A Guerra do Paraguai [4 ed.] 9788542207996

Como o "Rei dos Macacos", o marechal que queria ser Napoleão, um jornalista soldado e um presidente degolador

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Polecaj historie

A Guerra do Paraguai [4 ed.]
 9788542207996

Table of contents :
I. O poder dos López
II. Grande Província das Índias
III. Na corte de Napoleão III
...

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Como o "Rei dos'Macacos ", o mareehal que queria ser soldado e um presidente degolador

Curioso como todo bom jornalista e apaixonado por hist6ri a, Luiz Octavio

Lima fezumtrabalho impecdvel de pesquisa para escrever este livro. Setn a preteusflo de ter o conhecimento de um acad6mico, ele foi direto hs fontes. Esteve de

no Paraguai, na Argentina e no Urugtlai, onde vasculhou museus e ouviu centenas

historiadores a politicos e parentes de vitimas da guerra. Leu centenas de pessoas: de

de documentos, muitos indditos ou nunca

mencionados em publicag6es brasileiras. O resultado ti uma obra densa ern qlle as

raz6es de cada lado ganham voz por meio de seus protagonistas e epis6dios decisivos sflo reconstituidos em detalhes atravds de

relatos que o autor descobriu. Como, por exemplo, aunicavez em que o Duque de Caxias e Solano Lopez se viram em toda a guerra. Ou o encontro entre L6pez,Mitre e

Flores para uma tentativa de armisticio. Tamb6m emocionantes sio as descriq6es das grandes batalhas. Em especial,

Curupaiti, onde o drama humano aparece com rnaior amplitude. O autor descreve os erros de c6lculo dos comaudantes aliados; temor e o heroismo dos soldados, que perceberam estar indo para a morte certa; a aus6ncia (reiterada) de Solano nos combates o

e a esperteza dos

estrategistas do lado

paraguaio para conseguir ur-na vitoria tendo uma imensa inferioridade uumdrica. Tudo

ricamente ilustrado com fotos, reprodr-rqio de quadros, documentos e mapas.

LVIZ OCTAVIODE LIMA

[ 0lJ[nH[ D0 Como o "Rei dos Macacos", o marechal que queria ser Napoledo, um jornalista soldado e um presidente degolador deflagFaram o maior conflito armado daAm6rica do Sul



$

Ptaneta

Ao meu filho, Giovanni

A guena 6 o infemo. A sua glAia 6 toda um disparate- Somente aqueles clue nuncd deram

um tiro, nem ouviram os g,itos e os gemidos

dos

feidos,

d que clamam por sctngue, vinganga e mais desolagdo.

William Sherman, general do Ex6rcito da Unido durante a Guerra de Secessfio norte-americana

SUMARIO

APRESENTAeAo.. I

.

O poder dos L6pez..

.

II

Grande Provfncia das fndias........

.

III I

II

Na corte de Napoledo III..................

V.

V.

Retorno ................

O "Rei dos Macacos"...

V I . A bacia da disc6rdia.... V I I . SolanoL6pez,pacificador. V I I I . A busca de um salto tecnol6gico

X

.

..

Limpando o caminho.................

Xl.

Era de ouro

Xl

l.

Xl

ll.

Uruguai................

XlV. XV.

O fator VenAncio Flores......... III

O rompante de L6pez

A queda de Paissandu...............

............,

tzr

XVl.

O Paraguai invade o Brasil

...................., t29

l. O triunfo colorado..... XVlll. Explode o conflito.... XVI

X.

I

X

X. O desastre de Riachuelo

XXl.

,......,..........., 147 ..................

Vis6es sobre a guerra

XXll. !

....,.,..,.,,,,,,... |39

A Triplice Alianga.......

X

XXI

........t.,..,....... I J1

XXIV. XXV.

XXX

5

.................... 173

....................

XXVII!. X.

.. r t

Derrotados pela fome...

r8t

.....,,.,,.,,,..,... 199 ..................... 207

XXVII. Tuiuti, a batalha mais sangrenta

XX

.. ... .. ..

................... - 179

A miss5o suicida

XXIX.

'..

Encurralados pela AlianEa

Fuzilados no forte

XXVI.

..

,.,,.,.,.,.......... I6J

A marcha para Uruguaiana...........

l.

....

..................... 213

Ana N6ri e as mulheres no front.....

Uma cartada para ganhar tempo?.....

Os pressdgios de Curupaiti .................

l.

Voluntdrios, mas nem tanto

XXXll.

Caxias, o hunfo de Pedro II.............

XXX!ll.

A retirada da Laguna

XXXIV. A morte do her6i

XXXV.

e a segunda

Tuiuti

A conspiragSo ...............

......28'

XXXVI. Os julgamentos de San Fernando....,

......295

XXXVI l. A Dezembrada.............

,.....30r

XXXV

,..... , r r

II

!. Assungdo, cidade aberta .................

XXXIX. A m5e sentenciada

.....3ri

XL.

A vez do conde D'Eu..........

32r

X L I . O massacre de Concepci6n.............

327

XLll.

31t

A campanha da Cordilheira.............

XLI I I.

As criangas de Acosta Nri..............

J39

XLIV.

A Caravana da Morte

341

XLV. O fim.........

)47

XLVI.

O destino de cada um............

.....J1t

XLVll.

Do p6s-guerra aos dias atuais

,69

L!NHA DO TEMPO........

....379

l8z

AGRADECIMENTOS

40,

FONTES CONSULTADAS...

...407

ix o rc E o N oMAsr rco.......

...421

APRESENTAgAO

As sombras do tempo obscureceram os vestigios do

momento, destrogou

a

confito que, por um

Am6rica do Sul, mas tamb6m foi decisivo para que

suas nag6es atingissem a vida adulta.

Em cada uma

dessas terras, diversas

marcas, como cicahizes, ainda s5o visiveis a quem se disp6e a observar com

maior cuidado. E a tentativa de compreend6Jas serd sempre relevante. Na 6rea central de fusung5o, por exemplo, quatro pragas interligaplaza de los Her6es, de la Libertad, )uan O'Leary e de la Democracia - afirmam elementos cristalizadores da trajet6ria paraguaia. A das

-

sua volta, correm ruas e avenidas cujos nomes ecoam lugares e personagens como Cerro Cor6, Solano L6pez, Elisa Lynch, General

Diaz,

Humait6 e muitos outros, indelevelmente gravados nas narrativas hist6ricas latino-americanas.

Ainda na capital, is margens do rio Paraguai, a estdfua equestre de um personagem com espada em punho resiste em meio

i

md conservagio do

gramado que a cerca e i proximidade nada solene de um pequeno acam-

pamento de sem-tetos. O visitante que demonstrar curiosidade em saber quem 6 o homenageado do monumento receberd do sentinela que monta guarda por ali uma resposta cheia de orgulho: "Es el maiscal Francisco Solano L6pezt".

O forasteiro atento tamb6m vai reparar que uma das linhas de Onibus de AssungSo leva o nome do filho mais querido do lider politico que

12

LUrz ocrAvro DE LrMA

confrontou sem tr6guas

as nag6es

vizinhas

-

Panchito, o heroico adoles-

cente que mesmo encurralado, como o pai, recusou a rendigdo. Os restos

mortais do menino iazem junto aos de Solano L6pez no Pante5o dos Her6is, erguido em pleno corag5o da cidade. No Rio de faneiro, antiga capital do Brasil, as ruas Bartolomeu Mitre, Voluntdrios da Pdhia, General Urquiza, General Ven6ncio Flores, Francisco

Otaviano, Almirante Barroso, Almirante Thmandar6, General Polidoro, Uruguaiana, General Canabarro e Riachuelo, a praga General Os6rio e

o bairro Humaitd mant€m a mem6ria da guerra no convivio diSrio dos cariocas, sem que eles se deem conta disso quando correm para o trabalho

ou seguem para um mergulho no mar.

Em S5o Paulo,

as

referdncias se dispersam por variadas regi6es, como a

zona oeste das ruas Cerro Cor6, Curuz6, Passo da Pdhia, BarSo de Jaceguai,

Lomas Valentinas, Peribebuf e Itapir6, assim como o centro da rua Benjamin Constant e a zona norte da Voluntdrios da P6tria. Em Buenos Aires, na Argentina,

os tragos s6o mais discretos.

Claro,

os

nomes de Mitre e Sarmiento est6o nos mapas de ruas. Se para boa parte dos sul-americanos a pdgina da hist6ria que

esses

lugares evocam 6 uma imagem perdida na mem6ria, pata o povo paraguaio ainda estd bem viva, como uma ferida n5o inteiramente curada que, de tempos em tempos, volta a arder com intensidade.

A Guerra da Triplice Alianga ndo foi uma luta pela conquista de um

trono, pela posse de iazidas minerais ou de um territ6rio especifico. A controv6rsia que a originou se deveu principalmente i disputa pelo controle da navegagio na bacia do Prata, cujo dominio foi detido alternadamente pelo Brasil, pela Argentina, pelo Paraguai e pelo Uruguai em momentos diversos da primeira metade do s6culo XIX. Nesse aspec-

to, a guerra, felizmente, s6 teve vencedores, pois, com todos os sen6es que o armisticio forgado trouxe, o trAnsito pelo Prata nunca mais deixou de ser livre. Sem o predominio de qualquer uma das partes. Acessfvel a todas.

A GUERRA DO

PARAGUAI I)

Falar em vencedores, ali6s, seia em guerras civis, seja em confitos entre paises, pode ser um conceito tdo fluido e inadequado quanto enganoso. Quando se trata de um evento em que cidades sflo devastadas, populag6es, sacrificadas, economias e culturas, desmanteladas, a finica

vit6ria poss(vel a se comemorar 6 o cessar-fogo final, que leve a uma paz duradoura para todos os lados.

No caso da Guerra do Paraguai, na definigio com que entrou para

a hist6ria no Brasil

-

no Uruguai e na Argentina 6 conhecida como Guerra da Triplice Alianga, e no Paraguai como a Guerra contra a Tiiplice

Alianga

-,

a devastagSo afetou a todos de tal forma que mal se pode falar

em um ep(logo. Nenhum dos envolvidos, por6m, carrega ainda tantos estigmas nem suporta tantos dos seus efeitos no dia a dia quanto o pais que, ao menos oficialmente, iniciou o conflito. Para os paraguaios, a deno-

minag6o comum e mais popular

-

Guerra da Triplice Inf0mia

-

6 tam-

b6m a mais verdadeira.

O Paraguai

se

constituiu e cresceu silenciosamente, encerrado em si

mesmo, como que esperando o momento em que acordaria para o mundo,

o que finalmente ocorreu na gestlo de Solano L6pez. A caracteristica de nag5o austera, s6bria, ilhada, seria quebrada por aquele rugido, aquele espasmo, aquele estrondo devastador que foram os anos da guerra. E, de

certa forma, pode-se dizer que voltou ao estado anterior pelos tempos que se seguiram ap6s o conflito.

Embora historiadores e cientistas sociais tenham se dedicado a estudar

o tema e a desenvolver interpretag6es das mais amplas, n5o raro permeadas pela ideologia do momento, os relatos quase sempre vieram cercados de mitos. Mitos de parte a parte que, embora questionados, ainda

sio repetidos nas ruas e at6 nas universidades: "O Paraguai era uma pot6ncia que foi esmagada pelos aliados", "A Inglaterra fomentou o confito por ndo

se

conformar com a independ€ncia econOmica e politica do pais".

Ou definig6es generalizantes como "o latino-americano 6 um povo pacifico; o brasileiro, o homem cordial". Uma vez disparado o primeiro tiro,

14

LUz

ocr

vro DE LrMA

todas as certezas cairam por terra como grande parte dos soldados enviados

para o combate.

Com quase I50 mil mortos em cinco anos, a maior guerra de nosso continente nio chegou a regishar um n(mero de baixas capaz de fazer frente ao de conflitos ocorridos desde entio: a Guerra de Secessio americana, com a mesma duragio e havada pouco antes, matou 600 mil; a guerra na Siria, iniciada em 2011, contou, at€2016, algo em torno de 400

mil mortes;

a da B6snia-Herzegovina, mais de 100

mil em tr6s anos.

Aquele quinqu6nio de embates no Cone Sul custou ao Brasil somente 50

mil vidas, um nfimero alto, por6m correspondente ao total de homicidios que ocorrem no pais ao longo de apenas um ano

- em tempos de paz.

Se a frieza dos nfmeros n5o impressiona quando confrontada com

carnificinas contemporineas, seu nivel de brutalidade nada ficou

a

dever a essas confagrag6es. A frente de esquadrdes que operavam modernos canh6es ou empunhavam fuzis, homens lutavam corpo a corpo,

i

moda da Antiguidade, com langas, espadas, sabres e punhais. Na falta

de armas, algumas vezes os combates se davam com paus, pedras, tochas e at6 mesmo areia.

O povo do Paraguai conheceu o significado do sacrificio exhemo e demonstrou o que 6 um inarred6vel - e is vezes cego - pahiotismo. A populagSo civil pagou e ainda paga a conta maior do conflito. Al6m do inimigo externo, o qual combateram com enorme convicgdo e heroismo, mesmo dispondo de poucos recursos b6licos e recebendo treinamento prec6rio, os paraguaios enfrentaram o horror da fome, a humilhagio, a dor f(sica e, o pior, ao final, a perseguigSo empreendida por seu pr6prio

lider, Francisco Solano L6pez. Enhe os caidos em desgraga no processo,

nio foram poupados nem mesmo auxiliares pr6ximos, amigos ou parentes do Maiscal. Dizem que nenhum pais alcanga um debate sauddvel sem lidar com a pr6pria hist6ria. E aqui n5o se trata da saga de

um s6 pais, mas do mo-

mento definidor de todo um continente. No caso brasileiro, em que nio

A GUERRA DO

PARAGUA]

I5

hd um m(nimo de conhecimento ou refexio da sociedade sobre o epis6dio, tudo estd para ser descoberto e colocado na devida proporg5o. Os argentinos revolvem o tema, encarando pag6o no

- salvo raras exceg6es - a partici-

confito como um empreendimento de pretextos e m6ritos du-

vidosos. Para os uruguaios, foi a etapa final de d6cadas de embates internos

e externos

-

o preqo cobrado para sua autonomia regional. No Paraguai,

tenha ou n5o sido um erro evitdvel, o desafio ainda 6 superar o trauma que permanece muito vivo e cujas sequelas sdo quase visiveis no rosto de cada um quando o assunto 6 mencionado. Esquecer n6o 6 uma opg5o.

Na guerra, paraguaios, brasileiros, argentinos e uruguaios

-

na maioria

iovens - tiveram de sair de seus pr6prios mundos, de suas realidades fechadas e seguras, para ambientes in6spitos e aterrorizantes. Ao mesmo

tempo que enfrentaram povos estrangeiros, foram obrigados a conhec0Jos de fato, sem subterfrigios ou ideias preestabelecidas que haviam herdado. Nos outros puderam

se enxergar sob

uma nova e implacdvel6tica. Rapazes

de familias burguesas ou aristocr6ticas deixaram os bancos colegiais

e

universit6rios para viver privagdes, sofrer e testemunhar horrores que seus pais nunca haviam imaginado para eles. Escravos deixaram a servidSo para viver no campo de batalha uma estranha liberdade

- a de p6r a vida

em risco pela nagSo que lhes negara todos os direitos. Os que puderam voltar para casa trouxeram consigo a semente de transformagSo de suas pr6prias sociedades

-

o que efetivamente ocorreu, para o bem e para o mal,

no fim daquele s6culo. Este relato 6 uma dramatizag5o de fatos longamente apurados, fruto

de extensa pesquisa, entrevistas, levantamento de imagens, estudo de publicagOes

e material de arquivo, assim como visitas realizadas,

nos

paises do Cone Sul, aos lugares onde os acontecimentos descritos ocor-

reram. Os di6logos acrescentados em algumas passagens sdo quase literais, adaptados de cartas, anotag6es e testemunhos da 6poca feitos pelos pr6prios personagens ou reproduzidos posteriormente por quem conviveu

com eles.

16

LUu ocrAvro DE LIMA

Capitulo nunca suficientemente estudado e que dificilmente ter6 a expo sig5o de seus aspectos esgotada, esse monumental evento 6 investigado neste esfudo por meio de uma narrativa que se pretende acessivel e at6

diddtica, com aspectos de cr6nica de 6poca, sempre ancorada em farta documentagdo e sem a preocupagio de buscar her6is ou vil6es absolutos, e sim de sifuar personagens e seus atos no contexto dos tempos incomuns

que viveram.

Aos leitores, as conclus6es.

O poder dos L6pez

E a tarde de I" de margo de 1870. Solano L6pez estd caido, meio corpo coberto pelas 6guas do riacho Aquidabanigui, afluente do Aquidabi, em uma clareira do Cerro Cor6,a poucos quilOmehos da fronteira com o Brasil.

Com o abdome rasgado por uma langa, a cabeEa e o peito feridos por golpes de espada e cercado pelos soldados do marechal C6mara, ele tenta reunir forgas para se erguer e deixar a humilhante posig5o. Mas,

no fundo, sabe que chegou ao fim, como chegaram ao fim as esPerangas de comandar

um Paraguai pr6spero, imponente, soberano, talvez

lider continental. Consegue entrever

i

i

distAncia, chorosa, agarrada aos filhos, em meio

vegetag5o, a figura de Elisa Lynch, companheira fiel dos sal6es euro-

peus aos campos de batalha.

O sangue que encharca suas roupas quase tanto quanto

as 6guas

do rio

lhe haz a lembranga das palawas do padre Fidel Maiz, que, em momentos alternados, fora seu inimigo, conselheiro, aliado e crimplice: "A pior haig5o 6 aquela que vem do pr6prio sangue". Nessa hora, 6 inevit6vel o pensamento em seu pai, Carlos, no leito de

morte, e no dltimo pedido dele, um iuramento, que se esquivou de fazer. "Filho, prometa-me que jamais se envolver6 em um conflito armado com o Brasil", instou-lhe entio o presidente moribundo.

Teria errado em n5o atendClo? Haveria uma alternativa?

l8

LUz ocrAvro DE LIMA

O passado talvez pudesse responder - mas nio explicar a contento como as coisas haviam chegado a tal ponto. Afinal, fora preparado desde o bergo para uma missSo grande demais, que nem mesmo sua enorme obstinagf,o, sua verdadeira obsessio por um poder maior, seria capaz de realizar. E

esse passado

nem estava trio distante assim. No espago de pouco

mais de quinze anos, sua familia e a nagio sonhada passaram do apogeu

socioecondmico

)

devastag5o quase completa provocada pela guerra.

Mais velho de cinco irm5os, o futuro ElMaiscal,Elsupremo, o lider mdximo do Paraguai, nasceu em 24 de julho de 1827, no bairro de

Manor6, na capital Assungio, filho de Carlos Alberto Antonio L6pez Insfr6n e Juana Paula Carillo Viana, ambos oriundos de ricas e politicamente influentes familias criollas

-

como eram chamados os descendentes

de espanh6is nascidos na Am6rica. Carlos Antonio L6pez era um dos homens mais cultos e bem formados

do pais. Estudara teologia e filosofia no Real Seminario de San Carlos, chegando a usar o hdbito de cl6rigo e a ter os cabelos raspados em tonsura,

como era obrigat6rio aos religiosos. Formou-se em direito, tornando-se catedr6tico nas melhores instituig6es paraguaias, com 6nfase em assuntos governamentais. Era sobrinho do ditador )os€ Gaspar Rodriguez de

Francia, o que, no entanto, ndo lhe garantiu nenhuma vantagem pessoal ou pfblica. Ao contrdrio. Opositor do tio governante, tramou sua derrubada e, ap6s o fracasso do golpe, precisou viver vdrios anos afastado na

Villa del Rosario, 240 quil6metros ao norte da capital. Nada disso o impediria de se tornar seu sucessor, estdncia que recebeu como dote, em

ddcadas mais tarde.

O fato de alguns historiadores, como fuan Emiliano O'Leary, terem apontado o nascimento de Francisco Solano mas no ano de 1826

do casal

-,

lipez

no mesmo 24 de julho,'

- apenas dois dias ap6s a celebragio

do matrim6nio

e o fato de que nunca foi encontrada uma certiddo de seu nas-

cimento serviram de combustfvel para uma das v6rias especulag6es que cercaram a vida do personagem.

A CUERRA DO

PARACUAI

19

Ao se tornar pai, Carlos Antonio L6pez estava para completar 34 anos; )uana tinha apenas 19. Dada a diferenga de idade, e como o casamento foi arranjado pelo segundo marido da m6e dela, o abastado Ldzaro Rojas y fuanda, a elite da 6poca dizia

i

boca pequena que a gravidez de fuanita era fruto de um relacionamento com o padrasto,z que teria oferecido uma

ampla compensaglo ao noivo para preservar publicamente a honra da jovem. Um reforgo a essa tese seria o fato deLdzaro Rojas ter sido escolhido como padrinho de Francisco Solano e posteriormente tOJo instituido como herdeiro. Embora essa teoria nunca tenha sido totalmente desmentida

-

ou

confirmada -, o argumento mais forte conha ela 6, a impressionante semelhanga do futuro ditador com CarlosAntonio lipez.Ambos eram homens de baixa estafura, corpulentos, tendendo

i

obesidade, com m5os peque-

nas e rosto largo. O mesmo tipo fisico dos irmSos mais novos, ali6s. Ouho

aspecto sempre lembrado 6 a relagEo de confianga e afeto que Carlos sempre cultivou com o primog€nito. Uma relagSo sempre melhor que a de Solano com a m6e. )uana engravidou novamente pouco depois do primeiro parto e em 1828 teve a filha lnoc€nciaL6pez Carillo. Seguiram-se Vendncio

lipezCarillo,

em 1829, M6nica Rafaela l6pez Carillo, em 18J0, e Angel Benigno L6pez

Carillo, em I834. Carlos e fuana n5o eram individuos de fdcil hato. Se a mf,e era severa e pouco amorosa com os filhos, Carlos estendia sua intransig€ncia e seu

frequente mau humor

i

vida pfblica. Como presidente, detestava a hadigio,

mantida no pais ainda hoie, de se falar correntemente a lingua indigena original, o guarani. Em um evento oficial, por exemplo, quando populares o saudaram com a express6o "lponait6!", algo como "Bravo!" ou "Muito bom!", ele bradou, irritado:3 "Quando 6 que perder5o o selvagem cosfume de falar guarani em atos t5o solenesT". A exemplo de seu pai, Francisco Solano recebeu uma educagio formal de alto nivel, inicialmente com preceptores em casa e depois na Academia

20

LUrz ocrA\,Io DE LrMA

Literdria, onde teve aulas de filosofia com o prelado Marco Antonio Maiz e de matem6tica com o catedrdtico Juan Pedro Escalada.a Era um aluno

destacado, mas jii dava sinais de um temperamento rebelde.Maiz via-se

obrigado a repreend€Jo com frequ€ncia. Carlos dava conselhos ao filho sempre que possivel, entre seus afazeres de chefe de Estado, tentando

dom6Jo. Mas a nafureza agressiva do menino parecia inabal6vel. Com os

irmios, Solano L6pez tinha um comportamento oscilante, ora com uma atitude protetora, ora impondo sua autoridade de irm5o mais velho, o que

inclufa a aplicaglo de castigos fisicos aos menores. Enhe os familiares era chamado pelo apelido de Pancho.

Na adolescOncia, aperfeigoou seu dominio de idiomas e adquiriu s6lidos conhecimentos em artes e hist6ria. Com predilegSo pelas descrigdes de batalhas, desenvolveu um enorme fascinio pela figura de NapoleSo Bonaparte, devorando todos os registros que lhe cafam is mSos sobre o homem que pretendeu estender seu poderio por todo o continente europeu. H6 indicios de que Solano teria sido exhemamente precoce tamb6m

no campo amoroso. Relatos populares ddo conta de que teria sido pai pela primeiravez ainda na adolesc6ncia, em razdo do envolvimento com uma iovem criada da casa de seus pais conhecida apenas como Benftez. Nos enconhos furtivos na parte de servigo da propriedade, teria sido gerado o menino )uan Le6n.5

Um amor obsessivo da juventude de Solano foi Francisca Garmendia, aPanchita, iovem de pele clara e cabelos negros oriunda de uma famflia aristocr6tica que caiu em desgraga no governo de Francia. Seu pai teria se recusado apagar. uma

multa ao ditador e foi condenado

i

morte. Criada

pelo espanhol fos6 de Barrios e pela paraguaia Manuela Diaz de Bedoya, Panchita tinha a mesma idade de Solano e aos l5 anos jd era considerada

a mais bela jovem do Paraguai. Ela rechagou as insistentes investidas dele, causando um grande ressentimento ao 6lho de dom Carlos. Ao tomar

conhecimento da possibilidade de um noivado da moga com o oficial F6lix

ACUERRA DO

PARAGUAI 2I

Egusquiza, conseguiu que o rapaz fosse mantido por longos periodos em distantes acampamentos militares e, assim, p6s fim ao breve namoro dos dois. Os destinos de Solano e Francisca voltariam a se encontrar de forma

dram6tica duas d6cadas depois.6

Enviado

i

academia militar aos 18 anos, Solano teve uma ascensio

inaudita: foi promovido a general de brigada com apenas 19. Na mesma 6poca, seu pai lhe dispensou uma prerrogativa adicional espantosa para

algu6m daquela idade, quando nessa carreira a maioria dos jovens ainda era cadete: nomeou-o comandante-em-chefe do Ex6rcito paraguaio.

Embora tivesse sido um civil por toda a vida, Carlos L6pez fez quest5o de proporcionar aos filhos homens o treinamento nas Forgas Armadas.

Venincio e Angel Benigno tamb6m foram enviados para a caserna ainda adolescentes. O cagula, por6m, deixou o pais por dois anos para cursar a

Escola Naval do Rio de )aneiro.7 Na capital do Imp6rio brasileiro, ele adquiriu, al6m da experiOncia militar, uma formagdo politica liberal que o diferenciaria em seu meio e, de alguma forma, seria, anos mais tarde, a razdo de sua ruina.

No comando de um numeroso destacamento, ao passar por Villa del Pilar, capital do estado de Neenbucri (Grito Grande, em guarani), 360 quil6metros ao sudoeste de fusung5o, Solano foi recebido pela familia Pesoa em seu

belo casar5o colonial. Ali, imediatamente se enamorou

da jovem Manuela fuana Paula, a fuanita. Pelos anos seguintes, os dois mantiveram enconhos apaixonados, mas Solano demonshava pouco enfusiasmo pela ideia do casamento.

A carreira militar tomavaJhe

quase todo o tempo, e por duas vezes,

em I846 e 1849, liderou incursSes

i

6rea fronteiriga de Corrientes, no sul

do pais, com o objetivo de demover o ditador argentino fuan Manuel de Rosas da ambig5o de incorporar o Paraguai e o Uruguai i provincia aut6noma de Buenos Aires. Rosas n5o escondia seu intento de recriar o antigo

Vice-Reino do Rio da Prata, que incluia aqueles territ6rios, sob o comando portenho. Chegara

a

promover sucessivos bloqueios

i

navegag5o eshangeira

ZZ

LUz ocrAvro DE LrMA

no rio Paran6, enhando em ahito com o governo uruguaio e at6 com Inglaterra e a Franga, que realizavam com6rcio na regido platina.

a

]6 naquele momento, Solano se via imbuido de um papel hist6rico e buscava se impor como lfder militar inconteste. Nos riltimos dias de 1845, quando partiu para a primeira missio contra Rosas, fez um discurso emocionado, em que conclamava ao combate a tropa de 6 mil homens, descrevendo

-

com certo exagero

- os perigos

que ameagavam

seus cidadios:

Soldados! Vosso general conta com o distinguido patriotismo, valor que sempre haveis demonstrado. Vamos encontrar o inimigo p6rfido, que nega

e ataca nossa independ6ncia! FagamoJo desistir de sua marcha cruel, sangrenta e bdrbara!

Pelas hilhas do estero, regi6o do banhado paraguaio, com vegetagao ras-

teira e clima inclemente devido ao calor e is chuvas di6rias, a tropa, mal

treinada e pouco acostumada aos sacriffcios das campanhas militares, n5o tardou a se esquecer das palavras motivadoras de seu comandante. Apesar da lideranga firme de Solano, o

i

inimo

da expedig5o sucumbiu

dureza da marcha bem antes que o objetivo fosse alcangado: em 28 de

fevereiro de 1846 ocorreu uma tentativa de sublevagSo por parte de tr0s esquadr6es cujos lideres questionaram a conveniOncia de uma operagio

que rompia o tradicional isolacionismo paraguaio e exigiram o retorno a

fusung5o. Solano considerou a insubordinagf,o inaceitivel e mandou fuzilar

os cabegas do

movimento, conhecido depois como A Rebeliao de

Paybur6.8 O ambiente de revolta se retraiu, mas poucos avangos estrat6-

gicos foram alcangados, e as divis6es retornaram ao Paraguai sem entrar

em combate. Da segunda investida ficaram registros igualmente exaltados de Solano, dessa vez destinados ao pai, Carlos

vam da mesma forma:

Antonio L6pez, que sempre comega-

AGUERRA DO

PARAGUAI Z)

Viva a Repfblica do Paraguai! Independ6ncia ou morte!

Nos despachos sobre

as

manobras, h6 meng6es recorrentes a Francisco

Isidoro Resquin, ent5o capitSo, que seria um dos militares mais fi6is sob seu comando, e ao tenente-coronel Vicente del Carmen Barrios Bedoya,

futuro marido de sua irm6 e irm6o adotivo de Pancha Garmendia.

No dia 25 de dezembro, a mensagem ao pai foi mais emocionada:e Meus votos de cordiais felicitagOes pelo memor6vel dia em que o povo paraguaio expressou do modo mais solene seus sentimentos de liberdade e independ6ncia...

.. que seus filhos saberSo conservar

i

custa do mais caro sacrificio

Ao final da dltima campanha contra Rosas, Solano soube que )uanita esperava um filho seu. O menino Emiliano Victor Pesoa L6pez nasceu

em 1850, seguido porAdelina Constanza, um ano depois. E nada de matrim6nio, mesmo sendo ambos livres para oficializar a uni5o. Antes de Solano L6pez,o Ex6rcito paraguaio contava com um efetivo

pequeno, enfraquecido, heranga da filosofia do ditador Francia, constantemente assombrado pelo temor de uma conspiragdo militar conha seu governo. Em sua gest5o como comandante-em-chefe, Solano seguiu o caminho oposto: elevou a tropa de 5 mil para l0 mil homens, mantendo ainda 20 mil volunt6rios periodicamente em prontid6o. Al6m de implantar

um regime de maior disciplina e alguma visSo estrat6,gica, ele cobrou do pai investimentos em armas e munig6es que tornassem o pais competitivo em termos b6licos. O herdeiro paraguaio vislumbrava o destino de sua terra,

no minimo, como o antigo Imp6rio Teocrdtico Guarani, que incluiria os Sete Povos do Rio Grande do Sul.r0Indiscutivelmente havia em seu

um sonho napoleOnico.

intimo

24

LUIz ocrA\,'ro DE LIMA

Essa aspiragSo ganhou impulso quando morreu

o padrasto de

sua

md,e,Lizaro Rojas yfuanda, deixando uma fortuna para fuana Carillo e o pedido de que o jovem Solano L6pezfosse benefici6rio da maior parte do legado, inclusive da edificag5o que ainda hoje 6 a sede do governo do Paraguai. Com as propriedades de que i5 dispunham e a hegemonia pol(,tica que sua linhagem exercia havia d6cadas no pafs, os L6pez se tornaram

uma das familias mais poderosas do Cone Sul, superada apenas pelos Orleans e Braganga do Brasil. Mesmo para os padr6es da monarquia europeia, seu patrim6nio seria capaz de impressionar e abrirJhes salOes mais

as

portas dos

requintados no al6m-mar.

Carlos decidiu mandar o filho ao velho continente em uma missdo oficia]. Na Inglaterra, faria a aquisigSo do que houvesse de mais moderno em

armamentos pesados produzidos pela indfshia siderfrgica brit6nica. Na Prrissia (atual regiio norte da Alemanha), observaria os treinamentos de tropas e da famosa cavalaria. Na Franga, al6m de comprar equipamentos mi-

litares, afuaria como representante consular junto

fu

i

corte de Napoleio III.

gest6es diplomdticas se arrastaram por meses, mas deram os frutos

esperados. Todas as nag6es consultadas

nio

apenas aceitaram credenciar

Solanorr sem reshigdes de prazo ou de hdnsito entre fronteiras, como tam-

b6m enviaram documentos reconhecendo a independ6ncia do Paraguai.

Entre elas, o pr6prio reino da Espanha, ao qual o Paraguai havia sido submisso por tr6s s6culos. "VocO serd meu minisho plenipotenci6rio nesta empreitada", declarou

o pai, com indisfargdvel orgulho, a Francisco Solano. Depois de uma despedida emocionada de fuanita e de suas criangas de colo, Solano embarcou, acompanhado do irm6o cagula, Angel Benigno,

do coronel )os6 Maria Bruguez e do ajudante de ordens, o capit5o Juan )os6 de Brizuela. Fazia isso sem imaginar que estava deixando para tr6s, em definitivo, n5o apenas o per(odo de sua juvenfude, mas um tempo sem

transtornos pessoais ou familiares. Um tempo de quase completa serenidade politica.

Grande Prov(ncia das indias

O nome Paraguai prov6m do guarani (Paragua-y) e teria sido dado inicialmente ao rio que corta o pais. Por6m, n5o hd uma etimologia precisa de seu significado no referido idioma indigena.

fu

alternativas prov6veis

sio "6gua que vem do mar" (em que "mar" provavelmente se refere ao Pantanal) ou uma modificagSo de payagua-y (rio dos paiaguds).t Sua construg5o como nagSo comegou marcada por aliangas peculiares

enhe os conquistadores espanh6is e os guaranis, que povoavam a regiEo e mantinham superioridade num6rica expressiva em relag5o a outras tribos, com as quais mantinham uma atifude quase sempre beligerante. Antes da chegada dos europeus, as etnias locais viviam da caga, da pesca e da agri-

cultura

-

tendo os guaranis o diferencial de armazenar excedentes para

garantir o sustento e o continuo crescimento de sua populagSo.

Em

l5ll,

o navegador portugu€s fo6o Dias de Solis comandou

primeira expediqio a enhar no rio da Prata

a servigo da Espanha.z Mas a

a

colo-

nizagSo daquela parte da Am6rica do Sul ainda levaria mais de duas d6cadas

para ser iniciada de fato.

Em 1529, a fam(lia Mendoza, da nobreza andaluza e influente na corte espanhola por v6rias gerag6es, expressou ao imperador Carlos V o desejo de estabelecer col6nias na Am6rica do Sul e explorar a regiSo em favor da

Coroa. Pedro de Mendozaj recebeu do soberano Z mil homens e heze navios, com a condigSo de desbravar aquelas terras, construir fortes e enviar

26

LUtzocrAvro DE LrMA

as riquezas encontradas para a Europa. Seu enfusiasmo ao desembarcar

foi imenso, e ele chegou a nomear a regi5o conquistada como Nova Andaluzia, em uma homenagem ls suas pr6prias origens. Por6m, pouco depois das primeiras incurs6es e de fundar a cidade de Buenos Aires, em fevereiro de I 5 36, aos 38 anos, Pedro viu seu estado de saride se deteriorar

em decorr6ncia da sifilis que contraira na Espanha. No ano seguinte, estava

limitado

a

ditar ordens do leito de enfermo, assistido pelo sobrinho

Gonzalo, dez anos mais iovemr QU€ o acompanhara na empreitada. Quando sua condig5o se tornou critica, ele decidiu regressar i terra natal, mas acabou

nio

resistindo

i

viagem, morrendo a bordo do navio dias

ap6s a partida.

Apesar da perda familiar, o iovem Gonzalo de Mendoza manteve o (mpeto e a meta estabelecida por seu tio. No comando da nau capitinia

La Magdalena, ele subiu o rio da Prata continente adentro. O objetivo inicial era chegar aos dom(nios peruanos, cujas riquezas eram noticiadas por todo o reino de Castela. Mas ele acabaria

se

fixando na margem esquer-

Ali ergueu uma fortaleza, em torno da qual o capit5o )uan de Salazar y Espinozaa construiu em l5)7 a cidade de Nuesha Seflora Santa Maria de la fuunci6n, fundada em l5 de agosto, dia em que da do rio Paraguai.

a Igreia Cat6lica celebra o dia da fusungSo (elevagEo ao C6u, de corpo e

alma) da Virgem Maria.

O povoado foi por um breve tempo o corag5o da chamada Grande Provincia das indias, cujo territ6rio demarcado pela Coroa Espanhola compreendia parte do atual Chile, da Bol(via, toda a Argentina, a Banda Oriental do Uruguai, parte dos estados brasileiros do Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paran6 e o pr6prio Paraguai atual. A partir de I 561, passaria por um processo de desmembramento e perda de import6ncia politica, que levaria ao estabelecimento de Buenos Aires, em L776, como capital do Vice-Reino do Rio da Prata.

O primeiro governo paraguaio seria entregue ao tamb6m integrante da expedigio de Mendoza, Domingo Mart(nez de lrala. Sua politica de

A CUERRA DO

PARACUAI 27

colonizagdo consistiu na delimitagSo das fronteiras com o Brasil, por meio de uma linha de fortificag6es conha a expans5o portuguesa, na fundagdo de

vilas e na promoqEo de casamentos entre seus subordinados espanh6is e mulheres guaranis, principal fator da formagio populacional do pa(s. Em

l6

de setembro de 1541, ainda durante sua gestf,o, seriam inaugurados os

trabalhos do Cabildo de fusung5o, o primeiro Poder Legislativo da regiSo.

Em suas incurs6es pelas terras platinas, Gonzalo de Mendoza entrou diversas vezes em combate com etnias como guaicurus e paiagu6s, mas

cuidou de manter os guaranis como aliados. Nomeado governador em outubro de 1556, ap6s a morte de Irala, incentivou a mineragio de prata e o surgimento de novos cenbos urbanos, entre eles os de Guayr6 e Xayares.

Sua gest6o, no entanto, foi breve: morreu menos de dois anos depois, em

21 de julho de 1558.

No final do s6culo XVI,

as miss6es jesuitas do sudeste

do Paraguai as-

sumiram um comando mais efetivo sobre significativa parte da populag5o indigena e chegaram a manter 150 mil indios em 33 de suas "redug6es", propriedades que serviam n5o apenas como cenhos de convers6o religiosa, mas tamb6m de produgSo agropecudria, de com6rcio, manufaturas e at6

de resist0ncia ao avango porfugu€s.

Ap6s a expulsSo dos iesuitas, em meados do s6culo XVIII, as imensas terras da Companhia de Jesus passaram ao Estado espanhol, que as arrendou por pregos baixos a camponeses livres. Essa politica contribuiu para que o Paraguai, nesse primeiro momento,

tio hegem6nica

nio

formasse uma camada

de proprietdrios rurais, diferentemente do que aconteceria

com seus vizinhos sul-americanos. Esses novos agricultores, na maioria mestigos, haviam sido at6 entSo protagonistas de frequentes rebelides comuneft$ contra as autoridades espanholas.

fu

ideias libertdrias ganharam forga nas colOnias hispinicas no infcio

do s6culo

XX

gragas ao enfraquecimento da pr6pria Espanha, desgastada

frente )s investidas napole6nicas. O Paraguai n6o foi excegio e se tornou independente, por assim dizer, da noite para o dia.5 Ou melhor, da noite

28

LUz ocrAvro DE LrMA

do dia 14 para o dia I 5 de maio de

l8l l. Naquele momento, politicos e

militares liderados por Fulgencio Yegros, Pedro |uan Caballero e Vicente Ignacio Iturbide depuseram o governador espanhol Bernardo Velasco, formando uma Junta Provis6ria para governar a nova Repriblica. A divis5o de poder levou a um periodo de anarquia, resolvido com a escolha de fos6 Gaspar Rodriguez de Francia,6 um te6logo de tempera-

mento austero que havia sido secret6rio da Junta. Pela Assembleia, foi nomeado ditador tempor6rio e finalmente, em 1816, ditador perp6tuo da Repriblica do Paraguai. Adenominag6o "ditador" nio trazia,em principio, a conotagSo negativa que se

verificaria nos tempos futuros em relagdo aos

regimes autorit6rios latino-americanos. A classe politica da 6poca buscava mais uma familiaridade com a Repriblica Romana de onde emergira

frilio

C6sar.

Francia, por6m, conduziu o pais com um rigor que talvez n5o encontrasse precedente nem mesmo durante a dominagSo espanhola.

Suprimiu

o Cabildo, expulsou as ordens religiosas que atuavam no pafs e incorporou

e escravos ao patrim6nio do Estado, que se tornou o grande empres6rio nacional. Adotou uma politica isolacionista radical, proibiu qualquer com6rcio com os luso-brasileiros e, em uma medida seus bens, terras

extrema, fechou as fronteiras do territ6rio, castigando com o fuzilamento todo aquele que ahavessasse seus limites, tentando sair ou enhar. Thmb6m estavam sujeitos

i

pena de morte os culpados por roubo, tentativas de

golpe de Estado e desvios de recursos pfblicos. Os casos de homicfdio podiam ser punidos com a execug5o n5o apenas do criminoso, mas de demais membros de sua familia e at6 de seu circulo de amigos.

Em 1820, uma trama para derrub6Jo, empreendida por membros da elite criolla e por oficiais militares, foi sufocada com a prisio e a condenag5o

i

morte de todos os envolvidos. Um deles, o companheiro de

revolugSo pela independ€ncia Pedro Juan Caballero, suicidou-se no cdrcere na v6spera da execug5o. A experi€ncia do epis6dio levou Francia a assumir o controle total das Forgas Armadas. Para n6o permitir um poder

PARAGUAI 29

A GUERRA DO

IA

hbpico de _-_c:.ryi:o!!119

OCEANO PACIFICO

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km

Paises envolvidos

Fronteiras em 1850

A Am6rica do Sul antes da Guerra Desde o comego do s6culo XIX, o Paraguai sofria com o ass6dio argentino e brasileiro is suas fronteiras.

30

LUV ocrAvro DE LIMA

paralelo e evitar o risco de novas conspirag6es, ordenou que as guarni-

um oficial por cada grupo de 42 soldados e seus comandos exercidos em sistema de rodizio frequente. fu promog6es g6es passassem a ter apenas

seriam de exclusiva competOncia do ditador, e o posto mdximo foi limitado

i

patente de capitSo. A maioria dos soldados foi aquartelada em pequenas

fortalezas construidas nas fronteiras. Na capital, ficava apenas a guarnig6o

principal, esp6cie de guarda pretoriana, destinada a garantir a seguranqa pessoal de El Supremo, como era conhecido. Apesar da atuagEo desp6tica, Francia levava uma vida frugal e aplicava

a mesma austeridade exigida aos governados

i

sua rotina pessoal. Certa

vez, em uma de suas raras reuni6es, o Parlamento paraguaio votou pelo

aumento do saldrio do ditador e ele vetou a medida, advertindo os congressistas que nio tentassem nada parecido futuramente. Sua gestio tamb6m reforgou a tradigEo da pequena propriedade e incentivou que cada familia cultivase verduras, frutas e legumes e criasse animais para garantir

Em 1828, tomou obrigat6ria a educag5o bdsica de todos os cidadios, o que faria do Paraguai o primeiro pais no continente a errasua subsist€ncia.

dicar o analfabetismo.

Em meados de iulho de 1840, o ditador Francia foi apanhado por uma forte chuva quando saia para sua cavalgada di6ria. Seus 64 anos avangada para a 6poca

ao retornar

i

- n6o resistiram

-

uma idade

ao tempo adverso e, horas depois,

sua casa, ele caiu enfermo. Seu mddico particular, doutor

Juan Vicente Estiganibia,T lhe aconselhou repouso absoluto. Francia, po-

r6m, ndo seguiu a recomendaglo e logo retomou suas atividades. Depois de uma breve melhora, seu estado piorou a partir de 16 de setembro. No dia seguinte, Estigarribia comunicoulhe a gravidade de sua condig6o:

"Doutor Francia, n6o vejo como o senhor

possa retornar ao cargo.

Aconselho-o a nomear um sucessor o quanto antes", disseJhe o m6dico. "Isso pode evitar alguma crise politica, algum v6cuo de poder." Francia recusou o conselho, mas, consciente de que o fim estava pr6-

ximo, tomou outras provid€ncias priticas: nomeou como herdeiras de

A GUERRA DO

PARAGUAI 3I

sua quinta de Ibiray as filhas Ubalda Garcia e Maria Roque Caflete

pediu que fossem pagas gratificag6es, com seus pr6prios recursos,

e

aos

soldados que patrulhavam as fronteiras da nag5o.

Imediatamente ap6s a morte de Francia, ocorrida em 20 de setembro, Carlos L6pez articulou uma s6rie de aliangas para ocupar o lugar do tio.

No inicio de l84l foi designado como um dos dois c6nsules que governariam o pais por tr6s anos. Mariano Roque Alonso ficaria responsdvel pela

militar enquanto L6pez cuidaria da gestio politica. Ao fim daquele periodo, Carlos L6pez9 foi eleito presidente para um

reorganizagSo

mandato de dez anos. Na ocasiEo, tamb6m seria aprovada aL,ey de Administraci6n Politica, que asseverava: "O governo da Repriblica nio ser6 pa-

trim6nio de uma familia". Algo bem diferente do que ocorreria na pr6tica. Al6m do lago de parentesco com o falecido ditador, Carlos L6pez teria seu mandato prorrogado por duas vezes, embora sempre alegasse que acei-

tava essa condig5o a contragosto, como "um sacrificio pela pdtria". E iamais

considerou a hip6tese de deixar como sucessor algudm que n5o fosse um de seus filhos. Seu estilo de gest6o n6o foi, afinal, t5o diferente do de Francia, com

quem antagonizou por tantos anos. Suas variag6es de humor is vezes o levavam a condenar ao fuzilamento sumdrio quem cometesse a menor

infraglo. Mestigos com at6 um quinto de sangue indigena ou negros escravos que fossem apanhados em pequenos delitos, como embriaguez, eram condenados a receber cinquenta chibatadas. |6 descendentes "puros" de espanh6is tinham imunidade a esse tipo de castigo. Contradit6rio,

dom Carlos concedeu cidadania aos indios em 1848. As leis herdadas de Francia que reshingiam a circulag5o pelas fronteiras

foram mantidas. Eshangeiros estavam proibidos de comprar terras no pais, e todo aquele que viesse de fora estava impedido de hazer iornais ou livros.

O presidente comandava o principal peri6dico paraguaio, El Semanario, e a imprensa alternativa tamb6m seria criada por ele: editado pelo jornalista espanhol ildefonso Bermeio.

El

Eco del Paraguay,

32

LUrz ocrAvro DE LIMA

Mas educagSo e culfura eram prioridades. O mesmo Bermejo fundou

uma Escola Normal, a pedido do presidente, onde se lecionavam gramdtica, hist6ria, matemdtica,l6gica, ci€ncias e catecismo.e O advogado

Zen6n Rodrigues abriu a Academia Forense. Escolas para mogas dirigidas por Eduvigis de RiviBre e Doroth6a Duprat educavam as paraguaias.

Quem se sobressaia nessas instifuig6es recebia do governo uma subveng5o para completar sua formagdo em universidades europeias. Entre esses bolsistas estava fuan Cris6stomo Centuri6n que, aos

i

l8

anos, foi enviado

Inglaterra para estudos de literatura e direito internacional. Anos mais

tarde, ele seria um homem de confianga do regime e um dos principais cronistas de seu tempo.

Carlos L6pez distendeu pouco a pouco a polftica isolacionista de seu antecessor, por6m mantendo as condig6es econ6micas que permitiam a

autonomia do Paraguai em relagio a seus vizinhos. A exportagSo de mat6rias-primas para a Europa ganhou impulso, e a maior parte das importagdes de manufafurados vinha da Inglaterra, que dava ao governo paraguaio

o ptazo de oito meses para o pagamento das mercadorias.

Com os estados argentinos sua posigSo era ao mesmo tempo beligerante e de extrema cautela, especialmente porque o ditador fuan Manuel de Rosas, governante de Buenos Aires, g5o do Paraguai

-

nio abandonava

a ideia de absor-

que via quase como uma mera provincia rebelde, ten-

tando fazer da fugentina uma pot6ncia regional a partir da anexag6o de territ6rios vizinhos.

Com o Imp6rio, como era chamado o Brasil pelas demais nagdes do continente, o longo distanciamento verificado desde os prim6rdios da dominagdo espanhola comeqou a se dissipar. A ascens5o de Carlos L6pez coinci-

diu com o chamado Golpe da Maioridade, que levou dom Pedro II ao hono ainda adolescente e a uma polftica de aproximag5o com o pais guarani desenvolvida pelo entio ministo da Fazenda brasileiro, Manuel Nves Branco.

O Brasil foi o primeiro pafs a reconhecer a independ6ncia paraguaia, em

l4 de setembro de

1844, em uma tentativa de desestimular as pretens6es

A GUERRA DO

PARAGUAI 3)

argentinas sobre aquele territ6rio. Por sua vez, o Paraguai comprometeu-se

com a livre navegag5o pelos rios da regiio. Mas o Tratado de Alianga, Com6rcio e Limites enhe os dois paises, negociado na ocasiio, acabou por n5o ser ratificado pelo Legislativo brasileiro, por estabelecer que as fronteiras deveriam ser pautadas pelo Tratado de Santo lldefonso, de 1777, segundo o qual cabia

i

Espanha a posse da regifio da Col6nia do Sacra-

mento, do Tenit6rio das Miss6es, parte do Rio Grande do Sul

e do Uruguai.r0

Nesse periodo, crescia a import0ncia da navegagflo brasileira no rio Paraguai, tanto por aspectos econ6micos, quanto pelo tempo despendido e pela seguranga do trajeto. Segundo

rio em extensio fluvial da Am6rica

do Sul, o Paraguai percorre 2.621 quildmetros at6 desaguar na bacia do Prata.rr Dois tergos de seu curso

-

1.693 quilOmetros quadrados

-

sihram-se

em territ6rio brasileiro, ao longo dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Num curto trecho, divide o Brasil do Paraguai, para, antes de juntar-se ao rio ParanS, hansitar apenas em territ6rio paraguaio. Na 6poca, essa era a melhor via de acesso

i

provincia de Mato Grosso. Afinal,

em uma regiSo de estradas precdrias e sem ferrovias, uma 6nica viagem de Cuiab6 a Corumb6 durava cinquenta dias. Da capital, Rio de )aneiro, entzio, podia levar vdrios meses.

A bacia formada pelos rios Paraguai, Parand e Uruguai, tendo o rio da Prata como resultado do encontro dos dois riltimos, representava a um s6

tempo uma b6ngSo e uma maldig6o aos paises da regi5o. fu fronteiras fluidas,

as divisdes

internas profundas verificadas nas nagdes que se forma-

vam ap6s as lutas por independ6ncia e sua caracteristica de principal via de escoamento de produtos faziam da disputa pelo controle de suas 6guas

um foco permanente de disc6rdia. Carlos Antonio L6pez considerava crucial manter boas relagOes com o governo da Banda Oriental (Uruguai), comandado pelo Partido Nacional

(ou Blanco), para assegurar a navegagio at6 o oceano AtlAntico. Como uma esp6cie de garantia desse direito, firmou um acordo, em 1850, comprometendo-se a defender o pais vizinho se sua soberania fosse ameagada.

)4

LUz ocrAvro DE LIMA

No mesmo ano, ap6s intensas negociag6es conduzidas pelo brasileiro Pedro de Alcdntara Bellegarde,rz assinou um tratado de alianga com o Brasil, que tamb6m previa o livre tr6nsito no Prata e a

mftua

defesa em caso de

ataque externo. Finalmente, com a derrubada de Rosas, em 1852, o novo

presidente do conjunto de provincias que formavam a Confederag5o Argentina, |usto Jos6 de Urquiza - apoiado e financiado pelo Brasil por meio de um empr6stimo de I00 mil patac6es (o equivalente a cerca de 96 milh6es de reais em 20I6)

-, reconheceu a independ6ncia

paraguaia

e emitiu decretos que garantiam a livre navegaglo no estudrio do Prata,

inclusive por parte da antiga nag6o rival. Assim, parecia se formar a conjuntura perfeita para que, ap6s d6cadas

de demandas e atritos, as quatro nag6es pudessem chegar a um enten-

dimento e estabelecer um pacifico trAnsito fluvial pela regi5o. O fr6gil equilibrio, por6m, seria muito menos duradouro do que qualquer observador pudesse imaginar.

Na corte de Napole5o

III

Na Europa, informado apenas superficialmente e sempre com um atraso considerdvel sobre a evoluqdo dos acontecimentos na regiSo platina, Solano L6pez desincumbiu-se com muita eficdcia das miss6es que o pai Ihe confiara. Tendo desembarcado do vapor britdnico Pince no porto de Southamp ton, na Inglaterra, em l5 de setembro de 1853, ele chegou a l,ondres cinco dias depois. Embora houvesse agendado uma audiOncia com a rainha

VitG

ria,r foi recebido somente pelo chanceler George William Frederick Villiers, Iorde Clarendon, e ouviu do ministro que a soberana estava no rec6m-

-adquirido Castelo de Balmoral, na Esc6cia, sem data prevista para retornar.

Mesmo contrariado, Solano decidiu permanecer na cidade atd conseguir o encontro. Nesse meio-tempo, negociou a compra de armas com a empresa Blyth

& Co., fechou acordos

paru a aquisigSo de equipamentos

ferrovi6rios e mdquinas colheitadeiras de algod6o, encomendou uma embarcag6o de guerra que batizou de Tacuai e recrutou t6cnicos para im-

pulsionar o desenvolvimento tecnol6gico de seu pais. Finalmente , em 24 de outubro, ocorreu a esperada enhevista com a rainha, durante a qual foi ratificado o Tratado de Amizade, Com6rcio e Navegagtro,

firmado em margo daquele ano pelos embaixadores de ambos

paises.

Em

visita

i

os

5 de dezembro, durante breve retorno ao pais, L6pez faria nova

monarca, dessa vez no paldcio da ilha de With. Da Inglaterra, viajou

76

LUE ocrAvro DE LrMA

para a Pnissia,2 esteve na regiao italiana do Piemonte, onde contatou oficiais para heinar o Exdrcito paraguaio, e de

16

seguiu para a capital francesa.

Como previsto, Solano n5o teve muitas dificuldades em se integrar

i

corte de Napoleio III. Muito rico, fuente no idioma local e bastante persuasivo, o paraguaio teve ainda a seu favor o fato de ser um admirador

incondicional do tio do imperador, o lenddrio Bonaparte. Thmb6m chamado Lufs Napoleio, ogovemante do Segundo Imp6rio era

o terceiro filho do rei Lufs da Holanda e de Hort6nsia de Beauhamais,

irm5 da imperahiz )osefina, primeira mulher de Napole6o [. Ascendera ao hono ndo apenas por sua origem familiar, mas ap6s uma carreira como parlamentar durante a Segunda Reptiblica, no esteio da RevolugSo de 1848 e de uma s€rie de

confitos que culminaram na restauragiio da monarquia.

Solano Lbpeztomou-se amigo de Lufu Napoledo e o imperador chegou a

acompanhiJo em uma visita ao Liceu de Sain-Cyr, academia de forma-

Ali, ao norte de Paris,3 assistiram a uma detalhada demonshag5o de exerc(cios militares. Do convivio tam96o da infantaria e da cavalaria francesas.

b6m sairia um acordo para estabelecer col6nias francesas no Paraguai.

o

t

E

o

!

5 Solano [6pez (com o brago erguido) acompanha manobras militares na Franga, em 1854.

A GUERRA DO

PANACUAI )7

O momento em que Solano L6pez desembarcou na capital francesa era de grande efervesc€ncia, tanto na corte quanto na vida mundana. O barSo Georges-Eugbne Haussmann, prefeito do departamento do Sena, comegava a implantar reformas urbanas, a pedido do imperador, criando parques, abrindo avenidas e conshuindo vdrios edificios p(blicos. Os teatros

do boulevard du Temple, no Marais, ofereciam uma enorme variedade de espeHculos e eram cercados de caf6s e restaurantes que agitavam a vida

noturna local. Nesse periodo, o escritorAlexandre Dumas Filho, filho do autor de Os tr1s mosqueteiros, experimentava enorme sucesso com a obra

Adama das camdlias, inspirado na pr6pria hist6ria que vivera com a cortesd Marie Duplessis. Figuras onipresentes na vida social parisiense por s6culos, as cortes6s eram mulheres liberadas, cultas e bem estabelecidas financeiramente que

ndo apenas frequentavam os melhores circulos como tamb6m abriam seus salOes

i

aristocracia e i intelectualidade. Seu patrim6nio geralmente

derivava dos presentes

-

de joias a valores em dinheiro e im6veis

bidos de bem escolhidos amantes. Antes de Dumas Filho, Balzac

e

rece-

Victor

Hugo haviam retratado esse extrato social, e limile Zola ainda o faria em seu

romanceNan6.

Seguindese

i

F0te des Fous (Festival dos Loucos), comemoragio tradi-

cional da 6poca, Napoledo III realizou em 1854 um grande baile de Mardi Cras (Terga-feira Gorda de Camaval) no Paldcio das Tulherias. O representante do govemo paraguaio, claro, foi convidado. Acompanhado de Angel

Benigno e do ajudante de ordens, o capit6o fuan )os6 de Brizuela, Solano Iipez chegou h festa daquele 28 de fevereiro em seu uniforme de general

com uma faixa vermelha passada sobre o peito craveiado de medalhas comendas. Havia cultivado uma barba, que lhe dava um ar imponente.

e

O PalScio das Tulherias era uma das mais belas construgOes da capital francesa. Pr6ximo ao Louvre e is margens do Sena, havia sido construido

por determinagdo de Catarina de M6dici, no s6culo XVI, no local onde funcionava antes uma fdbrica de telhas (tuiles). Desde entio, fora resi-

38

LUIZ

ocrAvro DE LIMA

d6ncia de reis, como do exigente Luis XV. Durante a RevolugSo Francesa serviu de moradia

i

familia real, ap6s sua fuga frustrada para Varennes. O

edificio foi atacado durante uma insurreig5o popular em 1792, pouco antes da execug5o de Maria Antonieta em uma guilhotina montada do lado

de fora de seus muros, e seria totalmente incendiado durante os distrirbios da Comuna de 1871. Naquela noite, por6m, era uma vis6o de sonho,

com suas fontes e jardins iluminados por lantemas, por onde circulavam os mais ricos e refinados cidad5os do pais. Solano foi levar suas saudag6es ao imperador, acomodado no sal6o sob

um dossel tricolor que remetia

i

bandeira da Franga, ao lado da imperahiz

Eugenia de Montijo, com quem o monarca se casara um ano antes. Ao ser apresentado

i

princesa espanhola, Luis NapoleEo ficara extasiado

com a belissima iovem educada em Paris e, segundo a narrativa da corte, teria sussurrado em seu ouvido: "Como posso enconhar o caminho para o seu quarto?". Ao que ela respondeu: "Pela capela, maiestade". O lider

do Segundo Impdrio rendeu-se incondicionalmente. Neo tardou a fazer o pedido e a providenciar o matrim6nio. Feitas as honras aos soberanos, o general-brigadeiro e seus acompa-

nhantes desceram rumo

i

parte externa do pal6cio e se misturaram is

centenas de foli6es em mdscaras e fantasias requintadas, n5o raro com caixas de rap6 nas m5os. Aquele comportamento superficial dos convivas

causou certo desconforto

i

sua quase natureza militar, apreciadora da

disciplina e da sobriedade. L6pezlogo se sentiu entediado com aquele ambiente, mas tentou aliviar a sensagio incOmoda com tagas do excelente champanhe que era servido generosamente. Apesar da beleza dos iardins e da exuberAncia do evento, seu pensa-

mento se voltou para sua terra natal, onde o esperavam Juanita e seus filhos pequenos. Vieram i sua mente imagens da familia e de Iugares que falavam

i

sua mem6ria afetiva, como o casardo na aprazivel Pilar. Por um

momento, pensou mesmo ter visto

)

sua frente, a poucos passos de onde

se encontrava em seu devaneio, a expressSo suave da

mulher amada.

AGUERRA DO

PARACUAI }9

A vis5o, no entanto, n6o estava em sua imaginagio; era real. Apoiada no corrimio de concreto da escadaria, em um vestido decotado que lhe expunha o colo e parte dos ombros, com uma gargantilha de veludo aiustada ao pescoqo, os cabelos longos e claros com fios ruivos adornados por

uma tiara, surgia ali a mulher mais bela em que iamais Pusera os olhos. O rosto juvenil abriu um sorriso para ele:

- Voc6 est6 bem? -

perguntou ela, em um franc€s mesclado a um

sotaque brit6nico.

-

Sim, estou

- disse ele, um tanto perturbado.

E, tentando se recompor, pediu permiss6o Para se apresentar: - Meu nome 6 Francisco Solano L6pez. Sou paraguaio. Um militar paraguaio.

-

Me chamo Elisabeth Alicia Lynch. E o

prefiro

-

ser chamada

como Elisa Lynch

-

*.u

nome de batismo, mas

disse a iovem, estendendolhe a m5o.

Sinto curiosidade em relag5o ao Paraguai. Esse nome soa-me rom0ntico.

O Paraguai 6 o pais do futuro e da riqueza, Posso lhe assegurar - respondeu, curvando-se para um beijo na m5o enluvada. - Se quiser sentar-se comigo em algum lugar, poderei falarJhe um Pouco de minha pdtria,

-

senhorita. Ou seria senhora?

i

curiosidade do estrangeiro, a iovem abriu o leque sobre o colo e deixou-se conduzir-se na direg5o de um assento na p6rgula do palScio. Os dois iniciaram uma conversa que se estendeu por horas. Sem responder

A noite estava fria, mas o c6u se mantinha limpo e estrelado. A certo ponto, Elisa apontou para a orquestra sobre um plat6:

-

Danga comigo?

L6pez disse que n5o estava familiarizado com as dangas europeias, mas ela insistiu e ele cedeu.

Jd era madrugada quando o iovem general ofereceu-se Para acomPanhdla at6 sua casa. Elisa aceitou, mas fez-lhe um alerta:

- Nao ser6 fdcil atravessar as ruas da cidade, Porque hoie 6 o Descente de La Courtille.

40

LUz ocrAvro DE LrMA

L6pez fez um ar intrigado, mas ela apressou-se em esclarecer:

-

A madrugada da Quarta-feira de Cinzas 6 o 6pice do Carnaval em

Paris. Em vdrios pontos da cidade, mas principalmente em Belleville, onde

ficaaAreade I-a Courtille, e pelo boulevard du Temple, homens saem em hajes de arlequim, damas da nobreza vestem-se de criadas e percorem as ruas mascaradas, inc6gnitas, cantando, dangando... at6 gritando obscenidades se

-

observou com um sorriso de satisfag5o.

- E pessoas de todas as classes

misfuram em uma verdadeira orgia de bebedeira e inconsequ6ncias. Para Solano L6pez, aquele modo de vida fe6rico era algo totalmente

desconhecido diante da rotina modorrenta de sua fusungio natal. Mais ainda quando comparado

i

quietude da Pilar de sua fuanita. Elisa disse que poderiam seguir em coche aberto at6 o apartamento onde morava, a

oito quadras dali, fazendo um caminho que lhes permitisse apreciar melhor as folias populares. L6pez estava completamente encantado. fd via os festejos com olhos mais compreensivos e aceitou a proposta. Ajudou a

iovem cobrir-se com o manto de brocado que ela retirou do guarda-volu-

mesedeuJheobrago. O casal seguiu pela rue de Rivoli, passando pelo Louvre at6 dobrar i esquerda em diregio i pequena rue des Bons Enfants, transversal onde ficava o apartamento de Elisa.

fu

cenas que presenciaram no percurso

foram suficientes para que L6pez tivesse uma ideia bem aproximada da euforia que tomava conta da capital. Cidad5os passavam em antigas armaduras ou fantasias de animais, is vezes carregando mulheres sobre os ombros, misturando-se a cortejos de carruagens que transportavam casais

com flores nos chap6us e em torno do pescogo, tocando guizos, soando matracas e bebendo vinho no gargalo. O espeHculo era admirado e aplaudido dos balc6es das casas e das tabernas ao longo das ruas. Solano deixou Elisa em casa com o sol nascendo, beiiouJhe as m5os e seguiu no coche dela at6 o

hotel. Em seu quarto, por conta da excita-

g5o de que foi tomado, viu as horas se passarem sem que tirasse o pensa-

mento dos eventos ligados ao baile. Em meio

i

dificuldade de conciliar

AGUERRA DO

PARAGUAI '+I

o sono, entregou-se a fantasias de uma vida ao lado de Elisa. Pela manhi, decidiu escrever uma pequena carta i amada, dizendo-se impressionado com sua beleza, agradecendoJhe pela jomada da v6spera e pedindo que ela fosse encontr6Jo. Seu ajudante de ordens, )uan de Brizuela, enhegou a corresPond0ncia a uma criada na casa de Elisa ainda antes do meio-dia. A resposta chegou

no final da tarde: "O senhor poderf me ver amanha i noite, dia 2 de marqo, em meu apartamento", dizia a nota. Pelo bilhete, Solano ficou sabendo que Elisa decidira fazer dele o homenageado de um iantar que havia planejado para aquela data.

Ao chegar, Solano encontrou o saleo da cortes6 repleto de intelecfuais,

mfsicos, politicos e empresdrios, quase todos com belas acompanhantes do relacionamento de Elisa. A long, mesa de iantar, a anfihie ergueu sua taga ao "ilustre e heroico militar vindo da Am6rica do Sul", no que foi seguida por brindes e aplausos. Ao final da reuni6o, pediu a Solano que ficasse, mesmo ap6s a sa(da dos filtimos convidados. Os planos para uma vida a dois comegarami6 na primeira noite em que passaram iuntos. Diante da proposta do amante de que fossem morar no Paraguai, Elisa sentiu-se na obrigag6o de contar a ele toda a hajet6ria que

havia percorrido em seus 19 anos. Solano tinha a consci€ncia de que o objeto de sua paixio era uma mulher do mundo, como se dizia na 6poca. Mas desconhecia os detalhes e preferiu n5o demonstrar curiosidade a respeito.

A iovem relatou que nascera em 1835 no condado de Cork, sul

da

Irlanda, filha do m6dico rural fohn Lynch e da inglesa Adelaide Schnoek.a Fruto de uma estirpe bem posicionada socialmente e que lhe garantiu a instrugSo no Trinity College, em Londres, teve, desde os doze anos, ligdes no conservat6rio de mfsica. A atividade foi incentivada pela irm5 mais

velha, que se casara com um critico musical francOs. Elisa parou um pouco a conversa para mostrar a Solano um Pequeno broche com o bras5o de armas de sua familia, onde se lia a divisa em latim Nec temere nec timide (Nem temerariamente, nem timidamente).

42

LUIZ

ocrA\,Io DE LrMA

Ela omitiu o fato de que, apesar da origem afluente, sua familia foi arruinada pelo periodo da Grande Fome que se abateu sobre seu pais natal a partir de 1845. Empobrecidos, os Lynch precisaram apelar para solug6es mais prdticas a fim de garantir o futuro de seus filhos. se agravaram

- Minha

fu

coisas

quando seu pai morreu, em 1849.

m5e arranjou meu casamento com um m6dico franc6s, Xavier

de Quatrefarges,s que tinha mais do que o dobro da minha idade e estava de passagem por Londres - prosseguiu. - Eu i5 conhecia um pouco do seu

idioma, mas vivendo com ele em Paris tornei-me fluente. Passados alguns meses, viajamos para

fugel, no norte

da

Africa, onde foi servir na Legido

Estrangeira. A rotina ld era entediante. Viviamos em um hotel destinado aos europeus, onde havia pouco o que fazer. Decidi afuar como enfermeira

voluntdria do Ex6rcito, para ter um tempo maior perto de Xavier. O problema 6 que, mesmo no hospital da brigada, ele gastava muitas horas no laborat6rio, pesquisando insetos e endemias hopicais. No fundo, eu n6o passava de uma menina tola aos olhos do meu marido. Sem t€Jo ao meu

lado como gostaria, passei a fazer cavalgadas, tanto pela capital argelina quanto pelos postos avangados das Forgas Armadas. Isso me ajudava a

a

dishair

mente, mas meus passeios acabaram por despertar a ateng6o dos oficiais. Elisa relatou o ass6dio intenso que sofreu naquele periodo por parte do

coronel DAubry do Ex6rcito francOs, que foi

se

tomando cadavezmais ino-

portuno. Segundo ela, a rejeiglo fez com que ele espalhasse o boato de que ela seria amante do jovem conde russo MikhailAlexandrovich Meden, com quem era vista frequentemente conversando na cidade. Por conta da escalada da intriga, o conde e o militar acabaram por se bater em um duelo, no qual o primeiro ficou levemente ferido e o segundo terminou morto. O esc6ndalo que se seguiu foi tal que meu marido ndo viu mais condigdes de ficarmos juntos - prosseguiu a jovem. N6s nos liberamos

-

-

mufuamente do compromisso e, por ter sido celebrado pelas leis inglesas, e sem o reconhecimento das autoridades francesas, nosso casamento foi considerado invdlido na Franga. N5o tive sequer direito a uma pens5o.

A GUERRA DO

PARAGUAI 4)

Solano ouvia a tudo com ateng6o, mantendo o rosto im6vel, como quem esperasse o momento em que as revelag6es se tornariam ainda mais embaragosas para ambos.

- De volta a Paris, caminhava

is margens do Sena quando ouvi algu6m

chamar meu nome. Era a ex-esposa de um oficial do Regimento de fugel.

Ela vinha se mantendo bem na cidade desde que passara a frequentar o saleo de uma certa senhora The6phile Dumont.6 Nesse encontro, ela me

explicou: "E um lugar onde se pode ouvir boa mfsica, conhecer cavalheiros da melhor aristocracia, manter com eles conversas sobre assuntos como politica, vida cultural e, se for do seu interesse, iniciar um relacionamento que traga vantagens para ambas as partes".

A jovem fez uma pausa e tomou as m6os de Solano entre

- Fui convidada

as suas.

a fazer parte do grupo. Relutei um pouco, mas decidi

aceitar. Solano p6s sua mdo no rosto de Elisa. Ela voltou-se para ele novamente.

-

Voc€ n6o imagina... Uma das primeiras pessoas que encontrei ali foi

aquele admirador russo, Meden, que duelou por minha honra.

-

E voc€s tiveram um romance, afinal?

- perguntou Solano,

tomado por

um doloroso ci6me da mulher com quem mal comegara a se relacionar' - Sim. Um breve romance. Ele precisou regressar h Rrissia e me deixou apenas um bilhete. A coragem que enconhou para arriscar a vida por mim

em Argel lhe faltou naquele momento de despedida. E... aqui estou eu. Solano a abragou.

-

Elisa, Elisa

- disse, beijandoJhe

os cabelos claros.

-

Fique comigo.

Ela baixou os olhos:

-

Como poderei viver ao lado de um homem t5o poderoso, trazendo

comigo esse passado? Na verdade,longe de precisar ser persuadida, Elisa buscava mais uma absolvigdo. Queria a seguranqa de que ele n5o questionaria sua moral. Completamente apaixonado, Solano recorreu aos seus bons recursos de

orat6ria para um breve e sincero discurso de convencimento

i

jovem:

41

LUrz ocrAvro DE LrMA

Nao me interessa nada disso. Prometo que iamais usarei as desgragas por que teve de passar como forma de rebaixdJa ou causar-lhe algum mal.

-

Pode confiar na minha palavra. Aceite minha oferta e venha comigo para

fusungio. Vamos deixar tudo para trds. Vamos construir uma vida realmente nova.

E insistiu:

-

Diga que sim. Por favor, diga agora.

Ela voltou-se para ele e respondeu, sorrindo, jd sem nenhum trago de hesitag5o:

-

Sim, mon beau sduvage.- Instifuindo um apelido que passaria a usar

com frequ6ncia para o amante, um tipo ex6tico aos seus olhos.

-

Sim.

tv Retorno

lipezintensificou sua ahragSo diplomdtica pelo continente europeu. Em margo, foi recebido em Turim, Roma e Madri. Para essa riltima visita,levou uma carta de recomendagdo da imperahiz espanhola Eugenia, enhegue por ela pr6pria, nas Tulherias, no dia l2 Nas semanas seguintes, Solano

daquele m6s, em uma deferOncia muito especial.

Em

5 de abril, o rei da

Sardenha o recebeur e concedeu a ele a Cruz de Comendador da Ordem Sacra e Militar de S. S. Maur(cio el-Azaro,assim como o Grande Cordao da mesma ordem para ser levado ao presidente do Paraguai, carlos L6pez.

Em termos politicos e comerciais, a viagem de Solano estava sendo um sucesso, mas a noticia de seu envolvimento com a cortesfl ecoou em fusungio e deixou a famflia L6pez indignada. fu informagoes chegaram aos pais dele por interm6dio de Angel Benigno, o irm6o cagula que acom-

panhara Solano

i

Europa e que se moshou desde logo desfavordvel iquela

relagio. Carlos enviou uma correspond€ncia ao mais velho e exigiu seu retorno imediato. Ao tomar ciOncia da decisSo da filha, a m6e de Elisa, na Irlanda, tamb6m se mostrou inconformada com o fato de que, depois de uma temporada na in6spita fugel, ela agora pensasse em partir Para a distante Am6rica do Sul - a seu ver, uma terra primitiva, com escravos e indigenas, animais selvagens e toda sorte de doenqas hopicais.

Mal havia decidido p6r em marcha o plano de

regressar levando a

amada consigo, Solano L6pez foi surpreendido por uma revelagio: Elisa

46

LUz ocrAvro DE LIMA

esperava

um filho seu. Ela seria m5e pela primeiravez, e ele, pai pela

quarta (ou terceira, se descartada a paternidade de Juan Le6n Benftez). o paraguaio, por6m, sentia uma felicidade in6dita. Estava totalmente en-

volvido e, tomado por um otimismo embriagante, tinha esperangas de que tudo daria certo ao retornar. Nas semanas de preparativos que se seguiram, Solano tratou de fechar

todos os neg6cios possfveis, entre eles a contratag6o de tripulantes para conduzir o navio Tacuai ao Paraguai.z Elisa tamb6m organizou sua vida levando em conta que talvez jamais voltasse ao Velho Mundo. Essa preocupag5o acabou por retardar sua partida al6m do imaginado.

idflio do casal foi um tanto perturbado por uma intervengio de madame Dumont, a proprietdria do salio at6 pouco antes Nesse meio-tempo, o

frequentado por Elisa. Em uma carta repleta de coment6rios adulat6rios, ela deixava claro nas enhelinhas que ndo dispensaria a jovem de sua "atividade pregressa" sem obter algum tipo de compensaEdo. citava, inclusive,

nomes de aristocratas que poderiam criar "algum tipo de mal-estar"

se sou-

bessem da partida iminente de sua companhia preferida. Ao final, pedia a Solano e Elisa um auxilio financeiro para"realizar uma viagem", cuia necessidade surgira inesperadamente. Foi atendida sem nenhuma barganha.

Um complicador adicional surgiu na figura de Quatrefarges,, que, ao ser informado da sifuag5o da ex-mulher e da fortuna dos L6pez, reapareceu tentando buscar alguma vantagem em troca de n6o impor embaragos i relagSo dela com o filho do presidente do Paraguai. Solano apressou-se

em oferecer ao m6dico uma soma que lhe permitiria estabelecer-se na Franga sem depender mais da atividade em Argel. Selado o acordo entre os dois com tagas de conhaque, Quatrefarges saiu de cena.

o

ano de 1854 id estava perto de terminar quando o novo casal final-

mente embarcou no porto de Bord6us, no sudoeste da Franga, rumo ao Prata, a bordo doTacuai. Na manhe de24 dedezembro, o barco ancorou no Rio de )aneiro, akaindo a curiosidade dos transeuntes da regi5o do porto. Em uma caminhada

A GUERRA DO

PARAGUA] 47

na drea central da cidade, Solano ficou impressionado com o belo casario, a vista da Baia de Guanabatae, sobretudo, com o

nfmero de africanos

que circulavam pelas ruas. Foi recebido com amabilidade por Pedro II em S5o Crist6v6o.a O imperador conferiu a ele a Comenda da Ordem de Cristo e entregou-lhe outra condecoragdo a ser enviada a Carlos Antonio L6pez. Elisa ficou a bordo

doTacuai. Solano preferiu ndo levar sua concubina ao Pal{cio Imperial. Depois o grupo seguiu viagem. Quando o navio se aproximava do litoral argentino, Elisa comeqou a sentir contragdes. Ela ainda teve tempo de desembarcar em Buenos Aires e logo foi atendida por um prestigiado m6dico da cidade, que realizou seu

parto. Como oficialmente ainda estava casada com o militar francCs, o menino foi regishado como Juan Francisco Lynch de Quatrefarges. Em

familia, porem, seria sempre chamado pelo apelido de Panchito. O beb€ estava saud6vel, mas, passadas duas semanas de seu nascimento, Elisa ainda

ndo se sentia forte o suficiente para seguir viagem. Solano conformou-se

com o fato de que precisaria deixd-la Por um tempo na capital portenha, enquanto seguiria rio acima Para Prestar contas da miss6o a seu Pai e Preparar o terreno para a apresentagio de sua mulher

Carlos L6pez recebeu o filho

i

sociedade Paraguaia. em fusung5o com uma atitude entre o

afdvel e o contrariado. N5o deixou de comentar a barba que Solano havia

cultivado no final de sua estada na Europa e o lembrou de que ele precisaria retomar o quanto antes as fung6es de ministro da Guerra e da Mari-

nha. Mas o advertiu que antes precisavam tratar de "um assunto pessoal

tamb6m grave". Entre charutos, eles travaram um didlogo tenso: - Francisco Solano, voc6 ndo pretende hazer essa mulher Para o convivio de sua familia, ndo 6 certo?

- Com todo o respeito, sim, seria muito importante

que voc6s recebessem

bem essa mulher, como diz. Elisa 6 uma moga muito educada e doce. - Isso est6 fora de quest6o, filho - cortou Carlos. - O hist6rico dessa senhora j6 precedeu a sua chegada. Ela 6 uma dama do mundo. Uma

48

LUrz oqrAvto DE LrMA

aventureira! Como pretende me suceder um dia no comando do pais tendo ao seu lado uma criafura sem moral? Solano ficou rubro. Teve o impulso de erguer o brago contra o pai, mas manteve-se calado.

-

Tom6Ja como sua amante,v6l6...

- prosseguiu

dom Carlos.

-

VocO

i5 n5o tem Juanita nesses termos? E aquela 6 uma moga de boa familia. Leve essa dama para uma de nossas casas nas redondezas da cidade e n5o aparega mais com ela em

pfblico, nem a haga aqui. Sua m5e est6 hans-

tornada com toda essa sifuaqio...

Com a respiragSo ofegante, contendo-se para n6o incorrer em desrespeito a um s6 tempo ao pai e ao mandatdrio do pais, Solano elevou avoz:

-

Pois saiba que Elisa gerou um neto seu!

Carlos L6pezviu-se aturdido. Pensou no futuro politico que preparava para o herdeiro, sentiu-se confuso por alguns instantes, mas se refez rapi-

damente. E limitou-se a pedir:

- Pancho, meu filho, leve-a para uma de nossas casas. Ela serd bem mantida com a crianga. E ficamos por aqui. NIo vamos falar mais sobre iso.

Quase dois meses depois, Elisa Lynch chegou I capital paraguaia. Solano foi esperar seu desembarque do vapor e exultou ao vOJa sair, com o sorridente Panchito nos bragos. Seus familiares os observaram dos balc6es e janelas do Pal6cio dos

L6pez, na praga ConstituigSo, a pouca distincia do porto. Al6m de Carlos e Juana, estavam ansiosos para saciar a curiosidade seus filhos Venincio, M6nica Rafaela, Inoc€ncia e o noivo dela, o coronel Vicente Barrios Bedoya, na companhia dos pais, Manu ela Diaz de Bedoya e Jos6 Garcfa Del Barrio. Ao verem o casal passar em carruagem aberta, com o beb6, todos puderam constatar que Elisa era realmente mais bela do que qualquer relato poderia descrever, mas n5o se dobraram aos encantos da irlandesa. Juana

Carillo ficou especialmente incomodada com o traje da iovem,

cuio decote amplo expunha o colo e parte dos ombros de uma forma que

A CUERRA DO

PARAGUAI 49

neo era vista entre as mulheres de fusung5o. Os paraguaios tinham uma tradigSo de austeridade e discrigSo, em nada acostumados a roupas chamativas ou comportamentos extravagantes.

- Espero que Francisco Solano n5o insista mais na ideia de traz0Ja para o nosso convivio

-

disse |uana ao marido, em tom de advert0ncia,

enquanto o iovem casal desaparecia de vista. - N5o se preocupe. Acredito que isso jd ficou bem claro

- garantiu

dom Carlos. Solano L6pez precisou acomodar a amada na residOncia de amigos que

aceitaram receb0Ja ap6s a longa viagem. Depois de deixar as bagagens no aposento que lhe foi destinado e acomodar Panchito em um bergo improvisado pelos donos da casa, Elisa foi at6 o balc5o, para observar a paisagem do lugar onde provavelmente passaria o resto da vida. Solano entrou

no quarto, aproximou-se dela e a envolveu em um abrago.

-

Nao 6 Paris. Nem Londres. Isso n5o 6 importante. Thlvez seja um porto mais seguro, longe das

inhigas da Africa, longe da agitagEo mundana da Europa

tranquila.

-

- E diso mesmo

-

ela respondeu,

que estou precisando.

Isso n5o 6 conversa de uma mocinha de vinte anos

- brincou Solano.

Sua vida est6 s6 comegando. Mas fico feliz em saber que se sente bem aqui.

Na manhS seguinte, o casal partiu para uma propriedade da familia

lipez

em Patiflo, is margens do lago lpacarai, isolada dos mexericos assuncenos. A distAncia, por6m, ndo foi suficiente para evitar o repfdio da sociedade paraguaia

i

situagio de concubinato vivida por Solano com a "gringa aven-

fureira", como muitos passaram a cham6Ja. Os bispos locais tamb6m

se

negaram a celebrar a uni6o do casal no rito cat6lico por considerar que a estrangeira ndo era desimpedida. Mesmo aborrecido, Solano viu algumas vantagens na sifuag5o, e a prin-

cipal delas era a de manter-se independente, podendo escolher quando e

com quem se relacionaria, sem

as obrigag6es

do matrimOnio. Apesar do

ambiente de harmonia com a amada irlandesa, ele n6o abandonou sua

50

LUrz ocrAvro DE LrMA

relagSo com fuanita Pesoa, em Pilar. Ap6s seu retorno ao Paraguai, ela daria i luz o terceiro filho, fos6 F6lix. O mais velho, Emiliano, bem cedo seria enviado a escolas nos Estados Unidos e na Europa. E Solano ainda

p6de se dedicar a um novo romance, com a jovem Ana Carreras, com quem teve a menina Rosita, que levaria para morar e ser educada por Elisa.

Madame Lynch, como passou a ser conhecida, aceitava essa situag6o at6 certo ponto, mas se ressentia do isolamento e de uma vida excessiva-

mente pacata,longe da capital. Depois de alguma insist€ncia, ela conse-

guiu que Solano lhe adquirisse um casar6o na rua Fdbrica de Balas,s

a

duas quadras da catedral e a uma do lugar onde dom Carlos estava cons-

truindo um teatro de 6pera planejado para ser uma r6plica do La Scala de Mildo.

O im6vel, com seu imponente portSo e fachada com catorze janelas, ocupava um quarteirio e foi decorado com a mobilia que a jovem trouxera de seu apartamento parisiense. Na lateral, havia um acesso is estrebarias e, em um grande anexo, ela criou um requintado salSo de ch6, que passou a utilizar diariamente ap6s o repouso da tarde, honrando o hdbito

britdnico adquirido nos anos de estudo em Londres. Logo tamb6m passou a contar com os servigos regulares de um cabeleireiro paraguaio que,

dizendo-se europeu, usava o pseudOnimo de dom Henry. Essa rotina requintada fez com que as mulheres da capital espalhas-

sem que "a casa de madame Lynch" era uma reprodugio do "prostibulo de luxo de Paris, de onde Solano atirara" .6lronicamente, apesar da osten-

tag5o e da vida pregressa, Elisa moshou-se mais devotada e fiel que o parceiro, sempre

hs

voltas com casos amorosos. N5o se teria mais noticias de

outro relacionamento de Elisa at6 o fim da vida. Indiferente aos iulgamentos na nova pdtria, Elisa tentou fazer da propriedade que lhe fora dada um verdadeiro centro culfural. A residdncia possuia, inclusive, uma sala de mfsica, sendo frequentada por casais amigos, diplomatas europeus e at6

mesmo pelo nrincio apost6lico, que seu companheiro fazia questSo de recepcionar ali, em elegantes iantares. Dessa forma, sua presenga ia aos

A GUERRA DO

PARAGUAI 'I

poucos se impondo

i

sociedade local, que copiou alguns de seus hdbitos e

at6 adotou nos sal6es de baile modismos como o estilo de danga

"London",

que ela trouxera para a nova p6tria. Os pais e irm5os de Solano, por6m, nunca abrandaram sua rejeigdo

i

estrangeira. Seu nome n6o era pronunciado na familia e sua exist€ncia

n6o era considerada. A excegao de Ven6ncio, nenhum dos parentes sequer pisou na resid€ncia de Elisa. Certa vez, as irm5s Inoc€ncia e M6nica Rafaela foram convidadas para iantar 16, mas nem se deram ao trabalho de responder. Ao final da d6cada de 1850, quando houve um baile de gala

no Club Nacional, em que todas as familias importantes da capital estiveram presentes, Elisa foi obrigada a esperar do lado de fora do palacete, em sua carruagem, at6 que o presidente Carlos se retirasse, em atendimento h exig6ncia dele de que nunca se encontrassem.

As quest6es pessoais da familia L6pez, por6m, estavam perto de tornar insignificantes diante da hecatombe que estava por vir as previsdes mais pessimistas

poderiam indicar.

-

se

e que nem

v O "Rei dos Macacos"

O que Solano L6pez encontrou em seu retorno nf,o foi apenas a oposig5o da fam(lia e da sociedade

i

sua nova uni5o, mas tamb6m um ambiente

politico carregado como poucas vezes sentira antes. Os acordos firmados entre os vizinhos nos anos anteriores estavam n5o apenas sendo descumpridos por todas as partes, estavam se esfacelando.

Na Argentina, o Congresso da Confederagio questionava o Tratado de Limites, de 1852, segundo o qual o territ6rio do Paraguai se estenderia

at6 o rio Bermejo,

is regi6es do Chaco

(extensEo ao sul da Bolivia e ao

norte da fugentina) e de Missiones (junto ao sul do Brasil). E o cancelaria por inteiro no final de I855. Mas eram as relag6es com o Brasil as que haviam se deteriorado mais seriamente. Em seu gabinete de habalho, Carlos L6pez lembrou ao filho

que, enquanto ele estivera fora, decidira condicionar a livre navegagio

em seus rios por barcos brasileiros

i

definigdo dos limites entre os dois

O governo paraguaio n6o reconhecia como territ6rio brasileiro a 6rea ocupada entre os rios Branco e Apa, como reivindicava o Imp6rio. - Essa discusslo foi adiada por anos; i6 6 tempo de resolv0Ja - disse pa(ses.

dom Carlos.

- Sim, meu pai, eu me lembro de que havfamos nesse sentido desde antes da

comegado a pressionar

minha ida i Europa. Mas nIo acredito que

o Brasil ceder6 pela via diplomftica

- opinou

Solano.

54

LUz ocrA\,lo DE LIMA

-

Exatamente por isso estamos enfrentando uma conjuntura que po-

der6 nos levar a uma guerra com o Imp6rio...

afirmou dom Carlos. Tudo comegara em fevereiro de 1853, quando o presidente paraguaio recebeu o plenipotenciSrio brasileiro Felipe fos6 Pereira Leal para tratar

-

da questSo dos limites. N5o houve avanqos nos encontros seguintes, porque o encarregado de Pedro

II

insistia que as negociag6es sobre

a

navegagfro na bacia platina e a demarcagio de fronteiras deveriam ser tratadas separadamente.

Em nota de 7 de marqo daquele ano, o governo paraguaio reforgou sua posigEo, ao mesmo tempo que fez uma ameaqa velada

i

administragio

do imperador: "O governo da Repriblica pede que um tratado de limites preceda o de com6rcio e navegagSo, porque considera isso como meio eficaz de garantir sua seguranga e evitar conflitos".

Em l0 de junho, o representante brasileiro entregou

a resposta

oficial,

em que explicava, novamente, as raz6es de separar os dois assuntos e colocava em quest5o as "verdadeiras inteng6es" paraguaias.

O ministro das Relagdes Exteriores paraguaio, Benito Varela, elevou o tom da contenda, por meio de uma cartalao encarregado de neg6cios do

Imp6rio em que afirmava: Vossa Senhoria, Esquecendo-se do indeclindvel dever que imp6e a missio que lhe foi con-

ferida por seu governo para represent6lo ante a Repriblica, permitiu-se faltar publicamente ao respeito e is considerag6es recomendadas por todos os govemos em suas ordens e instrug6es a seus agentes diplomdticos e tem se

dedicado

i

inhiga

e

i

impostura por 6dio ao supremo governo da Repriblica.

Sua Excel€ncia me ordenou que lhe comunicasse que este minist6rio sus-

pende toda a correspondOncia com V. S". at6 que d€ inteira satisfagSo sobre seus procedimentos ofensivos e at6 que prometa sinceramente guardar a

fidelidade

e o respeito devido ao senhor presidente da Repriblica. Caso con-

h6rio, Sua Excel€ncia estd disposto a mandar-lhe seus passaportes e dar as devidas explicagdes ao governo de sua majestade, o imperador.

A GUERRA DO

PARAGUAI 5'

Como repres6lia is negativas brasileiras de negociar nos termos exigidos e irritado com a indiferenga da representagSo imperial ao seu protesto, CarlosLlpezexpulsou Pereira Leal deAssungso em29 de novembro

de 1854. Al6m disso, criou obst6culos decisivos

i

navegagio brasileira no

rio Paran6. No Brasil, o Senado, a imprensa e os comerciantes com interesses no Mato Grosso repercutiram o ahito. A opinido priblica cobrou uma resposta en6rgica de dom Pedro, e este, mesmo sabendo que poderia sofrer criticas da oposiESo, mobilizou um verdadeiro esforgo de guerra.

"Seria uma veleidade pueril querer amedrontar o Paraguai apenas com

um simulacro", anotou o imperador em seu diSrio no inicio de dezembro, o que demonstra que estava disposto a ir is riltimas consequ€ncias. Naquele momento, Pedro II ainda n5o era o senhor gordo de espessas barbas brancas retatado nas suas representag6es mais conhecidas. Tinha bar-

ba e cabelos louro-escuros. A alfura e a pele

-

de quase 1,90 metro

-,

os olhos azuis

muito clara indicavam a heranga gen6tica materna dos Habsburgo

da Austria, predominante sobre os lagos paternos com os Bourbon espanh6is

e os Braganga de Porfugal.

O ar, por6m, jA

era grave, resultado de uma

criag5o por tutores que o haviam preparado por toda a infAncia e a adolesc€ncia para ser um lider politico. Era um homem de hdbitos s6brios que vestia diariamente uma simples casaca, calga e gravata pretas.

Nascido no Rio de Janeiro em 2 de dezembro de 1825, Pedro de Alc6ntara fo5o Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocddio Miguel Gabriel Rafael Conzaga de Braganga e Bourbon era o s6timo filho de dom Pedro I e da imperahiz Leopoldina

-

e seu 6nico her-

deiro do sexo masculino a ultrapassar a infdncia. A mde morrera quando ele

tinha I ano e o pai falecera em Portugal quando tinha 8. Em 7 de abril de 1831, ap6s a abdicagdo de Pedro I, havia sido aclamado segundo imperador do Brasil com apenas seis anos de idade. Jos6 Bonif6cio de Andrada e Silva, tutor do menino, o apresentou ao povo de uma sacada do Pago da

Cidade, em meio a salvas de artilharia que o aterrorizaram. Em 187), a

,6

LUz ocrAvro DE LrMA

fusembleia Geral do Impdrio destituiria o pahiarca da independ6ncia nomearia em seu lugar Manuel Souto Maior, o marqu€s de Itanha6m.

e

II foi educado no Pal6cio de Sao Crist6vio, na Quinta da Boa Vista, por preceptores leigos e religiosos que lhe incutiram o pendor Pedro

pela vida intelectual. O curriculo imposto consistia em aulas de aritm6tica,

lfngua escrita, geografia, hist6ria, astronomia, ci€ncias nafurais, francOs, ingl6s, latim, grego, hebraico, religi5o, filosofia, mfsica, danga, esgrima e equitag5o.2 Com linguistas alemies, desenvolveu interesse pelo 6rabe,

o persa e o sAnscrito. No final da adolesc6ncia, montou no palScio um laborat6rio de quimica e, pela vida afora, se acostumaria a esquecer das magantes quest6es politicas manipulando tubos de ensaio.

Em 1843, com apenas dezesete anos, foi

casado por procuragao com a

princesa Teresa Cristina de Bourbon, do reino das Duas Sicilias, quaho anos mais velha. O rehato que lhe enviaram era animador e o levaram a fantasiar

uma vida de romance. "E muito formosa, serei feliz", regisfuou em di6rio.

Ao longo de dez meses uma fragata foi preparada para buscar a noiva, com seis damas de honra, equipada de uma cabine com leito de mogno e dossel de cetim branco. O

cerimonial para a chegada de Teresa Cristina

previa o repicar de sinos das capelas, igreias e conventos da capital, al6m

de salvas de canheo, espeHculos de fogos de artificio e o transporte do

imperador at6 a fragata em um barco movido por 24 remadores com chap6us adornados com fitas nas cores das Duas Sicilias.

Ao receber a esposa no porto, o iovem Pedro caiu das nuvens e n5o conseguiu esconder o ar de decepgiio: "Ela era baixa, quase uma an6, ela era gorda, ela coxeava. Ela era feia. Findava-se o rehato, findavam-se os sonhos...", escreveu depois.

-

Lembre-se da dignidade de seu cargo

-

disse-lhe a condessa de

Belmonte, preceptora que ele hatava como Dadama e que era o mais pr6

ximo que tivera de uma m6e. - Cumpra o seu dever, meu filho.3 Obediente, o iovem Pedro aceitou a imposigSo. Al6m de reforgar as ligag6es com a casa real de sua av6, Carlota foaquina, de quem sua noiva

A GUERRA DO

PARAGUAI

'7 era sobrinha, Pedro

II receberia da escolhida um dote de 2 milh6es de

francos. No encontro seguinte, desculpou-se com ela pela recepg5o fria em sua chegada, atribuindo o pr6prio comportamento

i

"forte emogflo

do momento". E o casamento foi confirmado.

O Animo do imperador foi restaurado em parte pelo nascimento do herdeiro Afonso Pedro, em 1845. Por6m a morte da crianga, aos dois anos de idade, por convulsSo febril, confirmaria a maldigSo dos Braganga, que

atingia os meninos mais velhos da casa. Segundo a lenda familiar, o antepassado JoSo IV havia espancado um franciscano, que julgara impertinente, e este profetizou que nenhum filho primog6nito dos Braganga haveria de reinar. Como se revelou depois, a "maldiglo" nada mais era que consequOncia de violentos surtos provocados pela epilepsia,a transtorno

neurol6gico que vinha acometendo a familia por vdrias geragSes. Pedro I,

por exemplo, havia tido epis6dios convulsivos em priblico, um deles na inf0ncia, durante um evento solene, ao lado do pai, o rei dom JoSo VI. Depois do filho mais velho, vieram as meninas Isabel Cristina, em 1846, e Leopoldina Teresa, em 1847. Em julho do ano seguinte nasceria um

novo var5o, Pedro Afonso, que parecia gozar de melhor saride do que o irm5o mais velho. Mas, em 9 de janeiro de 1850, o menino teve uma morte

sfbita, tamb6m durante um epis6dio de convulsEo febril, na Fazenda Imperial de Santa Cruz. Em carta a foaquim Teixeira de Macedo, responsdvel por aquela propriedade, Pedro II expressou sua dor: "Foi o golpe mais fatal que poderia receber, e decerto a ele n5o resistiria se n6o me ficassem ainda mulher e duas criangas".

O pr6prio dom Pedro II

nio

gozava de boa sadde.

Al6m dos eventuais

surtos epil6pticos, era diab6tico, condigSo que lhe provocava gangrenas nos p6s e comprometia gradualmente sua visio. Ainda assim, era um tra-

balhador compulsivo. Normalmente, acordava is sete da manhi e n5o dormia antes das duas da madrugada. Sua rotina era reservada em grande parte aos neg6cios de Estado, e o tempo livre disponivel era gasto com leituras e esfudos, quando n6o dedicado a eventuais amores exhaconiugais.

58

LUrz ocrAvro DE LIMA

Exigia que

os

politicos habalhassem oito horas por dia e imp6s uma conduta

rigorosa na seleg5o de funciondrios priblicos, baseada na moralidade e no m6-

rito. Para estabelecer o padr5o, tamb6m vivia de forma simples.t E recusou as reiteradas propostas para aumentarem o valor de sua remuneragfio, de

mil r6is por ano, ou 90 mil libras - cerca de 450 mil reais em 2016. Contradig6es, acertos, erros de leifura hist6rica ou m6todo ) parte, n6o se poderia negar que tanto o imperador brasileiro quanto Carlos L6pez tinham agendas positivas e projetos ambiciosos para seus respectivos paises. Se Mihe, Urquiza e Flores naquele momento eram caudilhos lu800

tando para garantir seu nricleo local de poder, que resolviam suas quest6es pessoalmente nas frentes de batalha, de espada em punho, e governavam

territ6rios ricos, mas caracterizados por grandes extens6es de pastagens, o paraguaio e o brasileiro buscavam ombrear suas nagSes com as mais desenvolvidas do mundo. O primeiro visava tornar o Paraguai econdmica

e

militarmente forte, com um povo alfabetizado, bem alimentado e com serviqos de melhor qualidade. O segundo sonhava tirar o Brasil do atraso por meio da ci6ncia, da industrializagdo e do incentivo

i

cultura, sob um

regime de serenidade politica e benevolOncia com os opositores.

o

Eo o

&,

9

z o ! cq

! -.1[

6

-/]1-

Grawra publicada na Semana lllustrad.a representando o poder moderador de Pedro II

AGUERRA DO

PARAGUAI

59

No reinado de Pedro II, o Brasil viveu uma fase de grandes transforma-

foi o periodo de apogeu do Ciclo do Cafd - entre 1860 e 1869, ie era fonte de 49% da produgSo mundial - e o inicio do Ciclo da Borracha; o algodSo maranhense apareceu com importincia crescente na pauta de q6es:

exportag6es, sobrefudo nos anos em que a produg6o norte-americana esteve interrompida pela Guerra da Secessfio; a produgSo de cacau tamb6m

cresceu na segunda metade do s6culo, principalmente na Bahia, da que seu consumo aumentava na Europa. Ap6s a rdpida

)

medi-

introdugio dos

servigos de tel6grafo, na d6cada de 1850, seguiu-se uma onda de investi-

mentos em novas tecnologias, sobretudo de comunicageo e transporte: construiram-se navios a vapor nos estaleiros do Rio; foram abertas ferrovias e rodovias, como a rodovia Uni6o e

alttiz de Fora (MG), porto de Santos

i

Indfstria,ligando Peh6polis (RJ)

e a S5o Paulo Railway, estrada de ferro ligando o

cidade de Sdo Paulo; a infraestrutura foi reforEada com

a construg5o de agudes, siderrirgicas e a aquisigSo de maquindrio do exterior; o setor tdxtil se firmou como um dos mais importantes da economia imperial. Em 1879,

a estrada de ferro

D. Pedro II recebeu a primeira instalag6o

de energia el6trica no pais. Dois anos depois, foi iniciado o trabalho de substituigdo dos lampi6es a gds por lAmpadas incandescentes na capital.

A vida cultural tamb6m ganhou impulso. Foram inaugurados teatros liricos e a mfsica teve seu maior expoente em Carlos Gomes, que certa vez admitiu publicamente o incentivo oficial: "Se n5o fosse o imperador, eu ndo seria Carlos Gomes". A partir de 1850, foi criado um programa governamental de bolsas para estudantes de pinfura na Franga e na ltdlia. Na literafura, a predominincia do romantismo n5o impediu o surgimento de outras correntes, como a do realismo, e a poesia abrigou parnasianos

A imprensa ganhou inovagio em forma e conte(do com o peri6dico satirico A Semana llustrada. e simbolistas.

O Carnaval promovia, nas ruas, o enconho da elite com o povo. fu familias abastadas desfilavam em carros abertos e iam aos bailes de mdscaras;

60

LUz ocrAvro DE uM^

as camadas mais populares realizavam os "entrudos", manifestagdes de

origem portuguesa. As Grandes Sociedades, apreciadas at6 por Pedro II, caracterizavam-se pela critica social e a politizagio. Os eventos sociais

tamb6m se expandiam para os esportes, como ocorreu com a inaugura-

Club, em 1868. A construg6o do posto alfandeg6rio de importag6o e exportagSo na antiga Ilha dos Ratos - rebatizada como ilha Fiscal - foi um marco n6o g5o do Prado Fluminense, em 1851, e do Derby

s6 na economia como tamb6m na arquitefura do Rio de faneiro. Sob a supervis5o do imperador, o proieto foi realizado pelo entio engenheiro.

diretor de obras do Minist6rio da Fazenda, Adolpho fos6 Del Vecchio, que optou por erguer ali um castelinho em estilo g6tico'provengal.

No Segundo Reinado foram criadas as Faculdades de Direito de 56o Paulo e Recife e fundados o Col6gio Pedro II e o Instituto Hist6rico e Geo. g6fico

-

inspirado no Institut Historique de Paris

-,

que o imperador gostava

de frequentar e cuias sess6es presidiu por mais de quinhentas vezes. Cons-

ciente de que sua verdadeira vocagio era a de esfudioso ou educador, quando via sua autoridade contestada pela classe politica, repetia uma frase bem

conhecida pelos que lhe eram pr6ximos: "Se nio me quiserem como gover-

nante, Ievarei minha vida como professor". Dom Pedro tamb6m tinha preocupag6es ambientais: em 1862 iniciou um proieto de recuperagSo da vegetaglo

e dos

mananciais da Floresta da Tijuca, que havia sido devastada

pela explorag5o de madeira e pelas lavouras de caf6 e de canade-agfcar. Pedro

I

procurou evitar o desgaste e os inconvenientes que a concen-

tragdo de decis6es poderia lhe trazer com a criagao, em 1847, do Conselho

de Ministros, limitando-se a exercer um poder moderador. Inspirado no modelo brit6nico, esse sistema legislativo brasileiro ficou conhecido como "parlamentarismo is avessas". No parlamentarismo tradicional, o primeiro-ministro 6 indicado pelo partido com maioria, enquanto no Imp6rio brasileiro o imperador indicava o chefe do governo e este escolhia os demais membros do Minist6rio. No Segundo Reinado houve 32 Conselhos de Ministros, ou Gabinetes.

A GUERRA DO

PARAGUAI 6I

Dois partidos, o Conservador e o Liberal, revezavam-se no comando do governo. O primeiro grupo, o dos "saquaremas" - o nome do munic(pio onde um de seus lideres, o visconde de Itaborai, sediava as reunides do grupo

- era uma coalizSo de propriet6rios rurais ligados is lavouras

exportagSo e funciondrios

de

pfblicos de carreira, todos predominantemente

escravagistas; o segundo, conhecido como dos "luzias"

levante, em 1842, na vila mineira de Santa Luzia -,

em raz6o de seu era formado por

profissionais liberais e comerciantes urbanos que pretendiam maior auto-

nomia para as provincias em um modelo federativo. Mas tamb6m defendiam a manuteng5o da m5o de obra escrava. Na prdtica, diferiam muito pouco quando se tratava de sensibilizar-se aos anseios populares. "Nada mais parecido com um saquarema do que um luzia no poder", sentenciou

o politico pernambucano Holanda Cavalcanti.

Em meio aos avangos, por6m, a escravidIo persistia. Era uma questSo que colocava o monarca em um dilema e a qual ele tencionava resolver por etapas, a comegar pelo fim da importag5o de novos cativos. Em termos pessoais, dizia-se totalmente contr6rio a esse regime de servid5o e deu mostras disso. Ao completar a maioridade, havia recebido como parte de

sua heranga quarenta escravos e mandou libertar todos. Mas sempre adiava uma solugfio definitiva da questio. Nos escritos que deixou, demons-

tra temer que a abolig5o causasse ora um colapso econ6mico no pais, ora a eclosSo de uma guerra civil. Esse temor

nio

era infundado, visto que,

quando defendeu a ideia publicamente, na fala do trono de 1866, foi seve-

ramente atacado pela classe politica e pela opiniSo pfblica.

fusim, Pedro [I conseguiu, nos primeiros anos de seu governo, lidar com um Brasil est6vel e, sob certo ponto de vista, pr6spero. Ao final da d6cada de I840, os movimentos liberais e separatistas i6 haviam cessado. Os fltimos deles

-

a Guerra dos Farrapos, no Sul, e a Revolugdo Praieira,

em Pernambuco

-

foram encerrados com anistias concedidas aos revol-

tosos pelo governo imperial.

62

LUIz ocrAvro DE LIMA

Sob o temperamento tacifurno, de poucas palavras, e a fachada serena

que lhe valeu cognomes como O Magninimo, Pedro

II

sabia impor sua

vontade e tomar decis6es dificeis para garantir seus domfnios. "Era a luva de veludo que escondia a m5o de ferro", definiu o historiador Leandro Karnal, professor doutor na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Em seu reinado, as fronteiras do Brasil continuaram a se expandir pelos territ6rios vizinhos ao sul e ao oeste, algo que ndo passou despercebido pelos L6pez. Naquele final de 1854, em resposta ao ultimato paraguaio, o imperador convocou seu minisho da Marinha, fos6 Maria da Silva Paranhos, o fufuro visconde do Rio Branco, para uma conversa grave.

Ao mesmo tempo eficiente estrategista e negociador h6bil, Paranhos seria um dos homens mais influentes do segundo Reinado no Brasil. Baiano de rica familia de Salvador, mudara-se bem jovem para o Rio de Janeiro, onde se dividiu em uma breve carreira militar, o iornalismo, a atuagSo politica e a diplomacia. Bem cedo tamb6m ingressou na magonaria, tornando'se irmSo na Loia Com6rcio e Artes, no centro do Rio. A sociedade, da qual dom Pedro I havia feito parte, estabelecia-se com forga

no continente e naquele momento atraia politicos, empresdrios e integrantes do Exdrcito, que se apoiavam mutuamente.

Ao receber Paranhos no Pal6cio Sao crist6v6o, Pedro II determinou uma forte reag5o. Seus objetivos seriam obter a livre navegag5o do rio Paraguai, em primeiro lugar, efazer com que o governo de Carlos L6pez se desculpasse pela expuls5o de Pereira

Leal. Comentou que era avesso is

atividades b6licas, mas que precisava agir com firmeza no epis6dio:

"Neo tenho vocag6o militar, Paranhos. Sou um homem mais voltado is artes,

i

ciOncia e

ls letras",

disse o imperador ao ministro. "Mas admito

que talvez seja necessdrio utilizar efetivamente a forga naval para atingir essas metas. Pego que ndo

poupe meios."

A GUERRA DO

PARAGUAI 6)

Sem perda de tempo, o ministro incumbiu o almirante Pedro Ferreira de Oliveira de levar uma esquadra de vinte navios

i

bacia do Prata. Apesar

do sigilo pedido por dom Pedro, a mobilizagdovazottquase que imediata-

mente.

o pr6prio El semanario do Paraguai publicou

uma not(cia, ainda

em 2 de dezembro, com base no depoimento de "um comerciante italiano n5o identificado", segundo o qual o Brasil estaria reunindo navios para mandar ao Paraguai.6 O relato dava conta de que "em poucos dias chegar6 a S5o Borja uma forga de 2 mil homens; a esquadra brasileira estd deter-

minada a subir e invadir o Paraguai pelo rio Paran6". Ao tomar conhecimento do estado de beligerancia em que se encontravam as duas nag6es, em sua volta a Assungio, naquele inicio de 1855, Solano L6pezficou indignado. Relatou ao pai, em seu gabinete, o encontro que tivera com o imperador, um m6s antes, j6 em meio a essa crise, sem que

o soberano lhe tivesse dito palavra sobre o caso. Interpretou os rapap6s

e

as condecoragdes recebidas como demonstrag6es de falsidade. Sentiu-se

apunhalado pelas costas.

- Esse imperador

traigoeiro!

-

bradou, inconformado, a dom carlos.

E, adquirindo um ar furioso, emendou, esmurrando a escrivaninha:

-

Esse traiqoeiro Rei dos Macacos!

VI A bacia da disc6rdia

Em 20 de fevereiro de 1855, se

as

vinte canhoeiras da esquadra brasileira jd

encontravam em territ6rio paraguaio, tendo a fragata Amazonas como

nau capitdnia. A viagem havia sido repleta de dificuldades. Os navios pesados, com cascos de madeira e calado g5o

-

-

o ponto mais baixo da embarca-

profundo, encalhavam com frequ6ncia e enfrentavam dificuldades

nas manobras e deslocamentos.l

Na margem direita daquele ponto do rio Parand localizava-se Itapirri, povoado da provincia de Nleembucfi, ao sul do pais, onde havia uma pequena fortificagSo, pouco mais que uma casa de dois andares prote-

gida por muretas, erguida no tempo do ditador Francia. Apenas dez soldados garantiam sua seguranga.

submetida

i

A margem esquerda do rio

ConfederagSo Argentina, mais precisamente

i

estava

provincia

de Corrientes.

Carlos L6pez ordenou a mobilizagio das forgas paraguaias contra a "iminente" invasSo brasileira. POs fusungio em estado de guerra, e as baterias costeiras de Humait6, i6 no rio Paraguai, receberam ordem para

abrir fogo contra qualquer navio brasileiro que tentasse passar dali. A maior parte da populag5o deixou a capital, e o tesouro priblico foi levado para o vilarejo de Trinidad. Ao embarcar no vapor Tacuai, para ir ao enconho das forgas brasileiras, seu filho Solano n6o dispensou o habifual discurso motivador:2

66

LUz ocrAvro DE LrMA

Soldados!Vamos lutar, porque nos obriga a isso um governo que, falando

de paz e amizade, nos traz a guerra e seus males, atropela nossos rios e pretende nos impor sua autoridade e suas ordens. Nossa resist€ncia ser6

um protesto eterno contra a injustiga do Brasil! Ao chegar

i

regi5o conflagrada, no dia 23 de fevereiro, SolanoL6pez

deparou-se com a impressionante vis6o da esquadra reunida em formagSo

de combate, com fileiras de canhdes apontados para a sua direg6o.

Tentando manter o sangue-frio, gritou de sua posig6o ao almirante brasileiro Pedro Ferreira:

-

A guerra

-

Paz!

-

ot

a paz?

respondeu o brasileiro.

O general-brigadeiro paraguaio ent5o pediu ao almirante que se reunisse com ele em terra e mantivesse apenas uma embarcagSo naquelas 6guas.

Ferreira cedeu ds condig6es e a esquadra recuou rumo a Corrientes, onde ficou fundeada, o que motivaria alguns protestos de politicos confederados.

O ardil de Solano L6pez representou uma virada na situagEo, pois almirante brasileiro passou da condigio de invasor e

i

o

de quase ref6m. Ele

um pequeno grupo de auxiliares foram escoltados na fragata Amazonas

at6 fusung5o e, sem autonomia para deixar o porto quando quisessem, viram-se obrigados a gastar os dois meses seguintes em negociag6es com o ministro das Relag6es Exteriores paraguaio, )os6 Falcon. Nessa situagf,o desfavor6vel, a miss6o brasileira acabou assinando duas

conveng6es com

as

autoridades paraguaias, em27 de abril de 1855. A pri-

meira conveng6o3 garantia a liberdade de navegag6o e criava arcabougos legais para o comdrcio e os investimentos entre os cidadios de ambos os paises. No entanto, o artigo 20" estabelecia o prazo de at6 seis anos para

o inicio de sua vig€ncia. A segunda conveng6o criava reshig6es

i

fixag5o de cidad6os nas regi6es

em disputa e limitava a movimentag6o de naus brasileiras de guerra em

A GUERR^ DO

PARAGUAI 67

dguas territoriais paraguaias. Sobre a delimitag5o das fronteiras, as autori-

dades de fusunE6o sinalizavam que poderiam aceitar o

principio do uti

possidetis,preceito do direito internacional segundo o qual os que de fato

ocupam um territ6rio possuem direito sobre ele

-

o que em tese seria favo.

rdvel ao Brasil.a Mas nada ficou realmente definido. Por ter retornado ao Rio de )aneiros com suas vinte embarcag6es sem

ter disparado um s6 tiro e com um tratado duvidoso, Pedro Ferreira de Oliveira foi mal recebido pela classe politica e pela imprensa. Hon6rio Hermeto Carneiro Le5o, o marqu€s do ParanS, presidia o Conselho na 6poca e, em

l6 de julho, explicou

as raz6es pelas quais o govemo

imperial

rejeitaria o acordo feito em Assung6o:

-

A condigio imposta para a liwe navegag5o 6 o aiuste de limites, e nesse

aiuste o Paraguai pretende conquistar uma parte do nosso territ6rio. Voltava-se, dessa forma, ao impasse de 185J, com a manutengSo dos obstdculos

) circulagio de embarcagdes brasileiras

pelo rio Paraguai e

a

frustrag5o das expectativas paraguaias de obter a definig5o de suas fronteiras. "A missSo Pedro Ferreira foi um desastre diplomdtico", resumiu o

politico foaquim Nabuco em seu livro Um estadista do lmpdrio, de 1897. No dia 6 de dezembro de 1855, Carlos L6pez enviou ao Brasil o ministro plenipotenci6rio paraguaio, |os6 Berges, com o obietivo de negociar as mesmas pendOncias.6 O imperador designou para a interlocuglo o

ministro fos6 Maria da Silva Paranhos, agora responsdvel pela pasta dos Neg6cios Estrangeiros. Mas as discuss5es s6 ganharam impulso no comego do ano seguinte, quando Paranhos obteve uma conhapartida importante ao conseguir que fosse separada a questSo da navegagio das tratativas sobre os limites.

Em 6 de abril de 1856, enfim, o govemo paraguaio assinou com o Brasil

o tratadoT que garantiu a reaberfura das comunicagOes fluviais entre

o

Imp6rio e a provincia do Mato Grosso, al6m de estabelecer um prazo futuro para delimitar a linha fronteiriga. O avango era evidente, mas ainda estava

longe de garantir um convivio tranquilo entre os dois paises.

68

LUz ocrAvro DE uMA

No mesmo periodo, Carlos L6pez foi reeleito pela segunda vez, tendo seu mandato estendido por mais tr€s anos - menos que nas ocasi6es anteriores e com in6ditos votos contrdrios, ainda que poucos. Uma de suas primeiras medidas na nova etapa foi a de voltar a impor obstdculos

i

livre navegagio pelos rios internacionais da regi5o, sob a alegag6o de

conhole da febre amarela e da c6lera, supostamente hazidas com embarcag6es brasileiras.

Interpretada como uma provocag6o grafuita, a preocupag5o dos paraguaios fazia sentido. Em maio de 1855, o Brasil vira surgir uma epidemia de c6lera-morbo,8 provavelmente transmitida por imigrantes portugueses

que desembarcaram em Bel6m do Par5. A doenga causaria 1.009 mortes

naquela capital, e em toda a provincia a mortalidade chegaria a mais de 5

mil individuos. A partir dese foco, a c6lera

se

espraiou por Pernambuco,

Maranh5o, Rio Grande do Norte, Alagoas, Bahia, Rio de Janeiro, Esp(rito Santo e Rio Grande do Sul. Na Bahia, at€ abril de 1856, quando o surto comegou a ceder, a epidemia ceifou as vidas de 36 mil pessoas.e No Rio, a faixa da populagdo mais

atingida foi a dos escravos e a dos moradores

de rua ou de cortigos, por serem menos assistidos pelas instituig6es de satide. O primeiro Supo teve mais de 5 mil mortes regisbadas e, o segundo, em torno de mil.

Em

5 de fevereiro

de 1857, o Conselho de Estado imperial defendeu

um enrijecimento da posigSo brasileira, considerando que o ato paraguaio "era um insulto, uma ameaga

i

navegagio,

i

seguranga e aos inte-

resses brasileiros".

Ainda assim, o acirramento das tens6es com a Repfblica vizinha tamb6m significou ganhos politicos e econ6micos para o Mato Grosso: a prG. vincia passou a receber atengSo privilegiada do govemo imperial, que lhe destinou maiores recursos financeiros e apoio logistico. Afinal, circulava na regiio a notfcia de que o Paraguai "preparava-se para uma guerra". E ndo sem razSo: em abril de 1857, Solano L6pez encomendara

i

Inglaterra du-

zentos rifles, seiscentas pistolas, seis canh6es, bar6mehos e ouhos acess6rios

ACUERRA DO

PARAGUAI 69

para equipar as Forgas Armadas sob seu comando.r0 Era um reforgo is aquisig6es de material b6lico que j6 vinham sendo feitas em anos anteriores.

- Estd claro que o Imp6rio pretende estabelecer um posto avangado contra o nosso territ6rio naquela 6rea- alertou Solano L6pez a seu pai. - f6 nos invadem com frequ€ncia e, em algum momento, nos atacario a

partir dali. De fato, logo no inicio da vig6ncia do tratado de 1856, o governo da provincia de Mato Grosso decidiu pela ocupag6o militar na divisa meridional com o Paraguai. Em outubro de 1857, o lmp6rio brasileiro tornou Mato Grosso uma regiio portuSria e concedeu i Inglaterra franquia de navegagao em suas 6guas, o que foi considerado pelo governo paraguaio

um gesto de aberta provocagEo.

- N6o podemos

mais esperar Para agir

- argumentou

Solano a Carlos

L6pez.

- Concordo que precisamos enconhar uma solugSo mais definitiva, mas ndo estou convencido de que o carninho seja o do confronto. Prefiro

comandar meu pais pela pena, e nio pela espada

-

-

ponderou dom Carlos.

Espero que voces, meus herdeiros, sigam Por essa mesma trilha quando

eu nio estiver mais aqui.

fu tens6es aumentaram com o apresamento de embarcag6es

brasi-

leiras, como o vapor Paraguagu, sob o pretexto de contrabando de armas. Ap6s intensa troca de farpas entre os representantes diplomdticos de am-

bos os paises, Carlos L6pez anulou o tratado de 1856, submetendo a navegaqeo comum a regulamentos que eram a negagSo do que havia sido estipulado e que tornavam impossivel qualquer com6rcio com a provincia de Mato Grosso. O Centro-Oeste brasileiro estava a ponto de se tornar uma regiEo conflagrada. Quando o conflito parecia iminente, a diplomacia conseguiu uma vit6ria que serviu para dissipar as tens6es e desarmar os espiritos, ao menos temporariamente: em lZ de fevereiro de 1858, as autoridades brasileiras e paraguaias assinaram

uma convengao adicional ao tratado de 1856, que

70

LUrz ocrAvro DE LIMA

garantia a livre navegagao pelos rios Parand e Paraguai. Esse acordo ficou

conhecido como Acordo L6pez-Paranhos.rl Nele, mesmo sem o aiuste definitivo de limites, estabeleceu-se a drea em litigio e reconheceu-se uma parte despovoada do territ6rio de Bahia Negra como propriedade do Paraguai.

o

Brasil se manteria no territ6rio at6 o rio Apa, respaldado por titulos de posse "inquestiondveis". Esfriados os dnimos deste lado da bacia do Prata, seria a vez de estourar

a disc6rdia na margem argentina, em que a imin6ncia de um banho de sangue exigiria uma surpreendente ag6o dos paraguaios.

vll Solano L6pez, pacifi cador

Ao longo do ano de 1859, as tens6es entre o governo de Buenos Aires e a ConfederagSo, que reunia as demais provincias argentinas, estavam chegando ao ponto de uma guerra civil. Defensor de uma Argentina uni-

ficada, sob um comando central, Bartolomeu Mitre MBrtinez, chefe das Forgas fumadas portenhas, fomentava ent6o um levante contra o sistema federal de fusto |os6 de Urquiza. O clima se agravou com o assassinato do governador de San )uan, Nazareno Benavidez, em abril, atribuido a um agente buenairense.

Na sequ€ncia desses fatos, o Congresso da ConfederagSo votou uma lei determinando a incorporagSo da "provincia dissidente" ao bloco, "por meios pac(ficos ou pelo uso da forga". Urquiza preparou enkio um cerco a Buenos Aires a partir da localidade pr6xima de San fos6 de Flores, ameagando invadir a capital com as forgas favor6veis d manutengSo dos estados

aut6nomos. Em resposta, o governador de Buenos Aires, Valent(n Alsina, autorizou Mitre a atacar Santa F6 e determinou o bloqueio maritimo de Paran6, capital da Confederageo, em Entre Rios.

Bartolomeu Mitre havia tido uma trajet6ria curiosa e cheia de contradig6es. Homem de letras e militar, revoluciondrio e defensor do liberalismo econ6mico, ele nascera em 26 de iunho de 1821 em BuenosAires. O sobrenome com que ficou famoso derivava de uma abreviag5o de Mitropoulos, de suas origens familiares gregas. Teve sua vocag6o para poeta e literato

72

LUrz ocrAvro DE LIMA

reprimida pelos pais, que o mandaram ainda adolescente para a estAncia de amigos a fim de se tornar um agicultor. Seus primeiros escritos contra o governante fuan Manuel de Rosas lhe valeram um exilio em Montevid6u, onde afuou como jomalista e soldado, tendo alcangado a patente de tenente-coronel aos 25 anos. A

essa

alhrra, jd estava casado com a uruguaia Delfina

de Vedia e tinha dois filhos e duas filhas. Um golpe de Estado no ano se-

guinte derrubou o presidente )os6 Ballivi6n, a quem apoiava, e ele teve de se refugiar na Bolivia. Dois anos depois, uma revolugio na nova pdhia o fez seguir para o Peru. Dali para o

chile, onde afuou como redator do jornal

El comercio, de valparaiso. Ap6s a queda de Rosas, regressou i fugentina.r Depois que Brasil, Inglaterra e Estados unidos fracassaram em fazer avanqar um acordo de paz na fugentina, o Paraguai abandonou o habitual isolamento e decidiu intervir. Na verdade, Carlos Antonio L6pez havia sido instado por Urquiza a unir forgas contra Buenos Aires. o governante paraguaio nEo concordou, mas propOs enviar seu filho Solano para mediar a demanda.

No dia 27 de setembro de 1859, Solano L6pezpartiu de fusungio a bordo do vapor Tacuai, acompanhado por uma comitiva formada por seu irmSo Angel Benigno, pelo comandante fos6 Marfa Aguiar, pelo capit5o R6mulo Yegros, pelo major Antonio de la cruz Estigarribia e pelo alferes Pedro Duarte, rumo ao estudrio do Prata, onde tentaria dar cabo da missSo diplomdtica.

Naquele momento, Buenos Aires se encontrava em real perigo. Em 23 de outubro, as forgas de Mitre haviam enhado em combate com as da confederagSo em caflada de cepeda, em Santa F6. Apesar da ampla superioridade num6rica, foram derrotadas e se retiraram. Seria o primeiro de uma s6rie de resultados b6licos negativos ou duvidosos para o coman-

dante portenho, que sempre se mostrou mais dotado de sorte do que de brilho como estrategista militar. Ao regressar i capital, tentou dar um ver-

niz de triunfo

i

acachapante derrota com uma inverdade: "Aqui trago intactas vossas legi6es!", discursou i populaglo.

AGUERRA DO

PARAGUAI 73

Sabendo que Urquiza estava muito pr6ximo de devastar aquela capital, Solano L6pez foi ao seu encontro em Arrecifes, no dia 27 , e lhe fez um

apelo: "Precisamos impedir que a bela cidade de Buenos Aires seia o teatro de uma sangrenta Iuta entre os filhos de uma mesma pdtria". Estimulado pela vit6ria de Cepeda, Urquiza n5o se mostrou aberto a negociag6es. Solano, por6m, habalhou incansavelmente nos dias seguintes

por uma paz honrosa para os portenhos e a reconciliagao entre os argentinos. Seus esforgos, afinal, deram resultado: em I I de novembro de 1859, as duas partes chegaram a

um acordo e assinaram o Pacto de San )os6

de Flores.

O tratado previa, entre seus dezesseis pontos, que Buenos Aires se declararia parte integrante da Confederag5o Argentina e prometeria iurar a ConstituigSo Nacional de maio

de 1851, na (ntegra ou com reformas

a

discutir em uma conveng6o em Santa F6. Entre as contrapartidas estava a de que a gestio da aduana argentina, a maior fonte de renda da provincia, continuasse sob a administragSo portenha por mais cinco anos.2 Seu banco e sua ferrovia

tamb6m seriam preservados. Firmou-se ainda que nenhum

cidadio argentino de qualquer dos lados seria molestado nem teria bens confiscados por expressar suas opini6es politicas. Urquiza e seus aliados federalistas suspenderam o sitio, retirando suas tropas. A animosidade ficou adormecida, mas latente, e, no ano seguinte,

conflitos retomariam uma escalada que culminaria na Balaha de Pav6n, em l7 de setembro de 1861. Nela, em uma atitude atd hoie inexplicada,

os

quando se encontrava em clara vantagem contra

as forgas

de Bartolomeu

Mihe, Urquiza preferiu retirar-se, deixando a vit6ria nas meos dos unitaristas. As vers6es que circulam desde enkio para justificar seu ato variam de um mal sribito sofrido pelo federalista a uma orientagiio da magonaria de

que Urquiza nao agredisse o irmdo Mitre, i6 que ambos faziam parte daquela organizaglo.)

Em 1862, i6 eleito presidente da nagao e com a Confederagao debilitada, Mihe aceitaria definitivamente os termos do Pacto de San fos6 de Flores.

74

LUrz ocrAvro DE LrMA

Como reconhecimento por seus esforgos em evitar uma guerra maior entre

as

provincias de Buenos Aires e Enhe Rios, Solan oL6pezfoi distin-

guido com elevadas honrarias: recebeu o tifulo de Pacificador e foi presenteado pelo governador Alsina com um 6lbum comemorativo do acordo; de Urquiza, recebeu a Espada (da batalha) de Cepeda; e ainda foi convidado a ingressar na sociedade magom.

Embora fosse um cat6lico convicto e a Igreja da 6poca hostilizasse aquela entidade, Solano concordou em se tornar um irm5o, como vinham fazendo cadavez mais militares graduados e integrantes das classes politicas sul-americanas. Al6m de Mihe e Urquiza, eram maEons o embaixador

Domingo Faustino Sarmiento, que sucederia Mitre na Presid6ncia da Argentina, e o lfder colorado uruguaio Ven6ncio Flores. Pedro II era uma excegdo, embora seu pai houvesse se tornado mestre, em 1822, e vdrios de seus ministros fossem integrantes da magonaria.

o

entrerriano Justo de Urquiza saudou o acordo com um discurso inspirado,a ainda que excessivamente otimista: 16 ndo hi{ unitdrios nem federalistas!

Irmros todos, graqas aos esforgos de

paz do ilustre mediador do Paraguai! A ele se deve em grande parte

tro

faustoso resultado. Nenhuma demonstragdo de gratid5o serd demasiada para honrar sua amizade. A Repriblica fugentina lhe deve uma mostra de aprego! A cidade de Buenos Aires lhe deve uma palmal

Urquiza eL6pez manteriam pelos quatro anos seguintes uma amizade que incluiria o envio mftuo de presentes de Natalls respectivas familias. Urquiza chegou a convidar L6pezpara ser padrinho de batismo de um de seus filhos. o lider paraguaio acabou n6o comparecendo i celebragdo, alegando compromissos de Estado. Solano L6pez deixou Buenos Aires em 29 de novembro, com o senti-

mento triunfante de que as tens6es no Cone Sul estavam perto do fim e que iiso garantiria uma paz duradoura ao Paraguai, assim como um melhor

A GUERRA DO

PARAGUAI

75

equilibrio de forgas diante do peso do Imp6rio. No embarque, por6m, Angel Benigno fez uma ponderagSo que iogou 6gua fria no entusiasmo do irm6o mais velho:

-

Pancho, n6o se iluda. Ao promovermos a paz entre eles, assinamos

nossa condenagSo.

- Qu.

disparate 6 esse!

- reagiu Solano. - A Confederagio

sempre foi

uma ameaqa is nossas fronteiras, ao nosso modo de vida. f6 se esqueceu do que passamos com Rosas? TOJos como aliados e em Paz com Mitre encerra nossas preocupag6es.

-Ao contrdrio - ponderou Benigno. - Com uma Reptiblica Argentina pacificada e forte, essa ameaga pode ter dobrado de tamanho. Em seu extase pela missao bem-sucedida, Solano nao conseguia compreender o que o cagula estava falando.t A seu ver, o Paraguai saia do epis6dio prestigiado, respeitado, em boas relag6es com parceiros politicos importantes. Enxergava na missio que acabava de cumprir o inicio de uma uniao de forgas entre seu pais, a Provincia oriental (uruguai) e a

Repriblica Argentina. Benigno n6o insistiu, mas, por carta, reiterou o argumento ao ministro fos6 Berges, que havia ficado em Assung5o: O Paraguai ganhou influ€ncia com o acordo, mas a ConfederaEio perdeu, e estamos expostos a perder muito mais. Ao celebrarmos aquele pacto,

i

boa-f6, teremos de temer tamb6m o governo de Buenos Aires.

Quando oTacuari zarpou, Solano estava decidido a desfrutar de seu triunfo diplomdtico sem se incomodar com outras preocupag6es. Pouco depois, no entanto, quando percorria o conv6s com os membros de sua comitiva, a embarcagao foi sacudida pelo estrondo de um canheo disparado em sua diregao. Todos correram para a amurada e logo comPreenderam o que sucedia: o ato hostil viera de uma flotilha britanica que surgiu

i

sua frente, com nada menos que catorze navios de batalha capita-

neados pelas naus Buzzard e Crapples.6 Solano chegou a considerar um

76

LUz ocrAvro DE LIMA

bombardeio como resposta, mas acabou cedendo aos apelos dos marinheiros ingleses que hipulavam seu barco. Eles temiam repres6lias is suas famflias, na terra natal, se fossem envolvidos em seus compatriotas.

um combate contra

Ordenou, enkio, ao comandante que se comunicasse

com os ingleses e pedisse para que abrissem a passagem rio acima. o capitf,o sinalizou por bandeiras que estava enviando um pequeno

barco at6 a frota para buscar informag6es. Uma hora mais tarde, seu emissfrio retornou, informando que os navios ingleses estavam sob as ordens do almirante Stephen Lushington, her6i da Guerra da Crimeia, e que este dissera ter inshug6es para n5o permitir a saida da embarcagfio de

Solano L6pez das 6guas argentinas. Ressaltou que qualquer tentativa de resist€ncia seria respondida por sua artilharia e motivaria um ataque, com os Z mil homens de que dispunha, ao territ6rio paraguaio. Perguntado sobre a razdo da hostilidade, Lushin$on respondeu: "A questzio do Sr. Canstaft, um continuado insulto a Sua Maiestade!".

|ames Canstatt era um anglo-uruguaio que havia sido preso meses antes em fusungEo por suspeita de envolvimento em uma conspiragEo para assassinar o presidente Carlos L6pez.7 O governante havia usado o epis6dio para reafirmar a soberania paraguaia, mas sabia que sua decisdo

teria consequ6ncias. Entendendo a raztro do bloqueio, ainda que indignado, Solano L6pez n5o viu alternativa senSo preparar seu retorno por via terrestre. Antes, no

entanto, levou um protesto is autoridades consulares britinicas. o minisho da Inglaterra em Buenos Aires, Edward Thornton, enfatizou que a resposta inglesa

i

prisSo de Canstatt s6 seria evitada com a solhrra do cida-

dio, o pagamento de uma indenizagro

a ele e uma declaragro de desagravo

i

Gr6-Bretanha pela falta de respeito a seu cOnsul no paraguai, charles A. Henderson.

fu relag6es com o Reino Unido,

que atd entiio eram as melhores, espe-

cialmente no plano comercial, vinham se desgastando desde o ano anterior, quando a rainha vit6ria havia recebido Carlos Calvo, representante

A GUERRA DO

PARACUAI 77

do Paraguai, sentada em Seu trono e com a coroa h cabega. A atitude foi interpretada por Carlos L6pez como de desprezo por seu enviado. Em resposta, o dirigente paraguaio recebeu as credenciais do minisho

William

Dougal Christie sentado no trono presidencial, com seu melhor chapdu, sem cumprimentdJo ou saudelo.

Informado do incidente, e para se prevenir de um eventual ataque da fotilha inglesa, dom Carlos ordenou que se reforgasse a fortaleza de Humait6, construg5o quase centen6ria i margem direita do rio Paraguai, que vinha sendo reequipada em sua gestlo.

De Londres, Carlos Calvo, que era uruguaio de nascimento e servira a outros governos do Cone Sul, como a Argentina, aconselhou Carlos L6pez a empreender uma guerra menos sangrenta e mais eficaz: a da opiniao pfblica britanica. Recomendou a soltura de canstaft, o que foi feito; levou o caso a professores de direito ingleses; e exP6s suas raz6es a jornalistas londrinos, assim como a membros do Parlamento. Logo seus argumentos chegaram ao chefe do govemo, |ohn Russel, que culpou exclusivamente o comandante Lushin$on pelo ahito e enviou um pedido oficial de desculpas ao governo de fusungEo, encerrando o caso. A lnglaterra tinha

preocupagdes maiores, pois vivia um Periodo economicamente desfavor6vel e enfrentava revoltas em seus dominios, especialmente na india. Se na Europa o assunto desapareceu como se nunca tivesse ocorrido,

no Paraguai foi festeiado Pelas autoridades como um triunfo sobre a Potencia colonial, fortalecendo o nacionalismo guarani.

O engrandecimento do pais vizinho e suas possfveis pretens6es territoriais comeqavam a PreocuPar a classe pol(tica brasileira e o pr6prio imperador Pedro I[. Tornava-se evidente que, sob o comando dos L6pez, o Paraguai n5o mais se contentaria com seu papel de coadiuvante silencioso,

e estava claro que comegava a flexionar seus m(sculos para algar voos maiores

- nlo necessariamente

pacificos.

vill A busca de um salto tecnol6gico

No final da manhe de 2l de outubro de 1861, uma ruidosa fanfarra anunciou o inicio das atividades da EstagSo FerroviSria Central de Assung6o, entre a rua Libertad (hoje Eligio Ayala) e a avenida Bogado (hoie maiscal

L6pez). A estagSo em si ainda levaria quase tr€s anos para ser concluida sob supervis5o do engenheiro britAnico Alonso Thylor e se tornaria um dos

principais monumentos arquitetonicos paraguaios, inspirada nas gares europeias, com fachada adornada por 54 colunas e detalhes criados por arquitetos italianos. Naquele dia, a construg5o limitava-se a uma Pequena recepgdo e bilhe-

teria que davam acesso h plataforma. Mas a inauguraqio do primeiro percurso, que i5 era feito experimentalmente desde iunho daquele ano, sintetizava a entrada do Paraguai em uma nova era. Al6m de integrar localidades mais distantes

i

capital, tamb6m serviria no futuro para facilitar o

escoamento da produg5o agricola at6 o porto.

Em discurso, Carlos L6pez saudou a conquista como "um marco da modernizagSo, um simbolo da transfer€ncia da RevolugSo Industrial inum caminho de esperanga que se abre para todos n6s". E recordou, com emog5o, o dia em que sua filha M6nica Rafaela bateu graciosamente um martelo no primeiro trilho, em 1857, inaugurando os

glesa ao pa(s,

trabalhos de construgdo. O proieto havia ficado a cargo do grupo de en-

genheiros enviados da Europa por seu filho Solano, comandados pelo

80

LUz ocrAvro DE LrMA

brit6nico George Paddison, com equipamentos, dormentes, locomotivas e assentos importados da Blyth & Co. A m5o de obra, no entanto, seria de soldados que trabalhariam at6 doze horas por dia com apenas um des-

canso semanal. Neste aspecto, o parentesco com a Revolugdo Industrial era patente.

No primeiro momento, o trajeto coberto pela mdquina era de apenas oito quil6metros at6 o vilarejo de Trinidad, a localidade preferida do presidente, onde ele possuia uma propriedade, que anos depois seria transformada em jardim botinico. O obietivo, por6m, era levar a via fdrrea at6 Paraguari, a 72 quilOmetros de distancia da capital. A locomotiva pioneira, que acabou conhecida como Sapucai ("grito", em gua-

rani)

-

por conta do estrondoso apito que por muito tempo assustava a populagSo Iocal -, levava apenas um vagio de passageiros, com 36 assentos. Ao desembarcar no destino, o presidente, acompanhado de po-

liticos e outros convidados, assistiu a uma corrida de touros, como parte das comemorag6es.

os mais enfusiasmados com a novidade chegaram a espalhar a informagSo de que a ferrovia inaugurada era a primeira da Am6rica do Sul, o

que ndo correspondia aos fatos.r Essa honra coube i linha Georgetown-Plaisance, na Guiana Inglesa, em 1848. A ferrovia Assung5o-Trindad seria a sexta.

Ufanismo

i

parte, Carlos l-6peztinha certa razdo ao mencionar o salto

tecnol6gico que vinha sendo empreendido por sua adminishagio. No ano anterior, ele pagara l2 mil pesos a estaleiros londrinos para a conshug5o de navios. A indrishia t€xtil, criada na gestio de Francia, expandia-se lenta, mas continuamente. O servigo de teldgrafo era um dos mais eficientes da

Am6rica do Sul. E, meses antes da abertura da ferrovia, dom carlos havia fechado contrato com empresdrios ingleses para o estabelecimento de uma metaltirgica em lbicui. Thmb6m

se

propagou na 6poca a ideia de que

uma iniciativa in6dita no continente. Novamente um exagero, i6 que o Brasil tinha forias desde o s6culo XV[.

essa seria

A GUERRA DO

PARAGUAI 8I

Era, sem drivida, um grande esforgo na diregio de uma p6tria industrial, mas o fato 6 que o pais ainda tiraria seu sustento principal das mesmas atividades que nos riltimos s6culos: da exhag6o de min6rios e de madeira, da produgSo de erva-mate, de fumo e da criag5o de gado.2

A centralizagSo da maior parte das riquezas e das terras EstAncias da P6hia

ciolla em

-

- chamadas

de

nas mSos do Estado e de uma reemergente elite

nada conhibuia para enfrentar as seculares contradig6es sociais.

Uma arroba (14,7 quilos) de erva-mate, por exemplo, rendia ao campon€s apenas um centavo de libra e era revendida por 25 libras pelos permissio-

nados

- classe de arrendatdrios

priblicas que comegava

a

a quem era permitido explorar as terras

surgir com

a

gradual abertura do Paraguai. O pa(s

enriquecia, assim como os mais pr6ximos ao poder, mas a riqueza n6o chegava

i

maior parte da populagEo, e ndo

se

conquistavam direitos habalhistas.

Em fevereiro de 1862 chegou a fusunq5o o enviado da Rep(blica Oriental fuan fos6 de Herrera, primeiro representante diplom6tico uruguaio no Paraguai. Ao apresentar-se a Carlos Antonio L6pez, o diplomata externou suas preocupag6es com o equilibrio de forgas na regi5o e com a possivel ameaga de ag6es b6licas argentinas e brasileiras, tentando atrair o

apoio paraguaio ao governo de Montevid6u, do Partido Blanco, acossado pela oposigEo colorada.

-

Temos conhecimento de que o grande problema que seu pais en-

frenta 6 a depend6ncia de um local para aportar suas embarcag6es mercantes, dom Carlos

-

abordou Herrera, sem muitos rodeios.

- Sabemos

que utilizam o porto de Buenos Aires para esse fim e que cedo ou tarde os

portenhos criardo dificuldades, ou por sua aproxirnag5o com o Imp6rio, ou por suas pr6prias quest6es regionais. Nosso presidente, Bemardo Berro, estd disposto a firmar convosco um tratado de com6rcio direto, para que

o Paraguai utilize apenas os nossos servigos porfudrios e o de nenhuma outra nagio, recebendo para isso todas as facilidades deseiadas. Carlos lipezrecusou a oferta, argumentando que essa decisSo poderia motivar uma guelra com Buenos Aires. Herrera a6rmou, enEo, que, mesmo

82

LUrz ocrAvro DE LIMA

sem exclusividade, o porto de Montevid6u ficaria

i

disposig5o das embar-

cag6es paraguaias. Dom Carlos aceitou. NEo era o ideal para os orientais, mas ainda assim uma excelente noticia para ambos: na pr6tica, os uruguaios

atraiam um aliado diante de seus poderosos vizinhos, e o Paraguai, sem

muito alarde, garantia uma alternativa de trdnsito pelo Prata, que punha 6m

i

sua depend6ncia de Buenos Aires para escoar produtos ao exterior.

Em margo de 1862, Carlos Antonio L,6pez comegou a queixar-se de problemas de safde. Sentia-se fraco, constantemente indisposto, e passou a des-

pachar com mais frequ€ncia de sua resid€ncia. Foi nela que teve um novo

enconho com Juan )os6 de Herrera, logo no inicio do m6s, dessa vez paru hatar da inger€ncia do Brasil na Repriblica Oriental. Em busca de um apoio mais explicito do Paraguai, Herrera alertou Carlos L6pez sobre o perigo das ideias politicas externas, que poderiam minar a estabilidade da regidor.

Carlos L6pez tinha consci€ncia de que a ameaga dizia muito mais respeito h Repfblica Oriental, ao governo uruguaio, do que ao Paraguai, onde a dissiddncia era praticamente nula e as interferOncias internacionais

pouco percebidas.

-

Estou mais preocupado com os problemas perto de casa, senhor

Herrera. De um lado, temos os mais incorrigfveis anarquistas Ireferindo-se aos argentinos], que pretendem absorver e dividir o Paraguai. E, do outro, os macacos [falando dos brasileiros], sempre traidores e possuidores de duas caras

-

devolveu dom Carlos, segundo palavras relatadas pelo pr6-

prio Herrera em suas mem6rias, publicadas anos mais tarde. O presidente paraguaio

- como o filho cagula Angel Benigno - temia

que os portenhos, com Bartolomeu Mitre, depois de bater as provfncias do interior argentino, pudessem tentar outra aventura contra seu pafs. E expressou na habiual forma rispida seu sentimento sobre a aproximag5o enhe Buenos Aires e Brasil:

-

Os macacos s6o nossos inimigos mais tenazes, por6m tamb6m os mais

covardes. Eles n5o se aheveriam a nos enfrentar sozinhos. Teriam de fazer

uma alianga com os anarquistas.

A GUERRA DO

PARAGUAI

83

Antes de retornar a Monteviddu, em abril, o representante oriental teve uma nova conversa com dom Carlos. Nela, voltou

i

carga na tentativa

de selar um acordo de defesa reciproca que garantisse o Paraguai e o seu

pais contra eventuais investidas brasileiras e argentinas. Tentou, ainda, distanciar as relag6es comerciais entre o Paraguai e o Brasil:

-

O com6rcio com o Mato Grosso, que produz e consome artigos simi-

lares aos paraguaios, 6 um erro, presidente. E aquela provincia situa-se a

uma distincia duas vezes maior que a de fusungdo a Montevid6u. Ndo hd nada a perder e tudo a ganhar com uma aproximaqIo maior entre

as

nossas nag6es.

Carlos L6pez prometeu pensar sobre o assunto, mas ndo tomou nenhuma decis5o concreta a respeito. A verdade 6 que estava

se afastando dos

assuntos de Estado, deixando as quest6es mais relevantes para

o filho

Solano L6pez. Sentindo-se debilitado fisicamente, e precavendo-se conha

futuros embaragos, promoveu uma alteragSo nas normas para se ocupar

a

Presid€ncia: baixou a exig6ncia da idade m(nima para o cargo de quarenta para trinta anos. Seu primog6nito estava chegando aos 35.

lx SucessSo

No m€s de agosto de 1862, o estado de satide de Carlos Antonio L6pez se agravou. Ao perceber que

nio

se

recuperaria mais, acelerou o processo

de sucess5o, de forma a evitar conflitos que abalassem o pafs ap6s a sua

morte. Embora Solano fosse seu filho mais velho, ele comegou a hesi-

tar, pensando se n5o seria mais sensato indicar o filho cagula, Angel Benigno, como seu herdeiro politico. Considerava-o mais ponderado e mais identificado com sua forma de governar que o impulsivo primog€nito. Apressou-se em nomedJo vice-presidente, um cargo at6 entSo inexistente no Paraguai. Solano L6pez captou as inteng6es paternas e teve uma forte reag6o.

-

Meu pai, cometerd um enorme erro se entregar a nagSo ao coman-

do de Benigno este pafs.

- reagiu. -

Nio tem

Ele n6o tem o pulso necess6rio para conduzir

apego is quest6es de Estado e pord todo o seu legado

a perder.

Carlos argumentou que Benigno era bem preparado, tinha um grande

conhecimento dos pafses vizinhos e inclusive esfudara no Brasil, onde recebera uma excelente formag5o politica, al6m da militar.

- O Brasil... Ora! Sabemos muito bem o que esperar do Imp6rio! - Solano - respondeu o pai. - N5o temos nada a ganhar com um conflito com o Brasil. Tenha isso em mente. E melhor uma relagio dificil, com percalgos evenfuais, que nossa total ruina por causa de uma condug5o

86

LUrz ocrAvro DE LrMA

diplomdtica desastrada. N5o podemos nos rebaixar, mas um confronto seria o pior dos mundos.

-

Meu pai, n6o cometa o desatino de nomear Benigno seu sucessor.

Se me confiar esta miss6o, prometo que irei a potOncia

honrdla. Efazer do Paraguai

regional que sonhamos. Al6m do mais, h6 o problema da idade

minima para se ocupar a Presid€ncia! A legislagio que alterou ainda n6o permitiria a posse dele...

-

Jd alterei uma vez e poderia alterar outra

-

lembrou Carlos L6pez,

que nunca se acanhou em moldar as regras do jogo )s suas conveniCncias.

A insist6ncia do primog€nito, dia ap6s dia, acabou por convencer o pai

de que talvez fosse melhor mesmo um governante forte, talvez mais truculento que forte, do que algu6m visto como tolerante em demasia. Redigiu um decreto testamentSrio nomeando o filho Francisco Solano seu vice-presidente e sucessor.l

Ao saber da decisio do marido, )uana Carillo nio escondeu seu desapontamento.

- Por que ndo Benigno, Carlos? - teria dito. - N6o percamos tempo em discuss6es est6reis - teria se limitado a responder o presidente. E ao filho cagula, explicou-se:

-

Benigno, voc€ 6 muito capaz, mas seu irmSo tem melhores condiqdes

politicas para liderar esta nagdo. 56 pego que sejas fiel a ele e lhe dd apoio.

O cagula consentiu, sem nada contrapor. Nos dias que

se seguiram, a

saride do governante tornou-se ainda mais fr6gil. Os 6rg5os entraram em

falOncia, e ficou claro que nEo se recuperaria.

I0 de setembro, uma quarta-feira, a capital paraguaia foi sacudida por cinco tiros de canhao anunciando a morte do presidente. funto ao leito de Carlos L6pez estavam fuana e o padre Fidel Maiz, que ministrou ao moribundo os tiltimos auxiAs tr6s horas da madrugada de

lios espirituais.

fu th45, foi iniciado

o vel6rio ptiblico no Paldcio dos L6pez. Autorida-

des e membros da sociedade local fizeram

fila para prestar homenagem

A GUERRA DO

P^RAGUAI 87

ao ex-presidente. Ap6s missa solene na catedral metropolitana, o ataride

foi colocado em uma carruagem frinebre, coberta de flores e puxada por quatro cavalos com penachos negros, e seguiu pelas principais ruas da capital, ladeado por militares com bragadeiras pretas e acompanhado por

uma parte da populagSo. A sua passagem, pessoas do povo faziam rever€ncias. Os homens posicionavam seus chap6us contra o peito. Ao deixar os limites da cidade, o corpo de Carlos L6pezfoi levado para

Trinidad, onde seus restos foram depositados na igreja local, em cerimOnia oficiada pelo prelado Fidel Maiz. Francisco Solano indicara o nome do religioso para reitor do Col6gio Semindrio e considerava pedir ao papa Pio IX que o nomeasse bispo auxiliar do Paraguai.2 O afeto que havia

se

formado entre eles fez com que, passado o momento do luto, o virtual presidente lhe pedisse um favor: o de batizar Frederico, Quinto filho que tivera com Elisa, nascido naquele ano de 1862.

Maiz concordou, mas imp6s a condig5o de que a cerim6nia se realizasse na catedral de fusungdo. Solano se op6s, lembrando que sua apari-

g5o priblica junto a Elisa com o beb€ de ambos em um evento religioso seria um prato cheio para o falat6rio na cidade. Disse saber que a crianqa

era considerada ilegitima e a ligagSo do casal, pecaminosa aos olhos da Igreja. A ideia era que o batismo fosse feito de forma discreta, na casa de

Elisa. Como Maiz n5o cedeu, o general-brigadeiro recorreu ao padre Manuel Antonio Palacios, que atendeu ao pedido sem colocar reshig6es. Em retribuiqSo, Solano prometeu indic6Jo para a vaga de bispo auxiliar, prometida anteriormente a Fidel Maiz.

No dia 16 de outubro, passado pouco mais de um m€s de vac6ncia de poder, o Congresso se reuniu para deliberar a sucessio. Era a primeira sessSo

da casa desde que, seis anos antes, o mandato de Carlos Antonio

L6pez havia sido renovado pela dltima vez. Solano apresentou aos parlamentares a carta-testamento com o lacre de seu pai. O deputado Carlos Riveros leu o documento, que recomendava a eleigf,o do primog6nito,

lembrando que ele participava, havia muito, da gestSo governamental.

88

LUz ocrAvro DE LIMA

Comegou um burburinho, e algumas vozes se levantaram contra a indicagio. Benigno lipez argumentou que, fosse quem fosse, o sucessor n6o poderia ter atribuigOes extraordindrias como seu pai havia tido e que

era o tempo de administrar com maior participag5o do Legislativo. O deputado fos6 Marfa Varela levantou uma quest6o de ordem, lembrando que, embora o pafs nlo tivesse uma Constifuigdo em vigor, a Lei de AdministragSo Politica

nio previa o crit6rio da hereditariedade no preenchi-

mento das fung6es priblicas e desaconselhava o controle do Estado por uma fam(lia. Tamb6m lembrou que Carlos L6pez i6 havia atropelado a legislagdo, ao baixar a idade minima exigida para ocupar a Presid0ncia, a

fim de favorecer o filho mais velho. Varela chegou a propor o nome do embaixador |os6 Berges para fufuro governante, mas nio encontrou receptividade no plendrio.

O padre Fidel Maiz, presente i

sess5o,

foi mais longe, propondo

a

convocagio imediata de uma Assembleia Constituinte e opondo-se abertamente

i

aclamagio de SolanoL6pez, que ouviu a tudo com expressfio

enfurecida, mas sem dizer nada.

Ao final da sessSo, por6m, a maioria dos presentes acatou a vontade expressa por dom Carlos no decreto testament6rio e confirmou a eleig6o de

seu filho por um periodo de dez anos.3 Solano declarou aos congressistas:

-

A

nagSo deve romper seu relativo isolamento e se fazer ouvida. O

Paraguai est6 destinado a ser o centro do progresso na Am6rica do Sul,

culfural, artistica e tecnicamente. Venham comigo construir

esse destino!

Benigno cumprimentou o irm5o e retirou-se sem disfargar a contrariedade. Fidel Maiz estava acabrunhado e desculpou-se pela fala anterior:

- Entende que fiz uma ponderagio, n6o, general? Mas pode contar com meu apoio irreshito.

-

Entendo, padre. Sem ressentimentos

-

retrucou Solano, com ar

ir6nico. E, assim, Solano L6pez chegava ao poder, como o terceiro integrante consecutivo da famflia a governar o Paraguai em meio s6culo.

A GUERRA DO

PARAGUAI 89

Um de seus primeiros atos foi o de ordenar um censo militar em todo o pais. Em seguida, determinou que fuan Pedro Escalada, que o educara, recebesse uma pens5o vitalicia "por sua dedicag6o i instrugio da juventude". E, finalmente, pediu a abertura de um processoa contra os religioFidel Maiz e |os6 del Carmen Moreno, imediatamente levados para o cdrcere pfblico. Depois de aguardarem julgamento por meses, os padres sos

seriam destituidos de seus postos no Col6gio Semin6rio e condenados a dez anos de pris5o cada um pelo crime de conspiragSo. O deputado fos6 Varela, que tamb6m contestara o direito de Solano L6pez ocupar a Presi-

d€ncia, foi posto a ferros e ficaria preso at6 morrer.

x Limpando o caminho

Pouco antes de passar pelo julgamento, o padre Fidel Maiz recebeu em sua cela a visita do religioso Manuel Antonio Palacios, rec6m-nomeado bispo auxiliar do Paraguai. Palacios atendia a um apelo do sacerdote, que pretendia expor suas raz6es e afirmar sua inoc€ncia. Uma iniciativa

inftil,

uma vez que o agora superior era tido como uma das pegas principais da rede de espionagem que L6pez instalara na Igreja do Paraguai. Confiss6es

n5o tinham mais seu segredo resguardado e comentdrios politicamente comprometedores ehegavam rapidamente ao chefe de Estado. Entre acusag6es feitas

as

a Fidel Maiz estavam a de ter comentado que Angel

Benigno L6pez era mais indicado para suceder o pai, mas havia at6 quem

um convertido ao protestantismo. Maiz sustentou ao bispo que "como sacerdote e cidadao" havia

acusasse o padre de ser

se

preocupado em defender uma Constituigdo para o pais, para que os paraguaios n5o vivessem sob o risco de ter um presidente "com poderes extraordin5rios e ditatoriais". Palacios advertiu o prelado de que deveria se ater

i

sua missSo, que se

encontrava acima das quest6es meramente terrenas.

- Nio disse Nosso Senhor |esus Cristo, "Dai a C6sar o que 6 de C6sar"? - lembrou o bispo.r - Deixemos, portanto, aos politicos e aos governantes a discussdo dos assuntos do pais. Que pretende com suas atitudes, padre?

Sublevar os dnimos da juventude? Quebrar a bendita paz em que vivemos?

92

LUz ocrAvro DE LIMA

-

A Constituig5o...

- tentou

- Ndo 6 teologia... Deixemos

argumentar Fidel Maiz. essas preocupag6es para os

mos felizes por ter um presidente pahiota e crist6o

-

politicos. So-

encerrou Palacios.

O bispo estendeu ao prisioneiro a m5o direita para que Maiz beijasse o anel episcopal.

Certo de que seu destino estava selado, o padre obedeceu com ar desalentado e viu o superior deixar sua cela sem dizer mais nada. Os dois

se

veriam semanas depois, na corte, quando Maiz descobriria que seu julgamento seria presidido exatamente pelo bispo Palacios. Afastado Fidel Maiz, Solano L6pezvoltou-se paruasua segunda maior preocupagdo: Benigno

lipez.

No periodo inicial de seu governo, ele tomou

o cuidado de despachar o cagula para miss6es na fronteira sul do pais, neutralizando um importante foco de contestagSo de sua legitimidade como sucessor de Carlos lipez. O jovem consentiu, talvez porque fosse algu6m mais preocupado

com um estilo de vida abastado que com as obrigag6es de um estadista. Se Solano era o mais poderoso do Paraguai, Benigno era certamente o mais rico. Oito anos antes, ele i6 havia encomendado ao arquiteto italiano

Alessandro Ravizza, a construgio de um palacete na rua Palmas, um palacete neocldssico, adornado por colunas, relevos, balc6es de ferro foriado e

com um amplo saleo interno revestido de mdrmore, que se destacava na paisagem da regi5o cenhal e hoje 6 a sede do Minist6rio das Relag6es Exteriores. Seu pahim6nio em im6veis ia muito al6m e se expandiu nos anos seguintes com a compra de uma casa na rua La Guerra, de um edificio na

rua Libertad, em Assungio, uma estincia nos campos de Mbururu e duas propriedades no distrito de Encarnaci6n. Francisco Solano utilizava habalho escravo em um tempo em que

essa

m6o de obra n5o chegava a l0% da populagio. Mas nada que se comparasse

) verdadeira compulsio de seu irmflo Benigno por essa atividade.z

Mesmo quando as leis paraguaias jd consideravam automaticamente libertos os cativos que completassem 25 anos, se fossem homens, e 24,

se

A GUERRA DO

PARACUAI 91

filho cagula dos L6pez tanto pagou por habalhadores que ulhapassavam essas idades quanto por adolescentes. Hd inrimeros fossem mulheres, o

regishos de aquisigOes de escravos feitas por ele entre 1852 e 1864, sendo dois deles comprados no Brasil.3 Antes dos 30 anos, era um dos maiores senhores de escravos do pais.a

Enhe novembro de 1858 e setembro de 1859, Benigno comprou cem cabegas de gado, cem novilhos, sessenta cavalos de raga e 25 6guas, todos

animais de fazendas estatais, um modelo que havia se desvirtuado das propostas originais implantadas no governo de Francia e no qual as linhas

enhe priblico e privado, de fungEo social e de interesse da elite governante

haviam se tornado difusas.

O enriquecimento de toda a familia L6pez por meio do controle do Estado era evidente. Solano mandou conshuir em Trinidad um casario de dois pisos, altas colunas e cercado de varandas pr6ximo ao local onde seu pai j6 tinha erguido uma casa mais modesta, anos antes. f6 mantinha

duas casas para Elisa, uma em fusungdo e ouha no lago lpacarai. O Prl6cio onde vivia e despachava havia sido heranga do padrasto da m5e, Ldzaro Rojas. Ainda hoje 6 a belfssima sede do governo do Paraguai. Sua m5e vivia no im6vel erguido por Carlos

lipez,

que ocupava um quartei-

r5o inteiro naplaza Constifuici6n, em frente ao Congresso. Dom Carlos

tamb6m era dono de um im6vel que chamava de Choza Adelina e que hoie sedia a firma Rieder & Cia., na esquina das avenidas Salinares (hoje Perti) e Artigas (hoie mariscal Solano L6pez), em frente

i

estagio de

Cambio Grande.5 Em 1855, o outro filho de Carlos lipez,Vendncio lipez,fez erguer um palacete na esquina da rua Eshella com rua Col6n, tamb6m proietado por Alessandro Ravizzi. O italiano foi um dos

2ll

profissionais de arquitetura,

escultura e construgio hazidos da Europa por Solano para modificar a paisagem urbanistica de fusung5o. Entre eles, vieram o tamb6m italiano

Andr6sAntonini, o hfngaro Francisco Wisner de Morgenstem e os ingleses Alonso Thylor e fohn Owen Moyniham.

94

LUz ocrAvro DE LrMA

Benigno L6pez mantinha duas familias: uma em Assung5o, com Justa Petrona Decoud Egusquiza, m5e de duas filhas e um filho dele, e outra em Villa Concepci6n, onde era dono de uma estdncia, com Maria del Carmen Aguero Uriarte, com quem teve dois filhos e uma filha.

O irm6o Vendncio, embora apenas um ano mais iovem que Solano, tinha com o presidente uma relagdo mais tranquila, ainda que cerimoniosa. Nas correspond€ncias dirigia-se sempre a ele como "meu estimado

irmdo". Solano o nomeou ministro da Guerra e da Marinha; Francisco Sdnchez, amigo da familia, id com 67 anos, tornou-se vice-presidente e ministro do Interior; )os6 Berges foi para a pasta das Relag6es Exteriores; o coronel Safurnino Bedoya, casado com Mdnica Rafaela, irmi de Solano,

foi encarregado de cuidar do Tesouro Nacional. fu demais pastas foram igualmente dishibuidas entre parentes e amigos pr6ximos. Era quase uma familia da realeza. Uma nobreza sem coroa.

xl Era de ouro

O ano de I863 pode ser considerado o de aPogeu da gestio dos L6pez no Paraguai. A safra agricola crescia; a extensdo ferroviSria de fusunglo a Paraguari, a 66 quil6metros da capital, prosseguia a baixo custo, com o emprego de mdo de obra de prisioneiros e soldados; o paldcio do governo passou por uma intensa reforma; iniciou-se a construgio do Orat6rio da

Virgem de fusunglo e a do Teatro Nacional; estabeleceu-se um novo aquartelamento em Cerro Le6n, no qual foram reunidos 5 mil soldados; e as quest6es

concernentes

i

navegaqEo

fuvial pareciam ter

se

hanquilizado,

especialmente por conta das boas relag6es com o Uruguai de Bernardo Berro, que garantia aos navios com produtos paraguaios trAnsito livre at6 o estudrio do Prata, e de

16

ao Velho Continente.

Com a Inglaterra, mantinham-se vantaiosas trocas comerciais, intensa compra de armas e equipamentos militares, al6m de transfer6ncia tecnol6gica por meio de visitas frequentes de engenheiros e cientistas daquele pafs. Com a Franga, al6m do sucesso no plano dos neg6cios, os lagos de amizade com o imperador estavam mais s6lidos do que nunca. Logo que foi eleito, Solano fez questio de comunicar o fato atrav6s de carta a NapoleSo

III,

e o monarca

envioulhe uma resposta calorosa.r

Solano L6pez designou Gregorio Benitez como secreHrio da delegag5o

paraguaia em Paris e ndo se furtou a aproveitar a miss5o do subordina-

do para satisfazer uma vaidade pessoal: entre as incumb6ncias dadas ao

96

LUz ocrAvro DE LIMA

representante estava a de encomendar na joalheria Fontana

& Cia. uma condecorag6o incrustada de brilhantes.z A pega, que seria usada por E/ Maiscal em cerim6nias oficiais e bailes de gala, teria o custo de 16.500 francos, algo como 60 mil reais em 2016. Embora o Paraguai fosse uma repriblica, um dos principais modelos

de L6pez era o Segundo Imp6rio franc€s. Um quadro mostrando Lu(s Napole6o, em haje de gala, com cetro, coroa e manto de arminho, pintado por Franz winterhalter em 1855, despertou o fascinio do governante sul-americano, que adquiriu dai em diante o hdbito de se fazer rehatar

h

moda dos nobres, inclusive como fazia com frequOncia Pedro II. Ainda na Franga, em 1853, encomendara uma gravura em bico de pena, em que aparecia em requintadas roupas civis, com um fino e longo bigode. Ao

retornar, foi fotografado algumas vezes em uniforme militar e, a partir de 1862, posaria para telas de artistas, como Aurelio Garcia, em cendrios com estandartes, colunas e cortinas de veludo, assim como para retratos equestres, muito semelhantes aos que vira na Europa. Mesmo ap6s sua morte, o culto

i

sua imagem foi reforgado com uma bela obra do italiano

Guillermo da Re, de 1900, em que o Maiscal monta um cavalo branco em traie militar e faixa azul, branca e vermelha sobre o peito. Reforgando essa representagio autocrdtica, o novo presidente paraguaio baixou um decreto segundo o qual deveriam constar do curriculo escolar ensinamentos como: "O rei

nio estd sujeito, nem

sua autoridade

depende do povo, sobre o qual ele reina e manda. E dizer o contr6rio seria dizer que a cabega est6 sujeita aos p6s". Para comemorar o

primeiro aniversdrio de sua gestio, um ano em que, sob sua perspectiva, tudo correu is maravilhas, Solano mandou preparar um baile

i

fantasia no Club Nacional inspirado no que havia presenciado

em Paris quase uma d6cada antes. Entre a sociedade assuncena, os dias que precederam o evento, marcado paru7 de novembro, foram de grande agitagio e enfusiasmo. E, na data em quesEo, o perimeho compreendido enhe as ruas Palma, Ataio e 25 de Diciembre foi tomado por uma multidio

A CUERRA DO

de curiosos. No comego da noite, a fachada do

PARAGUAI 97

Club Nacional resplandecia,

com limpadas de azeite coloridas iluminando suas entradas.s Todas

as

janelas estavam ornadas com trof6us e bandeiras. A cada carruagem que chegava, deixando casais ou familias em seus hajes exuberantes, elevava-se

o rumor dos populares. Solano

lipez nio escondeu

a satisfag5o que lhe causou o

brilho da festa.

O presidente, que assistira aos grandes eventos de Paris, sentia-se orgulhoso da elegdncia e do luxo reunidos naquele saleo. Aos acompanhantes, ele comentou que a mulher assuncena em nada devia em graga is que havia conhecido nos circulos sociais europeus. A Elisa, sua escolhida, por6m, n5o foi permitido estar ao seu lado naquele momento de consagra-

gio. Ela

se manteve

informada do sucesso do baile em sua casa, a poucos

quarteir6es dali.

O ano, entretanto, n5o seria encerrado no mesmo clima de bonanEa com que havia hanscorrido at6 entio. Naquele momento, comegava a surgir uma turbul€ncia que logo viria a se converter em uma devastadora tempestade. E o seu principal aliado no Prata forneceria a primeira faisca da tormenta.

xil Uruguai

Assim como o Paraguai, o Uruguai havia conquistado sua independ6ncia da Espanha em 1811, quando ainda mantinha a denominagSo de Provincia

Oriental do Rio da Prata ou Banda Oriental do Uruguai - Oriental por estar a leste do rio que margeava seu tenit6rio. O levante culminou na Batalha de Las Piedras, contra os espanh6is, em que o general fos6 Gervasio Artigas

emergiu como her6i nacional. Aautonomia durou pouco: em 1817, forEas portuguesas tomaram Montevid6u e anexaram grande parte do territ6rio sob o nome de Provincia Cisplatina. Localizada no estudrio do Prata, era

uma regiio estrat6gica, como via de transporte de mercadorias, inclusive de metais vindos da regi6o andina, por fazer a ligagdo dos rios Parand

e

Paraguai com o oceano Atlintico. Em agosto de 1825, Juan Antonio Lavalleja e Manuel Oribe lideraram um grupo de resistentes que empreenderam uma insuneigdo conha lusobrasileiros e passaram

d

hist6ria como Os Tiinta

e Tr€s

os ocupantes

Orientais.r O

mo

vimento resultou na chamada Guerra da Cisplatina, que durou tr6s anos.

Alimentando pretens6es de recuperar o territ6rio,

as

Provincias Unidas

do Rio da Prata, majoritariamente argentinas, tomaram o partido dos pa-

triotas orientais, fornecendo-lhes, na medida do possivel, soldados, armamentos e alimentag5o. E preciso relembrar que a independ€ncia argentina, em 1816, n5o havia resultado em um pais de configuraq6o unificada, mas sim nas Provincias

100

LUz ocrAvro DE LIMA

Unidas do Rio da Prata, que compreendiam a Provfncia Oriental em quest6o, mais Buenos Aires, Entre Rios, Corrientes, Santa F6, Cuyo, C6rdoba, Misiones, Tucum6n, Salta, Alto Peru e Cochabamba. Em 1825, essas duas

Bolivar

-

fltimas

se destacariam do bloco para formar a Repriblica de

em homenagem ao her6i das Iutas de independ6ncia de boa parte

da Am6rica espanhola

-, rebatizada

naquele mesmo ano como Bolivia.

Ap6s quase quinhentos dias de combates na regido da Cisplatina, estava

claro que n5o haveria solug5o satisfat6ria se o confito se arrastasse indefinidamente. Inglaterra e Franga, que tinham interesses comerciais na regi5o, passaram a trabalhar em conjunto nas negociag6es de paz. Quando finalmente veio o Tratado de 1828, o saldo se mostrou negativo para todas as partes: as Provincias

Unidas haviam acumulado enorrnes preiuizos co.

merciais decorrentes dos bloqueios empreendidos por navios brasileiros, e o Imp6rio, que teve elevados gastos para sustentar os combates, acabou devolvendo a maior parte dos territ6rios invadidos. O armistfcio tamb6m estava longe de ser uma garantia de tranquilidade ao pais nascente.

Em 1830, foi promulgada

a primeira constifuig6o da que

seria denominada Repriblica Oriental do Uruguai. E a cena politica passou a ser dividida entre os partidos Nacional, ou Blanco

consewadora liderada por Manuel

- da elite agricola Oribe -, e Colorado - liberal, porta-voz

dos interesses comerciais de Montevid6u, sob o comando de Fructuoso Rivera. Oribe foi designado presidente e eskeitou seus lagos com o ditador

argentino Juan Manuel de Rosas. Em 15 de junho de 1838, Rivera encabegou um golpe e assumiu o comando do pais. O destituido Oribe refugiou-se em BuenosAires, e o lider

colorado declarou guerra a Rosas. Em 1843, o Ex6rcito argentino iniciou um cerco a Montevid6u que duraria nove anos e levaria os uruguaios a pedir reforgos at6 ao Iider italiano Giuseppe Garibaldi.

Em meados de junho de 1851, o imperador Pedro II, aconselhado por seus ministros, viu na sifuagEo instalada no Cone Sul a possibilidade - e mesmo a necessidade

-

de retomar a influ€ncia brasileira na regiio. Era o

A GUERRA DO

PARAGUAI IOI

momento de convocar um dos homens mais confiSveis do Imp6rio para esse

tipo de tarefa: Caxias.

Luis Alves de Lima e Silva, entio conde de Caxias, era amigo de Pedro

II

desde que se tornara seu mestre de armas, instrutor de esgrima e equitagSo,

ainda no perfodo da Reg6ncia. O pai, Francisco de Lima e Silva, fizera parte

do triunvirato que governou o pais enquanto o imperador aguardava a maioridade e o havia designado para acompanhar a formag5o militar do herdeiro de Pedro I.

Filho, neto e sobrinho de militares, Caxias nascera no Rio de faneiro em25 de agosto de 1803 e fora aceito na Real Academia deArtilharia, Fortificag6o e Desenho aos quinze anos de idade. O curso integral (que durava sete anos) era compuls6rio para artilheiros e engenheiros, por6m soldados de infantaria s6 eram obrigados a comparecer )s aulas do pri-

meiro e do quinto ano. Apesar da dispensa, ele decidiu adquirir a formagEo completa,2 o que talvez tenha sido a origem remota do termo "caxias", sinOnimo no Brasil de quem faz questAo de cumprir regras e regulamentos

al6m do exigido. No reinado de Pedro I, ainda bem iovem, Lima e Silva havia tido papel ativo na Guerra de lndepend6ncia. Participara por tr€s anos da Guerra

Cisplatina e combatera os revoltosos da Balaiada e da Farroupilha. Foi iniciado na magonaria em I83 l, tendo como padrinho o conde de Lages.

Em 1847, tornou-se senador vital(cio. Quando seus familiares passaram h oposigdo, ele se manteve leal a Pedro II, uma atifude que, somada aos demais atos de bravura, o imperador soube reconhecer e premiar com medalhas, promogdes e titulos. Agora,

mais uma vez, a fidelidade do sridito se fazia necessSria. Observando o

cen6rio deflagrado no estu6rio do rio da Prata, o imperador temia que o desequil(brio de forgas, ao final dessa guerra - que i6 era chamada Guerra Grande -, prejudicasse os interesses do Brasil na regi6o. - Meu caro amigo, se nada fizermos, venga Rosas ou venga Oribe, Argentina e Uruguai se fundirdo em um s6 pais ap6s esse confito

- disse

102

LUrz ocrAvro DE LIMA

II

O controle do Prata por uma s6 nagdo vai nos criar grandes dificuldades. Temos de agir para impedir essa distorgio. Pedro

-

a Caxias.

-

Vossa Majestade sabe que pode contar comigo

-

respondeu o conde,

que tamb6m era comandante das Armas da Corte. - Vou organizar as tropas e acredito que at6 o final de agosto estaremos no territ6rio da Repf-

blica Oriental. Ajudados pelas forgas lideradas por Caxias, os colorados conseguiram derrotar Oribe, mas tiveram de aceitar o preqo de assinar tratados em que autorizavam o Imp6rio a intervir nos assuntos internos do Uruguai. O govemo

brasileiro n5o apenas utilizou militar

e

politicamente

essa prerrogativa,

como

incentivou a ocupagdo de territ6rios fronteirigos por fazendeiros sulistas. Lima e Silva foi elevado i condigdo de marquOs e em breve se tornaria ministro da Guerra. Rosas foi deposto como lider da Confederagio Argentina e partiria para o exilio na Inglaterra, onde ficaria at6 a morte. Al6m do apoio militar, os colorados uruguaios tamb6m contaram com uma decisiva aiuda financeira por parte dos brasileiros. Mesmo antes da entrada do Imp6rio no conflito, o industrial e banqueiro Irineu Evangelista

de Sousa forneceu empr6stimos

i

causa dos liberais, a pedido do entio

minisho de Assuntos Estrangeiros, Paulino fos6 Soares de Sousa, seu amigo. Era parte da chamada "diplomacia dos patac6es", cujos financiamentos tamb6m beneficiaram o governo do fugentino Urquiza, em Entre Rios Corrientes, e atrairam para o Brasil a hegemonia sobre a regiio.3

e

6rfao de pai aos cinco anos no Rio Grande do Sul e levado para o Rio de Janeiro aos nove, Evangelista de Sousa havia galgado os degraus da formag5o escolar e profissional com grande esforgo, mas iquela altura id se tornara imensamente pr6spero, como banqueiro, comerciante e pro-

prietdrio de um estaleiro onde foram construidas dezenas de navios. Ele ainda seria o pioneiro das ferrovias brasileiras e da iluminaqdo a g6s na capital do Imp6rio. Em 1854, receberia o t(tulo de visconde de Maud. E era mais um personagem do Segundo Reinado que trazia um hist6rico de afuag5o na magonaria.

A GUERRA DO

PARACUAI IO]

Embora o texto do armisticio firmado em 8 de outubro de 1851 contivesse a expressdo romAntica "Neo haver6 vencedores nem vencidos", a verdade 6 que o Uruguai estava arruinado: a populag5o se reduzira, aban-

donando o pais; 80% dos habitantes remanescentes eram analfabetos; a criag5o de gado estava falida; os territ6rios das Miss6es Orientais e mais uma franja adicional enhe os rios Quarai e Ibicui haviam sido entregues ao Brasil; e o Estado teve de fazer frente a dividas de guerra com os imp6rios

brasileiro, britdnico e franc€s. Esse cendrio de caos representou uma oportunidade para Evangelista

de Sousa. Uma vez presente em Montevid6u, onde, inclusive, adquiriu

uma mansdo no elegante bairro El Prado, ele comegou a expandir seus neg6cios pelo Cone Sul. Seus interesses passaram a abranger o com6rcio de erva-mate, farinha e diversos aspectos da indristria de processamento'

Em 1857, fundaria o Banco Mau6 Y Cia., o primeiro estabelecimento bancdrio da Repriblica Oriental, com status de Banco Central e autorizagdo para emitir papel-moeda. Em seguida, abriu filiais nas provincias argentinas de Buenos Aires e Santa F6. Sua instituig5o chegou a ser citada pelo

escritor franc€s frilio Verne no romance Da Tena d Lua como um dos principais bancos das Am6ricas. Se a condugdo politica na regiEo mudou de m6os muitas vezes no Periodo, o fluxo de capitais tinha um rinico rosto e um s6 comando: Mau6.

"Era o Srbitro financeiro do Prata", resumiu o historiador argentino )os6 Mar(a Rosa.a

xilt O fator Vendncio Flores

Longe de representar um perfodo de maior tranquilidade, o fim da chamada Guerra Grande daria inicio a uma era de turbul€ncia politica no

Uruguai. O acordo de paz firmado em

l85l definiu o nome

do general

Eugenio Garz6n como novo presidente da Repriblica, mas este morreu repentinamente, antes mesmo de tomar posse no cargo. Em seu lugar foi eleito o senador fuan Francisco Gir6, tendo o her6i de guerra Vendncio Flores como chefe politico de Montevid6u. Em setembro de 1853, um mG'

tim militar derrubou Gir6

e empossou

um triunvirato formado por Flores,

|uan Antonio Lavalleia e Frucfuoso Rivera. Os dois riltimos morreram em 1853 e 1854, deixando Ven6ncio Flores, aos 45 anos, sozinho no exercicio do mandato, previsto para terminar em

1o

de margo de 1856. Por6m, em

militar destituiu Flores, que partiu para um exilio argentino, seguido por um grande ndmero de correligiondrios. Em seu periodo como refugiado, Vendncio Flores reforgou seus lagos

agosto de 1855, outro levante

com Bartolomeu Mitre, nomeado ministro da Guerra de Buenos Aires, apesar dos resultados duvidosos em suas campanhas militares. Em novem-

bro de I 861 , Mitre entregou a Flores o comando de suas tropas e o incum-

biu de uma das ag6es mais sangrentas da hist6ria argentina: na madrugada do dia 22 daquele m€s, apanhando de surpresa as guarnig6es do Ex6rcito da Confederagdo, que dormiam no acampamento de Caflada de G6mez,

em Santa F6, as forgas de Flores degolaram mais de trezentos homens.

106

LUz ocrA\,To DE LrMA

Entre os que conseguiram escapar do ataque estavam )os6 Herndndez, que seria autor do cl6ssico da literafura argentina MartinFierro,e Leandro Alem, fundador da UniSo Civica Radical. Estabelecido em Buenos Aires, Flores dedicou-se a planeiar pacientemente o retorno ao poder no Uruguai. Al6m do apoio de Mihe, que presidente em 1862, atraiu a ades5o do Brasil

i

se

tomou

sua causa. Essa aproxima-

g5o despertou os temores do presidente Bernardo Prud€ncio Berro, que

governava a Repriblica Oriental, apoiado pelo Partido Blanco. Para evitar o "emparedamento" entre os dois vizinhos, Berro decidiu

langar mdo do rinico dispositivo de pressdo que dispunha: estreitar ao mdximo seus lagos com um terceiro pais fronteirigo

-

Paraguai

-

obtendo

dele, se possfvel, a promessa de cooperaqio militar. As gest6es do emissdrio ]uan fos6 de Herrera junto a Carlos L6pezha-

viam sido pouco produtivas. Por6m, quando Francisco Solano L6pez sucedeu o pai,

as esperangas

uruguaias reacenderam-se. Herrera, que agora era

ministro de Assuntos Estrangeiros do governo de Berro, destacou Octavio Lapido para retomar a miss5o, considerada vital ao seu pais. Em margo de 1863, enhegou ao comandado insbug6es para que obtivesse do chefe de Es-

tado paraguaio

a promessa de

um hatado de alianga que definiu como "ofen-

sivadefensiva". E o orientou a argumentar com L6pez nas seguintes bases:r Se sobreviesse, da parte de Buenos Aires ou do Brasil, ou de ambos em alianga, um ataque

i

independ€ncia, integridade ou soberania de uma das

duas repriblicas, qual deveria ser a atitude da outra? O Uruguai protestaria

firmemente contra isso e n5o trepidaria em

se

p6r de acordo com a naq5o

amiga ameagada para anular a pretensSo e resistir ao ataque. E o Paraguai? Faria o mesmo, caso sobreviesse tal eventualidade

i

Repriblica Oriental?

A revolugio, no entanto, j6 estava em curso. Em 14 de abril de 1863, Vendncio Flores deixou Buenos Aires em um pequeno navio mercante, com uns poucos companheiros

-

de sete a quarenta, segundo as diferentes

A CUERRA DO

vers6es

i

-,

PARACUAI IO7

e desembarcou dias depois na aldeia de Rinc6n de Las Gallinas,

margem esquerda do rio Uruguai. Era o inicio do que chamaria de

Cruzada Libertadora. Impulsivo e temfvel no campo de batalha, Flores encarnava o caudilho

por excelCncia. O termo, ainda hoje muito popular na Am6rica Latina, define um l(der regional ou nacional, com tragos paternalistas, que baseia seu poder mais no carisma pessoal junto

is

massas e

no uso da forga por

meio dos grupos que o apoiam do que nas normas legais e na consist6ncia de suas ideias. Sua imagem correspondia d lenda: embora

nio fosse alto, a barba

pessa, o cabelo longo repartido de lado e a apar6ncia rude,

es-

intimidadora,

tornavam sua presenqa sempre imponente. J6 contava ent5o 5 5 anos, mas mantinha o impeto de um soldado jovem, com a vantagem da experiOncia de quarenta anos em combates diretos. A vida politica surgira como consequ6ncia de uma intensa hist6ria militar, algo muito diverso da carreira sacerdotal que seus pais haviam sonhado para ele. Era um guerreiro por vocag6o

-

e tamb€m por prazer.

Em Z de junho, seus revoluciondrios entraram em confronto com o Ex6rcito nacionalista de Servand o C6mez,pr6ximo ao riacho Coquimbo, no sudoeste uruguaio. Mesmo em menor nfmero, os floristas levaram

a

melhor, em parte porque, em vez de comandar o batalh5o, G6mez manteve-se a meial6gua de distAncia durante todo o combate, que terminou

com cem baixas para os governistas. Os vencedores despoiaram os mortos da batalha entre os gritos de "SaquemJhes os ponchos que no outro mun-

do n5o faz friot".

Durante toda a refrega, um cachorro viraJata se posicionou ao lado de Flores e, ao final do dia, seria adotado por ele como uma esp6cie de talism6. Geralmente impiedoso com

os

homens, mas terno com

os

animais,

o general batizou o "voluntdrio enigm6tico", como o qualificou, com o nome de Coquimbo e o levaria consigo como um integrante adicional de seu Ex6rcito.2

108

LUz

ocr

vro DE LrMA

No dia 25 do mesmo m6s, Flores atacou o destacamento do general Diego Eug€nio Lambas em Las Caflas, quase duzentos quilOmetros acima. O grupo foi apanhado de surpresa por uma centena de soldados a cavalo e cerca de quarenta na infantaria. "Uma horda que promoveu vandalismo desenfreado", relatou Lambas, cuja divisdo teve cem integrantes mortos.

Enquanto a expediglo de Flores avanqava, uma nova preocupagdo veio a se adicionar is tarefas de Herrera como chanceler: seu governo apreendeu em Fray Bentos o vapor argentino Salto, sob o fundamento de que este levava contrabando de armas aos revoltosos. Em represdlia,

Mitre capfurou o vapor de guerra oriental General Artigas. O estado de beligerAncia foi decisivo para que o minisho uruguaio Herrera nEo adiasse mais o envio do emissdrio Octavio Lapido ao Paraguai.

Lapido chegou a fusung5o em 9 de julho e teve seu primeiro encontro com Solano L6pez no dia 14. Seus argumentos foram bem recebidos de tal forma que iulgou estar perto de fechar o acordo de cooperag5o militar com seu anfitrieo. Em 20 de julho, por6m, o ministro de Relag6es Exteriores paraguaio, fos6 Berges,levou a ele uma resposta negativa. O fato 6 que as relag6es delipez tanto com Bartolomeu Mihe quanto

com fusto fos6 de Urquiza seguiam hanquilas e n5o havia um real interesse da parte dele em quebrar a politica de neutralidade com os vizinhos. O federalista Urquiza, mais pr6ximo, era simpdtico aos governistas blancos uruguaios. Mas mesmo Mihe lhe enviava cartas cordiais para combinar, por exemplo, maneiras prdticas de dirimir quest6es de limites ainda subsistentes entre os dois paises. Por essa 6poca, no Brasil, os pronunciamentos na Cimara dos Deputados, no Senado, no Legislativo rio-grandense e na imprensa em geral instavam o governo imperial a tomar uma posigio firme sobre a quest6o

uruguaia: de um lado, fazendeiros sulistas ultrapassavam de forma contumaz os limites da fronteira norte daquele pais, levando gado e at6 escravos para o territ6rio vizinho.r De outro, os ruralistas orientais reagiam com

A GUERRA DO

PARAGUAI IO9

emboscadas que terminavam frequentemente em torfura e morte dos invasores. O governo do Uruguai criara tarifas de

importagio ao gado trazido

do Rio Grande do Sul, mas fracassara em controlar a circulagio dos animais por suas fronteiras. Tamb6m tentava, sem muito sucesso, impedir o uso de m6o de obra escrava por brasileiros nos limites de seu territ6rio - a escravidSo no Uruguai havia sido abolida durante a guerra de 1848-1852, quando foi necessdrio enviar um contingente de afrodescendentes para as frentes de batalha.

Em meio ao clima de guerra civil que se instalava entre os uruguaios, os brasileiros j6 estavam em armas ao lado do Partido Colorado, apoiando

-

militarmente, mas n5o de forma oficial

-

os movimentos de

Venincio

Flores.

O grupo revolucion6rio encontrou seu maior desafio at6 ent5o em I6 de setembro, em Las Piedras. Confrontado com

as forgas governistas

lideradas por Lucas Moreno, Flores esteve a ponto de ser morto, e o ca-

pit6o Fausto Aguiar, seu aiudante, foi atingido Por uma langa no ombro. Seu Ex6rcito teve de se dividir, seguindo uma parte para o norte do rio Negro, e outra para Durazno, a 180 quilOmetros da capital. Apesar dessa pequena vit6ria, o governo de Montevideu |a pressentia que o movimento estava chegando a um ponto alarmante.

Ao tomar conhecimento desses avangos, Solano L6pez despertou para

oriental. E pediu a seu chanceler fos6 Berges que enviasse uma mensagem a Rufino Elizalde, ministro de Relag6es Exteriores de Buenos Aires, pedindo explicag6es sobre a invasio

a gravidade da ameaga ao governo

de Flores ao Uruguai e sobre em que medida o governo portenho estava participando dessas ag6es. Elizalde respondeu, reiterando a neutralidade de seu pais.

O minisho uruguaio Herrera n5o se satisfez com a mensagem paraguaia, que considerou "d6bil na forma e pouco explicita",a e orientou seu representante a cobrar do governo de Solano L6pez uma ag6o b6lica contra Buenos Aires.

110

LUzocrAvroDELrMA

- A situagSo nao comporta

meios-termos

-

disse Herrera a Lapido.

-

Que o Paraguai mande sua esquadra ao Prata. O momento 6 propicio. Abandonando a in6rcia, Solano L6pezofereceu-se como mediador do

conflito. Ele julgava jd haver chegado o tempo de se reconhecer a relevincia de seu pais, ao menos no contexto geopolitico regional, e desejava ser ouvido. Sua arbihagem, contudo, foi recusada pelos representantes ar-

gentinos, o que significou um profundo golpe no orgulho do lider paraguaio.5 A rejeigSo o levou a repensar seu convivio com os vizinhos platinos, promovendo uma mudanga na din6mica que vinha tendo com eles.

Elizalde e Mitre tentaram amainar o tom da celeuma justificando

a

negativa em aceitar a mediag5o do Paraguai como uma forma de evitar um desaire com o imperador do Brasil, cuja participaE5o

-

garantiram

-

tam-

b6m havia sido dispensada. Ao mesmo tempo, cobraram esclarecimentos sobre o interesse paraguaio na quest5o.6 Em resposta, Solano L6pez disse

que seu desejo de neutralidade era grande, "mas n5o ilimitado".

fu

seguidas gest6es de Herrera e Lapido junto ao governo de fusunEdo

comeqavam a surtir efeito. O l(der paraguaio estava mordendo a isca uruguaia. fd comegava o ano de 1864 abandonando a eterna equidistancia e assumindo uma atitude mais abertamente hostil

i

fugentina. Em muito

breve, sua mudanga de humor tamb6m se voltaria para o Brasil.

xtv O rompante de L6pez

O endurecimento da diplomacia paraguaia coincidiu com o fim do governo do uruguaio Bernardo Berro, em lo de margo de 1864. Considerando que

n5o havia clima politico para eleig6es, o Senado empossou em car6ter

interino o presidente da Casa, Atanasio de la Cruz Aguirre Aguado, como chefe de Estado da Repfblica Oriental.

O novo governante manteve luan fos6 Herrera como chanceler, mas Octavio Lapido foi substituido por fos6 Vdsquez Sagastume no posto do Paraguai. Aguirre os incumbiu de solicitar aL6pez gestdes diplom6ticas

junto ao Brasil, auxilio financeiro e o envio de navios de guerra aos rios Uruguai e Prata, al6m de uma forEa de infantaria e artilharia que correspondesse "ao aparato b6lico brasileiro em dguas orientais". Atanasio Aguirre era um dirigente de palavras fortes, mas de ag6es pouco eficazes.

Nio dispunha

de um Ex6rcito numeroso nem especialmente bem

treinado. As campanhas militares em que o pais havia se envolvido desde 1825 deixaram o efetivo reduzido e seus remanescentes desmotivados para tantos combates. Ainda mais em um momento em que os inimigos eram seus pr6prios compatriotas, muitos vindos de intensos treinamentos

no exilio argentino. Diferentemente de Flores, o novo presidente participara de batalhas apenas na juventude. Agora sexagendrio, desenvolvia uma atuaq5o de burocrata desde 1833, tendo sido comiss6rio de guerra, deputado e senador.

ll2

LUz ocrAvro DE LIMA

E verdade que, ao assumir o governo da Repfblica Oriental, a crise re-

gional i6 se agravara de uma forma que talvez nEo pudesse ser remediada. Seu principal apoiador, Solano L6pez, usufruindo de uma onda de prosperidade e voltado is suas pr6prias quest6es de fronteiras, n5o eru capaz de medidas efetivas para garantir a estabilidade do governo blanco. Na

fugentina confederada, possufa aliados que pouco Ihe aiudavam, por estarem mais preocupados em confrontar os unitaristas de Buenos Aires. Estes,

por sua vez, minavam seu governo, apoiando as ag6es dos colorados. E o Brasil tomava sorrateiramente partes de seu territ6rio, onde 40 mil individuos

- cerca de 18% da populag5o - falavam

portugu€s.

Naquele momento, os dnimos brasileiros estavam especialmente acirrados pelo fato de o administrador da localidade uruguaia de Paissandu,

Leandro C6mez,ter mandado agoitar publicamente um guarda nacional rio'grandense que se recusara a prestar o servigo militar no Uruguai. Ao justificar a recusa, exibira seu titulo de cidadio brasileiro. Em resposta a esse e outros incidentes, o Partido

Liberal, que acabara de assumir o co-

mando do governo imperial, decidiu enviar uma miss5o diplomdtica ao Uruguai chefiada pelo conselheiro fos6 Antonio Saraiva e respaldada por forgas militares, sob a lideranga do vice-almirante )oaquim Marques Lisboa, o bar5o de Thmandar6. Aos 57 anos, o experiente Thmandar6 conhecia bem a regi6o, onde jd havia moshado seu valor em epis6dios hist6ricos relevantes. D6cimo filho

do imigrante portuguOs Francisco Marques Lisboa, tenente da Marinha encarregado do porto de Rio Grande, foaquim passara a inf6ncia entre

a

gente do mar, ouvindo narrativas de viagens, perigos e batalhas. Excelente nadador e conhecedor de todos os tipos de barcos, mercantes ou de guerra, mas sem a ascendOncia nobre que era exigida aos oficiais, apresentou-se

como volunHrio da Marinha aos treze anos e foi aceito aos quinze. Tenente na Guerra Cisplatina aos dezoito, foi capfurado com ouhos brasileiros pelo

navio argentino Ana, no litoral de Santa F6. Depois de tr€s semanas, po-

r6m, arrebatou a embarcag6o e a levou at6 Montevid6u, conseguindo

A GUERRA DO

PARAGUAI I I3

fugir por terra. Ainda no Cone Sul, combateu a Revolugdo Farroupilha

e

na guerra contra Oribe e Rosas. Thmandar6 era um homem de agSo que

se

orgulhava de

se

desincumbir

rdpida e eficientemente de suas miss6es. Sua esquadra, por6m, amargou meses fundeada no estudrio, d espera de ordens do Imp6rio, enquanto as gest6es do conselheiro Saraiva prosseguiam lentamente em

Montevid6u.

O capitio tenente Euz6bio )os6 Antunes, um de seus comandados, recordaria tr€s anos mais tarde, em depoimento escrito, o 6nimo impaciente dos oficiais da Marinha com a indefinigio: "Neo podia ser, realmente,

mais desgragada a situagdo militar do Imp6rio quando tivemos de fazer soar o canhao no rio da Prata para desafronta da honra nacional e para

conseguir as garantias a que tinham direito os brasileiros residentes no Estado Oriental. Nunca almirante algum se viu encarregado de uma miss5o t6o 6rdua, t6o pouco definida, com tEo escassos elementos, como

o ent6o barSo de Thmandar6 nessa circunstAncia!".r Os trAmites consulares se arrastaram sem grandes resultados at6 iulho,

quando o governo oriental aceitou incluir nas negociag6es com o Brasil o

plenipotenciSrio brit6nico em Buenos Aires, Edward Thornton, e o ministro de Relag6es Exteriores argentino, Rufino de Elizalde. Parecia um avanqo, mas logo ficou claro que era uma manobra diversionista de Aguirre, e o grupo se dissolveu em 7 de

julho. Frustrado, Saraiva apresentou um

ultimato ao Uruguai em 4 de agosto: ou um acordo sa(a imediatamente, ou haveria retaliag6es. Ignorado, informou

a

Aguirre que os comandantes

brasileiros iniciariam um ataque ao pais. E retornou ao Rio de Janeiro. Agora, fudo dependia de Thmandar6, que pelrnaneceria em Montevid6u

como a maior autoridade brasileira, cabendo-lhe a diregio pol(tica e militar. O vice-almirante emitiu, entdo, um aviso exigindo que os dois dnicos navios de guerra do Uruguai ,

vido por Mitre

-

oVilla del Salto e o Ceneral

Artigas

-

devol-

permanecessem em suas docas. Apenas a tripulagio do

General Artigas obedeceu

i

determinagSo. Em 24 de agosto, Francisco

Pereira Pinto, capit5o de mar e guerra sob as ordens de Tamandar6,

I

14

LUrz ocrAvro DE LIMA

pahulhava o rio Uruguai com duas corvetas e uma canhoeira quando surpreendeu oVilla del Salto levando tropas da ConfederagSo para lutar contra os colorados. Deu tiros de advert6ncia e ordenou sua rendigfio, mas

a embarcagio uruguaia conseguiu escapar para Sguas argentinas. Duas semanas depois, o capitfio Pereira Pinto avistaria novamente

oVilla

del

Sa/to no rio Uruguai. Dessa vez, suas corvetas atacaram o navio oriental, que encalhou perto de Paissandu, onde sua hipulag5o em fuga o incendiou. Apesar dessas agdes, Tamandar6 tentava demonshar que nEo agia conha

o Uruguai e que tinha inteng6es pacificas. No dia 25 de agosto, aniversdrio

da independOncia da Repriblica Oriental, por exemplo, os navios brasi-

leiros em Montevid6u embandeiraram-se e emitiram salvas festivas de canh6es. E, em oficio de 29 de agosto ao Minist6rio dos Neg6cios Estrangeiros do Brasil, relatou que explicara aos seus comandantes de navio que

o objetivo da missSo n5o era o de molestar os habitantes nem de humi-

lhar a soberania do Uruguai.z Comentou, em seguida, que um procedimento contrdrio poderia levar a uma guerra , para a qual n5o se iulgava preparado, "com o risco de reunir as duas bandas do rio da Prata contra n6s", referindo-se ao Uruguai e ) Argentina.

O estrago, por6m, j6 estava feito e, no dia 30, em meio i escalada de atritos e h mobilizagio de tropas imperiais, o Uruguai rompeu relaq6es diplomdticas com o Brasil. Como resposta, o Imp6rio estabeleceu um quartel e uma guarda fronteiriga de 4 mil homens na regido da divisa com Bella Uni6n para impedir que os uruguaios avangassem em territ6rio brasileiro. Em paralelo, os rebeldes de VenAncio Flores voltaram ao sul do Uruguai, chegando a Florida, a cem quilOmetros de Montevid6u. A conquista da vila se deu de forma brutal. Al6m das baixas sofridas pelos governistas em combate, Flores mandou filr,ilar todos os oficiais sobreviventes. Assustado com o avango da Cruzada Libertadora de Flores, o governo de Aguirre colocou o pais em estado de emerg€ncia. Fechou

o dierio El

Siglo, propagandista dos colorados, deportou centenas de suspeitos de

A GUERRA DO

PARAGUAI I I 5

conspiragao e nomeou um Conselho de Guerra, integrado por fos6 Brito

del Pino e Ignacio Oribe, irmSo mais novo do jd falecido lider blanco Manuel Oribe. No dia l2 de outubro,6 mil homens chefiados pelo marechal de campo rio-grandense |o5o Propicio Mena Barreto e pelos brigadeiros Manuel Luis Os6rio e )os6 Luis Mena Barreto, invadiram o Uruguai. Distribuidos

por duas divis6es de infantaria, que incluiam 1.200 voluntdrios trazidos pelo general Antonio de Souza Netto, tomaram o municipio de Melo, capital da provincia de Cerro Largo, no nordeste do pais. O objetivo principal daquela etapa, por6m, era conquistar Paissandu, cidade estrat6gica e economicamente importante, por ser porto, curtume e local de extraq6o de sal.

O bar6o de Thmandar6 ent5o decidiu unir forgas com Vendncio Flores e, em breve hoca de cartas, propOs um pacto com o lider rebelde. Flores res-

pondeuJhe positivamente, prometendo que, reconduzido ao poder, daria ao Brasil "condigna reparag5o em tudo que fosse justo, equitativo e em harmonia com a dignidade nacional". A alianga seria oficializada em 20 de

outubro como Pacto de Santa Ldcia. Isso feito, parte da esquadra de Thmandar6 aproximou-se de e posicionou-se de forma a

impor um bloqueio

i

Montevid6u

capital. Ao tomar conhe-

cimento dessa movimentag5o, o Paraguai enviou uma nota ao governo brasileiro em que definia a manobra como um ato de guerra.

Solano L6pez compreendeu que o governo blanco estava com

os

dias contados, o que poderia significar um isolamento paraguaio e o com-

prometimento de seu trdnsito na regi5o do Prata como nunca antes havia ocorrido. O governo da Repriblica Oriental valeu-se da sifuaEio para reforgar sua estrat6gia de atigar a intriga entre o Paraguai e o Imp6rio. Em correspond€ncia de24 de outubro ao ministro Berges, o emissdrio Sagastume ape-

lou i vaidade de L6pez para atraiJo i luta contra brasileiros e colorados: "Cabe ao Paraguai a gl6ria invejdvel de levar seu poder e suas armas ao

I

16

LUrz ocrAvro DE LrMA

pr6prio teatro dos acontecimentos, para libertar o grande princ(pio da independOncia e o futuro destes povos".

A seguir, aconselhou uma ag6o de surpresa: "O governo do Paraguai estaria no seu direito se invadisse o Brasil em sil€ncio". E, descartando possiveis apoios ao Imp6rio, avaliava que

Mitre, por ser republicano, n6o

dom Pedro II. Acreditava ainda que os escravos brasileiros seriam capazes de aderir i causa uruguaia, "inimiga de seus opressores". Na mesma mensagem, Sagastume pedia o envio de 4 mil soldados e vinte navios i regiSo oriental, al6m de um subsidio mensal de 80 a 100 mil pesos durante o perfodo de guerra. se aliaria a

L6pez nio se deixou comover pelas palawas do representante uruguaio.

Recusou enviar ao Prata o destacamento militar pedido, assim como o

auxilio financeiro solicitado pelos orientais.s Ele n6o descartava a possibilidade de um confronto com o Imp6rio. Suas ateng6es, por6m, estavam mais voltadas para o Centro-Oeste brasileiro.

O governo oriental entio

se valeu da presenga de seus agentes em

fusungSo para obter uma agdo imediata de L6pez. Entre esses agentes encontrava-se o coronel do Ex6rcito uruguaio )uan f. Souto, que passava por comerciante em fusungio e gozava da intimidade do l(der paraguaio. Souto comegou a entender por onde obteria sua adesio e a oporfunidade de faz6Jo agir.

Na fltima semana daquele m€s de outubro, o governo brasileiro preparava o navio MarquAs de Olinda para uma viagem a Mato Grosso, levando a bordo o novo governador daquela provincia, coronel Frederico

Carneiro de Campos. Souto ficou sabendo que o vapor transportaria grande quantidade de armas e considerdvel quantia em dinheiro. Ele escreveu ao presidente paraguaio, dando conhecimento de tudo e aconselhando-o a se apoderar dos navios. Ironicamente, essa correspond€ncia

foi deixada paraL6pez no pr6prio MarquAs de Olinda, durante uma escala na capital uruguaia, sem que seus tripulantes tivessem conhecimento do

que se tratava.

AGUERRA DO

Em

10 de novembro de 1864, o navio chegou

PARAGUAI I17

afusung5o. O govemador

e sua comitiva foram recebidos com todas as honras

por Solano L6pez,

a

quem o capit5o entregou a carta do agente Souto. Sem abrir a correspond6ncia de imediato, o presidente seguiu em trem para o acampamento

militar de Cerro Le6n, a 56 quilOmetros da capital. d,rrr da tarde do dia seguinte, o MarquAs de Olinda i6 havia levantado dncora e prosseguia viagem, rio acima. Teria sido um percurso tranquilo, Ao

caso L6pez n6o tivesse

lido a mensagem de Souto na base do Ex6rcito

pela manh5.

fu informag6es contidas

na carta, dando conta da preciosa carga, deixa-

ram sua mente agitada. Ele vislumbrou naquela oporfunidade o momento

de empreender uma ag6o que mostraria a forga de sua nag5o sobre o Imp6rio, conquistando ao mesmo tempo uma vantagem estrat6gica, mi-

litar, financeira - e tamb6m de imagem. T&nou, assim, a decisio mais infeliz de sua vida politica atd entSo: sem perder tempo, enviou aos seus ministros em Assunq5o a ordem de que o barco brasileiro fosse perseguido e capturado pelo Tacuari.

Mesmo tendo saido consideravelmente mais tarde, o vapor de guerra paraguaio, sob o comando do capit5o ingl€s George F. Morice, logo recuperou o atraso. O Tacuai era o mais veloz dos navios que sulcavam aquelas dguas. Assim, sem dificuldades, Morice conseguiu alcangar o MarquAs de Olinda antes que o barco deixasse a fronteira paraguaia. Ele

ordenou ao capitSo brasileiro que o seguisse, de volta i capital. Na noite seguinte, os dois vapores jd se encontravam ancorados, lado a lado, no

porto de fusungEo. Todas as pessoas a bordo do navio brasileiro foram colocadas sob cust6dia e proibidas de se comunicar com qualquer um em terra. As armas, cargas e mantimentos foram confiscados, assim como os valores em dinheiro, equivalentes a 200 mil d6lares atuais.a

Ao saber do fato, o ministro brasileiro em Assung5o, Viana de Lima, redigiu uma nota ao governo paraguaio pedindo explicag6es. No dia seguinte, l4 de novembro, seu colega paraguaio fos6 Berges formalmente

I

l8

LUz ocrAvro DE LrMA

declarava que a relagEo de amizade existente entre os dois pafses tinha cessado "pela conduta brasileira de ter invadido a Repriblica

Oriental". A

mensagem tamb6m informava que a navegagSo por brasileiros estava proibida na regi5o. De volta

a

Assungdo, Solano L6pezavaliou com Berges e com seu

irmlo

Ven6ncio as possiveis consequ6ncias que seu rompante acarretaria. Mesmo consciente da gravidade daqueles atos - de guerra, que colocavam o Paraguai no olho do furac5o platino -, acreditava que o epis6dio mostraria que sua nag5o n5o estava adormecida nem disposta a aceitar um papel

coadjuvante diante de seus vizinhos. Ele tamb6m encontrou apoio em Elisa, que louvou sua demonstrag6o como lider militar e o incentivou

a

firme diante dos acontecimentos, assim como de suas consequ€ncias. Ap6s dez anos de relacionamento, ela se tornara uma figura influente ser

n5o apenas na vida pessoal do companheiro, mas tamb6m nas quest6es de Estado. Para dar uma apar€ncia regular

i

tomada do MarquAs de Olinda, uma

Corte do Almirantado foi improvisada. Dias depois, foi divulgada a apreensdo do barco brasileiro como prego de guerra.

O presidente de Mato Grosso foi mantido prisioneiro, assim como o engenheiro militar, o comandante e a tripulagio do vapor.s Depois de alguns dias de deteng6o a bordo, todos, com exceqio dos engenheiros de ouhas nacionalidades, foram transferidos para barracas montadas pr6ximo is margens do rio Paraguai e, depois de algumas semanas, mandados para a fortaleza de Humait6, no sul do pais. Nenhum deles jamais veria

novamente seus parentes ou sua terra, tendo morrido, um a um, na prisio, de fome e maus hatos. O navio brasileiro nunca foi devolvido: seria incorporado

) frota paraguaia

e receberia oito canh6es para uso militar.6

O diplomata dos Estados Unidos em Assungio, Charles Ames Washbum, interveio em favor do representante brasileiro e conseguiu que Viana de Lima recebesse de volta seu passaporte para deixarAssungio em seguranga.

Em carta ao seu governo, Washburn expressou seu julgamento a respeito

A GUERRA DO

PARAGUAI I 19

do epis6dio: "Essa agress5o, de maneira t5o inesperada e insultante, nio deixou espago para acordos e arranjos de termos de paz".

Uma semana depois, com o apoio da fumada lmperial, as forgas rebeldes sob o comando de Ven6ncio Flores avangavam em diregSo a Paissandu, na margem direita do rio Uruguai.

AIi

se armava o cendrio

para a mais encarnigada batalha em toda a Cruzada Libertadora do cau-

dilho colorado.

XV A queda de Paissandu

Embora a direg5o das operagdes militares no Prata estivessem a cargo do vice-almirante Thmandar6, aos olhos do Imp6rio era urgente recolocar o ponto de vista diplomdtico no trato da situag5o. Recorreu-se, para isso, ao ex-ministro da Marinha fos6 Maria da Silva Paranhos, nomeado conselheiro. Ele chegou a Buenos Aires em 2 de dezembro de 1864, sendo recebido por Bartolomeu Mihe. O presidente reafirmou seu deseio de manter-se neutro no

confito, garantindo a Paranhos nunca ter apoiado

Ven6ncio Flores, "nem com um cartucho". O portenho evitava qualquer movimento brusco, qualquer gesto ostensivo que o colocasse em confronto

com o entrerriano Urquiza ou com o paraguaio L6pez, ambos simpatizantes dos blancos uruguaios. Paranhos decidiu, ent5o, entender-se diretamente com Ven0ncio Flores.

Thmandar6 foi buscar o colega brasileiro em Buenos Aires e os h€s tiveram

uma confer6ncia em Fray Bentos, no litoral oeste uruguaio. O caudilho Flores, geralmente inflexivel, estava pasando por uma moment6nea crise de

consci€ncia, por temer um massacre conha seu pr6prio povo em Paissandu. Paranhos e Thmandar6 conseguiram convenc6Jo de que a conquista da

cidade era fundamental para a vit6ria de sua causa e que talvez isso pudesse ser feito de forma menos sangrenta do que se anunciava. Ao

final do

encontro, ouviram do l(der rebelde que era "um dever sagrado a alianga com o Brasil, contra o governo de Aguirre e contra o Paraguai".

122

LUz ocrAvro DE LrMA

Com fusto fos6 de Urquiza, Paranhos decidiu aplicar a velha "diplomacia dos patac6es" i qual o enherriano era mais sensivel. Enviou como emiss6rio a Enhe Rios o coronel Manuel Luis Os6rio, futuro marqu€s de

Herval, com a miss5o de adquirir dele l0 mil cavalos ao preqo exorbitante de treze patac6es de ouro cada. Ao ouvir a proposta, os olhos de Urquiza

brilharam. Ele i6 era o homem mais rico e o maior proprietdrio de terras da Confederagflo, mas ndo resistiu i oferta de 390 mil patacOes, mais de 300 milh6es de reais em 2016. Fechou o neg6cio, que garantiu ao Brasil

uma dupla vantagem: ao mesmo tempo que atraia a simpatia do general, desfalcava enormemente sua cavalaria, muito mais eficiente que a infanta-

ria, neutralizando uma evenfual ameaga ao Imp6rio vinda daqueles lados.l This medidas iam colocando o governo do uruguaio Aguirre em uma situag5o de asfixia. A essa alfura, colorados, n5o apenas dos cenhos urbanos,

mas tamb6m das 6reas rurais, aderiam

is

forgas de Flores, assim como

desertores do servigo militar. E ganhava expressEo o grupo dos fusionistas,

que, desde 1851, propunha a uniio das correntes politicas em uma frente

ampla nacional, o que deixava os blancos mais isolados. Sob o comando de Leandro G6mez, Paissandu era um dos

fltimos basti6es de resist€ncia

dos governistas. Era guamecida por 1.274 homens e quinze canh6es. A po-

pulag5o civil que permaneceu na cidade tamb6m se preparou para suportar o ataque. O capitio de mar e guerra brasileiro Francisco Pereira Pinto enviou dois navios para isolar a regiio por mar. Thmandar6, que estava em Buenos Aires at6 esse momento, assumiu o comando do bloqueio em J de dezembro. O coronel portenho ]os6 F6lix Murafure o seguiu com o vapor Cuardia Nacional. Na mesma data, por terra, Ven6ncio Flores atingiu as cercanias da cidade com 3 mil homens, quase todos a cavalo.

Enquanto

as hopas brasileiras se apresentavam

em comportados unifor-

mes compostos de casacEo azul-marinho, calga branca e sapatos comuns, a horda de Flores trajava roupas civis mais rfsticas e talvez at6 capazes de

causar uma impressio mais forte nos adversdrios: ponchos, chapel6es,

A GT,IERRA DO

lengos no pescogo, botas longas, l6tegos,

is

PARAGUAI 12}

vezes langas nas m6os e

garruchas na cintura. Nas fileiras do caudilho, seguia, como em outros

confrontos, uma mulher com chap6u de palha, camisdo claro, calga azul, sapatos sem salto e cinto passado na altura do umbigo. Era a fndia Catalina,z cuja habilidade com a langa e a ferocidade em combate jd a tornavam lenddria.

Buscando evitar o confronto brutal que se anunciava, Flores enviou

um emissdrio oferecendo a G6mez a possibilidade de rendig5o, com a garantia de poupar sua vida e a dos habitantes da cidade. Este respondeu com um bilhete: "56 me renderei quando sucumbir!". Entre 6 e 8 de dezembro, Flores liderou o primeiro ataque, com o uso de oitocentos soldados de infantaria, sete canh6es e um destacamento adi-

cional de seiscentos brasileiros. As defesas montadas por Leandro G6mez evitaram bravamente um resultado desfavordvel e ainda capturaram tr€s canh6es dos invasores.

O ataque a Paissandu deixou claro

Aguirre que a coalizlo entre os rebeldes de Flores e as ForEas Armadas brasileiras estava muito perto a Atanasio

do hiunfo. Sua 6nica arma agora era a propaganda, por meio de ag6es politicas de efeito. Aprincipal delas ocorreu em l8 de dezembro, um domingo.

Naquela manha, diante de uma grande concentraq5o popular, ele subiu os degraus de uma plataforma montada na praga Independ6ncia, no

cenko

de Montevid6u, acompanhado de seus ministros, generais e membros da comissSo extraordindria administrativa. Depois que todos tomaram assento,

o escrivSo do governo leu seus decretos 13 e 14, que declaravam nulos os tratados com o Brasil firmados em

l2

de oufubro de 1851, assim como suas

alterag6es de 1852. Concluida essa leitura, Aguirre tomou a palavra:

-

Esses hatados foram arrancados

violentamente

i

Repdblica pelo Impdrio

is repetidas queixas e aos irritantes ultrajes que nos vem fazendo sem motivo o do Brasil!

-

discursou ele.

-

Se hoje chegamos a este ato, 6 devido

Brasil. E que d5o justissimo direito

i

Repriblica de proceder como estamos

fazendo! Viva a independ€ncia oriental!

124

LUlzocrAvroDEUMA

Depois do discurso do presidente, o escrivSo descoseu as folhas dos tratados e as foi passando, uma a uma, a um funciondrio encarregado de reduzi-las a cinzas em uma pira improvisada no palanque, enquanto uma banda executava o hino nacional. Ao fim do ritual, o escrivf,o separou a capa e os selos para serem enviados ao museu da cidade. Houve aplausos e alguns gritos da

multideo, como "Morte

aos mdcctcosr e aos

traidores!".

O rumo do confito, por6m, em nada se alterou. Ap6s o fracasso

da

primeira investida contra Paissandu, Thmandard e Vendncio Flores decidiram esperar pelo marechal de campo ]o5o Propicio Mena Barreto, que vinha do norte com 7.01I homens, doze canhdes e duzentas carrogas de abastecimento. Suas tropas passaram facilmente por grupos de garichos uruguaios armados apenas de mosquetes, facOes e boleadeiras (esp6cie de

funda composta de bolas met6licas amarradas entre si por cordas).

Enquanto o reforgo n6o chegava, os rebeldes sofreram alguns duros reveses. Os resistentes de Paissandu conseguiram capturar quarenta

colorados e quinze brasileiros, que foram decapitados e tiveram as cabegas espetadas acima das trincheiras do Ex6rcito de G6mez,

i

vista de

seus compatriotas.

Finalmente, em29 de dezembro, o marechal Mena Barreto acampou com suas tropas a poucos quil6metros da cidade, i espera do sinal para atacar. No riltimo dia de 1864, is nove horas da manhe, brasileiros e colorados langaram a investida final contra Paissandu, armados de fuzis e canh6es franceses La Hitte, que disparavam obuses a uma distincia de

2,4 quil6metros. Enquanto as canhoeiras da esquadra de Tamandar6 bombardeavam frontalmente as defesas dos governistas, as tropas brasileiras atacavam pelo flanco direito e as do general Flores pelo esquerdo.

fu

divisOes em terra tomavam rua ap6s rua, incendiavam casa ap6s casa.

fu 4 mil

bombas langadas pelos agressores podiam ser vistas e ouvidas

at6 em algumas partes de Entre Rios e Corrientes, do outro lado do rio

Uruguai. Conhecida como a "cidade branca", Paissandu ia se convertendo em uma grande fogueira.

A GUERRA DO

PARACUAI IZ'

Depois de dois dias de combates quase ininterruptos, com os ombros inchados pelos coices das carabinas que ndo pararam de atirar um s6 mo-

mento, G6mez e seus soldados se refugiaram na igreia da praqa principal, ainda preservada, onde tamb6m se encontrava parte da populagEo civil. Os campan6rios foram improvisados em postos de observaEso dos movimentos inimigos. A bandeira oriental tremulava em uma das torres. Tamandar6 deu a seus homens 48 horas para igarem o pavilhdo do Brasil

em seu lugar. O prazo por pouco n5o foi cumprido

i

risca: 52 horas de

fuzilaria depois, e com a rendigdo dos resistentes, o marinheiro Marcilio Dias, negro liwe que havia ingressado na Armada Imperial uma d6cada antes, subiu

) torre da matriz

e deu o grito de vit6ria, acenando Para seus

companheiros com a bandeira do Brasil. Ao depor as armas, Leandro G6mez recebeu de um oficial brasileiro a oferta de ficar sob a cust6dia das hopas imperiais com a garantia de sua vida. O governista recusou a proposta e foi entregue ao general colorado Francisco Bel6n, que pretendia levdJo at6 Flores. Antes que pudesse ser

conduzido, o prisioneiro foi morto a tiros pelo general Gregorio Sudrez, seu compatriota, conhecido como Goyo |eta (Coyo, diminutivo de Gregorio, e ieta,beigo, por ter l6bios grossos salientes),a que tivera vdrios membros de sua familia mortos por G6mez. Alguns dos soldados de Flores alrancaram o

longo cavanhaque do cad6ver, tiraram seu uniforme e suas botas, apunhalaram seu colpo e o arrastaram pelas ruas como despoio de guerra' Somente alguns dias depois seus restos mortais seriam reclamados pelos parentes.

A selvageria que se instaurou ap6s a batalha estava aPenas comegando.

Um soldado florista, Eleut6rio Muiica,levaria o cavanhaque de G6mez para seu navio e o usaria como pincel no rosto de seus companheiros, em tom de esc6rnio. Os sitiadores uruguaios safram entre

as

i

caga de sobreviventes

ruinas e, encontrando individuos armados aPenas de pedras e Paus,

eliminaram a golpes de punhal ou de espada. Como estava se tornando habitual nas guerras civis uruguaias, Gregorio Sudrez ordenou que os prisioneiros restantes fossem quintados, o que

os

126

LUrz

ocr

vro DE LrMA

significava que um em cada cinco seria executado. No caso de Paissandu,

o nfmero de condenados chegava a mais de cem. Os primeiros grupos, de cinco em cinco, jd haviam sido passados em armas e mais um comegava a ser alinhado em frente ao pelotdo, quando o coronel portenho Jos6

Murature impediu que a matanga prosseguisse, invocando uma ordem vinda de Flores e Thmandar6. No lado colorado, a baixa mais lamentada foi a da india Catalina, que morreu de langa em punho. Leandro G6mez se tornaria uma figura mitica na hist6ria uruguaia, e a resistoncia na povoaqio seria eternizada em poemas , como lnyocacidn a

Paysandi, de olegario Andrade (Sombra de Paissandull Leito de mortel onde a liberdade caiu violadall Altar de supremos sac/,ficios!), e cang6es como Heroico Paysandrt, que traz os seguintes versos do cantador argentino Gabin o Ezeiza ( I 858-l9l 6): Heroico Paissandu, eu te sarido Irm5o da pdtria em que nasci Teus versos e tuas gl6rias incandescentes Se cantam em minha terra como aqui

Os bardos que temos no Prata

Que est5o no Olimpo em sua cang5o Dedicam a esse povo de valentes Sua maior e sublime inspiraqio

A populagdo de Entre Rios, que havia testemunhado i distincia o espet6culo desesperador da queda de Paissandu, foi tomada de uma in-

o

hauma levou o coronel entrerriano Manuel Navarro, indignado, a cobrar, em carta,t uma atifude de Urquiza:

tensa comogdo.

os atentados e crimes que a cada dia cometem

os infames brasileiros

nos enchem de coragem e s6 ansiamos o momento de vingar o sangue

dos mdrtires de Paissandu. Os amigos, cremos e esperamos que Vossa Excel6ncia ndo manterd a calma diante dos b6rbaros crimes dos brasileiros.

A GUERRA DO

PARAGUAI I27

Urquiza, por6m, guardou sil€ncio absoluto, mantendo-se recolhido )s suas est6ncias e ao Paldcio San )os6. E em 23 de fevereiro respondeu posi-

tivamente a um pedido de Bartolomeu Mitre de que apoiasse a causa do Brasil no embate. O presidente portenho, com grande al(vio, enviou logo

em seguida ao colega entrerriano uma mensagem de agradecimento na qual afirmava: "Nos toca combater de novo sob a bandeira imperial!". Assim, os blancos orientais estavam enhegues

i

pr6pria sorte. E somente

uma intervengio militar do Paraguai poderia promover uma virada significativa em sua situag6o.

xvt O Paraguai invade o Brasil

Embora preocupado, dom Pedro II estava razoavelmente satisfeito com o curso dos acontecimentos na regido platina. Tudo indicava que a vit6ria das forgas de Flores e do contingente brasileiro sobre o govemo blanco no Uruguai

chegaria em muito breve e, com ela, certamente um periodo de paz. Suas ateng6es naquele momento se viam mais voltadas para o plano

dom6stico, com os preparativos para o casamento de suas filhas Isabel e Leopoldina. Temendo traumas semelhantes ao que passara com seu mahim6nio arranjado, o monarca havia pedido ajuda na busca de bons partidos a seus parentes na Europa, frisando que os jovens escolhidos deveriam passar um

tempo no Brasil, ainda que sua vinda n6o implicasse em "compromisso

pr6vio de casamento". O principe de foinville, casado com sua irmi Francisca, indicou seu sobrinho franc€s Gastio d'Orleans, o conde D'Eu, de 22 anos, filho do duque de Nemours e neto do rei Luis Filipe, deposto pela revolugflo de I848. O ouho jovem sugerido foi o alemio Lu(s Augusto

Maria Eudes de Saxe-Coburgo-Gota, duque de Saxe, de dezenove anos, primo de Gastzio, nascido e criado no mesmo Castelo d'Eu dos Orleans. O plano inicial era casar Gusti, como era conhecido o alemflo, com a herdeira do hono brasileiro.rAo chegar, por6m, ele e Leopoldina logo iniciaram um namoro, e o primo franc6s aceitou a proposta de esposar Isabel.

Luis Augusto, alto, de cabelos castanhos e olhos azuis, era extrovertido,

I

l0

LUrz ocrAvro DE LIMA

carism6tico e despreocupado. Gostava de cagar e logo conquistou a simpatia dos sogros. Gastdo, no geral, era mais introspectivo, talvez por ser um

pouco surdo. Criticava com frequ€ncia o estilo de vida brasileiro e fazia questeo de expressar sua opini6o sobre tudo. Tinha cabelos claros, sobran-

celhas finas, olhos pequenos, que nunca pareciam totalmente abertos, e feig6es delicadas. Um bigode curto era o

fnico

aspecto de maturidade no

rosto quase infantil. Formava um par improv6vel com Isabel, baixinha, de

bochecas fartas, nariz aquilino, cabelos ondulados, prilpebras levemente ca(das sobre os olhos.

.o

o (_) I

9

E

a

Princesa Isabel e o Conde D'Eu, rec6m-casados, em 1864

A GUERRA DO

PARAGUAI I3I

O casamento de Isabel e Gastdo ocorreu em l5 de outubro de 1864, na Capela Imperial, no Rio de Janeiro, celebrado por dom Manoel foaquim da Silveira, arcebispo da Bahia e primaz do Brasil. Foi retratado por Pedro Am6rico e Vitor Meirelles, artistas famosos por suas representag6es dos mo' mentos hist6ricos do Imp6rio, e chegou a ser objeto de uma cr6nica do critor Machado deAssis

noDidio doMo

es.

delaneiro.z Ap6s a cerim6nia, houve

uma parada militar comemorativa em frente ao Paqo Imperial, no centro da cidade, e o casal seguiu para Petr6polis, onde passaria a lua de mel.

O matrimOnio de Lufs Augusto e Leopoldina foi realizado exatamente dois meses depois, em

l5

de dezembro, deixando em Pedro

II

a sensagSo de

que havia cumprido com 6xito uma etapa fundamental de sua vida.

A calma do soberano foi abalada ao saber que, ao mesmo tempo que Thmandar6 e Vendncio Flores realizavam a investida final contra o alvo estrat6gico que era Paissandu, o Ex6rcito paraguaio iniciava um violento ataque

i

provincia de Mato Grosso.

O Impdrio ainda tentava tratar pela via diplomdtica o epis6dio

da

captura do vapor MarquAs de Olinda quando foi surpreendido pela noticia de que o forte Nova Coimbra, no lado brasileiro do rio Paraguai, havia sido

devastado por soldados guaranis. Se o arresto do navio brasileiro havia sido fruto de

um impulso

de

Solano L6pez, a tomada de Mato Grosso era visivelmente resultado de um plano preparado com grande antecedOncia. At6 um ano antes, o Ex6r-

cito paraguaio contava com, no mdximo, 28 mil veteranos. Em margo de 1864, SolanoL6pez comeqou a engrossar seus contingentes ao reunir no acampamento militar de Cerro Le6n

l0 mil rec6m-alistados de l6 a 50 anos

de idade, que passaram a ser treinados para a guerra pelo major Pedro Duarte. Ao mesmo tempo, exercitaria I7 mil recrutas em Encarnaci6n,

l0 mil em Humaitd,4 mil em fusung5o e 3 mil em Concepci6n. Portanto, at6 agosto, 64 mil novos soldados foram preparados para entrar em combate. Thmb6m havia montado uma esquadra composta peloTacuai e pelos vapores Paraguai,lpord,lguret,leiui,Salto,Pirabebd,lbera

eParand. A eles

l)Z

LUz ocrAvto DE LrMA

foi agregado o apreendido MarquAs de Olinda. Era um poderio, mesmo

se

confrontado com todas as nag6es pr6ximas reunidas. Aos irm6os e aos auxiliares pr6ximos, como fos6 Berges, Vicente Barrios e Safumino Bedoya, Solano

lipezexplicou

as raz6es que o levaram a

optar

pela invasSo de Mato Grosso: "Se n5o o pegarmos agora, teremos que ir a las manos com o Brasil em algum outro momento menos conveniente para n6s. E preciso fazer-me respeitar pelas repriblicas vizinhas dando uma lig6o ao Imp6rio".l L6pez insistiu que n5o poderia assegurar a independ6ncia paraguaia, a fixag5o de limites com o Brasil e a

fugentina ou o dom(nio dos rios sem

enfrentar e vencer o maior adversdrio. A guerra que seu pai menos desejara em toda a vida estava gomegando. O paraguaio tamb6m contava receber alguns apoios importantes como o de seu amigo Urquiza, de Enhe Rios e Corrientes, e possivelmente do

portenho Mitre. O Uruguai de Aguirre seria um aliado natural e certo. A seu ver, tal coalizlo bateria com facilidade o Imp6rio, que, apesar de sua extensio, dispunha de um contingente armado reduzido

efetivos

- e pouco organizado. Um gigante

- de l8 mil

com p6s de barro.

Em I I de dezembro o governo paraguaio havia emitido uma declarag5o de guerra ao Brasil. O Imp6rio deu pouca importincia

i

ameaga, acredi-

i

regilo do Mato

tando que n5o teria nenhum efeito pr6tico. Pordm, no dia Z4,vflspera de Natal, L6pez deslocou

Grosso duas colunas, uma de 5 mil homens sob o comando do coro-

nel Vicente Barrios, seu cunhado, e ouha de 4 mil guiados pelo coronel Francisco Isidoro Resquin. As hopas seguiram em cinco vapores, entre eles o MarquAs de Olinda, dotados ao todo de doze canh6es.

No dia 27 de dezembro, a vanguarda da forga de Barrios, com 3.200 soldados, atacou o forte brasileiro de Nova Coimbra,

is

margens do rio

Paraguai,localizado a cem quil6mehos de Corumb6. Mesmo preiudicados

pelo elemento-surpresa e pela absoluta inferioridade num6rica - eram apenas 235 brasileiros, dos quais 155 militares, dez indios guaicurus e

A GUERRA DO

setenta mulheres

-,

PARAGUAI I)}

os sitiados resistiram sob o comando do tenente

coronel

Hermenegildo Portocarrero, que ali se encontrava em visita de inspeg6o, acompanhado de sua esposa, Ludovina, e da filha Carlota. Naquela noite, sob a lideranga de dona Ludovina, as mulheres abrigadas no forte fabricaram 3.500 balas de

fuzil com o auxflio de buchas feitas

com retalhos de roupas. Os resistentes provocaram cerca de duzentas baixas nas hostes de Barrios.

Na manha seguinte, o comandante paraguaio intimou o forte a se render. Portocarrero respondeu: "Tenho a honra de declarar que, segundo a doutrina que rege o Ex6rcito brasileiro, a

nio ser por ordem

de autori-

dade superior, a quem transmito c6pia desta nota, somente pela sorte das armas entregarei Coimbra".

Ap6s dois dias de combates, por 6gua e por terra, os brasileiros aban-

donaram o forte em direg5o a Corumb6. A fuga foi empreendida

i

noite,

sem ser pressentida pelo inimigo. Ao perceber o ocorrido, os paraguaios

tomaram dez canh6es da fortificaqEo e seguiram os rastros dos fugitivos. Corumbd era uma cidade de porte razoflvel,ponto de intenso com6rcio

fluvial, com mil habitantes, al6m de ter uma boa posig6o defensiva e uma guamig6o bem equipada. Esta era comandada pelo coronel Carlos Augusto de Oliveira, eue incentivou os moradores a ficar e resistir.a Mas, assim que soube da aproximagio dos paraguaios, o militar p6s suas tropas num barco e

tomou o rumo de Cuiab6, a capital da provfncia. Um ato de covardia que

encheu a populagSo de ira e vergonha. Quando os paraguaios chegaram i cidade, em 4 de ianeiro, promoveram um saque generalizado. As casas foram pilhadas e os obietos de valor divididos entre os soldados. fu mulheres mais jovens foram levadas para o barco do comandante Barrios. Os homens aprisionados seriam mandados

para campos de habalho no Paraguai, em cidades como Concepci6n, ou simplesmente mantidos em estado de penriria na capital fusungio. Permaneceram ali apenas

as criangas e as idosas, que

a trabalhos forgados.

tamb6m foram submetidas

134

LUz ocrA\,ro DE LIMA

O coronel Carlos Augusto de Oliveira e seu contingente, que haviam fugido antes do ataque, n6o foram muito longe. O navio Anhambai, qre os levara,

foi capfurado pelo vapor paraguaio lpord e todos os ocupantes

feitos prisioneiros. Ao mesmo tempo em que

esses eventos

ocorriam, mais ao sul a coluna

de Francisco Resquin invadia outra porgio do territ6rio mato-grossensel

com apenas dezenove soldados para defend0Ja, a col6nia militar de Dourados foi dizimada em 29 de dezembro. Seu comandante, o tenente )o5o Ribeiro, deixou uma mensagem escrita antes de sucumbir is forgas paraguaias: "Sei que morro, mas meu sangue e dos meus companheiros

servirio de protesto solene contra a invasEo do solo de minha Pe|aia".

O avango dos soldados guaranis prosseguiu por outras

localidades,

como Nioaque, Miranda e Coxim, mas os invasores ndo chegaram a atingir

Cuiab6, iustamente a cidade mais preparada para resistir a um ataque. Conquistados aqueles objetivos, Vicente Barrios e Francisco Resquin retornaram

a

fusungio levando cabegas de gado, armas

e munig6es apreendidas,

deixando pequenas guarnig6es em cada ponto ocupado. Alguns dos moradores da regido deflagrada pensaram ter visto no coronel Resquin o homem que havia passado semanas em Corumb6 um ano antes.

O paraguaio havia

se apresentado como fazendeiro e frzera muitas pergun-

tas sobre as localidades pr6ximas, a pretexto de adquirir terras por ali.

Olhando em retrospecto, a conclusdo foi de que aquela visita havia sido um ato de espionagem preparat6rio da futura agSo militar ordenada por Solano L6pez.

XVII O triunfo colorado

Depois da trdgica conquista de Paissandu, as tropas brasileiras receberam ordens de marchar com Vendncio Flores sobre a capital uruguaia. Em 2 de fevereiro, iniciaram o cerco por meio da cidade pr6xima de Col6nia de

Sacramento, onde as forgas coloradas acamparam

i

espera da renrincia

do governo blanco.

Aguirre, contudo, n6o parecia disposto a entregar o poder sem luta. Ordenou

a

conquista da cidade brasileira de Jaguar5o, munic(pio localizado

no extremo sul do Brasil e fronteirigo ao Uruguai. Uma forga de I.500 soldados governistas dividiu-se em dois corpos, um sob o comando do ge-

neral Bas(lio Mufloz e outro sob o do coronel Timoteo Aparicio. O ataque

foi facilmente repelido pelos brasileiros. No caminho de volta ) capital, o pelotdo do general Mufloz foi saqueando propriedades e capturando todos os escravos que encontrou.

Em 9 de fevereiro, numa manobra politica um tanto desesperada, Aguirre fez arrastar e pisotear uma bandeira brasileira, supostamente cap turada por Mufloz em )aguarIo, pelas avenidas litor6neas de Montevid6u, ao som de uma banda de m(sica. Tudo foi feito de forma a que os efetivos embarcados nos navios de Thmandar6 testemunhassem o espet6culo

da bafa.

fu noticias da aproximagSo

de Flores e da marcha de 20 mil soldados

brasileiros para a capital despertaram nos governistas a tentaEso do quanto

I

16

LUrz ocrAvro DE LrMA

pior melhor. Havia entre eles os que viam em um possivel bombardeio de

Montevid6u, e no caos que sobreviria, uma forma de angariar a solidariedade de nag6es europeias no conflito, ahaindo, assim, uma intervengio externa que lhes assegurasse a manutengio do poder. Inglaterra, Franga, Espanha e It6lia mantinham um intenso com6rcio no Prata e - imagina-

vam os blancos

-

tomariam seu partido para evitar prejuizos aos seus

neg6cios. Foi enviada, inclusive, uma missdo a Napoleio III, com o pedido de que ele mandasse forgas para apoiar a causa.

O mandato de Aguirre terminou em l5 de fevereiro, e o presidente do Senado, Tomds Villalba Alb(n, representando um grupo favordvel d paz, assumiu a Presid€ncia da Repfblica. Poucas horas ap6s a posse, concordou

em selar um acordo com os rebeldes colorados. No mesmo dia, hopas francesas, italianas e espanholas desembarcaram em Montevid6u, a pedido de

Villalba. Ndo para combater os floristas, como desejavam os blancos radicais, mas para dissuadir esse grupo de tentar um golpe para retomar o poder.

Nenhum tiro precisou ser disparado, e Montevid6u capitulou intacta. O conselheiro Paranhos acreditava que n5o era adequado obter a rendi96o da cidade e passdJa incondicionalmente a Vendncio Flores. Insistiu

que a capitulag6o de Montevid6u deveria ser negociada por ele, conjun-

tamente com o lider colorado. Flores mostrou-se cordato quanto a isso, honrando as promessas feitas, e, em 20 de fevereiro de 1865, assinou o Protocolo de Paz de Villa Uni6n com o brasileiror e o senador uruguaio

Manuel Herrera y Obes. Ao assumir o governo provis6rio que foi constifuido pelo acordo, anistiou todas

as partes

nulos os atos contra o Brasil e devolveu

i

envolvidas no conflito, declarou

nagio vizinha

as terras confisca-

das pelos blancos.

Subitamente, a disc6rdia parecia se dissipar, e as negociag6es apontavam para um desfecho sereno. Pelo lado brasileiro, por6m, havia fric96es: Thmandar6 era o comandante em chefe das operag6es e se sentia posto de

lado por Paranhos, que nio o consultava mais.z Ele queria um desagravo pelo que os blancos haviam feito

i

bandeira nacional em 9 de fevereiro e

A GUERRA DO

PARAGUAI I37

punig6es severas aos respons6veis pela queima dos tratados em praga priblica. Aguirre, no entanto, retirou-se da cena politica discretamente, assim

como parte de seu grupo, sem sofrer maiores consequ6ncias. Dias ap6s a assinatura do Protocolo, o governo de Flores desagravou

a

bandeira brasileira, igando-a no forte de San fos6 e saudando-a com uma salva de

2l

tiros, respondida, ao mesmo tempo, pela corveta Bahiana,

com a bandeira uruguaia igada no mastro grande. A noticia do fim da guerra foi recebida com festa no Rio de |aneiro. O imperador brasileiro foi aclamado por milhares de pessoas ao desfilar pelas ruas ap6s a proclama96o da vit6ria.

Mas, quando divulgados os termos do acordo, a opiniio priblica logo

se

reverteu. Tamandar6 criticou ao governo imperial, por escrito, a benevol€ncia de Paranhos com o inimigo e anexou

i

mensagem um pedido

de demissSo, que n6o foi aceito.r O ministro dos Neg6cios Eshangeiros prop6s ao imperador a destituigEo de Paranhos como forma de acalmar os Animos

-

o que foi feito. Mesmo assim, o futuro visconde do Rio Branco

recebeu pr0mios no Uruguai, na Argentina e at6 mesmo no Brasil, pelas ag6es que ajudaram a p6r

fim ao conflito e a formar uma alianga com o

novo governo oriental.

Ao voltar ao Brasil, Paranhos se defendeu no Senado: "Digam o que quiserem sobre o ato diplomdtico de 20 de fevereiro; voc€s n5o serEo capa-

tirar de mim esta grande convicg5o: o Pensamento de que naquela solug5o eu salvei a vida de 2 mil compahiotas e evitei a deshuigio de uma zes de

importante capital".

A Cruzada Libertadora havia atingido seu objetivo. Por6m, longe de iniciar uma era de paz no Cone Sul, o fim dos combates no Uruguai foi apenas o prehidio da grande trag6dia que assolaria o continente.

XVIII Explode o confito

No final de dezembro de 1864, ap6s a invasSo de Mato Grosso, ainda,sem suspeitar da formagSo de uma frente que se fortalecia entre os demais paises do Prata, Solano L6pez pediu ao governo argentino a permiss5o

para que as tropas paraguaias atravessassem seu territ6rio rumo ao Rio Grande do Sul. Naquele momento, quando a contenda entre blancos

e

colorados estava nos estertores, ele pretendia exigir uma satisfagSo mili-

tar sobre a invas6o do Uruguai pelo Brasil. Em carta a Justo fos6 de Urqtsiza,garantiu: "Essa manobra necess6ria nf,o representa uma ameaqa is provincias amigas nem ao governo nacional argentino". O general Urquiza expressou o seu "apoi o" aL6pez, mas aconselhou-o a pedir a permiss5o do governo de Buenos Aires. Em 14 de ianeiro de 1865, o ministro )os6 Berges escreveu ao chanceler Rufino de Elizalde: "solicitamos que os Ex6rcitos do Paraguai possam transitar pela pro-

vincia de Corrientes no caso de que a isso forem obrigados Por oPerag6es de guerra".

Depois do retorno "em cima do muro" dado pelo federado Urquiza, L6pez teve o pedido negado por Mitre. O lider portenho argumentava que se permitisse o trAnsito do contingente estaria rompendo a posig5o de

neutralidade que defendia em priblico. A resposta sugeria ainda que ele utilizasse a porg6o entre Paraguai e Brasil, onde havia "uma ampla zona fronteiriga na qual ambos os paises poderiam cruzar armas".

140

LUz ocrAvro DE LIMA

Pressentindo que essa negativa seria respondida militarmente pelo Paraguai, o c6nsul argentino Adolfo Soler pediu baixa de seu posto em Assung5o, alegando que seria substifuido em breve por um funciondrio mais graduado. E partiu para Buenos Aires.

O clima

se agravava e,

em l5 de fevereiro, Solano L6pez decidiu con-

vocar uma sesseo do Congresso Nacional em car6ter exhaordindrio. Por determinag5o de L6pez, foi aprovado um pacote de medidas contra o Imp6rio do Brasil, al6m de outorgado ao presidente o titulo de marechal (mariscal) dos Ex6rcitos pdtrios, o que lhe facultava nomear seis brigadeiros e tr0s generais de divisEo.rFoi criada tamb6m a Ordem Nacional do

M6rito e conferida a ele pr6prio o titulo de cavaleiro

dessa comenda,

inspirada na Legi5o de Honra criada pelo imperador franc€s Napole6o Bonaparte. o congresso Extraordindrio lhe permitiu ainda a contratagro de um empr6stimo de at6 5 milh6es de libras esterlinas na

city

de l.ondres

e a livre emissSo de papel-moeda.

-

O governo argentino deveria nos aiudar na guerra que nos move o Brasil, e que rompe o equilibrio no Prata - declarou L6pez no Congres-

-

Quando hri uma nagio inquieta e maligna disposta a causar danos is demais, todas as outras t€m direito a reunir-se para reprimi-la e reduzir so.

sua possibilidade de fazer mal!

Em

18 de margo, a notfcia de que a

fugentina havia permitido

i

esqua-

dra do agora almirante Thmandar6 tomar a diregro do rio Paraguai foi a gota d'6gua que levou o Congresso Extraordindrio a autorizar uma declarag5o de guerra ao governo de

Mitre. Nela, L6pez enumerava

os motivos

para iniciar o confronto com a nagSo vizinha, que iam da negativa de con-

ceder "o trdnsito inocente por seu territ6rio" e da "coniv6ncia argentina

com a derrubada do governo uruguaio" at6 as caricaturas de sua pessoa publicadas pela imprensa portenha. A declaragio de guerra foi enviada no dia 29 de margo de 1865 pelo ministro |os6 Berges ao forte de HumaiH, no sul do pais. Ali, o coronel wenceslao Robles, comandante da guamigio, incumbiu o tenente Cipriano

A GUERRA DO

PARAGUAI I4I

Ayala de levS-la ao cdnsul paraguaio em Buenos Aires, F6lix Egusquiza. Este recebeu o documento em 3 de abril e fez a.notificagdo ao chanceler

Rufino de Elizalde, que o passou a Bartolomeu Mitre. Em seu gabinete, observado por Elizalde, o presidente argentino leu e releu a notificagio, mantendo o pedago de papel nas m5os por um longo

tempo, em silCncio. De repente, seu rosto se iluminou e o semblante contraido relaxou.

-

E se...

-

Deixou a expressSo no ar, aparentando estar organizando o

pensamento antes de emitir uma frase completa.

-

E se mantivermos

essa

declaraEso oculta do priblico por algum tempo?

Elizalde franziu a testa, intrigado. Consciente de que haveria um ataque paraguaio de qualquer ieito e que perduravam fortes bols6es de apoio nas prov(ncias iquele que fd era chamado de "Atila das Am6ricas", o melh or a fazer seria engavetar o documento e aguardar um ato de agressEo concreto.2

-

Veja, Rufino. Qualquer coisa que fizermos agora pode6 dar aL6pez

um cdsus belli, um pretexto para iustificar sua guerra - explicou Mitre. - Por6m, se ele nos atacar sem que essa declaragSo chegue ao priblico, a fugentina aparecerd, mesmo aos olhos dos nossos opositores, como vitima de uma agress5o grafuita e desleal. - E resumiu: - Serd a luta da liberdade contra a tirania!

O ministro

das Relag6es Exteriores achou a ideia excelente. Havia

menos a perder

- afinal, a iurisdig5o sob ameaga era a de Urquiza - e

muito a ganhar em termos de ades6es. 56 era preciso ocultar o contefdo do documento da classe politica e da imprensa. Em paralelo, entraria em

entendimento secreto com o Brasil, a fim de preparar o terreno Para o confronto. Mitre pediu ao chanceler um cuidado adicional:

- O emissdrio paraguaio... - Sim, Cipriano Ayala € o nome dele - emendou

Elizalde.

-Vamos det6Jo sob a alegag5o de espionagem. Ele n5o pode ter contato com ningu6m nem dizer o que veio fazer no pais - ordenou o presidente.

142

-

LUtzocrAvro DE LrMA

Tem razeo - disse o chanceler.

- N5o podemos

correr esse risco.

Assim, Ayala foi preso quando se preparava para deixar Buenos Aires. Sulpreso, ele nunca imaginaria que sua passagem pela cidade lhe custaria

uma perman€ncia no cdrcere por quatro longos anos.

Em I I de abril, o Paraguai iniciou o movimento previsto pelo lider portenho. Determinou o envio ao litoral argentino de uma flotilha de cinco vapores de guerra, entre eles o MarquAs de Olinda, roubado do Brasil. A operag5o b6lica seria comandada por Wenceslao Robles, imediatamente

promovido a general gragas hs novas prerrogativas concedidas a L6pez pelo Congresso. Naquela data, o Mariscal divulgou um proclama, com mais

um de seus famosos discursos de motivag5o. Soldados! Acatando a soberana resolugSo da Nag5o, ireis por segunda vez levar vossas armas ao solo argentino para lavar a afronta que a demagogia ndo cessa de jogar sem motivo algum sobre nossa p6tria!

Apesar dos cuidados de Mitre, os rumores de que haveria um ataque ao pafs corriam por Buenos Aires desde 8 de

abril. Naquela data, o repre-

sentante inglBs Edward Thornton perguntou a Elizalde se os boatos procediam, e o argentino negou ter conhecimento do assunto. NEo obstante, a novidade se espalhava.

No dia 11, o pr6prio 6195o de imprensa mitrista,

o La Naci6n Argentina, publicou:

Uma noticia da maior gravidade circula desde sdbado em Buenos Aires: tal 6 a que o tirano do Paraguai, chegando ao paroxismo da loucura, depois de haver declarado guerra ao general Flores e ao Brasil, declarou-a tamb6m

i

Repriblica Argentina.

O concorrente E/ Nacional chegou a ir al6m, com um "prof6tico" editorial intitulado Tnple Alianza, que dizia:

A CUERRA DO

PARACUAI 14)

Antes de terminar esta semana poderemos anunciar aos nossos leitores que se formou uma hiplice alianga enhe a Repriblica fugentina, o Imp6rio

do Brasil e o Estado Oriental contra L6pez, de Assung6o. Se isso ocorrer, estario satisfeitos os nossos mais ardentes desejos de derrubar o tirano que

oprime o Paraguai.

Em l2 de abril, o clima ufanista j5 contaminava o LdTribuna Se for fato a guerra com

o Paraguai, o popular presidente Bartolomeu

Mitre estar6 na linha de frente dos Ex6rcitos aliados que marchar6o para redimir o povo paraguaio. Que invej6vel posigio! Um homem de corag5o e intelig6ncia como o general Mitre gozarf ao ver-se i frente de um Ex6rcito encarregado de realizar

tlo

altos destinos.

No mesmo dia, a flotilha paraguaia partiu do forte de Humaitd composta dos vapores Tacuari,Paraguai,Ypord,Ygurqt e MarquAs de Olinda.

Na manh5 de I I de abril chegou ao porto de Corrientes, onde deixou seus batalh6es, ap6s capturar os navios Cualeguay e 25 de Mayo diante

de uma breve e ineficaz reaqdo dos argentinos. As embarcag6es foram levadas at6 Humaitd com cinquenta tripulantes feitos prisioneiros.

Entusiasmado, Solano L6pez quis se apresentar

i

frente do conflito e

chegou a iniciar os preparativos para a excurs6o. Mas Elisa Lynch teve

com ele uma conversa que o fez mudar de ideia, apelando para os seus sentimentos em relagdo ao filho cagula, de pouco mais de um ano:

- Solano, a saride de nosso Leopoldito n6o vai bem. Ele tem febres constantes, e seria melhor que ficasse conosco acompanhando o seu estado

-

recomendou a irlandesa. L6pez argumentou que nada poderia fazer pelo estado do menino, es

tivesse pr6ximo ou distante. Elisa, ent5o, recorreu ao bispo Manuel Antonio

Palacios, que gozava da inteira confianga do presidente.

O religioso

era

presenga constante h sua mesa de jantar e havia montado uma verdadeira

111

LUrz ocrAvro DE uMA

rede de espionagem, baseada principalmente nas revelag6es feitas por criticos e opositores nos confessiondrios cat6licos. Ele refgrgou o apelo de Elisa, utilizando raz6es hs quais o Mariscal era certamente mais sensivel.

-

Senhor, seu afastamento da capital em um momento como este

poderia suscitar rebeli6es internas, talvez uma conspiragdo no seio do pr6prio governo, para tirdJo do poder

- disse o bispo.

Ouvindo essas ponderag6es, Solano aceitou a ideia de, ao menos, adiar sua partida e permaneceu em Assungdo, mantendo contato com seus representantes por meio de cartas e telegramas. Al6m do mais, estava seguro

de que o triunfo da empreitada seria r6pido e completo. Segundo seus planos, o general Robles e o coronel Antonio de la Cruz Estigarribia se-

guiriam com suas tropas pelas margens do rio Paran6, o primeiro rumo

a

Uruguaiana e o segundo a S5o Borja, ambas localidades fronteirigas do Rio Grande do Sul. Ap6s

se

enconharem, deshuiriam a esquadra brasileira.

Sem entender o quanto o iogo estava virando, imaginava ainda que, com o apoio do general Urquiza por terra, atacaria brasileiros e colorados no

Uruguai, devolvendo ao Paraguai uma configuragio favordvel ao seu livre trAnsito na regiio do Prata.

O comego foi, de fato, promissor. A cidade de Corrientes, capital da provincia, nio recebeu as tropas lopistas como quem enfrenta invasores. Os embates ocorridos com portenhos poucos anos antes em Mitre a figura catalisadora

-

-

e que tinham

ainda estavam na mem6ria daquela regi5o.

E havia outras afinidades dos povos correntinos com os paraguaios, como o hribito de falar guarani.

O governador Manuel Ignacio l,agrafla ensaiou uma resist€ncia com alguns soldados, mas acabou por deixar o paldcio e se instalou no vilarejo

pr6ximo de San Roque. Ti6s lideres locais logo receberam do general paraguaio a adminishagtro da zona ocupada.3 Um deles era Victor Silvero, que havia feito visitas a AssungSo, tornara-se amigo de Solano L6peze compar-

tilhava com ele a opiniSo negativa sobre Bartolomeu Mitre. Os ouhos dois eram Teodoro Gauna, ex-minisho da provincia, e Sinforoso C6ceres.

A CUERRA DO

PARAGUAI 14'

O chanceler )os6 Berges, o capitio Angel Benigno L6pez e o sargento )os6 de la Cruz Martinez ficaram por ali, i frente de uma forga de 3 mil soldados. Robles levou um contingente de 25 mil homens em diregSo ao

sul. Desceu at6 Goya, is margens do rio Parunl, onde ocupou o porto, sem maiores incidentes, e ficou

i

espera de novas ordens de fusungflo.

Conforme havia planejado, Bartolomeu Mitre explorou a ag5o paraguaia. Em Buenos Aires, o despertar dos brios patri6ticos foi imediato, levantando o que um jornal da 6poca qualificou de "eco vibrante de indignag5o". No dia

2l

de abril, conclamou a juventude do pais a pegar em

armas pela honra da p6tria. A adeslo nos dias seguintes foi massiva. Estu-

dantes deixavam os bancos colegiais e universit6rios pelo alistamento e

ocupavam as ruas com clarins e tambores, festejando a pr6pria decis6o.

Entre eles estavam o filho do vice-presidente Marcos Paz, Francisco,

e

Domingo Fidel Sarmiento, filho do embaixador argentino nos Estados Unidos, Domingo Faustino Sarmiento. Foram voluntdrios ainda Carlos Pellegrini, futuro presidente argentino, ent6o com dezoito anos, e, com27, Leandro Alem, que seria o fundador do partido da UniSo Civica Radical. )ovens da elite portenha se fizeram fotografar por daguerre6tipos em vistosas fardas e com espadas luzidias, herdadas dos antepassados. Foi o caso dos irmSos Montes de Oca

-

Alejandro, de l8 anos, que chegaria

a

general de brigada, R6mulo, de 19, que tombaria na Batalha de Curupaiti, e fuan )os6, de 21, que morreria no ano seguinte, no hospital de Corrientes,

em decorr6ncia de ferimentos em combate.a

Em meio ao clima festivo, num rasgo mais exaltado, ao discursar para uma multidSo na capital, o presidente Mitre formulou uma expressEo que correu a Reptiblica Argentina e entraria para a hist6ria:

-

Em 24 horas nos quart6is! Em quinze dias em campanha! Em

meses em Assungio!

tr€s

+j..

%

xtx

f A Triplice Alianga

Ao final do m6s de abril de 1865, estava claro que uma coalizio entre os paises do Prata para enfrentar Solano L6pez se formaria a qualquer mo-

mento. As conversas entre os governos de Mitre, Flores e dom Pedro II

vinham

se

intensificando

i

medida que se desenhava uma invasSo do sul

do Brasil e do norte do Uruguai pelo Ex6rcito paraguaio. Finalmente, em lo de maio, saiu a decisSo que oficializaria, secretamente, a entrada desses

aliados na guerra.

O Tratado da Triplice Alianga foi

assinado em Buenos Aires pelos

chanceleres Rufino de Elizalde, da Argentina, Francisco Otaviano, do Brasil, e Carlos de Castro, do Uruguai. Diferentemente do que se possa pensar, o documento n5o expressava uma resposta intempestiva aos fatos que ocorriam naquele momento na regiSo de Corrientes. Um ano antes,

quando a guerra civil na Repriblica Oriental entrava em sua fase mais aguda, representantes de Mitre e do imperador jd discutiam com Flores

uma uni5o de forgas para um futuro muito breve. E, em 28 de outubro de 1864, o presidente argentino deixara entrever, por meio do LaNaci6n Argentina, que um acordo estava pr6ximo.

fu

aliangas no rio da Prata estSo assim definidas: aliangas da civilizagdo e

das formas regulares de governo: a Repriblica Argentina, o Brasil e o gene-

ral VenAncio Flores, representante do Partido Liberal na Banda Oriental,

148

LUz ocrAvro DE LrMA

significam indubitavelmente

a

ordem e apaz,as formas regulares de govemo,

as liberdades e garantias para os cidad5os nacionais e para os estrangeiros

que se coloquem sob seu amparo.

Para quem se declarava avesso ao belicismo

fardados", chegava a dizer aos assessores

- "soldados sio assassinos

-, Pedro [I acumulara em pouco

tempo um hist6rico expressivo de participag5o em conflitos. O imperador brasileiro i6 vinha tomando provid€ncias para prevenir um novo ataque surpresa, dessa vez no sul. Em 7 de ianeiro de 1865 havia emitido o de-

cretoS.STl,criando o Corpo de Volunt6rios da Pdhiat em uma cerim6nia que teve a presenga do ent6o marqu0s de Caxias, afastado das frentes de combate por estar atuando ao lado dos conservadores no Parlamento.

-

Sabes o que penso

- disse Pedro II a Caxias. -

Ndo vejo sentido em

qualquer guerra, mesmo que iusta, se 6 que isso existe. |6 deveria ser o tempo de se garantir uma paz duradoura, pela via diplom6tica, em lugar

nio haja outra opgeo. - E, parafraseando o fil6sofo anglo-irlandes Edmund Burke, completou: -Hd sempre um limite al6m do qual a tolerAncia deixa de de deixar as decis6es para o campo de batalha. Mas talvez

ser virtude.

O Brasil n5o dispunha de muitos recursos. O ano anterior havia sido especialmente dificil. fd comegara com a quebra da at6 entio vigorosa Casa Bancdria Alves do Souto

& Cia., que alarmou seus quase l0 mil

clientes e causou um efeito domin6 na economia imperial, al6m de um crescente endividamento com bancos ingleses. Depois, as quest6es platinas

custaram tempo e energia. Finalmente, viera a invas5o do Mato Grosso pelo "inconsequente" Solano L6pez.

)d VenAncio Flores desfrutava de um retorno triunfante ao poder e saboreava um breve tempo de tranquilidade cercado pela esposa, Maria Garcia Zamora, os sete filhos

-

seis homens e uma mulher

-

e mesmo

o c6o Coquimbo, que o acompanhava at€ nos iantares de gala e em reuni6es de gabinete.

A CUERRA DO

PARAGUAI I49

Infelizmente, o momento n5o permitia mais a procrastinagSo de uma medida conjunta. Entre 20 e 74 de abril os chanceleres Francisco Otaviano e Rufino de Elizalde preparara.m os termos do hatado,z cuja redag5o n5o chegou a contar com a participagSo do representante uruguaio

- que iria a Buenos Aires apenas para a assinatura -, mas foi acom-

panhada de perto pelo presidente argentino.

O sigilo em torno do documento era iustificado, uma vez que

seus

artigos eram exhemamente duros com a nagSo beligerante. Os objetivos estabelecidos consistiam em retirar do Paraguai a soberania de seus rios,

responsabilizar o pais pelas dividas de guerra, desarmar e distribuir seus armamentos enhe os aliados e... repartir seus territ6rios em litigio entre a

Argentina e o Brasil. Mais: o confito s6 poderia ser dado por encerrado ap6s a destituig5o de Solano L6pez. O comando geral caberia a Mitre e a lideranga naval, ao almirante Thmandar6.

)usto Jos6 de Urquiza n6o participou dessas negociag6es e, como na Provfncia de Corrientes um grupo de federalistas havia se unido ao

Ex6rcito invasor, Bartolomeu Mitre temia que, em algum momento, o entrerriano

se aliasse a

Solano L6pez, pretendendo um golpe de Estado

pelo poder na Argentina. Mas seus temores se dissiparam quando recebeu uma carta de apoio do antigo rival. O presidente entSo deu a ele

incumb6ncia de reunir um contingente de 5 mil homens. Urquiza

a

se

comprometeu a reunir 8 mil, uma oferta mais generosa do que a realidade poderia confirmar. O Brasil podia langar em campo l8 mil homens, dos quais 8 mil estavam nas guarnig6es do sul; contava com uma forga naval consider6vel e bem

treinada, com uma esquadra de 42 navios, embora alguns deles, pelo calado,

n5o fossem apropriados

i

navegagSo fluvial.

fu

forgas do Uruguai conta-

vam menos de 3 mil homens, sem unidades navais.

O Paraguai dispunha de mais de 60 mil homens bem treinados. A maioria de seus canh6es estava fixada na fortaleza de Humaitd, onde tamb6m se

encontravam grandes efetivos de infantaria.

I50

LUrz ocrAvro DE LIMA

O plano desenhado pelo marquOs de Caxias previa uma forga de uns 9

a l0 mil Voluntdrios da P6tria atuando no Mato Grosso com o intuito de recuperar o territ6rio ocupado e, se possivel, invadir o Paraguai pelo norte, ahaindo para

essa

regiio importantes forgas guaranis, o que aliviaria

bates mais pesados ao sul

A espinha dorsal

-

os com-

onde teria o apoio de argentinos e uruguaios.

um colpo de voluntdrios, constituido basicamente de mineiros e paulistas, com um efetivo de 6 mil homens. Entretanto, mineiros e paulistas tinham outros planos, e, por mais que dessa forga seria

se estimulassem os alistamentos, o efetivo

tendido. Preocupadas,

as

final n5o chegou a um tergo do pre-

autoridades comegaram a reforgdJo com pequenas

unidades de outras provincias, como um grupo de engenharia do Rio de

)aneiro e tropas do ParanS. Mais tarde, soldados goianos e mato-grossenses foram agregados i coluna, que no seu auge chegou a ter 2.800 homens.

No Rio de Janeiro, o 2" Batalh5o de Volunt6rios foi reunido no quartel do Campo de Santana, sob o comando do capitf,o Manuel Deodoro da Fonseca, de 37 anos.3 Como Caxias, ele era oriundo de uma familia essen-

cialmente militar, mas se diferenciava por sua infAncia pobre e sem proximidade com os circulos do poder. O pai e os sete irmSos haviam feito

iriam i guerra contra Solano L6pez. jd Alagoano de nascimento, havia participado do combate i Revolug5o carreira no Ex6rcito

-

seis deles

Praieira, em Pernambuco, e da intervengSo brasileira contra o governo de Atanasio Aguirre no Uruguai.

A partida das primeiras tropas do Rio para a fronteira mato-grossense com o Paraguai se deu em clima de festa. Senhoritas jogavam flores sobre os iovens soldados que desfilaram

pelo cenho da cidade. Orgulhosos, eles

exibiam o distintivo dourado de voluntdrio no brago esquerdo do uniforme. Familiares os saudavam entre ldgrimas. Formado na esteira do patriotismo que tinha tomado conta do Brasil, o Corpo dos Volunt6rios que se alistavam naquele inicio da guerra rece-

beu do governo a promessa de algumas vantagens, a serem oferecidas ao

final do conflito: pr€mio de 300 mil r6is (36.900 reais em valores de 2016);

A GUERRA DO

PARAGUAI

I

5

I

lotes de terra; prefer€ncia nos empregos ptiblicos; patentes de oficiais honor6rios; assist6ncia a 6rfros, virivas e mutilados de guerra.

Em 1865, o armamento-padrdo do Ex6rcito imperial eram

os

fuzis de

percussSo, com canos raiados, e munigdo calibre 14,8 milimetros, sistema

Minid. Por6m, como nio havia armamento em quantidade suficiente para todo o efetivo, foram tambEm utilizadas armas em desuso, com canos de alma lisa (sem raiamento). Os oficiais armavam-se por conta

pr6pria, todos com espadas de ago. Os mais abastados adquiriam rev6lveres Lefaucheux e Colt, mas a maioria possuia somente pistolas de percuss5o, monotiro. Desde que a noticia da invas5o paraguaia do Mato Grosso havia chega-

do ds provincias brasileiras, a populagSo se mobilizara para fazer doag6es aos cofres imperiais, em

um crescente esforgo de guerra. Funciondrios

ptiblicos e oficiais militares abriram m6o de uma parte de seus saldrios; comerciantes e senhores de engenho ofereceram vultosas quantias; esposas e mdes dos

militares doaram joias, costuraram camisas e prepararam

leng6is de linho para os hospitais de sangue, como eram chamados os centros m6dicos na frente de batalha. Se no Rio de faneiro e em Buenos Aires a guerra despertava os fervores

heroicos da populag5o, nas provfncias argentinas era tema impopular e causa de indignaglo contra a hegemonia portenha. Ap6s a tomada de

Corrientes pelos paraguaios, houve levantes antimitristas em Mendoza, San )uan, La Rioja e San Luis. O caudilho catamarquenho Felipe Varela, que ficaria conhecido como O Quixote dos Andes, instigou a rebeliio com

um discurso arrebatado:a

-

Ser portenho 6 ser cidadio exclusivista e ser provinciano 6 ser mendigo,

sem pdtria, sem liberdade, sem direitos. Esta 6 a politica do governo de

Mitre. Soldados federais! Nosso programa

6 a pr6tica estrita da

Constitui-

q5o jurada, a ordem comum, a amizade com o Paraguai, e a uniSo com as

demais repriblicas americanas!

lr?

LUrz ocrAvro DE LIMA

Na cidade de Corrientes, todavia, comeqava a ganhar forga um movi-

mento inverso. Os novos administradores

nio eram figuras

realmente

representativas da comunidade. Eram menos ainda caudilhos influentes. Seu poder repentino erafregil e dependia de quanto fosse durar a ocupa-

g5o. E a insatisfag6o da populagdo local crescia em fungEo das atitudes opressoras dos paraguaios. O desrespeito aos direitos dos cidaddos era fre-

quente, assim como saques a suas casas. Em uma dessas ag6es, um piano de cauda foi retirado e enviado como presente a Elisa Lynch, em AssungSo.

Fiel

i

sua promessa a

Mitre, Urquiza tratou de arregimentar um ex6r-

cito para liberar a regiSo invadida. Em I I de maio, ele e seus recrutas sairam do acampamento de Cal6, em Entre Rios, e foram at6 Basualdo, na divisa com a provincia de Corrientes.

Ali

os esperava o coronel

Antonio

Ezequiel Ber6n, com uma divisSo de nove esquadr6es. O estado da tropa era desanimador: faltavamlhe armamentos, uniformes, mantimentos e

montarias. A venda dos 30 mil cavalos argentinos ao Brasil, feita por

Urquiza, id mostrava seus graves efeitos. NEo havia condig6es para uma mobilizag6o imediata.

Em 25 de maio, uma divis5o aliada conseguiu retomar a cidade

de

Corrientes, mas a gl6ria durou pouco mais de 24 horas. Para a investida, o

Alto Comando da Triplice Alianga havia organizado uma expedig5o formada por dezenove barcos de guerra, entre eles as canhoeiras brasileiras Pamaib a,

Araguai, I guatemi, Meaim, ltai ai, I equitinhonha,

Belmonte,lpiranga,

os vapores argentinos Pampero e

Beberibe,

Patdn, mais de cin-

quenta pegas de artilharia e 2.287 combatentes sob o comando do vice-

-almirante Francisco Manuel Barroso, apoiados por 1.800 homens do general uruguaio Wenceslao Paunero, rec6m-chegado. A ocupag5o da cidade foi defendida pelo sargento fos6 de la Cruz Martfnez, acompanhado do ministro fos6 Berges, e pelo vapor Pirabebe, sob o comando do tenente Toribio Pereira.

O ataque terrestre-fluvial comegou ds 15h30, e duas horas mais tarde os paraguaios jd

batiam em retirada. Al6m de armamento e munig6es em

A GUERRA DO

PAR^GUAI 15)

considerdvel quantidade, foram capturadas trOs pegas de artilharia e uma bandeira.

fu

baixas do lado lopista chegaram a 120 mortos e 83 feridos.s

Os atacantes tiveram 69 mortos e 2l 5 feridos. Apesar da vit6ria, n5o per-

maneceram na cidade, o que estimulou as forgas paraguaias a retornar.

Em Z8 de maio, reconquistada Corrientes,6 os lopistas realizaram um ato religioso pelos mortos paraguaios em combate e, em seguida, baixaram

uma s6rie de medidas para enquadrar os habitantes da cidade ocupada. A

menor suspeita passou a ser suficiente para um iulgamento sum6rio e o menor sinal de patriotismo argentino, castigado com a pena de morte.

Antonio Emilio Castello afirmou em seu livro Hisfori a ilustrada de la Provincia de Conientes: "LJm dia, os invasores levaram a cabo uma feroz matanga de indios chaquenhos (da regi5o do Chaco) nas ruas de Corrientes. Os indfgenas pobres vendiam desde muitos anos lenha e comida, de casa

em casa, e, como alguns se negassem a receber papel-moeda paraguaio, foram exterminados a golpes de sabre e balagos em pleno dia". Solano

lipez

considerou a momentinea retomada de Conientes um

alerta de que a havessia pela fugentina n5o seria o passeio hanquilo que ele havia imaginado. Com parte relevante de seu govemo deslocada para a regiSo do confronto,T sentia-se isolado em Assung6o, onde recebia noticias dos acon-

tecimentos da guerra com um ahaso temerdrio. Mesmo desaconselhado por Elisa, que insistia em sua perman6ncia na capital, ele decidiu partir para mais perto da linha de frente. O filho Leopoldo sucumbira

i

febre semanas

antes e, com a morte da crianqa, nem mesmo o argumento de acompanhar

seu estado de saride existia mais para prend€Jo em Assungio. Em 2 de

junho de 1865, oMaiscal anunciou a decis5o em um proclama pfblico: O desenvolvimento que vai tomar a luta em que est6 empenhada a pritria com a hiplice alianga brasileira-argentino-oriental i6 n5o me permite continuar fazendo o sacrificio de permanecer longe do teaho da guerra. Sinto

a necessidade de participar pessoalmente das fadigas dos bravos e leais defensores da p6tria. (...) O deus dos exdrcitos velard sobre nossas armas!

154

LUu ocrAvro DE LrM

Depois de passar o comando da nagio ao vice-presidente Francisco Sdnchez, at6 entSo uma figura que se limitava a acompanhar as decis6es

do governo sem voz ativa, Solano cuidou dos preparativos da viagem e despediu-se dos familiares e dos amigos mais pr6ximos que haviam ficado na capital. Finalmente, ern 9 de junho, deixouAssungso rumo ao quartel de HumaiH. Jamais voltaria a ver a cidade.

xx O desastre de Riachuelo

Naquele comego de junho de 1865, o general Robles, que se encontrava na regi6o de Goya, duzentos quil6metros ao sul da capital de Corrientes, deslocou sua hopa terreshe, assim como os vapores de guerra que o acompanhavam, para reforgar

as defesas da

cidade. Em uma parada no vilarejo

de Peguah6, no dia 9 de junho, enviou uma mensagem a Solano L6pez,

relatando a sifuagio de tranquilidade ap6s um confronto naval com

as

forgas brasileiras que pahulhavam o rio Paran6, dias antes, quando recebeu

um ferimento de espada no peito: E coisa de ver o entusiasm o e a algazana dos soldados pelo combate e em recordar os feitos que cada um viu, cuia conversagSo n6o cessa at6 agora. At6 os conentinos que nos acompanham ganharam novo valor e enfusiasmo, em vista do espirito que anima os paraguaios. O coment6rio especial dos soldados que entraram

em

agdo € sobre a aflig5o d'os macacos e sobre

como todos os barcos que passavam perto deles ouviam gritos de socorro e

-

mil outros de desespero.

O espirito otimista da carta n5o evitava um assunto que se agravava a condigdo precdria dos efetivos: "Tenho por bem avisar Vossa Exce-

l€ncia que alguns corpos da coluna i6 se encontram com s6ria falta de vestu6rio".

I56

LUz

ocr

vro DE LrMA

Naquele momento as tropas e a esquadra paraguaia estavam instaladas em Riachuelo. O povoado onde o rio de mesmo nome adentrava o

territ6rio formava um canal e garantia uma posigio resguardada - pr6xima ao rio Parand, mas, ao mesmo tempo, fora do campo de vis6o dos navios brasileiros. Essa situagio animou os paraguaios a executar um ataque i fotilha inimiga. Logo ao chegar ao forte de HumaiH, no mesmo 9 de junho, Solano L6pez ordenou que fossem preparadas todas as embarcag6es disponiveis e escolhidos os mais aptos para comand6-las. No dia seguinte, acompanhou a partida dos vapores que se iuntariam is forgas de Robles em Riachuelo. E bradou: "lde e hazei-me os navios brasileiros!". L6pez ficou em terra e recebeu a noticia animadora de que o tenente-coronel Estigarribia i5 se encontrava na fronteira do Rio Grande do Sul,

pr6ximo de alcangar o primeiro obietivo definido para aquela regiiio. No infcio da manhe do dia I I de junho, um domingo, ainda sob uma fraca luz natural e uma forte neblina, o capit5o Pedro Ignacio Meza, comandante da esquadra paraguaia, a bordo do Tacuai, aproximou-se dos navios aliados

- nove vapores

com 59 canh6es, uma fragata, tr€s corvetas e cinco canhoeiras. Meza contava para o ataque com sete navios com 38 canhoes mais seis chatas

-

embarcag6es. Na prdtica, somente

plataformas com artilharia aheladas a

oTacuai

era equipado como navio de

guerra; os demais eram barcos mercantes com adaptag6es para o combate.

O idolo de L6pez, Napole5o Bonaparte, cosfumava dizer

aos seus ge-

nerais que existem bons e maus planos de batalha. Segundo ele, os bons quase sempre falham devido

is circunst6ncias imprevistas. Em Riachuelo,

apesar de uma boa eshat6gia, as coisas id comegaram mal para os lopistas:

uma avaria mecanica no vapor Yverd atrasou o avango da formag5o, fazendo com que o combate s6 fosse iniciado ap6s as nove horas, quando a neblina jd havia

se dissipado, assim

como o elemento-surpresa.

Wenceslao Robles seguiu ao encontro de Meza a bordo do MarquAs de

olinda, pilotado por seu irmio mais novo,

o tenente Ezequiel Robles.

A GUERRA DO

PARAGUAI I'7

Para aliviar as dores causadas pelo ferimento em seu peito, o general ha-

via tomado uma quantidade de conhaque al6m da que consumia habi-

tualmente, o que afetava a sua comunicagio com os tripulantes.l Neo obstante, atendeu

i

ordem de abrir fogo contra os brasileiros liderados

pelo almirante Francisco Manuel Barroso da Silva,

i

frente da nau capi-

tAniaAmazonas.Tamandard, comandante em chefe das operag6es navais aliadas, n5o se encontrava naquelas 6guas. Havia permanecido no estu6-

rio do rio da Prata. Do posto de observagio de um dos navios de guerra brasileiros, ouviu-se o grito de "Navio

i

proa!", seguido de "Esquadra inimiga

i

vista!".2

Diante do alerta, Barroso mandou igar um sinal aos demais comandan-

"O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever", seguido de outro, com a inshug5o: "Atacar e destruir o inimigo o mais de perto possivel". O tes:

lado brasileiro contava com2.287 combatentes; o paraguaio com 1.472.

O comandante ordenou que fossem reativadas as caldeiras, largadas

as

amarras sobre as boias e preparados os canh6es das baterias. Atiradores guarneceram e

as g6veas. Os

encarregados da munigEo desceram aos pai6is

voltaram trazendo proj6teis e metralhadoras, que empilharam nas amu-

radas.Ecomegouofogo. Na troca de artilharia, uma das primeiras baixas paraguaias foi justamente Pedro Meza,que, agonizante, passou a lideranga ao capit5o Remigio

Cabral, naquele momento ao comando doYgurei.

A pequena profundidade na conflu€ncia entre os rios Paran6

e

Riachuelo representava um adversSrio extra para os brasileiros, cuios navios tinham calados mais profundos que os dos paraguaios. Ao tentar

pelo canal, o lequitinhonha, segundo maior navio da esquadra do Brasil, encalhou a pouca distAncia das baterias de terra do coronel lopista |os6 Maria Bruguez, compostas de 38 canh6es. Mesmo responpassar

dendo

i

alfura, n5o p6de mover-se. Ainda assim, conseguiu repelir a ten-

tativa paraguaia de abordagem simultnnea pelo Tacuari, o MarquAs de

Olinda e o Paraguai.

158

LUrz ocrAvro DE LIMA

& { 1

Esquadrabrasileira Esquadra paraguaia

Artilharia paraguaia

Batalha do Riachuelo Movimentagdo de navios e tropas durante o combate na margem argentina do Rio ParanS.

A GUERRA DO

O brasileiro Pamafbadeixou

a formagEo e foi em socorro

PARAGUAI I59

dolequitinhonha,

mas antes de alcang6-lo bateu o leme num banco. O comandante tentou

governdJo s6 com as velas, mas deparou-se com o Paraguai pela proa, o Tacuari por bombordo (lado esquerdo do rumo da embarcagSo) e o Salto

por estibordo (lado direito). A situagio da esquadra brasileira nessa hora era critica: o Belmonte e o

lequitinhonha encontravam-se encalhados, fora de combate, e os Paraguaios abordavam oPamaiba, invadindo seu conv6s. Os paraguaios tomaram o navio desde a popa at6 o mastro grande. Nessa luta se sobressairam, do lado dos brasileiros, o guarda-marinha )o5o Guilherme Greenhalgh, o capitSo Pedro Affonso Ferreira e o tenente Feliciano InScio Andrade Maia, que sucumbiram na defesa da embarcag5o. O marinheiro imperial Marcilio Dias, que j6 havia se destacado no epis6dio de Paissandu, resistiu o quanto p6de em luta conha quaho atacantes paraguaios. Conseguiu matar dois deles, mas teve o brago direito decepado a golpes de machadinha.

A bandeira brasileira foi arriada, e a situagSo parecia encaminhar-se Para um desfecho favor6vel ao Paraguai. O comandante do Pamaibadeu ordens de incendiar o paiol de p6lvora para que a embarcag5o n6o caisse em m6os do inimigo. Ap6s uma hora de

luta, a esquadra brasileira veio em seu socorro, e os navios paraguaios abandonaram o costado do vapor, que igou novamente a bandeira brasileira. A essa alfura, Barroso emitiu ouho sinal que seria celebrizado pela hist6ria: "sustentar o fogo que a vit6ria 6 nossa". Em uma manobra ousada, jogou a proa de ago da fragata Amazonas contra o casco do paraguaioleiut e tamb6m contra uma das chatas inimigas, afundando ambos. Avistando

o Salto parado, repetiu a manobra, pondo-o a pique. Mandou tocar a m6quina a toda forga e foi sobre o Paraguai. Este se abriu quase ao meio e a tripulagio o abandonou. A manobra se repetiu mais uma vez contra o MarquAs de Olinda, que, atingido pela proa, desceu o rio desgovernado,

i

deriva, para encalhar mais abaixo. No choque, o mastro se partiu e atin-

giu em cheio o tenente Ezequiel Robles, comandante da embarcagio.

160

LUtzocrAvro DE LrMA

Seu brago esquerdo ficou esmagado e foi rapidamente amputado pelos

hipulantes, mas o tenente recusou maiores cuidados, alegando que precisava

continuar lutando. Em poucas horas estava morto, em consequ6ncia

da intensa perda de sangue.

A esquadra paraguaia perdeu quatro embarcagdes e quatro chatas. O restante, surpreendido pela manobra, fugiu rio acima, sob a perseguig5o do Beberibe e do Araguarf, que fustigaram a flotilha com seus canhdes at6

que ela desaparecesse na distAncia, retornando a Humait6.

e" tZf,lO

,

batalha estava terminada, com clara vit6ria da esquadra comandanda por Barroso.

A guerra-relAmpago de L6pez havia fracassado inteiramente.

Em decorr6ncia do epis6dio, os navios brasileiros bloquearam o acesso do rio Paraguai a partir do rio Parand, e o pais de Solano L6pez tornava-se incapaz de receber armas e auxilio do exterior pela via fluvial. Reconhecido pelos companheiros por sua reiterada bravura, o marinheiro Marcilio Dias encontrou em Riachuelo sua missSo final.r Os ferimentos sofridos causaram-lhe a morte no dia seguinte, tendo sido sepul-

tado com as honras do cerimonial maritimo nas pr6prias 6guas do rio Paran6, em

l3 de iunho de 1865. Um

mOs e

meio depois, em lo de agosto,

o quartel-general da Marinha Imperial incorporou

i

Forga Naval um navio

a vapor adquirido na Gri-Bretanha para servir ao transporte de tropas, dando a ele o nome de Marctlio Dias, em homenagem ao herofsmo do cabo de esquadra nas campanhas do Cone Sul. seria criada a Medalha de Valor

tmb6m com o seu nome

Militar e batizados torpedeiros,

clubes

nduticos, fundag6es e hospitais navais. Ao receber as primeiras not(cias de Riachuelo, EI Maiscal extravasou sua ira sobre a figura do capitiio Pedro Meza, comandante da operagio que redundara em desastre, sem saber que este jd estava morto. "Vou fuz116-lo pessoalmente pelas costas!",

rugiu. L6pez tamb6m ordenou que

fosse proibida a publicag5o de noticias sobre a derrota, assim como a divul-

gag5o, mesmo

is familias, da lista dos que morreram em combate.

A GUERRA DO

PARAGUAI 16I

Depois de igar a bandeira branca do MarquAs de Olinda no canal do Riachuelo, o general Wenceslao Robles retornou com a tripulagio ao acampamento em terra. Dias depois, ele receberia de Solano L6pez uma benevolOncia maior que a destinada a Meza. L6pez pediu ao tenente-

-coronel Paulino Al6n Benftez que lhe enviasse a Ordem Nacional do M6rito. O emissdrio, entretanto, encontrou o chefe militar com um 6nimo nada amistoso.

Ao receber a condecoragSo que lhe mandotL6pez, o general Robles desdenhou a honraria e enhegou-a a |os6 Villalva, seu ordenanEa, dizendo:

"Leve, guarde isso; que n6o ande mais por ai".a Mais tarde, enquanto cuidava da ferida no peito, que continuava a doer intensamente, explicou ao soldado Villalva a razlo de sua revolta. E pediu:

"NEo diga nada que mandei guardar. Mas nio 6 esse disparate que deve defender-nos, e sim nossa coragem e boas armas. Em lugar disso, que

nio

me serye de nada, onde est5o o armamento e o bom vestudrio que tenho pedido para as tropas?".

O uniforme regular

dos soldados paraguaios consistia em um capote

vermelho e calga branca. Mas era comum enhe eles, principalmente os de origem indigena, ir

i

frente de batalha em trajes sum6rios, vestindo apenas

uma espdcie de saia, a chiipd, hs vezes sem camisa, com uma manta ou um poncho curto sobre os ombros, e quase sempre sem calgados. O clima no Paraguai era quente durante quase o ano todo, bem diverso do que enfrentavam naquela regi5o da fugentina, com o inverno j6 se aproximando. Robles estava inconformado com o fato de suas tropas passarem fome,

gelarem de frio e por conta disso cairem doentes. Mas havia outras raz6es para suas alterag6es de humor: al6m do ferimento que o atormen-

tava, ele se amargurava pela morte de seu irmSo Ezequiel, ocorrida em

Riachuelo, na defesa do MarquAs de Olinda. Para piorar, vinha abusando da bebida, o que preiudicava seu iulgamento estrat6gico e o levava a expressar suas opini6es sobre o governo e o comando de L6pez com uma

perigosa franqueza.

162

r.l,rr ocl.\\'ro l)l.r r,rrr.\

Z



(lorrrl>atcnte paragllaio

-

coli

o traje ti1>ico guarani

-

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Diga ao presidentc qtre vou ilcabar clispcrsarnclo a tropa

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clo Cruzeiro e rccebeu do irnperador o

Amazonas, cm refcr6ncia

)

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ckr Riachuekr, Roblcs, con] a atitucle dc desprczar a

enfurcccu Solano L6pcz,.

li

prrgirria Lar() p{rl isso.

honriiria corrceclid:r,

xxt Vis6es sobre a guerra

S5o muitas as controv6rsias sobre os mais variados aspectos dessa guerra,l

a comeqar pela pr6pria forma como 6 chamada em cada pais envolvido

-

e segundo o

ponto de vista politico a partir do qual se analisa o epis6dio.

Nenhum elemento, por6m, desperta mais diverg6ncias do que a andlise dos fatores que teriam desencadeado o confito.

No imediato p6s-guerra, a explicag5o mais corrente era tamb6m das mais simplistas: tudo teria se originado do furor expansionista de Solano L6pez, que, contra todas as evid€ncias, acreditou que poderia derrotar as nagdes vizinhas e conquistar porg6es de seus territ6rios, exigindo um sacrificio de vidas humanas sem precedentes nas Amdricas. Embora tivesse certo fundo de verdade, a tese carecia de bases mais s6lidas por deixar de

lado o contexto deflagrado que a regi5o do Prata vivia e em cujas hostilidades o Paraguai n5o era o

fnico nem o principal envolvido.

Para o general brasileiro Augusto Thsso Fragoso, autor de

Histlria

da

Guena daTriplice Alianga contra o Paraguai (1974), ao recusar o oferecimento de mediag6o feito por Solano L6pez durante o conflito entre blancos e colorados no Uruguai, Buenos Aires teria causado fortissimo golpe na "alma prepotente e vaidosa do ditador", sendo este "um dos fatores determinantes no seu procedimento ulterior". A partir dessa 6tica, a

militar e a deposiq5o do governo uruguaio, empreendidas pelo Imp6rio, constituiram apenas parte dos pretextos que "servirarrr aL6pez invas5o

para realizar suas ambig6es".

164

LUz ocrAvro DE LIMA

foi aceita at6 o governo autoritdrio de Rafael Franco, no Paraguai, que elevou L6pez a her6i nacional em 1936. O Essa vis5o perdurou e

historiador Juan O'Leary (1879-1969) praticamente inaugurou a corrente depois conhecida como Lopismo Positivo, que coincidiu com o golpe liderado pelo general Alfredo Stroessner em 1954 e que manteria o pais sob

regime militar por 35 anos. Foram tempos de reabilitag5o plena para Solano L6pez, que passou

i

condigdo de defensor da nacionalidade para-

guaia. Um personagem atacado n6o por seus erros, mas pelos ideais que teria abragado at6 a morte. Curiosamente, essa figura mitificada foi em parte absorvida pelos intelecfuais latino.americanos a partir dos anos 1960. Com um diferencial

importante: na nova interpretagdo,L6pez e o Paraguai que vinha construindo haviam sido alvos de uma conspiragSo do Imp6rio Britdnico, por assumir uma autonomia econOmica excepcional no continente, por fe-

char seus mercados ao com6rcio da Inglaterra e at6 por rivalizar com os ingleses na exportagEo de manufaturados.

O jornalista e historiador argentino Le6n Pomer obteve grande repercussdo ao advogar essa teoria em seu

liwo Guena doParaguai, grande neg6cio!

(1968), um dos vdrios habalhos que dedicou h andlise do confito e que faria

parte do movimento conhecido como Revisionismo, muito popular em todo o Cone Sul. Pomer cita que, em 1860, 38% das exportag6es inglesas eram de tecidos de algodao, cuja mat6ria-prima o Paraguai produzia e cuja

indrishia t€xtil comegava a se firmar, algo que supostamente, enhe ouhos fatores, ameaqava mercados e empregos britdnicos. Esses pretextos, enhe-

tanto, podem ser contestados, especialmente se observarmos que, naquele ano, por exemplo, o com6rcio exterior paraguaio regishado foi de apenas

560.792libras esterlinas, enquanto o da Repriblica Oriental do Uruguai, que tinha a metade do territ6rio, havia sido de 3,607 milhOes de libras ester-

linas. Afugentina alcangara 8,951 milhOes e o Brasil,23,739 milh6es.

Diretor do Museu Casa da Independ6ncia, o historiador paraguaio Carlos Pucineri Scala sempre defendeu a ideia revisionista de que o nascente

A GUERRA DO

PARAGUAI 16'

Paraguai, em inicio de desenvolvimento, foi destruido pela Inglaterra, tendo o Brasil, a fugentina e o Uruguai como executores do crime. "Tinhamos a fundig5o de ferro de Ibicui, uma ferrovia, conseguiamos fabricar barcos, e Assung5o ostentava belos pr6dios, de tragado europeu, feitos

por arquitetos ingleses e italianos. Intransigentes, os L6pez n6o deixavam os ingleses entrarem no pais para fazer neg6cios, o que acabou fazendo

com que aquela pot€ncia acumulasse 6dio contra eles", declarou. A corrente revisionista argentinaz tem enhe seus nomes mais destacados |os6 Maria Rosa, Pacho O'Donnell, Hugo Chumbita e Felipe Pigna. O primeiro apresenta em I-a Cuena del Paraguay y las montoneras argentinas

uma vis6o at6 simp6tica da participagSo do Brasil, ao mesmo tempo que

critica severamente a atuaq5o de seu conterrineo Bartolomeu Mitre.

f6 no estudo Caudillos e intelectuales contra la Cuena de la Triple Alianza, Chumbita define o epis6dio como hag6dia de efeitos duradouros, mas ressalva que dele surgiram iniciativas positivas e agregadoras:

A Guerra da Tr(plice Alianga conha o Paraguai foi um acontecimento crucial na Am6rica: uma contenda devastadora na qual se chegou a aniquilar um povo

e cujas sequelas ruinosas castigaram

tamb6m

os

vencedores;

um momento da hist6ria que marcou o destino dos Estados do Cone Sul, colocados diante do dilema de tentar o caminho do desenvolvimento independente ou de subordinar-se h 6rbita das grandes pot6ncias capitalistas. A guerra suscitou na Argentina a resist€ncia dos povos do interior e

uma vasta insurreig5o federal solid6ria com as Repriblicas vizinhas, im-

pulsionando uma gerag5o politica e intelectual a comprometer-se pela causa da unido sul-americana.

No Brasil, o jornalista ftilio fos6 Chiavenatto publicou em

1979

Genocidio ameicano: a Guena do Paraguai. Nele, reforga a hilha aberta por Pomer e desmistifica o heroismo das forgas aliadas, expondo as crueldades praticadas contra a populagSo paraguaia, especialmente nos confrontos

166

LUz ocrAvro DE LIMA

finais. A abordagem repercutiu muito mal nos meios militares brasileiros, eo

livro

s6 escapou de ser apreendido pelo governo do general

Figueiredo

porque seus auxiliares avaliaram que uma ag6o como essa desmoralizaria o processo de abertura politica em curso. Ainda assim, uma medida do Conselho Federal de EducagSo baniu seu uso como fonte de estudo.

Em entrevista publicada pelo jornal Folha de S.Paulo em 28 de outubro de 2007, Chiavenatto manteve seus argumentos sobre a interfer€ncia britAnica,l como mostra o trecho a seguir: [O Paraguai] era praticamente o tinico Estado liwe da influ6ncia inglesa no Cone Sul. O Brasil, e a fugentina muito mais, ndo tomavam nenhuma medida importante sem a anu€ncia da Inglaterra. N5o poderiam ter ido se a Inglaterra ndo tivesse feito os espetaculares empr6stimos que a

i

guerra

financia-

ram. O Paraguai era liwe desse esquema. Por ser um pais "insular",

nlo

era

tilofdcil, inclusive geograficamente, interferir no Paraguai quanto no Brasil. Em determinado momento, o Paraguai criou um desequilibrio de poder que com outras razles - o Paraguai tambdm n5o 6 inocente

-

gerou a guerra.

Sobre as motivag6es financeiras para o estfmulo ao envolvimento do

Brasil, o jornalista reforgou o ponto de vista defendido em sua obra: Ndo se pode ignorar que, quando comegou a guerra, o Brasil comegou

a

tomar empr6stimos cada vez maiores da Inglaterra. Nunca poderia ter sustentado a guerra sem os empr6stimos. A d(vida externa do Brasil cresceu, e os empr6stimos foram quase exclusivamente para a guerra. E evidente

que na relag5o com a Inglaterra havia vdrias contradig6es

-

como hd na

relag5o com os Estados Unidos hoie. O Paraguai estava para a Inglaterra assim como Cuba estava para os Estados Unidos.

E preciso lembrar, por6m, que no periodo que antecedeu o conflito

as

relag6es do Paraguai com a Inglaterra eram substancialmente melhores

A GUERRA DO

que

as

PARAGUAI

167

do Brasil com o Imp6rio BritAnico. Em sua estada em Londres, em

1853, SolanoL6pez abriu um canal de cooperag5o com o governo, com

o empresariado e mesmo com a comunidade cientifica daquela nag6o, tornando o Paraguai um grande comprador de produtos e servigos do Reino Unido. De Li foram trazidas embarcag6es a vaPor, ferrovias, sidenirgicas e pegas de vestudrio, assim como foram conhatados engenheiros, pesquisadores, tripulantes de navios e consultores de diversas dreas. Em paralelo, era um momento no qual a economia inglesa Passava por dificuldades e surgiam levantes nas colOnias. Certamente, matar uma "galinha dos ovos de ouro", como era aquele cliente sul-americano, n5o era das ideias mais brilhantes. A colaborag5o britAnica seguiria por toda a duragSo da guerra: o coronel inglOs George Thompson foi o estrategista

militar que contribuiu decisiva-

mente para os melhores resultados obtidos em combate pelos paraguaios.

Outro ingl€s, George Frederick Masterman, chefiava os servigos farmac€uticos paraguaios durante a guerra. Os m6dicos Frederick Skinner e

William Stewart, tambdm ingleses, comandavam o atendimento aos doentes e feridos no forte de Humait6. Os profissionais brit6nicos eram, portanto, homens da maior confianga de Solano L6pez ao longo do conflito. Se havia alguma relagSo complicada no continente com o governo da

rainha Vit6ria era a do Brasil de Pedro II. O ambiente estava tenso desde agosto de l844,quando uma lei proposta pelo minisho da Fazenda, Manuel Nves Branco, havia elevado de 15% para70%

as taxas

alfandeg6rias sobre

produtos importados que ndo tivessem equivalente nacional e at€ 60% para as mercadorias que tivessem concorrentes parecidos ou iguais no pais.

A Inglaterra, que dominava uma gorda fatia

das atividades comerciais

brasileiras, foi a principal preiudicada.

Um ano depois, o parlamento brit6nico aProvou o Bill Aberdeen Act, uma legislaEso que proibia o trdfico de escravos no oceano Atldntico e concedia aos navios ingleses a prerrogativa de apreender e at6 destruir qualquer embarcag5o que estivesse realizando esse tipo de atividade.

168

LUtzocrlvroDELIMA

Com base nessa medida, at6 maio de 1851, foram capturados pela Marinha Real britdnica 368 navios negreiros brasileiros, muitos em dguas territoriais do pais.

A animosidade enhe os dois imp6rios aumentou em 1860, quando o rec6m+hegado embaixadorWilliam Dougal Christie, que jd havia demons-

trado inabilidade como plenipotenci6rio em Assungio, denunciou o n5o cumprimento da Lei Regencial de I8l I, que garantia a liberdade de todos os negros trazidos ao Brasil como cativos a partir daquele ano. A atitude

-

correta, aliSs

- do representante

britdnico causou um grande mal-estar

entre as elites brasileiras, que n5o abriam m5o da utilizagEo de escravos.

O momento nio era bom, mas era possivel piorar. Em abril de 1861, o navio Pince of Wales, que partira de Glasgow, na Esc6cia, rumo a Buenos Aires, acidentou-se pr6ximo

i

costa do Rio Grande do Sul, jd em dguas

brasileiras. No naufrdgio, doze marinheiros morreram. Os sobreviventes se-

guiram em diregdo i cidade de Rio Grande para comunicar o fato is autoridades brasileiras. Enquanto a hipulagio estava em terra, lougas, tecidos, azeites e vinhos foram saqueados do barco. Christie, entzio, exigiu do gover-

no imperial um pedido formal de desculpas e a indenizagdo pelos danos. O imperador, contudo, negou-se a atender aos pedidos do embaixador. No ano seguinte, ouho incidente abalou a jd desgastada relag6o bilateral.

Em 17 de junho de 1862, dois oficiais e o capel5o do navio de guerra ingl€s Forf, b€bados e em trajes civis, promoveram arruagas no bairro da

Tiiuca. Ao serem interpelados por um policial, reagiram com violOncia e acabaram detidos. O embaixador Christie exigiu a demissio do comandante dos policiais que efetuaram a prisEo e um pedido formal de desculpas do governo brasileiro, al6m de aproveitar o momento para voltar a

cobrar a indenizag5o pela carga roubada no ano anterior. Mais uma vez foi ignorado.

Finalmente, em 1863, uma esquadra inglesa que zarpara do Rio de |aneiro aprisionou cinco navios mercantes brasileiros que estavam em alto-mar. Dom Pedro II exigiu desculpas formais do governo inglOs e pediu a

AGUERR^ DO

PARAGUAI

169

liberagio das embarcag6es. Diante da resposta negativa, o imperador convocou o rei da B6lgica, Leopoldo I, para arbitrar a quest6o. O monarca belga decidiu em favor dos brasileiros e determinou que houvesse um pedido de desculpas por parte da representag5o britinica. Sem obter resposta, o Brasil acabou rompendo relagOes com a Coroa britAnica. As rusgas diplom6ticas s6 chegaram ao fim em 1865, quando os ingleses se retrataram.

Ainda nesse campo, o ministro plenipotenci6rio britAnico Edward Thornton, que serviu em Assung5o e Buenos Aires, 6 sempre lembrado pelos revisionistas como incentivador do ataque dos aliados ao Paraguai.

E, de fato, hd cartas em que ele declara seu desprezo pelos L6pez, que define como tir6nicos e sem moral, referindo-se inclusive

i

condigIo

de Elisa Lynch como amante de Solano. Em uma delas, descreve o povo

guarani como "submetido ao terror e ao despotismo". No entanto, is v6speras do conflito, enviou uma mensagem ao presidente paraguaio na qual dava conta de que as relagOes da Inglaterra com o Brasil estavam "abaladas",

mas esperava que as nag6es vizinhas "chegassem a um entendimento". Ademais, o expansionismo do Imp6rio Brasileiro chocava-se com os interesses da Inglaterra e mesmo dos Estados Unidos no

continente. Ndo havia

sentido em reforgar o poder regional de Pedro II.

O argumento de que o Reino Unido incentivara a guerra para que o Brasil se endividasse junto aos bancos da City de Londres tamb6m carece

de solidez. E verdade que o empr6stimo de 6,967 milh6es de libras dos

Rothschild ao governo brasileiro em I2 de setembro de 1865 foi utilizado para comprar navios de guerra, e nesse sentido a Inglaterra deu uma contribuig5o importante para a vit6ria dos aliados sobre o Paraguai. Mas

nio houve nenhum outro financiamento

ao Brasil durante toda a guerra,

e os empr6stimos ingleses representaram enhe l0% e 15% do total de despesas do Brasil com a Guerra do Paraguai. Antes do conflito, o governo

imperial recorria at6 com maior regularidade aos banqueiros britdnicos: em I I de janeiro de 1843, tomou emprestadas 732 mil libras; em 27 de

iulho de 1852, 1,010 milh5o; em l9 de maio de 1858, 1,523 milhao; em

170

LUzocrAvroDELrMA

23 de fevereiro de 1859, 508

mil libras; em 16 de margo de 1860, 1,373

milh5o; e em 7 de outubro de 1863, 1,855 milhOes. Encerrada a guerra, ai, sim, o processo de endividamento se aceleraria, chegando a somar 22

milh6es de libras entre

l87l

e 1888, uma situagdo que comprometeria a

estabilidade do regime mondrquico brasileiro.

O Congresso paraguaio, por sua vez, na sessdo de 5 de margo de 1865

- no inicio da guerra, portanto -, autorizou

seu governo a tomar empres-

tadas 5 milh6es de libras esterlinas de Londres. N5o hd confirmaEso de que o financiamento tenha sido efetivado em sua totalidade; os registros

da 6poca falam em uma retirada de um milhEo de libras. De qualquer forma, a decisio parlamentar desfaz o mito de que o Paraguai jamais solicitou empr6stimos a City durante a gest5o dos [,6pez, ao mesmo tempo que reitera o quanto eram amistosas as relag6es comerciais e financeiras entre

Britinico no momento da eclosio do confito. Na Argentina, 6 possivel considerar indicios da infudncia da Inglaterra

o Paraguai e o Imp6rio

sobre o confronto, ainda que longe de serem categ6ricos. Na d6cada de 1860, havia por parte de Buenos Aires uma ineg6vel press6o pela abertura

do mercado paraguaio, iniciativa que agradava aos ingleses. Mas 6 sabido que Bartolomeu Mihe e seu grupo eram antigos defensores do liberalismo econ6mico, sem que precisassem de grandes incentivos adicionais para isso, reprovando a linha de administrag5o lopista. Em 24 de maio de 1860, por

exemplo, o embaixador Domingo Faustino Sarmiento escreveu no peri6-

dico E/ Nacional: "Temos f6 que h6 de chegar o momento em que paises vizinhos

i

os

desgragada populagio do Paraguai intervir5o para me-

lhorar as condig6es de governo t6o an6malo, como 6 o de dom Carlos Antonio L6pez". Em 1865, quando a fugentina

se envolveu no

conflito, a presenga brit0-

nica no pais era sentida nas mais diversas atividades. O inglOs Thomas Au'mstrong, sozinho, acumulava fungdes de diretor da Compaflia del Ferrocarril Central Argentino, presidente da Bolsa de Comercio, Vocal da Casa da Moeda e do Banco de la Provincia de Buenos Aires. Ele logo se

A GUERRA DO

PARAGUAI 17I

comprometeu a doar 50 mil pesos anuais ao esforgo de guerra, mas 6 duvidoso que tenha cumprido a promessa at6 o fim. De qualquer forma, essas

iniciativas n6o consistiam em ag6es de Estado promovidas oficial-

mente pelo Imp6rio Brit6nico. Em A guena 6 nossa: a lnglatena ndo provocou a Guena do Paraguai, o historiador Alfredo da Mota Menezes, doutor em hist6ria da Am6rica

Latina, rebate as interpretag6es revisionistas e aponta as quest6es internas dos quatro paises envolvidos que redundaram no confronto gene-

ralizado. O revisionismo, ali6s, foi alvo de infmeras criticas partidas de uma terceira vertente, representada no Brasil principalmente pelos historiadores Ricardo Henrique Salles e Francisco Doratioto, autor de Maldita

guerrd: nova hist6ria da Cuena do Paraguai

-

obra monumental que

resultou de anos de estudo, inclusive nas regi6es em que se deu o confito.

A historiografia Mediadora, como ficou conhecida

nio n6mica e social is que o Paraguai

se

essa

vertente, afirma

constituia em um exemplo de modernidade eco-

v6speras da guerra, como querem os revisionistas.

Oferece uma vis5o ao mesmo tempo menos oficialista e menos apaixonada ideologicamente.

Ricardo Salles, autor do livro Cuena do Paraguai: escraviddo e cida-

dania na formagdo do Exdrcifo, enxerga no Brasil a culpa pelo conflito. "O Paraguaiavisou que, se o Brasil invadisse o Uruguai, declararia guerra. L6pez s6 declarou guerra porque considerou a invas6o uma ameaqa fatal

a

ele". Segundo Salles, a hist6ria oficial brasileira trata a invas5o ao Uruguai e a Guerra do Paraguai como conflitos diferentes, quando, a seu ver, trata-se de um s6. "A invasSo ao Uruguai foi um ato agressivo, que desen-

cadeou a guerra", afirma.a

Mesmo no Paraguai, onde as feridas ainda abertas s5o uma tentaqSo paru a prefer€ncia de vers6es vitimizadoras ou heroicas, destacam-se nomes

como o de Herib Caballero Campos, doutor em hist6ria e mestre em hist6ria do mundo hisp0nico, cujas abordagens sobre a Guerra da Triplice

Alianga s5o resultado de investigag6es levadas a cabo com rigor, sem

a

172

LUz ocrAvro DE LrMA

preocupageo de defender uma tese politica predeterminada.

"Nio

se

pode negar que o Paraguai teve um desenvolvimento na gestEio dos L6pez,

ainda que parcial e mais no plano tecnol6gico do que no social", avalia ele. "O modo de produgdo, por6m, se modificou pouco. Para o habalhador,

nio houve grandes mudangas." O argentino Rosendo Fraga atribui a hag6dia que envolveu o Paraguai n5o is forgas externas, mas a dois erros de c6lculo do maiscal L6pez: o

primeiro teria sido o ataque a Mato Grosso, imaginando que o Brasil nio suportaria uma guerra prolongada e em dois flancos distantes; o segundo, acreditar que a Argentina, dividida, penderia para o seu lado. "Como premissas

nio

se

essas

cumpriram, a guerra foi perdida logo no primeiro ano.

Todo o resto foi consequ€ncia", resume. Para Herib Caballero, a decisio se deu na Batalha do Riachuelo:

"Ali,

o Paraguai perdeu o contato com o exterior, a n5o ser por uma ou outra nave inglesa ou francesa", avalia. "Foi um golpe fatal."

xxil A marcha para Uruguaiana

Se Riachuelo havia imposto uma derrota catastr6fica

i

esquadra lopista,

o contingente comandado pelo tenente-coronel Antonio de la Cruz Esti-

garribia fazia progressos em marcha acelerada rumo ao Rio Grande do Sul. Em 8 de junho de 1865, ele e sua coluna de quase l0 mil soldados, organizada pelo major Pedro Duarte, chegaram ao vilarejo correntino de Santo Tom6, a oito quilOmetros da fronteira com o Brasil. Traziam cinco canh6es, vinte canoas e trinta carretas com viveres e provis6es diversas. A partir dali, Estiganibia, que era chamado de Coronel l,acri (abreviatura

de seu sobrenome la Cruz), preparou-se para enhar em S5o Borja, no lado brasileiro, com mais de 6 mil homens. Pela margem argentina do rio Uruguai,

Pedro Duarte conduziu uma tropa de 3

mil rumo a San fos6 de Restau-

raci6n, junto a Paso de los Libres, com o objetivo de tomar Uruguaiana. Duarte, assim como Estigarribia, tinha traqos indfgenas e falava o guarani como primeira lingua. Ambos utilizavam o idioma espanhol apenas em eventos e encontros oficiais.r Suas miss6es corriam em paralelo desde

muito antes, uma vez que j6 haviam estado com L6pez nas negociag6es de paz em Buenos Aires, anos antes, e participado ativamente da preparag5o do Ex6rcito paraguaio. No plano

militar, havia entendimento, mas

o relacionamento pessoal estava longe de ser perfeito. A principio superior hierarquicamente a Estigarribia, que era sargento at6 o inicio do conflito, Duarte foi ulhapassado pelo colega, que recebeu

174

LUIZ

ocrAvro DE LrMA

uma promogeo para tenente-coronel e assumiu o posto de Cerro Le6n, que at6 ent6o lhe cabia. O maior, por sua vez, foi removido para Encarnaci6n, menos importante, onde Estigarribia afuara. Essa movimentagdo, baseada em crit6rios nunca bem explicados,

criou um clima de mritua

desconfianga enhe eles.

Na manhi de I0 de junho, o contingente de Estigarribia atravessou o rio, em grupos de vinte por vez, em p6 sobre canoas que iam e voltavam para buscar mais soldados, at6 que todos eles chegassem ao lado brasileiro.

Mesmo alertado sobre esse avango, o chefe das forgas imperiais na fronteira, coronel Ant6nio Femandes Lima, n5o acreditou na rapidez dos paraguaios e moveu-se sem pressa com seus 2 mil homens na direglo do inimigo.

A. d., horas da manhe,

a coluna paraguaia j6 estava nas cercanias de

SIo Boria, dando inicio a um tiroteio, que foi recebido por uma d6bil resistdncia de lanceiros comandados pelo coronel Ferreira Guimardes. Depois de quatro horas de confronto, chegou

i

cidade o l" BatalhSo de

Volunt6rios da Pdtria, sob o comando do tenente-coronel fo5o Manuel Mena Barreto, que j6 havia tomado parte na campanha do Uruguai. fu forgas brasileiras n5o somavam sequer 650 individuos, mas puderam manter a posiqdo por dois dias, enquanto os moradores se retiravam em carroqas,

a cavalo ou a p6. Ao fim desse periodo, a guarnig5o militar recuou para localidades pr6ximas.

Estigarribia permaneceria em S5o Borja por uma semana, periodo em que grande parte das casas da cidade foi alvo de saques por suas hopas. No dia 19 de junho, animado pela vit6ria tranquila, o Ex6rcito paraguaio partiu para Uruguaiana, onde esperava obter sucesso semelhante, ap6s juntar i divis5o de Pedro Duarte.

se

Depois de investir contra S5o Borja, o coronel Lacf enviou o capitSo

de cavalaria |os6 del Rosario L6pez, com quatrocentos homens, para Los Garruchos, cem quilOmetros ao norte. Estigarribia havia recebido a noticia de que soldados brasileiros estavam se movimentando por aquelas redondezas e temia um ataque pela retaguarda. Todos no destacamento,

A GUERRA DO

PARAGUAI I75

inclusive Rosario L6pez, eram oriundos de Caazap6, departamento do centro-sul paraguaio.

O comandante enviou batedores para patrulhar os arredores e, como ningu6m foi avistado, decidiu retomar o rumo sul. A marcha se deu em

ritmo lento, pois a chuva forte dos dias anteriores havia deixado o caminho alagado, e ndo restavam canoas para a sua expedigSo. No dia 25, por6m, ao passar por trSs do rio Mbutuy, o grupo de Rosdrio L6pez foi interceptado por 3.500 homens das tropas imperiais, que integravam a l" Brigada, do coronel Ant6nio Fernandes Lima, e a 4^ Brigada, do coronel Alves de Mesquita.

Na madrugada de 26 de junho, os paraguaios estavam encurralados nas margens do rio.2 Sem condiE6es de posicionar-se no terreno, Rosario

L6pez suportou as primeiras cargas enviando grupos de soldados para

se

embrenhar nas matas e tentar ag6es de guerrilha. Quando os ataques se intensificaram, os paraguaios iniciaram a t6tica de formag5o em quadrado, com os feridos protegidos no centro. Dos quatrocentos combatentes paraguaios, 116 foram mortos e 120 ficaram feridos. Os brasileiros sofreram quase oitocentas baixas e, ap6s cinco horas e meia e onze ataques sucessivos, as forgas do Imp6rio abandona-

ram o campo de batalha. Rosario L6pez reuniu os sobreviventes, recolheu as armas dos

mortos e retomou a expediqSo. Dois dias depois, reuniu-se

a Estigarribia.

Ao tomar conhecimento em Humait6 da heroica resist6ncia de seus soldados no evento, Solano l-apezficou eufurico. Ap6s o desastre de Riachuelo,

vinham em boa hora as noticias da tomada de 56o Borja e da resist€ncia de Mbutuy. Ordenou que o capit5o Rosario L6pez fosse promovido e enviou a ele a Medalha da Ordem Nacional do M6rito, al6m da inclus5o de homenagens ao

militar no boletim do Exdrcito e nas pdginas do

El Semanario. O pr6prio Bartolomeu Mitre, comandante em chefe das forgas aliadas, comunicou em carta ao seu ministro da Guerra e da Marinha, Juan Andr6s

176

LUIZ

ocrAvro DE LIMA

Gelly y Obes, detalhes que lhe haviam chegado do confronto. E reconheceu a fibra dos paraguaios de CaazapS: "Com t6tica e valor, eles tomaram posig6es vantaiosas, morrendo em seus postos sem render-se".

Em contraste, na frente argentina a sifuagSo era de total desordem naquele momento. A forga reunida por fusto fos6 de Urquiza, de 8 mil homens, seguia a contragosto em direg6o a Concordia, vilarejo no limite norte da provincia de Entre Rios com o Uruguai, para onde o presidente Bartolomeu Mihe havia partido em l7 de iunho a fim de assumir o comando das operag6es. No dia Z4,Mitre i6 se enconhava na localidade quando recebeu o general Os6rio e sua tropa, composta de 15 mil brasileiros.

Em 3 de julho, Urquiza acampou com o regimento em Basualdo, a poucos quil6metros de Concordia, e partiu para avistar-se com Mitre.l Sua saida provocou rumores de que o lider entrerriano estaria, na verdade,

voltando para casa e abandonando a luta. O boato nEo demorou a se espa-

lhar. Como agravante, havia o fato de que o contingente n5o se sentia motivado a combater os paraguaios, com quem guardavam mais afinidades do que com os portenhos. No momento em que a guerra se via

tio impo-

pular na Confederag5o, era o pretexto que faltava para motivar deserq6es

em massa. Alguns chegavam a gritar "Morra, Mitre!", inconformados com um presidente que, a seu ver, nio os representava. Urquiza havia parado i noite na estAncia de Gregorio Castro, a meio caminho de seu destino, e j6 se preparava para dormir, quando emiss6rios

lhe trouxeram a noticia de que sua tropa estava debandando. Rapidamente, tomou o rumo de volta e, ao chegar is barracas, cerca de 3 mil integrantes j6 haviam deixado seus postos e outros tantos foram flagrados preparando-se para partir. O dia ainda

reuniu

-

as forgas

nio amanhecera quando

o general

parufazer um alerta e uma ameaga:

Nao 6 verdade que estou pensando em desistir da luta! A pdtria exige

que fagamos a guerra!- bradou Urquiza.

Quero que saibam que, daqui em diante, todo aquele que for apanhado desistindo do combate ou que

-

for capturado ap6s a fuga serd sumariamente fuzilado!

A GUERRA DO

PARAGUAI I77

Embora temivel, a ameaga n6o surtiu efeito. A autoridade do chefe que, anos antes, havia comandado as ag6es em Caseros, Cepeda e Pav6n

-,

estava esvaziada. Nas madrugadas seguintes, as fugas foram se sucedendo, e, por volta

do dia 7 , iA nio havia um efetivo minimo para se levar algum

confronto a efeito ou mesmo apoiar o Ex6rcito brasileiro. Urquiza acabou por desistir das punig6es aos que restaram e recuou para recomegar do zero. Desde a vit6ria em Riachuelo, o panorama favordvel aos aliados vinha se revertendo.

A investida lopista teve seu vigor renovado com a gradual

tomada dos pontos na fronteira do Rio Grande do Sul, ao longo do rio Uruguai.

Em Corrientes, para onde as tropas do general Wenceslao Robles haviam retornado, o aparato repressivo i populagdo se intensificava a cada dia. Na madrugada de I

I

de iulho, uma terga-feira, soldados paraguaios, a mando de Solano L6pez, capturaram em suas casas cinco

mulheres dos principais lideres da resist6ncia. Levadas aos calabougos do Cabildo para serem forgadas a revelar o paradeiro dos maridos, elas suportaram os maus-tratos bravamente.

A rinica

ressalva feita pelo

Mariscal foi a de que, nos interrogat6rios, as senhoras nio fossem "desonradas". Dias depois, foram todas transferidas para a prisio de Humait6.

Uma delas, Victoria Bart de Ceballos, escreveria mais tarde um relato sobre sua detengio:

Dali nos conduziram atd um ponto denominado Guardia Tacuara, onde nos colocaram em uma carreta e nos levaram ao povoado de San fuan, viajando dia e noite. Em San fuan, ficamos como ref6ns por dois anos, ao

fim dos quais fomos trasladadas para Cad Pucf, para passar um ano mais naquele lugar. A tiltima etapa de seu cativeiro foi uma penosa caminhada atravessando morros e cruzando rios, passando frio e fome, at6 chegarem a Assung5o.a

Na capital, seriam finalmente libertadas pelas tropas brasileiras mais de

178

LUrz ocrAvro DE LrMA

tr6s anos depois. Elas passariam

i

hist6ria como fu Cativas Correntinas e

ganhariam um monumento na cidade. A prisdo das mulheres dos resistentes foi um capifulo cruel do cerco

a

Corrientes, mas )quela altura o destino do general Robles estava praticamente selado. |6 irritado com o subordinado pelo pouco-caso demonstrado por ele ao receber a honraria da Ordem do M6rito, pela catdstrofe de Riachuelo e pelas informag6es que vinha recebendo sobre o comportamento do militar, Solano L6pez recebeu dele uma correspond€ncia que seria a gota d'dgua.

Naquele comego de iulho de 1865, o general decidiu encaminhar ao presidente, em Humaitd, a informagdo de que estava sendo contatado insistentemente pelo legion6rio Fernando Iturburu, que tentava convencOJo a depor as armas e se render

is forgas aliadas. A LegiSo

era formada por opositores do Manscal no exilio

-

Paraguaia

caso de Iturburu.

Muitos

deles conspiravam para derrubar os L6pez desde a d6cada de 1850. Com

o inicio da guerra, tamb6m passaram a ser chamados de legion6rios

os

is linhas inimigas5. Mesmo tendo afirmado que recusara a proposta de Iturburu, Robles despertou desconfiangas e enfurecel o Mariscdl com seu comunicado: desertores ou prisioneiros guaranis que se uniam

-

Hd muito tempo essa divisSo se mosha inoperante, perdendo tempo

com pequenos ahitos e consumindo nossos recursos inutilmente

-

disse ele

no forte de Humaitd a Luis Caminos, seu secretdrio e oficial do Minist6rio da Fazenda.

-

Est6 na hora de dar um basta na afuag5o desse irresponsdvel!

Em Z3 de iulho, o cunhado de L6pez, Vicente Barrios Bedoya, i6 ministro da Guerra em lugar de VenAncioL6pez- que ficara em Assungio -, foi enviado a Corrientes para notificar Wenceslao Robles de sua substifuig6o

pelo general Francisco Resquin e da ordem para que o acompanhasse at6 Humait6, onde ficaria detido i espera de julgamento por uma Corte Militar.6 Desde aquele momento, conhecendo como conhecia o temperamento de Solano, Robles abandonou qualquer esperanqa e preparou-se para enfrentar a pena capital.

XXIII Encurralados pela Alianga

Na fronteira com o Brasil, o esquadr6o guarani continuava seu avanqo.

Em 18 de julho, o grupo de Pedro Duarte empreendeu a complicada havessia dos riosYpeju e Toropaso fixando-se em [,a Cn:z,ainda na margem

argentina do rio Uruguai. No dia 21, seiscentos paraguaios da divisSo confrontaram oitocentos correntinos aliancistas que, ao final do embate, debandaram por completo. A essa altura, Antonio de la Cruz Estigarribia,

o coronel Lacfi, encontrava-se muito pr6ximo, acampado em Itaqui, no

lado oposto do rio.r Estava a cem quil6metros de Uruguaiana, onde

os

dois contingentes deveriam se encontrar em alguns dias. Solano L6pez estava esperanqoso. Acreditava que a conquista de Uruguaiana estava garantida, e dali a enhada na Repriblica Oriental seria uma

tranquila consequ6ncia. O sabor da vit6ria seria ef6mero, por6m. Ainda que apaixonado pela vida militar, e mesmo tendo investindo pesados recursos na montagem de imponentes Forgas Armadas, El Mariscal era um estrategista limitado. Sem experi6ncia de campo

-

diferentemente de seu mo-

delo, Napolefio, praticamente nunca havia enfrentado pessoalmente um

inimigo -, ele confiava excessivamente em seu poder de lideranga. A centralizagdo do comando em suas m5os, no forte de Humait6, distante do teaho de operag6es, acarretou dificuldades adicionais na campanha ofensiva e provocou s6rios erros de orientag5o.

180

LUzocrAvro

DE LIMA

Ao comegar a guerra, seu plano parecia fazer sentido, mas dependia de uma s6rie de premissas que n5o se realizaram, como a ades6o do lider das provincias argentinas, |usto fos6 de Urquiza. Problemas de comuni-

cagio com o comando de seu Ex6rcito, um enorme gasto de recursos b6licos para manter Corrientes sob dom(nio e uma sucessio de reveses - o pior deles sendo Riachuelo - causariam a reversio de sua vantagem em um tempo muito curto.

fu

tropas paraguaias eram mais numerosas, por conta do recruta-

mento em massa que incluiu at6 mesmo os oficiais da reserva, e formadas

por soldados que demonshavam bravura. Mas o isolamento em que seu pa(s viveu por tantos anos e a precariedade de seus armamentos representavam desvantagens importantes. Os aliados dispunham de um contingente menor, por6m, por terem participado de guerras regionais desde

a

primeira metade do s6culo, eram mais experientes e conheciam melhor o terreno onde combatiam. Nesse momento, enhou em cena um adversdrio t5o implacdvel quanto os mais bem armados ex6rcitos: o

frio. O inverno sulista em 1865 foi um

dos mais rigorosos da hist6ria na regi5o, regishando temperafuras negativas

que castigavam os paraguaios, acostumados a um clima quente e a minimas que nunca iam abaixo de

16'C. Com um agravante: foi um perfodo

especialmente chuvoso.

Al6m de enfrentarem condig6es climSticas adversas, os soldados paraguaios permaneciam com as fardas molhadas, por nio possuirem uniformes de reserva ou mesmo barracas. Os campos da regiSo caracterizavam-se

por uma vegetagSo rasteira, dos pampas, sem drvores de onde se poderia retirar madeira para se improvisar cabanas. Botas ou sapatos eram um privil6gio de oficiais; os combatentes usavam sand6lias ou faziam a marcha descalgos.

O comandante Estigarribia anotou em diversos momentos

a

morte de soldados por pneumonia. No comego de agosto, Estigarribia recebeu um comunicado de Solano

L6pez: "Recolha os mantimentos que puder em Uruguaiana e siga

ACUERRA DO

PARAGUAI I8I

imediatamente para a Repriblica Oriental pelo caminho de S5o Miguel".

O Maiscal prometia ir com suas tropas at6 as margens uruguaias do rio ParanS, onde se encontrava a esquadra imperial, e ordenava que o coro-

nel fosse encontrdJo. Informava na mensagem que pretendia capfurar "dez ou doze barcos brasileiros" naquelas 6guas.2

O comandante ordenou que as tropas levantassem acampamento

e

encaminhou-se para Uruguaiana. Ao chegar 16, no dia 5 de agosto, sem

que explicasse a raz1o, desobedeceu a determinagEo presidencial e

se

instalou na cidade sem prazo para deix6-la. E possivel que temesse prosseguir por conta das condig6es lastimdveis em que se encontrava seu destacamento. Se verdadeira, a preocupagio teria sido exagerada, jd que

a regiSo da fronteira, defendida por esparsas tropas sob o comando do general Davi Canabarro, tinha poucas condig6es de resist6ncia. O fato 6 que, se o coronel n6o seguiu a ordem de Solano, o Maiscal tampouco deixou Humaitd rumo ao Uruguai. Pouco depois da chegada, um emiss6rio entregou a Estigarribia uma mensagem de Pedro Duarte, que havia se instalado nas barrancas do ria-

cho Yatay (latai, para os brasileiros), na margem direita do rio Uruguai.

O bilhete dizia que o presidente oriental Ven6ncio Flores havia partido de Concordia, onde encontrara Mitre, com um contingente de 4.500 homens para fazer frente is tropas paraguaias. O coronel Lacri respon-

deulhe que

isso devia ser um boato sem fundamento e que se manteria

na posigSo. Duarte retrucou que n5o podia avangar em fung6o do blo-

queio exercido por um vapor aliado, que frustrara todas as suas tentativas de atravessar o

rio, atirando nas canoas de seus efetivos. Pediu que

Estigarribia abordasse o barco e o neutralizasse. A resposta foi uma ironia: "Se est6 com o Animo abatido, venha se juntar i forga de Uruguaiana, que verei se posso

liberdlo de participar

das batalhas".r

Em l7 de agosto, ap6s duas semanas isolados, sem poder fazer aiuavessia para Uruguaiana, Pedro Duarte e seu grupo perceberam a apro-

ximagSo de um impressionante contingente, uma gigantesca massa de

182

LUrz ocrAvro DE LIMA

soldados, a cavalo e a p6. Era a tropa de Ven6ncio Flores, reforgada por

4 mil

combatentes sob

o comando do general Wenceslao

Paunero,

1.400 cavaleiros do general correntino fuan Madariaga,l.200 da infan-

taria do coronel tamb6m correntino Sime6n Paiva, mais trinta pegas de

artilharia. Duarte, por sua vez, contava com um s6 canheo e menos de 3 mil homens. Flores atacou o centro das tropas paraguaias, Paunero, o flanco direito e Su6rez, o flanco esquerdo. A cavalaria de Madariaga investiu pela retaguarda. O resultado foi invevitdvel: uma carnificina. Metade do contingente paraguaio foi morto em combate ou degolado ap6s a batalha, e os soldados restantes

-

trezentos deles feridos

-

foram feitos prisioneiros.

Entre estes, Flores encontrou dezenas de uruguaios ligados ao Partido Blanco que haviam se refugiado no Paraguai ap6s a volta dos colorados ao poder. Mandou fuzilar um a um. Pedro Duarte foi tomado prisioneiro pelo coronel oriental Magariflos

Cervantes. Perdera o rev6lver quando a explosio de uma bomba pr6xima de onde se encontrava fez seu cinturdo romper-se em plena batalha.

Em seu cavalo com arreios de prata, assim como eram suas esporas, empunhando a espada retorcida por tantos golpes desferidos e recebidos, continuava a se defender como possivel. J6 tinha s6rios ferimentos nas m6os e nos dedos quando escapou de um golpe fatal de baioneta, gragas a

um grito do coronel Magariflos Cervantes:

Nio lhes fagam mal! Domingo Fidel Sarmiento, filho do embaixador Domingo

-

Soldados! Deixem esse oficial!

Faustino

Sarmiento, participara do confronto e, naquela noite, escreveu i familia em Buenos Aires que os paraguaios n5o eram "inimigos dignos dos aliancistas", por terem se rendido "facilmente". Sua m5e respondeu que ainda era cedo para esperar uma capitulagdo paraguaia:

"L6pezem sua casa ser6

mais forte do que imaginam", alertou.

Informado do massacre deJatai, Estigarribia preparou a hopa para uma retirada, e

jf comegava a se afastar de Uruguaiana

quando foi abordado

A GUERRA DO

PARAGUAI I83

pelos homens do general brasileiro Davi Canabarro. Ordenou uma reagSo, mas Canabarro evitou o combate e tomou o rumo de volta

i

cidade em

um aparente ato de covardia. Mas Canabarro era um osso duro de roer, um homem de quase 70 anos

que j6 participara de todas as guerras e revolug6es no Cone Sul desde a

Cisplatina. Sua suposta fuga era uma emboscada bem urdida. Acreditando estar em vantagem, Estigarribia seguiu o rasho do velho general, que o levou de volta

is portas de Uruguaiana, onde teve seu

ex6rcito cercado pelo pelotdo de Canabarro somado is forgas aliadas que haviam combatido em )ata( e agora retornavam totalizando l5 mil homens.

Quando a esquadra do visconde de tmandar6 se posicionou nas proximidades, estava mais claro do que nunca que a situagio era irremedi6vel. Instado a depor

as armas, o

coronel Lac( a principio manteve sua posig5o.

Em carta aos comandantes aliados, declarou: Ainda que eu esteja perdido, a honra e a obediOncia is ordens do supremo governo de minha pdtria me mandam morrer antes de entregar as armas que me confiaram.

Em 5 de setembro, Estigarribia rechaqou outra intimag5o com um protesto: Se Vossas Excel6ncias se manifestam t5o zelosas quanto a liberdade do povo

paraguaio, segundo suas pr6prias express6es, Por que ndo comegam Por libertar os infelizes negros do Brasil, que comp6em a maior parte da sua

populagio e gemem no mais duro e espantoso cativeiro para enriquecer e sustentar a ociosidade de algumas centenas de grandes do Imp6rio? Desde quando se chama de escravo um povo que elege por livre e esPont6nea vontade o governo que preside seu destino?

E, parafraseando a resistCncia espartana,4 encerrou: "A fumaga canh6es nos far6 sombra".5

dos

xxtv Derrotados pela fome

Avesso ao miltarismo na juventude, dom Pedro

II mudou

sua forma de

encarar as guerras depois que o conflito atingiu a regi6o Sul do Brasil.

Em julho de 1865, o imperador concluiu que deveria assumir um protagonismo maior nas operag6es contra o Paraguai. Sua lideranga, imaginou, ajudaria a estimular alistamentos para o seu ex6rcito, ainda muito carente de efetivos, e sua presen qa no front poderia servir para elevar o

combatentes brasileiros e dos chefes aliados. Ademais,

-

al6m de bem-criadas

-

inimo

dos

as princesas estavam

casadas. E sua amada condessa de Barral

-

com

-

havia partido para a Franga, ao

Essa revisSo de conceitos o levou, em

um primeiro momento, a posar

sua miss6o como preceptora encerrada

encontro do marido e do filho. para fotos no PalScio Seo Crist6veo vestindo uniforme militar e traie de

campanha.r Posteriormente, as imagens foram aplicadas, por meio de montagens, a cendrios que simulavam as frentes de batalha, para serem usadas como peqa de propaganda prGguerra. Naquele mesmo m6s, co-

meqou a preparar uma expedigSo com objetivo de conhecer de perto

a

situagio dos combates e verificar os avangos feitos pelos aliados. Um dos primeiros a ser comunicado da decisdo foi o marqu€s de Caxias, que reagiu

mal

-

i

ideia.

Majestade, entendo agrandezade seus prop6sitos, mas nio acredito que

uma aventura dessas valha os riscos que poder6 correr

-

ponderou Caxias.

186

-

LUz ocrAvto DE LrMA

Nao me refiro apenas aos perigos dos combates, mas tamb6m aos riscos

de mol6stias, provocadas pelos rigores do clima ou pelas epidemias que costumam surgir nessas frentes de batalha, sempre profusas em miasmas.

- Caro Caxias,

sabes que costumo

lubres locais do Imp6rio

-

viajar pelos mais distantes e insa-

retrucou dom Pedro.

-

N5o 6 certo que um

governante fique encastelado, distante da vida e dos acontecimentos

que afetam seu povo. Esse p6riplo jA 6 um fato consumado, e fago questSo absoluta de que, sendo bom amigo e conhecedor da regiSo, me acompanhe. Caxias concordou a conhagosto. Mais ainda ao saber que faria parte da

comitiva o ministro da Guerra, Angelo Muniz da Silva Ferraz, por quem n5o nutria a menor simpatia e cuja atuag5o questionava fortemente.

O Conselho de Ministros tamb6m recebeu a noticia com espanto, seus argumentos

nio diferiram muito dos de Caxias. Mas Pedro II

e

n6o

arredou de seu projeto. Dias antes de partir, o monarca disse aos genros que gostaria de contar com a companhia de ambos na viagem. Um pensamento que o entristecia era o de que, nesse momento, poderia estar na

empreitada com seus pr6prios filhos homens, Afonso e Pedro, n6o tivessem eles morrido na infAncia. Mas a presenga dos prfncipes aplacaria um

pouco esse sentimento. E o contato com a realidade da vida fora dos palicios lhes reforgaria o car6ter. GastSo d'Orleans, o conde

D'Eu, ficou bastante enfusiasmado com

a

noticia. Desde o comeQo da guerra vinha pedindo ao sogro que lhe enhegasse o comando das tropas, algo que

o imperador nem sequer cogitou.

Mas conhecer o cen6rio dos conflitos jd seria um excelente comego. Rec6m-chegado de uma longa viagem pela Europa acompanhado da princesa Isabel,

com quem estava casado havia oito meses, o rupaz de 23 anos jd

estava deseioso de espantar o t6dio reinante no Paldcio Imperial.

fu majes-

tades eram avessas i vida mundana, e o jovem casal gastava as horas de seus

dias em leih,rras de Walter Scott, Alexis de Tocqueville e Octave Feuillet.

Em uma carta aos parentes europeus, dias antes, Gastf,o desabafara:2

A GUERRA DO

PARAGUAI I87

Come-se em familia is cinco, com uma rapidez prodigiosa. Depois, se o

tempo estiver bom, passeia-se pela propriedade, uma esp6cie de jardim quase inculto, composto principalmente de mangueiras e bambus gigantescos. Em seguida, volta-se para casa para tomar chd; as princesas fazem

mrisica; olham-se fotografias e fazem-se jogos de prendas. E hs nove

e

meia estd tudo terminado!

Augusto, o duque de Saxe-Coburgo, is v6speras de completar vinte anos, n5o criou obst6culos, como sempre. Mas seu interesse por batalhas

era imensamente menor do que pelas cagadas. No entanto, considerou que na regiSo visitada poderiam surgir boas oportunidades para se dedicar h atividade que amava mais do que qualquer outra.

Em l'de agosto, o trio subiu

a bordo do vapor Oiapoc, acompanhado

do marqu6s de Caxias e do ministro da Guerra, Angelo Muniz da Silva Ferraz. A primeira escala foi em Santa Catarina. Por ali, detiveram-se apenas um dia em terra e logo prosseguiram at6 Porto Alegre, onde chegaram

no dia 5 e foram recebidos com uma procissio de archotes e bandeiras, encerrada com uma serenata.

A partir da capital do Rio Grande do Sul, o imperador e seus genros prosseguiram por terra. Fizeram paradas em Pelotas, Rio Pardo, Cachoeira,

Cagapava, Sao Gabriel, Ros6rio do Sul, Alegrete e 56o Borja, e cruzaram o rio at6 Restauraci6n, quase sempre sob chuva forte. Nessas riltimas duas cidades constataram a destruigSo causada pelos ataques paraguaios, ainda

visivel mais de dois meses depois. No caminho de Alegrete, a comitiva imperial presenciou o sacrificio de bois e a preparag5o de um churrasco, alimento tipico do Sul que o monarca e os principes nunca haviam provado at6 entio.3

No dia 29 de agosto, acampado com seu grupo na fronteira sudoeste do rio Grande, dom Pedro II recebeu uma carta do presidente oriental Vendncio Flores, enviada de Uruguaiana e assinada por ele como "Seu

melhor e mais fiel amigo". Nela, o caudilho uruguaio relatava o sucesso

188

LUrz

ocrAvto

DE uMA

da batalha de Jatai, no dia 17, felicitava o imperador pelo procedimento dos

batalh6es brasileiros, "que se portaram com fidalguia e honra", pediaJhe

uma confer€ncia e anunciava que estava enviando ao soberano uma das

quatro bandeiras paraguaias que haviam caido nas mdos dos aliados. Finalmente informava a respeito dos inimigos vencidos: 1.200 deles foram feitos prisioneiros e levados para Restauraci6n, sob a guarda do presidente Mitre.

o d

or

o o

O I

o

U 6 F N

-l

Dom Pedro II em haie de campanha antes de partir para Uruguaiana em 1865.

A CUERRA DO

PARAGUAI I89

Como estavam muito pr6ximos daquela cidade, Pedro conferir

as condig6es em que os detidos em

II

resolveu

batalha estavam sendo man-

tidos. Jd havia sido informado dos degolamentos e temia que estivessem sendo perpetrados crimes de guerra contra os sobreviventes. O cendrio

que encontrou no campo de prisioneiros o tranquilizou quanto a isso. Nos galp6es onde haviam sido reunidos, os paraguaios estavam maltra-

pilhos, 6 verdade, mas encontravam-se abrigados e recebiam alimentos, sem sofrer maus-tratos. Entre eles, encontrou Pedro Duarte. O coman-

dante da divisio derrotada garantiuJhe que estava bem e relatou ao imperador que Flores havia lhe oferecido dinheiro e cavalos para que voltasse ao Paraguai, levando a

noticia de sua derrota. Disse ter recusado

a

oferta, por ter a certeza de que seria fuzilado a mando de Solano L6pez. Despreocupado, Augusto, o iovem duque de Saxe, foi no fim da tarde carregado de rolinhas

i

e codornas. )d GastEo, o

caga e voltou

conde D'Eu,

ndo s6 era atento a tudo o que testemunhava no pais, como tambdm con-

siderava a nagSo adotiva como sua. Sempre que se referia ao Brasil, em

familia ou enhe autoridades, utilizava carregando no

a

denominagdo "nossa piltria",mesmo

"r". Durante a viagem, o conde raramente se afastava do

sogro e, munido de papel e l6pis, anotava todos os detalhes da iornada,

incluindo detalhes da paisagem

e relatos dos tipos humanos encontrados

pelo caminho. A expedigdo terminaria is nove horas da manh6 do dia 1l de setembro,

quando o imperador e os principes consortes chegaram, a cavalo, ao acampamento de Uruguaiana, vislumbrando as primeiras barracas ao longo de uma faixa de terreno arborizado. N5o tardaram a vir ao encontro de

Pedro

II

o comandante das forgas brasileiras, Manuel Marques de Souza,

bar6o de Porto Alegre, e, logo atrds, o visconde de Thmandar6, que os recebeu com um grande sorriso. A infantaria e a artilharia do Exdrcito de Porto Alegre estavam em formagio de batalh a paru receber o imperador, que, ainda na montaria, as passou lentamente em revista.a

190

LUz ocrAvro DE LrMA

Entre os pelot6es, destacavam-se a l" e a 2'Companhia de Z:uavos, formadas na Bahia por volunt6rios negros. Muitos desses defensores do Imp6rio, como eles mesmos se denominavam, haviam sido sargentos na Guarda Nacional ou profissionais como carpinteiros e tip6grafos, o que sugere que antes dali gozavam de pelo menos uma razodvel posigdo so-

cial e econOmica. Na 6poca, o Brasil era a maior sociedade escravista nas Am6ricas, com 1,5 milhfio de homens e mulheres cativos. Mas pelo menos

4 milh6es de afrodescendentes livres ou libertos viviam no pais e constituiam dois quintos da populagio total de 10 milh6es de habitantes. Thmb6m formavam fileiras dois batalhdes de Volunt6rios da P6tria: o 1", da cidade do Rio de Janeiro, e

o

5o, da

provincia do Rio de faneiro.

Por ter entrado em campanha mais tarde, o

fltimo ainda

conservava os

uniformes em melhor estado que os demais.

Mal havia acabado de cumprir o ritual, o soberano foi surpreendido pelas aparig6es do presidente uruguaio, Vendncio Flores, e do argentino,

Bartolomeu Mihe, que tinham chegado de Concordia na v6spera, seguidos

por um numeroso Estado-Maior. Embora sem grande pompa, era um momento hist6rico, uma rara confer0ncia de chefes de Estado e em uma regi5o onde se encontravam os limites de seus tr6s paises. A Triplice Alianga na Tiiplice Fronteira. Pedro

II vestia farda azul-escura com uma comenda no lado direito,

dourada como os bot6es no peito, os gal6es nos punhos e a fivela do cinto. Sua calga em brim trazia faixas amarelas nas laterais, da mesma cor que a faixa de seu quepe azul-marinho. Sob a chuva fina, usava grandes botas de

couro e uma larga capa preta adornada por uma pequena faixa de veludo da mesma cor nas bordas. Bartolomeu Mihe vestia calga azul-marinho metida

em botas de montar com cano alto, fardeo tamb6m azul com fios de ouro transversais bordados nos ombros, pequena gravatapreta sobre a camisa de

colarinho branco, colete onde

se via

pender uma banda com

as cores argen-

tinas (azul-celeste e branco) e quepe com largo galeo dourado. VenAncio Flores hazia quepe mostarda, fard6o azul-marinho, sobrefudo escuro um

A GUERRA DO

PARAGUAI I9I

tanto gasto, capa preta de borracha e cofurnos longos. Ostentava um enor-

me bigode castanho

como sua farta cabeleira

-

-

e barba grisalha.

O imperador cumprimentou cada um e pediu que Flores ficasse ) sua esquerda e

Mitre i sua direita. Augusto manteve uma discreta dist6ncia

do grupo, assim como o barSo de Porto Alegre, o ministro Silva Ferraz e o marqu€s de Caxias. Gast5o d'Orleans, sempre muito curioso, postou-se

i

direita do governante portenho, sem se dar conta de que aqueles homens

tinham assuntos urgentes e extremamente graves a discutir.

- Qu. tal foi a viagem? - dirigiu-se o rupaz a Mitre. -

Foi muito boa

-

respondeu o argentino, intrigado.

- Com

quem tenho

a honra de falar?

-

Sou genro do imperador

Mitre tirou o quepe a mistica da

-

replicou Gast5o.

e fez uma rever6ncia, numa demonstragio de que

monarquia exercia efeito mesmo sobre l(deres de nag6es repu-

blicanas. O jovem n6o pOde deixar de notar uma depress5o circular no lado esquerdo da fronte de seu interlocutor. E ndo se acanhou em per-

guntar araztro da cicatriz.

-

E sinal de uma bala que me feriu, n6o me lembro em qual batalha

respondeu o argentino.

Dom Pedro II, que ia falando com Flores, parecia incomodado com a interfer€ncia do conde e apressou-se a trazet Mitre Para a conversa. A presenga do soberano no palco da guerra mostrou-se providencial, pois, apesar do clima cordial naquele momento, havia v6rios dias que

Mitre,

Flores e Porto Alegre discutiam sobre a quem deveria caber o comando das operag6es.

Mitre

afiogava a fung5o para si, alegando que era o rePre-

sentante militar m6ximo da alianga; Porto Alegre argumentava que a atual

beliger6ncia ocorria em territ6rio brasileiro e, assim, segundo o Tratado, o comando caberia aos brasileiros; Flores insistia que vinha perseguindo

Estigarribia e seus homens desde o outro lado da fronteira e, portanto, deveria ter essa prerrogativa. Ap6s uma r6pida deliberag5o, prevaleceu ponderagSo de Pedro

II, para quem Porto Negre deveria comandar

a

sob

192

LUz ocrAvro DE LrMA

Mitre. Uma solugio ao gosto do "jeitinho brasileiro" que satisfez a todos. Flores tamb6m foi voto vencido ao defender a entrada a superviseo de

imediata em Uruguaiana. Os demais opinaram por continuar pressionando de fora at6 obter uma rendigeo.

O didlogo n5o se estendeu por mais tempo, porque a chuva ficou intensa e todos concordaram em acompanhar o imperador at6 o quartel imperial

-

uma pequena habitagdo adaptada para hospeddJo.

Naquela tarde, o comandante Estigarribia pediu um cessar-fogo para que a populagSo remanescente de Uruguaiana pudesse deixar a cidade, o

que foi autorizado por Mitre.

No dia 13, mesmo com muita chuva, acompanhado de sua pequena comitiva, o imperador montou a cavalo logo cedo para visitar a flotilha comandada pelo visconde de Thmandar6 e se encontrar com os chefes aliados em uma das embarcag6es. No caminho, passou diante do acam-

pamento de Flores e foi saudado pelos soldados, que lhe apresentaram armas, envoltos em capotes escuros. Flores iuntou-se a eles, e todos foram

cavalgando at6 a margem do rio Uruguai. Thmandar6 estava

i

espera do

grupo com um escaler. Mitre jd se encontrava a bordo. Reunidos, os mandatdrios das tr€s nag6es discutiram os termos de um

ultimato a Estigarribia. Basicamente, exigiam sua rendigio incondicional. O ministro brasileiro da Cuerra, Silva Ferraz, ofereceu-se para levar pessoalmente o documento ao comandante inimigo

- e por essa razio

receberia tempos depois o titulo de bar5o de Uruguaiana.

Nos dias seguintes, os sitiados foram bombardeados, sem descanso, por 54 pegas de artilharia posicionadas em terra e 6gua.5 Esse quadro, somado I fome intensa e h indig€ncia quase completa dos paraguaios, serviu para demover a obstinaqio do comandante guarani. O embate ha-

via resultado na perda de 59 chefes, 5 mil soldados, 540 sabres, cinco canh6es, 19 carrogas e diversas canoas. Do lado uruguaio haviam sido

2ll

mil cartuchos. Mitre e Flores participavam diretamente das ag6es. Pedro II as observava a certa dist6ncia. disparados

A GUERRA DO

PARAGUAI 19]

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II em haje militar no Rio de faneiro: inicialmente avesso i guerra, com o recrudescimento do conflito langou mdo de estratEgias publicitdrias para estimular os alistamentos. Pedro

Em I8 de setembro, quando jd se encontrava cercado por mais de um m6s, Estigarribia deu sinais de que se entregaria. Mas indicou as condig6es:

que seus oficiais pudessem regressar ao Paraguai ou seguir livres para o destino que desejassem; que lhes fosse permitido manter suas armas; que

194

LUrz ocrAvro DE LrMA

os soldados e oficiais orientais que formavam em suas fileiras fossem en-

tregues

i

cust6dia do Imp6rio, e

nio a Ven6ncio Flores, cuja fama

de

degolador todos temiam.

fu

condig6es foram aceitas,

i

tengSo das armas pelos oficiais.

excegSo do item que se referia

i

manu-

O coronel Lacf avisou que estava de

acordo e, is quatro da tarde, uma longa fileira de paraguaios foi deixando os limites da cidade em direg6o ao acampamento inimigo. Muitos deles

mal tinham roupas e mostravam alto grau de desnutrigSo. Durante o cerco

haviam chegado a se alimentar de ratos e, sem Sgua potdvel, a beber querosene. Quase todos haviam sofrido com a disenteria.

A frente do pelotiio, soldados vinham tocando tambores, em um desfile que tornava a rendig5o ainda mais melanc6lica. Dos quase

l2 mil inte-

grantes do contingente original, restavam menos de 5 mil.6 O aspecto posi-

tivo era que um banho de sangue maior havia sido evitado na libertagdo da cidade.T E, dessa vez, os orientais blancos infiltrados nas hopas guaranis

tiveram a vida poupada.

Muitos dos soldados paraguaios seriam obrigados a se incorporar Ex6rcitos aliados. Alguns deles, perguntados

se

aos

preferiam ser levados como

prisioneiros ou lutar contra as forqas de L6pez, chegavam a responder que ndo eram realmente paraguaios, mas guaranis, e agora deseiavam ser brasileiros, iustificando sua nova condigSo de legion6rios. O lado brasileiro n5o contabilizou imediatamente a absorgfio dessas forgas, at6 porque o imperador desaprovava a pr6tica

-

o que nlo serviu

para impedi-la. Em toda a guerra, 2.458 paraguaios foram levados para o Brasil, a maior parte para o Rio de Janeiro. Mihe tamb6m n6o era favordvel i ideia, mas o Ex6rcito argentino acabou incorporando 1.030 paraguaios, cabendo a cada um o soldo mensal de sete pesos. O uruguaio Flores agre-

gou setecentos prisioneiros

i

sua tropa e enviou outros seiscentos para

trabalhar em Montevid6u. Nos dias seguintes, Pedro II, Mitre e Flores percorreram Uruguaiana e ajudaram pessoalmente a populag5o que retornava a limpar e rcorganizar a

A GUERRA DO

PARAGUAI I95

cidade, bastante atingida pelo sitio prolongado. Dom Pedro chegou a per-

noitar com os genros em uma casa da localidade.

No dia 2) de setembro, o acampamento recebeu a visita do ministro brit6nico em Buenos Aires, Edward Thornton. Ele fora encarregado pelo governo da rainha Vit6ria de exprimir ao imperador seu pesar pela sucess6o de incidentes envolvendo os dois pafses desde 1862 e pela consequente

ruptura diplomdtica.

O imperador pediu que sua barraca fosse preparada para o encontro, com candelabros, bandeiras e tapetes. Compareceram

i

cerim6nia

os

coman-

dantes de todos os corpos, vestidos em trajes de gala, desejosos de assistir

i

satisfagdo que se daria

i

honra do Imp6rio do Brasil. Ao lado da tenda,

formou-se um batalh5o de linha completo. Pedro II sentou-se ao fundo da barraca, ao lado do minisfoo da Guerra, de Caxias, Porto Alegre e Thmandar6,

i

espera do embaixador

Thornton. Este n5o tardou a chegar, em uma car-

ruagem escoltada por um destacamento de cavalaria.8 Depois de uma saudagEo ao imperador e aos presentes, entregou a dom Pedro uma carta da rainha Vit6ria e proferiu um longo discurso em franc€s, em que decla-

rou: "Sua Majestade nega da maneira mais solene toda intengdo de ofender a dignidade do

Imp6rio do Brasil". O imperador fezlhe um agradecimento

igualmente em franc€s, e uma banda postada do lado de fora tocou a marcha Niter6i, seguida de God Save the Queen.

Normalizavam-se, assim,

as relag6es

enhe

os dois

imp6rios. Meses depois,

Thornton seria nomeado ministro no Rio de faneiro. No dia 25, ap6s uma missa solene pela manhd, Pedro I[ e sua comitiva prepararam-se para partir. Bartolomeu Mitre foi ao encontro do imperador e conversaram pela

riltima vez quando foram seguindo,lado a lado, at6 a

margem do rio Uruguai. Ali os batalhSes argentinos os saudaram com rufos de tambores. Instantes depois, o grupo imperial estava a bordo do vapor Onze de lunho para iniciar a longa viagem de volta. A noticia da rendig5o de Uruguaiana foi recebida com fiiria por Solano L6pez, em Humait6. Ele i6 se encontrava inconformado com a derrota de

196

LUtz ocrAvro DE LrMA

)atai, pela qual culpava o coronel Antonio de la Cruz Estigarribia, que recusou ajuda i divisio de Pedro Duarte, "separada dele apenas por um rio". Agora, tendo conhecimento de que o comandante havia deposto armas sem lutar at6 o

as

fim, colocava a cabega dele a prOmio:

- O covarde Estigarribia esse ato vergonhoso de nossa

responderd diante de Deus e da pdtria por

hist6ria!

Ap6s a exploslo, L6pez encerrou-se em seu aloiamento por tr6s dias, sem

manter contato com ningu6m. Ao final desse periodo, convocou uma reuniEo com seus chefes militares, os minishos que o acompanhavam no forte

e o pr6prio bispo Manuel Palacios. Depois de um rdpido desabafo, aguardou que algu6m

se pronunciasse a respeito

do desashe militar sofrido

-

que

poderia significar a derrota definitiva do Paraguai. No entanto, houve apenas um sil€ncio pesado e prolongado no ambiente. Indignado, esbravejou:

=

E

.s

a

f4vr

Dom Pedro com os genros, os principes Luis Augusto de Saxe-Coburgo e GasEo d'Orleans, no campo de Alegrete, durante a viagem ) frente de batalha. Gramra de Janet-l,ange a partir de desenho de MaximoAlves. 1865. L'illustrationloumalUniversel,Vol. XLVL, n'1.186.

o o

O

A CUERRA DO

-

PARAGUAI I97

Vejo que parecem indiferentes a essa desgraga nacional, que deve-

riamos deplorar. At6 agora, s6 uma pessoa nesta fortificagdo reagiu a elas

devidamente: o major Francisco Luis Gonztlez, que surpreendi com l6grimas nos olhos quando recebemos as terriveis not(cias. E voltando-se para o oficial, disse:

-

Eu lhe agradego, major.

Como todos se mantivessem quietos, limitou-se a concluir:

-

Saiam todos, imediatamente!

Longe de ser punido por seus captores, Estigarribia teve um destino bem mais confortdvel do que ele pr6prio poderia imaginar. Entregue is forgas brasileiras ap6s assinar a capitulagfro, permaneceu vdrios dias com

trAnsito livre no acampamento dos aliados, inclusive autorizado a manter sua espada e a portar armas de fogo. Mais tarde, recebeu uma oferta de

asilo e rumou para o Rio de laneiro, onde passou o resto de seus dias usu-

fruindo intensamente da vida social da cidade.

O coronel Rosario L6pez, her6i de Mbutuy, conseguiu escapar de Uruguaiana antes da rendig6o. Maltrapilho e faminto, alcanqou um acampamento paraguaio em 27 de setembro e foi detido por seus compatriotas. Ap6s tr€s meses de pris5o e interrogat6rios, foi liberado,

i

espera de

que seu destino fosse decidido pelo Maiscal. A partir dai, n5o houve mais

nenhum registro de sua existOncia, fosse por prisSo, fosse por fuzilamento, fosse por ato de bravura.e

Tendo a tentativa de invasSo do Brasil e do Uruguai resultado em absoluto fracasso, o Mariscal ordenou, menos de um m€s depois, a re-

tirada de suas forgas do territ6rio argentino, liberando a prov(ncia de Corrientes. At6 para ele parecia evidente que a guerra estava perdida e logo chegaria ao fim.

Mas nio foi o que ocorreu. O pior, para todas as partes, ainda estava por vir.

xxv Fuzilados no forte

A volta de Pedro II ao Rio de |aneiro foi apote6tica. At6 mesmo jornais portugueses louvavam sua atifude de ter ido

i

fronteira para posicionar-se

junto ao Ex6rcito na frente de batalha. "Sua Majestade 6 digno do respeito, do amor, da dedicagSo dos brasileiros. E feliz todo o pais que tem a fortu-

na de ter como monarca um sr. dom Pedro II", publicou O Commercio de Coimbra.r

O lomal do Commercio, na capital do Imp6rio, registrou sobre o triunfal desfile de retorno: Um rinico pensamento dominava

a

multideo: ver

e saudar com a expans5o

do mais santo regozijo o imperador e seus augustos genros. Mais bela festa de amor e gratidSo nunca se observou no Rio de faneiro. O imperador e os principes trajavam sobrecasacas militares e traziam nos semblantes os

sinais da afadigosa miss5o patri6tica que souberam tdo dignamente cum-

prir. Em todo

esse

tempo, esteve o Largo do Pago atopetado de povo, que

vitoriava com ardor o defensor perp6tuo do Brasil, e que prorrompeu em novas e arrebatadoras aclamag6es no momento em que Suas Majestades

Imperiais seguiam para S5o Crist6v6o pouco antes das seis horas da tarde.

Era um momento de grandes festeios tambdm para os argentinos de Corrientes, mesmo com sua capital arrasada pelos seis meses de ocupag5o

200

LUrz ocrAvro DE LrMA

paraguaia. No dia

3 de

novembro, eles reconduziram solenemente o gover-

nador Manuel Lagrafia ao comando da provincia, colocando ponto-final em uma penosa etapa do conflito. O contingente invasor abandonava o territ6rio argentino, e, at6 Passo da P5hia, seu destino final, no lado paraguaio do rio Paran6, as forgas lopistas

iam saqueando e incendiando os povoados por onde passavam. No cortejo seguiam tamb6m os membros do triunvirato que administrou a capi-

tal da provincia durante a ocupag6o Sinforoso C6ceres

-

Victor Silvero, Teodoro Gauna

-, agora considerados

pdrias em sua terra. Somadas

e as

is da campanha de Corrientes, as baixas guaranis naqueles poucos meses de guerra chegavam a 2l mil mortos, quase um tergo de todo o ex6rcito original. E, dos l9 mil que regressavam

perdas das tropas de Estigarribia

ao Paraguai, cerca de 5

mil estavam enfermos.

As sucessivas derrotas abateram profundamente o 6nimo dos soldados

paraguaios, assim como da populagSo. Os vefculos de imprensa, por6m,

eram proibidos de informar mortes ou fracassos militares das tropas do

Maiscal. Por meio do tel6grafo, ele fiscalizava em Humaitd tudo o que era publicado nos jornais de fusung5o e exercia, assim, a censura pr6via.

Nos meses seguintes, chegou a montar uma grdfica itinerante na qual

se

produziam impressos oficiais. O tom do noticidrio era geralmente consagrado i exaltag5o das "qualidades invencfveis dos soldados paraguaios" e

is virtudes cfvicas de L6pez sobre a "covardia e perfidia dos aliados". De resto, havia sempre espago para ridicularizar os adversdrios na guerra, is vezes em funE6o de situag6es reais, como ocorreu quando Bartolomeu Mitre sofreu uma queda do cavalo em uma rua de Concordia. "Sobre

essa

queda hd umas poucas de linhas de moteios!", comentou, divertido, o conde

D'Eu com dom Pedro II ao folhear o El Semanario. Do ponto de vista da Triplice Alianga, o problema continuava a ser a virtual impossibilidade de obter a ades5o confederada. Depois da debandada ocorrida em Basualdo, |usto Jos6 de Urquiza tentava reorganizar um

ex6rcito com recrutas de Entre Rfos. Embora se falassem em volunt6rios,

A GUERRA DO

a verdade era que

PARAGUAI 2OI

muitos eram arrancados de suas casas ou est6ncias para

engrossar as fileiras dos aliados. Com muito esforgo, o caudilho p6de reunir

6 mil homens em um acampamento militar montado em Juqueri. Mas, em 8 de novembro, nem mesmo a presenga do general foi capaz de conter a desergio da

ximo

i

maior parte dos convocados, quando o grupo marchava pr6-

divisa com Corrientes. Mesmo tendo condenado diversos fugitivos

recapfurados ao fuzilamento, Urquiza percebeu que sua causa estava perdida. Antes de dar por encerrada sua participagio militar na guerra, enviou os 751 remanescentes a Bartolomeu Mitre, com um grito ao coronel Manuel

Caraza, que os acompanhou:2

- Coronel

Caraza! Faga voar a cabega de qualquer um que resista!

Recolhido ao Pal6cio San fos6, Urquiza limitou-se dali em diante a tratar do abastecimento de carne e mantimentos is frentes de batalha, o que representou um lucrativo neg6cio para os confederados pelos anos seguintes.

Bartolomeu Mitre demonstrou melhor capacidade de arregimentar forgas e firmar aliangas. Em outubro, ele partiu de Concordia

i

frente de

uma tropa de 35 mil homens, entre argentinos, uruguaios e brasileiros. Os percalgos da durissima jornada foram descritos3 pelo historiador Francisco Doratioto na obra Maldita guendi Para evitar a morte por fadiga das montarias, muitos soldados carregavam as selas de seus cavalos e

tinham, ainda, que ajudar a desatolar

as pesadas

carretas transportando armamento e mantimentos que os exauridos bois n5o conseguiam puxar.

No dia l2 de novembro, Mitre montou acampamento junto ao arroio Batel, em Mercedes, na regi5o central da provincia de Corrientes, e

se

preparou para a invasdo do territ6rio paraguaio.

Um jovem tenente aproveitou

a marcha atrav6s das provincias de

Entre

Rios e Corrientes para desenhar, com grafite sobre folha de papel, esbogos das manobras militares e das paisagens. De rosto imberbe e claro, e

202

LUrz ocrAvro DE LIMA

aparentando bem menos do que seus 25 anos rec6m-completados, cabelos negros e muito lisos penteados para tr6s, o portenho Cdndido L6pez desistira meses antes de uma viagem

i

Europa, onde cursaria belas-artes

nas academias italianas e francesas.a Em vez dos estudos no al6m-mar, ele decidira engrossar as fileiras do batalhio da Guarda Nacional de San

Nicolds de los arroios conha o hder paraguaio

-

com quem nio tinha

parentesco, apesar do sobrenome.

Dois anos antes, quando pintara um elogiado retrato do presidente

Mitre, Cdndido L6pez n6o imaginava que o teria muito em breve como seu comandante nos campos de batalha. Em pouco tempo, participou de alguns dos principais acontecimentos do conflito, como o combate de

latai e a rendig6o de Uruguaiana. Mas seu olhar de artista n5o privilegiava os momentos heroicos ou sangrentos. Seus croquis retratavam travessias de arroios, acampamentos militares, embarques de tropas, inver-

nadas de gado, fortalezas inimigas conquistadas, navios amigos sobre os

rios Parand e Paraguai. Mais de uma vez, ao v€Jo tragar esses registros,

Mitre acercou-se dele e, com sua veia de jornalista falando alto, disse ao rupaz: "Caro C6ndido, acredito que suas imagens ser5o o principal testemunho desta guerra". Se o grupo de

Mite vinha armado

e

bem preparado por tena, Thmandard,

com sua flotilha, garantia o bloqueio da subida para o rio Paraguai, nas dguas de Buenos Aires. Barroso sustentava a posiq5o ao longo do rio Parand na faixa oeste de Corrientes, enhe Passo de Cuevas e as Barrancas de Mercedes, conquistadas em

l2

de agosto. Uma divis5o comandada pelo general Os6rio

saira de Uruguaiana e seguia ao enconho dos aliados, cujo comando brasi-

leiro estava a cargo de Marques de Souza, o bar6o de Porto Alegre. Acuado, Solano L6pez comegou a reorganizar suas forgas, passando a adotar o principio da "guerra defensiva" naquela regi6o fronteiriga, onde a nafureza, por si s6, j6 oferecia uma f6rrea resistOncia aos agressores.

A ideia

era empreender agdes de guerrilha que minassem lentamente as fileiras inimigas. Foram reforgados os quart6is de Humaiti e Curuzd e erguida uma

A GUERRA DO

PARAGUAI 203

nova fortaleza em Curupaiti. Na supervis6o dos proietos estava o enge-

nheiro britAnico George Thompson.

Com a queda do general Robles, seguida pela defecgSo de Antonio de la Cruz Estigarribia e de Pedro Duarte,s era tamb6m o momento de con-

fiar em novas liderangas militares. A primeira medida havia sido nomear o cunhado Vicente de Barrios Bedoya ministro da Guerra e da Marinha

no lugar de seu irmlo Ven0ncio, que foi rebaixado a comandante geral das armas na capital. Al6m do substifuto de Robles, Francisco Isidoro

Resquin, L6pez apostou em uma nova estrela: o tenente-coronel fos6 Eduvigis Diaz, de JZ anos. Responsdvel pela formagdo, no inicio da guerra, do Batalh5o 40, integrado por jovens da elite assuncena, ele fizera seu batismo de fogo no combate de Romero Guazfi, em julho daquele 1865.

Durante a retirada de Corrientes, em oufubro, causara uma forte impress5o entre os chefes e os comandados ao organizar a travessia do rio Parand com

milhares de soldados paraguaios e 100 mil cabegas de gado confiscadas, sem sofrer ataques dos navios brasileiros que patrulhavam aquelas 6guas.

Al6m da devogdo absoluta ao Mariscal, outro fator pessoal o aproximava do presidente: sua mulher, Izidora, era governanta na casa de Elisa Lynch em fusungdo, onde era tratada como amiga e confidente.

Em l" de dezembro, Solano L6pezhansferiu seu quartel-general paraa fortaleza de ltapini, em Passo da Pdtria, 2l quil6mehos ao sul de HumaiH, na conflu€ncia dos rios Paraguai e Paran6. Ao chegar ao novo posto, emitiu um proclama, ainda peqpassado pela frustuagEo com

a derrota de

Uruguaiana:

A Triplice Alianga agora se sente valente com a vilanesca rendig5o de Uruguaiana e com a vossa retirada os cr€ d6beis. Confio que logo dareis ao mundo provas de vossa bravura e decisSo no combate, como at6 aqui haveis feito de vossa abnegagSo e constdncia.

No dia 25 de dezembro, as tropas aliadas dos generais Mihe e Marques de Souza, num total de 50 mil homens, chegaram a Ensenaditas, na margem

204

LUz ocrAvro DE LIMA

argentina do Paran6, depois de se encontrarem em Corrales, ao norte de Corrientes. O contingente montou acampamento e a flotilha do almirante Barroso veio lhe dar cobertura tomando posigio nas margens pr6ximas. Nas primeiras semanas, as hostilidades por parte dos aliados limitaram-se

Itapirti. Por sua situag5o geogrdfrca

-

erguida sobre uma rocha banhada permanentemente por 6guas agitadas

-,

ao fogo trocado pela esquadra com

a fortificag5o paraguaia impedia uma aproximagdo mais vantaiosa navios brasileiros, cujos bombardeios foram pouco eficazes.

aos

Enquanto isso, o general paraguaio fos6 Maria Bruguez ordenava incurs6es ponfuais de pelot6es ao territ6rio inimigo. Nessas miss6es, os soldados cruzavam as 6guas do Parand em canoas, pirogas, agarrados a troncos

ou mesmo a nado, geralmente

i

noite. Os ataques furtivos funcionaram

bem por um tempo, com poucas baixas e a capfura de armas, mantimentos e at6 cabegas de gado.

O comego de

1866 foi marcado por justiEamentos de L6pez contra

antigos subordinados. Logo em 6 de ianeiro, seu tribunal militar proferiu

contra o general Wenceslao Robles, derrotado em Riachuelo, o veredicto que jd era esperado pelo r6u:6 mesmo sem evid€ncias mais fortes que embasassem a decis6o, o comandante da

nado

i

primeira etapa da guerra foi conde-

morte por "faltas graves e haigdo h pdtria". A decisdo, de fato, havia

sido tomada

porlipezdesde

o momento da deteng5o de Robles, seis meses

antes. |unto ao principal sentenciado, seriam passados em armas h6s auxi-

liares do general. Determinado a transformar o epis6dio em um exemplo aos soldados menos empenhados e possiveis desertores, ele recomendou

que a execugSo fosse realizada com grande aparato.

Na tarde de 8 de janeiro, todos os batalh6es foram reunidos no pdtio da fortaleza. O pelot5o de fuzilamento posicionou-se, e foi trazido o sol-

dado fos6 Villalva, ordenanga do general destituido. Tremendo muito, ele foi vendado e, com as m5os presas is costas em uma estaca, aguardou o cumprimento de seu destino. O bispo Manuel Palacios benzeu o rosto

A GUERRA DO

PARACUAI 20'

do condenado, fez um gesto ao comandante do pelotSo sinalizando que podia iniciar a carga e afastou-se. Ao sinal do comandante, o pelotSo disparou. O corpo tombado para a frente foi recolhido e arrastado a alguns passos de distAncia. O mesmo

ritual

se

repetiu com o capiteo Juan Francisco

Valiante, secretdrio do general, e com o alferes Manuel Gauna, ajudante de ordens.

O general Robles foi levado ao poste e, antes de receber a catga, observou que L6pez resmungava ofensas, encarando-o com uma express5o de 6dio. Finalmente foi executado o sargento fos6 de la Cruz Mart(nez, que comandava a guarnigSo de Corrientes quando a cidade foi temporariamente tomada pelos aliados em 25 de maio de 1865. Terminadas as execuq6es, a tropa gritou tr€s vezes em unissono:

-Viva

el mariscal Solano L6pezl

xxvt A missio suicida

Em 30 de janeiro de 1866, Bartolomeu Mitre iniciou uma ag5o temerdria

-

e ndo coordenada com os demais aliados

-

contra um alvo paraguaio.

Ao se aproximarem da regiSo pr6xima ao Passo da P6tria, o comandante

em chefe havia determinado que o Ex6rcito aliado se dividisse em dois corpos: o seu, composto de uruguaios e argentinos, seguiria para o exhemo

norte de Corrientes e se posicionaria

i

espera da travessia para atacar

Itapirf; o de brasileiros permaneceria no Alto

Paran6 sob as ordens do

brasileiro Marques de Souza. Feita essa partilha, incumbiu o general portenho Emilio Conesar de atacar a costa inimiga com os 1.700 homens da Divis5o de Guardas Nacionais de Infantaria, chamada de Divis5o Buenos Aires, uma tropa original-

mente de cavalaria que foi improvisada para combates em terra. Por toda a noite, seus soldados, em grupos de duzentos por vez, cruza-

ram o arroio Pehuaj6, onde tropas lopistas se concentravam pr6ximo

a

alguns currais. Na madrugada do dia 31, iniciaram a emboscada, que

motivou uma r6pida debandada dos paraguaios, chefiados pelo tenente Celestino Prieto. A euforia pela vantagem inicial por parte dos portenhos uma desagrad6vel surpresa, quando

se

converteu em

as forgas guaranis, abrigadas nas matas,

passaram a empreender uma carga massiva sobre eles. Desconhecedores

do terreno e contando apenas com a luz da lua, os integrantes da Divis5o

208

LUrz ocrAvro DE LIMA

Buenos Aires enconharam dificuldade em achar abrigo. Atolaram-se em 6reas pantanosas, cheias de juncos e de vegetagSo com espinhos. Ahav6s de

extens6es alagadas, sapatos e botas embaragavam seus movimentos, en-

quanto os paraguaios, descalgos na maioria dos casos, conseguiam cobrir rapidamente diversos pontos do terreno. A situag6o piorou com a chegada de setecentos homens a mando do tenente-coronel Jos6 Eduvigis Diaz.

Ap6s quaho horas de tiroteio, contavam-se novecentas baixas no lado argentino e 170 no paraguaio. Segundo os relatos da 6poca, mesmo tendo mantido uma distAncia que lhe permitia ouvir a hoca de fogo e os gritos de socorro de seus comandados, Mihe ndo mandou reforgos ao campo de bata-

lha. Quando o dia amanheceu, finalmente ordenou a retirada dos batalh6es, que foi feita sob a perseguig6o dos paraguaios al6m da fronteira argentina.2

Logo que a noticia do combate chegou

i

capital portenha, os jornais

condenaram a conduta do comandante em chefe aliado, com variadas interpretag6es para seu fracasso no epis6dio: alguns o qualificaram como

inepto; outros viram sua atitude como eivada de m6-f6. A suspeita desses

fltimos era a de que Mitre havia se valido da operagdo para tentar

se

livrar

dos combatentes garichos de Buenos Aires, alinhados com seus opositores

politicos, e oficiais da mesma tend6ncia, como Dardo Rocha e o pr6prio general Conesa. Esse obietivo, se existente, foi frustrado em parte, uma vez

que Rocha e Conesa sairam ilesos do confronto. O primeiro, inclusive, viveria para ser governador da capital argentina quinze anos mais tarde. Embora a superioridade b6lica de suas forgas fosse evidente, a autoridade de Mitre comegava a sofrer abalos. Depois do incidente de Pehuaj6,

ele enfrentava a insatisfagEo das tropas com a demora em efetivar a invas5o do Paraguai e amargurava-se com a hostilidade dos confederados ar-

gentinos

A sua causa.

Mesmo na provincia de Buenos Aires, sua atuagdo

era questionada. Para piorar, no dia 2 de margo, ap6s um m6s de inativi-

dade, um rev6s semelhante em uma operaqSo que ordenou

)

Divisfio

Oriental de Ven6ncio Flores quase custou a aniquilagfro daquela unidade. "O que ser6 de n6s, se i situagSo crftica em que nos enconhamos se agrega

A GUERRA DO

a apatia do general

Mitre?", escreveu o uruguaio

i

PARAGUAI 209

sua esposa,

Maria, um

dia depois do fiasco.3 Os aliados comegaram a virar o jogo em 20 de margo, quando os encouragadosa (navios de madeira revestidos de chapas metdlicas) Tamandard

e Bahia e o barco Cisne, da Marinha Imperial, chegaram is 6guas do Paran6,

i

altura de ltati. A bordo do primeiro estavam o pr6prio visconde

de Tamandarl, e o presidente da fugentina, Bartolomeu

Mihe, que havia

se

reunido ao brasileiro pouco antes. Ao passar diante das defesas de ltapirf,

foram bombardeados sem sucesso pela artilharia lopista. Ap6s dois dias de patrulhamento, a pequena frota enfrentou e inutilizou uma chata para-

guaia. No dia

27

, ottra chata teve mais efetividade ao atingir oTamandar|,

causando-lhe 37 baixas.

Na noite de 5 para 6 de abril, protegidas pela neblina, as forgas do I" Corpo do Ex6rcito brasileiro, comandadas pelo general Manuel Lufs Os6rio, desembarcaram na ilha Caray6, vizinha a ltapir6, para iniciar o ataque

i

fortaleza.

O contingente argentino preparou-se para o fogo a partir de Corrales, no lado correntino, enquanto

a esquadra

imperial, agora completa, concen-

trava-se nas proximidades.

No assalto, Itapini recebeu 1.500 bombas. Destacaram-se na empreitada o pelot5o do coronel lo6o Carlos

Villagran Cabrita

e o comando

chefiado

pelo capit5o Deodoro da Fonseca, cujo desempenho na guerra i6 havia lhe garantido meng6o especial na ordem do dia de 25 de agosto de 1865. Na madrugada de l0 de abril de 1866, tentando desaloiar os brasileiros de sua posig5o, o lado paraguaio enviou contra eles 29 canoas, com um efetivo de 1.260 homens do tenente-coronel )os6 Eduvigis Diaz. O contingente, entretanto, foi rechagado com grandes perdas e teve de retirar-se sob o ataque da esquadra brasileira.

Mas os aliados tamb6m sofreram reveses: a frota de Thmandar6 se viu forgada a recuar diante do fogo do forte de ltapirri. O coronel Villagran

Cabrita foi morto por uma bomba a bordo de uma chata que continha

210

LUrz ocrAvro DE LIMA

munig6es para a guarnigeo da ilha Caruyd

- posteriormente

seu nome

seria dado a ela. No decorrer da mesma ag6o, foi inutilizado ainda o vapor

brasileiro Henique Martins. O confronto custou novecentas baixas para-

mil aliancistas. Em 16 de abril, Itapirti foi intensamente bombardeada, enquanto um efetivo de l0 mil aliados cruzava o rio Paran6. guaias e

O general Os6rio foi o primeiro a pisar no territ6rio inimigo. "Mostraremos ao mundo que as legi6es brasileiras no Prata s6 combatem o despo-

tismo e fraternizam com os povos!", conclamou ele, sem esperar pelo restante das tropas que poderiam lhe dar cobertura.s

Os6rio era um l(der na melhor acepg6o, admirado pelas tropas por seus atributos de estrategista militar, assim como pela bravura, tendo, ao mesmo tempo, um temperamento afdvel,divertido e um tanto mulherengo.

Nascido em uma famflia de agricultores agorianos de Santa Catarina, alistara-se aos

I5

anos como voluntdrio na Cavalaria da LegiSo de S5o

Paulo. Logo participou das guerras de Independ€ncia e da Cisplatina, tendo

sido decisivo na pacificag5o do Sul ap6s a Revolugdo Farroupilha. Aos 27 anos, casara-se com Francisca Fagundes, tendo como padrinho Emilio

Luis Mallet, que agora lutava ao seu lado. Atuara ainda na guerra contra Oribe e Rosas e na intervengSo no Uruguai a favor dos colorados. Ao longo do dia, mais de 40 mil combatentes adentraram o sul do Paraguai sem enconhar resist6ncia.6 Diante da invas5o eshangeira, Solano

Iipez

ordenou o abandono de Itapini, o que permitiu a sua ocupag5o pelas hopas brasileiras em 18 de abril. Transformada em acampamento aliado com o desenvolvimento da campanha, essa posigfio logo se converteria numa pe-

quena cidade onde conviveriam militares, comerciantes e aventureiros e onde

se

enconhariam desde barbeiros, dentistas, casas de jogo, bord6is, uma

igreia e at6 mesmo uma casa bancdria. Uma escala obrigat6ria para aqueles que iam ou retomavam das frentes de batalha.

A conquista da fortaleza de Itapirri nEo foi suficiente para aplacar

as

criticas da imprensa argentina sobre a situagEo do confito. A batalha da propaganda receberia um golpe mais forte naquele mesmo m€s, quando

A GUERRA DO

PARAGUAI 2I I

o lorde ingl€s |ohn Russell teve acesso i integra do Tratado Secreto da Triplice Alianga e inseriu o texto no British Blue Book, uma publicagSo voltada para circulos diplomdticos e militares vitorianos. Os itens listados e a proposta de divis5o do

territ6rio paraguaio vazaram paru a imprensa

e

causaram grande esc6ndalo. O politico e escritor argentino fuan Bautista

Alberdi haduziu o documento para o espanhol e o publicou no peri6dico La America, de Buenos Aires, no final de abril. A reagSo popular foi a de concluir que a guerra ndo havia sido motivada

pelo ideal de garantir aos paraguaios um regime liberal, uma nova Constituig5o e garantias individuais, como se havia prometido, mas principalmente para lotear o territ6rio guarani entre seus vizinhos. O El Pueblo de 9 de maio denunciou "a trama urdida pelo

Imp6rio" e qualificou o tratado "obra de de cinismo e abieg6o (...), que nos ferve o sangue de indignagSo diante de tanto servilismo".

Um detalhe que causou especial estupor foi a eviddncia de que Mitre havia permitido deliberadamente a invasio de Corrientes. O editorial do La America de 23 de maioT afirmou: "O Liyro azul de uma monarquia egoista, como as tdbuas do profeta no Sinai, vem advertir

i

muda ou adormecida que a venderam por trinta dinheiros".

democracia

xxvil Tuiuti, a batalha mais sangrenta

Quando as tropas aliadas adentraram a fronteira paraguaia, ap6s a tomada de ltapini, coube a Venincio Flores estabelecer um acampamento na regi5o de Estero Bellaco, lugar pr6ximo ao forte, com vegetaqio rasteira, muitos cactos e alguns descampados. No comando da divisSo oriental e de um corpo do Ex6rcito argentino estava o general uruguaio Wenceslao Paunero.

O alivio durou pouco. Na tarde de 2 de maio de 1866, 6 mil

para-

guaios, comandados pelo coronel fos6 Eduvigis Diaz e dispondo de quaho pegas de artilharia, atacaram as forgas ali estacionadas com rapidez e surpresa. Nos primeiros momentos chegaram a dominar completamente as

hopas argentinas, que sofreram dezenas de baixas, at6 que essas foram ajudadas por batalh6es trazidos das proximidades pelo general Os6rio.

O saldo da investida foi motivo de muita manipulagSo pelos dois lados.

No quartel-general de L6pez, transferido para Passo Puc6, anunciou-se que o nfmero de mortos entre os paraguaios havia sido de, no m6ximo, trezentos, e que o de feridos havia sido em torno de mil, enquanto se divulgava que os aliados haviam perdido de 5 a 6

mil combatentes, enhe mortos

e feridos, al6m de "quatro canh6es raiados com seus carros de munigdo e

todos os fuzis". Em carta ao seu vice-presidente, Marcos Paz, datada de

7

de maio de 1866, Bartolomeu Mitre garantia que os paraguaios haviam tido mais de 1.200 soldados mortos, al6m de perder "trOs pegas de artilharia, duas bandeiras e cerca de oitocentos fuzis". Ainda na corresPond€ncia,

214

LUz ocrAvro DE uMA

ele afirmava que as baixas aliadas haviam sido de 656 homens, "em sua maior parte feridos".I Esfudos e depoimentos posteriores deram conta de que, na verdade, os paraguaios sofreram uma derrota que lhes custou 2.500 baixas, enhe mortos e feridos, mas o contingente de Flores tampouco contou um resultado

muito animador: cerca de quatrocentos mortos e 1.500 feridos, al6m da perda dos quatro canh6es. Aquela altura, era cada vez mais evidente que, mesmo com vit6rias, o custo em vidas humanas nessa guerra seria bastante

alto para todas as partes. A lentid5o no avango das tropas tamb6m adicionava drama

i

situagio

dos combatentes: as privag6es que id estavam se tomando rotineiras para o

lado paraguaio comegavam a ser sentidas tamb6m pelos soldados aliados, ap6s meses acampados. Os chamados vivandeiros, que montavam ban-

quinhas paru a venda de mantimentos nas margens do rio Paraguai, n5o apareciam com frequOncia, e os alimentos comprados nem sempre duravam o suficiente at6

a

volta deles. O volunHrio argentino Francisco Seeber,

filho da melhor elite portenha, ent5o com24 anos, recordaria em carta angustiante experiCncia de nio ter nenhum alimento:2

a

Na noite de 2 de maio n6o tinha o que comer, nem havia almogado (...).

Meu colega Martin Bustos

se

aproximou, perguntando

se

tinha algo para

lhe dar, pois estava com um apetite devorador. Respondi que s6 podia lhe oferecer minha capa de borracha. (...) Impossivel conciliar o sono; a ideia de ndo poder satisfazer o apetite aumentava o desespero.

Ii

a segunda vez

nessa campanha que passo muita fome. E imaginei o que sentem os pobres,

que vivem isso com frequ€ncia. Comecei a cantar, para tentar me distrair e animar o

Martfn, a cangSo da Matilde de Shabran, de Rossini: "Ho una

fame, ho una sede ed un freddo..." [Tenho uma fome, uma sede, um frio...].

De repente, ouvi uma voz amiga. Era meu assistente Espinosa, que me disse:

"Capiklo, quer um pouco de farinha, que acabei de conseguir?" Respondi, felicissimo: "Que venha essa farinha e toma um abrago por sua heroica

A GUERRA DO

PARACUAI 2I5

aquisigSo!" (...)Ato continuo, eu e Martin Bustos pusemos as colheres na

farinha cozida. E creio que tanto ele como eu jamais estivemos em um banquete do qual sa(mos t5o satisfeitos!

Em Passo Pucf, o nfcleo familiar de L6pez foi reunido de forma in6dita, uma vez que em fusungio Solano nunca havia vivido sob o mesmo teto que Elisa Lynch. Ela chegara is proximidades do campo de batalha com os quatro filhos remanescentes - Juan Francisco, Enrique Ven6ncio, Carlos Honorio e Frederico, jd que Corina Adelaide e Leopoldo n6o haviam sobrevivido e Jos6

i

primeira inf6ncia

-

e dois enteados, Adelina Constanza

F6lix, filhos mais novos de fuanita Pesoa. Todos se instalaram em

uma casa sobre uma colina, com telhado de palha, cercada por laranjais. Pr6ximo dela, instalaram-se em casebres de madeira e palha o bispo Manuel

Antonio Palacios, os generais Vicente Barrios e Francisco Resqufn. Doze outras construg6es foram transformadas em enfermarias. Mais ao longe, havia uma capela e um cemit6rio. Nesse novo acampamento, o mariscal L6pez reuniu os comandantes e exp6s a eles sua determinaglo de fazer do combate seguinte a bata-

lha decisiva:

- Voc6s terSo tr€s semanas

para organizar o ataque com o qual esma-

garemos definitivamente os inimigos de nossa p6hia. Mobilizaremos todos os homens, todas as armas e todos os recursos estrat6gicos nessa

luta. Mon-

taremos uma ratoeira e atacaremos pelo norte, sul, leste e oeste. Os que restarem serflo empurrados de volta para al6m do rio Paran1. Serd a inves-

tida para a vit6ria!

- disse Solano.

O plano de atacar por quatro

setores distintos n5o era impratic6vel.

Era de fato engenhoso. E foi bem recebido pelos subordinados.

fu forgas

aliadas estavam quase todas concentradas em torno do lago Tuiuti, em uma drea de um quildmeho quadrado. O elemento-sulpresa poderia compensar a

inferioridade num6rica do Ex6rcito guarani, que agora contava um efetivo

de menos de 25

mil homens conha

os mais de 32

mil integantes da Tiiplice

216

LUz ocrAvro DE LrMA

Alianga estacionados na regi6o. Desses,2l mil eram brasileiros,

l0 mil,

argentinos e cerca de 1.200, uruguaios.

Ficou acertado que os coron6is Diaz e Hildrio Marc6 fariam o ataque pela frente e pela esquerda, em diregSo ao centro do terreno, o general Resquin pela direita e o general Barrios, pela retaguarda.Diaz elogiou o esquema pensado porL6pez, mas pediu a ele uma precaugdo:

-

Maiscal, deixaremos 6 mil homens guardando o nosso acampa-

mento. Mas seria importante que eles se mantivessem de prontidSo para o caso de precisarmos de reforgos Solano reagiu mal

-

i

-

prop6s.

sugestio:

Coronel, n5o tenho a menor drivida de que isso n5o ser6 necessdrio.

Nosso triunfo nessa batalha ser6 total, e arrasaremos o inimigo por completo.

'

A operagSo comegou a entrar em curso na noite de 23 de maio daquele

I866. De algumas partes do acampamento aliado foi possivel perceber a movimentagdo dos paraguaios nas linhas contrdrias. Ouviam-se o bater das asas e os pios das aves do estero, que estavam mais agitadas do que de

costume. De quando em quando, aumentavam o burburinho de vozes, o

ruido de carrogas puxadas, o rogar da passagem de pessoas e cavalos na vegetag6o. Mas nenhum alarme foi dado, nem se considerou o perigo de um ataque maior. O dia amanheceu, e, depois de uma longa calmaria, precisamente is I1h30, os paraguaios cairam sobre os aliados desprevenidos no terreno aberto. O coronel )os6 Pons Oieda, mercen6rio espanhol apelidado de Le6n de Palleja, que havia organizado tropas a servigo de Vendncio Flores, anotaria em um di6rio, ap6s o epis6dio: Eram oitocentos ginetes paraguaios, vestidos com camiseta vermelha chiripd de montaria, lengo no pescogo e manta um tanto suja sobre

e

os

ombros. Homens de feigdes entalhadas, com a pele bronzeada e a expressdo feroz e embriagada. (...) or bragos fortes brandindo os afiados sabres (...) que se arrojavam sobre nossos soldados.

A GUERRA DO

PARAGUAI 2I7

Sucedendo a cavalaria, chegaram por terra os batalh6es da infantaria paraguaia, armada com fuzis e langas.

O estratagema de Solano L6pez

era muito arriscado. Qualquer falha poderia pdr fudo a perder. E, como o campo de batalha ndo € capaz de reproduzir

i

risca os planos tragados

em uma mesa de campanha,6 claro que nem tudo saiu como o esperado.

O grupo de 8.700 homens do general Vicente Barrios, cuja missio era envolver os aliados pela retaguarda, teve dificuldades em atravessar o matagal e s6 chegou ao ponto combinado quando o combate i5 se desenrolava, sem conseguir surpreender o inimigo. O flanco direito, que estava

menos guarnecido, tamb6m foi mal explorado pelos 6.300 homens do general Resquin. Com a dgil reorganizagtro das forgas aliadas, a luta tomou novo rumo.

A primeira linha uruguaia rapidamente se articulou, sob o comando

do coronel Rivas, e iniciou uma carga. Mesmo acuados no centro do acampamento, onde n5o havia onde se abrigar, seus integrantes conseguiram resistir aos agressores. Logo se somaram a eles os contingentes argentinos e brasileiros.

O general Os6rio, que chefiava a divisSo brasileira, havia saido cedo para se encontrar com Thmandar6 na embarcagio capit6nia. O 3'Grupo de futilharia de Campanha Autopropulsado, a cargo do tenente-coronel Emilio Mallet, havia trabalhado na preparag5o de um fosso largo e Profundo nos arredores do lago Tuiuti para compensar o fato de que o terreno pantanoso era desfavordvel

i

ag6o de seus canh6es. A iniciativa chegou a

ser criticada pelos comandantes das outras nacionalidades, que n5o consi-

deravam digno outro tipo de confronto que n6o o corpo a corpo.l Durante

o combate, no entanto,

essa posiq5o estratdgica representou

tanto um

obstdculo )s aq6es hostis do inimigo quanto uma vantagem em termos de

campo de vis5o. E os paraguaios comegaram a cair aos montes diante daquelas baterias.

Boa parte da leva de atacantes comandados pelos coron6is Marc6,

Diaz,Batios e Rojds tombaram no fosso de Mallet.

As sucessivas investidas

2I8

LUIZ oCTAVIo DE LIMA

Trincheiras brasiteiras

:u

Trincheiras argentinas Batath6es prontos nos acampamentos no inicio do combate e que vieram defender o reduto Batath6es de linha na vanguarda repelindo a 3! cotuna

Q -.6' rt| @.@

+

Primeira coluna paraguaia entra pelas linhas argentinas e invade o centro dos acampamentos brasileiros Segunda coluna paraguaia ataca direita guardando as estradas de Tuyucu6

a extrema

Terceira coluna paraguaia ataca trincheiras brasileiras avangadas Forgas aliadas rechagam o

inimigo

Hospital

Batalha do Tuiuti O ataque ao acampamento aliado pelas forqas paraguaias.

A GUERP"{ DO

PARAGUA] ZI9

da cavalaria paraguaia foram detidas diante de seus 24 canh6es [,a Hitte e de

uma bateria de mercendrios alemies, cujos artilheiros manuseavam as pegas com eximias agilidade e coordenag5o. A cada explosdo, em que voavam

pernas e bragos humanos, cabegas e patas de cavalos, um pequeno grupo de brasileiros na retaguarda festejava com clarins, cornetas e tambores.

-

Eles que venham! Granada e mehalha, espoletas a seis segundos! Por

aqui nio passam!

- gritava

Mallet

a seus comandados durante a batalha.

O general Paunero liderou a reagdo do I'Corpo do Ex6rcito argentino.

O 2'Corpo

estava sob a responsabilidade de

Emilio Mihe, irmio do

comandante em chefe. O general Gelly y Obes, chefe do Estado-Maior argentino, percorria a cavalo os diversos pontos do acampamento, orientando suas tropas com uma impressionante tranquilidade. Ao retornar e se deparar

com toda a 6rea conflagrada, Os6rio fez o mesmo, incentivando

seus soldados aos gritos de

"Viva a nag5o brasileira!".a

Vendncio Flores manteve-se na parte central do campo e foi apoiado pelos generais brasileiros Ant6nio de Sampaio e Alexandre Argolo, o visconde de Itaparica. Fez enormes estragos nas fileiras contr6rias, obrigando os sobreviventes a retirar-se, em meio ao fogo e sob golpes de baioneta.

Depois de perder seguidamente os quaho cavalos em que montara, o general Sampaio passou a combater a p6, sendo alvejado vdrias vezes. Ao cabo de quase seis horas de luta, o descampado estava coberto por corpos de todas as nacionalidades, com fendas nos cr6nios, olhos abertos, v(sceras expostas. E por toda parte ouviam-se gemidos de agonia dos sobre-

viventes, mutilados ou gravemente feridos. Com as forgas guaranis j6 em fuga, n6o havia dfivida de que aquele tinha sido o confronto mais sangren-

to de toda a hist6ria sul-americana. As perdas da Alianga chegaram a4.049 homens, sendo 3.01I brasileiros

- 7 19 mortos e Z.Z9Z feridos -, 606 argentinos - 126 mortos e 480 feridos - e 4)2 uruguaios - I 3 J mortos e 299 feridos. Enhe os paraguaios, as baixas foram de 4 mil soldados mortos, cerca de 6 mil feridos e 370 feitos prisioneiros e imediatamente integrados

i

Legido Paraguaia contra seu pais ou

levados parufazer trabalhos forgados nos cafezais e nas estdncias dos aliados.

220

LUz ocrAvro DE LrMA

No inicio da noite, Bartolomeu Mitre ordenou aos batalh6es que se unissem na tarefa de empilhar e incinerar os corpos dos mortos na batalha. Apesar de todo o esforgo, centenas de cad5veres de aliados e paraguaios

ficaram insepultos, devido ao nfimero de soldados que tombaram em banhados mais distantes do acampamento e que n5o puderam ser recolhidos. As carcagas dos cavalos mortos, espalhadas e abandonadas pelo terreno, deixaram um odor putrefato no ar. Passado o impacto mais forte que se seguiu ao confronto,

Mitre convo-

cou uma reuni5o com os demais lideres aliados. No encontro, foi aconselhado pela maioria dos comandantes Paunero e Argolo Ferr5o

-

de Flores e Os6rio a Gelly y Obes,

dram6tica dos lo-

- a aproveitar a circunst6ncia

pistas para devastar o acampamento do

Maiscal em

Passo

Pucri e dali

marchar diretamente para fusung5o. Nenhum deles tinha drividas de que a guerra estava decidida e os paraguaios,

i

beira da rendigSo. Parecia o

momento certo para desferir o golpe final. Mitre, por6m, queria esperar pelo reforgo de l2 mil homens do general Marques de Souza, que, segundo Os6rio, estava para chegar. Essa atitude

foi vista como sinal de indecisSo e alimentou o clima de insatisfagEo na tropa.5 O pr6prio Os6rio, que havia sido ferido ao final da batalha de

Tuiuti, mostrou-se irritado

e

transferiu o comando para o general Polidoro

da Fonseca Quintanilha Sord6o, novidade que tambdm n6o foi bem rece-

bida pelos brasileiros, que admiravam e confiavam cegamente no antigo lider e viam Polidoro mais como um "homem de sal6es do que de guerra". As ma.gens do Paran6, a esquadra de Thmandar6 aguardava uma solugdo

em terra para seguir rio Paraguai acima. Passaram-se quase dois meses sem que uma nova ag6o fosse ordenada, at6 que, em 16 de julho,

Mitre incumbiu Le6n de Palleja

e suas tropas mer-

cendrias de atacar a regiSo de Boquer6n del Sauce, onde se encontravam estacionadas as principais pegas da artilharia paraguaia.6 Mas o coronel paraguaio Elizaldo Aquino, informado da iminente inves-

tida, preparou-se bem, protegendo e posicionando estrategicamente suas baterias. Por conta disso, o resultado foi desashoso para a Tiiplice Alianga.

A GUERRA DO

PARAGUAI 22I

Em dois dias de embates, 5 mil aliados tombaram, e o nfmero de mortos s6 ndo foi maior entre eles porque Flores contrariou o comando de

Mitre

e regressou antes que suas forEas fossem inteiramente dizimadas.

As forgas lopistas perderam 3

mil integrantes.

Nem Palleja nem o oponente paraguaio Aquino sobreviveram

i

bata-

lha. O primeiro teve o corpo trasladado pelos soldados em uma maca

-

imagem registrada pela empresa fotogr6fica uruguaia Bate & Cia., presente no front desde o inicio

-

e sepultado com honras em

Tuiuti. O segundo

recebeu um disparo no ventre, agonizou por tr6s dias em Passo Pucf e

morreu pouco depois de receber, in extremis, uma promog5o a general ordenada por Solano L6pez.Ap6s mais de um ano de campanha, e a oPor-

tunidade perdida de um desfecho para o conflito, acendia-se o alerta de que a guerra poderia estar longe do fim.

xxvill Ana N6ri e as mulheres no front

Depois do fracasso de Boquer6n, os aliados suspenderam por mais de dois meses a ideia de uma nova investida. Os acampamentos da Alianga

e dos paraguaios eram separados por pouco mais de um quilOmetro e, algumas vezes, combatentes de um lado chegavam a conversar com os do

outro em pleno matagal. Quase 60 mil soldados de Solano L6pez haviam tombado mortos ou gravemente feridos, e ele ordenou que outros 60 mil fossem convocados entre as pessoas do povo. Mulheres, adolescentes e idosos tamb6m deveriam receber armas.

Nas frentes da guerra, a precariedade era sentida com mais intensidade do que nunca. J6ndo havia quase botas; muitos lutavam com sand6lias

ou at6 descalgos; apetrechos e provis6es eram levados em sacas de Pano, que, durante as chuvas intensas, comprometiam mantimentos como farinha, caf6 e agricar.

O improviso tamb6m

se aplicava aos armamentos,

tanto no lado dos

paraguaios quanto dos aliados. Nem todos os voluntirios brasileiros levavam armas de fogo. No segundo semestre de 1866, os soldados da guarda

nacional argentina jd se queixavam de receber munig6es que nem sequer cabiam nas armas, por terem calibres diferentes. Em alguns casos, era Pre-

ferivel confiar nas espadas, que podiam manter afiadas.

|atai havia fuga de guerreiros guaranis Para as regi6es correntinas e do Sul do Brasil, ap6s Tuiuti i6 apareciam registros de abandono Se desde

224

LUz ocrA\,Io DE LrMA

da luta por aliados que se embrenhavam nos lodagais de Neembucfi, por

onde passavam a vagar sem rumo e tamb6m sem nacionalidade.

"Em um caminho de

Passo da Pdtria avistei

um de meus soldados, que

havia desertado", recordou em carta um oficial argentino. "Como esse ato era passivel de pena de morte, n5o me animei em prendO-lo e o deixei

andar, fingindo que n5o o tinha visto".r A Justiga Militar brasileira tamb6m previa a morte na forca ou por fuzilamento para os desertores, mas

nenhuma sentenga podia ser executada sem a palavra final de Pedro II, que tinha o poder de confirmar ou perdoar a condenaEdo. Os aliados n5o possuiam mapas da regi5o, e os engenheiros que faziam incurs6es com esse infuito,levando seus aparelhos de agrimensura,

corriam alto risco de serem abatidos em pleno trabalho de medig6es. fu forgas guaranis tinham a vantagem de conhecer melhor o territ6rio e de saber como se deslocar. Os problemas para esses combatentes eram

a

pouca quantidade de alimento e os castigos, aplicados sem piedade por qualquer infragSo. Em seu quartel-general,L6pez intensificava as punig6es aos desertores ou aos que eram apanhados nas minimas faltas. AI6m

do fuzilamento dos que incorriam no primeiro caso, aos demais prisioneiros feitos em combate

- e aos

-

eram reservados tormentos fisicos com

se

imobilizavam os p6s - e algumas vezes

crescente regularidade.

O castigo do cepo, em que tamb6m as m5os

-

em orificios de uma grande pega de madeira, era apli-

cado com maior frequ€ncia.2 A punigSo podia durar dias, com o torturado

i

chuva e ao frio, sem alimento ou dgua. Quase sempre era acompanhada de sess6es de chibata. Mais temivel, por6m, era o cepoexposto ao sol,

-uruguaiana, em que o torturado era ajoelhado, com fuzis atravessados atrds dos joelhos e sobre os ombros, encostados na nuca, tendo as duas armas atadas por cordas de couro molhadas, que, ao secar, apertavam gradualmente o corpo do supliciado a ponto de partir sua coluna vertebral.

Quem ndo confessasse recebia maior carga de fuzis e maior aperto. Se desmaiasse, era acordado com agoites.3

A CUERRA DO

PARAGUAI 225

O efetivo deL6pez tamb6m era contumaz em esmagar a golpes de martelo as extremidades dos dedos dos prisioneiros, fossem do campo inimigo, desertores ou considerados traidores. A crueldade atingiu um

es-

trigio in6dito com a execugSo do soldado Bernardo Pelaes, moido em uma prensa de tabaco por ter abandonado sua guarnig5o. O epis6dio foi relatado por Laurent Cochelett, entSo c6nsul franc€s no Paraguai.

Ainda assim, em uma guerra em que jd eram evidentes as pouquissimas chances de vit6ria, e em que a rendigio nEo era algo considerado

pelo presidente paraguaio, cresciam os casos de fuga de soldados para o

lado inimigo. No comeqo de julho de 1866, em discurso

i

tropa, ten-

tando conter as defecg6es, o Mariscal fez um alerta ameagador: "CuidadolAt6 aqui perdoei muitas coisas. Mas daqui em diante n5o perdoarei mais ningu6m!". No lado aliado, os banheiros improvisados com tdbuas sobre buracos no ch5o eram uma fonte de germes. Em uma drea mais distante, havia um lago de dguas mais limpas, com fundo de areia, onde era possivel

se

banhar

sem tanto perigo de infecg6es, mas com grandes cuidados, jd que o local

era conhecido pela presenqa de iacar6s. Os soldados sofriam com sarna;

eram picados por mosquitos, pulgas, formigas ou mesmo por cobras e outros animais pegonhentos; bebiam 6gua insalubre; contra(am febre tifoide e disenteria; na falta de quinino, os mddicos ministravam ars6nico aos combatentes.

Ap6s as batalhas, antes que os feridos fossem enviados a Montevid6u, Buenos Aires e Porto Alegre no vapor Eponina, era preciso realizar curativos, extrag6es de balas e amputag6es sem a devida assepsia. O Corpo de

Sa(de dependia de estudantes do primeiro ano das escolas de medicina, que atuavam "empunhando um ferro com a maior sem-cerim6nia, cor-

tando, retalhando a carne humana, desalmadamente", como regishou Rodrigues da Silva emRecordagdes da Campanha do Paraguai.

O capitSo Benjamin Constant, educador e intelectual que anos depois seria cognominado O Fundador da Repriblica, indignou-se com a situagIo

226

LUIzocrAvlo

DE LIMA

enconhada no front. Em carta 1867, desabafava:

i sua mulher, datada de 3 de margo de

Disse algumas verdades que nada t€m de boas e ainda hoje estive com

o chefe do Corpo de Saride. Corta o coragSo ver-se os pobres soldados e oficiais ardendo em febre ou feridos por balas, cortados por metralhas,

cortando os ares com dolorosos gemidos, pedindo dgua, comida etc.,

e

v€Jos assim atirados sobre o conv6s de navio onde passam um e dois dias sem ter um p5o para comer. E o espet6culo mais desumano que se

pode imaginar.

Em um documento do dia 8 de iunho de 1866, comunicava-se ao Gabinete do Ministro que m6dicos cometiam abusos frequentes no front, como os que ocorriam no Hospital de Saladeiro: "Constatou-se que a

falta de caridade tem chegado a ponto de o dr. Francisco Mendes de Amorim castigar com bolas e mandar carregar com armas e sacas d'areia as pragas enfermas".a

No caso de febres e infec96es, como a fuberculose, a perman€ncia pro longada nas embarcag6es era um agravante, fator de disseminaglo de doengas. Aquela altura, a maioria dos soldados tinha de tratar seus ferimentos de guerra com os recursos da medicina popular da 6poca, como ervas e at6 urina e fezes. Com poucas alternativas para tratamento, os

m6dicos aconselhavam a ingestio de 6lcool como medida profiLitica conha

as febres palustres,

um cosfume da 6poca que fazia com que muitos

se tornassem alco6latras.

A tropa do general Manuel Os6rio, que ao partir consistia em um efe-

tivo de 9.465 homens, tinha no seu Corpo de Safde dezessete respons6veis pela assist€ncia mddica e

pessoas

cirfrgica, muitas delas sem treina-

mento para enfrentar uma sifuag5o de guerra. Os argentinos contavam com uma pequena equipe chefiada pelos cirurgi6es Caupolicdn Molina e

foaquin Bedoya.

A CUERRA DO

P^RAGUA] 227

Fernando Luis Os6rio Filho recriou em Histriia do Ceneral Os6io,, sobre seu av6, as agruras dos feridos no cen6rio do conflito: "Os chamados hospitais de sangue, espagos tristes, sombrios e f(nebres, nada mais eram

que pobres ranchos, cobertos de palha, sempre cheios de feridos, que chegavam estropiados, ensanguentados, em doloroso desalinho; uns sozinhos; outros se apoiando em camaradas com ferimentos menos graves; a

maior parte carregada no ombro, em redes de capotes e mantas, ou deitada no cheo frio". Se a oferta de m6dicos e enfermeiros homens para atender os campos

de batalha era escassa e constituida de individuos mal treinados, a presenga de mulheres nessas fungOes era praticamente nula, ao menos nos

primeiros tempos da guerra. A elas costumavam ser reservados os pap6is de cozinheiras, lavadeiras ou prostitutas. Quando ficou claro que o conflito duraria muito al6m do que se imaginava, as esposas de combatentes

foram autorizadas a acompanhar os pelotdes.6

Na frente paraguaia, as mulheres que seguiam a tropa eram concentradas em pequenos grupos sob o comando de uma sargenta. Trabalhavam

de doze a catorze horas por dia, em tarefas culindrias e de limpez a, al6,m

de fazer servigos de tecelagem de algod6o. Ap6s os combates, eram convocadas a cuidar dos feridos. Os argentinos, que n5o tinham por hdbito

permitir que mulheres acompanhassem suas fileiras, costumavam ridicularizar brasileiros e paraguaios ao ver essas volunt6rias e familiares dos soldados em marcha, com criangas no colo ou trouxas de mantimentos nas m6os.

Ordens religiosas evenfualmente tamb6m prestavam apoio m6dico aos soldados, mas restringiam sua ag5o is grandes cidades, bem longe dos cen6rios de conflito.

Uma viriva baiana, por6m, ofereceu uma contribuigio fundamental para alterar esse quadro. A contenda enhe os paises do Cone Sul jd entrava

em sua fase mais aguda quando Ana Justina Ferreira N6ri estabeleceu um centro de atuagSo na cidade argentina de Salto.

228

LUrz crcTAvro DE LIMA

Nascida em uma fam(lia de posses, propriet6ria de fazendas de fumo,

cana-de-agfcar e algod5o, ela se casara com o capit5o de fragata Isidoro

Antonio N6ri, morto em 1843, vitima de uma meningite fulminante a bordo do brigue TrAs de Maio, que conduzia. Apesar de ter apenas 29 anos ao perder o marido, tinha um rosto austero, sempre circundado pelos

cabelos negros presos em um coque discreto que reforgava sua heranga

lusitana. E n6o demonstrava intengio alguma de se casar novamente.

Cat6lica habituada a trabalhos de caridade, Ana sentiu um chamado especial quando seus filhos, os estudantes de medicina Isidoro e fustiniano,

o militar Pedro Ant6nio, e o sobrinho futhur Rodrigues Ferreira foram mobilizados para o front como integrantes do 10" BatalhSo de Voluntdrios da Pdtria.

Em 8 de agosto de 1865, aos quarenta anos, ela escreveu ao presidente da provincia da Bahia, Manuel Pinto de Souza Dantas, oferecendo.se para

cuidar dos feridos e doentes nas regi6es conflagradas: Como brasileira, n5o podendo ser indiferente aos sofrimentos dos meus compatriotas, e, como m5e, n5o podendo resistir

i

separagSo dos objetos

que me s5o caros, e por uma t5o longa distdncia, desejava acompanh6Jos

por toda a parte, mesmo no teatro da guerra, se isso me fosse permitido; mas opondo-se a este meu desejo a minha posigdo e o meu sexo,

nio

impedem, todavia, esses dois motivos, que eu oferega os meus servigos em qualquer dos hospitais do Rio Grande do Sul onde

se fagam precisos,

com o que satisfarei ao mesmo tempo os impulsos de m6e e os deveres da humanidade para com aqueles que ora sacrificam suas vidas pela honra

e

brio nacionais e integridade do Imp6rio. Digne-se Vossa Excel6ncia de acolher benigno este meu espontdneo oferecimento, ditado t6o somente

pelavoz do coraq6o. Dois dias depois, Souza Dantas deu ordens ao comandante do Conselho das Armas para que Ana

N6ri fosse contratada como

a

primeira enfermeira

A GUERRA DO

PARAGUAI

ZZ9

brasileira na Guerra do Paraguai. Ela n5o perdeu tempo: no dia l3 de agosto jd estava embarcando para o Rio Grande do Sul, onde recebeu trei namento de enfermagem com

Com

as irm6s de caridade,

as

freiras da Ordem de SaoVicente de Paulo.T

Ana aprenderia a prestar

os

primeiros socoros,

a dar injeg6es, a controlar as hemorragias e a cauterizar feridas com uma

limina quente. Mas a determinada vi6va tamb6m traria uma contribuig5o herdada da tradigSo familiar e popular: Conhego um vasto jardim de plantas terapCuticas, umas para chds, outras para banhos, outras para compressas, outras para 6leos, outras ainda para inalag6es.

fu folhas do girassol sdo antiasm6ticas, a alfazema e a arnica

cicahizantes e antiss6pticas, a camomila 6 anti-inflamat6ria,

as

sdo

queimaduras

podem ser tratadas com bananas, o agrido 6 expectorante, a alcachofra

6

boa para o figado, o tomate 6 fortificante, o alecrim 6 muito bom contra o esgotamento fisico e mental, a alface 6 6tima conha as barbas de

milho s6o excelentes contra

as

irritaq6es intestinais,

as pedras renais e infecgdes na

bexiga, os coentros s5o preciosos contra as dores nervosas.8

Depois do estdgio, Ana N6ri juntou-se ao 40o Batalhio de Volunt6rios,

comandado por seu irmdo, o major Mauricio Joaquim Ferreira, passando a prestar servigos em Salto, a 180 quildmetros de BuenosAires, onde se estabeleceram grandes dep6sitos e hospitais de sangue. Pouco depois, deslocou-se para a cidade de Corrientes, que recebia grande quantidade de

feridos das batalhas ocorridas em territ6rio paraguaio. Em meio a essas mulheres que

se destacavam pela

prestagio de servigos

de apoio ou por meio da enfermagem, havia aquelas, mais raras, que efeti-

vamente entravam em combate. A garicha Florisbela, intr6pida soldada do 29'Corpo de Voluntdrios da Pdtria, ocupou posig6es, de carabina em

punho, em diversas batalhas, ao final das quais ajudava no hospital cuidando dos que haviam caido no cen6rio da guerra. Florisbela era "transviada", conforme dizem os relatos, "mulher da vida, sem familia, sem nome";

2,A

Ltru ocr vro

DE LrMA

dela s6 se sabia que nascera no Rio Grande do Sul. O general brasileiro

Joaquim Silv6rio Pimentel, que a conheceu e testemunhou seus feitos, recordou-se em seu liwo Episddios militara: "Era a temeridade em pessoa e a abnegagio ao extremo.

V&la com ldbios enegrecidos de p6lvora pela

ag6o de morder o carfucho era para os soldados um fator de enfusiasmo:

chamavam-na de'o anio da vit6ria'".e

xxtx Uma cartada para ganhar tempo?

No inicio de agosto de 1866, forgas paraguaias chefiadas pelo coronel Manuel Gimenez ocuparam e fortificaram Curuzf, um povoado is margens do rio Paraguai, ao sul da fortaleza lopista de Curupaiti e muito pr6-

ximo dos acampamentos inimigos. Ao estabelecer a instalagflo defensiva com 2.500 homens, pretendiam criar um anteparo que evitasse avangos dos batalhSes aliados.r

Ap6s tr€s semanas de tr6gua, ao amanhecer do dia

l'de

setembro, os

brasileiros empreenderam uma grande operag5o para desalojar os paraguaios dali. O comando estava a cargo do general Marques de Souza, o

bario de Porto Alegre, com o apoio da flotilha composta dos encouragados Bahia, Banoso,

Lima Banos, Rio de laneiro eTamandar1, mais

a

canhoeira Magd e os navios de madeira Greenhalgh,Beberibe,Belmonte,

Araguai,lpiranga, Pamaiba e lvai. O combate foi iniciado com uma manobra em que a Marinha Imperial, margeando a regido do Chaco, conseguiu desembarcar em um canal do rio um total de 8 mil combatentes, entre infantes, cavalarianos, artilheiros e pontoneiros (especialistas

em artefatos de mobilidade).

No dia seguinte, is duas horas da tarde, o encouragado Rio de laneiro foi atingido na proa e na popa indo a pique, junto com seu comandante Am6rico Brasilio e mais de cinquenta combatentes. Outas embarcagdes tam-

b6m foram danificadas. Somente no terceiro dia de embates foi possivel

Z3Z LUtzocr \{o DE LrMA

deshuir a base de onde os paraguaios disparavam torpedos e enviavam brulotes - dispositivos fufuantes com material explosivo. Houve oitocentas baixas entre as forgas aliadas, incluindo mortos e feridos, e setecentos mortos, 1.700 feridos e trinta prisioneiros entre

as forgas

guaranis. Os paraguaios restantes foram perseguidos at6 as proximidades de Curupaiti e chegaram a deixar para trds diversas pegas de artilharia. Apesar de mais esse triunfo, naquele setembro de 1866 a guerra se en-

contrava em um impasse perigoso.

O Paraguai estava profundamente

debilitado diante das sucessivas derrotas que vinha sofrendo desde que Solano L6pez havia decidido ignorar a rendig5o de Uruguaiana e levar o

conflito adiante. Por6m, os aliados estavam desorganizados, as perdas humanas eram imensas e os lideres militares de cada parte defendiam estrat6gias desencontradas. No espago de um ano, n6o haviam consegui-

do avangar mais que vinte quilOmehos territ6rio adentro. Parecia ainda distante o objetivo de apear o ditador paraguaio do poder. Para piorar o quadro, outras nag6es sul-americanas j6 deixavam a neu-

halidade, e o conflito comegava a envolver o resto do continente, correndo o risco de se alastrar. O Chile,

i

frente dos governos do Pac(fico, ofereceu

mediagf,o, mas nenhuma das partes concordou com a interfer€ncia. O

governo peruano, por meio do chanceler Toribio Pacheco, emitiu uma declarag6o de protesto contra a Triplice Alianga ao tomar conhecimento dos termos do tratado secreto.

A Col6mbia divulgou nota semelhante.

Mais preocupante foi a atitude do presidente da Bolivia, general Mariano

Melgarejo, de p6r

i

disposigdo 12

mil de seus soldados para reforgar

as

linhas paraguaias.

No dia l0 de setembro, uma semana ap6s a derrocada de Curuz(, Solano L6pez enviou de Passo Pucd uma carta a Bartolomeu Mitre, em que propunha um encontro para negociar o t6rmino da guerra. Apesar de levar uma bandeira branca e de emitir um toque de atengdo com a trompa, o portador foi recebido a tiros e retornou sem entregar a missiva. Mais tarde, chegou ao acampamento paraguaio um pedido de desculpas

A GUERRA DO

PARAGUAI B)

dos aliados pelo incidente, com a garantia de que o respons6vel pela hosti-

lidade seria punido. Na manhe seguinte, Solano enviou seus generais Bernardino Caballero

e Jos6 Eduvigis Diaz, com um piquete de soldados, para encontrar-se com Bartolomeu Mitre e entregar a ele a mensagem que continha o se-

guinte teor: Pucil, 1l de setembro de 1866.

Quartel-general em

Passo

Ao Exmo.

bigadeiro, presidente da Reprtblica Argentina

Sr. general

e

general

em chefe do Exdrcito aliado

Tenho

a honra de convidar a

Vossa ExcelAncia

d umo entreyista pessoal

entre nossas linhas, no dia e hora que V. Exa. assinale.

Deus guarde

aV. Exa. - Francisco

S.

Iipez.

Caballero apresentou-se com uma bandeira branca espetada na ponta de uma langa, eDiaz enhegou a cafta do presidente paraguaio ao comandante das forgas aliadas. Esse fez uma pequena confer€ncia com o presi-

dente uruguaio, Ven6ncio Flores, e com o chefe da divisEo brasileira, general Polidoro. Todos avaliaram ser conveniente aceitar o convite. Mitre

rapidamente redigiu a resposta positiva e entregou-a aos emiss6rios2: Quartel-general do Exdrcito aliado,

ll

de setembro de 1866.

Ao Exmo. Sr. marechal dom Francisco S. Upez, presidente da Repiblica do Paraguai e general em chefe de seu Exdrcito

Tive a honra de receber o comunicado deYossa ExcelAncia, com d data de hoie, convidando-me d uma entrevista pessoal entre nossas linhas, o dia e

234

LUrz ocrAvro DE LrMA

a hora que me conyiesse; respondendo, devo dizer a V. Exa. que aceito a entrwista proposta e me encontrarei amanhd ds noye horas da manhd, no ponto de nossds linhas, no PasoYataiti-Cord,levando uma escolta de vinte homens, que deixarei d altura das linhas avangadas, adiantando-me em pessoa no teneno

intermedidio para o fim indicado, seV. Exa. estiyer con-

forme com isso. Deus guarde

aV. Exa. por muitos anos - Bartolomeu Mitre

A tarde, em nova mensagem, Solano L6pezdeclarou: Acabo de ter a honra de receber a resposta que Vossa ExcelAncia se dignou

a dar d minha proposta de entrevista desta manhd e, agradecendo aV.

Exa. pela aceitagdo que dela faz, me conformarei com o proceder que V. Exa. se propde e cumprirei o deyer de ndo faltar d hora indicada. Deus guarde V. Exa. por muitos dnos

-

Francisco S. L6pez.

Na manha do dia 12, Solano deixou seu acampamento em uma carruagem e seguiu at6 a hincheira, de onde prosseguiu em seu cavalo favorito,

Mandyyri, acompanhado por uma escolta de 24 integrantes do esquadr5o de drag6es. Prevenido, o presidente mandou posicionar um grupo de fuzileiros em pontos pr6ximos do local do encontro, que ficava a apenas dois

quil6metros de Tuiuti, a fim de manter os convidados sob sua mira. Al6m dessas tropas, seguiram o

Maiscal cerca de hinta oficiais, entre eles seus

irm6os Vendncio e Benigno e o cunhado Vicente Barrios Bedoya.

Bartolomeu Mitre chegou ao local marcado por Solano L6pezem um cavalo negro, acompanhado de Vendncio Flores, do general Polidoro, de seu aiudante de ordens e uma comitiva de vinte soldados. O argentino

consultou os companheiros sobre seu interesse em participar da conversa. Flores concordou, dizendo estar curioso em conhecer o oponente e saber

A GUERRA DO

PARAGUAI 275

o que ele tinha a dizer.16o brasileiro recusou o contato direto: "As instrug6es de sua majestade s5o as de combater esse homem; ndo de entabular

relag6es sociais com ele", disse, afirmando em seguida que observaria o

encontro

i

distAncia.

Ao se encaminharem um na diregio do outro, ficava evidente que as figuras dos dois governantes n5o poderiam ser mais conhastantes. Solano

L6pez, baixo, gordo e corado, trajava uniforme de gala azul-escuro, com emblemas de general de divis5o aplicados no colarinho, botas granadeiras com esporas de prata e, sobre os ombros, seu poncho favorito

-

curio-

samente, um presente que anos antes havia sido levado pelo ministro )os6 Antonio Pimenta Bueno em nome do monarca brasileiro a seu pai,

Carlos Antonio L6pez. A pega trazia uma coroa imperial bordada em fios de ouro. Solano tinha um ar confiante e cordial. Mitre, esqu6lido e de longa barba negra, com sua figura alta, longil(nea, vestia um capotdo

preto com cinturSo e punhos brancos, usava chap6u de abas largas com plumas negras, levava uma espada na cintura e carregava uma chibata na m5o esquerda.

O lider paraguaio saudou Mitre com um largo sorriso e fez quest5o de

cumprimentar o general oponente com o aperto de m5o caracteristico do mestre maqom, na clara interrgio de estabelecer com ele uma relagio de afinidade e at6 de cumplicidade. Mitre pareceu entender o recado, i5 que instantaneamente voltou os olhos para as mSos que se ligavam e de-

pois para os olhos do interlocutor com uma expressSo mais desarmada. L6pez foi afdvel:

-

Sinto s6 encontr6Jo depois de tantos anos, general.

-

Sim. Creio que nos avistamos pela riltima vez no ano 61, quando me

destes a honra de uma visita a Buenos Aires.3

-

E verdade. Mas naquela ocasiio falamos apenas de livros, n6o de

politica

- devolveu o paraguaio.

O cumprimento a Flores teve um tom mais seco. E, ao oferecerlhe cigarros, recebeu uma resposta atravessada.

216

-

LUrz ocrAvro DE LIMA

Tenho os meus

- disselhe o caudilho da Repriblica Oriental. - E

nada quero do senhor Maiscal.

L6pez n5o se conteve em desferir uma estocada verbal no presidente uruguaio:

-

Sabe que estamos nesta situagio por sua causa, ndo?

Com uma expressEo irritada, Flores tentou manter o controle:

-

Ndo entendo a que o senhor se refere.

El Maiscal revolveu a ferida: - Entende, sim. Ao deixar seu pafs

i

merc€ do Imp6rio, colocou em

risco todo o nosso continente e nos trouxe a este ponto. Sabe muito bem disso. Percebendo que

nio teria ambiente

para participar de algum tipo de

negociagio, Flores fez um desagravo:

-

N5o me responsabilize por suas decis6es insanas. Foi o seu desvario

que abriu esta chaga em nossa regi6o! N6o tem consci€ncia disso?

Mitre manteve-se frio, mas a animosidade que

se formava entre os dois

colocava o encontro em risco antes mesmo de comegar. Flores pareceu ter percebido isso, e, voltando-se para o colega argentino, declarou:

-

Vejo que nEo h6 o que tratar aqui. DesejoJhe sorte, meu amigo,

mas acredito que perde seu tempo buscando a razdo onde n5o existe

nenhum senso. Em seguida, chamou seus auxiliares e se afastou. L6pez fez um gesto de inconformidade com a cabega e convidou Mitre

a tomar lugar em uma mesa que havia sido arrumada no descampado com pdes, conservas, uma garrafa de conhaque e duas tagas.

-

Meu caro companheiro, convido-o a brindar

i

solug5o de nossas

diferengas, que, tenho certeza,6 um objetivo que iremos alcangar.

Mitre aceitou o convite e, ao receber a taga cheia, devolveu a saudagdo com uma exortag5o d paz.

-

Somos todos irmSos de continente, senhor L6pezl

A GUERRA DO

PARAGUAI 87

O Mariscal virou o copo de uma s6 vez, induzindo o militar oponente a acompanhdlo, como gesto de cortesia. Serviu novas doses e estendeu ao convidado uma caixa de charutos criollos com entalhes em prata. FalouJhe das qualidades do produto e ambos puseram-se a fumar. Como havia convocado o encontro, o l(der paraguaio tomou a iniciativa de abordar a quest5o:

Meu caro Mitre, j6 6 suficiente o derramamento de sangue por parte

-

de nossas forgas e pelas forgas aliadas. O argentino fez um gesto de concord6ncia com

-

a cabega, mas nada disse.

Considero possfvel estipular as condig6es de uma paz s6lida, dura-

doura e honrosa para todos

-

- prosseguiu

o lider paraguaio.

Nao posso oferecer a Vossa Excel€ncia outras condigOes senSo

as

estipuladas pelo tratado com que, para sua defesa, se uniram os povos aliados

- retrucou Mitre.

L6pez afirmou ent6o que n5o poderia concordar com os termos do Tratado da Tr(plice Alianga, que previa o desmembramento do Paraguai e a entrega de parte de seu

territ6rio aos advers6rios. Thmb6m pediu que

n5o fosse considerada a exigOncia de sua renfncia ao comando do pais. Tais condig6es s5o inaceitdveis

-

- argumentou. -

Sdo normas fixadas

para um vencido. E ndo posso me dar por tal antes mesmo de combater.

O comandante argentino reiterou que a condiqio sine qud non para o

fim

das hostilidades seria a retirada completa das forgas lopistas dos terri-

t6rios ocupados, com a rendigSo total do Paraguai. E resumiu, de forma mais direta:

-

Sua renfncia 6 a exig6ncia central, excelOncia. Nossa guerra n6o 6

contra o povo paraguaio, mas contra o seu governo.

El Mariscal assumiu uma expressSo ir6nica. Meneou a cabega e respondeu:

-

Meu amigo,

s6 ter6

riltimas trincheiras!

minha renrincia depois de matar-me em minhas

BB

LUz ocrAvro DE LrM

O argentino manteve o ar solene.

lflryroptou

entEo por ouho caminho.a

Tentou convencer Mihe a selar uma paz em separado, retirando as forgas argentinas da guerra, para que o Imp6rio brasileiro, com os apoios minados, se tornasse um advers6rio mais f6cil de derrotar:

-

Estimado Mitre, se me deixa s6 com os brasileiros, para mim

6

comida digerida.

Com o orgulho um tanto atingido, e n6o deseioso de representar o papel de traidor na trama em queskio, Mitre franziu a testa, irritado: - Permita-me observar-lhe que est6 falando com o general em chefe das forgas aliadas!

L6pez voltou ao tom conciliador:

- Por isso mesmo! Por ter o senhor tal autoridade 6 que propus este encontro

-

disse.

-

Mas veia que, enquanto o Imp6rio se engrandece, a

Repriblica fugentina se debilita. N5o obstante, estou interessado em saber sob que condig6es poderfamos negociar a paz.

Embora pretendesse desincumbir-se rapidamente de sua miss6o, o chefe das forgas aliadas viu o tempo se esvair sem nenhum progresso. L6pez insistia no fim do conflito, mas ndo aceitava deixar o poder. Ao final de cinco horas, o mfximo que conseguiu do paraguaio foi a proposta de

um acordo em separado com os argentinos, o que Mitre repisou estar fora de questio. O paraguaio pediu, entIo, que um auxiliar redigisse um docu-

mento,s para que Mitre levasse aos demais representantes da Tiiplice Alianga, com o seguinte teor: Sua Excel6ncia, o

marechallipez, presidente da Repfblica do Paraguai,

em sua enhevista de 12 de setembro, convidou Sua Excel€ncia, o presidente da Repriblica Argentina, general em chefe do Ex6rcito aliado, a enconhar meios conciliat6rios igualmente honordveis para todos os beligerantes, para

ver se o sangue vertido at6 aqui n5o seria considerado suficiente para lavar as

mffuas querelas, pondo fim

i

guerra mais sangrenta da Am6rica do Sul,

por meio de satisfag6es m(fuas e igualmente honrosas e equitativas, que

A GUERRA DO

PARACUAI 279

garantissem um estado de permanente paz e sincera amizade entre os beligerantes. Sua excelCncia, o general Mitre, limitando-se a ouvir, respondeu

que levaria os termos ao seu governo e

i

decisio dos aliados.

Mitre Ieu o documento, declarou-se ciente e n6o escondeu o ar de frustragio: "Jd que n5o evoluimos, 6 certo que as hostilidades ser6o retomadas com toda a intensidade", avisou ao paraguaio. Antes de se despedir, L6pez presenteou o convidado com um rel6gio de

ouro, que havia mandado comprar em Londres, e uma caixa de charutos criollos. Como n5o havia levado nenhum regalo de retribuigdo, Mitre, um tanto acabrunhado,lhe enhegou como lembranga a chibata que levava consigo. Solano entregouJhe a sua e os dois se despediram.

O comandante e deixou o local.

das forgas aliadas

Em

reuniu o grupo que o acompanhava

14 de setembro, enviou uma resposta sucinta sobre

a conversa que tivera com Polidoro e Flores a respeito da proposta feita

por L6pez no encontro: "Apresentamos tudo

i

apreciaqio de nossos res-

pectivos governos, sem que tenha havido modificag5o alguma na sifuagSo dos beligerantes".

No mesmo dra,ElMaiscal devolveu-lhe uma carta nos seguintes termos: Nada me deteve ante a ideia de oferecer a fltima tentativa de conciliagSo

que ponha t6rmino a esta torrente de sangue que vertemos na presente guerra, e me assiste a satisfagSo de haver dado assim a mais alta prova de patriotismo para o meu pais, de consideragSo para com os inimigos que o combatem e de humanidade para o mundo imparcial que nos contempla. Se a Entrevista de Yataitf-Cor6

conho

-

-

como passou a ser conhecido o en-

foi uma cartada solitdria de L6pez para sair da sifuag5o em que

se

metera ou apenas uma manobra para ganhar f6lego, nunca de saberd ao certo. O fato 6 que o tempo gasto entre as idas e vindas de Mitre e Flores deu is forgas de L6pez o alivio necessdrio para recompor suas linhas em

Curupaiti, o pr6ximo e mais doloroso passo da guerra para os aliados.

xxx Os pressSgios de Curupaiti

Nos dias que se seguiram, o general paraguaio fos6 Eduvigis Diaz e o engenheiro militar inglCs coronel George Thompson comandaram a escavagio de trincheiras em torno de Curupaiti com dois quildmetros de

extensio. Trabalhando em turnos, os soldados baseados no forte cortaram drvores e abriram fossos de quaho metros de largura, atolados em p0ntanos e juncais, algumas vezes com lama at6 a cinfura. Sua fibra e seu vigor foram

admir6veis, dadas as terriveis circunst6ncias em que precisaram atuar.

Com

as vestes

em farrapos, que mal podiam ser consideradas unifor-

mes, famintos, recdm-saidos de uma batalha em que haviam sofrido uma

derrota profunda em termos num6ricos e estrat6gicos, os paraguaios ainda encontravam 6nimo para empunhar

as

ferramentas sob a chuva e o vento.

Havia ainda, 6 verdade, o temor do pelot5o de fuzilamento. Solano L6pezhavia ordenado ao coronel hringaro Francisco Wisner de

Morgenstern que desenhasse um projeto para

as

trincheiras de Curupaiti

contra o avango inimigo, que considerava iminente.r Dois dias depois, o

Maiscal convocou

os comandantes mais importantes de seu ex6rcito para

uma reuni5o sobre o assunto. Todos aprovaram o plano, exceto o general

Diaz, qre afirmou, em guarani: "Oi porane la cuatid

ai

pero pecha fia

mbopuharo la tnnchera no ro iocoichene los cambape" fEstr{ bem no papel, mas, se levantarmos assim a trincheira, ndo deteremos os pretosl. L6pez

apoiou seu general e o autorizou a construir as trincheiras a seu crit6rio.

242

LUz ocrAvro DE LrMA

A contribuigEo de Thompson, especialista em artilharia e fortificag6es, tamb6m foi decisiva. Reorganizados, os batalh6es paraguaios ganharam considerdvel van-

tagem diante dos aliados, QUe, por seu lado, mantinham-se desmobilizados e confusos. V6rios dias foram perdidos em discuss6es sobre a forma de se chegar a Humait6. Como o caminho pelas margens do rio Paraguai n5o era obrigat6rio, Mitre defendia um avango rumo ao norte por terra, entre

Curuz(

e Passo Puc6, sem passar pelo forte. Mas os demais coman-

dantes consideravam fundamental derrubar Curupaiti, pr6xima ao rio, e argumentavam que teriam o apoio dos navios de Thmandar6.,at6 ent6o

pouco utilizados. Batedores aliados haviam feito um avango pela mata em 16 de setembro, para sondar o campo e ocultar pegas de artilharia em pontos determinados, a fim de iniciar a investida. Passaram algumas horas nas imediagdes

do forte, mas acabaram recebendo ordens para recuar. A esquadra emitiu

um aviso de que nio estava em condig6es de empreender um bombardeio naquele momento, porque o tempo estava fechado e havia a possibilidade de chuvas. De fato, pouco depois o grupo foi apanhado por um aguaceiro,

que inutilizou parte da p6lvora que transportava. Nessa incursdo, ao avistar os intensos preparativos paraguaios, os bate-

dores haviam tido a certeza de que o combate seria mais duro do que

se

imaginava. Ao retornar, suas informag6es espalharam-se pelo campo aliado e afetaram o 6nimo da tropa.

Por conta disso, em 21 de setembro, o acampamento de

Tuiuti

estava

com uma agitag5o incomum, com ares de cerimOnia de despedida para a maioria.

Em meio

hs chuvas

intermitentes, soldados e oficiais reuniam-

-se em grupos para churrascadas, rodas de jogos de cartas e goles do

vinho. Alguns chegavam a brindar com os companheiros ao seu "6ltimo dia na Terra".

O coronel oriental Ignacio

Rivas, designado por Bartolomeu Mitre

para liderar a primeira das quatro colunas de ataque argentinas, convidou

A GUERRA DO

PARAGUAI 24}

outros comandantes para uma refeiqio em sua barraca,2 entre eles o coronel Manuel Rosetti, portenho, chefe do l'Batalh5o de Infantaria de

Linha; o coronel Bauttista Charlone, italiano de nascimento; o coronel uruguaio |os6 Miguel furedondo, chefe da Segunda Coluna Argentina; Alejandro Diaz, chefe do 3" Batalhao de Infantaria de Linha; o coronel Manuel Fraga, chefe da # Infantaria de Linha; Domingo Fidel Sarmiento, filho do embaixador nos Estados Unidos, Domingo Faustino Sarmiento, e chefe de companhia do I2'BatalhSo de Infantaria de Linha; e Francisco Paz,

filho do vice-presidente Marcos Paz e capitSo do I2'BatalhSo.

Em dado momento, Charlone fez um sinistro brinde ao colega fos6 Miguel Arredondo: "Amigo, 6s o 6nico a romper a atmosfera que une o restante de n6s, jd que ser6s o rinico a sair ileso amanhe!". Os demais presentes nfro pareceram abalados pelo press6gio. furedondo,

entretanto, reagiu: "Como 6 possivel que um homem tio bravo se deixe levar por semelhantes preocupaq6es?". Charlone respondeu com um gran-

de sorriso: "Quem sabe? Coisas do espirito!". Ap6s a refeigio, Charlone procurou seu ajudante de ordens e entregou a ele seu rel6gio, sua carteira e algumas cartas, encarregando-o do envio a seus parentes e amigos, caso fosse

morto no combate.

O capitEo Dominguito Sarmiento tamb6m preparou uma carta para sua m5e, mas optou por deixriJa no bolso da farda. Nela a consolava previa-

mente e declarava:l Morrer pela p6tria 6 viver, 6 dar ao nosso nome um brilho que nada serd capaz de apagar; e nunca fostes mais digna como mulher que quando,

com estoica resignagdo, enviou is batalhas o filho de suas entranhas.

Igualmente tocante foi o bilhete que o soldado Cleto Mariano Grandoli

deixou para ser entregue aos seus pais, caso nio sobrevivesse

i

batalha.a

Ele se oferecera como volunt6rio um ano antes, ingressando com apenas 16 anos

no l" Batalhao de Santa F6. Participara das operag6es de |atai,

244

LUV ocrAvro DE LIMA

Uruguaiana, Itapini, Estero Bellaco e Tuiuti. Mas pressentia que Curupaiti seria seu maior desafio:

O argentino honrado deve deixar de existir antes de ver humilhada

a

bandeira da pdhia. Neo tenho drividas de que a vida militar 6 penosa. Mas que importa se padecemos na defesa dos direitos e da honra de nosso pais.

Amanhe seremos dizimados. Mas saberei morrer defendendo a bandeira que me deram.

Na manhi seguinte, horas antes do combate, o grupo voltou a se reunir, dessa vez na barraca de a

Manuel Fraga. O tom de profecias macabras voltou

dominar o ambiente, primeiro em uma fala de Rosetti, depois pela boca

do pr6prio Fruga, que observou: "Escutaram durante a noite o grito do ypord, o pdssaro de canto agourento? Bebamos o vinho que ainda resta e

brindemos, porque hoje vamos todos morrer!". Naquele 22 de setembro, 5 mil paraguaios esperavam pelas forgas aliadas, distribuidos em sete batalh6es de infantaria e quatro esquadrSes de

cavalaria, resguardados por dois pared6es de terra de mais de dois metros de altura cada, separados por um fosso pantanoso de cerca de cinquenta metros. A segunda barreira havia sido reforgada por cercas feitas com enormes troncos cruzados, galhos e ramos, atr6s das quais haviam sido distri-

bu(das 49 bocas de fogo.

O plano de ataque aliado consistia na combinag5o de bombardeios is defesas paraguaias pela esquadra

imperial, comandada pelo almirante

Thmandar6, com movimentos ofensivos de quinze batalh6es de infanta-

ria argentinos

-

com duzentos a trezentos homens cada, liderados por

Wenceslao Paunero

- e das forgas brasileiras

de infantaria e de cavalaria,

sob o comando de Marques de Souza.5

Na v6spera do combate, Thmandar6 havia prometido "descangalhar" o forte Curupaiti em duas horas. A frota deslocada para o confronto era composta por tr€s chatas, pelos encouragados Brasil, Banoso, Lima de Barros,

A GUERRA DO

PARAGUAI 245

Bahia e Tamandard, os bombardeiros Pedro Alfonso e Forte de Coimbra, e as canhoeira s Bebeibe, M agd, Pamafb a, B elmonte, lb ai, Me

ain, I guatemi,

Araguai, Araguaia, lpiranga, Henique M artins e C hut. Parte das forgas terrestres aliadas era composta de combatentes sulistas que ndo carregavam ouho armamento al6m de langas. O general uruguaio

Venincio Flores seguia

i

frente de uma divis6o de cavalaria e algumas

centenas de orientais, praticamente tudo o que havia restado de suas tropas na campanha. Seu retorno a Montevid6u jd estava acertado, mas ele deci-

riltima colaboragSo ao esforgo de guerra. O comando geral e todo o planejamento couberam inteiramente a Mitre pela primeiravez. diu prestar

essa

Quando a esquadra apontou na margem esquerda do rio Paraguai, no comeqo da tarde, uma chuva forte voltou a cair. Pelo terreno barrento, cujas caracteristicas jd naturalmente pantanosas eram agravadas pelo temporal, vieram avangando os integrantes do 2'Corpo do Ex6rcito brasileiro. Junto a eles, seguia uma tropa de combatentes argentinos, marchando na cad€ncia marcada por tambores e embalada por clarins. A natureza encarregou-se de criar uma ambientagio assustadora, com o estrondo de trov6es que faziam a terra tremer e reverberar antes mesmo

do primeiro disparo da artilharia. Iniciado o bombardeio em direg6o ao forte paraguaio por parte da esquadra brasileira, os soldados aliados apressaram o passo rumo is linhas lopistas. Por conta da "muralha" de terra erguida

is margens do rio, os canh6es de Tamandar6 tiveram de ser direcionados para uma altura que os fazia atingir apenas se

as copas das 6rvores.

E o desastre anunciado rapidamente

concretizou. Em quaho colunas, l7 mil aliados

se langaram sobre a

primeira hincheira,

os argentinos pelo cenho e os brasileiros pela direita. O 6nimo por ulhapassd-

-la sem resist€ncia se desvaneceu ao perceberem que haviam caido em uma

cilada: sob a chuva, em solo aberto e lamacento, os integrantes da infantaria caiam, um a um, diante do fogo vindo da segunda barreira, ainda distante de seu alcance. Totalmente desprotegidos, eram abatidos is centenas.

2+6

LUz ocrAvro DE LrMA

Do lado de L6pez, as baixas eram poucas, insignificantes mesmo, diante do imenso estrago provocado nas divisdes aliadas. O pr6prio Mitre teve seu cavalo atingido por um canhio e precisou hocar de montaria.

Nio

obstante, gritava sem parar aos combatentes: "Avangar! Avangar!".

Os iovens soldados que

se

viam enredados naquela armadilha voltavam

seus olhos paru a retaguarda, na esperanga de que fosse ordenado um

recuo salvador que os livrasse da morte certa e inritil. Mas a orientagio era a mesma: "Avangar! Avangar sempre!". Aparentemente, segundo relatos posteriores, de seu posto de observag5o, bem atrds,

Mitre tinha

a impress5o err6nea de que havia apenas uma

trincheira a ser vencida e que, uma vez ultrapassada, os contingentes jd enhariam em luta corpo a corpo com os paraguaios. Isso praticamente

nio ocorreu, por haver uma

segunda barreira, distante, a ser vencida. Sem

receber informag6es corretas, Thmandar6 prosseguia com a artilharia, des-

conhecendo a falta de efetividade de seus bombardeios. O soldado Cleto Mariano Grandoli, que carregava a bandeira argentina,

tombou morto como havia previsto na carta i sua m5e, sem se desfazer do pavilh5o.

Entre as fileiras brasileiras, um destaque foi a inusitada participagio da pernambucana Maria Francisca da Conceig6o.6 Quando o marido foi

destacado para o ataque ao forte de Curuzri, ela decidiu acompanhdJo

a qualquer custo, desobedecendo a proibigio do general Marques de Souza de que mulheres seguissem sua expedigio. No dia do embarque, ela cortou os cabelos, conseguiu um uniforme, arranjou um quepe e in-

filtrou-se na tropa. Em Curupaiti, entrou na luta, integrando o 1'Batalhio, mesmo sem dispor de armas. Quando o primeiro soldado caiu ao seu lado,

Maria Francisca tomouJhe a baioneta, a cartucheira, e avanqou com a artilharia. Em meio h luta, percebeu que o marido havia sucumbido, mas continuou combatendo. 56 parou quando tambdm foi atingida. Tendo sobrevivido

i

batalha, seria apelidada Maria Curupaiti, e seu nome seria

dado ao 42'Batalhlo de Volunt6rios da Pdtria.

A GUERRA DO

PARAGUAI 247

A frente das linhas paraguaias, montado em seu cavalo, o general Diaz

orientava os combatentes guaranis aos gritos e com a espada em riste, em

i

infernal artilharia. Os balagos passavam por ele, que se mantinha en6rgico, firme, determinado. A demonstragSo de coragem enchia seus meio

esquadr6es de motivag5o. Solano L6pez, como sempre, estava ausente do teatro da guerra e recebia as informag6es na fofialeza de Humait6. .fu quatro horas da tarde, Mitre foi informado de que alguns batalh6es i6 estavam completamente aniquilados. Meia hora depois, quando o massacre se tornara

tio evidente quanto

a impossibilidade de vit6ria no confronto, o

general Marques de Souza aproximou-se de Mihe e fez a ele um respeitoso apelo: "Senhor, esta ser6 a derrota mais grave desta guerra. MorrerEo todos sem sequer tocar as trincheiras paraguaias. Ordene a retirada, por favor!".

Atordoado, o comandante em chefe das forgas aliadas consentiu e sina-

lizou a seu comando para que fosse executado o toque de retirada.T Ap6s quatro horas de batalha, a devastag5o no lado dos aliados era incontestdvel. Milhares de corpos espalhavam-se das margens do rio Para-

guai at6 as proximidades da linha lopista. Entre eles, estavam os do filho do vice-presidente argentino, Francisco Paz, e de Dominguito Sarmiento, que sangrou at6 morrer ap6s ter sido alvejado no tend5o de Aquiles. Dos

quinze chefes de batalh6es argentinos, catorze sairam mortos ou feridos. Apenas um escapou ileso: fos6 Arredondo. Sua sobreviv6ncia confirmava a profecia do

coronel Charlone, que, atingido na cabega, tamb6m sucum-

biu na batalha,

assim como Rosetti, Alejandro Diaz, Luciano Salvadores,

Manuel Fraga e outros tr€s chefes militares. Estudiosos atribuiram

esse

alto nrimero de oficiais argentinos abatidos aos uniformes de guerra que usavam do alto de seus cavalos, com suas reluzentes dragonas douradas,

polainas brancas, jaquetas azuis e bombachas vermelhas, trajes comprados dos franceses como sobras da Guerra da Crimeia que destacavam suas figuras e faziam deles alvos bem visfveis.

Apesar do resultado adverso, o Ex6rcito argentino fez questzio de manter a dignidade com uma lenta retirada, liderada pela cavalaria, em rigorosa

248

LUz oqrAvro DE LIMA

formaEdo. Ao v6Jos dar meia-volta, os paraguaios gritaram vivas ao som de pequena banda com harpas, cornetas e tambores. |6 Marques de Souza

organizou como p6de o recuo dos brasileiros. Segundo os Ievantamentos mais conservadores, ao final do embate, os

brasileiros haviam tido 412 soldados mortos, 1.589 feridos e dez desaparecidos; os argentinos, 983 mortos, 2.002 feridos e 56 desaparecidos. Os batalh6es chefiados pelo general Polidoro e por VenAncio Flores ndo chegaram a entrar em combate e, assim, n6o sofreram baixas. O lado paraguaio teve 54 mortos e 196 feridos, um dado espantoso diante da forga aliada

- quatro

vezes superior.

Os corpos de Alejandrc Diaz e Dominguito Sarmiento puderam ser recolhidos, mas o cad6ver da maioria dos aliados ficou

i

mercO dos para-

guaios, que lhes tomaram os armamentos, rel6gios, uniformes e calqados,

al6m dos soldos que lhes haviam sido pagos na v6spera da batalha. Os feridos mais graves, que

nio puderam

ser levados como prisioneiros pelas

forgas guaranis, receberam golpes fatais de baioneta. Parte dos caddveres foi langada nas pr6prias trincheiras e coberta com

terra; o restante foi jogado no rio Paraguai. Os paraguaios que haviam aderido aos aliados e que foram feitos prisioneiros por seus compatriotas seguiram para o acampamento de Passo Pucri, onde morreram por tortura

ou fuzilamento.

Ao t6rmino da Batalha de Curupaiti, o general Mitre redigiu a seu substituto no governo, Marcos Paz, uma sentida mensagem informando a morte do filho dele. Em resposta, Paz lhe escreveria: "O senhor sabe o tanto que terei de conter do meu sofrimento para prosseguir. Como sou presidente, se dou uma demonshag5o de fraqueza, transmitirei a desmoralizaqdo aos nossos cidadios".

Os generais brasileiros e a imprensa do Imp6rio atribuiram a maior culpa pelo desastre aliado a Mihe, n5o propriamente pela atuaq5o na batalha, mas por ter apostado alto demais no entendimento com Solano L6pez e tOJo deixado ganhar tempo.s

A CUERR^ DO

O presidente argentino nunca rebateu publicamente

PARACUAI 249

as acusag6es, mas

em cartas e conversas reservadas queixou-se de desentendimentos com o comando imperial. Nelas, comentava a resistencia de Thmandar6 e Marques

de Souza em obedecer is suas determinag6es e queixava-se frequentemente de Polidoro, que citava como "velho", "doente" e "fatigado": "E imposs(vel imaginar uma nulidade

militar maior do que

esse general",

escreveu ele ao chanceler Elizalde.

Sem drivida, tudo indica que a falha de comunicag5o entre eles comprometeu a sobreviv€ncia das tropas em Curupaiti. Polidoro, que havia assistido inerte ao desenrolar do confronto de seu posto de observa-

g5o, alegou posteriormente que havia esperado em v6o pelo sinal de Tamandar6, da esquadra, para atacar. O almirante afirmou categoricamente que havia sinalizado com a bandeira vermelha com a cruz branca ao centro.

Entre os sobreviventes, estava o tenente Cdndido L6pez, soldado em campo, artista nos intervalos das batalhas. Quando o estilhago de uma granada despedagou sua m5o direita, provocando uma intensa hemorragia, ele recolheu o sabre que havia cafdo sobre o terreno lamacento, er-

gueu o punho atingido para tentar conter o sangramento e prosseguiu lutando enquanto teve forgas. Quando estava perto de desfalecer, foi socorrido e levado para uma cirurgia na qual teve o antebrago seccionado at6 a altura do cotovelo. Dias depois, sob o risco de gangrena, foi submetido

i

amputagdo do restante do brago. Por essa razdo, ficaria conhecido

em seu pais como El Manco.e

Ao retornarem com suas tropas ao acampamento de Passo Pucf, os generais Eduvigis Diaz e Vicente Barrios encontraram um Solano L6pez exultante com a vit6ria, que quebrava uma sequ€ncia quase ininterrupta de resultados negativos em mais de um ano.

Ao lado do Maiscal, postava-se, tambdm risonho, ningu6m menos que o prelado Fidel Matz, preso anos antes em AssungSo como traidor da pdtria. Pr6ximo dele e com ar bem menos tranquilo podia se notar o bispo

Zr0

LUz ocrAvro DE LrMA

de fusung5o, Manuel Antonio Palacios, que havia julgado e condenado o padre no comego de 1863.

- Curupaiti

representa o comego de minha segunda vida!

-

disse

Maiz

aos intrigados generais.

O que ocorreu nas semanas anteriores foi que L6pez estava buscando uma figura intelectual, dotada de um excepcional talento de propagandista, para editar proclamas ou publicag6es a serem rodadas no pr6prio

acampamento militar e distribuidas por toda a nag5o. Por mais que tentasse pensar em outro nome, apenas o de

Fidel Maiz lhe vinha

i

cabega.

Chamou-o, ent6o, ao quartel-general e fez a ele um desafio: se as forgas paraguaias fossem vitoriosas em Curupaiti, seria posto definitivamente em liberdade e nomeado capeldo de seu ex6rcito. Como tudo deu certo, o

Maiscal cumpriu

sua promessa e pediu que a ocasifio fosse comemorada

com uma missa solene de A96o de Gragas. Ali, comegava n6o apenas uma nova etapa para o presbitero, mas tamb6m sua fama como "o padre de sete vidas".

xxxl Volunt6rios, mas nem tanto

A derrota na agSo de Curupaiti, que custou tantas vidas de seus compatriotas, abalou fortemente o moral dos combatentes da Alianga, afetando tamb6m o apoio popular

i

guerra em Buenos Aires e Montevid6u. Ap6s

a batalha, o presidente VenAncio Flores retirou-se para a capital uruguaia e, dali em diante, manteve uma representagEo quase simb6lica de seu pais no confito, em cujas frentes permaneceram pouco mais de seiscentos soldados orientais. Enquanto a populagIo argentina pressionava pelo abandono da Alianga, as montoneras

-

como eram definidas as revoltas empreendidas por grupos

armados das regi6es rurais

-

voltavam a deixar a nag5o em um clima de-

fagrado, resistindo a subjugar-se ao poder central. A impopularidade da guerra com o Paraguai fez com que o governo recorresse

i

convocagio

i

forga de "volunt6rios", que chegavam a ser levados acorrentados para os quart6is e navios. Tamb6m era comum a contratagflo clandestina de mercendrios europeus. Ningu6m mais queria deixar sua casa, sua terra e sua

familia para atuar em um confito que nio parecia ter sentido algum. fosse para entrar em combate, pensavam os cidadios fosse para defender seu

Se

iquela altura, que

territ6rio.

O pr6prio Conselho de Minishos portenho chegou a autorizar o presidente a aceitar as negociag6es de paz propostas pelo Paraguai para dedicar-se

is

questdes internas, independente dos aliados. O Brasil, no entanto,

252

LUrz ocrAvro DE LIMA

alertou que consideraria motivo de ruptura de relag6es qualquer iniciativa de negociar com SolanoL6pez algo que n5o fosse sua capitulagSo e

exilio. Tanto Mitre quanto Sarmiento e Paz concordaram que essa era uma questdo de honra e decidiram respeitar os termos do Tratado da

Triplice Alianga at6 o fim

-

ou melhor,

at€, a

queda de L6pez.

Em I I de novembro de 1866, estourou um levante de tropas na provincia argentina de Mendoza. Os amotinados contaram com o apoio da polfcia local e abriram as pris6es, nas quais se encontravam, inclusive, lideres federalistas. Um deles, o coronel Carlos Juan Rodriguez, assumiu a administrag5o da provincia e se negou a reconhecer o governo de Mitre.

Em carta a seu vice, Marcos Paz, Mitre atribuia as rebeli6es no interior

") falta

de virtudes civicas do povo" e "aos maus governos locais":t

Se a metade de Corrientes n6o houvesse atraigoado a causa nacional, armando-se em favor do inimigo, se Entre R(os n5o houvesse se sublevado duas vezes, se quase dois contingentes das provincias tivessem cumprido

o seu dever, se uma opiniio simpdtica ao inimigo externo alentado

a traiqSo,

nio

houvesse

quem duvida que esta guerra jA nio estaria terminada?

A diminuigdo do entusiasmo popular pela guerra e a dr6stica redugSo dos alistamentos

nio ocorreram

partir de

governo imperial comeqou a exigir dos presidentes das

1867 , o

apenas entre os argentinos. No Brasil, a

provincias cotas de combatentes de, no minimo, l% de sua populagSo. Jornais de v5rios pontos do pais chegavam a publicar charges ironizando a medida, como a de um homem arrancado da cama pelos alistadores.

Aos mais pobres que quisessem evitar a luta, s6 restava a fuga para o

mato. Por essa razio, os comissdrios de policia e seus prepostos saiam a cagar "caboclos no Amazonas e no Par6, o tabar6u nordestino na caatinga, o matuto em sua tapera, o caiEara no litoral, enfim brancos, mulatos e negros que, depois de reunidos e contados, eram despachados em magotes".2

A CUERRA DO

PARAGUAI 25)

Por outro lado, os mais ricos recorriam a diversas formas de escapar

i

convocagdo: faziam doag6es de recursos, equipamentos, metais, ioias

e

homens cativos.

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he rcucdio

Charge publicada naSemanalllustrada, que mostra cidadSo sendo retirado da cama para servir como "voluntdrio" nas frentes de batalha do Paraguai.

Nessa nova etapa, os senhores rurais e os grandes empreserios brasi-

leiros adotaram a prdtica de participar do esforgo de guerra enviando

lutar em seu lugar. Em troca, recebiam uma indenizagio do governo imperial. Esse tipo de prdtica tornou-se corrente, e em pouco escravos para

tempo sociedades patri6ticas, comerciantes e at6 conventos passaram a oferecer escravos para combater na guerra. JA

em 14 de outubro de 1865, o Didrio da Bahiapublicava o seguinte

anfncio, no qual

esse

tipo de neg6cio era proposto sem rodeios:

Quem precisa de uma pessoa para marchar para o Sul em seu lugar e quiser libertar um escravo robusto, de vinte anos, que deseja incorporar-se ao Ex6rcito, declare por este jornal seu nome e morada onde possa ser

254

LUtzocrAvroDEUMA

procurado, e por preqo c6modo achar6 quem lhe substitua nos contingentes destinados

i

guerra.

Em novembro de 1867, o Imp6rio alterou

essa

pr6tica e decidiu con-

ceder alforria para os negros que se apresentassem voluntariamente. Isso

fez com que cativos fugissem das fazendas, s6s ou em grupos, e se apresentassem aos recrutadores com nomes falsos, para despistar seus senho-

II deu o exemplo, libertando todos os escravos das fazendas imperiais para lutar na guerra. O movimento abolicionista ganhava impulso, por vias tortas, empurrado res, sob as vistas grossas do governo. Dom Pedro

pela conjuntura que a nageo vivia. O monarca, que no intimo era simpa-

tizante da causa, mas ainda nio conseguia lev6Ja a efeito por meio de um gesto voluntarista, n5o p6de deixar de fazer uma declarag5o pfblica a respeito:

A emancipagSo dos escravos, consequ€ncia

necessdria da aboligSo do

trdfico (negreiro), n5o 6 sen5o uma questdo de forma e de oportunidade. Quando as circunstAncias penosas em que se encontra o pais o permitirem, o governo brasileiro considerard objeto de primeira import0ncia a realizagdo daquilo que o espirito do cristianismo hd muito reclama do mundo civilizado. Calcula-se que o Brasil levou

i

guerra em torno de I 19 mil homens,

de um total de pouco mais de 9 milhOes de habitantes, ou seja, cerca de 1,5% da populagio. A origem dos efetivos em terra era de 54.992 Volun-

tdrios da P6hia, 59.669 membros da Guarda Nacional e 8.489 recrutados e escravos libertos. As forgas da Marinha somavam 15.850 homens.

Os registros deixados por generais brasileiros indicam que os afrodescendentes tinham desempenho oscilante na frente de batalha. De certa

forma, essa atuagdo se iustificava, at6 porque era tarefa ingl6ria tentar Ihes incutir o enfusiasmo por uma guerra que ndo consideravam sua.

A GUERRA DO

PARAGUAI 255

Os uruguaios alistaram um nfmero bastante reduzido de ex-escravos. E quase todos eles aiudavam a compor o Batalh5o Florida, chefiado pelo espanhol Le6n de Palleja, morto ap6s o combate de Boquer6n.

f6 o governo de Buenos Aires enviou batalh6es inteiros compostos por negros libertos. Na Argentina, a escravid5o havia sido abolida pela Cons-

tituigf,o de 1853, mas a medida s6 foi efetivada por completo em 1860. Esse uso da forga negra como came de cafi6n

historiadores

-

6 apontado

-

na denominag6o de alguns

como uma das principais causas do quase desa-

parecimento da populagSo afrodescendente na Argentina. A outra razSo seria a epidemia de febre amarela, ocorrida em 1871, que afetou de forma

fulminante os mais pobres da sociedade.

CurB d i6 }fr. ri.is

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Mapa do Paraguai em 1756, por Henri Chatelain.

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Retratos de Napole5o III e Solano L6pez paraguaio tentorr projetar uma imagem de lideranga inspirada nos imperadores franceses. (Nap,oleSo

III.

Franz Xaver

Winterhalter. Oleo sobre tela. 1852. 240 x 155 cm. Solano L6pez. Aur6lio Garcia. 6leo sobre tela. 1866. 200 x 145 cm).

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Fotografia de Solano L6pez durante a guerra. Na anotaEdo, os dizeres "Morto em l'de marqo de 1870... pelas forgas do general C6mara".

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Fotografia de Elisa Lynch, is v6speras da

Retrato de Carlos L6pez, presidente do

guerra. AssunEdo, 1864.

Paraguai de 1844 a 1862.

PalScio do Governo em Assung5o, anteriormente uma propriedade do padrinho de Solano L6pez. Foto de Luiz Octavio de Lima.

l,ocornotivaSulsrrctti.riprinreiralcrrcrrllrrrurscstraclasdcti'rrrllrmguai:rs,ap:rrtirdc l'irto cle Ltriz ()ctrrvio clc Linra.

lE(r1

T

/,

I'istaqao lerrovirinu tlc r\ssttnqio: Offlll Simp6sio de f ulho de 2015; Semana llustrada,

reflexdes sobre a relagdo entre litografia e fotografia no sdcalo XIX.

Nacional de Hist6ria. Florian6polis,2T a

3l

edigdoZZ?,ano 1865.

3.

A denominagao "macacos", para definir depreciativamente os brasileiros, era am-

4.

plamente utilizada nos paises vizinhos do Cone Sul. Diversos relatos uruguaios tratam desse personagem, tamb6m descrito no romance hist6rico Desandanzas ilel Coyo leta, de Hugo Beweiillo. Montevid6u: Proyecci6n,

,

.

1993.

fuchivo de Urquiza em AG. Naci6n, publicada por Fermin Ch6vez emVida y muerte de Upezlordan. Buenos Aires: Nuestro Tiempo, 1970,p. 132.

CAPiTULO XVI

l. Z. 3.

-

O PARAGUAI INVADE O BRASIL

Roderick f. Barman, Pincesa Isabel do Brasil: gAnero e poder no sdculo XIX. S5o Paulo: Unesp, 2005, p. 9l Didrio do Rio de laneiro, 17 de outubro de 1864. Ram6n f . C6rcano, Guena del Paraguay. Acci6n y reacci6n de laTiple Niawa, Vol. l. Buenos Aires: Domingo Viau, 1941, p. 37.

A GUERRA DO

+.

PARACUAI 19)

os

pesquisadores argentinos Florencia Pagni e Fernando cesaretti, em seu blog (grupoefefe.blogspot.com), afirmam que carlos Augusto de oliveira ordenou qui ningu6m se afastase de corumb{, dando a entender que iria resistir. Mas, ao que fudo

indica, estava apenas preservando os barcos para a sua pr6pria fuga, que se deu em 2 de ianeiro.

CAPfTULO XVII

l. Z. 3.

O TRIUNFO COLORADO

C6sar de Oliveira Lima Barrio, A Missdo Paranhos ao Prata (1864-1865): diplomacia polttica na eclosdo da Cuerra do Paraguai. Brasilia: Funag, 2010.

e

fos6 Bernardino Bormann. A Campanha do lJruguay (186445). Rio de faneiro: Imprensa Nacional, 1907. Augusto Thsso Fragoso,Hist6ia da guena entre aTiplice Alianga e o Paraguai.Rio de faneiro. Imprensa do Estado-Maior do Ex6rcito, l9)4.

CAPITULO XVIII

l.

-

-

EXPLODE O CONFLITO

Z.

Congresso Nacional Extraordindrio, 5 de marqo de 1865. As medidas foram aprovadas ap6s um discurso inflamado de Solano L6pez com uma declarag6o de guerra, ainda informal, ao governo argentino. Andr6s Cisneros e Carlos Escud6 (Org.), Histori a general de las relaciones exteiores de la P'epnblica Argentina. Cenho de Estudios de Pol(tica Exterior; Consejo fugentino para las Relaciones Internacionales. Buenos Aires: Grupo Editor Latinoamericano.

3. 4.

Dishibuidor exclusivo: Galerna, 1998. f . Beverina, La Cuena del Paraguay. Buenos Aires: Biblioteca del Suboficial, p. 85. carlos c. vertanessian, revista Todo es Historia n' 519. Buenos Aires, outubro de 2010, pp. l2-8.

cAPiTULo

l.

xx - A TRfpLrcE ALTANQA

Decreto n" ).371de 7 de janeiro de 1865. coleE5o de Leis do Imp6rio do Brasil, p. 5, Vol. l, pt I. Em sua integra, o texto hazia o seguinte conteddo: Art. 1" ARepnblica oriental do uruguai, sua Majestade o lmperador do Brasil e a Repiblica Argentina contraem alianga ofensiva e defensira na guerra provocada pelo 71111865,

Z.

Coyemo paraguaio. Art. 2" Os aliados conconerdo com todos os meios de que possam dispor, em tena ou nos rios, como iulgarem necessdio. 4fi. 3" Dqendo comegar ds hostilidades no tmitdio da Reptblica Argentina ou ru parte do tenit6io paraguaio qu d limitrofe com aquele, o comando em chefe e a dirego dos exdrcitos aliados ficam confiados ao Presidente da mesma Reprtblica, Caneral em Chefe do Exdrcito argentino Bigadeiro Ceneral Dom Bartolomeu Mitre. As forqas navais dos aliados ficardo sob o imediato comando do Vice-Almirante Visconde de Tamandard, Comandante em Chefe da esquadra de Sua Maiestade o lmperador do Brasil. As forgas tenestres da Repiblica oiental do lJruguai, uma divisdo das forgas argentinas e outra das forgas brasileiras, que serdo designadas por seus respectivos chefes supeiores, formardo um exdrcito ds ordens imediatas do Goyemador Provis6io da Repiblica Oiental do Uruguai, Bigadeiro General DomVendncio Flores.

)94

LUrz ocrAVIo DE LIMA

As forqas terrestres de Sua Maiestade o Imperador do Brasil formardo um exhrcito sob as imediatas ordens do seu ceneral em chefe Bigadeio Dom Manuel Luis os6io. Embora as Altas Partes Contratantes esteiam de acordo ndo mudar o teaho das operagdes de guerra, todavia, a fim de conservar os direitos soberanos das trAs na96es

caso as ditas firmam deide ia o pinctpio de reciprocidade para o Comando em Chefe, operagdes tiverem de passar para o tenit6io oriental ou brasileiro. Art.4" Aordem e economia militar dos exdrcitos aliadw caberdo exchsivamente aos wlrs respectiws Chefa. As dapesas de solda, flibsist}ncia, muni@ de guqra, ltrnantento, vesatdio e meios de mobilizagao das ttopas aliadas serdo feitas d asta dos rapectiws Estados. Art. 5" As Ntas Partes Contratantes prestar-se4o mutualmente, em caso de necessiddde, fodos os auxilios ou elementos de guena de que disponham, na forma que aiustarem. Art. 6" Os aliados se compromeiem solenemente a: ndo deporem 4s afYnls sendo de comum acordo, e somente depois de demfiada a autoidade do afual Covemo do Paraguai; bem como a nAo negociarem separadamcnte, nem cebbfafem tratados de paz,

trdgua ou armisticio, nem convengdo alguma para ruspender ou findar a guent, sendo com o perfeito dcordo entre todos. Art.7. Ndo sendo d guerrct contra o povo do Paraguai, e sim contra o seu Govemo, os aliados poderdo admitir em umct legido paraguaia os cidaddos dessa nacionalidade que queiram conconer para demtbar o dito Covemo, e lhes dardo os elementos necessdrios, na forma e com cts condigiles que se aiustarem. Att.8" Os aliados se obigam a respeitar a independAncia, soberania e integidade territoial da Repiblica do Paraguai. Em consequAncia, o povo pdragudio poderd escolhq o goyemo e instituigles que lhe aprouyerem, ndo podendo incorporar-se a nenhum dos aliados nem pedir o seu protetorado como consequ6ncia desta guerra. An. g" A independAncia, soberania e integidade tenitorial da Repiblica do Paraguai serdo garantiilas coletiyamente de acordo com o artigo antecedente pelas Altas Partes

Contratantes durante o peiodo de cinco anos. Art. 10" Concordam entre si os Ntas Partes Conttatantes que as isengdes, pivildgios ou concessdes que obtenham do Coyemo do Paraguai hAo de ser comuns 4 todos eles, gr4' fuitamente se forem gratuitas ou com a mesma compensaqAo se forem condicionais. Att. 11" Demtbado o ahtal Coyemo da Repnblica do Paraguai, os aliados fardo os aiustesnecexdios coma autoidade que ali se constifuir para lssegurdr 4liwe navegagdo dos rios Parand e Paraguai, de sorte que os regulamentos ou leis daquela Repiblica ndo possam preiudicar, impedir ou onerat o trilnsito e a navegagdo direta dos navios mercontes e de guena dos Estados aliados, dirigindo-se pdra seus tenit6ios rcspectivos ou para tenit6io que ndo pertenga 4o Paragudi, e tomarao 4s garanhds convenientes paia daqueles aiustes sob a base de que os regulamentos de poltcia flutial, 'quer efetividade pard aqueles dois ios, quer para o io lJruguai, serdo feitos de comum acordo entre os aliados e os demais estados ibeiinhos que, dentro do prazo que aiustarem os ditos aliados, aderirem oo convite que lhes serd dirigido. An. 12' Os aliados resevctm-se combinar entre si os meios mais pr6pios para garantir d paz com a Repiblica do Paraguai, depois de destituido o Sovemo atuaL Att. 13' Os aliados nomeatAo oportunamente os plenipotencidios para a celebragdo dos aiustes, convengdes ou tratados que se tenham de fazer com o govemo que se estabelecer no Paraguai.

Art. 14' Os aliados exigirdo desse govemo o pagomento das despesas da guena que yiram obrigados a aceitar, bem como a reparaqdo e a indenizagdo dos danos e

se

A GUERRA DO

PARAGUAI )9'

preiuizos causados ds suos propriedades piblicas e particulares e ds pessoas de seus cidaddos, sem expressa ileclaragdo de guena; e dos danos e preiuizos,terificados posteiormente com violagdo dos pinc{pios clue regem as leis da guerra. A Repiblica oiental do uruguai exigird tambim uma indenizagdo proporcional aos danos e preiuizos que lhe causct o Govemo do Paraguai pela guerra em que a obiga a entrar para defender sua segurdnga ameagada por aquele govemo. Art. 15' Em uma Convenqdo especial se marcard o modo e a forma de liquidar e pagar a divida procedente das causas mencionadas. An. 16" Para eyitar as dissengies e guerras que trazem consigo as questdes de limites, fica estabelecido que os aliados exigirdo do Coyemo do Paraguai que celebre com os respectivos govemos tratados definitivos de limites, sob as seguintes bases: A Repiblica Argentina serd dividida da Repiblica do Paraguai, pelos ios Parand e Paraguai a errconhdr os limites com o lmp1io do Brasil, sendo estes do lado da margem direita do io Paraguai a Baia Negra; O lmpdrio do Brasil se dividird da Repnblica do Paraguai do lado do Parand pelo pnmeiro rio abaixo do Salto das Sete Quedas, que segunilo a recente carta de Mouchez ,i o lguagu e da foz do lguagu e por ele acima atd as sucts nascentes; Do lado da matgem esquerda do Paraguai pelo io Apa desde a foz atd ds suas nascentes; No inteior, pelos cumes da Sena do Maracaiu, sendo as yertentes do lesfu pertencendo ao Brasil e as de oeste ao Paraguai e, tirando-se da mesma sena linhas as mais retas em diregdo ds nascentes do Apa e do lguagu. Art. 17" Os aliados se garantem reciprocamente o fiel cumpimento dos convAnios, aiustes e tratados que se devem celebrdr com o goyemo que se estabelecerd na Repiblica do Paraguai, em yirtude do que foi concordado no presente tratado de alianga, o qualificard sempre em toda a rua forga e vigor para o fim de que estas estipulagles seiam respeitadas e executadas pela Repiblica do Paraguai; Para conseguir este resultado, concordam que, no cctso em que uma das Altas Partes Conbatantes ndo possa obter do Goyemo do Paraguai o cumpimento do aiustado, ou no caso em que este govemo tente anular as estipulagdes aiustadas com os aliailos, os oufros empregardo ativamente seus esforgos para fazalas respeitar. Se estes esforgos forem initeis, os aliados conconerdo com todos os seus meios para fazer efetiya d execugdo do estipulado. Art. 18' Este Tratado se conservartl seueto afli que se consiga o obietivo pincipdl dd alianga.

Art. 19" As estipulagdes desteTratado, que nAo dependam do Poder l*gislativo para serem ratificadas, comegardo a'vigorar desde que seia aprovado pelos Govemos respectivos, e as outras desde a troca das ratificagdes que terd lugar dentro do prazo de quarenta dias, contados da data do mesmoTratado, ou antes se for posstvel, que se far,i na Cidade de Buenos Aires. Em testemunho do que, n6s abaixo-assinados, Plenipotencidios de Sua Maiestade o lmperador do Brasil, de sua ExcelAncia o Presidente da Repiblica Argentina e de Sua ExcelAncia o Goyemador Provisdio da Repiblica Oiental do lJruguai, em yirtude de nossos Plenos Poderes, cssina-os o presente Tratado e lhe fizemos p6r os nossos selos. Cidade de Buenos Aires, l, de maio do ano de Nosso Senftor de 1865. Carlos de Castro Francisco Otaviano de Almeida Rosa

Rufino de Elizalde

)96

3. 4. ,. 6. 7.

LUrz ocrAVIo DE LIMA

Deodoro da Fonseca. RS 1886; pres. Rep. 1889-1891. CPDOC. FGV. Felipe Varela , iViva la lJni6n Ameicanal Manifesto do general Felipe Varela aos povos americanos, 6 de dezembro de 1866' Em informe ao presidente Mitre, o general aliado Wenceslao Paunero declarou que o lado paraguaio havia tido oitocentos combatentes mortos, o que logo se revelou um enorrne exagero. Antonio Emilio Castello, Historia de Corrientes. Buenos Aires: Plus Ulha, 1991. Pedro Antonio Galeano valdez, Paraguay vs Triple Alianza. Assung5o: Estudios Secundarios Culminados, 2005.

CAPTTULO )O(

l. 2.

3. 4.

-

O DESASTRE DE RIACHUELO

Archivo Nacional de Asunci6n. Processo contra Wenceslao Robles. Vol. 347, n' I l. Francisco Doratioto, Maldita guena: nova hist6ria da Guerra do Paraguai Sio Paulo: Companhia das Letras, 2002, pp. l4!5l. Alvaro Pereira do Nascimento, "Heroismo bem-vindo", em Revista de Hist6ria da BibliotecaNacional. Rio de faneiro, l2 de abril de 2009. Depoimentos dos soldados Gabriel Baneto e )os6 Villalva, prestados respectivamente errr5 e 6 de agosto de 1865, durante o processo contra o general Wenceslao Robles.

CAPiTULO )Ofl - VISOES SOBRE A GUERRA

1.

Um panorama dessas diversas correntes encontra-se em Mdrio Maeshi, "A guerra contra o Paraguai: hist6ria e historiografia: da instauragSo i restauragio historiogr6fi ca [ 87 ] -200 2l" . Revista digital Estudios H ist6icos, C DH RP, agosto 2009, n" 2. Um habalho bem representativo dessa corrente 6 La otra historia, colet6nea de ensaios hist6ricos organizada por Pacho O'Donnell. Buenos Aires: fuiel, 2012. Ernane Guimaries Neto, "'E impossivel ser neuho" diz f6lio fos6 chiavenato".

4.

'Ap6s 150 anos, estopim da Guerra do Paraguai ainda gera conhov6rsia" (Ricardo

l. 2.

Folha de S. Paulo,28 de outubro de 2007. Salles). Thhiane Stochero.

Gl, l3 de dezembro

de 2014.

CAPITULO )OflI - A MARCHA PARA URUGUAIANA l. Cesar Cristaldo Rodr(guez, Ia cuena contra laTiple Alianza. l"

Z. ). 4. ,. 6.

Parte. Ln campafia

de lJruguayanc. AssungSo: Editorial El Lector, 2010. Monografia de Pedro Antonio Galeano Valdez: Paraguay vs. Tipb Nianza 1865-1870. [,ambar6, Departamento Cenhal. Monografias.com. 2005.

fuquivo de Urquiza, hanscrito emviday muerte dellpezlordan,de Fermin ch6vez. Buenos Aires: Nuesho Tiempo, 1970, pp. 144-6. Gabriela Saidon, Cautivas. Buenos Aires: Planeta, 2008. Wagner fardim, I-onge da pdtria: a invasdo paraguaia do Rio Crande do Sul e a rendigdo em lJruguaiana (1865). Porto Alegre: FCM, 20I5. fuchivo Nacional de Asunci6n. Documento de27 de iulho de 1865.

CAPITULO )OflII _ ENCURRALADOS PELA ALIANQA Wagner |ardim, Longe da pdtria: a invasdo paraguaia do No Crande do Sul t rendigdo em lJruguaiana (1865). Porto Alegre: FCM, 201 5, pp. I 50-2.

ea

A CUERRA DO

2. 3. !. 5.

Francisco Doratioto, Maldita guena: nova hist6ria da Guerra do Paraguai Sao Paulo: Companhia das [,etas, 2002,p. 172. fos6 Ignacio Garmendia, Recuerdos de la cuena del paraguay. Buenos Aires: Imprenta,litografia y encuadernaci6n de f. Peuser, 1889, p. 173; L. Schneider,Aguena daTr{plice Alianga contra o Paraguai. Porto Alegre: Editora pradense, zoog,;. zgz. foaquim Nabuco, A Guena do Paraguai. Paris: earnier, 1901, p. l5Z. Segundo Pausinias, o imperador persa Xerxes, durante a batalha de Term6pilas, ameagou a defesa grega dizendo: "Minhas fechas serio t6o numerosas que obscurecer6o a luz do sol". O rei espartano Le6nidas teria respondido: "Tanto rnelhor, combateremos i sombra!". Her6doto reporta essa afirmagdo nio a Le6nidas, mas a um tal Dieneces.

CAPiTULO )OflV

l.

PARACUAI )97

-

DERROTADOS PELA FOME

6.

"Reliquias de um confito no s6culoXIX: 15 fotografias da cuerra do paraguai", revista Histdria llustrada, abril de 2014. |. A. Dias Lopes,Acaniadolmperador. Sao Paulo: companhia Editora Nacional, 2009. conde D_'Eu,viagem militar ao Rio crande do sul. Rio de faneiro: IHGB/Imprensa Nacional, 1936,p.79. Conde D'Et,Viagem militar ao Rio Grande do Su/. Rio de Janeiro: IHGB/Imprensa Nacional, 1936, p. ll9. Wagner |ardim, Longe da pdtia: a inyasdo paraguaia do Rio Crande do Sul e a rendigdo em Uruguaiana (1865). Porto Alegre: FCM, 2015, pp. 15742. Mdrio Maesti, "De Yatay a CeneCor6: consenso e disenso naresist6ncia militar para-

7.

guaia", Estudos Hist6icos. CDHRPyB, Aflo V, Montevid6u, dezembro de 2013, I l. carta de Andr6 Rebougas a Alfredo Taunay (1s93): "o santo velho [Dom pedro]

2 ). 4. ,.

8. 9.

*

dizia-me no Alagoas:'Ainda quero bem o Silveira Lobo, ministro da Marinha, e rinico a me aiudar a ir para o Rio Grande do Sul'. (...) 'Em uruguaiana seguimos o seu conselho e salvamos 7 mil paraguaios': Heroico e Bravo D. Pedro II", p. 104. conde D'Eu,viagem militar ao Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro: IHGB/imprensa Nacional, 19)6,p.163. Artigo do iomal paraguaioABC color,de 16 de maio de 2016, asinado porJ. Rubiani.

CAPTTULO )O(V

l. z. ).

-

FUZILADOS NO FORTE

citagoes em Adesdo fatal: a panicipagdo portuguesa na cuena do paraguai, de Mauro C6sar Silveira. EdiPucRS l'edigio: 200),pp.lZ4-5. Isidoro J. Ruiz Moreno. campafias militares argentinas (186s-1874), Tomo IV, Vol. 1, Cuena exteiory luchas intemas. Buenos Aires. Editora Claridad S.A., 2012,

p. 12).

5.

Francisco Doratioto, Maldita guen& nova hist6ria da Guena do Paraguai Seo Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. l9l. Marcelo Pacheco, Apuntes pard una biografia. candido L6pez, proyecto cultural artistas del Mercosur. Colecci6n Museo Hist6rico Nacional. Buenos Aires, 1998, pp.7-50. Wagner fardim, I-onge da pdtria: a inyasdo paraguaia do Rio Crande do Sul e a

6.

rendigdo em Uruguaiana (1865). Porto Alegre: FCM, 2015, pp.. 91, fuchivo Nacional de fuunci6n. Documento, YoL 447, n" 7.

4.

109.

198

LUz ocrAvro DE LIMA

CAPiTULO )OilI - A MISSAO SUICIDA l. CitaEao a Conesa em Acci6n de Conales o Pehuai6, do general Manuel Hornos. AGM, p. 327.

4.

Carlos Alfredo D'Amico, Buenos Aires, sus hombres y su politica 1860-1890. Buenos Aires: Centro Editor de Am6rica [,atina, 1977, pp. 149-51 Carta reproduzida em Solano lipez: soldado de Ia gloriay el infortunio. Ensaios de Arturo Bray. Assung5o: Editorial Nizza, 1958, p.216. Navios de madeira revestidos de chapas metilicas.

,.

Beatriz Elizabeth e Ruyter

z. 3.

c. Ribeiro, osorio:

uma yida pelo Brasil. Rio de |aneiro:

zit,2008. 6. 7.

Augusto Tasso Fragoso ,Hist6ia da guena entre aTriplice Alianga e o Paraguai.Rio de faneiro. Imprensa do EstadoMaior do Ex6rcito,1934. I-a Amdica. Buenos Aires, 23 de maio de 1866.

CAPiTULO )O(VII

l. Z. ). 4. 5. 6.

- TUIUTI,

A BATALHA MAIS SANGRENTA

Carta de Bartolomeu Mitre a Marcos Paz. Quartel-general no Estero Bellaco, 3 de maio de 1866. Partes Oficiales, pp.3l-2. Francisco Seeber, Cartas sobre la Guena del Paraguay, 1865'1866. Buenos Aires:

L. ). Rosso, 1907. Andr6 Rebougas,Didio: acuenadoParaguai (1866). Sao Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de S5o Paulo, 1973, pp. 168-73. fos6Mar(aRosa, Iz GuenadelParaguayylasmontonerasargentinas.BuenosAires: Punto de Encuentro, 2008, pp. 218-9. Augusto Thsso Fragoso, Hist6ria da guena entre aTiplice Alianqa e o Paraguai.Rio de |aneiro. Imprensa do Estado-Maior do Ex6rcito, 1934, p. 400. )uan fos€ Arteaga e Maria Luisa Coolighan, Historia del Uruguay. Montevid6u: Ed. Barreiro y Ramos, 1992.

CAPiTULO )O(UII

-

ANA NERI E AS MULHERES NO FRONT

l.

Francisco Seeber, Cartas sobre la Cuena del Paraguay, 1865-1866. Buenos Aires:

z.

L. |. Rosso, 1907. carlos G. vertanessian, Todo es Historia

).

4. 5.

n'

519. Buenos Aires, outubro de 2010,

pp. GlO. Parte dos combatentes guaranis considerava tais castigos nafurais. No liwo I-a Cuena d.elParaguay,que publicou tempos depois, o engenheiro britinico George Thompson, testemunha do conflito, escreveu: "Quando agoitado, o soldado consolava-se dizendo:

'Se meu pai nao me agoita, quem me haveria de agoitar?'. Todos chamavam de pai a seus oficiais superiores, que a seu furno chamavam de filho aos soldados. L6pez era chamado taitd guas6, o pai grande, mas tamb6m mitd morot{, que quer dizer menino branco, e carai, que quer dizer senhor"' R. Lemos, Cartas da Guena: Beniamin Constant na campanha do Paraguai.Rio de faneiro: Museu da Casa de Beniamin Constant, 1999. Maria Teresa Garritano Dourado, Doentes e famintos: cotidiano de um soldado na Guena do Paraguai (1864-1870). Anais do )OG/l Simp6sio Nacional de Hist6riaANPUH. Seo Paulo, iulho de 201l, p. 15.

A CUERRA DO

6. 7. 8.

9.

L. Os6rio e F. L. Os6rio Filho, Histrjriado generalOsorio. Pelotas (RS). Tipografia do DiSrio Popular. 1915. Joseph Eskenazi Pemidii e Mauricio Eskenazi Pernidji, Homens e mulheres na Guena do Paraguai. Rio de Janeiro: Biblioteca do Ex6rcito, 2010. Ana Ndri, emVidas lus6fonas (site). Fernando Correia da Silva. Porhrgal. 1998. General Joaquim Silv6rio de Azevedo Pimentel, Epis6dios militares. (Papelaria e Tipografia Luiz Macedo. 1897. fuo de Janeiro). Rio de faneiro: Editora Biblioteca do Ex6rcito, Imprensa Nacional, 1978. J.

CAPTTULO )O(X I

.

2. 3. 4. 5.

2. ). 4. ,. 6. 7. 8. 9.

-

UMA CARTADA PARA GANHAR TEMPO?

Francisco Doratioto, Maldita guend: nova hist6ria da Guena do Paraguai Sao Paulo: Companhia das Lehas, 2002,p.274. Hugo Mendoza, Curupayty: Guena de laTiple Alianza. Colecci6n 150 afios de la Cuena Grande, n' 12. Assungio: El Lector, 2013. Jos6 Maria Rosa, La Cuena del Paraguay y las montoneras argentinas. Buenos Aires: Punto de Encuentro, 2008, pp. 220-1. Ram6n f . C6rcano, Cuena del Paraguay: oigenes y causars. Buenos Aires: Domingos

Viau y Cia, 1939. Daniel Pelrias e Enrique Piqu,€, Cr6nicas de la Tiple Alianza y el genocidio paraguay o. Montevid6u : Arca Editorial, 2009, p. 1 67 .

CAPiTULo rco(

l.

PARAGUAI )99

- oS PRESsAGIos

DE CURUPAITI

avier Romero Mufloz, Cuena Crande: The War of the Triple Alliance, 1865-1870 (em ingl€s). Londres: Strategy & Tactics (270): 6-18. Bakersfield: Decision Games, 201l.

f

Rosendo Fraga, Curupaity: heroica muerte de Manuel Fraga. Buenos Aires: Nueva Mayoria, 2004, pp. 87 -94. Domingo Faustino Sarmiento, La vida de Dominguito. Pr6l. de favier Ferndndez. Buenos Aires: Fondo Nacional de las Artes, 2000. Miguel Angel de Marco, Banderas rosainas en la Cuena del Paraguay,1960. Francisco Doratioto, Maldita guena: nova hist6ria da Guerra do Paraguai Sao Paulo: Companhia das Lehas, 2002, pp.240-7 . Hilda Htibner Flores,Mulheres naCuerra do Paraguai. Porto Alegre: EdiPucRS, 2010. fos6 Maria Rosa, La Guena del Paraguay y las montoneras argentinas. Buenos Aires: Punto de Encuentro, 2008, p. 22). Daniel Pelfas e Enrique Piqu6,,Cr6nicas de laTiple Alianzay el genocidio paraguayo. Montevid6u: Arca Editorial, 2009, p.173. J. F. Maya Pedrosa, A catdstrofe dos enos. Rio de Janeiro. Biblioteca do Ex6rcito.

2004,pp.1G7.

CAPTTULo )oofl - VoLUNTARIoS, MAS NEM TANTo

l. Z.

Carta de Mitre del 24 de enero de 1867. fuchivo Marcos Paz, t. VII, pp.282-). Queiroz Paulo Duarte, OsVoluntdiosdaPdtrianaCueradoParaguai.Kodelaneiro: Biblioteca do Ex6rcito, l98l-1992.

400

LUz ocrAvro DE LIMA

CAPITULO )OOilI

l. Z. ).

-

CAXIAS, O TRUNFO DE PEDRO

II

General foaquim Silv6rio de Azevedo Pimentel, Episldios militares. (Papelaria e Tipografia Luiz Macedo. 1897. Rio de Janeiro). Rio de faneiro: Editora Biblioteca do Ex6rcito, Imprensa Nacional, 1978. R. Lemos, C artas da Guena: Beni amin Constant na campanha do Paraguai. Rio de faneiro: Museu da Casa de Beniamin Constant, 1999. NatalicioThlavera, IaGuerradelParaguay,correspond€nciadLaSemana,2T de junho de 1866.

CAPiTULO )OOilII - A RETIRADA DA LAGUNA

l. 2. 3. 4. ,. 6. 7

.

Raimundo de Menezes, Cagando soldados pdra a guerrd, em Sdo Paulo de Nossos Avds. 56o Paulo: Coleqio Saraiva, 1955. Edgard Luiz de Barros, Os voluntdios paulistas na Cuena do Paraguai. Sao Paulo: Editora Geosp (Coverno do Estado de Sdo Paulo), 1990. Luiz Roberto Saviani Rey, O retiro antes da Laguna: Taunay em Campinas. Sdo Paulo: Editor Pontes, 2013. Alfredo d'Escragnolle Taunay (Visconde de Thunay), A retirada da laguna: epis6dio da Cuena do Paraguai. Sao Paulo: Companhia das Lehas, 1997. Femando Ant6nio Lucas Camargo, Um romancista em campanha: Taunay na Guena do Paraguai. S5o Paulo: Barafna, 2010. )os€ Pedro Ftazdo,indios, fazendeiros e invas6es: a hist6ria se repete. Campo Grande

Nelrs,28 de iunho de 2011. Alfredo d'Escragnolle Thunay (Visconde de Taunay), A retirada da l-aguna: epis6dio da Cuena do Paraguai. Sao Paulo: Companhia das Letras, 1997.

CAPiTULO )OO(ry - A MORTE DO HER6I E A SEGUNDA TUIUTI l. Memiias de Mme. Dorothda Duprat de l-assene: vers5o e notas de f . Arthur Mon-

2.

tenegro. Rio Grande do Sul. Livraria Americana, 1893. O capiEo Beniamin Constant havia participado da agio e impressionou-se com a tenacidade dos atacantes: "No combate, os paraguaios mostraram que sio valentes e dedicados ao llpez. Morrem, mas n6o se rendem. Num pequeno enconho que houve no dia seguinte, vi quanto fan6ticos pelo El Supremo sEo estas desgragadas v(timas de L6pez. Deu-se o seguinte: um piquete paraguaio composto de dez soldados ao comando de um oficial foi completamente cercado Por um colpo de cavalaria do Os6rio. Fecharam e apertaram o circulo e o comandante diselhes que caso se rendessem niio seriam mortos. fu langas e as espadas de nossos soldados refletiam aos raios de sol e em cada uma viam eles pintada a morte, que os esperava se tentassem resistir ou se n6o se quisessem enhegar; mas no meio daquele c(rculo de espadas que se apertava cada vez mais, diante da morte, aqueles her6is n5o se esqueceram do iuramento prestado ao seu desp6tico chefe, das ordens recebidas; este iuramento, estas ordens tinham para eles mais lalor que a vida, responderam que n5o se enhegariam porque nao tinham ordem do superior govemo; repetialhes o comandante da nossa forga que entEo iam ser mortos; responderam com a maior calma: 'Pois'. E o comandante agitando a bandeira e dando reviravoltas com ela gritava: 'Neo se rendam, seiamos paraguaios at6 na tumba. A seguir, cena de horrores, com cabegas arrancadas do tronco com um s6 golpe de espada; ouhas rachadas a espada; oukos atravessados por

A CUERRA Do

3. 4. ,.

PARAGUAI 4OI

langas"'. R. [,emos, cartas da cuena: Beniamin corutant na campanha do paraguai. Rio de faneiro: Museu da Casa de Beniamin Constant, 1999. Sebastopol era uma base da Marinha czarista que resistiu por um ano ao cerco de Inglaterra, Franga e do Piemonte, durante a Guerra da brimeia (lg5l-1g56). Essa comparagio com HumaiH, que se mantinha invicta, era recorrente entre os oficiais aliados. colegdo Instihrto Hist6rico e Geogr6fico Brasileiro. DL576.ozz.2 docs. 4 p6ginas. Rio de )aneiro (Rf). Secretaria Especial de Comunicagio Social Semana liuitrada, hist6ria de uma inovagSo editorial / Prefeitura da Cidade do Rio de faneiro. Rio de Janeiro: Secretaria,2007. 102p. : il. (cadernos da comunicag6o. s6rie Mem6ria; l8).

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2. 3.

+

,

Tibunais de sangue de San Femando:

CAPTTULO )Ooryr

l. 2. 3. 4. 5. 6.

o

sentido Polttico-social doTenor l-opizta,

de Mario Maeshi. Hist6ria: Debates e Tend6ncias.v. 13, n. l, ian./iun. Z0ll. carta reproduzida em Solano lipez. soldado de la gloiay el infortinio. Ensaios de Arturo Bray. Assungdo: Editorial Nizza, 1958, p.348. Idem, p. 349. Manuscrito dice que la madre de L6pez intent6 envenenarle. Luis Bareiro. Assungdo. Ultima Hora. 13 de novembro de 201 I .

-

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Ricardo Borga,Questdes do Prata. Rio de Janeiro: Clube de Autores, 2010, p. 219. Em Recuerdos de la Guena del Paraguay (Peuser, 1889), fos6 Igndcio Garmendia escreveu ainda: 'Aquela cidade solit6ria, sentada i margem do hanquilo rio, sofreu indiferente a sorte do vencido de longinquos tempos. o vencedor enhou para saquear".

402

LUtzocrAvro DE LIMA

3. 4.

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CAPITULO x)OilX - A MAE SENTENCIADA

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CAPTTULO XL

l. 2. t. 4.

-

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CAPTTULO XLI

l.

A

-

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CAPiTULO XLII - A CAMPANHA DA CORDILHEIRA

.

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1

Z.

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A GUERRA DO

PARAGUAI 403

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CAPITULOXLV-OFIM

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t

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4

, 6 7

8.

cerro cord, donde muri6 El heroe y naci6

Maria Rosa, r,a cuena del Paraguay y las montoneras argentinas.Buenos Aires: Punto de Encuentro, 2008,p.277. Alice Melo, A morte e a morte de Solano L6pez. Revista de Hist6ia do Rio de laneiro. BibliotecaNacional, 12 de novembro de 2014. Apelido dado por sua pr6pria mie, por ele ter sido uma crianga indomdvel. Segundo relatos de seus descendentes, neste momento Solano L6piz teriaformado iom e a espada um hiangulo, que seria um sinal de pidido de clem€ncia da 9,brago Maqonaria (o general CAmara tamb6m era magom). Daniel?_eltias e-Enrique Pigr1, crfinicas de la Tiple Alianza y el genoc{dio paraguayo.Montevid6u: Arca Editorial, 2009, pp. 185-9. Jos6

CAPTTULO XLVI

l. 2.

-

O DESTINO DE CADA UM

]os6 Maria Rosa, l,a cuerra del Paraguay y las montoneras argentinas.Buenos Aires: Punto de Encuentro,2008, p. 197-8. Certificado de ferimentos causadores da morte de Solano L6pez.fuchivo Nacional de fuunci6n, Vol. 356, n' l8:

uma solugd.o de continuidade na regido frontal com duas polegadas de extensdo, interessando (perfurando) a pele e o tecido celular. Outra produzida por irttrumento pwfurocortante do hip\ndrio esguerdo cun um(t e meia plegada de ertmsdo diigida obliquamatte de baixo para cima, interessando a pele, ferit1nio, os intestinos e abexiga. Outrano hiryOn&io direito de cima parabaixo, iendo duas polegadas de erterudo, atra'vesando a pele, o peit6nio e protavelmente o intestino. o

Finalmente, um ferimento produzido por bala de fuzir na regido ftontal, tendo uma ficando a bala conseoada na caixa tordcica.

s6 aberfura,

25 de marqo de 1870 Dr. Manuel Cardoso da Costa Lobo - Cirurgido de Brigada Dr. Militao Barbosa Lisboa - 2" Cirurgido Contratado.

4M

LUz ocrAvro DE LIMA

3.

"O nascimento do culto

4.

a Solano [.6pez atendeu a um vazio ideol6gico no Paraguai, mas inteng6es bem menos nobres motivaram sua escolha como her6i". Brasil 500. Folha Online, 2000. Centuri6n passaria pela Franga, por Cuba, onde se casou, e pela famaica antes de voltar a Assunqio. Publicou Memoias o reminiscencias hist6icas sobre la Guerra

,. 6. 7. 8. 9.

del Paraguay. Fidel Miiz, Etapas de mi vida. Assunqao: El Lector, 1986.

mulheres na |oseph Eskenazi Pernidii e Mauricio Eskenazi Pernidii, Homens e

Cuina do Paraguai. Rio de faneiro: Biblioteca do Exercito, 2010' "D. Pedro II: u-m brasileiro morre no exilio." Florian6polis: Blog Imp6rio Brazil, 2009. Pedro calmo

n,Hist6ia de D. Pedro II. Rio de faneiro: fos6 olympio ,1975, p. 205. na cuena do Paraguai,de Nady Moreira Domingues da Silva, profesAmagonaia sora aisistente do Dep. de Filosofia da Universidade Federal do Maranhao. F6rum Antinova Ordem Mundial,2l de agosto de 2015' 10. H6ctor Francisco. Decoud, I-a Misacre de Concepcion ordenada por El Maiscal

ll.

I-6pez. Btenos Aires: Serantes, 1926.

fuiigo "Conhega Coquimbo: o cao uruguaio embalsamado", blog Proieto Solo,4 de maio de 2015.

CAPITULO XLVII

l.

-

DO PoS-GUERRA AOS DIAS ATUAIS

A extens5o de tenit6rio perdida 6 ponto pacifico entre as diversas abordagens do confito, citada em enciclop6dias como Bdrsd, em informes oficiais do govemo paraguaio e em habalhos revisionistas, como Questdes do Prata, de Ricardo Nunes Borga, e Cenocidio ameicano, de

)flio

|os6 Chiavenatto.

2.

Enhe muitas outras fontes, o texto'Voluntdrios sem pdtria", de Rodrigo Goyena Soares, Revista de Hist6ia da Biblioteca Nacional,Zl de outubro de 201 3.

3. +.

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6.

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7.

(1870-1e04). Bisnietos det Mcal.

,.

8. g.

buscan abrir sucesi1n de Elisa Lynch, por Pedro G6mez Silgueira, enviado especial. ABC Color,9 de maio de 201l. Biineto de Solano l-6pez pede ao Brasil que da,olva canhdo da Cuena do Paraguai. Senado Federal, 28 de novembro de 2014. Ficha de pais: Repiblica do Paraguai. Ricardo Westin. Ag6ncia Senado. Itamaraty,

Ilpez

28 de novembro de 2014.

10.

Luciana Pelaes

Rossetto ,

Cobertura iomalistica brasileira do conflito de tenas entre Libero. Dissertaqio (Mes-

campesinos paraguaios e brasiguaios, Faculdade C6sper

trado), I I de iunho de 2014.

AGRADECIMENTOS

Tenho o ptaze.l, e o dever de expressar minha gratidio ) Editora planeta por ter me convidado a realizar esse projeto, que iulgo de enorme relevdncia para o entendimento da traiet6ria de nosso continente. A editora Aida Veiga, ao diretor editorial Cassiano Elek Machado e ao diretor geral

Maria calvin Lechuga, meu sincero obrigado e minha esperanga de ter estado i altura do desafio proposto.

Jos6

Expresso ainda meu agradecimento aos historiadores e pesquisadores

brasileiros, argentinos, uruguaios e paraguaios que me concederam entrevistas e forneceram valiosos subsidios de ideias, ambientagio e mesmo

itens de acervo documental e iconogr6fico. Entre eles, destaco o inestim6vel suporte oferecido por M6nica Cristina Corr€a, historiadora e tradutora; Marcos Issa, diretor da Argos Foto; os acadcmicos Herib caballero

campos, diretor de p6s-graduagf,o da universidad Nacional de Asunci6n; Isabel Clemente Batalha, professora do Departamento de ci€ncias Sociais da universidad de la Repriblica, em Montevid6u; os argentinos Hugo chumbita, historiador e autor de diversas obras e artigos sobre a Guerra da Tiiplice Alianga; e Rosendo Fraga, advogado e historiador, autor de La polttica exterior Argentina 1854-2001 e curupaity: heroica muerte de

Manuel Fraga. Menciono ainda a contribuigdo de Francisco Bino Lacerda, descendente direto do soldado Francisco Lacerda - o chico Diabo, que lanceou

406

LUrz ocrAvro DE LIMA

Solano L6pez na batalha de Cerro Cor6 -, por oferecer importantes informag6es, assim como acesso a PeEas da memorabilia familiar. Agradego tamb6m

is autoridades

paraguaias, que contribuiram das

mais variadas formas com o proieto. Ao Minist6rio da Defesa, que me abriu

biblioteca do 6195o e outras repartig6es, onde obtive a assessoria de uma competente equipe, al6m de acesso ao acervo do Museu Militar, detentor

a

da mais ampla colegSo de itens relacionados ao conflito pegas de artilharia

-, a cargo do historiador Stanislau

-

de vestudrio a

Diego Esquivel.

Inestim6vel tamb6m foi a contribuigEo dos responsiveis pelo fuchivo Nacional de Asunci6n, em especial de Vicente A'rnia, que, al6m de permitir ampla pesquisa do material ligado

i

hist6ria do pais, enviou, posterior-

mente ao meu retorno ao Brasil, fac-similes de documentos que se revelaram da maior importincia para checar fatos narrados e contextualizar o ambiente em que transcorreram.

Meu reconhecimento tamb6m

i

equipe da Biblioteca Nacional de

Montevid6u, que sugeriu obras e localizou volumes raros com agilidade e efici€ncia. Na mesma cidade, foi valiosa a consultoria fornecida pela ger0ncia da livraria Puro Verso. Em Buenos Aires, entre tantas formas de

apoio em bibliotecas, livrarias e escrit6rios do servigo priblico, sublinho especialmente o empenho dos funciondrios do Museu Hist6rico Nacional.

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Aguiar,los1Maria 72 Aguirre, Atanasio lll, 12), 150, )83

Ayala,

Alberdi, fuan Bautist

a 2ll,

417

Albin, Tomris Villalba I36

de 171,367 Cipriano 140, l4l

Ayala,fulidn 328 fuambuja, foaquim Maria Nascentes

de

322

AIem, Leandro 106,145

Allen, Ezra 267

Balzac, Honor6

Allen, fames 263

Barbosa,

Rui

de

77

357, 362,764

Alsina, Valentin

7l

Bareiro, Cdndido 369

Am6rico, Pedro

l3l

Barroso, Francisco

Amorim, Francisco Mendes de 226 Andrada e Silva, fos6 Bonif6cio Andrade, Olegario 126

de

Antonini, Andr6s 93 Antunes, Euz6bio fos6 I 1,,392 Aparicio, Timoteo lJ5

Aquino, Elizaldo 220

fuafjo, Tiago Gomes de

55

Manuel 152,

157

Batalha, Isabel Clemente 405 Beauharnais, Hort6nsia

de

36

Bedoya, Joaquin 226 Bedoya, los1Diaz de 314, )69 Bedoya, Manuela Diaz

de 20,48

Bedoya, Saturnino 94, l3Z, 289, 292,

293,296,297

Armshong, Thomas 170

Diaz 283 Bedoya, Vicente Barrios 48,178, 2)4,309

Arredondo, fos6 Miguel 243

Bedoya, Vicente de Barrios 203

Arrfa, Vicente 406

Bedoya,Vicente del Carmen Barrios 23

263

fugolo, Alexandre 219

Bedoya, Saturnino

424

LUrz ocrAvro DE LIMA

Camis6o, Carlos de Morais 271,

Bel6n, Francisco 125

27)-275

Bellegarde, Pedro de Alcdntara 34 Benavidez, Nazareno

Campos, HeribCaballero

7l

Davi l8l,

Benitez, Gregorio 95

Canabarro,

Benitez, Gumersindo 287, )08

Cafrete, Maria Roque

Benitez, fos6 Greg6rio 298,)27,

Canstatt, fames 76

Benitez, fuan Le6n 20,46 Benitez, Paulino Al6n 16l

183

3l

Car(simo, Rosendo 333

Antonio J l3 Berges, los€ 67,7r,88,94, 108, 109, 117 , 132, 1 39, 140, 145, 152,280, 289, Z9l, Z9), 298, 300, 108, 381 Berges, Ildefonso

3

l, 387, 388

f os6

Vicente Urdapilleta 297

Carneiro de Campos, Auta Ferreira

Franga 282 Carneiro de Campos, Frederico I16,

282,392,410 Carraula, Manuel |os6 390 Carvalho, Delfim Carlos de 727

106, I I1,286,782-)84 Bogado, Eugenio 287,700 Bonaparte, Napole6o ?0, 140, 156,

37

9

Borja, Francisco Regis 329

de

Carissimo,

Carneiro Le6o, Honorio Hermeto 67

Berro, Bernardo Prud6ncio 81, 95,

Bourbon, Teresa Cristina

l,l7 2,405

Carillo Viana, fuana Paula 18,23,48, 86, 294, 717 -319, 3r5, )58

732,768

Berme jo,lldefonsoAntonio

17

56

Branco, Manuel Alves 32, 167 Brizuela, fuan fos6 de 24, 37

Cawalho, |os6 Murilo de 172,410 Casco, Miguel Angel SolanoL6Pez 375, )76 Castro, Carlos

de

,395 Castro, Enrique 310,)14 147

Bruguez, fos6 Maria 157,204 Burke, Edmund 148

Castro, Gregorio 176

Caballero, Bernadino 3J9

Caxias, Marqu€s

Caballero, Bernardino 2)3, 280, 281,

Catalina, india 12), 126 Caxias, Duque de 360, 391,420 187,

l9l,

de

148, 150, 185,

2r8, 28r, 309, 384

Caballero, Pedro )uan 28

Centuri6n, fuan Cris6stomo )2, 292, 297, 350, 7r8, 401, 402, 4l I

Cabrita, foio Carlos Villagran 209

Cerqueira, Dionisio 259, 402,

Cdceres, Sinforoso 144, 200, 297

Cervantes, Magariflos 182

Calvo, Carlos 76,77

Charlone, fuan Bauttista 247,247 Chiavenatto, fflio fos6 165,166,

291, 702, 303, 335, 340, 350, 358

Cimara, fos6 Antdnio Corr€a 304, 332,333, )44, )51,755

404,411

4ll

A GUERRA Do

Chico Diabo (fos6 Francisco Lacerda)

)rl,752,369

17

)91 , 396, 397 , )gg,

Chumbita, Hugo 165, 405,411 Clarendon, lorde (George William Frederick Villiers)

Doratioto, Francisco

PARAGUAI 425

35

l, Z0l, )56,

4l]

D'Orleans, Gastiio (Conde D'Eu) 129, 186, 191,337 , )64

Drago, Pedro 268,269

Cochelett, Laurent 225

Dumas, Alexandre 322

Coelho, Antonio Maria 276,384

Dumas Filho, Alexandre )6, )7

Coelho, fos6 Machado 321

Dumont, Th6ophile 42,388

Conceig5o, Maria Francisca da 246

Duplessis,

Conesa,

Emilio 208, 398

Marie J6 Duprat, Doroth6a 32, 279,400, 416

Constant, Benjamin 12, 225, 26l-263,

)6),199,400,401,415 Coquimbo 107, 148, 368, )91, 404 Couto de Magalhaes, fos6 Yieira 276

Egusquiza,

F6lix 20, 14l

Egusquiza, Pehona Decoud 94

Elizalde, Rufino

l)9, l4l, Da Re, Guillermo 96

de

109, I 10, I13,

142, 147, 149, 249,

)84,395

De Cuverville, Paul Cavalier 290

Escalada, fuan Pedro 20,89

De Ias Carreras, Antonio 308

Escobar, Patricio 294

Del Barrio, fos6 Garcia 48

Espinoza, Francisco 287

Delgado, |os6 Maria 315 Del Vecchio, Adolpho fos6 60

Esquivel, Stanislau Diego 406

Deodoro da Fonseca, Manuel 150, 209, 30), )24, )61-363, 365, 396

D'Eu, Conde (Luis Filipe Maria

Estigarribia, Antonio de la Cruz 72,

144,173, I7g,196,20) Estigarribia, losl F6lix 374 Estigarribia, |uan Vicente 30

Fernando Gastiio de Orleans)

lz9, lg6, I gg, 200, 721, 322, 324, )25, )75,3)6,140, )56, )67,395, 797,402,412 Dias, Marcilio 125,159, 160

Ferreira, Arthur Rodrigues 228

Diaz, Alejan dro 243, 247, 248

Ferreira, Mauricio foaquim 229

Diaz, los6 Eduvigis 203, 208, 209,

Ferreira, Pedro Affonso 159

213,277,241,279,)74 Don Henry 50

Figueiredo, fodo Batista L66,775

Ferndndez, Francisco 287, 288, 297

FerrIo, Argolo 220,302

Fleiuss, Henrique 264

Z9l,

426

LUtzocrAvro DE LIMA

Flores, VenAncio 7, 12,74, 105, 106,

G6mez, Servando 107

l2l,lz1,l24, l)L, l)5, 136, r47, 148, l8l, 182,

Grandoli, Cleto Mariano 243,246

187, 190, 194,208,213, 216,219,

Guaz6, Romero 20J

109, I14,

ll5,

I19,

Greenhalgh, )o5o Guilherme 159

237, 234, 245, 248, 251, 286, 356, Haussmann, Georges-Eugdne 16

)68,382-784,39J

4ll,4lZ

Florisbela 229

Herndndez, fos6 106,

Fraga, Gen6sio Gongalves 352

Herrera, fuan fos6 de 8I, 82, 106, I I I Herrera y Obes, Manuel 136

Fraga, Manuel 243, 244, 247, 399,

Holanda, Luis da 36

405,413 Fraga, Rosendo l7Z, 799, +05

Homero, Adler 175

Fragoso, Augusto Thsso I63, 391,

Hugo,

Victor

37

393,398,402,413 Francia, fos6 Gaspar Rodriguez

de

18,

Indcio, |oaquim fos6 258, 261,264, 327

28,379,380, 388,411 Franco, Rafael 164

Insaurralde, |uan Isidro 329,331 Irala, Domingo Martinez de 26

Galdeano, |uan 331

Irigoyen, Felicia 330

Galv6o, fos6 Antonio da Fonseca

Irigoyen, )os6 328 Isabel Cristina, Princesa Isabel 57

269,27l Garcia, Aurelio 96

Iturbide, Vicente Ign6cio 28

R. )44 Garcia, Ubalda 3l

Iturburu, Fernando

Garcia, Manuel

Garmendia, Francisca 20,

3lr,

343

178

|oaquina, Carlota 56

Garz6n,Eugenio 105 Gauna, Manuel 205

fuanf. Souto l16

Gauna, Teodoro 144, 200, 297

Karnal, Leandro

Gelly y Obes, )uan Andr6s 175,176, 219,220,310

Kirchner, Cristina J75

Gill, fuan Bautista )57,402 Gimenez, Manuel Antonio 231

L,acerda, fos6 Francisco (Chico Diabo)

Gir6, fuan Francisco I05

Lagrafi,a, Manuel

G6mez, l,eandro I I 2, 122, 12), lZ5, 126

Lambas, Diego Eugenio 108

6l

)51,)52,368,385 Ignacio 144,200

A GUERRA Do

Lapido, Octavio 106, 108,

ll0, lll

pARAcuAt 427

L6pez,Francisco Solano

ll,

14, 18, 19,

Lavalleja, fuan Antonio 99, 105

24, )9, 47, 49, 96, 97, 92, 106, 27 7,

Leite Pereira, fos6 Maria 289,298,

340, )55, )74,375,392,397, )gg,

308

)90,417

Leopoldina Teresa, Princesa kopoldina 57

I

169

Lima e Silva, Francisco de

l0l

Lima e Silva, Luis Alves de (Duque da

l0l,

18

L6pez,fos6 del Rosario 174

Lima, Ant6nio Fernandes 174,175

Caxias)

L6pez Insfrdn, Carlos Alberto

Antonio

,364

Leopoldo

,4lg

L6pez, Pompilio Pedra 358

lipz,Venincio

93,

17

8, 280, 287, 298

Loyzaga, Carlos 314, )25, 340, 769

Lugo, Fernando 377

184

Lima, Herman 264

Lula da Silva, Luiz lndcio )75

Lisboa, foaquim Maria (Almirante

Lushington, Stephen 76,77

tmandar6)

12, 140, 149, 244,

)92,411

ll,

Lynch, Elisa Alicia

17, 39, 48, 147,

152, 169, 20), 215, 277, 279, 294,

L6pez,Adelina 358

296, 299,

L6pez,Adelina Constanza Pessoa 23,

)55, )56,

215,279

)ll,

3g

l,

313, )29, 3)2, 339,

3gg, 404, 409, 412, 415

Lynch, Elysa 389

L6pez,Cdndido 202,249

Lynch, fohn

4l

L6pez Carillo, Angel Benigno 19,21, 24, 37, 45, 95, 2gl, 307, 329 L6pez Carillo, Inoc€ncia 19, 48, 51, 297 ,

]09, 3lg,

347

, 355, 759

L6pezCarillo, Mdnica Rafaela 19, 48, 5

l,

747

Madariaga, Juan 182

Maia, Feliciano Indcio Andrade 159 Mafz, Fidel 17, 8689, 91, 92, 249, 250,

g, 94, 2g), 2gg, 296, zgg, 315, 7

)lr-317, )29, )31, )5), )55,359,359, )90,

, )55,359

404

L6pez Carillo, VenAncio

l9

L6pez,Carlos 9J L6pez, Carlos Honorio

263, Zg), 2gg, zgg, )09,

Maiz, Marco Antonio 20 Mallet, Emilio Luis 210, 217,3)7

2lr,)57

L6pez, Corina Adelaide 215

Marc6, Hilario 216 Marques de Souza, Manuel 189,

L6pez, Emiliano Victor Pesoa 23

202, 203, 207, 220, 231, 244, 24G

L6pez, Enrique Ven6ncio 215, )57,

249,292

374

Martinez, Francisco 295, 296, 707

428

LUz ocrAvro DE LIMA

F.

Martinez, fosd de la Cruz 145, lrZ,Z05

Morice, George

Martinez, fuliana Insfrdn de 296

Moyniham, fohn Owen 93

Masterman, George Frederick 167,279,

Mujica, Eleut6rio 125 Mufloz, Basilio 135 Murature, )os6 Fdlix l2Z,126

294,299

de 102,767

Mau6, Visconde

I 17

Meden, Mikhail Alexandrovich 42, 43 Nabuco, foaquim 67 ,397 Napole5o III (Luis NapoleSo) 24,36,

M6dici, Catarina de )7 Meireles,

Vitor

360

Melgarejo, Mariano 2)2, 348 Mena Barreto, fo5o Manuel 174,324, 336 Mena Barreto, |o5o Propicio Mena Barreto, fos6 Luis I 15

ll5,124

de

Mota I7l

Mitre, Bartolomeu 12,7 1,73, 82, 105,

l4l, l4Tl45,

119, 165,

170,175, 176, 190, 195,200,201, 207, 209,

Zl),

220,2)2-234, 242,

259, 280, 285, 367, 382, 39), 398

Mihe, Emilio 219, 314, 338 Molina, Caupolicdn 226 Montes de Oca, irmdos 145 [Montes de Oca, Alejandro Montes de Oca, fuan fosd Montes de Oca, R6mulo]

Montijo, Eugenia de 38 Moreno, fos6 Del Carmen 89, 390 Moreno, Lucas 109 Morgenstem, Francisco Wisner de 9J,

24l

Nuflez, Vicente 332

175

Meza, Pedro Ignacio 156,157 108, I 2 l, 127,

229,312,)60,399 Netto, Antonio de Souza I 15 Nunes, )odo Pedro 351

Mendoza, Pedro de 25 Mesquita, Alves

N6ri, Ana fustina Ferreira 8,223,227-

Niederauer,loeo 103

Mendoza, Gonzalo de 26,27 Menezes, Alfredo da

,9' , l)6, 290, 357 , )81 , 391 Navarro, Manuel 126 37

O'Donnel, Pacho 165, 396,

4ll

Ojeda, fos6 Pons (Le6n Palleia) 216

Emiliano I l, 18, 164 Oliveira, Carlos Augusto de 137,l)4, 27),39) Oliveira, Pedro Ferreira de 62,67,)89, O'Leary, fuan

409

Oribe, Ignacio I 15

Oribe,Manuel 99, 100,

ll5

Ortellado, Bernardo 287, 291 Os6rio Filho, Fernando Luis 227 Os6rio Filho, Fernando

Os6rio, Manuel

Luis

Luis ll5,

399

122,209,

210, 217, 217, 226, 227, 265, 295,

304,32), )61,364,394 Otaviano, Francisco 12, 147, 149, 395

A cUERRA Do

Pacheco,

Toribio 232

Pimenta Bueno, fos6 Antonio 2)5,380 Pinheiro Guimaries, Francisco 260

Paez, Policarpo 328

Palacios, Manuel

PARAGUAT 429

Antonio 87, 91, 92,

Polidoro, general (Polidoro da Fonseca

147, 196, 204, 215, 250, 290, 290,

Quintanilha Sordao)

292,299,300, 309

234,239,248,249,259

Palleja, Le6n

de 216,220,221,25,

121,402

Prieto, Celestino 207

do

Quatrefarges, fuan Francisco Lynch

365

Paunero, Wenceslao 152, 182, 213, 244,

de 47

4l

Quatrefarges, Xavier de

396 Paz, Francisco 241,247 Paz,

Le6n 164, 165,403 Portocarrero, Hermenegildo I 33 Pomer,

Paranhos, fos6 Maria da Silva 62,67,

Patrocinio, fos6

220, 233,

12.,

de

Queiroz, Eus6bio

381

Marcos 145, 2l), 243, 248, 252, rainha Vit6ria 35, 7 6, 167, 195

285,398,)gg Pedra, Milciades Augusto de Azevedo

Ravizza,Alessandro 92

358 Pedro

I

Rebougas,

55, 57, 62,

l0l,

267, 379, 380,

4t4

8, 20), 215-217, Zg2,

8, 32, 47, 54-57, 59-6?.,74, 77, 96, 100-102, 116, l2g, l3l,

Ribeiro,loeo 134

147, 148, 167-169, l g5-195, lgg,

Rivarola Acosta, Cirilo

Pedro

200, 224, 254, 257 -259, 26), 264, 267 , 27 5 , 293 , 713 , 714, 317

, )Zl

,

299, 305, 309, 309, 715, )16, 739

Antonio 314,

325,369 Rivas,

Ignacio 217,242

)22, 324, ))9, 344, 745 , )56, )59, )64-)66, 77r, )90, )91,393, 195,

Rivera, Fructuoso 100, 105

389, 397, 40), 404, 410, 4r4, 416

RiviEre, Eduvigis

de )?8-)10 Floriano 351, 35), )6)

Riveros, Carlos 87,287,291

de )Z

Pedrueza, G6mez

Roa, Francisco 350,)52

Peixoto,

Robles, Ezequiel 156, 159

Pereira Leal, Felipe los€ 54,62 Pereira Pinto, Francisco I 13,

Perez,los1 328

ll4,122

l)2, 174, 2g), 2gg,

Resquin, Francisco Isidoro 23, 17

II

Andrd )21, 397, 398, 402

Robles, Wenceslao 140,

l+2, 144, 145,

155, 156, 16l, 177, 179,20T205,

3g),396

Per6n, fuan Domingo 375

Rocha, Dardo 208

Pigna, Felipe 165

Rodrigues,

Zen6n )Z

4)0

LUrz ocrAvro DE LIMA

Skinner, Frederick 167,280, 294

Rodriguez, Carlos luan 252 Rojas y Aranda, Lilzaro 19 Roman, Cecilio 328 Roman, fusto 293 Rosa, fos6

Maria 103, 165,389,)90,

399,399,403 Rosas,

fuan Manuel de 2l-23,32, )4,

72,75,

ll3,

100-102,

J80,

389,

fohn

Souto Maior, Manuel Iniicio de

Andrade 56

de 228

Souza Dantas, Manuel Pinto

791,408,420 Russell,

loeo 751 Soares, |o5o Crispiniano 267 Soler, Adolfo 140 Sousa, Irineu Evangelista de 102, 367 Sousa, Paulino )os6 Soares de 102 Soares,

de

314

William 167, 357 Shoessner, Alfredo 164, 3r8,

77 5

Souza, Guilherme Xavier

211

Stewart, Sagastume, |os6Vasquez I I

l,

I 15, I 16

de 26 Salles, Ricardo Henrique 17l,)96 Salvadores, Ltciano 247 Sampaio, Antdnio de 219 Salazar y Espinoza, fuan

S6nchez, Domingo Francisco 94,

lr4,

Antonio I 12, I l3

Sarmiento, Domingo Faustino 74, 145, 17

0, 243, )27, )44, 184, 799

Sarmiento, Domingo

Fidel 145,747

Saxe, duque de (Luis Augusto Maria

Eudes de Saxe-Coburgo.Gota)

264,268,269,271, )23, )63, )97

,

400

Emile 268 Taunay, Nicolas Antoine 268 Thylor, Alonso 79,93 Teixeira Mendes, Raimundo 16l Thompson, George 167,20), Z4l, 309, 398

Thornton, Edward 7 6,

ll3,

142, 169,

t95

129,187,189,364 Schnock, Adelaide

Thunay, Alfredo Maria d'Escragnolle

Taunay, Felix

287-291,339,352 Saraiva, fos6

Su6rez, Greg6rio 125, 182

Toro Pichai (fos6 Greg6rio Benitez)

4l

2gg, )27, )29, 330, 331, 332, 368

Seeber, Francisco 214, 398

Sherman, William Tecumseh 406 Silva Ferraz, Angelo

Muniz

186, 187,

94

l9l,192 Silveira, Manoel foaquim da I I I Silv6rio Pimentel, )oaquim 230,259,

Urquiza, )usto fos6 de 12, )4, 58,7 l-74,

102, 108, 139,

344 Silvero,

Uriarte, Maria Del Carmen Aguero

Victor

144, 200, 368

I

l4l,

80, 200,

l2l,

122, 126, 127, 132,

144,149, 152, 176, 177,

z0l,

367, 392, )96, 413

A GUERRA Do

Valiante, fuan Francisco 205 Van Hoonholtz, Antonio Luiz 264 Varela, Benito 54 Varela, Felipe

l5l,

Yeldzquez,

PARAGUAI

4)I

Manuel 329, 770, )31

Viana de Lima, C6sar Sauvan

ll7,

118

286, 396, 40L,

4ll,

4t7

Villalva, |os6 16l, 396 Von Versen, Max 278

Maria 89 Varela, |os6 Maria 88 Varela, |os6

Varela, Pedro 286,787 Vargas,

Getrllio

369

Washburn, Charles Ames I18, 288,

289,290,294 Winterhalter,Franz 96

Vasconcellos, CAndido Augusto 298

de 72

Yegros,

Fulgencio 28

Velasco, Bemardo 28

Yegros,

R0mulo 72

Vedfa, Delfina

a

q

LVIZ OCTAVIO DE LIMA 6 j ornalista, formado pelaPUC-RJe com MBAem Economia pela Unicamp-Facamp. Atuou nas redag6es de O Globo, Folha de S.paulo,

Paulo,ipocae Exame. Foi flnalista do Pr6mio Jabuti 201b com o livro Pimenta Neues, urna reportagem. Pelo Didrio do Comdrcio, veiculo daAssociagdo Veja, O Estado

d,e S.

Comercial de S5o Paulo onde foi editor s6nior, fezparte da equipe vencedora do

Pr6mio Esso de Jornalismo na categoria Melhor ContribuigSo i lmprensa em 2009. Tamb6m organizou os livros O Xingu dos Villas B6as

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