A naturologia no Brasil: histórico, contexto, perfil e definições [1 ed.] 978-897326343-1

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A naturologia no Brasil: histórico, contexto, perfil e definições [1 ed.]
 978-897326343-1

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FÁBIO L. STERN

A Naturologia no Brasil: Histórico, contexto, perfil e definições

1ª edição

São Paulo, 2017

Copyright © 2017 Fábio L. Stern. Título original da Naturologia e espiritualidade: indícios dos valores do dissertação: movimento da Nova Era entre naturólogos formados no Brasil. Defesa: PPG: Financiamento: Orientação: Membros da banca:

18 de setembro de 2015. Ciência da Religião (PUC-SP). CAPES, CNPq e FUNDASP. Dr. Silas Guerriero (PUC-SP). Drª. Adriana Elias M. da Silva (UAM). Drª. Luana M. Wedekin (UNISUL).

Produção editorial: Fábio L. Stern. Copydesk: Vladimir František M. de A. Peloušek. Conselho editorial: Dr. Alain Pascal Kaly (UFRRJ). Drª. Claudia Miranda (UNIRIO). Dr. Ênio José da Costa Brito (PUC-SP). Dr. Fernando Torres-Londoño (PUC-SP). Drª. Maria Helena Rodrigues Navas Zamora (PUC-Rio). Drª. Marina Aparecida O. dos Santos Correa (UFSE). Drª. Raquel Littério de Bastos (FECAF). Dr. Renato Nogueira dos Santos Jr. (UFRRJ). Drª. Rosemeire de Araújo Rangni (UFSCar).

A naturologia no Brasil: histórico, contexto, perfil e definições / Fábio L. Stern. – São Paulo: Entre Lugares, 2017, p. 447. ISBN 978-897326343-1. Inclui bibliografias. 1. Natureza – Poder de cura. 2. Natureza – Aspectos religiosos. 3. Saúde – Aspectos religiosos. 4. Religião – Estudo e ensino. I. Fábio L. Stern, 1985-. CDD (210)

Nenhuma parte desse livro poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer meio (eletrônico ou físico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema de banco de dados sem permissão escrita do autor (Lei nº 9.610/1998). Direitos reservados.

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ABRANA: Associação Brasileira de Naturologia. AEC: Antes da Era Comum, “antes de Cristo”. AGONAB: Associação Geral da Ordem dos Naturologistas do Brasil. AMA: American Medical Association. APANAT: Associação Paulista de Naturologia. BDORT: Bi-Digital O-Ring Test. CA: Centro acadêmico. CAAE: Certificado de Apresentação para Apreciação Ética. CBO: Classificação Brasileira de Ocupações. CEBES: Centro Brasileiro de Estudos de Saúde. CEN: Centro de Extensão Naturológica. CEP: Comitê de ética em pesquisa. CIPLAN: Comissão Interministerial de Planejamento e Coordenação das Ações de Saúde. cf.: confere, “confira”. CNS: Conferência Nacional de Saúde. CNTC: Cadernos de Naturologia e Terapias Complementares. CONEP: Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. CONBRANATU: Congresso Brasileiro de Naturologia. CSSF: Comissão de Seguridade Social e Família. DNSAMS: Departamento Nacional de Saúde e Assistência Médico-Social. et al.: et alii, “e outros”. etc.: et cetera, “e outras coisas”. FCN: Fórum Conceitual de Naturologia. FIES: Faculdades Integradas Espírita. GT: Grupo de trabalho.

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. ibid.: ibidem, “no mesmo lugar”. INEP: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas educacionais Anísio Teixeira. IP: Internet protocol. ISLUNA: Instituto São Lucas de Naturologia Aplicada. JESN: Jornada de Estudos sobre o Simbolismo da Naturologia. MEC: Ministério da Educação. MNPC: Medicina Natural e Práticas Complementares. TEM: Ministério do Trabalho e Emprego. ONU: Organização das Nações Unidas. OMS: Organização Mundial da Saúde. op. cit.: opere citato, “trabalho citado”. p. ex.: por exemplo. PACS: Programa Agentes Comunitários de Saúde. PIC: Práticas integrativas e complementares. PL: Projeto de lei. PNPIC: Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS. PP: Projeto de pesquisa. PSF: Programa Saúde da Família. PUC: Pontifícia Universidade Católica. RECNA: Revista Eletrônica do Curso de Naturologia. SAIAC: Serviço de Atenção Integral ao Acadêmico da UNISUL. SBNAT: Sociedade Brasileira de Naturologia. sc.: scilicet, “a saber”. sic.: sic erat scriptum, “assim estava escrito”. SUS: Sistema Único de Saúde. TCC: Trabalho de conclusão de curso. TI: Tecnologia da informação. UAM: Universidade Anhembi Morumbi. UERJ: Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

UFBA: Universidade Federal da Bahia. UFJF: Universidade Federal de Juiz de Fora. UFRJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro. UFSM: Universidade Federal de Santa Maria. UFTM: Universidade Federal do Triângulo Mineiro. UNESP: Universidade Estadual Paulista. UNISUL: Universidade do Sul de Santa Catarina. UnP: Universidade Potiguar. USP: Universidade de São Paulo.

PREFÁCIO É uma oportunidade única ver um saber crescendo, testemunhar seus passos no complicado caminho que o levará a se reconhecer, num futuro próximo, como um campo de ação de discursos e práticas que definem o ser humano e suas coisas correlatas. Ver um saber surgindo para o mundo universitário, ao mesmo tempo em que se participa dele como um de seus sujeitos autorizados, é também, de certa forma, um privilégio, já que poucos querem questionar os espaços, posicionamentos e ações que ele proporciona. Quem faz isso, geralmente contribui muito para esse saber, e passa a compor a lista daqueles que o fizeram crescer, evoluir, para além de um nível anterior que ensejava mudanças e novos escrutínios. Esse papel coube a Fábio L. Stern. Apesar de não ser exatamente um pioneiro no curso de naturologia, sua formação acontece na década em que essa graduação se torna importante. Sua posição nesse lugar, de aluno de uma graduação, possivelmente foi o que o fez tentar entender a estruturação desse campo, algo em que pôde se 7

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aprofundar, quando se tornou professor da instituição. Após a sua formação, o autor buscou compreender aspectos religiosos que percebera na naturologia por meio de estudos superiores do programa de pós-graduação em ciência da religião na PUC-SP. Stern é especialista e mestre em ciência da religião e cursa o doutorado. Esses estudos lhe ofereceram ferramental teórico-metodológico para a abordagem da sua área de formação, como associada à religiosidade do século passado, ao movimento da Nova Era, uma designação para tendências místico-esotéricas em voga a partir da década de 1960, que na Europa e Estados Unidos se tornaram um grande movimento cultural de contestação à sociedade capitalista do pós-guerra, à espiritualidade tradicional e à moral vigente no mundo ocidental. Stern é consciente da real posição histórica e geopolítica brasileira nesse contexto: o Brasil dessa década não era um centro de espiritualidade esquerdista; na verdade, esse tipo de pensamento seria condenado como subversivo a partir do golpe de 1964. O que Stern demonstra é que uma espécie de subprodutos da Nova Era chegou aqui, ao longo das últimas décadas do século XX:

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práticas e discursos de cunho religioso que tinham uma aplicabilidade imediata no campo da saúde. Para entender como isso foi possível, é importante caracterizar o discurso religioso da Nova Era como uma forma de abordagem que entende a pessoa, o seu corpo e sua alma como integrantes de uma realidade religiosa, energética, espiritual, em que a saúde pode ser compreendida como oriunda de uma harmonia entre planos da matéria, espírito e todas e quaisquer partes do ser humano, percebidas empiricamente ou metaempiricamente. A Nova Era não se desenvolveu no nosso país como uma tendência, um fluxo de ideias que modificaram a consciência das pessoas, como na América do Norte ou na Europa. Quando suas novidades chegaram aqui, muito do discurso e das práticas novaeristas já tinha perdido o caráter esquerdista, contestador. O movimento Nova Era não se organizaria como corrente religiosa no Brasil ditatorial, mas esses subprodutos, por oferecerem abordagens úteis, aparentemente baratas e inovadoras, entraram no âmbito da saúde pública, por meio de um campo profissional promissor e rentável. Para compreender como isso aconteceu, é necessária a compreensão da ciência médica, de

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seu domínio sobre a saúde dos corpos individuais e da população, e tentar compreender a genealogia do poder da medicina do século XVIII ao XX, para somente então entender como se pôde conferir espaço para práticas terapêuticas que se organizavam em torno de ideários, discursos e preceitos diferentes daqueles da ciência ocidental. Essa tarefa é grandemente facilitada pela obra de Foucault, que durante seus primeiros livros desbravou arqueologicamente a origem das ciências que se ocupavam do sujeito, a partir do fim do século XVII. Assim, há uma proposta de compreensão do surgimento da biologia e da medicina. É importante notar que a divergência entre as ciências médicas e outras formas de cura é grande, pois a visão antropológica da medicina é biologista, enquanto as outras se baseiam em tradições metaempíricas, teologias, místicas e noções espirituais específicas. A biologia entra para a medicina entre os séculos XVII e XVIII. A ciência da vida, de acordo com Foucault1, nasce de uma tendência epistemológica que levava à classificação dos seres vivos e sua organização em grandes 1 FOUCAULT, M. As palavras e as coisas. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

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sistemas de similaridades analógicas, posteriormente em grandes sistemas que se organizavam por meio das categorias visíveis, e por fim, por meio de sistemas de organização que se embasavam em várias características pelas quais se poderia entender os seres vivos como parte de um sistema taxionômico baseado em fatores diversos, que hoje inclui a noção de células, seus elementos mínimos (como o DNA) ou partes maiores de um todo (tecidos e órgãos dentro de níveis cada vez mais sofisticados de especialização). A descoberta do corpo como um aglomerado de elementos químicos seguindo leis físicas de funcionamento trouxe o corpo para dentro da biologia, e a biologia para dentro da medicina, que até então era um feixe de práticas empíricas e discursos que não levavam em consideração a doença como a má função de órgãos e tecidos, invadidos ou não por patógenos, ou por eles terem sido formados defeituosos, entre outros problemas. A doença era um estado do ser, muitas vezes inevitável, incompreendido nos termos de hoje, um estado de não saúde que mesmo Foucault2 2 FOUCAULT, M. O nascimento da clínica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1977.

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diz que deveria surgir de um olhar qualitativo do médico, que deveria saber discernir suas características de patologia e buscar incessantemente suas causas. A doença, assim como os corpos, tinha espécies. Essa classificação das patologias não durou para além do século XVIII, não resistiu à novidade do século XIX: a medicina das espécies de doenças, que se focava no reestabelecimento da saúde, passa a se organizar a partir da normalidade de funcionamento do corpo; a doença é essa desorganização de um sistema, quer seja pela intromissão de patógenos, quer seja pelo mau funcionamento congênito. Essa ruptura só foi possível na medida em que compreender a vida, o funcionamento dos organismos vivos, especialmente do corpo humano, pôde se dar pelas ciências que o objetivaram e o esmiuçaram a partir da agregação das ciências exatas e da biologia à prática médica, como suporte aos diagnósticos e intervenções terapêuticas. A farmacologia passa a isolar substâncias para o tratamento do corpo. A síntese química de compostos orgânicos, irrompendo no século XX, proporcionou a produção em escala de medicamentos que mudaram a noção de saúde e sua

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aplicabilidade no bem-estar da população. Paralelamente a isso tudo, cresceu a profissionalização dos serviços de saúde, que deixaram de existir em hospitais religiosos de caridade, que guardavam a morte, para passarem à realidade do exercer-se da cura por profissionais cujo saber agora era institucionalizado, ensinado em universidades, embasado por uma episteme cientificista, racional, cartesiana, ainda que mantivesse as práticas de cura por meio de saberes tradicionais. Os médicos passaram a exercer a profissão em clínicas particulares, cobrar preços altos por seu serviço. Seu saber científico reestruturou o hospital, submeteu o serviço do cuidado (enfermagem) aos ditames e ordenanças do saber médico. A medicina passou a ser como um campo associado de ciências em ação e, por fim, um saber, já que de si saía o sujeito autorizado que podia enunciar sobre o corpo. Quando se tratava de produzir discursos sobre a saúde, o médico era o único autorizado, relegando a outros saberes e tradições o pejo da clandestinidade. Questionar o poder médico é questionar discursos e práticas que são organizadas em torno da produção de seus doentes e doenças. A medi-

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cina não se ocupou somente da cura do corpo que adoece, mas se apressou também em produzir suas doenças, em adoecer características humanas, em produzir normas e normalidades, em “salutabilizar” outras tantas. A essa altura, a cura do corpo passa a trabalhar em favor, em primeiro lugar, de disciplinas de controle direto e, posteriormente, em grandes organizações de micropoderes indiretos em correntes que guiam a população, um esforço estatal de manutenção da sociedade de poder sobre a vida da população como um todo, o que Foucault convencionou chamar de governamentalidade3. O papel social da medicina justificava tudo o que a acompanhava: seus altos 3

Função específica de gestão e regulação, marcada pela técnica, pelo poder indireto sobre os corpos, que os regula a partir de parâmetros de normalidade criados pela relação entre saberes e as vontades de verdade das quais o poder depende. A governamentalidade aplica-se não ao poder disciplinar, mas ao poder sobre a vida, o “biopoder”, que Foucault enuncia como o mais comum dos tipos de poderes hoje em dia. A medicina colabora com o biopoder e suas estratégias de governamentalidade, pois é o saber detentor das verdades que normalizam o corpo humano. Para mais informações, cf. FOUCAULT, M. A vontade de saber. São Paulo: Graal, 2003; FOUCAULT, M. Securité, Territoire, Population. Paris: Gallimard, 2004; FOUCAULT, M., A governamentalidade, In: Roberto Machado (Org.). Microfísica do poder. São Paulo: Graal, 2000.

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custos de manutenção, suas instituições poderosas, seus profissionais de salários onerosos, porém tidos como justos, uma vez que médicos, na sua maioria, eram oriundos de classes altas, que tinham recursos para custear jovens estudantes por meia década ou mais na universidade. No entanto, ao longo do século XX a explosão demográfica nos países ocidentais, o padrão de vida conseguido por certas parcelas da população e a necessidade da saúde para que o sujeito estivesse inserido numa economia de usos de seu corpo e prazeres mantiveram a medicina como prática indispensável, e o poder de seus médicos e instituições, muitas vezes como males necessários. Foi preciso cooptar legisladores, magistrados, instituições que pudessem se organizar em torno da normalidade médica, até que o peso financeiro de se manter práticas como essas se tornasse insustentável pelas estruturas financeiras das economias capitalistas ocidentais. Além disso, críticas ao modelo médico vigente de tratar, medicar e esperar que serviços médicos sejam duplamente remunerados, os questionamentos relacionados à exploração capitalista da saúde de diversas formas e o uso de fármacos como atalho para estados su-

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perficiais de saúde trouxeram certo descrédito de parcelas mais abastadas da população, ao mesmo tempo em que a abordagem econômica da medicina sempre deixou os mais pobres sem acesso às suas técnicas de saúde. Isso, até certo ponto, pareceu oportunizar a existência de práticas terapêuticas alternativas, em primeiro lugar na clandestinidade, em outros tempos de modo controlado e submetido ao poder médico. Essa submissão, no entanto, revelou-se como uma porta para a entrada de práticas de saúde que pudessem demonstrar empiricamente sucesso em promover cura e bem-estar. Nesse ponto é que homeopatia, fitoterapia, acupuntura e outras práticas entraram no cenário médico como complementares. Práticas de origem análoga, tradicionais ou religiosas, ilegais ou ilegalizáveis pelos atos médicos, tornam-se alternativas à medicina oficial desde que ela irrompeu como saber institucionalizado. Agora, algumas delas poderiam se organizar como práticas complementares, passariam a ser remuneráveis por sistemas e planos de saúde, organizadas ou não como um saber em feixe. Nesse contexto, irrompe a naturologia como um curso de formação de trabalhadores na área

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da saúde. Isso não exclui o fato de que a naturologia já existia como um campo associado de práticas e discursos que se organizavam em torno de um conceito de saúde com base em tradições e investigações espirituais e religiosas. Stern compreende isso muito bem ao mostrar que antes de ser um corpo de conteúdos e práticas a serem ensinados, a naturologia era um corpo de discursos e ações em andamento, mesmo que carecesse de certa formalização. A criação de quaisquer cursos sobre esse campo, não importando, num primeiro momento, se são ou não práticas científicas sob o parâmetro da medicina, foi o primeiro passo para que a naturologia pudesse passar de um mero feixe discursivo e de práticas não discursivas, cheio de enunciados de várias origens em seu limite de existência, para um projeto maior de saber em fase de formalização. O trabalho de Stern recorta um importante momento da epistemologização da naturologia. Para que se compreenda isso, mais uma vez chamo conceitos da arqueologia foucaultiana à discussão: a sua noção de “saber”. A noção do que seria um saber não o obriga a pensar exatamente como uma ciência, mas

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de elementos que constituem uma ciência, sem exatamente a definir por completo ou determinar seus limites. Um saber também pode ser um determinado discurso que recorta domínio de diferentes objetos que podem ou não vir a ser ciência um dia, aquilo que se pode falar desses objetos; além disso um saber é o espaço em que um sujeito pode ocupar para tomar posição frente objetos dos quais se ocupa no seu discurso. Um saber também é um campo de coordenação e subordinação de enunciados de conceitos e, por fim, um saber também se define pelas possibilidades de utilização e apropriação oferecidas pelo discurso. Os saberes podem ser independentes de ciências. Saberes não dependem de estruturas científicas, mas de práticas discursivas definidas, assim como toda e qualquer prática discursiva pode se definir pelo saber que ela forma. As práticas discursivas, por sua vez, são regras anônimas que regulam historicamente, socialmente, economicamente, geograficamente e linguisticamente as condições de exercício da emissão de um conjunto de signos (enunciados) de linguagem em relação a domínio de objetos que possa prescrever posi-

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ções definidas a sujeitos. Foucault4 oferece uma interessante análise do percurso que uma prática discursiva faz para se tornar de discursos em ciências, reafirmando que nesse caminho, mesmo que não se chegue nunca ao status de ciência, campos associados de discursos podem se tornar saberes, na medida em que puderem tomar para si enunciados dentro da coerência de uma prática definida por condições de enunciação (formação discursiva). Desse modo, esses discursos já teriam passado por um limiar de positividade. Na naturologia, esse limiar é ultrapassado quando ela se organiza em discurso, quando passa a enunciar a si mesma pelos seus praticantes. É interessante notar que isso não deve ter acontecido dentro das universidades, mas bem antes, quando ela se organizou como um campo de possibilidade de se pensar práticas e dizeres, quando chamou a si mesma de “naturologia”, mesmo que todo esse processo possa ter sido retomado quando esse discurso se institucionalizou. A naturologia se compôs como saber antes de se tornar profissão. Essa caminhada para a profissionalização acon4 FOUCAULT, M. A Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.

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teceu no momento em que passou a ser ensinada, o que fez que os seus enunciados passassem a ser reorganizados. A análise do texto de Stern e do material que ele disponibiliza como corpus, a exemplo das grades curriculares dos cursos de naturologia, mostra claramente o momento em que se decidiu quais enunciados seriam dominantes nesse campo. Isso fez com que o curso entrasse num irreversível processo, rompendo o limiar de epistemologização, criando hierarquias de importância dentro de seu saber, fazendo com que ele pudesse renascer a partir de discursos que o orientassem em direções específicas, e que pudessem prescrever sujeitos desses discursos. A análise de Stern sobre as fases da naturologia mostra o conflito entre discursos religiosos inerentes às práticas ensinadas pelo saber que buscava autorizar sujeitos de si pela profissionalização e discursos oriundos de ciências formalizadas, especialmente da biologia. A introdução (ou intromissão) desses discursos e enunciados na figura epistemológica da naturologia pretendia, como é declarado na obra, fundamentar de alguma forma as práticas no conhecimento formal a respeito do corpo humano e suas funções. O em-

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préstimo tomado pela naturologia a essas ciências, no entanto, não tinha a intenção de substituir práticas por outras, de transformar a naturologia em fisioterapia, psicologia ou mesmo numa versão superficial da medicina. A ideia era tão somente criar critérios formais, regras de enunciação e construção de proposições – como no caso do desenvolvimento do conceito formal de interagência – que pudessem falar desse mesmo saber como algo científico. Nesse ponto, esperava-se que a naturologia, mesmo se baseando no modelo biológico que adotava, viesse a se organizar como um saber científico. Esse movimento também é acompanhado pela produção acadêmica sobre naturologia e, por fim, pela criação de associações de naturólogos e a tentativa de se ter para o saber uma identidade que o marcasse da mesma forma que outros saberes e ciências fazem para si. As análises de Stern não permitem a leitura desse processo como já finalizado, o que leva a se concluir que a naturologia ainda não rompeu o limiar de cientificidade; e pode não o romper, caso seus sujeitos não queiram concordar com esse processo. O limiar de formalização, portanto, encontra-se distante do processo atual. Ain-

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da não é possível pensar a naturologia como um campo que tem seu próprio edifício formal, leis de formação de enunciados e práticas. Talvez a naturologia nem sequer possa passar pelo limiar de cientificidade e continuar coesa. Pode ser que venha a se tornar outra positividade com discursos diferentes. É importante se reafirmar que a existência da naturologia como uma positividade (saber de discurso organizado) é anterior a qualquer forma de institucionalização, essa que trouxe a naturologia para um campo de saber epistemológico que a permite produzir sobre si conceitos, objetos para si e sujeitos que autoriza a enunciar sobre si. Nesse ponto, talvez, o alerta: o encontro da naturologia com as ciências médicas pode erodir os limites desta, fazendo com que sua identidade sofra ataques e desgastes que não a levarão para o seio de uma nova ciência, mas para o leito de morte que as ciências atuais podem lhe preparar. No entanto, esse prognóstico não é o único fator negativo contra a organização do saber naturológico. A aceitação de práticas complementares no campo da saúde não garante a profissão. Isso leva os naturólogos a se organizarem e se muni-

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rem de conhecimentos que, aparentemente, avalizariam sua ação no campo da saúde. Mas exatamente adotar conceitos e práticas de um campo cujos princípios norteadores sejam demasiados diferentes pode levar a essa perda de identidade e, por fim, para o que os dados já apontam: a diluição da naturologia nos vácuos e clivagens que ela criou dentro de si mesma, no afã de ocidentalizar, racionalizar, biologizar conhecimentos que já têm em si abordagens próprias e muitas vezes incompatíveis com os conhecimentos oriundos da biologia. O pretexto de que o ensino de ciências biológicas pode profissionalizar melhor o naturólogo pode ainda criar desgastes entre essas áreas e outras já concorrentes, que podem alegar possuir melhor performance em saúde por oferecerem formação mais consistente. A biologia não pareceu silenciar os discursos da Nova Era, cerne de concepções que definem a filosofia naturológica, assim como a ênfase numa formação biologista, na segunda época da naturologia, não parece ter tornado a profissão exatamente mais apropriada ao campo da saúde do que aparentemente já era antes disso. A abertura para as práticas do escopo

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naturológico aconteceu exatamente pela possibilidade de explorar a cura e o bem-estar por meio de fazeres diferentes da medicina oficial, e não porque seria desejável que esses fazeres se definissem a partir de conhecimentos da medicina ocidental. O fato de que o curso de naturologia poderia, sim, estar a criar espaços de conhecimento inadequados para uma universidade é interessante, na medida em que a organização formal do curso, a revisão de ementas e currículos, poderia ter prescindido da inserção de conhecimentos excessivos da área das ciências biológicas, e outras saídas politicopedagógicas poderiam ter se apresentado, de forma que, atualmente, a naturologia poderia, numa análise mais ampla, ter se tornado um campo formalizado de conhecimentos dispensando certos aspectos particulares de cientificidade que podem levar ao seu apagamento. Nesse ponto, é importante não se cortar o galho sobre o qual se está sentado, uma vez que esse está no topo de uma alta árvore. Por fim, ao leitor se apresenta um texto instigante, uma análise profunda e repleta de dados que mostram tanto a origem religiosa das práticas discursivas da naturologia quanto deta-

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lhes que permitiriam, a longo prazo, arqueologizar seus discursos, genealogizar seus poderes e avaliar a participação das práticas complementares da naturologia na manutenção do biopoder, do cuidado da vida como estratégia de governamentalidade. Esses caminhos são abertos pela obra de Stern, e a partir de agora não se pode trilhá-los sem usar esse livro como portal de acesso. É importante também ressaltar que a saúde pública e a naturologia (por meio da Nova Era), ainda que por motivos diferentes, comungam da ideia de que a saúde do indivíduo deva ser de sua responsabilidade. Isso fomenta tanto a existência de práticas que venham a reensinar o indivíduo a se equilibrar, assim como a saúde pública exige da população uma tomada de responsabilidade pela prevenção dos males. Isso acaba por prescrever aos indivíduos formas que definem a si mesmos, novos modos de expressão do savoir-vivre, técnicas apuradas de si e de construção de subjetividades mediadas pelo controle governamentalizado do saber médico, com o apoio do saber naturológico. Uma última provocação que o livro de Stern me faz, não menos indutora de curiosidade que

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qualquer outra, é a relação de interagência, seu potencial como técnica de si, suas possíveis relações com outras técnicas em circulação na sociedade, sua potencialidade como parte de uma prática discursiva de subjetivação, além da aparente similaridade com as técnicas de confissão estoicas que foram absorvidas pelo poder pastoral cristão na antiguidade e depois redistribuídas nas instituições sociais oriundas da civilização cristã, e que hoje são uma estratégia imprescindível ao exercer-se do poder médico. A concepção de que a interagência deve substituir uma relação vertical de poder é uma leitura que, no mínimo, permite se esperar que formas tradicionais e talvez defasadas de exercer poderes dentro do saber médico possam estar a ser substituídas por estratégias mais eficientes, mais capilarizadas, menos agressivas, mais governamentalizadas. Recomendo fortemente a leitura de cada período, cada parágrafo, pois é uma obra que inova dentro da ciência das religiões e, para além dela, mostra um retrato etnográfico de grande valor antropológico que servirá como modelo de estudo de outras formas de interseção entre saberes religiosos e científicos, além de colaborar

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para a compreensão da naturologia, suas origens, sua história e contribuições para a área da saúde.

Alex Mendes Mestre em Letras e Linguística pela UFG. Pesquisador em discurso, poder, subjetividade e corpo.

A doença é, em essência, o resultado do conflito entre a Alma e a Mente, e nunca será erradicada a não ser através do esforço espiritual e mental. [...] Nenhum esforço dirigido ao corpo sozinho pode fazer mais do que reparar os danos superficialmente, e não há cura nisso, uma vez que a causa ainda está operante e pode, a qualquer momento, demonstrar novamente sua presença em outra forma. (Edward Bach, 1931).

APRESENTAÇÃO Em 2017 completou dois anos que depositei minha dissertação, Naturologia e espiritualida-

de: indícios dos valores do movimento da Nova Era entre naturólogos formados no Brasil. Durante a defesa, a doutora Luana W. Wedekin, que inte grou a banca, comentou que abri muitas frentes em meu trabalho. Embora não tenha feito esse comentário como crítica, ela alertou que isso acabava por pulverizar meu argumento central. De fato, após ter sido disponibilizada pela PUC-SP, alguns estudantes dos cursos de naturologia procuraram minha dissertação, e o retorno que recebi deles foi de que era uma leitura densa. Confesso que grande parte desse problema se deu porque ao longo do mestrado, conforme eu produzia meu trabalho, sempre me houve uma inquietude sobre a carência de livros de naturologia no Brasil. Como existem poucas obras publi cadas, e desse pouco referencial a maioria não aborda a naturologia em sentido amplo, mas sim questões estritas (p. ex. alguma prática utilizada 31

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pelos naturólogos), o tempo todo me questionava sobre o que eu gostaria de ler sobre a área. O resultado foi que meu trabalho recorreu a um resgate histórico que era prescindível ao objetivo central. Tentando contextualizar os leitores, muitos preciosismos ocorreram, como meu levantamento das diversas definições do que é naturo logia e alguns aspectos da dimensão prática que fizeram com que, ao final da dissertação, apenas dois dos cinco capítulos abordassem, objetivamente, o problema de pesquisa. Isso, evidentemente, não diminuiu a qualidade da dissertação, que foi avaliada por unanimidade com nota máxima pela banca. Mas percebi que se transformasse esse material em livro, seria mais condizente com sua característica de grande exposição. Como nesses dois anos tive acesso a algumas informações cuja pertinência era inegável, reformulei alguns trechos do original. Além disso, partes mais técnicas da dissertação (p. ex., detalhes mais prolongados sobre a metodologia) me pareceram que poderiam ser retiradas. Optei por isso porque caso alguém necessite desses dados, eles poderão ser facilmente encontrados no banco de teses da PUC-SP. 32

APRESENTAÇÃO

Uma grande reformulação foi feita no segundo capítulo, em especial no que diz respeito à história da naturologia no Brasil. Como o histórico que levantei na minha dissertação foi construído majoritariamente por relatos orais, à medida que comecei a apresentá-la a algumas pessoas, outros pontos de vista emergiram, que enriqueceram a história e permitiram o preenchimento de lacunas não contempladas na dissertação. É importante salientar que partes do campo brasileiro da naturologia não lidam bem com divergências. Apesar da naturologia no Brasil se considerar uma ciência e do avanço científico se construir através dos debates de ideias e teorias, na maioria das vezes o discurso oficial da naturologia me parece um monólogo do que é decidido através de conchavos e reuniões de poucos membros de diretoria, e não por produções acadêmicas e ampla discussão, como ocorre nas outras áreas do saber. Isso fabrica noções de narrativas únicas que são, em minha opinião, defendidas como as únicas permitidas a serem transmitidas. E, evidentemente, em todas as fases históricas da naturologia no Brasil, sem exceções, sempre houve descontentamentos por conta disso, tanto por sua artificialidade quanto 33

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por transmitir deliberadamente pós-verdades aos naturólogos e estudantes de naturologia. Citando alguns exemplos, quase nenhum naturólogo sabe quem formalizou o termo “interagência” na naturologia, ou que os Cadernos de Naturologia e Terapias Complementares não foi o primeiro periódico acadêmico de naturologia no Brasil. Quase ninguém tem ciência que antes da fundação do bacharelado da UNISUL, em 1998, houve uma especialização lato sensu em naturologia nessa universidade. Aliás, pouquíssimo é comentado sobre o curso de Curitiba, anterior ao curso da UNISUL. Embora usualmente os documentos produzidos por professores da UNISUL tendam a declarar até hoje que essa universidade “inventou” o curso de naturologia, consegui relatos de pessoas ligadas à UNISUL declarando que desde a abertura da pós-graduação, em 1996, a instituição sabia da existência do curso curitibano. Além disso, após a defesa percebi que algumas informações precisariam ser retificadas. Por exemplo, na dissertação chamo a faculdade onde o primeiro curso de naturologia foi aberto de “Faculdade Espírita Dr. Bezerra de Menezes”, seguindo a nomenclatura que encontrei na tese de 34

APRESENTAÇÃO

Adriana Silva (2012). Mas ao buscar pela obra de referência citada por Silva, vi que no original ela é referida como “Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Doutor Bezerra de Menezes” (cf. VARELA; CORRÊA, 2005, p. 41). Esse é, na verdade, o nome de um bloco das Faculdades Integradas Espírita (FIES) de Curitiba. Outro erro identificado deriva da dissertação de Hellmann (2009, p. 76, nota 11), que diz que o curso de naturologia da UNISUL foi reconhecido através de um decreto presidencial. Entretanto esse reconhecimento se deu através da Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina, portanto através de um decreto estadual. Como essa foi a primeira dissertação a ter a naturologia como objeto no Brasil, é comum que ela seja citada em pesquisas posteriores sobre a área, que acabam por repetir esses dados (p. ex. CHRISTOFOLETTI, 2011, p. 32, nota 3, DARÉ; LINHARES, 2011, p. 123;). Também inseri esse equívoco no meu trabalho original, mas o corrijo agora. Contudo, apesar de eu ter revisado grande parte da história da naturologia, mantive como limite o ano de 2015. Um dos motivos disso é meu questionamento atual sobre até que ponto a natu35

A NATUROLOGIA NO BRASIL

rologia se mantém no que trato como “terceira fase” no segundo capítulo desse livro. Em 2017 os cursos não parecem mais conseguir a mesma coesão entre discentes e docentes conquistada pelo trabalho de coordenadores populares como Caio Fábio Schlechta Portella, na UAM, e Luana M. Wedekin e Fernando Hellmann, na UNISUL. Ao passo que Hellmann e Wedekin pediram demissão no final de 2015 para seguirem outras carreiras acadêmicas fora da naturologia, o curso da UNISUL enfrentava ao fechamento desse livro uma coordenação muito impopular, tanto entre estudantes quanto professores. Além disso, nunca se teve centros acadêmicos tão articulados e questionadores, gerando às suas lideranças demandas não observadas até 2015. Devo ressaltar também que outro motivo de eu considerar que não devo atualizar a história é que em 2015 fui contratado como docente do curso de naturologia da UNISUL. Visto que a boa historiografia demanda certo distanciamento, não me senti capaz de fazer isso a partir desse ano, por ter presenciado muitas coisas de perto. Sendo assim, reconheço em mim muito mais um sujeito de pesquisa do que alguém que devesse, de fato, 36

APRESENTAÇÃO

escrever academicamente sobre os acontecimentos mais recentes. Apesar de citar timidamente alguns fatos posteriores a 2015, permiti-me manter em grande parte o recorte original, deixando esse espaço para futuros pesquisadores. Sobre os cortes, a explicação da parte metodológica foi bastante resumida. Enquanto faço uma longa discussão sobre os cálculos que foram utilizados para encontrar o tamanho ideal da amostragem na dissertação, considerei que isso poderia ser retirado no livro. Da mesma forma, achei desnecessário discorrer sobre metodologias quantitativas na ciência das religiões e sobre como funcionam as escalas de espiritualidade. As análises da adesão aos valores da Nova Era no quinto capítulo, que dividiam os respondentes de acordo com sua pertença religiosa, precisaram ser cortadas, pois suas tabelas eram grandes demais, não cabendo nas páginas do livro. Embora outras tabelas foram mantidas, isso lhes custou uma grande redução do tamanho da fonte. Caso essas tabelas sobre a pertença religiosa fossem mantidas, seu conteúdo ficaria ininteligível. Também houve acréscimos ao texto original. Um deles diz respeito ao símbolo da naturo37

A NATUROLOGIA NO BRASIL

logia, um projeto do qual participei de perto nos últimos anos. Como quase nada foi publicado sobre esse símbolo até agora, achei interessante que sua elaboração fosse explicada aos leitores. Também criei uma seção no terceiro capítulo para abordar, de modo amplo, as ferramentas terapêuticas mais corriqueiras nos consultórios e cursos de naturologia do país. Por fim, é necessário esclarecer que o cenário da naturologia nas Regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste não está devidamente contemplado nesse livro. Eu poderia justificar que meu recorte considerou como “naturólogo” apenas quem é apto a se associar à ABRANA, APANAT e SBNAT. Em vista do desconhecimento e aparente desinteresse que essas associações demonstram sobre as pós-graduações lato sensu em naturologia, meu foco acabou sendo as graduações, que ao fechamento dessa obra se resumiam apenas à UAM e à UNISUL. Mas vejo hoje que desconsiderar as pós-graduações promove uma perda muito grande. Infelizmente só me dei conta disso com o livro em um estágio muito avançado de produção, quando viajei em maio de 2017 para Portugal para entrevistar Maria Irene Pires dos Reis Ferreira, uma das 38

APRESENTAÇÃO

ex-professoras precursoras do bacharelado da UNISUL. Em Lisboa, tive acesso a livros de naturologia produzidos já na década de 1930, além de ter conhecido uma compreensão de naturologia que está muito além de sua aplicação imediata como um curso da área da saúde. Por isso, peço perdão desde já a qualquer pessoa que, por ventura, tenha feito uma especialização lato sensu e não se sinta contemplada em meu livro. Assumo que o recorte apresentado na introdução desse livro me soa injusto com uma parcela considerável da área no Brasil, e ele me incomoda bastante, assim como também deve incomodar vocês.

Fábio L. Stern

39

INTRODUÇÃO Quando entrei na graduação de naturologia, em 2004, percebi que grande parte das práticas tradicionais em saúde é eivada de pensamentos religiosos. É notável o caso das medicinas asiáticas. Pegando a āyurveda como exemplo, suas principais ideias são encontradas nos Upaniṣad, um conjunto de textos primordiais históricos do hinduísmo. No caso da medicina chinesa, sua noção de corpo e seus principais conceitos são baseados, em grande parte, na alquimia daoista, estando também presente nos livros dessa religião. Contudo, ao buscar na graduação, há mais de dez anos, a compreensão de tais elementos e a forma como eles influenciam ou são assimilados à prática da naturologia, percebi uma brusca separação entre os colegas na época ao que é considerado “da ciência” e o que é “da religião”. Como tal, o que encontrava era uma ausência de textos e estudos sobre o assunto. Como podia uma formação que falava sobre aspecto sutil, arquétipo, prāṇa, qì, orgônio e bioenergia negar esse tipo de estudos? 41

A NATUROLOGIA NO BRASIL

No que concerne à temática da saúde, desde o desenvolvimento do racionalismo e do pensamento cartesiano na Idade Moderna a cura caminhou lentamente do domínio das ciências sociais e das religiões para as mãos das ciências naturais. Coroada pelo secularismo, essa cisão gerou a noção de “medicina oficial” e “medicina verdadeira” que relegaria a dimensão simbólica das doenças à subalternidade (LAPLANTINE, 2010). No século XX, esse modelo médico passou por uma crise cultural, sofrendo severas críticas por seu reducionismo e impessoalidade. É frente a esse cenário que, no que tange à Nova Era, uma profusão de terapias alternativas apareceu, visando resgatar a dimensão simbólica e espiritual do processo terapêutico, com uma abordagem integral do ser humano (HANEGRAAFF, 1998). A hipótese da qual parti é de que a naturologia surge como reflexo do momento que D’Andrea (2000) chamou de “Iluminismo New Age ” no nosso país. Em vista de não haver diretrizes ou regulamentação específica para a área, é fato que qualquer um pode se autodeclarar naturólogo em nosso país. Grosso modo, entendo por naturologia no Brasil o movimento acadêmico iniciado em 42

INTRODUÇÃO

1994, com a implantação nas FIES de um curso que visava formar profissionais de nível superior para trabalhar com práticas integrativas e complementares (PIC). Em 1996 esse movimento foi continuado pela UNISUL, na Grande Florianópolis, e em 1998 a UNISUL abriu o primeiro bacharelado em naturologia, seguida em 2002 pela UAM, da cidade de São Paulo (VARELA; CORREA, 2005; SILVA, 2012; TEIXEIRA, 2013). Sobre minha utilização do termo “práticas integrativas e complementares”, é preciso esclarecer que por causa da PNPIC (Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS), implantada em 2006, algumas pessoas confundem as siglas PNPIC e PIC. Como apenas cinco práticas estavam originalmente inclusas na política quando foi lançada (sc. medicina chinesa, homeopatia, plantas medicinais, termalismo/crenoterapia e medicina antroposófica), houve muitas declarações de que apenas essas cinco seriam, de fato, práticas integrativas e complementares. Todavia não há qualquer motivo para que outras práticas não contempladas pela política não sejam classificadas como práticas integrativas ou práticas complementares. A Portaria nº 147 de 2017 43

A NATUROLOGIA NO BRASIL

acrescentou nesse ano a arteterapia, meditação, a musicoterapia, a naturopatia, a osteopatia, a quiropraxia e reiki à PNPIC. Foi a Portaria que “converteu” essas práticas ao status de práticas integrativas e complementares, ou elas foram incluídas agora na política pública justamente por sempre terem sido PIC? É com isso em mente que práticas ainda não presentes na PNPIC que são utilizadas pela naturologia foram referidas nesse livro como sendo também práticas integrativas e complementares (sigla PIC), de modo geral. Além dessa questão, é importante explicitar o recorte que utilizo porque há tipos de terapeutas que, inclusive na nomenclatura, confundem-se com o naturólogo: naturoterapeutas, naturopatas, terapeutas naturais, terapeutas naturistas, terapeutas holísticos etc.; sujeitos que trabalham com as PIC, mas que possuem formações divergentes e, por conta disso, vez ou outra também entram em conflito de interesses e ideologias com o naturólogo. Citando um exemplo, na Região Nordeste existe um órgão liderado por um pastor neopentecostal, a AGONAB (Associação Geral da Ordem dos Naturologistas do Brasil), que possui um curso 44

INTRODUÇÃO

de formação gratuito, não acadêmico e à distância, que defende uma prática de naturologia pautada em uma releitura novaerista dos valores cristãos. Esse órgão foi procurado pela APANAT (Associação Paulista de Naturologia) na tentativa de estabelecer um diálogo para a fortificação da profissão, porém a divergência entre essa naturologia neopentecostal e a naturologia como ensino superior gerou atritos entre os dois grupos. Em resposta, o presidente da AGONAB sentiu necessidade de publicar que: Não há documento no País que diga que a profissão de Naturologista ou de Terapeuta Naturista tem que ser submetida à formação em Escola Reconhecida pelo Ministério da Educação. E se não há lei, então ninguém poderá exigir “que façamos ou deixemos de fazer alguma coisa” (MACEDO, 2014, §48).

A frase é claramente uma indireta aos cursos da UNISUL e da UAM, as únicas instituições que possuem até o momento cursos de naturologia reconhecido pelo MEC e que vêm lutando, com a ABRANA (Associação Brasileira de Naturologia) e a APANAT, pela regulamentação da pro45

A NATUROLOGIA NO BRASIL

fissão do naturólogo no Brasil, os primeiros passos para o surgimento de um conselho profissional com atribuições constitucionais de fiscalização e normatização da prática. As lutas políticas dessas associações visam o reconhecimento social do naturólogo como um profissional de nível superior. Mas mesmo entre os egressos dessas duas universidades podemos encontrar pessoas que não fazem distinções entre formados e não formados em cursos superiores de naturologia ao considerar quem é o naturólogo. Um exemplo aparente é Paschuino, bacharela pela UAM que em sua dissertação cita livros de xamanismo, fitoterapia, danças circulares e medicinas holísticas de forma geral, como se todas essas linhas, que não utilizam especificamente a palavra “naturologia”, fossem naturológicas (PASCHUINO, 2014). Fica implícito em seu texto que quem faz fitoterapia, faz naturologia. Ou que quem faz medicina xamânica, faz naturologia. Outro exemplo é Machado, bacharela pela UNISUL que defende abertamente que naturologia e naturopatia são sinônimos. A indistinção entre naturólogos, naturopatas e outras ocupações que trabalham com as PIC é atestada nas conclusões de seu TCC, que 46

INTRODUÇÃO

chega a questionar a necessidade da naturologia ter um código próprio na CBO (Classificação Brasileira de Ocupações) do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), visto a naturopatia também possuir um código (MACHADO, 2013). Todavia, deve-se ressaltar que apesar dessas naturólogas, esse não é o pensamento dominante na naturologia: O curso de graduação é constitutivo da Naturologia enquanto prática diferenciada. Por exemplo, o terapeuta holístico algumas vezes utiliza as mesmas práticas utilizadas na Naturologia (florais, cromoterapia, hidroterapia, entre outras), mas o naturólogo se difere do terapeuta holístico, porque este último não possui um curso de graduação voltado para sua formação (TEIXEIRA, 2013, p. 15).

Foi partindo disso que considerei que a nebulosa de profissionais que trabalham com as PIC não pode necessariamente ser vista como idêntica aos naturólogos. Nem todo terapeuta que utiliza ervas medicinais é naturólogo. Nem todo xamã, evidentemente, é naturólogo também. Não basta o sujeito se autodeclarar naturólogo. Entendi como naturólogos somente os formados pelos cursos de naturologia reconhecidos pelo 47

A NATUROLOGIA NO BRASIL

MEC, aptos a se associarem à ABRANA, APANAT e SBNAT (Sociedade Brasileira de Naturologia). Por um tempo, os textos brasileiros de naturologia tenderam a creditar que suas bases filosóficas derivariam da āyurveda, medicina chinesa e medicina xamânica. Embora isso nunca fora manifesto (conforme discutirei no segundo capítulo), os discursos sobre naturologia – em especial os de Santa Catarina – propenderam a utilizar essa tríade em suas autodefinições até pelo menos o início da década de 2010, sem maiores reflexões. Esse quadro começou a mudar após o FCN (Fórum Conceitual de Naturologia) realizado em 2011, em São Paulo. Um dos naturólogos presentes, Diogo Virgilio Teixeira, sugeriu que as futuras discussões epistemológicas da naturologia deveriam ser feitas via produções acadêmicas, como normalmente ocorre nas outras áreas do conhecimento. Assim, a partir de 2012 os FCN passaram a acontecer anualmente, e suas mesas-redondas a serem organizadas por meio de papers submetidos previamente a um comitê científico. Em 2013, um dos questionamentos que surgiu dessas mesas-redondas dizia respeito à uma suposta cosmologia inerente à naturologia 48

INTRODUÇÃO

(PORTELLA, 2013a). Teixeira e eu, participantes da mesa na ocasião, dissemos observar que essa cosmologia derivaria da chegada do movimento da Nova Era ao Brasil. Contudo, as lacunas de estudos de Nova Era na área dificultaram maiores considerações. Teixeira (2013, p. 107) chegou a declarar em sua dissertação que: “com base nos dados etnográficos, concluo que a Naturologia é herdeira do movimento que convencionou-se chamar de Nova Era. Ela mantém continuidades claras com relação a este movimento, mas também apresenta rupturas importantes”. A principal ruptura seria que enquanto a Nova Era busca a informalidade e foge da institucionalização (HANEGRAAFF, 1998; HEELAS, 2005), a naturologia quer ser institucionalizada, legitimada, regulamentada. Apesar da resistência das lideranças de naturologia em aceitar estudos dos aspectos espirituais e simbólicos de suas práticas, a medicina chinesa, a āyurveda, ou ainda as PIC como os florais de Bach, a gemoterapia e a medicina antroposófica só podem ser validadas por uma visão simbólica de mundo, pois não há atualmente métodos científicos que expliquem ou comprovem 49

A NATUROLOGIA NO BRASIL

totalmente seus mecanismos. Isso levaria Barros e Leite-Mor (2012, p. 4) a considerar que “o desenvolvimento da Naturologia no campo da saúde não é da ordem normal, pois ao fundar-se em conhecimentos a priori não científicos impõe um tensionamento em relação à reprodução do modelo hegemônico na saúde”. O reconhecimento recente disso por alguns naturólogos fez com que surgisse um pequeno número de trabalhos focados em aspectos simbólicos e etnológicos das PIC, demonstrando um recente interesse por estudos dessa temática. Mas ainda que o campo dos estudos simbólicos e religiosos esteja em desenvolvimento na área, seu avanço é tímido, tendendo a causar desconforto em parte das lideranças da naturologia brasileira. Além disso, embora estudos (em especial estudos não publicados) sobre naturologia e espiritualidade sejam encontrados em toda a história da naturologia brasileira, a grande maioria não recorre à metodologia acadêmica adequada para se trabalhar cientificamente com espiritualidade, apresentando características criptoteológicas inegáveis a qualquer cientista das religiões. Nesse

50

INTRODUÇÃO

sentido, esse livro se justifica também como uma tentativa de preencher parte dessa lacuna.

A POPULAÇÃO DE NATURÓLOGOS NO BRASIL Buscando maior visibilidade política, no início da década de 2010 Conceição e Rodrigues (2011) superestimaram que houvesse cerca de 2.000 naturólogos formados no Brasil. Pela carência de pesquisas demográficas, esse número foi adotado pelo campo como a população brasileira de naturólogos, sendo dois anos depois ratificado por Sabbag e outros (2013). Desde então, esse valor vem sendo repetido ano após ano, sem atualizações, nos eventos e documentos da área1, atingindo o status de “número oficial”. Contudo, os dados encontrados na tese de Adriana Silva indicam valores divergentes. Silva fez um levantamento de todos os TCC da UAM e 1 Citando o exemplo do VIII CONBRANATU, de 2015, o mesmo valor foi novamente repetido sem atualização pelo presidente da SBNAT, em apresentação oral.

51

A NATUROLOGIA NO BRASIL

da UNISUL, o que indicou que “a produção acadêmica brasileira sobre Naturologia contava com um total de 502 trabalhos [de conclusão de curso] até o primeiro semestre de 2010” (SILVA, 2012, p. 13). Desses, 127 provinham da UAM (que permitia que até três estudantes fizessem juntos uma única monografia), e 375 foram oriundos do curso da UNISUL (onde os TCC são feitos individualmente). Os TCC da UAM datavam de 2005 (ano que se formou sua primeira turma) ao primeiro semestre de 2010, e de 2005 ao segundo semestre de 2009 no caso da UNISUL. Os TCC catarinenses precedentes a 2005 foram excluídos porque um temporal destelhou as dependências da UNISUL, destruindo computadores e parte do arquivo-morto da clínica-escola do curso de naturologia. Ainda que parte do material da UNISUL tenha sido destruída durante o desastre, o número de naturólogos que Conceição e Rodrigues (2011) declaram haver é muito superior à quantidade de TCC levantada por Silva (2012). Numa tentativa de minimizar esse problema, entrei em contato com o SAIAC (Serviço de Atenção Integral ao Acadêmico) em 2013, solicitando o número de egressos do curso da UNISUL. 52

INTRODUÇÃO

Segundo os dados que a secretaria acadêmica me passou, a UNISUL teria formado, desde a fundação do curso até o fim do primeiro semestre de 2013, cerca de 680 naturólogos. Em 2014, entrei em contato também com a APANAT, que me enviou dados sobre os TCC da UAM de 2005 a 2007, onde se contabilizaram 61 produções de 122 estudantes. Esses dados possibilitam constatar que mais de dois terços das monografias da UAM no período foram produzidas por dois ou mais alunos, conforme se observa na figura a seguir. Figura 1 – Número de autores por TCC de naturologia da UAM entre 2005 e 2007. 37,7% Individual Em dupla Em trio

31,15%

31,15% Fonte: elaboração do autor (2014); com base em dados fornecidos pela APANAT (2014a).

Mesmo considerando que todos os trabalhos da UAM levantados por Silva tivessem sido 53

A NATUROLOGIA NO BRASIL

produzidos por três estudantes, ter-se-iam, no máximo, 381 egressos do curso paulistano no período. Por isso, descartei a população sugerida por Conceição e Rodrigues (2011), mas na impossibilidade de encontrar dados mais concretos até o fechamento da dissertação, trabalhei no mestrado com uma estimativa de 1.200 naturólogos formados no Brasil até o final de 2014. Em 2015, após ter depositado meu trabalho, eu e Luana M. Wedekin, ambos professores da instituição na época, solicitamos à Secretaria de Educação do campus Grande Florianópolis da UNISUL o número de formados em naturologia pela instituição. Como o sistema de TI atual da UNISUL só foi adotado em 2007, muitos nomes anteriores a essa dada apareciam duplicados na documentação que tivemos acesso, e foi necessário cruzar dados das atas das colações de grau. Portanto, o número encontrado é uma aproximação dos valores reais. Solicitei também à coordenação do curso da UAM, no mesmo período, seu número de egressos. Embora tenha me informado que o nome dos formados e o número exato de egressos não poderiam ser divulgados por consistirem em infor54

INTRODUÇÃO

mação confidencial da instituição, a coordenação autorizou a divulgação de um valor aproximado do número de naturólogos formados pela UAM. Os dados encontrados permitiram perceber que ao fim do primeiro semestre de 2015, UNISUL e UAM tinham formado, juntas, mais ou menos 1.150 naturólogos. Tabela 1 – Estimativas da população de naturólogos graduados pela UNISUL e UAM.

UNISUL

UAM

Dados encontrados

Fonte dos dados

≅ 680 egressos (2002-2013)

SAIAC (2013)2

≅ 770 egressos (2002-2015)3

UNISUL (2015c)

61 TCC e 122 egressos (2005-2007)

APANAT (2014a)

127 TCC (2005-2010)

Silva (2012)

≅ 380 egressos (2002-2015)3

UAM (2015a; 2015b)

Fonte: elaboração do autor (2017). 2 3

Informação verbal referente à minha solicitação. Apenas primeiro semestre de 2015. 55

A NATUROLOGIA NO BRASIL Figura 2 – Progressão da estimativa de bacharéis de naturologia formados pela UNISUL. 720 630 540 450 360 270 180 90 0

Fonte: elaboração do autor (2017); com base em dados da Secretaria de Ensino da UNISUL (UNISUL, 2015c).

Figura 3 – Progressão da estimativa de bacharéis de naturologia formados pela UAM. 350 300 250 200 150 100 50 0

Fonte: elaboração do autor (2017); com base em dados fornecidos pela UAM (2015a; 2015b). 56

INTRODUÇÃO

As estimativas indicam que o número de naturólogos formados até 2011 pela UNISUL e UAM era de cerca de 930 pessoas; menos da metade da população proposta por Conceição e Rodrigues. Ainda que esses pesquisadores tenham levado em consideração as formações pelas FIES (o que considero bastante improvável, visto ambos serem da UNISUL, instituição que tende a ignorar a história do curso curitibano), é muito difícil que a faculdade paranaense tenha formado sozinha mais de 1.000 naturólogos, ao passo que juntas a UNISUL e a UAM não conseguiram atingir essa marca no mesmo período. Do mesmo modo, até o final de 2014 a população de bacharéis de naturologia formados por essas duas universidades era de cerca de 1.120 pessoas, número levemente inferior aos 1.200 que estimei originalmente em minha dissertação. Acredito que foi somente em 2016 que a população de naturólogos atingiu a marca de 1.200 formados no Brasil (desconsiderando os egressos das FIES e da pós-graduação da UNISUL). Infelizmente como só tive acesso a dados de até o final do primeiro semestre de 2015, a população atualizada não é de meu conhecimento. 57

A NATUROLOGIA NO BRASIL

METODOLOGIA Segundo Oliveira (2001), em alguns casos é impraticável realizar amostras probabilísticas. Como as instituições de formação não informam o número exato de naturólogos formados, considerei esse um desses cenários. Optei pela amostra não probabilística por quotas, constituída por naturólogos graduados que se voluntariaram a participar da pesquisa, com base em Oliveira (op. cit.), que considera que dentre as amostras não probabilísticas, a amostra por quotas é a menos enviesada, aproximando-se dos critérios de uma amostra probabilística. A distribuição da quota se manteve fiel à estimativa da população de naturólogos no Brasil, com um terço dos participantes sendo egressos da UAM e dois terços sendo da UNISUL. O questionário aplicado foi uma escala do tipo Likert de 8 níveis com 25 itens. A descrição dos níveis foi apresentada com a seguinte nomenclatura: (1) discordo totalmente, (2) discordo muito, (3) discordo em partes, (4) neutro tendendo a discordar, (5) neutro tendendo a concordar, (6) concordo em partes, (7) concordo muito, e (8) 58

INTRODUÇÃO

concordo totalmente. Porém, durante a análise desses dados, foi percebida a necessidade de simplificar o número de níveis, que foram reduzidos para 4. Essa redução foi necessária pelo tamanho da amostra frente ao número de variáveis que emergiram dos resultados. Os itens Likert foram elaborados de acordo com as maiores tendências do movimento da Nova Era ressaltadas por Hanegraaff (1998): (1) canalização, (2) cura e crescimento pessoal, (3) ciência da Nova Era, e (4) neopaganismo. A noção de canalização é, talvez, uma das mais importantes à Nova Era. As principais obras que deram a tônica ao pensamento dominante entre os novaeristas foram canalizadas. Na fase milenarista do movimento, a espera pela Era de Aquário, que traria uma expansão da consciência global culminando na evolução planetária, semeou o terreno simbólico ao surgimento de concepções de inteligências superiores que habitariam dimensões alternativas às nossas (HANEGRAAFF, 1998; 2005). A canalização seria o ato de se conectar com esses outros planos de existência, agindo como um canal que recebe essas informações.

59

A NATUROLOGIA NO BRASIL

A busca por cura e crescimento pessoal é o que Hanegraaff (1998), Amaral (2000) e D’Andrea (2000) consideram como o mais próximo da noção de salvação religiosa no universo da Nova Era. A psicologização dos processos de cura, atribuindo-lhes uma causa primordialmente mental, levaria os novaeristas a compreender que a ideia de saúde está intrinsecamente ligada ao autoconhecimento. A busca pela saúde é uma busca por si, e quanto mais desconectado se está do eu interior (self ), mais propenso o indivíduo fica às doenças. A ciência da Nova Era diz respeito a uma reinterpretação filosófica de descobertas da física moderna aplicadas ao cotidiano, o que Hanegraaff (1999b) classifica como “mitologias populares de ciência” e Pessoa Jr. (2011) chama de “misticismo quântico”. A suposta quebra de paradigmas pelo modelo quântico, a relatividade do tempo-espaço e a figura da partícula que é ao mesmo tempo matéria e energia dão a tônica das discussões que clamam por um novo modelo científico que dialogue com o espiritual, dizendo pouco respeito aos complexos cálculos com os quais, de fato, os físicos modernos estão habituados a lidar em laboratório (HANEGRAAFF, 1998, 1999a). 60

INTRODUÇÃO

Por fim, o neopaganismo é considerado por Hanegraaff (1998) uma área limítrofe à Nova Era, por orbitar ao redor da wicca. Como a Nova Era prevê a não institucionalização e a descentralização de expressões religiosas, a partir do momento que a maior parte do neopaganismo gira em torno de uma denominação específica, o campo perde o recorte proposto pelo autor. Mas visto que nem todo neopagão é wiccano, Hanegraaff considera que alguns valores típicos ao neopaganismo devem ser incluídos no grupo das principais tendências novaeristas. Alguns dos valores citados pelo autor são a sacralização da sexualidade, o resgate de formas pré-cristãs de religiosidade e a crença em magia não como reflexo da falta de ciência, mas justamente como uma oposição consciente ao cientificismo exacerbado da sociedade. A maior parte das frases que utilizei nos itens Likert foi extraída diretamente do livro de Hanegraaff. As frases que sofreram alterações foram mudadas em resposta às demandas do pré-teste, para facilitar a compreensão dos respondentes. Porém, visto que a população de interesse era constituída por sujeitos com ensino superior completo, o número de frases adaptadas foi míni61

A NATUROLOGIA NO BRASIL

mo. Na aplicação do questionário, os itens foram embaralhados, apresentados em ordem aleatória. Para cada respondente o questionário foi reembaralhado de forma única. Os questionários foram aplicados pelo site SurveyMonkey. O site gerou automaticamente o link aos respondentes, impedindo que um mesmo link fosse respondido duas vezes, controlando as respostas por IP. Os respondentes foram captados em parceria com a APANAT e dentro do maior grupo brasileiro de naturologia do Facebook, que possuía mais de 900 membros na ocasião e exigia na época vínculo de formação com a UNISUL ou UAM para aprovação de novos filiados. A gênese automática dos links assegurou o anonimato das respostas, visto que o pesquisador responsável não participou do processo. A necessidade de aplicar o questionário pela Internet se deu apesar dos dados indicarem um número pequeno de naturólogos formados, porque eles se encontram espalhados pelo Brasil, inviabilizando a aplicação presencial. A respeito do TCLE (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido), conforme a resolução 466/12 da CONEP (Comissão Nacional de Ética em 62

INTRODUÇÃO

Pesquisa), item IV.8, nos casos em que seja impossível registrar o TCLE, tal fato deve ser devidamente documentado com explicação das causas da impossibilidade. Como o questionário foi aplicado pela Internet, não foi possível obter a assinatura dos participantes. No entanto, o TCLE foi apresentado on-line aos respondentes, que puderam manter uma cópia do texto, e os mesmos precisavam clicar no botão “eu concordo” para que a pesquisa prosseguisse com o questionário. Como critério de inclusão, os participantes deveriam ser bacharéis de naturologia formados por uma das duas instituições com o curso reconhecido pelo MEC: UNISUL ou UAM. Como critério de exclusão, foram descartados os questionários de participantes que não estavam vinculados a essas instituições, que não eram naturólogos e os questionários preenchidos por estudantes que não concluíram ainda a graduação em naturologia. Os questionários que não foram preenchidos integralmente também foram excluídos da análise. Pela carência de publicações sobre o tema, o histórico da naturologia que apresento nesse livro foi construído também por pesquisa aplicada, e é fruto principalmente de relatos orais. É curioso 63

A NATUROLOGIA NO BRASIL

questionar por que recorri à história oral. Se considerarmos o trabalho de Antonacci (2013), naturólogos diferem claramente dos exemplos de comunidades semiletradas com que a autora trabalha, visto que não só são plenamente alfabetizados como também possuem o ensino superior. Contudo, os naturólogos se mantêm como um grupo que pouco refletiu sobre sua própria história. Sendo assim, em vista da raridade de registros, sua história não poderia ser resgatada sem recorrer às vias da oralidade. Mas ao ler a história oral, jamais se pode ignorar que suas fontes são os próprios sujeitos (CALDAS, 1999). Como tal, são naturalmente contraditórias e partidárias, porque não existe sujeito fora da ideologia. E isso não deve ser visto como problema, porque não é função do pesquisador exorcizar a incoerência do campo (PORTELLI, 1996). Ao contrário: Bosi (2003) ressalta a riqueza das tensões implícitas, as lembranças e esquecimentos, e também dos subentendidos captados por esse método que tendem a não aparecer na história oficial. Como explica Portelli (ibid.), “se formos capazes, a subjetividade se revelará mais do que uma interferência; será a maior riqueza, a 64

INTRODUÇÃO

maior contribuição cognitiva que chega a nós das memórias e das fontes orais”. O ato da oralidade é o ato da narrativa, e a função do entrevistador deve ser [...] valorizar o indivíduo, o ato narrador e exaltar o valor da experiência como resultado da vida. Portanto, a experiência passa a ser o âmago da narrativa [...] [mas] sem perder a dimensão coletiva, interpretativa e política, tanto dos procedimentos como da reflexão em geral pois são exatamente essas dimensões repolitizadas do presente que exigem um novo redirecionamento teórico. [...] podemos chegar a ter uma noção bem mais profunda do que seriam as relações e o viver das ficcionalidades sociais (CALDAS, 1999, p. 81).

Isso significa que uma história oral estará impreterivelmente contagiada pela subjetividade dos que a contam, independentemente de possuírem formação universitária ou estarem envolvidos com o meio acadêmico. Primeiramente, “a universidade também tem o poder de contar e interpretar os eventos que se passam no mundo [...] ou nos meios populares, em geral” (BOSI, 2003, p. 18). Em segundo lugar, não se pode esquecer 65

A NATUROLOGIA NO BRASIL

que a construção narrativa é semanticamente e discursivamente diferente da linguagem dissertativa que domina a escrita acadêmica. Para criar/aprender as práxis sociais, são necessários conhecimentos que vão se adaptando às suas metamorfoses especulares, ao seu íntimo novelo de contradições, desvios e ordens, sabendo unir e desatar sonho e realidade, podendo compreender súbitas e irracionais configurações [...]. Sem essa afinidade eletiva entre conhecimento e sujeito não há História Oral, que deve revelar e criar o ser social e a singularidade por meio do desvendar e do desmontar significados, fazendo parte do conhecimento vital, do conhecimento vivido, do conhecimento crítico, não do fragmentário conhecer científico. Sua objetividade está distante da fria, nomotética e ridiculamente neutra objetividade científica. Sua objetividade é similar à profunda e essencial objetividade artística, que se põe como criação-interpretação das realidades humanas [...] (CALDAS, 1999, p. 45-46).

Deve-se ressaltar que seja contada pelo sujeito, a construção coletiva, dizendo subjetividade individual, mas 66

embora a narrativa história oral é uma respeito não a uma a um tempo-espaço

INTRODUÇÃO

comunitário (PORTELLI, 1996; CALDAS, 1999; BOSI, 2003). Nesse sentido, ainda que se considerem as contradições e valores pessoais entre os relatos, a história oral dos naturólogos fala justamente deles próprios enquanto coletividade, ou seja, como campo profissional e categoria social. Dois PP foram submetidos para apreciação ética através da Plataforma Brasil: um referente ao estudo que efetuei durante meu mestrado, e outro referente à investigação posterior, que venho aplicando no doutorado. O primeiro PP foi submetido em 23 de agosto de 2014 sob CAAE 35421614.2.0000.5482, sendo aceito pelo CEP da PUC-SP em 29 de agosto de 2014. O parecer consubstanciado do CEP, de número 784.560, foi liberado no dia 9 de setembro de 2014. Nessa etapa, os questionários foram aplicados de 9 de setembro a 22 de setembro de 2014. As entrevistas para os relatos da história oral ocorreram de setembro de 2014 a maio de 2015. O segundo PP foi submetido para apreciação ética no dia 14 de abril de 2016 sob CAAE 55286316.2.0000.5482, sendo aceito pelo CEP da PUC-SP no dia 18 de abril de 2016. O parecer consubstanciado do CEP, de número 1.565.686, foi liberado no dia 30 de 67

A NATUROLOGIA NO BRASIL

maio de 2016. Até o fechamento desse livro, essa última pesquisa ainda estava em aplicação.

ESTRUTURA DO LIVRO O primeiro capítulo, O contexto social para o surgimento da naturologia como curso superior no Brasil, aborda o quadro brasileiro que levou duas instituições privadas de ensino a considerarem pertinente e lucrativo abrir um bacharelado focado em ensinar as PIC. Esse capítulo trabalha a chegada da Nova Era ao Brasil, e a criação da noção de medicina alternativa como oposição à ideia de medicina oficial, essencial para a promoção e popularização das PIC. O segundo capítulo, A naturologia brasileira: histórico e definições, faz um breve levantamento histórico do desenvolvimento da área no Brasil. Adotando uma divisão do histórico esboçada no edital do livro Naturologia: diálogos e pers pectivas (cf. RODRIGUES et al., 2012), esse capítulo compila a evolução da organização, do ensino, da articulação política e da conceituação da área no país. 68

INTRODUÇÃO

O terceiro capítulo, Dimensões da prática naturológica, é uma releitura sobre o campo da naturologia no Brasil. Incluem-se na bibliografia primária que pesquisei dissertações e teses de naturólogos e professores de naturologia que adotaram a naturologia como objeto, alguns TCC das graduações de 2005 a 2016 que continham discussões epistemológicas sobre a naturologia, artigos científicos publicados no periódico CNTC (Cadernos de Naturologia e Terapias Complementares) e nas duas edições temáticas sobre naturologia da revista Cadernos Aca dêmicos, os anais da primeira a oitava edição do CONBRANATU (Congresso Brasileiro de Naturologia), além de alguns livros de naturologia. Por fim, os dados dos questionários aplicados foram divididos entre os dois capítulos finais. No quarto capítulo, O perfil dos naturólogos brasileiros, os dados referentes ao perfil básico dos respondentes é discutido. São apresentados os principais detalhes demográficos, além de dados sobre a religião dos respondentes, quantos se consideram abertamente novaeristas e quantos declaram levar em consideração aspectos espirituais durante seus atendimentos. 69

A NATUROLOGIA NO BRASIL

No quinto capítulo, A adesão dos naturólogos brasileiros aos valores da Nova Era, as escalas do tipo Likert são analisadas, e o grau de adesão às principais tendências do movimento da Nova Era é apresentado e discutido. Por uma questão de diagramação, as tabelas foram resumidas da versão apresentada na dissertação originalmente. Nesse sentido, os itens Likert não estão discriminados nas próprias tabelas desse capítulo como estavam no texto depositado na dissertação. Entretanto, nos apêndices ao final do livro e também no próprio capítulo os itens serão listados, a fim de permitir a localização do leitor sobre o que está a se discutir. Em conclusão, esse livro foi estruturado com o fito de demonstrar o que é a naturologia no Brasil, comprovando o grau de adesão do movimento da Nova Era no campo naturológico brasileiro.

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CAPÍTULO I O CONTEXTO SOCIAL PARA O SURGIMENTO DA NATUROLOGIA COMO CURSO SUPERIOR NO BRASIL De acordo com Girardi, Fernandes Jr. e Carvalho (2000), desde o final da década de 1990 é notado um aumento de demandas pela regulamentação de medicinas alternativas ou terapias naturais no Congresso Nacional do Brasil. De fato, desde 2000 a OMS (Organização Mundial da Saúde) demonstra abertura à investigação científica a respeito da eficácia e segurança dessas práticas (WHO, 2000), e suas estratégias atuais visam à regulamentação das práticas e a padronização dos cursos de formação desses profissionais pelos países membros da ONU (Organização das Nações Unidas). E conquanto as reconheça e estimule, a OMS declara que as medicinas tradicionais devem ser reguladas pelos critérios da pesquisa científica (WHO, 2013). Esses dados, em uma abordagem prévia, poderia levar o pesquisador sobre naturologia a 71

A NATUROLOGIA NO BRASIL

assumir que o surgimento da área como um curso superior no Brasil seria uma resposta a essas demandas. Contudo, diversos fatores foram cruciais para a emergência da naturologia como um curso superior no Brasil. Silva (2012) fala sobre o surgimento de novas formas de terapeutas na década de 1990, baseada em Varela e Corrêa (2005), que declaram que a demanda por mão de obra especializada para o uso das PIC foi o que levou algumas instituições particulares de ensino a abrirem cursos para formar esse pessoal. Teixeira (2013) indica duas dimensões principais que, de certa forma, estão integradas: a chegada do movimento da Nova Era ao Brasil (diretamente relacionada à popularização dessas novas terapias no país), e a insatisfação generalizada com o modelo de saúde hegemônico. Além disso, é necessário considerar também o processo de regulamentação da medicina e a construção das noções de “medicina oficial” e “medicina alternativa”. Conforme Teixeira (2013) apresenta, apesar de em teoria a UNISUL não visar lucros, por se tratar de uma universidade comunitária, os criadores do curso catarinense comentaram que a instituição aceitou abrir o bacharelado em natu72

CAPÍTULO I

rologia em Santa Catarina porque considerou que seria uma formação do futuro, que traria muitos lucros não só para a instituição, como também realização financeira aos seus formados. No entanto, os documentos da OMS (WHO, 2000; 2013) e do Ministério da Saúde (BRASIL, 2006) que favorecem as PIC, justificam suas práticas justamente como uma alternativa menos onerosa aos cofres públicos. O que levou, então, a UNISUL a considerar, na década de 1990, que ter esse bacharelado incomum seria lucrativo? Esse capítulo tem por objetivo dissertar sobre o contexto social brasileiro que justificaria esse pensamento. Na primeira seção, será abordado o que é o movimento da Nova Era, focando em suas possíveis relações com a cultura capitalista e sua entrada no Brasil. O objetivo dessa seção não é esgotar as manifestações brasileiras individuais de Nova Era propriamente ditas, mas oferecer um panorama dos indícios de como os bens novaeristas foram importados ao nosso país pelas vias da sociedade de consumo. A segunda parte discutirá a história da medicina, a criação da noção de medicina oficial e como isso foi articulado aqui no Brasil. O terceiro item apresentará a popularização 73

A NATUROLOGIA NO BRASIL

das medicinas alternativas em uma comparação entre como isso aconteceu na Europa e América do Norte – locais diretamente relacionados à Nova Era –, e no Brasil, onde a medicina popular foi mais evidente que a medicina oficial até meados do século XX. Ao final do capítulo, será apresentada uma breve análise de como esses itens poderiam ter levado o surgimento da naturologia nas universidades do país.

O MOVIMENTO DA NOVA ERA O século XX foi marcado, nos Estados Unidos e oeste da Europa, por vários movimentos antitotalitaristas que emergiram após a Segunda Guerra Mundial. Desses, destaca-se a contracultura de 1960, que promoveu uma série de questionamentos ao consumismo exacerbado do chamado “sonho americano”, à ameaça nuclear que pairava devido à Guerra Fria, às invasões militares norte-americanas ao Vietnã, às normas sexuais e papeis de gênero vigentes, às relações étnicas que promoviam segregação racial, e às figuras tradicionais de autoridade da sociedade ocidental. 74

CAPÍTULO I

Uma ramificação desse movimento, que enaltece a ideia de crescimento espiritual, ficou conhecida como Nova Era, movimento coadunado à subcultura hippie que ultrapassou seus próprios limites. Por sua natureza diversificada, há grande dificuldade em traçar uma definição de Nova Era que abarque todas as suas manifestações. Segundo Amaral (2000, p. 16), “provém dessa heterogeneidade a dificuldade para encontrar um termo que possa cobrir, sem controvérsia, uma cultura religiosa descentralizada e errante, em um campo onde diferentes discursos se cruzam e diversas áreas da vida – negócio, pessoal e espiritual – se misturam”. Porém, uma definição acessível é encontrada em Guerriero (2006, p. 104): “a Nova Era pode ser caracterizada como um conglomerado de tendências sem textos ou líderes, nem organização estrita, nem dogmas. Para alguns autores trata-se mais de uma sensibilidade espiritual do que de um movimento espiritual estruturado”. Existem muitas dissensões, entre os estudiosos, sobre até que ponto a Nova Era pode ser classificada como um movimento religioso. De acordo com D’Andrea (2000, p. 33), “por um lado, os envolvidos com a Nova Era rejeitam a designa75

A NATUROLOGIA NO BRASIL

ção de ‘religiosos’ e, por outro, por meio de uma lógica de natureza própria, cultivam práticas e representações que extravasam as definições do que se entende por religião”. Nesse sentido, entende-se que a polêmica acontece por dois motivos: (1) algumas manifestações novaeristas se consideram científicas ao invés de religiosas1; e (2) existem grandes divergências sobre a conceituação acadêmica do que é religião. Se entendermos religião somente como algo institucional, com poder centralizado e dogmas bem definidos, de fato a Nova Era não se encaixa nesse perfil. Porém a questão é muito mais complexa. Por um lado, não parece correto considerar não religioso um grupo cujo discurso gira em torno de termos como “espiritualidade” e “nova consciência religiosa”. Por outro, é justo questionar quão religiosas se mantêm práticas como a ioga e a acupuntura na sociedade. Por mais que a ioga tenha se popularizado no Brasil graças à che1 Novaeristas ligados à ufologia, astrologia, radiestesia ou formas de terapias alternativas como eneagrama, renascimento, E.F.T., método Rayid, terapia de vidas passadas e psicologia transpessoal dificilmente consideram o que fazem como algo religioso.

76

CAPÍTULO I

gada da Nova Era, hoje ela é oferecida apenas como mais uma opção de atividade física, esvaziada de seu sentido hindu original. Para tentar dar conta dessa complexidade, alguns estudiosos de Nova Era esboçaram definições próprias sobre religião. Hanegraaff (1999b) criou uma classificação que distingue religião (geral) de uma religião (específica). Segundo o autor, religião (geral) pode ser definida como “qualquer sistema simbólico que influencie as ações humanas, fornecendo possibilidades para ritualisticamente manter contato entre o mundo cotidiano e um quadro metaempírico mais geral de significados” (p. 371). Ao acrescentar o artigo uma à palavra religião, Hanegraaff altera a descrição levemente, declarando que uma religião (específica) é “qualquer sistema simbólico, incor porado em uma instituição social, que influencie as ações humanas, oferecendo possibilidades para ritualisticamente manter contato entre o mundo cotidiano e um quadro metaempírico mais geral de significados” (p. 372, grifo meu). Destarte, religião não tem número, dizendo respeito a tudo o que provê esse contato ritual ao metaempírico – incluindo a Nova Era. Mas uma 77

A NATUROLOGIA NO BRASIL

religião refere-se a uma manifestação social (ainda que minimamente) institucionalizada. A natureza descentralizada do movimento da Nova Era não nos permite classificá-la como uma religião, embora ela seja religião (geral) por esses critérios. Hanegraaff propôs, então, uma terceira categoria, a qual chamou de espiritualidade, descrita como “qualquer prática humana que mantenha o contato entre o mundo cotidiano e um quadro metaempírico mais geral de significados por meio da manipulação individual dos sistemas simbólicos” (HANEGRAAFF, 1999b, p. 372, grifo meu). As espiritualidades, por serem manipulações simbólicas individuais, são únicas. Embora baseadas nas religiões, não lhe são idênticas, refletindo idiossincrasias de quem a segue. Em um exemplo, embora o catolicismo (uma religião) oficialmente não promova a reencarnação, o indivíduo que possua uma espiritualidade católica pode conviver perfeitamente com sua crença reencarnacionista e continuar se considerando católico sem nenhum conflito de fé. A natureza individualista da Nova Era aproxima-se sobremaneira dessa noção de espiritualidade, ao ponto de Hanegraaff (1999b) usá-la co78

CAPÍTULO I

mo exemplo ao descrevê-la. Em outro texto, onde aprofunda a discussão, Hanegraaff (1999a) ressalta que embora a manipulação individual promovida pelas espiritualidades usualmente se baseie em quadros simbólicos gerais oferecidos por uma religião, isso não é uma regra. No caso da Nova Era essa manipulação ocorre, muitas vezes, oriunda de sistemas simbólicos científicos, como a popular adaptação espiritual de conceitos da mecânica quântica para uma realidade metaempírica originalmente não prevista pela física. Outra conceituação de religião que abarca a Nova Era, não necessariamente excludente à definição de Hanegraaff, foi criada por Woodhead e Heelas, na qual as religiões são divididas em três tipos: (1) religiões de diferença, (2) religiões de humanidade e (3) espiritualidades de vida : Esses diferentes tipos de religião podem ser pensados como três pontos em um espectro de entendimentos sobre a relação entre o divino, o ser humano, e a ordem natural. Em um extremo do espectro, as religiões de diferença distinguem claramente entre Deus e os humanos e o natural. No outro, espiritualidades de vida adotam uma perspectiva “holística” e enfatizam a identidade 79

A NATUROLOGIA NO BRASIL fundamental entre divino, humano e natural. E no meio do espectro, as religiões de humanidade tentam manter os três elementos em equilíbrio, resistindo a uma subordinação do humano ao divino ou natural (WOODHEAD; HEELAS, 2000, p. 2-3).

As religiões de diferença veem Deus como altamente diferenciado do resto da criação. É enfatizado seu poder absoluto, transcendente. Nessa configuração, típica das vertentes tradicionais das religiões abraâmicas, os seres humanos estão à mercê divina. Na outra ponta, as espiritualidades de vida compreendem que as dimensões humana e divina são sinônimas, e a ética do sujeito se baseia unicamente nele próprio. Cada indivíduo é sua própria autoridade, e não se pode buscar fora o que não se encontra dentro de si mesmo. As manifestações religiosas da Nova Era, nesse sentido, seriam espiritualidades de vida. Essa oposição entre religiões de diferença e espiritualidades de vida é notada na própria postura da Nova Era frente às religiões tradicionais. Em sua origem histórica, os novaeristas questionavam a autoridade das religiões institucionalizadas – em especial o cristianismo –, buscando filo80

CAPÍTULO I

sofias e práticas em religiões indígenas e asiáticas para transcender as supostas limitações promovidas pelas igrejas dominantes através da expansão da consciência, que seria alcançada pelo cultivo ao self. Segundo Amaral (2000, p. 21), “tornava-se visível, naquele momento, um movimento social e religioso cujos simpatizantes pareciam demonstrar um grande apetite espiritual, ao mesmo tempo em que se contrapunham ao domínio eclesiástico e denunciavam a morte da Igreja [...]”. Conforme Hanegraaff (2005) explica, Esse movimento foi caracterizado por uma metafísica amplamente ocultista (com predominância especial das formas de teosofia fundadas por Alice Bailey e, em alguma extensão, Rudolf Steiner), uma ênfase relativamente forte nos valores comunitários e em uma moralidade tradicional enfatizando o amor altruísta e o serviço à humanidade, e uma ênfase milenarista muito forte focada na expectativa pela Nova Era (p. 6496).

Após 1975, uma grande popularização dos ideais novaeristas ocorreu no Reino Unido e principalmente nos Estados Unidos, em grande parte graças ao interesse da mídia em cobrir suas práti81

A NATUROLOGIA NO BRASIL

cas, tidas pelos jornalistas como curiosas e excêntricas (HANEGRAAFF, 1998). Assim, [...] pessoas que participavam de várias atividades “alternativas” começaram a se considerar parte de uma comunidade internacional invisível de indivíduos com pensamentos semelhantes, os esforços coletivos daqueles destinados a transformar o mundo em um lugar melhor e mais espiritual (HANEGRAAFF, 2005, p. 6496).

Como todo coletivo social, esse crescimento da Nova Era dependeu de um ambiente social que contivesse elementos profícuos ao seu florescimento. Esse ambiente foi explicado por Campbell (2002) como sendo o cultic milieu (literalmente, “ambiente de culto”), um terreno fértil habitado por uma sociedade de buscadores, que apesar da grande diversidade de seus indivíduos, compartilha um princípio básico de tolerância e ecletismo, opondo-se à cultura dominante, abraçando uma variedade de abordagens de vida heteróclitas. Dessa forma, pode-se entender que o movimento da Nova Era, em sentido amplo, seria o próprio cultic milieu se tornando consciente de si mesmo (HANEGRAAFF, 1998). 82

CAPÍTULO I

Conforme esse cultic milieu se propagou, a Nova Era foi perdendo sua militância esquerdista e seu milenarismo originais. O crescimento da sociedade de buscadores gerou um novo nicho de mercado, e os bens religiosos novaeristas foram transformados paulatinamente em bens de consumo (HEELAS, 1994; HANEGRAAF, 1998; 2005). Como reflexo, a partir de 1980 os novos simpatizantes passaram a chegar até as espiritualidades da Nova Era não mais através de intermediários contraculturais, mas por agentes culturais mediados por relações comerciais – como o marketing, as relações públicas, programas de rádio e televisão, jornalistas, escritores e profissionais ou terapeutas de serviços novaeristas (HEELAS, 1994). Isso levou a uma transformação no perfil do movimento da Nova Era, com os adeptos tradicionais cedendo espaço aos novaeristas de meio período, consumidores religiosos que desfrutam do que lhes é ofertado sem se sentirem compelidos a um comprometimento maior com os grupos que oferecem esses serviços (CAMPBELL, 2002). Poucos são buscadores no espírito da década de 1970. Ainda menos estão engajados em qualquer caminho espiritual. Os novaeristas de meio perío83

A NATUROLOGIA NO BRASIL

do são simplesmente pessoas que sequer precisam se preocupar se acreditam ou não nas experiências que estão comprando. “É-lhes dito que é a ‘vivência’ o que importa, não a ‘crença’, essa última associada ao intelecto, e portanto ao nível falso, ‘egoico’ da vida” (HEELAS, 1994, p. 98). Essa mudança fez com que alguns estudiosos considerassem que o movimento da Nova Era estaria morrendo (ou até já estaria morto). Discussões sobre seu futuro foram feitas nas últimas décadas por Hanegraaff (2005), Heelas (2008) e Guerriero, Stern e Bessa (2016). Mas ao invés de declararem o seu fim, as pesquisas desses autores apontaram que os bens novaeristas, uma vez assimilados pela cultura capitalista, encontram-se hoje diluídos nas grandes massas como produtos destinados não mais a um público específico, mas sim a toda a população. Não obstante, sua crescente comercialização fez com que o rótulo “Nova Era” adquirisse conotações negativas, e muitas pessoas não querem mais ser associadas a ele (HANEGRAAFF, 1998). Com isso, ao pensarmos hoje em pesquisas de grupos relacionados à Nova Era,

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CAPÍTULO I [...] não se pode mais perguntar simplesmente aos entrevistados de modo direto se eles se consideram adeptos da Nova Era. Ao invés disso, deve-se recorrer a questões mais indiretas – como sobre a aceitação da crença em reencarnação, consciência planetária, métodos de cura holística etc. – para determinar se os respondentes pertencem ao movimento (LEWIS, 1992, p. 2).

Sobre o quadro brasileiro, existe um amplo debate sobre a existência da Nova Era como um “movimento” em nosso país. Hanegraaff possui ressalvas às aplicações a contextos não europeus ou norte-americanos pelos acadêmicos: Frequentemente tem sido afirmado que a Nova Era está se espalhando para outros continentes além da América do Norte e da Europa (como a África, a América do Sul ou a Ásia); mas um exame mais minucioso revela que os estudiosos que descrevem esses processos de alegada aculturação tendem a usar o termo Nova Era em um sentido muito vago e intuitivo, e que estão geralmente falando da propagação não da religião da Nova Era, mas de vários novos movimentos religiosos ocidentais às sociedades não ocidentais (HANEGRAAFF, 2005, p. 6499)

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A NATUROLOGIA NO BRASIL

O posicionamento de Hanegraaff é justificado por seu recorte, que fica claro em sua declaração de que “a religião da Nova Era é um produto de desenvolvimentos históricos específicos na cultura ocidental e [...] suas manifestações atuais são impossíveis de serem separadas da dinâmica interna das sociedades de consumo (pós-)modernas” (op. cit., p. 6499). Contudo, outros pesquisadores europeus pensam diferente. Heelas (2005, p. 5) pontua especificamente o Brasil ao declarar que “[...] a Nova Era está ativa em um grande número de configurações/cenários [além do Reino Unido] – Brasil, Índia, as Filipinas, Rússia e África Ocidental, por exemplo”. Tais divergências dizem respeito a diferentes concepções do que é Nova Era. Se entendermos que a Nova Era está relacionada ao milenarismo das sociedades alternativas, à contracultura esquerdista de 1960, aos esoterismos europeus, e que toda manifestação novaerista posterior deve derivar desse núcleo comum – como Hanegraaff compreende –, então, de fato, não faz sentido considerarmos que houve Nova Era no Brasil.

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CAPÍTULO I

Enquanto a Nova Era atingia seu ápice de popularidade em 1975 nos Estados Unidos e na Inglaterra (HANEGRAAFF, 1998), o Brasil ainda estava sob o jugo da ditadura militar. Embora a década de 1970 também marque o período político conhecido como “distensão” – os primeiros indícios oficiais de um abrandamento da opressão –, a máquina repressiva militar funcionou até o fim da ditadura, em 1985. Conforme a perda de poder se tornava uma ameaça real, setores das Forças Armadas passaram por um processo de radicalização, em uma tentativa desesperada de barrar o processo de redemocratização (CANCIAN, 2005; 2011). Embora comunidades alternativas contrárias à sociedade de consumo sejam atestadas no país, pensar em Nova Era como um movimento contracultural esquerdista é absurdo no Brasil 2. No entanto, ao considerarmos que o que se conheceu como movimento da Nova Era até o fim 2 Um caso emblemático do que acontecia durante a ditadura é o de Raul Seixas, torturado e exilado em 1974 pelo governo de Ernesto Geisel por conta de sua “sociedade alternativa”, que foi vista pelos militares como um movimento reacionário contra o governo (ALVES, 1993).

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A NATUROLOGIA NO BRASIL

da década de 1970 foi cooptado pela sociedade capitalista, transformando-se em bens de consumo de uma espiritualidade de si mesmo, é possível observar, sim, uma Nova Era à brasileira sendo por aqui “comercializada”. Ao invés de tratar a Nova Era como algo construído em oposição à cultura local dominante, como ocorreu nos Estados Unidos, a Nova Era brasileira se populariza como ecos da importação da cultura estadunidense pelo Brasil3. Em outras palavras, ao passo que os valores novaeristas atingiram a mainstream dos Estados Unidos em 1980 – algo essencial, do ponto de vista da propaganda –, conforme o Brasil consumia essa cultura pop através de filmes, músicas, jogos e livros estrangeiros, esses valores foram sendo paralelamente disseminados em nosso país. Ao comentar sobre a forma como os centros novaeristas paulistanos se denominavam em 1990, Magnani (1999, p. 29) declara que “espaços mais ecléticos se autodesignam ora como ‘esotéricos’ ora ‘místicos’ – denominações consagradas na mídia”. Outro dado que reforça essa leitura jaz 3 Raul Seixas, citado na nota de rodapé anterior, é um ótimo exemplo de importação de valores da contracultura estadunidense por um brasileiro.

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CAPÍTULO I

no fato de que “as ‘cidades globais’ apresentam-se como lócus privilegiado para a manifestação da New Age ” (D’ANDREA, 2000, p. 116). Algumas das cidades brasileiras que mais pesquisaram no Google sobre Nova Era nos últimos anos encaixam-se bem na descrição que D’Andrea (op. cit., p. 116) apresenta: “as global cities da América do Sul: nódulos financeiros, administrativos, midiáticos e jurídicos do sistema capitalista mundial”. Figura 4 – Cidades brasileiras com maior interesse pelo tópico “Nova Era” como crença religiosa/espiritual no motor de busca do Google (jan./2004-jun./2015). São Paulo Curitiba Bauru Joinville Campinas Brasília Blumenau Belo Horizonte Santo André Rio de Janeiro

100 95 88 79 77 77 75 73

69 67

Fonte: Google (2015). 89

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Das cidades atestadas, várias foram campo de pesquisas sobre Nova Era. No Rio de Janeiro a Nova Era foi abordada por Tavares (1999), Amaral (2000) e D’Andrea (2000). Em São Paulo, por Magnani (1999; 2000) e Guerriero (2013). Em Brasília, nos artigos de Oliveira (2009; 2011). No leste catarinense, onde se localizam Joinville e Blumenau, nos trabalhos de Borges (2006), de Batista (2006), e Rose e Langdon (2010). A ausência de estudos em Santo André e Bauru pode acontecer pela proximidade com a cidade de São Paulo. Como São Paulo lidera a lista, talvez oblitere pesquisas em outras cidades paulistas. A década de 1980, período que Hanegraaff (1998; 2005) e Heelas (1994) atribuem ao processo de mercantilização da Nova Era nos Estados Unidos e Reino Unido, é o mesmo período que a maioria dos pesquisadores brasileiros atribui o florescimento dos valores novaeristas no Brasil. Segundo Tavares (1999, p. 107) “na rede carioca de orientações, práticas e vivências do tipo Nova Era [...] vem ganhando um destaque crescente desde a segunda metade da década de [19]80”. D’Andrea (2000, p. 11) é mais específico ao declarar que “o ano de 1986 foi marco para o de90

CAPÍTULO I

senvolvimento do MNA [movimento da Nova Era] no Brasil”, ao atribuir seu avanço ao programa de rádio O Eremita, da Rádio Imprensa FM no Rio de Janeiro, e ao lançamento da marca Paulo Coelho. Se, de fato, os bens novaeristas estão se transformando em bens de consumo, como comenta Heelas (1994; 2008), então é de se esperar que o rótulo “Nova Era” perca sua relevância, mas não a popularidade de seus “serviços”. De fato, a popularidade do termo “Nova Era” em si declinou. Todavia, termos como “ioga” e “holismo” se mantiveram relativamente estáveis no Brasil: Figura 5 – Interesse brasileiro pelo tópico “Nova Era” enquanto crença religiosa no motor de busca do Google. 100 80 60

40 20 0 2004

2006

2008

2010

2012

2014

Fonte: Google (2015). 91

A NATUROLOGIA NO BRASIL Figura 6 – Interesse brasileiro pelo tópico “ioga” (e variantes ortográficas, como “yoga”) no motor de busca do Google. 100 80 60 40 20 0 2004

2006

2008

2010

2012

2014

Fonte: Google (2015).

Figura 7 – Interesse brasileiro pelo tópico “holismo” no motor de busca do Google. 100 80 60 40 20 0 2004

2006

2008

2010

2012

2014

Fonte: Google (2015). 92

CAPÍTULO I

Infelizmente o Google Trends não possui dados anteriores a 2004, o que permitiria explorarmos o período atribuído à chegada da Nova Era ao Brasil. Mas no período registrado, das dez cidades que mais pesquisaram sobre o termo “Nova Era” no Brasil, as duas primeiras – São Paulo e Curitiba –, foram umas das únicas que já possuíram cursos de naturologia no país. Não apenas isso, dessas dez cidades, quatro estão localizadas no estado de São Paulo (São Paulo, Campinas, Bauru e Santo André), e duas em Santa Catarina (Blumenau e Joinville), os dois principais estados produtores de conhecimento sobre naturologia. Esses dados são relevantes porque o discurso típico da naturologia brasileira clama que ela foi fundada para responder “a necessidade de se ter profissionais regularmente formados nas terapias naturistas para o exercício da profissão” (VARELA; CORRÊA, 2005, p. 42). Todavia, o campo fértil ao surgimento da área no país talvez esteja menos relacionado às políticas da OMS e do Ministério da Saúde que incentivam às PIC do que ao florescimento de valores da Nova Era em território brasileiro propriamente dito; o que evidentemente não exclui ou diminui o fato da área, uma 93

A NATUROLOGIA NO BRASIL

vez criada, procurar hoje responder a essa demanda social, tentando atendê-las em seu exercício profissional e acadêmico.

A REGULAMENTAÇÃO DA MEDICINA Com o florescimento do mercantilismo no Renascimento, os países da Europa Ocidental passaram a dedicar mais atenção à saúde de seus cidadãos. A crise do ouro e da prata nas colônias exigia que a maior parte possível da população se mantivesse produtiva, gerando as exportações que financiavam os exércitos. Segundo Barros (2008, p. 50), “pressionados por essa exigência mercantil, os profissionais da administração pública dão nascimento à medicina social”, um movimento que ocorreu concomitante à urbanização, ao crescimento e unificação do poder das cidades. Com isso, “a preocupação com a higiene espalhou-se nas cidades e no campo em meio às populações que, acostumadas com as estrebarias de cavalos e a dormir não muito longe do alojamento das vacas, importavam-se muito pouco com a limpeza” (SERRES, 2003, p. 24). 94

CAPÍTULO I

No Iluminismo, a Revolução Francesa popularizou uma narrativa de discurso científico que sustentou os cientistas como sábios, conferindo-lhes o papel social que pertenceu ao clero católico na Idade Média. A apropriação desse discurso pela medicina confluiu em um reducionismo biológico, o que Foucault (2012) chamou de “olhar médico”, a ruptura do corpo físico (a dimensão de interesse da medicina) separado da pessoa do paciente (desconsiderada pelo médico), que desumaniza o enfermo e é observada até hoje na clínica médica. Não apenas isso, o corpo físico também foi dividido em partes, em uma “perspectiva analítica procurando a gênese da composição por meio da decomposição” (BARROS, 2008, p. 55). Por filiação filosófica, Foucault era contra a ideia de uma continuidade iluminista kantiana que compreende uma constante evolução na história do pensamento humano. No caso da medicina, essa lógica linear fabrica noções de que a prática médica começou em Asclépio e continuou desde a Antiguidade, passando por Hipócrates e Galeno até atingir progressivamente a iluminação na Idade Moderna, quando teria se aliciado da ciência para exorcizar o “misticismo clerical” da pratica 95

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médica dos mosteiros católicos medievais. Mas ao tratar da história da medicina, fenômenos muito diferentes devem ser considerados, com diversos corpos e princípios que se autodestroem e foram historicamente contraditórios. Primeiramente é necessário problematizar a noção de idade das trevas, uma criação renascentista que se refere à percebida decadência geral do conhecimento medieval em oposição à suposta antiguidade humanista e racional da Grécia Antiga. “Embora a decadência exista, ela é anterior à época propriamente dita, iniciando com a crise – e posterior queda – do império romano” (ALMEIDA, 2009, p. 38). Segundo Neves (2011, p. 27), como “o cuidar de indivíduos doentes era visto como uma atividade menor, se exercida pelo próprio romano”, no império romano “[...] a medicina era uma atividade de escravos ou de estrangeiros” (ibid., p. 26). Com a crise de Roma, a oferta de escravos diminuiu, gerando por consequência os sintomas tipicamente atribuídos ao que se compreende por idade das trevas. Todavia, tanto os avanços medievais filosóficos, que levaram à criação das universidades pela própria igreja católica, quanto as melhorias na agricultura, que permi96

CAPÍTULO I

tiram o crescimento populacional e comercial necessário à emergência do mercantilismo, foram essenciais ao surgimento do Renascimento, e não devem ser desconsiderados. Em segundo lugar, os mosteiros não detinham hegemonia na saúde medieval. Segundo Pickstone (2006), a emergência de noções de uma medicina oficial é posterior ao Iluminismo, embora haja esboços anteriores de tentativas de controle de sua prática. Até o século XIX, a profissão médica era autorregulada por guildas, sobrepondo-se a ocupações aparentemente divergentes. Porter (1988) afirma que existiam agentes muitos diversos, desde profissionais com treinamento formal (p. ex. alquimistas e boticários) a camponeses que estudavam informalmente por tirocínio. Uma tradição médica de mulheres, atestada nos cuidados de saúde na Inglaterra até o século XVIII, usualmente é ignorada pela historiografia médica, que tende a “[...] dispensá-las com termos condescendentes como mulheres sábias, bruxas brancas ou simplesmente mulheres anciãs, muitas vezes implicando que foram pouco mais que charlatãs” (NAGY, 1988, p. 54). Além disso, “paralelamente ao desenvolvimento da medicina nos mosteiros, 97

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perdura durante toda a Idade Média uma tradição médica entre os judeus” (ALMEIDA, 2009, p. 40), mais avançada que a medicina monástica cristã, favorecida por sua dispersão por vários países, garantindo-lhes intercâmbios de conhecimentos. Segundo Almeida (2009), a igreja católica decretou no século XII, pelo Concílio de Latrão, que o serviço médico era uma obrigação cristã. Atrelado ao zeitgeist das Cruzadas que ocorriam no período, repercutiram-se perseguições aos médicos judeus, com a proibição dos cristãos recorrerem a eles. Os monges também foram desencorajados a exercer a medicina, pois a prática lhes distraia das obrigações religiosas. Esse fato foi vital ao afastamento posterior entre a medicina e a religião cristã, e ao advento da organização, entre os séculos XII e XIII, dos primeiros cursos universitários de medicina pela Europa. A criação desses cursos levou à subsequente identificação social da ocupação médica com o sexo masculino, visto que quase todas essas universidades, mantidas pela igreja, restringiam o acesso às mulheres. Nesse sentido, “por conta de seu gênero, as mulheres passaram a ser encontradas rarissimamente entre as fileiras dos cirurgiões e médicos 98

CAPÍTULO I

profissionais” (NAGY, 1988, p. 54), sendo relegadas ao domínio médico não oficial. Eventos do Renascimento desencadearam o que a Europa conheceu como revolução científica. No campo da medicina, segundo Neves (2011, p. 27), “com Leonardo da Vinci, e principalmente com Andreas Vesalius (considerado o pai da anatomia), ocorre uma sistematização do ‘dividir em partes para entender’ o organismo humano”. Essa forma de pensar, que posteriormente foi popularizada principalmente por conta do cartesianismo, passou a influenciar toda a óptica da medicina universitária a partir do século XVII, refletindo-se paulatinamente na prática médica europeia. No século XVIII, a proximidade entre a medicina e as universidades passou a ditar cada vez mais o tom dos avanços médicos. “Assim foi sendo criado um fosso entre a medicina ‘teórica’ ou erudita e a medicina ‘prática’” (ALMEIDA, 2009, p. 45). Os médicos eruditos eram requisitados essencialmente pela aristocracia, visto serem profissionais caros pelo próprio ensino universitário ser inacessível aos mais pobres. Como tal, os médicos práticos, também chamados de barbeiros por co 99

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mumente exercerem essa ocupação em paralelo, atendiam marginalmente às demandas médicas das classes menos abastadas (PORTER, 1988). Quando os médicos eruditos desenvolvem as primeiras pretensões de monopólio da prática médica, sua proximidade com as classes dominantes foi determinante ao processo de discriminação e perseguição dos médicos outros. Para assegurar a supremacia da medicina universitária e garantir reservas de mercado, a normatização da prática médica foi paulatinamente instaurada a partir do fim do século XVIII (PICKSTONE, 2006). Esse processo foi “[...] marcado pela exclusão ou assimilação subordinada4 de determinados grupos rivais tais como judeus ou mulheres” (ALMEIDA, 2009, p. 45). Dessa forma, esses outros setores que também lidavam com a cura passaram a ser 4 Com “assimilação subordinada” a autora quer dizer uma divisão hierarquizada do trabalho, criada pela impossibilidade de evitar totalmente a participação de determinados grupos sociais no ato social de curar. Visando a manutenção da supremacia do médico erudito, os médicos outros foram considerados subalternos. Reproduções desse modelo são observadas até hoje na sociedade, onde notamos situações nas quais o enfermeiro é subjugado hierarquicamente ao médico em hospitais e centros de saúde.

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CAPÍTULO I

classificados como charlatões, supersticiosos e, em alguns cenários, foram criminalizados. É por isso que Foucault (1997) atenta ao fato de que não podemos desconsiderar a barbárie de divergentes secessões que forma a própria civilização ao falar sobre a história da medicina. Esses desmembramentos são tecidos em uma tríade interdependente de poderes, saberes e verdades. Os poderes precisam se apoiar em práticas de saber, ao passo que os saberes se baseiam em regimes de verdades. As verdades alimentam os poderes, pois poderes somente são exercidos se a população sabe (acredita) que são verdadeiros. Ao tentar descobrir a origem da prática médica na França em O nascimento da clínica, Foucault parte de uma diferenciação entre saber e ciência, o que é mais bem explicado em sua obra posterior A arqueologia do saber. Para Foucault (1997), a ciência tem um padrão epistemológico muito delicado e bem estruturado, extremamente formal, constituído por leis e enunciados que podem depois ser testados na prática e repetidos. Além disso, a ciência não está em função de nada a não ser dela mesma. Não necessariamente o mesmo ocorre com o saber, que constitui mais do 101

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que uma ciência: um feixe de classificação de coisas, que pode ser tanto um ponto de partida para o sujeito poder enunciar as coisas, quanto um campo de práticas coordenadas. Como precisa de várias ciências para ser coesa (física, química, ciências biológicas, ciências humanas etc.), Foucault (2012) viu na medicina um saber ao invés de uma ciência. Além disso, por mais que adotem discursos científicos, os médicos recorrem a um campo de poderes e verdades que os enuncia como sujeitos com autoridade para falar e agir em nome da saúde; em especial após o surgimento da noção de medicina oficial. Enquanto a ciência não precisa necessariamente possuir uma meta prática – os cientistas podem objetivar o conhecimento pelo conhecimento, configurando apenas um intuito teórico –, o saber, por sua relação direta com os poderes e verdades, está em função de algo, visando à aplicabilidade. Conforme a ideia de medicina oficial se consolida ao longo dos séculos XIX e XX, Serres (2003) e Laplantine (2010) expõem que a doença se torna um escândalo social. A saúde se fez direito, e visando massificá-la, a medicina se aliou cada vez mais à tecnologia, norteada pela tríplice 102

CAPÍTULO I

regularidade, precisão e indução científica. A regularidade diz respeito à noção de normalidade médica: o que ocorre mais frequentemente é considerado “normal”, e o que foge à frequência é o “patológico”. Já a precisão e a indução científica são norteadoras do diagnóstico médico (BARROS, 2008). As incertezas, fruto da complexidade do objeto e da limitação da ciência, passam a ser “contornadas” por somas de graus de certezas isoláveis. Em outras palavras, conforme Foucault (2012), a medicina se foca cada vez mais nas patologias, fruto dos saberes probabilísticos oriundos da regularidade, em detrimento da pessoa do doente e sua subjetividade, que “atrapalham” o médico-cientista em seu diagnóstico “preciso”. No Brasil, é possível notarmos tanto inclinações da regulamentação da medicina à criação de mercados médicos corporativistas, como nota Pickstone (2006), quanto à emergência da saúde como uma questão social, o que vai ao encontro de Focault (2012) e o nascimento da clínica francesa. Aparentemente, ambos os cenários prorromperam aqui. Todavia, o que interessa ao estudo da naturologia é que a regulamentação da medicina leva à criação de uma medicina oficial 103

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assegurada pelo Estado, delimitada em práticas credenciadas pelos órgãos responsáveis. A regulamentação ocupacional e profissional incide sobre os mercados de trabalho e de serviços, definindo campos de trabalho, procedimentos e atividades de exercício restrito. Assim, quando uma ocupação ou profissão obtém algum nível de regulamentação, ela tem sua entrada no mercado de trabalho delimitada pelo tipo (mais ou menos restritivo) e escopo (mais ou menos abrangente) da regulação. Noutras palavras, diferentemente das ocupações desregulamentadas ou de livre exercício, as ocupações regulamentadas têm seus mercados relativamente “fechados”: a oferta e os preços de seus serviços são definidos por instituições extramercado tais como, entre outras, as universidades e corporações profissionais que proveem a formação, conferem as credenciais educacionais, registram e validam os títulos profissionais necessários ao exercício. Sob esse prisma, a regulamentação de uma atividade ocupacional ou profissional implica em um privilégio – na forma de credencialismo educacional, de reserva de mercado ou de direito exclusivo de propriedade sobre campos de prática – concedido pelo Estado a partir do reconhecimento da utilidade pública daquela atividade (GIRARDI; FERNANDES JR.; CARVALHO, 2000, p. 1-2). 104

CAPÍTULO I

Segundo Laplantine (2010), a prática tida como oficial pelo Estado tende a se tornar a medicina hegemônica, e as práticas que coexistem paralelamente à medicina oficial passam a ser vistas como medicinas alternativas. Para os agentes da medicina oficial, “as medicinas paralelas são tidas como o retorno de um obscurantismo que a ordem médica biologizante pensava ter vencido” (p. 24). Tais práticas são estigmatizadas pelo grupo legitimado pelo Estado como erro médico. Mas o fato de uma profissão não estar regulamentada não significa, necessariamente, que ela esteja equivocada. De acordo com Girardi, Fernandes Jr. e Carvalho (2000, p. 4), “entre as ocupações que não possuem regulamentação formal poderiam ser incluídas [...] as ocupações e profissões ditas ‘alternativas’ ou não-ortodoxas [...], as ocupações ‘tradicionais’, a exemplo dos curandeiros e, [...] os ocupados em atividades ilegais”. Será que a biomedicina, uma racionalidade médica alienígena às práticas de cura dos povos indígenas, é adequada para julgar a pajelança como um “erro médico”? A acupuntura foi historicamente achincalhada pela medicina, mas nas últimas décadas vem sendo apropriada como uma 105

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prática médica válida por ter se tornado economicamente interessante. Então a acupuntura deixa de ser “erro médico” pelo simples fato dos médicos estarem utilizando-a (e fazendo dinheiro com ela) agora? E práticas como aborto e eutanásia, ambas ilegais, não continuam ocorrendo na sociedade justamente porque funcionam? Se elas atingem os objetivos esperados, há algum motivo, além do moral, para serem “erros médicos”? Como se pode notar, há muitos pontos que po dem ser questionados a respeito da disputa pela detenção da “verdade” na medicina5. Até a metade do século XIX, quando os hospitais brasileiros começaram a migrar para o padrão da clínica médica europeia, “as práticas médicas [oficiais] estiveram entregues aos religiosos, que cumpriam seus papéis como médicos, sangradores, enfermeiros e boticários, em uma época que esses estiveram ausentes no Brasil” (GURGEL, 2010, p. 141). As Santas Casas de Misericórdia do século XVI eram as formas oficiais da medicina brasileira, instauradas pela coroa por 5 Laplantine apresenta considerações maiores em sua obra Antropologia da doença (cf. LAPLANTINE, 2010).

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CAPÍTULO I

uma demanda dos viajantes que comumente adoeciam pelas longas e insalubres viagens navais entre Brasil e Portugal. Contudo, diferente da visão contemporânea do hospital como um local para a cura, as Santas Casas coloniais eram, como chamou Barros (2008, p. 65), morredouros, “em parte, porque o lugar da doença [era] a família; e, em parte, porque a medicina dos mosteiros [brasileiros] estava cercada de restrições técnicas”. Pela carência de médicos e pela herança colonial, o cientificismo e regulamentação da medicina aconteceram tardiamente no Brasil. Os brasileiros que desejassem se formar em medicina precisavam estudar na Europa, alternativa onerosa, restrita às famílias muito ricas, o que fazia do médico formado um profissional de luxo no país. “Em 1799, muito próximo à chegada de D. João e sua corte ao Brasil, o número de médicos formados em todo o país não ultrapassava a minúscula cifra de 12 profissionais” (GURGEL, 2010, p. 147). Como tal, a medicina informal foi a mais praticada no Brasil até pelo menos a metade do século XX. Com a chegada da família real em 1808, João VI ordenou a abertura de dois cursos de medicina, um em Salvador, no prédio do então 107

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Colégio dos Jesuítas (atual UFBA), e outro no Rio de Janeiro, no Hospital Militar do Morro do Castelo (atual UFRJ). Em 1829, Joaquim Cândido Soares de Meireles, médico formado pelo Colégio dos Jesuítas, fundou a Sociedade de Medicina, que se tornaria a atual Academia Nacional de Medicina. Então o Brasil permaneceu noventa anos com esses cursos; até o fim do século XIX apenas mais uma faculdade de medicina foi aberta no país, em Porto Alegre em 1898 (cf. NASSIF, 2015). Segundo os dados levantados por Nassif (2015), no início do século XX outras formações de medicina passaram a ser oferecidas. Em 1934, durante a Era Vargas, o DNSAMS (Departamento Nacional de Saúde e Assistência Médico-Social) foi criado como parte do então Ministério da Educação e Desporto. A incorporação de serviços de vigilância epidemiológica acabou levando à mudança do nome do ministério em 1937 para Ministério da Educação e Saúde (COELHO, 2008). Todavia, como os grandes centros médicos estavam concentrados preponderantemente nas regiões Sul e Sudeste, sua abrangência foi modesta em comparação ao território nacional.

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CAPÍTULO I

Quando as primeiras leis de exercício da medicina e da farmácia foram criadas em 1932, o Brasil possuía apenas dez cursos de medicina; todos localizados nas capitais. A interiorização do ensino da medicina só começou a partir de 1950, inaugurada pela iniciativa privada, no campus de Sorocaba da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). A partir do segundo governo de Getúlio Vargas, a interiorização do ensino da medicina recebeu maior impulso político. A UFJF de Juiz de Fora, a UFTM de Uberaba, e a UFSM de Santa Maria foram as três primeiras universidades federais não localizadas em capitais a ofertarem cursos de medicina no Brasil (NASSIF, 2015). Em 1953 o governo Vargas decidiu que o DNSAMS deveria ser separado do Ministério da Educação, criando o Ministério da Saúde. Grosso modo, a extensão territorial brasileira, atrelada à urbanização crescente e a falta de recursos financeiros e tecnológicos, mantiveram sua ação política limitada. Todavia, as primeiras agendas políticas em direção ao controle de endemias e zoonoses, saneamento básico e educação em saúde em nível nacional são registradas nessa época

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A NATUROLOGIA NO BRASIL

(PAULUS JR.; CODONE JR., 2008; COELHO, 2008; MARQUES, 2008). São Paulo foi a região que mais divergiu da política nacional. Enquanto o governo federal preconizava um sistema descentralizado de educação em saúde, que atendesse as necessidades da população após triagem, encaminhando os quadros a especialistas ou internação apenas conforme necessário, São Paulo optou por uma organização focada nas especialidades médicas, o que privilegia o médico, mas prejudica consideravelmente a agilidade dos atendimentos (MARQUES, 2008). Pela força econômica e política de São Paulo, após o governo Vargas “a assistência médica individualizada passou a ser dominante e a política privilegiou a privatização dos serviços e estimulou o desenvolvimento das atividades hospitalares” (PAULUS JR.; CODONE JR., 2008, p. 14). Em 1945 foi criado o Conselho de Medicina, mas apenas regulamentado em 1957. Desde então, foi seguido por outras profissões de nível superior como a enfermagem, a farmácia, a odontologia e a medicina veterinária. A partir da década de 1970, uma vez estabelecida a hegemonia dos primeiros que conseguiram o reconhecimento do 110

CAPÍTULO I

Estado, tornou-se cada vez mais difícil a outras profissões da saúde conquistarem a regulamentação no Brasil, o que Girardi, Fernandes Jr. e Carvalho (2000, p. 7) consideram “devido, em parte ao ‘clima’ de desregulação vigente e ao elitismo do nosso sistema de regulação profissional”. O golpe militar de 1964 trouxe uma drástica redução das verbas destinadas ao Ministério da Saúde, além do Estado passar a restringir a participação democrática no processo legislativo brasileiro (MARQUES, 2008). Sem a possibilidade de representação sindical e com o aumento nos custos militares, industriais e de transportes, a regulamentação de novas profissões da área da saúde se tornou algo inviável durante esse período. A saúde brasileira também perdeu sua proposta descentralizadora, focada em educação e prevenção, para adotar um modelo individualista durante a ditadura militar, mais próximo do modelo paulista, no qual pouco importava a saúde pública desde que o trabalhador individual continuasse produtivo. A medicina passou a ser oferecida pelo Estado, mas o cidadão deveria pagar pelo tratamento, que era descontado de seu salário (MARQUES, 2008). Sendo assim, com o go111

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verno federal ofertando esse serviço à população, não havia espaço público para as medicinas outras. Não fazia sentido, do ponto de vista político. Nesse período apenas aqueles com carteira assinada e os trabalhadores rurais tinham algum acesso à saúde garantido pelo governo, com grande parcela da população relegada ao descaso. Sem acesso à medicina oficial nem às medicinas paralelas, na década de 1970 a população enfrentou um aumento considerável de surtos de malária, dengue e meningite, com o agravante de que a mídia não podia sequer alertar sobre a ameaça, visto que as autoridades recorriam à censura para não trazer à tona reportagens que abrissem margem a questionamentos sobre sua competência administrativa (MARQUES, 2008). O resultado do caos sanitário que se instaurou foi a fundação, em 1976, do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES), que fomentaria o início do Movimento da Reforma Sanitária Brasileira, que lutou contra a ditadura militar, afirmando que o acesso à assistência médica e sanitária deveria ser um direito de todos e um dever do Estado (PAULUS JR.; CODONE JR., 2008; MARQUES, 2008). Esse movimento foi essencial para que o 112

CAPÍTULO I

direito universal à saúde fosse aceito na Constituição do Brasil de 1988 (BRASIL, 1988a), o que levaria à criação do SUS e a uma maior promoção e aceitação das medicinas alternativas no país.

O INCENTIVO ÀS MEDICINAS ALTERNATIVAS Desde o início do século XX é notada uma tendência na América do Norte e Europa em questionar a noção de saúde como simplesmente a ausência de doenças. De acordo com Laplantine (2010), atrelada às consequências da Primeira Guerra Mundial, essa insatisfação fomentaria a noção de oposição entre a dimensão do “universo interior”, rico de significados, e o mundo exterior do pós-guerra, desacreditado, que posteriormente instigaria o movimento da contracultura de 1960. Uma das grandes revoluções foi promovida pela descoberta da penicilina, em 1928. A invenção dos antibióticos e das sulfamidas fez com que patologias como a sífilis e a tuberculose, antes mortais, começassem a ser curadas, consolidando 113

A NATUROLOGIA NO BRASIL

uma transformação profunda na forma como a sociedade e seus cidadãos se relacionavam com a dor, a doença, a velhice e o sofrimento. “O bem-estar do corpo, anteriormente raro, tornou-se frequente. O restabelecimento tornou-se um direito e a doença, antes cotidiana, tornou-se insuportável” (SERRES, 2003, p. 25). Paralelo a isso, “com o fim da Segunda Guerra Mundial, ganhou espaço a ideia de welfare, ou seja, de bem-estar, a ser propiciado pelo Estado aos cidadãos, como um benefício público, o que influenciou esse paradigma de saúde como um bem-estar social” (NEVES, 2011, p. 29). Conforme esse novo paradigma se popularizava nos Estados Membros da recém-criada ONU, demandas de seguridade a esse direito se tornavam cada vez mais fortes. Essa necessidade levou ao surgimento da OMS em 1948, com a intenção declarada de promover uma abordagem positiva e diferenciada de saúde, que incluísse em sua definição a noção do bem-estar pós-guerra e também a saúde mental. A conjunção desses três fatores – o movimento da contracultura, a promoção da ideia de bem-estar social pela OMS, e a demanda pelo bem-estar físico por conta da revolução farma114

CAPÍTULO I

cêutica – foram essenciais para a popularização na Europa e na América do Norte de outras formas de cura que tentavam abarcar dimensões até então negligenciadas pela medicina há pelo menos dois séculos. Em fins do século XX, ao mesmo tempo que surgiram movimentos de contracultura, questionadores dos critérios estabelecidos, houve um maior contato com tradições orientais, ou mesmo ocidentais não convencionais, as quais compuseram o quadro do que passou a ser chamado de medicina complementar e alternativa. Paralelamente, tornou-se cada vez mais acentuado um enfoque na sociedade e na mídia nas questões relativas ao meio ambiente, sobretudo em virtude da crescente poluição, que passou a ser mais um fator a ser considerado nas noções de bem-estar (NEVES, 2011, p. 29-30).

No que diz respeito às PIC, em um primeiro momento elas foram chamadas de terapias alternativas por se apresentarem como alternativas de tratamento ao modelo biomédico, que passou a desconsiderar os aspectos psicológicos, simbólicos, espirituais e sociais dos enfermos, focando-se apenas em sua dimensão física. 115

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Em resposta ao crescente mercado das terapias alternativas, no final da década de 1970 foi criado o Programa de Medicinas Tradicionais na OMS, visando formular políticas internacionais aos Estados Membros da ONU (BRASIL, 2006). Esse mercado surgiu no século XIX, fortificou-se com a emergência da cultura do bem-estar (SERRES, 2003), e atingiu seu ápice com o movimento da Nova Era (HANEGRAAFF, 1998). Desde então, ainda que nem sempre possam ser comprovadas cientificamente, a OMS reconhece o valor das terapias alternativas/tradicionais, atestado pela experiência passada de geração a geração (WHO, 2000), adotando diretrizes que estimulam sua prática mundialmente, desde que sua eficácia e segurança sejam certificadas pela ciência, visando regulá-las e integrá-las aos sistemas nacionais de atenção à saúde (WHO, 2013). Laplantine e Rabeyron (1989) apresentam a extensa (porém não exaustiva) lista de terapias estabelecidas pela OMS no início dos anos 1980: Homeopatia, medicina antroposófica, diagnóstico astrológico, iridologia, diagnóstico por exame de língua, fisioterapia aplicada, diagnóstico físico, aura, fotografia Kirlian, biorrit116

CAPÍTULO I mos, teste das cores de Lüscher, acupuntura, reflexologia, shiatsu, moxabustão, osteopatia, quiropatia, terapia por impacto, rolfing, terapia por manipulação, touch for health, escovação da pele, cimática, medicina psiônica, radiestesia médica, radiônica, espirais oscilatórias de Lakhovsky, terapia orgônica, energia das pirâmides, árica, somatografia, bioenergética, psicologia biodinâmica, psicodrama, novas terapias primitivas, gestalt, conselhos mútuos, encontro, formação da sensibilidade, naturopatia (Heilpraktiker), cura metafísica, cibernética humana, psicossíntese, dianética, método Bates de educação visual, mesmerismo, irradiação de calor, banhos de cera, respiração, banhos de sol, raios ultravioleta, monorregimes, jejum, terapia Gerson, terapia pela urina, diateria e terapia por microondas [sic.], ultrassom, terapia por pulsões em alta frequência, endrocrinoterapia endógena, pedras preciosas e cobre, argila e lama, balneoterapia, fitoterapia, vita florum, exaltation of flowers, aromaterapia, alimentos integrais, vegetarianismo, veganismo, macrobiótica, método Bircher-Benner, regime de alimentos crus, autossugestão, hipnose, treinamento autógeno, psicologia neurofisiológica, galvanismo, ventosas, sangria, faradismo, corrente sinusoidal, terapia interferencial, terapia por altas frequências, regime Hay, regime com grande teor de proteínas, regime com grande teor de fibras, medicamentos bioquímicos, medicina ortomolecular, biofeedback, meditação, iluminação intensiva, aná117

A NATUROLOGIA NO BRASIL lise transacional, cromoterapia, meloterapia, ioga, técnica Alexander, terpsicoterapia, eurritmia curativa, t’ai chi ch’uan, cura pela fé (p. 20-21).

Ademais, a lista ratifica que estamos a falar de um fenômeno não idêntico ao das medicinas populares brasileiras descritas por Gurgel (2010) nos períodos do Brasil Colônia e Brasil Império. Embora a medicina popular seja evidente no Brasil desde sua descoberta por Portugal, o que se entende por medicina popular, por esses critérios, é diferente da concepção de medicina alternativa descrita pela OMS no cenário estrangeiro. A medicina popular brasileira, com banhos, chás, peregrinações e benzeduras, aproxima-se do que Laplantine define como medicina religiosa. Todavia, é preciso lembrar que a oposição entre medicina científica e medicina religiosa proposta por esse autor não indica superioridade de uma à outra. Ao tratarmos das concepções de cura em uma sociedade, “não existem práticas puramente ‘médicas’ ou puramente ‘mágico-religiosas’, mas, no máximo, recursos distintos, de resto raramente antagônicos” (LAPLANTINE, 2010, p. 217), podendo-se notar muito de ciência nas medicinas 118

CAPÍTULO I

populares tanto quanto de crenças na medicina biomédica6. Quando Laplantine (op. cit., p. 223) declara que “a medicina religiosa e a medicina popular são uma única e mesma coisa”, ele quer dizer que a medicina popular revela a relação intrínseca entre religião e medicina na sociedade em que se insere, por estar intimamente influenciada por ambos esses domínios. A carência de médicos formados até o século XIX fez com que os religiosos assumissem o papel de curadores no Brasil. Segundo Gurgel (2010), nossa medicina popular foi um híbrido entre a medicina popular europeia, fortemente influenciada pelo cristianismo, e as medicinas indígenas. Além disso, embora não seja abordada pela autora, a religião africana, introduzida pelo tráfico negreiro, exerceu influência inegável na construção da identidade de nossa medicina popular. Das terapias usadas pela naturologia brasileira, o mais próximo de nossa medicina popular 6 O materialismo científico está repleto de símbolos e credos: a crença na imparcialidade, na neutralidade, na objetividade, na realidade física como única verdade, no cartesianismo e na experimentação controlada e repetível como forma legítima de apreender a verdade etc.

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seria o uso de águas minerais, introduzido pela colonização portuguesa (BRASIL, 2006), e de plantas medicinais, atestado desde o período colonial pelo contato com os índios (GURGEL, 2010). Isso permite concluir que a medicina popular brasileira e as práticas utilizadas pela naturologia, embora próximas, não são sinônimas. Segundo Moraes (2007), a formação de um mercado de curas alternativas no sentido tratado pela OMS (muito mais próximo da práxis naturológica) foi corroborada pela adesão brasileira a novas religiosidades, o que começou a ocorrer com maior frequência a partir de 1946, quando além da laicidade – garantida desde a proclamação da república (BRASIL, 1891) –, a Constituição passou a declarar que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença e assegurado o livre exercício dos cultos religiosos” (BRASIL, 1946, art. 141). Entretanto, “no Brasil, a legitimação e a institucionalização dessas abordagens de atenção à saúde iniciaram-se a partir da década de [19]80, principalmente após a criação do SUS” (BRASIL, 2006). Em um primeiro período, o perfil de consumidores dessas terapias foi constituído por pessoas brancas, de classes sociais mais privilegia120

CAPÍTULO I

das, moradores das grandes cidades brasileiras. Um levantamento feito na cidade de São Paulo “[...] mostrou que a maior parte dos estabelecimentos que ofereciam aquele tipo de produtos e serviços [...] localiza-se preferencialmente em bairros de classe média e classe média alta” (MAGNANI, 2000, p. 28). Um perfil traçado sobre o consumo de terapias alternativas em Recife apontou que cerca de 80% dos participantes eram mulheres, e mais de 72% possuíam o ensino superior completo (MARTINS, 1999), isso em uma época em que apenas 13,7% da população recifense possuía o ensino superior completo. Em 1985, um convênio entre a UERJ e o governo do estado foi celebrado, visando inserir a homeopatia na rede pública de saúde (BRASIL, 2006). Entretanto, desejava-se que toda prática médica, inclusive as terapias alternativas, fossem mantidas nas mãos dos "médicos oficiais”, garantindo a proteção de sua reserva de mercado pelo corporativismo estatal. Consequentemente, quando a Comissão Interministerial de Planejamento e Coordenação das Ações de Saúde (CIPLAN) publicou a Resolução nº 9 de 8 de março de 1988, ditando diretrizes para a implantação da acupuntura 121

A NATUROLOGIA NO BRASIL

e fitoterapia nos serviços públicos de saúde, deixou claro que essas práticas só seriam permitidas desde que exercidas exclusivamente por médicos (BRASIL, 1988b). O fim da ditadura militar abriu espaço a uma nova Constituição que legitimou a saúde como um direito da cidadania, “[...] garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988a, art. 196). Para promover esse acesso em todo o país, o Ministério da Saúde implantou o SUS, que passou a operar em território nacional a partir de 1990. Toda a população brasileira passou a ter direito a tratamento médico, financiado com recursos dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. No entanto, foi somente a partir da década de 2000 que as implicações constitucionais acerca desse acesso universal à saúde começaram a ser discutidas juridicamente no Brasil (MARQUES, 2008). Com a saúde fazendo-se direito ao cidadão e dever do Estado, “o paciente exige o retorno à saúde, por 122

CAPÍTULO I

vezes sob a ameaça de um processo” (SERRES, 2003, p. 25). Isso, evidentemente, gerou um aumento considerável do custo de manutenção do país, requerendo alternativas administrativas. Dessa forma, a década de 2000 marcou o início de uma série de ações do Ministério da Saúde que incentivaram as medicinas alternativas. Em 2000, a 11ª Conferência Nacional de Saúde (CNS) recomendou a incorporação de práticas não convencionais no Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e no Programa Saúde da Família (PSF). Em 2003, o relatório da Conferência Nacional de Assistência Farmacêutica enfatizou a importância da ampliação do acesso aos fitoterápicos e homeopáticos no SUS. O GT de Medicina Natural e Práticas Complementares (MNPC) foi formado no Ministério da Saúde, com o objetivo de elaborar uma política nacional para essas terapias. Em 2004, a MNPC foi incluída como nicho estratégico dentro da Agenda Nacional de Prioridades em Pesquisa. Em 2005, um projeto piloto de termalismo social foi constituído no SUS, enquanto um GT de plantas medicinais foi criado por decreto presidencial, visando também à elaboração de uma política nacional (BRASIL, 2006). 123

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Em 2006 o GT da MNPC assumiu a nomenclatura atual Práticas Integrativas e Complementa res. Então, em 3 de maio de 2006 foi outorgada a Portaria nº 971, que aprovou a PNPIC. Um levantamento do Departamento de Atenção Básica, da Secretaria de Atenção à Saúde, atestou cinco PIC no atendimento do SUS – a medicina chinesa (incluindo a acupuntura), a homeopatia, a fitoterapia, o termalismo/crenoterapia, e a medicina antroposófica –, em um estudo que demonstrou que pelo menos uma dessas práticas vinham sendo oferecidas em 232 municípios dos 26 estados brasileiros (BRASIL, 2006). A naturologia brasileira só começou a se familiarizar com a trajetória da PNPIC no final da década de 2000, quando os primeiros naturólogos formados no Brasil atingiram o nível do mestrado em programas de pós-graduação em saúde coletiva. A criação dos primeiros cursos superiores de naturologia acontece paralelamente a tudo isso. Em 1994 as FIES de Curitiba abriram o curso de naturologia aplicada em terapias naturistas, com habilitações em fitoterapia, acupuntura e naturopatia (VARELA; CORRÊA, 2005; SILVA, 2012; TEIXEIRA, 2013). Por mais que a carta redigida à 124

CAPÍTULO I

Brasília para obter a aprovação desse curso cite a resolução da CIPLAN e o convênio da UERJ (cf. VARELA; CORRÊA, 2005), foi somente em 1996 que a incorporação da fitoterapia, da acupuntura e da homeopatia foi de fato aprovada no SUS em âmbito nacional (BRASIL, 2006). Essa outorga, conquistada na 10ª CNS, não teve qualquer relação com o curso curitibano de naturologia. A formação da UNISUL foi lançada dois anos depois, adotando uma versão encurtada do nome do curso paranaense: naturologia aplicada. Primeiramente foi aberta como uma pós-graduação lato sensu em 1996, e após a segunda turma foi convertida em bacharelado. Para promover o novo curso, um congresso foi organizado pela UNISUL. E para garantir o público, a instituição convidou como conferencistas não as pessoas relacionadas à CNS ou ao Ministério da Saúde, mas Fritjof Capra, um dos autores mais populares nos circuitos da Nova Era segundo Hanegraaff (1998). Como é possível notar, tanto a abertura do curso paranaense quanto do curso catarinense não parecem que foram uma resposta às discussões que se seguiam sobre as PIC no SUS ou na OMS. Ao invés disso, no caso da UNISUL, tanto 125

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Teixeira (2013) quanto Rubin, Duarte e Katekaru (2009) apontam proximidades aos valores novaeristas entre os próprios idealizadores do curso. Nesse sentido, embora hoje a naturologia brasileira se aproprie das categorias do Ministério da Saúde e procure ir ao encontro dos interesses da PNPIC, não são encontrados indícios que confirmem relações entre a fundação das formações brasileiras de naturologia e as discussões que aconteciam no Ministério da Saúde sobre as PIC na época. Ao contrário, os documentos produzidos pelos cursos no início de sua implementação parecem ir mais ao encontro dos valores novaeristas presentes na década de 1990 no país do que à preocupação da União por baratear o SUS.

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CAPÍTULO II A NATUROLOGIA BRASILEIRA: HISTÓRICO E DEFINIÇÕES

Definir o que é a naturologia é um grande desafio. Como é uma área recente no Brasil, nem mesmo os próprios naturólogos têm claro o que ela é. Suas bases epistemológicas ainda estão em construção, muito de sua história europeia, anterior à fundação dos cursos brasileiros, é desconhecida pelos naturólogos do país, e boa parte dos termos que usualmente são utilizados para descrever suas práticas detêm polissemia. Não existe ainda um estatuto epistemológico nem profissional que delimite a Naturologia enquanto conhecimento. O que existe são indicações não unificadas estabelecidas pelos cursos formadores, profissionais atuantes na área e entidades profissionais que não chegam, em suas definições, a uma unidade a respeito da Naturologia (SILVA, 2008, p. 2).

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A NATUROLOGIA NO BRASIL

A versão resumida1, segundo Adriana Silva (2012, p. 19), seria que “a Naturologia é um curso que forma terapeutas em práticas naturais”. Mas Barros e Leite-Mor (2011, p. 13) foram muito precisos ao declarar que “definir a Naturologia pela utilização das práticas naturais, além de reduzi-la apenas ao nível tecnocrático do conhecimento, também a desprovê dos princípios inerentes às medicinas holísticas e sistêmicas”. Sendo assim, discutir os diferenciais da naturologia frente a outras escolas terapêuticas é necessário. Apesar da naturologia no Brasil ter surgido em ambiente acadêmico, em suas duas décadas de vida foram publicadas poucas produções que se debruçaram especificamente sobre o que ela é. Além da tese de Adriana Silva (2012) e das dissertações de Teixeira (2013) e Paschuino (2014), os papers apresentados nos FCN e alguns TCC que proporcionaram avanços teóricos no conhecimento em naturologia são as principais obras que abordam objetivamente o que é essa área. Seu único periódico ainda ativo foi fundado em 1 A tese de Silva tem como objetivo discutir a naturologia epistemologicamente. Essa versão resumida não faz jus ao que ela desenvolve em seu trabalho.

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CAPÍTULO II

2013, conquistou a indexação no mês de julho de 2015, mas não manteve a assiduidade das publicações em 2016 e 2017. Além disso, o primeiro livro acadêmico feito pela naturologia brasileira, uma compilação de artigos de professores e estudantes, foi lançado pela UNISUL somente uma década após a fundação do curso nessa instituição. Como campo novo do conhecimento, a ausência de profissionais formados fez com que, naturalmente, seus primeiros professores fossem de outras áreas: biólogos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, artistas, geólogos, músicos, físicos, filósofos, farmacêuticos, nutricionistas, advogados, médicos, educadores físicos, astrônomos, teólogos ou cientistas sociais que, por condições diversas, inseriram-se no universo das PIC. Conforme os primeiros naturólogos foram atingindo o nível do mestrado, esse quadro foi mudando (TEIXEIRA, 2013). Se em um primeiro momento cada professor defendia as agendas de sua própria profissão, à medida que mais naturólogos começaram a lecionar nos cursos de naturologia no Brasil, cresceu a necessidade de criar um corpo epistemológico que respondesse tanto às 129

A NATUROLOGIA NO BRASIL

críticas de exclusivismo dos primeiros docentes 2 quanto à multiplicidade de conhecimentos com a qual os naturólogos entravam em contato. Esse capítulo pretende explorar essas questões, traçando o histórico da construção da naturologia no Brasil. Além das poucas fontes textuais existentes que contêm parte dessas informações, como grande parte dessa história nunca foi escrita, foi necessário recorrer a história oral. Os entrevistados foram: Adriana Elias Magno da Silva, professora mais antiga do curso da UAM e autora da primeira tese sobre a naturologia no Brasil; Andrea Lucila Lanfranchi de Callis, presidenta da APANAT na época da entrevista, egressa do curso da UAM; Belchior Torres do Nascimento, ex-secretário do centro acadêmico do curso da UAM; Cristiano Tavares de Castro Teixeira Pinto, egresso do curso da UAM; Cristina Mutsumi Sekiya, a primeira coordenadora e responsável pela implan2

Alguns docentes, em especial de campos como a psicologia, a enfermagem, a farmácia e a musicoterapia, diziam aos alunos que eles não poderiam aplicar profissionalmente as práticas que estavam aprendendo na universidade por essas constituírem exercício profissional dessas outras áreas. 130

CAPÍTULO II

tação do curso da UAM; Elaine de Azevedo, ex-professora do curso da UNISUL; Eunice Regina Maria da Silva Durão, estudante do curso da UAM; Flavia Placeres, egressa do curso da UAM, presidenta da ABRANA e vice-presidenta da APANAT e da SBNAT na época do fechamento desse livro; Denise Régio Gomes, ex-coordenadora pedagógica do curso da UNISUL; Graciela Mendonça da Silva de Medeiros, uma das professoras mais antigas do curso da UNISUL; Jaci Rocha Gonçalves, o professor mais antigo do curso da UNISUL ainda vinculado à instituição; Jailton Kuhnen, egresso do curso da UNISUL; Kalil Mondadori, ex-presidente da ABRANA, egresso da UNISUL; Karin Katekaru, professora do curso da UNISUL e ex-presidenta da ABRANA; Luana M. Wedekin, ex-coordenadora do curso da UNISUL; Maria Alice Ribas Cavalcanti, uma das professoras mais antigas do curso da UNISUL; Maria Irene Pires dos Reis Ferreira, ex-professora do curso da UNISUL, Marina Elisa Pantzier, ex-professora do curso da UNISUL; Michelle Anzolin Machado, ex-diretora administrativa da ABRANA; Michelly Eggert Paschuino, egressa da UAM, ex-professora do curso da UAM e autora de uma das poucas dissertações sobre a 131

A NATUROLOGIA NO BRASIL

naturologia no Brasil; Nelson Juarez Michelon, egresso de uma das primeiras turmas do curso da UNISUL; Neila Lopes Morais, vice-presidenta da ABRANA na época do fechamento do livro; Paula Cristina Ischkanian, diretora de ensino da SBNAT, professora do curso da UAM e primeira egressa da UNISUL a se associar à APANAT ao invés da ABRANA; Roberto Gutterres Marimon, um dos professores mais antigos do curso da UNISUL; Rozane Goulart, quem por mais tempo coordenou o curso da UNISUL; Samara Josten Flores, egressa da UNISUL e fundadora da ABRANA; Silvia Helena Fabbri Sabbag, egressa da UAM e diretora administrativa da APANAT; e Suely Ramos Bello, egressa da UAM e fundadora da APANAT. A todas essas pessoas foram apresentados os TCLE aprovados pelo CEP da PUC-SP. Ao longo da narrativa desenvolvida daqui em diante, a não ser para casos em que respostas foram dadas por escrito (p. ex. via e-mail) ou foram extraídas de fontes escritas, não citarei os autores das falas. Seus nomes são identificados porque o método da história oral exige a identificação dos sujeitos das falas, para que se saiba que a seleção constituiu pessoas de relevância e vivência. Porém eu omito 132

CAPÍTULO II

referências mais diretas para preservar os respondentes. A naturologia no Brasil é algo muito pequeno e suas lideranças tenderam historicamente a retaliar aqueles que apresentam ideias divergentes de seus projetos para a naturologia.

AS TRÊS FASES DA NATUROLOGIA Antes de seguir é preciso problematizar o entendimento de naturologia como algo criado pela UNISUL. O termo “naturologia” existe desde o século XIX, criado nos países europeus de línguas ítalo-dálmata e ibero-românticas para se referir a um movimento que questionava a industrialização crescente da medicina (CORREIA, 1950; VENTURA, 1999). E pelo ideal romântico de sua origem, oposto à dureza da racionalidade iluminista, a naturologia sempre possuiu fortes elementos espiritualistas. Em seu início, eram notados elementos do esoterismo europeu, o que pode ser observado no livro Naturologia: a saúde integral do indivíduo e da sociedade (cf. CASTRO, 1986). Embora publicado na década de 1980, seu autor, que tinha 96 133

A NATUROLOGIA NO BRASIL

anos na época, não sofreu influência da contracultura de 1960. Sua obra possui um discurso muito mais próximo do que estava em voga na Europa no final do século XIX do que do movimento da Nova Era, mais comum à naturologia atual. Nesse período inicial, os naturólogos utilizavam as terapias alternativas populares na Europa nos séculos XIX, em especial a homeopatia, dietas, a hidroterapia, plantas medicinais, ginástica, massagem e banhos de sol, fundamentando suas práticas pela parapsicologia (CASTRO, 1986; CORREIA, 1950). À chegada da década de 1910 a naturologia se encontrava de tal forma disseminada por Lisboa, Coimbra, Braga e Porto que viria a fomentar a fundação da Sociedade Portuguesa de Naturologia em 1912, evento citado na tese de Silva (2012). Pela forte presença do catolicismo em Portugal, a naturologia acabou amalgamando, até pelo menos a década de 1940, seus elementos esotéricos aos valores e condutas da moral católica, ao passo de Correia (1950) declarar que os naturólogos lusitanos buscavam uma harmonia entre suas práticas e os princípios cristãos. As sucessivas ditaduras que levariam os lusitanos, durante a década de 1920, ao regime 134

CAPÍTULO II

do Estado Novo resultaram em um severo recuo do campo naturológico em Portugal, que passou a enfrentar dificuldades de expressão e organização. Com isso, da década de 1930 à década de 1970 os portugueses que desejassem se aprofundar em estudos de naturologia precisavam viajar para fora do país, para aprender suas práticas fora de Portugal (VENTURA, 1999). Esse intercâmbio fez os lusitanos entrarem em contato com o termo “naturopatia”, oriundo do contexto germânico e anglo-saxão. Assim, ao retornarem a Portugal, essas pessoas passavam a utilizá-lo relacionado à naturologia, como se a naturopatia fosse a parte aplicada da naturologia. Correia (1950, p. 461) demonstra que ambas as palavras passaram a coexistir entre os lusitanos pelo menos desde a década de 1940, com concepções de que a “naturopatia [consistiria em] tratamentos por processos naturais, fundados nas doutrinas da naturologia”. Resumidamente o entendimento passou a ser de que a naturopatia era uma das várias práxis ordenadas por esse grande logos que seria a naturologia. Esse mesmo raciocínio mantém-se até hoje na naturologia portuguesa, segundo Moreira e Gonçalves (2011). 135

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Com a contracultura de 1960 a naturologia começou a utilizar também terapias asiáticas e se aliciou do discurso novaerista, afastando-se do cristianismo e substituindo paulatinamente o embasamento parapsicológico pela simbologia quântica. Isso levou Pessoa Jr. (2011, p. 293) a considerar que o “misticismo quântico” (sic.) seria a fundamentação da própria naturologia. Porém, conforme explica Teixeira (2013, p. 107), “os naturólogos negam ao campo de saber naturológico um caráter esotérico, místico ou religioso. [...] A Naturologia não quer ser esotérica ou mística, quer ser científica, mas quer uma nova ciência”. Isso faz com que alguns naturólogos militem contra uma inevitável identificação da área com o movimento da Nova Era e outras vertentes esotéricas, embora paradoxalmente aceitem práticas como florais de Bach e a antroposofia (linha esotérica derivada da teosofia) como legítimas. A inserção da naturologia no ensino superior brasileiro ocorreu em 1994, fundada como um curso sequencial das FIES de Curitiba (SILVA, 2012; TEIXEIRA, 2013). Em uma das entrevistas anexadas na monografia de Varela e Corrêa (2005, p. 151-153), é apresentado que o biomé136

CAPÍTULO II

dico umbandista Jorge de Morais Barbosa, que também era especialista em acupuntura e na época trabalhava em uma universidade de Recife, foi convidado para montar esse curso de naturologia pelo próprio fundador da instituição curitibana, Octávio Melchíades Ulysséa. Seguindo os moldes desse curso, a UNISUL inicialmente ofertou uma pós-graduação de naturologia em 1996. É dito nessa mesma entrevista que vários professores das FIES foram demitidos por terem aceitado ministrar aula nesse lato sensu da UNISUL ao mesmo tempo que eram docentes das FIES (VARELA; CORRÊA, 2005, p. 151-153). Como o número de matrículas foi superior ao esperado, após duas turmas essa pós-graduação foi convertida em um bacharelado, que foi aberto em 1998 e passou a durar quatro anos e meio. Apesar de terem sido fundados há duas décadas, ainda domina, entre os pesquisadores da naturologia no Brasil, a tendência de não abordar os acontecimentos posteriores à abertura desses cursos3. Mas muitos movimentos e tendências sur3 Uma exceção é a dissertação de Teixeira (2013), que aborda os contextos de cada matriz curricular já existente no curso da UNISUL.

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A NATUROLOGIA NO BRASIL

giram e evanesceram no campo desde então. Um esboço para um modelo dessas etapas pelas quais a naturologia passou no Brasil é apresentado no prefácio do livro Naturologia: diálogos e perspec -

tivas: A primeira fase estaria bastante identificada com o contexto próprio da concepção inicial do curso, fortemente marcado pela perspectiva cultural da Nova Era e com viés voltado para a educação. A segunda fase aproximou e reforçou a relação da Naturologia com as ciências biológicas e com o modelo biomédico. Diríamos que a Naturologia está em sua terceira fase, bem mais madura que a das fases iniciais (RODRIGUES et al., 2012, p. 13).

Atenta-se que esse modelo não goza do status de oficialidade, ao ponto de nunca ter sido plenamente desenvolvido posteriormente por seus autores; alguns deles, inclusive, o contestam hoje. Todavia, utilizo-o pela inexistência de outro modelo para a história da naturologia. É importante apontar alguns pontos sobre essa divisão. Primeiramente, essas fases não são cristalizadas cronologicamente, e as fronteiras de onde começam e terminam não são absolutas. Em segundo lugar, o modelo é mais bem aplicado se 138

CAPÍTULO II

entendermos que cada fase representa o discurso das lideranças de cada época. Sendo assim, é possível intuir o período no qual ocorre uma transição de fase por mudanças nas lideranças da naturologia que levam a trocas consideráveis no corpo docente dos cursos. Isso é especialmente claro na UNISUL, cujo curso de naturologia foi marcado por muitas demissões de docentes tanto na passagem da primeira para a segunda fase, quanto na passagem da segunda para a terceira fase. Porém devemos sempre ter em mente que as fases dizem respeito à tendência dominante, não isentando o campo de ideias divergentes. É possível encontrar produções e profissionais mais inclinados aos valores da segunda fase durante o período que, usualmente, é considerado que dominou o pensamento novaerista e vice-versa.

A primeira fase A primeira fase da naturologia, segundo o modelo adotado, é o período abertamente mais envolvido com os valores da Nova Era. Apesar da naturologia já estar sendo entendida no Brasil 139

A NATUROLOGIA NO BRASIL

como um curso superior nesse período, a perspectiva êmica era claramente a dominante. A distinção entre êmico e ético foi proposta à ciência das religiões por Platvoet (1982, p. 5-6; 21, 29), quem classifica a abordagem êmica como sendo a visão de dentro (insider ) de um determinado grupo, comumente etnocentrada, protecionista e proselitista quando lida com perspectivas exteriores. Em religiões, diz respeito aos discursos e paradigmas da própria crença religiosa estudada. Já a abordagem ética é formada pelas categorias acadêmicas, exteriores à “gíria interna” do grupo, que são fundamentadas nas teorias que permitem um exame analítico, com olhar que estuda o grupo de fora. Na academia, de modo geral, os discursos êmicos podem ser considerados, mas o resultado final da investigação científica comumente deve ser expresso pela perspectiva ética. Talvez por ter surgido primeiro em uma faculdade confessional, isso não acontecia no início com o ensino brasileiro de naturologia. Tanto alunos quanto professores buscavam em literaturas êmicas de autores novaeristas como Fritjof Capra, Deepak Chopra, Ken Wilber e Amit Goswami as 140

CAPÍTULO II

explicações para as terapias com que trabalhavam. Havia grande resistência à perspectiva ética e ao método científico, que eram tidos pelo próprio corpo docente como fruto de um modelo ultrapassado de fazer ciência, que precisava ser repensado. Nas FIES, conforme notado nas entrevistas anexadas em Varela e Corrêa (2005), havia até mesmo professores que consideraram que a naturologia nunca devia ter entrado na universidade, posto que a academia não permite que o indivíduo “vivencie o processo”. Como reflexo, foi uma época marcada por baixa produção acadêmica e textual. O uso de radiestesia, astrologia, numerologia, cristais, danças circulares, psicologia transpessoal, pêndulos, imposição de mãos, leituras filosóficas da física quântica, abraçar árvores e discursos em chave metafísica eram comuns. Em algumas disciplinas, inclusive, alguns professores utilizavam o tarô para desenvolver o conteúdo programático. Alguns estudantes também montavam, às vezes, altares dentro das salas de aula, para divindades ou personalidades da Nova Era (p. ex. Rajneesh Osho). Na formação, as vivências eram mais enfatizadas que as pesquisas, e muitos professores 141

A NATUROLOGIA NO BRASIL

ofereciam oficinas de final de semana para aprofundar conteúdos que não podiam ensinar na universidade. Grande parte do corpo docente também não possuía qualificação acadêmica específica, tendo aprendido essas práticas em cursos livres ou buscas pessoais. Era comum que pessoas formadas em áreas acadêmicas tão distintas quanto direito, filosofia ou letras fossem responsáveis, por exemplo, por aulas sobre técnicas corporais, cromoterapia, medicina chinesa e cakrás. Segundo Teixeira (2013, p. 24), em um primeiro momento “[...] o ensino da Naturologia foi pensado a partir da tríade arte, educação e saúde, onde estes elementos se articulariam numa nova visão acerca da saúde, mais integral e ampliada”. Os primeiros professores “acreditavam profundamente na transformação da sociedade através da educação diferenciada, baseados na qualidade de vida, integração, interdisciplinaridade, visão sistêmica do ser, educação ambiental, filosofia, física quântica e afeto” (RUBIN; DUARTE; KATEKARU, 2009, p. 1). As próprias idealizadoras do curso da UNISUL, a farmacêutica Karen Berenice Denez e a terapeuta holística Rosa Maria Londero da Silva Raupp, eram simpatizantes dos ideais do movi142

CAPÍTULO II

mento da Nova Era. Em uma entrevista de Raupp, anexada à monografia de Varela e Corrêa (2005, p. 156-157), é possível notar que ela considerava importante categorias êmicas da Nova Era (p. ex. “energia sutil”) e que acreditava que as práticas terapêuticas da naturologia deveriam ser fundamentadas também em conhecimentos religiosos e filosóficos. Como a UNISUL converteu às pressas a sua pós-graduação em uma graduação com mais que o dobro da carga horária original, na prática seu projeto pedagógico foi sendo construído conforme a primeira turma estava a se formar. Não havia clareza institucional de em quais ambientes os estudantes deveriam ser inseridos quando chegavam aos estágios supervisionados. Alguns professores chegaram a defender que a naturologia fosse um curso da área da educação, com um discurso de que se os naturólogos reeducassem as pessoas, a sociedade seria mais saudável. Como tal, estágios em escolas e com crianças foram comuns nas primeiras turmas. Mas ao fim prevaleceu o posicionamento de que o naturólogo seria um terapeuta, e que o curso deveria ser identificado como da área da saúde. 143

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Um exemplo de texto que reflete o pensamento dessa fase é a dissertação de Christofoletti (2011), que não tem a naturologia propriamente como objeto, mas cita muito a área. Apesar de seu trabalho ter sido defendido em um período muito posterior ao que pode ser considerado como o fim da primeira fase, Christofoletti formou-se nas primeiras turmas do curso da UNISUL. Como reflexo, citou extensivamente a física quântica como sendo um paradigma, e aplicou em seu trabalho uma espécie de espiritualidade secular que justifica o holismo. O mito científico de uma partícula que é ao mesmo tempo onda lhe deu – assim como dava a muitos naturólogos – o subsídio simbólico necessário para concluir que também mente e corpo são a mesma coisa, opondo-se ao modelo cartesiano que as separa. Em outro artigo primevo publicado sobre a naturologia no Brasil, a resistência ao método científico é notada. Para Fernando Silva a naturologia não podia ser pensada em termos matemáticos para resolver o problema do dualismo do pensamento europeu. Uma naturologia científica, conforme ele criticava, seria paradoxal: “Desde onde [sic.] uma naturologia tem para si como 144

CAPÍTULO II

óbvio que o método de pesquisa é relevante? Não seria isso um pré-conceito [sic.], uma crença importada das ciências? Ou ela encontra essa necessidade internamente a partir de si?” (SILVA, 2008, p. 31). Nota-se na citação acima que não só Silva explicitamente desconsiderava que a naturologia fosse ciência, como defendia que ela deveria evitar se cientificar ao custo de perder o que ele considerava ser a sua essência. Isso é reafirmado em outros momentos de seu artigo, conforme se pode observar a seguir: Talvez haja a possibilidade de um método não-cartesiano ou um cartesianismo não positivista. Seja qual for o caso, ao menos deve estar claro que este “novo método” não poderá ser científico ou naturalista em nenhum sentido da palavra. [...] A ciência se define na medida em que possui para si um método definido; e, por outro lado, a naturologia, não tendo um método definido, é, portanto, indefinida, indeterminada. Isto é verdadeiro, porém não consiste absurdo defendê-lo. Para que uma naturologia não naturalista esteja em conformidade consigo mesma, ela mesma deve ser natural, e não um conhecimento a ser construído como um edifício, que possui uma lógica 145

A NATUROLOGIA NO BRASIL ou lei determinante: o método, em seu sentido positivista (SILVA, 2008, p. 27-28).

Porém, é importante atentar que “o profissional da Naturologia, diferentemente da primeira impressão que se possa ter, não é a versão moderna do ‘bicho grilo’ dos anos 1960” (SILVA, 2012, p. 20). Mesmo nesse primeiro período, a busca por uma formação profissional, a preocupação em se ter uma vocação, a consciência de que estavam inseridos na academia (ainda que clamando por um novo modelo para a ciência), o objetivo de se estabelecerem na área da saúde e o desejo de reconhecimento social sempre foram notados entre os acadêmicos da naturologia.

A segunda fase Quando o curso de naturologia da UNISUL foi transformado em um bacharelado, como pelo regimento da instituição Rosa Maria Londero da Silva Raupp não possuía a titulação mínima necessária para coordená-lo, Karen Berenice Denez foi designada a essa função. Mas como era Raupp 146

CAPÍTULO II

quem possuía os contatos dos profissionais que trabalhavam com as PIC na Grande Florianópolis, os quais ela mantinha desde a criação do Instituto São Lucas de Naturologia (ISLUNA) em 1993, na prática foi ela quem ficou à frente do curso, por mais que as questões burocráticas fossem atribuídas à Denez. Foi-lhes dada total liberdade de escolha do corpo docente, com exceção dos professores do núcleo comum, que foram indicados pela universidade. Como era amiga do então reitor Gerson Luiz Joner da Silveira, uma das pessoas selecionada para preencher essas vagas foi a bióloga Rozane Goulart. Sua presença no curso – e mais especificamente sua assunção ao poder – foi peça-chave para a implantação da segunda fase. Poucos após a abertura da graduação, a naturologia se tornou um dos cursos mais procurados na UNISUL, o que lhe garantiu muita visibilidade. Goulart se preocupou com a aparente falta de crivo que a formação apresentava, e como isso poderia manchar a imagem da UNISUL. Com a ajuda da esposa do reitor, que cursava naturologia na época, Goulart alertou a reitoria sobre a necessidade de melhor adequação do 147

A NATUROLOGIA NO BRASIL

curso de naturologia às normas acadêmicas, que era motivo de chacota até mesmo entre os próprios funcionários da universidade. Primeiramente foi solicitado a todos os professores que trouxessem novamente seus comprovantes de titulação, e aqueles que não eram qualificados ou cuja formação não tivesse alguma relação mínima com as matérias que ministravam foram substituídos por outros profissionais. Essa grande renovação acabou por levar Raupp, uma das pessoas que implantaram o curso, ao desligamento da UNISUL. Foi designada como nova coordenadora a dentista Rosita Dittrich Viggiano. Essas mudanças começaram a despontar conflitos entre o corpo docente. Uma parte do professorado defendia que o curso de naturologia mantivesse a essência da primeira fase, ao passo que Goulart e outros profissionais desejavam que o curso tivesse um caráter mais biologista, aproximando-o dos outros cursos da área da saúde. Por fim, em 2001 Goulart e Viggiano entraram em atrito e a instituição demitiu a dentista. Com isso, a partir de julho de 2001, a pedido da reitoria, Goulart se tornou a coordenadora do curso de naturologia. 148

CAPÍTULO II

Visto que Goulart não era terapeuta e nem possuía experiência na área, a nova coordenadora solicitou ao corpo docente, formado por terapeutas, que discutissem o que era naturologia, visando à adequação do projeto pedagógico curricular e o desenvolvimento de bases que pudessem fundamentar minimamente o que estava sendo feito. Denise Régio Gomes, pedagoga que já havia trabalhado no campus de Tubarão da UNISUL, foi convidada a compor a coordenação pedagógica. O objetivo era que Gomes pudesse contribuir para que, efetivamente, a naturologia viesse a ser respeitada como uma formação da área da saúde. O problema é que Gomes tinha um perfil muito diferente do de Goulart, e ao contrário da bióloga, ela entendia que essa reformulação deveria manter a proposta original do curso, daqueles que implantaram a naturologia na instituição. Logo, enquanto Goulart desejava que o curso fosse mais técnico, Gomes apresentava uma postura mais próxima dos professores da primeira fase, e se uniu àqueles que continuavam a lutar para manter seus ideais, como Helge Detlev Pantzier, Marina Elisa Pantzier, Maria Irene Pires dos Reis Ferreira e Roberto Gutterres Marimon. 149

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Os conflitos foram inevitáveis e em pouco tempo Gomes deixou o curso. Mas antes de sair, a pedagoga conseguiu deixar encaminhadas algumas propostas. Uma delas foi a ideia de relação de interagência, que veio a ser desenvolvida posteriormente por outros professores, em especial graças à defesa de Veronice Barreto dos Santos Steffens sobre sua importância ao curso. Gomes também deixou pré-elaborada boa parte de um novo projeto pedagógico para o curso, mas esse projeto foi descartado. Essa experiência com Gomes fez com que Goulart se tornasse muito mais austera a respeito de quem ocuparia tais posições. Dos professores que lutavam para que a naturologia continuasse como era, nem todos aceitaram as mudanças propostas. Alguns foram desligados por não se adequarem. Outros pediram demissão. Assim, conforme seguia com seu plano de remanejar esses profissionais mais alinhados aos pensamentos do movimento da Nova Era, Goulart começou a substituí-los por professores das ciências biológicas que eram seus amigos, que passaram a receber os cargos de liderança dessa graduação. 150

CAPÍTULO II

Em 2002, através do decreto estadual nº 5.572 (SANTA CATARINA, 2002), o curso de naturologia da UNISUL conquistou o reconhecimento do MEC. Com isso, houve uma explosão no número de matrículas e a instituição precisou abrir turmas tanto no período matutino quanto no período vespertino para dar conta da demanda. Com a primeira turma formada em 2002, duas coisas começaram a ser discutidas. A primeira era a implantação de uma nova matriz curricular que caracterizasse oficialmente a naturologia como um curso da saúde. A segunda foi que os cargos de coordenação, a partir de então, não se dariam mais por indicação da reitoria. Conforme explicou Teixeira (2013, p. 28), como nessa fase o perfil biologista era o ditame da naturologia, trabalhos relacionados à espiritualidade não eram bem vistos pela coordenação, sob a alegação de que abririam margens a questionamentos quanto à cientificidade do curso. Isso aborrecia os professores e estudantes mais alinhados ao perfil da primeira fase, que buscavam fazer ciência nos moldes novaeristas. Então, enquanto Goulart montava sua chapa, parte do corpo discente começou uma campa151

A NATUROLOGIA NO BRASIL

nha para que Marina Elisa Pantzier, psicóloga reichiana que trabalhava com terapia de renascimento, fosse candidata de oposição. Mas antes mesmo que essa chapa chegasse a ser formada, tanto ela quanto seu marido, Helge Detlev Pantzier, foram demitidos. Nenhum outro professor, durante o resto dos anos que Goulart ficou a frente da coordenação do curso, abriu outra chapa para concorrer contra ela. As eleições passaram apenas a homologar a chapa única. Em 2004 Goulart foi eleita e um novo projeto pedagógico foi implantado, elaborado com a participação de vários membros do corpo docente. Os biologistas ganharam muito poder nesse momento, e unidades vinculadas à anatomia, fisiologia, histopatologia, alimentação, massoterapia e fitoterapia tiveram sua carga horária duplicada; em alguns casos, até mais que isso. Em contrapartida, disciplinas com maior identificação com a educação ou com a Nova Era foram retiradas da matriz curricular, como física quântica, recreação e lazer, renascimento, cristalografia, ecologia e terapia dos sonhos. Matérias como radiestesia, musicoterapia e unidades relacionadas à psicologia tiveram seus créditos reduzidos pela metade. 152

CAPÍTULO II

Roberto Gutterres Marimon, Maria Irene Pires dos Reis Ferreira, Graciela Mendonça da Silva de Medeiros, Veronice Barreto dos Santos Steffens, Luana M. Wedekin e outros professores conseguiram persuadir a coordenação de que o curso deveria manter alguma relação com as terapias energéticas. Goulart foi convencida de que todas as terapias com as quais os naturólogos trabalham são fundamentadas, de alguma forma, em uma medicina tradicional. Logo, foi proposto que o curso fosse filosoficamente sistematizado por um tripé formado pela medicina chinesa (a única que já estava presente na primeira matriz curricular), pela āyurveda e pelo xamanismo. Embora fosse contra (em especial a respeito da medicina xamânica), Goulart integrou a minoria na votação, e esse modelo foi incorporado ao novo projeto. A naturologia se transformou no bacharelado mais lucrativo da UNISUL, e com isso houve investimentos em reformas do espaço físico e na capacitação de seus professores. Todavia, não foram todos os docentes que receberam benefícios. Embora seja acusada de ter direcionado os recursos aos professores que eram seus amigos, durante as entrevistas observei que mesmo profes153

A NATUROLOGIA NO BRASIL

sores que se opuseram à Goulart ou que não possuíam amizade com ela foram beneficiados. E alguns professores que receberam cargos de confiança ou cuja contratação foi diretamente recomendada por Goulart nunca receberam incentivos. Nesse sentido, os critérios para selecionar as pessoas que receberiam os recursos, com base nas minhas entrevistas, não são evidentes. Além da capacitação do corpo docente, o dinheiro extra permitiu o financiamento de livros e a abertura de projetos de extensão, dos quais o Projeto Linha Verde e o Ateliê de Arteterapia se destacaram. O primeiro periódico brasileiro de naturologia surgiu também nessa época: a Revista Eletrônica do Curso de Naturologia Aplicada (RECNA), organizada por Fernanda Faraco D’Eça Neves e Graciela Mendonça da Silva de Medeiros. Dois números foram lançados com cerca de quatro artigos cada, mas o desligamento de Neves em 2007 levou ao cancelamento da revista. Seu material foi posto off-line, entretanto alguns dos artigos da RECNA foram republicados como capítulos do livro Naturologia aplicada: reflexões sobre saúde inte gral (cf. HELLMANN; WEDEKIN; DELLAGIUSTINA, 2008). 154

CAPÍTULO II

Foi também na segunda fase que o curso de naturologia de São Paulo foi fundado. Por volta de 2000 uma equipe da Faculdade de Medicina da UNESP, liderada pela médica Maria Doris Bedoya Henao, submeteu um projeto de uma graduação em naturologia à UAM. A bióloga Cristina Mutsumi Sekiya, que também havia submetido uma proposta para um curso sequencial em fitoterapia na UAM, recebeu da pró-reitoria a incumbência de analisar esse projeto em 2001, por influência da psicóloga Gláucia H. C. B. Rodrigues, coordenadora geral do Centro de Estudos Universais Aum e filha do fundador da UAM, o então reitor Gabriel Mário Rodrigues. Gláucia Rodrigues era simpatizante da Nova Era, e insistiu pela implantação do curso de naturologia, que por mais de um ano vinha sendo rejeitado pelo colegiado sob a alegação de não possuir embasamento (SEKIYA, 2014; SILVA, 2014; MEMÓRIAS, 2017). Segundo o relato de Sekiya (2014), as referências que a UAM tinha sobre a área das terapias naturais como um curso de graduação eram estrangeiras e com o termo “naturopatia” ao invés de “naturologia”. No Brasil, a universidade paulistana tinha ciência do curso das FIES e do bacha155

A NATUROLOGIA NO BRASIL

relado da UNISUL; de fato, os únicos até então existentes. Em vista da divergência sobre qual termo seria mais apropriado, a UAM optou por lançar o curso também como naturologia (sem o termo delimitador “aplicada”), com o intuito de fortalecer esse profissional que estava surgindo. Como o curso paranaense ainda batalhava pelo reconhecimento do MEC, a UAM optou por visitar a UNISUL para conhecer como era a formação. Sekiya não chegou a travar um intercâmbio propriamente dito com a instituição, apenas um breve contato com Goulart, que lhe apresentou os espaços, alguns professores e falou sobre sua experiência em coordenar um curso tão inovador na área da saúde. Sekiya só viria a conhecer a fundo a matriz curricular, as ementas e os laboratórios da UNISUL em 2002, após a abertura da primeira turma de naturologia em São Paulo, quando participou como avaliadora do MEC para o reconhecimento do curso catarinense (SEKIYA, 2014). Inicialmente o curso da UAM foi aberto com uma habilitação modulada opcional de dois anos em fitoterapia e plantas medicinais, oferecida no decorrer da formação comum (MEMÓRIAS, 2017). A grade paulistana inicial foi elaborada com base 156

CAPÍTULO II

no projeto pedagógico da própria UNISUL e no projeto original de Henao, com contribuições de especialistas das áreas de educação e saúde, e colaborações de Amâncio Cesar Santos Friaça, astrofísico da USP, e de Gláucia H. B. C. Rodrigues, quem indicou alguns profissionais mais inclinados aos ideais do movimento da Nova Era para participarem do projeto. De diferentes formações, muitos se tornaram professores do curso (SEKIYA, 2014; SILVA, 2014). Logo após o primeiro ano, a matriz curricular foi reestruturada pela primeira vez. Até o fechamento desse livro, o bacharelado da UAM já havia possuído sete grades diferentes. Apesar da inclinação novaerista de Gláucia Rodrigues e de ter introduzido várias disciplinas aparentemente novaeristas do projeto pedagógico da UNISUL, desde sua gênese o curso da UAM esteve mais alinhado ao modelo biomédico, porque o curso paulistano enfrentou resistências interinstitucionais maiores que o curso da UNISUL. Sekiya aproveitou essas resistências para fortalecer a formação dentro das diretrizes dos demais cursos da saúde (SEKIYA, 2014). Contudo, mesmo muito tempo após Sekiya deixar a coordenação, essa resistência acabou refletindo em certa dificuldade 157

A NATUROLOGIA NO BRASIL

na contratação de professores formados em naturologia pelo curso da UAM. Enquanto na UNISUL Goulart criou diversas oportunidades de emprego para que egressos da própria instituição retornassem à casa como funcionários, o número de naturólogos contratados pela UAM manteve-se sempre discreto em comparação à universidade catarinense até pelo menos 2015. Em 2005 a UAM foi comprada pelo grupo estadunidense Laureate Education. Em 16 de fevereiro de 2007 a formação paulistana alcançou o reconhecimento, através da portaria 161 do INEP (e-MEC, 2017a), e uma grande reformulação de sua grade curricular foi proposta. A responsável por essa nova matriz foi Marcia Cristina Oliveira Fernandes, psicóloga que assumiu a coordenação e encerrou, a pedido da nova direção, a formação modular em fitoterapia, existente desde a abertura do curso da UAM. Seu novo projeto pedagógico passou a focar mais na própria naturologia, discutindo seus princípios e acrescentando disciplinas sobre filosofias comparadas da Ásia e da Europa, esboçando uma preocupação pela construção epistemológica aos estudantes (MEMÓRIAS, 2017). Esses seriam os primeiros indícios da tran158

CAPÍTULO II

sição do curso da UAM para a terceira fase da naturologia. Em 2008 Fernandes abdicou da coordenação, sendo substituída pelo fisioterapeuta André Luiz Ribeiro, que era seu assessor acadêmico na época (MEMÓRIAS, 2017). Foi nesse período que o grupo Laureate tentou expandir o ensino de naturologia à Região Nordeste. No segundo semestre de 2009 o bacharelado foi ofertado também pela UnP, do Rio Grande do Norte, mas por falta de matrículas nenhuma turma chegou a abrir. Por fim, é necessário lembrar que frente às restrições a produções e discussões sobre a parte energética da terapia naturológica, alguns professores e alunos passaram a recorrer a termos alternativos, como “aspecto sutil”, “arquétipo” ou “simbolismo”, para se referirem às dimensões não materiais de seu trabalho. A utilização desses substitutos tinha como objetivo tentar evitar o conflito direto com as diretrizes biologistas vigentes. Esse cuidado acabou por fomentar um aprofundamento das reflexões sobre o que é a naturologia, culminando na elaboração de dois Seminários Sobre Energia Humana/Bioenergia na UNISUL, que ocorreram em 21 de maio de 2009 e em 18 de maio 159

A NATUROLOGIA NO BRASIL

de 2010, com a proposta de discutir o conceito de “energia” nas medicinas tradicionais que fundamentavam o projeto (WEDEKIN, 2015). Por tocarem em questões epistemológicas que viriam a questionar o discurso vigente, é possível entender esses seminários como precursores da transição para a terceira fase da naturologia no Brasil.

A terceira fase Embora o prefácio do livro Naturolo gia: di álogos e perspectivas identifique como um marco dessa fase o dia 3 de maio de 2006, quando o Ministério da Saúde aprovou a PNPIC, em uma análise objetiva não é possível afirmar que os motivos políticos que levaram ao lançamento dessa Portaria estejam diretamente ligados à naturologia, visto que na época a área era ainda desconhecida pelo Ministério da Saúde. É somente a partir da década de 2010 que a APANAT e a ABRANA começam a se articular em visitas periódicas a Brasília para apresentar a naturologia. Levou algum tempo desde 2006 para que os primeiros reflexos do que seria entendido como 160

CAPÍTULO II

os aspectos da terceira fase começassem a emergir no campo da naturologia brasileira. O livro das interagências, lançado dois anos depois da portaria aludida, contém mais características da primeira fase do que da terceira fase (cf. HELLMANN; WEDEKIN, 2008). Mesmo no Naturologia: diálogos e perspectivas, o último livro editado pela UNISUL até o fechamento desse livro, metade dos capítulos ainda citavam Capra em suas referências. A terceira fase pode ser caracterizada por produções que se utilizam de teorias diversas do campo da saúde coletiva, uma maior articulação política entre as associações, e por questionamentos à dura abordagem biologista que dominou o segundo período. Dessa forma, é possível notar um retorno aos temas relacionados ao metaempírico; porém sob uma abordagem mais madura, orientada pelas ciências humanas. As pontuações, diferente das feitas na primeira fase, não visam mais combater, negar ou ignorar a importância do modelo biomédico. Como apontou Adriana Silva (2012), pretendem dar conta da complexidade de diversos saberes. Nesse sentido, três fatores poderiam ser destacados como possíveis marcos do início dessa 161

A NATUROLOGIA NO BRASIL

fase: o fortalecimento político promovido pelo intercâmbio entre a ABRANA e a APANAT a partir de 2010, a chegada dos primeiros naturólogos ao mestrado e doutorado, e o aumento da produção acadêmica sobre a naturologia. Esses fatores estão inter-relacionados, refletindo tanto o amadurecimento acadêmico quanto profissional dos naturólogos brasileiros. Ainda que Daré e Linhares (2011) classifiquem a ABRANA como uma associação nacional e a APANAT como uma associação regional, na prática ambas são regionais, carecendo ainda à naturologia uma associação com abrangência nacional. De acordo com Paschuino (2014, p. 87), “a ABRANA (Associação Brasileira de Naturologia), com sede em Florianópolis-SC, foi fundada em 27 de abril de 2004, e a APANAT (Associação Paulista de Naturologia), com sede em São Paulo, foi fundada em 8 de maio de 2007” 4. De modo geral, os egressos da UNISUL se associam à ABRANA, e os formados pela UAM à APANAT. 4 Apesar de Paschuino apresentar essa data, a fundadora da APANAT afirma que a associação paulistana foi fundada em 9 de fevereiro de 2007 (BELLO, 2014).

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CAPÍTULO II

A história da ABRANA iniciou em 2002, logo após a formação da primeira turma do bacharelado em naturologia da UNISUL. Segundo Fischer (2010), visando à regulamentação da profissão, os primeiros bacharéis de naturologia se reuniram com os conselhos de profissões já regulamentadas e com o então reitor da UNISUL para levantarem os requisitos para o reconhecimento de uma ocupação. “Tiveram conhecimento, então, da necessidade de organizar uma ordem de classe para representar os interessados” (FISCHER, 2010, p. 7). O baixo número de formados e o alto grau de dispersão fez com que demorassem dois anos para que reunissem o quorum necessário para a fundação dessa associação, que foi batizada de ABRANA. Samara Josten Flores, sua criadora, foi eleita a primeira presidenta, sucedida por Karin Katekaru em 2006, e por André Werlang Garcia em 2008 (FISCHER, 2010). Kalil Mondadori assumiu o cargo em 2010, permanecendo à frente da ABRANA por dois mandatos. Em agosto de 2014 Juliana Maria Félix da Silva foi eleita presidenta, mas renunciou em poucos meses (MONDADORI, 2014). Então em novembro houve convocação para novas eleições (ABRANA, 2014a) e em de163

A NATUROLOGIA NO BRASIL

zembro Beatriz Mendes Reis Nogueira assumiu a presidência (ABRANA, 2014b). No final de 2016 Nogueira migrou para a Europa, e em 2017 Flavia Placeres foi eleita a nova presidenta da associação (ABRANA, 2016; 2017). O surgimento da APANAT foi similar. Logo após a graduação da primeira turma, os egressos da UAM perceberam que como pessoas físicas não teriam força para lutar pelos interesses de uma categoria. Portanto, uma entidade de classe seria necessária para a obtenção de benefícios para a profissão. Ciente de que a ABRANA ainda gozava de pouca visibilidade, a naturóloga Suely Ramos Bello, formada na segunda turma da UAM, convocou em 2007 os interessados em lutar pela profissão em São Paulo, fundando a APANAT assistida pelo advogado José Roberto Chieffo Jr. (BELLO, 2014). Bello foi eleita a primeira presidenta, sucedida por Flavia Placeres em 2010, e por Andrea Lucila Lanfranchi de Callis em 2014. Todas as três presidiram por dois mandatos (APANAT, 2017). Até hoje tanto a ABRANA quanto a APANAT operam com poucos recursos pela baixa taxa de adesão e alto grau de inadimplência dos associados. Para ilustrar, estima-se que apenas 2% dos 164

CAPÍTULO II

naturólogos formados estavam afiliados à ABRANA e com suas anuidades em dia quando do fechamento desse livro. Mas apesar das dificuldades, desde 2005 as duas associações estão trabalhando para a regulamentação da profissão do naturólogo em âmbito nacional (SABBAG et al. 2013), e conquistaram a inclusão da ocupação de naturólogo na CBO em fevereiro de 2015 (MTE, 2015)5. Em um primeiro momento, não houve interação entre as duas associações. Logo que soube da fundação da associação paulistana, a então presidenta da ABRANA, Karin Katekaru, viajou até São Paulo com uma equipe de seis membros para tentar uma aproximação com a APANAT. Todavia, a equipe catarinense não encontrou receptividade por parte da diretoria da associação paulistana, levando-os a abortar investidas nesse sentido. De fato, os naturólogos da UAM consideravam que a naturologia da UNISUL era diferente da deles, pouco científica, imagem que só viria a mudar a partir da década de 2010. 5

Sc. CBO 2263. 165

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Um primeiro contato maior entre os acadêmicos da UAM e da UNISUL ocorreu apenas em 2008, quando a APANAT organizou a primeira edição do CONBRANATU, em São Paulo, e naturólogos da UNISUL participaram como congressistas. Há anos a ABRANA tentava realizar um congresso na UNISUL, mas a divergência de múltiplas formações de seus professores inviabilizava isso. Com o sucesso da iniciativa da APANAT, quando coube à ABRANA organizar o II CONBRANATU no ano seguinte, o desejo das lideranças era provar aos paulistanos que os naturólogos da UNISUL podiam fazer um evento maior e melhor. Sendo assim, ao invés de fomentar o intercâmbio entre a APANAT e a ABRANA, o que emergiu da criação do evento foi uma competição entre as associações. Essa dinâmica se manteve até o mandato de Mondadori e Placeres, eleitos em 2010 presidentes da ABRANA e da APANAT respectivamente. No início, as primeiras aproximações foram tímidas, mantendo ainda os dois grupos muito distantes. O formato de organização alternada perdurou até o IV CONBRANATU. A partir de 2012, os esforços políticos visando o reconhecimento da profissão e sua inclusão na CBO do MTE apro166

CAPÍTULO II

ximaram efetivamente e afetivamente os membros das duas associações. Como reflexo, os congressos passaram a ser elaborados em parceria por ambas as associações, que na prática começaram a funcionar cada vez mais como um único grande grupo. Isso levou a uma alternância muito menor entre as lideranças/chapas das associações, com as mesmas pessoas ocupando posições variadas nas associações ao longo dos mandatos. Em 2014, um dia antes da abertura do VII CONBRANATU, foi fundada a SBNAT, órgão para tratar das questões acadêmicas da naturologia no Brasil. Como tal, a organização dos CONBRANATU foi transferida para a SBNAT, que se mantém formalmente como a entidade responsável pelo evento desde então. Dentre os membros fundadores da SBNAT, havia tanto pessoas com cargos de diretoria na ABRANA quanto na APANAT. Isso fez com que as fronteiras das lideranças da ABRANA e da APANAT ficassem cada vez mais borradas, não sendo incomum que uma mesma pessoa passasse a deter cargos estratégicos em mais de uma dessas associações concomitantemente. Citando o caso de Placeres, até o fechamento desse livro ela era tanto a vice-presidenta 167

A NATUROLOGIA NO BRASIL

da SBNAT e da APANAT quanto a presidenta da ABRANA (ABRANA, 2016, 2017; APANAT, 2017). Em paralelo, alguns naturólogos começaram a atingir o nível de mestrado. Isso levaria à fundação dos CNTC (Cadernos de Naturologia e Tera pias Complementares ), até o fechamento desse livro a única revista acadêmica de naturologia no Brasil. Em 2010, para testar a viabilidade do periódico, uma chamada de artigos sobre naturologia foi feita pela Cadernos Acadêmi cos, revista multidisciplinar da UNISUL. Isso resultou em dois números temáticos em 2011, e a quantidade de manuscritos recebidos provou à instituição que era possível se pensar em um periódico para a área. Assim, em 2013 a universidade autorizou e financiou a fundação dos CNTC. O trabalho da cientista social Adriana Elias Magno da Silva também foi fundamental para a consolidação da terceira fase da naturologia. Silva é docente do curso paulistano desde 2003, e percebeu que seus acadêmicos, diferente de outros estudantes da área da saúde, preferiam suas aulas de antropologia e ciências sociais às de genética. Isso a deixou intrigada, de forma que, em 2006, ela escolheu a naturologia como o objeto 168

CAPÍTULO II

de seu doutorado. Até então, as duas instituições consideravam suas formações diferentes, e muitos acadêmicos da UAM achavam que o curso da UNISUL carecia de cientificidade por sua disciplina de xamanismo. Silva demonstrou que suas diferenças eram menores do que se imaginava: Apesar de ser possível observar na estrutura curricular dos dois cursos algumas diferenças, elas são pontuais e não se configuram como elementos fundadores de duas escolas distintas de Naturologia no Brasil, fato que acabou se confirmando posteriormente com a análise da produção acadêmica dos dois cursos (SILVA, 2012, p. 14).

As conclusões de Silva levaram-na a inserir o conceito de interagência na UAM como uma abordagem êmica da naturologia; a qual será discutida com mais propriedade no terceiro capítulo. Até então os acadêmicos paulistanos achavam que interagente era apenas uma nomenclatura pela qual os sulistas chamavam seu paciente. Silva percebeu, no levantamento que fez das produções dos estudantes da UAM, que a relação terapêutica praticada por eles nunca olhou o outro como um ser passivo no processo. Assim, apesar 169

A NATUROLOGIA NO BRASIL

da ideia de interagência não ser difundida e formalizada na UAM, seu exercício acontecia espontaneamente também na naturologia sudestina. Essa tese corroborou ao processo de alteração do formato dos TCC do curso da UAM, embora não seja seu motivo primeiro. O então coordenador de pesquisa do CEP da UAM, Carlos Jorge Rocha Oliveira, havia percebido que seria mais vantajoso para a naturologia e seus professores se as duas instituições adotassem um formato unificado de TCC. Como a UNISUL utilizava o artigo científico, que pode render uma publicação aos melhores autores, e a tese de Silva apontava mais proximidades do que divergências entre os cursos das duas instituições, esse sistema foi implantado também na UAM a partir de 2013. Sobre o quadro da UNISUL, destacam-se os esforços de Fernando Hellmann, quem levou a naturologia brasileira a dialogar com a bioética, mudando posteriormente os critérios para pesquisa na área, alinhando-os às exigências da CONEP e aproximando o naturólogo das diretrizes do Ministério da Saúde a respeito de pesquisas científicas com seres humanos. A elaboração do Código de Ética Profissional do Naturólogo (cf. ASSIS et al., 170

CAPÍTULO II

2014), apresentado em versão preliminar no VII CONBRANATU, de 2014, foi primordialmente coordenada por ele, e também partiu de Hellmann a iniciativa de trazer à naturologia o conceito de racionalidades médicas, que desde que foi introduzido se tornou central tanto à produção acadêmica quanto ao ensino e profissão da naturologia. Mudanças institucionais advindas da posse do reitor Ailton Nazareno Soares, em 2009, ressaltaram insatisfações com a gestão de Goulart no curso da UNISUL. Esse descontentamento, inicialmente notado apenas entre alguns discentes e docentes, passou a ser percebido também nos setores administrativos e entre os membros do conselho universitário. Em 2010 sua situação se tornou insustentável, e cansada de ser pressionada, ao passo que também enfrentava problemas de saúde, ela renunciou ao cargo. Seu vice-coordenador na época, Fernando Hellmann, assumiu seu lugar, tornando-se o primeiro naturólogo formado à frente de um curso de naturologia no Brasil. Uma das primeiras ações dessa nova gestão foi solicitar o desligamento dos professores que tinham relações mais próximas com Goulart, 171

A NATUROLOGIA NO BRASIL

designando a naturólogos as posições de confiança que eram ocupadas até então por essas pessoas. Também foi encomendada uma reformulação da grade curricular, resultando em um terceiro projeto pedagógico, muito influenciado pelas teorias do campo da saúde coletiva. Uma das grandes características desse novo projeto, que foi implantado em 2013, foi a redução da carga horária total do bacharelado, que passou a formar os estudantes em quatro anos. Essa medida foi adotada por solicitação da própria UNISUL, visando tornar o curso mais atraente, visto que nos dois últimos anos da gestão de Goulart o número de ingressos vinha diminuindo, ao passo que os índices de evasão não paravam de crescer. Em 2015 aconteceu uma grande manifestação dos estudantes de todos os semestres do curso da naturologia da UAM, exigindo a renúncia do então coordenador André Luiz Ribeiro, que era fisioterapeuta. Os estudantes consideravam que o curso precisava de alguém formado em naturologia a sua frente, visto que isso já era uma realidade na UNISUL desde 2010, e sugeriram que Caio Fábio Schlechta Portella, que nem era funcionário da instituição, assumisse o cargo. A suges172

CAPÍTULO II

tão foi acatada pela universidade, Portella foi contratado e isso tem promovido grandes mudanças estruturais no curso paulistano. Citando um exemplo, em vista da carência histórica de professores formados em naturologia dando aula nesse curso, uma das primeiras ações de Portella como coordenador foi abrir processos seletivos para que pessoas que possuíssem o bacharelado em naturologia dessem aula na UAM. E apesar do curso dessa instituição ter possuído um número considerável de matrizes curriculares, Portella é o responsável pelo primeiro projeto pedagógico pensado pelos próprios naturólogos, que foi implantado na UAM em 2016 (e-MEC, 2017b).

HISTÓRICO DAS DEFINIÇÕES DE NATUROLOGIA NO BRASIL Conforme declarou Adriana Silva (2008, p. 3), o que é “Naturologia pode variar muito segundo a perspectiva de quem a define”. Nas duas décadas de existência dos cursos brasileiros, toda tentativa de traçar um conceito oficial ou unificado 173

A NATUROLOGIA NO BRASIL

enfrentou resistências. Como definir de modo coerente e satisfatório a naturologia, sendo que nem mesmo os próprios naturólogos chegam a um consenso? Dentre o que foi produzido no Brasil, há pessoas que definem a naturologia como uma ciência (PASCHUINO, 2014, p. 72), uma profissão (CHRISTOFOLETTI, 2011, p. 29), como um campo de estudo (PORTELLA, 2012, p. 37), como uma formação (GARCIA, 2008, p. 101) ou graduação (HELLMANN, 2009, p. 76), como uma filosofia de vida (SOUZA, 2012a), um caminho (MEMÓRIAS, 2017, 0’28”), um saber (LEITE-MOR; WEDEKIN, 2011, p. 5), como herdeira do movimento da Nova Era (TEIXEIRA, 2013, p. 107), como o estudo dos recursos naturais (SANTOS, 2013, p. 159), e até mesmo como um monstro ontológico-epistemológico (LEITE-MOR, 2014, p. 31); isso tudo quase sempre aplicado, de algum modo, à saúde. Por isso, ao invés de simplesmente citar o conceito elaborado pela ABRANA e pela APANAT, ou o primeiro conceito criado no FCN, preferi fazer um levantamento sobre as diferentes formas que a naturologia vem sendo definida ao longo de sua história. 174

CAPÍTULO II

Assim como as três fases da naturologia influenciaram os cursos e sua articulação, cada período também fomentou tendências próprias ao entendimento do que é a naturologia. Na primeira fase, a naturologia era basicamente explicada por termos vagos, como “arte”, “estilo de vida”, “filosofia”. Eram corriqueiras expressões como “qualidade de vida”, “energia vital”, “bioenergia” e “holismo”; essa última desenvolvida em dimensões como “física/material”, “mental/psicológica” e “energética/espiritual”. No fim, cada um apresentava suas próprias definições, e poucas coisas se mantinham similares entre as diversas conceituações elaboradas. E muitos naturólogos saiam da graduação sem saber como dizer ao grande público o que estudaram durante sua formação. Dois exemplos de definições desse período podem ser ressaltados. Um deles, de um dos primeiros artigos publicados na área, dizia que “a Naturologia Aplicada compreende, em seus princípios, a concepção sistêmica da vida, que se baseia na interrelação e interdependência de todos os fenômenos – físicos, biológicos, psicológicos, sociais e culturais” (ROHDE, 2008, p. 83). O segundo apresenta que 175

A NATUROLOGIA NO BRASIL A Naturologia é uma profissão da área da saúde que utiliza métodos naturais, tradicionais e modernos de cuidado, visando a promoção, manutenção e recuperação da saúde, a melhoria da qualidade de vida e o equilíbrio do ser humano com o meio em que vive. Busca uma nova relação entre natureza e cultura, ser humano, ciência e razão, procurando redefinir os conceitos de vida e de morte, de saúde e de qualidade de vida (CHRISTOFOLETTI, 2011, p. 29).

Analisando a definição supracitada, como a naturologia redefine os conceitos de vida e morte? Se a autora define que a área usa métodos naturais, tradicionais e modernos, então os métodos naturais são diferentes dos métodos tradicionais? E esses dois são diferentes dos métodos modernos? O que significa “o equilíbrio do ser humano com o meio em que vive”? As palavras utilizadas eram tão polissêmicas que já nesse período alguns naturólogos atentaram ao problema que geravam. Garcia (2008) escreveu sobre como a expressão “qualidade de vida” é algo vago, dizendo pouco ao interlocutor. Souza (2012b) criticou definições de naturologia pautadas em expressões como “um conjunto de 176

CAPÍTULO II

saberes” sem maiores considerações, o que abre margem para leituras de que a naturologia seria uma colcha de retalhos, sem nada próprio. Outra linha inicial de definição do que é a naturologia foi defendida por Fernando Silva, que foi professor da disciplina de introdução à naturologia no curso da UNISUL. Silva sustentava uma construção epistemológica pelo étimo do termo “naturologia”, dividido em nātūra + λόγος (lógos), fazendo paralelos imediatos entre o latim “nātūra ” e o grego “φύσις” (fýsis) (SILVA, 2008). Em busca de uma distinção ou diferencial para a naturologia frente a outras áreas, Silva levou alguns de seus posicionamentos a extremos: A Naturologia não é possível como “logia da natureza”, como logia da physis, fisio-logia [sic.]. A Naturologia tampouco é ciência natural, ciência da physis, não é física. Fisiologia e Física são outros domínios do conhecimento e, sobretudo, não são terapias, não tem por método a própria terapia (SILVA, 2008, p. 28).

Mas tem como se afirmar que a fisiologia ou a própria física não fundamentam parte consi-

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A NATUROLOGIA NO BRASIL

derável da prática médica? Haveria tantos avanços cirúrgicos sem a fisiologia? Haveria exames tão rebuscados, como a ressonância magnética ou a eletroneuromiografia, sem a física? A declaração de que essas áreas não têm como “método” a própria terapia é distinção suficiente? Alias, o método da medicina é realmente a terapia? Ou essa seria a sua prática? Não apenas isso, todo conceito é passível de desconstrução. O latim “nātūra ” originalmente significava “nascer”. A palavra foi usada como tradução para o grego “φύσις” (fýsis), que também significava “nascimento”. Com o tempo, passou-se a empregar ambas ao crescimento vegetal, chegando-se à noção já na época clássica (século IV AEC6) de que naturalmente seriam as coisas que acontecem sem a interferência humana. Dessa forma, é certo que, como abordou Strauss (2004), a noção de natureza foi uma criação/construção europeia, justificando questionamentos sobre até que ponto qualquer interferência terapêutica, alopática ou não, seria natural. 6 “Antes da Era Comum”, equivalente neutro para “antes de Cristo”. Como cientista das religiões, considero mais apropriado o emprego dessa sigla.

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CAPÍTULO II

Ao analisar a etimologia de outras áreas consagradas, também se encontram discrepâncias entre a etimologia e seus objetos de estudo, o que fomenta ainda mais críticas à tentativa de definir a naturologia tendo seu nome como base. Economia vem de “οἰκονομία” (oikonomía) – junção de “οἶκος” (oíkos), que significa “casa”; e “νόμος” (nómos), que significa “lei”. Psicologia vem do grego antigo “ψύχω” (ps cho), que significava “soprar”, “suspirar”. A economia estuda a atividade econômica, bens de consumo e sua distribuição. A psicologia estuda processos mentais e o comportamento. Nenhuma dessas áreas estuda um objeto exatamente consoante com sua origem epônima. Frequentemente o termo “medicina natural” também apareceu nas definições usadas para a naturologia. As considerações anteriores nos permitiriam questionar a naturalidade de práticas como a cromopuntura, que utiliza tecnologia para produzir suas canetas e bastões de luz; ou a arteterapia e a musicoterapia, que empregam arte – ou seja, cultura – como veículo terapêutico. Não seria a produção de cultura e tecnologia justamente a principal característica da separação en179

A NATUROLOGIA NO BRASIL

tre o ser humano e a natureza? Não apenas, seria a aromaterapia natural só porque usa plantas, mesmo que essas estejam destiladas e processadas industrialmente em hidrolatos, óleos essenciais e óleos vegetais? E seria a geoterapia natural só porque usa argila, mesmo que esteja desidratada e esterilizada industrialmente? Afinal, o que é natural ? A naturalidade das práticas repousa sobre chamarem a si próprias de naturais? Não estaríamos diante de uma terminologia que vem sendo usada sem o devido discernimento? Essa discussão poderia se prolongar além, mas ilustra parte do problema de tentar explicar a naturologia por sua raiz nātūra. Tão logo Silva deixou de lecionar no curso de naturologia, essa linha epistemológica perdeu força. Foi emblemático, em um dos primeiros FCN, Teixeira relativizando os termos “natureza” e “tradição” em definições de naturologia; o que é brevemente lembrado também em sua dissertação (TEIXEIRA, 2013). No ápice da segunda fase, quase nenhum naturólogo buscava mais na etimologia da palavra “naturologia” sua definição. Tornaram-se mais populares, a partir da segunda fase, construções que se pautavam no desen180

CAPÍTULO II

volvimento de um olhar diferenciado do naturólogo frente àqueles que buscam seus serviços, conforme se pode observar no exemplo a seguir: A Naturologia tem como proposta fundamental o desenvolvimento de um olhar diferenciado para os seres e para o mundo. Diferenciado no sentido de não classificar o ser humano em certas categorias de doenças, limitando-o a elas. Esta visão busca ir além da compreensão do Ser como fruto de movimentos determinísticos de causa-efeito (BELL, 2008, p. 61-62).

Isso não significa, evidentemente, que os trabalhos anteriores não considerassem a questão da visão integrada. A dissertação de Christofoletti (2011, p. 19), com fortes características da primeira fase da naturologia, também declarava que “a Naturologia Aplicada é uma ciência que estuda a saúde a partir de uma visão integrada do ser humano”. A diferença é que essa linha discursiva foi sendo moldada e se tornou mais coesa a partir da segunda fase da naturologia, com a adoção da noção de interagência pelo curso da UNISUL. Também foi na segunda fase que definições que pautavam a naturologia em medicinas 181

A NATUROLOGIA NO BRASIL

tradicionais foram criadas. Embora Teixeira (2013) declare que esse processo foi gradual, tendo a discordar. A partir de 2004 o curso da UNISUL passou a facultar sua segunda grade curricular, e seus elaboradores elencaram que a āyurveda, a medicina chinesa e uma vertente própria de neoxamanismo seriam as três medicinas tradicionais ensinadas. Esse evento pontual foi o que levou a naturologia a ser descrita como sendo pavimentada pelas medicinas tradicionais, em um primeiro momento no projeto pedagógico e documentos da UNISUL, e então nos textos sobre naturologia produzidos a partir dessa instituição. Talvez a adoção de definições em termos de medicinas tradicionais tenha sido progressiva entre os naturólogos da UAM, o que também considero pouco provável. Ainda que o xamanismo nunca tenha feito parte da formação paulistana, segundo Sekiya (2014) a naturologia da UAM se considerou pautada na āyurveda e na medicina chinesa desde os primeiros anos do curso. A tese de Adriana Silva (2012), que analisou os TCC da UAM de 2005 a 2007, descreveu relações entre essas duas medicinas tradicionais e a naturologia nos textos de egressos da UAM. É também pos182

CAPÍTULO II

sível notar produções de profissionais da UAM adotando a descrição tríplice, mas substituindo a medicina xamânica por outro sistema terapêutico (como a medicina antroposófica), em resposta à inexistência de uma disciplina de xamanismo na universidade paulistana. Referências de obras que demonstram alguma variação desse pensamento não faltam. Garcia (2008, p. 101) descreveu que “a Naturologia Aplicada é uma formação norteada pelo conhecimento das áreas humanas, biológicas e da saúde e se propõe a atuar baseada nos pilares das Medicinas Tradicionais”. Barros e Leite-Mor (2011, p. 8), em um dos artigos mais citados sobre o que é naturologia no Brasil, disseram que “as raízes da árvore Naturológica são de tradição chinesa, Xamânica, Ayurveda e Ocidental. Dessas vertentes, o naturólogo constrói sua prática e intervenção político-profissional no campo da saúde”. Também na contracapa de O livro das intera gências, é possível encontrar que O profissional da Naturologia estuda e aplica as práticas naturais balizadas através de três fundamentos filosóficos milenares: Medicina Tradicional Chinesa, Medicina Ayurveda e 183

A NATUROLOGIA NO BRASIL Xamanismo, além de outras perspectivas de várias escolas de filosofia e psicologia ocidentais contemporâneas (HELLMANN; WEDEKIN, 2008, contracapa).

Paschuino e Portella são exemplos de formados pela UAM que usaram definições pautadas nas medicinas tradicionais ao descreverem a área. Paschuino (2014) considerou que as bases da naturologia são a āyurveda, a medicina chinesa, a medicina antroposófica e o que ela chama de “terapias ocidentais naturais”. Portella (2012) cita predominantemente a āyurveda e a medicina chinesa, mencionando em determinado momento a medicina antroposófica. É intrigante essa presença da medicina antroposófica nessas duas definições, visto que pouco após Portella assumir a coordenação do curso da UAM, unidades de aprendizagem relacionadas à antroposofia foram retiradas da matriz curricular da formação paulistana. Essa definição estruturalista foi tão forte (e de certo modo ainda é) que as medicinas tradicionais foram o tema do VI CONBRANATU. Não apenas isso, até o último livro de naturologia publicado pela UNISUL, o prefácio ainda descrevia as bases filosóficas da naturologia como fundamen184

CAPÍTULO II

tadas na medicina chinesa, no xamanismo e na āyurveda (RODRIGUES et al., 2012). Mas isso nunca fora axiomático, visto que é possível a um naturólogo trabalhar sem empregar essas medicinas tradicionais, e nem por isso seu trabalho será considerado “menos naturológico”. O que define a ocupação de naturólogo pela categoria é o bacharelado em naturologia e o trabalho com as PIC através da relação de interagência. A primeira grade curricular da graduação da UNISUL nunca possuiu disciplinas relacionadas ao xamanismo ou à āyurveda ; ambos sistemas introduzidos a partir de 2004. Em compensação, outras escolas de terapias complementares, como a medicina antroposófica, fazem parte desde o primeiro projeto curricular, assumindo um papel tão relevante quanto (e em alguns casos até maior que) a medicina chinesa, a āyurveda ou a medicina xamânica. Não obstante, o primeiro currículo já continha disciplinas como anatomia, fisiologia, genética, embriologia, neurofisiologia, primeiros socorros, farmacologia e psicofarmacologia, o que demonstra também bases nas ciências biológicas ocidentais. 185

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Além disso, segundo Teixeira (2013, p. 43), “embora o campo de saber naturológico aborde tradições médicas não ocidentais (como as medicinas chinesa e ayurveda), a relação de interagência não é idêntica às relações médico-paciente destas tradições”. Em busca por uma identidade própria, a naturologia procura se distanciar de outras profissões que empregam as PIC, desenvolvendo uma forma própria de entender essas práticas. Teixeira (2013) diz que essa abordagem terapêutica diferenciada é chamada de interagência. A interagência pressupõe que o processo terapêutico só acontece se houver uma relação horizontal entre o naturólogo e o intera gente – termo para se referir àquele que busca seus serviços. Para a naturologia, o terapeuta é somente um facilitador, sendo o interagente o maior responsável pela manutenção de sua saúde. Para Barros e Leite-Mor (2011, p. 10-11), “não cabe ao naturólogo, que coloca-se transversalmente na relação, explicar o processo de saúde-doença do outro, pois esta seria a expressão de uma relação verticalizada, onde um profissional detém o conhecimento e o poder superior”. Voltarei a falar sobre isso a partir da página 197. 186

CAPÍTULO II

Ao final da segunda fase, termos como “interdisciplinaridade” e “transdisciplinaridade” estavam difundidos na área. De fato, o discurso institucional foi pautado nessas chaves frente à pluralidade de profissionais formadores. Na apresentação do livro Naturologia aplicada: reflexões sobre saúde integral, Hellmann, Wedekin e Dellagiustina (2008, p. 7) comentam que “em todos os escritos é clara a vocação interdisciplinar da Naturologia Aplicada, a qual vai buscar em diversas áreas afins as contribuições para a compreensão do processo terapêutico por ela empreendido”. Os três organizadores, eles próprios, também refletem essa transdisciplinaridade: Hellmann é naturólogo, Wedekin é arte-educadora, e Dellagiustina é psicóloga. Conforme mais naturólogos começaram a levar a naturologia ao mestrado e doutorado, seu hibridismo chamou a atenção também de outros profissionais, e a necessidade de diálogo com outras áreas, em especial as humanidades, passou a ser reconhecida por seus estudiosos. Leite-Mor e Wedekin (2011, p. 7) declararam que “o requisito, para sua intervenção prática [do naturólogo], é a compreensão de um indivíduo humano, o interagente, ponto no qual o diálogo com as ciências 187

A NATUROLOGIA NO BRASIL

humanas é imprescindível”. No V FCN, Teixeira (2014) ratificaria esse posicionamento, apoiando uma maior interação entre a naturologia e a antropologia. Além disso, eu mesmo defendi o diálogo entre a naturologia e a ciência das religiões por mais de uma vez, visando seu desenvolvimento epistemológico (STERN, 2011; 2013). É evidente que isso levantou questionamentos sobre até que ponto a naturologia seria uma ciência natural ou uma ciência humana. Sobre isso, Leite-Mor fez as seguintes declarações: Onde situar a Naturologia academicamente? Ela é ciência natural ou ciência humana? Se levarmos a sério nossos interlocutores e assumirmos um não-dualismo ontológico como base, vamos reconhecer: não precisamos escolher entre um e outro. Não precisamos classificá-la. Já ela é ambos e nenhum dos dois simultaneamente (LEITE-MOR, 2012, p. 35).

A fala de Leite-Mor parece ir ao encontro do posicionamento de Adriana Silva (2012, p. 12), quem argumentou que “a Naturologia não pode, por sua natureza pluralista, ser enquadrada nos limites da fragmentação”. Esse pensamento seria 188

CAPÍTULO II

mais bem trabalhado por ela no IV FCN, quando declarou que “o que une a Naturologia é justamente o que mais se teme [na academia]: a diversidade” (SILVA, 2013, p. 12). Ou seja, visando a construção de sua identidade, a naturologia recorre à pluralidade como a ferramenta de coesão de seus discursos, o que, no fim, acaba dificultando – e talvez até impossibilitando – a consolidação de uma identidade singular. Mas as lutas políticas da categoria demandavam justamente o oposto: a padronização dos discursos sobre a naturologia. Visando suprir essa necessidade, em 2009 a ABRANA promoveu o FCN, um fórum público que visava definir oficialmente o que é naturologia através de uma consulta da classe. Segundo Teixeira (2014, p. 31), “a ideia era desenvolver um conceito para Naturologia que unificasse o discurso acerca deste novo campo de saber”. O FCN aconteceu em um intervalo do II CONBRANATU, formato que não permitiu uma representatividade apropriada da classe, impossibilitando quem não participou do congresso opinar sobre o que é a naturologia. O então presidente da ABRANA, André Werlang Garcia, passou um 189

A NATUROLOGIA NO BRASIL

microfone entre os congressistas que continuaram no auditório durante o intervalo das palestras. Quem quisesse, poderia solicitar o direito de voz, e as sugestões levantadas seriam traduzidas em uma definição oficial de naturologia. Contudo, sem um fio condutor, o formato gerou divergências, com um grupo defendendo calorosamente que a naturologia era uma ciência, e outro, influenciado pelos posicionamentos de Fernando Silva de que a naturologia não poderia jamais ser científica, bradando passionalmente que ela não era. Além disso, os estudantes da UNISUL queriam que a definição de naturologia abordasse a dimensão da espiritualidade e também das curas energéticas, o que foi recebido com grande resistência pelos acadêmicos da UAM. Adriana Silva, que esteve presente na ocasião, viria a chamar os dois grupos de “povo da ciência” e “povo da alma”, expressões que utilizou também em seu paper do IV FCN ao comentar a evolução das discussões epistemológicas da naturologia (SILVA, 2013). Esses dois grupos são reflexos de acadêmicos de fases análogas: o “povo da alma” representando a primeira fase, e o “povo da ciência” correspondendo à segunda. 190

CAPÍTULO II

No fim, uma definição ampla e vaga do que é a naturologia foi compilada nesse dia, e foi adotada como a definição oficial da área pela ABRANA e APANAT nos dois anos seguintes. Christofoletti transcreveu essa primeira definição: A Naturologia é um conhecimento transdisciplinar que atua em um campo igualmente transdisciplinar. Caracteriza-se por uma abordagem integral na área da saúde pela relação de interagência do ser humano consigo, com o próximo e com o meio ambiente, com o objetivo de promoção, manutenção e recuperação da saúde e da qualidade de vida (CHRISTOFOLETTI, 2011, p. 33).

Sobre essa primeira conceituação, Souza (2012a, p. 77) relata que “não é uma definição aceita por todos e recebe muitas críticas”. A principal crítica diz respeito a pouca aplicabilidade. Se o objetivo do FCN era elaborar um discurso que fortalecesse a naturologia, por permitir pouca especificidade, essa definição pode dizer respeito a uma miríade de outros profissionais que também trabalham com as PIC. Conforme problematizou Souza (2012b, p. 44), “se a Naturologia é um agregado de diversos saberes e terapias na191

A NATUROLOGIA NO BRASIL

turais, um enfermeiro, um farmacêutico, um médico, um advogado, um veterinário, uma dona de casa, enfim, qualquer pessoa pode aprender diversas terapias naturais e fazer o mesmo que um naturólogo”. O problema levou a um segundo FCN, que ocorreu no IV CONBRANATU, em 2011. O formato informal de coleta de dados foi o mesmo, apesar da experiência anterior ter gerado mais divergências que convergências. Mais uma vez, pouco foi construído epistemologicamente: [...] neste fórum não foram levantados argumentos suficientes e pertinentes para sustentar uma identidade da Naturologia que rebatessem as críticas contra a profissão. Os argumentos e ideias que foram levantados eram diversos e pessoais, não se chegando a um consenso da definição de Naturologia (SOUZA, 2012b, p. 44).

Diogo Virgilio Teixeira se opôs à informalidade dos FCN nesse evento, declarando que nos outros campos as construções epistemológicas são lapidadas através de produções acadêmicas, e não por consultas públicas. Conforme descreveu 192

CAPÍTULO II

sobre a ocasião, “para que possamos entender melhor a naturologia, me parece imprescindível que estudemos, exaustivamente, os conceitos que vêm sendo utilizados na construção do campo de saber naturológico” (TEIXEIRA, 2014, p. 31). A partir de então, os FCN também deixaram de objetivar um conceito único para a naturologia, e passaram a ocorrer anualmente através de mesas redondas, visando o desenvolvimento das questões epistemológicas da área. Os participantes submetem papers que são analisados pela comissão organizadora do evento, e os melhores são selecionados para exposição oral durante a abertura do CONBRANATU. No entanto, a necessidade política de um discurso padronizado continuava. Nesse sentido, como o FCN tomou um rumo que não responderia em curto prazo a essa demanda, a ABRANA e a APANAT decidiram fazer, por conta própria, um dossiê e um manual explicando o que é a naturologia. Esse material foi elaborado por alguns dos membros mais ativos das duas associações na época e compilado em um artigo publicado nos CNTC, que apresentou o seguinte conceito de naturologia: 193

A NATUROLOGIA NO BRASIL Pode-se definir Naturologia como conhecimento da área da saúde embasado na pluralidade de sistemas terapêuticos complexos vitalistas, que parte de uma visão multidimensional do processo de saúde-doença e utiliza da relação de interagência e das práticas integrativas e complementares no cuidado e atenção a [sic.] saúde (SABBAG et al., 2013, p. 15).

Essa definição é tida como a “oficial” atualmente, embora não seja ainda a mais empregada pelos naturólogos brasileiros. Apesar da ABRANA, APANAT e SBNAT lutarem, desde seu lançamento, pela adoção desse conceito de naturologia pela classe – o que nos últimos anos também vem sendo estimulado pelos professores dos cursos de graduação –, nem mesmo o projeto pedagógico vigente7 do curso de naturologia da UNISUL, datado posteriormente ao dossiê supracitado, utiliza essa definição, conforme podemos observar: 7

Há relatos de que o projeto pedagógico do curso da UNISUL vem sofrendo alterações pela atual coordenação, que assumiu em 2016. Como não tive acesso a nenhum documento que comprovasse isso até o fechamento desse livro, parti do pressuposto de que o projeto vigente é o que tive acesso quando dei aula na UNISUL (cf. UNISUL, 2014). 194

CAPÍTULO II A Naturologia é um novo campo do saber na área da saúde que surge a partir de uma concepção sistêmica e que reconhece a insuficiência do modelo biomédico para dar conta dos fenômenos humanos de saúde e doença. Para este fim, utiliza métodos naturais, tradicionais e modernos de cuidado à saúde, embasada em uma visão ampliada desta, prezando pela qualidade de vida e relação entre o ser humano e o ambiente em que vive (UNISUL, 2014, p. 10-11).

Não se sabe porque o conceito do dossiê não foi amplamente adotado pelos docentes, visto que os coordenadores atuais dos cursos da UNISUL e UAM participaram de sua elaboração. Talvez um dos motivos pela resistência se dê pela forma como foi elaborado: em particular, em reunião de diretoria entre ABRANA e APANAT, o que pode ter gerado sentimento de pouca participação dos próprios naturólogos no processo. Além disso, o conceito do dossiê ainda não dá conta de algumas dimensões importantes da naturologia, que serão mais bem discutidas no próximo capítulo.

195

CAPÍTULO III DIMENSÕES DA PRÁTICA NATUROLÓGICA No capítulo anterior foi comentado sobre a grande dificuldade de definir o que é a naturologia, justamente porque as rugosidades referentes ao diferencial da prática naturológica nem sempre são captadas pelas conceituações existentes. Nesse capítulo, duas das dimensões mais relevantes à prática naturológica, que nem sempre são bem compreendidas em um primeiro contato, serão apresentadas, visando iluminar essas categorias, promovendo uma ampliação da ideia de naturologia como simples sinônimo de ocupação que trabalha com as PIC. A escolha das categorias teve como parâmetro a etnografia de Teixeira sobre a naturologia catarinense. Teixeira (2013) elencou cinco categorias endêmicas como sendo a “cola” com a qual o mosaico de saberes da naturologia é construído: (1) a relação com a natureza, (2) o holismo, (3) a relação de interagência, (4) a educação em saúde e (5) a noção de “energia”. Conforme ele explica, 197

A NATUROLOGIA NO BRASIL

“[...] muitas das noções relativas a estas categorias êmicas não foram exaustivamente elaboradas pelos naturólogos” (ibid., p. 34). As duas categorias de Teixeira que optei por trabalhar nesse livro foram a “relação de inte ragência” e a “noção de ‘energia’”. Durante o levantamento da bibliografia primária sobre as cinco categorias elencadas por ele, percebi que essas duas categorias contêm as outras três correlatas. Em outras palavras, o holismo e o que se compreende por natureza na naturologia estão contidos na noção de energia dos naturólogos. Do mesmo modo, a relação de interagência engloba a educação em saúde, o holismo e também a relação com a natureza. Além dessas categorias, também será apresentado um panorama geral sobre a cura na Nova Era. Quando foi exposto, no primeiro capítulo, o contexto da Nova Era no Brasil, meu objetivo foi apresentar o movimento priorizando sua relação com a cultura capitalista, para contextualizar o surgimento da naturologia como um curso superior em instituições particulares de ensino na década de 1990. Nesse momento, aprofundarei a noção de cura na Nova Era, central às terapias 198

CAPÍTULO III

holísticas que dariam origem, no final da década de 1970, ao Programa de Medicinas Tradicionais da OMS. Por fim, foi elaborada uma seção ao final do capítulo, apresentando as principais PIC atestadas nos currículos dos cursos de naturologia no Brasil. A lista não é exaustiva, mas fornece um panorama das práticas que tenderam a aparecem com maior frequência ao longo dessas duas décadas de cursos superiores de naturologia em nosso país.

A CONCEPÇÃO NOVAERISTA DE CURA Conforme visto na introdução, a cura e o crescimento pessoal – ambos intimamente relacionados no movimento da Nova Era –, são uma das quatro maiores tendências dentro do universo novaerista de acordo com Hanegraaff (1998). Sua importância aos grupos novaeristas é tamanha que alguns autores chegam a declarar que a cura, dentro da Nova Era, é o mais próximo que se encontra da noção de salvação religiosa (AMARAL, 2000; D’ANDREA, 2000). 199

A NATUROLOGIA NO BRASIL

De acordo com Fuller (2005), as curas e terapias usadas pela Nova Era compreendem o processo de saúde levando em conta aspectos fisiológicos, ambientais, psicológicos e espirituais/energéticos. Essa abordagem multidimensional é chamada, dentro do contexto novaerista, de “holismo”, termo cunhado por Jan Smuts no fim da década de 1920. Smuts (1927) definiu holismo como sendo a tendência da natureza formar totalidades que são maiores que a soma de suas partes. Nesse sentido, por mais que seja possível dividir a natureza em partes, não podemos compreendê-la apenas estudando suas partes isoladas, como a medicina vinha fazendo desde o século XVIII. Em seu livro Holism and evolution, onde explora pela primeira vez o neologismo, Smuts tende a não distinguir “holismo” de “universo”, dando a entender que as duas palavras são sinônimas. De acordo com Smuts (1927, p. 144) o holismo seria a fonte de todos os valores universais 1: 1 “Valor universal” é uma ideia passível de muita discussão. Será que o amor é entendido universalmente da mesma forma em todas as épocas e regiões do mundo? Seria a beleza universalmente um valor? Ou seria uma construção social, influenciada diretamente pela cultura vigente?

200

CAPÍTULO III

“amor, beleza, bondade, verdade: todos são um com o todo: o todo é sua fonte, e no todo sozinho eles encontram sua última explicação satisfatória”. Como tal, a física e a biologia precisariam se pautar também em um paradigma holístico, para alcançarem a explicação satisfatória do funcionamento de seus objetos de estudo. Por seu discurso inclusivo à dimensão espiritual, o conceito de holismo foi rapidamente adotado pela Nova Era, que identificou nele uma forma de criticar a “velha ciência”, termo comumente usado por esses grupos para se referir ao paradigma cartesiano e à física newtoniana, tidos por eles como ultrapassados por imputarem ao seu objeto um alegado reducionismo metodológico (HANEGRAAFF, 1998; FULLER, 2005). Sendo assim, o holismo está no cerne do que Hanegraaff (1998; 1999a) chama de “ciência da Nova Era”: reinterpretações espiritualistas de termos oriundos da física moderna que se tornaram populares nas grandes massas. Isso aconteceu graças ao Iluminismo, que legitimou a ciência como o agente que determina o que é “verdadeiro” na sociedade, substituindo o lugar que durante a Idade Média foi ocupado pela religião. Em 201

A NATUROLOGIA NO BRASIL

suma, as discussões acadêmicas não são compreendidas inteiramente pelas pessoas comuns, assim como também o povo medieval não compreendia totalmente os pressupostos teológicos. O que é absorvido pela população são conceitos-chave, reinterpretados pelo conhecimento popular. A adoção do holismo pela Nova Era levou a um dos aspectos mais importantes do modo como novaeristas passaram a compreendem o processo de cura: a convicção de que a medicina dominante, focada em órgãos adoecidos e sintomas, estudando o corpo em partes, não dá conta do processo de saúde em sua multidimensionalidade. Aqui é percebida a primeira grande diferença entre as curas da Nova Era e o modelo biomédico. Laplantine (2010) e Hanegraaff (1998) utilizam duas palavras para exemplificar esses modelos: “curing ” e “healing ”. Em língua portuguesa, as duas são igualmente traduzidas como “curar”, sem diferenciações semânticas. Em sentido amplo, a distinção se dá pelo modelo terapêutico que cada uma responde. Curing se pautaria na compreensão reducionista de doença do modelo biomédico, enquanto healing se orientaria por um 202

CAPÍTULO III

modelo de saúde que considera também as experiências sociais e percepções pessoais, oferecendo contextos interpretativos gerais para dar sentido à doença. Ao tratar da Nova Era, “a preocupação com o healing é a primeira característica geral de nosso campo” (HANEGRAAFF, 1998, p. 73). Além disso, a preocupação pelo crescimento pessoal promove uma constante busca em atingir o “self perfeito”, empregando o termo de D’Andrea (2000) para se referir ao pináculo da saúde na concepção novaerista. O discurso êmico comum diz que o encontro com a saúde é um encontro consigo, um processo de autoconhecimento. Ninguém pode ser curado por outra pessoa a não ser por si mesmo, sendo essa a segunda grande diferença do modelo biomédico. Esse entendimento psicologizado de saúde é um reflexo do fenômeno secular da sacralização da psicologia e da psicologização da religião, comuns às sociedades europeias e norte-americanas (HANEGRAAFF, 1998). Influenciados por esses fenômenos, os novaeristas compreendem as doenças como símbolos. Sendo assim, os sintomas são vistos como reflexos de significados misteriosos sobre as questões psicológicas do doente. A cren203

A NATUROLOGIA NO BRASIL

ça é de que se essas questões forem trabalhadas em nível psicológico, o enfermo atinge crescimento pessoal e espiritual. Esse modelo abre margem para a responsabilização do enfermo por sua doença, afastando-se do modelo em que o paciente recebe passivo o diagnóstico de seu médico. Conforme explica Hanegraaff (1998, p. 54, grifo do autor), “o sujeito é desafiado a encontrar o significado mais profundo de sua doença e assim usá-la como um instrumento para o aprendizado e crescimento interior, ao invés de assumir o papel passivo de vítima”. A mente é vista como o fator primário de toda doença, e somente uma profunda mudança nos padrões de pensamento levaria à cura. Caso contrário, ainda que os sintomas físicos sejam sanados, até que a causa real – a consciência – seja tratada, acredita-se que uma nova enfermidade se manifestará, quer seja a doença recidiva ou outra totalmente diferente (HANEGRAAFF, 1998; FULLER, 2005). Aos de fora, pode parecer estranho pressupor a consciência como a origem de todas as doenças, mas da perspectiva novaerista, só o self é saudável. A consciência é entendida como uma 204

CAPÍTULO III

amarra criada pela vida social que impede o self de expressar seu potencial pleno (HANEGRAAFF, 1996). A saúde só seria conquistada se o sentido mais profundo da doença for assimilado. Esse significado oculto, segundo Amaral (2000), é manifestado no corpo, simbolizado pelos sintomas. Para transformar a experiência de sofrimento em aprendizado, o sujeito deve interpretar esses símbolos, desvendando-os. Todos esses autores supracitados falam sobre as curas da Nova Era, e não sobre o processo terapêutico da naturologia objetivamente. Contudo, será notado, nos trechos selecionados dos textos dos naturólogos, que os discursos deles são muito próximos aos pressupostos novaeristas.

A RELAÇÃO DE INTERAGÊNCIA A interagência é a categoria êmica mais visível no discurso naturológico, aparecendo em quase todos os textos que tentam explicar o que é a naturologia no Brasil. Segundo Teixeira (2013), é a dimensão principal da naturologia brasileira, e grande parte do que é chamado de “visão naturo205

A NATUROLOGIA NO BRASIL

lógica”, o diferencial do naturólogo frente a outros profissionais da saúde, orbita em torno dela. O que é pouco percebido, entretanto, é que as produções da naturologia no Brasil corriqueiramente recorrem a ideias muito similares àquelas utilizadas pelos novaeristas para explicar o que é a interagência. Nesse sentido, existem duas variações de um mesmo fenômeno observado na literatura primária: a primeira é notada quando os naturólogos utilizam autores tipicamente novaeristas para explicar o que é a relação de interagência, como Fritjof Capra, Amit Goswami, Ken Wilber e Deepak Chopra; e a segunda ocorre quando discursos são fundamentados por autores não ligados diretamente à Nova Era, mas que endossam praticamente as mesmas ideias que foram defendidas pelos círculos novaeristas. O documento mais antigo da naturologia brasileira onde consta o termo “relação de interagência” é referente a um projeto de extensão da UNISUL, o CEN (Centro de Extensão Naturológica), de responsabilidade de Denise Régio Gomes. Entre a congregação o termo já havia sido sugerido por Tânia Valladares e Eliana Isabel Gavenda, mas foi refutado. A adoção do termo por Gomes 206

CAPÍTULO III

para se referir às pessoas atendidas no CEN foi justificada pela seguinte lógica: elas não seriam “clientes” porque, como um projeto de extensão, o vínculo do CEN não se caracterizaria como comercial, e não seriam “pacientes”, porque não seriam sujeitos passivos. Ao contrário, desejava-se uma atitude participativa, de interação com o que ali era ofertado e ensinado pelos estagiários. Em um primeiro momento a clínica-escola da UNISUL manteve uma terminologia distinta: no CEN as pessoas eram chamadas de “interagentes”, enquanto o termo “paciente” continuou a ser utilizado no estágio supervisionado. Com o tempo, conforme explica Teixeira (2013), o conceito de interagência foi paulatinamente sendo adotado pelos outros professores. A grande responsável por isso foi Veronice Barreto dos Santos Steffens, que manteve em pauta, ao longo da evolução do curso, através de discussões com o professorado, como seria relevante para a área adotar a noção de interagência como uma nomenclatura própria da naturologia. Na UAM, o termo só veio a ser adotado em 2012, após a defesa da tese de Adriana Elias Magno da Silva, a primeira sobre a naturologia no 207

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país. Até então, a UAM achava que “interagente” era somente um nome excêntrico pelo qual o curso da UNISUL chamava seus pacientes. Mas Silva percebeu, em seu estudo, que a relação terapêutica praticada entre os acadêmicos da UAM era muito próxima à da UNISUL. Dessa forma, apesar do termo não ser difundido na UAM, Silva considerou que a relação de interagência também acontecia espontaneamente no curso da UAM (SILVA, 2012). Como professora dessa instituição, passou a adotá-lo em suas aulas, o que acabou por formalizar sua utilização em São Paulo. Assim como a Nova Era, a naturologia também apresenta uma proposta de abordagem diferenciada do modelo verticalizado da biomedicina, acreditando que o processo terapêutico somente pode acontecer enquanto existir a interagência. O interagente, segundo Barros e Leite-Mor (2011, p. 10), é a “pessoa única capaz de conceber o seu processo de saúde-doença e detentora das decisões e escolhas do seu processo de vida”. Essa citação é importante porque esse artigo de Barros e Leite-Mor é o mais citado, entre a produção acadêmica da naturologia no Brasil, para explicar o que é a relação de interagência. 208

CAPÍTULO III

Como é possível notar, o discurso de Barros e Leite-Mor abre margem à responsabilização do doente por seu processo terapêutico, algo também comum no âmbito novaerista. A esse respeito, Barros e Leite-Mor não são vozes isoladas. Descrições similares são facilmente observáveis nas definições propostas pelos próprios naturólogos sobre o que é a relação de interagência, que tendem a responsabilizar o enfermo por sua própria doença ou condição: Essa relação proposta fundamenta-se na não passividade da pessoa que está em tratamento, consignando-lhe estímulo de autonomia que, por sua vez, retira do terapeuta a responsabilidade com a saúde do indivíduo e terapia, delegando a ele – ao interagente – relevante parcela na busca do

desenvolvimento

do

potencial

humano

(CARMO; COBO; HELLMANN, 2012, p. 14, grifo meu).

O último grifo dessa citação remete (ainda que possivelmente sem a ciência desses autores) ao Movimento do Potencial Humano, a principal vertente novaerista de cura e crescimento pessoal dos Estados Unidos. Conforme explica Hanegraaff (1998), o Movimento do Potencial Humano parte 209

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do pressuposto de que os seres humanos sofrem um processo de alienação para se adaptarem à vida em sociedade. No discurso êmico novaerista, o processo de educação promovido desde a infância empobrece a vida humana interior, reprimindo habilidades artísticas e espirituais/energéticas que a sociedade não aceita. Para recuperar a beleza da vida e lhe restabelecer o sentido pleno, seria necessário resgatar o contato com a própria essência, o eu interior (self ). Todavia esse resgate não é fácil, e assim como Hanegraaff cita que as fontes novaeristas relatam resistências nesse processo, Silva (2012) também identificou nos discursos dos naturólogos declarações de que os interagentes reagem defensivamente à relação de interagência – o que, evidentemente, pode fazer parte da própria resistência observada no processo de terapia, de modo mais geral. É provavelmente nesse espírito que Carmo, Cobo e Hellmann (2012, p. 38) consideram que “os indivíduos não precisam ser guiados, manipulados ou forçados a seguir determinada direção, pois, dentro deles, há essa tendência à atualização, o terapeuta tem como papel apenas despertar tal tendência mediante determinadas condi210

CAPÍTULO III

ções psicológicas facilitadoras”. A função do naturólogo, nesse sentido, seria simplesmente “despertar no interagente a percepção de si mesmo e a conexão com seu próprio potencial de cura” (ROHDE, 2008, p. 85). Declarações, aliás, muito próximas da noção do paciente se transformando em sujeito de si, como expresso no meio novaerista brasileiro (D’ANDREA, 2000). Se o naturólogo é um mediador, como colocam Hellmann (2009), Rohde (2008) e Barros e Leite-Mor (2011); e sua relação terapêutica é horizontalizada (ou seja, ele se coloca como igual na relação de interagência), então não se pode esperar que passe incólume ao contato com o interagente. “Por essa razão, o naturólogo, antes de acompanhar o interagente, necessita preparar a si próprio, pois apesar da confiança com que o interagente o honra, ele se arrisca de fato a ser confrontado com acontecimentos estranhos, dolorosos, difíceis ou até mesmo desagradáveis” (SILVA; MARIMON, 2011, p. 78). Christofoletti (2011) ressalta que o naturólogo é, ele próprio também, um interagente, o que é complementado na declaração de Hellmann (2008, p. 24) de que “as modificações [da terapia naturológica] não ocorrem so211

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mente no interagente, mas também naquele que tem as habilidades de educar e conduzir ao caminho do equilíbrio dinâmico, de uma saúde melhor: o naturólogo”. Essa posição possivelmente deriva do valor novaerista de creditar a cada pessoa o potencial de modificar a realidade ao seu redor pelo poder da consciência (HANEGRAAFF, 1999a; AMARAL, 2000). Conforme explica Guerriero (2013, p. 190), na Nova Era “há uma forte crença de que a verdade cósmica está dentro de cada um, sendo este ser um reflexo micro do todo”. No V CONBRANATU, ao se dirigir aos colegas sobre a postura que deveriam adotar com seus interagentes, o discurso de Leite-Mor (2012, p. 35) pareceu diretamente influenciado por isso: “Não pensemos nossos interagentes pelo que eles são, pensemos pelo que eles podem! Pense seu interagente pelo que ele é capaz [...] Pensemos pela multidão de pequenos deuses que se fazem e refazem a todo momento”. Sua fala pode ser vista como um bom exemplo das noções de cocriador do mundo imputadas ao sujeito pelo movimento da Nova Era, através de seus potenciais e da fagulha divina que jaz em seu self. 212

CAPÍTULO III

Assim como na Nova Era todo ser humano é entendido como uma relação única interdependente de corpo, mente e espírito, na naturologia também é possível encontrar autores declarando que “num processo de interagência pode-se observar que cada ser humano possui uma forma distinta e única de compreender e interagir no seu processo de aprendizagem ao longo da passagem terrena” (BELL, 1998, p. 62). Isso abre margem para que alguns naturólogos declarem que a interagência não se limita somente às relações com o terapeuta, mas que diz respeito a todas as formas de interação do sujeito e qualquer objeto ao qual ele se dirija, como defendeu Pinto (2012). A respeito da necessidade de captar os sentidos mais profundos do processo de cura, em mais de um autor foi possível encontrar declarações similares a respeito do processo de interagência. Bell (1998, p. 62) declarou que “as transformações [terapêuticas da naturologia] são vistas quando ocorre uma mudança na qualidade das respostas que são dadas para as pessoas, para o meio-ambiente e para si mesmo”. Além dele, Rohde (2008) vai ao encontro da supervalorização 213

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do “amor” como instrumento de transformação positiva no processo de cura do sujeito, algo que foi observado também por Hanegraaff (1998; 1999a) ao descrever os círculos da Nova Era. A chegada da terceira fase mudaria as falas de alguns naturólogos sobre a relação de interagência. Declarações como as de Souza (2012a), alegando que a relação de interagência é uma necessidade natural para a promoção da saúde, começam a ser relativizadas. Hellmann (2009, p. 79), por exemplo, foi um dos primeiros a problematizar a excessiva psicologização da relação de interagência, notada na busca pelas causas ocultas da doença em detrimento aos sintomas, reconhecendo “[...] que é impossível tratar todas as causas, pois estas são inúmeras (como tratar doenças genéticas através das práticas naturais?) e que as causas, em muitos casos, são problemas estruturais da sociedade”. Contudo, em momento algum foram encontrados questionamentos sobre a interagência em si mesma – ainda que ela não possuísse esse nome nos textos mais antigos produzidos pelos acadêmicos da UAM. Sendo assim, a consideração de Teixeira (2013), de que a interagência pode 214

CAPÍTULO III

ser vista como a principal característica da naturologia brasileira, parece bastante precisa.

CONCEPÇÕES NATUROLÓGICAS DE ENERGIA Os cursos de naturologia sempre reconheceram uma dimensão energética ao trabalho naturológico, mesmo durante a segunda fase da naturologia. No entanto, embora a interagência observe modesto desenvolvimento epistemológico na última década2, as concepções de energia e sua articulação com a interagência se mantêm pouco exploradas pelos estudiosos da área, sendo usualmente relegadas ao segundo plano nas pesquisas sobre naturologia. De acordo com Teixeira (2013, p. 52), “existe certa dificuldade dos interlocutores em racionalizar e verbalizar a noção de energia. De acordo com eles, isto se deve ao fato dessa 2 Podem ser destacados o quarto capítulo da tese de Silva (2012), o segundo capítulo da dissertação de Teixeira (2013), o artigo de Barros e Leite-Mor (2011), o artigo de Carmo, Cobo e Hellmann (2012), e O livro das interagências, organizado por Hellmann e Wedekin (2008).

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energia ser menos acessível à razão que à sensibilidade”. Poucos textos tentaram explicar o que é “energia” para a naturologia. Talvez o pesquisador que melhor se debruçou sobre o tema até o momento seja Teixeira (2013, p. 51), que comenta que “a noção que os naturólogos apresentam acerca de energia está muito mais voltada às reflexões filosóficas geradas pelo advento da física quântica”. Em outras palavras, a mesma noção chamada de “misticismo quântico” por Pessoa Jr. (2011), e identificada na Nova Era como “mitologias de ciência” por Hanegraaff (1999), conforme já citei. O que gira ao redor disso, no que diz respeito à noção de energia, é a imagem da partícula que é ao mesmo tempo onda, dando o aporte simbólico para concluir, então, que a mente/alma e o corpo também são a mesma coisa. Isso, como explica Hanegraaff (1999), provoca a impressão de ser possível fazer ciência integrando o metaempírico, desconsiderado na ciência cartesiana. Segundo Pessoa Jr. (2011, p. 281-282), no âmbito da física, a mecânica quântica é um assunto altamente técnico, envolvendo problemas complexos em nível microscópico que não se apli216

CAPÍTULO III

cam estritamente à realidade macroscópica cotidiana. Mas a imagem da partícula subatômica que paradoxalmente é uma onda possui um apelo imaginário tão grande que foi apropriada e se popularizou pelo senso comum. Como sua construção simbólica se deu por elementos científicos, gera a falsa impressão de que esse pressuposto interpretativo também é científico, e quem o invoca acredita estar fazendo uma crítica fundamentada a uma visão mecanicista e ultrapassada de mundo (HANEGRAAFF, 1999, p. 148), conforme já havia sido mencionado anteriormente. Essa exaltação do paradigma quântico, bastante cara à Nova Era (HANEGRAAFF, 1998; HANEGRAAFF, 1999), transparece na produção da naturologia brasileira ao abordar a questão da energia. Um exemplo de como essas interpretações se dão entre os naturólogos pode ser observado em um dos únicos artigos sobre a medicina xamânica da naturologia, publicados até o fechamento desse livro: [...] a compreensão das leis da física que regem o antagonismo de energia são de vi217

A NATUROLOGIA NO BRASIL tal importância para que se inicie o processo de empoderamento do indivíduo, pois, é a partir da interação e do entendimento dessa intensa rede de movimentos que se faz possível respeitar o espectro inteiro da consciência, não apenas na esfera do eu, mas também nas esferas cultural, comportamental e social, unificando todas as manifestações do homem, enfatizadas por uma visão íntegra, verdadeira e ampliada das suas experiências de vida (SILVA; MARIMON, 2011, p. 79).

A declaração de Paschuino (2014, p. 77) de que “se a consciência de uma pessoa se desequilibra, o fato se torna visível e palpável na forma de sintomas corporais” reflete o pressuposto naturológico de que o corpo pode manifestar coisas que vão além da dimensão física, sendo ele um reflexo da condição energética e psicológica. Sobre isso, Teixeira explica que os naturólogos declaram que [...] é possível sentir e perceber como está energeticamente uma pessoa observando pequenos gestos, como a forma com que a pessoa entra no consultório, como caminha, seu tom de voz, sua postura, a forma como se acomoda na cadeira ou na maca, entre outros (2013, p. 52). 218

CAPÍTULO III

Para os naturólogos, podem existir padrões energéticos profundos por trás dos nódulos musculares, dores, tremores, expressões faciais, do pulso, e até mesmo da textura e coloração da pele, da língua ou da íris de uma pessoa. Com base na ideia de que a doença é reflexo de uma desconexão com a totalidade, “[...] é a energia que mantém esta totalidade coerente, que liga todas as coisas, que permeia todo ser e todo ambiente: é a expressão do movimento desta totalidade” (TEIXEIRA, 2013, p. 52). Da mesma forma que na Nova Era o determinante do sucesso de uma terapia não é a prática utilizada, mas a possibilidade de expansão e transformação da consciência e o aprofundamento do autoconhecimento (AMARAL, 2000, p. 61, 67; FULLER, 2005, p. 3851-3852), uma noção próxima a isso aparece no artigo de Esteves (2013), que declara que são os insights do interagente, ao longo da interagência, que permitem em terapia novas configurações e movimentos energéticos. Os naturólogos consideram que esses insights podem ser promovidos independente da prática terapêutica escolhida, desde que seja aplicada a 219

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abordagem correta; ou seja, desde que aconteça de fato a relação de interagência. Teixeira (2013, p. 53) explica também que alguns naturólogos consideram que “uma prática energética auxilia a desfazer um padrão energético negativo, mas, sem uma mudança de hábitos, este padrão negativo volta a se repetir”. Essa concepção se aproxima da crença novaerista de que é necessário desvendar os significados ocultos por trás das doenças ( cf. HANEGRAAFF, 1998, p. 54). Sem esse aprendizado, o processo de cura não estaria completo, abrindo margem para que novas doenças se manifestem. Como é percebido, boa parte do que foi escrito sobre energia na naturologia se aproxima da forma como a Nova Era entende esse tema. Possivelmente isso se dá porque após a fase biologista as coordenações adotaram uma postura de silenciar as abordagens novaeristas. Assim, mesmo textos que criticam as abordagens energéticas são raramente observados após esse período. Teixeira menciona que essa resistência se deu “sob a alegação de que deveríamos [os naturólogos] evitar questionamentos quanto à cientificidade da naturologia” (TEIXEIRA, 2013, p. 28). Nesse 220

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sentido, produzir algo para questionar as abordagens energéticas seria o mesmo que reconhecer sua existência no campo. Isso abriria margens para críticas da legitimidade da naturologia, um risco que as lideranças não estavam dispostas a correr. Embora com menor intensidade, aparentemente esse resguardo ecoa até hoje.

As diferentes formas de aferir a energia Mesmo com o desincentivo a publicações sobre energia no segundo período da naturologia brasileira, os naturólogos e os próprios cursos de naturologia sempre recorreram a terapias vibracionais ou energéticas em sua práxis. Apesar das reformulações que sofreram ao longo dessas duas décadas, as grades curriculares dos cursos da UNISUL e UAM de todas as épocas possuem unidades de aprendizagem sobre florais de Bach, iridologia, cromoterapia e medicina chinesa. Todavia, assim como os poucos textos de naturólogos que falam sobre energia, as produções que descrevem formas de aferir energia na naturologia 221

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derivam ou possuem características fortes de sua fase novaerista. Segundo a etnografia de Teixeira (2013, p. 52), a maioria dos naturólogos utiliza somente sua própria sensibilidade para verificar o estado energético de seus interagentes, o que também foi atestado por Passos (2015, p. 14), quem levantou que a observação é o método avaliativo mais empregado pela categoria: 86,6% dos naturólogos responderam recorrer a ele em sua pesquisa. Mas o material analisado também permitiu observar uma miríade de outros métodos que também são utilizados. No trabalho de Passos (ibid.) são atestadas a fisiognomonia (usada por 39,7% dos naturólogos), a reflexologia (55,8%), a iridologia (33,9%), a glossognomonia (45,5%), a palpação (44,6%), além da observação de criações artísticas – essa última não foi quantificada. Outras técnicas observadas, mas que não são citadas no trabalho de Passos, são a bioeletrografia, a leitura por pêndulos, ryōdōraku, BDORT, a radiestesia e a cinesiologia. Algumas dessas técnicas perpassam toda a história da naturologia no Brasil, enquanto outras foram mais ou menos populares de acordo com a fase observada. 222

CAPÍTULO III

Por exemplo, Oliver (2008, p. 72) descreve, em seu relato de experiência, a avaliação através do pulso, da fisiognomonia (avaliação facial), da glossognomonia (avaliação da língua), e por um pêndulo de cristal para aferir o quadro energético de seu interagente. Para verificar o coeficiente de energia de seus interagentes antes e depois dos atendimentos, tanto Rohde (2008, p. 88) quanto Gemelli e Marimon (2011, p. 82) adotaram o ryōdōraku, um aparelho japonês que mede o fluxo de corrente elétrica em determinados pontos eletropermeáveis da pele (HYŌDŌ, 1975). Usualmente as leituras de eletrobioimpedância resultantes do ryōdōraku costumam ser interpretadas como relacionadas aos meridianos da medicina chinesa, o que leva os naturólogos a conceber que os resultados obtidos pela aferição com esse aparelho dizem respeito ao próprio fluxo de qì no organismo. Bell (2008, p. 53) recorreu aos cakrás. Conforme descreve em seu relato de experiência, os cakrás foram avaliados por um processo duplo. A primeira etapa envolvia a identificação de características psicológicas associadas ao estado energético de cada cakrá e uma medição radiestésica, 223

A NATUROLOGIA NO BRASIL

utilizando um pêndulo de metal. Posteriormente os bloqueios energéticos encontrados na primeira etapa eram confirmados com a reflexologia. Bell (2008, p. 57) relatou que ao identificar pontos doloridos nos pés, que seriam referentes às glândulas relacionadas aos cakrás bloqueados, ele ratificou seu diagnóstico energético. Um método peculiar de verificação do quadro energético foi retratado no artigo de Sanches (2008), que utilizou um conto de fadas como ferramenta de avaliação. Para ratificar esse método, essa naturóloga declarou utilizar o mesmo método de avaliação no caso do parágrafo anterior: ela identificou aspectos psicológicos que são comumente associados ao estado energético dos cakrás (SANCHES, 2008, p. 33). Método similar, utilizando mitologia, é encontrado em diversos trabalhos, tanto de egressos da UNISUL (cf. STERN, 2008; LEITE; WEDEKIN, 2015; MARTINS, 2016) quanto em monografias produzidas na UAM (cf. GUEDES, 2005; CORREA, 2013). A bioeletrografia, também conhecida como fotografia Kirlian, é atestada por duas pesquisas de iniciação científica produzidas na UNISUL entre 2006 e 2007, cujos pôsteres foram publicados no 224

CAPÍTULO III

site brasileiro da União Internacional de Medicina e Bioeletrografia Aplicada. O primeiro estudo objetivou verificar a validade da bioeletrografia como método de análise energética para distúrbios de coração, com um grupo controle (FRIEDBERG; DELLAGIUSTINA; HELLMANN, 2007). O segundo partiu do pressuposto de que a bioeletrografia é um método de avaliação válido, e o utilizou como forma de verificar a eficácia terapêutica da cromopuntura (AGUIAR; MARIMON; HELLMANN, 2007). Observável hoje com grande frequência, outra ferramenta diz respeito à utilização de arte para aferir o quadro energético do interagente. Noções de que a produção artística mobiliza energias psíquicas, auxiliando no acesso aos significados simbólicos inconscientes das enfermidades, aparecem desde o primeiro livro publicado pela naturologia no Brasil. Segundo Wedekin (2008, p. 126), na arteterapia “halos, flechas, hachurados; vazios e preenchimentos podem indicar ênfases a serem investigadas. As cores utilizadas para representar determinadas partes do corpo também são relevantes”. Sobre a mesma temática, Esteves (2013, p. 10) declarou que se o interagente começar a preencher o desenho de seu corpo pela 225

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cabeça, “pode significar maior quantidade de energia/atenção nesta parte do corpo”. A análise da íris, através do método Rayid, também é utilizada, ensinada junto da iridologia tanto na UAM quanto na UNISUL. O método presume que os seres humanos são formados por uma energia referida simplesmente como “luz”. Os olhos seriam hologramas ou faróis dessa luz, permitindo ao terapeuta identificar por eles traços de personalidade, níveis de introversão e extroversão e ainda relações de ancestralidade, a forma como o sujeito se relaciona com seus pais e os padrões energéticos herdados de seus familiares (JOHNSON, 1992). Um último método identificado é chamado de teste olfativo, uma criação de duas naturólogas, Julie Duarte e Karin Katekaru, que foi abordada no artigo de Faustino (2015). Esse recurso parte do pressuposto de que toda planta possui um “aspecto sutil”, ou seja, uma assinatura energética. Ao entrar em contato com seu aroma, os seres humanos seriam influenciados pelo aspecto sutil da planta, que lhes permitiria acessar diferentes níveis de consciência. O teste olfativo consiste na exposição aos óleos essenciais, e a resis226

CAPÍTULO III

tência a determinado aroma indicaria que o interagente não possui suporte naquele momento para trabalhar as questões psicoemocionais que essa planta energeticamente desperta (DUARTE; KATEKARU; PELOUŠEK, 2013, p. 51-55). Evidentemente que esses exemplos não esgotam as possibilidades de diagnósticos energéticos com as quais os naturólogos brasileiros operam. Contudo, demonstram a natureza esquiva desse domínio. A pluralidade notável de formas de se aferir energia se dá porque, tratando-se do metaempírico, daquilo que não pode ser objetivamente mensurável, nenhum dos métodos descritos é totalmente aceito. De modo geral, todos eles são taxados, em maior ou menor grau, como paracientíficos ou metacientíficos. Citando alguns exemplos, há muita controvérsia a respeito da bioeletrografia. Watkins e Bickel (1991, p. 211-219) demonstram, através de pesquisas aplicadas, que os experimentos científicos não conseguem replicar os mesmos resultados e propriedades alegados às fotografias Kirlian. Os autores questionam, em especial, a suposta capacidade da bioeletrografia de detectar “desequilíbrios energéticos”. Ademais a definição do que 227

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são esses desequilíbrios ser difusa e imprecisa, Watkins e Bickel (1991, p. 219-200) criticam a própria precisão da bioeletrografia como ferramenta diagnóstica, listando 22 fatores que explicariam objetivamente, através das leis da física, as variações obtidas nas fotografias. Sobre as análises energéticas pela íris, ao descrever o método Rayid o instituto Rayid International (2014) ressalta que ele não é baseado em nenhuma escola específica de iridologia, senão em seu próprio criador, Denny Johnson. O Rayid International também demonstra incômodo na tendência de se resumir o método Rayid simplesmente a uma escola de iridologia, posto que importantes questões de ancestralidade, centrais ao método, não são observadas na íris. Por isso, correlações entre os sinais da iridologia alemã ou da escola clássica não são previstas pelo método Rayid, que pouco se importa com a condição orgânica dos sujeitos observados. Mas essas correlações acontecem com certa naturalidade na prática dos naturólogos (cf. HERTWIG, 2009; RIBEIRO; BENUZZI, 2013). As leituras iridológicas feitas pela naturologia fazem uma ampliação simbólica, eivada de sentido energético atrelado ao corporal, que 228

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não é observada nem na prática iridológica externa à naturologia, nem no método Rayid original. No caso das avaliações de cakrás, a questão é ainda mais intrigante. Conforme é possível perceber em O livro das interagências (HELLMANN; WEDEKIN, 2008), era comum o uso de pêndulos sobre as regiões que usualmente são associadas à localização dos centros energéticos para sua aferição. O que definia se o cakrás estava sobreativo, infra-ativo ou bloqueado era exclusivamente a subjetividade do naturólogo. Em outras palavras, a convenção mental pré-estabelecia com o instrumento (o pêndulo) é o que dava a tônica do significado de seu movimento durante a avaliação. Durante a segunda fase esse método foi repensado. Um artigo produzido por naturólogos especificamente para verificar a validade da aferição pendular concluiu que seus resultados ocorrem ao acaso (SOUZA; HELLMANN, 2011, p. 63-66). Porém, os pesquisadores declararam em suas considerações finais que “não há dúvidas sobre a existência dos Chakras”3 (SOUZA; HELLMANN, 2011, p. 69), de3 Eles não explicam o porquê de não haver dúvidas em seu artigo.

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monstrando que a naturologia possui grandes ressalvas em questionar a existência da dimensão energética por si. A refutação do pêndulo apenas abriu espaço para que outras práticas substituíssem o lugar outrora ocupado pelo pêndulo. Hoje, por exemplo, parte dos professores e alunos do curso catarinense considera o ryōdōraku um método válido para quantificar cakrás. Esboços para aproximações entre cakrás e ryōdōraku já eram tecidos desde antes do artigo de Souza e Hellmann. Carvalho (2008), por exemplo, utilizou em conjunto tanto o pêndulo quanto o ryōdōraku em seu atendimento. Porém, é na edição dos Cadernos Acadêmicos que apresenta a pesquisa de Souza e Hellmann que, pela primeira vez, foi publicada a declaração objetiva de que “também [se] observa[...], através do sistema Ryodoraku de avaliação, a variação do padrão energético apresentado pelos chakras” (GEMELLI; MARIMON, 2011, p. 82, grifo dos autores). Aqui, novamente, há outro ponto que deve ser problematizado. No discurso êmico, é comum novaeristas considerarem que as diferentes formas de energias com as quais trabalham – qì, prāṇa, quantum etc. – digam respeito à mesma 230

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coisa. No caso da naturologia, Teixeira (2013, p. 53) ressalta que “diferentes noções, provenientes de diferente contextos, são tratadas por alguns naturólogos como uma mesma energia”, e destaca a tendência de homogeneização dessas noções pela categoria. Mas em uma análise objetiva, a eletricidade aferida pelo ryōdōraku não é o qì do qual os clássicos daoistas falam. Sequer havia energia elétrica na época que eles foram escritos. Na cultura chinesa, o qì é o princípio que forma tudo o que é vivo. Usualmente traduzido como “energia vital” em línguas neolatinas, seu significado literal em chinês é “sopro”. De acordo com Kohn (2009), essa energia, que é uma manifestação viva do dào – a fonte de tudo, na doutrina daoista e na cultura chinesa em geral –, age como uma espécie de “combustível da vida”. Quando o qì de um ser se extingue, esse organismo morre. Na gravidez, considera-se que o qì ancestral dos pais é transmitido para a criança. Consequentemente, a cada filho gestado os pais se aproximam mais da própria morte. O prāṇa, em contrapartida, tem origem nas culturas da região onde hoje se encontra a Índia, e significa literalmente “força vital”. É entendido 231

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como uma energia cósmica que vem através dos raios solares para ordenar todos os elementos do universo, reconectando-os. Segundo Fuller (2005, p. 3850), dentro do contexto de prāṇa, é crucial à saúde estarmos receptivos ao influxo dessa energia, pois o bloqueio de seu fluxo livre origina as doenças. Doar seu prāṇa para outra pessoa, em um quadro terapêutico, não é algo nocivo. Pelo contrário, é extremamente auspicioso do ponto de vista espiritual. Por essas breves definições, é possível se perceber que o qì é visto como algo finito, enquanto o prāṇa é renovado constantemente pela exposição ao sol. Os dois conceitos não são idênticos, portanto não podem ser igualados sem que haja perda de suas ideias originais. Conforme explica Usarski (2014, p. 16-17), esses termos e concepções foram gerados dentro de sistemas de sentido cultural específicos, e só expressam seu significado integral dentro desses sistemas. Se retirado do contexto que lhes é próprio, perdem muito da sua semântica e simbolismo. Mas não é qualquer concepção energética de saúde que é amalgamada pela naturologia. O termo axé, muito popular no Brasil para se referir 232

CAPÍTULO III

a energia e central às medicinas populares de matriz africana, nunca aparece em textos publicados pela área, mesmo com o curso das FIES tendo sido fundado por um umbandista. Seria porque esse termo está muito diretamente ligado a uma religião específica, o que tende a fugir da característica não institucional típica da Nova Era? Ou seria porque as comunidades novaeristas brasileiras, de perfil majoritariamente branco e mais rico, priorizam os sistemas asiáticos, europeus pré-cristãos e dos índios norte-americanos, deixando em segundo plano o contexto afro-brasileiro e o folclore indígena nacional? Com o advento da terceira fase da naturologia, cada vez mais naturólogos começaram a perceber o problema dessa postura. Não apenas isso, a dificuldade de quantificar essa dimensão energética faz com que muitos a evitem, sob o pretexto de falta de cientificidade. Teixeira explica como essa dinâmica se dá hoje: [...] alguns naturólogos negam a necessidade de cientificidade na abordagem energética, outros se queixam desta abordagem justamente por não ser passível de comprovação científica. Os que defendem a não 233

A NATUROLOGIA NO BRASIL cientificidade dizem que, no contexto onde muitas destas práticas energéticas emergiram, o conhecimento é construído de forma muito distinta da forma como a ciência ocidental foi construída. Este abismo epistemológico, segundo eles, resulta no fato da ciência ocidental não estar apta a abranger com eficiência estes conhecimentos. Os que defendem uma abordagem cientificista argumentam que a falta de cientificidade é um obstáculo na legitimação dos saberes naturológicos (TEIXEIRA, 2013, p. 51).

Essa divisão, entre um grupo que nega a necessidade de pesquisas científicas para a abordagem energética e outro que não quer discuti-la porque considera que o metaempírico prejudica a legitimação da área, pode ser um eco proveniente das políticas institucionais implantadas durante o segundo período da história dos cursos da naturologia. Ambos os grupos, conforme percebido, perpetuam ações de silenciamento à produção acadêmica sobre as concepções de energia, e continuam a realizar as agendas biologistas, intencionalmente ou não, mesmo após o fim da segunda fase e o florescimento do terceiro período, mais aberto ao diálogo entre os múltiplos saberes. 234

CAPÍTULO III

Se a partir da terceira fase da história da naturologia se pode observar um aumento de publicações acadêmicas a respeito das suas diversas práticas, até hoje, no que diz respeito à questão da dimensão energética da relação de interagência, nota-se uma carência generalizada de produções que tratem especificamente do assunto. As poucas produções continuam alinhavadas aos paradigmas novaeristas, dominantes durante a fase inicial da história da naturologia. No momento, os docentes dos cursos de naturologia que mais se envolvem com terapias energéticas são, justamente, os que menos produzem textos acadêmicos. Um caso a parte talvez seja Portella, o atual coordenador do curso da UAM, que desde o III FCN vem defendendo que a naturologia adote o modelo de “homem quântico” de Amit Goswami. No entanto, apesar de expor isso em seu paper do III FCN (PORTELLA, 2012) e ter publicado um artigo nos CNTC onde cita o modelo (PORTELLA, 2014), essa linha de raciocínio parece ainda algo inaudito à área, visto que nenhuma outra produção indica que há outros naturólogos pensando pelo mesmo viés. Do mesmo modo, recorrer a Goswami, autor tipicamente 235

A NATUROLOGIA NO BRASIL

novaerista, o coloca no grupo dos naturólogos mais inclinados aos valores da primeira fase do que da fase atual.

AS PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES NA NATUROLOGIA Até aqui foram apresentadas duas das principais categorias da naturologia: a relação de interagência, considerada pela maioria dos autores como o grande diferencial desse campo no Brasil, e os conceitos de energia na terapia naturológica. As PIC entram no trabalho do naturólogo balizadas por esses dois conceitos. Assim, por mais que essas práticas sejam utilizadas por outros profissionais (p. ex. fisioterapeutas também fazem massagem, farmacêuticos também trabalham com plantas medicinais etc.), é presumido um diferencial quando um naturólogo utiliza essas técnicas. Algumas das PIC mais comuns ao cenário brasileiro da naturologia serão listadas a seguir, com uma breve explicação de sua relação com o campo. Essa lista foi elaborada pelo cruzamento das práticas mais comumente observadas nos tra236

CAPÍTULO III

balhos da naturologia, segundo Moreira (2016) e Passos (2015), de acordo com as matrizes curriculares dos cursos de naturologia brasileiros anexadas ao final desse livro, e também segundo as entrevistas do trabalho de Varela e Corrêa (2005), que falam sobre a formação das FIES. Todavia, essa lista está longe de ser exaustiva. Muitas práticas que também fazem parte do dia-a-dia do profissional naturólogo não foram listadas. O motivo disso é porque elas não aparecem difundidas com a mesma força que as aqui elencadas, ou constituem uma PIC de relevância geográfica pontual (p. ex. medicina xamânica, exclusividade da formação da UNISUL). Apesar do foco ser a naturologia brasileira, por vezes também o cenário lusitano será mencionado, apenas a título de comparação.

Medicina chinesa A medicina chinesa é, de longe, a principal prática da naturologia. Isso pode soar polêmico no campo naturológico, visto que Passos (2015, p. 13) atestou que somente 61% dos naturólogos 237

A NATUROLOGIA NO BRASIL

declaram trabalhar frequentemente com essa PIC. Todavia, a medicina chinesa é uma das únicas práticas atestadas em todos os currículos, de todas as épocas em todos os cursos de naturologia que existiram no Brasil, além de ser o carro-chefe do Instituto Português de Naturologia. Segundo uma das entrevistas anexadas na monografia de Varela e Corrêa (2005, p. 152), o objetivo inicial das FIES era que o curso que foi aberto com o título “naturologia aplicada às terapias naturistas" em Curitiba fosse um curso de medicina chinesa. Temendo que por questões legais e políticas não fosse possível abrir um curso com “medicina” no nome, as FIES optaram pela adoção do termo “naturologia”, baseando-se no cenário europeu, que já detinha a medicina chinesa como a principal prática de seus naturólogos. As massagens chinesas, a acupuntura e a fitoterapia chinesa estiveram presentes em todos os períodos históricos da naturologia no Brasil, em pelo menos algum momento de cada uma das três instituições de ensino superior que ofertaram o curso de naturologia. Outras técnicas corporais chinesas, como o liàngōng e qìgōng/tàijí, também perpassam a trajetória da naturologia no país. 238

CAPÍTULO III

Uma polêmica que envolve a medicina chinesa na naturologia brasileira diz respeito à aplicação de acupuntura por naturólogos. Os cursos da UAM e das FIES (cf. VARELA; CORRÊA, 2005, p. 152; MEMÓRIAS, 2017) ensinam algumas técnicas de agulhamento, ao passo que os professores da UNISUL consideravam que esse tema deveria ser ofertado apenas como especialização, visto que a carga horária disponível na graduação não permitiria ensiná-la com segurança. De acordo com Moreira (2016), a medicina chinesa é a prática mais corriqueira entre os temas de TCC da naturologia da UNISUL posteriores a 2009. Além disso, dos sete principais professores orientadores na história dos TCC de naturologia dessa instituição, seis possuem alguma formação em medicina chinesa.

Ayurveda e outras práticas indianas Embora temas dianas, como cakrás de naturologia desde apenas foi assumida

relacionados às técnicas ine ioga, permeiem o ensino a primeira fase, a āyurveda oficialmente como parte da 239

A NATUROLOGIA NO BRASIL

formação em naturologia no Brasil a partir do segundo projeto pedagógico do bacharelado da UNISUL, o que fez com que a UAM também a adotasse em sua matriz curricular. Diferente da medicina chinesa, contudo, há grande carência de cursos de pós-graduação e especialização em āyurveda no país, o que faz com que tenha sido notada historicamente uma dificuldade dos cursos em contratarem bons professores para ministrar essa temática. O mais comum, no caso catarinense, é que quando um bom terapeuta de āyurveda é encontrado, usualmente não possui uma boa qualificação acadêmica ou perfil para dar aulas, ao passo da UNISUL ter financiado, ela própria, a formação de alguns professores. Segundo Moreira (2016), práticas indianas constituem o quarto tema mais comum nos TCC da UNISUL posteriores a 2009, e é o tema mais popular entre os TCC anteriores a esse ano. O motivo disso se dá porque até o início da década de 2010 havia uma obrigatoriedade entre os estagiários de fazer a leitura energética dos cakrás na clínica-escola do curso da UNISUL. A respeito dos cakrás, embora a noção de cakrás não seja um saber da āyurveda objetiva240

CAPÍTULO III

mente, isso ainda faz parte da ementa da unidade de aprendizagem de āyurveda no projeto pedagógico vigente do curso da UNISUL (2014). Segundo o perfil profissional dos naturólogos brasileiros levantado por Passos (2015, p. 13-14), 23,1% dos naturólogos do país declaram trabalhar frequentemente com āyurveda, e 15,2% dizem atuar frequentemente com ioga.

Aromaterapia A aromaterapia consiste na utilização de óleos essenciais, hidrolatos e substâncias aromáticas visando o bem-estar físico e emocional. É uma área bastante difundida mundialmente, que possui muitas vertentes de trabalho: algumas mais biologistas, focadas estritamente na estrutura química e ação farmacológica dos óleos essenciais, e outras mais esotéricas, que atribuem aos aromas propriedades mágicas/milagrosas. A aromaterapia naturológica não pende a nenhum dos dois extremos, conforme explicam Duarte, Katekaru e Peloušek (2013). Ela estuda tanto as estruturas fitoquímicas e a ação fisioló241

A NATUROLOGIA NO BRASIL

gica provocada pelo contato com os óleos essenciais, como também atribui simbolismos às plantas que são matérias-primas desses óleos, fazendo relações com os estados psicológicos e energéticos de quem recebe a prática. Boa parte da lógica por trás do teste olfativo gira em torno disso. De acordo com Moreira (2016), a aromaterapia é o segundo tema mais popular entre os TCC de naturologia da UNISUL. Segundo Passos (2015, p. 14), 85,3% dos naturólogos no Brasil declara utilizar frequentemente a aromaterapia.

Massagem Chamada também de “manipulação de tecidos moles” ou “massoterapia”, é uma das PIC mais solicitadas por pessoas atendidas nas clínicas de naturologia do Brasil. É atestada desde o início da naturologia na Europa (CORREIA, 1950, p. 461), estando presente em todos os períodos dos cursos da UAM e da UNISUL, e também no curso das FIES (cf. VARELA; CORRÊA, 2005, p. 152). Contudo, apesar de sua incontestável visibilidade na naturologia, a massagem é uma das 242

CAPÍTULO III

práticas que enfrenta maior resistência por outras profissões da área da saúde no Brasil, em especial da fisioterapia, que considera a massoterapia seu exercício profissional, acusando os naturólogos de invadirem seu domínio. Historicamente a técnica mais comum nos currículos de naturologia foi a massagem sueca, também conhecida simplesmente como “massagem relaxante”, que é pautada na fisiologia ocidental. Porém outras técnicas asiáticas (p. ex. tuī na, shiatsu e abhyaṅga), baseadas nas medicinas tradicionais, também são observadas em períodos específicos da história dos cursos brasileiros. É a terceira PIC mais comum entre os TCC do curso de naturologia da UNISUL posteriores a 2009 (MOREIRA, 2016). Segundo Passos (2015, p. 14), 76,1% dos naturólogos brasileiros declaram trabalhar frequentemente com massagem.

Geoterapia A geoterapia consiste na aplicação de argilas medicinais, especialmente como cataplasma. É atestada no curso das FIES (cf. VARELA; CORRÊA, 243

A NATUROLOGIA NO BRASIL

2005, p. 152), sendo uma das principais PIC ensinadas na formação da UNISUL. A matriz curricular do curso da UAM não contempla essa PIC. Apesar de sua grande aplicabilidade, há grande carência de materiais acadêmicos sobre geoterapia. Quando a professora da UNISUL Graciela Mendonça da Silva de Medeiros publicou o livro O poder da argila medicinal (cf. MEDEIROS, 2013), a universidade recebeu inúmeras mensagens sobre onde encontrar cursos de capacitação para essa PIC. Uma pós-graduação em geoterapia chegou a ser elaborada na UNISUL, mas nunca foi ofertada por mudanças da coordenação na época. Segundo Moreira (2016), a geoterapia é o quinto tema mais comum nos TCC da UNISUL posteriores a 2009. De acordo com Passos (2015, p. 14), 33,9% dos naturólogos brasileiros trabalham frequentemente com geoterapia.

Florais Uma das PIC mais populares em círculos novaeristas segundo Martins (1999) e Hanegraaff (1998), o ensino da terapia com florais é atestado 244

CAPÍTULO III

em todas as fases de todos os cursos superiores brasileiros de naturologia, incluindo o curso das FIES (cf. VARELA; CORRÊA, 2005, p. 152). Nos cursos brasileiros de naturologia há uma predileção pelos florais de Bach, que consistem no primeiro sistema de remédios florais criado no mundo, originário da Inglaterra do início do século XX. Mas outros sistemas florais (p. ex. florais da Califórnia ou do bush australiano) foram ensinados em extensões universitárias e especializações atreladas às graduações em naturologia existentes no Brasil. Atualmente tanto na UNISUL quanto na UAM, quando os estudantes concluem as unidades de aprendizagem referentes a essa PIC um certificado internacional de nível básico é emitido, declarando que eles estão aptos a trabalhar com os florais. De acordo com Moreira (2016), a terapia floral é o décimo segundo tema mais popular entre os TCC de naturologia na UNISUL posteriores a 2009. Segundo Passos (2015, p. 14), 77,4% dos naturólogos no Brasil declaram atuar frequentemente com os florais. 245

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Reflexologia A reflexologia parte do pressuposto de que o microcosmo é um reflexo do macrocosmo, motivo pelo qual é também uma das PIC mais populares nos círculos novaeristas, conforme atestam Martins (1999) e Hanegraaff (1998). Sua lógica gira em torno da compreensão de que partes do corpo refletem o corpo como um todo. Estudar essas partes possibilitaria, portanto, avaliar e tratar o estado geral de saúde do indivíduo. A forma de reflexologia mais comum nos cursos de naturologia do Brasil é a reflexologia podal, que consiste na avaliação dos pés visando um diagnóstico geral. Essa avaliação se dá, em especial, através de uma técnica de toques padronizados, chamada de “padrão reflexológico”. Caso a pessoa sinta cócegas, sensibilidade ou dor, isso seria um indício de que os órgãos correspondentes precisariam de atenção. Esse método pode ser adaptado para ser aplicado também nas mãos. Além da reflexologia podal, a fisiognomonia e a auriculoterapia também são bastante comuns, sendo a primeira muito utilizada em conjunto com a geoterapia e a última em conjunto da medicina 246

CAPÍTULO III

chinesa. A fisiognomonia consiste na avaliação do estado geral de saúde através do rosto. Variações de cor e textura da pele, possíveis edemas, acnes e até mesmo rugas são levadas em conta. No caso da auriculoterapia, a avaliação acontece através de pontos específicos nas orelhas. A reflexologia não é apenas um método de avaliação, mas também um tipo de tratamento da naturologia. O “padrão reflexológico” e a auriculoterapia podem tanto avaliar o estado geral de saúde como também tratar, de acordo com a naturologia, os problemas identificados. Através da mesma ação reflexa que se supõe permitir o diagnóstico, se o naturólogo fizer compressões e deslizamentos específicos nas partes doloridas do pé, ou colocar agulhas e sementes nos pontos doloridos da orelha, isso geraria estímulos benéficos aos órgãos e regiões afetadas. Segundo Moreira (2016), a reflexologia é a décima primeira PIC mais popular nos TCC de naturologia da UNISUL posteriores a 2009, e sua popularidade vem crescendo nos últimos anos. De acordo com Passos (2015, p. 14), a reflexologia é utilizada como forma de avaliação por 55,8% dos naturólogos e como forma frequente de tratamen247

A NATUROLOGIA NO BRASIL

to por 59,8%. Além disso, 66,7% declaram utilizar a auriculoterapia frequentemente.

Iridologia A iridologia consiste na avaliação da cor e da estrutura do tecido da íris visando estabelecer uma relação com o quadro geral de saúde da pessoa analisada. Portanto, pode ser entendida como uma forma de reflexologia também, embora seja tratada como uma categoria a parte nos cursos de naturologia brasileiros. Foi criada na Alemanha, concomitante ao surgimento da naturopatia, e foi bastante popular durante a primeira metade do século XX na Europa Setentrional. No Brasil, é difundida em especial pelo trabalho do médico Celso Fernandes Batello. A iridologia é uma PIC que foi atestada em todos os cursos de naturologia do Brasil, incluindo a formação das FIES (cf. VARELA; CORRÊA, 2005, p. 152). Possui algumas variações de nomenclatura nos cursos (p. ex. “irisdiagnose”), e por vezes tende a agregar em seu conteúdo programático temas que não fazem parte objetivamente da iri248

CAPÍTULO III

dologia, mas que lhe possuem proximidades, como o método Rayid, a esclerologia e a pupilologia. De acordo com Moreira (2016), a iridologia é o quarto tema mais comum nos TCC da UNISUL, embora sua popularidade venha decaindo radicalmente desde 2009. Segundo Passos (2015, p. 14), 33,9% dos naturólogos declaram usar a iridologia.

Plantas medicinais A utilização de plantas medicinais também está atrelada à origem da naturologia na Europa, mas diferente da iridologia, que surgiu na Alemanha e só no século XX foi introduzida à naturologia portuguesa e espanhola, desde o início é possível atestar a centralidade das plantas medicinais entre os naturólogos do mediterrâneo, tal qual é observado no livro de Castro (1986). O ensino da utilização de plantas medicinais é atestado desde sempre nos cursos brasileiros de naturologia. Nas FIES, a fitoterapia consistia em uma de suas três habilitações (VARELA; CORRÊA, 2005, p. 42). Na UNISUL, seu projeto de extensão mais famoso, o Projeto Linha-Verde, era 249

A NATUROLOGIA NO BRASIL

relacionado à aplicação de plantas medicinais com a comunidade, em parceria com a igreja católica. Usualmente o ensino das plantas medicinais por naturólogos segue o modelo biomédico, que estuda esses vegetais segundo sua composição fitoquímica e a ação de seus princípios ativos. Pontualmente, em determinados momentos é possível também observar relações entre as plantas medicinais, a forma como são empregadas nas medicinas tradicionais e a etnobotânica. Segundo Moreira (2016), as plantas medicinais são o sétimo tema mais comum entre os TCC de naturologia da UNISUL. De acordo com Passos (2015, p. 14), 61,8% dos naturólogos brasileiros declaram utilizar frequentemente plantas medicinais em seus atendimentos.

Terapias artísticas Também chamadas de “arteterapia”, “musicoterapia”, “arte e expressão”, “arte integrativa” e “recursos expressivos” nos cursos brasileiros, é atestada nos bacharelados da UNISUL e da UAM desde as primeiras turmas. Nas matrizes curricu250

CAPÍTULO III

lares mais antigas, os termos “arteterapia” e “musicoterapia” eram mais comuns. Nas mais atuais, por medo de serem acusados de adentrar indevidamente no campo dos musicoterapeutas e arteterapeutas, e também por críticas advindas de profissionais da própria psicologia, termos alternativos como “terapias artísticas”, “arte e expressão” e “recursos expressivos” têm sido utilizados. As terapias artísticas tem se articulado em dois grandes campos no ensino da naturologia no Brasil: um que diz respeito à aplicação de artes plásticas (arteterapia), e outro focado na música e outros recursos sonoros (musicoterapia). Independente da linha, o objetivo terapêutico visa primordialmente melhoras emocionais ou psicológicas, embora efeitos físicos sejam relatados em casos específicos de interagência. Em determinado momento da história dos cursos brasileiros, essas práticas estiveram associadas a outras PIC, como a cromoterapia, a geoterapia e a iridologia. No projeto pedagógico vigente do curso da UNISUL, a aplicação das artes plásticas consiste em um estágio próprio, ao passo que os recursos sonoros têm sido relegados ao segundo plano. 251

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Segundo Moreira (2016), as terapias baseadas em artes plásticas são o terceiro tema e as baseadas em sons são o décimo quarto tema mais popular entre os TCC da UNISUL, embora sua popularidade esteja em decadência. Segundo Passos (2015, p. 14), 27,1% dos naturólogos declaram recorrer às terapias artísticas com frequência.

Hidroterapia Chamada entre os naturólogos europeus de “hidrologia”, tem sido desmembrada no ensino brasileiro de naturologia em diversas unidades de aprendizagem diferentes: “talassoterapia” (tratamentos que utilizam água do mar), “crenoterapia” (tratamentos baseados em águas minerais), “termalismo” (terapia com águas termais), “recursos bio-hídricos” etc. É uma das PIC utilizadas pela naturologia desde seu nascimento, conforme atestado pelo livro de Castro (1986) e por Correia (1950). Além disso, a hidroterapia é a prática atrelada historicamente ao surgimento mundial dos spas. 252

CAPÍTULO III

Desde a criação da PNPIC em 2006, que incluiu o termalismo social como uma das primeiras PIC contempladas pela política nacional, os cursos de naturologia do Brasil têm se aproximado dessa nomenclatura. Na UNISUL, alguns estágios passaram a ser ofertados em parceria com a prefeitura de Santo Amaro da Imperatriz, visando a utilização de suas águas termais pelos estudantes. A hidroterapia é, segundo Moreira (2016), o quinto tema mais comum entre os TCC da naturologia da UNISUL, embora sua popularidade esteja decaindo drasticamente desde 2009. De acordo com Passos (2015, p. 14), 21,9% dos naturólogos no Brasil declaram empregar a hidroterapia em seus atendimentos com frequência.

Alimentação e terapias dietéticas Dietas são atestadas no livro de Castro (1986) como uma das PIC utilizadas desde o surgimento da naturologia no final do século XIX; em especial as dietas vegetarianas – ou “tanto quanto possível” vegetarianas, como diz Correia (1950). Nos cursos da UNISUL e da UAM, esse conteúdo é 253

A NATUROLOGIA NO BRASIL

ensinado majoritariamente com a nomenclatura “trofologia” ou “trofoterapia”, o que não isenta o campo de críticas de nutricionistas, que também acusam os naturólogos de invadirem seu domínio. No segundo projeto pedagógico catarinense, a carga horária de disciplinas relacionadas à alimentação/dietas era superior a algumas das medicinas tradicionais que embasavam o próprio curso. Visto que os naturólogos não podem elaborar dietas no Brasil, isso foi reduzido para menos da metade na matriz curricular vigente. Segundo Passos (2015, p. 14), 34,1% dos naturólogos utilizam a trofoterapia frequentemente no Brasil. Mas as terapias alimentares ou relações entre dietas e saúde é o quinto tema menos popular nos TCC da UNISUL (MOREIRA, 2016). O provável motivo disso é porque nunca houve um estágio aplicado relacionado à trofoterapia no curso catarinense.

O SÍMBOLO DA NATUROLOGIA A criação do símbolo da naturologia foi financiada, sobretudo, pela APANAT, por uma de254

CAPÍTULO III

manda de se criar uma identidade visual aos naturólogos, proposição recebida das visitas das associações à Brasília visando à aprovação do PL da regulamentação da profissão de naturólogo. Mas embora localizado historicamente na terceira fase, possui ideais das três fases da naturologia, refletindo muito da multiplicidade da dimensão prática da naturologia no Brasil. Motivados pelas iniciativas dos naturólogos Diogo Marques Nogueira Cury, Fernando Schuind da Costa Guedes e Liliane Ribeiro, os organizadores do V CONBRANATU cederam espaço à primeira Jornada de Estudos sobre o Simbolismo da Naturologia (JESN). As duas primeiras edições objetivaram “convidar os naturólogos e graduandos a desenvolver um símbolo que possa traduzir a identidade da Naturologia” (CONBRANATU, 2013, p. 7). Para garantir a maior adesão possível, a ABRANA e a APANAT permitiram que qualquer interessado, independente de ter efetuado ou não sua inscrição para o congresso, pudesse participar gratuitamente; atitude até então sem precedentes na história do CONBRANATU. Durante 2012 e 2013 foram recebidas propostas de arte criadas por naturólogos e estudan255

A NATUROLOGIA NO BRASIL

tes de naturologia do Brasil, com textos anexados de cerca de três páginas explicando cada um desses desenhos. Esses trabalhos, que foram expostos durante o V e VI CONBRANATU, suscitando discussões sobre o que se desejava passar à sociedade enquanto profissão e novo campo do conhecimento. Esses debates levariam o núcleo de trabalho da JESN a se reunir em Indaiatuba entre 2 e 3 de maio de 2014, para analisar todo esse material. Estiveram presentes nessa reunião as naturólogas Ana Cláudia Moraes Barros Leite-Mor (egressa da UNISUL), Ananda Gonzales (na época estudante da UAM), Andrea Lucila Lanfranchi de Callis (na época estudante da UAM), Belchior Torres do Nascimento (na época secretário do CA do curso da UAM), Caio Fábio Schlechta Portella (egresso da UAM), Daniel Maurício de Oliveira Rodrigues (na época vice-presidente da ABRANA), Danilo Alberti dos Santos (egresso da UAM), Diogo Marques Nogueira Cury (na época estudante da UNISUL), Flavia Placeres (na época presidenta da APANAT), Rafaella Sampaio (egressa da UNISUL) e Silvia Helena Fabbri Sabbag (na época diretora social da APANAT) (APANAT, 2014b). 256

CAPÍTULO III

Nesse encontro foi acordado que dali em diante o trabalho seria entregue a um designer profissional, e a APANAT se disponibilizou a financiar isso. Foram traçados os temas e motivos mais recorrentes nos símbolos propostos nas duas primeiras JESN, e as impressões foram compiladas em sete grupos: (1) “natureza”, (2) “interagência”, (3) “integralidade”, (4) “movimento”, (5) “centro”, (6) “vida” e (7) “vitalismo” (APANAT, 2014b). Então, essas informações foram enviadas a uma agência de publicidade. Rick Brunharo, da agência Brunharo Comunicações, foi quem trabalhou na confecção das propostas de imagens. Os três projetos aceitos pelo núcleo de trabalho da JESN foram então separados para apresentação aos naturólogos durante o VII CONBRANATU, de 2014. Figura 8 – Imagens apresentadas durante a III JESN.

Fonte: STERN (2015, p. 74). 257

A NATUROLOGIA NO BRASIL Tabela 2 – Motivos simbólicos recorrentes nas submissões das duas primeiras JESN. MOTIVO SIMBÓLICO Círculo Cor verde Eixo Centro Dualidade Leminiscata Ascensão Espiral Interiorização Cor amarela Flor Ser humano Serpente Cálice Cor vermelha Folha Tàijítú (símbolo do yīn-yáng ) Árvore Caduceu Movimento Asas Aves

OCORRÊNCIA 23 16 16 14 14 12 11 10 8 7 7 7 7 6 6 6 6 5 5 5 3 2 Fonte: STERN (2015, p. 82).

258

CAPÍTULO III

Visando o diálogo e enriquecimento desse processo, os organizadores do JESN renovaram convites no VII CONBRANATU para que mais naturólogos e alunos de naturologia pudessem contribuir com o projeto, juntando-se ao núcleo como membros participantes. Todavia, apesar de alguns congressistas terem se declarado interessados durante o evento, nos meses que se seguiram somente uma pessoa, de fato, entrou em contato. Isso levou à decisão, em reunião ocorrida em 14 de janeiro de 2015, pelo prosseguimento das ações até então acordadas (APANAT, 2015). Sendo assim, uma pesquisa de opinião sobre os três esboços apresentados no VII CONBRANATU foi criada e aplicada de 18 de fevereiro a 1º de abril de 2015, através do site SurveyMonkey. Isso também foi financiado pela APANAT. Foram recebidas 251 respostas, das quais 231 foram consideradas válidas e foram analisadas. A primeira pergunta dizia respeito à vinculação institucional dos respondentes. Essa pergunta gerou algumas confusões, visto que uma naturóloga respondeu como vinculação a universidade nas quais estava concluindo seu doutoramento, e 259

A NATUROLOGIA NO BRASIL

outra escreveu o nome de seu consultório particular. Houve, contudo, dentre os três questionários que assinalaram a opção “Outra”, uma participante que declarou ter se formado nas FIES. Tabela 3 – Distribuição da amostra no questionário da JESN de acordo com a vinculação institucional dos respondentes. Frequência

Porcentagem

UAM

88

38,1%

UNISUL

140

60,6%

3

1,3%

Outra

Fonte: STERN (2015, p. 76).

Foram obtidas também respostas de pessoas que não eram formadas em naturologia, mas que contribuíram para sua história no Brasil. Dois exemplos são Luana M. Wedekin, na época professora de arteterapia na UNISUL, e Adriana Elias Magno da Silva, docente do curso da UAM. Ambas foram convidadas a participar da pesquisa pelos próprios organizadores da JESN. Dados mais prolongados sobre os resultados e a metodologia foram publicados nos Anais 260

CAPÍTULO III

do VIII CONBRANATU (2015). Em suma, houve um empate técnico entre o símbolo da mandala (o primeiro, da esquerda para a direita, na Figura 8) e o símbolo da árvore (o do meio na Figura 8). A média de aprovação foi maior entre os respondentes da UAM do que os da UNISUL. Além disso, um terço dos participantes preencheu o campo opcional de “comentários e sugestões”, a maioria para falar sobre sua proposta favorita, sugerindo alguma alteração no traçado ou expressando como se sentiu ao entrar em contato com os desenhos. Menos de 6% dos respondentes, considerando todos os questionários válidos, utilizou o espaço somente para criticar as propostas. Dentre os críticos estava Diogo Marques Nogueira Cury, um dos idealizadores da JESN. Ele foi quem apresentou a maior rejeição a todos os três símbolos e também foi a única pessoa que se identificou ao comentar à pesquisa, que se presumia anônima. Cury era contrário ao que considerava como um apressamento da confecção do símbolo, o que estaria levando a uma deturpação da proposta original da JESN em sua opinião. Cury desejava que o artista já pago fosse demitido e o 261

A NATUROLOGIA NO BRASIL

símbolo fosse novamente reformulado. Isso gerou desgastes no grupo de trabalho, e ainda que diversas pessoas tenham se abalado, a pessoa mais afetada foi Silvia Helena Fabbri Sabbag, que ameaçou abandonar o projeto alegando esgotamento pela falta de avanço. Daniel Maurício de Oliveira Rodrigues interveio e expulsou Cury do grupo, via um e-mail enviado a todos os membros desse GT em 8 de agosto de 2015. Essa decisão foi recebida com reações mistas, um novo desconforto se instalou, e foi cogitado o cancelamento do projeto. Se não fosse pelo papel apaziguador de Beatriz Mendes Reis Nogueira, o trabalho possivelmente não teria sido concluído naquele ano. Uma segunda pesquisa de desempate, como se fosse um “segundo turno”, foi efetuada durante o mês de julho (ABRANA, 2015), conduzida diretamente por Nogueira e membros de diretoria da ABRANA. A votação foi bastante acirrada, e em outubro, no VIII CONBRANATU, os resultados foram apresentados. O símbolo que ilustra a capa desse livro foi o escolhido para representar a profissão de naturólogo no Brasil.

262

CAPÍTULO III Figura 9 – O símbolo da naturologia, versão preto e branco.

Fonte: CALLIS e outros (2015, slide 20).

O significado do símbolo Uma curiosidade sobre o símbolo da naturologia é que ele parece não se encaixar no que usualmente é entendido como um símbolo: (1) ele não é pré-hermenêutico, ou seja, os naturólogos não conseguem “decifrá-lo” à primeira vista; (2) não sobrevive por conta própria, visto que desatrelado da naturologia perde seu propósito; e (3) possui um objetivo mercadológico explícito, que é atestado pela escolha por uma agência de publicidade para a sua elaboração e pelo convite a uma profissional do marketing para palestrar sobre a importância de uma marca na segunda

263

A NATUROLOGIA NO BRASIL

edição da JESN (CONBRANATU, 2013), parecendo se comportar muito mais como uma logomarca. Como os naturólogos são acostumados a trabalhar com simbologia na graduação, essa simplicidade de significação fez com que muitos dos que responderam às pesquisas de opinião solicitassem uma interpretação. Como poderiam opinar se não sabiam o que o símbolo pretendia evocar? Foi visando atender a essa demanda que o grupo de trabalho do símbolo da naturologia esboçou uma possível interpretação, que foi apresentada no VIII CONBRANATU, em São Paulo. Esse processo de construção de um significado começou tão logo o símbolo foi escolhido na votação. As pessoas responsáveis por esse trabalho (grupo do qual fiz parte) recorreram basicamente a um método que chamarei de “inflação simbólica”; pegando emprestado o termo utilizado por Maluf (2009, p. 504), definido por ela como “uma mistura de símbolos advindos de diferentes tradições [que] cria uma espécie de mosaico de imagens e de significados”; prática muito comum, deve-se ressaltar, em meios novaeristas. A significação foi construída através de leituras transculturais e anistóricas, recorrendo principalmente 264

CAPÍTULO III

a dicionários de símbolos, visando uma interpretação simbólica universalizante. Para ampliar mais ainda essa análise, a iconografia também foi desmembrada em imagens menores (p. ex. as cores, o círculo, a interseção etc.). A interpretação presente aqui é a que foi originalmente exposta nos slides que apresentamos aos naturólogos na última edição da JESN (CALLIS et al., 2015). Um resumo disso também foi disponibilizado no site da ABRANA (2015) e nas páginas de Facebook da ABRANA e APANAT. A respeito do círculo, ele foi interpretado como um símbolo de unidade e integralidade, características desejadas não apenas para a práxis de um bom naturólogo, mas também para a classe como um todo, visando o fortalecimento político da profissão. Conforme foi exposto no evento, “por não ser possível distinguir começo ou fim, o círculo poderia indicaria essa noção de visão integral” (CALLIS et al. 2015, slide 22). Algumas das palavras-chave que foram relacionadas ao círculo foram: “ausência de divisão”, “totalidade”, “perfeição”, “universo”, “Terra”, “ciclos”, “renovação” e “movimento”. 265

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Através da leitura antroposófica, foi declarado que círculos São reconfortantes e dão uma sensação de sensualidade e amor. Sua complexidade sugere o infinito, unidade e harmonia. Círculos protegem, eles enfrentam, eles restringem. Eles oferecem segurança e conexão. Círculos sugerem comunidade, integridade. [...] Ele representa as noções de totalidade, plenitude, perfeição original, o Eu [self ], o infinito, eternidade. Como o sol, é o poder masculino; como a alma e como cercar águas, é o princípio maternal feminino (CALLIS et al. 2015, slide 22).

Como o desenho é formado por círculos entrelaçados, essas intersecções foram interpretadas como simbolizando o encontro de unidades. Em outras palavras, a própria relação de interagência (CALLIS et al. 2015, slide 23). O número seis foi também destacado, por conta dos seis grandes círculos que formam o desenho central da flor. A interpretação do número foi feita através da numerologia, do tarô e dos dicionários de símbolos. Pela popularidade dos florais de Bach entre os naturólogos, em um dos slides foi anexada uma imagem da flor estrela-de266

CAPÍTULO III

-belém (Star of Bethlehem ), sotoposta por um hexagrama (CALLIS et al. 2015, slide 25). Os seis círculos foram interpretados como um símbolo da união do céu e da terra (CALLIS et al. 2015, slide 23, 25). Isso se deu porque o número seis tende a ser relacionado nos dicionários de símbolo ao hexagrama, Figura 10 – Hexagrama. figura composta por dois triângulos sobrepostos, um apontando para cima (o céu) e outro para a baixo (a terra). A própria flor ao centro da mandala, formada pelas intersecções dos círculos, Fonte: domínio público. lembra um hexagrama. Pela numerologia, o número seis foi visto como relacionado às profissões da área da saúde, das artes e à profissão de professor. No slide foi dito que o seis “emana vibrações artísticas. Representa a entrega a sua comunidade. Este número representa a responsabilidade para com os demais, a sociedade e a família” (CALLIS et al. 2015, slide 24). Palavras-chave selecionadas pela leitura numerológica foram: “liberdade”, “sensibilidade”, 267

A NATUROLOGIA NO BRASIL

“conciliação”, “harmonia”, “equilíbrio”, “verdade e justiça”, “solidariedade” e “partilha”. A respeito do tarô, foi apresentada uma leitura de acordo com o VI Arcano Maior: Os Enamorados. Até esse arcano as figuras do tarô se apresentam em pares complementares separados em gêneros opostos (A Imperatriz e O Imperador, A Sacerdotisa e O Hierofante/O Mago). Os Enamorados é a união desses atributos numa única figura, visando à criação e o autoconhecimento. Isso foi considerado como um motivo de integralidade, o que vai ao encontro da busca por uma abordagem holística. Pelo fato desse arcano representar as relações humanas, foram feitas interpretações de que o número seis simbolizaria, de acordo com o tarô, o acolhimento, o poder de criar vínculos e a própria interagência. Por também ser um arcano relacionado às escolhas pessoais, foi considerado que o seis simbolizaria autonomia (CALLIS et al. 2015, slide 26-27). Além dos seis círculos centrais, também há um sétimo círculo que engloba toda a imagem. O número sete possui diversas significações, seja na numerologia, seja nos dicionários de símbolo. Mas 268

CAPÍTULO III

nos slides foi apresentada somente uma interpretação do sete pautada no tarô. O sete foi interpretado de acordo com o VII Arcano Maior: O Carro. Representada por uma figura que cavalga em uma carruagem puxada por dois cavalos que tentam seguir direções opostas, essa carta se relaciona a ter as rédeas da própria vida, de modo a direcioná-la apesar das forças antagônicas que por vezes tentam desviar o trajeto. Isso foi interpretado como um motivo de autonomia e empoderamento (CALLIS et al. 2015, slide 28). Por fim, uma longa explicação foi dada a respeito das seis cores que compõem a imagem: o vermelho, o amarelo, o verde, o azul turquesa, o azul índigo e o lilás (CALLIS et al. 2015, slide 30-36). No penúltimo slide, cada cor foi relacionada a uma ou mais palavras-chave: o vermelho a ”físico”, “instinto” e “consciência”; o amarelo a “luz”, “mental” e “consciente”; o verde a “emocional” e “equilíbrio”; os dois azuis a “mental” e “inconsciente”; e o lilás foi relacionado à palavra “espiritual” (CALLIS et al. 2015, slide 37). A presença de todas essas cores e suas misturas nas intersecções seria uma representação da comple269

A NATUROLOGIA NO BRASIL

xidade humana e da visão multidimensional que a naturologia possui. Tanto o último slide (CALLIS et al. 2015, slide 38) quanto o resumo apresentado no site da ABRANA (2015) contêm um apanhado que sumariza esse percurso interpretativo, destacando cinco itens desse material: (1) o círculo, que representaria a integralidade; (2) as intersecções dos círculos, que representariam a interagência; (3) o número seis, que representaria o equilíbrio, o olhar integral, o vínculo, o autoconhecimento e também a interagência; (4) o número sete, que representaria a autonomia e o empoderamento; e (5) a união das cores, que representariam a visão multidimensional e a complexidade humana. É interessante ressaltar que cada um desses elementos poderia ser interpretado de inúmeras outras formas; a “inflação simbólica” abre margem para isso. Contudo, o grupo que trabalhou na construção desse símbolo tentou proporcionar uma interpretação que pudesse se relacionar com as categorias êmicas mais caras à naturologia brasileira, visando uma maior identificação dos naturólogos com essa imagem. 270

CAPÍTULO IV O PERFIL DOS NATURÓLOGOS BRASILEIROS Nos dois capítulos anteriores, um panorama geral da naturologia foi apresentado. Nos próximos dois capítulos, os dados dos questionários de minha pesquisa de campo do mestrado serão demonstrados. Esses dados foram organizados de acordo com o perfil dos naturólogos respondentes, sua denominação religiosa (autodeclarada no questionário) e a adesão aos valores da Nova Era. O valor-p será a base interpretativa, calculado pelo software estatístico que utilizei, através do teste qui-quadrado de Pearson. Grosso modo, o valor-p é uma função usada para testar hipóteses estatísticas, com base em um grau de significância pré-estabelecido. Se o valor-p for igual ou menor a esse nível, ele indica que os dados são inconsistentes com a hipótese nula, refutando-a. A hipótese nula refere-se ao posicionamento padrão de que não há relação entre dois fenômenos medidos. Nesse sentido, se compararmos dados obtidos entre respondentes da UAM e da UNISUL 271

A NATUROLOGIA NO BRASIL

para uma mesma questão e o valor-p obtido for superior ao índice de significância, a hipótese nula não é rejeitada. Dessa forma, não há relação entre os dois fenômenos medidos, ou seja, a instituição de formação pode não ser um fator de influência direta a esses dados. O grau de confiança de 95%, comum às pesquisas da área da saúde1, foi adotado como parâmetro. Contudo, como a ciência das religiões não é um campo da saúde, mas das humanidades, considerei o grau de confiança de 90% como limítrofe, pois pesquisas quantitativas nas ciências humanas tendem a adotar o grau de confiança de 90% como valor padrão. Esse resultado é refletido como um valor-p inferior a 0,05 no caso do grau de confiança de 95%, e inferior a 0,1 no caso do grau de confiança de 90%. Ao considerar como limítrofe o valor-p entre 0,05 e 0,1, é concebido que os resultados não podem confirmar a hipótese nula nem refutá-la. Esses detalhes metodológicos foram aplicados tanto às tabelas apresentadas nesse capítulo 1 No caso de pesquisas sobre medicamentos, o nível de confiança exigido é de 99,99%.

272

CAPÍTULO IV

quanto no próximo. Nesse momento, o perfil dos respondentes será o foco. A partir do próximo capítulo, atentaremos aos testes do tipo Likert, onde as escalas de adesão aos ideais da Nova Era propriamente ditas serão analisadas.

O PERFIL DOS RESPONDENTES Objetivando traçar os critérios de inclusão/exclusão, a primeira página do questionário continha questões sobre o perfil do respondente. Como critério de inclusão, os participantes deveriam ser bacharéis de naturologia formados pela UNISUL ou pela UAM. Como critério de exclusão, descartei os questionários que não foram preenchidos integralmente e os preenchidos por quem não concluiu o bacharelado pela UNISUL ou pela UAM. Além disso, de acordo com a distribuição por quotas adotada, o número final de questionários deveria conter 37% de respostas da UAM e 63% da UNISUL. Ao todo foram aplicados 411 questionários. Desses, 292 se encaixaram nos critérios de inclusão/exclusão. Dos 119 desqualificados, 109 con273

A NATUROLOGIA NO BRASIL

templavam ao menos um critério de exclusão e 10 foram descartados por ultrapassar a quota desejada. Dentre os questionários recebidos, ninguém declarou ter formação em naturologia por outra instituição que não fosse a UNISUL ou a UAM. Ratificados os questionários válidos, foi verificada a frequência do sexo dos respondentes. Apesar do percentual de mulheres formadas pela UAM ter sido maior que os da UNISUL, o valor-p da referência cruzada é limítrofe, o que indica que a diferença talvez seja irrelevante. Em outras palavras, não é possível concluir nem negar estatisticamente que houve uma participação maior de mulheres entre os respondentes da UAM em comparação aos respondentes da UNISUL, pois a divergência do valor pode ter se dado por fatores não considerados pela pesquisa. Tabela 4 – Distribuição do sexo dos naturólogos respondentes nos questionários válidos. UAM

UNISUL

Total

Mulheres

98 (90,7%)

153 (83,2%)

251 (86,0%)

Homens

10 (9,3%)

31 (16,8%)

14 (14,0%)

Valor-p 0,082

Fonte: elaboração do autor (2015). 274

CAPÍTULO IV

Os números foram próximos do perfil sociodemográfico traçado por Passos (2015, p. 8). Em sua pesquisa, 82,5% dos respondentes eram mulheres, e 17,5% eram homens. Dentre os meus questionários válidos, houve também ao menos um respondente para cada ano possível de formação desde a abertura dos dois cursos. Como a abertura do curso da UAM é posterior ao da UNISUL, não houve respondentes formados antes de 2005 pela universidade paulistana. Figura 11 – Distribuição dos respondentes de acordo com o ano e instituição de formação.

30 25 20 15

UNISUL

10

UAM

5 0 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 Fonte: elaboração do autor (2015). 275

A NATUROLOGIA NO BRASIL Tabela 5 – Distribuição da amostra de acordo com o ano de formação dos respondentes. ANO DE FORMAÇÃO

UAM

UNISUL

TOTAL

2002

-

1

1

2003

-

2

2

2004

-

8

8

2005

3

6

9

2006

10

15

25

2007

12

24

36

2008

11

27

38

2009

7

21

28

2010

20

29

49

2011

3

14

17

2012

9

17

26

2013

16

13

29

2014

11

12

24

Média

10,2

13,5

20,9

Desvio padrão

5,27

9,46

15,2

Fonte: elaboração do autor (2015).

É importante atentar que a frequência de respondentes em cada ano não reflete o número exato de formados pelos cursos de naturologia no período referido. Sendo assim, ao invés de tratar 276

CAPÍTULO IV

cada ano individualmente, organizei-os em três grupos: o primeiro correspondendo aos formados entre 2002 e 2006, o segundo de 2007 a 2010, e o último aos formados de 2011 a 2014. O primeiro grupo ficou maior que os outros dois visto que seu número de respondentes foi menor. Tabela 6 – Distribuição dos questionários válidos de acordo com o ano e instituição de formação dos respondentes. UAM

UNISUL

TOTAL

2002 a 2006

13 (12,1%)

32 (17,4%)

45 (15,4%)

2007 a 2010

52 (48,1%)

99 (53,8%)

151 (51,7%)

2011 a 2014

43 (39,8%)

53 (28,8%)

96 (32,9%)

Valor-p

0,118

Fonte: elaboração do autor (2015).

O valor-p encontrado pelo teste qui-quadrado não indicou relevância estatística entre os contingentes da UAM e da UNISUL. Apesar das primeiras turmas do curso da UAM serem posteriores às do curso da UNISUL, o número levemente superior do percentual de respondentes formados 277

A NATUROLOGIA NO BRASIL

entre 2002 e 2006 da UNISUL não é estatisticamente relevante quando comparado aos valores obtidos dos respondentes da UAM formados no mesmo período. Sobre a atuação profissional dos participantes, o valor-p da referência cruzada também indica que as diferenças de valores entre as respostas da UAM e da UNISUL não possuem significância estatística. Sendo assim, também não podemos afirmar que o número de naturólogos respondentes que estão atuando com a profissão seja relativamente discrepante entre os formados pelas duas instituições. Tabela 7 – Distribuição segundo a atuação profissional dos respondentes e instituição de formação. UAM

UNISUL

TOTAL

Atuando com naturologia

84 (77,8%)

136 (73,9%)

220 (75,3%)

Não atuando com naturologia

24 (22,2%)

48 (26,1%)

72 (24,7%)

Valor-p

0,485

Fonte: elaboração do autor (2015).

278

CAPÍTULO IV

Os números que encontrei, demonstrados na tabela anterior, foram superiores aos dados de Passos (2015, p. 12), cujo levantamento indicava que 60,6% dos seus respondentes estavam atuando com naturologia (65,0% dos formados pela UAM, e 55,0% dos formados pela UNISUL, valor-p 0,001). A referência cruzada entre as variáveis atuação profissional e o sexo dos respondentes também não indicou uma relevância estatística nos meus questionários. Portanto, não posso declarar que meus respondentes homens estavam atuando mais do que as mulheres. Tabela 8 – Distribuição segundo a atuação profissional e o sexo dos respondentes.

J

K

TOTAL

Atuando com naturologia

188 (74,9%)

32 (78%)

220 (75,3%)

Não atuando com naturologia

63 (25,1%)

9 (22%)

72 (24,7%)

Valor-p

0,703

Fonte: elaboração do autor (2015).

279

A NATUROLOGIA NO BRASIL

O cruzamento da variável atuação profissional com o ano de formação também não retornou valores-p significantes. Apesar dos respondentes que se formaram mais recentemente possuir um percentual maior de naturólogos atuando do que os formados há mais tempo, estatisticamente essa diferença ainda se demonstra não significativa. Tabela 9 – Distribuição segundo a atuação profissional e o ano de formação dos respondentes. Ano de formação 2002 a 2006

2007 a 2010

2011 a 2014

Atuando com naturologia

31 (68,9%)

111 (73,5%)

78 (81,3%)

Não atuando com naturologia

14 (31,1%)

40 (26,5%)

18 (18,8%)

Valor-p

0,208

Fonte: elaboração do autor (2015).

O último item do perfil que levantei tratava da formação complementar dos respondentes. Nenhum valor-p indicou significância que permita atestar diferenças entre os formados da UNISUL e da UAM. Aliás, dois itens apresentaram “1,000” 280

CAPÍTULO IV

como valor-p, indicando serem estatisticamente idênticos. O item “extensão universitária”, no entanto, retornou um valor-p limítrofe. Assim não é possível afirmar que houve uma diferença entre a UAM e a UNISUL. Talvez isso aconteceu porque a oferta de cursos de extensão para os estudantes de naturologia na UNISUL era maior do que na UAM até a época da aplicação dos questionários. Tabela 10 – Distribuição segundo a formação complementar dos respondentes. UAM

UNISUL

TOTAL

Valor-p

Outra graduação

17 (15,7%)

24 (13,0%)

41 (14,0%)

0,601

Curso de aprimoramento

57 (52,8%)

98 (53,3%)

155 (53,1%)

1,000

Extensão universitária

15 (13,9%)

43 (23,4%)

58 (19,9%)

0,068

Especialização

48 (44,4%)

77 (41,8%)

125 (42,8%)

0,714

Mestrado

5 (4,6%)

12 (5,8%)

17 (5,8%)

0,610

Doutorado

1 (0,9%)

1 (0,5%)

2 (0,7%)

1,000

lato sensu

Fonte: elaboração do autor (2015).

281

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Os números que encontrei foram bem diferentes dos valores levantados por Passos (2015, p. 15). Os naturólogos que responderam a sua pesquisa possuíam como formação complementar: 28,7% outra graduação, 61,7% cursos de aprimoramento, 71,9% especialização lato sensu, 10,6% mestrado e 2,3% doutorado. Tabela 11 – Distribuição segundo a formação complementar dos respondentes, dividindo-os entre naturólogos atuantes e não atuantes. Atuando

Não atuando

TOTAL

Valor-p

Outra graduação

27 (12,3%)

14 (19,4%)

41 (14,0%)

0,170

Curso de aprimoramento

125 (56,8%)

30 (41,7%)

155 (53,1%)

0,030

Extensão universitária

50 (22,7%)

8 (11,1%)

58 (19,9%)

0,040

Especialização

102 (46,4%)

23 (31,9%)

125 (42,8%)

0,039

13 (5,9%)

4 (5,6%)

17 (5,8%)

1,000

lato sensu Mestrado

Fonte: elaboração do autor (2015). 282

CAPÍTULO IV

Quando repeti a mesma pergunta levando em consideração a atuação profissional dos respondentes ao invés de sua instituição de formação, foi notório que a maioria dos naturólogos que continuam trabalhando com a profissão é formada pelos que mais buscaram a educação continuada. Comparando a formação em cursos de aprimoramento, 56,8% d os respondentes que se mantêm ativos profissionalmente na naturologia concluíram cursos de aperfeiçoamento, contra apenas 41,7% daqueles que declararam não estar atuando. Os únicos itens que obtiveram valores-p sem relevância (sem negrito na tabela ao lado) foram as categorias “outra graduação” e “mestrado”. Em suma, ao analisar todas essas tabelas, percebe-se que a distribuição do sexo, do ano de formação e de atuação profissional com a naturologia se mantém a mesma independentemente dos cruzamentos entre as variáveis. Não há discrepâncias estatísticas suficientes para considerar que haja peculiaridades no perfil dos respondentes quando separados de acordo com a instituição, com o sexo e/ou com o ano de sua formação.

283

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Sobre os dados referentes à instituição de formação, os resultados ajudam a esclarecer que o perfil dos naturólogos da UNISUL e da UAM não são divergentes. O percentual de homens e mulheres em ambas as instituições é equivalente, com um número de mulheres bastante superior ao de homens, representando cerca de 85% dos participantes. Esse dado aproxima-se bastante do perfil dos novaeristas quantificado por Martins (1999), quem demonstrou que cerca de 80% dos participantes de grupos de terapias holísticas de Recife também era formado por mulheres. Do mesmo modo, sobre o perfil dos naturólogos não se diferenciar entre os egressos da UNISUL ou da UAM, foi notado um número maior de formados nos anos de 2007 e 2010 em ambas as instituições, com percentual equivalente entre as duas universidades. Igualmente, em ambas as universidades houve uma queda, a partir de 2011, no número de formados, indicando uma diminuição na busca do curso como um todo na sociedade brasileira. A busca pela educação continuada também é estatisticamente equivalente entre os formados da UAM e da UNISUL, não sendo possível deduzir 284

CAPÍTULO IV

que os egressos de uma instituição busquem mais ou menos cursos complementares em nenhum dos seis níveis analisados. Resumidamente, 14% possuem outra graduação, cerca de 50% buscaram cursos de aprimoramento, cerca de 20% fizeram curso de extensão universitária, cerca de 40% possuem especialização lato sensu, aproximadamente 6% são mestres e menos de 1% dos naturólogos de ambas as universidades atingiram o grau de doutoramento segundo meus dados. No entanto, em três desses graus foi possível atestar estatisticamente que os formados que atuam profissionalmente com a naturologia possuem mais cursos de formação complementar do que os que decidiram não atuar mais. O percentual de naturólogos que recorreram a cursos de extensão universitária é duas vezes maior entre os formados que estão atuando. Os percentuais também são bastante superiores no grupo dos naturólogos atuantes quando identificamos quantos respondentes possuem especialização lato sensu e cursos de aprimoramento. Os únicos níveis que não demonstraram discrepância estatística foram o dos naturólogos que possuem outra graduação, que se manteve por volta de 14% in285

A NATUROLOGIA NO BRASIL

dependente dos respondentes estarem ou não atuando como naturólogos, e o do mestrado, que também se manteve por volta de 6% em ambos os cenários. Sobre a atuação profissional, também é equivalente o número de formados em ambas as instituições, demonstrando que os egressos de uma universidade não se sobressaem sobre os da outra no que diz respeito à atuação profissional. Em ambos os casos, o número de naturólogos atuantes foi próximo a 75%; e esse valor também se manteve equivalente entre mulheres e homens, demonstrando que ambos os sexos apresentam o mesmo percentual de atividade profissional com a naturologia. Por fim, ao observar o índice de atuação profissional e o ano de formação, foi percebido que os formados há mais tempo apresentam um percentual inferior de pessoas atuando com a naturologia do que os formados mais recentemente. Entretanto, o valor-p do teste qui-quadrado indica que essa diferença ainda não é estatisticamente significativa.

286

CAPÍTULO IV

A RELIGIÃO DOS NATURÓLOGOS Uma das questões que traçava o perfil dos respondentes abordava a denominação religiosa a qual o participante se considerava adepto. No questionário, essa pergunta foi apresentada como uma questão aberta na última página, seguindo o modelo do censo do IBGE. Em paralelo, um campo de comentários opcional poderia ser utilizado para que o naturólogo complementasse a resposta caso julgasse necessário. O posicionamento da pergunta após a escala do tipo Likert, ao final do questionário, deu-se para que essa questão não induzisse o participante a adequar suas respostas sobre os itens da escala de acordo com o que declarou ser sua religião. Os 292 questionários válidos contiveram 96 respostas diferentes. Dessas, somente 10 denominações foram declaradas por mais de cinco respondentes. Das 86 restantes, 65 foram enunciadas por apenas uma pessoa; cerca de dois terços do total de respostas únicas recebidas. Em via da impossibilidade de traçar análises estatísticas com

287

A NATUROLOGIA NO BRASIL

tantos grupos possuindo frequência tão baixa, organizei as religiões em oito categorias maiores. A primeira categoria, “cristãos”, englobou as respostas “base católica”, “católico”, “católico apostólico romano”, “católico batizado”, “católico não praticante”, “católico praticante”, “católico praticante não assíduo”, “católico por família”, “católico ortodoxo”, “creio em Deus, no Filho e no Espírito Santo”, “cristão”, “cristão batista”, “cristão evangélico”, “cristão não especificado”, “Deus é amor”, “evangélico”, “evangélico luterano” e “protestante luterano”. O segundo grupo, “espiritualistas”, englobou as respostas “católico espiritualista”, “católico espiritualizado”, “espiritualismo”, “espiritualista”, “espiritualista católico”, “espiritualista eclético”, “espiritualista kardecista2 messiânico”, “espiritualista sem religião”, “espiritualista védico”, “espiritualizado”, “universalista” e “vale do amanhecer”. As categorias “católico espiritualista” e “católico espiritualizado” foram agrupadas nesse grupo porque os resultados da escala Likert desses res2 Apesar da palavra “kardecista”, mantive essa resposta no grupo dos espiritualistas pelas palavras “espiritualista” e “messiânico”.

288

CAPÍTULO IV

pondentes foram mais próximos dos valores do grupo dos espiritualistas do que dos cristãos. O terceiro grupo, “espíritas”, conteve as respostas “espírita”, “espírita kardecista”, “espírita, natureza e ser superior”, “kardecista” e “simpatizante de espiritismo”. Os espíritas foram tratados separadamente dos espiritualistas porque o espiritualismo, de acordo com Buescher (2005), é um movimento mais amplo que o espiritismo, de origem estadunidense ao invés de europeia, que possui maiores influências do ocultismo e permite um grau de reinterpretação pessoal maior que o espiritismo. A quarta categoria foi denominada “matrizes africanas”. Embora indícios de múltipla pertença religiosa foram relegados usualmente à categoria específica múltipla denominação religiosa, no caso das religiões de bases africanas qualquer resposta que indicasse a presença dessa matriz foi considerada como pertencente ao grupo. Dessa forma, englobaram-se as respostas “católico batizado simpatizante da umbanda e candomblé”, “católico espírita candomblecista”, “espírita umbandista”, “espírita umbandista daimista”, “espírita umbandista rosacrucianista”, “espírita umban289

A NATUROLOGIA NO BRASIL

dista de ancestralidade de bruxas medievais”, “espiritualista umbandista” e “umbandista”. A única resposta que continha indícios de matriz africana que não foi inclusa nessa quarta categoria foi o item “simpatizante de kardecismo, paganismo, budismo e umbanda”, que continha quatro bases religiosas distintas em uma mesma resposta, sendo alocada, dessa forma, no grupo da múltipla deno minação religiosa. Optou-se pela maior inclusão na categoria acima porque os africanos, ao serem traficados ao Brasil, tiveram suas identidades duramente negadas. A imposição cultural dos brancos e a situação de “não ser” dos escravos lhes exigiu a criação de uma nova realidade frente à coação de sua cultura. No encontro do pensamento católico com a mentalidade dos escravos se criou uma zona de contato, da qual emergiram traduções e reinvenções culturais da religiosidade africana original. A subalternidade à qual foi relegada fez a cosmologia africana emergir de forma mascarada, mantendo a desigualdade da relação sacrifical escravo-escravizador até hoje na cultura negra brasileira. Frente a essa dinâmica sócio-histórica, assumir a tolhida identidade africana nem sempre é fácil 290

CAPÍTULO IV

ao sujeito. Por isso o menor indício de matriz africana foi categorizado como parte desse grupo. A quinta categoria é a das “religiões popularizadas pela Nova Era”. A Nova Era não é uma religião específica por si, mas seus valores orbitam em diferentes cultos, com grupos religiosos surgindo e evanescendo a todo o momento. Magnani (2000) e D’Andrea (2000) afirmam que determinadas religiões só se popularizaram no Brasil após a chegada da Nova Era. Religiões esotéricas, asiáticas ou xamânicas3 foram aglutinadas nesse grupo. As seguintes respostas foram consideradas: “budista”, “conscienciologia”, “daimista”, “dakshinacharatántrika-niríshwarasámkhya”, “hare krishna”, “simpatizante de budismo tibetano”, “taoista”, “teosofia”, “vaishnava”, “vaishnava hare krishna”, “wicca”, “xamanista” e “yoga”. Atenta-se que no caso das religiões asiáticas, grupos que imigraram ao Brasil no início do século XX trouxeram essas confissões religiosas ao país. No entanto, meu questionário não possuía perguntas sobre a etnia dos participantes, o 3 Considero aqui a declaração de Hanegraaff (1998) de que a “consciência xamânica” é uma das tendências principais observadas no movimento da Nova Era.

291

A NATUROLOGIA NO BRASIL

que impossibilita cruzamentos para saber se as respostas “budismo” e “taoismo” dizem respeito a sujeitos sem vínculos familiares com a Ásia, que se converteram por terem flertado com uma oferta novaerista dessas religiões no Brasil, ou se diz respeito a pessoas com descendência asiática, que se denominam assim por influência familiar, sem qualquer vínculo com a Nova Era. Como não convinha abrir uma categoria exclusiva para apenas dois questionários, mantive as respostas “budismo” e “taoismo” nesse grupo. A sexta categoria foi chamada “múltipla denominação religiosa”, que englobou os questionários que declararam várias denominações religiosas específicas em uma única resposta, tanto quanto respondentes que escreveram coisas como “várias religiões” ou “ecumênico”. Fizeram parte desse grupo as respostas “antroposofista yoga budista tibetano”, “cabalista rosacrucianista tântrico”, “católico espírita”, “ecumênico”, “multirreligioso”, “simpatizante de budismo, espiritismo e umbanda”, “simpatizante de espiritismo, budismo e xintoísmo”, “simpatizante de kardecismo, paganismo, budismo e umbanda”, “simpatizante de religiões orientais e espiritismo”, “sincretismo reli292

CAPÍTULO IV

gioso”, “todas as religiões”, “um pouco de cada” e “várias religiões”. A sétima categoria é a dos “religiosos sem religião”. Esse grupo se aproxima da definição de “espiritualidade” de Hanegraaff (1999) e do conceito de “espiritualidade de vida” de Heelas (2008). As denominações dessa categoria foram: “amor”, “contato com a natureza”, “creio em algo maior”, “creio em Deus”, “creio em uma força maior”, “creio na força da vida”, “creio na vida”, “creio no Deus interior”, “creio no Divino”, “crença própria da origem humana extraterrestre”, “curioso”, “desenvolvo minha espiritualidade através da naturologia”, “Deus”, “em busca”, “energia”, “filosofia espiritual sem religião”, “observador da natureza”, “qualquer uma que inclua e não exclua”, “religioso sem denominação específica” e “sigo meu Self ”. Por fim, a última categoria é a dos “sem religião”, que contém também os participantes agnósticos e os que não souberam responder à questão. As respostas que fizeram parte desse grupo foram “agnóstico”, “não sabe”, “sem denominação religiosa”, “sem religião”, “sem religião definida”, “sem religião específica” e “sem religião 293

A NATUROLOGIA NO BRASIL

oficial”. Não houve, dentre os naturólogos participantes, alguém que tenha respondido objetivamente “ateu” ou “ateísmo”. Tabela 12 – Distribuição da amostra de acordo com os grupos de denominação religiosa. UAM

UNISUL

TOTAL

Valor-p

Cristãos

18 (16,7%)

47 (25,5%)

65 (22,3%)

0,083

Espíritas

12 (11,1%)

25 (13,6%)

37 (12,7%)

0,589

Espiritualistas

25 (23,1%)

30 (16,3%)

55 (18,8%)

0,164

Matrizes africanas

4 (3,7%)

7 (3,8%)

11 (3,8%)

1,000

Múltipla denominação religiosa

7 (6,5%)

14 (7,6%)

21 (7,2%)

0,817

Religiões popularizadas pela Nova Era

4 (3,7%)

16 (8,7%)

20 (6,8%)

0,149

Religiosos sem religião

23 (21,3%)

21 (11,4%)

44 (15,1%)

0,028

Sem religião

15 (13,9%)

24 (13,0%)

39 (13,4%)

0,860

Fonte: elaboração do autor (2015). 294

CAPÍTULO IV

O teste qui-quadrado demonstrou que com exceção do grupo dos religiosos sem religião e do grupo dos cristãos, o valor-p encontrado não apontou relevância estatística que pudesse diferenciar a autodenominação religiosa dos respondentes entre as duas instituições. Em outras palavras, a distribuição entre os grupos de religiões dos naturólogos da UNISUL e da UAM são estatisticamente equivalentes. No caso específico das matrizes africanas, no qual o valor-p obtido foi 1,000, é possível afirmar que a distribuição é estatisticamente idêntica entre as duas universidades. No caso do grupo dos cristãos, o teste resultou um valor-p limítrofe. Sendo assim, a aparente presença maior de cristãos entre os formados pela UNISUL não pode ser refutada nem confirmada, pois a divergência do valor pode ter ocorrido por fatores não considerados pela pesquisa. Porém, o valor-p obtido no grupo dos religiosos sem religião (em negrito na tabela) permite declarar que o número de sujeitos que não possuem uma religião, mas são religiosos/espiritualizados, é maior entre os formados pela UAM do que pela UNISUL. 295

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Após determinada a denominação religiosa autodeclarada, os participantes foram perguntados se eles se consideravam adeptos dos valores do movimento da Nova Era. Tabela 13 – Distribuição da amostra dos que se consideram novaeristas, de acordo com sua instituição de formação. UAM

UNISUL

TOTAL

Valor-p

Considera-se novaerista

48 (44,4%)

103 (56,0%)

151 (51,7%)

0,056

Não se considera novaerista

15 (13,9%)

29 (15,8%)

44 (15,1%)

0,665

Não sabe o que é Nova Era

45 (41,7%)

52 (28,2%)

97 (33,2%)

0,018

Fonte: elaboração do autor (2015).

Apesar do aparente número de novaeristas autodeclarados ser maior na UNISUL, o teste qui-quadrado de Pearson apontou um valor-p limítrofe, o que não permite refutar nem confirmar se a discrepância entre as porcentagens dos respondentes formados pelas duas universidades é estatisticamente relevante. Todavia, o valor-p retor296

CAPÍTULO IV

nado entre aqueles que disseram não saber o que é a Nova Era indica que o desconhecimento sobre o movimento é maior entre os formados pelo curso paulistano (destacado em negrito na tabela). Sobre o índice de naturólogos que não se consideram novaeristas, de acordo com o valor-p, esse percentual é equivalente nos respondentes de ambas as instituições. Ao dividir os respondentes nas três faixas de tempo referentes ao ano de formação dos participantes4, o valor-p obtido pelo teste qui-quadrado de Pearson se manteve limítrofe, tanto entre o grupo daqueles que se reconhecia como novaeristas quanto entre os que negavam sua pertença ao movimento. Entretanto, o valor-p do teste qui-quadrado demonstrou que esse desconhecimento foi maior entre os formados entre 2011 e 2014, enquanto que entre o período de 2007 e 2010 o desconhecimento foi menor (destacado em negrito na tabela na página a seguir). Curiosamente, foi na segunda fase da naturologia que o pensamento biologista dominou as lideranças. Produções, trabalhos, palestras e até mesmo con4

Cf. Tabela 6 (p. 277). 297

A NATUROLOGIA NO BRASIL

teúdos de aulas relacionado à Nova Era eram fortemente desencorajados. Talvez por conta disso, pela preocupação ativa das coordenações em não deixar os cursos adquirirem uma “cara novaerista”, temas da Nova Era estiveram mais presentes nas formações dos formados entre 2007 e 2010, para que fossem reconhecidos e, assim, combatidos/refutados. Uma pesquisa para investigar essa hipótese se faria necessária para futuras considerações. Tabela 14 – Distribuição da amostra pelos que se consideram novaeristas, de acordo com o ano de formação. Ano de formação 2002 a 2006

2007 a 2010

2011 a 2014

Considera-se novaerista

21 (46,7%)

83 (55,0%)

47 (49,0%)

0,294

Não se considera novaerista

7 (15,6%)

28 (18,5%)

9 (9,4%)

0,144

Não sabe o que é Nova Era

17 (37,8%)

40 (26,5%)

40 (41,6%)

0,037

Valor-p

Fonte: elaboração do autor (2015).

298

CAPÍTULO IV

Do mesmo modo, ao cruzar os dados com o sexo dos respondentes, apenas o grupo dos que não sabiam o que é a Nova Era apresentou valor-p com significância (destacado na tabela abaixo). Assim, as discrepâncias percentuais encontradas entre os grupos não são estatisticamente relevantes. Somente no caso dos que não sabiam o que é o movimento da Nova Era, é possível afirmar que essa dúvida foi matematicamente mais presente entre as mulheres do que entre os homens.

Tabela 15 – Distribuição da amostra pelos que se consideram novaeristas, de acordo com o sexo.

J

K

Valor-p

Considera-se novaerista

126 (50,2%)

25 (60,9%)

0,200

Não se considera novaerista

35 (13,9%)

9 (22,0%)

0,183

Não sabe o que é Nova Era

90 (35,9%)

7 (17,1%)

0,017

Fonte: elaboração do autor (2015).

299

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Ao tratar do cruzamento sobre a atuação profissionais com a autoidentificação do respondente com o movimento da Nova Era, o valor-p obtido foi menor que 0,001, o que permite assegurar que a maioria dos que se consideram novaeristas está trabalhando com naturologia. Do mesmo modo, os que não estão atuando são os que apresentam maior desconhecimento do que é a Nova Era. Isso levanta a hipótese de que não ter claro o que é o movimento da Nova Era pode ser um fator a ser considerado em estudos futuros sobre a evasão profissional da naturologia. Tabela 16 – Distribuição dos que se consideram novaeristas, segundo a atuação profissional com a naturologia. Atuando

Não atuando

Considera-se novaerista

128 (58,2%)

23 (31,9%)

Não se considera novaerista

33 (15,0%)

11 (15,3%)

Não sabe o que é Nova Era

59 (26,8%)

38 (52,8%)

Valor-p

< 0,001

Fonte: elaboração do autor (2015). 300

CAPÍTULO IV

Também foi possível notar relevância estatística ao cruzar a declaração de pertença à Nova Era e a formação complementar. A busca por educação continuada não possui ligação que possa ser confirmada pelos dados obtidos. Ou seja, é incorreto afirmar que os naturólogos novaeristas são menos científicos ou se dedicam menos à vida acadêmica do que aqueles que não se consideram adeptos da Nova Era. Tabela 17 – Distribuição da amostra pelos que se consideram novaeristas, de acordo com a formação complementar. Diz ser Diz não ser novaerista novaerista

Não sabe o que é Valor-p Nova Era

Outra graduação

22 (14,6%)

9 (20,5%)

10 (10,3%)

0,271

Curso de aprimoramento

86 (57,0%)

20 (45,5%)

49 (50,5%)

0,330

Extensão universitária

33 (21,9%)

10 (22,7%)

15 (15,5%)

0,429

Especialização

69 (45,7%)

17 (38,6%)

39 (40,2%)

0,593

7 (4,6%)

3 (6,8%)

7 (7,2%)

0,697

lato sensu Mestrado

Fonte: elaboração do autor (2015). 301

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Como a variação de denominações religiosas foi muito grande, mesmo após agrupar essas denominações, na maioria dos casos o valor-p obtido não indicou relevância. Tabela 18 – Distribuição da amostra dos que se consideram novaeristas, segundo a denominação religiosa declarada. Diz ser novaerista

Diz não Não sabe ser o que é Valor-p novaerista Nova Era

Cristãos

23 (35,4%)

16 (24,6%)

26 (40,0%)

0,005

Espíritas

24 (64,9%)

3 (8,1%)

10 (27,0%)

0,193

Espiritualistas

36 (65,5%)

3 (5,5%)

16 (29,1%)

0,031

Matrizes africanas

6 (54,5%)

1 (9,1%)

4 (36,4%)

0,850

Múltipla denominação religiosa

14 (66,7%)

2 (9,5%)

5 (23,8%)

0,412

Religiões popularizadas pela Nova Era

10 (50,0%)

5 (25,0%)

5 (25,0%)

0,394

Religiosos sem religião

21 (47,7%)

7 (15,9%)

16 (36,4%)

0,855

Sem religião

17 (43,6%)

7 (17,9%)

15 (38,5%)

0,579

Fonte: elaboração do autor (2015). 302

CAPÍTULO IV

As respostas poderiam ter sido agrupadas em grupos ainda menores. Entretanto, diversas simplificações já haviam sido feitas em relação ao original do censo do IBGE (p. ex., evangélicos e católicos foram alocados em um único grande grupo, além de toda a discussão sobre as religiões asiáticas da p. 291). Dessa forma, não seria interessante, do ponto de vista do cientista das religiões, simplificações maiores do que essas que já tiveram que ser feitas. Os espiritualistas apresentaram um índice baixo de negação de pertencimento à Nova Era, enquanto mais de 60% dos cristãos não sabiam o que era ou não se consideravam novaeristas. Nos outros grupos, os valores-p obtidos não permitiram excluir a hipótese de terem sido obtidos ao acaso ou estarem influenciados por fatores não considerados por essa pesquisa. Os dois casos que o valor-p apresentou índice de relevância foram destacados em negrito na tabela ao lado. O último aspecto abordado do perfil religioso foi se os naturólogos levavam em conta os aspectos espirituais de seus interagentes durante seus atendimentos.

303

A NATUROLOGIA NO BRASIL Tabela 19 – Percentual dos respondentes que consideram os aspectos espirituais de seus interagentes, de acordo com a instituição de formação. UAM

UNISUL

TOTAL

Sim

84 (77,7%)

141 (76,6%)

225 (77,1%)

Não

5 (4,5%)

8 (4,3%)

13 (4,5%)

Não estão atuando

19 (17,8%)

35 (19,1%)

54 (18,4%)

Valor-p

0,972

Fonte: elaboração do autor (2015).

Mais de três quartos dos respondentes declarou considerar essa dimensão em sua prática profissional. O valor-p obtido não detectou relevância estatística que permita diferenciar os dados encontrados entre os respondentes da UAM e os respondentes da UNISUL. Além disso, 54 pessoas assinalaram nessa questão que não estão atuando profissionalmente, ao passo que na questão da Tabela 7 (cf. p. 278) a mesma opção foi assinalada por 72 participantes. Uma hipótese sobre essa divergência é que mesmo que não estejam atuando, os respondentes podem ter levado em consideração algum pe304

CAPÍTULO IV

ríodo passado em que estavam exercendo a profissão para responderem a essa pergunta. Ao cruzar esses dados com o ano de conclusão da graduação, o valor-p foi limítrofe. Esse valor foi similar ao encontrado na Tabela 9 (cf. p. 280). Assim como à primeira vista o percentual de naturólogos que estão atuando cresce desde as primeiras fases, aparentemente o número de naturólogos que consideram os aspectos espirituais também. No entanto, o valor-p limítrofe ainda não permite atestar isso com segurança estatística. Tabela 20 – Percentual dos respondentes que consideram os aspectos espirituais de seus interagentes, de acordo com seu ano de formação. Ano de formação 2002 a 2006

2007 a 2010

2011 a 2014

Sim

33 (73,3%)

116 (76,8%)

76 (79,2%)

Não

1 (2,2%)

4 (2,6%)

8 (8,3%)

Não estão atuando

11 (24,4%)

31 (20,5%)

12 (12,5%)

Valor-p

0,086

Fonte: elaboração do autor (2015). 305

A NATUROLOGIA NO BRASIL Tabela 21 – Percentual de respondentes que consideram os aspectos espirituais de seus interagentes, segundo o sexo.

J

K

Sim

191 (76,1%)

34 (82,9%)

Não

11 (4,4%)

2 (4,9%)

Não está atuando

49 (19,5%)

5 (12,2%)

Valor-p

0,545

Fonte: elaboração do autor (2015).

O valor-p encontrado também não possuiu significância ao combinar o sexo dos respondentes com o fato de levarem em consideração os aspectos espirituais de seus interagentes, conforme é observado na tabela anterior. Nesse sentido, se à primeira vista parece que os naturólogos homens levam mais em conta os aspectos espirituais que as mulheres, esse dado não é sustentado estatisticamente com o tamanho da amostra. Mas ao serem cruzados os dados dos respondentes se considerarem novaeristas ou não com a variável referente a levar em consideração os aspectos espirituais durante a relação de interagência, o valor-p encontrado foi inferior a 0,001. 306

CAPÍTULO IV

Logo, dentre os novaeristas estão os maiores índices de naturólogos formados que consideram os aspectos espirituais em suas consultas. Contudo, os dados desse cruzamento também apontaram, mais uma vez, que os naturólogos que não sabem o que é o movimento da Nova Era são os que apresentam o menor percentual de atuação profissional na área. O baixíssimo valor-p assegura grande certeza estatística sobre essa informação. Tabela 22 - Percentual de respondentes que consideram os aspectos espirituais de seus interagentes, de acordo com sua identificação como adeptos do movimento da Nova Era. Não está Valor-p atuando

Sim

Não

Considera-se novaerista

130 (57,8%)

31 (13,8%)

64 (28,4%)

Não se considera novaerista

4 (30,8%)

6 (46,1%)

3 (23,1%)

Não sabe o que é Nova Era

17 (31,5%)

7 (12,9%)

30 (55,6%)

< 0,001

Fonte: elaboração do autor (2015).

Em conclusão, pode-se perceber que há muito de Nova Era na própria autodeclaração dos 307

A NATUROLOGIA NO BRASIL

naturólogos. Os valores-p – quase todos superiores a 0,1 – indicam a consistência que aponta a um perfil íntegro do naturólogo brasileiro, independente da instituição, ano de formação, religião declarada ou sexo dos respondentes. Cerca de 50% dos naturólogos, independente de serem ou não formados na UNISUL ou na UAM, consideraram-se novaeristas, contra apenas 15% declarando objetivamente que não se veem dessa forma. Por conta disso, não é correto, pelo menos com base nesses dados, afirmar que o curso da UNISUL é mais novaerista do que o curso da UAM, como era comumente afirmado pelos acadêmicos da UAM na primeira metade da história do curso paulistano. No que diz respeito aos seus egressos, uma quantidade estatisticamente similar se considera igualmente novaerista em ambas as instituições. A segunda fase da naturologia no Brasil, com lideranças mais biologistas, não pareceu diminuir a identificação dos estudantes com o movimento da Nova Era, visto que, apesar da época em que concluíram a graduação, 50% dos respondentes continuaram se identificando como novaeristas mesmo assim. O que se nota é que após o 308

CAPÍTULO IV

período que usualmente se atribui o ápice da segunda fase, o desconhecimento sobre o que é a Nova Era aumentou, com cerca de 42% dos naturólogos formados mais recentemente assinalando não saber o que é o movimento. Citei a possibilidade de que o silenciamento orquestrado pelas coordenações das graduações durante a segunda fase seja o motivo do desconhecimento atual. Todavia, reconheço que o aumento desse desconhecimento também pode estar acontecendo porque, de acordo com Lewis (1992), Heelas (1994; 2008) e Hanegraaff (2005), há uma tendência mundial em abandonar o rótulo “Nova Era”, à medida que os bens religiosos novaeristas se encontram cada vez mais dissolvidos na sociedade. Essa hipótese, segundo demonstrado no primeiro capítulo, também é observada no Brasil. Sendo assim, é importante levantar uma segunda hipótese, além da hipótese do silenciamento: podemos estar diante de novaeristas que não sabem o que é a Nova Era. A análise da escala Likert, que será apresentada no próximo capítulo, permitirá maiores considerações sobre isso. Devemos nos questionar se os respondentes que declararam não saber o que é o movimen309

A NATUROLOGIA NO BRASIL

to da Nova Era de fato desconhecem o que é a Nova Era, ou se, por outro lado, talvez não saibam responder se eles se veem como noveristas. Embora no questionário a frase específica utilizada na alternativa seja “não sei o que é o movimento da Nova Era”, essa possibilidade deve ser considerada. Também foi notado que a quantidade de homens e mulheres que se veem como novaeristas ou que afirmam com certeza não serem novaeristas é relativamente a mesma. No entanto, dentre os participantes que declararam não saber o que é o movimento da Nova Era, foi observado que esse desconhecimento é duas vezes maior entre mulheres. Os porquês dessa disparidade não são claros pela presente pesquisa, necessitando de estudos futuros para maiores elucubrações. O que, de fato, foi muito significativo aos objetivos desse estudo é que a discrepância entre naturólogos atuantes e formados em naturologia que não estão mais exercendo a profissão foi bastante significativa. Dentre os naturólogos atuantes, quase 60% consideram-se novaeristas, contra cerca de 32% dos não atuantes. E dentre 310

CAPÍTULO IV

os formados que não estão mais exercendo a profissão, o percentual de respondentes que declararam desconhecer o que é o movimento da Nova Era foi duas vezes maior do que entre os naturólogos que estão atuando. Os dados do perfil religioso também apontaram que o percentual de naturólogos que leva em consideração os aspectos espirituais de seus interagentes é estatisticamente o mesmo entre os egressos da UAM e da UNISUL; cerca de 77%, ratificando, mais uma vez, que o perfil do naturólogo brasileiro não diverge tanto assim entre os formados dessas duas instituições. Os números também não demonstraram discrepância entre naturólogos e naturólogas, indicando que não há um sexo que considere mais esse aspecto do que o outro na área. Em contraste, os respondentes que objetivamente se declararam novaeristas são os que mais consideram os aspectos espirituais de seus interagentes. Comparando as respostas dos naturólogos que se autodeclararam como adeptos da Nova Era com as dos que de pronto negaram isso, dentre os novaeristas o percentual dos que consi311

A NATUROLOGIA NO BRASIL

deram os aspectos espirituais em consulta é mais que o quádruplo do que o do grupo dos que dizem não serem novaeristas. Por fim, atenta-se que o perfil religioso, de acordo com as denominações religiosas autodeclaradas dos naturólogos, destoa bastante da demografia das religiões apontada pelo censo do IBGE de 2010. Tabela 23 – Demografia religiosa da população brasileira com ensino superior em comparação com a denominação religiosa declarada pelos naturólogos formados no Brasil. Naturólogos formados no Brasil

População geral brasileira com ensino superior

Cristãos

22,3%

81,0%

Espíritas

12,7%

7,9%

Matriz africana

3,8%

0,5%

Sem religião

28,5%

7,0%

Outras religiões

32,8%

3,6%

Fonte: elaboração do autor (2015), com base em IBGE (2010).

312

CAPÍTULO IV

O IBGE (2010) aglutina as informações recebidas sobre religião através do censo, organizando-as em apenas seis grandes grupos 5 quando elabora suas tabelas sobre a religião dos brasileiros com ensino superior. Ao comparar os valores, precisei reorganizar meus respondentes de acordo com os critérios do IBGE. Nesse sentido, o grupo sem religião da tabela anterior compreende tanto o grupo dos religiosos sem religião quanto dos sem religião propriamente ditos. Também, os seis grupos originais do IBGE foram reduzidos para cinco nessa comparação. Isso se deu porque eu não distingui em minha pesquisa católicos de evangélicos, por conta do baixo número de respondentes que se declararam objetivamente como evangélicos. Mas mesmo com a simplificação dos dados, é possível atestar que a identidade religiosa dos naturólogos é, sim, divergente do resto da população brasileira, constituindo assim um perfil religioso diferenciado.

5 Sc. (1) católicos, (2) evangélicos, (3) espíritas, (4) religiões de matriz africana, (5) sem religião e (6) outras.

313

CAPÍTULO V A ADESÃO DOS NATURÓLOGOS NO BRASIL AOS VALORES DA NOVA ERA Desde 2010 alguns autores têm comentado sobre indícios de uma confluência entre a naturologia brasileira e a Nova Era. Langdon e Rose, em um artigo sobre a incorporação da aya’waska pelos guaranis da costa sul brasileira, publicado nos Estados Unidos, atentaram ao trânsito dos indígenas no que elas chamaram de “centros urbanos novaeristas”. Embora não digam objetivamente que a naturologia seja sinônimo de Nova Era, é bastante emblemático que na mesma página em que esse dado é apresentado, Langdon e Rose (2012, p. 40) reforcem a “relação próxima estabelecida com os estudantes de um curso de naturologia aplicada ofertado por uma universidade local [UNISUL]”. Esse trabalho é um recorte da tese de Rose, que foi defendida em 2010 pelo programa de pós-graduação em antropologia cultural da UFSC, que contém considerações similares. 315

A NATUROLOGIA NO BRASIL

No ano seguinte à defesa de Rose, a UFPB organizou um livro sobre a teoria quântica. Um dos capítulos discutiu sobre a apropriação do símbolo da mecânica quântica por diversos grupos, que passaram a lhe atribuir uma interpretação espiritualizada; o que foi chamado de “misticismo quântico” no livro. Um dos grupos que mais fez isso foi o movimento da Nova Era. É, então, muito representativo que a naturologia seja apresentada no texto como uma das principais formas desse “misticismo quântico aplicado”, ainda que não esteja explicitamente descrito que a naturologia é Nova Era também (PESSOA JR., 2011, p. 293). Então, no segundo semestre do ano seguinte, a UNISUL lançou o livro Naturologia: diálo gos e perspectivas, que conforme foi apresentado no segundo capítulo, introduziu no prefácio um esboço de uma divisão da história da naturologia no país. Essa passagem assumiu explicitamente que a primeira fase da naturologia brasileira foi orientada pelos pensamentos e valores da Nova Era (RODRIGUES et al., 2012, p. 13). Em 2013 a primeira etnografia da naturologia brasileira foi concluída, defendida como uma dissertação do programa de pós-graduação em 316

CAPÍTULO V

antropologia cultural da UFSC. Nesse trabalho o campo foi apresentado como possuidor de continuidades e descontinuidades com o movimento da Nova Era, herdando dele a pluralidade de saberes e a ênfase no indivíduo, mas negando um caráter místico ou esotérico, buscando a institucionalização desde o seu surgimento (TEIXEIRA, 2013, p. 107). Embora eu concorde com o último ponto, de que a institucionalização vai contra o que usualmente ocorre nos meios novaeristas, tenho ressalvas a creditar que os novaeristas assumam o que fazem como algo místico ou esotérico; basta ver as discussões de Hanegraaff (1998; 1999a), que demonstram que muitos novaeristas acham que o que fazem é algo científico. Esse breve estado da arte se faz necessário para demonstrar que embora eu seja usualmente apontado como quem primeiro fez essas relações, na verdade desde antes do meu primeiro texto questionando se existiriam proximidades entre a naturologia e o movimento da Nova Era (cf. STERN, 2013) já havia pesquisadores no Brasil percebendo essa similitude. Tanto que a primeira vez que eu discuti algo sobre as possíveis raízes espirituais existentes na naturologia, foquei-me 317

A NATUROLOGIA NO BRASIL

muito mais nas tradições filosóficas/religiosas das medicinas tradicionais (hinduísmo, daoismo etc.), sequer mencionando o movimento da Nova Era (STERN, 2011). A grande virada, acredito, ocorreu no meu mestrado. Todos os autores supramencionados discutiam sobre o trânsito de valores novaeristas entre a naturologia, mas sempre com muito resguardo. Termos como “talvez”, “pode ser que”, “parece-me que”, “tudo indica a” eram comum. O motivo: nenhuma pesquisa empírica havia sido feita até então para verificar se, de fato, havia uma adesão aos valores da Nova Era entre os naturólogos no Brasil. E foi nesse ponto que o meu trabalho diferiu dos outros, que possuíam um caráter mais teorético e especulativo. Para verificar isso no campo da naturologia, recorri ao método de Rensis Likert. O tipo de escala criado por Likert consiste em um número de afirmações (chamadas de “itens Likert”), às quais o respondente deve avaliar seu grau de concordância ou discordância marcando números (chamados de “graus Likert”), cujo menor número corresponde ao extremo de discordância e o maior ao extremo de concordância com o que lhe foi 318

CAPÍTULO V

apresentado (LIKERT, 1932). Originalmente Likert recomendou o uso de cinco graus ao apresentar seu método. Entretanto, de acordo com Garland (1991), um número par de níveis Likert é mais recomendado, para que não haja o ponto intermediário neutro ao respondente, que prejudica a confiabilidade dos dados coletados por aumentar os vieses nas respostas, em especial nas afirmações que forem consideradas mais polêmicas. A escala que apliquei foi criada para categorizar o grau de adesão às principais tendências novaeristas elencadas por Hanegraaff (1998): (1) canalização, a crença de que todo ser humano pode se conectar com inteligências de planos superiores; (2) cura e crescimento pessoal, a crença de que a doença traz consigo simbolismos ocultos que permitem aos seres humanos desenvolver os potenciais pouco explorados ou negados de seus selves – a noção mais próxima de salvação religiosa dentro do universo novaerista –; (3) ciência da Nova Era, que trata das mitolo gias de ciência mais comuns aos contextos novaeristas, como a noção de que a física quântica ou a física relativista podem dar subsídios científicos à compreensão das religiões; e (4) neopaganis319

A NATUROLOGIA NO BRASIL

mo, que é uma categoria limítrofe à Nova Era, mas importante ao movimento. Cada uma dessas categorias foi organizada contendo seis afirmações (sete, no caso do grupo da cura e crescimento pessoal), que foram convertidas em itens Likert aos respondentes. Todavia, durante a aplicação esses itens foram apresentados embaralhados para cada respondente, justamente para que os grupos não ficassem facilmente identificados no questionário. Embora foram apresentados 8 níveis Likert na aplicação dos questionários, como a amostra foi relativamente pequena, optei por simplificar o número de níveis para 4 na análise, para melhores considerações estatísticas. Dessa forma, os respondentes que assinalaram as opções “(1) discordo totalmente” e “(2) discordo muito” foram agrupados no nível 1. Aqueles que assinalaram “(3) discordo em partes” ou “(4) neutro tendendo a discordar” foram agrupados no nível 2. Os que assinalaram as opções “(5) neutro tendendo a concordar” e “(6) concordo em partes” foram reagrupados no nível 3. E o restante, que assinalou “(7) concordo muito” ou “(8) concordo totalmente”, foi agrupado no nível 4. 320

CAPÍTULO V

Nesse sentido, as médias apresentadas nas tabelas desse capítulo dizem respeito a uma escala de 1 a 4, onde 1 representa o máximo de discordância da afirmação, e 4 representa o máximo de concordância. Evidentemente, a possibilidade de atingir a média final 4 é muito baixa, visto que necessitaria que todos os respondentes concordassem plenamente com todos os itens Likert. No entanto, perceber-se-á que os valores mantiveram-se superior a 3 em todas as afirmações, menos uma, referente ao neopaganismo; justamente a categoria considerada limítrofe à Nova Era. Pela diagramação, foi necessário simplificar as tabelas desse capítulo. Ao passo que a dissertação foi publicada em folha A4, o livro possui dimensões menores. Embora os dados sejam os mesmos, ao invés de exibir por extenso nas próprias tabelas os itens Likert, referi-me a eles por números, listando-os no início de cada seção.

CANALIZAÇÃO Uma das mais importantes manifestações do movimento da Nova Era, a canalização é a 321

A NATUROLOGIA NO BRASIL

primeira grande tendência do campo de acordo com Hanegraaff (1998), apresentada primeiramente pelo motivo de todas as ideias centrais à Nova Era terem sido canalizadas pelos primeiros escritores novaeristas, segundo esse autor. O termo canalização se refere à convicção de médiuns psíquicos de serem capazes [...] de atuar como um canal de informação de outras fontes além de seu eu normal. Mais comumente, essas fontes são identificadas como “entidades” desencarnadas vivendo em níveis mais elevados de existência, mas a gama completa de fontes canalizadas mencionadas na literatura contêm quase tudo a que algum tipo de inteligência pode ser atribuído (HANEGRAAFF, 1998, p. 23).

O leitor não familiarizado com a Nova Era pode confundir a canalização com a mediunidade, do espiritismo. Contudo, Hanegraaff (2008, p. 24) explica que “[...] a comunicação com os espíritos dos falecidos recentemente – como no espiritismo clássico – não é uma característica da mediunidade da Nova Era”. A preocupação dos novaeristas está em se comunicarem com inteligências superiores, como 322

CAPÍTULO V [...] mestres ascendentes, espíritos guias, anjos, extraterrestres, várias figuras históricas (Jesus, Paulo etc.), Deus/a “Última Fonte”, deuses e deusas da antiguidade, e o inconsciente coletivo ou a Mente Universal, mas também “entidades grupais”, animais encarnados ou desencarnados (golfinhos, baleias), espíritos da natureza ou “devás”, gnomos, fadas, plantas e finalmente o “self superior” do médium (HANEGRAAFF, 1998, p. 23).

Outra distinção é apresentada por D’Andrea (2000, p. 190), que define canalização como “[...] mediunidade sem incorporação, de plano mental, onde a individualidade é mantida integralmente (em processo similar à telepatia)”. No entanto, isso não é necessariamente uma regra, visto que Hanegraaff (1998) pontua que alguns médiuns novaeristas declaram perder, sim, a consciência durante o processo de canalização. Uma última singularidade à canalização jaz no fato de que há a crença comum, nos contextos novaeristas, de que qualquer um pode desenvolver a capacidade de canalização, mesmo que nunca tenha tido experiência anterior similar. Tomando o espiritismo como paralelo, embora o discurso comum diga que todos os seres humanos 323

A NATUROLOGIA NO BRASIL

possuem potencial para se tornarem médiuns, usualmente se atribuem os poderes mediúnicos a uma pré-disposição de apenas alguns encarnados. As seguintes afirmações foram elencadas para compor os itens Likert dessa categoria: 1.

Há dimensões diferentes habitadas por seres com sabedoria superior.

2.

Todos os seres humanos podem receber informações de formas de inteligência superior, oriundas de níveis de existência mais elevados que o plano material em que vivemos.

3.

A conexão com outros planos é uma habilidade natural que está latente em todos, podendo ser despertada por qualquer ser humano.

4.

É possível aprender conscientemente a canalizar mensagens de outros planos, mesmo que nunca se tenha tido qualquer experiência anterior similar.

5.

O insight é o caminho pelo qual a revelação divina se manifesta a nós.

324

CAPÍTULO V

6.

As revelações das religiões históricas – como Maomé ou os profetas do Antigo Testamento – são mediunidades, fenômeno idêntico ao que acontece hoje em sujeitos que se estabelecem como canais de comunicação para esses domínios.

Tabela 24 – Média do grau de adesão dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “canalização”, segundo sua instituição de formação. UAM

UNISUL

Geral

Valor-p

Item 1

3,34

3,51

3,45

0,091

Item 2

3,38

3,50

3,46

0,200

Item 3

3,23

3,40

3,34

0,102

Item 4

2,94

3,18

3,09

0,021

Item 5

3,42

3,46

3,44

0,662

Item 6

2,84

3,10

3,00

0,017

Fonte: elaboração do autor (2015).

Em dois itens os valores-p indicaram que as médias da UNISUL foram maiores que as da UAM. Contudo, na análise detalhada das frequências, apenas o item 4 manteve relevância estatística. 325

A NATUROLOGIA NO BRASIL Tabela 25 – Grau de adesão detalhado dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “canalização”, segundo sua instituição de formação. 1

2

3

4

UAM

6 (5,6%)

13 (12,0%)

27 (25,0%)

62 (57,4%)

UNISUL

6 (3,3%)

13 (7,1%)

46 (25,0%)

119 (64,7%)

UAM

4 (3,7%)

9 (8,3%)

37 (34,3%)

58 (53,7%)

UNISUL

5 (2,7%)

15 (8,2%)

47 (25,5%)

117 (63,6%)

UAM

6 (5,6%)

16 (14,8%)

33 (30,6%)

53 (49,1%)

UNISUL

8 (4,3%)

17 (9,2%)

52 (28,3%)

107 (58,2%)

UAM

9 (8,3%)

18 (16,7%)

52 (48,1%)

29 (26,9%)

UNISUL

11 (6,0%)

26 (14,1%)

65 (35,3%)

82 (44,6%)

UAM

4 (3,7%)

7 (6,5%)

37 (34,3%)

60 (55,6%)

UNISUL

5 (2,7%)

12 (6,5%)

61 (33,2%)

106 (57,8%)

UAM

11 (10,2%)

21 (19,4%)

50 (46,3%)

26 (24,1%)

UNISUL

13 (7,1%)

21 (11,4%)

85 (46,2%)

65 (35,3%)

Item 1

Item 2

Item 3

Item 4

Item 5

Item 6

Valor-p

0,343

0,378

0,371

0,025

0,969

0,084

Fonte: elaboração do autor (2015).

A análise das frequências indicou que a diferença entre a adesão nessas três questões só é 326

CAPÍTULO V

realmente significativa no item 4 (destacado em negrito ao lado). Nesse caso, de fato a UNISUL apresenta uma adesão superior à da UAM, com 44,6% dos respondentes concordando totalmente com essa afirmação, contra 26,9% dos egressos da universidade paulistana. O item 1, que na primeira tabela retornou com um valor-p limítrofe, na análise detalhada não apresentou diferenciação estatisticamente significativa. Pelo contrário, o valor-p, bem superior a 0,1, indica que a frequência das respostas entre as duas instituições é equivalente. Já o item 5, sobre as revelações religiosas históricas serem canalizações, adquiriu um valor-p limítrofe nessa análise, visto que a adesão ao grau 3 é quase idêntica entre os respondentes das duas universidades. Os dados também apontaram a uma irrelevância do ano de formação como fator de influência à concordância dos itens referentes à canalização. Todos os itens apresentaram um valor-p superior a 0,05, indicando que a média do grau de adesão foi estatisticamente equivalente nos três grupos. Entretanto, o item 2, que afirma que todos podem receber informações de dimensões de existência mais elevadas, apresentou um valor-p 327

A NATUROLOGIA NO BRASIL

limítrofe. Portanto, por essa tabela não é possível afirmar nem refutar se a discrepância encontrada na faixa de 2007 a 2010, que obteve uma média superior aos outros dois períodos, é significativa. Tabela 26 – Média do grau de adesão dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “canalização”, segundo seu ano de formação. 2002 a 2006

2007 a 2010

2011 a 2014

Valor-p

Item 1

3,40

3,47

3,44

0,870

Item 2

3,33

3,55

3,36

0,096

Item 3

3,33

3,38

3,28

0,693

Item 4

3,04

3,13

3,05

0,732

Item 5

3,31

3,48

3,45

0,429

Item 6

3,00

3,00

3,01

0,996

Fonte: elaboração do autor (2015).

Mas na análise das frequências, mesmo o item 2 assume um valor-p estatisticamente não significativo. Logo, o ano de formação dos respondentes não parece ser um fator de influência para a adesão de ideias sobre canalização. 328

CAPÍTULO V Tabela 27 – Grau de adesão detalhado dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “canalização”, segundo seu ano de formação. 1

2

3

4

1 (2,2%)

6 (13,3%)

12 (26,7%)

26 (57,8%)

7 (4,6%) 4 (4,2%)

12 (7,9%) 8 (8,3%)

35 (23,2%) 26 (27,1%)

97 (64,2%) 58 (60,4%)

2 (4,4%)

4 (8,9%)

16 (35,6%)

23 (51,1%)

4 (2,6%) 3 (3,1%)

9 (6,0%) 11 (11,4%)

38 (25,2%) 30 (31,3%)

100 (66,2%) 52 (54,2%)

2002 a 2007

4 (8,8%)

3 (6,7%)

12 (26,7%)

26 (57,8%)

2007 a 2010

6 (4,1%)

20 (13,2%)

36 (23,8%)

89 (58,9%)

2011 a 2014

4 (4,2%)

10 (10,4%)

37 (38,5%)

45 (46,9%)

2002 a 2007

4 (8,9%)

8 (17,8%)

15 (33,3%)

18 (40,0%)

9 (6,0%) 7 (7,3%)

20 (13,2%) 16 (16,6%)

64 (42,4%) 38 (39,6%)

58 (38,4%) 35 (36,5%)

2 (4,4%)

4 (8,9%)

17 (37,8%)

22 (48,9%)

5 (3,3%) 2 (2,1%)

8 (5,3%) 7 (7,3%)

48 (31,8%) 33 (34,4%)

90 (59,6%) 54 (56,2%)

2002 a 2007

4 (8,9%)

6 (13,3%)

21 (46,7%)

14 (31,1%)

2007 a 2010

14 (9,3%)

20 (13,2%)

69 (45,7%)

48 (31,8%)

2011 a 2014

6 (6,3%)

16 (16,7%)

45 (46,8%)

29 (30,2%)

2002 a 2007 Item 1

2007 a 2010 2011 a 2014 2002 a 2007

Item 2

2007 a 2010 2011 a 2014

Item 3

Item 4

2007 a 2010 2011 a 2014 2002 a 2007

Item 5

2007 a 2010 2011 a 2014

Item 6

Valor-p

0,888

0,395

0,150

0,921

0,876

0,975

Fonte: elaboração do autor (2015). 329

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Os dados do capítulo anterior, que apontaram a uma maior declaração de pertença à Nova Era entre os naturólogos atuantes, foram também percebidos nos itens Likert. Em todas as afirmações a adesão dos respondentes que não estão atuando como naturólogos foi inferior. Todavia, o valor-p permitiu observar que em apenas dois itens essa diferença foi estatisticamente significativa (destacados em negrito nas tabelas). Tabela 28 – Média do grau de adesão dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “canalização”, segundo sua atuação profissional com naturologia. Atuando

Não atuando

Valor-p

Item 1

3,49

3,33

0,170

Item 2

3,51

3,28

0,025

Item 3

3,40

3,15

0,034

Item 4

3,13

2,99

0,245

Item 5

3,48

3,33

0,158

Item 6

3,02

2,94

0,517

Fonte: elaboração do autor (2015).

330

CAPÍTULO V Tabela 29 – Grau de adesão detalhado dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “canalização”, segundo sua atuação profissional com Naturologia.

Item 1

Item 2

Item 3

Item 4

Item 5

Item 6

1

2

3

4

Atuando

9 (4,1%)

18 (8,2%)

50 (22,7%)

143 (65,0%)

Não atuando

3 (4,2%)

8 (11,1%)

23 (31,9%)

38 (52,8%)

Atuando

7 (3,2%)

17 (7,7%)

52 (23,6%)

144 (65,5%)

Não atuando

2 (2,8%)

7 (9,7%)

32 (44,4%)

31 (43,1%)

Atuando

11 (5,0%)

21 (9,5%)

57 (26,0%)

131 (59,5%)

Não atuando

3 (4,2%)

12 (16,7%)

28 (38,8%)

29 (40,3%)

Atuando

15 (6,9%)

30 (13,6%)

87 (39,5%)

88 (40,0%)

Não atuando

5 (6,8%)

14 (19,4%)

30 (41,7%)

23 (31,9%)

Atuando

6 (2,7%)

13 (5,9%)

71 (32,3%)

130 (59,1%)

Não atuando

3 (4,2%)

6 (8,3%)

27 (37,5%)

36 (50,0%)

Atuando

20 (9,1%)

28 (12,7%)

99 (45,0%)

73 (33,2%)

Não atuando

13 (5,6%)

21 (19,4%)

85 (50,0%)

65 (25,0%)

Valor-p

0,299

0,005

0,024

0,538

0,569

0,264

Fonte: elaboração do autor (2015).

331

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Na análise das frequências foi possível perceber que, de fato, em todos os itens Likert o percentual dos que escolheram o nível 4 (relacionado às opções “concordo muito” ou “concordo totalmente”) foi superior ao do grupo dos que declararam não estar atuando como naturólogos. Os dois itens que na tabela anterior obtiveram valor-p significativo, assim se mantiveram também na análise das frequências. Em ambas as afirmações, a escolha pelo nível 4 foi até 20 pontos percentuais maior entre o grupo dos naturólogos que declararam estar atuando com a naturologia do que entre o grupo dos formados que não estão atuando como naturólogos. O último cruzamento analisou se levar em consideração os aspectos espirituais em atendimento influenciaria o grau de adesão aos valores da Nova Era sobre canalização. Foi possível observar que em quatro dos cinco itens (destacados em negrito na tabela) aqueles que levam em consideração os aspectos espirituais tiveram um grau de adesão mais alto do que aqueles que declararam desconsiderar a espiritualidade. O grupo dos que não estão atuando se apresentou como um intermediário entre os dois outros grupos. 332

CAPÍTULO V Tabela 30 – Média do grau de adesão dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “canalização”, segundo os naturólogos levarem ou não em consideração os aspectos espirituais em seus atendimentos. Considera

Não considera

Não está atuando

Valor-p

Item 1

3,52

3,08

3,26

0,029

Item 2

3,54

2,85

3,24

< 0,001

Item 3

3,42

2,92

3,11

0,012

Item 4

3,17

2,46

2,93

0,006

Item 5

3,49

3,00

3,33

0,035

Item 6

3,03

2,85

2,93

0,596

Fonte: elaboração do autor (2015).

Na análise mais detalhada, apenas o item 5, sobre o insight ser o caminho pelo qual a revelação divina se manifesta, que na tabela anterior apresentou valor-p relevante, retornou um número não significativo. Nesse sentido, em quatro itens o respondente levar em consideração aspectos espirituais em atendimento foi um fator determinante para que se apresentasse um maior grau de adesão aos valores novaeristas da canalização. 333

Tabela 31 – Grau de adesão detalhado dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “canalização”, segundo os naturólogos levarem ou não em consideração os aspectos espirituais em atendimento.

Item 1

Item 2

Item 3

Item 4

Item 5

Item 6

1

2

3

4

Considera

8 (3,6%)

17 (7,6%)

51 (22,7%)

149 (66,1%)

Não considera

2 (15,4%)

2 (15,4%)

2 (15,4%)

7 (53,8%)

Não está atuando

2 (3,7%)

7 (13,0%)

20 (37,0%)

25 (46,3%)

Considera

4 (1,8%)

17 (7,6%)

57 (25,3%)

23 (65,3%)

Não considera Não está atuando

3 (23,0%) 2 (3,7%)

2 (15,4%) 5 (9,3%)

2 (15,4%) 25 (46,3%)

Considera

8 (3,6%)

24 (10,7%)

59 (26,2%)

134 (59,6%)

Não considera Não está atuando

3 (23,0%) 3 (5,6%)

0 (0,0%) 9 (16,6%)

5 (38,5%) 21 (38,9%)

5 (38,5%) 21 (38,9%)

Considera

13 (5,8%)

28 (12,4%)

92 (40,9%)

92 (40,9%)

Não considera Não está atuando

3 (23,1%) 4 (7,4%)

4 (30,7%) 12 (22,3%)

3 (23,1%) 22 (40,7%)

3 (23,1%) 16 (29,6%)

Considera

5 (2,2%)

14 (6,2%)

71 (31,6%)

135 (60,0%)

Não considera

2 (15,4%)

1 (7,6%)

5 (38,5%)

5 (38,5%)

Não está atuando

2 (3,7%)

4 (7,4%)

22 (40,7%)

26 (48,2%)

Considera

19 (8,4%)

30 (13,3%)

101 (44,9%)

75 (33,4%)

Não considera

2 (15,4%)

2 (15,4%)

5 (38,4%)

4 (30,8%)

Não está atuando

3 (5,6%)

10 (18,5%)

29 (53,7%)

12 (22,2%)

6 (46,2%)

Valor-p

0,043

< 0,001

52 (40,7%)

0,006

0,035

0,117

0,581

Fonte: elaboração do autor (2015). 334

CAPÍTULO V

Em suma, a média geral de adesão foi alta, sendo superior a 3 em todos os itens. Os dados encontrados no capítulo anterior se reafirmaram, ao indicar que o grau de adesão dos naturólogos não tende a variar de acordo com o ano de formação ou a instituição onde cursaram naturologia. O perfil de concordância entre a UAM e a UNISUL foi similar, havendo apenas uma afirmação na qual os egressos da UNISUL apresentaram um grau de adesão com discrepâncias estatísticas. Porém, mesmo nesse item, 75% dos respondentes da UAM optaram pelo nível 3 ou 4. Também foi ratificada a relação entre uma identificação com a Nova Era e a atuação profissional, já esboçada no capítulo anterior. Em um terço das afirmações, os naturólogos atuantes apresentaram uma concordância estatisticamente maior que a dos naturólogos que não estão mais trabalhando na área. Ao analisar os que levam em consideração os aspectos espirituais em atendimento, esse número foi ainda mais significativo. Em quatro das seis afirmações dessa categoria, os valores foram mais altos entre os que consideram essa dimensão em sua prática profissional.

335

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Esses resultados apontam a uma relação entre o exercício da profissão e a crença nos valores da Nova Era referentes à “canalização”. Crença essa curiosa, visto que nenhum dos materiais pesquisados, tanto durante as entrevistas quanto em meu levantamento bibliográfico, indicou que os conteúdos da naturologia sejam canalizados. Aliás, nenhuma das publicações produzidas por naturólogos sequer indica que a canalização seja uma prática naturológica, em nenhum contexto. Isso confirma a minha hipótese, de que a naturologia é coadunada ao movimento da Nova Era, visto não encontrar outras explicações que justifiquem essa alta adesão. Uma vez que a categoria “canalização” é a primeira apresentada por Hanegraaff, acredita-se que a anuência aos valores dessa categoria possa apontar, justamente, essa raiz novaerista intrínseca aos naturólogos.

CURA E CRESCIMENTO PESSOAL A questão da cura dentro da Nova Era foi discutida, nesse livro, tanto no primeiro quanto no terceiro capítulo. Retomando em síntese o que foi 336

CAPÍTULO V

abordado, “a proliferação do que pode ser livremente chamado de ‘terapias alternativas’ sem dúvidas representa um dos aspectos mais visíveis do movimento da Nova Era” (HANEGRAAFF, 1998, p. 42), cujo cultivo ao self e o desenvolvimento dos potenciais humanos são vistos como os caminhos legítimos para alcançar a cura e a felicidade. A saúde na Nova Era possui um caráter psicologizado, reflexo do que Hanegraaff (1998) chamou de “psicologização da religião” e “sacralização da psicologia”, tendências da secularização. No contexto da saúde, as curas novaeristas, influenciadas por essa psicologização da religião e por essa sacralização da psicologia, entendem a doença como um símbolo. Dessa forma, cada sintoma possui significados ocultos sobre questões psicológicas que o enfermo deve trabalhar para crescer; crescimento esse que é tanto pessoal quanto espiritual (AMARAL, 2000). Em outras palavras, “doença e saúde devem ser vistas como partes de uma mesma coisa e não como parâmetros opostos de uma representação idealizada de saúde como fato orgânico” (MARTINS, 1999, p. 87). Tudo isso é articulado em torno de um discurso holístico, no qual mente e corpo são inter337

A NATUROLOGIA NO BRASIL

dependentes. Nesse sistema de crença, emoções influenciam a dimensão física do corpo tanto quanto o corpo altera o estado emocional do sujeito. É central a convicção de que a dissolução do todo em partes não permite acessar o verdadeiro conhecimento subjacente ao quadro da saúde do enfermo. E por isso, o corpo-mente deve ser tratado unitariamente, em uma abordagem sistêmica. Tratar apenas o corpo, em detrimento da mente/espírito, seria inútil. Considera-se que o desequilíbrio se manifestará novamente, através de uma nova enfermidade, que pode ser a doença recidiva ou outra totalmente nova (HANEGRAAFF, 1998; MARTINS, 1999; FULLER, 2005). Sendo a naturologia uma profissão da saúde, essa categoria talvez seja a mais cara à área, dentre as quatro dimensões da Nova Era propostas por Hanegraaff. Suas afirmações dizem respeito à visão diferenciada das PIC, que prioriza o healing ao curing. Também são reflexo da tensão entre as medicinas oficiais, estatizadas a partir do século XVIII, e as medicinas outras. Nesse sentido, essa categoria contém um posicionamento político que foi imprescindível à Nova Era durante 338

CAPÍTULO V

seu surgimento, oriundo da contracultura ocidental de 1960. As seguintes afirmações foram elencadas para compor os itens Likert dessa categoria: 1.

Cada ser humano é uma relação interdependente de corpo, mente, emoções e espírito.

2.

A medicina contemporânea perdeu a “arte de curar” ao se focar na patologia, esquecendo-se do sujeito completo.

3.

A doença não é um simples fato biofísico. Toda doença possui um significado moldado na experiência do enfermo que vai além dos sintomas imediatos.

4.

Não é possível se fazer distinções rígidas entre doenças físicas e doenças psíquicas.

5.

Desenvolver os potenciais humanos nos permite entrar em contato com o lado divino que existe dentro de nós.

6.

O bom curador não se foca em eliminar a doença, mas sim em promover a saúde, pois a doença é um fenômeno natural que faz parte da vida. 339

A NATUROLOGIA NO BRASIL

7.

A doença surge como resultado do sujeito ir contra sua própria natureza.

Sobre as respostas, assim como na categoria anterior, as médias foram superiores a 3 (de um máximo de 4) em todos os itens, sendo que em cinco deles esse valor foi superior a 3,7.

Tabela 32 – Média do grau de adesão dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “cura e crescimento pessoal”, segundo sua instituição de formação. UAM

UNISUL

Geral

Valor-p

Item 1

3,79

3,66

3,71

0,173

Item 2

3,69

3,74

3,72

0,442

Item 3

3,92

3,87

3,89

0,291

Item 4

3,15

3,39

3,30

0,040

Item 5

3,78

3,79

3,79

0,793

Item 6

3,65

3,78

3,73

0,033

Item 7

3,60

3,57

3,58

0,667

Fonte: elaboração do autor (2015).

340

CAPÍTULO V

O valor-p só foi estatisticamente significativo em dois itens, que apontaram que o grau de adesão dos respondentes da UNISUL era maior que os da UAM, conforme destacado na tabela anterior. No entanto, a análise detalhada das frequências demonstrou irrelevância estatística no item 4, que apareceu com relevância da média geral demonstrada na tabela anterior. O grau de adesão de ambas as instituições é similar; o motivo pelo qual a média apareceu levemente superior no grupo da UNISUL é porque 61,4% desse grupo escolheu o nível de concordância 4 (concordância máxima). Mas a diferença das frequências entre UNISUL e UAM é insuficiente para atestar que, de fato, há discrepância entre as duas universidades. Contudo, a afirmação de que o bom curador não se foca em eliminar a doença, mas sim em promover a saúde, porque a doença é um fenômeno natural da vida (item 6), apresentou um grau de concordância maior entre os respondentes da UNISUL, conforme é observado pelo valor-p.

341

A NATUROLOGIA NO BRASIL Tabela 33 – Grau de adesão detalhado dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “cura e crescimento pessoal”, segundo sua instituição de formação. 1

2

3

4

UAM

3 (2,8%)

3 (2,8%)

8 (7,4%)

94 (87,0%)

UNISUL

14 (7,6%)

5 (2,7%)

11 (6,0%)

154 (83,7%)

UAM

1 (0,9%)

6 (4,6%)

19 (17,6%)

82 (75,9%)

UNISUL

2 (1,1%)

4 (2,2%)

34 (18,5%)

144 (78,3%)

UAM

0 (0,0%)

1 (0,9%)

7 (6,5%)

100 (92,6%)

UNISUL

0 (0,0%)

4 (2,2%)

16 (8,7%)

164 (89,1%)

UAM

11 (10,2%)

14 (13,0%)

31 (28,7%)

52 (48,1%)

UNISUL

13 (7,1%)

16 (8,7%)

42 (22,8%)

113 (61,4%)

UAM

0 (0,0%)

2 (1,9%)

20 (18,5%)

86 (79,6%)

UNISUL

1 (0,5%)

6 (3,3%)

23 (12,5%)

154 (83,7%)

UAM

0 (0,0%)

3 (2,8%)

32 (29,6%)

73 (67,6%)

UNISUL

2 (1,1%)

2 (1,1%)

30 (16,3%)

150 (81,5%)

UAM

3 (2,8%)

6 (5,6%)

22 (20,4%)

77 (71,3%)

UNISUL

4 (2,2%)

9 (4,9%)

50 (27,2%)

121 (65,8%)

Item 1

Item 2

Item 3

Item 4

Item 5

Item 6

Item 7

Valor-p

0,386

0,534

0,639

0,169

0,422

0,013

0,654

Fonte: elaboração do autor (2015).

342

CAPÍTULO V

Assim como nas afirmações sobre canalização, o ano de formação não pareceu influenciar a média do grau de adesão aos valores novaeristas sobre cura e crescimento pessoal. Nenhum item Likert demonstrou valor-p inferior ao índice de significância. O mesmo também foi observado na análise detalhada das frequências (abaixo), que também não retornou valor-p abaixo do índice de relevância estatística. Tabela 34 – Média do grau de adesão dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “cura e crescimento pessoal”, segundo seu ano de formação. 2002 a 2006

2007 a 2010

2011 a 2014

Valor-p

Item 1

3,58

3,77

3,66

0,253

Item 2

3,71

3,77

3,65

0,267

Item 3

3,87

3,87

3,93

0,428

Item 4

3,29

3,28

3,33

0,905

Item 5

3,80

3,80

3,76

0,805

Item 6

3,76

3,77

3,67

0,314

Item 7

3,49

3,56

3,66

0,357

Fonte: elaboração do autor (2015).

343

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Analisando as respostas de acordo com a atuação profissional, nos itens 3 e 7 os naturólogos não atuantes aparentemente demonstraram uma adesão menor aos valores novaeristas do que os que não estão atuando. Contudo, o valor-p referente a esses dois itens se manteve na zona limítrofe, não permitindo maiores considerações estatísticas. Tabela 35 – Média da adesão dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “cura e crescimento pessoal”, segundo sua atuação profissional com naturologia. Atuando

Não atuando

Valor-p

Item 1

3,70

3,71

0,972

Item 2

3,74

3,65

0,262

Item 3

3,91

3,82

0,072

Item 4

3,34

3,18

0,230

Item 5

3,80

3,74

0,308

Item 6

3,72

3,78

0,401

Item 7

3,62

3,44

0,061

Fonte: elaboração do autor (2015).

344

Tabela 36 – Grau detalhado dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “cura e crescimento pessoal”, segundo sua atuação profissional com naturologia.

Item 1

Item 2

Item 3

Item 4

Item 5

Item 6

Item 7

1

2

3

4

Atuando

12 (5,5%)

7 (3,2%)

15 (6,8%)

186 (84,5%)

Não atuando

5 (6,9%)

1 (1,4%)

4 (5,6%)

62 (86,1%)

Atuando

3 (1,4%)

7 (3,2%)

34 (15,5%)

176 (80,0%)

Não atuando

0 (0,0%)

3 (4,2%)

19 (26,4%)

50 (69,4%)

Atuando

0 (0,0%)

2 (0,9%)

16 (7,3%)

202 (91,8%)

Não atuando

0 (0,0%)

3 (4,2%)

7 (9,7%)

62 (86,1%)

Atuando

20 (9,1%)

17 (7,7%)

52 (23,6%)

131 (59,5%)

Não atuando

4 (5,6%)

13 (18,1%)

21 (29,2%)

34 (47,2%)

Atuando

1 (0,5%)

5 (2,3%)

30 (13,6%)

184 (83,6%)

Não atuando

0 (0,0%)

3 (4,2%)

13 (18,1%)

56 (77,8%)

Atuando

2 (0,9%)

4 (1,8%)

48 (21,8%)

166 (75,5%)

Não atuando

0 (0,0%)

1 (1,4%)

14 (19,4%)

57 (79,2%)

Atuando

5 (2,3%)

9 (4,1%)

50 (22,7%)

156 (70,9%)

Não atuando

2 (2,8%)

6 (8,3%)

22 (30,6%)

42 (58,3%)

Valor-p

0,819

0,117

0,124

0,035

0,584

0,884

0,201

Fonte: elaboração do autor (2015).

345

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Mas na análise das frequências, o item 3, que apareceu com valor-p limítrofe na tabela anterior, não manteve significância. Já o item 4 demonstrou divergências que não foram acusadas na tabela simplificada. Embora a média tenha se mantido similar entre os grupos, as escolhas dos níveis divergiram, com uma discordância maior entre os naturólogos não atuantes.

Tabela 37 – Média do grau de adesão dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “cura e crescimento pessoal”, segundo os naturólogos levarem ou não em consideração os aspectos espirituais em atendimento. Considera

Não considera

Não está atuando

Valor-p

Item 1

3,72

3,38

3,72

0,321

Item 2

3,75

3,62

3,63

0,329

Item 3

3,91

3,77

3,81

0,111

Item 4

3,36

2,69

3,17

0,025

Item 5

3,83

3,23

3,74

< 0,001

Item 6

3,73

3,62

3,78

0,586

Item 7

3,63

3,23

3,44

0,040

Fonte: elaboração do autor (2015). 346

CAPÍTULO V

Os naturólogos que não consideram os aspectos espirituais de seu atendimento demonstraram um grau de adesão inferior aos valores novaeristas sobre cura e crescimento pessoal do que os que declararam considerar. Essa variável, que pareceu ser mais determinante para a alteração do perfil no quadro da canalização, manteve-se como de vital importância também para a influência da adesão nessa categoria. Em 3 dos 7 itens o valor-p foi inferior à margem de significância (destacados em negrito na tabela anterior), sendo que em um deles foi inferior a 0,001. Nesses itens, a média do grau de adesão dos naturólogos que levam em consideração a espiritualidade foi notadamente mais alta que a do grupo dos que não consideram isso. Ao confirmar os dados com a análise das frequências, os itens 4 e 5 mantiveram-se com valor-p na margem de significância (destacados em negrito na tabela ao lado). Esses itens dizem respeito a não ser possível fazer distinções rígidas entre doenças físicas e psíquicas, e à crença de que desenvolver os potenciais humanos estabelece o contato com nosso lado divino. O item 7, referente à doença surgir como resultado de se ir 347

Tabela 38 – Grau de adesão detalhado dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “cura e crescimento pessoal”, segundo os naturólogos que em conta os aspectos espirituais.

Considera Item 1

Não considera Não está atuando Considera

Item 2

Não considera Não está atuando Considera

Item 3

Não considera Não está atuando Considera

Item 4

Não considera Não está atuando Considera

Item 5

Não considera Não está atuando Considera

Item 6

Não considera Não está atuando Considera

Item 7

Não considera Não está atuando

1 12 (5,3%) 2 (15,4%) 3 (5,3%) 3 (1,3%) 0 (0,0%) 0 (0,0%) 0 (0,0%) 0 (0,0%) 0 (0,0%) 19 (8,4%) 3 (23,1%) 2 (3,7%) 0 (0,0%) 1 (7,7%) 0 (0,0%) 1 (0,4%) 1 (7,7%) 0 (0,0%) 4 (1,8%) 1 (7,7%) 2 (3,7%)

2 7 (3,1%) 0 (0,0%) 1 (1,9%) 7 (3,1%) 0 (0,0%) 3 (5,6%) 3 (1,3%) 0 (0,0%) 2 (3,7%) 17 (7,6%) 1 (7,7%) 12 (22,2%) 5 (2,2%) 2 (15,4%) 1 (1,9%) 4 (1,8%) 0 (0,0%) 1 (1,9%) 8 (3,6%) 2 (15,4%) 5 (9,3%)

3 13 (5,8%) 2 (15,4%) 4 (7,4%) 34 (15,1%) 5 (38,5%) 14 (25,9%) 14 (6,2%) 3 (23,1%) 6 (11,1%) 52 (23,1%) 6 (46,2%) 15 (27,8%) 28 (12,4%) 3 (23,1%) 12 (22,2%) 50 (22,2%) 2 (15,4%) 10 (18,5%) 55 (24,4%) 3 (23,1%) 14 (25,9%)

4 193 (85,8%) 9 (69,2%) 46 (85,2%) 181 (80,4%) 8 (61,5%) 37 (68,5%) 208 (92,4%) 10 (76,9%) 46 (85,2%) 137 (60,9%) 3 (23,1%) 25 (46,3%) 192 (85,3%) 7 (53,8%) 41 (75,9%) 170 (75,6%) 10 (76,9%) 43 (79,6%) 158 (70,2%) 7 (53,8%) 33 (61,1%)

Valor-p

0,508

0,166

0,094

0,003

0,001

0,150

0,173

Fonte: elaboração do autor (2015). 348

CAPÍTULO V

contra a própria natureza, deixou de adquirir um índice de relevância estatística. Isso ocorreu porque o número de respondentes que declararam não levar em consideração os aspectos espirituais de seus interagentes foi baixo. Assim, a mínima variação na resposta de um deles altera consideravelmente a média do grupo como um todo. De modo geral, a adesão foi maior nessa categoria do que na categoria “canalização”. Todos os itens apresentaram mais de 60% de concordância máxima. Não somente isso, em 5 dos 7 itens a concordância máxima foi superior a 75%. No item 3, que afirma que a doença não é um simples fator biofísico, pois toda doença possui significados moldados na experiência do enfermo, ninguém escolheu o nível de discordância máxima. Nesse item, cerca de 90% dos participantes optaram pelo nível 4 (concordância máxima). Assim como nos itens do grupo anterior, os naturólogos que declaram não levar em consideração a dimensão espiritual apresentaram graus de adesão menores. Com esses valores, em conjunto dos dados da categoria anterior, reforça-se também nessa categoria que levar em consideração a espiritualidade parece estar intrinseca349

A NATUROLOGIA NO BRASIL

mente ligado à identificação do naturólogo com os valores da Nova Era. Por fim, assim como já indicava o capítulo anterior, o ano de conclusão e a instituição de formação não pareceram ser fatores significantes ao grau de adesão à Nova Era entre os naturólogos. Houve, de fato, um único item que possuiu maior concordância entre os egressos da UNISUL: de que o bom curador não se foca em eliminar a doença, porque ela é parte natural da vida. Independentemente disso, o índice de aceitação desse item foi muito alto entre os respondentes da UAM, com 97,2% escolhendo entre os graus 3 ou 4 (referentes à concordância das afirmações), contra 97,8% da UNISUL. Por isso, não faz sentido questionar qual das duas formações é mais ou menos novaerista; isso não está em jogo. Ambos os cursos formam acadêmicos com uma aceitação quase total a esses pensamentos.

CIÊNCIA DA NOVA ERA A terceira grande tendência da Nova Era diz respeito a uma forma bem específica de se fa350

CAPÍTULO V

zer “ciência”, que Hanegraaff (1998; 1999a) chama de “ciência da Nova Era”, consistindo em métodos paracientíficos ou pseudocientíficos baseados em uma percebida revolução quântica que os novaeristas acreditam que suplantará o paradigma cartesiano-newtoniano da ciência, tido por esses grupos como ultrapassado e reducionista. Hanegraaff explica que o que é entendido por ciência na Nova Era são, na verdade, mitologias de ciência, popularizadas após o Iluminismo tornar o cientista o agente social legitimador da verdade. Como comentei no terceiro capítulo, as grandes massas não compreendem as discussões acadêmicas. O que chega até a população são conceitos-chave, que são misturados ao conhecimento popular e reinterpretados. Sendo assim, “[...] a sociedade contemporânea não se baseia na ‘ciência e racionalidade’ mais do que o cristianismo pré-iluminista foi ‘baseado’ na teologia cristã. Não é a ciência, mas as mitologias de ciência populares que provêm à sociedade com seu simbolismo coletivo básico” (HANEGRAAFF, 1999, p. 149, grifo do autor). Conforme discuti no terceiro capítulo, esse paradigma influenciou bastante as concepções de 351

A NATUROLOGIA NO BRASIL

energia da naturologia, e foi difundido entre os cursos durante a primeira fase histórica. Mas não se pode esquecer que esse pensamento também influenciou toda a cultura moderna. A figura da partícula que é ao mesmo tempo onda não foi popular apenas entre os novaeristas, mas em toda a nossa sociedade contemporânea. Um físico não vê na mecânica quântica ou na física relativista “provas” da existência de Deus, porque em primeira instância Deus é metaempírico. Do mesmo modo, somente novaeristas veem em cristais de água “provas científicas” de que pensamentos possuem poder. Nenhuma pesquisa com mínimo rigor científico conseguiu atingir os resultados que Masaru Emoto encontrou em sua famosa experiência apresentada no filme What the #$*! Do We Know!?, de 2004. Alegando que pensamentos alteram moléculas, Emoto fotografou uma série de cristais congelados após submeter diferentes recipientes de água a preces/meditações, pensamentos positivos e música clássica, comparando-os com cristais de recipientes expostos a xingamentos, à voz de Hitler, à música rock etc. Os resultados demonstrados consistem em fotos de cristais belíssimos 352

CAPÍTULO V

para o grupo dos “pensamentos positivos”, e cristais disformes para o grupo dos “pensamentos negativos”. Mas é ocultado do público que Emoto, na verdade, congelou uma série de cristais para cada caso, e escolheu fotografar apenas um deles, tendo como critério exclusivamente a estética do que melhor se adequaria ao propósito de seu projeto. Em outras palavras, embora a série de fotografias de Emoto seja uma obra de arte, não passa de uma pseudociência. Além disso, o próprio filme What the #$*! Do We Know!? é um exemplo típico do que Hanegraaff chama de ciência da Nova Era. Introduzido ao grande público como um documentário científico, esse filme exibe entrevistas de personalidades novaeristas ligadas à academia de modo limítrofe, como Amit Goswami, que é apresentado como físico nuclear (sua área de formação) ao invés de palestrante e escritor novaerista (sua atual profissão), para reforçar a aura de legitimidade científica deseja pela produção. Em adição, esse documentário possui muitos outros pontos problemáticos. Alguns entrevistados tiveram suas falas editadas ao ponto de destoar de seus posicionamentos usuais. David 353

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Albert é um exemplo. Um filósofo profundamente contrário às tentativas de vincular mecânica quântica à consciência, no filme parece endossar esse pensamento. Também é ocultado que esse documentário foi patrocinado pela Ramtha’s School of Enlightenment, centro novaerista de Washington que se baseia nos conteúdos canalizados por J. Z. Knight de um guerreiro lemuriano que teria vivido há 35.000 anos, chamado Ramtha. Embora Knight conceda entrevistas nessa produção, esse dado jamais é mencionado ao grande público. As seguintes afirmações foram elencadas para compor os itens Likert dessa categoria: 1.

A ciência tradicional é materialista e propícia à alienação humana.

2.

A ciência tradicional reflete um reducionismo ultrapassado, fadado a ser substituído por um novo paradigma baseado em uma perspectiva holística.

3.

Os novos paradigmas científicos (p. ex. física quântica, física relativista) podem explicar os

354

CAPÍTULO V

trabalhos do divino no cosmo, garantindo bases científicas para a religião. 4.

O todo do universo está implícito em cada uma de suas partes. Assim, o microcosmo reflete o macrocosmo e vice-versa.

5.

Há paralelos entre a física moderna (p. ex. física quântica, física relativista) e as religiões e filosofias orientais.

6.

A Terra funciona como um organismo vivo, um sistema autorregulador que elimina com desastres naturais aquilo que ameaça o equilíbrio do planeta.

Ao pensar nessa categoria sobre a óptica da naturologia, como a primeira fase foi (ao menos em teoria) uma exclusividade dos cursos sulistas, era de se esperar que os respondentes da UNISUL apresentassem uma adesão superior aos da UAM. Todavia, apenas dois itens demonstraram valores-p que indicam isso. O primeiro (destacado em negrito), referente à afirmação de que a ciência tradicional reflete um reducionismo ultrapassado, fadado a ser substituído por um paradigma holístico, obteve uma diferença de 0,29 pontos

355

A NATUROLOGIA NO BRASIL

a mais na média de adesão dos respondentes da UNISUL. Porém o item 4, que diz respeito ao todo estar implícito nas partes, apresentou valor-p limítrofe. De qualquer forma, ambos os grupos mantiveram-se muito próximos a 3,9 de um máximo de 4, provavelmente porque a reflexologia, utilizada pelos naturólogos, pauta-se em paradigmas que consideram que o microcosmo contém o macrocosmo para justificar que o organismo inteiro está refletido em partes menores do corpo. Tabela 39 – Média do grau de adesão dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “ciência da Nova Era”, segundo sua instituição de formação. UAM

UNISUL

Geral

Valor-p

Item 1

3,06

3,19

3,14

0,215

Item 2

3,29

3,52

3,43

0,015

Item 3

3,19

3,17

3,18

0,913

Item 4

3,87

3,94

3,91

0,077

Item 5

3,68

3,67

3,67

0,976

Item 6

3,44

3,57

3,52

0,134

Fonte: elaboração do autor (2015). 356

CAPÍTULO V Tabela 40 – Grau de adesão detalhado dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “ciência da Nova Era”, segundo sua instituição de formação. 1

2

3

4

UAM

7 (6,5%)

24 (22,2%)

33 (30,6%)

44 (40,7%)

UNISUL

11 (6,0%)

21 (11,4%)

74 (40,2%)

78 (42,4%)

UAM

3 (2,8%)

17 (15,7%)

34 (31,5%)

54 (50,0%)

UNISUL

6 (3,3%)

12 (6,5%)

46 (25,0%)

120 (65,2%)

UAM

5 (4,6%)

15 (13,9%)

43 (39,8%)

45 (41,7%)

UNISUL

12 (6,5%)

17 (9,2%)

82 (44,6%)

73 (39,7%)

UAM

0 (0,0%)

3 (2,8%)

8 (7,4%)

97 (89,9%)

UNISUL

0 (0,0%)

1 (0,5%)

9 (4,9%)

174 (94,6%)

UAM

0 (0,0%)

5 (4,6%)

25 (23,1%)

78 (72,2%)

UNISUL

1 (0,5%)

5 (2,7%)

47 (25,5%)

131 (71,2%)

UAM

1 (0,9%)

13 (12,0%)

32 (29,6%)

62 (57,4%)

UNISUL

5 (2,7%)

7 (3,8%)

51 (27,7%)

121 (65,8%)

Item 1

Item 2

Item 3

Item 4

Item 5

Item 6

Valor-p

0,073

0,021

0,536

0,170

0,801

0,030

Fonte: elaboração do autor (2015).

Pela análise das frequências, esse resultado foi confirmado: a escolha pelo nível 4 (concordân357

A NATUROLOGIA NO BRASIL

cia máxima) foi 15 pontos percentuais maior entre os respondentes da UNISUL no item 2. Porém, o item 4 retornou um valor-p sem relevância, apesar de na tabela anterior apresentar significância estatística. Isso se deu porque nenhum respondente, de ambas as instituições, escolheu o nível 1 (discordância máxima). A análise permitiu notar também que o item 6 possui aceitação maior entre os egressos da UNISUL, o que não foi notado pelo cálculo da tabela anterior (página anterior). Tabela 41 – Média do grau de adesão dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “ciência da Nova Era”, segundo ano de formação. 2002 a 2006

2007 a 2010

2011 a 2014

Valor-p

Item 1

3,02

3,15

3,19

0,592

Item 2

3,27

3,39

3,58

0,054

Item 3

3,20

3,17

3,19

0,963

Item 4

3,91

3,91

3,93

0,895

Item 5

3,78

3,64

3,68

0,359

Item 6

3,49

3,55

3,48

0,723

Fonte: elaboração do autor (2015).

358

CAPÍTULO V Tabela 42 – Grau de adesão detalhado dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “ciência da Nova Era”, segundo seu ano de formação. 2002 a 2007 Item 1

2007 a 2010 2011 a 2014 2002 a 2007

Item 2

2007 a 2010 2011 a 2014 2002 a 2007

Item 3

2007 a 2010 2011 a 2014 2002 a 2007

Item 4

2007 a 2010 2011 a 2014 2002 a 2007

Item 5

2007 a 2010 2011 a 2014 2002 a 2007

Item 6

2007 a 2010 2011 a 2014

1

2

3

4

5 (11,1%) 10 (6,6%) 3 (3,1%) 3 (6,7%) 6 (4,0%) 0 (0,0%) 4 (8,9%) 12 (7,9%) 1 (1,0%) 0 (0,0%) 0 (0,0%) 0 (0,0%) 0 (0,0%) 1 (0,7%) 0 (0,0%) 2 (4,4%) 4 (2,6%) 0 (0,0%)

6 (13,3%) 23 (15,2%) 16 (16,7%) 6 (13,3%) 16 (10,6%) 7 (7,3%) 3 (6,7%) 15 (9,9%) 14 (14,6%) 0 (0,0%) 3 (2,0%) 1 (1,0%) 2 (4,4%) 5 (3,3%) 3 (3,1%) 1 (2,2%) 10 (6,6%) 9 (9,4%)

17 (37,8%) 53 (35,1%) 37 (38,5%) 12 (26,7%) 42 (27,8%) 26 (27,1%) 18 (40,0%) 60 (39,7%) 47 (49,0%) 4 (8,9%) 8 (5,3%) 5 (5,2%) 6 (13,3%) 41 (27,2%) 25 (26,0%) 15 (33,3%) 36 (23,8%) 32 (33,3%)

17 (37,8%) 65 (43,0%) 40 (41,7%) 24 (53,3%) 87 (57,6%) 63 (65,6%) 20 (44,4%) 64 (42,4%) 34 (35,4%) 41 (91,1%) 140 (92,7%) 90 (93,8%) 37 (82,2%) 104 (68,9%) 68 (70,8%) 27 (60,0%) 101 (66,9%) 55 (57,3%)

Valor-p

0,691

0,277

0,127

0,748

0,581

0,167

Fonte: elaboração do autor (2015).

359

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Assim como nas duas categorias anteriores, aparentemente nessa categoria o ano de formação também não foi um fator determinante para o grau de adesão aos valores novaeristas, o que é exibido nas duas tabelas anteriores. Tabela 43 – Média do grau de adesão dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “ciência da Nova Era”, segundo a atuação profissional com naturologia. Atuando

Não atuando

Valor-p

Item 1

3,16

3,07

0,439

Item 2

3,45

3,38

0,462

Item 3

3,26

2,92

0,002

Item 4

3,94

3,85

0,044

Item 5

3,70

3,58

0,109

Item 6

3,57

3,36

0,033

Fonte: elaboração do autor (2015).

A atuação profissional pareceu ser um fator com mais peso à adesão à ciência da Nova Era. Em metade das afirmações o valor-p demonstrou relevância estatística (em negrito), com os naturó360

CAPÍTULO V

logos atuantes mais inclinados às afirmações do que os que não estão exercendo a profissão. Tabela 44 – Grau de adesão detalhado dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “ciência da Nova Era”, segundo a atuação profissional com naturologia.

Item 1

Item 2

Item 3

Item 4

Item 5

Item 6

1

2

3

4

Atuando

13 (5,9%)

32 (14,5%)

81 (36,8%)

94 (42,7%)

Não atuando

5 (6,9%)

13 (18,1%)

26 (36,1%)

28 (38,9%)

Atuando

(3,6%)

20 (9,1%)

56 (25,5%)

136 (61,8%)

Não atuando

(1,4%)

9 (12,5%)

24 (33,3%)

38 (52,8%)

Atuando

11 (5,0%)

20 (9,1%)

89 (40,5%)

100 (45,5%)

Não atuando

(8,3%)

12 (16,7%)

36 (50,0%)

18 (25,0%)

Atuando

0 (0,0%)

3 (1,4%)

8 (3,6%)

209 (95,0%)

Não atuando

0 (0,0%)

1 (1,4%)

9 (12,5%)

62 (86,1%)

Atuando

0 (0,0%)

8 (3,6%)

49 (22,3%)

163 (74,1%)

Não atuando

1 (1,4%)

2 (2,8%)

23 (31,9%)

46 (63,9%)

Atuando

3 (1,4%)

13 (5,9%)

60 (27,3%)

144 (65,5%)

Não atuando

3 (4,2%)

7 (9,7%)

23 (31,9%)

39 (54,2%)

Valor-p

0,883

0,327

0,014

0,018

0,099

0,191

Fonte: elaboração do autor (2015). 361

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Mas na análise detalhada das frequências (tabela anterior), o item 6 perdeu sua relevância estatística, Portanto, somente os itens 3 e 4 apresentaram discrepância com relevância estatística entre os naturólogos atuantes e os não atuantes. O último cruzamento, referente ao fato do naturólogo considerar ou não os aspectos espirituais, demonstrou resultados similares:

Tabela 45 – Média do grau de adesão dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “ciência da Nova Era”, segundo os naturólogos levarem ou não em consideração os aspectos espirituais em atendimento. Considera

Não considera

Não está atuando

Valor-p

Item 1

3,18

3,15

2,98

0,352

Item 2

3,46

3,31

3,35

0,553

Item 3

3,25

2,85

2,94

0,019

Item 4

3,93

4,00

3,83

0,096

Item 5

3,69

3,62

3,61

0,577

Item 6

3,55

3,38

3,43

0,427

Fonte: elaboração do autor (2015).

362

Tabela 46 – Grau de adesão detalhado dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “ciência da Nova Era”, segundo os naturólogos levarem ou não em consideração os aspectos espirituais em atendimento.

Item 1

Item 2

Item 3

Item 4

Item 5

Item 6

1

2

3

4

Considera

13 (5,8%)

32 (14,2%)

82 (36,4%)

98 (43,6%)

Não considera Não está atuando

1 (7,7%) 4 (7,4%)

2 (15,4%) 11 (20,4%)

4 (30,8%) 21 (38,9%)

6 (46,2%) 18 (33,3%)

Considera

7 (3,1%)

22 (9,8%)

56 (24,9%)

140 (62,2%)

Não considera Não está atuando

1 (7,7%) 1 (1,9%)

0 (0,0%) 7 (13,0%)

6 (46,2%) 18 (33,3%)

6 (46,2%) 28 (51,9%)

Considera

12 (5,3%)

20 (8,9%)

92 (40,9%)

101 (44,9%)

Não considera

2 (15,4%)

2 (15,4%)

5 (38,5%)

4 (30,8%)

Não está atuando

3 (5,6%)

10 (18,5%)

28 (51,9%)

13 (24,1%)

Considera

0 (0,0%)

4 (1,8%)

8 (3,6%)

213 (94,7%)

Não considera Não está atuando

0 (0,0%) 0 (0,0%)

0 (0,0%) 0 (0,0%)

0 (0,0%) 9 (16,7%)

13 (100,0%) 45 (83,3%)

Considera

0 (0,0%)

8 (3,6%)

53 (23,6%)

164 (72,9%)

Não considera Não está atuando

0 (0,0%) 1 (1,9%)

1 (7,7%) 1 (1,9%)

3 (23,1%) 16 (29,6%)

9 (69,2%) 36 (66,7%)

Considera

3 (1,3%)

14 (6,2%)

65 (28,9%)

143 (63,6%)

Não considera

1 (7,7%)

2 (15,4%)

1 (7,7%)

9 (69,2%)

Não está atuando

2 (3,7%)

4 (7,4%)

17 (31,5%)

31 (57,4%)

Valor-p

0,862

0,302

0,055

0,018

0,326

0,263

Fonte: elaboração do autor (2015). 363

A NATUROLOGIA NO BRASIL

Em suma, os naturólogos apresentaram um índice de adesão alto aos valores referentes às discussões sobre ciência típicas dos contextos novaeristas. Em quatro dos seis itens esse grau foi superior a 3,4 (de um máximo de 4), e os outros dois itens se mantiveram com uma média superior a 3,1 (de um máximo de 4). A afirmação de que o todo está contido em suas partes, em especial, teve uma adesão média de 3,9; possivelmente porque esse pensamento fundamenta algumas das práticas da naturologia relacionadas à reflexologia. Dois itens demonstraram relevância estatística que confirma discrepância entre os participantes da UAM e da UNISUL, o que apontou que o grau de adesão aos valores novaeristas referentes à ciência da Nova Era são maiores entre os egressos do curso catarinense. Uma dessas afirmações, referente à Terra ser um organismo vivo, aproxima-se da hipótese Gaia de Lovelock; bastante popular na Nova Era, que considera que o planeta Terra opera como um sistema complexo que mantêm as condições climáticas e geoquímicas propícias à vida, autorregulando a atmosfera, criosfera, hidrosfera e litosfera como um organismo 364

CAPÍTULO V

em homeostase. Talvez esse item seja mais aceito entre os egressos da UNISUL pela hipótese Gaia ter feito parte das ementas das disciplinas de ecologia do curso da UNISUL durante seu primeiro projeto pedagógico. E assim como observado nas duas categorias anteriores, a atuação profissional e o fato de levar em consideração os aspectos espirituais nas interagências pareceram ser fatores determinantes para uma adesão maior aos pensamentos novaeristas, reforçando a hipótese de que o perfil do naturólogo praticante esteja relacionado ao movimento da Nova Era.

NEOPAGANISMO A última grande tendência da Nova Era, segundo Hanegraaff (1998), é o neopaganismo, área limítrofe à Nova Era. Hanegraaff ponderou antes de inseri-la como tendência do movimento em sua tese, porque seu entendimento sobre Nova Era foge de institucionalizações e delimitações. Como todas as expressões do que pode ser compreendido como neopaganismo orbitam em torno da 365

A NATUROLOGIA NO BRASIL

wicca1 (HANEGRAAFF, 1998; RUSSELL; ALEXANDER, 2008), aparentemente o neopaganismo não deveria estar relacionado à Nova Era pelos critérios de Hanegraaff. Mas a partir do momento que a wicca chegou aos Estados Unidos em 1963, fomentou uma pletora de novos movimentos religiosos, muitos dos quais passaram a negar o título de “wicca” para se legitimar e diferenciar do grupo anterior. O fator de complicação, no que concernem os nossos interesses, é que a wicca é um desenvolvimento neopagão da magia ritual ocultista tradicional, mas [...] no contexto de “grupos mágicos” [...], o neopaganismo (wicca) gradualmente e quase imperceptivelmente se mistura com um domínio não pagão (HANEGRAAFF, 1998, p. 89).

O encontro entre a wicca e a segunda onda do movimento feminista, durante a década de 1970, garantiria uma característica militante ao 1 Resumidamente wicca é um movimento religioso originado na década de 1940 na Inglaterra que pratica magia e cujos aderentes se declaram como descendentes da bruxaria europeia pré-cristã. Geralmente os wiccanos são duoteístas, acreditam em uma Deusa e um Deus, embora variações desse pensamento existam no campo, com tradições politeístas, henoteístas e, inclusive, monoteístas.

366

CAPÍTULO V

cenário do neopaganismo norte-americano, não observado na wicca europeia original (RUSSELL; ALEXANDER, 2008). Se, por um lado, isso garantiu uma maior afinidade ao movimento da Nova Era, por outro a estrutura iniciática hierárquica da wicca europeia causou estranhamentos. Por isso, o florescimento do Movimento da Deusa e do movimento da espiritualidade das mulheres também deve ser considerado ao pensar nessa área como parte do campo da Nova Era. Se a wicca está no centro do neopaganismo, e o Movimento da Deusa representa uma divergência heterodoxa desse centro, então a espiritualidade das mulheres pode se localizar parcialmente em sua borda, e parcialmente (e talvez em sua maioria) além do domínio do neopaganismo e da Nova Era ao mesmo tempo (HANEGRAAFF, 1998, p. 86).

No que interessou Hanegraaff ao colocar o neopaganismo entre as principais tendências do movimento da Nova Era, ressaltam-se a crença em magia na vida cotidiana, o reflorescimento e busca por elementos de religiões pré-cristãs, a visão de que a Terra é um organismo vivo (a própria Deusa Terra), a sacralização da sexualidade 367

A NATUROLOGIA NO BRASIL

(não no sentido cristão, de tabu, mas no sentido de que fazer sexo é uma profunda vivência espiritual), e a visão de que Deus não é apenas homem, mas que se manifesta com uma face feminina e uma face masculina (HANEGRAAFF, 1998). As seguintes afirmações foram elencadas para compor os itens Likert dessa categoria: 1.

O que as religiões tradicionais condenaram como idolatria e superstição, na verdade é uma visão de mundo religiosa profunda e mais antiga que precisa ser restabelecida no mundo moderno.

2.

A crise ecológica atual é um resultado direto da perda da relação do ser humano com o mundo natural, fruto da cultura dominante que colocou o ser humano acima da natureza.

3.

Magia/feitiçaria é algo real, com efeitos concretos sobre a realidade.

4.

O sagrado se manifesta em uma face feminina e uma face masculina.

5.

O mundo material é uma personificação do divino. Portanto, nossos corpos e nossa sexualidade são também sagrados.

368

CAPÍTULO V

6.

Bruxas existem, mas não são como os personagens dos contos infantis. Elas são mulheres de sabedoria, em sintonia com os ciclos e mistérios da natureza.

A adesão dessa categoria foi a mais baixa, sendo a única que apresentou um item com resultado abaixo de 3 na média. Dois itens apresentaram valor-p (em negrito) que confirma uma maior adesão entre os formados na UNISUL.

Tabela 47 – Média do grau de adesão dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “neopaganismo”, segundo sua instituição de formação. UAM

UNISUL

Geral

Valor-p

Item 1

2,87

3,09

3,01

0,055

Item 2

3,70

3,80

3,77

0,166

Item 3

2,73

3,08

2,95

0,003

Item 4

3,21

3,26

3,24

0,705

Item 5

3,61

3,61

3,61

0,977

Item 6

3,29

3,59

3,48

0,002

Fonte: elaboração do autor (2015).

369

A NATUROLOGIA NO BRASIL Tabela 48 – Grau de adesão detalhado dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “neopaganismo”, segundo sua instituição de formação. 1

2

3

4

UAM

9 (8,3%)

26 (24,1%)

43 (39,8%)

30 (27,8%)

UNISUL

13 (7,1%)

33 (17,9%)

63 (34,2%)

75 (40,8%)

UAM

2 (1,9%)

5 (4,6%)

16 (14,8%)

85 (78,7%)

UNISUL

4 (2,2%)

3 (1,6%)

18 (9,8%)

159 (86,4%)

UAM

19 (17,6%)

20 (18,5%)

40 (37,0%)

29 (26,9%)

UNISUL

13 (7,1%)

34 (18,5%)

62 (33,7%)

75 (40,8%)

UAM

5 (4,6%)

16 (14,8%)

38 (35,2%)

49 (45,4%)

UNISUL

16 (8,7%)

18 (9,8%)

53 (28,8%)

97 (52,7%)

UAM

0 (0,0%)

8 (7,4%)

26 (24,1%)

74 (68,5%)

UNISUL

6 (3,3%)

11 (6,0%)

32 (17,4%)

135 (73,4%)

UAM

9 (8,3%)

10 (9,3%)

30 (27,8%)

59 (54,6%)

UNISUL

5 (2,7%)

9 (4,9%)

42 (22,8%)

128 (69,6%)

Item 1

Item 2

Item 3

Item 4

Item 5

Item 6

Valor-p

0,160

0,244

0,012

0,199

0,140

0,021

Fonte: elaboração do autor (2015). 370

CAPÍTULO V

A análise detalhada das frequências corroborou a significância estatística desses itens. Portanto, a crença em bruxas e em magia foi maior entre os naturólogos formados pela UNISUL do que pela UAM. O ano de formação dos respondentes não foi um fator determinante para a adesão das afirmações sobre neopaganismo; uma tendência também observada em todas as outras três categorias. As médias se mantêm próximas, o que é confirmado pelos valores-p sem significância. Tabela 49 – Média do grau de adesão dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “neopaganismo”, segundo ano de formação. 2002 a 2006

2007 a 2010

2011 a 2014

Valor-p

Item 1

2,93

3,07

2,95

0,592

Item 2

3,76

3,75

3,79

0,887

Item 3

2,93

3,03

2,84

0,366

Item 4

3,11

3,30

3,20

0,403

Item 5

3,58

3,66

3,54

0,400

Item 6

3,53

3,50

3,42

0,643

Fonte: elaboração do autor (2015). 371

Tabela 50 – Grau de adesão detalhado dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “neopaganismo”, segundo seu ano de formação.

Item 1

Item 2

1

2

3

4

2002 a 2007

4 (8,9%)

10 (22,2%)

16 (35,6%)

15 (33,3%)

2007 a 2010

10 (6,6%)

29 (19,2%)

53 (35,1%)

59 (39,1%)

2011 a 2014

8 (8,3%)

20 (20,8%)

37 (38,5%)

31 (32,3%)

2002 a 2007

1 (2,2%)

0 (0,0%)

8 (17,8%)

36 (80,0%)

4 (2,6%) 1 (1,0%)

4 (2,6%) 4 (4,2%)

17 (11,3%)

126 (83,4%) 82 (85,4%)

3 (6,7%)

11 (24,4%)

17 (37,8%)

14 (31,1%)

15 (9,9%) 14 (14,6%)

25 (16,6%) 18 (18,8%)

52 (34,4%) 33 (34,4%)

59 (39,1%) 31 (32,3%)

5 (11,1%)

3 (6,7%)

19 (42,2%)

18 (40,0%)

11 (7,3%) 5 (5,2%)

18 (11,9%) 13 (13,5%)

36 (23,8%) 36 (37,5%)

86 (57,0%) 42 (43,8%)

2 (4,4%)

4 (8,9%)

5 (11,1%)

34 (75,6%)

2 (1,3%) 2 (2,1%)

11 (7,3%)

23 (15,2%) 30 (31,3%)

115 (76,2%) 60 (62,5%)

2007 a 2010 2011 a 2014 2002 a 2007

Item 3

2007 a 2010 2011 a 2014 2002 a 2007

Item 4

2007 a 2010 2011 a 2014 2002 a 2007

Item 5

2007 a 2010 2011 a 2014

Item 6

4 (4,2%)

9 (9,4%)

2002 a 2007

1 (2,2%)

3 (6,7%)

12 (26,7%)

29 (64,4%)

2007 a 2010

10 (6,6%)

7 (4,6%)

31 (20,5%)

103 (68,2%)

2011 a 2014

3 (3,1%)

9 (9,4%)

29 (30,2%)

55 (57,3%)

Valor-p

0,955

0,593

0,627

0,074

0,026

0,262

Fonte: elaboração do autor (2015). 372

CAPÍTULO V

A análise detalhada demonstrou um pico de adesão entre os formados entre 2007 e 2010 no item 5 (valor-p ressaltado em negrito na tabela anterior). Além disso, no item 4 o valor-p encontrado foi limítrofe. O motivo da popularização desses valores entre os formados durante esses anos não são compreensíveis por esse estudo. A atuação profissional também apontou influência na adesão aos valores novaeristas referentes ao neopaganismo no item 4. Tabela 51 – Média do grau de adesão dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “neopaganismo”, segundo sua atuação profissional com naturologia. Atuando

Não atuando

Valor-p

Item 1

3,04

2,92

0,344

Item 2

3,78

3,72

0,464

Item 3

3,00

2,82

0,191

Item 4

3,30

3,04

0,035

Item 5

3,65

3,47

0,056

Item 6

3,50

3,43

0,560

Fonte: elaboração do autor (2015). 373

A NATUROLOGIA NO BRASIL Tabela 52 – Grau de adesão detalhado dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “neopaganismo”, segundo sua atuação profissional com naturologia.

Item 1

Item 2

Item 3

Item 4

Item 5

Item 6

1

2

3

4

Atuando

15 (6,8%)

46 (20,9%)

75 (34,1%)

84 (38,2%)

Não atuando

7 (9,7%)

13 (18,1%)

31 (43,1%)

21 (29,2%)

Atuando

4 (1,8%)

6 (2,7%)

24 (10,9%)

186 (84,5%)

Não atuando

2 (2,8%)

2 (2,8%)

10 (13,9%)

58 (80,6%)

Atuando

23 (10,5%)

38 (17,3%)

76 (34,5%)

83 (37,7%)

Não atuando

9 (12,5%)

16 (22,2%)

26 (36,1%)

21 (29,2%)

Atuando

17 (7,7%)

20 (9,1%)

62 (28,2%)

121 (55,0%)

Não atuando

4 (5,6%)

14 (19,4%)

29 (40,3%)

25 (34,7%)

Atuando

4 (1,8%)

12 (5,5%)

40 (18,2%)

164 (74,5%)

Não atuando

2 (2,8%)

7 (9,7%)

18 (25,0%)

45 (62,5%)

Atuando

11 (5,0%)

12 (5,5%)

54 (24,5%)

143 (65,0%)

Não atuando

3 (4,2%)

7 (9,7%)

18 (25,0%)

44 (61,1%)

Valor-p

0,362

0,887

0,559

0,006

0,240

0,645

Fonte: elaboração do autor (2015). 374

CAPÍTULO V

Sobre os naturólogos que levam em consideração os aspectos espirituais nas interagências, os itens 4 e 5 demonstraram valor-p com relevância estatística (destacados na tabela abaixo), e o item 1 retornou um valor-p limítrofe. Esses dados foram confirmados pela análise das frequências. Metade dos itens obteve um valor-p com significância (destacados em negrito na tabela da página seguinte). Tabela 53 – Média do grau de adesão dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “neopaganismo”, segundo os naturólogos levarem ou não em consideração os aspectos espirituais em atendimento. Considera

Não considera

Não está atuando

Valor-p

Item 1

3,07

2,62

2,83

0,072

Item 2

3,79

3,62

3,70

0,407

Item 3

3,02

2,69

2,74

0,114

Item 4

3,35

2,77

2,91

0,001

Item 5

3,66

3,23

3,48

0,032

Item 6

3,51

3,15

3,44

0,301

Fonte: elaboração do autor (2015).

375

A NATUROLOGIA NO BRASIL Tabela 54 – Grau de adesão detalhado dos respondentes aos valores novaeristas referente à categoria “neopaganismo”, segundo os naturólogos levarem ou não em consideração os aspectos espirituais em atendimento. Considera Item 1

Não considera Não está atuando Considera

Item 2

Não considera Não está atuando Considera

Item 3

Não considera Não está atuando Considera

Item 4

Não considera Não está atuando Considera

Item 5

Não considera Não está atuando Considera

Item 6

Não considera Não está atuando

1

2

3

4

15 (6,7%) 1 (7,7%) 6 (11,1%) 3 (1,3%) 1 (7,7%) 2 (3,7%) 24 (10,7%) 2 (15,4%) 6 (11,1%) 15 (6,7%) 2 (15,4%) 4 (7,4%) 2 (0,9%) 2 (15,4%) 2 (3,7%) 12 (5,3%) 0 (0,0%) 2 (3,7%)

43 (19,1%) 5 (38,5%) 11 (20,4%) 6 (2,7%) 1 (7,7%) 1 (1,9%) 36 (16,0%) 3 (23,1%) 15 (27,8%) 19 (8,4%) 3 (23,1%) 12 (22,2%) 14 (6,2%) 0 (0,0%) 5 (9,3%) 13 (5,8%) 1 (7,7%) 5 (9,3%)

78 (34,7%) 5 (38,5%) 23 (42,6%) 26 (11,6%) 0 (0,0%) 8 (14,8%) 77 (34,2%) 5 (38,5%) 20 (37,0%) 64 (28,4%) 4 (30,8%) 23 (42,6%) 42 (18,7%) 4 (30,8%) 12 (22,2%) 49 (21,8%) 9 (69,2%) 14 (25,9%)

89 (39,6%) 2 (15,4%) 14 (25,9%) 190 (84,4%) 11 (84,6%) 43 (79,6%) 88 (39,1%) 3 (23,1%) 13 (24,1%) 127 (56,4%) 4 (30,8%) 15 (27,8%) 167 (74,2%) 7 (53,8%) 35 (64,8%) 151 (67,1%) 3 (23,1%) 33 (61,1%)

Valor-p

0,230

0,296

0,303

0,003

0,018

0,015

Fonte: elaboração do autor (2015). 376

CAPÍTULO V

Essa categoria foi a que apresentou o índice mais baixo de identificação. Enquanto nas outras categorias os valores foram superiores a 3 (na maioria delas, a média se manteve em torno de 3,5), nessa ele esteve entre 2 e 3, na zona mediana da escala de 1 a 4. Assim como na categoria anterior, a adesão aos ideais neopagãos foi aparentemente maior entre os respondentes da UNISUL, mas com relevância estatística em apenas dois deles. De qualquer forma, a concordância desses itens foi alta em ambas as instituições: 92,4% dos egressos da UNISUL tenderam à crença em bruxas contra 82,4% da UAM; e algum grau de crença em magia foi atestada por 74,5% dos respondentes da UNISUL contra 63,9% da UAM. Ressaltando o que foi dito anteriormente, não se trata de apontar qual das duas instituições está ou não formando naturólogos simpatizantes da Nova Era. O que pontuo é que os naturólogos da UNISUL concordam mais com esses itens do que os da UAM. Mas os egressos de ambos os cursos demonstram graus de adesão elevados à Nova Era.

377

CONSIDERAÇÕES FINAIS A naturologia brasileira encontra-se em um período crucial de sua história. Outrora um dos cursos mais populares das universidades onde sua formação é ofertada no Brasil, no final da década de 2000 suas formações passaram por uma fase de grande evasão e baixa procura em ambas as instituições. Conforme apresentado no segundo capítulo, ao longo de sua história três orientações foram observadas na naturologia. A primeira delas foi mais abertamente inclinada aos ideais do movimento da Nova Era, dizendo respeito à fase de fundação dos dois cursos da região sul, na década de 1990. A segunda fase, em resposta à crescente popularidade conquistada na fase inicial, manifestou-se como uma preocupação das universidades em trazer excelência acadêmica à formação, adequando-a ao padrão dos outros cursos da área da saúde. Contudo, o caráter biologista das coordenações desestimulou conhecimentos novaeristas 379

A NATUROLOGIA NO BRASIL

através do silenciamento de professores e profissionais mais alinhavados a seus valores. A terceira fase colhe ainda os frutos da opressão da fase anterior, refletindo-os muitas vezes. Ao levantar, no primeiro capítulo, três dimensões centrais à popularização das PIC no mundo, foi percebido que o surgimento dos cursos de naturologia nas FIES de Curitiba e na UNISUL parecia responder mais à demanda novaerista do que às questões da saúde social apregoadas pela OMS e pelo Ministério da Saúde naquele momento. Também foi visto, no terceiro capítulo, que boa parte da prática profissional naturológica não somente é eivada de ideias caras ao movimento da Nova Era, como a própria noção de interagência, central à terapêutica naturológica, sustenta-se em valores importantes ao movimento, como a horizontalidade da relação terapeuta-terapeutizado, a psicologização do adoecer, a responsabilização do enfermo frente a seu processo terapêutico, e a noção de que ninguém pode curar outra pessoa, a não ser o próprio sujeito. O que concluo, ao final desse estudo, é que a identidade da naturologia está intrinsecamente ligada à Nova Era, o que confirma a hipótese le380

CONSIDERAÇÕES FINAIS

vantada no início desse projeto. Não é possível retirar a Nova Era da naturologia sem destruir essa identidade, ainda que a naturologia e boa parte dos naturólogos não entendam ou identifiquem em sua profissão a Nova Era; pelo menos não com esse rótulo. Não se podem ignorar estudos sobre Nova Era para a naturologia. Nem ignorar estudos sobre Nova Era na naturologia, dentro dela. Se a área pretende aprofundar suas discussões epistemológicas, uma preocupação que vem sendo observada desde o florescer da terceira fase, não será possível evitar esse caminho por muito mais tempo. De acordo com o que foi discutido no quarto capítulo, os naturólogos novaeristas são os que se mantêm mais atuantes na profissão, recorrendo igualmente à formação continuada quando comparados aos naturólogos não novaeristas, refutando o preconceito comum na área de que seriam os profissionais com menos perfil acadêmico. E de acordo com os dados apresentados no último capítulo, há muito de Nova Era entre os naturólogos, em todos os níveis de todas as tendências ressaltadas como relevantes ao movimento. A média do grau de adesão das escalas do 381

A NATUROLOGIA NO BRASIL

tipo Likert manteve-se superior a 3 (de um máximo de 4) em todas as afirmações, salvo uma referente ao neopaganismo; justamente a categoria que Hanegraaff considera limítrofe ao movimento da Nova Era. Por que, então, ignorar a dimensão novaerista da naturologia? Porque soa pouco científica? Porque soa mística ou esotérica? Por que dá trabalho pesquisar sobre isso? Por que tira o naturólogo de sua zona de conforto? Por que envolve uma dimensão religiosa? Por que desafia a crença dos sujeitos naturólogos? Por que vai “deslegitimar” a profissão por aparentemente não responder às agendas políticas da área? Mas a própria OMS criou seu Programa de Medicinas Tradicionais por causa da Nova Era, e as PIC se popularizaram no Brasil justamente pela chegada desse movimento no país. O que exatamente é temido? A naturologia e suas instituições não precisam evitar estudos sobre o movimento da Nova Era. Tão pouco é necessário silenciar os profissionais que se inclinam mais aos valores novaeristas. Deve-se lembrar de que Hanegraaff (1998), ao apresentar o movimento em sua tese, afirma que a Nova Era é uma resposta ao secularismo de 382

CONSIDERAÇÕES FINAIS

uma sociedade, tanto que sua espiritualidade é pautada em mitologias de ciência. Nesse sentido, determinada hegemonia do pensamento científico é necessária para a manifestação da Nova Era em sua população. Ela é, sim, muito religiosa. Mas possui um fundo social do lugar do científico inegável, que não deve ser ignorado. Mas não se deve concluir disso que a Nova Era é científica. Os naturólogos não carecem ir ao outro extremo: ou seja, abraçar a Nova Era sem problematizações, de forma dogmática, como se essas mitologias de ciência fossem inquestionáveis. A fase acadêmica amadurecida em que a naturologia brasileira se encontra permite um maior aprofundamento das discussões sobre Nova Era nas universidades, através de um prisma diferente do que foi ofertado na primeira fase, com possibilidade de distanciamento e a adoção de discursos éticos como critério para a análise do êmico latente no campo. Postura essa que, aliás, é o que permitiria esse grande salto epistemológico pela área. O número de naturólogos doutores se mantém crescente na década atual. Não apenas isso, embora a maioria dos pós-graduados tenham recorrido a programas de saúde coletiva, existem 383

A NATUROLOGIA NO BRASIL

acadêmicos estudiosos da naturologia em áreas distintas como as ciências sociais, a antropologia, a psicologia e, agora, a ciência das religiões. Esses estudiosos são pesquisadores que publicam artigos, que participam ativamente de congressos, e que devem poder contribuir, oferecendo ferramentas analíticas importantes para a investigação e o estudo dessa dimensão da naturologia. Para finalizar, termino citando uma fala que emergiu em uma de minhas entrevistas. Tomando emprestada a teoria de Jung, o que é negado voz, que é proibido de se manifestar na consciência, age de forma sorrateira nas sombras. Enquanto na consciência isso pode ser debatido, aprofundado, refletido, questionado, enfrentado, integrado, nas sombras fica inconscientemente, clamando por sua participação, o que pode acabar se manifestando de forma muito destrutiva. Quanto mais se projeta força psíquica para negar tal conteúdo, mais forte se torna seu potencial de explosão. Em outras palavras, toda a energia empregada para evitar que aquilo emirja, acaba por constelá-lo nas sombras com a mesma intensidade. Eventualmente isso se volta contra o agente repressor, e sem esperar, as sombras se levantam 384

CONSIDERAÇÕES FINAIS

contra, pegando todos de assalto. Se esse conteúdo está claro, é possível problematizar. Mas se é negado, então fica simplesmente sendo repassado sem controle qualquer. A Nova Era é parte da naturologia no Brasil desde sua fundação, isso precisa ser assumido. O problema é querer diminuir ou até negar aquilo que constituiu a história e a identidade da naturologia no Brasil. Não se nega a história. Identidade não se negocia.

385

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410

Apêndices & Anexo

APÊNDICE A QUESTÕES SOBRE O PERFIL SOCIAL DO RESPONDENTE Qual a sua formação acadêmica na naturologia? ( ) não tenho vínculos com a naturologia [fator de exclusão] ( ) estudante de Naturologia [fator de exclusão] ( ) naturólogo(a) graduado(a) Em qual instituição o(a) sr.(a) se formou em naturologia? ( ) UAM ( ) UNISUL ( ) outra [fator de exclusão] Em qual ano o(a) sr.(a) concluiu a graduação? _______ O(a) sr.(a) está atuando profissionalmente com a naturologia no momento? ( ) sim ( ) não O(a) sr.(a) leva em consideração os aspectos espirituais de seus interagentes em seu trabalho? ( ) sim ( ) não ( ) não estou atuando no momento O(a) senhor(a) se considera um(a) adepto(a) dos valores do movimento da Nova Era? ( ) sim ( ) não ( ) não sei o que é o movimento da Nova Era Qual a sua denominação religiosa? __________________ Comentários (opcional) _____________________________ 413

APÊNDICE B ITENS DA ESCALA DE ADESÃO DOS IDEAIS DA NOVA ERA, SEPARADOS POR CATEGORIAS Categoria 1. Canalização 1. Há dimensões diferentes habitadas por seres com sabedoria superior. 2. Todos os seres humanos podem receber informações de formas de inteligência superior, oriundas de níveis de existência mais elevados que o plano material em que vivemos. 3. A conexão com outros planos é uma habilidade natural que está latente em todos, podendo ser despertada por qualquer ser humano. 4. É possível aprender conscientemente a canalizar mensagens de outros planos, mesmo que nunca se tenha tido qualquer experiência anterior similar. 5. O insight é o caminho pelo qual a revelação divina se manifesta a nós. 6. As revelações das religiões históricas – como Maomé ou os profetas do Antigo Testamento – são mediunidades, fenômeno idêntico ao que acontece hoje em sujeitos que se estabelecem como canais de comunicação para esses domínios.

Categoria 2. Cura e crescimento pessoal 1. Cada ser humano é uma relação interdependente de corpo, mente, emoções e espírito. 2. A medicina contemporânea perdeu a “arte de curar” ao se focar na patologia, esquecendo-se do sujeito completo. 3. A doença não é um simples fato biofísico. Toda doença possui um significado moldado na experiência do enfermo que vai além dos sintomas imediatos. 4. Não é possível se fazer distinções rígidas entre doenças físicas e doenças psíquicas. 5. Desenvolver os potenciais humanos nos permite entrar em contato com o lado divino que existe dentro de nós.

414

6. O bom curador não se foca em eliminar a doença, mas sim em promover a saúde, pois a doença é um fenômeno natural que faz parte da vida. 7. A doença surge como resultado do sujeito ir contra sua própria natureza.

Categoria 3. Ciência da Nova Era 1. A ciência tradicional é materialista e propícia à alienação humana. 2. A ciência tradicional reflete um reducionismo ultrapassado, fadado a ser substituído por um novo paradigma baseado em uma perspectiva holística. 3. Os novos paradigmas científicos (p. ex. física quântica, física relativista) podem explicar os trabalhos do divino no cosmo, garantindo bases científicas para a religião. 4. O todo do universo está implícito em cada uma de suas partes. Assim, o microcosmo reflete o macrocosmo e vice-versa. 5. Há paralelos entre a física moderna (p. ex. física quântica, física relativista) e as religiões e filosofias orientais. 6. A Terra funciona como um organismo vivo, um sistema autorregulador que elimina com desastres naturais aquilo que ameaça o equilíbrio do planeta.

Categoria 4. Neopaganismo 1. O que as religiões tradicionais condenaram como idolatria e superstição, na verdade é uma visão de mundo religiosa profunda e mais antiga que precisa ser restabelecida no mundo moderno. 2. A crise ecológica atual é um resultado direto da perda da relação do ser humano com o mundo natural, fruto da cultura dominante que colocou o ser humano acima da natureza. 3. Magia/feitiçaria é algo real, com efeitos concretos sobre a realidade. 4. O sagrado se manifesta em uma face feminina e uma face masculina. 5. O mundo material é uma personificação do divino. Portanto, nossos corpos e nossa sexualidade são também sagrados. 6. Bruxas existem, mas não são como os personagens dos contos infantis. Elas são mulheres de sabedoria, em sintonia com os ciclos e mistérios da natureza.

415

APÊNDICE C MODELO DA ESCALA DE ADESÃO DOS IDEAIS DA NOVA ERA Discordo totalmente

Concordo totalmente

1

2

3

4

A ciência tradicional reflete um reducionismo ultrapassado, fadado a ser substituído por um novo paradigma baseado em uma perspectiva holística.

(_)

(_)

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Cada ser humano é uma relação interdependente de corpo, mente, emoções e espírito.

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O todo do universo está implícito em cada uma de suas partes. Assim, o microcosmo reflete o macrocosmo e vice-versa.

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Não é possível se fazer distinções rígidas entre doenças físicas e doenças psíquicas.

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(_)

(_)

(_)

A doença não é um simples fato biofísico. Toda doença possui um significado moldado na experiência do enfermo que vai além dos sintomas imediatos.

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(_)

(_)

(_)

O bom curador não se foca em eliminar a doença, mas sim em promover a saúde, pois a doença é um fenômeno natural que faz parte da vida.

(_)

(_)

(_)

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O insight é o caminho pelo qual a re velação divina se manifesta a nós.

(_)

(_)

(_)

(_)

416

Discordo totalmente

Concordo totalmente

1

2

3

4

A conexão com outros planos é uma habilidade natural que está latente em todos, podendo ser despertada por qualquer ser humano.

(_)

(_)

(_)

(_)

Bruxas existem, mas não são como os personagens dos contos infantis. Elas são mulheres de sabedoria, em sinto nia com os ciclos e mistérios da natureza.

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É possível aprender conscientemente a canalizar mensagens de outros planos, mesmo que nunca se tenha tido qualquer experiência anterior similar.

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Todos os seres humanos podem rece ber informações de formas de inteligência superior, oriundas de níveis de existência mais elevados que o plano material em que vivemos.

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O mundo material é uma personificação do divino. Portanto, nossos corpos e nossa sexualidade são também sagrados.

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Há paralelos entre a física moderna (p. ex. física quântica, física relativista) e as religiões e filosofias orientais.

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Há dimensões diferentes habitadas por seres com sabedoria superior.

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Desenvolver os potenciais humanos nos permite entrar em contato com o lado divino que existe dentro de nós.

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417

Discordo totalmente

Concordo totalmente

1

2

3

4

Magia/feitiçaria é algo real, com efeitos concretos sobre a realidade.

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A crise ecológica atual é um resultado direto da perda da relação do ser humano com o mundo natural, fruto da cultura dominante que colocou o ser humano acima da natureza.

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A Terra funciona como um organismo vivo, um sistema autorregulador que elimina com desastres naturais aquilo que ameaça o equilíbrio do planeta.

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O que as religiões tradicionais condenaram como idolatria e superstição, na verdade é uma visão de mundo religiosa profunda e mais antiga que precisa ser restabelecida no mundo moderno.

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As revelações das religiões históricas – como Maomé ou os profetas do Antigo Testamento – são mediunidades, fenômeno idêntico ao que acontece hoje em sujeitos que se estabelecem como canais de comunicação para esses do mínios.

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Os novos paradigmas científicos (p. ex. física quântica, física relativista) podem explicar os trabalhos do divino no cos mo, garantindo bases científicas para a religião.

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O sagrado se manifesta em uma face feminina e uma face masculina.

418

Discordo totalmente

Concordo totalmente

1

2

3

4

A doença surge como resultado do sujeito ir contra sua própria natureza.

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A medicina contemporânea perdeu a “arte de curar” ao se focar na patolo gia, esquecendo-se do sujeito completo.

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A ciência tradicional é materialista e propícia à alienação humana.

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Obs.: A versão exibida nesse apêndice está com o número de níveis simplificado de 8 para 4, para facilitar a diagramação. Porém, a versão aplicada pelo site SurveyMonkey continha 8 níveis de avaliação. Ressalta-se também que os itens eram reembaralhado de forma única para cada respondente. Sendo assim, a ordem exibida aqui não necessariamente era a ordem exibida aos participantes da pesquisa no site.

419

ANEXO A CONCEITO DE NATUROLOGIA DE PORTUGAL NATUROLOGIA, s. f. Neol. Espécie de culto prático da vida por um sistema de biocultura natural, que pretende alcançar o fim de regenerar o indivíduo, sujeitando-o às leis da Natureza, embora com respeito às leis da sociedade e assimilação das aquisições úteis da Civilização, empregando os agentes físicos naturais, como ginástica, maçagem [sic.], banhos de ar, água, sol, vapor, etc., alimentação racional, tanto quanto possível vegetariana, e uma reforma de conduta moral e mental de harmonia [...]. NATUROLÓGICO, adj. Que diz respeito ou se refere à naturologia [p. ex.]: processos naturológi cos ; a revista Natura é um órgão da imprensa na turológica. NATUROLOGISTA, adj. 2 gén. O mesmo que naturológico.  S. 2 gén. O mesmo que naturó logo.

420

NATURÓLOGO, s. m. Adepto da naturologia.  Especialmente indivíduo que possua habilitações legais ou legalizadas suficientes para exercer actividade [sic.] técnica em clínicas onde se pratiquem tratamentos por processos naturológicos. NATUROPATA, adj. e s. 2 gén. Que diz respeito à naturopatia.  O que crê na cura ou a promove, por processos fundados na naturopatia. NATUROPATIA, s. f. Tratamento por processos naturais, fundados nas doutrinas da naturologia. NATUROPÁTICO, adj. e s. 2 gén. O mesmo que naturopata.

Fonte: Grande enciclopédia portuguesa e brasileira, v. XVIII (CORREIA, 1950, p. 460-461).

421

ANEXO B GRADE CURRICULAR ORIGINAL DO CURSO DE NATUROLOGIA DA UAM       

Anatomia (100h); Bioestatística (60h); Biofísica (40h); Citologia e Histologia (60h); Ecologia Aplicada à Naturologia (60h); Filosofia (80h); Metodologia da Pesquisa Científica (80h);

1º semestre

       

Anatomia Neuroendócrina (40h); Bioquímica (80h); Botânica Aplicada à Naturologia (60h); Comunicação/Expressão (80h); Embriologia e Genética (60h); Fundamentos da Física Quântica (40h); Princípios das Terapias Vibracionais (80h); Psicologia (80h);

2º semestre

     

Antropologia (40h); Ciências Sociais (80h); Fisiologia (100h); Microbiologia e Imunologia (80h); Princípios das Terapias Antroposóficas (80h); Psicologia Aplicada à Naturologia (80h);

3º semestre

      

Essências Florais e Vibracionais (80h); Farmacologia (80h); Fitoterapia (80h); Patologia Básica (80h); Princípios das Terapias Ayurvédicas (80h); Psicopatologia (40h); Trabalho Interdisciplinar I (40h);

4º semestre

422

      

Aromaterapia (80h); Avaliação em Naturologia (80h); Iridologia (80h); Optativa I (40h); Parasitologia (60h); Princípios das Terapias Orientais (80h); Trabalho Interdisciplinar II (40h);

5º semestre

       

Arte Integrativa (80h); Cinesiologia Aplicada à Naturologia (60h); Cromoterapia (60h); Massoterapia Aplicada à Naturologia (80h); Nutrição e Dietas Naturais (80h); Optativa II (40h); Saneamento e Epidemiologia (60h); Técnicas de Meditação (60h);

6º semestre

     

Estágio I (Qualidade De Vida) (200h); Gerontologia (80h); Hidroterapia Aplicada à Naturologia (60h); Primeiros Socorros (40h); Projeto Experimental e TCC I (40h); Reflexologia (60h);

7º semestre

    

Estágio II (Saúde) (200h); Legislação e Ética (40h); Optativa III (40h); Optativa IV (40h); Projeto Experimental e TCC II (40h);

8º semestre

Fonte: e-MEC (2017b).

423

ANEXO C GRADE CURRICULAR DE 2003 DO CURSO DE NATUROLOGIA DA UAM        

Antropologia (40h); Atividade Complementar: Vivências I (40h); Biofísica (40h); Botânica Aplicada à Naturologia (60h); Citologia e Histologia (60h); Fundamentos da Naturologia (80h); Metodologia da Pesquisa Científica (80h); Psicologia (80h)

1º semestre

      

Anatomia (100h); Bioquímica (80h); Comunicação/Expressão (80h); Embriologia e Genética (60h); Fundamentos da Física Quântica (40h); Princípios das Terapias Vibracionais (80h); Psicologia Aplicada à Naturologia (80h);

2º semestre

       

Atividade Complementar: Vivências II (40h); Bioestatística (60h); Ciências Sociais (80h); Essências Florais e Vibracionais (80h); Fisiologia (100h); Parasitologia (60h); Princípios das Terapias Antroposóficas (80h); Psicopatologia (40h);

3º semestre

      

Ecologia Aplicada à Naturologia (60h); Farmacologia (80h); Microbiologia e Imunologia (80h); Morfofisiologia dos Órgãos Sensoriais (40h); Patologia Básica (80h); Princípios das Terapias Ayurvédicas (80h); Trabalho Interdisciplinar I (40h);

4º semestre

424

      

Aromaterapia (80h); Avaliação em Naturologia (80h); Fitoterapia (80h); Iridologia (80h); Optativa I (40h); Princípios das Terapias Orientais (80h); Trabalho Interdisciplinar II (40h);

5º semestre

       

Arte Integrativa (80h); Cinesiologia Aplicada à Naturologia (60h); Cromoterapia (60h); Massoterapia Aplicada à Naturologia (80h); Nutrição e Dietas Naturais (80h); Optativa II (40h); Saneamento e Epidemiologia (60h); Técnicas de Meditação (60h);

6º semestre

     

Estágio I (Qualidade De Vida) (200h); Gerontologia (80h); Hidroterapia Aplicada à Naturologia (60h); Primeiros Socorros (40h); Projeto Experimental e TCC I (40h); Reflexologia (60h);

7º semestre

    

Estágio II (Saúde) (200h); Legislação e Ética (40h); Optativa III (40h); Optativa IV (40h); Projeto Experimental e TCC II (40h);

8º semestre

Fonte: e-MEC (2017b).

425

ANEXO D GRADE CURRICULAR DE 2007 DO CURSO DE NATUROLOGIA DA UAM      

Antropologia (40h); Embriologia e Genética (60h); Fisicoquímica dos Sistemas Biológicos (100h); Fundamentos de Naturologia (100h); Fundamentos de Psicologia (40h); Morfologia Humana (160h);

1º semestre

    

Agressão e Defesa (100h); Estilo de Vida, Saúde e Meio Ambiente (60h); Práticas em Naturologia I (80h); Sistema Osseomioarticular (100h): Sistemas Corporais (160h);

2º semestre

    

Bioconsciência e Saúde (60h); Farmacologia (80h); Práticas em Naturologia II (160h); Sistema Circulatório e Hematopolético (100h); Sistema Nervoso (100h);

3º semestre

 

4º semestre

 

Ética Profissional (40h); Filosofia Oriental e Ocidental Comparada (60h); Integração Biopsíquica e Psicopatológica (120h); Práticas em Naturologia III (220h); Sistema Gastrointestinal (60h);

    

Abordagem Antroposófica (80h); Ciclo Vital (80h); Medicina Botânica (260h); Programa Interdisciplinar Comunitário I (40h); Terapias Orientais (100h);

5º semestre



426

     

Medicina Ocidental (40h); Programa Interdisciplinar Comunitário II (40h); Saúde Coletiva (60h); Terapias Corpo/Mente (160h); Terapias Corporais (160h); Terapias em Grupo (80h);

6º semestre

    

Gestão em Saúde (60h); Nutrição e Dietas Naturais (60h); Terapias Ayurvédicas (80h); Terapias Meditativas (100h); Terapias Sutis (200h);

7º semestre

    

Estágio Curricular I (180h); Estágio Curricular II (200h); Optativa I (40h); Seminário Integrativo I (40h); Trabalho de Conclusão de Curso I (40h);

8º semestre

    

Estágio Curricular III (180h); Estágio Curricular IV (200h); Optativa II (40h); Seminário Integrativo II (40h); Trabalho de Conclusão de Curso II (40h);

9º semestre

Fonte: e-MEC (2017b).

427

ANEXO E GRADE CURRICULAR DE 2008 DO CURSO DE NATUROLOGIA DA UAM

   

Desenvolvimento Humano e Social (100h); Morfologia Humana (100h); Princípios da Naturologia (100h); Processos Biológicos (200h);

1º semestre

    

Agressão e Defesa (100h); Estilo de Vida, Saúde e Meio Ambiente (60h); Práticas em Naturologia I (80h); Sistema Ósseo-Mio-Articular (100h); Sistemas Corporais (160h);

2º semestre

   

Bioconsciência e Saúde (60h); Farmacologia (80h); Práticas em Naturologia II (160h); Sistema Circulatório e Hematopolético (100h); Sistema Nervoso (100h);

3º semestre

4º semestre

 

Ética Profissional (40h); Filosofia Oriental e Ocidental Comparada (60h); Integração Biopsíquica e Psicopatológica (120h); Práticas em Naturologia III (220h); Sistema Gastrointestinal (60h);

   

Abordagem Antroposófica (80h); Ciclo Vital (80h); Medicina Botânica (260h); Terapias Orientais (100h);

5º semestre

   

428

    

Medicina Ocidental (40h); Saúde Coletiva (60h); Terapias Corpo/Mente (160h); Terapias Corporais (160h); Terapias em Grupo (80h);

6º semestre

    

Gestão em Saúde (60h); Nutrição e Dietas Naturais (60h); Terapias Ayurvédicas (80h); Terapias Meditativas (100h); Terapias Sutis (200h);

7º semestre

    

Estágio Curricular I (180h); Estágio Curricular II (200h); Optativa I (40h); Seminário Integrativo I (40h); Trabalho de Conclusão de Curso I (40h);

8º semestre

    

Estágio Curricular III (180h); Estágio Curricular IV (200h); Optativa II (40h); Seminário Integrativo II (40h); Trabalho de Conclusão de Curso II (40h);

9º semestre

Fonte: e-MEC (2017b). Obs.: O e-MEC discrimina que essa matriz prevê 240h de atividades acadêmicas complementares.

429

ANEXO F GRADE CURRICULAR DE 2012 DO CURSO DE NATUROLOGIA DA UAM

      

Comunicação e Expressão (80h); Filosofia Oriental e Ocidental Comparada (40h); Morfologia dos Meridianos da Acupuntura (80h); Morfologia Humana (100h); O Homem e a Sociedade (60h); Princípios da Naturologia (60h); Processos Biológicos (160h);

1º semestre

     

Agressão e Defesa (100h); Bioestática (40h); Estilo de Vida, Saúde e Meio Ambiente (60h); Ética Profissional (40h); Microssistemas Chineses (60h); Sistemas Corporais na Medicina Tradicional Chinesa (80h);

2º semestre

     

Aparelho Locomotor (80); Bases da Terapêutica Medicamentosa (40h); Diagnóstico na Medicina Tradicional Chinesa (80h); Interação Clinicopatológica (80h); Práticas em Naturologia I (80h); Sistema Nervoso (80h);

3º semestre

    

Bioconsciência e Saúde (40h); Ciclo Vital e Antroposofia (80h); Cromoterapia (40h); Integração Biopsíquica e Psicopatologia (80h); Massoterapia Ocidental, Oriental e Práticas Corporais (160h);  Práticas em Naturologia II (80h); 430

4º semestre

      

Empreendedorismo e Sustentabilidade (80h); Fitoterapia, Terapia Floral e Aromaterapia (240h); Programa Interdisciplinar Comunitário (40h); Projeto Integrado I (60h); Recursos Bio-hídricos em Naturologia (60h); Saúde Coletiva (60h); Terapias Ayurvédicas (80h);

5º semestre

 Epidemiologia (60h);  Estagio Profissional I (100h);  Iridologia, Arte Integrativa e Movimento Humano (140h);  Metodologia – Ciência e Normas Técnicas (80h);  Projeto Integrado II (60h);  Yogaterapia (80h);

6º semestre

      

Antropologia e Cultura Brasileira (80h); Estagio Profissional II (100h); Optativa I (80h); Projeto Integrado II (40h); Terapias em Grupo (60h); Terapias Meditativas (80h); Trabalho de Conclusão de Curso I (40h);

7º semestre

     

Estágio Eletivo em Naturologia (100h); Estágio Profissional III (100h); Nutrição e Dietas Naturais (40h); Optativa II (80h); Seminário Integrativo (40h); Trabalho de Conclusão de Curso II (40h);

8º semestre

Fonte: e-MEC (2017b). Obs.: O e-MEC discrimina que essa matriz prevê 240h de atividades acadêmicas complementares.

431

ANEXO G GRADE CURRICULAR DE 2013 DO CURSO DE NATUROLOGIA DA UAM

     

Filosofia Oriental e Ocidental Comparada (40h); Morfologia dos Meridianos da Acupuntura (80h); Morfologia Humana (100h); Desenvolvimento Humano e Sociedade (80h); Princípios da Naturologia (60h); Processos Biológicos (160h);

1º semestre

     

Agressão e Defesa (100h); Comunicação e Expressão (80h); Ética Profissional (40h); Homeostase (80h); Microssistemas Chineses e Cromoterapia (80h); Sistemas Corporais na Medicina Tradicional Chinesa (80h);

2º semestre

     

Aparelho Locomotor (80); Bases da Terapêutica Medicamentosa (40h); Diagnóstico na Medicina Tradicional Chinesa (80h); Interação Clinicopatológica (80h); Práticas em Naturologia I (80h); Sistema Nervoso (80h);

3º semestre

    

Bioconsciência e Saúde (40h); Ciclo Vital e Antroposofia (80h); Estilo de Vida, Saúde e Meio Ambiente (60h); Integração Biopsíquica e Psicopatologia (80h); Massoterapia Ocidental, Oriental e Práticas Corporais (160h);  Práticas em Naturologia II (80h);  Projeto Integrado I (60h);

432

4º semestre

      

Fitoterapia, Terapia Floral e Aromaterapia (240h); Metodologia – Ciência e Normas Técnicas (80h); Programa Interdisciplinar Comunitário (40h); Projeto Integrado II (60h); Recursos Bio-hídricos em Naturologia (60h); Saúde Coletiva (60h); Terapias Ayurvédicas (80h);

5º semestre

 Empreendedorismo e Sustentabilidade (80h);  Estagio Profissional I (100h);  Iridologia, Arte Integrativa e Movimento Humano (140h);  Optativa I (80h);  Projeto Integrado III (60h);  Trabalho de Conclusão de Curso I (40h);  Yogaterapia (80h);

6º semestre

      

Antropologia e Cultura Brasileira (80h); Bioestatística e Epidemiologia (40h); Estagio Profissional II (100h); Optativa II (80h); Projeto Integrado IV (40h); Terapias em Grupo (60h); Terapias Meditativas (80h);

7º semestre

    

Estágio Eletivo em Naturologia (100h); Estágio Profissional III (100h); Nutrição e Dietas Naturais (40h); Seminário Integrativo (40h); Trabalho de Conclusão de Curso II (40h);

8º semestre

Fonte: e-MEC (2017b). Obs.: O e-MEC discrimina que essa matriz prevê 240h de atividades acadêmicas complementares.

433

ANEXO H GRADE CURRICULAR DE 2016 DO CURSO DE NATUROLOGIA DA UAM

    

Comunicação (80h); Fundamentos da Naturologia (80h); Medicina Tradicional Chinesa I (100h); Morfologia Humana (100h); Processos Biológicos (160h);

1º semestre

     

Agressão e Defesa (80h); Desenvolvimento Humano e Social (80h); Homeostase (80h); Medicina Tradicional Chinesa II (80h); Microssistemas (80h); Práticas Corporais e Massoterapia (120h);

2º semestre

      

Bases da Terapêutica Medicamentosa (40h); Ética Profissional: Naturologia (40h); Medicina Ayurvédica I (80h); Medicina Tradicional Chinesa III (80h); Saúde e Meio Ambiente (80h); Sistemas Corporais (160h); Trofoterapia (80h);

3º semestre

      

Antropologia e Cultura Brasileira (80h); Complexidade e Saúde (100h); Medicina Ayurvédica II (80h); Medicina Botânica I (120h); Práticas em Medicina Tradicional Chinesa (80h); Programa Interdisciplinar Comunitário (40h); Recursos Hidrominerais (40h);

4º semestre

434

      

Estágio Supervisionado I: Naturologia (60h); Fenomenologia, Arte e Expressão (40h); Medicina Ayurvédica III (80h); Medicina Botânica II (160h); Projeto Integrado I (40h); Psicopatologia (40h); Saúde Pública (80h);

5º semestre

     

Abordagem Terapêutica em Grupo (40h); Estágio Supervisionado II (200h); Medicina Corpo-Mente (80h); Metodologia Científica (80h); Projeto Integrado II (40h); Racionalidades Comparadas (80h);

6º semestre

    

Bioestatística e Epidemiologia (80h); Estágio Eletivo (80h); Estágio Supervisionado III (120h); Seminário Integrativo (40h); Trabalho de Conclusão de Curso I (40h);

7º semestre

   

Estágio Supervisionado IV (140h); Gestão em Serviços de Saúde (80h); Optativa (80h); Trabalho de Conclusão de Curso II (40h);

8º semestre

Fonte: e-MEC (2017b). Obs.: O e-MEC discrimina que essa matriz prevê 240h de atividades acadêmicas complementares.

435

ANEXO I GRADE CURRICULAR ORIGINAL DO CURSO DE NATUROLOGIA DA UNISUL       

Filosofia Aplicada à Naturologia (30h) Inglês Técnico I (60h) Introdução à Naturologia Aplicada (30h) Língua Portuguesa I (60h) Metodologia Científica (30h) Psicologia Geral (60h) Tópicos Especiais I (30h)

1º semestre

     

Anatomia Humana (60h) Arteterapia I (30h) Biologia Integrada (60h) Botânica Aplicada à Naturologia (60h) Ecologia Aplicada à Naturologia I (30h) Física Quântica Básica (60h)

2º semestre

     

Arteterapia II (30h) Ecologia Aplicada à Naturologia II (30h) Fisiologia Humana (60h) Fitoterapia I (60h) Hidroterapia (60h) Sociologia (60h)

3º semestre

       

Antropologia (30h) Cromoterapia (30h) Fitoterapia II (30h) Geoterapia I (30h) Musicoterapia (60h) Psicopatologia (60h) Reflexologia (30h) Renascimento (30h)

4º semestre

436

      

Cinesiologia Aplicada (60h) Cristalografia (30h) Estágio I (30h) Florais (30h) Iridologia (60h) Neurofisiologia (30h) Primeiros Socorros (60h)

5º semestre

       

Antroposofia Aplicada à Naturologia I (30h) Aromaterapia (60h) Estágio II (30h) Massoterapia (30h) Recreação e Lazer (30h) Técnicas Corporais I (30h) Tópicos Especiais II (30h) Optativa I (30h)

6º semestre

      

Estágio III (30h) Farmacologia e Psicofarmacologia (60h) Metodologia da Ginástica Adaptada I (30h) Metodologia da Pesquisa (30h) Radiestesia (60h) Técnicas Corporais II (30h) Trofologia (60h)

7º semestre

      

Clínica Naturológica (60h) Ética e Legislação Profissional (30h) Gerontologia (30h) Metodologia da Ginástica Adaptada II (30h) Psicologia Aplicada à Naturologia (30h) Talassoterapia (60h) Tanatologia (60h)

8º semestre

  

Estágio Supervisionado (300h) Terapia Ocupacional (60h) Optativa II (30h)

9º semestre

Fonte: UNISUL (2015a). 437

ANEXO J GRADE CURRICULAR DE 2004 DO CURSO DE NATUROLOGIA DA UNISUL

     

Anatomia Humana I (60h) Biologia Integrada (60h) Filosofia I (60h) Formação do Naturólogo I (60h) Introdução à Naturologia (60h) Metodologia Científica e de Pesquisa (60h)

1º semestre

      

Anatomia Humana II (60h) Arteterapia I (60h) Bioética (30h) Botânica Aplicada (60h) Formação do Naturólogo II (60h) Histopatologia (60h) Tópicos em Nutrição (30h)

2º semestre

       

Antroposofia (30h) Arteterapia II (30h) Farmacologia e Psicofarmacologia (60h) Fitoterapia I (60h) Formação do Naturólogo III (30h) Neurofisiologia (60h) Recursos Naturais I (30h) Sociologia Aplicada à Saúde (60h)

3º semestre

       

Antropologia Cultural (30h) Fisiologia Aplicada (60h) Fitoterapia II (60h) Formação do Naturólogo IV (30h) Fundamentos da Medicina Energética I (60h) Musicoterapia (30h) Radiestesia (30h) Trofologia (60h)

4º semestre

438

      

Formação do Naturólogo V (30h) Fundamentos da Medicina Energética II (60h) Irisdiagnose (60h) Sinais Vitais (30h) Técnicas Corporais I (60h) Trofoterapia (60h) Núcleo Livre I (60h)

5º semestre

      

Aromaterapia (60h) Fundamentos da Medicina Energética III (60h) Hidroterapia (60h) Massoterapia (60h) Mineralogia Aplicada (30h) Técnicas Corporais II (30h) Núcleo Livre II (60h)

6º semestre

     

Cinesiologia Aplicada (60h) Cromoterapia (60h) Florais (60h) Fundamentos da Medicina Energética IV (60h) Geoterapia (60h) Reflexoterapia (60h)

7º semestre



Estágio Supervisionado I (180h)

8º semestre



Estágio Supervisionado II (300h)



9º semestre Habilitação: Visão Integral do Ser

Visão Integral do Ser (180h)

 Técnicas da Medicina Tradicional Ayurveda I (60h)  Técnicas da Medicina Tradicional Ayurveda II (60h)  Técnicas da Medicina Tradicional Ayurveda III (60h)

Habilitação: Técnicas da Medicina Tradicional Ayurveda

 Técnicas da Medicina Tradicional Chinesa I (60h)  Técnicas da Medicina Tradicional Chinesa II (60h)  Técnicas da Medicina Tradicional Chinesa III (60h)

Habilitação: Técnicas da Medicina Tradicional Chinesa

Fonte: UNISUL (2015b).

439

ANEXO K GRADE CURRICULAR DE 2013 DO CURSO DE NATUROLOGIA DA UNISUL  Integração e Coordenação (30h)  Manutenção do Corpo (90h)  Suporte e Movimento (60h)  Fundamentos da Aromaterapia (60h)  Fundamentos do Empreendedorismo em Saúde (30h)  Teoria do Conhecimento (60h)  Universidade e Ciência (60h)  Estudos Socioculturais (60h)  Socioeconomia e Geopolítica (60h)  Massagem Sueca (60h)        

Geoterapia (45h) Hidroterapia (45h) Iridologia e Irisdiagnose (60h) Princípios de Antroposofia (30h) Princípios de Naturoterapia (30h) Trofologia e Trofoterapia (60h) Introdução à Fitoterapia e Plantas Medicinais (60h) Plantas Medicinas e Fitoterapia na Atenção à Saúde (60h)

 Introdução às Racionalidades Médicas e Terapias Integrativas (30h)  Reflexoterapia (60h)    

Terapêutica Terapêutica Terapêutica Terapêutica

Tradicional Tradicional Tradicional Tradicional

Chinesa I (90h) Chinesa II (60h) Ayurvédica I (90h) Ayurvédica II (60h)

 Cosmologia Xamânica (90h)

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Certificação Estruturante: Anatomofisiopatologia Humana Certificação Estruturante: Aromaterapia Certificação Estruturante: Empreendedorismo em Saúde Certificação Estruturante: Formação Acadêmico-Científica Certificação Estruturante: Formação Sociocultural Certificação Estruturante: Massoterapia

Certificação Estruturante: Naturoterapia

Certificação Estruturante: Plantas Medicinais e Fitoterapia Certificação Estruturante: Racionalidades Médicas e Terapêuticas Integrativas Certificação Estruturante: Reflexologia Certificação Estruturante: Terapêutica Chinesa Certificação Estruturante: Terapêutica Ayurvédica Certificação Estruturante: Terapêutica Xamânica

 Abordagens Humanísticas na Relação de Interagência (60h)  Bioética Clínica e Social (30h)  Educação em Saúde (30h)

Certificação Estruturante: Relação de Interagência

 Suporte Básico da Vida (60h)

Certificação Estruturante: Suporte da Vida

 Cromoterapia (60h)  Introdução às Terapias Vibracionais e Recursos Avaliativos (45h)  Terapia Floral (60h)  Espiritualidade e Saúde (15h)  Práticas Integrativas e Complementares no Ciclo Vital (60h)  Processos Psicológicos Básicos e Psicossomática (30h)  Saúde e Ambiente (30h)  Saúde e Sociedade (30h)  Visão Sistêmica e Complexidade da Vida (30h)  PIC na Saúde Coletiva e Saúde Mental (30h)  PIC na Saúde Desportiva e do Trabalhador (30h)  Terapia Comunitária e Atendimento em Grupo na Naturologia (30h)  Práticas de Intervenção Corpo-Mente Ocidentais e Yoga (60h)  Práticas de Intervenção Corpo-Mente Chinesas (30h)  TCC em Naturologia I (75h)  TCC em Naturologia II (30h)  TCC em Naturologia III (45h)  Estágio Supervisionado em Naturologia I (60h)  Estágio Supervisionado em Naturologia II (60h)  Estágio Supervisionado em Naturologia III (60h)  Estágio Supervisionado em Naturologia IV (60h)  Estágio Supervisionado em Naturologia V (210h)

Certificação Estruturante: Terapias Vibracionais

Certificação Estruturante: Visão Multidimensional em Saúde

Certificação Complementar: Contextos de Atuação em Naturologia Certificação Complementar: Práticas de Intervenção Corpo-Mente Certificação Específica: TCC em Naturologia Certificação Específica: Estágio Supervisionado em Naturologia

Fonte: UNISUL (2014)

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ÍNDICE REMISSIVO A ABRANA, 45, 48, 160, 162, 163–68, 174, 189–91, 193–94, 195, 255, 262, 265, 270 acupuntura, 76, 105–6, 117, 121, 124, 137, 238–39 AGONAB, 44–45 alimentação. cf. terapias dietéticas antroposofia, 43, 49, 116, 124, 136, 183, 184, 185, 266, 292 APANAT, 45, 48, 53, 55, 62, 160, 162, 164–68, 174, 191, 193–94, 195, 254, 255, 257, 259, 265 aromaterapia, 117, 180, 226–27, 241–42 arteterapia. cf. terapias artísticas astrologia, 76, 116, 141 āyurveda, 41, 48, 49, 153, 182–86, 239–41

B bioeletrografia, 116, 222, 224–25, 227–28 bioenergia. cf. energia budismo, 291–92

C cakrás, 142, 223–24, 229–30, 239–40

canalização, 59, 319, 321–36, 343, 347, 354 catolicismo, 78, 95–98, 98, 134, 250, 288–89, 290, 292, 303, 313

chi. cf. qì

C ciência das religiões, 50, 140, 178, 188, 272, 303, 384 ciência na Nova Era, 59, 60, 151, 199–205, 206, 216–17, 220, 350–65 cientista das religiões. cf. ciência das religiões cinesiologia, 222 crenoterapia. cf. hidroterapia cromopuntura. cf. cromoterapia cromoterapia, 47, 118, 142, 179, 221, 225, 251 cultic milieu, 82–83 curing , 202, 338

D daoismo, 41, 231, 291–92, 291, 318 dieta. cf. terapias dietéticas

E êmico e ético, 140, 143, 169, 198, 203, 205, 210, 230, 270, 383 energia, 41, 143, 159-160, 175, 215–36, 352 esoterismo, 86, 88, 133, 136, 241, 291, 317, 382 espiritualidade secular. cf. secularismo

F FCN, 48, 128, 174, 180, 188, 189–93, 235 fisiognomonia, 222, 223, 246

fitoterapia. cf. plantas medicinais florais, 47, 49, 136, 221, 244–45, 266 fotografia Kirlian. cf. bioeletrografia

G geoterapia, 180, 243–44, 246, 251 glossognomonia, 222, 223

H healing , 202–3, 338 hidroterapia, 43, 47, 120, 123, 124, 134, 252–53 hinduísmo, 41, 318 história oral, 63–67 holismo, 79, 91–92, 144, 175, 197, 198, 200–202, 268, 337, 354, 355 holístico. cf. holismo

I inflação simbólica, 264, 270 interagência, 150, 169–70, 181, 185, 186, 198, 205–15, 219–20, 235, 236, 266, 268, 270, 306, 365, 375, 380 ioga, 76, 91–92, 239, 241 iridologia, 116, 221, 222, 226, 228–29, 248–49, 251

L laicidade, 120

M massagem, 152, 236, 238, 242–43 massoterapia. cf. massagem

medicina antroposófica. cf. antroposofia medicina chinesa, 41, 43, 48, 49, 124, 142, 153, 182–86, 221, 223, 237–39, 240, 247 medicina xamânica. cf. xamanismo meditação, 44, 117 metaempírico, 77–79, 161, 216, 227, 234, 352 metafísica, 81, 117, 141 método Rayid. cf. iridologia milenarismo, 59, 81, 83, 86 misticismo, 60, 88, 95, 136, 216, 316, 317, 382 movimento da Nova Era. cf. Nova Era Movimento do Potencial Humano, 209 musicoterapia. cf. terapias artísticas

N neopaganismo, 59, 61, 320, 321, 365–76, 382 New Age. cf. Nova Era Nova Era, 42, 49, 59–61, 68, 70, 72, 73, 74–94, 116, 125, 134, 136, 138, 139–43, 150–52, 155, 157, 174, 198, 199–205, 206, 208, 212–14, 216–17, 219, 220, 233, 271, 273, 291, 296–303, 307–12, 315–77, 379–83, 385 numerologia, 141, 266–69

O OMS, 71, 73, 93, 114–18, 120, 125, 199, 380, 382 orgônio, 41, 117

P pajelança, 105 parapsicologia, 134–36 PIC, 43–44, 46, 49, 50, 68, 72, 73, 93, 115, 124, 125, 129, 147, 185, 186, 191, 197, 199, 236–54, 338, 380, 382 plantas medicinais, 43, 46, 117, 120, 122, 123, 124, 134, 152, 155, 156, 236, 238, 242, 249–50

S SBNAT, 48, 51, 167–68, 194 secularismo, 42, 144, 203, 337, 382 self, 60, 81, 203–5, 210, 212, 266, 293, 323, 337 SUS, 113, 120, 122–26

T taoismo. cf. daoismo

PNPIC, 43–44, 124, 126, 160, 253

tarô, 141, 266, 268–69

prāṇa, 41, 230–32

teosofia, 81, 136, 291 terapias artísticas, 44, 152, 154, 179, 225, 250–52, 260

psicologia transpessoal, 76, 141

Q qì, 41, 223, 230–32 quântico, 60, 79, 136, 141, 142, 144, 152, 216–17, 235, 316, 319, 351–55

R

terapias dietéticas, 134, 152, 253–54 termalismo. cf. hidroterapia teste olfativo, 226–27 trofologia. cf. terapias dietéticas

W

radiestesia, 76, 117, 141, 152, 222, 223 radiônica. cf. radiestesia

wicca, 61, 366–67

reflexologia, 117, 222, 224, 246–48, 248, 356, 364 reiki, 44

xamanismo, 46, 153, 169, 182–86

relação de interagência. cf. interagência renascimento (terapia), 76, 152

ryōdōraku, 222, 223, 230–31

X

Y yoga. cf. ioga

SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ................................................. 29 INTRODUÇÃO..................................................... 41 A população de naturólogos no Brasil .................... 51 Metodologia .......................................................... 58 Estrutura do livro .................................................. 68 Cap. 1: O contexto social para o surgimento da naturologia como curso superior no Brasil........ 71 O movimento da Nova Era..................................... 74 A regulamentação da medicina .............................. 94 O incentivo às medicinas alternativas ................... 113 Cap. 2: A naturologia brasileira: histórico e definições ......................................................... 127 As três fases da naturologia ................................ 133 A primeira fase.......................................... 139 A segunda fase ......................................... 146 A terceira fase........................................... 160 Histórico das definições de naturologia no Brasil... 173

Cap. 3: Dimensões da prática naturológica .... 197 A concepção novaerista de cura ...........................199 A relação de interagência ....................................205 Concepções naturológicas de energia ...................215 As diferentes formas de aferir a energia .....221 As práticas integrativas e complementares na naturologia .........................................................236 O símbolo da naturologia .....................................254 O significado do símbolo ............................263 Cap. 4: O perfil dos naturólogos brasileiros ..... 271 O perfil dos respondentes ....................................273 A religião dos naturólogos ...................................287 Cap. 5: A adesão dos naturólogos no Brasil aos valores da Nova Era .......................................... 315 Canalização.........................................................321 Cura e crescimento pessoal .................................336 Ciência da Nova Era ............................................350 Neopaganismo ....................................................365 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................. 379 REFERÊNCIAS ................................................... 387 APÊNDICES E ANEXOS...................................... 411

SOBRE O AUTOR Fábio L. Stern é doutorando em ciência da religião pela PUC de São Paulo. Em 2004 ingressou no curso de naturologia da UNISUL, concluído em 2009. Durante o mestrado, foi contratado como professor e lecionou na UNISUL até julho de 2016. Foi também membro da diretoria da SBNAT, desde a sua fundação até novembro de 2015. Foi o primeiro pesquisador no Brasil que adotou a naturologia como objeto de estudo tanto no mestrado quanto no doutorado. Dentre suas atividades acadêmicas mais recentes, escreveu o livro Os Aspectos Sutis, Simbólicos e Sa grados das Plantas Medicinais (2013) e é membro do grupo de pesquisa NEO: Núcleo de Estudos de Novas Religiões e Novas Espiritualidades. Além disso, dedica-se ao estudo do movimento da Nova Era no Brasil e das relações entre religião e saúde.