A Luta Pela Unidade da Classe Operária Contra o Fascismo

Table of contents :
Apresentação
Capitulo I: O Fascismo e a Classe Operária
Capitulo II: A Frente Única da Classe Operária contra o Fascismo
Capitulo III: O Fortalecimento dos Partidos Comunistas e a Luta pela Unidade Política do Proletariado
Conclusão

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Apresentação O texto que apresentamos ao leitor brasileiro é o célebre Informe de Dimitrov feito em 2.8.35 no VII Congresso Mundial da Internacional Comunista (Comintern). Este Informe, que viria desempenhar um papel dos mais importantes na história do movimento comunista mundial, reflete muito mais que seu valor intrínseco, pois na verdade é produto de uma situação das mais delicadas da história da humanidade e por isto é muito mais que uma simples intervenção de um dirigente comunista, mesmo em se tratando do Secretário da IC. O leitor brasileiro, principalmente os mais jovens, tem sido obsequiado com um longo jejum forçado quanto à leitura de textos importantíssimos que dizem respeito à história do movimento comunista e/ou socialista, sendo impedido deste modo de conhecer as vicissitudes e glórias que marcaram o desenvolvimento da luta pelo socialismo em escala mundial, o que provoca, sem dúvida, um sério prejuízo para uma criteriosa e honesta aferição das decisões e posicionamentos que ao correr da história foram tomados em nome desta luta. De fato, excetuando-se uma época heroica da luta socialista em nosso país, por incrível que pareça, no decorrer do período Vargas, muito pouco se editou em termos de textos e documentos históricos do movimento socialista. É verdade que após 64, com a derrubada do castelo populista, onde o pensamento socialista seja de que matiz fosse, estava sempre a reboque, o movimento editorial brasileiro marchou no sentido de publicar obras importantes do pensamento socialista, mas mesmo assim o descuido com documentos de tal ordem foi ainda acentuado e imperdoável. A censura tupiniquim se deve em

parte esta lacuna, mas não foi a principal causa. Existe uma resistência inexplicável no seio do pensamento de esquerda brasileiro em perder tempo com ensaios, estudos e publicações de tal tipo. Antes de se conhecer textos como este é mais cômodo e atual ler textos modernos. O resultado disto é que discute-se muito em torno de textos modernos e desconhece-se a concreticidade histórica que os textos mais antigos transmitem e refletem. Não se trata de tomar dos clássicos as lições e ensinamentos que possam transmitir e aplicá-los mecanicamente às nossas ações cotidianas de luta. Ao contrário, a experiência que os clássicos podem nos transmitir são exatamente aquelas que permitem redefinir estas ações, teórica e praticamente, a cada momento histórico concreto. Neste sentido é que a publicação do texto de Dimitrov é altamente importante. Até 1934 Stálin ainda mantinha uma atitude reticente quanto ao avanço do fascismo. Fiel à sua política de construção do socialismo em um só país, ele procurava minimizar este avanço, pois o importante era preservar a segurança interna da União Soviética. A seu favor pode ser argumentado que sofrendo hostilidades de todo o mundo capitalista, principalmente da França e da Inglaterra, desejava manter a URSS neutra, indiferente às divergências entre as potências capitalistas. Mas, mesmo assim, é de se estranhar que no seio do partido bolchevique não se manifestasse uma correta avaliação da situação. Do seu exílio somente Trotsky esbravejava contra esta posição. Em 1934 Stálin rompeu seu silêncio. Durante o XVII Congresso do PCUS ele fez referência ao avanço fascista, mas mesmo aqui ainda considerava o fascismo como algo passageiro, uma fraqueza do capitalismo. Contudo, deu

alguns passos à frente: passou à defesa do sistema de Versalhes, aderiu à Liga das Nações. Em 1935 tentou criar com os adversários ocidentais de Hitler um pacto de defesa: recebeu Eden, Laval e até Benes. Dando uma guinada ainda mais forte, destitui o secretário da IC, Manuilski e indica para o cargo a G. Dimitrov, o herói da luta antifascista, arrancado das prisões nazistas com o julgamento de Leipzig. A primeira intervenção do novo secretário é o informe que apresentamos. Até então, refletindo a política de Stálin, a Internacional Comunista defendia posições que consideravam o fascismo e a social-democracia como almas gêmeas. De repente, surge a virada: pregam-se as frentes populares e a socialdemocracia é considerada aliada natural na luta contra o perigo fascista. Até mesmo setores liberais da burguesia são considerados então como aliados. Esta mudança brusca da política da IC causa uma série de dificuldades: em primeiro lugar, a aliança com os comunistas era sempre vista com desconfiança pelos aliados. De um lado a social-democracia estigmatizada com os ataques comunistas resistia muito a aceitar a repentina mudança; do outro, a burguesia liberal tinha pavor em se aliar aos comunistas, pois temia que na luta antifascista, fortificados, eles passassem à luta anticapitalista. Todavia, mesmo assim, a política de frentes populares avançou. Na Espanha e na França obtém um grande sucesso eleitoral e em outros países se fortalecia como movimento de massas. Stálin tenta frear este ímpeto. Na Espanha a situação chega ao paradoxo: o fascismo intervém diretamente, os republicanos buscam ajuda e Stálin se vê impedido de dá-la em nome da sua política de não intervenção. A saída é a criação de brigadas internacionais, onde a participação individual de comunistas lutando ao lado dos republicanos é uma demonstração do Internacionalismo proletário.

Neste ponto a ambígua política de Stálin começa a rachar. De um lado, diante da contínua resistência da França e Inglaterra em firmar uma aliança, ele pouco a pouco se aproxima de Hitler, chegando até ao pacto de 39. Do outro, a prática de ação política de massa desenvolvida pelos comunistas em toda a Europa em aliança com os demais setores antifascistas, empurra o movimento cada vez mais para a oposição antifascista e, como tal, antiStálin. Seria desta prática, que sairiam os movimentos de resistência que, consumada a invasão nazista, iriam desempenhar formidável papel na luta contra o fascismo e nos quais os comunistas jogaram importante papel, emergindo depois, após a vitória aliada, como movimento de massa forte e com largo apoio popular em seus países. Outro ponto que devemos destacar quanto à política de frentes populares antifascistas é aquele que diretamente se relaciona com nossa história. Não bastasse o fato de que o Brasil é nominalmente citado ao lado da Índia e da China, no item Frente Única Anti-imperialista, onde se fez uma leve menção à Aliança Nacional Libertadora, devemos lembrar que nesta época Prestes vivia na União Soviética e havia aderido ao Partido. Seria a partir daí que o Secretariado Sul-Americano da IC, localizado em Montevidéu, tomaria as medidas para influir em todos os PCs sul-americanos para aderirem à política de frente populares e adotarem a luta anti-imperialista, que de resto não era assim tão inovadora neste caso, pois, desde 1926, este mesmo órgão já havia preconizado este tipo de luta para a América Latina, sobretudo tomando como modelo a experiência da China (ver Caio Prado in Revolução Brasileira). Daí, Prestes, o herói da Coluna, o formidável tático e estrategista militar, retornar ao Brasil e lançar-se na luta

legal da ANL. Contudo, mesmo considerando estas diretrizes, mesmo considerando o relativo êxito que a Aliança estava conseguindo, o que teria levado então à tentativa desesperada do golpe militar e da luta armada consubstanciada no movimento de 35, a famosa Intentona Comunista? Em recente artigo jornalístico Paulo Sérgio Pinheiro sugere que dentro da IC os duros, representado pela corrente Manuilski, que continuava no seu Secretariado, não descartavam a hipótese da luta armada e que esta era uma segunda opção, a ser usada onde as condições se mostrassem favoráveis. Mais recentemente, Prestes, na sua primeira entrevista publicada na imprensa brasileira após64 dá outra explicação: a intentona teria sido uma precipitação, mas foi um movimento antifascista, pois o avanço Integralista, com cobertura de Vargas, era uma ameaça. Contando com mais facilidade de penetração nas forças armadas que na classe operária, julgaram então que este seria o melhor meio de impedir o avanço do fascismo. Aqui caberiam algumas indagações: teria sido a formação militar de Prestes fator importante para que, naquela época, acreditasse mais no golpe armado que na ação de massas preconizada pela Aliança, via política de frentes populares, à qual ele, mesmo participando, desprezava? Em que medida dentro do próprio PCB, outros elementos dirigentes estariam comprometidos com a linha Manuilski sugerida por Paulo Sérgio Pinheiro? Tudo isto é ainda multo confuso e só será explicado claramente quando pudermos ter a história do movimento comunista brasileiro e particularmente a história da Intentona. Os editores

Capitulo I: O Fascismo e a Classe Operária Camaradas: Já o VI Congresso da Internacional Comunista prevenira o proletariado internacional sobre a gestação de uma nova ofensiva fascista, chamando-o à luta contra ela. O Congresso salientou que "quase em toda parte existem tendências fascistas e germes de um movimento fascista em forma mais ou menos desenvolvida." Sob as condições da profundíssima crise geral do capitalismo, do revolucionamento das massas trabalhadoras o fascismo passou à ofensiva declarada. A burguesia dominante cada vez mais procura sua salvação no fascismo para empregar medidas excepcionais de espoliação contra os trabalhadores, para preparar uma guerra imperialista de rapina e de assalto contra a União Soviética, para preparar a escravização e divisão da China e impedir, por meio de tudo isto, a revolução. Os círculos imperialistas tentam descarregar todo o peso das crises sobre os ombros dos trabalhadores. Para isto, necessitam do fascismo. Tratam de resolver o problema dos mercados mediante a escravização dos povos débeis, mediante o aumento da opressão colonial e uma nova partilha do mundo por meio da guerra. Para isto, necessitam do fascismo. Tentam atalhar o crescimento das forcas da revolução por meio da destruição do movimento revolucionário dos operários e camponeses e do assalto militar à União Soviética, baluarte do proletariado mundial. Para isto, necessitam do fascismo.

Em uma série de países — particularmente na Alemanha — estes círculos imperialistas conseguiram, antes da viragem decisiva das massas para a revolução, infligir ao proletariado uma derrota e instaurar a ditadura fascista. Mas a característica da vitória do fascismo é precisamente a circunstância de que esta vitória mostra, por um lado, a debilidade do proletariado, desorganizado e paralisado pela politica divisionista social-democrata de colaboração de classe com a burguesia, e, por outro lado, revela a debilidade da própria burguesia, que tem medo que se realize a unidade de luta da classe operária, teme a revolução e não está em condições de manter sua ditadura sobre as massas com os antigos métodos da democracia burguesa e do parlamentarismo. *** O fascismo no Poder, camaradas, é, como acertadamente o definiu o XIII Pleno do Comitê Executivo da Internacional Comunista, a ditadura terrorista descarada dos elementos mais reacionários, mais chauvinistas e mais imperialistas do capital financeiro. A modalidade mais reacionária do fascismo é o fascismo de tipo alemão. Tem a ousadia de chamar-se nacionalsocialismo, apesar de não ter nada de comum com o socialismo. O fascismo hitleriano não é apenas um nacionalismo burguês, é um chauvinismo bestial. É o sistema de governo do banditismo político, um sistema de provocações e torturas contra a classe operária e os elementos revolucionários da massa camponesa, da pequena burguesia e dos intelectuais. É a crueldade e a barbárie medievais, a agressividade desenfreada contra os demais povos e países. O fascismo alemão atua como tropa de choque da contrarrevolução internacional, como incendiário principal da guerra imperialista, como iniciador da cruzada contra a

União Soviética, a grande pátria dos trabalhadores de todo o mundo. O fascismo não é uma forma de Poder estatal que esteja, como se pretende, por cima de ambas as classes do proletariado e da burguesia, como afirmou, por exemplo, Otto Bauer. Não é a pequena burguesia sublevada que se apoderou do aparelho do Estado, como declara o socialista inglês Brailsford. Não; o fascismo não é um poder situado por cima das classes, nem o poder da pequena burguesia ou do lumpemproletariado sobre o capital financeiro. O fascismo é o Poder do próprio capital financeiro. É a organização do ajuste de contas terroristas com a classe operária e a parte revolucionária dos camponeses e dos intelectuais. O fascismo em política exterior é o chauvinismo em sua forma mais brutal que cultiva um ódio bestial contra os demais povos. É preciso salientar de modo especial este caráter verdadeiro do fascismo porque a dissimulação da demagogia social deu ao fascismo, numa série de países, a possibilidade de arrastar consigo as massas da pequena burguesia desajustadas pela crise, e até alguns setores das camadas mais atrasadas do proletariado que jamais seguiriam o fascismo se tivessem compreendido seu verdadeiro caráter de classe, sua verdadeira natureza. O desenvolvimento do fascismo e a própria ditadura fascista revestem-se, nos diversos países, de formas diferentes, segundo as condições históricas, sociais e econômicas, as particularidades nacionais e a posição internacional de cada país. Em alguns países, principalmente onde não conta com uma ampla base de massas e onde a luta entre os diversos grupos no campo da própria burguesia fascista é bastante dura, o fascismo não se decide imediatamente a acabar com o parlamento e permite aos demais partidos burgueses, assim como à social-democracia, certa legalidade. Noutros países, onde a

burguesia dominante teme a próxima eclosão da revolução, o fascismo estabelece seu monopólio político ilimitado, ora de golpe e bordoada, ora intensificando cada vez mais o terror e o ajuste de contas com todos os partidos e agrupamentos rivais. Isto não faz com que o fascismo, no momento em que se agrava de um modo especial sua situação, deixe de estender sua base para combinar — sem alterar seu caráter de classe — a ditadura terrorista descarada com uma grosseira falsificação do parlamentarismo. A ascensão do fascismo ao Poder não é uma simples troca de um governo burguês por outro, mas a substituição de uma forma estatal da dominação de classe da burguesia, a democracia burguesia, por outra: a ditadura terrorista declarada. Passar por alto esta diferença seria um erro grave que impediria o proletariado revolucionário de mobilizar as mais amplas camadas dos trabalhadores da cidade e do campo para lutar contra a ameaça da tomada do Poder pelos fascistas assim como de aproveitar as contradições existentes no campo da própria burguesia. Não obstante, não menos grave e perigoso é o erro de não apreciar suficientemente o significado que têm para a instauração da ditadura fascista as medidas reacionárias da burguesia que se intensificam atualmente nos países da democracia burguesa, medidas que reprimem as liberdades democráticas dos trabalhadores, restringem e falseiam os direitos do parlamento e agravam as medidas de repressão contra o movimento revolucionário. Camaradas, não é possível representar a subida do fascismo ao Poder de uma forma tão simplista e fácil, como se um comitê qualquer do capital financeiro tomasse a resolução de implantar em tal ou qual dia a ditadura fascista. Na realidade, o fascismo chega geralmente ao Poder em luta recíproca, às vezes exasperada, com os antigos partidos burgueses ou com determinada parte

destes em luta até no seio do próprio campo fascista, que muitas vezes conduz a choques armados, como vimos na Alemanha, Áustria e outros países. Tudo isto, no entanto, não diminui a significação do fato de que, antes da instauração da ditadura fascista, os governos burgueses atravessam habitualmente uma série de etapas preparatórias e realizam uma série de medidas reacionárias que facilitam diretamente o acesso do fascismo ao Poder. Todo aquele que não lutar nestas etapas preparatórias contra as medidas reacionárias da burguesia e contra o fascismo em ascensão não estará em condições de impedir a vitória do fascismo, senão que, pelo contrário, a facilitará. Os chefes da social-democracia encobriram e ocultaram às massas o verdadeiro caráter de classe do fascismo e não lutaram contra as medidas reacionárias cada vez mais graves da burguesia. Sobre eles pesa grande responsabilidade histórica, pelo fato de, nos momentos decisivos da ofensiva fascista, uma parte considerável das massas trabalhadoras da Alemanha e de diversos outros países fascistas não reconhecer no fascismo a fera sedenta de sangue do capital financeiro, seu pior inimigo, e destas massas não estarem preparadas para fazer-lhe frente. De onde nasce a influência do fascismo sobre as massas? O fascismo consegue atrair para si as massas, porque apela de forma demagógica para suas necessidades e exigências mais candentes. O fascismo não só instiga os preconceitos profundamente arraigados nas massas, como especula também com os melhores sentimentos destas, com sua sede de justiça, e, às vezes, até com suas tradições revolucionárias. Por que os fascistas alemães, esses lacaios da grande burguesia e inimigos mortais do socialismo, se fazem passar perante as massas por socialistas e apresentam sua subida ao Poder como uma revolução? Porque se esforçam em explorar a fé na revolução, a

atração pelo socialismo que vive no coração das amplas massas trabalhadoras da Alemanha. O fascismo age a serviço dos interesses dos imperialistas mais agressivos, porém se apresenta diante das massas disfarçado em defensor da nação ultrajada e apela para o sentimento nacional ferido, como fez, por exemplo o fascismo alemão, que arrastou consigo as massas com a palavra de ordem de Contra Versalhes! O fascismo aspira à mais desenfreada exploração das massas, porém, delas se aproxima com uma demagogia anticapitalista, muito hábil, explorando o ódio profundo dos trabalhadores contra a burguesia rapinante, contra os bancos, os trustes e os magnatas financeiros, e lançando as palavras de ordem mais sedutoras em determinado momento para as massas que não alcançaram a maturidade política. Na Alemanha: o bem comum está acima do bem particular, na Itália: nosso Estado não é um Estado capitalista e sim um Estado corporativo; no Japão: por um Japão sem exploradores; nos Estados Unidos: pela divisão das riquezas, etc. O fascismo entrega o povo à voracidade dos elementos mais corrompidos e venais, mas apresenta-se diante dele com a reivindicação de um governo honrado e insubornável. Especulando com a profunda desilusão das massas em relação aos governos da democracia burguesa, o fascismo se indigna hipocritamente em face da corrupção (veja-se, por exemplo, o caso Barmat e Sklaret, na Alemanha; o caso Staviski, na França e outros). O fascismo atrai, no interesse dos setores mais reacionários da burguesia, as massas decepcionadas que abandonam os antigos partidos burgueses impressiona estas massas pela violência de seus ataques contra os governos burgueses, por sua atitude irreconciliável com os antigos partidos da burguesia.

Deixando atrás todas as outras variedades de reação burguesa, por seu cinismo e sues mentiras, o fascismo adapta sua demagogia às características nacionais de cada país e inclusive às características das diferentes camadas sociais dentro de um mesmo país. E as massas da pequena burguesia e uma parte dos operários levados ao desespero pela miséria, o desemprego forçado e a insegurança de sua existência, se convertem em vítimas da demagogia social e chauvinista do fascismo. O fascismo chega ao Poder como o partido de choque contra o movimento revolucionário do proletariado, contra as massas populares em efervescência, porém representa sua subida ao Poder como um movimento revolucionário dirigido contra a burguesia, em nome de toda a nação e para salvar a nação. (Recordemos a marcha de Mussolini sobre Roma, a marcha; de Pilsudski sobre Varsóvia, a revolução nacional-socialista de Hitler na Alemanha, etc.). Mas qualquer que seja a máscara com que se disfarce, qualquer que seja a forma em que se apresente, qualquer que seja o caminho por que suba ao Poder, • o fascismo é a mais feroz ofensiva do capital contra as massas trabalhadoras; • o fascismo é a reação feroz e a contrarrevolução; • o fascismo é o pior inimigo da classe operária e de todos os trabalhadores. *** O fascismo prometeu aos operários um salário justo; na realidade, lhes deu um nível de vida ainda mais baixo, mais miserável. Prometeu trabalho aos desempregados; e no final de contas lhes proporcionou mais fome e um trabalho servil: o trabalho forçado. Na verdade, o fascismo converte os operários e os desempregados em párias da sociedade capitalista, desprovidos de prerrogativas, destrói seus

sindicatos, arrebata-lhes o direito de greve e de imprensa operária, envolve-os pela força nas organizações fascistas, rouba-lhes os fundos dos seguros sociais, converte as fábricas e as oficinas em quartéis onde reina o despotismo desenfreado dos capitalistas. O fascismo prometeu à juventude trabalhadora abrir-lhe um caminho amplo para um porvir esplendoroso. Na realidade, trouxe à juventude dispensa em massa das fábricas, campos de trabalho e exercícios militares incessantes, visando uma guerra de rapina. O fascismo prometeu aos empregados, aos modestos funcionários, aos intelectuais, assegurar-lhes a existência acabar com a onipotência dos trusts e com a especulação do capital bancário. Na prática, trouxe-lhes maior desespero e insegurança no dia de amanhã, os submeteu a uma nova burocracia formada por seus partidários mais obedientes; criou uma ditadura insuportável dos trusts e semeou em proporções nunca vistas a corrupção e a decomposição. O fascismo prometeu aos camponeses arruinados e depauperados acabar com a vassalagem das dividas, suprimir o pagamento das rendas e até expropriar sem indenização a terra dos latifundiários em favor dos camponeses sem terra e arruinados. Na realidade, entrega os camponeses trabalhadores à escravidão sem precedentes dos trusts e do aparelho do Estado fascista e aumenta até o indizível a exploração das grandes massas camponesas pelos grandes agricultores, os bancos e os usuários. A Alemanha será um país camponês ou não será nada, declarou solenemente Hitler. Mas que têm obtido os camponeses da Alemanha sob Hitler? Uma moratória que já está revogada? Ou a lei regulando o regime hereditário das fazendas camponesas, que expulsa do campo milhões de filhos e filhas de camponeses, convertendo-os em

mendigos? Os assalariados do campo veem-se convertidos em semi-servos, aos quais foi arrebatado até o direito elementar de livre circulação. Aos camponeses trabalhadores foi tirada a possibilidade de vender os produtos de sua propriedade no mercado. E na Polônia? O camponês polaco — escreve o jornal polonês Czas — emprega métodos e meios que só se aplicaram, seguramente, nos tempos da Idade Média: conserva o fogo na estufa e o empresta a seus vizinhos; divide em vários fragmentos os pavios de cera. Os camponeses dão uns aos outros a água de sabão usada. Fervem os barris de arenques para obter água salgada. Isto não é nenhum conto, mas a verdadeira situação reinante no campo, da qual qualquer pessoa pode convencer-se por si mesma. E isto, camaradas, não o escreve nenhum comunista mas um jornal reacionário polonês! Isto não é tudo, mas não é pouco. Dia após dia, nos campos de concentração da Alemanha fascista, nos porões da Gestapo (política secreta), nas masmorras polacas, nos calabouços da polícia secreta búlgara e finlandesa, na Glawnjatsçh de Belgrado, na Siguranza romana, nas Ilhas italianas, os melhores filhos da classe operária, os camponeses revolucionários, os que lutam por um futuro mais belo para a humanidade, são submetidos a torturas violentas e zombarias tão repugnantes que diante delas empalidecem os crimes mais abomináveis da polícia secreta czarista. O criminoso fascismo alemão converte os maridos, em presença de suas mulheres, em massas de carne sangrenta, envia às mães em pacotes postais as cinzas de seus filhos assassinados. A esterilização se converteu num meio política de luta. Aos presos antifascistas encerrados nas câmaras de tortura inoculam

pela força substancias venenosas, rompem-lhes as mãos, arrancam-lhes os olhos, enforcam-nos, injetam-lhes água com uma bomba, recortam-lhes cruzes gamadas na pele viva. Tenho diante de mim um resumo estatístico do Socorro Vermelho Internacional sobre os assassinados, feridos, presos, mutilados e torturados mortalmente na Alemanha, Polônia, Itália, Áustria, Bulgária e Iugoslávia . Somente na Alemanha, sob o governo dos nacional-socialistas, foram assassinadas mais de 4.200 pessoas; detidas 317.800; e 218.600 operários, camponeses, empregados e intelectuais antifascistas, comunistas, social-democratas e membros das organizações cristãs de oposição foram feridos e submetidos a torturas cruéis. Na Áustria, desde os combates de fevereiro do ano passado, foram assassinadas 1.900 pessoas; 10.000 feridas e mutiladas; e 40.000 operários revolucionários detidos pelo governo fascista cristão. E este resumo está muito longe de ser completo. É difícil encontrar palavras com que expressar toda nossa indignação ao pensar nas torturas que hoje sofrem os trabalhadores em diversos países fascistas. As cifras e fatos que assinalamos não refletem nem a centésima parte do quadro verdadeiro da exploração e das torturas, do terror dos guardas brancos, que enchem a vida cotidiana da classe operária nos diversos países capitalistas. Nenhum livro, por volumoso que fosse, poderia dar uma ideia clara das incontáveis bestialidades do fascismo contra os trabalhadores. Com profunda emoção e ódio contra os verdugos fascistas inclinamos as bandeiras da Internacional Comunista ante a memória inolvidável de John Scheer, de Piede Schulze, de Lutgens, na Alemanha; de Koloman, Walisch e Munichreiter, na Áustria; de Sallai e Furst, na Hungria; de Kofardshiewe, Lutibrodski e Wovkow na Bulgária; ante a memória dos milhares e milhares de operários comunistas, social-democratas e sem partido,

camponeses, representantes dos intelectuais progressistas que deram sua vida lutando contra o fascismo. Desta tribuna, saudamos o chefe do proletariado alemão e Presidente de honra de nosso Congresso, o camarada Thaelmann. (Grande ovação; todos os delegados se põem de pé). Saudamos os camaradas Rakosí, Gramsci (grande ovação; todos os delegados se põem de pé), Antikainen, J. Panow. Saudamos o chefe dos socialistas espanhóis Largo Caballero, encarcerado pelos contrarrevolucionários, Tom Mooney, que conta já 18 anos de cárcere, e todos os milhares de prisioneiros do capital e do fascismo (grandes aplausos) e lhes gritamos: Irmãos de luta! Companheiros de armas! Não vos esquecemos. Estamos convosco! Empregaremos todas as horas de nossa vida, até a última gota de nosso sangue, para arrancar-vos e para arrancar todos os trabalhadores do ignominoso regime fascista. (Grande ovação, todos os delegados se põem de pé). Camaradas: Já Lênin nos avisara que a burguesia pode conseguir, caindo sobre os trabalhadores com o terror mais feroz, rechaçar durante um período de tempo mais ou menos curto as forças crescentes da revolução, mas que apesar disso não poderá salvar-se do naufrágio. A vida — escrevia Lênin — seguirá seu curso. Pode a burguesia arrebatar-se, enfurecer-se até o paroxismo, exceder-se, cometer loucuras; vingar-se com antecedência dos bolcheviques e procurar extermina (na Índia, na Hungria, na Alemanha, etc.) centenas de milhares de bolcheviques do amanhã ou de ontem; ao proceder assim, a burguesia procede como todas as classes condenadas pela história ao naufrágio. Os comunistas devem saber que, aconteça o que acontecer, o futuro lhes pertence. Por isto, podemos e devemos associar, na grande luta revolucionária, o maior entusiasmo à mais serena e sóbria apreciação das convulsões da burguesia.

Sim; se nós e o proletariado do mundo inteiro marcharmos com firmeza pela senda que nos traçou Lenin, a burguesia se desmoronará, apesar de tudo (aplausos). *** Por que e de que modo pode triunfar o fascismo? O fascismo é o pior inimigo da classe operária e dos trabalhadores. O fascismo é o inimigo das nove décimas partes do povo alemão, das nove décimas partes do povo austríaco, das nove décimas partes dos outros povos dos países fascistas. Como e de que modo pode triunfar este inimigo encarniçado? O fascismo pode chegar ao Poder, antes de tudo, porque a classe operária, graças à política de colaboração de classe com a burguesia praticada pelos chefes da socialdemocracia, se achava dividida, política e organicamente desarmada, frente à burguesia que desenvolve sua ofensiva, e os Partidos Comunistas não eram suficientemente fortes para levantar as massas e conduzilas à luta decisiva contra o fascismo, sem a socialdemocracia e contra ela. Assim acontece! Que os milhões de operários socialdemocratas, que agora sofrem com seus irmãos comunistas os horrores da barbárie fascista, meditem seriamente sobre isto: se, no ano de 1918, quando estalou a revolução na Alemanha e na Áustria, o proletariado alemão e austríaco não tivesse seguido a direção social-democrata, de Otto Bauer, Friedrich Adler e Renner, na Áustria; de Ebert e Scheidemann, na Alemanha, e sim marchado pelo caminho dos bolcheviques russos, pela senda de Lênin, hoje não haveria fascismo nem na Áustria, nem na Alemanha, nem na Itália, nem na Hungria, nem na Polônia, nem nos Balcãs. Não seria a burguesia e sim a classe operária a senhora da situação na Europa, desde há muito tempo. (Aplausos).

Fixemo-nos, por exemplo, na social-democracia austríaca. A revolução de 1918 elevou-a a uma altura enorme. Tinha o Poder em suas mãos; tinha fortes posições dentro do exército, dentro do aparelho do Estado. Apoiando-se nelas, poderia matar em germe o nascente fascismo, mas foi cedendo sem resistência, uma após outra, as posições da classe operária. Permitiu à burguesia fortalecer seu poder, anular a Constituição, limpar o aparelho do Estado, o exército e a polícia de funcionários social-democratas, arrebatar aos operários seus depósitos de armas. Permitiu aos bandidos fascistas assassinar impunemente operários social-democratas, aceitou as condições do acordo de Ruttenberg, que abriu as portas das fábricas aos elementos fascistas. Ao mesmo tempo, os chefes da social-democracia enganavam os operários com o programa de Linz, no qual se previa a eventualidade do emprego da força armada contra a burguesia e a instauração da ditadura do proletariado, assegurando-lhes que, se as classes governantes apelassem para a violência contra a classe operária, o partido responderia com o apelo à greve geral e à luta armada. Como se toda a política de preparação do ataque fascista contra a classe operária não fosse uma cadeia de atos de violência, encobertos por meio de formas constitucionais! Mesmo nas vésperas dos combates de fevereiro e no transcurso destes, a direção da socialdemocracia austríaca abandonou o heroico Schitzbund, que lutava isolado das amplas massas, e condenou o proletariado austríaco à derrota. Era inevitável a vitória do fascismo na Alemanha? Não, a classe operária alemã poderia tê-la impedido. Mas, para isso, precisava ter conseguido estabelecer a frente única proletária antifascista, obrigar os chefes da social-democracia a por fim a sua cruzada contra os comunistas e aceitar as reiteradas propostas do Partido Comunista sobre a unidade de ação contra o fascismo.

Não se devia ter dado por satisfeita, ante a ofensiva do fascismo e a gradual liquidação das liberdades democrático burguesas, pela burguesia, com as formosas resoluções da social-democracia, mas deveria ter respondido com uma verdadeira luta de massas que estorvasse a realização dos planos fascistas da burguesia alemã. Não devia ter permitido a proibição da Liga de Combatentes da Frente Vermelha (Rote Frontkampferbund), pelo governo Braun-Severing, mas estabelecer contato de luta entra a Rot Frontkampferbund e a Reichsbanner que abrangia quase um milhão de filiados e obrigar Braun e Severing a armar ambas as organizações para repelir e destruir os bandos fascistas. Precisava ter obrigado os dirigentes da social-democracia, que estavam à frente do governo da Prússia, a tomar medidas de defesa contra o fascismo, deter seus chefes, suprimir sua imprensa, confiscar-lhes os recursos materiais e os recursos dos capitalistas que subvencionavam o movimento fascista, dissolver suas organizações, tomarlhes as armas, etc. Além disso, precisava ter conseguido que se estabelecesse e ampliasse a assistência social sob todas as formas, que se concedesse uma moratória e subsídios aos camponeses atingidos pela crise, à custa de aumentos nos impostos sobre os bancos e trusts, para garantir por este meio o apoio dos camponeses trabalhadores. Nada se fez, por culpa da social-democracia alemã, e, graças a isto, pode triunfar o fascismo. Haviam de triunfar inevitavelmente a burguesia e a nobreza na Espanha país onde as forças da insurreição proletária se combinam tão vantajosamente com a guerra camponesa? Os socialistas espanhóis estiveram representados no governo desde os primeiros dias da revolução.

Estabeleceram por acaso contato de luta entre as organizações operárias de todas as tendências políticas, incluindo os comunistas e os anarquistas? Fundiram a classe operária numa só organização sindical? Acaso exigiram a confiscação de todas as terras dos latifundiários, das igrejas e dos conventos em favor dos camponeses, para conquistá-los para a revolução? Tentaram lutar pela autodeterminação nacional dos catalães, dos bascos, pela libertação do Marrocos? Limparam o exército de elementos monárquicos e fascistas, preparando a passagem das tropas para o lado dos operários e dos camponeses? Dissolveram a guarda civil, verdugo de todos os movimentos populares, tão odiada pelo povo? Vibraram algum golpe contra o partido fascista de Gil Robles, contra o poderio do clero católico? Não, não fizeram nada disto. Repeliram as repetidas propostas dos comunistas sobre a unidade de ação contra a ofensiva da reação dos burgueses e dos latifundiários e do fascismo. Promulgaram uma lei eleitoral que permitiu à reação conquistar a maioria nas Cortes e uma série de leis em que se decretavam duras penalidades contra os movimentos populares, leis que servem agora para julgar os heroicos mineiros das Astúrias. Fuzilaram por mão da guarda civil os camponeses que lutavam pela terra, etc., etc. Assim, a social-democracia preparou ao fascismo o caminho do Poder, do mesmo modo na Alemanha, na Áustria e na Espanha, desorganizando e levando a cisão às fileiras da classe operária. Camaradas, o fascismo triunfou também porque o proletariado foi encontrado isolado de seus aliados naturais. O fascismo pode triunfar porque conseguiu arrastar consigo as grandes massas camponesas, graças ao fato de a social-democracia, em nome da classe operária, ter feito uma política que era no fundo anti-camponesa. O camponês via desfilar pelo Poder uma série de governos

social-democratas que personificavam, a seus olhos, o poder da classe operária, mas nenhum deles lhes entregava a terra. A social-democracia não incomodou em nada os latifundiários, resistiu às greves dos operários agrícolas e a consequência disto foi que os operários agrícolas da Alemanha, muito antes da subida de Hitler ao Poder, abandonaram os sindicatos reformistas passando-se na maioria dos casos para os Capacetes de Aço e para os nacional-socialistas. O fascismo pode triunfar também porque conseguiu penetrar nas fileiras da juventude, enquanto a socialdemocracia desviava a juventude operária da luta de classes; o proletariado revolucionário não desenvolveu entre a juventude o necessário trabalho de educação e não prestou a suficiente atenção à luta por seus interesses e as aspirações especificas. O fascismo captou a ânsia de atividade combativa aguçada entre a juventude e atraiu uma parte considerável desta para seus destacamentos de combate. A nova geração da juventude masculina e feminina não passou pelos horrores da guerra. Sofre em sua pele todo o peso da crise econômica, do desemprego forçado e da decomposição da democracia burguesa. Não tendo perspectiva alguma para o futuro, setores consideráveis da juventude se mostraram especialmente accessíveis à demagogia fascista que lhes pintava um porvir sedutor se o fascismo triunfasse. Em relação a isto, muito menos devemos passar por alto a série de erros cometidos pelos Partidos Comunistas, erros que refreavam nossa luta contra o fascismo. Em nossas fileiras existia um imperdoável menosprezo do perigo fascista, que ainda não se desvaneceu em muitos lugares. Concepções do tipo das que antes podíamos encontrar em nossos Partidos, como aquela de que a Alemanha não é a Itália, no sentido de que o fascismo pode triunfar na Itália,

mas sua vitória estava excluída na Alemanha, por ser um país industrialmente mais desenvolvido, um país de cultura muito elevada, com uma tradição de quarenta anos de movimento operário, um país em que é impossível o fascismo; ou e concepção que se mantém hoje de que nos países da democracia burguesa clássica não há base para o fascismo, semelhantes concepções podiam e podem contribuir para amortecer a vigilância diante do perigo fascista e dificultar a mobilização do proletariado para a luta contra o fascismo. Poderíamos citar também muitos casos em que os comunistas se viram surpreendidos inopinadamente por um golpe fascista. Recordai-vos da Bulgária onde, a direção de nosso Partido adotou uma posição neutra, oportunista em sua essência, em relação ao golpe de Estado de 9 de junho de 1923; da Polônia, onde, em maio de 1926, a direção do Partido Comunista, que interpretou de uma maneira errônea as forças motrizes da revolução polonesa, não soube distinguir o caráter fascista do golpe de Estado de Pilsudski e foi a reboque dos acontecimentos; da Finlândia, onde nosso Partido, baseando-se numa falsa ideia da fascistização lenta, gradual, deixou produzir-se o golpe de Estado fascista preparado por um grupo dirigente da burguesia, golpe de Estado que apanhou de surpresa o Partido e a classe operária. Quando o nacional-socialismo se tornou um movimento de massas ameaçador na Alemanha, havia camaradas como Heinz Neumann, para os quais o governo de Bruning já era o da ditadura fascista, que declaravam carrancudos: "Se o Terceiro Reich de Hitler chegar um dia, será somente a um metro e meio debaixo da terra e com o poder operário, vencedor, por cima dele." Nossos camaradas da Alemanha menosprezaram durante muito tempo o sentimento nacional ferido e a indignação

das massas contra Versalhes; observavam uma atitude desdenhosa com relação aos atritos dos camponeses e da pequena burguesia; demoraram em estabelecer um programa de emancipação social e nacional e quando o formularam não souberam adaptá-lo às necessidades concretas e ao nível das massas. E nem sequer souberam popularizá-lo amplamente entre elas. A necessidade de desenvolver a luta de massas contra o fascismo foi substituída em vários países pelos raciocínios estéreis sobre o caráter do fascismo em geral e por uma estreiteza sectária a respeito da posição e solução das tarefas políticas atuais do Partido. Camaradas, se falamos das causas da vitória do fascismo, se salientamos a responsabilidade histórica da socialdemocracia na derrota da classe operária, se anotamos também nossos próprios erros na luta contra o fascismo, não é simplesmente pelo prazer da remover o passado. Não somos historiadores situados à margem da vida; somos militantes da classe operária e estamos obrigados a dar uma resposta à pergunta que atormenta a milhões de operários: É possível impedir, e por que meios, a vitória do fascismo? E respondemos a esses milhões de operários: sim, camaradas, pode fechar-se a passagem ao fascismo. É absolutamente possível. Isso depende de nós mesmos, dos operários, dos camponeses, de todos os trabalhadores! Impedir a vitória do fascismo depende antes de tudo da atitude combativa da própria classe operária, da coesão de suas forças num exército combatente que lute unido contra a ofensiva do capital e do fascismo. O proletariado, ao estabelecer sua unidade de luta, paralisaria a influência do fascismo sobre os camponeses, sobre a pequena-burguesia urbana, sobre a juventude e os intelectuais, conseguiria neutralizar uma parte deles e fazer a outra passar para seu lado.

Em segundo lugar, depende da existência de um forte partido revolucionário que saiba dirigir acertadamente a luta dos trabalhadores contra o fascismo. Um partido que exorta sistematicamente os operários a retroceder ante o fascismo e permite à burguesia fascista fortificar suas posições, é um partido que conduz os operários inevitavelmente à derrota. Em terceiro lugar, depende da política acertada da classe operária com relação aos camponeses e às massas pequeno-burguesas da cidade. É preciso aceitar estas massas tal como são e não como desejaríamos que fossem. Só no decorrer da luta superarão suas dúvidas e vacilações, e, se o proletariado as ajudar politicamente, se elevarão a um grau superior de consciência e de atividade revolucionária. Em quarto lugar, depende da atenção vigilante e da atuação oportuna do proletariado revolucionário. não devemos deixar que o fascismo nos surpreenda, nem deixar-lhe a iniciativa; é preciso vibrar-lhe os golpes decisivos quando ainda não conseguiu concentrar suas forças; não lhe permitir firmar-se; fazer-lhe frente a cada passo em que se manifeste; não lhe permitir a conquista de novas posições; como se esforça com êxito, por conseguilo, o proletariado francês. (Aplausos). Eis as condições mais importantes para impedir que o fascismo cresça e suba ao Poder. *** A ditadura fascista da burguesia é um poder feroz, porém precário. Em que residem as principais causas da precariedade da ditadura fascista? O fascismo, que pretende superar as divergências e as contradições existentes no campo da burguesia, vem aguçar ainda mais estas contradições. O fascismo tenta estabelecer seu monopólio político destruindo

violentamente os demais partidos. Mas a existência do sistema capitalista, a existência de diferentes classes, a aprovação das contradições de classe, conduzem inevitavelmente ao enfraquecimento e destruição do monopólio político do fascismo. Não ocorre o mesmo no país soviético, onde a ditadura do proletariado é exercida também por um partido monopolista, mas onde este monopólio político corresponde aos interesses da sociedade sem classes. Num país fascista, o partido dos fascistas não pode manter por muito tempo seu monopólio, porque não está em condições de propor-se a missão de suprimir as classes e as contradições de classe. Suprime a existência legal dos partidos burgueses, mas alguns destes continuam vivendo ilegalmente e o Partido Comunista avança também dentro da ilegalidade, tempera-se e dirige a luta do proletariado contra a ditadura. Deste modo o monopólio político do fascismo tem que desmoronar necessariamente sob os golpes das contradições de classe. Outra das causas da precariedade da ditadura fascista baseia-se em que o contraste entre a demagogia anticapitalista do fascismo e a política de rapinante enriquecimento da burguesia monopolista permite desmascarar a natureza de classe do fascismo e vai enfraquecendo e reduzindo sua base de massas. Além disto, a vitória do fascismo provoca o ódio profundo e a indignação das massas, contribui para infundir-lhes espírito revolucionário e imprime um poderoso impulso à frente única do proletariado contra o fascismo. Realizando a política do nacionalismo econômico (autarquia) e apropriando-se da maior parte das rendas da nação para a preparação da guerra, o fascismo solapa toda a economia do país e aguça a guerra econômica entre os Estados capitalistas. Imprime aos conflitos que surgem no seio da burguesia o caráter de choques violentos e muitas vezes sangrentos, minando, assim, a estabilidade do Poder estatal

fascista aos olhos do povo. Um poder que assassina seus próprios partidários, como aconteceu na Alemanha, a 30 de junho do ano passado, um poder como o fascista contra o qual luta de armas na mão outra parte da burguesia fascista! (o Putsch nacional-socialista da Áustria, as lutas violentas de diversos grupos fascistas contra os governos fascistas da Polônia, da Bulgária, Finlândia e outros países), este poder não poderá manter durante multo tempo sua autoridade aos olhos das amplas massas pequenoburguesas. A classe operária precisa saber explorar as contradições e conflitos existentes no campo da burguesia, mas não deve nutrir a ilusão de que o fascismo pode asfixiar-se por si só. O fascismo não se destruirá automaticamente. Só a atividade revolucionária da classe operária fará com que os conflitos que surgem inevitavelmente no campo da burguesia sejam aproveitados para minar a ditadura fascista e derrubá-la. Ao liquidar os restos da democracia burguesa e elevar a violência descarada a sistema de governo, o fascismo solapa as ilusões democráticas e a autoridade da lei aos olhos das massas trabalhadoras. Isto acontece com maior razão nos países como, por exemplo, a Áustria e Espanha, onde os operários lutaram de armas nas mãos contra o fascismo. Na Áustria, a luta heróica do Schitzbund e dos comunistas fez tremer desde o início, apesar da derrota, a firmeza da ditadura fascista. Na Espanha, a burguesia não conseguiu por uma mordaça fascista nos trabalhadores. As lutas armadas da Áustria e da Espanha fizeram com que massas cada vez mais extensas de classe operária adquirissem consciência da necessidade da luta revolucionária de classes. Apenas filisteus monstruosos, lacaios da burguesia, como o mais antigo teórico da Segunda Internacional, Karl Kautsky, podem fazer censuras aos operários e dizer-lhes

que na Áustria e na Espanha não deveriam ter empunhado as armas. Que aspecto apresentaria hoje o movimento operário na Áustria a na Espanha se a classe operária destes países se tivesse deixado guiar pelos conselhos traidores dos Kautsky? A classe operária destes países sofreria uma profunda desmoralização em suas fileiras. "Os povos — disse Lênin — não passam em vão pela escola da guerra civil, É uma escola dura e em seu programa, se é completo, entram também inevitavelmente os triunfos da contrarrevolução, a ira dos reacionários enfurecidos, o ajuste de contas feroz do antigo poder com os rebeldes, etc. Mas só os pedantes inveterados e os espíritos mumificados podem choramingar, lamentando-se de que os povos passem por esta escola cheia de tormentos; esta escola ensina às classes oprimidas a fazer a guerra civil e lhes ensina como triunfa a revolução, acumula nas massas dos escravos atuais o ódio que os escravos atemorizados, torpes e ignorantes levam eternamente no íntimo e que conduz os escravos já conscientes do opróbrio de sua escravidão às façanhas históricas mais grandiosas." A vitória do fascismo na Alemanha provocou, como é sabido uma nova onda de ofensivas fascistas, que conduziu na Áustria à provocação de Dolfuss, na Espanha a novas agressões da contrarrevolução contra as conquistas revolucionárias das massas, na Polônia à reforma fascista da Constituição e na França incitou os destacamentos armados dos fascistas a uma tentativa de golpe de Estado em fevereiro de 1934. Mas esta vitória e a fúria da ditadura fascista provocaram no plano internacional um contramovimento de frente única proletária contra o fascismo. O incêndio do Reichstag, que era o sinal para a ofensiva geral do fascismo contra a classe operária, o assalto contra os sindicatos e outras organizações operárias

e sua espoliação, os gritos dos antifascistas torturados nas masmorras dos quartéis fascistas, e nos campos de concentração revelam palpavelmente às massas onde conduziu o jogo divisionista e reacionário dos chefes da social-democracia alemã, que repeliram as propostas dos comunistas para lutarem unidos contra o fascismo agressor, e os convencem da necessidade de unificar todas as forças da classe operária para a destruição do fascismo. Na França, a vitória de Hitler imprimiu também um impulso decisivo à criação de frente única da classe operária contra o fascismo. A vitória de Hitler não originou nos operários somente temor pela sorte dos operários alemães, não acendeu apenas o ódio contra os verdugos de seus irmãos de classe alemães, como ainda fortaleceu sua decisão de não permitir de nenhum modo que aconteça em seu país o que sucedeu com a classe operária na Alemanha. A poderosa corrente para a frente única em todos os países capitalistas põe em evidência que os ensinamentos da derrota não passaram em vão. A classe operária começa a agir de um modo novo. A iniciativa dos Partidos Comunistas na organização da frente única e a abnegação sem limites dos comunistas, dos operários revolucionários na luta contra o fascismo, aumentaram em proporções nunca vistas a autoridade da Internacional Comunista. Ao mesmo tempo, desenvolveu-se uma crise profunda no seio da Segunda Internacional, crise que se manifesta com uma clareza especial e acentuada depois da bancarrota da social-democracia alemã. Os operários social-democratas podem convencer-se cada vez mais palpavelmente de que a Alemanha fascista, com todos seus horrores e barbárie, é, em última análise, uma consequência da política social-democrata de colaboração de classe com a burguesia. Estas massas veem cada vez mais claro que o caminho pelo qual os chefes da socialdemocracia levaram o proletariado não pode ser percorrido

de novo. Jamais se deu no campo da Segunda Internacional um transtorno ideológico tão grande. No seio de todos os partidos social-democratas se opera um processo de diferenciação. Em suas fileiras se destacam dois campos básicos: junto ao campo existente dos elementos reacionários, que tentam por todos os meios manter de pé o bloco da social-democracia com a burguesia e repelem raivosamente a frente única com os comunistas, começa a formar-se o campo dos elementos revolucionários que duvidam da justeza da política de colaboração de classe com a burguesia, que lutam pela criação de uma frente única com os comunistas e começam a passar-se cada vez em maior escala para as posições da luta revolucionária de classes. Assim, o fascismo que surgiu como resultado da decadência do sistema capitalista, atua, portanto, em última instância, como um fator de sua ulterior decomposição. Assim, o fascismo que se impõe como dever enterrar o marxismo, o movimento operário revolucionário, o que faz como resultado da dialética da vida e da luta de classes é contribuir para que se desenvolvam as forças destinadas a ser seus coveiros, os coveiros do capitalismo. (Aplausos).

Capitulo II: A Frente Única da Classe Operária contra o Fascismo Camaradas: Milhões de operários e trabalhadores nos países capitalistas perguntam a si mesmos: Como se pode impedir que o fascismo chegue ao Poder e como derrotá-lo onde já triunfou? A Internacional Comunista responde: o que é preciso fazer primeiro, por onde se há de começar, é criar a frente única, estabelecer a unidade de ação dos operários em cada empresa, em cada bairro, em cada região, em cada país, no mundo inteiro. A unidade de ação do proletariado sobre um plano nacional e internacional: eis aí a arma poderosa que capacita a classe operária não só para a defesa eficaz, como também para a contraofensiva eficaz contra o fascismo, contra o inimigo de classe. *** Não é evidente que as ações conjuntas dos filiados aos Partidos e organizações das duas Internacionais — a Internacional Comunista e a Segunda Internacional — permitiriam às massas repelir o impulso fascista e aumentariam o peso político da classe operária? As ações conjuntas dos partidos de ambas as Internacionais contra o fascismo não se limitariam a exercer uma influência sobre seus filiados atuais, sobre os comunistas e os social-democratas; exerceriam também uma influência poderosa sobre as fileiras dos operários católicos, anarquistas e não organizados, até sobre aqueles que momentaneamente são vítimas da demagogia fascista. Mas ainda: a poderosa frente única do proletariado exerceria uma enorme influência sobre todas as demais camadas do povo trabalhador, sobre os camponeses, sobre a pequena burguesia urbana, sobre os intelectuais. A frente

única infundiria aos setores vacilantes fé na força da classe operária. Mas isto não é tudo. O proletariado dos países imperialistas tem seus aliados potenciais, não só nos trabalhadores do próprio país, como também nas nações oprimidas das colônias e semi-colônias. O fato do proletariado achar-se dividido nos planos nacional e internacional e de uma parte dele apoiar a política de colaboração com a burguesia, e sobretudo, seu regime de opressão nas colônias e semi-colônias, afasta da classe operária os povos oprimidos das colônias e semi-colônias e enfraquece a frente anti-imperialista mundial. Cada passo que o proletariado das metrópoles imperialistas dá pelo caminho da unidade de ação, disposto a apoiar a luta de libertação dos povos coloniais, equivale a converter as colônias e semi-colônias numa das reservas principais do proletariado mundial. Finalmente, se levarmos em conta que a unidade de ação internacional do proletariado se apoia na força sempre crescente do Estado proletário, do País do Socialismo, da União Soviética, veremos que largas perspectivas abre a realização da unidade de ação do proletariado nos planos nacional e internacional. A implantação da unidade de ação de todos os setores da classe operária, qualquer que seja o Partido ou organização a que pertençam, é necessária mesmo antes de se unificar a maioria da classe operária para a luta pela derrocada do capitalismo e pelo triunfo da revolução proletária. É possível realizar esta unidade de ação do proletariado nos diversos países e no mundo inteiro? Sim, é possível, e o é imediatamente. A Internacional Comunista não impõe para a unidade de ação nenhuma espécie de condições, com exceção de uma elementar, aceitável para todos os operários, a sabor: que a unidade de ação seja dirigida contra o fascismo, contra a ofensiva do capital, contra a

ameaça de guerra, contra o inimigo de classe. Eis ai nossa condição. *** Que podem objetar e que objetam os adversários da frente única? Para os comunistas, a palavra de ordem da frente única não passa de uma manobra, dizem uns. Mas, ainda que fosse uma manobra — respondemos nós — por que não desmascarais esta manobra comunista participando honradamente na frente única? Dizemos francamente: queremos a unidade de ação da classe operária para que o proletariado se fortaleça em sua luta contra a burguesia, para que, defendendo hoje seus interesses cotidianos contra os ataques do capital, contra o fascismo, esteja amanhã em condições de assentar os alicerces para sua definitiva emancipação. Os comunistas nos atacam, dizem outros. Pois escutai: Já declaramos repetidas vezes que não atacaremos ninguém, pessoas, organizações, nem partidos, que combatam pela frente única da classe operária contra o inimigo de classe. Mas, ao mesmo tempo, temos, no interesse do proletariado e de sua causa, o dever de criticar as pessoas, organizações e partidos que entorpecem a unidade de ação dos operários. Não podemos formar a frente única com os comunistas, porque seu programa é diferente, dizem os de mais longe. Mas afirmais que vosso programa difere do dos partidos burgueses e isto não vos impediu, nem vos impede, de fazer coalizões com estes partidos. Os partidos democrático-burgueses são melhores aliados contra o fascismo do que os comunistas, dizem os adversários da frente única e defensores da coalizão com a burguesia. Mas, que nos ensina a experiência da

Alemanha? Lá os social-democratas formaram um bloco com estes aliados melhores. Quais foram os resultados? Se estabelecermos a frente única com os comunistas, os pequenos burgueses se assustarão do perigo vermelho e se passarão para os fascistas, ouvimos dizer com frequência. Acaso a frente única ameaça os camponeses, os pequenos comerciantes, os artesãos, os trabalhadores intelectuais? Não. A frente única ameaça a grande burguesia, os magnatas financeiros, os latifundiários e demais exploradores cujo regime acarreta a ruína completa de todos aqueles setores. A social-democracia é partidária da democracia e os comunistas da ditadura; por isso não podemos estabelecer a frente única com os comunistas, dizem vários chefes social-democratas. Mas, será que nós vos propomos agora uma frente única para proclamar a ditadura do proletariado? Por enquanto não vos propomos semelhante coisa. Que os comunistas reconheçam a democracia e atuem em sua defesa e então estaremos dispostos à frente única. A isto respondemos: Nós somos partidários da democracia soviética, a democracia dos trabalhadores, a democracia mais consequente do mundo. Mas defendemos e continuaremos a defender nos países capitalistas, palmo a palmo, as liberdades democrático-burguesas, contra as quais atentam o fascismo e a reação burguesa, pois assim o exigem os interesses da luta de classe do proletariado. Os pequenos partidos comunistas não contribuiriam nada com sua participação na frente única realizada pelo Partido trabalhista, dizem, por exemplo, os chefes trabalhistas da Inglaterra. não obstante, recordai-vos de que o mesmo afirmavam os chefes social-democratas austríacos com relação ao pequeno Partido Comunista da Áustria. E que demonstraram os acontecimentos? Não era a socialdemocracia austríaca, com Otto Bauer e Karl Renner à

frente, quem tinha razão, e sim o pequeno Partido Comunista austríaco, que salientou oportunamente o perigo fascista na Áustria e chamou os operários à luta contra ele. E toda a experiência do movimento operário ensina que os comunistas, ainda quo numericamente sejam poucos, são o motor da atividade combativa do proletariado. Além disto, não se deve esquecer que os Partidos Comunistas da Áustria e Inglaterra não são somente as dezenas de milhares de operários filiados a estes Partidos, senão partes do movimento comunista mundial, secções da Internacional Comunista, a que pertence o Partido de um proletariado que triunfou e que governa uma sexta parte do mundo. Mas a frente única não impediu a vitória do fascismo no Sarre, objetam os adversários da frente única. Curiosa lógica a desses senhores! Primeiro, de sua parte fazem tudo para assegurar a vitória do fascismo e, depois, se alegram malignamente de que a frente única, para a qual se deixaram arrastar nos últimos momentos, não tenha conduzido os operários ao triunfo. Se formássemos, a frente única com os comunistas teríamos que sair dos governos de coalizão e começariam a governar os partidos reacionários e fascistas, dizem os chefes social-democratas que se sentam nos governos dos diversos países. Mas acaso não participou a socialdemocracia alemã de um governo de coalizão? Sim, participou. Não formou parte do governo a socialdemocracia austríaca? Também fez parte. Não estiveram os socialistas espanhóis em um governo, coligados com a burguesia? Sim, também estiveram. E acaso a participação da social-democracia nos governos burgueses de coalizão impediu nesses países o assalto do fascismo contra o proletariado? Não, não o impediu. Está, pois, claro como a luz do dia que a participação de ministros socialdemocratas nos governos burgueses não constitui uma barreira contra o fascismo.

Os comunistas agem ditatorialmente, querem impor e ditar tudo. Não; nós não impomos nem ditamos nada. Limitamo-nos a formular nossas propostas, cuja realização estamos convencidos de que corresponde aos interesses do povo trabalhador. E isto não é só um direito, senão um dever de quantos atuem em nome dos operários. Tendes medo da ditadura dos comunistas? Pois apresentemos conjuntamente com os operários todas as propostas, as vossas e as nossas, discutamo-las conjuntamente, com os operários todos, e escolhamos aquelas que sejam mais vantajosas para a causa da classe operária. Como se vê, estes argumentos contra a frente única não resistem à mais leve crítica. São apenas pretextos dos chefes reacionários da social-democracia que preferem a frente única com a burguesia à frente única do proletariado. Não, esses pretextos não prevalecerão! O proletariado internacional pagou muito caro pelas consequências da cisão do movimento operário e está cada vez mais convencido de que a frente única, a unidade de ação do proletariado, tanto sobre o plano nacional como num plano internacional, é necessária e perfeitamente possível. (Aplausos). *** Qual é e qual deve ser o conteúdo principal da frente única, na etapa atual? A defesa dos interesses econômicos e políticos imediatos da classe operária, sua defesa contra o fascismo, há de ser o ponto de partida e o conteúdo principal da frente única em todos os países capitalistas. Não nos devemos limitar a lançar simples apelos à luta pela ditadura proletária, temos que encontrar e preconizar as palavras de ordem e formas de luta que se deduzam das necessidades vitais das masas, do nível de sua capacidade de luta em cada etapa de seu desenvolvimento.

Devemos indicar às massas o que hão de fazer hoje para defender-se da exploração capitalista e da barbárie fascista. Devemos conseguir que se estabeleça a frente única mais ampla por meio de ações conjuntas das organizações operárias das diversas tendências, para defender os interesses vitais das massas trabalhadoras. Isto significa, em primeiro lugar, a luta conjunta por descarregar de um modo efetivo as consequências da crise sobre os ombros das classes dominantes; numa palavra, sobre os ombros dos ricos. Significa, em segundo fugar, a luta conjunta contra todas as formas da ofensiva fascista, pela defesa das conquistas e direitos dos trabalhadores, contra a liquidação das liberdades democrático-burguesas. Significa, em terceiro lugar, a luta conjunta contra o perigo cada vez mais iminente da guerra imperialista, luta que dificultaria a preparação desta guerra. Devemos preparar sem descanso a classe operária para as mudanças rápidas de formas e métodos de luta, ao variarem as circunstâncias. A medida que cresça o movimento e se fortaleça a unidade da classe operária, teremos que ir mais longe e preparar a passagem da defensiva à ofensiva contra o capital, dirigindo-nos para a organização da greve política de massas. Condição obrigatória desta greve é que nela tomem parte os sindicatos principais de cada país. Naturalmente, os comunistas não podem nem devem renunciar um só minuto à sua tarefa própria e independente de educação comunista, de organização e mobilização das massas. Não obstante, para assegurar aos operários o caminho para a unidade de ação, é preciso conseguir ao mesmo tempo firmar acordos a curto e a longo prazo sobre ações comuns com os partidos social-

democratas, os sindicatos reformistas e as demais organizações dos trabalhadores contra o inimigo de classe do proletariado. Nesses pactos, a atenção principal deve encaminhar-se para o desencadeamento de ações de massas nos diversos lugares, que deveriam ser realizadas pelas organizações de base mediante resoluções focais. Ao mesmo tempo que cumprirmos lealmente as condições de todos os acordos firmados com elas, desmascararemos implacavelmente qualquer sabotagem cometida contra as atividades conjuntas por pessoas ou organizações que tomem parte na frente única. A quantas tentativas se façam para frustrar os acordos firmados — e estas tentativas possivelmente se farão — responderemos apelando para as massas e continuando infatigavelmente a luta pelo restabelecimento da unidade de ação violada. Resta dizer que a realização concreta da frente única nos diversos países se efetuará de diferentes modos e revestirá diferentes formas, segundo o estado e o caráter das organizações operárias, seu nível político, a situação concreta do país de que se trate, segundo as mudanças operadas no movimento operário internacional, etc. Estas formas podem ser, por exemplo: atividades conjuntas dos operários, coordenadas para casos determinados e por motivos concretos, por reivindicações isoladas ou sobre a base de uma plataforma geral; ações coordenadas em determinadas empresas ou ramos industriais; ações coordenadas sobre um plano local, regional, nacional ou internacional; ações coordenadas para a organização de lutas econômicas dos operários, para a realização de movimentos políticos de massas, para a organização da autodefesa comum contra os assaltos fascistas; ações coordenadas para ajudar os presos e suas famílias, para lutar contra a reação social; ações conjuntas para a defesa dos interesses da juventude e das mulheres; na defesa das cooperativas, da cultura, do esporte, etc.

Não obstante, seria ilusão dar-se por satisfeitos com firmar um pacto sobre atividades conjuntas e criar comitês de ligação dos partidos e organizações envolvidas na frente única, como acontece, por exemplo, na França. Isto é apenas o primeiro passo. Os pactos são meios auxiliares para a realização de ações conjuntas, mas não são ainda a frente única. Os comitês de ligação entre as direções dos Partidos Comunista e Socialista são necessários para facilitar a realização de atividades conjuntas, mas estão muito longe de bastar para o desenvolvimento efetivo da frente única, para arrastar as amplas massas à luta contra o fascismo. Os comunistas e todos os operários revolucionários devem esforçar-se por criar órgãos de classe de frente única à margem dos partidos, eleitos (nos países de ditadura fascista, escolhidos entre as pessoas mais prestigiadas no movimento de frente única) nas empresas, entre os desempregados, nos bairros operários, entre a gente modesta da cidade e do campo. Só estes órgãos podem abranger, no movimento de frente única, as enormes massas não organizadas dos trabalhadores, contribuir para desenvolver a iniciativa das massas na luta contra a ofensiva do capital, contra o fascismo e a reação, para criar sobre esta base o extenso corpo de ativistas operários da frente única, que é indispensável, e formar nos países capitalistas centenas e milhares de bolcheviques sem partido. As atividades conjuntas dos operários organizados são o começo, são a base. Mas não podemos perder de vista que a esmagadora maioria dos operários é constituída pelas massas não organizadas. Assim, na França, o total dos operários organizados, comunistas, socialistas e filiados aos sindicatos de diferentes tendências, é no total, aproximadamente, de um milhão e a estatística total de operários atinge onze milhões. Na Inglaterra, pertencem

aos sindicatos e aos partidos de todas as tendências uns cinco milhões; mas a estatística total de operários é de quatorze milhões. Nos Estados Unidos da América há, aproximadamente, cinco milhões de operários organizados, mas o total de operários na América do Norte é de trinta e oito milhões. E a mesma relação existe, pouco mais ou menos, em outra série de países. Em tempos normais esta massa permanece, substancialmente, à margem da vida política. Más na atualidade, está massa gigantesca se põe cada vez mais em movimento, incorpora-se à vida política, chega à discussão política. A criação de órgãos de classe à margem dos partidos é a melhor forma de realizar, ampliar e fortalecer á frente única na mesma base das amplíssimas massas. Estes órgãos serão também o melhor baluarte contra todas as tentativas dos adversários da frente única para romper a unidade de ação alcançada pela classe operária. *** Na mobilização das massas trabalhadoras para a luta contra o fascismo, temos como tarefa especialmente importante a criação de uma extensa frente popular antifascista, sobre a base da frente única proletária. O êxito de toda a luta do proletariado está intimamente unido à criação da aliança de luta do proletariado com os camponeses trabalhadores e com as massas mais importantes da pequena burguesia urbana, que formam a maioria da população, mesmo nos países industrialmente desenvolvidos. O fascismo, em suas campanhas de agitação destinadas à conquista de tais massas, tenta opor as massas trabalhadoras da cidade e do campo ao proletariado revolucionário e assustar os pequenos burgueses com o fantasma do perigo vermelho. Temos que devolver os tiros e indicar aos camponeses trabalhadores, aos artesãos e aos trabalhadores intelectuais, de onde os ameaça o verdadeiro

perigo; temos que os fazer ver concretamente quem joga sobre os camponeses a carga das contribuições e impostos, quem os suga por meio de juros usurários, expulsa de seu terreno o camponês e sua família e o condena ao desemprego e à mendicância. Precisamos esclarecer objetivamente, explicar paciente e tenazmente, quem arruína os artesãos à força de impostos e taxas de todo gênero, de rendas pesadas e de uma concorrência insuportável para eles, quem atira à rua e priva de trabalhos as extensas massas dos trabalhadores intelectuais. Mas isto não basta. O fundamental, o decisivo, para estabelecer a frente popular antifascista, é a ação decidida do proletariado revolucionário em defesa das reivindicações destes setores e, em particular, dos camponeses trabalhadores, de reivindicações que estejam na razão dos interesses primordiais do proletariado, combinando no decorrer da luta as aspirações da classe operária com estas reivindicações. Para a criação da frente popular antifascista, tem grande importância saber abordar de maneira acertada todos os partidos e organizações que envolvem uma parte considerável de camponeses trabalhadores e as massas principais da pequena burguesia urbana. Nos países capitalistas, a maioria destes partidos e organizações — tanto econômicas como políticas — se encontra ainda sob a influência da burguesia e acompanha esta. A composição social destes partidos e organizações não é homogênea. Nela aparecem, ao lado dos camponeses muito ricos; ao lado de pequenos comerciantes, homens de grandes negócios; mas a direção está na mão dos últimos, os agentes do grande capital. Isto nos obriga a dar a estas organizações um tratamento diferente, levando em conta que, com frequência, a massa de seus filiados não conhece

a verdadeira face política de sua própria direção. Em determinadas circunstâncias, podemos e devemos dirigir nossos esforços no sentido de ganhar para a frente popular antifascista estes partidos e organizações ou setores isolados deles apesar de sua direção burguesa. Assim acontece atualmente na França, por exemplo, com o partido radical; nos Estados Unidos, com as diversas organizações de granjeiros (farmers); na Polônia com o Stronictwo Ludowe; na Iugoslávia com o Partido Camponês croata; na Bulgária com a Liga dos Agricultores; na Grécia com os agraristas, etc. Mas, independentemente disto, de que existam possibilidades de atrair estes partidos e estas organizações para a frente popular, nossa tática tem que ser orientada, sob quaisquer condições, no sentido de arrastar para a frente popular antifascista os pequenos burgueses camponeses, artesãos, etc., envolvidos neles. Assim, pois, como vedes, temos que acabar por completo com o menosprezo e a atitude depreciativa, que surgem com bastante frequência em nossa situação, a respeito dos diversos partidos e organizações de camponeses, artesãos e de massas da pequena burguesia urbana. *** Em todos os países há problemas primordiais que numa determinada etapa comovem as extensas massas e em torno dos quais deve desenvolver-se a luta para estabelecer a frente única. Captar acertadamente estes pontos fundamentais, estes problemas primordiais, significa assegurar e acelerar a formação da frente única. Tomemos, por exemplo, um país tão importante do mundo capitalista como os Estados Unidos, Aqui, a crise pôs em movimento massas de milhões de homens. O programa de saneamento do capitalismo foi a pique. Massas imensas começam a afastar-se dos partidos burgueses e acham-se atualmente na encruzilhada. O incipiente fascismo norte- americano tenta canalizar o

descontentamento e a desilusão destas massas para leitos reacionário-fascistas. A peculiaridade do desenvolvimento do fascismo norte-americano consiste em que, na fase atual age predominantemente em forma de oposição contra o fascismo considerando-o uma corrente não americana, importada do estrangeiro. Ao contrário do fascismo alemão, que entrou em cena com palavras de ordem contrária à Constituição, o fascismo norte-americano tenta apresentar-se como partidário da Constituição e da democracia americana. Mas, se conseguir penetrar nas amplas massas desiludidas dos antigos partidos burgueses, poderá converter-se rapidamente num grave perigo. E que significaria o triunfo do fascismo nos Estados Unidos? Para as massas trabalhadoras significaria, naturalmente, uma acentuação desenfreada do regime de exploração e a destruição do movimento operário. E qual seria a significação internacional desta vitória do fascismo? Os Estados Unidos não são — como é sabido — a Hungria, nem a Finlândia, nem a Bulgária, nem a Letônia. A vitória do fascismo nos Estados Unidos faria mudar essencialmente toda a situação internacional. Nestas circunstâncias, pode o proletariado norteamericano dar-se por satisfeito simplesmente com a organização de sua vanguarda consciente de classe, que está disposta a marchar pelo caminho da revolução? Não. É de todo evidente que os interesses do proletariado americano exigem que todas as suas forças se desliguem sem demora dos partidos capitalistas. É preciso encontrar os caminhos e as formas apropriadas para impedir a tempo que o fascismo arraste consigo as amplas massas dos trabalhadores descontentes. E aqui, temos que dizer que a forma apropriada às condições da América do Norte poderia ser a criação de um partido de massas dos trabalhadores, um partido de operários e granjeiros. Este partido seria uma forma específica da frente popular de massas na

América do Norte, uma frente de oposição aos partidos dos trusts e dos bancos, e ao crescente fascismo. Esse partido não seria naturalmente, nem socialista, nem comunista. Mas terá que ser um partido antifascista e não deverá ser um partido anticomunista. O programa deste partido deverá ser dirigido contra os bancos, os trustes e os monopólios, contra os inimigos principais do povo, que especulam com suas dores. Este partido só poderá cumprir sua missão se defender as reivindicações mais vitais da classe operária, se lutar por uma autêntica legislação social, pelo seguro contra o desemprego, para que obtenham terra e sejam libertados do jugo das dívidas as aderentes brancos e negros, se lutar pela anulação das dívidas dos granjeiros, pela igualdade de direitos dos negros, por defender as reivindicações dos antigos combatentes, os interesses dos membros das profissões liberais, dos pequenos comerciantes e dos artesãos. E assim sucessivamente. Compreende-se que um partido desse tipo terá de lutar por enviar representantes às administrações autônomas locais e aos órgãos representativos dos diversos Estados da União, assim como ao Congresso e ao Senado. Nossos camaradas dos Estados Unidos procederam acertadamente tomando a iniciativa, de criar semelhante partido. Mas terão que adotar medidas mais eficazes ainda, para que a criação de tal partido chegue a conseguir as simpatias das próprias massas. O problema da organização de um Partido de operários e granjeiros e seu programa deve ser discutido em assembleias populares de massas, É necessário desenvolver um movimento da maior amplitude para a criação desse partido e colocar-se à frente deste movimento. Não se deve, de modo algum, permitir que a iniciativa de sua organização cala em mãos daqueles elementos que queiram explorar o descontentamento das

massas de milhões de homens desiludidos dos partidos burgueses — o democrático e o republicano — para criar nos Estados Unidos um terceiro partido como partido anticomunista, como um partido orientado contra o movimento revolucionário. Na Inglaterra, à organização fascista de Mosley passou, provisoriamente, a último plano, como resultado das atividades de massas dos operários ingleses. Mas não devemos fechar os olhos ante o fato de que o chamado Governo nacional leva a cabo uma série de medidas reacionárias contra a classe operária, mediante as quais se criam também na Inglaterra condições que, chegada a ocasião, facilitarão à burguesia a passagem ao regime fascista. Lutar contar o perigo fascista na Inglaterra, na etapa atual, significa, antes de tudo, lutar contra o Governo nacional, contra suas medidas reacionárias, contra a ofensiva do capital, pela defesa das reivindicações dos desempregados, contra as diminuições de salário, pela revogação das leis com que a burguesia inglesa piora o nível de vida das massas. Mas o ódio crescente da classe operária contra o Governo nacional agrupa massas cada vez mais extensas sob a palavra de ordem da formação de um novo governo trabalhista na Inglaterra. Podem os comunistas passar por alto esse estado de ânimo nas amplas massas, que ainda têm fé no governo trabalhista? Não, camaradas! Temos que encontrar o caminho para estas massas e lhes dizermos francamente, como o fez o XII Congresso do Partido Comunista inglês: Nós, comunistas, somos partidários do Poder soviético, único Poder capaz de emancipar os operários do jugo do capital. Mas quereis um governo trabalhista? Perfeitamente. Temos lutado e lutaremos convosco para derrotar o Governo nacional. Estamos dispostos a apoiar vossa luta pela formação de um novo governo trabalhista, apesar dos dois anteriores não terem

cumprido as promessas feitas pelo Partido Trabalhista à classe operária. Não esperamos deste governo que realize medidas socialistas. Mas em nome de milhões de operários formulamos a exigência de que defenda os interesses econômicos e políticos mais angustiantes da classe operária e de todos os trabalhadores. Vamos discutir juntos um programa comum destas reivindicações e por em prática a unidade de ação que o proletariado necessita para fazer frente à ofensiva reacionária do Governo nacional, à ofensiva do capital e do fascismo e à preparação da nova guerra. Os camaradas ingleses estão dispostos a atuar, sobre estas bases, conjuntamente com as organizações do Partido Trabalhista, nas próximas eleições parlamentares contra o Governo nacional e também contra Lloyd George, que, a seu modo, tenta arrastar consigo as massas contra a causa da classe operária em interesse da burguesia inglesa. Esta posição dos comunistas ingleses é acertada. Ajudalhes a estabelecer a frente única de luta com as massas de milhões de homens das Trade Unions inglesas e do Partido Trabalhista. Permanecendo sempre nas primeiras linhas do proletariado combatente, mostrando às massas o único caminho certo — o caminho da luta por abater revolucionariamente a dominação da burguesia e para instaurar o Poder Soviético — os comunistas não devem ao fixar suas tarefas políticas atuais, empenhar-se em saltar as etapas necessárias do movimento de massas, ao longo do qual as massas operárias superam, à base da própria experiência, suas ilusões e passam para o lado do comunismo. A França é, como se sabe, o país cuja classe operária há a todo proletariado internacional exemplo de como é preciso lutar contra o fascismo. O Partido Comunista francês pode servir a todas as Secções da Internacional Comunista de exemplo de como se deve levar a cabo a tática da frente única, e os operários socialistas franceses podem servir de

exemplo do que devem fazer hoje os operários socialdemocratas dos demais países capitalistas em luta contra o fascismo. A significação da manifestação antifascista celebrada em Paris a 14 de julho deste ano, na qual tomaram parte melo milhão de homens, assim como as numerosas manifestações efetuadas em outras cidades da França, é enorme. Isto já não é simplesmente um movimento da frente única operária; é o começo de uma ampla frente de todo o povo contra o fascismo. Este movimento de frente única aumenta a fé da classe operária em suas forças, fortalece nela a consciência de seu papel de guia em relação aos camponeses, à pequena burguesia urbana, aos intelectuais. Estende a influência do Partido Comunista sobre as massas operárias e com isso enrijece o proletariado em sua luta contra o fascismo. Este movimento desperta, a tempo, a atenção vigilante das massas diante do perigo fascista. Será um exemplo contagiante para o desenvolvimento da luta antifascista nos demais países capitalistas e exercerá uma influência animadora sobre os proletários da Alemanha, algemados pela ditadura fascista. É sem dúvida uma grande vitória, mas não decide ainda o resultado da luta antifascista. A maioria esmagadora do povo francês está, indubitavelmente, contra o fascismo. Mas a burguesia sabe dobrar, recorrendo à força armada, a vontade dos povos. O movimento fascista continua se desenvolvendo com desembaraço completo, com o apoio ativo do capital monopolista, do aparelho estatal da burguesia, do estado maior do exército francês e dos dirigentes reacionários do clero católico, baluarte de toda reação. A mais forte organização fascista, a Cruz de Fogo, dispõe atualmente de mais de 300.000 homens armados, cujo núcleo principal são 60.000 oficiais da reserva. Possui fortes posições na polícia, na gendarmeria, no exército, na aviação e dentro de todo o aparelho do Estado. As últimas

eleições municipais põem em evidência que na França não crescem somente as forças revolucionárias, como também as forças do fascismo. Se o fascismo conseguir penetrar de um modo extenso entre os camponeses e assegurar o apoio de uma parte do exército com a neutralidade da outra, as massas trabalhadoras da França não poderão impedir a subida dos fascistas ao Poder. Não esqueçais, camaradas, a debilidade do movimento operário francês no terreno da organização, debilidade que facilita o êxito da ofensiva fascista. não há nenhuma razão para que a classe operária e todos os antifascistas da França se deem por satisfeitos com os resultados já conseguidos. Quais são as tarefas que se apresentam à classe operária da França? • Primeira: Conseguir estabelecer a frente única não só no terreno político, como também no econômico, para organizar a luta contra a ofensiva do capital; quebrar com sua determinação a resistência que se opõe à frente única nos cimos da Confederação Geral do Trabalho reformista. • Segunda: Conseguir a realização da unidade sindical da França: sindicatos únicos sobre a base da luta de classes. • Terceira: Arrastar ao movimento antifascista as extensas massas camponeses, as massas da pequena burguesia, reservando um lugar especial no programa da frente popular antifascista para sus reivindicações vitais. • Quarta: Firmar organicamente e prosseguir ampliando o movimento antifascista desenvolvido, por melo da criação em massa de órgãos da frente popular antifascista eleitos à margem dos partidos; de órgãos que com sua influência abranjam massas mais extensas

que os partidos e organizações dos trabalhadores atualmente existentes na França. • Quinta: Conseguir, por sua pressão, a dissolução e o desarmamento das organizações fascistas como organizações de conspiradores contra a República e como agentes de Hitler na França. • Sexta: Conseguir que se limpe o aparelho do Estado, o exército e a polícia, dos conspiradores que preparam um golpe fascista. • Sétima: Desenvolver a luta contra os chefes das camarilhas reacionárias do clero católico, que são um dos baluartes mais importantes do fascismo francês. • Oitava: Envolver o exército com o movimento antifascista, mediante a criação, dentro do exército, de comitês de defesa da República e da Constituição, contra aqueles que querem servir-se do exército para dar um golpe de Estado anticonstitucional (aplausos); não permitir que as forças reacionárias da França façam fracassar o Pacto franco-soviético, que defende a causa da paz contra a agressão do fascismo alemão. (Aplausos). E se o movimento antifascista na França conduzisse à formação de um governo que lutasse contra o fascismo francês de um modo efetivo, não apenas com palavras mas com fatos, que pusesse em prática o programa de reivindicações da frente popular antifascista, os comunistas sem deixar de ser inimigos irreconciliáveis de todo governo burguês, e partidários do Poder Soviético, estariam dispostos, apesar de tudo, ante o crescente perigo fascista a apoiar tal governo. (Aplausos). *** Camaradas: A luta por estabelecer a frente única nos países onde os fascistas estão no Poder é, talvez, o

problema mais importante que temos apresentado. Nesses, a luta se desenvolve, naturalmente, em condições muito mais difíceis que nos países de movimento operário legal. Não obstante, se oferecem nos países fascistas todas as premissas para a formação de uma verdadeira frente popular antifascista na luta contra a ditadura fascista, pois os operários social-democratas, católicos e de outras tendências na Alemanha, por exemplo, podem reconhecer de um modo mais imediato a necessidade de lutar unidos aos comunistas contra a ditadura fascista. As amplas camadas da pequena burguesia e dos camponeses, que já saborearam os frutos amargos da dominação fascista, se sentem cada vez mais descontentes e desiludidas, o que facilita a tarefa de arrastá-las ao movimento popular antifascista. Nos países fascistas, especialmente na Alemanha e Itália, onde o fascismo soube criar uma base de massas impondo violentamente suas organizações aos operários e demais trabalhadores, a tarefa principal consiste em saber combinar a luta contra o fascismo de fora com o trabalho para miná-lo por dentro nos órgãos e organizações fascistas de massas. É necessário estudar, assimilar e aplicar métodos e processos especiais, apropriados às condições concretas destes países, que estimulem a rápida decomposição da base de massas do fascismo e preparem a destruição da ditadura fascista. É preciso estudar, assimilar e aplicar estes métodos e não limitar-se a gritar: Morra Hitler! Morra Mussolini! Sim! Assimilá-los e aplicá-los. É uma tarefa difícil e complicada. Tanto mais difícil quanto nossas experiências de luta eficaz contra a ditadura fascista são extraordinariamente limitadas. Nossos camaradas italianos, por exemplo, levam já aproximadamente treze anos lutando sob as condições da ditadura fascista. Mas não conseguiram desenvolver uma verdadeira luta de massas contra o fascismo, e por isto não puderam,

infelizmente, ajudar muito neste sentido, com experiências positivas, os Partidos Comunistas dos demais países fascistas. Os comunistas alemães e italianos e os comunistas de outros países fascistas, do mesmo modo que os membros das juventudes comunistas fizeram maravilhas quanto ao heroísmo. Fizeram e fazem diariamente sacrifícios enorme. Ante este heroísmo e estes sacrifícios, todos nós nos inclinamos. Mas o heroísmo não basta. É necessário combinar este heroísmo com o trabalho diário entre as massas, na luta concreta contra o fascismo, para conseguir resultados mais tangíveis nesse terreno. Em nossa luta contra a ditadura fascista, é particularmente perigoso confundir os desejos com as realidades; é preciso partir dos fatos, da situação concreta real. E qual é hoje a realidade, por exemplo, na Alemanha? Entre as massas crescem o descontentamento e a decepção pela política da ditadura fascista, revestindo mesmo a forma de greves parciais e de outras atividades. Apesar de todos seus esforços, o fascismo não conseguiu conquistar politicamente as massas fundamentais dos operários; perde, e perderá cada vez em maior proporção, até seus antigos partidários. Mas temos que compreender que os operários que estão convencidos da possibilidade de derrubar a ditadura fascista e dispostos a lutar desde hoje mesmo por isso, de um modo ativo, são ainda, no momento, uma minoria. Somos nós, os comunistas, e é o setor revolucionário dos operários social-democratas. A maioria dos trabalhadores ainda não tem a consciência das possibilidades reais e concretas e dos caminhos pelos quais pode derrubar-se esta ditadura, e continua, no momento na expectativa, isto deve ser levado em conta ao fixarmos nossos objetivos na luta contra o fascismo na Alemanha e quando buscarmos, estudarmos e aplicarmos processos especiais para derrotar e sacudir a ditadura fascista na Alemanha.

Para vibrar um golpe sensível na ditadura fascista, temos que conhecer seus pontos mais vulneráveis. Onde está o tendão de Aquiles da ditadura fascista? Em sua base social. Esta base é extraordinariamente heterogênea. Abrange diferentes classes e diferentes setores da sociedade. O fascismo se proclama representante exclusivo de todas as classes e camadas da população: do fabricante e do operário, do milionário e do desempregado, do latifundiário e do pequeno camponês, do grande capitalista e do artesão. Finge defender os interesses de todos estes setores, os interesses da nação. Mas como o fascismo é a ditadura da grande burguesia, tem que chocar-se inevitavelmente, com sua base social de massas e tanto mais quanto, precisamente sob a ditadura fascista se destacam com maior relevo as contradições de classe entre a matilha dos magnatas financeiros e a esmagadora maioria do povo. Só poderemos levar as massas às lutas decisivas pela derrota da ditadura fascista, se envolvermos os operários que se viram violentamente impelidos para as organizações fascistas ou que ingressaram nelas por falta de consciência de classe, nos movimentos mais elementares para a defesa de seus interesses econômicos, políticos e culturais. Precisamente por isto, os comunistas devem trabalhar dentro destas organizações como os melhores defensores dos interesses cotidianos das massas de seus filiados, tendo presente que, à proporção que os operários enquadrados nestas organizações exigirem com maior frequência seus direitos e defenderem seus interesses, se chocarão inevitavelmente com a ditadura fascista. Baseando-se na defesa dos mais vitais interesses — e, nos primeiros tempos, os mais elementares — das massas trabalhadoras da cidade e do campo, será relativamente fácil encontrar uma linguagem comum que nos una não só aos antifascistas conscientes, como também àqueles

trabalhadores que são ainda partidários do fascismo, mas que estão enganados e descontentes com sua política, se queixam e procuram a ocasião para manifestar seu descontentamento. Em geral, temos que levar em conta que toda nossa tática, nos países da ditadura fascista, precisa ter um caráter que não repugne ao simples partidário do fascismo, que não o empurre de novo para os braços do fascismo, e sim que aprofunde o abismo entre as camadas fascistas e as massas dos desiludidos e partidários das correntes do fascismo entre as camadas trabalhadoras. Não há motivo para preocupar-se, se a gente mobilizada em torno destes interesses diários for tida como indiferente em política e mesmo como partidária do fascismo. O importante para nós é arrastá-la ao movimento, um movimento que talvez em seus começos não se desenvolva ainda abertamente sob as palavras de ordem da luta contra o fascismo, porque coloca estas massas frente à ditadura fascista. A experiência nos ensina que acreditar que nos países de ditadura fascista é absolutamente impossível atuar de um modo legal ou semilegal é prejudicial e falso. Aferrar-se a este ponto de vista significa cair na passividade, renunciar por completo a todo verdadeiro trabalho de massas. Certamente, encontrar formas e métodos de atuação legal ou semilegal, sob as condições da ditadura fascista, é um problema difícil e complicado. Mas, como em tantas outras questões, também aqui a vida é a iniciativa das próprias massas se encarregarão de indicar-nos o caminho, pois as massas já nos deram uma série de exemplos que devemos generalizar e aplicar de maneira organizada e oportuna. É preciso acabar decididamente com o desprezo pelo trabalho dentro das organizações fascistas de massas. Tanto na Itália como na Alemanha, e em outros países fascistas, nossos camaradas encobriram sua passividade, e

com frequência mesmo a negativa direta de fato em trabalhar nas organizações fascistas de massas, pretextando que opunham o trabalho nas empresas à atuação dentro das organizações fascistas de massas. Na realidade, dessa oposição esquemática resultou precisamente que tanto o trabalho dentro das organizações fascistas de massas como o desenvolvido nas empresas fosse extraordinariamente frouxo e até que, às vezes, não se realizasse trabalho algum. Para os comunistas dos países fascistas é, portanto, de especial importância estar em toda parte onde se encontrem as massas. O fascismo arrebatou aos operários suas próprias organizações legais. Impôs-lhes pela violência as organizações fascistas e nestas se encontram as massas, seja de boa vontade ou à força. Estas organizações de massas do fascismo podem e devem ser nosso campo legal ou semilegal de operações no qual entraremos em contacto com as massas. Podem e devem ser para nós um ponto de partida legal ou semilegal para a defesa dos interesses cotidianos das massas. Para aproveitar essas possibilidades, os comunistas deverão lutar por conseguir postos eletivos nas organizações fascistas de massas para manter contacto com as massas, e livrar-se, de uma vez para sempre, do preconceito de que esta tarefa é imprópria e indigna de um operário revolucionário. Na Alemanha existe, por exemplo, o sistema dos chamados delegados de fábrica. Onde está escrito que devemos ceder o monopólio destas organizações aos fascistas? Não podemos acaso tentar unir os comunistas, social-democratas, católicos e outros operários antifascistas dentro das empresas para que, ao votarem as listas dos delegados de fábrica, separem os agentes declarados do patrão e incluam nelas outros candidatos que gozem da confiança dos operários? A prática demonstrou que isto é possível.

E não nos ensina também a prática que podemos exigir dos delegados de empresas, em união com os operários social-democratas e outros operários descontentes, uma verdadeira defesa dos interesses operários? Observai a Frente do Trabalho da Alemanha ou os sindicatos fascistas da Itália. Acaso não se pode exigir que os funcionários da Frente de Trabalho sejam eleitos, em vez de designados de cima? Não se pode insistir em que os órgãos dirigentes dos grupos locais deem conta de sua atuação às assembleias de membros das organizações? Não se podem levar essas reclamações por resolução do grupo, ao patrão, ao encarregado do trabalho, aos órgãos superiores da Frente de Trabalho? Sim, pode-se fazer, com a condição de que os operários revolucionários trabalhem efetivamente dentro da Frente de Trabalho e lutem por conquistar postos na mesma. Métodos de trabalho parecidos são também possíveis e necessários em outras organizações desportivas, na organização A Força pela Alegria, na Alemanha; no Dopo lavoro, na Itália; nas cooperativas, etc. Recordareis, camaradas, a antiga lenda da tomada de Troia. A cidade de Troia se tornara forte contra o exército sitiante por meio de uma muralha intransponível, e os sitiantes, que tinham sofrido muitas baixas, só alcançaram a vitória quando penetraram no interior, no coração mesmo do inimigo, com auxílio do famoso cavalo de Troia. Parece-me que nós, operários revolucionários, não devemos sentir nenhum escrúpulo em empregar a mesma tática contra nossos inimigos fascistas, que se defendem contra o povo por meio da muralha viva de seus assassinos a soldo. (Aplausos). Quem não compreender a necessidade de empregar tática semelhante a respeito do fascismo, quem considerar tal atuação humilhante, poderá ser um excelente

camarada, porém, se me permitis que o diga, é um charlatão e não um revolucionário; esse não saberá conduzir as massas à derrota da ditadura fascista. (Aplausos). O movimento de massas da frente única que vai germinando fora e dentro das organizações fascistas da Alemanha, Itália e outros países nos quais o fascismo conta com uma base de massas, partindo da defesa das necessidades mais elementares, mudando de formas e palavras de ordem de luta conforme esta luta cresça e se estenda, será o ariete que destruirá a fortaleza da ditadura fascista, que, hoje, muitos talvez julguem inexpugnável. *** A luta pelo estabelecimento da frente única levanta outro problema muito importante: o problema da frente única nos países em que estão no Poder governos social-democratas ou governos de coalizão com participação dos socialistas, como acontece, por exemplo na Dinamarca, Noruega, Suécia, Tchecoslováquia e Bélgica. É bem conhecida nossa atitude absolutamente negativa ante os governos social-democratas, que são governos de conciliação com a burguesia. Mas, apesar disso, não consideramos a existência de um governo social-democrata ou de uma coalizão governamental do partido socialdemocrata com os partidos burgueses como um obstáculo insuperável, para estabelecer a frente única com os socialdemocratas, em determinadas questões. Consideramos que também nesses casos é absolutamente possível e necessária a frente única para a defesa dos interesses vitais do povo trabalhador e para a luta contra o fascismo. Compreende-se que nos países em que participam no governo representantes dos partidos social-democratas, a direção social-democrata oponha a mais enérgica resistência à frente única proletária. Compreende-se perfeitamente que seja assim. Querem fazer ver à

burguesia que são eles que sabem, melhor e mais habilmente que ninguém, refrear o descontentamento das massas e preservá-las da influência do comunismo. Mas o fato de que os ministros social-democratas adotem uma atitude negativa ante a frente única proletária, não justifica, de modo algum, o fato de que os comunistas nada façam para a criação da frente única do proletariado. Nossos camaradas dos países escandinavos continuam, com frequência, o caminho da menor resistência, ao limitarse a desmascarar a propaganda do governo socialdemocrata. Isto é um erro. Na Dinamarca, por exemplo, os chefes social-democratas há dez anos estão no governo e os comunistas vieram repetindo dia após dia, durante dez anos, que este é um governo burguês, capitalista. Deve supor-se que esta propaganda é conhecida dos operários dinamarqueses. O fato de que, apesar disso, uma considerável maioria vota no partido governamental socialdemocrata indica somente que o desmascaramento de propaganda do governo pelos comunistas não basta; mas não demonstra que estas centenas de milhares de operários estejam contentes com todas as medidas do governo dos ministros social-democratas. Não, não lhes agrada que o governo Social-democrata, com o chamado convênio de crise, ajude os grandes capitalistas e latifundiários, e não os operários e os camponeses pobres; que tenham suprimido com o decreto promulgado em janeiro de 1933, o direito de greve. Não lhes agrada que a direção social-democrata planeje uma perigosa norma eleitoral antidemocrática, restringindo consideravelmente o número de deputados. Não julgo equivocar-me ao afirmar que noventa e nove por cento dos operários dinamarqueses não aprovam estas medidas políticas dos chefes e ministros social-democratas. Acaso os comunistas não podem chamar os sindicatos e organizações social-democratas da Dinamarca a discutir tal

ou qual questão da atualidade, a emitir sua opinião a respeito delas e atuar em comum pela frente única proletária, para a realização das reivindicações operárias? Quando, o ano passado, em outubro, nossos camaradas dinamarqueses se dirigiram aos sindicatos para agir contra a redução do subsídio de desemprego e pelos direitos democráticos dos sindicatos, aderiram à frente única umas cem organizações sindicais locais. Na Suécia está no Poder, pela terceira vez, um governo social-democrata; mas os comunistas suecos renunciaram praticamente, durante multo tempo, a empregar a tática da frente única. Por que? Eram contrários à frente única? Naturalmente que não. Eram, em princípio, partidários da frente única, da frente única em geral, mas não percebiam sobre que pontos, em que problemas, pela defesa de que reivindicações, se podia estabelecer com êxito a frente única, e como e onde havia de apoiar-se. Poucos meses antes de constituir-se o governo social-democrata, o partido social-democrata se apresentou as eleições com uma plataforma em que havia uma série de reivindicações que poderiam ter sido incluídas justamente numa plataforma de frente única proletária, como, por exemplo, estas palavras de ordem; Contra as tarifas aduaneiras! Contra a militarização! É preciso acabar com a lentidão de trâmites no seguro de desemprego! Assegurar aos velhos pensões suficiente para viver! Não admitir a existência de organizações como o Munch-Corps! (organização fascista). Abaixo a legislação antissindical de classe, exigida pelos partidos burgueses! Mais de um milhão de trabalhadores da Suécia votaram em 1932 por estas reivindicações formuladas pela socialdemocrata, com a esperança de que se converteriam em realidade estas reivindicações. Nada teria sido mais lógico, naquela situação, nem podia corresponder em maior grau aos desejos das massas operárias, do que o Partido ter se

dirigido a todas as organizações social-democratas e sindicais com a proposta de empreender atividades conjuntas para levar à prática estas reivindicações lançadas pelo partido social-democrata. Se realmente se tivesse conseguido mobilizar as extensas massas, pára a consecução de tais reivindicações formuladas pelos próprios social-democratas e agrupar estreitamente numa frente única as organizações operárias social-democratas e comunistas, não resta dúvida que a classe operária sueca teria saído ganhando. Aos ministros social-democratas da Suécia, isto não teria produzido grande alegria, naturalmente, pois neste caso o governo se veria obrigado a satisfazer pelo menos algumas reivindicações. Em todo caso, não teria ocorrido o que agora ocorre: que o governo, em vez de suprimir as tarifas aduaneiras, elevou algumas, em vez de restringir o militarismo aumentou o orçamento de guerra, e em vez de anular toda a legislação dirigida contra os sindicatos apresentou ele mesmo ao parlamento um projeto de lei deste gênero. É certo que o Partido Comunista da Suécia desenvolveu uma boa campanha de massas, no sentido da frente única proletária, a respeito do último problema, conseguindo afinal que a própria fração parlamentar socialdemocrata se visse obrigada a votar contra o projeto do governo e que no momento o projeto fracassasse. Os comunistas noruegueses procederam acertadamente ao convidar no Primeiro de Maio as organizações do Partido Operário a celebrar manifestações conjuntas e apresentar uma série de reivindicações, que coincidiam no essencial com as reivindicações da plataforma eleitoral do Partido Operário norueguês. E apesar deste passo a favor da frente única ter se preparado de modo indeciso e a direção do Partido Operário norueguês lhe ser contrária, independente disto foram realizadas manifestações de frente única em trinta localidades.

Antes, muitos comunistas temiam que fosse uma manifestação de oportunismo, de sua parte, não opor a toda reivindicação parcial dos social-democratas suas próprias reivindicações, duas vezes mais radicais. Isto era um erro ingênuo. Se por exemplo, os social-democratas reclamam a dissolução das organizações fascistas, nós não temos que acrescentar: e a dissolução da policia do Estado também (reivindicação que seria oportuno formular em outras circunstâncias), mas devemos dizer aos operários social-democratas: estamos dispostos a aceitar esta reivindicação de vosso Partido como reivindicação de frente única do proletariado, e vamos lutar até o fim por sua consecução. Empreendamos juntos a luta. Também na Tchecoslováquia se podem e se devem aproveitar certas reivindicações formuladas pela socialdemocracia tcheca e alemã, assim como pelos sindicatos reformistas, para estabelecer a frente única da classe operária. Quando a social-democracia exige, por exemplo proporcionar, trabalho aos desempregados ou como já o vem exigindo desde 1917 — a revogação das leis que restringem a autonomia dos municípios, é preciso concretizar estas reivindicações em cada localidade e em cada distrito e lutar de mãos dadas com as organizações social-democratas por sua consecução efetiva. Se os partidos, em seus discursos, em termos gerais, atacam os agentes do fascismo dentro do aparelho do Estado, é preciso expor à luz do dia, por toda a parte, os porta-vozes fascistas concretos e agir conjuntamente com os operários social-democratas para eliminá-los das instituições do Estado. Na Bélgica, os chefes do partido social-democrata, com Emile Vandervelde à frente, entraram no governo de coalizão. Conseguiram este êxito mediante uma longa e ampla campanha por duas reivindicações principais: Primeira, derrogação dos decretos-leis, e, segunda,

realização do plano de De Man. A primeira questão é de grande importância. O governo anterior havia promulgado um total de 150 decretos-leis reacionários, que atiravam cargas extremamente pesadas sobre os ombros do povo trabalhador. Apresentava-se o problema de revogá-los imediatamente. Assim o exigia o Partido Social-democrata. Acaso o novo governo revogou multo desses decretos-leis? Nem um só. Limitou-se a atenuar um pouco alguns com objetivo de oferecer uma espécie de indenização simbólica pelas promessas de grande envergadura feitas pelos chefes socialistas da Bélgica (algo semelhante ao dólar simbólico que algumas potências europeias ofereceram à América do Norte em pagamento dos milhões de dólares de suas dívidas de guerra). No que diz respeito à realização do pomposo plano De Man, a coisa tomou para as massas social-democratas um aspecto inesperado. Os ministros social-democratas declararam que antes de tudo era preciso esperar o fim da crise econômica e realizar apenas as partes do plano De Man que melhorassem a situação dos capitalistas, industriais e dos bancos e que só então se poderia passar a pôr em prática as medidas tendentes a melhorar a situação dos operários; mas quanto tempo terão que esperar os operários a parcela de bem-estar que lhes promete o plano? Sobre os banqueiros belgas já caiu uma verdadeira chuva de ouro. Foi implantada uma desvalorização do franco belga em 28 por 100, e devido a esta manipulação os banqueiros puderam apropriar-se como troféu de 4.500 milhões de francos, à custa dos que vivem do salário e das economias da gente modesta. Como se harmoniza isto com o conteúdo do plano De Man? Se se deseja conceder crédito à letra do plano, este promete perseguir os abusos monopolistas e as manobras dos especuladores. À base do plano De Man, o governo nomeou uma comissão de controle sobre os bancos; mas, uma comissão

composta de banqueiros que se controlam a si mesmos alegre e despreocupadamente! O plano De Man promete também muitas outras coisas boas: Redução da jornada de trabalho, normalização dos salários, salário mínimo, organização de um sistema completo de seguros sociais, extensão das comodidades mediante a construção de novas casas, etc. São todas elas reivindicações que nós, os comunistas, podemos apoiar. Devemos dirigir-nos às organizações operárias da Bélgica e dizer-lhes: os capitalistas já obtiveram bastante e até demasiado. Exijamos dos ministros social-democratas que cumpram as promessas que fizeram aos operários. Unamonos numa frente única para a defesa eficaz de nossos interesses. Senhor ministro Vandervelde: nós apoiamos as reivindicações contidas na plataforma para os operários, mas declaramos abertamente: Tomamos a sério estas reivindicações; queremos fatos e não palavras vazias, e por esta razão agrupamos centenas de milhares de operários para lutar por estas reivindicações! Desse modo, os comunistas, nos países onde existem governos social-democratas, ao aproveitar as reivindicações concretas, oportunas tomadas das plataformas dos próprios partidos social-democratas e as promessas eleitorais dos ministros social-democratas como ponto de partida para atividades conjuntas com os partidos e organizações social-democratas, poderão depois desenvolver com maior facilidade uma campanha para estabelecer a frente única, baseando-se já noutra série de reivindicações das massas que lutam contra a ofensiva do capital, contra o fascismo e a ameaça de guerra. Além disto, é preciso ter presente que se as atividades conjuntas com os partidos e organizações socialdemocratas exigem dos comunistas, em geral, uma critica mais séria, razoável, do social-democratismo como ideologia, e prática da colaboração de classes com a

burguesia, assim como esclarecer infatigavelmente e com espírito de camaradagem os operários social-democratas sobre o programa e as palavras de ordem do comunismo, esta tarefa é de singular importância para a luta da frente única precisamente nos países onde existem governos social-democratas. *** Camaradas: A realização da unidade sindical, tanto sobre um plano nacional como internacional, deve constituir a etapa mais importante na consolidação da frente única. Como é sabido, a tática divisionista dos chefes reformistas, foi levada com maior exacerbação nos sindicatos. É explicável; aí sua política de colaboração de classe com a burguesia encontrava seu resultado prático diretamente nas empresas, à custa dos interesses vitais da massa operária. Isto provocava, naturalmente, uma critica severa e encontrava a resistência dos operários revolucionários dirigidos pelos comunistas, contra este modo de agir. Eis aí porque a mais inflamada luta entre o comunismo e o reformismo se desenrolou no terreno sindical. Quanto mais difícil e complicada se tornava a situação do capitalismo, mais reacionária era a política dos chefes dos sindicatos ligados à central de Amsterdam e mais agressivas suas medidas contra todos os elementos oposicionistas dentro dos sindicatos. Nem a própria instauração da ditadura fascista na Alemanha, nem a ofensiva redobrada do capital em todos os países capitalistas, diminuíram esta agressividade. Não é característico que somente em um ano, em 1933, na Inglaterra, Holanda, Bélgica e Suécia se lançassem as mais ignominiosas circulares destinadas a expulsar dos sindicatos os comunistas e operários revolucionários?

Na Inglaterra, apareceu, em 1933, uma circular proibindo as seções Sindicais de aderir às organizações contra a guerra e outras organizações revolucionárias. isto foi o prelúdio à célebre Circular Negra do Conselho Geral das Trade-Unions, pela qual todo conselho sindical que admitisse em seu seio delegados que estivessem relacionados, sob uma ou outra forma, com organizações comunistas era declarado fora da lei. E que dizer da direção dos sindicatos alemães, que aplicou represálias inauditas contra os elementos revolucionários dentro dos sindicatos? Mas nossa tática não deve tomar como ponto de partida a conduta de alguns chefes dos sindicatos ligados a Amsterdam, por muito grande que sejam as dificuldades que esta conduta oponha à luta de classes, senão que tem de partir, sobretudo, deste fato: Onde se encontram as massas operárias? E aqui, temos que declarar abertamente: o trabalho dentro dos sindicatos é a questão mais candente dos Partidos Comunistas. Devemos conseguir que se dê uma viragem verdadeira no trabalho sindical, e colocar como ponto central a questão da luta pela unidade sindical. Muitos de nossos camaradas, passando por alto a atração dos operários para os sindicatos, e ante as dificuldades que oferecia o trabalho dentro dos sindicatos ligados a Amsterdam, não se detinham nesta complicada tarefa. Falavam, invariavelmente, da crise orgânica dos sindicatos de Amsterdam, de que os operários abandonavam os sindicatos, e perdiam de vista como estes, depois de certa decaída no começo da crise econômica mundial, começaram a crescer de novo. A particularidade do movimento sindical, consistia precisamente em que a ofensiva da burguesia contra os direitos sindicais, as tentativas feitas em uma série de países (Polônia, Hungria, etc.) de refrear os sindicatos, a redução dos seguros sociais, o roubo dos salários, obrigavam os operários,

apesar de não haver uma resistência da parte dos chefes sindicais reformistas contra tudo isto, a cerrar ainda mais suas fileiras em torno dos sindicatos, pois os operários queriam e querem ver no sindicato o defensor combativo de seus interesses de classe. Assim se explica o fato de que nestes últimos anos tenham aumentado — na França, Tchecoslováquia, Bélgica, Suécia, Holanda, Suíça, etc. — o número de membros da maioria dos sindicatos ligados à Central de Amsterdam. A Federação Americana do Trabalho teve aumentado também consideravelmente nos últimos anos o número de seus filiados. Se os camaradas alemães tivessem compreendido melhor a tarefa do trabalho sindicai, da qual tão repetidamente lhes falava o camarada Thaelmann, teriam tido indubitavelmente, dentro dos sindicatos, uma posição melhor que a que na realidade tinham no momento de implantar-se a ditadura fascista. Em fins de 1932, havia nos sindicatos livres apenas 10 por cento dos membros do Partido. E isto, apesar dos comunistas, depois do VI Congresso mundial da Internacional Comunista, se terem colocado. à frente de toda uma série de greves. Nossos camaradas escreviam na imprensa acerca da necessidade de consagrar 90 por cento de nossas forças ao trabalho dentro dos sindicatos. Mas, na prática, tudo se concentrava na Oposição Sindical Revolucionária, que de fato se esforçava por suplantar os sindicatos. E que aconteceu depois da tomada do Poder por Hitler? No curso de dois anos, muitos de nossos camaradas se opuseram tenaz e sistematicamente à palavra de ordem acertada da luta pela reconstrução dos sindicatos livres. Poderia mostrar exemplos parecidos de quase todos os demais países capitalistas. Não obstante, na luta pela unidade do movimento sindical nos países europeus, já conseguimos as primeiras conquistas sérias. Ao dizer isto, refiro-me à pequena

Áustria, onde, por iniciativa do Partido Comunista, foram lançadas as bases para um movimento sindical ilegal. Depois dos combates de fevereiro, os social-democratas, com Otto Bauer à frente, lançaram esta palavra de ordem: Os sindicatos livres só poderão restabelecer-se depois da queda do fascismo. Os comunistas empreenderam o trabalho de restabelecer os sindicatos. Cada fase desta tarefa era um fragmento de frente única viva do proletariado austríaco. O restabelecimento eficaz dos sindicatos livres na ilegalidade, foi uma derrota séria para o fascismo. Os social-democratas não sabiam que fazer. Uma parte deles tratava de entabular negociações com o governo. Outra parte em vista de nossos êxitos, criou paralelamente alguns sindicatos ilegais próprios. Mas só podia haver um caminho: ou capitular ante o fascismo, ou marchar lutando, conjuntamente, contra o fascismo para a unidade sindical. Sob a pressão das massas, a direção vacilante dos sindicatos paralelos, criados pelos antigos chefes sindicais, se decidiu por uma unificação. A base desta unificação é a luta irreconciliável contra a ofensiva do capital e do fascismo e a salvaguarda da democracia dentro dos sindicatos. Saudamos este fato da unificação dos sindicatos, que é o primeiro passo desta natureza desde que se cindiu formalmente o movimento sindical depois da guerra e que encerra portanto uma significação internacional. A frente única, na França, serviu indubitavelmente de impulso gigantesco para a realização da unidade sindical. Os dirigentes da Confederação Geral do Trabalho refreavam e continuam refreando por todos os meios a realização da unidade, ao contrapor ao problema fundamental, que é o da política de classes dos sindicatos, questões de importância secundária, subalterna ou meramente formal. Um êxito indubitável da luta pela unidade sindical foi a criação de Sindicatos únicos, sobre um plano local,

sindicatos que, por exemplo, no ramo dos ferroviários, abraçam quase as três quartas partes da massa de membros de um e outro sindicato. Combatemos decididamente pelo restabelecimento da unidade sindical dentro de cada país e, sobre um plano internacional, advogamos por um sindicato único em cada ramo de produção. Trabalhamos por uma Central sindical única em cada país. Lutamos por Centrais sindicais internacionais únicas por industrias. Somos por uma internacional sindical única sobre a base de luta de classes. Combatemos por sindicatos de classe únicos como um dos baluartes mais importantes da classe operária contra a ofensiva dó capital e do fascismo. Ao fazer assim colocamos como única condição, para a unificação dos sindicatos, lutar contra o capital, lutar contra o fascismo e pela democracia sindical interna. O tempo não espera. Para nós, o problema da unidade do movimento sindical, tanto sobre um plano nacional como sobre um plano internacional, é o problema da grande causa da unificação de nossa classe em poderosas organizações sindicais únicas contra o inimigo da classe. Saudamos a proposta dirigida nas vésperas do Primeiro de Maio deste ano pela Internacional Sindical Vermelha à Internacional de Amsterdam, para discutir conjuntamente o problema das condições, métodos e formas da unificação do movimento sindical. Os chefes da internacional de Amsterdam repeliram esta proposta, com o usado argumento de que a unidade do movimento sindical só pode realizar-se dentro das fileiras da internacional de Amsterdam que, seja dito de passagem, agrupa quase

exclusivamente organizações sindicais de uma parte dos países europeus. Mas os comunistas, em seu trabalho dentro dos sindicatos, devem prosseguir infatigavelmente a luta pela unidade do movimento sindical. À missão dos Sindicatos Vermelhos e da Internacional Sindical Vermelha é fazer quanto deles depender para que chegue o mais rápido possível á hora da luta conjunta de todos os sindicatos contra a ofensiva do capital e do fascismo, para que a unidade do movimento sindical se crie, apesar dá tenaz resistência dos chefes reacionários da Internacional Sindical de Amsterdam. Os Sindicatos Vermelhos e a Internacional Sindical Vermelha devem receber de nós para isto toda espécie de apoio. Nos países onde existem pequenos sindicatos vermelhos lhes recomendamos que procurem ingressar nos grandes sindicatos reformistas, exigindo liberdade para sustentar suas opiniões próprias, e a readmissão dos membros expulsos; nos países onde existem paralelamente grandes sindicatos vermelhos e reformistas, recomendamos que exijam a convocação de um Congresso de unificação sobre a plataforma da luta contra a ofensiva do capital e a salvaguarda da democracia sindical. É preciso afirmar, do modo mais categórico, que o operário comunista, o operário revolucionário que não pertence ao sindicato de massas de seu ofício, que não luta por converter este sindicato reformista em uma verdadeira organização sindical de classe, que não trabalha pela unidade do movimento sindical sobre a base da luta de classes; este operário comunista, este operário revolucionário, não cumpre com seu dever proletário primordial. (Aplausos). ***

Camaradas: Salientei o papel que desempenha para a vitória do fascismo a incorporação da juventude às organizações fascistas. Ao falar da juventude, é necessário confessar francamente: temos desdenhado nossa missão de arrastar as massas da juventude trabalhadora à luta contra a ofensiva do capital, contra o fascismo e a ameaça de guerra; temos desdenhado esta missão numa série de países. Não apreciamos devidamente a enorme importância que tem a juventude para a luta contra o fascismo. Não tivemos sempre no pensamento os interesses particulares, econômicos, políticos e culturais da juventude. Menos ainda dedicamos atenção ao problema da educação revolucionária da juventude. Tudo isto o fascismo explorou muito habilmente em alguns países, particularmente na Alemanha, para atrair a si grandes setores da juventude contra o proletariado. É preciso não esquecer que o fascismo não colhe em suas redes a juventude somente com o romantismo militarista. A uns dá comida e roupas envolvendo-os em seus destacamentos; a outros dá trabalho; funda até estabelecimentos chamados culturais para a juventude, e deste modo se esforça por inspirar-lhe a crença de que o fascismo quer e pode realmente dar à massa da juventude trabalhadora alimento e roupa, instruí-la e assegurar-lhe trabalho. Nossas Juventudes Comunistas continuam sendo, numa série de países capitalistas, organizações predominantemente sectárias, desligadas das massas. Sua debilidade principal reside em que se esforçam ainda em copiar as formas e métodos de trabalho dos Partidos Comunistas, e esquecem que as Juventudes Comunistas não são o Partido Comunista da Juventude. Não percebem que são uma organização com tarefas especiais. Seus métodos e formas de trabalho, de educação, de luta, hão

de adaptar-se ao nível concreto e às exigências da juventude. Nossas camaradas juvenis deram exemplos inolvidáveis de heroísmo na luta contra as violências fascistas e a reação burguesa. Mas carecem ainda de capacidade para arrancar concreta e perseverantemente as massas da juventude da influência inimiga. Isto se revela na resistência, não vencida ainda até hoje, contra a necessidade de trabalhar dentro das organizações fascistas e no modo, nem sempre ajustado, de abordar a juventude socialista e outras juventudes não comunistas. De tudo isto cabe também grande responsabilidade, naturalmente, aos Partidos Comunistas, que devem dirigir e apoiar as Juventudes Comunistas em seu trabalho. Pois o problema da juventude não é somente um problema das Juventudes Comunistas, é um problema do movimento comunista em sua totalidade. No campo da luta pela juventude, os Partidos Comunistas e as organizações juvenis devem dar uma viragem verdadeira e resoluta. A missão principal do movimento juvenil comunista, nos países capitalistas, consiste em marchar valentemente pela senda da organização e da unificação da jovem geração trabalhadora. Que exercem enorme influência sobre o movimento juvenil revolucionário até os mais incipientes passos dados nesta direção, temos a prova nos exemplos recentes da França e dos Estados Unidos. Bastou que se empreendesse nestes países a realização da frente única, para que imediatamente se conseguissem êxitos consideráveis. Também é digna de atenção, no campo da frente única internacional, a eficaz iniciativa do Comitê contra a Guerra e o Fascismo, de Par|s, de chegar a uma colaboração internacional com todas as organizações juvenis não fascistas. Estes passos que foram dados com êxito, nos últimos tempos, no movimento de frente única da juventude

mostram, também, que as formas de frente única da juventude não podem aplicar-se com sujeição a padrões, não têm que ser forçosamente as mesmas que se dão na prática dos Partidos Comunistas. As Juventudes Comunistas devem esforçar-se, por todos os meios, em unificar as forças de todas as organizações não fascistas de massas da juventude, até chegar à formação de diferentes organizações conjuntas para a luta contra o fascismo, contra a inaudita privação de direitos e a militarização da juventude, pelos direitos econômicos e culturais das jovens gerações, por ganhar para a frente antifascista esta juventude, onde quer que se encontre: nas empresas, nos campos de trabalhos forçados, nas Bolsas de Trabalho, nos quartéis, na marinha, nas escolas ou nas diferentes organizações esportivas, culturais e de outro gênero. Nossos jovens comunistas, ao mesmo tempo que desenvolvem e fortalecem as Juventudes Comunistas, devem esforçar-se por criar associações antifascistas das Juventudes Comunistas e Socialistas sobre a plataforma da luta de classe. *** Não menor que a referente à juventude é, camaradas, a insuficiente compreensão que se manifesta a respeito do trabalho entre as mulheres trabalhadoras, as operárias, as desempregadas, as camponesas e as mulheres do lar. Se o fascismo despoja de tudo a juventude, por outro lado escraviza a mulher de um modo especialmente implacável e cínico, jogando com os sentimentos profundamente arraigados da mãe, da dona de casa, da operária sem apoio, incertas do amanhã. O fascismo, que se apresenta com o papel de filantropo, atira às famílias uma esmola miserável e tenta com isso afogar os sentimentos amargos, provocados especialmente entre as mulheres trabalhadoras, pela indizível escravização a que as submete. Expulsa as operárias da produção. Envia ao

campo, pela força, as jovens necessitadas e as condena a converter-se em criadas gratuitas dos camponeses ricos e dos latifundiários. Ao mesmo tempo que promete à mulher um lar feliz, empurra-a, como nenhum outro regime capitalista, no caminho da prostituição. Os comunistas, e sobretudo nossas camaradas de Partido, devem ter continuamente presente que não pode haver luta eficaz contra o fascismo nem contra a guerra se não se arrastam a esta luta as extensas massas femininas. E isto não se consegue somente com a agitação. Temos que encontrar, atendendo a cada situação concreta, a possibilidade de mobilizar as massas das mulheres trabalhadoras em favor de seus interesses e reivindicações vitais: contra a carestia da vida, pela elevação dos salários, segundo o princípio de para igual trabalho, igual salário, contra as despedidas em massa, contra tudo que significa desigualdade de direitos e contra a escravização fascista da mulher. Em nossos esforços por arrastar a mulher trabalhadora ao movimento revolucionário, não devemos recear a criação de organizações especiais de mulheres, onde seja necessário fazê-lo. O preconceito de que é preciso liquidar, nos países capitalistas, as organizações feministas que se acham sob a direção dos Partidos Comunistas, por exigência da luta contra o separatismo feminino no movimento operário, é um preconceito que acarreta frequentemente grandes prejuízos. É preciso procurar as formas mais simples e flexíveis para estabelecer o contacto e a luta comum com as organizações femininas revolucionárias, social-democrata, progressivas, antifascistas e anti-guerreiras. Temos que conseguir, custe o que custar, que as operárias e as mulheres trabalhadoras militem na frente única da classe operária e na frente popular antifascista, fado a lado com seus irmãos de classe.

*** Uma importância extraordinária adquire, em relação com as transformações operadas na situação internacional e doméstica de todos os países coloniais e semicoloniais, o problema da frente única anti-imperialista. A respeito da criação de uma ampla frente única antiimperialista nas colônias e semi-colonias, é preciso levar em conta, antes de tudo, a diversidade das condições sob as quais se desenvolve a luta anti-imperialista das massas, o diferente grau de maturidade do movimento de libertação nacional, o papel do proletariado neste movimento e a influência do Partido Comunista sobre as extensas massas. O problema se apresenta de modo diferente no Brasil e na Índia, na China, etc. No Brasil, o Partido Comunista, que, com a criação da Aliança Nacional Libertadora, estabeleceu um princípio acertado para o desenvolvimento da frente única antiimperialista, tem que fazer todos os esforços para continuar alargando no futuro esta frente, por meio da incorporação, em primeiro lugar, das massas de milhões de camponeses, orientando-se para a criação de destacamentos de um exército popular revolucionário, entregues, sem reserva, à revolução, e trabalhar pela instauração do Poder da Aliança Nacional Libertadora. Na Índia, os comunistas devem participar em todas as atividades anti-imperialistas de massas, sem excetuar aquelas a cuja frente marchem nacional-reformistas, apoiálas e estendê-las. Conservando sua independência política e de organização, devem empreender um trabalho ativo no seio das organizações ligadas ao Congresso Nacional da Índia e contribuir para a cristalização de uma ala nacional revolucionária dentro destas organizações, para continuar desenvolvendo sempre o movimento de libertação nacional dos povos da Índia contra o imperialismo britânico.

Na China, onde o movimento popular conduziu à criação de distritos soviéticos em importantes territórios do país e à organização de um poderoso Exército Vermelho, a ofensiva rapace do imperialismo japonês e a traição do governo de Nanking puseram em perigo a existência nacional do grande povo chinês. Só os Soviets chineses podem atuar como centro de unificação na luta contra a escravização e a divisão da China pelos imperialistas, como centro de unificação que agrupe todas as forças anti-imperialistas, para a luta nacional do povo chinês. Aprovamos, portanto, a iniciativa de nosso valente Partido Comunista irmão da China de criar a mais ampla frente única anti-imperialista contra o imperialismo japonês e seus agentes chineses, com todas as forças organizadas no território da China que estejam dispostas a desenvolver a ofensiva pela salvação de seu país e de seu povo. Estou certo de que expresso os sentimentos e ideias de todo nosso Congresso ao declarar que enviamos nossa saudação fraternal e calorosa, em nome do proletariado revolucionário do mundo inteiro, a todos os Soviets da China, ao povo revolucionário chinês. (Grande ovação, todos os delegados se põem de pé). Enviamos nossa calorosa saudação fraternal ao heroico Exército Vermelho da China (grande ovação), provado em mil batalhas. E afirmamos ao povo chinês que estamos firmemente decididos a apoiar sua luta por libertar-se completamente de todos os rapaces imperialistas e de seus agentes chineses. (Grande ovação e vivas, que duraram muito tempo. Todos os delegados se põem de pé). *** Camaradas: Tomamos um rumo decidido e audaz para a frente única da classe operária, e estamos dispostos a segui-lo com a máxima consequência.

Se nos perguntarem se nós, os comunistas, lutamos no terreno da frente única somente por reivindicações parciais ou estamos dispostos a compartilhar a responsabilidade, mesmo se se chegasse à formação de um Governo sobre a base da frente única, diremos, com inteira consciência de nossa responsabilidade: se considerarmos que pode surgir uma situação em que a criação de um governo de frente única proletária ou de frente popular antifascista seja não somente possível, mas indispensável, no interesse do proletariado, aceitamos, com efeito, esta eventualidade. (Aplausos). E neste caso, interviremos sem nenhuma vacilação em favor da criação desse governo. Não me refiro aqui ao governo que possa formar-se depois do triunfo da revolução proletária. Evidentemente, não está excluída a possibilidade de que, num país qualquer, imediatamente depois da derrubada revolucionária da burguesia, se possa formar um governo soviético sobre a base do bloco governamental do Partido Comunista com outro partido (ou sua ala esquerda) que participe na revolução. É sabido que, depois da Revolução de Outubro, o Partido vencedor, o Partido dos bolcheviques russos, fez entrar no governo soviético os representantes dos social-revolucionários de esquerda. Esta foi a particularidade do governo soviético, depois do triunfo da revolução de Outubro. Não se trata de um caso deste gênero, senão da possível formação de um governo de frente única antes do triunfo da revolução soviética. Que seria este governo? E em que situação poderia ser possível? É, antes de tudo, um governo de luta contra o fascismo e a reação. Deve ser um governo formado como consequência do movimento de frente única e que não embarace de nenhuma maneira a atuação do Partido Comunista e das organizações de massas da classe

operária, senão ao contrário, que tome enérgicas disposições contra os magnatas contrarrevolucionários da fiança e seus agentes fascistas. No momento oportuno, apoiando-se no movimento ascensional da frente única, o Partido Comunista do país em questão se manifestará pela criação de semelhante governo, sobre a base de uma plataforma antifascista concreta. Sob que condições objetivas será possível a formação de tal governo? A esta pergunta, pode responder-se de um modo muito geral: sob as condições de uma crise politica, em que as classes dominantes já não estejam em condições de acabar com o poderoso ascenso do movimento antifascista de massas. Mas isto é apenas uma perspectiva geral, sem a qual só será possível, na prática, a formação de um governo de frente única. Somente em presença de determinadas premissas especiais, pode ser colocado na ordem do dia o problema da formação deste governo como tarefa politicamente necessária. Parece-me que nisto reclamam a maior atenção as seguintes premissas: Primeiro: Quando o aparelho estatal da burguesia estiver bastante desorganizado e paralisado para que a burguesia não possa impedir a formação de um governo de luta contra a reação e o fascismo. Segundo: Quando as mais amplas massas dos trabalhadores, e em particular os sindicatos de massas, se levantarem, impetuosamente contra o fascismo e a reação, mas não estiverem ainda preparadas para lançar-se à insurreição com o fim de lutar sob a direção do Partido Comunista pela conquista do Poder soviético. Terceiro: Quando o processo de diferenciação e radicalização nas fileiras da social-democracia e dos demais partidos que participam na frente única tenha

conduzido a que uma parte considerável dentro delas exija medidas implacáveis contra os fascistas e demais reacionários, lute de braços dados com os comunistas contra o fascismo e se manifeste abertamente contra o setor reacionário e hostil ao comunismo dentro de seu próprio partido. Quando e em que países surgirá de fato uma situação semelhante na qual se deem em grau suficiente estas premissas, é coisa que não se pode predizer; mas enquanto esta perspectiva não desaparecer em nenhum país capitalista, devemos tê-la em conta e não orientar e preparar para ela somente a nós mesmos, mas orientar também a classe operária da maneira adequada. O simples fato de colocarmos em discussão este problema está relacionado, naturalmente, com nosso modo de apreciar a situação e as perspectivas próximas do desenvolvimento e com o auge efetivo do movimento da frente única numa série de países, nestes últimos tempos. Durante mais de dez anos, a situação que se apresentava nos países capitalistas era tal, que a internacional Comunista não tinha motivo para discutir um problema desta natureza. Recordareis, camaradas, que em nosso IV Congresso, celebrado em 1922, e ainda no V Congresso, em 1924, se discutiu o problema da palavra de ordem do governo operário ou operário e camponês. Aqui, originariamente, se tratava, em substância, de um problema quase análogo ao que se nos apresenta. Os debates que em torno desta questão se promoveram naquela época, na Internacional Comunista, e especialmente os erros políticos que se cometeram aqui, têm ainda hoje sua importância para aguçar nossa atenção vigilante ante o perigo de desviar-se para a direita ou para a esquerda da linha bolchevique, nesta questão. Por isso quero salientar, em poucas palavras, alguns destes erros, com o fim de tirar deles os

ensinamentos necessários à política atual de nossos Partidos. A primeira série de erros obedeceu, precisamente, a que o problema do governo operário não se ligou clara e firmemente com a presença de uma crise política. Graças a isto, os oportunistas de direita puderam interpretar a coisa no sentido de que era preciso desejar a formação de um governo operário apoiado pelo Partido Comunista em qualquer situação, por assim dizê-lo, normal. Ao contrário, os ultra-esquerdistas só admitiam um governo operário que se formasse única e exclusivamente mediante a insurreição armada, depois da derrocada da burguesia. Ambas as coisas eram falsas, e por isso, agora, para evitar a repetição de semelhantes erros, mostramos com tanto cuidado a necessidade de levar em conta exatamente as condições concretas e particulares da crise política e do auge do movimento de massas sob as quais pode apresentar-se como possível e politicamente necessária a formação de um governo de frente única. A segunda série de erros obedeceu ao fato de que o problema do governo operário não se ligou com o desenvolvimento do movimento combativo de massas da frente única proletária. isto deu aos oportunistas de direita a possibilidade de falsear o problema e reduzi-lo à tática sem princípios de formação de um bloco com os partidos social-democratas, à base de combinações puramente parlamentares. Os ultra-esquerdistas, ao contrário, gritavam: Nada de coalizões com a social-democracia contrarrevolucionária!, considerando como contrarrevolucionários, no fundo todos os socialdemocratas. Ambas as coisas eram falsas, e salientamos, agora, de uma parte, que não queremos de modo algum um governo operário que seja, simplesmente, um governo socialdemocrata ampliado. Preferimos, até renunciar ao nome de

governo operário e falar de um governo de frente única que, por seu caráter político, é algo completamente distinto fundamentalmente distinto de todos os governos socialdemocratas que costumam chamar-se governos operários. Enquanto que os governos social-democratas representam um instrumento da colaboração de classes com a burguesia no interesse da conservação do sistema capitalista, o governo de frente única é um órgão da colaboração da vanguarda revolucionária do proletariado com outros partidos de luta contra o fascismo é a reação. É evidente que se trata de duas coisas radicalmente diferentes. Por outra parte, frisamos que é necessário ver a diferença existente entre os diversos campos da social-democracia. Como já salientamos, existe na social-democracia um campo dos social-democratas de esquerda (sem aspas), dos operários que se convertem em revolucionários. A diferença decisiva entre os dois campos consiste, praticamente, em sua atitude ante a frente única da classe operária. Os social-democratas reacionários são contrários à frente única, caluniam o movimento de frente única, o sabotam e decompõem, pois a frente única faz fracassar sua politica de conciliação com a burguesia. Os socialdemocratas de esquerda são partidários da frente única, defendem, desenvolvem e fortalecem o movimento de frente única, visto que é um movimento de luta contra o fascismo e a reação, e será sempre a força motriz que impelirá o governo de frente única a lutar contra a burguesia reacionária. Quanto maior for a força com que se desencadeie este movimento de massas, tanto maior será a força que levará o governo à luta contra os reacionários. E quanto melhor organizado de baixo estiver o movimento de massas e melhor for a rede dos órgãos de classe da frente única situados à margem do partido nas empresas, entre os desempregados, nos bairros operários, entre a gente modesta da cidade e do campo, tanto maiores serão as

garantias contra uma possível degeneração da politica do governo de frente única. A terceira série de conceitos errôneos que se manifestaram nos antigos debates se referiam justamente à politica prática do Governo operário. Os oportunistas de direita opinavam que o Governo operário devia manter-se dentro do limite da democracia burguesa e, por conseguinte, não podia dar nenhum passo que saísse deste marco. Por outro lado, os ultra-esquerdistas renunciavam de fato a toda tentativa de formação de um governo de frente única. Em 1923, se pode ver, na Saxônia e na Turíngia, um quadro eloquente da prática oportunista direitista de um Governo operário. A entrada dos comunistas no governo da Saxônia, com o social-democratas de esquerda (grupo Zeigner) não era por si um erro. Pelo contrário, este passo estava completamente justificado pela situação revolucionária da Alemanha. Mas os comunistas, ao participarem do governo, tinham que se aproveitar de suas posições, antes de tudo, para armar o proletariado e não o fizeram. Nem sequer confiscaram uma só das casas dos ricos, apesar da escassez de casas Operárias ser tão grande, que muitos operários com mulher e filhos não tinham onde abrigar-se. Não fizeram nada para organizar o, movimento revolucionário de massas dos operários. Procederam em tudo como os habituais ministros parlamentares dentro do limite da democracia burguesa. Como é sabido foi este o resultado da política oportunista de Brandler e de seus sequazes. O resumo de tudo foi uma bancarrota tal, que ainda hoje nos vemos obrigados a referir-nos ao governo saxão como exemplo clássico de como não devem agir os revolucionários no governo. Camaradas: Exigimos de todo governo de frente única uma politica completamente diversa. Exigimos-lhe que realize determinadas reivindicações cardiais revolucionárias

consoantes com a situação, como, por exemplo, o controle da produção, o controle sobre os bancos, a dissolução da polícia, sua substituição por uma milícia operária armada, etc. Há quinze anos, Lênin nos convidava a que concentrássemos toda a atenção em procurar formas de transição ou de aproximação para a revolução proletária. Poderá acontecer que o Governo de frente única seja, numa série de países, uma das formas transitórias mais importantes. Os doutrinários de esquerda passaram sempre de longe em relação a esta indicação de Lênin, falando somente da meta, como propagandistas limitados, sem preocupar-se jamais com as formas de transição. E os oportunistas de direita tentaram estabelecer uma fase democrática intermediária especial entre a ditadura burguesa e a ditadura do proletariado, para sugerir à classe operária a ilusão de um pacífico passeio parlamentar de uma ditadura a outra. A esta fase intermediária fictícia chamavam também forma de transição, e invocavam inclusive o nome de Lênin! Mas não foi difícil descobrir a fraude, pois Lênin falava de uma forma de transição e de aproximação da revolução proletária, isto é, a destruição da ditadura burguesa, e não de uma formá transitória qualquer entre a ditadura burguesa e a proletária. Por que atribuía Lênin significação tão extraordinariamente grande à forma que revestisse a passagem à revolução proletária? Porque tinha presente a lei fundamental de todas as grandes revoluções, a lei de que a propaganda e a agitação por si sós não podem suprir nas massas sua própria experiência política, quando se trata de atrair as massas verdadeiramente extensas dos trabalhadores para o lado da vanguarda revolucionária, sem o que é impossível a luta vitoriosa pelo Poder. O erro habitual de tipo esquerdista é a crença de que com o aparecimento de uma crise política (ou revolucionária),

basta que a direção comunista lance a palavra de ordem da insurreição revolucionária para que as grandes massas a acompanhem. Não, até em presença de tais crises, as massas muito longe estão do preparo para isso. Vímo-lo no exemplo da Espanha. Para ajudar as massas de milhões a aprender o mais rapidamente possível, à base de sua própria experiência, o que têm de fazer, onde podem encontrar a saída decisiva e compreender que partido merece sua confiança; para isto são precisas, entre outras coisas, palavras de ordem transitórias e formas especiais de transição ou de aproximação da revolução proletária. Sem isto, as amplas massas do povo que são presa das ilusões e tradições democráticas pequeno-burguesas, poderão, até diante de uma situação revolucionária, vacilar, perder tempo, vagar sem encontrar o caminho da revolução e cair sob os golpes dos verdugos fascistas. Por isso salientamos a possibilidade de formar, sob as condições da crise política, um governo de frente única antifascista. Na medida em que este governo desenvolver uma luta real e verdadeira contra os inimigos do povo conceder liberdade de ação à classe operária e ao Partido Comunista, nós, os comunistas, o apoiaremos por todos os meios e lutaremos na primeira linha de fogo como soldados da revolução. Mas dizemos francamente às massas: esse governo não trará a salvação definitiva . Esse governo não estará em condições de destruir a dominação da classe dos exploradores, e por esta razão não poderá eliminar definitivamente o perigo da contrarrevolução fascista. Por conseguinte, é preciso preparar-se para a revolução socialista! Só e exclusivamente o Poder soviético trará a salvação! Se analisarmos o desenvolvimento atual da situação internacional, veremos que a crise política vai amadurecendo numa série completa de países, isto condiciona a grande importância e atualidade de urna

decisão firme de nosso Congresso sobre o problema do Governo de frente única. Se nossos Partidos souberem aproveitar para a preparação revolucionária das massas, de um modo bolchevique, a possibilidade de formar um governo de frente única e a luta em torno da formação e permanência no Poder deste governo, esta será a melhor justificação de nosso rumo para a criação de um governo de frente única. *** Um dos aspectos mais fracos da luta antifascista de nossos Partidos consiste em que não reagem suficientemente nem em seu devido tempo contra a demagogia do fascismo e ainda hoje continuam tratando levianamente os problemas da luta contra a ideologia fascista. Muitos camaradas não acreditavam em absoluto que uma variedade tão reacionária da ideologia burguesa como a ideologia do fascismo, que em seu absurdo chega com muita frequência até o desvario, fosse capaz de conquistar influência sobre as massas. Foi um grande erro. A avançadíssima putrefação do capitalismo penetra até a própria medula de sua ideologia e de sua cultura, e a situação desesperada das extensas massas do povo predispõe certos setores ao contágio dos detritos ideológicos deste processo de putrefação. Não devemos menosprezar, de modo algum, esta força do contágio ideológico do fascismo. Ao contrário, devemos travar por nossa parte uma ampla luta ideológica, baseada numa argumentação clara e popular e de uma maneira certa e bem meditada de abordar a peculiaridade da psicologia nacional das massas do povo. Os fascistas rebuscam na história de cada povo, para apresentar-se como herdeiros e continuadores do que há de elevado e heroico em seu passado, e exploram tudo o que humilha e ofende os sentimentos nacionais do povo como

arma contra os inimigos do fascismo. Na Alemanha se publicam centenas de livros que não têm mais que uma finalidade: falsear ao modo fascista a história do povo alemão. Os ardentes historiadores nacional-socialistas se esforçam em apresentar a história da Alemanha como se, por imperativo de uma lei histórica, se visse correr como um fio de ligação, ao longo de 2.000 anos, a trajetória que determinou a aparição no cenário da história do salvador nacional, do Messias do povo alemão, do celebre cabo de pais austríacos. Todos os grandes homens do povo alemão, em épocas passadas, são apresentados nestes livros como fascistas, e todos os grandes movimentos camponeses como precursores direto do movimento fascista. Mussolini se esforça obstinadamente em tirar partido da figura heroica de Garibaldi. Os fascistas franceses mostram Joana d’Arc como sua heroína. Os fascistas norte-americanos apelam para as tradições da guerra da independência norte-americana, para as tradições de Washington e de Lincoln. Os fascistas búlgaros exploram o movimento de libertação nacional da década de 70 do século passado e os heróis populares deste movimento, figuras tão, queridas como Vasil Lewsky, Stejan Karadash, etc. Os comunistas que julgam que tudo isto não tem nada que ver com a causa da classe operária e nada fazem, a mínima coisa, para esclarecer diante das massas trabalhadoras com toda fidelidade histórica e com um verdadeiro sentido marxista-leninista, o passado de seu próprio povo para entrosar a luta atual com as tradições revolucionárias de seu passado, esses comunistas entregam voluntariamente aos falsificadores fascistas tudo o que há de valioso no passado heroico da nação, para que enganem as massas do povo. (Aplausos). Não, camaradas! A nós afetam todos os problemas importantes, não só do presente e do futuro, como também

os que formam parta do passado de nosso próprio povo, pois, os comunistas, não praticamos a política mesquinha dos interesses gremiais dos operários. Não somos os funcionários limitados das trade-unions nem os dirigentes dos grêmios medievais de artesãos e oficiais. Somos os representantes dos interesses de classe da mais importante e maior das classes da sociedade moderna, da classe operária, que tem por missão emancipar a humanidade dos tormentos do sistema capitalista, que já abateu o jugo do capitalismo e é ia classe governante numa sexta parte do mundo. Defendemos os interesses vitais de todos os setores trabalhadores explorados; isto é, da imensa maioria do povo de todos os países capitalistas. Nós, os comunistas, somos, por princípio, inimigos irreconciliáveis do nacionalismo burguês, em todas as suas formas e variedades. Mas não somos partidários do nihilismo nacional, nem podemos agir nunca, como tais. A missão de educar os operários e todos os trabalhadores no espírito do internacionalismo proletário é uma das tarefas fundamentais de todos os Partidos Comunistas. Mas aquele que pensar que isto lhe permite, e mesmo o obriga, a desprezar todos os sentimentos nacionais das grandes massas trabalhadoras, está muito longe do verdadeiro bolchevique, e nada compreendeu dos ensinamentos de Lênin sobre a questão nacional. Lênin, que lutou sempre decidida e consequentemente contra o nacionalismo burguês, em seu artigo Sobre o orgulho nacional dos grandes russos, escrito no ano de 1914, nos deu um exemplo de como se deve abordar o problema dos sentimentos nacionais. Eis aqui suas palavras: "É alheio a nós, proletários conscientes de nacionalidade grande-russa, o sentimento do orgulho nacional? Não, naturalmente que não! Sentimos amor por nosso idioma e pelo país em que

nascemos; trabalhamos mais do que ninguém para que suas massas trabalhadoras, isto é, as nove décimas partes de sua população, se elevem à vida consciente dos democratas e socialistas. Aflige-nos enormemente ver e sentir as injustiças, a opressão e o escárnio a que submetem nosso belo país os verdugos do Czar, da nobreza e dos capitalistas. Orgulha-nos que estas investidas tenham encontrado resistência entre nós, entre os grandes russos; que tenham saldo dentre eles um Radischev, os decabristas, os revolucionários pequeno-burgueses da década de 70 do século passado; que a classe operária de nacionalidade grã-russa tenha criado, em 1905, um poderoso partido revolucionário de massas. Invade-nos o sentimento de orgulho nacional ao ver que a nacionalidade grande-russa soube criar também uma classe revolucionária e demonstrou também que é capaz de dar à humanidade exemplos grandiosos de luta pela liberdade e pelo socialismo e não só grandes pogrons, fileiras de patíbulos, calabouços de tortura, fomes terríveis e um atroz servilismo ante os padres, o Czar, os latifundiários e os capitalistas. Invade-nos o sentimento do orgulho nacional, e precisamente por isso odiamos com especial força nosso passado de escravos... e nosso presente de escravos, em que os próprios latifundiários, ajudados pelos capitalistas, nos conduzem à guerra para estrangular a Polônia e a Ucrânia, para sufocar o movimento democrático da Pérsia e da China e pera fortalecer o bando dos Romanov, dos Bobriniski e dos Purischkevich, que cobrem de opróbrio nossa dignidade de grandes russos." Assim se nacional.

expressava

Lênin

a

respeito

do

orgulho

Creio, camaradas, não ter procedido com equívoco quando, no processo de Leipzig, diante da tentativa dos fascistas de caluniar o povo búlgaro como um povo bárbaro, defendi a honra nacional das massas trabalhadoras do povo búlgaro, que luta abnegadamente contra os usurpadores fascistas, que são os verdadeiros bárbaros e selvagens (prolongados aplausos), e quando declarei que não tenho nenhum motivo para envergonharme de ser búlgaro e que, longe disso, estou orgulhoso de ser filho da heroica classe operária búlgara. (Aplausos). Camaradas: O internacionalismo proletário deve aclimatar-se, por assim dizer, em cada país e lançar raízes profundas no solo natal. As formas nacionais que revestem a luta proletária de classes, o movimento operário em cada país, não estão em contradição com o internacionalismo proletário, senão que, ao contrário, é precisamente sob estas formas que se podem defender com êxito os interesses nacionais do proletariado. É evidente que se precisa por em relevo, ante as massas, em toda parte e em todas as ocasiões, e demonstrar de modo concreto, que a burguesia fascista, sob o pretexto de defender os interesses de toda a nação, pratica a política egoísta de opressão e exploração de seu próprio povo e a exploração e a escravização dos demais povos. Mas não podemos limitar-nos a isto. Ao mesmo tempo, temos que pôr em evidência, através das próprias lutas da classe operária e nas intervenções do Partido Comunista, que o proletariado, ao rebelar-se contra toda vassalagem e contra toda opressão nacional, é o único e autêntico paladino da liberdade nacional e da independência do povo. Os interesses da luta de classes do proletariado contra os exploradores e opressores de nossa pátria, não estão em choque com os interesses de um futuro livre e feliz da nação. Ao contrário: a revolução socialista será a salvação da nação, e lhe abrirá o caminho de um novo esplendor. Por

isto, porque a classe operária ao construir hoje suas organizações de classe e firmar suas posições, ao defender contra o fascismo os direitos e liberdades democráticas, ao lutar pela destruição do capitalismo, luta através de tudo isto por esse futuro da nação. O proletariado revolucionário luta por salvar a cultura do povo, por redimi-la das cadeias do capital monopolista em putrefação, do fascismo bárbaro que a violenta. Só a revolução proletária pode impedir o naufrágio da cultura, elevar a cultura a um mais alto esplendor como verdadeira cultura popular, nacional por sua forma e socialista por seu conteúdo, como se está realizando a nossos olhos na União das Repúblicas Soviéticas. O internacionalismo proletário não só não está em choque com a luta dos trabalhadores de cada país, pela liberdade nacional, social e cultural, mas além disto garante, graças à solidariedade proletária internacional e à unidade de luta, o apoio necessário para triunfar nesta luta. Só em estreita aliança com o proletariado vitorioso da grande União Soviética, poderá triunfar a classe operária dos países capitalistas. Só lutando de mãos dadas com o proletariado dos países imperialistas, poderão os povos coloniais e as minorias oprimidas conseguir sua libertação. A aliança revolucionária da classe operária dos países imperialistas com os movimentos de libertação nacional das colônias e dos países dependentes é um elo absolutamente indispensável na senda do triunfo da revolução proletária nos países imperialistas, pois, como ensinava Marx, o povo que oprime outros povos jamais pode ser livre. Os comunistas que fazem parte de uma nação oprimida ou dependente não poderão lutar com êxito contra o chauvinismo no seio de sua própria nação, se ao mesmo tempo não puserem em evidência, na prática do movimento de massas, que lutam realmente para redimir

sua nação do jugo estrangeiro. Por outro lado, os comunistas da nação opressora não poderão também fazer o que é necessário para educar as massas trabalhadoras de sua nação no espírito do internacionalismo, se não travarem uma luta decidida contra a política de opressão de sua própria burguesia, pelo direito completo das nações por ela escravizadas de dirigir livremente seus destinos. Se não o fizerem, ajudarão menos ainda os trabalhadores das nações oprimidas a colocar-se acima de seus preconceitos nacionalistas. Somente atuando nesse sentido, demonstrando de um modo convincente em todo nosso trabalho de massas que estamos tão livres do niilismo nacional como do nacionalismo burguês, somente então poderemos travar uma luta verdadeiramente eficaz contra a demagogia chauvinista do fascismo. Por isso tem importância tão grande a aplicação certa e concreta da política nacional leninista. É uma premissa absolutamente indispensável para lutar eficazmente contra o chauvinismo, principal instrumento da influência ideológica dos fascistas sobre as massas. (Aplausos).

Capitulo III: O Fortalecimento dos Partidos Comunistas e a Luta pela Unidade Política do Proletariado Camaradas: Na luta pelo estabelecimento da frente única cresce de um modo extraordinário o papei dirigente dos Partidos Comunistas. Apenas o Partido Comunista é na realidade o iniciador, o organizador, a força motriz da frente única da classe operária. Os Partidos Comunistas só podem assegurar a mobilização das amplas massas trabalhadoras para lutar unidas contra o fascismo e a ofensiva do capital, se fortalecerem suas próprias fileiras em todos os aspectos, se desenvolverem sua iniciativa, se levarem a cabo uma política marxista-leninista e uma tática adequada e flexível, que não esqueça a situação concreta e a distribuição das forças da classe. *** No período decorrido entre o VI e o VII Congressos, nossos partidos dos países capitalistas cresceram sem dúvida alguma e se temperaram consideravelmente. Mas seria um erro extremamente perigoso ficarmos satisfeitos com isto. Quanto mais se estender a frente única da classe operária, mais tarefas novas e complicadas se nos apresentarão, mais teremos que trabalhar pelo fortalecimento politico e orgânico de nossos partidos. A frente única do proletariado faz brotar um exército de operários que só poderão cumprir sua missão se tiverem à sua frente uma força dirigente que lhes indique seus objetivos e seus caminhos. Só um forte partido proletário revolucionário pode ser esta força dirigente.

Quando nós, os comunistas, fazemos todos os esforços por estabelecer a frente única, não o fazemos do ponto de vista mesquinho do recrutamento de novos membros para os Partidos Comunistas. Mas justamente porque queremos fortalecer seriamente a frente única devemos fortalecer também em todos os aspectos os Partidos Comunistas e aumentar seus efetivos. O fortalecimento dos Partidos Comunistas não representa uma interesse fechado de partido, senão um interesse de toda a classe operária. A unidade, a coesão revolucionária e a presteza combativa dos Partidos Comunistas é o mais precioso capital, que não nos pertence somente a nós, mas a toda classe operária. Associamos e continuaremos associando a presteza para nos lançar à luta contra o fascismo, conjuntamente com os Partidos e organizações socialdemocratas, com a luta irreconciliável contra o socialdemocratismo como ideologia e também, por conseguinte, contra toda penetração desta ideologia em nossas próprias fileiras. Na realização decidida e audaz da politica da frente única, encontramos em nossas próprias fileiras obstáculos que temos que vencer, custe o que custar, no menor prazo possível. Depois do VI Congresso da Internacional Comunista, levou-se a cabo em todos os Partidos Comunistas dos países capitalistas uma luta tenaz contra a tendência a adaptar-se oportunisticamente às condições da estabilização capitalista e contra o contágio com as ilusões reformistas e legalistas. Nossos Partidos limparam suas fileiras de toda espécie de oportunistas de direita e com isso firmaram sua unidade bolchevique e sua capacidade combativa. Com menos êxito se travou, e às vezes não se travou de nenhum modo, a luta contra o sectarismo. O sectarismo não se manifestava em formas primitivas e descaradas, como nos primeiros anos de existência da

internacional Comunista, e sim disfarçando-se com o reconhecimento formalista das teses bolcheviques, freava o desenvolvimento da política bolchevique de massas. Em nossos tempos o sectarismo não costuma ser uma enfermidade infantil, como a qualificou Lênin, mas um vício multo enraizado, e, sem nos curarmos dele, não poderemos resolver o problema de criar uma frente única proletária e levar as massas das posições do reformismo para a revolução. Na situação atual o sectarismo, esse sectarismo enfatuado, como o qualificamos em nosso projeto de resolução, entorpece, antes de tudo, nossa luta pela realização dá frente única; sectarismo satisfeito de sua estreiteza doutrinária e de seu alheiamento da vida real das massas; satisfeito de seus métodos simplistas para resolver os problemas mais complicados do movimento operário sobre a base de esquemas cortados por um padrão; sectarismo que pretende saber tudo, e não julga necessário aprender na escola das massas as lições do movimento operário; em uma palavra, esse sectarismo, para o qual, como costuma dizer-se, tudo é brinquedo de crianças. O sectarismo enfatuado não quer nem pode compreender que colocar a classe operária sob a direção do Partido Comunista é coisa que não se consegue automaticamente. O papel dirigente do Partido Comunista nas lutas da classe operária precisa ser conquistado. Para isto, não é necessário proclamar o papei dirigente dos comunistas, senão que é preciso merecer, ganhar, conquistar a confiança das massas operárias com um trabalho cotidiano de massas e uma politica acertada. Isto só se consegue se nós os comunistas, em nosso trabalho político, levamos seriamente em conta o verdadeiro nível da consciência de classe das massas, seu grau de saturação revolucionária, se apreciamos serenamente a situação concreta, não através de nossos desejos, senão através da realidade.

Temos que facilitar às amplas massas, pacientemente, passo a passo, a transição para as posições do comunismo. Não devemos esquecer jamais as palavras de Lênin, que nos advertiu com toda energia que ... se trata precisamente de não considerar liquidado para a classe, para as massas, o que está liquidado para nós. Acaso agora, camaradas, há ainda em nossas fileiras poucos doutrinários que na política de frente única só percebem, sempre e em toda parte, os perigos? Para esses camaradas, toda frente única constitui um perigo rotundo. Mas esta firmeza de princípios sectária, é apenas o transtorno político ante as dificuldades da direção imediata da luta de classes. O sectarismo se manifesta especialmente na apreciação exagerada da maturidade revolucionária das massas, na apreciação exagerada do ritmo com que se afastam das posições do reformismo, na tentativa de saltar as etapas difíceis e os problemas complicados do movimento. Os métodos de direção das massas se substituem frequentemente na prática pelos métodos de direção de um grupo fechado de partido. Não se apreciava devidamente a força, dos laços tradicionais entre as massas e suas organizações e direções, a quando as massas não rompiam rapidamente estes laços, adotava-se diante delas uma atitude tão brusca como frente a seus dirigentes reacionários. A tática e as palavras de ordem se convertiam num padrão válido para todos os países, e não se levavam em conta as características da situação concreta em cada país determinada. Passava-se por alto a necessidade de desenvolver no seio da própria massa uma luta tenaz para ganhar sua confiança, descuidava-se a luta pelas reivindicações parciais dos operários e o trabalho dentro dos sindicatos reformistas e das organizações fascistas de massas. Suplantava-se frequentemente a política da frente única, por simples apelos e pela propaganda abstrata.

As atitudes sectárias entorpeciam também a seleção acertada dos homens, a educação e formação de quadros relacionados com as massas, que gozassem da confiança destas, de quadros, com consequência revolucionária e provados nas lutas de classe que soubessem associar à experiência prática de trabalho de massas a firmeza de princípios do bolchevique. Desse modo, o sectarismo atrasou consideravelmente o crescimento dos Partidos Comunistas dificultou a aplicação de uma autêntica política de massas, entorpeceu a exploração das dificuldades do inimigo de classe para fortificar as posições do movimento revolucionário, impediu a conquista das amplas massas proletárias para os Partidos Comunistas. Lutando do modo mais resoluto por extirpar e superar os últimos vestígios do sectarismo enfatuado, temos que fortalecer por todos os meios nossa atenção vigilante e nossa luta contra o oportunismo de direita e contra todas as manifestações concretas, não esquecendo que o perigo deste oportunismo crescerá à medida que se for desenvolvendo uma ampla frente única. Já existem tendências para reduzir o papel do Partido Comunista nas fileiras da frente única e reconciliar-se com a ideologia social-democrata. (Não se deve perder de vista que a tática da frente única é um método para persuadir praticamente os operários social-democratas da justeza da política comunista e da falsidade da política reformista, e não uma reconciliação com a ideologia e a prática social-democratas. A luta eficaz por estabelecer a frente única exige de nós ineludivelmente uma luta constante dentro de nossas próprias fileiras contra a tendência para reduzir o papel do Partido, contra as ilusões legalistas, contra a orientação para o espontaneismo e o automatismo, no que diz respeito à liquidação do fascismo, como no que se refere à

consecução da frente única, contra as menores vacilações, chegado o momento da atuação resoluta. *** Camaradas: O desenvolvimento da frente única de luta conjunta dos operários comunistas e social-democratas contra o fascismo e a ofensiva do capital, levanta também o problema da unidade política, do partido político único de massas da classe operária. Os operários social-democratas se vão convencendo cada vez mais, por experiência, de que a luta contra o inimigo de classe exige uma direção política única, pois a dualidade de direção dificulta o desenvolvimento e fortalecimento da luta em comum da classe operária. Os interesses da luta de classes do proletariado e o êxito da revolução proletária, impõem a necessidade de que exista em cada país um partido único do proletariado. Consegui-lo não é, naturalmente, tão fácil e simples. Exige um trabalho e uma luta tenazes e tornará necessário um processo mais ou menos longo. Os Partidos Comunistas, apoiando-se na crescente inclinação dos operários para a unificação dos partidos social-democratas, ou de algumas de suas organizações, com os Partidos Comunistas, devem tomar em suas mãos com segurança e firmeza a iniciativa desta unificação. A causa da unificação das forças da classe operária num partido proletário revolucionário único, nestes momentos em que o movimento operário internacional entra no período de liquidar a cisão, é nossa causa, é a causa da Internacional Comunista. Mas se, para estabelecer a frente única dos Partidos Comunistas e Social-democrata, basta chegar a um acordo sobre a luta contra o fascismo, contra a ofensiva do capital e contra a guerra, a criação da unidade política só é possível sobre a base de uma série de condições concretas que tem um caráter de princípio.

Esta unificação só será possível: • Primeiro, com a condição de emancipar-se completamente da burguesia e romper inteiramente o bloco da social-democrata com a burguesia; • Segundo, com a condição de que se realize previamente a unidade de ação; • Terceiro, com a condição de que se reconheça a necessidade da destruição revolucionária da dominação da burguesia e da instauração da ditadura do proletariado sob a forma de soviets; • Quarto, com a condição de que se renuncie a apoiar a própria burguesia numa guerra imperialista; • Quinto, com a condição de que se erija o Partido sobre a base do centralismo democrático, que assegura a unidade de vontade e de ação e que já foi provado pela experiência dos bolcheviques russos. Temos que esclarecer os operários social-democratas com paciência e camaradagem, porque a unidade política da classe operária é irrealizável sem estas condições. Com eles devemos julgar o sentido e a importância destas condições. Por que, para a realização da unidade política do proletariado, é necessário emancipar-se completamente da burguesia e romper o bloco da social-democracia com a burguesia? Porque toda a experiência do movimento operário, e em particular a experiência dos quinze anos de política de coalizão na Alemanha, pôs em relevo que a política de colaboração de classes, a política de submissão à burguesia, conduz à derrota da classe operária e à vitória do fascismo. E o caminho da luta irreconciliável de classes contra a burguesia, o caminho dos bolcheviques, é o único caminho seguro para o triunfo.

Por que estabelecer previamente a unidade de ação há de ser a premissa da unidade política? Porque a unidade de ação para repelir a ofensiva do capital e do fascismo pode e deve conseguir se antes de se unificar a maioria dos operários sobre a plataforma comum da destruição do capitalismo; para chegar à unidade de ideias a respeito das mudanças e dos objetivos fundamentais da luta do proletariado, sem a qual não se poderia unificar os partidos, é preciso, por sua vez, um prazo de tempo mais ou menos longo. E o melhor para chegar à unidade de ideias; criá-la na luta conjunta contra o fascismo hoje mesmo. Propor em vez da frente única a unificação imediata equivale a querer pôr o carro adiante dos bois e julgar que deste modo o carro andará (Risos). Precisamente porque o problema da unidade política não é para nós uma manobra, como é para muitos chefes socialdemocratas, insistimos em que se realize a unidade de ação, como uma das etapas mais importantes na luta pela unidade politica. Por que é necessário reconhecer a destruição revolucionária da burguesia e a instauração da ditadura do proletariado sob a forma do Poder soviético? Porque a experiência do triunfo da grande revolução russa de Outubro, de um lado, e, de outro, os amargos ensinamentos da Alemanha, Áustria e Espanha, durante todo o período do após-guerra, provaram uma vez mais que o triunfo do proletariado só é possível mediante a destruição revolucionária da burguesia, e que a burguesia, antes de permitir que o proletariado instaure o socialismo por via pacífica, afogará o movimento operário num mar de sangue. A experiência da Revolução de Outubro demonstrou com toda evidência que o conteúdo básico da revolução proletária é o problema da ditadura do proletariado, cuja missão é esmagar a resistência dos exploradores vencidos, armar a revolução para a luta

contra o imperialismo e conduzi-la até o triunfo completo do socialismo. Para realizar a ditadura do proletariado como ditadura da esmagadora maioria sobre uma minoria insignificante, sobre os exploradores — e unicamente assim se realizar — são necessários os Soviets, que abrangem todas as camadas da classe operária, as grandes massas camponesas e demais trabalhadores, sem cujo despertar e incorporação à frente da luta revolucionária será impossível assegurar o triunfo do proletariado. Por que a negação de apoio à burguesia numa guerra imperialista é condição para estabelecer a unidade política? Porque a burguesia faz a guerra imperialista para alcançar seus objetivos rapaces contra os interesses da maioria esmagadora dos povos, qualquer que seja o pretexto sob o qual se faça a guerra. Porque todos os imperialistas, ao mesmo tempo que se armam febrilmente para a guerra, reforçam até o último limite a exploração e a opressão dos trabalhadores dentro de seus próprios países. Apoiar a burguesia em semelhante guerra significaria trair os interesses do país e da classe operária internacional. Finalmente, por que erigir o Partido sobre a base do centralismo democrático é condição para a unidade? Porque somente um partido estabelecido na base do centralismo democrático pode assegurar a unidade de vontade e de ação e levar o proletariado ao triunfo sobre a burguesia, que dispõe de uma arma poderosa como o aparelho centralizado. A aplicação do princípio do centralismo democrático, sofreu uma brilhante prova histórica na experiência do Partido Bolchevique russo, o Partido de Lênin. Eis aí porque é necessário esforçar-se para conseguir a unidade política sobre a base das condições apontadas. Somos partidários da unidade política da classe operária. Por isso estamos dispostos a colaborar do modo mais

estreito com todos os social-democratas que sejam partidários da frente única e que apoiem sinceramente a unificação, de acordo com os princípios mencionados. Mas precisamente por isso, porque somos partidários da unificação, lutaremos decididamente contra todos os demagogos de esquerda que tentam explorar a desilusão dos operários social-democratas para criar novos partidos ou internacionais socialistas dirigidas contra o movimento comunista e que agravam portanto a cisão da classe operária. Saudamos a tendência crescente dos operários socialdemocratas para a frente única com os comunistas. Vemos neste fato o aumento de sua consciência revolucionária e um sinal de que se começa a superar a cisão da classe operária. Considerando que a unidade de ação é uma necessidade urgente e o caminho mais seguro para a criação da unidade política do proletariado, declaramos que a internacional Comunista e suas Seções estão dispostas a entrar em negociações com a Segunda Internacional e suas respectivas Seções sobre a criação da unidade da classe operária na luta contra a ofensiva do capital, contra o fascismo e contra a ameaça de uma guerra imperialista.

Conclusão Camaradas: vou terminar meu informe. Como vedes, levando em conta as mudanças operadas na situação desde o Vi Congresso e os ensinamentos de nossa luta, e baseando-nos no nível já alcançado de consolidação de nossos partidos, apresentamos agora de um modo novo uma série de problemas, antes de tudo o da frente única e da aproximação da social-democracia, dos sindicatos reformistas e das demais organizações de massas. Há sabichões a quem tudo isto parece um retrocesso de nossas posições de princípio, uma viragem da linha do bolchevismo para a direita. Bem! A galinha faminta, como dizemos na Bulgária, sonha sempre com milho. (Risos, grandes aplausos). Deixemos as galinhas políticas pensar como lhes pareça! (Risos, grandes aplausos). A nós, isto pouco interessa. O importante para nós é que nosso próprio partido e as grandes massas de todo o mundo compreendam acertadamente porque lutamos. Não seriamos marxistas-leninistas, revolucionários, dignos discípulos de Marx, Lênin, se não mudássemos de um modo congruente nossa política e nossa tática de acordo com as mudanças operadas na situação e no movimento operário mundial. Não seriamos verdadeiros revolucionários, se não aprendêssemos da própria experiência e da experiência das massas. Queremos que nossos Partidos dos países capitalistas ajam e procedam como verdadeiros partidos políticos da classe operária, que desempenhem na realidade o papel de um fator politico na vida de seu país, que levem a cabo continuamente uma ativa política bolchevique de massas e

não se limitem só à propaganda e à crítica, a lançar simples apelos à luta pela ditadura proletária. Somos inimigos de todo esquematismo. Queremos que se tenha em conta a situação concreta de cada momento e de cada região dada e que não se aja sempre e em toda parte de conformidade com um padrão determinado; não queremos esquecer que a posição dos comunistas não pode ser igual ali onde as condições são diferentes. Queremos levar em conta serenamente todas as etapas do desenvolvimento da luta de classes e do incremento da consciência de classe das massas, saber encontrar e resolver em cada etapa as tarefas concretas do movimento revolucionário que correspondem a ela. Queremos encontrar uma linguagem comum com as mais extensas massas para lutar contra o inimigo de classe; encontrar os caminhos pelos quais a vanguarda revolucionária se sobreponha definitivamente a seu isolamento das massas do proletariado e de todos os trabalhadores, e para que a própria classe operária se sobreponha ao fatal isolamento de seus aliados naturais na luta contra a burguesia, contra o fascismo. Queremos arrastar massas cada vez mais amplas à luta revolucionária de classe e atraí-las à revolução proletária partindo de seus interesses e necessidades candentes e sobre a base de sua própria experiência. Queremos, a exemplo de nossos gloriosos bolcheviques russos, a exemplo do Partido guia da Internacional Comunista, do Partido Comunista da União Soviética, associar ao heroísmo revolucionário dos comunistas alemães, espanhóis, austríacos e de outros países, o autêntico realismo revolucionário e acabar com os últimos restos de devaneio escolástico em torno a problemas políticos sérios.

Queremos armar nossos Partidos em todos os aspectos para que possam resolver os problemas políticos mais complicados que se lhes apresentem. Para isto, é preciso elevar cada vez mais seu nível teórico, educá-los no espírito vivo do marxismo-leninismo e não de um doutrinarismo morto. Queremos extirpar de nossas fileiras o sectarismo enfatuado, que fecha antes de tudo o caminho para as massas e impede a realização de uma verdadeira política bolchevique de massas. Queremos reforçar por todos os meios a luta contra todas as manifestações concretas do oportunismo de direita, tendo presente que o perigo que surge deste lado crescerá justamente ao levar à prática nossa política e nossa luta de massas. Queremos que os comunistas de cada país tirem e aproveitem oportunamente todos os ensinamentos de sua própria experiência, que é a da vanguarda revolucionária do proletariado. Queremos que aprendam quanto antes possível a nadar nas águas tempestuosas da luta de classes e não que fiquem à margem, como espectadores e registradores das ondas que se aproximam, esperando o bom tempo. (Aplausos). Eis aí o que queremos. E queremos tudo isto porque só por este caminho a classe operária, à frente de todos os trabalhadores, estreitando suas fileiras num exército revolucionário de milhões de homens, dirigido pela internacional Comunista poderá cumprir com toda certeza sua missão histórica: varrer o fascismo, e com ele o capitalismo, da face da terra. Toda a sala se põe de pé e tributa uma estrondosa ovação ao camarada Dimitrov. Os delegados prorrompem em vivas ao camarada Dimitrov, em diferentes idiomas.

Pessoa, poderosa, a internacional, cantada em todos os idiomas do mundo e seguida de uma nova tempestade de aplausos. Ouvem-se gritos de viva o camarada Dimitrov! Um hurra bolchevique ao camarada Dimitrov, porta-bandeira do Komintern! Um delegado grita, em búlgaro: Viva o camarada Dimitrov, heroico campeão da internacional Comunista na luta contra o fascismo! As delegações entoam suas canções revolucionárias: a italiana, a Bandiera Rossa, a polaca, a Warchavianka, a francesa, La Carmagnole, a alemã, o Wedding Vermelho, a chinesa, a Marcha do Exército Vermelho chinês.

Table of Contents Apresentação Capitulo I: O Fascismo e a Classe Operária Capitulo II: A Frente Única da Classe Operária contra o Fascismo Capitulo III: O Fortalecimento dos Partidos Comunistas e a Luta pela Unidade Política do Proletariado Conclusão