e u t r a t a d o d e s a p a r e ­

ses anglo-saxónico s .

c e u , m a s a no t í c i a da s u a exi s tência deve­

Em Portugal a n o tícia mais recuada q u e

-se a c i t a ç õ es que d e l e faz G i u l i o Cesare

p o s s u í m o s r e fe r e - s e à p r á t i c a d o x a d r e z

P o l e r i o ( 1 5 4 8 - 1 6 1 2 ) n o l i v r o Tra ttato ele

pelo político e poeta I b n Ammar (Abu

Scacch i ( 1 5 9 4 ) .

B ak e r u s M o h a m e d b i n A m m a r D u lvarzar

M a s a p o p u l a r i d a d e d o x ad r e z n e s t a é p o c a

Tin) nascido em 1 0 3 1 em São Brás de AI­

fo i i m e n s a e m P o r t u g a l . G i l V i c e n t e r e ­

p o r r e l ou e m E s to m b ar. I b n Ammar c h e ­

fe r i u - s e - I h e n o A u t o da s Fa das ( 1 5 1 1 ) .

gou a ser vizir do rei abábida de Sevi lha,

E m 1 5 3 2 p u b l i c a - s e a R op i c a P n efm a

t am b é m cél e b re p o e t a , A I M u t a m i d .

o n d e J o ã o d e B a r r o s vo l t a a r e fe r i r e s t e

N o s é c u l o x v c o m e ç a a s u rg i r n a E u r o p a

Jogo. Em 1 5 5 3 , de novo João de B arros ,

u m a tratadística especializada nomeadamente

n a D écaela II Da Ás ia, a l a r g a - s e e m c o n ­

e m E s p a n h a o n d e s e d e s t ac a r a m a s o b r a s d e

s i d e r aç õ e s

F r a n c e s c h V i ce n t , L i b er de! Jo chs Pa rtits deIs

mesmo a explanar uma versão s o b re a s u a

Schachs en No m b re de 1 0 0, o rden a t é c o m ­

o r i ge m . D e z a n o s m a is t a r d e , e m 1 5 6 3 ,

p os t p e r m i ( 1 4 9 5 ) , e d e L u c e n a q u e e m

G a r c i a d e O r t a , n o s Co lo q u i o s dos Sim ­

1 4 9 7 es creve u

p les, o D r oga s h e C O ll s a s Medi ç i n a es da

a

Rep etición de A m o res e A rte

sobre

o

x a d re z ,

chegando

de A xedrez c o n CL luegos ele Partido.

Inclia, r e fe re - s e a o s n o m e s d a s p e ç a s n o

E m Po r t u g a l , o s é c u l o XVI é , s e m d ú v i d a ,

O r i e n t e . A t é m e s m o fr e i B e r n a r d o d e

o m o m e n t o a l t o d o x a d re z . E m 1 5 1 2 p u ­

B r i t o e s c revia e m 1 5 8 7 u m p o e m a n o

b l i c a - s e , e m R o m a , o t r a t a d o Q u es t o L i -

qual alude ao xadrez n o c o n texto amo-

r o s a d a Sílvia ele L iza rclo . O p r o b l e m a d a i m po r t â n c i a d es t e j o go n o s i s t e m a e d u ­ c a c i o n a l d o s p r í n c i p e s fo i s a l i e n t a d o r e ­ c e n te m e n te p o r A n a I s a b e l B u e s c u . N o en tanto, n este escri t ó rio de estrado , o n de poderá ter j ogado algum dos nos­ s o s m e l h o res xadrezistas d a época, e n ­ con tra-se i nscrita a lege nda que aCima r e fe r i m o s . Tr a t a - s e d e u m a d á g i o p o p u ­ l a r p o rtuguês que, curiosamente, parece

T I N T E I RO Coimbra Fi nais do século XVII F a i a n ç a p i lH a d a e m b i c r o m i a 8 X 1 5 cm L i s b o a , C o l e cção A n tó n i o M i ra n d a

1m

lli

c-_

n t re a s rel ativam e n t e e s c a s s a s p e ç a s u t i l i t á r i a s d e fa i a n ç a a n t i g a s q u e

c h e g a r a m a o s n o s s o s d i a s , d e v i d o ao d e s -

r e fe r i r - s e à i m p o r t â n c i a d a b o a s o r t e ( a

gaste provocado pelo uso, encon tram-se

ventura) , sem a qual a a p l icação ( a d i l i ­

vários t i n t e i ro s , os q u a is e r a m I m p res-

g ê n c i a ) p o u c o v a l e . Ve r i fi c a - s e q u e e s t e

cin d íveis em qualquer escritório o u b a n ca

ad á g i o c o n t r a r i a , r a d i ca l m e n t e , a e s s ê n ­

d e e s c r i t o r . N e s t e s , a fo r m a e a d e c o r a -

c i a d o x a d r e z . N e s t e o fa c t o r s o r t e n ã o

ç ã o a p a r e c e m e m g e r a l a s s o c i a d a s à fu n ­

e x i s t e , o q u e o d i fe r e n c i a d o s o u t r o s j o ­

ção d a s p e ç a s , c o m o n o e x e m p l a r e x p o s t o ,

gos. Bem pelo con trário é o estudo, ou

c o m b a s e exagonal asse n te s o b re três p é s ,

s e j a , a d i l i g ê n c i a , q u e é fu n d a m e n t a l n a

a l t u r a r e d u z i d a e o t a m p o c e n t r a d o p el a

fo r m a ç ã o d o x a d r e z i s t a . É , p o r é m , c o ­

concavidade da tinta, envolvida por seis

n h ecido que no século

parecia ainda

o r i fí c i o s d e s t i n a d o s à a r r u m a ç ã o d a s p e ­

h aver a l g u n s q u e i n c l u í a m o xadrez e n ­

n a s d e p a t o u s a d a s c o m o c a n e t a s . As fa ­

t r e o s j o g o s d e a z a r . A s s i m , o p a d r e fr e i

ces, delimi tadas pelas saliências d a base

S e b a s t i ã o To s c a n o , n o s e r m ã o q u e p r o fe -

e d o t a m p o e p o r rem a t e s n o s â n g u l o s ,

XVI

r i u em 1 9 de Maio de 1 5 66 , na Igreja de S anta Maria da Graça, em Lisboa, por o c asião d a t r a s l a d ação d o s r e s t o s m o r r a i s d o v i c e - r e i A fo n s o d e A l b u q u e r q u e , c o m ­ p a ro u o x a d r e z a o s j ogos d e c a r r as e d a ­ dos. É, de algum modo , o sentido do a d ágio i n s c r i t o n e s t e p re ci o s o e s c r i t ó r i o de estrado. DLM

B i b l i o grafia

B ue s c u , 1 9 9 6 ; C a l e o , 1 9 9 7 ; M a r k l , 1 9 9 4 - 1 9 9 5 e 1 99 8 .

401

m o s t r a m o r n at o s relevados q ue c o m p re­ endem uma cartela de desenho maneirista, e m c a d a , centrada p o r u m d i s co com um rodízio. A pin tura dos relevos, a a z u l - c o b a l t o , é s u m ;Í r i a , c o m a l g u n s c o n t o r n o s avivados a n e gro de manganés . E s t a p e ç a d e fa i a n ç a fo i r e a l i z a d a e m C o i m b r a , c uj a p r o d u ç ã o c e r â m i c a , e m r e l ação à de Lisboa, m a n teve-se b a s ta n te r u d i m e n t a r ao l o n go d o s é c u l o

XVI I

CAM Õ E S , L u í s Vaz d e R i m a s d e L u ís d e Ca m ões, a ccl'es c e n tadas n esta s egu n da imp l'essão, dirigidas a D. G o n ça lo Co u t i n h o L i s b o a : P e d r o C r a e s b e e ck, a c u s t a de Es têvão Lopes m ercado r d e Livro s , 1598 C o t a : B P E , Século X VI, 5 3 4 7 . R e f. : A n s . 5 1 6 ( e m b o r a n ã o r e fi r a e x e m p l a r e s n a B i b l i o te c a P ú b l i c a d e Év o r a ) .

e só

no seguinte alcançou u m a posição m ais d e s t a c a d a , t a n t o n a fa i a n ç a c o m o n o s a z u l ej o s , a t r a v é s d o d e s e n v o l v i m e n t o d e fo r m a s e d e o r n a t o s e s p e c í fi c o s , n o p e r í o d o b a r r o c o , a c e n t u a d o s p o r e x c e p c i o n a l fa n ­

R I M A �

D. E ,L V l S D E ·Ç A M O E S, . Accre�centadaS ile(hlf'egl1fiil;\ itnpreffaõ. . , ' I'\'· 1 . " ",, ) ','. 1\\ . \1. DirigiaM ii V� Gouç,rlo COllll/lf,o. '\ .

t a s i a d e c o r a t i v a e c r o m ;í t i c a c o m o e s t i l o r o c o c ó . S ã o c a r a c t e r í s t i c o s d a fa s e p r é ­ - b a r ro c a a d e c o r ação a rc a i z a n t e , o t o m carregado do azul de cobalto, o b ranco i m p u r o d o d e fi c i e n t e e s m a l t e e s t a n í fe r o , a p l i c a d o s o b re b arro r o s a d o . O t i n t e i ro exp o s t o , a p e s ar des tas c a r a c t e r í s t i cas r u ­ dimentares, destaca-se por an unciar o des e n vo l v i m e n t o d o s m o t ivos relevados d a

IlIIf!rejfo$ com licmça da foI/Ela Inqllijiçtío.

c e r â m i c a barroca c o i m b rã, p a ten tes n u m a

E M L I S B O A. Por Pedro Crasbeeck ) Anno de M. p. XCVIII

d e c o r a t i va p i a de á g u a - b e n t a d o M u s e u

• .

« ',.. : ,, )

A culh de Eíl:cuão Lopcz mcrcador de libro�

de Viana do Castelo, o u um recortado

(�m f(illj(egio,

t i n t e i ro do M u s e u N a c i o n a l d e M ac h a d o

,

.

'

��.

de Castro, em Coimbra (reproduzidos por Artur de Sandão, estampas 4 1 e 48, res­ p ec t iv a m e n t e) . JM

B i b l i o grafia

Qu e i r ó s , 1 9 8 7 ; S a n d ã o , 1 9 7 6 , v o l . 402

l.

-,- � llL-1

o u c o s e s a b e , e m c o n c r e t o , s o b re a v i d a d e C a m õ e s . N a s c e u , p rovave l ­

m e n t e , e m L i s b o a , em 1 5 2 5 . Provavel mente, também, estudou em Coimbra .

M ai s t a r d e , em L i s b o a , d e ve t e r c o n v l vido com person agens i m p o r t a n tes da c o r t e , como se d e p re e n d e da sua o b ra poética. S a be-se que es teve e m C e u t a e n a Í n d i a . Te ve v i d a a v e n t u r o s a , e m q u e e n t r o u e m c o m b a t e s , e s t e v e p r e s o , n a u fr a g o u , fo i r o u b ado

e padeceu

d a. m a i s

a fl i t i v a

m iséria. D e temperamento aven t u r o s o e espírito r e b e l d e , s o u b e a p rove i t a r, n o e n t a n t o , d o s v a i v é n s d a fo r t u n a p o r t e r r a e p o r m a r, experiências que lhe alimentaram o espí-

CAM Õ E S , L u í s Vaz d e [Os L u s iadas d e L u is de Ca m ões. Polo o r iginal a n tigo ago ra n o va m ente imp resso s] 5 . a edição . Lisboa: Manuel de Lira, a custa de Estevão Lopes mercador d e Livr o s , 1 5 9 7 C o t a : B P E , SéC/llo XVI, 5 3 4 6 ( e x e m p l a r t r u n c a d o , a q u e fa l t a m o s d o i s fó l i o s i n i c i a i s , c o m o r o s t o , a l vará e l i ce n ças) . R e f. : A n s . 7 7 0 .

\

6J&

pesar de ser o maior poeta portu-

\ mões.

guês, p o uco se sabe da v i d a de CaN a s c e u , p ro v a v e l m e n t e , e m L i s b o a ,

rito e o génio. E é essa riqueza que vai

em 1 5 2 5 , tendo estudado em Coimbra.

conseguir verter na s u a o b ra , quer de epo­

Ap ó s p e r m a n ê n c i a a t r i b u l a d a e m L i s b o a

peia quer de lirismo, t o r n a n d o - s e o maior

e em Ceuta, embarcou p ara a índia em

expoente da poesia p o r tuguesa e o espe­

v i a g e m t e m p e s t u o s a . Ta m b é m n o O r i e n t e

lho de toda uma nação. A o c o n t r á r i o d e n ' O s L u s ía das, e m q u e C am õ es p ro c l a m a a e p o p e i a p o r t ug u e s a

A

' . 'l � 7 D .

� -.

'>. ·--O· s . L V S r J1 o : A S ....1.

n o s n o v o s m u n d o s , n a s R i m as, o a u t o r

i.J�.

D' E

"',.- .

,[;(

t e n t a t i v a d e r e e n c o n t r o c o m a s u a r e a li primigénia.

Platonicamente,

éS

q u e t u d o p a s s a e d e g e n e r a ; c a n t a a a u rea

fe l i c i d a d e , s e m p r e a o a l c a n c e e s e m p r e distante.

os baróes

r a

. No/lO tJ?.eil/o, que tallto!ub/illi " o � '" "O rn � o u � "

� ..,

rn .c E

o modelo se-

dade, como as Adorações dos Pas[Qres do

guido já tinha

retábulo de Terena, e o painel adquirido

sido testado

há poucos anos pelo Museu de Arre Sa­

p elo pinto r

cra de Santiag o do Cacém, Campos pa­

noutra

rece

Ado-

ter

sido

inf luenciado

por

uma

ração dos !Vla­

história contada por Inocêncio III, aceite

'" � � "

gos, realizada na década de 1560 para a

por São Jerónimo, e difundida pela Le­

" ..,

capela-mor da Mauiz de Góis, uma en­

genda Aurea, de Voragine, segundo a qual

comenda de D. Luís da Silveira, nobre

o aparecimento de Cristo na Terra se ma­

que viveu grande pane da vida em Évora,

nifestou por uma série de prodígios, en-

e que talvez tenha sido o responsável pela

tre os quais se contou a destruição do

apresentação do pintor na capital alen­

Templo da Paz, erigido para comemorar

tejana, onde vlJ'la a morrer de peste, em

os doze anos consecutivos de pacificação

1580, e onde deixaria a maior e melhor pane da sua obra. No quadro de Góis, porém, a composi­ ção aparece invertida e bastante

mais simplifi­

cada, dado que, no pai­ nel de

Évora,

Campos

introduziu no fundo o agitado grupo do séquito dos Reis Ma gos e, à es­ querda, a fi g ura de São José, que estava ausente no quadro de Góis. Um dos aspectos mais in­ teressantes desta pintura é a presença abundante das ruínas clássicas, um aspecto particularmente marcante na arre de Francisco de Campos. Noutras representações da Nativi-

d o i m p é r i o e q u e , s e g und o o o r á c u l o d e Apolo, devia d u rar até q u e uma vagem

SANTA ANA , A VIRGEM E SANTA ISA BEL

d e s s e à l u z u m a c r i anç a . N a s fi g u r a s h u m an a s , a p e s a r d e não a b d i -

Francisco de Campos Portugal c. 1 5 7 0 O l e o s o bre m a d e i r a 192 x 1 7 5 cm P r o v e n i e n te d a S é d e � v o r a � v o r a , M u s e u d a A r t e S a c r a d a S é de � v o r a

c a r inte i r a m en t e d o e x p r e s s i on i s m o q u e n o r m a l m en t e o c a r a c t e r i z a , C a m p o s m o s t r a - s e m a i s c o m e d i d o no s i l o g i s m o s d e e s ­ cala que marcam m u i tas vezes a sua obra, m e s m o e m o u t r a s p i nt u r a s d e s t a m e s m a e m p re i t a d a . O d e s enho é m a i s r i g o r o s o , e a p r ó p r i a t é cnica é m a i s c u i d a d a e l enta, com u m r e q u inte d e aca b a m ent o s que p o r

\

6� m qui

s a r m a s d o s M e l a s a b e r t a s entre o fe c h o d o a r c o e o r e l ó g i o na a r -

�ctura

d e fun d o d e s t e p a ine l p e r m l -

v e z e s e s t á a u s en t e d a s s u a s p i nt u r a s , e d e

t e m -no s c o l o c a r c o m c e r t e z a a p in t u r a

q u e q u e r os preciosos a d e r e ç o s e r o u p a­

dentro d o a r ce b i s p a d o d e D . J o ão d e M e l o

g ens q u e r s o b r e t u d o as in v en t i v a s e r e fi ­

e C a s t r o , q u e g o v e rno u a d i o cese d e É v o r a

nadas o u r iv e s a r i as e a r m a s s ã o o s m e l h o res

ent r e 1 5 6 4 e 1 5 7 4 , e a c i rc uns t ânc i a d e

e xem p l o s . A n q u e z a

em

s a b e r m o s q u e d e s envo l v e u o b ras n a S é e m

g rande p a r te b a s e a d a no s m o d e l o s d a s g r a ­

1 5 7 0 l ev a m -no s a c o l o c a r e s t e p a ine l , b e m

v u r a s d e B o s , C o r t e Vr i e s , q u e C a m p o s

c o m o q u a t r o o u t r o s e x i s tentes no m u s e u

u t i l i z o u d u r an t e t o d a a s u a c a r r e a a , b e m

c a t e d r a l í c i o , p o r v o l t a d e s s a d a t a , e an­

c o m o u m a s ens i b i l i d a d e t á c t i l m u i t o v ln-

t e r i o r e s , p o r i s s o , à g r an d e e m p r e i t a d a

c a d a , q u e s e m an i fe s t a t an t o na r e p r e ­

r e a l i z a d a p e l o m e s m o p in t o r no s t e c t o s

s ent a ç ã o

a

d o p a l á c i o d o s condes d e B a s t o , não m u i ­

r u g o s i d a de p r ó p ri a d a p as s a g e m d o t e m p o ,

t o d i s t an t e d a S é e b o r ens e . D e s t a e m -

o u o fino d e b u x o d o s r e l e v o s , c o m o na

prei tada,

l uz e reverberação das s e d as e b rocados

r e p r e s e n t an d o Sa n ta A n a , a Vi rge m e

d o s t e c i d o s , d ã o à p in t u r a u m a e x u b e ­

Sa n ta Isa b e l, e d a A do ra ção dos Magos,

r ânc i a s e ns o r i a l q u e m o s t r a b e m c o m o o

t a m b é m p r e s en t e ne s t a e x p o s i ç ã o , fa z e m

p int o r fo i u m d o s m a i s cons e q u en t e s c u l ­

a i n d a p a r t e u m a Última Ceia, u m B ap -

tores, em Portugal, de uma visão radical

tis m o d e Cristo, e u m a t á b u a r e p r e s en­

e e x p r e s s i v a d o M an e i r i s m o i n t e rna c i o ­

t an d o o s s an t o s A m a r o , B en t o e R o m ã o .

n a l , n a s u a fe i ç ã o m a i s c r i a t i v a .

O p a inel Santa A n a, a Virgem e Sa n ta Isa­

da

matéria

o rn a m en t a l ,

pétrea,

com

JDe

para

além

deste

p a i ne l ,

bel, t e m a l g u m as p a r t i cu l a r i d ades q u e m e ­ recem ser destacadas. Em primeiro l ugar

B i b l i o gr a fia 434

Caetano e Carva l h o . 1 990 ; Serrão. 1 9 8 6 ; Só r i a . 1 9 5 7 .

e s t á a s u a c u r i o s a i c ono g r a fi a , s o b r e a

serem femininas as três

intervenientes

na cena.

Reúnem-se

assim três mulheres que deram à luz de forma miraculosa, e ao mesmo tempo os esteios das genealo­ gias de Cristo e do Precursor. se

pode

O

tema,

ser

visto

como uma prefigura­ ção

da

Visitação,

corresponde também a uma reformulação do

tema tardo-me-

dieval das Santas Parentelas, que era já en tão alvo de cerradas críticas. O interesse artístico qual não tem havido unanimidade. Sória

da pintura não é me­

referia-se-lhe como Santa Ana, a Virgem

nor que o seu atractivo iconográfico, so­

e Uma Santa Freira, Vi tor Serrão chamou-

bretudo

-lhe Santa Ana, a Virgem e o Menino, e

restauro levado a cabo para esta exposi-

Túlio Espanca apenas Santana e a Vir­

ção permitiu reconstituir a pintura nos

gem. O benéfico restauro a que a peça foi

seus valores originais, tanto cromáticos

sujei ta para esta exposição veio demons­

como,

trar que, como já afirmámos, se trata de

De facto, a libertação do quadro da mol-

Santa Ana, a Virgem e Santa Isabel, um

tema

muito

pouco usual, mas o

único

que

agora,

que

um

435

providencial

2

u ro � cr o u

sobretudo,

de

composição.

o "' '" >

� o c "' ro u ro c o c '" o u .. .o

E

se

ro "' c '"

adapta ao facto de

'" "O

=

d u ra q ue t i nh a , per m i t i u res t i t u i r à p In­

t i c u l a r pel o s i l o g i s m o s de es p a ço e de v o ­

t u r a cer c a de 4 0 centímet r o s na a l t u r a e

l u met r i a d a s fi g u r a s , u m ant i na t u r a l i s m o

no l a d o d i rei t o , dev o l vend o - l he o s v a l o -

conv i c t o na c l a r a s u b o r d i na ç ã o d o ver o ­

res d e es p a c i a l i d a d e ini c i a l , u m d o s a t r i ­

s í m i l à neces s i d a de c o m p o s it i v a e p u r a ­

b u t o s m a i o res d a p int u r a . F i c a r a m a s s i m

m en t e p i c t u r a l e, fin a l mente, n o sen t i d o

v i s ívei s , n o t o p o , n ã o s ó o rel ó g i o c o m -

d e u m a sens u a l i d a de p r o fanizante e c o r ­

p let o , m a s t a m b é m p a r te d a a b ó b a d a , e,

tes ã , q ue o ut r a s o b r a s s u a s mel h o r tes te-

n o l a d o d i rei t o , t o d o o c o r p o de San ta

m unh a m .

I s abel . E s t a a l te r a ç ã o a cent u a a i n d a m a i s o

e

JQe

n f i a m en t o p e r s p é c t i c o , c r i a d o p e I o

c o r p o i nc l i n a d o de San t a I s a b el e p r o ­ l o n g a d o p e l a s u ces s ã o d e c o l u n a s q ue

B i b l i o gr a fi a

C a e t a n o , 1 9 9 5 ; C a e t a n o e C a r va l h o , 1 9 9 0 ; S e r r ã o , 1 980 e 1 986; Sória, 1 957.

a pena s s e e s g o t a na d i v i s ã o d o fun d o . A fi g u r a a l tea d a d e San t a I s a bel , a c u p s ves tes fo i dev o l v i d o o c r o m a t i s m o á c i d o e sens u a l q ue C a m p o s u t i l iz o u p o r v á r i a s v ezes no s s e u s q u a d r o s , g anh a a s s i m u m a n o v a lei t u r a , c o m o cont r a p on t o ver t i c a l à a r r o j a d a p er s pec t i v a ç ã o a r q u i tec t ón i c a d a o u t r a b an d a d o p a inel . o

FRE SCOS DAS AB Ó B ADAS DO PAÇO DO S CONDE S DE B A S TO , ÉVORA R e p r o d u ç ã o fo t o g ráfi c a [ Ve r a r t i g o " O L o g r o d e P a n t a s i l e i a : o P a l á c i o d o s Castras em Évora" , d e J o a q ui m O l i v e i r a Caetano]

i l o g i s m o na rel a ç ã o en t re as fi g u r a s ,

s o b ret u d o s e c o m p a r a r m o s a s d u a s m u l heres c o m a d i m i n u t a i m a gem d a V i r ­ gem menina , m o s t r a bem a t é q ue p on t o

CU S T ÓDIA

C a m p o s era c a p a z de s u b o r d inar o rea-

Portugal P r i me i r a m e t a d e d o s é c u l o XVII P r a t a d o u r a d a , fu n d i d a . g r a v a d a , c i n z e l a d a , v i d ro s c o l o r i d o s e p i n ge n tes d e c r i s t a l de r o c h a 29 cm; 0 9 cm Peso: 780 g N a o a p re s e n t a m a r c a s Proven i e n te d o C o n ve n r o de S a n t a C l a r a ( É v o r a ) L i s b o a. , IV! u s e u N ac i o n al d e A r t e A n ti g a I nv. n.o 20 1 our

l i s m o rep resent a t i v o aos a s p ec t o s exp resSIVOS

da c o m p o s i ç ã o . C o m o j á no u t r a

p a r t e es c revem o s , e es t e p a inel p a rece-nos d i s s o u m d o s mel h o res exem p l o s na o b ra do p in t o r, F r anc i s c o de C a m p o s a p a­ rece-no s , no q u a d r o d a p in t u r a p o r t u ­ g ues a

do

seu

te m p o ,

como

o

m ais

a u tono m i a c res cente do C l a c i s s i s -

d ec i d i d a mente m anei r i s t a d o s p in t o res

m o e m fina i s d e Qu i nhent o s c u l ­

q ue ent re nó s t r a b a l h a r a m , no sent i d o em

m ina n u m t i p o m u i t o d i fu nd i d o d e es -

q ue a p a l a v r a p o de i m p l i car um g o s t o p a r -

t r u t u r a a r q u i tec t óni c a ren a s cen t i s t a , c o m

c o l unas s u p o r t and o u m ent a b l a m ento r e m a t a d o p o r u m a c ú p u l a , q u e s e c o n C l' e ­ tiza,

no m e a d a m en t e

em

relicários

RES PLENDOR

e

P o r t ugal Século XVII P r a t a do u rada repuxada, ci nzelada, gravada e v i d ro s b r a n c o s a m a r e l o s e v e rdes dO l/ b /és 1 6 cm - EM- 1 9 cm Pes o : 1 8 0 g N ã o a p re s e n t a m a rcas P r o ve n i e n t e d o C o n v e n t o d e S a n t a C l a r a , É v o r a . Inc. 1 903 L i s b o a , M u s e u N a c i o n al d e A r r e A n t i ga 1 n v. n . O 2 0 3 o u r

c u s t ó d i a s , d e s i gna d a s d e " t e m p l e t e " , e m inú m e r a s s o l u ç õ e s q u e s e p r o l ong a m a o l o ng o d o s é c u l o

XVI I .

E x e m p l i fi c a a r e fe ­

r i d a tip o l o g i a , e s t a p e q u ena c u s t ó d i a d e t e m p l e t e , com b a s e c i r c u l a r a l t e a d a em d o is registos, decorados com fo l h a s d e a c anro e l o s âng u l o s e h a s t e c o m a r r anq u e e m I

t a m b o r tronc o - c óni c o , d e c o rado c o m g o d r ã e s inci s o s . H o s t i á r i o p on t u a d o c o m v i d r o s d e c o l o r i d o s azu i s , v e r m e l h o s e v e r d e s c o m r e s p l en­ d o r r a d i a d o c i r c u l a r, enq u a d r a d o p o r c o ­ l unas q u e s u p o r t a m a

cobertura,

em

fo r m a d e c ú p u l a s e m i e s fé r i c a c o m l anterni m , reve s t i d a d e caixotães

e

enC l -

mada por uma cruz l a t ina , enr i q u e c i d a com vidros verme-

I� tiL/I

I

a r a a l é m d o e m p r e g o de c o r o a s a b e rtas

ou

fe c h a d a s ,

gene r a l i z o u - s e

i g u a l m en t e , a p a r t i r d e m e a d o s d e Qu i ­

n h e n t o s , o h á b i t o d e d o t a r a s I m a g ens

l h o s , s i m u l and o

s a g r a d a s d e r e s p l end o r e s r a i a d o s , à s e ­

g r ana d a s o u r u b i s .

m e l h ança d a s g l ó r i a s d o s h o s t i á r i o s e c u s ­

So b a s c o l unas p e n ­

t ó d i a s . E s t e r e q u i n t a d o r e s p l end o r , e m

dem de c a d a l a d o

prata dourada, segue um dos modelos

p ingent e s e m C r I S -

m a i s co m un s , e m fo r m a d e c r e s cent e , c o m

tal de rocha.

q u a renta e u m r a i o s a l t e rna d o s d e p e r fi l LO

s e r p en tifo r m e e r e c t i l íne o , c o r o a d o s p o r u m a g l ó r i a d e p e q u en a s c a b e ç a s d e q u e -

o

c r e s c e n t e é co n to r n a d o i n fe r i o r-

s u a s variações de e s t r u tura e de decora-

mente por u m a moldura d e to rçal rele­

ç ã o . S e a t é m e a d o s d e Qu i n h e n t o s , a s c o -

v a d o , apresen ta n d o a m o l d u r a s up e r i o r e

r o a s s e a p r e s e n tavam n o r m a l m e n te a b e r t a s ,

o ca m p o c r a v e j a d o d e v i d r o s c o l o r i d o s ,

a p a r t i r de e n tão a s s i s t e - s e a u m a p r o ­

e n tre o s q u a i s s o b re s s a e m d u a s c a b e ç a s

g r e s s i v a d i fu s ã o d e u m o u tro m o d e l o m a i s

de querubins, e n q u adrando ao centro a

e l a b o r a d o , a c o r o a fe c h a d a o u p r o v i d a d e

p o m b a d o E s p í r i t o S a n t o , fi n a m e n t e r e ­

h a s t e s , d e s i g n a d a s "i m p e r i a i s" , q u e s e e l e ­

l evad os e c i n zel a d o s .

v a m d o c e s t o e c o n v e r g e m e m fe ixe p a r a

rubins.

LO

o t o p o d a p e ç a . E x e m p l i fi c a e s t e m o d e l o a p re s e n t e c o r o a d e a r o m o l d u r a d o e c e s t o v a z a d o c o m e n ro l a m e n t o s vege t al i s ta s e fl o r õ e s q u a d r i fo l i a d o s g r a v a d o s , s e n d o fechada p o r q u a tro i m p er i ais com ornatos

CO ROA FEC HADA

repuxados e encimada por uma

Portugal Século X V I I P r a t a d o u ra d a fu n d i d a , v a z a d a , g r a v a d a , c i n ze l a d a e v i d ro s c o l o r i d o s 2 9 , 5 c m ; 0 1 3 , 5 cm ( b ase) Pe s o : 584 g N ã o a p re s e n t a m a rcas P r ov e n i e n t e d o C o n v e n t o d e S a n t a C l a r a ( Év o r a ) Lisboa, Museu Nacional de Arte A n tiga I n v. n . O 2 0 5 o u r

cruz grega com hastes em

J iN

V

O

,leulo

XVII,

'"

' ' '· 0 , "

de

i m agem e m p r a t a fo ram

amplamente

divulgadas,

sendo o seu uso corrente em e s p e c i a l nas repre­ sentações

da

Virgem .

E s te a t r i b u t o d a s o b e r a n i a e s p i r i t u a l d e M ar i a ,

R egi n a

Co eli,

corres­

ponde a uma prática de­ vocional q u e se prolongou até hoje, podendo acompa­ n h a r - s e a evo l u ç ã o d o s e s t i l o s a o l o ngo das épocas através d a s

b alaústre, assente n u m pequeno pedestal. Neste e xe m p l ar, em p r a t a d o u ­ rada,

a

decoração

é

a i nd a rea l ç a d a pelo a p a r a t o q ue l he c o n­ fere a d o u r a d u r a e o c r o m a t i s m o d o s v i dros

coloridos ,

cravados

em

v i r o l as

r u d i m en t a r mente a p a r a fu s a d a s , s o l u ç ões c o r rentes nu m a é p o c a em q ue as d i fi c u l ­ d a des econó m i c a s releg a v a m a s gem a s p re­ c i o s a s p a r a o d o m íni o d a j o a l h a r i a . LO

MITRA Portugal Século XVII P r a t a b a t i d a , i n c i s a e c i n ze l a d a 1 6 x 8 , 7 cm Não apresen ta marcas Pes o : 1 3 5 g P r o ve n ie n te d e u m a i grej a d o C o n c e l h o d e É v o r a , Inc. 1 92 1 Lisboa, Museu Nacional d e Arte An tiga l n v. n . O 7 0 7 o u r

439

a r a a l é m d a s c o r o a s e res p l en d o res , as i m a gens d o s s an t o s p o s s uem em a t r i b u t o s i c ono g r á fi c o s , freq uentemente l av r a d o s em met a i s p reci o s o s . A t r i -

c o r a d a c o m m o t i v o s fl o r a i s inc i s o s à se-

b u to d a d i gni d a de ep i s c o p a l , es t a peq uena

mel h ança d e um g a l ã o , q ue i g u a l mente

m i t r a em p r a t a per tenceu cer t a mente a

a cent u a

u m a i m a gem d e u m s an t o b i s p o - S ã o

C u r i o s a ment e , p r o v é m d a E r m i d a d e

M an ç o s o u S ã o B r á s , a m b o s venera d o s em

S ã o B rá s e m Év o r a , u m a o u t r a m i tr a de

É v o r a em tem p l o s d e invo c a ç ã o p r ó p r i a .

t r a b a l h o req u i n t a d o , e m p r a t a i nc i s a e

A p e ç a é c o ns t i t u í d a p o r d u a s l â m in a s

v a z a d a , rea l ç a d a c o m c a b o c h ões de pe­

c u r v a d a s e m o l d u r a d a s , u n i d a s ent re s i

d r a r i a s c o l o r i d a s , m o n t a d a s em c r a v a ç ões

p o r d o b r a d i ç a s na p a r te infe r i o r e enc i ­

de p r a t a d o u r a d a , q ue h o j e se c o nser v a

m a d a s p o r u m rem a te es fé r i c o . N u m a

n o M u seu d e É v o r a [ In ve n td rio do Museu

t r ans p o s i ç ã o d o t ê x t i l p a r a o met a l , t o d a

de É v o ra, c a t . n . o 1 3 1 , p p . 2 1 2 - 2 1 3 ] .

a m i t r a é c i r c und a d a p o r u m a fa i x a de-

o

s en t i d o

v er t i c a l

da

p eç a .

LO

A composição d a c o b e r t u r a , s u spensa por u m a a r g o l a , d e s e n v o l v e - s e e m fr i s o s c o m m o t i v o s i n c i s o s s e p a r a d o s p o r m o l d u r as l i s a s , n u m dos q u a i s , o i n te r m é d i o , corre a inscrição O

NOSSA

S E N H O RA

DO

R O S Á RI O .

receptáculo apres e n t a i d ê n t i c a deco ra-

ção g r av a d a e m t r ê s r e g i s t o s , c o m c e r c a ­ d u ras d e acan to s , e n trei a ç o s e e n r o l a m e n tos vege t a l i s t as , s e n d o c o n t o r n a d o n a p a r t e s u p e n o r p o r u m b al a ú s t re em p r a t a l i s a , m o l durado

em

c urvas

e

contracurvas

e

i n fe r i o r m e n te r e m a t a d o p o r u m a e s fe r a com decoração de ovados i n c i s o s . LO

LÂMPADA Po rtugal S é c u l o s X V I - XV I ! P r a t a fu n d i d a , g r a v a d a e c i n z e l a d a 61 cm Peso: 2 3 5 0 g N ã o a p re s e n t a m ar c a s I n s c r i ç ã o : N O S S A S E N H O RA D O R o s A R I O P r o ve n i e n te d o C o n v e n t o d o P a r a í s o ( É v o r a ) L i s b o a , M u s e u N a c i o n a l d e A r te A n t i ga I n v. n . o 1 8 1 o u r

â m p a d a d e t e c t o co n s t i t u í d a p o r u m recep t á c u l o e m fo r m a d e c ú p u l a i n ve r t i d a , s u s t e n t a d o p o r q u a t r o e l e g a n ­ t e s a l et as d up las a d o r n a d a s c o m v o l u t a s e e n c i m a d o p o r u m "c h a p é u " o u c o b e r t u r a b o l b o s a . Ao c e n t r o , s u s p e n s o p o r cadeias, encontra-se u m anel para sust e n ta ç ã o d a l am p a r i n a , l i g a n d o - s e a s a l e ­

tas ao rece p t á c u l o e à c o b e r t u r a p e l o

440

s i s t e m a d e p o r c a e p a r a fu s o .

PAR DE C AS TIÇA IS 1' 0 r r u ga I

P r i m e i r a m e t a d e do s é c u l o XVII P r a t a re p ux a d a , g r a v a d a e c i n z e l a d a 2 5 , 5 cm; 0 1 3 , 2 cm (base) Pes o : 9 4 2 g ( t o ta l ) N ã o a p re s e n t a m Ill a r c a s P rove n i e n te d o C o n v e n t o d o P a r a í s o ( É vo r a ) Lisboa, Museu Nacional de Arre A ntiga I n v. n . O 1 8 2 - 1 8 3 o u r

s t e m o d e l o de cas t i ç a i s , caracterís­

c á l i c e c o m a c o p a c a m p anu l a d a ,

t i c o d a g r a m á t i c a d e c o r a t i va do e s -

p r a t a b r anca l i s a e d o u r a d a no

t i l o c h ã o , a p r e s en t a no r m a l m en t e u m a

inte r i o r, d enunc i a u m a grande s o b r i e d a d e ,

d e co r a ç ã o fi n a m en t e g r a v a d a e c i n z e l a d a

b e m m an i fe s t a n a fo r m a e n a e s c a s s a a l -

c o m a l g u m a s v a r i an t e s , enc o n t r and o - s e

t u r a d o t r a b a l h o relevado q u e dá l ugar

r e fe r e nc i a d o d e s d e fina i s d e Qu i n h en t o s

p r e fe r encia l m en t e a m o t i v o s incis o s o u

e n a c en t ú r i a s e g u in t e e ent r e a s nu m e -

m e s m o à s u a t o t a l ine x i s tênc i a . S e b e m

r o s a s o b r a s p r o d u z i d a s p e l o s l a v r an t e s d a

q u e d i v e r s o s fa c t o res e conó m i c o s e as p r ó ­

p r ata em Évora e arredo res . N o M u s e u

p ri a s c o n d i cionan t e s d a o fe r t a l o c a l p o s ­

N a c i onal d e A r t e Ant i g a e x i s t e m o u t r o s

s a m j u s t i fi c a r e s t a c ontenç ã o , n ã o d e v e

d o i s p a r e s q u a s e i d ênt i c o s c o m e s t a p r o -

s e r e s q u e c i d a a c r e s cente a u s t e ri d a d e d o s

v eniênc i a [ c f . E s p an c a , 1 9 6 6 , v a I . V I I ] .

h á b i t o s q u e então s e a fi r m o u e m s intonIa

A b a s e é s ó l i d a , cir c u l a r e env o l v i d a p o r

com a v e r t ent e d o s p r e s t i gia d o s m o d e l o s

a c a 11 t o s b e m d e fin i d o s , a s s i m c o m o o e x -

d a a r q u i t e c t u r a c h ã . A p r e s enta o n ó e m

t e r i o r d a l a r g a a r and e l a , s en d o o b u c a l

fo r m a d e u rna , c o m m o t i v o s g r a v a d o s d e

l i s o t o rne a d o e a h a s t e e m fo r m a d e b a -

ó v u l o s e fo -

l a ú s t r e g u a rn e c i d a p o r u m a q u a d r í c u l a

l h a s d e a c an-

l o s ang u l a d a , s i m u l ando o m o t i v o e s t i l i ­

to

e

a base

circular

z a d o d a s p o n t a s d e d i a m an t e t r unc a d a s

al-

q u e s u r g e no u t r a s e x p r e s s õ e s a r t í s t i c a s ,

teada e m três

no m e a d a m en t e n a a z u l ej a r i a ne s t e m e s m o

regi s t o s ,

p eríodo.

o rn a m e nt a ç ã o LO

com

r e l e v a d a e gravada de ó v u l o s , g o d r õ e s , m o t i v o s vege t a l i s t as e ond e a d o s . E m t o r no d a orla d a b a s e ,

C ÁLICE Po r t ugal Séculos XVI-XVII P r a t a e m p a r t e d o u ra d a , r e p u x a d a e g r a v a d a 2 4 , 8 c m ; 0 8 , 7 c m ( c o r po ) , 1 4 , 1 c m ( b as e ) Pes o : 4 6 5 g N ã o a p r e s e n t a ma rcas I ns c r i ç ã o : D O N A : L E A N O R : EST E : C A L I X : M Á D O V : FAZER

Prove n i e n t e d e u m a i g r e j a do concelho de Évora Lisboa, Museu N a c i o n a l de Arre A n tiga I n v. n . O 6 9 7 o u r

co rre

a

i ns c r i ç ã o :

DONA: LEANOR: ESTE: CALlX:

MÃDOV:

FA-

Z E R , m and a d a g r a v a r

p e l a s u a d ona t á r i a . LO

441

briedade decorativa, próprias do Classi-

CRUZ PROCESSIONAL Po r t ugal F i n a i s do s é c u l o X V I - i n í c i o s do s é c u l o XVII P r a t a e p ra t a d o u r a d a fu n d i d a , g r av a d a , c i n z e l a d a 8 1 , 5 x 34 , 3 cm Peso: 3 5 6 6 g N ão a p r es e n t a m a rcas P r o v e n i e n t e d o C o n ve n t o de S a n t a C l a r a ( Év o ra) L i s b o a , M u s e u N a c i o n a l d e Arre A n t i g a I nv. n . O 7 0 2

� �

I

c i s m o r e n a s c e nt i s t a , q u e e v o c a m o s c o nh e c i d o s e x e m p l a r e s d o t e s o u r o d a I g rej a M a t r i z d a R i b e i r a B r a v a , na M a d e i r a , d e fin a i s d e s t a c en t ú r i a o u i ní c i o d a s e g u in t e 1 • O n ó c i l índ r i c o a p r e s en t a - s e t o ­ t a l m ente d e c o r a d o c o m m o t i v o s fina m ente inc i s o s d e ó v u l o s e l a ç a r i a s d e ní t i d o c a ­ r i z fl a m eng u i z ante , i d ênt i c o s a o s q u e p r e ­

g O H o p o l " nom p C O p O H " v ind"

enc h e m a s fa c e s d a s h a s t e s e o s cont o rno s

de I t á l i a o u do N o r t e d a E u ro p a ,

l a t e r a i s d a c r u z . N a int e r s e c ç ã o d o s b r a ­

insinu a - s e n a a r t e d a o u r i v e s a r i a n a

Pfl-

ç o s fi g u r a o C r i s t o Agoni zante , e m

m e i r a m e t a d e d e Q u i n h en t o s , no m e a ­

prata dourada, esculp ido em vulto

d a m ente a n í v e l d e v e r s õ e s d e c o r a t i v a s ,

p l eno e s u s p ens o p o r t r ê s c r a v o s c o m

s end o a s s u m i d o e m t o d a

o p e r i z ón i o l an ç a d o à

a s u a p l en i t u d e n o r e l -

d i re i t a . A e x t r e m i d a d e

nado

III.

infe r i o r d a h a s t e v e r t i -

A partir d a década de 6 0 ,

c a l o s t enta no anv e r s o ,

de

D . J o ão

a c o m p an h an d o o m o v i m en t o d a R e ­

t a l c o m o o p o r t a - p a z ante r i o r m en t e

f o r m a c a t ó l i c a , v e r i fi c a - s e u m a t en-

d e s c r i t o , u m e s c u d e t e c o m a s c inco

d ênc i a p a r a a s i m p l i fi c a ç ã o fo r m a l e

c h agas de C r i s t o abertas a b u r i l , s o ­

o rna m ent a l , q u e s e conc r e t i z a n u m t i p o

b r e u m a p e q u ena c a v e i r a l a v r a d a e m

d e e s q u e m a t i z a ç ã o d i t a " c h ã " [ Ku b l e r ,

relevo q u e simboliza a Paixão de

1 9 7 2 , p . 4 1 ] , e m q u e t r ans p a r e c e m s o ­ · l u çõ e s m ane i r i s t a s a o g o s t o fl a m engo ,

C r i s t o n o m on t e C a l v á r i o , e , n o r e v e r s o , ins c r i t a e m e s c u d e t e i d ên t i c o ,

divulgadas a través d a c i rc u l ação

a c r u z: d a O r d e m M i l i t a r d e San-

c r e s c ente d e g r a v u r a s d e o rn a t o o u

tiago.

da assimilação de modelos erudi­

LO

tos importados. E s t a b e l a c r u z p ro c e s s i on a l d e c o n­ fi g u r a ç ã o l a t i n a , c o m h a s t e s d e s e c ç ã o r e ctang u l a r , m o l d u r a d a s e m t o d o

1

o

c o n j u nto

s o u ro

da

d al i d a d e , 442

e v i d enc i an d o

uma

regularidade estrutural e u m a s o -

a l fa i a s Brava,

que

integram

i l ustra,

pelo

o

te­

n ú m e ro

o b j e ct o s d e u m a r a r a h o m o g e n e i d a d e , e s t a t e n ­ p a ra

um

clacissismo

muito

si m p li fica d o ,

c a r a c t e ri z a d o p o r u m a g r a n d e p u r e z a d a s linhas

o cont o rno , incl u i - s e n e s t a m o -

de

R i b e i ra

tiva

e

pela

[ c f.

n.o 24.

mesma

P o rtugal

pp.

182

S o u s a , 199 5 1.

e

g r a m á t i ca

et

d e c o ra­

Flan dres,

segs.;

vide,

'9 9', ainda.

NAVE TA E COL HER Portugal Primeira m e tade do século XVII Prata repuxada, gravada e ci nzelada 1 6 c m ; 2 1 , 2 cm ( n av e t a ) ; 8 , 6 c m ( c o l h e r ) Pes o : 5 1 0 g ( n a ve t a ) ; 2 2 g ( c o l h e r ) N ão a p res e n t a m a rc a s P roven i e n t e d e u m a i g r e j a d o co n ce l h o d e É v o r a Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga I n v. n . os 7 O 3 e 7 O4 o u r

/J '(j

'14 '\

companhava normalmente o turíb u l o , u m v a s o e s p e c í fi c o , d e o n d e

t r a i d o c o n v é s d e p e r fi l c ô n c a v o , t e r m i ­

o incenso era retirado solenemente com

n a n d o s o b re o l e m e p o r u m e l e g a n t e e n ­

u m a c o l h e r, q u e a s s u m i a c o m fr e q u ê n c i a

r o l a m e n t o e m vo l u t a c o m fo l h a g e m i n c i s a .

a fo r m a d e u m a p e q u e n a n a v e - d a í a s u a

U m a vol u ta i d ê n t i ca r e m a t a o castelo da

designação de naveta.

p r o a p o r s o b r e o e s p o r ã o fi g u r a n d o a c a ­

Suge r i n d o c o m real i s m o a e s t r u t u r a d e

b e ç a de um a n i m a l m í t i c o . O reci p i e n te

u m a n a u , e s t a n a v e t a a p r e s e n t a o s fl a n -

a s s e n ta s o b re u m p é t r o n c o - có n i co d e b as e

c o s d o c a s c o , em l â m i n a d e p ra t a r e p u ­

c i r c u l a r com

x a d a e I n CI s a , s im ul a n d o t a b u ado c o m a

acanto gravadas a b u r i l .

r e s p e c t i v a p r e g a r i a e fe c h a n d o n a p a r t e

C u r i o s a m e n t e , e m P o r t u g a l , a s n a v e t as

i n fe r i o r e m q u i l h a . A p r o a o s t e n t a u m e s ­

d e s t i nadas a c o n te r i n ce n s o , e m b o r a c o m

p o rão e nas aplicações d o l e m e s uspen de­

fi m l i t ú r g i c o , s ã o d e i n s p i r a ç ã o p r o fa n a ,

- s e u m a c o r r e n t e d e e l o s fe c h a d o s q u e

ado p tan do, a p a rti r dos fin ais do sé­

p re n d i a a c o l h e r em p r a ta l i s a . V ê e m - s e

culo

a i n d a a s fi x a ç õ e s d a s e n x á r c i a s d o m a s ­

ções portuguesas, da época d a expansão

t ro r e a l , à p o p a , e do m a s t r o d a g á v e a , à

o c e â n i c a . A p a r e c e m r e fe r i d a s d e s d e o i n í ­

p ro a , b e m c o m o o s ó c u l o s , o u escovões,

c i o d e Qu i n h e n t o s , c o m o p o d e m o s i n fe ­

d e s t i n a d o s a faz e r d e s l i z a r a s a m a r r a s p a r a

r i r d a r e l a ç ã o d o d o t e l e v a d o p e l a i n fa n t a

l a nç a m e n to das â n c o r a s . É s u rp re e n d e n t e

D . B e a t r i z p a r a Sa b ó i a ( 1 5 2 2 ) . Ta m b é m

o realce dado pelo prateiro a estes auxi­

e ntre o s b e n s q u e a p ri ncesa D . M a r i a l e ­

l i a r e s d e m a r e a ç ã o à v e l a . O c o n vé s é a l ­

v o u para Cas tela ( 1 5 4 4 ) , aparece mencio­

t e a d o n o s c a s t e l o s de p ro a e d e p o p a e os

nada

alçados são percorridos por uma arcaria

Cap ella c o m s u a c o Lh e r e cadea " [ So u s a ,

vazada. A tampa da naveta s i t u a - s e à ré

1 9 50, p. 1 70] .

e a r ti c ul a - s e p o r c h a r n e i r a ao t r a m o c e n -

xv,

d e c o r a ç ã o d e fo l h a s d e

fo r m a s n a t u r a l i s t as d e e m b a r c a -

"h u m a n a o d e p ra ta b ra n ca de

lO

l, 4 3

TURÍ BULO P o r t u ga l P r i m e i ra m e t a d e d o s é c u l o X V I I P r a t a fu n d i d a , g t a v a d a e c i n ze l a d a 1 9 , 2 cm Peso: 1 05 0 g N ã o a p r e s e n t a m a rcas P r ov e n i e n te da I g r e j a d e S ão B e n to do M a t o ( c o n c e l h o d e É v o r a ) L i s b o a , M u s e u N a c i o n a l d e A r t e A n t i ga I nv. n . O 7 0 5 o ll 1'

t u r í b u l o o u incenso l' i u 711 é u m v a s o em c u p c a l dei r a se q ue i m a u m a s u b s t ânc i a o d o r í fer a , o i n cens o , des t ina d o a o cer i m oni a l s a g r a d o . N o r m a l mente de fo r m a esfé r i c a ou o v ó i de, c o m o o exem p i a r p resente, c o m p õe- s e de u m a c a l dei r a h em i s fé r i c a e m c h a p a o r n a ment a d a d e g o ­ d r ões l o ng i l íneo s inc i s o s e d e u m a co ber­ t u r a em fo r m a d e c ü p u l a c o m rem a te em l a n terni m , d ec o r a d a COI� m o t i v o s geo m é ­ t r i c o s e fl o r a i s g r a v a d o s e v aza d o s p a r a

ARANDA , M a t e u s d e Tl'a cta do d e c a n to lla u o n u e va m e n te c o mp u esto p o r Ma the o de A l'a n da 11l a estl'o e u m u s i c a , D i1'igido a i 11l uy a lto y illus tl'issimo s e n h o r do n Alon so cal'dell a l Infa n te de Po rtuga l. A l' ç o b isp o de L ix b o a . O b isp o D 'Ev o l'a Co m e n da tal'io de A lc o b aça, e tc. L i s b o a : Germ á o G a l h a r d e , 1 5 3 3

p er m i t i r a s a í d a d o fu m o p e r fu m a d o l . O fo r m a t o e o t r a t a men t o d a c ü p u l a a s ­ s emel h a m - se a o d a s c u s t ó d i a s d e tem p lete em m o d al i d a des repet i d a s c o m i n ü m e r a s v a r i a ntes e m P o r t u g a l a o l ongo d o s é ­ culo

XVII .

O g u a rd a - m ã o é l i s o c o m S I S ­

tema d e c o r rentes d e s u s pens ã o fi x a d a s a o reb o r d o s u pe r i o r d a c a l dei r a , per m i t i n d o levan t a r u m p o u c o a t a m p a p a r a int r o d u ­ Z 11'

a s b r a s a s e o incens o . A s sen t a s o b re

u m p é b a i x o de b ase c i r c u l a r em p r a t a lis a . lO 1

A p r e s e n t a fl a g r a n t e s e m e l h a n ç a com o e x e m p l a r do

t e s o u r o da R i b e i r a B r a v a , M a d e i r a [ e f. 44 4

d re,

n.o

2 4/8, p . 18 4 1 .

C o t a : B P E , Res. 4 0 2 . R e f. : A n s . 5 9 9 .

'\

\�

mes t re d a c a pe l a d a C a ted r a l d e Évora, M a teus d e Aranda , terá talvez

nas c i d o em Arand a , na p rovínc i a de B urgos, em E s p anh a , e m data q u e se des conhece. D ep o i s de ter es t u d a d o em A l c a l á , p a rece ter d ea m b u l a d o p o r I t á l i a d u r ante u m tem p o , A p r i me i r a refer ênc i a a o seu nome a p a rece n u m a c a r t a es c r i t a p o r D , J o ã o I I I , em A l mei r i m , em 1 5 2 8 , d i r i g i d a a o c a ­ b i d o d e Év o r a , p r o p ond o a c r i a ç ã o d o s

P o rt u g a l e t Fl a n ·

l u g a res de m a i s q u a t r o m o ç o s de c o r o na

C o m o c o m p o s i t o r , M a te u s de A r a n d a t a m b é m deu o t o m e m a r c o u o r i t m o a o s s e u s s u ces s o res . O m o tete Adj u v a

n o s D e us, p a r a q u a t r o v ozes m i s t a s , é u m a p r o v a i n c o n fu n d ível d o seu v a l o r t é cn i c o e a r t í s t i c o . G r a ç a s a M a te u s d e A r a n d a e a o s g r an­ des m es t res q ue l he s u ceder a m , É v o r a fo i , d u r ante d o i s s é c u l o s , a c a p i t a l d a m ú s i c a p o l i fó n i c a p o r t u g ues a . D e l a s a í r a m c o m p o s i t o res e mes t res p a r a o u t r a s c i d a des e c a ted r a i s , d e P o r t u g a l e d o es t r angei r o .

. . :�

N a c i d a de de É v o r a ens i n o u e res i d i u a t é J u l h o d e 1 5 4 4 , d a t a em q ue fo i no ­

res pec t i v a C a ted r a l , o s q u a i s ser i a m p o r

mea d o p o r D . J o ã o I I I p r o fes s o r d a c a ­

ele en s i n a d o s n a s a r tes m u s i c a i s , p a r a p o ­

d e i r a d e M ú s i c a d a U n i ve r s i d a de d e

derem cant a r n o s o fíc i o s l i t ú r g i c o s .

C o i m b r a , p a r a onde s e m u d o u e onde per-

C o m o p r i mei r o mes t re d a c a pe l a d a S é

m aneceu a t é m o r re r , p o s s i ve l m e n te em

d e É v o r a , M a teus d e A r a n d a p o d i a d i s ­

p r inc í p i o s de 1 5 4 8 .

p o r d e c a t o rze c a pel ães - c anto res , d e q u a ­

M a te u s de A r anda a c u m u l o u , a o l o n g o d a

tro

na

s u a es t a d a em É v o r a ( 1 5 2 8 - 1 5 4 4 ) , o s c a r -

depend ênc i a d o mes t re-es c o l a p a r a o ser­

g o s de mes t re d a c a pel a , i s t o é , de m aes ­

viço l i tú rgico e dos quatro novos moços ,

t r o , e de mes t re d a c l a u s t r a , o u p r o fes s o r

moços

do

c o ro

q ue es t a v a m

ex p res s a m en te c o ns a g r a d o s à a p rend i z a ­

de música. Após a sua partida para pro­

gem e exec u ç ã o d o c a n t o l i t ú r g i c o .

fes s o r d a U n i vers i d a de d e C o i m b r a fo r a m

C o m o fr u t o d o seu en S I n o e p a r a a p o I O

es t a s fu n ç ões sep a r a d a s . C o m o mest res d a

p ed a g ó g i c o a o s a l u n o s , o mes t r e c a s te­

c a p e l a s u ceder a m - l he , a o l on g o d o s é ­

l h a n o esc reveu d u a s o b r a s de teo r i a m u -

culo

s i c a l , v o l t a d a s , res pec t i v a men te, p a r a o

d r é N u nes ( 1 5 6 3 - 1 5 7 7 ) e C o s me Del g a d o

c anto greg o r i ano ( c a n t o c h ã o ) e p a r a a p o ­

( 1 5 7 ? - 1 5 9 6 ) ; c o m o mes t res d a c l a u s t r a ,

l i fo n i a s a c r a ( c anto d e ó r g ã o ) : o Tra ctaelo

e n s i n a r a m F r a n c i s c o Velez ( 1 5 4 4 - 1 5 7 ? ) ,

ele Ca n t o !fa n o, em 1 5 3 3 , q ue é a o b r a

M a n uel Meneies ( 1 5 7 8 - 1 5 8 9 ) e F i l i pe ele

a q u i a p resen t a d a , e o Tractado de Ca n to

M a g a l h ães ( 1 5 8 9 - 1 6 0 4 ) [Aleg r i a , 1 9 7 3 ] .

Mens u ralle, em 1 5 3 4 .

XVI ,

M anuel D i a s ( 1 5 4 4 - 1 5 6 3 ) , An­

l(tJ l

r e l a ç ã o à d e M a t e u s d e A r and a , I m p r e s s a

FERNANDES, A n t ó n i o A 1·te d e Musica d e Ca n to d ' 0 1'ga m, e Ca n to Ch a m, e Prop o rções de Mus ic a div ididas h a r m o n ica m e n te Li s b o a : P e d r o C r a e s b e e ck, 1 6 2 6 . N o r o s t o i n d i c a - s e q u e fo i "Di r i g i d a ao i n s i g n e D u a r t e L o b o Qu a r t an ar i o e m e s tre d e M u s i c a n a S . S é d e L i s b o a" C o t a : B P E , Res. 3 3 2 . R e f. : I n o c ê n c i o , t o m o I , p , 1 3 7 ; t o m o VI I I , p , 1 4 2 ,

:,':'A R T , E D 'E 'M V S I C A D E C A N , T O D O R G A M . E C A NT O eh am 1 & »ropor�oés 9:t Mufica . diuididas h ar1honica'lllen te.

..

uns n o v e n t a anos ant e s , o

a m b i en t e m u s i c a l p o r t u g u ê s h a v i a j á

s i d o enr i q u e c i d o c o m o b r a s d e g r an d e s c o m p o s i t o r e s d e p o l i fo n i a s a c r a , c o m o D u a r t e L o b o e fre i M anu e l C a r d o s o , a m bos s a í d o s da escola da Catedral de É v o r a . Ant ó n i o F e r n an d e s a p r o v e i t o u e s s e s r e c u r s o s e t e o r i z o u - o s na s u a o b r a , a p n m e l fa s o b re teo ria e prática musI­ c a i s e s c r i t a e m p o r t u g u ê s e q u e fo i a d o p ­ tada nas e s c o l a s de m ú s ica r e l i g i o s a p o r t u g u e s a d u rante c e r c a d e s e i s d e z e nas d e ano s . A A rte de M úsica p e r m i t e -no s conh e c e r o

,C O M,�Q S T A tp d 'r( A N'T,O ZX 1 0 F g 11t� ,lIan,{e{, lIa/ufal d4 \Iii/a de SÓlizt�rneflre de Mufi" IIQ Igreja de S.eatherill.l de IIlOllte 8'1/1;. ,

, ,

D I R I G I D A A O l N S I G N E ll V A R T Ê Lobo Qumaoario,& lUCnre de Mu/ica n; S.SC de Lisboa,

p ano r a m a d o ens ino m u s i c a l d a s g r an d e s e s c o l a s p o r t u g u e s as d o t e m p o , q u e e r a m a s d as s é s d e É v o r a e L i s b o a e a d o C o légio dos Reis Magos de Vila Viçosa, A l i g a ç ã o d e s t a o b ra a Év o r a t e m q u e v e r c o m a e s c o l a m u s i cal e m q u e s e fi l i o u An­ t ó n i o F e rn an d e s , C o m e fe i t o , as r a í z e s d e s s e m o v i m en t o a r t í s t i c o s i t u a m - s e na Sé de É v o r a , onde o c a r d e a l D . Afons o ,

E11I L1f&6':

C9m /i(tI1f' d, S· lII'l"iJif'õ o,din"i" Ó"'PA(';

"

P.>[ PcJi:o Cra,:sb:cek Imi'r.el�Qr' aciR.ey, A.n�J J ' L�,

� �

\

i r m ã o d e D . J o ã o I I I e d o fu t u r o a r c e ­ b i s p o , o c a r d e a l D , H en r i q u e , e s t a b e l e c e u c o m o m e s t r e d e c anto d e ó r g ã o , e m 1 5 2 8 , o c a s t e l h ano M a t e u s d e A r an d a ,

c e ó d c o fi O " " ] A o ' ó o i o F " o , o d e >

c o m o j á fo i r e fe r i d o .

nas c e u e m S o u s e l e m o r r e u e m L i s -

O s u c e s s o r d e A r and a n o m e s t r a d o e b o -

b o a, e m d a t a ind e te r m ina d a do s é c u l o XVI I ,

rense fo i F r a n c i s c o Ve l e z , t a m b é m e l e a u -

t e n d o s i d o m e s t r e d e m ú s i c a n a I g rej a d e

r o r d e u m Tra tado de Can to Chão de Cinco

S a n t a C a t a r ina d o M o n t e S ina i .

Co rdas e de Um a e de Can to de 6 rgão e

A o b r a q u e h oj e e x p o m o s m a r c a u m I m -

Co n tra Po n to, q u e n ã o c h e g o u a s e r i m ­

p o r t an t e p r o g r e s s o t e ó r i c o e p r á t i c o e m

presso e se perdeu,

A F r anc i s c o Ve l e z s u c e d e u M an u e l M end e s , q u e , se o u t r o m é r i t o e g l ó ria não t i ­ v e r a , l h e b a s t a r i a o d e t e r s i do m e s t re d e D u a r t e L o b o q u e , p o r s u a v e z , o fo i , a partir de 1 596, na claustra de Lisboa, de A ntón i o F e rnand e s . M a n u e l M en d e s t a m b é m d e i x o u e s c r i t a u m a A rte de Música, c U Jo m an u s c r i t o se p e r d e u j un t a m en t e c o m a L i v r a r i a d e M ú s i c a d e D . J o ã o I V. l e/ J L

M a n u s c r i t o , p e rga m i n h o , 6 0 , 5 X 4 1 c m , fó l i o s C X L l X a CCLXX ( t ra t a- s e c e r t a m e n t e d e u m s e g u n d o v o ­ l u m e d a o b ra d e c u j o p r i m e i r o v o l u m e s e d e s c o ­ n hece o p a r a d e i ro) , i l u m i n u ra s d e p ág i n a i n te i ra e d e t a m a n h o s m a i s r e d u z i d o s , a c o re s e a o u r o , b a n d a s s o b re t u d o de t i p o vege t a l i s t a e c a p i t a i s o r n a m e n t a d a s de fe i ç ã o d e s i g u a l , s e n d o u m a s m u i t o m a i s p e r fe i t a s d o q u e o u tras . E n ca d e r n ação e m c o u r o s o b r e m a d e i r a c o m d e c o r a ção i m p re s s a a s e c o , p re g a r i a e r e s t o s de fe c h o s em m e t a l . B o m e s t a d o d e c o n s e r v a ç ã o , exc e p t o q u a n t o a o s d o i s fó l i o s i n i c i a i s , q u e d ev e m t e r s i d o a n e x a d o s . A d e s c r i ç ã o q u e s e i n d i c a c o m o t ít u l o fo i r e t i r a d a d e u m r ó t u l o , q u e se e n co n t r a n a l o m b a d a , i m p re s s o a o u r o fi n o . A p e s a r d i s s o , e s t a m a g n í fi c a e s p é c i e t e m a s c a ­ rac t e r í s t i c a s d e u m a n t i fo n á r i o . No segu n d o fó l i o , a o a l t o , l ê - s e u m n o m e , q u e se e n c o n t r a d e n t r o d e u m a c a r t e l a "Do /1ft L e o l/ o r drts Cbrtgrts ". No m e s m o fó ­ l i o , e m b a i x o , e a p re s e n t a d o d o m e s m o m o d o l ê - s e "frt c i e b rt f F. ptJ i liip us de P/rt­ gis" , cer t a m e n te a i n d i cação d o c o p i s t a o u d o i l u m i n a d o r. A d a t a , 1 5 5 1 , e n co n t r a - s e n o v e r s o d o m e s m o fó l i o , e m b a n d a q u e e n v o lve a c a p i t u l a r M . C o t a : B P E , Mrtl/uscritos, Fundo Mrtn izolrt, cód. 1 1 6 a . R e f. : A l e g r i a , p . 1 5 4 . -

[Miss a l q u e c o m essa n a 2. ri feira da 3. ri do m inga da Q u a r'esma com o Credo dos A nj o s] 1 55 1

447

m a n t i fo n á r i o ( A n tiph o n a l'ium, A n ­

t ó r i c a s u r p reen den te. F o i es c r i t o e/ o u i l u ­

tip h o n a /e m issa r u m, o u A n tip h o n a ­

m i n a d o p o r frei F i l i pe d a s C h a g a s , c u j o

n us /i b e l') é u m a c o lec t â nea q ue c o n t é m ,

n o me, em l a t i m , se i n d i c o u n a des c r i ç ã o .

n o r m a l mente, a s a n t í fo n a s o u o s c a n t o s

I CIl L

d a a s sem b le i a n a m i s s a , i s t o é , o s c a n t o s d o I n r r ó i t o , d o G r a d u a l , d o O fer t ó r i o e d a C o m u n h ã o . Ta m b é m p o d i a i n c l u i r a s a n t í fo n a s d o O fí c i o e o u t r a s p a r tes d a m i s s a , c o m o é o c a s o d o p resen te, q ue

[ Missal

c o n t é m u m Ky rie e u m Credo .

S é c u l o XVI

A o r i gem d o s a n t i fo n á r i o s rem o n t a a fi n s

M a n us c r i t o , p e rg; a m i n h o , 3 4 , 5 X 2 4 , 5 cm, 23 fó l i o s n u m e r a d o s a l á p i s , i l u m i n u ra s e m t a r j a s e c a p i t u ­ l a res a c o res e o u r o , d e fe i ç ã o vege t a l i s t a , a l g u m a s d e l as d e m u i t o b o a e x e c u ç ã o . L e t r a d o s é c u l o XVI . E n c a d e r n a ç ã o em c o u r o s o bre m a d e i r a c o m d e c o ­ r a ç ã o i m p re s s a a s e c o e r e s t o s d e fe c h o s e m m e t a l , d a é p o c a . E s ta d o r a z o á ve l . O t í t u l o q u e s e i n d i c a e n c o n t r a - s e e s c r i to e m p a ­ p e I c o l a d o n a l o m b a d a , e m e s p a ç o i n te r n e r v u r a l . A n o ta ç ã o m u s i c a l p re e n c h e o s fó l i o s 1 4 , 1 5 e 1 6 , e m p a u t a s de c i n c o l i n h as t r a ç a d a s a v e r m e l h o . C o t a : B P E , Ma n us critos, c ó d . CXXV/ 2 - 8 . R e f. : A l e g r i a , p p . 1 3 6 - 1 3 7 .

do s éculo

IV .

O papa S ão D â maso ( 3 6 6 -

- 3 8 4 ) , a p o i a d o p o r S ã o Jer ó n i m o , co meç o u a reu n i r os c a n t o s d a M i s s a n u m a c o lec ç ã o , q ue fo i c o n t i n u a d a pel o s p a p a s Leã o I ( 4 4 0 - 4 6 1 ) , G el á s i o ( 4 9 2 - 4 9 6 ) , S í ­ maco ( 4 9 8- 5 1 4) , João I ( 5 2 3 - 5 26) , Bo­ n i fá c i o I I ( 5 3 0 - 5 3 2 ) , G reg ó r i o M a g n o ( 5 9 0-604) e M artinho I (649-6 5 5 ) . A i n ter ven ç ã o de S ã o G reg ó r i o M a g n o fo i de capital importância, por um lado, por­ q u e p r o m o v e u a refo r m a d o c a n t o d a I grej a , l i ber t a n d o - o d e elemen t o s des neces s á r i o s e p r o fa n o s , i m p r i m i n d o - l he a s i m p l i c i d a de, a rel i g i o s i d ade e a beleza t í p i c a d a m ú s i c a q ue recebeu p rec i s a me n te o seu n o me, o g rego r i a n o , e, p o r o u t r o , p o r q ue a s u a c o m p i l a ç ã o , a i n d a q ue se ten h a per d i d o , es t á n a b a se de m u i t a s o u t r a s , med iev a i s , q ue cheg a r a m a t é a o s n o s s o s d i a s . O p res e n te A n tip h o n a ri u J?1 é o seg u n d o v o l u me d e u m c o nj u n t o d e v á r i o s t o m o s , q ue co meça n o tercei r o D o m i n go d a Qua­ r es m a e ter m i n a no S á b a d o S a n t o . Tem p á g i n a s de u m a beleza c a l i g r á fi c a e p l C -

e

S u m a 1'io da In s tituição]

q u e p ella justiça ec!esiastica lhe fosse p e ­ dielo ". E m fo l h a s o l t a , c o l o c a d a n o i n í c i o d o c ó ­ d i c e e s c r ev e u - s e : " O Bisp o de Fez D. Fra n -

c i s c o , a q u e m se m a n do u e n trega r este JvIissal como Pri o r de São Pedro fo)' B isp o Co a dj u t o r de .É v o ra n o temp o elo B isp o D . Affo n ç o de Po rtugal; e fo)' Mestre el 'el ReJ' D . Ala n o el, e s e u esmo ller. Co nsta elo

L i vro 1 . ela s ua Cha n cella ria a f 2 1 0, n a o

To rre d o To m b o . "

Qu a n t o à

r

a i n h a D . B e a t r i z , fi l h a d e

o n t é m e s t e c ó d i c e o t e x t o d as m l s -

D . F e r n a n d o e d e L e o n o r Te l e s , s a b e - s e

s a s q u e se c a n t a v a m n a c a p e l a i n s -

q u e n a s c e u em C o i m b ra em 1 3 7 2 e m o r -

t i t u í d a por M a r i a D o m i n g u e s , camareira

reu depois de 1 409.

d a ra i n h a D . B e a t r iz , n a I g r e j a d e S ã o

Considerando-se, ass i m , q u e Maria D o ­

P e d r o d e Év o r a .

m I n g u e s fo i c a m a r e i r a d a r a i n h a e q u e o

Era administrador da capela Fernão Bor­

b i s p o d e Fez, D . F r a n c i s c o , t e r á s i d o m a i s

g e s , fi d a l g o d a c a s a d e e l - r e i , o q u a l e n ­

ve l h o d o q u e D. M a n u e l mas c o n te m p o ­

t r e g o u e s t e l i v r o a o p r i o r d a d i t a i g rej a ,

r â n e o d o b i s p o D . Afo n s o , é p o s s í v e l d a ­

D . Francisco, b i s p o de Fez.

tar este l ivro dos inícios do século

I n c l u i o texto m us ic a l das m is s a s de d e -

IC/I L

fu n t o s , d a Beata Virgin e Ala ria, d o s A p ó s ­ ,,:.:l?

r(rlHt:l'h\� ,llir .1H'(,'pllI

v i s i t a ç ã o , e m 1 6 0 1 , e fe c t u a d a p e l o l i -

qU.lIIlt.,llllo,ltllu:; ,nw �'l'.t fr1h· h �.\ni. 1 iNl.lili)

c e n c i a d o A n t ó n i o Te m u d o , d e q u e fo i e s ­ Lopes,

tendo

\' �i �� l lI liirl

illhli\'IIt1 lr�:t."'l.l:; m,l!· � ( I1Ilf trIl1 L1ll n: l lll "f t'nll1[ h",

\"�'(\' lIh'.t!3li.1 p:'l.no {'nci"

F r a n c i s c o Ra m a l h o , p o r t e r p r o c u ração c o m o fe i t o r d e L u í s B o t e l h o d ' A n d r a d e ,

" k"i: "1" 1I1 l " "h'n:tnl'llIli�'t d,\H (t.1

01;:"" ;, "1111111,,,'.1 11"1'11 NOnt�:lIi.\ 111 Cl'1t h.'lOl'�· fr "1II111. rh'It(.§l·� 111"11

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1111111I :lIÜIll ,lffit llhn q': Il I.h�l \lt,h.f.lf tll\r !(IUIU"

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i1l1�'\\h, n'm t'h nll:�'r nt' ...

g o u "a da r c o n ta d o dito Li v r o cada v es .� .

�'.:.

449

pensado d o s votos e despedido p o r Santo I n á c i o d e L o i o l a , d e v i d o a o s e u fe i t i o ,

[A n tifo n ário de m ã o } M an u s c r i t o , pergam i n ho , c e rca de 7 , 7 x 1 1 c m , 3 0 fó l i o s i n u me r a d o s , c a p i t a i s d e c o r a d a s d e fo r m a m u i t o s i m p l e s . E n ca d e r n a ç ã o d e c o u r o c o m d e c o ­ r a ç ã o i m p re s s a a s e c o . E s t ad o r a z o á v e l d o p e r g a m i n h o . E s t ad o d e fi c i e n t e d a e n ca d e r n aç ã o , c o m s i n a i s d e m u i t o li S O . I n c l u i 2 1 fó l i o s d e m ús i ca e 9 c o m t e x t o s d e s a l mos. N o ta ç ã o q u ad ra d a a s s e n t e s o b re o p e n t a g r a m a e m e l o d i a s s i m p l i fi c a d a s . O fe r e c i d o p o r D . Te o t ó n i o d e B r a g a n ç a a o C o nv e n to d a C a r t u x a d e É v o r a , c o m o s e i n d i c a e m n o t a m a n u s c r i t a n o p r i m e i ro fó l i o . C o t a : B P E , Ma ll u s c r i tos, c ó d . C X X I V / 2 - 8 . R e f. : A l e g r i a , p . 1 3 6 , n . O 1 2 .

p o u c o d e a c o rd o c o m as regras d o s Jesuítas. Te n d o - s e d i r i g i d o a P a r i s , d o u torou-se na s ua Universidade e m Te o l o g i a . C o n h e c e u e fo i p r ó x i m o d e p e rs o n a g e n s c é l e b r e s , como São Carlos B orromeu e Sant a Te r e s a d e J e s u s , e m c u j a s o b ras s e e n c o n tr a m cartas a D . Te o t ó n i o , s e n d o d e l a -

450

Te o t ó n i o d e B r a g a n ç a , a r c e b i s p o d e

menta r que as que ele es­

Év o r a , n a s c e u em C o i m b r a , em

c reve u à san ta se tenham

1 5 3 0 , e m o r r e u e m Va l l a d o l i d , e m 1 6 0 2 .

perdido

F i l h o de D . J a i m e , d uque de B ragança,

tempo [Gomes, 1 9 8 3 ] .

e d e s u a s e g u n d a m u l h e r, D . J o a n a d e

O d u q u e s e u i rm ão d e u - l h e

Mendonça, e s t u d o u n o M o s te i r o de Santa

a tesouraria d a colegiada de

Cruz d a sua cidade n a ta l , o n de entrou

G ui m arães e u m cu rato hu-

para a Companhia de Jesus, em 1 549,

m i l d e e m Trás - o s - M o n t e s o

contra a vontade d e s e u i rmão, o duque

E m 1 5 7 8 , o c a rd e a l D . H e n -

D . Te o d ó s i o I . N o e n t a n t o , p o u c o t e m p o

r1que,

fico u na C o m p a n h i a , t e n d o s i d o d i s -

arceb ispo

na

pela de

vo ragem

do

segunda

vez

Évora,

es-

c o l h e u - o p a r a s e u c o a dj u t o r, c o m fu t u r a

l i z a r, i n d i v i d u a l m en t e , q u and o e s t a v a m

s u c e s s ã o , o q u e v e i o a a c ont e c e r q u a n d o

i m p e d i d o s d e p a r t i c i p a r na r e c i t a ç ã o c o ­

aquele empunhou o cep tro real. Foi

m u n i t á r i a d o O fí c i o .

e n t r oni z a d o n a a r q u i d i o c e s e e m

I C/I L

1 578. C o m o a r c e b i s p o d e Év o r a , fo i c o n s i d e r a d o m o d e l a r , vivend o p o b re m e n t e e d an d o m o s t r a s d e grande abnega ção e mo­

[An tifo n bioj

d é s t i a , a p o n to d e não t e r

Começa:

a c e i t a d o o c a r d ina l a t o , o fe r e c i d o p o r G re g ó r i o

XI II.

N a m e s m a c i d a d e , fu n d o u , além d a primeira Cartuxa de P o r t u ga l , a que legou a s u a r i q u í s s i m a b i b l i o t e c a , o s con­ v e n t o s do Sa l v a d o r e d o s R e m é d i o s , o C o l é g i o de S ã o Manços, os recol hi m entos da Piedade e de Santa Maria Madalena, o Hospi tal da Pie­ d a d e e , n o To r r ã o , o C o n v e n t o d e N o s s a Senh o r a d a

"fllcipit p rop r i u lII Sall c t o r u lII d e lII issali iII

vigilia sallcti A ll dree ap o s to U . Ad lII isalll. flltroy t u s . "

E s t e t í t u l o e s tá e s c r i to a v e r m e l h o d e n t r o d e c e r ­ c a d u r a c o l o r i d a c o m r e l e v o p a r a a i n i ci a l , a c o r e s e c o m d u a s fi g u ras n u m b a rco r e p re s e n ta n do S a n t o A n d ré e S ã o P e d r o , ve n d o - s e J e s us a n d a n d o s o b re as á g u a s . M a n us c r i t o , e m p e r g a m i n h o , 7 1 x 5 2 , 5 c m , 1 7 6 fó­ l i as n u m e r a d o s , b e l as i l u m i n u ra s c o l o r i d a s e r e a l ­ ç a d a s a o u ro fi n o , c a p i t ai s d e b o a exe c u ç ã o t é c n i c a a v e r m e l h o e a z u l . E n c a d e r n a ç ã o e m c o u ro s o b re m a d e i r a , c o m g u a r d a s , p re g a r i a e fec h o s e m c o b re . E s t a d o d e c o n s e r v a ç ã o s o fr í v e l , n ec es s i ta n d o d e res­ tauro. N o v e r s o d o fó l i o 6 7 fo i des e n h ad a e c o l o r i d a u m a c a p i t a l n a q u al s e r e p r e s e n t a r a m fra d e s j e r ó n i m os escreve n d o e i l u m i n an d o , s o b o o l h a r a t e n to de o u ­ t r o s s e u s c o n fr a d e s , d o n d e s e p o d e p re s u m i r q u e t e n h a e s t e c ó d i c e s i d o p e r t e n ç a d o M o s t e i ro d o s J e ­ rónimos do E s p i n h e i r o , o n d e ho uve u m a escol a de p i n t u ra n a q u a l s e c e l e b r i z o u F r e i C a r l o s . C o t a : A D E , Mall uscritos de II1lÍsica, N//Í sica L itlÍr­ gica, m s . n . O 7 2 . R e f. : A l e g r i a , p . 2 0 2 .

Graça. F o i s e p u l t a d o e m Év o r a , q u e t a n t o l h e fi c o u a d ev e r, s o b re t u d o n o c a m p o d a a s s i s tênc i a , na i grej a d o C o n v e n t o de Santo Antóni o . o

p r e s e n t e a n t i fo n á r i o , c o m o

o d e m o n s t r a m a s s u as r e d u z i d a s d im e n s õ e s , e ra u m d o s m u i t o s e x e m p l a re s q u e a c o ­ m uni d a d e m o n á s t i c a p o s s u í a e q u e o s mo nges p o d i a m u ti -

• •

•

451

·

, ,

c e r á e s e r á e nt e r r a d o , e nt r e

1 540 e

1 560. S u p õ e - s e q u e , ant e s d e e n t r a r p a r a o E s ­ p inh e i r o , t e n h a e s t a d o n o C onvento d o s J e r óni m o s , e m B e l é m . A p a rent e m en t e fo r m a d o n a e s c o l a d e p l nt u r a de B r u g e s , fo i u m a r t i s t a a r c a i z an t e , no t a b i l i zand o - s e p o r d o t e s p r i v i l e g i a d o s d e s e ns i b i l i d a d e , q u e s e m a t e r i a l i z a r a m e m c o m p o s i

��

f-

6;'.

::�. p.J

mingos

Banez,

d e fe n s o r

a cé r r i m o

da

p r e d e t e r m i n a ç ã o fí s i c a d a l i b e r d a d e h u -

459

m ana p o r D e u s , moveram-lhe u m a guerra

p r i v a d a e p u b l i c a m e n te , c o m o e l e p r ó ­

s e m t r é g u a s . O t e ó l ogo c o n s e g u i u v e n c e r

p r i o a fir m a , a d o u t r i n a d a c i ê n c i a m é d i a .

to d o s o s o b s t á c u l o s e l ev a r a c a b o a I m ­

C o m e fe ito , a o m i n i st r a r n o C o l é g i o d a s

p ressão da obra, em Lisboa, em 1 5 8 8 .

A r t e s o c u r s o d e F i l o s o fi a d e I 5 6 3 - 1 5 6 4

A p a rt i r d e e n t ã o , a s e d i ç õ e s s u c e d e r a m ­

a 1 5 6 6 - 1 5 6 7 e a o tratar e x t e n s a m e n t e a

- s e e a Co n co l'dia g a l g o u fro n te i r a s , e n t r o u

te m á t i c a d o c o n h e c i m e nto d i vin o d o s fu ­

n as grandes academias d a Europa e a t r a i u

t u r o s c o n t i n g e nte s , n o p r i m e i r o l i v r o d o

a s ate n ç õ e s d e te ó l o g os e fi l ó s o fo s p a r a o

Pe r i h e r l71 e n ias, M o l i n a n ã o fe z q u a l q u e r

s e u a ut o r e p a r a a U n i v e r s i d a d e d e É v o r a .

r e fe r ê n c i a à c i ê n c i a m é d i a , n e m m e s m o

A c i ê n c i a m é d i a s it u a - s e e n t r e d u a s o u ­

com o nome d e ciência natural. Limitou­

tras ciências de Deus: a natural, ou ne­

- s e a a t r i b u i r a o u t r o s a a fi r m a ç ã o d e q u e

cessária, ou de simples i nteligência, pela

D e u s c o n h e c e n ã o s ó o s fu t u r o s c o nti n ­

q u al D e u s c o n hece t o d o s o s s e res p o s s í­

g e n tes , m a s t a m b é m o s flt tlt l'Íveis, s e m ex­

v e i s c o m o m e r a m e n t e p o s s íveis ; a c i ê n ­

p l i c a r o m o d o c o m o os c o n h e c e , i s t o é ,

cia l ivre, ou de visão, pela q ual Deus

a c i ê n c i a m é d i a , d e q u e m a is t a r d e viria

c o n h e c e p re s e ncial m e n t e t o d o s o s s e r e s e

a r e c l a m a r a p a t e r n i d a d e , si t u a n d o - a p r e ­

a c o n t e c i m e n to s realmen t e e x i s t e n t e s : o s

c i s a m e n t e n e s s a é p o c a [ c E. Perih el' m i n ias

p assados,

s e ll de ln t e rp re t a t i o n e, c. 8 ; B P E , c ó d .

os

p resentes

e

os

futu r o s .

A ciê n cia m é dia , s i t u a n d o - s e en tre as d u a s

CXVI I l / 1 - 6 , n . 1 8 9 vJ .

p rimeiras, permite a D e us conhecer os

O fac t o d e o A r i s t ó t e l e s P o rt u g u ê s ter s i d o

futu r í v e i s o u fu t u r o s l i v r e s , i s t o é , o s fu ­

o a uto r d a d o utr i n a d a c i ê n c i a m é d i a n ã o

t u r o s c o n d i ci o n a d o s p o r c i r c u n st â n c i a s

r e t i r a a L u is d e M o l i n a a h o n r a d e t e r

n a t u r a l m e nte i m p r e v i s í v e i s .

sido o p r i m e i ro a p u b l i cá - I a ( L i s b o a ,

A i n d a h o j e s e dis c u t e s o b r e a p a t e r n i d a d e

1 5 8 8 ) e a d e fe n d ê - I a t e n a z m e n t e c o n t r a

d a c i ê n c i a m é dia , q u e r e c e b e u o n o m e d e

t o d o s o s ata q u e s q u e l h e fo r a m 1ll 0 v i d o s 2 .

molinismo, se a Molina, se a Pedro da Fon­

Em qualquer das hipó teses, coube à Uni­

seca. Com argumentos quase idênticos, am­

v e r s i d a d e d e Í� v o r a a g l ó r i a d e t e r s i d o o

b o s r e i v i n d i c a r a m p a ra si e s s a g l ó r i a .

p a l c o o n d e fo i p e l a p r i m e i r a v e z e n s i n a d a

I n cl i n a m o - n o s p a r a a p r i o ri d a d e d o "A r i s ­

a ciência média. Fonseca ensinou-a no

t ó teles P o r t u g u ê s " , que a começou a ensi­

c u r s o d e Te o l o g i a q u e m i n i s t r o u e nt r e

n a r e d i vu l gar c o m o n o m e d e " c i ê n c i a

1 5 6 4 e 1 5 6 6 , a o t r a t a r as q u estõ es d a p r o ­

m é d i a" , q u a n d o , e n t re 1 5 6 4 e 1 5 6 6 , l e c ­

v i d ê n c i a d i v i n a e d a pred e s t i n a ç ã o ; Mo­

c i o n ava Te o l o g i a n a U n i ve r s i d a d e d e É v o r a .

l i n a e n sin o u - a e m 1 5 7 2 , q u a n d o d i t o u o s

É de p ô r s e r i a m e n t e e m d ú v i d a q u e M o ­

Co m e n tá rios

l i na t e n h a discutido e ass u m i d o , em 1 5 6 2 ,

a d i s t i n ç ã o e n t re fut u r o e fu t u r í v e l .

li 1

Pa rte d a Slt l11 ma, o n d e fez

L u í s d e M o l ina e s c r e v e u o u t r a s o b r a s ,

A p e s a r d a s ins t ânc i a s d o p r o v inc i a l p o r -

a l é m d a s d u a s q u e a g o r a ex p o m o s . A p r i ­

tu g u ê s p a r a r e g r e s s a r e d e l h e r e r env i a ­

m e i r a a s e r e s c r i t a fo i o c u r s o d e F i l o s o -

do a m o s r ras d e novos r i p a s de l e t ra

fi a q u e m ini s t r o u a o s a l uno s d o C o l é g i o

ex i s t en t e s e m P o r t u g a l , M o l ina r e s i sti u

d a s A rte s , entr e 1 5 6 3 e 1 5 6 7 , e q u e , a p e -

s e m p r e c o m u m não r otund o .

s a l' d o s e u e s fo r ç o p a r a o i m p o r c o m o

D o i s a n o s d e p o i s , a Uni v e r s i d a d e d e

a lte rna t i v a a o

Cu rslt s Co n i m b ri c e n sis,

C o i m b r a e a C o m p anh i a d e J e s u s a inda

a i n d a h o j e se enc ont r a iné d i t o [ c f. B P E ,

v o l t a r a m a p r o p o r a M o l ina o r e g r e s s o a

c ó d . CXV I l I l I - 6 . 1 1 8 / 1 - 6 ) .

P o r t u g a l , d e s t a v e z p a r a o c u p a r a cáte d r a

D e p o i s d a CO l1 c o rdia, e s c r e v e u o s C o ­

d e Prima d a q u e l a a c a d e m i a , então v a g a ,

m ent á r i o s à Su m m a Theo logica d e São To ­

mas F i l i p e

m á s , d e q u e o s Co m m en taria in Pri m a m

c ont r o v é r s i a s à v o l t a d a CO l1 co rdia, p r e ­

D i u i Th o m a e p a rtem, q u e r e c o l h e m u m a

te r i u - o e m fa v o r d o g r a n d e p ens a d o r

p a r t e d a s u a d o c ênc i a n a Uni v e r s i d a d e d e

F r anc i s c o S u á r e z , q u e t a m b é m h a v i a s i d o

É vo r a , i s t o é , a m ini str a d a d e s d e o final

ind i g i r a d o p o r a q u e l a s d u a s ins r i t u i ç õ e s 3 .

de Sete m b r o de 1 5 7 0 até 3 1 d e J u l h o de

O exe m p l a r q u e a g o r a s e exp õ e d a CO l1 -

1 5 7 3 , fo r a m p u b l i c a d o s , j á em C u en c a ,

co retia r e m o i n r e r e s s e a c r e s c i d o d e r e r

s u a t e r r a na t a l , e m 1 5 9 2 .

p e rtenc i d o à b i b l i o t e c a p ú b l i c a d o " c o l -

A p e s a r d e s s e v a l o r , não fo i fá c i l nem p a ­

l e g i i r e g a l i s e b o r ens i s " d e N o s s a Senh o r a

c í fi c a a s u a p u b l i c a ç ã o . O s o b s t á c u l o s e

d a P u r i fi c a ç ã o , l i g a d o à Uni v e r s i d a d e d e

d e l o n g a s s a t u r a r a m d e t a l m ane i r a M o ­

Év o r a , c o m o s e ind i c a e m no r a m anu s -

l i n a q u e , e m b r e v e , s e exa s p e r o u c o n t r a

c r i r a n o s e u r o s r o . R e fe r e t a m b é m , e m

t u d o e c ontr a t o d o s a q u e l e s q u e e l e p en­

no r a m anu s c r i t a l an ç a d a n a zona d o p é

s a va q u e s e o p unh am a o s e u p ens a m en t o .

d e i m p r ens a , t e r s i d o c o m p r a d o p e l o

Quando t u d o p a r e c i a s o l u c i ona d o , os âni -

mesmo colégio em 1 6 3 5 . 3

II ,

talvez para evi tar novas

I (/) L

m o s m a i s s e rena d o s e a o b r a e m c ond i ç õ e s d e s e r i m p r e s s a , M o l ina , r e s sent i d o p e l a s d i fi c u l d a d e s ant e r i o r e s e a g a s t a d o p e l a s d e l on g a s q u e c o ntinu a v a m a b l o -

I

O u t r a s e d i ç õ e s da

neza,

Antuérpia,

q u e a r o pro cess o , s o l i c i t o u a a u to rização d o s s u p e r i o r e s p a r a a b and ona r P o r t u g a l . E m J ane i r o d e 1 5 9 1 r e g r e s s a v a a E s p a ­

2

C o n c o rdía : C u e n c a , 1 5 9 2 ; l i ã o , 1 5 9 3 ; Ve ­

1 5 9 4 ; A n t u é r p i a , 1 5 9 5 ; Ve n e z a , 1 6 0 2 ; A n t u é r p i a , 1 6 0 9 ; 1615;

Lei pzig, 17 22;

1876.

v e r R o d ri g u e s ,

His t ó ria,

II,

I I . p . ' 5 4 e 55. 3

C a r t a de B a l t a s a r B a r r e ira a o Gera l da C o m p a n h i a , e m 1 8 d e

M a i o d e 1 5 9 6 , c i L i n Fra n c i s c o R o d r i g u e s ; " O D o u t o r E x í m i o " n a U n i v e r s i d a d e d e C o i m b r a " , i n B r o t é ria. n . o 2 4 . 1 9 3 7 . p . 4 3 9 .

nh a , p a s s an d o p o r Év o r a , a c i d a d e d e

Para

teve

de

se

m u i t o s s onh o s , m u i t a s r e a l i z a ç õ e s e t a m -

U n i v e rs i d a d e

de

É v o ra ,

b é m de a l g u m a s d es i l u s õ e s .

Paris,

S o b re t o d a e s t a p r o b l e m á t i c a ,

p o d e r l e g a l m e n t e a s s u m i r a c á t e d ra

Eximius

sujeitar

controu como opositor O m u i t o a d m i ra v a .

em

às

provas

coim brã,

de

4 d e J u n h o de

o

Dactor

doutoramento

na

1597, o n d e en­

lente Cristóvão Gil. a q u e m a q uele

dou H u m anidades, Artes, de que recebeu

CO U TO , S e b as t i ã o d o A s s e 1'ti o n es d e Un ivers o Quaestio. Ut1'u m Sp h a e 1'ae m o b iles s i n t n u m e ro undec i m ? Defe n de t Em m a n u e l à C1' u c e, VIII Ma 1' tii, Fe1' ia q u i n ta s o litis s ch o la 1'um h 0 1'is 5 . 1 . : exc u d e b a t E m m an u e l d' A r a uj o , 1601 Cota: B P E , C Azul 6 4 9 8 . R e f. : I V Cel/ l e n ár i o , p . 1 2 6 .

o g r a u d e m e s t r e , e m 1 5 9 6 , e Te o l o g i a , d e p o i s d e t e r ens ina d o F i l o s o fi a e m É v o r a ( 1 5 9 6 ) e no C o l é g i o d a s A r t e s d e C o i m ­ bra ( 1 5 9 7- 1 6 0 1 ) . C on t i n u o u na c i d a d e d o M ond e g o d u r a n t e m a i s q u a t r o ano s , ent r e g u e a o en­ sino

da

Te o l o g i a ,

enq u an t o

lhe

era

c o nfi a d a a r e d a c ç ã o d a L ógica d o Cu rsus

Co n i m b ricen sis. Que fo i e l e o s e u a u t o r, p r o v a - o o Mem o rial d a C o ng r e g a ç ã o P r o ­ v i nc i a l , r e un i d a e m L i s b o a , e m A b r i l d e 1 6 0 6 . N e s s a c o n g r e g a ç ã o , o p a d r e F e rnão R e b e l o , ent ã o p r o c u r a d o r em Ro m a , s u ­ g e rt u q u e fo s s e o p a d r e S e b a s t i ã o d o C o u t o a r e d i g i r a Metafísica, j u s t i fi c and o a s s i m a p r o p o s t a : "Po rq u e fez a L ógica e

n e Lla fez m uytas q u es tões q u e dep o is p a re­ ceo q u e devia reservar p era a Metaphysica, e p e ra ta m bem

ir

tudo mais confo r m e sendo

fei to p o LIa m e s m o A u to r " [ G o m e s , 1 9 6 0 , p. 1 86] . E m 1 6 0 5 r e g r e s s o u a É v o r a , ond e s e d o u ­ t o r o u e m Te o l o g i a , a 2 3 d e J ane i r o d e 1 6 0 5 . Aí a s s u m i u a s e g u n d a c a d e i r a d e M o r a l , a t é 1 6 1 0 , ano e m q u e l h e fo i con­ fi a d a a de Pri m a . D u r ante t o d o esse p er í o d o , até 1 6 2 0 , m an t e v e - s e s e m p r e e m É v o r a , c o m e x fi l ó s o fo p o r t u g u ê s S e b a s t i ã o d o

cepção dos an os de 1 60 5 - 1 60 6 , em que

C o u t o e r a na t u r a l d a v i l a a l ent e -

se deslocou a Coim b ra para tratar da lm-

pna d e O l i v enç a , onde na s c e u e m 1 5 6 7 .

p r e s s ã o d a L ógica, e d e 1 6 1 2 - 1 6 1 3 , p a s -

A b r a ç o u a C o m p anh i a d e J e s u s n o C o l é ­

sados em Lisboa, na redacção e revisão

g i o d o E s p í r i t o S an t o d e É v o r a , q u and o

d a Física d o Cursus Co n i m b ricensis, p a r a

t in h a a p enas 1 5 ano s d e i d a d e . Aí e s t u -

ser reedi tado em Portugal.

D u r a n te es s a l o n g a es t a d a em É v o r a , Se­

a u t o res , n o me a d a men te M a n uel de G ó i s ,

b a s t i ã o do C o u t o p a s s o u p o r u m a d a s

B a l t aza r Á l v a res e Seb a s t i ã o d o C o u t o ,

m a i s d i fíceis fa ses d a s u a v i d a . A s u a n o ­

es t a rem i n t i m a m e n te l i g a d o s à U n i ­

mea ç ã o p a r a v i ce- rei t o r d o C o l é g i o d a

ver s i d a de d e É v o r a , q uer c o m o re­

P u r i fi c a ç ã o de É v o r a , em b o r a d e a c o r d o

l i g i o s o s q uer c o m o a l u n o s , q uer

c o m o s E s t a t u t o s , q ue p rev i a m q ue es se

c o m o p r o fes s o res . D i z ele:

c a r g o p o d i a ser o c u p a d o p o r um c o l eg i a l

p r i m i o - s e e m n o m e des te Sa n c t o

o u p o r u m j es u í t a , p r o v o c o u u m a a u t ê n ­

Co L/egio [de Co i m b ra] o c u rs o fi­

t i c a rev o l u ç ã o p o r p a r te d o s es t u d a n tes ,

Losófico, v u Lga rm e n te e p o r seo ti-

q ue ex i g i a m a n o mea ç ã o de u m eleme n t o

t u Lo, c h a m a do Co n im bricence. Eu

d a s u a c o r p o r a ç ã o . O c o n ten c i o s o fo i de

p o rém Lh e q u ero cha m a r ta m b ém

t a l m o d o g r ave q ue ex i g i u a i n terven ç ã o

Eb o rense, p o rq u e os a ll to res q u e o

d o c a b i d o d a C a ted r a l , d a s a u t o r i d a des

c o mp useriío m a is tinhiío de É v o ra,

c i v i s e a t é da S a n t a S é . ' A p a r t i r d e 1 6 2 0 v i veu s u ces s i v a men te

do que de Co i m b ra . O seu p ri n cipaL e m a i o r a ll to r, a o m e n os a u to r

em L i s b o a , M a d r i d , B r a g a , C o i m b r a e

da m a i o r p a rte, fo i o Padre Ma -

É v o r a , o n de a m o r te o vei o b u s c a r, em

l1UeL de Coes n a t u ra L de Po rteL n este

2 0 de N o vem b r o de 1 6 3 9 , q u a n d o se e n ­

a rceb isp a do [ . . . ] o m es m o veremos

c o n t r ava a des c a n s a r n a H er d a de d e M o n ­

do Pa dre D o u to r S e b a s t i a n de

tes C l a r o s , u m a n o a n tes d a Res t a u r a ç ã o

Co u to q u e fo i a u to r da L óg i c a ;

de P o r t u g a l , p a r a a q u a l e l e t a n t o l u t a r a .

a q u i en tram a m b os n a Co mp a n hia

F o i sep u l t a d o n a C a pe l a d o F u n d a d o r d a

e aqui estudrua m . [. . . ] Pelo que todo esse

C o m p a n h i a d e Jes u s d a I g rej a d o E s p í ­

curso Co n im b ricence com mais razão se deve

r i t o S a n t o de É v o r a , a o l a d o de o u t r o s

cha m a r Ebo rense. Te ve p o rém Co i m b ra a

g r a n des l u m i n a res d a o r d e m , e n t re o s

ven t u ra de assistirem n o seu magnifico Co l­

q u a i s o p r i mei r o rei t o r d a U n i ver s i d a de,

Legio esses tais A u to res, q u a n do s e res o Lve­

Leã o Hen r i q ues .

ram a sair

A l i g a ç ã o de Seb a s t i ã o d o C o u t o e de o u ­

[ F i a l h o , n . O 3 0 5 r, p . 3 0 5 r - 3 0 5 v ) .

t r o s a u t o res d o Cu rslts Co n i m b ricensis a

A L ógica de Seb a s t i ã o d o C o u t o , q ue fo i

É v o r a d á r azão a o c r o n i s t a M a n uel F i a ­

ed i t a d a em C o i m b r a , em 1 6 0 6 , c o m o t í ­

l h o q ue, j á n o i n í c i o d o s é c u l o

t u l o Co m m e n ta r i i Co lLegii Co n i m b ri c e n -

XVI I I ,

re­

ri.

"

Im ­

Luz com essa gra n de o b ra "

c l a m a v a t e n a z m e n te p a r a es s a o b r a o

StS

t í t u l o de Cu rso E b o re n s e, c o m i g u a l d i ­

D i a Lecticam A risto teLis Stagiritae, teve s u ­

rei t o a o q ue c a b i a à c i d a de d o M o n deg o .

ces s i v a s ed i ç ões e m Lyo n ( 1 6 0 7 , 1 6 1 0 e

A p o i av a - se o c r o n i s t a n o fa c t o de o s s e u s

1 622), Colónia ( 1 607, 1 6 1 1 e 1 620) ,

e

Societate

Jes "

1 11

Un i v e r s a m

e Vene z a ( 1 6 1 6 ) . F o i t a m b é m t r a d u z i d a

J á ante s , q u a n d o , em 1 5 3 5 , o fu t u r o r e i

p a r a c h inê s , p e l o p a d r e F r anc i s c o F u r ­

v e i o a Év o r a p a r a s e r p a d rinho d e b ap ­

t a d o , em 1 6 3 l .

t i s m o d e u m fil h o d o m a r q u ê s d e F e r r e i r a

O fi l ó s o fo o I i ve n t i no d e i xo u v á r i a s o b r as

e c onde d e O l i vença e Ten t ú g a l , D . F r an­

t e o l ó g i c a s m anu s c r i t as que r e p r o d u z e m o

c i s c o de M e l o , a Uni v e r s i d a d e de É v o r a

s e u enS ino nas univ e r s i d a d e s d e C o i m b r a

m an i fe s t a r a ine qu i v o c a m en t e q u e e s t av a

e Év o r a e que h o j e s e encont r a m na B i ­

d o l a d o d o d u q u e d e B r a g anç a . D e p o i s

b l i o t e c a N a c i onal de L i s b o a , Quatro Pa re­

do d i s cu rs o a p o te ó ti c o d o p ad re G as p a r

ce res c o m c ó p i a s na To r r e do To m b o

C o r r e i a , na Sé , qu e a u g u r o u a o h o m ena­

[ IAN/TT, Arm á r i o d o s J e s u í t a s 8 , fl s . 5 3 9 r­

g e a d o "/t m a co roa . . . de gló ria ", r e c e b e u - o

- 5 3 9 v] e na B i b l i o t e c a P ú b l i c a d e Év o r a

c o m g a l h a r d i a e j ú b i l o não cont i d o .

[ B P E , c ó d . CXIXI l - 2 4 , f1 s . 3 2 r - 3 2 v) e u m

E r a o ens a i o g e r a l d a s " a l t e r a ç õ e s d e

Sermão q u e [. . . ] s e p rêgo u 71 0 a u to da Fé

1 6 3 7 " qu e , p o r s u a v e z , p re l u d i av a m a

q u e se fez em L isboa a 1 4 de Março de 1 627,

revi ravo l t a d e 1 6 4 0 .

t a m b ém exis tente na m e s m a b i b l i o t e ca

A c o r t e es p anh o l a c o m p r e end e u b e m o a l ­

[ B P E , P. E . - S.

cance da m ov i n:lentação dos j es u í tas d a Uni­

=

B /24 . 5 27] .

E m Va l l a d o l i d p u b l i c o u , e m 1 6 2 5 , a Cen ­

v e r s i d a d e d e É vora, c h a m ando q u a t ro d e l e s ,

s u ra da O b ra d e Frei Serafi m d e Frei tas:

ent r e o s q u a i s Se b a s t i ã o d o C o u t o e G a s ­

D e Justo lmp e r i o L u s i ta n o r u 717 A s ia ti c o .

p a r C o r r e i a , a M ad r i d . Seb a s t i ã o d o C o u to ,

Apes a r das b o as relações d o s Jes u í tas c o m

p o r é m , ne go u - s e a c o m p a r e c e r , invo cando

a d i n a s t i a fi l i p i n a , a Uni v e r s i d a d e d e

a s u a anc i ani d a d e e r a z õ e s d e s a ú d e .

É v o r a t e v e u m p a p e l r e l e v an t e na R e s ­

N o c a s o d e F r anc i s c o F r e i r e , e l e fo i m e ­

t a u r a ção na c i ona l . Ini c i a l m ente d e fens o r a

t i d o na p r i s ã o p o r t e r a p o i a d o o s m o t ins

d o s d i r e i t o s d e D . C a t a r ina d e B r a ganç a ,

de 1 6 3 7 , nu m a s e s s ã o na S é , no t e r c e i r o

d e p r e s s a d i s c e rn i u e a p o I o u o s ent i m ento

D o m ing o d o A d v en t o , 1 3 de D e z e m b r o .

n a c i o n a l q u e , i n c a rna d o na fi g u r a d e

L i b e r t o p o r F il i p e I I I , v o l t o u a m an i fe s ­

D . J o ã o I V, h a v i a d e c o n d u z i r P o r t u g a I à

t a r - s e e fo i d e s t e r r a d o p a r a o P o r t o .

l i b e r t a ç ã o d o j u g o e s p an h o l .

J á d e p o i s d a r e v o l u ç ã o , a Uni v e r s i d a d e

A s " a l t e r a ç õ e s " d e Év o r a d e 1 6 3 7 t iv e r a m

cont inu o u a a p o i a r D . J o ã o I V. Inác i o d e

o a p o i o d e c i d i d o d e m u i t o s m e s t res e a l uno s

M a s c a r en h a s fo i p o r e l e i n c u m b i d o , e m

d a Uni ve r s i d a d e e b o rens e . E s s e a p o i o , m a ­

1 6 4 1 , d e u m a d e l i c a d a m i s s ã o p o l í t i c a na

n i fes t a d o p e l o s p ro fes s o r e s , a t ravés d e s e r­

C a t a l unh a . A s u a inte rvenção fo i d e c i s i va ,

m õ es e o p ús c u l o s , e p e l o s a l uno s , a t ravés

pelo a p o i o m o r a l e a t é m i li t a r que deu

do a l i s t a m ento m i l i t a r , c ont r i b u i u d e c i s i ­

aos catalães. Através de cartas e do apoio

v a m ente p a r a a v i t ó r i a d a c a u s a b r i g ant ina .

q u e , a p a r t i r d e v á r i o s p on t o s d e I t á l i a e

França, prestou às causas p o r tuguesa e ca-

n h a m d e d e fe n d e r , a fi x a n d o - a s n a s s a l a s

talã, granj e o u v i tó r i a s d i p l o m á t i cas q u e

d e a u l a . N a m e s m a m i s c e l â n e a fi g u r a m

o cre d i t a r a m e m P o rt u g a l e n o e s t r a n g e i r o .

doze conclusões da responsabilidade

G raças à sua i n tervenção, m u i tos capi tães

d e S e bas t i ã o d o C o u t o , t o d as e l a s

e n o b r e s p o rt u g u e s e s a b a n d o n a r a m o s

c o n s a g r a d a s à fi l o s o fi a a r i s t o t é l i c a ,

e x é r c i t o s d e C a s t e l a , o n d e s e h a v i a m ai i s -

d e a c o r d o c o m o s p r o g r a m a s o fi ­

tado, e regressaram à P á t r i a .

c i a i s d a s r e fe r i d a s u n i v e r s i d a d e s

A m a i o r e x p r e s s ã o d e fi d e l i d a d e à c a u s a

[ B P E , Es ta tu tos da Un i v e rsida de

d a i n d e p e n d ê n c i a p á t r i a fo i d a d a p e l o j e ­

de É v o ra, c ó d . C X I V / 2 - 3 1 .

s u í t a D i o g o d e A l fa i a q u e , j u n t a m e n t e

r C/J l

c o m o r e i t o r F r a n c isco S o a res e cerca d e u m a c e n t e n a d e a l u n o s , fo i v í t i m a d e u m a e x p l o s ã o de p ó l vo ra e m J u r o m e n h a , e m 1 6 5 9 , q u a n d o p a r t i c ipavam a c t i v a m e n te n a l u ta c o n tra o s Esp a n h ó i s . o

texto q u e s e expõe é o p r i m ei r o de u ma

m iscelânea d e cento e treze conclusões de d i s p u t a s e s t a t u t á r i a s d e F i l o s o fi a , d e fe n ­ d idas por alunos das u niversidades de É vo r a e d e C o i m b r a , e n t r e o s a n o s d e 1 6 0 1 e 1 6 1 0 , s o b a o r i e n taçao e p re s l -

FONSEC A , P e d r o d a (j e s u í t a ) Co m 1ll e ll ta l'io l'lt 1ll [. . . ] ill L i b l'OS Me tap hysi'c 0 1' 1l 1ll A l'isto te lis Stagil' ita e [. . . ] Lugd u n i : S u m p t i b u s H o ratii C a l' d o n , 1 6 0 1 C o t a : B P E , Sala de L e itllra - e s ta n te 6 9 , caIXa 7. R e f. : C a t á l o g o d a S a l a d e L e i t u r a ( fi ­ chei ro) .

dência de u m mestre. Neste caso, o aluno é Manuel da Cruz, o mes tre Sebastiao do C o u t o , e a d i sputa teve l ugar no dia 7 de M arço de 1 60 1 , no Colégio das Artes de C o i m b r a , o n d e o fi l ó s o fo t e r m i n a v a , n e s s e a n o , a d o c ê n c i a d e F i l o s o fi a p a r a e n c e t a r o s e s t u d o s d e Te o l o g i a . A q u e s t ã o , s i n t e t i za d a e m n o v e c o n c l u s õ e s , e r a s o b r e "se

a s Esfe ras m ó v e is são o nz e ". S egundo os E s t a t u t o s , todos os alunos

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